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Resumo
VII Reunião da ABAVE O presente trabalho insere-se no campo dos estudos sobre avaliação da
educação básica, abordando especificamente o Sistema de Avaliação de
Avaliação e Currículo: Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), objetivando
identificar os impactos dessa avaliação nas unidades escolares, a partir da
um diálogo necessário produção científica brasileira, por meio de teses e dissertações, de 1996 a 2011.
Os resultados mostram 12 tipos de impacto que permeiam as unidades
escolares, diagnosticados, em sua grande maioria, mais de 90%, como
negativos, frente às demandas prementes do ensino paulista e pressupostos
dessa importante ferramenta avaliativa chamada SARESP. Tais impactos estão
estreitamente vinculados com a predominância de um referencial teórico dentro
do paradigma do conflito, a partir do qual os sistemas de avaliação em larga
ANAIS escala seriam reflexos das orientações emanadas do Banco Mundial, uma das
principais agências disseminadora do neoliberalismo em âmbito global. Dos
doze impactos, somente foi identificado um único e bastante significativo
impacto positivo: a relação de cooperação entre os diversos atores da
comunidade escolar para a melhoria do desempenho dos alunos. Os outros
impactos levam a questionar os usos indevidos dos resultados do SARESP,
passando por decorrências de problemas operacionais, até questionamento da
própria validade e pertinência do sistema de larga escala em questão.
Adolfo Ignacio Calderón Palavras-Chave: SARESP. Avaliação educacional. Avaliação em larga escala.
Pós-Doutor em Ciências da Educação, Universidade de
Estado da arte.
Coimbra/Portugal;
Doutor em Ciências Sociais, PUC/SP;
Docente/Pesquisador do Programa de Mestrado em
Educação, PUC/Campinas.
E-mail: adolfo.ignacio@puc-campinas.edu.br
SARESP and its Impacts at School Units: a
scientific review of brazilian production (1996-2011)
Rafael Gabriel de Oliveira Junior
Mestre em Educação, PUC/Campinas;
Especialista em Gestão Escolar, Administração e
Supervisão, Universidade Anhembi Morumbi/SP;
Abstract
Membro do Grupo de Pesquisa “Gestão e Políticas
Públicas em Educação”, PUC/Campinas.
This work belongs to the field of the studies on educational evaluation,
E-mail: rafaellgabriel@hotmail.com
approaching specifically the SARESP exam (School Performance Assessment
System of the State of São Paulo), aiming to identify its impacts at schools,
considering the Brazilian scientific production, through theses and
dissertations, in the period 1996-2011. Findings show 12 kinds of impact of
this exam at school units, mostly diagnosed, more than 90%, as negative,
opposite to the pressing demands of education in the state of São Paulo and
assumptions of this important assessment tool. Such impacts are closely linked
to the predominance of a theoretical framework within the paradigm of the
conflict, from which the systems of large-scale assessment would be reflections
of the guidelines issued by the World Bank, one of the major disseminators of
neoliberalism worldwide. Notwithstanding, it was identified only a single and
very significant positive impact: the cooperative relationship between the
various actors of the school community to improve student performance. Other
impacts may lead to questioning the misuse of the results of SARESP, since the
occurrence of operational problems, to the questioning of the validity and
relevance of the large-scale system in question.
Keywords: SARESP. Educational evaluation. Large scale evaluation. State of the art.
Correspondência/Contato
Rua Santa Alexandrina, nº 1011 - Rio Comprido
CEP 20261-903 - Rio de Janeiro - RJ *
Este artigo sistematiza e aprofunda estudos da dissertação de mestrado de Oliveira Júnior (2013),
abave@abave.org.br defendida no Programa de Mestrado em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Artigo Original
Recebido em: 19/05/2013
Avaliado em: 24/06/2013
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1. Introdução
O presente artigo tem como foco de estudo o Sistema de Avaliação de
Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), objetivando, por meio de um
esforço teórico, identificar os principais impactos gerados pelo SARESP nas Unidades
Escolares. Para alcançar esse desafio, optamos por fazer uma análise das teses de
doutorado e dissertações de mestrado produzidas no Brasil, entre 1996 e 2011, a respeito
do sistema de avaliação em questão.
Nesse sentido, Oliveira (1998) aponta para a dificuldade na utilização devida dos
resultados do SARESP, em função da orientação precária dada aos professores, por parte
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da SEE/SP, sobre a análise e interpretação dos dados, dificultando uma avaliação com
característica formativa.
