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Departamento de Polícia Federal

Diretoria Técnico-Científica
Instituto Nacional de Criminalística
Presidenta da República Federativa do Brasil
DILMA ROUSSEFF

Ministro de Estado da Justiça


JOSÉ EDUARDO CARDOZO

Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal


LEANDRO DAIELLO COIMBRA

Diretor Técnico-Científico do Departamento de Polícia Federal


PAULO ROBERTO FAGUNDES

Diretor do Instituto Nacional de Criminalística


CLÊNIO GUIMARÃES BELLUCO
Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal
Uma visão panorâmica
A verdade e a justiça pela Ciência Forense

Coordenação
Carlos Renato Perruso
Daniela Carina Pena Pascual
Hélvio Pereira Peixoto
Marcelo Pereira Mendes

Autores
Adauto Zago Pralon Jesus Antonio Velho
Alexandre Pavan Garieri João Bosco Carvalho de Almeida
André Luiz da Costa Morisson João Paulo Batista Botelho
André Montanini Alves Jurandir Severo da Silva
Bruno Costa Pitanga Maia Laércio de Oliveira e Silva Filho
Carlos André Xavier Villela Leonardo Nóbrega Dantas
Carlos Benigno Vieira de Carvalho Leonardo Vergara
Carlos Eduardo Palhares Machado Luiz Fernando Lima Alves da Cunha
Cristiano Furtado Assis do Carmo Marcelo Garcia de Barros
Daniele Zago Souza Márcio Magalhães Arruda Lira
Eduardo Makoto Sato Marcio Talhavini
Eduardo Siqueira Costa Neto Marcos de Jesus Morais
Emanuel Renan Cunha Coelho Paulo Sérgio de Carvalho Dias
Erick Simões da Camara e Silva Philip Villar McComish
Fernando Fernandes de Lima Rafael Saldanha Campello
Gustavo Ota Ueno Renato Teodoro Ferreira de Paranaíba
Hélvio Pereira Peixoto Rodrigo Gonçalves Teixeira
Jeferson Evangelista Corrêa Sergio Martin Aguiar

Brasília
2011
Copyright © 2011 – Diretoria Técnico-Científica do Departamento de Polícia Federal
Diretoria Técnico-Científica (DITEC)
Instituto Nacional de Criminalística do Departamento de Polícia Federal
SAIS Quadra 7 lote 23/24
CEP: 70.610-200
Brasília-DF

Colaboradores Revisão Ortográfica


Cristina Moniz de Aragão Gualda Marluce Moreira Salgado
Josenildo da Silva Pinto
Márcia Aiko Tsunoda
Capa
Cledson Gomes Nascimento
Revisão Técnica
Antônio Carlos Mesquita
Projeto Gráfico e Diagramação
Jurandir Severo da Silva
Jorge Luiz Oliveira de Castro Ana Paula Batista
Paulo Quintiliano da Silva
Fotografia
Revisão Editorial Alexandre Magno
Gestão & Desenvolvimento Empresarial – GD Consult Ana Paula Batista

341.434
G943s Guia de serviços da perícia criminal federal: uma visão
panorâmica: a verdade e a justiça pela ciência forense /
coordenadores: Carlos Renato Perruso ...[et al.] ; autores:
Adauto Zago Pralon ... [et al.]. -- Brasília: Departamento de
Polícia Federal, Diretoria Técnico-Científica (DITEC), 2011.
100 p. : il., color.

ISBN 978-85-85820-15-2

1. Perícia criminal. 2. Perícia técnica. 3. Perícia médico-legal.


I. Perruso, Carlos Renato, coord. II. Pralon, Adauto Zago. III.
Ministério da Justiça. Departamento da Polícia Federal. Diretoria
Técnico-Científica (DITEC).

Ficha elaborada pela Biblioteca do Ministério da Justiça

Este livro foi produzido com recursos do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) do Ministério da Justiça.
Os conceitos e técnicas abordados neste livro são de responsabilidade dos autores. Proibida a reprodução no todo ou em parte, por
qualquer meio, sem autorização da DITEC.
Ajude a desenvolver a próxima edição deste livro. Para críticas e sugestões, escreva para os editores no endereço ditec@dpf.gov.br .

IMPRESSO NO BRASIL
Agradecimentos

Este livro é fruto do trabalho cooperativo de muitas


pessoas, especialmente dos autores, que se dedicaram a
discorrer sobre o que fazem com empolgação no seu dia
a dia, e também da equipe da Área de Gestão Estratégica
da Diretoria Técnico-Científica da Polícia Federal, que não
mediu esforços para materializar esse trabalho de elevada
complexidade. Aos senhores, nossos parabéns e o devido
reconhecimento.
Agradecemos ao Dr. Paulo Roberto Fagundes,
Diretor Técnico-Científico da Polícia Federal, e ao Dr. Clênio
Guimarães Belluco, Diretor do Instituto Nacional de Crimi-
nalística da Polícia Federal, por apoiar a implantação da
Gestão Estratégica no âmbito da Diretoria Técnico-Cien-
tífica da Polícia Federal acreditando ser esse o melhor
caminho para o desenvolvimento, e pela oportunidade de
coordenar a realização desse trabalho pioneiro.
Somos gratos também aos consultores da empre-
sa GD Consult Peter Dostler, Fábio Zimmermann e Daniela
Pascual, que com conhecimento, dedicação e experiência,
nos transmitiram a orientação precisa e construtiva, em
todos os momentos.

CARLOS RENATO PERRUSO


Perito Criminal Federal

HÉLVIO PEREIRA PEIXOTO


Perito Criminal Federal
Sumário

Apresentação 8
Introdução 9
Um breve histórico da Criminalística Federal 11
Locais de Crime 14
Perícias Contábeis e Financeiras 20
Perícias Merceológicas 24
Perícias em Registros de Áudio e Imagens 28
Perícias em Equipamentos e Sistemas Eletrônicos 32
Pericias de Engenharia 36
Perícias de Informática 42
Perícias de Química Forense 48
Perícias de Meio Ambiente 52
Perícias sobre o Patrimônio Cultural 58
Perícias de Veículos 62
Perícias Documentoscópicas 66
Perícias de Biometria Forense 72
Perícias de Balística e de Caracterização de Materiais 76
Perícias de Genética Forense 82
Perícias em Bombas e Explosivos 86
Perícias de Medicina e Odontologia Forense 90
Apresentação

A Diretoria Técnico-Científica (DITEC) é o órgão central responsável pelas atividades de perícia criminal no âmbito da
Polícia Federal. Essas atividades estão previstas no Código de Processo Penal, que as caracteriza como indispensáveis quando
o crime deixar vestígios. Nesse sentido, a DITEC e suas projeções nas unidades descentralizadas desenvolvem suas atribuições
no atendimento das requisições de perícias provenientes de delegados, procuradores e juízes inerentes a inquéritos policiais e
a processos penais.
Entretanto, cabe salientar que as atividades de perícia criminal, ou de criminalística, são baseadas em diversas
ciências forenses, podendo-se citar entre elas a química, biologia, geologia, engenharia, física, medicina, toxicologia,
odontologia, documentoscopia, entre outras, as quais estão em constante evolução. Esse processo de desenvolvimento é
natural em se tratando de ciência, mesmo porque o crime também evolui tornando-se necessária constante atualização
científica. Por sua vez, os operadores do direito e os policiais precisam acompanhar a evolução do crime e da ciência,
especialmente aquela relacionada à elucidação do crime, ou seja, que visa a determinação da materialidade, da autoria
e da dinâmica dos fatos.
O Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal tem como objetivo principal apresentar os diversos tipos de exames
realizados pelas unidades técnico-científicas da Polícia Federal, assim como apresentar conceitos, características e detalhes
técnicos. É preciso ressaltar que este Guia não tem a pretensão de esgotar os assuntos aqui abordados, mas apresentar uma
visão panorâmica das áreas da perícia criminal federal.
Nesta primeira edição, merece destaque a participação dos peritos criminais federais que elaboraram o conteúdo de
suas respectivas áreas de atuação. Espera-se que o resultado desta publicação possa trazer maior efetividade nas investigações
criminais, à medida que revelem todo o potencial ao alcance da perícia criminal federal para o combate ao crime e para a mate-
rialização de provas mais robustas, caminhando no sentido de assegurar a aplicação da justiça, convertendo-se em benefício
direto para a sociedade brasileira.

CLÊNIO GUIMARÃES BELLUCO


Diretor do Instituto Nacional de Criminalística
Introdução

Hélvio Pereira Peixoto

O ser humano é naturalmente inquisitivo. Talvez por isso, desde sempre, as pessoas são fascinadas por histórias e
estórias de detetives desvendando crimes, sejam elas provenientes de casos reais e romances sejam, mais recentemente,
de novelas, filmes e seriados de televisão.
A fascinação pelo desvendamento dos mistérios que envolve um crime, geralmente, vem da forma como uma
série de eventos ou fatos, aparentemente desconexos, são progressivamente estruturados numa linha de raciocínio que
revela, ao leitor ou telespectador, um nexo lógico que explica toda a trama. Como foram depositados os vestígios na cena
do crime? Quem são os possíveis suspeitos? Quem é o provável culpado? Como associá-lo à cena e às armas do crime? Qual
a sequência de eventos que descreve o ocorrido? Qual o motivo? As respostas a essas perguntas emergem da trama numa
sucessão de desconstrução de hipóteses que, não muito raramente, contradizem alguns fatos observados inicialmente
nas confissões dos personagens.
Tanto nos casos reais como na ficção, algumas hipóteses são construídas baseadas em observações e fatos rela-
tados por pessoas que, de alguma forma, fazem parte do caso. Conclusões retiradas da correlação de fatos relatados pela
vítima, testemunhas e suspeitos eram, basicamente, os únicos resultados produzidos pelas primeiras ferramentas da
investigação criminal.
A aplicação da ciência, no entanto, tem permitido que outras conclusões sejam consideradas a partir da análise
física de vestígios encontrados na cena do crime. Há registro de que em 700 a.C. os chineses já utilizavam impressões
digitais para identificar documentos importantes. Na Roma antiga, encontramos registro de que Quintilian utilizou, como
evidência de um assassinato, as impressões palmares de sangue de um homem cego. Já no século XIX, os franceses come-
çaram a utilizar medidas físicas e fotografias para reconhecer criminosos reincidentes. Em 1910, o Francês Edmond Locard,
que trabalhava no Laboratoire Intérregional de Police Technique em Lyon, desenvolveu uma teoria que mudaria o curso da
investigação criminal. No cerne de sua teoria estava o princípio de que a existência de um crime pressupõe três elementos
principais: a vítima, o criminoso e o local em que se desenrolaram os acontecimentos (a cena do crime, ou local do crime).
Locard afirmava ainda que o sucesso na resolução de crimes só seria possível após uma meticulosa análise e processa-
mento detalhado da cena do crime. Isso porque na ocorrência de qualquer crime o criminoso deixa na cena do crime
alguns vestígios, adquirindo, por outro lado, quer na sua roupa quer em objetos que utilize, outros vestígios porventura
imperceptíveis, mas, de qualquer forma, característicos da sua presença ou da sua atuação. Ou seja, todo contato deixa
um vestígio, todo criminoso deposita ou leva consigo indícios ou vestígios (Princípio de Locard).
Desde então, a ciência vem sendo progressivamente utilizada na investigação criminal, seja na análise de vestí-
gios, seja no fortalecimento de provas. Evidências físicas são materiais cuja existência na cena do crime ou no suspeito
levam à avaliação da sua culpa em relação a determinado crime. Exemplos tradicionais são manchas de sangue ou armas
encontradas na cena do crime que comprovem sua relação com o fato ocorrido. Por meio da correta documentação, coleta,
transporte, armazenamento e análise de vestígios, o perito criminal busca aplicar os princípios da Ciência Forense para
reconstruir a sequência de eventos que prove a verdade sobre um fato ocorrido. Para o perito criminal não basta descobrir
a verdade, é preciso provar rigorosamente a identidade entre o evento ocorrido no passado (cena do crime) e a respectiva
reconstituição feita no presente (conclusão apresentada no laudo pericial). Cabe ao perito criminal descrever em detalhe
o local do crime, os vestígios encontrados e as inferências que se pode provar sobre a dinâmica do evento, a materialidade
efetiva de um crime e a autoria. Inúmeros são hoje os casos resolvidos por peritos criminais com base na análise científica
de vestígios encontrados em cenas de crime.
Ciência Forense
As palavras CIÊNCIA e FORENSE são, tradicionalmente, associadas ao conceito de verdade. A prática da CIÊNCIA
está relacionada ao conhecimento atento e aprofundado de como a realidade que nos cerca funciona, com base na inves-
tigação racional e metódica da natureza, objetivando a descoberta da verdade. Já a palavra FORENSE, que tem sua origem
no latim forum, é relativa ao fórum, aos tribunais e à justiça, a falar a verdade numa corte de justiça, o que equivale ao
conceito de falar a verdade em praça pública na antiga Roma. A Ciência Forense, portanto, pode ser entendida como a
ciência que auxilia a justiça na definição do que é verdade, envolvendo a aplicação de conhecimento científico, técnico ou
especializado na resolução de questões civis ou criminais.
Na resolução de conflitos na esfera criminal, os peritos criminais buscam e examinam vestígios encontrados na
cena do crime que possam ser úteis no estabelecimento da dinâmica, na materialidade e na identificação (ou exclusão) de
suspeitos ou vítimas. Exemplos de vestígios incluem sangue, sêmen, cabelo, pelos, fibras de tecido, tintas, documentos,
marcas e impressões diversas. Em casos cíveis, a Ciência Forense pode ajudar na resolução de disputas, como no estabele-
cimento das causas de um acidente ou da fonte de um incêndio. Assim como as ciências ditas históricas, como a geologia,
a astronomia e a arqueologia, a Ciência Forense analisa os vestígios de uma ação que ocorreu no passado.
O termo Ciência Forense é mais amplo que a tradicional Criminalística1 por incluir, além das disciplinas da Crimi-
nalística, outras ciências como a medicina, a toxicologia, a antropologia, a entomologia e a odontologia. A Criminalística
pode ser definida como a disciplina que se dedica ao reconhecimento, identificação, individualização e avaliação de vestí-
gios por meio da aplicação das ciências naturais e físicas.
O termo Criminalística foi cunhado pelo Austríaco Hans Gross (1847-1915) e deriva da palavra alemã Kriminalistik,
publicada por ele em seu livro Handbuch fur Untersuchungsrichter ais System der Kriminalistik, em 1899. Em termos de
percepção pública, alguns atribuem ao Sir Arthur Conan Doyle, o autor de Sherlock Holmes, o título de fundador da crimi-
nalística. Ainda, no ramo da ficção, mais de um século depois de Sherlock Holmes, é possível afirmar que a Ciência Forense
é atualmente uma das áreas que mais fascinam o público televisivo. Seriados de TV como “CSI”, “Law and Order”, “Bones”,
“Forensic Files”, “NCIS”, “Cold Case”, e “Without a Trace” são exemplos modernos e atuais que destacam a importância da
Ciência Forense, mesmo que de forma fantasiosa, para a resolução de crimes e, ao mesmo tempo, revelam o interesse da
sociedade na compreensão dos aspectos científicos envolvidos nesse processo.

1 Definição do Dicionário Houaiss – disciplina que reune os conhecimentos e técnicas necessários à elucidação dos crimes e à descoberta de seus
autores, mediante a coleta e interpretação dos vestígios, fatos e consequências supervenientes; conjunto de conhecimentos de que deve dispor o magistrado que
examina ou julga processos criminais.
Um breve histórico da Criminalística
Federal

Leonardo Vergara
Carlos André Xavier Villela

A Criminalística é uma disciplina técnico-científica por natureza e jurídico-penal por destinação, a qual concorre
para a elucidação das infrações penais e da identidade dos respectivos autores, por meio da pesquisa, do adequado exame
pericial e da interpretação correta dos vestígios materiais encontrados. Tem-se, no âmbito da Justiça Federal, o perito
criminal federal como o responsável pela materialização da prova criminal.
A Criminalística federal teve seu marco regulatório com a edição da Lei nº 4.483, de 19/11/1964, com a criação
do Instituto Nacional de Criminalística. A partir disso, a Perícia Criminal Federal estruturou e consolidou a sua atuação na
persecução penal em várias capitais dos estados da Federação.
Com a realização de concursos públicos, a Criminalística se estabeleceu em todas as capitais e no Distrito Federal,
bem como firmou presença em Santos (SP) e em Foz do Iguaçu (PR). Assim, com uma rede de unidades estruturada e
voltada para a produção de provas, materializou-se o Sistema Nacional de Criminalística1 da Polícia Federal.
O sistema vem sendo estruturado com o objetivo de priorizar a produção de prova pericial com celeridade a partir
de procedimentos padronizados. Destaca-se que esse objetivo estratégico está em consonância com as diretrizes estipu-
ladas pelo Programa Nacional de Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
O Sistema Nacional de Criminalística é gerido pela Diretoria Técnico-Científica (DITEC) da Polícia Federal e tem
como órgão central o Instituto Nacional de Criminalística (INC), com atribuições técnico-científicas e normativas sobre a
atividade pericial realizada em suas dependências e nas unidades descentralizadas. O INC, além da execução de perícias,
também tem atribuições de instituto de pesquisa, desenvolvendo metodologias de trabalho e agregando conhecimento
técnico-científico para difusão a todo o sistema, valendo-se de extenso intercâmbio com outras instituições.
Com o objetivo de consolidar sua cobertura nacional e alinhando-se ao processo de interiorização então em curso
no âmbito da Justiça Federal e do Ministério Público Federal, a partir de 2007 foi iniciado o programa de interiorização da
Criminalística, por meio da criação de Unidades Técnico-Científicas (UTEC) junto a delegacias do interior do País.
As delegacias da Polícia Federal, localizadas nas cidades interioranas, respondem por significativa parcela dos
inquéritos policiais que tramitam na Instituição, sendo que isso também ocorre com a demanda por exames periciais.
1 No âmbito da Polícia Federal, a utilização da expressão “Sistema Nacional de Criminalística” foi estabelecida pela Portaria nº 015/2006 - GAB/INC, de
30 de junho de 2006.
Assim, a lotação de peritos criminais em proximidade às principais delegacias do interior proporciona maior agilidade nos
deslocamentos, qualidade essencial para determinados tipos de exames e de serviços sob atribuição da Criminalística, tais
como exames preliminares de drogas, exames de local, dentre outros.
No decorrer desse processo, foram criadas mais 24 unidades, distribuídas no interior de vários estados da Federa-
ção2 . A Figura 1 apresenta o território nacional e evidencia o quantitativo e a distribuição das unidades de Criminalística
da Polícia Federal, cujo efetivo total de peritos criminais é hoje de 1.0893.

Com essa estrutura, além do atendimento das demandas das delegacias, o programa visa à melhoria qualitativa
das atividades da Criminalística em toda a persecução penal. Portanto, além de se preocupar com a lotação de um efetivo
adequado, a DITEC tem direcionado recursos à instalação de laboratórios e à aquisição de modernos equipamentos para
todo o país, a fim de permitir a realização dos trabalhos com a qualidade requerida para os laudos periciais criminais.
Concomitantemente ao esforço de melhoria do atendimento e da qualidade do trabalho, a DITEC vem se empe-
nhando cada vez mais na busca pelo aperfeiçoamento de ferramentas de gestão para o Sistema Nacional de Criminalís-
tica. Busca, com isso, alinhar-se à política de modernização empreendida pelo Governo Federal nos últimos anos, com a
implantação de programas, como o Programa da Qualidade no Serviço Público (PQSP) e o Programa Nacional de Gestão
Pública e Desburocratização (GESPÚBLICA).

