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‘Tempo Social; Rev. Sociol. USP, $. Paulo, 212): 113-128, 2. sem. 1990 AS MULHERES NA POLITICA BRASILEIRA: 0S ANOS DE CHUMBO Marcelo Siqueira Ridenti* RESUMO: O artigo aponta a participacao politica diferenciada das mulheres br Ieiras nos anos 60 ¢ inicio dos 70, a favor ou contra a ditadura militar. Sdo analisados da- dos estatfsticos sobre a participacéo feminina nas organizagdes politicas clandestinas de esquerda em geral, ¢ nos grupos guerrilheiros em particular. Esses contaram com a parti- Gipagio de varias mulheres, principalmente jovens intelectualizadas, ainda que em niimero muito inferior a participacéo masculina. A militancia feminina nas organizagbes de com- bate armado a ditadura, mesmo que ndo se revestisse de cardter especificamente feminista, foi um momento de avanco na liberagéo da mulher, especialmente se essa militincia for comparada com aquela das “mées-esposas-donas-de-casa” que se organizaram a favor do golpe de 1964, UNITERMOS: Brasil: mulheres, esquerda, anos 60, ditadura militar. Este artigo aborda a relacéo das mulheres brasileiras com a politica nos anos 60 € inicio dos 70, particularmente das mulheres de esquerda, com destaque para a participa- 40 feminina nos grupos que pegaram em armas no combate ao regime militar, instaure- do no Brasil em 1964. Sem a pretensao de esgotar o tema, trata-se de demonstrar que foi diferenciada a participacao politica das mulheres naquele perfodo, quando passaram a intervir significativamente na cena politica, quer para apoiar o golpe de 1964, quer para combaté-lo, das formas mais moderadas as mais extremadas. * Professor do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Araraquara. 114 RIDENTI, Marcelo Siqueira, As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo. Tempo Social; Rey. Sociol. USP, S. Paulo, 2(2): 113-128, 2.sem. 1990. Na anélise quantitativa da presenga feminina nas organizagées de esquerda, foram utilizados dados estatisticos extraidos do Projeto Brasil: Nunca Mais (BNM), que, co- mo se sabe, é um longo estudo sobre a oposicao ao regime militar no Brasil nas décadas de 60 e 70, especialmente sobre a repressio governamental & oposicao, tomando como fonte principal de pesquisa 695 processos movidos pelo regime militar contra seus ad- versérios, Os quadros estatfsticos apresentados neste ensaio séo fruto de informacoes retiradas do BNM, as quais retrabalhamos por computador, pelo sistema SAS. O Qua- dro n° | oferece um painel geral sobre o ntimero de homens e mulheres processados por vinculagdo com varias organizacées de esquerda. Verifica-se que clas eram compostas por ampla maioria masculina nos anos 60 e 70, ainda que algumas organizagées contas- sem com razodvel ntimero ou percentagem de mulheres. No total de 4124 processados das esquerdas, 3464 eram homens (84,0%). J4 os grupos armados urbanos no seu con- junto tiveram percentagem um pouco mais significativa de mulheres na sua composicao: 18,3%., Os grupos nacionalistas, em geral, contaram com poucas mulheres em suas filei- ras, antes ou depois de 1964, fossem eles armados ou nao: nenhuma mulher foi proces- sada por ligacéo com os Grupos de 11 em 1964, tampouco houve acusadas de pertence- rem a organizagées armadas nacionalistas como MNR, MR-21 (0 MAR teve apenas uma processada, e a RAN constituiu-se em excecdo significativa dentre os grupos naciona- listas, pois teve 13 mulheres denunciadas, 34,2% do total; entretanto, a RAN nao era um grupo voltado exclusiva ou principalmente para acées armadas). A presenca femini- na era insignificante em organizagées tipicamente nordestinas: somados os dados refe- rentes A FLNe e ao PCR, houve apenas uma mulher dentre 43 processados. lambém no PCB, em 1964 ou depois, poucas mulheres estavam presentes, a julgar pelo niimero de processadas, apenas 32, ou 4,7% do total de 687 (ver Quadro n° 1), Na grande maioria dos grupos armados urbanos (ver Anexo 1), 0 percentual de mulheres denunciadas ficou entre 15 a 20% do total. Pode parecer pouco, mas nfo tan- to, se forem levados em conta alguns elementos. Em primeiro lugar, as mulheres ocupa- vam posig6es submissas na politica e na sociedade brasileira, pelo menos até o final dos anos 60. A norma era a néo participagdo das mulheres na politica, exceto para reafirmar seus lugares de “‘maes-esposas-donas-de-casa’”, como ocorreu com os movimentos fe- mininos que apoiaram o golpe militar de 1964. A média de 18% de mulheres nos grupos armados reflete um progresso na liberacdo feminina no final da década de 60, quando muitas mulheres tomavam parte nas lutas politicas, para questionar a ordem estabelecida em todos os niveis, ainda que, entéo, suas reivindicagGes ndo tivessem explicitamente um caréter “feminista” propriamente dito, que ganharia corpo s6 nos anos 70 ¢ 80, em outra conjuntura. Néo