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DE DIREITO
PROCESSUAL CIVIL
2012
2
SUMÁRIO
1. JURISDIÇÃO...................................................................................................................................... 33
2. COMPETÊNCIA ................................................................................................................................. 56
16.1. SANEAMENTO E FASE DE SANEAMENTO (OU FASE ORDINATÓRIA): AS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES................ 351
16.2. JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO................................................................................ 352
16.3. JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO DA CAUSA ................................................................................. 352
16.3.1. Hipóteses de Cabimento do Julgamento Antecipado (art. 330) .......................................... 353
16.4. AUDIÊNCIA PRELIMINAR (ART. 331) .................................................................................................... 355
16.4.1. Generalidades ...................................................................................................................... 355
16.5. O DESPACHO SANEADOR ................................................................................................................... 357
16.6. TABELA SÍNTESE ............................................................................................................................... 359
17.1. DECISÕES QUE NÃO EXAMINAM O MÉRITO (ART. 267) ........................................................................... 360
17.1.1. Decisões em Espécie ............................................................................................................ 361
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26. ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS (ARTS. 547 A 465) ....................................................... 791
27.7.3.1.1. Bens Inalienáveis e os Declarados, por Ato Voluntário, Não Sujeitos à Execução ................ 832
27.7.3.1.2. Móveis, Pertença e Utilidades Domésticas (art. 649, II) ....................................................... 832
27.7.3.1.3. Vestuários e Pertences de Uso Pessoal (art. 659, III) ............................................................ 832
27.7.3.1.4. Vencimentos, Salários, Remunerações, Pensões, Proventos, Ganhos do Trabalhador
Autônomo e Honorários de Profissional Liberal (art. 659, IV) ................................................................ 832
27.7.3.1.5. Bens Necessários ou Úteis ao Exercício Profissional (art. 659, V) ......................................... 833
27.7.3.1.6. Seguro de Vida, Materiais Necessários para Obra em Andamento (art. 659, VI e VII) ......... 833
27.7.3.1.7. Pequena Propriedade Rural Trabalhada pela Família, Recursos Públicos Ligados à Aplicação
Compulsória em Educação, Saúde e Assistência Social, Valores Depositados em Caderneta de Poupança
até 40 SM e os Recursos do Fundo Partidário (art. 659, VIII, IX, X e XI) .................................................. 833
27.7.3.1.7. Termo Final de Alegação, como Matéria de Defesa, da Impenhorabilidade de Bem ........... 833
27.7.4. Responsabilidade Patrimonial ou Secundária (art. 592) ...................................................... 834
27.7.4.1. Bens do Sucessor a Título Singular, Tratando-se de Execução Fundada em Direito Real ou
Obrigação Reipersecutória (art. 592, I)........................................................................................................ 834
27.7.4.2. Bens do Sócio, nos Termos da Lei (art. 592, II) ............................................................................. 835
27.7.4.2.1. Desconsideração da Personalidade Jurídica ......................................................................... 835
27.7.4.3. Bens do Devedor, Quanto Estiverem em Poder de Terceiros (art. 592, III) .................................. 836
27.7.4.4. Bens do Cônjuge, nos Casos em que os seus Bens Próprios, Reservados ou de Sua Meação
Respondem pela Dívida (art. 592, IV) .......................................................................................................... 836
27.7.4.5. Bens Alienados ou Gravados com Ônus Real em Fraude à Execução (art. 592, V) ....................... 836
27.7.5. Fraudes do Devedor ............................................................................................................. 836
27.7.5.1. Fraude Contra Credores (arts. 158 a 165, CC/02) ......................................................................... 837
27.7.5.2. Fraude à Execução (art. 593) ........................................................................................................ 839
27.7.5.2.1. O art. 615-A – Averbação no Registro ................................................................................... 839
27.7.5.2.2. Momento da Fraude à Execução quando o Exequente é a Fazenda Pública ........................ 840
27.7.5.3. Fraude de Bem Constrito Judicialmente ....................................................................................... 841
27.8. LIQUIDAÇÃO DA OBRIGAÇÃO (ARTS. 475-A A 475-H) ............................................................................ 841
27.8.1. Requisitos da Obrigação a Executar .................................................................................... 841
27.8.2. Liquidação da Obrigação. Considerações Gerais ................................................................. 842
27.8.2.1. Rito da Liquidação ........................................................................................................................ 843
27.8.2.2. Legitimidade para Requerer a Liquidação .................................................................................... 843
27.8.2.3. Competência para Julgamento da Liquidação .............................................................................. 844
27.8.2.4. Momento para Requerer a Liquidação ......................................................................................... 844
27.8.2.5. Limites da Cognição na Liquidação ............................................................................................... 844
27.8.2.6. Matéria de Defesa na Liquidação ................................................................................................. 845
27.8.3. Natureza Jurídica da Liquidação .......................................................................................... 845
27.8.4. Liquidação por Cálculos (art. 475-B) .................................................................................... 846
27.8.4.1. Necessidade de Dados em Poder do Devedor ou de Terceiros (art. 475-B, § 1º)......................... 846
27.8.4.1.1. Dados em Poder do Devedor ................................................................................................ 846
27.8.4.1.2. Dados em poder de Terceiros ............................................................................................... 847
27.8.4.2. Elaboração do Cálculo pelo Contador Judicial (art. 475-B, § 3º)................................................... 847
27.8.5. Liquidação por Arbitramento (art. 475-C) ........................................................................... 847
27.8.6. Liquidação por Artigos ......................................................................................................... 848
27.8.7. Princípio da Fidelidade ao Título .......................................................................................... 848
27.8.7.1. Liquidação de Valor Zero .............................................................................................................. 849
27.8.8. Natureza Jurídica da Decisão que Julga a Liquidação e Recurso Cabível ............................. 850
27.8.9. Liquidação e Coisa Julgada .................................................................................................. 851
27.8.10. Súmulas sobre Liquidação.................................................................................................. 851
27.9. TÍTULO EXECUTIVO ........................................................................................................................... 851
27.9.1. Introdução............................................................................................................................ 851
27.9.2. Títulos Executivos Judiciais (art. 475-N) ............................................................................... 853
27.9.2.1. Sentença Proferida no Processo Civil que Reconheça a Existência de Obrigação de Fazer, Não
Fazer, Entregar Coisa ou Pagar Quantia (art. 475-N, I) ................................................................................ 853
27.9.2.2. Sentença Penal Condenatória Transitada em Julgado (art. 475-N, II) .......................................... 853
27.9.2.3. Sentença Homologatória de Conciliação ou de Transação, Ainda que Inclua Matéria não Posta em
Juízo (art. 475-N, III) .................................................................................................................................... 854
27.9.2.4. Sentença Arbitral (art. 475-N, IV) ................................................................................................. 854
27.9.2.5. Acordo Extrajudicial, de Qualquer Natureza, Homologado Judicialmente (art. 475-N, IV) .......... 855
27.9.2.6. Sentença Estrangeira Homologada pelo STJ (art. 475-N, VI) ........................................................ 855
27.9.2.7. Formal e a Certidão de Partilha, Exclusivamente em Relação ao Inventariante, aos Herdeiros e aos
Sucessores a Título Singular ou Universal (art. 475-N, VII) .......................................................................... 855
27.9.3. Títulos Executivos Extrajudiciais (art. 585, CPC) .................................................................. 855
27.9.3.1. Letra de Câmbio, a Nota Promissória, a Duplicata, a Debênture e o Cheque (art. 585, I) ............ 856
27.9.3.2. Escritura Pública ou Outro Documento Público Assinado pelo Devedor; o Documento Particular
Assinado pelo Devedor e por 02 Testemunhas; o Instrumento de Transação Referendado pelo Ministério
Público, pela Defensoria Pública ou pelos Advogados dos Transatores (art. 585, II) .................................. 856
27.9.3.3. Contratos Garantidos por Hipoteca, Penhor, Anticrese e Caução, bem como os de Seguro de Vida
(art. 585, III) ................................................................................................................................................. 857
27.9.3.4. Crédito Decorrente de Foro e Laudêmio (art. 585, IV) ................................................................. 857
27.9.3.5. Crédito, Documentalmente Comprovado, Decorrente de Aluguel de Imóvel, Bem como de
Encargos Acessórios, tais como Taxas e Despesas de Condomínio (art. 585, V) ......................................... 857
27.9.3.6. Crédito de Serventuário de Justiça, de Perito, de Intérprete, ou de Tradutor, quando as Custas,
Emolumentos ou Honorários forem Aprovados por Decisão Judicial (art. 585, VI)..................................... 858
27.9.3.7. Certidão de Dívida Ativa da Fazenda Pública da União, dos Estado, do Distrito Federal, dos
Território e Municípios, Correspondente aos Créditos Inscritos na Forma da Lei (art. 585, VII) ................ 858
27.9.3.8. Todos os Demais Títulos, a que, por Disposição Expressa, a Lei Atribuir Força Executiva (art. 585,
VIII) .............................................................................................................................................................. 858
27.10. EXECUÇÃO PROVISÓRIA ................................................................................................................... 858
27.10.1. Conceito ............................................................................................................................. 858
27.10.2. Execução Provisória de Título Executivo Extrajudicial ....................................................... 859
27.10.3. Desenvolvimento da Execução Provisória .......................................................................... 860
27.10.4. Caução na Execução Provisória (art. 475-O, III) ................................................................. 861
27.10.4.1. Dispensa da Caução (art. 475-O, § 2º) ........................................................................................ 862
27.10.5. Responsabilidade Objetiva do Exequente (art. 475-O, I) ................................................... 863
27.10.6. Autos da Execução Provisória (art. 475-O, § 3º) ................................................................ 863
27.10.7. Execução Provisória contra a Fazenda Pública .................................................................. 863
27.10.8. Impossibilidade de Aplicação da Multa do Art. 475-J na Execução Provisória .................. 865
27.11. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTIVA ............................................................................................. 866
27.12. NULIDADES NO PROCESSO DE EXECUÇÃO ............................................................................................ 866
27.13. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DA OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER (ART. 461) ..................................... 867
27.13.1. Introdução.......................................................................................................................... 867
27.13.2. Espécies de Tutelas Cabíveis .............................................................................................. 868
27.13.2. Aspectos Procedimentais ................................................................................................... 869
27.13.3. Tutela Específica e Conversão em Perdas e Dano (art. 461, § 1º) ..................................... 870
27.13.3.1. Vontade do Exequente ............................................................................................................... 870
27.13.3.2. Procedimento da Conversão em Perdas e Danos ....................................................................... 871
27.13.4. Atipicidade das Formas Executivas (art. 461, § 5º)............................................................ 871
27.13.5. Multa Coercitiva ou Astreintes (art. 461, § § 4º, 5º e 6º) .................................................. 872
27.13.5.1. Valor da Multa ............................................................................................................................ 872
27.13.5.2. Beneficiado pela Multa ............................................................................................................... 872
27.13.5.3. Alteração do Valor e Periodicidade da Multa (art. 461, § 6º) ..................................................... 874
27.13.5.4. Exigibilidade da Multa ................................................................................................................ 875
31. MEDIDAS CAUTELARES – TEORIA GERAL (ARTS. 796 A 812) ....................................................... 1083
1. Jurisdição
1.1. Conceito e Características da Jurisdição
1.1.1. Conceito
Trata-se da FUNÇÃO atribuída a terceiro imparcial (Estado) de aplicar o direito objetivo ao caso
concreto, resolvendo por decisão definitiva e não passível de controle externo uma situação de
crise e gerando pacificação social.
A jurisdição é um PODER, já que representa o poder estatal de interferir na esfera jurídica dos
jurisdicionados.
A jurisdição, apesar de típica, não é função exclusiva do Poder Judiciário, já que os demais
Poderes exercem também a função judicante. A diferença é que a decisão destes não se
acoberta da coisa julgada material.
Vista como ATIVIDADE, a jurisdição é o complexo dos atos praticados pelo agente estatal
investido de jurisdição no processo. Nesse sentido, a jurisdição se aproxima da noção de
processo. Logo, são óticas da jurisdição:
Função
Poder
Atividade
Carnelutti era adepto de uma teoria chamada de teoria unitária do ordenamento jurídico; por
esta teoria ele e seus adeptos entendiam que o direito processual não tinha vida própria, ele
era um adendo do direito civil; época em que era chamado de direito adjetivo. Então era uma
época em que Carnelutti estava tentando provar que o processo civil era uma ciência à parte e
tão ou mais importante o que direito civil.
Segundo ele, o direito material não cria direito subjetivo, cria apenas uma expectativa de
direito. Isso porque o Código Civil estabelece uma série de determinações que serão
respeitadas de maneira espontânea pelas partes. O direito material não assegura meio algum
para se dirigir ao indivíduo, então de acordo com Carnelutti, para se obter o cumprimento
adequado da obrigação você vai precisar se socorrer do processo.
Para o Estado exercer a jurisdição, será preciso um instrumento que é o processo, mas o que
irá assegurar o cumprimento da obrigação é a sentença que será proferida no processo.
Segundo Carnelutti, é a sentença proferida no processo que cria direito subjetivo.
O MPF gosta de perguntar o que é o ARCO DE CARNELUTTI: este é exatamente essa primeira
fase em que ele afirma que o direito material cria uma mera expectativa de direito; o que
efetivamente cria direito subjetivo é a sentença proferida em um processo, é o que completa o
todo. É ela, sentença, que cria direito subjetivo.
Para Carnelutti, o direito objetivo não tem condições para disciplinar, sempre, todos os
conflitos de interesses, sendo necessário, muitas vezes, o processo para a complementação
dos comandos da lei. O comando contido na lei é incompleto; é como se fosse um arco, que a
sentença completa, transformando em círculo. Não é tão nítida assim a cisão entre o direito
material e o direito processual. O processo participa da criação de direitos subjetivos e
obrigações, os quais só nascem efetivamente quando existe uma sentença a respeito. O
processo tem, assim, o escopo de compor a lide, ou seja, de discipliná-la, ditando a regra que a
soluciona.
Mas esta não é a teoria predominante; o nosso sistema adota a teoria de Chiovenda.
Chiovenda era adepto da teoria dualista do ordenamento jurídico. Por ela o ordenamento é
dividido em dois planos: o do direito material, que efetivamente cria direito subjetivo; e um
segundo plano que é o do direito processual.
Quando o plano do direito material é objeto de algum tipo de violação ela precisa ser corrigida
e o Estado é chamado a dizer qual é a interpretação que efetivamente deve ser dada àquela
norma, o que foi feito de errado que precisa ser corrigido.
Essa solução é realizada no plano do direito processual onde o Estado declara a vontade
concreta da lei. É por isso que, segundo Chiovenda, o conceito de jurisdição é o de aplicação da
vontade concreta da lei.
Essa aplicação da vontade concreta da lei realizada no plano do direito processual será
realizada através da substituição por órgãos públicos da vontade dos particulares ou de outros
órgãos públicos. Seja para declarar a vontade da lei (processo de conhecimento), seja para
torná-la efetiva (processo de execução).
Quer basicamente dizer que se a jurisdição foi exercida pelo Estado nazista na década de 40,
por exemplo, é um tipo de jurisdição; se exercida pelo estado comunista na década de 30,
outro tipo de jurisdição; se exercida pelo Estado democrático de direito no ano 2000, é um
outro tipo de jurisdição. Então, a jurisdição não tem um conceito definido porque ela é
maleável, depende do tipo de Estado e da época.
Mas no curso que Marinoni tem agora de processo civil, ele afirma que o conceito de jurisdição
é baseado na aplicação da lei, mas sempre pautado pela observância dos princípios
constitucionais especialmente aqueles relacionados aos direitos fundamentais.
Então, ele afirma que modernamente só se pode falar em jurisdição se o Estado aplicar a lei
observando sempre a Constituição e os direitos fundamentais. Na verdade, segundo ele, o
Estado precisa sempre aplicar a Constituição, pois só assim há jurisdição, observando os
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A mais moderna das posições é a de Fredie Didier, que no primeiro volume de sua obra afirma
que a jurisdição é uma função atribuída a um terceiro imparcial de realizar o direito de
maneira imperativa e criativa reconhecendo, efetivando e protegendo situações jurídicas
concretamente deduzidas em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para se
tornar imutável ou indiscutível.
Importante deixar consignado que Didier sempre rejeitou a teoria do Carnelutti, a ideia dele
aqui é de que quando o juiz julga um pedido, ele vai pegar a lei que é abstrata e aplicar àquele
caso. Para ele o juiz estaria moldando a lei de uma determinada forma específica para o caso.
Mas para a doutrina tradicional os tribunais não criam nada, eles vão até a lei, interpretam e
aplicam ao caso concreto.
1.1.2. Heterocomposição
A jurisdição é técnica de solução de litígios por heterocomposição, já que um terceiro substitui
a vontade das partes e soluciona o problema apresentado. Trata-se, pois, do fenômeno da
substitutividade, conforme prelecionava Chiovenda.
O juiz deve ser imparcial, sem interesse no litígio e tratando igualmente as partes; nunca será,
entretanto, neutro, pois a neutralidade implicaria em ausência de manifestação no processo. O
juiz se manifesta, tendendo a uma solução da lide.
A norma jurídica criada e contida na fundamentação do julgado compõe a ratio decidendi. Não
é essa a norma individual, a qual vem contida no dispositivo da sentença.
Logo, diferentemente do que propugnava a teoria clássica, o juiz não apenas declara a lei ou
cria a norma individual (dispositivo) a partir da norma geral. Ele efetivamente constrói a norma
jurídica.
Com o avanço do uso dos princípios, mais criativa ainda se tornou a jurisdição; isso. Por
evidente, gera muitas críticas que serão analisadas ao longo desse resumo.
A criatividade judicial pode ser justificada ainda pelo princípio da inafastabilidade da jurisdição,
que proíbe a recusa da prestação jurisdicional ainda que não haja solução legal prevista
(vedação ao non liquet).
Essa questão está intimamente ligada ao princípio da inércia da jurisdição, o qual veda o que
processo seja judicialiforme, iniciado de ofício.
Isso é diferente da atuação legislativa, por exemplo, a qual cria as normas abstratas.
Veja que essa vedação de controle externo vem ganhando certa mitigação no cenário
internacional, com a possibilidade das Cortes Internacionais se pronunciarem sobre decisões
definitivas prolatadas em países sujeitos à elas.
Além das finalidades sociais há o escopo político da jurisdição, que seria a garantia das
liberdades públicas, que nada mais significa do que garantia dos direitos fundamentais. Um
segundo escopo político seria a afirmação da autoridade Estatal, ou do poder Estatal. O poder
é uno, indivisível, e ele, Estado, é o único a exercê-lo proibindo a pessoa de exercer a
autotutela para satisfação, abrindo a oportunidade de nos dirigirmos a ele pleiteando a
atividade jurisdicional. O meio que nos possibilita dirigir ao Estado é o exercício do direito de
ação.
Para aqueles que defendem que a arbitragem é jurisdição, o Estado, através da lei, em
situação excepcional, preenchidas determinadas condições possibilita a escolha de um árbitro
para a solução de um conflito. A arbitragem não foge da regra, só que para encaixá-la aqui
temos que lembrar que o Estado, através da lei, possibilita que preenchidas determinadas
condições possa ser escolhido um árbitro para a solução de um conflito.
Todas essas formas são não definitivas, já que passíveis de controle jurisdicional.
Importante ter em mente que as composições não judiciais de conflitos são completamente
fomentadas pela Constitução, a começar do preâmbulo:
[...]
1.2.1. Autotutela
É a solução de conflitos que se dá com a imposição da vontade por uma das partes; logo, se
diferencia da autocomposição por ser unilateral. Permitida em algumas situações excepcionais
(v.g., desforço imediato), é em regra vedada, chegando até mesmo a se configurar o tipo penal
de exercício arbitrário das próprias razões.
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1.2.2. Autocomposição
É a forma de solução de conflitos pelo consentimento espontâneo de um dos contendores em
sacrificar o interesse próprio, no todo ou em parte, em favor do interesse alheio. Pode ocorrer
fora ou dentro do processo. Ela é o gênero, dos quais são espécies:
1 Texto de Adilson de Abreu Dallari. “Viabilidade da Transação entre o Poder Público e Particular”, em Interesse Público, Ano 4, nº
13, janeiro/março de 2002, Editora Nota Dez, Porto Alegre, 2002, pp. 15-16.
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1.2.3. Mediação
Trata-se de uma técnica não estatal de solução de conflitos pela qual um terceiro se coloca
entre os contendores e tenta conduzi-los a uma solução autocomposta. Daniel Assumpção
afirma que a principal diferença entre conciliação e mediação é a postura do terceiro, sendo
nesta o mediador muito mais propositivo do que naquele (tenta forçar um acordo).
Existe uma outra opinião, no sentido de o mediador não fazer propostas e se comportar como
terceiro imparcial que apenas aproxima as partes. Segundo essa corrente,
A mediação, por sua vez, embora também tenha como característica o fato
de objetivar conseguir das partes um acordo, por meio de terceiro imparcial,
distingue-se da conciliação exatamente pela forma como esse terceiro age.
Na mediação, o terceiro não estimula nem faz propostas para se chegar a
um acordo. O mediador, literalmente, fica no meio. Nem de um lado, nem
de outro. Não adere a nenhuma das partes nem emite juízos de valor ou
opiniões acerca da melhor forma de se chegar a uma solução. Ele atua
simplesmente aproxima as partes para que elas, por si próprias, encontrem
uma solução para a causa.
Ou seja, exatamente em sentido contrário. Ora cai uma, ora cai a outra posição em provas
objetivas.
1.2.4. Arbitragem
O STF entende que A ESCOLHA ENTRE ARBITRAGEM E JURISDIÇÃO É ABSOLUTAMENTE
CONSTITUCIONAL, afirmando que a aplicação da garantia constitucional da inafastabilidade é
naturalmente condicionada à vontade das partes2. Se o próprio direito de ação é disponível,
também o será o exercício da jurisdição na solução do conflito de interesse.
2
Houve declaração incidental do STF no julgamento da homologação de sentença estrangeira SE 5.206-7, em 12.12.2001.
Fundamentou seu entendimento no fato de ela não afastar a jurisdição por ser facultativa.
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41
A arbitragem é regulada pela Lei nº 9.307/96, a qual será constituída por meio de um negócio
jurídico denominado de convenção de arbitragem, o qual compreende duas subespécies:
Ambas são formas de se abdicar à tutela jurisdicional estatal, seja previamente ou após um
caso concreto.
A sentença arbitral não precisa ser homologada, sendo ela um título executivo JUDICIAL, de
acordo com o art. 475-N, IV, CPC. O árbitro pode decidir, mas não tem poder para tomar
qualquer providência executiva; PODE, NO ENTANTO, DEFERIR TUTELAR DE URGÊNCIA, AS
QUAIS, SE NÃO CUMPRIDAS VOLUNTARIAMENTE PELAS PARTES, DEVERÃO SER EXECUTADAS
NO JUDICIÁRIO. Veja:
3
Carmona, Arbitragem, pp. 98-101
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42
SOMENTE EM RELAÇÃO À
Pode haver controle judicial da sentença arbitral?
Súmula 485, STJ: “A Lei de Arbitragem aplica-se aos contratos que contenham cláusula arbitral,
ainda que celebrados antes da sua edição”. Isso porque a lei tem caráter eminentemente
processual, e não material; logo, deverá ser aplicada aos contratos celebrados antes de sua
vigência, mas cuja execução tenha se protraído no tempo, visto que as normas processuais são
de ordem pública, inderrogáveis pela vontade das partes.
4
Forte na doutrina contra: a maioria dos processualistas tem a arbitragem como um equivalente
jurisdicional e não como um exercício da própria jurisdição, tendo em vista os seguintes fundamentos: a
arbitragem é voltada apenas para direitos patrimoniais disponível, enquanto a jurisdição é irrestrita; a
arbitragem é manifestação da autonomia da vontade e a opção por árbitro implica a renúncia à
jurisdição; a jurisdição é atividade primária do Estado, própria dele mesmo, que não pode ser delegada a
particulares; a jurisdição só pode ser exercida por pessoa devidamente investida, que tenha a
autoridade de juiz, carreira cujo acesso dá-se exclusivamente mediante concurso púbico, enquanto a
arbitragem pode ser realizada por terceiro sem que tenha sido investido pelo Estado de parcela da
jurisdição; a jurisdição é indelegável, pois nenhum dos poderes pode delegar aquilo que é de sua
essência; as decisões dos árbitros, dentro de um determinado árbitro, estão sujeitas à revisão por juízes,
em obediência ao princípio da inafastabilidade da jurisdição (se as decisões de terceiros estão sujeitas à
revisão de um juiz de primeiro grau, é porque esses terceiros não exercem jurisdição). Finalizando, tem-
se que o árbitro não pode executar suas próprias decisões; quem o faz é o juiz.
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43
Segundo recente precedente do STJ, o Tribunal Arbitral é competente para processar e julgar
pedido cautelar formulado pelas partes, somente podendo elas se socorrerem da Justiça em
caso de impossibilidade de funcionamento do juízo arbitral:
Com relação a essa questão, José Emílio Nunes Pinto pondera que:
Outro aspecto levantado por este autor é a violação ao Princípio da Publicidade, considerando-
se que a Arbitragem tem por característica a sigilosidade. Entretanto, o autor acima
mencionado disserta que o procedimento arbitral permite que as partes optem por dar ou não
um tratamento sigiloso à arbitragem. PINTO, José Emílio Nunes. Revista Brasileira de
Arbitragem. V.1, n.1 (jul./out..2003) .Porto Alegre: Síntese, 2003, pág.21.
7. Deveras, NÃO
É QUALQUER DIREITO PÚBLICO SINDICÁVEL NA
VIA ARBITRAL, MAS SOMENTE AQUELES COGNOMINADOS
COMO "DISPONÍVEIS", porquanto de natureza contratual ou privada.
11. Sob esse enfoque, saliente-se que dentre os diversos atos praticados
pela Administração, para a realização do interesse público primário,
destacam-se aqueles em que se dispõe de determinados direitos
patrimoniais, pragmáticos, cuja disponibilidade, em nome do bem coletivo,
justifica a convenção da cláusula de arbitragem em sede de contrato
administrativo.
9.307/96 e do artigo 267, inc. VII do CPC à matéria sub judice, afasta a
jurisdição estatal, in casu em obediência ao princípio do juiz natural (artigo
5º, LII da Constituição da República de 1988).
17. Destarte, uma vez convencionada pelas partes cláusula arbitral, o árbitro
vira juiz de fato e de direito da causa, e a decisão que então proferir não
ficará sujeita a recurso ou à homologação judicial, segundo dispõe o artigo
18 da Lei 9.307/96, o que significa categorizá-lo como equivalente
jurisdicional, porquanto terá os mesmos poderes do juiz togado, não
sofrendo restrições na sua competência.
1.2.5. Conciliação
A conciliação é medida prevista no Código de Processo Civil que visa obter das partes em litígio
um acordo amigável, mediante concessões mútuas. É sempre intermediada por um terceiro,
que pode ser o próprio juiz ou um conciliador (ou seja, pode ser judicial ou extrajudicial). Sua
característica marcante e a principal distinção entre ela e a mediação é a sua forte carga
indutiva, vez que o terceiro atua sugerindo opções, propostas para a solução da causa. Há,
portanto, um estímulo contínuo para a resolução da contenda, com uma participação ativa do
terceiro.
5
Fonte: http://www.conjur.com.br/2012-out-14/segunda-leitura-conciliacao-melhor-forma-solucao-
conflitos
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Conciliar significa harmonizar, pôr de acordo, congraçar, combinar, grangear, captar, atrair,
conseguir, aliar, unir, harmonizar, no sempre bom ensinamento de Aurélio Buarque de
Holanda (Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 11. ed., p.308).
Nos conflitos jurídicos, o acordo, seja qual for o nome que se lhe dê, põe fim à controvérsia e,
consequentemente, ao ódio e a outros sentimentos negativos. Já uma sentença, por mais
fundamentada que seja, nem sempre dá a solução definitiva. Mesmo que seja executada, o
conflito permanece latente e pode eclodir tempos depois por outro motivo.
Tudo isto não é novidade alguma. Na Constituição de 1824, o artigo 161 era taxativo: “Sem se
fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliação, não se começará processo
algum.” A Lei de 15 de outubro de 1827 criava em cada uma das freguesias e das capelas
curadas um Juiz de Paz, determinando no artigo 5º, parágrafo 1º, que ele conciliasse as partes
que desejassem demandar. O Regulamento 120, de 1842, que tratava das atividades policiais,
previa no artigo 111 a utilização do “termo de bem viver”, destinado a apaziguar as relações na
sociedade da época.
O tempo passou, o Brasil tornou-se uma República e as formas de soluções dos conflitos foram
aos poucos se alterando. Por exemplo, criando-se a Justiça do Trabalho em 1932 (ao início
órgão administrativo), através das Juntas de Conciliação e Julgamento, compostas por
representantes dos empregados e dos empresários e por um Juiz Presidente, sendo
obrigatória a tentativa de conciliação.
No CPC de 1939 o Judiciário ficou alheio a qualquer composição. Cabia-lhe só julgar. Nos
artigos 263 a 272 nenhuma palavra é dirigida à possibilidade de conciliar. Esta tarefa
continuava sendo atribuição dos delegados de Polícia, juízes de Paz, além do promotor de
Justiça, que atendia os pobres sobre assuntos gerais e, inclusive, propunha reclamações
trabalhistas. Este poder, pouco e mal definido nas leis, baseava-se mais do que tudo no
respeito que a população tinha pelas autoridades. Darei um exemplo.
Em agosto de 1971, na cidade de Apiaí (SP), eu respondia pela Promotoria. Eis que chegou um
senhora pobre, ao redor dos 40 anos de idade, e muito envergonhada narrou seu drama. O
marido, ao manter relações sexuais, “jogava a semente fora” e isto lhe causava problemas,
pois há mais de um ano se excitava e não alcançava o prazer. Chamei o homem e ele, na sua
simplicidade, disse que de nada sabia (ela nunca reclamou por vergonha) e que assim agia
porque não queria mais filhos. Solteiro, pouco mais que um adolescente, aconselhei o homem
a retardar o gozo dando a ela a possibilidade de satisfazer-se e que, para tanto, durante o ato
sexual pensasse em alguma coisa diferente. Respondeu ele, “já sei dr., vou pensar no
Corinthians e tá tudo resolvido”.
Pois bem, entre amadorismo e vontade de acertar, o fato é que a sociedade tinha seus meios
de solução das desavenças, principalmente as de pequeno porte. E as pessoas tinham quem as
ouvisse. Aqui um aspecto pouco tratado. Muitas vezes, quem reclama quer apenas atenção,
um pedido de desculpas.
Com a chegada da Constituição de 1988, todas estas formas alternativas foram abolidas ou
reduzidas em suas atividades. E passou-se tudo para os Juizados Especiais. Estes começaram a
receber uma quantidade despropositada de processos e tornaram-se congestionados como as
Varas. O que antes se resolvia com uma simples admoestação passou a ser uma ação de
indenização por dano moral. Nenhum Estado tem orçamento para criar estruturas de Juizados
que atendam todas as reclamações, hoje assoberbados pela vulgarização das ações por danos
morais.
Muitos anos se passaram até que se tentaram iniciativas conciliadoras. Por exemplo, criando
Juizados Especiais dentro das universidades, atuando os alunos como cartorários e
conciliadores, sob a supervisão de um juiz (v.g., pioneiramente, a Universidade Regional de
Blumenau (SC) e na UNISANTA, em Santos (SP). Ou Juizados Especiais Avançados em cidades
menores, como os instalados pelo TRF-4 em 2004, agora espalhados por todo o RS
(vide entrevista juiz Eduardo Picarelli, Conjur, 8 de abril de 2012) e também no estado de
Rondônia.
Mas estas medidas não bastavam. Faltava um passo à frente. E este só poderia vir do CNJ,
único órgão capaz de elaborar uma política judiciária de alcance nacional. E assim foi editada a
RESOLUÇÃO CNJ nº 125/2012.
Não se descuidou da parte ética e, para isto, criou-se um Código para os Conciliadores e
Mediadores. Por exemplo, no artigo 1º, parágrafo 1º, estabelece-se a confidencialidade,
exigindo-se resguardo das informações obtidas na sessão. E no artigo 7º proíbe o conciliador
A Resolução deixa espaço para que o TJ de cada estado adapte suas normas gerais à realidade
local, e cada Justiça, às suas especificidades. Por exemplo, remunerando os conciliadores e
mediadores (artigo 7º, inciso VII). O que pode ser imprescindível em uma unidade da
Federação, pode ser desnecessário em outra, onde o serviço voluntário pode suprir as
necessidades.
Em suma, a boa iniciativa do CNJ, que teve no Des. Kazuo Watanabe o principal articulador,
mostra-se de todo oportuna e deve, por todos, ser incentivada. E na medida em que vai se
tornando realidade, já justifica a ideia de um novo passo: tornar, por lei, a tentativa de
conciliação ou de mediação obrigatórias e não facultativas, tal como fez a Argentina nas ações
de natureza patrimonial, com sucesso. Não a formal tentativa prevista no artigo 277 do CPC,
mas sim a feita por magistrados e pessoas capacitadas na busca da solução amigável.
O caminho é longo, os empecilhos são muitos, mas com iniciativas como a Resolução CNJ 125,
boa vontade dos presidentes de tribunais e dos administradores judiciais, aliadas a uma boa
dose de obstinação, chegaremos lá.
a) Investidura: o juiz deve ter sido regularmente investido na função jurisdicional. Caiu
em um concurso a seguinte indagação: você foi aprovado na prova da magistratura,
passou na prova oral, na de títulos, aí você se dirige até a vara em que era estagiário
para comunicar a notícia aos seus colegas; chegando lá o juiz não está, o advogado
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está no balcão querendo uma sentença, você profere a sentença, assina, o cartório
com pressa de realizar os atos, pega a sentença, certifica, intima os advogados. Essa
sentença é válida? Dez dias depois você tomou posse ninguém até então reclamou da
sentença, ela é válida? Tecnicamente a sentença é inexistente, porque você só pode
ser considerado juiz depois que toma posse, pois ainda não está investido de
jurisdição, não tem que aplicar a teoria da aparência.Logo, por ser inexistente,
impassível é até mesmo de convalidação.
f) Juiz natural: sem previsão expressa, advém dos preceitos constitucionais da vedação
de tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII) e de que ninguém será processado senão pela
autoridade competente (art. 5º, LIII).
Formalmente, juiz natural é o juiz competente de acordo com as regras gerais e abstratas
previamente estabelecidas; materialmente, consiste na exigência da imparcialidade e da
independência do magistrado. Sobre o tema:
O juiz, além de imparcial, deve ser dotado da impartialidade (com t mesmo!). Impartialidade
significa que ele não é parte, mas sim um terceiro estranho à causa.
Não viola o princípio do juiz natural a criação de varas especializadas, regras de competência
determinadas por prerrogativas de função, convocação de juízes para compor órgãos de
tribunais e a redistribuição de processos em decorrência da criação de vara com idêntica
competência (STJ, HC 102.193/SP).
a) Caráter substitutivo: ela substitui a vontade das partes pela vontade da lei no caso
concreto, resolvendo o conflito existente.
b) Lide: lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. Trata-se
de um fenômeno não processual, preexistente ao processo. NEM SEMPRE HAVERÁ
LIDE, como ocorre nos processos objetivos, nas tutelas inibitórias, exibição de
testamento do artigo 1.129 do CPC, arrecadação de bens de herança jacente do artigo
1.142, na arrecadação de bens de herança vacante do artigo 1.160 etc. Há quem
defenda que lide não é característica da jurisdição (Dinamarco, Marinoni, Alexandre
Câmara, Araken de Assis). O conflito não é necessário. Para que se tenha jurisdição é
indispensável uma pretensão; quando o autor ajuíza uma demanda e formula um
pedido, pode ser que o réu reconheça a procedência do pedido. Se assim o fizer não
há conflito, mas existe uma pretensão. O autor exigiu que o réu abrisse mão do seu
interesse a seu favor, assim a pretensão é indispensável.
a) Jurisdição penal ou civil: espécie que leva em conta a natureza do objeto da demanda.
b) Jurisdição superior ou inferior: aquela é a que tem competência recursal; esta, a que
possui competência originária, ou seja, juízes de primeiro grau e competências
originárias dos tribunais.
A regra é que não exista um conflito. Nela há determinados negócios jurídicos que o
legislador considerou tão importantes que vinculou a existência dos efeitos desse negócio
jurídico à presença do juiz. Em outras palavras, determinados negócios jurídicos só produzem
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efeitos se realizados perante o juiz. O que existe é um interesse do Estado para que
determinados efeitos se produzam, o juiz tenha que participar do processo.
1.6.1. Princípios
São eles:
b) Possibilidade de decisão fundada na equidade: o juiz não está obrigado a decidir com
base na legalidade estrita (art. 1.109, CPC), facultando-lhe o juízo por equidade, que se
funda em critérios de conveniência e oportunidade (discricionariedade).
Daniel Assumpção defende que o juiz poderá decidir até mesmo contrariamente à lei, desde
que tenha em vista o bem comum e observe o princípio da proporcionalidade.
c) Participação do MP como fiscal da lei: o MP deverá sempre ser intimado (art. 1.105,
CPC) em toda demanda de jurisdição voluntária. O STJ adota uma concepção restritiva
do dispositivo (para alguns, interpretação lógico-sistemática), defendendo só ser
necessária a intervenção do MP se presentes algumas das situações do art. 82 do CPC.
Um segundo argumento para os adeptos da teoria revisionista é que tal como na jurisdição
contenciosa, na jurisdição voluntária o Estado precisa ser provocado e esta provocação é
realizada exatamente como nos casos de jurisdição contenciosa, ou seja, através do exercício
do direito de ação.
Eles vão além, e falam que se na jurisdição voluntária o Estado tem que ser provocado é
porque tem que existir um autor, pode não existir a parte ré, a chamada contraparte. Diante
disso, o último argumento é que de acordo com o artigo 1.111 do CPC a decisão na jurisdição
voluntária faz sim coisa julgada.
1.6.3. Características
São elas:
e) Existência de coisa julgada material: apesar de negada pela teoria clássica, não se
modificará ou discutirá novamente o que já foi decidido, salvo se sobrevierem novos
fatos, o que modificará a causa de pedir e não ofenderá a coisa julgada material.
6
Exatamente pela impossibilidade da sentença arbitral ser executada no próprio juízo arbitral. Para ter
caráter executivo, deve-se buscar a tutela do judiciário.
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5. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 12. De acordo com a jurisprudência pacificada pelo STJ,
a Lei de Arbitragem aplica-se aos contratos que contenham cláusula arbitral, ainda que
celebrados antes da sua edição.
2. Competência
2.1. Conceito
Competência é o resultado de critérios para distribuir entre vários órgãos as atribuições
relativas ao desempenho da jurisdição, manifestação do poder estatal una e indivisível.
7
HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA CONTESTADA. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA (CF. Art. 105, I, "i"; LEI 9.307/96, Art. 35). PEDIDO ADEQUADAMENTE INSTRUÍDO.
DEFERIMENTO.
I - A sentença estrangeira não terá eficácia no Brasil sem a prévia homologação pelo e. Superior Tribunal
de Justiça ou por seu Presidente (Resolução n.º 9/STJ, art. 4º).
II - A atuação jurisdicional do e. STJ no processo de homologação de sentença arbitral estrangeira
encontra balizas nos artigos 38 e 39 da Lei de Arbitragem (Lei 9.307/96). Se não houver transgressão aos
bons costumes, à soberania nacional e à ordem pública, não se discute a relação de direito material
subjacente à sentença arbitral.
III - In casu, verifica-se a existência de contrato assinado pelas partes com cláusula compromissória. Sem
embargo, no âmbito de processo de homologação de sentença arbitral estrangeira, é inviável a análise
da natureza do contrato a ela vinculado, para fins de caracterizá-lo como contrato de adesão.
Precedente do e. STF.
IV - Não há inexistência de notificação e cerceamento de defesa "ante a comprovação de que o
requerido foi comunicado acerca do início do procedimento de arbitragem, bem como dos atos ali
realizados, tanto por meio das empresas de serviços de courier, como também, correio eletrônico e fax"
(SEC 3.660/GB, Corte Especial, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de 25/06/2009 ) V - "A propositura
de ação, no Brasil, discutindo a validade de cláusula arbitral porque inserida, sem destaque, em contrato
de adesão, não impede a homologação de sentença arbitral estrangeira que, em procedimento
instaurado de acordo com essa cláusula, reputou-a válida" (AgRg na SEC 854/GB, Corte Especial, Rel. p./
Acórdão Minª. Nancy Andrighi, DJe de 14/04/2011) VI - Constatada a presença dos requisitos
indispensáveis à homologação da sentença estrangeira (Resolução n.º 9/STJ, arts. 5º e 6º), é de se
deferir o pedido.
Sentença Arbitral homologada.
(SEC 6335/EX, Rel. Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/03/2012, DJe 12/04/2012)
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É a relação de adequação legítima entre o órgão jurisdicional (Juiz - Tribunal) e a função por ele
exercida perante cada caso que se põe para julgamento. Diz-se que um juiz é territorialmente
competente para determinada causa, guardando com ela uma relação de adequação legítima
(competência em sentido concreto) quando a causa considerada tem um elemento de ligação
com o território e a lei atribui a tal elemento a eficácia de fazer competente o território.
Assim, recebe o nome de competência em sentido concreto em decorrência de somente poder
ser verificada perante um caso concreto.
1ª Fase: é aquela em que ocorre a definição se o juiz brasileiro pode ou não examinar a causa.
Nessa primeira fase você tem a hipótese se é jurisdição ou, como preferem alguns,
competência internacional, ou se a hipótese é de jurisdição ou competência interna, brasileira.
Caso o juiz brasileiro tenha competência para o exame da causa, nós passamos à segunda fase.
2ª Fase: Na segunda fase, o que será definido é qual é a justiça competente para o exame da
causa. Aqui, teremos a definição se a competência é da justiça especial, ou seja, militar,
eleitoral ou trabalhista, ou se a competência é da justiça comum, entenda-se aqui, federal e
estadual.
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Esse princípio se aplicaria aos órgãos arbitrais também, de forma que a incompetência da justiça
arbitral deveria ser determinada por ela mesma em caso de convenção com essa previsão.
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Nessa segunda fase, será preciso ser definido se a competência será chamada de justiça
especial ou jurisdição especial ou competência especial, que abrange a justiça militar, a
eleitoral e a trabalhista ou se a hipótese é de jurisdição ou competência comum que abrange a
justiça federal e estadual. Se a hipótese for da justiça especial seja, ela, militar ou eleitoral ou
trabalhista, você tem uma legislação específica para definir a competência em relação a essas
hipóteses aqui, então você tem a legislação militar, legislação eleitoral, legislação trabalhista
que tratam especificamente dessas hipóteses, o que não é nossa matéria, não é o nosso caso.
O nosso caso está na hipótese em que a competência comum é Federal ou Estadual.
3ª Fase: nessa terceira fase se define qual é o foro competente para o processamento e
julgamento da causa; quando se fala em foro se fala em comarca ou subseção judiciária.
Os critérios através dos quais o foro competente será definido estão expostos no Código de
Processo Civil como regra, então a regra é que o Código de Processo Civil é que estabeleça os
critérios através dos quais você vai saber qual é o foro competente para o julgamento da
causa.
Qual é o foro? Qual é a cidade? Qual é a comarca? Qual é a subseção judiciária competente?
Se, porventura, o foro competente possuir apenas uma vara que julga todas as matérias é
chamado foro de juízo único ou, simplesmente, vara única, juízo único. Por exemplo: Sapucaia,
interior do Estado, Varre-Sai são comarcas de juízo único, tão pequenininhas que só tem um
juiz que examina qualquer material.
Em outras comarcas, dentro daquele foro você possui inúmeras varas, você tem, na Capital do
Estado do Rio de Janeiro, trinta Varas Cíveis, vinte e cinco Varas de Família, dezessete Varas
Criminais, dez Varas Empresariais.
Então, uma vez definido o foro, você não sabe exatamente qual é a vara competente, qual é o
juízo competente para examinar aquela pauta que você pretende apresentar, então você
passa para a quarta fase.
O juízo competente se refere à determinação da Vara. Por exemplo, se você quer ajuizar uma
demanda pedindo a declaração de inexistência de relação jurídico-tributária, você vai às
normas de organização e divisão judiciárias do TRF, são essas normas de organização
judiciárias que definem qual é a vara competente para o exame daquela causa. Por exemplo,
na subseção judiciária de Belo Horizonte, a 12ª Vara Cível é competente para todos os feitos
relativos à reforma agrária. Assim, somente ela poderá analisar essa matéria.
No caso da declaração de inexistência, todas as demais Varas cíveis federais são igualmente
competentes, de acordo com a organização e divisão judiciária. Nesse caso, determina-se a
competência pela livre distribuição.
A competência do foro regional é absoluta ou relativa? Você tem foro regional em que lugar
aqui do Estado? Jacarepaguá, Barra da Tijuca, Meier, Madureira, Campinho, mas vejam, esses
lugares são comarcas? Tecnicamente qual é o foro? O foro é da capital do Estado do Rio de
Janeiro, para desinchar o foro sede, eles descentralizaram administrativamente o foro da
capital e criaram os foros regionais.
Qual é o foro competente? O foro é o da capital do Estado do Rio de Janeiro que foi
descentralizado administrativamente, então isso significa que quando você fala em foro
regional, tecnicamente não está falando em foro, o foro é o da capital do Estado do Rio de
Janeiro. Isso é o que se denomina de foro regional, são descentralizações administrativas, eles
apenas quiseram definir que as pessoas que residem nestes bairros que discutissem as suas
demandas naqueles bairros que é para não inchar o foro central, não inchar a sede. Então, na
verdade, há uma descentralização de juízos. Qual foi a lei que estabeleceu essa
descentralização? Normas de organização de divisão do Estado. Será competência de juízo,
portanto possui competência absoluta. Por isso que o foro regional é de competência
absoluta. A sua competência não é competência de foro, é competência de juízo. O foro é um
só, o foro da capital do Estado do Rio de Janeiro. É uma descentralização administrativa, é uma
competência de juízo, daí a razão pela qual a competência desses foros é absoluta.
No âmbito do STJ, por sua vez, se reconhece o princípio da tipicidade ao se inadmitir recurso
especial em face de acórdãos de turmas recursais, por falta de previsão na Constituição
(também admitiu a mitigação ao determinar que o STJ conheça das reclamações propostas em
face de decisões das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Estaduais Cíveis, enquanto não
criada a Turma Nacional de Uniformização nessa seara).
Não basta que as regras de competência sejam fixadas pela lei; é necessário que se saiba qual,
dentre os vários juízos competentes, será o juízo responsável concretamente pela demanda
ajuizada. A perpetuatio jurisdictionis consiste na regra segundo a qual a competência fixada
no momento da propositura9 da demanda não mais se modifica. Ela visa à estabilidade
processual.
a) Quando distribuída, em comarcas com mais de uma vara com igual competência;
Assim, após proposta a demanda, garante-se que nenhuma modificação no estado de fato ou
de direito superveniente poderá alterá-la. Por exemplo, proposta uma ação de alimentos no
foro do alimentando, conforme a regra, caso este mude de domicílio não haverá modificação
da competência para julgar o processo. O processo não será itinerante, seguindo o
alimentando aonde quer que vá.
Sobre a perpetuatio:
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Cuidado: não fale que a competência é determinada no momento em que a ação é distribuída, pois
nem sempre haverá distribuição. Só se fala em distribuição quando existir dois ou mais juízos
igualmente competentes no mesmo foro.
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distribuição havendo apenas uma vara no local, já que o resultado desse ato somente poderia
ser um.
As regras de distribuição são corolário do princípio constitucional do juiz natural (art. 5º, LIII e
LIV, CR/88), já que não se fixará o juízo competente de acordo com critérios desconhecidos, e
sim com critérios rigorosamente equânimes para todos os jurisdicionados. Além disso, é forma
de impedir que as partes escolham o juiz que julgará a causa.
Assim, para uma mesma causa, primeiro deve-se identificar o foro competente, depois o juízo
(Vara).
b) Embargos de declaração;
c) Recursos dos Juizados Especiais, que serão julgados pelas Turmas Recursais,
compostas por juízes de primeiro grau.
A competência absoluta se funda em razões de ordem pública, para as quais a liberdade das
partes deve ser desconsiderada em virtude da prevalência do interesse público sobre os
particulares.
Já a competência relativa visa a prestigiar a vontade das partes, por meio da criação de normas
que buscam protegê-las, franqueando a elas a opção de aplicação ou não no caso concreto.
Há outro caso: se a demanda é proposta, por exemplo, na Justiça Federal, sendo que um dos
pedidos é afeto ao Juizado Especial Federal e outro, à Justiça do Trabalho, deve o processo ser
extinto com fundamento na incompetência absoluta. Isso porque não pode o juiz
desentranhar o pedido e elaborar petições diversas a cada Justiça para sanear a incompetência
intelectual do advogado.
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Esse prazo não será necessariamente de 15 dias. Por exemplo, aplica-se o prazo em quádruplo para a
Fazenda Pública e MP (art. 188, CPC) e o prazo em dobro para réus com patronos diferentes (art. 191,
CPC).
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Nem tão necessariamente assim. Nos Juizados Especiais, não há previsão legal de oferta de exceção
de incompetência. Assim, se a defesa for apresentada por escrito, deverá a incompetência relativa ser
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incidental. Não há forma definida, não podendo, dependência ao processo principal e autuada em
entretanto, ser promovida por exceção apenso. Entretanto, o STJ tem considerado que a
instrumental; além disso, a alegação não alegação de incompetência relativa no bojo da
suspende o processo. contestação, como preliminar, por não causar
prejuízo, não pode ser desconsiderada,
Não suspende o andamento do processo. Seu ajuizamento suspende o andamento do
processo.
A incompetência absoluta pode ser originária ou A incompetência relativa é sempre originária. Não
derivada. Se ocorrer algumas das causas de existe incompetência relativa por fato posterior
incompetência absoluta, mesmo superveniente, ao ajuizamento do processo, em decorrência da
inaplicável a perpetuação da jurisdição. prorrogação da jurisdição.
Reconhecida, remetem-se os autos ao juízo Reconhecida, remetem-se os autos ao juízo
competente e reputam-se nulos os atos competente SEM ANULAR os atos decisórios já
decisórios praticados12. praticados.
Não podem as regras de incompetência absoluta Pode ser alterada pela vontade das partes, quer
ser alteradas pela vontade das partes. pelo foro eletivo, quer pela não oposição de
exceção de incompetência.
Não podem suas regras ser alteradas por conexão Podem suas regras ser modificadas por conexão
ou continência. ou continência.
São absolutas as competências materiais, São relativas, em regra, as competências em razão
funcionais, hierárquicas, da pessoa etc., assim do valor da causa, quando ele ficar aquém do
como a em valor da causa quando superar os limite previsto, e a territorial.
limites fixados
O assistente do autor não pode alegá-la, podendo fazê-lo o do réu. Entretanto, se a assistência
for simples, somente poderá prosperar a exceção se o assistido anuir com a exceção interposta
pelo assistente, caso contrário ela não poderá ser acolhida. Isso porque tal tipo de assistência
não permite a atuação deste contra a vontade daquele.
O juiz, apesar da súmula 33 do STJ, poderá alegar de ofício a incompetência relativa quando
se tratar de cláusula de eleição de foro prevista em contrato de adesão reputada por ele nula
por ser abusiva. Isso protege não somente o consumidor, mas todas as outras relações
jurídicas cuja contratação se dê mediante tal técnica contratual (art. 112, p. único, CPC).
Porém, de acordo com os arts. 112, p. único c/c art. 144, haverá preclusão temporal para o
juiz alegar de ofício essa incompetência caso deixe de fazê-lo no prazo de resposta do réu.
alegada como preliminar de contestação. Já no procedimento sumário, caso o réu opte por resposta
oral, a exceção será dispensada, devendo constar a alegação no termo de audiência.
12
Pela lei, os atos decisórios são nulos, mas, na jurisprudência, os Tribunais admitem a ratificação de
todos os atos pelo juiz competente desde que ele faça expressamente, ele tem que dizer que confirma
todos os atos praticados porque ele os iria fazer da mesma maneira e, portanto, pelo princípio da
economia processual, pelo princípio da celeridade, a demanda seria processada daí por diante.
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deve determinar o desentranhamento do feito caso apresentado antes; deve apenas deixar
para apreciá-lo a partir da frustração da audiência de conciliação.
Por fim, somente os atos decisórios de mérito serão nulos, APROVEITANDO-SE, POIS, OS
ATOS POSTULATÓRIOS, DE SANEAMENTO E PROBATÓRIOS. Decisões de questões incidentais,
tais como as decisões proferidas no saneamento, que determinam a exclusão de um
litisconsorte ou que decidem o valor da causa, são atos decisórios válidos.
Digamos que a parte tenha alegado a incompetência absoluta e o juiz a rejeitou, assim como o
Tribunal. Essa matéria, incompetência absoluta, pode ser matéria de ação rescisória? Pode. O
fato do juiz ou Tribunal tê-la rejeitado não impede que ela venha a ser novamente
apresentada em ação rescisória, é o art. 485, II CPC, A MATÉRIA É DE TANTA GRAVIDADE QUE
MESMO QUE O JUIZ OU TRIBUNAL TENHA REJEITADO ELA PODE SER OBJETO NOVAMENTE
DE AÇÃO RESCISÓRIA.
A incompetência absoluta pode ser alegada em grau de recursos excepcionais (REsp e RE)?
A corrente clássica defende que a incompetência absoluta só pode ser alegada em recurso
especial e em recurso extraordinário se ela tiver sido objeto de prequestionamento.
2. Princípio do Kompetenz kompetenz: prova que todo juiz tem jurisdição nacional, visto
que um órgão incompetente tem o poder/dever de declarar a própria incompetência.
Por sua vez, a competência delimitada é aquela restrita por outra norma. Não se trata de
proibição do exercício da competência em determinada hipótese, mas sim de delimitação de
seu âmbito, de modo que, ainda que praticado um ato fora do âmbito previsto, pode ele ser
eventualmente convalidado por aquele que de fato é competente (no caso de competência
relativa, é claro, pois em caso de competência absoluta os atos decisórios devem ser
repetidos).
Note-se que efeito prático é o de que, os casos de competência limitada não admitem
convalidação, por serem absolutas exclusões de atuação de um determinado juízo. Já os casos
de competência delimitada podem gerar atos passíveis de convalidação, por não se tratar de
exclusão absoluta da possibilidade de atuação do juízo.
2.6.1. Introdução
A competência internacional visa, na verdade, a definir quais causas serão submetidas à
jurisdição nacional, delimitando o espaço em que deve haver jurisdição na medida em que o
Estado possa fazer cumprir soberanamente as suas sentenças. Por isso há várias críticas ao
termo utilizado, sendo que muitos doutrinadores sugerem a adoção do termo “competência
nacional”.
Para ser fixada, ela deve se basear no princípio da efetividade, já que a Justiça brasileira
somente deve se preocupar em julgar aquelas demandas cuja decisão gere efeitos em
território nacional ou em Estado estrangeiro que a reconheça. De nada adianta, por exemplo,
decretar um divórcio no Brasil entre dois russos que residem e se casaram na Rússia, já que
eles continuariam juridicamente casados naquele país.
Não quer dizer o artigo, evidentemente, que a legislação brasileira pretende conceder
competência a determinado país. Quer dizer apenas que, se ele vier a prolatar sentença sobre
as matérias abaixo, elas terão força executiva aqui, desde que homologadas pelo STJ. São elas
as seguintes:
Não se trata, entretanto, de regra constitucional, podendo vir a ser permitido o conhecimento
desse fenômeno processual desde que previsto em acordo internacional e desde que
respeitados os direitos fundamentais, em especial a inafastabilidade da jurisdição.
d) Sendo da Justiça comum, verificar se compete à Justiça Federal nas hipóteses taxativas
do art. 109, CR/88; caso negativo, competirá à justiça comum estadual;
Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real
sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu.
§ 3o Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será
proposta no foro do domicílio do autor. Se este também residir fora do
Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
Como se observa, esse foro geral se aplica, entretanto, apenas sobre ações fundadas em
direito pessoal e direito real mobiliário. Isso inclui, portanto:
A ação deverá ser proposta, pois, no local de domicílio13 do réu. Em sendo o réu pessoa
jurídica, considerar-se-á domicílio o local onde está a sua sede. Sendo a União, o Distrito
Federal; Estados, Capitais; Municípios, onde funcionar a administração municipal; autarquias,
fundações, EP e SEM, no local indicado na lei instituidora ou no Estatuto ou contrato social.
Se o réu tiver mais de um domicílio, poderá ser proposta a ação em qualquer deles, à escolha
do autor.
Se desconhecido ou incerto, o autor proporá a ação onde for o réu encontrado (em sua
residência) ou na subseção judiciária do próprio domicílio autoral, respeitando essa ordem, de
acordo com Daniel Assumpção.
Se não residir o réu no Brasil, deve o autor propor a ação em seu domicílio. Se o autor também
for outsider, deverá ser proposta a ação em qualquer lugar. Trata-se essa segunda hipótese de
um foro subsidiário.
Por fim, em havendo corréus com domicílios diferentes, proporá o autor a ação em qualquer
deles.
A regra quando se tratar de direitos reais imobiliários (lembrar que o rol de direitos reais é
taxativo) é que a ação seja proposta no local da situação da coisa, forum rei sitae. Trata-se de
uma regra de competência absoluta quando recair o litígio sobre direito de propriedade,
vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova.
Se o imóvel estiver localizado nos limites de mais de uma subseção judiciária/comarca, será
competente qualquer delas, podendo o autor optar, tornando-se o juiz que receber a inicial
prevento para conhecer qualquer outra ação conexa.
Relativamente aos demais direitos reais, como uso, direito real de uso, enfiteuse etc., o art.
95 expressamente permite ao autor optar pelo foro da situação da coisa, do domicílio do réu
13
Domicílio é o local onde a pessoa fixa residência com ânimo definitivo, além dos domicílios legais
previstos no Código Civil.
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71
Logo, a regra é o foro do domicílio do autor da herança, ainda que a morte tenha se dado no
estrangeiro. Não tendo ele domicílio certo, a ação deverá ser proposta no lugar da situação
dos bens. Somente em último caso, com bens em múltiplos locais, se proporá a ação no local
do óbito.
2.8.1.6. União
Figurando a União como autora, deverá propor a ação na seção judiciária do domicílio do réu,
mais especificamente na subseção judiciária que abrange o domicílio do réu. Se vários forem
os réus, aplica-se o critério do CPC, que faculta ao autor promover a ação no domicílio de
qualquer deles.
Porém, em sendo esse ente político o réu, o autor poderá optar entre a seção judiciária de seu
domicílio, a em que houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda, naquela onde
esteja situada a coisa objeto da demanda ou no Distrito Federal, tratando-se de verdadeira
competência concorrente.
[...]
O que deve acontecer se, após proposta a ação perante a Justiça Estadual, por delegação, for
criada sede de Vara federal no Município de domicílio do réu? O processo deve ser
14
Se a União quiser, por exemplo, ajuizar ação em face de pessoa domiciliada em Nanuque/MG, a qual
não é sede de subseção judiciária, deverá fazê-lo em Teófilo Otoni/MG, sede dessa subseção, salvo se
for caso de competência delegada.
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73
imediatamente enviado para a Justiça Federal; todos os atos decisórios de mérito praticados,
entretanto, serão válidos, já que a incompetência absoluta é superveniente, e não
contemporânea às decisões.
[...]
IV - do lugar:
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se Ihe exigir o
cumprimento;
As seções judiciárias são ou podem ser, por sua vez, subdivididas em subseções judiciárias,
conforme lei de organização judiciária (as comarcas também podem ser subdivididas em
distritos).
Essa é a razão pela qual se considera lícita a redistribuição dos processos para novas
subseções, de acordo com a nova divisão territorial da competência: como se trata de
alteração superveniente de competência absoluta territorial, excepciona-se a regra da
perpetuação da jurisdição prevista no art. 87 do CPC.
Porém, se as duas subseções judiciárias já existirem, não será caso de incompetência absoluta,
e sim de incompetência relativa, somente podendo ser suscitada pelas partes. Nesse sentido:
É espécie de competência absoluta cujo desrespeito enseja nulidade dos atos posteriores.
a) Pelas fases do processo: o juízo que praticou determinado ato processual se torna
competente para os demais, como ocorre com o juízo que prolatou sentença ilíquida
em relação à competência para a liquidação.
b) Relação entre ação principal e ações acessórias ou incidentais: o juízo que atua na
principal terá competência absoluta para atuar na acessória, como ocorre com a
reconvenção, com os embargos à execução, com as medidas cautelares preparatórias
etc.
c) Pelo grau de jurisdição: ocorre, por exemplo, com a competência recursal, na qual é
absoluta a função do tribunal de conhecer do recurso interposto por juízo a ele
vinculado.
d) Pelo objeto do juízo: o fenômeno ocorre quando numa única decisão atuam dois
órgãos jurisdicionais, cada um competente para certa parte do julgamento. No
processo penal, o exemplo clássico é o da sentença do Tribunal do Júri, em que os
jurados decidem predominantemente sobre as questões de fato, respondendo os
quesitos formulados sobre a materialidade do crime, a autoria, as circunstâncias
excludentes de pena etc., e cabe ao juiz togado, Presidente, obedecendo à
manifestação dos jurados, aplicar a pena, fixando-lhe o quantum. No processo civil, há
casos de competência funcional por objeto do juízo no procedimento de
uniformização da jurisprudência (arts. 476 e s.) e no de declaração incidental de
inconstitucionalidade (arts. 480 e s.), nos quais a Câmara ou Turma do Tribunal em
que são suscitados qualquer desses incidentes é competente para a aplicação da lei ao
caso concreto, mas a fixação da interpretação da lei ou sua declaração de
inconstitucionalidade é de competência do Tribunal Pleno. O julgamento se
desmembra, cada órgão decide uma parte do objeto da decisão que, no final, é única.
Tanto Didier quanto Daniel Assumpção consideram essa posição errada (para não dizer
imbecil), reconhecendo tratar-se apenas de competência territorial absoluta, como ocorre no
caso da ação civil pública e das ações que versam sobre direito real imobiliário.
O desrespeito a essas regras é causa de nulidade absoluta, pois fere norma cogente de
competência, sendo, inclusive, motivo que autoriza o ajuizamento de ação rescisória (art. 485,
II, CPC).
Porém, para mitigar modificações constantes na Justiça, foram excepcionados alguns casos,
como quando o juiz é promovido para comarcas distantes, quando é removido, promovido ou
aposentado etc.
É muito comum, infelizmente, que a audiência, principalmente em casos mais complexos, seja
realizada por dois ou até três magistrados, como também que aquele que concluiu a instrução
não seja o que proferirá a sentença, pois já não mais atua naqueles autos, por variadas razões,
de forma que a sentença, necessariamente, será proferida por juiz que não participou da
instrução. O que o CPC faculta, nesses casos, caso o magistrado sentenciante considere
necessário, é mandar repetir as provas já produzidas (p.ún. do art. 132 do CPC).
Quando previstas na lei de organização judiciária, fixarão a competência do juízo, como ocorre
quando se cria uma vara cível específica para questões agrárias em determinada seção
judiciária.
1. Nos termos da Súmula 235 do STJ, "a conexão não determina a reunião
de processos, se um deles já foi julgado".
Seria o caso das Varas da Fazenda Pública estaduais, que concentram feitos envolvendo
Estados e Municípios.
Logo, ultrapassado o teto, não poderá a causa ser afeta a Juizado. Porém, se inferiores ao teto
e ajuizada a ação na Justiça estadual comum pelo procedimento ordinário, a incompetência é
relativa. Se igual ou inferior a 60 SM, no entanto, será hipótese de competência absoluta dos
juizados especiais federais, salvo se a matéria for uma daquelas vedadas na Lei nº 10.259/01.
a) Incapaz;
b) Preso;
e) Massa falida;
f) Insolvente civil.
Para o cálculo do valor da causa, quando a pretensão tratar de prestações vincendas, não
poderá a soma de 12 parcelas exceder aos 60 salários mínimos. Porém, se a ação também visar
à obtenção de parcelas já vencidas, deverão ser somadas estas + 12 parcelas vincendas, para,
aí sim, se obter o verdadeiro valor da causa parâmetro do JEF.
Trata-se, pois, de órgão com competência absoluta e de caráter obrigatório, não podendo a
parte optar pela Justiça comum federal se possível valer-se do JEF.
d) Ações populares;
e) Execuções fiscais;
Por fim, sobra ressaltar que, caso o juiz verifique que o valor da condenação ultrapassará o
montante limite do JEF, deverá ele intimar a parte para expressamente renunciar, se quiser, ao
15
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada
ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
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82
excedente, não se admitindo renúncia tácita16. Caso ela não renuncie, deverão os autos ser
enviados à Justiça Federal Comum.
Há, no entanto, orientações que defendem que o valor da condenação no JEF pode ser
qualquer um no momento da prolação da sentença, desde que a inicial se submeta ao limite
de 60 SM.
2.13.1. Características
A competência da Justiça Federal é constitucional e taxativa, não comportando ampliação,
alteração ou redução por norma infraconstitucional. Ela está prevista no art. 108 (competência
16
Súmula 16, TNU: “Não há renúncia tácita no Juizado Especial Federal, para fins de competência”.
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83
recursal) e 109 da CR/88, e é fixada em razão da matéria e da pessoa (Didier acrescenta que
ela também é fixada com base em critérios funcionais).
Esse artigo cuida essencialmente de causas cíveis, inclusive mandados de segurança impetrado
por um desses entes em face de ato de autoridade estadual ou municipal, excetuadas as
hipóteses em que estas autoridades tiverem foro privilegiado fixado na CR. Nesses casos, a
competência poderá ser do TRF, STJ ou STF.
Todas as causas que envolverem conselhos de fiscalização profissional devem tramitar perante
a Justiça Federal (pois são autarquias), inclusive a OAB, autarquia sui generis, segundo o STF,
cujas ações são propostas perante a Justiça Federal ainda que propostas por seccionais, ou
contra elas.
A simples presença do MPF na demanda não é motivo suficiente para afirmar a competência
federal, devendo a norma ser interpretada restritivamente17. Porém, sempre que for ACP
proposta pelo MPF, a competência será da JF:
17
Isso porque se a causa não for de competência da Justiça Federal, não possui o MPF legitimidade
para atuar no feito. Caberá ao MPE. Por isso que deve ser analisado caso a caso se a ação ajuizada
pelo MPF é ou não passível de ter seguimento perante a JF.
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84
Somente o juiz federal poderá avaliar a existência de interesse jurídico de um desses entes.
Súmula 224, STJ: “Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a
declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito”.
Súmula 254, STJ: “A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não
pode ser reexaminada no Juízo Estadual”. A base do raciocínio é simples. Compete à Justiça
Federal, e não a qualquer outra, dizer do interesse de ente federal a que intervenha no feito. E
a palavra da Justiça Federal é a última no tema, cabendo à Justiça Estadual apenas dar
prosseguimento ao feito, caso negada a intervenção do ente federal pela Justiça Federal. Em
resumo: se a Justiça Federal excluir o ente federal da lide, remetendo os autos à Justiça
Estadual, é preciso ressaltar duas conclusões: 1) não caberá suscitar conflito de competência;
2) a Justiça Estadual não poderá rever a decisão.
Súmula 270, STJ: “O protesto pela preferência de crédito, apresentado por ente federal em
execução que tramita na Justiça Estadual, não desloca a competência para a Justiça Federal”.
O fundamento de que partiu o STJ para assim decidir, seguindo a linha do que já deduzia o
extinto Tribunal Federal de Recursos, é o de que nessas hipóteses não há a intervenção do
ente federal como autor, réu, assistente ou opoente, o que faria atrair o art. 109, I, da CR/88.
Na verdade, tem-se uma simples intervenção em execução que corre na Justiça Estadual, para
solicitar preferência de crédito, o que, à míngua de expressa determinação constitucional, não
retira a competência dela (STJ; CC 1576; j. em 27.05.91).
A Lei nº 9.649, art. 58, § 8º, dizia competir à Justiça Federal a apreciação de controvérsias que
envolvessem os Conselhos de Fiscalização de Profissões, quando no exercício dos serviços a ele
delegados. Porém, o STF (ADIN 1.717), entendeu que toda causa que envolver Conselho de
Fiscalização Profissional, ainda que o Regional, deve tramitar na Justiça Federal18. Neste
sentido, há decisão do STJ no CC 69839/SP, rel, Min. Humberto Martins, 1ª Seção, 22/11/2006:
“1. O Supremo Tribunal Federal, ao declarar a inconstitucionalidade do art. 58, § § 1º, 2º, 4º,
5º, 6º, 7º e 8º, da Lei nº 9.649/98, por ocasião do julgamento do mérito da ADIn 1.717-DF,
reconheceu que os serviços de fiscalização de profissões regulamentadas constituem atividade
típica do Estado, preservando, assim, a natureza de autarquias federais dos conselhos de
fiscalização profissional.
O Interesse
18
Inclusive a OAB.
19
A nomeação à autoria pressupõe a concordância da União, se ela não concordar, a nomeação à
autoria não é realizada e o processo segue entre as partes originárias. Se o juiz entender que a União
devesse estar no processo, ele vai extinguir o processo por ilegitimidade das partes e vai determinar que
o autor ajuíze a demanda contra os verdadeiros legitimados.
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86
Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras
ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e
empresas públicas federais.
As demais pessoas jurídicas de direito público também poderão intervir no processo. Porém,
SOMENTE HAVERÁ DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL, EM SENDO
ELAS FEDERAIS, SE INTERPUSEREM RECURSO.
Não obstante a doutrina ter esbravejado, defendendo que o interesse há de ser jurídico, o STJ
já pacificou o entendimento de que essa forma de intervenção é apta a levar o processo para a
Justiça Federal.
Para aprofundar o tema, vide item 5.5.1. A Lei nº 9.469/97 – Intervenção Anômala.
Súmula 150, STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que
justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.
E se o processo for deslocado para a Justiça Federal e lá o juiz federal reconhecer a ausência de
interesse do interveniente, determinando o retorno dos autos à Justiça estadual? Nesse caso,
deve-se interpor agravo de instrumento para o TRF. Haverá um excepcional caso de um agravo
de instrumento correndo no TRF relativo a processo já remetido para a JE.
1. Nos termos do art. 109, I, da CF/88, aos juízes federais compete processar
e julgar "as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública
federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou
oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à
Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho" (grifou-se). NÃO OBSTANTE A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO TENHA EXCEPCIONADO A
INSOLVÊNCIA CIVIL, NÃO HÁ RAZÕES QUE JUSTIFIQUEM A ADOÇÃO
DE CRITÉRIO DISTINTO DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA ENTRE A
FALÊNCIA E A INSOLVÊNCIA CIVIL.
A redação ampla do dispositivo em comento (art. 109, lI) não serviu, segundo a doutrina e a
jurisprudência, para deslocar à Justiça Federal o julgamento de matéria trabalhista, eleitoral,
de falência e de acidente de trabalho, já excepcionadas pela regra geral de competência da
Justiça Federal contida no inciso I do art. 109 da CF.
A pessoa domiciliada ou residente no País pode ser física ou jurídica, não tendo sido feita
qualquer restrição.
Não se pode confundir essa competência com a competência cível originária do STF prevista
no art. 102, I, e, da CR/88, de julgar litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional
e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território.
A Carta Magna criou ainda outra peculiaridade em relação às causas envolvendo Estado
estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no
Brasil. É que a sentença do Juiz Federal não possui recurso de apelação para o Tribunal
Regional Federal. Sua impugnação deve ser dirigida diretamente ao Superior Tribunal de
Justiça, por meio de recurso ordinário (art. 105, lI, c, CF).
Autoridade federal aqui deve ser interpretada em sentido amplo, que compreende tanto a
autoridade pública sctricto sensu e o agente de pessoa jurídica de direito privado no exercício
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89
de atribuições do Poder Público por delegação, tal como nos serviços públicos delegados pela
União.
Porém, importante ressaltar que, para que haja competência do juízo de primeiro grau federal,
deverá antes ser eliminada a competência originária dos Tribunais (TRF, STJ e STF).
[...]
Por que disso? Pois as universidades particulares atuam por delegação da União. Logo, são
tidas como se pela União atuassem, motivo pelo qual o STJ (bizarramente) reconhece a
competência da JF.
Há quem defenda que essa competência é material, e não funcional. Porém, talvez seja mais
correto entender que se trata efetivamente de competência funcional, visto se constituírem
em fase posterior ao processo de homologação ou de concessão do exequatur.
Após regularmente internalizada pelo STJ a carta rogatória, deverá haver o ajuizamento da
ação competente de acordo com os critérios normais fixadores de competência, devendo-se
atentar para a natureza executiva dos procedimentos.
Porém, independentemente da matéria, que poderá até mesmo ser uma típica da Justiça
estadual, deverá o processo tramitar perante a Justiça Federal.
Inicialmente, deve-se compatibilizar esta previsão com aquela trazida pelo art. 102, e, da
Constituição Federal (que atribui ao Supremo Tribunal Federal o julgamento das causas entre
Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União).
É evidente que a regra do art.109, III, da CR, não precisaria ser editada para conferir aos juízes
federais a competência para julgar causas (originadas a partir de tratado ou contrato
celebrado pela União e Estado estrangeiro ou organismo internacional) entre a União (como
também a autarquia e a empresa pública federal) e qualquer pessoa de direito interno, pois a
aludida competência já se encontrava assegurada por força do inciso I do art. 109 da Carta
Magna.
Como exemplo desta hipótese, podese imaginar o conflito entre uma empresa brasileira e
outra argentina, onde uma das partes invoque regra de tratado internacional firmado no
âmbito do Mercosul como direito a ser aplicado no caso concreto. Ou de uma lide entre um
Estado-membro da federação e fornecedor nacional ou estrangeiro, que alegue obrigação
surgida para o adquirente por força de tratado normativo sobre relações de compra e venda
públicas.
Para mitigar a amplitude dessa competência, já que são inúmeras as matérias reguladas por
tratados internacionais, o STF e o STJ têm decidido que somente estarão afetas à
competência federal as causas QUE TENHAM POR OBJETO ESSENCIAL OBRIGAÇÕES
DERIVADAS DE DISPOSIÇÕES CONTIDAS NO PRÓPRIO TRATADO.
Por exemplo, os títulos de crédito estão definidos na LUG. Isso, no entanto, não basta para
configurar a competência da Justiça Federal para conhecer de qualquer causa que envolva tais
documentos representativos de obrigações.
Trata o dispositivo das graves violações aos direitos humanos. Ela somente pode ensejar o
deslocamento para a Justiça Federal da competência se o Procurador-Geral da República
suscitar incidente de deslocamento para a Justiça Federal perante o STJ, com a finalidade de
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte.
Por que se deslocar para a Justiça Federal? Pois é interesse da União, representanto da
República Federativa do Brasil, que ela não seja internacionalmente responsabilizada por
acontecimentos internos. Assim, desloca para órgão de sua estrutura.
b) Não houve a criação de foro privilegiado, pois a causa será julgada, se deslocada,
perante a Justiça Federal de primeira instância;
IMPORTANTE: APESAR DE SER A PRIMEIRA IDEIA QUE VEM À CABEÇA, NÃO É SOMENTE
CAUSA DE NATUREZA PENAL QUE ATRAI ESSE DISPOSITIVO. A VIOLAÇÃO A DIREITOS
HUMANOS PODE MUITO BEM GERAR UMA CAUSA DE NATUREZA CÍVEL, QUE TAMBÉM
CORRERÁ, SE FOR O CASO DESSE DISPOSITIVO, PERANTE A JF.
(STJ, IDC 2/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
27/10/2010, DJe 22/11/2010)
Como é cediço, a mera presença de indígena como parte da demanda não é suficiente para a
aplicação desse dispositivo. É necessário que a situação seja relevante para toda a coletividade
indígena. Seria o caso, por exemplo, de ação civil pública em favor de indígenas.
PROCESSUAL PENAL - AÇÃO PENAL - ARTS. 147, 214, C/C ART. 224, A E 225,
§ 1º, II, DO CP - ART. 7º, I E II DA LEI 11.340/2006 - ART. 59 DA LEI 6001/1973
- AUSÊNCIA DE OFENSA A INTERESSES COLETIVOS DA COMUNIDADE
INDÍGENA - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL - RECURSO IMPROVIDO.
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96
IV - Recurso improvido.
A ação para a perda de nacionalidade por atividade nociva ao interesse nacional é proposta
pelo Ministério Público Federal (LC 75/93, art. 6°, IX), e seu rito é previsto pela Lei nº 818/49.
Nela, o réu é citado para ser qualificado em audiência, após a qual terá cinco dias para
oferecer alegações escritas, requerer diligências e indicar o rol de testemunhas. Realizada a
instrução, e ultrapassada a fase de diligências, o MPF e o réu terão o prazo de três dias cada
um para alegações finais, seguindo-se a sentença do juiz, da qual cabe apelação apenas no
efeito devolutivo.
Quanto à opção que garante a nacionalidade brasileiraorigináriaao optante nos termos do art.
12, I, c, da CF, é este o modo utilizado por estrangeiro não registrado em consulado brasileiro
no exterior (caso este em que seria desnecessária a opção). A opção é homologada, por
sentença, pelo juiz federal, após ser protocolada e autuada petição para este fim, ouvindo-se o
Ministério Público Federal, em cinco dias, sem necessidade de audiência. Há recurso de oficio
ao Tribunal Regional Federal, que, observados os requisitos próprios, e confirmando a
sentença homologatória, determina o retorno dos autos ao juízo de origem, onde os mesmos
são entregues ao requerente para inscrição da opção no registro civil de pessoas naturais.
A naturalização também pode ocorrer por processo diverso da opção cuidada no art. 2° da Lei
818/49, e é o que mais geralmenfe acontece. A participação do juiz federal é também bastante
diversa daquela ocorrente no rito da opção. A atribuição da nacionalidade derivada dá-se, in
casu, por Portaria do Ministro da Justiça, no uso do poder discricionário reservado à
Administração. Consuma-se com a entrega do certificado de naturalização ao naturalizando,
entrega esta que é feita pelo juiz federal da 1º Vara onde o naturalizando tenha domicílio (Lei
6.815/80, art. 119).
Importante ter em mente o seguinte: apesar de o art. 110 do Estatuto do Estrangeiro prever
que cabe ao juízo da 1ª Vara Federal promover a solenidade de entrega do certificado de
naturalização à pessoa, as ações sobre esses temas estão sujeitas à livre distribuição, não
sendo caso de competência necessária desse juízo.
[..]
O art. 109, § 2º, da Constituição deixou exclusivamente a critério do autor a escolha do juízo
no qual pretende propor a demanda, dentre aqueles nele previstos, sem estabelecer nenhuma
ressalva quanto a essa opção. Assim, ela acabou por permitir ao autor ajuizar a ação em face
da União em quatro locais diferentes:
c) Perante as Varas Federais onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à
demanda ou onde esteja situada a coisa;
(RE 641449 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em
08/05/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-106 DIVULG 30-05-2012 PUBLIC
31-05-2012)
Súmula 689, STF: “O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o
Juízo Federal do seu domicílio ou nas varas federais da capital do Estado-Membro”.
[...]
Entretanto, há vários casos em que o Tribunal expede provimento criando Varas e atribuindo a
elas competência sobre determinado território, no qual não existia Vara Federal (e continua a
não existir enquanto sede). Nesses casos, em que a Vara Federal é superveniente, pode o
processo continuar tramitando perante a Vara estadual em que estava:
No entanto, muitas vezes a criação da nova Vara ocorre exatamente para que haja
redistribuição de processos, otimizando a prestação jurisdicional. Nesse caso, tem-se
entendido inexistir ofensa a qualquer princípio processual:
Porém, se a Vara Federal é criada no Município da pessoa, o juiz estadual que agia com
competência delegada deverá necessariamente declinar da competência, ante a
incompetência absoluta superveniente. Veja bem: a Vara Federal deve ter sido criada no
Município da pessoa, não sendo o caso de criação de Vara em outro Município, mas cuja
competência abranja ele.
Art. 110. Cada Estado, bem como o Distrito Federal, constituirá uma seção
judiciária que terá por sede a respectiva Capital, e varas localizadas segundo
o estabelecido em lei.
As Regiões dos TRF’s estão previstas na Constituição da República, art. 27, § 6º20, ADCT. Cabe
ao STF e ao STJ propor a criação de Tribunais Regionais Federais:
Art. 96 [...]
[...]
20
Art. 27 [...]
§ 6º - Ficam criados cinco Tribunais Regionais Federais, a serem instalados no prazo de seis meses a
contar da promulgação da Constituição, com a jurisdição e sede que lhes fixar o Tribunal Federal de
Recursos, tendo em conta o número de processos e sua localização geográfica.
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104
[...]
Súmula 689, STF: “O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o
juízo federal do seu domicílio ou nas varas federais da capital do Estado-membro”.
Porém, somente poderá o jurisdicionado propor a ação em seu domicílio, no juízo federal com
jurisidição sobre seu domicílio ou na capital, não em outro local. Vide:
obstante tenha domicílio no interior em que não haja vara federal; porém, não se lhe
autoriza demandar em outra cidade, perante juízo estadual, se em sua cidade houver vara
federal. Essa competência delegada abrange a competência do procedimento de justificação e
do de ausência para fins previdenciários.
A criação ulterior de sede de vara federal no Município implica deslocamento da causa para
o juízo federal, porque se trata de fato superveniente que altera competência absoluta.
Por fim, ressalta-se que o dispositivo autoriza ainda, qualquer que seja a causa (excetuadas,
por evidente, as hipóteses de ações originárias previstas na CR/88), que o legislador
infraconstitucional atribua competência ao juízo estadual para julgar feitos quando não for o
local sede da Justiça Federal.
Relativamente aos recursos, ainda que quem decida seja o juiz estadual, como ele está
investido de jurisdição Federal, os recursos são sempre para o TRF da região. Ele proferiu
uma decisão interlocutória, agravo de instrumento para o TRF. Ele proferiu sentença, apelação
para o TRF. Repita-se, os recursos são sempre dirigidos ao Tribunal Regional Federal daquela
região.
Se, no entanto, o juiz de direito não estiver investido de jurisdição federal, mas analisar
matéria federal, caberá ao TJ conhecer do recurso para anular a sentença. Nesse sentido:
Nunca, entretanto, poderá o juiz estadual exercer competência delegada para julgar mandado
de segurança, já que o writ tem a competência determinada em função da pessoa, da
autoridade que comete o ato ilegal. Vide o seguinte julgado:
Esse julgado do TRF1 é interessante, não sei, entretanto, se os juízes estaduais teriam a
mesma opinião:
Quais são as outras hipóteses que podem ser adotadas para a aplicação do § 3º? Você vai
encontrar no art. 15, I da lei 5.010/66 (é a lei que criou a Justiça Federal), as execuções fiscais
entram nesse rol. As execuções fiscais são ajuizadas pela União em face do particular. Em tese,
teriam que ser ajuizadas em Vara Federal, só que a lei autoriza a aplicação do art. 109, § 3º. As
execuções fiscais podem ser ajuizadas no foro do domicílio do executado. Teremos, aqui, um
caso em que o juiz estadual também estará investido de jurisdição federal.
Se, no domicílio do executado, existir sedede Vara Federal, tem que ser na Vara Federal.
Mesma coisa do benefício previdenciário. Se, no domicílio do segurado ou beneficiário, existir
Vara Federal, tem que ser na Vara Federal.
É por isso que, às vezes, acontece o seguinte: você tem uma Comarca com competência para
benefício previdenciário, a Comarca aplica o art. 109, § 3º. Digamos, Nova Iguaçu, o juiz
Estadual estava investido de competência delegada, não tinha Vara Federal, só que, quando
avisaram que iam instalar Vara Federal na Comarca, o que os juízes estaduais fazem? Eles,
simplesmente, mandam estocar todos os processos para, assim que a Vara Federal for criada,
mandar tudo pra lá.
Então, quando eles criam a Vara Federal, eles já têm que se organizar com o Tribunal de
Justiça: “a partir de agora, nós pegamos, mas o que já estava com o juiz estadual continua”.
Porque se não eles vão parar de mexer nos processos e, assim que a Vara Federal for criada,
eles mandam quinze mil processos de um dia para o outro para lá.
Você pode ajuizar a justificação no juiz estadual que ele está investido na jurisdição federal
para praticar os atos pertinentes para que você produza provas perante a administração
federal.
Nessas hipóteses, juiz estadual está investido de jurisdição federal. Nas outras, aplicamos os
parágrafos 1º e 2º, Vara Federal.
[..]
Outras hipóteses de conexão aptas a atrair o foro estadual delegado do federal são as ações
cautelares conexas ao objeto da execução fiscal federal que já corre perante o juízo estadual.
Nesse sentido:
Porém, somente se aplica a lei quando for o ente federal exequente, e não o executado. Nesse
sentido:
O art. 15, I, da Lei 5.010/1966, recepcionado pelo art. 109, § 3º da CF, prevê
hipótese de delegação de competência federal à justiça estadual
relativamente a executivos fiscais em que a União ou suas autarquias
figurem como exequentes. NÃO SE ENQUADRA NESSA DELEGAÇÃO A
EXECUÇÃO FISCAL PROMOVIDA POR MUNICÍPIO CONTRA EMPRESA
PÚBLICA FEDERAL. Precedentes. Unânime. (TRF1, CC 0032064-
15.2011.4.01.0000/BA, rel. Des. Federal Reynaldo Fonseca, em 05/10/2011.)
Se for conflito entre juiz estadual sem jurisdição federal e juiz federal, de quem é a
competência para dirimir o conflito? É do STJ. E se for entre juiz estadual que está negando ter
competência delegada e o juiz federal? Predomina entendimento de que a competência
também é do STJ.
Se o conflito for entre juiz federal e o TRF ao qual ele está subordinado, de quem é a
competência para dirimir o conflito? Não existe conflito, não pode existir conflito, esse juiz
cumpre a determinação desse Tribunal ao qual está subordinado.
Se for entre juiz federal e Tribunal ao qual ele não está sujeito, a competência é do STJ, é como
se fosse conflito entre Tribunais.
2.14.1. Conceito
As hipóteses de prorrogação de competência previstas no CPC aplicam-se exclusivamente às
regras de competência relativa (arts. 102 e 114, CPC). A única exceção fica por conta da tutela
coletiva, que permite a reunião de demandas conexas mesmo com a determinação de
competência absoluta do local do dano.
Havendo para uma determinada situação uma regra modificadora de competência, o órgão
jurisdicional que era abstratamente incompetente poderá no caso concreto se tornar
competente, enquanto aquele apontado como competente pela regra determinadora tornar-
se-á concretamente incompetente. Logo, isso é prorrogar a competência, fazer um órgão não
competente abstratamente ser competente concretamente, em função de uma hipótese
prevista em lei ou voluntária21.
a) Prorrogação legal:
i. Por conexão;
b) Prorrogação voluntária:
2.14.2.1.1. Conceito
Ambas são espécies de relação entre causas, quando elas não são idênticas (caso contrário
CONEXÃO E
haveria litispendência), mas são semelhantes em função de seus elementos.
CONTINÊNCIA SÃO FATOS, NÃO SE CONFUNDINDO COM OS EFEITOS
JURÍDICOS QUE PODEM GERAR (modificação da competência com reunião das causas
num mesmo juízo).
21
É diferente da prevenção da competência. O que é a prevenção da competência? Prevenção da
competência é o critério, é o meio utilizado para definir qual dentre os juízos competentes irá processar
e julgar as demandas conexas.
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113
Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o
objeto ou a causa de pedir.
O artigo, na verdade, define uma hipótese restrita de conexão. Porém, ela é incompleta, sendo
a conexão fenômeno mais amplo do que o legalmente posto. Existem as seguintes teorias:
b) Teoria de Carnelutti: para que as demandas sejam conexas, bastará que ambas sejam
sede de discussões acerca de determinadas razões de fato e de direito comuns.
c) Teoria materialista: defende que as causas são conexas quando decidirem mesma
relação de direito material, ainda que sob enfoques diversos. A consequência de sua
adoção é a garantia de julgamentos uniformes e a economia processual. É a teoria
adotada na prática e na jurisprudência.
A conexão ocorre quando existe comunhão entre o objeto que nós conhecemos com o nome
de pedido ou entre a causa de pedir. A comunhão pode existir entre um desses elementos,
pedido ou causa de pedir, ou ela pode existir entre os dois elementos. Pode ser que em duas
ou mais demandas você tenha simultaneamente conexão com base no pedido e na causa de
pedir, não há problema nenhum, mas um desses elementos sendo comum a duas ou mais
demandas, você já teria caracterizada a conexão, não são necessários ambos os elementos
para que fique caracterizada a conexão.
A conexão deve ser definida à luz do direito material, defendendo Didier uma concepção ainda
mais ampla do instituto, no sentido de se reunirem causas ainda que sejam apenas
semelhantes, como ocorreria com ações diferentes em que, v.g., pede-se a declaração da
paternidade e, noutra, alimentos.
Por isso mesmo entende a doutrina que a identidade de causa de pedir pode ser parcial, não
precisa ser total, bastando que um de seus elementos seja coincidente para que haja conexão
entre as ações.
Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por
ser mais amplo, abrange o das outras.
A doutrina defende que continência nada mais é do que uma espécie de conexão.
Suponha duas demandas. Uma demanda de João em face de Maria, com base na causa de
pedir X, formulando o pedido A. Uma segunda demanda de João em face de Maria, com base
na causa de pedir X formulando os pedidos A, B e C.
Qual das duas varas está preventa para reunião, processamento e julgamento das duas? Como
vocês vão saber se eu não dei data nenhuma? Quais são os critérios de prevenção? Despacho
liminar positivo e citação válida.
Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a
mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que
despachou em primeiro lugar.
Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz
litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui
em mora o devedor e interrompe a prescrição. (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
Quando a demanda chegar ao juízo continente, por que ele não pode extinguir aquela que
está contida no processo mais amplo? Qual o motivo jurídico, legal?
Porque não se pode extinguir o processo que deu origem à prevenção. Se a prevenção tem
origem nesse processo, como é que você vai extinguir o processo que deu origem à sua
prevenção? Foi ele que lhe permitiu ser prevento, você não pode extinguir o processo que lhe
permitiu ser prevento. Você tem que processar, tem que dar andamento a ele. Esse é o motivo
jurídico.
Súmula 489, STJ: “Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações
civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual”. Isso porque a competência da Justiça
Federal é absoluta. Se há interesse federal envolvido e presente a conexão, não cabe ao juízo
estadual suscitar competência, tão simplesmente remeter os autos à JF, em decorrência do
art. 109 da CR/88. Esclarecedor, quanto á súmula, o julgado abaixo:
2.14.2.1.2. Objetivos
Conexão e continência visam à economia processual e à harmonização dos julgados.
Entretanto, a economia deve ser considerada de forma secundária, visto que nem sempre
ocorre; pelo contrário, a reunião de processos distintos num único juízo pode causar ainda
mais demora.
Entretanto, necessária é, já que a prolação de decisões conflitantes pela Justiça acaba por
minar sua legitimidade e a confiança que deveria ensejar.
Entretanto, o texto da lei não é suficiente. Apesar de parcela da doutrina defender que a
reunião é regra cogente quando houver identidade entre alguns dos elementos da ação, não
deve ocorrer a aplicação automática da reunião dos feitos, somente devendo se dar quando o
juiz verificar que efetivamente haverá harmonização dos julgados e economia processual.
Alexandre Câmara e Luiz Fux defendem que a reunião é obrigatória para evitar decisões
contraditórias e é facultativa no caso de economia processual.
Há, entretanto, problema se a parte quiser alegar conexão com processo que já foi decidido,
processo findo. Tem uma súmula do STJ, 235.
Súmula 235, STJ: “A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi
julgado”.
Se um dos processos já foi julgado e um ainda está sendo processado, não tem mais como
reunir.
Cuidado: essa reunião pode ser determinada nos Tribunais. Por exemplo, está em fase de
apelação, ninguém havia identificado conexão até então. Foi identificado, agora, na fase de
apelação, logo, as apelações podem ser reunidas. Podem ser reunidos os recursos especiais,
podem ser reunidos os recursos extraordinários. Não tem problema nenhum, DESDE QUE
OS PROCESSOS ESTEJAM NA MESMA INSTÂNCIA.
Digamos que a primeira demanda está na décima primeira vara cível federal do Rio de Janeiro,
a segunda demanda está na vigésima quinta vara cível federal do RJ. Qual é o critério utilizado
para se definir qual das duas varas é a competente para o julgamento e processamento das
duas causas? É a chamada prevenção.
A prevenção é um meio, é um critério através do qual será definido qual, dentre esses juízos, é
o competente para o processamento e julgamento de ambas as causas.
Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a
mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que
despachou em primeiro lugar.
É qualquer despacho? Não. É o que se chama de despacho liminar positivo ou, simplesmente,
é o que nós conhecemos como “cite-se”.
Quando o juiz determina a citação do réu é que torna prevento o juízo, desde que os juízes
estejam no mesmo foro, possuam a mesma competência territorial. Se a competência
territorial for diferente, será competente aquele no qual primeiro ocorreu a citação válida, ou
seja, naquele em que primeiro foi juntado aos autos o mandado citatório cumprido.
Mesma competência territorial Competente o que despacha primeiro
Competência territorial diferente Competente o que faz a citação válida
E se a citação válida nos dois juízos se deu na mesma data? Aí deve prevalecer o primeiro
critério, do despacho positivo (cite-se). E se a data do despacho é a mesma? Prevalece a data
da distribuição. E se essa for a mesma? Prevalece o horário de registro da distribuição. E se
ainda forem iguais? Se mata!
O STJ publicou uma súmula referente à competência na conexão entre ações civis públicas
movidas pelo MPE e pelo MPF:
Súmula 489, STJ: “Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações
civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual”. Isso porque a competência da Justiça
Federal é absoluta. Se há interesse federal envolvido e presente a conexão, não cabe ao juízo
estadual suscitar competência, tão simplesmente remeter os autos à JF, em decorrência do
art. 109 da CR/88. Esclarecedor, quanto á súmula, o julgado abaixo:
Ademais, o juiz que era relativamente incompetente passará a ser competente no caso
concreto.
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A cláusula deverá ser necessariamente escrita, indicando um negócio jurídico específico (não
é válida cláusula que estabeleça que todas as demandas envolvendo os sujeitos serão
decididas em determinado foro).
Ademais, evidentemente que a eleição de foro somente pode modificar competência relativa,
nunca absoluta.
2.15. Prevenção
A prevenção é CRITÉRIO DE EXCLUSÃO DOS DEMAIS JUÍZOS COMPETENTES DE UM MESMO
FORO ou tribunal, não sendo uma forma de prorrogação ou determinação da competência.
b) Se a conexão se der em juízos da mesma comarca, prevento será o juiz que despachou
em primeiro lugar (art. 106, CPC).
Importante ter em mente que a prevenção não ocorrerá se uma das causas já foi julgada.
O
2. De acordo com entendimento doutrinário e jurisprudencial,
DESPACHO QUE GERA A PREVENÇÃO É O PRIMEIRO
PRONUNCIAMENTO JUDICIAL POSITIVO QUE ORDENA A
CITAÇÃO.
Assim, veja que é importante saber o conteúdo do despacho do juiz, não sendo qualquer
manifestação que serve para fixar a competência por prevenção.
Somente pode haver conflito se ainda não houver sido julgada uma das causas; não haverá
conflito, também, entre juízos de hierarquia diferentes, quando o de menor hierarquia estiver
subordinado, quanto aos recursos de suas decisões, ao tribunal.
Súmula 254, STJ: “A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não
pode ser reexaminada no Juízo Estadual”. Aqui não há conflito de competência, pois o juízo
estadual simplesmente não tem competência para examinar esta matéria.
Súmula 235, STJ: “A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi
julgado”.
Súmula 224, STJ: “Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a
declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito”.
Súmula 150, STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que
justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.
Súmula 59, STJ: “Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado,
proferida por um dos juízos conflitantes”.
Súmula 59, STJ: “TRF não é competente para julgar recurso de decisão proferida por juiz
estadual não investido de jurisdição federal”.
A parte não poderá suscitar o conflito se já tiver interposto exceção declinatória de foro.
Art. 117. Não pode suscitar conflito a parte que, no processo, ofereceu
exceção de incompetência.
Se o JEF e o juiz de primeiro grau forem de seções judiciárias distintas, a competência será do
STJ.
2.16.3. Procedimento
Deverá o conflito ser suscitado por PETIÇÃO DIRIGIDA AO PRESIDENTE DO
TRIBUNAL competente, já acompanhada a inicial dos documentos necessários à prova do
conflito. Após distribuição para um relator, este deverá SOBRESTAR o feito, indicando qual o
juízo que deverá praticar atos urgentes enquanto o incidente não for decidido (ainda que o
conflito seja negativo).
Todos os atos já praticados, como, v.g., liminares concedidas, continuarão a gerar efeitos.
O conflito sempre terá natureza declaratória, visto não constituir qualquer nova situação
jurídica.
22
MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DO TRABALHO.
COMPOSIÇÃO DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO EM DECORRÊNCIA DA EXTINÇÃO DA
REPRESENTAÇÃO CLASSISTA NA JUSTIÇA LABORAL. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 24/99. VAGAS
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2. TRF1 – XII – QUESTÃO 75. Havendo conflito de competência entre Tribunal de Justiça e
TRF, competirá ao STJ resolvê-lo, PODENDO O MINISTRO RELATOR JULGAR DE
FORMA MONOCRÁTICA, NA HIPÓTESE DE A MATÉRIA SUSCITADA SER
JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO TRIBUNAl, sendo-lhe facultativo ser ouvido o MP.
3. TRF2 – XIII – CESPE – QUESTÃO 44. É da justiça federal a competência para processar e
julgar execução de dívida ativa inscrita pela fazenda nacional para cobrança de custas
processuais23 oriundas de reclamatória trabalhista.
5. TRF4 – XIV – QUESTÃO 51. Compete à Justiça estadual julgar causas entre consumidor
e concessionária de serviço público de telefonia quando a Anatel não for litisconsorte
passiva necessária, assistente ou opoente.
6. TRF4 – XIII – QUESTÃO 69. A competência da autoridade judicial brasileira para julgar
causas relativas a imóveis situados no Brasil é chamada de “internacional exclusiva”.
7. TRF4 – XII – QUESTÃO 61. Em ação proposta por particular, a exclusão, pelo juiz
federal, de empresa pública federal, litisconsorte passiva, remanescendo na lide
apenas sociedade de economia mista, desloca a competência para a Justiça estadual,
não se aplicando a regra da perpetuatio jurisdictionis.
8. TRF4 – XII – QUESTÃO 61. Em execução fiscal movida na Justiça estadual pela Fazenda
Nacional, opostos embargos de terceiros pela CEF, a competência para julgamento
destes, segundo entende o STJ, será da Justiça Estadual, pois que compreendida a
10. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 81. Quanto às regras de competência, é correto afirmar
que o juizo é um órgão jurisdicional que se coloca dentro do foro competente, o qual
diz respeito ao território em que é exercida a jurisdição.
11. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 90. Em geral o princípio da perpetuatio iurisdictionis
visa proteger o autor da demanda, quando é fixada pela regra geral, mas pode
proteger o réu em determinadas situações26.
12. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 90. Havendo extinção do órgão jurisdicional, é possível
a não aplicação do princípio da perpetuatio iurisdictionis, devendo a causa ser julgada
pelo órgão que o substituiu.
13. EMAGIS – 2012/23 – QUESTÃO 11. Alberto ajuizou ação indenizatória contra seu ex-
empregador em razão de acidente de trabalho, pleiteando compensação por danos
materiais e morais. A ação foi ajuizada em 17/03/2004. Reputando-se incompetente
para processar e julgar a demanda, o Juiz Estadual da Comarca de Alô Brasil/MT
declinou de sua competência para a Justiça do Trabalho desta mesma localidade, cujo
magistrado, por sua vez, suscitou conflito negativo de competência perante o STJ,
decidido em 1º/04/2009, em acórdão transitado em julgado que deu pela
competência da Justiça Estadual. Retornados os autos ao Juízo Estadual - o suscitante,
este, mais uma vez, em 03/12/2009, declinou da competência para a Justiça
24
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL. FAZENDA NACIONAL. JUSTIÇA ESTADUAL.
EMBARGOS DE TERCEIROS. CONEXÃO. ART. 1.049 DO CPC. ART. 15, I, LEI 5.010/66. ART. 109, § 3º CR/88.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. A delegação de que trata o art. 15, I, da Lei 5.010, de 1966,
prevista no art. 109, § 3º da Constituição, abrange também as ações paralelas à execução fiscal
promovida pela Fazenda Pública Federal, pois quebraria toda a lógica do sistema processual distribuir
a juízos diferentes a competência para a ação e a competência para a oposição. 2. Assim, por
imposição do sistema, é de se entender que o juiz de direito ao qual for delegada a competência para
a ação de execução, será também competente para as ações decorrentes e anexas a ela. 3. Deve ser
observado, também nesses casos, o disposto no art. 1049 do CPC. 4. Conflito conhecido e declarada a
competência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, o suscitado.
(CC 34.513/MG, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/11/2003, DJ
01/12/2003, p. 255)
25
Em regra, o protesto não desloca. Mas nesse caso, a questão trouxe explícito que o juiz federal
entendeu haver elemento concreto apto a ensejar o deslocamento.
26
Isso porque a ação geralmente é proposta no domicílio do réu. Se este se mudar, não altera a
competência. No entanto, se o autor tinha a faculdade de propor a ação em seu domicílio, mas ajuíza no
do réu, não pode depois voltar atrás.
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126
Trabalhista. Nesse caso, nenhum equívoco foi cometido pelo Juiz Estadual com essa
sua segunda decisão27.
14. EMAGIS – 2012/23 – QUESTÃO 11. Joana ajuizou reclamatória trabalhista contra sua
ex-empregadora. Proferida sentença de procedência, transitada em julgado, o valor da
execução chegou a R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Não satisfeita, Joana pretende
aforar nova ação contra sua ex-empregadora, agora para pleitear a restituição dos
honorários advocatícios contratuais desembolsados com vistas ao patrocínio da
anterior reclamatória trabalhista. Nessa hipótese, segundo recente posicionamento do
STJ, essa nova ação deverá ser ajuizada perante a Justiça do Trabalho28.
15. EMAGIS – 2012/22 – QUESTÃO 11. O julgamento de ação movida por particular,
usuário de serviço de telefonia, contra concessionária de serviço público federal, em
que se discuta ser indevida a cobrança de pulsos além da franquia, será da
competência da justiça estadual, carecendo de legitimidade para compor o pólo
passivo a Agência Nacional de Telecomunicações, por não figurar na relação jurídica de
consumo.
16. EMAGIS – 2012/22 – QUESTÃO 11. Dispõe o art. 90 do CPC que “A ação intentada
perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta que a autoridade
judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas”. Vale dizer, se
o Judiciário brasileiro for competente para julgar uma demanda, o fato de a ação já ter
27
O ponto de partida para sua análise é a Súmula Vinculante n. 22, a apregoar que "A Justiça do
Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais
decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas
que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda
Constitucional nº 45/04". Esse verbete sumular, importa notar, somente foi editado após deliberação do
plenário do Supremo em 02/12/2009.
No caso, relevantíssimo também lembrar que a EC 45/04 passou a viger em 31/12/2004. Assim, embora
a ação ajuizada por Alberto, em 17/03/2004, o tenha sido antes da promulgação da EC 45/04, verdade é
que não se tem notícia de que houvesse sido prolatada sentença anteriormente a 31/12/2004. Desse
modo, a competência, na espécie, recai na Justiça do Trabalho, em atendimento à posição sufragada
pelo STF na Súm. Vinc. 22.
Por outro lado, o fato de já ter sido decidido pelo STJ, em 1º/04/2009, pela competência da Justiça
Estadual, não impede que o Juiz de Direito da Comarca de Alô Brasil/MT, no caso, tornasse a declinar da
competência para a Justiça do Trabalho. Aliás, deveria fazê-lo, diante da força vinculante do
entendimento do Supremo, consagrado na Súm. Vinc. 22 (somente editada após a decisão do STJ no
conflito de competência).
28
Com efeito, começam a se avolumar as ações nas quais se pede a restituição dos honorários
advocatícios contratuais desembolsados pelo trabalhador em reclamatória trabalhista ganha na Justiça
Laboral. Tal fenômeno tem ocorrido por dois fatores: primeiro, porque, de regra, não há condenação em
honorários na Justiça Trabalhista; segundo, porque não se admite que o vencedor da causa tenha que
arcar com prejuízo pelo fato de ter sido compelido a ingressar na Justiça para fazer valer o seu direito.
Dúvida paira, contudo, no que se refere ao Juízo competente para apreciar esse tipo de demanda. Seria
do Juízo Estadual ou do Juízo Trabalhista, porquanto a discussão estaria ligada à reclamatória trabalhista
anteriormente aforada?
Embora a linha majoritária indicasse que a competência, na hipótese, recairia sobre a Justiça Estadual -
porque a situação não se amoldaria a nenhuma das previsões do art. 114 da CF -, fato é que o STJ,
recentemente, entendeu, por meio de sua Segunda Seção, que compete ao Juiz Trabalhista julgar essa
nova ação indenizatória.
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127
18. EMAGIS – 2012/17 – QUESTÃO 10. Compete à Justiça Estadual processar e julgar
pedido de insolvência civil formulado por autarquia federal ou empresa pública
federal30.
19. EMAGIS – 2012/17 – QUESTÃO 10. Cabe ao próprio TRF a competência para processar
e julgar mandado de segurança contra ato colegiado de órgão especial de Tribunal
Regional Federal31.
20. EMAGIS – 2012/16 – QUESTÃO 12. É firme a compreensão do STJ no sentido de que
COMPETE À JUSTIÇA ESTADUAL processar e julgar a ação mediante a qual se discute a
concessão, estabelecimento ou revisão de benefício previdenciário decorrente de
acidente de trabalho.
21. EMAGIS – 2012/16 – QUESTÃO 12. Segundo entende o STJ, a Justiça do Trabalho é
competente para processar e julgar as reclamações trabalhistas propostas por
servidores públicos municipais contratados sob o regime celetista, instituído por meio
de legislação municipal própria.
29
A competência da Justiça Federal em se cuidando de mandado de segurança é definida ratione
personae (CF, art. 109, VIII), e não de acordo com a matéria deduzida. Por isso, ainda que uma ação
previdenciária de um segurado contra o INSS, fundada em acidente de trabalho, seja, de fato, da alçada
estadual, mercê da parte final do inciso I do art. 109 da CF, a verdade é que, em sede de mandado de
segurança, a circunstância de a matéria de fundo tangenciar a ocorrência de um acidente de trabalho
não afasta a incidência do art. 109, VIII, da CF, se a autoridade coatora for federal.
30
É que na hipótese de demanda de insolvência civi movida pela União, suas autarquias ou empresas
públicas, o caso cai nas raias do inciso I do art. 109 da CF/88, cuja parte final ressalva da competência da
Justiça Federal as causas de falência, e, numa interpretação teleológica, também as de insolvência civil,
porquanto em ambas há o juízo universal adequado ao 'par conditio creditorum'.
31
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. IMPETRAÇÃO CONTRA
DECISÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUE NÃO ADMITIU RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. SÚMULA
41/STJ. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. "Compete ao Superior Tribunal de Justiça, processar e julgar, originariamente os mandados de
segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército
e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal" (art. 105, I, "b", da CF).
2. "O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar, originariamente,
mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos Respectivos órgãos" (Súmula 41/STJ).
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no MS 14174/MG, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
28/03/2012, DJe 09/04/2012)
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22. EMAGIS – 2012/16 – QUESTÃO 12. Mudando sua clássica jurisprudência, o STF passou
a entender que é da Justiça do Trabalho a competência para processar e julgar as
ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de
trabalho. Mais: como imperativo de política judiciária, decidiu que o marco temporal
da competência da Justiça trabalhista é o advento da EC 45/2004, de sorte QUE A
NOVA ORIENTAÇÃO NÃO ALCANÇA OS PROCESSOS EM TRÂMITE NA JUSTIÇA
ESTADUAL QUE JÁ TENHAM SENTENÇA DE MÉRITO PROFERIDA.
23. EMAGIS – 2012/08 – QUESTÃO 11. Segundo entendimento firmado pelo STF,
COMPETE À JUSTIÇA ESTADUAL O JULGAMENTO DE CAUSAS QUE DIGAM RESPEITO A
CONTRATOS TEMPORÁRIOS celebrados pela Administração Pública municipal32.
24. EMAGIS – 2012/08 – QUESTÃO 11. De acordo com recente precedente do STJ,
compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ação proposta por servidor público
municipal contratado temporariamente com base em legislação do respectivo ente
federativo na qual é determinada a aplicação do regime jurídico da CLT a esses
contratos33.
25. EMAGIS – 2012/08 – QUESTÃO 11. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar
ação indenizatória proposta por viúva e filhos de empregado falecido em acidente de
trabalho.
26. EMAGIS- 2011/40– QUESTÃO 09. O julgamento de ação ordinária, com pedido de
tutela antecipada, para ver declarada a nulidade de ato normativo praticado pelo
ministro da Justiça, proibindo o gozo de férias no mês de janeiro, é de competência de
vara federal34.
32
As causas dos temporários, não sendo em face da União, serão sempre julgadas na JE, salvo se seu
regime jurídico prever aplicação da CLT, caso em que irá para a Justiça do Trabalho. Se for da União, será
na JF ou, celetista, na JT. Vide nota seguinte.
33
A Justiça do Trabalho é a competente para processar e julgar as reclamações trabalhistas propostas
por servidores públicos municipais contratados sob o regime celetista instituído mediante legislação
municipal própria. Acolhido esse entendimento, a Primeira Seção deu provimento ao agravo regimental
para reformar a decisão atacada, reconhecendo a competência do Juízo da Vara do Trabalho para
análise da matéria. No caso dos autos, os servidores públicos municipais foram contratados
temporariamente, com base em legislação municipal específica na qual foi determinada a aplicação do
regime jurídico da CLT. Desse modo, diante da expressa determinação legal de que os servidores
públicos municipais têm seu vínculo com o poder público regido pela CLT, fica afastada a competência
da justiça comum para processar e julgar a demanda. AgRg no CC 116.308-SP, Min. Rel. Castro Meira,
julgado em 8/2/2012.
34
A ação revelada na espécie vai impugnar um ato praticado pelo Ministro da Justiça, que é um agente
da União. Fosse a espécie um mandado de segurança, e a competência seria do STJ, por força do art.
105, I, da CF. Mas o enunciado revela uma ação ordinária, a ser ajuizada, então, contra a União, o que
atria o art. 109, I, da CF, ficando a competência mesmo na Justiça Federal de 1º grau.
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129
28. EMAGIS- 2011/36 – QUESTÃO 20. Não pode suscitar conflito a parte que, no processo,
ofereceu exceção de incompetência35.
30. GEMAF – 2010/03 – QUESTÃO 04. A decisão do juízo federal que exclui da relação
processual ente federal não pode ser reexaminada no juízo estadual.
3. Processo
3.1. Teorias do Processo
O processo já foi concebido de várias formas. Todas inúteis, mas seguem abaixo para fins de
concurso:
a) Teoria imanentista ou praxista: nessa fase, em que se via o direito de ação de forma
imanentista, sendo ele o próprio direito material reagindo contra uma agressão ou
ameaça de agressão, o processo era entendido como mero procedimento,
absolutamente acessório. O processo não é uma ciência autônoma, o processo seria
um adendo do direito civil, não teria vida própria. Para essa teoria, quando o direito
material sofre algum tipo de violação, ele reage, essa reação é exatamente conhecida
com o nome de processo, é por isso que o código civil de 1.916 tinha o art.75 que
afirma que para toda a violação do direito existia uma ação correspondente, para toda
a violação ao direito material corresponde uma ação que pode ser ajuizada para
corrigir essa violação. Havia uma certa vinculação entre a violação ao direito material e
o próprio direito material reagindo a essa violação, isso se denominava pelos adeptos
da Teoria Imanentista de processo. Eles entendiam o processo como o próprio direito
material reagindo a uma violação.
b) Teoria do contrato: teoria advinda do direito romano. Existia uma primeira fase que
era chamada in iure, onde o autor apresentava um pedido para o pretor (pretor era
uma espécie de governante, uma espécie de prefeito), que tinha como uma de suas
funções, ao receber o pedido formulado pelo autor, observar uma fórmula. O pretor
não decidia o pedido, ele verificava o pedido do autor, ouvia as alegações do réu e,
com base no que havia sido pedido, com base nas alegações do réu, ele estabelecia
uma fórmula em relação às quais o pedido deveria ser decidido. Autor e réu, eles, de
35
De fato, se a parte ofereceu exceção de incompetência, não pode suscitar conflito, hipótese
expressamente regulada no art. 117 do CPC. Seria mesmo uma contradição de comportamento permitir
que o sujeito que interpusesse exceção de incompetência pudesse ajuizar o conflito de competência. No
entanto, se a causa do conflito de competência for superveniente, abre-se a oportunidade de suscitar o
conflito.
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130
plena vontade, se sujeitavam a essa forma, reconheciam que o que quer que ficasse
decidido nessa fórmula, seria cumprido. Essa fórmula era remetida para um árbitro
que, em uma segunda fase do procedimento, chamada in iudicium, decidia. Qualquer
que fosse a decisão do árbitro, como as partes já haviam se comprometido a
reconhecer a decisão que constava da fórmula, qualquer que fosse a decisão, autor e
réu estavam a ela vinculados.
Essas três teorias acima são as chamadas teorias do processo como direito privado.
d) Teoria da relação jurídica processual: essa é a teoria clássica, ainda hoje é a teoria
majoritária no nosso ordenamento. Teoria criada por Von Bulow, foi a primeira que
separou definitivamente direito material de direito processual. Para Bulow, a relação
de direito material é o objeto de discussão no processo, enquanto a relação de direito
processual é a estrutura por meio da qual essa discussão ocorrerá. O processo, na
verdade, seria uma relação jurídica intersubjetiva de direito público com seus próprios
sujeitos, requisitos e conteúdo. Essa relação jurídica intersubjetiva de direito público
tem uma única finalidade, que é decidir a relação jurídica de direito material que lhe é
apresentada para julgamento. O conteúdo do processo é a relação jurídica de direito
material que foi apresentada para julgamento. Os sujeitos são Juiz, as partes e os
auxiliares da justiça.
e) Teoria da situação jurídica: teoria desenvolvida por James Goldschmidt. O teórico não
“admitia que o processo fosse uma relação jurídica, porque não concebia a existência
de relação (nexo) entre as partes e o juiz e nem entre as próprias partes” (ALVIM,
p;158, 2003). Portanto, sua teoria, vem intitular um processo como situação jurídica,
reconhecida e estabelecida por lei.
Goldschimidt, não admite tal relação entre os sujeitos (juiz, autor, réu) porque para ele
“o juiz atua por dever funcional, de caráter administrativo, e as partes simplesmente
estão sujeitas à autoridade do órgão jurisdicional” (ALVIM, p.158, 2003). Portanto, as
partes no processo, atuam como sujeitas ao órgão da jurisdição, enquanto que o juiz
atua no processo por dever de sua função. Vê-se que não se relacionam. Sob este
ponto de vista, observa-se que nem mesmo as partes se relacionam.
f) Teoria da categoria jurídica autônoma: defendida por Afrânio Silva Jardim, Humberto
Dalla, Luiz Fux, Alexandre Câmara. Para os adeptos da categoria jurídica autônoma, o
processo não pode ser enquadrado como espécie de nenhum gênero conhecido.
Processo é simplesmente processo, como você não consegue enquadrá-lo em
nenhuma categoria jurídica conhecida, você tem que defender que ele é uma
categoria jurídica autônoma.
O processo, como realidade fenomenológica, é uma entidade complexa em que figuram dois
elementos distintos e interligados: o procedimento, como série de atos coordenados a partir de
uma iniciativa de parte (demanda) e direcionados a um provimento do juiz (no processo de
conhecimento, sentença de mérito); e a relação jurídica processual, que é um vínculo dinâmico
e complexo entre os sujeitos processuais (juiz, autor e réu) e se expressa nas inúmeras
situações ocupadas por eles do princípio ao fim (deveres, poderes, faculdades, ônus, sujeição,
autoridade). Em preciosa síntese, disse a doutrina que o processo se constitui, ao mesmo
tempo, de uma relação entre seus sujeitos e de uma relação entre seus atos (Liebman) (infra, n.
387).
Mas existem vozes na doutrina, a sustentar uma precisa distinção entre normas processuais
stricto sensu e normas procedimentais, mas essa distinção só em modesta medida e sob
ressalvas compatibiliza-se com a natureza complexa do processo, porque se apóia na premissa
de que processo e procedimento fossem fenômenos independentes e autônomos. Superada
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essa visão inadequada dos fenômenos processo e procedimento, não há como distinguir, com
nitidez e generalidade, normas alusivas a um e normas alusivas a outro. Toda norma sobre o
procedimento em juízo é norma processual porque o procedimento integra o conceito de
processo. É impossível distinguir normas que disciplinem o procedimento sem influir no modo-
de-ser da relação jurídica processual que lhe está à base e, portanto, também impossível
encontrar normas de direcionamento exclusivo ao procedimento e normas direcionadas só à
relação processual (infra, n. 387).
Existem ainda as normas de organização judiciária, que convivem com as duas categorias
precedentes e também são sujeitas a critérios diferentes de competência legislativa. Constitui
tendência entre os processualistas modernos a absorção da organização judiciária no objeto de
seus estudos, embora preponderem entre essas normas organizacionais as que disciplinam a
administração do Poder Judiciário, sem natureza processual. As normas gerais da organização
judiciária brasileira são ditadas superiormente pela Constituição Federal (arts. 92 ss.) e pela Lei
Orgânica da Magistratura Nacional (lei compl. n. 35, de 14.3.79, na medida de sua recepção
constitucional), sendo esperado o Estatuto da Magistratura, que a Constituição prevê mas não
foi editado até hoje (Const., art. 93). A essas normas superiores devem ater-se as que a própria
União e os Estados editam para a organização de suas Justiças (infra, n. 153).
3.2.1. Composição
Afirma-se na doutrina que a relação jurídica de direito processual é formada por demandante,
demandado e pelo Estado-juiz, sendo essa sua composição mínima, ainda que
excepcionalmente possam existir processos sem autor ou réu (processos objetivos).
O entendimento doutrinário corrente é no sentido de ser o processo uma relação tríplice, com
dois sujeitos parciais (demandante e demandado) e um imparcial (juiz).
A relação processual é triangular36, já que as partes têm deveres entre si e perante a Justiça.
O processo existirá desde a propositura da demanda pelo autor, ainda que fique sua relação
limitada a demandante e juiz. A relação jurídica é incompleta, aperfeiçoando-se com a citação
válida.
Assim, completamente errada é a afirmativa de que somente a citação do réu faz surgir a
relação processual.
3.2.2. Características
Existem cinco principais características na relação jurídica de direito processual:
d) Unidade: entende-se que os atos praticados pelos sujeitos processuais estão todos
interligados de forma lógica, dependendo o posterior de como foi praticado o anterior.
36
Teoria linear de KOHLER – exclui o juiz da relação processual, que se estabelece apenas entre as
partes. O juiz seria estranho à relação processual. Teoria bilateral de Carnelutti, Hellwig Plank e outros:
a relação é bilateral, compreendendo que os vínculos se dariam, de um lado entre autor e juiz e de
outro entre réu e juiz, reciprocamente. Teoria triangular de Bülow, Wach, Chiovenda, Calamandrei e
outros. É a majoritária. Há vínculos entre as partes e o juiz e entre as próprias partes. Humberto
Teodoro Júnior fala ainda em teoria angular, atribuindo-a Hellwig, perante a qual o juiz ocuparia uma
posição superior em relação às partes em razão do poder estatal que representa. As partes se
submeteriam à sua soberania, como representante do Estado. As pares teriam direitos e deveres
voltados para o Juiz.
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Isso nada mais foi que um reflexo da desconfiança que a burguesia, ao proclamar a Revolução
Francesa, atribuía aos juízes, considerados aliados da nobreza e do clero. Felizmente, a
construção democrática do Estado e da sociedade contemporâneas está baseada no
pluralismo político, social, cultural e religioso, a fim de permitir a convivência dos contrários, a
tolerante, harmoniosa e pacífica coexistência de toda espécie de antagonismos. Por isso, a lei
não pode ser concebida como sendo a expressão da vontade geral, mas apenas a vitória em
um conflito político; vale dizer, o resultado da vontade da força política dominante no
Parlamento ou dessa vontade acordada com as outras vontades políticas também
representadas no seio do Poder Legislativo.
Como a lei é parcial e, sobretudo, procura oferecer condições para um determinado plano de
governo, o grupo político dominante dela se serve para constituir o seu próprio projeto
(político) de administração pública. Por isso, é importante não só recuperar a missão
democrática do Poder Judiciário que, ao interpretar a lei, tem o dever de controlar a sua
legitimidade, mas também ressaltar a importância de todos aqueles que, pelo acesso ao
Judiciário, têm oportunidade de fazer frente ao “império da lei”.
Com efeito, o real alcance da cidadania, que é um dos alicerces do Estado Democrático de
Direito (art. 1o, inc. II, da CF), é resgatar, principalmente pelo mecanismo processual, a
possibilidade dos cidadãos questionarem criticamente as regras que lhes são impostas, já
que não são escravos do poder (ao contrário, o poder a eles pertence; art. 1o, par. 1o, da CF),
nem se confundem com meros intérpretes passivos de textos legislativos, mas são os
verdadeiros vigilantes da Democracia, rompendo a inércia do Poder Judiciário, para que este,
valendo-se do exercício legítimo da jurisdição, construa, após a indispensável participação das
partes a serem atingidas pela decisão judicial (art. 5o, inc. LIV e LV, CF), a norma jurídica que
seja a mais adequada à promoção dos valores mais relevantes para a dignidade da pessoa
humana e para o bem-estar social.
O processo, do ponto de vista interno, é uma relação jurídica; do ponto de vista externo, um
procedimento. Possui, pois, como em toda relação jurídica, a coexistência de elementos
subjetivos (sujeitos) e objetivos (fato jurídico e objeto).
Assim, verifica-se que o processo tem existência a partir do momento em que a petição
inicial é apresentada à Justiça, e não do despacho da inicial ou da citação do réu.
O processo só existe para o réu quando ele é citado, art. 219 CPC. O art. 214, § 1º, diz que o
processo é válido se o réu comparece voluntariamente ao processo.
Essa é a corrente mais moderna e acertada, defendida por Didier e Dinamarco. Há outras
correntes:
2.Para os autores tradicionais: Nelson Nery, Marcelo Abelha Rodrigues, Teresa Arruda Alvim,
Luiz Rodrigues Wambier.
Essas outras correntes estão erradas, especialmente a última, já que o processo existe, sem
dúvidas, antes da citação. Ademais, capacidade postulatória é requisito de validade.
Todos os que podem ser sujeitos de uma relação jurídica material como as pessoas
naturais, jurídicas, nascituro, condomínio, sociedade em comum etc., tem
personalidade judiciária, ou seja, poderão demandar ou ser demandados em juízo,
ainda que por representação. IMPORTANTE: A LEGITIMIDADE AD CAUSAM É UMA
CONDIÇÃO DA AÇÃO (LEGITIMIDADE), ENQUANTO A LEGITIMIDADE AD PROCESSUM
É, REALMENTE, UM REQUISITO PROCESSUAL DE VALIDADE.
A capacidade processual pressupõe a capacidade de ser parte e a sua falta é sempre sanável,
gerando como consequência, se sanada não for: extinção do processo, se por culpa do autor;
revelia, se por culpa do réu; exclusão do processo, se por culpa de terceiro.
Os atos privativos de advogados praticados por pessoas não inscritas na OAB são nulos, ou
seja, inválidos. Por vezes a capacidade postulatória é dispensada POR LEI, como pode ocorrer
nos Juizados Especiais Cíveis (até 20 SM), no HC, na Justiça do Trabalho (1ª instância) etc.
g) Citação válida: a citação inválida gera uma nulidade absoluta, a qual excepcionalmente
não se convalida com o trânsito em julgado.
O exposto acima é o defendido por Didier, e o que eu adoto. Evidentemente que há variações
na doutrina.
1. Para Câmara:
1.1- Demanda regularmente proposta, ou seja, com a observância dos arts. 282,
283 e 39, I do CPC.
2.1- Petição inicial apta, observância dos arts. 282, 283 e 39, I do CPC.
3. Para Dinamarco:
3.1-Demanda regularmente proposta com a observância dos arts. 282, 283 e 39, I
do CPC.
b) Imparcialidade: se o juiz não for imparcial, a tutela jurisdicional prestada terá sido
absolutamente nula; não se pode falar em inexistência, mas em nulidade;
c) Competência: decisão tomada por juiz incompetente é nula, salvo se puder ser
aproveitada;
f) Capacidade postulatória:
Pressupostos extrínsecos
b) Litispendência;
c) Perempção;
d) Transação;
e) Convenção de arbitragem;
Pressupostos intrínsecos
São pressupostos que devem ser analisados na própria relação processual. Eles são
pressupostos positivos, pois, ao contrário dos pressupostos extrínsecos, devem estar
presentes para a validade do processo. São eles:
b) Petição inicial apta: é o instrumento pelo qual se materializa a demanda. Será apta
quando inepta não for;
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c) Citação válida:
d) Regularidade formal:
Atualmente esse princípio é analisado sob duas vertentes, o devido processo legal substantivo
e o devido processo legal formal.
No sentido substantivo (ou material), o devido processo legal diz respeito ao campo da
elaboração e interpretação das normas jurídicas, ditando que estas devem ser interpretadas
de maneira razoável, evitando-se a atividade legislativa abusiva e irrazoável. Ele funciona como
parâmetro de controle dos abusos, principalmente do Poder Público (mas também dos
particulares), balizando-se na proporcionalidade.
(ADI 1407 MC, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em
07/03/1996, DJ 24-11-2000 PP-00086 EMENT VOL-02013-10 PP-01974)
No sentido formal (devido processo legal adjetivo) está a definição tradicional do princípio,
dirigido ao processo em si, obrigando-se o juiz no caso concreto a observar os princípios
processuais na condução do instrumento estatal oferecido aos jurisdicionados para a tutela de
seus direitos materiais.
Hodiernamente o devido processo legal vem associado com a ideia de um processo justo, que
permite a ampla participação das partes e a efetiva proteção de seus direitos.
talvez exatamente por conta do vocábulo "processo" do princípio estudado, foi ele apenas
sub-utilizado nesta acepção.
3.4.2. Contraditório
Previsto no art. 5º, LV, da CR/88.
b) Contraditório como forma de evitar surpresas às partes: é o que deve ser feito se, por
exemplo, o juiz quiser conferir efeitos infringentes aos embargos de declaração.
Consubstancia essa vertente o seguinte julgado:
No sistema dispositivo puro, o juiz passa a ter uma participação condicionada à vontade das
partes, que definem não só a existência do processo como também o seu desenvolvimento.
Comprova isso, por exemplo, o fato de o juiz estar vinculado aos pedidos e à causa de pedir
delimitados apenas pelas partes (princípio da congruência, art. 460, CPC), mas ainda assim
poder ele determinar a produção de provas de ofício (art. 130, CPC).
Esses poderes foram sendo conferidos ao juiz com a evolução da legislação decorrente do
publicismo processual, que retira parte da autonomia privada exclusiva no desenrolar
processual. É movimento que tem como contrários os neoprivatistas, que abominam o fato de
o juiz ter poderes instrutórios.
Para aprofundar nesse tema, vide o capítulo sobre a teoria da decisão judicial.
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3.4.5. Isonomia
A isonomia é constitucionalmente exigida; ela permite, junto aos demais princípios
(especialmente o contraditório) a consagração da paridade de armas, além de ser meio de se
demonstrar concretamente a imparcialidade do juiz.
A ampliação dos direitos fundamentais com o reconhecimento de novos direitos faz surgir
também no panorama jurídico novas formas de conflito, especialmente as decorrentes dos
direitos de segunda e terceira dimensão, que trazem à baila questões relativas às relações de
emprego, habitação, educação, transporte, consumo, meio ambiente, entre outros,
aumentando sobremaneira o número de demandas levadas à apreciação do Poder Judiciário.
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O surgimento desses novos conflitos é indicado por alguns autores como o principal fator
responsável pela chamada ‘explosão da litigiosidade’, que deflagrou a CRISE NA
ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA, apontando a necessidade premente de desburocratização do
sistema e de simplificação dos procedimentos
O princípio da razoável duração do processo, inserto na Carta Constitucional no art. 5º, LXXVII,
por ocasião da Emenda Constitucional n. 45/2004 não é instituto novo. A Convenção
Americana de Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica,
que tem o Brasil como signatário, estabelece em seu art. 8º, que o direito a ser ouvido com
as devidas garantias e dentro de um prazo razoável por um juiz, imparcial, independente e
competente para o exame da matéria, é pertinente a todos os indivíduos.
Como paradigma, temos também o modelo americano, que no art. 6º de sua Emenda à
Constituição, trata do speedy trial clause (cláusula do julgamento rápido).
No dizer de Humberto Theodoro Júnior, tal garantia "trata-se de uma aproximação com o ideal
do processo justo que entre os constitucionalistas contemporâneos funciona como um
aprimoramento da garantia do devido processo legal. Para merecer esse nomen iuris, a
prestação jurisdicional, além de atender aos requisitos tradicionais – juiz natural, forma legal,
contraditório e julgamento segundo a lei – têm de proporcionar à parte um resultado
compatível com a efetividade e a presteza".
Nesse sentido, espera-se não apenas uma resposta do Estado para a solução da lide, mas uma
tutela efetiva, adequada e tempestiva, uma vez que o indivíduo enxerga na Justiça não
somente o lugar onde vai conseguir solucionar todos os seus problemas, mas também o
único lugar onde podem buscar isso.
O Estado, entretanto, deixou de lado uma questão lógica decorrente da nova garantia: a forma
de cumpri-la.
Isso porque há uma exigência de rapidez sem que exista uma estrutura judiciária que
comporte este ideal, o que acaba sendo motivo de deslegitimização do Estado, bem como
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desmoralização do próprio Judiciário, uma vez que a garantia por ele criada é meramente
programática, e sua aplicação depende de recursos outros além da boa vontade e agilidade do
Poder Judiciário na solução dos conflitos.
A tarefa a qual nos propomos é árdua, mas tangível: repensar os institutos processuais e
adequá-los à realidade social. Infelizmente, ocorre que a orientação ainda seguida pelas
universidades de direito remonta à concepção kantiana (racionalista) da ideia de direito, em
que temos o "ser" e o "dever ser" como divisores de águas entre o direito e o fato. O direito,
assim, preocupa-se tão somente com a norma positiva, deixando de lado a realidade social
existente fora do sistema jurídico.
Muito embora o sistema jurídico seja um sistema fechado, no sentido de que tem normas,
institutos e linguagem próprios, isso não quer dizer que o sistema do direito não possa
absorver dos demais sistemas a ideologia integradora da sociedade para a efetivação da
norma incompleta e/ou inexistente. A partir do momento em que o direito observa a
sociedade não com os "frios olhos da lei", mas como indivíduos receptores da norma jurídica,
mas também detentores de direitos não alcançados, na maioria das vezes, pela ineficiência do
Estado, o sistema do direito renova-se, multiplica-se, viabilizando o que então chamamos de
efetiva tutela jurisdicional.
Entretanto, a justiça, mesmo que rápida, deve sempre atentar para os princípios e garantias
constitucionalmente revestidas e de incondicional aplicação ao processo, sob pena do Estado
falhar pelo desejo de proteger os cidadãos da morosidade da Justiça e, com isso, forçando
decisões rápidas, advindas de uma cognição sumariamente instruída, afastando-se, portanto,
do ideal do "justo direito".
Isso costuma ocorrer quando os juízes, no anseio de julgar rapidamente as causas, “queimam
etapas” do processo, eliminando, por exemplo, a impugnação à contestação etc.
A relação de proporção acima citada deve observar três critérios para determinar a razoável
duração do processo:
a) A complexidade do assunto;
Segundo Didier, “não existe um princípio da celeridade. O processo não tem que ser
rápido/célere: o processo deve demorar o tempo necessário e adequado à solução do caso
submetido ao órgão jurisdicional.
Está previsto, para parte da doutrina, implicitamente na CR/88, no ponto em que dispõe ter o
réu a garantia do direito a todos os recursos inerentes à defesa. Além desse fundamento, há
quem defenda ser o princípio decorrência da própria estrutura constitucional do Poder
Judiciário, ao prever os tribunais de apelação. Essa posição NÃO é pacífica, há quem diga que
esse princípio NÃO tem amparo constitucional.
(AI 845223 AgR-ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
13/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-066 DIVULG 30-03-2012 PUBLIC
02-04-2012)
Assim, aplicam-se aos regimes de comunhão parcial, comunhão total e participação final nos
aquestos sem exclusão da comunhão no pacto antenupcial.
Nesses casos, o cônjuge somente poderá demandar em juízo, sobre direitos reais imobiliários,
se o outro lhe der autorização expressa. Há outras hipóteses:
a) Ações resultantes de fatos que digam respeito a ambos os cônjuges ou de atos por eles
praticados;
b) Fundadas em dívidas contraídas pelo cônjuge a bem da família, mas cuja execução
recaia sobre o produto do trabalho do outro.
Não é caso de litisconsórcio ativo necessário – o qual, aliás, não existe em nosso direito; após
o consentimento, somente o cônjuge que propôs a ação será parte no processo. Se não houver
o consentimento, opera-se conforme o art. 11 do CPC:
Porém, se o cônjuge figurar como réu na ação que tenha o objeto citado (direito real
imobiliário), o outro também deverá ser citado, sendo, pois, caso de litisconsórcio passivo
necessário.
Caso o cônjuge não seja ouvido, ou não autorize, poderá ingressar no processo e pedir a
anulação dos atos até então praticados, ajuizar ação rescisória ou ajuizar ação
transrrecisória.
b) Não sendo notória, mas for alegada nos autos, deve-se providenciar a integração do
ato com a intimação do companheiro faltante;
c) Se não se tratar de união notória e nem houver alegação nos autos, após o trânsito em
julgado somente caberia ao companheiro ação regressiva contra o outro, sem
possibilidade de se rescindir a sentença.
Nesses casos, Didier afirma que a melhor postura seria o juiz determinar que o cônjuge
apresente a prova do consentimento; não apresentada, utilizando-se do poder geral de
cautela, poderá o juiz mandar intimar o cônjuge preterido.
O silêncio do cônjuge preterido, após citado, deve ser interpretado como se autorizado
tivesse.
Estes dois últimos são materialmente capazes, mas processualmente incapazes, já que
ausentes fisicamente. Se o revel comparecer, a presença do curador especial tornar-se-á
desnecessária.
A nomeação do curador especial é uma técnica para equilibrar o direito de ação e o de defesa.
O curador especial é representante processual. Sua função será sempre temporária, podendo
durar, no máximo, até o trânsito em julgado da decisão final. O curador não é parte no
processo e terá função apenas defensiva, não podendo reconvir por não ter legitimidade para
fazer pedido em nome do réu.
O autor não poderá desistir da demanda sem que o consinta o curador especial; hoje, a função
de curador especial foi expressamente atribuída à Defensoria Pública.
Sobre o juiz:
O Min. Relator ressaltou que, apesar de o juiz não ser apenas um espectador
da lide, sua atuação não pode sobrepor-se aos deveres impostos às partes
na condição de sujeitos processuais, quanto mais se o CPC, quando permite
uma participação mais efetiva do juízo, faz isso expressamente (vide art. 130
desse código). REsp 1.133.706-SP, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em
1º/3/2011.
Quais são os deveres do Juiz? Embora na doutrina se encontre várias discussões sobre quais
sejam os deveres do Juiz, basicamente eles se condensam em dois deveres: primeiro, garantir
O CONTRADITÓRIO E O SEGUNDO DE DECIDIR AS QUESTÕES APRESENTADAS. Alguns
autores falam em sentenciar, mas decisão, aqui, abrange qualquer tipo de decisão, decisão
interlocutória, sentença, acórdão, no caso dos Tribunais.
Os poderes fim são os atos decisórios praticados pelo Juiz e os atos de execução voltados para
o cumprimento dessa decisão, os atos de decisão e os atos de execução são chamados poderes
fim do Juiz.
3.7.1.1. Atos Atentatórios ao Exercício da Jurisdição – Contempt of Court (art. 14, CPC)
Trata-se de atos dirigidos contra a própria Justiça, o que em muito ultrapassa o atentado
contra a parte contrária. Esses atos são punidos com multa bastante elevada, que podem
chegar até 20% do valor da causa.
Evidentemente que ela será devida EM FAVOR DOS COFRES PÚBLICOS, não para a parte
contrária. São atos atentatórios o descumprimento das seguintes disposições do artigo 14 do
CPC. Porém, SOMENTE O DESCUMPRIMENTO DO INCISO V ENSEJA APLICAÇÃO DE MULTA DE
ATÉ 20%:
III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são
destituídas de fundamento;
Quem se sujeita à multa de 20%? Como visto, os advogados não se sujeitam. Defensores
públicos, procuradores e membros do MP também não. Igualmente, não se sujeitam os juízes,
os quais respondem a processo administrativo perante as Corregedorias. Logo, somente
restam as partes e terceiros intervenientes.
Porém, como visto, o conceito de parte é bem amplo. Assim, peritos, assistentes, opoentes
etc., todos podem sofrer a punição pela violação do art. 14, V. Nesse sentido:
37
Para o direito anglo-saxônico, o contempt of court significa a prática de qualquer ato que tenda a
ofender um tribunal na administração da justiça ou a diminuir sua autoridade ou dignidade, incluindo
a desobediência a uma ordem. O contempt of court se divide em criminal e civil, sendo que o criminal
destina-se à punição pela conduta atentatória praticada, enquanto o civil destina-se ao cumprimento da
decisão judicial, usando para tanto meios coercitivos. É possível que uma conduta desrespeitosa seja
passível, ao mesmo tempo, de contempt civil e criminal, seja no processo civil, seja no processo penal.
No contempt criminal (punitivo), o processo, autônomo, sumário, é instaurado de ofício ou por
provocação da parte interessada; no civil (coercitivo), a aplicação ocorre nos mesmos autos, mediante
provocação do interessado, garantida a ampla defesa. Admite-se transação sobre o contempt civil. As
sanções ensejadas pelo contempt, em qualquer de suas modalidades, são a prisão, a multa, a perda de
direitos processuais e o sequestro. No civil, a punição é por tempo indeterminado, até que haja o
cumprimento da ordem judicial. Se a decisão se tornar de impossível cumprimento, a sanção também
deve cessar, motivando, entretanto, o contempt criminal. A multa pode ser compensatória, ou não.
Quando compensatória, reverte ao prejudicado; quando coercitiva, reverte ao Estado, considerado o
grande prejudicado pela recalcitrância. A prisão, aplicada com prudência, é considerada medida de
grande praticidade para a efetividade do processo (GRINOVER, 2001, p. 104).
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154
Primeira corrente de pensamento defende que a multa não pode ser imposta à Fazenda
Pública, porque se ela for imposta à Fazenda Pública e não for paga voluntariamente, será
inscrita na dívida ativa. Então, se você condenar a Fazenda Pública a pagar essa multa, no final
das contas quando inscrita na dívida ativa da União e Estado, vai ocorrer hipótese de confusão,
a mesma pessoa jurídica de direito público pode ser credora e devedora dela mesma. Existe
uma corrente que defende que a Fazenda Pública não pode ser condenada ao pagamento
dessa multa. Jose Rogério Cruz e Tutti em SP, mas não é a posição dominante.
Existe uma terceira corrente que é do Alexandre Câmara que entende que cabe a imposição da
multa, mas ela deveria ser revertida para um fundo do Poder Judiciário, uma posição isolada
porque a lei expressamente prevê que ela será inscrita na dívida ativa da União ou do Estado.
Na doutrina e na jurisprudência é boa a posição do Alexandre Câmara, tem fundamento nos
EUA, mas aqui no Brasil não conseguiu adeptos.
Última posição é do Dinamarco e na doutrina é muito adotada. Dinamarco entende que cabe a
imposição da multa e, para evitar a confusão entre credor e devedor, ele diz assim: por
exemplo, 13ª Vara Federal do RJ, a multa foi imposta em face da União. A União foi condenada
a pagar a multa, vai chegar no final, essa multa vai ser inscrita na dívida ativa da União, ela vai
cobrar dela mesma, será hipótese de confusão. É essa confusão que se quer evitar. Então ele
diz assim: toda multa que é imposta para a União, o Juiz terá que verificar em qual Estado da
Federação tramitava e vai inscrever em dívida ativa em favor do Estado por onde a demanda
tramitava. No caso no Estado do RJ, o Estado do RJ é que vai ser credor, no caso dessa multa e
vice-versa.
Veja que a multa deverá ser paga no prazo determinado pelo juiz, após o trânsito em
julgado, devendo ser inscrita na dívida ativa da JF ou na JE (logo, nunca será credora a
fazenda pública municipal).
Tem a doutrina apontado, em linhas gerais, o art. 14, parágrafo único do CPC, como a fonte do
contempt of court. Mas se esse é o dispositivo que mais intensamente se relaciona com o
instituto, não se pode deixar de também vinculá-lo ao art. 601 do CPC, que trata dos atos
atentatórios do exercício da jurisdição. Seja como for, pela novidade que representou, o art.
14, par. único, do CPC, merece específica abordagem, em ordem a decifrá-lo e diferenciá-lo da
não menos importante multa do art. 461, § § 4º e 5º, do CPC.
Com efeito, tem-se na multa do contempt of court a finalidade de se atingir aquele que atua
em desrespeito à própria função jurisdicional. Especificamente quanto à norma tratada, pune-
se aquele que não cumpre com exatidão os provimentos mandamentais, ou aquele que cria
embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.
A primeira se refere aos seus objetos imediato e mediato. Valemo-nos, então, de artigo escrito
pelo Desembargado Federal Paulo Afonso Brum Vaz, do TRF4, quando publicou na Revista do
Processo n. 118, o artigo intitulado O Contempt of Court no Novo Processo Civil:
“No contempt of court, a multa tem a função imediata de punir o menoscabo à função
jurisdicional (desrespeito à corte), e apenas mediatamente dirige-se a punir o prejuízo à
efetividade da prestação jurisdicional. As astreintes, ao contrário, estão imediatamente
vinculadas à efetividade da prestação jurisdicional e apenas mediatamente dirigidas a coibir o
ato atentatório à dignidade da Justiça. Dessarte, UMA MESMA CONDUTA DE QUE RESULTE O
DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO MANDAMENTAL DE FAZER OU NÃO FAZER PODERÁ
ENSEJAR A DUPLA INCIDÊNCIA DE MULTA: A DO ART. 14, PAR. ÚNICO (CONTEMPT OF
COURT), EM PROVEITO DO ESTADO, E A PREVISTA NO ART. 461, § 4º (§ 5º), EM FAVOR DA
PARTE QUE TENHA SIDO PREJUDICADA PELO DESCUMPRIMENTO DA ORDEM. Concedida, por
exemplo, uma antecipação de tutela determinando que o credor de um título de crédito se
abstenha de levá-lo a protesto, o descumprimento desta ordem de abstenção poderá ensejar a
dupla penalidade (astreintes e decorrente do contempt of court)”.
Nesse trecho, o autor já anunciou uma outra diferença entre essas multas: enquanto no
contempt of court do art. 14, par. único, o credor do montante é a União ou o Estado,
dependendo se se trata de Justiça da União ou estadual, no caso do art. 461, § 5º, o credor é a
parte adversária.
Aliás, o alcance subjetivo do art. 14, par. único, do CPC, mereceu o seguinte comentário do
autor citado:
“Poderá a multa do par. único do art. 14 ser inflingida à pessoa física ou jurídica que deixa de
dar cumprimento à ordem; também ao empregado ou AGENTE PÚBLICO QUE, AGINDO
DELIBERADAMENTE OU APENAS COM CULPA, TENHA DADO CAUSA À DESATENÇÃO DA
ORDEM JUDICIAL, MESMO QUE NÃO FIGURE ELE COMO PARTE NO PROCESSO (…). O
empregado ou agente público que, encarregado de praticar determinado ato ou de abster-se
de praticá-lo, desatende à ordem judicial, sem justificativa legítima, poderá responder
pessoalmente pelo pagamento da multa em questão. (…) Hugo de Brito Machado entende que
a multa deve ser aplicada diretamente a quem corporifica a pessoa a não a esta: ‘(…) Quando a
parte seja a Fazenda Pública, a interpretação segundo a qual a multa seria aplicável à parte e
não a quem a corporifica mostra-se ainda mais inaceitável, pois na generalidade dos casos
implicaria anular a própria norma instituidora da sanção’.
A tese de Hugo de Brito Machado tem perfeita adaptabilidade às multas que devam ser pagas
pela União à própria União ou à multa que deva ser paga pelo Estado membro a ele próprio,
em caso de ato atentatório contra a dginidade da justiça cometido na Justiça Estadual. Não se
aplica, porém, quando demandadas entidades da administração indireta, que têm
personalidade jurídica própria e autonomia orçamentária e financeira”.