2 Araçatuba-SP; Campinas-SP; Dourados-MS; Guaíra-PR; Imperatriz-MA; Juiz de Fora-MG; Juazeiro do Norte-CE; Juazeiro-BA; Londrina-PR; Marabá-
-PA; Marília -SP; Presidente Prudente- SP; Passo Fundo-RS; Pelotas-RS; Rondonópolis-MT; Ribeirão Preto-SP; Salgueiro-PE; Sinop - MT; São José dos Campos-SP;
Santa Maria-RS; Santarém-PA; Sorocaba-SP; Uberlândia-MG; Vilhena - RO.
3 Fonte: Instituto Nacional de Criminalística-Divisão de Pesquisa Padrões e Dados Criminalísticos.
Focada em fortalecer a gestão das atividades, a DITEC tem investido também em tecnologia da informação, permi-
tindo a integração de todas as unidades da Criminalística. Em consequência disso, foi implantado o Sistema Nacional de
Gestão de Atividades de Criminalística (SISCRIM), sistema informatizado destinado a controlar, em âmbito nacional, o
trâmite de expedientes e de materiais de exame, bem como as demais atividades afetas à Criminalística.
Com o objetivo de definir e organizar os diversos normativos vigentes no âmbito do Sistema Nacional de Crimi-
nalística, a DITEC definiu e consolidou a Estrutura Normativa da Criminalística (ENCRIM). Além disso, destaca-se a criação
de dois instrumentos focados na padronização detalhada de procedimentos e na melhoria da qualidade dos exames
periciais, que são os Manuais de Procedimentos Periciais e os Procedimentos Operacionais Padrão.
A fim de permitir a validação e o compartilhamento das melhores práticas gerenciais e operacionais, foram cria-
dos comitês de avaliação dos processos administrativos e técnicos no Sistema Nacional de Criminalística. Um deles tem a
função de realizar auditorias focadas na gestão das unidades, por meio de comissões temporárias e itinerantes, e o outro
tem por objetivo avaliar a qualidade dos documentos técnico-científicos produzidos por meio de Câmaras Especializadas
de Criminalística.
Esses instrumentos, focados na padronização detalhada de procedimentos e na melhoria da qualidade dos
exames periciais, visam consolidar uma filosofia de qualidade total e de melhoria contínua, permitindo que a administra-
ção central possua um sistema de informações confiável, base de um Sistema de Gestão da Qualidade capaz de controlar
de forma mais eficiente a qualidade dos produtos e serviços entregues aos clientes.
Além desses comitês, destaca-se o desenvolvimento de outros dois processos de controle dentro do Sistema de
Gestão da Qualidade que são os Indicadores de Desempenho e a Pesquisa de Satisfação do Cliente. Esses processos encer-
ram o grande ciclo de coleta e tratamento de informações no âmbito do Sistema Nacional de Criminalística.
Nesse contexto, este guia apresenta os exames disponíveis na atualidade, para que o leitor tenha uma visão pano-
râmica do campo de atuação da Perícia Criminal da Polícia Federal no processamento de vestígios materiais.
Foto: Alexandre Magno

Locais de Crime
Adauto Zago Pralon
Cristiano Furtado Assis do Carmo
Jesus Antonio Velho
Jurandir Severo da Silva
Leonardo Nóbrega Dantas

L ocal de crime é o espaço, físico ou virtual,


onde tenha ocorrido um fato que assuma
a configuração de infração penal e que exija a
colheita de dados que subsidiem comparações
e análises com o objetivo de determinar a dinâ-
mica de um evento, sua autoria e o momento
de sua ocorrência.

O local de um crime pode abranger áreas


sem ligação geográfica direta, desde que essas
contenham vestígios que possam ser relacio-
nados com atos anteriores ou posteriores à
consumação do crime. Sua extensão varia de
acordo com a natureza e as circunstâncias do
fato sob investigação – furto, roubo, incêndio,
explosão, morte, entre outros – e pode incluir
outras áreas além do local que se deu o inci-
dente, como as rotas de acesso e saída, as áreas
adjacentes, veículos envolvidos e até mesmo
os locais utilizados para as práticas prelimina-
res e posteriores ao crime.
16 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

O exame de local de crime deve ser o ou contaminada por transeuntes, ou mesmo


ponto de partida para qualquer investigação pelos profissionais que atendem ao local. Além
criminal, pois um criminoso sempre registra disso, alterações no posicionamento preci-
sua passagem com vestígios. Ele leva consigo so desses elementos tendem a comprometer
elementos do ambiente onde esteve ou da sua completamente as interpretações acerca dos
vítima, enquanto deixa elementos materiais fatos. Assim, os trabalhos podem se tornar
por ele produzidos nesse mesmo local. inconclusivos, evoluir para direções erradas,
deixar de apontar os culpados ou, no pior dos
Para que ocorra a elucidação dos fatos casos, atribuir a autoria dos fatos a pessoas
ocorridos no local do crime, é necessário reunir inocentes. Em casos como os de morte violen-
informações confiáveis para o esclarecimen- ta onde ocorreram disparos de arma de fogo,
to da verdade. São as chamadas provas, que a reconstituição das trajetórias dos projéteis,
podem ser objetivas (oriundas de exames peri- o posicionamento dos estojos das munições
ciais) ou subjetivas (provenientes de testemu- deflagradas e o estudo dos padrões de disper-
nhos ou confissões). A prova pericial é estru- são das manchas de sangue são exemplos de
turada em preceitos produzidos por diversos elementos essenciais que, se alterados, pode-
ramos do conhecimento científico ou lança rão levar a conclusões equivocadas acerca da
mão de técnicas desenvolvidas especifica- dinâmica dos eventos.
mente para a criminalística. Desse modo, toda
a metodologia utilizada nos exames de local Os primeiros profissionais a chegar a um
de crime e cada uma das conclusões expos- local de crime, sejam eles agentes públicos
tas pelo perito criminal no laudo pericial têm (policiais civis ou militares, bombeiros, defe-
como alicerce leis desenvolvidas pelos vários sa civil, entre outros), sejam privados (segu-
ramos da ciência. ranças, socorristas, brigadistas, entre outros),
devem possuir conhecimento sobre isola-
Para que os vestígios encontrados em mento e preservação de local de crime para
um local de crime possam ser adequada- não comprometerem sua integridade. Caso
mente utilizados, é essencial que o local não alguma alteração seja estritamente necessária,
sofra interferências, sendo fundamental a sua ela deve ser devidamente documentada pelo
preservação. responsável pela preservação.
O esforço de preservação do local de Apesar da grande importância da
crime e de seus vestígios consiste no seu isola- preservação do local para a coleta de vestígios
mento imediato, e inclui o controle total sobre que podem permitir a elucidação dos crimes,
o acesso à cena. Compreende o conjunto de é importante destacar que, acima de qualquer
medidas tomadas para garantir a integridade esforço de preservação ou de coleta de provas,
dos vestígios, protegendo-os contra adultera- está a preservação da vida, da saúde e da segu-
ção, desfiguração ou contaminação de forma rança de eventuais vítimas, da equipe policial e
acidental ou deliberada. da população em geral.
A maioria dos vestígios presentes no As perícias realizadas em locais de crime
local de crime possui natureza intrinsecamente podem ser tão variadas e complexas ao ponto
frágil e pode ser facilmente destruída, alterada de requerer a aplicação de conhecimentos
Local de Crime | 17

científicos das mais diversas áreas e o emprego Em um local de crime o perito criminal
de técnicas específicas de coleta, identificação, deve levantar a maior quantidade possível de
embalagem, preservação, transporte, análise e informações para tentar responder às questões
interpretação de vestígios. clássicas: o que, quem, quando, por que, onde,
como, com que meios. A resposta à expres-
Cada local de crime é único e exige do são o que identifica a materialidade do crime;
perito criminal uma série de cuidados no plane- quem, a autoria; quando, o tempo em que o
jamento e na organização de suas funções fato criminoso ocorreu; onde, o local do crime;
visando alcançar a verdade dos fatos. Durante e, como e com que meios, as circunstâncias. O
o transcorrer do exame pericial, os requisitos porquê, mais difícil de ser respondido somen-
podem mudar à medida que novos elemen- te por intermédio de exames periciais, pode
tos sejam reconhecidos, e o perito criminal necessitar de complementação de informa-
terá que se adaptar ao novo cenário. Por isso, ções da investigação para esclarecer a motiva-
profissionais sem o devido preparo não estão ção do criminoso. As respostas a essas indaga-
aptos a localizar, coletar e manusear os vestí- ções levam à caracterização precisa dos fatos,
gios de modo a garantir seu valor probatório. possibilitando a efetiva aplicação da lei penal.
O reconhecimento legal da importância Para o devido levantamento de vestí-
do exame de locais de crime está patente no gios, procedimentos e equipamentos apro-
Código de Processo Penal em seu art. 158, que priados devem ser empregados, tais como o
estabelece: “quando a infração deixar vestígios, emprego de marcadores para posicionamento
será indispensável o exame de corpo de deli- e identificação de vestígios, técnicas especiais
to, direto ou indireto, não podendo supri-lo a de fotografia, elaboração de croquis, levanta-
confissão do acusado”. Essa determinação legal mento e coleta de vestígios químicos, biológi-
evidencia, de forma direta, a importância e a cos e de impressões digitais. Pode-se utilizar
relevância que a perícia representa no contex- ainda o scanner 3D, capaz de produzir modelos
to probatório, referindo-se, taxativamente, em três dimensões, possibilitando a elabora-
sobre sua indispensabilidade, sob pena, inclu- ção de um esquema virtual do ambiente, por
sive, de nulidade do processo. meio da projeção de coordenadas espaciais,
A partir do momento que os vestígios favorecendo a visualização da cena, bem como
tenham sido coletados em um local de crime, do posicionamento dos vestígios, facilitando
devem seguir uma cadeia de custódia que lhes também a reconstituição e a interpretação dos
assegure identidade, integridade e rastreabi- eventos transcorridos.
lidade, até o momento em que integrarão o
Em casos específicos, os peritos crimi-
processo judicial. Portanto, a cadeia de custó-
nais podem elaborar o laudo de reprodução
dia é o processo usado para documentar e
simulada do crime. Essa é uma ferramenta
manter a história cronológica dos vestígios. É
de extrema importância que toda e qualquer muito importante nas investigações criminais
pessoa que tenha algum contato com as provas que visam ao esclarecimento de determinados
materiais o faça de maneira clara e documenta- fatos ou dúvidas em função, por exemplo, de
da, não deixando quaisquer dúvidas acerca da conflitos de versões sobre a dinâmica de um
credibilidade no seu manuseio. delito. No exame de reprodução simulada, as
18 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

versões de testemunhas, de vítimas e suspeitos É com base na identificação, análise


são confrontadas com os vestígios materiais e interpretação técnico-científica de todo o
levantados pelos peritos criminais no local do conjunto de vestígios presentes no local de
crime, com o objetivo de avaliar a coerência ou crime que se constrói a Prova Material, base
não de cada versão. Enfim, é uma ferramenta sólida para solução de um crime. São elas que
útil para elucidar como efetivamente a ação indicam a direção que deve ser seguida pela
criminosa ocorreu, quais as características de investigação policial com a finalidade de eluci-
atuação de cada um dos participantes (auto- dar a autoria da infração penal e o modo de
res, coautores, partícipes, entre outros) e para agir do criminoso.
apurar a existência de falsas confissões.
Por fim, cumpre ressaltar que os locais
de crime não se restringem aos locais de morte
Considerações finais violenta. Local de crime é todo lugar em que
existem vestígios de um crime. Portanto, pode
Locais de crime não preservados ou adul- se relacionar diretamente com as mais diversas
terados prejudicam muito o trabalho da perícia áreas da criminalística. Nos capítulos seguintes
e da polícia e, consequentemente, a aplicação são abordados diversos aspectos envolvendo
da Justiça em todos os seus aspectos. Nesses cada uma dessas áreas de perícia.
casos, quem perde não é a criminalística nem a
polícia, e sim, a sociedade.

Foto: Alexandre Magno


Local de Crime | 19

Cabe à criminalística a investigação das evidências materiais


do crime e à investigação de campo, ou subjetiva, as evidên-
cias pessoais. Ambas buscam, segundo suas técnicas e ferra-
mentas próprias, partindo de elementos conhecidos para os
desconhecidos restabelecer a verdade, recuando no tempo
para verificar a existência do crime, estabelecer a sua dinâ-
mica, modos e meios de execução e determinar a sua autoria.
Antônio Carlos Villanova (1977)
Foto: Alexandre Magno

Perícias Contábeis e
Financeiras
Eduardo Siqueira Costa Neto
Emanuel Renan Cunha Coelho
João Bosco Carvalho de Almeida

A área contábil e financeira é composta por


profissionais com formação em Ciências
Contábeis e Econômicas. A importância desse
segmento pode ser medida pela repercussão
que causam os crimes cujos vestígios deman-
dam exames financeiros como corrupção,
lavagem de dinheiro, crimes contra o sistema
financeiro nacional, crimes contra a ordem
tributária e quaisquer outros crimes praticados
com o objetivo de obter vantagem financeira
ou patrimonial.

A área envolve conhecimentos e compe-


tências distribuídos em diversos segmentos
especializados1. Além da diversidade, tais
segmentos são regulamentados por normas
específicas que sofrem recorrentes alterações,
o que gera uma necessidade de atualização
permanente dos profissionais que atuam na
área.

1 Bolsa de valores, bolsa de mercadorias, diversos ramos da conta-


bilidade (societária, bancária, securitária, agropecuária, pública), diversos
segmentos da economia, comércio exterior, câmbio, sistemas financeiros
nacional e internacional.
22 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Além do conhecimento aprofundado da financiamentos por instituições financeiras;


legislação inerente, os exames normalmente e outros que tenham como objetivo auferir
envolvem o processamento de grande volu- ganhos patrimoniais ou financeiros.
me de documentos e, em muitos casos, devi-
Uma infinidade de fatos pode ser veri-
do à arquitetura dos esquemas criminosos,
ficada pelo exame dos registros contábeis
são de elevado grau de complexidade. Assim,
de uma entidade. Embora esse exame seja
os demandantes devem ter em mente essas
mais utilizado para identificação dos vestí-
características ao definirem o momento e o
gios dos “crimes de colarinho branco” ou dos
escopo da solicitação de exame.
que tenham como objetivo auferir vantagens
Para garantir um fluxo adequado na financeiras ou patrimoniais, até mesmo a moti-
execução dos exames, é imperativo que a vação de um homicídio pode ser evidenciada
documentação encaminhada seja suficiente pelo exame da contabilidade, como no caso de
e adequada. Assim, é desejável que o deman- desvio de recursos praticado por um sócio em
dante possua algum conhecimento da área detrimento de outro.
contábil e financeira ou que, na dúvida, solicite
orientação. Dessa forma, será dada agilidade e Perícia Financeira
efetividade à investigação e aos exames solici-
tados, evitando-se, principalmente, a prescri- O exame financeiro é aquele cujo obje-
ção dos crimes. to de exame está nos documentos relativos a
operações financeiras, com reflexos econômi-
cos, patrimoniais ou de renda (extratos bancá-
Tipos de Exames rios, declarações de imposto de renda, faturas
de cartão de crédito, contratos de emprésti-
Perícia Contábil mo, movimentações financeiras em bolsas de
valores, em fundos de investimentos, dentre
É classificado como contábil o exame outros). Esse tipo de exame é muito demanda-
cujo objeto está na escrituração ou nas do em casos de crimes de corrupção, sonega-
demonstrações contábeis, nos livros fiscais, ção fiscal, lavagem de dinheiro e contra o Siste-
nos livros sociais, nos controles e documentos ma Financeiro Nacional.
operacionais das entidades.
Os principais objetivos dos exames finan-
Dentre os diversos objetivos dos exames ceiros são: verificar a compatibilidade entre a
contábeis podem ser elencados: a constatação movimentação bancária e/ou o aumento patri-
ou comprovação de fatos que indicam a auto- monial, com as fontes de renda declaradas ao
ria ou caracterização de crimes de corrupção; fisco; analisar e decompor movimentações
contra ordem tributária; fraudes em licitação; financeiras; identificar relação financeira entre
desvio na aplicação de recursos públicos; investigados ou suspeitos; identificar origens e
concessões fraudulentas de empréstimos e destinos de movimentações financeiras; rastre-
Contabilidade e Economia | 23

ar recursos no território nacional ou no exte-


rior; e verificar adequação da variação patrimo-
nial.

Atualmente, o encaminhamento em
meio eletrônico das informações a serem anali-
sadas pode dar celeridade aos exames, pois
permite que elas sejam submetidas a sistemas
informatizados de tratamento de dados.

Considerações Finais
Os exames contábeis e financeiros
buscam comprovar fatos que caracterizam
crimes com grande impacto sobre a socieda-
de, na medida em que podem evidenciar o
desvio de recursos que deveriam ser destina-
dos à execução de políticas públicas, tais como
os investimentos em educação, pesquisa e
desenvolvimento, saúde pública, saneamento
básico, programas de geração de emprego e
renda, dentre outros.
Foto: Alexandre Magno

Perícias Merceológicas
Eduardo Siqueira Costa Neto
Emanuel Renan Cunha Coelho
João Bosco Carvalho de Almeida

A Merceologia corresponde à parte do estu-


do do comércio que trata das questões
relacionadas à compra, venda, identificação
e classificação das mercadorias, ou seja, estri-
tamente dos bens que são objeto de troca
comercial.

A Merceologia surgiu no final do sécu-


lo 17 em resposta à necessidade de se dar um
caráter uniforme e sistemático ao conhecimen-
to dos bens, visando identificar os tipos das
mercadorias e se seriam falsas ou autênticas, a
partir de suas características físicas, químicas,
botânicas, entre outras. Os avanços tecnológi-
cos, especialmente os verificados a partir do
século 20, ampliaram e deram complexidade
ao objeto de estudo dessa disciplina.
26 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

A Perícia Merceológica, que usa como Com relação ao contrabando, o crime se


base os conhecimentos de Merceologia, caracteriza quando a importação ou exporta-
consiste no exame de mercadorias e tem como ção da mercadoria questionada estiver expres-
objetivo identificar as características gerais, as samente proibida em lei. Assim, para tipifica-
especificações, a origem, a procedência1 , o esta- ção do crime é necessário que a mercadoria
do de conservação, a autenticidade, a classifi- questionada seja objetivamente caracterizada
cação fiscal, a classificação comercial e o valor pela Perícia Merceológica como aquela especi-
de mercado. Pode ainda fornecer outras infor- ficada na lei.
mações úteis para a investigação ou processo
criminal, principalmente, quando relacionadas O descaminho é caracterizado pelo
aos crimes de contrabando e de descaminho. ingresso ou saída de mercadoria sem o paga-
mento dos tributos devidos. No caso do desca-
Conforme tipificado no artigo 334 do
minho, é necessário demonstrar a finalidade
Código Penal, é crime “importar ou exportar
comercial da mercadoria. Assim, o exame
mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em
parte, o pagamento de direito ou imposto merceológico é importante, pois poderá carac-
devido pela entrada, pela saída ou pelo consu- terizar essa finalidade, além de outras, pela
mo de mercadoria”. quantidade das mercadorias apreendidas.

