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PEDRO OLLER DOS SANTOS

RESENHA SOBRE A REVOLUÇÃO BURGUESA NO BRASIL

Trabalho referente à avaliação da disciplina


“Formação e desenvolvimento da sociedade
brasileira”, ministrada pelo Prof. Dr. José Antonio
Segatto.

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita


Filho” – Faculdade de Ciências e Letras.

Araraquara – SP

15 de abril de 2013.
O tema da revolução burguesa brasileira é problematizado com frequência entre vários
que pensam a sociedade e a história do país. Dominá-lo mostrou-se fundamental para
compreender a formação do Estado brasileiro e suas relações com a sociedade, essencialmente
àquele que se põe a estudar a formação e configuração da própria sociedade brasileira na
contemporaneidade.

Relaciona-se, como origem do processo histórico da revolução burguesa, a formação


de uma economia mais caracteristicamente capitalista, baseada no trabalho livre. É, portanto,
assim que se evidencia a necessidade da análise deste processo para a compreensão e
superação das mazelas atuais que atingem o país, já que

todas as grandes alternativas concretas vividas pelo nosso País, direta ou


indiretamente ligadas àquela transição (Independência, Abolição, República,
modificação do bloco de poder em 30 e 37, passagem para um novo patamar
de acumulação em 64), encontraram uma resposta ‘à prussiana’; uma
resposta na qual a conciliação ‘pelo alto’ não escondeu jamais a intenção
explícita de manter marginalizadas ou reprimidas – de qualquer modo, fora
do âmbito das decisões – as classes e camadas ‘de baixo’. (COUTINHO,
1980, p. 71-72)

Inclusive entre aqueles que pensam a transformação social e refletem sobre as


condições e possibilidades da revolução popular, seja operária ou camponesa, como Ianni
(1985) já assinalou, “também esses defrontam-se com interrogações sobre qual foi, ou como
tem sido, o desenvolvimento da revolução burguesa”. Insiste Ianni, como vemos nesta
citação, na abertura do debate: põe dúvida e hesitação ao conceber esta revolução como um
episódio do passado brasileiro ou como acontecimento ainda em transição, isto é, que se
encontra inconcluso neste presente momento histórico; como também o faz o sociólogo
Florestan Fernandes (1976), grande expoente das reflexões acerca desta problemática: “A
revolução burguesa denota um conjunto de transformações econômicas, tecnológicas, sociais,
psicoculturais e políticas que só se realizam quando o desenvolvimento capitalista atinge o
clímax de sua evolução industrial. Há, porém, um ponto de partida e um ponto de chegada, e é
extremamente difícil localizar o momento em que essa revolução alcança um patamar
histórico irreversível, de plena maturidade e, ao mesmo tempo, de consolidação do poder
burguês e da dominação burguesa”.

Em poucos parágrafos desta breve explanação, já contamos com a contribuição de


pelo menos três autores: não se pode afirmar que o trabalho destas reflexões que há hoje
disponível seja insuficiente. São muitos os cientistas sociais, políticos, historiadores que se
dedicaram a este estudo – fato que, no entanto, proporcionou relevante discrepância entre as
várias interpretações sobre a problemática. Vejamos:

Em Euclides da Cunha, Alberto Torres, Rui Barbosa, Oliveira Vianna,


Gilberto Freyre, Astrojildo Pereira, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado
Júnior, Nelson Werneck Sodré, Hélio Jaguaribe, Celso Furtado, Florestan
Fernandes, Edgar Carone, Antônio Candido, Raymundo Faoro e Carlos
Nelson Coutinho, para mencionar alguns nomes, há uma preocupação
acentuada com aspectos ou o conjunto dessa problemática. [...] Variam as
linguagens e entonações. Uns se colocam abertamente em favor de formas
autoritárias de organização do poder estatal, como Oliveira Vianna; outros
preconizam soluções liberais, como Rui Barbosa; e há aqueles que apontam
no sentido do socialismo, como Astrojildo Pereira. Também há os que
oscilam de uma a outra convicção; e os equidistantes. (IANNI, 1984, pp. 7-
8)

Também se nota, ademais, dificuldade e divergência entre os autores ao precisar o


momento que origina e dá início a este processo histórico, assim como as principais marcas da
sua periodização; apesar de haver sim concordância sobre a época que abrange, da qual, pois,
podemos elencar alguns fatores que a caracterizam: a abolição da escravidão, a queda da
monarquia, a imigração de mão-de-obra para o campo, o predomínio do fazendeiro de café e o
desenvolvimento do capitalismo no Brasil.