obstante, a participacdo feminina nas esquerdas armadas era um avanco para a ruptura do esterestipo da mulher restrita ao espaco privado e doméstico, enquanto mie, esposa, irma e dona-de-casa, que vive em funcao do mundo masculino. Em segundo lugar, a opcdo dos grupos guerrilheiros implicava uma luta militar que, RIDENTI, Marcelo Siqueira. As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo. Tempo Social; 115 Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 212): 113-128, 2.8em. 1990. pelas suas caracteristicas, tendia a afastar a integracéo feminina, pois historicamente sempre foi mais dificil converter mulheres em soldados. De modo que é até surpreen- dente a presenca numérica relativamente significativa do chamado “‘sexo frégil’” em or- ganizagées tipicamente militaristas, como a ALN (76; 15,4% do total), ¢ a VPR (35; 24,19%). Em terceiro lugar, a participagéo feminina nos grupos armados era percentual- mente mais elevada que nas esquerdas tradicionais, como revelam os dados sobre as mulheres processadas por integragéo ao PCB, antes e apés 1964 (cerca de 5%). Outros dados confirmam tal assercao, por exemplo, Leéncio Rodrigues observou, em um artigo sobre o PCB, que eram mulheres 9,3% dos delegados ao IV Congresso do PCB, reali- zado em Sao Paulo, em novembro de 1954 (Rodrigues, 1981, p. 420). Cabe considerar ainda que, embora 0 total percentual de 18,3% de mulheres nos grupos armados estives- se bem abaixo da proporcdo de mulheres no total da populacdo brasileira em 1970 — que chegava a 50,3%, pelos dados do censo demogréfico — a participagdo relativa feminina nas organizagées de esquerda armada era préxima do percentual de mulheres na compo- sigéo da populacéo economicamente ativa no Brasil em 1970, em torn de 21% (IBGE, 1970). Considerando os dados estatisticos sobre a ocupagao das mulheres processadas ju- dicialmente por vinculacéo com as organizag6es clandestinas de esquerda (Quadro n° 2), € a julgar por depoimentos de ex-militantes, contidos no livro Mem@érias das mulhe- res do exilio (Costa et alii, 1980), a maioria das presas e exiladas de extracio social mais pobre foram incriminadas por serem mées, irmas ou esposas de esquerdistas mili- tantes, ndo por participarem diretamente de atividades consideradas subversivas da or- dem estabelecida. Ao contrério das mulheres intelectualizadas processadas, as quais, em geral, participaram ativamente das agGes da esquerda, inclusive das armadas. Apenas 10 das processadas eram trabalhadoras manuais, rurais e urbanas (1,7% do total de 578 de- nunciadas por ligacdo com as esquerdas em geral). Especialmente nos grupos armados, quase nao houve trabalhadoras manuais envolvidas — nenhuma processada — contrastan- do com a média em torno de 13% de trabalhadores manuais urbanos e rurais, de ambos 08 sexos, no total dos acusados de envolvimento com as organizacées armadas. Entre- tanto, 28 mulheres processadas por liga¢ao com grupos em armas (8,3%), eram donas de casa (‘‘prendas domésticas”, na classificacéo do Quadro n? 2). A esmagadora maio- ria das denunciadas das esquerdas compunha-se de estudantes (186; 32,2%), de profes- soras (133; 23,0%), ou de outras profissionais com formacdo superior (103; 17,8%), perfazendo um total de 422 mulheres — 73,0% — que poderiam ser classificadas como de camadas médias intelectualizadas; a0 passo que 51,6% dos processados de ambos os sexos poderiam ser considerados integrantes dessas camadas sociais. Mesmo em se con- siderando apenas os dados dos grupos armados urbanos tipicos, a percentagem de mu- Iheres dos estratos sociais mais intelectualizados chegaria praticamente a 75%, contra 116 RIDENT! jucira. As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 2(2): 113-128, 2.sem. 1990, quase 58% do total de homens e mulheres pertencentes a esses estratos (ver Quadros n’ 2 € 3). Além disso, deve-se ter em conta as diferengas sociais existentes entre as mulhe- Tes das camadas médias intelectualizadas, como expressa uma passagem do seguinte didlogo entre exiladas politicas: ngela — No Brasil muitos de nés éramos classe média alta que fazia ou tinha feito universidade. Eramos elite, nfo tanto no sentido de que tivéssemos muito di- nheiro, mas no sentido de opotunidades culturais. Sonia — Nem todo mundo. Eu, por exemplo, me classificava como pequena bur- guesia baixa porque vivia economicamente na merda, tendo que trabalhar para estudar. No vestibular passei na Catlica e fui excedente na USP. Nao poderia fa- zer a Catélica porque 0 meu saldrio nao dava. Tive que brigar para entrar como excedente. Durante 0 curso trabalhava em escrit6rio de venda de terreno, em livra- ria, fui secretéria, fiz mil coisas” (In: Costa et alii, 1980, p. 241). A insurgéncia das mulheres na contestacao a ordem, entre 1966 e 1968, deu-se sobretudo através do movimento estudantil, que forneceu