Ressalta-se que o exame merceológico


1 Origem diz respeito ao local que a mercadoria foi fabricada. não se restringe aos crimes de contrabando ou
Procedência refere-se ao último lugar em que a mercadoria esteve antes de
entrar no território nacional. descaminho. A avaliação de um bem ou merca-

Foto: Ana Paula Batista


Merceologia | 27

doria pode ser uma peça importante para a laudo merceológico. De acordo com Santos, “A
elucidação de outros crimes, como a lavagem perícia merceológica é que separará o ‘gato da
de dinheiro. lebre’, a fim de não ser cometido erro material
de tipo”2.

Tipos de Exames
O exame merceológico pode ser direto
ou indireto. É denominado direto quando a
mercadoria ou o bem é examinado fisicamente
pelo perito criminal. Na forma indireta, o perito
faz a avaliação sem acesso ao bem, com base
nos documentos relacionados às mercado-
rias, podendo incluir especificações técnicas,
como modelo, ano de fabricação, entre outros.
Logicamente, o exame indireto apresenta limi-
tação de escopo, uma vez que sem o exame
físico não é possível verificar, por exemplo, se a
mercadoria é falsificada.

O exame merceológico de bens singula-


res ou cuja comercialização seja restrita, como
uma joia ou uma obra de arte, demandam um
conhecimento mais especializado. Nesse caso,
os exames podem requerer a realização de
pesquisas ou consultas a entidades ou espe-
cialistas.

Os principais questionamentos rela-


cionados com a Perícia Merceológica dizem
respeito a valor, origem, procedência, carac-
terísticas, autenticidade ou especificações dos
bens.

Considerações Finais
A Perícia Merceológica é peça funda-
mental na materialização, em especial, dos
crimes de contrabando e descaminho. A juris- 2 SANTOS, Luiz Carlos dos. Contrabando e Descaminho: dois crimes
prudência aponta no sentido de que, para essencialmente tributários. Disponível em http://www.lcsantos.pro.br/
arquivos/16_CONTRABANDO_DESCAMINHO29032010-122854.pdf. Acesso
caracterização desses crimes, é indispensável o em: 04/07/2011.
Foto: Alexandre Magno

Perícias em Registros de
Áudio e Imagens
João Paulo Batista Botelho
André Luiz da Costa Morisson

O desenvolvimento da tecnologia de gera-


ção e processamento digital de registros
de áudio e imagens tem apresentado cres-
cimento exponencial nas últimas décadas.
Câmeras fotográficas, filmadoras e gravadores
de áudio encontram-se popularizados, minia-
turizados e com mais recursos embarcados,
permitindo imagens com cores realistas e
registros mais nítidos e menos ruidosos. Além
disso, softwares de pós-processamento desti-
nados à edição de registros de áudio e imagens
vêm se tornando cada vez mais acessíveis,
disponibilizando funcionalidades avançadas
que permitem editar, retocar, restaurar ou alte-
rar a informação audiovisual, muitas vezes sem
deixar vestígios perceptíveis a olho nu ou pela
simples audição.
30 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

A geração e o armazenamento de regis- muitas vezes, para estabelecer suas relações


tros de áudio e imagens fazem com que, muitas de origem e integridade. Indo além, a Análi-
vezes, esses registros sejam a principal prova se Forense de Imagens e a Fonética Forense
ou vestígio relacionado a um crime, como em englobam também a metodologia de identi-
sistemas de vigilância do tipo Circuito Fechado ficação de um suspeito a partir do reconheci-
de Televisão (CFTV). Da mesma forma, ações mento de padrões de sua face e/ou voz. Sob
de vigilância realizadas pelas equipes policiais essa ótica, esses exames também podem ser
costumam utilizar dispositivos de aquisição classificados como de biometria forense.
de áudio e câmeras fotográficas ou de vídeo
para materializar flagrantes de atos delituosos, No campo das imagens, têm-se ainda
tornando esse tipo de vestígio parte integrante os exames para reconstrução de uma cena de
da apuração penal. Além disso, é frequente o crime em seus mínimos detalhes pela conjun-
recebimento de notícias-crime que se apoiam ção de técnicas de animação 3D, de fotogra-
em registros de áudio e imagens armazenados metria e de análise dos vestígios levantados
em mídia digital. Pode-se mencionar ainda pela equipe pericial.
uma diversidade grande de bases de dados
desses registros, como as bases fotográficas
relacionadas à identificação criminal, cujo Tipos de Exames
conteúdo, muitas vezes, é utilizado na confir-
mação de autoria, como pelo exame de reco-
nhecimento facial. Análise de Conteúdo
Nesse cenário, a execução de exames
É a descrição dos diálogos ou cenas
periciais, em especial a Análise Forense de
presentes nos registros de áudio ou imagens
Imagens e a Fonética Forense, torna-se funda-
questionadas. O objetivo é esclarecer o assun-
mental para o esclarecimento da verdade real.
to tratado ou a dinâmica de um fato.
De fato, é comum lidar, no decorrer de uma
investigação criminal ou processo penal, com
registros de áudio e imagens degradados, Verificação de Edição
obtidos sob condições adversas de acústica
e iluminação, com resolução muito baixa ou É a busca de vestígios de edições (inser-
impregnados de ruído. Isso exige o trabalho ções, remanejamentos ou supressões de
pericial para revelar informações imperceptí- conteúdo) nos registros de áudio ou imagens
veis, restaurando os registros e permitindo a questionadas. O objetivo é verificar se a grava-
análise de seu conteúdo. Também é frequente ção foi manipulada para distorcer a realidade
a alegação ou suspeita da existência de edições dos fatos.
nesses registros, catalisada pela facilidade de
acesso a softwares de edição. Em face do desa-
Verificação de Locutor
fio de detectar manipulações aparentemente
perfeitas, é fundamental o trabalho do peri- É a comparação de amostras de voz com
to criminal na determinação de edições, seja o objetivo de verificar a compatibilidade entre
em registros de áudio ou em imagens, seja, as falas do suspeito e as falas questionadas.
Registros de Áudio e Imagens | 31

Reconhecimento Facial do o atendimento em prazo razoável e preju-


dicando a celeridade processual. Por isso, é
É a comparação de imagens questiona- de extrema importância que a requisição de
das de uma pessoa com imagens de referên- exame aponte os trechos de interesse à apura-
cia de um suspeito. O objetivo pode ser, por ção penal.
exemplo, verificar se o suspeito é o autor de Sempre que possível, deve ser encami-
um assalto a um estabelecimento monitorado nhada para exame a mídia original (isto é, o
por um sistema de CFTV. meio físico que primeiro armazenou os regis-
tros de áudio ou imagens questionadas), já que
Verificação de Fonte operações de cópia podem degradar a qualida-
de de uma gravação, podendo inserir eventos
É a comparação das características acústicos ou visuais originalmente inexisten-
intrínsecas de uma gravação ou imagem ques- tes, ou ainda mascarar elementos relevantes.
tionada com as características de gravações ou
Deve-se, também, encaminhar, sempre
imagens padrões produzidas por determinado
que disponível, o equipamento supostamente
equipamento. O objetivo pode ser determinar utilizado para a realização da gravação ques-
se os registros de áudio questionados foram tionada, para que o perito criminal verifique se
produzidos por um gravador de voz específico, essa gravação é compatível com as característi-
ou se as imagens questionadas foram produ- cas do gravador e se determinados elementos
zidas por uma câmera ou filmadora específica. indicativos de edição não passam, na verdade,
de efeitos tipicamente inseridos pelo gravador
Reprodução Simulada Assistida por apresentado.
Computador Com relação aos exames de Verificação
de Locutor e Reconhecimento Facial, a requisi-
Visa à construção de cenários virtuais ção deve indicar na gravação ou imagem ques-
com técnicas de computação gráfica e esca- tionada a voz ou face a ser analisada, a fim de
neamento 3D com tecnologia laser, por meio permitir seu estudo minucioso e a utilização de
da produção de maquetes digitais, estáticas suas características como base para o procedi-
ou animadas, que contribuem para o enten- mento de coleta do padrão de voz ou face do
dimento da dinâmica do fato em apuração, indivíduo suspeito.
permitindo a realização de testes de hipótese,
fortalecendo a prova material e facilitando a
compreensão das conclusões periciais.

Considerações Finais
Dependendo da forma como é requisita-
da, a análise de registros de áudio ou imagens
pode se tornar muito demorada, inviabilizan-
Foto: Alexandre Magno

Perícias em Equipamentos e
Sistemas Eletroeletrônicos
João Paulo Batista Botelho
André Luiz da Costa Morisson

A eletricidade e a eletrônica estão presen-


tes em praticamente todos os aspectos da
vida moderna, desde a iluminação das nossas
casas às telecomunicações e aos computado-
res. Por esse motivo, diversos crimes podem
ser cometidos tendo equipamentos e sistemas
eletroeletrônicos como vestígios.

Isso inclui, por exemplo, condutas carac-


terizadas como crimes de telecomunicações,
tais como rádios piratas, provedores de Inter-
net e TV a cabo ilegais, estações de radioco-
municação sem licença ou outorga e centrais
telefônicas clandestinas. Ainda podem ser
incluídas nesse rol as fraudes realizadas a partir
de equipamentos de clonagem de cartões
bancários e de crédito, conhecidos popular-
mente como “chupa-cabras”.
34 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

O conhecimento de engenharia elétrica Radiocomunicação


é, de igual forma, importante nos laudos peri-
ciais que envolvem superfaturamento de obras É a telecomunicação que utiliza frequências
financiadas com recursos públicos, quando radioelétricas não confinadas a fios, cabos ou
estão envolvidos sistemas de energia elétrica e outros meios físicos, que faz uso de um equi-
de telecomunicações, além de equipamentos pamento transceptor (emissor e receptor),
eletroeletrônicos e máquinas elétricas. comercial ou amador, para estabelecer contato
Os exames de dispositivos e sistemas a distância entre duas estações de radiocomu-
de interceptação de informações, como é o nicação.
caso dos grampos telefônicos ilegais, também Os exames visam caracterizar instala-
são afetos a essa área. A afinidade desse ramo
ções de telecomunicação quanto à sua aptidão
pericial com as atividades de contramedidas1
para funcionar como uma estação clandesti-
faz com que a Criminalística da Polícia Federal
na de comunicação via rádio, ou equipamen-
também seja responsável pela realização de
to eletrônico quanto a ser um transceptor de
varreduras eletrônicas2 .
rádio. Têm ainda como objetivo determinar a
potência e a frequência de operação.
Tipos de Exames
Provimento de acesso à Internet
Radiodifusão sonora ou de sons e Os exames têm como objetivo a carac-
imagens terização de instalações de telecomunicação,
tais como provedores clandestinos de acesso
Radiodifusão é o processo de transmis-
à Internet.
são (emissão) comercial de sinais de rádio ou
de televisão por ondas eletromagnéticas. Na
radiodifusão sonora os exames têm como
Provimento de serviços de telefonia
objetivo a caracterização de uma instalação
Os exames têm como objetivo a caracte-
de telecomunicação como uma emissora clan-
rização de uma instalação de telecomunicação
destina de rádio, conhecida popularmente
como “rádio pirata”. Na radiodifusão de sons como uma central telefônica clandestina.
e imagens o objetivo está na caracterização
de uma instalação de telecomunicação, como Provimento de serviço de televisão
uma emissora ou retransmissora clandestina por assinatura
de televisão.
Os exames têm como objetivo a carac-
1 As contramedidas são mecanismos de controle físico, tecnológico terização de instalações de telecomunicação,
e humano que permitem a eliminação das vulnerabilidades ou a sua adminis-
tração, reduzindo os riscos a um patamar desejado. como operadoras clandestinas de televisão
2 A varredura eletrônica tem como finalidade a localização de
aparatos destinados à captura de áudio e/ou vídeo ambientais ou telefônicos. por assinatura, via cabo ou satélite.
Equipamentos e Sistemas Eletroeletrônicos | 35

Dispositivos para captura de dados avaliar o custo da obra em casos de suspeita de


bancários superfaturamento.

Os exames têm como objetivo a caracte-


rização de dispositivos quanto a sua capacida- Considerações Finais
de de capturar dados de cartões bancários ou
de crédito, normalmente instalados em caixas A demanda por exames em equipamen-
eletrônicos ou em terminais de transferência tos de telecomunicação vem crescendo devi-
eletrônica de fundos. Esse tipo de equipamen- do à popularização de tecnologias existentes
to é popularmente conhecido como “chupa- para essa finalidade. Por conta disso, torna-
-cabras”. -se necessária a atualização permanente dos
profissionais que atuam nessa área, que inclui
engenheiros eletricistas, eletrônicos, de teleco-
Máquina eletrônica programável
municações e de redes de comunicação.
Os exames têm como objetivo a carac-
terização de equipamentos eletrônicos como
máquinas de exploração de jogos, por exem-
plo, videopôquer ou videobingo, popularmen-
te conhecidos como máquinas “caça-níqueis”.

Sistemas de geração, transmissão e


distribuição de energia elétrica

Consiste no exame de usinas de gera-


ção de energia elétrica, de linhas de transmis-
são e de redes de distribuição, com o objetivo
de caracterizar uma falha ou a ocorrência de
superfaturamento em obras financiadas com
recursos públicos. Engloba também a análise
de seus dispositivos e sistemas de controle e
supervisão.

Instalações elétricas

Consiste no exame de equipamentos e


sistemas elétricos industriais, comerciais e resi-
denciais, com o objetivo de determinar a causa
de acidentes e falhas operacionais, bem como
Foto: Alexandre Magno

Perícias de Engenharia
Laércio de Oliveira e Silva Filho
Fernando Fernandes de Lima

D entre as diversas condutas criminosas


adotadas durante a seleção e contratação
de empresas para construir as obras públi-
cas brasileiras, boa parte deixa vestígios nas
próprias construções. As obras de engenharia
tornam-se, assim, testemunhos silenciosos de
fraudes, de desvios de recursos, de formação
de cartéis ou quadrilhas, e de outras práticas
que provocam prejuízos ao Erário e à socie-
dade em geral. Entende-se por obras, nesse
contexto, instalações prediais, estradas, ferro-
vias, barragens, pavimentações, aterros sanitá-
rios, sistemas de esgoto, sistemas de irrigação,
dentre outros.
38 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Para identificar os vestígios da conduta O objetivo, contudo, é um só: desviar recursos


criminosa, contudo, é preciso um olhar técni- públicos para particulares. Nesses casos, a obra
co sobre essas obras. Para isso, nos valemos de entregue terá sempre sua qualidade piorada
peritos criminais especialistas em engenharia ou sua vida útil reduzida, quando não impossi-
civil, elétrica, mecânica, cartográfica, agro- bilita, total ou parcialmente, o uso para o qual
nômica, entre outras. Busca-se, assim, traçar se destinava aquele objeto.
as linhas relacionais que compõem o clássico
Por outro lado, a cena pode englobar
triângulo da Criminalística, que une os vérti- também os escritórios da Administração Públi-
ces ocupados pela vítima, pelo criminoso e ca, onde são processados os documentos de
pela cena. No caso de crimes que envolvam seleção dos empreiteiros. Neles, pode haver
a contratação e execução de obras públicas, documentos em que aparecem manipula-
o agente criminoso pode ser um político, um ções para: beneficiar determinadas empresas,
servidor público ou agente privado, ou ainda barrar a entrada de determinados fornecedo-
todos eles. Por sua vez, a cena passa a ser a res, tornar os preços demasiado altos, entre
obra, o processo de seleção do empreitei- outras condutas que aperfeiçoam os crimes.
ro, conhecido como licitação pública, ou os
processos de medição e pagamento. Por fim, a Pode incluir também o canteiro de obras,
vítima é a comunidade atendida pela constru- onde podem ser realizadas medições frau-
dulentas dos serviços, ou onde as normas de
ção e, em sentido amplo, a própria União, que
construção podem não estar sendo seguidas.
se vê frustrada no atendimento de seus objeti-
vos. Estabelecer a materialidade desses liames Por fim, pode ainda ser um escritório de
é tarefa da equipe de perícias de engenharia. projetos, onde são elaboradas peças fictícias
como, por exemplo, planilhas orçamentárias
desvinculadas da realidade dos projetos ou do
A Cena encaminhamento que se pretende dar à obra.
Tais documentos, quando apresentados à
Obras inacabadas, feitas com materiais Administração Pública, darão margem a distor-
de construção de má qualidade, realizadas ções, erros, desperdício e desvio de recursos.
com preços superfaturados ou simplesmente
não construídas, não são frutos do acaso ou
de fatores fora do controle humano. Ao invés A Vítima
disso são, quase sempre, consequência de atos
ou omissões realizados pelos responsáveis por Em sentido restrito, a vítima será sempre
entregá-las dentro do prazo, com boa quali- a população atendida pelas obras sob investi-
dade e preço justo. Substituir, por exemplo, os gação, e todo o povo brasileiro, em sentido
materiais especificados por outros de qualida- amplo. Entrega de edifícios públicos que já
de inferior é fruto de uma decisão que pode ter são inaugurados precisando de reformas ou
sido do empreiteiro, ou do fiscal da obra, ou do ampliações; pontes que não se ligam a lugar
gestor, enfim, das pessoas que deveriam zelar algum, deixando comunidades ou cidades
pela perfeita execução do objeto contratado. inteiras isoladas; conjuntos habitacionais cujas
Engenharia | 39

casas não atendem a padrões mínimos de Esses padrões são agrupados em quatro
habitabilidade para seus moradores; equipa- categorias: padrões de projeto, de mercado, de
mentos de infraestrutura urbana construídos contrato e normativos. Os exames associados a
com preços muito acima dos preços de merca- eles são, principalmente, exames de projeto, de
do; ou ainda aquele revestimento asfáltico execução, de preços, de licitação e de qualida-
recém-construído que é parcialmente arranca- de. A seguir, encontram-se detalhados os tipos
do para colocação da rede de esgoto. de padrões usados nessas perícias, informando
como são processados os respectivos tipos de
Fatos como os aqui exemplificados cons- exames, que visam estabelecer a materialida-
tituem agressões às mesmas vítimas, quais de das relações entre os vértices vítima, cena e
sejam a sociedade, as comunidades, o Erário e criminoso. Mais adiante, seguindo esse esque-
toda a Nação. ma lógico, é possível traçar os objetivos dos
exames das perícias de engenharia.

