Sie sind auf Seite 1von 8

Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 8: 287-294, 1998.

TEORIA E MÉTODOS NA ANÁLISE CERÂMICA


EM ARQUEOLOGIA

Erika Marion Robrahn-Gonzdlez*

O estudo da cerâmica ocupa, certamente, uma da a contextos distintos, permitiria acesso a fenô­
posição expressiva na disciplina arqueológica. Isto menos culturais diversificados.
se deve, em primeiro lugar, à universalidade deste Todos estes fatores fizeram com que o estudo
tipo de vestígio: além de a cerâmica ser encontrada da cerâmica estivesse sempre presente, acompa­
em contextos arqueológicos de praticamente todo nhando o caminho trilhado pela Arqueologia en­
o mundo, possui uma história bastante recuada no quanto disciplina. Seu histórico já foi apresentado
tempo. Os primeiros objetos identificados corres­ a partir de diferentes classificações: Shepard (1956)
pondem a figuras de argila, datadas em 26.000 BP dividiu-o em três fases sem, entretanto, estabelecer
e encontradas em grande número no sítio Dolni referências cronológicas. São elas: o estudo da va­
Vestonice, no leste europeu (Vandiver et al. 1989). silha enquanto objeto cultural; o estudo dos frag­
Já a mais antiga indústria de vasilhas foi datada mentos na obtenção de seqüências estratigráficas;
em 12.700 BP, correspondendo à cerâmica Jomon, e o estudo da tecnologia cerâmica como via de aces­
no sudeste do Japão (Aikens 1995). so ao próprio ceramista. Matson (1984) e Rice (1988),
A partir daí, a manufatura da cerâmica emergiu baseados na Arqueologia americana e apoiados nas
de forma independente em diversas áreas do mun­ fases definidas por Willey e Sabloff (1974), estabe­
do, e seu conhecimento foi rapidamente espalhado. leceram: o período histórico classificatório (1914-
Isto faz com que constitua, muitas vezes, o princi­ 1960) e o período explanatório (de 1960 em dian­
pal vestígio no estudo de sociedades que se desen­ te). Van der Leeuw (1984) definiu três fases: a tipo­
volveram nos últimos 10.000 anos. lógica (até 1965); os “três níveis de pesquisa”
Por outro lado, graças às suas propriedades (1965-1980); e o estudo dos elementos culturais
físicas, os vestígios cerâmicos têm grande durabili­ (a partir de 1980). Por fim, Orton, Tyers & Vinces
dade, permitindo ao arqueólogo recuperar uma por­ (1995) propõem uma divisão em outras três fases:
ção expressiva dessa indústria. Além disto, os frag­ a artística/histórica, a tipológica e a fase contextual.
mentos cerâmicos exercem, seguramente, uma atra­ O breve histórico que fornecemos a seguir se ba­
ção bem menor entre colecionadores (mais inclina­ seia no trabalho destes últimos, já que apresen­
dos a coletar pontas projéteis lascadas ou macha­ tam, ao nosso ver, uma classificação mais abran­
dinhas polidas), fornecendo contextos de pesquisa gente e atual.
menos alterados. Segundo os autores, cada fase remete a uma
Finalmente, devemos indicar o potencial inter­ escala distinta de estudo: enquanto a fase artística/
pretativo que a cerâmica apresenta. Se, por um la­ histórica reflete sobre a vasilha como um todo, a
do, grande parte dos utensílios cerâmicos está rela­ fase tipológica se baseia nos fragmentos. Por fim,
cionada a funções cotidianas coletivas (como o pre­ a fase contextual reuniria trabalhos com enfoques
paro de alimentos, cozimento e estocagem), pode bastante distintos, passando do detalhe microscópi­
estar igualmente vinculada a usos específicos e res­ co de fabricação da cerâmica à comparação de con­
tritos a determinados grupos de indivíduos (como juntos de artefatos provenientes de sítios diversos.
o comércio e/ou troca de bens, rituais, etc...). As­ Embora, de um modo geral, estas fases tenham
sim, uma vez que a cerâmica pode estar relaciona­ sucedido ao longo do tempo, apresentam muitas
vezes desenvolvimentos paralelos, motivados por
questões específicas que cada pesquisa apresenta.
(*) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de A fase artística/histórica, cujos primeiros tra­
São Paulo. balhos remontam pelo menos ao século XV, tem