a maioria dos quadros para os ‘grupos de extrema esquerda. Segundo Poerner, dos 300 delegados estudantis que, ape- sar da repressdo e da perseguicao policial, conseguiram chegar ao local clandestino de Tealizacéo do Congresso da UNE de 1966, em Belo Horizonte, cerca de 30 eram do se- xo teminino (1979, p. 270). Como se vé, as mulheres organicamente mais vinculadas ao movimento universitério em 1966 perfaziam em tomo de 10% do total de delegados, percentagem pouco menor que aquela das processadas por envolvimento com grupos guerrilheiros urbanos nos anos seguintes, quando a presenca feminina no movimento estudantil também parece ter crescido, a julgar por depoimentos. Ao que tudo indica, a composicao social das esquerdas em armas era relativamente equivalente & do conjunto dos movimentos sociais mais atuantes no perfodo, inclusive no tocante & participagao por sexo. Muitas mulheres tentavam romper, em diversos aspectos, com séculos de submis- so ao entrarem para organizacées clandestinas de extrema esquerda. Mas néo seria cor- reto identificar a aco politica das mulheres nos anos 60 apenas com a luta pela ruptura da ordem vigente. Afinal, é Sbvio que também o sexo feminino esté cortado pelas con- tradigdes da sociedade de classes. Isso nos leva a destacar, rapidamente, a ago conser- vadora de um sem ntimero de mulheres naqueles anos: “Em certa medida, eu jé tinha sentido no Brasil, durante o golpe, o papel negativo que as mulheres podem jogar como forca de contencao do movimento revolucio- nério. E pude sentir no Chile, com uma estranha forca, como as mulheres podem RIDENTI, Marcelo Siqueira, As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo, Tempo Social; 117 Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 22): 113-128, 2.sem. 1990, servir como massa de manobra para paralisar qualquer proceso democratico. E sao uma forca terrivel, terrivel mesmo!” (In: Costa et alii, 1980, p. 60). Essas palavras da dirigente do PCB nos anos 50 e 60, Zuleika Alambert, séo re- veladoras da atuacdo das associacdes de mulheres para criar bases sociais ¢ uma certa “legitimagao” para o golpe de 1964 no Brasil (assim como, posteriormente, para a que- da do governo constitucional de Allende no Chile). Seguindo pistas abertas por Drei- fuss (1981), Solange de Deus Simées demonstrou em Deus, patria e familia (1985), © lugar fundamental ocupado pelas mulheres no golpe militar de 1964, associadas a0 “complexo IPES/IBAD”, que “‘patrocinou uma campanha de desgaste do governo Goulart e do nacional reformismo”, procurando, em seguida, legitimar 0 poder das for- cas golpistas. “E a ‘mulher-mée-dona-de-casa-brasileira’ que anuncia & nagdo, com grande estardalhaco, sua disposigao de deixar a protecdo do lar € se lancar as ruas € pracas publicas” (Simées, 1985, p. 26-27). Foram criados grupos femininos conserva- dores para “‘arregimentar a opiniéo piblica para o golpe militar de 1964”, nos princi- pais estados e cidades do pafs, grupos que revelariam grande capacidade mobilizadora, por exemplo, por ocasido das “‘Marchas da Familia com Deus pela Liberdade” que, li- deradas pelas mulheres na sua fachada, arrastaram milhares de pessoas as ruas de todo 0 Pais, antes ¢ logo depois do golpe, contando com a adesao de religiosos, de governos estaduais € municipais, bem como do empresariado, inclusive com dispensa do servico € facilidades de wransportes, 0 que explica parcialmente a participacdo macica, naqueles eventos, de camadas sociais médias diferenciadas e até de operdrios, ligados a Igreja. Mas no hé como negar a eficiéncia mobilizadora das classes dominantes, que souberam canalizar politicamente a insatisfagao com a alta da inflago e do custo de vida, apelan- do para a religiosidade anticomunista arraigada em amplos segmentos da populacdo. Interessava fazer a intervengdo militar aparecer como fruto de um “‘chamamento popu- lar” contra a aco dos “comunistas” e dos “‘corruptos”, até para convencer a oficiali- dade legalista da necessidade do golpe para salvar a “patria”. Mesmo assim, a maioria dos que foram as ruas pleiteava “uma intervencao militar que, como em 1945 ou 1954, atuasse temporariamente para ‘restabelecer a ordem’ e logo fizesse os militares retornar 08 quartéis” (Simées, 1985, p. 109). As associagées femininas desempenharam papel de destaque no proceso de mobilizacéo, reiterando os padres conservadores vigentes sobre a funco da mulher na sociedade. Depois do golpe, as entidades femininas passaram a atuar no sentido de legitimar © novo regime. Porém, na medida em que este se perpetuava ¢ crescentemente se milita- rizava, sem solucionar imediatamente a crise econémica, exacerbando seu carter re- pressivo, o regime tendia a perder suas bases de apoio popular, de modo que as asso- ciagées de mulheres golpistas ficavam cada vez mais isoladas e suscetiveis a cisGes 