O Criminoso Padrões de projeto

O criminoso, no caso de crimes que São os próprios projetos da obra. São as


envolvam obras públicas, nunca está sozinho. instruções para se realizar o objeto contratado.
Sempre age no interior de uma cadeia de Os projetos arquitetônicos, estruturais, elétri-
cumplicidade. Entre eles, pode estar um polí- cos, cartográficos, entre outros, são compa-
tico corrupto, um servidor de uma repartição rados com o que foi efetivamente realizado.
pública, ou um empreiteiro em busca de lucros Resultam dessa análise conclusões se esta foi
realizada a contento e em que medida isso
desonestos, sempre na perspectiva da corrup-
ocorreu. Esses são os chamados “Exames de
ção. Em outra dimensão, a da culpa, podem
Constatação”, que exigem a vistoria da obra
surgir simples operários mal-orientados por
pelo perito criminal.
um engenheiro de obra ausente, funcionários
desatentos no trato com processos de paga- Muitas vezes os próprios projetos podem
mentos e de fiscalização, entre outras inúme- ser questionados e, para sua correta avaliação,
ras possibilidades de ação ou omissão dos são tomados padrões mínimos para realização
responsáveis. de projetos. Por exemplo, sabe-se que, para
erigir uma ponte, é necessário, no mínimo:
estudos geotécnicos para investigar o subsolo;
Tipos de Exames estudos da topografia do terreno; os projetos
arquitetônico, de fundações, de estrutura, de
sinalização, de terraplenagem, entre outros.
A Criminalística vale-se, em seu método
Também é possível analisar a relação entre
de investigação, de padrões para comparação. os objetivos e o projeto em si, pois não é raro
Não é diferente no caso das perícias de enge- encontrar casos em que o projeto não aten-
nharia. Os tipos dos exames de engenharia são de às necessidades da Administração Pública.
determinados pela categoria dos padrões a Nesse caso, o exame é chamado de “Análise de
serem confrontados. Projeto”.
40 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Padrões de mercado Padrões normativos

Os preços para se erigir uma construção São as inúmeras normas técnicas de


são determinados pelo mercado da construção, engenharia que versam sobre todos os aspec-
sempre vinculado a uma determinada região e tos de uma construção, definindo padrões de
época. Para avaliar se determinada obra sob qualidade e de segurança. Com elas são compa-
rados os projetos, as especificações e a própria
investigação foi contratada por preços compa-
materialidade das obras sob investigação. No
tíveis com os de mercado, o perito criminal
caso de sinistros envolvendo obras, como desa-
investiga esse mercado, por meio de pesquisas bamentos, essa análise é central, visando iden-
de preços de materiais, equipamentos e mão tificar inconformidades da obra. Esses exames
de obra, de condições logísticas e de acesso, constituem a “Análise de Qualidade”.
e de estruturas de custo direto e indireto para
realizá-la. Também são incluídos estudos sobre Relação Vítima x Cena
a estrutura tributária vigente à época da reali-
zação das obras, fator que influencia de manei- O lado do triângulo que liga a vítima à
ra bastante significativa as obras de engenha- cena tem um grande conjunto de elementos
ria. Para tanto, vale-se dos padrões de mercado, materializados pela perícia de engenharia. O
obtidos a partir das técnicas de orçamentação perito criminal estabelece a materialidade da
de obras e de pesquisas de preços oficiais ou relação entre o Erário, a sociedade ou a Admi-
de instituições renomadas. Esses exames cons- nistração, quando vitimados por ação crimino-
tituem a “Análise de Preços”. sa, e as circunstâncias do crime que, no caso
das perícias de engenharia, são a própria obra
e seus processos de contratação e pagamento.
Padrões de contrato
Como é materializada essa relação? No
O próprio contrato de empreitada, uma caso de obras superfaturadas, cabe à perí-
vez celebrado, estabelece, segundo a lei, uma cia constatar a diferença e incompatibilidade
série de padrões a serem respeitados durante entre os preços contratados e os de mercado,
sua execução, que pode vir a ser considera- à época e região. Podem também constatar
o montante de serviços contratados e não
velmente longa. Muitas vezes as condições
realizados, determinando seu valor. Nos casos
estabelecidas inicialmente são drasticamente
de má qualidade nas construções, os peritos
alteradas ao longo da execução da obra, fato
criminais podem identificar suas causas e efei-
que impõe ao perito criminal a necessidade tos, além dos riscos e prejuízos que essa cons-
de investigar o ponto de equilíbrio estabeleci- trução oferece a seus usuários.
do inicialmente para identificar os conhecidos
jogos de planilha: manipulações sobre o orça- Relação Cena x Criminoso
mento em busca de lucros injustificados que
podem ensejar prejuízo à Administração. Esses Estabelecer e materializar a relação entre
constituem o “Exame Documental”. as pessoas que interferem, por ações ou omis-
Engenharia | 41

sões, no planejamento, na execução e no paga- Considerações Finais


mento de uma obra também é papel da perícia
de engenharia, que conta, para isso, com um Ramo da Criminalística em franca expan-
leque de técnicas e abordagens. são e desenvolvimento, a perícia de engenha-
Trata-se de identificar relações de causa ria acumula, por um lado, grandes realizações
e, por outro, desafios a serem superados. As
entre documentos diversos e a obra, no que
técnicas de apuração da materialidade dos
tange aos aspectos de engenharia envolvidos
crimes relacionados às obras desenvolvem-se
em crimes. Uma planilha de custos de constru-
à medida que evoluem os mecanismos de frau-
ção encontrada no escritório de uma empresa
de e as tecnologias construtivas.
investigada pode ter semelhanças inexplicá-
veis com outra planilha que subsidiou a elabo- As perícias de engenharia podem não
ração de uma licitação, e que deveria ser de bastar para fechar um caso, atuando em
conhecimento exclusivo dos funcionários da conjunto com outras áreas da Criminalística
repartição pública. Orçamentos comparativos, para esclarecer os fatos, no que tange à apura-
contendo diversos cenários de preços para lici- ção da materialidade do crime. Vale lembrar
tações, também podem, por exemplo, apontar que, por exemplo, uma simples assinatura
a relação de empresas e pessoas com proces- aposta a um documento pode estabelecer uma
sos de seleção fraudulentos. correspondência entre pessoas, o que poderia
oferecer maior robustez ao corpo probatório
utilizado na persecução penal.
Relação Vítima x Criminoso

Das relações a serem materializadas


pela perícia de engenharia, esta é a que possui
maior interface com outras áreas da Criminalís-
tica. O dano infligido à Administração Pública e
à sociedade por meio de uma construção deve
também ser ligado a seus agentes responsá-
veis por ação ou omissão.

Pagamentos antecipados ou indevidos a


um empreiteiro, atos administrativos que, sem
fundamentação técnica, atrasam, alteram ou
inviabilizam a conclusão de uma obra, elabo-
ração de projetos ou planilhas orçamentárias
falhas, entre outros, são algumas das consta-
tações periciais que estabelecem esse liame.
Contribuem para fechar essa materialização os
exames documentoscópicos, contábeis, entre
outros.
Foto: Alexandre Magno

Perícias de Informática
Luiz Fernando Lima Alves da Cunha
Rafael Saldanha Campello

A Informática Forense é a parte da Crimi-


nalística que examina os vestígios dos
crimes cometidos no âmbito da informática – o
mundo dos computadores, mídias de armaze-
namento de dados, Internet, intranets, códigos
de programas, softwares, etc.

A seguir são apresentados os diferentes


tipos de exames relacionados à Informática
Forense, fornecendo ao leitor uma ideia geral
das diversas tarefas realizadas pelos peritos
criminais federais que atuam nessa área.
44 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Tipos de Exames Exame de Dispositivo de Armazena-


mento Computacional
Dentre os diversos tipos de delitos no
âmbito da informática destacam-se, no cená- Dispositivos de armazenamento compu-
tacional são os equipamentos que armazenam
rio contemporâneo, o furto de informações
dados em meio digital: discos rígidos (HDs),
(pessoais ou empresariais), as fraudes contra
cartões de memória, fitas magnéticas, mídias
instituições bancárias no que tange a transa- óticas (CDs, DVDs ou Blu-rays), pendrives,
ções pela Internet e as evidências relacionadas dentre outros.
à exploração sexual de crianças e adolescentes,
A análise do conteúdo dessas mídias
dentre tantos outros.
de armazenamento digital representa a maior
É importante ressaltar que, ao contrá- parte dos exames realizados pela Perícia de
rio do senso comum, a rigor não se pode Informática. Isso acontece porque esses equi-
falar em “crimes virtuais” – esse termo pode pamentos, cada vez mais, são utilizados como
meio (ou suporte físico) para as mais diferen-
passar a falsa impressão de que se está lidan-
tes práticas delituosas: troca de mensagens
do com crimes que não deixam rastros. Seja
entre criminosos, armazenamento de arquivos
em computadores isolados ou agrupados em relacionados a fraudes contábeis/financeiras,
grandes redes (como a Internet, por exemplo), divulgação de material ilícito na Internet, entre
o crime sempre deixa vestígios relevantes. outros.
Nesse contexto, o papel do perito criminal é
Na maioria das vezes, por meio de
coletar e examinar esses vestígios, buscando
técnicas forenses apropriadas, os dispositi-
determinar a materialização, o modus operandi
vos originais são duplicados, produzindo-se
e a autoria do crime na área de informática. cópias idênticas. Como medida de segurança,
procura-se realizar os exames sobre as cópias,
Para a realização dos exames, o perito
preservando-se os originais. Essas cópias são
criminal age em resposta a um conjunto de
apagadas após a conclusão do laudo.
perguntas que lhe são apresentadas por meio
de solicitação formal, geralmente vindas das Cabe salientar que esse processo de dupli-
equipes de investigação policial – podendo cação age não apenas sobre os arquivos direta-
vir também do Ministério Público ou do Poder mente acessíveis no equipamento, mas também
sobre aqueles previamente apagados que
Judiciário. Ao término dos exames, é elabora-
possam ser recuperados, bem como sobre os
do o Laudo Pericial, em que os quesitos são
dados presentes em áreas protegidas do dispo-
respondidos em função dos exames realizados, sitivo. Em boa parte dos casos as informações de
sendo estes descritos de forma metódica e em suma importância são recuperadas dessas áreas
linguagem acessível. de difícil acesso da memória dos dispositivos.
A seguir, são apresentados os diferentes Ao final desse tipo de exame, os arquivos
tipos de exames que são realizados no âmbito relevantes extraídos dos dispositivos examina-
da perícia de informática: dos são geralmente gravados numa mídia ótica
Informática | 45

(DVD), que segue anexa ao laudo pericial, onde Exame de Sistema Computacional
se encontra registrado um código de integri- Embarcado
dade único associado à mídia, que assegura a
autenticidade da mesma. Sistemas computacionais embarcados
são aqueles designados para um conjunto
Exame de Equipamento Computacional pequeno de funções dedicadas; tais sistemas
são componentes (módulos) de um sistema
Equipamentos computacionais são maior cuja natureza não é necessariamente
todos aqueles com capacidade de proces- computacional. Como exemplo, pode-se citar
samento computacional: computadores de os computadores de bordo de aeronaves.
todos os tipos (desktops, notebooks, servido- Nesse tipo de exame pericial, faz-se a análise
res, etc.), telefones celulares, agendas eletrôni- dos dados e das características físicas e funcio-
cas, tablets, dentre outros, além dos dispositi- nais do sistema.
vos de armazenamento de dados.

Nesse tipo de exame o enfoque princi- Exame em Redes de Computadores


pal está nas características físicas e funcionais
desses equipamentos e, de maneira secundá- Este tipo de exame tem como objetivo
ria, nos dados ali armazenados. Por exemplo, analisar vestígios diretamente relacionados
um computador pode ser encaminhado à perí- a computadores conectados em redes, tanto
cia caso haja interesse em determinar se ele é em redes internas (intranets) quanto exter-
eficaz para se conectar à Internet. nas (dentre as quais se destaca a Internet). O
objetivo é recuperar dados em dispositivos aos
Exame de Sistema Informatizado quais não se tem acesso físico e que ainda não
foram (e provavelmente não serão) apreendi-
Sistemas Informatizados são programas dos. Exemplo desse tipo de exame é a análise
ou aplicativos (software), comerciais ou não, de sites da Internet em que são cometidos ilíci-
que são utilizados numa plataforma computa- tos, tais como divulgação de pedofilia, terroris-
cional para a realização de determinada tarefa. mo, crimes de ódio, difamações em redes de
O exame pericial de tais sistemas tem como relacionamento, dentre muitos outros.
objetivos:
• O acesso a dados, visando obter Exame de Vestígios de Informática
conjuntos de informações armazenadas pelo em Local de Crime
sistema examinado;
Este tipo de exame consiste na coleta,
• A análise de utilização, visando iden-
preservação e análise de dados informáticos
tificar registros de acesso (logs) do sistema
existentes em um local de crime. Posterior-
examinado;
mente é elaborado um Laudo de Local de
• A análise funcional, visando determi- Crime de Informática. Como exemplo, pode-se
nar características sobre a operação e compor- citar o caso de um computador ligado compar-
tamento do sistema examinado. tilhando fotos de abuso sexual contra crian-
46 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

ças e adolescentes; outro exemplo seria um comprometer a integridade das informações


computador em que estivesse sendo executa- ali armazenadas. O ideal é que os equipamen-
do um programa de fraude contra instituições tos sejam apreendidos e manipulados apenas
bancárias. em um laboratório pericial, onde se encontram
disponíveis ferramentas e técnicas adequadas
Exame de Procedimento Licitatório para a análise desses dados.
de Informática
Outro ponto a se ressaltar é a necessi-
dade de integração entre a perícia de infor-
Este tipo de exame tem como objetivo
a análise de procedimentos licitatórios que mática e os demandantes de seus serviços.
envolvam a compra de produtos, serviços, Quanto maior a integração, maiores serão a
equipamentos ou sistemas de informática, no celeridade, a eficácia e a relevância dos exames
que tange aos aspectos técnicos. periciais. Exemplos dessa integração são os
trabalhos conjuntos realizados nas intercep-
tações telemáticas e na estratégia de análise
Considerações Finais de dados conhecida como SARD (Solução de
Análise Remota de Dados), onde o conteúdo
Deve-se evitar a manipulação dos equi- dos computadores suspeitos é disponibilizado
pamentos nos locais de apreensão. Mesmo o aos investigadores de forma descentralizada e
simples ato de se ligar um equipamento pode segura, antes dos exames periciais.

Foto: Alexandre Magno


Informática | 47

Finalmente, é importante registrar o


crescente desafio que se impõe à Perícia de
Informática na sociedade contemporânea,
dado o uso maciço de sistemas computacio-
nais nos mais diversos contextos. A velocidade
dos avanços tecnológicos impõe uma necessi-
dade permanente de investimento em infraes-
trutura e equipamentos, capacitação, pesquisa
e desenvolvimento de novas técnicas e ferra-
mentas.
Foto: Alexandre Magno

Perícias de Química Forense


Daniele Zago Souza
Marcio Talhavini

N a área de Química Forense atuam peritos


com formação em química, ciências farma-
cêuticas e engenharia química realizando perí-
cias físico-químicas e toxicológicas. Os exames
podem incluir a verificação da presença de uma
substância específica, lícita ou ilícita, e eventu-
almente a determinação de sua pureza e de
possíveis adulterações. Realizam-se também
exames para a caracterização de materiais
(minerais, vegetais, metais, gemas, cosméticos,
combustíveis, sólidos e líquidos sem identifica-
ção, produtos saneantes, produtos fertilizan-
tes, fibras, solventes, dentre outros), exames
em alimentos e exames para determinação de
autenticidade de medicamentos, agrotóxicos
e bebidas alcoólicas, em particular de uísques.
50 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Outras atividades de importância da plasma indutivamente acoplado com detector


área incluem as análises de detecção de drogas de massas.
em fluidos biológicos e pelos, análises ambien-
tais para determinação de substâncias polui- Além disso, emprega diversas técnicas
doras ou contaminantes em águas e solos, de preparação de amostra, tais como a extra-
análises de material recolhido em explosões e ção líquido-líquido, extração em fase sólida,
incêndios, análises de armas químicas, exames microextração em fase sólida e análises por
microscópicos em materiais diversos, entre headspace, uma técnica que permite a carac-
outros que necessitem de análise química, terização de substâncias que se volatilizam de
qualitativa e quantitativa, inorgânica, orgânica, uma amostra.
instrumental, físico-química e biológica. Ainda Vale ressaltar que o exame preliminar
são desenvolvidos cursos de treinamento e de constatação é previsto em lei como uma
aperfeiçoamento, metodologias analíticas e
ferramenta que permite a rápida verificação da
pesquisas de interesse da área.
presença de substâncias ilícitas (cocaína, hero-
ína e outras) em um material sob suspeita. Os
exames preliminares são projetados para serem
Tipos de Exames simples e rápidos, de forma a serem realizados
inclusive por pessoas que não tenham forma-
A área de Química Forense tem como ção em química, após certo treinamento. Devi-
objetivo principal a determinação da composi- do à sua simplicidade, os exames preliminares
ção química de um material, seja ele uma subs- podem eventualmente apresentar resultados
tância pura ou uma mistura complexa. Além falsos, tanto positivos quanto negativos. Com
da determinação da composição química de base nesse conhecimento, é prevista a realiza-
uma mistura, também é comum a análise da ção de exames de laboratório mais sofisticados,
quantidade de cada componente presente em após a realização do exame preliminar, para se
tal mistura, permitindo assim a verificação de confirmar, de forma inequívoca, a presença ou
teores de pureza e níveis de contaminação de não de determinadas substâncias.
amostras.
O objetivo primordial dos exames de
As principais técnicas disponíveis para a laboratório é a caracterização química de uma
consecução desse objetivo incluem as análises amostra que tem relação com a investigação
por via úmida e instrumentais, com destaque criminal; como exemplo pode-se citar a confir-
especial para as técnicas de cromatografia de mação da presença da substância ilícita cocaí-
camada delgada, cromatografias líquida e em na em pacotes apreendidos em uma operação
fase gasosa acopladas a espectrometria de policial, ou ainda a confirmação da presença
massas, espectrometria na região do infraver-
de uma determinada droga no interior de um
melho e espectroscopia de absorção na região
fio de cabelo, caracterizando o consumo da
do ultravioleta e do visível. Ainda podem ser
droga por parte do indivíduo.
relacionadas outras técnicas como a eletro-
forese capilar, cromatografia iônica, análises Atualmente, além da identificação da
térmicas, microespectrometria Raman, micro- presença de substância ilícita, seu perfil quími-
espectroscopia na região do infravermelho e co também pode ser determinado com o obje-
Química Forense | 51

tivo de se obter o local e/ou a metodologia


de processamento, bem como suas origens
geográficas.

Considerações Finais
Os exames laboratoriais realizados pela
área de Química Forense empregam técnicas
clássicas e tecnologia de ponta, e são capa-
zes de caracterizar uma substância de forma
inequívoca, com limites de incerteza desprezí-
veis.

Os procedimentos de coleta, armaze-


nagem e transporte de material a ser pericia-
do encontram-se padronizados e devem ser
seguidos, visando assegurar um resultado
confiável. A adoção de procedimentos diversos
pode prejudicar ou mesmo inviabilizar a reali-
zação de alguns exames.