Também existe diferença no que toca à forma de se fixar a multa, é dizer, ao seu montante:
“O par. único do art. 14 do CPC, ao conferir poder judicial de aplicação de multa, em razão do
cometimento das condutas previstas no seu inc. V, não faz referência a dia-multa, dando a
entender que o valor da multa, que está limitado a 20% do valor da causa, será estabelecido
em montante fixo. De fato, em outra situação, no art. 461, § 4º, o legislador aludiu à multa
diária. Da mesma forma, na nova redação do § 5º do art. 461 possibilitou o legislador a
aplicação de multa por tempo de atraso, deixando margem ao juiz para fixar a periodicidade
em que a multa se renovaria, podendo ser diária, mensal ou observar outro critério que o
magistrado entenda adequado. Parece-nos, dessarte, que a multa do art. 14, par. único, à
míngua de previsão legal para fixação por tempo de atraso no cumprimento da decisão ou de
embaraço à efetividade do provimento judicial, deve ser estipulada em valor fixo”.
Cabe, por fim, tratar da exigibilidade e da exequibilidade da multa disposta no art. 14, par,
único do CPC, ainda seguindo feliz resumo de Paulo Afonso Brum Vaz:
“Pode-se dizer, em síntese, que a multa incide com o descumprimento da ordem no prazo
fixado, torna-se exigível com o trânsito em julgado da sentença e pode ser executada depois
de lançada em dívida ativa”.
3.7.1.2. Responsabilidade das Partes por Danos Processuais (arts. 17 e 18, CPC)
Da má fé das partes resulta o dever de indenizar a parte contrária. Essa má fé é denominada
de litigância de má fé, e gera o dever de indenizar, IMPOSTO DE OFÍCIO OU A
REQUERIMENTO, fixado em até 1% do valor da causa.
Essa multa, diferentemente da multa do art. 14, p. único, SOMENTE SE APLICA AOS
LITIGANTES (AUTOR E RÉU).
Essa multa do art. 18 pode ser cumulada com a multa do art. 14, V, p. único? Perfeitamente, já
que os destinatários das multas e seus fatos geradores são diferentes, não obstante as duas
terem caráter punitivo.
Aquele que causar dano com sua conduta processual responde por litigância
de má-fé (arts. 17 e 18 do CPC). Porém, conforme o art. 16 do referido
codex, somente as partes, assim entendidas como autor, réu ou
interveniente, em sentido amplo, podem praticar o ato. Com efeito, todos
que, de qualquer forma, participam do processo têm o dever de agir com
lealdade e boa-fé (art. 14 do CPC). Apenas os litigantes estarão sujeitos à
multa e à indenização a que se refere o art. 18 do CPC em caso de má-fé.
Ademais, os danos eventualmente causados pela conduta do advogado
deverão ser aferidos em ação própria para esse fim, não podendo o
magistrado condenar o patrono da parte nas penas a que se refere o art. 18
do referido código, nos próprios autos do processo em que for praticada a
conduta de má-fé ou temerária (STJ, REsp 1.173.848-RS).
Essa multa por litigância de má fé somente se aplica aos litigantes, conforme julgado acima
transcrito. Não se aplica aos demais intervenientes do processo, os quais, entretanto, estão
sujeitos à multa por atos atentatórios contra o exercício da jurisdição.
Assim, ao sucumbente cabe arcar com as custas (verbas pagas pela prática dos atos
processuais, conforme tabela da lei ou regimento interno do tribunal) e honorários
advocatícios da parte contrária.
Caso a parte sucumbente seja beneficiada pela Justiça Gratuita, deve o juiz suspender a
execução da cobrança da custas e emolumentos pelo prazo de 05 anos, conforme a Lei nº
1.060/50, até que a parte tenha condições de pagar ou que prescreva a pretensão.
Serão fixados mediante apreciação equitativa do juiz os honorários nas causas em que:
b) De pequeno valor;
c) De valor inestimável;
São isentos de pagamento de custas perante a Justiça Federal (Lei nº 9.289/96, art. 4º):
IV - os autores nas ações populares, nas ações civis públicas e nas ações coletivas de que
trata o Código de Defesa do Consumidor, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.
Parágrafo único. A isenção prevista neste artigo não alcança as entidades fiscalizadoras do
exercício profissional, nem exime as pessoas jurídicas referidas no inciso I da obrigação de
reembolsar as despesas judiciais feitas pela parte vencedora.
Súmula 483, STJ: “O INSS não está obrigado a efetuar depósito prévio do preparo por gozar das
prerrogativas e privilégios da Fazenda Pública”. Por que o STJ editou essa súmula se o INSS é
autarquia e, por isso, é isento? Pois a isenção dele somente se aplica na Justiça Federal.
Perante a Justiça estadual, ele não tem isenção (salvo se o Estado a ele conceder). Assim, ele
precisa recolher custas. Ocorre que, por ser Fazenda Pública, possui o benefício do art. 27 do
CPC, que dispõe que as despesas dos atos por ele requeridos serão pagas apenas ao final, pelo
vencido.
3.7.1.4. Advogados
A capacidade postulatória compete exclusivamente aos advogados, e aos estagiários, para
alguns atos. Munido da procuração, ele poderá realizar todos os atos do processo, salvo se
exigirem poderes especiais, quando a procuração deverá concedê-los.
Requerem poderes especiais os atos de receber citação, confessar, desistir, renunciar, receber,
dar quitação e firmar compromisso. Isso está previsto no art. 38, que deve ser interpretado de
forma estrita. Sobre a procuração nos autos:
O advogado poderá praticar atos reputados urgentes sem procuração, tendo o prazo de 15
dias para exibir o instrumento do mandato, prorrogável por mais 15. Se não sanada a falta de
procuração, os atos serão tidos por inexistentes (art. 37, CPC).
Deverá o advogado apor na inicial o endereço em que receberá as intimações (art. 39, I), sob
pena de indeferimento da inicial.
Caso a parte destitua seu advogado, deverá nomear outro no mesmo ato. Já se o advogado se
destituir, deverá continuar praticando os atos pela parte no prazo de 10 dias ou até que outro
38
Assim, agiu ilegalmente o TRF1 no julgado abaixo:
EXCEÇÃO DE IMPEDIMENTO. PROCURAÇÃO SEM PODERES ESPECÍFICOS. NÃO CONHECIMENTO.
A exceção de impedimento arguida por procurador constituído deverá ser acompanhada de
procuração específica para tal mister, sob pena de não ser conhecida por não cumprimento dos
requisitos impostos no procedimento reservado à exceção de suspeição, que se aplica
analogicamente. Unânime. (TRF1, 3T, Impedi 0009280- 83.2012.4.01.3500/GO, rel. Des. Federal
Tourinho Neto, em 11/06/2012.)
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161
seja nomeado. Ademais, a destituição deve ser expressa nos autos, com prova de
comunicação ao cliente. Se ele morrer, terá a parte 20 dias para nomear outro.
Recursos excepcionais interpostos por advogado sem procuração nos autos é considerado
INEXISTENTE. Nesse sentido:
Súmula 115, STJ: “Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem
procuração nos autos”.
3.9. O Neoprocessualismo39
A Constituição brasileira de 1988 ao contemplar amplos direitos e garantias fundamentais
tornou constitucionais os mais importantes fundamentos dos direitos materiais e processuais
(fenômeno da constitucionalização do direito infraconsticiocional).
Em torno ao Code Napoleón, formou-se a Escola da Exegese, que erigiu este Código como
sendo a única fonte do Direito Civil, reduzindo o trabalho exegético à explicação literal dos
textos legais (dura lex sed lex). Houve, com efeito, uma tentativa de manipular
ideologicamente o Direito, com o fundamento de que a lei seria a tradução da vontade geral e
do bem comum. Essa manipulação ideológica partiu da burguesia que, pretendendo a
manutenção do status quo, visou ocultar o conflito de classes e de interesses, difundindo a
ideia de paz e harmonia, ordem e progresso, consenso e felicidade geral. Tratava-se, também,
de uma reação ao ancien régime, pois a codificação visava prevenir o arbítrio estatal contra
possíveis inovações judiciais. O juiz, portanto, deveria ser neutro aos interesses em jogo e aos
valores plasmados no Código, sendo considerado simplesmente como la bouche de la loi (a
boca da lei). A sentença deveria subsumir-se, direta e automaticamente, à lei para que, desta
forma, ficasse mais fácil controlar a atividade jurisdicional.
39
Retirado do artigo “Neoconstitucionalismo e Neoprocessualismo”, do Prof. Eduardo Cambi.
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162
sua importância histórica. Porém, não se sustenta, na medida em que ignora as diferenças
entre as pessoas e, assim, assegura a liberdade somente àqueles que têm condições
materiais mínimas de usufruir uma vida digna. A vontade geral da burguesia que ocupava o
Parlamento, no século XIX, e se expressava na lei perdeu o caráter genérico e abstrato. A lei,
no Estado Contemporâneo, é resultado de ajustes legislativos marcados pela vontade dos
lobbys e dos grupos de pressão. O fracasso da soberania do Parlamento e da concepção da lei
como vontade geral sepultaram o positivismo jurídico clássico centrado na identificação da lei
como expressão do direito.
A lei (e sua visão codificada do século XIX) perdeu sua posição central como fonte do direito
e passou a ser subordinada à Constituição, não valendo, por si só, mas somente se
conformada com a Constituição e, especialmente, se adequada aos direitos fundamentais. A
função dos juízes, pois, ao contrário do que desenvolvia Giuseppe Chiovenda, no início do
século XX, deixou de ser apenas atuar (declarar) a vontade concreta da lei e assumiu o caráter
constitucional, possibilitando, a partir da judicial review desenvolvida historicamente em 1.803
no caso Marbury v. Madison, o controle da constitucionalidade das leis e dos atos normativos.
Direito fundamental à ordem jurídica justa, direito fundamental ao processo justo e a visão
publicística do processo
O direito fundamental de acesso à justiça, previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da CF, significa o
direito à ordem jurídica justa. Assim, A DESIGNAÇÃO ACESSO À JUSTIÇA NÃO SE LIMITA
APENAS À MERA ADMISSÃO AO PROCESSO OU À POSSIBILIDADE DE INGRESSO EM
JUÍZO, MAS, AO CONTRÁRIO, ESSA EXPRESSÃO DEVE SER INTERPRETADA
EXTENSIVAMENTE, COMPREENDENDO A NOÇÃO AMPLA DO ACESSO À ORDEM
JURÍDICA JUSTA, QUE ABRANGE: I) O INGRESSO EM JUÍZO; II) A OBSERVÂNCIA DAS
GARANTIAS COMPREENDIDAS NA CLÁUSULA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL; III) A
PARTICIPAÇÃO DIALÉTICA NA FORMAÇÃO DO CONVENCIMENTO DO JUIZ, QUE IRÁ
JULGAR A CAUSA (EFETIVIDADE DO CONTRADITÓRIO); IV) A ADEQUADA E
TEMPESTIVA ANÁLISE, PELO JUIZ, NATURAL E IMPARCIAL, DAS QUESTÕES
DISCUTIDAS NO PROCESSO (DECISÃO JUSTA E MOTIVADA); V) A CONSTRUÇÃO DE
TÉCNICAS PROCESSUAIS ADEQUADAS À TUTELA DOS DIREITOS MATERIAIS
(instrumentalidade do processo e efetividade dos direitos).
Por isso, para a noção de acesso à ordem jurídica justa converge o conjunto das garantias e
dos princípios constitucionais fundamentais ao direito processual, o qual se insere no
denominado direito fundamental ao processo justo.
Com efeito,
O PROCESSO DISTANCIA-SE DE UMA CONOTAÇÃO
PRIVATÍSTICA, DEIXANDO DE SER UM MECANISMO DE EXCLUSIVA
UTILIZAÇÃO INDIVIDUAL PARA SE TORNAR UM MEIO À DISPOSIÇÃO DO
ESTADO PARA A REALIZAÇÃO DA JUSTIÇA, QUE É UM VALOR
EMINENTEMENTE SOCIAL. O PROCESSO ESTÁ VOLTADO À TUTELA DE
UMA ORDEM SUPERIOR DE PRINCÍPIOS E DE VALORES QUE ESTÃO
ACIMA DOS INTERESSES CONTROVERTIDOS DAS PARTES (ordem pública) e
que, em seu conjunto, estão voltados à realização do bem comum. A preponderância da
ordem pública sobre os interesses privados em conflito manifesta-se em vários pontos da
dogmática processual, tais como, por exemplo, na garantia constitucional de inafastabilidade
da jurisdição, na garantia do juiz natural, no impulso oficial, no conhecimento de ofício
(objeções) e na autoridade do juiz, na liberdade de valoração das provas, no dever de
fundamentação das decisões judiciais, nas nulidades absolutas, nas indisponibilidades, no
contraditório efetivo e equilibrado, na ampla defesa, no dever de veracidade e de lealdade, na
repulsa à litigância de má fé etc.
Desse modo, os fins públicos buscados pelo processo, como instrumento democrático do
poder jurisdicional, transcendem os interesses individuais das partes na solução do litígio.
Esta visão publicística, imposta pela constitucionalização dos direitos e garantias processuais
(neoprocessualismo), não se esgota na sujeição das partes ao processo.
Sob o aspecto positivo, o processo deve ser apto a produzir todos os seus escopos
institucionais (jurídicos-políticos-sociais), em quatro campos fundamentais:
a) a admissão em juízo (envolvendo temas como o Juizado Especial Cível, a efetiva ampliação
das defensorias públicas e a consolidação do papel do Ministério Público na defesa de
interesses individuais homogêneos, coletivos e difusos);
c) a justiça das decisões (seja pela utilização de um procedimento válido e justo para se chegar
a decisão, seja pela reconstrução fiel dos fatos relevantes para a causa, seja ainda pela
adequada interpretação das regras e princípios aplicáveis ao caso concreto);
d) a efetividade das decisões (envolvendo temas como a melhor distribuição do ônus do tempo
do processo entre as partes, a ampliação das sentenças mandamentais e executivas lato sensu,
a concretização dos provimentos urgentes baseados em cognição sumária, o abandono da
rígida separação entre cognição e execução, a desmitificação da verdade processual “obtida”
formalmente com a coisa julgada etc).
No âmbito do processo civil, a depender do bem jurídico lesado, nem tudo deve ser
solucionado por intermédio do processo, mas aquilo que depender da técnica processual deve
ser resolvido de modo adequado.
Por isto, a adoção do procedimento ordinário, prevista no Código de Processo Civil, deve ser a
exceção, não a regra, e ser utilizado tão somente quando não houver, no ordenamento
jurídico, outros instrumentos processuais mais adequados à realização do direito material.
Não se pode ignorar que, em sua gênese, o processo civil estava ligado ao direito civil e, por
isto, seus institutos sempre estiveram voltados muito mais à tutela do patrimônio do que de
qualquer outro bem jurídico. Entretanto, o processo civil não se aplica somente ao direito
privado e, ainda que assim fosse, não se ignora que o próprio direito civil se alterou nos dois
últimos séculos, distanciando-se das matrizes liberais que marcaram o Código de Napoleão,
para assumir contornos publicísticos, aumentando a interferência do Estado-juiz nas relações
outrora reservadas apenas aos entes privados.
O Código de Processo Civil foi pensado para a tutela dos interesses individuais (direitos
subjetivos), sobretudo os de caráter patrimonial. A titularidade do direito subjetivo, irradiada
no ordenamento processual pelo princípio dispositivo (pelo qual a sorte do processo está, em
certa medida, entregue à vontade das partes), projetou o caráter eminentemente
individualista do CPC. Esta compreensão está expressa, por exemplo, em regras como as dos
artigos 6º (sobre a legitimação ordinária) e 472 (sobre os limites subjetivos da coisa julgada
material), cabendo ao titular do direito subjetivo o poder de fruir ou não dele, ou dele desistir,
transacionar etc, não podendo os efeitos da decisão ultrapassar a pessoa dos litigantes.
Três fatores acentuaram uma nova era de direitos, a partir de meados do século passado: i)
aumentaram os bens merecedores de tutela (as meras liberdades negativas, de religião,
opinião, imprensa etc, deram lugar aos direitos sociais e econômicos, a exigir uma intervenção
positiva do Estado); ii) surgiram outros sujeitos de direitos, além do indivíduo (singular), como
a família, as minorias étnicas e religiosas e toda a humanidade em seu conjunto; iii) o próprio
homem deixou de ser considerado em abstrato, para ser visto na concretude das relações
sociais, com base em diferentes critérios de diferenciação (sexo, idade, condições físicas etc),
passando a tratado especificamente como homem, mulher, homossexual, criança, idoso,
deficiente físico, consumidor etc.
Fatores como a circunstância do Código Civil ter deixado de ser o centro do ordenamento
jurídico, o surgimento dos microssistemas (Estatuto da Criança e do Adolescente, Código do
Consumidor, Estatuto do Idoso etc), o fenômeno da constitucionalização dos direitos
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A tutela antecipada, por isto, representa uma grande revolução conceitual na estrutura do
processo civil clássico, porque, em nome de uma técnica processual mais adequada a
realização dos direitos substanciais, quebra-se o mito do juiz que simplesmente servia para,
após tomar amplo conhecimento dos fatos, revelar a verdade, pela intermediação dos
acontecimentos com a lei.
Instrumentalidade e garantismo
a) praxismo ou sincretismo, em que não havia distinção entre o processo e o direito material:
o processo era estudado apenas em seus aspectos práticos, sem preocupações científicas;
pauta-se, também, no reforço dos aspectos éticos do processo, com especial destaque para a
afirmação do princípi da cooperação (examinado no capítulo sobre os princípios do processo),
que é decorrência dos princípios do devido processo legal e da boa fé processual. Agrega-se,
aqui, o aspecto da moralidade, tão caro a boa parte dos pensadores neoconstitucionalistas´.
No entanto, isso não basta para dizer que o “publicismo” perdeu sua utilidade. Antes, num
contexto em que há notória disparidade econômica entre as partes, a existência de um juiz
atuante evita que a parte seja prejudicada por desídia de seu advogado. Além disso, a
tendência de ampliação “ultra partes” dos efeitos da coisa julgada (como acontece nos
processos coletivos e nas ações declaratórias de constitucionalidade), faz com que seja ainda
mais oportuno dar ao juiz poderes para que seu conhecimento de fatos e circunstâncias não
fique adstrito ao que as partes processuais desejam apresentar.
2. TRF3 – XIII – QUESTÃO 65. Começa a existência do processo desde o momento em que
a petição inicial é apresentada à Justiça.
3. TRF3 – XIII – QUESTÃO 63. O estrangeiro tem, no processo civil brasileiro, os mesmos
direitos que os nacionais.
4. TRF3 – XIII – QUESTÃO 62. Relativamente à vigência da lei processual, tem-se que cada
ato processual rege-se pela lei de seu tempo40.
7. TRF4 – XIII – QUESTÃO 60. Atribui-se a Alfredo Buzaid a criação da “Escola Processual
de São Paulo”, que influenciou decisivamente no plano de política legislativa do atual
CPC e em diversos institutos jurídicos, como, por exemplo, o da coisa julgada.
9. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 40. O máximo resultado com o mínimo de emprego
de atividade processuais é ideia que sintetiza o chamado princípio da economia
processual, sendo a reunião de processos conexos exemplo de aplicação desse
princípio, assim como a ação declaratória incidente.
11. EMAGIS – 2012/31 – QUESTÃO 11. Embora o Defensor Público que funciona como
curador especial do réu preso, contra quem é movida ação de indenização por danos
morais, não faça jus a honorários advocatícios por conta dessa atuação, será o caso de
condenar a parte autora ao pagamento dos honorários sucumbenciais na hipótese da
demanda ser julgada improcedente42.
40
Assim, havendo alteração da lei no curso do processo, os novos atos deverão ser regidos pela nova lei,
salvo se esta prever determinada vacatio legis.
41
PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CURADOR ESPECIAL. RÉU REVEL CITADO POR
EDITAL. CABIMENTO. PARTE VENCIDA. 1. A jurisprudência do STJ já apontou no sentido de que os
honorários de advogado são devidos pelo sucumbente ao curador especial nomeado ao réu citado por
edital. Precedentes. 2. Recurso especial provido. (STJ, REsp 1308550, Rel. Min. Mauro Campbell, DJe de
25/04/2012)
42
Com efeito, entende o STJ que, embora não faça jus o Defensor Público a honorários advocatícios
simplesmente pelo exercício da curadoria especial - uma vez que essa é uma das suas atribuições legais
(art. 4º, XVI, da LC 80/84), para a qual é remunerado pelo Estado -, não há que se eximir a parte vencida
ao pagamento dos honorários sucumbenciais à parte vencedora (CPC, art. 20), ainda que esta estivesse
representada por Defensor Público atuando na função de curador especial (réu preso: CPC, art. 9º, II,
primeira parte). Noutras palavras: o Defensor Público que atua como curador especial não tem direito a
honorários advocatícios pelo só-fato de ter atuado como tal, mas, caso a parte a quem representara
tenha se saído vencedora do litígio, haverá a condenação da parte vencida nos honorários
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12. EMAGIS – 2012/31 – QUESTÃO 11. Conquanto se saiba que o CPC prevê a nomeação
de curador especial caso os interesses do incapaz colidam com os de seus
representantes legais (art. 9º, I), firmou-se a jurisprudência em que não é necessário
nomear-lhe tal curador na ação de destituição de poder familiar ajuizada pelo
Ministério Público, uma vez que o órgão ministerial, nessa hipótese, já está zelando
pelo respeito aos direitos e interesses da criança ou adolescente.
13. EMAGIS – 2012/24 – QUESTÃO 10. A procuração geral para o foro, conferida por
instrumento público, ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar
todos os atos do processo, salvo para receber citação inicial, confessar, reconhecer a
procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a
ação, receber, dar quitação e firmar compromisso (art. 38, CPC).
14. EMAGIS – 2012/29 – QUESTÃO 11. Em caso de litigância de má-fé (CPC, art. 18), o juiz
não pode fixar multa superior a 1% (um por cento) sobre o valor da causa43.
15. EMAGIS – 2012/29 – QUESTÃO 11. Em determinada ação de rito sumário que tramita
perante a Justiça Estadual da Comarca de Augusto Pestana/RS, o juiz identificou que o
representante legal de uma certa empresa, no interesse desta, criou embaraços à
efetivação de um provimento judicial antecipatório. Aplicou-lhe, então, multa no valor
de R$ 10.000,00 (dez mil reais), determinando o seu pagamento no prazo de 48
(quarenta e oito) horas a contar do trânsito em julgado. Nesse caso, não havendo
pagamento no prazo estabelecido, a multa será inscrita como dívida ativa do Estado.
16. EMAGIS – 2012/29 – QUESTÃO 11. De acordo com recente julgado do STJ, as
astreintes aplicadas pelo juiz em razão do descumprimento da obrigação de fazer
fixada na sentença são devidas ao credor da obrigação, e não ao Estado.
18. EMAGIS – 2012/24 – QUESTÃO 10. Não se exige procuração com poderes especiais a
fim de que o causídico possa suscitar exceção de suspeição do magistrado da causa44.
sucumbenciais (CPC, art. 20). Esclareça-se, apenas, que, nesse caso, os honorários sucubenciais serão
destinados à instituição (Defensoria Pública), e não propriamente àquele Defensor Público que tenha
atuado como curador especial.
43
Com efeito, tecnicamente, em caso de litigância de má-fé, a multa aplicada pelo juiz tem um limite
prefixado pelo legislador: 1% sobre o valor da causa. O que pode ocorrer, sim, é a condenação
cumulativa desse litigante a indenizar a parte contrária quanto a prejuízos por esta efetivamente
suportados, afora os honorários advocatícios e todas as despesas que realizou; tal indenização, importa
frisar, poderá ser fixada desde logo pelo juiz, em quantia não superior a 20% sobre o valor da causa, ou,
então, deixar para ser apurada em liquidação de sentença. Tais conclusões podem ser extraídas do art.
18, caput ("O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante de má-fé a pagar multa
não excedente a um por cento sobre o valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que
esta sofreu, mais os honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou") e § 2º ("O valor da
indenização será desde logo fixado pelo juiz, em quantia não superior a 20% sobre o valor da causa, ou
liquidado por arbitramento"), do CPC.
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20. EMAGIS – 2012/19 – QUESTÃO 12. De acordo com recente julgado do STJ, se, numa
determinada ação, o Município litigar ao lado de litisconsorte que tenha procurador
diverso, não cabe a aplicação conjugada dos arts. 188 ("Computar-se-á em quádruplo
o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda Pública
ou o Ministério Público") e 191 do CPC ("Quando os litisconsortes tiverem diferentes
procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer
e, de modo geral, para falar nos autos"), de forma a reconhecer-lhe prazo em
quádruplo para recorrer.
21. EMAGIS – 2012/19 – QUESTÃO 12. A Corte Especial do STJ firmou compreensão no
sentido de que a exigência do prévio depósito da multa prevista no art. 557, § 2º, do
CPC ("Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal
condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor
corrigido da causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao
depósito do respectivo valor") não se aplica à Fazenda Pública.
22. EMAGIS – 2012/18 – QUESTÃO 10. É dever das partes e de todos aqueles que de
qualquer forma participam do processo cumprir com exatidão os provimentos
mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de
natureza antecipatória ou final. Ressalvados os advogados públicos45 e os advogados
44
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO DO JUIZ. ART. 312 DO CPC.
PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECÍFICOS. DESNECESSIDADE. ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC.
MULTA. APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 98/STJ.
1. Hipótese em que, apresentada exceção de suspeição em face de juiz de piso, a medida não foi
conhecida por ausência de procuração com poderes específicos em nome do advogado peticionante.
2. No que tange à necessidade de poderes específicos para a apresentação de exceção de suspeição,
importante frisar que o art. 38 do CPC estabelece as regras gerais de representação processual das
partes por seus patronos, instituindo a chamada cláusula ad judicia, referente à capacidade para
prática de todos os atos processuais.
3. O mesmo dispositivo, em sua parte final, enumera as exceções, que, como tais, devem ser
interpretadas restritivamente. Dentre as as exceções, a exigir poderes específicos, não consta a
apresentação de exceção de impedimento ou suspeição, RAZÃO PELA QUAL O NÃO-CONHECIMENTO
DA MEDIDA SOB O FUNDAMENTO DE INEXISTÊNCIA DE PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECÍFICOS É
ILEGAL. Precedentes.
[...](REsp 1233727/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/04/2011, DJe 05/05/2011)
45
O CPC não prevê os advogados públicos. Trata-se de questão sobre a qual o STF teve de se manifestar:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAÇÃO AO PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 14
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, NA REDAÇÁO DADA PELA LEI 10358/2001. PROCEDÊNCIA DO
PEDIDO. 1. Impugnação ao parágrafo único do artigo 14 do Código de Processo Civil, na parte em
que ressalva "os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB" da imposição de
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que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação desse dever constitui
ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções
criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser
fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor
da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da
decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do
Estado (art. 14, c/c p. único, CPC).
24. EMAGIS – 2012/18 – QUESTÃO 10. Não é possível ao juiz, nos próprios autos do
processo em que fora praticada a conduta maliciosa, condenar o patrono da parte a
multa por litigância de má-fé.
25. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 12. O juiz dará curador especial ao incapaz, se não tiver
representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele.
26. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 12. Ao executado que, citado por edital ou por hora
certa, permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para
apresentação de embargos46.
27. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 12. Segundo entendimento pacificado pelo Superior
Tribunal de Justiça, o curador especial é dispensado de oferecer garantia ao Juízo para
opor embargos à execução, mesmo antes da Lei 11.382/0647.
multa por obstrução à Justiça. Discriminação em relação aos advogados vinculados a entes estatais,
que estão submetidos a regime estatutário próprio da entidade. Violação ao princípio da isonomia e
ao da inviolabilidade no exercício da profissão. Interpretação adequada, para afastar o injustificado
discrímen. 2. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente para, sem redução de texto,
dar interpretação ao parágrafo único do artigo 14 do Código de Processo Civil conforme a
Constituição Federal e declarar que a ressalva contida na parte inicial desse artigo alcança todos os
advogados, com esse título atuando em juízo, independentemente de estarem sujeitos também a
outros regimes jurídicos. (STF, ADI 2652, Rel. Min. Maurício Correa, DJ de 14/11/2003)
46
Súmula 196, STJ.
47
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO.
REVELIA. NOMEAÇÃO DE CURADOR ESPECIAL. DEFENSORIA PÚBLICA. GARANTIA DO JUÍZO, NOS TERMOS DO
REVOGADO ART. 737, INCISO I, DO CPC. INEXIBILIDADE. [...] 3. É dispensado o curador especial de oferecer
garantia ao Juízo para opor embargos à execução. Com efeito, seria um contra-senso admitir a legitimidade do
curador especial para a oposição de embargos, mas exigir que, por iniciativa própria, garantisse o juízo em nome
do réu revel, mormente em se tratando de defensoria pública, na medida em que consubstanciaria
desproporcional embaraço ao exercício do que se constitui um munus publico, com nítido propósito de se garantir
o direito ao contraditório e à ampla defesa. (STJ, REsp 1110548/PB, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL,
julgado em 25/02/2010, DJe 26/04/2010)
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28. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 12. Se a parte, mesmo estando presa, tem patrono
nomeado nos autos, torna-se absolutamente despicienda a indicação de um curador
especial para representá-la.
31. GEMAF – 2010/08 – QUESTÃO 07. Existe estreita relação entre a capacidade
processual e a capacidade para o exercício de direitos, de modo que a primeira quase
sempre pressupõe a segunda, sem embargo da existência de exceções, como na
hipótese da ação popular, que pode ser ajuizada por eleitor de dezesseis anos de
idade.
32. Capacidade postulatória é a capacidade deferida pela lei ao advogado de poder agir e
falar em nome das partes em juízo.
33. A colusão, que ocorre quando autor e réu se utilizam do processo para simular algo ou
para fim proibido por lei, pode ser conhecida de ofício e suscitada por terceiros.
35. O menor relativamente incapaz deve ser citado pessoalmente, mesmo assistido pelos
pais.
36. O interdito é absolutamente incapaz e deve ser representado em juízo por seu
curador.
37. A União, se for parte na causa, deve depositar previamente os honorários do perito,
relativamente à perícia por ela requerida.
38. As despesas dos atos processuais efetuadas a requerimento do MP serão pagas a final
pelo vencido.
48
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL.
PROCURAÇÃO. AUTENTICAÇÃO. DESNECESSIDADE. PRESUNÇÃO JURIS TANTUM DE AUTENTICIDADE. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO DA FIDELIDADE DO DOCUMENTO. SÚMULA N. 168/STJ.
1. É desnecessária a autenticação de cópia de procuração e de substabelecimento, porquanto se presumem
verdadeiros os documentos juntados aos autos pelas partes, cabendo a elas argüir a falsidade. Precedentes da
Corte Especial.
[...]
(EREsp 725740/PA, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/12/2009, DJe
08/02/2010)
49
Súmula 115, STJ.
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174
4. Ação
A palavra ação pode ser entendida de várias formas: ação como direito cívico, ação como
direito a um processo justo e équo, ação como direito à jurisdição, ação no sentido de
demanda e ação de direito material. São estas as cinco acepções como a palavra ação pode ser
compreendida.
Ação como direito cívico é aquela ação a que se refere a Constituição da República, no artigo
5º, XXXV, é a palavra ação abstratamente concebida, ou seja, qualquer um de nós possui
direito de ação. Aquela ideia de que nenhuma lesão ou ameaça de lesão estará excluída de
análise do poder judiciário é exatamente esta como direito cívico. Por isso, ela tem um
conteúdo constitucional, ampla, aberta.
A palavra ação como direito justo e équo está mais ligada à ideia de processo sob o
contraditório. Afirma que autor e réu possuem as mesmas faculdades, direitos, obrigações,
ônus e sujeições. Autor e réu devem ser tratados de maneira equânime, paritária, justa.
Devem ter os mesmos poderes de influir no convencimento do juiz. É uma acepção muito
adotada na Procuradoria da República.
A palavra ação como direito a jurisdição tem um sentido processual. É o meio através do qual
se provoca o Estado para prestar a atividade jurisdicional, mas para que esta provocação surta
efeito, eu, interessado, tenho que preencher determinados requisitos ou, como diz a lei, tenho
que preencher determinadas condições, as chamadas condições da ação.
A palavra ação como demanda. Sempre que se utilizar a palavra ação lembre-se que possui
uma concepção abstrata. Fica no plano das ideias: eu pretendo ajuizar uma ação, eu vou
ajuizar uma ação. A partir do momento em que se materializa este direito de ação em uma
petição, saindo do plano das ideias, passa-se a falar em demanda, que é a materialização do
direito de ação50. É a concretização do direito de ação. Quando o CPC fala em suspensão da
ação, na verdade, fala em suspensão da demanda. Se você vai ajuizar não é uma ação é uma
demanda porque está materializada. Passou para o plano concreto não se chama mais de
ação, mas de demanda.
50
É por isto que alguns doutrinadores defendem ser errado afirmar que foi ajuizada uma ação, pois o
correto é dizer ajuizar uma demanda: parte-se do pressuposto que apenas uma relação materializada (e
por isto, uma demanda) pode ser ajuizada
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175
A palavra ação como direito material deve ser analisada com mais calma. No sul do país
muitos afirmam que ação de direito material continua existindo, mas tirando esta região do
país, no norte, nordeste, sudeste a ação de direito material está extinta. O problema é
examinar se ainda existe ou se foi extinta, e como se chegou a esta conclusão.
Caracterizado que o devedor não irá cumprir a obrigação surge o que se denomina de ação de
direito material. Ela representa atos, que eu, credor, poderia praticar por minhas próprias
forças para obter a satisfação da obrigação. Só que o problema é que o Estado proibiu a
autotutela, inclusive existe um tipo penal para esta hipótese, que é o exercício arbitrário das
próprias razões. Surge um problema: a ação de direito material ainda existe ou foi extinta do
nosso ordenamento?
Uma primeira corrente afirma que ela foi extinta salvo nas exceções expressamente
mencionadas no ordenamento. São as hipóteses de desforço imediato, se lembra das
hipóteses em que o proprietário por suas próprias forças pode repelir esbulho, turbação é o
desforço pessoal imediato, ainda há outras hipóteses como o direito de defesa, o direito de
greve, a retenção de bagagem, a retenção por benfeitorias. Então, para os adeptos desta
primeira corrente, a ação de direito material está extinta salvo nas exceções expressas no
ordenamento.
Para uma segunda corrente, com destaque no sul do país, além das exceções a ação de direito
material agora também seria relacionada àqueles atos de execução praticados pelo Estado.
Então, entenderam que se o indivíduo não pode exercer mais ação de direito material porque
o Estado proibiu, o Estado, no entanto, possibilitou que o indivíduo exercesse o direito de ação
para provocá-lo (ao Estado) a exercer o direito material. Proibiu a ação de direito material, mas
abriu a possibilidade da ação de direito processual.
Para exercer a jurisdição ele precisa de um processo, dentro deste processo o interessado fará
um pedido, esse pedido nada mais significa do que uma pretensão feita dentro do processo, a
chamada pretensão processual. Formulada no processo dentro do pedido, feito o pedido ele
vai ser julgado por uma sentença que vai transitar em julgado fazendo coisa julgada formal e
material. Passa-se para a fase de execução. Dependendo do tipo de obrigação a fase de
execução pode variar. Mas nesta fase de execução o Estado pratica atos de execução:
bloquear verbas em conta corrente, bloquear bens, arrestar bens. São esses atos de execução
que para esta segunda corrente passaram a ser ação de direito material.
b) Teoria concreta da ação: também conhecida como teoria do direito concreto de ação,
foi a primeira que fez distinção entre direito de ação e direito material. O erro dessa
teoria foi afirmar que o direito de ação só existe quando existir o direito material,
condicionando a existência do primeiro à do segundo, ao provimento do pedido. Caso
improcedente, não teria o autor direito de ação desde o início. É teoria errada e
ultrapassada, que confunde alhos com bugalhos.
c) Teoria potestativa do direito de ação: seu mentor é Chiovenda, os adeptos desta teoria
também eram concretistas, para eles, só possui direito de ação quem possui direito
material. Eles se distinguiam da concretista porque, segundo eles, o direito de ação
não era um direito subjetivo, porque não era exercido somente em face do Estado, o
direito de ação era exercido em face do réu e o réu se sujeitava a esse direito, não
tinha como se opor. Então, se não tinha o que fazer não era um direito subjetivo, era
um direito potestativo. Porque este impõe a outra parte aquela obrigação. A teoria foi
banida porque sendo também concretista não respondia às indagações.
Imanentista ou Civilista
Concreta
Teorias da Ação Potestativa
Abstrata
Eclética (ADOTADA NO BRASIL)
Por que Liebman inseriu as condições de ação? Liebman concebeu que há uma infinidade de
processos nos quais, ao final, o juiz verifica que a parte, autor ou réu, não era legítima ou
carecia de interesse de agir; então, havia um grande dispêndio de dinheiro com a prática
desses atos processuais para somente no final o juiz dizer que não havia interesse. Com isso,
ele retirou a legitimidade e o interesse do final para que fossem analisados antes, no momento
anterior, nesse momento anterior de análise, ele acrescentou a possibilidade jurídica do
pedido, porque ele entendia que determinados pedidos eram proibidos pela lei.
Se só for analisar a legitimidade e o interesse no mérito, aí faz coisa julgada que é o que
veremos quando analisarmos a teoria da asserção, que diz que depende do local em que se
examinar esta matéria, se examinar como condição da ação não faz coisa julgada, mas se
examinar no final tem gente que entende que faz.
O STJ, no entanto, não adota esse posicionamento, mas preceitua a adoção da teoria da
asserção: AgRg no AREsp 53.146/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado
em 16/02/2012, DJe 05/03/2012; REsp 595.188/RS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 22/11/2011, DJe 29/11/2011; REsp 1052680/RS, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/09/2011, DJe 06/10/2011; AgRg no REsp
877.161/RJ, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/12/2006, DJ
01/02/2007, p. 442
A demanda, enquanto postulação, seria o nome processual que recebe a relação jurídica
substancial quando posta à apreciação do Poder Judiciário. Os elementos desta se manifestam
naquela. Pode-se traçar o seguinte paralelo:
4.3.1. Partes
Parte processual é aquela que figura na relação jurídica processual, fazendo parte do
contraditório. Parte material ou do litígio é o sujeito da situação jurídica discutida em juízo. Em
geral ambas se confundem, havendo exceções, como ocorre, v.g., na substituição processual.
Porém, parte não se resume a autor e réu, sendo parte também os terceiros intervenientes e
os demais que participam da relação jurídica processual em contraditório defendendo
interesse próprio (essa ampliação subjetiva se chama de PARTES NO PROCESSO. PARTES
NA DEMANDA se resumiriam a autor e réu).
b) Pela citação;
d) Sucessão processual.
4.3.2. Pedido
O conceito de pedido será analisado detidamente em momento posterior, quando do estudo
da petição inicial, em face da relevância do tema.
Relevância dessa distinção com exemplo: ação para anular um contrato por dolo e ação para
anular um contrato por erro: pela Teoria da Substanciação as causas de pedir são distintas
(porque erro não é dolo); já para a Teoria da Individualização, se esta valesse entre nós, essas
causas de pedir seriam idênticas, porque em ambas se discutiria o mesmo direito (o direito de
anular). Esta é a importância de se saber qual a teoria por nós adotada.
com Marinoni: causa de pedir remota: relação jurídica indicada ou fatos constitutivos,
próxima: fundamento do pedido e ou lesão à relação jurídica.
Fundamento jurídico não é o fundamento legal, a mera indicação do dispositivo de lei. Isso é
inútil, já que iura novit curia. Fundamento jurídico é o liame jurídico entre os
fatos e o pedido, ou seja, a explicação à luz do ordenamento jurídico do por quê o autor
merece o que está pedindo ante os fatos que narrou. Por exemplo, tenho o direito de receber
indenização porque a pessoa X, no dia tal, proferiu grave injúria contra mim, lesando minha
dignidade e surgindo, para ela, a responsabilidade civil.
De acordo com o CPC, a falta de qualquer das condições implicaria a extinção do processo sem
resolução de mérito (art. 267, VI), PODENDO A AUSÊNCIA DE UMA CONDIÇÃO DE AÇÃO,
QUE SIGNIFICA CARÊNCIA DE AÇÃO, SER RECONHECIDA DE OFÍCIO, EM QUALQUER
GRAU DE JURISDIÇÃO E A QUALQUER TEMPO (art. 267, § 3º, CPC).
Entretanto, esta posição do CPC é bastante prejudicial e criticável, já que permitiria, após
longos anos de debates processuais, que se reconhece-se a carência de ação e a consequente
extinção do processo sem julgamento de mérito.
Tudo o que vier após a admissão da inicial será decisão de mérito; se a questão da existência
ou não de carência de ação requerer exame mais aprofundado, não podendo ser decidida
initio litis, o que antes era questão processual passará a ser questão de mérito. Logo, restará
formada a coisa julgada material.
Essa teoria, apesar de poupar alguns contratempos, é bastante criticada pois ao autor bastaria
mentir na inicial para que não houvesse reconhecimento da carência de ação, a fim de que
merecesse uma resolução de mérito.
Ademais, formaria coisa julgada sobre uma questão de condição da ação, impedindo a
repropositura da demanda futuramente, quando sanada.
A teoria da asserção é, na concepção italiana tradicional, para ser aplicada, como visto, na fase
do juízo de admissibilidade da inicial51. Por quê? Pois a presença das condições de ação seriam
detectadas tão somente com base nas afirmativas do autor na inicial. A partir daí, o que vier
seria mérito. Entretanto, no Brasil ela foi ampliada, possibilitando que o réu fosse citado para
apresentar contestação e depois, em tese, as condições da ação e os pressupostos processuais
deveriam ser verificados.
Assim, hoje, até que momento as condições da ação podem ser analisadas como sendo
condições da ação? Até o momento anterior à fase instrutória. Isso pela doutrina. Após a
fase instrutória, após o começo da formação de provas no processo, haveria somente decisão
de mérito, haveria a efetiva formação da coisa julgada.
Quem adota a teoria da asserção? Barbosa Moreira, Alexandre Câmara, Fredie Didier,
Leonardo Greco, Marcelo Abelha, Teresa Arruda Alvim, Luiz Rodrigues Wambier.
51
Em tese a análise deveria ser realizada inicialmente, porém, com base na teoria da asserção, por
relapso do juízo, ou por agravo de instrumento, é possível que o momento seja ulterior, pois as
condições da ação podem ser reconhecidas a qualquer tempo, por expressa disposição do §3º do art.
267 do CPC. O que é importante é que para seu reconhecimento seja desnecessária a análise
probatória.: ou seja, que as condições pudessem ser reconhecidas em tese no início, embora possam
reconhecidas a qualquer momento.
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182
Isso conduz à seguinte situação: a ausência de condição da ação para Liebman (condição não
comprovada pelo autor) conduz à extinção do processo sem resolução do mérito (com o
proferimento de uma sentença terminativa), mesmo que esta se dê após o julgamento do
mérito (sentença definitiva), em grau de recurso, uma vez que as condições podem ser
analisadas e demonstradas em qualquer momento e grau de jurisdição, conduzindo assim, à
anulação da sentença definitiva; já para a teoria da asserção, as condições da ação serão
analisadas com base tão-somente nas alegações feitas pela parte na peça de ingresso (petição
inicial do autor), deste modo as matérias referentes à legitimidade, interesse e possibilidade
jurídica serão analisadas junto com o mérito, o que conduz, caso não estejam presentes, à
improcedência do pedido, sentença de mérito (definitiva), em qualquer momento ou grau de
jurisdição, ou seja, no tribunal ocorrerá, assim, a reforma (não anulação) da sentença de
mérito.
ASSERÇÃO => Autor não precisa provar as condições de ação
EXPOSIÇÃO => Autor precisa provar as condições de ação
4.4.2. A Possibilidade Jurídica do Pedido
A teoria tradicional defende a possibilidade jurídica do pedido como a amparabilidade do
pedido formulado pelo autor perante o ordenamento jurídico (do pedido imediato). Isso,
entretanto, é uma lástima propagada por alguns doutrinadores.
A possibilidade jurídica do pedido somente pode ser apreciada à luz da vedação legal: é
possível todo pedido mediato que não seja juridicamente vedado, como seria o caso de uma
ação em que um Município pede para ser emancipado da República Federativa do Brasil.
Isso porque, de início, presume-se que todo pedido é amparável pelo Poder Judiciário, já que é
proibido aos particulares exercer a autotutela (em regra); trata-se de uma decorrência do
princípio da inafastabilidade da jurisdição.
52
IMPORTANTE: o STJ fala em teoria da asserção em diversos julgados, mas trata ela de forma diferente
do que prega a doutrina. De acordo com o inteiro teor do julgado acima colacionado, as condições da
ação devem ser analisadas de acordo com o que foi alegado pelo autor da ação na inicial sem sindicar as
questões meritórias. Isso não quer dizer, entretanto, que posteriormente não poderá a superveniente
falta de uma condição de ação levar à extinção do processo sem julgamento de mérito.
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183
O CPC de 1973 é baseado nas lições o jurista italiano Liebman, o qual elencava 03 condições da
ação: legitimidade de parte, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. Todavia, esse
autor, ao evoluir seu pensamento, excluiu a possibilidade jurídica do pedido do rol das
condições da ação sem ser acompanhado pelo nosso CPC.
No projeto do Novo CPC a possibilidade jurídica do pedido não é mais uma das condições da
ação. Para seus juristas idealizadores, a sentença que, à luz da lei revogada seria de carência
da ação, à luz do Novo CPC é de improcedência e resolve definitivamente a controvérsia.
Enfim, excluir a possibilidade jurídica do pedido do rol das condições da ação, significa trazer
maior estabilidade às relações sociais, tendo em vista que, verificado que o pedido não se
conforma ao ordenamento jurídico, haverá uma sentença de improcedência do pedido. Uma
sentença de mérito, que tende à formação da coisa julgada material. E que, por consequencia,
impede a rediscussão da matéria.
É melhor para os sujeitos processuais que suas pretensões sejam resolvidas definitivamente, a
fim de evitar reiteradas rediscussões daquilo que já se sabe não autorizado pelo ordenamento
e isto contribui a um só tempo para a economia processual (evitando-se a repetição de causas)
e para a pacificação social.
Pode o juiz indeferir a inicial, declarando a carência de ação por falta de interesse de agir por
não ter a demanda conteúdo econômico? Isso é controverso. O direito de ação é um direito
subjetivo que pode ser exercido independentemente do direito material subjacente. Porém, se
a demanda for de caráter estritamente patrimonial e for patente na inicial a impossibilidade de
qualquer melhora para o autor, a absoluta ausência de interesse econômico, poderá (em tese)
ser extinto o processo sem julgamento de mérito. Exemplo jurisprudencial disso é a liquidação
de valor zero:
O interesse de agir não se confunde com o interesse substancial primário, com o bem de vida
que pede o autor. O seu objeto é a tutela jurisdicional.
Também faltará utilidade quando, v.g., o valor do crédito exequendo for absorvido
pelas custas do processo de execução, de tão ínfimo que é (art. 659, § 2º, CPC).
O STJ tem entendimento recente nos dois sentidos, mas prevalece amplamente a
desnecessidade:
4.4.4. Legitimidade
No processo, impõe-se a existência de um vínculo entre os sujeitos da demanda e a situação
jurídica afirmada. Deve-se investigar a legitimidade no elemento subjetivo da demanda, as
partes.
Liebman dizia que parte legítima ou legitimidade significa a pertinência subjetiva da lide. Mas
isso não quer dizer nada, é algo abstrato.
Quem possui legitimidade? Aquelas pessoas que irão obter um provimento favorável na
sentença de mérito ao final. Agora, quem são essas pessoas? Só se pode analisar isso com base
na relação jurídica de direito material, com base no caso concreto. É por isso que surge a
distinção entre legitimidade ad causam e legitimidade ad processum. Por que isso? Porque a
legitimidade ad causam é a legitimidade para aquela causa específica, para aquela demanda
em particular. Como é que o juiz vai saber se o autor e o réu possuem legitimidade para aquela
causa, de onde ele vai extrair essas informações, de onde ele vai tirar elementos para saber se
o autor e réu são partes legítimas para figurar naquele caso em particular? Ele vai ter que se
dirigir à relação jurídica de direito material.
O juiz faz um exame superficial da relação jurídica de direito material para saber se o
autor e o réu são partes legítimas para aquela demanda. Por isso que quando o juiz
faz esse exame, mesmo superficialmente, para caracterizar a legitimidade ad causam
está-se falando de uma condição da ação. A legitimidade ad causam é uma condição
da ação.
Se ele se aprofundasse no exame, ele iria passar das condições da ação e chegar no mérito.
c) Legitimação exclusiva: quando a relação jurídica somente pode ser estabelecida com a
presença de um determinado sujeito de direito. É o caso das ações penais públicas
incondicionadas.
Salvo disposição legal, a coisa julgada surgida em processo conduzido pelo substituto
estenderá seus efeitos para o substituído.
O substituto processual pode ser sujeito passivo de sanções processuais, como ser punido por
litigância de má fé e ter contra si aplicadas multas.
53
Nelson Nerye usa a legitimação autônoma de uma forma diferente: “A terceira corrente tem em
NELSON NERY seu principal defensor. Inspirada no direito alemão, pugna por um abandono da
tradicional divisão em legitimação ordinária e extraordinária, pois que se trataria de conceituação
insuficiente para explicar o fenômeno da legitimidade no processo coletivo. Defende, assim, que os
entes legitimados à propositura da ação coletiva seriam dotados, pela lei, de uma legitimação
autônoma para a condução do processo.”
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188
Tanto não se confundem que um substituto processual, v.g., uma associação legitimada para
propor ACP, deverá ser representada processualmente por um advogado. Logo, haverá
substituição processual exercida necessariamente com representação processual, ante a
inexistência de capacidade postulatória.
Súmula 242, STJ: “Cabe ação declaratória para reconhecimento de tempo de serviço para fins
previdenciários”.
Súmula 181, STJ: “É admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto a exata
interpretação de cláusula contratual”. Nesse caso, há uma dúvida quanto ao direito, quanto a
uma situação jurídica, e não quanto a um fato, gerando insegurança social e justificando a
possibilidade do exercício do direito de ação.
ação condenatória, de certa forma, traz em si algo declaratório, pois para se condenar
primeiro é necessário declarar (reconhecer) o direito. Em regra, tem efeitos ex tunc.
54
Há severas críticaas a essa definição. A primeira consiste em creditar na vinculação do direito
potestativo à ação constitutiva, o que seria retornar ao problema da teoria das ações, pois, se o direito
material está vinculando ao exercício do direito processual, tem-se a ação imanentista, ou na melhor
das hipóteses, como concreta. Lembre-se que esta questão não é de menor importância e impediu que
o próprio ALFREDO ROCCO, por tantos citado, aceitasse a categoria das ações constitutivas, porque fere
a lógica abstrata da ação. Também pela aguda percepção de ALFREDO ROCCO vem revelado o segundo
engano da doutrina que defende a sentença constitutiva, apoiada em um direito potestativo
preexistente como pressuposto da ação. ROCCO era defensor da ideia do “juízo lógico”, ou seja, o juiz
não pode intervir na prolação da sentença com um ato de vontade, este é reservado ao legislador, por
isso via na sentença constitutiva mera declaração. Ora, pretendendo-se a sentença vinculada a um
direito preexistente, a atividade do juiz é de simples “accertamento”, “Feststellung”, declaração da
existência daquele direito.Como já ficou claro acima não se trata de dupla declaração, mas de eficácia
própria, com características específicas. Portanto, engana-se ROCCO ao afirmar a não existência da
sentença constitutiva porque esta não se vincula aos chamados direitos potestativos e, sim, a formação,
extinção ou modificação dos direitos, que é atividade criadora do juiz.
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190
Até mesmo as ações meramente declaratórias, se requerido pelo autor, poderão ter eficácia
executiva (art. 475-N, I, CPC)55.
Exemplo clássico são as ações de filiação, que não criam nada novo, apenas declaram quem é
o pai ou a mãe da pessoa.
55
Sobre esse dispositivo, Didier: “É preciso fazer algumas observações sobre essa novidade. a) A
mudança do texto legal ocorreu durante a tramitação do projeto de lei no Senado. O projeto não voltou
à Câmara de Deputados, para a aprovação da emenda. Discute-se, então, se o inciso I do art. 475-N é
formalmente inconstitucional. A questão passa pelo seguinte: o novo texto proposto pelo Senado
inovou em termos normativos ou se trata de apenas um aprimoramento da redação anterior? Como
sempre defendemos a possibilidade de execução de decisão meramente declaratória que reconhecesse
a existência de um dever de prestar, mesmo sob a égide do texto anterior, seja como consequência do
direito fundamental à efetividade, seja em razão da absoluta desnecessidade e impossibilidade de
instauração de nova atividade cognitiva judicial para apurar o que já está acobertado pela coisa julgada,
a redação proposta pelo Senado apenas aprimora o texto anterior, sem inovar substancialmente. Para
quem não admitia a possibilidade de decisões declaratórias terem força executiva, realmente é possível
alegar o vício formal de inconstitucionalidade. A solução da questão passará, necessariamente, pelo
exame da premissa de que parte cada doutrinador sobre a interpretação que se deveria dar ao texto
anterior, e, ainda, pela resposta à seguinte questão epistemológica: emprestar executividade a uma
decisão meramente declaratória é interpretação que está de acordo com o direito fundamental à
efetividade e, portanto, vale a pena ser adotada?”
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191
No sentido material, a ação dúplice é aquela em que o autor e o réu ocupam posições jurídicas
ativas e passivas na demanda simultaneamente, o que permite ao réu, independentemente de
pedido expresso obter a tutela jurisdicional do bem da vida, como resultado lógico e
automático da rejeição do pedido do autor. De acordo com Didier, “É como uma luta em cabo
de guerra: a defesa de uma equipe já é, ao mesmo tempo, também o seu ataque. São
exemplos: a) as ações declaratórias; b) as ações divisórias; c) as ações de acertamento, como a
prestação de contas e oferta de alimentos. A relação jurídica deduzida em juízo poderia ter sido
posta por qualquer das partes e, com a defesa, o réu já exercita a sua pretensão, sem a
necessidade de reconvenção ou pedido contraposto”.
A relação jurídica deduzida em juízo poderia ter sido posta por qualquer das partes e, COM A
DEFESA, O RÉU JÁ EXERCITA A SUA PRETENSÃO, SEM A NECESSIDADE DE
RECONVENÇÃO OU PEDIDO CONTRAPOSTO.
São dúplices as ações nos procedimentos sumário e sumaríssimo. Por que não é necessário
pedido contraposto? Pois se, por exemplo, no procedimento sumário o autor busca o
reconhecimento de seu direito de propriedade sobre um bem em posse do réu, o
indeferimento do pedido gerará o automático reconhecimento do direito de propriedade do
réu, salvo se, evidentemente, o argumento defensivo for que a propriedade é de terceiros.
Admite-se reconvenção em ação dúplice? Em regra, ela não é admitida. Não obstante,
excepcionalmente, a reconvenção pode ser ajuizada em ação dúplice, na hipótese em que o a
pretensão do réu é algo diferente do que alcançaria com o mero julgamento de improcedência
do pedido do autor. Exemplo disso é o disposto no enunciado n. 258 da Súmula do STF,
segundo o qual “é admissível a reconvenção em ação declaratória”, obviamente que, quando o
pedido não se limitar à declaração de improcedência. Ou seja, o pedido contraposto deve
agregar um elemento conexo. Por exemplo: sujeito ajuíza ação declaratória negativa de
paternidade. Réu contesta e, ao mesmo tempo, formula pedido de alimentos.
2. TRF3 – XIII – QUESTÃO 62. Proposta ação de usucapião de terras da União, o juiz deve
extinguir o processo por impossibilidade jurídica.
3. TRF4 – XIII – QUESTÃO 60. Atribui-se a Chiovenda a primazia de ter afirmado, na Itália,
a autonomia da ação, enquanto direito potestativo conferido ao autor, de obter, em
face do adversário, uma atuação concreta da lei.
5. Intervenções de Terceiros
5.1. Introdução
O normal é que, em uma relação processual envolvendo o autor e réu, todas as decisões que
porventura sejam proferidas no curso desse processo atinjam, num primeiro momento,
apenas autor e réu. Há casos, entretanto, em que a coisa julgada terá eficácia processual com
escopo que excede às partes que participaram do processo. Isso ocorre não somente nas
causas coletivas, mas em situações em que terceiros deveriam ter participado de processo
alheio e não o fizeram, sofrendo efeitos pro et contra.
Por isso mesmo que o direito criou técnicas para evitar ou minimizar as consequências dessa
ultraeficácia, tais como:
O vínculo há de ser jurídico, não basta que seja meramente econômico ou moral.
Por intervenção de terceiros entende-se a permissão LEGAL para que um sujeito alheio à
relação jurídica processual originária ingresse em processo JÁ EM ANDAMENTO.
Na prática são muito comuns decisões que, proferidas no curso de um determinado processo,
possam atingir outras pessoas que dele não participem. Então, o critério utilizado para definir
quem é o terceiro é o chamado critério da exclusão ou também chamado de critério da
negação.
Terceiro é todo aquele que não é parte. Se quem não é parte no processo é terceiro, quem são
as partes?
O conceito técnico de parte é dado por Liebman, que a maioria da doutrina adota aqui no
Brasil. Partes são sujeitos do contraditório instituídos perante o juiz.
Logo, seriam partes aqueles que figuram no polo ativo e no polo passivo da relação
processual e que exercem todos os seus poderes, deveres, faculdades, sujeições e ônus no
processo. Quem não é parte é terceiro.
Dessa forma, por vezes, a decisão judicial proferida no processo ou mesmo uma decisão
judicial que pode vir a ser proferida terá a força de atingir a relação jurídica da qual o terceiro é
titular.
Se esse terceiro pode ter a sua relação jurídica, da qual é titular, atingida por uma decisão
proferida em processo do qual ele não faz parte, a lei autoriza a sua intervenção nesse
processo para defender a sua relação jurídica.
Quais são as espécies normalmente tratadas na doutrina como sendo intervenção de terceiro?
Quais as intervenções de terceiros previstas no CPC?
a) Assistência;
b) Oposição;
c) Nomeação à autoria;
d) Chamamento ao processo;
e) Denunciação da lide.
Então, na doutrina processual, o mais comum é que quando vem a ser examinada a
intervenção de terceiro, eles examinem a oposição, a nomeação à autoria, o chamamento ao
processo, a denunciação da lide, a assistência e o recurso de terceiro prejudicado.
d) Intervenção por ação: dá ensejo a um novo pedido, a uma nova demanda, a uma nova
pretensão formulada. Ocorre nos casos de oposição e de denunciação da lide.
b) Terceiro: terceiro é quem não seja parte, quer nunca o tenha sido, quer haja deixado
de sê-lo em momento anterior àquele que se profira a decisão.
d) Processo incidente: é uma relação jurídica processual nova, assentada sobre novo
procedimento. Considera-se incidente porque instaurado sempre de modo
relacionado com algum processo pendente e porque visa a um movimento
jurisdicional que de algum modo influirá sobre este ou seu objeto. É o caso, v.g., dos
embargos de terceiros ou embargos do executado. Costumam ser sempre
potencialmente prejudiciais ao processo principal, dito prejudicado.
d) A assistência;
[...]
§ 1o (VETADO)
[...]
Então, embora a lei afirme taxativamente que não trata de nenhuma hipótese de intervenção
de terceiros, Fredie Didier, Marinoni e alguns acórdãos do Supremo admitem, em tese, a
possibilidade de assistência litisconsorcial, sempre por algum dos colegitimados ao
ajuizamento da demanda.
Logo, não cabe denunciação a lide, mas cabe a assistência provocada para que o terceiro que
será denunciado no processo principal sofra as consequências da prova produzida, garantindo-
se o contraditório e o devido processo legal neste.
Entretanto, nem todas as intervenções encontram sua justificativa nessas cinco modalidades
típicas de intervenção de terceiro, o que demonstra que o rol legal é meramente
exemplificativo. Há previsões esparsas, denominadas de intervenções atípicas.
Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras
ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e
empresas públicas federais.
Assim, verifica-se que essa lei permite uma intervenção sem interesse jurídico, com base
apenas em aspectos econômicos. Se a intervenção for da União, de autarquia, fundação ou
empresa pública federal, o feito que tramitava perante a Justiça Estadual deverá ser remetido
para a Justiça Federal. ISSO OCORRE, ENTRETANTO, APENAS SE A UNIÃO OU AS
DEMAIS ENTIDADES FEDERAIS RECORREREM. Se eles pedirem o ingresso apenas para
esclarecer questões de fato e de direito e juntar documentos e memoriais reputados úteis,
praticamente ficam na condição de amicus curiae, sem deslocar a competência. Quando o juiz
decidir a causa, se eles quiserem recorrer, aí, a situação muda de figura. Porque, para recorrer,
um dos requisitos do recurso é o interesse jurídico. Ora, SE ELE QUER RECORRER, PRECISA
DEMONSTRAR O INTERESSE JURÍDICO, SE ELE DEMONSTRAR ESSE INTERESSE JURÍDICO56, O
DISPOSITIVO FALA QUE ELE ADQUIRE A QUALIDADE DE PARTE. SE ELE ADQUIRE A
QUALIDADE DE PARTE, AÍ DESLOCA A COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL. Antes disso,
não desloca, fica no Justiça Estadual.
Se, após enviado o recurso para o tribunal, o juiz federal reconhecer que inexiste interesse
jurídico para o recurso o que deve fazer? Remeter imediatamente os autos para a Justiça
Estadual. Dessa decisão caberá agravo de instrumento para o TRF, criando a estranha situação
de um processo correndo na JE enquanto um recurso sobre ele sendo processado na JF.
Súmula 150, STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que
justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.
Súmula 224, STJ: “Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a
declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito”.
Súmula 254, STJ: “A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não
pode ser reexaminada no Juízo Estadual”.
Todos os atos anteriores, porém, serão válidos, inclusive os decisórios, já que não havia
qualquer inadequação ou incompetência a ensejar alguma nulidade. A incompetência é
superveniente.
56
Para recorrer, tem que ter legitimidade e interesse, alguns dos requisitos e pressupostos recursais.
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199
Interposto o recurso pela União ou ente federal, o juiz estadual deve remeter
imediatamente os autos à Justiça Federal para que esta verifique se há ou não o interesse
jurídico recursal, não cabendo ao juiz estadual o exame de admissibilidade do recurso. Isso é o
que se depreende da súmula a seguir:
Súmula 150, STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que
justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.
5.6.1. Conceito
Trata-se da modalidade de intervenção de terceiro pela qual ele ingressa em processo alheio
para auxiliar uma das partes em litígio. Pode ocorrer em qualquer tempo e grau de jurisdição,
assumindo o terceiro o processo no estado em que se encontra.
O interesse jurídico fica caracterizado quando a relação jurídica, da qual o terceiro é o titular,
pode ser modificada por decisão proferida em processo do qual ele não faz parte. É isso que
caracteriza o interesse jurídico.
Então cuidado, porque no âmbito do processo civil o interesse jurídico só fica caracterizado se
a relação jurídica do terceiro pode ser modificada, alterada, atingida por força dessa decisão
proferida em processo do qual ele não faz parte. Porque, no Direito Civil, para os civilistas,
tudo é interesse jurídico, qualquer interesse que tenha é jurídico57.
57
Digamos que um terceiro é credor do réu, e ele está assistindo o autor a cobrar uma dívida do réu, só
que, agora, foi proferida uma decisão do processo que penhorou o único bem que o réu possui, um
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201
Na assistência simples, a relação jurídica que está sendo discutida em juízo é do assistido, e
não do assistente, que poderá ter a sua esfera jurídica afetada a depender do resultado do
processo.
Assim, caberá assistência, por exemplo, no caso em que o locador move ação de despejo
contra o locatário, o que afetará o direito do sublocatário de se manter no imóvel. Há relação
jurídica entre o locatário e o sublocatário apta a ser prejudicada pela decisão na ação de
despejo, o que justifica a intervenção de terceiro.
Não caberá, entretanto, assistência quando o devedor de algum credor é cobrado em juízo por
outrem, já que, ainda que o patrimônio desse outrem venha a diminuir em eventual
sucumbência, o interesse apresentado será meramente econômico, não jurídico.
Sobre a assistência:
carro. O réu só possui esse bem para quitar suas dívidas. Ora, eu sou o credor do réu, mas, a partir do
momento em que é determinada a penhora do carro e ela seja realizada, mesmo que ela não tenha sido
realizada, mas só determinada, eu já vislumbro a possibilidade de ser prejudicado. Porque se o réu só
possui esse bem e o bem vai ser penhorado em favor do autor, por aquele princípio prior in tempore,
melior in iure, quem penhora em primeiro lugar recebe em primeiro lugar, isso significa que, quando eu
for cobrar a minha dívida, pode ser que o réu não tenha mais bem nenhum para quitá-la, já não tenha
mais qualquer bem suficiente para me pagar. Mas, perceba, eu sou credor do réu, a decisão de penhora
modifica alguma coisa na minha relação de credor? Não. Eu sou credor e continuo sendo credor, posso
ajuizar a ação que eu bem entender, ação de cobrança, ação de execução de título extrajudicial, tudo o
que eu posso fazer até agora continuo podendo fazer. A minha relação jurídica não é alterada. O que é
alterada é a situação econômica do réu. Logo, nesse caso não caberia assistência.
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202
[...]
(STJ, AgRg na RCDESP no REsp 735.314/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 02/03/2010)
Isso significa que o assistente se limita a utilizar dos meios processuais postos à disposição do
assistido, assumindo a responsabilidade pelo pagamento das custas na proporção da
atividade que tiver exercido (art. 32, CPC).
O assistente simples atua no processo como legitimado extraordinário, pois em nome próprio
auxilia a defesa de direito alheio. Trata-se de legitimação extraordinária subordinada.
Por ser subordinada, o assistente fica sujeito aos atos de disposição do assistido, pois é deste o
objeto da relação jurídica discutida. Ele pode fazer tudo o que o assistido poderia. Ele pode
juntar documentos, pode pedir perícia, pode indagar as testemunhas etc., desde que a
vontade dele não entre em confronto com a vontade do assistido. Em outras palavras, não
pode existir antagonismo de vontades.
Se o assistente praticar algum ato em função da omissão do assistido, sua eficácia ficará
condicionada à ausência de uma manifestação posterior contrária expressa da parte deste.
Assim, v.g., se o assistente recorrer, caso o assistido se manifeste em sentido contrário, o
recurso não deverá ser julgado pelo tribunal.
Sendo revel o assistido, será considerado o assistente seu gestor de negócios: a revelia do
assistido não produz efeitos ante a atuação do assistente. A gestão restringe-se ao campo
processual, somente podendo o assistente praticar atos benéficos ao assistido em nível
processual, nunca atos que lhe tragam prejuízos, como v.g., reconhecer a procedência do
pedido. Também não poderá ele celebrar acordo com a parte contrária, ainda que
manifestamente benéfico ao assistido revel, já que não pode dispor sobre a esfera jurídica
alheia.
Não cometa burrice: o assistente não pode evitar a revelia do réu; o que ele faz é obstar a
consumação do principal efeito da revelia, qual seja, presunção de veracidade dos fatos.
Mais abrangente porque, de acordo com o art. 55 do CPC, o assistente não poderá discutir a
justiça da decisão do processo em que intervir. Logo, ele não poderá, futuramente, se tiver
demanda contra o assistido, discutir novamente o que foi colocado no dispositivo e na
fundamentação da sentença/acórdão (na coisa julgada, somente não se pode discutir o
conteúdo do dispositivo).
Mais restrita porque a justiça da decisão (fundamentação e dispositivo) poderá ser afastada,
diferentemente do que ocorre na coisa julgada, se o assistente provar que:
- Assim, embora não possa mais discutir a justiça da decisão que proíbe sua
licenciada de utilizar marca, o assistente simples pode, em novo processo,
ajuizado contra o oponente da parte outrora assistida, pleitear a abstenção
de uso de expressão que integra sua denominação social. O objeto deste
novo processo é diverso daquele em que se deu sua assistência.
Mantém o terceiro relação jurídica com a parte adversária daquela a quem pretende ajudar,
diferentemente da assistência simples, em que essa relação não existe.
Por que, então, a parte estaria litigando se não estava o assistente, titular do direito material,
compondo o processo? Pois ou ele estava agindo como legitimado extraordinário ou pois era a
parte cotitular do direito.
Desse modo, vê-se que se for caso de litisconsórcio processual necessário, será a assistência
litisconcorcial totalmente incompatível com o processo. Por quê? Pois o litisconsorte deveria
integrar a relação jurídica desde o início do processo, como parte originária. Houve formação
irregular do processo, sendo todos os atos praticados sem a presença da parte cujo direito
estava sendo discutido nulos. A citação tinha que ter se dirigido a todos.
Na verdade, correta a doutrina que defende que o assistente é verdadeiro litisconsorte, já que,
ainda que não haja modificação objetiva na demanda, por ser ele titular do direito material, o
acolhimento ou rejeição dos pedidos o atingirá da mesma forma que o atingiria se o sujeito
tivesse feito pedido diretamente contra ele.
Logo, como o assistente litisconsorcial é reputado autor ou réu a partir do momento em que
ingressa no processo, tem-se verdadeira hipótese de litisconsórcio facultativo ulterior.
5.6.4. Procedimento
O terceiro deverá fazer petição devidamente fundamentada a qualquer tempo, a qual deverá
ser protocolada no processo. Caso não haja impugnação no prazo de 05 dias, o pedido de
assistência será deferido (evidentemente que o juiz pode indeferir o pedido liminarmente).
Porém, ainda que as partes não impugnem, não necessariamente o pedido será acatado, já
que não ocorre preclusão para o juiz.
1. O art. 6º, § 5º, da Lei n. 4.717/65 estabelece que: "É facultado a qualquer
cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor da ação
popular".
5.7.1. Conceito
Trata-se de demanda por meio da qual terceiro deduz em juízo pretensão incompatível com os
interesses conflitantes de autor e réu de um processo cognitivo pendente. Visa o terceiro
(opoente) excluir o direito de autor e réu (opostos).
Cabe a oposição quando terceiro pretende a coisa/direito que está sendo disputada por duas
ou mais pessoas. Logo, o terceiro agrega um novo pedido ao processo, devendo a sentença
examinar as pretensões do autor originário e do terceiro/opoente.
Por isso que se diz que a oposição torna o processo objetiva e subjetivamente mais complexo.
Impossível a pretensão após a prolação de sentença, por meio de recurso, pois haveria
supressão de instância. Somente pode essa medida interventiva ser implementada no
processo de conhecimento e antes da sentença.
Fala-se, pois, que a oposição tem natureza bifronte, de forma que, extinta a ação originária por
qualquer razão, não há motivo para a extinção da oposição.
Também há outro ponto em comum: as duas permitem a citação no advogado das partes58,
citação que deverá ser feita tanto ao autor quanto ao réu da outra demanda, já que ambos
atuarão semelhantemente a litisconsortes passivos na oposição.
Entretanto, se na causa originária o réu for revel, a sua citação para a oposição será feita
normalmente, ou seja, será pessoal (art. 57, p. único).
58
O legislador entendeu que o advogado do autor e do réu já possuem pleno conhecimento da causa,
que eles não precisam ter a citação realizada na pessoa das partes, os seus advogados podem ser
citados, e eles terão plena condição de apresentar defesa ao pedido formulado pelo opoente. Foi uma
maneira do legislador dar celeridade ao processo.
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208
Importante destacar que na oposição autônoma poderá não haver o julgamento numa
mesma sentença da oposição e da ação principal. Assim perfeitamente possível que o autor
na ação principal perca para o opoente o direito que a ele foi reconhecido na sentença
primeva.
Se o terceiro não ingressar até o momento da sentença, ele pode se utilizar de recurso de
terceiro prejudicado? Não, porque o terceiro possui um direito que independe do que ficar
decidido entre autor e réu. O direito do terceiro é independente, ele vai apresentar o seu
pedido em face dos dois ou em face de ambos, mas é um pedido que independe do que ficou
decidido entre autor e réu.
Se fosse possível ao opoente apresentar o recurso de terceiro prejudicado, o pedido dele iria
pular um grau de jurisdição, sendo apresentado diretamente no segundo grau, pulando o
primeiro, e isso, ele não pode fazer.
5.7.3. Procedimento
Deve o opoente apresentar petição inicial, preenchendo todos os pressupostos dos arts. 282 e
283 do CPC. O litisconsórcio que se forma na oposição é:
b) Passivo:
d) Simples: porque o juiz não está obrigado a decidir da mesma forma para ambos os
litisconsortes. Ademais, pode um opoente reconhecer a procedência do pedido e o
outro não, o que demonstra a não obrigatoriedade de decisões iguais para todos os
opostos.
Os opostos serão citados na pessoa de seus advogados, sendo desnecessário poder especial
para tanto por ser o mesmo conferido pela lei. A citação deverá ser feita por AR, oficial, edital
ou meio eletrônico, conforme pedir o opoente, salvo, como visto, se o réu da demanda
originária era revel, hipótese em que deverá ser citado pessoalmente.
O mesmo recurso será cabível contra a decisão que julga a oposição autônoma.
Pode acontecer, por exemplo, da segunda oposição ser apresentada sem que o opoente saiba
da primeira oposição, e com isso, vai colocar no polo passivo só o autor e o réu, faltando o
primeiro opoente. Nesse caso, essa hipótese do primeiro opoente e o segundo opoente
apresentarem oposições sem apresentarem esclarecimentos de um e de outro é o que se
chama de oposição convergente.
O juiz deverá intimar, nesse caso, o segundo opoente para que inclua no polo passivo o
primeiro.
b) Retirar do sujeito dependente o ônus de conduzir um processo que não lhe diz
respeito.
Ocorre uma espécie de sucessão processual mediante extromissão de parte, que não se
confunde com a sucessão processual tradicional, já que o sujeito passivo nunca deveria ter
figurado na relação jurídica.
Não haverá ampliação subjetiva do processo, motivo pelo qual não é uma autêntica
modalidade de intervenção de terceiros.
No entanto, essa hipótese é juridicamente questionada. Isso porque o art. 942, p. único, do
CC/02 determina que todo aquele que concorreu para o dano, praticando ato ilícito, é por ele
responsável.
Assim, mesmo que o mandatário tenha praticado o ato em nome do mandante, deverá
também arcar com a responsabilidade. Logo, não seria caso de nomeação à autoria, e sim de
chamamento ao processo (entendimento do Didier, Câmara etc.).
5.8.1.3. Procedimento
A nomeação à autoria É CONSIDERADA UM DEVER DO RÉU, porque, não o fazendo ou
nomeando um terceiro diverso daquela pessoa que deveria ter sido nomeada responderá por
perdas e danos59 (art. 69, CPC). E por que as perdas e danos? Pois o réu que deveria nomear
59
Quem é que pode cobrar essas perdas e danos? Quem é que pode vir a ser prejudicado pela falta de
nomeação à autoria? Por estranho que possa parecer – não é o autor! É o nomeado. O autor ajuizou a
demanda de maneira incorreta – azar o dele! Deveria ter ajuizado de maneira adequada; então quem
pode cobrar as perdas e danos, aquele a quem as perdas e danos dizem respeito é o nomeado. Poderia
participar do processo para se defender e não foi nomeado adequadamente, não tem o que fazer.
Porém, na prática, como a lei não diz quem é o nomeado, o autor vai tentar cobrar também. A doutrina
majoritária defende que essa cobrança tem que ser cobrada em ação autônoma. Por quê? Pra evitar
complicação no andamento da causa principal.
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213
fará o autor perder tempo e recursos, além de gerar uma sentença absolutamente ineficaz e
inexigível contra quem deveria ser nomeado, já que não participou do processo.
A nomeação à autoria deverá ser feita no prazo de resposta (art. 64), SUSPENDENDO-SE
O PROCEDIMENTO PRINCIPAL DESDE QUANDO PROTOCOLADA.
Sugere-se que o réu não apresente contestação concomitante à nomeação pois, frustrando-se
a nomeação, O PRAZO DE RESPOSTA SERÁ A ELE DEVOLVIDO NA ÍNTEGRA . Nesse
sentido:
Deferido o pedido, o juiz intimará o autor para se manifestar sobre o pedido de nomeação no
prazo de 05 dias, sendo o seu silêncio entendido como aceitação tácita.
Aceitando o autor, será citado o terceiro, que poderá aceitar, se calar ou recusar. Aceitando
expressamente a nomeação, ocorre a extromissão de parte, devendo o terceiro, agora réu, ser
intimado para apresentação de resposta, o mesmo ocorrendo se ele se calar, hipótese em que
haverá aceitação tácita.
Aceita a nomeação pelo nomeado, nada impede que o nomeante remanesça nos autos como
assistente simples do nomeado, desde que haja interesse jurídico, claro.
Ela serve para que uma das partes traga ao processo um terceiro que tem responsabilidade de
ressarci-la pelos danos de eventual sucumbência na lide. O direito regressivo da parte contra
terceiros, portanto, é o fator principal que legitima a denunciação.
Porém, assim que determina a citação, o juiz já terá feito um exame prévio de legitimidade do
denunciado, motivo que justifica a coercibilidade da denunciação.
Isso porque a parte que deixar de denunciar poderá promover o direito de regresso
posteriormente, em ação autônoma. Lembrar que normas legais processuais não podem
criar, extinguir ou modificar direitos materiais.
O art. 456, caput, do CC/02 determina que o adquirente evicto promova a denunciação para
que possa exercer os direitos que da evicção resultam. Entretanto, até mesmo essa hipótese
é AFASTADA pelo STJ, já que a perda da possibilidade de propositura de demanda contra o
alienante geraria o ENRIQUECIMENTO ILÍCITO deste. Nesse sentido:
Assim, combatendo a lei, a doutrina diverge entre definir a situação dele como de assistente
simples, já que ele teria o interesse de ver o sucesso do denunciante na causa, ou de assistente
litisconsorcial.
Porém, até mesmo a posição de assistente simples é questionável, já que o denunciado estaria
limitado à vontade do denunciante. E isso não se mostraria juridicamente correto. Inclusive o
próprio STJ já rejeitou essa tese, ao afirmar que o acordo celebrado entre autor e réu
denunciante na ação principal não vincula o denunciado.
5.9.4.1. Denunciação da Lide Feita pelo Comprador Evicto (art. 70, I, CPC e art. 456, CC/02)
Deve o adquirente denunciar à lide o alienante sempre que terceiro demandar a coisa
adquirida, exercendo o direito de regresso contra a evicção.
A doutrina, como sempre, se dividiu sobre o dispositivo. Parte entendeu que deveria ser feita
uma denunciação coletiva para se denunciar os alienantes indiretos, parte entendeu que o
denunciado deveria denunciar o alienante.
5.9.4.2. Denunciação da Lide Feita pelo Possuidor Direto (art. 70, II, CPC)
II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de obrigação
ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do
locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da coisa
demandada;
O réu, quando exerce a posse direta da coisa demandada, deverá realizar a denunciação da
lide do possuidor indireto ou do proprietário, em casos como o do usufrutuário, do credor
pignoratício, do locatário.
Vamos supor a hipótese de ação de reintegração de posse, que A promove contra B, sob o
argumento de estar B lavrando terras de propriedade do demandante, e, pois, usurpando-lhe
a posse. O réu B, embora arrendatário da gleba, e, portanto, seu possuidor direto, é citado "em
nome próprio" (art. 70, 11), isto é, como se fora possuidor pleno. Em tais circunstâncias, B
deverá denunciar a lide ao seu arrendante C, possuidor indireto. Pela denunciação da lide, dois
objetivos são, neste caso, alcançados: 1º) dar-se-á ao arrendante a oportunidade de defender
sua posse indireta, em litisconsórcio com B (como adiante veremos); 2º) o possuidor direto B
demandará, mediante a ação regressiva contra o arrendante C, a indenização que lhe será
devida na hipótese de, se julgada procedente a ação principal, tornar-se impossível prosseguir
cumprindo o contrato de arrendamento.
A denunciação da lide, neste caso, como observam vários autores, reveste-se até certo ponto
de alguns aspectos da nomeação à autoria". Embora o arrendatário seja parte legítima como
réu na ação reintegratória de posse (pois não é ele um simples detentor da coisa), não menos
certo que ao arrendante assiste idêntico ou maior interesse jurídico em contestar a demanda
reintegratória, sendo, pois, igualmente parte legítima passiva na ação principal. Não se opera,
assim, a substituição do réu parte ilegítima. por um réu parte legítima, como na nomeação à
autoria, mas sim forma-se, no pólo passivo da ação principal, um litisconsórcio entre possuidor
direto e possuidor indireto.
5.9.4.3. Denunciação do Obrigado, por Lei ou Contrato, a Indenizar Regressivamente (art. 70,
III)
Trata-se da hipótese mais frequente de denunciação em razão de sua amplitude. Ela gera
cansativos debates doutrinários, com duas principais correntes.
Vale lembrar, desde logo, que o direito de regresso decorrente da fiança, da cofiança e das
obrigações solidárias não pode ser exercitado mediante denunciação da lide, já que o CPC
determinou o seu exercício pelo chamamento ao processo. Isso se dá porque, nesses casos,
tais pessoas não são garantes do réu, mas verdadeiros coobrigados perante o autor.
Concepção restritiva
Entende que somente seria possível a denunciação para a pretensão regressiva quando tiver
havido transferência de direito pessoal. Para essa corrente, o denunciado estaria
automaticamente obrigado a garantir o resultado da demanda ao perder o denunciante a
demanda originária, não podendo ele introduzir fundamento jurídico novo e causar acréscimo
da atividade instrutória, como discutir o próprio direito de regresso.
Concepção ampliativa
Por essa corrente, nosso direito não preveria a diferença entre a garantia própria e a
imprópria, de forma que não será legítimo o intérprete criar diferença não prevista em lei para
limitar a abrangência do direito de denunciar o responsável regressivo.
O direito regressivo surgiria toda vez que a pessoa busca de outrem aquilo de que se desfalcou
ou foi desfalcada a fim de se restabelecer sua posição anterior, com a satisfação do pagamento
ou indenização devida.
5.9.5. Procedimento
O chamamento ao processo, de acordo com a corrente mais correta, possui natureza jurídica
de incidente processual (Athos Gusmão Carneiro, Câmara, Didier). De acordo com outra
corrente, defendida por Dinamarco, Nelson Nery, chamamento ao processo tem natureza
jurídica de ação regressiva. Essa corrente minoritária assim entende porque não admite que o
réu possa ampliar o polo passivo forçando o autor a demandar contra quem ele não queria.
Entretanto, com o chamamento, o réu retirará esse benefício do credor, na medida em que
incluirá no processo devedor de quem o autor não havia cobrado. Isso evidentemente pode
gerar uma série de inconvenientes, em decorrência dos prazos diferenciados, da possibilidade
de uma série de recursos pelos vários corréus etc60.
Não se trata do exercício de ação regressiva do chamante contra o chamado, já que este
deverá ao próprio autor. Não se trata também de uma obrigação do réu, ele promove o
incidente se quiser.
60
Por que o Código de Processo Civil permite que esse coobrigado chame os demais coobrigados para
participarem como litisconsortes? Porque, de acordo com o CPC, quem deles cumprir a obrigação
perante o autor pode cobrar dos demais a respectiva cota parte. Então a ideia do chamamento ao
processo é vincular todos os coobrigados à coisa julgada, para que quando aquele que efetuou o
pagamento, que cumpriu a obrigação, quiser exigir dos demais a cota parte, todos eles estejam
vinculados à coisa julgada e não possam mais alegar nenhuma matéria de defesa desconhecida do
processo principal. Essa é a ideia do chamamento ao processo: é trazer todos ao processo para que
fiquem vinculados à coisa julgada, e ficando vinculados à coisa julgada, quando lhes for exigida a cota
parte, eles não vão poder alegar nenhuma matéria defensiva diferente daquelas que já teriam
apresentado no processo principal.
61
Há correntes que defendem que o litisconsórcio será sempre unitário; outras, que será sempre
simples.
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223
5.10.2. Procedimento
Segue o mesmo procedimento da denunciação da lide. Julgando o juiz procedentes os pedidos,
deverá condenar o réu e todos os chamados ao ônus da sucumbência.
A doutrina entende que o CDC chamou esse instituto de chamamento ao processo a fim de
criar uma responsabilidade solidária entre o réu e a seguradora, beneficiando o consumidor e
criando para ele mais garantia do ressarcimento.
Presume-se que a ação de conhecimento que será proposta após a cautelar seja novamente
entre o autor e o coobrigado “A”. Só que ele pensou no seguinte: quando essa prova for levada
ao processo de conhecimento para produzir os seus efeitos, no polo passivo vai figurar o “A”
mas pode acontecer que seja uma hipótese de obrigação solidária, que tenham outros
coobrigados, outros codevedores. E o coobrigado “A” pode chamar ao processo o coobrigado
“B” e o coobrigado “C” e o coobrigado B e C; caso não tenham participado da cautelar de
produção antecipada de provas, não estão vinculados àquela prova . Então pode ser que o B e
o C ataquem aquela prova produzida na cautelar: eles podem querer formular alegações,
podem querer formular perícia, podem alegar que a prova não produz efeitos em relação a
eles porque eles não tiveram direito ao contraditório e à ampla defesa.
No momento em que ela foi produzida, o B e o C não participaram; quando chega o momento
dela produzir efeitos, B e C pelo fato de não terem participado da cautelar vão atacá-la. Se ela
não puder ser repetida, ela não vai produzir efeito nenhum: nem em relação ao B, nem em
relação ao C, nem em relação ao A porque como eles não tiveram direito ao contraditório e
ampla defesa eles não podem ser prejudicados pelos efeitos de uma prova em face da qual
eles não tiveram o direito de se manifestar. Para evitar isso o Arruda Alvim bolou a seguinte
hipótese:
Na cautelar de produção antecipada de provas, para evitar que os efeitos não se produzam no
futuro, deve ser viabilizado que o coobrigado A possa chamar ao processo o coobrigado B e C.
O recurso de terceiro prejudicado não pode ser confundido com assistência em segundo grau
de jurisdição, como erroneamente o fazem Humberto Theodoro Junior e Vicente Greco Filho.
O assistente em segundo grau de jurisdição auxilia o assistido a defender os interesses deste,
sendo que o assistente se beneficiará de maneira reflexa; então a assistência no segundo grau
ela parte da premissa que o beneficiado pelo auxilio é o assistido.
É por isso que a hipótese é de recurso, existe uma decisão em sentido amplo, pode ser uma
decisão interlocutória, pode ser sentença, pode ser acórdão, pode ser qualquer coisa, existe
62
Mentira, encontra sim: Art. 499. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro
prejudicado e pelo Ministério Público.
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uma decisão contrária aos interesses do terceiro. Quando se fala em terceiro prejudicado,
como é que vai se saber se ele é ou não prejudicado? Ele é prejudicado porque ele é titular de
um interesse jurídico, esse interesse jurídico pode ser direto ou indireto, o interesse jurídico
dele é direto quando ele terceiro é cotitular da relação jurídica de direito material discutida em
juízo63.
Do processo principal ele não participa, ele não é nem autor nem réu, mas a relação jurídica
que está sendo discutida naquele processo também é dele; qualquer decisão que seja
proferida naquele processo irá atingi-lo diretamente.
Não foi pois é terceiro, se ele tivesse tido alguma participação anterior no processo ele não
seria mais terceiro ele seria parte. O interesse jurídico dele é indireto ele será atingido de
maneira reflexa; a relação jurídica de direito material discutida em juízo não é dele, porém
alguma decisão ali proferida vai atingi-lo de maneira reflexa, de maneira indireta.
Então o terceiro prejudicado não é qualquer terceiro, é alguém que poderia ter sido
assistente simples ou litisconsorcial ou litisconsorte de algum das partes mais não foi. E
sendo atingido no teor da decisão daquele processo do qual ele não faz parte ele pode
recorrer dessa decisão. Mas que tipo de recurso ele pode se utilizar? Qual é o recurso de
terceiro prejudicado que pode se utilizar? QUALQUER RECURSO, EXCETO NA FORMA
RETIDA, visto que ele teria que reiterar o pedido de reexame na apelação, no recurso especial
retido e no recurso extraordinário retido.
63
Pelo princípio da asserção, o simples fato de ele apresentar o recurso já é suficiente para o juiz fazer
uma análise de seu interesse. Se pelos fatos narrados, ainda que depois não se confirmem, o juiz
verifique a plausibilidade do interesse, deve receber o recurso.
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227
oposição, ele precisa se valer de uma ação autônoma, que só muda o nome, no momento
que o terceiro se utiliza desse recurso.
IMPORTANTE: seja qual for o recurso, ao utilizá-lo, ele adquire a qualidade de parte, ou ele
vai ser tratado como assistente ou será tratado como litisconsorte, ele adquire a qualidade
de parte e 99% das vezes passa a ser assistente.
Como é que a coisa julgada vai atingi-lo? Uma vez tendo recorrido, ele passa a ser considerado
parte, se for litisconsorte parte principal, se for assistente parte secundária, assessória, mas
passa a ser parte. SE ELE FOR TRATADO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL OU
LITISCONSORTE A COISA JULGADA VAI ATINGI-LO; SE ELE FOR TRATADO COMO
ASSISTENTE SIMPLES ELE É ATINGIDO PELA JUSTIÇA DA DECISÃO.
Ele pode interpor recurso de terceiro prejudicado, nos próprios autos da ação entre autor e
réu, até mesmo no STF; importa é que seja um recurso; se for qualquer outro tipo de
manifestação não recursal, será caso de assistência.
4. O fato de o contrato firmado com a CEF não ter sido transcrito no registro
de imóveis não lhe retira a validade, vez que tal alegação só poderia ser
oposta por terceiro que não tenha participado da avença firmada, e nunca
pelas partes contratantes.
ASSISTÊNCIA
Conceito: Modalidade de intervenção de terceiro pela qual ele ingressa em processo alheio para auxiliar uma das partes em
litígio. Pode ocorrer em qualquer tempo e grau de jurisdição, assumindo o terceiro o processo no estado em que se encontra. O
pressuposto da assistência é que haja INTERESSE JURÍDICO do terceiro na solução do processo, que se caracteriza quando a
relação jurídica, da qual o terceiro é o titular, pode ser modificada por decisão proferida em processo do qual ele não faz parte.
Assistência Simples ou Adesiva: terceiro ingressa no feito afirmando-se titular de relação jurídica conexa àquela que está sendo
discutida. A relação jurídica que está sendo discutida em juízo é do assistido, e não do assistente, o qual terá sua relação jurídica
reflexamente afetada. Assistente NÃO TERÁ QUALQUER VÍNCULO JURÍDICO COM O ADVERSÁRIO DO ASSISTIDO, intervindo
para ser parte auxiliar parcial subordinada à vontade do assistido.
Assistência Qualificada ou Litisconsorcial: terceiro é titular, ou afirma ser, da relação jurídica de direito material discutida no
processo. Somente é possível nos casos de litisconsórcio facultativo, porque somente nesse caso o titular do direito poderá ser
excluído da demanda por vontade das partes. Não é caso de assistência o litisconsórcio necessário. A assistência litisconsorcial é
intervenção de terceiros voluntária; o litisconsórcio necessário é condição de legítimo exercício do direito da ação, já que se
remete à legitimidade. Ele sofrerá normalmente os efeitos da coisa julgada, já que é parte cotitular do direito discutido.
Procedimento: terceiro deverá fazer petição devidamente fundamentada a qualquer tempo, a qual deverá ser protocolada no
processo. Caso não haja impugnação no prazo de 05 dias, o pedido de assistência será deferido, caso o próprio juiz não indefira
por seu motivos fundamentados. Havendo impugnação, o pedido será desentranhado dos autos principais e autuado em
apenso. A instauração desse incidente NÃO SUSPENDERÁ O ANDAMENTO DO PROCEDIMENTO PRINCIPAL. Se indeferido o
pedido, com ou sem a criação do incidente, caberá agravo de instrumento. O mesmo recurso é cabível no caso de deferimento
do pedido, somente tendo legitimidade recursal as partes que não concordarem com a intervenção do terceiro.
Observações gerais: ingresso do assistente evita efeitos processuais da revelia. Será considerado o assistente gestor de negócios
do assistido. Assistente só poderá rediscutir a justiça da decisão se provar que fora impedido de produzir provas suscetíveis de
influir na sentença ou que desconhecia a existência de alegações ou de provas de que o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu.
OPOSIÇÃO
Conceito: demanda por meio da qual terceiro deduz em juízo pretensão incompatível com os interesses conflitantes de autor e
réu de um processo cognitivo pendente. Visa o opoente excluir o direito dos opostos. O terceiro agrega um novo pedido ao
processo, devendo a sentença examinar as pretensões do autor originário e do terceiro/opoente. Natureza bifronte, extinta a
ação originária por qualquer razão, prossegue a oposição.
Oposição interventiva: ajuizada antes da AIJ; procedimento conjunto ao da ação originária, julgada na mesma sentença, em
capítulo anterior; se julgada procedente a oposição, a ação principal perde o objeto, porque, sendo o direito ou coisa do
opoente, não há sentido em se continuar julgando a causa.
Oposição autônoma: processo incidente ajuizado após o início da AIJ e antes da sentença. Juiz pode sobrestar pelo prazo máximo
de 90 dias a ação principal a fim de obter identidade procedimental e harmonizar os julgados. Poderá não haver o julgamento
numa mesma sentença da oposição e da ação principal. Assim perfeitamente possível que o autor na ação principal perca para o
opoente o direito que a ele foi reconhecido na sentença primeva. Terceiro que não ingressar até o momento da sentença não
pode se utilizar de recurso de terceiro prejudicado, já que possui um direito que independe do que ficar decidido entre autor e
réu.
Procedimento: inicial com todos os pressupostos dos arts. 282 e 283 do CPC. A citação deverá ser feita por AR, oficial, edital ou
meio eletrônico, conforme pedir o opoente na pessoa do advogado, salvo, como visto, se o réu da demanda originária era revel,
hipótese em que deverá ser citado pessoalmente. O prazo de contestação será de 15 dias, prazo este comum, NÃO SE
APLICANDO CONTAGEM EM DOBRO. Entretanto, isso somente para a resposta. O prazo das demais manifestações no processo
será em dobro, nos termos do art. 191. Se a oposição e a ação originária forem julgadas mediante sentença comum, o recurso
cabível será apelação, se o processo correr perante juízo de primeiro grau. O mesmo recurso será cabível contra a decisão que
julga a oposição autônoma.
Observações gerais: será de competência funcional do juiz da causa originária, devendo ser distribuída (e não protocolada) por
dependência; será autuada em apenso aos autos principais. Citação será feita na pessoa do advogado das partes, que não
precisa de poder específico. Se na causa originária o réu for revel, a sua citação para a oposição será feita normalmente, ou seja,
será pessoal. Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente. Impossível
oposição perante o segundo grau de jurisdição, pois seria supressão de instância. Cabível a oposição sucessiva.
NOMEAÇÃO À AUTORIA
Conceito: convocação coativa do sujeito oculto das relações de dependência, corrigindo-se o polo passivo da relação jurídica
processual. Ela tem dois objetivos: indicar ao autor o real titular da situação legitimamente passiva;retirar do sujeito dependente
o ônus de conduzir um processo que não lhe diz respeito. Não é uma autêntica intervenção de terceiros pois não há ampliação
subjetiva do processo.
Cabimento: duas hipóteses taxativas: nomeação à autoria pelo mero detentor; nomeação à autoria pelo mandatário em
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DENUNCIAÇÃO DA LIDE
Conceito: espécie de intervenção de terceiros provocada, demanda nova em processo já existente; natureza jurídica de ação
regressiva condenatória incidental. serve para que uma das partes traga ao processo um terceiro que tem responsabilidade de
ressarci-la pelos danos de eventual sucumbência na lide. Denunciação é coercitiva, não existe a possibilidade do denunciado
negar sua qualidade de parte, restando vinculado ao processo desde sua regular citação. Assim que determina a citação, o juiz
já terá feito um exame prévio de legitimidade do denunciado, motivo que justifica a coercibilidade da denunciação.
Situação do denunciado: correntes: assistente, litisconsorte. Esta prevalece.
Hipóteses: denunciação da lide feita pelo comprador evicto (admite-se a denunciação per saltum); denunciação da lide feita pelo
possuidor direto; denunciação do obrigado, por lei ou contrato, a indenizar regressivamente
Procedimento: denunciação feita pelo autor: deve o autor requerer a denunciação na própria petição inicial, pedindo a citação
do denunciado e do réu. O PEDIDO DE DENUNCIAÇÃO SUSPENDE O ANDAMENTO DO PROCESSO, devendo primeiro ser citado o
denunciado no prazo de 10 dias quando domiciliado no mesmo foro em que tramita a demanda, ou no prazo de 30 dias, em foro
diferente. Realizada a denunciação, o denunciado somente não assumirá a posição de litisconsorte se negar-se a participar. Caso
aceite ou fique omisso, assumirá a posição de litisconsorte do denunciante, podendo aditar a petição inicial, sendo
posteriormente citado o réu. Denunciação feita pelo réu: promovida no prazo de resposta. Pode ser ela procedida como um
tópico da contestação. A DENUNCIAÇÃO É COERCITIVA, POIS NÃO EXISTE A POSSIBILIDADE DO DENUNCIADO NEGAR SUA
QUALIDADE DE PARTE, RESTANDO VINCULADO AO PROCESSO DESDE SUA REGULAR CITAÇÃO. Se o denunciado aceitar, será
considerado litisconsorte do réu. Se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor, poderá o denunciante prosseguir na
sua defesa, sem qualquer prejuízo, porquanto a confissão de um litisconsorte não pode prejudicar o outro (litisconsórcio
simples). A sentença que julgar procedente o pedido declarará o direito do evicto ou a responsabilidade por perdas e danos,
servindo como título executivo. Na verdade, ela deverá condenar o denunciado nos termos do pedido do denunciante.
Nagibe de Melo aconselha abrir um tópico na fundamentação e no dispositivo para se remeter à denunciação da lide; esse tópico
deverá vir após o julgamento da lide principal. Se houver questionamento da própria denunciação ainda não enfrentado, abrir
preliminar para acatar ou não o incidente. Porém, em caso de denunciação de seguradora, tendo em vista o posicionamento do
STJ de possibilidade de condenação direta, creio ser desnecessário um tópico apartado.
Observações: art. 70 do CPC prevê que a denunciação é obrigatória. Porém, não obriga em nada e não causa nenhum prejuízo
deixar de denunciar, fora a perda de celeridade na demanda regressiva. Art. 456, caput, do CC/02 determina que o adquirente
evicto promova a denunciação para que possa exercer os direitos que da evicção resultam. Entretanto, até mesmo essa
hipótese é AFASTADA pelo STJ, já que a perda da possibilidade de propositura de demanda contra o alienante geraria o
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. Adotada a concepção ampliativa, pela qual pode-se introduzir fundamento novo na discussão do
cabimento da denunciação, não importando se a garantia é própria ou imprópria.
CHAMAMENTO AO PROCESSO
Conceito: espécie coercitiva de intervenção de terceiros pela qual o terceiro será integrado à relação jurídica processual em
virtude de pedido do réu e independentemente da sua concordância. A citação válida já é suficiente para o chamado ao processo
ser a ele integrado, suportando os efeitos da sentença, especialmente a coisa julgada material. Natureza jurídica de incidente
processual
Hipóteses: fiador, em relação ao afiançado (não tendo o afiançado direito de chamar o fiador ao processo); fiador, em relação
aos demais fiadores; devedor, em relação aos demais devedores solidários (somente em obrigações de pagar quantia certa).
Procedimento: mesmo procedimento da denunciação da lide. Julgando o juiz procedentes os pedidos, deverá condenar o réu e
todos os chamados ao ônus da sucumbência. A sentença de procedência, com a condenação de todos os obrigados que
compõem o polo passivo da demanda, VALERÁ COMO TÍTULO EXECUTIVO EM FAVOR DO COOBRIGADO QUE SATISFIZER A
OBRIGAÇÃO, podendo cobrar dos demais obrigados o valor pago ou a cota parte que couber a cada um dos coobrigados.
Observações: CDC expressamente permite, no art. 101, II, o chamamento ao processo da seguradora quando o réu tiver com ela
um contrato de seguro de responsabilidade. É um chamamento ao processo impróprio, já que a seguradora não é titular do
direito discutido na demanda originária, tampouco obrigada solidariamente perante o consumidor-autor. A doutrina entende
que o CDC chamou esse instituto de chamamento ao processo a fim de criar uma responsabilidade solidária entre o réu e a
seguradora, beneficiando o consumidor e criando para ele mais garantia do ressarcimento. Chamamento em cautelares:
somente se admite em cautelares de produção antecipada de provas.
RECURSO DE TERCEIRO PREJUDICADO
Previsão no art. 499 do CPC. O 3º ingressa na relação demonstrando o interesse jurídico em defender um direito atingido por
uma decisão judicial. Cabível qualquer recurso, menos na forma retida. Seja qual for o recurso, ao utilizá-lo, o 3º adquire a
qualidade de parte, ou ele vai ser tratado como assistente ou será tratado como litisconsorte. O prazo para interposição de
recurso de terceiro prejudicado começa a correr a partir do momento em que tal prazo se inicia para as partes.
2. TRF1 – XII – QUESTÃO 74. A citação dos opostos ocorrerá na pessoa de seus
advogados, que prescinde apresentar procuração com poderes especiais para
receber citação inicial, nos termos do art. 38 do CPC.
4. TRF4 – XIII – QUESTÃO 63. Se o nomeado admitir a qualidade que lhe é atribuída, o
processo seguirá contra este, EXTINGUINDO-SE SEM EXAME DE MÉRITO CONTRA O
NOMEANTE.
5. TRF4 – XIII – QUESTÃO 63. A nomeação de terceiros pode ser rejeitada pelo autor da
ação, hipótese em que o processo seguirá contra o réu original, sendo-lhe devolvido o
prazo para defesa.
6. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 47. A pessoa jurídica de direito público pode ingressar no
feito servindo-se de forma anômala de intervenção, que a autoriza a esclarecer
questões de fato e de direito e até recorrer, se for o caso.
7. EMAGIS – 2011/25 – QUESTÃO 11. A União pode intervir nas causas em que figurarem,
como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e
empresas públicas federais. Trata-se de forma anômala de intervenção de terceiros,
embasada apenas no interesse econômico, ainda que reflexo ou indireto, dispensando
a comprovação do interesse jurídico.
11. A alienação da coisa litigiosa não altera a legitimidade das partes e possibilita ao
adquirente intervir no processo, assistindo ao alienante. Porém, ele somente poderá
ingressar em juízo como parte se houver consentimento da parte contrária. Para ser
assistente, desnecessária essa autorização. Por fim, a sentença proferida entre as
partes originárias estende seus efeitos ao adquirente/cessionário (art. 42, CPC).
12. O fato de a parte ter mencionado, em sua petição, que estava deduzindo chamamento
ao processo em caso típico de denunciação da lide não inibe o juiz de determinar o
procedimento correto (princípio da instrumentalidade das formas).
14. A oposição é caso de litisconsórcio necessário simples. Sua citação deverá ocorrer na
pessoa dos advogados.
15. A oposição interventiva, aquela oferecida antes da audiência, será apensada aos autos
principais e correrá simultaneamente com a ação, sendo ambas julgadas na mesma
sentença.
17. A falta de denunciação da lide não impede o adquirente de ajuizar ação contra o
alienante para haver de volta o preço que pagou pela coisa.
18. A denunciação da lide implica uma espécie de ação regressiva secundum eventum litis.
19. Se a denunciação for feita pelo autor, o denunciado assumirá papel de litisconsorte,
podendo aditar a inicial.
23. O assistente litisconsorcial que ingressa posteriormente no processo será atingido pela
coisa julgada.
24. Na qualidade de assistente simples, este apenas não poderá evitar que a sentença
proferida produza efeitos em relação a si quando lhe for dada a oportunidade de
participar adequadamente no processo.
25. Após o trânsito em julgado, em regra, não poderá o assistente simples discutir
posteriormente a justiça da decisão.
26. O assistente somente poderá discutir a justiça da decisão após o trânsito em julgado
se, v.g., alegar e provar que desconhecia provas de que o assistido, por culpa, não se
valeu.
6. Litisconsórcio
6.1. Conceito
Litisconsórcio é a reunião de duas ou mais pessoas (e não duas ou mais partes) ou entes sem
personalidade jurídica, mas com capacidade processual, que assumem simultaneamente a
posição de autor ou réu. Caso possuam advogados distintos, seus prazos para contestar, para
recorrer e para falar nos autos, em geral, serão contados em dobro (art. 191, CPC).
Se forem dois advogados diferentes, mas que trabalham no mesmo escritório, aplica-se ou não
o art. 191? Aplica-se, mesmo sendo de um único escritório.
E se esses dois procuradores diferentes do mesmo escritório resolvem apresentar uma única
petição, eles defendem clientes diferentes, mas apresentam as suas manifestações em uma
única petição, aplica-se ou não o art. 191? Aplica-se. Ficando definido que cada um dos
advogados defende um dos litisconsortes, o fato de apresentar suas alegações em uma única
petição não afasta o prazo em dobro.
Esta regra não se aplica ao prazo recursal caso apenas um dos litisconsortes tenha sucumbido,
conforme a seguinte súmula:
Súmula 641, STF: “Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos
litisconsortes haja sucumbido”.
E se por exemplo acontece o seguinte: A e B são citados para contestar. De acordo com o art.
191, o prazo é contado em dobro para litisconsortes com diferentes procuradores para
contestar, recorrer e, de modo geral, para falar nos autos. Então, eles são citados para
contestar com prazo em dobro. Então, B constitui advogado e este, dentro do prazo de trinta
dias, apresenta, no vigésimo sétimo, a contestação. O A é citado, mas permanece revel, não
constitui advogado, permanece revel. Pergunto: contestação apresentada no vigésimo sétimo
dia é intempestiva porque ele deveria tê-la apresentado até o décimo quinto ou ela é
tempestiva porque o prazo era em dobro, mesmo o réu A sendo revel?
No STJ, você encontra acórdão num e noutro sentido, mas prepondera, é majoritário, o
entendimento de que o réu B não tinha como saber se o A iria contestar. Ele contratou
advogado presumindo que o A fosse apresentar sua contestação, então, se ele apresenta no
vigésimo sétimo dia e, em tese, o seu prazo seria em dobro, trinta dias, seria tempestiva. Só
que, a partir daqui, não se aplica mais o 191 porque não há mais um litisconsórcio com
diferentes procuradores, o que há agora é um réu revel e um réu apenas com patrono para
praticar atos no processo. Então, o STJ entende que, como o B não tinha como saber se ele
iria contestar ou não, conta-se em dobro o prazo para a contestação, só que, uma vez
encerrado o prazo para a contestação, todos os atos processuais são prazos simples, não há
mais litisconsórcio com diferentes procuradores.
Além disso, lembrar que a Fazenda Pública tem prazo em quádruplo para contestar e em
dobro para recorrer (art. 188). Se houver litisconsórcio entre Fazendas Públicas diversas ou
entre elas e o particular, haverá prazo em dobro (120 dias)? Negativo.
Nesse caso não se aplica a regra do art. 191, somente a do art. 188.
6.2. Classificação
c) Por conexão, caso se imponha a reunião das causas para processamento simultâneo.
O CPC cuida dessa possibilidade, mas, em primeiro lugar, quando é feita essa pergunta, o que
eles querem saber é até que momento alguém pode ingressar em processo alheio como
litisconsorte, eles estão perguntando do litisconsorte facultativo, a matéria está tratada no art.
264 do CPC é a chamada estabilização subjetiva da lide.
Até que momento é possível a modificação da parte autora e da parte ré no processo? Até o
momento da citação, de acordo com o art. 264 do CPC.
Isso significa que, para o CPC, com base no art. 264, alguém pode ingressar em processo alheio
como litisconsorte até a citação, mais precisamente, alguém que queira participar como
litisconsorte facultativo, até a citação, pode ingressar.
Digamos que eu sou funcionário da Justiça Federal, determinada lei admite que servidores da
Justiça Federal que trabalhem há mais de cinco anos recebam uma determinada gratificação.
Eu trabalho há mais de cinco anos, mas não recebi gratificação, vou ajuizar uma demanda
cobrando o pagamento dessa gratificação, comentando com os meus colegas de Vara, eles
também querem ajuizar a demanda. Eu vou me litisconsorciar com os meus colegas para
agilizar essa demanda, cada um de nós vai defender o seu próprio direito à gratificação.
Imaginemos que eu não quis esperar, ajuizei minha demanda contra a União, caiu na quarta
Vara Federal. Os meus colegas resolvem pedir o ingresso como litisconsorte nessa ação.
Pergunto para vocês, é possível admitir o ingresso deles como litisconsorte? De acordo com o
CPC, é perfeitamente possível, porque, enquanto não feita a citação, podem ingressar como
litisconsorte. Mas essa é apenas a primeira corrente de pensamento.
Estaria ocorrendo uma burla ao princípio do juiz natural, porque, na verdade, esse
litisconsorte facultativo estaria escolhendo o juízo por onde ele quer ver a sua demanda
tramitar. Então, para essa segunda corrente, não existe litisconsórcio facultativo ulterior.
Na lei não há essa previsão, na lei é possível, até a citação, você poderia, em tese, ter um
litisconsórcio ativo facultativo ulterior. Depois da citação, não poderá ingressar como
litisconsorte ativo, mas, caso ele possua algum interesse jurídico, seja o interesse jurídico
direto ou indireto, ele pode ingressar como assistente. Se ele é cotitular da relação jurídica de
direito material, ele vai ser um assistente litisconsorcial ou, também chamado, qualificado. Se
o interesse jurídico dele não é o mesmo, é o interesse jurídico conexo, subordinado, ele será
um mero assistente simples.
No litisconsórcio unitário, como o próprio nome dá a entender, existe apenas uma única
relação jurídica de direito material. Só que nessa única relação jurídica de direito material,
você tem vários indivíduos que estão a ela vinculados.
64
De acordo com a Lei do MS (Lei nº 12.016):
Art. 10 [...]
§ 2o O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o despacho da petição inicial.
Há quem aplique interpretação restritiva em relação ao dispositivo (porque pode representar a burla ao
juízo natural da CF), e outros aplicam este dispositivo.
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237
No litisconsórcio simples, está-se diante de uma situação litisconsorcial em que cada um dos
litisconsortes defende a sua própria relação jurídica de direito material. Em outras palavras,
existe um litisconsórcio, mas cada um dos litisconsortes possui a sua própria relação jurídica de
direito material sendo apresentada ao juiz. Não existe uma indivisibilidade de relação jurídica
de direito material, divididas entre os vários litisconsortes.
É caso, por exemplo, de servidores públicos A, B, C, D e E que resolvem exigir uma gratificação
que a lei concedeu para quem trabalha na União há mais de cinco anos. Eles ajuízam uma
demanda em conjunto para diminuir os gastos, mas cada direito será analisado em separado,
conforme forem sendo preenchidos os requisitos por cada um dos autores.
Ocorre pela própria natureza da relação jurídica discutida ou por imperativo legal65, quando
hão de ser citadas várias pessoas, como ocorre na usucapião. Uma sentença que repercutirá
na esfera alheia impõe, necessariamente, a formação do litisconsórcio, devendo o juiz
determinar o saneamento desse defeito (não citação) para evitar nulidade processual.
65
Por exemplo, oposição, ação possessória.
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239
Pode ser alegado em recurso especial ou recurso extraordinário? Voltamos à divergência, para
a corrente clássica, só poderia ser objeto de alegação se fosse anteriormente objeto de pré-
questionamento, mesmo sendo questão de ordem pública, há necessidade de pré-
questionamento para que seja possível sua alegação no especial ou extraordinário.
Digamos que ninguém alegou nada, transitou em julgado, fez coisa julgada material e formal, é
possível alegar esse vício depois do trânsito em julgado da sentença? É possível alegá-la em
ação rescisória? Perfeitamente possível. Você pode alegar esse vício em ação rescisória,
alegando violação a literal dispositivo de lei, art. 485, V do CPC. Que dispositivo? O art. 47.
[...]
Digamos que você perdeu o prazo da rescisória ou que você é daquela doutrina paulista que
acha que não pode rescindir o que não existe, você pode alegar esse vício depois do prazo da
rescisória de alguma maneira? Pode, através da querela nullitatis, também chamada de ação
declaratória de inexistência de relação jurídica, também chamada de ação declaratória de
nulidade, já que faltou a citação do litisconsorte necessário.
conjunto ou para que o autor pudesse demandar várias pessoas conjuntamente. Ele poderá
ser formado ou não, a critério dos litigantes. Está previsto nas hipóteses do art. 46 do CPC.
66
Quando se fala em comunhão de direitos e obrigações, é necessário visualizar, no caso concreto, se
essa obrigação é divisível ou indivisível. Se o direito ou a obrigação for divisível, então tudo bem, o
litisconsórcio é facultativo. Mas se a obrigação for indivisível, cuidado, pois pode ser caso de
litisconsórcio necessário.
67
Algumas Corregedorias-Gerais dos TRFs tem estabelecido a limitação por dez autores , v.g., o
Provimento nº 19/95 da Corregedoria Geral da Justiça Federal do TRF3
68
No TRF1, entretanto, há entendimento diferente (não concordo com a decisão):
SFH. CONTRATO DE MÚTUO. CÔNJUGES CONTRATANTES. LITISCONSÓRCIO ATIVO. ANULAÇÃO DA SENTENÇA.
1. Se o mútuo foi assinado pelo casal, não pode apenas um dos cônjuges patrocinar a ação revisional deste contrato, pois a
hipótese é de litisconsórcio ativo unitário. Necessário se torna oportunizar ao cônjuge não autor figurar no polo ativo da
demanda. Precedentes.
2. Apelação da CEF parcialmente provida para anular a sentença, a fim de que seja oportunizada ao cônjuge varão, também
signatário do contrato de mútuo questionado na presente ação, compor o polo ativo da demanda.
3. Apelação da parte autora prejudicada.
(TRF1, AC 0003186-67.1999.4.01.3600/MT, Rel. Desembargadora Federal Selene Maria De Almeida, Conv. Juiz Federal Alexandre
Jorge Fontes Laranjeira (em Substituição), Quinta Turma,e-DJF1 p.93 de 09/07/2010)
69
Mas há quem pense de forma diferente, como Nelson Nery: segundo ele, que tem um pensamento
bastante difundido, há litisconsórcio necessário ativo. Há situações que uma pessoa só pode ir a juízo se
outra for, mas se um não quiser o outro pode ir sozinho, propondo ação contra aquele que ele proporia
e contra o potencial litisconsorte que não quis demandar. No final da explicação ele menciona que não
tem muita relevância saber se é no polo ativo ou passivo, o que importa é que tem que estar os dois em
juízo. Juiz do Trabalho no RJ cobrou posição de Nelson Nery.
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241
De acordo com Didier, sempre que o litisconsórcio for unitário, será também necessário.
Daniel Assumpção discorda disso, afirmando ser plenamente possível o litisconsórcio
facultativo e unitário. Ele cita exemplo das hipóteses em que a lei permite a legitimidade
extraordinária concorrente, como ocorre nas ações civis públicas. Tem razão.
Porém, importante ter em mente que se o litisconsórcio for ativo, unitário e facultativo, a
decisão afetará o direito material também daquelas pessoas que deixaram de atuar no
processo. Não consigo pensar, entretanto, em qualquer hipótese de legitimação ordinária que
permita o litisconsórcio unitário e facultativo (mentira: o MP pode pedir alimentos para o ‘de
menor’ e perder. O ‘de menor’ ficará sujeito à coisa julgada, ainda que seja ele o legitimado
ordinário). Será sempre necessário.
Porém, nem sempre que ele for necessário será unitário, já que a lei pode determinar o
litisconsórcio somente para harmonizar os julgados, sem igualdade de conteúdo para os
litisconsortes.
[...]
“A” e “B” mantém uma relação jurídica de direito material com “C”. Há um contrato que
vincula “A” e “B” de um lado e “C” de outro. Um dia, “A” decide rescindir o contrato. “C” não
concorda com a rescisão. Assim, “A” vai ser o autor da demanda, enquanto “C” será o réu. E
“B”? Não se sabe ainda. Só se sabe que ele não quer propor a demanda judicial. Ressalte-se
que “B” tem que estar no processo porque o litisconsórcio é necessário.
b) Cássio Scarpinella Bueno (PUC/SP) entende que “B” entra no processo como um
sujeito atípico. Isso porque, por ora, quando a demanda começa, ele não é autor e
nem réu. Como sujeito atípico, ele será citado por meio de uma citação atípica (porque
só o réu é citado). Essa citação terá por função integrar o sujeito à relação jurídica de
direito processual. No entanto, quando da citação de “B”, ele pode optar por 3
caminhos distintos: a) assumir o polo ativo, será litisconsorte do autor; b) assumir o
polo passivo; c) ficar inerte, de modo a não suportar os ônus das verbas
sucumbenciais. Trata-se de uma invenção bobinha e inventiva, ao criar essa “citação
atípica”...
c) N.N.Jr. entende que o “A” será autor, “C” será réu e “B” também será réu, que será
citado, podendo continuar no polo passivo, assumindo a condição de réu, ou pode
passar para o polo ativo, assumindo a condição de autor. Isso já ocorre na Ação de
Improbidade Administrativa e Ação Popular.
d) Bedaque (magistratura-SP, examinador) entende que “A” será autor e “B” e “C” serão
réus, uma vez que o processo é baseado na lide, pois “A” quer um bem da vida e
encontrou resistência por parte de “C” e “B”. Assim, verifica-se que os dois estão
resistindo à pretensão do autor. Ressalte-se que o autor tem que certificar que a parte
está resistindo, para poder figurar no polo passivo (para mim, essa é a posição mais
correta. Entretanto, também tem coerência a posição do N. N. Jr., já que ao citar B e
deixar ele escolher o que fazer, estar-se-á dando caráter democrático ao processo e
ajudando a por termo na lide de uma forma mais pacificadora do ponto de vista
social, sem imposição unilateral do Estado).
1. O art. 6º, § 5º, da Lei n. 4.717/65 estabelece que: "É facultado a qualquer
cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor da ação
popular".
Por exemplo, o art. 1.314 do CC prevê a hipótese que existe um condomínio entre vários
sujeitos. Sujeito A, B e o C, só que o art. 1.314 autoriza que um dos condôminos, sozinho,
individualmente, possa reivindicar a coisa comum de terceiro.
Então, pelo art. 1.314 do CC, um dos condôminos titular da relação jurídica de direito material
pode, sozinho, ajuizar uma ação reivindicatória em face de um terceiro.
Caiu essa questão na prova do MP do RJ: o A não está com boas relações com B e C. B e C
viajaram, eles não estão se falando, A não está nem aí para B e C. O A resolve, sozinho, ajuizar
a ação reivindicatória, pleiteando para quem o imóvel? Para ele ou para todos do condomínio?
Quando ele ajuíza a ação reivindicatória, ele ajuíza para ele ou para todos? Para todos, ele
quer que o imóvel volte ao condomínio e não para ele, mas a lei autoriza que ele possa ajuizar
essa demanda, sozinho e individualmente, então, assim ele faz.
B toma conhecimento de que ele ajuizou essa demanda, até que momento eles podem
adentrar no processo? Na condição de parte, será até a citação, com o litisconsórcio
facultativo unitário porque a relação jurídica de direito material que o A está defendendo é a
mesma relação jurídica de direito material que B e C possuem, em outras palavras, eles são
cotitulares da mesma relação jurídica de direito material. A relação jurídica de direito material,
discutida nesse processo, é não somente de A, mas de A, B ou C.
Então, até a citação, eles podem ingressar como litisconsortes, digamos que eles não
ingressaram, eles podem ingressar posteriormente à citação? Podem ingressar como
assistente litisconsorcial porque eles são titulares da mesma relação jurídica de direito
material que o autor da demanda. Eles poderiam ter sido litisconsortes até a demanda, depois
da demanda, eles podem ser assistentes litisconsorciais em qualquer momento e em qualquer
grau de jurisdição, eles podem ingressar como assistentes até no STF, não tem problema
algum.
Mas, se eles poderiam ter sido litisconsortes até a citação e depois da citação eles só podem
A
ser assistentes litisconsorciais, eu pergunto: qual é a diferença entre uma coisa e outra?
Digamos que você não ingressou nem como litisconsorte e nem como assistente litisconsorcial,
a sentença foi proferida e transitou em julgado. Aí vem a pergunta: com o trânsito em julgado,
a coisa julgada formal e material, formada nesse caso, atinge A, B e C ou não? Posição
amplamente majoritária é de que atinge A, B e C, é a posição do Barbosa Moreira, José Rogério
Cruz e Tutti, Fredie Didier, Daniel Assumpção.
Por que ela atinge? Porque, se o litisconsórcio é facultativo e unitário e a relação jurídica de
direito material foi julgada, pouco importa se B e C participaram ou não, a coisa julgada vai
atingi-los.
É uma exceção ao art. 472 do CPC. Ele afirma que a coisa julgada não beneficia e nem
prejudica terceiros, mas, aqui, é uma exceção, porque o sistema tem que evitar que essa
relação jurídica volte a ser discutida em outro processo. Ela é una, indivisível, pode ser
decidida uma única vez. A decisão tem que atingir a todos a ela vinculados.
Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de
pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário,
todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a
terceiros.
É óbvio que, na doutrina, há quem defenda que deveria ser aplicado o art. 472, é
entendimento clássico, por exemplo, da Ada Pellegrini Grinover, ela entende que se o B e o C
não participaram do processo a coisa julgada não pode atingi-los. É pura e simples a aplicação
do art. 472. Então, para ela, eles podem ajuizar a mesma demanda, mesmo pedido e mesma
causa de pedir. Mas, para a maioria da doutrina, nesse caso teria, sim, coisa julgada.
Então o litisconsórcio é facultativo porque a lei autoriza que um dos litisconsortes possa ajuizar
a demanda sozinho, mas ele é unitário, porque, uma vez decidida a relação jurídica de direito
material, essa decisão atinge a todos aqueles que estiverem a ela vinculados.
Cuidado: não é a única hipótese de litisconsórcio facultativo unitário. Outra hipótese é a ação
de deserdação, prevista no art. 1.719 do CC. Um dos herdeiros pratica um ato qualquer que
caracteriza uma hipótese de deserdação. Quem possui legitimidade para ajuizar essa ação de
deserdação? Qualquer um dos outros beneficiários da herança.
Outros exemplos:
70
Pluralidade de titulares do direito, sendo que a lei permite que somente um deles litigue em juízo.
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246
Ou eu sou filho do Eduardzão, irmão de Pedro, Maria e José ou eu não sou filho de Eduardzão
e não sou irmão de Pedro, Maria e José. A relação jurídica de direito material é una.
Segunda hipótese muito comum de cair em prova da Defensoria Pública: exoneração de fiança.
Fiador quer se exonerar de fiança prestada, ele vai colocar no polo passivo, litisconsórcio
unitário, o afiançado e o beneficiário da fiança.
Vejam, eu sou o fiador, não quero mais que essa fiança exista, quero me exonerar da fiança. Eu
tenho que colocar no polo passivo quem eu afiancei e aquela pessoa que está garantida pela
fiança, porque, se eu obtiver a exoneração da fiança, nenhum deles tem mais fiança nenhuma
para falar comigo, nem o afiançado pode falar mais nada e nem quem se beneficiou da fiança
poderá falar alguma coisa. A relação jurídica de direito material é una. Ou eu estou exonerado
da fiança, ou eu permaneço fiador. Eu não posso continuar fiador para o afiançado e não
continuar para o beneficiário. Ou eu sou fiador, ou não.
Só que, no momento que ele pede a dissolução da sociedade, isso significa que ou a sociedade
será dissolvida para todos os sócios, ou, se for julgado improcedente, ela permanece intacta,
logo, todos os sócios devem constar do polo passivo.
Outra hipótese é anulação de registro. Na anulação de registro, você tem que ajuizar a
demanda contra todos aqueles que constam no registro como sendo os proprietários.
Perceba que, no litisconsórcio necessário unitário, as hipóteses são sempre no polo passivo.
Todos os exemplos, todas as hipóteses, noventa e nove por cento das situações de necessário
unitário estão no polo passivo da demanda. Cuidado com respostas enfáticas.
Então, por exemplo, na oposição você tem o A ajuizando uma demanda em face de B exigindo
a entrega de um carro. Só que um terceiro, considerando-se o titular do carro, ingressa nessa
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247
relação processual, através da oposição, exigindo para ele a entrega do carro. Então, na
verdade, ele cria uma segunda demanda, a demanda dele, em face do autor e do réu da
demanda originária, é o que dispõe o art. 56 do CPC.
Então, a oposição é oferecida contra ambos, o autor e o réu da demanda originária. Só que
pode acontecer que as provas e argumentos do autor da oposição desse terceiro sejam ótimos
em relação ao A, mas não consigam afastar o direito do B.
Tem que estar relacionada a alguma das hipóteses do art. 46 do CPC, litisconsórcio facultativo
por comunhão de direitos e obrigações, objeto divisível, litisconsórcio facultativo por conexão
ou litisconsórcio facultativo por afinidade de questões. Tem que ser uma das hipóteses do art.
46.
III - entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir;
Só que, além dele ser facultativo, a decisão pode ser diferente para os inúmeros litisconsortes.
Nós estamos, aqui, diante do caso dos servidores que querem cobrar uma gratificação, cada
um deles poderia ajuizar a sua própria demanda cobrando o pagamento da gratificação. Só
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que a lei possibilita, com base na conexão, que eles se reúnam e, em conjunto, apresentem a
sua demanda cobrando o pagamento da gratificação. Só que a decisão pode ser diferente em
relação a todos eles, afinal, cada um defende a sua própria relação jurídica de direito material,
é o caso dos servidores públicos exigindo a sua gratificação. Cada um dos litisconsortes
defende a sua própria relação jurídica de direito material.
Esses dois últimos não estão expressamente previstos no direito positivo; entretanto, são
aceitos pela doutrina e jurisprudência.
(STJ, REsp 402447/ES, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 04/04/2006, DJ 08/05/2006, p. 267)
O STJ entende que o litisconsórcio multitudinário pode ser conhecido de ofício pelo
juiz, não obstante essa matéria ser passível de preclusão. Se há preclusão, percebe-se
que não é matéria de ordem pública. O JUIZ PODERÁ CONHECER DO
LITISCONSÓRCIO MULTITUDINÁRIO ATÉ A CITAÇÃO. Após a citação, o réu, no
prazo de resposta poderá alegar essa espécie de litisconsórcio.
b) Conduta alternativa: é aquela pela qual a parte visa a uma melhora de sua situação
processual, ainda que não a obtenha efetivamente. É aquela praticada com o objetivo
de alcançar um resultado favorável aos litisconsortes. Então, se a parte requer a
juntada de um documento, se a parte requer a oitiva do perito, se a parte quer
recorrer, todas essas condutas voltadas para o resultado favorável, resultado positivo,
são chamadas de condutas alternativas. Diante dessas condutas, o ato praticado por
um dos litisconsortes produz efeitos para todos, independentemente de qualquer
manifestação de vontade.
6.4.1. Regras
A conduta determinante de um litisconsorte não pode prejudicar o outro. O ato praticado por
um dos litisconsortes, somente, produz efeitos se todos concordarem. Isso significa que, se um
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251
dos litisconsortes não concordar com a manifestação de vontade, o ato não produz nenhum
efeito.
Exemplo: digamos que você tem um litisconsórcio passivo necessário unitário, dez
litisconsortes, o primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo, oitavo, nono, nove
dos litisconsortes passivos unitários reconhecem a procedência do pedido do autor, mas um
deles não concorda com o reconhecimento da procedência do pedido, produz efeitos? Não,
para ninguém. Na conduta determinante, o ato só produz efeitos se todos os litisconsortes
concordam, se um deles não concordar, o ato não produz qualquer efeito.
Mas lembre-se, é sempre na conduta determinante prejudicial, porque, se for uma conduta
benéfica, produz efeitos automaticamente, independentemente de qualquer indagação.
[...]
Daniel Assumpção esclarece que essa interpretação do art. 350 do CPC é errada. Isso porque a
confissão é um meio de prova. Se um dos litisconsortes confessa um fato que diga respeito a
todos, convencendo-se o juiz da veracidade do que foi dito, todos os sujeitos sofrerão os
efeitos disso, não sendo lógico que o juiz, num mesmo processo, considere um fato existente
para uma das partes e o mesmo fato inexistente para as outras.
Então, se o autor não incluir, o processo será extinto sem resolução do mérito, mas com base
em quê?
Duas posições:
1. Para Luiz Fux, a hipótese é de falta de requisito processual de validade, art.267, IV do CPC.
Adotar a posição do Fux, já que é Ministro do STF agora.
2. Para Alexandre Câmara, é extinto sem resolução do mérito por falta de legitimidade passiva
ad causam, art.267, VI do CPC.
Didier defende interpretação extensiva para que também se adote tal postura para o
litisconsorte unitário facultativo não citado, já que este também será atingido pela coisa
julgada.
71
Essa assertiva está correta em função da oração final, “salvo se distintos ou opostos seus interesses”:
a ressalva se refere ao litisconsórcio simples.
72
Isso está errado, em parte, pois o juiz pode recusar de ofício o litisconsórcio multitudinário, quando
ativo e facultativo, até a citação do réu.
73
Não se trata de litisconsórcio recusável, já que esse ocorria, quando era permitido pela legislação,
independentemente de fundamentação.
74
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONCURSO PÚBLICO. PETROBRÁS. EXCLUSÃO DE CANDIDATO
DO CERTAME. MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. ATO DE AUTORIDADE. FORMAÇÃO DE
LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. DESNECESSIDADE. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DESTA
CORTE SUPERIOR NESSES SENTIDOS. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ CARACTERIZADA.
[...]
2. Também pacificou-se no Superior Tribunal de Justiça a orientação pela desnecessidade de citação dos
candidatos aprovados e dos demais inscritos no concurso público, a título de litisconsórcio necessário,
em demanda cuja pretensão se limita a discutir ato de exclusão de certo candidato do certame, por
gozarem tais candidatos de mera expectativa de direito. Precedentes.
[...]
(REsp 1298074/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
12/04/2012, DJe 17/04/2012)
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254
9. Nas ações versando sobre posse de imóvel, quando não litiguem entre si, quer no polo
ativo ou passivo da relação processual, o litisconsórcio dos cônjuges somente é
indispensável nos casos de composse ou por ato de ambos.
13. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter
reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da
demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito.
14. Se o autor não promover a citação do litisconsorte necessário determinada pelo juiz
(iussu iudicis), em ações de direitos disponíveis, extingue-se o processo (art. 47, p.
único).
15. O litisconsórcio será necessário e unitário sempre que for obrigatória a participação de
todos os integrantes da relação material incindível.
75
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. AÇÃO RESCISÓRIA.
PROPOSITURA APENAS EM FACE DE PARTE DOS INTEGRANTES DA RELAÇÃO ORIGINÁRIA.
LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. CORREÇÃO. DECADÊNCIA.
1. Nas ações rescisórias integrais devem participar, em litisconsórcio unitário, todos os que foram partes
no processo cuja sentença é objeto de rescisão.
2. A propositura de ação rescisória sem a presença, no polo passivo, de litisconsorte necessário somente
comporta correção até o prazo de dois anos disciplinado pelo art. 495 do CPC. Após essa data, a falta de
citação do litisconsorte implica a decadência do direito de pleitear a rescisão, conduzindo à extinção do
processo sem resolução do mérito.
3. Embargos de divergência conhecidos e providos.
(EREsp 676159/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/12/2010, DJe
30/03/2011)
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255
Neste instituto, tem-se, em nível processual, a relação autor versus réu/cedente, e, em nível
extraprocessual, cedente e cessionário. Se o objeto litigioso for julgado em favor do autor, o
processo produzirá efeitos em relação ao cessionário, que não era parte, PRODUZINDO
CONTRA ELE COISA JULGADA.
A regra é que o cessionário/adquirente não precisa saber da litigiosidade da coisa para que
fique submetido aos efeitos da coisa julgada.
Porém, em relação a imóvel litigioso o terceiro de boa fé ficará protegido após o registro,
caso a ação real imobiliária não tenha sido averbada na matrícula do imóvel. Porém, cabe a
esse terceiro provar que promoveu diligências acerca do imóvel, como a procura de processos
nos cartórios distribuidores etc., já que o processo é público e há uma presunção relativa de
conhecimento sobre ele. Sobre esse tema:
Caso ela não o permita, o adquirente poderá intervir no processo como assistente
litisconsorcial do cedente, já que seu interesse jurídico é direto.
b) Atos jurídicos em sentido estrito: são os atos jurídicos processuais cujos efeitos são
determinados em lei, apesar de serem realizados pela iniciativa humana.
Em outras palavras, o dever está sempre acompanhado de coerção na medida em que seu
descumprimento afeta o sistema como um todo. Não há, portanto, qualquer liberalidade. A
conduta é exigida em benefício de todos. Daí porque o seu descumprimento gera uma sanção.
Por outro lado, apesar do ônus também exigir determinada conduta, tal exigência é feita
apenas em benefício de seu detentor. O não cumprimento de um ônus gera consequências
processuais, mas não uma sanção específica. Por exemplo, se o autor não quiser, ele não
precisa provar o que alega, mas sofrerá evidentemente os efeitos da ausência da prova.
Ato processual é todo comportamento humano volitivo que, considerado pelo Direito como
relevante para o processo, está apto a produzir efeitos jurídicos na relação jurídica
processual.
8.3.1. Atos Processuais dos Juízes Delegáveis aos Serventuários: Mero Expediente
Trata-se de uma expressa previsão constitucional, a fim de racionalizar a atividade judicante e
garantir uma razoável duração do processo.
Art. 93 [...]
Para atos próprios de magistrados (entendendo-se atos próprios como atos privativos e
decisórios), não pode, por evidente, haver delegação. No entanto, o próprio CPC admite a
delegação de atos de mero expediente aos serventuários, isto é, atos que não tenham
conteúdo decisório, como a determinação de especificação de provas, por exemplo.
Atos de mero expediente são aqueles que se destinam a impulsionar o processo, sem,
contudo, resolver qualquer questão. A decisão, nos processos, é ato privativo do juiz e não
pode ser delegada a terceiros. Os atos de mero expediente, por não terem conteúdo
decisórios, estão sujeitos à delegação.
b) Ilícito invalidante: é a conduta contrária ao direito cujo efeito jurídico é dar ensejo à
invalidação de um ato jurídico. Geralmente, nela há um requisito não cumprido.
9.Invalidades Processuais
9.1. Sistema de Invalidades Processuais – Regras
O ato processual defeituoso produz efeitos até a decretação de sua invalidade. Não existe
invalidade processual de pleno direito. Ela deve, necessariamente, ser decretada.
Para o retrógrado CPC, o ato realizado em desacordo com a forma prevista na lei é o que se
chama de ato nulo, porque, para o CPC, com base no direito civil, existe ato nulo de pleno
direito, em outras palavras, o ato que é realizado em desacordo com a lei nasce nulo.
Porém, na verdade, o ato realizado em desconformidade com o ato previsto na lei não é um
ato nulo de pleno direito, em processo civil não existe ato nulo de pleno direito, o ato não
nasce nulo. O ato nasce imperfeito, nasce viciado ou, como se diz normalmente, trata-se de
um ato inválido. Para essa corrente de pensamento (Didier, Marinoni), o ato realizado em
desconformidade com o modelo legal é um ato imperfeito, ato inválido. É o que,
tecnicamente, eles denominam de invalidade.
Mas, veja, ainda não é uma nulidade. Por quê? Porque, para ser considerado uma nulidade, é
preciso uma decisão judicial que decrete o ato inválido.
ENTÃO, NÃO EXISTE, EM PROCESSO CIVIL, ATO NULO DE PLENO DIREITO. O QUE EXISTE É
UMA INVALIDADE QUE, SOMENTE POR INTERMÉDIO DE UMA DECISÃO JUDICIAL, PASSA A
SER UMA NULIDADE.
Porque, quando se afirma que a nulidade é a inobservância da forma prevista em lei, quando
se afirma que a nulidade nada mais é do que a desobediência da forma prevista em lei, essa
inobservância precisa ser punida, precisa ser sancionada de alguma maneira. A sanção que a
lei estabelece de alguma maneira é a nulidade do ato.
Então, a natureza jurídica seria de sanção, porque a nulidade nada mais é do que a punição da
lei ao ato praticado em desconformidade com o modelo nela previsto. Essa é a posição
majoritária.
Mas existe uma posição mais moderna, não majoritária, defendida pela Teresa Arruda Alvim,
Câmara, que defende que a sanção pressupõe a existência de um ato ilícito.
Para os adeptos da segunda corrente, a natureza jurídica da nulidade não é de sanção, mas sim
de consequência, de prejuízo à parte. A parte sofre um prejuízo que é a declaração de nulidade
do ato ou decretação da nulidade do ato em virtude de sua desconformidade com a lei.
Se adotar a posição mais moderna, de que, na verdade, se está diante de uma invalidade e,
somente após uma decisão judicial se pode falar em nulidade, essa decisão judicial terá
natureza constitutiva negativa ou também chamada de desconstitutiva, porque é essa decisão
judicial que vai decretar a nulidade do ato e de todos aqueles que são dele dependentes.
Pelo Código Civil Natureza jurídica da nulidade é declaratória
Pela teoria moderna Natureza jurídica da nulidade (sanção) é desconsitutiva
9.1.2. Os Tipos ou Espécies de Defeitos (ou Vícios) Processuais
a) Meras irregularidades: são defeitos processuais que não geram qualquer invalidade. A
lei não dá maior importância a suas próprias exigências, quando superficialmente
formais, porque insignificante ou nenhuma é a relação dessas exigências com a
b) Não decretáveis de ofício: são defeitos mais raros, cuja forma é estabelecida com o
objetivo de resguardar interesse particular. Geralmente, eles estão expressamente
previsto em lei.
76
Qual é a diferença entre o ato inexistente e o ato nulo? E, consequentemente, qual deles, se é que
algum deles, produz coisa julgada? O ato inexistente não produz nenhum efeito jurídico. O ato
processual nulo pode produzir efeitos até o momento que a sua nulidade seja decretada. Se eu estou
falando em ato nulo, como a nulidade pode ser decretada? Porque, na verdade, o que o código chama
de ato nulo nós já sabemos que se trata de um ato inválido. Não existe ato nulo de pleno direito no
processo civil. É indispensável uma decisão judicial, enquanto essa invalidade não tiver sua nulidade
decretada ela continua produzindo efeitos, até o momento em que a nulidade for decretada. Então, o
ato inexistente não faz coisa julgada. Por que ele não faz coisa julgada? Não faz coisa julgada, porque,
como a sentença é inexistente e não produz qualquer efeito, a coisa julgada não tem sobre o que incidir.
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Porém, até mesmo as nulidades cominadas poderão não gerar a nulidade do ato, se não
demonstrado prejuízo à parte, já que nem todas elas teriam o prejuízo presumido.
E o ato nulo? O ato nulo faz coisa julgada? O ato nulo produz algum efeito? Produz. Ele produz efeitos
até o momento em que a nulidade é decretada. Enquanto a nulidade não for decretada, estará
produzindo efeitos. Se a coisa julgada material incide sobre os efeitos de uma sentença, a sentença nula
pode fazer coisa julgada? Pode, porque, enquanto não for decretada a nulidade da sentença, ela faz
coisa julgada.
77
Art. 243. Quando a lei prescrever determinada forma, sob pena de nulidade, a decretação desta não
pode ser requerida pela parte que Ihe deu causa.
Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará
válido o ato se, realizado de outro modo, Ihe alcançar a finalidade.
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Qual é a hipótese que a nulidade está prevista expressamente no ordenamento e ela deve ser
decretada independentemente de se verificar a existência de prejuízo? Segundo ele, só
existiria uma hipótese, que é a falta de fundamentação de decisões judiciais.
Art. 249. O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarará que atos são atingidos,
ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos, ou
retificados.
§ 1o O ato não se repetirá nem se Ihe suprirá a falta quando não prejudicar
a parte.
b) Instrumentalidade das formas (art. 244): quando a lei prescrever determinada forma,
sem cominar nulidade, o juiz considerará o ato válido, se, praticado de outra forma,
alcançar a finalidade. A consciência de que as exigências formais do processo não
passam de técnicas destinadas a impedir abusos e conferir certeza aos litigantes (due
process of law) manda que elas não sejam tratadas como fins em si mesmas, senão
como instrumentos a serviço de um fim. Tal é a ideia da instrumentalidade das formas
processuais, que se associa à liberdade das formas e à não taxatividade das nulidades,
na composição de um sistema fundado na razão e na consciência dos escopos a
realizar. Assim, a invalidade do ato é essencial para que ele seja nulo, mas não é
suficiente nem se confunde com a sua nulidade, que também deve deixar de realizar
o escopo ao qual se destina e, por esse motivo, causar prejuízo a uma das partes.
e) Princípio da preclusão: a parte a quem interessa alegar a nulidade do ato deverá fazê-
la na primeira oportunidade que possuir para falar nos autos, sob pena de preclusão.
Esse princípio diz respeito às nulidades chamadas de relativas, porque as nulidades
absolutas podem ser alegadas a qualquer momento e em qualquer grau de
jurisdição.
ele faz isso porque se tiver que examinar um por um ele vai dar margem a decisões
interlocutórias.
Art. 249. O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarará que atos são atingidos,
ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos, ou
retificados.
O erro de forma do processo acarreta somente a invalidação dos atos que não possam ser
aproveitados, o que ocorrerá sempre que não resultar prejuízo à defesa.
Porém, não se invalidará o procedimento pela falta de intimação caso a decisão seja favorável
ao incapaz que motivou a interveniência. O MP poderá ratificar os atos de que não participou
por falta de intimação, observando o princípio do prejuízo.
No direito processual civil não há defeito que não possa ser sanado, por mais grave que seja,
sem exceções. Às vezes o ato não poderá ser aproveitado; nesse caso, deve o juiz promover a
sua renovação, de molde a evitar, sempre, a nulidade do processo.
A nulidade processual no âmbito civil é o mais trágico erro que o juiz pode deixar acontecer no
processo em que atua, já que revela um grau altíssimo de, pode-se dizer, incompetência ou
descaso, já que ele sempre teve às mãos a possibilidade de consertar o procedimento.
Já a invalidade de atos do procedimento é a que determina a invalidação dos demais atos que
lhes seguirem (atos praticados após e deles dependentes, conforme princípio da causalidade).
O ato do procedimento tem, cada um, seu próprio requisito de validade, sendo casuística a
invalidação ou não.
Mesmo diante do defeito que gera a nulidade do processo, o juiz está autorizado a
desconsiderá-lo, evitando a nulidade, se puder aproveitar o ato sem causar prejuízo à parte
que se beneficiaria com a nulificação (art. 249, § 2º).
Porém, se o erro de procedimento ocorrer na sentença, não poderá o juiz anulá-la, e sanar o
erro. Deverá a parte interpor recurso pleiteando anulação.
Muitas vezes a parte interpõe agravo de instrumento para tentar anular um ato processual e o
processo chega ao fim, em primeira instância, sendo interposta apelação, sem que ainda tenha
sido julgado o AI. Nesse caso, os Tribunais quase sempre julgam o AI prejudicado, já que a
matéria nele ventilada deverá ser objeto da apelação.
Os vícios transrrecisórios são aqueles que podem ser invalidados mesmo após o decurso do
prazo de propositura da ação rescisória, que tem por instrumento processual adequado a ação
de nulidade. Somente é cabível em dois casos: decisão proferida em desfavor do réu, em
processo que correu à sua revelia, quer porque não fora citado, quer porque o fora de maneira
defeituosa.
b) Se não há coisa julgada material e o processo ainda está em curso, o ato processual da
parte pode ser invalidado, se não tiver havido preclusão, de ofício ou através de
simples petição dirigida para o juiz. Não é necessária ação autônoma para tal mister.
Se o juiz não invalidar, deve a parte agravar, reiterando os argumentos na apelação.
b) Cooperação: as partes devem cooperar com o Judiciário e entre si para que o processo
tenha um curso regular, devendo o juiz adverti-las sobre os defeitos e consequências
processuais de seus atos. Lembrar até que a ausência de cooperação, a depender do
caso, pode resultar em multa por deslealdade processual ou por ato atentatório contra
a dignidade da Justiça;
c) Economia processual: a declaração de nulidade dos atos deve ser evitada ao máximo,
pois a repetição de atos implica em perda de tempo e recursos públicos.
De acordo com o art. 243, quando a lei prescrever determinada forma, sob pena de nulidade, a
decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa. Porém, para a maioria
da doutrina, esse enunciado somente se aplica aos casos em que o defeito processual não for
absoluto, invalidável a qualquer tempo.
