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Fichamento para o trabalho sobre a Abordagem Histórico-Crítica dos Conteúdos.

Aluno: Esther S. O. Dias Disciplina: Didática da Licenciatura


Grupo: Carolina Valadares, Esther Dias, Isabela Azevedo, Luiz Felipe Monteiro,
Maria Castro, Victoria Santana.
KONDER, Leandro. O que é dialética. São Paulo: Brasiliense, 2008. (Coleção
Primeiros Passos; 23). Pp. 7-29

O QUE É DIALÉTICA

I . ORIGENS DA DIALÉTICA

I.I Antiguidade

A Dialética era, na Grécia Antiga, a arte do diálogo. Posteriormente, passou a ser


“a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de
definir e distinguir os conceitos envolvidos na discussão” (p.7).

I.II Concepção Moderna

1. Na concepção moderna, a dialética é a forma de pensar as contradições


constitutivas da realidade – sempre mutável e contraditória.

2. Heráclito (c.540-480 a.C.): foi seu expoente mais radical durante a Grécia
antiga. Tudo existe em constante mudança e conflito;

Categorias opostas (morte e vida, sono e vigília, juventude e velhice) eram “realidades
que se transformam umas nas outras” (p.8).

fragmento 91, Nunca podemos entrar duas vezes no mesmo rio: todas as vezes em que
um ser humano entra em um rio ambos já mudaram. PANTHA REI

4.Os gregos consideravam Heráclito excessivamente obscuro e extremo, pois,


para ele, não havia estabilidade no ser. Por isso, preferiam Parmênides, o filósofo do Ser,
para quem o Ser era inato, imutável e todo movimento era um fenômeno superficial =
pensamento metafísico.

5. Aristóteles, que viveu mais de um século após a morte de Heráclito, conseguiu


reintroduzir “princípios dialéticos” (p.9) em um modo de pensar predominantemente
metafísico e “é a ele que se deve, em boa parte, a sobrevivência da dialética” (p.10).
Segundo Aristóteles, chamamos de “movimento” inúmeros processos que
envolvem mudança, como o deslocamento de um corpo no espaço, o aumento
quantitativo de algo, a modificação da qualidade de um ser, etc. Assim, quando queremos
explicar um movimento, é necessário saber qual a sua natureza. A isto, se liga a concepção
aristotélica acerca da mudança, segundo a qual tudo possui uma determinada
“potencialidade” (p.10), e o que chamamos de movimento das coisas nada mais é do que
as potencialidades que se atualizam e vão se “transformando em realidades efetivas”
(p.10).

I.III Idade Média

Nessa época, pautada pela sociedade feudal, com a vida concentrada nos campos
e a visão de mundo hegemônica baseada na moral católica e no pensamento teológico,
havia poucas oportunidades para participar da vida política e discutir problemas de
interesse coletivo, como ocorria nas poleis gregas. Petrus Damianus (1007-1072)
esclarece um pouco da visão dominante da época ao considerar que a única coisa
importante para o Homem era salvar sua alma e que a maneira mais fácil de fazê-la era
tornar-se monge e, portanto, não ter nenhuma necessidade do pensamento filosófico. Foi
esse tipo de pensamento que condenou a dialética a uma atividade baixíssima no ideário
medieval, condenando até mesmo a própria palavra, tomada como sinônimo de lógica e
usada pejorativamente em alguns casos como “a lógica das aparências” (p.11).1

Não faltaram, contudo, defensores do pensamento filosófico na época. O francês


Abelardo (1079-1142) chegou a discutir as relações entre “as categorias universais e as
coisas singulares em termos de pura lógica” (p.12), demonstrando que havia problemas
para os quais a interferência da teologia não se fazia necessária.

I.IV Séculos XIV, XV, XVI e o Renascimento

No século XIV, com o florescer do comércio, a visão de mundo aos poucos


voltava a se abrir. O filósofo Guilherme de Occam (c.1285-1349) postulou que
justamente por Deus ser todo-poderoso e ser uma entidade sem limites, tudo no mundo
era contingente, existindo a possibilidade de ser diferente, se assim Deus o quisesse. Por

1
Interessante ressaltar a demonstração de todo esse processo no filme ou no livro O nome da rosa, em
que Guglielmo da Baskerville é um representante do pensamento filosófico e, muito possivelmente, da
dialética mesma. (Comentário meu)
isso, a teologia não deveria interferir “no estudo das coisas contingentes do mundo
empírico”.