287
Estudos Bibliográficos: Ensaios - Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 8: 287-294, 1998.

como origem a descrição da cerâmica tecnológica­ Durante a fase tipológica, os estudos se dire-
mente mais elaborada tanto da Europa como da Ásia, cionaram, por um lado, para a distribuição vertical
com destaque para as vasilhas etruscas, gregas e (ou cronológica) da cerâmica, a partir da seqüência
romanas (Sklenár 1983; Stow 1603; van Mellen estratigráfica dos achados; por outro lado, o enfo­
1679; Browne 1658; Groevius e Groonovius 1694, que horizontal, voltado à análise de distribuição
entre outros, citados por Orton et alii 1995: 5). da cerâmica no espaço, contribuiu para estabelecer
Os trabalhos tratam, em grande parte, de vasi­ seqüências regionais, bem como definir áreas cul­
lhas associadas a enterramentos. Discorrendo sobre turais (Childe 1929).
peças individuais ou sobre coleções, a ênfase recaía O principal instrumento metodológico foi a
nas técnicas de fabricação e nos aspectos decorati­ seriação, criada como uma maneira de ordenar os
vos, muitas vezes trazendo interpretações de cenas vestígios através da presença ou ausência de artefa­
clássicas. No final do século XVIII e início do XIX tos (ou atributos)-tipo. A aplicação do conceito em
expressa-se um interesse mais geral pela cerâmica, coleções de superfície foi feita por Spier (1917),
relacionada a períodos e localidades variadas, em­ ao mesmo tempo em que se implantava a idéia de
bora predominem ainda estudos voltados às peças que a proporção de ocorrência dos tipos na estrati­
mais elaboradas. grafía obedecia a padrões (Nelson 1916). Sugeriu-
O estudo da cerâmica doméstica européia pós- se, então, que os padrões teriam um significado
clássica só se desenvolveu, de forma sistemática, cultural, e o método da seriação passa a ser utiliza­
a partir do século XX. Quanto ao estudo da cerâmi­ do para criar cronologias culturais, baseadas em
ca Oriental (ainda predominantemente chinesa e cálculos matemáticos (Ford 1962).
japonesa), após uma verdadeira era de colecionado­ Na arqueologia americana, o conceito do “ti­
res, as atenções se voltaram a questões históricas, po” adquire grande importância. Uma vez criado,
abordando, por exemplo, temas como o comércio ele poderia ser ordenado de acordo com idéias de
de bens (Julien 1856; Noritané 1876; Hirth 1888, “desenvolvimento” e utilizado para demonstrar se­
citados por Orton et alii 1995: 8). qüências cronológicas, dentro de um raciocínio cir­
Nos EUA, o estudo da cerâmica teve início cular (Orton et alii 1995:11). Gifford (1960: 341)
no final do século XVIII e princípio do XIX, igual­ definiu tipo como “a specific kind of pottery embo-
mente relacionado a investigações de monumentos dying a unique combination of recognizable dis-
(como por exemplo os trabalhos de Squier e Davis tinct attributes”. Segundo os pressupostos desta
1848; Schoolcraft 1847). A fundação do Bureau escola, os tipos (sejam cerâmicos ou líricos) per­
of American Ethnology constituiu um avanço sig­ mitiriam identificar relacionamentos históricos
nificativo nas investigações. Estudos paralelos co­ entre culturas.
meçaram a ser desenvolvidos no restante da Amé­ A classificação em tipos logo se mostrou, en­
rica, como o trabalho de Waldek (1838) na Amé­ tretanto, insuficiente, considerando a grande diver­
rica Central, e o de Falbe (1843) na América do sidade de variáveis que a cerâmica apresenta. Isto
Sul (citados por Orton et alii 1995: 8). levou à adoção do conceito de “variedades” (Krie-
A fase tipológica teria surgido da necessidade ger 1944; Gifford 1960) ou de outras classificações
de classificar a grande quantidade de material cole­ como seqüências, séries, sistemas cerâmicos ou
tado em escavações na França, Alemanha e Bre­ modos (Orton et alii 1995:12; Rouse 1960; Whal-
tanha, no final do século XIX (Rhodes 1979, refe­ lon 1972).
rindo-se a Smith 1854; Plique 1887; Cochet 1860; A necessidade de fornecer descrições detalha­
Solon 1910, entre outros, citados por Orton et alii das dos tipos cerâmicos fez proliferar as publica­
1995: 9). Inicia-se neste período a relação da cerâ­ ções voltadas à classificação. Incluem-se aqui, en­
mica a seqüências estratigráficas (vide o clássico tre outros, os estudos de fonte de matéria prima
trabalho de Petrie, 1891, em Lachish, na Palestina). (Peacock 1977), textura da cerâmica (Guthe 1927;
Nos Estados Unidos, isto se deu com as escavações Byers 1937) e antiplástico (Shepard 1964). Uma
de Kidder (1924, 1931) em Pecos, propondo uma análise comparativa entre estes diferentes trabalhos
integração entre estratigrafía, levantamentos regio­ pode ser obtida em Robinson (1979).
nais e cerâmica. Segundo Orton et alii (1995:9), Nesta fase tipológica foram criados os princi­
este trabalho constituiu um modelo para os méto­ pais fundamentos para o estudo da cerâmica, a
dos arqueológicos desenvolvidos nos anos 60. maioria deles ainda hoje utilizados. Destacam-se

