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Nader, Paulo. Introdução ao estudo do direito/Paulo Nader – Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 83.
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Didier Jr, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e
processo de conhecimento/ Fredie Didier Jr. – 17 ed. – Salvador : Ed. Juspodivm, 2015. v. 1.p. 105
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BRASIL. LEI nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 10 maio. 2017
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Ibid., p. 105
2 – Das formas de manifestação do exercício abusivo do direito processual
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LUCON, Paulo Henrique dos Santos. XXIX – Abuso do Exercício do Direito de Recorrer. In: JR,
Nelson Nery; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coords.). Aspectos Polêmicos e atuais dos recursos
cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: RT, 2001. p.874
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Ibid. p. 874.
forma recursal única contra certos atos jurisdicionais em que não se evidencia prejuízo à
parte sucumbente.
Cabe, nesse ponto, analisar se essas sugestões foram aplicadas em menor ou
maior grau no Código de Processo Civil.
A demora exagerada do processo não produz benefícios senão para a parte
que não tem razão. Esta utiliza dos meios previstos em lei para adiar o cumprimento da
decisão condenatória e, por meio dessa conduta, pode conseguir até mesmo transações
desvantajosas para o credor, que já estaria extremamente prejudicado por não ter o seu
crédito adimplido em tempo razoável.
Diante desses aspectos, o sistema processual revela-se como o caminho para
sanar a lentidão das demandas judiciais. Estudar os meios que podem levar a esse fim
torna-se, portanto, de suma importância não somente para eventuais litigantes, mas
também para toda a sociedade.
Várias são as razões para as demoras no andamento do processo, entre as
quais se destacam, em relação ao direito de recorrer: o elevado número de recursos e
remédios previstos na legislação pátria e a demora excessiva nos seus julgamentos.7
Contudo, avulta notar que o processo deve zelar pelo rápido andamento,
mas sem dispor de uma prestação jurisdicional justa. O maior desafio do legislador e
dos operadores do direito é, na verdade, conciliar estes dois importantes princípios:
razoável duração do processo e prestação jurisdicional efetiva.
Dentro desse contexto, o exercício abusivo do direito de recorrer, apesar de
não ser a única razão da demora no andamento do processo, sem dúvida contribui
sobremaneira para que ela aconteça. Dessa forma, pergunta-se: como coibi-lo de
maneira eficaz, isto é, sem criar injustiças.
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LUCON, Paulo Henrique dos Santos. XXIX – Abuso do Exercício do Direito de Recorrer. In: JR,
Nelson Nery; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coords.). Aspectos Polêmicos e atuais dos recursos
cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: RT, 2001. p.876
a regular sua participação no processo. Essas regras devem se constituir como meio
imprescindível para que a demanda posta em juízo atinja o seu fim de modo célere e
justo.
Há que se ressaltar que os limites impostos têm como fundamento, as
garantias previstas na Constituição Federal, que é a pedra angular do ordenamento
jurídico brasileiro. Essa perspectiva está bastante presente no Código de Processo Civil,
que prevê, em seu art. 1º, que “o processo civil será ordenado, disciplinado e
interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos
na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste
Código.”
O processo busca a certeza jurídica. Contudo, nem sempre é possível atingi-
la. Melhor dizendo, não se sabe se, com o provimento jurisdicional, ela foi atingida. Daí
que as limitações ao ônus processuais objetivam somente minorar os riscos de um
julgamento injusto. A procura pela certeza absoluta iria impor ao processo um
andamento excessivamente longo e, como se sabe, a demanda intempestiva não
interessa àquele que tem razão.8
Sob esse prisma, o Código de Processo Civil introduziu art. 6º, prevê que
“todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva.”9
Dessa forma, não somente os sujeitos parciais devem obedecer às regras de
cooperação e aceleração do processo, mas também os juízes, advogados e serventuários
da justiça. Essa nova visão de cooperação tem por fito ao menos desincentivar a prática
de atos abusivos também pelos sujeitos imparciais, que muitas vezes, por desídia ou até
mesmo má-fé, contribuir para a demora no andamento do processo.
Paulo Lucon afirma que a solução para o problema do atraso no andamento
processual estaria menos na imposição de penalidades àqueles que violassem a boa-fé
objetiva do que na melhor estruturação dos órgãos jurisdicionais e na mudança de
comportamento dos cidadão. Afirma ainda que:
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LUCON, Paulo Henrique dos Santos. XXIX – Abuso do Exercício do Direito de Recorrer. In: JR,
Nelson Nery; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coords.). Aspectos Polêmicos e atuais dos recursos
cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: RT, 2001. p. 880.
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BRASIL. LEI nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 14 maio. 2017
Como é natural, para que esse comportamento seja assim direcionado é
preciso que o Estado tenha um efetivo interesse de promover a educação dos
cidadãos, aspecto essencial de toda e qualquer alteração estrutural. Outro
ponto de estrangulamento da atividade jurisdicional, inerente ao Brasil, é a
grande capacidade que tem o Estado de fomentar litígios, por meio de atos
ilegais e, muitas vezes, inconstitucionais.10
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LUCON, Paulo Henrique dos Santos. XXIX – Abuso do Exercício do Direito de Recorrer. In: JR,
Nelson Nery; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coords.). Aspectos Polêmicos e atuais dos recursos
cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: RT, 2001. p. 881.
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coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária;”.13
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BRASIL. LEI nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 14 maio. 2017
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LUCON, Paulo Henrique dos Santos. XXIX – Abuso do Exercício do Direito de Recorrer. In: JR,
Nelson Nery; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coords.). Aspectos Polêmicos e atuais dos recursos
cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: RT, 2001. p. 884.
determinado recurso por receio de que ele seja considerado protelatório e, dessa forma,
submeta-se a acordos desfavóreis.
Nessa toada, o autor critica o entendimento jurisprudencial no sentido de
considerar manifestamente protelatório os recursos que alegam matéria preclusa ou que
contrariam posicionamento consolidado pela jurisprudência.
Quanto à preclusão temporal, afirma que o Recorrente muitas vezes não
sabe que o prazo de seu recurso transcorreu antes da interposição. Por isso, cada caso
deve ser analisado de maneira pormenorizada, devendo ser aplicada a pena pela
litigância de má-fé quando as circunstâncias postas em juízo demonstrarem que o
Recorrente agiu com imperícia.
A preclusão lógica, que decorre da incompatibilidade entre o recurso aviado
e ato anteriormente praticado, evidencia de forma mais frequente o exercício abusivo do
direito de recorrer, pois o litigante possuía ciência do ato incompatível com o recurso
que interpôs, pelo que poderia se concluir pela presença de má-fé.
Interpor recurso com fundamentos contrários aos defendidos pela
jurisprudência não traduz, por si, exercício abusivo. É direito do causídico sustentar tese
que vá de encontro à majoritário, conforme lhe assegura o direito fundamento da
liberdade de pensamento.
A abusividade deve ser aferida em casos nos quais a interposição do recurso
evidencie-se intuito meramente emulativo, como no caso em que se interpõe apelo com
fulcro em tese que já foi desconsiderada pelo Superior Tribunal Federal e que gerou
enunciado de súmula vinculante. Ora, o Tribunal já enfrentou a matéria suscitada pelo
Recorrente. Nesse caso, o abuso do direito de recorrer salta aos olhos.
De qualquer forma, averiguar a ocorrência de litigância de má-fé é uma
tarefa casuística, que não pode ser esgotada nas leis processuais, sob pena de ferir
garantias fundamentais das partes parciais do processo.
2. ABUSO DO DIREITO
PROCESSUAL...............................................................................................................10