A área de Química Forense atua em


projetos de pesquisa em cooperação ativa com
universidades e centros de pesquisas, visando
ao aperfeiçoamento de seu corpo pericial e ao
desenvolvimento de soluções analíticas cada
vez mais modernas e confiáveis.
Foto: Alexandre Magno

Perícias de Meio Ambiente


Marcelo Garcia de Barros
Paulo Sérgio de Carvalho Dias

A Constituição Federal, em seu artigo 225,


garante o meio ambiente equilibrado
como um direito da sociedade, sendo sua
defesa e preservação um dever do Poder Públi-
co e da coletividade. Com o advento da Lei de
Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98) a proteção
ao meio ambiente passou a ser tutelada penal-
mente, resultando em maior proteção dos
bens ambientais que, até então, eram protegi-
dos por meio de normatizações e leis de cará-
ter administrativo, bem como por reparações
de danos ambientais na esfera cível.

O Brasil, país detentor de um dos maio-


res patrimônios mundiais em biodiversidade,
é signatário da Convenção sobre o Comércio
Internacional de Espécies Silvestres da Fauna
e Flora Ameaçadas de Extinção – CITES. Nesse
contexto, a atuação da Polícia Federal é de suma
importância para coibir o comércio ilegal da
fauna e flora nacional ameaçada de extinção.

A realização de exames periciais neces-


sários à caracterização e apuração de crimes
cometidos contra o meio ambiente nas áreas
sob responsabilidade da União compete à
Criminalística da Polícia Federal. A União é
detentora de vasta quantidade de terras, dos
bens minerais presentes no subsolo e das áreas
sob sua tutela, tais como as terras indígenas,
unidades de conservação federais, florestas
públicas e áreas de fronteira, dentre outras.
54 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

A realização da perícia criminal de meio ras (extração seletiva) envolvem os seguintes


ambiente constitui-se de uma soma de análises aspectos:
específicas que se complementam e perfazem
uma abordagem holística, baseada nas diversas • Caracterização do produto (tora,
áreas do conhecimento científico. Nesse senti- madeira serrada, carvão) e sua valoração;
do, a perícia ambiental conta com peritos crimi-
• Comparação do material questiona-
nais federais de diversas formações acadêmicas,
entre elas a biologia, a geologia, a química, as do com um material padrão, previamente
engenharias agronômica, cartográfica, florestal identificado ou certificado por instituições de
excelência, ou com descrições disponíveis em
e de minas, e a medicina veterinária.
bibliografias específicas e bancos de dados
disponíveis;

Tipos de Exames • Identificação de espécies, por meio


da estrutura anatômica de sua madeira, utili-
Os exames periciais objetivam compro- zando técnicas de macroscopia, microscopia,
var a existência de crime contra o meio ambien- microtomografia e microscopia eletrônica de
te e caracterizá-lo, determinando as condições varredura, sempre que não for possível a iden-
em que ocorreu sua extensão, sua duração e, tificação botânica por flores, frutos, sementes e
por fim, o valor de reparação do impacto e dos folhas, como no caso de madeiras apreendidas
danos causados. em toras ou já beneficiadas;

A criminalística se utiliza dos conheci- • Análise de planos de manejo florestal


mentos, equipamentos e métodos técnico- com a finalidade de constatar extração ilegal
-científicos disponíveis para esclarecer, de de madeira.
maneira inequívoca, o crime e seus culpados.
Para tanto, realiza exames específicos com a
Extração mineral irregular
finalidade de constatar os seguintes crimes:
O exame de extração mineral irregular
Extração e comercialização ilegal de envolve os seguintes aspectos:
bens da União • Avaliação dos danos ao meio ambiente
causados pela atividade;
São os crimes que não cumprem as
exigências normativas de conservação ou • Verificação da ocorrência de extra-
representam a usurpação do patrimônio ção sem autorização ou em desacordo com
ambiental da União, acarretando danos ao os licenciamentos ambientais emitidos pelo
meio ambiente que podem ser irreversíveis. Departamento Nacional da Produção Mineral
Pode envolver bens madeireiros, minerais, (DNPM);
genéticos (flora e fauna), paleontológicos e
• Identificação do método extrativo;
gemológicos.
• Qualificação e avaliação do minério
Extração ilegal de madeiras extraído ilegalmente, podendo ser realiza-
dos exames físicos (densidade, cor, dureza) e
Os exames que são empregados na cons- químicos (composição, teor de substâncias)
tatação de crimes de extração ilegal de madei- para sua identificação.
Meio Ambiente | 55

Extração de bens genéticos da flora e da • Análise de gemas brutas ou lapidadas


fauna (quartzo, citrino, ametista, turmalina, água-
-marinha, topázio, entre outras) por meio da
Os exames envolvendo a extração de realização de testes físicos, tais como índice de
bens genéticos da flora e da fauna, conhecida refração, densidade, isotropia, entre outros.
por biopirataria e/ou tráfico de animais silves-
tres, envolvem os seguintes aspectos: Exploração irregular de sítios paleontoló-
• Análises comparativas sobre a origem gicos
do material e constatação do status de ameaça
Os sítios paleontológicos, sendo os
de extinção;
fósseis considerados bens da União, também
• Identificação de espécies animais por estão sujeitos à exploração irregular. Nesse
meio da anatomia de ossos, couros, pelos, sentido, os exames necessários envolvem os
penas, entre outros, ou ainda, caso necessário, seguintes aspectos:
identificação por DNA;
• Comparação morfológica de fósseis de
• Identificação vegetal por meio da filo- vegetais e animais;
taxia1 de flores, frutos, sementes e folhas e da
anatomia macroscópica da madeira; • Determinação de origem, identificação
e estimativa de idade da espécie;
• Exames de identificação e relações de
parentesco em animais silvestres apreendidos • Estimativa do valor do material apre-
em cativeiros ou objetos de caça; endido no mercado ilegal de fósseis.
• Verificação de sanidade de animais
silvestres vítimas de maus-tratos, através Crimes contra a fauna e a flora,
de exames clínicos e anatomopatológicos ocupações e usos do solo em áreas
(necropsia para determinação de causa mortis); protegidas
• Verificação de idoneidade de anilhas
de criadouros supostamente autorizados, Geralmente são crimes em que exis-
entre outros. te uma relação direta de causa e efeito entre
fauna e flora, visto que a vegetação natural faz
Extração e comercialização irregular de parte do habitat da maior parte dos animais
gemas nativos. Esses crimes apresentam ainda uma
interface com as ocupações e modificações do
Os exames que caracterizam a extração uso do solo e os danos infligidos às áreas legal-
e comercialização irregular de gemas envol- mente protegidas, tais como áreas de preserva-
vem os seguintes aspectos: ção permanente (APP), reservas legais, unida-
• Identificação, qualificação e valoração des de conservação federal, florestas públicas
dos materiais apreendidos; federais e terras indígenas.

• Determinação da origem e existên- Os apetrechos utilizados na consecução


cia de jazidas minerais associadas a gemas no de crimes ambientais, bem como materiais,
território nacional; equipamentos, máquinas e veículos utilizados
1 Padrão de distribuição das folhas ao longo do caule das plantas. para a caça, pesca, extração vegetal e extração
56 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

mineral, também podem se tornar objeto de • Levantamento de vestígios observa-


exame pericial. dos em campo e entendimento da dinâmica
do fogo, levando em consideração a direção
e velocidade do vento, umidade do ar, entre
Desmatamentos e desflorestamentos
outros;
Os exames de desmatamentos/desflo-
• Realização de exames para identifica-
restamentos consideram padrões de conver-
ção de animais silvestres mortos em decorrên-
são do uso do solo, com ocorrência de erra- cia desses eventos.
dicação total ou parcial da vegetação, muitas
vezes ligados a outros crimes tais como incên-
dios florestais, que também apresentam conse- Análise de procedimento administra-
quências para a fauna local. Nesses exames são tivo ambiental
analisados os seguintes aspectos:
Utilizado para verificar a autenticidade,
• Estimação do grau de endemismo2 e
validade e cumprimento das licenças ou auto-
de ameaça do ecossistema danificado;
rizações ambientais concedidas para o empre-
• Verificação das estruturas das comuni- endimento periciado, incluindo exames em
dades vegetais remanescentes, da densidade EIA/RIMA4, análise de PRAD5 ou outros exames
de indivíduos, do estado da regeneração natu- em documentos que estejam inseridos em
ral e estágios sucessionais3, além da descarac-
procedimento administrativo ambiental.
terização da vegetação natural e/ou da intro-
dução de espécies exóticas;
Poluição
• Constatação da severidade do dano
e estimativa do custo de reparação do dano
ambiental; Os exames periciais em locais alvos de
crimes de poluição têm como principal obje-
• Identificação da causa mortis de tivo caracterizar eventuais danos e riscos ao
animais atingidos pelo dano ambiental. meio ambiente e à saúde humana, gerados
pelas atividades antrópicas poluidoras. Enqua-
Incêndios florestais dram-se nessa categoria atividades industriais,
agrícolas, minerações, garimpos, lixões, entre
Os exames envolvendo incêndios flores-
outras, que manuseiam e dispõem de forma
tais se baseiam no entendimento da dinâmi-
inadequada os seus resíduos sólidos, líquidos
ca do evento por meio do levantamento de
e/ou gasosos com potenciais perigos ao meio
várias informações, que estão relacionadas aos
ambiente. Dentre os exames realizados para
seguintes aspectos:
sua constatação, pode-se abordar os seguintes
• Utilização de satélite para detecção de aspectos:
focos de calor e estudo do histórico de ocorrên-
cias e de práticas de uso de fogo para preparo • Análises da atividade poluidora e das
do solo na região; suas relações com o meio ambiente e a popu-
lação do entorno;
2 Espécies que ocorrem somente em uma região restrita.
3 Etapas que se sucedem durante o decorrer do desenvolvimento 4 EIA/RIMA - Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto
de um ambiente florestal, com proporções diferenciadas entre indivíduos, ao Meio Ambiente.
pioneiros, intermediários e clímax. 5 PRAD – Plano de Recuperação de Áreas Degradadas.
Meio Ambiente | 57

• Avaliação in situ das condições ambien- demonstrar fraudes em construções (como


tais com auxílio de sondas multiparamétricas, vigamento insuficiente ou estradas fora das
que medem uma série de parâmetros físico- especificações). Podem ainda ser utilizados na
-químicos dos ambientes naturais; busca de corpos e ossadas enterrados, objetos
• Exames laboratoriais para detecção de metálicos ou cerâmicas indígenas e constru-
presença e concentração de metais pesados ções antigas soterradas (sítios arqueológicos),
em amostras ambientais. que fazem parte do patrimônio da União.

A Entomologia Forense, por intermédio


do conhecimento da fauna de uma região,
Considerações Finais ajuda na investigação de crimes, fornecendo
uma estimativa do tempo transcorrido após
O geoprocessamento e os Sistemas de a morte de pessoa ou animal. A cronologia
Informação Geográfica (SIG), tais como o INTE- da infestação por insetos em cadáveres de
LIGEO6, a Geofísica Forense e a Entomologia humanos ou animais permite a determinação
Forense, são ferramentas auxiliares na detecção do período decorrido post mortem. A técnica
e no combate a vários tipos de crimes, dentre pode ser utilizada no auxílio à elucidação de
eles os de meio ambiente. Os peritos dispõem crimes de morte violenta, por exemplo.
de aplicativos específicos para análise e detec-
ção de desmatamentos em todo o território A complexidade do conhecimento
nacional, sobretudo na Amazônia, possibilitan- inerente à multidisciplinaridade da perícia
do, por exemplo, a identificação e mensuração ambiental muitas vezes demanda dos peri-
de áreas desmatadas e/ou mineradas ilegal- tos da área de meio ambiente a participação
mente. Auxiliam ainda na detecção de padrões prévia no processo investigativo, no sentido
associados a cultivos ilícitos (ex: maconha), na de orientar a correta coleta de informações,
integração de dados geográficos de múltiplas visto que as demandas ambientais têm como
fontes, na realização de análises espaciais dos característica recorrente, por um lado, uma
ilícitos com vistas à avaliação de tendências e grande quantidade de informações técnicas,
para subsidiar o planejamento tático e a toma- e, por outro lado, a efemeridade dos vestí-
da de decisão pela Polícia Federal. gios e provas ligadas aos crimes ambientais.
Portanto, a área de perícia ambiental neces-
A Geofísica Forense, por intermédio do sita de um adequado planejamento logístico
uso do Radar de Penetração no Solo e técnicas para realização dos procedimentos periciais, e
indiretas, avalia as propriedades físicas tanto possui características peculiares que influen-
em superfície quanto abaixo do nível do solo, ciam no tempo de atendimento às solicitações,
com a vantagem de preservar os possíveis em função, principalmente, da sazonalidade
vestígios no local do crime. Os dados geofí- inerente aos exames em campo.
sicos processados podem indicar a ocorrên-
cia de vazamentos de produtos químicos ou
radioativos, bem como auxiliar na localização
de rompimentos de tubulações enterradas e
6 O INTELIGEO é um Sistema de Inteligência Geográfica desenvolvi-
do pela Criminalística da Polícia Federal.
Foto: Ana Paula Batista

Perícias sobre o Patrimônio


Cultural
Laércio de Oliveira e Silva Filho

C onforme preceitua a Constituição Federal


de 1988, em seu artigo 216, Patrimônio
Cultural pode ser definido como os bens de
natureza material e imaterial, tomados indi-
vidualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem: as formas de
expressão; os modos de criar, fazer e viver; as
criações científicas, artísticas e tecnológicas;
as obras, objetos, documentos, edificações e
60 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

demais espaços destinados às manifestações adequada apreciação dos profetas de Alei-


artístico-culturais; e os conjuntos urbanos e jadinho fora das escadarias do Santuário de
sítios de valor histórico, paisagístico, artísti- Bom Jesus de Matosinhos, onde elas estão.
co, arqueológico, paleontológico, ecológico e Nesse caso, restituir uma peça ao local de onde
científico. foi retirada pode tornar-se uma desafiadora
empreitada, que precisará lançar mão de todos
Os bens examinados podem ser imóveis, os recursos disponíveis, entre eles as técnicas
como construções de valor histórico prote- das diversas disciplinas da Criminalística.
gidas, ou móveis, como peças de decoração
furtadas de museus, ou ainda móveis e inte- A simples apreciação de uma peça
grados, como imagens sacras subtraídas dos encontrada, por exemplo, na mala de um trafi-
retábulos de uma igreja barroca. Em esfera cante, não poderá identificar sua origem e sua
bastante diversa, mas também já abordada importância. Assim, será preciso, ao lado das
pela Polícia Federal, podem ser sítios históricos diligências investigativas, descobrir a origem
ou arqueológicos ameaçados pela ação crimi- da peça a partir de sua própria materialidade:
nosa. trabalho eminentemente pericial. Para tanto,
não bastarão exames de uma única disciplina,
No caso de bens móveis integrados, sendo necessárias as contribuições de diversos
não interessa simplesmente proteger as peças ramos do conhecimento, como a ciência dos
individualmente. É preciso zelar por todo o materiais, história, organologia, grafoscopia,
ambiente que a cerca. Não se conceberia uma entre outras.

Foto: Ana Paula Batista


Patrimônio Cultural | 61

Tipos de Exames Considerações Finais


A moderna legislação ambiental brasi-
Autenticidade leira, que também protege nosso patrimônio
histórico e artístico, é recente e fundamental
O exame de autenticidade é a aplicação para a persecução penal de crimes contra esses
do procedimento clássico da Criminalística, bens.
qual seja o confronto entre um padrão e o obje-
to questionado. Assim, busca-se responder, Cada caso de perícia pode se tornar um
com base nas fontes disponíveis a respeito de verdadeiro trabalho de pesquisa, em busca
uma obra de arte, estilo artístico ou tipologia de fontes para formar um banco de padrões,
de construções, se o bem examinado é aquele ainda muito restrito e em fase de crescimento.
procurado, ou se pertence a um determinado
período estilístico. Em face dessa realidade, torna-se neces-
sária a atualização permanente dos peritos
criminais e a realização de integrações e acor-
Avaliação de Mercado dos de cooperação com organismos que dete-
nham conhecimento na área de patrimônio
No caso de bens artísticos não prote-
cultural.
gidos, mas submetidos à ação criminosa, por
meio de comércio em mercados de lavagem
de dinheiro, cabe determinar o real valor de
mercado das obras de arte apreendidas, não
sendo possível aceitar os valores nominais
dessas transações. Para tanto, empreende-
-se um verdadeiro trabalho de avaliação, que
nunca poderá ser subjetiva, mas, ao invés disso,
solidamente embasada em critérios econômi-
cos, artísticos e estatísticos. Usam-se, então, as
técnicas de avaliações de bens.

Avaliação de Danos

Determinar se um bem, notadamente


edificação protegida, foi danificado e qual foi
a extensão desse dano é outro dos exames das
perícias criminais de patrimônio histórico. A
perícia criminal possui ferramentas para avaliar
bens imóveis, como os prédios históricos e seus
elementos constituintes. Para esses exames,
lança-se mão dos conhecimentos da arquite-
tura e da engenharia, que podem identificar
alterações ou demolições em construções.
Foto: Ana Paula Batista

Perícias de Veículos
Erick Simões da Camara e Silva
Rodrigo Gonçalves Teixeira

D efine-se veículo como qualquer meio de


transporte. No âmbito da Polícia Federal
padronizou-se a classificação em veículos terres-
tres, aeronaves (veículos aéreos) e embarcações
(veículos aquáticos).

Há um grande interesse forense em


exames periciais em veículos, pois em quase
todas as ocorrências existe direta ou indireta-
mente um veículo; diretamente quando é obje-
to de alteração em suas características e indi-
retamente quando é utilizado como meio de
locomoção ou transporte.

Em muitas ocorrências criminais os veícu-


los envolvidos apresentam riqueza de vestígios
de natureza multidisciplinar, cujo processamen-
to pode demandar a atuação de profissionais de
diversas áreas do conhecimento.
64 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Tipos de Exames Exame de veículo incendiado

Como procedimento padrão nos


Exame descritivo e de alterações nas exames de incêndio, busca-se a verificação da
características do veículo causa mediata e imediata, bem como o ponto
de início do incêndio, o perigo que dele tiver
Esse exame visa identificar os dados resultado para a vida ou para o patrimônio
característicos (marca, modelo, ano de fabri- alheio, a extensão do dano e o seu valor e as
cação, país de fabricação, acessórios etc), o demais circunstâncias que interessam à eluci-
funcionamento, o estado de conservação e dação do fato.
o valor comercial, de forma a individualizar o
veículo, proporcionando informações preci- Pode-se também realizar exames quími-
sas quanto às suas características principais. cos em substâncias e resíduos encontrados no
Assim, é possível confrontar as informações veículo incendiado, buscando identificar, por
levantadas a partir do exame no veículo com as exemplo, combustíveis ou agentes oxidantes.
informações existentes nos bancos de dados
governamentais e das empresas fabricantes.
Exame de constatação de danos
Podem ainda ser verificadas alterações
nas características originais do veículo, como Este exame se presta à identificação de
as que visam aumentar a sua autonomia. Essa alterações das características de um veículo
situação é comum em aeronaves utilizadas em função de um determinado fato (acidente,
para transporte ilegal de entorpecentes. dano intencional, caso fortuito, força maior). As
Além disso, os exames podem identifi- alterações observadas representam os danos
car a presença de compartimentos preparados que foram gerados. Após a identificação,
com o fim de ocultar itens, como substâncias procede-se à valoração das alterações obser-
de uso proscrito (crime de tráfico de entorpe- vadas, em moeda corrente, com vistas à repa-
centes) e mercadorias (crime de contrabando ração do dano, como na verificação dos danos
ou descaminho). oriundos de um acidente de trânsito.

