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IMIGRAÇÃO E CIVILIZAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DO IMIGRANTE NA

FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA.

* Roberto Gimenes Valenzuela.

* Dr. José Flávio Pereira – orientador.

Resumo. No caso brasileiro, tradicionalmente os estudos acadêmicos


destacam o fenômeno imigratório voltado apenas para a substituição do
trabalho compulsório pelo assalariado. O objetivo principal deste trabalho é
apresentar o movimento imigratório como um fenômeno gerador de progresso
e civilização. Assim, utilizamos como referencial teórico entre outras, a obra A
Emigração como Força Civilizadora de Eça de Queiroz. Segundo esse autor,
perspicaz observador dos padrões de conduta e valores de uma sociedade em
transformação, o fenômeno emigratório no século XIX, livre e espontâneo foi
capaz de gerar transformações sócio-econômicas, políticas, e principalmente
civilizadora. No caso do Brasil, centramos nossos estudos no imigrante italiano,
no período 1870 a 1920, enfatizando não apenas a crise da mão-de-obra, a
abolição e a provável instalação da república, mas, também na existência de
um projeto político que incluía a formação, a constituição de valores culturais,
morais e de branqueamento da sociedade brasileira.

Palavras chaves: imigração, civilização, desenvolvimento, mudança de


comportamentos, hábitos e valores.

Abstract: IMMIGRATION AND CIVILIZATION: THE CONTRIBUTION OF


THE IMMIGRANT IN THE FORMATION OF THE BRAZILIAN SOCIETY.

Resume.In the Brazilian case, traditionally the academic studies highlight


the immigratory phenomenon directed only toward the substitution of the
obligatory work for the wage-earner. The main objective of this work is to
present the immigratory movement as a phenomenon that generats
progress and civilization.Thus, we use as theorical reference among
others, the work The Emigration as a Civilization Force by Eça de
Queiroz.

According to this author, a perspicacious observer of the standards of


behavior and values of a society in transformation, the free and

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spontaneous emigratory phenomenon in XIX century, was capable to
generate partner-economic transformations, politics, and mainly
civilization. In the Brazilian case, we center our studies in the Italian
immigrants, during the period from 1870 to 1920, emphasizing not only
the crisis of the workforce, the abolition and the probable installation of
the republic, but, also in the existence of a political project wich includs
the formation, the constitution of cultural values, morals and the
blanchness of Brazilian´s society.

keywords: immigration, civilization, development, change of behaviors,


habits and values.

INTRODUÇÃO.

Imigração e Civilização: A Contribuição do Imigrante na Formação da


Sociedade Brasileira. Sociedade esta marcada por padrões de conduta e
valores em constante mudança, movida pelo dinheiro e preocupada com o
status social por ele conferido. O tema é recorrente não apenas nos meios
acadêmicos, mas também fora dele afinal, esta presente na literatura, na
música, na dramaturgia, etc. Desta forma é inegável a presença e a
importância do imigrante na formação e civilização da nação brasileira. Sua
participação esta presente na língua, na devoção, na arte, arquitetura, no
trabalho, na alimentação, e etc. Existe uma troca de experiências de vida,
mudança na produção, nos hábitos, nos valores e comportamento, progresso e
desenvolvimento que acabaram por gerar riquezas.
Este trabalho tem como referencial teórico as obras de Queiroz (1979), Alvim
(1986), Davatz (1980) e Sala (2005), entre outros. A presente exposição tem
por objetivo principal analisar a contribuição dos imigrantes que se dirigiram ao
Brasil, especialmente o italiano, transformando nosso país em um país
multicultural e participando do seu desenvolvimento e de sua aceitação entre
os países civilizados, de acordo com os padrões europeus ocidentais.
O fenômeno imigratório é visto por Eça de Queiroz como um fenômeno social
presente em todas as épocas históricas. Esse movimento apresenta caráter de
universalidade, espontaneidade, liberdade acaba por se transformar em
poderoso agente de transformação econômica e de força civilizadora no século
XIX. Ainda segundo esse autor, são as relações sociais, o intercâmbio entre as
diferentes culturas que provocam as mudanças nas mentalidades e no
comportamento humano.
A análise busca demonstrar que as mudanças econômicas, sociais, políticas e
culturais ocorridas na Europa a partir da segunda metade do século XVIII e
XIX, geraram um movimento populacional, a imigração. Fenômeno este que
assegurou, não apenas o progresso e o desenvolvimento verificados tanto nos

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países de origem quanto nos de destino, como também a realização de um
sonho, o sonho de uma vida melhor. O processo imigratório se deu de duas
maneiras distintas, ou seja, em alguns períodos históricos foi incentivado pelos
governos e em outros ocorreu de maneira espontânea, livre e sistemático,
porém, nos dois casos foi gerador de riquezas e de civilização. Inglaterra,
Irlanda, Holanda, Alemanha e Itália entre outras nações incentivaram a
imigração de maneira a resolver seus problemas sociais e econômicos
objetivando evitarem revoltas populares. A saída de parte da população
produziria um equilíbrio entre produção e consumo afinal, um número menor de
habitantes nesses países favoreceu a criação de um número maior de
empregos aos que não imigraram, reduziu a criminalidade e possibilitou um
maior investimento na agricultura ampliando em muito a produtividade. Aos
imigrantes também foi possível constatar, através de farta documentação, uma
melhoria geral nas condições de vida, fato esse demonstrado pela compra de
lotes de terra, por se tornarem comerciantes, banqueiros e industriais, além da
remessa em dinheiro feita pelos imigrantes aos familiares que permaneceram
em seus países de origem. Há que se destacar que no caso do Brasil, no
período de transição do império para a república, estiveram presentes outros
fatores que contribuíram de maneira significativa para o fenômeno imigratório e
civilizador. No Brasil, centro de atração existia muitos problemas entre os quais
destacamos: a necessidade da substituição do trabalho compulsório pelo
trabalho livre e assalariado, a formação de um mercado consumidor interno,
além da idéia de branqueamento da população. Com esses objetivos o Estado
e os grandes produtores de café, base da economia brasileira orientou a vinda
de um determinado tipo de imigrante que possuísse algumas características
específicas. Foi dessa forma que a elite dominante pensou a imigração para o
Brasil.
O príncipe regente D. João, já no início do século XIX, quando de sua
transferência e da família real portuguesa para o Brasil, incentivou a vinda de
imigrantes. Tinha como objetivos o adensamento populacional de algumas
regiões, a proteção das fronteiras ao sul e principalmente o desenvolvimento
econômico e cultural. Para tanto buscou revitalizar as cidades mudou o espaço
urbano, tudo para que o Brasil fosse aceito pelos padrões de civilidade
européia.
Neste trabalho partimos da premissa de que o fenômeno imigratório foi além da
simples substituição da mão de obra escrava na medida em que gerou
desenvolvimento, crescimento econômico, mudanças jurídicas, políticas,
culturais e principalmente comportamentais da nação e da população brasileira.

OS PRIMORDIOS.

O fenômeno imigratório é intrínseco aos seres humanos e presente em todas


as épocas históricas. Ao longo da história os seres humanos estiveram em
contínuos deslocamentos através de territórios, rios e mares ocupando
diversas regiões do globo. Estes foram motivados por diferentes razões, muitos

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foram movidos ora pela necessidade, ora pela miragem da riqueza, ora pelo
espírito de aventura, porém qualquer que seja a razão, esses movimentos
estão na raiz do desenvolvimento econômico, das mudanças políticas e
jurídicas enfim, é uma força civilizadora. Conforme assinala um estudioso do
assunto, é o intercâmbio entre diferentes culturas que provocam mudanças na
mentalidade e no comportamento humano: “Imigração é uma expressão de
liberdade de movimento, mas é também um produto da escassez”. (Oliveira,
2001, p.11).
Nas sociedades escravistas antigas, como Grécia e Roma, o Estado impôs a
emigração como forma de solucionar problemas de subsistência ou de
natureza social. Na Grécia, a pobreza do solo, a escassez e a insuficiência de
alimentos obrigaram os gregos a emigrar para outras regiões. Em Roma a luta
entre patrícios e plebeus pela posse da terra levou ao deslocamento de uma
grande leva de emigrantes para outras regiões. Tendo na vanguarda seus
exércitos, os romanos dominaram vastas áreas da Europa na península
Ibérica, na Macedônia, na Grécia e na Ásia menor e no Norte da África, porém
sem perder os vínculos culturais que os uniam à primitiva pátria. Entretanto,
quando terminava a guerra de conquista no estrangeiro, a guerra civil interna
renascia. A solução encontrada foi doar terras da república nas regiões
conquistadas retomando-se dessa forma o processo emigratório.