288
Estudos Bibliográficos: Ensaios - Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 8: 287-294, 1998.

aqui as análises tecnológicas (principalmente ções, como para a construção de modelos. Já no


petrográficas e químicas) e os estudos de fontes início do século XX surgem os primeiros trabalhos
de argila. que consideram os processos de produção da cerâ­
Ainda na década de 50, deu-se início à deno­ mica (Linné 1925; Bunzel 1929), bem como uma
minada fase contextual que, segundo Orton etalli tentativa inicial em relacionar a etnografia com a
(1995: 13), estaria relacionada à publicação da obra arqueologia (Franchet 1911). Depois disto, foram
Ceramics fo r the Archaeologist, de A. Shepard, inúmeros os estudos que se dedicaram ao tema.
em 1956.0 livro articula, pela primeira vez, análi­ A Etnoarqueologia, área de pesquisa que se
ses sobre cronologia, desenvolvimento tecnológico consolidou mais recentemente, propõe desenvolver
e distribuição dá cerâmica. Apresenta, ainda, uma estudos arqueológicos em sociedades contemporâ­
série de contribuições para a análise da cerâmica, neas, desenvolvendo e testando hipóteses sobre a
tanto práticas quanto teóricas. Neste último caso, relação entre cultura material e comportamento, e
discute detalhadamente o uso e limitações do con­ sugerindo relacionamentos similares no passado.
ceito de “tipo”, bem como sobre sua suposta rela­ Desta forma, é capaz de apresentar contribuições
ção com entidades culturais. sobre temas diversificados e, muitas vezes, de difí­
Depois do trabalho de Shepard, o estudo da cil tratamento na Arqueologia, como padrões de
cerâmica se projetou em uma grande variedade de transmissão de conhecimento cerâmico, posição
direções, resultando em trabalhos com objetivos, social do ceramista, sistemas de distribuição e uso
abordagens e resultados notadamente diversos. Co­ dos artefatos, dados sobre a vida útil da cerâmica,
mo pontos comuns a estes estudos, podem ser cita­ padrões de quebra e práticas de descarte, entre ou­
dos, principalmente: tros (Hendrickson & McDonald 1983; Hodder
- uma grande resistência ao conceito de consi­ 1982, 1989; Kent 1984; Kramer 1979; Layton
derar os fragmentos cerâmicos enquanto tipos-fós- 1994; Longagre 1991; Amold 1991; Skibo 1992).
seis, principalmente quando a evolução das técni­ De todas as fases por que o estudo da cerâmica
cas de datação radiocarbônica substituíram, com arqueológica passou, desde a fase artística/históri­
larga vantagem, o uso das tipologias para estabele­ ca, tipologia e contextual, o grande desafio dos
cer cronologias culturais; pesquisadores foi, e ainda é, compreender até que
- uma continuidade no desenvolvimento de ponto a cerâmica se articula com aspectos não ma­
técnicas cada vez mais específicas e precisas para teriais da cultura, envolvendo esferas políticas, so­
a análise da cerâmica, nos campos da física, quími­ ciais, econômicas, ideológicas ou históricas. Per­
ca e matemática (esta última através da aplicação manece, portanto, a indagação: qual o significado
de diferentes programas estatísticos); da cerâmica para o estudo de sociedades humanas,
- e, por fim, a percepção de que diferentes ao longo, do tempo?
processos de formação de sítio (envolvendo descar­ Algumas pesquisas apontam um panorama
te, remanej amentos internos ainda durante a ocupa­ desanimador. É o caso, por exemplo, do trabalho
ção do sítio e toda a gama de alterações posteriores) de Tschopik (1950), que observou uma variação
necessitam ser considerados na análise da cerâmi­ muito pequena da cerâmica Aymara (identificada
ca, deixando de lado a correlação simplista, muitas na bacia do Titicaca, Peru) desde o período pré-
vezes adotada, entre vasilha em uso e fragmentos colombiano até o presente, mesmo que seus porta­
escavados. dores tenham passado pela dominação Inca, pela
Os sítios passam a não ser mais tratados indivi­ conquista espanhola e por 400 anos de maciça acul­
dualmente, mas sim em conjunto, a partir de estu­ turação. Outro exemplo similar é fornecido por
dos comparativos. Isto levou à necessidade de uni­ Charlton (1976), indicando que as mudanças na
formizar procedimentos de análise e nomenclatu­ cerâmica do vale do México frente à dominação
ras, apresentados por manuais como o de Rye espanhola foram extremamente suaves e graduais,
(1981) e de Rice (1987), publicados nos EUA, e tendo, inclusive, se iniciado somente 150 anos após
como de Balfet et al. (1989), Blake and Davey a conquista.
(1983) e Young (1980), publicados na Europa. De fato, nem sempre a relação entre a variabili­
Por outro lado, a pesquisa arqueológica passou dade da cerâmica e questões sobre organização po­
a reconhecer o valor dos estudos etnográficos, tanto lítica, social, econômica, ideológica e suas mudan­
no desenvolvimento de suas análises e interpreta­ ças ao longo do tempo, são óbvias e diretas. Em