Foto: Alexandre Magno


Veículos | 65

Análise de materiais • No caso de veículos que apresentem


GPS, é possível, a partir do exame desse equi-
Análise de peças existentes no veículo, pamento, identificar as coordenadas geográfi-
visando identificar sua composição química, cas, bem como outros dados na memória do
aparelho, citando-se por exemplo a data, aptos
estrutura metalográfica ou resistência mecâni-
a assegurar que o veículo em questão encon-
ca, assim como se estão sendo empregadas de
trava-se em determinado local em determina-
forma adequada e se a manutenção preventi- da data;
va vem sendo realizada adequadamente. Um
exemplo comum é a identificação de falhas • Necessidade de coleta de DNA epitelial
estruturais em um acidente por causa mecânica. e/ou levantamento de impressões papilares
latentes, que muitas vezes estarão depositadas
no volante ou na alavanca de câmbio de um
Exame metalográfico veículo, possibilitando o confronto para identi-
ficação de suspeito;
Nos veículos existem gravações em
superfícies metálicas em baixo relevo em diver- • Em caso de veículos alvejados por
sas peças (chassi, motor, câmbio), que servem disparo de arma de fogo, é possível definir os
como elementos identificadores. Esse exame é orifícios de entrada e de saída, bem como a
destrutivo e presta-se à revelação de caracte- trajetória dos disparos. O estudo da dinâmica
res gravados a partir do uso de instrumental e de uma troca de tiros poderá ser associado a
de reagentes químicos apropriados. uma reprodução simulada dos fatos.

Uma aplicação prática desse exame se


dá quando ocorre uma gravação adulterada
do chassi, sendo possível revelar a numeração Considerações Finais
original.
A preservação dos vestígios sediados em
um veículo deve obedecer aos mesmos proce-
Outros exames dimentos relacionados à preservação de um
local de crime, conforme preceitua o artigo 6º
Outras possibilidades de exames peri-
do CPP, dada à perenidade de alguns vestígios,
ciais envolvendo veículos podem ser vislum-
bradas conforme a seguir: citando-se por exemplo, o DNA e as impres-
sões papilares latentes.
• Quando da ocorrência de um acidente
com o veículo, podem-se observar as regras de O lapso temporal entre o fato investiga-
segurança instituídas para a operação daque- do e a realização do exame pericial no veículo
le veículo e se elas se prestam ao fim a que se deve ser o mais breve possível, pois, dependen-
destinam, além de, com o estudo da dinâmica do da natureza dos vestígios, o exame pode
dos fatos, verificar se as regras de segurança restar inconclusivo ou até mesmo prejudicado.
foram obedecidas;
• Pode-se buscar a compatibilidade da
declaração do usuário do veículo com a efetiva
capacidade do veículo de proceder conforme
relatado;
Foto: Alexandre Magno

Perícias Documentoscópicas
Gustavo Ota Ueno
Marcos de Jesus Morais

A Área de Perícias Documentoscópicas,


composta por equipe multidisciplinar de
peritos criminais federais, é responsável pelo
exame de documentos com o objetivo de
verificar sua autenticidade ou determinar sua
origem, incluindo também o estudo e a inter-
pretação das alterações ou manipulações frau-
dulentas que eles possam ter sofrido.

Seu foco está no exame de documen-


tos questionados, ou seja, naqueles suspeitos
de serem fraudados e cuja fonte ou história
não estão muito claras. Além disso, podem ser
examinados os diversos materiais, equipamen-
tos e petrechos envolvidos na sua produção.
68 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Para a Documentoscopia, considera-se • Quantidade insuficiente, não repre-


que a informação contida em um documen- sentativa ou inadequada de material gráfico
to existe em dois níveis: em um superficial ou padrão;
visível, onde o que é transmitido está expresso
• Grande intervalo de tempo entre a
na forma escrita ou impressa; e em um mais
execução dos lançamentos questionados e
profundo, onde fatos ou evidências menos a dos lançamentos fornecidos como padrão
explícitas podem ser encontrados. É exata- (padrões não contemporâneos);
mente neste último nível que está o escopo
do trabalho da Perícia Documentoscópica, na • Presença de distorção ou disfarce nas
qual informações sobre a identidade do escri- escritas questionadas ou padrões;
tor, conteúdo de textos apagados, identifica- • Inexistência ou insuficiência de carac-
ção da origem de uma impressão de carimbo, terísticas identificadoras na escrita (por exem-
entre outras, podem ser obtidas. plo, letras muito caligráficas ou desenhadas ou
letras de forma sem qualquer dinamismo);

Tipos de Exames • Documento questionado na forma de


cópia.
Os principais tipos de exames realizados
na área podem ser assim relacionados: Requisitos básicos do material gráfico
padrão
Exames em manuscritos e assinaturas Um dos principais fatores que podem
– grafoscopia interferir no resultado de um exame grafoscó-
pico é a qualidade do material gráfico utilizado
Compreendem exames em documentos como padrão, a qual está diretamente relacio-
diversos com o objetivo de determinar a auto- nada a sua adequabilidade.
ria de lançamentos manuscritos, incluindo a
verificação da autenticidade ou da falsidade de Padrões inadequados podem resultar
assinaturas e rubricas. em exames inconclusivos ou na necessidade
de devolução dos documentos recebidos para
Ressalta-se, porém, que nem todos os
nova colheita de material gráfico.
grafismos podem ser identificados ou relacio-
nados a um escritor específico. Existem diver- Padrão adequado é aquele que é compa-
sos fatores que podem dificultar ou inviabilizar rável com o material questionado, incluindo
a identificação do autor de um lançamento nesse aspecto não apenas o mesmo estilo de
manuscrito e produzir um exame inconclusivo. escrita (por exemplo, cursivo é comparável com
Entre esses fatores destacam-se: cursivo e letra de forma com letra de forma),
• Um manuscrito questionado muito mas também o mesmo conteúdo do texto e o
simples e de reduzido campo gráfico (como mesmo espaço disponível para escrita.
uma rubrica com apenas uma laçada na forma
de um “l”, um simples “V” ou um número “2” Assim, quando se questiona a auten-
isolado); ticidade de uma assinatura, o padrão gráfico
Documentoscopia | 69

deverá representar essa mesma assinatura. existe a suspeita de que a pessoa esteja tentan-
Caso se questione a autoria do preenchimento do disfarçar sua escrita.
de um formulário, o padrão deverá reproduzir
Por fim, não se pode deixar de verificar
o mesmo formulário, com os mesmos campos
e espaçamentos. a autenticidade do material que está sendo
obtido. A pessoa que está fornecendo o mate-
Além dessas características, a adequabi- rial gráfico deve ser corretamente identificada
lidade inclui também a utilização do mesmo para que se garanta que ela é a pessoa qualifi-
tipo de suporte (por exemplo, papel de textura cada a produzi-lo. Isso deve ser feito perante a
similar) e do mesmo tipo de instrumento escri- autoridade competente, com o devido registro
tor (caneta esferográfica, caneta com ponta no Auto de Colheita de Material Gráfico.
porosa, lápis, entre outros) para a colheita dos
grafismos. Para um melhor entendimento acer-
ca dos resultados, cumpre esclarecer que a
A contemporaneidade dos padrões em conclusão do exame grafoscópico é elaborada
relação ao questionado também se relaciona dentro de uma escala de possibilidades, em
com sua adequabilidade. Portanto, esses mate- conformidade com as observações e vestígios
riais devem ter datas próximas. Isso é impor-
constatados durante os exames.
tante porque a escrita, como um comporta-
mento neurofisiológico, muda gradualmente
e lançamentos gráficos feitos em momentos
Verificação de autenticidade docu-
muito distantes no tempo podem apresentar mental
diferenças significativas entre si.
Compreende exames em documentos
Como regra geral, materiais escritos dois diversos, principalmente nos chamados docu-
anos antes ou depois dos grafismos questiona- mentos de segurança, como cédulas de moeda
dos são considerados contemporâneos. Porém, nacional ou estrangeira, passaportes, vistos,
diversos fatores podem afetar este intervalo de carteiras de identidade e de motorista, selos
tempo reduzindo-o de forma acentuada, como cartorários e de controle fiscal, que se encon-
uma doença que prejudique o controle motor tram sob suspeita de contrafação.
do indivíduo. Por outro lado, existem pesso-
as cuja escrita se mantém estável por muitos
Verificação de alteração documental
anos e, nesses casos, o intervalo considerado
adequado pode ser muito maior.
Compreende exames para verificar a
Outro requisito fundamental a ser obser- existência de alguma alteração física no docu-
vado na colheita dos padrões é a quantidade. mento que lhe modifique a essência ou o teor
Nesse caso, quanto mais material, melhor, pois original. Essas alterações podem envolver
assim haverá maior possibilidade de se obter rasuras, obliterações, acréscimos, montagens,
manuscritos que representem todas as variá- substituição de folhas ou de fotografias, entre
veis gráficas daquele escritor. Especialmente se outros tipos de fraudes.
70 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Exames mecanográficos sua eficiência e capacidade para falsificá-los,


bem como na sua relação com os documentos
São realizados em documentos datilo- questionados.
grafados ou em carimbados, visando identifi-
car a máquina datilográfica ou o carimbo que Datação de documentos e/ou lança-
produziu determinada impressão. mentos

Exames de impressos por equipa- São exames realizados em documentos


mento computacional questionados quanto à sua data ou época de
elaboração, bem como quanto à contempora-
São realizados com o objetivo de deter- neidade de seu conteúdo.
minar por qual processo o documento foi
impresso, bem como identificar o equipa- Cruzamento de traços
mento utilizado na sua elaboração. Envolvem
normalmente documentos produzidos em São exames realizados em documentos
impressoras com toner, jato de tinta, térmica, suspeitos de terem sido assinados em branco
multifuncional, matricial, entre outros. ou cuja sequência de aposição de lançamentos
está sob questionamento.
Exames de petrechos de falsificação
Análise de tintas
São realizados em equipamentos, dispo-
sitivos e materiais apreendidos em oficinas de São exames em tintas apostas em docu-
falsificação de moeda (cédula ou moeda metá- mentos com a finalidade de determinar sua
lica) ou de outros documentos, com foco na composição ou suas características físicas e/ou

Foto: Alexandre Magno


Documentoscopia | 71

químicas, com o objetivo de identificação ou to o manipule ou veja. Não se deve escrever no


de diferenciação. documento questionado, nem em papéis que
estejam sobre ele, especialmente se o docu-
Exames de suporte documental mento for enviado para levantamento de escri-
tas latentes ou de impressões digitais. Nesse
São realizados em suportes de docu- último caso deve-se utilizar luvas de látex para
mentos, a fim de verificar suas características manipulá-lo. Sublinhar, destacar ou circular
intrínsecas, como composição/constituição e lançamentos também pode comprometer a
espessura, e sua relação com outros suportes análise pericial.
em exame. Entende-se como suporte docu-
mental qualquer objeto ou superfície sobre Enfim, para que a perícia documentos-
a qual é registrada uma mensagem, ideia ou cópica possa cumprir seus objetivos e resolver
palavra, sendo, em geral, papéis ou polímeros. casos complexos e variados, torna-se impres-
cindível o auxílio de instrumentos avançados, a
habilidade do profissional na interpretação dos
Outros exames
resultados observados e a participação ativa e
Podem envolver impressos gráficos cuidadosa de todos os profissionais envolvidos
diversos, fotocópias e fax, documentos dani- com a investigação e a manipulação dos docu-
ficados (queimados, rasgados, encharcados), mentos.
entre outros.
Para a realização de todos esses exames
encontram-se disponíveis equipamentos que
possibilitam grandes ampliações e análises
precisas e confiáveis de imagens, por inter-
médio de diferentes técnicas de iluminação,
dispondo das faixas ultravioleta, visível e infra-
vermelha do espectro eletromagnético.

Considerações Finais
Os procedimentos adotados antes do
envio de materiais questionados como o
processo de obtenção de padrões gráficos e os
cuidados com a manipulação de documentos,
podem interferir de maneira significativa nos
resultados dos exames.

O documento questionado deve ser


manipulado o mínimo possível, e, quando
necessário, deve-se fazê-lo com o máximo
cuidado, não permitindo que nenhum suspei-
Foto: Alexandre Magno

Perícias de Biometria Forense


João Paulo Batista Botelho

A Biometria Forense estuda as característi-


cas físicas ou comportamentais humanas
capazes de permitir a vinculação entre um
determinado vestígio de infração penal e a
pessoa que o produziu. O tipo mais comum de
análise biométrica realizada envolve os vestí-
gios de impressões digitais localizados em
locais de crime, mas também podem ser reali-
zados exames em impressões palmares e plan-
tares. Por meio desse material, é possível, por
exemplo, determinar a presença de determina-
da pessoa no local de ocorrência da infração.
Como parte da análise de local de crime reali-
zada pelo perito criminal, o exame biométrico
pode contribuir para a elucidação de aspectos
da dinâmica dos fatos ao vincular os vestígios
coletados à pessoa que os produziu.
74 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Tipos de Exames específicos. Assim: os exames de reconheci-


mento facial e de voz encontram-se descritos
junto aos de registros de áudio e imagens; os
Para a realização dos exames de Biome-
de determinação de perfis genéticos (DNA),
tria Forense, é indispensável que haja um
junto aos de genética forense; os de marcas
padrão de comparação a ser confrontado
de mordida e de reconstrução facial, junto aos
com o vestígio. Esses padrões são obtidos
de medicina e odontologia forense; e os reali-
diretamente das pessoas, que se sabe ou que
zados em manuscritos e assinaturas, aos de
se suspeita, que tenham tido contato com
documentoscopia.
o material onde o vestígio foi encontrado.
No caso particular de impressões digitais, os
peritos criminais também utilizam como base Cuidados na manipulação dos vestí-
adicional de padrões de comparação os resul- gios
tados fornecidos pelo sistema automático de
identificação de impressões digitais (Automa- O cuidado com a manipulação dos vestí-
ted Fingerprint Identification System - AFIS). gios, característica comum a todas as áreas da
criminalística, é ainda mais crítico para a realiza-
Além das impressões digitais, palma- ção de exames biométricos. O risco de destrui-
res e plantares, a análise biométrica também ção ou contaminação dos vestígios, nesse caso,
inclui outros exames. Esses, por sua vez, reque- é muito elevado. É importante destacar que,
rem formação acadêmica e conhecimentos na maioria das vezes, os vestígios biométricos

Foto: Ana Paula Batista


Biometria Forense | 75

também são passíveis de outros exames, como


as análises para determinação de perfis genéti-
Considerações Finais
cos como nos casos de impressões produzidas Os vestígios de impressões digitais em
com sangue, ou mesmo nos casos de impres- papéis podem permanecer em condições de
sões digitais latentes, não visíveis, nas quais se exame por períodos muito longos. Dependen-
podem encontrar células epiteliais. O perito do da quantidade de resíduos presentes na
criminal federal é capaz de identificar qual a mão da pessoa que produziu o vestígio e do
melhor abordagem para coleta e análise dos modo de conservação do material, não é raro
vestígios, após considerar todos os demais revelar impressões com anos de idade. Obvia-
fatores do caso em questão. A utilização de pó mente, é necessário que o material não tenha
revelador de forma indiscriminada pode preju- sido manipulado demasiadamente durante
dicar, ou mesmo inviabilizar, a coleta e análise esse tempo, ou haverá uma multiplicidade de
de outros vestígios. impressões sobrepostas que podem inviabili-
Com relação às impressões digitais e zar a análise daquela de interesse.
palmares latentes, não visíveis, devem ser dife-
renciadas duas situações principais. Quando o
objeto em que se supõe que há essas impres-
sões é impermeável, ou seja, objetos não absor-
ventes como plásticos, metais, vidros, entre
outros, os vestígios encontram-se simplesmen-
te apostos sobre o material, praticamente sem
qualquer adesão a ele, sendo de extrema fragi-
lidade. Nessa situação, qualquer toque no obje-
to pode destruir a impressão existente, caso em
que os peritos criminais, após avaliar a situa-
ção, irão determinar se removem o objeto para
processamento em laboratório ou se executam
a técnica de fixação e revelação do vestígio no
próprio local. Quando os objetos são permeá-
veis, principalmente papéis, diversos resíduos
que geralmente estão presentes nas mãos da
pessoa (incluindo gorduras e proteínas) são
transferidos ao papel e ficam profundamente
impregnadas, devido à porosidade das fibras.
Nessa situação, o risco de destruir o vestígio
é significativamente menor. Contudo, o risco
de contaminação dessa impressão permane-
ce elevado, por exemplo, pela deposição de
uma nova impressão sobre ela. Por isso, toda
a manipulação do material deve ser realizada
preferencialmente com pinças limpas, ou com
o uso de luvas.
Foto: Alexandre Magno

Perícias de Balística e de
Caracterização de Materiais
Eduardo Makoto Sato
André Montanini Alves

N a criminalística, a balística forense estuda


as armas brancas, armas de fogo, acessó-
rios de armas, munições e elementos de muni-
ções, assim como os vestígios relacionados
com o emprego desses instrumentos, sempre
que tiverem uma relação direta ou indireta
com infrações penais. Os exames balísticos
envolvem balística interna (armas e fenôme-
nos ocorridos durante o seu funcionamento),
externa (projétil e sua trajetória) e terminal
(interação projétil-alvo).

