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Sócrates e o Valor do Conhecimento.

Kherian Gracher

Universidade Federal de Ouro Preto


Resumo: O objetivo deste artigo é investigar a resposta de Platão no Menon para as questões
sobre a natureza e o valor do conhecimento, criticando a interpretação tradicional que confere à
justificação um papel proeminente na determinação do valor do conhecimento e avançando a
tese de que esse valor deve ser relativizado ao objeto que se busca conhecer. Investigamos
também as consequências dos contraexemplos de Gettier para a definição do conhecimento
como crença verdadeira e justificada e para o problema do valor.
Palavras-Chave: Valor do Conhecimento; Problema do Valor; Sócrates; Menon; Gettier.

I. Introdução

Um dos problemas centrais da epistemologia (teoria do conhecimento) é explicar a


natureza do conhecimento; para responder a esse problema, os epistemólogos buscam
oferecer uma definição explícita do conhecimento. Contudo, um problema intimamente
relacionado ao problema de definir o conhecimento é saber qual é o valor do
conhecimento, i.e., o problema de saber por que o conhecimento teria mais valor do que
aquilo que não é conhecimento. A discussão de ambos os problemas se remontam a
Platão e, hoje em dia, autores como Zagzebski, Greco, Pritchard e Kvanvig são
referências obrigatórias.

O problema do valor do conhecimento não é devidamente abordado em muitas


teorias epistemológicas, porém é argumentável que uma resposta bem sucedida a esse
problema é crucial para qualquer teoria que tente explicar a natureza do conhecimento.
Ou seja, uma teoria que tente definir o conhecimento, explicando assim sua natureza,
mas que não seja capaz de explicar por que o conhecimento tem mais valor do que
aquilo que não é conhecimento falha em ser uma teoria epistemológica promissora. Já
uma teoria capaz de responder com sucesso o problema do valor do conhecimento tem
boas chances de ser uma teoria que obtenha sucesso ao explicar sua natureza. Posto de
outro modo, há uma estreita relação entre ambos os problemas, e uma teoria capaz de
responder a ambos com sucesso deverá ser considerada a melhor teoria.
Como dito anteriormente, tanto o problema da natureza do conhecimento como o
problema acerca de seu valor são encontrados nos diálogos de Platão, mais
precisamente no Menon. Tradicionalmente são atribuídas a Platão as teses de que o
conhecimento é definido através da conjunção de três condições, nomeadamente, crença
verdadeira e justificada, e que o valor do conhecimento está relacionado com a
justificação. Sendo assim, a teoria platônica tal como interpretada pela tradição
filosófica responderia tanto ao problema da natureza como ao problema do valor do
conhecimento. Vejamos como Platão chega a essas conclusões retornando a fonte
histórica.

II. Análise do Menon

O tema central do Menon é a virtude. Basicamente, os problemas são saber o que é a


virtude e se a virtude é inata ou pode ser ensinada. Ainda que o diálogo não se centre na
discussão epistemológica, Sócrates apresenta uma interessante tese acerca do
conhecimento. Vejamos o principal argumento do diálogo para situarmos a tese
epistemológica aí estabelecida. Sócrates e seu interlocutor Menon aceitam a seguinte
premissa:

(1) Se um indivíduo é virtuoso, então ele age corretamente, suas ações são boas
e são também proveitosas.

Aqui são estabelecidas três condições para que possamos atribuir a virtude a
uma pessoa: a sua ação tem de ser correta, boa e proveitosa. Para Sócrates e seu
interlocutor, essas condições são necessárias para a virtude, mas elas não seriam
conjuntamente suficientes. Outras premissas também aceitas são:

(2) Se as ações de uma pessoa são boas, então ela age proveitosamente.

(3) Se as ações de um indivíduo são proveitosas, então ela age corretamente.