118 RIDENTI, Marcelo Siqueira, As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo, Tempo Social; Rey. Sociol. USP, S. Paulo, 22): 113-128, 2.8em. 1990, internas desagregadoras. Na crise de 1967-68 ainda se fazia ouvir a voz dessas mulhe- res, j4 sem grande repercussdo social. Por exemplo, um grupo de senhoras cat6licas paullistas dirigiu-se, em agosto de 1967, ao comandante do Exército local para afirmar que: “O Exército pode contar com a compreens4o da mulher paulista, para todas as atitudes que seja obrigado a tomar, mesmo passando por cima de privilégios e titulos, e até mesmo das imunidades de algumas batinas...”” (In: Dale et alii, 1986, vol. 2, p. 34). Caréter muito distinto teve a adesdo de mulheres aos grupos de esquerda apés 1964. Como evidenciam, por exemplo, os varios depoimentos coletados em Memérias das mulheres do exilio (Costa et alii, 1980), foi s6 no exterior que a maioria das mulhe- res das organizacées de esquerda nos anos 60 e 70 passaram a adquirir uma consciéncia explicitamente “‘feminista”, da especificidade da condicao de mulher na luta politica € cotidiana, questionando um certo “machismo” no interior das préprias organizacées politicas (machismo cujo grau variava conforme a organizacao). Conta Maria do Carmo Brito, que foi dirigente dos COLINA e, mais tarde, da VPR: “E claro que havia muito machismo na organizacdo, mas para mim, francamente, dentro do Brasil nunca fez dife- renga nenhuma o fato de ser mulher. Suponho que a maioria das mulheres tinha proble- ‘mas, mas eu nao tinha, ndo posso dizer que tivesse, ndo posso realmente, era uma situa- do muito especial. Quando sai do Brasil, fazia parte do Comando da VPR” (In: Costa et alii, 1980, p. 79). Diz a ex-militante Angelina: “Durante muito tempo eu nao tive consciéncia de que existia uma opressio das mulheres dentro dos grupos politicos. Ho- je, eu vejo que essa opressio existia muito marcada pelo tipo de estrutura de poder, pe- las relagdes de poder que existiam nas organizacées em geral”” (1980, p. 249). No mes- mo sentido, fala Maria Nakano: “Foi no meu novo pais de exflio que tomei consciéncia mais clara da condicdo de inferioridade da mulher. Nunca pensava antes na minha si- tuacdo como mulher, embora achasse importante as outras mulheres na luta politica, so- bretudo as operdrias. Nao via entéo que nos organismos que definiam as linhas polfti- cas, que tomavam as decisées, 0 mtimero de mulheres era minimo. Mesmo nés, que vi- nhamos da Universidade, tinhamos uma participacdo insignificante a este nivel. Mas naquela época nao me dava conta disso” (In: Costa et alii, 1980, p. 316). O “‘machis- mo” nas organizagées comunistas dos anos 60 revela-se num trecho do romance auto- biogréfico, deliberadamente escrachado, do entdo militante da ALN carioca, Reinaldo Guarany, intitulado A fuga (1984): “As mulheres na esquerda sempre seguiam uma linha bem definida. Com poucas excegées (K era uma mulher lindissima, com seus cabelos morenos ¢ aqueles olhos verdes. Isolde com charme pra socidlogo nenhum botar defeito. Sonia Lafoz digna de ter sua foto em banheiro de porta-avides, Carmela Pezuti de deixar Bal- zac de mao no bolso, outras) elas em geral se dividiam da seguinte maneira: RIDENTI, Marcelo Siqueira. As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo. Tempo Social; 119 Rev. Sociol. USP, S. Paulo, (2): 113-128, 2.sem., 1990. quanto mais barra-pesada fosse uma organizagéo (ALN ¢ VPR), mais feias eram as mulheres ¢ menos havia; ¢ quanto mais de proselitismo fossem, mais mulheres havia e mais jeitosinhas eram (por exemplo, AP, Polop, etc.). Portanto, o panora- ma dentro da ALN era negro: poucas mulheres, todas de sandélias de nordestino e saias de freira. & 0 que era pior: antes da trepadinha, uma lidinha nos documentos do Mariga, depois da dita cuja, um belo discurso do Fidel. Haja estémago! Na VPR 0 quadro era bem parecido, mas, néo sei por qué, as mulheres usavam minis- saias mais curtinhas. O MR-8 (a eterna Dissidéncia tstudantil) primava pela mis- tura, como sempre primou, ora querendo atacar de vez, entrando de cheio no mi- litarismo e af ento espantando as bonitinhas, ora fazendo pose de inelectual sal- vador do proletariado. Nesses momentos, as gatinhas retornavam as suas fileiras, bem queimadas de sol. Até hoje no entendi isso, acho que as companheiras sen- tiam uma certa atragéo pela palavra operirio, talvez pelo seu significado de rude- za, forca, brutalidade, disposicéo sexual, ou pelo cheiro de suor misturado com fuligem, Naquela época ndo se falava de feminismo, e as mulheres da esquerda, que estavam rompendo com montées de dogmas e tabus a0 mesmo tempo, precisa- vam de um braco peludo para as horas de desamparo” (Guarany, 1984, p. 31). Entretanto, € preciso salientar que “a teoria que pairava era que mulheres ho- mens so iguais. A gente era militante, soldado