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Registro: 2017.

0000198269

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


1010005-17.2014.8.26.0344, da Comarca de Marília, em que é apelante ADAUTO DE
SOUZA GASPARINI, são apelados FIND FOMENTO MERCANTIL LTDA. e
WILLIANS FERRAZ MOTTA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 23ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores SÉRGIO SHIMURA


(Presidente) e J. B. FRANCO DE GODOI.

São Paulo, 27 de março de 2017.

Paulo Roberto de Santana


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº : 28066
APEL. : 1010005-17.2014.8.26.0344
COMARCA : Marília
APTE. : ADAUTO DE SOUZA GASPARINI
APDO. : FIND FOMENTO MERCANTIL LTDA.
APDO. : WILLIANS FERRAZ MOTTA

AÇÃO DECLARATÓRIA DE RESOLUÇÃO DE


CONTRATO CUMULADA COM INEXISTÊNCIA DE
DÉBITO E INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO E
RESPECTIVA CAUTELAR DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO
CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR INAPLICABILIDADE
AO PRESENTE CASO RELAÇÃO DE INSUMO E NÃO
CONSUMO RESOLUÇÃO DO CONTRATO
CABIMENTO FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
CONSTATADA PELA PROVA PERICIAL
POSSIBILIDADE DE SER RESOLVIDO O CONTRATO, OS
TERMOS DO ARTIGO 475, DO CC - RESTITUIÇÃO DAS
PARCELAS PAGAS CHEQUES INEXIGIBILIDADE
RECONHECIDA, UMA VEZ QUE DESFEITO O NEGÓCIO
JURÍDICO SUBJACENTE - TÍTULOS NEGOCIADOS COM
EMPRESA DE FACTORING - RESPONSABILIDADE DA
FATURIZADORA PELA VERIFICAÇÃO DA
REGULARIDADE DAS CÁRTULAS QUE, NO CASO,
ESTAVAM VINCULADAS AO NEGÓCIO DESFEITO
POSSIBILIDADE DE OPOSIÇÃO DE EXCEÇÃO PESSOAL
PELO EMITENTE DA CÁRTULA CANCELAMENTO
DEFINITIVO DO PROTESTO SENTENÇA REFORMADA
RECURSO PROVIDO.

Apelação interposta pelo autor contra


sentença que julgou improcedentes ação declaratória de
rescisão contratual cumulada com inexistência de débito e
inexigibilidade de título e respectiva ação cautelar em
apenso, condenando-o ao pagamento das verbas de sucumbência.

Com fundamento no Código de defesa do


Consumidor, insiste no pedido de rescisão do contrato firmado
com o requerido Willians Ferraz Motta, bem como na declaração
de inexistência de débito, em razão da má qualidade dos
serviços prestados, que ficou comprovada pela prova pericial
produzida nos autos. Consequentemente, pugna pelo
reconhecimento da inexigibilidade dos cheques nº 850389 e
850390, emitidos para pagamento de parte dos serviços
contratados, assim como pelo cancelamento do protesto
Apelação nº 1010005-17.2014.8.26.0344 -Voto nº 28066 2
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descrito às fls. 02.

Recurso processado na forma da lei.

É o relatório.

O recurso merece acolhimento.

Trata-se de ação declaratória em que


busca o autor a rescisão do contrato de prestação de serviços
firmado com o corréu Willians Ferraz Motta (fls. 12), com o
reconhecimento de inexistência de débito e a devolução dos
valores pagos e, por fim, o reconhecimento da inexigibilidade
dos cheques nº 850389 (R$ 1.200,00) e 850390 (R$ 480,00).

Em primeiro lugar, de rigor que se


afaste a incidência do Código de Defesa do Consumidor ao
presente caso.

Em se tratando de ação declaratória


de rescisão de contrato de prestação de serviços em fachada
de estabelecimento comercial do autor, ou seja, com a
finalidade de incrementar a atividade comercial por ele
desenvolvida, não há que se falar em relação de consumo, e
sim de insumo.

Estabelecida a premissa acima, passa-


se à apreciação do mérito propriamente dito.

Restou incontroversa a relação


negocial havida entre autor e o corréu Willians, bem como a
prestação de serviços consistente na “troca da lona da
fachada externa” (fls. 12) do estabelecimento comercial Fort
Calçados.