289
Estudos Bibliográficos: Ensaios - Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 8: 287-294, 1998.

muitos casos, outras classes de cultura material desenvolvimento de análises mais aprofundadas.
seriam mais adequadas do que a cerâmica para dis­ Como tantos já alertaram, e por tantas vezes, volto
cutir estas questões (como por exemplo o vestuário, a mencionar que o alcance de nossas conclusões é
ou a pintura corporal). Todavia, geralmente é com definido, antes de mais nada, pelo alcance de nos­
a cerâmica que o arqueólogo depara. Embora ela sos problemas de pesquisa. Sem dúvida, a cerâmica
não se preste para equacionar todas as questões, se mostrará mais apropriada para responder ques­
um trabalho cuidadoso, a partir de pressupostos tões sobre o passado se trabalharmos com amostras
teóricos e metodológicos bem definidos, certamen­ criteriosamente coletadas e documentadas, e quan­
te permitirá ir muito mais além do que simplesmen­ do for associada a seu respectivo contexto cultural.
te agrupar atributos no tempo e no espaço. É notável que a última década tenha apresenta­
No que se refere à metodologia de análise, em­ do uma enorme proliferação na literatura sobre ce­
bora tenham sido apresentados grandes avanços râmica arqueológica. Isto se deve, por um lado, ao
com o uso de tecnologias sofisticadas, os paradig­ próprio potencial da cerâmica na pesquisa arqueo­
mas analíticos usualmente adotados limitam, de lógica; por outro lado, reflete nossa crescente habi­
forma significativa, as questões que podem ser res­ lidade em colocar e responder questões sobre o
pondidas. Grande parte das análises ainda hoje de­ passado. Dentro deste contexto, mencionamos
senvolvidas dão ênfase à classificação do material, abaixo algumas linhas de pesquisa que têm recebi­
onde os fragmentos cerâmicos constituem a base do maior atenção nos últimos anos e que fornece­
de estudo, novamente partidos em atributos e sub- ram, conseqüentemente, interessantes contribui­
atributos de análise. De fato, o fragmento cerâmico, ções para o avanço da análise cerâmica em Arqueo­
enquanto elemento isolado, não constitui uma uni­ logia.
dade cultural de comportamento. Somente através Em primeiro lugar, devemos citar os estudos
do estudo da produção, uso e descarte da vasilha que se voltam aos aspectos tecnológicos, valendo-
enquanto artefato é que poderão ser desenvolvi­ se de recursos cada vez mais sofisticados. Podemos
dos estudos propriamente antropológicos, amplian­ citar aqui, entre outros, os trabalhos de Stoltman
do as discussões e o alcance da pesquisa arqueoló­ (1989), Neff (1992, 1993), Cogswell et alii 1998;
gica. Giardino et alii 1998; e de Rice 1987. Tecnologia
Dentro desta discussão, uma das grandes con­ cerâmica chegou inclusive a constituir o tema do
tribuições fornecidas pela literatura é a revisão crí­ volume 21 da revista World Archaeology (1989),
tica sobre a classificação da cerâmica. A classifica­ reunindo onze artigos sobre o assunto. Contamos
ção de artefatos, ou a divisão do material arqueoló­ ainda com trabalhos que não apenas discorrem so­
gico em categorias segundo suas semelhanças ou bre métodos de análise e questões tecnológicas,
diferenças, constitui uma parte essencial em qual­ mas procuram discutir os resultados obtidos dentro
quer estudo arqueológico. Uma vez que lidamos de problemas arqueológicos mais amplos. Incluem-
com sociedades extintas, não temos acesso direto se aqui trabalhos como de Stoltman (1991), que
a como seus indivíduos interpretavam ou classifica­ utiliza análises petrográficas na cerâmica para dis­
vam a cultura material. Assim, a classificação de cutir aspectos de interação cultural, e o trabalho
indústrias arqueológicas recai sobre uma variedade de Pãrssinan e Siiriâinen (1997) que utiliza aspec­
de fatores, incluindo matéria prima, distribuição tos tecnológicos e cronológicos da cerâmica para
temporal e espacial, bem como padrões de similari­ discutir processos históricos da expansão Inca.
dades formais, morfológicas e decorativas. Conta­ A questão do uso, produção e distribuição da
mos hoje com inúmeros debates sobre a natureza cerâmica, envolvendo problemas sobre sistemas de
da classificação arqueológica, onde se destaca uma troca e aspectos econômicos, foi desenvolvida por
vasta literatura sobre métodos quantitativos, defi­ autores como Pool & Bey (1992). Estudos de caso
nindo e mensurando de forma explícita os atributos são oferecidos, entre outros, por Strazicich (1998),
da cerâmica, e utilizando diferentes testes estatísti­ que discute aspectos de economia regional através
cos para examinar suas relações e distribuição. da produção cerâmica e, mais especificamente,
Por outro lado, os próprios procedimentos de através da identificação de fontes de argila diversi­
coleta do material, em campo, muitas vezes ainda ficadas; por Osbome (1996). que analisa aspectos
são destituídos de problemas específicos de pesqui­ de comércio de artefatos cerâmicos na Grécia; por
sa e assim, conseqüentemente, não irão suportar o Moore (1995), que avalia o impacto na economia

