O estado
()
About this ebook
Related to O estado
Titles in the series (40)
Boas-vindas à filosofia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsArgumentação: a ferramenta do filosofar Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA história Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA arte Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO ser vivo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsReligião Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA liberdade Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCorpo e mente Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO tempo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPercepção e imaginação Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO bem e o mal Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDeus Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAmor e desejo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLógica Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMatéria e espírito Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA existência e a morte Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO sujeito do conhecimento Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO outro Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAs virtudes morais Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsConsciência e memória Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTeoria e experiência Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAs paixões Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA verdade Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO ser humano é um ser social Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO conhecimento científico Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO trabalho e a técnica Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA linguagem Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAs neurociências: Questões filosóficas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO dever e seus impasses Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO estado Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Related ebooks
O ser humano é um ser social Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFilosofia política Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA ideologia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFilosofia para quê?: a importância do pensamento filosófico para reflexões atuais Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPolítica: Mundividências e Repercussões - Projeto de Constituição no Direito Público Romano Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTeoria Política Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Meu Primeiro Platão: Vida, Pensamento E Obras Do Grande Filósofo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEthos: da originariedade grega à mentalidade gnóstico-revolucionária Moderna Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsÉtica, direito e política: A paz em Hobbes, Locke, Rousseau e Kant Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFilosofia Política, tolerância e outros escritos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCosmogonias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPrimeiros elementos para uma introdução à filosofia do direito: três abordagens acerca do bem comum Rating: 5 out of 5 stars5/5A ética Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA República Rating: 5 out of 5 stars5/5Filosofia como esclarecimento Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsRapsódia sobre um Tema de Povo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsWilhelm Dilthey e a autonomia das ciências histórico-sociais Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDa necessidade de se transformar o mundo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA influência do discurso nas estruturas de poder: a atuação da ideologia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsSócrates & a Educação Rating: 5 out of 5 stars5/5Decolonizar valores: ética e diferença Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDireito, Estado e Sociedade: intersecções: Volume 3 Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsModelos de Filosofia Política Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsIntrodução à Filosofia Política: Democracia e Liberalismo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFilosofia Deísta Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFundamentos da Ordem Política e Democracia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA ideia de justo distributivo no pensamento de Aristóteles Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAlgumas Palavras Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEntendendo O Que É Ética Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Philosophy For You
Minutos de Sabedoria Rating: 5 out of 5 stars5/5Sobre a brevidade da vida Rating: 4 out of 5 stars4/5Aprendendo a Viver Rating: 4 out of 5 stars4/5Em Busca Da Tranquilidade Interior Rating: 5 out of 5 stars5/5Tesão de viver: Sobre alegria, esperança & morte Rating: 4 out of 5 stars4/5A história da filosofia para quem tem pressa: Dos pré-socráticos aos tempos modernos em 200 páginas! Rating: 5 out of 5 stars5/5Poder & Manipulação: Como entender o mundo em vinte lições extraídas de "O Príncipe", de Maquiavel Rating: 5 out of 5 stars5/5O Príncipe: Texto Integral Rating: 4 out of 5 stars4/5PLATÃO: O Mito da Caverna Rating: 5 out of 5 stars5/5A ARTE DE TER RAZÃO: 38 Estratégias para vencer qualquer debate Rating: 5 out of 5 stars5/5Viver, a que se destina? Rating: 4 out of 5 stars4/5A voz do silêncio Rating: 5 out of 5 stars5/5Entre a ordem e o caos: compreendendo Jordan Peterson Rating: 5 out of 5 stars5/5Política: Para não ser idiota Rating: 4 out of 5 stars4/5Você é ansioso? Rating: 4 out of 5 stars4/5Além do Bem e do Mal Rating: 5 out of 5 stars5/5Aristóteles: Retórica Rating: 4 out of 5 stars4/5Humano, demasiado humano Rating: 4 out of 5 stars4/5O Livro Proibido Dos Bruxos Rating: 3 out of 5 stars3/5Baralho Cigano Rating: 3 out of 5 stars3/5Platão: A República Rating: 4 out of 5 stars4/5Schopenhauer, seus provérbios e pensamentos Rating: 5 out of 5 stars5/5Sociedades Secretas E Magia Rating: 5 out of 5 stars5/5Tudo Depende de Como Você Vê: É no olhar que tudo começa Rating: 5 out of 5 stars5/5A Arte de Escrever Rating: 4 out of 5 stars4/5
Reviews for O estado
0 ratings0 reviews
Book preview
O estado - Adriana Mattar Maamari
1. O Estado na Antiguidade
Sócrates (469-399 a.C.) não registrou seu pensamento por escrito, mas propagou suas ideias na oralidade dos encontros com personagens de sua época. Recusou-se à escrita por considerar que ela tornaria o seu pensamento perene, dando a ele uma transcendência, estabilidade e imortalidade que ele jamais buscou. Ele pretendia que suas palavras, proferidas num tempo e espaço determinados, se restringissem à imanência de tudo o que há no mundo e obedecessem ao eterno ciclo de vida e morte, inserindo-se na temporalidade dos acontecimentos. Não seria possível, para o filósofo, perenizar o que de mutável e perecível havia nas suas palavras e argumentos. Cada pensamento de Sócrates estava, para ele, no contexto em que ele se encontrava.
