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Temor e medo de Deus: um estudo

homilético sobre a relação com o


divino nas Escrituras
Emilson dos Reis, M.Religião
Professor de Introdução à Bíblia, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP

Resumo: Este artigo consiste em um levantamos grades, colocamos fechaduras,


estudo resumido sobre o significado da correntes e cadeados nas portas e portões,
expressão “o temor do Senhor”, a qual contratamos vigias e seguranças, criamos
aparece com freqüência ao longo do texto cães de guarda, fazemos seguros de vida e
sagrado, mas especialmente nos escritos dos bens que possuímos.
poéticos e sapienciais. Trata introdutoria-
mente com a questão do medo, para em Movidas pelo medo há pessoas que
seguida discorrer sobre o medo de Deus mentem sobre si mesmas, que inventam
e o temor do Senhor, buscando contrastar coisas sobre os outros, que tomam decisões
estas atitudes de modo a demonstrar que precipitadas e funestas, que adquirem um
a primeira deve ser descartada enquanto a comportamento destrutivo. O medo tem
segunda merece ser apreciada e cultivada. muitas faces: ansiedade, dúvidas, timidez,
indecisão, superstição, retraimento, soli-
dão, hostilidade excessiva, inferioridade,
Abstract: This article is a brief study covardia, suspeita, hesitação, depressão,
on the meaning of the expression, “The acanhamento social. Estudiosos do assunto
Fear of the Lord,” frequent in the poetic and afirmam que o medo é o nosso inimigo
wisdom literature of the Old Testament. particular número um.1 
Initially the author deals with the notion of
general fear, to discuss then specifically the Medo de Deus
“fear of the Lord,” establishing a contrast Um dos medos que mais têm prejudicado
between the two concepts, suggesting that espiritualmente as pessoas é, sem dúvida, o
the former must be discarded and the latter medo de Deus. Em seu estado de perfeição
retained and cultivated. nossos primeiros pais sentiam prazer em estar
na presença do Criador e em dialogar com
Ele. Contudo, o pecado levou-os a ter medo
Introdução de Deus. O Gênesis nos conta como foi a
Medo é uma inquietação, um receio de tentação e a queda. Usando a serpente como
que algo de mal aconteça a nós ou àqueles médium Satanás apresentou a Deus sob um
que amamos. O medo é universal. Todos o falso aspecto e o homem foi levado a duvidar
possuem em maior ou menor grau. Da leitu- de Seu amor, a descrer de Sua palavra e a
ra da Bíblia podemos presumir que o medo rejeitar a Sua autoridade.2  O comer do fruto
não existia antes da entrada do pecado em proibido implicava todas essas coisas. E
nosso mundo e que, quando Deus restaurar quando Deus veio ao jardim para manter
todas as coisas, essa sensação não mais terá comunhão com o homem e o chamou, este
lugar. Embora seja uma das muitas conse- se escondeu e, sendo interpelado, respon-
qüências más que o pecado nos acarretou, o deu: “Ouvi a tua voz no jardim, [...] tive
medo tem sido uma das grandes forças mo- medo, e me escondi” (Gn 3:9). Esta foi a
tivadoras da alma humana. O que fazemos primeira vez que o homem teve medo. E era
por medo? Construímos muros e cercas,

