Sie sind auf Seite 1von 28

Professor Alexandre Pinto

Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)


Índice
1– Economia 02
a) Paradoxos da economia brasileira 02
b) Apagão da Mão de Obra 03
c) O Sumiço das Domésticas 04
d) Novas Relações de Emprego 05
e) A troca de comando na Petrobras e a influência na Economia Brasileira 06
f) Etanol: ganhamos, mas não levamos 07
g) Privatização dos Aeroportos 08
2 – Sociedade 10
a) A Crise do judiciário 10
b) O Crack é o Caos 13
c) O Dilema Educação: como garantir a todos uma educação de qualidade? 15
d) Demografia: A Família Brasileira Encolheu 18
e) Mudança demográfica faz elevar a procura por fertilização in vitro 19
f) Pesquisa Genética Prospera no Brasil 20
g) Ocupação da Rocinha 20
h) Greve na Bahia expõe o problema das polícias 20
3 – Direitos Humanos 23
4 – Política 25
a) Lula contra o Câncer 25
b) O PSD reestrutura a política partidária 26
c) Royalties: a guerra do Pré-Sal 26
5 – Cultura & Esporte: A queda de Ricardo Teixeira 27
6 – Notas 27

1
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
IV – Brasil Contemporâneo
1 – Economia
a) Paradoxos da Economia Brasileira
Desde 2004, sobretudo a partir do segundo ano do mandato do presidente Lula, o Brasil vem crescendo
num bom ritmo, acima de 4%. Se não chega a ser um crescimento espetacular como o Chinês ou indiano, há quase
dez anos nesse ritmo os avanços são inegáveis. No final do ano passado, uma Pesquisa CNT/Sensus feita em dezoito
países mostrou que os estrangeiros, cada vez mais, veem o Brasil com novos olhos. Internamente, a maior conquista
nesses anos foi a redução da miséria, embora, seja bom que se diga, ainda estamos longe de ser um país
desenvolvido.
Foi o crescimento econômico, aliado dos programas sociais de combate a pobreza, que permitiram a Dilma
Rousseff ser eleita presidente da República, mesmo sem experiência e tarimba em disputas eleitorais, ela
representava a continuidade do popular governo Lula.
No entanto, o primeiro ano do governo Dilma foi marcado por um aperto na política monetária, que
reduziu a capacidade de crescimento do país. O ano de 2011 começou com a economia crescendo forte, terminara
2010 com 7,5% a evolução do PIB, mas com inflação galopante, que atingiria 5,91% em 2010,chegando ao final de
2011 em 6,5%, a mais alta desde 2004, levou o governo a dura e razoavelmente conservadora reação. O Banco
Central (BC) subiu os juros e aumentou o compulsório, e a Fazenda tomou um conjunto de medidas chamadas pelo
ministro Guido Mantega de “macroprudenciais”.
Tais medidas travaram o crescimento, antes mesmo que a inflação estivesse no centro da meta. Os
números ruins do PIB, que cresceu apenas 2,7% em 2011 e o agravamento da crise na Europa, fizeram com que o
Banco Central mudasse a tendência e iniciasse já em setembro de 2011 um novo ciclo de quedas na taxa selic, sob
críticas do mercado financeiro e dos setores neoliberais da mídia, afinal se a inflação ainda estava alta, porque
reduzir os juros? A revista Veja na edição de 05 de outubro acusava: “Depois de uma década de rigor na política
econômica, o governo aposta nos efeitos da crise externa e afrouxa a luta contra a inflação”.
O governo sabe que o país voltar a crescer é mais importante, pois embora crescente, a inflação não saíra
do controle. Por isso, o BC manteve a redução dos juros de forma rápida e intensa, em todas as reuniões do Copom,
desde então, apesar do costumeiro terror do mercado. Como contraponto ao setor financeiro, entidades civis
lançaram campanha contra altas taxas cobradas no Brasil, apoiando as ações do Banco Central. Desde o início das
novas reduções efetuadas pelo Banco Central, a Selic caiu de 12,5% para 8,5%, o menor patamar da nossa história.
No fundo não há contradição nas ações do Banco Central. O governo é desenvolvimentista então o BC
também o é. Se há risco de inflação, a taxa de juros sobe. Se o risco for para o crescimento, a taxa cai. Se a inflação
sobe demais, a preocupação com o crescimento econômico justifica um tempo maior para trazê-la de volta à meta.
O que se questiona é que houve excessos na hora de controlar a inflação, por isso o crescimento fora travado.
Agora é necessário um esforço enorme, mas as medidas de estímulo não surtem o efeito tão rápido quanto
as medidas de contenção, prova é que o PIB do primeiro trimestre de 2011 cresceu apenas 0,2%. Embora já haja
sinais de recuperação, o maior problema brasileiro continua sendo a indústria, já que enquanto o varejo cresce 7%
ao ano, o setor industrial patina diante da avalanche de importados. Entre os problemas estruturais da indústria
estão a carga tributária elevada e o custo do financiamento a longo prazo, logo o governo tem atacado esses
problemas com medidas de desoneração, como a redução do IPI para automóveis, e a redução dos juros. Mais para
crescer 4% em 2012 com inflação sob controle, o governo precisa aprofundar os esforços para atrair o setor privado
e para ativar investimentos do PAC.
É nesse contexto, e aproveitando o momento, que a presidente assumiu pessoalmente uma cruzada contra
os juros altos no Brasil. O governo reduziu as taxas dos bancos estatais, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e
BNDES, e atacou de maneira dura os excessivos spreads bancários praticados no Brasil. Inicialmente o mercado
financeiro tentou reagir, mas ante a evidente disposição do governo, os bancos privados decidiram também reduzir
os juros.
O governo também se esforçou em garantir proteção comercial às empresas brasileiras. Alegando o jogo
pesado que três dos maiores parceiros do Brasil no comércio global (China, EUA e U.E.) usam em suas políticas
industriais, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, tem defendido medidas protecionistas. Segundo
Pimentel, o que o governo faz é adaptação da estrutura diante da nova realidade internacional. "As ações de defesa
2
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
comercial de curto prazo são essenciais para que a indústria se beneficie das medidas de médio e longo prazo".
Primeiramente, tivemos o aumento do IPI para carros importados, depois, o governo brasileiro impôs barreira contra
calçados chineses, que perderam as licenças automáticas de importação, com objetivo de barrar produtos chineses
que entram ilegalmente no Brasil a partir da Indonésia e do Vietnã. Mais uma vez as medidas foram criticas pelos
setores neoliberais. A alegação é de que as medidas representam um retorno ao passado.

b) Apagão da mão de obra?1


A despeito da Crise econômica internacional, a taxa de desocupação no Brasil em 2011 ficou em 4,7%, a
mais baixa da história, segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), realizada em seis regiões metropolitanas. Mais do que isso, cresce o número de pessoas com
carteira assinada e o número de trabalhadores que contribuem com a Previdência Social. A boa notícia alcançou o
rendimento médio real dos ocupados, no último ano, chegou a 1.625,46 reais - alta de 22,2% no poder de compra
em relação a 2003.
As manchetes dos jornaissão pródigas em repetir que o país entrou numa fase de escassez aguda de mão
de obra. As denúncias abundam: faltam tantos milhares de engenheiros disso ou daquilo. Mas será? O que é apagão?
Se eu não encontro um encanador decente ao preço que quero pagar, isso é apagão? Ou, mais tecnicamente, é um
sinal de escassez dessa mão de obra? Não, porque ninguém sabe quanto eu quero pagar. Se oferecer 1000 reais pela
visita, terei tantos quantos queira. Se oferecer 10 reais, não aparecerá um só candidato. Para os economistas,
escassez é quando aumenta a demanda e, como resultado de mais gente querendo contratar, os salários sobem.
Portanto, apagão se mede com variações de remuneração, seja ao longo do tempo, seja na comparação entre
profissões parecidas.
Voltemos à pergunta: há apagão? Traduzindo, os salários subiram vertiginosamente? Tudo o mais é ruído.
Algumas pesquisas recentes trazem respostas. Consideremos duas situações. A primeira é a das grandes obras no
meio do nada. A explosão de indústrias no Porto de Suape, as usinas em São Luís, Belo Monte, o pré-sal e outras
obras monumentais criam, da noite para o dia, demanda por dezenas de milhares de profissionais de todas as tribos,
em regiões onde não há rigorosamente nenhuma oferta. A prova é que os salários disparam. A segunda situação é
bem mais matizada. Para o país como um todo, pesquisas mostram salários cresceram durante um período longo,
sem disparada, como vimos a renda do trabalhador cresceu 22% em 8 anos, menos de 3% ao ano portanto. Para
graduados de nível superior, em geral, o valor da renda está estagnada. Ou seja, não há apagão para gente com
canudo debaixo do braço. Contudo, os salários dos engenheiros aumentaram, particularmente na construção civil e
na informática. Curiosamente, não houve aumento de salários substancial para engenheiros de petróleo e gás.
Nos níveis mais baixos, de fato, há também uma grande escassez de operários altamente qualificados,
sobretudo na construção civil. E, mais ainda, dos seus chefes e supervisores. Técnicos e tecnólogos estão vendo seus
salários aumentar. Ou seja, no geral, não há apagão de mão de obra, mas há profissões e níveis em que, realmente, a
falta de gente é espantosa, sobretudo nas áreas técnicas. A imprensa se equivoca, tomando por fenômeno
generalizado o apagão das áreas que chamam atenção. Mas apagões em certos setores são reais. O que fazer? Na
verdade, quem matou a charada foi o economista Albert Hirschman, em seu livro de 1958. Segundo ele,
"desenvolvimento é uma cadeia de desequilíbrios. A escassez induz novos investimentos, criando novos
desequilíbrios...". Ou seja, a solução de um gargalo faz a economia crescer bruscamente, criando novos gargalos em
outros setores. O crescimento equilibrado, em que tudo cresce no mesmo ritmo, é uma quimera ou uma façanha
somente possível se tudo cresce devagar. A pressa cria o desequilíbrio.
Segundo o próprio Hirschman, a solução já está embutida no processo. Quando se cria o apagão, duas
coisas acontecem. Com os preços mais altos – no caso presente, para certos tipos de mão de obra –, passa a ser mais
atraente investir na área em que apareceu o gargalo. Isso vai aumentar a oferta, acabando por eliminar o pico de
escassez observado, ainda que leve tempo. Mas nem tudo se resolve pelo mercado. Em certos setores, a escassez
irrita as pessoas, provoca reclamações e ativismo político. Esse é o caso no setor público, em que a escassez não cria
salários mais altos. Contudo, tais movimentos reivindicatórios podem pôr em marcha iniciativas do estado para
aumentar a oferta. Hirschman chama isso de "quase mercado", pois ocorre no campo político, embora produza os
resultados do mercado. Ou seja, é o próprio apagão que cria as reações que vão eliminá-lo. É preciso que exista

1
CASTRO, Claudio de Moura. Apagão de Mão de Obra. In Veja nº 2243, de 16 de novembro de 2012, pag 24 (com
adaptações).
3
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
aumento de preços ou escassez aguda para que apareçam as manifestações políticas ou econômicas que vão pôr em
marcha os processos que fazem expandir a oferta de mão de obra disso ou daquilo. A denúncia na imprensa e o
pânico criado contribuem para que desapareça. São parte da solução, se diagnosticarem o apagão no lugar certo.

c) O sumiço das domésticas2


Entre os setores em que há uma escassez generalizada e mão de obra é no trabalho doméstico. Pela
primeira vez, desde os tempos coloniais, a demanda por empregados domésticos no Brasil supera a oferta. O
número de trabalhadores domésticos tem caído de modo consistente nos últimos quatro anos. Nesse período, a
população ocupada com serviços domésticos nas seis maiores regiões metropolitanas do país diminuiu 19%. De
acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho, 1,1 milhão de babás e empregadas sumiram dos lares
brasileiros. “Nós estamos assistindo ao início de um processo de grande redução da categoria profissional das
domésticas, no mesmo molde ocorrido nos países desenvolvidos”, resume o economista José Pastore, da
Universidade de São Paulo, especialista em relações do trabalho.
Quase 6 milhões de brasileiras – sete em cada 100 trabalhadores que compõem a força de trabalho –
ganham a vida no ramo do trabalho doméstico. O porcentual ainda é alto, se comparado com o de países
desenvolvidos. Na França, o serviço doméstico emprega 2,5% dos trabalhadores. No Canadá, apenas 0,4%. O que já
mudou bastante, por aqui, é o tipo de serviço que se pode esperar desse profissional. O fim da empregada que fazia
todos os serviços da casa e dormia no serviço, é um caminho sem volta. Atualmente, 30% de todas as domésticas no
Brasil são diaristas. Nas capitais, o porcentual atinge 70%. O sumiço das domésticas é sintomático de países onde a
expansão da economia e do sistema educacional permitiu à camada mais pobre da população aspirar profissões
típicas de classe média.
Até pouco tempo, cozinhar, passar e cuidar da casa e dos filhos dos outros era uma das poucas opções
disponíveis para uma mulher pobre e com baixa escolaridade. “A casa de família sempre foi o primeiro emprego das
chamadas ‘mocinhas’, meninas que deixavam o interior para ganhar a vida na cidade grande. A mãe, a avó e a bisavó
dessas meninas faziam o mesmo percurso quando jovens”, diz Hildete Pereira. Hoje, as filhas das empregadas
domésticas já não estão predestinadas a seguir os passos da mãe. Elas não querem, na verdade. Uma pesquisa do
instituto Data Popular com domésticas entre 45 e 65 anos mostra que, para suas filhas, jovens com idade entre 18 e
25 anos, o ingresso no mercado de trabalho já não se dá pela entrada de serviço, mas através de empregos de
vendedora, auxiliar administrativa, caixa de supermercado e recepcionista. “Mesmo as jovens que começam a
trabalhar como empregadas largam essa função assim que surge a primeira oportunidade”, diz Renato Meirelles, do
Data Popular.
A educação é o eixo da mudança de rumo. O brasileiro adulto tem em média 7,2 anos de estudo – um salto
extraordinário em relação ao 1,8 ano de 1960. Entre a população economicamente ativa com mais de 18 anos,
metade dos trabalhadores tem mais de onze anos de estudo. Dez anos atrás, esse porcentual ficava abaixo dos 30%.
Com mais anos de estudo, as jovens que no passado teriam ido naturalmente trabalhar na casa alheia podem agora
escolher entre profissões sem o estigma social que cerca o trabalho doméstico. “Trocar de carreira é a oportunidade
que essas mulheres têm de realizar o seu sonho de usar o elevador social e entrar pela porta da frente”, diz a
antropóloga carioca Carla Barros, da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio, autora de uma tese de
doutorado sobre domésticas brasileiras.
A demanda por empregadas domésticas, principalmente no Sudeste, era alimentada pela migração interna,
em especial a nordestina. Não é mais assim. Região brasileira atualmente com maior crescimento econômico, o
Nordeste deixou de ser um exportador de empregadas e babás. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), 340000 nordestinos migraram para o Sudeste entre 2001 e 2009 – um número bem menor do que
os 507000 registrados nos cinco anos anteriores. Diz Tadeu Oliveira, demógrafo do IBGE: “O Brasil caminha para um
cenário no qual não haverá mais polos de atração populacional, mas sim rotatividade. O saldo entre as pessoas que
saem de um lugar e as que chegam será próximo de zero. Já vemos isso em dezessete dos 27 estados”.
O resultado mais notável desse processo foi o desmonte de um sistema próximo à servidão doméstica, que
prevaleceu enquanto o Brasil foi um país rural e o campo fornecia um inesgotável fluxo de mão de obra barata. Uma
pesquisa do Data Popular revela que o valor da remuneração de uma empregada doméstica no Brasil cresceu 43,5%

2
CARELLI, Gabriela. A escalada das domésticas. In Veja nº 2239, de 19 de outubro de 2012, pp. 110-112 (com
adaptações).
4
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
desde 2002, quase o dobro em relação à renda da população em geral. No Rio e em São Paulo, é difícil encontrar
domésticas com salário abaixo de 1000 reais por mês. Achar uma empregada disposta a dormir no emprego é quase
impossível.
As domésticas sempre estiveram presentes na casa dos brasileiros, mas foi a partir da década de 70, com a
entrada maciça da mulher no mercado de trabalho, que ter uma empregada se tornou não apenas uma opção, mas
uma necessidade. Na ocasião, o emprego feminino cresceu 92% e o serviço doméstico remunerado, 43%. “As classes
média e alta das principais cidades organizaram sua vida em torno dessas trabalhadoras”, diz o economista Marcelo
Néri, da Fundação Getulio Vargas. “Agora, as famílias terão de aprender a viver sem empregada ou pagar mais caro
por esse serviço.”

