Sie sind auf Seite 1von 9

QUESITOS – AVALIAÇÃO PARCIAL DA SEGUNDA UNIDADE

CASO CONCRETO:

SILVANA é casada, no regime da separação obrigatória de bens, com VALFRIDA e as


duas tiveram uma única filha denominada de DANIELA. DANIELA atualmente tem 15
anos de idade. SILVANA tem além de DANIELA mais três filhas que foram adotadas antes
da união com VALFRIDA. Em janeiro de 2018 VALFRIDA veio a óbito sem deixar
testamento. O patrimônio do casal é de trezentos mil reais. Valfrida possuía como
patrimônio particular o valor de quinhentos mil reais. Durante toda a união do casal
VALFRIDA tratou as filhas de Silvana como se fossem suas filhas. Diante do fato responda
as seguintes questões:

A) Qual o patrimônio da herança e quem são os herdeiros de Valfrida?

O patrimônio da herança é o conjunto de direitos e obrigações que se transmitem aos


herdeiros de uma pessoa em função do falecimento desta, denominada de cujus.
Outrossim, é o objeto da sucessão stricto sensu, podendo ter o aspecto de herança e/ou
de legado e podendo ser composta de uma parte denominada legítima e outra, parte
disponível, de acordo com o que determina os artigos 1784 a 1790 do Código Civil de
2002.
Venosa (2015) esclarece que a herança contém bens transmissíveis do de cujus, materiais
ou imateriais, mas sempre coisas avaliáveis economicamente. “Os direitos e deveres
meramente pessoais, como a tutela, a curatela, os cargos públicos, extinguem-se com a
morte, assim como os direitos personalíssimos”.
Logo, partindo do conceito acima apresentado, focaremos no caso concreto, em que se
tem que a de cujus Valfrida, após seu falecimento em Janeiro de 2018, deixou como
herança um patrimônio em dinheiro.
A de cujus era casada em regime de separação obrigatória de bens com a Sra. Silvana,
com a qual teve uma filha de prenome Daniela. Valfrida também tinha três enteadas, com
as quais manteve, na constância do convívio familiar, um vínculo socioafetivo e informal
de maternidade.
Destarte, importante ressaltar, antes de tudo, que Valfrida mantinha uma sociedade
conjugal com Silvana e que tal sociedade, quando se extingue – mesmo com a morte de
um dos cônjuges -, pode vir a ter efeitos jurídicos sobre o patrimônio do casal.
Logo, como já dito, Valfrida era casada com Silvana em regime de separação obrigatória
de bens, previsto no artigo 1.641, incisos de i a III, do Código Civil de 2002.
O regime de bens, conforme leciona Chaves (2015), “é o estatuto que disciplina os
interesses econômicos, ativos e passivos, de um casamento, regulamentando as
consequências em relação aos próprios nubentes e a terceiros, desde a celebração até a
dissolução do casamento, em vida ou por morte”.
No caso em tela, interessa compreender os efeitos da dissolução do casamento, quando
pode ou não, haver direito à meação, ou seja, à metade do patrimônio do casal, cuja
determinação dependerá diretamente do regime de bens escolhido ou legalmente
imposto.
No caso do já referido regime de separação obrigatória ou legal de bens, a súmula 377
do STF determina que haverá a comunhão dos aquestos (bens adquiridos onerosamente
na constância do casamento), diferentemente do que ocorre no regime de separação
convencional de bens, conforme leciona o retrocitado doutrinador, que justifica:

“(...) Naquela (separação convencional), inexistem bens comuns,


permitindo que seja, de fato, denominada separação absoluta ou total.
Isso, por si só, já serve para justificar a exigência de outorga,
consentimento, do cônjuge para alienar ou onerar bens imóveis – e para
prestar fiança ou aval – se o matrimônio estiver sob o regime de
separação obrigatória, sendo totalmente desnecessária, por lógico, essa
outorga se o casamento é regido pela separação convencional”.
Cristiano Chaves Curso de Direito das Famílias (volume 6) – 2015.

