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Mas nem todo mundo concordava em relação aos caminhos que o país deveria
tomar para conquistá-la. Para os nacionalistas de esquerda e para os
reformistas, era preciso ser um país moderno e, ao mesmo tempo,
economicamente independente e socialmente justo, equidistante dos blocos
capitalista e socialista que protagonizavam a Guerra Fria . Já para os setores
conservadores, o mais importante era a modernização econômica, integrada ao
capitalismo mundial. A incorporação política e econômica dos mais pobres
poderia vir mais tarde.
Desde o início a ditadura militar buscou ter um aparato legal, como forma de se
institucionalizar e de se legitimar perante a opinião pública, sobretudo a liberal,
que tinha apoiado a destituição de Jango. Nesse sentido, o golpe contou com
apoio de setores ancorados no Congresso Nacional e de juristas
conservadores. Foi formalizado na madrugada do dia 2 de abril, no Congresso
Nacional, mas sem amparo na Constituição, pois o cargo foi declarado vago
enquanto o presidente continuava no território nacional e sem ter renunciado
nem sofrido impeachment. Somente numa dessas três circunstâncias, além da
morte, isso poderia acontecer.
MAX STIRNER
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Com vinte anos, Johan entra para a faculdade de filosofia, em Berlim. Na época, assistiu
às aulas de Hegel, e o idealismo alemão prevalecia. Outro mestre seu, que muito o
influenciou foi Feuerbach. Por dificuldades de saúde de sua mãe, Stirner é obrigado a
largar o curso várias vezes. Consegue concluir a graduação em 1835, mas não conquista
nenhuma vaga como professor de filosofia.
Em 1837, casa-se pela primeira vez, mas a mulher viria a morrer no parto meses depois.
Então torna-se professor, em Berlim, na escola privada “Instituição educativa de
senhoritas de boa disposição”. Johan vive então uma vida simples, correta, sóbria e
quase sem necessidades. É por essa época que começa a frequentar o “Clube dos
Doutores”, que daria origem ao círculo berlinense dos “Livres”.
Era na Hippel’s Weinstube, localizada em uma das ruas mais movimentadas de Berlim,
o local onde os jovens hegelianos se reuniam para beber uma boa cerveja e discutir os
mais variados assuntos: política, teologia, socialismo. Boêmio e iconoclastas, poucos
podiam resistir às críticas dos hegelianos de esquerda. Stirner, homem de maneiras
suaves, frequentou por dez anos os Livres, mas estava sempre no canto, fumando seu
charuto, com um sorriso irônico, e um olhar penetrante por trás dos óculos com armação
de aço.
Forte e concentrado em si, o modo reservado de Stirner nos impede de dar muitos
detalhes de sua vida. Mas foi em 1843, com 37 anos, que Johan Caspar Schmidt atinge
o apogeu de sua vida. Casa-se com Marie Danhardt, uma jovem loira, afável, tão
sonhadora quanto ele e possuidora de uma certa riqueza, a cerimônia aconteceu no
apartamento de Stirner e foi tipicamente boêmia, com a noiva chegando em trajes
comuns.
Um ano depois lança sua obra principal: “O Único e a sua Propriedade” com o
pseudônimo de Max Stirner. O contraste entre o homem e a obra parecem dar conta de
um autêntico Devir-Escritor. O livro é proibido imediatamente e apreendido por ordem
do ministro do Interior. De ascensão meteórica, tudo acaba tão rapidamente quanto
começou. Depois do sucesso extremamente passageiro, o livro só voltou a chamar
atenção como obra antecessora dos escritos de Nietzsche. Como consequência, o
anarquista é demitido de seu emprego. Começa então a trabalhar com traduções de
economistas e outros pensadores para sobreviver.
Ele e a mulher tentam montar uma leiteira em Berlim, mas, ambos inexperientes,
deixaram o dote da mulher lhes escapar pelas mãos. Vivendo um casamento infeliz, sua
mulher o deixa, indo para a Inglaterra e depois para a Austrália. Stirner fazia muitas
dívidas, aos poucos foi mergulhando na pobreza, dormia em quartos baratos, se
alimentava frugalmente. Mesmo depois do fracasso de seu livro, o autor continuou a
escrever. Agenciava negócios entre pequenos comerciantes e continuava trabalhando
com traduções.