da revolucao, € soldado no tem sexo!” como diria a militante Sonia (Costa et alii, 1980, p. 248). No seu depoimento, € per- ceptfvel que havia certa insubordinacdo feminina nas organizagées armadas: “eu jé sentia alguns problemas como mulher, por exemplo, os companheiros achavam que as mulheres ndo tinham muita condigéo de participar das agées. [...] Entiio, algumas vezes a gente cra levada a fazer certas coisas, movida muito mais por uma necessidade de afirmacdo como mulher dentro daquele grupo do que por um ideal politico. Esse trogo eu sentia, Era qualquer coisa do género: vocés partem do principio de que todo o mun- do € igual, entéo vamos demonstrar! Agora, € claro que na orientaco politica da orga- nizago a influéncia das mulheres era muito menor do que a dos homens” (1980, p. 248-249). Outra exilada, Vania, reconhece que “a mulher deixou de ser virgem, 0 ho- mem deixou de ser macho, lava pratos, faz comida, é bom cozinheiro”. Contudo, para ela, “isso nao era o fundamental. As anélises, as grandes andlises, a estratégia ¢ a Uiti- a, isso era 0 que importava. E isso eram eles que faziam” (Costa et alii, 1980, p. 113). Na entrevista que nos concedeu a ex-militante carioca, Vera Sflvia Magalhies, ela talou longamente sobre as diticuldades de ser mulher na direcao de uma organizagao e, depois, num comando armado, compostos quase s6 por homens, ainda que a DI-GB, futuro MR-8, fosse um dos grupos mais liberais nos costumes: 120 RIDENTI, Marcelo Siqueira. As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 22): 113-128, 2.sem. 1990, “Era uma guerra, enquanto mulher, ser de uma direco. Era uma coisa muito barra pesada, nada fécil para mim. Acho que em 1969 eu sairia da direco por mil ou- tras razées, inclusive porque havia quadros novos surgindo. Mas houve um argu- mento fantéstico, de que eu era uma pessoa instével emocionalmente. S6 que as pessoas que diziam isso eram os homens que eu namorava, € que estavam na dire- do (a gente teorizava e praticava: a monogamia nao existe, seria uma proposta burguesa, conservadora). E eu perguntava: por que eles no saem? Por que s6 eu sou instével emocionalmente? (...] Eu fui para 0 grupo armado como uma espécie de compensaco, jé que saf da direcéo que € um cargo maximo. O outro cargo méximo seria ir para um grupo armado, talvez mais valorizado que a propria dire- do, pois ia fazer as agées |...) Eu era mulher, portanto, fazia todos os levanta- mentos com 0 papel de mulher que a sociedade me atribuia. Por exemplo, eu se duzia o gerente do banco para uma conversa, para ir jantar & noite, saber as infor- macées do dia de pagamento, etc. Eu que me virasse, se no quisesse dar 0 desfe- cho aquela conversa inicial, 0 que evidentemente néo iria querer. O interesse era 86 pelas informagées. Mas vivi situacées bastante complicadas, sozinha. A fungo feminina eu cumpria exatamente como precisava. Na hora da acdo, todo mundo ti- nha metralhadora, ou 38. A mim, cabia o pior revélver. Até que, no final, eu ga- nhei uma metralhadora, uma metralhadora, uma grande conquista individual. |...) Uma vez eu sa‘, em plena Cinelandia, com um coronel, que era dono de uma f- brica de arma. Passa meu pai e me vé vestida de prostituta, porque essa era a mise en scéne naquela agao. Para cada agdo uma mise en scéne. O meu pai nao enten- deu nada, imaginava que eu saira de casa para fazer a revolucao e, de repente, pa- recia que eu tinha cafdo na vida, Na hora, fingi que ndo vi. Se 0 coronel descon- fiasse de mim, ndo tinha ninguém para me dar cobertura, eu me fodia ali mesmo. Por que? Porque na cabeca dos homens, tanto dos meus amigos quanto dos inimi- g08, a mulher é inofensiva. Eu fui sozinha fazer o levantamento do seqiiestro do americano. Fui de mini-saia, vestida de empregada doméstica, conquistei o Chete da seguranga do embaixador, ele me achou engragadinha, me deu todas as infor- magées. [...] Em todas as aces eu tive um papel bem feminino, que evidente- mente facilitava a aco, por isso eu aceitava. Mas eu discutia isso no organismo, queria no minimo uma cobertura, ir sozinha era um tremendo risco. [...] Todos eram comando, a gente revezava os comandos das agées. Evidentemente que eu tinha medo. Quando comecamos @ pegar em armas, a gente teve tiroteio com a policia, fomos cercados algumas vezes, escapamos. Mas foi um traumatismo para mim, como para todo 0 comando. Agora, a tinica pessoa que levantava essa ques- Go era eu. Por qué? Porque eu era mulher, e a fragilidade de mulher cra muito £6- cil de ser absorvida. A dos homens nao. Ficavam putos, ainda por cima. Depois RIDENTI, Marcelo Siqueira. As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo, Tempo Social; 121 Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 212): 113- 128, 2.sem. 1990. do primeiro tiroteio, esse comando ficou dois meses sem fazer aco, s6 levanta- mento. E