DO SÉCULO XV AO XVII.

As décadas finais do século XV são caracterizadas pela expansão européia e a


colonização da América e da Ásia. Segundo Eça de Queiroz a causa do
fenômeno imigratório não são as mesmas e dependem de país para país. A
miséria porem, é universal, as demais são transitórias.
Esse movimento é marcado por um tipo específico de expatriado, ou seja, o
imigrante deve ser caracterizado pela paciência, pela tenacidade, pelo espírito
inventivo pelo amor a terra, pelo espírito familiar e pela parcimônia. Para os
governantes a emigração é importante na medida em que influencia nos
costumes políticos dos governos, dos cidadãos, para o trabalhador significa a
solução para a miséria, para o estado representa o remédio para a pobreza.
Para Queiroz o fenômeno imigratório não é solução para os problemas sociais,
é antipolítico e pouco alivia o problema da pobreza. Com exceção da
emigração inglesa que se dirigiu para a América do Norte, o fenômeno não se
constituiu em um movimento populacional sistemático com a intenção
colonizadora, mas sim exploradora. Aos ingleses pertence o privilégio de ser a
primeiro povo no mundo a organizar um sistema de emigrantes, trabalhadores
agrícolas e industriais, com o firme propósito de povoar e colonizar.
Inicialmente a migração inglesa é interna, gerada pelos enclouseres – processo
de cercamentos das terras comuns para serem destinadas à agricultura ou à
criação de ovelhas em grande escala. Essa mudança provocou uma crescente
migração de camponeses para os centros urbanos transformando-os em
trabalhadores livres e assalariados. A manufatura moderna nascente não foi

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capaz de empregar a totalidade essa imensa massa de proletários livres, sendo
que uma parte deles se transformou em bando de andarilhos e criminosos,
provocando um problema social para o Estado inglês. A emigração surgia,
portanto, como solução para os problemas advindos da modernização da
economia inglesa.
Além disso, no Século XVII a Inglaterra enfrenta o problema das lutas
religiosas entre católicos, anglicanos e puritanos. Entre estes últimos, surge a
idéia de emigrar para a América como forma de se livrar das perseguições
políticas e religiosas. Possuidores de recursos financeiros, eles se deslocam
para a América do Norte, região de clima frio ou temperado, com abundância
de água doce, materiais de construção e ferro no lugar de ouro. Isso demonstra
que a emigração inglesa é organizada, no seu início, com um objetivo prático.
Os emigrantes ingleses, ao contrário dos espanhóis, não se deixam seduzir
pelo ouro e pelo lucro rápido. Desde o início são movidos pela idéia bíblica de
que a riqueza e a sobrevivência só são conseguidas pelo paciente trabalho na
terra.
Assim, se organiza uma colonização metódica e criadora de uma sólida riqueza
agrícola e manufatureira. Os ingleses, segundo Queiroz, diferentemente de
espanhóis e portugueses, escolheram uma vasta terra sem donos, fecunda
para a produção agrícola, de fácil contato comercial com a Europa, cortada por
um vasto sistema fluvial, cheia de ferro e de carvão e pronta para a instalação
de uma civilização rica e democrática.
Passados os primeiros momentos de euforia, a insegurança, o tempo
despendido nas travessias dos mares e oceanos, as doenças e as guerras
contra os indígenas levam os colonos à desilusão, o que implica numa redução
significativa na quantidade de ingleses interessados na emigração voluntária
para a América do Norte. Após a Revolução Gloriosa (1688), a Inglaterra tinha
urgência em deportar criminosos para suas colônias. O governo revolucionário
cogitou na venda de inimigos políticos, entre outros tipos de “fora da lei” para
as Índias, porém as colônias se aperceberam que esse tipo de imigrante iria
corromper a sociedade colonial.
Com a independência dos Estados Unidos, em 1776, e o desenvolvimento da
nação norte-americana, um grande fluxo de imigrantes europeus foi atraído
para a América, emigração esta só contida pelas guerras da Independência e
pelo bloqueio continental imposto por Napoleão Bonaparte no início do Século
XIX. A partir de 1820, com a progressiva melhora da situação da classe
trabalhadora e com a maior educação industrial e agrícola, é facilmente
observado que a emigração cresceu acentuadamente para os diversos países
do continente americano. A Alemanha reclama que uma considerável
quantidade de intelectuais, cientistas, professores e engenheiros são
absorvidos pela América, indo se estabelecer nos Estados Unidos e nas
Antilhas. Nesse momento, não são apenas as classes menos favorecidas que
emigram, mas também pequenos comerciantes, profissionais liberais, entre
outras categorias, passam, também, a participar desse movimento. “A
emigração do chefe de família, só, indica uma tentativa ao acaso, e uma
intenção de voltar, porem a emigração em família demonstra uma resolução
refletida é uma expatriação definitiva”. (Queiroz, 1979.p.31). Ainda segundo
Eça de Queiroz, o século XIX se caracteriza pela emigração verdadeiramente
espontânea e refletida. Esses movimentos apresentam caráter de
universalidade, espontaneidade, liberdade e acabam por se transformar em

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poderosos agentes de transformação econômica e de força civilizadora. É a
relação social, o intercâmbio entre as diferentes culturas que provocam as
mudanças nas mentalidades e no comportamento humano.
Espanhóis, portugueses, holandeses não tinham a intenção de criar paises,
organizar imigrações, produzir riquezas agrícolas e industriais (você não deve
generalizar dessa maneira, porque não podemos negar que havia setores,
nesses países, também interessados em organizar a produção, como de fato o
fizeram. Sugiro que você dê uma nuançada nessa sua afirmação). Esses
movimentos, em sua grande maioria eram formados por nobres aventureiros,
desinteressado em produzir através do trabalho. O Estado impedia a
emigração e a fixação de trabalhadores hispânicos em solo americano. Assim,
para a América hispânica se dirigiram um grande número de fidalgos,
funcionários públicos e membros do clero com o objetivo de converter o gentio
ao cristianismo e encontrar o ouro que se acreditava fácil de ser achado e ser
inesgotável. Esses fatores podem ser considerados as causas geradoras dos
movimentos imigratórios entre séculos XV e XIX. Ao dificultar à vinda de
imigrantes trabalhadores, a Espanha criou na América “uma sociedade velha,
ligada aos interesses da coroa, rica em dotação e pobre de iniciativa, classe
vitoriosa, que explorava em nome da coroa, uma raça vencida e um país
conquistado”. (Queiroz, 1979 p.20)
Os portugueses que se dirigiam para a Índia e para a China buscavam o
monopólio comercial, não tinham a intenção de colonizar e sim negociar.
Procuravam uma civilização adiantada que oferecesse aos mercadores
produtos que pudessem ser explorados rapidamente e sem esforço.
É incontestável a importância do clero, principalmente dos jesuítas, que
buscavam através da catequese facilitar o contato e a dominação do branco
sobre o nativo amansando seus espíritos violentos e suas lutas de resistência
contra a dominação européia. Assim, os missionários foram os precursores dos
comerciantes. Em princípio os portugueses centravam seus esforços em
monopolizar o comércio dos artigos de luxo e das especiarias com as Índias,
China e Japão, enriquecer através do capitalismo comercial, ou seja, pela
diferença de preço de compra e venda da mercadoria que era facilmente
comercializada na Europa. Por um longo período Portugal manteve entrepostos
comerciais ao longo do trajeto com o oriente. Malaca, Adem e Ormuz são
alguns exemplos desses centros de comércio. Serviam de pontos de apoio ou
como refúgio conforme a necessidade do momento. Outros em regiões de
menor importância foram prontamente abandonados na medida em que
deixavam de interessar.
O mesmo princípio orientou Portugal ao tomar “posse” do Brasil, ou seja, não
havia em princípio a intenção de colonizar. O objetivo é buscar ouro e pedras
preciosas. Ameaçados por outras nações, os portugueses buscaram conservar
o imenso território com o objetivo assegurar um lugar específico para a
deportação de condenados e judeus. Os portugueses não eram colonizadores
e sim comerciantes.