d) Novas relações nos empregos3


Existem hoje no Brasil 236 milhões de linhas de celulares ativas, um número superior ao da própria
população (198 milhões de pessoas), e a internet chega a 40% dos brasileiros. Um dos motores do avanço da
chamada tecnologia da informação no país são as empresas. Hoje, os funcionários de uma empresa moderna
precisam estar conectados - com seus chefes, colegas e clientes. Essa tecnologia, além da interconexão, exige que
um número crescente de pessoas trabalhe, além de seu expediente, fora do escritório. Estima-se que 11 milhões de
brasileiros sejam adeptos do "teletrabalho", como é conhecida a prática de trabalhar em casa. Para os que defendem
o modelo, essa prática está associada, ao aumento da produtividade.
Estudos em diferentes empresas demonstram que o programa de teletrabalho, quando implantado
corretamente e com metas claras a ser cumpridas, aumenta entre 15% e 55% o rendimento do funcionário. Por fim,
o teletrabalho tem sido estimulado mundo afora como uma maneira eficiente de reduzir os congestionamentos e as
emissões de carbono pelos automóveis nas grandes cidades. No entanto, um artigo acrescentado à CLT, no fim do
ano passado, afirma que a utilização de celular e de e-mail para tratar de assuntos do emprego caracteriza relação de
trabalho mesmo fora do ambiente da empresa. Tal artigo abre uma brecha para a interpretação de que o uso de
celular ou e-mail, mesmo que de forma pontual, configura jornada suplementar, o que pode acarretar pagamento de
horas extras.
Essa deve elevar ainda mais o número de processos trabalhistas que correm nos tribunais brasileiros. São
abertos, em média, 2 milhões de ações a cada ano. Nos Estados Unidos, segundo o sociólogo José Pastore, o número
não passa de 75000. Um dos problemas da lei é não separar bem as coisas, uma empresa que presta serviços de
tecnologia, em que as tarefas podem ser executadas por meio de computadores e a distância, é tratada da mesma
forma que outras que necessitam da presença física dos funcionários. "Se houver cobrança generalizada de hora
extra, a nova lei poderá reduzir contratações e a flexibilidade no horário de trabalho", resume Luis Mário Luchetta,
presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação.
Para o empresariado contrário a CLT e que defende maior flexibilização das leis trabalhistas, com medidas
como essa, a economia brasileira continuará perdendo posições nos rankings que medem a competitividade dos
países. Segundo o Fórum Econômico Mundial, entre 142 nações avaliadas, o Brasil fica na posição de número 121 no
que diz respeito à flexibilidade das leis trabalhistas. Entretanto, os números mostram o contrário, três em cada dez
trabalhadores hoje seguem na informalidade, mas na época da grande flexibilização das leis trabalhistas, durante o
governo FHC, seis em cada dez trabalhadores estavam na informalidade.

e) A troca de comando na Petrobras e a influência na Economia Brasileira4


Que a Petrobras é a maior empresa brasileira e a 8ª maior do mundo, todos sabem. Que ela exerce um
papel super relevante na economia brasileira devido a seus investimentos e sua demanda alimenta a cadeia de
produção nacional, também não é novidade. Para se ter uma ideia, em 2012, para cada real injetado na economia
pelo governo federal, outro real será aplicado pela Petrobras. Por seu caráter estratégico e poder de fogo, a
companhia é um estado dentro do estado – a ponto de o ex-presidente Lula ter brincado, alegando que quando
saísse do governo gostaria de comandá-la, para poder tomar algumas decisões que seu cargo não lhe facultava.

3
PASTORE, José. O Engessamento dos Empregos. In Veja nº 2252, de 18 de janeiro de 2012 (com adaptações).
4
Adaptado das reportagens de André Siqueira (Carta Capital nº 682) e Malu Gasper (Veja nº 2254), e da entrevista
com Luiz Pingguelli Rosa (Carta Capital nº 682).
5
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
No entanto, desde fevereiro, quando a presidente Dilma decidiu substituir José Gabrielli por Graça Foster
na presidência da empresa, o debate que se seguiu não tratava da grandeza ou da importância da petrolífera e sim
sobre o rumo que agora a empresa tomará em novas mãos.
Embora todos tenham elogiado a escolha de Graça Foster, para os neoliberais, Dilma Rousseff ao escolher
Foster seria como se a própria Dilma estivesse assumindo o comando da estatal, já que Gabrielli, há sete anos no
comando da estatal, era uma indicação do ex-presidente Lula. Viciada em trabalho, exigente com prazos e metas, a
nova presidente da Petrobras tem com a presidente da República uma amizade de mais de dez anos e por ela nutre
uma forte admiração. Em 2008, ao receber um prêmio de uma entidade de financistas, Graça não conseguiu se
conter nos agradecimentos. Gritou do palco para a então ministra, que estava na plateia: "Dilma, te amo!".
Gabrielli rebateu a narrativa: "Querem criar uma versão da minha saída colocando antagonismos, entre
uma suposta gestão política minha e uma gestão técnica da Graça, mas isso não existe. Mencionam o valor de
mercado da companhia no último ano, mas é preciso olhar para a trajetória toda. Fui o presidente mais longevo da
Petrobras, e no período a empresa passou de um valor de mercado de 14 bilhões de dólares em 2002 para os atuais
160 bilhões”.
No balanço da gestão de Gabrielli, destaca-se ainda uma mudança radical na orientação da estatal,
colocada na lista das empresas a serem privatizadas, rebatizada de Petrobrax, nos tempos de FHC. A Petrobras "era
uma empresa fragmentada, pulverizada, que estava sendo preparada para ser vendida aos pedaços, e fizemos um
esforço grande no sentido contrário, de fortalecer a empresa. recuperamos o portfólio de exploração, que estava
diminuindo, e investimos para encontrar petróleo, mas também para desenvolver a produção e o refino, onde
resolvemos vários gargalos e passamos a investir em novas refinarias", afirma Gabrielli.
A entrada da empresa no setor de biocombustíveis e os investimentos na produção de etanol também são
apontados como pontos positivos, assim como o que o ex-presidente considera uma "redefinição" das relações com
o mercado. "E fizemos a maior capitalização da história, para dar solidez e ter a estrutura de capital necessária para
arcar com os investimentos do pré-sal", avalia.
Para os desenvolvimentistas, a chegada da Graça Foster consolida a nova orientação da economia brasileira
que se faz desde o início do governo Lula com maior presença do Estado na economia, garantindo o que se tem
chamado de capitalismo de Estado.
Funcionária da estatal desde 1978, quando entrou na empresa como trainee, Graça Foster, hoje com 58
anos, tem uma trajetória inusitada. Nascida em Caratinga (MG) mudou-se para o Rio de Janeiro aos dois anos de
idade, indo morar com a família em uma favela, hoje parte do complexo do alemão. Com dez anos, trabalhava como
catadora de papéis para ajudar nas despesas de casa, enquanto seguia estudando. Até 2015, Graça Foster será
responsável por investir nada menos que 224,7 bilhões de dólares, dos quais 127 bilhões irão para explorar as
reservas do pré sal, dando continuidade ao planejamento estratégico da companhia.
Formada em engenharia química, Graça chega à presidência da Petrobras depois de passar pela presidência
da BR Distribuidora e pela diretoria de gás da estatal. Mãe de dois filhos e avó de uma adolescente, é casada com o
empresário Colin Foster. Graduada em engenharia química UFRJ, cursou pós-graduação no Coppe, centro de
pesquisas dirigido por Luiz Pinguelli Rosa, que foi professor de Graça e, mais tarde, seu colega de trabalho quando
Pinguelli Rosa dirigiu a Eletrobras, no governo Lula.
Em entrevista a CartaCapital, :em novembro de 2011, Graça comentou a política de preços da Petrobras,
dando sinais de que o foco da companhia é o mercado interno. "Nossa política de preços é de 2002. De lá até hoje o
preço do petróleo variou entre 35 e 110 dá chegando a 147 dólares por algumas horas. Com toda essa volatilidade,
se a política de preços fosse curta, criaríamos dificuldades para o nosso cliente final, que é o nosso ativo mais
precioso mais importante do que refinarias e termoelétricas. A Petrobras é a única major a vender 85% do que
produz no mercado interno, logo, preservar a capacidade de consumo da população é importantíssimo", afirmou. E
destacou o papel do País como produtor mundial. "Estamos entre os países responsáveis por manter o brand no
patamar atual, em torno de 100 dólares? E apontou um ponto crítico que terá de se enfrentado pela política nacional
de energia, a começar pelo etanol, onde a Petrobras já detém 5,3% da oferta, por meio de parcerias com grandes
usinas, "O álcool passa por um problema conjuntural, resultado do alto consumo de açúcar. Mas tudo isso faz parte
de uma curva de aprendizado. Aprendemos quais são as sinergias entre as combustíveis renováveis e os fósseis que
nos garantem uma maior estabilidade de receita. A ajuda (da Petrobras para elevar a oferta de álcool) é
consequência dos bons resultados em petróleo. Sou conselheira da Petrobras Biocombustíveis e fico muíto brava

6
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
quando ouço críticas ao interesse da empresa nessa área. Temos uma série de projetos greenfield para o álcool. A
visão agora é outra, somos uma empresa de energia."
Segundo especialistas, entre os desafios à estatal durante a gestão de Foster está a conclusão de obras
importantes como a refinaria em parceria com a venezuelana PDVSA, em Pernambuco. Assim como as novas
plataformas para a exploração do pré-sal, um desafio de engenharia que, conforme a política oficial, adotada desde o
governo Lula, busca também ampliar a participação da indústria brasileira na cadeia de petróleo e gás natural, muito
dependente de importações.
No caso específico da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que está sendo construída em parceria com
a estatal venezuelana PDVSA, seus custos já triplicaram, mas, até agora, a PDVSA não entrou com a sua parte do
investimento. Fosse no setor privado, a aliança já teria sido rompida. Mas, dizem os críticos da Petrobras, continua,
para não estressar as relações do governo Dilma com Hugo Chávez.
A principal missão atribuída a Graça pela presidente da República é que acelere a exploração das reservas
do pré-sal, capazes de transformar o Brasil em uma das dez maiores potências petrolíferas do mundo, mas que
avança em ritmo lento. Um relatório do banco Credit Suisse demonstrou que faltam dinheiro, mão de obra e
equipamentos para cumprir os prazos. Segundo o banco, no passo atual, a Petrobras chegará a 2020 produzindo, na
melhor das hipóteses, 4,6 milhões de barris ao dia. Mais que o dobro de hoje, mas 30% menos que o previsto.
Uma das formas de cumprir a missão pode ser fazer a empresa render mais gerando mais caixa, investindo
em pessoal e, ao mesmo tempo, comprando equipamentos ao menor preço possível. A questão é como fazer isso em
uma companhia que já queimou, nos últimos oito anos, 12 bilhões de reais só com subsídios aos combustíveis, para
não ter de repassar os custos do mercado internacional aos consumidores nem os prejuízos políticos de grandes
reajustes ao governo. Durante os mandatos de Lula e Dilma, a Petrobras foi a muleta que ajudou a abrigar a inflação
dentro da meta.
Com tamanha sobrecarga, a estatal acabou investindo 22 bilhões de reais a menos do que o previsto nos
últimos três anos e também não tem atingido as próprias metas de produção. "Esse é o resultado do que chamo de
expropriação da Petrobras. Em nome de objetivos do governo, a empresa sacrifica o lucro e a produtividade e ainda
pune seus milhares de acionistas", diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. Como se não
bastasse, Graça ainda terá de fazer com que as contas da estatal absorvam o impacto financeiro causado pela
exigência de que seus equipamentos tenham 65% de conteúdo nacional. Criada ainda no governo Lula a norma, que
vale também para as empresas privadas, visa desenvolver a cadeia produtiva do petróleo.
Nos últimos dois anos, as ações da Petrobras acumularam uma desvalorização considerável, de cerca de
40%. Os analistas do mercado financeiro consideram esse desempenho um sinal de perda de eficiência. É verdade
que as ações caíram, mas a empresa sofreu um processo de capitalização enorme, com aumento da participação da
União no controle da empresa, para ter recursos em particular para o pré-sal, que vai exigir muitos investimentos.
Mas que vai dar também retorno, porque o petróleo tem valor grande. Mas uma empresa como a Petrobras não é
destinada apenas a ter valor de mercado. Ela precisa ter uma política nacional que sirva ao País, inclusive porque ela
é uma controlada da União. Então é preciso olhar para esses objetivos maiores, acima dos objetivos do mercado, dos
acionistas minoritários ou dos acionistas norte-americanos.
Resumindo: ao contrário do que avaliam os neoliberais e analistas de mercado, não há mudança
substancial nenhuma, inclusive porque é o mesmo governo e a mesma política. No estilo, no detalhe, isso sim pode
acontecer, Graça é uma engenheira de carreira da Petrobras e independente. Mas a tendência é que a Petrobras
com Graça Foster continue a ser um braço do Estado contribuindo para o desenvolvimento nacional.

f) Etanol: ganhamos, mas não levamos5


Nos últimos anos, sempre que um presidente brasileiro mantinha algum encontro com o seu colega
americano aproveitava a oportunidade para reivindicar a abertura do mercado dos EUA ao etanol produzido no
Brasil. O ritual se repetiu nas reuniões de Lula com Bush e com Obama, e depois nos encontros de Dilma com
Obama. Não bastasse a pressão do governo, a associação dos produtores de cana-de-açúcar também contratou
lobistas para influenciar congressistas americanos e assim derrubar as barreiras. O Brasil, em seu sonho de se tornar
a Arábia Saudita dos biocombustíveis, ambicionava conquistar as bombas americanas. Lá, o álcool é misturado à
gasolina numa proporção de 10%. Agora, com os EUA em crise, os congressistas não chegaram a um acordo para

5
OYAMA, Érico. Vitória sem combustível. In Veja nº 2250, de 04 de janeiro de 2012, p. 50.
7
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
renovar as principais leis que protegiam os produtores locais de etanol. A ironia é que a produção brasileira passa
por um momento ruim, com a quebra na safra e a falta de investimentos em novas áreas de plantio. O Brasil não
possui, neste momento, condições para ampliar as exportações. Na verdade, as usinas daqui não conseguem nem
mesmo abastecer o mercado interno. O país tornou-se importador de álcool e, num golpe de ironia, os principais
fornecedores são os americanos.
Duas medidas protegiam os EUA contra o etanol brasileiro: a cobrança de uma sobretaxa de 15 centavos de
dólar por litro importado do Brasil e também um subsídio de 13 centavos de dólar para que as distribuidoras
americanas comprassem o combustível produzido localmente. Como resultado, o Brasil, mesmo produzindo álcool
combustível da maneira mais eficiente que existe, não conseguia competir com o álcool americano. As medidas
protecionistas adotadas pelos EUA com relação ao etanol custavam aos cofres públicos 6 bilhões de dólares ao ano.
Com o setor já fortalecido (o país é o maior produtor e exportador de etanol do mundo), os congressistas
consideraram que havia chegado a hora de dar fim aos subsídios. A longo prazo, a medida tende a beneficiar os
produtores daqui. Antes, porém, eles terão de investir para fazer frente ao aumento da demanda nas bombas
brasileiras.