claro que era medo. Pronto, fui levantar o problema, quase me ‘mata- ram’. Imaginem se aqueles homens novos, fantésticos, os herdis da nossa terra, jam ter medo. Medo era assunto que néo era para ser tocado, mesmo”. N&o se deve imaginar, contudo, que as mulheres eram totalmente submissas nos grupos de esquerda, em geral, ¢ nos armados, em particular. Isso, alifis, esté implicito nos préprios depoimentos j4 citados. Algumas mulheres chegaram a ocupar cargos de diregao, embora esporadicamente; as tarefas caseiras eram divididas; cafra o tabu da virgindade; havia questionamento da monogamia; assumia-se no discurso a total igual- dade entre 0 sexos; etc. A perspectiva da época era a da criacdo de homens (e mulheres) novos, nao da liberacdo especifica da condicéo feminina, proposta que no se colocava explicitamente naquela conjuntura da sociedade brasileira. Vale reafirmar 0 equfvoco dos que analisam as lutas sociais passadas, esquecendo da conjuntura espeffica em que se deram. Dizia Regina, numa conversa entre exiladas que recuperavam sua mem@ria: “Naquele momento a gente pensava em mudanga politica ¢ social ea gente queria ser 0 “homem novo”, mas ndo tinhamos muito claro o que questionar a nivel do nosso coti- diano e vida pessoal. No Brasil, porque eu tinha uma atividade politica e profissional muito intensa, esse questionamento, mesmo difuso, ainda existia. © Chile para mim foi uma volta atrds [...]"" (Costa et alii, 1980, p. 416). Outra exilada afirmava, no mesmo didlogo, fazendo um balango: “Eu acho que se a nossa militéncia politica implicou rupturas com a familia, com valores, € porque hé uma particularidade nessa militancia. No momento histérico em que ela se dé havia uma tentativa de critica ao stalinismo, de construgio do homem novo trazido pela revolucdo cubana ou pela revolucdo cultural (chinesa). A gente tentava um minimo de insercio do politico no cotidiano, quer dizer, ndo ramos $6 a pessoa herdica no sentido de transformar 0 mundo, também nos ques- tiondvamos: safmos de casa no casando, tentando romper com a virgindade, ten- tando desmistificar 0 casamento. Mas no vivenciamos isso tudo enquanto movi- ‘mento feminista, [...] Entéo pensévamos que rompfamos com tudo — e rompiamos em parte ~ mas continu4vamos reproduzindo todos os valores da nossa educacdo”” (In: Costa et alii, 1980, p. 416). As relagGes entre homens e mulheres, sobretudo nos grupos de esquerda armada, parecem ter rompido com uma série de preconceitos e priticas, ainda que, olhadas re- trospectivamente pelas feministas de hoje, aquelas rupturas sejam relativamente timidas. Sem dtivida, parece ter havido avancos para as mulheres das novas esquerdas, se com- 122. RIDENTI, Marcelo Siqueira. As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo. Tempo Socials Rev. Sociol. USP, 8. Paulo, 22): 113-128, 2,sem, 1990, paradas as da esquerda tradicional do periodo stalinista, como se depreende, por exem- plo, do depoimento da lider comunista nos anos 40, 50 ¢ 60, Zuleika Alambert (Costa et alii, 1980, p. 48-68). A ruptura das militantes de extrema esquerda com 0 papel de “do- na-de-casa-mae-esposa” evidencia-se nas reportagens da grande imprensa na época, que criou 0 mito da diabélica e, paradoxalmente, atraente “loira dos assaltos”, transgressora das regras sociais de comportamento feminino. Uma das primeiras mulheres que a im- prensa estereotipou como “a bela do terror”, pois haveria outras “belas”, declara: “As acusagées que faziam contra mim nos jornais eram muito poucas, A grande sensacdo realmente era eu ser mulher. Eles nao publicavam coisas que eu tivesse feito ou que me fossem atribufdas, publicavam s6 minha foto ¢ com o letreiro: “Bela do Terror’. Vocé vé que € toda aquela trama feita em cima da mulher. Teve um outro caso que saia assim: ‘a loura da metralhadora’, ‘loura dos assaltos’. Essa pelo menos localizavam em agées definidas, eu nunca, nunca fui acusada de ter feito nada. © meu caso foi fundamentalmente ter sido uma das primeiras mulheres ¢ ser descoberta. No momento do primeiro golpe na esquerda armada em 1969 ha- via poucas mulheres, pelo menos conhecidas. Eu lia todos os jornais para ver se transparecia um pouco do que eles sabiam, e cheguei a conclusdo de que a acusa- ao contra mim era ser mulher” (In; Costa et alii, 1980, p. 208). Finalmente, cabe lembrar que nem toda oposigéo feminina & ordem vigente apés 1964 foi tdo extremada quanto a das mulheres que aderiram as novas esquerdas, nem politica nem pessoalmente. Sabe-se, por exemplo, dos movimentos de mies, esposas & irmas que protestavam contra a repressio a seus familiares. Décio Saes dé noticia da intervencdo de setores politicamente liberais do “movimento feminino”, como a pau- lista “Unido das Maes contra a Violéncia”, nos protestos estudantis de 1968 contra o regime. Para esses setores do “movimento