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O HISTÓRICO DA IMIGRAÇÃO PARA O BRASIL.

Para a América do sul e principalmente para o Brasil onde, por um longo


período, predominou o colonialismo e a grande concentração de terra, é
possível observar que os imigrantes chegaram custeados com recursos
próprios, pelo Estado, por grandes proprietários ou ainda, por Companhias que
aliciavam e faziam o transporte dos trabalhadores. Entre os séculos XVI e XVII,
para o Brasil predominou o envio de condenados, de judeus e engajados em
diferentes portos da Europa. É também nesse momento da história que, devido
à escassez de mão-de-obra necessária ao cultivo da cana de açúcar, que os
portugueses se lançaram ao tráfico dos negros. Solução para o momento,
porém com o desenvolvimento do capitalismo tanto na Europa quanto no Brasil
irá se transformar em um problema de difícil solução.
A emigração portuguesa, não se diferenciou muito da de outros países
europeus, teve como origem questões econômicas, políticas, sociais e
demográficas. O Brasil, devido à sua proximidade e afinidade lingüística e
cultural se tornou naturalmente o país receptor. Os portugueses foram os
primeiros colonizadores e representantes da civilização européia, numa terra
de índios e para a qual trouxeram os negros transformando em mestiço este
país.
Ao longo do período colonial, grande parte dos costumes domésticos as
atividade necessárias à sobrevivência dos colonos foram moldados à realidade
tropical. As grandes distâncias e o abastecimento precário de trigo, sal e vinho
mudou muitos dos hábitos dos colonizadores que passaram a aprender com os
nativos como se proteger do clima e dos animais, como preparar alimentos e
fabricar utensílios. Essa “aprendizagem” representou um retrocesso de
civilidade segundo os padrões europeus.
Aqui, o emigrante português dedicou-se tanto às atividades rurais quanto
urbanas. Concentraram-se em maior número no Rio de Janeiro, primeiramente
capital do reino e depois da República, controlando o comércio varejista de
alimento e até grandes jornais. Vinham ganhar a vida e muitos aqui
permaneciam junto com suas famílias, pois conseguiram melhorar de vida se
comparada com a situação em Portugal. Além dos portugueses, espanhóis e
italianos, por serem brancos, católicos e falantes de uma língua próxima e
principalmente por corresponder ao perfil do imigrante desejado, foram mais
rapidamente assimilados à sociedade brasileira.
No início do século XIX Portugal dependente da colônia, tinha como principal
fonte de renda o ouro, o fumo e o açúcar brasileiro que constituíram o eixo
comercial que mantinham a economia portuguesa. Os conflitos envolvendo a
França e a Inglaterra colocaram Portugal em uma situação delicada diante das
duas principais potências européia nas décadas finais do século XVIII e início
do século XIX. Napoleão Bonaparte e seus sonhos expansionistas provocaram

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a vinda da família real portuguesa para o Brasil. Momento delicado em que
ocorriam disputas entre grupos políticos, que tanto no Brasil como em Portugal
possuíam interesses distintos, ou seja, monarquistas, republicanos,
federalistas, separatistas, absolutistas, traficantes e senhores de escravos
buscavam impor seus interesses mudando a história desses dois países. O
Príncipe Regente D. João, tinha a indecisão como característica e relutava em
tomar decisões importantes, porém sob a proteção da coroa inglesa,
juntamente com a família real e sua corte fugiu para a colônia. D. João
governava em nome de D. Maria I, considerada insana para exercer a função
de governante. A situação de Portugal era crítica, considerado um dos países
mais pobre e atrasado da Europa no que se referem às idéias, as ciências e as
reformas políticas. Conforme Gomes “a escassez de recursos demográficos e
financeiros e o atraso nas idéias políticas e nos costumes havia transformado
Portugal numa terra nostálgica, refém do passado e incapaz de enfrentar os
desafios do futuro”. (Gomes. 1808 p.22). Enquanto na Inglaterra, devido à
Revolução Industrial, as invenções, as novas tecnologias as idéias fervilhavam,
em Portugal a decadência era evidente e o espírito aventureiro e
empreendedor português existentes no início da era moderna, havia se
apagado.

Porém, é inegável que o príncipe regente, D. João, foi o primeiro a se


preocupar com o desenvolvimento econômico, político, cultural e social da
colônia. A abertura dos portos, a organização administrativa, da justiça e da
alfândega, a elevação da colônia à categoria de reino, a vinda de artistas, de
cientistas, da missão francesa, a criação de escolas de ensino superior,
escolas militares, de belas artes, embelezou a cidade e incentivou o
crescimento demográfico. Com o objetivo de atrair o imigrante estrangeiro, D.
João, príncipe regente promulgou a lei que permitia a posse das terras no
Brasil, e o império passou a subsidiar a formação de núcleos coloniais se
utilizando do sistema de pequenas propriedades trabalhadas por famílias de
imigrantes. Posteriormente, em 1850, com o fim do tráfico de escravos
buscou-se acelerar a vinda do trabalhador imigrante, porém ao mesmo tempo
dá-se a aprovação da lei de terras que modifica a maneira de se ter o acesso e
a posse da terra, que deixa de ser uma concessão e deve ser adquirida através
da compra. Esse fato iria dificultar essa imigração. A vinda do imigrante teve
ainda como empecilho a existência do latifúndio, a permanência da escravidão
até 1888 e a ação da Igreja Católica que de maneira clara e ostensiva se
opunha a vinda de imigrantes protestantes ou de outras religiões. Sobre a
posição da Igreja Católica afirma T. Davatz “os imigrantes protestantes
alemães e suíços chegaram no momento em que a liberdade de culto sofria de
toda espécie de restrição. Aqueles que se instalaram em São Paulo, no século
XIX tiveram maiores dificuldades de aceitação que o imigrante católico”.
(Davatz). 1980 p20 Por outro lado, Sala destaca que a falta de grandes
nacionalidades constituídas possibilita ao imigrante uma menor resistência por
parte do trabalhador nacional, para sua instalação e o pleno desenvolvimento
de suas atividades produtivas. Na segunda metade do século XIX, ocorre em
São Paulo uma série de mudanças econômicas e sociais ligadas ao processo
de desenvolvimento do capitalismo industrial, cujas raízes estão na Europa e
na substituição do trabalho escravo, considerado pelos europeus como
bárbaros. Os grandes produtores de café do oeste paulista juntamente com