A revolução comercial iniciada no século XIV, se aviou no século XV e teve


profundas consequências no século XVI, na época do Renascimento e da “descoberta” da
América. “O movimento voltou a se impor à reflexão e ao debate”. Nessa época tivemos
as contribuições de Nicolau Copérnico (1473-1534); de Galileu Galilei (1564-1642); de
Pico della Mirandola (1463-1494) que considera o fato de o homem ser inacabado e
poder evoluir uma vantagem em relação aos deuses e anjos (imutáveis e perfeitos 2); e de
Giordano Bruno (1548-1600) que exaltou o homo faber, o homem “capaz de dominar
as forças naturais e modificar criadoramente o mundo” (p.13).

I.V Século XVII e XVIII

O pensamento de Montaigne (1533-1592), apesar de estar inserido na história do


pensamento do século anterior, é mais esclarecedor pela sua inquietude:

“Todas as coisas estão sujeitas a passar de uma mudança a outra; a razão, buscando
nelas uma subsistência real, só pode frustrar-se, pois nada pode apreender de
permanente, já que tudo ou está começando a ser e absolutamente ainda não é –
ou então já está começando a morrer antes de ter sido”. (Montaigne in Konder,
1981, p.14).

Apesar da incisividade do pensamento de Montaigne, tanto ele como os


pensadores do século XVII viviam e formulavam suas teorias isolados das reais condições
sociais e suas dinâmicas, tendo uma visão ingênua “do processo transformador da
condição humana e das estruturas sociais” (p.15). Foi somente a partir da segunda metade
do século XVIII que essa situação começou a mudar com o Iluminismo e os processos e
caminhadas até a Revolução Francesa.

Os iluministas acompanharam de perto as reivindicações do povo, as


manifestações políticas e as rápidas mudanças nos costumes e pretenderam auxiliar na
construção de um mundo novo, deixando para trás, de uma vez por todas, as estruturas
restantes do feudalismo. No entanto, apesar da pretensão, a maioria dos iluministas
acabou por se contentar com uma visão simplificada da transformação social que
pretendiam empreender e que apoiavam e não chegaram a refletir inteiramente acerca
das contradições internas, contribuindo pouco efetivamente para a dialética.

2
Per + factum = completos, completamente acabados. (Comentário meu)
Duas exceções se encontram nos pensadores Denis Diderot (1713-1784) e Jean-
Jacques Rousseau (1712-1778). Diderot compreendeu que o indivíduo era condicionado
pelas mudanças e dinâmicas da sociedade em que vivia, afirmando “sou como sou porque
foi preciso que eu me tornasse assim. Se mudarem o todo, necessariamente eu também
serei modificado” (p.16).

Já Rousseau acreditava que os homens nasciam livres, mas tinham essa liberdade
natural tolhida pela organização em sociedade, opondo-se, assim, aos outros iluministas
por não confiar na razão humana, mas sim na natureza. Buscava então as bases de um
contrato social através do qual fosse possível alcançar uma liberdade na vida social que
compensasse a perda da nossa liberdade originária. Entretanto, observando a sociedade,
percebeu que os conflitos de interesses entre os diversos indivíduos que a compõem
tinham chegado a exageros, que a propriedade era mal distribuída, o poder concentrado
e as pessoas escravas de seu egoísmo. Acreditava que a base de uma sociedade
verdadeiramente democrática não poderia ser fundada em critérios formais
quantitativos, como a “vontade de todos”, mas deveria se pautar em uma “vontade
geral” (p.18) vinda de um movimento de convergência. Essa vontade geral levaria os
sujeitos “a se reconhecerem concretamente uns nos outros e a adotarem uma perspectiva
universal” para soluções de seus problemas.