g) Privatização dos Aeroportos6


Há uma década vem sendo repetido como um mantra o diagnóstico de que, sem o dinheiro de investidores
privados, os aeroportos brasileiros entrariam em colapso. O sufoco atual nos saguões de embarque e desembarque
apenas evidenciou que a Infraero, a empresa estatal que administra todos os principais terminais do país, não possui
capacidade financeira nem operacional para levar adiante os investimentos necessários para acomodar o rápido
crescimento no número de voos. No ano passado, os aeroportos receberam 180 milhões de passageiros, o dobro do
movimento registrado em 2005. A infraestrutura, enquanto isso, pouco avançou. Os terminais têm operado acima de
sua capacidade. A infraestrutura aeroportuária está no limite e mal atende à forte expansão da demanda verificada
desde 2003, que dirá os turistas que virão para a Copa de 2014.
Diante da histórica ineficiência da Infraero, a saída foi transferir o controle a uma figura jurídica, as
Sociedades de Propósitos Específicos (SPEs), ao largo das amarras impostas ao setor público. As SPEs não precisam
licitar seus gastos ou enfrentar a fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU), sem falar nos riscos de
"judicialização" das obras, algo que emperra investimentos em infraestrutura País afora.
Coube aos tucanos tentar "igualar PT e PSDB", diante do caminho tomado. E ao governo frisar as
diferenças. Disputas verbais à parte, o certo é que a partir de maio será essa anova realidade da administração dos
aeroportos de Guarulhos (SP), Viracopos (SP) e Brasília, que juntos representam30% dos passageiros, 57% da carga e
19% das aeronaves do sistema brasileiro. Com 51% de participação de capital não estatal, 49% das SPEs
permanecerão com a Infraero.
A opção para os aeroportos deixou claro que os investimentos em infraestrutura são prioridade absoluta. A
começar pela atuação do BNDES, que tem ampliado consideravelmente seu poder de fogo. Em 2011, foram liberados
56,1 bilhões para investimentos em infraestrutura, ou 40% do total de 139,7 bilhões. Até 2014, a bolada chegará a
241 bilhões de reais investidos.
No dia 6 de fevereiro, assim que saiu o resultado do leilão, o"ágio médio de 347% foi festejado pelo
governo, mas os analistas de mercado manifestaram surpresa pelo tamanho do volume de recursos levantado e pela
composição dos consórcios vencedores. Ficaram de fora grandes empreiteiras nacionais, a exemplo de Odebrecht e
Camargo Corrêa, assim como algumas das maiores operadoras de aeroportos do mundo.
A concessão de Cumbica, o maior do País, foi vencida pelo consórcio Invepar, formado pelos fundos de
pensão Previ, Petros e Funcef e a operadora sul-africana Acsa. Pagaram 16,2 bilhões de reais, 373% acima do lance
mínimo de 3,4 bilhões de reais estipulado pelo governo. O segundo colocado ofereceu 12,9 bilhões.
O aeroporto de Viracopos ficou com o consórcio que reúne a Triunfo Participações e a francesa Egis, que
ofereceu 3,8 bilhões de reais, ágio de 159%. Endividada, a Triunfo teve sua avaliação rebaixada após a divulgação do
resultado do leilão. Em 2008, a empresa deixou de honrar o lance dado no leilão das rodovias Ayrton Senna e
Carvalho Pinto. Acabou por perder o contrato para a segunda colocada.
O vencedor da concessão do aeroporto de Brasília foi o consórcio formado pela Engevix e a argentina
Corporación América, com oferta de 4,5 bilhões e ágio de 673%. No caso dos argentinos, que administram o
6
Adaptados das reportagens de Lucas Callegari (Carta Capital nº 684) e Ana Luiz Daltro e Érico Oyama (Veja nº 2256).
8
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
aeroporto de Natal (RN), o primeiro entregue à gestão privada, sua capacidade administrativa foi colocada em
dúvida: o grupo já descumpriu metas acordadas com a Anac, no caso de Natal, e teve problemas com concessões na
Argentina, decorrentes de "custos subestimados" e da crise de 2008, segundo o próprio grupo.
No caso de Guarulhos, o que mais saltou aos olhos dos executivos que disputaram o leilão foi o valor pago
pelos vencedores. O consórcio vitorioso foi liderado pela Invepar, empresa de investimentos em infraestrutura
controlada pelo fundo de pensão dos funcionários das estatais Petrobras (Petros), Banco do Brasil (Previ) e Caixa
(Funcef), em parceria com a construtora OAS. A Invepar entrou na disputa ao lado da operadora de aeroportos sul-
africana Acsa. Para administrar o aeroporto por vinte anos, eles vão desembolsar 16,2 bilhões de reais. O valor
supera em 3,4 bilhões a oferta do segundo colocado. A análise fria das cifras mostra que não será fácil ganhar
dinheiro nessa operação. Além do valor pago pela concessão, o consórcio precisará fazer investimentos (como a
construção do terceiro terminal e a ampliação da capacidade do estacionamento) que consumirão estimados 4,6
bilhões de reais e terá de recolher o dinheiro do Fundo Nacional de Aviação Civil. Tudo somado, os gastos previstos
superam de longe as receitas estimadas, mesmo sem considerar despesas eventuais e o pagamento de funcionários.
As contas parecem não fechar, e restaria um déficit de ao menos 4,8 bilhões de reais. Um empresário com larga
experiência no setor e que participou do leilão, mas saiu derrotado, disse que fez centenas de simulações financeiras,
com diferentes variáveis, e em nenhum dos cenários imaginados seria possível ter lucro pagando mais de 16 bilhões
pela concessão. De acordo com seus cálculos, os lances em torno de 8 bilhões de reais ofereceriam uma taxa de
rentabilidade compatível com a taxa básica de juros brasileira (a Selic). Lances ao redor de 12 bilhões de reais
propiciariam um retorno estimado de 5% ao ano, baixo para os padrões brasileiros, mas ainda assim tolerável para
investidores europeus e americanos. "Com os 16 bilhões que serão pagos apenas pelo direito de explorar a
concessão, não sei como vão fazer dinheiro", afirma, categórico, o empresário.
Ao ser questionado sobre a viabilidade financeira da operação, o presidente da Invepar, Gustavo Rocha,
disse que todas as variáveis foram devidamente levadas em conta. "É claro que nós temos em mente os grandes
desafios associados ao projeto, mas estamos totalmente preparados", afirma. Segundo Rocha, o aumento das
receitas do aeroporto será possível com a ampliação de serviços que hoje estão sendo oferecidos de forma
acanhada. O plano da Invepar é ampliar o número de vagas no estacionamento de 3 100 para até 15000. Os
investidores vão aumentar a oferta de lojas (incluindo uma ampliação do espaço do free shop) e de restaurantes.
Shoppings e hotéis poderão ser construídos nas imediações.
O dinheiro arrecadado no leilão seguirá para o Fundo Nacional de Aviação Civil. "Esses recursos irão para
novos investimentos no setor aeroportuário, principalmente nos aeroportos regionais, que têm rentabilidade menor
e, portanto, não são passíveis de concessão", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "(Os valores arrecadados)
não serão utilizados para abater a dívida. E isso faz com que a nossa concessão seja diferente da concessão do
governo Fernando Henrique Cardoso, que tinha na lei obrigação de utilizar o recurso para pagar a dívida."
O governo saiu a campo para minimizar o risco de aumento extorsivo das tarifas, em decorrência das
concessões. "O valor das tarifas na composição do preço da passagem varia de 10% a 20%. Havendo mais oferta de
voos, com aeroportos maiores e mais companhias aéreas, o preço das passagens cairá. Precisamos de aeroportos
com maior capacidade e que funcionem", diz um especialista que acompanhou o processo de perto. Trocando em
miúdos, o valor arrecadado viabilizará os investimentos no restante da malha aeroportuária. O histórico de
concessões no mundo, independentemente do modelo adotado, mostra, porém, que a alta das taxas não só é
inevitável como costuma ser bastante expressiva.
O empresariado, em linhas gerais, aprovou a opção governista."Foi extremamente positivo. E mais uma
prova de que o Brasil é interessante para investidores de infraestrutura", diz Ralph Terra, vice-presidente-executivo
da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base.
Há quem discorde. Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), que representa as
maiores companhias do planeta, o aumento das tarifas deverá ocorrer mais adiante, graças ao modelo que não
privilegiaria as tarifas mais baixas. A Iata critica ainda o fato de o governo ser ao mesmo tempo regulador e participar
da composição acionária das empresas vencedoras.
O aumento dos custos é também preocupação das empresas brasileiras. "A expectativa é de melhora da
prestação do serviço e, inevitavelmente, de aumento das despesas por parte das empresas áreas", diz o presidente
do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), José Marcio Mollo.
Os vencedores terão de cumprir um cronograma de investimentos, que inclui a construção e novos
terminais e a ampliação dos existentes, além de aumentar o espaço para a manobra dos aviões e também oferecer
9
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
mais vagas para o estacionamento de carros. Os novos administradores terão também de cumprir níveis mínimos de
qualidade no que diz respeito ao tempo de espera nos embarques e desembarques.

2 – Sociedade
a) A Crise do judiciário
Ainda em 2011, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) acionou o STF com Ação Direta de
Inconstitucionalidade (Adin), sob a acusação de que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) não teria prerrogativas
legais para punir magistrados. A tese da AMB é de que o Conselho não poderia abrir processos contra juízes sem que
eles antes sejam investigados pelas corregedorias de seus próprios tribunais. Assim, o CNJ somente poderia atuar em
último caso, e se provocado. A Constituição realmente não é clara, estabelece que ao CNJ compete controlar o dever
funcional dos magistrados.
O que parecia somente ser mais um debate sobre constitucionalidade, expôs as vísceras do Judiciário,
quando, em fins de setembro de 2011, a corregedora do CNJ Eliana Calmon, reagiria a ação da AMB com uma
declaração óbvia, porém bombástica: “existem bandidos escondidos atrás da toga!”
A declaração é obvia, pois em qualquer lugar, exercendo quaisquer profissões, sempre haverá pessoas
dispostas a levar vantagens pessoais sobre as demais graças aos atributos de suas funções. O fato de que a
declaração ter caído como uma bomba sobre o Judiciário brasileiro se deve mais a reação intempestiva de juízes e
ministros das cortes superiores que não aceitam serem questionados sobre suas convicções. Esta postura está
relacionada, em parte, à função judiciária, mas sobretudo se dá por mexer na “caixa preta” que é o Judiciário
brasileiro. Para entendermos a questão, é preciso primeiro voltar aos conceitos.
Em algum momento, os homens decidiram deixar de resolver seus conflitos pela força e abraçaram a ideia
de que só haveria paz se todos concordassem em obedecer a uma mesma autoridade, o Estado. Esse é o cerne do
conceito de "contrato social", a cessão de poder do indivíduo e da sociedade para o Estado. Mas, esse contrato
significaria um autoritarismo sem limites em favor dos que controlam o Estado, caso não existissem os controles
democráticos.
Por isso, num Estado democrático, o poder é dividido em três partes: o poder Executivo, o poder Legislativo
e o poder Judiciário. Para facilitar o entendimento basta verificar que uma das características mais marcantes das
ditaduras, em qualquer lugar e em qualquer época, é o excesso de poder na mãos do Executivo.
Num Estado democrático, cabe ao poder Executivo a administração da máquina pública, os recursos do
Estado estão em suas mãos, mas toda aplicação está sujeita às restrições legais e sob fiscalização do poder
Legislativo. Em casos excepcionais, em alguns países como o Brasil, é permitido ao Executivo criar leis, como
acontece com as Medidas Provisórias brasileiras.
Ao poder Legislativo cabe, além de fiscalizar o Executivo, produzir as leis. Os legisladores, além de seguir as
regras previamente estabelecidas, têm seu controle ampliado pelo próprio debate político com representantes de
grupos de interesses distintos, dentro e fora do poder, que se opõem e, por isso, fiscalizam-se. Além disso, existem
instrumentos como as poderosas Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPI), que são instrumentos das minorias,
já que para instauração bastam poucos parlamentares aderindo-as (um terço dos parlamentares no caso do Brasil).
Todos são obrigados a cumprir as leis e cabe ao poder Judiciário fazer cumpri-las. O Judiciário não cria as
leis, mas é o único que pode punir integrantes dos outros poderes de forma ampla, já que os processos de
impedimento que cabem aos legislativos são punições bem específicas.
Se o Estado é realmente democrático, mais que a divisão dos poderes, o voto popular é a principal forma
de controle, pois obriga os detentores de poder a passar pelo crivo da população. Nesse caso, a exceção é o poder
Judiciário. Em outras palavras, seus membros não devem satisfação à opinião pública.
Países, como nos EUA, que em 40 dos 50 estados, os juízes e os procuradores em função de ministério
público são eleitos por mandato com prazo determinado, a ambição por cargos nos legislativos e executivos, usando
a magistratura como trampolim, prejudica a imparcialidade e gera atuação duvidosa. Um exemplo: o procurador
eleito por Nova York, Cyrus Vance, mergulhou de cabeça, a partir de 14 de maio de 2011, no caso em que Dominique
Strauss-Kahn, o então poderoso presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI) acusado de crimes sexuais, um
caso de grande notoriedade. Mas quando a defesa conseguiu provas importantes que denegriam a imagem da
acusadora, Vance se acovardou, pediu o arquivamento do caso, mesmo com provas físicas incontestáveis. Recuou