Sendo assim, a par da informação de que Valfrida possuía uma patrimônio em comum
com Silvana no valor de R$300.000,00 (trezentos mil reais), com a dissolução do
casamento, Silvana terá o direito à meação deste patrimônio comum, ou seja, terá direito
ao valor correspondente a R$150.000,00 (cento e cinquenta mil reais).
Cumpre informar, como bem destaca Venosa (2015), não se deve confundir meação com
herança, uma vez que a meação nada tenha a ver com o direito sucessório, sendo
decorrência da dissolução da sociedade conjugal, o qual pode ocorrer também entre
cônjuges vivos, sendo avaliada de acordo com o regime de bens que regulava o
casamento.
Isto posto, excluída a parte correspondente de meação de Silvana, tem-se que o
patrimônio de herança deixado por Valfrida tem o valor de R$650.000,00 (seiscentos e
cinquenta mil reais), que corresponde à soma dos R$500.000,00 (quinhentos mil reais)
referentes ao seu patrimônio particular e à metade de seu patrimônio comum com
Silvana, calculada no valor de R$150.000,00 (cento e cinquenta mil reais).
Resta saber, então, quem são os herdeiros de Valfrida e, para tanto, recorrer-se-á ao que
determina o Código Civil de 2002, em seus artigos 1788 e 1829.
O primeiro dispositivo (art. 1.788) estabelece que, morrendo a pessoa sem testamento,
transmite a herança aos herdeiros legítimos, os quais, por sua vez, estão definidos, na
ordem estabelecida do artigo 1.829 deste Código, qual seja:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,


salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal,
ou no da separação obrigatória de bens; ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

Evidente perceber então que, por Valfrida não ter deixado nenhum testamento e por seu
regime de casamento com Silvana ter sido o de separação obrigatória de bens, cabe a
transmissão de seu patrimônio de herança, no valor acima calculado em R$650.000,00
(seiscentos e cinquenta mil reais) única e exclusivamente à sua filha de prenome Daniela,
na condição de descendente que, conforme o ditame legal, não concorre com a cônjuge
sobrevivente.
Do quanto acima explicitado, pode-se questionar a vocação hereditária das três enteadas
de Valfrida, em virtude do vínculo socioafetivo estabelecido entre esta e aquelas, filhas
adotadas por Silvana antes da união com a de cujus,.
Tal dúvida normalmente surge a partir da interpretação do artigo 227, parágrafo 6º da
Constituição Federal vigente, uma vez que a filiação, segundo observa a jurista Maria
Berenice Dias (1999) “envolve não apenas a adoção, como também ‘parentescos de outra
origem’, conforme introduzido pelo art. 1.593 do CC/02, além daqueles decorrentes da
consanguinidade oriunda da ordem natural, de modo a contemplar a socioafetividade
surgida como elemento de ordem cultural”.
Tem-se que durante toda a união do casal, Valfrida tratou as filhas de Silvana como se
suas fossem, o que caracteriza a posse de estado de filho para as suas enteadas, quando,
segundo Dias (2016), as pessoas desfrutam de situação jurídica que não corresponde à
verdade. A autora explica sobre a posse de estado de filho como fato que comprova a
filiação socioafetiva e, para que seja reconhecida, é importante observar três aspectos:
(a) tractatus - quando o filho é tratado como tal, criado, educado e
apresentado como filho pelo pai e pela mãe; (b) nominatio - usa o
nome da família e assim se apresenta; e (c) reputatio - é conhecido pela
opinião pública como pertencente à família de seus pais. Confere-se à
aparência os efeitos de verossimilhança que o direito considera
satisfatória.

A autora explica também que a filiação socioafetiva “funda-se na cláusula geral de tutela
da personalidade humana, que salvaguarda a filiação como elemento fundamental na
formação da identidade e definição da personalidade”, além dos princípios da boa-fé
objetiva e da afetividade e a proibição de comportamento contraditório.
Ocorre que a posse de estado de filho, por si só, não produz efeitos jurídicos, sendo
indispensável a declaração de vontade das partes filiadas, sem vícios de vontade e com a
consciência da irrevogabilidade e incondicionalidade desta decisão (BARBOSA, 2017) o
que se efetiva por meio da obtenção do registro civil da paternidade socioafetiva. Neste
sentido, tem-se o acórdão de relatoria do Ministro Marco Aurélio Bellize, nos autos do
Recurso Especial n. 1330.404/RS:

Autorizada doutrina, em abordagem à filiação socioafetiva, bem


identifica a necessidade da presença do claro e unívoco propoósito de o
pretenso pai assim ser reconhecido, sob pena de imputar ao indivíduo,
imbuído de elevado espírito de solidariedade (ou, como no caso dos
autos, induzido a erro escusável), encargos que, efetivamente, não
esteja disposto a arcar, a desestimular, inclusive, este salutar
comportamento: [...] Para além da posse de estado, porém, entende-se
que a filiação socioafetiva requer um outro pressuposto principal: a
unívoca intenção daquela que age como se genitor(a) fosse de se ver
juridicamente instituído pai ou mãe. Assim porque nem todo aquele que
trata alguém como se filho fosse quer torná-lo juridicamente seu filho.
Afinal, a constituição da qualidade de pai ou mãe enseja, dentre outros
efeitos, uma série de deveres jurídicos que, se não cumpridos
espontaneamente, comportam, até mesmo, execução compulsória.
Logo, é preciso ter cautela no estabelecimento deste parentesco
socioafetivo, sob pena de – uma vez desmerecida a real vontade do
pretenso ascendente – lhe suprimir a essência, qual seja sua edificação
espontânea e pura. Essa manifestação inequívoca, então, há de ser
expressa ou claramente dedutível de qualquer meio de prova idôneo,
particular ou público, como o testamento, por exemplo. Na dúvida, fica
prejudicada a caracterização do vínculo paterno ou materno-filial
socioafetivo. [...] Esse é o cuidado necessário na análise das situações de
posse de estado de filho, a fim de garantir que sejam fonte do elo filial
socioafetivo apenas aquelas nas quais a pretensão parental dos
envolvidos seja indubitável. (Almeida, Renata Barbosa de; Rodrigues
Júnior, Walsir Edson, Direito Civil - Famílias, Editora Lumen Juris, Rio de
Janeiro. 2010. p. 390/391) (...) Nota-se, portanto, que a higidez da
vontade e da voluntariedade de ser reconhecido juridicamente como
pai, daquele que despende afeto e carinho a outrem, consubstancia
pressuposto à configuração de toda e qualquer filiação socioafetiva.
Não se concebe, pois, a conformação desta espécie de filiação, quando
o apontado pai incorre em qualquer dos vícios de consentimento. Não
se concebe, pois, a conformação desta espécie de filiação, quando o
apontado. (Resp n. 1330.404/RS, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze,
DJe de 19/2/2015).

Diante do exposto, considerando que Valfrida veio a óbito sem registrar a maternidade
socioafetiva, que efetivaria o reconhecimento da posse de estado de filhas de suas
enteadas, conclui-se que estas não podem configurar como suas herdeiras, reafirmando,
com esta análise, que apenas a sua filha Daniela é sua única e exclusiva herdeira.
Poderiam, no entanto, as enteadas buscarem o reconhecimento de maternidade
socioafetiva post mortem, haja a vista o Superior Tribunal de Justiça já admite esta
possibilidade, contanto que a pretensão esteja respaldada com comprovações que não
gerem dúvida acerca da posse de estado de filho.
B) De que forma pode ser feito o inventário dos bens deixados por Valfrida e qual a quota
parte de cada herdeiro.