A caracterização de materiais pode ser


realizada por intermédio da determinação de
suas características físicas, químicas e morfo-
lógicas, bem como a partir da identificação
de sua estrutura cristalina. Para tanto, podem
ser empregados o microscópio eletrônico de
varredura, a microtomografia e/ou a microdi-
fração de raio-X. As características físicas dos
raios-X e da sua origem permitem analisar dife-
rentes materiais questionados.
78 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Balística Forense original) e simulacros de arma de fogo (imita-


ção de arma de fogo, que não possui aptidão
para o lançamento de projéteis).
Exames em armas de fogo
Exames de munições, estojos e projéteis
Armas de fogo são artefatos utilizados
para impulsionar projéteis por meio da força As munições, ou cartuchos de munição,
expansiva dos gases, obtida a partir da rápida constituem-se nos artefatos completos desti-
combustão de um propelente confinado em nados ao carregamento e disparo de armas
uma câmara associada a um cano, que tem a de fogo, cujo intuito pode ser alvejar, destruir,
função de propiciar continuidade ao processo iluminar ou ocultar um alvo, produzir efeito
de combustão do propelente, além de conferir moral sobre pessoas e também para treina-
direção e estabilidade ao projétil. Os exames mento e manejo. São elementos essenciais das
em armas de fogo podem ter como objetivo: munições o estojo, a cápsula de espoletamen-
to, o propelente e o projétil.
• Determinar o estado geral de uma
arma e sua potencialidade lesiva, incluindo se O estojo é o componente externo do
está funcionando normalmente ou se apresen- cartucho de munição, sendo geralmente
ta algum tipo de condição que poderia contri- confeccionado de metal e com formatos varia-
buir para a ocorrência de um tiro acidental; dos, dependendo das características da câma-
ra de combustão à qual se destina. A cápsula
• Determinar se houve modificações nas
de espoletamento, ou simplesmente espoleta,
condições originais de uma arma, por exemplo:
para permitir disparos em regime automático quando acionada (deflagrada) mecanicamente
(rajada); para transformar câmaras de tambor é responsável pela inflamação do propelente
de revólveres (como .38 Special em .357 (carga de projeção). O propelente é o elemen-
Magnum); e para transformar pistolas (como to ativo do cartucho de munição responsável
7,65mm Browning em .380 ACP ou 9mm Luger pela propulsão do projétil. Esse último se cons-
em .40 S&W); titui na parte vulnerante do cartucho de muni-
ção, ou seja, trata-se do que será expelido pelo
• Revelar numerações de série supri- cano da arma em direção ao alvo.
midas ou alteradas, e identificar numerações
secretas; Os exames em munições podem ter
como objetivo:
• Exames em partes de armas de fogo
para determinação de calibre e modelo da • Determinar se as munições estão aptas
arma original; ao funcionamento;
• Exames em acessórios de arma de • Determinar o calibre e o fabricante em
fogo, por exemplo: sistema de pontaria; carre- cartuchos íntegros de munição e, em alguns
gadores; lanternas; tripés; abafadores; casos, encontrar marcas da arma de fogo em
que a munição foi inserida;
• Exames em réplicas (cópia de um
determinado modelo de arma de fogo com • Determinar a velocidade e a energia do
aptidão para realização do tiro real, tal qual o projétil;
Balística e Caracterização de Materiais | 79

• Caracterizar cartuchos percutidos e • Determinar o calibre e o fabricante de


não deflagrados, que podem materializar a buchas de munição de caça;
intenção de produzir um efeito não alcançado.
• Revelar a presença de substâncias
Os exames em estojos de munição orgânicas e inorgânicas relacionadas aos alvos
podem ter como objetivo: que foram impactados durante a trajetória do
projétil.
• Determinar o calibre e o fabricante;
• Determinar as características micros- Exames de efeitos dos disparos
cópicas presentes em estojos percutidos e
deflagrados com o intuito de vinculá-los a uma Os disparos de armas de fogo produzem
arma de fogo específica; efeitos primários e secundários. São conside-
rados efeitos primários aqueles causados pela
• Associar estojos percutidos e deflagra-
ação direta do projétil sobre o alvo, tais como
dos a cartuchos íntegros, por meio de marcas
de fabricação. lesões, perfurações, amassamento, estilhaça-
mento, entre outros. Os efeitos secundários
Os exames em projéteis de munição são produzidos no momento do disparo de
podem ter como objetivo: uma arma pela ação dos gases (resíduos da
combustão do propelente) e pelos microprojé-
• Determinar características gerais como teis expelidos pelo cano. Os exames de efeitos
calibre, aspectos físicos do raiamento impres- dos disparos podem ter como objetivo:
so, fabricante dos projéteis, entre outros;
• Correlacionar os vestígios encontrados
• Comparar as características micros- em locais de crime com a posição do atirador
cópicas presentes em projéteis incriminados por meio da análise de trajetórias de projéteis;
com as existentes nos padrões coletados de
uma arma suspeita para determinar se o projé- • Estimar a distância entre a arma e o
til incriminado foi disparado através do cano alvo por meio do exame dos resíduos de tiro
daquela arma; presentes em anteparos e vestes de vítimas;

Foto: Alexandre Magno


80 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

• Estabelecer correlação entre trajetória Escoriações e amassamentos produzidos por


de projéteis e lesões traumáticas; instrumentos podem ser comparados, permi-
tindo concluir se foram, ou não, produzidos
• Revelar orientação e sentido dos projé-
pela mesma ferramenta.
teis por meio de exames em alvos inanimados
(vidro, plástico, metal, madeira).
Exames em armas brancas e blinda-
Exames de confronto de microim- gem balística
pressões
Armas brancas são objetos diversos de
A análise de microimpressões permite armas de fogo, que podem ser utilizados no
a realização do confronto microbalístico, com cometimento de crimes, como navalha, cani-
base na comparação das marcas e microestria- vete, cutelo, faca, espada, florete, picador de
mentos deixados pelos canos nos projéteis, gelo, garfo, machado, foice, martelo, soco-
e pelos percutores e culatras nos estojos de -inglês, bastão de beisebol e outros.
munição, visando identificar a arma de fogo
que os tenha produzido. Cumpre ressaltar que Blindagem balística é o revestimento
esse mesmo princípio pode ser empregado (proteção) contra projéteis balísticos, concebi-
na análise de marcas deixadas por ferramen- do ou incorporado a vestimentas, automóveis,
tas em objetos, como as marcas causadas por veículos de transporte de valores, veículos mili-
um alicate utilizado para cortar uma corrente. tares, edificações, dentre outros.

Foto: Alexandre Magno


Balística e Caracterização de Materiais | 81

Caracterização de Materiais sas, a identificação de isômeros óticos, caracte-


rização de minerais, dentre outros.

Microscopia Eletrônica de Varredura Microtomografia de Raios-X


(MEV)
A microtomografia de raios-X é uma
Os dispositivos EDX (Energy Dispersive técnica não destrutiva que permite a obtenção
X-ray spectrometry) e WDX (Wavelength Disper- de imagens tridimensionais de alta resolução
sive X-ray spectrometry) acoplados ao MEV da microestrutura de materiais, viabilizando
permitem análises qualitativas ou quantitati- sua análise estrutural interna a partir do aces-
vas não destrutivas e pontuais nas amostras, so ao detalhamento de seus defeitos, posições,
podendo ser utilizados em várias áreas de perí- tamanhos e formas. Como na tomografia utili-
cia, complementando outros tipos de exames zada na medicina, é possível a montagem tridi-
e trazendo resultados rápidos e confiáveis. mensional de imagens da amostra que podem
ilustrar exatamente como ela é por dentro.
O acessório FIB (Focused Ion Beam) instala- Permite, entre outras coisas, a identificação
do no microscópio permite o fatiamento micro- de falhas estruturais em peças mecânicas, o
métrico de vestígios, de modo que suas carac- mapeamento tridimensional de danos a espé-
terísticas morfológicas e elementares internas cimes vegetais e animais, além da determina-
possam ser observadas e determinadas. ção da composição e disposição de impurezas
O exame de detecção de resíduos de em gemas, dentre outras aplicações.
disparo de arma de fogo, coletados em roupas,
sapatos e na pele do suspeito, realizado por
microscopia eletrônica de varredura, é consi- Considerações Finais
derado o mais preciso dentre todos os méto-
dos conhecidos na atualidade. Os vestígios relacionados a armas de
fogo são frequentemente encontrados em
Microdifratometria de Raios-X locais de crime, sendo estritamente necessário
tomar as devidas providências para garantir a
A partir da composição química de um preservação do local. As armas encontradas
material, por intermédio da microdifratometria em locais de crime devem ser manipuladas
de raios X, que se constitui numa das princi- apenas por peritos criminais, evitando-se assim
pais técnicas de caracterização microestrutu- a contaminação de vestígios latentes (impres-
ral de materiais cristalinos, pode-se determi- sões digitais, DNA, entre outros) que poderiam
nar a estrutura cristalina dos materiais a partir comprometer a elucidação do crime.
da comparação com padrões disponíveis em Com relação às armas, projéteis, estojos
bancos de dados. Amostras de composição
e outros materiais que precisam ser enviados
química idênticas, porém de estrutura cristalo-
para análise, recomenda-se consultar um peri-
gráfica diferente, podem ser discriminadas.
to criminal para avaliação e orientação acerca
O equipamento permite ainda a identifi- dos procedimentos e precauções que devem
cação de poluentes inorgânicos, a classificação ser adotados visando aspectos relacionados à
gemológica de pedras preciosas e semiprecio- preservação de vestígios e à segurança.
Foto: Alexandre Magno

Perícias de Genética Forense


Carlos Benigno Vieira de Carvalho
Renato Teodoro Ferreira de Paranaíba
Sergio Martin Aguiar

Q ualquer material biológico pode ser uma


fonte de DNA1, incluindo sangue, saliva,
sêmen, pelos, dentes e ossos, entre outras.
Encontramos nesses tecidos dois tipos de DNA,
um localizado no núcleo das células, o DNA
nuclear, e o outro no interior das mitocôndrias,
o DNA mitocondrial. Os dois tipos podem ser
utilizados em exames genéticos. Entretanto, as
técnicas baseadas em DNA nuclear são prefe-
rencialmente utilizadas na área forense, devido
ao seu maior poder discriminatório.

Os procedimentos normalmente se
iniciam com a extração do DNA das amostras,
amplificação2 das regiões que serão compara-
das, leitura do produto de amplificação em um
analisador genético e, finalmente, as compara-
ções entre as diferentes amostras examinadas.

Exames baseados na análise de DNA


podem ter diversas aplicações na área forense.
Entre elas, pode-se citar o auxílio na identifi-
cação de suspeitos de crimes sexuais, contra a
vida ou contra o patrimônio, na identificação
de restos mortais de pessoas desaparecidas ou
de vítimas de desastres, nos exames de paren-
tesco e na identificação de animais silvestres
em crimes contra a fauna.

1 Abreviatura do termo em inglês Deoxyribonucleic Acid ou Ácido


Desoxirribonucleico em português.
2 Técnica que tem por objetivo produzir um grande número de
cópias da região de interesse do DNA.
84 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Os exames genéticos de identificação minar a compatibilidade entre perfis, também


humana têm como objetivo principal determi- é possível determinar relações de descendên-
nar, com alto grau de segurança, a compatibi- cia/ascendência por meio da análise dos perfis
lidade e (ou) vínculo entre amostras de DNA. dos pais, filhos, irmãos, avós e outros, popular-
Vinculação ou não de suspeitos a locais de mente conhecidos como exames de paternida-
crime, identificação de restos mortais e deter- de ou parentesco.
minação de parentesco são exemplos desses
exames. No caso dos exames para identifica- Além das regiões que compõem os
ção de animais, o principal objetivo é determi- perfis genéticos, também podem ser compara-
nar, com a maior precisão e grau de segurança das determinadas regiões do DNA nuclear que
possíveis, a espécie ou outro grupo taxonômi- fazem parte do cromossomo4 Y. Essas regiões
co de origem do material questionado. desse cromossomo sexual existem apenas em
indivíduos de sexo masculino, sendo herdadas
apenas do pai. Por isso, o DNA do cromossomo
Y de um indivíduo será idêntico ao de todos os
Tipos de Exames indivíduos de sua linhagem paterna. Embora
não sejam únicas para cada pessoa como os
Identificação Humana perfis genéticos, estas regiões são úteis para
investigar se indivíduos pertencem à mesma
A partir de amostras do DNA nuclear linhagem paterna.
são determinados os perfis genéticos, que Com relação ao DNA mitocondrial, são
são combinações de pares de genes alelos3 comparadas curtas sequências de DNA em
exclusivas para cada indivíduo. Os exames são regiões específicas que apresentam grande
realizados por meio da comparação dos perfis variabilidade entre indivíduos. O DNA mito-
genéticos questionados (obtidos da análise condrial é herdado apenas da mãe e, sendo
de amostras de DNA coletadas em locais de assim, indivíduos pertencentes à mesma linha-
crime) com perfis genéticos do DNA de amos- gem materna possuem sequências iguais.
tras de referência (coletadas de pessoas com Embora cada sequência não seja individual-
identidade conhecida). Caso haja coincidên- mente exclusiva, a elevada sensibilidade da
cia entre os perfis genéticos dessas amostras, técnica pode ser muito útil quando as amos-
pode-se conduzir a realização de testes estatís- tras possuem pouco DNA ou quando este se
ticos que mostrarão a probabilidade daquela encontra muito degradado, como nos casos de
amostra biológica coletada no local de crime fios de cabelo sem raiz, dentes e ossos antigos,
ser proveniente do indivíduo doador do DNA corpos carbonizados e outros.
de referência.
Importa ressaltar que cabe ao Instituto
Como metade dos alelos que compõem Nacional de Criminalística a responsabilida-
um perfil genético de um indivíduo é herdada de sobre o gerenciamento do banco de perfis
da mãe, enquanto a outra metade é herdada do genéticos nacional da Rede Integrada de
pai, além de confrontos diretos para se deter- Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG). Esse banco
3 Genes alelos se localizam em locais correspondentes em cromos- 4 Cromossomo é uma longa sequência de DNA que contém vários
somos homólogos. genes.
Genética Forense | 85

nacional tem importância elevada por congre- específica do DNA mitocondrial, sequencia-
gar dados enviados de bancos pertencentes mento do produto amplificado e, finalmente,
a vários laboratórios estaduais que compõem comparação da sequência obtida com outras
a RIBPG. Dessa forma, é possível comparar armazenadas em bancos de dados genéticos
vestígios coletados em diferentes localida- internacionais. Após essa comparação são
des em busca da resolução de casos criminais feitas análises evolutivas e estatísticas para a
interestaduais e para identificação de restos determinação, com alto grau de segurança,
mortais de pessoas desaparecidas. Utilizando da espécie ou outro grupo taxonômico a que
o programa CODIS5 cedido pelo FBI6, o banco pertence o material questionado.
de dados possibilita a inclusão e comparação
de perfis genéticos obtidos de vestígios encon-
trados em locais de crime em todo o território Considerações Finais
nacional, perfis genéticos de suspeitos, de
restos mortais de pessoas desaparecidas e de O uso de exames baseados no DNA vem
familiares de pessoas desaparecidas. Com essa se tornando cada vez mais comum na área
nova e poderosa ferramenta, casos que seriam forense. Se antes os exames se restringiam a
arquivados inconclusos, tais como homicídios, casos específicos envolvendo crimes sexuais e
estupros e desaparecimentos poderão ter contra a vida, hoje em dia vem sendo empre-
suspeitos apontados e pessoas desaparecidas gados de forma cada vez mais frequente para
já falecidas identificadas, auxiliando, sobrema- auxiliar o combate aos crimes contra o patri-
neira, a aplicação da justiça. mônio, às infrações penais contra a fauna e até
mesmo no tráfico de drogas, na medida em que
Identificação de Espécies Animais possibilita vincular suspeitos às drogas apreen-
didas. Além dessas situações, outra aplicação
O combate aos crimes contra a fauna de grande importância está na identificação de
passa necessariamente pela correta identifica- pessoas desaparecidas e de vítimas de desastres
ção dos espécimes apreendidos. Em casos que de massa, onde a precisão e a confiabilidade das
envolvem ovos e indivíduos imaturos, carne de técnicas baseadas em DNA são essenciais para
caça ou alguns subprodutos de origem animal, uma maior segurança na conclusão dos traba-
a identificação baseada na morfologia pode lhos. Dentro dessa nova realidade, a implan-
ficar comprometida. Nessas situações, o uso de tação de bancos de dados de perfis genéticos
ferramentas genéticas representa uma alterna- representa uma grande evolução, uma vez que
tiva segura e eficiente para a identificação de estes permitem o armazenamento e confronto
espécies animais. de informações de origem genética de forma
muito mais eficiente.
A metodologia para a identificação
genética de espécies animais também envolve
diferentes etapas, iniciando-se com a extração
do DNA de amostras do material apreendido,
passando pela amplificação de uma sequência
5 Abreviatura do termo em inglês de Combined DNA Index System.
6 Abreviatura do termo em inglês Federal Bureau of Investigation.
Foto: Alexandre Magno

Perícias em Bombas e
Explosivos
Adauto Zago Pralon
Bruno Costa Pitanga Maia
Philip Villar McComish

A o contrário do que se imagina, ocorrên-


cias que envolvem ameaças com bombas
em propriedades públicas e privadas são
frequentes no Brasil. Os Grupos Especializados
em Bombas e Explosivos (GBE) foram criados
dentro das unidades técnico-científicas da
Polícia Federal para atuar no combate a esses
crimes. As equipes são formadas por peritos
criminais que são responsáveis por atender
a ocorrências que vão desde ameaças com
explosivos até perícias de pós-explosão.

Outro aspecto de destaque na atuação


dos GBE tem sido o planejamento da seguran-
ça antibomba em grandes eventos que atra-
em multidões e, geralmente, contam com a
presença de um grande número de dignitários.
88 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

Doutrina de Atuação acontece às pressas, de maneira precipitada,


mas de forma calma e planejada, utilizando
as técnicas mais adequadas a cada situação.
A atuação do GBE é pautada em três pila-
Independentemente das técnicas adotadas
res hierarquicamente estabelecidos na seguin-
na neutralização, o risco de uma detonação
te ordem: preservação da vida, preservação do
não pode ser descartado. Assim sendo, o peri-
patrimônio e coleta de vestígios. A partir da
to criminal utiliza os mais modernos procedi-
suspeição da presença de artefatos explosivos
mentos, equipamentos e técnicas de forma a
são adotados procedimentos preventivos e/ou
reduzir o risco ao mínimo possível. Sempre que
reativos, objetivando a máxima segurança dos
possível, a neutralização e os procedimentos
envolvidos e a minimização dos danos. Por se
prévios são feitos de forma remota, podendo
tratar de uma atuação pericial, a preocupação
ser empregados até mesmo robôs.
com os vestígios está sempre presente, mas
nunca em detrimento da segurança. Ao chegar ao local, é feito um diagnós-
tico sobre o caso, com base no levantamento
das informações disponíveis. Após análise, é
Procedimentos preventivos traçado um plano de ação para decidir, entre
outras medidas, sobre a adequação do períme-
A prevenção é feita assegurando-se que tro de segurança (levando em conta o poten-
não existam artefatos explosivos em determi- cial destrutivo do artefato) e, mais importante,
quais serão os procedimentos a serem execu-
nados locais, a exemplo daqueles que serão
tados para neutralizar o artefato explosivo.
ocupados por dignitários. Nessas operações os
peritos criminais podem contar com a atuação Vale ressaltar que, após um procedimen-
dos cães de faro da Polícia Federal, treinados to de neutralização, o artefato pode ser iden-
para localizar explosivos, garantindo assim tificado como simulacro, ou seja, uma imita-
um trabalho célere sem comprometimento ção de artefato explosivo, que não possui real
da confiabilidade. A presença da estrutura de capacidade de explosão.
vistorias antibomba, com cães e equipamentos
de detecção de traços de explosivos, dispos-
tos em pontos de checagem, consiste de um Exames de pós-explosão
forte elemento de dissuasão contra atentados
a bomba. Em locais de crime pós-explosão, o cená-
rio encontrado pode ser similar ao de um terre-
moto, apresentando escombros, instabilidade
Procedimentos reativos estrutural, focos de incêndio, vazamentos de
substâncias perigosas, entre outros. Também
Quando ocorrem ameaças ou há uma precisa ser considerada a possibilidade de
suspeita de artefatos explosivos, o tempo restarem resíduos de explosivos ou mesmo
torna-se uma variável importante, mas não outros artefatos não detonados, sendo esta
preponderante sobre os demais critérios de uma das razões principais para que os peri-
segurança. Contrariando o senso comum, o tos criminais possuam capacitação na área de
processo de neutralização de um artefato não bombas e explosivos.
Bombas e Explosivos | 89

Uma vez confirmada a segurança do e em laboratórios do Ministério da Saúde. Em


local, os peritos criminais iniciam uma série de todos os casos, o GBE se encarrega da adoção
procedimentos que irão culminar na análise das medidas iniciais de descontaminação.
criteriosa de todo local afetado pela explosão.
O recolhimento de vestígios do artefato e a
análise laboratorial de resíduos da carga explo- Considerações finais
siva permitem reconstituir a dinâmica dos
eventos ocorridos e dos explosivos e mecanis- Graças à atuação integrada do GBE com
mos de iniciação empregados. Assim, a perícia outras unidades antibomba do Brasil e de
pode encontrar os elementos que caracteri- outros países, constatou-se a importância da
zam a “assinatura” do atentado que são indis- sistematização e do compartilhamento das
pensáveis ao trabalho de investigação e deter- informações nessa área. Sob a coordenação do
minação da autoria. GBE, foi elaborado o modelo inicial do Banco
Nacional de Bombas e Explosivos (BNBE). O
BNBE é uma iniciativa que visa, por intermé-
Primeira resposta a agentes dio da integração e do estudo de informações
químicos, biológicos, radioló- geradas sobre o assunto, dotar o sistema de
segurança pública com ferramentas estratégi-
gicos ou nucleares cas para uma atuação mais segura e eficaz nas
ocorrências com explosivos. A análise das infor-
Reconhecidamente o maior temor mações provenientes de fontes cadastradas no
dos grupos antibomba de todo o mundo, sistema permitirá não só nortear a atuação e
as “bombas sujas”, como são conhecidas as padronizar os procedimentos, como também
bombas em que os explosivos estão associados traçar “mapas de ocorrências” com suas pecu-
a agentes nocivos de origem química, bioló- liaridades correspondentes.
gica, radiológica ou nuclear (agentes QBRN),
consistem em outra linha de atuação do GBE.

