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A significação da falo 693

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A significação do falo
Die Bedeutung des Phallus [686]
Essa aporia não é a única, mas foi a primeira que a experiência
freudiana e a metapsicologia dela resultante introduziram em nossa
Fornecemos aqui, sem modificação de texto, a conferência experiência do homem. Ela é insolúvel por qualquer redução a dados
que proferimos em alemão, em 9 de maio de 1958, no biológicos: a simples necessidade do mito subjacente à estruturação do
Instituto Max Planck de Munique, onde o professor Paul complexo de Édipo demonstra claramente isso.
Matussek nos havia convidado a falar. Não passa de um artifício invocar, nessa ocasião, um legado
Nela avaliaremos, sob a condição de dispormos de alguns amnésico hereditário, não só porque este é em si discutível, mas porque
referenciais sobre os modos mentais que, na época, regiam deixa intacto o problema: qual o vínculo entre o assassinato do pai e o
meios não muito desinformados, a maneira como os termos pacto da lei primordial, se nele está implícito que a castração consiste na
que fomos os primeiros a extrair de Freud, como "a outra punição pelo incesto?
cena", para tomar um que é aqui citado, puderam repercutir É somente com base em fatos clínicos que a discussão pode ser
então. fecunda. Estes demonstram uma relação do sujeito com o falo que se
Caso o a posteriori (Nachtrag), para retomar outro desses estabelece desconsiderando a diferença anatômica entre os sexos e que, por
termos da esfera bem pensante em que hoje circulam, torne essa razão, é de interpretação especialmente espinhosa na mulher e em
tal esforço impraticável, aprendamos com isso: eles eram ali relação à mulher, nomeadamente nos quatro tópicos seguintes:
inauditos. 1º. por que a própria menina se considera, nem que seja por um
momento, castrada, na acepção de privada de falo, e castrada pela operação
Sabemos que o complexo de castração inconsciente tem uma função de alguém, que primeiro é sua mãe, ponto importante, e em seguida seu
de nó: pai, mas de tal maneira que temos de reconhecer nisso uma transferência
1º. na estruturação dinâmica dos sintomas, no sentido analítico do no sentido analítico do termo;
termo, quer dizer, daquilo que é analisável nas neuroses, nas perversões e nas 2º. por que, em ambos os sexos, a mãe, mais primordialmente, é
psicoses; considerada como provida do falo, como mãe fálica;
2º numa regulação do desenvolvimento que dá a esse primeiro papel 3º. por que, correlativamente, a significação da castração só
sua ratio, ou seja, a instalação, no sujeito, de uma posição inconsciente sem a adquire de fato (clinicamente manifesta) seu alcance eficiente na formação
qual ele não poderia identificar-se com o tipo ideal de seu sexo, nem tampouco dos sintomas, a partir de sua descoberta como castração da mãe;
responder, sem graves incidentes, às necessidades de seu parceiro na relação 4º. esses três problemas culminam na questão da razão, no
sexual, ou até mesmo acolher com justeza as da criança daí procriada. desenvolvimento, da fase fálica. Sabemos que Freud especifica com esse
Existe aí uma antinomia interna na assunção de seu sexo pelo homem termo a primeira maturação genital — como aquilo que se caracterizaria,
(Mensch): por que deve ele assumir-lhe os atributos apenas através de uma por um lado, pela dominância imaginária do atributo fálico e pelo gozo
ameaça, ou até mesmo sob o aspecto de uma privação? Sabemos que Freud, masturbatório —, e que, por outro lado, localiza esse gozo da mulher no
em O mal-estar na cultura, chegou a sugerir um desconserto não contingente, clitóris, assim promovido à função do falo, e com isso parece excluir, nos
porém essencial, na sexualidade humana, e que um de seus últimos artigos dois sexos, até o término dessa fase, isto é, até o declínio do Édipo,
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referiu-se à irredutibilidade em qualquer análise finita (endliche), das sequelas qualquer localização instintiva da vagina como lugar da penetração genital.
que resultam do complexo de castração no inconsciente masculino e do Essa ignorância é bastante suspeita de desconhecimento no
Penisneid no inconsciente da mulher. sentido técnico do termo, ainda mais que às vezes ela é forjada. Não estaria
ela apenas de acordo com a fábula em que Longo
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nos mostra a iniciação de Dafne e Cloé subordinada aos larizar, em Jones, seu pleito pelo restabelecimento da igualdade dos
esclarecimentos de uma velha senhora? direitos naturais (pois não é isso que o leva a encerrá-lo
Assim é que certos autores foram levados a considerar a fase
fálica como efeito de um recalque, e a função que o objeto fálico
assume nela como um sintoma. A dificuldade começa quando se trata
de saber qual sintoma: fobia, diz um, perversão, diz o outro, e às
vezes o mesmo. Neste último caso, depreende-se que nada mais
funciona: não que não se apresentem transmutações interessantes do
objeto de uma fobia em fetiche, mas, precisamente, se elas são
interessantes, é pela diferença de seu lugar na estrutura. Pedir aos
autores que formulem essa diferença dentro das perspectivas
presentemente favorecidas sob o título de relação de objeto, seria uma
vã pretensão. Vã nessa matéria, por falta de outra referência que não
seja a noção aproximativa de objeto parcial, jamais criticada desde
que Karl Abraham a introduziu — lamentavelmente, visto o
comodismo que ela oferece à nossa época.
A verdade é que a discussão atualmente abandonada quanto
à fase fálica, ao relermos os textos remanescentes dos anos de 1928-
32, revigora-nos por seu exemplo de paixão doutrinal, à qual a
degradação da psicanálise, consecutiva à sua transplantação norte-
americana, acrescenta um valor de nostalgia.
Se resumíssemos esse debate, só faríamos alterar a autêntica
diversidade das posições adotadas por uma Helene Deutsch, uma
Karen Horney e um Ernest Jones, para nos limitar aos mais
eminentes.
A sucessão dos três artigos que este último consagrou ao
assunto é especialmente sugestiva, nem que seja pela visada
primordial sobre a qual elaborou, e que marca o termo aphanisis por
ele forjado. Pois, ao formular com muita precisão o problema da
relação da castração com o desejo, ele deixou patente sua
incapacidade de reconhecer aquilo que, no entanto, ele tão de perto
circunscreveu que o termo com que logo nos daria sua solução
pareceu surgir de sua própria deficiência.