O inventário dos bens hereditários, previsto no artigo 1.991 do CC/2002, pode ser
definido como um levantamento pormenorizado dos bens que compõem a herança
deixada pelo de cujus, retomando aqui, apenas para facilitar a compreensão, a definição
sobre herança já apresentada na questão anterior, ou seja, o conjunto de direitos e
obrigações que se transmitem aos herdeiros de uma pessoa em função do falecimento
desta, denominada de cujus.
Dias (2016) esclarece que não se deve confundir a abertura do inventário com a abertura
da sucessão, pois a transmissão da herança é imediata, pelo princípio de saisine.
Desta forma, a abertura do inventário tem a utilidade de detalhar e determinar a herança,
o que se traduz, conforme a mencionada autora, em um benefício aos herdeiros,
considerando que a lei determina aos herdeiros que respondam pelas dívidas do de cujus
no limite da herança (artigos 1.792, 1.881 e 1.997 do CC/2002) e, estando esta herança
delimitada e devidamente separada no espólio, não corre o risco de haver confusão com
os bens particulares dos herdeiros.
Retomando o caso concreto, o inventário da herança de Valfrida, em virtude de sua
herdeira ser incapaz em razão de sua idade, conforme o artigo 610 do CPC/2015, será
judicial, devendo ser instaurado dentro de 02 (dois) meses da abertura da sucessão (óbito
de Valfrida), de acordo com o que dispõe o artigo 611 deste Código.
O fóro para ajuizamento da ação de inventário deverá ser o de último domicílio da de
cujus, sendo vedada às partes a escolha de outro foro (artigo 96 CPC).
Os artigos 615 e 616 do CPC estabelecem quem possui legitimidade para requerer o
inventário. Sendo Daniela incapaz e sua mãe a cônjuge supértite, caberá então a Silvana
requerer a abertura do processo, juntando ao requerimento a certidão de óbito de
Valfrida.
A partir de então, uma vez protocolada a ação de inventário, o juiz nomeará o
inventariante de acordo com a ordem estabelecida no artigo 617 do CPC, sendo a
prioridade garantido ao “cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse
convivendo com o outro ao tempo da morte deste” (inciso I, art. 617 CPC/2015), no caso
em tela, Silvana, que também dispõe de legitimidade de representar a sua filha que figura
na condição de herdeira menor (inciso IV, art. 617 CPC/2015).
Cumpre informar, conforme destaca Venosa (2015), que a relação de bens inventariados
(herança), em juízo, passa a receber o nome de espólio, que não é pessoa jurídica,
“porém a lei lhe outorgou personalidade processual (trata-se de uma entidade com
personalidade anômala ou reduzida, como denominamos), cabendo sua representação
ativa e passiva ao inventariante (arts. 12, V, e 991, I, do CPC)”.Por ser a própria herança em
juízo, trata-se o espólio de bem imóvel e indivisível.
Outrossim, Venosa (2015) leciona que cabe ao inventariante desempenhar a atividade de
auxiliar do juízo no inventário. “Trata-se, sem dúvida, de um encargo público, de um
munus (Monteiro, 1977, v. 6:38). A ele cabe a guarda, administração e defesa dos bens da
herança. Os herdeiros, em geral, também, como veremos, podem defender os bens da
herança, mas a função administrativa do inventariante é a primeira que se ressalta”. Os
artigos 618, 619 e 620 do CPC descrevem detalhadamente as atribuições do inventariante.
Cumpre relembrar que Silvana não é herdeira, mas sim, meeira de Valfrida. Neste sentido,
Venosa (2015) esclarece:

“(...) ao se examinar uma herança no falecimento de pessoa casada, há


que se separar do patrimônio comum (portanto, um condomínio) o que
pertence ao cônjuge sobrevivente, não porque seu esposo morreu, mas
porque aquela porção ideal do patrimônio já lhe pertencia. O que se
inserirá na porção ideal da meação segue as regras da partilha. Excluída
a meação, o que não for patrimônio do viúvo ou da viúva compõe a
herança, para ser dividida entre os descendentes ou ascendentes, ou
cônjuge, conforme o caso. Como meação não se confunde com
herança, se o sobrevivente do casal desejar atribuí-la a herdeiros, tal
atribuição se constitui num negócio jurídico entre vivos. Não existe, na
verdade, uma renúncia à meação. O que se faz é uma transmissão aos
herdeiros do de cujus, ou a terceiros. Embora exista quem defenda o
contrário, tal transmissão requer escritura pública, se tiver imóvel como
objeto, não podendo ocorrer por termo nos autos do inventário, porque
ali só se permite a renúncia da herança, como também requer escritura
a cessão de direitos hereditários feita pelos herdeiros. Transmissão entre
vivos que é, sobre ela incide o respectivo imposto. Não há nenhum
tributo, é óbvio, se o cônjuge mantém sua meação, que se individualiza
na partilha.

Ainda assim, mesmo não devendo a meação ser confundida com a herança, a
transmissão do valor correspondente ao direito de meação de Silvana, calculado em R$
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) só ocorrerá após a homologação da partilha,
conforme disposto no artigo 651 do CPC 2015, que determina a ordem de organização da
disposição dos bens da partilha, a saber: primeiro, as dívidas atendidas; segundo, a
meação do cônjuge; terceiro, a meação disponível; e, por fim, quinhões hereditários, a
começar pelo coerdeiro mais velho, que neste caso, caberá apenas a totalidade da
herança à filha adotada Daniela, no valor de R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil
reais).
REFERÊNCIAS:

BARBOSA, Heloísa Helena. Efeitos Jurídicos do Parentesco Socioafetivo. Dezembro de


2017. Retirado de http://www.ibdfam.org.br/_img/congressos/anais/180.pdf.

CNJ. PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS - 0002653-77.2015.2.00.0000. Relator: Ministro João


Otávio de Noronha. DJ: 14/03/2017. Disponivel em: <
http://ibdfam.org.br/assets/img/upload/files/Decisao%20socioafetividade.pdf>.

DIAS, Maria Berenice. Manual das sucessões. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: direito das
famílias. 7. ed. Salvador: Editora Atlas. 2015

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito das sucessões. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2013.

Das könnte Ihnen auch gefallen