Stirner não tinha dinheiro não pagar seus credores. Não era mais visto por mais
ninguém, não se ouvia falar dele, nem de nenhuma publicação, nenhuma notícia, nem
cartas, nada. Em 1853 é preso, pela segunda vez, por não pagar suas dívidas. A situação
melhora um pouco apenas depois da morte de sua mãe, quando recebe uma uma
pequena herança. Passa a viver como locatário na casa de uma senhoria, onde encontra
um pouco de paz e tranquilidade para seus anos finais.
Uma coisa sou eu, outras são meus escritos” – Nietzsche, Ecce Homo, por que escrevo
livros tão bons, §1
Stirner não foi um grande nome no anarquismo, nem na política, nem na filosofia. Não
pode ser comparado com Kropotkin, Bakunin ou Marx… mas sua história e seus
escritos são, com o perdão do trocadilho, únicos. Em sua principal obra, “O Único e a
sua Propriedade”, vemos emergir um homem de vitalidade incomparável! Podemos
fazer novamente das palavras de Nietzsche as de Stirner, pois suas ideias são como uma
bomba, capaz de tirar qualquer um de seu sossego teórico.
…se dedica a abalar todos os pilares sobre os quais o homem de nosso tempo edificou
sua morada de membro da Sociedade: Deus, Estado, Igreja, religião, causa, moral,
moralidade, liberdade, justiça, bem público, abnegação, devotamento, lei, direito
divino, direito do povo, piedade, honra, patriotismo, justiça, hierarquia, verdade, em
resumo, os ideias de toda espécie” – Émile Armand, Max Stirner e o anarquismo
individualista, p. 85
O Único e a sua Propriedade
– Série: Eu Proprietário
FOUCAULT – O TÉCNICO
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O parresiasta encarna a sua verdade, mas não é o único tipo que encontramos entre os
gregos a trabalhar com ela. Começamos então a analisar os outros três tipos para
contrastar com a parresía. Falávamos primeiro do profeta: seguido por crentes,
revelando sua verdade por enigmas, emprestando sua voz aos deuses, fornecendo
imagens do porvir. Neste segundo texto vamos pensar o técnico. Como ele é
reconhecido como sendo alguém que fala a verdade?
O que caracteriza o técnico, antes de mais nada, é o fato de que ele detém um saber
prático. Uma tekhné, uma técnica. Estamos falando dos mestres, dos professores. Seu
pensamento é tomado como verdade por ter uma materialidade inquestionável. Pensem
no ferreiro e sua afiadíssima espada e impenetrável armadura, ninguém questiona sua
verdade brônzea. Ao contrário, a ele se juntam por um laço de aprendizado.
O técnico fala em nome de uma tradição. Ele representa uma casa, uma escola. Ele deve
passar seu saber adiante, deve formar seus alunos. Ele quer sem dúvida ser superado.
Sua dádiva é o ensino, é a entrega daquilo que tem de mais verdadeiro. Sua realização é
ver suas lições passadas adiante, formando linhagens, desenvolvendo-se em novas
áreas. Pela voz de um grande mestre, erigem-se o tronco de um saber sólido e os ramos
carregados de frutos.
Lyonel Feininger
A verdade do técnico é maior do que ele mesmo. Ele empresta seu pensamento e seu
corpo a um fazer que existe desde antes dele, que foi transmitido a ele por um mestre,
por um pai, uma mãe ou pela própria physis. É por isso mesmo que sua prática assegura
sua sobrevivência, é o seu meio de vida e é também o seu dever. Mostrar como se faz do
jeito mais claro possível, instruir uma prática num determinado sentido, evitar mal
entendimentos e maus usos, ser responsável pela continuidade de um ofício.
Rodeado de aprendizes, o técnico fala aos poucos, de maneira clara e temperada e tenta
responder todas as perguntas. Ele precisa transmitir o que pensa deixando o mínimo de
brechas. Ele não foge do assunto, não desvia do fazer, alia teoria e prática. Ele mostra o
que pensa em ato e com segurança, ele está autorizado pelo próprio alcance de sua
prática. O bom mestre permite que o questionem, pois além de estar seguro do
conhecimento que detém, sabe também que não pode deixar passar uma oportunidade
de mostrar sua proficiência.
Epikouros, etimologicamente, é aquele que socorre. Epicuro parece ter levado seu nome
muito a sério, pois foi um dos pioneiros a pensar a filosofia como uma espécie de
medicina, uma terapêutica da alma, um cuidado com o corpo. Ao longo de sua vida,
passou adiante suas lições básicas, seu tetrapharmakon. Seu último pedido, antes da
morte, é aquele mesmo de todos os grandes mestres: “lembrem-se de meus
ensinamentos“.