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Divertimo-nos sobretudo com seu êxito em articular,
pautado na própria letra de Freud, uma posição que lhe é estritamente
oposta: um verdadeiro modelo num género difícil.
Mas nem por isso o peixe se deixa fisgar, parecendo ridicu-
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com o "E Deus os criou homem e mulher", da Bíblia?). Na verdade, analítico, a noção de significante, como oposta à de significado na
o que ganhou ele ao normalizar a função do falo como objeto análise linguística moderna. Com esta, nascida depois de Freud, ele não
parcial, se teve de invocar sua presença no corpo da mãe como podia contar, mas sustentamos que a descoberta freudiana ganha relevo
objeto interno — expressão que é função das fantasias reveladas por justamente por ter tido que antecipar suas fórmulas, partindo de um
Melanie Klein —, e se tampouco pôde separar-se da doutrina desta campo onde não era possível esperar que se reconhecesse seu domínio.
última, relacionando essas fantasias com a recorrência da formação Inversamente, é a descoberta de Freud que confere à oposição entre
edipiana até os limites da primeira infância? significante e significado o alcance efetivo em que convém entendê-la,
Não nos enganaremos se retomarmos a questão indagando- ou seja, que o significante tem função ativa na determinação dos efeitos
nos o que teria imposto a Freud o evidente paradoxo de sua posição. em que o significável aparece como sofrendo sua marca, tornando-se,
Pois somos forçados a admitir que ele era mais bem guiado do que através dessa paixão, significado.
qualquer um em seu reconhecimento da ordem dos fenómenos Essa paixão do significante, por conseguinte, torna-se uma
inconscientes de que foi o inventor, e que, na falta de uma nova dimensão da condição humana, na medida em que não somente
articulação suficiente da natureza desses fenómenos, seus seguidores o homem fala, mas em que, no homem através do homem, isso fala,
estavam fadados a ficar, menos ou mais, aí perdidos. em que sua natureza torna-se tecida por efeitos onde se encontra a
[parou] Foi a partir dessa aposta — que colocamos no estrutura da linguagem em cuja matéria ele se transforma, e em que
princípio de um comentário da obra de Freud em que trabalhamos há por isso ressoa nele, para-além de tudo o que a psicologia das ideias
sete anos — que fomos levados a certos resultados: em primeiro lugar, pôde conceber, a relação da palavra.
promover, como necessária a qualquer articulação do fenómeno Eis como podemos dizer que as consequências da descoberta
do inconsciente ainda nem sequer foram vislumbradas na teoria,
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embora seu impacto já se faça sentir na práxis mais do que chegamos a que Freud extraiu-lhe a referência do simulacro que ele era para os
avaliá-lo, mesmo traduzido como efeitos de recuo. antigos.
Precisemos que essa promoção da relação do homem com o Pois o falo é um significante, um significante cuja função, na
significante como tal nada tem a ver com uma posição "cultu-ralista" economia intra-subjetiva da análise, levanta, quem sabe, o véu daquela
no sentido corrente do termo, aquela em que sucedeu a Karen Horney, que ele mantinha envolta em mistérios. Pois ele é o significante
por exemplo, antecipar-se na querela do falo por sua posição, destinado a designar, em seu conjunto, os efeitos de significado, na
qualificada por Freud de feminista. Não se trata da relação do homem medida em que o significante os condiciona por sua presença de
com a linguagem como fenómeno social, e nem mesmo de uma questão significante.
de algo que se pareça com a psicogênese ideológica que conhecemos e Examinemos, portanto, os efeitos dessa presença. Eles são,
que não é superada pelo recurso peremptório à noção totalmente para começar, os de um desvio das necessidades do homem pelo fato de
metafísica, por sua petição de princípio de apelo ao concreto, que é ele falar, no sentido de que, por mais que suas necessidades estejam
derrisoriamente veiculada sob o nome de afeto. sujeitas à demanda, elas lhe retornam alienadas. Isso não é efeito de sua
Trata-se de encontrar, nas leis que regem essa outra cena (eine dependência real (que não se suponha reencontrar aí a concepção
andere Schauplatz) que Freud, a propósito dos sonhos, designa como parasita que é a noção de dependência na teoria da neurose), mas da
sendo a do inconsciente, os efeitos que se descobrem no nível da cadeia configuração significante como tal e de ser do lugar do Outro que sua
de elementos materialmente instáveis que constitui a linguagem: mensagem é emitida.
efeitos determinados pelo duplo jogo da combinação e da substituição O que é assim alienado das necessidades constitui uma
no significante, segundo as duas vertentes geradoras de significado Urverdrãngung, por não poder, hipoteticamente, articular-se na
constituídas pela metonímia e pela metáfora; efeitos determinantes para demanda, aparecendo, porém, num rebento, que esquilo que se
a instituição do sujeito. Nessa experiência aparece uma topologia, no apresenta no homem como o desejo (das Begehren). A fenomenologia
sentido matemático do termo, sem a qual logo nos apercebemos de que que se depreende da experiência analítica é de natureza a demonstrar,
é impossível sequer notar a estrutura de um sintoma, no sentido no desejo, o caráter paradoxal, desviante, errático, excentrado, e até
analítico do termo. mesmo escandaloso, pelo qual ele se distingue da necessidade. Isso,
Isso fala no Outro, dizemos, designando por Outro o próprio inclusive, é um fato tão patente que não deixou de se impor desde
lugar evocado pelo recurso à palavra, em qualquer relação em que este sempre aos moralistas dignos desse nome. O freudismo de antanho