II. O TRABALHO

II.I Kant, antinomias e a dialética

A partir da segunda metade do século XVIII, com as florescentes ideias políticas


que desencadeariam a Revolução Francesa e posteriormente as Guerras Napoleônicas, as
discussões políticas deixaram a estagnação nas classes sociais mais privilegiadas e
passaram a invadir a vida cotidiana.

Immanuel Kant (1724-1804), percebeu que a consciência que interfere


ativamente na realidade, e que isso constituía um problema no processo de conhecimento
do ser humano.

Para ele, todas as filosofias haviam sido até então ingênuas ao tentar investigar e
definir o que era a realidade, sem resolver o que era o conhecimento.

Assim, coloca sua filosofia no campo da epistemologia, da investigação da


natureza e dos limites do conhecimento humano. Fixa sua atenção no que chama de “razão
pura” (p.20), anterior à experiencia, na qual havia contradições3 que nunca poderiam ser
“expulsas do pensamento humano por nenhuma lógica” (p.20).

II.II Hegel, a crítica de Kant e o conceito de trabalho

Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) afirmava que a “contradição não era


apenas uma dimensão essencial na consciência do sujeito do conhecimento” (p.22.

Para Hegel, a questão central da filosofia não era o conhecimento, mas o Ser: “Se
eu pergunto o que é o conhecimento, já na palavra é está em jogo uma certa concepção
de ser; a questão do conhecimento, daquilo que o conhecimento é, só pode ser
concretamente discutida a partir da questão do ser” (p.22). Apesar das divergências
quanto ao centro da pesquisa filosófica, Hegel concordava com Kant ao afirmar que o
sujeito humano é essencialmente ativo e interfere sempre na realidade.

Hegel, diante dessa situação política e social, acabou percebendo que o homem
transforma a realidade, mas essa transformação tem ritmos e condições impostas pela
realidade objetiva. Assim, para tentar avaliar as possibilidades do ser humano de maneira
mais realista, se dedica aos movimentos do “plano objetivo” (p.23), estudando atividades
políticas e econômicas: a base desse pensamento hegeliano é constituída, como apontado
por Lukács, não só pelas reflexões acerca da Revolução Francesa, mas também pelas
reflexões feitas em cima do processo de revolução industrial pelo qual passava a
Inglaterra.

Por meio dessas investigações, Hegel encontra no trabalho “a mola que


impulsiona o desenvolvimento humano” (p.23), afirmando que é no trabalho que o
homem “se produz a si mesmo” (p.23), que o trabalho é o centro a partir do qual podemos
compreender a complexa atividade criadora humana. E é justamente o trabalho que

3
Essas contradições são chamadas “antinomias”: “Sobre o termo, informa Torralba: ‘De origem grega
(άντινομία; de άντι: contra e νόμος: lei), o vocábulo procede do léxico jurídico: a antinomia tem lugar
quando, para julgar ou resolver um mesmo caso, existem duas leis contrapostas. Num sentido mais amplo,
significa a oposição de duas proposições ou princípios quando ambos possuem justificação suficiente. A
antinomia é apenas aparente quando a oposição pode ser desfeita; por sua vez, é real quando não há modo
de resolvê-la. Kant se serviu do termo para descrever aspectos essenciais de sua crítica da razão e, desde
então, o significado de antinomia acabou associado à filosofia kantiana’” (TORRALBA, 2009, p. 68)
apud LIMA FILHO, J. E.; NICOLAU, M. F. A. A dialética das antinomias kantianas e a crítica hegeliana.
In: Revista Contemplação 2014 (9): p. 14-29. Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&cad=rja&uact=8&ved=0ah
UKEwiEs_zPjrHaAhXClZAKHWAsAwwQFgg3MAE&url=http%3A%2F%2Ffajopa.com%2Fcontempl
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permite que o Homem seja o que ele é, um ser racional, capaz de antecipar resultados de
ações, fazer escolhas para atingir seus fins. Foi por meio do trabalho que o homem se
afastou da natureza de modo a poder se contrapor como sujeito ao mundo material dos
objetos.

No trabalho, se encontra a força material do objeto, “o poder do sujeito, a


capacidade que o sujeito tem de encaminhar, com habilidade e persistência uma superação
dessa resistência” (p.24). O trabalho se torna um conceito essencial para entendermos a
concepção de Hegel da Superação Dialética4.