10
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
por temer perder o prestígio com a derrota no Tribunal do Júri e, com isso, não realizar o seu sonho imediato de virar
prefeito de Nova York, a exemplo do célebre e ex-procurador Rudolf Giuliani.
No sistema Judiciário brasileiro de seleção dos juízes é o concurso público, com participação da OAB. Nos
tribunais existe, como coisa nossa, porta de acesso a advogados e procuradores aos tribunais superiores a causar
corrida a gabinetes de políticos, a fim de obtenção de patrocínios às candidaturas. No STF, a escolha é do presidente
da República, com aprovação pelo Senado. Essa nossa corte de cúpula nasceu da ideia do imperador Dom Pedro II de
adotar o modelo da Corte Suprema dos EUA, mas só se efetivou na primeira Constituição republicana. O sistema
europeu adota, nas Cortes Supremas, mandato não superior a quatro anos e impossibilidade de recondução. Por
aqui, o ministro do STF só é obrigado a deixar a cadeira aos 70 anos ou por força de impeachment. Não está, como
seria o ideal, sujeito a qualquer poder correcional.
A única participação da população na Justiça no Brasil é como jurado no Tribunal do Júri, formado em
crimes dolosos contra a vida.
Assim, os juízes no Brasil, como em qualquer lugar, têm muito poder perante a sociedade, mas aqui, o
exerce sem ser questionado externamente. Em sua rotina de trabalho, nas salas de julgamento, eles se sentam quase
sempre um degrau acima das outras pessoas - advogados, promotores, réus ou testemunhas. Vestem uma roupa
diferente, a toga (que na Roma antiga distinguia os cidadãos dos escravos), e são chamados de "excelência" ou
"meritíssimo". Entre os benefícios que se oferecem a eles, estão altos salários, cargo vitalício até os 70 anos e
aposentadoria integral. Tanta deferência tem uma razão: os juízes são os primeiros guardiões do estado de direito -
pilares, portanto, da democracia. Pois cabe aos juízes a missão de arbitrar os conflitos. O papel dos magistrados é tão
fundamental na sociedade e sua função é tão nobre que eles precisam se cercar de garantias que os ajudem a
exercer seu papel com a competência, o equilíbrio e a sabedoria que deles se esperam. Pelos mesmos motivos,
deveriam ser obrigados a cumprir as leis com rigor e ter uma reputação inatacável, para tanto é preciso
transparência, que exige controle externo para evitar o corporativismo.
Numa análise feita pela revista Veja sobre os resultados de algumas operações da Polícia Federal, a
conclusão é que, mesmo quando juízes são identificados em atos criminosos, eles quase nunca pagam por seus
crimes. Nas quinze operações analisadas, 39 magistrados foram investigados. Destes, só sete foram julgados, apenas
dois foram condenados e só um continua preso, assim mesmo, no domicílio. É muito pouco, sobretudo quando se
considera a montanha de evidências obtidas pelos policiais contra os acusados e a postura que se espera de um juiz.
Diante da constatação de que juízes agem de forma corporativa com malfeitos de seus pares é que foi
aprovada com a Reforma Judiciária de 2004, a criação do Conselho Nacional de Justiça, para exercer um controle
externo ao Judiciário. Na verdade, a referida Reforma, discutida por mais de 10 anos, criou um CNJ com poderes bem
menores do que se esperava. É preciso certo grau de boa vontade para considerar o Conselho Nacional de Justiça um
órgão de controle externo do Judiciário. A maioria absoluta de seus integrantes é de juízes (dos 15 conselheiros dez
são juízes). E são eles os responsáveis por analisar a conduta de seus pares.
O CNJ é um arremedo do projeto original. Por manobras corporativas, o que era para ser um órgão de
controle externo virou um conselho interno submetido ao STF. O presidente do Supremo exerce também o comando
do CNJ, e a exemplo das corregedorias estaduais que sempre poupam os desembargadores, ele não tem poder de
avaliar as decisões e os comportamentos de ministros da mais alta Corte.
Ainda assim, o trabalho do CNJ, que nos últimos seis anos conseguiu investigar e punir 50 magistrados,
incomoda bastante uma parcela dos togados brasileiros. Em 28 de setembro, os avanços do Conselho quase foram
por água abaixo. Ao que tudo indicava, havia uma disposição no Supremo Tribunal Federal de limitar os poderes do
órgão, o que poderia resultar na absolvição de todos os punidos até agora, muitos deles desembargadores. Mas,
diante da imensa pressão da opinião pública em contrário, a posição do STF acabou adiada. Nas palavras do ministro
Marco Aurélio Mello, houve um "clima tenso" que motivou o adiamento da decisão.
Apesar dos limites, a Corregedoria, principalmente durante o mandato de Dipp, conseguiu realizar uma
devassa inédita em ao menos uma dezena de tribunais estaduais. Em um trabalho incansável e irretocável, Dipp
abriu as portas do poder aos cidadãos comuns ao expor à opinião pública crimes de venda de sentenças,
improbidade administrativa, nepotismo, corrupção, resumindo: um abecedário quase completo de malfeitos
cometidos por quem deveria puni-los.
Talvez por seu estilo discreto, Dipp tenha passado incólume no cargo, sem despertar a ira dos seus pares. O
caldeirão das insatisfações transbordou no mandato de Eliana Calmon. Também integrante do STJ, tão respeitada
quanto Dipp, ela tem o hábito de falar o que pensa. Sua frase mais famosa, sobre a existência de "bandidos de toga",
11
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
não vai além de uma constatação óbvia, mas foi suficiente para armar aqueles contrários a qualquer tipo de
vigilância externa. De forma unânime, os ministros do Supremo consideraram a afirmação uma "generalização
despropositada".
O presidente do STF, que também preside o CNJ, Cezar Peluso, pressionou Eliana Calmon (responsável
pelas fiscalizações que punira inclusive 35 desembargadores) para que esta recuasse da declaração. Ela não só se
recusou, como reiterou a afirmação. Peluso conseguiu que mais da metade do CNJ assinasse nota de repúdio à
corregedora. O clima, é claro, ficou tenso, não só no Conselho, mas também no STF. E a briga atraiu ainda mais a
atenção pública para o caso.
Fato é que as impressões públicas sobre o STF não são positivas, depois de decisões polêmicas como nos
casos Daniel Dantas e Castelo de Areia, por exemplo, fez o STF por a barba de molho e tentar um acordo para conter
o CNJ sem esvaziar suas funções.
Mesmo estando muito aquém do projeto inicial, o CNJ tornou-se o caminho mais curto para as punições.
Como nesse caso, elas se restringem a medidas administrativas, o Conselho não tem poder para prender um juiz
metido em desvio de verba, por exemplo. Isso deve ser feito pelo caminho usual da Justiça, mas, na prática,
raramente acontece. O que o CNJ pode fazer - e tem feito com continuidade - é retirar dos cargos os juízes e deter-
minar sua aposentadoria compulsória. Não é uma pena exemplar, mas estanca rapidamente os efeitos deletérios
que pode causar à sociedade o trabalho de um mau magistrado.
Mesmo esse castigo brando, quase amigável, afrontou o espírito de corpo dos juízes brasileiros
representados pela AMB. Mas, como nas palavras do ministro Gilmar Mendes, em seu voto pela manutenção dos
poderes do CNJ: “Até as pedras sabem que as corregedorias [estaduais] não funcionam quando se trata de investigar
seus pares”.
No entanto, o maior feito do CNJ foi ampliar a transparência da Justiça, transparência que todos sabem é
um item em falta na Justiça brasileira. Os problemas se avolumam em toda a Federação. O TJ paulista discute como e
por que um grupo de desembargadores recebeu de uma só tacada e em detrimento de outros pares quantias que
chegam a 1,5 milhão de reais. Entre os beneficiários estariam os ministros do Supremo Tribunal Federal Cezar Peluso
e Ricardo Lewandowski. Ambos teriam recebido no mínimo 600 mil reais.
Não se trata exatamente de uma irregularidade. São valores devidos em consequência de atrasos em
diárias de viagem e outras gratificações acumuladas ao longo da carreira. Impressiona, porém, a quantidade de
gratificações, assim como a discricionariedade nos pagamentos. Um dos casos é emblemático. Um juiz teve recusado
o pedido de recebimento de atrasados no valor de 40 mil reais, mesmo após justificar a solicitação: precisava do
dinheiro para custear o tratamento de câncer do pai. Semanas depois, os três desembargadores que haviam negado
a liberação se autoconcederam, sem qualquer justificativa, pagamentos de mais de 300 mil reais cada. O juiz fez uma
queixa à Corregedoria e o episódio será um dos tantos analisados pelo colegiado do tribunal.
O corregedor-geral do TJ paulista, José Renato Nalini, evita comentar o caso específico, mas analisa os
pagamentos de forma geral: "Não é ético o responsável pelas autorizações liberar dinheiro para si próprio em
detrimento dos demais".
No Rio de Janeiro, descobriu-se que uma série de benefícios até então desconhecidos inflava o
contracheque dos magistrados. Os ganhos dos desembargadores variavam de 40 mil a 100 mil reais, bem acima dos
26 mil reais brutos recebidos pelo presidente do Supremo, cargo com o mais alto rendimento do funcionalismo
público, segundo a lei. Ainda no Rio de Janeiro, um funcionário do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) é acusado de
movimentar cerca de 282 milhões de reais em sua conta pessoal. O presidente da seção carioca da Ordem dos
Advogados do Brasil, Wadih Damous, chegou a compará-lo ao famoso juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau,
condenado por desvios nas obras da sede do TRT de São Paulo.
Em Minas Gerais, o CNJ investiga a promoção de 17 juízes, supostamente beneficiados por serem parentes
de desembargadores ou ex-dirigentes da Associação dos Magistrados Mineiros. Juízes mais antigos na carreira teriam
sido preteridos no processo. Segundo levantamento do Conselho, existem mais de 1,7 mil magistrados sob
investigação no país. E, para piorar, uma auditoria recente descobriu o sumiço de equipamentos, entre eles
computadores, doados a tribunais regionais. O prejuízo chega a 6,4 milhões de reais.
Tudo isso, soma-se a anulação de processos contra poderosos a decisões baseadas em uma bravata de
soberania no caso Cesare Battisti, da revelação de altos salários que ferem as regras do funcionalismo e de
movimentações financeiras suspeitas à descoberta de pagamentos milionários a juízes e servidores, a Magistratura

12
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
nunca esteve tão exposta. Ou nunca foi tão questionada. Em outras palavras: os Magistrados têm virado notícia por
obra das apurações do Conselho e a exposição de tantas mazelas provocou uma reação corporativa.
O presidente da Associação Juízes para a Democracia (AJD), Henrique Torres, vai além e afirma que o CNJ é
alvo hoje das mesmas forças que tentaram impedir sua criação, em 2004. "Por pressão, o CNJ tornou-se um órgão do
Judiciário e não externo, como previsto. Então, ele não é nenhuma maravilha. Mas agora as mesmas forças tentam
enfraquecê-lo ainda mais.
Segundo Torres, a situação mais grave se dá nas instâncias superiores: "A primeira instância ao menos tem
corregedores regulares. O grande problema são as investigações sobre desembargadores e ministros. Além disso,
para a primeira instância, o CNJ é uma forma de os juízes recorrerem para os casos de perseguições de instâncias
superiores".
Pesquisador da Sociedade Brasileira de Direito Público, um grupo formado por acadêmicos e advogados,
Conrado Hubner Mendes afirma que o problema está não nas cobranças da sociedade, mas na maneira como os
juízes lidam com as críticas. "Há uma forma democrática de reagir, que é responder de maneira franca, com
argumentos e informação. Não é, infelizmente, o que o Judiciário vem fazendo.
Diante de tanta pressão, em 2 de fevereiro de 2012, o STF agiu para melhorar um pouco a própria imagem
e de toda a turma da toga. Por 6 votos a 5, os ministros rejeitaram o argumento da AMB e mantiveram a autonomia
de investigação do CNJ. Alinharam-se ao relator, o ministro Marco Aurélio Mello, que concedeu a liminar contra a
liberdade de ação do CNJ no apagar das luzes de 2011 e relatou o caso, Peluso, Lewandowski, Celso de Mello e Luiz
Fux. Os demais defenderam o caráter "republicano" do órgão de controle. O placar apertado demonstrou a forte
divisão entre os ministros
É possível travar uma discussão civilizada sobre o CNJ? Não é o que se vê, em geral. Ao defender de forma
veemente as atribuições do CNJ, Eliana Calmon tornou-se vítima de uma tática consagrada no País, a desqualificação
pura e simples do interlocutor. Chamada de autoritária e leviana, alvo de uma interpelação arquivada recentemente
pela Procuradoria-Geral da República, a corregedora vive uma situação parecida àquela do juiz Fausto De Sanctis. O
magistrado de primeiro grau que foi submetido a ataques diversos, teve sua vida vasculhada e sua competência
posta em xeque por ter condenado Daniel Dantas a dez anos de prisão por suborno e enfrentado o então presidente
do Supremo, Gilmar Mendes, que concedeu um habeas corpus ao banqueiro contra a súmula da própria Corte
Suprema. Promovido a desembargador, De Sanctis escapou por pouco de uma reprimenda pública do CNJ e viu
decisões suas caírem por terra em tribunais superiores.
Enquanto Eliana Calmon é obrigada a se explicar, os suspeitos de cometer irregularidades ganham tempo.
Ou não deve ser confortável a situação para o ex-presidente do Tribunal de Justiçado Rio de Janeiro, Luiz Zveiter?
Personagem de uma investigação do CNJ, Zveiter é acusado de favorecer em uma decisão a construtora Cyrella,
atendida pelo escritório de seu filho, Flávio Zveiter, conforme noticiou a revista Carta Capital na edição 667, de
outubro do ano passado.
A manutenção dos poderes de investigação do CNJ alivia um pouco a pressão, mas uma nova, quem sabe
definitiva, chance para a Magistratura está na criação de um estatuto que substitua a velha lei orgânica, aprovada
em 1979, na fase final da ditadura. Um dos pontos primordiais seria aumentar a punição a juízes corruptos ou que
cometam outros desvios de conduta. Atualmente, como vimos, a pena máxima é a aposentadoria compulsória, algo
mais próximo de uma premiação.
Embora muitos queiram negar, trata-se de uma crise. "Na raiz de toda essa discussão está um problema
estrutural do Judiciário: sua forma vertical, pouco democrática e, em certos pontos, antidemocrática", avalia José
Henrique Torre, presidente da Associação Juízes para a Democracia. "Ele precisa ser solucionado para termos maior
transparência e legitimidade social”. A ex-ministra do STF Ellen Grace afirmou em entrevista a revista Veja, em 02 de
setembro de 2011, que o Judiciário é o poder menos corrupto, mas seus argumentos, ao contrário somente provam
que é o poder menos fiscalizado.