Competia ao autor, pois, comprovar os


defeitos alegados na petição inicial (artigo 373, I, do CPC),
a fim de justificar o pedido de resolução contratual, com as
consequências dela advindas.

Nesse contexto, logrou êxito o autor.

A despeito do perito judicial ter


afirmado que não é possível aferir a má qualidade dos
produtos utilizados, constatou-se que “quanto à instalação do
produto (lona da fachada da loja), tem-se que as abraçadeiras
de nylon, utilizadas para fixar a lona na estrutura da
fachada romperam, ocasionando o desprendimento da lona da
estrutura da fachada da loja, permitindo que a mesma rasgasse

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próximo das extremidades da fachada da loja; e, portanto,


devem ser consideradas como a causa provável para o
rompimento da lona.” (fls. 157).

Logo, concluído que os danos na lona,


facilmente constatados nas fotografias de fls. 159/162,
ocorreram em razão de defeito na prestação dos serviços,
permite-se ao autor optar pela resolução do contrato, nos
termos do artigo 475, do Código Civil.

A resolução dissolve o contrato e


retroage os contratantes ao status quo, com efeitos ex tunc,
como se o contrato jamais tivesse sido realizado.

Por esse motivo, como foi estipulado


o pagamento parcelado do serviço (fls. 12), acolhe-se o
pedido de restituição das prestações pagas, nos valores de R$
1.300,00 (à vista) e R$ 990,00 (em mercadoria na loja do
autor).

As demais parcelas não chegaram a ser


quitadas, pois os cheques relativos a elas (nº 850389 - R$
1.200,00 nº 850390 - R$ 480,00) foram sustados pelo autor por
desacordo comercial, conforme consta às fls. 16 e 17.

Aliás, no tocante aos títulos acima


mencionados, não há dúvida de que circularam e foram
entregues à primeira requerida Find Fomento Mercantil Ltda.,
por meio do contrato de fls. 67/73 e o aditivo de fls. 63.

Em princípio, em relação ao terceiro


de boa-fé não é possível ao emitente invocar exceções
pessoais que porventura tenha em relação ao primitivo
portador, a teor do disposto no art. 25 da Lei do Cheque.

Todavia, no presente caso, a primeira


requerida, terceira que recebeu os cheques em questão, é uma
empresa de factoring.

Como se sabe é da faturizadora a


responsabilidade pela verificação da existência, validade e
exigibilidade do título que lhe é transferido, assumindo o
risco de sofrer prejuízos caso não tome os cuidados
necessários sobre sua exigibilidade.

Esse é o caso dos autos.

Embora o aditivo de fls. 63 tenha


sido firmado em momento anterior ao pedido de sustação dos

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títulos (fls. 16 e 17), certo é que o cheque nº 850389 foi


levado a protesto em 25/07/14, ou seja, quando já se
encontrava sustado por desacordo comercial.

Ademais, não há notícia nos autos de


que a faturizadora tenha notificado o autor acerca da
aquisição dos títulos por ele emitidos, de forma que deve
arcar com o risco de eventual irregularidade na relação
jurídica subjacente, como ocorre na hipótese.

Assim, impõe-se a declaração de


inexigibilidade dos cheques nº 850389 e 850390.

Nesse sentido é o entendimento do


Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. CIVIL E COMERCIAL. CONTRATO DE FACTORING.
CESSÃO DO CRÉDITO REPRESENTADO POR CHEQUES. POSSIBILIDADE DE
ARGUIÇÃO DAS EXCEÇÕES PESSOAIS DO DEVEDOR CONTRA A EMPRESA
FATURIZADORA.
1. No contrato de factoring, a transferência dos créditos não
se opera por simples endosso, mas por cessão de crédito,
subordinando-se, por consequência, à disciplina do art. 294
do Código Civil, contexto que autoriza ao devedor a
oponibilidade das exceções pessoais em face da faturizadora.
Precedentes.
2. A errônea valoração da prova que dá ensejo à excepcional
intervenção do Superior Tribunal de Justiça na questão
decorre de falha na aplicação de norma ou princípio no campo
probatório, e não das conclusões alcançadas pelas instâncias
ordinárias com base nos elementos informativos do processo,
em razão do óbice da Súmula 7/STJ.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.” (Quarta
Turma, AgRg no AREsp 118372/RS, Rel. Min. Raul Araújo, DJe
07/03/2016) (g.n.).