290
Estudos Bibliográficos: Ensaios - Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 8: 287-294, 1998.

do Oeste Asiático através da introdução da cerâmi­ autores como Bey III et alii (1997), que propõem
ca; por Gebauer (1996), que discute a relação entre uma associação entre presença de cerâmica e con­
produção cerâmica e introdução da agricultura na textos arquitetônicos específicos nas terras baixas
Escandinávia; e por Crown & Wills (1996), que Maias, como indicadores da transição entre o perío­
apresentam um estudo sobre intensificação da eco­ do clássico e pós-clássico; Armit & Finlayson
nomia e aparecimento de vasilhas cerâmicas no su­ (1996), que discutem o papel da cerâmica na transi­
doeste americano. ção entre os períodos Mesolítico e Neolítico euro­
Já a questão da cerâmica e organização social peu; e, no Brasil, por trabalhos voltados à ocupação
e política foi abordada por trabalhos como o de Don- de grupos ceramistas na região Centro-Oeste, de­
nan (1997), que discute o problema da divisão do senvolvidos por Wüst (1990) e por Robrahn-Gon-
trabalho e uso hierarquizado da cerâmica na costa zález (1996).
norte do Peru; os trabalhos de Mc Govern e Notis Como se vê, o estudo da cerâmica tem permiti­
(1989), Hegmon (1997) e Hoopes (1995), que dis­ do avançar discussões sobre problemas arqueológi­
cutem aspectos de interação cultural a partir da aná­ cos diversificados. Isto se deve, sem dúvida, à ver­
lise cerâmica; de Sassaman (1996) que avalia as­ satilidade deste tipo de evidência, possibilitando a
pectos sociais derivados do uso de tecnologias de proposição de novas técnicas e/ou abordagens e,
cozimento tradicionais e inovadoras, no sudeste desta forma, ampliando seu potencial interpreta­
americano; além de uma série de estudos de caso tivo. Certamente a cerâmica continuará sendo ex­
sintetizados por Sinopoli (1991: 119-160). plorada no constante desenvolvimento de nossa
Por fim, a questão da cerâmica em estudos de disciplina, cabendo a nós, arqueólogos, alargar o
continuidade e mudança cultural foi discutida por leque de questões que pode ser por ela respondido.