intervém. Se isso fala no Outro, quer o sujeito o ouça ou não com seu parecia ter que dar a esse fato seu status. Paradoxalmente, no entanto, a
ouvido, é porque é ali que o sujeito, por uma anterioridade lógica a psicanálise redescobre-se na dianteira do obscurantismo de sempre, e
qualquer despertar do significado, encontra seu lugar significante. A ainda mais entorpecida ao negar esse fato num ideal de redução teórica
descoberta do que ele articula nesse lugar, isto é, no inconsciente, e prática do desejo à necessidade.
permite-nos apreender ao preço de que fenda (Spaltung) ele assim se Eis por que nos convém articular esse status, aqui, partindo da
constituiu. demanda, cujas características próprias são eludidas na noção de
O falo é aqui esclarecido por sua função. Na doutrina freu- [690] frustração (que Freud nunca empregou).
diana, o falo não é uma fantasia, caso se deva entender por isso um A demanda em si refere-se a algo distinto das satisfações por que
efeito imaginário. Tampouco é, como tal, um objeto (parcial, interno, clama. Ela é demanda de uma presença ou de uma ausência, o que a
bom, mau etc.), na medida em que esse termo tende a prezar a relação primordial com a mãe manifesta, por ser prenhe desse Outro a ser
realidade implicada numa relação. E é menos ainda o órgão pênis ou situado aquém das necessidades que pode suprir. Ela já o constitui como
clitóris, aue ele simboliza. E não foi sem razão tendo o "privilégio" de satisfazer as necessidades, isto é, o poder de privá-
las da única coisa pela
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qual elas são satisfeitas. Esse privilégio do Outro, assim, desenha a forma realidade), por maisr piedosa que seja a intenção, não deixa de ser uma
radical do dom daquilo que ele não tem, ou seja, o que chamamos de seu escroqueria. Aqui, convém dizer que os analistas franceses, com a noção
amor. hipócrita de oblatividade genital, inauguraram o disciplinamento
E através disso que a demanda anula (aufhebt) a particularidade mbralizante que, ao som de fanfarras salva-cionistas, passou a ser
de tudo aquilo que pode ser concedido, transmutando-o em prova de disseminado por toda parte.
amor, e as próprias satisfações que ela obtém para a necessidade
degradam-se (sich erniedrigt) em nada menos do que o esmagamento da Seja como for, o homem não pode visar a ser inteiro (à
demanda de amor (tudo isso sendo perfeitamente sensível na psicologia "personalidade total", outra premissa por onde se desvia a psicoterapia
dos primeiros cuidados a que se apegaram nossos analistas-babás). moderna), visto que o jogo de deslocamento e condensação a que está
Há, portanto, uma necessidade de que a particularidade assim fadado no exercício de suas funções marca sua relação de sujeito com o
abolida reapareça para-além da demanda. E ela de fato reaparece, mas significante.
conservando a estrutura receptada pelo incondicionado da demanda de
amor. Por um reviramento que não é uma simples negação da negação, a
O falo é o significante privilegiado dessa marca, onde a parte do
potência da pura perda surge do resíduo de uma obliteração. Ao
logos se conjuga com o advento do desejo.
incondicionado da demanda, o desejo vem substituir a condição
"absoluta": condição que deslinda, com efeito, o que a prova de amor tem
de rebelde à satisfação de uma necessidade. O desejo não é, portanto, Pode-se dizer que esse significante foi escolhido como o mais
nem o apetite de satisfação, nem a demanda de amor, mas a diferença que saliente do que se pode captar no real da copulação sexual, e também
resulta da subtração do primeiro à segunda, o próprio fenómeno de sua como o que é mais simbólico no sentido literal (tipográfico) desse termo,
fenda (Spaltung). já que ele equivale aí à cópula (lógica). Também podemos dizer que, por
Concebe-se como a relação sexual ocupa esse campo fechado do sua turgidez, ele é a imagem do fluxo vital na medida em que ele se
desejo e nele lançará sua sorte. É por ser o campo apropriado onde se transmite na geração.
produz o enigma que essa relação provoca no sujeito, ao "significá-la"
duplamente para ele: retorno da demanda, que ela suscita, como demanda Todas essas afirmações ainda não fazem senão velar o fato de que
sobre o sujeito da necessidade; e ambiguidade presentificada no Outro ele só pode desempenhar seu papel enquanto velado, isto é, como signo,
que está em causa na prova de amor demandada. A hiância desse enigma ele mesmo, da latência com que é cunhado tudo o que é significável, a
confirma o que a determina na fórmula mais simples para torná-la partir do momento em que é alçado (aufgehoben) à função de significante.
patente, qual seja, que tanto para o sujeito quanto para o Outro^no que
tange a cada um dos parceiros da relação, não basta serem sujeitos da O falo é o significante dessa própria Aufhebung [suspensão], que
necessidade ou objetos do amor, mas têm que ocupar o lugar de causa do ele inaugura (inicia) por seu desaparecimento. É por isso que o demôriio
desejo. do Aidos (Scham)1 surge no exato momento em que, no mistério antigo, o
falo é desvelado (cf. a célebre pintura da Villa de Pompéia).
Essa verdade está no cerne, na vida sexual, de tudo o que há de
imperfeições no campo da psicanálise. Também constitui ali a condição Ele então se torna a barra que, pela mão desse demónio, cunha o
da felicidade do sujeito: e camuflar sua hiância, remetendo-se à virtude do significado, marcando-o como a progenitura bastarda de sua concatenaçao
"genital" para resolvê-la pela maturação da ternura (isto é, pelo simples signiricante.
recurso ao Outro como
É assim que se produz uma condição de complementaridade na
instauração do sujeito pelo significante, a qual explica sua Spmtung e o
movimento de intervenção em que ela se consuma. Qual seja:
1. O Demónio do Pudor.