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grande parte dos legisladores nacionais, passam a defender uma abolição
gradual e lenta. O anacronismo entre o desenvolvimento do capitalismo e o
trabalho escravo era evidente e sabia-se que a escravidão não teria vida longa.
Em pouco tempo a substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre iria se
tornar o centro das discussões política e a abolição se daria gradualmente.
Desde o Segundo Império, a concepção que orientou a política de imigração do
governo brasileiro não deixa dúvidas quanto a ser componente de um projeto
maior de gestão da população, o que envolvia o adensamento, o
branqueamento e a elevação civilizatória dos habitantes do país. Essa política
tinha dois princípios básicos: o povoamento de regiões menos populosas e a
formação de um mercado de trabalho para substituir a mão-de-obra escrava na
produção mercantil-exportadora. Os imigrantes, além da força de trabalho
agrícola e operária se constituíram não apenas nas fazendas, mas
principalmente nas cidades, em um mercado consumidor. Assim, se
estabelecia no interior das elites dominantes um esquema classificatório que
separava a população brasileira em dois pólos: homens brancos, proprietários,
livres e cristãos de um lado e de outro os índios, negros e mestiços.
Aos primeiros, herdeiros da colonização portuguesa coube a missão
civilizadora de construir a nova ordem moral, civil, e econômica através da
educação para o trabalho. A teoria do branqueamento no século XIX,
fortemente marcada pelo positivismo e pelo darwinismo, inseria-se num projeto
político de formação de uma identidade nacional por meio da imitação do
modelo civilizatório europeu. Para a ciência do século XIX, a mestiçagem (o
hibrido) é um mal que deve se extirpado para que o Brasil possa ter um lugar
ao sol entre as nações civilizadas do mundo. Os princípios evolucionistas
afirmavam que era do branco que partia a civilização e o saber.
Entre os diversos representantes das ciências que estiveram no Brasil, o
naturalista von Martius em visita à capital do império, relata sua surpresa ao
verificar a presença e a influência cultural e civilizatória da velha e educada
Europa. A língua, os costumes, a arquitetura e o afluxo de produtos de todas as
partes do mundo contrastam com a turba variada de negros e mulatos, a classe
operária suja e inoportuna, homens seminus que ferem a sensibilidade e os
costumes delicados do europeu. (Oliveira, 2001, p.7).
Até 1870, apesar das pressões internas e externas ao governo brasileiro, os
escravos permaneciam como mão-de-obra predominante nas fazendas de café
e nos meios urbanos. Tanto nas fazendas como nos meios urbanos havia uma
intima convivência de escravos e proletários. As indústrias nacionais e
estrangeiras se utilizavam dos escravos para o trabalho pesado e dos
imigrantes para aqueles que necessitavam de alguma especialização. Nas
diversas regiões e cidades brasileiras, ainda no império surgem algumas das
primeiras categorias de proletários brasileiros. Esse proletariado convivera com
os escravos durante muitas décadas, assim os diferenciando dos demais
países, tanto europeus como sul-americanos.
A cidade de São Paulo era uma pequena aldeia colonial, de ruas esburacadas,
escuras e de pouco comércio. Os casebres enegrecidos pelo tempo e pela falta
de cuidados eram pequenos e pobres, próximos a muitas regiões alagadas e
sem aproveitamento econômico. A Faculdade de Direito tornou-se um
importante centro de atração e concentração de estudantes que pretendiam
seguir seus estudos superiores em Coimbra. Nas primeiras décadas do século
XX dá-se o processo de industrialização da cidade de São Paulo vinculada ao

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processo imigratório intensificado a partir de 1870. Esses imigrantes, além de
recursos financeiros, são letrados, organizam os primeiros sindicatos, dominam
grande parte da imprensa paulista onde divulgam suas idéias no idioma italiano
utilizado também segundo Sala nas manifestações culturais e em comícios
(Sala, 2004,35). Imigrantes de mesma etnia buscavam a proximidade como
forma de obter segurança, reproduzir sua origem, manter antigos hábitos e
costumes.
Embora tendo como destino principal o estado de São Paulo, os imigrantes
italianos também se fizeram presentes em diversos estados brasileiros. No Rio
de Janeiro, já em 1890, constituíam grande parte dos trabalhadores urbanos.
Eram os jornaleiros que devido à profissão e a facilidade de comunicação,
estavam em constante contato com homens de negócios, políticos influentes e
com o operariado em geral. È significativo o número de jornaleiros que em
alguns anos passaram a escrever e se transformaram em jornalistas e
proprietários de jornais. Segundo Cenini, além do Rio de Janeiro, o trabalhador
imigrante chegou ao posto de proprietários de estabelecimentos industriais em
diversos estados conforme a tabela:

Estabelecimentos Industriais Pertencentes a Italianos em 1920.

Estados estabelecimentos operários.

Amazonas 05 15
Bahia 44 179
Distrito Federal 69 724
Espírito Santo 18 82
Mato Grosso 3 10
Minas Gerais 149 797
Pará 10 156
Paraíba 4 29
Paraná 61 255
Pernambuco 3 43
Rio de Janeiro 20 112
Rio Grande do Sul 227 1054
Santa Catarina 56 184
São Paulo 1446 8847
Outros Estados 4 19
Total 2119 12146

Tabela (Cenini, 2003, p.286).


O primeiro recenseamento nacional realizado em 1920 acusava para São
Paulo 4.145 estabelecimentos industriais, dos quais 1.446 pertenciam a
italianos. (Cenini 2003, p.227).
A mudança no eixo do café do vale do Paraíba para o oeste paulista trouxe um
novo grupo ascendente que busca modificar o cenário político e econômico do
Império. O objetivo principal é a substituição do trabalho escravo pelo livre, o
branqueamento e a civilização do país. Os fazendeiros passaram a racionalizar
a produção e a comercialização do café, transformaram-se em empresários.

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Passaram a investir na industrialização do país. Mesmo antes da abolição, em
1852 havia uma lei que vedava a utilização do braço escravo nos trabalhos em
estradas de ferro. – no ano de 1889, mais de 9.500 quilômetros de estrada de
ferro já tinham sido construídos: São Pulo-Railway, Paulista, Mogiana,
Sorocabana e São Paulo ao Rio de Janeiro. O progresso e o desenvolvimento
econômico exigiam um “novo trabalhador”. Nas diversas regiões e cidades
brasileiras, ainda no império surgem algumas das primeiras categorias de
proletários brasileiros. Esse proletariado convivera com os escravos durante
muitas décadas, assim se diferenciando dos demais proletários de outros
países, tanto europeus como sul-americanos.
O final da escravidão implicou diretamente no surgimento do problema das
diferenças raciais. Os influentes discursos, tão decantados pelas idéias
iluministas de liberdade e igualdade colidiam com a presença marcante do
escravo liberto. O preço a ser pago para se “adentrar” ao seleto grupo de
paises civilizados passa pelo direito à igualdade do escravo e, a esse respeito,
as opiniões eram contraditórias. Ainda assim, o Brasil era apresentado nas
principais cidades européias como a terra prometida não apenas em
quantidade como em qualidade e onde todos os sonhos seriam realizados. As
propagandas veiculadas pelas companhias de navegação, interessadas no
transporte dos imigrantes, as noticias enviadas através de correspondências
enviadas pelos emigrados mexia com a imaginação dos que ficaram. Dava-se
ênfase à expansão da lavoura, à necessidade de mão de obra, às facilidades
concedidas pelo governo e aos interesses dos proprietários.
Os agentes recebiam uma “generosa” porcentagem sobre o número de
imigrantes embarcados, seduziam aqueles que sonhavam, não apenas com a
possibilidade de adquirir a pequena propriedade, mas também aqueles que se
dirigiam para as fazendas de café, principalmente no Estado de São Paulo.
“Tavares Bastos, intelectual liberal, partidário da modernização afirma ser a
imigração o mais eficaz instrumento de civilização do globo”. (Oliveira 2001
p.17).
Com o advento da República, a Constituição garantiu a nacionalização
automática de todos os estrangeiros que vivessem no Brasil e que num prazo
de seis meses, não se declarassem contrário à nacionalização. O federalismo e
a supremacia política e econômica de São Paulo possibilitaram aos estados
subsidiarem a vinda do trabalhador imigrante.
É na segunda metade do século XIX que a imigração italiana, foco desse
estudo, atinge seu auge. O Brasil e principalmente o estado de São Paulo, local
de infinitas possibilidades e esperanças para o imigrante, não deve, segundo
Sala, ser considerado como solução para a crise demográfica italiana. Também
as dificuldades e os problemas por eles vivenciados não devem comprometer
ou destruir as mais vastas possibilidades para o futuro. (Sala 2005 p. 30). De
forma sintética Sala sinaliza para alguns problemas que são identificados no
Brasil e acabam por restringir a vinda do imigrante. Os problemas identificados
por Sala estão relacionados ao processo de supremacia e hegemonia política
dos grandes proprietários de terras do oeste paulista.