Referências bibliográficas
AIKENS, C.M. BRAUN, D.
1995 The Jomon Pottery o f Early Japan. W.K.Bamett 1983 Pots as tools. A.S.K eene; J.A.Moore (Eds.)
and J.W.Hoopes (Eds.) The Emergence o f P o t­ Archaeological Hammers and Theories. Nova
tery - technology and innovation in Ancient Iorque, Academic Press: 107-134.
Societies. Washington, London, Smithsonian BROWNE, T.
Institution Press: 11-22. 1658 H ydriotaphia. U m e burial. Londres.
ARMIT, I.; FINLAYSON, B. BYERS, D.S.
1996 Social Strategies and Economic Change. W.K. 1937 On standards for texture in pottery, American
Barnett; J.W. Hoopes (Eds.) The emergence o f Antiquity, 3: 76-7.
Pottery. Washington, London, Smithsonian Ins­ CHARLTON, T.H.
titution Press: 267-276. 1976 Contemporary central M exican ceramics: a
ARNOLD, D.E. view from the past. Man (n.s.), 11\ 517-25.
1985 Ceramic Theory and cultural process. Cambrid­ CHILDE, V.G.
ge, Cambridge University Press. 1929 The Danube in Prehistory. Oxford, Clarendon
1991 D om estic Ceram ic Production and spatial o r­ Press.
ganization: a mexican case study in Ethnoar- COCHET, A.
c h a e o lo g y . C am bridge, Cam bridge U niv. 1860 Archéologie céramique et sépulchrale: ou l'art
Press. de classer les sépultures anciennes à l ’aide de
BALFET, H.; FAUVET BERTHELOT, M.F.; MOZON,S. la Céramique. Paris.
1989 Lexique et typologie des poteries: p ou r la nor­ COGSWELL, J.W.; NEFF, H.; GLASCOCK, M.
malisation de la description des poteries. Pa­ 1998 Analysis of Shell-tempered pottery replicates:
ris, Presses du CNRS. implications for Provenance Studies. American
BEY III, G.J.; HANSON, C.A.; RINGLE, W.M. Antiquity, 63 (1): 63-72.
1997 Classic to Postclassic at Ek Balam, Yucatan: CROWN,P.L.; WILLS,W.H.
Architectural and Ceramic evidence for defi­ 1996 Economic Intensification and the origin o f Ce­
ning the transition. Latin American Antiquity, ramic Containers in the American Southwest.
8 (3): 237-254. W.K. Barnett; J.W. Hoopes (Eds.) The em er­
BLAKE, H.; DAVEY, P. gence o f P ottery. Washington, Smithsonian
1983 Guidelines for the processing and publication Institution Press: 241-256.
o f medieval pottery from excavations. D irecto­ DEETZ, J.
rate o f Ancient Monuments and H istoric Buil­ 1965 The dynam ics o f stylistic change in A n kara
dings O ccasional Paper, 5, Londres. ceram ics. Urbana Univ. o f Illinois Press.

291
Estudos Bibliográficos: Ensaios - Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 8: 287-294, 1998.

DO NNAN, C.B. JULIEN, S.