1. o sujeito só designa seu ser ao barrar tudo aquilo que ele significa, 2. Épreuve em francês tem uma extensa gama de dignificados: provação,
como se evidencia em ele querer ser amado por si mesmo, miragem que experimentação, experiência, prova, ordálio, aflição, sofrimento, pena, padecimento. A
expressão sintagmática de Lacan, 1'épreuve du désir de 1'Autre, se refere à
não se reduz a ser denunciada como gramatical (pois ela abole o discurso; experimentação que realiza o sujeito ao se defrontar com o desejo do Ontrn-
pYncriência oadecida que é ao mesmo tempo prova e provação. (N.E.)
2. o que é vivente desse ser no urverdrãngf encontra seu significante
ao receber a marca da Verdrangïmg do falo (mediante o que o
inconsciente é linguagem).

O falo como significante dá a razão do desejo (na acepção em que


esse termo é empregado como "média e razão extrema" da divisão
harmónica).

Outrossim, é como um algoritmo que vou empregá-lo agora, não


podendo, sem dilatar indefinidamente minha exposição, senão fiar-me no
eco da experiência que nos une para fazê-los captarem esse emprego.

Que o falo seja um significante impõe que seja no lugar do Outro


que o sujeito tem acesso a ele. Mas, como esse significante só se encontra
aí velado e como razão do desejo do Outro, é esse desejo do Outro como
tal que se impõe ao sujeito reconhecer,

isto é, o outro enquanto ele mesmo é um sujeito dividido pela


Spaltung significante.

As emergências que aparecem na génese psicológica confirmam


essa função significante do falo.

Assim se formula mais corretamente, desde logo, o fato kleiniano


de que a criança apreende desde a origem que a mãe "contém" o falo.

Mas é na dialética da demanda de amor e da experiência do


desejo2 que se ordena o desenvolvimento.

