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Política Social Internacional:

conseqüências sociais da globalização

Wilhelm Hofmeister (org.)

ISBN : 85-7504-075-8
Rio de Janeiro, 2005

Sumário

I. Conseqüências Sociais da Globalização

Cinco observações politicamente incorretas sobre a globalização.


Roberto Fendt

O Impacto da Globalização no Desenvolvimento Econômico e Social da América Latina.


Stephan Klasen

Conseqüências Sociais da Globalização na América Latina: Apontamentos.


Amélia Cohn

Mitos da globalização.
Deputada Maninha

Globalização frustra esperança de mitigar a pobreza.


Carlos Eduardo Lins da Silva

Globalização financeira na América Latina: Como melhorar o balanço custo-benefício.


Joaquín Morillo

Instituições econômicas, globalização, bem-estar.Breves reflexões sobre o caso argentino.


Juan Luis Bour

Globalização e justiça social. Problemas e experiências sob a perspectiva sul-africana.


Njongonkulu Ndungane

II. Desafios para a cooperação internacional

Governança econômica global e democracia preventiva: reflexões sobre a democratização


do sistema internacional.
Paulo Roberto de Almeida

Pré-Requisitos para a Realização de Reformas da Ordem Internacional.


Riordan Roett

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Incentivos à Globalização Solidária.
Marcelo Neri

Política de Desenvolvimento Social Internacional: notas revisitadas.


Clóvis Brigagão e Juliana Müller

A Globalização e as Organizações Não-Governamentais.


Jeane Pen

III. Como alcançar justiça social internacional?

Reformas simultâneas nos países emergentes e no sistema


internacional para assegurar um crescimento mais eqüitativo.
Antônio Rocha Magalhães e Leo Feller

Reformas Internacionais Desejáveis para alcançar a Justiça Social Internacional.


Renato Baumann

Comentário sobre reformas na ordem social internacional em um mundo globalizado.


Luis Bitencourt

O multilateralismo como promotor de justiça social.


Edgardo Riveros

As formas de cooperação internacional entre europeus, latinoamericanos e norte-


americanos em prol de uma ordem internacional mais justa.
Mario Napoleón Pacheco

IV: O Desafio Político

Alternativas políticas para o Bom aproveitamento da Globalização


Stefan A. Schirm

Introdução
Wilhelm Hofmeister

“Globalização” é a senha que identifica os tempos modernos, do início do século 21. Este termo e
o fenômeno que descreve se referem, em primeiro lugar, a um processo econômico que se
caracteriza pela expansão da repartição internacional do trabalho, ou seja, a formação de
mercados internacionais nos quais se comercializam produtos, capitais e serviços. Mas o conceito
de globalização já envolve outros fenômenos e desenvolvimentos. Por um lado, a revolução da
informação das últimas décadas está estritamente ligada à globalização, pois viabilizou, em grande
medida, a globalização da economia e do mundo financeiro. Por outro, muitos outros setores das
sociedades modernas já estão afetados pela globalização; é o caso, por exemplo, da ampla
exigência do reconhecimento global dos direitos humanos e da democracia representativa no plano
global, como também das expectativas em relação às práticas de governo, agora descritas por
termos como o “good governance”, transparência e “accountability”.
Estes aspectos da globalização não suscitam muita contrariedade – em várias partes do mundo, e
devido a maior qualidade das informações as pessoas estão reivindicando o reconhecimento de
sua dignidade e seus direitos à liberdade; somente os ditadores mais torpes recusam a seus povos
os direitos democráticos e liberdade. Já as conseqüências sociais e econômicas do maior
intercâmbio econômico e financeiro suscitam grandes discussões e controvérsias. Enquanto uns