No mesmo sentido tem decidido esta


Colenda 23ª Câmara de Direito Privado:

“DUPLICATA. Inexigibilidade de débito


c.c. pedido de indenização. Faturização. Empresa dedicada ao
fomento mercantil que adquire o crédito de duplicata da corré
M. de F. Azarias Brito EPP. Apelante (faturizadora) que não
observou se a prestação de serviços foi realizada. Risco do
negócio. Obrigação da recorrente de verificar a idoneidade da
relação jurídica estabelecida entre faturizada e devedor.
Aquisição não notificada pela faturizadora ao sacado. Atitude
negligente. Duplicata. Comprovado o não cumprimento do

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contratado. Ausência de demonstração da exigibilidade da


duplicata. Danos morais advindos de cobrança ilegítima e de
apontamento indevido que dispensam prova do efetivo prejuízo
(dano in re ipsa). Quantum indenizatório que se mostra
desproporcional ao prejuízo experimentado, devendo ser
reduzido para R$ 6.000,00. Sentença reformada em parte.
Rejeitada a preliminar, apelação provida em parte”. (Apelação
nº 1000043-95.2013.8.26.0152, Cotia, Rel. Des. MARCOS GOZZO,
j. 24.2.2016)(grifo nosso).

“AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA


DE DÉBITO E INDENIZAÇÃO Duplicata Protesto indevido
Responsabilidade solidária entre o cedente e o cessionário -
Título negociado com empresa de factoring Ausência de provas
do negócio subjacente que autorizou a emissão do título,
impondo-se a sua nulidade No caso, a faturizadora é
responsável pela verificação da existência e validade do
título, de modo que, ao deixar de tomar tais providências em
relação à duplicata apontada, assumiu o risco dos prejuízos
decorrentes de eventual protesto indevido Se a ofensa tiver
mais de um autor, todos respondem solidariamente pela
reparação Responsabilidade solidária da empresa de
factoring com a sacadora dos títulos Dano moral configurado,
ante o abalo de crédito, que não se limitou a um mero
aborrecimento, notadamente por tratar-se de pessoa jurídica,
que se vê impedida de efetuar negócios com terceiros Valor da
indenização que deve ser arbitrado com razoabilidade para
evitar o enriquecimento da vítima, consoante jurisprudência
do STJ Indenização arbitrada em R$ 5.250,00, que não se
mostra exacerbada Sentença mantida Recurso desprovido”.
(Apelação nº 9128935-61.2007.8.26.0000, Rel. Des. SERGIO
SHIMURA, j. 15.2.2012) (grifo nosso).

Não dissente a doutrina de ARNALDO


RIZZARDO:

“Por esse contrato [faturização], um


comerciante ou industrial, denominado 'faturizado', cede a
outro, que é o 'faturizador' ou 'factor', no todo ou em
parte, créditos originados de vendas mercantis. Assume este,
na posição de cessionário, o risco de não receber os valores.
Por tal risco, paga o cedente uma comissão”. (“Contratos”, p.
1010, Forense, 2ª ed.)

Por esses fundamentos, de rigor a


reforma da sentença, para declarar a resolução do contrato de
prestação de serviços de fls. 12, bem como a inexistência de
débitos a ele relativos. Em decorrência, devem ser
restituídos os pagamentos efetuados pelo autor, nos valores
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de R$ 1.300,00 e R$ 990,00, com correção monetária a partir


de cada desembolso (respectivamente 16/06/14 fls. 12 e
21/06/14 fls. 15) e juros de mora a partir da citação.
Impõe-se, ainda, o reconhecimento da inexigibilidade dos
cheques nº 850389 e 850390 e o cancelamento definitivo do
protesto relativo à primeira cártula.

Devem os réus arcar com o pagamento


das custas, despesas processuais e honorários advocatícios
fixados em R$ 3.000,00.

Ante o exposto, pelo meu voto, dou


provimento ao recurso.

PAULO ROBERTO DE SANTANA


Desembargador Relator
L

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