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Felipe (1999) observa graves falhas de elaboração nas provas do SARESP, com
níveis de sofisticação indevidos para os alunos e suas respectivas séries. Bosquetti (2002)
relata que a forma da questão do SARESP para o 3º ano do ensino médio em 2000 não
permite avaliar a habilidade e competência designadas pelos documentos oficiais, tanto
pelo enunciado da questão como pelas alternativas propostas.
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Ferreira (2007) relata que, apesar de o SARESP, por meio de suas propostas,
conceber a leitura como construção de sentidos, idealizando um “leitor competente”, que
realize inferências, suas provas não privilegiam questões que tratam de forma adequada
as questões de construção de sentido e inferenciação. Maldonado (2008) pondera que o
processo de leitura apresenta etapas fundamentais: antecipação, decifração e
interpretação. Para a autora, o SARESP avalia só o processo de decifração, ao levar em
conta apenas a decodificação das letras e palavras, não considerando a antecipação e a
interpretação. A autora conclui, dessa forma, que as provas do SARESP precisam sofrer ajustes.
Em sua pesquisa, Rahal (2010) também identificam uma forma de ajuda aos
alunos, por parte da equipe escolar, em relação às provas do SARESP, como forma de
evitar que o fracasso no aprendizado seja atribuído ao professor. Para a autora, essa
situação está atrelada ao formato de bonificação utilizado pelo governo paulista, que
desencadeia divergência e quebra do espírito de equipe da escola.
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Esse impacto, bem como os conflitos entre professores, gestores das unidades
escolares e SEE/SP, sobre o que se diz acerca de autonomia e o que realmente se aplica,
considerando também as dimensões de autoridade de ambos os lados, parecem
acompanhar o SARESP desde sua implantação até os dias atuais.
Pinto (2011) ressalta falta de negociação com a escola e professores por parte do
comando do governo, em função das ações do SARESP. Para o autor, tudo é imposto “de
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Oliveira (1998) mostra uma resistência ao SARESP por parte dos professores, em
função da falta de orientações, por parte da SEE/SP, para a devida interpretação dos
resultados. Isso, segundo a autora, prejudica o desenvolvimento de uma avaliação
formativa na escola, como propõe, entre outras questões, esse sistema de avaliação.
Esteves (1998) também identifica resistência, entre as equipes escolares pesquisadas, em
relação aos três primeiros anos de aplicação do SARESP. O cerne dessa resistência está na
não compreensão dos objetivos dessa avaliação por parte dos profissionais. Para a autora,
o SARESP representa caminho promissor e viável, desde que se promova a orientação
adequada acerca de sua estrutura e funcionamento, com vistas à melhoria do ensino.
A partir de dados de sua pesquisa, Bauer (2006) relata a falta de discussão sobre
os princípios da política de avaliação, o que, para a autora, configura uma situação
geradora de dúvidas, ausência de compreensão e resistência em torno do SARESP por
parte de profissionais que atuam com essa avaliação.
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O SARESP surgiu como forma de colaborar, entre outras questões, com uma
cultura de avaliação na escola, articulando-se com outras formas de avaliação,
colaborando, assim, com uma cultura avaliativa nas escolas. Os autores que apontam para
esse impacto revelam de forma bastante relevante, a partir de seus estudos, os desafios da
rede estadual em relação ao estabelecimento de uma avaliação diagnóstica e formativa,
objetivando a melhoria da qualidade na educação. Para muitos pesquisadores, o SARESP
não tem contribuído para ampliar e melhorar a qualidade da avaliação nas escolas; ao
contrário, coloca-se muitas vezes como avaliação somativa, classificatória, reforçando
práticas tradicionais, distantes dos sentidos mais abrangentes que a avaliação vem
recebendo no setor educacional.
Silva (2006) cita também o SARESP edição 2001 para ponderar sobre contradições
entre os princípios de avaliação contidos no discurso da SEE/SP, na direção de uma
avaliação formativa, e o que ocorre efetivamente com a aplicação prática do SARESP.
Em sua pesquisa, Arcas (2009) relata uma tensão entre o caráter avaliativo da
progressão continuada e o do SARESP. Para o autor, há um confronto entre a lógica da
avaliação formativa e as práticas tradicionalmente desenvolvidas na escola. Dentro da
escola, o SARESP é situado, nesse contexto, como instrumento legitimador do
fortalecimento de práticas avaliativas mais tradicionais, ou seja, “de uma avaliação que
não leva em conta as diferenças e que promove práticas de ensino menos individualizadas
e mais padronizadas” (ARCAS, 2009, p. 162).
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Camba (2011) observa que a avaliação externa pode ser um instrumento útil para
informações e intervenções e não para recompensa e punição de professores, sob o risco
de estabelecer na escola ações focadas, em maior medida, nos testes das avaliações
externas e em seus resultados.