b) O Crack é o Caos7
No início dos anos 90, traficantes e usuários de crack de São Paulo começaram a se concentrar nas áreas do
centro da cidade para, em grupos cada vez mais numerosos, proteger-se da polícia e ter acesso mais fácil à droga.
7
BERGAMO Giuliana, e COURA, Kalleo. É pior do que parece (com adaptações). In Veja nº 2244, de 18 de janeiro de
2012 e
13
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
Com o passar do tempo, foram ocupando as calçadas e as ruas, de maneira que, em algumas, os carros já não
podiam circular, pois eram obrigados a desviar daquilo que ficou conhecido como Cracolândia, o território particular,
escuro e indevassável do crack. No início do ano, a Polícia Militar de São Paulo deflagrou uma operação para
dispersar os viciados à força. A investida foi classificada de "precipitada" (os serviços de abrigo e tratamento para
dependentes não estariam prontos para receber os usuários), "desastrosa" (ela teria simplesmente espalhado pela
cidade os dependentes que antes se agrupavam em uma única região) e "errática" (na semana seguinte, os viciados
já haviam voltado à Cracolândia sem que a polícia os molestasse). Para além dos erros, o trabalho registrou um fator
positivo: ao produzir cenas estarrecedoras - como a de centenas de homens, mulheres e crianças vagando sem rumo
pela cidade, olhos esgazeados e roupas em farrapos, despertou a atenção do país para um problema que está longe
de se limitar à capital paulista.
Um levantamento realizado no ano passado pela Confederação Nacional dos Municípios em 4430 das 5565
cidades brasileiras revelou que o crack é consumido em 91% delas. Cortadores de cana do interior de São Paulo
adotaram a droga como "energético". No Vale do Jequitinhonha e no norte de Minas Gerais, ela avança em ritmo de
epidemia. Em Brasilândia de Minas, por exemplo, com 14 mil habitantes, a prefeitura já mapeou oito
minicracolândias. Em Teresina, a capital do Piauí, 8 mil viciados perambulam pelas ruas. Numa aldeia indígena de
Dourados, em Mato Grosso do Sul, 10% das 2000 famílias têm ao menos um viciado em casa. Na região Amazônica,
86% dos municípios registram o consumo da droga.
“Há dez anos, 200 mil brasileiros haviam tido contato com o crack. Em uma década, esse número saltou
para 800 mil ″, diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unifesp, um dos maiores especialistas do país no assunto.
Além de romper as divisas estaduais (91% dos municípios do país já têm viciados), o crack derrubou as barreiras de
classe. Há muito deixou de ser um mal que devasta só marginais e moradores de rua para bater às portas da classe
média. Em dezembro, o Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Drogas traçou um perfil da população da
Cracolândia de São Paulo e descobriu que, do total de 178 ocupantes, dezessete tinham curso superior completo.
Outros 24 jovens estavam matriculados em faculdades – dois deles em cursos de medicina. A mudança no perfil dos
viciados fica evidente quando se olha o que ocorre nas clínicas de recuperação. Nas mais caras do país, com
mensalidades que podem chegar a 50 mil reais, o crack se tomou a droga dominante. “Antes, praticamente rodos os
pacientes vinham por causa de bebida ou cocaína. Nos últimos cinco anos, o número de viciados em crack subiu
60%”, diz o psiquiatra Pablo Roig: proprietário da Clínica Greenwood. Um mês de intimação na Greenwood, em
Itapecerica da Seita, São Paulo, custa até 23 mil reais.
Por que pessoas com alto padrão social que têm família razoavelmente organizada, estudaram em bons
colégios se arriscam a experimentar um entorpecente cujo uso está associado a mendigos e indigentes e que, sabem,
poderá dilacerar sua vida? De uma maneira geral isso se tomou uma etapa quase natural na trajetória dos usuários
de drogas. Diz o delegado Wagner Giudice, diretor do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) de
São Paulo: “Os pobres costumam ir direto do álcool para o crack. Já a classe média está fazendo outro percurso:
começa na bebida, passa pela maconha, vicia-se em cocaína e acaba no crack”.
Para os mais pobre a capacidade de penetração deve-se ao baixo preço do crack (5 reais a pedra). Já para
os mais abastados, à forma com que ele atua no organismo, produzindo uma sensação de prazer nunca antes vista, é
o que leva o usuário, em busca sensações cada vez mais elevadas a migras do álcool para a maconha e depois para a
cocaína e o crack. "Ele provoca tamanho caos na química cerebral que, depois de algumas semanas, o usuário está
viciado. Ele busca a sensação que experimentou na primeira vez em que utilizou a droga e que nunca mais se
repete", diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Quase todos os
dependentes acabam desenvolvendo transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, e têm os sistemas
respiratório e cardiovascular comprometidos.
O crack vicia tão rápido que, para o usuário, muito frequentemente, a primeira tragada marca o começo do
fim. A partir dela, pobres e ricos se igualam na trajetória de autodestruição. Em três anos, a quase totalidade dos
viciados estará gravemente doente, terá se envolvido em crimes e visto a família se desmantelar. No fim do quinto
ano de consumo, um terço deles estará morto – em geral, pelo comportamento de risco que passam a apresentar. As
vítimas de homicídio e overdose são as mais frequentes. A velocidade com que o crack torna o usuário dependente
se deve ao “impacto com que ele atinge o cérebro. A droga é produzida a partir da pasta base de coca, matéria-
prima que pode se transformar também em cocaína – a escolha é feita pelos produtores de acordo com a demanda
local. Para pequenos traficantes, o crack apresenta mais vantagens do que a cocaína, devido à quantidade e à
velocidade com que é consumido. Para os grandes traficantes,por destruir a vida e matar muito rápido, a cocaína
14
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
continua a ser o melhor negócio, esse é o motivo pelo qual o Comando Vermelho, principal organização criminosa do
Rio de Janeiro resistiu a entrada do crack em seus redutos.
Para o usuário, a diferença está na sensação que o crack e a cocaína provocam. O efeito do primeiro é
muito mais intenso por causa da maneira como o organismo absorve o princípio ativo comum às duas drogas, o
cloridrato de cocaína. A parte interna de uma narina tem cerca de 4 centímetros quadrados. É esse o espaço que
entrará em contato com o cloridrato. Como o crack é fumado, a substância vai para os pulmões, cujos alvéolos,
desdobrados, apresentam uma área de, em média, 80 metros quadrados – a metade de uma quadra de tênis. A
quantidade de cloridrato absorvido em uma tragada é brutal. No cérebro, o crack eleva em 900% o nível” de
dopamina, o neurotransmissor que regula a sensação de prazer. Nada provoca estímulo tão poderoso.
Se ricos e pobres se igualam na desgraça voltam a se diferenciar no momento de sair dela – ou de tentar
sair. Evidentemente, têm mais chances aqueles que pagam para se internar em boas clínicas, com acompanhamento
médico e psicológico em tempo integral. Mesmo assim, 90% dos que o fazem sofrem recaídas nos primeiros oito
meses. Metade desiste durante o processo e volta de vez para as pedras. Dos que persistem e passam até um ano
em tratamento, 90% conseguem voltar a estudar ou trabalhar – ainda que, em grande parte das vezes, nunca
consigam se livrar de recaídas eventuais.
O crack surgiu na década de 80, nas Bahamas, um dos principais entrepostos do tráfico de cocaína na rota
rumo à América do Norte. Logo se espalhou pela periferia de cidades como Los Angeles, San Diego e Houston. Ao
contrário do Brasil, onde os viciados sempre acendem seu cachimbo diante de policiais passivos, nos Estados Unidos
as ruas nunca foram território livre para o consumo de drogas. Assim, para fumar, os usuários abrigavam-se em casas
abandonadas. Transformadas em antros do vício, elas ficaram conhecidas como crack houses. Em 1988, 2,5 milhões
de americanos já tinham consumido crack - e algumas das inevitáveis consequências disso apareciam na forma de
estatísticas criminais. Um levantamento mostrou que, na cidade de Nova York, um terço dos homicídios cometidos
naquele ano tinha relação com a droga.
Os EUA conseguiram debelar a epidemia de duas formas. A primeira consistiu em desmontar o esquema
dos traficantes por meio do desmantelamento das crack houses. Agentes da polícia se infiltravam nesses locais,
colhiam imagens de traficantes para ser usadas como provas nos inquéritos e terminavam invadindo os imóveis, que,
em seguida, eram desapropriados pelo poder público.
A segunda estratégia, surgida em 1989 na Flórida e copiada por todos os estados norte-americanos, foi a
criação das drug courts, tribunais especializados em delitos relacionados ao uso de drogas. Por esse sistema, viciados
flagrados com pequena quantidade de entorpecentes (até 28 gramas, no caso de crack ou cocaína) e que não
tenham cometido crimes graves, como homicídio, podem escolher entre ser julgados da forma convencional ou
ingressar num programa de tratamento oferecido pelo governo. Quem completa um ano de abstinência (de álcool,
inclusive) tem a ficha criminal cancelada. Hoje, nove em cada dez americanos que optam pelo tratamento não
cometem novos crimes ao longo do ano seguinte e 70% abandonam a criminalidade de vez. "O programa não só
ajudou a recuperar os viciados como significou um duro golpe para os traficantes, que viram a demanda por sua
mercadoria diminuir", diz David Kahn, ex-promotor de Justiça da Flórida. O tratamento médico inclui desde diversos
tipos de terapia, como a cognitivo-comportamental e a de grupo, até internação.
Embora tenham conseguido diminuir drasticamente o crescimento do consumo (segundo estatísticas
oficiais, no ano passado, 83 mil americanos passaram a usar a droga, em 2002, foram 337 mil), os Estados Unidos
não conseguiram eliminar o crack do seu território, mesmo com todo o arsenal utilizado. No Brasil, a luta mal
começou.

c) O Dilema Educação: como garantir a todos uma educação de qualidade8?


Embora os avanços sejam inegáveis nas últimas duas décadas, a educação brasileira continua a exibir
indicadores pavorosos. Um levantamento do Unicef divulgado em 30 de novembro de 2011 revela um dos graves
problemas: um quinto dos jovens entre 15 e 17 anos está fora da escola. Entre as de 6 a 14 anos, o percentual é de
apenas 3%.
No quesito qualidade os maiores problemas estão no setor público, ainda que o ensino privado muitas
vezes não passe de uma miragem: paga-se caro por uma educação medíocre, abaixo da média da maioria das

8
MENEZES, Cynara. De Zero a Dez (com adaptações). In CartaCapital nº 676, 07 de dezembro de 2011.(pp 28-33).
15
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
nações, mesmo aquelas de renda semelhante à do Brasil. Quase quatro décadas de abandono do ensino público
criaram nos cidadãos uma ojeriza ao sistema.
Uma pesquisa feita neste ano pelo instituto DataPopular, especializado nos hábitos de consumo das classes
C, D e E, revela que 89% da chamada “nova classe média” considera a educação a melhor estratégia para a ascensão
social. Para 66%, a prioridade é a educação dos filhos. Para 57% deles, a escola pública tem piorado em termos de
qualidade.
Os números oficiais do Ministério da Educação confirmam a rejeição crescente ao ensino público captada
na pesquisa. Nos últimos três anos, a rede pública perdeu 2,6 milhões de matrículas, enquanto a privada ganhou l,2
milhão. De 2007 a 2010, os estabelecimentos particulares de ensino cresceram 18% e o sistema público encolheu 6%
no mesmo período, do ensino fundamental ao ensino médio.
A sensação, para a maior parte das famílias, é de que seria impossível recuperar as escolas financiadas pelo
Estado e instituir, a exemplo da maioria esmagadora dos outros países, um sistema público abrangente,
predominante e de qualidade como já existiu antes da ditadura. Na São Paulo dos anos 1940, por exemplo, o ensino
privado era a alternativa de quem, por qualquer motivo, não conseguia uma vaga em uma escola estatal, então
consideradas de melhor qualidade. Hoje as famílias que podem, preferem pagar o mais alto imposto cobrado no
país, colocar um filho em um estabelecimento considerado de bom nível, que em uma cidade como São Paulo, não
sai por menos de 1,5 mil reais por mês.
Em troca, acham justa a perpetuação de outra desigualdade: geralmente, são os alunos da rede privada
que abocanham as melhores vagas nas universidades gratuitas. Os que passam pelo ensino público, se e quando
chegam lá, veem-se obrigados a frequentar faculdades pagas e de qualidade duvidosa, para dizer o mínimo.
No entanto, embora divirjam sobre modelos e fontes de financiamento, especialistas acreditam ser ainda
possível mudar completamente a estrutura do ensino básico e consideram que o preconceito em relação à escola
pública não reflete a realidade completa dos fatos.
Se é verdade que os alunos da rede privada obtêm um aprendizado 66,7% em média superior aos
estudantes das públicas, também é certo ser imprudente generalizar. Existem muitas escolas públicas com
desempenho melhor que as particulares, a depender do bairro, município ou estado da Federação. Não à toa, o
preconceito em relação à rede pública é mais visível nas regiões metropolitanas do que nas cidades menores, onde é
comum o filho do prefeito conviver com o filho do faxineiro na mesma escola.
Até por isso, onde há maior rejeição ao ensino público é justamente onde ele tem as piores notas no Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que desde 2007 distribui notas de 0 a10 às escolas do País: nas
periferias das grandes cidades e em rincões do Norte e Nordeste. Ainda assim, o dado é relativo. Enquanto Alagoas e
Maranhão são considerados um desastre, com péssimos indicadores, há dois estados nordestinos hoje em condições
de exportar modelos para outros.
O Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), do Ceará, considerado a melhor experiência do Brasil
em termos de alfabetização, começou a ser replicado na Bahia, que no último Ideb teve 396 de seus 417 municípios
com média abaixo da nacional. E o programa de educação integral para jovens de Pernambuco foi copiado por São
Paulo. Em agosto passado, o secretário de Educação paulista, Herman Voorwald, acompanhado de uma comitiva de
empresários, foi conhecer pessoalmente a experiência pernambucana.
Também é necessário distinguir o ensino fundamental, da 1ª à 8ª série, do ensino médio, como se vê pelos
dados do Unicef. A discrepância é maior entre as avaliações da escola pública em relação à particular no ensino
médio: os alunos da rede privada que fizeram o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) no ano passado tiveram
médias 19% maiores que aqueles da rede pública nas provas objetivas, mas a distância diminuiu de 2009 para 2010.
Ainda assim, nas públicas há uma elite com desempenho próximo ao das particulares.
Para se ter uma ideia de como as experiências no setor público variam, São Paulo fraqueja no ensino
médio, mas foi o estado de melhor desempenho no último Ideb, divulgado em julho passado: 95% das 645 cidades
paulistas tiveram notas maiores que 4,6, a média do País, com destaque para o município de Cajuru, que registrou o
maior índice, com nota 8,6, comparável aos países desenvolvidos. A melhor escola pública brasileira de 1 a 4 série
fica em Cajuru, com 23 mil habitantes e localizada a 305 quilômetros da capital: a Aparecida Elias Draibe. Já Minas
Gerais, que teve o maior número de cidades acima da média, possui também a pior escola pública: a Jovem
Protagonista, de Belo Horizonte.
"O que as pessoas não levam em consideração é que às vezes uma escola particular precária é pior do que
uma escola pública. Nas grandes cidades, acabou virando um símbolo de status colocar os filhos na escola privada",
16
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
pondera Maria Alice Setubal, presidente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
(Cenpec), entidade da sociedade civil dedicada à educação no país desde 1987.
Maria Alice, responsável pelo projeto educacional de Marina Silva em 2010, recusa-se a definir a educação
pública brasileira como um desastre: "Há escolas boas e ruins, o sistema público não é ruim como um todo, ou seja, a
média ainda é baixa, mas existem escolas boas. O que não temos incorporado é a ideia de que todos têm o direito a
uma educação de qualidade, pobres e ricos. Com isso, a desigualdade ainda é enorme". Segundo ela, falta vontade
política de priorizar a educação. "Infelizmente, em nosso país, a percepção de que educação é algo importante é
recente."
Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que construiu sua carreira política associada ao tema, há uma
razão para a piora do ensino estatal."A escola pública era boa enquanto era para os poucos filhos da elite. Quando a
classe rural migrou para as grandes cidades, a elite abandonou a escola pública e o governo então passou a transferir
mais recursos às universidades, também ocupadas pela elite."Buarque não crê, porém, que o sucateamento do
sistema gerido pelo Estado tenha sido uma opção deliberada da ditadura em favor dos empresários do setor: "Acho
que a questão é mais social do que política, os militares não eram tão organizados assim".
O senador acaba de lançar um novo livro no qual defende a federalização total do sistema público até 2030.
Segundo a proposta, o repasse do comando à União daria-se ao ritmo de 250 cidades por ano, a partir dos
municípios com os melhores resultados educacionais ao longo da história. "Das 300 melhores escolas do país de 1ª a
4ª série, a maioria é federal. Depois é que vêm as particulares. O salário é melhor, as instituições são melhores",
argumenta o senador, para quem o preconceito com a escola pública existe pelo simples fato de ela "ainda ser ruim"
de um modo geral.
O pedetista conta a história da empregada de seu irmão, no Recife, que pediu aumento antes da hora. "Ele
perguntou: 'Para quê?' E ela respondeu: 'Porque a diretora disse que meu filho é muito bom para a escola pública'.
No dia que a escola pública for de fato boa, esse preconceito pode até durar mais algum tempo, mas logo acaba.
De fato, das oito primeiras escolas no ranking do Ideb, apenas uma não é federal: a estadual Oscar Batista,
no município de Cambuci(RJ), terceira colocada. O Colégio Pedro II, tradicional na capital fluminense, ocupou a
segunda posição no ranking. Entre os dez primeiros, seis são escolas militares: de Santa Maria (RS), Salvador (BA),
Campo Grande (MS), Fortaleza (CE) e Curitiba (PR) e a do Corpo de Bombeiros do Ceará (também em Fortaleza),
nesta ordem. A escola de aplicação Professor Chaves, situada em Nazaré da Mata, no interior de Pernambuco, ficou
em 10º lugar.
Buarque, porém, parece falar sozinho a favor da federalização do ensino. Os demais especialistas preferem
apostar em uma maior interação entre as esferas federal, estadual e municipal. O sucesso do programa cearense de
alfabetização, por exemplo, só foi conseguido graças à interlocução entre o estado e as prefeituras dos municípios,
dos mais diferentes partidos. Um aspecto considerado fundamental para que a escola pública melhore é que os bons
programas não sejam abandonados quando mudam os governos.
Outra unanimidade é a necessidade de melhora no salário dos professores e sua formação continuada,
para ajustá-los, às questões contemporâneas. Apesar de o piso nacional dos professores ter sido fixado em 1.527
reais, 16 estados não o cumprem, sob a alegação de falta de recursos. Ao mesmo tempo, não conseguem provar ao
ministério a falta de dinheiro para pagá-los, que lhes permitiria receber uma complementação federal. O ideal seria
que o professor recebesse um salário que lhe proporcionasse trabalhar em uma só escola as 40 horas semanais, com
um terço do horário dedicado à preparação das aulas e à própria formação.
O treinamento continuado dos professores, outro item importante, é prejudicado pela não liberação do
docente para os cursos oferecidos. Na escola pública ideal não existe o professor apelidado de "fichinha" por andar
com uma ficha a tiracolo com todas as informações que julgava imprescindíveis à sua aula e no primeiro dia já
chegava com o planejamento para o ano inteiro. "Hoje, um bom professor é aquele que, antes de planejar o ano
letivo, primeiro conhece seus alunos", afirma Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do Ministério da Educação.
"Muitos dos erros que ainda ocorrem são resultado desse planejamento às escuras."
Um estudo divulgado em setembro pela Unesco sobre o perfil do docente no País mostra que houve uma
série de avanços nos últimos anos nas políticas públicas para a formação continuada dos professores. Algumas das
críticas dizem respeito à falta de clareza na interação entre as esferas federal, estadual e municipal. Elogia-se, porém,
a movimentação, em estados e municípios, para a criação de um plano de carreira para o professor, de extrema
importância para valorizar socialmente a profissão e torná-la mais atrativa. Uma pesquisa recente da revista Forbes