A) Primeiramente, a existência, por um lado, de uma oligarquia


extremamente capitalizada, dominante e exploradora, e de outro a
grande maioria da população, as outras classes sociais, menos

11
favorecidas, aí incluídos os imigrantes em estado de inferioridade e de
servilismo, demonstrando desigualdades sociais aviltantes. Segundo
Sala, no Brasil essa oligarquia se caracteriza pelo pagamento de baixos
salários e pela existência de fortunas exorbitantes além de privilégios
usufruídos por poucos, de pouca aceitação pela mentalidade européia.
(Sala 2005, p.30). As desigualdades, os interesses de classe ou
particulares enfraqueceram os sentimentos de solidariedade com
relação aos compatriotas.
B) Outro problema refere-se ao poder ineficiente do Estado que, nem
sempre se faz presente tutelando aos mais humildes e necessitados
garantindo-lhes imparcialmente seus direitos a justiça. Isso se deve a
inexistência de homens de tradições históricas, aliados a falta de uma
burocracia administrativa dos serviços públicos e jurídicos aptos a
garantir os direitos às classes trabalhadoras em sua grande maioria
formada por imigrantes. A fabulosa concentração de fortunas nas mãos
de poucos causa uma influência maléfica à independência entre os
poderes, característica que demonstra tradição, refinamento e civilização
do Estado. (Sala. 2005 p.31 e 32).
C) “... a vida no interior do Brasil predomina o privado e arbitrário, com um
poder público superficial e cheio de defeito, com escassa ou quase nula
tutela política e jurídica e isso especialmente para os subalternos e os
dependentes econômicos, os imigrantes”. (Sala 2005, p.35).

Embora não sendo o nosso objetivo o aprofundamento nas condições do


trabalhador imigrante que tinha como destino as lavouras paulistas, não
podemos nos furtar de alguns fatos importantes na nova relação social que se
estabelecia. Os percalços nas estradas entre a estalagem e a fazenda, as
estradas eram precárias e muitas vezes eram longos os trechos a serem
percorridos a pé, ou em carros-de-boi. As crianças eram acomodadas em
cestas que as mulas carregavam e os imigrantes preparavam as próprias
refeições composta de arroz, feijão, carne, café, açúcar e toucinho. Ao
chegarem ao destino, os que não possuíam, recebiam arranjos de cama, os
trens necessários para o estabelecimento do colono. Tudo devidamente
anotado e debitado em suas contas. Também era o momento em que
recebiam e tomavam conhecimento dos “regulamentos da fazenda”, os direitos
e os deveres de cada colono instruindo a todos desde os negócios até os
festejos. Em determinadas ocasiões controle sobre a vida do imigrante se
estendia até ao seu direito de ir e vir, disciplinando o contato com parentes ou
amigos. As desobediências às normas poderiam acarretar multas revertidas
para uma caixa em benefício dos colonos. As casas eram sorteadas e,
conforme os contratos de trabalho poderiam ser utilizadas pelos colonos
gratuitamente ou alugadas.
No Brasil, o contrato de parceria foi o mais aceito. O fazendeiro cedia ao colono
determinada área de sua propriedade, com o respectivo cafezal, para ser
cultivado, colhido e beneficiado repartindo-se os resultados entre eles, na
proporção determinada pelo contrato, debitando da parte que pertence ao
meeiro os respectivos adiantamentos em moradia, alimento e utensílios.
O choque de interesses entre imigrantes e fazendeiros não tardou. O primeiro
portadores de certo grau de cultura e politização, desconfiavam das anotações,

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não estavam acostumados às longas jornadas de trabalho, ao controle
exercido pelo capataz. O segundo, acostumado a tratar com os escravos
exigiam maior dedicação ao trabalho exerciam excessivo patriarcalismo e não
aceitavam as reclamações e reivindicações dos colonos. Estes ressentiam a
falta de proteção da legislação que não garantia a liberdade, a segurança e o
acesso à propriedade. Assim, o sistema mostrou-se falho e decadente.
Por apresentar um poder público pouco desenvolvido, o capitalismo assume,
no Brasil, parte do papel que caberia ao Estado e toma a iniciativa e o controle
sobre a produção e expansão para o interior. Novas terras são incorporadas à
produção e ao Estado. O particular predomina sobre as manifestações da vida
coletiva enfraquecendo a coesão entre as raças emigradas tornando
superficiais as relações entre as classes. Especialmente no interior é possível
ser observado o absurdo, segundo a concepção européia, da supremacia dos
interesses de poucos em prejuízo de todos os outros, que é sintoma de um
escasso desenvolvimento civilizatório da nação brasileira. A esse respeito,
segundo Sala podemos concluir que o povo brasileiro é imune às paixões que
estão na base da vida européia, o orgulho da raça, os símbolos, a idéia de
imparcialidade do judiciário, a própria concepção de pátria é ignorada ou pouco
vivenciada nesta terral. (Sala, 2005. P.33). No Brasil, existem forças bem mais
potentes e eficazes do que a presumida força do estado. Por outro lado, não
podemos deixar de levar em conta o ambiente natural onde o imigrante
estabeleceu residência. A natureza inóspita e onde o Estado não se faz
presente, não faz sentido discutir as relações públicas onde a permanência
humana ainda tem caráter individual.
De maneira resumida entre os diversos problemas destacam-se a corrupção
dos magistrados, o poder e a influência dos grandes proprietários na política
local e federal. Na economia os baixos salários impossibilitavam ao imigrante o
acúmulo de recursos para passarem da condição de assalariados para a de
proprietários de terras, as dificuldades para o desenvolvimento da pequena e
média propriedade e a formação de um mercado interno. Da parte do Brasil
contribuem para o estímulo à imigração toda uma gama de causas mais
imediatas, que vão da propaganda, particularmente das companhias de
navegação, interessadas no transporte dos imigrantes, até as notícias enviadas
pelos emigrados, excitando a imaginação dos parentes e amigos, a demanda
de mão-de-obra graças à expansão da lavoura, provocada pelos preços
compensadores, às facilidades concedidas pelo governo, o interesse dos
grandes proprietários, etc.
É perceptível o diferencial entre campo e cidade. Os trabalhadores no campo
vivem quase em completo isolamento, enquanto aqueles que habitam os
centros urbanos concentram uma maior organização burocrática, vivenciando
um ambiente cultural e político de maior participação e proximidade entre as
diferentes raças que emigraram e contribuíram para a formação e civilização da
nação brasileira. Aqueles que se dirigiram para as grandes fazendas de café se
adaptaram, trabalharam com obstinação e prosperaram. Com grandes
dificuldades conseguiram acumular recursos e realizar o sonho de se tornar
proprietários. Conforme Cenini “melhor que o imigrante português e espanhol,
antigos donos do Brasil, o italiano, adaptava-se ao seu novo habitat, e já em
1901 existiam 1057 fazendeiros italianos e proprietários de 32 milhões de pés
de café” (Cenini. 2003 p.232).

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A ITÁLIA.

