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DEBATE
Alexis SALUDJIAN1
autores liberais como o melhor exemplo
muito às teses de F. Hayek, como nota o rado nesse projeto de Constituição Euro-
Durand (2013, p. 28). peia, foi aprovado por voto no Parlamen-
to francês (Assembleia Nacional e Senado
Como aponta Xabier Montoro, a moeda
reunidos). Certamente a soberania dos
única parte dos mesmos princípios da
povos está sendo desprezada e as “elites
“ciência” econômica neoclássica (R.
europeístas” (Comissão Europeia, Banco
Mundell) e a criação ex-nihilo dessa moe-
Central Europeu, assim como os lobbies
da beneficiou muito mais o capital do que
atrás do liberalismo europeu) se apoia-
os trabalhadores. O trabalho foi a variável
ram no FMI para impor a sua visão. Mas
de ajuste, escreve corretamente Durand
as elites locais também tem um papel im-
(2013). As regras de “convergência” para
portante.
poder utilizar essa moeda fizeram do
“equilíbrio orçamentário” um fetiche (ver 2 Espanha/UE e América latina
na terceira parte do texto de Xabier Mon-
A crítica de Xabier Montoro ao tipo de
toro) para justificar cortes nos direitos so-
integração econômica na Europa é justifi-
ciais adquiridos ao longo de décadas de
cada e bem argumentada no texto. Final-
lutas sociais e políticas. Com esse fetiche,
mente, podemos apresentar alguns ele-
o peso da dívida e a fragilidade macroe-
mentos de comparação entre os processos
conômica voltam ao centro do debate dos
de integração na Europa e na América
ortodoxos e justificam/legitimam os cor-
Latina. Já no ano 2000, um seminário in-
tes sociais3. O texto também critica corre-
ternacional organizado em Paris (França),
tamente como a moeda única, o Tratado
pelo Grupo de Pesquisa sobre o Estado, a
de Maastricht e o Pacto de Estabilidade e
Internacionalização das Técnicas e o De-
crescimento foram impostos pelas elites
senvolvimento (GREITD), discutia justa-
políticas negando a soberania dos povos
mente a importância da comparação entre
de vários países. Por exemplo, o povo
regiões (América latina, África, Ásia, e
francês rechaçou com 54,9%, por referen-
Europa) para entender o processo de
dum, o projeto de Constituição Europeia
mundialização do capital e as suas conse-
em 2005 que tentava institucionalizar a
quências sociais em escala global4.
Europa liberal (isso também aconteceu na
Holanda). Porém, poucos anos mais tar- O processo de liberalismo na América La-
de, em 2008, o Tratado de Lisboa, inspi- tina durante a década de 1990 teve impor-
tante consequências sociais (pobreza e
3Sobre a lógica da dívida ver os artigos e dados
indigência em todos os países do subcon-
nas páginas do Comité para a Anulação da Dívida
do Terceiro Mundo (CADTM) e do Observatório 4Ver a apresentação geral do seminário
Internacional da Dívida (OID). (COLLOQUE..., 2013).
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Argumentum, Vitória (ES), v. 5, n. 2, p.38-43, jul./dez. 2013.
O capitalismo nasceu e permanece mundial
modelo neoclássico, nem no Brasil nem Esses são só alguns elementos que mos-
na Espanha. tram como o texto de Xabier Montoro é
relevante para a discussão crítica sobre os
Outra lição interessante tem a ver com a
processos de acumulação tanto na Europa
questão da dominação da Alemanha (e da
quanto na América Latina. O capitalismo
França em menor escala) sobre países da
nasceu e permanece mundial9.
União Europeia como Espanha, Portugal
e Grécia. Essa tensão dentro do mesmo Referências
processo de integração econômico lembra
as tensões que existem entre Brasil e os AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA.
Brasília. Disponível em:
outros sócios do Mercosul, o que levantar
<http://www.auditoriacidada.org.br/ >.
o debate do subimperialismo brasileiro na
América Latina. Xabier Montoro fala COMITÉ PARA A ANULAÇÃO DA
acertadamente, na sua segunda seção, de DÍVIDA DO TERCEIRO MUNDO. [20--].
subordinação europeia ao imperialismo Disponível em:
norte americano. Mas poderia também <http://cadtm.org/Portugues>.
discutir a dominação entre certos países
DURAND, Cédric (Org.). En Finir avec
da UE e o subimperialismo intraeuropeu.
l'Europe. Paris: Ed. La Fabrique, 2013.
As discussões sobre o equilíbrio fiscal na
GREITD, Presentation, COLLOQUE
Europa lembram a discussão sobre o su-
MONDIALISATION ÉCONOMIQUE
perávit primário e o cumprimento da Lei ET GOUVERNEMENT DES SOCIÉTÉS
de Responsabilidade Fiscal (1998) no Bra- : L’AMÉRIQUE LATINE, UN
sil. O peso dos pagamentos da dívida LABORATOIRE ?, 2000, Paris. Paris:
continua representando mais de 40% do GREITD, l’IRD et les Universités de Paris
orçamento do Governo Federal, em 20138. 1 (CRI-IEDES), Paris 8 et Paris 13, 2000.
Disponível em:
Nesse caso, não é o FMI quem impõe es-
<http://greitd.free.fr/presentationcolloque
sas medidas, mas diretamente o Estado
.html >.
brasileiro respeitando os interesses do lo-
bby financeiro. As regras de Maastricht e OBSERVATÓRIO INTERNACIONAL
o Consenso de Washington apontam para DA DÍVIDA. [2005]. Disponível em:
a mesma direção: uma direção socialmen- <http://www.oid-ido.org/>.
te inaceitável.
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Argumentum, Vitória (ES), v. 5, n. 2, p.38-43, jul./dez. 2013.