17
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
aponta o professor como uma das dez profissões mais felizes nos Estados Unidos. Não se pode dizer o mesmo dos
docentes brasileiros.
O ministério da Educação promete ampliar os gastos em educação pública para entre 7% e 10% do PIB no
ano que vem9. A educação integral também estaria garantida em 60 mil escolas até 2014. É uma meta ambiciosa,
talvez até demais. Os investimentos atuais são de cerca de 5% do PIB. Ao mesmo tempo, o Brasil tem um gasto com
o ensino privado na média dos números mundiais. Em 2009, o porcentual foi de 1,3%. O índice foi semelhante ao da
Rússia, maior do que o da Alemanha (0,7%) e metade daquele dos EUA (2,6%). Alcançar a meta já seria difícil se o
país mantivesse o crescimento acima de 5% dos últimos anos, imagine com a perspectiva de expansão reduzida para
a casa dos 3% por conta do aprofundamento da crise financeira internacional.
A maioria das histórias edificantes do sistema público tem como personagem central um diretor
empenhado. No Distrito Federal, destaca-se, por exemplo, o Centro de Ensino Fundamental de Arapoanga, um dos
bairros mais violentos da capital do país, porta de entrada para o tráfico de crack. Nos últimos dez anos, o diretor
Jordenes Ferreira da Silva conseguiu transformar a escola em oásis em um entorno de pobreza e desolação. O
segredo? Em primeiro lugar, aproximar a comunidade da escola - outra condição fundamental para que a educação
pública dê certo. Os moradores em mutirão reformaram o prédio, causando nos estudantes a sensação de que era
preciso cuidar do lugar que seus pais consertaram. Para elevar a autoestima dos alunos, Silva mandou instalar
espelhos nos corredores. "O adolescente vive em busca de uma imagem. Ao se ver no espelho, não critica o outro",
teoriza o educador.
Convencido do próprio slogan que "o bairro pode ser cinza, mas a escola tem de brilhar", o diretor
conseguiu de uma empresa, com apoio da Embaixada do Japão, uma lousa inteligente, e do MEC, 30 computadores
para criar sua sala especial. A rede Wi-Fi é aberta a toda a comunidade, inclusive durante os fins de semana. Os
professores ganham acima do piso: 3,9 mil reais. Silva criou ainda um evento literário, o Café com Letras. Uma vez
por mês, a biblioteca móvel vem à escola emprestar livros. "Quem poderia imaginar que numa comunidade onde as
pessoas andam armadas se emprestariam livros?", pergunta o diretor, orgulhoso.
Nas paredes, pôsteres com os melhores estudantes de cada turma são exibidos a cada semestre. Nas salas,
silêncio e atenção. Nos corredores, quatro ex-alunos passam apenas para cumprimentar os professores. Um
pretende ser engenheiro, o outro, advogado. "Ainda teremos um governador que estudou nesta escola. E ele será
justo e bom, porque conhecerá as dificuldades", profetiza Silva.
A boa escola pública emociona e planta na cabeça a dúvida: se a classe média voltasse a usar o sistema
público, não poderia ajudar a melhorá-lo? "Sim", defende Pilar Lacerda. "Está provado que quem tem maior
escolaridade interfere mais na escola do filho do que quem não tem. Além disso, pode parecer utópico, mas a escola
pública deveria ser um espaço de convivência entre os diferentes. Infelizmente, no Brasil, virou espaço reservado aos
pobres.

d) Demografia: A Família Brasileira Encolheu10.


A família brasileira está menor, mais fragmentada e se organiza de forma muito mais diversa do que há dez
ou vinte anos. Até 1990, os casais tinham 2,8 filhos em média, 80% dos lares eram encabeçados por um homem e a
estrutura da família nuclear era, com raras exceções, a clássica: pai, mãe e filhos. A segunda parte dos resultados do
Censo 2010, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela algumas das mudanças por
que o país passou desde 2000, ano em que foi feito o último estudo. E, ao menos no que diz respeito à vida privada
dos brasileiros, elas são profundas.
O tamanho das famílias é a parte mais visível dessa transformação. Hoje, os domicílios abrigam em média
apenas três pessoas. Além de terem encolhido, as famílias estão mais fragmentadas – 15% delas são formadas por
mulheres que vivem com seus filhos sem a presença dos pais das crianças. Essa população – que inclui as viúvas, mas
é formada, sobretudo, por mulheres separadas e mães solteiras – faz parte de um universo maior e crescente, o das
autodeclaradas “chefes de família”.

9
No final de junho, foi aprovada na Comissão Especial do Plano Nacional de Educação (PDE) o Projeto de Lei que
determina que a seja investido 10% do PIB em educação. Pelo texto aprovado, os investimentos no setor devem chegar a 7% no
prazo de cinco anos e a 10% até o final da vigência do plano, que é de 10 anos. A proposta seguio para o Senado.
10
COURA, Kalleo. A Família Encolheu (com adaptações). In Veja nº 2244, de 23 de novembro de 2011. (pp. 169-170).
18
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
Em 2000, em 27% das casas os entrevistados declararam aos recenseadores do IBGE que o “chefe da
família” era uma mulher. Em 2010, o índice já havia subido para 38%. Trata-se de uma resposta subjetiva a uma
questão que busca determinar quem, na casa, é responsável pela tomada das decisões mais importantes – o que não
quer dizer, necessariamente, que seja também seu provedor principal.
O IBGE também constatou um salto no número de pessoas que vivem sozinhas. Há uma década, os
solitários eram 4 milhões, responsáveis por 9% das casas. Hoje, são 7 milhões, o que totaliza 12% dos domicílios do
Brasil.
Mas as questões levantadas pelo censo também trazem informações fora do domicílio. Ao olhar o
resultado dos indicadores sociais, o que se nota é que o Brasil avançou em todos. A taxa de analfabetismo, por
exemplo, finalmente deixará de ser um problema – e a curto prazo. Hoje, 10% da população é analfabeta, mas um
corte estatístico relativiza essa informação. Acima dos 65 anos de idade, o analfabetismo assola 29% da população,
dos 10 aos 14 anos, apenas 4% não sabem ler e escrever. O futuro é promissor, portanto. Mas em alguns campos, o
Brasil avança a passos muito lentos. A infraestrutura é um exemplo.
A coleta de lixo, atualmente atende a 87% dos domicílios do país. É melhor que o índice de 79% registrado
em 2000. Na coleta de esgoto, a situação é pior. Em 2000, apenas 62% dos lares brasileiros tinham acesso a rede
coletora ou a fossa séptica. Uma década mais tarde, o número não passa de 67%. Na região Norte, a ampliação da
rede de esgoto nem sequer acompanhou o número da população.

e) Mudança demográfica faz elevar a procura por fertilização in vitro


Uma recente mudança demográfica está fazendo aumentar a procura pelos bancos de sêmen por parte de
um grupo de mulheres no Brasil que poderia ter engravidado naturalmente. Elas se viram sem alternativa ao
embarcar na faixa dos 40 anos sem contar com um parceiro. Dados do IBGE comprovam que o crescimento de
mulheres dessa faixa etária sem filhos cresceu 50% em uma década. O Brasil está repetindo o padrão de países mais
desenvolvidos, onde o aumento da longevidade adiou a idade da gravidez. A esse dado deve ser adicionado o fato de
que justamente entre os 30 e 40 anos as mulheres estarem mais envolvidas com suas carreiras. Elas poderiam
procurar parceiros fortuitos, nos moldes da velha produção independente, mas o anonimato da figura paterna lhes
parece mais adequado.
A procura dessas mulheres por ajuda de um especialista em reprodução humana tem contribuído ainda
mais para a desconstrução do sonho da família clássica: pai, mãe e filhos. Na década de 1990, o Pro-Seed, o maior
dos dois bancos de sêmen do país, era procurado basicamente por casais com problemas de infertilidade. Hoje, as
solteiras que querem se mães representam 30% das brasileiras que procuram o banco de sêmen.
No entanto, quem pensa que a decisão é uma questão de uma opção por menor esforço, engana-se. Na
inseminação in vitro, seguida da transferência do embrião para o útero, apenas 20% dos procedimentos são positivos
na primeira tentativa. A probabilidade de sucesso aumenta para 60% na terceira tentativa, segundo a Sociedade
Brasileira de Reprodução Humana, ou seja, somente as mulheres muito determinadas vão até o fim.
Além da determinação é preciso ter coragem para criar um filho sozinha. Embora essa já seja uma realidade
comum no Brasil, é diferente projetar criar um filho a dois e depois ter rever as expectativas, do que partir já da
certeza que estará sempre só.
Pior de tudo é que mais cedo ou tarde vão ter que explicar ao filho que, diferentemente dos seus amigos,
seu pai é desconhecido. Psicólogos defendem, com até certo consenso, que até os seis anos a criança já deveria
saber de tudo para evitar que prospere na cabeça da criança o sentimento de que foi rejeitado pelo pai.
Para além das dificuldades maternas, a questão, como tudo na genética, suscita uma discussão ética, (ou
deveríamos chamar de bioética?). A escolha do pai se dá nas clínicas. Lá se opta por detalhes como textura do fio de
cabelo, a constituição óssea e a cor da pele e dos olhos. Como os biotipos escolhidos envolvem o preconceito da
própria sociedade, há escassez daqueles mais escolhidos, que no Brasil são: pele alva e olhos azul ou verde.
O problema é maior porque há escassez de doadores. Países como os EUA e Inglaterra chegam a garantir
incentivo financeiro aos doadores de esperma. Ir a uma salinha onde o espermatozoide é coletado pelo método mais
artesanal possível parece uma experiência constrangedora para a maioria dos homens. Se os biotipos escolhidos são
basicamente os mesmos e há escassez de doadores, como evitar que filhos gerados pelo mesmo pai venham se
encontrar e casar na idade adulta? No Brasil a regra é que cada doador somente pode ser pai de duas crianças de
sexo diferente para cada meio bilhão de habitantes. Porém nos EUA, onde esse problema é enfrentado há mais
tempo, Wendy Kramer, fundadora do site Donor Sibling Registry, conseguiu registrar 150 filhos de um único pai.
19
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)

f) Pesquisa Genética Prospera no Brasil


Outro motivo que tem levado mulheres à inseminação artificial é a busca de cura para doenças hoje
incuráveis pelos métodos tradicionais da medicina. Um portador de talassemia major, por exemplo, tem de uma vez
por mês, pelo menos, receber transfusão de sangue. O procedimento é necessário para regular as taxas de
hemoglobina (proteína responsável pelo transporte de oxigênio) que o organismo com essa doença produz em
pequenas quantidades. A única esperança é o transplante de medula óssea.
Se fosse tentado ter uma criança pelo método natural, a probabilidade do novo filho ser compatível com o
irmão seria de um em quatro, mas se correria o risco novo bebê ter a mesma deficiência do anterior. Se esperasse na
fila por um doador, a tal possibilidade seria de um em 100.000, de acordo com a Associação de Medula Óssea.
Uma nova técnica especial de fertilização in vitro é capaz de selecionar não apenas um embrião saudável,
mas também compatível com o filho anterior. Com o teste, pode ser analisado o cromossomos 6, em que estão
localizados os principais genes associados ao processo de compatibilidade e rejeição. O primeiro caso de um irmão
doador escolhido por meio do teste de compatibilidade ocorreu nos EUA em agosto de 2000 e o Brasil também já
realiza esse procedimento.
O transplante ocorre logo após o nascimento, quando uma amostra do sangue é extraído do cordão
umbilical do recém-nascido e injetado no irmão, a fim de que as células-tronco ali contidas recomponham a
produção de hemoglobina.
O entrave não se resume aos altos custos dos equipamentos, à capacitação dos profissionais ou o preço do
teste. No Brasil ele custa em média 5 mil reais. O problema são as questões éticas e filosóficas: como explicar para
um filho que sua concepção se deu para salvar a vida de um irmão e não por desejo dos pais?

g) Ocupação da Rocinha
Ainda em novembro de 2011, a ocupação da Rocinha, favela do Rio de Janeiro, tida como a maior
da América Latina, ganhou destaque na imprensa nacional, a instalação de mais uma UPP, tida como o
maior avanço na Segurança Pública do país nos últimos anos, foi comemorada pelo governo e pela
imprensa. Passada a euforia da grandiosa operação, algumas perguntas ainda não foram respondidas
A primeira: as UPPs são instaladas para segurança de quem? Enquanto o governo carioca comemorava
a prisão do traficante Nem, os moradores do Alemão, ocupado há mais de um ano pelo Exército Brasileiro, sentem-
se acuados pelos militares. A prisão de Nem agora e a tomada do morro do Alemão em 2010 tem seus méritos
obviamente, mas o Ministério Público Federal quer ouvir as queixas dos moradores do Alemão sobre eventuais
abusos.
A segunda pergunta é mais difícil de responder, e surge da constatação oficial de que Nem era o CEO do
tráfico do morro. Então, cadê os operadores financeiros da organização? Certamente, esses não moram no morro e
nunca são presos. Sem conseguir dar aspectos de legalidade ao dinheiro conseguido ilegalmente, o tráfico não existe.
Não é possível imputar a traficantes semianalfabetos a tarefa de operadores financeiros.
O traficante Nem comandou por seis anos a favela da Rocinha, um dos mais lucrativos enclaves do crime do
Rio, graças a proteção de uma rede de policiais corruptos. Quem são eles? Essa é a terceira pergunta importante a
ser feita. Pois, ao chegarem à cabeça do tráfico, o risco de corrupção das novas forcas policiais de ocupação tem se
tornado evidente, as denúncias pipocam a cada dia. Será preciso punir exemplarmente os policiais corruptos para
que sirvam de exemplo para os jovens policiais das UPPs.
A oportunidade de chegar até àqueles que “lavam” o dinheiro do tráfico, de melhorar a vida daqueles que
estiveram sob jugo do tráfico e de eliminar os policiais que os protege é impar. Sem esse avanço não se poderá dizer
que a vitória contra o crime organizado tenha sido completa.

h) Greve na Bahia expõe o problema das polícias11


A população atemorizada, o número de homicídios em crescimento a cada dia, a suspeita de participação
de policiais nos ataques a ônibus e até em mortes, a possibilidade cada vez mais próxima da não realização do
carnaval, e, sobretudo, a perspectiva de que a greve se espalhasse país afora deixaram o Brasil inteiro sob suspense