Essas duas premissas foram defendidas por Sócrates no decorrer do diálogo e


são igualmente aceitas por Menon. A quarta premissa Sócrates afirma haver
discordância com o seu interlocutor. Ela é a seguinte:
(4) Um indivíduo age corretamente se, e somente se, tem conhecimento de como
agir.

Sobre a premissa (4), Sócrates apresenta o famoso exemplo da estrada para a


cidade de Larissa. Digamos que queremos ir à cidade de Larissa, mas não fazemos a
menor ideia como chegar lá. Temos a opção de sermos levados por dois guias, o guia (a)
conhece a estrada para Larissa e já a percorreu diversas vezes, já o guia (b) tem apenas
uma “opinião verdadeira” ou “crença verdadeira” sobre qual estrada seguir, mas nunca
foi até lá. Segundo Sócrates, ambos saberão nos guiar até a cidade, de modo que o guia
(b), que tem apenas uma crença verdadeira, não é em nada inferior ao guia (a), que sabe
o caminho para Larissa. Ou seja, tanto aquele que tem uma crença verdadeira como
aquele que conhece são capazes de agir corretamente. Eis que Sócrates modifica a
premissa (4):

(4*) Um indivíduo age corretamente se, e somente se, tem conhecimento de


como agir, ou tem uma crença verdadeira de como agir.

O interlocutor Menon questiona Sócrates perguntando por que razão o


conhecimento seria então muito mais valorizado do que a crença verdadeira, e o que
diferenciaria um do outro, já que tanto o conhecimento como a crença verdadeira
permitem agir corretamente. Sócrates identifica a diferença utilizando uma analogia
com mitológicas estátuas de Dédalo. Conhecido como um grandioso escultor, Dédalo
teria criado estátuas que podiam se mexer. Hoje chamaríamos suas estátuas de
“autômatos”, i.e., mecanismos com capacidade de imitar movimentos e se locomover.
De acordo com Sócrates, a crença verdadeira se assemelha a uma estátua de Dédalo,
que se não for encadeada e bem presa, ela pode sair vagando e ir embora. Possuir uma
estátua de Dédalo, segundo Sócrates, não tem valor caso ela seja solta, mas caso seja
presa, são obras muito belas. A crença verdadeira se assemelha as estátuas de Dédalo
pelo fato de que, enquanto estáveis, são belas e capazes de guiar corretamente a ação,
mas quando fogem de nada servem. Até que se encadeie uma crença verdadeira por um
“cálculo de causa”, i.e., um raciocínio, ela se manterá solta. Quando encadeadas,
segundo Sócrates, elas se tornam conhecimento, ou seja, se tornam mais estáveis. É por
causa do encadeamento e estabilidade, que podemos chamar de “justificação”, que o
conhecimento é de mais valor que a crença verdadeira.

À primeira vista, ao diferenciar o conhecimento da crença verdadeira, Sócrates


parece responder aos dois principais problemas epistemológicos. O conhecimento é
definido como crença verdadeira mais “encadeamento”, ou condição que é capaz de
trazer estabilidade, i.e., justificação. Além disso, o valor superior do conhecimento é
dado por essa condição que difere da crença verdadeira, a justificação. Na discussão
contemporânea sobre o valor, essa resposta é assumida como a tese de Sócrates quanto
ao problema do valor. Ou seja, que conhecimento tem mais valor do que a crença
verdadeira por conta de sua estabilidade. Porém podemos discordar desta análise. Para
vermos o porquê, continuemos o argumento principal do diálogo Menon.

O interlocutor Menon questiona novamente Sócrates se a virtude é inata ao ser


humano, i.e., se os homens são naturalmente virtuosos ou não, ou se a virtude pode ser
ensinada. Sócrates apresenta então as seguintes premissas:

(5) Se a virtude é inata, então não é um conhecimento ou uma opinião


verdadeira, visto que as pessoas nascem virtuosas ou não.

(6) Se a virtude é ensinada, então há mestres que ensinam como ser virtuoso.

(7) E a virtude é ensinada se, e somente se, é um conhecimento, e não uma mera
opinião verdadeira.