Para descrever esse conceito, em alemão, Hegel utilizou o verbo aufheben, que
significa suspender em três sentidos diferentes. O primeiro é o de negar, anular. O
segundo é o de erguer ou suspender alguma coisa para mantê-la protegida. E o terceiro é
o de elevar o patamar, a qualidade, “promover a passagem de alguma coisa para um plano
superior” (p.25). Hegel utiliza essa palavra com todos os três sentidos, pois a superação
dialética, para ele, se dá simultaneamente por meio da negação de uma realidade, a
conservação de algo essencial desta e a elevação da realidade a um nível superior, um
novo nível. Exemplificando por meio do trabalho, a matéria prima (realidade) é anulada,
e negada (“destruída” em sua forma natural, modificada), porém conservada ao mesmo
tempo (não é completamente destruída, é modificada e reaproveitada, utilizada), e assume
uma nova forma correspondente aos objetivos e finalidades do trabalho.

II.III Marx e o trabalho

Karl Marx (1818-1883), outro pensador alemão, discípulo de Hegel, propôs que
seu mestre usara a dialética de cabeça para baixo e então decidiu virá-la e colocada sobre
os pés. Considera-se que Marx tenha dialeticamente superado Hegel.

4
“Na concepção hegeliana, a dialética então proposta não mais seria, como antes, um processo
cognoscente humano tendente a solucionar conflitos estabelecidos entre dois conceitos aparentemente
opostos [...]. [...] A dialética em Hegel não seria, assim, “um mero recurso metodológico, ou seja, um
instrumento do pensamento para o conhecimento” (CIOTTA, 1994, p.9)”.
Para Hegel, “as coisas são, em si, contraditórias e inacabadas, estando sujeitas a um permanente devir,
num “movimento de diferenciação que põe sempre novas determinações” (CIOTTA, 1994, p. 12). De tal
modo, a contradição não seria decorrente de um equívoco racional, mas de um princípio natural do ser,
que o impulsiona, constantemente, a novos parâmetros de determinação, em que há a superação das
contradições anteriores e o estabelecimento de níveis de determinação crescentemente concretos.”
CIOTTA, Tarcílio. Hegel: A fundamentação ética do Estado. Dissertação para obtenção do Grau de
Mestre em Filosofia. PUCRS, novembro de 1994. et FERREIRA, F. G. apud FERREIRA, Fernando
Guimarães. A dialética Hegeliana, uma tentativa de compreensão. Rev. Estudos Legislativos, Porto
Alegre, ano 7, n. 7, p. 167-184, 2013
O filósofo materialista concordava com Hegel na proposição do trabalho como
mola que impulsiona o desenvolvimento humano, porém se opõe e critica o envolvimento
unilateral na concepção de trabalho, explicando que o único trabalho que Hegel conhecia
e reconhecia era o trabalho intelectual, o “trabalho abstrato do espírito”. Essa visão faria
com que Hegel se aproximasse das potencialidades criativas do trabalho, mas falhasse em
ver seus lados negativos, “as deformações a que ele era submetido em sua realização
material, social” (p.27). Dessa forma, Hegel não conseguiu analisar os diversos
problemas decorrentes do que Marx viria a chamar de “alienação do trabalho” nas
sociedades dividias em classes.5

III. A ALIENAÇÃO

Para Marx, o trabalho é a atividade por meio da qual o homem domina as forças naturas,
humaniza a natureza e pela qual cria a si mesmo. Porém, se põe a seguinte questão: se o
trabalho é tão importante para o homem e sua realização, como pode se tornar alo
negativo? Como o trabalho vira “uma atividade que é sofrimento, uma força que é
impotência, uma procriação que é castração?” (p.29)

Uma das causas da deformação do trabalho é a divisão social do trabalho, a apropriação


privada dos meios de produção e o aparecimento das classes sociais. Segundo Marx,
“Divisão do trabalho e propriedade privada são termos idênticos: um diz em relaçãp à
exploração do trabalho escravo a mesma coisa que o outro diz em relação ao produto da
exploração do trabalho escravo” (p. 30) Assim, podemos chegar ao entendimento de que
as condições criadas pela divisão do trabalho e pela propriedade privada causam um
estranhamento entre o trabalhador e o trabalho, já que o produto desse trabalho já é de
outro que não o trabalhador antes mesmo de o trabalho ser feito. O trabalhador então, se
aliena no seu trabalho, ao invés de se realizar.