Inversamente, a declaração das nulidades relativas depende da iniciativa desta, sempre que a
infração à lei seja prejudicial a ela, sem atingir o interesse público. Embora em tese não haja
A regra de que a declaração da nulidade absoluta deve ser feita em qualquer tempo ou grau
de jurisdição é sujeita a três ressalvas. A primeira delas é que em recurso extraordinário ou
especial, as nulidades anteriores ao acórdão recorrido só podem ser conhecidas quando já
aventadas e expressamente repelidas (súmulas 282 e 356 do STF)78. A segunda é que o juiz só
tem poder-dever de pronunciar as nulidades absolutas até o momento em que publica em
cartório a sentença. A terceira é que, com o trânsito em julgado, todas as nulidades ficam
neutralizadas (podendo ser atacadas por rescisória, art. 485, V).
A nulidade relativa depende que a parte inocente formule o pedido de anulação, que haja
interesse processual na anulação e que a parte interessada a alegue na primeira oportunidade
que tenha para manifestar-se no processo.
Não existe uma relação constante entre a sanabilidade do procedimento e o caráter absoluto
ou relativo da nulidade. Há nulidades absolutas sanáveis e insanáveis, o mesmo acontecendo
com as relativas, porque com a realização do ato omitido ou a repetição do ato nulo
desaparece a causa contaminadora. Diferente da sanação do processo, que se faz com
providências destinadas a eliminar as nulidades decorrentes, é o convalescimento do próprio
ato por força de uma preclusão superveniente. AS NULIDADES RELATIVAS DESAPARECEM E O
78
Digamos que o pedido de nulidade não seja formulado na apelação. Pode a parte fazer esse pedido no
Recurso Especial e no Recurso Extraordinário?Duas correntes:
Primeira corrente exige um pré-questionamento. É a corrente clássica do STJ e STF. Se não houve pré-
questionamento anterior, a matéria não pode ser alegada nem no Recurso Especial e nem no Recurso
Extraordinário. Segunda corrente, mais moderna, defende o seguinte: se aquela matéria, a nulidade é
de tal gravidade que ela se enquadra dentre as questões de ordem pública, o STJ ou STF poderia analisá-
la, inclusive, de ofício no âmbito do Recurso Especial e Recurso Extraordinário, desde que o Especial e o
Extraordinário tivessem sido admitidos por outros motivos.
Esse último posicionamento veio sendo adotado pelo STJ, o qual, no entanto, reviu sua posição:
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUNAL DE CONTAS. ILEGITIMIDADE PASSIVA. AUSÊNCIA DE PERSONALIDADE
JURÍDICA. EXCLUSÃO DA RELAÇÃO PROCESSUAL. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. 1. A jurisprudência desta Corte é pacífica ao determinar que mesmo as
matérias de ordem pública precisam ser prequestionadas. 2. O ENTENDIMENTO DE QUE É POSSÍVEL
CONHECER DAS QUESTÕES DE ORDEM PÚBLICA DE OFÍCIO, AINDA QUE NÃO PREQUESTIONADAS OU
SUSCITADAS, NA EXCEPCIONAL HIPÓTESE DE O RECURSO ESPECIAL TER SIDO CONHECIDO POR
OUTROS FUNDAMENTOS, EM RAZÃO DO EFEITO TRANSLATIVO, FOI SUPERADO EM NOVA ANÁLISE
PELA CORTE ESPECIAL, QUE CONCLUIU PELA NECESSIDADE DO REQUISITO DO PREQUESTIONAMENTO
NA INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA. Precedente: AgRg nos EREsp 999.342/SP, Rel. Min. Castro Meira,
Corte Especial, julgado em 24/11/2011, DJe 01/02/2012. [...] (EDcl nos EDcl no AgRg no AREsp
32.420/PB, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe
28/06/2012)
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Toda e qualquer nulidade fica afastada quando ocorre o trânsito em julgado. PORÉM, ISSO
HÁ DE SER BEM ENTENDIDO: se chegamos nessa fase, é porque a invalidade não teve
sua nulidade decretada no curso do processo. Com a coisa julgada, o que se costuma dizer?
Que, com a coisa julgada, todas as nulidades estão convalidadas, todas as nulidades estão
sanadas79. Isso, tecnicamente, é um equivoco porque, se fosse uma nulidade, não tinha como
estar sanada, não tinha como estar convalidada. O QUE É DE SE ENTENDER É QUE, COM A
COISA JULGADA, TODOS OS VÍCIOS QUE NÃO TIVERAM A NULIDADE DECRETADA NÃO
PODEM MAIS TÊ-LA, TODAS AS INVALIDADES QUE NÃO FORAM DECRETADAS NULAS NÃO
PODEM MAIS SER.
Às vezes esse vício é tão grave que ele pode ser enquadrado em uma das hipóteses do art. 485
CPC. Ele era uma invalidade, com a coisa julgada você não pode mais dizer que a invalidade
subsiste, pois ela deixou de ser declarada, mas, às vezes, o vício é tão grave que ele se
enquadra em alguma das hipóteses de ação rescisória.
Até antes da coisa julgada, a nulidade poderia ter sido decretada; com a coisa julgada, ela não
pode mais, mas ela pode se enquadrar em uma das hipóteses da ação rescisória, ela passa a
ser uma hipótese de rescindibilidade. Mas cuidado, a ação rescisória não é para decretar a
nulidade de nada, a ação rescisória é rescindir a coisa julgada, permitindo um novo
julgamento da causa, não é para decretar a nulidade de coisa nenhuma, não se decreta mais
a nulidade de nada com a coisa julgada, o que pode acontecer é que, pelo fato do vício ser
muito grave, ocorrer a rescisão da coisa julgada. Passa a ser uma hipótese de rescindibilidade.
Só que tem prazo dentro do qual essa hipótese possa ser alegada, são dois anos. Decorridos os
dois anos, não cabe mais essa hipótese, salvo nos casos dos vícios transrescisórios. A única
hipótese admitida pela doutrina e pela jurisprudência é a falta ou nulidade de citação.
Os atos inexistentes, entretanto, não convalescem, porque não existem perante o direito.
79
É por isso que se costuma taxar a coisa julgada de uma sanatória geral de nulidade.
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2. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 44. Não é possível que oficial de justiça de comarca
vizinha e contígua proceda à penhora e depósito de bem em comarca diferente da sua.
Tal afirmação diz respeito ao princípio da jurisdição denominado territorialidade.
10. Preclusão
A preclusão é um fato processual que tem como consequência a perda de um poder
processual pelas partes. Ela é instituto fundamental para o bom desenvolvimento do
processo, delimitando a estrutura do procedimento e as regras que compõem o formalismo
processual.
10.1. Classificação
A doutrina tradicional não reconhece a preclusão temporal para o juiz, pois, para ele, os prazos
são impróprios, acarretando somente, no máximo, em sanções disciplinares.
Assim, é plenamente possível a preclusão lógica contra o magistrado, que ocorre, v.g., quando
o juiz julga antecipadamente a lide, mas declara improcedente o pedido por falta de provas.
Ora, ele somente pode realizar o julgamento antecipado se entender haver provas suficientes
para tal, sendo este comportamento incompatível com aquele. Nesse caso, entretanto, ele não
perderá, por evidente, a oportunidade de promover o ato; apenas dará azo à anulação pelo
tribunal por error in procedendo.
A preclusão lógica está intimamente ligada ao venire contra factum proprium, ofendendo
aos princípios da lealdade processual e da boa fé objetiva.
É o caso, v.g., da confissão ficta decorrente da revelia, ou a perda do direito de falar nos autos
pela prática do atentado (art. 881).
É o que ocorre, v.g., com a coisa julgada, fato processual composto pela preclusão temporal
máxima, que é a coisa julgada formal.
Porém, Dinamarco não entende que a preclusão seja um efeito, e sim um fato impeditivo do
exercício de um poder processual.
A decadência é a perda do direito potestativo em razão do seu não exercício dentro do prazo.
Assemelha-se à preclusão temporal em função do requisito “tempo” para se operar
Entretanto, trata-se de questão de direito material e, em regra, direitos pré-processuais,
enquanto a preclusão é instituto de direito instrumental e se refere sempre à perda de
faculdade processuais.
A cognição horizontal é aquela que se refere às matérias as quais o juiz pode conhecer num
processo, podendo ela ser limitada ou plena. A cognição horizontal cinge-se à extensão fática e
à amplitude do conhecimento do juiz na causa e se relaciona com os elementos objetivos do
trinômio processual: pressupostos processuais, condições da ação e mérito. Pode a cognição
horizontal ser plena ou parcial.
Já a cognição horizontal integral ou plena é a que se estende sobre toda a extensão fática da
causa, é aquela em que a parte pode alegar tudo, como ocorre, v.g., nas ações comuns e no
mandado de segurança (o fato de ser procedimento especial não significa que o objeto de
conhecimento é limitado, apenas que deve haver prova pré-constituída do que se alega).
80
É o que ocorre, por exemplo, nas ações possessórias (em que ficam excluídas do conhecimento as
objeções referentes ao domínio), nos embargos do executado (cujo conhecimento é limitado pelo art.
741 e incisos do CPC) e nas desapropriações por necessidade ou utilidade pública ou interesse social (DL
nº 3.365/42, art. 20 – contestação só pode versar sobre vício do processo judicial ou impugnação do
preço).
81
A cognição sumária pertine aos procedimentos que não permitem, em face de determinada situação,
a cognição aprofundada do objeto litigioso, sendo, pois, característica da tutela cautelar e da tutela
sumária antecipatória.
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272
Porém, entende-se também por questão o próprio pedido, o objeto litigioso do processo.
Logo, vê-se que a primeira acepção é mais ampla, já que envolve questões prejudiciais
incidentais, tais como a discordância entre as partes acerca dos valores fixados pelo perito a
título de honorários.
As questões incidenter tantum, que não fazem coisa julgada, são, v.g., os motivos, a verdade
dos fatos e as questões prejudiciais decididas incidentemente no processo (art. 469).
82
De salientar que no procedimento sumário a aceleração da prática dos atos processuais que lhe é
própria não implica a limitação da cognição – o procedimento sumário é caracterizado apenas pela
abreviação do iter procedimental, em nada interferindo com a cognição.
83
O procedimento de cognição plena e exauriente é o procedimento comum do processo de
conhecimento. O processo especial dos juizados especiais apesar da extrema simplicidade,
informalidade e celeridade, é de cognição plena e exauriente, apto, portanto, à formação da coisa
julgada material, e não processo de cognição superficial.
84
O mandado de segurança, por exemplo, é um processo que tem o exame de mérito condicionado à
existência de prova capaz de fazer surgir cognição exauriente. A afirmação de existência do direito deve
ser provada mediante prova documental anexa à petição inicial. Portanto, há uma relação necessária
entre o nível de cognição e a justiça das decisões: quanto mais aprofundado aquele, maior será o grau
de probabilidade de acerto da sentença.
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273
Já as questões principaliter tantum são aquelas que devem ser decididas por se constituírem
nos pedidos constantes na petição inicial, compondo o objeto do juízo, a qual faz coisa julgada
e tem força de lei, nos limites da lide.
A questão prejudicial, que seria resolvida incidentemente, poderá ser alçada ao status de
questão principal, se a parte o requerer (art. 470), deixando de ser um simples fundamento
decisório. É o que ocorre na ação declaratória incidental.
Questões prejudiciais
Sob essa lógica:
Objeto do processo
Objeto litigioso do
Questões principais
processo
[...]
Considera-se questão de fato toda aquela relacionada aos pressupostos fáticos de incidência,
todas aquelas relacionadas à existência do suporte fático concreto. Qualquer questão
relacionada à causa de pedir será considerada questão de fato.
Alguns incidentes processuais e algumas ações somente podem ter por objeto questões de
direito, como as ADI, ADC, REsp, RE etc.
85
Por exemplo, sendo o pedido de indenização, ela tem que demonstrar o fundamento jurídico que leva
ao dever de indenizar por parte de alguém lhe causou danos materiais, por meio da elucidação da
conduta ilícita, do resultado, do nexo causal e da culpa/dolo.
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275
Questões prejudiciais são aquelas que se caracterizam por ser um antecedente lógico e
necessário da questão prejudicada, cuja solução condiciona o teor do julgamento da questão
subordinada.
As questões prejudiciais poderão ser objeto de processo autônomo. São exemplos de questões
prejudiciais a prescrição, decadência, compensação etc. Por quê? Pois elas evidentemente
prejudicarão o pedido, ao menos em parte, se reconhecidas, além de tratarem acerca do
mérito.
Seja qual for o procedimento, ele será composto pelos chamados elementos estruturais. São
eles: a demanda, a citação, a resposta, a instrução e a decisão.
Pode o magistrado modificar o procedimento por julgar mais conveniente para a causa,
adaptando-o? Não, o procedimento só pode ser alterado pelo juiz nas hipóteses
expressamente previstas na lei, a alteração do procedimento não pode ser feita a critério do
juiz, só quando a lei autoriza.
Pois bem.
d) Julgamento:
d) Indica desde logo ao juiz a eventual ausência de alguma das condições da ação;
a) Forma escrita: como regra, a inicial deve ser escrita, datada e assinada por advogado,
somente sendo admitida a petição inicial de forma oral nos Juizados Especiais Cíveis e
no procedimento especial da ação de alimentos. Ainda assim, nesses casos o pedido
deverá ser atermado pelo servidor da Justiça.
c) Endereçamento: deverá o juízo competente, seja ele de primeiro ou segundo grau, ser
identificado;
d) Verificação das partes: deve constar na inicial, no preâmbulo, a indicação das partes e
sua qualificação, com indicação de nome completo, estado civil, profissão, domicílio e
residência. Isso se presta a permitir a citação e a individuação dos sujeitos processuais.
Outros dados também serão altamente recomendados, como o RG, CPF e CNPJ.
Logo, não basta a indicação da relação jurídica, efeito do fato jurídico, sem que se
indique qual o fato jurídico que lhe deu causa – teoria da individualização. Conforme já
visto anteriormente, o Brasil adotou a teoria da substanciação impura da causa de
pedir.
Lembrar que não se pode confundir fundamento jurídico com fundamentação legal, a qual é
dispensável; afinal, iura novit curia.
g) Valor da causa: será visto adiante. Tem grande importância na Justiça Federal, já que o
valor da causa pode ou não determinar a competência absoluta dos Juizados Especiais
Federais.
Esses prazos podem ser dilatados pelo magistrado, a depender do caso concreto, e apedido
das partes. Veja:
A decisão do juiz que determina a emenda deve ser, assim como qualquer decisão judicial,
fundamentada, sendo passível de agravo de instrumento. No entanto, o STJ por várias vezes já
entendeu que a decisão que determina a emenda é um mero despacho, sendo, pois,
irrecorrível.
Se o autor não atender o chamado do juízo, não emendando a inicial, será caso de
indeferimento da inicial, com consequente extinção do processo sem julgamento de mérito.
Se o autor apelar da sentença que indefere a inicial, caberá o juízo de retratação pelo órgão
prolator no prazo impróprio de 48 horas (art. 296). O JUIZ SOMENTE PODERÁ SE RETRATAR
SE RECEBER O RECURSO, entendendo que ele preenche todos os requisitos de admissibilidade.
Logo, necessário um juízo positivo de admissibilidade86.
[...]
No caso de provimento, o tribunal determinará que o juiz retome o processo, o qual citará o
réu e continuará o processo.
Sim
Retratação
Extinção do processo
86
Se não há recurso, ao juiz não se pode abrir essa possibilidade,Manda citar
porque feita? Mas,
o feito estaria terminado.
além disso, se exige um juízo positivo de admissibilidade desse recurso de apelação, porque é
exatamente a potencialidade de a decisão do magistrado vir a ser reformada pelo Tribunal que lhe
possibilita, por economia processual, que ele próprio já a reconsidere, na hipótese de indeferimento da
petição inicial. E se o recurso de apelação nesse caso não for recebido, ao magistrado não será dado
fazer juízo de retratação, atingindo o processo o trânsito em julgado.
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281
b) Manifesta ilegitimidade de parte: é causa de carência de ação, mas sem tornar a inicial
inepta; o artigo exige que a ilegitimidade seja manifesta. Entretanto, pode o juiz
indeferir a inicial mesmo se não for ela manifesta, mas se convencendo ele da inépcia,
seja a parte ilegítima autor ou réu. Lembrar que a ilegitimidade da parte pode ser
reconhecida a qualquer tempo. Porém, se após o recebimento da inicial, o processo
não será extinto por indeferimento da mesma (preclusão lógica), mas sim por carência
de ação.
c) Falta de interesse de agir: outra das condições de ação, cuja ausência leva à carência
de ação e indeferimento da inicial, mas não por sua inépcia;
f) Quando não atendidas as prescrições do art. 39, p. único, e 284: ocorre se a inicial não
indicar o endereço do patrono do autor, após determinada a emenda.
12.4. O Pedido
mediato é o bem de vida, o resultado prático que o demandante espera conseguir com a
tomada da providência.
Importante salientar que, ainda que se indique que o pedido deva vir expresso ao final da
petição inicial, na parte de requerimentos, pode o tribunal conceder tutela com base nos
pedidos efetivados ao longo da fundamentação, ainda que não tenham sido reiterados ao final
da petição. Nesse sentido:
A Turma, entre outras questões, entendeu que não houve pedido inicial
explícito do MP no sentido de que qualquer construção fosse demolida, nem
mesmo de que fossem suspensas as atividades da ora recorrente, ao propor
a ação civil pública (ACP) de responsabilidade por danos causados ao meio
ambiente. Porém essa simples constatação não conduz à nulidade por
desobediência do dever de adstrição ao pedido. A jurisprudência deste
Superior Tribunal entende que o pedido não deve ser extraído apenas do
capítulo da petição reservado aos requerimentos, mas da interpretação
lógico-sistemática das questões apresentadas pela parte ao longo da
petição. (STJ, REsp 967.375-RJ)
12.4.2. Requisitos
O pedido deve ser certo e determinado (ou determinável).
Certo é o pedido expresso, sem obscuridade, que não seja vago. Aplica-se tanto ao pedido
mediato quanto ao pedido imediato.
Será cumulação simples quando as pretensões não tiverem entre si relação de precedência
lógica, podendo ser analisadas uma independentemente da outra.
Ocorrerá a cumulação subsidiária ou eventual (art. 289) quando o autor estabelecer uma
hierarquia de preferência entre os pedidos: o segundo somente será examinado se o primeiro
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283
for rejeitado, assim em diante. Se o juiz acolher o pedido principal, estará dispensado de
examinar o subsidiário, O QUAL NÃO FICARÁ ACOBERTADO PELA COISA JULGADA, JÁ QUE
NÃO FOI EXAMINADO. Se o magistrado examinar o pedido subsidiário sem examinar o
principal, estará atuando per saltum, logo, cometendo error in procedendo. Agora, se o
magistrado rejeitar o pedido principal, mas acolher o subsidiário, o principal também restará
acobertado pela coisa julgada.
Se somente o pedido subsidiário for acolhido, poderá o autor recorrer da decisão, já que ao
estabelecer a hierarquia de preferência, definiu o que lhe é mais interessante. Se acolhido
totalmente um dos pedidos, mesmo que o subsidiário, o autor será vencedor da causa, não
podendo ser condenado ao pagamento de verbas sucumbenciais87. Ademais, o acolhimento
de um dos pedidos subsidiários faz coisa julgada em relação a todos os demais pedidos
preferenciais, já que foram analisados. Existindo outros pedidos subsidiários após o acolhido,
sobre estes não recai a coisa julgada.
Ocorrerá cumulação imprópria alternativa (não prevista no nosso direito positivo) quando o
autor formula mais de uma pretensão, para que uma ou outra seja acolhida, sem expressar
qualquer preferência.
O valor da causa será o do pedido que tiver o maior valor, nesse caso.
87
O julgado abaixo arrolado do STJ diverge desse entendimento do Didier. Atenção: o julgado é da Corte
Especial. Por ele, se acolhido somente o pedido subsidiário, há sucumbência recíproca, salvo se o pedido
subsidiário acolhido for de valor similar ao principal, quando então poderá o juiz condenar apenas o réu.
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284
Porém, há casos em que o procedimento especial não pode ser convertido ao ordinário, por
incompatibilidade, não podendo, portanto, haver cumulação de pedidos. Sobre o tema:
Apesar de não ser possível a alteração objetiva da demanda após a citação (sem concordância
do réu) ou após o saneamento (mesmo com a concordância do réu), em decorrência do
PRINCÍPIO DA ESTABILIZAÇÃO DA DEMANDA, correções de erros materiais
poderão ser promovidas a qualquer tempo.
12.4.4. Tipologia
a) Correção monetária;
b) Honorários advocatícios;
c) Juros moratórios;
a) Nas ações universais, se o autor não puder individuar na inicial os bens demandados.
Ações universais são aquelas em que a pretensão recai sobre uma universalidade, seja
ela de fato ou de direito. Exemplo que pode ser dado é o fianciamento concedido pela
CEF para plantio de lavoura de café, onde a garantia dada é o direito de usufruto da
lavoura;
Nos pedidos genéricos, somente poderá ser genérica a quantidade, devendo o gênero ser
determinado. Em todas as hipóteses em que o pedido for genérico, poderá o juiz prolatar
sentença ilíquida, salvo nos juizados.
Lembrar que não se considera ilíquida a sentença cuja precisa determinação do quantum
debeatur depende exclusivamente de cálculos aritméticos.
88
Cumulação própria, no caso.
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288
Jurisprudência selecionada:
[...]
em dobro, dos valores que o autor alega ter sido pago indevidamente, o
valor da causa deve corresponder à diferença entre o saldo devedor
apurado pelo agente financeiro e aquele considerado correto pelo
mutuário.
[...]
Uma vez proposta a demanda, seus elementos identificadores ainda podem ser alterados,
objetivamente (causa de pedir ou pedido) ou subjetivamente (partes). O art. 264 afirma que
feita a citação mantêm-se as partes, salvo nas hipóteses em que a lei autorize a “substituição”;
aqui embora a lei assim o diga trata-se de sucessão processual onde outra pessoa (ou ente
dotado de capacidade judiciária) passa a figurar no lugar da parte original. São exemplos a
nomeação à autoria, a alienação de coisa litigiosa com substituição da parte e a morte da
parte. Desse modo, a alteração subjetiva pode dar-se até a citação, salvo as substituições
(sucessões) permitidas por lei (morte, nomeação à autoria, v.g.).
- De acordo com o art. 282, III, do CPC, compete ao autor indicar na inicial o
direito que pretende exercer contra o réu, apontando o fato proveniente
desse direito. A narração dos fatos deve ser inteligível, de modo a enquadrar
os fundamentos jurídicos ao menos em tese, e não de forma vaga ou
abstrata.
praticado pelo réu, hipótese em que o juiz fica autorizado a proferir sentença
ilíquida.
2. TRF4 – XII – QUESTÃO 63. Na hipótese de pedidos sucessivos (art. 289, CPC), a
procedência do anterior e a declaração da prejudicialidade do seguinte não atrai, em
relação a este último, o manto da coisa julgada.
4. EMAGIS – 2011/29 – QUESTÃO 10. Considerando que, ao examinar uma inicial, o juiz
tenha detectado a ausência de uma das condições da ação e indeferido seu
processamento, antes mesmo de levar ao conhecimento do réu a existência do
pedido, e que o autor tenha interposto apelação a essa sentença no prazo legal,
somente após juízo de admissibilidade positivo o juiz prolator da decisão recorrida
pode exercer o juízo de retratação.
5. EMAGIS – 2011/26 – QUESTÃO 10. Em ação iniciada sob o rito ordinário, o autor
requereu a condenação do réu ao pagamento do preço previamente ajustado pela
entrega de uma máquina agrícola. De acordo com a inicial, fora firmado contrato para
venda da máquina e de um automóvel. No entanto, mesmo após a entrega do
primeiro objeto, o comprador não teria cumprido a obrigação de pagar o preço. Diante
do pedido, o juiz deve, em caso de procedência, ater-se à condenação do réu ao
pagamento do valor ajustado89.
ELA É PROFERIDA SEM OUVIR O RÉU, MAS EM FAVOR DELE. Em relação ao contraditório
para o autor, este ficará garantido pela recorribilidade da decisão e pela retratabilidade da
sentença de que se pode valer o juiz.
Se o juiz manter a decisão, deverá intimar o réu para apresentar contrarrazões de apelação.
89
Quando se postula uma obrigação de dar dinheiro, não há alternativa ao magistrado: se o caso for de
procedência, a sentença condenatória abrange apenas essa espécie de obrigação, com os consectários
legais, e sem qualquer alternativa de cumprimento voluntário de outro modo. Se o autor tivesse pedido
a entrega do automóvel, aí sim seria possível condenar o réu, em caso de impossibilidade, pelo
pagamento do valor equivalente. Não pode, entretanto, o autor ser compelido a receber o bem se o que
ele pediu foi o cascalho.
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De acordo com o art. 219, § 5º, o juiz pronunciará de ofício a prescrição. Porém, tal fato não
poderá ocorrer em qualquer hipótese. V.g., o juiz não poderá reconhecer de ofício a
prescrição que opere efeitos desfavoráveis ao consumidor, ao menor, ao idoso e ao índio, mas
somente se fosse alegada pela outra parte.
Essa hipótese de improcedência prima facie somente poderá ocorrer de ofício, se envolver
direitos indisponíveis, se favorável aos sujeitos constitucionalmente protegidos.
Importante deixar consignado que o juiz, antes de decretar a prescrição de ofício, deverá
intimar as partes de que assim pretende agir. Não há norma determinando essa postura,
entretanto é a melhor conduta a ser adotada, já que pode ter havido renúncia ou alguma
causa interruptiva ou suspensiva de que ele não conheça e ainda não tenha sido trazida aos
autos.
Fazendo isso, poupará o autor de elaborar recurso somente para alegar, v.g., a renúncia à
prescrição.
O juiz não é obrigado a aplicar esse dispositivo legal, já que é livre para alterar seu
posicionamento anterior. São pressupostos dessa hipótese de improcedência prima facie:
b) A causa deve ser repetitiva, ou seja, ser objeto de processos semelhantes no mesmo
juízo;
d) Há outro pressuposto que começa a ser fixado pela jurisprudência do STJ: que o
entendimento do juízo singular esteja alinhado com a jurisprudência dos Tribunais
superiores.
É permitido o julgamento prima facie parcial, quando o processo tiver apenas semelhança
parcial com o processo paradigma? Daniel Assumpção entende que não, já que o objetivo da
norma, fazer o julgamento sem a citação, não será observado, tendo em vista que o réu
necessariamente será citado para responder em relação à parte controversa.
Se mantida a decisão, o réu será citado e intimado, na mesma ocasião, para responder ao
recurso. Daniel Assumpção defende que o réu deverá alegar nas contrarrazões toda a matéria
de contestação possível. Assim:
No Tribunal
Porém, se conhecido e provido, poderá a decisão ser anulada, caso o tribunal reconheça não
ser o caso de julgamento prima facie, pela ausência de semelhança com os casos paradigmas
ou por haver outros elementos no processo.
Poderá também, reconhecendo que a causa é só de direito, o próprio tribunal reformar e dar
provimento à apelação para dar ganho de causa ao réu, valendo-se da teoria da causa madura
do art. 515, § 3º.
Daniel Assumpção esclarece que a citação não é o ato de chamar o réu a responder. Repita-se:
ela serve apenas para cientificá-lo da demanda, aperfeiçoando a relação processual. Isso
porque ela se limita a integrar a relação processual; o ato de se defender é suscitado pela
intimação, a qual ocorre, quase sempre, junto da própria citação e sem que seja destacado o
nomen juris “intimação”.
Nos casos de litisconsórcio necessário unitário passivo, a falta de citação de qualquer dos réus
torna a sentença passível de nulificação a qualquer tempo, por provocação de qualquer deles.
O STJ entende que, no caso de falta de um dos litisconsortes necessários, a sentença será
inexistente, e não nula, relativamente ao réu que não integrou a relação processual, sendo
possível manejar ação de querella nullitatis a qualquer tempo. É IMPORTANTE ESSA
DIFERENCIAÇÃO, JÁ QUE SE A SENTENÇA FOR INEXISTENTE, NÃO SERÁ CASO DE AÇÃO
RESCISÓRIA, JÁ QUE NÃO HAVERÁ O QUE RESCINDIR. Nesse sentido:
4. No caso específico dos autos, em que a ação tramitou sem que houvesse
citação válida do litisconsórcio passivo necessário, não se formou a relação
processual em ângulo. Há, assim, vício que atinge a eficácia do processo em
relação ao réu e a validade dos atos processuais subsequentes, por afrontar
o princípio do contraditório. Em virtude disto, aquela decisão que transitou
em julgado não atinge aquele réu que não integrou o polo passivo da ação.
Por tal razão, a nulidade por falta de citação poderá ser suscitada por meio
de ação declaratória de inexistência por falta de citação, denominada
querela nullitatis, ou, ainda, por simples petição nos autos, como no caso
dos autos.
Porém, inexistindo prejuízo para o réu não citado, não se há falar em invalidade ou ineficácia
da sentença.
A nulidade de citação é vício tão grave, segundo a jurisprudência, que pode mesmo ser
alegada depois do biênio de ajuizamento da ação rescisória, seja por uma petição nos autos,
seja por uma ação declaratória de inexistência. É ver o STJ:
5. Pelo caput do referido dispositivo legal, evidencia-se que esta ação possui
natureza constitutiva negativa, que produz sentença desconstitutiva,
quando julgada procedente. Tal ação tem como pressupostos (i) a existência
de decisão de mérito com trânsito em julgado; (ii) enquadramento nas
hipóteses taxativamente previstas; e (iii) o exercício antes do decurso do
prazo decadencial de dois anos (CPC, art. 495).
8. No caso específico dos autos, em que a ação principal tramitou sem que
houvesse citação válida do litisconsórcio passivo necessário, não se formou
a relação processual em ângulo. HÁ, ASSIM, VÍCIO QUE ATINGE A EFICÁCIA
DO PROCESSO EM RELAÇÃO AO RÉU E A VALIDADE DOS ATOS
PROCESSUAIS SUBSEQUENTES, POR AFRONTAR O PRINCÍPIO DO
CONTRADITÓRIO. EM VIRTUDE DISTO, AQUELA DECISÃO QUE TRANSITOU
EM JULGADONÃO ATINGE AQUELE RÉU QUE NÃO INTEGROU
O POLO PASSIVO DA AÇÃO. POR TAL RAZÃO, A NULIDADE POR FALTA
DE CITAÇÃO PODERÁ SER SUSCITADA POR MEIO DE AÇÃO DECLARATÓRIA
DE INEXISTÊNCIA POR FALTA DE CITAÇÃO, DENOMINADA QUERELA
NULLITATIS, QUE, VALE RESSALTAR, NÃO ESTÁ SUJEITA A PRAZO PARA
PROPOSITURA, E NÃO POR MEIO DE AÇÃO RESCISÓRIA, QUE TEM COMO
PRESSUPOSTO A EXISTÊNCIA DE DECISÃO DE MÉRITO COM TRÂNSITO EM
JULGADO.
[...]
h) Espólio: inventariante;
i) Pessoas jurídicas de direito privado: os designados por seus estatutos sociais, ou, não
havendo, seus diretores;
O réu poderá ser citado na pessoa de seu advogado quando este tiver poderes especiais para
isso ou nas hipóteses de ações incidentais.
Porém, tais impedimentos se referem apenas à pessoa do réu, de modo que, se ele dispuser
de procurador com poderes adequados, poderá ele ser citado.
b) Induzir a litispendência;
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304
a) Interromper a prescrição;
b) Constituir em mora o devedor (é por isso que os juros de mora correm a partir da
citação em obrigações ex persona).
Na verdade, o que a citação faz é determinar qual processo deverá prevalecer em caso de
múltipla proposição, tendo o STJ pacífico entendimento de que A PRIMEIRA CITAÇÃO
DETERMINA A EXTINÇÃO DOS DEMAIS PROCESSOS.
Dessa forma, pendendo duas ações idênticas, mas em nenhuma delas tendo havido a citação,
deve-se aguardar que uma delas ocorra para que se saiba qual processo extinguir. Se as ações
pendentes forem em juízos de mesma competência territorial, é prevento o juízo que primeiro
despachou positivamente (cite-se). Se em foros diversos, pela juntada o mandado de citação
nos autos.
Por isso mesmo que a alienação da coisa litigiosa será ineficaz perante o vencedor da
demanda.
Competência territorial diferente Prevento o que primeiro aperfeiçoou a citação com a juntada do mandado
Em caso de ato ilícito, considera-se em mora o devedor desde o momento em que praticou o
ato.
Súmula 54, STJ: “Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de
responsabilidade extracontratual”.
Isso coorre, inclusive, para os danos morais, tendo sido reafirmada esse posicionamento
jurisprudencial após breve período de variação no STJ:
3. Reclamação procedente.
(Rcl 3.893/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado
em 23/05/2012, DJe 01/06/2012)
O autor terá o prazo de 10 dias para citar o réu, podendo pedir, motivadamente, a
prorrogação deste prazo por até 90 dias. Após, ter-se-á por NÃO INTERROMPIDA a prescrição
no momento da propositura da ação, mas apenas na data em que ela efetivamente se
realizar.
Súmula 106, STJ: “Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação,
por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de
prescrição ou decadência”.
[...]
[...]
[...]
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307
[...]
[...]
[...]
7. A ratio essendi dos arts 172 e 175 do Código Civil revogado e do art. 219,
do CPC, é a de favorecer o autor diligente na proteção do seu direito,
porquanto, raciocínio inverso conspiraria contra a dicção do art. 219, do CPC
e do art. 172 Código Civil, bem como do art. 175, do CC, o qual preceitua
que "A PRESCRIÇÃO NÃO SE INTERROMPE COM A CITAÇÃO
NULA POR VÍCIO DE FORMA, POR CIRCUNDUTA, OU POR SE ACHAR
PEREMPTA A INSTÂNCIA OU A AÇÃO." 8. Deveras, o prazo prescricional
interrompido pela citação válida somente reinicia o seu curso após o
(STJ, REsp 934.736/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 06/11/2008, DJe 01/12/2008)
b) A interrupção da prescrição ocorre pela propositura de ações pelo autor que busquem
conservar/reconhecer seu direito, como ações cautelares e mandados de segurança;
d) A interrupção da prescrição não ocorre se o processo for extinto por contumácia das
partes ou por abandono pelo autor;
a) Ações de estado;
Devem acompanhar a citação, dentre outros requisitos, cópia da inicial e do despacho do juiz,
consignando-se expressamente que a não apresentação de resposta resultará na presunção de
veracidade dos fatos.
Somente o réu poderá assinar a citação, não sendo admissível a assinatura por familiares ou
outras pessoas. Porém, o STJ tem mitigado essa regra, permitindo que o AR seja assinado por
outrem, mas recaindo sobre o autor a prova de que o réu teve conhecimento da demanda.
Nesse sentido:
por outra pessoa que não o réu, o autor tem o ônus de provar que o réu,
embora sem assinar o aviso, teve conhecimento da demanda que lhe foi
ajuizada. 3. Embargos de divergência conhecidos e providos. (EREsp
117949/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, CORTE
ESPECIAL, julgado em 03/08/2005, DJ 26/09/2005, p. 161)
[...]
A citação será realizada por carta com AR, só se aperfeiçoando com sua juntada aos autos, a
partir de quando começa a correr o prazo de resposta. Se houver recusa do recebimento,
reputa-se frustrada a diligência, já que o carteiro não tem fé pública.
Entretanto, a juntada aos autos é a regra, existindo várias exceções, como no caso das
execuções fiscais, em que se começa a contar o prazo desde o recebimento da citação pelo
réu, e não da juntada.
b) Entrega da contrafé;
Poderá ser feita a citação em comarcas vizinhas ou nas da mesma região metropolitana,
independentemente de carta precatória (art. 230).
Se ele se recusar a receber a contrafé, será tido por citado e poderá assumir a condição de
revel se não responder no prazo.
14.8.3. Citação por Mandado com Hora Certa (arts. 227 a 229)
Citação ficta, já que se presumirá que ela ocorreu.
a) Objetivos: procura do réu por três vezes, em três dias diferentes, em seu domicílio ou
residência, sem encontrá-lo;
Se houver a citação por hora certa e o réu não comparecer, será ele considerado revel,
nomeando-se-lhe curador especial.
Citado por edital, o réu terá entre 20 e 60 dias, a critério do juiz, para comparecer; após,
será considerado revel, contra ele se produzindo, inclusive, os efeitos da revelia, como a
presunção de veracidade dos fatos declarados pelo autor.
Se o autor da citação editalícia agir maliciosamente, fazendo afirmação falsa, poderá ser
condenado a pagar multa de até cinco vezes o valor do salário mínimo ao citando, além de
ser nula a citação (art. 233).
Esses cadastros poderão ser feitos tanto por pessoas jurídicas de direito privado quanto de
direito público, inclusive órgãos da administração direta.
Os atos processuais são públicos; correrão, entretanto, em segredo de justiça, quando o exigir
o interesse público ou quando disser respeito a casamento, filiação, separação, alimentos e
guarda de menores.
quaisquer das partes, bem como para a escorreita instrução do feito (pas de
nulitté sans grief).
Os atos das partes podem ser unilaterais ou bilaterais. Eles produzem imediatamente a
constituição, modificação ou extinção de direitos processuais, salvo a desistência da ação, que
deverá ser homologada por sentença.
As partes não podem lançar nos autos anotações ou quaisquer outros dados ou informações
marginais, devendo o juiz mandar riscá-las e impor a cominação de multa correspondente à
metade do salário mínimo.
(STJ, AgRg no AgRg no REsp 1050282/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 18/06/2009, DJe 06/08/2009)
No caso dos processos eletrônicos, o prazo somente finda no último momento do último dia.
Ou seja, se, por exemplo, o prazo findar na quarta-feira, é tempestivo o protocolo digital feito
até às 23:59:59.
Serão concluídos depois das 20 horas os atos iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a
diligência ou causar grave dano.
Essa regra, entretanto, somente se aplica, agora, aos feriados e às férias coletivas dos tribunais
superiores, já que a EC nº 45/04 proibiu férias coletivas nos juízos cíveis e nos tribunais de
segundo grau.
Entretanto, o prazo para a resposta do réu somente começará a correr no primeiro dia útil
seguinte ao feriado ou às férias.
14.9.3.1. Prazos
a) Conceito: lapso de tempo em que o ato processual pode ser validamente praticado.
b) Natureza:
ii. Peremptórios: não permitem alteração. Regra geral, não existe prazo
peremptório para o juiz e auxiliares da Justiça;
iv. Judiciais: são fixados pelo juiz (ex.: art. 491 – prazo para resposta na ação
rescisória);
v. Convencionais: são os que a lei permite sejam acordados pelas partes (art. 181).
Somente podem ser convencionados os prazos dilatórios, desde que antes de
findo e houver legítimo motivo.
c) Notas:
ii. Pode o juiz prorrogar os prazos por no máximo até 60 dias nas comarcas onde
for difícil o transporte, ou pelo tempo necessário, em caso de calamidade
Decorrido o prazo, a parte não perderá o direito de praticar o ato se comprovar justa causa.
Considera-se justa causa o evento imprevisto, alheio à vontade da parte.
O prazo geral legal supletivo, quando a lei não determinar outro ou quando o juiz não assinalar
diferente, é de 05 dias. Entretanto, o prazo geral para comparecer em juízo é de 24 horas.
c) Litisconsortes com procuradores diferentes (art. 191): prazo será em dobro para
contestar, para recorrer e para falar nos autos, em geral.
Súmula 641, STF: “Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando um só dos
litisconsortes haja sucumbido”.
Sendo o advogado intimado, se não devolver ele os autos em 24 horas, perderá o direito de
vistas fora do cartório e incorrerá em multa, correspondente à metade do salário mínimo
vigente na sede do juízo e intimará a OAB para as providências devidas. Isso também se aplica
ao MP e à Fazenda Pública.
Assim, o prazo não se conta desde o dia em que o Procurador teve vistas pessoal dos autos,
mas sim com o ingresso dos mesmos na repartição. O mesmo vale para a defensoria pública.
Na forma da legislação atual, há dois meios de comunicação dos atos processuais: a citação e a
intimação.
Os atos judiciais serão cumpridos por ordem judicial ou por carta conforme se realize dentro
ou fora da subseção ou comarca judiciária.
A carta será de ordem, quando expedida para juiz subordinado, delegando a ele a prática de
determinado ato processual, ou rogatória, quando expedida para autoridade judiciária
estrangeira. Nos demais casos, será precatória. Sempre haverá identidade de grau
jurisdicional entre o juízo deprecante e o juízo deprecado.
A carta tem caráter itinerante, podendo ser apresentado a juízo diverso do que dela constar, a
fim de se praticar o ato. Havendo urgência, a precatória e a de ordem poderão ser transmitidas
por telefone, telegrama ou radiofone.
As cartas devem atender a uma série de formalidades previstas no art. 202; se não atendidos,
podem elas ter seu cumprimento recusado:
hipóteses enumeradas nos incisos do art. 209 do CPC, quais sejam: (i)
quando não estiver a carta precatória revestida dos requisitos legais; (ii)
quando carecer o juiz de competência, em razão da matéria ou hierarquia;
(iii) quando o juiz tiver dúvida acerca de sua autenticidade.
Intimação: “é ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo, bem assim
para que faça ou deixe de fazer alguma coisa” (art. 234). É menos formal e mais dinâmica que
a citação, preocupando mais em seu aspecto teleológico.
A efetivação das intimações se dá por quatro vias distintas: por publicação no órgão oficial, de
regra, constando o nome da parte e do advogado. Também pelo correio e pessoalmente, pelo
escrivão ou pelo oficial de justiça. A Lei nº 11.419/06 introduziu o parágrafo único no art. 237
do CPC, possibilitando a intimação por meio eletrônico. O Ministério Público tem prerrogativa
de intimação pessoal (art. 236, § 2º).
III - quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último
aviso de recebimento ou mandado citatório cumprido;
V - quando a citação for por edital, finda a dilação assinada pelo juiz.
2. TRF1 – XII – QUESTÃO 83. A citação válida interrompe a prescrição, mesmo que o
processo seja extinto sem julgamento de mérito, SALVO SE A EXTINÇÃO SE DEU POR
CONTUMÁCIA DAS PARTES OU ABANDONO DA CAUSA PELO AUTOR.
3. TRF1 – XII – QUESTÃO 83. A citação ordenada por juiz incompetente, seja absoluta ou
relativamente, é válida, mas PARCIALMENTE INEFICAZ POR PRODUZIR APENAS
EFEITOS MATERIAIS91.
5. TRF4 – XII – QUESTÃO 60. Os prazos iniciados antes do recesso forense fluem até a
data imediatamente anterior ao início deste, inclusive, ainda que recaia em domingo
ou feriado92.
6. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 42. Com a citação, torna-se inviável acolher o aditamento
ao pedido sem o consentimento do réu, dada a estabilidade da lide. Contudo, o
90
Em decorrência do seguinte art. do CC/02: Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá
ocorrer uma vez, dar-se-á: [...]V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
91
Perfeito. Apenas interrompe a prescrição e constitui o devedor em mora. Os efeitos processuais,
como tornar prevento o juízo, induzir litispendência e torna litigiosa a coisa, não ocorrem.
92
Ou seja: se a parte tem um prazo de 10 dias, que começa a ser contado na terça-feira, sendo que a
partir da segunda-feira da semana seguinte, até a quarta-feira, haverá recesso forense, na quinta-feira já
terão decorridos 06 (seis) dias (terça a domingo).
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323
pedido de desistência pode ser acolhido, desde que isso ocorra antes de a resposta
do réu ser apresentada93.
10. EMAGIS – 2011/41 – QUESTÃO 19. A falta de intimação da parte adversa para se
manifestar sobre os embargos de declaração, quando eles possam ter efeitos
infringentes, traduz motivo suficiente ao manejo de uma ação rescisória95.
11. EMAGIS – 2011/41 – QUESTÃO 18. A citação postal, quando autorizada por lei, exige o
aviso de
recebimento96.
12. EMAGIS – 2011/38 – QUESTÃO 19. Ajuizada ação contra uma autarquia, o juiz
condutor do processo determinou a citação da ré, ressalvando-lhe prazo em quádruplo
para apresentação da defesa. A situação configura exemplo de incidência do chamado
93
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 267, § 4º, DO CPC. PEDIDO DE DESISTÊNCIA. CONCORDÂNCIA
DO RÉU. NECESSIDADE.
1. Após o oferecimento da resposta, o autor não pode desistir da ação sem o consentimento do réu (CPC, art.
267, § 4º).
Porém, no MS, isso não se aplica. O impetrante pode desistir do processo até a sentença.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp 608.957/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 26/04/2011, DJe
04/05/2011)
94
Entendimento parcialmente superado: Súmula 484, STJ: “Admite-se que o preparo seja efetuado no
primeiro dia útil subsequente quando a interposição do recurso ocorrer depois do encerramento do
expediente bancário”.
95
A Seção, por maioria, afastando a aplicação da Súm. n. 343-STF, julgou procedente pedido aviado em
ação rescisória para declarar a nulidade de acórdão proferido em julgamento de embargos de
declaração (EDcl) aos quais foram emprestados efeitos infringentes, sem, contudo, intimar-se a parte
contrária. No entendimento do Min. Relator para o acórdão, houve ofensa ao art. 5º da CF, que rege os
princípios do contraditório e da ampla defesa. AR 2.702-MG, Rel. originário Min. Mauro Campbell, Rel.
para acórdão Min. Teori Albino Zavascki, julgada em 14/9/2011.
96
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. CORTE ESPECIAL. CITAÇÃO POR AR. PESSOA FÍSICA. ART. 223,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 1. A citação de pessoa física pelo correio deve
obedecer ao disposto no art. 223, parágrafo único, do Código de Processo Civil, necessária a entrega
direta ao destinatário, de quem o carteiro deve colher o ciente. 2. Subscrito o aviso por outra pessoa
que não o réu, o autor tem o ônus de provar que o réu, embora sem assinar o aviso, teve
conhecimento da demanda que lhe foi ajuizada. 3. Embargos de divergência conhecidos e providos.
(EREsp 117949/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, CORTE ESPECIAL, julgado em
03/08/2005, DJ 26/09/2005, p. 161)
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princípio da adequação sob a ótica subjetiva, na medida em que a regra especial existe
em função da peculiar posição da parte a quem se confere prazo dilatado.
13. GEMAF – 2010/05 – QUESTÃO 06. O STJ possui entendimento firmado no sentido de
ser válida a citação via postal com AR efetivada no endereço da ré e recebida por
qualquer um de seus funcionários, ainda que sem poder expresso para tanto97.
15. A citação válida interrompe a prescrição, mesmo que o processo seja extinto sem
julgamento de mérito, salvo se a extinção se deu por contumácia das partes ou
abandono da causa pelo autor.
16. A citação ordenada por juiz incompetente, seja absoluta ou relativamente, é válida,
mas parcialmente ineficaz por produzir apenas efeitos materiais.
O art. 297 traz as respostas tradicionais do réu: contestação, reconvenção e exceções rituais.
Entretanto, não são somente estas as possibilidades que se facultam ao réu, podendo ele
ainda suscitar as seguintes defesas:
a) Nomeação à autoria;
b) Chamamento ao processo;
c) Denunciação da lide;
97
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. PRELIMINAR DE INADMISSIBILIDADE
DO RECURSO APELATÓRIO. REJEIÇÃO. CITAÇÃO FEITA PELOS CORREIOS. PESSOA ESTRANHA AOS QUADROS DA
EMPRESA, POSSIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
[...]
4. Não merece amparo a simples alegação formulada pela empresa de que a pessoa que assinou a carta de citação
com AR não fazia parte da sua diretoria ou de que a signatária era "[...] em princípio pessoa desconhecida da
empresa", devendo-se anotar que consta do AR o número do registro da pessoa que o assinou. Este Superior
Colegiado possui entendimento firmado no sentido de ser válida a citação via postal com AR efetivada no
endereço da ré e recebida por qualquer um de seus funcionários, ainda que sem poder expresso para tanto.
5. Recurso especial conhecido e provido para reformar o acórdão na parte em que deu pela invalidade da citação
postal, determinando a volta do processo ao Tribunal para apreciar o mérito da lide, em grau de apelação.
(STJ, REsp 913.671/AL, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/11/2007, DJe 07/05/2008)
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325
c) Em sentido material: situação jurídica que a lei considera como apta a impedir ou
retardar a eficácia de determinada pretensão manifestada pelo autor. Exemplos:
pagamento, compensação, novação, prescrição e decadência.
15.2.1. Admissibilidade/Mérito
a) Processuais de admissibilidade: são as defesas que têm por objeto os requisitos de
admissibilidade da causa (condições da ação e pressupostos processuais). Dizem
respeito a questões puramente processuais; o objetivo do demandado é questionar a
viabilidade de apreciação do mérito; são as famosas preliminares de mérito. São
defesas processuais as previstas no art. 301. Se alguma delas for alegada, o juiz deve
abrir ao autor vistas para, no prazo de 10 (dez) dias, promover impugnação (art. 327);
15.2.2. Objeções/Exceções
Exceção (em sentido estrito) é a alegação de defesa que, para ser conhecida pelo magistrado,
precisa ter sido arguida pelo interessado. Nela não se discute a pretensão. A exceção pode ser
substancial ou processual.
As exceções, em regra, não podem ser conhecidas de ofício, salvo se houver prescrição,
hipótese em que o juiz poderá reconhecê-la em qualquer caso (art. 219, § 5º, CPC).
Objeção é a matéria de defesa que pode ser conhecida de ofício pelo magistrado. Ela discute
a pretensão, adentra no mérito, negando a pretensão. Também podem as objeções ser
Assim, temos:
As questões prévias tanto podem ser consideradas como exceções e como objeções, vale
dizer, existem questões prévias que podem ser conhecidas de ofício pelo juiz como a coisa
julgada, tratando-se, pois, de objeção. Por outro lado, há questões prévias que o julgador
somente pode conhecer quando provocado pelas partes tal qual a competência relativa,
sendo, então, uma exceção.
b) Negar as consequências jurídicas que o autor pretende retirar dos fatos que aduz.
Defesa indireta ocorre quando o demandado agrega ao processo fato novo, que impede,
modifica ou extingue o direito do autor. V.g., quando o demandado requer compensação com
o pedido do autor de crédito que este lhe deve. Nesse caso, não pode o juiz conhecer a defesa
indireta de ofício.
O juiz deverá conceder o prazo de 10 dias para que o autor impugne a contestação,
possibilitando o contraditório sobre os novos fatos acostados aos autos (art. 326).
a) Dilatórias: o acolhimento não põe fim ao processo, tão-somente aumenta o seu tempo
de duração;
b) Peremptórias: aquelas que, uma vez acolhidas, fazem com que o processo seja extinto
sem a resolução do mérito.
Quando se esgota o procedimento citatório? Seja ele de que forma for, por mandado, por
correio ou por edital, a resposta está no art. 24198 do CPC, que fornece elementos para que se
saiba exatamente a partir de que momento tem início o prazo de resposta do réu.
Normalmente é da juntada aos autos do mandado de citação, aviso de recebimento, ou
quando esgotado o prazo determinado no edital.
É exatamente o caso do art. 241, inciso III: “quando houver vários réus, da data de juntada aos
autos do último aviso de recebimento ou mandado citatório cumprido”. No caso de
litisconsórcio passivo, o prazo de resposta se inicia, para todos eles, no mesmo momento.
MAS PODE NÃO SE ENCERRAR NO MESMO MOMENTO.
Uma hipótese de encerramento diferenciado é a de um, por exemplo, litisconsórcio entre uma
pessoa jurídica de direito público e uma empresa particular, tal como a União e a Petrobrás,
sociedade de economia mista.
Essa situação entre a União e a Petrobrás, acarreta o seguinte: são citadas União e Petrobrás,
para contestar. A União, com base no art. 188 do Código de Processo Civil, tem prazo em
quádruplo para contestar, então o prazo de resposta dela é de 60 dias. A Petrobrás pode se
valer do art. 188?
98
Art. 241 - Começa a correr o prazo:
I - quando a citação ou intimação for pelo correio, da data de juntada aos autos do aviso de
recebimento;
II - quando a citação ou intimação for por oficial de justiça, da data de juntada aos autos do mandado
cumprido;
III - quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último aviso de recebimento ou
mandado citatório cumprido;
IV - quando o ato se realizar em cumprimento de carta de ordem, precatória ou rogatória, da data de
sua juntada aos autos devidamente cumprida;
V - quando a citação for por edital, finda a dilação assinada pelo juiz.
Ela é Fazenda? Não, ela não é fazenda. Se ela não é fazenda, é sociedade de economia mista,
empresa particular, ela tem direito ao prazo quádruplo também? Não. Mas, como ela está em
litisconsórcio com a União, e Petrobras e União são defendidas por procuradores distintos,
aplica-se o art. 191 do Código de Processo Civil. Assim, o prazo da Petrobrás é de 30 dias.
Não há mais necessidade de garantia do juízo para que possam ser interpostos os embargos.
Só que o art. 738 diz:
Então, qual é a exceção? É a de que, NOS EMBARGOS, O PRAZO PARA ELES É CONTADO
INDIVIDUALMENTE A PARTIR DA JUNTADA AOS AUTOS DE CADA MANDADO DE
CITAÇÃO, individualmente considerado. O prazo não tem início no mesmo momento, o prazo
pode se iniciar em momentos distintos, salvo se eles forem cônjuges porque aí se adota a
regra geral do início do prazo no mesmo momento.
15.3. A Contestação
A cumulação é eventual porque o réu alegará as matérias de defesa indicando que a posterior
seja enfrentada na eventualidade de a matéria defensiva anterior ser rejeitada pelo juiz.
E também no 517:
Art. 517. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser
suscitadas na apelação se a parte provar que deixou de fazê-la por motivos
de força maior.
Existe um rol de defesas processuais que devem ser apresentadas na concentração antes de se
discutir o mérito, previsto no art. 301 do CPC. São elas:
a) Incompetência absoluta do juízo: deve ser alegada dentro do prazo de defesa, no bojo
da contestação, sob pena de ter o réu que arcar com as custas processuais decorrentes
da alegação tardia;
e) Conexão ou continência:
f) Convenção de arbitragem:
a) Incompetência relativa;
Exceções Instrumentais.
b) Impedimento/suspeição do magistrado, perito, tabelião etc.; Devem ser distribuídas por
dependência aos autos
c) Impugnação ao valor da causa; principais, e não
protocoladas.
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330
Algumas matérias podem ser alegadas após a apresentação da contestação. São elas (art. 303):
c) Matérias que, por força de lei, podem ser deduzidas a qualquer tempo.
a) Defensor dativo;
b) Defensor público;
c) Curador especial;
e) Fazenda Pública.
Em alguns casos, a não impugnação do fato não pode produzir a presunção de ser ele
verdadeiro. São eles:
b) Se a respeito do fato não for admitida confissão, como ocorre com os direitos
indisponíveis (art. 320, II);
Deve ser apresentada no prazo de 15 dias, no rito ordinário. Havendo litisconsórcio com
procuradores diferentes, o prazo é em dobro. Defensoria pública tem prazo em dobro,
Fazenda Pública e MP, em quádruplo.
Se houver como litisconsortes Fazenda Pública e outra pessoa, somente se aplica o prazo em
quádruplo, e não o prazo em quádruplo dobrado em decorrência de serem litisconsortes com
procuradores diferentes.
Se o réu se apresenta ao juízo sem advogado, não deve o juiz indeferir sua contestação,
devendo nomear um advogado dativo para ratificá-la, salvo no procedimento sumário:
Nos pedidos contrapostos, o réu formula pedido contra o autor dentro da própria contestação.
Só que, para tanto, os pedidos contrapostos precisam estar expressamente autorizados na lei.
SÓ É POSSÍVEL FORMULAR PEDIDO CONTRAPOSTO, QUANDO EXISTE
EXPRESSA AUTORIZAÇÃO LEGAL. A hipótese clássica é a do art. 278, parágrafo
primeiro do Código de Processo Civil, no procedimento comum de rito sumário. Ele assim
dispõe:
Que outras hipóteses de pedidos contrapostos a doutrina menciona? Art. 922 do Código de
Processo Civil, possessórias. Art. 31 dos Juizados Especiais Cíveis. Então, é possível a
apresentação de pedidos contrapostos. Você tem um verdadeiro exercício do direito de ação,
formulado pelo réu. Mas esse exercício do direito de ação não cria processo novo, o processo
é o mesmo. Você tem um pedido novo formulado pelo réu, dentro da contestação, nos autos
daquele mesmo processo. Os fatos são os mesmos.
Ocorrendo tal situação, o réu poderá se comportar de duas formas: tão-somente alegar a
inexistência ou nulidade de citação ou também expor outras defesas processuais ou de mérito.
Essa exceção, em regra, é apenas dilatória, pois causa a remessa do processo para outro juízo.
Entretanto, se no processo houver vários pedidos e apenas contra alguns deles for acolhida a
exceção, deverá o processo ser parcialmente extinto, já que não há como enviar somente
parte dos autos e parte da petição inicial para a Justiça competente.
essa defesa deverá ser suscitada como preliminar de contestação, não se a admitindo por
meio de exceção instrumental.
São defesas processuais dilatórias, já que buscam a remessa do processo para outro juízo.
Podem ser alegadas a qualquer tempo, salvo se já sentenciado o outro processo. Poderá ser
alegada inclusive no Tribunal, se ambos os processos se encontrarem nessa fase. Por que não
pode ser alegada antes?
Pois haveria supressão de instância, caso o Tribunal avocasse o processo ainda não
sentenciado.
Essa última exceção, apesar de ser tratada como peremptória, na verdade é dilatória
potencialmente peremptória, já que o juiz, se a acolher, deverá determinar a emenda da inicial
no prazo de 10 dias; somente caso o autor não promova as modificações necessárias, deverá
haver a extinção do processo.
A perempção não extingue o direito material do autor, apenas não permite que se proponha
nova ação sobre ele. Ela se distingue da prescrição, pois não extingue a pretensão ao direito
material. Distingue-se da decadência, pois não extingue o próprio direito.
Além disso, diferentemente das duas, a perempção não obsta que a parte alegue o direito
material objeto das três ações extintas por abandono em sua defesa, quando réu.
Assim, vê-se que a perempção é uma sanção processual ao autor que agiu desidiosamente
perante a Justiça, provocando a jurisdição, mas depois deixando o processo abandonado por
tempo suficiente para sua extinção.
99
Art. 295 [...]
Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
I - Ihe faltar pedido ou causa de pedir; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
III - o pedido for juridicamente impossível; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1
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334
É defesa que causará a extinção do processo do juízo que não o prevento, aquele que primeiro
despachou, se na mesma subseção judiciária ou comarca, ou que primeiro determinou a
citação, se em subseções ou comarcas diferentes.
Lembrar que é a única preliminar de mérito que não pode ser conhecida de ofício pelo juiz.
O réu passará a ser autor na reconvenção, e o autor, réu. Como ela tem natureza jurídica de
ação, haverá apenas um processo, mas com duas ações.
Ela é uma faculdade, já que se o réu não a ajuizar, poderá ajuizar demanda autônoma.
A contestação da reconvenção, cuja intimação pode ser feita na pessoa do próprio advogado,
deve ser feita no prazo de 15 dias (art. 316).
A reconvenção, que é oferecida em peça autônoma, mas nos mesmos autos (SEM FORMAR
INSTRUMENTO),DEVERÁ SER JULGADA NA MESMA SENTENÇA DA AÇÃO
PRINCIPAL, SOB PENA DE NULIDADE.
Não é admitida reconvenção que amplie subjetivamente o processo ou cujo objeto seja de
incompetência absoluta do juiz da causa principal, assim como é vedada sua apresentação nos
procedimentos sumário e sumaríssimo (nestes, cabe pedido contraposto). Há, entretanto,
quem diga que sim, quando a reconvenção trouxer demanda que afete direito de terceira
pessoa, a qual deverá ser citada100.
Caso o réu perca o prazo da reconvenção, poderá propor ação autônoma, podendo promover
a distribuição por dependência ao processo, em função da similitude fática entre ambos.
Assim, haverá o mesmo efeito prático da reconvenção, com a diferença de que, ao invés de
um, haverá dois processos.
[...]
100
A isso a doutrina chama de reconvenção subjetivamente ampliativa.
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336
b) Interesse de agir: o provimento a ser obtido com a reconvenção deve ser diferente do
que poderia ter sido obtido somente com a contestação. Assim, se a demanda for
dúplice, ou seja, se o bem de vida já for entregue ao réu pelo improvimento do pedido
do autor, não há interesse de agir;
As ações meramente declaratórias são ações dúplices. Porém, o STF nelas admite
reconvenção. Como exemplo pode-se citar o caso do homem que tem a fama de ser pai de
determinada criança. A fim de se livrar disso, ele ajuíza ação declaratória negativa de
paternidade. O infante, representado pela mãe, não somente contesta, mas apresenta
reconvenção pedindo a fixação de alimentos.
d) Peça autônoma:
g) Cabimento: como visto, não é cabível reconvenção nos JEC e no procedimento sumário
(cabe, repita-se, pedido contraposto).
Reconvenção: como modalidade de resposta que é, permite que o réu não apenas ofereça
resistência à pretensão buscada pelo autor mas também pleiteie o reconhecimento de uma
pretensão da qual se julga titular em face do autor acerca de questão conexa à causa principal.
15.5.1. Generalidades
É o incidente processual pelo qual se pode alegar, com a suspensão do procedimento
principal até o julgamento definitivo (art. 306), determinadas matérias que, por determinação
legal, devem ter um procedimento próprio para serem investigadas e decididas. São espécies
de defesa que compreendem as alegações de suspeição ou impedimento do juiz e
incompetência relativa do juízo.
Essas defesas não adentram no mérito, sempre irão atacar o processo por alguma
irregularidade que causa prejuízo à parte.
É possível que seja oferecida sem a contestação, já que aquela suspende o prazo. Tão logo o
excipiente tenha julgada sua exceção, deverá contestar no prazo que lhe resta.
O autor não poderá alegar a exceção de incompetência relativa. Já autor e réu poderão alegar
exceção de suspeição/impedimento.
15.5.2.1. Generalidades
São as formas estabelecidas em lei para afastar o juiz da causa, por lhe faltar capacidade
subjetiva ou compatibilidade, que é pressuposto processual de validade. Ambas são voltadas
contra a pessoa física do juiz, podendo (devendo) HAVER A DECLARAÇÃO DE OFÍCIO se
configuradas101.
A parcialidade é vício que não gera a extinção do processo; ao ser verificada, os autos devem
ser remetidos ao substituto legal.
101
Discute-se a natureza jurídica do impedimento e da suspeição, divergindo-se correntes que
entendem sê-las objeções e exceções. De acordo com o art. 137, “...O juiz que violar o dever de
abstenção, ou não se declarar suspeito, poderá ser recusado por qualquer das partes (art. 304)”. Assim,
por ele ter o dever processual de se declarar suspeito/impedido, ou seja, sendo questão reconhecível
de ofício, mais correto é classifica como objeção.
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340
[...]
Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo.
A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de
propósito der motivo para criá-la (art. 256)102.
Em qualquer caso, o magistrado, após receber a apelação, terá oportunidade de oferecer a sua
defesa.
102
Busca-se, com essa regra, evitar sejam criados incidentes artificiosos no curso do processo com o
propósito de afastar o juízo natural do processamento da causa. Do contrário, não simpatizando a parte
com o magistrado definido à luz das regras processuais prévias e objetivas que assentam o juízo
competente para a causa, ou então temendo a linha de entendimento por ele já manifestada em outros
casos, bastar-lhe-ia criar no curso do processo situação de conflito com o juiz para, através de
reprovável postura, obter o que deseja: substituir o juízo natural da ação.
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341
Isso, entretanto, somente deve ocorrer se o Ministro impedido foi voto vencido. Se ele foi
relator ou prolatou voto no sentido da tese vencedora, não tendo sido unânime o julgamento,
ainda que subsistissem votos suficientes para manter o acórdão no mesmo sentido do
decidido, é altamente recomendável a anulação do acórdão, já que ele provavelmente
influenciou no julgamento (o que não ocorreu no julgado acima).
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342
Ela poderá ser apresentada no domicílio do réu, com o requerimento de sua imediata
remessa ao juízo que determinou a citação. É uma faculdade sua.
Não obstante, lembrar que muitos juízes admitem a exceção de incompetência relativa
oferecida como preliminar de contestação, em consagração ao princípio da instrumentalidade
das formas.
a) Manifesta improcedência;
Para maiores detalhes, olhar capítulo sobre competência, onde esta exceção foi trabalhada
com maior profundidade.
Ela será apensada aos autos principais, sem a suspensão do trâmite do procedimento
principal. O autor será intimado para ser ouvido no prazo de 05 dias; sendo necessário, poderá
haver produção de prova, inclusive pericial.
O juiz tem o prazo impróprio de 10 dias para resolver a impugnação, mediante decisão
interlocutória atacável por agravo de instrumento.
E se a justiça gratuita for concedida no curso do processo? Não há prazo especificado para tal
situação, sendo admissível entender pelo prazo supletivo de 05 dias do CPC.
A lei em comento determina que o recurso cabível contra decisão proferida na impugnação à
justiça gratuita é apelação. Entretanto, isso deve ser visto com reservas: somente se apelará se
o incidente for autuado em apenso. Assim, haverá o desapensamento com a consequente
remessa dos autos do incidente, junto da apelação, ao tribunal.
Entretanto, se a denegação da justiça gratuita ou sua revogação se der nos próprios autos
principais, o recurso manejável é o agravo de instrumento. Esse é o entendimento do STJ:
Caso o reconhecimento seja parcial, o juiz deverá antecipar os efeitos da tutela mediante
decisão interlocutória (art. 273, § 6º).
Tanto é assim que, nas defesas indiretas, o réu concorda com os fatos alegados pelo autor,
mas lhe contrapõe fatos modificativos, impeditivos ou extintivos do seu direito.
O reconhecimento jurídico do pedido pode ser repudiado pelo juiz? Em regra não, salvo se
tratar-se de direitos indisponíveis ou de manifestação feita por pessoa sem capacidade para
tanto. Nesse caso, evidentemente que ele poderá se valer do fato para formar seu
convencimento, mas deve fundamentar também com base em outros elementos sua decisão.
Se, por exemplo, A pede indenização em face de B por ter este descumprido um contrato, e B
alega que o contrato era nulo (defesa indireta), A deverá ajuizar ação declaratória incidental
para alçar a questão do contrato, a qual necessariamente deverá ser analisada para se decidir
sobre a indenização, à condição de questão principal, pedindo que o juiz reconheça sua
validade.
Esse reconhecimento deverá ser feito no dispositivo da sentença, já que é essa a parte que faz
coisa julgada material.
O pedido é autuado nos próprios autos e julgado junto com a ação principal. O juiz deve
decidir, na sentença, primeiro a questão prejudicial, abrindo um tópico na fundamentação
para tratar da questão incidente e sobre ela se manifestando no dispositivo. Não é cabível no
rito sumário nem nos juizados especiais.
Ambas as partes têm legitimidade para o ingresso da ação declaratória incidental, a qual
somente será considerada uma espécie de resposta do réu quando por ele utilizada.
O réu, entretanto, deverá propor a ação declaratória junto à contestação, enquanto o autor
terá o prazo de 10 dias contados da intimação da apresentação da resposta pelo réu.
[...]
(STJ, REsp 1128770/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Rel. p/ Acórdão Ministro
HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/AP), QUINTA TURMA, julgado em 16/11/2010, DJe 06/12/2010)
[...]
2. Nos termos do art. 469, incisos I, II e III, do Código de Processo Civil, não
fazem coisa julgada: (a) os motivos, ainda que importantes para
determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; (b) a verdade dos
fatos, estabelecida como fundamento da sentença; e (c) A APRECIAÇÃO DA
QUESTÃO PREJUDICIAL, DECIDIDA INCIDENTEMENTE NO PROCESSO, A
NÃO SER, QUANTO A ESSA ÚLTIMA HIPÓTESE, ANTE A PROPOSITURA DE
AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL.
[...]
[...]
(STJ, AgRg nos EDcl na Pet 5.830/DF, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 22/04/2009, DJe 25/05/2009)
15.8.1. Conceito
CONSISTE NA NÃO APRESENTAÇÃO, OU NA APRESENTAÇÃO
INTEMPESTIVA, DA CONTESTAÇÃO. Assim, um réu-revel pode perfeitamente ter
apresentado outros tipos de resposta, como a reconvenção. Entretanto, continuará sendo
revel.
Revelia não se confunde com os efeitos da revelia, já que nem sempre estes se farão
presentes.
Efeitos Processuais
d) Se o direito material em discussão for indisponível: como ocorre com as causas contra
menores ou movidas em face da Fazenda Pública;
Quando ocorre o afastamento desse efeito da revelia, caberá ao autor provar o que alegou.
Importante também o seguinte: somente se reputam verdadeiros os fatos alegados pelo autor,
não os fundamentos jurídicos. É exatamente isso que explica o fato de o pedido do
autor poder ser julgado improcedente, já que os fundamentos jurídicos (a relação
jurídica por ele deduzida) poderão não convencer o juiz de que o autor tenha o
direito que pleiteia, em que pese a veracidade dos fatos.
Súmula 231, STF: “O revel, em processo civil, pode produzir provas, desde que compareça em
tempo oportuno”.
1º. - art. 13, inciso II, CPC. Neste caso o réu já está participando do processo no polo passivo,
ou seja, ele já contestou. Mas existe um vício no que diz respeito à sua capacidade processual
ou em sua representação. Diante disso, o juiz determinará ex officio que ele providencie a
regularização de tais vícios. Decorrido o prazo sem o respectivo cumprimento da
determinação, ele será considerado revel de acordo com a Lei.
2º. - art. 265, parágrafo 2º., CPC . Nos casos de falecimento do procurador da parte.
Neste caso, o réu, a princípio, não era revel, mas se ele não providencia a regularização de sua
representação processual no prazo de 20 dias, de acordo com o referido artigo, ele passará a
ser considerado revel.
3º. - art. 265, parágrafo 1º, CPC. No caso de morte da própria parte.
Nestes casos, deverá ser realizada a habilitação dos sucessores junto ao juízo ou o ingresso do
espólio no polo passivo da demanda. Se ele não se habilitarem ou não ocorrer a sucessão
processual pelo espólio no pólo passivo da demanda, a parte ré passa a ser considerada revel.
A revelia material é aquela em que há a apresentação da contestação, mas nela não se realiza
a impugnação específica dos fatos afirmados pelo autor. Então, apesar de não ser revel, vai
ocorrer a mesma consequência: a presunção de veracidade dos fatos afirmados pelo autor.
Logo, caracterizada a revelia, não se lhe deve reconhecer efeitos patrimoniais, continuando-se
a instrução processual para fins de certificação ou não do direito pleiteado pelo autor.
4. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 87. O revel pode produzir provas, desde que
compareça ao processo em tempo oportuno.
5. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 81. Quanto às regras de competência, é correto afirmar
que o juizo é um órgão jurisdicional que se coloca dentro do foro competente, o qual
diz respeito ao território em que é exercida a jurisdição.
6. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 85. A sentença que decidir a ação declaratória
incidental faz coisa julgada.
A atividade de saneamento, entretanto, não se esgota nessa fase, já que o saneamento deve
ser exercido ao longo de todo o procedimento, sendo ele mais concentrado nessa fase. Porém,
desde a análise da inicial já há saneamento, quando o juiz, por exemplo, manda regularizar a
representação processual, manda emendar a inicial etc.
São as seguintes as providências preliminares tomadas para sanear o processo (arts. 323 a
327):
a) Tendo sido apresentada defesa indireta, deve o juiz intimar o autor para replicar em
10 dias (impugnar a contestação), manifestando-se o demandante sobre os novos
fatos deduzidos pelo réu que possam modificar, extinguir ou impedir seus direitos (art.
326);
b) Se o réu apresentar somente defesa direta, mas juntar documentos, deve o juiz
intimar o autor para se manifestar no prazo de 05 dias (art. 398);
Como visto, a ação declaratória incidental consiste em uma demanda, formulada pelo autor,
para que o magistrado declare a existência da relação jurídica prejudicial, para que essa
decisão possa ficar imune pela coisa julgada material (art. 470).
f) Se tiver havido revelia sem efeito da confissão ficta, deve o magistrado intimar o autor
para especificar as provas que pretenda produzir em audiência, no prazo de 05 dias
(art. 324);
g) Se a revelia decorrer de citação por edital ou por hora certa, deve o magistrado
designar curador especial (art. 9º, II);
i) Se o réu alegar alguma defesa processual (art. 301), deve o juiz intimar o autor para
que sobre ela se manifeste no prazo de 10 dias (art. 327).
b) Extinguir o processo com resolução de mérito, nos casos do art. 269, II a V103 (logo, o
juiz somente não extinguirá o processo com resolução de mérito, proferindo
julgamento conforme seu estado, na hipótese de acolher ou rejeitar o pedido do
autor);
d) Marcar audiência preliminar de conciliação (art. 331). Não será marcada essa
audiência caso o objeto da lide não admita transação ou se for improvável a
conciliação ante as circunstâncias (art. 331, § 3º);
103
Art. 269. Haverá resolução de mérito:
[...]
II - quando o réu reconhecer a procedência do pedido;
III - quando as partes transigirem;
IV - quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição;
V - quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação.
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353
Ele entende ser possível a decisão de mérito apenas com base na prova documental produzida
pelas partes e nos argumentos trazidos na inicial, na contestação e na impugnação.
[...]
b) Quando ocorrer a revelia, desde que ela produza o efeito da confissão ficta.
O magistrado não pode, no julgamento antecipado, concluir pela improcedência por falta de
provas, já que isso seria um comportamento contraditório inadmissível. Quando for o caso, o
julgamento antecipado não é faculdade, mas dever, em homenagem ao princípio da economia
processual.
DA LIDE. OFENSA AOS ARTS. 330, I, 334, II, 249, § 1º, DO CPC, 1.132 E 145, IV
E V, DO CC/16 NÃO CARACTERIZADA. DIVERGÊNCIA PRETORIANA SUPERADA
PELO MENCIONADO PRECEDENTE DA SEGUNDA SEÇÃO.
[...]
[...]
Muitas vezes ocorre de o magistrado dispensar a produção de provas pelas partes, com
fundamento em sua desnecessidade, julgando antecipadamente o mérito da causa, e elas
alegarem cerceamento do direito de defesa. Nesse caso, as partes deverão interpor agravo de
instrumento ou apelação, a depender do momento em que foi feita a dispensa. O mérito da
prova não poderá ser discutido em sede de recurso excepcional, pois implicaria em análise do
conjunto probatório. O que será discutido é o direito de produção probatória. Sobre isso:
[...]
[...]
Entretanto, há um caso em que o julgador pode julgar antecipadamente a lide por ausência
de provas no processo, de acordo com a distribuição estática do ônus da prova: quando as
partes dispensam a produção de provas e pedem o julgamento antecipado. Nesse sentido:
[...]
16.4.1. Generalidades
Ultrapassada a fase de providências preliminares e não ocorrendo a extinção do processo sem
exame de mérito, caberá ao juiz designar audiência preliminar, situação em que tentará
promover a conciliação das partes.
Não alcançada a conciliação, o juiz deverá resolver as questões processuais pendentes e fixar
os pontos controvertidos do processo, designando de imediato a AIJ. Havendo conciliação,
deve ser reduzida a termo e homologada pelo juiz.
Sugere-se que conste na ata também que as partes renunciam ao direito de recorrer, para que
o processo efetivamente chegue ao fim.
A audiência preliminar somente deve ser marcada se a lide versar sobre direitos que
admitam transação, disponíveis.
[...]
O despacho saneador, que será prolatado logo após a audiência preliminar, se não obtida a
conciliação, ou logo que os autos forem conclusos ao juiz, caso a causa trate de direitos
indisponíveis ou tudo indique que não haverá conciliação, após adotadas as providências
preliminares, conterá (art. 331, § 2º):
a) Marcação da AIJ;
Dificilmente aparece, num processo, uma manifestação do juiz com o título “despacho
saneador”. Normalmente vem da seguinte forma:
Vista às partes. Prazo de 0005 dia(s). Ficam intimadas as partes para que
especifiquem as provas que entendem ser necessárias ao desate da lide,
apontando, com clareza e objetividade, a justificativa para que elas sejam
produzidas, sem prejuízo de eventual julgamento antecipado da lide no caso
de as provas que vierem a ser requeridas se mostrarem inúteis ou
meramente protelatórias.
Vê-se que, no despacho acima prolatado (caso real), o juiz não marcou a AIJ e se resguardou
com a possibilidade de julgar antecipadamente a lide.
Despacho Audiência
AIJ frutífera?
Saneador
Encerramento
do processo
Importante deixar consignado, entretanto, que essa é a sequência ideal, nunca devendo,
entretanto, ser um fim a ser perseguido pelo juiz. Se o juiz puder, de forma legítima, passar da
fase de apresentação de defesa diretamente para o julgamento, sem agredir direitos,
excelente. Se puder suprimir a audiência de conciliação por flagrante inutilidade, deve fazê-lo.
Se verificar ser alta a probabilidade de conciliação, deve marcá-la.
Inclusive, pode até mesmo, após o insucesso da audiência de conciliação, designar uma
nova, caso as partes mudem seu comportamento e se mostrem prontas a transigirem. Não
há limite temporal para a conciliação, sendo sempre preferível o acordo, por ser mais
democrático, ao julgamento.
O despacho saneador muitas vezes nem mesmo aparece com esse nome no processo. Às vezes
o saneamento é difuso. Entretanto, se no despacho saneador ou no saneamento houver o
afastamento da prescrição/decadência, deve a parte interpor decisão interlocutória, caso
contrário a matéria ficará preclusa, não podendo ser afastada nem mesmo em grau de
apelação. Nesse sentido o entendimento do STJ:
2. Agravo improvido.
Ademais, muito comum que os juízes, após a manifestação das partes pela produção de
provas, indefiram-nas e façam os autos conclusos para proferir sentença. O STJ entende que,
O julgamento antecipado é decisão de mérito fundada em cognição exauriente, proferida após a fase de saneamento do
processo, em que o magistrado reconhece a desnecessidade de produção de mais provas em AIJ. Ele entende ser possível a
decisão de mérito apenas com base na prova documental produzida pelas partes e nos argumentos trazidos na inicial, na
contestação e na impugnação.
Se o juiz indeferir a produção de provas e a parte não recorrer, a matéria ficará preclusa. Se o juiz dispensar a produção de
provas, não poderá julgar pedidos improcedentes por falta de provas, salvo se as partes tiverem pedido a dispensa. A não
realização da audiência preliminar dificilmente será causa de nulidade, visto que as partes podem transigir a qualquer tempo.
Veja bem: essas decisões continuarão sendo terminativas. Por quê? Pois não adentrarão no
mérito. Simplesmente por isso.
c) Abandono do processo pelo autor: ocorre quando o autor abandonar a causa por mais
de 30 dias, devendo o magistrado também intimá-lo para que se manifeste em 48
horas sobre a vontade de prosseguir no processo. Caso o réu já esteja integrado à
lide, não poderá o juiz promover a extinção de ofício. Nesse sentido:
Súmula 240, STJ: “A extinção do processo, por abandono da causa pelo autor, depende
de requerimento do réu”. Por que disso? Pois o réu tem direito de ter também apreciada sua
tese de defesa, obtendo em seu favor a coisa julgada material, para que o autor não o
importune novamente em momento futuro.
e) Perempção: quando o autor der causa por três vezes à extinção do processo por
abandono. Nesse caso, ele não poderá mais de forma alguma demandar sobre o seu
direito perante o Judiciário; poderá somente invocá-lo em algum processo como
matéria de defesa.
Nesses cinco últimos casos, poderá o juiz conhecer da matéria de ofício, em qualquer grau e
tempo de jurisdição, devendo o réu sobre elas alegar assim que tiver oportunidade, sob pena
de arcar com as custas do retardamento indevido do processo. É esse o teor do art. 267, § 3º.
Isso não se aplica, entretanto, em relação ao pressuposto processual (negativo)
“incompetência relativa”.
Pode o STJ e o STF conhecerem de ofício essas matérias? NÃO MAIS, NO ÂMBITO DO STJ. Eles
não as poderão conhecer caso tenham sido invocadas como objeto do recurso excepcional e
não tenha havido prequestionamento. Entretanto, se o objeto do recurso tiver sido outro, por
exemplo, a inconstitucionalidade de uma norma, poderá o STF, no RE, ainda que não suscitada
a prescrição (no recurso), dela conhecer e declarar, por exemplo. Esse é o teor da seguinte
súmula:
Súmula 456, STF: “O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará
a causa, aplicando o direito à espécie”.
j) Quando o autor desistir da ação: a desistência do processo é ato unilateral; poderá ser
total, relativo a todo o objeto litigioso do processo, ou parcial.
POR SER
UNILATERAL, ELA NÃO REQUER O CONSENTIMENTO DO RÉU,
SALVO SE JÁ TIVER SIDO APRESENTADA RESPOSTA (ART. 267, §
4º). COM A CONCORDÂNCIA DO RÉU, PODERÁ HAVER
DESISTÊNCIA ATÉ A PROLAÇÃO DA SENTENÇA. PROLATADA A
SENTENÇA, NÃO CABE MAIS DESISTÊNCIA. Se o réu tiver apresentado sua
defesa antes do fim do prazo para a resposta (o prazo é de 15 dias e o réu apresenta a
defesa já no 2º dia), se o autor quiser desistir da ação no 5º dia, mesmo assim o réu
terá que ser ouvido para que seja homologada a desistência. Se já tiver decorrido o
prazo para a resposta e o réu não tiver apresentado defesa (foi revel), não será
necessária nova intimação do réu para se manifestar sobre a desistência.
104
Art. 3º As autoridades indicadas no caput do art. 1º poderão concorda com pedido de desistência da
ação, nas causas de quaisquer valores desde que o autor renuncie expressamente ao direito sobre que
se funda a ação (art. 269, inciso V, do Código de Processo Civil).
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364
105
Isso recentemente teve repercussão geral reconhecida pelo STF:
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 669.367-RJ
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. DESISTÊNCIA DO MANDAMUS APÓS
PROLAÇÃO DE SENTENÇA. AUSÊNCIA DE ANUÊNCIA DO IMPETRADO. NECESSIDADE DE PACIFICAR A
JURISPRUDÊNCIA. TEMA QUE TRANSCENDE O INTERESSE SUBJETIVO DAS PARTES. MANIFESTAÇÃO
PELO RECONHECIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL.
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365
A desistência deve ser homologada pelo juiz. Se o autor vier a propor novamente a
mesma demanda, o juízo ficará prevento para dela conhecer106 (art. 253, II). Poderá a
desistência ser efetivada em relação a um ou alguns dos corréus, desde que não sejam
litisconsortes necessários, assim como poderá ser parcial, do ponto de vista objetivo.
l) Confusão:
106
Para que não ocorra a escolha do juízo, ferindo-se o princípio do juiz natural.
107
Art. 3º As autoridades indicadas no caput do art. 1º poderão concordar com pedido de desistência da
ação, nas causas de quaisquer valores desde que o autor renuncie expressamente ao direito sobre que
se funda a ação (art. 269, inciso V, do Código de Processo Civil).
Parágrafo único. Quando a desistência de que trata este artigo decorrer de prévio requerimento do
autor dirigido à administração pública federal para apreciação de pedido administrativo com o mesmo
objeto da ação, esta não poderá negar o seu deferimento exclusivamente em razão da renúncia prevista
no caput deste artigo.
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b) Quando as partes transigem: transação é o negócio jurídico pelo qual as partes põem
fim consensualmente ao litígio, após concessões mútuas.
c) Quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação: ato abdicativo pelo
qual o demandante reconhece não possuir o direito alegado ou dele abre mão.
É possível que a autocomposição seja parcial, a qual ensejará a solução parcial do mérito
mediante decisão interlocutória homologatória. É POSSÍVEL ATÉ MESMO QUE HAJA
AUTOCOMPOSIÇÃO SOBRE OBJETO ESTRANHO AOS LIMITES DO MÉRITO,
TRAZENDO-SE À CONCILIAÇÃO UMA LIDE OUTRA QUE NÃO A DISCUTIDA. Isso é bem
interessante, sendo uma clara manifestação do Poder Judiciário de pacificador social. Não há
motivo algum para que o juiz conheça de objeto estranho à lide e sobre ele decida, a pedido
das partes, inclusive formando coisa julgada material.
A Lei nº 9.469/97 prevê uma série de hipóteses de transação pelos representantes da Fazenda
Pública, quando permitido, por exemplo, pelo AGU e pelos dirigentes máximos das empresas
públicas federais nas causas de valor até R$ 50.000,00.
Importa saber que ambas podem ser reconhecidas de ofício a qualquer tempo e grau de
jurisdição (arts. 211, CC/02 e 219, § 5º), inclusive contra a Fazenda Pública.
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367
2. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 42. Com a citação, torna-se inviável acolher o aditamento
ao pedido sem o consentimento do réu, dada a estabilidade da lide. Contudo, o pedido
de desistência pode ser acolhido, desde que isso ocorra antes de a resposta do réu ser
apresentada.
5. EMAGIS – 2012/09 – QUESTÃO 11. Em que pese não poder o autor, depois de
decorrido o prazo para a resposta, desistir, sem o consentimento do réu, da ação,
108
É que, diante da própria natureza do processo executivo, não se vislumbra interesse do executado
em prosseguir com a cobrança, que se desenrola no interesse do credor. Outra não é a visão adotada
pelo STJ, hoje reafirmada em sede de recurso especial repetitivo (CPC, art. 543-C):
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C,
DO CPC. EXECUÇÃO FISCAL. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. INÉRCIA DA EXEQUENTE. ABANDONO DA CAUSA.
EXTINÇÃO DE OFÍCIO. EXECUÇÃO NÃO EMBARGADA. EXIGÊNCIA DE REQUERIMENTO DO EXECUTADO.
DESNECESSIDADE NAS HIPÓTESES DE NÃO FORMAÇÃO DA RELAÇÃO BILATERAL. SÚMULA 240/STJ.
INAPLICABILIDADE. 1. A inércia da Fazenda exequente, ante a intimação regular para promover o
andamento do feito e a observância dos artigos 40 e 25 da Lei de Execução Fiscal, implica a extinção
da execução fiscal não embargada ex officio, afastando-se o Enunciado Sumular 240 do STJ, segundo o
qual "A extinção do processo, por abandono da causa pelo autor, depende de requerimento do réu''.
Matéria impassível de ser alegada pela exequente contumaz. [...] 2. É que a razão para se exigir o
requerimento de extinção do processo pela parte contrária advém primacialmente da bilateralidade da
ação, no sentido de que também assiste ao réu o direito à solução do conflito. Por isso que o não
aperfeiçoamento da relação processual impede presumir-se eventual interesse do réu na
continuidade do processo, o qual, "em sua visão contemporânea, é instrumento de realização do direito
material e de efetivação da tutela jurisdicional, sendo de feição predominantemente pública, que não
deve prestar obséquios aos caprichos de litigantes desidiosos ou de má-fé". (REsp 261789/MG, Rel.
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 13/09/2000, DJ 16/10/2000) 3.
In casu, a execução fiscal foi extinta sem resolução de mérito, em virtude da inércia da Fazenda Nacional
ante a intimação do Juízo a quo para que desse prosseguimento ao feito, cumprindo o que fora
ordenado no despacho inicial, razão pela qual é forçoso concluir que a execução não foi embargada e
prescindível, portanto, o requerimento do devedor.
4. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do art.
543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008.
(REsp 1120097/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/10/2010, DJe 26/10/2010)
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pode o juiz, em certas situações, extinguir o processo pela desistência mesmo que o
réu haja expressamente discordado quanto a isso e ainda que o prazo de resposta já
houvesse se esgotado109.
6. EMAGIS – 2011/29 – QUESTÃO 09. Em processo que tramita sob o rito comum
ordinário, após a citação do réu e passados dez dias da juntada do mandado
devidamente cumprido aos autos, o autor protocolou petição na qual manifestou sua
desistência do prosseguimento do feito. Nessa situação, o réu não precisa ser ouvido,
mesmo porque não apresentou defesa ainda, apesar de citado.
Ademais, é possível que a suspensão seja relativa somente a alguns atos do processo, como
ocorre com a suspensão do procedimento principal mediante a exceção de incompetência.
Ela é, ao lado da extinção do processo sem julgamento de mérito, uma das formas de
manifestação da CRISE DE INSTÂNCIA OU DO PROCEDIMENTO, já que este não atinge o
seu objetivo principal, dirimir o objeto litigioso processual.
109
Mesmo diante dessa discordância do réu quanto ao pleito de desistência, pode o juiz acolhê-la e
extinguir o feito (CPC, art. 267, VIII) quando a recusa expressada pela parte adversa não vier
acompanhada de justo motivo ou configurar abuso de direito. Isso é o que tem ensinado o STJ.
Somente haverá suspensão do processo se a morte se der antes da AIJ; se após o início
dela, o processo prosseguirá até a prolação de decisão final, sendo o advogado do
falecido seu substituto processual; publicada a decisão, só então o processo será
suspenso (art. 265, § 1º).
b) Convenção das partes: as partes podem convencionar por suspender o processo por
prazo nunca superior a 06 meses. Caso elas não convencionem expressamente o
prazo, subentende-se que foi pelo prazo máximo. Convencionada a suspensão, cabe
ao magistrado determiná-la, não podendo, em regra, recusá-la.
g) Força maior:
Se praticados, tais atos serão passiveis de anulação, caso provoquem prejuízo e não sejam
convalidáveis.
19. Provas
19.1. Direito Fundamental à Prova
O direito de produzir prova engloba o direito à adequada oportunidade de requerer a sua
produção, o direito de participar de sua realização e o direito de falar sobre os resultados.
Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não previstos no CPC,
são hábeis para provar a verdade dos fatos em que se funda a ação ou sua defesa.
Prova, em sua acepção processual, é todo elemento que contribui para a formação do
convencimento do juiz. Tradicionalmente, doutrina e jurisprudência dizem que a prova incide
sobre fatos; no entanto modernamente há outra corrente de pensamento, tecnicamente
melhor, que defende que na verdade a prova não incide sobre os fatos propriamente ditos,
porque os fatos eles ocorreram ou não ocorreram; NÃO SE PROVA OS FATOS, MAS
SIM AS ALEGAÇÕES DAS PARTES acerca daqueles fatos que devem ser objeto de
prova.
De acordo com Barbosa Moreira, quando uma mesma matéria é simultaneamente tratada no
âmbito do direito material e no âmbito do direito processual, diz-se que esta norma é uma
NORMA HETEROTÓPICA110. Então, prova seria uma matéria heterotópica pois tem valores e
110
Na verdade, norma heterotópica é a norma que se encontra fora do local em que deveria estar. Por
exemplo, o CP não deveria tratar sobre ação penal. Agora, no caso das provas, há sim partes que
interessam ao direto material, assim como ao direito processual. Desse modo, mais correto seria chamá-
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373
19.2.1. Princípio Inquisitivo. Poderes Instrutórios do Juiz (arts. 130 e 1.107, CPC)
Nosso modelo é informado pelo princípio inquisitivo, no qual se atribuem poderes ao juiz para
a produção de provas, adotando uma postura mais ativa, diferentemente do modelo
dispositivo.
la de norma bifronte. Não confundir com defesa heterotópica, aqueles meios de defesa baseados em
ações autônomas de impugnação, tais como a ação rescisória, os embargos à execução etc.
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374
3. Recurso improvido.
[...]
Quando trazida aos autos, a prova torna-se pública, comum e parte integrante do conjunto
probatório, para favorecer ou desfavorecer quem quer que seja.
O responsável pela prova, após sua produção, não pode retirá-la do processo ou impedir que o
juiz a considere na formação de seu convencimento, sob o argumento de que o resultado lhe é
prejudicial ou por estar arrependido de tê-la requerido e produzido.
A prova produzida pela parte é comum e, tal como valorada, produz efeitos para seus
litisconsortes. Em se tratando de litisconsórcio unitário, a produção de provas é conduta
alternativa, sendo que a prova produzida sempre atingirá os demais, ainda que para
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376
prejudicar. Porém, no caso da confissão realizada por apenas um ou alguns dos litisconsortes,
ela será ineficaz, não produzindo efeitos nem para o confitente e nem para os consortes.
Uma vez requerida e admitida a prova, a parte requerente somente poderá dela desistir se
tiver anuência da parte adversária e se houver homologação do juízo.
O mesmo vale para a prova de produção determinada de ofício, somente podendo o juiz dela
desistir após anuência das partes.
a) Imprescindibilidade: ela somente deve ser aceita quando verificado, no caso concreto,
que não havia outro modo de se demonstrar a alegação do fato objeto da prova ilícita;
b) Proporcionalidade: o bem de vida objeto da prova ilícita deve se mostrar mais digno de
proteção do que o bem de vida violado pela ilicitude da prova;
c) Punibilidade: o juiz deve tomar as medidas necessárias para que a parte que se utiliza
de provas ilícitas de forma antijurídica seja punida;
d) Utilização pro reo no processo penal: apenas no processo penal que só se admite a
prova ilícita a favor do réu.
Vida íntima é a esfera que diz respeito ao relacionamento da pessoa consigo mesma; vida
privada é a esfera que diz respeito ao relacionamento da pessoa com um número restrito de
pessoas.
O STF não tem admitido, também, as provas ilícitas por derivação; porém, admite-se a prova
inevitável, aquela que, ainda que derivada de uma prova ilícita, seria inevitavelmente
descoberta por outros meios lícitos.
b) Livre convicção: o juiz é soberanamente livre para indagar, apreciar e atribuir valor às
provas, sem necessidade de fundamentar seu convencimento, como ocorre no júri
popular;
[...]
[...]
[...]
Trata-se do princípio do livre convencimento motivado, que rege o processo civil na apreciação
da prova.
Já o art. 332 diz que “todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que
não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a
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379
ação ou a defesa”, significando que os fatos podem ser provados por quaisquer meios, além
daqueles tipificados no CPC. Não há, em regra, hierarquia no exame das provas pelo
magistrado.
O art. 401 do CPC (praticamente repetido pelo art. 227, caput, do CC), que limita o uso da
prova exclusivamente testemunhal apenas aos contratos que não excedam 10 (dez) salários
mínimos, além das presunções absolutas, são resquícios da prova tarifada em nosso
ordenamento. Da mesma forma os artigos 215 e 227 do CC – 364 e 383 do CPC (prova plena
por escritura pública e reproduções mecânica).
Excepciona-se esta independência de prova quando o juiz a solicita, quando a lide versar sobre
direitos indisponíveis ou quando a prova exigida por lei se revestir de forma especial (tal como
a prova do casamento).
b) Relevante: devem ser provados apenas os fatos que tenham relação com a causa
ajuizada. O fato é relevante quando ele pode vir a influenciar no convencimento do
juiz acerca do objeto litigioso do processo;
111
Pode haver fato não controvertido em favor do réu? Sim, na reconvenção. Se o réu formula
alegações na reconvenção e o autor reconvindo não as refuta, eles podem ser considerados
incontroversos. Outra hipótese em que o réu pode apresentar fatos que no final podem restar
incontroversos é quando na contestação ele apresenta fatos impeditivos, extintivos e modificativos no
direito do autor, não promovendo este a impugnação destes fatos. Evidentemente que tudo isso deverá
ser considerado em conjunto com os demais elementos dos autos.
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380
Fatos notórios são aqueles cujo conhecimento faz parte da cultura normal própria de um
determinado grupo social. É o fato conhecido ou que, para o homem médio, poderia ser
conhecido. ESSA NOTORIEDADE DEVE SE REVELAR PARA O JUIZ, devendo ser
levada em consideração para fundamentar sua decisão.
Apesar do fato notório não precisar ser comprovado, pode ser necessário à parte comprovar a
própria notoriedade do fato, se a outra impugnar e defender que o fato nada tem de notório.
O fato deve ser notório de acordo com determinada época. Hoje em dia é notório que o
mundo é redondo, mas isso não era notório no século XI, por exemplo. Assim, a notoriedade é
conceito jurídico indeterminado e altamente paradigmático.
[...]
A confissão sobre um fato, quando existente, independe de outro meio de prova, já que
afrontaria diretamente o princípio da economia processual, salvo quando o juiz desconfiar
existir conluio entre as partes.
Regras de direito independem de prova, pois do direito cuida o juiz. Porém, essa regra é
excepcionada pelo art. 337, CPC, devendo a parte provar o direito municipal, estadual,
estrangeiro ou consuetudinário invocado, se assim determinar o juiz.
O juiz pode indeferir a produção de provas solicitada pelas partes, se entender que os
elementos já colacionados aos autos são suficientes para julgamento ou que a prova é
dispensável. Porém, deve tomar muito cuidado ao assim proceder, visto que se julgar
improcedente ou procedente a demanda em desfavor daquele que a solicitou, poderá ver todo
o procedimento anulado se o tribunal entender que houve ofensa ao contraditório.
Sobre o tema:
[...]
7. Sentença confirmada.
8. Apelação desprovida.
[...]
[...]
As provas produzidas em segredo de justiça somente poderão ser emprestadas para outro
processo que envolva as mesmas partes. O terceiro não poderá, de forma alguma, pedir o
empréstimo de provas.
A prova emprestada NÃO TEM EFEITO VINCULANTE, PODENDO O JUIZ QUE A ADMITIR
CONFERIR-LHE VALOR DIVERSO DAQUELE DO PROCESSO ORIGINAL.
O STJ tem entendimento pacificado de que PODE O JUIZ DETERMINAR DE OFÍCIO a juntada da
prova emprestada ao processo:
[...]
E se a prova emprestada for tida por ilícita no processo penal, após já ter produzido seus
efeitos no processo civil? Há alguma consequência?
Em teses, seria possível o manejo da ação rescisória, que poderia estar fundamentada na
violação de dispositivo literal de lei pela sentença, quais sejam os dispositivos constitucionais e
infraconstitucionais que vedam o uso da prova ilícita. Isso se a ilicitude não puder ser excluída
pelo princípio da proporcionalidade.
Presunção não é meio nem fonte de prova. É uma operação mental feita pelo juiz para inferir a
existência/veracidade de determinado fato.
Grupo de Estudos para a Magistratura Federal
e-mail: GE_JF@googlegroups.com
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[...]
Ônus da prova subjetivo é uma regra de conduta dirigida às partes, que indica quais os fatos
que a cada uma incumbe provar.
Ônus objetivo é uma regra dirigida ao juiz que INDICA COMO ELE DEVERÁ JULGAR ACASO
NÃO ENCONTRE A PROVA DOS FATOS; que indica qual das partes deverá suportar os riscos
advindos do mau êxito na atividade probatória, amargando uma decisão desfavorável.
Importante não é a conduta das partes na instrução (ônus subjetivo), mas o resultado da
instrução e sua avaliação e julgamento pelo juiz.
Porém, repito, deve haver cuidado, já que a questão ficará abrangida pela coisa julgada
material, ainda que provas suficientes surjam depois.
Ao julgar com base no ônus da prova, a decisão do juiz ficará com baixa carga de
fundamentação, pois não terá elementos MATERIAIS suficientes para acolher ou repelir a
pretensão do autor, irá apenas se valer de uma regra de julgamento. Nesse caso, o processo
terá sido pobre no que se refere à instrução, ainda que por culpa das partes; e, mais
importante, a decisão final poderá se revelar injusta, o que é o pior vício filosófico possível que
pode conter uma sentença.
Ao autor cabe o ônus da prova de fato constitutivo de seu direito; ao réu cabe a prova de fato
extintivo, impeditivo ou modificativo desse mesmo direito.
Fato constitutivo é o fato gerador do direito afirmado pelo autor em juízo. O réu poderá
defender-se simplesmente negando, não lhe pesando, em regra, qualquer ônus de fazer prova
da negativa (defesa direta). Poderá, também, trazer fatos novos, aptos a modificar, impedir ou
extinguir o direito alegado pelo autor, cabendo-lhe, neste caso, o ônus probatório (defesa
indireta).
Logo, a prova de todos estes fatos novos que abalam o direito do autor é encargo do réu.
Fato extintivo é aquele que retira a eficácia do fato constitutivo, fulminando o direito do autor
e a pretensão de vê-lo satisfeito.
Fato impeditivo é aquele cuja existência obsta que o fato constitutivo produza efeitos. É um
fato de natureza negativa, é a falta de uma circunstância imprescindível para a concretização
do direito do autor.
Fato modificativo é aquele que, reconhecendo o direito do autor, o altera em seus efeitos
pretendidos.
O juiz, nesse contexto, será um gestor de provas, com poderes ainda maiores, pois lhe
incumbe avaliar qual das partes está em melhores condições de produzir a prova.
O CPC não adotou expressamente esta teoria, mas a doutrina a acolhe a partir de uma
interpretação sistemática da legislação processual. Decorreria dos princípios da igualdade
(para haver paridade real de armas), lealdade, boa fé e veracidade, solidariedade, devido
processo legal substantivo e acesso à justiça.
O STJ admite a aplicação da distribuição dinâmica do ônus da prova em matérias que não
sejam de consumo, que se sujeitem ordinariamente ao CPC:
(...)
A doutrina adverte que a distribuição dinâmica deve ser utilizada cuidadosamente, somente
nos casos em que a prova é diabólica, não se podendo tutelar a inércia ou desídia de quem
tinha o ônus de provar. A priori, deve-se manter a concepção clássica da prova estática.
Nem mesmo o CDC prevê a inversão do ônus da prova como regra de julgamento; o que ele
faz é permitir ao juiz a inversão no caso concreto, se verificar a necessidade de que assim se
proceda (inversão ope judicis).
[...]
[...]
A aplicação da inversão do ônus da prova, quando não derive diretamente da lei e dependa de
uma atuação do juiz (ope judicis), cuida-se de regra de procedimento (e não de julgamento),
devendo existir uma decisão que determine a redistribuição (inversão) do ônus probatório
antes da sentença ou acórdão, preferencialmente no despacho saneador, como decidido pelo
STJ:
Inversão ope iudicis é verdadeira inversão, quando o juiz, no caso concreto, constatando a
presença de requisitos e a necessidade de tal, realiza a inversão. Para fins de resguardo do
devido processo legal, deve ser tido como uma regra de instrução, devendo o juiz alertar a
parte desfavorecida que lhe caberá a prova do fato que, em outras hipóteses, caberia ao autor.
Ao se valer da inversão como regra de julgamento, o juiz surpreende a parte, a qual poderia
ter se utilizado de outras provas no curso do processo caso previamente soubesse do ônus que
lhe pesaria. Como não havia sido alertada, deixou de produzir prova sobre fato cujo ônus, em
tese, era da outra parte. Isso fere de morte, especialmente, a ampla defesa.
a) Notórios;
d) Irrelevantes;
c) Produção: consiste na carreação aos autos do meio de prova cuja utilização foi
deferida. Em regra, a produção da prova se dá na audiência de instrução e julgamento,
havendo exceções no tocante à prova documental, à prova pericial e à inspeção
judicial.
Porém, se o juiz deferir a produção de prova, caso mais tarde a considere desnecessária, não
poderá recusar a sua feitura, em razão da preclusão. O momento único e adequado para
indeferir a produção de provas inúteis ou desnecessárias é o despacho saneador.
Caso o juiz indefira uma prova, em nome da segurança jurídica não poderá voltar atrás em sua
decisão, salvo se ocorrer um fato novo.
E, por fim, se o juiz determinar de ofício ou a requerimento da parte a realização de prova, não
poderá dela desistir, já que pouco importa de quem partiu o pedido; uma vez deferida,
confere-se às partes o direito de vê-la produzida – princípio da comunhão da prova -, o qual
não pode mais ser suprimido, ressalvando-se a ocorrência de fato novo ou a expressa
anuência de ambas as partes e do juiz.
Qual o momento final em que o juiz poderá mandar produzir alguma prova de ofício, se
entender pela necessidade? Até a prolação da sentença. Antes disso,
Provas em Espécie
19.9. Depoimento Pessoal (arts. 342 a 347)
Ela tem dois objetivos (Dinamarco): trazer esclarecimentos acerca dos fatos da causa (fatos
controvertidos e relevantes alegados pelas partes) e provocar a confissão.
A confissão ficta será valorada pelo magistrado como se real fosse, inclusive podendo ser
afastada, acaso os fatos fictamente confessos sejam inverossímeis. A PARTE NÃO PODE
REQUERER O SEU PRÓPRIO DEPOIMENTO PESSOAL.
A parte pode ser convocada mais de uma vez para interrogatório; é permitida a convocação de
incapaz para depor, já que não se visa à confissão.
Duas são as diferenças essenciais entre estes dois meios de prova: primeiro,
enquanto o depoimento pessoal é prestado na audiência de instrução e
julgamento, o interrogatório pode ser produzido em “qualquer estado do
processo”, o que significa dizer a qualquer tempo; segundo, enquanto o
depoimento pessoal tem duplo objetivo, esclarecer os fatos da causa e
provocar a confissão, o interrogatório possui uma finalidade única, carrear
para os autos esclarecimentos sobre os fatos da causa. Conseqüência disso é
que não se poderá aplicar a pena de confissão, ou seja, não se poderá
presumir confessados os fatos da causa sobre as quais a parte seria
interrogada. Portanto, é possível a marcação de nova AIJ para que o juiz
possa interrogar as partes, mas não é possível isso em relação ao
depoimento pessoal.
acarretar em confissão provocada, pela falta de poderes para tal (evidentemente que se tiver
poderes para confessar, aceita-se tal efeito).
Cada uma das partes tem o dever de comparecer a juízo e responder ao que lhe for
perguntado (art. 340, I), SEMPRE QUE SEU DEPOIMENTO FOR ORDENADO EX OFFICIO PELO
JUIZ OU DEFERIDO POR ESTE A REQUERIMENTO DA OUTRA PARTE (art. 343).
Com relação ao depoimento requerido (não ao determinado de ofício!), comina a lei sanção
para o descumprimento do dever de comparecer e depor (ou seja, se ela se esquivar de
depor). A sanção consiste na aplicação à parte, pelo juiz, da pena de confissão (art. 343, § 2º);
isto é, presumem-se (fingem-se) confessados, nos termos do art. 343, § 1º, os fatos contra ela
alegados.
Sob pena de nulidade, deve a respectiva cominação, ainda que não requerida, constar do
mandado através do qual se intima pessoalmente a parte a comparecer para prestar
depoimento (art. 343, § 1º).
b) Fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo (art. 347, I e II); esse
caso não subsiste nas ações de filiação, de separação e de anulação (ou nulidade) de
casamento (art. 347, § único).
Lembrar que a mentira em juízo é um ilícito processual (litigância de má fé, art. 17, II, CPC),
podendo ser punida com multa. Essa conduta não se confunde com o crime de falso
testemunho, já que a parte não é testemunha.
Primeiro presta depoimento o autor (ou os vários litisconsortes ativos que tenham de fazê-lo),
em seguida o réu (ou os vários litisconsortes passivos que hajam de prestar depoimento).
A parte responderá pessoalmente sobre os fatos articulados, não podendo servir-se de escritos
adrede preparados, sendo-lhe permitido, todavia, a consulta a notas breves, desde que
objetivem completar esclarecimentos. Se, porém, a parte for incapaz, prestará depoimento o
representante, sem que fique afastada a possibilidade de, em casos especiais, inquirir-se o
próprio incapaz. As pessoas jurídicas e as entidades não personificadas, mas dotadas de
capacidade para ser parte, prestam depoimento por meio dos órgãos indicados no art. 12.
Digitado ou registrado por qualquer outro método o depoimento, será assinado pelo juiz, pelo
depoente e pelos procuradores. Faculta-se à parte, evidentemente, impugnar a exatidão de
qualquer ponto, ou reclamar contra alguma omissão, incumbindo ao juiz, se for o caso,
determinar a retificação ou a complementação necessária.
O advogado do depoente, assim como seu litisconsorte simples ou unitário, não poderá
formular perguntas a ele.
19.10.1. Generalidades
Há confissão quando alguém reconhece a existência de um fato contrário ao seu interesse e
favorável ao do seu adversário (art. 348, CPC). Logo, são necessários três elementos para haver
confissão:
a) Sujeito declarante;
A confissão tem natureza jurídica de meio de prova, não importando que o confitente tenha a
vontade de que sejam produzidos os efeitos jurídicos dela decorrentes, já que decorrem da lei.
19.10.2. Distinções
a) Confissão e reconhecimento jurídico do pedido: a confissão é um ato jurídico em
sentido estrito, enquanto o reconhecimento é um negócio jurídico unilateral. Ela tem
por objetivo um fato e dispensa sua prova, gerando presunção de veracidade. Já este
tem por objeto o pedido da outra parte e por efeito a resolução do mérito da causa
por autocomposição. É errado definir o reconhecimento jurídico do pedido como ato
que só pode emanar do réu ou seus litisconsortes, já que nas ações dúplices poderá o
autor reconhecer o pedido da parte contrária, assim como nas ações declaratórias
incidentais;
b) Confissão e admissão: a confissão é um ato jurídico unilateral que tem por objeto um
fato deduzido por qualquer sujeito, é uma conduta positiva (ativa), podendo se dar nas
modalidades espontânea ou provocada, tendo origem judicial ou extrajudicial,
necessitando o procurador de poderes especiais para fazê-la e dispensando a prova do
fato, sendo vedada prova em contrário. Já a admissão é um ato-fato que tem por
objeto uma alegação da parte contrária, é uma conduta omissiva (passiva), se dá na
modalidade espontânea (com a revelia, não impugnação especificada dos fatos, não
comparecimento para depor), representante não precisa de poderes especiais e tem
como efeito a confissão ficta, admitindo prova em contrário.
RECONHECIMENTO JURÍDICO DO
CONFISSÃO ADMISSÃO
PEDIDO
Objeto é um fato. Objeto é o pedido da parte Objeto é uma alegação da parte
contrária. contrária
Natureza de ato jurídico em sentido Natureza de negócio jurídico Natureza de ato-fato jurídico.
estrito. unilateral.
Efeito é a dispensa da prova sobre o Efeito é a resolução do processo Efeito é a dispensa da prova sobre o
fato, que se tornará incontroverso. com julgamento de mérito, ainda fato, que se tornará incontroverso.
que parcial, por autocomposição.
Pode ser espontânea ou provocada. Somente pode ser espontêno. Somente pode ser espontânea.
Pode ser judicial ou extrajudicial. Somente pode ser judicial. Somente pode ser judicial.
Representante precisa de poderes Representante precisa de poderes Representante não precisa de
especiais. especiais. poderes especiais.
a) Espontânea: pode ser feita pela própria parte, ou por mandatário com poderes
especiais. Deve ser reduzida a termo nos autos;
A confissão ficta resulta de sanção da recusa da parte, cujo depoimento foi requerido, a
comparecer ou a depor. A ficta é a confissão que se reputa ocorrida, embora se saiba que, de
fato, não ocorreu.
Assim, a confissão judicial faz prova contra o confitente, não prejudicando, todavia, os
litisconsortes. Entretanto, pelo princípio da comunhão da prova, a confissão será valorada
pelo juiz, destinatário direto da mesma, e poderá servir de base para a formação de seu
convencimento, sendo ilógico admitir a possibilidade de o juiz considerar que o fato
confessado ocorreu para o confitente e não ocorreu para os demais.
NAS AÇÕES QUE VERSAREM SOBRE BENS IMÓVEIS OU DIREITOS SOBRE IMÓVEIS ALHEIOS, A
CONFISSÃO DE UM CÔNJUGE NÃO VALERÁ SEM A DO OUTRO, SALVO SE O REGIME DE BENS
FOR DE SEPARAÇÃO TOTAL OU PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS.
a) Por ação anulatória: se pendente o processo em que foi feita; a ação anulatória não
pode ser proposta incidentalmente no processo em que se deu a confissão. Ela requer
a instauração de uma ação nova, cabendo a suspensão do processo ou a reunião dos
feitos por conexão, conforme o caso.
A confissão somente poderá ser invalidada por erro de fato (isso porque recai sobre fatos),
sendo inadmissível como fundamento da anulação o erro de direito.
Isso porque, na verdade, haverá mais do que uma confissão: parte das declarações será tida
por confissão, parte será tida por inovação. Por isso que se pode cindir, eis que a parte com
fatos novos deverá, em regra, ser objeto de novas provas.
Efetivamente, a exibição do documento não deixa de ser uma forma de produção de prova
documental. Ela encontraria lugar melhor para ser inserida nas Disposições Gerais do Capítulo
referente às provas (Marinoni).
O juiz pode ordenar à parte ou à terceiro particular que exiba documento ou coisa, que se
ache em seu poder. Caso se pretenda a exibição de documento existente em repartição
pública, haver-se-á de recorrer à previsão normativa do art. 399 (ou a previsão correlata em
legislação extravagante, como nas Leis nº 4.717/65 e 12.016/09, ou mesmo à Lei de Acesso a
Informações, Lei nº 12.527/11).
Legitimado ativo para a exibição é qualquer das partes, sendo legitimado passivo seu
adversário no processo principal ou terceiro em cujo poder se encontre o documento ou a
coisa e, em cada uma dessas hipóteses, haverá um procedimento diferente a ser obedecido.
A natureza jurídica da exibição é dúplice. Dirigindo-se contra a parte será mero incidente
processual, que não culminará diretamente em decisão, mas, ao contrário, na exibição do
documento ou na aplicação da admissão do fato probando na sentença final. De outro lado,
havendo determinação de exibição contra terceiro, existirá verdadeira ação incidental, que
terá por ápice sentença em que o juiz determinará a exibição, liberará o terceiro dessa
imposição (por ter como legítima a recusa em fazê-lo) ou apenas declarará a satisfação da
pretensão à exibição (porque esta ocorreu espontaneamente).
Na petição inicial da “ação de exibição”, além dos requisitos de qualquer petição inicial, deverá
haver a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa; a finalidade da
prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento ou a coisa; e as circunstâncias
em que se funda o requerente para afirmar a existência do documento ou da coisa, bem como
sua localização em mãos do requerido. Este será citado para responder em cinco dias (se se
tratar do adversário do requerente no processo principal) ou em dez dias (se for terceiro
estranho ao processo para onde se pretende carrear a prova).
Para que seja considerado documento, a coisa, além de satisfazer os demais elementos do
conceito, deve ter aptidão para representar outro fato. Se ela não representa fato algum, não
é documento. Ele deve ser obra da atividade humana.
Prova documental é o documento fonte de prova, que contém em sua substância um teor
probatório, e não apenas representa um fato de outra prova.
É importante ter isso em mente porque vulgarmente se confunde documento com o papel,
com o suporte em que alguma informação aparece. Isso está errado.
O legislador optou por não estabelecer, em regra, hierarquia entre os meios de prova,
podendo o magistrado livremente formar o seu convencimento, desde que fundamente sua
decisão (art. 131, CPC).
A autoria material é aquela atribuída à pessoa que criou o suporte em que o fato está
representado (quem escreveu o documento, quem gravou a fita etc.).
Investigar a autoria de um documento é importante para que se possa definir a fé que ele
merece.
Pode-se dizer que todo documento para cuja formação não participou qualquer agente
público no exercício de suas funções é particular. Logo, documento particular é determinado
por exclusão.
19.12.5.1.6. Autenticidade
É autêntico o documento cuja autoria aparente corresponde à autoria real. Isto é, quando ele
efetivamente provém do autor nele indicado. Essa autenticidade se presume em relação ao
documento público, já que ele faz prova de sua formação (art. 364, CPC). Também reputa-se
autêntico o documento particular se o tabelião reconheceu a firma do signatário, declarando
que foi aposta em sua presença (art. 469, CPC). É o que se chama de reconhecimento por
autenticidade.
Caso o interessado assine fora da presença do tabelião e leve a ele para reconhecimento, tem-
se o reconhecimento por semelhança.
Em todos os casos, porém, tem-se uma presunção juris tantum, que pode ceder em face de
prova contrária.
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Quanto ao documento particular cuja firma não tenha sido reconhecida por tabelião, reputar-
se-á autêntico se a parte contrária não impugnar a sua autenticidade no prazo da
contestação, se o documento tiver sido juntado junto à inicial, ou em 10 dias, nos demais
casos, contados da data da intimação para falar sobre ele.
19.12.5.2. Conteúdo
Existem duas classificações principais sobre o conteúdo:
19.12.5.3. Suporte
Constitui o elemento físico do documento, a sua expressão exterior; é o elemento material no
qual se imprime a ideia transmitida.
Sua identificação é importante para se aferir a sua estabilidade e durabilidade e a forma pela
qual o juiz deve ter acesso às informações nele representadas.
A fé pública cobre a declaração formulada pelo oficial, mas não atribui veracidade ao
conteúdo da declaração formulada pelo interessado ao oficial.
19.12.6.1.3 O Instrumento Público como Forma Solene do Ato Jurídico (art. 366, CPC)
Há casos em que o legislador exige forma especial como sendo da substância do ato jurídico;
às vezes a forma especial exigida é o instrumento público. Em tais casos, o ato somente poderá
ser PROVADO mediante a juntada do instrumento público, não se admitindo outro meio de
prova, por mais especial que seja.
Veja bem: isso não quer dizer que o ato não ocorreu, mas sim que sua prova, se não
apresentado o instrumento solene, não será reconhecida, não podendo o fato ser provado
perante a Justiça ou invocado perante terceiros.
Apesar de a incompetência ser vício sanável de ato administrativo, ela vem sendo relevada
pelo exercício da função de fato (aparência de legitimidade e legalidade) e se demonstrada a
boa fé da parte. Trata-se da aplicação da teoria do funcionário de fato. Porém, devem ser
feitas algumas observações:
19.12.6.2.2. Eficácia Probatória dos Documentos Testemunhais (art. 368, p. único, CPC)
Documento testemunhal é aquele que contém uma declaração narrativa; quando o
documento particular contiver declaração de ciência relativa a determinado fato, ele prova a
declaração, mas não o fato declarado, cabendo ao interessado em sua veracidade o ônus de
prová-lo.
Nisso reside a diferença em relação aos documentos dispositivos, os quais provam também o
seu conteúdo.
Os livros comerciais, quando preencherem os requisitos exigidos por lei e forem escriturados
sem vícios extrínsecos ou intrínsecos, provam também a favor do seu autor, desde que
confirmados por outros subsídios.
Porém, tais provas não serão suficientes nos casos em que a lei exige escritura pública, ou
escritos particulares revestidos de requisitos especiais, e pode ser elidida pela composição
da falsidade ou inexatidão dos lançamentos (art. 226, p. único).
a) As certidões de qualquer peças dos autos, do protocolo das audiências ou outro livro a
cargo do escrivão, sendo extraídas por ele ou sob sua vigilância e por ele subscritas;
Vícios intrínsecos são aqueles inerentes ao seu conteúdo, isto é, à essência do documento ou
à substância do ato ou fato nele representado.
A falsidade pode ser arguida como questão incidental no processo ou por meio de pedido de
declaração incidental de falsidade.
Isso não ocorrerá, quando a questão sobre a autenticidade recair sobre a assinatura da pessoa
subscrevente, quando tiver o documento sido reconhecido em cartório, seja por autenticidade
ou por semelhança.
Substanciais são os documentos que a lei expressamente exige para que a demanda seja
proposta. Fundamentais são os documentos que se tornam indispensáveis porque o autor a
eles se referiu na petição inicial, como fundamento do seu pedido.
Faltando um desses documentos na inicial, cabe ao juiz intimar o autor para emendá-la, na
forma do art. 284 do CPC.
O momento final de petição de produção de provas ocorre quando o juiz manda as partes
especificarem as provas que desejam produzir, com o despacho saneador que encerra a fase
ordinatória/saneadora do processo. Se as partes não especificarem as provas ou deixarem de
especificar alguma daquelas que poderiam/deveriam ter produzido, para elas ocorre a
preclusão temporal/consumativa, respectivamente.
Tal faculdade processual do juiz deve ser prefencialmente exercida somente nos casos em que
há hipossuficientes em algum dos polos processuais, como em ações previdenciárias em geral
e SFH.
b) Quando o documento estiver em poder de repartição pública, caso em que poderá ser
requisitado (art. 399, CPC);
Porém, mesmo fora dos casos previstos expressamente em lei, se o juiz observar que a juntada
posterior não causa tumulto algum ao processo, tampouco foi pleiteada temerariamente pela
parte, poderá admiti-la.
Tais documentos poderão ser requisitados pelo juiz de ofício, face o seu poder instrutório
(art. 130), a fim de que possa melhor formar a sua convicção e melhor decidir.
19.12.10.1. Noção
De acordo com Marinoni, o incidente de falsidade caberá sempre em relação às falsidades
materiais. Quanto às falsidades intelectuais, será necessário distinguir: se tratar-se de
documento narrativo (testemunhal), também a arguição pelo incidente será viável, já que se
pretende apenas declarar o documento como inábil para a prova de certo fato; se o
documento, ao contrário, for constitutivo (declaratório), então será necessário propor ação
própria que objetive à desconstituição do ato jurídico (representado pelo documento)
viciado.
outra, passando a assumir estrutura e feição próprias, o que exigirá a propositura de ação
autônoma, destinada a desconstituir a relação jurídica.
Seu objetivo é fazer com que uma questão passe a ser resolvida e decidida principaliter
tantum, a fim de que sua solução seja abarcada pela coisa julgada material.
A única diferença existente em relação ao tempo de sua proposição reside no modus operandi:
se antes de encerrada a instrução, a petição comporá os autos do processo principal; suscitada
após, a petição será autuada em apenso (art. 393, CPC).
Ela deverá ser deduzida contra o sujeito que trouxe aos autos a prova, ainda que haja
litisconsorte. Se o documento foi trazido aos autos de ofício pelo juiz, deve ser deduzida
contra o beneficiado.
19.12.10.4. Procedimento
Suscitado o incidente por petição escrita, o juiz suspenderá o processo principal (o que se tem,
na verdade, é uma suspensão imprópria do processo, já que parte dele, o incidente,
continuará tramitando).
Na petição, a pessoa deve expor a causa de pedir, formular pedido de declaração de falsidade
e indicar os meios de prova a serem utilizados na instrução do fato (art. 391, CPC).
Se o incidente ocorrer no tribunal, a petição deverá ser dirigida ao relator do processo (art.
393).
Arguida a falsidade do documento, a parte que carreou o documento aos autos será intimada
para oferecer resposta no prazo de dez dias, devendo o órgão jurisdicional, a seguir,
determinar a realização de prova pericial. A sentença, que resolver o incidente, declarará a
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Por fim, a sentença que declarar a falsidade (ou a autenticidade) do documento transita em
julgado apenas inter partes (art. 472).
A Lei nº 11.419/06 acrescentou ainda três incisos e dois parágrafos ao art. 365 do CPC, que
trata da força probante das cópias:
(...)
Em regra, a testemunha depõe em juízo sobre o que presenciou; contudo, a testemunha pode
presenciar também o que não vê, mas apenas ouve, como, por exemplo, os gritos
provenientes da casa do vizinho. Em geral, não há utilidade no depoimento referencial, aquele
em que a testemunha narra que ouviu de alguém algo sobre fato que interessa para o
processo, todavia, esse tipo de depoimento, embora não se preste como prova testemunhal,
pode configurar indício.
A prova testemunhal é a mais antiga das que se tem notícia. A testemunha pode ser:
c) Referida: aquela cuja existência foi apurada por meio de outro depoimento;
19.13.2. Limitações à Prova Exclusivamente Testemunhal: Negócio Jurídico cujo Valor Exceda
10 SM
Não se admite a prova testemunhal como ÚNICA fonte de prova em negócios jurídicos cujo
valor ultrapasse 10 salários mínimos ao tempo em que foi celebrado (assim, o valor não deve
ser apurado com base no SM atual).
Porém, há exceções.
b) O credor não pode ou não podia, moral ou materialmente, obter a prova escrita da
obrigação. Deve, logicamente, essa condição ser comprovada.
São incapazes:
d) O cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes faltam.
São impedidos:
São suspeitos:
c) O inimigo capital da parte, ou o seu amigo íntimo; e o que tiver interesse no litígio.
Porém, o recurso à testemunha impedida deve ser tido como exceção, para suprir a falta das
desimpedidas, sempre sujeita ao prudente arbítrio do juiz.
Decidindo o magistrado ouvir tais pessoas, deverá tê-las apenas como informantes, não
prestando compromisso de dizer a verdade (art. 405, § 4º).
Caso o juiz tenha conhecimento dos fatos da causa ou nada saiba, deverá, respectivamente,
reconhecer o seu impedimento para julgá-la ou excluir o seu nome do rol de testemunhas (art.
409, I e II).
Em síntese, o legislador cuidou de enumerar uma série de pessoas cujo testemunho deve ser
visto com reserva, quando não for absolutamente inadmissível. SEMPRE, PORÉM, QUE A
ELUCIDAÇÃO DOS FATOS RELEVANTES PARA A CAUSA DEPENDER DA OUVIDA DE TAIS
PERSONAGENS, OU PUDER POR ELA SER FACILITADA, DEVE O MAGISTRADO DETERMINAR A
COLHEITA DA PROVA ORAL, QUE SE REALIZARÁ SEM QUE SE PRESTE COMPROMISSO. NA
HORA DO JULGAMENTO, O MAGISTRADO, DE ACORDO COM A REGRA QUE LHE CONFERE O
LIVRE CONVENCIMENTO, DARÁ AOS TESTEMUNHOS O VALOR QUE MERECEREM.
No curso da audiência, logo no início de sua oitiva, a testemunha pode requerer ao juiz que a
escuse de depor, alegando os motivos de que trata o artigo 406; ouvidas as partes, o juiz
decidirá de plano.
b) Oitiva fora da sede do juízo: seja por doença ou motivo relevante (art. 410, III), seja
pelo fato de as testemunhas serem consideradas pessoas egrégias (art. 411, CPC)
A intimação da testemunha poderá ser feita por correio, com AR, ou com entrega em mão
própria, quando a testemunha tiver residência certa (art. 412, caput e § 3º).
a) Se houver falecimento;
c) Tendo mudado de residência, não for encontrada pelo oficial de justiça (art. 408, CPC).
O procedimento é o seguinte:
Primeiramente serão ouvidas as testemunhas do autor; depois, as do réu, não podendo uma
testemunha ouvir o depoimento da outra (art. 413).
O juiz sempre orientará e presidirá as atividades do perito, o qual é um auxiliar do juízo, que
deverá atuar:
a) Por simples percepção técnica, ou seja, apenas declarando a ciência dos fatos;
Segundo Didier, sempre que as noções técnicas exigidas para a elucidação dos fatos
extrapolarem o conhecimento esperado de um homem médio, a prova pericial será
necessária.
Porém, tal fato causa prejuízo a quem se recusa, podendo o juiz presumir a veracidade do fato
a ser provado, a favor da contraparte.
Se a coisa a ser examinada estiver em poder das partes ou de uma repartição pública, o
próprio perito poderá solicitá-la (art. 429).
O juiz deve tomar todas as providências para que a solicitação do perito seja atendida,
podendo considerar, em caso de descumprimento, verdadeiras as alegações que a perícia viria
provar (art. 359).
A perícia poderá consistir apenas na inquirição do perito e dos assistentes técnicos, quando da
audiência de instrução e julgamento, a respeito das coisas que houverem informalmente
avaliado ou examinado, toda vez que a natureza do fato probandi o permitir.
O laudo pericial é o instrumento escrito apresentado pelo perito, no qual ele registra suas
respostas aos quesitos, que devem ser expostos de maneira objetiva, abordando os pontos
controvertidos.
Difere-se sua função das testemunhas, pois a estas cabe narrar fatos que foram objeto de
percepção sensorial, com uma visão leiga, e não constatar ou fazer um juízo técnico sobre eles.
Ao perito não é dado opinar sobre questões jurídicas, interpretando lei ou citando
jurisprudência. O PERITO NÃO PRESTA TERMO DE COMPROMISSO (art. 422 c/c 146),
entretanto deverá cumprir escrupulosamente o seu encargo.
Para que se produza a prova pericial, o juiz deve nomear expert de sua confiança, fixando
desde logo o prazo para a entrega do laudo pericial.
Poderá haver recusa, que é a repulsa do perito pelas partes, por impedimento ou suspeição ou
por ser o perito inabilitado para atuar na causa (art. 147).
A recusa deverá ser processada via incidente processual não suspensivo, a ser processado em
autos apartados.
Ao aceitar a escusa ou ao julgar procedente a recusa, o juiz nomeará novo perito e a parte
poderá indicar outro assistente técnico.
b) Quando, sem justo motivo, não apresentar o laudo no prazo fixado pelo juiz, fato este
que consiste em falta grave (art. 424, p. único);
Toda vez que se puder verificar a verdade dos fatos de forma mais simples e menos custosa, a
perícia deve ser dispensada ou indeferida pelo juiz.
Caso requerida a perícia e denegada, o juiz deve fundamentar os motivos de sua decisão, ainda
que brevemente. Poderá haver a dispensa da perícia, também, quando as partes, na inicial e
na contestação, já tiverem trazido seus pareceres técnicos (art. 427).
É admissível a prova pericial nos juizados especiais cíveis, conforme art. 35 da Lei nº
9.099/95. Ademais, ela é amplamente utilizada nas causas previdenciárias dos juizados
especiais federais.
Se for requerida a perícia e o juiz a indeferir, a parte deve agravar de imediato, sob pena de
preclusão.
Quando a prova tiver de realizar-se por carta, poderá proceder-se à nomeação de perito e
indicação de assistentes técnicos no juízo ao qual se requisitar a perícia.
As partes devem ser intimadas da decisão de nomeação do perito para que, no prazo de 05
dias, indiquem seus assistentes técnicos e formulem quesitos, os quais serão submetidos a um
“filtro” do juiz (art. 246).
Também pode o juiz formular quesitos (o que geralmente é feito), até mesmo no curso da
perícia (art. 426).
O laudo pericial deve ser apresentado no prazo fixado pelo juiz, pelo menos 20 dias antes da
realização da AIJ.
Para o desempenho de sua função, pode o perito utilizar-se de todos os meios necessários,
ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder
de parte ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com plantas, desenhos,
fotografias e outras peças quaisquer.
Apresentado o laudo, os assistente terão o prazo comum de 10 dias, após intimados, para
oferecer seus pareceres técnicos. Não há prazo em dobro, ainda que os litisconsortes tenham
procuradores diferentes.
Embora a prova pericial tenha por fim dar ao órgão jurisdicional elementos técnicos de que o
magistrado não dispõe para que se torne possível o julgamento do mérito da causa, o juiz não
está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos ou
fatos provados nos autos.
19.14.7. Contraditório
O contraditório foi garantido legalmente pela inclusão do art. 431-A, que prevê a informação
às partes da data e local designados pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a
produção da prova.
Evidentemente que em nem todos os casos isso será possível: por exemplo, numa perícia
contábil, o perito não designará o dia em que fará a perícia para que as partes fiquem olhando
ele trabalhar, evidentemente. Nesse caso, o contraditório se operará mediante vista dos autos,
após juntado o laudo pericial.
Caso o juiz verifique que o resultado da primeira perícia foi insuficiente, por omissão ou
obscuridade relativas a um fato importante no desate da lide, poderá determinar a realização
de uma segunda perícia (art. 437), de ofício ou a requerimento das partes, desde que sobre os
mesmos fatos.
A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre os quais recaiu a primeira e destina-
se a corrigir eventual omissão ou inexatidão dos resultados a que esta conduziu. A segunda
perícia rege-se pelas disposições estabelecidas para a primeira, mas esta não substitui,
cabendo ao juiz apreciar livremente o valor de uma e outra.
Caso se trate de outros fatos, será uma nova perícia, e não uma segunda.
Esse segundo procedimento pericial só deve ser instaurado se o juiz exaurir todas as
possibilidades de corrigir defeitos e falhas no laudo resultante do primeiro, a fim de evitar
desperdícios.
a) Cada parte deverá arcar com a remuneração do assistente técnico que assisti-la;
c) O autor deverá antecipar os honorários do perito, quando a perícia for requerida por
ambas as partes ou determinada de ofício pelo juiz;
Não.
Com efeito, o adiantamento das despesas processuais, em especial o honorário do perito, fica
submetido ao regime dos arts. 19, §§ 1º e 2º, 33, caput, do CPC. Eis dispositivos legais:
§ 1º O pagamento de que trata este artigo será feito por ocasião de cada ato
processual.
“Art. 33. Cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que houver
indicado; a do perito será paga pela parte que houver requerido o exame,
ou pelo autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de
ofício pelo juiz.”
Por outro lado, já assentou o STJ que não se pode exigir que o trabalho do perito seja
prestado de forma gratuita, isto é, sem o adiantamento dos honorários, evitando que o
expert aguarde o pagamento à sorte do resultado final da demanda ao fixar a sucumbência:
Desta forma, como não se pode impor ao réu/fornecedor que arque com a obrigação de
pagamento dos honorários periciais em reclamações consumeristas, e igualmente não se pode
exigir que o perito trabalhe de modo gratuito, é situação comum na prática judiciária a não
realização da prova perícial quando inexiste o adiantamento da despesa do honorário do
perito pelo autor/consumidor.
Para o STJ o que verdadeiramente ocorre quando há a inversão do ônus da prova e não ocorre
a produção de prova técnica pelo não adiantamento das despesas periciais é a SUBMISSÃO DO
FORNECEDOR ÀS CONSEQUÊNCIAS PROCESSUAIS E JURÍDICAS DA NÃO PRODUÇÃO DA PROVA.
Embora haja doutrina minoritária em sentido contrário, entendemos que a posição do STJ é
acertada e deriva do princípio nemo tenetur se detegere, isto é, do direito de não produzir
prova contra si mesmo, também aplicável no âmbito cível (não-penal). O Anteprojeto do Novo
Código de Processo Civil trata do tema no art. 262, § 2º: “A inversão do ônus da prova,
determinada expressamente por decisão judicial, não implica alteração das regras referentes
aos encargos da respectiva produção”.
A inspeção judicial pode ser feita, de ofício ou a requerimento das partes, em qualquer fase
do processo.
Ao realizar a inspeção direta, o juiz poderá ser assistido de um ou mais peritos e deverá ir ao
local, onde se encontre a pessoa ou coisa, toda vez que julgar necessário para a melhor
verificação ou interpretação dos fatos que deva observar; quando a coisa não puder ser
apresentada em juízo, sem consideráveis despesas ou graves dificuldades; e também quando
determinar a reconstituição dos fatos. Nas demais hipóteses, a inspeção judicial deverá ser
realizada na própria sede do juízo, lugar onde, via de regra, devem ser praticados todos os atos
do processo.
Uma vez concluída a diligência, o juiz mandará lavrar auto circunstanciado, mencionando nele
tudo quanto for útil à decisão da causa. Tal auto poderá ser instruído com desenho, gráfico,
fotografia ou peça análoga.
2. TRF2 – XIII – CESPE – QUESTÃO 42. É aceita no processo cível a gravação de conversa
por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro112.
3. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 48. A notoriedade de um fato deve estar relacionada
com o momento da decisão113.
112
CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRAVAÇÃO DE CONVERSA POR UM
DOS INTERLOCUTORES. PROVA LÍCITA. DESNECESSIDADE DE O JULGADOR DEBATER TODOS OS ARGUMENTOS
LEVANTADOS PELA PARTE. ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA
7 DO STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.
I. A gravação de conversa realizada por um dos interlocutores que se vê envolvido nos fatos é prova lícita e pode
servir de elemento probatório. Precedentes.
[...]
(AgRg no Ag 962.257/MG, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 10/06/2008, DJe
30/06/2008)
113
A notoriedade é uma qualidade do fato que é conhecido no momento e no lugar em que a decisão é
proferida. Quando for necessário produzir prova sobre a notoriedade – nunca sobre o fato em si, pois o
art. 334, I, afirma que o fato, admitido como notório, não precisa ser provado -, obviamente não há
como pensar em rediscutir a convicção a respeito da notoriedade.
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428
inquisição das testemunhas do autor será objeto de avaliação judicial, dada a ausência
do advogado114.
8. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 45. É ônus do réu a prova da existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito alegado pelo autor; portanto, o autor,
caso alegue a inexistência de negócio jurídico entre as partes e o réu a negue e aponte
a falsidade do documento que materializa o negócio, estará exercendo sua defesa de
forma distinta daquela que lhe é atribuída como ônus.
10. EMAGIS – 2011/40 – QUESTÃO 11. Durante depoimento prestado no curso de ação
movida por José para obter condenação de João a reparar determinados danos, uma
testemunha acabou declarando que havia sido firmado um contrato posterior entre as
partes. Mais tarde, José ajuizou outra ação contra João, exigindo o cumprimento de
cláusula daquele contrato cuja existência foi informada no depoimento. Ainda que seja
possível a José utilizar a prova emprestada, extraindo dos autos originais cópia do
termo, essa prova não perde o caráter de prova oral116.
114
O juiz poderá ouvi-los como informantes, se achar relevante para esclarecer questão controversa.
Porém, o não comparecimento injustificado do advogado não é causa de adiamento da AIJ, conforme
dispõe o art. 453:
[...]
§ 1o Incumbe ao advogado provar o impedimento até a abertura da audiência; não o fazendo, o juiz
procederá à instrução.
115
Isso porque o direito só deve ser provado se determinado pelo juiz.
116
A prova emprestada não perde a natureza da espécie em que foi originariamente produzida. Se na
origem a prova era uma perícia, essa prova emprestada a um dado processo não se reveste de outra
natureza, remanescendo como prova pericial. Se na origem cuidava-se de prova testemunhal, ela vai
entrar emprestada a outro processo pela cópia dos termos, mas nem por isso deixa de ser prova
testemunhal, substância que a acompanha nesse caso.
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429
11. EMAGIS – 2011/36 – QUESTÃO 19. É possível ao juiz, por sua própria iniciativa,
determinar as provas que entender necessárias à instrução do processo, indeferindo
diligências inúteis ou meramente procrastinatórias.
Instruir significa produzir provas; a AIJ não se trata de ato essencial dentro do processo, já que
pode ser dispensada quando cabível o julgamento antecipado da lide (art. 330) ou quando as
partes dispensarem produção de provas.
O direito pátrio adota o sistema presidencial na condução da audiência, cabendo ao juiz direta
e pessoalmente colher a prova (art. 446, II), de forma que as perguntas feitas pelos advogados
ao perito, às partes e testemunhas deverão sempre ser dirigidas ao juiz. Os advogados
somente poderão intervir ou apartear com a licença deste, geralmente utilizando-se do termo
“pela ordem”.
A audiência deve ser una e contínua. Ser una significa que para todos os diferentes atos
previstos é realizada somente uma audiência, enquanto continuidade significa que a audiência
deve começar e terminar em uma única assentada.
Interrompida a audiência, o que deve ser excepcional, não se designará uma nova, apenas se
prosseguirá em data próxima à audiência interrompida.
a) Tentativa de conciliação;
c) Alegações finais;
d) Prolação de sentença.
a) Abertura;
b) Pregão;
c) Tentativa de conciliação;
f) Depoimento pessoal;
h) Debates orais;
i) Prolação de sentença.
Todos os atos serão praticados primeiro pelo autor e depois pelo réu, podendo essa ordem ser
modificada se houver a devida fundamentação.
O pregão inicial é a comunicação da abertura feita às partes e procuradores, cuja falta pode
conduzir à invalidade, caso haja prejuízo às partes.
O juiz poderá limitar o número de pessoas na AIJ e determinar a retirada daquelas que se
portarem de forma inconveniente, já que ele exerce o poder de polícia e tem o dever de zelar
pelo regular andamento do processo (art. 445).
Não correrá a portas abertas as audiências nos casos do art. 155 do CPC.
Não é causa de nulidade do ato o fato de a audiência correr a portas fechadas em função do ar
condicionado.
As partes serão intimadas para a audiência por meio de seus patronos, sendo necessária a
intimação pessoal somente na hipótese de depoimento pessoal da parte.
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431
Se houver conciliação, deverá ser reduzida a termo. Não havendo, deve o juiz fixar os pontos
controvertidos a ser objeto de prova oral, a qual só é necessária para os pontos ainda não
elucidados.
A tentativa de conciliação é obrigatória, mas sua ausência não gera vício apto a anular a
audiência.
c) Inquirição das testemunhas arroladas pelo autor, na ordem que preferir, e depois, as
do réu.
Se houver participação de membro do MP, este falará após as partes. Havendo opoente, ele
fará os debates orais em primeiro lugar, seguido pelos opostos (art. 454, § 2º).
20.2.6. Sentença
Se o juiz prolatar a sentença na AIJ, deverá ditá-la para o oficial de justiça reduzi-la a termo.
Porém, poderá optar por proferir a decisão por escrito, no prazo impróprio de 10 dias (art.
456).
a) Por convenção das partes, uma única vez, nunca por prazo superior a 06 meses;
Se a parte não comparecer e mesmo assim o juiz adiar a audiência, deve a parte contrária se
insurgir contra esse ato, já que estará agindo em evidente error in procedendo o magistrado. O
que ele deve fazer é julgar, dando ganho de causa ao autor ou ao réu, a depender de quem se
ausentou, e a depender, também, dos elementos probatórios já acostados aos autos.
[...]
Se o assistente técnico foi intimado e não compareceu, não deverá haver adiamento, já que
ele é auxiliar da parte.
A audiência realizada sem a presença do membro do MP, qualquer que seja o motivo, gerará
uma nulidade relativa.
Se o advogado não comparecer de forma justificada, deverá a audiência ser adiada. Ele deverá
justificar até a abertura da audiência (art. 453, § 1º). Se injustificada, a audiência se realiza
normalmente, podendo o juiz dispensar a prova por ele requerida, se não se tratar de direito
indisponível.
[...]
Logo, pode haver juntada de provas após a instrução somente nos seguintes casos:
Despacho é todo pronunciamento desprovido de carga decisória; assim, não será despacho,
ainda que o ato tenha esse nome, a manifestação do juiz que decida algo, como ocorre com o
“despacho saneador”, não importando o nomen juris dado à peça judicial, e sim o seu
conteúdo.
Sentença é o ato que, analisando ou não o mérito da demanda, encerra uma das etapas
(cognitiva/executiva) do processo em primeira instância julgado por juiz singular.
Decisão monocrática do relator da causa haverá quando o pronunciamento não tiver aptidão
para por fim ao procedimento naquela instância, sendo certo que existe uma série de
hipóteses de decisões monocráticas com aptidão para se tornarem definitivas, especialmente
quando for para dnegar recurso por, v.g., estar em confronto com SV.
A sentença é um ato jurídico que contém uma norma jurídica individualizada, definida pelo
Poder Judiciário, que se diferencia das demais normas jurídicas em razão da possibilidade de
tornar-se indiscutível pela coisa julgada material.
21.2.1. Introdução
Os três elementos básicos, relatório, fundamentação e dispositivo (ou conclusão), são exigidos
em conjunto apenas nas sentenças e acórdãos.
21.2.2. Relatório
É o histórico do que de relevante aconteceu no processo. Deve apresentar os nomes das
partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências
havidas no andamento do processo, sendo dispensado nos Juizados Especiais Cíveis Estaduais
e Federais. Até mesmo no procedimento ordinário a jurisprudência já aceitou, em alguns
casos, sua ausência, desde que não tenha desaguado em prejuízo para as partes.
Entretanto, a regra impõe a obrigatoriedade do relatório, cuja falta poderá suscitar pedido de
anulação por error in procedendo.
1. Nos termos dos arts. 165 e 458 do Código de Processo Civil, são requisitos
essenciais da sentença o relatório, os fundamentos e o dispositivo. Na
hipótese examinada, não foi lavrado o relatório do acórdão que julgou o
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436
3. Precedentes do STJ.
21.2.3. Fundamentação
Consiste na exposição de motivos pelo juiz dos elementos que o levaram à formação de sua
convicção, com base nos elementos carreados ao processo. É uma obrigação
constitucionalmente imposta ao Poder Judiciário, que deverá fundamentar não só as
sentenças e acórdãos, mas todos os pronunciamentos com carga decisória (art. 93, IX).
Por outro lado, ressalto que o § 3º do art. 515, do CPC, representado pela
Lei n.º 10.352/01 permite ao Tribunal, em caso de extinção do processo
sem julgamento do mérito, julgar desde logo a lide, quando a questão
versar exclusivamente sobre matéria de direito e estiver em condições de
imediato julgamento ou, ainda, utilizando-se de interpretação extensiva
do referido parágrafo, estando a lide em condições de imediato
julgamento, em face da desnecessidade de outras provas (causa madura).
(STJ, REsp 1096908/AL, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 06/10/2009, DJe 19/10/2009)
Não havendo ou após resolvidas as preliminares de mérito (questões processuais), ele passará
à análise dos fundamentos de fato da demanda e da defesa, bem como à análise das provas
produzidas no processo, devendo deixar bem claro por que toma tal ou qual posicionamento,
apontando os elementos que formaram sua convicção.
Integra o direito ao contraditório a efetiva análise e valoração das provas produzidas pelas
partes pelo magistrado, devendo ao sucumbente ser possível conhecer o porquê de não ter
sido acatada sua tese.