11
MENEZES, Cynara. O Ovo da Serpente (com adaptações). In CartaCapital nº 683, 15 de fevereiro de 2011.
20
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
em fevereiro deste ano. Terminada a crise, permanece a sensação de que se trata de uma solução momentânea, um
paliativo. Algo vai mal na segurança pública e não só na Bahia.
Centro da atenção nacional por conta da radicalização dos grevistas da Polícia Militar, a Bahia é o décimo
primeiro estado brasileiro a enfrentar uma crise do tipo nos últimos meses, pois os tempos futuros não se desenham
menos turbulentos. Outras seis unidades da federação – Rio de Janeiro, Pará, Paraná, Alagoas, Espírito Santo e Rio
Grande do Sul – estão às voltas com movimentos reivindicatórios de suas polícias. O clima de tensão será algo
recorrente daqui para a frente, vaticina o historiador Ricardo Balestreri, responsável pela Secretaria Nacional de
Segurança Pública no segundo mandato do presidente Lula. “Os governadores não têm como resolver sozinhos essa
crise, o governo federal precisa ajudar com recursos”.
É algo crônico, decorrência dos péssimos salários pagos ao policial militar, somado ao fato de ele ter que
arriscar a vida diariamente em defesa da sociedade. Um trabalho duro, feito em péssimas condições, que somado ao
imenso poder que dispõem, temos vários barris de pólvora acesos, vez por outra um explode. As pseudo-soluções
são sempre as mesmas: os governos estaduais pedem ajuda emergencial do governo federal, que envia as Forças
Armadas ou a Força Nacional, ou então as duas. O movimento é sufocado de forma artificial e no ano seguinte, ou no
máximo no período de dois anos, como temos acompanhado, a crise volta ainda pior. A cada nova greve da polícia o
fator da violência tem se tornado mais grave. A ação dos governos é repressiva, sobre as consequências e não
preventiva, sobre as causas.
Apesar de teoricamente vedadas pela Constituição - alguns advogados interpretam de forma diferente -, já
aconteceram neste ano greves de PMs no Ceará e Pará e na Bahia. Segundo especialistas, desde 1997 foram mais de
300 paralisações de agentes de segurança pública no Brasil. Além da gravação que resultou na prisão do principal
líder da greve baiana, o ex-PM Marco Prisco, e do policial Antonio Angelini, foi divulgada uma conversa entre a
deputada estadual Janira Rocha (PSOL-RJ) e o cabo bombeiro Benevenuto Daciolo, que comprovou a intenção dos
policiais de fazerem uma paralisação de caráter nacional.
Janira, que em um primeiro momento não foi identificada, instruía Daciolo a não deixar a greve na Bahia
acabar antes de ser decidida a paralisação carioca. "Daciolo, Daciolo, presta atenção. Está errado fechar a negociação
antes da greve do Rio", sugeria a deputada. O cabo foi preso assim que desembarcou no aeroporto Tom Jobim, vindo
da Bahia, e a deputada está ameaçada de sofrer um processo na corregedoria da Assembléia fluminense. Por trás da
movimentação dos policiais está a pressão pela aprovação do Projeto de Emenda Constitucional (PEC) de número
300, que prevê um piso salarial para bombeiros e PMs, atualmente à espera de um segundo turno de votação no
Congresso.
A presidente Dilma Rousseff trabalha pela rejeição da PEC. Argumenta não haver caixa para pagar o
reajuste e teme que outras categorias, como as Forças Armadas, se sintam estimuladas a seguir o exemplo e exigir
isonomia salarial. Os governadores não são exatamente contra a proposta, pois a maioria do custo em tese caberia à
União, mas também tiram o corpo fora na hora de arcar com a despesa. No dia 9 de fevereiro, o secretário de
Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, declarou-se publicamente favorável ao projeto. "É muito bem-
vinda, mas tem de se ver de onde vai sair o recurso para se pagar. Só aprová-Ia não é o caminho mais coerente. Tem
de se dizer também como ela vai ser paga", afirmou após reunião no Senado.
A questão está nas mãos de técnicos que analisam as questões em termos de gastos imediatos e não levam
em conta quanto o Brasil despende por ano com o sistema hospitalar, pelas ocorrências oriundas da criminalidade.
Além das vidas perdidas, algo irrecuperável, é preciso contabilizar quanto se gasta com os mais de 40 mil homicídios
e o custo do envio de tropas federais para controlar os policiais rebelados. Esses tecnocratas não conseguem
perceber a relação entre segurança pública e desenvolvimento.
O próprio governador da Bahia, Jaques Wagner, reconheceu a necessidade de melhores salários para os
policiais brasileiros. "Sempre vai existir insatisfação da PM, que quer ganhar mais. Se tivesse dinheiro para pagar a
PEC seria ótimo, mas ela é impagável." Já a presidente não quer saber de conversa sobre aumentos salariais em um
momento de crise internacional e, pelo visto, está disposta a endurecer para garantir que não haja novas
paralisações. Dilma se mostrou indignada ao saber que Wagner fora surpreendido pela ocupação da Assembleia
pelos grevistas quando ambos estavam em visita oficial a Cuba.
Decidida a estancar a mobilização em outros estados, a presidente imediatamente ordenou o envio de
homens do Exército e da Força Nacional para Salvador a fim de garantir a ordem pública. Mais tarde, disposta a
sinalizar aos policiais amotinados que não estava para brincadeiras, chegou a substituir o general Gonçalves Dias,
comandante da operação, por causa da foto em que ele aparecia alegre diante do bolo de aniversário que lhe foi
21
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
oferecido pelos manifestantes na terça-feira 7. O Planalto negou a troca, mas desde então a chefia de fato passou
para o.general Odilson Sampaio Benzi, do Comando Militar do Nordeste, que endureceu o cerco aos grevistas.
Após a desocupação da Assembléia, a presidente fez questão de se declarar contrária à anistia solicitada
pelos policiais baianos. "Por reivindicar, as pessoas não têm de ser presas ou condenadas, mas por atos ilícitos, por
crimes contra o patrimônio, crimes contra a pessoa e contra a ordem pública não podem ser anistiados", afirmou
durante a vistoria de obras da ferrovia Transnordestina, no sertão pernambucano. "Se anistiar, vira um país sem
regra. Não consideramos que seja correto instaurar o pânico, o medo é criar situações que não são compatíveis com
a democracia."
"Estarrecida" com as gravações divulgadas, como ela mesma se declarou, a presidente condenou
veementemente a forma como aconteceu a greve dos policiais baianos. "Não considero que aumento de homicídios
na rua, queima de ônibus e entrada em ônibus encapuzado sejam uma forma correta de conduzir o movimento."
O principal erro dos grevistas, além da flagrante incitação à desordem por parte de seu líder, foi invadir a
Assembleia antes de qualquer possibilidade de negociação. O governo baiano também cometeu as suas falhas. O
maior deles foi não haver percebido, ou ter ignorado a insatisfação da tropa. Há quase 15 anos os policiais militares
do estado têm sido iludidos com promessas eleitorais não cumpridas a respeito da incorporação de gratificações ao
salário, a chamada GAP. Aprovada às pressas pelo então governador Paulo Souto para acabar com uma paralisação
em 1997, a GAP foi desdobrada em cinco parcelas ao longo dos anos, mas ainda não foi paga integralmente.
Em 2001, nova greve seria contida com a renovação da promessa de pagamento pelo governador César
Borges. Em 2009, seria a vez de Wagner garantir aos policiais que a GAP enfim sairia. Um dos maiores impasses da
greve atual foi o fato de, segundo os policiais, Wagner haver chegado à publicar no Diário Oficial a decisão de pagar a
gratificação. O governador afirma que o texto falava em "analisar" o assunto, não em cumprir. "É verdade, mas foi
uma malandragem. Na hora de publicar no DO, a palavra "cumprir" foi trocada por "analisar"", disse a CartaCapital
um oficial da PM.
A paralisação na Bahia expôs como as promessas de campanha não cumpridas podem se tornar perigosas.
Durante a ocupação da Assembleia, os manifestantes reproduziam a todo instante no carro de som um discurso
onde o então deputado federal Jaques Wagner, na oposição, dizia achar "um absurdo" os salários dos policiais e
prestava apoio à greve de 2001. Cinco anos depois, ao se candidatar ao governo, Wagner mostraria no programa
eleitoral da tevê o contracheque de um soldado para criticar a miséria dos soldos. O dono do contracheque era
ninguém menos que Marco Prisco, o líder grevista enviado ao presídio de Salvador. Resumindo: Wagner embalou o
ovo da serpente.
Desde o ano passado, no Rio Grande do Sul, o também petista Tarso Genro enfrenta dificuldades
semelhantes com os policiais militares por causa do não cumprimento de uma promessa de campanha: pagar um
piso de 3,2 mil reais até 2014. "Quando a gente é candidato tem de tomar cuidado, senão promete o céu, as estrelas,
a lua, tudo. Aí, quando assume, vê que tem a Lei de Responsabilidade Fiscal e que não é bem assim", avaliava o
deputado estadual Sargento Isidoro, da base do governo Wagner, que se lançou à política após liderar a greve de
2001 e ser preso, outro deputado da base governista oriundo da mesma paralisação foi o Capitão Tadeu, para quem
Wagner foi o governador que mais valorizou os policiais até hoje, mas errou ao criar uma expectativa muito grande
para a categoria. "Sinto que nos últimos anos o PM moderado começou a ficar mais radical. Há um clima de
frustração". Ao conceder em 2009 um reajuste maior para os policiais civis, o governador piorou sua imagem perante
a tropa. Na capital, é palpável a insatisfação de soldados. Até mesmo entre os militares que trabalham na sede do
governo há PMs que apoiavam a paralisação por considerar as reivindicações "justas".
"Não é só salário. Ninguém conversa com os policiais para fazer um plano de carreira, não existe por parte
dos governantes o menor interesse em atender às necessidades básicas desses servidores· públicos", critica Carlos
Alberto da Costa Gomes, coordenador do Observatório de Violência da Bahia. "Aqui no estado, cortaram as
graduações sob o pretexto de que não é uma organização militar, o que tornou possível que um PM baiano, da
mesma geração do coronel que comanda a polícia em São Paulo, esteja três patentes abaixo. O sujeito passa 25 anos
como praça, só vira oficial quando se aposenta."
Uma das propostas feitas por Wagner para satisfazer os grevistas foi a retomada das graduações de cabo e
subtenente. Além disso, se comprometeu a cumprir as duas últimas etapas do pagamento das gratificações tão
esperadas pelos policiais: a GAP 4 a partir de novembro deste ano e a GAP 5 até 2015.
Especialistas advertem que, apesar do componente local da crise na segurança pública da Bahia, as
recentes greves apontam para a necessidade de rediscussão do próprio modelo, extensão e funcionamento da
22
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
polícia no Brasil. "É hipertrofiado. A PM de São Paulo, por exemplo, tem o tamanho de um exército. A partir de 15 mil
é ingovernável. A Bahia tem 30 mil. Eficiência não é tamanho, é melhora do relacionamento da população. Os
americanos, por exemplo, optaram por um modelo com pequenas forças policiais", diz Eduardo Paes Machado,
especialista em Segurança Pública e Violência Urbana da Universidade Federal da Bahia.
Segundo o sociólogo Renato Sergio de Lima, secretário-geral do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, está
em jogo um modelo de segurança caro e ao mesmo tempo falido. "União, estados e municípios gastam anualmente
48 bilhões de reais em segurança pública. É cerca de 1,36% do PIB, o mesmo que a França. E ainda assim temos taxas
altas de violência, de letalidade policial, insegurança e péssimos salários".
Infelizmente, os anos se passam, na Bahia e fora dela, os governos se sucedem e ninguém parece
interessado em equacionar o problema, a não ser nos momentos de conflito. Mas se todos os barris de pólvora
estourarem ao mesmo tempo...

3 – Direitos Humanos: Polícia X Cidadãos


A situação tensa apontada acima expõe outro problema: o risco às garantias fundamentais e aos Direitos
Humanos. Defender os Direitos Humanos e denunciar os desrespeitos às Garantias Fundamentais é uma obrigação
de todos, mas não é fácil. Parece óbvio que qualquer ser humano deva ser tratado com respeito, mas o que ouvimos
é que os “direitos humanos só servem para proteger bandidos”! Nada mais sem sentido. Torna-se até difícil criticar
um discurso que não tem conexão alguma com a realidade, uma retórica inventada pelos defensores dos abusos,
uma mentira tão repetida, que parece verdade. Pior que o discurso conservador, é lógica capitalista liberal que se
propaga por todo o canto e só se pensa na primeira pessoa do singular, eu, eu, eu, dez mil vezes eu e o resto... é
resto! E recolhemos mais uma vez os cacos e refazemos denúncias para um público cada vez mais diminuto,
enquanto a turba ensandecida e fortalece e advoga pelo linchamento.
Mas não nos damos por vencido. Talvez sejamos eternamente minoritários, em muitos casos derrotados
mesmo, e outra vez afirmamos: os Direitos Humanos são a única base possível da humanidade, a única discussão que
se pressupõe universal de saída, aquilo que podemos concordar em qualquer lugar independente da diversidade
cultural, que deve ser respeitada, a única coisa que não se pode negociar, a dignidade da pessoa humana!
A dignidade da pessoa é a base dos Direitos Humanos, por isso deve ser garantido à cada pessoa liberdade.
Liberdade de escolha, de ir e vir, liberdade de pensamento, de expressão, liberdade para que não seja obrigada a
nada, a não ser por força da lei. Para que exista dignidade também é preciso acreditar no ser humano, saber que ele
é dotado de capacidade, de consciência. Assim é preciso reconhecer que o ser humano é capaz de, por seu arbítrio,
governar-se e escolher o seu destino, individualmente ou coletivamente, através do voto. Para que exista dignidade
é preciso ainda que haja Justiça Social, que se garanta ao ser humano uma parcela na riqueza que foi socialmente
construída, como a saúde, a educação, o lazer, que se tenha trabalho justo. É preciso que se protejam os mais
frágeis, as crianças, os idosos, as mulheres, os menos favorecidos.
Como defender tudo isso, num país onde uma Comissão é criada para esclarecer o passado é atacada por
todos os lados, sobretudo a acusação de “revanchismo”? Se saber a verdade é revanchismo, que venha a revanche!
Como defender os Direitos Humanos num país onde a polícia entra numa das maiores universidades do país, espanca
os estudantes e tem sua atuação referendada pelo governador? Como defender dignidade, num país onde a Justiça
determina em favor de um dos maiores falsários do país a reintegração de posse de um terreno, sem levar em
consideração onde serão “jogadas”, as oito mil pessoas que ali estavam. Como falar de qualquer outra coisa num
país onde ainda existe trabalho escravo?
Como a cada atualização deste Temas mais Debatidos pela Mídia há diversas denúncias de desrespeito aos
Direitos Humanos, o parágrafo acima trata das que forma mais noticiadas pela imprensa, mas vamos nos aprofundar
em apenas uma delas: a truculência da polícia paulista, que bateu todos os recordes nesses meses, a partir da
reportagem de Rodrigo Martins e Willian Vieira12, vamos analisar a atuação de PM paulista e os meios para melhorá-
la, o que certamente poderá ser ampliado para todas as polícias brasileiras.
A situação vem se repetindo com frequência nos últimos meses. A cada ordem da Justiça ou decisão
governamental para interferência em uma área onde haja pessoas a demandar seus direitos, a cada possibilidade de
confronto surgida da falta de diálogo seguem-se relatos e imagens de brutalidade e despreparo. Em 3 de dezembro a