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medo de Deus.3  Notemos como ele surgiu. que ficamos conhecendo Seus atributos e
Primeiro o homem formou uma idéia errada Seu interesse por nós, o que nos liberta do
sobre Deus, o que o levou à desobediência medo de Deus. Na verdade, quanto mais O
que, por sua vez, resultou no medo. Até conhecermos mais O amaremos.4  Como es-
hoje quando as pessoas têm medo de Deus creveu o apóstolo João: “E nós conhecemos
é porque ou estão vivendo em pecado ou e cremos no amor que Deus tem por nós.
têm uma compreensão distorcida de Seu Deus é amor, e [...] segundo Ele é, também
caráter. nós somos neste mundo. No amor não exis-
te medo; antes, o perfeito amor lança fora
Certa vez Jesus contou a história de
o medo. [...] Nós o amamos porque ele nos
um homem muito rico que resolveu viajar.
amou primeiro” (1Jo 4:16-19).
Como possuísse muitos bens, chamou três
de seus servos e deu a cada um deles um Examinando as narrativas bíblicas verifi-
determinado valor em dinheiro a fim de camos que um temor sobrevem àqueles que
que negociassem buscando aumentar o seu se encontram com Deus ou com Seus men-
capital. Enquanto o homem rico viajava, sageiros. Todavia, quando são pessoas que
dois servos se empenharam em comercia- servem a Deus é-lhes dito: “Não temas” ou
lizar. Mas o terceiro, havendo enterrado o “não temais”, no sentido de que não devem
dinheiro, nada fez. Ao retornar, o senhor ficar com medo. Foi isso o que aconteceu
chamou os servos para o combinado ajus- com Gideão. Diz o relato bíblico: “Viu Gi-
te de contas. Dois deles haviam sido fiéis deão que era o Anjo do Senhor e disse: Ai de
e foram generosamente recompensados. mim, Senhor Deus! Pois vi o Anjo do Senhor
O terceiro, porém, depois de desenterrar face a face. Porém o Senhor lhe disse: Paz
o dinheiro e devolvê-lo ao patrão, deu a seja contigo! Não temas! Não morrerás!” (Jz
razão de seu comportamento, dizendo: 6:22-23). O idoso apóstolo João, após ter a
“Senhor, sabendo que és homem severo, mesma experiência, em Patmos, escreveu:
que ceifas onde não semeaste e ajuntas “Voltei-me para ver quem falava comigo
onde não espalhaste, receoso, escondi na e, voltado, vi [...] um semelhante a filho de
terra o teu talento; aqui tens o que é teu” homem. [...] Quando o vi, caí a seus pés
(Mt 25:24-25). como morto. Porém ele pôs sobre mim a
mão direita, dizendo: Não temas; eu sou
Este servo não produziu e não trabalhou
o primeiro e o último” (Ap 1:12-13, 17).
porque possuía uma idéia errada a respeito
Assim, essas duas atitudes – medo de Deus
de seu amo. Para ele o homem era duro e
e temor do Senhor – são antagônicas e, por
desonesto. O patrão não era assim, mas ele
isso, não devem coexistir no indivíduo.
pensava que fosse. Essa visão errada sobre
Aquele que abriga o Seu temor não deve ter
o caráter de seu senhor o deixou temeroso,
medo (Êx 20:20).
e o medo o paralisou, tornando-o inativo e
inútil. Era um homem medroso, amargu-
rado e improdutivo. Quantos cristãos têm O temor do Senhor
uma vida parecida com a deste homem! Muito diferente do medo de Deus é o
Pouco ou nada fazem para a causa de Deus, que os escritores bíblicos chamam de “o
porque têm medo dEle, e têm medo porque temor do Senhor”, ou expressões eqüiva-
não O conhecem realmente. lentes, que aparecem com freqüência no
Mediante esses dois exemplos bíblicos, AT, mas também no NT. Ao longo do texto
percebemos que o medo de Deus é negativo sagrado o temor do Senhor é apresentado
e prejudicial, um verdadeiro empecilho como algo positivo, benéfico e imprescin-
para se manter um adequado e profundo dível para a formação de um caráter cristão.
relacionamento com Deus. Percebemos A mesma Escritura que nos livra de termos
também, como é importante ter uma correta medo dEle é a que nos capacita a enten-
compreensão de Deus. Para tanto é neces- dermos o temor do Senhor. “Filho meu, se
sário o estudo e a aceitação da revelação aceitares as Minhas palavras e esconderes
que Ele fez de Si mesmo em Sua Palavra, contigo os Meus mandamentos, [...] então
a Bíblia Sagrada (Jo 5:39). É deste modo entenderás o temor do Senhor e acharás o