Isso, entretanto, é controverso. O Min. Gilmar Mendes, no MS 25.787, esclareceu que a Corte
Constitucional alemã entende que o contraditório somente é perfeito se atendidos três
direitos:
b) Direito a manifestação: direito de falar nos autos sobre os atos praticados; motivo pelo
qual, v.g., a pena, na prática do ato de atentado, de perder o direito de falar nos autos
seria inconstitucional (art. 881, CPC);
c) Direito à apreciação das teses de defesa: a jurisprudência alemã fala que o tribunal
tem o dever não só de tomar conhecimento, como de considerar com seriedade todas
as teses da parte sucumbente. Ele não pode dizer, como ocorre aqui no Brasil, que o
argumento não tem nenhum fundamento, que o argumento é absurdo, foge ao
razoável etc. Isso não é seriedade, isso é esnobar ou destratar o argumento da parte.
Por mais que o argumento seja totalmente inapropriado, o tribunal alemão diz que
tem que ter uma análise séria. O juiz tem que analisar aquilo com seriedade porque é
o argumento da parte, ela tem direito a que o tribunal responda sobre aquilo que ela
está dizendo, só os tribunais não costumam fazer isso quando a matéria é
prequestionamento. A análise dos argumentos da parte pelo tribunal é diferente
quando a parte ganhou provimento ao seu recurso, pois se o tribunal analisa o
primeiro argumento e verifica que a parte tem razão, aí é diferente, ele não precisa
analisar os demais argumentos. Agora, para você dizer que os argumentos não têm
fundamento, tem que ser um por um, e não é isso que acontece nos tribunais. Você
quer fazer o prequestionamento e dá cinco argumentos, o tribunal analisa um e diz
que você perdeu. Você tem direito de ver os outros quatro, aí eles dizem que não são
obrigados a verificar um por um.
[...]
[...]
(STJ, REsp 1133696/PE, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
13/12/2010, DJe 17/12/2010)
Igualmente o STF:
(ARE 648614 AgR-ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
12/06/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 26-06-2012 PUBLIC
27-06-2012)
Igualmente os TRFs:
É importante mencionar que o texto constitucional não apenas exige a fundamentação das
decisões proferidas pelos órgãos do Poder Judiciário, como as declara nulas se desatenderem a
esse comando. Menciona DJANIRA MARIA RADAMÉS DE SÁ que garante tal princípio a
inviolabilidade dos direitos em face do arbítrio, posto que os órgãos jurisdicionais têm de
motivar, sob pena de nulidade, o dispositivo contido na sentença. Porém, o que significa
motivar as decisões judiciais? Motivar todas as decisões significa fundamentá-las, explicar as
razões de fato e de direito que implicam no convencimento do juiz, devendo esta
fundamentação ser substancial e não meramente formal.
TERESA ARRUDA ALVIM menciona que é ato de inteligência e de vontade; não se pode
confundir sentença com um ato de imposição pura e imotivada de vontade. Daí a necessidade
de que venha expressa sua fundamentação (CR, art. 93, IX). Diz mais a referida autora que
fundamentação deficiente, para todos os efeitos, equivale à falta de fundamentação.
Daniel Ustárroz aponta: “No Brasil, antes mesmo da Constituição, o Código de Processo Civil de
1973 já exigia a motivação das decisões. Reza o art. 165 que todas as decisões devem ser
formalmente justificadas, ainda que de modo conciso. Orientação idêntica vem esposada no
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443
art. 458, que, ao traçar os requisitos da sentença, aponta a exigência de explicação dos
fundamentos da matéria (fática e jurídica) envolvida na demanda. Embora haja similitude dos
textos constitucionais e infra, não se deve perder de vista que os escopos diferem. No
primeiro, a tutela imediata é do interesse público na legitimação das decisões estatais. No
segundo, o interesse imediato protegido é o da agilidade do processo, e, por decorrência, um
direito subjetivo dos próprios litigantes, que podem se valer dos mecanismos de impugnação
que o ordenamento lhes faculta. Acatando a orientação de Barbosa Moreira, a Constituição da
República anotou em seu art. 93, IX, que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, sendo fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade”.
O princípio guarda correspondência com o sistema da livre convicção. “Com efeito, tanto
maior o poder discricionário do magistrado, quanto mais importante a necessidade de
fundamentar sua decisão”.
A Constituição se refere a todas as decisões, o que não pode ser levado ao pé da letra. Não se
exige, por exemplo, fundamentação da decisão que recebe a inicial e determina a citação do
réu.
Sem fazer essa observação, o Autor, mirando a jurisprudência, anota que se tem admitido a
fundamentação de decisão anterior. Diz o Autor: “Caso fosse necessário ao magistrado
explicitar passo a passo o caminho lógico que percorreu para tomar todas as decisões do
processado, por seguro a efetividade processual restaria comprometida. Daí que a motivação,
em casos numerosos, poderá ser sucinta ou mesmo, agora em hipóteses especialíssimas,
suprimida, dada a presença de outros valores presentes no processo, como a efetividade.
Mas condena (com razão) as fórmulas mágicas, repetidas sem qualquer ponto de apoio no
caso específico, como as seguintes “totalmente impertinente a preliminar, que vai rejeitada;
ausentes os requisitos legais, inviável a antecipação de tutela postulada”, e assim por diante.
Sustenta o Autor que da falta de motivação decorre nulidade insanável da sentença: “A falta
ou deficiência da motivação induz a vício insanável, cujo reconhecimento pode dar-se em
qualquer grau de jurisdição e independentemente de provocação da parte”. Propugna, porém,
pela “relativização desta nulidade para amoldar-se com o espírito do sistema das nulidades,
inclusive mediante o emprego da preclusão, para a hipótese de direitos disponíveis”.
Na verdade, a previsão constitucional dessa hipótese de nulidade não implica regime jurídico
próprio, nem significa seja mais grave do que as outras. A falta de citação do réu e sentença a
respeito de pedido não formulado pelo autor são exemplos de vícios ainda mais relevantes.
Nada impede (pelo contrário, é necessário) que a nulidade decorrente da falta de motivação
da sentença seja tratada de conformidade com o respectivo sistema processual.
Em suma, a decisão motivada aponta o entendimento das razões do juiz, que é imparcial, e
assim torna essa decisão, sendo que se constitui tal princípio em verdadeira garantia
inerente ao Estado de Direito.
Segundo a doutrina, esse princípio é dirigido ao juiz para garantir a efetividade de outros
princípios como o do devido processo legal, da imparcialidade do julgador, da legalidade das
decisões, da ampla defesa e do contraditório.
Cotejando com a motivação das decisões judiciais, a imparcialidade do juiz é dever jurídico
correlato ao direito ao devido processo legal e que inspira o senso comum de justiça. Não
pode o juiz, segundo o que se extrai de nosso sistema processual constitucional, exarar decisão
sem que tenha observado o substantive and procedural due process, julgando a causa segundo
os critérios técnicos para aplicação das normas jurídicas ao caso concreto. Essa observância
revelará a lisura ou não do órgão julgador e a consequente imparcialidade
constitucionalmente estabelecida.
Nesse sentido, Michele Taruffo entende que não só o juiz deve ser imparcial, mas importa que
a imparcialidade possa ser verificada em qualquer decisão concreta: a decisão não é imparcial
em si, mas enquanto o demonstre ser. A relação com a obrigatoriedade de motivar é intuitiva:
se a decisão não motivada pode indiferentemente ser parcial ou imparcial, é apenas através da
motivação que pode ser revelada a parcialidade e, então, garantida a imparcialidade.
Quanto à legalidade da decisão, em face do princípio da livre apreciação das provas pelo
órgão julgador, assim como também o recorrente emprego de conceitos jurídicos
indeterminados pelo legislador, torna-se cada vez mais necessário que a decisão seja
concretamente motivada.
Isso revela-nos que a motivação também está presente aqui como instrumento processual a
garantir a adequação do julgado aos pleitos das partes, forma adequada de distribuição de
justiça.
Como se sabe, a norma jurídica geral e abstrata é aquela que decorre dos enunciados
prescritivos dos textos legais, que possuem um mínimo deôntico117, com a descrição de um
evento hipotético no antecedente, bem como a previsão também hipotética de que a
ocorrência da hipótese descritiva implicará o surgimento de uma relação jurídica entre sujeitos
de direito (de um ou mais em face de outro ou outros). Refiro-me aos modais deônticos
permitido, proibido e obrigado.
Por essa forma, pode-se esmiuçar, ainda no plano das normas gerais e abstratas, os
enunciados prescritivos relativamente ao dever de motivação das decisões judiciais. Devemos,
para tanto, selecionar os enunciados da legislação infraconstitucional e da Constituição da
República que prescrevem tal dever. Esse processo nos levará a uma relação extensa de
normas gerais e abstratas que prescrevem referido dever. Só para termos alguma ideia desse
universo, vale lembrar alguns dispositivos infraconstitucionais, tais como: artigos 165; 273 §
4º; 277, § 1º; 458, II; 459, in fine; 461, § 3º; além de tantos outros do Código de Processo Civil.
Nessa linha, acrescentem-se os incisos IX e X do artigo 93 da Constituição da República,
norteadores de todas as decisões.
Assim, segundo se infere de nosso sistema positivado, há inúmeros enunciados dos quais
poderíamos construir as respectivas normas jurídicas, uma a uma para cada caso em
particular; isso só em relação ao dever de motivar! No entanto, para os fins deste artigo,
fiquemos com os principais enunciados esculpidos nos incisos LIII do artigo 5º e no IX do artigo
93, ambos da Constituição da República, tendo em vista que a análise destes permitirá revelar
a constituição das demais normas jurídicas, cuja estrutura/forma será a mesma das normas
que podem ser construídas partindo-se daqueles enunciados infraconstitucionais.
Assim, podemos observar que a estrutura normativa nos oferece a conclusão de que a
previsão da hipótese normativa (no antecedente) implica imediatamente uma prescrição
117
Deontologia jurídica é a ciência que cuida dos deveres e dos direitos dos operadores do direito,
bem como de seus fundamentos éticos e legais. Etimologicamente, deontologia significa ciência dos
deveres. Assim, deontologia jurídica é essa ciência aplicada àqueles que exercem alguma profissão
jurídica, em especial os advogados, magistrados e promotores de justiça. O dever fundamental do
magistrado é o de exercer a jurisdição, que lhe foi confiada no momento da investidura no cargo. Todos
os outros deveres que a lei impõe ao juiz constituem, em última análise, meios para que seja cumprido
esse dever.
A norma jurídica estabelece como deve se dar o comportamento humano nas relações intersubjetivas
quando ocorre determinado fato de interesse jurídico. Assim, verificada a hipótese prescrita na norma,
o comportamento humano deverá estar em conformidade com um dos três modais do deôntico:
PERMITIDO, PROIBIDO OU OBRIGATÓRIO. Se ocorrer isso, faça aquilo, ou não faça aquilo. O
consequente é função do antecedente. Que significa afirmar que a norma jurídica é “o mínimo
irredutível de manifestação do deôntico”? Há três modais deônticos: permitido, proibido e obrigatório.
Temos norma jurídica, em sua concepção científica, quando ocorre enunciado prescritivo antecedente
(hipótese) relacionado ao enunciado prescritivo consequente (tese) através de um operador deôntico.
Assim, pelas sucessivas camadas enunciativas da lei, o intérprete chega à norma jurídica em essência,
ou seja, ao mínimo irredutível de manifestação do deôntico. No momento em que o direito positivo
estabelece uma regra de comportamento, estabelecendo uma hipótese de incidência sobre um fato
socialmente relevante, e agora, portanto, também juridicamente relevante, definindo deonticamente
o comportamento do sujeito (permitindo, obrigando ou proibindo), e vinculando-o a uma
consequência (sanção), teremos a norma jurídica em sua plenitude.
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446
jurídica (no consequente). Essa é a estrutura. No que atine ao conteúdo normativo, aspecto
substancial da motivação, podemos observar que a sua identificação se dará por processo de
subsunção, concretizado por meio do relato em linguagem competente da coincidência do
conceito do evento ocorrido no mundo fenomênico com o conceito hipotético descrito na
norma (coincidência do conceito do fato ao conceito da norma).
Explicitando essa ideia, podemos concluir que a norma introduzida por uma decisão judicial,
para ser válida, precisa possuir no seu antecedente o relato de eventos processuais, visando
constituir o fato jurídico implicador de uma relação jurídica processual. Assim, em termos de
estrutura normativa, a norma introduzida por uma decisão no sistema do direito positivo
deveria ser assim: Dada a ocorrência dos eventos processuais “x”, “y” e “z” e as provas de sua
veracidade “f”, “g” e “h”, então, deve-ser a decisão correlata. Reparem, há antecedente formal
e substancial na estrutura dessa norma, logo, há fato jurídico motivacional capaz de implicar a
respectiva relação jurídica e, portanto, uma decisão judicial passível de introduzir uma norma
individual e concreta no sistema do direito positivo.
Por essa forma, a motivação das decisões judiciais ocorrerá toda vez que as questões de fato
e de direito, ocorridas no curso do processo, forem individualizadas no antecedente
(fundamentação) do consequente “norma individual e concreta” (dispositivo) posta pela
decisão judicial no sistema do direito positivo processual.
Assim é que podemos afirmar se uma decisão judicial está ou não motivada. A FALTA OU A
INSUFICIÊNCIA NA DESCRIÇÃO DAS QUESTÕES DE FATO E DE DIREITO NA CONSTITUIÇÃO DO
FATO JURÍDICO DO ANTECEDENTE DA NORMA INDIVIDUAL E CONCRETA (decisão judicial,
sentença, acórdão ou decisão administrativa) implica a sua nulidade.
Por derradeiro, podemos, então, concluir que se os fatos jurídicos processuais são enunciados
decorrentes de entidades linguísticas que podem sustentar-se em face das provas processuais
admitidas pelo sistema positivado, MOTIVAR É PRODUZIR ENUNCIADO LINGUÍSTICO EM QUE
SE RELATAM TODAS AS QUESTÕES DE FATO E DE DIREITO PERTINENTES À DECISÃO JUDICIAL
PROLATADA, CONSTITUINDO O ANTECEDENTE NORMATIVO E POSSIBILITANDO A
CONSEQUENTE IMPLICAÇÃO JURÍDICO-PROCESSUAL CORRELATA.
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447
É limite mínimo da motivação que o enunciado descritor das questões de fato e de direito
revele os dados relevantes e discrimine as regras de escolha, quando a discricionariedade for
possível. Essa, a nosso ver, a inteireza material ou substancial da motivação.
Com efeito, como se não bastasse por si só a própria estrutura lógico-jurídica da norma, o
nosso sistema jurídico processual foi enfático ao exigir a fundamentação das decisões judiciais
(artigo 93, IX da CR e artigos 165 e 458 do Código de Processo Civil) na sua arquitetura.
É imperioso insistir que a decisão judicial é uma norma jurídica, capaz de impor a vontade do
Poder constituído por meio de um dos modais deônticos (proibido, permitido e obrigatório)
nos exatos termos delineados pelo Estado Democrático de Direito. Assim, temos que concluir
que a decisão judicial é norma e, enquanto esta, observar a sua estrutura mínima (constituição
do fato jurídico e implicação de uma relação jurídica) para afastar a possibilidade de motivação
subentendida ou implícita.
A doutrina cita exemplificativamente três situações que ela considera como “hipóteses
principais” de motivações implícitas, sendo:
a) Quando o juiz deixa de referir-se a um ou alguns dos pontos do processo, por serem
estes supérfluos em relação a outro ou outros pontos já expressamente considerados;
Vale comentar que no exemplo da alínea “a” não dá para admitir que haja motivação implícita,
pois, se o juiz considerou um ou alguns “pontos” do processo, a motivação é expressa. Os
“pontos” desconsiderados não eram, portanto, relevantes para a decisão e ficaram fora da
norma introduzida no sistema jurídico positivo processual. Em relação ao exemplo “b”, das
teses contrapostas, a consideração de uma tese implica a decisão em relação a esta e também
em relação à outra. A motivação aqui também é expressa em relação às duas teses, pois, ao
fundamentar porque decide, o juiz está expressamente demonstrando porque deve prevalecer
uma tese e não outra, logo se expressa diretamente a ambas. Não há que se falar em
motivação implícita nesta hipótese também. O que difere em relação às teses contrapostas
são os efeitos da decisão, não a motivação.
Para uma a decisão é favorável e para a outra desfavorável, no entanto, a motivação será a
mesma.
No que pertine ao exemplo “c”, preclusão das questões sucessivas, quer-nos parecer que se
refere às questões prejudiciais em que a apreciação de questões desta natureza impede a
apreciação das questões posteriores ou de que delas dependam.
Nessa linha, entendemos também que as decisões sobre as questões prejudiciais são normas
que exigem motivação própria cujo resultado representará mais um daqueles eventos
processuais que poderão ou deverão, conforme o caso, integrar o fato jurídico no antecedente
da norma de decisão final.
Vemos que há, sim, uma motivação para a decisão sobre a questão prejudicial, cujo resultado
constituir-se-á em novo evento processual, e outra para a decisão final, que poderá ou deverá,
conforme a prejudicialidade, relatar aquele evento no enunciado normativo constituindo a
norma decorrente da decisão final. Não há, portanto, motivação implícita neste caso também.
Assim sendo, em que pesem posições doutrinárias acerca da existência de motivação implícita,
somos da opinião de que não é possível motivação subentendida ou implícita por não haver
constituição do fato jurídico processual (enunciado linguístico prolatado por autoridade
competente) no antecedente da norma implicadora de relações jurídicas processuais.
Vemos que, na motivação referenciada, o chamado “mero reenvio” (...) “por seus próprios e
jurídicos fundamentos (...)” poderá constituir o fato jurídico da decisão de instância superior
tão somente quando o mérito recursal for exatamente o mesmo posto à autoridade recorrida.
Neste caso vislumbramos a possibilidade de constituição da norma superior nos seguintes
termos:
Note que nesta norma temos a constituição, no antecedente normativo, do fato jurídico
(enunciando os elementos motivadores) que dá ensejo ao consequente da norma, com a
implicação da relação jurídica entre os sujeitos Senhor Fulano de Tal em face de Senhor
Beltrano pelos mesmos motivos; tudo isso, em virtude do imperativo deôntico da norma
expedida.
HC N. 101.684-SP
RELATOR: MIN. JOAQUIM BARBOSA
EMENTA: Habeas Corpus. Prisão preventiva. Motivação per relationem.
Técnica plenamente admitida por esta Corte. Condições pessoais
favoráveis. Insuficiência. Requisitos cautelares concretamente
demonstrados. Ausência de constrangimento ilegal. Habeas corpus
denegado.
A jurisprudência desta Corte admite a utilização, por magistrados, da técnica
da motivação per relationem, caracterizada pela remissão que o ato judicial
expressamente faz a outras manifestações ou peças processuais constantes
dos autos e cujos fundamentos justificam e integram o ato decisório
proferido. Precedentes.
[...]
Por fim, vale repisar que não seria possível a constituição de motivação “per relationem” caso
ocorresse qualquer mudança nos eventos processuais que gerassem, em decorrência de
ataques do recurso sobre a motivação da sentença recorrida, a constituição de fato diverso do
acima detalhado, restando, então, outra motivação para o julgamento do recurso pela
autoridade superior. Não caberia aqui mera referenciação, sob pena de não motivar a decisão
que aprecia as alegações deste recurso.
Um exemplo simples que pode ser dado é quando o juiz decide a demanda em favor do INSS e
a parte autora apela com base em argumentos de índole processual, buscando fulminar a
sentença e o próprio processo por error in procedendo. Não terá, em regra, força para
sustentar a decisão do juízo a quo a simples fundamentação do acórdão com base nos próprios
argumentos da sentença, visto que o que se está questionando se dissocia dos fundamentos
nesta apresentados.
O que impede que o magistrado, ante a liberdade que possui decorrente de sua livre
persuasão, se enverede pelo campo do arbítrio, ou seja, o que o “vincula dentro de sua
discricionariedade” é a exteriorização das razões de decidir, a qual expõe que foi observado o
devido processo legal, assim como a matriz de produção do direito que lhe foi apresentada
pelo ordenamento jurídico, sem se desviar para o arbítrio na construção de um direito que lhe
pareça justo, ou seja, sem se valer do uso alternativo do direito.
Na América Latina, ganhou forças, ousando muito mais do que a matriz europeia. Por aqui,
tenta-se pensar num modelo alternativo que saiba indicar como agir para romper os limites da
legalidade quando esta é entrave ao valor Justiça comprometido com a maioria da população;
Isso causa uma subversão do Direito Positivo, mormente pelo fato do potencial destrutivo que
adviria da falta de ordem criada pela ausência de limites efetivos ao amplo poder discricionário
– quando não arbitrário – do julgador direcionado pelo seu subjetivo senso de justiça118.
A racionalidade das decisões judiciais se fará com o livre convencimento motivado – que
impõe fundamentação racional e objetiva no ato de julgar – impondo ao magistrado que se
aparte de suas convicções pessoais estritamente subjetivas para exercer o seu mister.
Entretanto, isso também tem gerado uma série de decisões não fundamentadas, visto que a
simples invocação de princípios, sem a devida conjugação com outros elementos de fato e de
direito, geram decisões vazias, com muitas palavras e pouco conteúdo. Ademais, a técnica de
ponderação principiológica proporciona um alto grau de discricionariedade ao magistrado,
quando não arbitrariedade.
A doutrina tem apontado, hoje em dia, quatro principais tendências para que essa nulidade
absoluta (falta ou deficiência da fundamentação) não ocorra:
118
Aqui entra a questão do solipsismo jurídico, forma decisional dos magistrados de buscar apenas em
sua consciência o que seria Justiça.
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453
b) Tendência da razão pública: nessa técnica, o conteúdo dos princípios que serão
ponderados será determinado em conformidade com a razão pública. Para Rawls, a
razão pública se refere ao que é consensual, ao que está ligado à democracia, aos
direitos humanos e às teorias científicas incontroversas. Para ele não devem ser
consideradas, na hermenêutica principiológica, as “doutrinas abrangentes” (filosóficas
e políticas, que informam a estrutura básica da sociedade mas não geram consenso,a
ntes pertencendo à crença de um certo grupo da sociedade). Os membros do Poder
Judiciário, como não são eleitos, não possuem legitimidade para adotar uma doutrina
abrangente para decidir, não podem invocar sua própria moralidade particular.
Somente quando decidem com base nas razões públicas é que suas decisões se
mostram em consonância com a democracia. E como define o magistrado o que está
dentro da razão pública? Quando ele constata que a sua decisão contenha valores que
todos os cidadãos racionais e razoáveis endossariam (ahã.. me engana que eu gosto.
Isso é praticamente impossível). Pois bem. No que se refere à ponderação, ela deve ser
feita ante o dever prévio do magistrado conferir um sentido razoável aos princípios
colidentes, de forma a selecionar o que prevalece ou, até mesmo, e
preferencialmente, eliminar a colisão.
Quando se afirma que a prova não pode traduzir a verdade, alude-se a uma ideia que há muito
tempo está presente na filosofia. O que se quer dizer, mais precisamente, é que a essência da
verdade é inatingível. E não apenas pelo processo, mas por qualquer mecanismo que se preste
a verificar um fato passado. Apesar disso ser absolutamente óbvio em outros setores do
conhecimento, o direito não consegue se livrar do peso da ideia de que o juiz, para aplicar a lei
ao caso concreto, deve estar iluminado pela verdade.
A coisa julgada material tem a ver com a necessidade da definição dos casos conflitivos. Como
é lógico, uma decisão definitiva somente é legítima quando resulta de um processo que
confere às partes a devida oportunidade de participação. É essa participação que legitima a
coisa julgada material, e não o encontro da verdade dos fatos.
Tal explicação dá base à proibição de se rediscutir os fatos já definidos, ainda que a partir de
outras provas. Ora, se essa proibição inexistisse, o julgamento do mérito não colocaria fim
ao conflito de interesses nunca, pois uma outra prova sempre seria capaz de abrir
oportunidade para a sua rediscussão.
É evidente que a impossibilidade de o juiz descobrir a essência da verdade dos fatos não lhe dá
o direito de julgar o mérito sem a convicção da verdade. ESTAR CONVICTO DA VERDADE NÃO
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Em resumo: O JUIZ, PARA POR FIM AO CONFLITO, DEVE ESTAR CONVICTO, DENTRO
DAS SUAS LIMITAÇÕES, A RESPEITO DA VERDADE, UMA VEZ QUE A SUA ESSÊNCIA É
IMPENETRÁVEL.
De modo que a prova de ofício não se destina à descoberta da verdade, mas apenas a suprir,
dentro de limitações naturais, a insuficiência de produção de provas pelas partes, com o fim de
possibilitar ao juiz a formação do seu convencimento para o julgamento do mérito.
Lembre-se, ainda, que a prova de ofício, além de ter que ser adequadamente justificada pelo
juiz, deve abrir às partes a devida oportunidade: i) de considerar sobre a sua oportunidade;
ii) de participar da sua produção; e iii) de falar sobre o seu resultado. Portanto, a
possibilidade da participação do juiz na produção da prova não retira das partes a
possibilidade de participar da formação (produção) e da interpretação da prova
(consideração dos seus resultados).
A cognição sumária admite que uma decisão seja proferida com base em parcela das provas
que podem ser produzidas pelas partes. Ou ainda: a cognição sumária é uma técnica que limita
a participação das partes e, ainda assim, viabiliza a decisão do juiz.
119
Ontognoseologia é a teoria do conhecimento; ramo filosófico que busca entender como se dá o
processo de cognição e até mesmo se é possível a cognição, a qual recairá sobre o aspecto ontológico,
ou seja, sobre um determinado objeto a ser estudado. Gnoseologia se refere ao sujeito do
conhecimento, sobre como e se é possível a ele conhecer algo.
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456
Essa limitação da participação das partes, que na verdade mais se aproxima a uma limitação da
possibilidade de produzir prova, é característica à tutela cautelar e à tutela antecipatória.
Nessas duas hipóteses, o legislador processual estabelece a limitação da produção de prova,
mandando o juiz se contentar com uma convicção de probabilidade ou verossimilhança.
Nessa linha, o Código de Processo Civil afirma que o autor da ação cautelar deve fazer a
'exposição sumária do direito ameaçado e o receio da lesão' (art. 801, IV); que o juiz deve se
'convencer da verossimilhança da alegação' (art. 273, 'caput'); e, ainda por exemplo, que
'sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do
provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação
prévia, citado o réu (art. 461, § 3º).
São exemplos que limitam a possibilidade da produção de prova e, por isso, permitem que o
juiz decida com base em uma convicção de verossimilhança ou probabilidade. Perceba-se que
não há razão e viabilidade lógica na distinção entre verossimilhança, probabilidade, ou
qualquer outro termo que queira indicar os seus conteúdos, uma vez que não há como se
quantificar o grau de probabilidade de uma prova e, muito menos, o grau de convicção judicial.
Ou melhor, é um grande equívoco filosófico supor que a probabilidade pode variar, conforme
se esteja diante da tutela cautelar ou da tutela antecipatória. O que poderia variar, e isso
evidentemente não poderia interferir no grau de probabilidade, seria a prova a ser utilizada
em cada uma das hipóteses. Porém, como os referidos artigos não limitam a prova a uma
determinada espécie, nem mesmo nisso se pode pensar.
Em suma: em um caso a lei reduz a prova e, no outro, a lei não faz redução alguma, embora se
entenda que o juiz possa, justificadamente, reduzir o módulo da prova.
A teoria que se estabeleceu na Escandinávia tem uma vinculação muito íntima com essa
problemática. Essa teoria propõe uma restrição da importância da regra do ônus da prova,
sintetizando, em suma, a ideia de que ao juiz bastaria uma convicção de verossimilhança.
Em certos casos, o juiz deveria chegar à verossimilhança prevista na lei, enquanto que, em
outros, ele mesmo poderia determinar o grau de verossimilhança necessário, considerando as
circunstâncias do caso concreto. Ou seja, a falta de previsão legal não retiraria do juiz a
possibilidade de julgar com base em verossimilhança, quando então o julgamento deveria
considerar as consequências que derivariam da exigência de um grau de verossimilhança
muito alto e, portanto, de um julgamento fundado na regra do ônus da prova.
Nessa dimensão o raciocínio judicial deve observar duas fases: na primeira o juiz estabelece o
grau de prova suficiente e, na segunda, atribui determinado grau às provas produzidas.
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Somente quando a prova não alcançar o grau preestabelecido é que o juiz lançará mão da
regra do ônus da prova.
Se a posição de uma das partes é mais verossímil que a da outra, ainda que minimamente, isso
seria suficiente para lhe dar razão. Nessa lógica, ainda que a prova do autor demonstrasse com
um grau de 51% a verossimilhança da alegação, isso tornaria a sua posição mais próxima da
verdade, o que permitiria – segundo a doutrina escandinava – um julgamento mais racional e
melhor motivado que aquele que, estribado na regra do ônus da prova, considerasse a
alegação como não provada.
O ônus da prova constituiria o ponto central dessa régua, e assim o ônus de produzir prova não
pesaria sobre nenhuma das partes. A parte que conseguisse fazer a régua pender para o seu
lado, ainda que a partir de um mínimo de prova, mereceria ganhar a causa, quando então
prevaleceria o princípio da 'verossimilhança preponderante'.
Essa tese – que obviamente não é imune a críticas – ao menos serve para chamar a atenção
para o seguinte problema: é certo pensar que a verossimilhança preponderante é um estado
de dúvida, que assim impede a formação da convicção judicial e deve conduzir à rejeição do
pedido, ou esse grau de probabilidade, ainda que mínimo, significa que, na realidade, o juiz
superou a dúvida para concluir que o autor tem razão?
Comparando a convicção judicial no processo penal e no processo civil, afirma WALTER que, se
a presunção de inocência que emana do princípio do Estado de Direito não deve ser
desvirtuada apenas por ser muito verossímil a culpabilidade do acusado, o princípio do Estado
Social seria invalidado se, para a prova de um acidente de trabalho ou do direito a uma
pensão, fosse exigido o mesmo grau de certeza que no processo penal. Nessa linha, conclui
que, quando se determina o 'módulo da prova', não há como deixar de levar em conta a
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matéria subjacente ao direito processual, sob pena de os fins do próprio direito material serem
desvirtuados, ou ainda de se entrar em choque com outros importantes princípios do direito.
Afirma, então, que não há como se pensar na aplicação de um modelo unitário, chamado
'verdade', para todas as situações concretas. Não obstante - e aqui fica nítido o seu
distanciamento em relação à tese da verossimilhança preponderante -, conclui, a partir da
premissa de que o legislador alemão estabeleceu a necessidade de o juiz se convencer da
verdade, que é inadmissível se pensar em reduzir, para todas as situações concretas, o módulo
de prova. Ou seja, o seu entendimento é de que nem o modelo da convicção de verdade, nem
o modelo da verossimilhança preponderante (ou ainda o modelo de controle por terceiros),
poderiam ser aplicados a todos os casos.
Aliás, mesmo aqueles que desejam que o juiz dê ganho de causa à parte cujo direito é mais
verossímil, encontram um obstáculo insuperável na sustentação dessa teoria. É que não é
possível medir, em termos matemáticos, a graduação de uma prova ou de um conjunto de
provas, o que impediria a devida justificação da 'verossimilhança preponderante'. É preciso
que exista algo externo à prova para justificar a redução da sua exigência.
De qualquer forma, não há como negar a obviedade de que o juiz, para julgar adequadamente,
deve buscar se convencer da verdade. Ora, supor que o juiz, em regra, deve proferir a
sentença com base na verossimilhança que preponderar, é simplesmente imaginar que o juiz
não precisa se convencer para julgar.
É claro que o juiz, quando não convencido pela prova das partes, pode determinar prova de
ofício. Acontece que essa possibilidade não é suficiente para permitir elucidar todos os casos
concretos, especialmente porque, na maioria das vezes, não há outras provas a produzir ou o
juiz desconhece os meios de prova que efetivamente podem auxiliar. Portanto, a tão
decantada tese de que o juiz deve determinar prova de ofício deve ser vista como uma ideia
simplista e ingênua caso tenha a pretensão de se constituir em uma alternativa ao julgamento
baseado na regra do ônus da prova.
Em alguns casos, o juiz pode estar em estado de dúvida no momento de sentenciar. Nessas
hipóteses, se a dificuldade da prova e as características do direito material em litígio não
justificarem a chamada 'redução do módulo da prova' ou a inversão do ônus da prova, não
resta outra saída ao juiz senão julgar improcedente o pedido com base na regra do ônus da
prova.
Portanto, além de ser falsa a suposição de que o juiz sempre julga depois de 'ter descoberto a
verdade', é impossível afirmar que o juiz pode deixar de julgar por não estar convencido. No
máximo, o que alguém poderia dizer é que a sentença, quando lastreada em dúvida, não
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460
produz coisa julgada material, quando se teria uma espécie de coisa julgada 'secundum
eventum probationis'. Porém, a aceitação dessa tese eliminaria a própria razão de ser da coisa
julgada material, que é, como se sabe há muito, a de impedir a eternização dos conflitos. Dizer
que uma sentença, que trata do litígio, não se reveste da autoridade da coisa julgada material,
é simplesmente afirmar que ela não tem valor algum. Ou mais precisamente: retirar a coisa
julgada da sentença é o mesmo que concluir que o juiz está autorizado a não julgar.
Não há mais como supor que a decisão jurisdicional encontre fundamento na verdade, pois é
óbvio que não existe uma verdade, mas tantas versões de verdade quantas forem necessárias.
Cada parte tem a sua, e o juiz, para proferir a decisão, elabora a própria – que pode ser a
versão inteira ou parcial de uma das partes.
É certo que o juiz deve buscar se convencer da verdade. Mas essa convicção se faz com base
na argumentação ou nas provas trazidas ao processo, inclusive as determinadas de ofício, o
que gera uma verdade construída no processo. O que legitima a decisão jurisdicional ou a
coisa julgada é a devida participação das partes e do juiz, ou melhor, as próprias regras que
criam as balizas para a construção da verdade processual.
Não se confunda tudo isso com a possibilidade de a parte propor ação rescisória quando, após
a sentença, obtiver documento novo, 'cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso,
capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável' (art. 485, VII, CPC). Essa hipótese,
como é evidente, não abre ensejo para a simples rediscussão do litígio, uma vez que admite a
rescisão da sentença que produziu coisa julgada material, e isso quando a parte puder
apresentar documento cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, e capaz, por si
só, de lhe assegurar resultado favorável.
Embora o art. 485, VII do CPC fale em documento, cuja existência a parte ignorava ou de que
não pôde fazer uso, é correto interpretar documento como abrangente de qualquer meio
técnico não existente à época em que o conflito foi discutido, e assim compreender o caso
excepcional e exemplar da investigação de paternidade. Com efeito, não há como deixar de
observar que, quando se pensa em documento novo, supõe-se documento existente à época
da ação, mas que não pôde ser utilizado, e que esse raciocínio não pode ser empregado diante
do DNA, pois esse não constitui documento ou algo que existia na época da ação. O exame de
DNA é um meio técnico novo para se pôr em evidência um fato que foi afirmado na ação, ou
uma prova pericial que não pôde ser realizada para demonstrar o fato afirmado, por
consistente em técnica que ainda não podia ser utilizada.
Frise-se que a possibilidade de ação rescisória com base em documento novo nada tem a ver
com a suposição de que a coisa julgada é legitimada pela verdade. A COISA JULGADA
ENCONTRA LEGITIMAÇÃO, COMO JÁ FOI DITO, NA ADEQUADA PARTICIPAÇÃO DAS PARTES E
DO JUIZ E, ASSIM, NAS PRÓPRIAS REGRAS QUE TORNAM LEGÍTIMA A CONSTRUÇÃO DA
VERDADE PROCESSUAL. Quando se entende que a participação, diante da não possibilidade
do uso de um documento ou meio técnico, foi prejudicada, confere-se à parte a possibilidade
de propor ação rescisória. É pouco mais que evidente que tal possibilidade não se fundamenta
na ideia de que a verdade ainda não foi encontrada, até porque a ação rescisória pode ser
julgada improcedente. A ação rescisória com base em documento novo, que é limitada no
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Segundo o art. 1º da Lei da Ação Popular, 'qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a
anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito
Federal, dos Estados e dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia
mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União
represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de
instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou
concorra com mais de 50% (cinquenta por cento) do patrimônio ou da receita ânua de
empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos
Municípios e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres
públicos'. Considerando que a ação popular diz respeito a direitos difusos, e que uma sentença
de improcedência, fruto da participação de um só cidadão, poderia prejudicar a todos, e até
mesmo resultar de uma deficiente – e quem sabe proposital – deficiência de instrução do
processo com provas, concluiu o art. 18 dessa mesma lei: 'a sentença terá eficácia de coisa
julgada oponível erga omnes, exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por
deficiência de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova'.
Na Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), que também trata de direitos difusos e coletivos
(art. 1o), o art. 16 possui a mesma inspiração: 'a sentença civil fará coisa julgada erga omnes,
nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova'.
Todos esses dispositivos têm o mesmo fim: possibilitar a discussão do litígio que, em princípio,
seria solucionado contrariamente aos direitos difusos e coletivos em razão de insuficiência de
provas. Essa 'insuficiência de provas' seria o sinal de que a parte que foi a juízo para defender
os direitos difusos e coletivos poderia ter atuado de modo deficiente ou, o que é pior, de
maneira intencionalmente precária.
Isso evidencia, em primeiro lugar, que a sentença de improcedência por insuficiência de provas
nada tem a ver com a sentença própria ao mandado de segurança, em que o juiz apenas julga
o mérito quando tem prova documental. No caso de direitos difusos e coletivos não há
restrição ao julgamento do mérito pelo motivo de não existir prova documental, mas sim
limitação à coisa julgada por ter a sentença de improcedência baseado-se em provas
insuficientes.
Quando não há prova documental no mandado de segurança, o juiz não julga o mérito, mas
apenas afirma que a via do mandado de segurança não é adequada. Mas nas ações relativas a
direitos difusos e coletivos, a insuficiência de provas obriga o juiz a proferir uma sentença de
improcedência.
Assim, a real diferença entre as hipóteses está em que, no mandado de segurança, não existe
cognição exauriente quando não há prova documental (cognição exauriente 'secundum
eventum probationis'), ao passo que, nas demandas coletivas, a sentença é proferida - e,
assim, a cognição é exauriente -, existindo somente uma limitação à formação da coisa
julgada material.
Lembre-se que o juiz pode produzir prova de ofício, especialmente nas demandas coletivas,
dada a relevância do direito material em litígio e o fato de apenas um dos legitimados à sua
defesa estar em juízo. Assim, a insuficiência de provas somente pode ser o resultado de um
processo em que se deu às partes e ao juiz a devida oportunidade de participação. O fato de o
juiz, após tudo isso, não ter formado a sua convicção a respeito da verdade, deve viabilizar um
julgamento de procedência - com base na redução das exigências de prova - ou um julgamento
de improcedência - com base na regra do ônus da prova.
Acontece que o juiz pode estar convencido, diante das provas produzidas, que o autor não tem
razão, e assim entendê-las como suficientes. Nesse caso, se outro legitimado possuir 'nova
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prova', estará proibido de propor nova ação? Como é evidente, tal proibição estaria negando
as próprias razões das exceções legais – previstas nos artigos antes referidos - à coisa julgada
material. Recorde-se – apenas para evitar mal entendidos - que se o juiz souber que existe
uma prova que não foi utilizada pela parte, deve determinar a sua produção de ofício, o que
obriga à distinção entre a impossibilidade de o juiz prever uma 'nova prova' e a possibilidade
dele determinar a produção de ofício de prova - que ele obviamente conhece - não utilizada
pela parte.
Se é possível pretender rediscutir a demanda coletiva com base em 'nova prova', para se evitar
que um direito difuso ou coletivo seja prejudicado pela atuação deficiente ou maliciosa de um
legitimado, não há qualquer motivo para entender que 'nova prova' é somente aquela que não
existia, que era desconhecida ou que não pôde ser utilizada pelo autor da demanda anterior.
Considerada a própria razão de ser da limitação à coisa julgada, não há como deixar de
concluir que toda e qualquer prova não produzida e valorada no processo encerrado, pode ser
qualificada como 'nova prova'.
Mas se é assim, cabe esclarecer que essa 'nova prova' deve ser indicada na petição inicial da
nova demanda coletiva, dando-se ao juiz, com isso, apenas a possibilidade de saber se tal
prova não foi valorada anteriormente. É lógico que, ao lado dessa 'nova prova', o juiz deverá
considerar as provas que já foram valoradas, pois não se nega a possibilidade do
aproveitamento da prova já produzida, mas apenas a necessidade de que, ao lado dessas, seja
indicada e produzida uma 'nova prova' .
Como se vê, toda sentença que se baseia em fato que deixou de ser devidamente provado
para conduzir à procedência da demanda coletiva pode ser revista em ação posterior fundada
em 'nova prova'. Por isso não produz coisa julgada material e, assim, ainda que não proposta
nova ação, não merece a mesma credibilidade da sentença por ela acobertada. Isso quer dizer,
basicamente, que ainda que não seja proposta ação fundada em 'nova prova', a sentença de
improcedência, nessas circunstâncias – ainda que nada tenha dito sobre a insuficiência de
provas -, pode ser discutida por qualquer legitimado, logicamente com base em 'nova prova',
em qualquer outra ação em que o réu na demanda coletiva pretenda utilizá-la.
Não se pode pôr em dúvida que os progressos alcançados pela metodologia e hermenêutica
jurídicas têm-se refletido na ciência processual. Importantes estudos vêm sendo produzidos
em busca de novas soluções para antigos e recorrentes impasses, cujos modelos, até então
estabelecidos, não vinham produzindo ou não produziram resultados de todo satisfatórios.
Nesse contexto, um tema que realmente precisa ser revisitado, e com urgência, é o do
convencimento judicial ou, mais precisamente, o problema do seu controle.
120
Disponível em: http://www.abdpc.org.br/artigos/artigo37.htm. Consulta aos 09/02/2011.
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Essa impostação que se poderia qualificar de tradicional deixa, no entanto, sem resposta
um sério e grave problema. Afinal, ao se ter assim conceituado o sistema da persuasão
racional, terá faltado estabelecer, justamente, o núcleo do problema por ele suscitado, ou
seja, a questão de saber se existe, ou não, uma instrumentação jurídica capaz de efetuar o
controle da convicção judicial formada em determinado caso concreto. Em outros termos,
fica por identificar uma base teórica, eminentemente voltada à prática, capaz de orientar o
exame científico de um determinado convencimento judicial, com vistas à sua crítica, análise e
correção.
É justamente para essa problemática que o presente trabalho atenta: existirá um módulo (ou
módulos) suscetível de utilização pelos operadores jurídicos, para a crítica e o controle do
mérito de um convencimento judicial, ou esse controle somente será possível mediante a
simples renovação ou repetição do próprio processo de convencimento por um juiz diverso?
Ao que parece, a praxis, pelo menos a brasileira, orienta-se pela pura e simples renovação ou
repetição do próprio juízo de fato, como forma de efetuar este controle: os tribunais
brasileiros, quando do exame da quaestio facti, em geral reavaliam a prova como um todo,
de modo que o mecanismo de controle da convicção judicial acaba reduzindo-se à sua
própria renovação. Em outras palavras, o objeto do controle – a convicção judicial – num
segundo momento – o do recurso – transforma-se no próprio mecanismo de controle, pois não
se costuma, antes e por primeiro, ou mesmo concomitantemente, examinar e verificar o iter
lógico, a congruência narrativa, a consistência lógico-argumentativa do juízo de fato como
uma questão ‘in se’, ou seja, como uma questão autônoma e relevante. Como bem observou
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Não se trata é bom advertir desde logo de mero academicismo, mas de uma questão
essencialmente prática. Por exemplo, a opção por um controle de tipo lógico e substancial
implicaria um alargamento do âmbito dos recursos especial e extraordinário. Viabilizaria,
outrossim, uma possibilidade de diálogo muito mais amplo, franco e consistente no terreno do
juízo de fato, superando a mera substituição de uma convicção – a do Juiz – por outra – a do
Tribunal. Entretanto, é óbvio que essa mesma construção oferece seus riscos: poderia
determinar um formalismo exagerado no setor da prova, a ponto de autonomizar, por
exemplo, uma verdade judiciária ou processual por oposição à assim chamada “realidade”,
confundindo opinião e verdade, donde se percebe, a um só tempo, a complexidade e a
importância do tema.
Nesse sentido, como primeira questão, impõe-se justificar o caráter problemático do controle
da convicção judicial, vale dizer, da formação da base fática de uma decisão. Tem-se, a
propósito, a nítida impressão de que, com isso, repropõe-se, em menor escala, a dicotomia
jurídica questão-de-fato—questão-de-direito, cuja reformulação teórica geral não teve,
segundo parece, uma proporcional ressonância no âmbito da ciência processual. Somente o
seu enfrentamento, ainda que sucinto, permitirá fixar os pressupostos da construção de um
possível modelo de controle.
A propósito, como está assente, durante o largo tempo em que dominou o positivismo
jurídico, fato e direito, no contexto da decisão jurídica, eram vistos a partir de um enfoque
estático, imóvel. A ideia de “subsunção”, largamente dominante, apoiada no silogismo puro,
como modelo não apenas descritivo, mas explicativo da aplicação do direito, pressupunha,
efetivamente, a heterogeneidade e a independência dessas duas questões. Heterogeneidade,
porque uma (a questão de fato) não se poderia confundir com outra (a questão de direito); e
independência, porque ambas poderiam ser, não apenas isoladas, como, sobretudo,
examinadas isoladamente, cada qual com o seu instrumental próprio. Assim, numa estrutura
tipicamente silogística, o Juiz deveria estabelecer a norma aplicável ao caso concreto e, numa
operação separada e distinta, o fato controvertido, procedendo, em seguida, à subsunção do
fato à norma. Consequência: ao direito probatório, assim, só restava a função, quase que
extrajurídica, de introduzir o fato no silogismo judiciário, uma função, por certo, marginal.
O quão esse modelo fosse falacioso não vale, mais, insistir, tanto que, na feliz expressão de
Coing, “significa já, hoje, ‘arrombar portas abertas o pretender-se combater a concepção que
vê na aplicação do direito uma actividade puramente lógica”. Efetivamente, o subsuntivismo
estava assentado em bases conhecidas: “a titularidade do direito pelo Estado, e, dentro do
Estado, pelo Poder Legislativo”, com “a total exclusão do poder criador de direito por parte
da função judicial (...) para uma absoluta garantia contra o arbítrio judicial”; a noção de que,
na decisão judicial, “tudo se devia passar em termos de perfeito automatismo e estrita
necessidade”. Tais postulados, prenhes de sentido político-ideológico, se evidenciam nas
palavras de ROBESPIERRE, a proclamar que “esta expressão, jurisprudência dos tribunais,
deveria ser eliminada de nossa língua. Num Estado que tem uma Constituição, uma legislação,
a jurisprudência dos tribunais não é outra coisa que a lei”. E, não fosse bastante esse desgaste
ideológico, também seus problemas metodológicos acabaram expostos, resultando, no preciso
dizer de HUMBERTO ÁVILA, “invencíveis”.
No que nos diz respeito, pelo menos duas noções merecem registro. Referimo-nos, em
primeiro lugar, à “Espiral Hermenêutica”121, segundo a qual a aplicação do direito envolve uma
121
No âmbito jurídico não pode ser considerada verdadeira a ideia de Schleiermacher sobre a
existência de um momento no qual ocorre a compreensão total. Compatibiliza-se mais o pensamento
de que: o círculo da compreensão não é cumulativo, não é um círculo que se fecha sobre si mesmo, não
tem a forma de uma circunferência, mas de uma espiral. Por isso, “não é correto falar em compreender
melhor”, como se a verdade fosse um objeto a ser alcançado ao final do processo de elaboração da
compreensão e de uma vez para sempre (...) explicita a prévia estrutura da compreensão e concebe a
verdade como o sentido possível de ser manifestado e jamais esgotável (ALMEIDA, 2002, p. 275-276).
A percepção de Gadamer acerca do círculo hermenêutico é mais coerente com a seara jurídica, pois
rechaça o ponto final no qual surge a verdade. Ao contrário, as interpretações são inesgotáveis
possibilidades. Este filósofo detalha seu pensamento da seguinte maneira: “o círculo, portanto, não é
de natureza formal. Não é objetivo nem subjetivo, descreve, porém, a compreensão como o jogo no
qual se dá o intercâmbio entre o movimento da tradição e o movimento do intérprete. A antecipação de
sentido, que guia a nossa compreensão de um texto, não é um ato da subjetividade, já que se determina
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atividade altamente dinâmica, em que se circula das premissas menores às maiores, diversas
vezes e sucessivamente, até se conformarem fato e direito naquilo que, apenas
descritivamente, ou seja, em sua forma ou aparência externa, será um silogismo. Aqui, a
formulação do juízo de fato e do direito a aplicar são conjunta e reciprocamente elaborados,
um exercendo grande influência sobre o outro, num intenso movimento da norma ao fato, do
fato à norma, até chegar-se ao produto final.
a partir da comunhão que nos une com a tradição. Mas em nossa relação com a tradição essa comunhão
é concebida como um processo em contínua formação” (GADAMER, 2005, p. 388).
Dessa forma, “compreender não é compreender melhor, nem sequer no sentido de possuir um melhor
conhecimento sobre a coisa em virtude de conceitos mais claros, nem no sentido da superioridade
básica que o consciente possui com relação ao caráter inconsciente da produção. Basta dizer que,
quando se logra compreender, COMPREENDE-SE DE UM MODO DIFERENTE” (GADAMER, 2005, p. 392).
Há dois fatos que devem ser especialmente frisados: primeiramente, que a tradição influencia no
processo de compreensão, isso significa que Gadamer considera o caldo cultural no qual o intérprete
está imerso; e, secundariamente, para este filósofo inexiste a compreensão, como uma única
possibilidade verdadeira, mas sim posições, interpretações. Neste ínterim, solução divergentes entre
juízes ou tribunais é apenas uma questão de interpretação adotada, não havendo certo/errado.
Isso remete a uma explicação de Hegel para a filosofia de Heráclito, expressa pelo pensamento de que
“tudo o que é ao mesmo tempo não é, [o qual salienta] o fato de ele esclarecer que a certeza sensível
não possui verdade alguma” (Os Pré-Socráticos, 1973, p. 106). Ora, se a certeza sensível não é
verdadeira poder-se-ia falar em verdade única advinda de um texto? Palavras são mais confiáveis que os
sentidos?
A posição de que “o que é, ao mesmo tempo já novamente não é” (Os Pré-Socráticos, 1973, p. 98-99) é
plenamente verossímil quando pensamos no Direito, pois não há como, antecipadamente, ter plena
certeza da decisão que será dada pelo julgador e a mudança de entendimento é algo comum no mundo
jurídico. Inclusive poder-se-ia afirmar que é esta mutabilidade que dá vida ao Direito e impulsiona-o a
um progresso.
Retomando a ideia gademeriana acerca da inexistência de uma interpretação correta, fá-se importante
mencionar as palavas de Kelsen: “A interpretação jurídico-científica tem de evitar, com o máximo
cuidado, a ficção de que uma norma jurídica apenas permite, sempre e em todos os casos, uma só
interpretação “correta”. Isto é uma ficção de que se serve a jurisprudência tradicional para consolidar o
ideal da segurança jurídica. Em vistas da plurissignificação da maioria das normas jurídicas, este ideal
somente é realizável aproximativamente” (KELSEN, 1998, p. 396).
Nota-se que Kelsen trata a univocidade das normas como uma ficção e assim ratifica a existência de
interpretações, de possibilidades. Sendo o texto normativo dotado de vários significados, a segurança
jurídica fica prejudicada pois depende da interpretação dada pelo órgão aplicador do direito.
Quanto à estrutura do círculo hermenêutico, interessante a representação como um espiral. Esta pode
ser empregada para explicar o processo evolutivo do campo jurídico: o julgador parte do sistema
jurídico (cuja hipotética e simplista composição foi anteriormente explanada) e de elementos da
tradição, para assim interpretar os fatos expostos pelas partes e decidir; ocorre que essa decisão
também passa a integrar o sistema jurídico e, portanto, modifica-o. DESSA FORMA, EM UMA
DEMANDA POSTERIOR TEM-SE NOVAS PARTES, UM SISTEMA JURÍDICO DIFERENTE, UM JULGADOR
CUJAS IDIOSSINCRASIAS JÁ NÃO SÃO EXATAMENTE AS MESMAS E PODE-SE COGITAR QUE ATÉ
MESMO A TRADIÇÃO JÁ FORA LEVEMENTE ALTERADA.
EM SUMA, A JURISPRUDÊNCIA ASSUME PAPEL CENTRAL NO ESPIRAL JURÍDICO-
HERMENÊUTICO, POIS ALÉM DE SER O RESULTADO DA TUTELA JURISDICIONAL É FONTE DO
DIREITO. ATRAVÉS DESSA MUTABILIDADE HÁ CORREÇÃO DO DIREITO ABSTRATO,
POSSIBILITANDO QUE NO ÂMBITO DISCRICIONÁRIO HAJA UMA CONSTANTE ATUALIZAÇÃO
COM VISTAS AOS IDEAIS SOCIAIS. A IMAGEM DO ESPIRAL SALIENTA QUE O SISTEMA
JURÍDICO NÃO ESTÁ COMPLETO, TAMPOUCO É FECHADO; AO CONTRÁRIO, ESTÁ EM PERMANENTE
FORMAÇÃO.
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Desaparece, portanto, a ideia de independência entre quaestio facti e quaestio juris, que
resultam em estreita conexão, no sentido de progressiva e reciprocamente determinarem-se:
a aplicação da norma ao fato consiste na determinação (na descoberta) da sua coincidência,
através de um movimento circular de compreender, que procede a uma pluralidade de níveis
sucessivos: “é o direito que define e determina aquilo que no processo constitui o fato”.
Particularmente no que diz respeito ao juízo de fato, se a espiral hermenêutica põe em causa
sua interrelação com o juízo normativo (porque exercem uma influência recíproca, de modo
que o fato não ingressa, pela prova, em bruto, mas já moldado pela norma jurídica que
resolverá o caso concreto), o contributo da pré-compreensão vem da constatação de que,
também o fato concreto, “caracteriza-se como uma prevaloração, que é submetida a um
controle crítico não logicamente definido e a uma contínua verificação até o momento em que
se realiza o convencimento conclusivo do juiz”, o qual, destarte, “surge sob a reserva de um
melhor exame”. Remete-nos, então, a pré-compreensão à referência valorativa do juízo fático,
reclamando uma verificação suficientemente aberta das implicações, ponderações e
horizontes eventualmente considerados pelo juiz na sua identificação (p.ex., um mesmo fato
poderá ser qualificado como uma locação ou um comodato). Assim, PASTORE identifica, como
postulados da pré-compreensão, dentre outros, uma “orientação preventiva relativamente aos
eventos a serem julgados”, “a individualização dos elementos juridicamente relevantes”, “uma
atividade seletiva que se realiza na e com a linguagem jurídica”, a “cognição dos vários e
complexos elementos da realidade”.
que a avaliação do fato tenha sido, realmente, “terra incógnita”, de pouco interesse para o
jurista. Afinal, o direito ou o jurista não tinham maiores responsabilidades no que era
concernente ao fático, considerado como marginal e independente de uma abordagem
eminentemente jurídica: a atenção do jurista, por óbvio, estava voltada para o direito legislado
ou para as questões legais. Daí que, nesse contexto, o máximo a que se poderia atingir – e já
não terá sido pouco –fora a regulamentação da forma probatória, ou seja, do processo legal de
aquisição da prova, mas, não, o estabelecimento de modelos jurídicos de constatação e análise
do próprio conteúdo do raciocínio judicial, levando em consideração essa influência recíproca.
Mas no momento em que se preconiza a superação do modelo positivista – sem que isso, sob
hipótese alguma, signifique o abandono da positividade do direito e sem que, por igual,
represente uma absorção do fato ao direito – bem como o abandono das concepções político-
jurídicas que lhe estavam implicadas, obviamente o juízo fático volta a merecer, também ele,
um instrumental jurídico mais adequado à sua realidade e à posição que assume no contexto
da decisão judiciária. Em síntese, se o fato não mais é independente do direito, nem pode ser
construído com total abstração das categorias jurídicas, é sinal de que ele está a reclamar um
instrumental jurídico de controle.
Por modelos de controle do juízo de fato (ou standards, critérios etc.) provisoriamente
definimos enunciações teóricas capazes de ensejar o controle da convicção judicial objeto de
uma determinada decisão. Por seu intermédio, ao invés de os partícipes de uma relação
processual simplesmente pretenderem a prevalência de uma convicção sobre a outra (p. ex., a
do Tribunal sobre a do Juiz; a do autor sobre a do réu etc.), cria-se um complexo de regras
lógicas de caráter auxiliar, capazes de estabelecer um arsenal crítico comum para o debate
acerca da convicção.
Mas, antes que se enunciem especificamente tais modelos (v. n. 07, infra), mostra-se
imprescindível, ainda preliminarmente, pôr em evidência a distinção entre a noção “clássica” e
a noção “moderna” da prova, incursionando, muito resumidamente, na evolução histórica do
“controle do raciocínio de fato” do juiz. Com efeito, será possível demonstrar que, à evolução
operada no terreno da teoria geral do direito, rapidamente referida no item anterior, também
sucedeu uma evolução no plano da teoria da prova.
Nesse sentido, é sabido que o direito romano não conheceu, ao menos no ordo judiciorum
privatorum, uma possibilidade de controle sobre o raciocínio de fato. O juiz era totalmente
livre e o juízo tendente à arbitrariedade. Basta, a esse propósito, lembrar que o iudex romano,
encarregado da fase apud iudicem, era simplesmente um cidadão romano, julgando em nome
do povo. A própria fórmula romana continha a cláusula “si paret—si non paret”, ou seja,
determinava ao juiz condenar “se lhe parecesse” e absolver “se não lhe parecesse” verídica a
narração do demandante, de modo que tudo se reconduzia à percepção íntima do juiz privado.
Era, pois, o iudex, até o final do formulário romano, totalmente livre para valorar os elementos
probatórios.
Na esteira do genial pensamento de GIULIANI, chega-se, então, a uma oposição entre dois
conceitos de prova – o conceito moderno e o clássico. Essa noção é de fundamental
importância para que os modelos de constatação possam ser compreendidos. Nesse sentido, o
conceito moderno de prova é fruto do iluminismo e do racionalismo, tendo um sentido
objetivista, cientificista, absoluto; o segundo, dito clássico, dominante na Idade Média, é fruto
de uma perspectiva problemática, tópica, argumentativa.
Nesse sentido, GIULIANI demonstra que “o contraste entre o conceito clássico e o conceito
moderno se manifesta de maneira estridente na determinação daquilo que é essencial,
relevante, na indagação: estão na sua base uma oposta análise do fato. A concepção clássica
põe em evidência o caráter seletivo do conhecimento e relativo do fato: dominada, como é,
pelo problema do erro, trata de limitar rigidamente o campo da indagação, renunciado ao
conhecimento do fato na sua totalidade. A concepção moderna vê, ao contrário, no
alargamento do campo de indagação o meio para um melhor conhecimento dos fatos (o
princípio da ‘total evidence’): a determinação do fato parece uma operação em certo sentido
técnica, e o mundo dos fatos parece ter uma autonomia completa, tornando possível a
introdução de critérios quantitativos, numéricos para seu acertamento”. Ou seja, o conceito
clássico de prova, dominante entre os séculos XII a XV, partindo das limitações próprias do
homem na apreensão do fato, da falibidade do próprio conhecimento humano, da sempre
presente hipótese do erro e, com isso, da injustiça, procurava, pois, fornecer as bases para que
o erro, o equívoco, fossem evitados; já o conceito moderno, numa visão positivista e
cientificista, procura, na verdade, “conhecer” o fato em sua inteireza fenomênica,
reconhecendo-o como um “mundo autônomo”, perfeitamente “apreensível” pelos sentidos
com o auxílio da razão.
Seria, aqui, absolutamente inviável uma longa incursão pela extraordinária experiência que a
medieval representou. Trata-se de um momento histórico simplesmente impressionante, a
que ainda resta fazer justiça. No que nos interessa, cabe apenas destacar a “ars inveniendi”
que o dominou, “arte” essa dominada pelo problema, pela discussão, pelo debate, pelos
diferentes pontos de vista, pela comparação e pelo pluralismo.
Com efeito, no trabalho dos glosadores, pode-se perceber toda uma preocupação com a
relevância dos argumentos, a partir da ideia tópico-retórica: “não se pode determinar o que é
revelante de um ponto de vista abstrato, mas em relação à causa, ou seja, ao ponto em
discussão”. Com isso, os juristas medievais estavam não só valorizando o debate enquanto tal,
como, sobretudo, emprestando-lhe uma função constitutiva: inviável, inatingível ou
inapreensível uma “verdade necessária” ou “absoluta”, quanto ao conhecimento dos fatos, até
pela ampla possibilidade de erro, o processo devia contentar-se com uma “verdade provável”
nele construída. A verdade judicial, observa GULIANI, “se identifica, então, com um
procedimento de pesquisa baseado sobre as provas: a reconstrução judicial do fato aparece
aos doutores medievais, nutridos de estudos lógicos e dialéticos, um aspecto particular do
estudo das funções da razão prática em relação ao problema do conhecer através de
testemunhos. Em tal reconstrução, a indagação se apresenta essencialmente como uma
análise de proposições prováveis. (...)”.
Identifica-se, pois, que, ao mesmo tempo em que as ideias atinentes ao positivismo ganharam
força, o sistema da prova haveria, necessariamente, de sofrer a sua influência, pois,
finalmente, a aceitação do modelo subsuntivista determinaria que a pesquisa de fato, até
então concebida dentro de uma premissa dialética e pluralista, pudesse ser concebida na sua
totalidade absoluta, na sua verdade total e objetiva, na sua independência e autonomia
quanto ao mundo do direito, desprezando-se, com isso, a relatividade que lhe era imanente, a
possibilidade do erro e do equívoco. Por isso, demonstra GIULIANI, o conceito moderno de
probabilidade não guardaria mais nenhuma relação com esse mesmo conceito na Idade
Média, em que estava ligado à opinião, ao consenso, ao contingente; agora, a probabilidade, o
id quod plerumque accidit, restou vinculado com o estatístico, com o necessário, com o
matemático. Em realidade, DENTI observa que, a partir da Revolução Francesa, inicia-se uma
acentuada tendência ao “juiz-funcionário”, inserido num sistema administrativo-burocrático,
que considera “a verificação dos fatos como uma operação técnica, análoga àquela realizada
pela pública administração em qualquer outro ramo de sua atividade”.
Ora, tudo isso leva a concluir no sentido da existência de um paralelismo defasado. Com efeito,
demonstrou-se que a experiência medieval não consentia com a extromissão do fático perante
o jurídico, ou seja, a quaestio factii estava implicada na juris: havia toda uma teoria para
estabelecer as quantidades e as qualidades requeridas para ter-se como provado determinado
fato. A introdução do positivismo jurídico, a seu turno, dissociou tais questões, de modo que o
fato restou um objeto “in se”, um mundo de plena autonomia, próprio das ciências
naturalísticas e à margem da ciência jurídica. A visão contemporânea, todavia, da aplicação do
direito – recordando-se aqui as noções de espiral hermenêutica e pré-compreensão (item n.
02, supra) – reaproximou ambas questões, na medida em que afastou o paradigma da
subsunção. Consequentemente, a mesma retificação deveria operar-se no terreno da prova,
no sentido de que o jurista já não pode restar infenso à aquisição e ao estabelecimento do
juízo fático: ele tem de munir-se de modelos capazes de efetuar o seu controle jurídico.
Assim, a reconciliação do fato com o direito no processo de aplicação das normas jurídicas,
com o afastamento do modelo subsuntivista, exige, pois, que também no terreno da prova e
da convicção judicial haja uma meditação jurídica. É justamente isso que os modelos de
controle ou standards tentam estabelecer.
Está visto, então, que, se há, ou, quando menos, deve haver um paralelismo entre as
concepções de teoria geral do direito e o conceito de prova, um ajuste teórico se faz
necessário, no sentido de estabelecer um modelo tendente ao controle do juízo fático. Mas
ainda convém estabelecer em que exatamente consistirão tais modelos e o que deles
poderemos legitimamente reclamar.
Nesse sentido, a problemática toda exige que desde logo se distinga, na assim chamada
questão-de-fato, a existência de pelo menos dois níveis fundamentais de trabalho: um, de
caráter mais subjetivo, de peso, contagem, medida; outro, de caráter mais lógico, inferencial,
indutivo. Com SERGI GUASCH FERNÁNDEZ, “em todo juízo de fato, devemos diferenciar,
portanto, o aspecto que corresponde à imediação do órgão jurisdicional com respeito aos
meios de prova praticados pela decisão e, de outro lado, o raciocínio inferencial que permite a
justificação da decisão”. É nesta segunda dimensão que paradigmas, standards jurídicos ou
modelos de constatação entram em cena.
Para entender o funcionamento dessas categorias, basta destacar algumas notas atinentes à
aplicação dos princípios jurídicos. Nesse sentido e superficialmente, sabe-se que os princípios
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jurídicos, de uma forma geral, são dotados de um conteúdo geralmente mais aberto do que
conteúdo de certas normas jurídicas. Por isso, enquanto o conflito de normas pode, no mais
das vezes, ser posto em termos de uma antinomia, que se resolvem pelo conflito aparente de
normas, no caso dos princípios, tem-se, frequentemente, a ocorrência de polaridades,
conflitos ou tensões, que se resolvem mediante juízos de ponderações ou balanceamentos.
Finalmente, antes que sejam expostos os modelos de constatação ou standards jurídicos (v. n.
07, infra), convém lembrar que a aceitação de uma regra auxiliar de controle da “infra-
estrutura lógica” do juízo fático, parte também de uma concepção metodológica do direito, se
bem que não exaustiva. Assim, após ter-se afastado uma separação radical entre o fato e o
direito, ter-se definido a modalidade de discurso jurídico possível na matéria (aberto e
flexível), faz-se necessário situá-los sob a perspectiva do princípio do contraditório.
Nesse sentido, CARLOS ALBERTO ÁLVARO DE OLIVEIRA demonstra que, a partir dos anos 50,
“amplamente se renovam os estudos da lógica jurídica e se revitaliza, com novas roupagens e
ideias, o sentido problemático do direito, precisamente quando – já prenunciando o pós-
modernismo – mais agudos e prementes se tornavam os conflitos de valores e mais imprecisos
e elásticos os conceitos. Recupera-se, assim, o valor essencial do diálogo judicial na formação
do juízo, fruto da colaboração e cooperação das partes com o órgão judicial e deste com as
partes, segundo as regras formais do processo”; “o monólogo apouca necessariamente a
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Ora, consoante já foi visto, o diálogo e o método dialético tem como base a falibilidade do
conhecimento humano e a chance de erro. Os “pontos de partida” deixam de ser necessários
ou absolutos e passam a ser prováveis, possíveis, razoáveis, aceitáveis pelo consenso. Para que
esse consenso se estabeleça, deve haver um procedimento que permita, ordenada e
regradamente, o aflorar de vários pontos de vista a respeito de um mesmo tema, o pluralismo
por parte dos interessados. Por isso, com SOUTO MAIOR BORGES, “é para a dialética essencial
seja ouvida a argumentação produzida pela parte contrária: audiatur et altera pars. As palavras
da Constituição da República de 1988, art. 5 º, inc. LV, ressoam como eco dessa arte venerável.
(...). A dialética exerce portanto função nuclear no direito processual, depositário dessa lógica
natural ao Direito e infelizmente – fora do processo – praticamente abandonada”.
Do ponto de vista filosófico, não há como afastar a ideia de “verdade procedimental”, mas não
por oposição à assim chamada ‘verdade material’. Quanto a isso, ressaltemos, apenas, com A.
PINTORE, que “se fala de ética procedimental para indicar aquelas concepções que nos dizem,
não quais valores e quais normas morais individuar, escolher, preferir, mas sim como
individuá-las, escolhê-las, preferi-las”. Assumindo-se e aceitando-se a limitação inerente ao
conhecimento humano e, muito especialmente, ao conhecimento obtido pelo processo – sem
que isso implique na desilusão perfeccionista, a que bem aludiu M. TARUFFO, essa margem de
erro tem de ser sistematizada, regrada e administrada pelo próprio processo, sob pena de
restar dissimulada, disfarçada, escamoteada no processo, gerando indesejável arbitrariedade.
No âmbito jusfilosófico, portanto, esses standards, uma vez que sinalizam uma reação do
próprio sistema quanto à sua externa e manifesta falibilidade, estão ligados a uma
compreensão autopoiética do direito, ainda que de modo parcial. Na medida em que o próprio
processo reconheça a chance de erro na apropriação do fato, esse elemento perturbador (a
chance de erro) deve ser incorporado pelo sistema e, por ele, regulado. Com Teubner, que “a
emergência da autopoiesis no direito opera como que uma transposição de funções evolutivas
do exterior para o seio do próprio sistema, uma internalização dos mecanismos de variação,
seleção e retenção. Este processo de internalização transfere, assim, o epicentro da dinâmica
evolutiva do meio envolvente para o interior do próprio sistema e subordina-o à lógica
autopoiética. Ou, posto de forma mais precisa: estamos aqui perante uma transposição de
mecanismos evolutivos sociais ‘externos’ para mecanismos jurídicos ‘internos’, no sentido de
que tais mecanismos externos passam a exercer um mero efeito modelador da evolução
jurídica, ao passo que o protagonista do processo evolutivo passa a caber a elementos
estruturais internos”. Como dissera, objetivamente, ENGRACÍA ANTUNES, “muito embora o
fluxo dos eventos extrassistémicos jamais possa funcionar como fonte de informação direta
para o sistema de referência, ele estimula os respectivos processos evolutivos internos de
seleção que operam a partir de um critério de relevância básicos intrassistémico (‘order from
noise’, ‘hasard organisateur’)”.
Assim, embora não se adira, aqui, totalmente, ao pensamento autopoéitico, não resta dúvida
de que podemos invocá-lo no sentido de justificar uma apropriação, pelo sistema jurídico, de
um dado extra-sistemático – a grave falibilidade da apreensão fática, a chance de erro – com a
decorrente formulação de uma lógica intra-sistemática de controle, que vai desaguar,
justamente, nos standards que a doutrina preconiza. Ou seja: os standards jurídicos ou
mecanismos de controle na mais são do que a reação do próprio sistema contra a sua
falibilidade na determinação do juízo fático.
O ter-se demonstrado não apenas a defasagem entre a teoria geral e a teoria processual, e a
necessidade, por conta disso, de uma correção científica a ser construída em termos de
standards jurídicos, a partir de sua apropriação pelo próprio sistema, não permitiria, sem mais,
a apresentação dos principais modelos de constatação existentes. Teríamos de nos haver,
ainda, já com um problema linguístico, a saber, a denominação “princípio do livre
convencimento”, e, em especial, com a palavra livre, pois se o convencimento for, por
“princípio”, totalmente livre, de nenhum sentido serão os pretendidos standards ou
paradigmas. Então, somos obrigados a questionar: quão livre é o princípio do livre
convencimento?
Nesse sentido, mostra-se indiscutível registrar, com NOBILI, que o princípio do livre
convencimento, apontado como culturalmente superior, apresenta, tanto quanto o sistema da
íntima convicção e o da prova legal, um “custo fisiológico”: “a exaltação daquele critério de
valoração das provas” [o do livre convencimento] “não nos exime de uma realística
consideração de suas possíveis degenerações patológicas”. Com efeito, o objetivo da doutrina
medieval, ao operar à base da prova tarifada, fora, justamente, banir a arbitrariedade do juiz e,
ao mesmo tempo, garantir alguma dose de racionalidade do acertamento fático (embora, na
prática, isso não tenha ocorrido). A substituição de um sistema pelo outro acabou por detonar
uma “tendência a reduzir a atividade cognoscitiva do juiz a um fenômeno de pura consciência,
que se exaure sob o pano íntimo e imprescrutável da mera subjetividade”, o qual acabaria
reduzido, ainda conforme NOBILI, a um momento “misterioso e inefável, a ponto de não poder
ser sujeito a análises e controles, portanto, impenetráveis a qualquer tipo de indagação”.
Afirma por isso NOBILI que, efetivamente, daí exsurgiriam duas formas de pensamento: uma,
tendente à exaltação do momento emocional e subjetivo da decisão judicial; outra, ligada à
noção oitocentista de prova e vinculada à valorização dos argumenta medievais, daria lugar a
uma leitura racional e lógica do mesmo princípio. E, no jogo dessas duas mundivisões, a
concepção eminentemente silogística do decidir haveria por conduzir o princípio pelo primeiro
desses caminhos, pois, afinal, o jurista, como se procurou demonstrar, nada tinha de fazer com
os fatos, que, em realidade, sequer diziam respeito ao seu saber tecnológico (v. n. 02, supra).
Se o direito, no que toca à premissa menor, não tinha maiores responsabilidades – não porque
não devesse ter, mas porque isso não interessava a um puro saber jurídico, de índole
marcadamente positivista –nenhum estatuto dogmático se poderia oferecer quanto ao mérito
da convicção do juiz.
Assim, pouco a pouco, vem a doutrina, especialmente a alienígena, salientando que o livre
convencimento não significa, na verdade, um “convencimento livre” ou “livresco”.
Prestigiando a vertente logicista, fruto da oposição do princípio à negativa praxis de um
convencimento íntimo e subjetivo, a doutrina passa a assinalar que “la libertad en la
apreciación de las pruebas no significa ausencia de reglas a las que el juzgador debe recurrir en
el momento de la valoración de ese material probatorio”. Com efeito, diz-se, doravante, que o
convencimento “no ha de entenderse o hacerse equivalente a cerrado e inabordable criterio
personal e íntimo del juzgador, sino a una apreciación lógica de la prueba, no exenta de pautas
o directrices de rango objetivo, que aboque en una historificación de los hechos en adecuado
ensamblaje com esse acervo, de mayor o menor amplitud, de datos acreditativos y reveladores,
que haya sido posible concentrar en el proceso”. Supõe-se, pois, uma “valoración racional y
lógica (...) con criterios de cientificidad”; “no ha de ser una simple probabilidad o un mero juicio
de verosimilitud, sino que (...) debe entenderse referido a que la valoración del material
probatorio sea la racional y lógica, o, como se denomina por relevante doctrina científica, que
la prueba se aprecie com cientificidad”.
Nota-se, pois, uma polarização objetivista, em detrimento à visão subjetivista, da prova. Assim,
para que não se pague um “preço indébito” do livre convencimento, é preciso racionalizá-lo o
quanto possível. Com GUASCH FERNÁNDEZ, “el peligro de incurrir en arbitrariedad está
presente en la libre apreciación, mientras no se de una definición basada en criterios de
racionalidad. La forma de limitar la arbitrariedad sólo puede ser a través de una justificación
suficiente de la elección”, mediante o apelo “por criterios racionales, de modo que si no está
vinculado po normas jurídicas, lo está por normas lógicas y aun experenciales que regulan el
correcto discurso de la mente en sus operaciones intelectivas”.
Essa “objetivização” está dirigida, pois, à razão prática, à lógica do discurso, à teoria da
argumentação. Por definição, ensina FERNÁNDEZ, todo juízo há de ser lógico (...). As regras da
razão crítica são standards jurídicos, que atuam como princípios da conduta humana a seguir
e, ainda que não sejam normas jurídicas em sentido estrito, o são os artigos que a ela se
referem. Mais que servir de limite à livre apreciação, fundam a correção do juízo que se
obtém através delas. A razão crítica é, basicamente, a aplicação dos princípios do correto
entendimento humano com especial fundamento na lógica jurídica, na equidade e na justiça e
nos princípios científicos do direito.
Parece muito claro, a partir das ideias examinadas, o fundamento central da vertente
objetivista do livre convencimento. Firma-se, ela, na arte do bem pensar. A propósito, JAUME
BALMES, em seu célebre ensaio “O criterio”, escrito em 1843, numa síntese inexcedível do
conceito clássico de prova e na forma tópico-retórica de encaminhar a discussão, afirmara:
‘pensar bem é conhecer a verdade ou dirigir o entendimento pelo caminho que a ela conduz”.
Assim, o critério não é mais que “um meio para conhecer a verdade”! Aplicando-se tal noção
ao princípio, surgem necessários os “modelos de constatação” ou, simplesmente, os
standards. Como veremos, eles nada mais serão do que critérios para orientar a análise da
prova, critérios para efetivamente submeter ao contraditório, a par de um diálogo comum, as
opções valorativas do juiz.
Urge, então, identificar ao menos alguns dos standards jurídicos existentes para o controle
lógico da convicção judicial, observadas suas características gerais (cf. ns. 3 e 4, supra). Aqui,
todavia, abre-se um elenco insuscetível de ser exaurido, tendo-se presente que as formulações
são várias e diversas, muito embora – pelo menos é que se objetiva demonstrar– haja entre
elas um denominador comum. Permita-se-nos, então, um exame sucinto das principais.
1. Um primeiro modelo jurídico, ligado à tradição da common law, opera à base de dois
standards jurídicos: a ‘evidence beyond a reasonable doubt’, ou seja, a prova acima de toda
dúvida razoável, de emprego em casos criminais, e a ‘preponderance of evidence’, ou
preponderância de prova, de utilização dos casos civis, ao lado das quais costuma-se agregar
regras particulares, como, v.g., a ‘clear and convincing evidence’, ou seja, a prova clara e
convincente.
Ao lado desse standard geral, usa-se outro para assinalar casos civis considerados socialmente
mais graves – a “prova clara e convincente” (“clear and convincing proof”). Na verdade, há
vários outros paradigmas semelhantes, como o “clear, convincing and satisfactory”, “clear and
unequivocal” e o “clear, cogent and convincing”. De uma forma geral, concebe-se tal standard
intermediário como sendo uma “alta probabilidade”. Todavia, as cortes costumam, ainda
segundo McCormick, distinguir com um certo rigor esses diversos parâmetros, em princípio
proporcionalmente à gravidade dos fatos cuja prova se pretende. Aliás, o juiz Burger, da
Suprema Corte dos Estados Unidos, acentuou que ‘o standard de prova é mais do que uma
exercício semântico vazio. Em caso envolvendo direitos individuais, sejam criminais ou civis, o
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standard de prova no mínimo reflete o valor que a sociedade atribui à liberdade individual”.
Nesse sentido, consigna McCormick o vasto elenco de precedentes em que as cortes de
apelação verificaram se a convicção originária dos jurados atenderam a tais requisitos (clear
and convincing).
Ao lado da preponderância – pouco mais de que a metade – seguida pela prova clara e
convincente – alta probabilidade –, observadas as duas vertentes (objetivista e subjetivista),
acrescenta esse modelo a prova acima de qualquer dúvida razoável (‘evidence beyond a
reasonable doubt’), de utilização em casos criminais. Funda-se essa regra na ideia de que “a
sociedade julga ser preferível um culpado ser havido por inocente do que um inocente ser
havido por culpado”, o que se pode obter exigindo o requisito da prova naqueles termos. Sua
primeira aparição teria sido num caso de 1798, estando hoje integrado à cláusula do due
process of law. Evidentemente, estamos, aqui, além da própria alta probabilidade, convindo
salientar que há e deve ser observada uma efetiva diferença entre esses standards. Com
efeito, a maioria da Suprema Corte dos EUA (In Re Winship) rejeitou a tese de que haveria
apenas uma tênue diferença entre a reasonable doubt e a preponderance of evidence.
Um dado interessante é que o modelo da evidence beyond a reasonable doubt não deve ser
utilizado em casos não-criminais, ainda que o fato nele versado seja um delito, ou seja, quando
houver multi-incidência. “Quando uma acusação de crime está em causa numa ação cível, as
consequências ameaçadoras (...) desta acusação, embora incomumente prejudiciais (...) não
são tão sérias quanto num processo criminal pelo crime”. Então, dever-se-á, ainda aqui, usar o
standard civil ou o intermédiário, conforme o caso, mas não o mais rigoroso, próprio dos casos
criminais.
O ponto de partida dessa construção já foi referido alhures (cf. n. 06, supra). Como
demonstrado, sustenta-se que a livre apreciação “não é de entender-se ou haver-se
equivalente a um fechado e inabordável critério pessoal e íntimo do julgador, mas a uma
apreciação lógica da prova, não isenta de pautas ou diretrizes de natureza objetiva”. Antes,
tratar-se-á mais de uma “valoração racional e lógica da prova, com critérios de cientificidade”,
donde possível verificar-se a consistência lógica do raciocínio judicial. Deste modo, a mínima
atividade probatória nada mais pretende do que marcar a exigência de um substrato
probatório adjetivado por determinadas características, sem o que resultariam arbitrárias e
ilegítimas as respectivas decisões.
Fiel a esse postulado, a doutrina da Mínima Atividade Probatória vai debruçar-se, justamente,
sobre a “a infraestrutura racional da formação da convicção”, procedendo a um verdadeiro
metajuízo, vale dizer, um “juízo sobre um juízo”. Seu viés, ao contrário do modelo anterior,
que ainda está bastante próximo da avaliação da prova (embora, decididamente, orientado
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No que nos diz respeito mais propriamente – o controle da motivação do juiz, sem termos
aqui uma exclusiva preocupação cassacional, embora indissociáveis tais questões – a doutrina
em exame começa por postular “não apenas a ocorrência de uma mínima carga de prova, mas
que ela tenha a condição de suficiência”. O questionamento, então, desloca-se para a
significação da suficiência probatória. Fiel à sua linha logicista, apela a doutrina, naturalmente,
para uma base probatória que se possa declarar conforme às regras da lógica em que se
integram as normas da experiência.
Assim, a partir das decisões do T.C., ESTRAMPES conclui que “la suficencia de la prueba sería
equivalente a prueba de cargo congruente e razonable, al haberse observado en su valoración
las reglas de la sana critica”. Neste particular, nota-se um ponto de encontro da mínima
atividade probatória com os standards da common-law, pois, como tal, dever-se-á entender a
prova que “haja eliminado qualquer dúvida racional sobre a culpabilidade do acusado. Prova
convincente e prova suficiente aparecem, pois, como conceitos sinônimos”.
À vista do que se examinou, nota-se que a mínima atividade probatória preconiza um controle
lógico fundado em dois aspectos básicos:
2o) Por outro lado, procura-se exigir, ao menos para os casos penais, uma prova que
elimine a existência de dúvidas racionais, obviamente não segundo um critério quantitativo,
mas sob a ótica qualitativa. A grande decorrência da teoria que, segundo VEGAS TORRES,
chegou a causar certa comoção, veio na STC de 28 de julho de 1981, que “en aplicación de la
doctrina del Tribunal Constitucional, el juzgador se viera obligado a absolver al acusado aun
teniendo el convencimiento íntimo o en conciencia de la culpabilidad del mismo”. Ao assim
proceder, a doutrina inclina-se à exigência de um nível probatório mínimo no que tange ao
processo criminal, podendo-se estabelecer o requisito cível por oposição.
en casación del juicio de hecho de la sentencia de instancia. (...). Así, la jurisprudencia parte
ahora, como principio general, de que la facultad revisora que corresponde al Tribunal
Supremo se extiende a la comprobación de la racionalidad y la conformidad com las reglas de
la experiencia de la valoración de la prueba realizada por el juzgador de instancia”.
Poder-se-á dizer que a doutrina da mínima atividade probatória deixa inúmeras questões
irrespondidas. Afinal, o quesito da suficiência, em que pese o apelo à lógica e às máximas da
experiência, é em si mesmo vago. A tanto, inicialmente, poder-se-á objetar que é próprio do
standard uma área vaga, a ser preenchida caso a caso (cf. nr. 3 e 4, supra). Poder-se-á, mais,
objetar que, por força dessa impostação, diversas regras práticas pontuais, sempre passíveis
de complementação, derivadas da lógica e da experiência, acabaram sendo enunciadas: “el
nuevo enfoque jurisprudencial en cuanto al alcance del principio de apreciación en conciencia
(...) ha permitido al Tribunal Supremo establecer ciertas reglas relativas a la valoración de la
prueba referidas (...) a circunstancias que, incidiendo en la falibilidad de algunos medios de
prueba, pueden ser tenidas en cuenta en cassación en la medida que su apreciación no
depende de la inmediación. En este terreno, revista especial interés la doctrina jurisprudencial
que se ocupa de los problemas relacionados con el valor probatorio de las declaraciones de
los coimputados (...), la valoración del testimonio de las victimas del delito (...)”, bem assim o
problema das presunções e indícios, os quais excedem, em parte, aos limites deste trabalho. O
que impota frisar é que, com abstração do requisito da imediação, a mínima atividade
probatória permite localizar no ciclo inferencial da convicção pontos em que defeitos lógico-
objetivos podem ser encontrados e, a partir disso, legitimar ou não o convencimento judicial.
Uma primeira formulação pode ser encontrada em decisão do ano de 1885 (RGZ, 15, 338), em
que o Tribunal Supremo da Alemanha afirmara que “debido a lo limitado de los medios
humanos de cognición, nadie puede saber com certeza absoluta que algún hecho haya
ocurrido efectivamente (ni siquiera habiéndolo presenciado directamente). Siempre cabe
imaginar posibilidades abstractas de que las cosas hayan sucedido de otro modo. (...) En la vida
práctica vale, pues, como verdad, el alto grado de verosimilitud que se obtiene aplicando los
medios de cognición disponibles de una manera en lo posible exhaustiva y concienzuda y si el
que conoce tiene conciencia de que existe esta alta verossimilitud así determinada, ello
equivale a estar convencido de la verdad”.
ia que “para suponer una relación causal basta que se compruebe (...) com una verosimilitud
rayana en la certeza”, cláusula que continuou sendo utilizada largamente.
Contudo, segundo G. WALTER, a partir de RGSt 58, 130, esse estado de coisas sofreria uma
virada, notadamente por força de decisões penais. Passa-se a afirmar, sem mais, que “un
grado alto de verossimilitud tiene valor de verdad y la conciencia de esa verdad tiene valor de
convicción”. Com base nesta noção, mais concessiva à dúvida em matéria penal inclusive,
passa-se a revisar várias decisões absolutórias, de cortes inferiores, fundadas em dúvidas, as
quais restavam cassadas por não comprometerem o standard requerido – ou seja, o “alto grau
de verossimilhança”. Exemplificativamente, a Sala Penal, em 1929, deparando-se com uma
decisão do tribunal de jurados – segundo a qual apesar da ‘suspeita fundadíssima’ de que o
acusado cometera perjúrio, dera-se a absolvição, ante a ‘possibilidade, altamente improvável,
de que as testemunhas tivessem faltado com a verdade’ – concluiu que “tais expressões
faziam supor que o tribunal de jurados se havia convencido da culpabilidade do acusado”,
afastando-se, assim, ilegitimamente dessa conclusão. “Se se admitisse”, frisou a Corte,
“justificações tão gerais, ter-se-ia de concluir que a prova da culpabilidade do acusado não
seria possível em caso algum”.
Assim, tanto nos casos civis, quanto criminais, o standard para haver-se como legítima a
convicção judicial confundir-se-ia, simplesmente, com “um alto grau de verossimilhança” ou
com uma “verossimilhança próxima da certeza”. Mas esse estado de coisas muda radicalmente
após a Segunda Guerra Mundial, quando, então, restaram fixados os novos lineamentos até
hoje empregados. Basicamente, a novidade será introduzida relativamente à valoração das
dúvidas (e aqui, vai-se ver, reside o seu alto sentido prático, dando excelente concreção ou
mesmo completando às próprias ideias da evidence beyond a reasonable doubt).
Mas um último e decisivo passo ainda seria dado pelo BGH, em decisão de 1953. Como anota
G. WALTER, “a Corte Federal de Justiça seguiu distinguindo entre dúvidas abstrato-teóricas e
dúvidas positivo-concretas, mas com enfoque, desta vez, à pessoa do julgador: ‘a forma como
estão redigidos os considerandos não exclui que a câmara penal haja estado em si convencida
de que o acusado era culpado, mas, não obstante, incorreu em um erro de direito ao supor
que não estava em condições de condená-lo, porque logo após sopesar todas as circunstâncias
O standard, com essa evolução, avança, destarte, no sentido de melhor precisar o requisito da
suficiência, destacado pela doutrina da mínima atividade probatória mas por ela não
especificado. O convencimento reputar-se-á válido e legítimo na presença de um alto grau de
verossimilhança em que as dúvidas subjetivas, ou seja, as dúvidas do juiz ‘in concreto’ sejam
descartáveis. Então, sob essa ótica, dever-se-á, primeiramente, verificar se a convicção foi
atingida, para, logo após, examinar os elementos que dela afastam, ou seja, as dúvidas. A
qualificação téorica das dúvidas mencionadas na fundamentação da decisão é que servirão de
critério. As dúvidas abstrato-negativas (téoricas) deverão ser desprezadas, enquanto que as
dúvidas concreto-positivas viciarão a convicção judicial. Por dúvidas abstrato-teóricas hão de
compreender-se não apenas creditadas à imperfeição do conhecimento humano, mas,
também, “os escrúpulos de um juiz que, estando ele mesmo convencido, estima que outro juiz
o algum terceiro poderia haver chegado a uma conclusão distinta. Também essas dúvidas são
irrelevantes. O juiz somente não estará convencido quando se veja frente a dúvidas concretas
(reais, positivas) e não possa superá-las. Se, apesar disso, sentencia, a sua sentença será
viciosa”.
Uma leitura apressada do que acaba de ser dito poderia supor que o modelo de constatação
em tela teria pouco poder de controle, em função de seu caráter mais descritivo do que
prescritivo. Por evidente, sua virtualidade cassacional talvez seja inferior. Todavia, sua
operacionalidade no campo do convencimento enquanto tal parece inegável: por seu
intermédio, “a falta de convicção estará mal fundamentada quando as dúvidas supostamente
concretas que se aleguem sejam em realidade dúvidas abstratas, o que ocorre em particular
quando as que se dizem dúvidas concretas não tenham fundamento em fato real. Em tal caso,
se aplica o dito a respeito das dúvidas abstratas”, donde o requisito da suficiência há de
repousar sobre uma análise ponderada a partir dos elementos divergentes da convicção.
Dentro dessa perspectiva, o standard geral do alto grau de verossimilhança, com exclusão de
todas as dúvidas positivo-concretas, oferece um valioso critério de verificação lógica, pela sua
dimensão prática e, de certa forma, complementar aos modelos até aqui examinados.
Parte-se da ideia fundamental de que a garantia de acesso ao Poder Judiciário supõe uma
análise ponderada e efetiva da prova judiciária. Assim, a desconsideração do material
probatório representa uma violação constitucional ao serviço da justiça e, como tal, é uma
ofensa à Constituição e, não, simplesmente, ao jus litigatoris. É para essa circunstância que se
reserva a qualificação técnica de sentença arbitrária ou absurda.
Nesse sentido, MORELLO invocando manifestações jurisprudenciais, assevera que “la tacha de
arbitrariedad requiere que se invoque y demuestre la existencia de vicios graves en el
pronunciamento judicial consistentes en razonamientos groseramente ilógicos o
contradictorios, apartamiento palmario de las circunstancias del proceso, omisión de
considerar hechos y pruebas decisivas o carencia absoluta de fundamentación”.
7.5. Um dos grandes problemas com que todos os standards têm de se haver, a nosso
juízo, está no fato de, necessariamente, recair sobre a fundamentação, ou seja, sobre uma
manifestação linguística ou simplesmente um discurso (jurídico). Desse modo, quiçá
dissimuladamente, qualquer análise que se empreenda, seja pela ideia da arbitrariedade, pela
mínima atividade probatória, pelos standards da preponderância ou da eliminação da dúvida
razoável etc. pode ser reconduzida, na verdade, a uma perspectiva linguística, tendo em causa
Nessa direção, vão surgir os modelos chamados “narrativísticos”: “a escolha diz respeito a
‘story’ na sua globalidade e o critério da escolha é identificado na coerência e persuasividade
da narração. As provas são consideradas à luz da sua capacidade de fundar uma ou outra
‘story’, globamente entendida”. Parte-se da ideia segundo a qual, no processo, identifica-se
“uma reconstrução, re-descrição nas representações linguísticas que permitem dar conta do
agir humano enquanto efetivamente ocorrente no mundo”, representações essas que se
reduzem a narrações. Na teorização preconizada pelo narrativismo a atenção está concentrada
fundamentalmente na análise semiótico-estrutural das narrações. Evidentemente, tal
impostação suscita um importante debate, infelizmente incabível nesta sede. Por ora, refira-se
apenas que, não tendo os standards qualquer pretensão de exclusão, elencar-se um conjunto
de modelos linguísticos, ao lado dos demais modelos de constatação estudados, seria
certamente tarefa proveitosa – em que pese, segundo PASTORE, a tendência, ao menos nas
concepções semiótico-narrativas, de confundir-se a opinião com a verdade.
Define-a o próprio autor: “congruência narrativa é o meu nome para um teste de veracidade
ou probabilidade nas questões de fato e de prova, para as quais não seja disponível uma prova
direta, mediante observação imediata”. A preocupação do modelo, já se vê, é auxiliar,
justamente, em casos difíceis, em que os meios de prova se mostrem escassos. Todavia, a
missão do standard é substancialmente ampliada, tendo em conta a premissa suscitada pelo
próprio autor: “dado que quase todas as disputas jurídicas e processos e causas concernem a
fatos e eventos do passado, e dado que nenhum fato ou evento do passado é suscetível de
prova direta mediante observação imediata, a congruência narrativa é um teste de grande e,
realmente, central importância na justificação das decisões jurídicas”.
também assim falecidas. Aduziu, também, que o Sr. Smith consultara um advogado para
certificar-se de que herdaria os bens da vítima. Assim, cinco aspectos poderiam dar-se por
conhecidos, tais como: (1) a primeira senhora Smith morreu no chuveiro e Smith estava em
casa naquele momento; (2) a segunda senhora Smith morreu no chuveiro e Smith estava em
casa naquele momento; (3) a terceira senhora Smith moreu no chuveiro e Smith estava em
casa naquele momento; (4) anteriormente à morte da primeira senhora Smith, o Sr. Smith
verificou a possibilidade de herdar-lhe os bens.
A partir desses fatos conhecidos, MacCormick alude a dois outros enunciados, em tese
possíveis, e em torno dos quais se polarizara a questão de fato: (5) todas as ‘senhoras Smith’
morreram no chuveiro por um puro e simples acidente e (6) o senhor Smith assassinou, com
premeditação, todas as ‘senhoras Smith’ no chuveiro. Pois bem, o autor constata que os
enunciados (1-4) não contradizem nem o enunciado (5), nem o enunciado (6). Isso apenas
demonstra uma das premissas da sua teoria, qual seja, a de que a não contradição, por si só,
pouco oferece em termos de controle da decisão fática. É preciso introduzir, então, o critério.
Ora, o critério ou standard introduzido por N. MacCORMICK afasta-se, já foi visto, da mera
não-contradição. Ele observa que, apesar de ambos (5 e 6) serem não-contraditórios com
relação aos fatos conhecidos (1-4), (6) é, todavia, congruente com (1-4), enquanto que (5) não
é congruente com os mesmos (1-4). Então, cabe perguntar por que (6) foi havido por
congruente e (5) não o foi, ou, em outros termos, porque (6) deveria ser a resposta para a
questão de fato, e não (5), uma vez que também (5) não contradizia (1-4).
Para responder a essa pergunta, Neil MacCormick lança mão de uma interessante, embora
complexa, distinção. O mundo natural seria explicável segundo princípios ou leis de tipo
naturalístico-causal e probabilístico, ao passo que o mundo das vivências e ocorrências
humanas seria explicado por “leis” de tipo racional, intencional e motivacional. Logo, nos fatos
que sucedem sem a intervenção do homem, a explicação de que se deve lançar mão é de tipo
não motivacional, não intencional, mas causal e probabilística. Então, a probabilidade de se
verificarem, conjuntamente, as condições de tipo naturalístico-causal para que três pessoas,
sempre relacionadas com uma terceira pessoa constante (Smith, no exemplo), venham a
morrer no chuveiro é muito baixa. Agora, a probabilidade de que um agente humano possa
intencionalmente determinar a realização destas condições necessárias é alta, e mais alta
ainda se existir um motivo para fazê-lo, a ponto de poder legitimamente ser tida como uma
certeza para efeitos judiciários.
A partir dessa sofisticada lógica de pensamento, Neil MacCormick permite-se concluir que a
combinação de (6) com (1-4) é débil, à luz das correspondentes causas explicativas. Convém,
porém, atentar para a seguinte observação: “esta não é uma derivação dedutiva de (6) para (1-
4); trata-se, muito mais, disto: (6) e (1-4) pertencem a um único esquema racional de
explicação dos eventos, ao passo que (5) e (1-4) não pertencem a um mesmo esquema, salvo
pressupondo-se fatos ulteriores e hipóteses auxiliares”.
Então, “para resumir a congruência narrativa: ela fornece um teste da verdade ou da provável
verdade de proposições sobre coisas e eventos não observados. O teste consiste na
explicabilidade das proposições controladas no mesmo esquema de explicação que se utiliza
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Como resultado, narração mais congruente, entre as mutuamente contraditórias (no caso Rex
– v – Smith, as hipóteses excludentes (5) ou (6)) será aquela que comportar a mais baixa
improbabilidade mediante esse teste, que, por isso, outorga credibilidade e justifica a decisão
sobre questões de fato do passado, porque é uma “condição necessária de inteligibilidade do
mundo fenomênico e porque a racionalidade é necessária para tornar inteligível o mundo
fenomênico.
Se, agora, observarmos criticamente a teoria, em primeiro lugar ressumbra que a noção de
congruência narrativa ostenta um corte nitidamente racionalista. Embora narrativista, ela não
perde suas conexões com o mundo e postula a manutenção de referências extra-linguísticas. O
critério decisivo, ao que se compreende, é o da manutenção das causas explicativas: em Rex –
v– Smith, a conclusão factual (6) se impõe sobre a (5) porque, para manter esta última, seria
necessário alterar o paradigma explicativo. Dito de outro modo, para assumir que houve três
acidentes naturais, ter-se-ia de apelar a eventos altamente improváveis do próprio ponto de
vista naturalístico. Já a conclusão factual (6), empregando um esquema explicativo de tipo
intencional, não lança mão nem de pressuposições auxiliares, nem de premissas improváveis.
Uma variante dessa impostação reside no standard proposto por COHEN – o da probabilidade
indutiva. O modelo procura, justamente, controlar a passagem inferencial do fato conhecido
“A” para o fato desconhecido “B” e oferece soluções interessantes no campo da valoração
judicial, tanto no âmbito criminal, como no âmbito civil.
No primeiro caso, COHEN lança mão do seguinte exemplo: um policial que declara ter
descoberto o acusado, em plena noite, no jardim de uma casa na qual pouco antes jóias
haviam sido furtadas, sendo que tais jóias foram encontradas na casa do réu. Nessa situação a
acusação lançará mão de uma generalização – se um objeto foi furtado e uma pessoa é
encontrada logo após sob a posse de tal objeto, nas proximidades de onde foi retirado, é
porque essa pessoa o retirou. Todavia, anota COHEN, essa generalização, para servir de
fundamento à condenação, deverá resistir à interferência de todos aqueles fatores diversos
que posam ser levantados pela defesa, que poderá tentar demonstrar que existiam outras
pessoas no jardim logo após o furto etc. À vista disso, COHEN constrói o seguinte critério:
“para que possa considerar-se atingido o standard de prova para além de toda dúvida razoável
necessária para o processo penal, é preciso estabelecer que qualquer característica relevante
da situação é coerente com a generalização invocada”.
formulada pelo juiz no caso concreto e, neste particular, são altamente educativos, elevando o
debate judiciário. Todavia, sua vocação cassacional parece ser muito reduzida.
Assim, se pode concluir dizendo que o standard da congruência narrativa manifesta-se como
um bom instrumento para o controle das inferências judiciais em casos complexos,
principalmente os que envolvem indícios e circunstâncias e, mais exatamente, para o controle
da transição fato conhecido—fato desconhecido. Fiel ao seu programa, dever-se-á, num
primeiro momento, selecionar um tipo de causalidade explicativa para a premissa conhecida
(naturalístico-causal ou motivacional) e, a partir disso, examinar qual, dentre as proposições
fáticas possíveis e não-contraditórias, recorre a um menor número de premissas auxiliares,
refugindo, assim, ao paradigma da normalidade, ou qual tem o seu processo de generalização
indutiva quebrado por um desvio fático considerável.
Com isso, é verdade, não se terá estabelecido exatamente o “quantum” de prova, mas já se
terá avançado numa espécie de sub-critério, sub-standard, através do qual se poderá fazer um
controle lógico a respeito das premissas de que o juiz se utilizou quando de uma ou outra
opção, como, no exemplo citado, ocorreu entre as soluções (5) e (6), e, com tais limitações, a
teoria pode significar um instrumento auxiliar bastante interessante.
7.6. Partindo da ideia básica de que a cassação não reexamina fatos, a Corte de Cassação
francesa desenvolveu um interessante elenco de standards capazes de efetuar um abragente
controle lógico do juízo fático. Esse instrumental, relativamente sofisticado e formal, é
genericamente conhecido por Controle da Motivação. Por seu intermédio, “impõe-se ao juiz
da questão de fundo uma motivação suficiente e coerente, a fim de evitar uma degradação da
função judiciária”. Referem os juristas franceses a um “controle mínimo dos motivos de fato”.
Como foram criados para funcionar na cassação francesa, seu horizonte prático se confunde
com as necessidades e limitações daquele recurso, mas sua utilização, tanto no contexto dos
recursos Especial e Extraordinário, como no âmbito dos modelos de constatação até aqui
estudados, não é de todo impraticável. Todavia, presente a dicotomia entre o juiz de fundo e o
juiz da cassação, no sistema francês, o seu enfoque é exclusivamente cassacional, destinando-
se à anulação da decisão e, não, à sua efetiva reforma.
Ocorrerá (1) défaut de motifs, ou falta de motivos, toda vez que faltarem os motivos
necessários para a afirmação de uma determinada decisão. Partindo da ideia de que “a
obrigação de motivar, é, nos termos da lei, uma forma substancial do julgamento” e de que,
por isso, “a Corte de Cassação considera a falta dos motivos como um vício de forma”, surgem
quatro standards básicos que permitem apontar o vício de uma decisão carente de motivos:
1.1) Absence de motifs (Ausência de Motivos): caracteriza-se pela falta absoluta de motivos,
ou pela existência, apenas, “de uma motivação de pura forma, que não passa de um simulacro
de motivação”. Tal é o caso, p. ex, de uma decisão que se limita a declarar que uma alegação
“não é séria”, “não é fundada” ou, simplesmente, assevera estar a demanda “bem fundada e
justa”, ou apenas invoca “a jurisprudência”, sem explicitação. Todas essas circunstâncias
podem indicar o vício apontado;
Ao lado do défaut de motifs, insere-se no “controle mínimo dos fatos” o (2) défaut de base
légale, ou seja, a falta ou insuficiência de base legal, que, segundo BORÉ, é “uma criação
puramente jurisprudencial”. Versa a categoria sobre situações em que a decisão tem motivos,
de sorte que sua regularidade formal não pode ser atacada através do défaut de motifs, mas
esses mesmos motivos fáticos são manifestamente insuficientes ou precários para suportar as
conclusões jurídicas que sobre eles se apóiam. Viola-se, aqui, não o dever de fundamentação,
mas o dever de exposição completa do fato. Portanto, verifica-se, em primeiro lugar, à luz das
conclusões jurídicas da decisão, a existência de uma “insuficiente constatação de fatos”.
É preciso, neste ponto, distingui-lo do défaut de motifs. Realmente, este standard supõe a
inexistência de motivos – seja por que estão de todo ausentes, seja por que são contraditórios,
seja por que são hipotéticos, seja por que há uma falta específica. Portanto, o défaut de motifs
é aferido a partir de um controle formal do juízo de fato. Já o standard do défaut de base
légale é um controle substancial e, não, meramente formal, implicando a insuficiência de
mérito dos motivos fáticos invocados em face da conclusão jurídica estabelecida, por isso que
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Assim como no défaut de motifs, há uma extensa tipologia de casos ou ‘substandards’ típicos,
que indiciam ter havido o (2) défaut de base legal, quais sejam: a) o fato é constatado de
maneira incompleta; b) o juiz se omite de indicar a origem das constatações de fato; c) o juiz se
omite de apreciar o conjunto dos fatos constatados; d) o juiz se omite de interpretar uma
cláusula obscura; e) o juiz deduz um motivo abstrato e geral em lugar de considerar o fato
concreto; f) o juiz omite-se de determinar a realização de uma prova que lhe permitiria
resolver a questão de fato; g) a decisão é ambígua e não se sabe se o juiz resolveu o fato ou o
direito; h) os motivos tornam incerta a base legal da condenação; i) o motivo eleito é
ininteligível; j) o motivo deriva de pura e simples afirmação; k) o fato constatado é hipotético
ou dubitativo. São exemplos do défaut de base légale, extraídos da jurisprudência da Corte de
Cassação: o acórdão considera o empregador civilmente responsável por ato de seu preposto,
sem verificar se, no momento do fato, o preposto estava no exercício de suas funções; o
acórdão anula um ato assemblear, sob a alegação de ser ilegal, sem que se defina em que
consiste a ilegalidade; o acórdão se vale de expressões como ‘parece’, ‘tem-se a impressão’, ‘é
possível que’, ‘não se exclui que’, ficando no terreno de conjecturas etc.
O terceiro e último standard do controle mínimo do fato é dado pela chamada ‘dénaturation
de l’écrit’, ou descaracterização, deturpação de um escrito, também uma “criação puramente
jurisprudencial”, sendo “a forma mais recente de controle da motivação”. Trata-se da
“deturpação, pelo juiz da questão de fundo, do sentido de um escrito claro e preciso” (cf. Cass.
1er. Civ. 28 févr. 1962, Bull. Civ., n. 128). Segundo a jurisprudência francesa, a deturpação é
um erro flagrante na apreciação do sentido de um ato claro, um erro de apreciação e, não,
uma falta de apreciação, não se confundindo, assim, com o erro de direito. Para configurá-la,
exigem-se, cumulativamente, os seguintes requisitos: a) que exista um escrito válido; b) que o
escrito seja claro, manifesto; c) que a interpretação seja contrária ao escrito; d) que o escrito
tenha sido abstraído pela decisão (embora seja polêmico esse requisito); e) por fim, que não
haja um motivo diverso (motivo superabundante), capaz de fundamentar a decisão, a despeito
da deturpação.
Todavia, talvez por isso mesmo, os modelos franceses podem ser extremamente úteis no
sentido de, sem apontar o caminho correto, alertar os interlocutores do debate judicial de que
pode haver problemas em determinado juízo de fato, a cuja correção poder-se-á chegar
mediante o recurso aos demais standards.
7.7. Nossa análise seria absolutamente incompleta se, pelo menos, não mencionássemos -
nada além disso - os chamados modelos probabilístico-matemáticos. Com efeito, deparamo-
nos com a tentativa de aplicar-se, ao diálogo judiciário, teoremas, fórmulas e demonstrações
estatísticas capazes de assegurar o grau de segurança da inferência.
O paradigma em torno do qual essa questão vem polemicamente debatida – e, a esse respeito,
faremos uma breve referência – remonta ao caso People v. Collins, julgado pela Suprema Corte
da Califórnia, em que foi rejeitada a introdução de prova estatística em determinado processo
segundo o qual a chance de os réus serem os responsáveis por determinado ato era de 1 entre
12 milhões. Um dos argumentos de peso, utilizado pela Corte, foi, no dizer do Juiz Sullivan, o
de que “nenhuma equação matemática poderia provar além da dúvida razoável que somente
um homem”, com as características descritas e com o grau de certeza 1:12.000.000, “poderia
ser encontrado em toda a área de Los Angeles”.
Esse acórdão marca uma importante discussão a respeito do uso de regras probabilísticas no
campo probatório. FINKELSTEIN e FAIRLEY, o primeiro um jurista, o segundo um matemático-
estatístico, passariam a defender a aplicação do teorema Bayesiano nesses domínios, ao que
se opôs, em diversos artigos, L. TRIBE. Aliás, este último chamou a atenção para a perspectiva
“matemática” da prova medieval, na medida em que aqueles juristas tratavam de estabelecer
o número de testemunhas requerido para a prova determinadas questões, donde “o direito
medieval (...) procurou na precisão matemática uma escapatória contra os perigos do
julgamento irracional e subjetivo”, ponto sobre o qual já versamos (v. n. 2, supra). Em busca da
segurança é que certos autores vão, destarte, defender o uso de modelos matemáticos.
Não pretendemos, aqui, examinar o mérito das formulações matemáticas, senão apenas
noticiá-las, porque tudo leva a crer que a impostação tradicional de Collins v. People
seguramente exigirá uma nova reflexão por parte dos juristas. A tendência de rejeitar os
modelos matemáticos, prima facie, torna-se prontamente relativizada quando se pensa, p. ex,
nos testes genéticos com altos percentuais de certeza. Imagine-se, por exemplo, um teste
pericial indicando um percentual de 90%. Como o jurista deverá ler essa informação
estatística? Se o jurista ler 90% sobre um universo de 10, sobre 100, sobre 1.000, sobre
1.000.000, as respostas não tenderão a variar? E não tenderão a variar conforme a matéria sub
judice? Afinal, em números absolutos, 90% de 10 é 9 (a chance de não-ocorrência é 1); mas
90% de, p. ex., 1.000.000 é 900.000 (caso em que a chance de não ocorrência passa para
100.000)! As diversas concepções de probabilidade (probabilidade absoluta, probabilidade
frequência, probabilidade lógica etc.) entram aí em cena.
O que cabe registrar, neste particular, é que o avanço das ciências exatas reproporá o
problema dos modelos matemáticos. A ciência jurídica terá de dar resposta para isso, e o
progresso das ciências exatas, certamente, vai suscitar esses questionamentos. O referencial
mais utilizado nessa matéria é ainda o aludido teorema de BAYES, insuscetível de ser abordado
nesta sede. Tudo leva a crer que perspectiva pessimista de Collins v. People exigirá novas
reflexões.
De todo modo, impende aqui destacar que, à base dos modelos narrativísticos acima vistos,
principalmente, está uma probabilidade, mas não uma probabilidade matemática, pelo que a
rejeição desta última não pode implicar, ipso facto, a rejeição da primeira. Com MARCHEIS,
“em primeiro lugar, um conceito de probabilidade não matemático e fundado essencialmente
sobre a base do id quod plerumque accidit apresenta a vantagem de não impor ao juiz uma
bagagem de conhecimentos especializados que ele não tem em virtude de sua formação
profissional e se revela particularmente idôneo a descrever em termos racionais o raciocínio
na valoração das provas”. Ou seja, a probabilidade dos modelos narrativos, por oposição a dos
modelos matemáticos, funda-se no conceito de normalidade.
Não se pode negar, evidentemente, que o mesmo argumento poderia ser usado em apoio da
teoria matemática. O próprio conceito de “id quod plerumque accidit”, ou seja, o conceito de
normalidade, pressuposto nas formulações linguísticas, contém, em si, a chance de erro, que a
própria estatística contempla, e nem por isso deixa de ser válido. Com a estatística, ocorreria o
mesmo fenômeno. A chamada “probabilidade-frequência” leva em consideração essa
realidade, donde a aparente contradição entre a relatividade do conhecimento humano e a
aparente certeza do modelo matemático não estariam, em princípio, em cheque.
Assim, observa-se que, sem dúvida, o tempo e, em especial, a evolução das ciências exatas,
exigirá uma tomada de partido quanto aos modelos probabilísticos de tipo matemático e um
debate mais profundo do tema por parte da classe jurídica. Por ora, contudo, sirva-nos apenas
a referência de que, ao lado dos modelos estudados, abre-se a perspectiva da utilização
paralela dos modelos matemáticos, cujo estatuto fica, ainda, por discutir.
Tendo-se presente uma visão geral do fenômeno, resta-nos referir, brevemente, a praxis
nacional. E, prontamente, localiza-se a noção mais próxima das que foram até aqui
examinadas: aludimos à dicotomia reexame de prova - reexame da valoração jurídica da
prova.
Nesse sentido, essas expressões vêm sendo utilizadas no processo brasileiro desde o Recurso
Extraordinário, sendo recepcionadas no Especial, nos termos da Súmula nº 07 do S.T.J., a dizer
que “a pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”, repristinada,
portanto, a Súmula nº 279 do S.T.F., segundo a qual “para simples reexame de prova não cabe
recurso extraordinário”.
A distinção sub examen não só tem permitido a execução de controles lógicos no âmbito
desses recursos, como, igualmente, a realização de controles tipicamente narrativos. Assim, o
S.T.F. decidiu que “não constitui matéria de fato, mas de Direito, a valoração jurídica das
provas, quando a decisão nega qualquer efeito à adequação, como a perícia contábil, para
apurar-se a simulação disfarçada nos livros mercantis do simulador” (RTJ 72/472). Já o S.T.J.,
num exemplo típico de controle narrativo, efetuado a partir do discurso linguístico do acórdão
estadual, sem recorrer ao exame das provas, assim ementou o REsp. nº 32.932-6-RS, relatado
pelo Ministro Eduardo Ribeiro: “Litigância de Má Fé. Averbação que se cancela, posto que o
acórdão não demonstrou que realizada alguma das hipóteses do art. 17 do C.P.C.” (RSTJ nº 66,
259).
Disso, duas consequências decorrem: em primeiro lugar – e esta é a que mais nos importa aqui
– fica claro que, na praxis processual brasileira, estão presentes, de longa data, os ingredientes
necessários para que, enquanto mecanismo auxiliar e complementar, proceda-se a um
controle lógico da motivação judicial; em segundo lugar, que se mostra absolutamente
possível e praticável a execução desse controle, vale dizer, que a construção teórica
mencionada tem densidade prática, pois, se ela é factível no âmbito do Recurso Especial e do
Extraordinário, sabidamente restrito, com muito mais razão o será quanto ao mais.
Uma decisão do Superior Tribunal de Justiça, nesse sentido, veio a dar um passo importante e
decisivo na matéria. Referimo-nos, aqui, ao Recurso Especial nº 184.156-SP, julgado em
1/10/98, pela Egrégia 5ª Turma do S.T.J., relator o eminente Ministro Félix Fischer (RSTJ, 114,
535). A decisão, no mais alto sentido, simplesmente aplicou, em sede de Recurso Especial, os
mais modernos standards de controle lógico, podendo ser invocada com um verdadeiro
leading case, doravante, no assunto. Vejamo-la brevemente.
O cultíssimo Ministro Félix Fischer, relator do caso, invocando, com extrema felicidade, as
lições de CASTANHEIRA NEVES, afirmou que, em princípio, não se exclui a atuação da Corte
“em domínios que pertenceriam à questão de facto. Pensemos no controle do ‘défaut de base
légale’, no controle do ‘dever de averiguação da verdade’, com o respeito pelos ‘fatos
notórios’ e a exigência de concludente motivação na censura dos desvios de poder relativos ao
cumprimento da objectividade probatória etc.; ponto este que se encontra, em momentos
decisivos, diretamente relacionado com as questões de controle em geral das violações das
regras de experiência e das violações das leis do pensamento. Consideraremos ainda as
questões muito discutidas relativas à admissibilidade de uma censura em revista quer da
manifesta contradição com os autos, vício que a doutrina alemã designa por Aktenwidrigkeit”
(ob. cit. p. 362).
“...quanto aos precedentes, que não são poucos, em torno da revaloração da prova (...),
aonde se vê que, em casos como este, a pretensão recursal não esbarra na Súmula n º 07-STJ.
‘Insisti naquele ponto de que o juiz, evidentemente, na apreciação da prova, tem uma latitude
muito grande (nunca lhe negamos), mas ele não a tem por arbítrio e sim fundamentando
lógica e racionalmente porque se afasta de uma determinada prova’ (RE 78036-GO, STF, Pleno,
rel. Ministro Aliomar Balleiro, RTJ 72/477-478). O v. acórdão reprochado, portanto, indica
inicialmente, o que é profundamente lamentável, o choque frontal entre perícias realizadas.
Mas, como está registrado no voto-vencido, da lavra do magistrado Dr. Corrêa Moraes, a
douta maioria desprezou, in totum, a prova testemunhal nos tópicos em que ela era e é
obviamente taxativa e decisiva. TUDO ISTO COM BASE EM ESPECULAÇÕES TEÓRICAS, acerca
da captação dos fatos, contidas em livros e artigos...”.
Percebe-se, assim, com toda a clareza, que a Corte empregou, explicitamente, o modelo
calcado na distinção entre dúvidas abstrato-negativas e dúvidas positivo-concretas, sendo
certo que somente as últimas têm aptidão para excluir o processo inferencial. Aliás, ao
terminar seu douto voto, o eminente Ministro-Relator asseverou uma vez mais: “ao se negar a
incisiva prova testemunhal (admitida e especificada em segundo grau) em proveito de
especulações teóricas (...) construiu-se um decisum com flagrante violação ao art. 386, VI do
CPP”, razão pela qual a Corte findou, sinale-se, por reformar o acórdão absolutório estadual,
reestabelecendo decisão condenatória monocrática.
Percebe-se, assim, no precedente invocado, que a distinção reexame das provas e reexame da
valoração jurídica das provas atesta, não apenas a presença dos elementos culturais
necessários à utilização daqueles paradigmas, como, igualmente, a sua plena utilização na
prática.
Que conclusões podem ser extraídas da exposição precedente? Ora, ao longo do presente
trabalho, partiu-se do caráter problemático do convencimento judicial, para justificar a
necessidade de uma equalização entre as concepções da teoria geral do direito e a questão do
controle da convicção judicial, no sentido que das primeiras poder-se-ia extrair contribuições
importantes para a segunda.
Com essas premissas, chegou-se à conclusão de que o processo de convicção, com toda a sua
carga problemática, poderia muito bem beneficiar-se da abertura legitimadora e constitutiva
do contraditório, desde que fossem nele integrados os critérios que presidem a formação da
convicção judicial. Lembrou-se, aqui, com apoio em JAUME BALMES (O critério) e à luz da
concepção clássica da prova, que ‘pensar bem é conhecer a verdade ou dirigir o entendimento
pelo caminho que a ela conduz”, sendo os critérios ou os standards, justamente, os “meios
para conhecer a verdade”!
À luz desta pré-compreensão e pressupondo que a liberdade outorgada ao juiz não pode
redundar no desrespeito às regras do bem pensar, exsurge, não apenas como necessário, mas
como vantajoso, a invocação de tais critérios como instrumento que viabiliza uma discussão
regrada, leal e honesta também a respeito da estrutura lógica da convição judicial. Então,
partindo da experiência do direito comparado, colhem-se os critérios, standards ou modelos
de constatação, sempre alternativos e desprovidos de qualquer pretensão de exclusividade ou
rigorismo, capazes de permitir, aos partícipes do debate judicial, não apenas a efetiva
explicitação desse juízo, mas, sobretudo, a discussão a respeito de seu acerto, razoabilidade,
racionalidade e justiça. Tal procedimento visaria, em última análise, a evitar que passos
importantes dessa delicada operação fiquem à margem do diálogo judiciário, o que seria
equivalente a uma forma escamoteada de arbitrariedade ou a um dissimulado monólogo.
Não cuidamos, aqui, do uso desses standards no âmbito específico dos recursos Especial e
Extraordinário, embora, alguns, dentre os examinados, sejam mais voltados para essa
finalidade. Essa, todavia, é uma outra dimensão prática que ostentam, o que já se pode inferir
dos precedentes invocados. Nosso objetivo, ao contrário, foi o de preconizar a sua utilização
como forma de submeter o processo de convencimento judicial a um possível controle. E diz-
se, expressamente, um “possível controle” porque, como visto no curso deste trabalho, é
próprio do standard uma indeterminação de sentido, no caso da convicção judicial, ademais,
insubstituível.
Assim sendo, ao lado do juízo de fato e de sua sempre possível renovação como forma de
controle, é recomendável e altamente proveitoso que se recorra também a parâmetros
lógicos, a partir dos diversos standards a esse título enunciados, para que também a
apreciação da prova mereça todo um diálogo franco, aberto e possível, plenamente integrado
pelo contraditório e pelo pensamento problemático. Bem utilizados, poderão, também,
contribuir na solução de importantes questões no plano dos Recursos Especial e
Extraordinário.
Como se nota, há aí uma teoria política da decisão. O fundamento de todo o direito seria, em
última instância, o poder decisório a partir do qual se cria uma dada ordem jurídica.
E esse conteúdo material de índole normativa não se confundiria com a norma pura, como
diria Kelsen.
Para jurisprudencialistas, como Ronald Dworkin e António Castanheira Neves, a norma seria
a expressão de um aspecto da existência humana, baseado na ideia de justiça. Seria a partir
dela que o direito se construiria, num diálogo perene entre os critérios decisórios (de índole
normativa), critérios estes voltados, não para uma ordenação do mundo, mas para a realização
da justiça, considerando as exigências normativas de cada caso como exigências de justiça e
não de coerência sistemática.
Já o decisionismo busca legitimar os atos de vontade em última instância num fato político que
logrou assumir o protagonismo em um dado momento histórico. Também por isso, e pela
aproximação ao pensamento nazista, foi acusado de infiltrar, em sua teoria jurídica, elementos
ideológicos no nacional-socialismo.
21.2.4. Dispositivo
21.2.4.1. Conceito
É o elemento nuclear comum a todo e qualquer pronunciamento judicial com conteúdo
decisório. É a parte em que o órgão jurisdicional estabelece um preceito, concluindo a análise
do pedido que lhe fora dirigido.
É no dispositivo que se encontra a lei individualizada para o caso concreto prevista no CPC:
Art. 468. A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei
nos limites da lide e das questões decididas.
d) Na executividade parcial das decisões, ainda que recorridas com recursos recebidos no
efeito suspensivo.
2. Precedentes.
(STJ, AgRg na AR 2.785/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, Rel. p/ Acórdão Ministro
CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 23/06/2010, DJe 17/12/2010)
A congruência da decisão judicial tem que ser analisada por dois prismas: interno e externo.
Vale anotar que a congruência externa impõe que a sentença mantenha correlação com os
elementos objetivos da demanda, isto é, com o pedido (imediato e mediato), com a causa de
pedir (apenas a causa remota, pois causa de pedir próxima não se submete a regra da
congruência) e, por fim, com os fundamentos de defesa alegados pelo réu.
Ainda a respeito da congruência externa, importa frisar que a sentença normalmente deve
atingir apenas aqueles que participaram da relação jurídica processual (elemento subjetivo).
Por sua vez, a congruência interna diz respeito aos requisitos para a sua inteligência como
ato processual; nesse sentido, a decisão precisa revestir-se dos atributos da clareza, certeza
e liquidez.
O pedido, juntamente com as partes e a causa de pedir, é elemento da ação. Através desses
elementos é que se dá o fenômeno da individualização e estabilização da demanda, por
conseguinte, identificando-a. Não há que se cogitar a existência de ação sem que haja pedido
previsto na petição inicial, baseado em determinada causa de pedir igualmente expressa na
peça incoativa, pelo qual uma parte busca a prestação jurisdicional em face do réu.
A congruência sofre mitigações, já que o disposto no artigo 462 do CPC permite que o juiz
considere fatos constitutivos, modificativos e extintivos supervenientes.
É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa do pedido, bem como
condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
2. Sob essa ótica, a eg. Segunda Seção deste STJ, em recente julgamento
(Resp 1.171.095-RS, rel. p/ acórdão Min. Sidnei Beneti, julgado em
09/06/2010), entendeu que a condenação ao pagamento dos juros sobre
capital próprio demanda pedido expresso na petição inicial da ação de
complementação acionária, sem o qual a decisão que os concede incorre em
julgamento extra petita.
[...]
5. Em suma, nos termos do art. 514, II, do CPC, a apelação deve conter os
fundamentos de fato e de direito que ensejariam a reforma ou anulação da
sentença atacada, nos pontos em que esta decisão resolveu a lide, dentro
dos limites impostos pela petição inicial. A atuação do órgão ad quem,
tendo em vista o efeito devolutivo do recurso, está restrita à matéria do
inconformismo apresentada nas razões, que não pode ultrapassar, portanto,
o que foi decidido no primeiro grau, sob pena de supressão da primeira
instância e julgamento extra petita no segundo grau.
Existem três modalidades de vícios objetivos que podem macular a decisão judicial:
a) Decisão ultra petita: ocorre quando se concede ao demandante mais do que pediu,
analisando não apenas os fatos postos pelas partes, como também outros; também
pode ocorrer quando a demanda é resolvida em relação a outros sujeitos.
Nessa hipótese, haverá uma parte da sentença que guardará congruência com o
pedido ou com os fundamentos e outra que os excede.
Quando uma decisão é ultra petita, há error in procedendo, devendo ser invalidado
somente o capítulo que supera os limites do pedido. Se o excesso não corresponder a
capítulo autônomo, tudo deve ser invalidado.
b) Decisão extra petita: é aquela que tem natureza diversa ou concede ao demandante
coisa distinta da que foi pedida; leva em consideração apenas fundamentos não
suscitados pelas partes; atinge sujeito que não faz parte da relação processual.
c) Decisão citra petita: é aquela que deixa de analisar pedido formulado; fundamento de
fato ou de direito trazido pela parte; pedido formulado por ou em face de um
determinado sujeito do processo. Como visto anteriormente, o juiz não está obrigado
a enfrentar todos os fundamentos e teses trazidos pelas partes, desde que a
fundamentação utilizada seja suficiente para sustentar sua decisão.
Aqui, haverá omissão quanto ao exame de uma questão. Essas omissões podem ser
sanadas com embargos declaratórios. Se não opostos, não examinado um pedido o
tribunal deve determinar que o juízo a quo complete o julgamento. Em relação aos
pedidos decididos, estes podem prosseguir na apelação, havendo cisão objetiva do
processo.
4. O art. 515, § 3º, do CPC estatui que “nos casos de extinção do processo
sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a
lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em
condições de imediato julgamento”. NO ENTANTO, NÃO SE TRATANDO
DE MATÉRIA EXCLUSIVAMENTE DE DIREITO, COM CAUSA
COMPLEXA E NÃO ESTANDO MADURA SUFICIENTE PARA SER
JULGADA DE PRONTO, NÃO SE APLICA O REFERIDO DISPOSITIVO,
DEVENDO OS AUTOS RETORNAREM AO JUÍZO DE ORIGEM PARA
NOVO PRONUNCIAMENTO.
Há casos, entretanto, em que a decisão atinge quem não participou do processo, tal qual
ocorre com o adquirente da coisa litigiosa, com o substituído no processo etc.
A exigência de certeza como requisito de validade da decisão não impede que o juiz, ao julgar,
crie, ele mesmo, uma condição de eficácia do seu pronunciamento, como por exemplo,
determinar alguma prestação do autor para que se possa efetivá-la, ou determinar uma
obrigação de fazer num determinado prazo sob pena de multa. Vide que nesse caso, a multa
está submetida a condição suspensiva.
Assim, o importante é tirar as partes da situação de dúvida em que se encontravam. Por isso
que a sentença será certa quando determinar a existência ou não do direito pleiteado na
inicial, com a consequente concessão do pedido imediato (pagar, fazer ou não fazer).
Não pode o juiz, por exemplo, condenar o INSS a implementar aposentadoria em favor de
fulano desde que este prove futuramente que laborou em atividades rurais. Por isso que é
absolutamente repudiada a sentença condicional ou condicionada:
A princípio, toda decisão deve ser líquida, somente se admitindo que ela seja ilíquida quando o
demandante formula pedido ilíquido (art. 459, p. único, c/c art. 286). Porém, há mitigações
para esse entendimento, conforme julgado a seguir:
Nos Juizados Especiais, por força do art. 1º da Lei nº 10.259/01 e art. 38, p. único, da Lei nº
9.099/95, é absolutamente vedada a prolação de sentença ilíquida, assim como nas ações sob
rito sumário para cobrança de indenização por acidente de veículo terrestre ou para cobrança
de seguro relativo aos danos causados em acidente de veículo (art. 475-A, § 3º, CPC).
Nesse sentido:
1 - Não basta que a sentença seja exequível, uma vez que o procedimento
aqui adotado exige que a sentença já consigne o valor da condenação, no
que se refere aos valores do benefício e das parcelas vencidas no período
concedido, pois não haverá a fase de liquidação do julgado.
2 - Sentença anulada.
Havendo os parâmetros para a realização dos cálculos (apenas aritméticos), não há que se
falar em julgamento ilíquido, bem como inexiste iliquidez na parte que condena em obrigação
de fazer devidamente descrita. Logo, não se considera ilíquida a sentença que exige meros
cálculos aritméticos.
Súmula 318, STJ: “Formulado pedido certo e determinado, somente o autor tem interesse
recursal em arguir o vício da sentença ilíquida”. Evidentemente que essa súmula não se aplica
se tiver havido pedido contraposto. Essa súmula é, no mínimo, controversa, visto que o réu
tem todo o interesse em saber o quantum debeatur decorrerá da sentença. Se a sentença
deveria ser líquida, mas não foi, eu particularmente entendo que ele possui todo o interesse
de ver o vício corrigido, de modo a por fim à insegurança jurídica que isso lhe causa. Basta
imaginar que, em sendo a sentença ilíquida, ele não terá argumentos para impugnar o
quantum debeatur com base em elementos da fase de conhecimento caso isso seja deixado
apenas para a fase de liquidação (que ocorre apenas após o trânsito em julgado), visto que
tudo o que poderia ter sido alegado antes da execução reputa-se alegado e rejeitado (art. 474,
CPC).
Didier ressalta que os defeitos na congruência interna podem ser sanados via embargos de
declaração, já que se incluem em suas hipóteses de cabimento a contradição e obscuridade.
Esse artigo é uma exceção ao princípio da estabilização da demanda, segundo o qual não
poderia haver alteração da causa de pedir após a fase de saneamento.
processual, já que torna desnecessária a propositura de nova ação para discutir questão que,
embora superveniente, pode ser colocada para debate na ação já em curso.
Ademais, importante esclarecer que o fato superveniente deve ser apto a influenciar na
mesma relação jurídica já posta em juízo, não podendo inovar deflagrando relação jurídica
diversa. Ou seja, O FATO NÃO PODE ENSEJAR PEDIDO AUTÔNOMO NA LIDE, ELE DEVE
INCIDIR DIRETAMENTE SOBRE UM DAQUELES JÁ POSTOS EM JUÍZO.
c) O FATO NOVO PODE SER CONHECIDO DE OFÍCIO PELO JUIZ, MAS DESDE QUE CONSTE
DOS AUTOS, NÃO PODENDO ELE TRAZER FATO DE SEU CONHECIMENTO PESSOAL.
Pode o fato novo ser suscitado em instância recursal? Didier defende que sim. Porém, não
poderá ser nas instâncias extraordinárias, em função da ausência de prequestionamento.
Decisão advinda de órgão colegiado é subjetivamente simples, visto que é um órgão só, não
obstante composto por vários magistrados.
Exemplos dessa última são as decisões do Tribunal do Júri (juízes leigos e togados, órgãos
distintos) e os casos dos incidentes de decretação de inconstitucionalidade ou de
uniformização de jurisprudência suscitados em tribunal.
Sentença condicional: nula é a sentença que julga o pedido procedente, condicionada esta
procedência ao preenchimento de determinados requisitos legais pelo autor. Na verdade, a
vedação é que o conteúdo da sentença esteja sujeito a evento futuro e incerto.
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520
Decisão definitiva em relação a um procedimento principal fica acobertada pela coisa julgada
material, desde que se tenha fundado em juízo de cognição exauriente; entretanto, a definitiva
em relação a um procedimento incidente ou a terminativa em qualquer procedimento não
ficam por ela acobertadas, ficando sujeitas à simples preclusão.
Em muitos casos, a própria lei, em função da importância do efeito reflexo para terceiros,
impõe que este seja cientificado do que ocorre no processo a fim de tomar as providências
necessárias, como ocorre nos vários casos de intervenção de terceiros.
Didier destaca importante efeito anexo: o previsto no art. 466 do CPC, o estabelecimento de
hipoteca judiciária da decisão que certifica um direito ao pagamento de quantia. Assim,
proferida e publicada a decisão, basta que a parte, demonstrando a existência de bens
O ato do juiz que determina a inscrição da hipoteca judiciária é mero despacho, não havendo
nele qualquer cunho decisório.
Somente pode ser utilizada como prova do fato “decisão”, ou seja, de que em determinado
tempo, foi exarada decisão judicial na qual o magistrado tal reconheceu como existentes os
fatos tais, podendo ser isso um indício de prova.
i. As três acima
ii. Executiva lato sensu: seria aquela sentença que dispensaria o processo de
execução, sendo autoexecutável. Não é muito aceita por boa parte da doutrina.
Trata-se sempre de pedido implícito na petição inicial e da resposta do réu, devendo o juiz
proceder à condenação de ofício.
Art. 21. Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e
proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles os honorários e
as despesas.
Art. 22. O réu que, por não arguir na sua resposta fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor, dilatar o julgamento da lide,
será condenado nas custas a partir do saneamento do processo e perderá,
ainda que vencedor na causa, o direito a haver do vencido honorários
advocatícios. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)
Art. 25. Nos juízos divisórios, não havendo litígio, os interessados pagarão as
despesas proporcionalmente aos seus quinhões.
Vencida a Fazenda Pública, a fixação dos honorários não está adstrita aos
limites percentuais de 10% e 20%, podendo ser adotado como base de
cálculo o valor dado à causa ou à condenação nos termos do art. 20, § 4º, do
CPC ou mesmo um valor fixo, segundo o critério de equidade. Nas
demandas de cunho declaratório, até por inexistir condenação pecuniária
que possa servir de base de cálculo, os honorários devem ser fixados com
Há inúmeras súmulas sobre honorários advocatícios, as quais devem ser conhecidas pelo
candidato.
Súmula 453, STJ: “Os honorários sucumbenciais, quando omitidos em decisão transitada em
julgado, não podem ser cobrados em execução ou em ação própria”.
Sucumbir, segundo a definição do Aurélio, é ‘’não resistir, ceder, ser derrotado’’. Na linguagem
jurídica, o significado não é diferente, sendo sucumbente aquele que é vencido na demanda
judicial.
foi o responsável, foi quem deu causa, à instauração do processo judicial. Exige, pois, ‘’uma
indagação mais criteriosa e penetrante das razões dos litigantes’’.
(...) entre a sucumbência e a causalidade não existe contraste, mas harmonia; trata-se de
dois conceitos, do qual o primeiro é o conteúdo, o segundo o continente. O círculo do princípio
da causalidade tem em seu interior vários círculos reveladores da existência do princípio; o
mais importante é constituído pelo subcírculo, por assim dizer, da sucumbência. A
sucumbência será, sob um plano conceitual e estático, ao mesmo tempo, o elemento
normalmente revelador mais expressivo da causalidade, pois, normalmente, aquele que
sucumbe é exatamente o sujeito que havia provocado o processo, fazendo surgir a
necessidade da utilização do instrumento do processo, para que o titular do direito obtivesse
coativamente aquilo que espontaneamente não havia obtido. E, em ordem de disposição,
este elemento estatístico constitui a base da construção tradicional do princípio da
sucumbência.
Dessa maneira, mercê da teoria da causalidade ser atualmente a mais eficiente regra da
responsabilidade processual pelas despesas do processo, a sucumbência, antes de ser um
princípio que lhe contraria, constitui verdadeiramente o seu principal critério para aplicação.
Por fim, a jurisprudência pátria é farta ao reconhecer a causalidade como princípio informador
da responsabilidade processual pelas despesas do processo, bastando citar algumas das
inúmeras decisões existentes:
Julgados colacionados:
[...]
[...]
(AgRg nos EAg 833722/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL,
julgado em 12/05/2011, DJe 07/06/2011)
Súmula 481, STJ: “Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins
lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais”. Ou seja,
o STJ deixa claro que pessoa jurídica TEM que comprovar sua impossibilidade de arcar com os
encargos processuais, como já vinha sinalizando em sua jurisprudência.
2. A parte que não requereu a realização da prova técnica não deve arcar
antecipadamente com os custos dos honorários periciais, segundo o art. 33
do CPC, da mesma forma que não é razoável imputar ao profissional técnico
os custos da realização de perícia, que só aproveitará aos particulares e à
eficiente prestação jurisdicional.
[...]
A regra do stare decisis, presente nos países de common law, determina que casos iguais serão
julgados da mesma forma, conferindo força vinculante aos julgados precedentes sobre os
julgamentos atuais. Entretanto, esta teoria vem sofrendo modificações voltadas à adaptação
do direito jurisprudencial aos novos elementos da realidade. As mudanças sociais ocasionaram
a elaboração de instrumentos capazes de conferir aos tribunais a possibilidade de revogar
precedentes aos quais estariam vinculados obrigatoriamente pelo instituto do stare decisis,
seja por que, ao reanalisar a questão tratada em caso anterior, a Corte tenha entendido que o
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530
Os precedentes judiciais podem ser classificados quanto ao seu conteúdo ou quanto aos seus
efeitos.
b) Criativos: cria e aplica uma norma jurídica. Seria criativo o precedente em que o
magistrado precisa suprir uma lacuna legislativa, ou ainda quando se depara com
cláusulas gerais.
Apesar disso, a força vinculante dos precedentes tem ganhado espaço no ordenamento
brasileiro, mormente por ser uma forma de dar celeridade à atuação do judiciário e por criar,
de certa forma, mais segurança jurídica e previsibilidade nas decisões.
b) Valor que se tem atribuído a enunciados de súmulas dos tribunais, especialmente para
se denegar recursos (arts. 475, § 3º, 518, § 1º, 544, § 3º, 557 e outros do CPC);
a) Igualdade no processo;
b) Igualdade ao processo;
Essas duas “igualdades”, não obstante serem de inegável importância, não são suficientes para
garantir a isonomia entre os jurisdicionados, visto que necessário é ainda perquerir sobre a
igualdade perante as decisões judiciais.
Em que local está a igualdade diante das decisões judiciais? Ora, o acesso à justiça e a
participação adequada no processo só tem sentido quando correlacionados com a decisão.
Afinal, esta é o objetivo daquele que busca o Poder Judiciário e, apenas por isso, tem
necessidade de participar do processo. Em outros termos, a igualdade de acesso, a igualdade à
técnica processual e a igualdade de tratamento no processo são valores imprescindíveis para a
obtenção de uma decisão racional e justa.
122
Extraído de artigo homônimo escrito por Luiz Guilherme Marinoni.
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532
Vendo-se a decisão como fruto do sistema judicial e não como mera prestação atribuída a um
juiz – singularmente considerado –, torna-se inevitável constatar que A RACIONALIDADE DA
DECISÃO ESTÁ ANCORADA NO SISTEMA E NÃO APENAS NO DISCURSO DO JUIZ QUE A
não há racionalidade na decisão ordinária que
PROFERIU. Assim, por exemplo,
atribui à lei federal interpretação distinta da que lhe foi dada pelo órgão
jurisdicional incumbido pela constituição federal de uniformizar tal
interpretação, zelando pela unidade do direito federal. A irracionalidade é
ainda mais indisfarçável na decisão que se distancia de decisão anterior, proferida pelo mesmo
órgão jurisdicional em caso similar, ou melhor, em caso que exigiu a apreciação de questão
jurídica que o órgão prolator da decisão já definira.
Não se pode confundir, entretanto, direito à decisão racional e justa com o direito ao
processo justo. O direito ao processo justo é satisfeito com a realização de direitos
fundamentais de natureza processual, como o direito à efetividade da tutela jurisdicional e o
direito ao contraditório. Mas a legitimação da jurisdição não depende apenas da observância
desses direitos e nem pode ser alcançada somente pelo procedimento em contraditório e
adequado ao direito material, sendo aí imprescindível pensar em uma legitimação pelo
conteúdo da decisão.
O procedimento pode ser legítimo à luz dos direitos fundamentais processuais, mas ainda
assim ser descompromissado com a substância das normas constitucionais. A jurisdição
somente se afirma legitimamente quando garante o conteúdo dos direitos fundamentais.
Porém, quando ela o faz, sobreleva-se a questão da jurisdição contramajoritária, colocando em
estado de tensão a função Judiciária, composta por agentes não eleitos e técnicos, e a função
Legislativa, composta por agentes políticos representantes do povo.
contra o Estado. As cláusulas difíceis da Carta de Direitos (...) têm de ser entendidas
como apelativas a conceitos morais (...); por essa razão uma corte que está incumbida
do ônus de aplicar estas cláusulas plenamente como direito tem de ser uma corte
ativista, no sentido de que precisa estar preparada para moldar e responder questões
de moralidade política” (DWORKIN, Ronald. Taking rights seriously, Cambridge,
Harvard Press, 1978, p. 147). Em John Rawls, o substancialismo foi formulado a partir
de sua filosofia política. Concebe a deliberação como um processo parcialmente
fechado quanto aos seus resultados finais, já que tem como função aplicar princípios
de justiça previamente justificados, consensualmente definidos no contrato social
quando da “posição original”. A deliberação versaria, portanto, sobre conteúdo
predeterminado.
Não haveria motivo para falar em igualdade diante das decisões caso estas pudessem se
resolver na mera aplicação da lei. Bastaria a noção de igualdade perante a lei. Portanto,
quando se pensa em igualdade perante as decisões, remete-se ao problema da interpretação
judicial.
Já é muito mais do que descartada a ideia exegética do magistrado apenas como um mero
explicitador do texto da norma; seu papel é altamente interpretativo, visto que até mesmo
perante regras jurídicas bem definidas textualmente se abre a possibilidade de múltiplos
significados, conforme a pré-compreensão de cada intérprete.
O problema da aplicação da lei não está propriamente no poder conferido ao juiz, mas na
própria dicção da norma legal. Embora o objetivo da limitação da decisão à letra da lei seja o
de conter o arbítrio do juiz, não há dúvida que a compreensão da lei, e, portanto, o
subjetivismo, varia na medida em que a letra da norma abre maior ou menor espaço para o
magistrado atuar na definição do significado normativo. Entende-se, em vista disso, que o
subjetivismo do juiz é um dado; o que importa, diante da construção da decisão, é o texto
legal. A lei é interpretada – e não meramente aplicada – não apenas porque o juiz
inevitavelmente deve compreendê-la, mas especialmente porque o seu significado precisa ser
apreendido e deduzido.
Observa Judith Martins-Costa que as cláusulas gerais não pretendem “dar, previamente,
respostas a todos os problemas da realidade, uma vez que essas respostas são
progressivamente construídas pela jurisprudência”. Adverte que, “por nada regulamentarem
de modo complexo e exaustivo, atuam tecnicamente como metanormas, cujo objetivo é
enviar o juiz para critérios aplicativos determináveis ou em outros espaços do sistema ou
através de variáveis tipologias sociais, dos usos e costumes objetivamente vigorantes em
determinada ambiência social. Em razão destas características esta técnica permite capturar,
em uma mesma hipótese, uma ampla variedade de casos cujas características específicas serão
formadas por via jurisprudencial, e não legal.
Ora, se o juiz se vale da cláusula geral para chegar na regra adequada à regulação do caso
concreto, a cláusula geral é norma legislativa incompleta e a decisão é a verdadeira norma
jurídica do caso concreto. Dessa forma, como é intuitivo, afigura-se previsível a possibilidade
de os juízes criarem diversas normas jurídicas para a regulação de casos substancialmente
idênticos. Acontece que, como é óbvio, a função das cláusulas gerais não é a de permitir uma
inflação de normas jurídicas para um mesmo caso, mas o estabelecimento de normas
jurídicas de caráter geral.
Para se ter segurança jurídica e para garantir a isonomia entre os jurisdicionados, que têm
perante si a infinita possibilidade de receberem tutelas jurisdicionais completamente
diversificadas, ainda que baseadas no mesmo diploma normativo, não há mais como se
recorrer ao princípio da tipicidade das formas processuais do processo civil clássico.
Embora as cláusulas gerais também tenham a função de viabilizar a infiltração dos direitos
fundamentais nos códigos e leis, o impacto do neoconstitucionalismo sobre a interpretação
jurídica é mais extenso.
É certo que a decisão deve se guiar pela lei, mas isso não é suficiente como argumento em
favor da decisão. Decisão racional não é o mesmo que decisão baseada apenas em dados
dotados de autoridade; geralmente, senão sempre, a decisão judicial exige que a
argumentação recaia em pontos que não podem ser dedutivamente expostos. Melhor
dizendo, a racionalidade do discurso judicial, sempre que ultrapassa a simples dedução
lógica a partir da norma geral para o caso particular – é dizer, sempre que põe em questão a
premissa da subsunção – envolve um discurso que vai além daquilo que tradicionalmente se
concebe como jurídico – que extravasa o domínio restrito das “fontes do direito” –, o qual se
pode chamar de DISCURSO PRÁTICO OU MORAL.
Embora o controle da constitucionalidade na via difusa ou concentrada possa ser visto como
força contramajoritária, a sua legitimidade advém da circunstância de que os direitos
fundamentais estão excluídos da disposição do Legislativo, tendo o Judiciário o dever de
protegê-los, concretizá-los e afirmá-los para a própria constitucionalização do ordenamento
jurídico.
