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O que mudou na economia?


Crítica à noção de equilíbrio em economia não faz mais sentido nos dias de hoje

O matemático John Nash, prêmio Nobel de Economia de 1994 - Fred Prouser/Reuters

15.mai.2018 às 5h00

Apesar dos enormes avanços das últimas décadas, a economia ainda tem
muitas questões em aberto. Em diversas áreas persistem os tais dos
“puzzles” ou paradoxos, em que os dados insistem em contradizer resultados
teóricos canônicos, desde o comportamento de consumidores e empresas
até a formação de preços no mercado financeiro.

A profissão de economista é frequentemente alvo de críticas. Entre elas estão


a pouca atenção dada a problemas no sistema financeiro que levaram à crise
de 2009, a dificuldade de replicar e generalizar resultados empíricos, e a
excessiva participação masculina (https://www.nytimes.com/2018/02/02/business/why-womens-
voices-are-scarce-in-economics.html) em seus quadros.

Críticas são cruciais. Elas nos forçam a repensar estratégias para entender o
mundo a nosso redor. Ajudam, por exemplo, no melhor desenho de políticas
públicas, prevenindo o aparecimento de resultados inesperados indesejados.

Entretanto, boa parte das críticas que acabam chegando ao público geral não
faz sentido, pois refletem o estado da profissão há uns 40 anos. Nas últimas
décadas, a economia mudou bastante, e diversos desses pontos foram
incorporados ao arsenal do economista.

Um exemplo desse tipo de crítica é o artigo do professor John Rapley, da


Universidade de Cambridge, recentemente traduzido para o português pelo
jornal Nexo (https://www.nexojornal.com.br/externo/2018/02/17/Poucas-coisas-s%C3%A3o-t%C3%A3o-perigosas-
como-economistas-com-%E2%80%98inveja-de-exatas%E2%80%99). Rapley ataca dois aspectos da

economia: a noção de equilíbrio e a falta de uma “pegada” empírica por parte


da profissão. 

1.     A NOÇÃO DE EQUILÍBRIO

A primeira coisa que vem à cabeça de quem estudou um pouquinho de


economia é o modelo de oferta e demanda. Pense em um mercado qualquer
– o de camisas, por exemplo. A oferta descreve o comportamento dos
produtores, apontando que, quanto maior o preço da camisa, mais eles
desejarão vender. Já a demanda descreve como consumidores se comportam
– quanto maior o preço da camisa, menos unidades eles querem comprar. A
teoria tenta entender como o mercado funciona, modelando a interação de
vendedores e compradores.

Chamamos de equilíbrio de mercado a situação em que as ações de


consumidores e produtores são consistentes entre si. Especificamente, ao
preço de equilíbrio, a quantidade de camisas que os consumidores desejam
comprar é exatamente igual à quantidade de camisas que os produtores
querem vender.
Eventuais desvios disso – os excessos de oferta ou de demanda – seriam
rapidamente corrigidos pelo sistema de preços. Por exemplo, se há mais
camisas à venda do que os consumidores querem comprar, os preços entram
em ação – a camisa fica mais barata, incentivando consumidores a
demandarem mais e produtores a ofertarem menos. Aquela diferença entre
oferta e demanda desaparece.

Analogamente, caso os consumidores queiram mais camisas do que os


produtores estão dispostos a vender, os preços subirão. Com isso
desestimula-se a demanda e estimula-se a oferta, eliminando a diferença.

Como bem notado por Rapley, há aqui uma analogia com a física. Por
exemplo, se você coloca água e óleo em um recipiente e o chacoalha, eles se
misturam, mas ao parar o sistema volta rapidamente para a situação inicial,
com os líquidos novamente separados. No caso do modelo de oferta e
demanda, depois de uma “chacoalhada”, os preços entram em ação para
empurrar a economia de volta para o equilíbrio.

O equilíbrio de mercado tem outra propriedade importante: ele é eficiente,


ou seja, gera o máximo de bem-estar possível. Intervenções do governo não
teriam muito como melhorar a economia nessa dimensão (em geral, elas
apenas geram perda de eficiência).
 
Indo além

Nas últimas décadas, entretanto, a noção de equilíbrio em economia mudou


completamente, influenciada por um campo da matemática conhecido como
Teoria dos Jogos. Um dos principais conceitos nesse campo é o chamado
Equilíbrio de Nash – em homenagem ao matemático John Nash, prêmio
Nobel de Economia de 1994, cuja vida é retratada no filme Uma mente
brilhante.

Em um equilíbrio de Nash, cada jogador faz o melhor para si, e ninguém tem
incentivo a sair dessa situação. Isso caiu como uma luva para a análise
econômica, que tenta entender como consumidores, empresas,
organizações, políticos etc. se comportam, e que tipo de resultado pode
emergir de sua interação.
Economistas incorporaram a Teoria dos Jogos a suas análises e a
aperfeiçoaram. Aqui o foco é na lógica e no comportamento dos indivíduos.
Se havia uma possível inspiração vinda da física, ela foi ficando para trás.
Tornou-se possível analisar situações bem mais gerais – o equilíbrio do
modelo de oferta e demanda pode ser visto como um caso especial de
equilíbrio de Nash. Nesse mundo mais geral, não há necessariamente um
único equilíbrio, estável e eficiente.

