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TRABALHO
07/09/2016 – 06:52
CLT JUSTIÇA DO TRABALHO OIT RETROSPECTIVA 2016 RETROSPECTIVA SETEMBRO 2016 TST
A
Justiça do Trabalho vem sendo atacada por mitos, baseados em crenças ideológicas, sem qualquer
O primeiro mito é que a proteção do direito do trabalho gera desemprego, sendo necessária a exibilização
da legislação trabalhista para a criação de postos de trabalho. Segundo os estudos empíricos realizados em
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17/04/2018 Os 5 mitos da Justiça do Trabalho | JOTA
diversos países (por todos, Relatório de Giuseppe Bertola para a OIT – Organização Internacional do
Trabalho de 2009; e da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico de 2006 e
2013), não há qualquer relação determinante entre a proteção trabalhista e a geração de empregos, no
sentido que a proteção trabalhista impediria a contratação de trabalhadores ou que a exibilização
incentivaria a criação de novos postos de trabalho. Outro ponto que os estudos abrangentes demonstram é
que a proteção trabalhista assegura melhor distribuição da renda, além de demonstrar que longas horas de
trabalho e alta rotatividade diminuem sensivelmente a produtividade (Deakin, Malmber e Sarkar,
International Labour Review 195, 2014). O discurso de que o direito do trabalho se relaciona com o nível de
emprego tem origem puramente ideológica.
O segundo mito é que a legislação trabalhista é antiga, tem mais de 70 anos, e por isso ultrapassada. De fato,
a Consolidação das Leis do Trabalho original é do ano de 1943, porém, dos 510 artigos que compõem a parte
de direito individual do trabalho, somente 75 permanecem com a redação original, ou seja, apenas 14,7% dos
dispositivos não sofreu atualização. Além disso, há dezenas de leis esparsas tratando de novas formas de
contratação que não estão inseridas no bojo do diploma legal principal, a CLT.
O terceiro mito é que é a legislação trabalhista que causa excesso de processos na Justiça do Trabalho. No
ano de 2015, 46,9% das ações em curso eram relativas a pagamento das verbas rescisórias (Relatório Justiça
em Números 2015, Conselho Nacional de Justiça), sendo que a maior parte desses trabalhadores,
provavelmente, foram encaminhados pela própria empresa à Justiça do Trabalho para conciliar e reduzir o
valor que o trabalhador tem por direito a receber. Ou seja, quase a metade da demanda na Justiça do
Trabalho se dá pelo simples não pagamento de verbas na dispensa do trabalhador, não tendo qualquer
O quarto mito é que há excesso de ações na Justiça do Trabalho. Os jornais estampam manchetes dizendo
que a Justiça do Trabalho receberá cerca de três milhões de ações este ano. Esse número, em termos
absolutos, realmente assusta. Mas se olharmos em termos relativos, a Justiça do Trabalho recebe 13,8% dos
casos novos, muito menos processos que a Justiça Estadual (69,7%), e menos ainda que a Justiça Federal, que
tem praticamente um réu, a União Federal (14%).
O quinto mito é que as súmulas do Tribunal Superior do Trabalho e a multiplicação de leis trabalhistas
tornariam complexas e sem segurança as relações jurídicas. Ora, esse mito é originado da ilusão do
positivismo jurídico de querer tudo regular e não dar brechas para interpretação dos juízes: o Código
Prussiano, de 1794, com 19.000 artigos, e o Código Napoleônico, de 1802, com 2.280 artigos, são os exemplos
mais claros da utopia e também de seu fracasso. Por óbvio esses códigos não conseguiram abarcar todas as
situações da vida, e os con itos tiveram que ser resolvidos por interpretações judiciais. Isso se dá pelo
simples fato que o mundo é complexo, as relações são complexas, não havendo possibilidade de amarrá-las
todas em um texto legal. As súmulas dos tribunais são apenas uma tentativa que, sabendo-se um tanto vã,
buscam maior clari cação do direito. Quanto à multiplicação das leis trabalhistas, essa é oriunda do próprio
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processo de desconstrução do direito do trabalho: a cada passo de exibilização, mais uma lei é criada, mais
Esses mitos impedem que haja a necessária análise desprovida de paixões ideológicas. A Justiça do Trabalho
e o direito do trabalho exercem importantes funções no equilíbrio das relações sociais, impedindo a
emergência de con itos abertos entre empregadores e trabalhadores. Os fatos estão esquecidos ou
escondidos, os mitos se tornam senso comum, espalham-se e contaminam até mesmo membros desse ramo:
hoje a Justiça do Trabalho é uma ilha cercada de mitos por todos os lados. Os náufragos, habitantes dessa
ilha, são os trabalhadores e a sociedade, que só esperam que os direitos fundamentais não sejam destruídos e
que seja buscada a construção de uma comunidade baseada em respeito mútuo e, por conseguinte, mínima
Rodrigo de Lacerda Carelli – Procurador do Trabalho no Rio de Janeiro e Professor de Direito do Trabalho e
Processo do Trabalho na Universidade Federal do Rio de Janeiro
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