Ao afirmar a inadequação da lei a um direito fundamental, o juiz deve argumentar que a lei
interfere sobre o bem que foi excluído da sua esfera de disposição. Não se trata simplesmente
de opor o direito fundamental à lei, mas sim de demonstrar, mediante adequada
argumentação, que a lei se choca com o direito fundamental. Portanto, A AFIRMAÇÃO DO
DIREITO FUNDAMENTAL DIANTE DA LEI DEVE SIGNIFICAR OPOSIÇÃO ENTRE UMA
ARGUMENTAÇÃO JURISDICIONAL EM PROL DA SOCIEDADE E A DECISÃO TOMADA
PELO LEGISLATIVO. TRATA-SE, COMO DIZ ALEXY, DE UMA REPRESENTAÇÃO
123
Segundo Rawls, as concepções individuais racionais, ainda que opostas, podem permitir um
consenso. Para explicar a sua idéia, diz Rawls que deve haver um consenso sobreposto (overlapping
consensus), o qual seria a única forma de alcançar uma concepção pública de justiça em uma sociedade
pluralista (RAWLS, John. A theory of justice.Cambridge: Harvard University Press, 1971, p. 132 e ss.).
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537
O cidadão precisa ter segurança de que o Estado e os terceiros se comportarão de acordo com
o direito e de que os órgãos incumbidos de aplicá-lo o farão valer quando desrespeitado. Por
outro lado, a segurança jurídica também importa para que o cidadão possa definir o seu
próprio comportamento e as suas ações.
124
Extraído de artigo homônimo escrito pelo Luiz Guilherme Marinoni.
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538
As decisões do Superior Tribunal de Justiça não são respeitadas nem no âmbito interno da
Corte. As Turmas não guardam respeito pelas decisões das Seções e, o que é pior, entendem-
se livres para decidir casos iguais de forma desigual. Resultado disso, como não poderia ser
diferente, é o completo descaso dos juízes de primeiro grau de jurisdição e dos Tribunais
Estaduais e Regionais Federais em relação às decisões tomadas pelo Superior Tribunal de
Justiça. Isso configura um atentado contra a essência do direito e contra a efetividade do
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sistema jurídico. Como é óbvio, também porque a segurança jurídica é direito fundamental e
subprincípio concretizador do princípio do Estado de Direito, tais decisões não podem ser
ignoradas, admitindo-se a sua fácil e constante alteração no âmbito da Corte e permitindo-se
que os juízes de primeiro grau e tribunais ordinários possam livremente delas discordar ou
sequer considerá-las.
É preciso que a ordem jurídica, e assim a lei e as decisões judiciais, tenham estabilidade. A
ordem jurídica deve ter um mínimo de continuidade, até mesmo para que o Estado de
Direito não seja um Estado provisório, incapaz de se impor enquanto ordem jurídica dotada
de eficácia e potencialidade de se impor aos cidadãos.
Pouco adiantaria ter legislação estável e, ao mesmo tempo, frenética alternância das decisões
judiciais. Para dizer o mínimo, AS DECISÕES JUDICIAIS DEVEM TER ESTABILIDADE PORQUE
CONSTITUEM ATOS DE PODER. Ora, os atos de poder geram responsabilidade àquele que os
instituiu. Assim, as decisões não podem ser livremente desconsideradas pelo próprio Poder
Judiciário.
Não há como ter estabilidade quando os juízes e tribunais ordinários não se vêem como peças
de um sistema, mas se enxergam como entes dotados de autonomia para decidir o que bem
quiserem.
A atividade criativa também se mostraria presente nos casos em que o magistrado se depara
com conceitos vagos, atualmente bastante comuns.
Para Lenio Streck, é induvidoso que a jurisprudência no Brasil se constitui, além de fonte de
normas jurídicas gerais, em uma fonte subsidiária de informação e alimentação ao sistema de
produção de normas jurídicas. Isso pode ser comprovado pela própria análise da nova lei do
MS, que incorporou ao seu texto enunciados de súmulas dos tribunais.
O holding é composto por duas partes essenciais: a ratio decidendi e a obiter dicta, as quais
constituem, respectivamente, a razão principal do julgamento e os argumentos externos ao
fundamento principal, sendo que apenas o fundamento da ratio decidendi vincula os
julgamentos posteriores.
Essa última parte é a ratio decidendi: fundamentos jurídicos que sustentam a decisão, opção
hermenêutica adotada na sentença, sem a qual a decisão não teria sido proferida como foi. É a
tese jurídica necessária adotada pelo julgador no caso concreto.
Já o obiter dictum ou simplesmente dictum consiste nos argumentos que são expostos apenas
de passagem na motivação da decisão, consubstanciando juízos acessórios, provisórios,
secundários, impressões ou qualquer outro elemento que não tenha influência relevante e
substancial para a decisão. É apenas algo que se faz constar na decisão, não podendo ser
utilizado com força vinculativa por não ter sido determinante para a decisão.
Pode ocorrer de a fundamentação se basear em vários motivos. A doutrina defende que todos
eles devem ter força vinculante, não podendo o julgador se valer de apenas um ou alguns para
fundamentar seu julgado e relegar aos demais a condição de um simples dictum.
Ratio Decidendi Tese jurídica adotada, fundamentos da decisão
Obiter Dictum Elementos não relevantes para a decisão
Há, na prática norteamericana, dois principais métodos para se saber o que é ratio decidendi e
obter dictum:
a) Teste de Wambaugh: este método consiste em separar aquilo que se considerou como
principal proposição jurídica do precedente (suposta ratio decidendi), e inserir uma
palavra que inverta o seu significado. Se, mesmo com essa inversão, o resultado do
julgamento permanecer o mesmo, a proposição isolada não constituía proposição
principal, devendo ser descartada como ratio. Entretanto, se tal inversão operar
também a modificação do resultado do julgamento, então teremos a razão principal,
sem a qual o caso seria decidido em outro sentido.
b) Método do Dr. Goodhart: o método do Dr. Goodhart, por sua vez, implica em isolar no
julgado precedente os fatos considerados pelo juiz prolator como materialmente
relevantes e o que foi decidido em relação a eles. Não há relevância, portanto, em se
identificar as opiniões do juiz, a regra de direito aplicada ao caso ou as considerações
feitas sobre os demais casos: a ratio decidendi é definida pela forma como o julgador
tratou os fatos materialmente relevantes.
21.7.5.1. Introdução
O uso do precedente é uma técnica. Assim, somente é possível aprendê-lo na prática. O que se
pode fazer doutrinariamente é indicar conceitos e pontos de partida.
Notando o juiz que há distinção entre o caso sub judice e aquele que ensejou o precedente,
pode seguir os seguintes caminhos:
a) Dar à ratio decidendi uma interpretação restritiva, por entender que peculiaridades do
caso concreto impedem a aplicação da mesma tese jurídica outrora firmada (restrictive
distinguishing);
b) Estender ao caso a mesma solução conferida aos casos anteriores, por entender que, a
despeito das peculiaridades concretas, aquela tese jurídica é aplicável.
Se, feita a comparação, o magistrado perceber que a questão está sendo enfrentada pela
primeira vez tem-se então um hard case, cujo mérito deve ser enfrentado diferentemente da
utilização, como fundamento, de precedentes judiciais.
Para se valer do distinguishing, o magistrado tem que utilizar forte argumentação racional que
demonstre como o caso sob julgamento se diferencia das situações contempladas nos
precedentes.
A decisão que implicar no overruling exige como pressuposto uma carga de motivação maior,
que traga argumentos até então não suscitados e a justificação complementar da necessidade
de superação do precedente.
O STF constantemente (até constante por demais, gerando insegurança jurídica) faz isso em
relação às suas orientações jurisprudenciais.
Há ainda a substituição com feitos ex nunc (prospective overruling), quando a ratio decidendi
do precedente substituído permanece válida e vinculante para os fatos ocorridos e para os
processos instaurados antes da substituição (dá maior segurança jurídica, sacrificando, por
outro lado, a justiça por desigualar os provimentos jurisdicionais. Seria o caso da tese dos 5 + 5
adotada pelo STJ, mas destruída pelo STF)125.
125
Há aí, antes de tudo, plena consciência de que a retroatividade de uma decisão que substitui
precedente que, por certo período de tempo, pautou e orientou a conduta dos jurisdicionados, é tão
injusta quanto a perpetuação do precedente judicialmente declarado injusto. Mas, para que a não-
retroatividade se justifique, exige-se que a credibilidade do precedente não tenha sido abalada, de
modo a não tornar previsível a sua revogação. Caso a doutrina e os tribunais já tenham advertido para
o equívoco do precedente ou apontado para a sua conveniente ou provável revogação, não há
confiança justificável ou confiança capaz de fazer acreditar que os jurisdicionados tenham,
legitimamente, traçado os seus comportamentos e atividades de acordo com o precedente. De modo
que, para que o overruling não tenha efeitos retroativos, as situações e relações antes estabelecidas
devem ter se fundado em uma confiança qualificada, que pode ser dita uma “confiança justificável”.
O prospective overruling pode gerar resultados ou decisões inconsistentes, especialmente quando se
está diante do overruling cujos efeitos apenas podem ser produzidos a partir de certa data ou do
overruling cujos efeitos retroativos incidem apenas sobre determinado caso.
Note-se que, na primeira hipótese, como o overruling tem efeitos somente a partir de certa data, as
situações e relações que se formam depois da decisão são tratadas de modo diverso, conforme tenham
se estabelecido antes ou depois da data prevista na decisão, ainda que esta tenha declarado a
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545
Por fim, tem-se a antecipatory overruling, espécie de revogação preventiva, por órgãos
inferiores, do precedente firmado pela Corte superior, nos casos em que esta última, embora
sem fazê-lo expressamente altera o seu posicionamento quanto a precedente outrora firmado.
Overruling não se confunde com reversal: esse é apenas a revisão pelo Tribunal da decisão
proferida pelo órgão a quo, reformando o entendimento deste.
Todos esses mecanismos, segundo Cruz e Tucci, estão a evidenciar que a força do precedente
ainda NÃO IMPEDE QUE UMA DETERMINADA TESE DOMINANTE, ANTES SEDIMENTADA,
POSSA SER SUPERADA, PASSANDO-SE A UM NOVO PROCESSO DE NORMATIZAÇÃO
PRETORIANA. A mutação progressiva de paradigmas de interpretação de um determinado
episódio de vida, dotado de relevância jurídica, sempre veio imposta pela historicidade da
realidade social, constituindo mesmo uma exigência de justiça.
Overriding
Foi por isso que, ao menos no processo de controle objetivo de constitucionalidade, se deu ao
STF o poder de modular suas decisões.
Há que se lembrar, mais uma vez, que no Brasil ainda vige o princípio do livre convencimento
motivado: não se pode pretender, ainda, que aqui haja a mesma força do precedente
observada em países anglo-saxões. Os juízes ainda têm liberdade para decidir.
O que realmente vincula, por enquanto, são somente as súmulas vinculantes e as decisões
derivadas do controle objetivo de constitucionalidade.
Cumpre destacar, no ponto, a natureza jurídica de que se reveste, em seu perfil ordinário ou
comum, a súmula da jurisprudência predominante do Supremo Tribunal Federal (o que
também se aplica aos demais Tribunais), valendo relembrar, quanto a tal aspecto, decisão
emanada da colenda Primeira Turma desta Corte:
Esse entendimento que venho de mencionar nada mais reflete senão a advertência do
Supremo Tribunal Federal de que “(...) Súmula é cristalização de jurisprudência”, não
constituindo, por isso mesmo, ela própria, uma “norma jurídica” (RE 116.116/MG, Rel. Min.
MOREIRA ALVES).
Nesse contexto, mostra-se necessário acentuar que a Súmula, em seu perfil ordinário, ainda
que se possa considerar inexistente qualquer “distinção ontológica” entre ela e aquela de
caráter vinculante (LUIZ GUILHERME MARINONI, “Precedentes Obrigatórios”, 2010, RT), não
realiza as funções específicas da norma. A formulação sumular, embora refletindo precedente
jurisprudencial, não se reveste de caráter impositivo, prescritivo, permissivo, autorizativo ou
derrogatório de condutas individuais ou sociais.
Sabemos que a Súmula - idealizada e concebida, entre nós, pelo saudoso Ministro VICTOR
NUNES LEAL (“Passado e Futuro da Súmula do STF”, “in” RDA 145/1-20) - desempenha, na
lição desse eminente Magistrado, enquanto método de trabalho e ato provido de eficácia
“interna corporis”, várias e significativas funções, pois:
A Súmula, contudo (excetuada aquela de perfil vinculante), ao contrário das notas que
tipificam o ato normativo, não se reveste de compulsoriedade na sua observância externa e de
cogência na sua observância externa e de cogência na sua aplicação por terceiros. A Súmula,
na realidade, CONFIGURA MERO INSTRUMENTO FORMAL DE EXTERIORIZAÇÃO
INTERPRETATIVA DE UMA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL.
A Súmula, portanto, tendo em vista a tese jurisprudencial não vinculante que nela se acha
consagrada, encerra, apenas, um resultado paradigmático para decisões futuras.
Em uma palavra: a Súmula não é, em nosso sistema de direito positivo - e para utilizar uma
significativa expressão de KARL LARENZ - uma pauta vinculante de julgamento, ressalvada,
por óbvio, a possibilidade – agora legitimada pela EC nº 45/2004 – de formulação de súmulas
impregnadas de efeito vinculante.
Sendo assim - e diversamente do que ocorria com os “Arrêts de Règlement” dos órgãos
judiciários franceses, de que emanavam as “Lois Provisionelles” no sistema anterior ao da
Revolução de 1789, e com os “Assentos” da Casa de Suplicação, que dispunham de força de lei
e de consequente eficácia vinculante -, a Súmula configura, ordinariamente, modelo de
Cumpre relembrar, por isso mesmo, a lição de KARL LARENZ (“Metodologia da Ciência do
Direito”, p. 499, item n. 4, 2ª ed., 1978, Fundação Calouste Gulbenkian) sobre o valor e o
significado do direito revelado pela interpretação dos Tribunais:
“Quem quiser conhecer o Direito tal como é realmente aplicado e ‘vive’, não
pode contentar-se com as normas, tem de inquirir do entendimento que
lhes é dado pela jurisprudência. Os precedentes são, pois, uma fonte de
conhecimento do Direito. Não, porém, uma fonte de normas jurídicas
imediatamente vinculativas (...).” (grifei)
Concluindo: a formulação sumular de perfil ordinário, que não se qualifica como “pauta
vinculante de julgamento” (despojada, portanto, da eficácia vinculante que lhe é excepcional,
considerado o que dispõe o art. 103-A da Carta Magna), há de ser entendida, em face das
múltiplas funções que lhe são inerentes - função de estabilidade do sistema, função de
segurança jurídica, função de orientação jurisprudencial, função de simplificação da atividade
processual e função de previsibilidade decisória, v.g. (RDA 78/453-459 – RDA 145/1-20) –,
como mero resultado paradigmático a ser autonomamente observado, sem caráter impositivo,
pelos magistrados e demais Tribunais judiciários, nas decisões que venham a proferir.
É por essas razões que não se adquire relevo, para fins de acesso ao instrumento da
reclamação, a invocação de enunciado sumular (como aquele inscrito na Súmula 627/STF)
destituído de eficácia vinculante, tal como adverte a jurisprudência desta Suprema Corte, que
considera inadmissível, presente referida circunstância, a utilização da via reclamatória:
Isso não significa, porém, que o prazo recursal será contado a partir da publicação. Esse
começará a correr somente a partir da intimação.
Como visto, após publicada não pode a sentença ser alterada. Entretanto, há exceções:
a) Quando o juiz constata a existência de erro material: erro material é aquele observado
na forma de expressão do julgamento, como nos cálculos, na datilografia do nome das
partes, erro pontual na remissão a dispositivo legal etc. – JAMAIS NO CONTEÚDO. A
correção de erros materiais pode ser feita até mesmo após o trânsito em julgado da
decisão.
Já sentença suicida é sentença que o dispositivo não tem relação com a fundamentação ou
que está em contradição com ela.
A sentença declaratória pode ser analisada sob dois ângulos. Ela pode conter uma declaração
de procedência (declaratória positiva) ou de improcedência (declaratória negativa). Tenha ela
cunho positivo ou negativo, é possível afirmar que as sentenças declaratórias gozam de efeito
ex tunc, isto é, retroagem à data em que a relação jurídica declarada se formou. Produz, assim,
um efeito declaratório.
Não se diga que as sentenças declaratórias produzem efeitos ex tunc e as constitutivas, efeitos
ex nunc, porque estas podem produzir efeitos desde a data da propositura da ação, ou da
citação, da sentença, de seu trânsito em julgado, ou de qualquer outro momento previsto em
lei ou fixado pelo juiz.
Como os danos morais somente assumem expressão patrimonial com o arbitramento de seu
valor em dinheiro na sentença de mérito, a ministra concluiu que o não pagamento desde a
data do ilícito não pode ser considerado omissão imputável ao devedor, para efeito de tê-lo
em mora: “Mesmo que o quisesse, o devedor não teria como satisfazer obrigação decorrente
de dano moral não traduzida em dinheiro nem por sentença judicial, nem por arbitramento e
nem por acordo (CC/16, artigo 1.064)”.
O seu posicionamento, entretanto, não prevaleceu, eis que o STJ, ainda que tenha brevemente
pendido para reconhecer a mora em indenização por danos extrapatrimoniais a partir do
arbitramento, reafirmou seu entendimento de que a mora ocorre desde o evento danoso.
Temos:
Pois bem. No caso dos precatórios, incidirão apenas juros remuneratórios até a inclusão na
lista de pagamentos, já que antes disso, o Estado não estará em mora, além, é claro, da
correção monetária. Após, apenas correção monetária (TRA) e juros de mora (TR), que serão
calculados apenas uma vez, no exato momento do pagamento do credor fazendário.
Ok, isso resolve quando o precatório foi expedido. Mas e agora, como fazer no caso, por
exemplo, de responsabilidade civil do Estado, em que ele causa um dano material a alguém,
sendo que os juros deveriam ser contados a partir do evento danoso?
Nos casos de responsabilidade extracontratual, ainda que objetiva, os juros de mora são
devidos, inclusive sobre o valor dos danos morais, a partir do evento danoso e não da citação,
no percentual de 6% (seis por cento) ao ano até o advento do novo Código Civil, quando, a
contar de 11/01/2003, são devidos pela TAXA SELIC, sem correção monetária, a qual já inclusa.
Como funcionaria, então, no caso de uma indenização por danos materiais e morais ocorridos
em 06/02/2005 e julgada em 11/06/2011? Incidência da taxa SELIC até a entrada em vigor da
Lei nº 11.960 no que se refere aos danos materiais, quando, a partir de então, deverá se valer
dos índices do art. 100, § 12 da CR/88 (ou art. 1º-F dessa lei). No que se refere aos danos
morais, incidência da TR e TRA desde o arbitramento.
Os valores serão, então, atualizados pela Justiça até a liquidação. Após a expedição do
precatório, deverão os valores ser atualizados pela TRA até inclusão na ordem de pagamento.
Após fatalmente entrar em mora o ente público, passa a incidir TR e TRA, porém somente uma
vez, na data do pagamento.
DECIDIR POR EQÜIDADE é decidir sem as limitações impostas pela precisa regulamentação
legal. A jurisdição de eqüidade está contraposta à jurisdição de direito e sua admissibilidade
é excepcional.
A norma jurídica precisa ser interpretada teleologicamente, buscando sempre – porque aí está
a sua finalidade – realizar solução de interesse social, que atenda ao bem comum, a solução
justa e equânime. Se assim não for, a atividade judiciária será ociosa, inútil, mera homenagem
à tradição. A norma jurídica não pode ser considerada como um fim em si mesma, mas como
um meio para a consecução dos valores concretos almejados pelo legislador, que são a justiça,
o bem-estar social, a dignidade da pessoa humana, a liberdade e a igualdade perante o Direito.
O magistrado contemporâneo precisa tomar consciência de que não é apenas um aplicador da
lei, mas seu agente.
3. TRF4 – XII – QUESTÃO 65. O sistema processual brasileiro adota, dentre os critérios
para a condenação em honorários advocatícios, a regra da causalidade.
5. TRF4 – XII – QUESTÃO 65. Segundo entendimento do plenário do STF, não são devidos
pela Fazenda Nacional honorários advocatícios nas execuções não embargadas,
EXCLUÍDOS OS CASOS DE PAGAMENTO DE OBRIGAÇÕES DEFINIDA EM LEI COMO DE
PEQUENO VALOR.
126
Fundamento no art. 485, VIII, CPC:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
[...]
Vl - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na
própria ação rescisória;
127
STJ superou esse entendimento:
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. ART. 289 DO CPC. CUMULAÇÃO IMPRÓPRIA
SUBSIDIÁRIA DE PEDIDOS (CUMULAÇÃO EVENTUAL). ACOLHIMENTO DO PEDIDO SUBSIDIÁRIO E
REJEIÇÃO DO PRINCIPAL. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.
1. Embora não tenham adotado a mesma terminologia para decidir a cumulação de pedidos de que
trata o art. 289 do Código de Processo Civil-CPC, os arestos embargado e paradigma divergem quanto à
correta interpretação desse dispositivo. O primeiro conclui que o acolhimento do pedido subsidiário, e a
rejeição do principal, conduz à sucumbência integral da parte ré, enquanto o segundo entende, em
situação análoga, que há mútuo sucumbimento das partes. No caso, apenas foi deferida a restituição
dos valores recolhidos a título de FINSOCIAL e do PIS, nos termos dos Decretos-leis nºs 2.445 e
2.449/88, no que se refere ao montante recolhido através de substituição tributária, nos termos do
pedido subsidiário (e não a restituição da totalidade dos valores retidos por substituição tributária a
título de PIS, COFINS e FINSOCIAL), mesmo assim, houve o reconhecimento da sucumbência integral da
Fazenda Pública, ora embargante.
2. Na cumulação alternativa não há hierarquia entre os pedidos, que são excludentes entre si. O
acolhimento de qualquer um deles satisfaz por completo a pretensão do autor, que não terá interesse
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555
9. EMAGIS – 2012/26 – QUESTÃO 12. O termo inicial dos juros moratórios referentes a
honorários advocatícios decorrentes da sucumbência é a data da ciência do devedor
quanto à sua execução129.
10. EMAGIS – 2012/26 – QUESTÃO 12. Tendo o executado realizado o depósito judicial,
para garantia do juízo e oferecimento de impugnação ao cumprimento de sentença ou
de embargos à execução, não há falar em incidência de novos juros moratórios130.
em recorrer da decisão que escolheu uma dentre outras alternativas igualmente possíveis e
satisfativas. Se não há interesse recursal, conclui-se que os ônus da sucumbência devem ser
integralmente suportados pelo réu.
3. Já na cumulação subsidiária, como é o caso dos autos, os pedidos são formulados em grau de
hierarquia, denotando a existência de um pedido principal e outro (ou outros) subsidiário(s). Assim, se
o pedido principal foi rejeitado, embora acolhido outro de menor importância, surge para o autor o
interesse em recorrer da decisão. Se há a possibilidade de recurso, é evidente que o autor sucumbiu
de parte de sua pretensão, devendo os ônus sucumbenciais serem suportados por ambas as partes, na
proporção do sucumbimento de cada um.
4. Casos há em que existe um grande distanciamento entre os pedidos cumulados, de modo que a
aplicação da tese do aresto paradigma imporia flagrante infringência ao princípio da equidade que deve
nortear a fixação de honorários advocatícios.
5. A tese do aresto embargado franqueia ao autor, em grande número de casos, a possibilidade de
eximir-se dos ônus da sucumbência. Para tanto, bastaria que formulasse pedido subsidiário mínimo,
com grande chance de êxito, para conseguir afastar a condenação em honorários.
6. A orientação consagrada no aresto paradigma, na linha dos precedentes desta Corte, não traz o
inconveniente. Havendo a rejeição do pedido principal e o acolhimento de outro subsidiário, estará
configurada a mútua sucumbência, podendo o juiz, no caso concreto e com recurso ao juízo de
equidade, atribuir os ônus sucumbenciais integralmente ao réu, quando reconhecer a sucumbência
mínima do autor naqueles casos em que há parcial equivalência entre os pedidos principal e subsidiário.
7. Embargos de divergência providos.
(EREsp 616.918/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, CORTE ESPECIAL, julgado em 02/08/2010, DJe
23/08/2010)
128
PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL TEMPESTIVIDADE. RECONHECIDA.
ANÁLISE DA QUESTÃO MERITÓRIA. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. CONCESSÃO DE OFÍCIO.
IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO (PETIÇÃO N.º 00059892). (...) 2. É vedado ao juiz
conceder ex officio o benefício da assistência judiciária gratuita, quando ausente, nos autos, pedido
expresso da parte. 3. Agravo regimental de fls. 566/577 provido. Agravo Regimental de fls. 553/556
desprovido. (STJ, Quinta Turma, AgRg no AgRg no REsp 1101077, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de
28/06/2012)
129
AÇÃO RESCISÓRIA. IMPROCEDÊNCIA. EXECUÇÃO. CUMPRIMENTO VOLUNTÁRIO, MEDIANTE
DEPÓSITO DO VALOR DA SUCUMBÊNCIA - INEXISTÊNCIA DE MULTA ANTE O CUMPRIMENTO
TEMPESTIVO DA SENTENÇA (CPC, ART. 475-J) – NÃO INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA - AGRAVO
REGIMENTAL IMPROVIDO. (...) 2.- De acordo com a jurisprudência desta Corte, o termo inicial de juros
moratórios referentes a honorários advocatícios decorrentes da sucumbência é a data da citação do
devedor para o processo de execução, o que não ocorreu no caso, ante o cumprimento espontâneo do
julgado. 3.- Agravo Regimental improvido. (STJ, Segunda Seção, AgRg na ExeAR 3225, Rel. Min. Sidnei
Beneti, DJe de 20/04/2012)
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556
11. EMAGIS – 2012/26 – QUESTÃO 12. Em ação de indenização por danos morais,
o termo inicial para incidência dos juros de mora é a data do evento danoso.
13. EMAGIS – 2012/26 – QUESTÃO 11. De acordo com a orientação pacificada pelo
STJ, são devidos honorários advocatícios em fase de cumprimento de sentença,
sempre que não houver o pagamento espontâneo da dívida reconhecida no título
judicial132.
130
De fato, vem entendendo o STJ que os juros moratórios deixam de incidir caso o executado realize o
depósito judicial, para garantia do juízo e oferecimento de impugnação ao cumprimento de sentença ou
de embargos à execução. Assim o é porque o depósito judicial já é remunerado por juros pela instituição
financeira que o custodia, de sorte que haveria dupla incidência de juros caso também se impusessem
juros moratórios nesse período.
131
Para o STJ, a modificação da natureza da execução de sentença, que deixou de ser tratada como
processo autônomo e passou a ser mera fase complementar do mesmo processo em que o provimento
é assegurado (Lei 11.232/05), não trouxe nenhuma alteração no que tange ao regime dos honorários
advocatícios. Confira-se:
PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. NOVA SISTEMÁTICA IMPOSTA PELA LEI Nº
11.232/05. CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS. POSSIBILIDADE. - A alteração da natureza da execução
de sentença, que deixou de ser tratada como processo autônomo e passou a ser mera fase
complementar do mesmo processo em que o provimento é assegurado, não traz nenhuma
modificação no que tange aos honorários advocatícios. - A própria interpretação literal do art. 20, §
4º, do CPC não deixa margem para dúvidas. Consoante expressa dicção do referido dispositivo legal,
os honorários são devidos “nas execuções, embargadas ou não”. - O art. 475-I, do CPC, é expresso
em afirmar que o cumprimento da sentença, nos casos de obrigação pecuniária, se faz por
execução. Ora, se nos termos do art. 20, § 4º, do CPC, a execução comporta o arbitramento de
honorários e se, de acordo com o art. 475, I, do CPC, o cumprimento da sentença é realizado via
execução, decorre logicamente destes dois postulados que deverá haver a fixação de verba
honorária na fase de cumprimento da sentença. - Ademais, a verba honorária fixada na fase de
cognição leva em consideração apenas o trabalho realizado pelo advogado até então. - Por
derradeiro, também na fase de cumprimento de sentença, há de se considerar o próprio espírito
condutor das alterações pretendidas com a Lei nº 11.232/05, em especial a multa de 10% prevista no
art. 475-J do CPC. Seria inútil a instituição da multa do art. 475-J do CPC se, em contrapartida, fosse
abolida a condenação em honorários, arbitrada no percentual de 10% a 20% sobre o valor da
condenação. Recurso especial conhecido e provido. (STJ, Corte Especial, REsp 1028855, Rel. Min.
Nancy Andrighi, DJe de 05/03/2009)
132
STJ, Primeira Turma, AgRg no REsp 1226298, Rel. Min. Napoleão Nunes, DJe de 08/02/2012.
133
STJ, Primeira Seção, AR 4365, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 14/06/2012.
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557
16. EMAGIS – 2012/20 – QUESTÃO 12. A prova de que a parte não se encontra na
faixa de isenção tributária do imposto de renda NÃO é fato suficiente para afastar o
benefício da assistência judiciária gratuita.
19. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 03. As normas legais que cuidam dos juros
moratórios, inclusive no que diz respeito à respectiva taxa, têm natureza processual,
aplicando-se, pois, aos processos em curso, independentemente da data do seu
ajuizamento (STF, Segunda Turma, AI 776497 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de
28/02/2011).
134
ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DESAPROPRIAÇÃO. REFORMA AGRÁRIA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. NATUREZA ALIMENTAR. PAGAMENTO. ACÓRDÃO RECORRIDO. FUNDAMENTO
EXCLUSIVAMENTE CONSTITUCIONAL. ARTS. 100 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E 78 DO ADCT. AGRAVO NÃO
PROVIDO. 1. Os honorários advocatícios, sejam contratuais ou sucumbenciais, possuem natureza alimentar. [...]
(STJ, Primeira Turma, AgRg no REsp 1236401, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de 27/06/2011)
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558
25. EMAGIS – 2011/45 – QUESTÃO 13. O STJ já teve oportunidade de decidir que, na
atualização monetária de débitos judiciais, deve-se considerar, em regra, tanto a
inflação quanto à deflação136.
26. EMAGIS – 2011/24 – QUESTÃO 09. Se o advogado fizer juntar aos autos o seu
contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de levantamento ou
precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da
quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou.
135
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. NATUREZA
ALIMENTAR. TITULARIDADE DA VERBA.
[...] 3. Uma vez reconhecida que os honorários constituem a remuneração do advogado - sejam eles contratuais ou
sucumbenciais -, conclui-se que tal verba enquadra-se no conceito de verba de natureza alimentícia, sendo portanto
impenhorável. 4. "Esse entendimento não é obstado pelo fato de o titular do crédito de honorários ser uma
sociedade de advogados, porquanto, mesmo nessa hipótese, mantém-se a natureza alimentar da verba (REsp
566190/SC, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJ 01/07/2005). (STJ, AgRg no REsp 1228428/RS, Rel.
MIN. BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 29/06/2011)
136
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO ECONÔMICO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. CORREÇÃO MONETÁRIA. IGP-M. ÍNDICES
DE DEFLAÇÃO. APLICABILIDADE, QUANDO NÃO IMPORTEM REDUÇÃO DO VALOR NOMINAL ORIGINAL. 1. A correção
monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do poder aquisitivo da moeda, não devendo
representar, consequentemente, por si só, nem um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor nominal
da obrigação nada mais representa do que manter, no tempo, o seu poder de compra original, alterado pelas
oscilações inflacionárias positivas e negativas ocorridas no período. ATUALIZAR A OBRIGAÇÃO LEVANDO EM
CONTA APENAS OSCILAÇÕES POSITIVAS IMPORTARIA DISTORCER A REALIDADE ECONÔMICA
PRODUZINDO UM RESULTADO QUE NÃO REPRESENTA A SIMPLES MANUTENÇÃO DO PRIMITIVO
PODER AQUISITIVO, MAS UM INDEVIDO ACRÉSCIMO NO VALOR REAL.
NESSA LINHA, ESTABELECE O MANUAL DE ORIENTAÇÃO DE PROCEDIMENTO DE CÁLCULOS
APROVADO PELO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL QUE, NÃO HAVENDO DECISÃO JUDICIAL EM
CONTRÁRIO, "OS ÍNDICES NEGATIVOS DE CORREÇÃO MONETÁRIA (DEFLAÇÃO) SERÃO
CONSIDERADOS NO CÁLCULO DE ATUALIZAÇÃO", SALVO "SE A ATUALIZAÇÃO IMPLICAR REDUÇÃO DO
PRINCIPAL", hipótese em que “deve prevalecer o valor nominal”.
2. Recurso especial provido” (REsp 1240963/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 16/08/2011, DJe 24/08/2011).
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559
Ela garante ao jurisdicionado que a decisão final dada à sua demanda será definitiva, não
podendo ser rediscutida, alterada ou desrespeitada.
Art. 468. A sentença que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei
nos limites da lide e das questões decididas.
Coisa julgada formal é a imutabilidade da decisão judicial dentro do processo em que foi
proferida, não podendo mais ser impugnada por recurso, seja pelo esgotamento das vias
recursais, seja pelo decurso do prazo do recurso cabível. Ela também é chamada de preclusão
máxima.
A coisa julgada formal é conceituada no art. 6º, § 3º, da LINDB: “Chama-se coisa julgada ou
caso julgado a decisão judicial de que não caiba recurso”.
Coisa julgada material (auctoritas rei iudicatae), assim, é a qualidade que torna imutável e
indiscutível o comando que emerge da parte dispositiva da sentença de mérito, quando não
“Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável
e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou
extraordinário”.
A coisa julgada material é uma qualidade dos efeitos da sentença e não um efeito da própria
sentença. É essa qualidade que torna imutável e indiscutível a parte dispositiva da sentença
de mérito.
b) O provimento há de versar sobre o mérito da causa: somente faz coisa julgada decisão
que resolve o objeto litigioso, que certifique a existência ou inexistência de direitos.
Ou seja, a decisão deve ser definitiva, não fazendo coisa julgada da decisão
terminativa137;
c) O mérito deve ter sido analisado em cognição exauriente: a decisão de mérito tem que
ter caráter definitivo, não se admite coisa julgada sobre tutelas antecipadas ou
medidas cautelares;
137
A decisão terminativa está sujeita apenas à coisa julgada formal, ou seja, de não caber mais recurso
no processo em que ela foi prolatada.
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561
Qualquer espécie de decisão judicial que preencha tais pressupostos pode fazer coisa julgada,
seja interlocutória, sentença, acórdão ou decisão monocrática.
d) Efeito da decisão: pela primeira corrente defendida por Chiovenda, que foi adotada no
Brasil por Celso Neves, as sentenças de mérito produziriam, além dos efeitos
declaratórios, constitutivos ou condenatórios, um quarto efeito, que seria a
imutabilidade e indiscutibilidade do que fora decidido, o qual só seria eficaz quando o
trânsito em julgado daquela decisão judicial. Segundo o doutrinador, a coisa julgada
também era efeito do trânsito em julgado da sentença definitiva. Adeptos dessa
corrente doutrinária, que possui forte influência dos processualistas alemães, defendem
ser a coisa julgada apenas um efeito da decisão, limitando a coisa julgada ao conteúdo
declaratório da decisão. Para estes doutrinadores a coisa julgada é mera declaração da
existência ou inexistência de um direito que seria indiscutível e imutável posto que
nada apaga a declaração do juiz.
Pela corrente mais acertada, a coisa julgada seria uma situação jurídica do conteúdo da
decisão, não produzindo consequências sobre os efeitos da mesma. É a imutabilidade do
comando dispositivo, que é composto pela norma jurídica concreta.
Questões deduzidas e examinadas incidentalmente não ficarão imunes pela coisa julgada.
Fará coisa julgada material a questão prejudicial se a parte o requerer, o juiz for competente
em razão da matéria e constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide, mediante
ação declaratória incidental.
Já caiu em concurso o seguinte: houve um pedido não analisado na sentença. O advogado não
opôs embargos de declaração; na apelação não houve qualquer referência ao fato; o tribunal
não analisou de ofício; houve o trânsito em julgado, surgindo a coisa julgada formal e material.
O advogado percebe que determinado pedido não foi examinado, vai até seu escritório,
imprime a mesma petição, exclui as páginas que falavam sobre o outro pedido analisado e vai
até o tribunal, distribuindo novamente a mesma petição. Nessa hipótese essa demanda pode
ser processada e julgada ou existe coisa julgada neste caso?
Não é caso de coisa julgada; esta nova petição pode ser processada e julgada porque não
houve julgamento. SE NÃO HOUVE JULGAMENTO DE UM PEDIDO NÃO HÁ COISA JULGADA.
Não foi questão decidida (art. 468).
a) Inter partes: é a regra, vinculando somente as partes que figuraram no processo. Isso
porque a afetação de quem não foi parte ofende a ampla defesa e o contraditório;
b) Ultra partes: é aquela coisa julgada que atinge não somente as partes do processo,
como também determinados terceiros, vinculando-os. Ocorre, v.g., no caso de
substituição processual, em que o substituído, apesar de não ter figurado como parte
da demanda, será submetido a ela. O mesmo ocorre, v.g., com a substituição
processual ulterior decorrente da alienação da coisa litigiosa (exceto se o adquirente
substituir o alienante).
c) Erga omnes: é aquela cujos efeitos atingem todos os jurisdicionados, quer tenham ou
não participado do processo, v.g., ações coletivas sobre direitos difusos, ações de
controle abstrato de constitucionalidade e ações de estado de pessoas.
b) Coisa julgada secundum eventum litis: aquela que somente é produzida quando a
demanda for julgada procedente. Se improcedente, ela poderá ser reproposta. V.g.,
sentença de improcedência em desfavor do réu no processo penal sempre pode ser
revista por revisão de sentença.
Nas ações de estado, todos os interessados devem ser citados para que a sentença seja válida
e lhes possa ser eficaz. Se todos os interessados tiverem sido citados como litisconsortes
necessários, a decisão produzirá coisa julgada erga omnes, mesmo contra aqueles que não
participaram do processo (art. 472).
Enquanto a exceptio rei judicatio é forma de defesa a ser empregada pelo demandado, o efeito
positivo da coisa julgada pode ser fundamento de uma segunda demanda.
O efeito preclusivo se manifesta, conforme art. 474, pelo fato de que, transitada em julgado a
decisão definitiva da causa, todas as alegações e defesas que poderiam ter sido formuladas
para o acolhimento ou rejeição do pedido reputam-se arguidas e repelidas. Preclui a
possibilidade de rediscutir todos os argumentos que poderiam ter sido discutidos, mas não
foram.
O significado do art. 474 é impedir não só que o vencido volte à discussão de pontos já
discutidos e resolvidos na motivação da sentença, como também que ele venha a suscitar
pontos novos, não alegados nem apreciados, mas que sejam capazes de alterar a conclusão
contida no decisório.
A corrente majoritária entende que a eficácia preclusiva só atinge argumentos e provas QUE
SIRVAM PARA EMBASAR A CAUSA PETENDI DEDUZIDA pelo autor e as alegações que a ela se
refiram.
Assim, é possível propor nova ação deduzindo o mesmo pedido, desde que fundados numa
nova causa de pedir, já que se trata de fundamento diferente. O efeito preclusivo não atinge
todas as causas de pedir que pudessem ter servido para fundamentar a pretensão formulada
em juízo, mas tão somente a causa de pedir que, de fato, embasou o pedido apresentado pelo
autor, e as alegações que a ela se refiram. Se assim não fosse, haveria ofensa ao devido
processo legal e ao contraditório, seria formada a coisa julgada a ser oposta perante ação não
idêntica (sem iguais elementos).
Não se confundem as alegações e defesas que poderiam ser deduzias com a causa de pedir. A
causa de pedir seria, v.g., a existência de uma relação obrigacional contratual; a alegação, o
inadimplemento. Refutado o pedido, forma-se coisa julgada material, não podendo se ajuizar
nova ação. Porém, se o pedido foi, por exemplo, o conserto de um carro, esse mesmo pedido
poderá ser feito com fundamento na responsabilidade civil extracontratual.
Não poderá, evidentemente, se na primeira ação a parte trouxe como causa de pedir a relação
obrigacional contratual E a responsabilidade civil extracontratual, pois aí haverá identidade
parcial de ação.
b) Proposta ação que vise rescindir contrato por falta de pagamento, será inviável
pretender a mesma rescisão pelo posterior encerramento do prazo contratual: errado,
pois se trata de outro fundamento do pedido, não havendo identidade de ações.
c) Não existe óbice ao fato de o autor, após insucesso na pretensão de reaver um bem,
pleitear o seu equivalente: errado, já que se trata de repetição de ação, somente
mudando a forma de adimplemento.
d) Se não houver exata identidade entre o pedido e a causa de pedir das ações
examinadas, não será possível identificar a ocorrência da coisa julgada: errado, pois A
IDENTIFICAÇÃO DA COISA JULGADA PODE SER PARCIAL, causando a extinção parcial
do processo posterior. “A identificação das causas em razão de seus elementos,
conforme definição legal, é insuficiente à caracterização da coisa julgada, pois ela pode
ocorrer, sem que, no rigor dos tempos, o pedido ou a causa de pedir sejam os
mesmos” (Ernane Fidélis dos Santos).
Se a sentença penal for absolutória por negativa de autoria ou por inexistência do fato, haverá
exclusão da responsabilidade civil do agente, fazendo coisa julgada no cível, ressalvada a
obrigação de indenizar pelo dano, se existir.
Dessa lição, extraem-se três noções fundamentais: (i) a eficácia da sentença, por ser distinta da
eficácia da coisa julgada, se produz independentemente desta; (ii) a eficácia da sentença,
desde que não confundida com a figura do trânsito em julgado, não sofre qualquer limitação
subjetiva: vale perante todos; (iii) a imutabilidade dessa eficácia, ou seja, a impossibilidade de
se questionar a conclusão a que se chegou na sentença, limita-se às partes do processo
perante as quais a decisão foi proferida, e só ocorre com o trânsito em julgado da decisão.
b) Ação transrescisória ou querella nulitatis: pode ser proposta quando o réu tiver sido
condenado em processo para o qual não foi citado ou cuja citação tenha sido
defeituosa. É ação imprescritível, podendo ser proposta a qualquer tempo e
aceitando-se a ação civil pública em seu lugar;
1. Nos termos do art. 333, II, do CPC, cabe ao réu demonstrar a existência de
fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Portanto,
cumpriria à ré demonstrar a insuficiência do depósito prévio efetuado pelo
autor, como alegado nas razões finais, ônus do qual não se desincumbiu.
2. "O pedido a ser considerado pelo juiz não se restringe aos requerimentos
relacionados em capítulo intitulado "pedidos". Entende-se como pedido o
conjunto de súplicas formuladas ao longo da petição inicial" (REsp
234396/BA, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU de 14.11.05).
4. Erro material é aquele perceptível primus ictus oculi, ou seja, aquele que
se pode divisar facilmente, como na hipótese em tela, em que o
dispositivo sentencial manifestamente não corresponde à vontade do
magistrado.
[...]
Dinamarco entende que a primeira deve prevalecer, entretanto, enquanto não for proposta
e acolhida a demanda rescisória quanto à segunda, esta terá validade, uma vez que não
poderá haver simples desconsideração da decisão. Para que ela perca sua eficácia, é
necessária a sua desconstituição, seja por meio da rescisória, seja através de ação ordinária
desconstitutiva, quando já tiver ultrapassado o prazo de dois anos.
E se a segunda coisa julgada não for rescindida, o que fazer? Eis o que diz o STF (HC
101.131/DF):
Disse ele, realmente, que uma sentença proferida depois da outra tem a eficácia de
cancelar os efeitos desta, como todo ato estatal revoga os anteriores. Assim como a lei
revoga a lei e o decreto revoga o decreto, assim também a sentença passada em julgado
revoga uma outra, anterior, também passada em julgado. Estamos pois fora do campo
específico do direito processual, em uma visão bastante ampla dos atos estatais de
qualquer dos três Poderes e sempre segundo uma perspectiva racional e harmoniosa do
exercício do poder. Na nova lei há uma nova vontade do legislador, que sobrepuja a
vontade dele próprio, contida na lei velha. No novo decreto, nova vontade da
Administração. Na nova sentença, nova vontade do Estado-juiz. (Fundamentos do
processo civil moderno. 6. ed., São Paulo: Malheiros, 2010, p. 1.135).
Dissemos que falta o segundo elemento “sentença trânsita em julgado, que se quer
rescindir”, se precluiu o prazo para a rescisão de tal sentença. Uma vez que se admitiu, de
lege lata, com o prazo preclusivo, a propositura somente no biênio a respeito da segunda
sentença, o direito e a pretensão à rescisão desaparecem, e a segunda sentença, tornada
irrescindível, prepondera. Em conseqüência, desaparece a eficácia de coisa julgada da
primeira sentença. Esse é um ponto que não tem sido examinado, a fundo, pelos juristas e
juízes: há duas sentenças, ambas passadas em julgado, e uma proferida após a outra, com
infração da coisa julgada. Se há o direito e a pretensão à rescisão da segunda sentença, só
exercível a ação no biênio e não foi exercida, direito, pretensão à rescisão e ação rescisória
extinguiram-se. A segunda sentença lá está, suplantando a anterior. [...] (Tratado da ação
rescisória das sentenças e de outras decisões. 1. ed., Campinas: Bookseller, 1988, pp. 259-
260)
Ademais, o fato de a segunda coisa julgada prevalecer sobre a primeira é razão única
da previsão legal de ação rescisória por ofensa à coisa julgada (art. 485, inciso IV, do CPC),
o que pressupõe decisão trânsita anterior. Marinoni e Arenhart, corroborando este
entendimento, lecionam:
Esse foi o voto vencido do Min. Marco Aurélio. O julgado decidiu pela validade da primeira
coisa julgada:
(HC 101131, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO
AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 25/10/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-029 DIVULG 09-02-2012 PUBLIC 10-02-2012)
O problema é definir o que seria injusto a ponto de ameaçar toda a segurança jurídica
possibilitada pela estabilização jurisdicional da coisa julgada.
Entretanto, a regra é que a relativização da coisa julgada seja repelida, dando-se primazia à
segurança jurídica em detrimento de determinadas situações de injustiça.
Esse autor faz distinção entre inexistência e inconstitucionalidade das decisões judiciais,
salientando que as meras aparências de atos judiciais não são reduzíveis ao conceito de
inconstitucionalidade, antes se afirmam como casos de inexistência jurídica. E arremata:
“apenas as decisões judiciais com o mínimo de identificabilidade são passíveis de um juízo de
inconstitucionalidade”.
Assevera, ainda, que: “A ideia da defesa da segurança e certeza da ordem jurídica constituem
princípios fundamentadores de uma solução tendente a limitar ou mesmo excluir a relevância
da inconstitucionalidade como fator autônomo de destruição do caso julgado. No entanto, se
o princípio da constitucionalidade determina a insusceptibilidade de qualquer ato normativo
inconstitucional se consolidar na ordem jurídica, tal fato poderá fundamentar a possibilidade,
senão mesmo a exigência, de destruição do caso julgado desconforme com a Constituição”.
A regra é, pois, que o caráter relativo da coisa julgada conquanto não se possa desfigurar a
segurança e a certeza de ordem jurídica que encarna, permite sua destruição em ação
autônoma intentada com esse objetivo.
Por outro lado, enfatizando que a lista de casos julgados é infindável, após elencar diversas
situações passíveis de revisão e aventar a hipótese de que “sempre haverá inúmeros exemplos
de divergências objetivas sobre o sentido de determinadas regras jurídicas”, aduz que cabe “ao
sistema garantir a revisão desses julgados, instituindo remédio jurídico-processual próprio, sob
pena de prevalecer a dualidade do direito”.
Finalmente, o referido autor assevera, estribado na posição adotada pelo STF, que a ação
autônoma por esse aventada é a mesma proposta por Piero Calamandrei que o instrumento
“adequado contra a sentença nula será a ação declaratória negativa de certeza, mediante a
qual, sem aportar modificação alguma ao mundo jurídico, far-se-á declarar o caráter negativo
que o conteúdo da sentença trouxe consigo desde o momento de sua concepção”.
legalidade, moralidade e justiça estão acima do valor segurança jurídica. Aqueles são pilares
entre outros que sustentam o regime democrático, de natureza constitucional, enquanto
esse é valor infraconstitucional oriunda de regramento processual”.
As situações atentatórias tidas como atentatórias à CR: “nunca terão força de coisa julgada e
poderão, a qualquer tempo, ser desconstituídas, porque praticam agressão ao regime
democrático no seu âmago mais consistente que é a garantia da moralidade, da legalidade, do
respeito à Constituição e da entrega da justiça”.
No mais, BARBOSA MOREIRA entende que a disciplina atual já leva em suficiente conta os
motivos capazes de justificar a “relativização” da coisa julgada material. Não há lugar para
invocar, com o fito de aumentar a dosagem, quaisquer princípios supostamente desprezados
pelo legislador. O regime vigente atende às exigências de razoabilidade normativa.
RE 594350/RS*
DECISÃO: Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão, que, proferido por
Tribunal de jurisdição inferior, manteve decisão prolatada em execução de sentença.
Não há como acolher o presente recurso extraordinário, eis que a parte recorrente, na
realidade, busca rescindir o julgado, pretendendo, em sede processualmente inadequada e de
maneira absolutamente imprópria, o reexame do fundo da controvérsia, que já constituiu
objeto de decisão – tornada irrecorrível - proferida no processo de conhecimento.
É importante rememorar, no ponto, o alto significado de que se reveste, em nosso sistema
jurídico, o instituto da “res judicata”, que constitui atributo específico da jurisdição e que se
revela pela dupla qualidade que tipifica os efeitos emergentes do ato sentencial: a
imutabilidade, de um lado, e a coercibilidade, de outro.
Esses atributos que caracterizam a coisa julgada em sentido material, notadamente a
imutabilidade dos efeitos inerentes ao comando sentencial, recebem, diretamente, da própria
Constituição, especial proteção destinada a preservar a inalterabilidade dos pronunciamentos
emanados dos Juízes e Tribunais, criando, desse modo, situação de certeza, de estabilidade e
de segurança para as relações jurídicas.
É por essa razão que HUMBERTO THEODORO JÚNIOR (“Curso de Direito Processual Civil”, vol.
I/539-540, item n. 509, 51ª ed., 2010, Forense), discorrendo sobre o fundamento da
autoridade da coisa julgada, esclarece que o legislador, ao instituir a “res judicata”, objetivou
atender, tão-somente, “uma exigência de ordem prática (...), de não mais permitir que se volte
“A coisa julgada cria, para a segurança dos direitos subjetivos, situação de imutabilidade que
nem mesmo a lei pode destruir ou vulnerar - é o que se infere do art. 5º, XXXVI, da Lei Maior. E
sob esse aspecto é que se pode qualificar a ‘res iudicata’ como garantia constitucional de
tutela a direito individual.
Por outro lado, essa garantia, outorgada na Constituição, dá mais ênfase e realce àquela da
tutela jurisdicional, constitucionalmente consagrada, no art. 5º, XXXV, para a defesa de direito
atingido por ato lesivo, visto que a torna intangível até mesmo em face de ‘lex posterius’,
depois que o Judiciário exaure o exercício da referida tutela, decidindo e compondo a lide.”
(grifei)
Não custa enfatizar, de outro lado, na perspectiva da eficácia preclusiva da “res judicata”,
que, em sede de execução, não mais se justifica a renovação do litígio que foi objeto de
resolução no processo de conhecimento, especialmente quando a decisão que apreciou a
controvérsia apresenta-se revestida da autoridade da coisa julgada, hipótese em que, nos
termos do art. 474 do CPC, “reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e defesas
que a parte poderia opor (...) à rejeição do pedido” (grifei).
Cabe ter presente, neste ponto, a advertência da doutrina (NELSON NERY JUNIOR/ROSA
MARIA ANDRADE NERY, “Código de Processo Civil Comentado”, p. 709, 10ª ed., 2007, RT),
cujo magistério - em lição plenamente aplicável ao caso ora em exame - assim analisa o
princípio do “tantum judicatum quantum disputatum vel disputari debebat”:
Lapidar, sob tal aspecto, a autorizadíssima lição de ENRICO TULLIO LIEBMAN (“Eficácia e
Autoridade da Sentença”, p. 52/53, item n. 16, nota de rodapé, tradução de Alfredo
Buzaid/Benvindo Aires, 1945, Forense), que, ao referir-se ao tema dos limites objetivos da
coisa julgada, acentua que esta abrange “tanto as questões que foram discutidas como as que
o poderiam ser”:
“(...) se uma questão pudesse ser discutida no processo, mas de fato não o foi, também a ela
se estende, não obstante, a coisa julgada, no sentido de que aquela questão não poderia ser
utilizada para negar ou contestar o resultado a que se chegou naquele processo. Por exemplo,
o réu não opôs uma série de deduções defensivas que teria podido opor, e foi condenado. Não
poderá ele valer-se daquelas deduções para contestar a coisa julgada. A finalidade prática do
instituto exige que a coisa julgada permaneça firme, embora a discussão das questões
relevantes tenha sido eventualmente incompleta; absorve ela, desse modo, necessariamente,
tanto as questões que foram discutidas como as que o poderiam ser.” (grifei)
Nem se diga, ainda, para legitimar a pretensão jurídica da parte ora recorrente, que esta
poderia invocar, em seu favor, a tese da “relativização” da autoridade da coisa julgada, em
especial da (impropriamente) denominada “coisa julgada inconstitucional”, como sustentam
alguns autores (JOSÉ AUGUSTO DELGADO, “Pontos Polêmicos das Ações de Indenização de
Áreas Naturais Protegidas – Efeitos da coisa julgada e os princípios constitucionais”, “in”
Revista de Processo nº 103/9-36; CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO, “Relativizar a Coisa Julgada
Material”, “in” Revista de Processo nº 109/9-38; HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, “A Reforma
do Processo de Execução e o Problema da Coisa Julgada Inconstitucional (Código de Processo
Civil, artigo 741, Parágrafo Único)”, “in” Revista dos Tribunais, vol. 841/56/76, ano 94; TERESA
ARRUDA ALVIM WAMBIER e JOSÉ MIGUEL GARCIA MEDINA, “O Dogma da Coisa Julgada –
Hipóteses de Relativização”, 2003, RT; TEORI ALBINO ZAVASCKI, “Embargos à Execução com
Eficácia Rescisória: Sentido e Alcance do Art. 741, Parágrafo Único, Do CPC”, “in” Revista de
Processo, vol. 125/79-91, v.g.).
Tenho para mim que essa postulação, se admitida, antagonizar-se-ia com a proteção jurídica
que a ordem constitucional dispensa, em caráter tutelar, à “res judicata”.
Na realidade, a desconsideração da “auctoritas rei judicatae” implicaria grave
enfraquecimento de uma importantíssima garantia constitucional que SURGIU, DE
MODO EXPRESSO, EM NOSSO ORDENAMENTO POSITIVO, COM A
CONSTITUIÇÃO DE 1934.
A pretendida “relativização” da coisa julgada provocaria consequências altamente lesivas à
estabilidade das relações intersubjetivas, à exigência de certeza e de segurança jurídicas e à
preservação do equilíbrio social, valendo destacar, em face da absoluta pertinência de suas
observações, a advertência de ARAKEN DE ASSIS (“Eficácia da Coisa Julgada Inconstitucional”,
“in” Revista Jurídica nº 301/7-29, 12-13):
peias da rescisória, multiplicará os litígios, nos quais o órgão judiciário de 1º grau decidirá,
preliminarmente, se obedece, ou não, ao pronunciamento transitado em julgado do seu
Tribunal e até, conforme o caso, do Supremo Tribunal Federal. Tudo, naturalmente justificado
pelo respeito obsequioso à Constituição e baseado na volúvel livre convicção do magistrado
inferior.
Por tal motivo, mostra-se flagrante o risco de se perder qualquer noção de segurança e de
hierarquia judiciária. Ademais, os litígios jamais acabarão, renovando-se, a todo instante, sob
o pretexto de ofensa a este ou aquele princípio constitucional. Para combater semelhante
desserviço à Nação, urge a intervenção do legislador, com o fito de estabelecer, previamente,
as situações em que a eficácia de coisa julgada não opera na desejável e natural extensão e o
remédio adequado para retratá-la (...). Este é o caminho promissor para banir a insegurança
do vencedor, a afoiteza ou falta de escrúpulos do vencido e o arbítrio e os casuísmos judiciais.”
(grifei)
Esse mesmo entendimento - que rejeita a “relativização” da coisa julgada em sentido material
– foi exposto, em lapidar abordagem do tema, por NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA DE
ANDRADE NERY (“Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante”, p.
715/717, itens ns. 28 e 30, e p. 1.132, item n. 14, 11ª ed., 2010, RT):
“28. Coisa julgada material e Estado Democrático de Direito. A doutrina mundial reconhece o
instituto da coisa julgada material como ‘elemento de existência’ do Estado Democrático de
Direito (...). A ‘supremacia da Constituição’ está na própria coisa julgada, enquanto
manifestação do Estado Democrático de Direito, fundamento da República (CR 1.º ‘caput’),
não sendo princípio que possa opor-se à coisa julgada como se esta estivesse abaixo de
qualquer outro instituto constitucional. Quando se fala na intangibilidade da coisa julgada,
não se deve dar ao instituto tratamento jurídico inferior, de mera figura do processo civil,
regulada por lei ordinária, mas, ao contrário, impõe-se o reconhecimento da coisa julgada
com a magnitude constitucional que lhe é própria, ou seja, de elemento formador do Estado
Democrático de Direito, que não pode ser apequenado por conta de algumas situações, velhas
conhecidas da doutrina e jurisprudência, como é o caso da sentença injusta, repelida como
irrelevante (...) ou da sentença proferida contra a Constituição ou a lei, igualmente considerada
pela doutrina (...), sendo que, nesta última hipótese, pode ser desconstituída pela ação
rescisória (CPC 485 V). (...) O risco político de haver sentença injusta ou inconstitucional no
caso concreto parece ser menos grave do que o risco político de instaurar-se a insegurança
geral com a relativização (‘rectius’: desconsideração) da coisa julgada.
.......................................................
30. Controle da constitucionalidade da sentença. Coisa julgada inconstitucional. Os atos
jurisdicionais do Poder Judiciário ficam sujeitos ao controle de sua constitucionalidade, como
todos os atos de todos os poderes. Para tanto, o ‘due process of law’ desse controle tem de ser
observado. Há três formas para fazer-se o controle interno, jurisdicional, da
constitucionalidade dos atos jurisdicionais do Poder Judiciário: a) por recurso ordinário; b) por
recurso extraordinário; c) por ações autônomas de impugnação. Na primeira hipótese, tendo
sido proferida decisão contra a CR, pode ser impugnada por recurso ordinário (agravo,
apelação, recurso ordinário constitucional etc.) no qual se pedirá a anulação ou a reforma da
decisão inconstitucional. O segundo caso é de decisão de única ou última instância que ofenda
a CR, que poderá ser impugnada por RE para o STF (CR 102 III ‘a’). A terceira e última
oportunidade para controlar-se a constitucionalidade dos atos jurisdicionais do Poder
Judiciário ocorre quando a decisão de mérito já tiver transitado em julgado, situação em que
poderá ser impugnada por ação rescisória (CPC 485 V) ou revisão criminal (CPP 621). Passado
o prazo de dois anos que a lei estipula (CPC 495) para exercer-se o direito de rescisão de
decisão de mérito transitada em julgado (CPC 485), não é mais possível fazer-se o controle
judicial da constitucionalidade de sentença transitada em julgado. No século XXI não mais se
justifica prestigiar e dar-se aplicação a institutos como os da ‘querela nullitatis insanabilis’ e da
‘praescriptio immemorialis’. Não se permite a reabertura, a qualquer tempo, da discussão de
lide acobertada por sentença transitada em julgado, ainda que sob pretexto de que a
sentença seria inconstitucional. O controle da constitucionalidade dos atos jurisdicionais do
Poder Judiciário existe, mas deve ser feito de acordo com o devido processo legal.
.......................................................
14. Inconstitucionalidade material do CPC 741 par. ún. Título judicial é sentença transitada
em julgado, acobertada pela autoridade da coisa julgada. Esse título judicial goza de
proteção constitucional, que emana diretamente do Estado Democrático de Direito (CR 1º
‘caput’), além de possuir dimensão de garantia constitucional fundamental (CR 5º XXXVI).
Decisão ‘posterior’, ainda que do STF, não poderá atingir a coisa julgada que já havia sido
formada e dado origem àquele título executivo judicial. A decisão do STF que declara
inconstitucional lei ou ato normativo tem eficácia retroativa ‘ex tunc’, para atingir situações
que estejam se desenvolvendo com fundamento nessa lei. Essa retroatividade tem como
limite a ‘coisa julgada’ (Canotilho. ‘Dir. Const.’, p. 1013/1014). Não pode alcançar, portanto,
as relações jurídicas firmes, sobre as quais pesa a ‘auctoritas rei iudicatae’, manifestação do
Estado Democrático de Direito (do ponto de vista político-social-coletivo) e garantia
constitucional fundamental (do ponto de vista do direito individual, coletivo ou difuso). A esse
respeito, ressalvando a coisa julgada dos efeitos retroativos da decisão de
inconstitucionalidade, embora nem precisasse fazê-lo, é expressa a CR portuguesa (art. 282, n.
3, 1ª parte). Caso se admita a retroação prevista na norma ora comentada como possível, isso
caracterizaria ofensa direta a dois dispositivos constitucionais: CR 1º ‘caput’ (Estado
Democrático de Direito, do qual a coisa julgada é manifestação) e 5º XXXVI (garantia
individual ou coletiva da intangibilidade da coisa julgada). A norma, instituída pela L 11232/05,
é, portanto, materialmente inconstitucional. Não se trata de privilegiar o instituto da coisa
julgada sobrepondo-o ao princípio da supremacia da Constituição (...). A coisa julgada é a
própria Constituição da República, vale dizer, manifestação, dentro do Poder Judiciário, do
Estado Democrático de Direito (CR 1º ‘caput’), fundamento da República.” (grifei)
.........................................................
Uma última palavra deve ser reservada à disposição constante da Medida Provisória 2.180/01,
mantida em vigor pela Emenda Constitucional nº 32/01, que ampliou a vulnerabilidade da
coisa julgada através dos embargos à execução, com a introdução de parágrafo único ao
artigo 741 do CPC, tornando inexigível a dívida se o título judicial se fundar em lei ou ato
normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal ou em aplicação ou
interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição. Nela se nota a clara intenção de
transpor para o Direito brasileiro a hipótese da parte final do § 79 da Lei Orgânica do Tribunal
Constitucional Federal alemão, que preserva os efeitos pretéritos da coisa julgada, mas
impede a execução futura. Entretanto, o ilegítimo legislador governamental, com o
sectarismo que o caracterizou nos últimos anos, importou a regra pela metade, ou seja,
permitiu o bloqueio da execução, mas não garantiu a manutenção intacta dos efeitos
pretéritos da coisa julgada. Também omitiu o legislador governamental a ressalva de que não
cabe qualquer repetição do que tiver sido recebido com base na lei posteriormente declarada
inconstitucional.
Tanto quanto aos efeitos pretéritos, quanto aos efeitos futuros da decisão proferida no
controle concentrado, parece-me inconstitucional o disposto no referido parágrafo único do
artigo 741, que encontra obstáculo na segurança jurídica e na garantia da coisa julgada, salvo
quanto a relações jurídicas continuativas, pois, quanto a estas, modificando-se no futuro os
fatos ou o direito, e no caso da declaração ‘erga omnes’ pelo STF pode ter sofrido alteração o
direito reconhecido na sentença, cessará a imutabilidade dos efeitos do julgado, nos termos do
artigo 741 do CPC.
6. Em síntese, a segurança jurídica, como direito fundamental, assegurada pela coisa julgada,
não permite, como regra, a propositura de ação de revisão da coisa julgada como
consequência da declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade pelo Supremo
Tribunal Federal.” (grifei)
Cabe ter presente, neste ponto, o que a própria jurisprudência constitucional do Supremo
Tribunal Federal vinha proclamando, já há quatro (4) décadas, a respeito da invulnerabilidade
da coisa julgada em sentido material, enfatizando, em tom de grave advertência, que
sentenças transitadas em julgado, ainda que inconstitucionais, somente poderão ser
invalidadas mediante utilização de meio instrumental adequado, que é, no domínio processual
civil, a ação rescisória.
Com efeito, esta Suprema Corte, já em 1968, quando do julgamento do RMS 17.976/SP, Rel.
Min. AMARAL SANTOS (RTJ 55/744), proferiu decisão na qual reconheceu a impossibilidade
jurídico-processual de válida desconstituição da autoridade da coisa julgada, mesmo na
hipótese de a sentença transitada em julgado haver resolvido o litígio com fundamento em lei
declarada inconstitucional:
“A suspensão da vigência da lei por inconstitucionalidade torna sem efeito todos os atos
praticados sob o império da lei inconstitucional. Contudo, a nulidade da decisão judicial
transitada em julgado só pode ser declarada por via de ação rescisória, sendo impróprio o
mandado de segurança (...).” (grifei)
Vê-se, a partir das considerações que venho de expor, que não se revela processualmente
ortodoxo nem juridicamente adequado, muito menos constitucionalmente lícito, pretender-se
o reconhecimento da inexigibilidade de título judicial, sob pretexto de que a sentença
transitada em julgado fundamentou-se em lei declarada inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal.
É que, em ocorrendo tal situação, a sentença de mérito tornada irrecorrível em face do
trânsito em julgado só pode ser desconstituída mediante ajuizamento de uma específica ação
autônoma de impugnação (ação rescisória), desde que utilizada, pelo interessado, no prazo
decadencial definido em lei, pois, esgotado referido lapso temporal, estar-se-á diante da coisa
soberanamente julgada, que se revela, a partir de então, insuscetível de modificação ulterior,
ainda que haja sobrevindo julgamento do Supremo Tribunal Federal declaratório de
inconstitucionalidade da própria lei em que baseado o título judicial exequendo, como
observa JOSÉ FREDERICO MARQUES (“Manual de Direito Processual Civil”, vol. III/344, item n.
698, 2ª ed./2ª tir., 2000, Millennium Editora):
Malgrado o Supremo Tribunal Federal tenha se manifestado, por duas vezes, quanto à
inconstitucionalidade dos dispositivos legais que autorizam o pagamento das benfeitorias
úteis e necessárias fora da regra do precatório (ADIn 1.187-MC, 09.02.1995, Ilmar; RE 247.866,
Ilmar, RTJ 176/976), a decisão recorrida, exarada em processo de execução, tem por
fundamento a fidelidade devida à sentença proferida na ação de desapropriação, que está
protegida pela coisa julgada a respeito.”
(RE 431.014-AgR/RN, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - grifei)
RE 363889/DF*
[...]
13. Houve, portanto, coisa julgada material no processo anterior, de forma alguma
afastada pela fundamentação lastreada apenas na ausência de provas. E é por essa razão que a
decisão a ser tomada nestes autos não pode passar ao largo da controvérsia em torno da
cognominada relativização da coisa julgada material.
14. Firmada essa premissa, ainda outra ressalva inicial tem de ser feita. É que encontram-
se, em tese, inseridos no grande rol de questões relacionadas à relativização da coisa julgada
material temas com perfis sutilmente diversos. Deveras, nesse rol se encaixam, por exemplo,
as seguintes hipóteses: (i) o ataque a decisões transitadas em julgado não por conta apenas de
uma interpretação jurídica, mas em razão da superveniência, dado o avanço da tecnologia, de
meios de prova inexistentes à época da prolação da decisão, que, dependendo do resultado
que se possa deles extrair para a instrução da causa, conduziriam a conclusão diversa da
alcançada na decisão anterior, e que, apenas nesse caso, restaria configurada a violação de
princípios ou regras constitucionais pela manutenção da coisa julgada; (ii) o puro e simples
questionamento de decisões transitadas em julgado que já se chocassem, por uma pura
interpretação de direito a ser realizada pelo julgador do caso concreto, com o teor de algum
direito ou garantia constitucional; e (iii) a impugnação de decisões transitadas em julgado na
fase de execução de condenações de pagar quantia certa, quando a lei em que havia se
fundado a decisão exequenda tiver a respectiva constitucionalidade rejeitada em decisão do
Supremo Tribunal Federal, como prevêem no âmbito do processo civil e do processo
trabalhista, respectivamente, os arts. 475-L, § 1º, e 741, parágrafo único, do Código de
Processo Civil e o art. 884, § 5º, da CLT.
[...]
18. Porém, a Segunda Seção do STJ, no final do ano de 2008, uniformizou o entendimento
pela impossibilidade de se afastar a coisa julgada material mesmo diante da perspectiva de
realização de exame de DNA, conforme o seguinte precedente:
19. Em seu núcleo, a tese ali firmada teve por fundamento o primado do princípio da
segurança jurídica, que seria ferido em seu âmago caso fosse desfeita a proteção
constitucionalmente assegurada à coisa julgada material. Não seria lícito, sob esse prisma,
submeter a coisa julgada a renovados ataques a cada descoberta científica, com sensível
impacto na estabilidade por que devem se pautar as relações sociais.
21. No plano constitucional, a garantia da coisa julgada material tem assento, no direito
brasileiro, desde a Constituição de 1934 como uma regra expressa (CR/34, Art 113 - A
Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos
direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) 3) A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada.). Na Carta de 88, sua previsão encontra-se no inciso XXXVI do rol dos direitos e
garantias fundamentais constante do art. 5º, segundo o qual “a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. A redação do dispositivo, por sua
literalidade, interditaria apenas a atuação do legislador que fosse contrária à imutabilidade
das decisões judiciais passadas em julgado, e não, a rigor, de quaisquer outros agentes
investidos de poder público. NÃO É ESSA, EVIDENTEMENTE, A TELEOLOGIA QUE DEVE
SER EXTRAÍDA DO TEXTO DA CONSTITUIÇÃO: NA VERDADE, SE SEQUER AO
LEGISLADOR, DOTADO DO BATISMO DEMOCRÁTICO, É LÍCITA A INTERVENÇÃO
CONTRÁRIA À PROCLAMAÇÃO JUDICIAL, EM DEFINITIVO, DA VONTADE CONCRETA
DA LEI, AOS DEMAIS PODERES CONSTITUÍDOS, QUE SE SUBORDINAM AO PRINCÍPIO
DA LEGALIDADE, JAMAIS, COMO REGRA, PODERIA SE PASSAR DE MODO DIFERENTE
(TALAMINI, Eduardo. Coisa julgada e sua revisão, São Paulo: Ed. RT, 2005, p. 50-2).
22. Na essência, a proteção à coisa julgada material é uma decorrência do princípio da
segurança jurídica (CR, art. 5º, caput), na medida em que se destina à pacificação dos conflitos
sociais. É através da proteção do que já decidido em definitivo pelo Judiciário que se promove
a confiança recíproca entre os atores da sociedade, que podem pautar suas condutas à luz dos
efeitos já oficialmente proclamados dos atos por eles praticados, e com isso planejando o
futuro a ser trilhado. Tanto o vencedor quanto o vencido, sob certo ângulo, beneficiam-se da
indiscutibilidade inerente à coisa julgada, pois mesmo o segundo passa a saber, com precisão,
a exata medida em que sua esfera jurídica restou subordinada ao interesse do adversário
(BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Considerações sobre a chamada “relativização” da coisa
julgada material. In: Temas de direito processual, Nona Série. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 245).
23. O princípio da segurança jurídica é tão relevante que, além de contribuir para a
duração de um sistema político, na sua ausência, qualquer sociedade entra em colapso. Ela é
um dos mais elementares preceitos que todo ordenamento jurídico deve observar. Nesse
diapasão, cumpre a todo e qualquer Estado reduzir as incertezas do futuro, pois, segundo
pontifica Richard S. Kay, “um dos mais graves danos que o Estado pode infligir aos seus
cidadãos é submetê-los a vidas de perpétua incerteza” (No original: “One of the most serious
injuries the state can inflict on its subjects is to commit them to lives of perpetual uncertainty”.
KAY, Richard S.. American Constitutionalism. In: Constitutionalism: Philosophical Foundations.
Ed. Larry Alexander. Cambridge: Cambridge University Press, 1998, p. 22. Sua citação foi feita
em KIRSTE, Stephan. Constituição como Início do Direito Positivo. A estrutura temporal das
constituições. In: Anuário dos Cursos de Pós-Graduação em Direito. Número 13. Recife:
Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Ciências Jurídicas, Faculdade de Direito do
Recife, 2003, p. 116).
24. Em última análise, portanto, a garantia da coisa julgada material pode ser reconduzida,
ainda que indiretamente, também ao princípio-matriz da Constituição da República,
verdadeiro fundamento da República Federativa do Brasil, consistente na dignidade da pessoa
humana (CR, art. 1º, III).
[...]
28. Como se sabe, a jurisdição cumpre o seu escopo de pacificação social através da
imperatividade e da imutabilidade da resposta jurisdicional. O fato de para cada litígio
corresponder uma só decisão, sem a possibilidade de reapreciação da controvérsia após o que
se denomina trânsito em julgado da decisão, caracteriza essa função estatal e a difere das
demais (A coisa julgada “es el atributo específico de la jurisdicción”, segundo COUTURE, in
Fundamentos del Derecho Procesal Civil, 1951, p. 304). O fundamento substancial da coisa
julgada, na realidade, é eminentemente político, uma vez que o instituto visa à preservação da
estabilidade e segurança sociais (Nesse sentido Prieto Castro, in Derecho Procesal Civil, 1946,
vol. I, p. 381. Chiovenda assentava a explicação da coisa julgada na “exigência social da
segurança no gozo dos bens da vida”, in Instituições de Direito Processual Civil, 1942, vol. I, pp.
512 e 513), revelando fator de equilíbrio social na medida em que os contendores obtêm a
última e decisiva palavra do Judiciário acerca do conflito intersubjetivo. Politicamente, a coisa
julgada não está comprometida nem com a verdade nem com a justiça da decisão. Uma
decisão judicial, malgrado solidificada, com alto grau de imperfeição, pode perfeitamente
resultar na última e imutável definição do Judiciário, porquanto o que se pretende através dela
é, repita-se, a estabilidade social.
[...]
Cabe ao intérprete conciliar as normas constitucionais cujas fronteiras não se mostram nítidas
à primeira vista, assegurando a mais ampla efetividade à totalidade normativa da Constituição,
sem que qualquer de seus vetores seja relegado ao vazio, desprovido de eficácia normativa.
32. Todo esse caminho lógico a ser percorrido para a harmonização de comandos
normativos indicando soluções opostas demanda do aplicador da Constituição a reconstrução
do sistema de princípios e de regras exposto no seu texto, guiado por um inafastável dever de
coerência (NETO, Cláudio Pereira de Souza. Ponderação de princípios e racionalidade das
decisões judiciais: coerência, razão pública, decomposição analítica e standards de
ponderação, In: Constitucionalismo democrático e governo das razões, Rio de Janeiro: Ed.
Lumen Juris, 2011, p. 144-7). E é somente quando essa tentativa de definição dos limites
próprios a cada norma fundamental se mostrar infrutífera, já que sobrepostos os respectivos
âmbitos de proteção, que cabe ao intérprete fazer o uso da técnica da ponderação de valores,
instrumentalizada a partir do manuseio do postulado da proporcionalidade (ÁVILA, Humberto.
Teoria dos princípios – da definição à aplicação dos princípios jurídicos, São Paulo: Ed.
Malheiros, 2009, p. 163 e segs.), a fim de operar concessões recíprocas, tanto quanto se faça
necessário, entre os enunciados normativos em jogo, resguardado, sempre, o núcleo essencial
de cada direto fundamental (PEREIRA, Jane Reis Gonçalves).
[...]
34. Na forma em que configurado o litígio in casu, não há modo de prestigiar a coisa
julgada material sem que, simultaneamente, sejam colocados de lado os dois outros princípios
constitucionais contrapostos: impedir o prosseguimento da demanda, reconhecendo-se o
óbice da coisa julgada material, implica vedar peremptoriamente a elucidação, à luz da nova
prova técnica disponível – o exame de DNA –, da origem biológica do autor, não trazida à tona,
na demanda anterior já julgada, por consequência da insuficiência do sistema estatal de
assistência jurídica aos necessitados. E, de outro lado, o raciocínio simétrico também se
mostra verdadeiro: tolerar a realização do exame técnico nestes autos, como fruto da
43. É sob esse ângulo que se pode apontar, hoje, a construção de um direito fundamental
à identidade genética, por força do qual se torna factível esclarecer, como antes não era
possível, a origem e a historicidade pessoal de cada membro componente da sociedade,
principalmente através do exame de DNA. A identidade, nesse novo contexto, passa a ser
concebida como o complexo de elementos que individualizam cada ser humano, distinguindo-o
dos demais na coletividade, conferindo-lhe autonomia para que possa se desenvolver e se
firmar como pessoa em sua dignidade, sendo, portanto e nessa medida, expressão objetiva do
princípio da dignidade da pessoa humana.
[...]
57. Esse conflito entre princípios fundamentais não pode servir, porém, como visto antes,
para a ablação da garantia fundamental da coisa julgada sem quaisquer balizamentos, sob
pena de se frustrar de forma absoluta o princípio da segurança jurídica.
58. Em primeiro lugar, a prova pericial vive hoje, no processo civil, um momento de crítica
e de renascimento. O juiz, como se sabe, é titular do que se pode chamar de uma cultura
média, porquanto, no que excede o campo do exclusivamente jurídico, seu conhecimento
serve-se de noções de fato que estão dentro da experiência comum do lugar e do tempo em
que vive. Não é de todo raro, porém, que no desenrolar de um litígio civil se faça necessário o
apelo a conhecimentos técnico-científicos, que apenas um especialista nos domínios
particulares do saber humano pode manusear com segurança e habilidade. E é nessas
hipóteses que deve ocorrer a cooperação entre o perito – o expert técnico – e o julgador.
59. Mas essa cooperação não pode ser levada a cabo sem as devidas cautelas. Com efeito,
há um grande risco de que o julgador simplesmente se demita da prestação da jurisdição,
delegando-a ao expert, sem que tome em consideração a prova técnica produzida em seus
devidos termos, isto é, como um componente da instrução processual, e que, para lastrear
uma decisão de mérito, deve se submeter, como qualquer outro material probatório, ao dever
de motivação inerente ao sistema do livre convencimento motivado de valoração da prova civil
(CPC, art. 131) (Alertam para esse risco ALMEIDA, Diogo Assumpção Rezende de. A prova
pericial no processo civil: o controle da ciência e a escolha do perito, Rio de Janeiro: Ed.
Renovar, 2011, p. 94 e segs.; e GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil – Processo de
conhecimento, Vol. II, 2010, p. 286-7).
60. Foi diante desses riscos, que se concretizam muitas vezes com a utilização, por peritos,
de supostas técnicas que sequer gozam de aceitabilidade nos respectivos campos do
conhecimento humano (junk science), que a Suprema Corte dos Estados Unidos da América
impôs aos juízes, principalmente a partir do célebre caso Daubert vs. Merrell, de 1993, um
controle sobre a racionalidade da prova pericial a ser valorada em juízo. Com efeito, e como
narra Michele Taruffo (TARUFFO, Michele. Ciencia y proceso, In: Páginas sobre justicia civil,
Madrid: Ed. Marcial Pons, 2009, p. 464), a Suprema Corte, pela lavra do Justice Blackmun,
determinou que a admissão ou exclusão da prova científica deve ser submetida aos seguintes
critérios: (i) a controlabilidade ou a falsificabilidade da teoria que se encontra na base na
técnica empregada, fazendo expressa remissão à filosofia da ciência de autores como Carl
Hempel e Karl Popper (Para uma crítica desse primeiro critério, v. ALMEIDA, Diogo Assumpção
Rezende de. A prova pericial no processo civil: o controle da ciência e a escolha do perito, Rio
de Janeiro: Ed. Renovar, 2011, p. 25 e segs.); (ii) a explicitação do percentual de erro relativo à
técnica empregada; e (iii) sua aceitação pela comunidade científica especializada.
[...]
69. Ademais, o que se ressaltou acima a respeito da ponderação entre a regra da coisa
julgada e os demais princípios em jogo não afasta a preservação da eficácia, e em um grau
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ainda que mínimo, do princípio subjacente à coisa julgada material, consistente na segurança
jurídica (CR, art. 5º, caput). Com efeito, já restou claro que a manutenção da imutabilidade
inerente à coisa julgada feriria de morte, in casu, o direito fundamental à filiação e a garantia
da assistência jurídica aos desamparados. Contudo, essa superação da regra da coisa julgada
não pode ser conduzida sem qualquer observância do princípio da segurança jurídica, cuja
eficácia principiológica permite contrações de seu âmbito de proteção, devendo, assim, influir
no próprio balizamento para a permissão da relativização da coisa julgada material em
demandas de filiação.
70. Reitere-se, portanto, que o direito à filiação por certo ostenta uma conexão nuclear
com a dignidade da pessoa humana. A partir, porém, (i) da previsão da coisa julgada como
uma regra, que denota o prestígio que merece no conjunto de garantias fundamentais, (ii) da
necessidade de preservação da eficácia mínima do princípio da segurança jurídica, que subjaz à
própria coisa julgada material, e (iii) dos riscos que envolvem o exame de DNA, cuja
perspectiva de realização nem sempre é idônea a trazer aos autos a verdade quanto à origem
biológica, impõe-se balizar a relativização da coisa julgada com alguns parâmetros.
71. Na ausência de previsão legal específica, que poderia operar a conciliação adequada
entre o princípio da segurança jurídica e os direitos fundamentais à filiação e à assistência
jurídica, impõe-se buscar, no sistema processual em vigor, o regime mais aproximado e
também tendente à tutela da segurança quando em causa o ataque à coisa julgada material,
adaptando-o, porém, à ponderação ora desenvolvida. Preservar-se-á, assim, a eficácia mínima
necessária do princípio da segurança jurídica, prestigiando-se, igualmente, o princípio
democrático, pela adaptação às peculiaridades desta hipótese sui generis com a disciplina
processual já prevista em lei.
72. O paralelo mais evidente a ser buscado, como é claro, é encontrado na ação rescisória
(CPC, art. 485 e segs.). As regras especiais com que o legislador processual disciplina essa
espécie de demanda têm em vista a sensibilidade de alguns valores fundamentais que
sobrepujam a coisa julgada material, e cuja violação, por isso mesmo, não poderia ficar
eternizada por conta do esgotamento das possibilidades recursais em um determinado
processo. É assim, por exemplo, que, em um verdadeiro raciocínio ponderativo, explicitou o
legislador que a coisa julgada poderia ser desfeita quando em pauta violações, por exemplo, à
imparcialidade judicial (inc. I), à garantia do juiz natural (inc. II), à legalidade e à juridicidade
(inc. V) ou ao direito à prova (inc. VII). Em todos esses casos o que fez o legislador processual
foi mitigar o valor constitucional da segurança jurídica em prol de outros princípios
constitucionais contrapostos, e que, assim, obedecido o prazo decadencial de dois anos,
poderiam operar a desconstituição da coisa julgada material em caso de procedência do
pedido.
73. O tema em discussão, como se vê, aproxima-se em alto grau da teleologia que subjaz
ao regime da ação rescisória. Em outras palavras, e com especial atenção ao que prevê o inc.
VII do art. 485 do CPC, o próprio sistema processual já tolera a fragilização da coisa julgada
diante da alteração do cenário probatório, quando “depois da sentença, o autor obtiver
documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de
lhe assegurar pronunciamento favorável”. Tradicionalmente, sempre se entendeu que o
conceito de “documento novo” deveria se restringir a documentos que já existissem ao tempo
da prolação da decisão rescindenda. Mas a doutrina, de forma mais recente, e com base em
precedente do Superior Tribunal de Justiça (REsp nº 300.084, DJ 06/09/2004), tem defendido a
interpretação ampliativa de tal dispositivo, para abarcar também o caso do advento da técnica
que embasa a realização do DNA (Por todos, cf. a lição do Prof. BARBOSA MOREIRA, José
Carlos. Considerações sobre a chamada “relativização” da coisa julgada material. In: Temas de
direito processual – Nona Série, São Paulo: Saraiva, 2007).
74. E é justamente essa exegese calcada substancialmente na previsão do art. 485, VII,
do CPC que deve ser prestigiada, em uma interpretação conforme à luz do direito
fundamental à filiação (CR, art. 227, caput e § 6º) e da garantia fundamental da assistência
jurídica integral aos desamparados (CR, art. 5º, LXXIV), para que se admita o ajuizamento de
demandas em que se pretenda a desconstituição de decisão transitada em julgado que
considerara improcedente demanda de investigação de paternidade por ausência de provas,
dada a impossibilidade de realização, à época, do exame de DNA por hipossuficiência
financeira da parte.
[...]
As empresas estão dizendo que a declaração de inconstitucionalidade faz com que essa
relação que eles têm de direito material tributário com a União seja desconectada do mundo
jurídico. Aí eles pedem a declaração de inexistência da relação jurídica.
O juiz julgou o pedido improcedente, ou seja, a sentença de primeiro grau foi pela
improcedência do pedido. O argumento foi o seguinte: no caso dos presentes autos renova-se
a pretensão anteriormente deduzida. Só aí já dá para ver porque que o tribunal reformou a
sentença e o STJ manteve a decisão do tribunal. O juiz errou porque ele diz na sua sentença
que a ação das empresas renova a pretensão anteriormente deduzida. O que ele está
querendo dizer com isso?
Que essa ação está tentando violar a coisa julgada, porque é uma pretensão de renovação da
ação anteriormente deduzida, objetivando-se nova prestação jurisdicional contrária à decisão
já consolidada, posto que na época própria não obteve a sua desconstituição pelo MS.
Então eles estão tentando desconstituir agora o que eles tentaram com o MS e não
conseguiram.
Então, o que ele fez? Julgou improcedente. Está errado. Por quê? Porque ele está julgando de
novo, ele está confirmando a relação jurídica, o que o MS já decidiu. Ele está julgando de novo,
ou seja, ele está violando a coisa julgada. O STJ fala isso no seu acórdão.
Barbosa Moreira diz isso: violar a coisa julgada significa dar uma decisão contrária à transitada
em julgado, ou dar uma nova decisão igual à que transitou em julgado. Ou seja, violar coisa
julgada também pode ocorrer quando o juiz confirma sentença já transitada em julgado. A
coisa julgada não impede o julgamento futuro contrário, a coisa julgada impede um novo
julgamento futuro, ainda que seja igual ao anterior.
O STJ disse que a coisa julgada impede que o juiz no futuro decida de novo, seja no mesmo
sentido, seja em sentido contrário.
Então o juiz de primeiro grau errou porque ele julgou o mérito da causa, mas ao mesmo tempo
ele está dizendo que aquela causa é repetição da anterior. Então ele não pode julgar o mérito,
e ele julgou improcedente o pedido. Ao julgar improcedente o pedido, ele declarou a
existência de relação jurídica, algo que já tinha sido declarado no MS. Ele não pode mais
repetir.
O acórdão repete o que Barbosa Moreira diz: violar a coisa julgada é rejulgar o que já foi
julgado, seja confirmando, seja contrariando.
Voltando ao caso das empresas, houve um julgamento de improcedência e uma apelação das
autoras (as empresas). As autoras queriam que o tribunal reformasse para julgar procedente
porque a tese deles era coisa julgada inconstitucional, que aquela decisão lá do passado é
contrária à decisão nova do Supremo, portanto, é inconstitucional. O que eles querem é
relativizar a coisa julgada através dessa ação declaratória.
O tribunal reformou a sentença, mas para julgar extinto o processo sem julgamento de mérito,
por inadequação da via eleita – art 257, VI. Quem fez os embargos de declaração foi a Fazenda,
porque na visão da Fazenda ela saiu derrotada, porque ela tinha uma decisão de mérito
favorável a ela e depois, no recurso, ela perdeu aquela decisão de mérito favorável a ela.
O réu tem interesse em recorrer contra a decisão que julga extinto o processo sem julgamento
de mérito? Para ele é favorável, ele não perdeu, só que ele poderia ter algo melhor. O que é
melhor para o réu, o art. 267 ou o 269 (a seu favor, é claro)? O art. 269.
Aí o STJ decidiu em duas linhas: o réu tem interesse em recorrer contra decisão que julga
extinto o processo sem julgamento de mérito.
E aí esse REsp aqui é recurso da Fazenda, a Fazenda quer que o tribunal julgue o pedido
improcedente. É isso que o tribunal vai decidir, se a coisa julgada deve ou não ser relativizada.
Aí o Ministro Fux coloca a segurança jurídica como uma cláusula pétrea. Pronto,
prequestionou matéria constitucional, interpretou a Constituição. Ele não falou que a cláusula
pétrea está na Constituição, não precisa dizer isso, prequestionar é falar da matéria
constitucional, ele não precisa dizer qual é o artigo e ele nem diz qual é o artigo da segurança
jurídica, é o art. 5º, caput.
Então, foi prequestionada matéria constitucional, se a Fazenda não gostar da decisão ela pode
interpor o RE para ver o que o Supremo pensa do caso.
Então, o STJ está dizendo que a segurança jurídica é cláusula pétrea, garantia fundamental do
jurisdicionado. E olha a conclusão dele, vejam que isso é prequestionamento: o sistema
constitucional brasileiro desautoriza a relativização da coisa julgada. Essa é a posição
dominante nos tribunais hoje – prevalência da segurança jurídica sobre a pretensão de
rescisão da coisa julgada.
Quer dizer que nunca mais vai haver pretensão de rescisão da coisa julgada?
Sim, com a ação rescisória. Isso ele deixa bem claro depois, só que a rescisória tem um prazo
de dois anos e esse acórdão é de 1989, já era, o prazo já acabou desde 1991.
Então, ele está dizendo que a segurança jurídica tem que ser prestigiada. Aí ele disse o
seguinte: a decisão judicial transitada em julgado passou por um longo processo de
maturação.
O que é um longo processo de maturação da decisão? Ele está se referindo à duração do nosso
processo com a possibilidade de interposição de diversos recursos. Então ele está dizendo que
a decisão judicial quando faz coisa julgada ou ela passou por diversos recursos, ou ela poderia
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ter passado. Então, existe um processo longo para se chegar à decisão final. Após esse longo
processo, a coisa julgada tem que ser respeitada, porque ela é reflexo do entendimento do
Judiciário após esse longo processo. Então, você tem que preservar a coisa julgada. É isso que
ele está dizendo.
Os tribunais estão dizendo que nos vícios transrescisórios não tem coisa julgada. Aqueles vícios
transrescisórios que existem para a doutrina, como a coisa julgada inconstitucional, a falta ou
nulidade de citação, eles, tribunais, estão dizendo que não tem coisa julgada.
Eles afirmam que a ação declaratória para desconstituir coisa julgada de vinte anos é uma ação
inadequada, por isso que o fundamento foi o art. 267, VI. Então, inadequação da via eleita, não
cabe ação declaratória para desconstituir coisa julgada.
Aí o voto dele termina, dizendo que nesse caso nega provimento ao REsp, ou seja, ele confirma
o acórdão recorrido (art. 267, VI – inadequação da via eleita).
Tudo bem, já tinha julgado a causa; só que aí pediu vista para dar um “votinho” o Ministro
Teori Zavascki. Se vocês lerem essa decisão, vocês verão que o voto dele é uma aula sobre
relativização da coisa julgada, baseando-se naquele livro dele que está esgotado, que é o
“eficácia das sentenças na jurisdição constitucional”.
Nesse voto, se você começar a ler, tende a acreditar que ele vai votar a favor da empresa e
que vai quebrar a coisa julgada, porque ele diz que não pode subsistir coisa julgada frente uma
decisão do STF, que é o guardião da Constituição, e que diz que aquela lei é inconstitucional.
Só que ele diz que falta interesse de agir para as autoras, dizendo assim: carecem as autoras
de interesse no provimento jurisdicional que declara a insubsistência da sentença. É outro
fundamento diferente do Ministro Luiz Fux, ele diz que falta interesse. Inadequação também é
interesse, mas ele está passando a impressão de que as partes sequer precisam do Judiciário.
Ele não está dizendo se a via escolhida foi a certa ou a errada, elas não precisam do Judiciário.
A conclusão que ele chega é que é a principal: essas empresas não precisam do Judiciário para
deixar de pagar o tributo, porque elas não têm que pagar mais o tributo.
Ele diz que essas empresas, em parte, têm razão. Erraram porque não precisam do Judiciário.
Então, ele entende que as empresas não têm que pagar o tributo, porque há uma decisão
transitada em julgado do Supremo dizendo que os decretos que justificam a cobrança são
inconstitucionais.
Só que ele diz que essa decisão do Supremo é ex nunc, então, o quê as empresas não podem é
pedir de volta o que já pagaram (que é o quê elas também queriam).
Então, o Ministro Teori Zavascki está dizendo que as empresas não têm que pagar mais nada,
mas não tem o Fisco que devolver o que recebeu porque amparado em decisão anterior.
Essa decisão do Supremo no RE fez a norma ser suspensa pelo Senado, ou seja, a partir do
momento em que ela foi suspensa no Senado, ela ganhou eficácia erga omnes.
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O Ministro Teori é tradicional e ele então diz: quando o Supremo diz que uma norma é
inconstitucional julgando um RE, é uma decisão que vale entre as partes. Ela só terá eficácia
erga omnes quando e se o Senado suspender.
O Ministro Gilmar Mendes, entretanto, já tinha decidido, num voto conduzido por ele, que a
decisão do STF sobre inconstitucionalidade em RE vale erga omnes por si só e que a função do
Senado é só dar publicidade à decisão do STF.
Para a doutrina, o que o STF está fazendo é inconstitucional, ele está juntando os dois
controles, difuso e concentrado, em um só, só que não tem ninguém para dizer isso ao
Supremo.
Ele diz que se essa lei, que é lei inconstitucional, foi aplicada no caso concreto, já era, a coisa
julgada prevalece. Aí ele diz: você pode desconstituir a coisa julgada? Pode, mas a única via
admissível é a ação rescisória.
Agora, como já passou o prazo para a rescisória, já era, o máximo que essas empresas podem
fazer é não pagar mais o tributo. Ele diz ainda que esse tributo é inexigível.
A Resolução do Senado de 1995 impede a Fazenda de realizar lançamentos futuros com base
naquela norma e também obstaculiza a execução das prestações anteriores pendentes, razão
pela qual, desde então, elas não têm interesse de agir. Ou seja, elas não precisam ir ao
Judiciário para deixar de pagar.
E quando a Fazenda executá-las por terem deixado de pagar? Elas vão alegar nos embargos a
coisa julgada inconstitucional – art. 741, § 1º do CPC – você pode alegar nos embargos à
execução que o título é inexigível quando o título sentença baseou-se em lei que foi
posteriormente declarada inconstitucional pelo Supremo.
porque ele se baseou numa lei que depois foi declarada inconstitucional, porém, a coisa
julgada está preservada. O quê eles pagaram até a coisa julgada já era.
E se eles pagaram alguma coisa errada? Pede de volta, mas tem o prazo prescricional de cinco
anos, e não vinte anos, como é o que eles querem nessa ação.
Resposta: não. Eles não falam em momento algum em querella, que não tem prazo.
Agora eu pergunto: será que eles não argumentaram lá no recurso que eles queriam
prequestionar sobre a querella? Não se sabe, porque o tribunal não prequestionou tudo, eles
só analisaram o que eles achavam que devia, o que era suficiente, na visão deles, para negar
provimento. Então, pode até ser que eles aduziram no recurso a querella, e como não foi
prequestionada, não chegou lá.
Então, isso foi o que o STJ decidiu sobre coisa julgada inconstitucional.
No CDC:
CAPÍTULO IV
Da Coisa Julgada
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa
julgada:
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art.
13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de
indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou
na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão
as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à
execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
Na LACP:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-
se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
Origem da discussão: art. 16, LACP: bizarra escolha do legislador de limitar a coisa julgada aos
limites territoriais do órgão prolator.
O STJ está dando largos passos para superar um dos temas mais debatidos na doutrina
processual coletiva brasileira, em torno do qual havia frontal oposição entre o entendimento
doutrinário e a aplicação pelos tribunais: a inaplicabilidade dos limites territoriais do órgão
prolator para definição da extensão erga omnes das sentenças coletivas (art. 16 da Lei da
Ação Civil Pública). Aproveitando julgamento anterior, Resp n. 1.247.150/PR (Corte Especial,
rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJ de 12.12.2011), que introduziu novamente na jurisprudência
do STJ a vexata questio dos limites territoriais do órgão prolator nas sentenças coletivas, a
Min. Fátima Nancy Andrighi presta grande contribuição ao avanço da jurisprudência do
Tribunal.
Como sabemos, o processo coletivo implica uma revisitação de muitos institutos clássicos do
processo, especialmente, mas não somente, a legitimação processual, a coisa julgada, a
competência, a liquidação e a execução. Nosso modelo processual coletivo é muito avançado,
e funciona. Mas algumas das soluções pensadas cuidadosamente pelos “pais fundadores” do
“modelo processual coletivo brasileiro” não foram observadas por reformas legislativas
posteriores, sendo atacadas expressamente para negar efetividade ao sistema. Esses ataques,
muito decorrentes de medidas provisórias, convertidas ou não, em lei, foram severamente
criticados na doutrina como formas de tornar a ACP “refém do autoritarismo”, na expressão
de conhecido artigo de Ada Pellegrini Grinover. O caso que acaba de ser julgado no STJ é um
dos exemplos mais bem acabados desse fenômeno: a malsinada limitação territorial da coisa
julgada, surgida primeiramente por medida provisória e, depois, consolidada pelo Poder
Legislativo pela Lei n. 9.494/1997, que alterou o teor do art. 16 da LACP, de acordo com esse
artigo, a decisão coletiva só é eficaz nos limites territoriais do órgão julgador. As críticas a esse
dispositivo são inúmeras. Tratamos disso no v. 4 do Curso de Direito Processual Civil,
inteiramente dedicado ao estudo do processo coletivo. Convém reproduzir, em síntese, nossos
argumentos: a) a norma representa ofensa constitucional aos princípios da igualdade e do
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Naqueles casos o STJ afastou a aplicação da norma para consolidar o entendimento de que
cabe ao consumidor (titular do direito individual vinculado à decisão genérica) escolher o juízo
mais conveniente para promover a liquidação e a execução (o próprio domicílio, o do domicílio
do réu, o do domicílio dos bens sujeitos à eventual expropriação ou o da sentença, art.475-P
do CPC c/c art. 98, § 2º, I do CDC). Posicionamento que também sempre defendemos.
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600
A maior novidade do precedente foi sem dúvida revisar o antigo entendimento que reconhecia
plena vigência ao art. 16 caput da LACP e do seu corolário no art. 2º-A da Lei
9.494/1994. Excelente precedente, parabéns ao STJ que mostra sinais claros do
amadurecimento da matéria em prol da maior efetividade material das ações coletivas.
Espera-se que a oscilação termine e essa orientação se consolide em definitivo, e para todos os
processos coletivos, não apenas para o processo coletivo do consumidor, atingindo todas as
demais situações jurídicas coletivas merecedoras de tutela, em especial as relativas ao meio
ambiente.
2. TRF4 – XII – QUESTÃO 63. A coisa julgada formal pode ocorrer sem que se verifique a
coisa julgada material, mas esta pressupõe sempre ocorrência daquela.
4. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 86. A coisa julgada material torna a sentença imutável
e indiscutível, adquirindo a decisão força de lei nos limites da lide e das questões
decididas.
5. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 12. Dionísio ajuizou ação de cobrança relativa a valor
investido em instituição financeira, porém, em sua petição inicial, não referiu em
momento algum a incidência de juros remuneratórios, tampouco o fazendo a sentença
que julgou procedente o seu pedido e transitada em julgado logo em seguida. Nesse
caso, não é lícito a Dionísio incluir nos cálculos que aparelham o seu requerimento de
cumprimento de sentença (CPC, art. 475-J c/c art. 614, II) tal espécie de juros, sob
pena de violação à coisa julgada.
6. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 12. Embora o STJ entenda ser indevida a inclusão dos
juros de mora no período compreendido entre a data da expedição do precatório
principal e a do seu efetivo pagamento - desde que respeitado o prazo constante no
art. 100, § 1º, da CF -, CONSIDERA QUE ESSE ENTENDIMENTO NÃO É APLICÁVEL NOS
CASOS EM QUE HOUVER DETERMINAÇÃO EXPRESSA NA SENTENÇA EXEQUENDA NO
SENTIDO DE QUE OS JUROS MORATÓRIOS DEVEM INCIDIR ATÉ O PAGAMENTO
138
A banca examinadora do concurso do TRF5/2011 considerou no item “e” esse instituto da eficácia
preclusiva da coisa julgada. Primeiro houve ação reivindicatória, que foi julgada procedente. A defesa
não arguiu o usucapião, embora pudesse fazê-lo. Daí que, por força do art. 474 do CPC, já não poderá
fazê-lo em uma outra ação, pena de se contrariar a coisa julgada formada na demanda anterior.
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8. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 12. Em relação aos juros que buscam a remunerar o
capital investido, sua cobrança há de ser fundada em pedido expresso feito na inicial,
e, da mesma forma, não podem ser reclamados se a sentença exequenda nada disse a
respeito, sob pena de configurar afronta à coisa julgada140.
9. EMAGIS – 2011/24 – QUESTÃO 01. Marcelo, então com 8 (oito) anos de idade,
ingressou, representado por sua mãe, com ação de investigação de paternidade em
desfavor do seu suposto pai. Julgada improcedente a demanda por falta de provas e
não tendo sido realizada, àquela ocasião, a prova de DNA - ante o seu elevado custo -,
Marcelo, agora com 28 (vinte e oito) anos de vida, intentou nova ação com idêntico
objeto e em face do mesmo réu. Nesse caso, não há que se colocar a coisa julgada
como óbice à continuidade desse segundo processo judicial141.
139
Sem embargo desse posicionamento – consagrado pelo STF e seguido pelo STJ -, entende este último
que a situação será diversa se o título executivo judicial expressamente consignar que os juros
moratórios incidirão até o efetivo pagamento da dívida, pois, nesse caso, deve ser observada a coisa
julgada material formada a respeito. Inúmeros precedentes do STJ vêm nesse sentido, dos quais
extraímos o seguinte (isso é evidente caso de coisa julgada inconstitucional):
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PRECATÓRIO COMPLEMENTAR. JUROS DE MORA.
PERÍODO ENTRE A DATA DE EXPEDIÇÃO DO PRECATÓRIO PRINCIPAL E A DO EFETIVO PAGAMENTO. ART.
100, § 1º, DA CF. DETERMINAÇÃO JUDICIAL DE INCIDÊNCIA ATÉ O DEPÓSITO INTEGRAL DA
DÍVIDA. RESPEITO À COISA JULGADA. RECURSO DESPROVIDO. 1. A orientação jurisprudencial desta
Corte Superior é no sentido de ser indevida a inclusão dos juros de mora em precatório complementar
- período compreendido entre a data da expedição do precatório principal e a do seu efetivo pagamento
-, desde que respeitado o prazo constante no art. 100, § 1º, da CF, uma vez que, nesta hipótese, não há
falar em inadimplência do Poder Público (cf. Súmula Vinculante nº 17 do STF). 2. Todavia, tal
entendimento não se aplica nos casos em que houver determinação expressa na sentença exequenda
no sentido de que os juros moratórios devem incidir até o depósito integral da dívida, haja vista a
necessidade de respeito à coisa julgada. (cf. Recurso Especial Repetitivo 1.143.677/RS, Rel. Min. Luiz
Fux, DJe 4.2.2010). 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, Sexta Turma, AgRg no REsp
1181805, Rel. Des. conv. Vasco Della Giustina, DJe de 05/10/2011)
140
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUROS REMUNERATÓRIOS NÃO FIXADOS EM
SENTENÇA. INCLUSÃO NA FASE DE LIQUIDAÇÃO. OFENSA À COISA JULGADA. DECISÃO MANTIDA PELOS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO NÃO PROVIDO. 1 - Segundo orientação fixada por este Superior
Tribunal, diversamente do que sucede com os juros moratórios (Súmula n° 254/STF), ofende a coisa
julgada a inclusão, em fase de liquidação, de juro remuneratório não expressamente fixado em
sentença. Precedentes da Segunda Seção do STJ. 2 - Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ,
Quarta Turma, AgRg no Ag 1339464, Rel. Min. Maria Gallotti, DJe de 28/10/2011)
141
Em conclusão, o Plenário, por maioria, proveu recurso extraordinário em que discutida a
possibilidade, ou não, de superação da coisa julgada em ação de investigação de paternidade cuja
sentença tenha decretado a extinção do processo, sem julgamento do mérito, por insuficiência
probatória - v. Informativo 622. Decretou-se a extinção do processo original sem julgamento do mérito e
permitiu-se o trâmite da atual ação de investigação de paternidade. Prevaleceu o voto proferido pelo
Min. Dias Toffoli. Para ele, dever-se-ia ressaltar a evolução dos meios de prova para aferição da
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603
10. A regra do art. 16 da Lei nº 7.347/85 (“a sentença civil fará coisa julgada erga omnes,
nos limites da competência territorial do órgão prolator”) não se aplica às ações
coletivas que versem sobre relação de consumo142.
11. Na extinção do processo sem julgamento de mérito, ocorre coisa julgada formal em
todos os casos, podendo o autor intentar de novo a ação, salvo se a extinção decorreu
de perempção, litispendência ou coisa julgada.
12. A coisa julgada pode ser arguida a todo tempo no processo de conhecimento.
13. A decisão que rejeita a alegação de coisa julgada não transita em julgado.
14. Não há coisa julgada material quando as questões decididas forem de natureza
processual.
16. A coisa julgada pode se estender à motivação no caso de ação declaratória incidental.
paternidade - culminada com o advento do exame de DNA - e a prevalência da busca da verdade real
sobre a coisa julgada, visto estar em jogo o direito à personalidade. Ressaltou que este direito teria sido
obstaculizado, no caso, pelo fato de o Estado haver faltado com seu dever de assistência jurídica, uma
vez que não custeara o exame à época da ação anterior. Os demais Ministros que deram provimento ao
recurso ressaltaram que a espécie envolveria o cotejo entre a coisa julgada e o princípio da dignidade da
pessoa humana, consubstanciado no direito à informação genética. O Min.Luiz Fux destacou a existência
de corrente doutrinária que flexibilizaria o prazo para ajuizamento de ação rescisória nas hipóteses de
ação de investigação de paternidade julgada improcedente por ausência de provas, o que corroboraria a
superação da coisa julgada. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Cezar Peluso, Presidente, que
desproviam o recurso. O Min. Marco Aurélio apontou que o réu, na ação em comento, não poderia ser
obrigado a fazer o exame de DNA. Isso, entretanto, não implicaria presunção absoluta de paternidade,
mas apenas relativa, a ser confrontada com as provas trazidas ao processo. Asseverou que o
ordenamento traria exceções à imutabilidade da coisa julgada, a exemplo da ação rescisória, limitada ao
prazo de 2 anos após o trânsito em julgado da ação de origem. Como, na situação em tela, haveria lapso
de mais de 10 anos, a aludida exceção não seria aplicável. Destacou, ainda, a probabilidade de o
interesse do autor ser patrimonial, e não relativo à sua identidade genética. O Presidente, por sua vez,
afirmou que o princípio da coisa julgada seria o postulado da certeza, a própria ética do direito. A
respeito, assinalou que o direito não estaria na verdade, mas na segurança. Reputou que a relativização
desse princípio em face da dignidade da pessoa humana poderia justificar, de igual modo, a prevalência
do direito fundamental à liberdade, por exemplo, de maneira que nenhuma sentença penal
condenatória seria definitiva. Salientou que, hoje em dia, o Estado seria obrigado a custear o exame de
DNA do autor carente, de forma que a decisão da Corte teria pouca aplicabilidade prática. Por fim, frisou
que a questão envolveria também a dignidade humana do réu, não apenas do autor, visto que uma
nova ação de investigação de paternidade teria profunda repercussão na vida familiar daquele.
STF, RE 363889/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 2.6.2011. (RE-363889)
142
Nas relações de consumo, a coisa julgada erga omes ocorre em todo o território nacional.
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O recurso prolonga o estado de litispendência, não instaurando processo novo. É por isso que
não é recurso a ação autônoma de impugnação, já que dá origem a novo processo.
a) Voluntariedade;
b) Taxatividade;
d) Direito potestativo;
23.3. Classificação
Os demais capítulos não impugnados ficam preclusos e, se tratarem do mérito, cobertos pela
coisa julgada material.
Recurso total é aquele que abrange todo o conteúdo impugnável da matéria recorrida (caso a
lei somente permita que uma determinada matéria da decisão seja recorrida, e ela o seja,
considera-se que o recurso foi total).
De fundamentação vinculada será o recurso em que a lei limita o tipo de crítica que se possa
fazer contra a decisão impugnada: a fundamentação é típica. É o que ocorre, v.g., no embargo
de declaração, no qual somente podem ser levantadas questões que versem sobre a omissão,
obscuridade ou contradição.
23.4.1. Introdução
É com base no conceito de sentença que se saberá qual o recurso cabível. Deve-se entender
sentença como o ato que encerra o procedimento nas fases de conhecimento ou de execução;
ela encerra a primeira instância, fundando-se ora no art. 267, ora no 269 do CPC. Porém, deve-
se ressalvar:
a) A sentença nem sempre encerrará toda a fase do procedimento, quer porque pode
haver recurso, quer porque sendo ato de competência originária de tribunal, o ato que
porá fim ao procedimento será acórdão ou decisão monocrática;
b) Nem toda decisão que tiver por conteúdo uma das hipóteses dos arts. 267 e 269 terá
por efeito a extinção do procedimento. V.g., decisão que indefere parcialmente a
inicial, decisão que reconhece a decadência de um dos pedidos cumulados, decisão
que exclui um litisconsorte por ilegitimidade.
A despeito da redação do § 1º do art. 162, os arts. 267 e 269 não prevêem hipóteses em que
necessariamente o processo será extinto nem estabelecem matérias que sejam exclusivas de
sentença.
23.4.2. Sistematização
Somente as decisões judiciais podem ser alvo de recurso. Os despachos, atos não decisórios,
são irrecorríveis. Também são irrecorríveis os atos praticados pelo escrivão por conta de
delegação do magistrado.
A desistência, que pressupõe recurso já interposto (caso contrário seria renúncia) é conduta
determinante, só produzindo efeito em relação ao recorrente.
A desistência impede uma nova interposição do recurso de que se desistiu, mesmo se ainda
dentro do prazo. Se renovado o recurso, ele deverá ser considerado inadmissível (preclusão
lógica).
A aceitação é o ato pelo qual alguém manifesta a vontade de conformar-se com a decisão
proferida, podendo ser por escrito ou tácita, quando ela pratica atos de concordância. Poderá
ser parcial ou total.
Havendo litisconsórcio unitário, para que a aceitação seja eficaz, todos os litisconsortes devem
aceitar.
Ressalvado o agravo de instrumento, os recursos são interpostos perante o órgão que proferiu
a decisão recorrida. Ele, entretanto, já tem o juízo de admissibilidade exercido diretamente
pelo órgão ad quem.
Porém, o juízo a quo exerce um exame provisório de admissibilidade, sempre cabendo recurso
da decisão que não conhece um recurso.
23.7.3.1. Introdução
O objeto é classificado em dois grupos:
REQUISITOS RECURSAIS
REQUISITOS INTRÍNSECOS REQUISITOS EXTRÍNSECOS
Cabimento Preparo
Legitimidade Tempestividade
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Erro grosseiro é aquele em que nada justifica a troca de um recurso pelo outro, não
havendo dúvida objetiva razoável.
O STJ exige que o recurso interposto no lugar do outro obedeça ao prazo deste, mesmo que
menor. Nesse sentido:
(STJ, RCDESP nos EDcl no AgRg no REsp 899.146/PR, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe
10/02/2011)
A caracterização do terceiro que é efetivamente prejudicado é dada pelo art. 499, § 1º, que
exige a demonstração do “nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a
relação jurídica submetida à apreciação judicial”. Quando o juiz for “parte” em incidente
processual (e.g. exceção de suspeição ou impedimento), tem legitimidade para recorrer do
acórdão que der pela procedência da exceção.
O recurso de terceiro deve ser preparado e deve ser interposto no mesmo prazo de que dispõe
a parte.
O MP tem legitimidade para recorrer no processo em que atuou como custos legis, ainda que
não tenha havido recurso da parte (art. 499, § 2º).
23.7.3.4. Interesse
A fim de que possa o interessado socorrer-se do recurso, é fundamental que possa antever
algum interesse na utilização deste caminho. À semelhança do que acontece com o interesse
de agir (condição da ação), que engloba a adequação da via eleita (cabimento, no caso dos
recursos), é necessário que o interessado possa vislumbrar alguma utilidade na veiculação do
recurso, utilidade esta que somente possa ser obtida através da via recursal (necessidade).
A fim de preencher o requisito “utilidade”, será necessário que a parte (ou terceiro)
interessada em recorrer, tenha sofrido algum prejuízo jurídico – sucumbido - em decorrência
da decisão judicial, ou ao menos que esta não tenha satisfeito plenamente a pretensão
exposta – (uma vez que, sendo vencidos autor e réu, ambos terão interesse em recorrer).
Em relação à “necessidade”, esta estará presente se, por outro modo, não for possível resolver
a questão, alterando-se ou suplantando-se o prejuízo verificado.
Não há interesse recursal quando o recorrido puder, por meio mais rápido e mais fácil
(contrarrazões de apelação), obter o resultado que pretende (a inadmissibilidade do recurso
da parte contrária).
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Não é de ser exigido o requisito do interesse recursal quanto ao MP. Seu interesse processual
e recursal deriva do poder (legitimidade) que o legislador lhe outorgou para o exercício da
ação civil, ou seja, o interesse está pressuposto (in re ipsa) na própria outorga de legitimação.
A razão de ser da atuação do MP no processo civil, seja como autor da ação civil (CR 129 III;
CPC 81), seja como custos legis (CPC 82), é sempre o interesse público, do qual ele é tutor
natural. Daí decorre a consequência de afirmar-se que o interesse recursal não se constitui
para ele em pressuposto de admissibilidade do recurso.
Pode o recorrente desistir do recurso já interposto mesmo sem a anuência da parte contrária
ou de seus litisconsortes, seguindo-se então o curso normal do procedimento no juízo a quo
(CPC 501). Ocorrendo a desistência do recurso, impede-se o prosseguimento do respectivo
processamento, ficando ao tribunal vedado conhecer da insurgência.
O inadimplemento das multas fixadas em lei, que impede a interposição de novos recursos,
ocorre com as previsões dos arts. 538, p. único (embargos de declaração protelatórios) e 557,
§ 2º do CPC (agravo manifestamente inadmissível ou infundado).
Ademais, para a Fazenda Pública, o prazo somente começa a correr com a intimação pessoal
do seu representante:
Os prazos recursais – embora não admitam dilação por acordo entre as partes – podem ser
prorrogados em caso de calamidade pública ou de outra justa causa, que impeça a prática do
ato no tempo oportuno (CPC 182, p. único. e 183).
Já no caso de interrupção, uma vez findo, o prazo será devolvido integralmente. São exemplos
de causas interruptivas a interposição de embargos de declaração (CPC 538), salvo no juizado,
e os motivos arrolados no CPC 507 (Se, durante o prazo para a interposição do recurso,
sobrevier o falecimento da parte ou de seu advogado, ou ocorrer motivo de força maior, que
suspenda o curso do processo, será tal prazo restituído em proveito da parte, do herdeiro ou
do sucessor, contra quem começará a correr novamente depois da intimação).
No procedimento dos Juizados Especiais Federais (Lei nº 10.259/01) não há prazo diferenciado
para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público (art. 9º),
bem como inexiste reexame necessário (art. 13).
E, no dos Juizados Especiais Cíveis (Lei nº 9.099/95), os embargos de declaração devem ser
interpostos no prazo de 5 dias, e, ao contrário dos embargos previstos no CPC – que
interrompem o prazo recursal -, os embargos de declaração do JEC, quando interpostos contra
sentença, apenas suspendem o prazo para recurso.
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Lembre-se ainda que a Lei nº 9.800/99 possibilita a interposição de recursos por FAX até o
último dia do prazo, impondo ao recorrente o dever de juntar os originais na secretaria do
tribunal até cinco dias depois do término do prazo.
O benefício do prazo em dobro para a Fazenda Pública e para o MP não se aplica ao prazo de
contrarrazões; Defensores Públicos têm prazo em dobro para recorrer e contra-arrazoar.
Os embargos de declaração contra acórdão, sentença ou decisão interlocutória (CPC 535), bem
como os agravos (agravo interno) do CPC, devem ser interpostos no prazo de 5 dias. Os
agravos de instrumento e retido, bem como o agravo contra decisão que inadmite RE ou REsp,
devem ser interpostos em 10 dias (CPC 522 e 544). Os recursos de apelação, embargos
infringentes, ordinário, especial, extraordinário e embargos de divergência são interponíveis
no prazo de 15 dias (CPC 508). O recurso de forma adesiva (apelação, embargos infringentes,
recurso especial e recurso extraordinário) devem ser interpostos no prazo de 15 dias (CPC 500,
I), tendo o recorrido o mesmo prazo para contra-arrazoá-lo.
RECURSO PRAZO
Embargos de declaração 05 dias
Agravos internos, regimentais 05 dias
Agravo de instrumento 10 dias
Agravo retido 10 dias
Recurso inominado dos juizados cíveis 10 dias
Apelação 15 dias
Embargos de divergência 15 dias
Embargos infringentes 15 dias
Recurso especial 15 dias
Recurso extraordinário 15 dias
Recurso ordinário constitucional 15 dias
[...]
O STF, assim como o STJ, entendia que a tempestividade do recurso em decorrencia de feriado
local ou suspensão dos prazos processuais pelo Tribunal a quo deveriam ser demonstrados no
momento da sua interposição, não sendo possível a juntada posterior de documento que
comprove a sua tempestividade (ARE 668.294, 1ª T., relatora Min Carmen Lúcia, 28/2/12).
Ocorre que em precedente ainda mais recente, a Suprema Corte, em decisão plenária,
modificou seu entendimento permitindo que o recorrente comprove posteriormente a
tempestividade, por meio de juntada posterior de documentação a indicar a interposição do
RE no seu prazo. Nesse sentido:
verdade, o recurso seria tempestivo, mas não houvera prova a priori disto.
Assim, reputou-se aceitável a juntada ulterior de documentação a indicar a
interposição do extraordinário no seu prazo. O Min. Marco Aurélio frisou
haver, na espécie, deficiência cartorária, porque a serventia deveria ter
consignado o fechamento do foro em razão de feriado local. O Min. Luiz Fux
sublinhou aplicar-se a regra do art. 337 do CPC (“A parte, que alegar direito
municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a
vigência, se assim o determinar o juiz”). Vencido o Min. Celso de Mello, que
negava provimento ao agravo. (RE 626.358-AgR/MG, Pleno, 22/03/12)
Voto: Senhor Presidente, há uma preliminar a ser vencida, antes que se adentre o mérito
recursal.
Não ignoro que a jurisprudência desta Turma é no sentido de que o recurso ajuizado antes da
publicação do acórdão de julgamento é extemporâneo, porquanto se entende que a
impugnação é prematura. Assim, v. g. : HC 85.314/SP, Rel. Min. Eros Grau, Primeira Turma,
Julg. em 14/03/2006.
Essa orientação, no entanto, merece uma melhor reflexão da Corte. Uma tal visão do processo,
que eleva filigranas estéreis a um patamar de importância maior que o próprio direito
material, está vinculada à denominada FASE CIENTÍFICA DO DIREITO PROCESSUAL,
na qual, ante a necessidade de afirmação da nova ciência que surgia no final do séc. XIX, os
operadores do direito se apegavam demasiadamente a querelas meramente acadêmicas.
Pela pena de notáveis juristas modernos, dentre os quais destaco, na doutrina nacional, os
professores Cândido Dinamarco, José Roberto dos Santos Bedaque e Carlos Alberto Alvaro de
Oliveira, a doutrina processual, a pouco e pouco, vem adequando os institutos deste ramo do
Direito para que cumpram a sua verdadeira função: a de conferir efetividade aos direitos
materiais.
árvore, que era o correto. Em artigo publicado em obra recente que coordenei, Bruno Bodart
vaticina que [a] forma, se imposta rigidamente, sem dúvidas conduz ao perigo do arbítrio das
leis, nos moldes do velho brocardo dura lex, sed lex (BODART, Bruno Vinícius Da Rós.
Simplificação e adaptabilidade no anteprojeto do novo CPC brasileiro. In : O Novo Processo
Civil Brasileiro Direito em Expectativa. Org. Luiz Fux. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 76).
Carlos Alberto Alvaro de Oliveira observa que O FORMALISMO EXCESSIVO FAZ COM QUE O
SEU PODER ORGANIZADOR, ORDENADOR E DISCIPLINADOR ANIQUILE O PRÓPRIO DIREITO
OU DETERMINE UM RETARDAMENTO IRRAZOÁVEL NA SOLUÇÃO DO LITÍGIO. Segundo anota
o autor, as formas processuais cogentes não devem ser consideradas formas eficaciais
(Wirkform), mas formas finalísticas (Zweckform), subordinadas de modo instrumental às
finalidades processuais. Se a finalidade da prescrição foi atingida na sua essência, sem
prejuízo a interesses dignos de proteção da contraparte, o defeito de forma não deve
prejudicar a parte, mesmo em se tratando de prescrição de natureza cogente, pois, por
razões de equidade (justiça do caso concreto, segundo Radbruch), a essência deve sobrepujar
a forma (OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. O formalismo-valorativo no confronto com o
formalismo excessivo. In : Revista de Processo, São Paulo: RT, n.º 137, p. 7-31, 2006).
Neste sentido, a lição de José Roberto dos Santos Bedaque, in verbis : se for possível verificar
que o reconhecimento da preclusão em determinado caso concreto, além de não favorecer a
celeridade do processo, irá proporcionar tutela jurisdicional a quem não tem direito a ela,
deverá o juiz afastá-la (Efetividade do Processo e Técnica Processual. 3ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2010. p. 130).
O Supremo Tribunal Federal, recentemente, sob o influxo dessas novas ideias, modificou a sua
jurisprudência para permitir a comprovação posterior de tempestividade do Recurso
Extraordinário, quando reconhecida a sua extemporaneidade em virtude de feriados locais ou
de suspensão de expediente forense no Tribunal a quo (RE nº 626.358-AgR/MG, rel. Min. Cezar
Peluso, Tribunal Pleno, julg. 22/03/2012).
Sabe-se que o direito não socorre aos que dormem; porém, deve acudir aqueles que estão
bem acordados. É por isso que reconheço a tempestividade do recurso, à luz da visão
instrumentalista do processo.
Além disso, pelo princípio da dialeticidade, exige-se que todo recurso seja formulado por meio
de petição na qual a parte não apenas manifeste sua inconformidade com ato judicial, mas
também, e necessariamente, INDIQUE OS MOTIVOS DE FATO E DE DIREITO PELOS
QUAIS REQUER O NOVO JULGAMENTO. Não basta que se interponha recurso pedindo
reforma porque com a decisão não se concorda.
1. Segundo a interpretação que esta Corte confere aos arts. 514, II, 539, II, e
540 do Código de Processo Civil, a petição do recurso ordinário em
mandado de segurança deve observar o princípio da dialeticidade, ou seja,
deve apresentar as razões pelas quais a parte recorrente não se conforma
com o acórdão proferido pelo Tribunal de origem, o que, todavia, não se
verifica nos presentes autos, em que a impetrante deixou de impugnar
especificamente o ponto do acórdão recorrido consistente na denegação do
mandado de segurança com base na Súmula n. 266/STF. Incidência das
Súmulas n.
23.7.3.8. Preparo
É o adiantamento das despesas relativas ao julgamento do recurso, cuja não realização se
chama deserção. Ele há de ser comprovado no momento da interposição (art. 511), mediante
juntada aos autos da Guia de Recolhimento.
Nos Juizados Especiais, é possível efetivar o preparo recursal contra a sentença em até 48
horas após a sua interposição.
a) Agravo retido;
b) Embargos de declaração;
d) Agravo (antigo “de instrumento”) contra decisão que nega seguimento a RE ou REsp;
e) Recursos no ECA;
f) Agravo interno.
II. Recurso especial conhecido e provido, para que, afastado o óbice alusivo
ao preparo, prossiga o Tribunal a quo no exame da apelação.
Quanto a isso, inclusive, publicou o STJ súmula pacificando seu entendimento e confirmando o
julgado acima:
Súmula 484, STJ: “Admite-se que o preparo seja efetuado no primeiro dia útil subsequente,
quando a interposição do recurso ocorrer após o encerramento do expediente bancário”.
No caso da apelação (CPC 519), a deserção pode ser relevada em caso de justo motivo: EM
Esclareço: o que é relevada é a deserção, não o preparo: o juiz fixará prazo de recolhimento.
Vide o dispositivo legal:
O valor do preparo em hipótese alguma será devolvido, mesmo se o recurso não for
conhecido.
a) MP;
b) Fazenda Pública;
c) Defensoria Pública;
É possível que uma questão seja de admissibilidade da causa e, ao mesmo tempo, de mérito
do recurso. V.g.: o juiz indeferiu liminarmente a inicial por considerar a parte ilegítima. O
recurso terá como mérito a legitimidade da parte para figurar na ação. Sendo provido, a ação
continua no juízo a quo.
Evidentemente a decisão somente substituirá o que tiver sido objeto de recurso, prevalecendo
a parte não recorrida, se o recurso tiver sido parcial (art. 512).
Súmula 45, STJ: “É vedado ao tribunal agravar a situação da Fazenda Pública em reexame
necessário”.
Repita-se: proibida é a reformatio in pejus, ou seja, a reforma para pior. Em outros termos, não
se pode, no julgamento de um recurso, agravar a situação de quem recorreu, em benefício de
quem não recorreu.
(STJ, REsp 1091905/PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 16/12/2010, DJe 23/02/2011)
b) Quando o recurso não for conhecido, de acordo com o STJ, na data do trânsito em
julgado da sentença ou do acórdão. Nesse caso, é como se o recurso não tivesse sido
interposto. Porém, isso não ocorrerá no caso de embargos de declaração, já que se
não forem conhecidos, eles interromperão do mesmo modo o prazo para
interposição de outros recursos.
Já a profundidade recursal determina com qual material o tribunal deverá trabalhar para
julgar. Trata-se da dimensão vertical. Em profundidade, é amplíssima a devolução das
questões, abrangendo as questões determináveis de ofício, as questões acessórias, incidentais
e todos os fundamentos do pedido e da defesa, ainda que não examinados pela decisão do
juízo a quo. Assim, no exemplo dado acima, o tribunal poderá analisar todos os fatos,
fundamentos e questões de direito invocáveis de ofício acerca dos pedidos A e D, não se
limitando aos fundamentos invocados no recurso.
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624
“O artigo 34 da Lei 6.830/80 - que afirma ser incabível a apelação em casos de execução fiscal
cujo valor seja inferior a 50 ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional) – é
compatível com os princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório, da
ampla defesa, do acesso à jurisdição e do duplo grau de jurisdição. Essa foi a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmada pelo Plenário Virtual da Corte no Recurso
Extraordinário com Agravo (ARE) 637975.
Dessa forma, o Plenário Virtual do Supremo reafirmou a jurisprudência da Corte para negar
provimento ao recurso extraordinário.” (www.stf.jus.br, seção ‘Notícias STF’, acesso em
28/07/2011)
Para Fredie Didier Jr., o efeito translativo determina os limites verticais do recurso,
delimitando o material com o qual o tribunal ad quem trabalhará para decidir a questão que
lhe foi submetida, se relacionando diretamente com o objeto de conhecimento do próprio
recurso, ou seja, às questões que devem ser examinadas pelo órgão destinatário do mesmo,
como fundamentos para a solução do objeto litigioso recursal.
Vislumbra-se ser atualmente o efeito translativo aceito como um efeito autônomo dos
recursos, na medida em que o mesmo permite que o tribunal ad quem, sempre que possível,
aprecie questões que estejam até mesmo fora dos limites impostos pelos recursos (no STJ,
exige-se o prequestionamento).
Do julgado supra, depreende-se que a autonomia do efeito translativo dos recursos permite a
apreciação das matérias de ordem pública de ofício por parte do tribunal ad quem, o que
certamente consiste em grande utilidade prática do mencionado efeito.
Isto certamente contribui para que sempre seja alcançado o objetivo maior do direito, qual
seja a justiça, uma vez que O EFEITO TRANSLATIVO PERMITE ÀS INSTÂNCIAS SUPERIORES
APRECIAREM E JULGAREM DE OFÍCIO AS QUESTÕES DE ORDEM PÚBLICA CONSTANTES NOS
AUTOS, INCLUSIVE AS QUE SEQUER FORAM SUSCITADAS NO RECURSO INTERPOSTO.
contra a sentença de mérito a quo, sendo que esse autor não possuía legitimidade para figurar
no processo.
Doutra banda, destaque-se também a presença do efeito translativo quando se fala em agravo
retido, haja vista que, mesmo que não se conheça de recurso de apelação eventualmente
interposto, em matéria de ordem pública poderá ser conhecido e julgado o agravo retido
constante nos autos.
Efeito expansivo objetivo interno refere-se a capítulos não impugnados da decisão recorrida
que serão atingidos pelo julgamento do recurso. Somente ocorrerá com os capítulos não
impugnados que tenham relação de prejudicialidade com os impugnados.
Efeito expansivo objetivo externo se verifica sempre que o julgamento do recurso atinge
outros atos processuais que não a decisão recorrida.
ASSIM, AINDA QUE A DECISÃO DO TRIBUNAL CONFIRME A DECISÃO RECORRIDA SEM NADA
ALTERAR EM SUA ESSÊNCIA, POR ESSE EFEITO, UMA VEZ JULGADO O RECURSO, NÃO MAIS
EXISTIRÁ A DECISÃO RECORRIDA, MAS APENAS A DO TRIBUNAL. A noção desse efeito é
relevante, seja para efeitos de interposição de ação rescisória, seja ainda para a impugnação
da decisão por outras vias autônomas (mandado de segurança, reclamação, etc.),
determinando-se, em todos esses casos, a competência para a apreciação da nova
insurgência.
Por substituir, a natureza jurídica de decisão que decide o recurso será a mesma da decisão
recorrida. Assim, embargos declaratórios contra decisão interlocutória terão natureza jurídica
de decisão interlocutória. O mesmo recurso contra acórdão deverá ser julgado por acórdão
etc.
Recurso independente é aquele interposto autonomamente por qualquer das partes, sem
qualquer relação com o comportamento adversário.
O prazo para sua interposição é o prazo que dispõe a parte para contra-arrazoar o recurso
principal. Logo, ela deve, além de contra-arrazoar, oferecer recurso em peça distinta.
Assim, vê-se que o prazo recursal acaba por ser ampliado, já que, havendo sucumbência
recíproca, se a parte ex adversa interpor apelação no 15º dia, a outra apresentará
contrarrazões e recurso adesivo.
a) Sucumbência recíproca;
Assim, se ambas as partes recorrem e uma desiste de seu recurso, ao ser intimada para contra-
arrazoar o recurso da outra, poderia ela interpor o adesivo? Não, porque ela recorreu. E se o
recurso desistido era parcial, poderá ela recorrer adesivamente da parte não recorrida? Não,
porque ela recorreu. O recurso adesivo não serve para complementar recurso já interposto. Há
preclusão consumativa. E se a parte interpôs um recurso e ele foi intempestivo, pode haver
recurso adesivo do recurso da outra parte? Não, pois ela recorreu, ainda que o tenha feito mal.
Não é cabível recurso adesivo de reexame necessário, pois este instituto não é recurso.
perde a pretensão em primeiro grau. Apelando, ele obtém provimento do recurso com base na
ilegalidade da lei, sendo rejeitada a tese da inconstitucionalidade.
Assim, ele estaria satisfeito se a coisa parasse por aí. Acontece que a PGFN interpõe REsp para
o STJ visando a reforma da decisão por entender pela legalidade da lei. O contribuinte, então,
interporá recurso extraordinário adesivo cruzado, que somente será processado se o especial
for provido. Por quê? Pois no caso do STJ declarar a legalidade da lei, se o STF declarar a
inconstitucionalidade do tributo com o processamento do RE, essa decisão será suficiente, por
si só, para sustentar a pretensão do contribuinte.
2. TRF2 – XIII – CESPE – QUESTÃO 50. Interposto o recurso cabível, intimou-se a parte
recorrente devido ao provimento de embargos de declaração opostas pela outra
parte e que modificaram a fundamentação da decisão recorrida, tendo o recorrente
protocolado aditamento ao recurso já interposto. Nessa situação, é aplicável o
PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE.
3. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 89. Os chamados recursos extraordinários têm efeito
meramente devolutivo, não impedindo a execução da sentença.
4. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 89. O órgão do Ministério Público pode recorrer quer
atue como parte quer como fiscal da lei.
6. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 89. Para que o recurso seja cabível, a decisão deve ser
recorrível e a modalidade recursal adequada.
7. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 86. A fungibilidade recursal exige dúvida objetiva e
inexistência de erro grosseiro na interposição do recurso.
9. GEMAF – 2010 – 09. A insuficiência do valor do preparo, por si só, não acarreta a
deserção do recurso, sendo de rigor a concessão de prazo para a sua
complementação, nos termos do que dispõe o art. 511, § 2º, do CPC
10. O efeito devolutivo está presente em todos os recursos. O essencial não é que ele
seja dirigido a outro órgão jurisdicional, e sim que haja a transferência da matéria
decidida para que seja novamente analisada, pouco importando a qual órgão.
12. Dimensão vertical é a profundidade; o tribunal poderá, dentro dos limites fixados na
extensão, resolver todas as alegações, fundamentos e questões referentes à
matéria devolvida, ainda que não ventiladas nas razões recursais ou, até mesmo,
ainda que não tenham sido enfrentadas em primeiro grau.
13. É errado afirmar que o recurso tem efeito suspensivo. O que suspende a eficácia da
decisão é sua mera recorribilidade. O recurso apenas prolonga o estado inicial de
ineficácia da decisão até seu trânsito em julgado, salvo se a decisão não for
impugnável por recurso com efeito suspensivo.
14. Nem todos os recursos têm efeito suspensivo, mas a todos eles é possível atribuir tal
efeito.
15. A DECISÃO QUE RECEBE O RECURSO NO EFEITO SUSPENSIVO TEM, QUANTO A ESSA
PARTE, NATUREZA DECLARATÓRIA. PORÉM, SE ELA NÃO ERA PARA TER ESSE
EFEITO, MAS O JUIZ O CONFERE, TERÁ NATUREZA CONSTITUTIVA, com efeitos ex
nunc.
17. Para o STF, não se admite o efeito translativo nos recursos extraordinários, face a
ausência de prequestionamento. Já o STJ admite, desde que outra matéria esteja
sendo alegada em sede de recurso especial.
18. Efeito expansivo ocorre sempre que o julgamento do recurso ensejar decisão mais
abrangente do que a matéria impugnada, ou quando atingir sujeitos que não
143
Agravo regimental nos embargos declaratórios no inquérito. Embargos opostos antes da publicação
do julgado no órgão oficial. Extemporaneidade. Precedentes. Recurso não conhecido
monocraticamente. Interposição de regimental, ao qual se nega provimento. 1. A Jurisprudência desta
Corte é pacífica no sentido de ser extemporâneo o recurso interposto antes da publicação do julgado
recorrido e sem posterior ratificação no novo prazo recursal. 2. Agravo regimental não provido. (STF,
Pleno, Inq. 2969 ED-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 09/02/2012)
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632
21. O recorrente pode desistir de qualquer recurso, a qualquer tempo, sem a anuência
do recorrido ou dos litisconsortes.
23. Os recursos interpostos nas causas de procedimento sumário deverão ser julgados
pelo tribunal no prazo máximo de 40 dias.
24.1.1. Conceito
Apelação é o recurso por excelência. Ela pode ser interposta contra toda e qualquer sentença,
definitiva ou terminativa.
Ela é o recurso cabível para se impugnar os atos do juiz que ponha termo ao procedimento.
Assim, igualmente, caberá apelação da sentença que encerra o processo cautelar, ainda que
não haja julgamento.
Ela poderá ser interposta por petição única ou por petição de interposição, com as razões
recursais, e deverá ser subscrita por advogado habilitado nos autos. Não se admite sua
interposição por cota nos autos.
24.1.4. Efeitos
Permite-se assim, apontar tanto a inadequação formal da sentença, - que por exemplo, não
obedeceu aos ditames legais sobres seus requisitos - , já quanto ao equivoco cometido nos
juízos ali alcançados – como, exemplificativamente, a errônea interpretação da lei, a
inadequada avaliação dos fatos etc. Os vícios formais, encontrados na sentença, farão com que
ela seja anulada pelo tribunal, devendo então os autos retornar ao primeiro grau para a
elaboração de nova sentença.
Também é possível que na apelação, se invoque a nulidade da sentença por vícios anteriores, e
não internos a ela, como por exemplo no caso do juiz absolutamente incompetente, lança
sentença no processo. Mesmo que a questão não seja interna à sentença, e ainda que ela seja
materialmente perfeita, o vício que contamina todo o curso do processo macula também a
sentença prolatada. Assim é possível deduzir-se em apelação o tema, para desconstituir-se a
sentença.
O juiz, para decidir o objeto recursal, poderá abordar tudo o que consta dos autos, ainda que
não analisado na sentença (dimensão vertical da devolutividade).
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634
As questões decididas devem ser impugnadas. Se o pedido tiver uma pluralidade de causas de
pedir, e o juiz o julgou improcedente com base em todas elas, deve o recorrente impugnar a
solução de cada uma delas, sob pena de somente as questões impugnadas subirem ao
tribunal.
Isso porque a questão decidida, se não impugnada, fará coisa julgada, sustentando a decisão
do juízo a quo.
Por fim, não se devolve as questões relativas aos pedidos implícitos quando na apelação não
houver pedidos específicos sobre eles.
24.1.4.2. Análise do Mérito pelo Tribunal, após Afastar o Motivo da Extinção do Processo
(art. 515, § 3º) – Teoria da Causa Madura
Tratando-se de sentença terminativa e interposta apelação, caso a julgue procedente, não
poderá o tribunal também adentrar no mérito da causa, pois isso configuraria supressão de
instância. Ele deve determinar o retorno dos autos ao juízo a quo para continuar o julgamento.
Outra hipótese.
A aplicação desse dispositivo deve ser expressamente requerida pelo apelante em suas
razões recursais. Se não houver o pedido, não poderá o tribunal, de ofício, adentrar no
mérito, pois estará profedindo julgamento extra ou ultra petita. Além disso, ele somente se
aplica caso o fundamento da apelação seja error in iudicando.
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635
O art. 515 do CPC foi modificado pela Lei n. 10.352/2001, que lhe inseriu o §
3º, segundo o qual, nos casos de extinção do processo sem julgamento do
mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar
exclusivamente questão de Direito e estiver em condições de imediato
julgamento (teoria da causa madura). Esse princípio introduzido no CPC, ao
permitir que o Tribunal, no exercício do duplo grau de jurisdição, pronuncie-
se sobre matéria não examinada na primeira instância, nos casos de
extinção do processo sem julgamento do mérito, ampliou a devolutividade
do recurso de apelação (STJ, T1. REsp 866.997-PB)
Por que ampliou a devolutividade? Pois a matéria sobre a qual o Tribunal poderá se pronunciar
é mais extensa do que aquela objeto do recurso da parte que visa a anulação da sentença que
extinguiu o processo sem julgamento de mérito.
Veja bem: o STF não permitiu a aplicação da teoria da causa madura porque se tratou de
recurso ordinário constitucional para o STJ, e não de apelação. Se fosse o caso de apelação em
mandando de segurança, tem sim aplicabilidade a teoria da causa madura, desde que o
impetrado já tenha sido notificado e prestado as informações devidas. Nesse sentido:
Mantida a sentença, o réu será citado para responder ao recurso (isso porque o processo não
chegou a se aperfeiçoar com a sua citação).
O tribunal poderá, reformando a sentença, já julgar o pedido contido na inicial, desde que o
apelante o tenha requerido e que a causa esteja madura.
Porém, ao chegarem os autos ao tribunal, poderá o relator constatar que a matéria contraria
súmula dominante dos tribunais superiores, negando-lhe seguimento.
144
Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido
proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e
proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. (Incluído pela Lei nº 11.277, de
2006)
§ 1o Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no prazo de 5 (cinco) dias, não manter a sentença e
determinar o prosseguimento da ação. (Incluído pela Lei nº 11.277, de 2006)
§ 2o Caso seja mantida a sentença, será ordenada a citação do réu para responder ao recurso. (Incluído
pela Lei nº 11.277, de 2006)
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638
Ainda que julgadas por sentença única ação principal e cautelar, o recurso
de apelação interposto deve ser recebido no duplo efeito quanto ao capítulo
que decide a principal e apenas no efeito devolutivo no capítulo relativo à
ação cautelar. (STJ, 5T, Informativo 390, EREsp 663.570/SP)
g) Decretar a interdição;
145
Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
§ 1o Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e
discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro. (efeito devolutivo na
acepção vertical) § 2o Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher
apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.
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(STJ, EDcl no AgRg no REsp 926.198/AL, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 26/10/2010, DJe 16/11/2010)
Porém, o art. 517 permite que o apelante/apelado suscite questões de fato novas, desde que
prove que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.
Ignorância do fato pela parte. Ainda que o fato seja anterior à sentença, e desde que
tenha ocorrido algum motivo objetivo que tenha gerado a impossibilidade de seu
conhecimento pela parte, o fato há de ser considerado como fato novo, para os fins
aqui examinados, autorizando-se sua dedução imediatamente perante o juízo
superior;
As novas alegações ainda poderão ser apresentadas diretamente ao tribunal em duas outras
situações, não relacionadas especificamente com o art. 517 do CPC, ou com as hipóteses
referidas acima. É o caso do RECURSO INTERPOSTO POR TERCEIRO
PREJUDICADO (art. 499 § 1º do CPC) e as QUESTÕES DE ORDEM PÚBLICA. O
primeiro autoriza a dedução de fatos novos perante o tribunal: se o terceiro prejudicado
apenas ingressa no processo por ocasião da interposição desse recurso, é evidente que nele
deverá apresentar todas as objeções à sentença impugnada. Suas preocupações, em relação à
sentença impugnada, podem ser bem diferentes daquelas trazidas pelas partes anteriormente,
razão pela qual todas as questões por ele apresentadas podem ser novas em relação ao
material já apresentado nos autos.
24.1.7. Procedimento
b) Na apelação contra sentença que indefere a petição inicial, em 48h (art. 296);
Verificando que a sentença tem sentido igual ao de súmula do STJ ou do STF, ele não receberá
o recurso (art. 518, § 1º).
Trata-se essa de uma hipótese de se tentar conferir eficácia vinculante às súmulas meramente
enunciativas (persuasive precedent) do entendimento jurisprudencial. Por isso que se torna
cada vez mais importante dominar os conceitos de distinguishing, overruling e overriding.
Se o juiz não admitir o recurso de apelação alegando que a sentença está em conformidade
com a súmula do STJ ou STF, caberá AGRAVO DE INSTRUMENTO com base no art. 522, caput
do CPC, que deverá demonstrar a inaplicabilidade da súmula em face do caso concreto ou a
necessidade da revisão do entendimento nela consolidado.
Admitida a apelação, deve o juiz declarar em que efeitos a recebe, determinando a intimação
da parte contrária para contra-arrazoar. Após, É FACULTADO AO JUIZ REAPRECIAR, EM 05
DIAS, OS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DA APELAÇÃO (art. 518, § 2º). Em
seguida, ele deve remeter os autos ao tribunal.
a) Quando a apelação for interposta em causa que tramite pelo rito sumário;
Após distribuída ao relator, este poderá NEGAR-LHE SEGUIMENTO, por ser intempestiva,
manifestamente improcedente ou contrária a súmula ou jurisprudência de tribunal superior ou
do próprio tribunal. Nesses casos, caberá agravo interno, no prazo de 05 dias (art. 557).
Tendo seguimento, o relator elaborará relatório e remeterá os autos ao revisor para apor seu
visto e pedir inclusão do feito em pauta para julgamento.
Súmula 117, STJ: “Feita a inclusão em pauta, esta deve ser publicada no diário de justiça, com
antecedência mínima de 48 horas da sessão de julgamento, sob pena de nulidade”.
Isso é medida de economia processual, para se evitar a anulação do processo com o retorno a
repetição de várias etapas no juízo a quo.
O agravo foi o recurso designado pelo CPC para servir de meio à impugnação de decisões
interlocutórias. Com o novo art. 475-H, introduzido pela Lei nº 11.232/2005, também caberá
agravo (de instrumento) contra qualquer espécie de decisão que julgue liquidação de
sentença.
Será apenas agravo quando interposto imediatamente nos mesmos autos em que a decisão
recorrida foi proferida, sendo desnecessária a formação do instrumento, por já se
encontrarem os autos no tribunal onde deverá ser apreciado o mérito do recurso.
Esse recurso independe de preparo e deve ser interposto no prazo de 10 dias da decisão.
A regra é o cabimento de agravo retido contra decisão interlocutória, somente devendo ser
interposto o agravo de instrumento quando a questão envolver risco de lesão grave ou de
difícil reparação, ou houver previsão legal específica ou o agravo retido se revelar inadequado.