A defesa de cada uma dessas premissas é feita durante o diálogo. Sócrates


sustenta que para um indivíduo ser virtuoso ele deve agir corretamente (segundo a
premissa (1)), e para agir corretamente ele deve ter conhecimento ou opinião verdadeira
(segundo a premissa (4*)). Segue-se que a virtude não pode ser inata (da premissa (4*)
e a premissa (5)), pois para agir virtuosamente (segundo (1)) deve-se agir corretamente,
e para agir corretamente (segundo (4*)) ou se deve ter um conhecimento de como agir,
ou ter uma crença verdadeira. Mas se para agir virtuosamente se deve ter um
conhecimento ou uma crença verdadeira de como agir, então a virtude não é inata
(modus tollens da premissa (5)). Como aceito por Sócrates e Menon, não há mestres da
virtude, pois há indivíduos virtuosos que nunca foram ensinados, como há casos de
indivíduos que foram ensinados acerca de como agir virtuosamente e, mesmo assim,
não o são. A afirmação que não há mestres da virtude implica que a virtude não é
ensinável (por modus tollens a partir da premissa (6)). E se a virtude não é ensinável,
então ela também não é conhecimento (também por modus tollens a partir da premissa
(7)). Como para agir virtuosamente o indivíduo deve agir corretamente, e para agir
corretamente há a disjunção entre saber como agir ou ter a crença verdadeira de como
agir. Da conclusão extraída da premissa (7), a saber, que a virtude não é um
conhecimento, ou seja, não é saber como agir, pode-se concluir por silogismo disjuntivo
que a virtude é uma crença verdadeira. Ou, como chamou Sócrates, uma “opinião feliz”.

Para chegar à conclusão que a virtude é alcançada através de uma crença


verdadeira, Sócrates necessita garantir a verdade da premissa (4*). A premissa (4*),
basicamente, afirma que tanto o conhecimento como a crença verdadeira são capazes de
guiar corretamente uma ação. Desse modo, como Sócrates mesmo diz:

“Logo, a opinião correta [crença verdadeira] não será nada inferior à


ciência [conhecimento] nem menos proveitosa em vista das <nossas>
ações, e tampouco um homem que tem opinião correta, inferior ao que
tem ciência ou menos proveitoso que ele.” (Platão, 2001; pp. 103).

Assim, o valor do conhecimento não é superior ao valor da crença verdadeira caso o


que se visa é um guia para agir corretamente. Contrariamente à opinião de grande parte
dos comentadores dos diálogos platônicos, podemos afirmar que Sócrates não defende
que o conhecimento é, por si só, mais valioso do que a crença verdadeira.
Aparentemente, Sócrates defenderia a tese de que o valor do conhecimento e da crença
verdadeira é relativo a aquilo que se procura. Caso queiramos agir corretamente, tanto a
crença verdadeira como o conhecimento são valorosos. Se visamos agir virtuosamente,
segundo a tese de Sócrates, o conhecimento será menos valoroso de a mera crença
verdadeira (visto que a virtude não é ensinável e deste modo não é algo que se conhece).
Já se o que procurarmos é termos crenças estáveis, o conhecimento seria mais valoroso
que uma crença verdadeira.

III. Gettier e a Interpretação Tradicional da Tese Socrática


Até o século XX a grande maioria dos epistemólogos aceitou a interpretação
tradicional das respostas de Sócrates ao problema da natureza e do valor do
conhecimento, mas após os trabalhos desenvolvidos por Gettier (1963) a epistemologia
voltou a ser um campo de intensa discussão acerca destes problemas. O artigo de Gettier
chamado “Is Justified True Belief Knowlegde?” apresenta contraexemplos à tese
socrática. Nesse artigo, são apresentados casos nos quais as três condições para
conhecimento são satisfeitas e, ainda assim, não aceitamos tais casos como situações no
qual um indivíduo conhece algo. Vejamos um dos contraexemplos.