A demanda de amor só pode padecer de um desejo cujo


significante lhe é estranho. Se o desejo da mãe é o falo, a criança quer ser
o falo para satisfazê-lo. Assim, a divisão imanente ao desejo já se faz
sentir por ser experimentada no desejo do Outro, por já se opor a que o
sujeito se satisfaça em apresentar ao Outro
o que ele pode ter de real que corresponda a esse talo, pois o que ele por outro, irrealizar as relações a serem significadas.
tem não vale mais que o que ele não tem para sua demanda de amor E isso pela intervenção de um parecer que substitui o ter, para,
que quereria que ele o fosse. de um lado, protegê-lo e, de outro, mascarar sua falta no outro, e que
Essa experiência do desejo do Outro, a clínica nos mostra que tem como efeito projetar inteiramente as manifestações ideais ou típicas
ela não é decisiva pelo fato de o sujeito nela aprender se ele mesmo do comportamento de cada um dos sexos, até o limite do ato da
tem ou não um falo real, mas por aprender que a mãe não o tem. É copulação, na comédia.
esse o momento da experiência sem o qual nenhuma consequência Esses ideais adquirem vigor pela demanda que estão em
sintomática (fobia) ou estrutural (Penis-neid) que se refira ao complexo condições de satisfazer, e que é sempre demanda de amor, com seu
de castração tem efeito. Aí se assina a conjunção do desejo, dado que o complemento de redução do desejo à demanda.
significante fálico é sua marca, com a ameaça ou a nostalgia da falta-a- Por mais paradoxal que possa parecer essa formulação, dizemos
ter. que é para ser o falo, isto é, o significante do desejo do Outro, que a
Evidentemente, é da lei introduzida pelo pai nessa sequência que mulher vai rejeitar uma parcela essencial da feminilidade, nomeadamente
depende seu futuro. todos os seus atributos na mascarada. É pelo que ela não é que ela
Mas, atendo-nos à função do falo, podemos apontar as estruturas a pretende ser desejada, ao mesmo tempo que amada. Mas ela encontra o
que serão submetidas as relações entre os sexos. significante de seu próprio desejo no corpo daquele a quem sua demanda
Digamos que essas relações girarão em torno de um ser e de um de amor é endereçada. Não convém esquecer que, sem dúvida, o órgão
ter que, por se reportarem a um significante, o falo, têm o efeito que se reveste dessa função significante adquire um valor de fetiche.
contrário de, por um lado, dar realidade ao sujeito nesse significante e, Mas, para a mulher, o resultado é que convergem no mesmo objeto
uma experiência de amor, que, como tal (cf. acima),
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1. o sujeito só designa seu ser ao barrar tudo aquilo que ele o que ele pode ter de real que corresponda a esse talo, pois o
significa, como se evidencia em ele querer ser amado por si mesmo, que ele tem não vale mais que o que ele não tem para sua
miragem que não se reduz a ser denunciada como gramatical (pois ela demanda de amor que quereria que ele o fosse.
abole o discurso); Essa experiência do desejo do Outro, a clínica nos mostra
2. o que é vivente desse ser no urverdrãngf encontra seu que ela não é decisiva pelo fato de o sujeito nela aprender se
significante ao receber a marca da Verdrãngung do falo (mediante o ele mesmo tem ou não um falo real, mas por aprender que a
que o inconsciente é linguagem). mãe não o tem. É esse o momento da experiência sem o qual
O falo como significante dá a razão do desejo (na acepção em nenhuma consequência sintomática (fobia) ou estrutural (Penis-
que esse termo é empregado como "média e razão extrema" da divisão neid) que se refira ao complexo de castração tem efeito. Aí se
harmónica). assina a conjunção do desejo, dado que o significante fálico é