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salientam o aumento do bem-estar verificado nos países participantes da globalização, como
resultado da eliminação das barreiras comerciais e da maior concorrência, outros argumentam que
a globalização, em sua forma atual, atende sobretudo aos interesses dos donos do capital e dos
grupos multinacionais. Nos países da América Latina, as manifestações de desagrado e rejeição
às supostas conseqüências negativas e aos custos sociais da globalização são bastante comuns.
Discutem-se, não apenas, as conseqüências econômicas imediatas, mas também os efeitos
político-sociais da interdependência econômica global. O presente livro pretende contribuir para o
debate em torno das conseqüências sociais da globalização com um olhar especial sobre a
América Latina. Além disso, reflete sobre os elementos fundamentais da nova ordem social
internacional e a maneira pela qual os países do Norte e do Sul poderiam cooperar para que se
construa uma ordem social internacional que permita mais justiça a nível global. Num debate como
este, não se devem esperar respostas homogêneas. Portanto, os artigos deste livro são o reflexo
da diversidade de opiniões sobre as repercussões sociais da globalização.
Apesar de toda polêmica em torno dos efeitos da globalização, um aspecto, no entanto, já está
claro: a globalização é irreversível. E, na verdade, este não é um fenômeno verdadeiramente novo.
Somente o nome é novo. Refere-se a um desenvolvimento que teve início no passado e que
envolve uma série de atividades realizadas além das fronteiras dos países. Trata-se de um
processo que transcorreu em etapas, atribuído a diferentes forças impulsionadoras. Sem dúvida, o
interesse econômico sempre foi a força preponderante. Já no século 19, desenvolveu-se um
consenso, primeiro na teoria e depois comprovado na prática, de que os países que não se isolam
comercialmente, mas que praticam um intercâmbio aberto com outras economias, se beneficiam
disto e alcançam maior bem-estar. Mas, já naquele tempo, sabia-se que, para que estas
vantagens, efetivamente, produzam o máximo de benefícios para todos, seria necessário que os
países, internamente, empreendessem esforços e implementassem políticas que garantissem uma
distribuição justa do produto destas vantagens. De forma resumida, pode-se dizer que a
globalização gera riqueza, mas não garante a sua distribuição. Esta parte é de responsabilidade
dos governos e das sociedades nacionais.
O processo de abertura do mercado para mercadorias, serviços e dinheiro foi acelerado
intensamente pelas inovações na área da microeletrônica, das telecomunicações e dos métodos
de coleta, transmissão e armazenamento de informações. Tudo isto fez com que o mundo fosse
interligado por uma densa rede de comunicações que possibilita que qualquer ponto do globo
possa ser alcançado em frações de segundos. A queda dos preços dos transportes e a crescente
uniformização das normas técnicas foram tocando o avanço da globalização. Também a queda da
cortina de ferro influenciou o processo de globalização, pois substituiu a concorrência entre dois
sistemas sociais pela concorrência mundial, a luta pela participação econômica no mercado
mundial.
A crescente interdependência internacional, cada vez mais estreita, na verdade, não é um destino
incontrolável, mas sim é resultado de decisões de Estado. Sobretudo, os países economicamente
mais fortes se empenham, desde o início da década de noventa, na remoção gradual das muralhas
de proteção armadas em torno das economias nacionais. Os dois processos de liberalização mais
importantes foram a criação do Mercado Comum Europeu e o Acordo de Livre Comércio da
América do Norte (NAFTA). Na América do Sul, o Mercosul, criado em 1994, é o projeto mais
importante de liberalização do comércio entre os países-membros. No plano internacional, a OMC,
fundada em 1995, é a instituição central onde se prepara e negocia a continuação da liberalização
do comércio internacional.
O processo de liberalização fez com que, no caso de muitos produtos, a cobrança de tarifas
alfandegárias e a imposição de cotas para restringir quantitativamente a importação de
mercadorias perdessem a função de proteger a produção de um país. Se, inicialmente, a
concorrência para uma empresa existia apenas dentro das fronteiras de um país, agora está
deslocada para qualquer parte do mundo. Entretanto, alguns países só adotaram medidas pouco
decisivas neste sentido.
Não apenas produtos e serviços são vendidos e comprados em âmbito mundial sem encontrar pela
frente grandes obstáculos. Também o fluxo de dinheiro foi liberado de quase todas as amarras do
Estado. Hoje em dia, o capital chega onde quer que possa ser aproveitado como investimento, às
empresas ou aos países que prometam bons rendimentos ao mercado financeiro.

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Conseqüência disto é que boa parte dos recursos que circulam diariamente pelo mundo – em
2002, era 90% do total – não mais está relacionada ao pagamento de bens e serviços. O próprio
dinheiro tornou-se mercadoria. É enorme o volume de capital que se destina aos países onde se
auferem altos rendimentos a curto prazo; mas quando a situação conjuntural se altera tais recursos
são retirados rapidamente, em operações que não consideram a crise financeira deixada para trás.
Por esta razão, muitos críticos da globalização, entre eles, não apenas organizações não-
governamentais com atuação internacional mas também renomados economistas, estão
reivindicando que os Estados, além de reduzirem as barreiras econômicas dos países em
desenvolvimento, também elaborem regras consensuais que sejam capazes de evitar crises nos
mercados financeiros globais. Apesar de estas regras parecerem imprescindíveis, o pagamento
dos impostos sobre as transações financeiras não é uma medida apropriada.

