Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
RESUMO:
O presente artigo tem por objetivo analisar o princípio do non
bis in idem e sua aplicabilidade à lei nº 12.846/13 (lei
anticorrupção), em especial aos artigos 29 e 30. De início,
esclareceremos o entendimento doutrinário acerca do emprego
deste princípio, definindo seu significado, fundamento, alcance
e efeitos que lhe são inerentes. Feitas tais considerações, serão
apresentados argumentos à inaplicabilidade dele à lei
anticorrupção, firmando, por fim, a tese de que não há óbices à
multiplicidade de investigações e de processos de
responsabilização, bem como à aplicação simultânea de sanções
(inclusive por órgãos distintos), prevista nos artigos 29 e 30
dessa lei.
Art. 30. A aplicação das sanções previstas nesta Lei não afeta os
processos de responsabilização e aplicação de penalidades
decorrentes de:
I - ato de improbidade administrativa nos termos da Lei
no 8.429, de 2 de junho de 1992; e
II - atos ilícitos alcançados pela Lei no 8.666, de 21 de junho de
1993, ou outras normas de licitações e contratos da
administração pública, inclusive no tocante ao Regime
Diferenciado de Contratações Públicas - RDC instituído pela Lei
no 12.462, de 4 de agosto de 2011.
2
Dentre as inúmeras comparações possíveis, o inciso I do artigo 5º - prometer, oferecer ou dar,
direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele
relacionada — equivaleria às condutas descritas nos artigos 9º, I, II, III, V, VI, IX, X da Lei
8.429/1992; no tocante a licitações e contratos, o inciso II: a) frustrar ou fraudar, mediante
ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo de procedimento
licitatório público- equivaleria ao art. 90 da Lei 8.666/93; b) impedir, perturbar ou fraudar a
realização de qualquer ato de procedimento licitatório público corresponderia ao art. 92 da Lei
8.666/93, dentre outros.
3
“O acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá ser submetido a novo
processo pelos mesmos fatos”.
Com efeito, o non bis in idem mais do que impedir que uma conduta
seja tipificada de forma simultânea em várias normas, traduz-se na
proibição da aplicação conjunta de tais normas a uma determinada conduta.
CANO CAMPOS (2001, pp. 195/197) destaca que, na verdade, o que
se quer proibir com esta garantia não é que um indivíduo seja punido duas
vezes pelos mesmos fatos, mas sim que ele seja punido duas vezes pelos
mesmos fatos, com base em um mesmo fundamento. Isso porque, segundo
o autor, o reconhecimento deste princípio pressupõe a existência de uma
tríplice identidade: identidade de sujeito, identidade de conduta e
identidade de fundamento, esse último ligado aos bens jurídicos postos em
discussão.
Desta feita, se a conduta de um mesmo indivíduo lesiona ou põe em
4
(...) “parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de supralegalidade aos
tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna pelo argumento de que os tratados
sobre direitos humanos seriam infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em
relação aos demais atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de
supralegalidade”. (RE 466343, Voto do Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgamento
em 3.12.2008, DJe de 5.6.2009)
5
El sometimiento a un proceso o procedimiento supone por sí mismo (sin necesidad de imponer
sanción alguna) una carga o gravamen para el ciudadano, por lo que su reiteración por unos
mismos hechos carecerá normalmente de justificación y se traducirá en um atentado a los
principios de proporcionalidad, interdicción de la arbitrariedade y seguridad jurídica. La
prohibición de enjuiciar varias veces los mismos hechos no sólo garantiza tales principios, sino
que evita, además, la posibilidad de una doble sanción y que recaigan eventuales
pronunciamientos de signo contradictorio.
6
A saber: 1) Convenção Interamericana contra a Corrupção de 1996 (Convenção da OEA -
Organização dos Estados Americanos); 2) Convenção da OCDE - Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico sobre o Combate ao Suborno de Oficiais
Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais de 1997; 3) Convenção
Penal do Conselho Europeu contra Corrupção de 1999; 4) Convenção Civil do Conselho
Europeu contra Corrupção de 1999; e 5) Convenção da ONU - Organização das Nações
Unidas contra a Corrupção de 2003.
7
Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/1084183.pdf. Acesso em: 24/10/2015
8
I - perdimento dos bens, direitos ou valores que representem vantagem ou proveito direta ou
indiretamente obtidos da infração ressalvados o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;
II - suspensão ou interdição parcial de suas atividades;
III - dissolução compulsória da pessoa jurídica;
IV - proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de órgãos
ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público,
pelo prazo mínimo de 1 (um) e máximo de 5 (cinco) anos.
9
Art. 29. O disposto nesta Lei não exclui as competências do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica, do Ministério da Justiça e do Ministério da Fazenda para processar e julgar
fato que constitua infração à ordem econômica.
Art. 30. A aplicação das sanções previstas nesta Lei não afeta os processos de responsabilização
e aplicação de penalidades decorrentes de: I - ato de improbidade administrativa nos termos
da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992; e II - atos ilícitos alcançados pela Lei no 8.666, de 21 de
junho de 1993, ou outras normas de licitações e contratos da administração pública, inclusive no
tocante ao Regime Diferenciado de Contratações Públicas - RDC instituído pela Lei no 12.462,
de 4 de agosto de 2011.
11
Art. 11. No processo administrativo para apuração de responsabilidade, será concedido à
pessoa jurídica prazo de 30 (trinta) dias para defesa, contados a partir da intimação.
12
Artigo 5º, inciso XXXV, CFRB: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito”.
13
Artigo 5º, inciso LV, CFRB: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CAMBI, E. A. S. A atuação do Ministério Público no combate à corrupção
na Lei 12.846/2013. Revista do Conselho Nacional do Ministério
Público, v. 4, p. 11-43, 2014. Texto completo (pdf). Disponível em:
<http://www.cnmp.gov.br/portal/images/stories/Destaques/Publicacoes
/Revista_CNMP_WEB4e.pdf>. Acesso em 02 de nov. de 2015.
CANO CAMPOS, Tomás. Non bis in idem, prevalencia de la vía penal y
teoría de los concursos en el Derecho administrativo sancionador.
Revista de administración pública, ISSN 0034-7639, Nº 156,
2001, págs. 191-250. Texto completo (pdf). Disponível em:
<http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=17556>. Acesso em:
02 de nov. de 2015.
CARVALHO, Érika Mendes de; CARDOSO, Sônia Letícia de Méllo;
SANTIAGO, Nestor Eduardo Araruna. Duplicidade de sanções
ambientais e o princípio non bis in idem. Pensar: Revista de Ciências
Jurídicas, Fortaleza, v. 18, n. 2, p.431-469, 2013. Trimestral.
Disponível em:
<http://ojs.unifor.br/index.php/rpen/article/view/2700/pdf>. Acesso
em: 09 nov. 2015.
GUEDES, Glênio Sabbad (Procurador da Fazenda Nacional). Do princípio
da proibição do bis in idem no direito administrativo sancionador do
mercado financeiro: essência e consectários. Editado em 06 de
fevereiro de 2006. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/crsfn/doutrina/BIS_IN_IDEM.pdf>. Acesso
em: 10 abr. 2011.