Considera-se, inicialmente, como ruptura fundamental para o desencadeamento deste


processo a abolição do trabalho escravo, e a transição ao predomínio do trabalho livre;
aspecto para o qual o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1956, p. 250), por exemplo,
concebe maior relevância, por ser momento decisivo do desenvolvimento nacional, que é
capaz, segundo ele, de cessar “alguns dos freios tradicionais contra o advento de um novo
estado de coisas, que só então se faz inevitável”.

No entanto, além da consequente atenção voltada aos centros urbanos ao invés dos
rurais, também se assinala o período desta ruptura com outros fatores tão importantes quanto,
como a proclamação da República. É importante observar que enquanto se instaura a
configuração do trabalho livre, também se abre a organização do Estado às exigências do
capitalismo – perspectiva para a qual, por sua vez, o pensador Caio Prado Júnior põe maior
evidência, ao notar, neste momento histórico, grande transformação da economia brasileira,
cuja produção se estende consideravelmente devido a uma maior demanda. Ainda, é
interessante a observação que o autor faz, em relação ao desenvolvimento, também, das
condições sociais e culturais para esta nova formatação da produção econômica, igualmente
fundamental no processo histórico a que aqui se refere.

No terreno econômico observaremos a eclosão de um espírito que se


não era novo, mantivera-seno entanto na sombra e em plano
secundário: a ânsia de enriquecimento, de prosperidade material. Isto,
na monarquia, nunca se tivera como um ideal legítimo e plenamente
reconhecido. O novo regime o consagrará... a transformação terá sido
tão brusca e completa, que veremos as próprias classes e os mesmo
indivíduos mais representativos da monarquia, dantes ocupados
unicamente com política e funções similares, e no máximo com uma
longínqua e sobranceira direção de suas propriedades rurais, mudados
subitamente em ativos especuladores e negocistas... Transpunha-se de
um salto o hiato que separava certos aspectos de uma superestrutura
ideológica anacrônica e o nível das forças produtivas em franca
expansão. Ambos agora se acordavam... A ambição do lucro e do
enriquecimento se consagrará como um alto valor social. (PRADO
JR., 1953, p. 214-215)

A despeito das compreensões díspares e a pluralidade de análises sobre o tema, são


apontadas tendências em comum, nas quais existe concordância. Primeiro, quanto ao período
histórico, admite-se seu princípio em fins do século XIX e que o processo é catalisado a partir
da década de trinta. Também se busca, em todos os casos, destacar o caráter autoritário do
Estado brasileiro e sua organização a partir de interesses oligárquicos, burgueses e
imperialistas, segundo Ianni (1984). O autor, inclusive, denuncia este aspecto e o aborda
como presente na formação do poder estatal brasileiro desde suas origens, fato a ser
observado nas suas relações com a sociedade e o cidadão, e principalmente com os grupos e
as classes sociais estabelecidas à parte do Estado.

Há de se destacar, portanto, o caráter também essencialmente excludente desta


organização do poder estatal: enquanto se encontrava em etapa ascensional a classe social que
abrangia os fazendeiros de café, os senhores de engenho, os proprietários de terras e os
estancieiros, existiam os grupos minoritários da classe trabalhadora, envolvendo tanto a massa
camponesa quanto o proletariado, e tanto o escravo como o livre, que eram sumariamente
marginalizados e reprimidos, ao serem levados às condições subumanas do que se chama hoje
de humilhação social.
Foi, pois, sob esta lógica que se originava e formatava o Estado Nacional durante o
regime monárquico, porém, de modo que continuasse a garantir os interesses dos grupos e
camadas dominantes, em detrimento das marginalizadas. Escreve Ianni(1984, pp. 12-13) de
modo a ilustrar bem tal configuração:

A impressão de que a sociedade, o povo, os grupos sociais, as pessoas pouco


ou nada representavam era negada pelas medidas de controle e repressão que
o governo punha em ação. Diante das forças sociais não representadas no
bloco de poder, em face da rebeldia latente ou aberta contra os interesses dos
senhores de escravos, nos engenhos de açúcar e fazendas de café, o poder
monárquico agia de forma cada vez mais repressiva. A força, a sistemática e
a preeminência dos interesses dos grupos e camadas dominantes
representados no aparelho estatal eram de tal porte que alguns intelectuais e
políticos imaginavam que a sociedade fosse amorfa e o Estado organizado;
como se este pudesse existir por si. Não percebiam o protesto do escravo, a
insatisfação do branco pobre no meio rural, as reivindicações de artesãos,
empregados e funcionários na cidade. Sem saber – talvez – escreviam a
crônica dos vencedores. (IANNI, 1984, pp. 12-13)

Para o processo histórico aqui em questão, cabe referir-se ao período monárquico


como a gênese da revolução burguesa brasileira, e mencionar que este durou de 1822 a 1889.
Também se encontrava, então, em formação a sociedade civil do país – e sua devida
constituição entre classes e novas relações sociais –, para a qual tiveram grande
responsabilidade e importância os esforços abolicionista e republicano. Após a abolição do
escravismo e a introdução da República, portanto, é o que se considera o momento de
desencadeamento da revolução burguesa.