Um exemplo relacionado à área de desenvolvimento econômico ajuda a


ilustrar o ponto. Pense em uma empresa de automóveis, que está
considerando se instalar em determinado país. Mas ela só entra se houver
fornecedores de peças. Fábricas de autopeças estão dispostas a entrar nesse
mercado, porém apenas se houver demanda para seu produto (que viria da
fábrica de autos).

Aqui há múltiplos equilíbrios. Em um deles, nem a montadora nem os


produtores de peças se instalam. Nesse caso, como a montadora não entra
no mercado, os fornecedores preferem ficar de fora. E como os fornecedores
não entram, a fábrica de autos decide não se instalar. Cada jogador está
fazendo o melhor para si, e ninguém tem incentivo a desviar – ou seja, temos
um equilíbrio de Nash.

Outro equilíbrio ocorre quando ambas se instalam. Com a montadora


entrando, fabricantes de autopeças têm incentivo a se instalar; nessa
situação, a montadora também tem garantia de que disporá de insumos para
produzir, o que lhe dá condições para entrar no mercado.

Note que, nessa estrutura teórica, o resultado pode ser ineficiente – como no
caso em que tanto a montadora como os fornecedores ficam de fora do
mercado. Há ainda espaço para a ação do governo, conduzindo a economia
para o equilíbrio eficiente (em que montadora e fornecedores se instalam).

Este é apenas um exemplo de argumento teórico. Na verdade, trata-se de


uma aplicação de Teoria dos Jogos publicada em (https://www.jstor.org/stable/1831884?
seq=1#page_scan_tab_contents)1989! (https://www.jstor.org/stable/1831884?seq=1#page_scan_tab_contents) Há

diversas contribuições teóricas e aplicadas com equilíbrios que não são


únicos, estáveis ou eficientes. Em outras palavras, a crítica à noção de
equilíbrio em economia, que mencionamos anteriormente, não faz mais
sentido nos dias de hoje.

2.     A REVOLUÇÃO EMPÍRICA

Uma crítica que ouvimos recorrentemente é que a economia é uma


disciplina eminentemente teórica, sem muita preocupação com o mundo
real. O artigo de John Rapley, que citamos no início deste texto, chama
atenção para uma passagem atribuída a Wassily Leontief, um dos mais
importantes economistas do século 20, ganhador do prêmio Nobel de 1973.
Leontief ressalta os avanços da Economia em produzir modelos
matemáticos teóricos, porém com pouca aplicação para problemas
(https://blogs.warwick.ac.uk/files/dennisleech/leontieftheoassnonfacts.pdf)reais.

(https://blogs.warwick.ac.uk/files/dennisleech/leontieftheoassnonfacts.pdf) Chama atenção para a

necessidade de avançar mais rapidamente no front empírico, isto é,


economistas deveriam prestar mais atenção aos dados.

A crítica de Leontief foi feita em seu discurso como presidente da American


Economic Association, principal entidade de economistas dos Estados
Unidos, em 1970. Naquela época essa crítica fazia bastante sentido. Hoje não
mais.

Principalmente a partir da década de 1980, assistimos a uma explosão de


artigos empíricos produzidos pela profissão. Daniel Hamermesh documenta
que, em 1983, cerca de 58% dos artigos publicados nos principais periódicos
da profissão eram puramente teóricos, enquanto que 37% eram empíricos.
Em 2013, apenas 19% são teoria pura, enquanto que 64% são empíricos
(https://www.bloomberg.com/view/articles/2016-08-25/data-geeks-are-taking-over-economics) .

Avanços computacionais e nos métodos empíricos certamente contribuíram


para essa mudança. Além, é claro, de um acesso cada vez maior a diferentes
bases de dados. Atualmente, em boa parte dos artigos empíricos,
pesquisadores fazem a própria coleta de dados.

Proporcionalmente, a profissão tornou-se menos teórica nas últimas


décadas. E cada vez mais se debruça sobre assuntos bem aplicados. Uma
rápida inspeção na última edição do American Economic
(https://www.aeaweb.org/issues/503)Review (https://www.aeaweb.org/issues/503) – uma das principais

publicações acadêmicas da área – revela artigos sobre infraestrutura e


desenvolvimento na Índia colonial, seguro-desemprego na Suécia, abolição
da servidão na Rússia, inovação e patentes, ruptura familiar e saúde dos
filhos, para citar alguns.

Já última edição de 2017 do American Economic Journal:


(https://www.aeaweb.org/issues/481)Microeconomics (https://www.aeaweb.org/issues/481) contém três

artigos empíricos sobre o Brasil.

Hoje, nas revistas top da profissão, podemos encontrar com certa frequência
artigos sem um modelo matemático formal, e com algumas poucas equações
apenas para descrever a relação entre variáveis que está sendo estimada.

A economia ainda tem muito a avançar, e as críticas são importantes para


esse processo. Mas para isso precisamos de críticas de qualidade, sobre o
atual estado da disciplina, e não sobre uma caricatura que se parece mais
com a economia nos anos 1970.

Por quê?
Especialistas traduzem o economês do seu dia a dia, mostrando que economia pode ser
simples e divertida.

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