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PERTURBAÇÕES DO SONO
Terapêutica
farmacológica da insónia
JOANA SERRA*
RESUMO
A insónia é uma queixa com múltiplas etiologias, apresentando diferentes graus de gravidade e de
duração. Uma cuidadosa avaliação é indispensável para garantir a selecção de um tratamento efec-
tivo. O tratamento farmacológico é uma das alternativas na abordagem terapêutica da insónia, intervir farmacologicamente pode ba-
sendo as drogas sedativo-hipnóticas dos medicamentos mais prescritos na prática médica. sear-se em diversas razões, que in-
Pela maior eficácia e perfil de efeitos secundários, os agonistas dos receptores benzodiazepínicos cluem não apenas a duração e a gravi-
ómega-1 são considerados os hipnóticos de primeira escolha. dade médica da insónia mas igualmen-
te as suas consequências a nível psico-
Palavras-chave: Insónia; Farmacoterapia; Sedativos; Hipnóticos lógico, emocional e social.
Como a maioria dos casos de insónia
são secundários a uma ou mais causas,
o tratamento dessas causas deve resol-
INTRODUÇÃO ver o sintoma de insónia.
Para o tratamento farmacológico da
«Nem papoila, nem mandrágora, insónia podem ser utilizados vários ti-
Nem todos os xaropes pos de fármacos: as benzodiazepinas,
soporíferos do mundo os barbitúricos (actualmente não utili-
Poderão devolver-te o doce sono, zados), os hipnóticos não benzodiazepí-
De que gozavas ontem.» nicos, os antidepressivos, os antipsicó-
ticos, entre outros.
W. Shakespeare; Os sedativos/hipnóticos são dos fár-
Otelo, Acto III, Cena iii macos mais comummente prescritos
na prática médica. A eficácia hipnótica
insónia é uma queixa extre- define-se como a capacidade de uma
bound) e de semi-vida curta (com me- ria que o químico europeu que fez a sín-
nor interferência na vigília diurna e psi- tese de um deles foi comemorar a sua
comotricidade, associados a maior ris- descoberta num bar. Lá encantou-se
co de ansiedade diurna e de insónia re- com uma «garçonette» que se chamava
bound). O perfil farmacocinético do fár- Bárbara. Num acesso de entusiasmo, o
maco deve ser adequado às caracte- cientista resolveu dar ao composto re-
rísticas da insónia, dos efeitos diurnos cém-descoberto o nome de barbitúrico.
e da resposta individual.4 Os barbitúricos foram amplamente
O tratamento farmacológico da insó- utilizados pelos seus efeitos sedativos
nia deve resolver a insónia de concilia- como hipnóticos até ao aparecimento
ção (reduzir a latência do sono) e/ou a das benzodiazepinas. Algumas celebri-
insónia de manutenção (diminuir o nú- dades como Elvis Presley, Marilyn Mon-
mero de despertares), respeitar a arqui- roe e Jim Morrison morreram por over-
tectura do sono e melhorar a qualida- doses de «comprimidos para dormir».
de de vida do paciente. Estes medicamentos apresentam po-
tencial risco de abuso e overdose.1 Ape-
sar da potente acção hipnótica, o uso
SEDATIVOS E HIPNÓTICOS dos barbitúricos foi abandonado devi-
do ao seu alto nível de toxicidade, à sua
O termo hipnótico deriva de «Hipnos», interacção com outros fármacos e ao
o antigo Deus grego do sono, que é re- seu elevado risco de desenvolver tole-
presentado em baixo-relevo, a transpor- rância e dependência.6,7
tar um ramo de papoilas, cujas semen- As benzodiazepinas foram, sem dú-
tes eram usadas para preparar as pri- vida, os hipnóticos mais longamente
meiras substâncias hipnóticas. Já utilizados a partir da década de 60. Do
durante a Idade Média, quando as se- ponto de vista histórico, o tratamento
nhoras da corte tinham dificuldades em da insónia ficou marcado pela introdu-
dormir, chupavam uma mecha de teci- ção do flurazepam, em 1970, e dos
do que tinha sido mergulhada num hipnóticos de semi-vida curta, como o
cocktail de sumo de papoilas e álcool. triazolam e o temazepam, na década de
Os antigos livros de Medicina relatam oitenta.2
que inúmeras plantas eram usadas pa- Estes fármacos actuam nos recepto-
ra facilitar o sono, desde as flores de ca- res GABAérgicos (sub-receptores óme-
momila à alface.5 ga 1, 2 e 3), sobretudo no tronco cere-
O primeiro hipnótico sintetizado foi bral, hipotálamo e tálamo. Ao ligarem-
o hidrato de cloral, em 1860. A sua ac- -se aos receptores, abrem o canal de clo-
ção parece depender do metabolito tri- ro, fazendo com que o neurónio fique
cloroestenol. Ainda hoje é utilizado para hiperpolarizado, inibindo o impulso
induzir o sono de crianças e idosos, para neuronal.
facilitar alguns procedimentos diag- Todas as benzodiazepinas apresen-
nósticos como tomografia, ressonância tam propriedades ansiolíticas, sedativo-
magnética e electroencefalografia. A in- hipnóticas e anticonvulsivantes, em or-
dução do sono demora cerca de trinta dem crescente com o aumento da dose
minutos e dura 1 a 2 horas. As suas e da sua concentração no cérebro.3
desvantagens são o gosto desagradá- Os hipnóticos benzodiazepínicos são
vel, a irritação gástrica, algumas reac- efectivos no tratamento da insónia a
ções alérgicas, o risco de ataxia, sínco- curto prazo; comparados com um pla-
pe e mal-estar.1,6 cebo, reduzem a latência ao sono, redu-
Os barbitúricos foram descobertos zem o número e a duração de desper-
no começo do século XX,7 e diz a histó- tares nocturnos e aumentam o tempo
QUADRO I
Medicação
para dormir
Tolerância
Reinício da
Insónia medicação
Dependência
Tolerância:
Suspensão: Diminuição da
Insónia efectividade
Rebound Vontade de
interromper a
Aumento da medicação
medicação
para dormir