Outrossim, é como um algoritmo que vou empregá-lo agora, não sua marca, com a ameaça ou a nostalgia da falta-a-ter.
podendo, sem dilatar indefinidamente minha exposição, senão fiar-me Evidentemente, é da lei introduzida pelo pai nessa sequência
no eco da experiência que nos une para fazê-los captarem esse que depende seu futuro.
emprego. Mas, atendo-nos à função do falo, podemos apontar as estru-
Que o falo seja um significante impõe que seja no lugar do turas a que serão submetidas as relações entre os sexos.
Outro que o sujeito tem acesso a ele. Mas, como esse significante só se Digamos que essas relações girarão em torno de um ser e de
encontra aí velado e como razão do desejo do Outro, é esse desejo do um ter que, por se reportarem a um significante, o falo, têm o
Outro como tal que se impõe ao sujeito reconhecer, isto é, o outro efeito contrário de, por um lado, dar realidade ao sujeito nesse
enquanto ele mesmo é um sujeito dividido pela Spaltung significante. significante e, por outro, irrealizar as relações a serem signifi-
cadas.
As emergências que aparecem na génese psicológica confirmam
E isso pela intervenção de um parecer que substitui o ter,
essa função significante do falo.
para, de um lado, protegê-lo e, de outro, mascarar sua falta no
Assim se formula mais corretamente, desde logo, o fato outro, e que tem como(efj)ito projetar inteiramente as manifes-
kleiniano de que a criança apreende desde a origem que a mãe tações ideais ou típTcãTdo comportamento de cada um dos sexos,
"contém" o falo. até o limite do ato da copulação, na comédia.
Mas é na dialética da demanda de amor e da experiência do Esses ideais adquirem vigor pela demanda que estão em
desejo2 que se ordena o desenvolvimento. condições de satisfazer, e que é sempre demanda de amor, com
A demanda de amor só pode padecer de um desejo cujo seu complemento de redução do desejo à demanda.
significante lhe é estranho. Se o desejo da mãe é o falo, a criança quer Por mais paradoxal que possa parecer essa formulação, dize-
ser o falo para satisfazê-lo. Assim, a divisão imanente ao desejo já se mos que é para ser o falo, isto é, o significante do desejo do
faz sentir por ser experimentada no desejo do Outro, por já se opor a Outro, que a mulher vai rejeitar uma parcela essencial da femi-
que o sujeito se satisfaça em apresentar ao Outro nilidade, nomeadamente todos os seus atributos na mascarada. É
pelo que ela não é que ela pretende ser desejada, ao mesmo
tempo que amada. Mas ela encontra o significante de seu próprio
2. Épreuve em francês tem uma extensa gama de ^ignificados: provação, desejo no corpo daquele a quem sua demanda de amor é ende-
experimentação, experiência, prova, ordálio, aflição, sofrimento, pena, padeci- reçada. Não convém esquecer que, sem dúvida, o órgão que se
mento. A expressão sintagmática de Lacan, Vépreuve du désir de 1'Autre, se reveste dessa função significante adquire um valor de fetiche.
refere à experimentação que realiza o sujeito ao se defrontar com o desejo do
Ontrn- pxncriê.ncia oadecida que é ao mesmo tempo prova e provação. (N.E.)
Mas, para a mulher, o resultado é que convergem no mesmo
objeto uma experiência de amor, que, como tal (cf. acima),
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priva-a idealmente daquilo que ele dá, e um desejo que ali encontra seu O fato de a feminilidade encontrar seu refúgio nessa máscara, em
significante. Eis por que podemos observar que a falta de satisfação virtude da Verdrüngung inerente à marca fálica do desejo, tem a curiosa
própria à necessidade sexual, em outras palavras, a frigidez, é consequência de fazer com que, no ser humano, a própria ostentação viril
relativamente bem tolerada por ela, enquanto a Verdrüngung inerente ao pareça feminina.
desejo é menor do que no homem.