As conseqüências para os países industrializados e os países em desenvolvimento

A globalização é, em primeira linha, um fenômeno da esfera econômica, embora seus efeitos vão
muito além. Não apenas a população dos países emergentes ou pobres é afetada. A população
dos países industrializados teme por sua segurança social e seu futuro como conseqüência da
globalização. A eliminação das barreiras entre países facilita, sobretudo, às grandes empresas com
capital, que procuram reduzir seus custos de produção e se estabelecer em países que praticam
salários mais baixos, mínimas exigências ambientais e sistemas de seguridade social menos
sofisticados. Em alguns países, paga-se tão pouco por certas atividades que compensa deslocar
para lá a produção, mesmo considerando os custos de transporte do produto, pois nos países de
origem os salários e encargos seriam muito mais altos. Isto ameaça principalmente aqueles
empregos que requerem pouca qualificação. Conseqüentemente, a população terá que apresentar
um nível de escolaridade cada vez mais elevado e boa capacidade de inovação para fazer frente à
concorrência da mão-de-obra de outros países industrializados.
A qualificação acima da média é correspondentemente remunerada e por ela há demanda mundial.
Principalmente na área da tecnologia da informação e das comunicações surgiu todo um novo
mercado de trabalho, bastante exigente no que se refere à formação profissional. Por outro lado,
esta situação faz aumentar, em condições de maior competitividade mundial, a distância entre
aqueles que ganham muito e os assalariados que ganham pouco.
Os países que estão no início de seu desenvolvimento industrial e que dispõem de condições
rudimentares para participar da economia de mercado – principalmente, Estado de Direito
consolidado e instituições fortes minimamente operantes – já têm dificuldades em fazer frente à
concorrência dos países industrializados. Estão sempre ameaçados a serem colocados à margem
da economia mundial. Isto mostra que a globalização opera em grande escala sem respeitar
fronteiras, mas não é um processo ilimitado e universal. Antes, acentua o risco de acirrar as
diferenças entre os países industrializados ao norte e muitos países em desenvolvimento ao sul.
Por isto, as conseqüências da globalização para os países emergentes e em desenvolvimento são
avaliadas de forma muito variada. Os seus defensores projetam que os países pobres do sul irão
se beneficiar mais deste processo do que os países ricos do norte. No seu entender, a facilitação
do comércio internacional fará com que seja cada vez mais freqüente a produção nos países em
que os salários sejam mais baixos. Os críticos, entretanto, enxergam os países em
desenvolvimento como perdedores da globalização. Prevêem cada vez mais pobreza, maior
dependência de grandes grupos econômicos e parcas chances de desenvolvimento.
A maioria dos estudos científicos confirma, no entanto, que os países que praticam uma política
econômica liberal e que são abertos ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros,
percebem mais vantagens do que aqueles que adotam uma postura protecionista, blindando sua
economia por meio de tarifas alfandegárias e outras medidas.
Por isto mesmo, é lamentável que os próprios países industrializados que pregam as vantagens da
globalização, pequem pela incoerência com suas práticas comerciais de produtos agrícolas –
exatamente a área de crucial importância para vários países em desenvolvimento. Muitos dos
países industrializados protegem os seus mercados de produtos agrícolas através de taxas
alfandegárias e outras medidas inibidoras do comércio externo. A tão propalada competitividade,
defendida por aqueles como sendo um dos maiores motores do desenvolvimento, nem sempre é
praticada quando se trata de produtos desta natureza.

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A restrição ao acesso a seu mercado não é o único pecado cometido pelos países ricos. Os países
industrializados concedem subsídios a seus agricultores que somam mais de um bilhão de dólares
por dia, mais precisamente, 350 bilhões de dólares por ano. Nos países da OCDE, que reúne os
países industrializados ocidentais, Japão e Coréia do Sul, em 2001, um terço da renda anual dos
agricultores foi proveniente de subsídios. A reivindicação pela redução de subvenções e medidas
protecionistas, praticadas em países em desenvolvimento, somente terá credibilidade no momento
em que os países industrializados eliminarem as suas medidas protecionistas e as subvenções
pagas ao seu setor agrícola.