1997 A Chimu-Inka Ceramic-Manufacturing Center 1856 H istoire de la fabrication de la porcelaine chi-
from the North Coast of Peru. Latin American noise. Paris.
Antiquity, 5 (1 ): 30-54. KENT, S.
FALBE, C.T. 1984 M ethod and theory fo r activity area research:
1843 Vases antiques de Pérou. Copenhagen. an ethnoarchaeological approach. New York,
FORD, J.A. Columbia Univ. Press.
1962 A qu antitative m ethod f o r deriving cultural KIDDER, A.V.
chronology. Washington Pan American Union 1924 An introduction to the study o f Southwestern
Technical Manual 1. archaeology. Papers o f the Southwestern Expe­
GEBAUER, A.B. dition, Department o f Anthropology 1. New
1996 Pottery Production and the Introduction o f Haven Yale Univ. Press.
Agriculture in Southern Scandinavia. W.K. 1931 The pottery o f Pecos. Papers of the Southwes­
Barnett; J.W. Hoopes (Eds.) The emergence o f tern Expedition, Department of Anthropology
Pottery. Washington Smithsonian Institution 5. New Haven, Yale Univ. Press.
Press: 99-114. KRAMER, C.
GIARDINO, M.; MILLER, R.; KUZIO,R.; MUIRHEAD, D. 1979 Ethnoarchaeology: implications to ethnogra­
1998 Analysis of Ceramic Color by Spectral R eflec­ phy f o r archeology. New York, Columbia Univ.
Press.
tance. American Antiquity, 63 (3): 477-484.
KRIEGER, A.D.
GIFFORD, J.C.
1944 The typological concept. American Antiquity,
1960 The type-variety method of ceramic classifi­
9: 271-88.
cation as an indicator of cultural phenomena.
LAYTON, R. (Ed.)
American Antiquity, 25: 341-7.
1994 Conflict in the archaeology o f living traditions
GROEVIUS e GRONOVIUS
Londres, Roudledge.
1694 Thesaurus antiquitatum, Traj. ad Rhenum.
LONGACRE, W.A. (Ed.)
GUTHE, C.E.
1970 Archaeology as anthropology: a case study. An­
1927 A m ethod o f ceram ic description. Michigan
thropological Papers o f the University o f Ari­
Papers o f the Michigan Academy of Science,
zona, 17.
Arts and Letters 8.
1991 Ceramic Ethnoarchaeology. Tucson, Univ. of
HEGMON, M.; ALLISON, J.R.; NEFF, H.; GLASCOCK,
Arizona Press.
M.D.
MATSON, F.R.
1997 Production o f San Juan red ware in the northern
1984 Ceramics and man reconsidered with some
southwest: insights into regional interaction in
thoughts for the future. S.E.Van der Leeuw; A.
early Puebloan Prehistory. American Antiquity,
C. Pritchard (Eds.) The many dimensions of
62 (3): 449-463.
pottery: ceram ics in Archaeology and Anthro­
HENDRICKSON, E.M.; Me DONALD, M.A. pology. Cingula 7, Institute for Pre and Proto
1983 Ceramic Form and Function: an Ethnographic History. Amsterdam, University of Amsterdam:
Research and Archaeological application. Am e­ 25-49.
rica Anthropology, 85: 630-643. Me GOVERN, P.E.; NOTIS, M.D. (Eds.)
HILL, J.N. 1989 Cross-Craft and Cross-Cultural interactions
1970 Broken K Pueblo: prehistoric social organiza­ in Ceram ics. Ohio, The American Ceramic
tion in the American Southwest. Anthropologi­ Society.
cal Papers o f the Univ. of Arizona n. 18. Tucson MOORE, A.M.T.
Univ. o f Arizona Press. 1995 The Inception of potting in Western Asia and
HIRTH, F. Its Impact on Economy and Society. W.K. Bar­
1888 Ancient porcelain: a study in Chinese m edieval nett; J.W. Hoopes (Eds.) The emergence of
industry and trade. Londres. P ottery - technology and innovation in ancient
HODDER, I. Societies. Washington, Smithsonian Institution
1982 Sym bols in action: ethnoarchaeological stu­ Press: 39-54.
d ies in m aterial culture. Cambridge, Cam­ NEFF, H. (Ed.)
bridge Univ. Press. 1992 Chemical Characterization o f Ceramic Pastes
1989 The meaning o f things: m aterial culture and in A rchaeology. M onographs in World Ar­
sym bolic expression. Boston, Unwin Human. chaeology n.7. Madison, Wisconsin Prehistory
HOOPES, J.W. Press.
1995 Interaction in Hunting and Gathering S ocie­ 1993 Theory, sampling and analytical techniques in
ties as a context for the emergence of pottery the Archaeological study of Prehistoric Cera­
in the Central American Isthmus. W.K. Bar­ mics. American Antiquity, 58: 23-44.
nett; J.W. Hoopes (Eds.) The em ergence o f NELSON, N.C.
pottery. Washington, Smithsonian Inst. Press: 1916 C hronology o f the Tano Ruins, A m erican
185-198. Anthropologist, New M exico, 18 (2): 159-180.

292
Estudos Bibliográficos: Ensaios - Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 8: 287-294, 1998.

NORITANÉ,N. SCHOOLCRAFT, H.R.