feminino”, nao se tratava de uma luta radical contra a ditadura, mas de reinstaurar “um regime democrético puro que pudesse dotar as ‘elites culturais’ do pais de uma influéncia determinante sobre 0 processo nacional de tomada de decis6es” (Saes, 1985, p. 206). Assim, completava-se 0 quadro: nos anos 60, das maneiras as mais diferenciadas, ainda que distantes de uma perspectiva propria- mente feminista, as mulheres marcaram a cena politica da sociedade brasileira. Recebido para publicacao em fevereiro/ 1990 RIDENTI, Marcelo Siqueira. As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo. Tempo Social; 123 Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 22): 113-128, 2.sem. 1990. ANEXO 1 Neste artigo, aparecem varias siglas de organizag6es de esquerda, todas clandestinas, jé que s6 dois partidos politicos eram reconhecidos pelo regime militar: a Alianga Renovadora Nacional (ARE~ NA), partido do governo, e Movimento Democrético Brasileiro (MDB), a oposicao consentida. Para um estudo detalhado das varias oganizacées de esquerda nos anos 60 e 70, ver, dentre outros: Ams, 1988; Gorender, 1987; Reis F. e $4, 1985; ¢ Garcia, 1979. Eis os nomes, por extenso, em or- dem alfabética, dos grupos clandestinos que so citados no decorrer do texto € dos quadros estatis- ticos (os grupos assinalados com um asterisco podem ser tomados como tipicamente de esquerda armada urbana): * ALA (Ala Vermetha do Partido Comunista do Brasil) * ALN (Agao Libertadora Nacional) AP_ (Acdo Popular) * COLINA (Comandos de Libertagéo Nacional) CORRENTE (Corrente Revolucionéria de Minas Gerais) * DDD (Dissidéncia da Dissidéncia da Guanabara) DI-DF (Dissidéncia do PCB no Distrito Federal) * DI-GB (Dissidéncia do PCB da Guanabara) * DI-RJ (Dissidéncia do PCB do Rio de Janeiro) DISP (Dissidéncia do PCB em Sao Paulo) DVP (Dissidéncia da VAR-Palmares) FALN (Forgas Armadas de Libertago Nacional) FLN (Frente de Libertacdo Nacional) FLNe (Frente de Libertacdo do Nordeste) G de 11 (Grupos de 11) MAR (Movimento de Acdo Revolucionéria) MCR (Movimento Comunista Revoluciondrio) MEL (Movimento Estudantil Libertério) MNR (Movimento Nacionalista Revolucionério) MOLIPO (Movimento de Libertacdo Popular) MRM (Movimento Revoluciondrio Marxista) MRT (Movimento Revolucionério Tiradentes) MR--8 (Movimento Revoluciondrio 8 de outubro) MR-21 (Movimento Revolucionério 21 de abril) MR-26 (Movimento Revoluciondrio 26 de marco) M3G (Marx, Mao, Marighella, Guevara) PCB (Partido Comunista Brasileiro) PC do B (Partido Comunista do Brasil) * PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionério) PCR (Partido Comunista Revolucionério) * POC (Partido Operério Comunista) POLOP (Organizacio Polftica Marxista ~ “Politica Operéria") PORT (Partido Operdrio Revoluciondrio ~ Trotskista) PRT (Partido Revolucionério dos Trabalhadores) RAN (Resisténcia Armada Nacionalista) REDE (Resisténcia Democritica) VAR (Vanguarda Armada Revolucionéria ~ Palmares) VPR (Vanguarda Popular Revoluciondria) VARIOS GRUPOS (dados conjuntos sobre varios grupos, em que pelo menos um deles era de esquerda armada) 124 RIDENTI, Marcelo Siqueira. As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo, Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 2(2): 113-128, 2.sem. 1990. QUADRO NF I - Organizacées de esquerda no Brasil, conforme 0 sexo dos processados judicialmente, anos 60 ¢ 70 FEMININO MASCULINO TOTAL * ALA 20(16,0%) 105(84,0%) 125(100%) * ALN 7615,4%) 416(84,6%) 492(100%) AP 12727,0%) 343(73,0%) 470(100%) * COLINA 8(14,8%) 46(85,2%) 54(100%) CORRENTE 12(16,2%) 62(83,8%) 74100%) DI-DF 1( 2.9%) 33(97,1%) 34(100%) Dye 10(25,0%) 30(75,0%) 40(100%) FALN 4(_8,2%) 45(91,8%) 49(100%) * FLNe 0 0,0%) 10(100,0%) 10(100%) GR. DE 11 0 0,0%) 95(100,0%) 95(100%), * MAR 1 4.8%) 20(95,2%) 21(100%) MEL 2(12,5%) 14(87,5%) 16(100%) * MNR 0 0,0%) 18(100,0%) 18(100%) * MOLIPO 4(40,0%) {6(60,0%) 10(100%) MR-21 (0,05) 22(100,0%) 22(100%) * MR-26 0 0,0%) 15(100,0%) | 15(100%) * MR-8 30(18,9%) 12981,1%) 159(100%) MRM 114.3%) 6(85,7%) 74.00%) PC do B 47(18,1%) 212(81,9%) 259(100%) PCB 32( 4,7%) 655(95,3%) (687(100%) * PCBR 4118,9%), 176(81,1%) 217(400%) PCR 1 3,0%) 32(97,0%) 33(100%) * POC 41(29,9%) 96(70,19%) 137(100%) POLOP 15(17,6%) 70(82,4%) = 85(100%) PORT 21(14,9%) 120(85,1%) 1411 00%), * PRT 8(26,7%) 22(73,3%) 30(100%) * RAN 13(34,2%) 25(65,8%) 38(100%) * REDE, 417.4%) 19(82,6%) 23(100%) * VAR 470 7,A%), 223(82,6%) 270(100%) * VPR 35(24,1%) 110(75,9%) 145(100%) * V. Grupos 59(17,0%) 289(83,0%) 348(100%) * TOTESQ.ARM. 387(18,3%) 1725(81,7%) 2112(100%) Total c/ Sexo 660 3464 4124 conhes. (16.0%) 84.0%) (400%) FONTE: BNM RIDENTI, Marcelo Siqueira. As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo. Tempo Social; 125 Rey. Sociol. USP, S. Paulo, 262): 113-128, 2.sem. 1990. QUADRO N° 2 Organizacées de esquerda no Brasil, por ocupacéo das ‘mulheres