No homem, em contrapartida, a dialética da demanda e do desejo


engendra efeitos sobre os quais convém admirar mais uma vez a
segurança com que Freud os situou, nas próprias articulações de que eles
decorreram, dentro da categoria de uma degradação (Erniedrigung)
específica da vida amorosa.

Se de fato sucede ao homem satisfazer sua demanda de amor na


relação com a mulher, na medida em que o significante do falo realmente
a constitui como dando no amor aquilo que ela não tem, inversamente seu
próprio desejo do falo faz surgir seu significante, em sua divergência
remanescente, dirigido a "uma outra mulher", que pode significar esse
falo de diversas maneiras, quer como virgem, quer como prostituta. Daí
resulta uma tendência centrífuga da pulsão genital na vida amorosa, que
torna a impotência, nele, muito mais difícil de suportar, ao mesmo tempo
que a Verdrüngung inerente ao desejo é mais acentuada.

Nem por isso se deve acreditar que a espécie de infidelidade que aí


se afiguraria constitutiva da função masculina lhe seja própria. Pois, se
olharmos de perto, veremos que o mesmo desdobramento é encontrado
na mulher, exceto pelo fato de que o Outro do Amor como tal, isto é,
enquanto privado daquilo que ele dá, é mal discernido no recuo onde vem
substituir o ser do mesmo homem cujos atributos ela tanto estima.

Poderíamos acrescentar, neste ponto, que a homossexualidade


masculina, conforme a marca fálica que constitui o desejo, constitui-se na
vertente deste, e que a homossexualidade feminina, em contrapartida,
como mostra a observação, orienta-se por uma decepção que reforça a
vertente da demanda de amor. Estes comentários mereceriam ter maiores
nuances mediante um retorno à função da máscara, na medida em que ela
domina as identificações em que se resolvem as recusas da demanda.
Vislumbra-se, correlativamente, a razão do traço nunca elucidado
no qual, mais uma vez, avalia-se a profundidade da intuição de Freud, ou
seja, porque ele afirma que existe apenas uma libido, seu texto mostrando
que ele a concebe como sendo de natureza masculina. A função do
significante fálico desemboca, aqui, em sua relação mais profunda:
aquela pela qual os antigos nele encarnavam o Nous e o Logos.

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