O problema da miséria

Um problema central da humanidade, sempre relacionado à globalização, é a miséria. Ouve-se,


repetidamente, a mesma pergunta: a globalização terá contribuído para a redução da pobreza nos
países emergentes e em desenvolvimento? Mas, outra pergunta também deve ser feita: a
globalização é a verdadeira responsável pela miséria ou haveria outras causas para a mesma?
O indicador mais importante para medir a evolução da miséria em um país é sua renda per capita,
que mede também o desempenho de sua economia. As estatísticas mostram que são dois grupos
de países os que mais se beneficiam da globalização: os países industrializados e alguns países
asiáticos. As economias latino-americanas apresentaram apenas um ligeiro aumento da renda per
capita na década de noventa, insuficiente, entretanto, para reduzir a miséria. Os maiores
perdedores, sem dúvida, são os países africanos.
Na década de noventa, os países mais pobres do mundo não se beneficiaram com a globalização.
O total de pessoas em todo o mundo que, entre 1990 e 1999, viviam com menos de um dólar por
dia (abaixo da linha de pobreza), diminuiu em 120 milhões de pessoas. Mas este recuo se deve,
sobretudo, ao grande salto desenvolvimentista da China. Se deixarmos a China fora do cálculo,
veremos um crescimento de 21 milhões de pessoas no grupo dos que viveram abaixo da linha de
pobreza neste período. A miséria continua sendo um grave problema. No início do século 21,
quase a metade dos habitantes da terra ou 2,8 bilhões de um total de seis, eram obrigados a
sobreviver com menos de dois dólares por dia.
É fato que os perdedores da última década sejam os habitantes da África, enquanto que os
habitantes do leste da Ásia foram os maiores beneficiados pelos efeitos da globalização. A
situação no sul da Ásia, ou seja, em países como Índia, Bangladesh, Paquistão e Sri Lanka não se
alterou neste período. A maior quantidade de pobres de todo o mundo ainda vive nesta região.
Apesar de a situação de miséria não ter mudado em muitos países pobres, há também aqueles
que puderam aproveitar as oportunidades oferecidas pela globalização. A China é um exemplo,
além de outras nações no leste asiático, tais como Coréia do Sul e Singapura. Até mesmo alguns
países africanos tem se desenvolvido bem, como por exemplo, Botswana e Uganda.
Tal êxito da economia se deve, primordialmente, a estrita observância das exigências do mercado
mundial. Na verdade, os países asiáticos bem sucedidos, na tentativa de proteger o seu mercado
interno da competitividade do mercado mundial, aplicaram tarifas alfandegárias e outras medidas
protecionistas. Outros fatores importantes para o sucesso são os investimentos em educação, em
infra-estrutura eficiente, na ordem jurídica e não, por último, na “boa governança” (good
governance). Esta pressupõe, entre outras, reformas políticas estruturais, tais como o aumento da
eficiência da administração pública e o combate à corrupção.
Do lado dos perdedores, encontram-se também alguns países que, à primeira vista, teriam todas
as possibilidades de apresentar um bom desenvolvimento econômico, entre eles aqueles países
possuidores de grandes recursos naturais. Entre os vencedores da globalização, quase não há
países ricos em recursos naturais.
Isto prova que a comum suposição de que a abundância em recursos naturais seria um importante
pré-requisito para o desenvolvimento econômico bem sucedido não se confirma. Via de regra, é
muito mais a política econômica de um país, e não a globalização, a principal responsável pelas
dificuldades econômicas. Além disto, em muitos lugares a corrupção contribui, substancialmente,
para o mau desempenho econômico.
Portanto, não é nem a globalização e, tampouco, a dotação de recursos naturais o fator decisivo
para o sucesso ou fracasso da economia de um país, mas sim, além da observância do mercado
mundial e do bom padrão de educação, o balizamento da política comercial e financeira que irá

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assegurar a um país a aproximação do mercado mundial. Na política comercial, a orientação da
economia para o setor de exportação em combinação com uma abertura seletiva das importações
é a prática que se tem mostrado a mais promissora.