processadas judicialmente, anos 60 ¢ 70. Profs: | sm | Form, [Tibia] Tiabni | Prentiss |Niocons- | Total | Totlo’ sors | dinies | Super. | nus | velMétio | dome, | tra cap. ccupso contac. + ALA aoom | aso | aus; a oo 20_| ax100% * ALN woes [assa% | ai | - | na67 [oom | 10 | 76 | eco AP. 270571%) [paoasy [2503879 | 45.7% | neo Tiaow [22 [127 | oso + COLINA = [sma frass | - [aaa [- 1 s | we CorrENTE | 183% | 403,39) [167% | 21067%| 3250% | - 2 | m0% DEE - = fico [= - ~ - 1_| 00%) DvP. aeonm | - Taaoow [| ianoe | - 5 yo_| s10% FALN = [2050 fiesono | - = = = 4 | acon oN - - - - ~ ~ — - - GRoent - = = = = = = = - + MAR - - = =| ior | - = 1_| sao MEL =| wom | - =| won | - = 2 | xe) = MNR - - ~ = ~ - - ~ - + MOUIPO sas |asy | - = = = = 4 ‘MR-21 = = - = = = - = = + MR-26 = = 7 = = = = = = MR sa1i% |ia667% | iar | | rane [ara | 3 2» _| m0 MRM suo | - = = - = 1_| sao PCO sus.i%9 |1327,7% Laws | ia | 14298% | aes | — 47_| samy PCB. 1343,3%9 | sa67% |xtoo | —- | sa67m | ras | 2 32_| sxro0r * PoBR 707.9% |1aa11%9 [was | - | ruz9% [ieee | 2 a1_| ssio0% PCR = = fiaooy | - - < 1 | 1a = hoc s2a.1% [nies |sasém | — | casas | ier [9 a_| 3x10 POLOP, sa1% [753% | - =| aasam [rose | 2 1s_| 00% PORT 538% {938,1% | a95% | was | sa3a% | — = 21_| 2icico%y * Rr 342.8%) |1043% | a2so% | = fausss | 8_| ra00% + RAN ausa% | 10.7% [aso | — | acai [iggy | — 13_| 13x907%) + REDE = = [aasom | - = hiesom | 4] tos + VAR soe hosr2 [a6 | - | nese | 30.0% 7_| axio0% + veR su92% |su92% |aasiw | - | sar6% | 72699 as_ | aaion% © V.Grupoe nu99 [ars boas | - | «2s | a4ase | 12 so_| anion “TOTAL n |i | wo - 7 EI st | 3] 36 ESQARM, aia% | s5a% | 179% rigs | sax | ~ 19% ‘TOTAL ws [tw [ois [oo [4 38 2 | «| sm ‘GERAL woe | 22% | mse | 17% | w92% | ore | = 100% PONTE: BNM 126 RIDENTI, Marcelo Siqueira. As mulheres na politica brasileira: os anos de chumbo. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 262): 113-128, 2.sem. 1990, QUADRO N? 3 — Esquerda Brasileira, por ocupagao dos processados judicialmente, anos 60 ¢ 70 ESQUERDAS TOTAL GERAL ARMADAS, DAS ESQUERDAS CAMADAS DE BASE 3il 704 16,39% 19,04% a. lavradores 37.(2,0%) 88 (2.4%) b. militares de 54 (2,8%) 118 (3,2) baixa patente c. trab. manuais 20 (11,6%) 498 (13,5%) urbanos CAMADAS DE 490 1086 TRANSIGAO 25,83% 29,37% a. auténomos 130 (6,9%) 321 (8,7%) b. empregados 183 (9,7%) 359 (9,7%) c. funcionérios 69 (3,6%) 200 (5,4%) pablicos 4. militantes 15 (08%) 19 ,5%) e. téenicos médios 87 (4,6%) 166 (4,5%) 1, outros 6 0.3%) 21 (0,6%) CAMADAS MEDIAS E 1096 1908 ALTAS INTELECT. 51,18% 51,59% a. artistas 18 0.9%) 24 0.6%) b. empresérios 40.2%) 10 03%) c.estudantes 583 (30,7%) 906 (24.5%). 4. oficiais 14 ,7%) 30(0,8%) militares e. professores 178 9,4%) 319 (8,6%) £. profis. liber. 284 (15,0%) 599 (16,2%) form, superior &. religiosos 15 (08%) 20 (0,5%) NAO CONSTA A 215 426 OCUPAGAO. Total 2112 4124 TOTAL COM 1897 3698 OCUPAGAO 100% 100% CONHECIDA FONTE: BNM RIDENTI, Marcelo Siqueira. As mulheres na politica brasileira: 0s anos de chumbo. Tempo Social; 127 Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 242): 113-128, 2.sem, 1990. RIDENTI, Marcelo Siqueira. The women in the Brazilian politics: the “plumb years”. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, So Paulo, 2(2): 113-128, 2.sem. 1990. ABSTRACT: This paper attempts to clarify the political participation of Brazilian women in the sixties and the beginning of the seventies. Their struggle took diferent ways, for or against the military dictatorship. The paper presents data about women’s integration in left wing groups, specially in urban guerrilla. Many women have taken place of these groups, mainly young graduates and students, though there were many more men involved with armed struggle against the military government. Women's militancy in guerrilla organizations has not been properly feminist, but it meant a step towards women’s liberation, particularly if compared with organized militancy of right wing women, who supported the military government, defending their traditional status of ‘wives, mothers and housewives’. UNITERMS: Brazil: women, left wing, sixties, military dictatorship. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ARNS, Paulo Evaristo (pref.). Perfil dos atingidos. PetrOpolis, Vozes, 1985. BNM. Projeto “Brasil: Nunca Mais”. Projeto Paulo, 1985. 6 tomos, 12 volumes. Arquidiocese de So COSTA, Albertina de O. et alii (org.), Meméria das mulheres do exilio. Rio de Janeiro, Paz € ‘Terra, 1980. DALE, frei Romeu et alii (org.). As relacdes Igreja-Estado no Brasil. 2 vols. Sao Paulo, Loyola, 1986. DREIFUSS, René A. 1964: a conquista do Estado. 2% ed. Petr6polis, Vozes, 1981 GARCIA, Marco Aurélio. Contribuicao & hist6ria da esquerda brasileira. Em tempo. Séo Paulo, 1979. GORENDER, Jacob. Combate nas irevas. 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