Segundo a tese socrática, o conhecimento é definido através de três condições que


lhe são conjuntamente suficientes, sendo elas a crença, a verdade e a justificação
(chamaremos essa tese de definição “tripartida”). Imagine o caso que Smith tem fortes
indícios a favor da seguinte proposição:

(a) Jones tem um Ford.

Ele está justificado em acreditar em (a) porque sempre viu Jones andar com um
Ford e outro dia Jones lhe ofereceu carona nesse Ford. Agora imagine que Smith
seleciona o nome de um amigo, Brown, e de três cidades diferentes do mundo. Com o
nome de seu amigo e três nomes de cidades ele cria três proposições diferentes:

(b) Ou Jones tem um Ford ou Brown está em Boston;

(c) Ou Jones tem um Ford ou Brown está em Barcelona;

(d) Ou Jones tem um Ford ou Brown está em Brest-Litovsk.

Smith está completamente apto a acreditar justificadamente em qualquer uma dessas


três últimas proposições, mesmo que ele não faça ideia de onde Brown se encontra. Isso
em virtude do valor de verdade da disjunção (basta que Jones tenha um Ford para que
todas as três proposições sejam verdadeiras) e do princípio de fechamento (se Smith
está justificado em acreditar que (a) é verdadeira e se (a) é verdadeira, isso implica a
verdade de (b), (c) e (d), e Jones estará justificado em acreditar em (b) (c) e (d)).
Contudo, imaginemos que Jones nunca teve um Ford, mesmo que todos os indícios que
Smith obteve o justificassem em acreditar no contrário e, além disso, que por uma mera
coincidência Brown realmente está em Barcelona, o que torna a proposição (c)
verdadeira. Podemos dizer que Smith sabe que (c) ou Jones tem um Ford ou Brown está
em Barcelona? Aparentemente, não. Mas segundo a definição tripartida, Smith satisfaz
todas as condições para afirmarmos que ele sabe que (c), isto é, acredita em (c), tem
justificativas para acreditar que (c) em virtude das justificativas que ele tinha para
acreditar em (a) e, ao final, (c) é verdadeira.

Os contraexemplos de Gettier reintroduziram nos debates epistemológicos o


problema da natureza do conhecimento e, consequentemente, o problema do valor do
conhecimento. Se a crença verdadeira e justificada não é suficiente para o
conhecimento, então alguma das três condições deve ser alterada (e normalmente a
opção é alterar a condição de justificação) ou se deve adicionar uma quarta condição
para que a definição seja bem sucedida. Seja como for, i.e., seja o conhecimento uma
crença verdadeira e justificada somada a uma quarta condição ou não envolver a
justificação, o valor do conhecimento não pode depender da justificação, que, segundo a
tese atribuída a Sócrates, seria o que confere valor ao conhecimento.

Portanto, se aceitarmos os contraexemplos de Gettier, a tese socrática sobre o


valor do conhecimento, tal como tradicionalmente elaborada, é refutada. O
conhecimento não é definido através da conjunção das três condições, nomeadamente,
crença verdadeira e justificada, e não tem valor por conta de sua justificação. No
entanto, como apresentado acima, podemos desenvolver uma interpretação da tese de
Sócrates diferente da que é feita tradicionalmente.

IV. Gettier e a Interpretação Alternativa da Tese Socrática.

Como vimos anteriormente, Sócrates concluí no Menon que não é possível saber
como agir virtuosamente e que a virtude é uma mera crença verdadeira. Ele defende tal
afirmação através tese que algo é ensinável se, e somente se, pode ser conhecido e,
como a virtude não é ensinável, não se pode saber como agir virtuosamente. Além disso,
ele assume que tanto a crença verdadeira como o conhecimento são capazes de guiar
corretamente uma ação, não tendo um maior valor que o outro se o que se busca é agir
corretamente. Podemos aceitar que agir virtuosamente é algo importante e valioso, e
este valor é distribuído com aquilo que permite agir virtuosamente, i.e., a crença
verdadeira que permite agir virtuosamente. Dito de outro modo, se agir virtuosamente
tem alguma espécie de valor, e se para agir virtuosamente não é possível ter
conhecimento de como agir, mas apenas uma crença verdadeira de como agir, então
essa crença verdadeira é tão valiosa quanto agir virtuosamente. Desse modo, se o que se
pretende é agir virtuosamente, o conhecimento não tem valor superior à crença
verdadeira.