Na primeira metade do século XIX, a Itália não constitui uma unidade política e
territorial, portanto, não era considerado um Estado segundo a concepção
moderna do termo. É nesse período que tem início o processo de Unificação
da Itália – chamado de “Risorgimiento” (Renascimento) – movimento liberal
nacionalista.
A primeira fase foi marcada por revoltas, ações terroristas conduzidas por
sociedades secretas, como os CARBONÁRIOS, liderados por G. Mazzini e
termina com a derrota dos republicanos em 1848.
A segunda fase do processo de unificação é dividida entre monarquistas
(Cavour) e republicanos (G. Garibaldi) que contaram com apoio dos franceses
para a derrota dos austríacos e a expulsão dos bourbons. Unificação e
consolidação do capitalismo e a sua conseqüente penetração no campo
ocorrem concomitantemente promovendo uma série de mudanças que são
facilmente observadas. Por um lado o desenvolvimento industrial, a criação de
empregos, maiores investimentos e um melhor aproveitamento das terras e por
outro temos a saída dos pequenos agricultores das regiões meridionais e
setentrionais que viram na emigração a possibilidade de melhorar as condições
de vida própria e a de sua família.
Na Itália os problemas econômico e demográfico predominam sobre todos os
outros. Essa afirmação feita por Sala, só foi possível após confrontar a situação
política, social, econômica e cultual entre a Itália e outros Estados europeus. A
imigração italiana para outros países europeus se tornou difícil tendo em vista o
estado de saturação em que se encontravam a relação população e meios de
produção. Por outro lado, a América especialmente a do sul se destacava em
recursos e promessas, além de apresentar alguns atributos como a
proximidade lingüística e a tradição religiosa, como destino natural ao
imigrante.
No século XIX, para o Brasil se dirigiram milhares de trabalhadores de
diferentes nacionalidades e condições sociais que formaram, não apenas a
classe trabalhadora, como também parte de uma elite que em muito
contribuíram para a civilização e formação da nação brasileira.
Alvim, juntamente com outros autores assinala para as dificuldades em se
analisar com profundidade a história dos trabalhadores subalternos. Esse fato
se deve à falta de registros e principalmente devido à luta da elite dominante
em impor sua ideologia e escamotear essa dominação. Rebeldes Primitivos,
Bandidos, Revoltas e Consciência de Classe são alguns dos muitos títulos que
contam a história das classes subalternas do ponto de vista do oprimido. “A
historiografia italiana, contemporânea à imigração em massa buscou a causa
ora no fator expulsivo ora no atrativo além da polêmica que girava em torno da
hipótese de ter sido o crescimento demográfico italiano. (Alvim. 1986. p.23).
Ainda assim, as dificuldades permanecem, porém, mais recente os autores
italianos concordaram que a imigração em massa só pode ser analisada se for

14
considerado o crescimento do capitalismo no mundo. Conforme Alvim, as
afirmativas de que, em 1870 a imigração italiana surgiu apenas como solução
para a crise de desemprego e no Brasil como alternativa para a substituição do
trabalho compulsório não explica as mudanças ocorridas na Itália e no Brasil. A
autora propõe que a análise deve passar pela compreensão da penetração do
capitalismo no campo e ir além do simples caráter capitalista, ou seja, a
compreensão da história dos imigrantes italianos passa pelo conhecimento da
própria e da realidade das regiões de onde procederam, suas tradições,
experiências, hábitos e condições de vida. O ato de emigrar não se resume a
idéia de “fazer a América”. A expatriação não era apenas uma forma de luta
pela sobrevivência, mas, principalmente, um protesto diante das condições de
vida impostas pelo capitalismo.
Na Itália, o fenômeno imigratório não era desconhecido, internamente ocorria
de região para região e era determinado pelas difíceis condições naturais.
Porém, na medida em que o capitalismo adentrava ao campo gerava a
concentração da terra, elevava os impostos que levaram ao endividamento do
camponês e sua consequente imigração.
O Vêneto ao norte foi a região que produziu o maior contingente de emigrantes
para o Brasil. Nessa região, formada por colinas e montanhas, predominava a
pequena e média propriedade, enquanto nas planícies destacava-se a grande
propriedade, já com caráter capitalista. Encontramos ai, dois tipos distintos de
mão-de-obra: os que trabalhavam por conta própria (pequenos proprietários e
arrendatários ou meeiros) e os assalariados, trabalhadores fixos ou
temporários, os braccianti. Ao trabalho agrícola está associada a produção
doméstica de tecidos ou de palha e isso lhes dava a sensação de
independência. As famílias eram numerosas, contando com o pai, exercendo
autoridade máxima, a mãe, dois ou três filhos e suas respectivas mulheres e
netos aptos ao trabalho. Entre os homens os casamentos ocorriam por volta
dos 25 e entre as mulheres dos 19 aos 23 anos. Os compromissos eram
assumidos quando ainda muito jovens e esperava-se mais um braço para o
trabalho. O alimento mais consumido era a polenta, poucos se alimentavam de
carne ou de pão de farinha de trigo. As residências eram muito pobres, com
poucos cômodos imundos, as paredes enegrecidas e úmidas pelas chuvas, o
piso de terra ou de pedras mal ajustadas. As duras condições de vida, a
escassez de alimento e a falta de higiene causavam danos à saúde. As roupas
eram grosseiras, e praticamente tecidas em casa. Os imigrantes do vêneto
constituem os primeiros contingentes de imigrantes e, devido as suas
condições, saem sem a esperança de voltar. Desfazem-se de todos os bens,
animais e produtos agrícolas que adicionaram aos parcos pecúlios para a
viagem. Seu destino é o Estado de São Paulo onde, em razão do
deslocamento do eixo econômico do vale do Paraíba para o oeste paulista,
onde era grande a necessidade de mão-de-obra para a indústria nascente,
para as fazendas de café e para a construção de estradas de ferro ligando o
interior, a capital e o porto de Santos. É importante lembrar que é no norte da
Itália que se inicia o processo de industrialização e é lá também que se forma
um grande contingente de emigrantes egressos da indústria têxteis e
interessados em tentar melhorar a vida no Brasil. É aqui que, segundo Alvim,
os estudiosos pecam ao reduzirem todos os imigrantes a um único padrão, ou
seja, àqueles que se integram no regime de trabalho do colonato. Esse regime
diluiu as especificidades exteriores, porém a organização interna da família,

15
seus hábitos culturais, seus valores de gente da terra permaneceram
presentes.
A partir de 1886 as características dos imigrantes mudam significativamente.
Embora continuassem vindo de uma mesma região, porém, neste momento,
formam um conjunto de trabalhadores rurais específicos, os braccianti, que
engrossam as fileiras dos trabalhadores diaristas e autônomos. Estes
percebem que o sonho da pequena propriedade se encontra cada vez mais
distante. As condições subumanas de trabalho forçavam a busca de novas
terras. Esses imigrantes tinham famílias menores e com menos braços para o
trabalho se comparadas com a dos meeiros e pequenos proprietários com
salários insuficientes para a alimentação. Isso influi diretamente no pátrio poder
que é menor em virtude do pai não possuir terras. Os filhos, após o casamento
deixavam os pais levando tudo o que podiam para montar sua própria moradia.
Se não houvesse o que levar a família se separava e o passo seguinte era a
emigração.
Do sul da península saíram emigrantes da Calábria, da Campânia, Abruzzi e
Molise. Segundo E. Sereni “não é a falta de terras e as condições naturais na
Itália que provocaram o grande fluxo migratório, O fenômeno deve ser buscado
nas condições e nas relações sociais produzidas pelo desenvolvimento do
capitalismo na região”. (Alvim, 1976 p.54). O sul da península apresentava
resíduos feudais, era pobre e as técnicas agrícolas rudimentares. Os grandes
proprietários ou arrendatários dividiam suas terras em minúsculos pedaços
insuficientes para proverem o sustento do trabalhador e também não tinham
interesses em modificar essa situação. O camponês empobrecido não
conseguia saldar suas dívidas que poderiam ser pagas em produtos ou em
espécie. A indústria artesanal que deveria complementar a agrícola foi
abandonada. O produtor voltou seus olhos para a produção de trigo que tinha
por objetivo concorrer com o norte da Itália.
Ao sul e ao Norte a posse da terra se assemelhava, porém, ao norte a
produção era adequada ao tipo de solo e ao clima, isso não ocorria no sul.
Após a unificação, na região meridional predominava o cultivo das oliveiras,
das amêndoas e a fruticultura. Na península os contratos agrários expunham o
trabalhador a condições indignas e aviltantes. O camponês do sul tinha uma
alimentação semelhante ao do norte, sendo a polenta o alimento mais
consumido, o consumo de pão de trigo e carne de vaca poderia ser
considerado um luxo. Se comparados aos setentrionais os meridionais
moravam em piores condições e a falta de higiene provocava muitas doenças
sendo que a malária estava muito presente entre os camponeses. Esse
contexto permite entender a emigração meridional para o Brasil, principalmente
quando o fluxo do norte se tornou menor.
Por outro lado, devemos salientar que enquanto país receptor, o Brasil era
apresentado na Europa como o país das possibilidades, com grandes
excedentes de terra e em princípio sem nenhum tipo de restrição a qualquer
imigrante. As primeiras levas de imigrantes, devido à exploração e à recusa em
serem transformados, na Itália, em proletários, era composta por famílias que
possuíam recursos financeiros, pertenciam em sua maioria a grupos de
meeiros, de pequenos proprietários e dos arrendatários independente de serem
do norte ou do sul. O que move o europeu a migrar não é apenas o medo da
exaustão dos recursos naturais, a fome e a densidade demográfica, mas
principalmente a esperança no futuro – se não para si, pelo menos para os