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acerca de como as coisas deveriam ser nas escolas e, mais ainda, o plano oficial utilizado
para a implementação de objetivos educacionais. Segundo alguns autores, participam
dessa conformação no currículo diretorias de ensino, gestores das escolas e professores.
Essa situação é vista por muitos autores como preocupante, tendo em vista a amplitude e
relevância que o currículo tem ou deveria ter na escola, ainda mais porque, em muitas
situações, esse deslocamento curricular objetiva simplesmente melhor classificação das
escolas e, em consequência possíveis premiações.
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finalidades oficiais dessa avaliação, em maior ou menor medida, por parte dos públicos
no contexto escolar, o que, evidentemente, altera as formas de aceitar essa política.
Nessa direção, ainda, é oportuno salientar que alguns autores que identificam
esse impacto fazem tal ponderação com tom crítico, muitas vezes em função dos
confrontos e distanciamentos relacionados aos objetivos dos distintos tipos de avaliação
trabalhados nas escolas.
Rodrigues (2011) relata que a maioria dos docentes pesquisados em seu trabalho
não demonstra resistência em relação ao SARESP, aceitando-o de forma passiva,
ignorando a função de uma avaliação de sistema com seus resultados, na direção do
estabelecimento de ações para uma educação de qualidade.
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Ribeiro (2008) observa que o SARESP é instrumento utilizado para a exclusão dos
alunos na escola, mas se trata de uma nova forma de exclusão que atua longitudinalmente
e dentro do sistema, diferente da exclusão física ocorrida por meio da reprovação e
evasão, notadamente combatida pelas últimas reformas educacionais. Nesse contexto,
segundo Ribeiro (2008, p. 198), muitos alunos das camadas populares “‘habitam’ a sala de
aula, de forma aparentemente democrática, mas sem que signifique, de fato, acesso a
educabilidade. Monitora-se o desempenho global do sistema (ou da escola), mas não a
aprendizagem dos seus usuários”.
Rahal (2010) observa que a ações do SARESP com seus resultados implicam uma
forma perversa de classificar e punir de formas diversas alguns públicos da escola,
resultando em mecanismos de exclusão. Nesse sentido, por exemplo, pondera sobre a
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2. Considerações Finais
Os resultados da pesquisas realizadas em nível de pós-graduação, ora analisadas,
permitem inferir um cenário alarmista no que tange ao elevado número de fragilidade da
política pública em questão, ou seja, a grande maioria dos impactos são considerados aqui
prejudiciais ao contexto em que está inserido o SARESP. Diante dessa realidade podemos
questionar se com tantos aspectos negativos, existe sentido para continuar com uma
política que está sendo implantada aproximadamente há quinze anos? Por que essa
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Essa questão coloca-se com grande força no campo ideológico, uma vez que
percebemos que muitos dos autores que analisam o SARESP constroem fortes críticas
para essa avaliação, em oposição à entrada de ideários neoliberais e capitalistas nas
políticas públicas educacionais, em especial à concepção de avaliação. Essas críticas
acompanham o SARESP ao longo de seu percurso.
Em que pese o referido referencial teórico mencionado, com seus discursos, para
determinadas análises dos impactos, o SARESP não escapa de uma ambiência com muitos e
sérios desencontros, considerando, especialmente, a abrangência dos públicos e situações
investigados nas unidades escolares pelos pesquisadores, devidamente ancorados por
instituições e orientadores de grande relevância na área da pesquisa brasileira.
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Referências
ALCÂNTARA, M. S. Políticas de bonificação e indicadores de qualidade: mecanismos de
controle nas escolas estaduais paulistas. 2010. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Faculdade de Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010.
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MACHADO, C. Avaliar as escolas estaduais para quê? Uma análise do uso dos resultados
do SARESP 2000. 2003. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
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PUENTES, R. V.; AQUINO, O. F.; FAQUIM, J. P. S. Estado del arte sobre formación de
profesores en América Latina: significado, orígenes y fundamentos teórico-metodológicos.
Revista Digital Umbral 2000, Santiago de Chile, n. 17, p. 1-45, jan. 2005.
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As pesquisas denominadas “estado da arte” possibilitam uma organização coesa e eficaz, por intermédio do
i
mapeamento da produção científica de determinado saber num espaço de tempo, buscando a ascensão de tendências,
temáticas, abordagens dominantes, impactos, bem como a identificação de lacunas, campos inexplorados e assuntos
emergentes que podem ser discutidos em pesquisas futuras (PUENTES; AQUINO; FAQUIM, 2005).
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