Como já mencionado, seu desenvolvimento se deu a partir da década de trinta,


engendrado principalmente pela reorganização e dinamização do poder estatal, após a crise
capitalista de 1929, cuja conjuntura, no Brasil, abalou a oligarquia cafeeira. Este processo de
reestruturação foi introduzido, por sua vez, após a Revolução de 1930, a qual assinala uma
transição importante na história da sociedade brasileira, por representar ao país ascensão e
desenvolvimento do capitalismo. Neste período, evidenciou-se um fortalecimento do aparelho
estatal visando às exigências do capitalismo: houve um nítido e considerável desenvolvimento
das forças produtivas e das relações sociais capitalistas.

As tendências esboçadas nos anos de 1930 a 1937 se desenvolveram tanto durante o


Estado Novo (1937-45) quanto no período do que se chamou de democracia representativa
(1946-64); e se comprova que tenham sido tendências explicitamente antidemocráticas,
repressoras e excludentes. Todos os setores da massa trabalhadora – operários, colonos,
sitiantes, camponeses – não eram bem-vindos nos espaços democráticos e tampouco para
integrar o que se defendia como o princípio da cidadania; e, não obstante, sofriam perseguição
e brutal repressão por parte dos governantes – inclusive também o sofriam políticos,
estudantes, intelectuais e outras categorias sociais.

Já no período após 1964, ano em que houve golpe estatal que instaurou um regime
militar, tornou-se incontestável o caráter fascista do aparelho estatal brasileiro e da revolução
burguesa. Com a submissão das classes e grupos assalariados a um bloco de poder articulado
apenas pela burguesia financeira e monopolista e pelas forças militares, ambos sob forte
influência do imperialismo estadunidense, também se tornou explícitae escancarada a
dissociação completa entre Estado e sociedade civil. Concebe-se este violento período da
história brasileira, a ditadura militar, como o momento de realização plena da revolução
burguesa.
Parte dos estudiosos desta problemática a dão como atualmente inconclusa, antes,
porém, do desfecho da ditadura militar; momento que, no entanto, caracteriza o fim do “ciclo
da revolução burguesa” para Octavio Ianni, pois o autor associa alguns aspectos da sua
contemporaneidade como fatores que comprovam este fim, como a dinamização do mercado e
a diversificação de veículos de opinião pública.

Feitas as reflexões acerca desta temática, torna-se evidente para todos os casos,
entretanto, a presença do autoritarismo estatal em toda a história do país, e a primazia de
interesses de minorias sobre o mal-estar da maioria. Tal sentimento é celebremente elucidado
e sintetizado nesta passagem:

No princípio, sob o Estado monárquico (1822-89), no qual o poder


moderador do rei tem uma conotação arbitrária, predominam os interesses do
bloco agrário vinculado principalmente à cana e ao café. Em seguida, sob o
Estado oligárquico (1889-1930), no qual a política dos governadores tem um
papel saliente, reforçando o autoritarismo, predominam os interesses do
bloco agrário apoiado principalmente na cafeicultura. Depois, sob o Estado
populista (1930-64), que passa por um período de “formação” (1930-37) e
pela ditadura do Estado Novo (1937-45), predominam os interesses do bloco
industrial-agrário, vinculado principalmente ao café e à indústria de bens de
consumo duráveis. A partir de 1964, sob o Estado militar, apoiado em um
poderoso bloco industrial, ou melhor, financeiro e monopolista, predominam
os interesses da burguesia financeira e monopolista estrangeira. Em todas
essas épocas, os imperialismos inglês, alemão, norte-americano e outros
estão presentes e são decisivos. (IANNI, 1984, p. 21)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

IANNI, Octavio. O ciclo da revolução burguesa.Petropólis: Vozes, 1984.

COUTINHO, Carlos Nelson. A democracia como valor universal. São Paulo: Livraria
Editora Ciências Humanas, 1980.

FLORESTAN, Fernandes. A revolução burguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.

PRADO JR., Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1953.

SEGATTO, José Antonio. Revolução e história. Disponível em:


<http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=409>. Acesso em: 09/04/2013.

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