1876-9 Notice historique sur les arts et les industries 1847 N otices o f some antique earthen vessels o f Flo­
japon ais. Paris. rida. Nova Iorque.
ORTON, C.; TYERS, P.; VINCE, A. SHEPARD, A.O.
1995 P ottery in Archaeology. Cambridge Manuals 1956 Ceram ics f o r the Archaeologist. Washington
in Archaeology. Cambridge, Cambridge Univ. Carnegie Institute of Washington.
Press. 1964 Temper identification: technological sherd-
OSBORNE, R. splitting or an unanswered challenge. American
1996 Pot, trade and archaic Greek economy. Antiqui­ Antiquity, 29: 518-20.
ty, \o \ 70 n. 261: 31-44. SINOPOLI, C M.
PÀRSSINEN, M.; SIIRIÀINEN, A. 1991 Approaches to Archaeological Ceramics. Nova
1997 Inka-style ceram ics and their chronological Iorque, Londres, Plenum Press.
relationship to the Inka expansion in the Sou­ SKIBO, J.
thern Lake Titicaca Area (Bolivia). Latin Am e­ 1992 P ottery function: a use-alteratio perspective.
rican Antiquity, 8 (3): 255-271. Interdisciplinary Contributions to Archaeology.
N ova Iorque, Londres, Plenum Press.
PEACOCK, D.P.S.
1977 Ceramics in Roman and medieval archaeology. SKLENAR, K.
1983 Archaeology in Central Europe: the first 500
D.P.S. Peacock (Ed.) P ottery in early com m er­
years. Leicester, Leicester Univ. Press.
ce. Londres, Academic Press: 21-34.
SMITH, C.R.
PETRIE, W.M.F.
1854 C atalogu e o f the M useum o f London a n ti­
1891 Tell el Hesy (Lachish). Londres Palestine Ex­
quities collected by, and property of, Charles
ploration Society.
Roach Smith. Londres.
PLIQUE, A.E.
SOLON, M.L.
1887 Etude de céram ique arverno-rom aine. Caen.
1910 Ceramic literature: an analytical index. Lon­
POOL, C.A. & BEY, G. (Ed.)
dres, Charles Griffin.
1992 Ceram ic Production and Distribution: an inte­
SPIER, L.
grated approach. Boulder, Colorado, Westview
1917 An outline f o r a chronology ofZuhi ruins. An­
Press. thropological Papers o f the American Museum
RHODES, M. of Natural Histoty, 18, Nova Iorque: 207-331.
1979 Methods o f cataloguing pottery in Inner Lon­ SQUIER, E.G.; DAVIS, E.H.
don: as historical outline. M edieval Ceramics, 1848 Ancient monuments o f the M ississippi valley,
Londres, 3: 81-108. Smithsonian Contributions to Knowledge I, Wa­
RICE, P.M. shington, Smithsonian Institution.
1987 P ottery A nalysis: a sourcebok. Chicago and STOLTMAN, J.B.
London, The University of Chicago Press. 1989 A Quantitative approach to the Petrographic
1988 Overview and Prospect. P.M. Rice (Ed.) Pots analysis of Ceramic Thin Section. American
and Potters. Current Approaches in Ceramic Antiquity, 54: 157-160.
Archaeology, Monograph XXIV, Inst, o f Ar­ 1991 Ceramic Petrography as a technique for docu­
chaeology, Los Angeles Univ. o f California: menting cultural interaction: an example from
245-255. the Upper M ississippi Valley. American A nti­
ROBINSON, A.M. quity, 56: 103-120.
1979 Three approaches to the problem o f pottery fa­ STOW, J.
bric descriptions. M edieval Ceramics, 3: 3-36. 1603 A survey o f London. London.
ROBRAHN-GONZÁLEZ, E.M. STRAZICICH, N.M.
1996 Os grupos ceramistas pré-coloniais no Centro- 1998 Clay sources, pottery production and regional
Oeste Brasileiro. Rev. do Museu de Arqueolo­ economy in Chalchihuites, M exico, AD 200-
gia e Etnologia, São Paulo 6: 83-121. 900. Latin A m erican A n tiqu ity, 9 (3) S ep ­
ROUSE, I.G. tember: 259-274.
1960 The classification o f atifacts in archaeology. TSCHOPIK, H. Jr.
American Antiquity, 25: 313-23. 1950 An Andean ceramic tradition in historical pers­
RYE, O.S. pective. American Antiquity, 15: 196-218.
1981 P ottery technology. Principles and reconstruc­ VAN DER LEEUW, S.E.
tion. Manuals on Archaeology 4, Washington 1984 Dust to dust: a transformational view o f the
DC, Smithsonian Inst. Press. ceramic cycle. S.E.Van der Leew; A.C. Prit­
SASSAM AN, K.E. chard (Eds.) The many dim ensions o f pottery:
1996 The social contradictions o f Traditional and In­ ceram ics in A rchaeology and A nthropology
novative cooking Technologies in the Prehisto­ Cingula 7, Inst, for Pre and Proto History. Am s­
ric American Southeast. W.K. Barnett; J.W. terdam, Univ. o f Amsterdam: 707-792.
H oopes (Eds.) The emergence o f P ottery. Wa­ VAN MELLEN, J.
shington, Smithsonian Inst. Press: 223-240. 1679 Historia um ae sepulchralis sarmaticae. Jena.

293
Estudos Bibliográficos: Ensaios - Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 8: 287-294, 1998.

VANDIVER, P.B.; SOFFER.O.; KLIM A,B.; SVOBODA, J. WÜST, I.


1989 The origins o f ceramic technology at Dolni Ves- 1990 Continuidade e mudança - para uma interpre­
tonice, Czechoslovakis. Science, 246: 1002- tação dos grupos ceramistas pré-coloniais da
1008. bacia do rio Vermelho, M ato Grosso. Tese de
WALDEK, F. Doutoramento. São Paulo, FFLCH-USP.
1838 Voyage dans la province d ’Yucat’n. Paris. YOUNG, W.J.; WHITMORE, F E.
WHALLON, R. Jr. 1980 Guidelines f o r the processing and publication
1972 A new approach to pottery typology. American o f m edieval pottery from excavations. Directo­
Antiquity, 37: 13-33. rate of Ancient Monuments and Historic Buil­
WILLEY, G.; SABLOFF, J. dings Occasional Paper 4, Londres, HMSO.
1974 A history o f American Archaeology. Londres,
Thames and Hudson.

Recebido pa ra publicação em 11 de maio de 1998.

294

Das könnte Ihnen auch gefallen