A interpretação tradicional adota a resposta de Sócrates ao problema da natureza


do conhecimento como a afirmação de que o conhecimento uma crença verdadeira e
justificada, e a resposta ao problema do valor como a dependência que o valor do
conhecimento tem da justificação. Segundo essa interpretação, a resposta ao problema
do valor fica comprometida com a resposta ao problema da natureza do conhecimento,
pois nela é exatamente a condição de ser justificado que tornaria o conhecimento mais
valoroso. Contudo, através da interpretação alternativa aqui proposta, podemos separar
o problema da natureza do conhecimento do problema do valor. A resposta de Sócrates
ao problema da natureza se mantém a mesma, mas a resposta ao problema do valor seria
a de que o conhecimento não tem um valor superior, por si mesmo, quando comparado
ao que não é conhecimento. A resposta socrática ao segundo problema é que a diferença
do valor entre conhecimento e aquilo que não é conhecimento é estabelecido em relação
àquilo que se procura.

Os contraexemplos de Gettier foram capazes de refutar a tese socrática sobre o


problema da natureza do conhecimento e assim refutando a resposta socrática ao
problema do valor (ao menos na interpretação tradicional). Todavia, segundo a
interpretação alternativa, a resposta socrática ao problema do valor é imune aos
contraexemplos de Gettier. Ainda que a crença, a verdade e a justificação não sejam
condições que conjuntamente são suficientes ao conhecimento, o valor do conhecimento
não é dado por nenhuma dessas condições, mas sim pela função que tem o
conhecimento em diferentes situações que envolvem diferentes propósitos. Variando-se
a situação e o propósito de uma ação, por exemplo, seja ele agir virtuosamente ou ter
uma crença segura, o conhecimento terá um valor superior ou inferior a aquilo que não
chega a ser conhecimento (e.g., crença verdadeira e justificada).

V. Possíveis Objeções

Podem-se fazer duas espécies de objeções à interpretação alternativa da tese


socrática, objeções exegéticas ou históricas, ou objeções que visam diretamente à
resposta apresentada ao problema. Tentarei antecipar algumas objeções da segunda
espécie, que aparentemente tem maior conteúdo filosófico.

Pode-se argumentar que o problema do valor do conhecimento é saber por que


razão o conhecimento tem mais valor epistêmico do que as condições que formam seu
subconjunto e que não lhe é suficiente. Desse modo, a resposta proposta apresenta um
tipo de valor que muda conforme a situação varia. Por exemplo, se o que visamos é agir
virtuosamente, (aceitando as conclusões de Sócrates) o conhecimento não tem valor em
relação a uma crença verdadeira. No entanto, seria esse valor um valor epistêmico?
Aparentemente, não. O conhecimento teria um valor inferior à crença verdadeira se nos
referimos a um valor específico para aquela situação, um valor prático para agir
corretamente, mas isso não funciona para o valor epistêmico.