Mesmo não sendo o caso de agravo de instrumento, sendo este interposto, o relator poderá
convertê-lo em agravo retido. Dessa conversão NÃO CABE RECURSO, podendo vir a ser o caso
de mandado de segurança, se houver prejuízo para a parte.
Interposto o agravo retido, o agravado será intimado para apresentar suas contrarrazões no
prazo de 10 dias, podendo o juiz, após as contrarrazões, exercer a retratação (art. 523, § 2º).
Entende-se que o contraditório apenas é obrigatório quando o magistrado vislumbrar a
hipótese de retratar-se em sua decisão. Não sendo esse o caso, dispensa-se a oitiva do
agravado, pois o recurso não será encaminhado de imediato ao Tribunal.
Estabelece o art. 523, § 3º, que as decisões proferidas em AIJ deverão, se for o caso do agravo
retido, ser agravadas oralmente, já arrazoando a parte e constando as razões do termo de
audiência.
Interposto o agravo retido oral, devem ser colhidas as contrarrazões na própria audiência, para
que esta se encerre com esse incidente já resolvido e para que o juiz se retrate ou mantenha
desde já sua decisão.
Entretanto, isso não quer dizer que não possa ser interposto agravo de instrumento das
decisões proferidas em audiência, desde que atendidos os requisitos.
Caso seja interposto agravo de instrumento no lugar de agravo retido de forma dolosa, sem
qualquer urgência, o relator deverá inadmiti-lo, e não convertê-lo em retido, já que se
consumou a preclusão para interposição.
b) Agravo retido contra decisão não proferida em audiência: interposição por escrito e no
prazo de 10 dias.
O problema ocorre quando não há apelação da Fazenda Pública, já que o agravo retido será
examinado sem a prévia manifestação do agravado. Nesse caso, o agravado não será intimado
para contra-arrazoar, já que não há resposta na remessa de ofício.
Interposto agravo retido, e desde que se permita ao agravado apresentar sua resposta no
prazo de 10 dias ou na mesa, oralmente, conforme o caso, pode o juiz reformar sua decisão.
Caso tenha sido interposto agravo retido e não tenha havido manifestação pela outra parte,
antes de julgada a apelação, deve haver a colheita das contrarrazões, consagrando-se o
contraditório.
Argumentos a favor:
b) Agravo de instrumento por expressa determinação legal: são as hipóteses em que a lei
determina que o agravo deverá ser interposto na modalidade de instrumento.
Geralmente, sempre será retido o agravo nas decisões posteriores à sentença.
i. Decisão que receber a apelação em efeitos diversos dos que deveriam (art.
522)146;
iii. Decisão que julgar a liquidação da sentença (art. 475-H), não havendo, aqui a
possibilidade de retratação.
Somente caberá AI quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de
difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos
em que a apelação é recebida (art. 522). Assim, vê-se que essas hipóteses não são taxativas.
Seu prazo de interposição é de 10 dias, sendo exigido o preparo, conforme o regime legal de
custas federal ou estadual.
No AI também se aplica o art. 523, § 2º, podendo o juiz, após as contrarrazões, exercer o juízo
de retratação, salvo no caso que julga a liquidação de sentença.
a) Decisão agravada;
146
Nesse caso, é muito comum que, com o julgamento do AI, seja interposto REsp. Nesse caso, se o REsp
não for julgado antes de julgada a apelação, perde ele seu objeto. Nesse sentido:
RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO QUE DECIDIU SOBRE OS EFEITOS
DA APELAÇÃO. JULGAMENTO SUPERVENIENTE DO RECURSO. PERDA DE OBJETO.
1. O recurso especial interposto contra agravo de instrumento que decidiu sobre os efeitos com os
quais a apelação é recebida, perde seu objeto se superveniente o julgamento do respectivo recurso.
Precedentes. 2. Recurso especial prejudicado. (REsp 1127930/CE, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA,
Rel. p/ Acórdão Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/10/2011,
DJe 17/10/2011)
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649
As peças do AI não precisam ser autenticadas, se não lhes for impugnada a autenticidade.
Mesmo assim, arguido e comprovado, o AI só não será admitido se tiver havido prejuízo para o
agravado.
Essa petição formará um instrumento, que deve vir acompanhado obrigatoriamente (525, I),
sob pena de não conhecimento, com cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva
intimação e das procurações outorgadas aos advogados do agravante; e facultativamente
(525, II), com outras peças que o agravante entender úteis.
Oferecido o recurso, é dever do agravante fazer juntar aos autos do processo, em 3 dias, cópia
da petição do agravo, acompanhada da relação de documentos juntados, bem como
comprovante de sua interposição (526). Não observada essa obrigação, o agravo não deve ser
admitido, cabendo ao agravado arguir e provar o descumprimento (526, parágrafo único).
No Tribunal, poderá o relator, se houver pedido para tanto, desde logo, ou após
contrarrazões, atribuir efeito suspensivo ao recurso, ou antecipar os efeitos da pretensão
recursal (527, III – decisão irrecorrível, podendo o relator reconsiderar). Poderá, também,
requisitar informações ao juízo a quo (10 dias para prestar). Será também possível ao relator,
se for o caso, negar monocrática e liminarmente seguimento ao agravo (527, I, c/c 557).
Nesse caso, caberá agravo interno ou regimental.
Poderá, ademais, o relator, converter o agravo de instrumento em agravo retido (527, II),
remetendo-o ao primeiro grau (também se trata de decisão irrecorrível – 527, parágrafo
único. A parte pode se valer de MS para tentar reverter isso. Ademais, pode o relator
reconsiderar). Assim, sempre que o relator verificar de plano que o recurso não deveria ter
sido interposto por instrumento, poderá ele remeter o recurso para o primeiro grau, para que
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assuma o caráter retido que deveria ter sido empregado originalmente. Contudo, nas
hipóteses em que a lei autoriza a interposição do agravo por instrumento, tal conversão não
será permitida.
Além disso, determinará o relator, após dar seguimento ao recurso, a oitiva do agravado para
contrarrazões, intimando-o na pessoa de seu advogado, no prazo de 10 dias. Efetivado o
contraditório, abrir-se-á vista ao Ministério Público, se for o caso, para manifestação em 10
dias (527, V e VI).
Após, será pedido dia para julgamento. Se, todavia, o juiz a quo comunicar, até a data do
julgamento, que reformou sua decisão, o relator deverá julgar prejudicado o agravo (529).
Observe-se que no agravo não existe a figura do revisor. Não se admite, também, que as
partes sustentem oralmente suas razões (554).
Por fim, enquanto estiver pendente de julgamento agravo relativo a determinado processo,
não pode o Tribunal julgar eventual apelação interposta contra sentença nele proferida. Se,
eventualmente, tiverem de ser julgados, em uma mesma sessão, apelação e agravo,
primeiramente será julgado o agravo e, somente depois, se ainda houver necessidade, será
apreciada a apelação.
Entretanto, se o agravo puder resultar em algum benefício prático para o agravante, Didier
defende que ele deve ser julgado. Seria o caso, por exemplo, em que o juiz não admite a
denunciação da lide e interpõe-se AI. Ora, sobrevindo sentença, especialmente se desfavorável
ao denunciante, o julgamento posterior do recurso será benéfico ao recorrente, já que lhe
garantirá o direito de ser indenizado.
Outro exemplo é a antecipação, por AI, de um dos capítulos da demanda que não necessite de
dilação probatória.
3. Contra ato do relator que, no STF ou STJ, não admite o agravo de instrumento, nega-
lhe provimento ou reforma o acórdão recorrido (art. 545).
Nestes casos o agravo deve ser interposto no prazo de cinco dias e não de dez, e deve ficar
encartado nos autos, sendo competente para julgá-los o mesmo órgão do tribunal que teria
competência para julgar o recurso decidido monocraticamente pelo relator. O procedimento
do agravo interno é ditado pelos regimentos internos de cada Tribunal.
Da decisão do relator que não conhecer do agravo, negar-lhe provimento ou decidir, desde
logo, o recurso não admitido na origem, caberá agravo, no prazo de 5 (cinco) dias, ao órgão
competente.
a) Sobre um pedido;
c) Sobre questões de ordem pública, que devem ser apreciadas de ofício pelo
magistrado.
A decisão é obscura quando for ininteligível, quer porque mal redigida, que porque ilegível.
Será contraditória quando trouxer proposições entre si inconciliáveis, principalmente entre a
fundamentação e o dispositivo.
Ele também vem sendo admitido para a correção de erros materiais, pois é permitido ao juiz,
de ofício ou a requerimento, corrigir erros ou inexatidões materiais em seus pronunciamentos
(art. 463).
Apesar de não previsto na lei, o ED é cabível também contra decisões interlocutórias e, até
mesmo, contra despachos.
Isso porque, de acordo com a CR/88, toda decisão judicial deve ser devidamente
fundamentada. Importante é ressaltar que o art. 535, I, determina que os casos de contradição
e obscuridade se referem apenas a sentença e acórdão. Porém, esse não é o entendimento
que deve ser adotado.
Porém, o STF possui várias decisões no sentido de não admitir ED contra decisões
monocráticas, ao fundamento de que o recurso cabível seria o agravo regimental. Na verdade,
o que o tribunal faz é converter o ED em agravo regimental, ante o princípio da fungibilidade
recursal:
Como já visto anteriormente, ter efeito devolutivo não significa necessariamente que o
recurso será julgado por órgão superior.
Quando se supre a omissão, certamente a nova decisão será diferente da anterior, havendo
novo teor nela.
Porém, isso deve ser visto com reservas. Muitos advogados se valem do expediente como
meio de infringir o princípio da unicidade recursal, tentando alterar o julgado perante o juízo a
quo e, depois, perante o Tribunal.
Súmula 278, STJ: “A natureza da omissão suprida pelo julgamento do embargo de declaração
pode ocasionar efeito modificativo no julgamento”.
Para o STJ, se houver a possibilidade de concessão de efeitos infringentes, deve o juiz primeiro
mandar intimar a parte contrária para se manifestar sobre essa possibilidade, de forma a se
garantir o contraditório e evitar surpresas no processo. Nesse sentido:
O STF também repele a possibilidade de concessão de efeitos infringentes nos ED, somente
reconhecendo isso de forma excepcional:
(STF, AI 743641 ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado
em 08/02/2011, DJe-039 DIVULG 25-02-2011 PUBLIC 28-02-2011 EMENT
VOL-02472-01 PP-00206)
Na verdade, o que o STF mais costuma fazer é converter os embargos de declaração para
agravo regimental:
(STF, RE 275507 ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado
em 07/06/2011, DJe-123 DIVULG 28-06-2011 PUBLIC 29-06-2011 EMENT
VOL-02553-01 PP-00132)
(STF, AI 783653 ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
07/06/2011, DJe-124 DIVULG 29-06-2011 PUBLIC 30-06-2011 EMENT VOL-
02554-03 PP-00476)
A interrupção vale para qualquer das partes, para o MP e para terceiros, independentemente
de quem haja interposto o recurso, ainda que o ED tenha tido apenas escopo protelatório.
Isso quer dizer que, opostos o ED contra sentença, a decisão terá natureza de sentença; conta
acórdão, natureza de acórdão; contra interlocutória, natureza de interlocutória.
24.3.4. Prazo
Ele deve ser interposto em até 05 dias, a contar da intimação da decisão embargada. O MP, a
FP e o defensor público terão prazos em dobro.
Os litisconsortes com procuradores diferentes terão prazo em dobro, ainda que apenas um
deles haja sucumbido, contrariando a súmula 641 do STF. Isso porque o requisito recursal é a
omissão, contradição ou obscuridade, e não a sucumbência.
Súmula 211, STJ: “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição
de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo”.
Súmula 98, STJ: “O embargo declaratório com intuito de prequestionamento não tem caráter
protelatório”.
Lembrar, entretanto, que há várias causas de dispensa da reserva de plenário (ou full bench,
no direito americano), como no caso de declaração de constitucionalidade, de prévia
decretação da inconstitucionalidade pelo pleno ou pelo STF etc.
b) Conhecer da apelação para anular a sentença (já que deverá ser prolatada outra
sentença);
c) Conhecer da apelação para manter a sentença, ainda que de forma não unânime;
d) Apreciar a sentença terminativa (que não julga o mérito), seja para mantê-la ou
reformá-la;
Assim, vê-se que a manutenção de qualquer sentença pelo acórdão inviabiliza a interposição
de EI, ainda que o acórdão não tenha sido unânime. Trata-se do critério da dupla
conformidade, expresso na existência de duas decisões em sentidos diversos.
Além de se exigir que a sentença examinada tenha apreciado o mérito, é necessário que o
acórdão não unânime a tenha reformado, ainda que parcialmente.
Ademais, a divergência entre os votos vencidos e vencedores deve ser clara, não podendo ser
mínima, tratando apenas de questões periféricas. Se não houver clareza suficiente na
divergência apta a demonstrar o requisito dos infringentes, esse não será cabível. Porém,
perfeitamente lícito que a clareza não presente no voto seja trazida por intermédio de
embargos de declaração. Nesse sentido:
24.4.2. Cabimento dos Embargos Infringentes Apenas de Acórdão de Mérito que Julgar
Apelação
Na verdade, a definição legal mais correta deveria dispor que o acórdão deve, também,
apreciar o mérito. Isso porque a sentença de mérito poderá ser reformada por um acórdão
terminativo, o qual tem efeito substitutivo sobre a sentença, v.g., quando ela julga haver
ilegitimidade da parte. Nesse caso, não cabe EI, já que a demanda poderá ser renovada.
Porém, PODE HAVER CASO DE UMA SENTENÇA TERMINATIVA SER REFORMADA POR
UM ACÓRDÃO QUE ADENTRA NO MÉRITO. Nesse caso, sendo ele não unânime, é
permitida a interposição do EI, como ocorre no caso do art. 515, § 3º.
Nesse sentido:
b) Juízo rescindente: será decidido se deve ou não ser desconstituída a coisa julgada;
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666
Somente cabe EI se julgada procedente, por maioria de votos, a ação rescisória. Logo, se ela
não for admitida, ou sendo, for improcedente, não cabe o juízo infringente.
Logo, deve ter havido a desconstituição da ação rescisória, modificando a situação anterior.
O entendimento do STJ é no sentido de que são cabíveis EI de acórdão não unânime, prolatado
em sede de ED, uma vez que tais embargos constituem uma complementação do acórdão de
apelação, incorporando-se a este. Nesse sentido:
Súmula 255, STJ; “Cabem embargos infringentes contra acórdão, proferido por maioria, em
agravo retido, quando se tratar de matéria de mérito”.
Também entende a doutrina que são admissíveis embargos infringentes contra acórdão não
unânime proferido em sede de agravo de instrumento, quando for decidida matéria de
mérito (por exemplo, no caso em que o Tribunal, apreciando agravo de instrumento, extingue
o feito, com julgamento do mérito por maioria, acolhendo a prescrição). Nesse sentido:
(STJ, EREsp 163.239/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, Rel. p/ Acórdão Ministro
PAULO GALLOTTI, CORTE ESPECIAL, julgado em 04/02/2009, DJe
05/03/2009)
O caso foi o seguinte: o juiz singular julgou procedentes os pedidos da demanda afastando a
preliminar de ilegitimidade passiva e adentrando no mérito. O Tribunal, em julgamento de
apelação e por maioria, reformou a sentença e extinguiu o processo sem julgamento de mérito
em função da ilegitimidade passiva do apelado.
De acordo com a Teoria da Exposição, o Tribunal teria prolatado um acórdão sem exame do
mérito, terminativo, que não desafiaria embargos infringentes. Porém, como o STJ adota a
Teoria da Asserção, entende esta Corte que o juiz, ao afastar preliminares, o faz com base em
análise de provas, com profundidade, emitindo um juízo definitivo sobre o tema. O Tribunal,
igualmente, ao dar provimento à apelação para extinguir por ilegitimidade passiva o processo,
teria prolatado um acórdão de mérito, motivo pelo qual cabíveis os infringentes. Eis a ementa
do julgado:
A Turma decidiu que cabem embargos infringentes contra acórdão que, por
maioria, acolhe preliminar de ilegitimidade passiva e reforma sentença para
extinguir a ação sem julgamento do mérito. Assim, em respeito ao devido
processo legal, o art. 530 deve ser interpretado harmoniosa e
Patente, pois, a necessidade de retorno dos autos à origem para que o TJ/RS
prossiga no julgamento dos embargos infringentes.
Efeito suspensivo, quando interposto contra acórdão que julgar a ação rescisória.
Em relação à apelação, o EI somente terá efeito suspensivo caso a própria apelação tenha sido
recebida no efeito suspensivo.
vencido. Se mesmo depois dos embargos de declaração o voto vencido não for obtido, cabem
embargos infringentes, considerando que a divergência foi total.
Porém, se em relação a um pedido havia uma pluralidade de causas de pedir, não é possível,
em sede de EI, julgá-lo procedente por qualquer das outras se o acolhimento foi fundado em
apenas uma. A causa de pedir não se confunde com o fundamento do voto vencido,
evidentemente. Exemplo: pedido X tinha como fundamentos causas de pedir A, B, C e D.
Acórdão, em sede de apelação, julgou procedente o pedido de reforma da sentença, que
acolheu todas as causas de pedir. Voto vencido sustentou a decisão original apenas com
fundamento na causa de pedir D. Logo, o fundamento da decisão dos embargos infringentes
deverá se ater à divergência, que é a causa de pedir D, já que no resto houve unanimidade.
Segundo Didier, o relator dos embargos infringentes não poderá, aplicando o art. 557
(contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante de tribunal superior), julgar
monocraticamente os embargos infringentes (sob pena de ele sozinho se sobrepor à decisão
do colegiado). Necessariamente, o mérito dos embargos infringentes será apreciado pelo
colegiado. O que o relator pode fazer é examinar monocraticamente a admissibilidade dos
infringentes (não o mérito).
O processamento do EI terá um revisor. Ver tópico sob a ordem dos processos nos tribunais.
Entretanto, a parte que interpôs o EI pode e deve, desde já, interpor REsp e RE contra o
capítulo unânime, sob pena de formação da coisa julgada.
Logo, em sendo o acórdão não unânime, a parte terá 30 dias (15 do EI + 15 do REsp e RE) para
a interposição dos recursos extraordinários, contados da intimação do acórdão que julgar a
apelação ou a ação rescisória.
Porém, se os recursos excepcionais tiverem sido interpostos após o prazo de 15 dias, por ter
sido interposto embargo infringente, mas esse for considerado não cabível, aqueles deverão
ser tidos por intempestivos, de acordo com o STJ:
vedação é obstar que a parte se valha de recurso somente para aumentar o prazo recursal do
recurso excepcional.
É prematura a interposição de REsp antes do julgamento dos EI, momento em que ainda não
está esgotada a instância ordinária. Se isso ocorrer, o REsp/RE deverá ser posteriormente
ratificado, sob pena de ser tido por intempestivo.
24.5.1. Generalidades
Como o próprio nome diz, trata-se de um recurso ordinário, só que dirigido ao STF/STJ, que
exercerão competência recursal sem qualquer limitação em relação à matéria fática. Os
tribunais superiores funcionarão como segundo grau de jurisdição, dispensado o
prequestionamento.
Também podem ser deduzidos fatos novos em casos excepcionais, podendo ainda o tribunal
conhecer das matérias que lhe tocariam examinar de ofício, em qualquer tempo ou grau de
jurisdição (efeito translativo).
a) MS;
b) HD;
c) Mandado de injunção.
É recurso secundum eventum litis, que só pode ser utilizado se a decisão for denegatória,
mesmo que somente em relação a alguns capítulos da sentença. Deve ser interposto no prazo
de 15 dias.
Cabe contra qualquer decisão denegatória, ainda que extinga o processo sem o julgamento de
mérito.
Súmula 272, STF: “Não se admite como recurso ordinário, recurso extraordinário de decisão
denegatória de MS”. Isso porque o STF entende que há erro grosseiro, não justificando a
fungibilidade recursal.
a) Embargos infringentes contra acórdão não unânime que o julga, reformando decisão
anterior;
b) Interposição adesiva;
c) Revisor.
Não é cabível contra decisão de turma recursal do Juizado Especial, nem contra acórdão do
TRT ou TRE.
Estas causas tramitam perante a Justiça Federal de primeira instância, indo o recurso
diretamente ao STJ, sem passar pelo TRF.
Será julgada por uma Turma do STJ, onde todos votam. Nestas causas, cabe agravo das
decisões interlocutórias (art. 539, p. único).
Isso, porém, não se confunde com a qualificação jurídica do contrato, que é matéria de direito
passível de ser analisada por recurso excepcional.
24.6.5. Prequestionamento
Trata-se de exigência obrigatória pela qual se impõe que a questão federal/constitucional
objeto do recurso de superposição tenha sido suscitada/analisada na instância inferior.
Súmula 320, STJ: “A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao
requisito de prequestionamento”. Ou seja, se a questão federal tiver sido levantada APENAS no
voto vencido, sem sequer ter sido mencionada em algum dos votos vencedores, ainda que de
forma divergente, não há prequestionamento. Essa súmula continua sendo observada no STJ:
Logo, o STJ exige que seja interposto embargo de declaração para que algum dos votos
vencedores se pronuncie sobre a questão. Caso mesmo assim não se proceda, a parte deverá
interpor REsp para demonstrar a omissão ilegal do Tribunal a quo e pedir ao STJ que force o
pronunciamento da instância inferior, anulando o acórdão.
Súmula 282, STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão
recorrida, a questão federal suscitada”. ISSO PORQUE O VOTO VENCIDO NÃO FAZ PARTE DA
DECISÃO RECORRIDA. O recurso recairá sobre o mérito dos votos vencedores, que
determinaram o resultado do julgamento. Nesse sentido:
Para o STJ, de acordo com a súmula 211, não haverá prequestionamento, devendo o
recorrente interpor REsp por violação ao art. 535, CPC, para forçar o pronunciamento do
tribunal de origem.
Súmula 211, STJ: “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição
de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo”.
Súmula 356, STF: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos
declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do pré-
questionamento”.
Súmula 207, STJ: “É inadmissível REsp quando cabíveis embargos infringentes contra o acórdão
proferido no tribunal de origem”.
Logo, reformada a sentença de mérito por maioria, não se pode interpor, desde logo, o REsp,
já que ainda cabe embargo infringente, não tendo sido esgotada a instância ordinária. Do
mesmo modo a seguinte súmula:
Assim, caso haja algum recurso que venha a ser julgado monocraticamente pelo relator, é
imprescindível que seja interposto o agravo interno para o cabimento dos recursos
excepcionais, pois somente aí terá havido esgotamento de instância, sendo proferido acórdão.
Mesmo que contra a decisão monocrática a parte venha a interpor embargo de declaração
julgado por acórdão, ainda assim será incabível o extraordinário, pois a parte deixou de
esgotar a instância.
Essa retenção obrigatória visa a evitar que determinados recursos sejam julgados, se a matéria
neles versada deixou de se revelar relevante ou necessária para a parte recorrente.
O STJ, entretanto, admite excepcionalmente a flexibilização dessa regra de retenção nos autos:
(STJ, AgRg nos EDcl no Ag 1108480/RJ, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em
07/04/2011, DJe 18/04/2011)
Súmula 634, STF: “Não compete ao STF conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a
recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem”.
Nesse sentido:
[...]
O prequestionamento influencia nesta questão: o que deve ter sido prequestionado são os
fatos e fundamentos do pedido excepcional. Isso é um juízo de admissibilidade. Admitido o
recurso, nada obsta que haja análise pelos tribunais superiores de matérias que não tenham
nem mesmo sido suscitadas na instância ordinária, desde que se tratem de matérias
alegáveis a qualquer tempo. Trata-se de uma manifestação do efeito translativo.
Porém, não poderá o tribunal superior analisar pedido não feito pela parte, julgar extra ou
ultra petita. Somente as questões de ordem pública.
[...]
6 - Agravo desprovido.
24.6.12. Preparo
Há preparo nos recursos excepcionais, o qual somente foi dispensado, pelo RISTJ, em alguns
processos de competência originária ou recursal.
Súmula 187, STJ: “É deserto o recurso interposto para o STJ, quando o recorrente não recolhe,
na origem, a importância das despesas de remessa e retorno dos autos”.
Há casos em que a parte deve interpor RE e REsp contra o mesmo acórdão, em duas situações:
[...]
No primeiro caso, porém, será formada a coisa julgada somente contra o(s) capítulo(s) não
impugnado(s). Assim, nada obstará que os demais capítulos que não se assentem sobre
matéria constitucional, por exemplo, sejam combatidos apenas com REsp.
Se interpostos conjuntamente REsp e RE, forem ambos inadmitidos na origem, deve a parte
interessada interpor agravo de instrumento, obrigatoriamente para o STJ e para o STF.
f) Estará prejudicado o extraordinário se o REsp for conhecido e provido ou, não sendo
provido, for fundamento do mesmo pedido do RE;
Logo, sendo caso de interposição simultânea de RE e REsp, por conter o acórdão recorrido
fundamentos constitucional e legal, qualquer deles suficientes para sustentar a decisão, o
não provimento do REsp acarreta a perda de interesse recursal do RE.
147
Writ of certiorari equivale ao nosso recurso repetitivo, técnica processual por meio da qual a Corte
superior, diante de vários recursos semelhantes, requer ao Tribunal inferior que este pince aquele
representativo da controvérsia e o envie para que, aquele, decida a questão.
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Se essa medida não for adotada, caberá ao Relator no STJ, ao identificar que sobre a
controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado,
determinar a suspensão dos recursos nos tribunais de segunda instância.
O relator poderá negar seguimento ao recurso por decisão monocrática, nos termos
do art. 557 (confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do STF ou do
próprio STJ).
Recebido o recurso, o Relator poderá solicitar informações a serem prestadas em 15 dias pelos
tribunais, a respeito da controvérsia.
Como essas causas afetam um grande número de pessoas, poderá ser admitido a falar, desde
que previsto no RISTJ, amicus curiae. Sobre isso, decidiu a Corte:
O recurso será colocado em pauta e será necessariamente julgado pela Corte Especial ou
Seção, tendo preferência sobre todos os demais feitos, salvo os que envolverem réu preso e
pedidos de HC.
c) Caso o tribunal não reveja seu entendimento, ele fará o exame de admissibilidade do
recurso e, se positivo o juízo, remeterá os autos ao STJ.
24.6.16. Agravo Contra Decisão que Nega Seguimento, na Origem, a Recurso Excepcional
(art. 544)
O agravo será na modalidade instrumento, no prazo de 10 dias, dirigido para o STF ou STJ,
conforme o caso.
Isso não impedirá que o fundamento inadmitido seja revisto no tribunal superior, em função
do efeito translativo.
Súmula 727, STF: “Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao STF o agravo de
instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário, ainda que referente
a causa instaurada no âmbito dos juizados especiais”.
Após interposto o agravo, deve o agravado ser intimado para contra-arrazoar no prazo de 10
dias, sendo, depois, remetidos os próprios autos para o Tribunal, não mais sendo formado
instrumento, como antes era feito. O agravo será julgado nos termos do regimento interno do
tribunal, podendo o relator:
Como visto, poderá o relator já conhecer e julgar do REsp ou do RE, tanto para dar
provimento quanto para denegar, se estiver fundado em súmula ou jurisprudência unânime
do tribunal superior (art. 544, § 4º).
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24.6.17. Profundidade e o Efeito Devolutivo dos Recursos Excepcionais (súmulas 292 e 528,
STF)
De acordo com referidas súmulas, interposto um recurso de superposição por mais de um dos
fundamentos indicados na Constituição, a admissão apenas por um deles não prejudica o seu
conhecimento por qualquer dos outros. Porém, estas súmulas só devem ser aplicadas na
hipótese de um mesmo capítulo da decisão ser objeto de recurso, com mais de um
fundamento.
Isso porque, caso um outro capítulo seja inadmitido por certo fundamento, sobre ele se
operará o trânsito em julgado se não houver agravo.
Súmula 528, STF: “Se a decisão contiver partes autônomas, a admissão parcial, pelo Presidente
do tribunal a quo, de recurso extraordinário que, sobre qualquer delas se manifestar, não
limitará a apreciação de todas pelo STF, independentemente de interposição de agravo de
instrumento.
Súmula 292, STF: “Interposto o recurso extraordinário por mais de um dos fundamentos
indicados no art. 101, III, da Constituição, a admissão apenas por um deles não prejudica o
seu conhecimento por qualquer dos outros”.
Vê-se, pois, que o STJ desempenha uma função paradigmática, já que suas decisões servem de
exemplo a ser seguido pelos demais tribunais.
Ainda que exerça controle do direito federal relevante, o STJ respeita a autonomia da Justiça
local quanto às questões de fato.
c) Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
Súmula 203, STJ: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo
grau dos juizados especiais”. Isso porque as hipóteses de cabimento do REsp são taxativas
Lei federal, para efeito de cabimento do REsp, engloba todos os atos legislativos primários,
desde decreto-lei, mp, decreto autônomo até lei complementar federal.
Súmula 399, STF: “Não cabe recurso especial por violação a regimento interno de tribunal”.
É cabível recurso especial com fulcro no art. 105, III, ‘a’, da CF baseado em negativa de
vigência de dispositivo legal que apenas reproduza norma ou princípio constitucional?
Não.
O legislador ordinário não poderia alterar uma regra de competência de julgamento dos
tribunais superiores apenas por encartar uma regra constitucional na legislação ordinária, que
essencialmente ainda continuaria sendo a mesma norma constitucional. Tal entendimento há
muito é adotado pelo STJ:
Exemplo em que a corte que tem por missão uniformizar a interpretação da legislação
infraconstitucional abdicou de manifestar-se quanto à matéria foi em relação ao art. 110 do
CTN, que a despeito de ser formalmente lei complementar, materialmente encarta princípio
de competência tributária, matéria nitidamente afeta ao patamar constitucional. Eis
precedente:
[...]
Outro precedente tratava do art. 97, I, do CTN, que consigna a garantia da legalidade tributária
adotada pelo art. 150, I, da CF:
[...]
Outro ponto digno de nota seria a diferenciação entre 2 situações: (i) quando a lei nada
agrega de carga ou densidade normativa por apenas reproduzir norma ou princípio
constitucional; e (ii) quando a lei agrega carga e densidade normativa, não apenas
reproduzindo, mas também concretizando norma constitucional.
Na hipótese (ii) ocorreria a ofensa reflexa ou indireta à constituição, que para a jurisprudência
do STF não é passível de recurso extraordinário, consoante Súmula 636, STF: “Não cabe
recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a
sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela
decisão recorrida”. A despeito de a Súmula se referir à legalidade, o raciocínio é aplicável a
qualquer preceito constitucional, consoante reiterada jurisprudência da corte excelsa:
[...]
3. O critério em geral adotado pelo STJ para definir o recurso cabível nessas
situações é o de que não cabe o recurso especial, e sim o extraordinário,
quando a norma infraconstitucional apontada como violada simplesmente
reproduz uma norma constitucional. O sentido positivo inverso do critério é,
consequentemente, o do cabimento do recurso especial quando a norma
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698
[...]
(STF, EDcl nos EDcl nos EDcl no REsp 1109943/SP, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 29/03/2011)
Súmula 13, STJ: “A divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja recurso especial”.
Não bastará que o recorrente transcreva ementas dos acórdãos. Ele deve proceder com o
cotejo analítico entre o julgado recorrido e o paradigma, tanto comparando os relatórios, para
demonstrar a semelhança, quanto os votos, para demonstrar as divergências.
Entretanto, se a ementa contiver todos os detalhes do caso, será o bastante para, feito o
cotejo analítico, ter como provada a divergência jurisprudencial.
[...]
[...]
[...]
3. Além disso, "o recurso especial interposto pela alínea 'c' é inadmissível
quando a divergência apontada pelo acórdão paradigma já não é atual,
mas pretérita e superada. (AgRg nos EDcl no Ag 1.045.943/RJ, Rel. Min.
Luiz Fux, DJe 03/08/2010).
[...]
a) Se o STJ deixar de aplicar lei sobre cuja interpretação se discute por entendê-la
inconstitucional;
Porém, não será cabível RE para rever pressupostos de cabimento de REsp, já que isso seria
analisar matéria infraconstitucional.
[...]
[...]
Essa cautelar poderá ser ajuizada perante o tribunal de origem, se o recurso ainda não foi
admitido perante o STJ, ou perante o próprio STJ, caso já admitido. Quando ajuizada perante o
STJ, deverá ser distribuída na Corte, pedindo-se que seja feito por dependência. Nesse
sentido:
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702
Interessante que o STJ tem admitido a cautelar até mesmo para conceder o efeito suspensivo
a recurso especial ainda não interposto, quando a situação for teratológica. Nesse sentido:
Isso não quer dizer, evidentemente, que o STJ não acata os argumentos dos recursos especiais
com base nesses princípios; pelo contrário, é muito comum encontrar julgados da Corte que
tem como fundamento ofensa a eles.
Cabe julgar, mediante RE, as causas decididas em última ou única instância, quando a decisão
recorrida:
Diferentemente do que ocorre em relação ao REsp, o RE não faz previsão de que a decisão
deva ter emanado de TRF ou de TJ. Também não há qualquer óbice ao RE contra decisão
proferida por Turma Recursal.
Súmula 733, STF: “Não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida no processamento
de precatórios”. Pois se trata de procedimento administrativo.
Súmula 637, STF: “Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça que
defere pedido de intervenção estadual em Município”. Pois se trata de decisão política.
Súmula 636, STF: “Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio
constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever interpretação dada a
normas infraconstitucionais pela decisão recorrida”. O STF não é o Tribunal para dar a
interpretação da legislação infraconstitucional. A ofensa ao princípio da legalidade tem de ser
Súmula 272, STF: “Não se admite como ordinário recurso extraordinário de decisão
denegatória de mandado de segurança”. Para casos de recurso de decisão denegatória de
mandado de segurança do art. 102, II, “a”, CR; STF entende que tais recursos são bem
diferentes, não sendo razoável se aplicar a fungibilidade. Trata-se de ERRO GROSSEIRO.
Súmula 528, STF: “Se a decisão contiver partes autônomas, a admissão parcial, pelo presidente
do tribunal 'a quo', de recurso extraordinário que, sobre qualquer delas, não se manifestar, não
limitará a apreciação de todas pelo Supremo Tribunal Federal, independentemente de
interposição de agravo de instrumento”. EM DECORRÊNCIA DA SÚMULA, É SUFICIENTE
QUE O JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE PROFERIDO NO TRIBUNAL A QUO ANALISE OS
FUNDAMENTOS RECURSAIS ATÉ ENCONTRAR UM ÚNICO QUE DÊ SUPORTE AO
PLEITO, NÃO NECESSITANDO MANIFESTAR-SE SOBRE OS DEMAIS. PORÉM, EM
DECORRÊNCIA DO EFEITO TRANSLATIVO, PODERÁ O SUPREMO ANALISAR TODAS AS
TESES SUSCITADAS PELA PARTE E INADMITIDAS PELO TRIBUNAL A QUO.
24.8.5. Recurso Extraordinário contra Julgamento que Contraria Tratado Internacional sobre
Direitos Humanos
A violação a este tipo de tratado, caso recepcionado com o quórum de emenda à
Constituição, dará ensejo ao RE, não ao REsp.
Finalidades do instituto148:
1. Firmar o papel do STF como Corte Constitucional e não como órgão recursal;
2. Ensejar que o STF só analise questões relevantes para a ordem constitucional, cuja
solução extrapole o interesse subjetivo das partes;
3. Fazer com que o STF decida uma única vez cada questão constitucional, não se
pronunciando em processos com idêntica matéria.
O texto constitucional prescreve que o conteúdo normativo do que seja “repercussão geral”
deve ser delimitado por lei federal. A Lei Federal nº 11.418/2006 tratou de fazê-lo,
esclarecendo em seu art. 4º que a exigência se aplica aos recursos interpostos a partir da data
de sua vigência (na verdade, o STF entendeu que a exigência só se aplica aos recursos
extraordinários quando a intimação do acórdão recorrido tenha ocorrido a partir de 03 de
maio de 2007, data da publicação da Emenda Regimental n. 21, de 30 de abril de 2007 – AI-QO
664567/RS, abaixo transcrito).
148
Fonte: Site do STF. Jurisprudência - repercussão geral.
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707
Medina, Wambier e Wambier propõem a seguinte sistematização dos critérios para aferição
da repercussão geral149:1) repercussão geral jurídica: a definição da noção de um instituto
básico do nosso direito, de “molde a que aquela decisão, se subsistisse, pudesse significar
perigoso e relevante precedente”; 2) repercussão geral política: quando “de uma causa
pudesse emergir decisão capaz de influenciar, por exemplo, relações com Estados estrangeiros
ou organismo internacionais”; 3) repercussão geral social: quando se discutissem problemas
relacionados “à escola, à moradia ou mesmo a legitimidade do MP para a propositura de
certas ações”; 4) repercussão geral econômica: quando se discutisse, por exemplo, o sistema
financeiro de habitação ou a privatização de serviços públicos essenciais.
“A transcendência (TEORIA DA GRAVIDADE INSTITUCIONAL150)- que ultrapassem os limites
subjetivos da causa - da controvérsia constitucional levada ao conhecimento do Supremo
Tribunal Federal, pode ser caracterizada tanto em uma perspectiva qualitativa como
quantitativa”. Na primeira, sobreleva para individualização da transcendência o importe da
questão debatida para a sistematização e desenvolvimento do direito; na segunda, o número
de pessoas susceptíveis de alcance, atual ou futuro, pela decisão daquela questão pelo
Supremo e, bem assim, a natureza do direito posto em causa (notadamente, coletivo ou
difuso). 151
149
Medina, José Miguel Garcia, Wambier, Teresa Arruda Alvim Wambier, Wambier, Luiz Rodrigues.
Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil 3. p. 246.
150
Na visão da Corte Suprema da Argentina, já recepcionada pela doutrina, pela legislação processual
(CPC, arts. 543-A, § 1º, e 543-C, caput) e pela jurisprudência dos Tribunais do Brasil, na compreensão
racional de que tais questões excedem ao mero interesse individual das partes e afetam de modo direto
o da comunidade em geral, conforme lições autorizadas de Nestor Pedro Saguès, citado por Bruno
Dantas, em sua dissertação de Mestrado sobre “Repercussão Geral”, dentro das questões de gravidade
institucional, pois é possível distinguir as que “superam os interesses dos princípios da causa, de tal
modo que ela comove a sociedade inteira, em seus valores mais substanciais e profundos (CSJN,
Julgados, 257:134 – caso Panjerek) – algo que poderia se denominar questão constitucional de interesse
comunitário total – daquelas que, ainda que não afetem a todos os habitantes, têm sua dimensão
suficiente para repercutir – no presente ou no futuro – em uma ampla gama de relações humanas:
questão de interesse comunitário parcial” (tradução livre, in “Repercussão Geral” – Perspectivas
histórica, dogmática e de direito comparado. Questões Processuais. RT. SP. 2ª Edição. 2009, pp.
121/122).
151
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão geral no recurso extraordinário. São
Paulo: Revista dos Tribunais, p. 37.
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708
Sobre essa hipótese o STF já consolidou que “não é cabível a reclamação para corrigir eventual
equívoco na aplicação da repercussão geral pela Corte de origem” (AgRg na RCL 9.757/MG).
Assim, não há recurso apto dirigido ao STF para guerrear a decisão do Tribunal que obsta a
subida de recurso para o STF por ter entendido que o caso específico se enquadrava na
hipótese de inexistência de repercussão geral decidida no recurso selecionado por
O RECURSO CABÍVEL SERÁ O AGRAVO INTERNO,
amostragem.
PERANTE O TRIBUNAL DE ORIGEM. Nesse sentido:
Reclamação e erronia em aplicação de precedente em RG - 1
O Plenário retomou julgamento de agravos regimentais interpostos de
decisões do Min. Ricardo Lewandowski que, em reclamações das quais
relator, delas não conhecera ao aplicar a orientação da Corte no sentido de
ser incabível a reclamação para correção de eventual equívoco na
sistemática do regime da repercussão geral. A parte agravante alega
usurpação de competência do Supremo. Na sessão de 29.6.2011, o Min.
Ricardo Lewandowski desproveu o agravo regimental. Consignou que a
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709
Somente o STF poderá decidir se existe ou não repercussão geral, podendo o tribunal
conhecer do recurso sem necessidade de recorrer ao pleno, já que se houver voto favorável de
04 Ministros, estará o recurso recebido.
Não existe recurso para combater a negativa de existência de repercussão geral, cabem no
máximo embargos de declaração.
Existem, porém, hipóteses de presunção absoluta de repercussão geral: sempre que o recurso
impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do STF e sempre que for
declarada a inconstitucionalidade de lei federal ou tratado.
Ela deve vir em preliminar do recurso, formalmente destacada, com um item expresso
chamado “repercussão geral”.
Veja, no entanto, que o que se sobresta é o seguimento dos recursos extraordinários, e não os
processos que estão discutindo as matérias constantes no recurso repetitivo selecionado:
O STF também fixou entendimento de que se o tribunal inferior não aplicar corretamente a
sistemática da repercussão geral, por entender erroneamente que determinado RE tem objeto
semelhante àquele cuja repercussão geral já foi descartada, não caberá reclamação dessa
decisão, devendo ela ser corrigida no âmbito do próprio tribunal, mediante algum recurso
regimental ou pedido de reconsideração. Nesse sentido:
Interessante saber que mesmo os recursos que vierem após o leading case do STF deverão ser
automaticamente inadmitidos pelo Tribunal. Porém, se por acaso o Tribunal ainda assim fizer
seu processamento, somente servirá para que o STF aplique seu precedente (reversal).
Assim, vê-se que o Supremo está fechando à força as portas de acesso, tentando ser uma
Corte puramente constitucional, para discutir teses constitucionais, e não casos. Isso dificulta
em muito o overruling, a possibilidade de alteração de uma tese consolidada, mas que deveria
ser superada ultrapassada.
No site do STF, no link que trata da RG tem uma parte que traz os recursos representativos da
controvérsia. Quando se clica nos representativos, aparece assim: sobre as matérias
relacionadas no quadro abaixo, já foi encaminhado ao STF os recursos representativos da
controvérsia, nos termos do art. 543-B, § 1º do CPC, o que permite o imediato sobrestamento
dos recursos que versem sobre os mesmos temas nos tribunais e turmas recursais de origem.
Então aconteceu um caso (AI 760358) que estava julgando exatamente o que? AI interposto
pela União contra a decisão proferida pela presidência da turma recursal federal do Estado de
Sergipe, que declarara prejudicado o RE interposto, tendo em vista o julgamento da matéria
pelo Supremo no RE nº tal. Então, o recurso foi declarado prejudicado e seria mais ou menos
isso: o acórdão do TRF é igual ao acórdão do STF. Então, o órgão responsável pela
admissibilidade declara ele prejudicado, é claro. Aí o que a parte fez?
Interpôs o agravo de instrumento (AI) e o Ministro Gilmar Mendes deu o seu voto e o
julgamento foi suspenso pelo pedido de vista da Ministra Ellen Gracie.
O Ministro Gilmar Mendes está dizendo o seguinte: nesse caso específico a controvérsia era
sobre uma gratificação. A União está alegando que o STF julgou uma gratificação desta, mas o
caso concreto, que acabou sendo prejudicado, fala de outra gratificação. A parte que teve o
recurso prejudicado está alegando o seguinte: Supremo, o meu caso é diferente daquele que
você julgou. O que eles estão tentando fazer é a técnica do distinguish. É a mesma coisa que
você querer dizer que um recurso que discute prisão decorrente de inadimplemento de
pensão alimentícia fique prejudicado por já haver um precedente que tratou de prisão de
depositário infiel. Os dois casos são casos de prisões civis, só que por fundamentos diferentes.
Então o resultado tem que ser diferente. Isso é distinguish. Só que aqui o distinguish foi
travado nos limites da nova compreensão, porque a gente tem que analisar as leis que
instituíram essas duas gratificações que a União está dizendo que são diferentes. Portanto, o
julgamento de uma gratificação daquelas não pode ser estendido para a outra. É a técnica do
distinguish, a parte está querendo demonstrar que o caso concreto dela é diferente daquele
paradigma, aquele que o STF escolheu para representar a controvérsia.
Pois bem, o Ministro Gilmar Mendes disse o seguinte: o AI dirigido ao Supremo não é o meio
processual adequado para que a parte questione decisão de tribunal a quo que julga
prejudicado o recurso.
Ele falou que é nenhum, ele disse que não tem esse instrumento. Aí é que vem a relevância
desse voto dele. Ele falou que nós estamos na 2ª fase da reforma constitucional que instituíra
a RG, dando origem ao novo modelo de controle difuso de constitucionalidade no âmbito do
STF.
Afora adotar o dia 03/05/2007 como parâmetro, o Plenário do STF também decidiu que os
PODEM SER APLICADOS
regramentos trazidos nos § § 1º e 3º do art. 543-B do CPC
INCLUSIVE QUANTO A RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS - E AOS AGRAVOS
DE INSTRUMENTO DELES DECORRENTES - INTERPOSTOS
ANTERIORMENTE. Por outro lado, firmou-se entendimento no sentido de que a regra
burilada pelo § 2º deste mesmo art. 543-B não pode irradiar efeitos quanto a recurso
interposto antes de 03/05/2007.
Nada impede que o controle de constitucionalidade seja difuso, mas abstrato: a análise da
constitucionalidade é feita em tese, embora por qualquer órgão judicial.
O STF, ao examinar a constitucionalidade de uma lei em RE, tem decidido em abstrato sobre a
questão de inconstitucionalidade, passando a orientar os tribunais em situação semelhante.
(STF, RE 475812 AgR, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado
em 13/06/2006, DJ 04-08-2006 PP-00073 EMENT VOL-02240-08 PP-01542)
Indo mais além, o Supremo já determinou em sede de RE que os tribunais inferiores são
obrigados a seguir seu entendimento jurisprudencial firmado pelo plenário quando do
julgamento de extraordinário:
(STF, Rcl 1.0793, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em
13/04/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-107 DIVULG 03-06-2011 PUBLIC
06-06-2011)
24.9.1. Objetivos
Trata-se de recurso que visa uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, afastando
conflitos internos de entendimento. Obtida a uniformização, atende-se ao segundo objetivo
dos embargos de divergência: reformular/anular o acórdão embargado.
Também só será cabível caso a divergência se baseie em REsp ou RE, podendo dizer respeito
tanto ao mérito quanto à admissibilidade (desde que conhecido o recurso).
a) Tenha havido decisão colegiada, ou seja, mediante acórdão, não sendo cabível contra
decisão monocrática de relator;
Há, no entanto, uma situação que autoriza a interposição do recurso contra acórdão proferido
por Turma em agravo de instrumento ou agravo regimental interno. É o caso da parte que
interpõe agravo interno em face de decisão do relator que julga monocraticamente o REsp ou
o RE, por se encontrar o pedido em conflito com a jurisprudência interna. Se do julgamento do
agravo interno por turma houver dissídio com julgado proferido por outro órgão do tribunal,
será ele cabível. Nesse sentido:
A regra é que os embargos de divergência são cabíveis apenas em acórdão em Resp e RE, não
de acórdão em agravos de instrumento, regimental ou interno. Há, todavia, exceções. Por
exemplo, se o relator do agravo de instrumento, contra a denegação de Resp, dá provimento
do agravo de instrumento, para prover o Resp, neste caso, cabe agravo regimental. Do
acórdão do tribunal que julgar o regimental, se houver algum dissídio com o julgamento de
outra turma, cabem embargos de divergência.
Súmula 316, STJ: “Cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo regimental,
decide recurso especial”.
Súmula 315, STJ: “Não cabem embargos de divergência no âmbito do agravo de instrumento
que não admite recurso especial”.
O recurso é cabível quando a decisão da Turma estiver divergindo da decisão tomada por
outra Turma, Seção, Corte Especial ou Plenário. Se a divergência for com outra Turma que
integre a mesma Seção ou com a própria Seção, será esta quem julgará os embargos. Se a
divergência for com Turma de outra Seção, com outra Seção ou com a Corte Superior, cabe a
esta o julgamento.
ADMITINDO
Consoante Didier, o STF alterou o seu entendimento quanto à Súmula 353,
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA COM BASE EM DIVERGÊNCIA DE JULGADO
DA MESMA TURMA, NO CASO DE TER VARIADO A RESPECTIVA
COMPOSIÇÃO, de um para outro julgamento:
E M E N T A: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA - PRESSUPOSTOS FORMAIS DE
SUA UTILIZAÇÃO - CRITÉRIO DA DIVERSIDADE ORGÂNICA (SÚMULA 353/STF)
- PADRÃO DE DIVERGÊNCIA QUE EMANOU DA MESMA TURMA QUE
PROFERIU A DECISÃO EMBARGADA - COMPOSIÇÃO SUBSTANCIALMENTE
IDÊNTICA DESSE ÓRGÃO FRACIONÁRIO - EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NÃO
ADMITIDOS. - Os embargos de divergência estão sujeitos, dentre os vários
pressupostos que lhe condicionam a interposição, à observância do
requisito da diversidade orgânica. Esse requisito impõe que o padrão de
divergência - para ser validamente invocado como expressão do dissídio
interpretativo - resulte de acórdão emanado, ou do Plenário ou de outra
Turma do Supremo Tribunal Federal, pois não se reveste de idoneidade
processual, para efeito de demonstração do conflito pretoriano, a indicação
de acórdão proferido pela própria Turma de que proveio a decisão contra a
qual foram opostos os embargos de divergência (Súmula 353/STF),
ressalvada a hipótese excepcional de a Turma haver sofrido substancial
modificação em sua composição. Precedentes. - Inocorrência, na espécie,
dessa hipótese excepcional, pois os acórdãos em confronto emanaram da
mesma Turma cuja composição majoritária - quatro (4) Ministros, no caso -
manteve-se substancialmente inalterada.
Informativo 457
Não se exige ausência de unanimidade. Ainda que a decisão tenha sido unânime, cabem os
embargos de divergência, se o acórdão divergir de acórdão de outra turma, v.g.
Súmula 168, STJ: “Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do tribunal se
formou no mesmo sentido do acórdão embargado”.
Súmula 598, STF: “Nos embargos de divergência não servem como padrão de discordância os
mesmos paradigmas invocados para demonstrá-la, mas repelidos como dissidentes no
julgamento do recurso extraordinário”. Essa súmula quer dizer que os julgados colacionados no
recurso extraordinário da parte a fim de dar suporte à sua fundamentação, no ensejo de dar
provimento ao RE, não serão válidos como fundamento para futuros embargos de divergência
se o próprio acórdão que julga o recurso extraordinário repele a divergência, por não ser ela
mais atual.
Além de ser atual a divergência, é preciso que o acórdão paradigma tenha sido proferido por
órgão que ainda mantenha competência para a matéria ali versada. Se tiver ocorrido
modificação de tal competência, não será mais cabível. Nesse sentido:
Súmula 158, STJ: “Não se presta a justificar embargos de divergência o dissídio com acórdão de
Turma ou seção que não mais tenha competência para a matéria neles versada”.
Somente será admitido o recurso se houver o confronto analítico entre o acórdão recorrido e o
acórdão paradigma. Cabe à parte proceder tal confronto, o que é verdadeira condição de
admissibilidade, não sendo suficiente a mera transcrição de ementas.
Porém, se a ementa contiver todos os detalhes do caso, será o bastante para, feito o cotejo
analítico, ter como comprovada a divergência jurisprudencial.
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721
24.9.4. Procedimento
O recurso deve ser interposto no prazo de 15 dias. Após admitido, será intimado o embargado
para contrarrazões, após o que será incluído em pauta para julgamento. Ele não terá efeito
suspensivo, embora na prática a jurisprudência o conceda.
Após a interposição, não se intima desde logo a outra parte para contra-arrazoar. Desde logo
será sorteado relator, o qual poderá indeferir liminarmente o recurso quando:
a) For intempestivo;
Não cabem embargos de divergência adesivos; não haverá revisor, sendo possível a
sustentação oral.
O recurso exige preparo somente quando interposto contra acórdão que julga RE, não se
exigindo no caso do REsp.
152
Isso porque, apesar de nominalmente cautelar, o efeito do processo foi flagrantemente satisfativo,
motivo que enseja o efeito suspensivo.
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723
6. TRF3 – XIII – QUESTÃO 69. A apelação pode ser interposta a partir do momento em
que a parte toma ciência inequívoca da decisão, ainda que sem publicação pela
imprensa.
8. TRF4 – XIII – QUESTÃO 72. Não admite agravo regimental a decisão que defere ou
indefere a antecipação dos efeitos da tutela recursal.
9. TRF4 – XIII – QUESTÃO 66. Presume-se a repercussão geral nas hipóteses em que o
recurso extraordinário impugnar acórdão cujo fundamento contrariar súmula ou
jurisprudência dominante do STF.
10. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 52. Ao julgar antecipadamente uma lide, o juiz apontou,
de forma equivocada, a prescrição da pretensão do autor de obter do réu reparação
por danos materiais e proferiu sentença de mérito sem ouvir testemunhas ou
deliberar acerca de perícia requerida. Contra a sentença foi interposta apelação,
conhecida e provida. Com relação à situação hipotética ainda que não ocorra, na
hipótese, o chamado efeito desobstrutivo153, o tribunal deve determinar o retorno dos
autos ao primeiro grau, para a devida instrução.
11. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 44. Apesar de a lei exigir como requisito formal da
apelação que, na peça de interposição, constem o nome e a qualificação das partes, a
falta de qualificação pode ser considerada mera irregularidade quando a interposição
é feita por uma delas, O QUE NÃO OCORRE SE O APELANTE FOR UM TERCEIRO
PREJUDICADO.
12. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 43. Um TRF, julgando determinado recurso interposto
contra decisão de juiz federal, reconheceu a ilegitimidade passiva da União, a qual
integrava a lide no polo passivo em litisconsórcio com outras pessoas. Caso o recurso
julgado tivesse sido um agravo, não subsistiria motivo para justificar a competência da
justiça federal, devendo ocorrer a remessa dos autos à justiça estadual, visto que da
lide não mais participa o ente federal.
13. TRF5 – IX – CESPE – QUESTÃO 95. É irrecorrível a decisão monocrática do relator que
determine a conversão do agravo de instrumento em agravo retido e que decida
sobre a antecipação dos efeitos da tutela recursal ou a concessão de efeito
suspensivo ao recurso.
153
Efeito desobstrutivo é o que ocorre, após o julgamento da apelação, que permite ao tribunal
adentrar no mérito da AÇÃO, que não é o mérito da apelação.
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724
14. TRF5 – IX – CESPE – QUESTÃO 91. Ao julgar apelação, o órgão ad quem pode
reexaminar de ofício questões já decididas no curso do processo, relativas às
condições da ação, à litispendência, à coisa julgada ou aos pressupostos processuais,
ainda que a parte prejudicada pela decisão não tenha contra elas interposto recurso.
15. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 84. O recurso especial, interposto antes da publicação
do acórdão dos embargos de declaração, necessita de posterior ratificação.
16. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 85. A questão federal somente ventilada no voto
vencido não atende ao requisito do pré–questionamento.
17. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 85. Os embargos infringentes são cabíveis quando tiver
havido divergência quanto à parte dispositiva da decisão.
18. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 87. Não cabe recurso, por violação de lei federal,
quando houver ofensa a regimento de tribunal.
19. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 50. O direito processual civil acolhe o princípio da
vedação à reformatio in pejus, mas, na hipótese de a apelação interposta pelo autor
evidenciar, por exemplo, a ausência de condição de ação, o órgão ad quem poderá
extinguir o processo, sem julgamento do mérito, o que é decorrência do chamado
efeito translativo do recurso.
20. EMAGIS – 2012/30 – QUESTÃO 11. Contra acórdão exarado pelo Tribunal de Justiça,
João interpõs recurso especial ao passo que a parte adversa opôs embargos de
declaração. Publicado o acórdão relativo a esses embargos, se João não ratificar o seu
recurso especial anteriormente interposto, é correto afirmar que lhe será negado
trânsito154.
21. EMAGIS – 2012/30 – QUESTÃO 11. A empresa TEM S/A foi condenada, em acórdão
prolatado pela 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais de Goiânia, a devolver à parte
autora todos os valores que lhe foram cobrados a título de assinatura básica em
relação aos serviços de telefonia fixa. Nesse caso, em hipótese alguma será cabível
recurso especial contra esse acórdão155.
22. EMAGIS – 2012/20 – QUESTÃO 11. Não compete ao Supremo Tribunal Federal
conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que
ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem156.
23. EMAGIS – 2012/20 – QUESTÃO 11. Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o
pedido de medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de
admissibilidade157.
154
Súmula 418, STJ: “É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos
embargos de declaração, sem posterior ratificação”.
155
Súmula 203, STJ: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos
Juizados Especiais”.
156
Súmula 634, STF.
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725
24. EMAGIS – 2012/20 – QUESTÃO 11. Segundo o Superior Tribunal de Justiça, é cabível,
em casos excepcionalíssimos, o ajuizamento de medida cautelar diretamente
naquela Corte Superior com vistas a atribuir efeito suspensivo a recurso especial que
sequer fora interposto no Tribunal de origem158.
25. EMAGIS – 2012/19 – QUESTÃO 11. A regra é que seja interposto o agravo na
modalidade retida, somente cabendo sua interposição por instrumento quando se
tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem
como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a
apelação é recebida.
157
Súmula 635, STF.
158
AGRAVO REGIMENTAL. MEDIDA CAUTELAR. LIMINAR. 1) EFEITO SUSPENSIVO PRÉVIO A RECURSO
ESPECIAL, CUJA INTERPOSIÇÃO VEM SENDO IMPOSSIBILITADA PELA DEMORA NO DESLINDE DE
SUCESSIVOS INCIDENTES NA ORIGEM. 2) SITUAÇÃO PROCESSUAL POLÊMICA NA ORIGEM. DECISÃO EM
PLANTÃO JUDICIÁRIO, APÓS DIVERSAS DECISÕES E ALEGAÇÃO DE VÍCIO NA DISTRIBUIÇÃO. 3) MENOR
DE CERCA DE SEIS ANOS NÃO DEVOLVIDO PELO GENITOR, APÓS PERÍODO DE FÉRIAS, À MÃE, DE QUEM
JAMAIS SE SEPAROU E COM QUEM ERA MANTIDO EM CIDADE DISTANTE. PREVALÊNCIA DO INTERESSE
DO MENOR A EXIGIR URGENTE DEFINIÇÃO CAUTELAR. 4) NECESSIDADE DE VIR A SER CONSIDERADA A
ORIENTAÇÃO DE COMPETÊNCIA EM FUNÇÃO DO LOCAL DE RESIDÊNCIA DO MENOR. 5) EFEITO
SUSPENSIVO PRÉVIO CONCEDIDO, PARA O IMEDIATO RETORNO DO MENOR À COMPANHIA DA MÃE.
1.- Em situações excepcionalíssimas é admitida a atribuição de efeito suspensivo a recurso especial
ainda não interposto no Tribunal de origem, presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, em
processo em que a interposição do Recurso Especial vendo sendo impossibilitada pela demora no
deslinde de sucessivos incidentes na origem. 2.-Decisão proferida em processo de situação
especialmente polêmica, em regime de plantão de final de semana, no Tribunal estadual, com
declaração pessoal de suspeição de expressivo número de julgadores do Tribunal e alegação de vício na
distribuição, objeto de representação ao CNJ - matérias a serem ulteriormente enfrentadas sob o
contraditório, mas que não interferem na garantia cautelar do melhor interesse da criança.
3.- No caso, há que ser considerada a condição peculiar da criança em desenvolvimento, com cerca de
seis anos de idade, que desde o nascimento até o mês de dezembro de 2011 viveu na companhia da
mãe, não sendo devolvida pelo pai quando foi passar férias escolares com este em cidade distante, em
que a família morava antes da separação, devendo a matéria controvertida ser analisada sob a égide da
prevalência do interesse do menor, tal como assegurado Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 6º).
4.- Necessidade, ademais, de atenção à orientação jurisprudencial desta Corte, no sentido de ser
competente o foro da residência do menor para o julgamento de ação de modificação de guarda, em
consonância com o que dispõe o art. 147, I, do Estatuto da Criança e do Adolescente.
5.- Agravo Regimental provido, para concessão prévia de efeito suspensivo, determinando o retorno da
guarda do menor à sua genitora, ora agravante.
(AgRg na MC 19084/PI, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/04/2012, DJe
27/04/2012)
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30. EMAGIS – 2012/16 – QUESTÃO 11. Embora cumpra à parte o dever de apresentar as
peças obrigatórias e as facultativas – de natureza necessária, essencial ou útil –
quando da formação do agravo para o seu perfeito entendimento, sob pena de não
conhecimento do recurso, a ordem das peças que o instruem não é determinante
para o seu conhecimento159.
31. EMAGIS – 2012/16 – QUESTÃO 11. O recurso especial interposto contra acórdão
oriundo do julgamento de agravo de instrumento no qual se decidiu sobre os efeitos
com os quais a apelação é recebida, perde seu objeto se superveniente o julgamento
desse recurso de apelação.
33. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 11. Nossa legislação processual civil acolheu a teoria da
causa madura, particularmente no que diz respeito ao recurso de apelação. Assim, nos
casos de extinção do processo sem julgamento do mérito, o tribunal pode julgar desde
logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições
de imediato julgamento.
34. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 11. Segundo entendimento da Primeira Seção do STJ, a
teoria da causa madura não pode ser aplicada em sede de recurso especial.
35. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 12. Das decisões interlocutórias cabe agravo, no prazo
de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de
159
PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEÇAS INDISPENSÁVEIS AO EXAME DA CONTROVÉRSIA.
JUNTADA. NECESSIDADE. CORRETA FORMAÇÃO DO INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE DO
AGRAVANTE. ORDEM DE JUNTADA DAS PEÇAS. INDIFERENÇA. AUTENTICAÇÃO DAS CÓPIAS.
DESNECESSIDADE. [...] 3. A ordem das peças que instruem o agravo não é determinante para o seu
conhecimento. A sequência de juntada dos documentos é realizada a partir de um juízo
absolutamente subjetivo, que irá variar não apenas conforme o trâmite de cada processo e da
maneira como as razões recursais forem redigidas, mas principalmente conforme a percepção
individual de cada advogado, que poderá ou não coincidir com a percepção do Relator e demais
julgadores que venham a analisar o processo. [...] (REsp 1184975/ES, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 02/12/2010, DJe 13/12/2010)
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727
causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão
da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será
admitida a sua interposição por instrumento (art. 522, CPP).
36. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 12. É pacífico o entendimento do STJ no sentido de que
é INADMISSÍVEL converter o julgamento em diligência, a fim de regularizar o agravo
cujo instrumento não traz todos os documentos necessários à compreensão da
controvérsia160.
38. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 11. A ECT foi intimada, via mandado cumprido em
1º/03/2012 (quinta-feira), quanto a acórdão que negou provimento ao seu recurso de
apelação. Juntado aos autos esse mandado de intimação no dia 02/03/2012, a ECT
interpôs dois recursos, um especial e outro extraordinário, em petições que foram
protocolizadas em 19/03/2012 e 20/03/2012, respectivamente. Nesse caso, é correto
afirmar que ambos os recursos são tempestivos (art. 12, Decreto-Lei 509/69).
41. EMAGIS – 2012/13 – QUESTÃO 12. Para efeito da repercussão geral, será considerada
a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico, político,
social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa.
42. EMAGIS – 2012/13 – QUESTÃO 12. É imprescindível que o recorrente, nas razões do
recurso extraordinário, demonstre, EM PRELIMINAR FORMAL E FUNDAMENTADA, a
existência de repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, sob
pena de não conhecimento da súplica recursal162.
160
Cabe ao advogado cuidar para que o recurso seja regularmente instruído. Caso não o faça, não
permite o STJ, com razão, que ele sane sua própria incompetência no âmbito daquele tribunal. Mais do
que isso, aliás, há uma série de precedentes que não permitem a regularização do instrumento nem se
ocorrer de forma espontânea pela própria parte e mesmo que se dê ainda no curso do prazo recursal,
face à preclusão consumativa operada. Nesse sentido vide STJ, Sexta Turma, AgRg no Ag 1243157, Rel.
Min. Maria Thereza, DJe de 17/11/2011 e STJ, Terceira Turma, AgRg no Ag 1314541, Rel. Min. Ricardo
Cueva, DJe de 05/08/2011
161
Súmula 418, STJ.
162
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DA
PRELIMINAR DE REPERCUSSÃO GERAL DAS QUESTÕES CONSTITUCIONAIS SUSCITADAS. AGRAVO
IMPROVIDO. I - Não ficou demonstrada, nas razões do recurso extraordinário, em preliminar formal e
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728
43. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 11. O conhecimento do recurso especial, ainda que se
trate de questão de ordem pública, apreciável de ofício nas instâncias ordinárias, exige
o requisito do prequestionamento163.
45. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 11. É imprescindível que, também no recurso especial
interposto com base na alínea ‘c’ do permissivo constitucional, o recorrente INDIQUE
O PRECEITO DE LEI FEDERAL SOBRE CUJA INTERPRETAÇÃO HAJA DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL164.
46. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 11. Não cabe recurso especial interposto com
fundamento na violação de resolução, portaria, circular, regimento interno ou súmula,
mesmo que do próprio STJ165.
47. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 11. Contra acórdão prolatado em sede de recurso
especial, NÃO SE ADMITE A OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM
49. EMAGIS – 2012/05 – QUESTÃO 12. Não cabem embargos de divergência, quando a
jurisprudência do Tribunal se firmou no mesmo sentido do acórdão embargado168.
50. EMAGIS – 2012/05 – QUESTÃO 12. Cabem embargos de divergência contra acórdão
que, em agravo regimental, decide recurso especial169.
51. EMAGIS – 2012/05 – QUESTÃO 12. Não cabem embargos de divergência no âmbito do
agravo de instrumento que não admite recurso especial170.
52. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 11. Embora o reexame de prova seja inadmissível em
sede de recurso especial, a valoração jurídica de fatos incontroversos autoriza o
manejo dessa via recursal extraordinária171.
166
O STJ, com efeito, não vem admitindo, em sede de recurso especial, embargos de declaração com
propósito de prequestionar dispositivos constitucionais, com vista a futuro recurso extraordinário. É que
não cabe, em recurso especial, discutir sobre temas de extração constitucional. Se o caso comportava
duplo enfoque – infraconstitucional e constitucional -, cabia ao interessado interpor ambos os recursos
contra o acórdão do Tribunal de origem, na esteira, aliás, da Súm. 126 do STJ (“É inadmissível recurso
especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional,
qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso
extraordinário”). Sobre o assunto, vejam-se os julgados a seguir:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO - INEXISTÊNCIA -
EFEITOS MODIFICATIVOS - EXCEPCIONALIDADE - IMPOSSIBILIDADE NA ESPÉCIE -
PREQUESTIONAMENTO DE DISPOSITIVOS E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS - INADMISSIBILIDADE –
EMBARGOS DECLARATÓRIOS REJEITADOS. (...) 3. O exame de contrariedade a dispositivos ou
princípios constitucionais é censurado em sede de recurso especial, razão por que resta inviável a
oposição de embargos de declaração destinados a prequestionar essas questões nesta Instância
especial. 4. Embargos de declaração rejeitados. (STJ, Terceira Turma, EDcl no AgRg no Ag 1416901,
Rel. Min. assami Uyeda, DJe de 09/02/2012)
167
Entende o STJ que não se pode, em embargos de divergência em recurso especial, debater a respeito
do quantum indenizatório fixado à guisa de danos morais. Por quê? Porque não se consegue, nesses
casos, estabelecer uma divergência na interpretação da lei, haja vista que essa indenização é pautada
segundo as circunstâncias específicas de cada caso concreto. Daí a súmula 420, STJ: “Incabível, em
embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos morais”.
168
Se a vocação dos embargos de divergência é resolver um dissídio jurisprudencial e se esse dissenso já
foi resolvido em outro processo, não mais se faz presente o pressuposto essencial a que essa súplica
recursal tenha trânsito.
169
Assim o é porque, tanto em sede de agravo regimental em recurso especial como diante de recurso
especial devidamente processado pelo relator, é absolutamente possível discutir sobre o mérito da
pretensão recursal.
170
Isso porque, nesses casos, tem-se discussão meramente em torno de requisitos de admissibilidade
recursais, analisada caso a caso.
171
O simples reexame de prova não é cabível na via do recurso especial, consoante entendimento
absolutamente pacífico do STJ (Súm. 7 do STJ: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja
recurso especial”). Com isso, entrementes, não se confunde a chamada valoração jurídica das provas tal
qual já interpretadas pelo Tribunal a quo. Noutras palavras, a valoração jurídica dos fatos já desenhados
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730
53. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 11. Segundo entendimento da Corte Especial do STJ,
NÃO É NECESSÁRIA a menção explícita aos dispositivos legais no texto do acórdão
recorrido para que seja atendido o requisito de prequestionamento172.
54. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 11. É necessária, ainda que inexista previsão legal, a
ratificação do recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos
embargos de declaração.
55. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 11. Opostos embargos declaratórios com o propósito
explícito de prequestionamento, não se tem por atendido esse requisito de
admissibilidade no que tange ao recurso especial ulteriormente interposto se não for a
matéria ventilada no voto vencedor.
56. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 11. Uma vez que a interposição de um recurso é
faculdade da parte – e não obrigação -, não é ela obrigada a apresentar embargos de
divergência contra o acórdão do Tribunal de Justiça, quando admissíveis, como
condição para a posterior interposição de recurso especial.
58. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 11. Não é admitido o reexame de prova em sede de
recurso extraordinário.
no acórdão recorrido – ou seja, dar uma outra consequência jurídica a um mesmo fato – não esbarra na
Súm. 7 do STJ. Resumindo: O QUE NÃO CABE É REDISCUTIR OS FATOS TAL COMO DELINEADOS PELA
CORTE DE ORIGEM, MAS O EFEITO JURÍDICO QUE SE LHES DEVE ATRIBUIR É MATÉRIA DE DIREITO QUE
ENSEJA, SIM, A VIA EXTRAORDINÁRIA EM FOCO (lembre-se que, quando se fala em ‘recursos
extraordinários’, no plural, está-se aludindo tanto ao recurso extraordinário propriamente dito como ao
recurso especial, ambos ulteriores à fase da chamada instância ordinária).
172
EXECUÇÃO FISCAL. PRECATÓRIOS JUDICIAIS. PENHORA. ADMISSIBILIDADE. RECUSA DA FAZENDA
PÚBLICA. POSSIBILIDADE. ORDEM DE PENHORA. INEXISTÊNCIA DE EQUIVALÊNCIA COM DINHEIRO.
PRECEDENTES.
[...]
3. A Corte Especial do STJ estabeleceu o entendimento de que é desnecessária a menção explícita aos
dispositivos legais no texto do acórdão recorrido para que seja atendido o requisito de
prequestionamento. Precedente: EREsp 161.419/RS, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, Rel. p/
Acórdão Min. Ari Pargendler, Corte Especial, julgado em 15/08/2007, DJe 10/11/2008. Agravo
regimental improvido.
(AgRg no AREsp 48580/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em
22/11/2011, DJe 25/11/2011)
173
Súmula 284, STF.
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731
62. EMAGIS – 2011/39 – QUESTÃO 01. Não cabe pedido de suspensão de segurança contra
acórdão de Tribunal de Justiça, publicado após a introdução da sistemática da
repercussão geral (CPC, art. 543-A), que trata de questão cuja repercussão geral fora
negada pelo Supremo Tribunal Federal175.
63. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 12. João interpôs, em 08 de janeiro de 2007, recurso
extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça. O presidente daquela Corte, no
entanto, negou-lhe seguimento. Inconformado, João apresentou, no dia 18 de
fevereiro daquele ano, agravo de instrumento contra essa decisão monocrática. Nesse
caso, é correto afirmar que não se poderá exigir que João tenha articulado, como
preliminar de seu recurso, a existência de repercussão geral na matéria controvertida.
64. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 11. Para efeito da repercussão geral, será considerada
a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico, político,
social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa.
65. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 11. Haverá repercussão geral sempre que o recurso
impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal.
66. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 11. É irrecorrível decisão de Ministro do STF que,
aplicando a sistemática da repercussão geral, determina a devolução dos autos ao
órgão jurisdicional de origem.
67. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 11. CABE AO STF, COM EXCLUSIVIDADE, EXAMINAR SE
UM DADO RECURSO EXTRAORDINÁRIO APRESENTA, OU NÃO, REPERCUSSÃO GERAL,
NÃO CABENDO AO TRIBUNAL A QUO FAZER ESSE FILTRO DE ADMISSIBILIDADE.
174
Súmula 634, STF.
175
Ante a inexistência de repercussão geral da matéria, o Plenário desproveu agravo regimental
interposto de decisão do Presidente, na qual negado seguimento a pedido de suspensão de segurança.
Impugnava-se, na espécie, acórdão de tribunal de justiça estadual publicado posteriormente à exigência
do requisito de repercussão geral no recurso extraordinário. Consignou-se que a repercussão geral da
questão — relativa à equiparação entre procuradores autárquicos e procuradores de Estado para fins de
cálculo do teto remuneratório — fora rejeitada no RE 562581/SP (DJe de 22.2.2008).
SS 4394/SP, rel.
Min. Presidente, 14.9.2011. (SS-4394). Nesse caso, foi interposto MS e provido. Como a situação não
tinha repercussão geral, sendo inadmissível RE, seria uma forma transversa de impedir os efeitos do
writ o pedido de suspensão de segurança.
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732
69. EMAGIS – 2011/22 – QUESTÃO 10. A inexistência de repercussão geral somente pode
ser reconhecida por decisão de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos membros do
Supremo Tribunal Federal.
70. EMAGIS – 2011/22 – QUESTÃO 10. Turma do Supremo Tribunal Federal pode
RECONHECER a existência de repercussão geral quanto a tema versado em certo
recurso extraordinário.
72. GEMAF – 2010/11 – QUESTÃO 05. Se a decisão contiver partes autônomas, a admissão
parcial, pelo presidente do tribunal 'a quo', de recurso extraordinário que, sobre
qualquer delas, não se manifestar, não limitará a apreciação de todas pelo Supremo
Tribunal Federal, independentemente de interposição de agravo de instrumento
74. Os embargos infringentes são incabíveis quando interpostos contra decisão não
unânime que se limitou a anular sentença de primeiro grau, após constatar error in
procedendo, ou seja, erro que se comete quando não são obedecidas determinadas
normas processuais (STJ).
76. Nos embargos infringentes e na ação rescisória, devolvidos os autos pelo relator, a
secretaria do tribunal expedirá cópias autenticadas do relatório e as distribuirá entre
os juízes que compuserem o tribunal para julgamento.
novamente o que foi objeto da sentença rescindida. O primeiro deles ocorrerá em todas as
ações rescisórias e é preliminar ao rescisório, que é eventual. A decisão proferida no juízo
rescindente é desconstitutiva e a de procedência no juízo rescisório será, conforme o caso,
declaratória, constitutiva ou condenatória.
a) Verificar que a decisão final foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
f) Se fundar em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja
provada na própria ação rescisória;
A AR, repita-se, não é recurso, por não atender ao princípio da taxatividade; além disso, ela
gera uma relação jurídica processual nova, instaurando um novo processo, coisa que não faz o
recurso.
A AR serve ao desfazimento da coisa julgada material, quer por motivos de invalidade, quer
por motivos de injustiça.
Como toda ação, a AR deve preencher as condições da ação e o procedimento deve observar
os pressupostos processuais.
As hipóteses que ensejam a rescisão da sentença estão arroladas em numerus clausus. Esse rol
taxativo não admite ampliação por interpretação analógica ou extensiva.
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734
Essa posição do legislador foi adotada para conferir maior segurança à coisa julgada.
Súmula 514, STF: “Admite-se ação rescisória contra sentença transitada em julgado, ainda que
contra ela não se tenham esgotados todos os recursos”.
Logo, se é cabível AR somente contra decisão de mérito, ela só é cabível se tiver apreciado o
pedido, examinando a pretensão, ainda que para declarar a prescrição ou a decadência. Assim,
a princípio, não cabe AR nos casos do art. 267, mas é cabível em todos os casos do art. 269.
A AR pode impugnar toda a decisão judicial ou apenas algum ou alguns de seus capítulos,
quando então é designada de ação rescisória parcial.
Não se admite ação rescisória no âmbito dos JEC, na ADIN, ADC e na ADPF.
É possível, também, AR para desconstituir incidente processual, desde que sobre ele tenha
sido formada a coisa julgada material.
AR e liquidação: “A liquidação não é execução (já não o era ainda quando impropriamente
colocados no Livro II os dispositivos pertinentes), e a sentença que a julgava podia sem dúvida
constituir objeto de rescisória; agora, porém nos termos do art. 475-H, segundo a redação da
Lei nº 11.232, passou-se a ter uma ‘decisão de liquidação’, interlocutória, impugnável por
agravo de instrumento. Não obstante, cuida-se de pronunciamento equiparável a uma
sentença, capaz de produzir coisa julgada material e, portanto, rescindível”.
Há entendimento que admite AR contra decisão que, embora não seja de mérito, tornou a
questão preclusa, impedindo a sua revisão, se não houver outro meio para eliminar a
ilegalidade. Seria o caso das sentenças terminativas que impedem a repropositura da ação (art.
268 do CPC), na medida em que, embora fundadas no art. 167, adquirem status semelhante ao
daquelas submetidas à coisa julgada material (art. 269 do CPC).
Terceiro juridicamente interessado é aquele que tinha legitimidade para intervir como
assistente no processo principal ou para recorrer como terceiro prejudicado. É legitimado para
propor a AR porque a coisa julgada pode atingir de forma reflexa o seu direito (interesse
jurídico apenas, não meramente de fato). Assim, tem legitimidade na qualidade de terceiro
aqueles que poderiam ter ingressado no processo originário como assistente e litisconsorte
(inclusive o adquirente e o cessionário, com fundamento nos § § 2º e 3º do art. 42 do CPC), o
substituído processualmente nos termos do art. 6º do CPC, alem do terceiro prejudicado por
julgamento proferido em processo simulado.
Assim, têm legitimidade ativa na condição de terceiros prejudicados os que poderiam ter
ingressado no processo primitivo como assistente ou litisconsorte.
Ainda que a parte tenha sido revel no processo originário, ela possui legitimidade. Além disso,
poderá o MP propor AR, seja como parte, seja como custos legis. Nesta última hipótese, só
haverá legitimidade:
a) Se o MP não foi ouvido no processo em que era obrigatória a sua intervenção (nesse
caso, somente se o MP demonstrar e comprovar a existência de prejuízo em razão da
falta de sua intervenção);
b) Quando a sentença é o efeito de colusão das partes, a fim de fraudar lei (nesse caso,
autor e réu da ação rescindenda deverão ser citados, sendo caso de litisconsórcio
passivo necessário).
Regra geral, o terceiro sem interesse jurídico não possui legitimidade para intentar a AR, já que
a coisa julgada não o atinge, não o beneficiando nem prejudicando.
Terceiro que não integrou a relação processual primitiva pode, eventualmente, ser legitimado
passivo na AR, o que depende diretamente do pedido deduzido no juízo rescisório (Didier
exemplifica com o caso de AR que objetiva exclusivamente a desconstituição do capítulo
reservado à condenação ao pagamento de honorários advocatícios; o advogado da parte no
processo originário, na época um terceiro, apresenta-se na condição de parte da relação
discutida na AR).
As decisões de mérito proferidas por juízes de primeira instância são desconstituídas perante o
tribunal ao qual está vinculado o juízo que proferiu a sentença.
Proferida uma sentença de mérito, não havendo apelação, ou se houver, ela não for
conhecida, é a própria sentença que será desconstituída.
Se a apelação for provida ou desprovida, é o acórdão que transita em julgado, sendo ele
objeto da rescisória face o efeito substitutivo em relação à sentença. Porém, se a apelação
foi provida para anular a sentença, não haverá efeito substitutivo e não caberá a AR,
devendo os autos retornar à primeira instância para que o juiz profira outra sentença.
Súmula 515, STF: “A competência para a ação rescisória não é do Supremo Tribunal Federal,
quando a questão federal, apreciada no recurso extraordinário ou no agravo de instrumento,
seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisório”.
Essa súmula somente esclarece o óbvio, já que se a questão não foi apreciada pelo STF, não
haverá efeito substitutivo da decisão, não cabendo ao tribunal julgar o que não foi decidido.
Súmula 249, STF: “É competente o STF para a ação rescisória, quando, embora não tendo
conhecido o recurso extraordinário, ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado
a questão federal controvertida”. DIDIER alerta que há um erro técnico no enunciado, e, assim,
onde se lê “conhecido”deve-se ler “provido”, tendo em vista que o STF examinou a questão
discutida, com exame do mérito do recurso.
[...]
[...]
Apenas a citação válida obsta a consumação da decadência (art. 219, § § 2º e 3º c/c art. 220 do
CPC), retroagindo à data da propositura da ação: assim, basta que a ação tenha sido proposta
dentro do biênio, pouco importando que o réu venha a ser citado fora dele.
Da decisão do tribunal que conhecer da decadência, cabe agravo interno ou regimental para o
colegiado. Interposto um recurso, enquanto este não vier a ser apreciado, não se pode ajuizar
a AR. Se o recurso foi inadmitido, será apenas do trânsito em julgado da decisão que não o
admitir que se iniciará o prazo para a propositura da AR.
O prazo para ajuizamento da ação rescisória somente tem início com o trânsito em julgado
material, ou seja, após o transcurso in albis do prazo para recorrer, mesmo que o último
recurso interposto não tenha sido conhecido por inobservância de requisito legal.
Veja, no entanto, que esse é o posicionamento do STJ, sendo bem diferente o do STF.
Qual é o dia do trânsito em julgado quando a última decisão do processo não conheceu do
recurso (recurso inadmissível)?
Conta-se da decisão que não conheceu do recurso ou retroage à data em que foi proferida a
decisão recorrida?
Quando será a data do trânsito em julgado para fins de rescisória? Será a data do acórdão no
TJ (que julgou improvida a apelação) ou da decisão do STJ (que inadmitiu o recurso)?
Há, ainda, outro elemento fundamental a ser conhecido quanto ao prazo de ajuizamento da
ação rescisória:
[...]
[...]
Por fim, lembrar que o prazo decadencial não corre contra absolutamente incapazes:
Discute-se no REsp se o prazo de dois anos previsto no art. 495 do CPC para
a propositura de ação rescisória flui em desfavor de incapazes. Noticiam os
autos que os recorrentes, ainda menores de idade, ajuizaram ação de
indenização visando à condenação dos recorridos pelos danos morais
sofridos em razão da morte de seu avô, em virtude de acidente em que
esteve envolvido veículo pertencente a um dos recorridos. O acórdão que
julgou o recurso de apelação interposto reformou a sentença para julgar
improcedente o pedido. Alegaram, na inicial da ação rescisória, que os
fundamentos da improcedência tomaram o pedido relativo ao dano moral
como se se tratasse de dano material, pois exigiu a dependência econômica
como requisito para acolhimento do pleito. O relator, monocraticamente,
julgou extinta a ação rescisória ao fundamento de ter ocorrido decadência.
Alegam os recorrentes que, à época, por serem menores absolutamente
incapazes, não fluia contra eles prazo, nem de decadência nem de
prescrição. Admitido o REsp, o Min. Relator entendeu que o prazo para o
ajuizamento da ação rescisória é de decadência (art. 495, CPC), por isso se
aplica a exceção prevista no art. 208 do CC/ 2002, segundo a qual os prazos
decadenciais não fluem contra os absolutamente incapazes. Esse
entendimento foi acompanhado pelos demais Ministros, que deram
provimento ao REsp e determinaram o prosseguimento da ação
rescisória. REsp 1.165.735-MG, 4T, Rel.Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 6/9/2011.
[...]
(STJ, AgRg no REsp 1166282/RN, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 28/09/2010, DJe 08/10/2010)
O tribunal não poderá rescindir a decisão por fundamento não invocado, em razão do princípio
da congruência. No entanto, se o proponente indicar um inciso, mas nos fatos descrever a
hipótese prevista em outro, o julgador poderá examinar o pedido, desde que a narração do
fato conste na inicial (iura novit curia).
O órgão julgador não poderá apreciar o pedido de rescisão à luz de outra norma, que o autor
se haja abstido de dizer violada.
Será rescindível também a decisão exarada por órgão colegiado, desde que algum dos
julgadores tenha praticado qualquer um dos crimes. Porém, se o voto do juiz viciado for
vencido, não se deverá admitir a AR.
Porém, se forem interpostos embargos infringentes e estes forem acolhidos para fazer
prevalecer o voto vencido, deverá ser acolhido o pedido rescisório, eis que o voto dado em
prevaricação, corrupção ou concussão influenciou o resultado.
No caso dos tribunais, somente poderá ser acolhida a AR se o voto contaminado tiver sido
um dos vencedores.
Da mesma forma, será o acórdão prolatado por tribunal rescindível se um dos julgadores era
impedido, desde que seu voto tenha concorrido para a formação da maioria.
Em razão do princípio da identidade física do juiz, competente para julgar a causa é o juiz que
tenha encerrado a instrução. Não se observando isso, cabível será a rescisória.
Ressalte-se, nesses casos, diferentemente das ações rescisórias fundadas no inciso I do art.
485, não haverá juízo rescisório, devendo o tribunal após rescindir a sentença (juízo
rescindente), remeter os autos ao juízo competente (ou a um juiz imparcial) para que julgue
novamente a causa.
Todavia, afirma DIDIER que se o tribunal competente para julgar a rescisória tiver competência
para rejulgamento, o que normalmente ocorre quando o objeto da rescisória é uma sentença,
será cabível o iudicium rescissorium.
Há dolo toda vez que a parte vencedora, faltando a seu dever de lealdade e boa fé (CPC, art.
14, II), haja impedido ou dificultado a atuação processual do vencido, ou influenciado a
formação do juízo do magistrado, afastando-o da verdade. Ao dolo da parte equipara-se o dolo
de seu representante legal e do seu advogado.
Para que o comportamento doloso enseje a AR, é preciso que haja nexo de causalidade entre
a conduta da parte vencedora e a decisão rescindenda. O DOLO DEVE TER SIDO
DETERMINANTE PARA O RESULTADO A QUE CHEGA O JUIZ.
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744
Cabe a AR apenas nos casos de processo fraudulento, não cabendo quanto aos casos de
processo simulado, pois o art. 485,III do CPC prevê a hipótese de colusão “com o fim de
fraudar a lei”.
Nesse caso, haverá apenas o juízo rescindente, e não o rescisório, pois o que ocorre é que, em
princípio, o tribunal acolherá a AR para desconstituir a decisão, não proferindo novo
julgamento, já que assim também estaria ofendendo a coisa julgada.
Há, contudo, um caso em que a AR por ofensa à coisa julgada admite pedido de rejulgamento:
quando a ofensa dirige-se ao efeito positivo da coisa julgada (ex: ação de alimentos em que o
juiz julga improcedente por entender inexistente o vinculo de parentesco, embora o autor
tenha fundamentado o pedido em coisa julgada advinda de ação de investigação de
paternidade).
Entretanto não se admite a rescisória por esse fundamento, quando a decisão rescindenda
houver se baseado em texto legal, à época, de interpretação controvertida nos tribunais
(Súmula 343, STF: “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a
Ressalte-se que o STF já decidiu diversas vezes que o enunciado desta súmula não tem
aplicação quando a matéria em discussão for de índole constitucional (Informativo 295, RE nº
328.812). Nesse sentido:
Isso quer dizer então que cabe ação rescisória perante o STF quando a violação ao texto
constitucional for decorrente de interpretação controvertida de norma constitucional nos
tribunais.
Na AR fundada nesse inciso, não se permite o reexame de fatos ou de provas: não se admite a
AR para tratar sobre questão de fato, pois constitui mecanismo de direito estrito, destinado ao
controle da decisão de mérito transitada em julgado.
1.046.562-CE, Rel. originária Min. Eliana Calmon, Rel. para acórdão Min.
Nancy Andrighi, julgados em 2/3/2011.
Esse último julgado se justifica pelo seguinte: a pessoa ajuíza ação rescisória com fulcro em
violação a literal dispositivo de lei. O tribunal afirma que não houve literal violação. A parte
interpõe recurso especial, arguindo que o tribunal errou, que houve sim literal violação. Nesse
caso, se o STJ der provimento ao recurso, não estará apenas falando que o tribunal está
errado, como também estará imediatamente falando que o próprio acórdão rescindendo
violou literal dispositivo de lei.
Vimos que o controle concentrado produz efeitos vinculantes e erga omnes, vinculando todos
os órgãos do Poder Judiciário e também a Administração Pública seja ela federal, estadual,
municipal ou distrital. Vimos também, adotando a teoria da abstrativização do controle difuso,
que o controle incidental da constitucionalidade realizado pelo Supremo Tribunal Federal
também deve vincular os demais órgãos do Poder Judiciário. Cabe agora indagar se tal efeito
vinculante afeta as coisas julgadas que consolidarem entendimento diverso do explicitado pelo
Supremo Tribunal Federal nos citados casos. Além disso, cabe analisar se tais julgamentos
causam influência no cabimento da ação rescisória por violação literal disposição de lei.
Se o legislador não pode alterar tal situação, nem mesmo o Supremo Tribunal Federal poderá
fazê-lo simplesmente emitindo uma decisão em sede de controle de constitucionalidade.
Assim, temos que as decisões do Supremo Tribunal Federal, no controle de
constitucionalidade, seja por via concentrada, seja por via incidental, não terão o condão de
alterar a coisa julgada de forma automática ou de torná-la sem efeito de forma imediata. A
coisa julgada, a princípio, mesmo que resguarde sentença que possua fundamento
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748
Entres os instrumentos já previstos, está a ação rescisória e o disposto no art. 741, parágrafo
único. Os embargos à execução previstos no art. 741, parágrafo único, neste caso, seriam o
meio de obstacularizar a produção de efeitos da sentença acobertada pela coisa julgada. As
sentenças ditas inconstitucionais não são inexigíveis automaticamente, pois, caso não haja o
oferecimento dos embargos dentro do prazo legal, haverá preclusão de tal direito, podendo a
sentença ser executada normalmente, já que a declaração de inexigibilidade do título não
pode ser declarada ex officio pelo magistrado.
Em relação ao cabimento da ação rescisória, com base na literal violação de disposição de lei, a
decisão do Supremo Tribunal Federal, realizada no controle de constitucionalidade, seja ele
difuso (desde que realizado pelo Pleno) ou concentrado, servirá de fundamento para se
comprovar a violação literal de lei.
No julgamento da ação rescisória proposta com base no art. 485, V, do CPC, em face de
decisão que tenha estabelecido entendimento diverso ao fixado pelo Supremo Tribunal
Federal, no controle de constitucionalidade, o efeito vinculante das decisões do Supremo
Tribunal Federal incidirá sobre este novo pronunciamento do tribunal acerca da matéria, sob
pena de violação à autoridade das decisões do Supremo Tribunal Federal. ASSIM, O
TRIBUNAL ESTARÁ, CASO SEJA PROPOSTA A AÇÃO RESCISÓRIA DENTRO DO PRAZO
DE 2 (DOIS) ANOS, OBRIGADO A MUDAR O QUANTO FIXADO NA DECISÃO
RESCINDENDA.
Registre-se que, por razões de segurança jurídica, só é possível a alteração da coisa julgada,
nesses casos, com a utilização da ação rescisória dentro do prazo estabelecido para a mesma,
ou seja, 2 anos a partir do trânsito em julgado da decisão.
A falsidade pode ser material ou ideológica. É irrelevante que tenha sido alegada no processo
em que proferida a sentença rescindenda, a menos que tenha sido objeto de incidente de
arguição de falsidade, cuja sentença tenha transitado em julgado e afirmado ser autêntico o
documento, salvo se, obviamente, se puder rescindir, também, esta decisão.
A falsidade pode ser apurada no curso da ação rescisória ou haver sido declarada em processo
criminal. Nesta hipótese, não poderá o tribunal que julgar a rescisória desconsiderar a coisa
julgada criminal, devendo considerar, necessariamente, que a prova é falsa. A defesa do réu,
neste caso, só poderá se fundar (quanto ao mérito) em que a prova não era o fundamento
único da sentença, ou seja, que havia outro fundamento suficiente a embasar a sentença
rescindenda.
DIDIER anota que também se deve admitir a AR quando a falsidade for apurada em ação
declaratória civil (CPC, art. 4º, II). Todavia, se a Ação declaratória de autenticidade houver
declarado autêntico o documento, fica excluída a possibilidade de rescisão com esse
fundamento, em razão da eficácia positiva da coisa julgada.
Prova ilícita: se a sentença for fundamentada em prova ilícita, deverá ser desconsiderada sua
produção e a sentença, consequentemente, estará fundada em fato não provado, deixando de
haver fundamentação e sendo, portanto, sentença nula. Todavia, o fundamento para a AR
nesses casos será o inciso V (ofensa a literal disposição de lei), pois restou violada norma que
veda utilização de prova ilícita. Não cabe com fundamento no inciso VI pois a prova, conquanto
obtida por meios ilícitos, é verdadeira.
Como documento novo, pode o autor se valor de qualquer documento. Porém, não será aceito
aquele cuja lei exigia a forma pública para fazer prova dos fatos alegados no processo original.
Documento novo não é aquele constituído posteriormente, e sim aquele que não foi
apresentado no curso do processo originário, destinado a provar fato já ocorrido. Ele já deveria
existir no momento do julgado rescindendo, não ensejando a rescisória documento não
existente à época do processo originário.
Também se exige que o autor ignorasse a existência do documento até o momento em que ele
podia juntar provas no processo original ou que dele ele não pudesse fazer uso, razão pela
qual ele deve demonstrar o momento em que obteve o documento.
Se ainda era possível à parte juntar o documento no processo original e ela não o fez, não
caberá a AR. É necessário, também, que o documento novo se refira a fatos controvertidos no
processo originário, RAZÃO PELA QUAL O RÉU REVEL NÃO PODERÁ VALER-SE DA
RESCISÓRIA COM FULCRO NESTE INCISO.
A inicial deve, obrigatoriamente, vir instruída com o documento novo, sem o qual o juiz deverá
determinar à parte que efetue a emenda, sob pena de indeferimento.
O STJ vem aceitando a AR com base em exame de DNA, por entender que ele se enquadra no
conceito de documento novo. Também se considera documento novo fotos, fita gravada,
reprodução mecânica (art. 383).
O documento novo deve referir-se a fatos controvertidos no processo originário: se o fato não
foi alegado nem objeto de controvérsias no processo, não cabe a AR. Assim, ao revel (que
justamente por ser revel, não alegou qualquer fato) não se franqueia a possibilidade da AR
com esse fundamento (inc. VII).
Documento Novo
Já existia ao tempo do processo originário
Autor desconhecia ou dele não podia fazer uso
Documento se refira a fatos controvertidos no processo originário
Documento seja hábil, por si só, a modificar a decisão rescindenda, ainda que parcialmente
Confissão: BARBOSA MOREIRA entende que o inciso VIII deve ser interpretado extensivamente
para se admitir a rescisão do julgado por todo e qualquer motivo para invalidar a confissão
(porquanto o art. 214 do CC dispõe que a confissão somente pode ser anulada por coação ou
erro de fato). A ação anulatória proposta antes do trânsito em julgado tem causa de pedir
restrita, somente cabendo nos casos de erro de fato e coação (art. 214 do CC c/c art. 352 do
CPC). Quanto à AR não há qualquer restrição, pois cabível quando “houver fundamento para
invalidar” (isto é, qualquer fundamento para invalidar). O dispositivo vale, igualmente, para o
“reconhecimento da procedência do pedido”.
Didier sustenta que as sentenças homologatórias previstas no art. 486 não são aquelas que se
encontram no art. 269 do CPC, mas apenas aquelas que não serão alcançadas pela coisa
julgada material, mas simplesmente pela preclusão máxima (ex.: homologação da arrematação
e da adjudicação). Assim, o critério distintivo seria a coisa julgada material. Todavia, há
entendimento segundo o qual cabe a AR quando o juiz, ao homologar a transação, fizer
considerações acerca do mérito da demanda, cabendo a anulatória quando o juiz se restringe a
homologar a transação. Ainda, há quem diferencie a sentença que homologa a transação
(cabível a anulatória) e sentença que se baseia em uma transação (cabível a AR).
25.1.7.11. Fundada em Erro de Fato, Resultante de Atos ou de Documentos da Causa (inc. IX)
Haverá erro de fato apto a permitir a AR quando:
a) O erro de fato tiver sido determinante para o mérito da sentença prolatada pelo juiz;
b) Que o erro seja apurável mediante o simples exame dos documentos e demais peças
dos autos;
d) Que não tenha havido controvérsia nem pronunciamento judicial sobre o fato:
inexistirá controvérsia se o fato não foi alegado por nenhuma das partes, se uma
admitiu expressamente a alegação da outra ou se uma parte não contestou o que a
outra disse.
A configuração do erro de fato denota a existência de uma sentença injusta, devido a um erro
de percepção ou de uma falha que escapou ao juiz ao compulsar os autos, relativamente a um
ponto incontroverso.
PROCESSO CIVIL – AÇÃO RESCISÓRIA – ART. 485, IX, DO CPC – ERRO DE FATO
– INEXISTÊNCIA.
[...]
Vide, assim, que não se admite ação rescisória fundada em erro de fato (CPC, art. 485, IX)
quando, no acórdão rescindendo, houve debate a respeito dessa circunstância fática e dos
respectivos elementos probatórios amealhados aos autos.
25.1.8.1. Introdução
A AR é proposta mediante petição inicial, contendo os requisitos do art. 282, além daqueles
previstos no art. 488 do CPC.
A inicial será indeferida nos casos do art. 295 ou quando a parte não fizer o depósito prévio de
5% do valor da causa.
Deverá, ainda, ser cumulado ao pedido rescindente o pedido rescisório, caso o autor queira
também nova decisão, e não apenas desconstituir a originária.
Deverá ele depositar 5% do valor da causa, a título de multa a ser entregue à parte contrária,
SEJA DECLARADA INADMISSÍVEL OU IMPROCEDENTE POR
caso a ação
UNANIMIDADE.
Na ação rescisória, o depósito inicial tem a finalidade de evitar a propositura
desmedida de ações dessa natureza, não se cogitando de qualquer caráter
indenizatório ao réu, seja por eventuais despesas com advogados, seja pelo
desgaste por enfrentar nova demanda. (STJ, Corte Especial, Informativo 395,
REsp 754.254/RS)
[...]
[...]
[...]
Por outro lado, se a AR envolver apenas um ou alguns dos capítulos da decisão rescindenda, O
VALOR DA CAUSA DEVE CORRESPONDER AO PROVEITO ECONÔMICO que se possa
obter com a rescisão de apenas esse capítulo.
Apesar do valor legal fixado, o juiz poderá determinar valor menor, caso o valor da causa
seja excessivo e impeça ou inviabilize o acesso à justiça. Trata-se de uma construção
jurisprudencial e doutrinária.
3. De outra sorte, há de se ter sob mira que o elevado valor da causa não
pode representar, em razão da necessidade de recolhimento de custas e, na
espécie, do depósito do artigo 488, inciso II, da Lei de Ritos, um obstáculo ao
direito constitucional de acesso à justiça. Com efeito, equiparar, no caso em
apreço, a atribuição do valor da causa ao valor da condenação inviabilizaria
o direito das autoras de buscarem a rescisão do julgado e do
correspondente novo julgamento do feito.
5. Agravo improvido.
Didier sugere que o relator faça expresso no mandado citatório o benefício à Fazenda, caso
queira concedê-lo.
b) Efeito material: não haverá o efeito material de presunção da veracidade dos fatos
alegados pelo autor na AR. Isso porque o autor sempre terá o ônus de demonstrar a
ocorrência de algum dos vícios relacionados no art. 485, já que a autoridade da coisa
julgada, que favorece o réu-revel, não pode ser desfeita com uma simples presunção.
Será cabível, v.g., quando houver sucumbência recíproca, hipótese em que o réu reconvirá
buscando rescindir a parte em que o autor foi vencedor no processo original. Para reconvir,
necessário é que ainda haja prazo.
Concluída a instrução, será aberta vista, sucessivamente, ao autor e ao réu, pelo prazo de dez
dias para alegações finais. Em seguida, será dada vista ao MP para parecer.
25.1.8.8. Intervenção do MP
A intervenção do MP na AR será obrigatória, já que a lide evidencia o interesse público, salvo
se o próprio MP for parte.
A tutela de urgência poderá ser uma cautelar ou antecipada, a depender do pedido. Até
mesmo de ofício poderá o juiz concedê-la, utilizando-se do seu poder geral de cautela.
Nesse sentido:
O juízo rescisorium (rescisório) é aquele em que o tribunal, após desconstituída a coisa julgada,
promove um novo julgamento da causa. Logo, a vitória no juízo rescindente não significa
vitória no rescisório.
julgamento da causa não for formulado, havendo cumulação, é defeso ao tribunal julgar, pois
estará atuando extra petita.
Se o pedido de novo julgamento for obrigatório, cabe ao relator, nos termos do art. 284 do
CPC, determinar a intimação do autor para emendar a inicial, sob pena de indeferimento.
Súmula 252, STF: “Na ação rescisória, não estão impedidos juízes que participaram do
julgamento rescindendo”. Isso porque o tribunal entende que os juízes que rescindem a causa
não ficam viciados para exercer o mérito rescisório.
Contra a decisão isolada do relator, cabe agravo interno para o órgão colegiado competente
para o julgamento da AR.
Contra o acórdão que julga a AR podem caber embargos infringentes (art. 530: acórdão não
unânime que tenha rescindido a decisão judicial).
Contra acórdão unânime ou não unânime que tenha mantido a decisão judicial, cabem REsp
ou RE, desde que versem sobre questão que tenha surgido durante o processo da AR e que
tenha sido enfrentada pelo tribunal recorrido (prequestionamento).
Nos recursos excepcionais não é possível renovar a discussão sobre a ocorrência ou não da
causa de pedir da AR, pois se trata de questão de fato176. Em razão da possibilidade de
interposição dos recursos excepcionais, cabem embargos de divergência e agravo de
instrumento contra decisão do presidente/vice do tribunal a quo que não admite Resp/RE (art.
544 do CPC).
176
Salvo se se tratar de causa de pedir fundada em violação de dispositivo legal
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760
Precedentes.
(STJ, REsp 860.634/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 16/12/2010, DJe 07/02/2011)
A AR permite a rescisão da sentença por motivos relacionados à sua validade e à sua justiça e a
querela nullitatis serve exclusivamente à invalidação da sentença nos casos previstos.
Se a sentença for favorável ao réu, não cabe a querela, pois não há nulidade sem prejuízo,
não havendo interesse na ação. Também não caberá se o réu foi citado regularmente, ou não
o foi, mas compareceu espontaneamente, mesmo que somente para alegar o vício (art. 214).
Essa ação é imprescritível e deve ser proposta perante o juízo que proferiu a decisão. Ela não
serve para impugnar sentença injusta, o erro impugnável é apenas de procedimento. Como
visto. É cabível em apenas duas hipóteses:
Contudo, a querela pode assumir a feição de outro procedimento, distinto dos embargos à
execução, sendo possível a invalidação via ação autônoma, em espécie atípica de defesa do
executado. O STJ já admitiu a querela nullitatis deduzida em uma ACP proposta pelo MP para
invalidar decisão judicial proferida sem a citação de um Estado-membro, no caso de
litisconsorte necessário unitário (Resp 445664-AC).
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761
Não é possível a utilização da ação anulatória do art. 486, pois esta visa a atingir ato
processual da parte, não se trata de meio de impugnação de decisão judicial.
Informativo 448
25.3.1.1. Introdução
A reclamação constitucional é uma ação de competência originária de tribunal, prevista na CR
e nas CE’s, que tem o objetivo de preservar a competência e garantir a autoridade das
decisões destes tribunais.
A CR prevê a reclamação para o STF (art. 102, I, “l”) e para o STJ (art. 105, I, “f”). Há previsão
fora da CR no Regimento Interno do TST, no do TSE e no do STM (nesse último do CPPM e da
lei federal 8.457/92).
A reclamação tem sua origem na dificuldade do Supremo Tribunal em fazer valer a autoridade
de suas decisões, seja na interpretação ou na execução das mesmas por parte de juízes e
tribunais. Em 1957, diante da possibilidade de o STF organizar seu regimento interno, e
fundada na doutrina dos poderes implícitos conferiu-se legitimidade ao PGR e ao interessado
na causa para a reclamação. Era de discutida constitucionalidade a medida, posto traduzir
verdadeira avocatória. Contudo como a constituição de 1967 deu ampla deliberação ao STF
para feitos da sua competência entendeu-se válida. Com a CR/88 foi expresso no sentido do
cabimento.
a) Ação: sendo ação, somente pode ser disciplinada por Lei Federal, eis que ação
constitui matéria de processo, a cujo respeito é privativa a competência legislativa da
União (art. 22, I, CR). Ela está disciplinada nos artigos 13/18 da Lei Federal nº 8.038/90.
Além do mais, sendo ação que provoca o exercício da Jurisdição contenciosa, a decisão
nela proferida produz coisa julgada material, somente podendo ser revista mediante o
ajuizamento de ação rescisória, consoante já decidido pelo STF (Rcl. 532 AgR/RJ).
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763
Por ser ação, a reclamação constitucional segue a mesma regra das demais ações:
exige para sua propositura que haja capacidade postulatória, de sorte que o
reclamante deve fazer-se representar por advogado legalmente constituído. Parece,
realmente, que a Lei nº 8.038/90, ao disciplinar a reclamação constitucional levou em
conta sua natureza de ação que provoca o exercício da jurisdição contenciosa, eis que,
em seu art. 15, prevê o contraditório, sendo certo, ainda, a existência de uma
pretensão a ser acolhida ou rejeitada pelo tribunal.
Com efeito, sendo a reclamação mero direito de petição e de acordo com o princípio
da simetria, permite-se que as CE’s prevejam a reclamação destinada a preservar a
competência dos TJ’s e a garantir a autoridade de seus julgados. No entender do STF,
não se viabiliza a reclamação para os TRF’s. A doutrina critica o entendimento do STF.
É que o direito de petição pode ser exercido tanto no âmbito administrativo como na
seara judicial. E a reclamação, como se viu, constitui medida judicial. Além do mais, se
realmente a reclamação consiste numa manifestação do direito de petição, não
haveria razão para exigir-se a capacidade postulatória, quando de sua propositura,
sendo incompatível com sua natureza de mero direito de petição entender que sua
decisão produz coisa julgada material. As críticas continuam: “O equívoco do STF é
reforçado com as contradições encontradas. O STF, conquanto tenha definido que a
reclamação constitui mero exercício do direito de petição, estabeleceu que somente
os Estados-membros podem prever, em suas respectivas constituições, a reclamação
para a preservação de competência e garantia da autoridade das decisões de seus TJ’s,
cujos regimentos internos podem estabelecer regras de processamento e julgamento
da reclamação; os TRF’s não podem, segundo o STF, processar e julgar reclamação,
muito embora constitua exercício do direito de petição.
Para Dantas, a correição e a reclamação são institutos diferenciados, eis que a correição é uma
medida:
[…] originária do instituto romano das correições, que passou para o direito
lusitano, e deste ao brasileiro, de caráter puramente
administrativodisciplinar, pertinente ao governo interno da magistratura,
direcionada a coibir erros e abusos de juízes de primeiro grau, cujo uso
recursal – que só se pode ter inconstitucional – é mera deturpação,
incrementada, a partir da vigência do Código de Processo Civil de 1939, pelo
princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias.
Didier Júnior e Cunha, comentando o posicionamento referido, sustentam não ser possível
enquadrar a reclamação como manifestação do direito de petição, pois se assim fosse “[...] não
haveria razão para exigir-se a capacidade postulatória, quando de sua propositura, sendo
igualmente incompatível com sua natureza de mero direito de petição entender que sua
decisão produz coisa julgada material.”
Marques, de maneira mais genérica, afirmou que a reclamação trata-se “[...] de medida de
Direito Processual Constitucional, porquanto tem como causa finalis assegurar os poderes e
prerrogativas que ao Supremo Tribunal e ao Superior Tribunal foram dados pela Constituição
da República.”
Aragão, em trabalho dedicado ao estudo da correição parcial, afirma que a reclamação “[...] é
um incidente processual, provocado pela parte ou pelo Procurador-Geral, visando a que o
Supremo Tribunal imponha a sua competência quando usurpada, explícita ou implicitamente,
por outro qualquer tribunal ou juiz.”
Sustentando que a tese de Aragão já não sobrevive diante da atual Constituição, Morato relata
os fundamentos que nortearam o referido doutrinador ao firmar o entendimento de que a
reclamação possui natureza de incidente processual: Pautava-se no fato de a reclamação, tal
como por ele [Aragão] concebida, ter cabimento apenas e tão-somente perante o Supremo
Tribunal Federal.
Ainda, ao contrapor o posicionamento de Aragão, Dantas salienta que “[...] afirmar como
incidente processual algo que pode ocorrer depois que o processo se encerra é, certamente,
forçar um pouco demais a mão.”
[...] atento à finalidade da reclamação, esta não pode deixar de ter em vista a existência de
uma relação processual, em relação à qual se cogite da preservação da competência do
Tribunal ou em relação à qual se vise a garantir a autoridade de sua decisão [...] penso que a
reclamação se destina a corrigir um desvio na relação processual em andamento, que
desconheça ou viole a competência do STF ou negue autoridade à sua decisão nessa relação
processual [...] Tais pressupostos me levam a configurar a reclamação muito mais aproximada
do recurso que da ação.
No entendimento de Dinamarco:
[...] Ora, se a reclamação pode ser proposta ao mesmo tempo que um recurso, é porque a
reclamação não é mesmo um recurso, pois, caso contrário, ao incidir o princípio da
unirrecorribilidade, a reclamação não poderia ser proposta quando houvesse um recurso
interposto.
Contudo, muito antes da atual previsão legal do instituto, Pontes de Miranda já afirmava que a
reclamação “[...] é ação contra ato do juiz suscetível de exame fora da via recursal”53,
destacando ainda que:
A ação de reclamação que rechaça o ato do juiz por invadente da competência do tribunal
superior é constitutiva negativa. A ação de reclamação que rechaça o ato do juiz e repele a
interpretação que fora dada à decisão sua, no tocante à força e à eficácia, também é
constitutiva negativa. A ação de reclamação que rechaça o ato do juiz por ter retardado,
materialmente a cognição pelo tribunal superior é mandamental.
A reclamação, tal como prevista no art. 102, I, “I”, da Constituição, e regulada nos artigos 13 a
18 da Lei n° 8.038/90, e nos artigos 156 a 162 do Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal, constitui ação de rito essencialmente célere, cuja estrutura procedimental, bastante
singela, coincide com o processo do mandado de segurança e de outras ações constitucionais
de rito abreviado [...] A tendência hodierna, portanto, é de que a reclamação assuma cada vez
mais o papel de ação constitucional voltada à proteção da ordem constitucional como um
todo.
Outrossim, conclui Morato seu estudo aprofundado quanto à natureza jurídica do instituto em
comento, afirmando que:
Porém, se o demandante não puder esperar a decisão administrativa, caberá a ele demonstrar
a necessidade e utilidade de se recorrer diretamente ao STF contra o ato que contrariou sua
súmula vinculante.
Instruída com prova documental pré-constituída (já que NÃO SE ADMITE PRODUÇÃO DE
PROVAS no curso do procedimento) e dirigida ao Presidente do tribunal, deve ser autuada e
distribuída ao relator da causa principal, sempre que possível.
O MP, quando não intentar, terá vista dos autos por 5 dias após o decurso do prazo para
informações. No que toca à competência para julgar, ela é do plenário do STF; no caso do STJ,
do órgão especial.
25.3.5. Recursos
Não cabem: Embargos Infringentes, Recurso Ordinário Constitucional, Embargos de
Divergência nem Agravo de Instrumento dos artigos 524/527, CPC;
Cabem: Embargos de Declaração, Agravo Interno contra decisões do relator, Recurso Especial
(quando julgada por TJ) e Recurso Extraordinário.
.......................................................
.......................................................
.......................................................
Em primeiro lugar, é de ver-se que esse tipo de reclamação somente cabe contra acórdão de
TR dos JEEstaduais. Assim o é porque, em relação aos Juizados Especiais Federais (JEF), a Lei
10.259/01 já prevê a forma de recorrer contra decisões das Turmas Recursais, a fim de fazer
chegar a discussão, inclusive, até o STJ, depois de passar pela Turma Nacional de
Uniformização dos JEF. Aliás, foi exatamente ante a falta desse tipo de escada recursal no
âmbito estadual – que somente existia na seara dos JEF – que o Supremo reconheceu o
cabimento do uso da reclamação na hipótese acima indicada.
(RE 571572 ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em
26/08/2009, DJe-223 DIVULG 26-11-2009 PUBLIC 27-11-2009 EMENT VOL-
02384-05 PP-00978 RTJ VOL-00216- PP-00540)
Quais são as condições estabelecidas para que o STJ conheça e julgue a reclamação proposta
em face de Turma Recursal dos Juizados Estaduais?
Conquanto a Resolução n. 12/2009 preveja que a decisão do relator que nega seguimento a
essa reclamação é irrecorrível, a Corte Especial do STJ, recentemente, entendeu cabível
mandado de segurança – exatamente por não caber qualquer recurso – contra essa decisão do
relator, particularmente quando se puder concluir, “sem maior esforço interpretativo”, pela
ilegalidade da decisão impugnada. Confira-se, a respeito, os contornos do caso concreto
analisado pelo STJ ao admitir o mandado de segurança nessa hipótese:
Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito
senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: (Redação dada pela
Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
§ 1o Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao
tribunal, haja ou não apelação; não o fazendo, deverá o presidente do
tribunal avocá-los. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
Assim, o reexame necessário possui natureza jurídica de condição de eficácia da sentença, não
ostentando feição de recurso.
[...]
[...]
Súmula 390, STJ: “Nas decisões por maioria, em reexame necessário, não se admitem
embargos infringentes”. Isso porque os embargos infringentes somente podem ser utilizados
em julgamento de mérito no acórdão não unânime proferido em apelação ou ação rescisória.
25.4.3. Procedimento
Cabe ao juiz, ao proferir a sentença que se enquadre numa das hipóteses, determinar
expressamente a remessa dos autos ao tribunal que lhe seja hierarquicamente superior e ao
qual esteja funcionalmente vinculado.
Caso haja apelação, deve-se aguardar seu regular processamento perante o juiz prolator da
sentença, para então determinar o envio dos autos ao tribunal, que apreciará em conjunto o
reexame necessário e o recurso. Se o ente público apelar, o reexame necessário somente
ficará prejudicado se a apelação for total. Se for parcial, o restante da parte sucumbida deverá
ser analisada na remessa.
Súmula 423, STF: “Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ‘ex officio’,
que se considera interposto ‘ex lege’”. Isso confirma a natureza jurídica do reexame necessário.
Súmula 253, STJ: “O art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o
reexame necessário”.
177
Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente,
prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do
Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
§ 1o-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência
dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao
recurso. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
§ 1o Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do
recurso, e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto;
provido o agravo, o recurso terá seguimento. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
§ 2o Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal condenará o agravante a
pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor corrigido da causa, ficando a interposição de
qualquer outro recurso condicionada ao depósito do respectivo valor. (Incluído pela Lei nº 9.756, de
17.12.1998)
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778
Súmula 45, STJ: “No reexame necessário, é defeso ao tribunal agravar a condenação imposta à
Fazenda Pública”.
[...]
3. O reexame necessário previsto no art. 475 do CPC não pode ser utilizado
como mecanismo prejudicial à entidade de direito público que dele se
beneficia, por ser manifestação do princípio inquisitório, que tem como
consequência o efeito translativo, e nada tem a ver com reformatio in pejus,
que é manifestação do princípio do efeito devolutivo do recurso (princípio
dispositivo).
Por fim, na remessa oficial pode o Tribunal analisar TODAS AS QUESTÕES discutidas no
processo e decididas em desfavor da União e dos demais beneficiados pelo RE (não poderá
analisar e modificar nada decidido em favor dela).
[...]
25.4.4. Hipóteses em que Poder ser Dispensado o Reexame Necessário (art. 475, § § 2º e 3º)
De início, cabe salientar que o STJ mantém firme entendimento de que as hipóteses de
dispensa do reexame necessário NÃO SE APLICAM AO PROCESSO DE MANDADO DE
SEGURANÇA, já que este é regulado por lei especial em relação ao CPC.
Essa hipótese de dispensa do reexame somente se aplica a sentenças o acórdãos de valor certo
e que, evidentemente, não ultrapassem 60 SM. Sobre o tema:
d) Se, no âmbito da União, houver recomendação de não se interpor recurso ou caso haja
instrução do AGU nesse sentido, tal determinação vincula os advogados ou
procuradores federais, não devendo haver o reexame necessário, que deverá ser
dispensado pelo juiz.
Assim, jamais ocorreria a incidência do contido no art. 475 do CPC, de modo que o reexame
seria regido pelas regras do processo coletivo e não do individual. Eis os dispositivos dos
diplomas coletivos aplicáveis por analogia a todos os procedimentos coletivos:
Assim, nas ações coletivas em geral, sejam relacionadas ao CDC, à LIA, à LAP, à LACP ou outro
diploma referente à tutela coletiva qualquer, haverá o reexame necessário quando o pedido
do autor for julgado improcedente ou for declarada carência de ação, fazendo, pois, incidir o
teor da seguinte súmula do STF:
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782
Súmula 423, STF: “Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ‘ex officio’,
que se considera interposto ‘ex lege’”.
b) Lei nº 7.347/85: lei da ACP. Prevista com a mesma redação da lei anterior (art. 12, §
1º).
c) Lei nº 8.437/92: essa lei dispõe sobre a concessão de cautelares contra atos do poder
públicos. “Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do
respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas
ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do MP ou da
pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto interesse público
ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança
e à economia pública” (art. 4º).
A lei dispõe ainda que aplica-se tal dispositivo à sentença proferida em processo de
ação cautelar inominada, no processo de ação popular e na ACP, enquanto não
transitada em julgado.
Essa é a lei mais completa sobre os pedidos de suspensão, constituindo-se no regime jurídico
geral do instituto.
d) Lei nº 9.507/97: disciplina o processo do Habeas Data. “Quando o ‘habeas data’ for
concedido e o Presidente do Tribunal ao qual competir o conhecimento do recurso
ordenar ao juiz suspensão da execução da sentença, desse seu ato caberá agravo para
o Tribunal a que presida” (art. 16).
O STJ entende que o juízo exercido no julgamento do pedido de suspensão possui natureza
política, razão pela qual não comporta REsp. Do mesmo modo, o STF entende não caber RE.
O pedido que será feito é de que seja sustada a eficácia da decisão impugnada visando tutelar
um interesse difuso.
d) O prefeito alijado do exercício do mandato por efeito de medida liminar (SS 444, STF).
Essas pessoas não precisam, salvo o Prefeito, ter sido parte no processo para ajuizar o
pedido de suspensão.
Se, todavia, o provimento liminar tiver sido concedido, originariamente, por tribunal, o pedido
de suspensão será dirigido ao Presidente do STJ ou do STF, quando a causa for fundada em lei
federal ou matéria constitucional, respectivamente.
Sobre isso:
(STF, SS 2504 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado
em 17/03/2008, DJe-078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT
VOL-02317-02 PP-00231)
De acordo com essa súmula, proferida a sentença em MS, e mantida a mesma situação que
deu ensejo à suspensão da liminar, devem ser suspensos também os efeitos da sentença.
Porém, se quando da prolação da sentença a ameaça ao interesse público não mais existir,
estará afastada a ultra-atividade da suspensão que já fora deferida.
Essas regras visam a dar celeridade processual, buscando proteger o Poder Judiciário das
demandas de massa, além do Poder Público, já que a decisão que suspender várias liminares
obstará o efeito multiplicador, caracterizado pela multiplicidade de liminares a serem
concedidas em demandas que tenham o mesmo objeto.
Esse dispositivo permite aos legitimados duplo meio de obstar os efeitos das liminares,
havendo cumulação de meios de impugnação.
O que justifica isso é o fato de ambos os remédios possuírem natureza e objetivos distintos,
um para reformar/invalidar a decisão com base em error in judicando/error in procedendo,
outro para sustar os efeitos da decisão com argumentos político-administrativos.
2. TRF1 – XII – QUESTÃO 80. De decisão que não conhece do recurso especial, embora
tenha sido analisada a questão de mérito, a competência para apreciar a ação
rescisória é do STJ.
3. TRF1 – XII – QUESTÃO 80. Ao ser citado, o réu poderá apresentar no momento de sua
defesa reconvenção à ação rescisória, desde que o prazo decadencial de dois anos não
tenha exaurido.
5. TRF1 – XII – QUESTÃO 77. A não apresentação da contestação nos autos da ação
rescisória torna o réu revel, embora os fatos não impugnados não serão considerados
verdadeiros, afastando-se a aplicação do que determina o art. 319 do CPC.
6. TRF3 –XVI – CESPE – QUESTÃO 53. Considerando que, proferida sentença em desfavor
de ente público que integra a relação processual, tenha sido interposta apelação
apenas contra parte da decisão, até mesmo na parte sujeita à remessa obrigatória, o
relator poderá reformar a sentença caso esta esteja em manifesto confronto com
súmula do STF.
7. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 83. Em relação à ação rescisória, seu pedido tem
natureza constitutiva negativa quanto ao juizo rescindendo, podendo o juizo rescisório
ser de natureza constitutiva, condenatória ou meramente declaratória.
8. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 85. Conforme entendimento do STJ, na ação rescisória
não se aplicam os efeitos da revelia178.
178
Isso está parcialmente errado. Para o STJ, somente não se aplicam os efeitos materiais, os
processuais se operam regularmente. Nesse sentido o seguinte julgado, que reconhece apenas a
aplicação do art. 319, que se refere à presunção de veracidade dos fatos:
PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO RESCISÓRIA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. RURÍCOLA. VIOLAÇÃO DO ART. 485,
INCISOS V E VI, DO CPC. REVELIA. ART. 319 DO CPC. NÃO-OCORRÊNCIA. PEDIDO IMPROCEDENTE.
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788
10. EMAGIS – 2012/25 – QUESTÃO 12. Não se admite ação rescisória fundada em erro de
fato (CPC, art. 485, IX) quando, no acórdão rescindendo, houve debate a respeito
dessa circunstância fática e dos respectivos elementos probatórios amealhados aos
autos.
11. EMAGIS – 2012/25 – QUESTÃO 12. Antes da edição da Lei 11.280/06, que deu nova
redação ao art. 289 do CPC ("Art. 489. O ajuizamento da ação rescisória não impede o
cumprimento da sentença ou acórdão rescindendo, ressalvada a concessão, caso
imprescindíveis e sob os pressupostos previstos em lei, de medidas de natureza
cautelar ou antecipatória de tutela"), a jurisprudência majoritária do STJ já admitia a
concessão de antecipação de tutela para suspender o cumprimento do acórdão
rescindendo180.
12. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 1. João viu ser negado provimento ao recurso
extraordinário que interpusera, transitando em julgado a sentença que havia julgado
improcedente o seu pedido. Posteriormente, contudo, a jurisprudência do STF mudou
de rumos e, em um recurso extraordinário interposto por outro autor, firmou
entendimento que daria ensejo à procedência do pedido anteriormente formulado por
João em sua ação. Nesse contexto, a mudança de orientação do Supremo enseja o
ajuizamento de ação rescisória por João, diretamente naquela Corte, contra o acórdão
que negou provimento ao seu anterior recurso extraordinário181.
1. Em observância ao princípio da preservação da coisa julgada não incidem sobre a rescisória os efeitos da
revelia previstos no art. 319 do CPC. [...] (AR 3.341/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 14/12/2009, DJe 01/02/2010)
179
A tese da "coisa julgada fragmentada", para fins de contagem do prazo decadencial da ação
rescisória, foi rechaçada pela jurisprudência da Corte Especial do STJ, que firmou orientação no sentido
de que "O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do
último pronunciamento judicial (Súm. 401 do STJ).
180
ADMINISTRATIVO. PENSÃO ESPECIAL. EX-COMBATENTE. REVERSÃO DO BENEFÍCIO EM FAVOR DE
FILHA. ACÓRDÃO QUE SEGUIU A JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
AUSÊNCIA DE VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA INDEFERIDA.
1. Com a edição da Lei 11.280/2006, o art. 489 do CPC positivou entendimento doutrinário e
jurisprudencial que reconhece a possibilidade de se antecipar os efeitos da tutela em sede de ação
rescisória, para o fim de suspender a execução do acórdão rescindendo, quando demonstrado o
preenchimento dos requisitos previstos no art. 273 do CPC, quais sejam, prova inequívoca da
verossimilhança da alegação e o fundado receio de dano. (...) (STJ, Primeira Seção, AgRg na AR 4855, Rel.
Min. Mauro Campbell, DJe de 14/02/2012)
181
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 8º DO ADCT. DECISÃO QUE
AFASTOU A PRETENSÃO DO AUTOR EM RELAÇÃO ÀS PROMOÇÕES POR MERECIMENTO COM BASE NA
ENTÃO JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. MODIFICAÇÃO JURISPRUDENCIAL PARA CONSIDERAR QUE A
NORMA DO CITADO ART. 8º ABARCA AS PROMOÇÕES POR MERECIMENTO. SÚMULA 343/STF. MATÉRIA
CONSTITUCIONAL. INAPLICABILIDADE. VIOLAÇÃO A LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI. CONFIGURAÇÃO. AÇÃO
RECISÓRIA PROVIDA. I – Cabe ação rescisória por ofensa à literal disposição constitucional, ainda que a
decisão rescindenda tenha se baseado em interpretação controvertida, ou seja, anterior à orientação
fixada pelo Supremo Tribunal Federal. [...] (STF, Pleno, AR 1478, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de
31/01/2012)
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789
13. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 11. A sentença, de acordo com a Corte Especial do STJ,
é um ato uno e, por isso, o prazo decadencial para a ação rescisória há de ser contado
de forma única, a partir do trânsito em julgado da última decisão aviada nos autos,
ainda que tivesse por objeto apenas uma parte da sentença.
15. EMAGIS – 2012/07 – QUESTÃO 12. É irrecorrível a decisão do Relator que nega
seguimento a reclamação aforada sob o fundamento de contrariedade entre acórdão
de Turma Recursal dos Juizados Especiais Estaduais e a jurisprudência consolidada pela
STJ, conquanto recentemente a Corte Especial desse Tribunal tenha admitido a
impetração de mandado de segurança contra essa decisão monocrática.
16. EMAGIS – 2012/11 – QUESTÃO 12. A concessionária de serviço público não detém
legitimidade para pedir a suspensão de liminar com o propósito de aumentar a sua
frota em determinada linha ou itinerário em detrimento de outras linhas e itinerários
servidos por outras empresas, ainda que suscite a possível lesão à ordem, à saúde, à
segurança ou à economia públicas182.
17. EMAGIS – 2011/41 – QUESTÃO 19. A falta de intimação da parte adversa para se
manifestar sobre os embargos de declaração, quando eles possam ter efeitos
infringentes, traduz motivo suficiente ao manejo de uma ação rescisória183.
18. EMAGIS – 2011/40 – QUESTÃO 10. Uma vez concedida a suspensão, a sua eficácia
atinge todo o processo até o trânsito em julgado, mesmo depois que proferida
sentença de procedência na ação principal (Lei nº 8.437/92, art. 4º, § 9º)184.
19. EMAGIS – 2011/40 – QUESTÃO 10. Negada a suspensão de segurança pelo presidente
da Corte, é cabível o recurso de agravo, o qual, sendo interposto pelo ente público,
NÃO TEM O PRAZO CONTADO EM DOBRADO.185
182
Embora se admita a legitimidade, em tese, de uma concessionária de serviço público para apresentar
pedido de suspensão de segurança ou liminar (Lei 12.016/09, art. 15), isso não se dará quando a
concessionária, a bem da verdade, busca o resguardo de interesse eminentemente privado, e não
propriamente o interesse público presente, por exemplo, na continuidade do serviço público. Daí que o
STJ tem frisado que, nestes casos em que o que se almeja é a tutela de interesse particular, não detém a
concessionária legitimidade para esse pleito.
183
A Seção, por maioria, afastando a aplicação da Súm. n. 343-STF, julgou procedente pedido aviado em ação
rescisória para declarar a nulidade de acórdão proferido em julgamento de embargos de declaração (EDcl) aos quais
foram emprestados efeitos infringentes, sem, contudo, intimar-se a parte contrária. No entendimento do Min.
Relator para o acórdão, houve ofensa ao art. 5º da CF, que rege os princípios do contraditório e da ampla defesa. AR
2.702-MG, Rel. originário Min. Mauro Campbell, Rel. para acórdão Min. Teori Albino Zavascki, julgada em
14/9/2011.
184
Súmula 626, STF: “A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em
contrário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva de concessão
da segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção pelo Supremo Tribunal Federal, desde que o
objeto da liminar deferida coincida, total ou parcialmente, com o da impetração”.
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790
20. EMAGIS – 2011/40 – QUESTÃO 10. O EFEITO MULTIPLICADOR SEM SIDO LEVADO EM
CONTA, SÓ POR SI, PARA JUSTIFICAR O DEFERIMENTO DA SUSPENSÃO DE
SEGURANÇA.
21. EMAGIS – 2011/40 – QUESTÃO 10. Deferida que seja uma liminar a potencialmente
agravar a ordem pública, primeiro é caso de se interpor uma suspensão de liminar
junto ao Presidente do Tribunal ao qual o magistrado que a deferiu é vinculado.
Negada a suspensão, deve ser interposto agravo. Somente se improvido, caberá novo
pedido de suspensão, para o o STJ ou para o STF, a depender de ser matéria
constitucional ou infraconstitucional.
22. EMAGIS – 2011/39 – QUESTÃO 01. Não cabe pedido de suspensão de segurança contra
acórdão de Tribunal de Justiça, publicado após a introdução da sistemática da
repercussão geral (CPC, art. 543-A), que trata de questão cuja repercussão geral fora
negada pelo Supremo Tribunal Federal186.
23. EMAGIS – 2011/34 – QUESTÃO 08. Para que seja cabível ação rescisória com
fundamento em erro de fato, é necessário, entre outros pressupostos, QUE O ERRO
SEJA APURÁVEL INDEPENDENTEMENTE DA PRODUÇÃO DE NOVAS PROVAS e que,
sobre o fato, não tenha havido controvérsia entre as partes nem pronunciamento
judicial.
24. GEMAF – 2010/11 – QUESTÃO 06. A propositura de ação rescisória exige a juntada de
instrumento de mandato original assinado pelo outorgante, mesmo que a procuração
concernente à ação subjacente confira poderes específicos para a rescisória.
185
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE
SEGURANÇA. PRAZO RECURSAL. ARTIGO 188 DO CPC. PRAZO EM DOBRO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Lei 4348/64 e
superveniência da Lei 8437/92. Conciliação de sistemas legais pertinentes à possibilidade de suspensão de medida
liminar e de tutela antecipada. Desfazimento de aparente assimetria processual então existente entre as ações de
mandado de segurança e os demais procedimentos de contracautela. Precedente do Tribunal Pleno. 2. Agravo
regimental. Cabimento do recurso contra a decisão que defere ou indefere o pedido de suspensão de liminar ou de
tutela antecipada, no prazo de cinco dias. Contagem em dobro do prazo para recorrer quando a parte for a
Fazenda Pública ou o Ministério Público. Inaplicabilidade do artigo 188 do Código de Processo Civil à espécie,
tendo em vista o disposto no artigo 4º, § 3º, da Lei 8437/92. Agravo regimental não conhecido. (SS 2198 AgR-AgR,
Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 03/03/2004, DJ 02-04-2004 PP-00010 EMENT VOL-
02146-02 PP-00341)
186
Ante a inexistência de repercussão geral da matéria, o Plenário desproveu agravo regimental
interposto de decisão do Presidente, na qual negado seguimento a pedido de suspensão de segurança.
Impugnava-se, na espécie, acórdão de tribunal de justiça estadual publicado posteriormente à exigência
do requisito de repercussão geral no recurso extraordinário. Consignou-se que a repercussão geral da
questão — relativa à equiparação entre procuradores autárquicos e procuradores de Estado para fins de
cálculo do teto remuneratório — fora rejeitada no RE 562581/SP (DJe de 22.2.2008).
SS 4394/SP, rel.
Min. Presidente, 14.9.2011. (SS-4394)
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26. GEMAF – 2010/10 – QUESTÃO 08. O autor da ação rescisória deverá, na petição inicial,
cumular ao pedido de rescisão da sentença de primeiro grau pleito específico para que
o feito seja julgado novamente. Se, para isso, alegar a existência de documento novo,
este deve ser entendido como aquele que, mesmo existindo na época da instrução
probatória da ação principal, não foi utilizado por desconhecimento da parte ou,
embora conhecido, não foi possível à parte dele fazer uso, apesar de ele apresentar-se
bastante para alterar o resultado da causa.
27. GEMAF – 2010/09. O duplo grau de jurisdição só aproveita o Poder Público, não sendo
tutelado o interesse da parte vencedora que deixou de apelar, demonstrando que se
conformou com a decisão (REsp 1.089.261).
28. Da decisão que não conhece o recurso especial, embora tenha sido analisada a
questão de mérito, a competência para apreciar a ação rescisória é do STJ.
29. Ao ser citado, o réu poderá apresentar no momento de sua defesa reconvenção à ação
rescisória, desde que o prazo decadencial de 02 anos não tenha exaurido.
Em geral, o procedimento no tribunal tem duas fases distintas: uma perante o relator, a quem
se atribui a função de praticar todos os atos até a sessão de julgamento, e a outra perante o
colegiado, que tem por finalidade o debate e o julgamento do caso.
Não podem os demais Poderes participar dessa elaboração, sob pena de inconstitucionalidade.
O registro tem por objetivo garantir a publicidade dos atos processuais, devendo ser feito no
mesmo dia da apresentação da petição ou da chegada dos autos ao tribunal.
A distribuição dos processos será imediata, conforme determina ao art. 93, XV, da CR/88, em
todos os graus de jurisdição. É pela distribuição que se define se o processo deverá
encaminhar-se ao pleno ou a algum outro órgão do tribunal, estabelecendo, ainda quem será
o relator e, se for o caso, o revisor.
O princípio do sorteio garante que a escolha do órgão que julgará o feito se dará por critérios
objetivos, sendo uma das manifestações do princípio do juiz natural.
O termo “acórdão” engloba o conjunto dos votos vencedores; logo, O VOTO VENCIDO NÃO
INTEGRA O ACÓRDÃO. Eis o porquê de a matéria referida apenas no voto vencido não
configurar como prequestionamento para a interposição de recursos excepcionais.
O acórdão deve conter relatório, fundamentação e dispositivo. Faltando os dois primeiros, ele
será nulo. Faltando o dispositivo, será inexistente.
Os acórdãos nulos podem ser atacados por REsp/RE, além dos demais recursos previstos na
legislação. Sobrevindo trânsito em julgado, poderá caber ação rescisória ou querela nullitatis, a
depender da hipótese.
Em relação à ementa, o art. 563 determina que “todo acórdão conterá ementa”. Significa, pois,
que os acórdãos deverão ter relatório, voto e ementa, não sendo possível que o regimento
interno de qualquer tribunal dispense algum desses elementos.
Ementa é o resumo do julgamento. Acórdão sem ementa não é nulo; porém, pode ser
impugnado por embargos de declaração, a fim de suprir a omissão.
Após o julgamento, os autos são enviados ao relator para que este lavre o acórdão. Se,
contudo, o voto por ele proferido tiver sido vencido, caberá ao julgador que conduziu o
julgamento ou abriu a dissidência lavrar o acórdão.
Lavrado o acórdão, publica-se no DOJ no prazo de 10 dias, sendo que é a partir da publicação
que se inicia a contagem do prazo para interposição de recursos (art. 564). Sobre o prazo para
interposição de recurso:
[...]
[...]
[...]
Publicação Publicação
Relator lavra
acórdão, salvo se Colheita dos votos,
Presidente anuncia Julgamento
seu voto foi vencido, 1º do Relator
resultado
quando lavrará o 1º
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794
O relator poderá, a requerimento do agravante, em casos nos quais possa resultar lesão grave
e de difícil reparação, suspender o cumprimento da decisão até o pronunciamento definitivo
da Turma ou Câmara (art. 558). Poderá também, ainda que não esteja na lei, conceder a
decisão que foi negada, a título precário, até o julgamento definitivo.
Evidentemente que essa colheita de provas deve ser feita com bastante cuidado, sob pena de
se ferir a isonomia processual e de ofender gravemente o princípio dispositivo.
a) Expedindo-se carta de ordem para que o faça um juiz de primeira instância (art. 492);
26.7. O Relator
26.7.1. Generalidades
Nos tribunais vigora o princípio da colegialidade das decisões, segundo o qual elas não devem
ser monocráticas, em regra.
Ao relator cabe estudar o caso e firmar o seu entendimento para, então, elaborar o relatório e
levar o caso a julgamento, a fim de, na correspondente sessão, expor os detalhes aos seus
pares, emitindo seu voto.
Ao relator cabe, ainda, deferir ou indeferir a produção de provas, expedir carta de ordem a
juízes de primeira instância para realização de diligências ou coleta de provas.
pois, quando é necessário reapreciar as provas, isso deve ser feito pelo
colegiado. REsp 1.261.902-RJ, 4T, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
16/8/2012.
Assim, vê-se que para dar provimento, as hipóteses são mais restritas, já que somente
servem como parâmetro a jurisprudência de tribunal superior ou do STF, a do próprio
tribunal não.
Súmula 253, STJ: “O art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o
reexame necessário”.
Caso o recurso seja daqueles em que ocorre o contraditório ainda perante o juiz, como na
apelação, em que se colhem razões e contrarrazões, não precisa o relator se preocupar em
ouvir as partes. Porém, caso o recurso seja interposto diretamente perante o tribunal, como se
procede no agravo de instrumento, deverá o relator ouvir o recorrido antes de julgar, mas
tão-somente se for para dar provimento ao recurso, já que dessa forma este não sairá
prejudicado.
26.8. Revisor
§ 2o O revisor aporá nos autos o seu "visto", cabendo-lhe pedir dia para
julgamento.
a) Apelação;
b) Ação rescisória;
c) Embargos infringentes.
Será revisor o juiz que se seguir ao relator na ordem descendente de antiguidade (art. 551, §
1º). A preterição dessa ordem somente implicará em nulidade se for demonstrado o prejuízo.
Porém, se faltar revisor quando exigida sua presença, haverá nulidade, de acordo com
precedentes do STJ.
26.9. O Julgamento
No âmbito do STF, permite-se a convocação de Ministros do STJ; neste, por sua vez, podem ser
convocados desembargadores dos TRFs e TJs.
Porém, o Poder Judiciário é hierarquizado, não podendo haver revisão de julgados de juízes de
primeira instância por outros do mesmo nível, salvo nas Turmas Recursais.
187
Art. 118. Em caso de vaga ou afastamento, por prazo superior a 30 (trinta) dias, de membro dos
Tribunais Superiores, dos Tribunais Regionais, dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais de Alçada,
(Vetado) poderão ser convocados Juízes, em Substituição (Vetado) escolhidos (Vetado) por decisão da
maioria absoluta do Tribunal respectivo, ou, se houver, de seu Órgão Especial: (Redação dada pela Lei
Complementar nº 54, de 22.12.1986)
§ 1º - A convocação far-se-á mediante sorteio público dentre:
I - os Juízes Federais, para o Tribunal Federal de Recursos;
II - o Corregedor e Juízes Auditores para a substituição de Ministro togado do Superior Tribunal
Militar;
III - Os Juízes da Comarca da Capital para os Tribunais de Justiça dos Estados onde não houver
Tribunal de Alçada e, onde houver, dentre os membros deste para os Tribunais de Justiça e dentre os
Juízes da Comarca da sede do Tribunal de Alçada para o mesmo;
IV - os Juízes de Direito do Distrito Federal, para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos
Territórios;
V - os Juízes Presidentes de Junta de Conciliação o Julgamento da sede da Região para os Tribunais
Regionais do Trabalho.
§ 2º - Não poderão ser convocados Juízes punidos com as penas previstas no art. 42, I, II, III e IV,
nem os que estejam respondendo ao procedimento previsto no art. 27.
§ 3º - A convocação de Juiz de Tribunal do Trabalho, para substituir Ministro do Tribunal Superior
do Trabalho, obedecerá o disposto neste artigo.
§ 4º Em nenhuma hipótese, salvo vacância do cargo, haverá redistribuição de processos aos Juízes
convocados. (Parágrafo incluído pela Lei Complementar nº 54, de 22.12.1986)
Art. 119 - A redistribuição de feitos, a substituição nos casos de ausência ou impedimento eventual
e a convocação para completar quorum de julgamento não autorizam a concessão de qualquer
vantagem, salvo diárias e transporte, se for o caso.
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799
Porém, o STF e o STJ possuem decisões em sentido diametralmente contrário, que mesmo
quando a maioria do órgão for composta por juízes de primeiro grau, não haverá nulidade.
Nesse sentido:
[...]
Todo aquele que lançar seu visto nos autos participará do julgamento, salvo motivo de força
maior, como morte, licença etc.
Caso haja revisor, os autos seguem para ele, e será dele, não do relator, a competência para
pedir dia para julgamento.
Em seguida, os autos vão para o Presidente, que designará dia para julgamento, mandando
publicar a pauta no diário oficial com antecedência mínima de 48 horas da sessão de
julgamento, sob pena de nulidade.
No julgamento, primeiro o relator exporá a causa, depois haverá sustentação oral, colhendo-se
o voto dos julgadores; em seguida, o Presidente anuncia o resultado do julgamento e, por fim,
designa o relator, se seu voto não for vencido, para lavrar acórdão. Caso seja vencido, o voto
cabe àquele que primeiro proferiu voto dissidente.
A falta de referência, no relatório, das razões de uma das partes implica em ofensa ao princípio
do contraditório. Isso porque o relator é obrigado a enfrentar a suma do pedido e da resposta
do réu. Se isso não ocorrer, os demais membros do colegiado não terão contato com as teses
defendidas pelas partes, causando parcialidade.
26.9.5.1. Generalidades
As partes poderão fazer a sustentação oral durante improrrogáveis 15 minutos, iniciando-se
pelo recorrente e, logo após, pelo recorrido. Trata-se da efetivação da garantia constitucional
do contraditório.
Somente não caberá sustentação oral em recurso se este for embargos de declaração ou
agravo de instrumento, e no agravo interno.
Os advogados poderão requerer que na sessão imediata seja o feito julgado em primeiro lugar
(art. 565). A finalidade deste artigo é evitar que os advogados sejam obrigados a aguardar por
horas o julgamento de todas as causas e recursos em prejuízo de suas outras atribuições.
Poderá, entretanto, ocorrer vistas em mesa, que é aquela realizada imediatamente, com breve
suspensão do julgamento.
O relator e o revisor, teoricamente, não poderiam pedir vista; não é contudo, o que acontece
na prática.
Esse pronunciamento é essencial para que possa ser bem compreendido o cabimento dos
embargos infringente parciais, já que poderá haver unanimidade quanto a parte dos pedidos e
não haver quanto a outra.
Tal dever visa a evitar futura arguição de nulidade e anulação do julgamento, ou seja, preza
pela economia processual.
Para solucionar esses casos, a regra dos Tribunais nacionais é a adoção do chamado voto
médio, buscando um voto que represente um meio termo entre os posicionamentos
divergentes. Essa fórmula, porém, não resolve todos os casos, sobre o que passaremos a
discorrer a seguir.
Quanto à natureza das divergências passíveis de ocorrer, podemos dividi-las em duas, quais
sejam, a divergência quantitativa e a divergência qualitativa.
O primeiro é o Sistema da Continência que adota como voto vencedor aquele que se encontra
entre as extremidades dos demais posicionamentos. Por exemplo, um órgão com três juízes
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803
O Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo em seu art. 263, § 1º consagra o
sistema da média aritmética:
Também adota essa solução, o Regimento Interno do Tribunal de Justiça de Santa Catarina:
Em relação ao dissenso qualitativo, visto que impossível realizar fórmulas matemáticas para
encontrar uma solução, a solução é mais complexa.
A primeira é a que obriga os juízes adeptos das soluções menos sufragadas a aderir a uma das
correntes mais numerosas, a fim de que uma se torne majoritária. Esta posição é adotada pelo
STF, conforme o no art. 185, § 2º de seu Regimento Interno:
Esta solução opta por um prematuro descarte dos entendimentos menos sufragados nas
causas em que não se atinge a maioria de votos. Há um desprestígio da autonomia dos
votantes, o que cria a possibilidade do resultado do julgamento oriundo do voto médio não
representar, de fato, o melhor posicionamento do órgão julgador.
A convocação de outros juízes para uma nova votação acarretaria na postergação da sessão do
julgamento para outra data, fato este que aumentaria o tempo de duração do processo,
agravando, por consequência, a morosidade da Justiça brasileira.