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conhecimento de Deus” (Pv 2:1, 5). medo, reverência e temor diante de Deus,
como em 1Pe 2:17, onde lemos: “Tratai
No AT, os termos hebraicos relativos a
todos com honra, amai os irmãos, temei
temer são yârê’ e seus principais sinônimos
a Deus, honrai o rei.”; (2) ao respeito que
pâhad’, hâtat e hârad, bem como várias
deve ser demonstrado pelos servos para
palavras que se referem ao tremor como
com os seus senhores, como em 1Pe 2:18,
resultado do medo.5  Tais expressões, em
que diz: “Servos, sede submissos, com todo
suas várias formas, podem ser empregadas
o temor ao vosso senhor, não somente se for
“em cinco categorias gerais: (1) a emoção
bom e cordato, mas também ao perverso”;
do medo; (2) a previsão intelectual do mal,
(3) ao respeito que a esposa deve ter para
sem que haja ênfase na reação emocional;
com seu marido, como o que ocorre em 1Pe
(3) reverência ou respeito; (4) comporta-
3:1-2: “Mulheres, sede vós, igualmente,
mento íntegro ou piedade; e (5) adoração
submissas a vosso próprio marido, para
religiosa formal”6 .
que, se ele ainda não obedece à palavra,
Freqüentemente há referências àquele seja ganho, sem palavra alguma, por meio
que teme a Deus. Nesses casos a ênfase do procedimento de sua esposa, ao obser-
recai no respeito ou reverência que o indi- var o vosso honesto comportamento cheio
víduo manifesta para com Deus.7  de temor”; (4) ao respeito que deve ser
No AT “o temor do Senhor é a expressão demonstrado por parte dos cristãos para
que descreve a piedade dos homens justos”8  com os de fora da igreja, como a orientação
(Jó 1:1; Gn 42:17-20) e é considerado como dada pelo apóstolo: “Santificai a Cristo,
sinônimo tanto da verdadeira religião9  (Sl como Senhor, em vosso coração, estando
34:11; Jr 2:19), como de conhecer a Deus sempre preparados para responder a todo
(Pv 2:5; 9:10), conhecimento este que é aquele que vos pedir razão da esperança
bastante íntimo e se origina com o pró- que há em vós, fazendo-o, todavia, com
prio Deus, através de Sua revelação (Pv mansidão e temor, com boa consciência,
2:5-6)10 . Este temor, abrigado em nosso de modo que, naquilo em que falam contra
coração, nos levará a admirá-Lo por Sua vós outros, fiquem envergonhados os que
grandeza, por Seu caráter, pelo que Ele é e difamam o vosso bom procedimento em
pelo que tem feito (Sl 33:4-8), a reverenciá- Cristo” (1Pe 3:15-16).14 
Lo (Hb 12:28) e louvá-Lo, inclusive de Ainda no NT, é empregada dez vezes
modo coletivo, pois a expressão “vós que a expressão sebomai e seus cognatos.
temeis ao Senhor”, como usada em alguns Referem-se àqueles que adoram e honram
salmos, se refere à congregação reunida a Deus. Na tradução são chamados de
para adoração11 (Sl 22:23; 115:10, 11, 13; piedosos ou tementes a Deus. No livro de
118:3-4). Mas este temor também nos im- Atos tais expressões são termos técnicos
pelirá a confiar nEle (Sl 115:11) e a Ele nos que se referem a uma classe de gentios
submeter, obedecendo com alegria aos Seus que participava das reuniões na sinagoga,
mandamentos (Sl 112:1)12 . Lembremos que adorava ao Deus de Israel, mas não era
foi somente depois que Abraão levantou o circuncidada.15 
cutelo para sacrificar Isaque, demonstrando
assim total confiança e obediência, que
ouviu o brado do Anjo do Senhor: “Agora Conclusão
sei que temes a Deus” (Gn 22:12). Na Bíblia não há conflito entre o temor
As palavras gregas correspondentes, do Senhor e o amor a Deus. Na verda-
usadas no NT, seguem praticamente o de é necessário que essas duas atitudes
mesmo uso daquelas do AT.13  Encontramos convivam juntamente em nosso coração.
o termo phobos e seus cognatos, que são Assim, em Dt 6:5 encontramos o maior dos
traduzidos por “terror”, “medo”, “alarme”, mandamentos que ordena: “Amarás, pois,
“susto”, “reverência”, “respeito” e “temor o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração,
respeitoso”, conforme o contexto em que de toda a tua alma e de toda a tua força” e,
aparecem, e que podem referir-se: (1) ao poucos versos depois somos estimulados