12
MARTINS, Rodrigo e VIEIRA, Willian. A Truculência como Padrão. In CartaCapital nº 682, 1 de fevereiro de 2011.
23
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
PM escorraçou centenas de viciados da Cracolândia paulistana, com motos, cavalos, spray de pimenta e até balas de
borracha. Discutiu-se depois a ausência de articulação entre prefeitura, estado e União, a falta de um projeto de
longo prazo. Em outubro, a prisão de alunos na USP devido à posse de maconha gerou outro confronto, com invasão
da reitoria e protestos pela saída da PM do campus. A alegação: os policiais tolheriam liberdades individuais. Ainda
que o índice de criminalidade na região não parasse de assustar os alunos, eles queriam a PM longe. Em 10 de
janeiro, um PM, entre os chamados para retirar alunos que ocupavam um centro de convivência, apontou uma arma
para um estudante dentro da USP, distribuiu empurrões e deu um tapa no rosto dele, o que em qualquer país sério
teria gerado a expulsão do policial, ou até o levado para cadeia.
À parte os casos famosos, um universo de abusos envolve a ação da Polícia Militar em todo o Brasil. Mas
em São Paulo o espaço entre uma e outra denúncia grave é curto. Quanto mais a sociedade precisa da PM, mais ela
exibe as entranhas de seus problemas: uma corporação militarizada, despreparada para lidar com o público a quem
lhe caberia defender, marcada por uma ideologia conservadora atrelada a tempos não democráticos e fragilizada por
más condições de trabalho. E, pior, a mesma estrutura deficitária não dá conta de fiscalizar e corrigir desvios
policiais. As ouvidorias são engessadas. As corregedorias, filhas do mesmo sistema. O que emerge desse cenário é
uma atuação truculenta e ineficaz. “Esse modus operandi violento é característica de toda força que opera com
grande margem de arbítrio na ponta (policiais de rua) e sem responsabilização pelas ações abusivas, sem controle
institucional, o que abre grande margem para abusos e impunidade”, explica a cientista política Thais Battibugli,
pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência e Segurança da Unesp.
Mesmo após a Constituição de 1988, tida como a Constituição cidadã, há uma cultura policial violenta e
repressiva. Para Battibugli, o cotidiano de abuso policial pode ser mais bem compreendido pelo abismo entre o
delegado e o soldado – o fato de os policiais em contato com a população pertencerem ao mais baixo escalão, com
menos preparo técnico, menos escolaridade e menor salário da corporação, mas com grande margem de arbítrio.
“Aqueles que deveriam controlar-lhes o desempenho, os oficiais mais graduados, não têm condições de avaliar-lhes
a conduta cotidiana por não realizarem atividade de policiamento. Assim as policias deixam em segundo plano
justamente a relação como o cidadão e as possíveis arbitrariedades do policial”.
O modelo também é falho na formação dos policiais: é o baixo nível de exigência para ingresso e
permanência nas Forças, o que explica a falta de tato no dia a dia da PM, explica Luiz Antônio Francisco de Souza,
pesquisador do Observatório de Segurança Pública da Unesp. “Deve-se formar policiais para fazer uso moderado e
proporcional da força, com ações padronizadas e revisadas. E identificar claramente qual é o papel da polícia, para
que ela não tenha de resolver problemas que não são seus, e exatamente porque não está apta para fazê-lo. Se não
há preparo e cuidado, a ação resulta em abuso e conflito.”
Em tese, a estrutura policial conta com uma estrutura de contrapesos para equilibrar tanto poder
concentrado, Ouvidoria e Corregedoria. Responsável por acompanhar a atividade policial e cobrar investigação dos
desvios cometidos pelas forças de segurança as ouvidorias têm colecionado denúncias de abuso das PM Brasil afora.
Mas as ouvidorias não pode fazer mais do que pedir investigações das corregedorias. O detalhe é que os
corregedores fazem parte da mesma polícia. Deixam as ruas para investigar os próprios colegas, expondo-se ao
constrangimento de investigar seus iguais e sofrer retaliações – a maior das quais ter de voltar a atuar como policial,
lado a lado com aqueles os quais investigara.
A questão é tão importante que a 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública, realizada em 2009,
sinalizou para a necessidade de as corregedorias e ouvidorias de polícia possuirem autonomia, com carreira e
dotação orçamentária próprias. “Nos EUA, as polícias estão fortemente armadas, mas a taxa de letalidade policial é
baixa. Por quê? Há corregedoria e órgãos de controle muito eficazes”, afirma o sociólogo Sérgio adorno,
coordenador do núcleo de estudos sobre violência da USP. “Se um policial mata um suspeito, a arma dele é
imediatamente recolhida e inicia-se uma criteriosa investigação sobre as circunstâncias daquela morte, para avaliar
se o dispara era indispensável”. No Brasil, a impunidade impera.
Cláudio Beato, pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança da UFMG, diz que o
importante numa boa polícia é que ela seja capaz de prestar contas. Para simplificar a interlocução com a sociedade,
seria preciso unificar as polícias Civil e Militar numa só organização, capaz de realizar o patrulhamento e
policiamento ostensivo, além de investigar de forma harmônica. “Esse formato estranho terminou consagrado pela
Constituição por força dos lobbies das polícias e interesses puramente corporativos. Mas não funcionou. Como
nunca foi detalhada uma legislação infraconstitucional definindo a relação entre as polícias, elas terminam por
realizar atividades superpostas e sem compartilhar dados”. Não à toa entre as diretrizes aprovadas pela conferência
24
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
citada acima está a proposta de unificar e desmilitarizar as polícias estaduais, parecer que ganhou corpo no Projeto
de Emenda Constitucional (PEC 430), em tramitação na Câmara.
É verdade também, que desde 1988 houve avanços. O simples fato de a PM ser cobrada a dar satisfação
sobre o uso da força em suas intervenções tem produzido mudanças na corporação. Sobretudo nos últimos anos, a
PM paulista aumentou o tempo de formação de praças – o curso de formação de soldados dura cerca de um ano, o
dobro do Rio de Janeiro –, e incluiu disciplinas de Direitos Humanos e policiamento comunitário. De acordo com as
estatísticas oficiais, o número de homicídios no estado cai ano a ano. Em 2011 a taxa foi 10,01 homicídios para cada
100 mil habitantes, redução de 4,39% em relação a 2010. A taxa de letalidade da PM também está em queda. Passou
de 524 mortes em 2009 para 438 no ano passado. Mesmo assim a taxa é elevadíssima e recomenda-se cautela ao
analisar os números. Se considerarmos a Rota, a tropa de elite paulista, ela passou de 46 homicídios em 2007, para
82 em 2011.
A História de truculência da polícia paulista não é nova e remonta quase dois séculos. O então presidente
da província de São Paulo, o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar fundou em 1831 a Guarda Municipal Permanente,
embrião da atual Polícia Militar Paulista. Integrada por 130 homens recrutados das camadas populares, a milícia
tinha dupla finalidade: defender a ocupação do território de invasores e manter a ordem pública. Oficiais franceses
foram contratados para “adestrar” a tropa, que sempre teve estrutura militarizada. A partir da década de 1930, a
milícia passou a intervir nos problemas decorrentes do desordenado processo de urbanização e industrialização. Sem
terras, os imigrantes acabaram criando favelas. A delinquência veio em seguida. E a polícia foi utilizada para reprimir
os pobres que cometiam roubos e furtos. Papel semelhante da PM de hoje. “É mais fácil manter a ordem assim do
que resolver os passivos sociais”, diz o ouvidor da Polícia paulista, Luis Gonzaga Dantas, militante dos Direitos
Humanos. “A ditadura consolidou a estrutura militarizada da polícia. A Constituição de 1988 não alterou esse modelo
e os governos continuam a empregar a PM para resolver impasses sociais. Só que isso é incompatível com uma
sociedade democrática. Os cidadãos não estão mais sobre a tutela dos militares. A polícia precisa redefinir seu
papel”, conclui.
Um modelo mais humanizado, em que a PM assuma o papel de defensora do cidadão e não de algoz dos
menos favorecidos, surge no horizonte com o policiamento comunitário, no qual o convívio entre os policiais e
comunidade civil favorecere os subsídios para o combate ao crime. “O policiamento comunitário é uma política que
deu certo e foi implantada com zelo, competência e persistência”, diz Souza, da Unesp. A PM tem casos de sucessos
para mostrar. A experiência da Base Comunitária de Segurança do Jardim Raniere, na zona sul de São Paulo,
comunidade paupérrima cravada entre os violentos bairros Jardim Ângela e Capão Redondo, conquistou prêmios e
foi escolhida como uma das cinco melhores práticas de policiamento comunitário do mundo pela Agência de
Aprimoramento Profissional do Reino Unido. Os policiais visitam comerciantes e moradores, estreitam laços de
amizades e, assim, conquistam a confiança dos cidadãos para denunciar práticas criminosas. Entre 2002 e 2005, os
índices de homicídios na região desabaram 52%.
Por que esse modelo não se torna padrão em situações menos ostensivas? Qualquer que seja a definição
de polícia comunitária, é uma forma de policiamento muito cara, porque exige um grande número de policiais
dedicados e bem preparados para esse tipo de abordagem com o público. O que se precisa é de estruturas
descentralizadas, com uso de tecnologia, definição de metas e adoção de uma gestão por resultados e prestação de
contas.
Após ações policiais violentas e sem respaldo humanitário ou social, o governo de São Paulo colhe os
frutos: uma horda de desabrigados e uma vergonhosa denúncia à OEA. Apesar disso, a população aprovou a
truculência. 82% dos paulistanos apoiam a ação na Cracolândia e acham que a ação da polícia foi correta.

4 – política
a) Lula contra o Câncer13
No dia 29 de outubro de 2011, o ex-presidente Lula anunciou ter sido acometido por um câncer de Laringe,
um dia após ter sido diagnosticado a doença pelos médicos. Imediatamente após o anúncio da doença, começaram
as manifestações nas redes sociais. No Twitter, a hastag #Força Lula# ocupou durante várias horas o primeiro lugar
entre os tópicos mais comentados do fim de semana. Em paralelo, começaram surgir, também, aqueles que diziam

13
MENEZES, Cynara. Doentes de Ódio (com adaptações). In CartaCapital nº 671, 09 de novembro de 2011.(pp 30-34).
25
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
“bem feito” para a doença do ex-presidente e os que questionavam por que ele optou por se tratar em um hospital
privado e não pelo Sistema Único de Saúde. No caso específico da utilização do SUS, o absurdo seria o ex-presidente,
que paga plano de saúde, utilizá-lo, pois além de ocupar vaga de quem não pode pagar plano, estaria aliviando os
gastos obrigatórios de uma empresa privada em prejuízo do setor público.
O colunista da Folha de S.Paulo Gilberto Dimenstein, que havia publicado um curto texto no qual dizia que
o câncer de Lula iria servir “de lição” para os tabagistas contumazes, teve uma grande onda de comentários que o
levou a publicar um novo artigo, “O câncer de Lula me envergonhou”, no qual dizia ter sentido um “misto de
vergonha e enjoo” com os leitores. “Foi uma enxurrada de ataques desrespeitosos, mostrando prazer com a tragédia
de um ser humano”, escreveu, o crítico de Lula, Dimenstein.
Felizmente, a oposição partidária brasileira não seguiu o mesmo caminho do ataque num momento de
drama pessoal. Um dos primeiros a se lançarem em defesa de Lula foi Fernando Henrique Cardoso, que atribuiu ao
recalque de setores da sociedade, os comentários raivosos. Geraldo Alckmin, governador de São Paulo e adversário
de Lula na eleição de 2006, e Roberto Freire, deputado pelo PPS e um dos mais ferrenhos opositores dos governos
Lula e Dilma, também demonstraram solidariedade pública.
De uma maneira geral a transparência de Lula foi elogiada por toda a imprensa, ainda mais com o exemplo
do presidente Hugo Chávez na Venezuela a exaltar o desastre da falta de informação. Lá as informações truncadas –
o presidente alega estar totalmente curado, mas há informações de médicos que dizem ter participado do
tratamento, que o presidente não sobreviverá por mais dois anos – inviabilizam o debate político e a sucessão.
Aqui, embora tenha ficado restrito a ataques pessoais a internet, a situação demonstra que o preconceito
de classe ainda se mostra feroz.

b) O PSD reestrutura a política partidária


A justiça eleitoral aprovou no início de outubro de 2011 a criação do Partido Social Democrático (PSD).
Idealizado por Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo, o PSD é o 28º partido brasileiro. A nova legenda, que nasce
com dois governadores e mais de cinquenta deputados, será aliada, segundo Kassab, de todos os governadores. O
PSD não fará oposição a ninguém, ou seja, será apartidário.
O problema da quantidade enorme de partido e que nada representam está na própria Constituição de
1988, que criou um pluripartidarismo ilimitado. Entretanto até aqui, havia certa distância entre os partidos, mesmo
que haja muito em comum. Por exemplo, a parcela do PSDB que chegou ao poder com FHC, representa o
neoliberalismo; no PT a bandeira é o desenvolvimentismo, com Estado forte e centralizador; o DEM (ex-PFL)
representa os setores conservadores da sociedade e a direita propriamente dita, o PMDB, embora não tenha cara, é
um partido que tem uma política voltada para as questões regionais. Agora surge o PSD, que nas palavras de Kassab:
“não fará oposição pela oposição. Faremos política para ajudar o país. O partido não é de centro, nem de direita,
nem de esquerda”.
Para Kassab, o partido se tornou um grande trampolim, pois lhe permitiu se transformar de um líder
regional em um grande articulador nacional, líder do quarto maior partido do país, maior inclusive do que o DEM,de
onde se originou. A presidente Dilma Rousseff deve ter comemorado o fato, não só porque o PSD enfraqueceu a já
diminuta oposição, mas porque o partido pode ser um ponto de equilíbrio em meio a disputada desestabilizadora
dos dois principais partidos de sua base, o PT e o PMDB.

c) Royalties: a guerra do Pré-Sal


O impasse persiste nas negociações pelos royalties do petróleo e a discussão pode acabar nas barras dos
tribunais. Os estados produtores não aceitaram a proposta aprovada pelo Senado, do senador Wellington Dias, que
garante a distribuição de todas as áreas já licitadas prevendo uma receita de 8,4 bilhões de reais para os estados não
produtores já a partir de 2012.
O governador do Rio de janeiro, Sérgio Cabral, afirma que se a proposta não for derrubada na Câmara o
estado recorrerá ao Supremo: “é um princípio constitucional: estados e municípios produtores têm direito adquirido
sobre royaltieis dos campos já licitados”, afirmou.

26
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
5 – Cultura & Esporte: A Queda de Ricardo Teixeira
Depois de anos de acusações, desculpas mal contadas e uma condenação no exterior, enfim, Ricardo
Teixeira na entrou na mira da Polícia Federal. O chefe da ex-CBF passou a ser investigado por remessa ilegal e
lavagem de dinheiro. Em meio às acusações, que certamente manchariam a sua atuação na Copa do Mundo do
Brasil, Teixeira tentou arranjar um "laranja" para que ele pudesse contralar tudo dos bastidores. O escolhido foi
Ronaldo, que, arriscando sua reputação, aceitou assumir o comitê organizador, para desviar os holofotes do cartola.
Mas o jogo de cena do cartola não funcionou, a presidente Dilma desautorizou o comitê organizador a
assumiu direto com a Fifa a responsabilidade de organização do mundial de futebol. Pior, envolvido em escândalo de
corrupção e chantageado por antigos aliados, Ricardo Teixeira teve de deixar a presidência da CBF dois anos antes da
Copa do Mundo no Brasil.

6 - Notas
a) Saúde.
Prefeitura ameaça invadir 421 imóveis com focos de dengue. Secretário de Saúde do Rio, Hans Dohamann,
diz que mosquito está vencendo a guerra. Pela primeira vez, a prefeitura do Rio autorizou agentes de saúde a invadir
imóveis para exterminar focos de mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue. Preocupado com a possibilidade
de o Rio viver a pior epidemia de dengue da história, o prefeito Eduardo Paes determinou que imóveis que poderão
ser invadidos e seus proprietários multados por não eliminarem os criadouros do mosquito. O quadro delineado
pelas estatísticas da Secretaria de Saúde mostra que 66% das pessoas contraíram a doença em casa.
Cirurgia Robótica. Foi realizada com sucesso a primeira cirurgia totalmente robótica do país para
implantação de uma ponte mamária em um paciente vítima de infarto.

b) Política
Fraudes já provocaram cassação de 274 prefeitos. Desvio de dinheiro público, licitações fraudulentas e
compra de votos estão entre os crimes que já levaram a cassação de 274 prefeitos eleitos em 2008, 4% do total.
Levantamento feito pela Confederação Nacional de municípios mostra que 38,1% perderam os mandatos por
improbidade administrativa e 36,9% por infrações nas eleições. O ritmo das cassações pode aumentar ainda mais na
avaliação de especialistas. O estado do Piauí é o recordista: dos 224 prefeitos eleitos, 50 não vão terminar a gestão.
Para o Ministério Público, na maioria dos casos, a prática de crimes contra o patrimônio é feita de maneira dolosa.
A Fundação Sarney é nossa! Ou pelo menos a conta. Em crise, a Fundação Sarney será mantida com
dinheiro público. Resumindo: não só o Maranhão mandam os Sarney, mas em todo país.
Negromante não escapa à degola. Sempre cabe mais um, o ministro do PP é o sétimo do governo Dilma a
cair por suspeitas de corrupção.

c) Economia
A prosperidade de Niterói reluz na Baia de Guanabara. Segundo o último censo demográfico, a cidade
fluminense alcançou duas proezas: em primeiro lugar, passou a exibir a maior renda domiciliar per capita do Brasil.
Cada niteroiense leva para casa, em média, 2.030 reais por mês. O aumento da renda abriu caminho para a segunda
façanha: Niterói tornou-se o município com a maior proporção de ricos do país - 31% da população pertence a classe
A. Com predicados assim, já é a estrela mais brilhante de uma constelação de cidades que dinamizaram boa parte do
recente ciclo de crescimento econômico e bem-estar. São municípios que, apesar de não serem capitais de estado,
atraíram população, que supera a marca de 200.000 habitantes, e hoje oferece as pessoas os benefícios das capitais.
Ha 106 cidades nessa situação. Juntas, elas abrigam 20% dos brasileiros e produzem 28% do PIB do país.

d) Segurança Pública
Briga em família tradicional deixa três mortos em São Paulo. Briga por herança é a causa mais provável de
uma tragédia em SP: Francisco Miranda de Almeida Prado matou a tiros as duas irmãs, em Jaú e cometeu suicídio.

e) Justiça

27
Professor Alexandre Pinto
Temas mais Debatidos pela Mídia (2-2012)
Caso Eloá tem pena máxima. O réu fez discurso de vítima e sua advogada tentou tumultuar o julgamento,
mas nada adiantou: o assassino de Eloá foi condenado a 98 anos de prisão.

f) Questão Socioambiental
"Metrópole de assentados" ameaça floresta. No Pará, pelo menos 1,3 milhão de pessoas vive em
assentamentos - 17% da população do estado - mostram dados do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da
Amazônia Imazon. A região é palco de irregularidades como venda de lotes, avanço sobre a floresta e negociação
com madeireiros.

g) Previdência
Alterada as regras da aposentadoria do funcionalismo. Igualado o teto das aposentadorias e pensões
publicas ao INSS. Agora quem entrar no Serviço Público, quando for se aposentar e quiser receber salários acima do
teto terá que contribuir para um fundo complementar. A atitude do governo visa reduzir os déficits.

28

Das könnte Ihnen auch gefallen