O grande problema dessa realidade é que, dependendo do método adotado, uma mesma
causa pode ter desfechos diferentes pelo simples fato de ser o feito processado em diferentes
estados da federação.
a) Natureza jurídica: não são recursos e nem meios autônomos de impugnação; Trata-se
de incidentes processuais;
A questão do incidente só pode ser de direito e só pode ser julgada se relevante para decidir a
questão principal.
Suscitado o incidente, e admitido por acórdão lavrado pelo órgão fracionário no qual tramitava
o processo, será o mesmo suspenso e enviado ao órgão colegiado maior definido pelo
regimento interno. Após decidido, retoma-se o julgamento da causa no órgão fracionário. Por
isso que se fala que a decisão no processo, como um todo, será subjetivamente complexa.
Nesses casos, a competência para julgar ação rescisória interposta será do órgão do tribunal
competente para rescindir julgados do órgão colegiado maior, ainda que ele só tenha
decidido a questão incidente.
Súmula 513, STJ: “A decisão que enseja a interposição de recurso ordinário ou extraordinário
não é a do plenário, que resolve o incidente de inconstitucionalidade, mas a do órgão
(câmaras, grupos ou turmas) que completa o julgamento do feito”.
Esse incidente faz parte do sistema de mecanismos processuais para a composição das
divergências jurisprudenciais. Para sua instauração, necessários os seguintes pressupostos
específicos:
O incidente pode ser suscitado por qualquer juiz que irá votar no julgamento, pelas partes e
pelo MP, além do assistente simples; a provocação pode ser por escrito ou em sustentação
oral, desde que antes da prolação do julgamento da causa.
Uma vez requerida a instauração do incidente, é preciso que o órgão jurisdicional originário
reconheça a divergência, por acórdão, para só então remeter os autos ao colegiado maior
(art. 447). Referido acórdão é IRRECORRÍVEL.
Se a tese jurídica for fixada como voto da maioria absoluta dos membros do órgão, ela
deverá ser consagrada em súmula de jurisprudência predominante do tribunal (art. 479).
Por ser recurso, só cabe após o julgamento Por ser incidente, só cabe antes do julgamento
Trata-se da regra da Reserva de Plenário (Full bench), pela qual foi estabelecida uma regra de
competência funcional, logo, absoluta, para o reconhecimento da inconstitucionalidade de lei.
A cláusula da reserva de plenário não se aplica às Turmas Recursais; também não se aplicam
aos juízos singulares; caso a questão já tenha sido decidida pelo Plenário do STF ou pelo
próprio tribunal anteriormente, estará também dispensada.
Assim, vê-se que um órgão fracionário do tribunal não tem competência para decretar,
incidenter tantum, a inconstitucionalidade de uma lei. Uma vez suscitada a questão, deverá
esse órgão remeter os autos ao Pleno ou órgão especial, conforme o caso, motivo pelo qual se
diz que ocorre a cisão funcional do julgamento.
Da mesma forma que no outro incidente, para que a questão seja submetida ao Pleno, da
alegação de inconstitucionalidade acolhida deverá ser lavrado acórdão pelo órgão fracionário
perante o qual se alegou a inconstitucionalidade.
27. Execução
27.1. Introdução
O juiz, ao resolver o litígio, nem sempre presta a tutela do direito material. O autor, mesmo no
caso de sentença favorável, pode não obter a tutela do direito. Ou seja, a justiça, a tutela
jurídica, apesar de chegar ao provimento formal idealizado, não está dotada de efetividade.
Isso ocorre porque a sentença precisa ser implementada (executada) para que o autor seja
satisfeito. Logo, vê-se que a sentença não se confunde com a tutela do direito (há exceções,
como no pleito meramente declaratório ou constitutivo).
Quem vai a juízo, seja a partir da mera afirmação do direito de crédito, seja a partir do título
executivo extrajudicial, quer tutela jurisdicional do direito material. Em um caso, a ação, para
prestar a tutela do direito, deve passar pela sentença condenatória, complementando-se com
a execução. No outro, a ação dispensa a verificação do direito e, também, a sentença
condenatória, viabilizando a imediata instauração da execução. No primeiro, a execução é
complemento da ação; no segundo, a execução é a única prestação jurisdicional buscada com
a ação.
Em relação à obrigação de não fazer, a tutela jurisdicional somente poderá visar uma situação
anterior à ocorrência do ilícito, preventiva, já que se consumado o ato que se não deveria
consumar, não poderá o réu ser condenado a uma obrigação de fazer (ou desfazer). Aqui, o
Estado lançará mão da tutela inibitória.
A tutela ressarcitória na forma específica requer que do infrator seja exigida uma prestação de
fazer ou a entrega de uma coisa equivalente à danificada, embora na grande maioria das vezes
dependa apenas de uma prestação de fazer.
Marinoni afirma que o nosso CPC durante muitos anos foi inconstitucional por omissão, já que
não conferia ao jurisdicionado e ao juiz técnicas processuais executivas indispensáveis à tutela
dos direitos materiais.
Somente a partir de 1994 isso começou a mudar, com a Lei nº 8.952/94, que instituiu a
antecipação da tutela do art. 273 e as técnicas executivas do art. 461. Veja-se:
O artigo 461 visa à obtenção da tutela específica, dar ao autor o direito material. A tutela
específica é o contrário da tutela pelo equivalente ao valor da lesão. A tutela pelo equivalente
implica na monetarização dos direitos ou na aceitação de que os direitos são iguais e, por isso,
podem ser convertidos em espécie.
O escopo mais importante do art. 461, para Marinoni, é permitir a tutela inibitória – a mais
relevante espécie de tutela específica, pois dirigida a inibir o ilícito – a e as tutelas de remoção
do ilícito e ressarcitória na forma específica, as quais, apesar de viáveis após a violação da
norma e da produção do dano, são voltadas a tutelar, na medida do possível, a integridade do
direito, evitando a sua degradação em pecúnia.
Agora, o processo de conhecimento prossegue até que a tutela do direito almejada seja
prestada, mediante a atividade executiva necessária.
Isto porque o processo, ainda que vocacionado à descoberta da existência do direito afirmado,
destina-se a prestar tutela jurisdicional à parte que tem razão, o que não acontece quando se
profere sentença de procedência dependente de execução.
Essa tutela é substancialmente a mesma da obtida com a execução; a diferença é que o rito
para lhe garantir efetividade deve ser diferenciado, mais célere, já que a tutela de urgência é
baseada na verossimilhança e no periculum in mora.
Já o pagamento de quantia pode ser obtido mediante as técnicas executivas da execução por
expropriação, isto é, mediante penhora, avaliação, expropriação e pagamento do credor.
Em casos excepcionais, como do credor de alimentos, as técnicas executivas são mais incisivas,
como o desconto em folha, o desconto de rendas periódicas e até mesmo a prisão.
Sim. Nos termos do artigo 573 do Código de Processo Civil, é possível em um processo de
execução a cumulação de demandas executivas, desde que presentes 03 condições, quais
sejam:
a) identidade de devedor;
c) identidade de procedimento.
Execução indireta, também chamada de coerção indireta, não busca realizar, por si só, o
direito material, mas apenas atua sobre a vontade do devedor com o objetivo de fazê-lo
adimplir. V.g.: astreintes.
Apesar de serem formas de execução distintas, ambas constituem formas de execução das
tutelas jurisdicionais.
Execução frutífera é aquela que encontra patrimônio do devedor suficiente para permitir a
realização do direito, mediante a expropriação de bens.
Já o direito alemão adota a tese de que o valor da multa deve ser dirigido ao Estado, com uma
visão nitidamente publicista, já que ela seria voltada à defesa do Estado-juiz.
Durante muito tempo se afirmou que a multa só seria cabível em obrigações infungíveis, já que
nas fungíveis seria possível a contratação de terceiro para prestar a obrigação. Entretanto, tal
ideia não prospera. Isso porque a execução sob pena de multa é mais rápida, barata e simples
do que a execução que depende do encontro de terceiro para fazer o que deveria ter sido feito
pelo réu. Isso porque, nesse caso, caberia ao autor pagar o terceiro para depois cobrar do réu,
verdadeira insanidade.
Logo, quando se diz que a obrigação infungível deve ser tutelada através de multa, não se quer
dizer que apenas esta espécie de obrigação pode ser assim tutelada, e sim que a obrigação
infungível somente pode ser tutelada (sua efetividade depende disso) mediante imposição de
multa.
A multa deve incidir de maneira a convencer o demandado, não estando limitada pelo valor do
dano ou pelo valor da prestação inadimplida.
Aceita-se que a multa seja maior do que o valor da prestação, exatamente porque a sua
finalidade é convencer o devedor do cumprimento da prestação, e não dar ao credor o
equivalente em dinheiro.
A multa, para poder convencer, deve ser fixada em montante que seja suficiente para fazer o
réu acreditar que é mais conveniente cumprir a obrigação a desconsiderar a ordem do juiz.
Em relação ao tempo, embora o art. 461, § 4º, fale em multa diária, e o § 5º em multa por
tempo de atraso, nada impede que a multa seja fixada em valor fixo, ou que seja progressiva,
semanal ou mensal, por exemplo.
A multa produz efeitos desde o momento em que a decisão produz efeito. Logo, se a multa é
fixada para dar efetividade à tutela antecipatória, seus efeitos são imediatos e no curso do
processo, durante a fase de conhecimento.
A finalidade coercitiva da multa não se relaciona com sua cobrança imediata, mas apenas com
sua possibilidade de cobrança futura. Assim, presume-se que ela será suficiente para
convencer o réu.
Porém, não se recomenda, apesar de não ser proibido, que haja o pagamento antes do
trânsito em julgado; isso porque existe a possibilidade de o réu/executado obter êxito recursal,
não podendo o autor, nesse caso, receber adiantadamente a multa imposta para o
cumprimento de direito material que não possuía.
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815
Efeito perverso da multa: trata-se da situação gerada ao réu diante do acúmulo do valor da
multa em face do não cumprimento da decisão judicial, tornando-se tal valor muitas vezes
superior ao da obrigação inadimplida ou do dano praticado e, logo, impagável pelo réu, além
de ser causa de enriquecimento sem causa.
Esse valor poderá ser suprimido pelo juiz, nos termos do art. 461, § 6º.
Esse parágrafo demonstra que a parte (capítulo) da sentença transitada em julgado que fixa a
multa não fica imunizada pela coisa julgada material.
Isso porque a multa não é fixada para castigar o réu ou para dar algo ao autor. Seu escopo é o
de dar efetividade às decisões do juiz. Logo, verificando que a periodicidade ou o valor da
multa não mais está de acordo com a ideia que presidiu sua fixação, poderá ela ser agravada
ou atenuada, conforme as exigências do caso concreto.
a) Máxima efetividade;
Diz-se, também, que o juiz, além de poder utilizar dos meios coercitivos, pode se valer das
sanções premiativas, mecanismos estimulantes que visam a obter o resultado desejado
mediante a concessão de um benefício para o imediato cumprimento da ordem.
Esse mecanismo só pode ser utilizado se houver expressa previsão legal, já que o juiz estará
manejando direitos que não lhe pertencem. Aliás, nas situações em que a multa se revela
imprestável, essa é a única forma executiva idônea, como ocorre no caso do devedor
insolvente.
É o que ocorre, v.g., com a ação de adjudicação compulsória, cabível quando o réu deixa de
adimplir a sua obrigação de outorgar a escritura definitiva. Assim, percebe-se que a própria
decisão já executa o direito.
Importante lembrar, também, que os auxiliares do juízo podem realizar atividades executivas
complementares, como remover obstáculos, localizar coisas etc.
Execução por particular: trata-se daqueles casos em que é necessário recorrer a um terceiro
para se obter aquilo que deveria ter sido feito pelo demandado. O problema nessa hipótese é
que o autor deverá pagar ao terceiro, para depois cobrar do réu. Assim, acabaria não havendo
a efetividade necessária, em especial se o réu continuar inadimplente e se tornar insolvente.
Evidentemente que não cabe esse tipo de atuação do devedor quanto às obrigações
infungíveis.
Execução por expropriação: ocorre nos casos em que é retirado patrimônio do demandado
para o pagamento de quantia em dinheiro ao autor. Nesses casos, inicialmente deve ser
realizada a penhora de bem do devedor, dinheiro em primeiro lugar. Não sendo possível, a
expropriação se dá:
c) Mediante usufruto.
A expropriação para o pagamento de quantia certa pode se dar através de outros meios, como
o desconto em folha e o desconto de rendas periódicas. Porém, estes só são permitidos para a
satisfação do crédito alimentar.
27.4.2. Patrimonialidade
A execução é sempre real, nunca pessoal, em razão de recair sobre os bens do executado.
Somente se excetua tal princípio a execução de alimentos, que permite a possibilidade de
prisão civil por dívida.
Desistência não é renúncia. Esta é instituto de direito material, irretratável. Porém, após a
desistência poderá o exequente ingressar novamente com ação idêntica, desde que comprove
o pagamento das custas processuais da primeira ação (art. 258).
b) Caso versem sobre matéria de mérito referente ao direito alegado pelo exequente, a
extinção dos embargos FICA CONDICIONADA À CONCORDÂNCIA DO EMBARGANTE, já
que o julgamento dos embargos favorável a este lhe dará um título judicial oponível
contra futura nova execução idêntica.
27.4.4. Utilidade
A penhora não será realizada quando restar evidente que o produto da execução dos bens
encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas de execução (art. 659, §
2º). O mesmo princípio impede que sejam aplicadas astreintes quando o juiz se convencer que
a obrigação se tornou materialmente impossível de ser cumprida.
Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o
juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor.
a) Fraude à execução;
A multa aqui será de até 20% do valor atualizado do débito em execução, reversível ao credor
(art. 601). Ela pode ser cumulada com a do p. único do art. 14, ato atentatório contra a
jurisdição, já que esta reverte ao Estado, não havendo bis in idem.
O juiz poderá relevar a multa caso o executado se comprometa a não repetir a conduta E der
fiador idôneo que responda ao exequente pelo principal e acessórios.
27.4.7. Contraditório
O contraditório se aplica na execução, já que há uma série de questões incidente que devem
ser decididas pelo juiz após ouvidas as duas partes, como a penhora de bens, alienação
antecipada etc.
27.5.1. Introdução
Como se sabe, as partes na execução se chamam exequente e executado, tanto na fase como
no processo executivo autônomo. Observa-se, no CPC, tanto legitimação ordinária primária,
quando o sujeito legitimado a propor o processo executivo estiver indicado como credor no
próprio título; legitimação ordinária secundária, quando o sujeito que demanda só ganha
legitimação para tal por um ato ou fato superveniente ao surgimento do título; legitimação
extraordinária, na qual o sujeito litiga em nome próprio demandando interesse alheio.
Há casos, no entanto, em que o exequente não será o credor por disposição ou autorização
legal, originariamente, como ocorre com a possibilidade do advogado executar a sentença que
fixa os seus honorários (art. 23, Lei nº 8.906/94).
Porém, a principal atuação do MP é como legitimado extraordinário, quando não era o titular
do direito material discutido durante a fase de conhecimento e continua não sendo durante a
de execução.
O simples fato do MP constar do título executivo não é suficiente para a aplicação do art. 566,
I, do CPC.
Isso porque, v.g., ele consta como credor no TCAC, mas não é o titular do direito material a ser
executado.
Nas ações coletivas para as quais o MP tem legitimidade ativa, sua legitimação para a execução
independe de sua participação como autor no processo em que foi formado o título. Trata-se,
na verdade, de um dever funcional do MP, que pode ser acionado concorrentemente ou
supletivamente à pessoa que propôs a ação coletiva.
Há casos, ainda, em que o MP não tinha legitimidade ativa para figurar na fase de
conhecimento, porém o terá, por força de lei, para a de execução (legitimação extraordinária
exclusiva para a execução), como é o caso da Ação Popular, em que a legitimidade surgirá caso
o autor ou qualquer outro cidadão não promova a execução em 60 dias da decisão de segundo
grau.
Espólio é a massa patrimonial deixada pelo decujus, que, apesar de não ter personalidade
jurídica, tem capacidade de ser parte, sendo representado pelo inventariante e,
excepcionalmente, pelos herdeiros (art. 12, V, § 1º).
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Caso não o faça, o demandante originário continuará no processo, porém com uma
legitimação extraordinária superveniente, já que estará defendendo direito alheio.
Art. 568. São sujeitos passivos na execução: (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
Devedor é todo sujeito que esteja, à luz da lei civil ou comercial, obrigado a solver a obrigação,
ainda que possa afirmar não ser o devedor por não ter participado como parte principal na
relação de direito material da qual surgiu a dívida.
Sendo esses sujeitos responsáveis por dívida que não é sua, é natural que sejam considerados
partes na demanda executiva, visto que serão os maiores interessados em apresentar defesa
para evitar a expropriação de seu bem.
Poderá ocorrer supervenientemente, com a efetiva constrição de bem que não pertence ao
executado, quando o terceiro deverá ser citado para que participe da relação processual.
Essa transferência da dívida a um novo sujeito, que não o devedor originário, exige a
concordância expressa do credor (art. 299, CC/02), porque, a partir do momento em que se
modifica o devedor, automaticamente modifica-se qual patrimônio responderá pela dívida.
Sua legitimidade é extraordinária, prevista, pois, em lei. Logo, seu nome não precisa constar da
sentença, respondendo ele em nome próprio por dívida alheia.
O fiador pode se valer do benefício de ordem, indicando à penhora bens do devedor antes que
seus próprios bens sejam objeto de constrição judicial (art. 595, caput, CPC).
Art. 595. O fiador, quando executado, poderá nomear à penhora bens livres
e desembargados do devedor. Os bens do fiador ficarão, porém, sujeitos à
execução, se os do devedor forem insuficientes à satisfação do direito do
credor.
Essa afirmação deve ser interpretada corretamente, já que a execução no mesmo processo
somente se dará se o afiançado tiver figurado no litisconsórcio passivo junto ao fiador. Se o
fiador tiver sido executado direta e individualmente, após realizar o pagamento deverá citar o
devedor, integrando-o à relação jurídico-processual, o que faz surgir um novo processo.
É possível a delegação da competência do tribunal para o juízo de primeiro grau, para que
este pratique os atos materiais necessários ao bom desenvolvimento da execução.
Essa delegação deve ser interpretada restritivamente, referindo-se apenas aos atos materiais
de execução, e não aos atos decisórios, que são indelegáveis.
O STJ, no entanto, tem ignorado isso no que se refere à ação rescisória. Ele tem afirmado que
cabe ao juízo de primeiro grau cumprir seu acórdão, não obstante ser uma ação originária:
188
Sobre essa hipótese:
SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. EXECUÇÃO DE COMPETÊNCIA DO JUÍZO CÍVEL. COMPETÊNCIA
FEDERAL.
Sendo competência federal crime praticado no exercício ou pretexto de exercício de função pública
federal, a sentença penal condenatória será executada no juízo cível federal, conforme disposto no art.
63 do CPP. Unânime. (TRF1, 6T, Ap 2007.34.00.015255-2/DF, rel. Des. Federal Daniel Paes Ribeiro, em
26/03/2012.)
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825
Precedentes.
(STJ, REsp 860.634/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 16/12/2010, DJe 07/02/2011)
27.6.1.2. Competência do Juízo que Processou a Causa no Primeiro Grau de Jurisdição (art.
475-P, II)
Trata-se da regra geral de competência para os títulos judiciais, estabelecendo ser competente
para executá-los o juízo que tenha sido o competente para a fase de conhecimento no
processo sincrético (juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição).
O art. 475-P, p. único, traz hipótese de foro concorrente à regra geral: poderá o exequente
optar por ajuizar a execução também no local onde se encontram os bens que serão sujeitos
à expropriação ou no atual domicílio do executado.
Caso o exequente queira que a execução se dê no foro concorrente à regra geral, deverá
requerer de forma fundamentada a remessa dos autos ao novo juízo. Poderá o executado, no
entanto, alegar exceção de incompetência, caso não preenchidos os requisitos legais.
Vê-se, pois, que se trata de uma exceção à regra da perpetuatio jurisdictionis prevista no art.
87, já que modificações no estado de fato ou/e de direito poderão causar modificação
superveniente de competência. V.g., A processou B que morava em BH. Tendo este se mudado
para SP, A poderá executar, após o ganho de causa, em SP. Isso desde que o requerimento da
execução em outro local se dê logo no início dessa fase. NÃO SE PODE MODIFICAR O LOCAL
DA EXECUÇÃO APÓS JÁ TER ELA SIDO INICIADA.
O requerente deverá peticionar no juízo em que se formou o título, o qual será responsável
pelo envio dos autos ao novo juízo.
A competência para a execução da sentença arbitral será sempre relativa, podendo ser
modificada pelas hipóteses de prorrogação de competência já estudadas, com especial ênfase
para a cláusula eletiva de foro.
A sentença penal condenatória deverá ser executada concorrentemente entre o foro do local
em que foi cometido o delito e o foro do domicílio do executado, ainda que tenha sido
proferida perante a Justiça Federal, salvo se existente alguma das hipóteses o art. 109 da
CR/88.
a) Foro de eleição;
Se vários forem seus domicílios, criando situação de conexão entre as ações propostas, firmar-
se-á a competência pela prevenção do juízo.
Para a ministra Nancy Andrighi, não faz sentido negar tal direito na ação de
execução. Já o artigo 98 do mesmo código também admitiria a competência
do foro da liquidação da sentença ou da ação condenatória para a ação
individual, ou seja, os dois podem ser diferentes. “Qualquer conclusão que
imponha o deslocamento da competência para o julgamento da execução
individual ao juízo no qual foi prolatada a sentença condenatória coletiva
dificulta o acesso ao Judiciário”, concluiu a relatora. Com essas
considerações, a Turma definiu a competência para a 3ª Vara da Seção
Judiciária de Goiás.
É por isso que se fala que a obrigação é estática, gerando uma mera expectativa de satisfação,
enquanto a responsabilidade patrimonial é dinâmica, representada pela forma jurisdicional de
efetiva satisfação do direito.
Não existe responsabilidade pessoal no processo civil, ela sempre recai sobre bens, nunca
sobre pessoa. A prisão civil por alimentos não é exceção a isso, já que ela não satisfaz a
obrigação, é apenas um meio de coerção.
Bens presentes, de acordo com a melhor doutrina, são aqueles existentes ao tempo da
instauração do processo executivo ou após o trânsito em julgado da decisão que forma o título
executivo judicial.
Apesar de o artigo não se referir, também respondem os bens passados, aqueles que não
estão mais no patrimônio do executado quando do início da execução, mas em função de
fraude à execução.
Impenhoráveis são os bens que, em nenhuma hipótese, responderão pela satisfação do direito
material, salvo nas seguintes exceções:
e) Pelo credor de pensão alimentícia (art. 3º, IV); Sobre essa hipótese:
g) Para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real (art. 3º, V);
sobre essa hipótese:
h) Por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação (art. 3º, VII).
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O STJ, inclusive, estendeu a impenhorabilidade do bem de família para o caso do imóvel que é
locado, mas cujo aluguel seja revertido para a subsistência ou moradia da família:
Súmula 486, STJ: “É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a
terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família”. A razão dessa súmula é simples: se o imóvel de propriedade do
executado está sendo locado, mas comprovadamente a renda dessa locação reverta em favor
de sua subsistência, é natural que tal bem seja mantido sob o pálio da impenhorabilidade, caso
contrário a finalidade de garantia do mínimo existencial seria subvertida por simples
preciosidade processual.
Por outro lado, se o imóvel puder ser fracionado, sem que a parte em que reside a pessoa
perca sua função de moradia, poderá ele ser penhorado, conforme pacificado entendimento
do STJ:
27.7.3.1.1. Bens Inalienáveis e os Declarados, por Ato Voluntário, Não Sujeitos à Execução
Se o bem for inalienável por disposição de últimas vontades, não afasta a penhorabilidade por
ato/dívida do decujus.
A jurisprudência atual vem incluindo entre os bens impenhoráveis aqueles que, apesar de não
serem imprescindíveis ao funcionamento da residência, mostram-se necessários ao lazer do
executado. Isso porque o lazer e um direito social do cidadão (art. 6º, CR/88).
b) Quantidade razoável:
c) Utilidade ou necessidade: deve haver uma ligação entre os bens e a profissão exercida
pelo devedor, devendo restar devidamente comprovada que a utilização de tais bens
se presta à realização das tarefas compreendidas em seu trabalho.
27.7.3.1.6. Seguro de Vida, Materiais Necessários para Obra em Andamento (art. 659, VI e VII)
Sem muito o que dizer sobre essa hipótese.
27.7.3.1.7. Pequena Propriedade Rural Trabalhada pela Família, Recursos Públicos Ligados à
Aplicação Compulsória em Educação, Saúde e Assistência Social, Valores Depositados em
Caderneta de Poupança até 40 SM e os Recursos do Fundo Partidário (art. 659, VIII, IX, X e XI)
Sobre os valores depositados em poupança:
herdeiro houver recebido a título singular objeto de execução fundada nesses direitos
sujeitam-se à responsabilização.
a) CDC, art. 28: quando a pessoa jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores;
d) CC/02, art. 50: sempre que houver confusão patrimonial ou abuso da personalidade.
Qualquer que seja a razão para se responsabilizar secundariamente os sócios, tem ele direito
de exigir que seja primeiro executados os bens da sociedade (benefício de ordem), cabendo a
ele nomear os bens da sociedade (art. 596).
Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da
sociedade senão nos casos previstos em lei; o sócio, demandado pelo
pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os
bens da sociedade.
27.7.4.3. Bens do Devedor, Quanto Estiverem em Poder de Terceiros (art. 592, III)
Não se trata de responsabilidade patrimonial secundária propriamente dita, já que são os bens
do próprio devedor que responderão pela dívida. Eles apenas serão retirados do poder do
terceiro.
27.7.4.4. Bens do Cônjuge, nos Casos em que os seus Bens Próprios, Reservados ou de Sua
Meação Respondem pela Dívida (art. 592, IV)
Se as dívidas forem adquiridas para a compra de coisas necessárias à economia doméstica ou
se tratar de empréstimo para a compra de tais coisas (eletrodomésticos etc.), o que haverá é
responsabilidade solidária primária entre os cônjuges (arts. 1.659, IV c/c 1663 c/c § 1º, 1.664
c/c 1.677, CC/02).
No regime de comunhão parcial de bens e participação final nos aquestos, as dívidas que
revertam em prol do casal têm como garantia o patrimônio comum, ainda que contraídas por
apenas um dos cônjuges (arts. 1.659, IV c/c 1.663, § 1º c/c 1.677, CC/02).
No regime de comunhão universal, todas as dívidas contraídas por qualquer deles estão
garantidas pelo patrimônio comum, ainda que em favor de um deles, excluídas as do art.
1.688, CC/02.
Sempre que o cônjuge não devedor puder ter seus bens constritos por dívida do outro, poderá
adotar as seguintes posições, de acordo com a jurisprudência do STJ:
a) Embargar/impugnar a execução: nesse caso, ele atuará como parte, quando ele pensar
que seus bens efetivamente podem responder pela dívida;
b) Embargos de terceiros: quando ele quiser atuar como terceiro, por entender que seus
bens não respondem pelo objeto da dívida.
Súmula 134, STJ: “Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado
pode opor embargos de terceiros para defesa de sua meação”.
27.7.4.5. Bens Alienados ou Gravados com Ônus Real em Fraude à Execução (art. 592, V)
b) FRAUDES À EXECUÇÃO;
a) Eventus damni: caráter objetivo, existência de ato de disposição de bem pelo devedor
que prejudique o credor;
[...]
Do mesmo modo, quando a insolvência for notória ou houver motivo para ser conhecida do
outro contratante (art. 159), quando se der, por insolvente, pagamento antecipado de dívidas
vincendas (art. 162) ou constituição de garantias para credor quirografário (art. 163).
a) Ato anulável: posição do CC/02, de Marinoni, Greco e Nery. Se o ato é anulável, sua
anulação implicará em retorno ao status quo ante, retornando o bem ao patrimônio
do devedor e compondo o acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
credores. Adotada essa corrente, o autor da ação pauliana não teria seu crédito
satisfeito, deveria concorrer com os demais credores quirografários.
b) Ato ineficaz perante o credor: nesse caso, após obtida a procedência na ação
revocatória, o credor poderia invadir o patrimônio do terceiro para satisfazer seu
direito, não retornando o bem ao patrimônio do devedor. Na hipótese de o valor da
expropriação ser maior que a dívida, a quantia remanescente deverá ser entregue ao
terceiro adquirente, já que entre ele e o devedor se mantém validamente o negócio
jurídico anterior. É a posição de Dinamarco, Daniel Assumpção, Alexandre Câmara e
HTJ.
Somente poderá propor a ação pauliana o credor quirografário, já que o real tem o bem como
garantia (lembrar que uma das características principais do direito real é a sequela); este
somente poderá caso a garantia se torne insuficiente.
A doutrina é pacífica em aceitar que o ato cometido em fraude à execução é válido, porém
ineficaz perante o credor.
a) Alienação ou oneração de bens quando sobre eles pender ação fundada em direito
real: trata-se do direito de sequela ínsito ao direito real. A caracterização da fraude
independerá da existência do estado de solvência do devedor;
Como a fraude à execução demanda ciência do devedor da existência de ação judicial que
potencialmente possa levá-lo ao Estado de insolvência, somente restará caracterizada após a
válida citação do devedor. Antes disso, haverá fraude contra credores.
Mesmo que o demandado ainda não tenha sido citado, caso já proposta a ação ele aliene seus
bens, poderá o credor pedir o reconhecimento da fraude se provar que ele já tinha a ciência
inequívoca da existência da ação.
Até a LC nº 118/05, exigia-se a citação do devedor para que seus atos de alienação fossem
considerados fraudulentos. Porém, a partir de então isso mudou. Veja:
Tal gravidade afasta o preenchimento de qualquer requisito, de forma que a mera alienação
ou oneração de bem constrito judicialmente já é suficiente para a configuração dessa espécie
de fraude.
A execução somente se inicia quando o título apresentar todos os requisitos, certeza, liquidez
e exigibilidade.
A liquidação serve para se apurar o exato valor do débito, o que lhe dará o atributo da liquidez.
b) Certeza (art. 460, p. único): a certeza diz respeito à ausência de dúvida quanto à
existência da obrigação que se pretende exigir. Trata-se, no entanto, de uma certeza
relativa, mesmo porque é possível que, no curso do processo, perceba-se que a
prestação é inexistente, seja porque nunca existiu, v.g., o título é falso, seja porque foi
extinta, v.g., por já ter sido paga;
Porém, a regra é que sejam ilíquidos, ao menos os judiciais, requerendo, pois, fase de
liquidação (art. 475-N).
A liquidação é, pois, uma fase do processo; NUNCA PODERÁ SER INICIADA DE OFÍCIO,
sempre depende de requerimento, DEVENDO SER A PARTE CONTRÁRIA INTIMADA NA
PESSOA DE SEU ADVOGADO (art. 475-A, § 1º).
Liquidação de sentença pode ser definida como a atividade judicial cognitiva pela qual se busca
complementar a norma jurídica individualizada estabelecida em um título judicial.
Porém, se a apelação for provida, a liquidação prévia perderá seu sentido. É este um dos
motivos pelo qual o incidente não pode ser determinado de ofício.
Há sentenças que não podem ser liquidadas (art. 475-A, § 3º), já que serão necessariamente
líquidas:
Dos títulos executivos judiciais do art. 475-N, exigem liquidação, além da sentença civil
condenatória líquida:
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c) Sentença arbitral (apesar de prevista no CPC, a lei de arbitragem exige que sua
sentença seja nele – no juízo arbitral – liquidada).
Não se entende como ilíquidos os títulos executivos em que o valor a ser pago, embora não
expresso no seu texto, possa ser obtido pela simples aplicação de índices ou indexadores de
mercado.
Já a liquidação incidental (ou liquidação-incidente), como foi dito acima, é aquela que ocorre
como incidente processual da execução (seja da fase executiva do procedimento, seja do
processo autônomo de execução). Ela pode ser visualizada nos seguintes exemplos: na
execução por quantia certa, quando houver necessidade de atualizar o valor devido, defasado
pelo decurso do tempo, ou por qualquer outra razão, desde que não demande simples cálculos
aritméticos; quando, inviabilizado o cumprimento da prestação específica, o objeto da
execução se converter em perdas e danos; na execução para entrega de coisa, para apurar o
valor das benfeitorias indenizáveis feitas pelo devedor; entre outros exemplos.
Sentença penal condenatória
Sentença arbitral
Processo de Liquidação
Acórdão que julga procedente ação rescisória
Sentença em tutela coletiva sobre D.I.H.
Antes da Lei nº 11.232/2005, o art. 570 do CPC permitia que o devedor instaurasse o processo
executivo e o procedimento de liquidação (art. 605, CPC). Entretanto, com o advento da
reforma processual civil, houve revogação expressa desses dois dispositivos. Não obstante,
Porém, em ação rescisória, o STJ já decidiu que cabe a liquidação e execução do julgado ao
juízo que proferiu a sentença no procedimento principal originário.
No caso de processo autônomo de liquidação, pode-se aplicar o inciso III do art. 475-P, CPC (o
juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição).
Entretanto, renomados autores (como Cândido Dinamarco, v.g.) afirmam que os juros
moratórios e a correção monetária, desde que não negados expressamente na sentença,
podem ser incluídos legitimamente na liquidação, ainda que omissa a sentença liquidanda.
Repare que a correção monetária e os juros moratórios também são pedidos implícitos (assim
como as custas e os honorários), mas nesse caso entendem não ser exigível expressa
condenação na sentença. Há algumas súmulas do STJ que podem ser interpretadas (dão a
entender) no sentido de não ser necessária expressa previsão na decisão judicial (ver tópico
que trata dos pedidos implícitos – atenuação à norma da correlação, acima exposto).
A regra é que só é possível ao sujeito passivo discutir questões processuais ligadas à própria
liquidação, e desde que não haja comprometimento ou incompatibilidade com o estabelecido
na decisão liquidanda.
A doutrina entende, porém, que também pode ser alegado na liquidação (além da matéria
relativa à sua admissibilidade) as matérias alegáveis na impugnação ao cumprimento da
sentença (art. 475-L), tais como: pagamento, novação, compensação, transação, prescrição,
etc., desde que supervenientes à sentença; falta ou nulidade da citação no processo de
conhecimento, se houve revelia; inexigibilidade do título executivo; superveniência de
decretação de inconstitucionalidade do ato normativo em que se fundou a sentença
liquidanda, etc. Não seria necessário, portanto, que o sujeito passivo tivesse que aguardar a
execução da sentença para alegar tais matérias. Acolhida qualquer dessas arguições, a
liquidação deverá ser extinta. Tal decisão será sentença, impugnável por apelação (aplicação
analógica do art. 475-M, § 3°).
Hoje em dia, porém, com a redação do art. 475-A, § 1º, é clara a natureza jurídica da
liquidação de incidente processual, uma fase do processo posterior à sentença (salvo se for
liquidação de decisão interlocutória concessiva de tutela antecipada) e anterior à execução,
voltada ao cumprimento da sentença.
Não se aceita que os cálculos sejam apresentados apenas com o valor total ou valores parciais;
é necessário que o credor detalhe os valores, indicando como foram obtidos, a correção
monetária e a taxa de juros aplicada e os períodos em que incidiram.
Nessas hipóteses, o credor deve requerer ao juiz da causa que intime o devedor para
apresentar os dados ou cite o terceiro, em prazo não superior a 30 dias.
Mesmo no caso da citação do terceiro, não há processo autônomo; é mero incidente ligado ao
processo de conhecimento ou de execução.
Neste caso, a execução será feita pelo valor originalmente pretendido, mas somente poderá
ser penhorado bem que corresponda ao valor fixado pelo contador, ficando a discussão
sobre o valor correto da execução delegada a eventual impugnação/embargos apresentados
pelo devedor (art. 475-B, § 4º).
Poderá ocorrer, ainda, que em ambos os casos o contador encontre valor superior ao
apresentado pelo credor; neste caso, o exequente poderá escolher entre manter o valor
original ou ficar com os cálculos do contador, desde que por este escolha expressamente, já
que o crédito é direito patrimonial disponível.
Requerida a liquidação por arbitramento, cabe ao juiz, antes de qualquer outra providência,
intimar o devedor para participar da perícia a ser instalada. Logo, nela, incide o contraditório
(art. 475-A, § 1º), podendo a parte contrária indicar assistente técnico, apresentar quesitos e
acompanhar a perícia.
A intimação do devedor não ocorre para que se defenda da liquidação, e sim para que possa,
no prazo de 05 dias, impugnar o perito designado, indicar assistente técnico e formular
eventuais quesitos pertinentes.
Após apresentado o laudo pericial, as partes terão o prazo de 10 dias para falar, aceitando ou
impugnando os termos do arbitramento. Havendo impugnação, cumpre ao juiz decidir em AIJ
designada pra esse fim (art. 475-D), decisão que poderá ser impugnada por agravo.
Fato novo é o que ficou de fora da condenação por não ter sido alegado, em virtude de
autorização legal, na fase de conhecimento e que tenha influência na apuração do quantum
debeatur.
É o caso comum nas ações coletivas, em que se prova o dano mas não se sabe o valor do dano
individual, e na sentença penal condenatória.
Apresentado o pedido de liquidação por artigos, o requerido será intimado, quando possível,
na pessoa de seu advogado (art. 475-A, § 1º), para impugnar os fatos narrados no
requerimento no prazo de 15 dias. Ao fim, o juiz decide a liquidação, fixando o valor exato da
execução, decisão recorrível por agravo de instrumento.
Porém, há exceções a essa regra, como no caso do art. 290, em que se permite incluir na
liquidação os novos inadimplementos após o trânsito em julgado, sem necessidade de se
propor nova ação. Também poderá incluir os juros legais, juros de mora e a correção
monetária, ainda que a eles não referido na sentença. Aliás:
Súmula 253, STF: “Incluem-se os juros moratórios na liquidação, embora omissos o pedido
inicial ou a condenação”.
Sendo de valor zero a liquidação, e não havendo nenhuma outra pretensão no título executivo
a ser exigível do executado, deve o juiz extinguir o processo sem julgamento de mérito, eis que
descaracterizado o próprio título executivo, que não apresentará nenhum conteúdo
econômico apto a sustentar o andamento da demanda (hipótese de carência de ação por
ausência de interesse de agir, em minha opinião). Nesse sentido:
Nessa situação específica, por se tratar de liquidação a ser processada em autos apartados, do
provimento jurisdicional que julgar esse processo será cabível o recurso de apelação.
Súmula 118, STJ: “O agravo de instrumento é o recurso cabível da decisão que homologa a
atualização do cálculo da liquidação”. Igualmente, o conteúdo da sumula foi acrescentado ao
CPC (art. 475-H). A decisão que julga os pedidos da liquidação tem caráter interlocutório,
motivo pelo qual desafiam recurso de agravo de instrumento, salvo se houver um processo de
liquidação.
27.9.1. Introdução
Segundo Alexandre Câmara, tanto o conceito quanto a função do título executivo é um dos
temas mais controvertidos de toda a ciência processual. Por isso várias foram as teorias
desenvolvidas com vistas a defini-los. As principais são:
b) Teoria do Título Executivo como Ato Jurídico: por esta se vê no título o ato capaz de
tornar adequada a via executiva como meio de atuação concreta da vontade da lei;
c) Teoria Mista: por esta o título é visto como Ato e Documento. Corrente perfilhada pela
Doutrina italiana;
d) Teoria que considera o Título como Ato de Acertamento do Direito Substancial: Esta
teoria também foi defendida pelos italianos.
Destas teorias predominou o entendimento segundo o qual o título executivo é o ato (ou fato)
jurídico a que a lei atribui eficácia executiva, tornando adequada a utilização da via executiva
como forma de fazer atuar a responsabilidade patrimonial.
Ambas as posições são inaceitáveis uma vez que pode ser parte legitimado aquele que nem
figure no título executivo e porque no caso da demanda executiva, a causa de pedir remota
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A verdadeira função do título executivo liga-se ao interesse de agir, portanto, está relacionado
com uma das “condições da ação”, a qual consiste na utilidade da tutela jurisdicional
pretendida pelo demandante. Esta utilidade estará presente toda vez que se verificar a
existência de 02 elementos: a necessidade da tutela jurisdicional pretendida (interesse-
necessidade) e a adequação do provimento pleiteado e do procedimento escolhido para obtê-
lo (interesse-adequação). O título executivo tem a função de fazer presente este último
elemento do interesse de agir in executivis. Havendo título executivo será adequada a
demanda de execução forçada do crédito alegado.
Portanto, o título executivo é, pois, responsável por tornar adequada a via executiva como
instrumento de atuação da vontade concreta do Ordenamento Jurídico. Posição esta também
defendida por Cândido Rangel Dinamarco.
Além de necessário para desencadear o processo executivo, o titulo é que dará os contornos e
os limites da execução, uma vez que como o processo de execução pode gerar consequências
graves ao devedor inadimplente, caberá, tão-somente, ao legislador conferir eficácia executiva
a determinado documento, sendo, portanto, taxativo o rol de títulos executivos (numerus
clausus), devendo estar previsto no bojo do Código de Processo Civil ou em leis especiais.
Como o título é indispensável para o ajuizamento da execução, ele deverá vir instruindo a
petição inicial, sob pena de ela ser indeferida (art. 283, CPC). Não se admite, igualmente, que a
petição inicial venha instruída com cópia do título executivo, devendo ser anexado o original
do documento. Admitir-se-á, porém, a utilização de cópia autenticada quando o original
estiver instruindo outro processo, o que deverá ser comprovado pelo exequente por certidão
juntada com a inicial.
Nada obsta que o credor cumule várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes.
No entanto, exige-se que para todas elas seja competente o mesmo juiz e seja idêntica a
forma do processo (CPC, art. 573). É possível também fundar a mesma execução em 02 títulos
extrajudiciais relativos ao mesmo negócio (Súmula 27 do STJ). Assim, nada impede que a
execução seja fundada em uma confissão de dívida firmada por duas testemunhas e em uma
nota promissória emitida como garantia. Eventual vício formal de um dos títulos não
contaminará o outro, e a execução terá regular seguimento.
Os chamados requisitos do título executivo encontram-se definidos no art. 586 do CPC, o qual
relaciona a liquidez, a certeza e a exigibilidade, como atributos inerentes aos títulos
executivos.
Por certeza do título entende-se que não há controvérsia quanto a existência do crédito por
ele manifestado. A certeza decorre, normalmente, da perfeição formal do título.
Título líquido é aquele em que se encontra determinado o valor e a natureza daquilo que se
deve. Por sua vez, um título não deixa de ser líquido por não apontar o montante da dívida,
desde que se possa, pelos elementos nele contidos, e por simples cálculo aritmético, chegar ao
valor devido.
Título executivo judicial é o formado pelo juiz, por meio de atuação jurisdicional, enquanto o
título extrajudicial é formado por ato de vontade das partes envolvidas na relação jurídica de
direito material, sem nenhuma intervenção jurisdicional.
Essa regra possui duas exceções: a sentença arbitral é considerada pela lei um título judicial,
enquanto a decisão judicial que aprova crédito de serventuário da justiça, um título
extrajudicial.
Somente é título judicial o que a lei federal assim determina, sendo inadmissível que as partes
criem um título executivo por vontade própria, face o princípio do nullus titulus sine lege. O
título executivo tem natureza jurídica mista, pois é, ao mesmo tempo:
b) Ato jurídico.
A execução somente poderá ter como executado a pessoa do condenado, não podendo sua
liquidação ser proposta em face dos corresponsáveis. Isso porque o processo não foi
integrado por estes, não se podendo fazer incidir os efeitos de uma sentença sobre alguém
que não participou da relação processual por evidente ofensa ao devido processo legal e a
vários outros princípios.
a) Execução não iniciada: não poderá mais se iniciar, face o desaparecimento do título;
A parte final do inciso (matéria não posta em juízo) significa que as partes poderão
transacionar ou se conciliar sobre tema que não foi demandado no processo por qualquer
das partes, o qual constará da sentença e terá eficácia executiva. Nesse caso ocorrerá
ampliação objetiva do objeto da decisão, sem observância do princípio da adstrição ou
correlação.
Porém, nada há de ilegal, já que as partes assim acordam e já que o Judiciário serve para solver
lides entre os particulares.
A sentença daí advinda foi equiparada à sentença judicial, de acordo com o art. 31 da Lei nº
9.307/96.
A decisão de homologação tem caráter constitutivo, pois cria no Brasil uma nova relação
jurídica. Porém, somente poderão ser executadas aquelas de natureza condenatória.
Os demais títulos não precisam de protesto para que sejam considerados títulos executivos
extrajudiciais.
Súmula 600, STF: “Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas ainda que não
apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária”.
Lembrar, entretanto, que de acordo com a teoria dos títulos de crédito, somente poderão ser
cobrados os endossatários e seus avalistas se o título tiver sido regular e tempestivamente
protestado. Caso contrário, somente poderá ser cobrado o sacado/aceitante e seus próprios
avalistas.
Por fim, vide que o rol de títulos de créditos EXECUTÁVEIS é taxativo: existe uma série de
outros títulos de crédito, geralmente denominados de atípicos, os quais, entretanto, não terão
força de iniciar o processo de execução.
A primeira parte se refere à confissão de dívida pelo próprio devedor ou por mandatário com
poderes expressos. No documento particular, exige-se a assinatura de duas testemunhas, não
podendo elas serem os advogados. As assinaturas não precisam ser autenticadas e com firma
reconhecida, bastando a real possibilidade de se identificar inequivocamente as testemunhas.
No caso da homologação realizada pelos advogados dos transatores, esta será válida se
realizada perante um só advogado constituído por ambas as partes.
A partir da Lei nº 8.953/94 não mais persiste a restrição quanto ao objeto de execução, sendo
possível promover a execução das obrigações de dar, fazer ou não fazer.
Súmula 300, STJ: “O instrumento de confissão de dívida, ainda que originário de contrato de
abertura de crédito, constitui título executivo extrajudicial”. Explicação: o STJ não reconhece o
contrato de abertura de crédito em conta-corrente (cheque especial), mesmo se
acompanhado de memória de cálculo, como título executivo (já que formado
unilateralmente). Entretanto, se o devedor assinar documento de confissão de dívida,
devidamente assinado por duas testemunhas, ele valerá como título executivo extrajudicial.
27.9.3.3. Contratos Garantidos por Hipoteca, Penhor, Anticrese e Caução, bem como os de
Seguro de Vida (art. 585, III)
A palavra caução é de significado amplo, genérico, e no seu sentido lato, significa segurança ou
garantia que o devedor oferece ao credor. Abrange as reais (hipoteca, penhor e anticrese) e as
pessoais ou fidejussórias (fiança).
Com a reforma da Lei 11.382/2006, a força executiva ficou limitada aos contratos de seguro
de vida. Para o manejo da execução, o beneficiário do seguro deverá instruir seu pedido com o
contrato (apólice) e a prova do óbito do segurado. Não se inclui no rol dos títulos executivos o
seguro obrigatório, cuja cobrança se faz pelo procedimento sumário.
Também não se inclui os seguros pessoais, de acidentes etc. A hipótese é específica, somente
seguro de vida.
No caso de várias pessoas serem enfiteutas de um imóvel, deverão eles elegerem entre eles
um cabecel com a função de representar todos perante o senhorio, sendo esse cabecel a parte
legítima no processo de execução.
Assim, as “taxas” devidas AO CONDOMÍNIO não são executáveis. Somente são executáveis os
créditos devidos ao locador.
27.9.3.7. Certidão de Dívida Ativa da Fazenda Pública da União, dos Estado, do Distrito
Federal, dos Território e Municípios, Correspondente aos Créditos Inscritos na Forma da Lei
(art. 585, VII)
A CDA diz respeito, tão-somente, às dívidas de pagar quantia certa. Outros tipos de obrigações
como de fazer, não fazer e entregar coisa não podem ser inscritos na dívida ativa da Fazenda
Pública, exigindo do ente público um processo regular de conhecimento, ou um de execução,
caso exista algum dos demais títulos previstos no art. 585 do CPC.
Esse é o único título extrajudicial que pode ser formado unilateralmente, sem a participação
do devedor ou de terceiros, face a presunção de legitimidade do ato administrativo.
27.9.3.8. Todos os Demais Títulos, a que, por Disposição Expressa, a Lei Atribuir Força
Executiva (art. 585, VIII)
A lei pode criar outros títulos executivos extrajudiciais, além do rol do art. 585 do Código de
processo Civil. Assim ocorre com as cédulas de crédito rural e industrial, os certificados de
depósito bancário, o warrant e o conhecimento de depósito, entre outros.
Não são, porém, títulos executivos extrajudiciais os contratos de abertura de crédito, ainda
que firmados por duas testemunhas e acompanhados dos extratos. A questão pacificou-se
com a edição da Súmula 233, STJ: “O contrato de abertura de crédito em conta-corrente,
acompanhado do demonstrativo do débito, constitui título hábil para o ajuizamento da ação
monitória” (Súmula 247 STJ).
Assim, se é necessária ação monitória, será justamente para dar força executiva ao título.
27.10.1. Conceito
A execução provisória é aquela fundada em título executivo judicial provisório, aquela decisão
não transitada em julgado que tiver sido recorrida sem que se tenha conferido efeito
suspensivo ao recurso.
Isso porque, se o efeito suspensivo tiver sido conferido, a execução ficará suspensa. Logo,
NÃO CABE EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE SENTENÇA OU ACÓRDÃO
CUJO RECURSO FOI RECEBIDO COM EFEITO SUSPENSIVO.
Art. 475-I. [...]
A execução provisória permite que o vencedor (credor) efetive uma decisão que lhe foi
favorável, ainda que tenha sido impugnada por recurso. Como o credor executa com base em
título provisório, passível de modificação, também há uma legítima preocupação da lei na
preservação dos interesses do devedor, que se traduz na garantia da REVERSIBILIDADE e na
atribuição de RESPONSABILIDADE OBJETIVA ao exequente.
Dentre os títulos judiciais elencados no rol do art. 475-N, nem todos podem ser objeto de
execução provisória, sendo esta incompatível com:
Assim, se a apelação tiver sido recebida apenas no efeito devolutivo, a execução será
definitiva.
Súmula 317, STJ: “É definitiva a execução de título extrajudicial, ainda que pendente apelação
contra sentença que julgue improcedentes os embargos”. Essa súmula teve seu teor superado,
já que editada antes da Lei nº 11.382/06, que alterou o CPC. Ela somente terá validade se a
apelação não tiver sido recebida no efeito suspensivo.
§ 2o A caução a que se refere o inciso III do caput deste artigo poderá ser
dispensada: (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
2) requerimento por petição escrita, instruída com os documentos e cópias dos autos
principais necessários para a atividade executiva (estabelecidos no § 3°);
c) Para a prática de quaisquer atos que possam resultar grave dano ao executado.
A caução deve ser suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios
autos. Isso quer dizer que:
c) Arbitrada de plano: não quer dizer que pode ser fixada de ofício pelo juiz, já que
depende de requerimento pelo exequente. Quer dizer que ele deverá fixá-la sem a
oitiva das partes, com valor por ele arbitrado, após solicitada a execução provisória e
presentes algumas das hipóteses do art. 475-O, III.
A execução provisória, em qualquer caso, mesmo quando dispensada a caução, corre por
iniciativa, conta e responsabilidade do exequente. A responsabilidade pelos danos causados
ao executado no caso de reforma ou anulação da decisão é objetiva.
O terceiro adquirente do bem penhorado não perderá o bem com a reforma ou anulação da
sentença; O RETORNO AO ESTADO ANTERIOR DEVE OCORRER RELATIVAMENTE À SITUAÇÃO
PATRIMONIAL DO EXECUTADO antes da execução provisória.
O que se pode permitir, com o ajuizamento de uma execução provisória diante de um recurso
desprovido de efeito suspensivo, é o processamento imediato da execução, procedendo-se
com a liquidação do julgado e, posteriormente, citando-se a Fazenda Pública para
oferecimento de embargos do devedor, os quais serão processados e julgados, daí se seguindo
a interposição de eventual recurso de apelação. Encerrado todo o processamento da execução
contra a Fazenda Pública, deverá, então, aguardar-se o desfecho do processo de
conhecimento. A partir do trânsito em julgado, poder-se-á expedir o precatório.
O STJ entende também que caso a execução provisória tivesse sido proposta antes da EC nº
30/00, não incidiria a exigência constitucional do prévio trânsito em julgado para o
processamento da execução.
Nesse sentido:
[...]
precatório. Após a Emenda 30, limitou-se o âmbito dos atos executivos, mas
ASSIM, EXCLUÍDAS
não foi inteiramente extinta a execução provisória.
AS HIPÓTESES PREVISTAS NO ART. 2º-B DA LEI N. 9.494/97, É
POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA CONTRA A FAZENDA
PÚBLICA.
[...]
Art. 2o-B. A sentença que tenha por objeto a liberação de recurso, inclusão
em folha de pagamento, reclassificação, equiparação, concessão de
aumento ou extensão de vantagens a servidores da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, inclusive de suas autarquias e fundações,
somente poderá ser executada após seu trânsito em julgado. (Incluído pela
Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
Já para execução provisória promovida pela Fazenda Pública, como credora, não há qualquer
restrição. O STJ, inclusive, a DISPENSA DE PRESTAR CAUÇÃO, pois entende que milita em seu
favor uma presunção de idoneidade financeira.
Então, o que de fato interrompe a prescrição é a citação válida, retroagindo os seus efeitos até
a data do ajuizamento da ação (219, § 1.º). Se o executado não for citado dentro do prazo e a
demora puder ser atribuída ao exequente, a interrupção da prescrição não ocorrerá.
Súmula 150, STF: “Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação”. Assim, por
exemplo, o prazo de execução de sentença em face da Fazenda Pública será de 05 anos.
- se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível (Art.
586);
- se a execução for instaurada antes de se verificar a condição ou ocorrido o termo (art. 572).
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867
A nulidade é vício fundamental e, portanto, priva o processo de toda e qualquer eficácia. Sua
declaração, no curso da execução, não exige forma ou procedimento especial. A todo
momento o juiz poderá declarar a nulidade do feito tanto a requerimento da parte como de
ofício. Não é preciso que o devedor utilize dos embargos à execução, podendo arguir a
nulidade por simples petição nos próprios autos da execução. No entanto, se a arguição da
nulidade exigir exame mais detido que reclama o contraditório, somente através dos
embargos é que poderá ser feita a arguição.
27.13.1. Introdução
No cumprimento das obrigações de fazer ou não fazer, o que se pretende não é uma coisa ou
quantia, senão uma conduta do devedor que pode consistir numa atividade ou numa
abstenção. Nessa modalidade de cumprimento por execução de sentença assume maior relevo
a colaboração do devedor, diferentemente do que ocorre nas demais formas de obrigação.
a) O juiz se utiliza das medidas de apoio dos § § 2º e 4º do art. 461 do CPC, para
conceder a tutela específica ou resultado equivalente (por opção do credor);
As obrigações de não fazer também revelam diversidade procedimental entre as que podem e
as que não podem ser desfeitas, isto é, entre as permanentes e as instantâneas. As primeiras,
denominadas contínuas, admitem que o autor peça que cesse a violação sem prejuízo do
desfazimento do que já foi feito, as segundas só admitem reparação pecuniária (por isso a
importância da tutela inibitória neste caso). Nas obrigações de não fazer permanentes o
credor pode:
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A coerção exercida pela multa é tanto maior se não houver compromisso quantitativo com a
obrigação principal, obtemperando-se os rigores com a percepção lógica de que o meio
executivo deve conduzir ao cumprimento da obrigação e não o inviabilizar, pela bancarrota
patrimonial do devedor.
a) Tutela inibitória: é a tutela destinada a inibir ato contrário ao direito, a fazer com que
ele não ocorra ou que cesse. O seu único pressuposto é a ameaça da prática de ato
contrário ao direito. Ela somente tem razão de ser diante da atividade ou da ação
ilícita continuada e não da atividade ou da ação que se exauriu. Segundo Marinoni, é a
mais importante tutela jurisdicional. É a tutela destinada a impedir a prática do ilícito,
do ato contrário ao direito, e não simplesmente a prática do dano. Nesta dimensão o
ilícito é dissociado do dano, podendo-se falar em duas espécies de ilícito,
configurando-se um como ato contrário ao direito e outro como ilícito danoso. Por
isso, o dano ou a sua probabilidade não constituem pressupostos deste tipo de
tutela, seu único pressuposto é a ameaça da prática de ato contrário ao direito, sendo
desnecessário indagar sobre a culpa, sendo esta critério, apenas, para imputação da
sanção ressarcitória, ou para constatação do dever de indenizar.
É uma tutela voltada para o futuro, seja para evitar a realização de um único ato, ou
para evitar a repetição deles, não se voltando para atos que já aconteceram. O ato a
ser evitado pode ser comissivo ou omissivo, ou seja, um fazer ou um não fazer. Sua
fundamentação é o direito constitucional de ação (art. 5º, inciso XXXV), pois, tal direito
tem como corolário o direito às técnicas processuais idôneas a tutela do direito
material. A ação inibitória é estruturada com base nos arts. 461 do CPC e 84 do CDC,
para os direitos individuais ou coletivos. Os § § dos artigos citados dão ao juiz o poder
de construir a ação e prestar a tutela jurisdicional utilizando a multa ou qualquer outra
medida de execução que for necessária ao caso concreto. Segundo Marinoni, diante da
tutela inibitória, quando nenhuma modalidade de execução for eficaz, a prisão poderá
ser utilizada para constranger o demandado a não fazer ou a prestar um fazer
infungível, que não dependa de disposição de dinheiro;
b) Tutela de remoção do ilícito: aqui, é necessário que a ação contrária ao direito já tenha
ocorrido e que haja efeitos ilícitos, derivados da ação praticada, que estejam em ato
no momento da propositura da ação judicial. Nela o dano ainda não ocorreu. Busca-se
eliminar o ilícito exatamente porque a probabilidade de sua ocorrência é grande. Tal
tutela também é estruturada nos arts. 461 do CPC e 84 do CDC. É uma tutela
geneticamente dependente da tutela antecipatória, na medida em que o perigo de
dano se relaciona com a ideia embutida na necessidade de se remover os efeitos da
ação ilícita. Os § § 5º dos artigos citados concedem ao juiz a possibilidade de requerer
e adotar a modalidade executiva adequada ao caso concreto;
De acordo com o art. 475-I do CPC, o cumprimento da sentença far-se-á conforme o art. 461
do CPC, quando o objeto da condenação for uma obrigação de fazer ou não fazer. Porém, o
art. 461 não prevê um procedimento executivo para cumprir sentença, antes prevê meios
materiais à disposição do juízo para efetivar o direito do credor.
INEXIGIBILIDADE.
Porém, em se tratando de direito indisponível, a mera vontade do autor não será suficiente,
admitindo-se a conversão em perdas e danos somente quando a tutela específica se tornar
impossível.
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Entretanto, caso a conversão seja pedida por uma das partes, inclusive o executado, em
função da impossibilidade da tutela específica, em respeito ao contraditório, deve o juiz
intimar a parte contrária para se manifestar no prazo de 05 dias.
A decisão que defere o pedido ou determina de ofício a conversão em perdas e danos tem
natureza jurídica interlocutória, recorrível por agravo de instrumento.
De acordo com o § 5º do art. 461 do CPC, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção
do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as
medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão,
remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se
necessário com requisição de força policial. Esta norma, além de falar expressamente em
“medidas necessárias”, tem nítido conteúdo exemplificativo, valendo-se da expressão “tais
como”, ou seja, tal norma dá ao juiz o poder de utilizar o meio de execução adequado ao caso
concreto.
Esse dispositivo é fruto do direito fundamental de ação (art. 5º, XXXV da CR/88), pois tal direito
exige que o juiz tenha o poder para determinar a medida executiva adequada e, por isto, fez
com que o legislador deixasse de lado o princípio da tipicidade dos meios executivos e
consagrasse o princípio da concentração dos poderes de execução do juiz, sendo tal dispositivo
aberto a concretização judicial.
O § 5º do art. 461 possui uma característica especial, uma vez que nem só apresenta uma
moldura ampla, dentro da qual o juiz pode trabalhar, como anuncia que este trabalho deve ser
realizado segundo as circunstâncias do caso concreto, como uma causa geral executiva.
Ressalte-se que o art. 461 do CPC não só dá ao juiz a possibilidade de definir o meio de
execução a ser utilizado, como o poder de determinar meio de execução diferente do
solicitado pelo autor, quebrando o princípio da tipicidade, e excepcionando o princípio da
congruência entre o pedido e a sentença.
Astreintes são devidas apenas ao credor da obrigação e não podem ser divididas com o
Estado
Não há lacuna legal suficiente para destinar, mesmo parcialmente, as astreintes para o Estado
e não ao credor da obrigação. Por maioria, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) rejeitou a proposta do relator, ministro Luis Felipe Salomão, de dividir a condenação.
Prevaleceu o voto do ministro Marco Buzzi, que mantém a jurisprudência do tribunal.
“Embora o texto de lei não seja expresso sobre o tema”, afirmou o ministro Buzzi, “inexiste
lacuna legal no ponto, pertencendo exclusivamente ao autor da ação o crédito decorrente da
aplicação do instituto”.
“Quando o ordenamento processual quer destinar ao Estado o produto de uma sanção, assim
o faz expressamente, estabelecendo parâmetros para sua aplicação, como bem se depreende
do disposto no artigo 14 do Código de Processo Civil (CPC)”, acrescentou.
Para o ministro Buzzi, é impossível estabelecer a titularidade estatal para o recebimento das
astreintes por violar o princípio constitucional da legalidade em sentido estrito e da reserva
legal. Conforme o ministro, a norma que prevê penalidades deve sempre prever um patamar
máximo, delimitador da discricionariedade da autoridade sancionadora.
Direito material
No voto prevalecente, o relator do acórdão apontou que a multa diária por descumprimento
de obrigação de fazer ou não fazer, as astreintes, possuem função de direito material.
Segundo Buzzi, o instituto objetiva ressarcir o credor pelo tempo que se encontra privado do
bem da vida tutelado, coagir indiretamente o devedor e servir como incremento à ordem
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873
judicial final ou cautelar. Para o ministro, reconhecida uma função de direito material na
multa, a titularidade do credor restaria induvidosa.
Ele também ressaltou que a multa é apenas uma das providências disponíveis ao magistrado,
havendo outros meios mais eficazes para alcançar a pronta satisfação do direito do credor.
Inutilidade
No caso concreto, tratou-se de ação revisional. A multa fora aplicada por conta do
descumprimento da obrigação de se excluir o nome da autora de cadastros de proteção ao
crédito. A solução final da ação alterou minimamente o contrato, restando certa a
inadimplência da autora.
O ministro entendeu que na hipótese, as astreintes eram inúteis, já que o próprio magistrado
poderia ter expedido ofício diretamente ao órgão de cadastro, para afastar o estado de mora
da autora e obter a satisfação imediata da ordem judicial.
Enriquecimento ilícito
Em vista dessas circunstâncias, o relator entendeu que a redução substancial do valor da multa
estipulado pelo tribunal de origem seria adequada. A condenação somou R$ 393.600,00 ao
longo de sete anos. Porém, os parâmetros do STJ arbitram cifras entre R$ 5 mil e R$ 15 mil
para indenizações por registro indevido em cadastros de proteção ao crédito.
Divergência
O relator original, ministro Luis Felipe Salomão, propunha a fixação da multa em R$ 100 mil, a
ser dividida igualmente entre o Rio Grande do Sul e a autora. Para Salomão, as astreintes não
poderiam servir de enriquecimento ilícito para o credor, mas tampouco perder seu caráter de
coercitividade frente à parte relutante em cumprir a decisão judicial.
Como em seu entender o texto legal também seria omisso em atribuir a destinação dos valores
da multa, o ministro Salomão recorria ao direito comparado para aplicar a norma do sistema
português, que prevê a divisão do produto financeiro decorrente de astreintes entre o Estado
e o demandante.
Para ele, a divisão resguardaria melhor tanto o direito da parte em ter satisfeita sua pretensão
quanto o interesse estatal em ver cumprido o comando judicial"
(http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=106362)
Assim, não há coisa julgada sobre o valor da multa (nem sobre qualquer outro meio
executivo).
A multa não integra o objeto da sentença, o qual é abarcado pela coisa julgada material. Logo,
não pode ser óbice à sua alteração a alegação de coisa julgada. Inclusive, se ao final o valor
total da execução, somado à multa, for muito alto, deverá ele ser reduzido para evitar o
enriquecimento sem causa, segundo o STJ.
ASTREINTES. REDUÇÃO.
O STJ admite até mesmo o manejo de exceção de pré-executividade para se afastar o valor da
multa:
Porém, a partir de quando ela se torna exigível? Para uma corrente, desde a preclusão da
decisão que a fixou, seja porque não foi recorrida ou porque o foi sem efeito suspensivo (é a
corrente que defende a celeridade). Nesse sentido:
Outra corrente defende a segurança jurídica, fixando como marco para a cobrança o trânsito
em julgado. Isso porque a eventual vitória em embargos à execução ou em impugnação elide o
dever da multa. Nesse sentido:
Do inteiro teor desse julgado: Não é possível a execução da astreinte fixada pelo
descumprimento de obrigação de fazer imposta em tutela antecipada na hipótese em que não
houve o trânsito em julgado da respectiva decisão, pois, conforme precedente da Terceira
Turma, a multa diária fixada antecipadamente ou na sentença, em conformidade com o artigo
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461, §§ 3º e 4º, do CPC, só será exigível após o trânsito em julgado da sentença que julga
procedente a ação, sendo devida, todavia, desde o dia em que se deu o descumprimento.
Porém, em alguns casos o legislador expressamente previu que a multa só será exigível após
o trânsito em julgado da decisão. São eles:
b) Na ACP;
Porém, é muito comum que ocorra a fixação de multa no curso do cumprimento de sentença,
já após a formação definitiva do título executivo. Nesses casos, se tiver havido preclusão, e se
não tiverem sido interpostos embargos com efeito suspensivo, o credor poderá pedir a
execução da multa a qualquer momento.
189
Na verdade, se manifestou uma vez, pela 2ª Seção:
ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. PRESERVAÇÃO DA SAÚDE E FORNECIMENTO DE
REMÉDIOS. BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS. POSSIBILIDADE. ART. 461, § 5º, DO CPC. INEXISTÊNCIA DO APONTADO
DISSENSO PRETORIANO. PRECEDENTES. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NÃO-PROVIDOS.
[...]
1. É cabível, inclusive contra a Fazenda Pública, a aplicação de multa diária (astreintes) como meio coercitivo para impor o
cumprimento de medida antecipatória ou de sentença definitiva de obrigação de fazer ou entregar coisa, nos termos dos
artigos 461 e 461A do CPC. Nesse sentido é a jurisprudência do STJ, como se pode verificar, por exemplo, nos seguintes
precedentes: AgRg no Ag 646240/RS, 1ª T., Min. José Delgado, DJ de 13.06.2005; RESP 592132/RS, 5ª T., Min. José
Arnaldo da Fonseca, DJ de 16.05.2005; AgRg no RESP 554776/SP, 6ª T., Min.
Paulo Medina, DJ de 06.10.2003; AgRg no REsp 718011/TO, 1ª Turma, Min. José Delgado, DJ de 30.05.2005.
2. Todavia, não se pode confundir multa diária (astreintes), com bloqueio ou sequestro de verbas públicas. A multa é
meio executivo de coação, não aplicável a obrigações de pagar quantia, que atua sobre a vontade do demandado a fim
de compeli-lo a satisfazer, ele próprio, a obrigação decorrente da decisão judicial. Já o sequestro (ou bloqueio) de
dinheiro é meio executivo de sub-rogação, adequado a obrigação de pagar quantia, por meio do qual o Judiciário obtém
diretamente a satisfação da obrigação, independentemente de participação e, portanto, da vontade do obrigado.
3. Em se tratando da Fazenda Pública, qualquer obrigação de pagar quantia, ainda que decorrente da conversão de
obrigação de fazer ou de entregar coisa, está sujeita a rito próprio (CPC, art. 730 do CPC e CR, art. 100 da CR), que não
prevê, salvo excepcionalmente (v.g., desrespeito à ordem de pagamento dos precatórios judiciários), a possibilidade de
execução direta por expropriação mediante sequestro de dinheiro ou de qualquer outro bem público, que são
impenhoráveis.
[...]
(STJ, EREsp 770.969/RS, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/06/2006, DJ 21/08/2006, p. 224)
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executado a tomar uma medida, fazer, não fazer ou entregar coisa (diferente de dinheiro).
Trata-se dos casos em que há execução específica, sem a conversão no equivalente em
dinheiro.
A astreinte perderia sentido no caso da obrigação de entrega de dinheiro. Isso porque ela
somente teria o efeito de agravar a situação do devedor que já precisa entregar "o cascalho";
geralmente ele já está ferrado. Cominar astreinte, meio psicológico de mesma natureza da
sanção principal seria absolutamente ineficaz. Para tanto, já existe a multa legal (10%).
É verdade que esse raciocínio pode gerar uma série de distorções, como no caso em que a
astreinte é comida em obrigação de fazer durante longo tempo e, futuramente, essa obrigação
é convertida em obrigação de pagar por perda do objeto por culpa do devedor. Assim, o
credor seria altamente beneficiado, torcendo para que tal situação se configurasse, já que não
existe limite para a astreinte. Pensando nisso que os tribunais permitem a redução da
astreinte, para não justificar o enriquecimento ilícito.
Além da multa de 10%, há ainda a incidência de juros moratórios e correção monetária para
forçar o pagamento nas obrigações de pagar.
Além disso, os arts. 461 e 461-A somente prevêem as astreintes para as obrigações de fazer,
não fazer e entregar coisa, mas não para a execução por quantia certa.
Ademais, na obrigação de pagar, cominada a multa legal, resta dar continuidade a todo o
procedimento executivo (penhora, avaliação, expropriação, pagamento), não se justificando,
então, a astreinte.
Informativo 460
27.14.1. Introdução
Art. 461-A. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao
conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da
obrigação. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)
O artigo previu apenas o procedimento inicial, não prevendo um procedimento específico para
essa fase de cumprimento de sentença. Caberá ao juiz adotar o procedimento mais adequado,
aplicando-se, aqui, todas as regras previstas ao art. 461, § § 1º a 6º, a respeito da conversão
em perdas e danos, da não taxatividade dos meios executivos e da multa coercitiva.
Se a coisa for incerta, deverá o credor já lhe ter individualizado na petição inicial; se a escolha
cabia ao devedor, deverá individualizar-lhe no ato de entrega da coisa. Não o fazendo, a
escolha passa ao credor, que deverá individualizar no requerimento inicial do cumprimento de
sentença.
De acordo com o § 2º do art. 461-A se não for cumprida a obrigação no prazo estabelecido,
expedir-se-á em favor do credor mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse,
conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel, ou seja, para tutela específica das coisas móveis
ou imóveis, são previstos, respectivamente, os meios executivos da busca e apreensão e da
imissão na posse. Porém, a maior novidade inserida no art. 461-A foi o disposto no § 3º, que
manda aplicar a execução para entrega de coisa o disposto nos § § do art. 461, pois, essa
norma abre a possibilidade para o uso da multa, assim como de qualquer modalidade
executiva que se mostrar necessária em face do caso concreto, consoante expressas previsões
destinadas a viabilizar a tutela específica diante das sentenças que reconhecem obrigações de
fazer e de não fazer.
Segundo Marinoni, a multa poderá ser utilizada como primeiro meio de coerção para obrigar
o devedor a restituir a coisa, antes mesmo da busca e apreensão, podendo também o juiz
requisitar força policial (que ele considera uma via auxiliar ao meio executivo) para
possibilitar o cumprimento de busca e apreensão ou imissão na posse (em sentido oposto
Luiz Fux, entendendo que a multa só deve ser utilizada caso os outros meios não surtam
efeitos).
Por fim, ressalta-se que caso a coisa tenha sido alienada a terceiro, também deve ser expedida
o mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse.
Parte da doutrina defende uma natureza dupla da multa: é medida de coerção indireta, ex
lege, que dispensa manifestação judicial. Também tem finalidade sancionatória, punindo o
devedor pelo não adimplemento da obrigação.
Ela difere da multa prevista no art. 461 (§ § 4° e 5°), pois não tem origem em decisão judicial,
sendo desnecessário que haja pedido da parte ou imposição expressa na decisão judicial.
Como se disse: é ex lege.
Somente o devedor moroso, que descumpriu a obrigação no prazo, poderá observar o início da
fase de cumprimento de sentença ser consolidado contra si. Se ele paga, não há se falar em
cumprimento.
É importante lembrar que para que o prazo de 15 dias comece a ser contado é preciso que a
dívida seja líquida. Enquanto não liquidado o valor da obrigação, não se pode falar em
inadimplemento, muito menos em multa.
INEXIGIBILIDADE.
O STJ nunca se manifestou de maneira definitiva sobre isso, por meio de uma de suas Seções.
Apenas tangenciou a questão. Há entendimentos em ambas as vertentes. Entendo, entretanto,
não caber. Isso porque a astreinte tem por objetivo forçar o executado a tomar uma medida,
fazer, não fazer ou entregar coisa (diferente de dinheiro). Trata-se dos casos em que há
execução específica, sem a conversão no equivalente em dinheiro.
A astreinte perderia sentido no caso da obrigação de entrega de dinheiro. Isso porque ela
somente teria o efeito de agravar a situação do devedor que já precisa entregar "o cascalho";
geralmente ele já está ferrado. Cominar astreinte, meio psicológico de mesma natureza da
obrigação principal seria absolutamente ineficaz. Para tanto, já existe a multa legal (10%).
É verdade que esse raciocínio pode gerar uma série de distorções, como no caso em que a
astreinte é cominada em obrigação de fazer durante longo tempo e, futuramente, essa
obrigação é convertida em obrigação de pagar por perda do objeto por culpa do devedor.
Assim, o credor seria altamente beneficiado, torcendo para que tal situação se configurasse, já
que não existe limite para a astreinte. Pensando nisso que os tribunais permitem a redução da
astreinte, para não justificar o enriquecimento ilícito.
Ademais, na obrigação de pagar, após cominada a multa legal, resta dar continuidade a todo o
procedimento executivo (penhora, avaliação, expropriação e pagamento), não se justificando,
então, a astreinte.
1.2. A sentença genérica prolatada no âmbito da ação civil coletiva, por si,
não confere ao vencido o atributo de devedor de "quantia certa ou já
fixada em liquidação" (art. 475-J do CPC), porquanto, "em caso de
procedência do pedido, a condenação será genérica", apenas "fixando a
responsabilidade do réu pelos danos causados" (art. 95 do CDC). A
CONDENAÇÃO, POIS, NÃO SE REVESTE DE LIQUIDEZ NECESSÁRIA AO
CUMPRIMENTO ESPONTÂNEO DO COMANDO SENTENCIAL, NÃO SENDO
APLICÁVEL A REPRIMENDA PREVISTA NO ART. 475-J DO CPC.
A sentença proferida em ação civil pública, por si, não confere ao vencido o atributo de
devedor de "quantia certa ou já fixada em liquidação" (art. 475-J do CPC), porquanto, "em caso
de procedência do pedido, a condenação será genérica", apenas "fixando a responsabilidade
do réu pelos danos causados" (art. 95 do CDC).
Uma vez mais, acolho os fundamentos do voto proferido nos EREsp. n. 475.566/PR, citados
pelo Ministro Teori Zavascki:
O executado poderá oferecer coisa diversa do dinheiro para evitar a multa, pois estará
efetuando dação em pagamento. Isso porque a obrigação de adimplir é perante o juízo, o qual
alienará o bem e satisfará o exequente.
A partir do requerimento, expede-se mandado de penhora e avaliação, nos termos do art. 614,
II. Do auto de penhora e avaliação será o executado intimado, na pessoa de seu advogado,
para oferecer impugnação no prazo de 15 dias.
No requerimento do exequente, DEVERÁ ele indicar os bens a serem penhorados (art. 475-J, §
3º), não existindo mais a figura da nomeação feita pelo devedor. É responsabilidade do credor
identificar os bens para penhora, não podendo ele transferir ao juízo essa incumbência:
Além disso, não sendo requerida a execução no prazo de 06 meses, o juiz mandará arquivar os
autos, podendo a parte pedir o seu desarquivamento enquanto não prescrito seu crédito (§
5º), o que ocorrerá em 05 anos, conforme art. 206, § 5º, I, CC/02.
[...]
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§ 5o Em cinco anos:
27.15.4. Procedimento
Apresentado o requerimento de instauração da fase executiva, expedir-se-á mandado de
avaliação e penhora de bens (art. 475-J).
Não há mais a figura da nomeação de bens à penhora pelo devedor. Pode o credor indicar
(facultativamente) os bens a serem penhorados, sem a ouvida prévia do executado (art. 475-J,
§ 3°), sendo que este poderá impugná-la no momento da impugnação ao cumprimento da
sentença, após intimado, no prazo de 15 dias (art. 475-L).
Art. 475-J
[...]
A indicação de bens pelo credor não é necessária, podendo o oficial de justiça procurá-los.
No caso de outras espécies de bens, a avaliação dos mesmos deve ser feita pelo próprio oficial
de justiça que proceder à penhora. Esta poderá ser questionada pelo executado na
impugnação, sob pena de preclusão. Se o oficial de justiça não dispuser de conhecimentos
especializados, o juiz nomeará avaliador (perito).
Discute-se a respeito de ser ou não a penhora um requisito para que possa o executado
apresentar impugnação ao cumprimento da sentença. Isso se dá porque a Lei 11.382/2006
alterou a redação do CPC passando a não exigir a penhora como requisito para apresentação
de embargos de devedor na execução de título extrajudicial. Discute-se, pois, se tal alteração
atingiu o cumprimento da sentença. Aplicando a analogia, muitos doutrinadores entendem
que não é necessária a penhora para haver a impugnação.
execução por quantia certa contra devedor solvente e insolvente (art. 646 e ss., CPC),
conforme determina o art. 475-R, CPC.
Trata-se de recurso especial sob o regime do art. 543-C do CPC c/c a Res. n.
8/2008-STJ em que a Corte Especial, ao prosseguir o julgamento, decidiu
serem cabíveis honorários advocatícios em fase de cumprimento de
sentença, haja ou não impugnação, depois de escoado o prazo para o
pagamento voluntário a que faz menção o art. 475-J do CPC, o qual somente
se inicia depois da intimação do advogado, com a baixa dos autos e a
aposição do “cumpra-se”. Entendeu, ainda, que somente são cabíveis
honorários advocatícios na impugnação ao cumprimento de sentença em
caso de acolhimento dela, com a consequente extinção do procedimento
executório. Por fim, asseverou não se tratar de dupla condenação. Os
honorários fixados no cumprimento de sentença, de início ou em momento
posterior, em favor do exequente deixam de existir em caso de acolhimento
da impugnação com extinção do procedimento executório, momento em
que serão arbitrados honorários únicos ao impugnante. Por outro lado, em
caso de rejeição da impugnação, somente os honorários fixados no pedido
de cumprimento da sentença subsistirão. Sendo infundada a impugnação, o
procedimento executivo prossegue normalmente, cabendo, eventualmente,
incidência de multa por litigância de má-fé ou por ato atentatório à
dignidade da Justiça, mas não honorários advocatícios. Na espécie, houve
condenação à verba advocatícia devido à rejeição da impugnação, o que
contraria o entendimento esposado acima, motivo pelo qual devem ser
decotados os honorários fixados no acórdão recorrido, sem prejuízo do
arbitramento no âmbito do próprio cumprimento da sentença, de acordo
com o art. 20, § 4º, do CPC. Precedentes citados: REsp 920.274-RS, DJ
24/4/2007, e REsp 1.048.043-SP, DJe 26/5/2008. REsp 1.134.186-RS, Corte
Especial, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/8/2011.
27.16. Execução das Obrigações de Fazer e Não Fazer por Título Extrajudicial
27.16.1. Introdução
Os títulos extrajudiciais podem impor obrigações de fazer, de não fazer e de entregar coisa. O
tema foi tratado nos arts. 621 a 645 do CPC, aplicando-se, subsidiariamente, as regras que
regem o processo de execução por quantia certa. Tratando-se de títulos judiciais deste tipo de
obrigação são utilizadas as regras dos arts. 461 e 461-A, conforme visto acima. Advirta-se que
a ação dos arts. 461 e 461-A dão ao juiz uma ampla latitude de poder executivo, bem mais
extensa da que lhe é outorgada pelas normas que regem o processo de execução de título
extrajudicial.
Já o art. 461, § 5º, contém regra processual aberta, que dá ao autor e ao juiz o poder de utilizar
a técnica executiva adequada (de acordo com as regras do meio idôneo e da menor restrição
possível) ao caso concreto (por isto, Marinoni entende que o juiz pode utilizar o § 5º do art.
461 do CPC, mesmo nos casos de execução de título extrajudicial, considerando o direito a
tutela efetiva com base no inciso XXXV do art. 5º da CR/88).
A petição inicial do processo de execução, como visto, deve conter todos os requisitos do art.
282, além dos previstos no art. 614, que são:
a) O título executivo extrajudicial ou judicial que requeira ação de execução autônoma;
b) O demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, caso se trate
de execução por quantia certa.
c) A prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo.
Recebida a inicial o juiz deve, além de determinar a citação do requerido, fixar de imediato o
valor dos honorários (por aplicação subsidiária do art. 652-A, podendo ser reduzido pela
metade no caso de cumprimento imediato da obrigação), e fixar a multa periódica, como
forma de induzir o devedor ao cumprimento da obrigação (a fixação inicial da multa não
impede a sua alteração posterior, nem o uso subsidiário das permissões contidas no art. 461 §
4º), fixando um prazo a partir do qual a multa é devida, com tempo razoável para o
cumprimento da obrigação, a não ser que este prazo esteja previsto no título, que neste caso
deve ser respeitado.
Existe também a possibilidade do valor da multa estar previsto no título; nesta situação, o
valor estabelecido deve servir de teto para a multa, que pode ser diminuída se o juiz entender
excessivo (art. 645, parágrafo único).
Ressalte-se que a multa por dia de atraso não tem aplicação às obrigações de não fazer
instantâneas; nesses casos a multa deve ser estabelecida em valor fixo para o caso de
inadimplemento, ou melhor, a multa deve ser estabelecida para o caso de prática da
conduta a ser obstada, pois a multa por dia de atraso revela em si a aceitação do
inadimplemento.
O mandado de citação deve conter a advertência de que a violação da obrigação de não fazer
sujeitará o devedor à multa nele fixada, a par de outras medidas cabíveis, como o
desfazimento da obra.
Abstendo-se de realizar o ato o devedor o feito será extinto, salvo nos casos de obrigações
continuadas, ou de prestações instantâneas que se repetirão no tempo, pois, nestes casos o
feito deverá no máximo ser arquivado, aguardando-se a perda do objeto da execução.
Descumprida a ordem de não fazer, além da multa, poderá o credor pedir ao juiz que
determine ao executado que desfaça o que não deveria ter realizado, e caso este descumpra
esta decisão, poderá o juiz determinar que o fato seja desfeito por terceiro à custa do devedor,
seguindo-se o regime previsto para execução de obrigações de fazer.
27.17. Execução da Obrigação de Entregar Coisa Certa ou Incerta (arts. 621 a 631)
27.17.1. Introdução
Essa modalidade de execução forçada pode ser classificada em:
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a) Dar: a obrigação é de dar quando incumbe ao devedor entregar o que não é seu,
embora estivesse agindo como dono;
b) Prestar: a obrigação é de prestar quando a entrega é de coisa feita pelo devedor, após
a respectiva conclusão;
Essas ações se voltam para o cumprimento de obrigação de entregar coisa que não seja
dinheiro. No entanto, o objeto da prestação nem sempre vem completamente individualizado,
pelo que o CPC separou a execução da entrega de coisa certa (art. 621) e a entrega de coisa
incerta (art. 629), conforme será estudado.
Destaque-se que o executado pode depositar a coisa no prazo de dez dias; neste caso não
incide a multa.
O depósito da coisa passou a ser condição para o pedido de outorga de efeito suspensivo aos
embargos (art. 739-A), porém, o réu pode opor embargos, independente do depósito da
coisa.
Não sendo concedido efeito suspensivo aos embargos, será possível o levantamento da coisa
que foi depositada pelo credor (art. 623), e, mesmo que tenha sido concedido efeito
suspensivo aos embargos, o exequente poderá prestar caução suficiente e idônea para
requerer o levantamento da coisa, requerendo a expedição de mandado de busca e
apreensão ou de imissão na posse, conforme se trate de bem móvel ou imóvel,
respectivamente.
Alienada a coisa já litigiosa, o mandado será expedido contra o terceiro adquirente (neste caso
se o credor assim requerer, este tem a opção de pedir a conversão em perdas e danos), que
apenas será ouvido após depositá-la (art. 627).
Saliente-se que o devedor de boa fé (ou terceiro de boa fé que esteja na posse do bem) só
terá de entregar a coisa depois de indenizado das benfeitorias úteis e necessárias que
houver realizado, podendo o devedor alegar em embargos a retenção por benfeitorias.
Nesse caso, deverá ser instaurado um incidente de execução para se apurar o saldo relativo às
benfeitorias.
Quando a coisa não for entregue pelo devedor, tiver sido deteriorada, desaparecido ou,
estando em poder de terceiro adquirente, não for reclamada pelo credor, terá esse o direito
de receber valor em dinheiro equivalente ao da coisa, mais perdas e danos (art. 627 do CPC).
Não sendo possível apurar o valor devido, poderá o juiz arbitrá-lo por equidade ou determinar
sua liquidação, nas formas regulares (art. 627, § § 1º e 2º, c/c arts. 475-A a 475-H, do CPC), a
liquidação corre no processo original.
Citado o executado este tem o prazo de 48 horas para impugnar a escolha do exequente, e o
prazo de dez dias para promover a entrega ou o depósito do bem. Apresentada impugnação, a
escolha do bem será decidida pelo juiz de plano, ou após ouvir perito de sua confiança; nesse
caso, enquanto pender a solução do incidente da escolha ficará suspenso o prazo de 10 dias
para entrega do bem.
Se, porém, a determinação competir ao devedor, será ele citado para entregar o bem
individualizado no prazo de 10 dias; também aqui poderá o credor impugnar a escolha feita
no prazo de 48 horas, contado da entrega ou do depósito do bem. Impugnada a escolha
caberá ao juiz decidir nos termos acima indicados. Caso a parte que cabia a escolha não o fizer,
tal direito passa para a outra, ou seja, caso o credor não o faça na inicial, caberá ao devedor
fazê-lo e vice versa.
Assim: Escolha do credor Deve ser feita na inicial, com prazo de 48h p/ devedor impugnar
Escolha do devedor Deve ser feita em 10 dias, com prazo de 48h p/ credor impugnar
Em seguida segue-se a execução normal para entrega de coisa, cabendo salientar que a perda
ou a deterioração da coisa, antes da escolha, é irrelevante, mesmo quando oriunda de força
maior ou caso fortuito (art. 246 do CC).
De toda maneira, frise-se: a impugnação deve der fundamentada, sob pena de sua
inadmissibilidade (MARINONI). Porém, existe larga discussão doutrinária a respeito dessa
decisão judicial: reveste-se ela da imutabilidade decorrente da preclusão, da coisa julgada
material ou da coisa julgada formal?
27.18.1. Introdução
A execução por quantia certa, no âmbito da jurisdição, é um serviço público que o Estado põe
à disposição do credor para realizar, coativamente, em benefício deste, mas também no
interesse público de manutenção da ordem jurídica, o crédito não satisfeito voluntariamente
pelo devedor, na época e forma devidas.
Partindo da regra de que “o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com
todos os seus bens presentes e futuros” (art. 591 do CPC), a execução por quantia certa tem
por objetivo expropriar aqueles bens do devedor inadimplente que sejam necessários à
satisfação do direito do credor, como dispõe o art. 646 do CPC.
Art. 646. A execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do
devedor, a fim de satisfazer o direito do credor (art. 591).
Essa expropriação executiva para obter o numerário a ser aplicado na realização do crédito
exequendo se opera, ordinariamente, por meio da alienação forçada do bem afetado ao
processo, seja em favor de terceiros, seja em favor do próprio credor. Mas pode,
excepcionalmente, limitar-se à instituição de um vínculo real temporário em benefício do
credor, que, assim, através de um usufruto forçado, extrairá do bem apreendido o rendimento
que possa cobrir o crédito satisfeito (art. 647).
A expropriação executiva não é, em essência, diversa da desapropriação por utilidade ou
necessidade pública.
A exemplo do que se passa na atividade da Administração Pública que vai se utilizar
compulsoriamente de bens particulares, o procedimento complexo de expropriação da
execução por quantia certa compreende providências de três espécies, quais sejam:
- de afetação de bens;
- de transferência forçada de domínio;
- de satisfação de direitos.
Isso, em outras palavras, faz da execução por quantia certa uma sucessão de atos que
importam:
- a escolha dos bens do devedor que se submeterão à sanção;
- a transformação desses bens em dinheiro (ou na sua expressão econômica);
- o emprego do numerário ou valor apurado no pagamento a que tem direito o credor.
É importante definir que devedor solvente é aquele cujo patrimônio apresenta ativo maior do
que o passivo.
IMPORTANTE: devedor insolvente é somente aquele que teve sua condição de insolvência
declarada por sentença. Isso será estudado com detalhes.
Para facilitar o estudo da execução por quantia certa, utiliza-se uma divisão idealizada por
Liebman, que se dá da seguinte forma:
- fase de proposição (petição inicial e citação);
- fase de instrução (penhora e alienação);
- fase de entrega do produto (satisfação do direito/pagamento).
O exequente tem a faculdade de indicar bens do executado para penhora na inicial. Porém,
poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, intimar a qualquer tempo o executado para
nomear bens; o não cumprimento no prazo de 05 dias é ato atentatório à dignidade da
justiça, ensejando aplicação de multa de até 20% do valor exequendo (art. 600, IV).
[...]
Art. 601. Nos casos previstos no artigo anterior, o devedor incidirá em multa
fixada pelo juiz, em montante não superior a 20% (vinte por cento) do valor
atualizado do débito em execução, sem prejuízo de outras sanções de
natureza processual ou material, multa essa que reverterá em proveito do
credor, exigível na própria execução.(Redação dada pela Lei nº 8.953, de
13.12.1994)
O ideal é que essa intimação seja feita na própria citação, a qual é pessoal (art. 222).
Trata-se de uma faculdade do exequente. É uma certidão que será pedida ao Cartório
distribuidor, atestando a terceiros e ao executado de que contra este existe um débito em
aberto. Ela poderá ser averbada no RGI, no registro de veículos ou em qualquer outro
registro de bens sujeitos à penhora ou arresto.
Ocorre DE OFÍCIO pelo oficial de justiça, quando não for possível a citação do executado pela
sua não localização, mas localizando-se bem ou bens de seu patrimônio. Recai sobre tantos
bens quantos necessários.
Não se confunde com o arresto cautelar, já que o executivo não pressupõe periculum in
mora, é realizado de ofício pelo oficial e outorga ao credor o direito de preferência.
Nos 10 dias seguintes ao arresto, deverá o oficial procurar o devedor por 03 vezes em dias
distintos. Não o encontrando, o arresto será convertido em penhora após intimado o
exequente e após findar o prazo do edital citatório que deve ser promovido por este.
A conversão do arresto em penhora somente ocorre 10 dias após o fim do prazo do edital.
Por se tratar de citação ficta, não comparecendo o executado, ser-lhe-á nomeado curador
especial, o qual poderá, inclusive, oferecer embargos à execução.
190
Art. 652. O executado será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o pagamento da dívida.
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
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900
Súmula 196, STJ: “Ao executado que, citado por edital ou hora certa, permanecer revel, será
nomeado curador especial, com legitimidade para a apresentação de embargos”.
A citação poderá ser agravada por instrumento, relativamente à parte que fixa os honorários.
Realizando o pagamento, deve o exequente ser intimado para se manifestar em 05 dias, a fim
de concordar ou impugnar. Se rejeitada a impugnação ou se houver concórdia do exequente,
extingue-se a execução. Acatada a impugnação, o processo prossegue quanto ao valor
restante.
No mesmo ato, deverá o oficial lavrar o auto e intimar o executado. Se não localizado, deve ser
intimado na pessoa de seu advogado (o que é preferencial) (art. 652, § 4º).
27.18.2.6. Não Localização do Devedor para a Intimação da Penhora (art. 652, § 5º)
Esse parágrafo só se aplica se o executado não for localizado para ser intimado da penhora e
se não tiver patrono constituído nos autos. Nesse caso, poderá o juiz dispensar a intimação ou
determinar novas diligências.
Para Daniel Assumpção, essa situação só pode ocorrer caso o executado esteja se escondendo
maliciosamente, conforme as evidências.
27.18.3.1. Introdução
Art. 745-A. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente
e comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em execução,
inclusive custas e honorários de advogado, poderá o executado requerer
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901
Trata-se do direito subjetivo do executado de, atendidos os pressupostos legais formais, obter
o parcelamento do débito em, no máximo, 06 vezes mensais.
27.18.3.3. Procedimento
Apesar de não previsto no CPC, deverá o juiz intimar o exequente para, em 05 dias, se
manifestar sobre o pedido do executado. Se o exequente impugnar, somente poderá versar
sobre os requisitos formais, jamais sobre o aceitar ou não o parcelamento, já que se trata,
repita-se, de um direito subjetivo do executado.
Deferida a proposta pelo juiz, o exequente levantará o valor já depositado, ficando suspensos
os atos executivos. Essa suspensão impede que sejam realizados atos de constrição judicial de
bens do executado. Porém, as penhoras já realizadas não serão desfeitas, ficando eficazes até
a extinção da execução.
A decisão que defere ou indefere o pedido de pagamento parcelado é recorrível por agravo de
instrumento.
27.18.3.1. Penhora
27.18.3.1.1. Definição
A penhora é um ato de afetação, pois sua imediata consequência, de ordem prática e jurídica,
é sujeitar os bens do devedor (por ela alcançados) aos fins da execução, colocando-os à
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disposição do órgão judicial para, à custa e mediante sacrifício desses bens, realizar o objetivo
da execução, que é a função pública de dar satisfação ao credor.
Por ela se individualiza determinado bem do patrimônio do executado que passa, mediante
apreensão física, direta ou indireta, de uma parte determinada e específica de seu patrimônio.
O registro da penhora não faz parte do ato processual da penhora, prestando-se tão-
somente a dar ciência erga omnes da realização da constrição judicial. Isso ajuda também a
resguardar os interesses de terceiros, os quais verificarão o status do bem perante a Justiça.
Nesse sentido:
Dessa forma, inexistindo registro da penhora sobre bem alienado a terceiro,
incumbia à exequente e embargada fazer a prova de que o terceiro tinha
conhecimento da ação ou da constrição judicial, agindo, assim, de má-fé.
Ressaltou-se que, in casu, a alienação do bem objeto da constrição judicial
operou-se antes do registro dela, razão pela qual descabido presumir a má-
fé ou o prévio conhecimento do terceiro adquirente quanto ao gravame. Em
verdade, o ônus da prova de que o terceiro tinha conhecimento da
demanda ou do gravame transferiu-se para a credora, que dela não se
desincumbiu. Desse modo, presume-se a boa-fé (ausência de registro) que
O registro poderá ser promovido, inclusive, pelo juiz, de ofício, na utilização de seu poder geral
de cautela. Nesse sentido:
- do artigo 53, § 1.º, da Lei 8212/91, que determinada a indisponibilidade automática dos bens
penhorados pela Fazenda Federal. Essa impenhorabilidade, todavia, é relativa, pois não opera
em face de outras fazendas públicas (estadual e municipal – art. 187, parágrafo único, do CTN),
mas apenas perante particulares. Nesse sentido: Ap. 29.886-0/4 e Ap. 5.235/0, ambas do TJSP.
- inciso IV: os vencimentos e outras verbas de natureza alimentar o que há a se destacar
neste inciso, no meu entender, é a questão dos honorários advocatícios. Havia divergência
doutrinária e jurisprudencial acerca da natureza alimentar dos honorários do advogado. Esta
divergência não mais existe, pois a redação do inciso IV ampliou sua abrangência para toda e
qualquer remuneração obtida por exercício autônomo de trabalho ou profissão. Ademais, a Lei
nº 11.033/2004 reconhece que entre os créditos de natureza alimentar estão incluídos os
honorários advocatícios (art. 19, parágrafo único, inciso I). Apesar disso, os honorários não
gozam de preferência ante o crédito tributário, sendo a eles reconhecido apenas privilégio
geral na falência.
IMPORTANTE: atentar para a ressalva do art. 649, § 2.º, do CPC!
- inciso V: os bens necessários ou úteis ao exercício de profissão havia dúvida e divergência
de entendimento sobre a abrangência deste privilégio, principalmente em torno das pessoas
jurídicas e bens imóveis. O STF e o STJ entendiam que o benefício se referia somente às
pessoas físicas. No entanto, o entendimento atual é no sentido de que também as pequenas
empresas (em que os sócios pessoalmente desempenhem a atividade) gozam deste
privilégio. Ex.: oficinas de consertos, serviços de limpeza, pintura, confecções. Nesse sentido:
Resp 512.564/SC. Já no que se refere aos bens imóveis, estes não se enquadram no privilégio
do inciso V, ainda que o bem imóvel se preste a sediar o desempenho da profissão. Nesse
sentido REsp 98.025/RS.
- inciso IX: os recursos públicos recebidos por instituições privadas os recursos públicos não
perdem sua impenhorabilidade, mesmo quando recebidos por instituições privadas para
aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social.
IMPORTANTE: o fato de uma instituição ser beneficiária de subvenções do Poder Público não
torna seu patrimônio imune de penhora! Apenas as verbas públicas, enquanto tais, é que não
podem ser bloqueadas por meio de penhora.
- inciso XI: os recursos públicos oriundos do fundo partidário em regra os bens dos partidos
políticos não gozam do privilégio da impenhorabilidade. No entanto, são impenhoráveis os
recursos públicos transferidos, na forma da lei, a partir do fundo partidário. Os demais bens
que integram o patrimônio do partido político continuam respondendo executivamente por
suas dívidas.
IMPORTANTE: Ver art. 15-A da Lei nº 9.096/95. Embora o partido político, como pessoa
jurídica, seja uma unidade nacional, para efeito de responsabilidade, a lei o fracionou entre os
vários órgãos que atuam em seu nome nas esferas municipal, estadual e nacional. Atribuiu a
responsabilidade civil com exclusividade ao órgão que houver descumprido a obrigação,
violado o direito ou causado dano pela prática de ato ilícito. Cada órgão responderá
individualmente pelos atos que praticar, sujeitando à execução apenas os recursos e bens
Porém, como a penhora busca proteger primariamente os direitos do exequente, deve haver a
oitiva deste.
Caso não existam bens para garantir a execução o executado não deverá ser punido por isso.
Deverá, contudo, esclarecer sua situação patrimonial. Sua omissão em comunicar tal fato
implicará em litigância de má fé e multa.
Sobre o tema:
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXPEDIÇÃO OFÍCIO
RECEITA FEDERAL. EXCEPCIONALIDADE NÃO CONFIGURADA.
A Corte Especial, ao julgar recurso sob o regime do art. 543-C do CPC c/c a
Res. n. 8/2008-STJ, entendeu que a penhora online, antes da entrada em
vigor da Lei n. 11.382/2006, configura medida excepcional cuja efetivação
está condicionada à comprovação de que o credor tenha realizado todas as
diligências no sentido de localizar bens livres e desembaraçados de
titularidade do devedor. CONTUDO, APÓS O ADVENTO DA REFERIDA
LEI, O JUIZ, AO DECIDIR SOBRE A REALIZAÇÃO DA
PENHORA ONLINE, NÃO PODE MAIS EXIGIR DO CREDOR
PROVA DE EXAURIMENTO DAS VIAS EXTRAJUDICIAIS NA
BUSCA DE BENS A SEREM PENHORADOS. Precedentes citados:
AgRg no Ag 1.010.872-RS, DJe 15/9/2008; AgRg no REsp 1.129.461-SP, DJe
2/2/2010; REsp 1.066.091-RS, DJe 25/9/2008; REsp 1.009.363-BA, DJe
16/4/2008, e EREsp 1.087.839-RS, DJe 18/9/2009. REsp 1.112.943-MA, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2010.
Muito comum hoje em dia é a penhora online, prevista no art. 655-A. Esse artigo prevê que o
exequente deverá requerer na petição inicial a penhora online, a qual será feita antes da
citação e tem nítido caráter cautelar, devendo ser demonstrados o FBI + PIM.
Porém, após citado o executado e não sendo realizado o pagamento em 03 dias, é
absolutamente dispensável o pedido do exequente, cabendo ao impulso oficial a realização da
penhora.
O juiz, para fazer penhora online, poderá solicitar informações às instituições financeiras e
efetivar ele mesmo a penhora por meio do BACENJUD, sempre limitado ao valor da execução.
Como o BACENJUD ainda permite a realização da penhora em diversas contas, o que pode
ultrapassar o valor da execução, foi criado um registro de conta única na página do STJ, na
qual as pessoas jurídicas cadastram qual a conta que deve ser objeto de penhora.
Pode ocorrer que o valor depositado em conta e penhorado seja impenhorável, caso em que
cabe ao executado comprovar para que se libere tais quantias (art. 644-A, § 2º).
3. A lei (art. 655-A do CPC) não limitou o uso do Bacen Jud a uma única vez.
Por se tratar de instrumento destinado a promover a satisfação da
pretensão creditória, ele pode servir também para qualquer outra
diligência (e.g., expedição de ofício ao Detran ou aos Cartórios de Imóveis),
isto é, tantas vezes quanto necessário.
4. Aplicação, por analogia, do art. 15, II, da Lei 6.830/1980, segundo o qual a
viabilização da penhora (mediante substituição ou reforço) pode ser feita a
qualquer tempo.
No julgado abaixo, entretanto, o STJ permitiu limitar a excessiva utilização da penhora online
sem que o exequente promova medidas que demonstrem a modificação da situação
econômica do executado; assim decidiu ante o fundamento de que não é legítimo transformar
a Justiça em mecanismo privado de satisfação dos interesses individuais dos credores.
O depositário irá recolhendo valores e depositando-os em juízo até que o valor total atinja o
valor da dívida. Somente no momento de satisfação do direito do exequente que o valor
depositado em juízo lhe será entregue.
Requer-se, também, os seguintes requisitos cumulativos:
a) Inexistência de outros bens penhoráveis, ou, se existirem, sejam eles de difícil
execução ou insuficientes para saldar o crédito exequendo;
b) O percentual fixado sobre o faturamento não pode inviabilizar o exercício da atividade
empresarial.
Poderá ele realizá-la onde quer que se encontrem os bens, ainda que em posse de terceiros. Se
os bens estiverem em outro foro, será necessária a expedição de carta precatória, salvo duas
exceções:
a) Penhora online:
b) Penhora de imóvel: já que, como visto, pode ser realizada por termo de penhora nos
autos (art. 659, § § 4º e 5º).
Poderá o oficial, se encontrar resistência, arrombar e requerer força policial ao juiz, devendo,
ao fim do ato, elaborar um auto de resistência.
No art. 666 está prevista a ordem preferencial de realização do depósito dos bens, somente
devendo o executado figurar como depositário nos casos de difícil remoção. Poderá o
exequente pedir o afastamento do executado do cargo de depositário, se houver motivo
justo.
Se o bem tiver que ser meado com o cônjuge, este recairá sobre o produto da alienação do
bem (art. 655-B).
Permite-se a realização de uma segunda penhora no processo, desde que a primeira tenha
sido anulada, se o valor da alienação for insuficiente, se o exequente desistir da primeira por
serem os bens litigiosos, estiverem penhorados, arrestados ou se eles perecerem (art. 667).
Sempre que a alienação antecipada for originada de requerimento de uma das partes, deverá
a outra ser ouvida, respeitando-se o contraditório (a decisão de alienação antecipada é
interlocutória, recorrível por agravo de instrumento).
Quando a penhora é feita por termo do escrivão (nos autos do processo), a intimação se
confunde com o próprio ato processual, visto que o devedor terá de participar da lavratura do
termo, firmando-o, através de seu advogado, juntamente com o serventuário da Justiça.
Recaindo a penhora sobre bem imóvel e sendo casado o devedor, exige a lei que se faça a
intimação da penhora também ao seu cônjuge (art. 655, § 2.º). Trata-se de cumprimento do
litisconsórcio necessário dos cônjuges (art. 10 e parágrafo único). Além da intimação
obrigatória do cônjuge, a penhora de imóvel também se sujeita à averbação no Registro
Imobiliário, cuja diligência incumbe ao exequente (art. 659, § 4.º).
IMPORTANTE: conforme já estudado anteriormente, a averbação no CRI não é condição para
que a execução tenha prosseguimento. No entanto, como uma medida de prudência e devido
cumprimento da legislação, não se deve prosseguir com os atos finais de expropriação sem a
consumação da averbação no CRI, principalmente em razão da necessidade de proteger os
interesses de todos os que se envolvem nas alienações judiciais e, também, evitar a ocorrência
de fraudes.
Também não custa repetir e relembrar que a Lei nº 10.444 inovou quanto ao termo de
penhora de imóvel, permitindo que, mediante a exibição de certidão de matrícula do CRI
(exibida por qualquer das partes), possa o termo ser lavrado mesmo sem a presença do
devedor ou de seu advogado. Nesse caso, a intimação será feita pelas vias adequadas após a
formalização do ato constritivo e será pessoal ao executado, se este ainda não tiver
procurador nos autos, ou ao seu advogado, caso já constituído. Ao ser intimado da penhora,
em qualquer das duas situações, o executado se investe, por força da lei, no encargo de
depositário do imóvel constrito.
e) Penhora sobre créditos parcelados ou rendas periódicas: a penhora pode recair sobre
créditos vincendos exigíveis em prestações ou sujeitos a juros periódicos. Quando isto
ocorre o terceiro fica obrigado a depositar em juízo os juros, rendas ou prestações à
medida que se vencerem.
f) Empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público (art. 678): em face do
poder de encampação dos serviços de concessão e da reversão dos bens empregados
nesses serviços, a Administração Pública pode impedir a alienação judicial do acervo
penhorado da empresa concessionária (arts. 35 a 37 da Lei nº 8.987/95). O interesse
público em jogo suplanta o interesse privado dos credores exequentes.
Entretanto, ocorrendo a hipótese de absorção do patrimônio da concessionária pelo
Poder Público, terá este, naturalmente, de responder pelas obrigações que o oneram,
pelo menos nos limites do acervo incorporado ao patrimônio público. Do contrário,
estabelecer-se-ia um intolerável locupletamento do Estado à custa do prejuízo dos
credores da concessionária.
b) Ampliação do alcance da penhora (art. 685, II): pode ocorrer quando, após a avaliação,
verificar-se que os bens apreendidos são insuficientes para o resgate integral do
direito do credor. Pode compreender a apreensão de novos bens para reforço dos já
penhorados ou a substituição destes por outros mais valiosos;
A Seção entendeu que o reforço da penhora não pode ser determinado de
ofício pelo juízo, visto ser imprescindível o requerimento do interessado,
nos termos dos arts. 15, II, da Lei n. 6.830/1980 (Lei de Execuções Fiscais) e
685 do CPC. (STJ, 1S, Informativo 457, REsp 1.127.815-SP)
c) Redução do alcance da penhora (art. 685, I): ocorre quando, após a avaliação, apura-se
que o valor dos bens penhorados é excessivamente superior ao crédito do exequente,
mais os acessórios. A redução pode consistir em liberação parcial dos bens avaliados
ou em total substituição por outros de menor valor;
IMPORTANTE: tanto na substituição, como na ampliação e na redução o pedido da
parte interessada será feito por simples petição (ou seja, não precisa ser através de
embargos). No entanto, há de se observar o contraditório, devendo o juiz ordenar a
oitiva da parte contrária antes da decisão (art. 657);
d) Renovação da penhora (art. 667): constitui medida extraordinária que consiste em
realização de uma nova penhora, o que só ocorre nos casos do artigo 667.
O laudo de avaliação deverá descrever o bem, seu estado e seu valor, e ele integrará o auto de
penhora se feita pelo oficial de justiça.
b) Quando a penhora recair sobre títulos e mercadorias com cotação em bolsa, cujo valor
dependa da cotação oficial do dia.
Vamos lá!
Se a penhora recaiu sobre dinheiro, ultrapassada a fase dos embargos (caso existentes), passa-
se imediatamente ao resgate da dívida exequenda. Mas, se os bens penhorados são de outra
natureza, a instrução da execução terá de se completar com os atos de alienação forçada, que
pode ser alcançada de quatro maneiras (art. 647):
- adjudicação (art. 685-A);
- alienação por iniciativa particular (art. 685-C);
- alienação em hasta pública (art. 686);
- usufruto (art. 716).
Há uma ordem de preferência para as quatro formas de alienação forçada.
Preferencialmente deve ser realizada a adjudicação. Não havendo interesse na adjudicação, a
expropriação poderá ser realizada através da alienação por iniciativa particular, a
requerimento do exequente. Se não houver requerimento de adjudicação ou de alienação por
iniciativa particular, o caminho será a expropriação através da alienação em hasta pública. Em
último lugar vem a constituição do usufruto, que passou a ser admissível quando a penhora
recair sobre móvel ou imóvel (não há mais a possibilidade de usufruto de empresa, o que
Se o valor do bem avaliado e adjudicado for igual ou inferior ao valor da execução, ter-se-á a
chamada adjudicação satisfativa. Nesse caso, a execução persiste para obter o restante do
crédito.
A adjudicação pode ser realizada a qualquer tempo, não havendo preclusão temporal que
impeça sua realização após o início da expropriação; exige-se apenas que ela ainda seja
materialmente possível, ou seja, que o bem, v.g., não tenha sido transferido a terceiros.
Porém, não se pode permitir a adjudicação antes de transcorrido o prazo para interposição
de embargos; isso para dar um mínimo de segurança ao executado, o qual não terá seu bem
sumariamente subtraído.
a) Exequente;
Esses últimos não são partes e nem cientificados da possibilidade de adjudicação, intervindo
de forma voluntária e atípica. Já os dois primeiros serão necessariamente cientificados do
processo executivo.
e) Demais credores.
Tendo sido penhoradas quotas de uma sociedade e não sendo o exequente sócio, serão
intimados os sócios não devedores para manifestar a vontade de adjudicar, com preferência
sobre todos os demais credores; isso visa à preservação da affectio societatis (art. 685-A, § 4º).
Apenas será expedida carta de adjudicação na hipótese de bens imóveis, bastando para os
bens móveis a expedição de mandado de entrega.
Carta de Adjudicação Bens imóveis
Mandado de Entrega Bens móveis
Caberá ao exequente, após abrir mão do direito de adjudicar os bens penhorados pelo valor da
avaliação (art. 685-A), requerer a alienação projetada, esclarecendo se pretende ele próprio
promover os atos alienatórios, ou se deseja confiá-los à intermediação de um corretor
profissional.
Se o exequente optar pela intermediação profissional, a escolha deverá recair sobre corretor
não só inscrito no órgão específico da classe, mas também inscrito no rol dos credenciados
pela autoridade judiciária.
Poderá o exequente contratar corretor próprio para achar comprador para o bem; nesse
caso, o executado não deverá pagar comissão de corretagem, cujo valor deverá ser arcado
pelo exequente.
a) Prazo dentro do qual a alienação deverá ser efetivada: prazo de natureza peremptória,
que deve ser obedecido pelo exequente alienante. Tem o objetivo de não permitir
dilação excessiva do processo; entretanto, pode ser prorrogado;
b) Forma de publicidade a ser cumprida:
c) Preço mínimo de alienação (art. 680): o juiz deve levar em conta o valor da avaliação
feita pelo oficial de justiça para fixar o preço mínimo, o qual não será necessariamente
igual àquele. A doutrina majoritária entende, entretanto, que não poderá ser inferior;
d) Condições de pagamento:
e) Garantias:
f) Comissão de corretagem: somente no caso de corretor oficial, já que se o corretor for
do exequente, ele quem arcará com a comissão.
Quando o bem penhorado for móvel a alienação não ensejará a expedição de carta. Uma vez
lavrado o termo, expedir-se-á simplesmente mandado de entrega ao adquirente (art. 685-C, §
2.º).
O edital deve ser publicado, em resumo, num jornal de ampla circulação com antecedência
mínima de 05 dias da hasta pública. Ampla circulação tem o jornal que chega ao conhecimento
de grande parcela da população local.
O diário oficial deve ser utilizado somente na hipótese de o exequente ser beneficiário da
justiça gratuita (art. 687, § 1º).
Poderá o juiz adotar outras providências para divulgar o feito, inclusive meios eletrônicos.
Sendo o executado revel, bastará que conste no edital da hasta uma especial menção à sua
cientificação, sendo desnecessária a publicação de novo edital.
Se houver litisconsórcio passivo, desnecessário intimar os executados que não tenham tido
bens seus penhorados. Se a penhora recair sobre cotas sociais, a doutrina se divide sobre se
devem ou não os demais sócios ser intimados, o que seria interessante para que eles
pudessem exercer o direito de preferência e para preservar a affectio societatis.
A respeito do cônjuge do executado, o STJ entende pela desnecessidade de sua intimação.
Daniel Assumpção entende que deve ser intimado, já que ele terá bem de seu patrimônio
afetado (parte da doutrina diz que não, já que ele foi intimado sobre a penhora e está ciente
da execução).
A ausência de intimação do devedor ou de qualquer outra pessoa que tenha bem seu
oferecido em hasta gera a nulidade de eventual arrematação, com a necessidade de se realizar
nova hasta.
Não se efetuará a adjudicação ou alienação de bem do executado sem que da execução seja
cientificado, por qualquer modo idôneo e com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência, o
senhorio direto, o credor com garantia real ou com penhora anteriormente averbada, que não
seja de qualquer modo parte na execução (art. 698).
Ocorrerá na hora marcada pelo juiz, salvo se por motivo justo não puderem se realizar, quando
o juiz mandará publicar pela imprensa local e no órgão oficial nova data. O art. 698-A permite
que a hasta seja eletrônica, por meio da internet; ela devera ser regulada pelo CNJ e pelos TJs
no âmbito de suas respectivas competências.
b) Mandatários;
27.18.4.3.6. Procedimento
Se o bem for imóvel, os interessados deverão fazer proposta, nunca inferior à avaliação, por
escrito, com oferta de pelo menos 30% à vista e o restante garantido por hipoteca sobre o
próprio imóvel (art. 690, § 1º).
Se não for alcançado o valor da avaliação, deverá ser realizada a segunda hasta, entre 10 e 20
dias após a primeira. Nesta se admite a alienação por qualquer valor, desde que não seja vil
(art. 692). Porém, em determinadas situações, não se admite lances e arrematação por valor
inferior ao da avaliação, mesmo sem segunda hasta. São elas:
a) Quando dispensado o edital, por ser o valor da coisa inferior a 60 SM (art. 686, § 3º);
b) Pertencendo o imóvel a incapaz, exige-se que o valor da arrematação represente ao
menos 80% do valor da avaliação. Nesse caso deverá o juiz nomear depositário
idôneo para o bem e adiar a praça por prazo não superior a 01 ano (art. 701).
O pagamento poderá ser feito em dinheiro, imediatamente, com depósito em conta oficial, em
cheque com natureza pro solvendo (condicionado à compensação bancária), e a prazo (até 15
dias), com o oferecimento de caução (art. 690, caput).
Quanto ao prazo para pagamento, há uma diferença entre o terceiro e o exequente: o
terceiro tem 15 dias para pagar, enquanto o exequente tem 03 dias.
Tal diferenciação se justifica porque o terceiro deverá pagar o preço total do bem, enquanto o
exequente somente pagará o que exceder ao valor que está executando (art. 690-A, p.
único). Se quem arrematar o bem for um credor não exequente, evidentemente esse será
considerado um terceiro, devendo depositar o valor total da coisa.
Se o arrematante e o fiador frustrarem o pagamento no prazo, haverá duas sanções (art. 695):
a) Perda da caução prestada em favor do exequente;
b) Impedimento de arrematar os bens, que voltarão à praça ou leilão.
Em sendo infrutífera a arrematação, o CPC prevê que poderá ser realizada uma segunda hasta.
Não prevê uma terceira. Entretanto, sobre a terceira hasta já se manifestou o STJ:
Apesar de não existir previsão no CPC, o STJ entende ser possível a
realização, excepcionalmente, de uma terceira praça, tendo falhado as duas
anteriores, sendo que deverão ser consideradas, entre outras
circunstâncias, a probabilidade de êxito, ainda que baixa, da praça pública,
seu custo em face do valor da execução, a possibilidade de existirem outros
bens em nome dos devedores, o custo de sua penhora e o comportamento
processual das partes. A omissão legislativa, por si só, não constitui
impedimento para que o julgador, diante das necessidades do caso
concreto, disponibilize ao credor a técnica processual apta à satisfação de
seu direito, pois o principal objetivo do Direito Processual Civil como um
todo e da execução em particular consiste na tutela do direito material.
(REsp 946.660-MS, 3T, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
1º/9/2011.)
27.18.4.3.11. Evicção
A arrematação não é um contrato, e sim uma desapropriação, de sorte que não se pode falar
em responsabilidade contratual, como é o caso da garantia da evicção (art. 447 do Código
Civil). No entanto, o próprio artigo 447 do Código Civil enfrenta o problema e dispõe que a
garantia da evicção subsiste ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.
A solução mais plausível é oferecida por Frederico Marques (apoiada em Micheli e Liebman),
no sentido que, embora não haja compra e venda na arrematação, o executado responde pela
evicção porque, se o seu patrimônio é garantia comum de todos os credores, seria injusto,
caso o bem arrematado não lhe pertencesse, fosse o arrematante obrigado a arcar com todo o
peso da execução, beneficiando os credores com um enriquecimento injustificado porque
obtido à custa de algo que não era devido. Daí a conclusão de Liebman de que o primeiro
responsável pela reparação do prejuízo do arrematante é o executado e, subsidiariamente, o
credor. Para Libeman: “embora não se possa falar de garantia da evicção propriamente dita,
porque o executado não vendeu, é inegável o direito do arrematante de reaver o que pagou
sem causa. Quem se enriqueceu indevidamente foi o executado, que se livrou das dívidas à
custa de bens alheios; é ele obrigado a indenizar o arrematante. Mas, às vezes, ele é
insolvente; o arrematante poderá, então, repetir dos credores o que receberam, porque,
embora tivessem direito ao pagamento, não o tinham a ser pagos pela alienação de bens a
terceiros.”
O STJ parece pender para a seguinte solução: mesmo arrematando em hasta pública, o
arrematante perderá o bem evicto, não ficando livre da evicção. A única coisa que ele poderá
fazer será ajuizar ação de regresso em face de quem recebeu o preço pago. Nesse sentido:
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONTRADIÇÃO INEXISTENTE.
LITISPENDÊNCIA INOCORRENTE. DIREITO CIVIL. EVICÇÃO SOBRE BEM
ARREMATADO EM HASTA PÚBLICA. CÓDIGO CIVIL DE 1916. SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA E COMPENSAÇÃO DE HONORÁRIOS. POSSIBILIDADE.
[...]
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932
(STJ, REsp 625.322/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 11/05/2004, DJ 14/06/2004, p. 184)
O juiz não pode conceder usufruto de ofício, sendo imprescindível o pedido do exequente,
apesar de não ser suficiente, já que o juiz só deverá concedê-lo quando o considerar menos
gravoso ao executado e mais eficiente para o recebimento do crédito.
O usufruto poderá ser pedido até a realização da hasta (art. 721). Porém, na verdade, poderá
ser pedido até antes da alienação, e mesmo depois de realizada, se frustrada a hasta pública.
27.18.4.4.2. Procedimento
Após ouvir o executado no prazo de 05 dias, poderá o juiz realizar breve instrução probatória,
se houver divergência, decidindo a questão em decisão recorrível por agravo de instrumento.
Deferido o usufruto, o executado perde o gozo do imóvel, até que sejam pagos principal, juros,
custas e honorários advocatícios (art. 711).
Com a publicação da decisão de usufruto, este passa a ter eficácia também erga omnes (art.
718).
Também será expedida carta de usufruto, se imóvel o bem, para fins de averbação. Se o
imóvel estiver alugado, pagará o inquilino aluguel diretamente ao usufruturário; poderá
também o exequente alugar para si o bem móvel ou imóvel, desde que antes ouvido seja o
executado, por preço a ser acordado ou fixado pelo juiz.
27.18.5. Pagamento
O pagamento se dará:
b) Créditos tributários;
995.063-SP, DJe 30/6/2008. REsp 1.212.563-RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 7/12/2010. (Informativo 459)
Assim, proposta a ação de execução, caso o executado proponha embargos e perca, ele deverá
pagar honorários tanto pelos embargos quanto pela ação executiva, diferentemente do que
ocorre com o cumprimento de sentença, hipótese em que somente serão devidos honorários
em decorrência da fase executiva.
Os honorários, no entanto, não poderão ultrapassar 20% do valor da causa no caso de dupla
condenação.
27.19.1. Introdução
Quando a Fazenda Pública é o devedor, as regras gerais de expropriação não têm aplicação,
porquanto os bens públicos são impenhoráveis e inalienáveis. Além disso, o procedimento
especial visa também a observância do princípio da isonomia, já que o pagamento por
precatórios garante que não haja preferência na ordem de pagamento aos credores.
O conceito de Fazenda Pública abrange União, Estados, DF, Município, suas autarquias e
fundações públicas. Não inclui as EP e SEM.
A execução contra a FP é cabível tanto com base em título judicial quanto extrajudicial. Nesse
sentido:
Súmula 297, STJ: “É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública”.
Embora não se aplique o art. 475-J, as regras de liquidação de sentença são plenamente
aplicáveis (arts. 475-A ao 475-H).
A FP terá o prazo de 30 dias para opor embargos, de acordo com o art. 1º-B da Lei nº
9.494/97. Ela será citada para opor embargos, e não para pagar.
Determinada a expedição do precatório pelo juiz, deverá o cartório judicial providenciar sua
autuação com cópia das principais peças dos autos originários, dentre elas a certidão de
trânsito em julgado e a referência à natureza do crédito, se alimentício ou não.
Informativo 610
Assim, os embargos da Fazenda Pública deverão sempre ser recebidos no efeito suspensivo.
Quando os embargos forem parciais, a execução prosseguirá quanto à parte não embargada
(art. 739-A, § 3º, CPC), expedindo-se, quanto a essa parte, o precatório, não se podendo falar
em fracionamento vedado, já que não se trata de intenção do exequente repartir o valor.
Em relação às matérias de que podem tratar os embargos, estas estão taxativamente previstas
no art. 741 do CPC. São elas:
b) Inexigibilidade do título;
e) Excesso de execução;
Logo, a FP pode suscitar qualquer matéria de defesa quando executada com base em título
extrajudicial.
Assim:
[...]
II - inexigibilidade do título;
[...]
Esse parágrafo é de extrema importância. Quando o STF declara, ainda que em controle
incidental, a inconstitucionalidade de uma determinada norma, pode a Fazenda Pública
suscitar a inexigibilidade do título no qual se baseou.
Isso, entretanto, tem gerado divergências. Até que momento a Fazenda Pública poderá alegar
que determinada sentença é inexigível por ter sido o ato normativo no qual se baseou
declarado inconstitucional?
Súmula 487, STJ: “O parágrafo único do art. 741 do CPC não se aplica às sentenças transitadas
em julgado em data anterior à da sua vigência”. Não obstante o princípio da aplicabilidade
imediata das modificações normativas de natureza processual, não se pode olvidar o respeito
ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, formados em data anterior à
alteração do CPC. A sentença de mérito transitada em julgado só pode ser desconstituída
mediante ajuizamento de específica ação autônoma de impugnação (ação rescisória) que
haja sido proposta na fluência do prazo decadencial previsto em lei. Com o exaurimento de
referido lapso temporal, estar-se-á diante da coisa soberanamente julgada, insuscetível de
ulterior modificação, ainda que o ato sentencial encontre fundamento em legislação que,
em momento posterior, tenha sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal, quer em sede de controle abstrato, quer no âmbito de fiscalização incidental de
constitucionalidade. A decisão do Supremo Tribunal Federal que haja declarado
inconstitucional determinado diploma legislativo em que se apóie o título judicial, ainda que
impregnada de eficácia “ex tunc” , detém-se ante a autoridade da coisa julgada, que traduz,
nesse contexto, limite insuperável à força retroativa resultante dos pronunciamentos que
emanam, “in abstracto”, da Suprema Corte (RE 594.350).
Súmula 311, STJ: “Os atos do presidente do tribunal que disponham sobre processamento e
pagamento de precatório não tem caráter jurisdicional”.
Por esse motivo que todas as questões incidentais no processamento dos precatórios deverão
ser resolvidas pelo juízo que julgou a causa em primeiro grau. Essas questões se referem, v.g.,
à divisão de honorários, à correção monetária, à sucessão do exequente falecido etc.
Assim, não cabe qualquer recurso contra ato do Presidente do tribunal, cabendo, entretanto,
mandado de segurança contra ato ilegal ou abusivo.
Súmula 733, STF: “Não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida no processamento
de precatórios”.
Para que esses juros sejam pagos, necessário será haver a expedição de um precatório
complementar, pois não se podem agregar valores a um precatório já inscrito.
Porém, a expedição desse precatório não exige nova execução, a qual será feita no curso do
processo de execução antigo, intimando-se a Fazenda Pública a se manifestar.
Nos Juizados Especiais Federais, a obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em julgado
da decisão, será atendida independentemente de precatório (art. 17, Lei nº 10.259/01), desde
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que respeitado o limite de 60 salários mínimos. Não se pode, evidentemente, fracionar o valor
da execução para se adequar a esse limite, salvo nos casos previstos na Constituição após a EC
nº 62/09 (pessoa com 60 anos ou mais na data da expedição do precatório ou pessoa
portadora de doença grave, na forma da lei).
Entretanto, a parte poderá renunciar ao valor excedente para que possa ser paga sem a
expedição do precatório.
Nos casos em que se dispensa o precatório, a sentença não perde sua feição condenatória e
nem elimina a necessidade de um futuro e posterior processo de execução, salvo no JEF, em
que a sentença tem caráter mandamental e prescinde de posterior processo de execução.
27.19.8. Execução de Fazer, Não Fazer e Entregar Coisa contra a Fazenda Pública
Para essas execuções, a partir da Lei nº 10.444/02, deixou-se de exigir um processo autônomo
de execução se fundada em título judicial (se extrajudicial, a necessidade subsiste). Nos títulos
judiciais, adotar-se-á o procedimento do cumprimento de sentença.
Qual a utilidade disso? O juiz não poderá mandar citar a Fazenda para pagar (procedimento
natural na ação monitória), visto que isso quebraria a ordem de pagamento dos precatórios
judiciais.
Assim, cita-se a Fazenda para pagar ou apresentar embargos. Não apresentando embargos ou
sendo os mesmos rejeitados, o juiz prolatará sentença que será constitutiva do título judicial
que dará ensejo à ação de execução em conformidade com o art. 730 do CPC. Ao final desse
procedimento, será o crédito inscrito em precatório seguindo a eterna fila de pagamento.
Sobre o tema:
Agora, digamos que no mesmo caso, o juiz mande expedir precatório dos 20 mil reais. Pode?
Pode, porque no tocante aos vinte mil não houve embargos, a execução é não embargada. Ela
só foi embargada nos 80 mil, nos 20 mil reais ela é não embargada, porque a União não
recorreu. Porque que no primeiro caso é falso?
Porque no primeiro caso, embora o valor seja de 20 mil reais, o valor total da execução é que
norteia o regime de requisição judicial, mesmo que uma parte seja embargada e a outra não.
Por isso é que é precatório de 20 mil, porque o contribuinte não pode se beneficiar de a FP ter
embargado a maior parte para requisitar como RPV e pagar em 60 dias a parte não
embargada. O que norteia o regime é o valor da execução.
Agora, sendo precatório pode, porque os 20 mil reais não foram embargados, ali não apenas o
título transitou em julgado, como também a execução não foi embargada, está pronta para a
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expedição de precatório. Em relação aos 20 mil a decisão é definitiva, pois não houve
embargos. Veja o RE 493129.
O STF disse que não, mesmo que a parcela do advogado seja requisitada para ele, em nome
dele, ele seja o exequente, autônomo, O VALOR QUE VAI NORTEAR A REQUISIÇÃO É O
VALOR GERAL. Se a soma da parcela devida à parte e à devida ao advogado supera 60 SM,
então todo mundo vai por precatório. Então o precatório de 8 mil sai no nome dele.
27.20.1. Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente vs. Prisão Civil
O CPC faculta ao credor a escolha do procedimento na execução de alimentos: (a) no que
concerne às três últimas prestações as vencidas nos meses imediatamente anteriores à
citação, e as que se vencerem depois, o credor pode valer-se tanto do procedimento previsto
no art. 732 (execução por quantia certa contra devedor solvente) quanto do previsto no art.
733 (prisão civil) (razão por que não existe a necessidade de antes promover uma possível
execução por quantia para só após pedir a prisão civil do devedor inadimplente, embora isto
seja possível, cf. STJ, 4ª Turma, RESP 216.560-SP, rel. Min. César Rocha, j. 28.11.2000, DJU
05.03.2001, p. 169); (b) no que concerne às prestações vencidas anteriormente, só cabe
execução por quantia certa contra devedor solvente (cf. RSTJ 84/197, apud NEGRÃO,
Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 35. ed. São Paulo:
Saraiva, 2003, p. 766, nota 1a ao art. 732 do CPC). Portanto, não se admite a prisão civil para a
cobrança executória de parcelas vencidas antes dos três meses anteriores à citação: “A prisão
civil não deve ser tida como meio de coação para o adimplemento de parcelas atrasadas de
obrigação alimentícia – acumuladas por inércia da credora – já que com o tempo, a quantia
devida perde o cunho alimentar e passa a ter caráter de ressarcimento de despesas realizadas”
(STF, HC 75.180-MG, rel. Min. Moreira Alves, j. 10.06.1997, apud Inf. STF 75, de 09.06.1997, p.
2. No mesmo sentido, p. ex.: STJ, 6ª Turma, HC 6.789-Es, rel. Min. Anselmo Santiago, j.
01.09.1998, DJU 13.10.1998; STJ, 3ª Turma, RHC 7.816-ES, rel. Min. Nilson Naves, j.
18.02.1999, DJU 29.03.1999, p. 150; STJ, 4ª Turma, HC 15.612-BA, rel. Min. Barros Monteiro, j.
25.05.2001, DJU 27.08.2001, p., 338). De qualquer forma, a alegação da impossibilidade de
cumprir a obrigação só é possível na execução prevista no art. 733 (prisão civil), não na
prevista no art. 732 (execução por quantia certa) (com o quê o devedor deixa de sofrer a
prisão se a justificativa se der no prazo legal, mas não se exonera da dívida, cf. JTJ 153/9, RTJ
94/147, 104/586, 122/117, RT 463/313).
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expropriatória). Há quem defenda que o regime de cumprimento de sentença tem uma “maior
adequação material” à execução de prestação alimentícia do que o regime de execução dos
títulos extrajudiciais, já que o pagamento dos alimentos é imposto por sentença, e não por
título extrajudicial. O problema desse entendimento está em que a Lei 11.232 seria aplicável
em partes ao âmbito das execuções alimentícias, visto que na efetivação de penhora sobre
dinheiro os embargos jamais teriam efeito suspensivo (CPC, art. 732, par. único), podendo o
credor levantar mensalmente a importância da prestação, sem necessidade de caução. Com
isto, o Judiciário teria de referendar uma combinação de regimes distintos, o que costuma
trazer graves perigos à segurança jurídica, porquanto cada juiz faria a “combinação” de formas
diversas. Logo, não é possível, p. ex., aplicar aqui a multa de 10% (dez por cento), incidente
sobre o montante da condenação, prevista no caput do art. 475-J do CPC.
Dessa forma, por meio do processo executivo concursal, impõe-se um princípio de ordem,
fazendo com que todos os bens do devedor comum se integrem numa massa para responder
pelo conjunto de créditos, até onde alcance o produto da execução, de modo a assegurar a
observância de regras equitativas de distribuição, capazes de evitar que o patrimônio do
insolvente seja dilapidado inútil ou nocivamente, com desigualdade e prejuízos à ordem
econômica geral.
Há quem defenda que o credor tem o (pesado) ônus de provar a insuficiência do patrimônio
do devedor; todavia, melhor o entendimento de que ao devedor cabe demonstrar que seu
ativo é superior ao passivo (cf. SILVA, Ovídio A. Baptista da. Curso de processo civil. v. 2. 4. ed.
São Paulo: RT, 2000, p. 169): “ao devedor incumbe a prova de sua solvência” (RSTJ 75/195);
“presume-se, até prova em contrário, a insolvabilidade daquele contra quem está ocorrendo a
execução” (Bol. AASP 1.543/166)
A insolvência, como pressuposto da execução concursal, pode ser real (art. 748) ou presumida
(art. 750).
- uma segunda fase, subsequente, em que são executados seus bens para saldar os créditos
concorrentes.
Na primeira fase do processo de insolvência não se pode, ainda, falar em execução forçada,
pois a atividade jurisdicional então desenvolvida é tipicamente de cognição, encontrando sua
culminância na sentença que declara, ou não, o estado de insolvência do devedor. Com efeito,
o estado de insolvência, com todos os efeitos que dele decorrem, só pode ser criado por
sentença judicial. Na primeira fase não há sequer a universalidade.
Aberta a insolvência, cria-se um juízo duplamente universal, por abranger a universalidade dos
bens do devedor e a universalidade de seus credores. Por isso se diz que a universalidade da
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- convocação geral dos credores por editais é medida de ampla publicidade do estado de
insolvência do devedor;
- Credor art. 754 ao 758. O seu credito deve ser quirografário (art. 753, I). Se o crédito
desfrutar de alguma garantia real, o credor não terá legitimidade para pedir a declaração de
insolvência, pois a dívida estaria garantida com o bem afetado com a garantia, cabendo ao
credor excutir o bem destinado ao pagamento. Porém, decretada a insolvência, terá de
habilitar-se. Nem mesmo a remessa das execuções individuais ao juízo universal da insolvência
(art. 762) supre a necessidade de habilitação, a qual deve fazer-se através de petição inicial
que atenda aos requisitos do art. 282 do CPC (cf. STJ, 4ª Turma, RESP 45.634-MG, rel. Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 26.05.1997, DJU 25.08.1997, p. 39.374).
- o devedor paga a dívida, o que demonstra sua solvabilidade e extingue a execução (art. 794,
I);
- o devedor não se manifesta, deixando de pagar ou opor embargos. Neste caso o juiz, em 10
dias, proferirá a sentença e, provavelmente, dada a revelia, acolherá o pedido do credor. Pode
ocorrer, no entanto, que o título exibido pelo credor não seja líquido, certo e exigível, ou que o
narrado na inicial não demonstre ser caso de insolvência;
- o devedor opõe embargos visando ao não pagamento da dívida, aduzindo matéria de defesa
cabível nos embargos da execução por quantia certa contra devedor solvente. Não está
obrigado a nomear bens à penhora, nem a depositar o valor da dívida, mas, se for vencido, a
insolvência fatalmente será decretada;
- o devedor opõe embargos apenas para provar que seu passivo é menor do que o ativo, ou
seja, procura ilidir o pedido ao demonstrar sua solvabilidade (art. 756, II). Também não está
obrigado a garantir a execução, mas ficará sujeito à decretação da insolvência caso seus
embargos sejam julgados improcedentes;
- no prazo dos embargos o devedor deposita a importância do crédito do exequente com o fim
de discutir sua legitimidade ou valor, caso em que a insolvência já estará, desde logo, ilidida.
Da sentença que decide os embargos caberá recurso de apelação, que não terá efeito
suspensivo se a decisão for de rejeição da defesa (art. 520, V).
27.21.6. Competência
Juízo da Comarca onde o devedor tem seu domicílio.
27.21.7. Sentença
Acolhido o pedido do credor ou do próprio devedor (ou de seu espólio), o juiz proferirá
sentença, encerrando a fase preliminar (ou de cognição) do processo de insolvência.
Discute-se sobre a natureza jurídica da sentença. Pontes de Miranda, Araken de Assis e Ovídio
Baptista entendem que a sentença proferida tem cunho preponderantemente declaratório Já
Barbosa Moreira e Humberto Theodoro Junior entendem tratar-se de uma decisão
constitutiva:
Ensina Humberto Theodoro Junior que essa sentença, embora tenha a função evidente de
declarar um estado de fato do devedor (a insuficiência patrimonial para cobrir todas as
dívidas), reveste-se, também, de preponderante eficácia constitutiva, criando uma situação
jurídica nova para o devedor e para os credores. Basta dizer que, por força da sentença de
insolvência, o devedor perde a administração e disponibilidade dos bens e que os credores
perdem os privilégios decorrentes de penhoras anteriores e são arrastados pela força atrativa
do concurso universal.
A publicação do edital será feita segundo a regra geral do art. 232, III: uma vez no órgão oficial
e pelo menos duas vezes em jornal local, onde houver.
A universalidade do juízo da insolvência atrai para seu âmbito todos os credores do insolvente,
sejam privilegiados ou quirografários. A execução é coletiva e concursal. Excetuam-se
unicamente os créditos fiscais, que não se sujeitam aos juízos universais por expressa
disposição de lei (art. 187 do CTN).
Todas as execuções individuais serão remetidas para o juízo comum da insolvência (art. 762, §
1.º). As penhoras perdem a eficácia e os exequentes os privilégios de ordem de penhora. As
execuções são neutralizadas, cessando os respectivos cursos, salvo apenas no caso de existir
praça ou leilão já designados, quando, então, a alienação judicial será realizada, mas o produto
não beneficiará mais o exequente singular, visto que entrará para a massa (art. 762, § 2.º).
27.21.9. Habilitação
Na sentença que declara a insolvência, o juiz manda expedir edital, convocando os credores
para que em 20 (vinte) dias apresentem as declarações de seus créditos, acompanhadas dos
respectivos títulos (art. 761, II), as quais serão autuadas pelo escrivão e apensadas ao processo
de insolvência. De qualquer forma, o CPC não esclarece como e onde será publicado o edital
(THEOTÔNIO NEGRÃO entende que a citação edital deve fazer-se aqui nos termos do art. 779
do CPC: uma vez no órgão oficial e outra em jornal local). A seguir, novo edital será publicado
intimando os credores para que, no prazo comum de 20 (vinte) dias, aleguem suas
preferências, nulidades, simulação, fraude ou falsidade de dívidas e contratos (art. 768)
porventura assinados pelo devedor com algum dos credores que desejam habilitar-se
amparados pelos negócios jurídicos aos quais se atribui algum desses vícios. Também o
devedor pode impugnar os créditos apresentados à habilitação no dito prazo (art. 768,
parágrafo único). Em qualquer caso, havendo controvérsia, o juiz poderá determinar produção
de provas, inclusive em audiência, proferindo depois a sentença, declarando ou não habilitado
o crédito impugnado (art. 772). Aqui, o vencido responde pelas verbas de sucumbência, nos
termos do regime geral fixado no art. 20 do CPC (cf. STJ, 3ª Turma, RESP 37.703-SP, rel. Min.
Ari Pargendler, j. 08.06.2000, DJU 28.08.2000, p. 70).
O credor retardatário (isto é, o que não se apresentar dentro do prazo do art. 761, II, embora
em condições de fazê-lo) pode disputar, por ação direta, antes do rateio final, a prelação ou
cota proporcional ao seu crédito (art. 784). Há quem entenda que o credor, que não dispunha
ainda de título executivo durante o prazo do art. 761, II, do CPC, vindo, porém, a obtê-lo antes
do “rateio final”, está legitimado a promover a dita “ação direta” (cf. SILVA, Ovídio A. Baptista
da. Curso de processo civil. v. 2. 4. ed. São Paulo: RT, 2000, p. 177).
O CPC não fixa um momento certo e determinado para a alienação. O art. 770 admite
expressamente a possibilidade de ter a arrematação ocorrido antes da elaboração do quadro
geral de credores. O art. 773 faz concluir que o juiz determinará a realização de praça ou leilão
dos bens da massa após o julgamento do quadro, somente quando a alienação não tiver
ocorrido antes de sua organização.
IMPORTANTE: não havendo razões especiais, deve-se aguardar o julgamento do quadro geral
de credores, porque é nessa fase que se enseja oportunidade ao devedor de se compor com os
credores habilitados para negociar um plano de pagamento, evitando a alienação forçada do
patrimônio arrecadado. Isso será visto adiante.
- sem chegar à execução coletiva, quando os embargos do devedor são acolhidos (na primeira
fase do processo);
- pelo cumprimento do acordo de pagamento ajustado entre devedor e credores (art. 783);
- por ter atingido o seu fim próprio e específico, que é a liquidação total do ativo e rateio de
todo o produto apurado entre os credores concorrentes.
Qualquer que seja a forma de término da insolvência, haverá sempre uma sentença de
encerramento, cujo trânsito em julgado, nos casos de incompleta satisfação dos credores,
funcionará como marco do reinício do curso das prescrições (art. 777) e como ponto de partida
do prazo de extinção das obrigações do insolvente (art. 778).
- quando o produto da realização do ativo não é suficiente para a solução integral dos créditos
concorrentes, dada a possibilidade de reabertura da execução caso o devedor venha a adquirir
novos bens penhoráveis (art. 775 e 776);
- quando não se encontram bens a arrecadar ou o ativo da massa não se mostra suficiente
sequer para atender os gastos processuais da insolvência (arts. 659, § 2.º, e 791, III).
Não há início de outra execução contra o devedor. Aparecendo novos bens, a arrecadação será
feita nos próprios autos da insolvência, que serão reabertos a requerimento de qualquer dos
credores incluídos no quadro geral (art. 776).
A extinção é direito inconteste do devedor e resulta do simples decurso do prazo legal, mas
depende de declaração judicial para operar seus efeitos jurídicos (art. 782). O pedido deverá
ser feito pelo devedor, não podendo o juiz declarar a extinção ex officio.
A sentença que declarar extintas as obrigações será publicada por edital e só transitará em
julgado, se não houver nenhum recurso, após a ultrapassagem do prazo estipulado na
publicação, que será o comum das intimações por edital (art. 232, IV).
- Pensão para o devedor art. 785. Será cabível apenas quando a massa possuir capacidade
de produzir frutos ou rendimentos, dos quais se possa destacar a ajuda para o devedor, sem
diminuição efetiva dos bens arrecadados. Não será deferida quando importar necessidade de
dispor de bens arrecadados, sem prejuízo imediato da massa.
- Insolvência das pessoas jurídicas as pessoas jurídicas que não se dediquem às práticas
empresariais (sociedades não empresárias) não são incluídas na Lei Falimentar (Lei
11.101/2005), e sim na insolvência civil (art. 786). Estão sujeitos à insolvência civil todos os
entes de direito privado não compreendidos no âmbito da Lei 11.101/2005, tais como as
sociedades de prestação de serviço, as associações de fins recreativos, culturais, assistenciais
ou religiosos e as fundações de direito privado. Excluem-se também aquelas instituições
sujeitas à liquidação extrajudicial.
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956
Apenas na segunda fase, que se abre com a arrecadação, é que o processo de insolvência se
torna executivo. Aí então, à falta de bens penhoráveis, ocorrerá a suspensão dos atos
executivos e a declaração de encerramento do feito, para contagem do prazo de extinção das
obrigações do insolvente.
Como no processo de execução não há mais espaço para se discutir a respeito da existência ou
da dimensão do direito exequendo, isso deverá ser feito em processo cognitivo, ou seja, nos
embargos. Assim, pode-se dizer que os embargos têm natureza jurídica de ação de
conhecimento incidental.
Cabe ao embargante instruir a ação com todas as peças que no caso concreto se mostrem
úteis ao julgamento dos embargos (art. 736, p. único).
Quando houver mais de um executado, o prazo para cada um deles embargar conta-se a partir
da juntada do respectivo mandado citatório, salvo tratando-se de cônjuges, quando o prazo
será contado a partir da última juntada de citação (art. 738, § 1º). Isso porque, como os
embargos são ação, cada executado deve ter o direito de exercer seu direito abstrato de forma
independente, não sendo viável condicionar o exercício do direito de ação de um dos
executados a outros.
Se a citação for feita por precatória, o prazo se inicia desde a juntada aos autos da
comunicação do juízo deprecado ao juízo deprecante de que a citação foi feita, e não do
retorno da precatória devidamente cumprida (art. 738, § 2º).
Deve-se entender como rejeição tanto os embargos extintos com ou sem julgamento de
mérito.
A decisão que rejeita liminarmente os embargos à execução é uma sentença, recorrível por
apelação, que não terá efeito suspensivo (art. 520, V, CPC), ainda que seja possível ao apelante
obtê-lo por meio de ação cautelar incidental ou de pedido de efeito suspensivo ao relator (art.
588, CPC), desde que preenchidos os requisitos.
Porém, Daniel Assumpção cita o caso de cabimento de agravo de instrumento quando ocorrer
a rejeição liminar parcial dos embargos em função da inépcia parcial da inicial.