Para os marxistas, a única forma de superar a divisão social do


trabalho e desaliená-lo é considerar a realidade da luta de classes para
promover a revolução socialista. Marx não inventou a luta de classes,
apenas procurou estudar as consequências de sua existência. De fato,
segundo o pensador alemão, toda a história da humanidade até então
(Manifesto Comunista, 1848), fora uma história de luta de classes.

5
Assim como Libâneo o faz, de forma contraditória dentro da própria lógica marxista no Texto Base do
nosso trabalho. (Comentário meu)
As lutas de classes assumem características e formas muito
variadas. Nas sociedades capitalistas, as lutas de classes assumem formas
políticas cada vez mais complicadas.

Em O capital, Marx percebe a criação de uma nova situação


política, nunca registrada na história da luta de classes. O capitalismo fez
com que a tecnologia se desenvolvesse e as forças produtivas crescessem
excepcionalmente, porém tem cada vez mais dificuldades para aproveitar
disso tudo. A competitividade entre os concorrentes em busca de lucro
causa um enorme desperdício de recursos.

Por outro lado, o capital reúne os operários em indústrias para poder explorá-los, mas a
massa trabalhadora se organiza, toma consciência de sua força e passa a fazer
reivindicações, até chegar ao ponto de poder liderar uma revolução social.

Nunca antes houve uma tal situação: uma classe social – o proletariado moderno – não
lidera um movimento que tem como objetivo substituir um modo de produção baseado
na propriedade privada por outro também baseado na propriedade privada. Teoricamente,
a superação da divisão do trabalho deixa de ser um sonho e passa a poder ser executada.

Para Marx, essa é a segunda causa da deformação do trabalho: o agravamento da


exploração do trabalho sob o capitalismo. O mercado está em constante expansão e as
leis do mercado vão dominando a sociedade inteira: tudo vira mercadoria, tudo pode ser
vendido, negociado, comercializado. A força de trabalho do homem também vira
mercadoria e seu preço cai na lógica do mercado. Os trabalhadores, assim, além de
viverem sob a ameaça de perderem os empregos, se veem obrigados a se organizar e lutar
para defender os salários. O fato de tomarem consciência disso, e de que existe uma
alternativa socialista ao capitalismo agrava o mal-estar que sentem no trabalho.

O agravamento da alienação do trabalho afeta também os capitalistas, fazendo-os


tirarem vantagem das relações competitivas com outros capitalistas. O mercado funciona
aproveitando-se da burguesia como classe, e se torna uma realidade incerta e angustiada
para o burguês individual.

“Mesmo quando desenvolve técnicas cada vez mais aperfeiçoadas para controlar o
funcionamento de suas empresas e as operações de seus negócios, a burguesia carece da
capacidade de continuar a controlar a sociedade como um todo. Como classe [...] ela não
consegue elevar seu ponto de vista a uma perspectiva totalizante” (p.34).

IV. A TOTALIDADE

Para a dialética marxista, o conhecimento é totalizante e a atividade humana é um


processo de totalização, que nunca alcança uma etapa definitiva.

Qualquer coisa que o homem possa perceber ou criar é smpre parte de um todo. Em tudo
o que faz, o homem se defronta com problemas interligados. Para, então, encaminhar uma
solução para os problemas, o homem precisa ter uma visão de conjunto: só a partir da
visão de conjunto é possível avaliar a dimensão de cada elemento do quadro.

A visão de conjunto é sempre provisória e nunca pode esgotar a realidade a que se refere.
A realidade é sempre mais rica do que nossas sínteses. A síntese é a visão de onjunto
que nos permite descobrir a estrutura significativa da realidade em uma certa situação.
Essa estrutura significativa é o que chamamos de totalidade.