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filhos e netos. De um lado, uma civilização refinada e com poucos recursos
econômicos naturais, a Itália e de outro a rusticidade, um ambiente a ser
explorado de recursos infinitos para o amanhã, o Brasil.
As questões políticas ligadas ao socialismo e às disputas entre capital e
trabalho, segundo Sala, não se constituem em fatores predominantes para que
ocorra o fenômeno imigratório. Este fenômeno emigratório progresso,
universal e espontâneo é, segundo Eça de Queiroz, exclusivo do século XIX.
Uma análise superficial dos recursos naturais demonstra uma grande diferença
em favor da América, quando comparada à Europa. Referindo-se
especificamente a América do Sul percebe-se que a mesma se encontra no
início de seu ciclo econômico e com amplas possibilidades de desenvolvimento
e progresso.
Assim, a principal contribuição dos imigrantes italianos assenta-se em particular
no familismo e na ética do trabalho, na constituição dos alicerces culturais e
morais da sociedade brasileira, no momento em que estavam em curso tanto a
formação do povo e da nação quanto à transição para o sistema de produção
mercantil-exportador baseado no trabalho livre.
Os italianos ajudaram a construir São Paulo, influenciando profundamente o
paulista na maneira paulista de falar, na culinária, na arquitetura e na música.
Bairros como o Brás, Bexiga, Mooca, entre outros, tiveram no imigrante italiano
seu principal elemento cultural formador. Na região central dominaram o
comércio ambulante e instalaram cantinas incorporando-se definitivamente no
padrão alimentar paulistano. Revolucionaram hábitos e costumes nos diversos
estados das regiões sul e sudeste. “Muitos, na tentativa de manter os laços com
suas origens reconstruíram o novo lar com retratos de família, imagens
religiosas, objetos de decoração, tudo aquilo que possa fazer lembrar sua terra
natal e a família”. (Oliveira, 2001, l20).

CIVILIZADOS E BÁRBAROS

Civilizados e bárbaros são conceitos construídos historicamente e relacionados


com a cultura, com o desenvolvimento econômico, científico, hábitos e
maneiras e comportamentos aceitos em sociedades. Esses padrões de
comportamento não são permanentes, isto é, passam por transformações.
Uma simples análise comparativa entre civilizações pode levar a erros
etnocêntricos de compreensão. Grandes civilizações podem ser chamadas de
bárbaras por não possuírem os mesmos valores quando comparadas a outras.
Norbert Elias, sociólogo e observador das mudanças e refinamento dos
costumes verificados na Europa a partir da Idade média e do maior contato
com oriente, considerado mais civilizado que os povos do ocidente. Esse
contato ganhou em importância a partir das Cruzadas e muito da civilização
oriental foi incorporada, não sem resistência, pelos ocidentais. A introdução das
boas maneiras à mesa, a utilização de talheres, de utensílios onde os
alimentos eram servidos, a inclusão de legumes (considerados comida dos
pobres). No período chamado de Idade Média, o domínio econômico e cultural

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dos orientais, centralizados em Bizâncio colocava os ocidentais como rústicos
semibárbaros. Os ocidentais desconheciam o uso do garfo. Em toda a Europa
ocidental só a faca era utilizada, porém não como um talher, mas como um
instrumento de múltiplas utilidades – desde o corte da carne, podendo ser
utilizada para palitar o dente, matar, cortar, etc. Apenas no período
renascentista o garfo será aceito juntamente com outros talheres.
Assim, boas maneiras e civilidade iniciam uma divisão social entre nobres e
camponeses. Segundo Erasmo, (Sobre as maneiras de civilidade das crianças,
1530), ensina que “Devemos recolher as sujeiras do nariz em um lenço”,
somente o camponês ou um vendedor de peixe utiliza o boné ou a roupa.
Etiqueta e boas maneiras vão além do que devemos ou não fazer. É um
conjunto de procedimentos que são valorizados, do bom e do belo, ligado aos
requintes dos governantes e a seus membros de maior destaque.
Junto ao conceito de civilização é de fundamental importância a percepção de
que o domínio da língua franca é essencial para definir o que é ou não central o
que é civilizado ou bárbaro, o que é competitivo o que detém ou não a
informação. Por língua franca, entendemos a língua predominante de contato
ou de relação entre grupos linguisticamente distintos para o comércio
internacional e outras interações mais extensas.
As boas maneiras, os padrões de comportamento, hábitos e costumes
considerados aceitáveis de acordo com os europeus ocidentais foi um
processo extremamente lento.
A Europa medieval é pouco refinada. O contato dos cruzados com Bizâncio e
com os árabes principalmente a partir do século XIII levou os ocidentais ao
lento processo de “civilizar seus costumes”
Por ser um termo muito abrangente, conceituar “civilização” não é tarefa fácil.
Segundo Norbert Elias, o termo apresenta uma variedade de fatos: ao nível da
tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos
científicos, às idéias religiosas e aos costumes. Pode se referir ao tipo de
habitações, como homens e mulheres vivem juntos, sistema jurídico ou o modo
como são preparados os alimentos. (Elias, 1994 p.23). O que haveria de
comum nas atitudes e atividades humanas que poderiam ser consideradas
como civilizadas? Ainda segundo Elias, este conceito expressa a consciência
que o ocidente tem de si mesmo, o nacionalismo. “Ele resume tudo em que a
sociedade ocidental dos últimos dois ou três séculos se julga superior às
sociedades mais antigas ou a sociedades contemporâneas ‘mais primitivas’.
Com essa palavra procura descrever o que lhe constitui o caráter especial e
aquilo de que se orgulha”. (Elias, 1994 p.23). O conceito, além das
dificuldades acima citadas, apresenta diferentes significados nas nações
ocidentais: ingleses e franceses empregam a palavra diferentemente de
alemães. Para os primeiros o termo civilização apresenta um conceito amplo se
referindo tanto ao orgulho pela importância de sua nação, ao progresso
científico e tecnológico, a fatos políticos e jurídicos e aos comportamentos e
hábitos das pessoas. Esse termo esta relacionado a movimento é dinâmico tem
um sentido e é constante, isto é, “para frente". Para o alemão o termo tem um
significado mais restrito, zivisation significa algo útil, compreendendo apenas a
aparência externa, em suma, a superfície da existência humana. Kultur é a
palavra que lhes expressa o orgulho de sua sociedade se refere basicamente
aos fatos intelectuais, artísticos e religiosos separando estes, dos fatos
políticos, econômicos e sociais. “A palavra kultiviert (cultivado), segundo Elias,

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é a que mais se aproxima do conceito ocidental de civilização, descreve a
qualidade social das pessoas, suas habitações, suas maneiras, sua fala, suas
roupas, etc.”. Já o termo kulturell, adjetivo de kultur, descreve o valor de
determinados produtos humanos, e não o valor intrínseco da pessoa. (Elias,
1994 p.24). O conceito de kultur, em oposição ao de civilização, enfatiza as
diferenças nacionais e a identidade particular de grupos próprios de um povo
que assegurou tardiamente suas fronteiras e identidade nacional. Porém, é
importante destacar que o conceito de “civilizado ou incivilizado”, a forma pelas
quais certas áreas são incluídas ou excluídas, como coisa natural, as
avaliações que são realizadas e a subjetividade nelas implícitas são de difícil
compreensão para um estranho e não habituado aos conceitos ocidentais
padronizados de comportamentos sociais. Assim, por mais diferentes que seja
a auto-imagem que ingleses, franceses e alemães expressam de sua
“civilização e kultur” é a maneira como o mundo dos homens, como um todo
quer ser visto e julgados por seus pares.