Principalmente em decorrência dos


grandes eventos que o Brasil vem sediando e da
facilidade para montagem desses artefatos, a
Criminalística passou a contar com um progra-
ma de capacitação e de aparelhamento para
identificação e adoção de medidas de primei-
ra resposta a agentes QBRN. Também mere-
ce destaque o crescente número de ameaças
postais envolvendo agentes QBRN, situações
nas quais o GBE se encarrega do recolhimen-
to do material suspeito e, em alguns casos, do
encaminhamento para análises específicas em
outras instituições governamentais como a
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)
Foto: Alexandre Magno

Perícias de Medicina e
Odontologia Forense
Alexandre Pavan Garieri
Carlos Eduardo Palhares Machado
Jeferson Evangelista Corrêa
Márcio Magalhães Arruda Lira

A perícia médico-legal é obrigatória em


todos os casos de crimes que atentem
contra a integridade física da pessoa. A medi-
cina forense pode ser subdividida nos temas
relacionados à antropologia, traumatologia
(lesões corporais), tanatologia, sexologia, toxi-
cologia, psiquiatria, entre outros.
92 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

A odontologia forense é uma área que do a vítima não tenha sido submetida ao devi-
aplica o conhecimento técnico-científico da do exame pericial direto na época do dano;
estrutura dos dentes de indivíduos com fins
• Realização de exame do documento
de identificação, a partir das características
visando avaliar a qualidade do atendimento
morfológicas que conferem unicidade a cada
médico, odontológico e/ou hospitalar presta-
arcada dentária, e de sua resistência à putre-
do a alguém, em especial por profissionais de
fação, calor, traumatismos e ação de determi-
saúde do serviço público federal ou nos casos
nados agentes químicos. Também envolve a
em que servidores federais ou a população
realização de exames de corpo de delito de
indígena tenham seu atendimento de saúde
lesão corporal, quando houver comprometi-
colocado em dúvida quanto à qualidade. Pode
mento da cavidade bucal, e/ou do complexo
envolver situações de investigação de erro
maxilo-mandibular.
médico e/ou odontológico, em casos nos quais
Na Polícia Federal, as perícias médicas são averiguadas situações de negligência,
e odontológicas são empregadas sobre um imperícia, imprudência ou omissão de socorro;
largo espectro de casos criminais, geralmen-
• Realização de exame para comprovar
te relacionados com eventos cuja apuração
a existência de eventual fraude na prestação
seja de competência da polícia judiciária da
de um serviço de saúde ou em sua cobrança,
União, ou demandada pela Justiça Federal. O
como em casos de faturamento fraudulen-
corpo de peritos médicos e dentistas realiza
to contra verbas do Sistema Único de Saúde
perícias em todo o território nacional e atua
(SUS);
também em âmbito internacional, interagin-
do com peritos de outros países, em coopera- • Investigação da ocorrência de frau-
ção técnica com a Interpol ou mediante deter- des contra a Previdência Social (concessão de
minação do Ministro da Justiça. benefícios irregulares).

Necropsia forense
Tipos de Exames
É o exame médico-pericial realizado
Exames em documentos médicos e sobre o indivíduo morto, particularmente
odontológicos nos casos de morte violenta ou suspeita, cuja
apuração seja de competência da Polícia Fede-
Os exames em documentos médicos e ral ou demandada pela Justiça Federal. Objeti-
odontológicos são aqueles focados nos regis- va confirmar a identidade da vítima, esclarecer
tros técnicos desses documentos, inclusive a causa mortis e identificar as lesões e carac-
prontuários hospitalares. Podem ser elencados terísticas do cadáver que guardem relação
os seguintes objetivos para esses exames: à ocorrência criminosa. Adicionalmente, se
• Realização de perícia indireta com base presta à arrecadação de vestígios importantes,
na informação técnica contida nos documen- como projéteis de armas de fogo, drogas no
tos, como em casos de lesões corporais quan- interior do corpo, entre outros.
Medicina e Odontologia Forense | 93

Exames cadavéricos pós-exumação incidente de sanidade mental instaurado para


avaliar a imputabilidade ou não de alguém no
São exames necroscópicos realizados curso de um processo.
em cadáveres que já se encontravam inuma-
dos, tendo sido submetidos a necropsia prévia Exames de avaliação de idade
ou não. Podem ser realizados a qualquer tempo
após a morte e seus objetivos são semelhantes
São aplicados tanto no exame direto dos
ao de uma necropsia forense convencional.
indivíduos quanto no exame indireto desses,
Usualmente se presta ao deslinde de situações
por intermédio de fotografias e/ou filmagens,
obscuras ou dúvidas suscitadas após a inuma-
ção, ou quando um exame necroscópico inicial com o objetivo de estimar a idade de alguém.
vem a ser questionado quanto a alguma de Em alguns casos tem como meta definir a impu-
suas conclusões. Frequentemente são ques- tabilidade penal da pessoa examinada frente à
tões relacionadas à identidade do de cujus ou legislação (Código Penal, Código de Processo
à causa da morte. Penal, Estatuto da Criança e do Adolescente).
Em outros, foca o examinado como vítima de
Exames de antropologia forense em alguma ação, como na prostituição infantil, na
corpos, fragmentos corporais e ossadas disseminação de imagens contendo cenas de
pedofilia, entre outros.
São os exames de restos mortais reali-
zados com foco na identificação do indivíduo, Exames de marcas de mordida
geralmente realizados quando o cadáver se
encontra em avançado estado de decompo- São exames que visam à determina-
sição, carbonizado, fragmentado ou inumado
ção das características de uma dentição pela
por longos períodos.
análise das impressões dentárias deixadas em
algum suporte, visando à identificação de um
Exames periciais ad cautelam em indivíduo. É realizado em marcas de mordida
presos e custodiados no vivo, no cadáver e em suportes móveis e
imóveis. Frequentemente é útil na investiga-
Servem como medida cautelar no curso
ção de crimes sexuais e de abuso infantil, espe-
de uma prisão, de forma que a perícia irá ates-
cialmente na identificação do criminoso.
tar a integridade ou não do indivíduo imedia-
tamente antes de sua custódia pelo Estado.
Exames de reconstrução facial forense
Exames de psiquiatria e psicologia
São exames que objetivam reconstruir
médico-forense
em imagens tridimensionais a face de um
Compreende os exames que avaliam indivíduo, por meio das medidas realizadas
a saúde de uma pessoa, visando atender a no exame de seu crânio, utilizando método
demandas do Poder Judiciário, em especial ao computadorizado ou diretamente sobre um
94 | Guia de Serviços da Perícia Criminal Federal

modelo do crânio. É útil na investigação e no Perícia médica e odontológica no


auxílio à identificação de pessoas desconheci- vivo
das, especialmente nos casos em que os méto-
dos convencionais de identificação não podem A perícia médica e odontológica no vivo,
ser empregados. incluindo exames de lesões corporais, verifica-
ção de embriaguez e sexologia forense, pode
Interpretação de exames periciais de envolver a pesquisa de lesões e estados pato-
anatomopatologia, histopatologia lógicos relacionados à caracterização de auto-
e citologia em peças anatômicas e ria e materialidade de práticas criminosas. São
outros materiais biológicos exames periciais realizados sobre indivíduos
vivos com o objetivo de produzir provas peri-
A partir do recebimento de exames peri-
ciais específicas, conforme o delito, particular-
ciais já realizados, os peritos podem elaborar
pareceres ou laudos periciais de interpretação mente nos casos que envolvam competência
dos resultados, objetivando esclarecer as dúvi- investigativa da Polícia Federal ou demandada
das apresentadas pelo requisitante. pela Justiça Federal.

Foto: Alexandre Magno


Medicina e Odontologia Forense | 95

Interpretação de exames radiográficos

A partir de exames radiográficos já reali-


zados, bem como de outros exames periciais
de imagens, os peritos elaboram pareceres ou
laudos periciais de interpretação dos resulta-
dos, objetivando esclarecer as dúvidas apre-
sentadas pelo requisitante.

Confronto técnico-pericial de laudos


e pareceres técnicos

O objetivo desse tipo de perícia é


confrontar os documentos, informações e
oitivas, emitindo laudos e pareceres, a fim de
auxiliar a Justiça no esclarecimento de dúvidas
técnicas suscitadas durante o curso processual.

Exames de material e equipamen-


tos de uso médico, odontológico ou
hospitalar

Objetivam caracterizar o funcionamen-


to, adequação normativa, tipo e destinação
desses materiais e equipamentos.

Considerações Finais
Apesar de terem sido implantadas recen-
temente no âmbito da Criminalística Fede-
ral, as especialidades periciais de Medicina e
Odontologia Forense vêm se desenvolvendo
no sentido de consolidar um trabalho pericial
de qualidade, cuja demanda cresce vertigino-
samente. Essa grande demanda vem sendo
atendida com eficiência, por meio de técnicas
modernas que auxiliam os peritos criminais
que atuam nessas áreas, visando à busca da
verdade e da justiça.
Sobre os autores
Adauto Zago Pralon. Perito Criminal Federal desde 2003. Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Flumi-
nense (UENF-2003). Mestre em Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF-1999). Graduado em
Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV-1996).
Alexandre Pavan Garieri. Perito Criminal Federal desde 2007. Mestre em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP-2008). Especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela Federação Brasileira de Gine-
cologia e Obstetrícia (FEBRASGO-2004). Especialista em Mastologia e Oncologia Ginecológica pelo Hospital das Clínicas de Ribeirão
Preto (HCRP-2005). Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP
2001).
André Luiz da Costa Morisson. Perito Criminal Federal desde 1996. Mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de
Uberlândia (UFU-1995). Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU-1992).
André Montanini Alves. Perito Criminal da Seção de Balística Forense do Instituto de Criminalística Leonardo Rodrigues (Secretaria
de Segurança Pública de Goiás) desde 1998. Especialista em Perícia Criminal pela Universidade Paulista (UNIP-2010). Especialista em
Ortodontia e Ortopedia Facial pela Associação Brasileira de Odontologia (ABO-2004). Graduado em Odontologia pela Universidade
Federal de Goiás (UFG-1993).
Bruno Costa Pitanga Maia. Perito Criminal Federal desde 1998. Graduado em Ciências da Computação pela Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG-1996).
Carlos André Xavier Villela. Perito Criminal Federal desde 1995. Mestre em Engenharia pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ-1993). Especialista em Gestão
de Políticas de Segurança Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-2005). Engenheiro de Fortificação e Construção pelo Instituto
Militar de Engenharia (IME-1994). Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-1990).
Carlos Benigno Vieira de Carvalho. Perito Criminal Federal desde 2007. Doutor em Biologia Animal pela Universidade de Brasília
(UnB-2002). Mestre em Ecologia pela Universidade de Brasília (UnB-1999). Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de
Brasília (UnB-1997).
Carlos Eduardo Palhares Machado. Perito Criminal Federal desde 2007. Doutorando em Ciências Médicas pela Universidade de
São Paulo (USP/RP) e em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB). Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de
Brasília (UnB-2007). Especialista em Odontologia Legal pela Associação Brasileira de Odontologia (ABO/MG-2006). Graduado em
Odontologia (UnB-2000).
Cristiano Furtado Assis do Carmo. Perito Criminal Federal desde 2008. Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG-1996).
Daniele Zago Souza. Perita Criminal Federal desde 2002. Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS-2010). Graduada em Farmácia Bioquímica em Análises Clínicas pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS-2000).
Eduardo Makoto Sato. Perito Criminal Federal desde 1996. Mestre em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo (EPUSP-1994). Bacharel em Física pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP-1990).
Eduardo Siqueira Costa Neto. Perito Criminal Federal desde 2002. Mestre em Contabilidade pela Universidade de Brasília (UnB -
2003). Especialista em Auditoria pela Universidade de Brasília (UnB-2000). Especialista em Contabilidade pela Universidade de Fortaleza
(Unifor-1994). Graduado em Contabilidade pela Faculdade de Ciência Contábeis e Administrativas Moraes Júnior (FMJ-1985).
Emanuel Renan Cunha Coelho. Perito Criminal Federal desde 1999. Mestre em Controladoria pela Universidade Federal do Ceará
(UFC-2006). Especialista em Gestão de Segurança Pública pela Academia Nacional de Polícia da Polícia Federal (ANP/PF-2008).
Especialista em Contabilidade pela Fundação Getúlio Vargas de Brasília (FGV-1995). Graduado em Contabilidade pela Associação de
Ensino Unificado do Distrito Federal (AEUDF-1985).
Erick Simões da Camara e Silva. Perito Criminal Federal desde 2003. Mestre em Química pelo Instituto Militar de Engenharia
(IME-2001). Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL-2007). Bacharel em Ciências
Jurídicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO 2003). Graduado em Engenharia Química pelo Instituto
Militar de Engenharia (IME-1995).
Fernando Fernandes de Lima. Perito Criminal Federal desde 2002. Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará
(UFC-2007). Especialista em Docência do Ensino Superior pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ - 2000). Graduado em
Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará (UFC-1997).
Gustavo Ota Ueno. Perito Criminal Federal desde 2003. Graduado em Farmácia-Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP-
2001).
Hélvio Pereira Peixoto. Perito Criminal Federal desde 2006, Doutor em Engenharia Elétrica e Computação pela Universidade do
Texas (Austin, TX, USA – 1999). Mestre em Ciência da Computação pela Universidade de Campinas (Unicamp-1995). Bacharel em
Ciência da Computação pela Universidade de Uberlândia (UFU-1993).
Jeferson Evangelista Corrêa. Perito Criminal Federal desde 2007. Especialista em Medicina Legal pela Associação Médica Brasilei-
ra e Associação Brasileira de Medicina Legal (AMB/ABML-2006). Especialista em Cirurgia Geral pela Secretaria Estadual de Saúde do
Rio de Janeiro (SES/RJ-1991). Especialista em Administração Hospitalar pela Faculdade São Camilo (FSC/CEDAS-1989). Graduado em
Medicina pela Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP1987).
Jesus Antonio Velho. Perito Criminal Federal desde 2007. Doutor em Fisiopatologia Médica pela Universidade Estadual de Campi-
nas (UNICAMP-2007). Graduado em Farmácia-Bioquímica pela Universidade Estadual de Londrina (UEL-2002).
João Bosco Carvalho de Almeida. Perito Criminal Federal desde 2004. Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual
do Ceará (UECE-2000).
João Paulo Batista Botelho. Perito Criminal Federal desde 2006. Mestre em Engenharia Elétrica pelo Instituto Alberto Luiz Coim-
bra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ-2004). Bacharel em Direito
pelo Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB-2010). Graduado em Engenharia de Comunicações pelo Instituto Militar de
Engenharia (IME-1998).
Jurandir Severo da Silva. Perito Criminal Federal desde 2002. Bacharel em Ciências Contábeis pela Associação de Ensino Unificado
do Distrito Federal (AEUDF-1990).
Laércio de Oliveira e Silva Filho. Perito Criminal Federal desde 2006. Engenheiro Civil pela Universidade de Brasília (UnB-2001).
Leonardo Nóbrega Dantas. Perito Criminal Federal desde 2002. Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade de Brasília
(UnB-1998).

Leonardo Vergara. Perito Criminal Federal desde 2002. Mestre em Sistemas de Informações Contábeis pela Università degli Studi
di Torino – Itália (UNITO-2000). Especialista em Ciências Contábeis pela Universidade de Brasília (UnB-1998). Graduado em Ciências
Contábeis pela Universidade de Brasília (UnB-1994).
Luiz Fernando Lima Alves da Cunha. Perito Criminal Federal desde 2002. Bacharel em Ciências da Computação pela Universidade
de Brasília (UnB-1995).
Marcelo Garcia de Barros. Perito Criminal Federal desde 2003. Mestre em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília (UnB -
2007). Graduado em Engenharia Florestal pela Universidade de Brasília (UnB - 1999).
Márcio Magalhães Arruda Lira. Perito Criminal Federal desde 2007. Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará
(UFC-2002).
Marcio Talhavini. Perito Criminal Federal desde 1999. Doutor em Físico-Química pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP-2002). Mestre em Físico-Química pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP-1995). Bacharel em Química pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP-1992).
Marcos de Jesus Morais. Perito Criminal Federal desde 1995. Especialista em Gestão de Políticas de Segurança Pública pela Funda-
ção Getúlio Vargas (FGV-2005). Graduado em Farmácia pela Universidade Federal de Goiás (UFG-1989) e em Farmácia Industrial pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ 1991).
Paulo Sérgio de Carvalho Dias. Perito Criminal Federal desde 2006. Graduado em Engenharia Florestal pela Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-1993).
Philip Villar McComish. Perito Criminal Federal desde 2006. Bacharel em Sistemas de Informação pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ-1993).
Rafael Saldanha Campello. Perito Criminal Federal desde 2002. Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS-1998). Bacharel em Informática pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-1995).
Renato Teodoro Ferreira de Paranaíba. Perito Criminal Federal desde 2003. Especialista em Genética Forense pela Universidade
Federal do Pará (UFPA-2005). Graduado em Farmácia Clínica e Industrial pela Universidade de Brasília (UnB-2002).
Rodrigo Gonçalves Teixeira. Perito Criminal Federal desde 2006. Especialista em Controladoria e Finanças pela Universidade
Federal Fluminense (UFF-2002). Especialista em Marketing pela Universidade Candido Mendes (UCAM-2000). Bacharel em Ciências
Contábeis pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ-1999).
Sérgio Martin Aguiar. Perito Criminal Federal desde 2008. Mestre em Biologia Molecular pela Universidade de Brasília (UnB-
2006). Especialista em Genética Humana pela Universidade de Brasília (UnB - 2004). Graduado em Ciências Biológicas pela Univer-
sidade de Brasília (UnB-2003).
1ª Edição

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