Sua grande contribuição ao domínio da política foi primeiramente o fato de fazer dela um tema filosófico, ou seja, ocupar-se com ela, trazendo-a à reflexão, pois até então os filósofos gregos tinham tratado de especulações ligadas ao mundo natural e à busca do desvelamento das leis que explicam o mundo material e o ordenam. Ficaram, aliás, conhecidos como filósofos da Natureza (phýsis). Para Sócrates, os assuntos da cidade, as leis instituídas (nómos) e a ética ou conduta moral (éthos) dos cidadãos tornaram-se o centro de sua preocupação. Sócrates buscava que as leis da cidade e a conduta moral dos cidadãos atingissem um ideal de perfeição por emulação ou imitação (mímesis) do que encontramos na Natureza. A questão que surgia, porém, é: a Natureza e as suas leis, em si mesmas, têm um funcionamento perfeito, regular, mas as leis humanas não podem ser assim, pois cada ser humano está exposto ao acerto ou à regularidade, mas também ao erro e à irregularidade. Surgia, portanto, a necessidade de conceber uma filosofia moral que aprimorasse a compreensão das leis, pondo-as na direção da verdade e da perfeição como reprodução das leis da Natureza.
Para Platão (428-348 a.C.), discípulo de Sócrates, a escrita é importante para a Filosofia que busca construir, embora ele mesmo reconheça que nada substitui a oralidade. Aliás, a forma literária por ele escolhida para seus livros foi o diálogo, criando verdadeiras cenas teatrais. Além disso, os escritos de Platão permitem entrever que ele ensinou ideias que não registrou por escrito. Em todo caso, ele se pretende um seguidor de Sócrates, que é sempre inserido como o protagonista de seus diálogos. De certo modo, podemos pensar que a forma pela qual a Filosofia é propagada por Platão (por meio do gênero dramático, na polifonia das personagens) consagra de forma viva e intensa a Filosofia em seu sentido imanente ou imerso na temporalidade do cotidiano grego. A Filosofia não viveria no mundo das nuvens ou separada da vida; ao contrário, ela nasce da experiência terra a terra e visa contribuir para a felicidade humana também terra a terra.
Platão, porém, não encontra respostas apenas no nível da imanência ou da observação da Natureza. Já Sócrates havia pressuposto que talvez fosse preciso levar a investigação para além da Natureza, a fim de entender a própria Natureza. Platão assume esse projeto com radicalidade, pois se dá conta de que tudo o que observamos não pode ser explicado com base nas meras observações físicas. Há, por exemplo, regularidade no modo como ocorrem os acontecimentos físicos, mas não se pode ver o princípio dessa regularidade mesma. Platão, por isso, afirma que a Filosofia tem vocação à transcendência, quer dizer, vocação para investigar o que há na base das aparências físicas, a fim de compreender o que dá sentido a elas, o que as atravessa
(transcende). É essa pesquisa que o faz, por exemplo, supor que, além da dimensão física do corpo, o ser humano também possui uma dimensão não física ou psíquica, chamada tradicionalmente de alma. A alma não seria uma coisa
dentro do corpo, pois, se ela estivesse sujeita a um dentro e a um fora, ela seria física e, portanto, corporal. Na verdade, com a palavra alma (psyché), Platão visava indicar tudo aquilo que observamos no ser humano, mas não conseguimos explicar como acontecimentos corporais.
Algo do gênero seria, por exemplo, o desejo universal da felicidade. Todos os seres humanos desejam ser felizes e isso não se explica apenas por uma lógica de compensação e de punição física. Há em nós, mesmo quando permanece embotado, um desejo de manifestar quem somos, de encontrar um sentido para nossa existência pessoal e social, de fazer vibrar a entonação que só cada um de nós pode dar à melodia da vida. A esse desejo e a essa presença
em nós, chamando-nos sempre para a afirmação, a positividade, a realização, Platão chama de Bem ou Ideia do Bem. Mais do que uma simples ideia
, no sentido moderno de uma construção mental ou de uma convenção forjada socialmente, Platão identifica em tudo – seja nos minerais, seja nas plantas, como também nos animais irracionais e no ser humano – uma presença que sempre atrai para a autoafirmação, o desenvolvimento e a autorrealização. A prova disso é que mesmo as coisas irracionais sempre buscam a permanência, a expansão, a positividade, nunca a destruição gratuita, a involução ou a diminuição. Mesmo o suicídio, que parece ser um desejo de autodestruição, pode ser visto como um desejo do Bem,