A Imigração no Paraná

A antiga Província do Paraná, hoje denominado Estado do Paraná, nasceu em


1853, após o seu desmembramento da então Província de São Paulo.
Imediatamente após a autonomia o governo paranaense lançou um programa
oficial de imigração européia visando a expansão do povoamento e o
surgimento de novas atividades econômicas na Província paranaense. Em
1871, se instalaram na província um grupo constituído de imigrantes originários
do Vêneto e do Tirol. Foram agenciados por Sabino Trípoli e fixaram-se em
Alexandra, região próxima a Paranaguá. Esse agenciador recebia 500 libras
por imigrante. A colonização dessa região não se concretizou devido a fatores
relacionados às sementes que não geraram frutos e as adversidades climáticas
que derrotavam aos imigrantes. Assim, buscaram novas terras onde pudessem
se dedicar à industria extrativa da madeira, principal atividade econômica no
período.
Outra leva de italianos que se destinaram ao Paraná desembarcaram no Porto
de Paranaguá em 1878. Inicialmente pretendiam estabelecer-se no litoral,
porém, o calor excessivo e a pobreza do solo fizeram com que subissem a
serra e se instalassem em Curitiba, onde fundaram bairros relevantes: Água
Verde, Pilarzinho e Santa Felicidade. Este último, na virada do século XVIII
para o XIX serviu de caminho para os tropeiros e posteriormente se
transformou em parada de camioneiros. Hoje, são um dos maiores centros
gastronômicos do país, com dezenas de restaurantes. O bairro de Santa
Felicidade preserva muito da cultura trazida pelo imigrante italiano. Esses
imigrantes vindos em sua grande maioria da região do Vêneto e do Trento, ao
Norte da península. Inicialmente dedicaram-se à produção de queijos, vinhos e
hortigranjeiros sendo que o nome do bairro e parte das terras para a produção

19
foi doado por Dona Felicidade Borges. Junto aos seus pertences traziam um
forte sentimento de religiosidade, cultuavam a tradicional culinária italiana,
praticavam o cultivo das uvas e o artesanato de vime. Além da culinária
recebemos também como influencia dos imigrantes italianos o sentimento
passional, na educação, na música e na arquitetura. A construção de Igrejas,
praças, bosques e palácios embelezaram e civilizaram a cidade. Outras
correntes imigratórias também se fizeram presentes no estado e influenciaram
não apenas os hábitos e a cultura, mas também o ritmo de crescimento e
desenvolvimento da cidade.
O progresso e o desenvolvimento do Paraná esta ligado à construção da
estrada ferroviária que liga Curitiba e os estados do sul ao Porto de Paranaguá.
Oficialmente a construção teve início em 1880 e o objetivo era estreitar as
relações entre as cidades do litoral e a Capital do estado promovendo o
desenvolvimento social. Contou com a participação de nove mil trabalhadores
que em sua maioria era de imigrantes.
O PALÁCIO DE GIUSEPE GARIBALDI – http://www.curitiba-
paraná.net/italianos.htm

Conclusão.

Uma nova leitura tendo como tema a substituição do trabalho escravo pelo livre
e assalariado no Brasil, possibilitou perceber que sob a ótica do
desenvolvimento e do processo civilizatório, a contribuição do imigrante,
principalmente a do italiano, atingiu aos objetivos definidos pela elite dominante
constituída pelos grandes fazendeiros do Oeste paulista.
O processo imigratório em massa em primeiro lugar significou um profundo
rompimento com a vida anterior, os bens materiais foram convertidos em
espécie para serem utilizados durante a viagem e para por em prática o sonho
da posse da terra, algumas famílias foram separadas enquanto outras se
mantiveram unidas. Muitos trouxeram, além das experiências do trabalho nas
lavouras e nas indústrias nascentes, as idéias. Eram em bom número letrados,
haviam entrado em contato com o pensamento socialista e anarquista. Em
terras brasileiras buscaram manter a unidade étnica e ideológica, formaram
associações de ajuda mútua fundaram jornais, casas de comércio e indústrias,
construíram escolas e hospitais para garantir a manutenção dos valores
familiares e culturais. Suas lutas solidárias e reivindicatórias fizeram com que o
Estado se estruturasse tornando-se mais presente, garantindo alguns poucos
direitos.
Em razão de ter sido a mão de obra imigrante dominante na indústria paulista
até 1920, o imigrante italiano foi aquele que melhor se adaptou, influenciou e
recebeu influência no Estado de São Paulo. Nas grandes fazendas
trabalhavam obstinadamente enfrentando as dificuldades impostas pela
natureza hostil e pelos fazendeiros rústicos, de pouca civilidade e acostumados
a tratar os trabalhadores como “coisas”. A baixa remuneração paga ao
trabalhador imigrante não deve ser creditada apenas à mentalidade escravista

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dos latifundiários, mas também, conforme Trento, “a um cálculo preciso e de
longo prazo. Se o imigrante tivesse facilidade em tornar-se proprietário, o
fazendeiro teria dificuldades em conseguir a força de trabalho que
necessitava”. (Trento. 1989 p. 52).
Sobre o fenômeno imigratório são possíveis duas leituras não excludentes: por
um lado, as dificuldades e os sofrimentos impostos aos trabalhadores
imigrantes e por outro, o que caracteriza o capitalismo, o progresso, o
enriquecimento e a posse da terra. Nas cidades, o imigrante contribuiu para o
crescimento do proletariado, do desenvolvimento das cidades, para com o
surgimento de bairros e para com a industrialização. Trabalharam como
mascates, donos de pequenos estabelecimentos comerciais, levaram sua
cultura, suas danças, músicas e alegria aos vários estados brasileiros.
O Brasil, segundo a concepção européia, é pouco civilizado por ainda
apresentar a coexistência de trabalhadores escravos com trabalhadores livres,
bem como por possuir fracas instituições governamentais nas quais o interesse
privado sobrepõe-se ao interesse público. O choque cultural se fez presente
modificando as relações de trabalho e sociais. Sala tem uma visão eurocêntrica
de superioridade ao comparar o Brasil à Europa. Segundo ele, a superioridade
cultural, o desenvolvimento de técnicas de produção, de organização e o bom
funcionamento das instituições públicas sempre estão relacionadas ao mundo
europeu, embora reconheça que com a contribuição dos imigrantes muitas
mudanças ocorreram no Brasil, levando o País no sentido do desenvolvimento
e do aperfeiçoamento das instituições brasileiras, bem como num estágio mais
avançado de civilização de seu povo.
O trabalho familiar foi a forma que o imigrante adotou para manter a unidade, o
orgulho e a dignidade de uma raça que abandonou a terra natal em busca de
melhores condições de vida. Aqui encontraram o espaço e as condições para
passarem da condição de operários para a de industriais, de pequenos
camponeses a latifundiários, comerciantes, sindicalistas, jornaleiros e
jornalistas. Participaram da geração de riquezas, ampliaram a produção e o
mercado consumidor. Enfim contribuíram para com o processo de crescimento,
desenvolvimento, formação e civilização da nação brasileira.

21
Referências:

ALVIM, Zuleika M.F. Brava Gente! Os italianos em São Paulo (1870-1920). São
Paulo. Brasiliense, 1986.

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