Cooperação internacional e limites do governo global

A interdependência internacional aumenta cada vez mais. O fim do conflito Leste-Oeste oxigenou o
dinamismo da globalização e incluiu países e regiões que, anteriormente, estavam isolados pelo
confronto militar e ideológico com o exterior.
Ao facilitar o acesso das empresas transnacionais e dos fluxos financeiros internacionais, os
governos acabam por reduzir suas chances de exercer qualquer influência sobre a própria
economia, e enfraquecem seus instrumentos econômicos e financeiros tradicionais, como é o caso
dos impostos e juros.
A liberalização da política comercial, a desregulamentação das atividades do Estado e os
mecanismos do mercado global afetam a soberania de um país. Muitas tarefas que, até então,
eram resolvidas internamente pelo governo de um país, agora são gerenciadas em conjunto com
outros.
Em vista dos desafios e conseqüências da globalização, é cada vez mais premente a necessidade
de uma cooperação internacional mais estreita que possa ordená-la. As instituições internacionais,
como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do
Comércio (OMC) têm um peso maior neste contexto. Funcionando como promotores da
globalização, passaram a ser também um dos principais alvos de seus opositores.
Entretanto, a crítica das instituições multilaterais, muitas vezes, não se justifica, pois são os novos
acordos internacionais e o fortalecimento das organizações multilaterais que farão com que a
globalização possa ser conduzida de forma viável para todos. Esta é a razão pela qual diversos
atores reivindicam uma “global governance” destinada a lidar com questões das quais um governo
sozinho não poderia dar conta.
De forma geral, a reivindicação por este tipo de cooperação internacional conta com bastante
apoio, pois não é difícil entender que muitos problemas somente poderão ser solucionados em
conjunto, seja a organização dos fluxos do comércio internacional, seja a prevenção de mudanças
climáticas. Mas, um governo global ainda não está em vista. No final das contas, os Estados
nacionais ainda continuam sendo a referência para a legitimação e a participação.
Por enquanto, são poucas as chances de realização da “global governance” a curto prazo. Isto
porque as pessoas potencialmente afetadas por uma decisão, não necessariamente, teriam o
direito de opinar na formação da vontade coletiva e na tomada de decisão. No entanto, a
“governança global” sem uma “democracia global” parece apenas viável.
Apesar de todos os processos globalizantes, os Estados nacionais continuam sendo o espaço
maior de participação democrática dos cidadãos. Entretanto, já neste âmbito, a democracia
encontra seus limites. Nas sociedades modernas e individualistas, muitos cidadãos já não mais se
sentem suficientemente representados nos processos políticos que lhes parecem distantes. Um
governo global praticamente não reduziria a distância entre os cidadãos e a política. A alternativa
para uma “democracia global”, a solução puramente “tecnocrática” dos problemas, concebida,
decidida e implementada por especialistas e para especialistas não encontraria muita aceitação –
sem mencionar o fato de que soluções “tecnocráticas” não são automaticamente melhores ou mais
aceitáveis do que as soluções encontradas em trabalhosos processos democráticos que, por
enquanto, perdurarão.
Ainda assim, persiste a ambivalência. Por um lado, há uma crescente necessidade de regulação
global de diversas situações-problema. Por outro lado, as propostas de solução para estes
problemas reais estão muito defasadas em relação à gravidade dos mesmos. A integração política
e econômica de uma região sempre é recomendada como complementação necessária ao
processo de globalização; mas os processos de integração costumam encontrar muitas
resistências e são repletos de contradições, como se pode confirmar com o exemplo do Mercosul.
Como não é de se esperar que os processos da globalização percam seu dinamismo, fica o
desafio de construir a necessária arquitetura de um “global governance” eficaz e democraticamente
legítima, para que, no século 21, possa haver controle político e que as metas desejadas sejam
alcançadas.

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Este livro oferece uma contribuição à discussão sobre uma cooperação internacional que tem que
ser inovadora e mais eficiente em vista da globalização e dos desafios sociais. Sobretudo, no que
diz respeito à luta contra a pobreza e à desigualdade.
A presente obra se baseia em um simpósio internacional que a Fundação Konrad Adenauer
organizou, no ano de 2004, no Rio de Janeiro. Todos os autores merecem um agradecimento
cordial por suas contribuições. Sem a dedicação de Joana Fontoura, não teria sido possível esta
publicação e, por isso, o editor lhe deve um agradecimento especial.

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