A totalidade é mais do que a soma das partes que formam o conjunto. Na forma de se
articularem e relacionarem, os elementos assumem características que não teriam se
estivessem fora do conjunto/totalidade em questão. Há também totalidades mais
abrangentes e menos abrangentes.

Para usarmos dialeticamente o conceito de totalidade é importante saber qual o nível de


totalização exigido pelo conjunto de problemas defrontados e lembrar-se de que a
totalidade é apenas um momento de um processo de totalização (que nunca alcança uma
etapa definitiva e acabada).

“Afinal a dialética – maneira de pensar elaborada em função da necessidade de


reconhecermos a constante emergência do novo na realidade humana – negar-
se-ia a si mesma, caso cristalizasse e coagulasse suas sínteses, recusando-se a
revê-las, mesmo em face de situações modificadas.” (p.38)

A modificação do todo só ocorre após o acúmulo de mudanças nas partes que o compõem:
ocorrem modificações setoriais, quantitativas, até alcançar um ponto crítico que assinala
a transformação qualitativa da totalidade. Essa é a lei da dialética da transformação da
quantidade em qualidade. Porém, a modificação do todo é mais complicada do que a
modificação de cada uma das partes que o compõem. Cada totalidade muda de uma
maneira, e as condições variam de acordo com o caráter da totalidade e do processo do
qual ela é um momento.

V. A CONTRADIÇÃO E A MEDIAÇÃO

Porém, podemos nos perguntar: como podemos saber que estamos trabalhando com a
totalidade correta e fazendo a totalização adequada para análise de determinada situação?
A verdade é que não podemos. A teoria é importante, mas não é a prova de erros e no
plano puramente teórico também não há solução para o problema.

Dependemos da prática e mais importante, da prática social. Só através dela é que


poderemos verificar o maior ou menor acerto do trabalho com os conceitos.

Segundo a teoria, em relação à totalidade é importante prestar atenção ao conteúdo de


cada síntese, isto é às contradições e mediações.

Na investigação científica, começamos trabalhando com conceitos que são sínteses ainda
muito abstratas e, assim, são representações caóticas do conjunto. Por meio de análises,
chegamos a conceitos mais simples e daí retorno à síntese inicial, agora bem definida,
uma totalidade rica em relações complexas.

Resumindo, por análise, decompomos e recompomos o conhecimento que serviu de ponto


de partida. Depois, feita a viagem do mais complexo (abstrato) ao mais simples e do mais
simples de volta ao mais complexo (agora concreto). O concreto é o resultado de um
trabalho, “é concreto porque é a síntese de várias determinações diferentes, é unidade na
diversidade”.

Segundo a concepção de Marx, o conhecimento não é um ato, mas um processo. Desse


modo, o pensamento dialético é obrigado a identificar as contradições concretas e as
mediações “específicas” que constituem cada totalidade.

“’A dialética – observa Carlos Nelson Coutinho – ‘não pensa o todo negando as partes,
nem pensa as partes abstraídas do todo. Ela pensa tanto as contradições entre as partes (a
diferença entre elas: o que faz de uma obra de arte algo distinto de um panfleto político)
como a união entre elas (o que leva a arte e a política a se relacionarem no seio da
sociedade enquanto totalidade).’”

Para poder ir além das aparências e penetrar a essência das coisas, precisamos realizar
operações de síntese e análise que esclareçam a dimensão imediata como a dimensão
mediata das coisas.

Por experiência, sabemos que existem coisas que percebemos imediatamente


(diretamente, sem mediação), ou seja, possuem uma dimensão imediata. Também há
coisas que percebemos aos poucos, contruindo e reconstruindo (com mediação), ou seja,
possuem uma dimensão mediata.

As mediações nos fazem refletir sobre as contrdições. As contradições, na dialética não


são as contradições lógicas. A lógica, para alcançar resultados rigorosos, trata apenas de
uma parte da realidade. A dialética e suas contradições vão além da lógica. Para entender
aspectos da realidade humana que não podem ser entendidos isoladamente, precisamos
observar as conexões íntimas entre eles o que eles não são.

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