Primeiramente, o que se entende como valor epistêmico? Essa noção de valor


epistêmico parece ser um tipo de valor que, indiferente em relação a o que se esta
comparando, o conhecimento sempre terá um valor superior. Seria esta uma espécie de
valor criada ad hoc para o conhecimento sempre ser superior? Se o valor epistêmico não
for um valor manipulado para o conhecimento sempre ser superior, mas sim que é o
caso do conhecimento sempre ser superior nesse quesito, ainda podemos perguntar o
porquê de isso ocorrer. Mas não seria o problema do valor dependente do problema da
natureza do conhecimento, uma espécie de problema sem solução a menos que se tenha
uma resposta ao problema da natureza? Pois uma resposta direta ao problema do valor é
que a natureza do conhecimento, seja ela qual for, faz com que tenha mais valor
epistêmico do que o subconjunto de condições que não são suficientes ao conhecimento.
Essa resposta parece ser óbvia, mas ela retorna ao problema da natureza do
conhecimento.
Há a intuição comum de que o conhecimento tem mais valor que aquilo que não
é conhecimento. Aparentemente, essa é a intuição que faz com que os filósofos se
preocupem tanto em descobrir a natureza do conhecimento, como também faz com que
tantas pessoas busquem incansavelmente o conhecimento e não apenas uma crença
verdadeira. Todavia, essa intuição não entende o valor do conhecimento sempre relativo
a aquilo que se está buscando, mas sim que o conhecimento é sempre mais valoroso do
que aquilo que não é suficiente. No entanto, o que justifica esta intuição? Há uma
grande maioria de casos nos quais o conhecimento tem valor superior, ou ao menos tem
um valor igual que aquilo que não lhe é suficiente. Além do mais, é argumentável que o
caso apresentado no qual o conhecimento tem um valor inferior à crença verdadeira não
esteja correto, uma vez que podemos assumir que a virtude é sim ensinável, de modo
que tanto o conhecimento como a crença verdadeira tenham no máximo o mesmo valor
se o que se deseja é agir virtuosamente.

Ainda que haja uma superioridade em números de casos nos quais o


conhecimento é mais valioso que aquilo que não lhe é suficiente, parece possível
aceitarmos que haja ao menos um caso no qual o conhecimento é menos valioso que
uma crença verdadeira e justificada, por exemplo. Mesmo que não seja fácil imaginar
uma situação como essa, não parece que haja algo que torne isso impossível (a não ser a
intuição citada anteriormente). Se alguém quiser negar que isso seja possível, então o
ônus de provar por que é impossível é dele. Isto é, ficará comprometido em mostrar o
porquê o valor do conhecimento será sempre superior, sem que essa prova se
comprometa com afirmação circular ou que recaia na intuição comum.

VI.Conclusões

Mesmo que haja problemas com essa interpretação alternativa da tese socrática,
essa é uma resposta ao problema do valor que merece ser desenvolvida. A intuição de
que o conhecimento é sempre mais valioso em comparação àquilo que lhe que não
chega a ser conhecimento pode ser injustificada. Se for esse o caso, uma resposta que
pense no papel que o conhecimento desempenha para se chegar à situação que se deseja
parecerá mais plausível. Ao final, mesmo que a tese socrática acerca da natureza do
conhecimento tenha sido refutada por Gettier, é possível que Sócrates tenha respondido
com sucesso ao problema do valor e, infelizmente, que tenha sido mal compreendido.

Referências Bibliográficas.

Platão (2001), Menon (trad. Maura Iglésias; anotações John Burnet). Loyola e Ed. PUC-
Rio, Rio de Janeiro.

Greco, John (2009), “The Value Problem” (In: Epistemic Value, Haddock; Millar &
Pritchard (ed.). Oxford, New York).

Gettier, Edmund (1963), “Is Justified True Belief Knowledge?”, Analysis, Vol. 23, pp.
121-23.

Pritchard, Duncan (2006), What Is This Thing Called Knowledge? Routledge, New
York. (p. 11-20).

Prichard, Duncan & Turri, John (2011), “The Value of Knowledge” (In: The Stanford
Encyclopedia of Philosophy, Edward N. Zalta (ed.)), URL= <http://plato.stanford.edu/
archives/win2011/entries/knowledge-value/>.

Silverman, Allan (2012), "Plato's Middle Period Metaphysics and Epistemology", The
Stanford Encyclopedia of Philosophy, Edward N. Zalta (ed.), URL = <http://
plato.stanford.edu/archives/sum2012/entries/plato-metaphysics/>.

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