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a temer a Deus: “Ao Senhor, teu Deus, revolta, o que pode ser visto na vida do
temerás, a Ele servirás, e, pelo Seu nome, juiz iníquo da parábola contada por Jesus
jurarás” (Dt 6:13). Algo semelhante ocorre (Lc 18:2-4) e na atitude de um dos ladrões
no livro dos Salmos. Lemos: “Ele acode crucificados ao lado de Cristo (Lc 23:40). É
à vontade dos que O temem; atende-lhes a própria marca do pecado da humanidade
o clamor e os salva. O Senhor guarda a (Rm 3:18).16 
todos os que o amam; porém os ímpios
Deste modo, o temor do Senhor nos leva
serão exterminados” (Sl 145:19-20). A
a um correto relacionamento com Deus e
mesma idéia é encontrada no NT. Paulo
com os homens, e isso é verdadeira sabe-
escreveu: “E assim, conhecendo o temor
doria17  (Sl 111:10), verdadeiro tesouro (Pv
do Senhor, persuadimos os homens” (2Co
22:4; Is 33:6), “é fonte de vida” (Pv 14:27)
5:11) e, logo depois ele acrescenta: “Pois o
e agrada ao Senhor (Sl 147:11). Este temor
amor de Cristo nos constrange” (2Co 5:14)
foi uma das marcas do verdadeiro Israel
[itálicos do autor].
(Dt 10:12-13), do prometido Messias (Is
A atitude de temer a Deus coopera 11:2-3) e da igreja primitiva (At 9:31) e
para aperfeiçoarmos a nossa santidade deve caraterizar também o povo de Deus
(2Co 7:1), pois se de um lado nos leva a dos últimos dias18  que, ao anunciar o evan-
“aborrecer o mal”, incluindo “a soberba, gelho eterno a toda a terra, deve clamar:
a arrogância, o mau caminho e a boca “Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é
perversa” (Pv 8:13) e os maus-tratos aos chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele
portadores de deficiência física (Lv 19:14), que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fonte
do outro, nos incita a praticar o bem, o que das águas.” (Ap 14:6-7).
é exemplificado no respeito aos idosos (Lv
19:32) e no sustento dos irmãos pobres (Lv
25:35-36).
Ao contrário, a ausência desse temor
é considerada sinônimo de impiedade ou

3:1567.
10
Derek Kidner, Provérbios – introdução e
Referências comentário, Série Cultura Bíblica (São Paulo:
1
Tim LaHaye, Temperamento controlado pelo Vida Nova e Mundo Cristão, 1980; reimpresso em
Espírito, 8ª ed. (São Paulo: Loyola, 1983), 108- 1982), 32.
109. 11
Bowling, “temer, ter medo, reverenciar”,
2
Ellen G. White, Educação, 7ª ed. (Tatuí, SP: 656.
Casa Publicadora Brasileira, 1997), 25. 12
Este temor constitui-se em fundamento da
3
Por causa de quem Deus é e da aliança que fez moral (Êx 18:21; 20:20; Jo 2:3; Pv 8:13). – Lys,
conosco, Ele espera que temamos unicamente a Ele. “temer”, 558.
Todavia, o pecado, quebrando essa aliança, faz surgir 13
W. Mundle, “medo, temor respeitoso”, Dicio-
os outros temores, inclusive o medo de Deus (Lv nário internacional de teologia do Novo Testamento,
26:14-17; Sl 38:19-20). – D. Lys, “temer”, Vocabu- 3ª ed. (São Paulo: Vida Nova, 1985), 3:147.
lário bíblico, 3ª ed. (São Paulo: ASTE, 2001), 558. 14
Ibid, 3:148.
4
Ellen White, O Desejado de todas as nações 15
Ulrich Becker, “Conversão, Penitência, Arre-
(Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1995), 10. pendimento, Prosélito”, Dicionário internacional
5
Andrew Bowling, “temer, ter medo, reveren- de teologia do Novo Testamento (São Paulo: Vida
ciar”, Dicionário internacional de teologia do Antigo Nova, 1981), 1:503.
Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1998), 655. 16
E. Diserens, “temer”, Vocabulário bíblico, 3ª
6
Ibid. ed. (São Paulo: ASTE, 2001), 562.
7
Ibid., 656-657. 17
Samuel J. Schultz, A História de Israel no Anti-
8
A. R. Crabtree, A profecia de Isaías, 2 vols. (Rio go Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1977), 276.
de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1967), 1:208. 18
Ver Nisto cremos (Tatuí, SP: Casa Publicadora
9
J. D. Douglas, “temor”, O novo dicionário Brasileira, 1989), 223-233. Ver também o Manual da
da Bíblia, 3 vols. (São Paulo: Vida Nova, 1966), Igreja Adventista do Sétimo Dia, 14ª ed. (Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2000), 13.

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