Por fim, mesmo diante da intempestividade dos embargos, poderá o juiz convertê-lo em mera
petição, juntando-os aos autos da execução e acolhendo a alegação, quando se tratar de
matéria de ordem pública, funcionando os embargos como uma exceção de não
executividade.
27.22.1.5.1. Requisitos
São quatro os requisitos que devem ser preenchidos no caso concreto para a concessão de
efeito suspensivo (art. 739-A, § 1º):
Assim, vê-se que a ideia é que não haja efeito suspensivo, devendo esse ser deferido em
último caso, prestigiando-se a força executiva do título, sem a paralisação do procedimento.
Há parcela da doutrina que defende que, ainda que não garantido o juízo, pode o efeito
suspensivo ser conferido se houver grande probabilidade de vitória do embargante.
Esse dispositivo limita objetivamente o efeito suspensivo dos embargos, já que a parcela não
embargada será definitivamente executada no processo de execução.
Porém, poderão haver casos em que o embargo interposto por um executado favoreça o
outro, como no caso de ele comprovar que inexiste a dívida pela qual estão sendo cobrados.
Nesse caso, haverá favorecimento do executado que não embargou.
Esse efeito expansivo subjetivo dos embargos poderá atingir, para beneficiar, até mesmo
pessoas que embargaram e tiveram seus embargos já julgados improcedentes.
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960
A profundidade cognitiva dos embargos à execução é ampla e irrestrita. Assim, fica aberta a
ampla possibilidade de dilação probatória, se necessário.
O procedimento se inicia pela petição inicial nos termos do art. 282 e 283, citando-se o
embargado, se não houver rejeição liminar, para apresentar resposta no prazo de 15 dias.
Essa resposta poderá ser qualquer uma das admitidas, reconvenção, contestação,
reconhecimento jurídico do pedido etc.
27.22.1.6.2. Revelia
A revelia ocorre naturalmente, com o mero decurso do prazo de resposta. A questão se atém
sobre seus efeitos.
É pacífico que o embargado deixará de ser intimado dos atos processuais caso fique omisso. A
questão mais séria, entretanto, é sobre a presunção ou não de veracidade das questões
alegadas pelo embargante.
A melhor doutrina (Dinamarco , Marinoni, Greco Filho) é no sentido de inexistir esse efeito,
ante a existência de um título executivo em favor do embargado, o qual goza de presunção
legal de que o direito exequendo exista.
Essa sentença será recorrível por apelação, que deverá ser recebida sem efeito suspensivo (art.
520, V). Assim, o andamento da execução não será suspenso em virtude da propositura da
apelação, o que atualmente significa dizer que se prosseguirá com a não suspensão da
execução, considerando-se a inexistência de efeito suspensivo dos embargos à execução.
Sendo uma decisão de mérito, sempre que rejeitado o pedido do embargante terá a sentença
natureza declaratória negativa, já que declara a inexistência do direito alegado nos embargos.
Porém, no caso de execução por carta (art. 658), a competência para o julgamento dos
embargos não é exclusiva do juízo deprecante; na execução por carta, os embargos podem ser
julgados pelo juízo deprecado, se eles versarem sobre vícios ou defeitos da penhora,
avaliação ou alienação de bens (art. 747/CPC).
b) Caso versem sobre matéria de mérito referente ao direito alegado pelo exequente, a
extinção dos embargos FICA CONDICIONADA À CONCORDÂNCIA DO EMBARGANTE, já
que o julgamento dos embargos favorável a este lhe dará um título judicial oponível
contra futura nova execução idêntica.
d) Retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de título para entrega de
coisa certa (art. 621):
e) Qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de
conhecimento:
Nos embargos não poderá ser discutido nada que já o foi na fase de conhecimento, visto que
preclusa a instância. Nesse caso, ter-se-ia os embargos sendo convertidos em ação rescisória, o
que não é admissível. Neste sentido:
A via dos embargos à execução não pode ser usada como sucedâneo da
ação rescisória para rediscutir os limites fixados no título executivo judicial
em violação à coisa julgada e ao princípio da segurança jurídica. Unânime.
(TRF1, 3T, Ap 0051666-72.2010.4.01.3800/MG, rel. Des. Federal Tourinho
Neto, em 29/05/2012.)
[...]
[...]
Há outra questão a ser tratada: quando o embargante for sócio e tiver bem seu indevidamente
constrito, ele deve apresentar embargos de terceiros. Porém, se for sócio-gerente, tem
entendido o STJ que deve apresentar embargos à execução. Nesse sentido:
De acordo com o art. 475-J, caput, do CPC, o devedor tem um prazo de 15 dias para a
satisfação da sentença condenatória, pois do contrário incidirá uma multa de 10%. Assim,
estabelece-se uma multa de caráter penitencial, com o objetivo de fazer o devedor cumprir
voluntariamente o pagamento da quantia. Além disso, não há mais citação, como havia no
processo de execução. O devedor é intimado para pagar a quantia estipulada na sentença.
No dizer de Cassio Scarpinella Bueno, o prazo para o cumprimento inicia desde que a sentença
esteja liquidada e dela não penda condição suspensiva, ou seja, a multa depende do trânsito
em julgado e aparece como incentivo ao pronto pagamento, a incidir sobre a parte não
cumprida (art. 475-J, § 4.°, do CPC). Por sua vez, Guilherme Rizzo Amaral entende que pode
haver o cumprimento provisório da sentença, contanto que o credor assim o requeira,
inclusive com a aplicação da multa.
O EXECUTADO É INTIMADO PARA PAGAR, E NÃO PARA IMPUGNAR. ELE SOMENTE PODERÁ
OFECERER IMPUGNAÇÃO APÓS JUNTADO O AUTO DE PENHORA E AVALIAÇÃO NOS AUTOS.
Sobre isso:
Ressalte-se que a intimação deve ser feita na pessoa do advogado, somente a partir de então
correndo o prazo para pagamento.
O descumprimento da sentença dá ensejo aos atos executórios e gera para o advogado direito
a honorários, ainda que tenha havido a atribuição de honorários na fase meramente cognitiva.
Assim, o devedor que não satisfaz (voluntariamente) a condenação deve arcar com a multa de
10% e mais honorários.
A multa de 10% incide sobre o montante da condenação, devendo esta ser entendida como o
somatório de tudo o que há de ser pago: honorários, juros, correção, etc. O beneficiário da
multa é o credor.
Assim, o devedor não pode mais dar início à execução, indicando bens à penhora, devendo
apenas dar cumprimento à sentença. No procedimento para o cumprimento de sentença não
mais existe o direito de o executado indicar bens à penhora, pois a iniciativa na indicação de
bens penhoráveis é do credor ou do oficial de justiça (art. 475-J, § 3.°, CPC).
V) Excesso de execução;
Esse inciso III, admitindo a impugnação pela penhora incorreta ou avaliação errônea, é tido
como novidade, por ser mais abrangente que a disposição anterior (que compreendia apenas a
nulidade da execução até a penhora). Além disso, nos termos do inciso II, considera-se
também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados
inconstitucionais pelo STF, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato
normativo tidas pelo STF como incompatíveis com a CR/88. Critica-se esse dispositivo na
doutrina, sob a alegação que se empresta à decisão do STF uma eficácia retroativa mais forte
que a ação rescisória, principalmente porque feita sem limitação de tempo e que passa ao
largo da necessária segurança jurídica desejável para as normas processuais. Por fim, no que
tange ao inciso V, o § 2.° traz uma novidade: “quando o executado alegar que o exequente, em
excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar
de imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa impugnação”.
Nos embargos não poderá ser discutido nada que já o foi na fase de conhecimento, visto que
preclusa a instância.
Nesse caso, ter-se-ia os embargos sendo convertidos em ação rescisória, o que não é
admissível. Neste sentido:
A via dos embargos à execução não pode ser usada como sucedâneo da
ação rescisória para rediscutir os limites fixados no título executivo judicial
em violação à coisa julgada e ao princípio da segurança jurídica. Unânime.
(TRF1, 3T, Ap 0051666-72.2010.4.01.3800/MG, rel. Des. Federal Tourinho
Neto, em 29/05/2012.)
A impugnação não terá efeito suspensivo, devendo ser expressamente requerido pela parte,
ressalvando a possibilidade de concessão desse efeito quando o prosseguimento da
execução tenha a probabilidade de causar dano grave ou de difícil reparação ao executado
(art. 475-M, caput, CPC), sendo que ainda há a necessidade de se garantir o juízo para se
obter o efeito.
O exequente faz o pedido e oferece caução que, uma vez aceita, gera a revogação da decisão
concessiva.
Ela tem natureza jurídica de incidente processual e, após apresentada, deverá o exequente ser
intimado para apresentar contestação no prazo de 15 dias.
Por fim, se a impugnação for julgada totalmente procedente, ela causará a extinção da fase de
execução, desafiando apelação. Se for julgada parcialmente procedente ou se for rejeitada in
totum, caberá agravo de instrumento.
Não
Impugnação em apenso
Efeito
suspensivo? Julgamento
Impugnação nos mesmos autos ?
Sim
Sim
Totalmente, apelação
Procedente
impugnação?
Parcialmente ou improcedente,
agravo de instrumento
Não
De qualquer maneira, não há um prazo para a arguição da exceção: pode ser empregada a
qualquer tempo, enquanto não extinto o processo (STJ, 4ª T., RESP 419.376-MG, rel. Min. Aldir
Passarinho; STJ, 4ª T., RESP 220.100-RJ, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar), mesmo que expirado
o prazo para embargos (cf. Alberto Camiña Moreira, Leandro Paulsen, Lenice Silveira Moreira),
já que a coisa julgada só se forma quanto a questão constante do pedido. Todavia, se o vício
não for alegado na primeira oportunidade em que caber ao devedor falar nos autos, será ele
responsabilizado pelas custas do retardamento (CPC, artigo 267, § 3º, parte final). Deve-se
lembrar que: 1) a apresentação de exceção não suspende a execução, uma vez que as causas
de suspensão processual são taxativas (CPC, arts. 265 e 791), embora inevitável o retardo
processual; 2) o contraditório é obrigatório, devendo o exequente pronunciar-se em 30 (trinta)
dias (LEF, art. 17, analogia); 3) a decisão que acolhe a exceção de pré-executividade é sentença
(se extinguir totalmente a execução. Se extinguir parcialmente, será decisão interlocutória)
Pode , podendo ser ela desafiada por meio de apelação e remessa obrigatória (CPC, artigo 475,
§ § 1º e 3º); 4) não cabe a condenação nos honorários advocatícios em se tratando de
processo de execução fiscal (Lei 9.494/97, art. 1º-D: “não serão devidos honorários
advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções não embargadas”), não obstante a
jurisprudência unânime do STJ entenda que os honorários aqui são sempre cabidos, a menos
que a execução fiscal tenha sido deflagrado por erro do próprio contribuinte, p. ex., no erro de
preenchimento de DARF ou DCTF.
2. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 48. Promovida a execução, ainda que os embargos
parciais opostos pela fazenda pública sejam recebidos no efeito suspensivo, poderá a
execução prosseguir com relação aos valores incontroversos191.
3. TRF1 – XIII – CESPE – QUESTÃO 39. O devedor de obrigação de entrega de coisa pode
opor-se ao pedido de efetivação da respectiva sentença judicial, valendo-se da
impugnação, por simples petição, ou da exceção ou objeção de pré-executividade.
4. TRF1 – XII – QUESTÃO 82. É título judicial a sentença proferida no processo civil que
reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar
quantia, incluindo-se neste rol as sentenças declaratórias que reconhecem a
existência dos elementos da obrigação.
5. TRF1 – XII – QUESTÃO 81. A execução da sentença estrangeira homologada pelo STJ
não permite que a fase cognitiva e a fase executiva sejam realizadas num único
processo.
7. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 48. Na penhora em execução, o juiz pode ampliar as
regras de impenhorabilidade.
8. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 47. De acordo com a jurisprudência dominante, não
cabe a inclusão de juros moratórios no período entre a data de expedição e a do
efetivo pagamento do precatório.
191
TRIBUTÁRIO. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. DEPÓSITO JUDICIAL. TRÂNSITO EM
JULGADO PARCIAL FAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. LEVANTAMENTO DE DEPÓSITO REFERENTE À PARTE
INCONTROVERSA. POSSIBILIDADE. 1. Segundo o disposto nos artigos 151, inciso II, do Código Tributário Nacional e
32, § 2º, da Lei 6.830/80, o deferimento do pedido de levantamento pelo contribuinte dos depósitos efetuados
para fins de suspender a exigibilidade do crédito tributário, bem como a sua conversão em renda em favor do ente
público, pressupõe o trânsito em julgado da decisão final que julga a lide em definitivo.2. No caso em exame, é fato
incontroverso que o recurso especial interposto pela Fazenda Nacional não foi conhecido, e o agravo regimental
então apresentado teve negado o seu provimento por acórdão já transitado em julgado. Pende de julgamento no
Superior Tribunal de Justiça apenas o recurso especial interposto pelo contribuinte, o qual visa obter a declaração
de seu direito em permanecer sujeito ao regime cumulativo das contribuições do PIS e da COFINS.3. Sendo assim,
em relação à parte da sentença favorável ao contribuinte, resta atendido o requisito do trânsito em julgado,
indispensável para o deferimento do pedido de levantamento relativo à parcela proporcional ao seu sucesso na
demanda. Essa interpretação assemelha-se àquela relativa à expedição de precatório da parte incontroversa, tendo
essa Corte firmado posicionamento no sentido de que a execução da parcela da dívida não impugnada pelo ente
público deve ter regular prosseguimento, ausente, em conseqüência, óbice à expedição de precatório.4. Recurso
especial não provido.(REsp 1240477/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/05/2011, DJe 09/05/2011).
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973
10. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 48. Ajuizada ação de execução para entrega de coisa
certa, o executado não a entregou no prazo que lhe foi assinalado, constatando-se que
o bem estava em poder de terceiro. Verificada a situação descrita quando já litigiosa a
coisa, deve-se expedir mandado de busca e apreensão ou imissão na posse da coisa.
11. TRF4 – XIV – QUESTÃO 70. A objeção de pré-executividade não suspende a execução e
nem impede a penhora.
12. TRF4 – XIV – QUESTÃO 68. Os embargos de terceiro são a via processual adequada
quando é penhorado bem do sócio, não havendo ele sido citado.
13. TRF4 – XIV – QUESTÃO 54. Como regra geral, admite-se a possibilidade de quebra de
sigilo bancário (expedição de ofício ao Banco Central para obter informações acerca da
existência de ativos financeiros do devedor), desde que esgotados todos os meios para
localizar bens passíveis de penhora.
14. TRF4 – XIV – QUESTÃO 54. Antes da Lei nº 11.382/06, a penhora online é medida
excepcional, cabível somente quando o exequente comprova que exauriu todas as vias
extrajudiciais em busca dos bens do executado.
15. TRF4 – XIV – QUESTÃO 54. Depois da vigência da Lei nº 11.382/06, a penhora online
não exige mais o esgotamento de vias extrajudiciais de busca de bens a serem
penhorados.
16. TRF4 – XIII – QUESTÃO 73. A fraude contra credores é instituto de direito material
regulado pelo CC; enquanto a fraude à execução é instituto de direito processual
regulado pelo CPC.
17. TRF4 – XIII – QUESTÃO 73. A fraude contra credores gera a possibilidade de anulação
de atos praticados pelo devedor após ter contraído a dívida, mesmo antes do início do
processo.
18. TRF4 – XIII – QUESTÃO 72. A fraude à execução pode ser decretada incidenter tantum
no próprio processo de execução, dispensando processo autônomo, ao contrário da
fraude contra credores, que pressupõe o ajuizamento da ação pauliana.
19. TRF4 – XIII – QUESTÃO 71. A execução, seja provisória ou definitiva, corre sob
responsabilidade do exequente, que deve indenizar o executado em caso de tornar-se
insubsistente o título exequendo.
20. TRF4 – XIII – QUESTÃO 71. As medidas de efetivação da tutela específica previstas na
lei NÃO SÃO NUMERUS CLAUSUS, podendo o juiz, para dar efetividade a sua decisão,
utilizar outras que se façam necessárias.
21. TRF4 – XIII – QUESTÃO 65. A execução de título extrajudicial, que inicia definitiva,
passa a ser provisória enquanto pendente apelação contra sentença que julgue
improcedentes os embargos recebidos com efeito suspensivo.
22. TRF4 – XIII – QUESTÃO 65. Na execução por título extrajudicial, a segurança do juízo
não é condição para oposição dos Embargos do Devedor.
23. TRF4 – XIII – QUESTÃO 65. Segundo a jurisprudência do STJ, existe prejudicialidade, a
ensejar o simultaneus processus, entre a ação anulatória previamente ajuizada e a
execução, opostos ou não, em relação a esta, os embargos do devedor.
24. TRF4 – XIII – QUESTÃO 62. A defesa contra a execução de sentença, chamada de
impugnação, pressupõe a realização da penhora.
25. TRF4 – XIII – QUESTÃO 62. Vigora em nosso sistema processual a regra da autonomia
dos Embargos de cada coexecutado quanto ao prazo para oposição, exceto na
situação de litisconsórcio passivo entre cônjuges.
26. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 48. Ainda que intimado da penhora, o cônjuge poderá
opor embargos de terceiro, dado o nítido caráter possessório dessa ação.
27. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 51. O credor exequente é admitido como arrematante
ainda que possa requerer a adjudicação do bem.
29. TRF5 – IX – CESPE – QUESTÃO 78. A contagem do prazo para os embargos do devedor,
em qualquer modalidade de execução de título extrajudicial192, é feita a partir da
citação do executado. O termo inicial é determinado pela juntada aos autos do
mandado com que se cumpriu a citação. NOS CASOS EM QUE OS CÔNJUGES SÃO
ORIGINARIAMENTE EXECUTADOS, O PRAZO PARA A APRESENTAÇÃO DOS
EMBARGOS É COMUM, contando-se a partir da juntada do último mandado de
citação devidamente cumprido.
30. TRF5 – IX – CESPE – QUESTÃO 76. A execução por título extrajudicial é provisória no
caso de pendência de julgamento de recurso contra sentença que tenha julgado
improcedentes os embargos do devedor quando recebidos com efeito suspensivo. No
entanto, a concessão de efeito suspensivo não impede a efetivação dos atos de
penhora e de avaliação dos bens.
192
Isso está errado. O prazo dos embargos do devedor em execução fiscal só se inicia após a efetiva
penhora do bem. Logo, não é em qualquer execução.
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975
32. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 32. A jurisprudência e a doutrina admitem que o
executado se valha do que se convencionou chamar exceção de pré-executividade,
independentemente da segurança do juízo, para alegar matérias que o juiz possa
conhecer de ofício ou que estejam provadas de plano, sendo um limite a essa
possibilidade a existência de prévia decisão acerca do tema.
33. EMAGIS – 2012/28 – QUESTÃO 11. O novo parágrafo único do art. 741 do CPC se aplica
às sentenças prolatadas em data anterior à da sua vigência, mas não transitadas em
julgado até então193.
34. EMAGIS – 2012/28 – QUESTÃO 11. O imóvel utilizado para o exercício da profissão não
é abrangido pela garantia da impenhorabilidade194.
36. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 13. Conservam seus respectivos direitos os credores,
hipotecários ou privilegiados, sobre o valor da indenização, se a coisa obrigada a
hipoteca ou privilégio for desapropriada (art. 959, II, CC).
37. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 13. O crédito real prefere ao pessoal de qualquer
espécie; o crédito pessoal privilegiado, ao simples; e o privilégio especial, ao geral (art.
961, CC).
38. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 13. O crédito por despesa de seu funeral, feito segundo
a condição do morto e o costume do lugar, goza de privilégio geral – e não especial,
como dito – sobre os bens do devedor falecido (art. 965, I, CC).
40. EMAGIS – 2012/23 – QUESTÃO 12. A empresa Alfa ajuizou ação pleiteando
unicamente a declaração da inexistência de relação jurídica tributária que a obrigasse
a pagar determinado tributo. Transitada a sentença em julgado, dando pela
procedência do pedido, admite-se que a autora promova o cumprimento da sentença,
193
Súmula 487, STJ.
194
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL. ERRO MÉDICO. EXECUÇÃO.
IMÓVEL COMERCIAL. POSSIBILIDADE DE PENHORA. IMÓVEL RESIDENCIAL. POSSIBILIDADE DE PENHORA
PARA O PAGAMENTO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA DERIVADA DE ATO ILÍCITO. 1. O imóvel utilizado para o
exercício da profissão não é abrangido pela garantia da impenhorabilidade. Precedentes específicos. (...)
(STJ, Terceira Turma, AgRg nos EDcl no Ag 1232795, Rel. Min. Paulo de Tarso, DJe de 28/05/2012)
195
Súmula 486, STJ.
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976
41. EMAGIS – 2012/23 – QUESTÃO 12. Joãozinho Inadimplente ajuizou ação contra a
concessionária Energia S/A postulando o reconhecimento da ilegalidade da dívida
cobrada relativamente a uma fraude no medidor, ou, subsidiariamente, o
reconhecimento da ilegalidade da parcela correspondente ao adicional de 30% relativo
ao custo administrativo de recuperação do crédito. A sentença, transitada em julgado,
julgou parcialmente procedente o pedido, declarando a legalidade do débito
impugnado, à exceção da parcela referente ao adicional de 30%, tida por ilegal. Nesse
caso, é correto afirmar que a ré Energia S/A poderá promover, nos mesmos autos, a
execução desse julgado, na parte atinente à parcela do débito reconhecida como
devida197.
42. EMAGIS – 2012/21 – QUESTÃO 11. A aplicação da multa depende de nova intimação
do devedor, que poderá ser feita na pessoa de seu advogado, por publicação na
imprensa oficial. Somente se transcorrido o prazo de 15 dias a contar dessa intimação,
sem que tenha havido o pagamento da dívida, é que se tornará possível acrescer-se
essa multa ao quantum debeatur.
43. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 10. Reconhece a jurisprudência do STJ que a Lei
11.382/06, efetivamente, significou um divisor de águas no processo civil brasileiro:
antes desse Diploma Legal, exigia-se o prévio esgotamento das diligências para
localização de bens do devedor a fim de que fosse realizada a penhora on-line de
ativos financeiros; depois disso, não pode o juiz exigir do credor o exaurimento das
196
Súmula 461, STJ: “O contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou por
compensação, o indébito tributário certificado por sentença declaratória transitada em julgado”.
197
Veja bem: no corpo do julgado, ficou esclarecido que o juiz da causa reconheceu expressamente no
dispositivo da sentença que a obrigação do consumidor era legal, sendo, pois, devido o débito. Por essse
motivo que se possibilitou ao réu executar essa sentença.
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC.
SENTENÇA QUE CONDENA CONCESSIONÁRIA DE ENERGIA ELÉTRICA EM OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER
(IMPEDIMENTO DE CORTE NO FORNECIMENTO) E DECLARA LEGAL A COBRANÇA IMPUGNADA EM
JUÍZO, SALVO QUANTO AO CUSTO ADMINISTRATIVO DE 30% REFERENTE A CÁLCULO DE
RECUPERAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 475-N, INC. I, DO CPC PELA CONCESSIONÁRIA EM RELAÇÃO À
PARTE DO QUE FOI IMPUGNADO PELO CONSUMIDOR NA FASE DE CONHECIMENTO. POSSIBILIDADE
NO CASO CONCRETO.
1. Com a atual redação do art. 475-N, inc. I, do CPC, atribuiu-se "eficácia executiva" às sentenças
"que reconhecem a existência de obrigação de pagar quantia". 2. No caso concreto, a sentença que
se pretende executar está incluída nessa espécie de provimento judicial, uma vez que julgou
parcialmente procedente o pedido autoral para (i) reconhecer a legalidade do débito impugnado,
embora (ii) declarando inexigível a cobrança de custo administrativo de 30% do cálculo de
recuperação de consumo elaborado pela concessionária recorrente, e (iii) discriminar os ônus da
sucumbência (v. fl. 26, e-STJ).
3. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ
n. 8/08. (STJ, Primeira Seção, REsp 1261888, Rel. Min. Mauro Campbell, DJe de 18/11/2011)
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44. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 10. Frustrada, por duas vezes, a tentativa de penhora
on line de valores, ainda assim se admite reiteração do pedido pelo exequente199.
198
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA ON LINE. BACENJUD. DEPÓSITOS BANCÁRIOS.
CONSTRIÇÃO EFETIVADA APÓS A LEI Nº 11.382/06. 1. A Corte Especial, no julgamento do REsp
1.112.943-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, ocorrido em 15/09/2010, pela sistemática do artigo 543-C do
CPC, decidiu que, após o advento da Lei nº 11.382/06, o juiz não pode exigir do credor o exaurimento
das diligências, na busca por outros bens, para a decretação da penhora on line. 2. A Primeira Seção
deste Tribunal ratificou a necessidade de interpretação sistemática dos artigos 655-A do CPC e 185-A
do CTN, de modo a autorizar a penhora eletrônica de depósitos e aplicações financeiras,
independentemente do exaurimento de diligências extrajudiciais, por parte do exequente, após o
advento da Lei nº 11.382/06. Recurso especial representativo de controvérsia n.º 1.184.765/PA. 3.
Portanto, no regime posterior à Lei nº 11.382/06, a aplicação dos artigos 655 e 655-A, do CPC aos feitos
de execução fiscal conduzem ao entendimento de que a penhora em dinheiro, por ser preferencial,
pode ser requerida pelo credor, mesmo que o devedor indique bens na ordem inferior do rol do artigo
11 da Lei de Execuções Fiscais, como ocorreu no presente caso, em que se nomeou precatório (inciso
VIII). 4. Recurso especial provido. (REsp 1229689/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,
julgado em 13/12/2011, DJe 16/02/2012)
199
A reiteração do pleito de penhora on line é, sim, admitido, mesmo que duas outras tentativas já
tenham sido feitas sem que fossem localizados ativos financeiros ou depósitos bancários. O que a
jurisprudência do STJ tem sinalizado é que, nessa reiteração, haja razoabilidade, analisando-se, pois,
caso a caso. Noutras palavras, é verdade que o juiz não está obrigado a deferir sucessivos pedidos no
sentido da reiteração da tentativa de penhora on line; sem embargo, é plenamente admissível essa
reiteração, que deve ser examinada com razoabilidade. Assim, por exemplo, ultrapassado período
significativo desde a última tentativa, ou surgindo elementos novos a sinalizar a possibilidade de
mudança no quadro anteriormente verificado, não há óbice ao acolhimento do pedido de reiteração do
uso do Bacen-Jud.
200
EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA ON LINE. CONTA CORRENTE CONJUNTA. TERCEIRO NA EXECUÇÃO.
IRRELEVÂNCIA. POSSIBILIDADE DE SE PENHORAR A TOTALIDADE DA CONTA CORRENTE.
1. No caso de conta conjunta, cada um dos correntistas é credor de todo o saldo depositado, de forma
solidária. O valor depositado pode ser penhorado em garantia da execução, ainda que somente um dos
correntistas seja responsável pelo pagamento do tributo. 2. Se o valor supostamente pertence somente
a um dos correntistas - estranho à execução fiscal - não deveria estar nesse tipo de conta, pois nela a
importância perde o caráter de exclusividade. 3. O terceiro que mantém dinheiro em conta corrente
conjunta, admite tacitamente que tal importância responda pela execução fiscal. A solidariedade,
nesse caso, se estabelece pela própria vontade das partes no instante em que optam por essa
modalidade de depósito bancário. 4. In casu, importante ressaltar que não se trata de valores
referentes a "vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria,
pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao
sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional
liberal", previstos como impenhoráveis pelo art. 649, IV, do Código de Processo Civil, inexistindo óbice
para a penhora da conta corrente conjunta. Recurso especial improvido. (REsp 1229329/SP, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 29/03/2011)
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978
46. EMAGIS – 2012/07 – QUESTÃO 11. Os embargos de terceiro podem ser opostos a
qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não transitada em julgado a
sentença, e, no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da arrematação,
adjudicação ou remição, MAS SEMPRE ANTES DA ASSINATURA DA RESPECTIVA
CARTA (art. 1.048, CPC).
48. EMAGIS – 2012/07 – QUESTÃO 11. Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o
cônjuge do executado pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação202.
49. EMAGIS – 2012/06 – QUESTÃO 13. Em embargos de terceiro, não é possível anular ato
jurídico por fraude contra credores203.
50. EMAGIS – 2012/06 – QUESTÃO 13. O filho que reside no imóvel, mesmo que o bem
não esteja registrado em seu nome, tem legitimidade para ajuizar embargos de
terceiro suscitando a impenhorabilidade da residência204.
51. EMAGIS – 2012/06 – QUESTÃO 13. Não servem os embargos de terceiros para
oposição a turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão
administrativo205.
201
LOCAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM PEDIDO DE EFEITOS
INFRINGENTES. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. EMBARGOS RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL.
APLICABILIDADE DA SÚMULA N.º 84 DESTA CORTE APÓS A VIGÊNCIA DO CÓDIGO DE 2002. VALIDADE.
PRECEDENTES. [...] 2. Segundo o entendimento desta Corte, a teor da Súmula 84/STJ - perfeitamente
válida e eficaz -, ainda que a doação não esteja registrada no competente cartório de imóveis, é
facultado aos possuidores do imóvel ajuizar embargos de terceiro. [...] (STJ, Quinta Turma, AgRg no REsp
1004151, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 04/05/2011)
202
Súmula 134, STJ.
203
Diante da sua natureza possessória, o STJ, por sua Corte Especial, firmou o entendimento de que os
embargos de terceiro não se prestam a anular ato jurídico supostamente realizado em fraude contra
credores (arts. 158 e ss. do CC/02), o que deve ser objeto de ação anulatória específica (também
chamada, nesse caso, de ação pauliana). Daí ter-se chegado à Súm. 195, assim redigida: “Em embargos
de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores”.
204
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. LEGITIMIDADE ATIVA. ESPOSA DEVEDORA.
FILHA.
1 - Não reconhecimento de legitimidade para oposição de embargos de terceiro à parte que figura como executada
por ser também devedora indicada no título executivo. Precedentes. 2 - O filho, integrante da entidade familiar, é
parte legítima para opor embargos de terceiro, discutindo a condição de bem de família do imóvel onde reside com
os pais. 3 - Garantia da função social do imóvel, preservando uma das mais prementes necessidade do ser humano,
protegida constitucionalmente, que é o direito à moradia. [...] (REsp 473984/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/10/2010, DJe 08/11/2010)
205
O art. 1046 do CPC cuida das hipóteses de cabimento dos embargos de terceiro. Nele, não se prevê a
possibilidade de ajuizar-se esse tipo específico de ação diante de ato de apreensão administrativo:
nesse caso, deve o administrado interessado valer-se dos meios processuais colocados à sua
disposição (mandado de segurança, ação ordinária, etc.). Somente em caso de apreensão derivada de
ato judicial é que se reputam cabíveis os embargos de terceiro.
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52. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 10. Na execução civil, a penhora de dinheiro na ordem
de nomeação de bens não tem caráter absoluto.
53. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 10. A penhora online, antes da entrada em vigor da Lei
11.382/2006, configura medida excepcional cuja efetivação está condicionada à
comprovação de que o credor tenha realizado todas as diligências no sentido de
localizar bens livres e desembaraçados de titularidade do devedor. Contudo, após o
advento da referida lei, o juiz, ao decidir sobre a realização da penhora online, não
pode mais exigir do credor prova de exaurimento das vias extrajudiciais na busca de
bens a serem penhorados.
54. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 10. Segundo recente precedente do STJ, embora
cabível a reiteração da pesquisa através do Bacen-Jud mesmo quando anterior
diligência tenha restado infrutífera, o novo requerimento do exequente deve obedecer
ao critério da razoabilidade, sendo possível que o juiz o indefira, exceto ao argumento
de que não fora comprovado o exaurimento de outras diligências na busca de bens
penhoráveis.
55. EMAGIS – 2011/52 – QUESTÃO 11. Considere que, para fixar o quantum debeatur, a
parte ajuíze demanda de liquidação da sentença condenatória por arbitramento.
Nessa situação, o juiz deverá, no despacho liminar, em que determina a intimação do
demandado, também nomear perito e fixar prazo para a entrega do laudo pericial (art.
475-D).
56. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 11. Mesmo após o advento da Lei 11.232/05, que
introduziu a fase do cumprimento de sentença e extinguiu a execução ‘ex intervallo’, A
EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA, SEJA EM SE TRATANDO DE TÍTULO
JUDICIAL, SEJA QUANTO A TÍTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS, SEGUE SENDO
REGIDA PELO MESMO RITO TRACEJADO NO ART. 730 DO CPC206.
57. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 11. Embora haja preceito legal dispondo que não
serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções não
embargadas, em se cuidando de débito de pequeno valor é cabível a fixação da
verba honorária em desfavor da Fazenda Pública quando esta, voluntariamente, não
adimple com a obrigação assentada no título executivo207.
206
Segue sendo aplicado o rito do art. 730 do CPC à execução contra a Fazenda Pública, malgrado as
profundas modificações introduzidas pela Lei nº 11.232/05 na sistemática das ‘execuções fundadas em
título judicial’ (que identificamos, hoje, como a fase processual de ‘cumprimento da sentença’, sem a
necessidade efetiva de se instaurar um novo processo executório ‘ex intervallo’). Com efeito, a execução
por quantia certa em face da Fazenda Pública, quer se trate de título executivo judicial, quer
extrajudicial, permanece sendo regida pela mencionada disposição específica do Código de Processo
Civil, consoante corrobora a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
207
A Lei 9.494/97, na redação outorgada pela Medida Provisória nº 2.180-35, de 2001, trouxe peculiar
disposição acerca dos honorários advocatícios em sede de execução, in verbis: “Art. 1º-D. Não serão
devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções não embargadas.”
Os tribunais pátrios foram provocados a analisar a legitimidade desse preceito normativo, não
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58. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 11.São devidos honorários advocatícios pela Fazenda
Pública nas execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que
não embargadas208. Assim o é porque, nesse caso, mesmo não havendo embargos e
ainda que haja o art. 1º-D da Lei 9.494/97, o STJ o reputa inaplicável porquanto o
advogado contratado para promover essa execução ficaria sem qualquer espécie de
remuneração, situação que fez com que aquela Corte abrandasse o alcance do
preceito legal em mira.
59. EMAGIS – 2011/39 – QUESTÃO 07. A apelação interposta contra sentença que julga
embargos à arrematação tem efeito apenas devolutivo209.
60. EMAGIS – 2011/39 – QUESTÃO 07. Em embargos de terceiro, quem deu causa à
constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios210.
61. EMAGIS – 2011/39 – QUESTÃO 01. O art. 1º-F da Lei 9.494/97, na redação dada pela
MP 2.180-35/2001, tem natureza processual, aplicando-se de forma imediata aos
processos em curso211.
62. EMAGIS – 2011/37 – QUESTÃO 18. No tocante à liquidação, quando esta se der por
artigos, haverá necessidade de alegar e provar fato novo para determinar o valor da
condenação.
67. EMAGIS – 2011/25 – QUESTÃO 10. A impugnação não terá efeito suspensivo,
PODENDO O JUIZ ATRIBUIR-LHE TAL EFEITO DESDE QUE RELEVANTES SEUS
FUNDAMENTOS E O PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO SEJA MANIFESTAMENTE
SUSCETÍVEL DE CAUSAR AO EXECUTADO GRAVE DANO DE DIFÍCIL OU INCERTA
REPARAÇÃO. Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao
exequente requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando caução
suficiente e idônea, arbitrada pelo juiz e prestada nos próprios autos (art. 475-M e §
1º).
68. EMAGIS – 2011/21 – QUESTÃO 11. Considera-se inexigível o título judicial fundado em
lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou
212
Os embargos, para serem admitidos, não impõem a segurança do juízo; mas para atingirem o efeito
de suspenderem a execução por título extrajudicial, aí sim a segurança (por depósito, penhora ou
caução suficiente) há de estar presente.
213
AGRAVO REGIMENTAL - AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - DECISÃO DO ACÓRDÃO REGIONAL EM CONSONÂNCIA COM O
ENTENDIMENTO DESTA CORTE - INCIDÊNCIA DA SÚMULA/STJ 83 - DECISÃO AGRAVADA MANTIDA -
IMPROVIMENTO.
1.- O Colegiado estadual, ao entender pela possibilidade de imposição dos honorários advocatícios em
sede de execução provisória de sentença, julgou em consonância com o entendimento jurisprudencial
deste Superior Tribunal de Justiça.
[...]
(STJ, AgRg no AREsp 5733/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/06/2011,
DJe 01/07/2011)
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69. EMAGIS – 2011/21 – QUESTÃO 11. A empresa Alfa ingressou com ação de repetição de
indébito contra o Estado do Acre, argumentando a inconstitucionalidade de lei que
majorara certo tributo instituído por aquele ente federativo. Regularmente
processado o feito, sobreveio sentença que, declarando incidentalmente a
inconstitucionalidade da lei invectivada, julgou procedente o pedido e condenou a
parte ré na devolução dos valores recolhidos pela demandante. Operado o trânsito em
julgado dessa decisão, mais exatamente no dia 23/08/2001, iniciou-se a execução do
título judicial e o Estado do Acre opôs embargos no qual sustentada a sua
inexigibilidade, uma vez que o Supremo Tribunal Federal, em sede de controle
concentrado de constitucionalidade, reputou compatível com a CR/88 aquela lei.
Nesse caso, era incabível o reconhecimento da inexigibilidade do título judicial com
base na fundamentação articulada por aquela Fazenda Pública Estadual214.
70. GEMAF – 2010/15 – QUESTÃO 01. Após o advento da Lei nº 11.382/06, o juiz, ao
decidir sobre a realização da penhora online, não pode mais exigir do credor
exaurimento das vias extrajudiciais na busca de bens a serem penhorados.
72. GEMAF – 2010/04 – QUESTÃO 08. É necessário que o garantidor hipotecário, terceiro
na relação entre o credor e o devedor principal, figure na relação executiva, para que
a penhora do bem dado em garantia tenha validade. Assim, É NULA A PENHORA SE
NÃO HOUVE CITAÇÃO DO PROPRIETÁRIO DO BEM HIPOTECADO EM GARANTIA DE
DÍVIDA ALHEIA.
214
Isso porque essa hipótese de inexigibilidade do título só ocorre quando o STF declara a lei
inconstitucional, e não quando a declara constitucional.
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a) Igualdade de prazos para a prática de atos processuais (art. 9º): fim das prerrogativas da
Fazenda Pública no que diz respeito à contagem em dobro ou em quádruplo dos prazos
processuais;
b) Fim do reexame necessário (art. 13): como todas as causas devem ter seu valor limitado a
60 salários-mínimos, ainda que aplicado o CPC, não haveria reexame;
c) Redução dos recursos (arts. 5º, 14 e 15): somente serão admitidos recursos das decisões
finais e das decisões que deferirem medidas cautelares e antecipação de tutela no curso do
processo;
d) pagamento imediato das condenações (60 dias), por meio de requisição de pequeno valor,
desde que a condenação importe em até 60 salários mínimos. Superada essa soma, pode a
parte renunciar ao excedente, para receber o valor por RPV, ou optar pelo precatório;
f) autorização legal aos representantes judiciais dos entes públicos para conciliar, transigir ou
desistir (art. 10, parágrafo único).
g) Citação para audiência de conciliação deve se dar com antecedência mínima de trinta dias
(art. 9º)
28.2. Competência
Diferentemente da escolha legislativa em definir os critérios norteadores dos JE Estaduais
(quantitativo e qualitativo), a Lei 10.259/2001 utilizou-se, preponderantemente, do critério
quantitativo, erigindo o valor de 60 salários-mínimos215 como patamar de alçada dos JEF (nos
Estaduais, são 40), enquanto as matérias objeto de cognição são estabelecidas por exclusão.
Contudo, em que pese a Lei dos JEF ter deixado de fazer menção expressa à observância do
critério qualitativo (demandas de menor complexidade), considera-se esse requisito como
implicitamente integrante da norma, em atenção ao preceito constitucional insculpido no art.
98, I, da Lei Maior, que é expresso quanto à competência dos Juizados Especiais para julgar
causas de menor complexidade.
A complexidade diz respeito à necessária adequação e harmonia que deverá sempre haver
entre o instrumento e a relação de direito material conflituosa, objeto de cognição, e, por
conseguinte, à produção de provas mais simplificadas. Segundo o STJ, compete ao JEF julgar a
ação revisional de contrato de financiamento celebrado sob o Sistema Financeiro Nacional,
mesmo que necessário realizar perícia contábil (CC 83.130-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 26/9/2007).
215
Enunciado FONAJEF 15: Na aferição do valor da causa, deve-se levar em conta o valor do salário mínimo em vigor
na data da propositura de ação.
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Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de competência do Juizado
Especial, a soma de 12 (doze) parcelas não poderá exceder o valor de 60 salários-mínimos (art.
3º, §2º)216. Se houverem parcelas vencidas, seu valor deve ser somado às vincendas.
No litisconsórcio ativo, o valor da causa deve ser calculado por autor, sob pena de burla ao
sistema dos JEF, especialmente na hipótese de litisconsórcio ativo facultativo. Caso o número
de autores dificulte a solução da lide, é possível a sua limitação pelo Juiz220.
No foro onde estiver instalada Vara do Juizado especial, a sua competência é absoluta (art. 3º,
§3º). Nos Juizados Especiais Estaduais, a competência é relativa, cabendo o autor da demanda
optar por ajuizar a ação perante a justiça comum ou perante os juizados. Diferentemente, a
competência dos juizados especiais cíveis federais é absoluta, razão pela qual não pode ser
alterada pela vontade das partes.
A competência definida na LJEF é absoluta onde houver o Juizado Federal instalado (art. 3º,
§3º, LJEF); logo, como conseqüências imediatas, têm-se, dentre outras, que pode ser
conhecida de ofício e a qualquer momento; não pode ser objeto de eleição de foro; o seu
desrespeito implica nulidade dos atos decisórios; o autor não pode escolher entre a Vara
Federal comum e o Juizado Especial Federal;
216
Enunciado FONAJEF 17: Não cabe renúncia sobre parcelas vincendas para fins de fixação de competência nos
Juizados Especiais Federais.
217
Enunciado FONAJEF 48: Havendo prestação vencida, o conceito de valor da causa para fins de competência do
JEF é estabelecido pelo art. 260 do CPC.
Enunciado FONAJEF 49: O controle do valor da causa, para fins de competência do JEF, pode ser feito pelo juiz a
qualquer tempo.
218
Enunciado FONAJEF 24: Reconhecida a incompetência do Juizado Especial Federal, é cabível a extinção do
processo, sem julgamento de mérito, nos termos do art. 1º da Lei n. 10.259/2001 e do art. 51, III, da Lei n. 9.099/95,
não havendo nisso afronta ao art. 12, § 2º, da Lei 11.419/06. (Nova redação – V FONAJEF).
219
Enunciado FONAJEF 16: Não há renúncia tácita nos Juizados Especiais Federais para fins de fixação de
competência. (No mesmo sentido, Súmula n.º 17 da Turma Nacional de Uniformização: Não há renúncia tácita
no Juizado Especial Federal, para fins de competência)
220
Enunciado FONAJEF 18: No caso de litisconsorte ativo, o valor da causa, para fins de fixação de competência
deve ser calculado por autor.
Enunciado FONAJEF 19: Aplica-se o parágrafo único do art. 46 do CPC em sede de Juizados Especiais Federais.
OBS: possibilidade de limitação do litisconsórcio multitudinário.
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Assim, a competência dos Juizados Especiais Federais é absoluta dentro do foro (leia-se:
circunscrição), mas relativa em relação às Varas Federais de regiões geográficas. É que tal
fato decorre da intenção do legislador de evitar a opção existente na Lei 9.099/95, que
permite ao autor a escolha de ingressar a sua demanda tanto no Juizado Especial Estadual
quanto na Vara comum.
“ (...) estaria a lei criando uma competência ‘semi-absoluta’, por permitir que a parte escolha
o foro onde quer propor a ação, mas não o juízo (dentro daquele, se nele existir juizado
especial) em que fará tramitar seu pleito? A resposta há de ser positiva. Embora confusa a
regra, esta é precisamente a intenção manifesta, o que, aliás, está plena consonância com a
disciplina normal da competência em processo civil. A solução apontada pela lei é
exatamente a mesma aplicável à questão das varas da fazenda pública: onde ela existe, sua
competência é absoluta; onde não, as ações de interesse do Estado são de atribuição de
qualquer outra vara. No campo da Justiça Federal, entretanto, em vista da regra acima
apontada, que prevê a opção de foro para a propositura de ação em face da União, essa
faculdade pode resultar na burla à previsão legal, permitindo que a parte escolha submeter ou
não sua demanda ao juizado especial (Arenhart, 2001, p. 40).”
Nas demandas voltadas contra o INSS, a regra geral delineada a partir das leis 10.259/2001 e
9.099/95 tem que conviver com o disposto no § 3º do art. 109 da CR, cedendo lugar a esta
quando possível a sua incidência. É que, diante do princípio da supremacia da Constituição, a
hierarquia normativa implica, necessariamente, que as regras estipuladas no texto
constitucional não podem ser violadas ou restringidas pelas veiculadas por lei ordinária; logo,
interpreta-se a lei a partir da Constituição, e não o contrário.
(...)
Sobrevoando o texto é possível apresentar as seguintes conclusões: (a) o caráter absoluto dos
juizados especiais federais refere-se à matéria, servindo para evitar a opção pelo autor, o
que não se confunde com a competência em razão do local; (b) a hipótese normativa prevista
no § 3º do art. 109 da Constituição refere-se à delegação de competência, matéria que não se
confunde com conflito de competência territorial; (c) nas demandas previdenciárias, o
segurado terá uma opção se em seu domicílio não houver vara federal, ou ajuíza a causa na
Justiça Estadual, ou o faz na Vara Federal competente de acordo com a legislação pertinente,
seja o CPC, seja a LJEF; (d) a regra geral de competência territorial para a LJEF deve ser
buscada no art. 4o da Lei nº 9.099/95; por isso (e) há foros concorrentes relativos às cidades
onde houver instalada agência do INSS, seja na Capital do Estado, seja no seu interior.
Enunciado 88, FONAJEF: “É admissível MS para Turma Recursal de ato jurisdicional que causa
gravame e não haja recurso”.
Se houver JEF no Município onde resida o réu, ele não poderá optar por ajuizar a ação na
Justiça Estadual.
Cabe salientar que a Turma de Uniformização Nacional editou a Súmula de nº 17, segundo a
qual “Não há renúncia tácita no Juizado Especial Federal para fins de competência”. Assim, não
se aplica o art. 3º, § 3º, da Lei nº 9.099/95, que determina que a opção pelo rito dos Juizados
determina a renúncia tácita ao valor excedente à competência desse órgão. Contudo, como
nos JEFs a competência é considerada absoluta, de modo que o ajuizamento da ação não se
trata de uma escolha da parte, não pode haver renúncia tácita, devendo ela ser expressa.
Isso significa que, caso o juiz, antes ou durante a prolação da sentença, verifique que o valor
da condenação final será maior do que o limite da competência do JEF, deverá intimar o Autor
para se manifestar sobre possível renúncia. Se renunciar, prolata a sentença. Se não renunciar,
deve remeter os autos à Justiça Federal.
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Caso ele não o faça, prolatando a sentença sem ouvir o Autor, este deverá interpor recurso
inominado para a Turma Recursal, a qual anulará a decisão face a incompetência absoluta,
determinando a remessa ao juízo competente.
Note-se ainda que o § 2º refere-se apenas ao cálculo do valor da causa naquelas situações em
que há somente parcelas vincendas. Quando existirem parcelas vencidas e vincendas, a TNU já
se manifestou no sentido de que o cálculo é feito na forma do art. 260 do CPC, isto é, a soma
das vencidas e 12 parcelas vincendas. Essa questão é muito controversa no âmbito dos JEFs, e
tem possibilitado o ajuizamento de ações com valor muito superior aos 60 salários mínimos.
Súmula 689, STF: “O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o
Juízo Federal do seu domicílio ou nas varas federais da capital do Estado-Membro”.
Há o cálculo do valor da causa para a fixação da competência, uma vez que a competência é
absoluta. Então ele deve envolver de acordo com o CPC os valores vencidos e 12 vincendos,
isso tem que ficar limitado a 60 salários mínimos para fixar a competência, mas digamos que
dure mais do que doze meses, então haverá parcelas vincendas maiores do que doze. E na
hora de fazer o pagamento? E se ultrapassar 60 salários mínimos no momento expedir a RPV?
Tem duas saídas: ou recebe tudo por precatório, mesmo no juizado, ou abre mão e recebe até
60 salários mínimos no valor do salário mínimo do momento do pagamento da RPV e não do
momento da distribuição. Porque, às vezes, do momento da propositura até a expedição da
RPV demora mais de doze meses. Há primeiro um cálculo do valor da causa para fixar a
competência, que vai levar em conta doze prestações vincendas, mas às vezes demora três
anos para executar desde o momento da distribuição, daí tem que fazer um cálculo para efeito
de pagamento.
28.2.1. Controle da Competência dos Juizados Via Mandado de Segurança perante o Tribunal
A jurisprudência do STJ firmou orientação de que cabe ao TJ, em relação aos Juizados Especiais
Estaduais, e ao TRF, em se tratando de Juizados Especiais Federais, apreciar mandado de
segurança no qual se discute a competência desses órgãos para processar e julgar
determinadas demandas. Nunca, porém, para revisar o mérito de decisões desses Juizados,
que, jurisdicionalmente, não estão subordinados a tais Tribunais como cortes de revisão.
Por fim, será cabível o writ mesmo que a decisão já tenha transitado em julgado.
[...]
Vê-se, pois, que o referido dispositivo da Lei dos JEFs não retira a competência federal
delegada à Justiça Estadual, dada pelo art. 109, § 3º, da CR/88. De fato, o segurado pode
ajuizar sua demanda na Justiça local sem nenhum empecilho, embora, caso queira se valer do
rito especial previsto na referida Lei - que regulamentou o art. 98, parágrafo único, da CR /
88 - deva ajuizar sua ação na Justiça Federal, seja na mais próxima, seja na Capital.
Tampouco a referida Lei delegou aos Juizados Especiais Estaduais competência para processar
e julgar, nas comarcas que não disponham de Varas Federais, causas em que forem parte
instituição de previdência social e segurado:
Assim, pelo julgado supra, o segurado ou dependente poderá ajuizar ação perante a Justiça
Estadual contra o INSS, por expressa disposição constitucional, se não houver vara federal
em seu Município. Somente não o poderá fazer pelo rito sumaríssimo, perante o juizado
especial estadual cível, já que não se admite pessoa de direito público no polo passivo desse
rito.
Enunciado 15: “Na aferição do valor da causa, deve-se levar em conta o valor do salário
mínimo em vigor na data da propositura da ação”.
Enunciado 18: “No caso de litisconsorte ativo, o valor da causa, para fins de fixação de
competência deve ser calculado por autor”.
Enunciado 49: “O controle do valor da causa, para fins de competência do JEF, pode ser feito
pelo juiz a qualquer tempo”.
28.5. Partes
A Lei nº 10.259/2001 também determina quem pode ocupar os polos ativo e passivo das ações
sujeitas ao rito dos JEFs:
Discute-se se as ações em que se pleiteia pensão por morte, onde poderia haver a exclusão ou
diminuição da cota de outro dependente do de cujus, poderiam ser propostas nos JEFs, já que,
necessariamente, o polo passivo seria composto pelo INSS e por uma pessoa física, a saber, os
dependentes do instituidor da pensão. A jurisprudência tem entendido que é possível a
participação dos dependentes no polo passivo, já que a Lei dos JEFs, embora não explicite essa
permissão, tampouco impõe vedação nesse sentido.
Enunciados do FONAJEF:
Enunciado 12: “No Juizado Especial Federal, não é cabível o pedido contraposto pela União
Federal, autarquia, fundação ou empresa pública federal”.
Enunciado 14: “Nos Juizados Especiais Federais, não é cabível a intervenção de terceiros ou a
assistência”.
Enunciado 21: “As pessoas físicas, jurídicas, de direito privado ou de direito público estadual
ou municipal podem figurar no polo passivo, no caso de litisconsórcio necessário”.
Enunciado 82: “O espólio pode ser parte autora nos juizados especiais federais cíveis”.
Enunciado 32: “A decisão que contenha os parâmetros de liquidação atende ao disposto no art.
38, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95”.
Enunciado 13: “Não são admissíveis embargos de execução nos Juizados Especiais Federais,
devendo as impugnações do devedor ser examinadas independentemente de qualquer
incidente”.
28.7. Recursos
A sistemática recursal prevista na Lei nº 10.259/2001 é bastante peculiar, uma vez que toda a
estrutura foi pensada para diminuir o número de recursos, em prol da celeridade da prestação
Assim é que não há previsão de recurso contra decisões interlocutórias, a exceção daquelas
que concedem medida cautelar (ou antecipação de tutela, numa interpretação extensiva do
art. 4º da Lei dos JEFs).
Art. 5o Exceto nos casos do art. 4o, somente será admitido recurso de
sentença definitiva.
De acordo com Tourinho Neto, esse recurso cabível nos casos do art. 4º é o agravo de
instrumento. Caberá também, de acordo com o mesmo autor, embargos de declaração de
decisões interlocutórias, e não apenas das sentenças ou acórdãos (2010, p. 297).
Caberá recurso inominado das decisões finais, o qual não pode ser interposto pela via
adesiva por ser incompatível com o procedimento.
São previstos, ainda, recurso contra sentença (art. 5º), pedidos de uniformização regional (com
fundamento em divergência entre decisões de Turmas Recursais da mesma região) e
uniformização nacional (conflito entre decisões de Turmas Recursais de diferentes regiões ou
entre decisão da Turma Recursal e súmula ou jurisprudência dominante do STJ), (art. 14), e
recurso extraordinário.
São compostas por juízes federais ou estaduais de primeiro grau, designados para o ofício por
ato do Tribunal.
Súmula 376, STJ: “Compete a turma recursal processar e julgar o MS contra ato do juizado
especial”.
Assim, se o pedido de uniformização for feito entre Turmas divergentes da mesma Região, ou
seja, uma Turma Recursal de Minas Gerais com outra da Bahia, por exemplo, caberá a elas, em
reunião conjunta, resolver o conflito para chegar a um consenso sobre a questão de direito
material. Vide que a lei exige diferença de interpretação entre Turmas da mesma Região, e não
da mesma Seção Judiciária, o que possibilita uma imensa quantidade de incidentes.
Somente caberá a provocação do STJ quando a Turma Nacional de Uniformização tiver sido
instada a se manifestar sobre questão de direito material e, chegando a um consenso, adotar
tese divergente de súmula ou jurisprudência do STJ, caso em que caberá a essa Corte dirimir
a divergência.
No Regimento Interno da TNU, que tem sede em Brasília e é presidida pelo coordenador da
Justiça Federal, há a previsão de que o incidente de uniformização também será cabível
quando houver divergência com jurisprudência do STF.
Não se admite o recurso especial, já que as Turmas Recursais, órgãos de segunda instância dos
Juizados, não podem ser consideradas Tribunais.
Nesse sentido:
Súmula 203, STF: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo
grau dos juizados especiais”.
Observe-se que o art. 14, § 4º, prevê um recurso contra a decisão da Turma de Uniformização
Nacional que contrariar a jurisprudência dominante do STJ, a ser examinado por esse Tribunal.
A Lei nº 10.259/2001, em seu art. 14, § 5º, prevê a possibilidade de concessão de medida
liminar determinando a suspensão dos processos em que uma mesma controvérsia esteja
estabelecida até que sejam julgados os incidentes de uniformização. O STF alterou seu
regimento para permitir a concessão dessa liminar. A medida já foi aplicada por esse Tribunal,
suspendendo todos os processos em que se discute questão relativa ao FGTS nos JEFs do Rio
de Janeiro (Informativo 364).
O STF entende ser necessário, entretanto, para a interposição do recurso, que o recorrente
tenha já buscado a tutela recursal da Turma de Uniformização, mediante incidente de
uniformização; somente após o esgotamento da prestação jurisdicional, com a publicação da
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(RE 479465 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado
em 06/12/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-022 DIVULG 31-01-2012
PUBLIC 01-02-2012)
Na verdade, ele queria era evitar uma enxurrada de processos que essa possibilidade de ação
heterotrópica criaria.
O STF, no entanto, “cortou o barato” do STJ. No que se refere aos juizados especiais estaduais,
por não existir Turma de Uniformização de Jurisprudência, diferentemente do que ocorre no
âmbito dos JEF’s, seria imprescindível que aceitas fossem as reclamações sob pena de
aprofundar a divergência na interpretação da legislação federal, papel que cabe ao STJ.
(STF, RE 571572 ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado
em 26/08/2009, DJe-223 DIVULG 26-11-2009 PUBLIC 27-11-2009 EMENT
VOL-02384-05 PP-00978 RTJ VOL-00216- PP-00540)
Em novo capítulo da novela, o STJ, irresignado, buscou limitar a possibilidade aberta pelo STF,
decidindo o seguinte:
Enunciado 57: “Nos JEFs, somente o recorrente vencido arcará com honorários advocatícios”.
Enunciado 59: “Não cabe recurso adesivo nos Juizados Especiais Federais”.
Enunciado 60: “A matéria não apreciada na sentença, mas veiculada na inicial, pode ser
conhecida no recurso inominado, mesmo não havendo a oposição de embargos de
declaração”.
Enunciado 61: “O recurso será recebido no duplo efeito, salvo em caso de antecipação de tutela
ou medida cautelar de urgência”.
Enunciado 88: “É admissível MS para Turma Recursal de ato jurisdicional que causa gravame e
não haja recurso”.
Enunciado 89: “Não cabe processo cautelar autônomo, preventivo ou incidental, no âmbito do
JEF”.
Segundo o art. 486, do CPC, os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta
for meramente homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos
termos da lei civil.
O dispositivo na verdade quer dizer que, quando não for cabível a rescisória para anulação de
um ato judicial, será cabível a anulatória. Ora, em face da vedação do art. 59, da Lei 9.099/95,
a providência processual a ser adotada num caso de rescindibilidade seria a propositura de
uma ação anulatória endereçada à respectiva Turma Recursal, que seria o órgão competente
para apreciar, por exemplo, uma ação anulatória de uma sentença homologatória de acordo
no próprio juizado especial.
[...]
(RE 650293 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em
17/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-099 DIVULG 21-05-2012 PUBLIC
22-05-2012)
Após o trânsito em julgado, o juiz deverá expedir ao Tribunal a requisição dos créditos de
pequeno valor ou o precatório, devendo, no prazo de 60 dias, contados do envio da RPV, o
valor estar disponível no banco.
Enunciado 35 “A execução provisória para pagar quantia certa é inviável em sede de juizado,
considerando outros meios jurídicos para assegurar o direito da parte”.
221
Art. 100 [...]
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na
data de expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei, serão
pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei
para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que
o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009).
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1008
Com efeito, dispõe o art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei 9.099/95, que compete ao Juizado Especial
promover a "execução dos seus julgados", não fazendo o referido dispositivo legal restrição ao
valor máximo do título, o que não seria mesmo necessário, uma vez que o art. 39 da mesma lei
estabelece ser "ineficaz a sentença condenatória na parte em que exceder a alçada
estabelecida nesta lei". Valor da alçada é de quarenta salários mínimos calculados na data da
propositura da ação, e de sessenta salários mínimos no JEF.
Tratando-se de obrigação de fazer, cujo cumprimento é imposto sob pena de multa diária, a
incidir após a intimação pessoal do devedor para o seu adimplemento, O EXCESSO EM
RELAÇÃO À ALÇADA SOMENTE É VERIFICÁVEL NA FASE DE EXECUÇÃO, DONDE A
IMPOSSIBILIDADE DE CONTROLE DA COMPETÊNCIA DO JUIZADO NA FASE DE
CONHECIMENTO. Afasta-se, portanto, a preclusão alegada como obstáculo, pelo acórdão
recorrido, para a concessão da segurança.
No caso em exame, o valor da causa e da condenação por danos materiais e morais imposta
pela sentença situaram-se em patamar inferior à alçada, de modo que a competência do
Juizado revelava-se indene de dúvidas, assim como o é, para prosseguir na execução de seu
próprio julgado, dentro do limite da alçada legal, estabelecido pelo art. 3º, inciso 1º e § 3º e
art. 39 da Lei 9.099/95.
O valor da alçada (quarenta salários mínimos, 60 no JEF) é fator eleito pela lei para definir o
que se entende por causa de "menor complexidade". Presume a lei que causas das quais possa
resultar a imposição, ao vencido, de obrigações pecuniárias de maior valor mereçam a
tramitação pelo rito processual comum, cercado de maiores garantias processuais, entre as
quais a cadeia de recursos no âmbito da Justiça de segundo grau, o acesso ao Superior Tribunal
de Justiça por meio de recurso especial e a ação rescisória.
Fixado o valor da pretensão do autor quando do ajuizamento da inicial, renunciando ele, por
imposição legal (art. 3º, § 3º), ao valor que exceder a alçada dos Juizados, não se põe em
dúvida a competência do Juizado para a execução da sentença, mesmo que ultrapassado
este valor por contingências inerentes ao decurso do tempo, como correção monetária e
juros de mora, os quais incidem sobre aquela base de cálculo situada no limite da alçada,
além dos honorários de advogado, encargo este que também encontra parâmetros definidos
em lei (CPC, art. 20).
Considero, portanto, que o valor da alçada previsto no art. 3º, inciso I, da Lei 9.099/95, o qual
tem em mira o valor da obrigação principal na data do ajuizamento da ação (quarenta
salários mínimos), deve ser aplicado, por analogia, como o valor máximo a ser executado
contra o devedor, a título de multa cominatória.
Somente há previsão de custas para o recuso inominado para a Turma Recursal e de Recurso
Extraordinário.
O art. 55 da Lei nº 9.099/95 prevê que, em primeiro grau, o vencido não pagará custas e
honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância de má fé. Em segundo grau, o
recorrente vencido pagará as custas e honorários de advogado, que serão fixados entre 10 por
cento e 20 por cento do valor da condenação, ou, não havendo condenação, do valor corrigido
da causa.
2. TRF1 – XIII – CESPE – QUESTÃO 41. Não há renúncia tácita nos juizados especiais
federais para fins de fixação de competência quanto ao valor da causa.
3. TRF1 – XIII – CESPE – QUESTÃO 41. O recurso inominado não pode ser interposto pela
via adesiva nos juizados especiais federais, pois não se coaduna com a sistemática dos
juizados em que as demandas precisam ser rapidamente solucionadas.
222
Súmula 90, FONAJEF.
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO FEDERAL DE JUIZADO ESPECIAL E JUÍZO FEDERAL DE JUIZADO
COMUM. EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS POR EMPRESA PÚBLICA FEDERAL. APLICAÇÃO DO ART. 3º DA
LEI 10.259/2001. PRECEDENTE DA 1ª SEÇÃO (CC 92.057/ES). COMPETÊNCIA JURISDICIONAL DO JUIZADO
ESPECIAL.(CC 103.217/TO, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/05/2009, DJe
25/05/2009).
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1011
4. TRF1 – XIII – CESPE – QUESTÃO 41. A matéria não apreciada na sentença, mas
veiculada na inicial, pode ser conhecida no recurso inominado, mesmo não havendo
embargos de declaração.
5. TRF1 – XIII – CESPE – QUESTÃO 17. A Lei nº 10.259/01 estabelece que, nas ações
previdenciárias e nas relativas à assistência social, havendo designação de exame, as
partes serão intimadas a apresentar quesitos e indicar assistentes no prazo de dez
dias.
6. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 43. Nesses juizados, a parte não precisa constituir
advogado, ainda que o valor exceda vinte salários mínimos.
7. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 49. As entidades públicas rés devem juntar aos autos,
nos processos dos juizados, a documentação de que disponham para esclarecimento
das causas, até a instalação da audiência de conciliação, independentemente de
pedido da parte autora.
8. TRF3 –XVI – CESPE – QUESTÃO 52. Descumprida a ordem emanada da sentença nos
juizados federais, cabe a imposição de multa à autoridade comunicada por ato
atentatório ao exercício da jurisdição.
10. TRF4 – XIII – QUESTÃO 70. Não cabe pedido de uniformização contra decisão recursal
que julga agravo interposto em face de decisão concessória de antecipação de tutela.
11. TRF4 – XIII – QUESTÃO 70. As pretensões cautelares no rito dos juizados especiais
federais serão deduzidas incidentalmente, não tendo autonomia procedimental.
12. TRF4 – XIII – QUESTÃO 70. A Lei nº 10.259/01, apesar de prever a aplicação subsidiária
da Lei nº 9.099/95, não autoriza a arbitragem no âmbito dos juizados especiais
federais.
14. TRF4 – XII – QUESTÃO 72. Não é admitida a execução provisória das sentenças
proferidas nos JEFs.
15. TRF4 – X – QUESTÃO 79. No âmbito dos JEFs, pacificou-se a jurisprudência no sentido
de que a União é parte ilegítima para figurar no polo passivo das ações em que se
pleiteia o benefício assistencial previsto no art. 20 da Lei nº 8.742/93.
16. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 39. As leis que disciplinam os juizados especiais
vedam o acesso das partes à ação rescisória, mas essa vedação não atinge a
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1012
17. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 38. Ajuizada ação de consignação em pagamento em
juizado especial federal, este continuará competente se, na consignatória, além das
prestações vencidas, estiverem sendo cobradas as prestações vincendas que, no curso
da lide, possam vir a superar o limite de 60 salários mínimos.
18. EMAGIS – 2012/15 – QUESTÃO 10. Não se incluem na competência do Juizado Especial
Federal Cível as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e
demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as
demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos.
19. EMAGIS – 2012/15 – QUESTÃO 10. Compete à turma recursal processar e julgar o
mandado de segurança contra ato de juizado especial.
21. GEMAF – 2010/10 – QUESTÃO 03. A Lei n.º 10.259/2001 estabelece que, nas ações
previdenciárias e nas relativas à assistência social, havendo designação de exame, as
partes serão intimadas a apresentar quesitos e indicar assistentes no prazo de dez
dias.
22. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 10. O Superior Tribunal de Justiça entende que as
demandas que envolvem a concessão de medicamentos, ainda que requereiram uma
análise do princípio ativo adequado ao autor do feito, não traduzem complexidade que
as exclua a priori da competência dos Juizados224.
223
A utilização da querela nullitatis ganha ainda mais vulto quando se analise a ação jurisdicional nos
Juizados Especiais, tendo em vista que, em razão da omissão da Lei n° 10.259/01 a respeito do
cabimento da ação rescisória, entende-se prevalecer a respeito do assunto o disposto na Lei n° 9.099/95
que, em seu artigo 59, veda expressamente ser cabível a rescisória nos Juizados Especiais Cíveis. Nesse
sentido, ficou estabelecido no verbete n° 44 do FONAJEF que: "Não cabe ação rescisória no JEF. O artigo
59 da Lei no 9.099/95 está em consonância com os princípios do sistema processual dos Juizados
Especiais, aplicando-se também aos Juizados Especiais Federais." Por essa razão, pode-se dizer que a
querela nullitatis, por ser espécie de ação autônoma de impugnação, encontra especial utilidade no
Juizado Especial Federal por ser a única forma autônoma de afastar a sentença tida por inconstitucional
que tenha produzido coisa julgada, ante o não cabimento da ação rescisória nesse rito sumaríssimo dos
Juizados Especiais.
224
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. COMPETÊNCIA DO STJ. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. VALOR
DA CAUSA. REGRA GERAL. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO.
INEXISTÊNCIA. [...] III - O ARESTO EMBARGADO JULGOU O CONFLITO EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA
DESTE SODALÍCIO, NO SENTIDO DA COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS PARA PROCESSAR E JULGAR A AÇÃO
EM QUE O PARTICULAR PRETENDE O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS, COM VALOR DA CAUSA INFERIOR A
SESSENTA SALÁRIOS MÍNIMOS, NÃO SENDO O FEITO DE ALTA COMPLEXIDADE. IV - Inocorrente a hipótese de
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1013
23. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 10. O litisconsórcio passivo entre a União e um Estado
da Federação NÃO impede que a demanda seja processada nos Juizados Especiais
Federais225.
24. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 10. É possível ao conciliador, com a finalidade de obter
o acordo em processo de Juizado Especial, realizar instrução oral do feito226.
26. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 10. Aquele que, em processo em trâmite no Juizado
Estadual, desejar auxiliar uma dada parte por deter interesse jurídico em que a
sentença seja a ela favorável, não poderá ingressar como assistente.227
omissão, não há como prosperar o inconformismo, cujo real intento é a obtenção de efeitos infringentes. V -
Embargos de declaração rejeitados. (STJ, EDcl no AgRg no CC 92593/SC, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/05/2009, DJe 08/06/2009)
225
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO FEDERAL DE JUIZADO ESPECIAL E JUÍZO FEDERAL DE JUIZADO COMUM.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. CAUSA DE VALOR INFERIOR A SESSENTA SALÁRIOS MÍNIMOS. UNIÃO, ESTADO
MEMBRO E MUNICÍPIO NO PÓLO PASSIVO. ART. 6º, II, DA LEI 10.259/2001. INTERPRETAÇÃO AMPLA.
COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS.
[...] 3. A PRESENÇA, COMO LITISCONSORTE PASSIVO DA UNIÃO, DE ENTIDADE NÃO SUJEITA A JUIZADO ESPECIAL
FEDERAL (NO CASO, O ESTADO DE SANTA CATARINA E O MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ), NÃO ALTERA A COMPETÊNCIA
DO JUIZADO. APLICA-SE À SITUAÇÃO O PRINCÍPIO FEDERATIVO (QUE DÁ SUPREMACIA À POSIÇÃO DA UNIÃO EM
FACE DE OUTRAS ENTIDADES) E O DA ESPECIALIDADE (QUE CONFERE PREFERÊNCIA AO JUÍZO ESPECIAL SOBRE O
COMUM). Precedentes. 4. Conflito conhecido, declarando-se a competência do Juizado Especial, o suscitado.
(CC 97.273/SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/10/2008, DJe 20/10/2008
LEXSTJ vol. 232, p. 33)
226
De fato, a Lei nº 12.153/09 dispõe sobre os chamados Juizados Especiais da Fazenda Pública, norma que em seu
art. 17, § 1o, estabeleceu que “Poderá o conciliador, para fins de encaminhamento da composição amigável, ouvir
as partes e testemunhas sobre os contornos fáticos da controvérsia”. Ora, ouvir partes e testemunhas nada mais é
que do que promover a instrução oral do processo. E mais: é bem possível afirmar a presença de um verdadeiro
microssistema dos Juizados, composto por três leis: L. 9.099/95 (Juizados Estaduais); L. 10.259/2001 (Juizados
Federais) e L. 12.153/2009 (Juizados Especiais da Fazenda Pública). Estes últimos devem ser criados pelos Estados
da Federação respectivos, ou pela União, no caso do Distrito Federal. E o intuito de sua previsão foi a de
expressamente estabelecer a possibilidade de que os entes públicos estaduais litigassem em Juizados de natureza
estadual, algo antes vedado na L. 9.099/95.
227
Por primar pela simplicidade procedimental e pela celeridade processual o Juizado não admite intervenção de
terceiros e tampouco a assistência. Indica-o expressamente o art. 10 da Lei 9.099/95.
228
Compete à turma recursal o exame de mandado de segurança, quando utilizado como substitutivo recursal,
contra ato de juiz federal dos juizados especiais federais. Essa a conclusão do Plenário ao desprover recurso
extraordinário em que pleiteado o estabelecimento da competência de Tribunal Regional Federal para processar e
julgar o writ, visto que a referida Corte entendera competir à turma recursal apreciar os autos. [...]Aduziu-se que,
nesse contexto, entre as competências definidas pela Constituição para o reexame das decisões, estariam as das
turmas recursais dos juizados especiais (CF, art. 98, I) e a dos Tribunais Regionais Federais (CF, art. 108, II).
Destacou-se que a Corte já teria afirmado que o texto constitucional não arrolara as turmas recursais entre os
órgãos do Poder Judiciário, os quais estariam discriminados, numerus clausus, no art. 92 da CF. Depreender-se-ia,
assim, que a Constituição não conferira às turmas recursais a natureza de órgãos autárquicos do Judiciário,
tampouco a qualidade de tribunais, como também não lhes outorgara qualquer autonomia com relação aos
Tribunais Regionais Federais. Nesse aspecto, os juízes de 1º grau e as turmas recursais que eles integram seriam
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1014
28. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 10. Ronaldo ingressou com ação de repetição de
indébito relativo a valores recolhidos a título de assinatura básica mensal,
especificamente no que tange ao serviço de telefonia fixa contratado. Julgado
procedente o pedido perante o Juizado Especial, a concessionária ré "Olá S/A" interpôs
recurso à Turma Recursal do Estado, tendo-lhe sido negado seguimento em decisão
tomada pelo juiz relator a quem foram distribuídos os autos, ao argumento de que a
sentença estava em sintonia com a jurisprudência daquele órgão colegiado. Nesse
caso, não é cabível reclamação em face de decisão monocrática de juiz da Turma
Recursal229; não cabe recurso especial; O entendimento adotado pela referida Turma
Recursal, quanto à questão de fundo, contraria jurisprudência pacífica do Superior
Tribunal de Justiça, sem se notar qualquer oscilação entre as Turmas daquela Corte
Superior230.
29. Súmula nº 17, TNU. “Não há renúncia tácita no Juizado Especial Federal, para fins de
competência”.
Humberto Theodoro Jr. Observa que o procedimento especial surge toda vez que se torna
necessário criar alguns atos processuais destinados a acomodar o rito processual à pretensão
da parte, em virtude da especial natureza do direito material que serve de instrumento. O
procedimento especial revela a profunda relação que existe entre o processo e o direito
material. A criação de procedimentos especiais ocorre por meio das seguintes técnicas:
a) Simplificação e agilização de trâmites processuais, por meio da diminuição de prazos e
eliminação de atos desnecessários;
b) Delimitação do tema, na inicial ou na contestação;
instituídos pelos respectivos Tribunais Regionais Federais, estando subordinados a estes administrativa, mas não
jurisdicionalmente. As turmas recursais seriam, portanto, órgãos recursais ordinários de última instância
relativamente às decisões dos juizados especiais, a elas vinculados no que concerne ao reexame de seus julgados.
STF, RE 586789/PR, Plenário, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 16.11.2011.
229
O STJ editou a Resolução 12/2009 para disciplinar o cabimento de reclamação contra acórdão de
Turma Recursal que contrarie a jurisprudência firmada pelo STJ, a fim de que, assim, tenha-se zelo maior
pela uniforme interpretação da lei federal em todo o território nacional. O problema, contudo, é que tal
reclamação é cabível contra acórdão de Turma Recursal, ou seja, contra decisão colegiada, não contra
simples decisão monocrática de um dos juízes integrantes daquele órgão jurisdicional.
230
Súmula 356, STJ: “É legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de telefonia fixa”.
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1015
merecem fiscalização pelos órgãos públicos, pois têm repercussão na coletividade. Essa
fiscalização foi confiada ao Judiciário porque o legislador reputou-os mais bem preparados
para tanto. Porém, apenas o fato dessa administração ter sido afeta aos magistrados não lhe
atribui caráter jurisdicional.
Na jurisdição voluntária, a função do juiz não é decidir um litígio, mas fiscalizar e integrar o
negócio jurídico privado dos envolvidos. Não há propriamente lide, embora possa existir entre
os interessados certa controvérsia. Por isso, também não é apropriado se falar em partes,
expressão que deve ficar reservada aos procedimentos de jurisdição contenciosa, deve-se usar
o termo interessados.
Também não se aplica o princípio dispositivo, mas o inquisitório em que o juiz tem plenos
poderes de investigação, determinando as provas que entender necessárias, ainda que contra
a vontade dos interessados.
Além disso, não vigora o princípio da legalidade estrita, pois nos termos do art. 1.109 CPC. O
juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar critério de
legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou
oportuna.
Na época em este dispositivo foi inserido no CPC (1973) causou controvérsias, pois se tratava
um juízo de equidade na jurisdição voluntária, contrapondo-se à legalidade estrita. Entretanto,
atualmente, este dispositivo nada tem de novidade, pois o juiz não decide com base na
legalidade estrita, mas com base no direito.
Defesa
Não é viável reconvenção e nem necessária a nomeação de curador especial, caso o réu tenha
sido citado por edital ou com hora certa e não tenha respondido.
Coisa julgada
Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se
ocorrerem circunstâncias supervenientes.
Obrigatoriedade
Art. 1.105. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como o
Ministério Público.
A leitura apressada do art. 1.105 do CPC pode levar à conclusão de que o MP deverá
obrigatoriamente intervir em todos os processos de jurisdição voluntária. Entretanto, o
correto é que o MP apenas intervirá nos casos previstos no art. 82 do CPC.
II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição,
casamento, declaração de ausência e disposições de última vontade;
III - nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas em
que há interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.
Também haverá necessidade de ouvir a Fazenda Pública naqueles processos em que ela tiver
interesse.
O art. 1.110 CPC prevê o cabimento de apelação nos processos de jurisdição voluntária.
Argumento base: não há lide na jurisdição A lide não é situação que sempre ocorre na
voluntária. Como não há lide, não há que se jurisdição. O que ocorre é que a jurisdição
falar em jurisdição (pois nesta sempre há sempre atua na situação concreta (na ADI, a
lide). análise de uma lei inconstitucional é a situação
concreta), mas esta não é necessariamente
uma lide.
Existe o procedimento comum de jurisdição voluntária, que é o que está nos arts. 1.103 a
1.112. Entretanto, podem existir procedimentos especiais de jurisdição voluntária, para
determinadas situações como interdição e separação consensual. Assim, na ausência de
previsão de procedimento específico aplica-se o procedimento comum.
- procedimento especial, que regula os atos praticados no curso das ações alinhadas a partir
do art. 890 do CPC. Conceito: ações que têm curso por rito diferenciado, se comparadas às
demandas reguladas pelos procedimentos comum e sumaríssimo, e que de igual modo se
apresenta no gênero com as espécies:
A segunda fase, chamada executória, diz respeito às providências no plano concreto para a
efetivação da manifestação de vontade relativa à primeira fase, podendo ser subdivida em
administrativa (quando o Poder Público e o expropriado acordam quanto à indenização e o
ato da expropriação) e judicial.
Requisitos da Inicial: além dos previstos no art. 282 CPC, acompanhará a inicial a oferta do
preço, a publicação do decreto, bem como a correta descrição do bem. Ao despachar a inicial o
juiz designará perito de sua livre escolha para avaliar os bens a serem desapropriados.
Citação: é feita por mandado na pessoa do proprietário, dispensada a do seu cônjuge; no caso
de sócios basta citar a um deles; na coisa em condomínio cita-se o administrador, salvo
condomínio de apartamentos onde cada unidade é autônoma para fim de desapropriação.
Cabe inclusive citação por hora certa.
A citação por edital terá lugar se o proprietário encontra-se em local incerto e não sabido ou
ainda se ignorado quem seja o dono.
De acordo com Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart (Manual do processo de
conhecimento. 3. ed. São Paulo : RT, 2004, p. 138), não, porque “tais situações [limitativas do
espectro da defesa que o réu pode apresentar] ocorrem em benefício da celeridade do
processo, da simplicidade que se pretende emprestar ao procedimento e, por via reflexa, da
busca de adequada tutela jurisdicional para certos tipos de direitos. Precisamente por conta
disso, e desde que essas restrições não extrapolem os limites da razoabilidade, não se lhes há
de impor a pecha da inconstitucionalidade, já que tais providências são colocadas
precisamente no conflito de princípios fundamentais, com o objetivo de conformar uns com os
outros. Em todos estes casos, porém, o que não se pode admitir é a privação ao requerido de
discutir aquele tema que lhe foi vedado; será, portanto, sempre possível, diante de certas
limitações ao exercício do direito de defesa, que o réu venha a propor alguma demanda
própria, em que, então, veiculará a matéria (ou a arguição) cuja discussão lhe foi negada no
processo”.
Conclusão: à exceção das matérias mencionadas (preço ou vício processual, o controle pelo
Judiciário se dará por via autônoma, que a lei denomina “ação direta”.
O decreto de utilidade pública ou de interesse social, embora, na sua forma, não apresente
defeitos, poderá, quanto à substância, estar nulo. É o caso da inexistência de motivos, onde
não haja, por exemplo, nenhuma calamidade que a desapropriação vai socorrer (art. 5º, "c",
Dec. Lei n.º 3.365/41), ou do desvio de finalidade, abertura de estrada de exclusivo interesse
particular. Em casos tais, o processo não comporta a matéria onde se discute a
desapropriação, podendo o interessado, se assim o entender, socorrer-se das vias ordinárias
para cassar o ato viciado. Caso já tenha ocorrido a incorporação do imóvel à Fazenda Pública,
seja municipal, estadual ou federal, com o registro do mandado de transcrição no cartório de
imóveis competente, só será possível ao expropriado buscar perdas e danos, estando frustadas
quaisquer outras medidas de cunho reivindicatório. Para se precaver contra esse
inconveniente, passou-se a admitir a proposição de medida cautelar, com vistas a sustar o
andamento da desapropriação enquanto não decidido definitivamente o feito onde sua
nulidade é questionada.
Revelia do expropriado: o fato de não haver contestação não leva a aceitação do valor
oferecido pelo Poder Público, uma vez CR/88 exige que a indenização seja justa. Nesse
sentido RESP 35520/SP.
A favor: José dos Santos Carvalho Filho afirma que, se na desapropriação para reforma agrária
é expressa a exigência, não há razão para não se exigir nas demais, “pelas mesmas razões a
mesma regra”. Ademais diz o autor que a propriedade que atende a função social é direito
constitucional e como tal cabe ao Ministério Público velar pela mesma. Ademais, a CR exige,
ainda, que a desapropriação só se considere legítima quando fundada em razões de utilidade
pública ou interesse social. Todos esses elementos qualificam a ação de desapropriação como
tendo interesse público em virtude da natureza da lide, o que provoca a necessidade de
intervenção do MP.
Contra: STJ tem entendimento que só se exige a intervenção na desapropriação para fins de
reforma agrária, alegando a ausência de previsão legal, bem como que a discussão é
meramente patrimonial, não vislumbrando ali nenhum interesse público (REsp 130.420/PR).
Na ementa do REsp 258743 / RJ (DJ 22.03.2004 p. 267) destacou-se ainda que: “Esta Corte
Superior de Justiça pacificou o entendimento segundo o qual, ‘nas ações expropriatórias -
também denominadas ações de desapropriação direta - ajuizadas por Estado-membro com
fulcro no Decreto-lei nº 3.365/41, não é necessária a intervenção do Ministério Público’ (REsp
162.457/ES, Rel. Min. Adhemar Maciel, DJ de 01.02.99)”. Além disso, a opinião dos que
entendem não ser obrigatória a intervenção fundamenta-se no fato de que a causa encerra
apenas discussão sobre a fixação do valor indenizatório, não ensejando o interesse público
que pudesse justificar a presença dos órgãos do MP. Nos termos do artigo 82, III do CPC.
Sentença: na sentença, o juiz fixará o valor do bem e demais parcelas incluídas na indenização,
indicando as razões motivadoras de seu convencimento. Da sentença cabe apelação, com
efeito devolutivo, se interposta pelo expropriado, e com efeitos devolutivo e suspensivo, se
interposta pelo expropriante. Há duplo grau obrigatório quando a sentença condenar a
Fazenda Pública em quantia superior ao dobro da oferecida (art. 28, § 1o, do DL n. 3.365/41).
Imissão Provisória – é cabível quando o poder público alegue urgência (no decreto ou em ato
posterior) depositando o valor arbitrado nos termos do artigo 826 CPC (“Art. 826. A caução
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1023
pode ser real ou fidejussória”), bem assim observado o artigo 15, § 1o, do DL 3365/41, que
estabelece parâmetros para o valor.
Quando a este artigo há uma discussão entendendo o STF que o mesmo se encontra
integralmente em vigor e o STJ que apenas o caput por força da necessidade de ser justa e
prévia a indenização (vide nota 33 no resumo de Direito Administrativo, item 6 “c”). De todo
modo, cabe destacar a Súmula 652, do STF: “Não contraria a Constituição o art. 15, § 1º, do
Decreto-lei 3365/1941 (lei da desapropriação por utilidade pública)”.
Havendo imissão provisória na posse terão cabimento juros compensatórios por esta utilização
antecipada do bem, independentemente de se tratar ou não de bem produtivo. Seu cálculo é
feito sobre a diferença entre o valor oferecido pelo poder público e o valor real fixado. Nesse
sentido, Súmula 164 do STF: : “no processo de desapropriação, são devidos juros
compensatórios desde a antecipada imissão de posse, ordenada pelo juiz, por motivo de
urgência”. A Súmula 69 do STJ segue o mesmo entendimento: “Na desapropriação direta, os
juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação
indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel”.
Feito o depósito provisório, o expropriado poderá levantar até 80% do seu montante, ainda
que discorde do preço ofertado ou arbitrado, atendidas as exigências do art. 34 da mesmo
Dec. -lei 3365-41 (prova de propriedade , de quitação de dívidas fiscais que recaiam sobre o
bem expropriado, e publicação de editais). Prazo para impugnar o preço (5 dias). Se concordar
com o preço pode levantar a integralidade. A alegação de urgência poderá ser feita no ato
expropriatório ou após, mas a imissão deve ser requerida dentro de 120 dias da alegação sob
pena de caducidade, com impossibilidade de renovação ( 15, § 2º). Não pode renovar nem
interromper. Excedido o prazo não se concede imissão provisória.
Impugnado o valor, o juiz fixará valor provisório. Se for maior que o dobro do oferecido o
expropriante deve complementar o depósito até atingir a metade do valor provisório. O
expropriado poderá levantar 50% do valor provisório. Se for menor ou igual ao dobro, o
expropriado poderá levantar 80% do valor oferecido ou metade do arbitrado.
a) como regra, juros compensatórios de 12% ao ano, incidentes sobre o valor total da
indenização, a partir da imissão provisória na posse (Súmulas 164 e 618 do STF e 69 e
113 do STJ), independentemente de o imóvel produzir renda. Apenas no período de
11.06.97 (MP) a 14.09.01 (ADIn) os juros serão de 6%.
b) juros moratórios de até 6% ao ano, incidentes sobre o valor total da indenização, a
partir de 1o de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser
feito, nos termos do art. 100 da CR/88 (artigo 15-B, Medida Provisória nº 2.183-
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56/01). A nova redação, a qual reduziu os juros de mora de 12% a 6%, está em vigor.
O início da fluência também está de acordo com o entendimento do STF sobre os
juros de mora, o qual os afasta no período regular de pagamento do precatório. No
entanto, como destaca a nota 42 do resumo de Administrativo (6 “c”), há
precedentes do STJ (posição minoritária, AgRg 844347, j. 22.03.07) aplicando ainda a
antiga súmula n.70 (“os juros moratórios, na desapropriação direta ou indireta,
contam-se desde o trânsito em julgado da sentença”), a fim de computar o marco
inicial após o trânsito em julgado.Nesse aspecto, a posição que tem prevalecido é
pela aplicação da MP inclusive às ações em curso. No entanto, alguns entendem que,
partindo da sucessão das leis no tempo: em caso de não pagamento da indenização
até 06.11.97, percentual de 6% ao ano fixo ( art.1062 do CC. De 1916 e súmula 70 do
STJ) e o termo “a quo” é a partir do trânsito em julgado. De outro lado, nos termos
da MP 2.183/01, para atrasos posteriores a 11/06/97, percentual até 6% (art. 15-B) e
termo “a quo” é a partir de 01 de janeiro do exercício seguinte em que o pagamento
deveria ser feito.
c) Entende-se que os juros compensatórios e moratórios são cumuláveis (Súmulas 12 e
102 do STJ), a despeito do artigo 15-A vedar “o cálculo de juros compostos”. Isso
porque esses juros se destinam a indenizações diferentes: os compensatórios
cobrem os lucros cessantes prela ocupação do bem, ao passo que os moratórios
destinam-se a cobrir a renda do dinheiro não pago no tempo devido. Conforme
Súmula 102 do STJ: "A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, nas
ações expropriatórias, não constitui anatocismo vedado em lei". No mesmo sentido
José dos Santos Carvalho Filho entende que a cumulação de juros compensatórios e
moratórios não configura juros compostos, permanecendo aplicáveis as Súmulas 12 e
102 do STJ.
Observações:
- STJ: AGA 417930 / MA - Ocorrida a imissão na posse de área desapropriada antes da vigência
da Medida Provisória n. 1.577/97, incidem juros compensatórios no percentual de 12% ao ano.
Nos casos em que a imissão na posse se deu antes da vigência da Medida Provisória n.
1.577/97, a base de cálculo para a incidência dos juros compensatórios é o valor total da
indenização, e não a diferença entre o valor ofertado e o valor total da indenização.
- RESP 606.562 / SE – O STF decidiu suspender a expressão "de até seis por cento" constante
do artigo 1º da Medida Provisória n. 1.577/97. Resta, portanto, prejudicada a aplicação dessa
norma, razão pela qual merece ser mantido o entendimento já pacificado pelo Supremo
Tribunal Federal, no sentido de que "na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos juros
compensatórios é de 12% (doze por cento) ao ano" (Súmula n. 618/STF). Por outro lado, "é
irrelevante o fato de o imóvel ser ou não produtivo para a fixação dos juros compensatórios
na desapropriação, vez que estes são devidos tendo em vista a perda antecipada da posse que
implica na diminuição da garantia da prévia indenização constitucionalmente assegurada".
- homologação judicial.
Honorários advocatícios: entre 0,5 e 5% sobre a diferença entre o valor oferecido e o fixado na
sentença como devido, corrigido. Na ADIN 23322 foi suspensa a expressão “não podendo
ultrapassar R$ 151.000,00”, sob o argumento de poder prejudicar a justa indenização da
propriedade. Incluem-se no cálculo as parcelas dos juros moratórios e compensatórios. A base
de cálculo é a diferença entre o valor oferecido e aquele apurado como justo (STF 617).
Apenas a União pode desapropriar para fins de reforma agrária (art. 2o.), havendo aqui a
peculiaridade de que o pagamento não precisa ser em dinheiro, mas por meio de títulos da
dívida agrária.
Entende-se que para a vistoria deve haver uma prévia notificação, sob pena de afronta aos
princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.
Pequena e média propriedade rural: insuscetível de desapropriação para reforma agrária (art.
185 CR). Há que se considerar ainda a questão da divisão do imóvel para fins de excluí-lo da
reforma agrária:
Petição Inicial: além dos requisitos do art. 282 CPC, deve observar o artigo 5o da LC 76/93:
“Art. 5º A petição inicial, além dos requisitos previstos no Código de Processo Civil,
conterá a oferta do preço e será instruída com os seguintes documentos:
Nos termos do artigo 6º, ao despachar a inicial, o juiz ordena a imissão provisória do autor na
posse,determina a citação do expropriando para contestar o pedido e indicar assistente
técnico, se quiser; e expede mandado ordenando a averbação do ajuizamento da ação no
registro do imóvel expropriando, para conhecimento de terceiros.
Imissão provisória: não havendo conflito ou dúvida sobre o titular do imóvel pode o mesmo
levantar 80% do valor depositado pelo poder público.
Audiência de conciliação: o rito prevê com o objetivo de fixar a justa indenização devendo
comparecer autor, réu e o Ministério Público. Havendo acordo, esse é homologado e uma vez
integralizado o valor é feita a transcrição no RGI da alteração de propriedade do bem.
O juiz pode nomear perito para aferir a vistoria administrativa naquilo em que foi impugnada.
De se atentar ainda ao artigo. 4º da LC 76/03, que prevê a possibilidade de, intentada a
desapropriação parcial, o proprietário requerer, na contestação, a desapropriação de todo o
imóvel, quando a área remanescente ficar: “I - reduzida a superfície inferior à da pequena
propriedade rural; ou II - prejudicada substancialmente em suas condições de exploração
econômica, caso seja o seu valor inferior ao da parte desapropriada”.
Intervenção do MPF – é obrigatória sob pena de nulidade, após a manifestação das partes,
antes de cada decisão manifestada no processo, em qualquer instância. (Art. 18 p. 2o.)
28.2.1. Conceito
Aquele que possui prova documental de um crédito, desprovida de eficácia executiva (judicial
ou extrajudicial), pode ingressar com a demanda monitória e, se verificada a ausência de
manifestação defensiva por parte do réu – embargos ao mandado monitório -, obterá seu
título executivo em menor lapso temporal do que o exigido pelo processo/fase procedimental
de conhecimento.
Assim, não existe título, mas existe uma prova literal e suficiente para convencer o juiz da
probabilidade do direito.
A vantagem da ação monitória é que, se o réu não opuser resistência, chega-se mais
rapidamente à formação do título executivo.
Não há uniformidade quanto à sua natureza jurídica, sendo que parte da doutrina defende
tratar-se de um processo diferenciado (do cautelar, executivo e de conhecimento).
28.2.3. Admissibilidade
Ela está condicionada à existência de uma prova escrita sem eficácia de título executivo e
limitada às obrigações de pagamento em soma de dinheiro, entrega de coisa fungível ou de
determinado bem móvel.
Por se exigir prova escrita, não serve para embasar a monitória fotografia, filmagem etc.
Entretanto, aceita-se qualquer prova documentada, como provas periciais escritas etc.
Parte da doutrina não admite, também, que a prova tenha sido produzida unilateralmente
pelo autor, exigindo-se alguma participação do réu na sua formação. Também é necessário
que a prova literal indique o quantum debeatur nas obrigações de pagar.
As obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa imóvel não podem ser objeto de demanda
monitória, pois ESTA É LIMITADA ÀS OBRIGAÇÕES DE PAGAR E ENTREGAR COISAS MÓVEIS.
A doutrina é dividida, parte entendendo que não e que sim. O que importa é que ela é cabível,
já que somente formará a monitória o título hábil a ensejar a execução contra a FP.
- as especialidades da execução contra a Fazenda Pública (art. 730 do CPC) impedem a adoção
da monitória;
- a necessidade de reexame necessário, que não seria observado com a ausência de embargos
ao mandado minoritário e a conseqüente constituição imediata de título executivo;
- não sendo gerado o efeito da revelia da presunção da veracidade dos fatos alegados pelo
autor em caso de omissão defensiva da Fazenda Pública, com maior razão não se pode
concordar que a revelia no procedimento monitório que gere automaticamente a formação de
título executivo judicial contra ela.
NÃO É CABÍVEL AÇÃO MONITÓRIA CONTRA INCAPAZ, havendo carência de ação por falta de
interesse de agir (e não em função da ilegitimidade da parte, pois o incapaz pode realmente
ser o devedor, mas não pode ser cobrado).
Expedido o mandado monitório, o réu será citado para integrar o processo e para, querendo,
interpor embargos ao mandado monitório no prazo de 15 dias.
a) Pagar ou entregar a coisa: nesse caso, o réu ficara isento de pagamento de custas
processuais e honorários advocatícios, se feito dentro do prazo legal. Trata-se de uma
sanção premial que o legislador a ele oferece;
b) Não reagir: não há se falar em revelia na monitória, já que não há resposta (os
embargos são uma ação). Se o réu for omisso ou intempestivo na apresentação dos
embargos monitórios, HAVERÁ A CONVERSÃO DE PLENO DIREITO DO MANDADO
MONITÓRIO EM TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL;
Mesmo quando o autor não obtém o que pretende, a satisfação de seu direito, caso o réu não
cumpra sua obrigação no prazo legal, haverá a conversão do mandado inicial em título
executivo.
O fenômeno da coisa julgada material está presente no processo monitório. Não está
relacionado ao direito afirmado pelo autor, mas ao mérito do próprio processo monitório,
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1031
consistente na pretensão do autor de ver satisfeito seu crédito ou, subsidiariamente, obter
título executivo judicial.
Entretanto, para o STJ, com a apresentação dos embargos o mandado monitório inicial perde
a eficácia, somente sendo constituído o título judicial se condenado o embargante ou se não
apresentados embargos.
Assim, o STJ entende que os embargos são uma contestação, já que se admite reconvenção a
ser proposta pelo réu da demanda monitória.
Os embargos à monitória são decididos por sentença recorrível por apelação, a qual será
recebida no duplo efeito. A sentença deve obrigatoriamente ser líquida, para que possa ser
realizada a execução.
Súmula 282, STJ: “Cabe a citação por edital em ação monitória”. No caso de revelia, deverá ser
nomeado curador especial para opor embargos.
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1033
A consignação em pagamento deverá ser pleiteada no lugar onde deve ser cumprida a
obrigação231 (que será o foro do domicílio do devedor se quesível a obrigação, ou do domicílio
do credor, se portável). Havendo foro de eleição, este deverá ser respeitado. A petição inicial,
além dos requisitos dos arts. 39, I, e 282, CPC, deverá conter o requerimento do depósito da
quantia ou da coisa devida. Este requerimento só será dispensado no caso em que se tenha
previamente realizado o depósito extrajudicial, quando deve a inicial vir acompanhada da
prova do depósito e da recusa do credor.
Estando em termos a petição inicial, o juiz determinará o depósito, o qual deverá ser feito no
prazo de 5 dias, a contar da intimação do demandante do provimento judicial. Não sendo
efetuado o depósito no prazo, deve-se extinguir o processo, sem resolução do mérito.
Após o depósito, será intimado o réu, que poderá: oferecer resposta no prazo de 15 dias,
permanecer revel ou requerer o levantamento do depósito (ou exercer o direito de opção,
caso de trate de obrigação de dar coisa indeterminada com opção do credor). Todas as formas
de resposta são admitidas: contestação, reconvenção e exceções. Entretanto, não se admite
reconvenção pretendendo a condenação do demandante a pagar eventual diferença quando o
demandado contestar alegando insuficiência de depósito, pois, como o procedimento especial
sub examine tem, nesse ponto, natureza dúplice, dito pedido deve ser feito na própria
contestação.
231
Regra especial que afasta a incidência da regra geral de competência do foro do domicílio do
devedor.
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1034
A contestação apenas poderá versar sobre as matérias elencadas no art. 896, CPC: I - não
houve recusa ou mora em receber a quantia ou coisa devida; II - foi justa a recusa; III - o
depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; IV - o depósito não é integral. No
caso do inciso IV, a alegação apenas será admissível se o réu indicar o montante que entende
devido.
Alegando o credor a insuficiência do valor depositado não haverá controvérsias quanto a ser
devido o valor já depositado. Toda a controvérsia cingir-se-á a se tal valor é integral ou se
insuficiente. Assim, faculta a lei ao credor o levantamento do depósito, persistindo a demanda
quando a existência de eventual diferença.
Legitimado passivo para a demanda é aquele que o demandante indica como sendo o credor
da obrigação cuja prestação se quer consignar. No caso de consignação fundada em dúvida
quanto a quem seja o credor, haverá litisconsórcio passivo necessário.
Com relação às prestações periódicas, uma vez consignada a primeira, pode (faculdade) o
devedor continuar a consignar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem
vencendo, desde que os depósitos sejam efetuados até 5 (cinco) dias, contados da data do
vencimento (art. 892, CPC). Não efetuados no prazo, não mais poderão sê-lo, ao menos não no
mesmo processo, sem prejuízo dos já efetuados no momento oportuno. Em sendo decorrência
de autorização legal, não é necessário que conste expressamente do pedido a autorização para
o depósito das prestações periódicas.
232
No tocante à distinção entre terceiro interessado e terceiro não interessado, define-se o primeiro
como a pessoa que, mesmo não sendo parte, vincula-se à obrigação e pode ter o seu patrimônio
atingido caso a dívida, pela qual também se obrigou, não seja paga pelo devedor principal. É o caso, por
exemplo, do fiador e do avalista. Já o terceiro não interessado, ao reverso, é aquele que não se vincula à
obrigação, possuindo interesse apenas metajurídico. É a figura a que se refere o art. 305 do CC/2002,
que assim dispõe: “Art. 305. O terceiro não interessado que paga a dívida em seu próprio nome tem
direito a reembolsar o que pagar, mas não s sub-roga nos direitos do credor”.
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1035
Discute-se até que momento poderiam ser realizados os depósitos das prestações periódicas.
Parte da doutrina (Figueiredo Teixeira, Fidélis dos Santos), com o respaldo da jurisprudência
dominante no STJ, entende que os mesmos podem ser realizados até o trânsito em julgado da
sentença. A doutrina dominante (Freitas Câmara, Greco Filho, Marcato, Baptista da Silva),
contudo, entende que os depósitos das prestações periódicas apenas podem ocorrer até a
prolação da sentença. Isso porque a sentença tem natureza meramente declaratória da
eficácia liberatória do depósito, e não se poderia permitir declaração com eficácia para o
futuro. Ademais, quem iria conferir a regularidade dos depósitos posteriores à sentença?
Porém, deve-se ter em mente que o procedimento analisado tem natureza dúplice, e sendo
feito pelo réu, pedido contraposto, pode ocorrer a modificação da natureza da sentença, que
será objetivamente complexa se a pretensão do réu for acolhida. No primeiro capítulo será
meramente declaratória (da liberação parcial); no segundo capítulo, tratar-se-á de sentença
condenatória, servindo como título executivo judicial.
Assim, proposta a ação tendo por objeto a consignação em caso com o tal e citados todos
aqueles que se dizem credores, permanecendo todos revéis, determina o art. 898, CPC, que o
depósito se converta em arrecadação de bens de ausentes. Será, portanto, declarada extinta a
obrigação e nomeado curador, a quem se confiará a coisa ou quantia depositada, e que
permanecerá dela cuidando indefinidamente, até que apareça algum interessado para
reclamá-la.
Acaso um dos réus compareça, o juiz decidirá a lide de plano (pela improcedência ou
procedência do pedido). Pode acontecer de se descobrir que o único réu que compareça não
seja o credor. Assim, afirma-se que seria o caso dar a mesma solução de todos os réus terem
permanecido revéis. Comparecendo dois ou mais réus, e se nenhum deles alegar a
insuficiência do depósito, inexistência de dúvida razoável ou qualquer outra questão que
levasse o juiz a reconhecer a extinção da obrigação, será declarada extinta esta e prosseguirá o
processo entre eles para que se decida quem é o titular do crédito.
Entende-se por enfiteuse (aforamento ou emprazamento) o direito real de posse, uso e gozo
de imóvel alheio, inalienável e transmissível por herança, conferido perpetuamente ao
enfiteuta, obrigado a pagar uma pensão anual invariável (foro) ao senhorio direto (Clóvis
Beviláqua). Nos termos do CC/02, não é mais possível a constituição de novas enfiteuses, mas
permanecem em vigor as existentes antes da entrada em vigor do novo CC, e regidas pelos
dispositivos pertinentes do CC/16.
O resgate da enfiteuse é regulado pelo art. 693, CC/16, de cujos termos se afere que o
enfiteuta tem direito potestativo ao resgate, tornando-se proprietário do bem. Pretendendo o
enfiteuta resgatar a enfiteuse, deverá dirigir-se ao nu-proprietário para lhe oferecer o valor
correspondente a um laudêmio e dez foros (preço do resgate, conforme art. 693, CC/16).
Recusado o recebimento, ou ocorrendo uma das outras hipóteses que autoriza a extinção da
obrigação através de pagamento por consignação, poderá o enfiteuta utilizar-se do
procedimento da consignação em pagamento.
A sentença que julgue procedente o pedido, declarando extinta a enfiteuse pelo depósito do
valor necessário para o seu resgate, servirá como título de remição do aforamento, hábil a
permitir o seu cancelamento junto ao Ofício do Registro de Imóveis.
Para esse caso, salvo se houver foro de eleição, será competente o foro da situação do imóvel
(art. 58, II, Lei de Locações). É critério relativo de fixação de competência.
Também é cabível o depósito dos aluguéis e acessórios vencidos no curso do processo, desde
que efetuados até o vencimento, sob pena de ocorrer a mora intercorrente (art. 67, III). Serão
cabíveis os depósitos das parcelas a vencer, no mesmo processo, até a prolação da sentença.
Estando em termos a petição inicial, o juiz determinará ao demandante que efetue o depósito
no prazo de 24h, sob pena de extinção do feito sem resolução do mérito. Realizado
tempestivamente o depósito, será citado o demandado.
28.4.1. Introdução
As ações possessórias são conhecidas como interditos possessórios. A denominação remonta
ao Direito Romano, onde a posse era protegida através dos interdicta. As possessórias
caracterizam-se por pedirem a posse com fundamento no fato jurídico posse. O que determina
o caráter possessório de uma ação não é só o pedido, como à primeira vista poderia parecer,
mas sim a causa de pedir, os fundamentos do pedido do autor. São ações onde é reclamada a
posse somente com fundamento em seu exercício, ou seja, a posse com base nela mesma.
A ação é considerada possessória, pois, visa a tutelar o direito de posse (jus possessionis),
posse com fundamento tão somente no seu exercício, com fulcro na própria posse anterior ou
atual que foi turbada ou esbulhada, ou está ameaçada de o ser.
Não são possessórias aquelas demandas que têm por objeto a posse se a causa de pedir disser
respeito ao direito à posse (jus possidendi), o direito que alguém tem à posse em decorrência
de domínio ou alguma outra relação jurídica de vantagem.
233
Observe-se que apenas é lícita a defesa da posse por desforço próprio se esse for imediato (art.
1.210, § 1º, CC/02).
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1038
invasor teria, no caso, a sua posse esbulhada, já que o proprietário, usando de força própria,
praticaria ato ilícito (teria que recorrer ao Poder Judiciário para retirá-lo do seu imóvel,
mediante demanda de natureza possessória, já que sua posse houvera sido esbulhada pelo
invasor).
Já o processo proposto por aquele que tem direito à posse por ter adquirido um imóvel contra
quem o ocupa indevidamente (imissão de posse) não é possessório, eis que não se funda na
própria posse, mas no direito de propriedade. Por isso, é imprescindível identificar qual a
relação jurídica que o sujeito mantém com a coisa.
Não basta, assim, que a causa de pedir envolva direitos possessórios; a ação de nunciação de
obra nova e os embargos de terceiro não se encaixam no rol das ações possessórias. O que
conduz à ação de reintegração de posse é o esbulho; no caso de manutenção, deve haver a
turbação; e, no interdito proibitório, deve existir grave ameaça de esbulho à posse.
São consideradas ações possessórias (interditos possessórios) aquelas elencadas no CPC com
essa qualificação, a saber: manutenção e reintegração de posse e interdito proibitório (art. 926
a 932 do CPC).
i. Imissão de posse (art. 621, CPC). Antes era ação própria. Hoje segue o rito ordinário. A
execução segue pelo art. 621, albergando o mesmo, também, o possuidor de título
judicial ou extrajudicial que confira ao titular direito (possuidor indireto) de entrega da
coisa. Ocorre para quem nunca teve posse, mas só o domínio. Não se confunde com as
possessórias típicas, porque tem fundamento no domínio, razão pela qual não se lhe
aplica o princípio da fungibilidade (é ação petitória).
ii. Nunciação de obra nova (art. 934, CPC): consiste no pedido de impedimento por parte
do proprietário ou possuidor de obra nova (que está sendo feita) em imóvel vizinho;
por parte do condômino, em relação a obra que está sendo feita por co-proprietário;
pelo Município em relação a obra que está sendo feita em confronto com norma
municipal vigente. Obra é toda e qualquer alteração física da coisa.
É requisito essencial da ação de nunciação de obra nova que a obra seja nova, que não
se encontre em fase de acabamento e que os prédios sejam vizinhos. Os artigos 572 e
573 do Código Civil são fundamentos materiais que possibilitam o embargo de obra de
outro.
Cumpre observar a diferença entre ação de dano infecto e ação de nunciação de obra
nova. Com efeito, A ação de dano infecto pode ser exercida quando o prédio do
vizinho ameaça ruir. Vizinho é todo aquele que mora suficientemente perto, para que
a obra feita em um dos imóveis repercuta no outro. Ação de nunciação de obra nova é
remédio processual que visa solucionar conflitos no confronto do direito de construir
com o direito de vizinhança.
O art. 934, inc. II, do CPC dispõe que cabe nunciação de obra nova ao condômino, para
impedir a alteração da coisa comum. A alteração de substância exige o consentimento
de todos os condôminos.
Conforme art. 934, inc.III, do CPC, compete ao Município a ação de nunciação de obra
nova para evitar o desrespeito às leis, aos regulamentos e às posturas municipais.
iii. Embargos de retenção: – por ter força executiva, não necessitando de fase de
execução, nos moldes do CPC, é predominante o entendimento de que não cabe
embargos do executado em ação possessória, mas os tribunais já acolheram os
embargos de retenção por benfeitorias em possessória. Os embargos de retenção só
são cabíveis, entretanto, nos casos em que não houve discussão anterior sobre o jus
retentionis. Abrangem tanto as benfeitorias, como as acessões.
CONCLUSÃO 81 CJF: ART. 1219: O direito de retenção previsto art. 1219 do CC, decorrente da
realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e
plantações) nas mesmas circunstâncias.
iv. Embargos de terceiro senhor e possuidor (art. 1046, CPC): a legislação confere a quem,
não sendo parte do feito judicial, sobre turbação ou esbulho em sua posse por efeito
de penhora, depósito, arresto, sequestro, venda judicial, arrecadação, partilha ou
outra apreensão judicial, a fim de que sejam defendidos os bens possuídos. Basta a
condição de possuidor, mas pode ser invocado tanto o domínio quanto a posse. O STF
admite embargos de terceiro em ação possessória, mesmo depois do trânsito em
julgado da sentença do processo de conhecimento. O quinquídeo para a oposição
conta-se do ato que exaure a execução (CPC, art. 1046). Isto porque quem não foi
parte no processo,mas veio a sofrer turbação ou esbulho na posse da coisa, por
apreensão judicial, está legitimado a opor tais embargos para fazer cessar a
perturbação.
Sobre o interdito proibitório e seu conteúdo cominatório, assim dispõe o art. 932 do CPC: “O
possuidor direto ou indireto, que tenha justo receito de ser molestado na posse, poderá
impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado
proibitório, em que se comine ao réu determinada pena pecuniária, caso transgrida o
preceito”.
Súmula 415, STF: “Servidão de trânsito não titulada, mas tornada permanente, sobretudo pela
natureza das obras realizadas, considera-se aparente, conferindo direito à proteção
possessória”.
Competente para a propositura da ação possessória, seja qual for o procedimento adotado, é
o foro da situação da coisa (forum rei sitae – art. 95 do CPC). Trata-se de competência
absoluta, não podendo ser derrogada ou modificada. Serão propostas, as ações possessórias,
no foro onde o imóvel violado estiver localizado ou, em se tratando de bem móvel, no foro do
domicílio do réu.
O detentor não tem a faculdade de propor ação possessória, por não ter a posse. Nas
possessórias, excetua-se a regra geral de que o cônjuge necessitará de consentimento do
outro para propor a ação – não há a necessidade da participação de ambos, exceto nos casos
de composse e de ato por ambos praticado (art. 10, § 2.º, do CPC).
CONCLUSÃO 80 Estudos sobre o NCC realizado pelo CJF: Art. 1212: é inadmissível o
direcionamento de demanda possessória ou ressarcitória contra terceiro possuidor de boa-fé,
por ser parte passiva ilegítima, diante do disposto no art. 1212 do NCC. Contra terceiro de boa-
fé cabe tão- somente a propositura de demanda de natureza real.
Quando a turbação ou o esbulho for causado por menor púbere, será possível ajuizar ação
contra ele; porém, o menor deverá estar assistido por seus pais ou responsáveis. No caso de
menor impúbere, a ação deverá ser ajuizada em face do responsável pelo incapaz. A pessoa
jurídica, de direito privado ou público, poderá ocupar o polo passivo das ações possessórias,
pois a ninguém é dado o direito de desapossar outrem sem o devido processo legal. Pode,
ainda, figurar no polo passivo de ação possessória aquele que também seja possuidor da
coisa. Então, se o locador esbulha a posse do locatário, este promoverá, em face daquele, a
ação de reintegração.
Pode suceder, contudo, que o causador da ofensa à posse seja simples preposto de terceiro.
Como ele se posiciona, em relação à posse ofendida, como mero detentor, legitimado passivo
será o preponente, isto é, aquele que determinou a prática do ato ofensivo. Exemplificando:
poderá o patrão determinar a seu empregado que altere as cercas divisórias de propriedade,
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1042
afetando assim a posse do vizinho. Réu será o patrão, mas, acionado que seja o empregado,
este nomeará à autoria o primeiro, corrigindo, assim, o polo passivo da relação processual (art.
62 do CPC).
Se o autor menciona que houve esbulho de sua posse por uma pessoa, ou pessoas,
determináveis, ainda que não se dê a qualificação e o nome completo, a inicial não deve ser
indeferida, devendo, entretanto, ser preservada a ampla publicidade do processo, em prestígio
ao contraditório.
28.4.4. Pedidos
Podem ser quatro os pedidos feitos pelo autor na inicial:
a) Proteção possessória;
Os pedidos devem ser claros e constar expressamente da exordial, não podendo o juiz
conceder qualquer um deles sem que o autor haja requerido explicitamente.
Dispõe o art. 922 do CPC que “é lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em
sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da
turbação ou do esbulho cometido pelo autor”. Tal dispositivo revela o caráter dúplice das
ações possessória.
Em razão disso, em princípio, não cabe reconvenção em ação possessória. Porém, em tese, se
o réu pretender outra coisa que não a proteção possessória ou a indenização pelos danos
oriundos do esbulho ou turbação (p. ex., cominação de multa ou o desfazimento de
construção), deverá fazê-lo pela via reconvencional.
No entanto, não será permitido ao réu requerer a concessão de liminar na contestação. Isso
porque, no caso de haver sido negada a liminar, a situação que lhe é favorável permanecerá a
mesma; no caso de ser concedida, caberá recurso e o conhecimento da matéria será devolvido
ao tribunal competente.
O princípio da fungibilidade está disposto no art. 920 do Código de Processo Civil, assim
regulamentado: “A propositura de uma ação possessória, em vez de outra, não obstará a que o
juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos requisitos
estejam provados”.
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1043
A fungibilidade aplica-se às possessórias, justificando-se tal fato por ser de difícil identificação
a espécie de agressão à posse e por existir a possibilidade de que a agressão inicial venha a
alterar-se no curso da demanda.
Inexiste, porém, a fungibilidade entre um interdito possessório e um instituto que não o seja.
Por exemplo: não pode o juiz valer-se da fungibilidade para julgar ação possessória como se
fosse petitória e vice-versa.
28.4.5. Procedimento
Deve-se esclarecer, inicialmente, que o procedimento especial previsto nos arts. 923 a 933,
CPC, apenas se aplica às demandas possessórias propostas dentro de ano e dia234,
denominadas de demandas de posse nova. Os processos propostos após esse prazo,
denominados de posse velha, inobstante não perderem o caráter possessório, seguem, nos
termos do art. 924, CPC, o procedimento ordinário.
Dessa forma, caso o esbulho ou turbação tenha ocorrido há mais de ano e dia (posse velha), a
ação possessória (que não perde esse caráter) não seguirá o rito especial, que prevê a
possibilidade de concessão de liminar, com ou sem prévia justificação, mas o rito comum
(ordinário ou sumário), INCLUSIVE COM POSSIBILIDADE DE DEFERIMENTO DE TUTELA
ANTECIPADA, se presentes os requisitos do art. 273 do CPC. Destaque-se apenas que tal
posição (de antecipação de tutela nas ações possessórias de força velha), inobstante
majoritária (Dinamarco, Freitas Câmara, STJ - REsp 201219/ES) não é unânime. Há
doutrinadores que defendem a impossibilidade de antecipação de tutela nesses casos, eis que
se trata de procedimento especial que apenas a previu para os casos de força nova.
Freitas Câmara afirma não haver maiores divergências quanto à possibilidade de antecipação
de tutela nas hipóteses do art. 273, II, CPC (abuso do direito de defesa). Entende, contudo, que
a princípio não é possível a antecipação da tutela com base no art. 273, I, CPC (periculum in
mora), eis que seria insustentável defender a urgência do provimento se o próprio
demandante esperou mais de ano e dia para demanda-lo. Haveria, contudo, situações
excepcionais em que se configuraria o periculum in mora, que seria o caso do mesmo se
234
Segundo Freitas Câmara “dentro de ano e dia” significa até um ano e um dia (não antes de um ano e
um dia). Só seria considerado de força velha o processo proposto a partir de um ano e dois dias,
inclusive.
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1044
manifestar após a turbação ou o esbulho (ex: ocorrida a moléstia à posse, não houve qualquer
ameaça de destruição do bem cuja posse do autor foi turbada/esbulhada. Inobstante, após
ano e dia o causador da lesão à posse passa a praticar atos que ameaçam destruir o bem).
Petição inicial: a petição inicial deve conter os requisitos dos arts. 282 e 283 do CPC. O autor,
na petição inicial, deve qualificar o réu, exceto quando impossibilitado de fazê-lo (por
exemplo, em grandes invasões, quando não é possível identificar todas as pessoas). Deve,
ainda, especificar a existência da posse, a duração desta, a natureza do ato violador e a data
em que esse ato ocorreu e, a continuação ou perda da posse, respectivamente para nos casos
de turbação e esbulho. Não basta que o autor afirme o seu direito possessório; o autor deve
demonstrar o esbulho ou a turbação de sua posse.
Segundo o art. 928 do CPC, “estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá,
sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração; no caso
contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para
comparecer à audiência que for designada”.
O juiz pode conceder, ou não, a liminar possessória, que constitui uma antecipação de tutela
com requisitos próprios: entre eles encontra-se a violação do direito possessório a menos de
ano e dia (e não o periculum in mora). A liminar, na ação possessória, limita-se à proteção
possessória, não atingindo, por exemplo, a execução por perdas e danos. Pode ocorrer uma
antecipação de tutela da execução por perdas e danos; entretanto, deve-se seguir as regras do
art. 273 do CPC.
Dispõe o § único do art. 928 do CPC que “contra as pessoas jurídicas de direito público não
será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos
representantes”.
Caução: o art. 925 do CPC estabelece: “Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor
provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no
caso de decair da ação, responder por perdas, o juiz assinar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para
requerer caução sob pena de ser depositada a coisa litigiosa”.
O juiz, portanto, ao conceder a liminar, em princípio não pode exigir do autor que ele preste
uma caução real ou fidejussória. O que o sistema prevê é que o réu, na sua defesa, possa
requerer que o autor preste caução, sob o argumento de que este não teria idoneidade
financeira para arcar com os prejuízos caso não tenha a tutela jurisdicional a seu favor. Nesse
caso, o juiz pode fixar a caução, sob pena de o bem, objeto da ação possessória, ser
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1045
depositado. Essa regra do Código de Processo Civil deve ser interpretada sistematicamente, ou
seja, o réu deve demonstrar o risco pela falta de idoneidade financeira e, ainda, deve colocar
em dúvida a cautelar concedida. Contra decisão que defere ou indefere a liminar cabe agravo
de instrumento, inclusive com possibilidade de requerimento, ao relator, de efeito suspensivo.
Sustenta a doutrina que, concedida a liminar, não pode o juiz revogá-la, exceto em juízo de
retratação, na hipótese de interposição de agravo, ou se houver modificação no estado fático.
O prazo para contestar (15 dias) começa a correr a partir da intimação do réu da decisão que
concede ou denega a medida liminar, mesmo tendo havido audiência de justificação.
As ações possessórias podem ser classificadas como ações executivas lato sensu, pois sua
execução se dá sem solução de continuidade, ou seja, sem que seja necessário pedido do
autor para que tenha início a fase de cumprimento da sentença. Assim, a tutela da posse
ocorre mediante simples expedição de mandado de manutenção ou reintegração.
Disposições gerais: os embargos de terceiro são admitidos, embora haja pequena divergência
jurisprudencial. É entendimento do Professor Humberto Theodoro Júnior1: “Assim, embora
haja pequena divergência jurisprudencial, o certo, porém, é que o melhor entendimento, aliás
dominante nos Tribunais, é, a exemplo da doutrina, no sentido de que ‘podem ser oferecidos
embargos de terceiro na fase de execução de mandado de reintegração de posse'”.
Dessa forma, o possuidor pode receber a proteção possessória inclusive contra o proprietário
que, embora vencido no juízo possessório (já que, por exemplo, havendo adquirido imóvel e
constatando estar o mesmo ocupado por quem não de direito, utiliza de força própria para
retirar da posse o invasor235) pode reclamar a coisa com base em seu domínio, no juízo
petitório236 (ação de reivindicação).
Dispõe o art. 923 do CPC, em sua redação atual, que “na pendência do processo possessório é
defeso, assim ao autor como ao réu, intentar ação de reconhecimento do domínio”. O STF já
se manifestou pela constitucionalidade dessa norma. Portanto, primeiro resolve-se o problema
da posse, para em seguida resolver a questão do domínio.
- quando o exame da prova não tinha sido capaz de dissipar a dúvida no que respeita ao
verdadeiro possuidor.
Havia julgados do STF no sentido admitirem uma das duas hipóteses ou as duas e a Súmula
487 (STF), atualmente revogada pelo art. 1210, § 2º do CC2002239, dispunha: "será deferida a
posse a quem, evidentemente, tiver o domínio; se com base neste ela for disputada".
A Lei 6820/80 suprimiu a segunda parte do artigo 923 do CPC, razão pela qual parte da
jurisprudência se posicionou no sentido da revogação do art. 505, CC/16 e da Súmula 487 STF
e, em consequência, estaria extinta a exceção de domínio em nosso ordenamento. Dito
entendimento foi ratificado pelo art. 1210, § 2º do CC 2002, que não mencionou o referido
instituto. Portanto, enquanto estiver tramitando a ação possessória, nem o autor nem o réu
podem ajuizar, paralelamente, a ação petitória para obter a declaração de seu direito à
235
Nesse caso, o proprietário, embora tenha direito à proteção possessória, pratica ato ilícito, pois não
poderia retirar o ocupante da posse do bem seu por conta própria, mas apenas mediante ordem
judicial.
236
No exemplo o proprietário deveria buscar a posse mediante “ação petitória”, eis que nunca teve
posse anterior. Há situações, todavia, em que a demanda do proprietário contra o possuidor tem
natureza possessória, como no caso de demanda proposta contra alguém que invade imóvel que estava
na posse do proprietário.
237
Não obsta à manutenção, ou reintegração na posse, a alegação de domínio, ou de outro direito sobre
a coisa. Não se deve, entretanto, julgar a posse em favor daquele a quem evidentemente não pertencer
o domínio.
238
Art. 923. Na pendência do processo possessório é defeso assim ao autor como ao réu intentar a ação
de reconhecimento do domínio. Não obsta, porém, à manutenção ou à reintegração na posse a
alegação de domínio ou de outro direito sobre a coisa; caso em que a posse será julgada em favor
daquele a quem evidentemente pertencer o domínio. (Redação original).
239
Nem todos entendem assim. Theodoro Jr. e Freitas Câmara, por exemplo, sustentam que a S 487,
STF, tem aplicação às “ações petitórias”, eis que nas possessórias não se pode discutir a posse com base
no domínio (se esta for a causa de pedir, estar-se-á diante de “ação petitória”).
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1047
posse. Tramita normalmente a ação petitória, contudo, se esta tiver sido ajuizada
anteriormente à possessória (REsp 139.916/DF).
CONCLUSÃO 78 CJF: Art. 1210: Tendo em vista a não recepção, pelo novo Código Civil, da
exceptio proprietatis (art. 1210, § 2º) em caso de ausência de prova suficiente para embasar
decisão liminar ou sentença final ancorada exclusivamente ius possessionis, deverá o pedido
ser indeferido e julgado improcedente, não obstante eventual alegação e demonstração de
direito real sobre o bem litigioso.
CONCLUSÃO 79 CJF: Art. 1210: a exceptio proprietatis, como defesa oponível às ações
possessórias típicas, foi abolida pelo CC 2002, que estabeleceu a absoluta separação entre os
juízos possessório e petitório.
O demandante, para ter legitimidade, não precisa ser o possuidor do imóvel. Basta que já
tenha ele tido a posse e preenchido os requisitos legais para a aquisição da propriedade
através da usucapião. Nada obsta que se reconheça a aquisição da propriedade através da
usucapião em favor de quem, depois de adquirir o domínio, perdeu a posse.
Nelson Luiz Pinto entende que a ação de usucapião promovida por possuidor direto
(ex:locatário) ou por mero detentor deve ser extinta sem julgamento do mérito por
ilegitimidade ativa ad causam. Humberto Theodoro Junior discorda, pois a análise da presença
da posse ad usucapionem é matéria de mérito, e assim deve ser a decisão. Entretanto, se o
Autor invoca como fundamento do pedido uma posse direta ou simples detençào, o que
ocorrerá será a inépcia da petição inicial, por impossibilidade jurídica do pedido, na forma do
art. 295, P.U., II, do CPC.
A falta de citação do confinante não vicia o processo, afetando apenas a ação de delimitação
(há entendimento doutrinário de que há uma “ação de demarcação” embutida na “ação de
usucapião”, para bem delimitar a área do imóvel usucapiendo).
Sendo a citação dos confinantes destinada a delimitar a área do imóvel usucapiendo, será esta
desnecessária quando de tratar de uma unidade autônoma em condomínio em edifício, já
precisamente delimitada.
II –Réus Ausentes (certos) ou Incertos e Desconhecidos -Haverá citação por edital (art. 231, II)
Réus Ausentes – são as pessoas conhecidas, com interesse certo na causa, cujo paradeiro se
ignora, tornando inviável a citação pessoal por mandado;
Réus Incertos e Desconhecidos – são aqueles cuja existência é possível mas não conhecida,
ainda, do autor. Para Navarro e Dinamarco não são verdadeiros réus, mas opoentes, razão
pela qual não deveriam ser citados, mas intimados.
Se um dos dois primeiros for citado por edital e não aparecer, o juiz deve nomear curador
especial, tendo incidência o disposto no art. 9.º, inc. II, do CPC. Não haverá, contudo, a
nomeação de curador especial para os réus incertos citados por edital se por acaso ninguém
responder à citação. Presume-se, nesse caso, que não há interessados no feito, e não que
houve revelia.
Além dos réus certos e incertos, nos casos em que o demandante perdeu a posse, é necessária
a citação do atual possuidor, para que figure como réu, sendo litisconsorte passivo necessário
dos demais demandados.
b) da Fazenda da União, do Estado, do DF, do Município onde se localiza o imóvel (art. 943 do
CPC).
28.5.3. Competência
Conforme o art. 95 do CPC, competente é o foro da situação do bem usucapiendo. Ver ao final
súmulas a respeito da competência da Justiça Federal.
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1049
b) Individuação do Imóvel: deve a petição inicial ser instruída com a planta do imóvel
usucapiendo. Entretanto, caso o imóvel seja registrado no RGI, bastam as descrições
do mencionado registro;
Tem-se exigido, ainda, certidão de ônus reais, para que se possa aferir em nome de
quem está registrado o imóvel, além de certidão negativa da existência de “ações
possessórias” entre as partes, em razão da regra do art. 923, CPC.
28.5.6. Revelia
Os efeitos da revelia devem ser examinados em face do tipo do réu e do tipo de citação:
i. Se o Réu for certo e for citado por mandado ou edital, ocorrerá a revelia se a
ação não for contestada no prazo de 15 dias.
ii. Se o réu, embora certo, seja ausente, após sua citação por edital deverá ser
nomeado curador especial (art.9º , II, do CPC);
iii. Sendo réu incerto e desconhecido, não há revelia pois não chegou a compor a
lide como parte. Também não é exigível a nomeação de curador especial.
O demandante derrotado pode intentar novamente “ação de usucapião”. Isso porque haverá
modificação na causa de pedir, já que nesta nova demanda o autor terá de alegar suporte
fático ao menos parcialmente diverso do apresentado na primeira demanda (ex: prazo mais
longo).
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1050
O registro da sentença no RGI é efeito natural da mesma, não havendo necessidade desse
comando na mesma. Independe até mesmo de pedido expresso do autor na petição inicial.
Com relação às obrigações fiscais (art.945, in fine, do CPC), analisando-se o Sistema Tributário
Nacional, conclui-se que o único tributo devido, em tese, seria o Imposto de Transmissão inter
vivos de bens imóveis (ITBI). Entretanto, o STF entende que não cabe a incidência do ITBI pois
a sentença de usucapião é forma originária de aquisição da propriedade, e o ITBI só incidiria
em casos de aquisição derivada.
Também não pode o réu oferecer reconvenção com o objetivo de ser reconhecida a aquisição
do domínio, eis que implicaria em que fossem trazidos ao processo diversas outras pessoas
que dele não participariam, como o MP, as FP’s, réus incertos, confinantes.
Súmula 263, STF: “O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usucapião”.
Súmula 193, STJ: “O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião”.
Assim, os requisitos dessa medida, são o direito ou a posse do terceiro a justificar a exclusão
dos bens da medida executiva que se processa entre estranhos ao embargante.
Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho
na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de
penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação,
arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer Ihe sejam manutenidos ou
restituídos por meio de embargos.
Art. 1.054. Contra os embargos do credor com garantia real, somente poderá
o embargado alegar que:
Pois bem.
Súmula 195, STJ: “Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico por fraude contra
credores”. Isso porque a fraude contra credores deve ser combatida via ação pauliana. Nos
embargos de terceiros, conforme caput do art. 1.046, a oposição deve ser feita contra ato
judicial. Não é o caso do que ocorre em fraudes contra credores, onde o vício social deverá ser
desconstituído.
Súmula 303, STJ: “Em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar
com os honorários”. Decorrência direta do princípio da causalidade. Se os embargos de
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1053
terceiros forem providos, verificando que a constrição foi indevida, quem deu causa à ela deve
arcar com os honorários do embargante.
Súmula 134, STJ: “Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado
pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação”. Isso porque o cônjuge,
relativamente à sua parte, é um estranho à relação processual. Por isso tem legitimidade para
propor os embargos de terceiros. Ademais, também poderá ingressar com embargos do
executado, para desconstituir a execução sobre o patrimônio do cônjuge. É a chamada dupla
legitimidade.
Os embargos de terceiros não podem ser utilizados como meio de oposição a decisões
proferidas em ação de imissão de posse em que a parte embargante seja ré. O réu é parte no
feito, e não terceiro. Daí não caber a ele se utilizar de embargos de terceiro, mas sim de um
recurso, quando proferida decisão que lhe tenha sido desfavorável.
2. A violação ao art. 535 do CPC não ficou configurada, uma vez que o
Tribunal de origem pronunciou-se de forma clara e suficiente sobre a
questão posta nos autos.
(STJ, REsp 860.044/SC, Rel. MIN. LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 14/06/2011, DJe 01/07/2011)
Quando os embargante for sócio e tiver bem seu indevidamente constrito, ele deve apresentar
embargos de terceiros. Porém, se for sócio-gerente, tem entendido o STJ que deve apresentar
embargos à execução. Nesse sentido:
- prova literal do depósito, que segundo ensina a melhor doutrina não precisa
necessariamente ser o contrato de depósito, bastando que seja uma prova escrita que
demonstra a relação jurídica material de depósito (exigência de início de prova escrita);
- estimativa do valor do bem, caso tal valor não conste do contrato de depósito, exigência que
se presta tanto para a fixação do valor da causa como para possibilitar ao réu a consignação do
valor do bem em dinheiro.
O objetivo primário é, portanto, obrigar o devedor a prestar contas. Havendo saldo residual, a
ação poderá ter por objeto também a condenação do devedor ao referido pagamento, mas
este já e um objetivo secundário.
Ela segue o modelo sincrético. A ação de prestação de contas tem natureza condenatória
(obrigação de fazer – de prestar contas), de modo que, prestadas as contas, condena-se o
devedor ao pagamento do SALDO APURADO (obrigação de pagar). Tal pagamento deverá
ocorrer na forma de execução, não uma execução autônoma, mas sim de uma fase
executiva, a ser instaurada nos próprios autos do procedimento especial, em continuidade a
este.
O fundamento básico utilizado pelo STJ é o de que o correntista tem mais que o direito de
conhecer os lançamentos realizados em sua conta. O correntista tem o direito de entender tais
lançamentos, objetivo que nem sempre se alcança apenas com a mera apresentação os
extratos.
4.- O artigo 26, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor não se aplica às
ações que versam sobre a decadência/prescrição do direito do correntista
de revisar ou questionar os lançamentos efetuados em sua conta-corrente.
Isso porque o dispositivo em comento refere-se à decadência do direito de
reclamar pelos vícios aparentes, ou de fácil constatação, e vícios ocultos, o
que não se amolda à hipótese em tela.
Trata-se de REsp sob o regime do art. 543-C do CPC c/c art. 5º da Resolução
n. 8/2008 do STJ em que a controvérsia cinge-se à verificação da incidência
da regra estabelecida no art. 26, II, do CDC à ação de prestação de contas
ajuizada pelo ora recorrente, cliente da instituição financeira ora recorrida,
com o fim de obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e/ou
encargos, os quais reputa indevidos, em conta-corrente de sua titularidade.
A Seção, ao prosseguir o julgamento, por maioria, proveu o recurso ao
entendimento de que, tendo o consumidor dúvidas quanto à lisura dos
lançamentos efetuados pelo banco, é cabível a ação de prestação de
contas sujeita ao prazo de prescrição regulado pelo CC/2002. Assim, o
prazo decadencial estabelecido no art. 26 do CDC não é aplicável a tal ação
ajuizada com o escopo de obter esclarecimentos acerca da cobrança de
taxas, tarifas e/ou encargos bancários, uma vez que essa não se confunde
com a reclamação por vício do produto ou do serviço prevista no
mencionado dispositivo legal. Precedentes citados: AgRg no REsp
1.021.221-PR, DJe 12/8/2010; AgRg no REsp 1.045.528-PR, DJe 5/9/2008, e
REsp 1.094.270-PR, DJe 19/12/2008. REsp 1.117.614-PR, Rel. Min. Maria
Isabel Gallotti, julgado em 10/8/2011
Súmula 477, STJ: “A decadência do artigo 26 do CDC não é aplicável à prestação de contas para
obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários”. A súmula teve
origem no julgamento do REsp 1.117.614/PR/RS, sob o rito do art. 543-C, CPC. O STJ
esclareceu que se há dúvidas por parte do consumidor acerca dos encargos que lhe são
cobrados, tem ele direito de se valer da ação de prestação de contas, sujeita ao prazo
prescricional previsto no CC/02 (10 anos, art. 205, CC/02). Isso porque não se está a reclamar
sobre vício no produto ou serviço, apto a fazer incidir os prazos decadenciais do CDC. O débito
2. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 47. Sócio cujo patrimônio seja atingido em execução
contra a sociedade poderá proteger seus bens por meio de embargos de terceiro240.
3. TRF2 – XIII – CESPE – QUESTÃO 47. Os embargos de terceiros não podem ser utilizados
como meio de oposição a decisões proferidas em ação de imissão de posse em que a
parte embargante seja ré241.
240
PROCESSUAL CIVIL. ART. 535 DO CPC. ARGÜIÇÃO GENÉRICA. SÚMULA 284/STF.
[...]
3. O sócio-gerente que não foi regularmente citado na execução fiscal detém legitimidade para a propositura de
embargos de terceiro, não sendo válida a penhora que recai sobre bem de sua esfera patrimonial. Precedentes.4.
O pedido de carga dos autos formulado pelo sócio-gerente para providenciar o aviamento de embargos de terceiro
não tem o condão de, por força do art. 214, § 1º, do CPC, retirar-lhe a legitimidade para apresentar esse remédio
processual, o qual se destina a impugnar ato constritivo ocorrido anteriormente ao seu comparecimento
espontâneo aos autos.5. Recurso especial conhecido em parte e não provido.(REsp 1014546/SC, Rel. Ministro
CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/08/2008, DJe 19/08/2008)
241
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. IMISSÃO DE POSSE. CONTESTAÇÃO. MATÉRIA
ARGÜÍVEL. PRINCÍPIOS DA CELERIDADE E EFICIÊNCIA PROCESSUAL. TERCEIRO POSSUIDOR. EMBARGOS DE
TERCEIROS. INADEQUAÇÃO DA VIA.
[...]
4. Em sede de ação desapropriatória, é descabida a utilização da via dos embargos de terceiro pelo possuidor do
bem imóvel, seja em razão da absoluta incompatibilidade da medida com o procedimento expropriatório, cuja
essência pressupõe naturalmente a perda da posse do imóvel expropriado, seja em face da impertinência da
argumentação que, in casu, ampara o pleito da parte, voltada para o não-enquadramento da ação nas hipóteses
que configuram o interesse social.
5. Recurso especial provido.
(REsp 353.382/PB, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/03/2006, DJ
26/05/2006, p. 236)
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1060
5. TRF4 – XII – QUESTÃO 69. Nas ações possessórias, a concessão de medida liminar para
as chamadas “ações de força nova” nada mais representa do que antecipação da
tutela, com o diferencial da dispensa da demonstração do periculum in mora.
10. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 34. Estão à disposição do credor, na ação de
consignação em pagamento, todas as respostas previstas na lei processual, inclusive a
reconvenção.
11. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 33. Se, citado para apresentar resposta em ação de
consignação em pagamento, o credor alegar que não há litígio a respeito da coisa
devida e que o depósito não foi integral, o juiz condutor do feito poderá conhecer do
segundo fundamento, visto que as teses de defesa enumeradas na lei não são
taxativas.
242
A Turma entendeu que, sendo a usucapião forma de aquisição de propriedade pela posse prolongada no tempo,
a sentença proferida no respectivo processo deve guardar a necessária coerência com aquela prolatada na ação
possessória relativa ao mesmo bem imóvel ajuizada posteriormente, sob pena de emissão de decisões judiciais
conflitantes relativa ao fundamento que constitui a mesma causa (remota) de pedir. Consignou-se que deve ser
reconhecida a existência de conexão entre ações mesmo quando verificada a comunhão somente entre a causa de
pedir remota. Assim, deu-se provimento ao recurso para reconhecer a conexão suscitada na hipótese e determinar
a reunião dos feitos no juízo que recebeu a primeira ação, ou seja, a de usucapião. Precedente citado: CC 49.434-SP,
DJ 20/2/2006. REsp 967.815-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 4/8/2011
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1061
13. EMAGIS – 2011/45 – QUESTÃO 19. Nas ações possessórias a participação do cônjuge
do autor ou do réu somente é indispensável nos casos de composse ou de ato por
ambos praticado.
14. EMAGIS – 2011/42 – QUESTÃO 12. A ação monitória compete a quem pretender,
com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma em
dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel.
15. EMAGIS – 2011/42 – QUESTÃO 12. Cabe ação monitória para haver saldo
remanescente oriundo de venda extrajudicial de bem alienado fiduciariamente em
garantia243.
17. GEMAF – 2010/03 – QUESTÃO 12. O STJ pacificou entendimento de que apenas na
desapropriação para reforma agrária a presença do MP é obrigatória e indisponível,
por existir interesse público; tratando-se de desapropriação por utilidade pública sua
intimação é dispensável, pois envolve tão-somente interesses exclusivamente
econômicos.
243
Súmula 384, STJ.
244
A tutela jurídica, segundo Rogério Aguiar Munhoz Soares (Tutela jurisdicional diferenciada:
tutelas de urgência e medidas liminares em geral. São Paulo: Malheiros, 2000, p.119), “inclui, portanto,
o complexo abstrato de normas jurídicas composta pela totalidade do chamado direito objetivo e pela
parcela deste que autoriza o particular, ou quem se coloque diante do ordenamento, a postular
alegações fundadas naquelas normas, bem como prevê os meios de atuação das normas e sanções
previstas, o que se faz por intermédio das tutelas administrativa e jurisdicional”.
245
Leciona Luiz Guilherme Marinoni (Tutela inibitória: individual e coletiva. São Paulo: Revistas
dos Tribunais, 1998, p. 400) que “a ação processual, portanto, ao desembocar em uma tutela
jurisdicional, deve permitir a realização da tutela inerente ao direito material, tutela essa que visa a
garantir a situação de utilidade ínsita na relação sujeito/bem. É possível falar, assim, em tutela
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1062
Nos casos em que tal amparo objetivo não é respeitado por outrem, no caso concreto, surge o
direito à tutela jurisdicional.
Neste ponto, a prestação jurisdicional se diferencia da tutela jurisdicional, pois, enquanto toda
parte processual faz jus à prestação jurisdicional, a tutela jurisdicional é proporcionada apenas
ao litigante cujo direito substantivo foi reconhecido pelo magistrado como merecedor da
proteção do Estado-juiz. Atentar para a nomenclatura adotada por MARINONI que foi exposta
acima.
jurisdicional e tutela material. A tutela jurisdicional é aquela que, no plano do processo, tem o
compromisso de realizar plenamente a tutela que decorre do direito material, ou seja, a própria tutela
material”.
246
Em sentido amplo, o direito de ação abrange todas as formas de postulação em juízo,
inclusive, por exemplo, as exercidas pelo réu na fase contestatória.
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Quanto à tutela inicial e tutela final, é certo que dita classificação diz respeito apenas ao
momento em que assegurada no processo.
A tutela definitiva não satisfativa tem cunho assecuratório. É a chamada tutela cautelar. A
tutela cautelar não visa à satisfação de um direito, e sim a assegurar a sua futura satisfação,
protegendo-o. Ela é essencialmente instrumental e temporária. Instrumental por ser meio de
preservação do direito material e do resultado útil e eficaz da tutela definitiva satisfativa.
Temporária por ter sua eficácia limitada no tempo.
Uma vez proferida, a decisão cautelar não é suscetível de ser modificada ou revogada a
qualquer tempo. Ela fica acobertada, segundo Didier, pela coisa julgada material
(entendimento minoritário).
30.1.2. A Tutela Provisória (Sumária e Precária): Tutela Antecipada. Antecipação dos Efeitos
da Tutela Definitiva
Tutela provisória é aquela que dá eficácia imediata à tutela definitiva, permitindo sua pronta
fruição antes do definitivo julgamento do mérito. Por ser provisória, será necessariamente
substituída por uma tutela definitiva – que a confirme, revogue ou modifique.
Identifica-se por ser fundada em uma cognição sumária, em uma análise superficial do objeto
da causa, que conduz o magistrado a um juízo de probabilidade. É ainda precária, já que pode
ser revogada ou modificada a qualquer tempo. Logo, não se sujeita à coisa julgada material.
A tutela provisória por excelência é a antecipada, que poderá ser tanto satisfativa quanto
cautelar.
A tutela antecipada dá eficácia imediata à tutela definitiva (satisfativa ou não) – por isso, há
antecipada-satisfativa e antecipada-cautelar; a cautelar assegura a futura eficácia da tutela
definitiva satisfativa. Vê-se, pois, que a tutela cautelar é sempre não satisfativa (embora
existam cautelares satisfativas...).
A tutela cautelar tem por fim assegurar a viabilidade da realização de um direito, não podendo
realizá-lo.
Enquanto para a tutela cautelar exige-se simples aparência do direito acautelado, para a tutela
antecipada reclama-se a verossimilhança, fundada em prova inequívoca do direito a ser
satisfeito antecipadamente.
A cautelar não acrescenta ao autor nada de imediato ao ativo jurídico, salvo a segurança. O
provimento antecipatório outorga-lhe o desfrute imediato do bem ou direito.
É equivocado dizer que a tutela antecipada é sempre satisfativa, já que é cabível pedido de
antecipação de tutela em medida cautelar, que é não satisfativa (segundo Didier).
30.1.4. A Fungibilidade entre Tutela Cautelar e Antecipada Satisfativa (art. 273, § 7º, CPC)
O legislador admitiu no dispositivo citado a fungibilidade de pedidos, no sentido de que
nominalmente postulada uma daquelas medidas, ao juiz é lícito conceder a tutela a outro
título. Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar,
poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em
caráter incidental do processo ajuizado.
Para que a cautelar seja deferida quando pedida tutela antecipada, necessário é, além do
fumus boni iuris e do periculum in mora, que haja dúvida fundada e razoável quanto à sua
natureza, ficando excluído o erro grosseiro. Para Didier, esse último requisito não é necessário.
Para Marinoni é.
Didier defende que, requerida tutela antecipada travestida de medida cautelar, deve o
magistrado intimar o autor para que proceda às adaptações necessárias na inicial, antes de
citar o réu, nunca indeferir de imediato a inicial.
Adroaldo Furtado Fabrício traz exemplos de tutela de urgência e de tutela de evidência. Para o
renomado autor,
À luz do direito fundamental à razoável duração do processo, Luiz Guilherme Marinoni afirma
que a antecipação de tutela é uma forma de distribuir o ônus do tempo do processo entre as
partes. Diz o autor:
Já a antecipação dos efeitos da tutela pode ocorrer tanto in limine litis quanto em qualquer
outro momento ulterior do procedimento, até mesmo na sentença.
V.g., na ADIN, ação declaratória, em que se pede, a título de antecipação de seus efeitos, a
suspensão da aplicação da norma que se quer ver declarada inconstitucional.
Ele também defende ser incabível a tutela antecipada na tutela declaratória, já que a própria
concepção de certeza jurídica torna incompatível a existência de uma certeza provisória.
No entanto, ele frisa que nessas tutelas é possível antecipar os efeitos executivos que delas
advêm: cita exemplo da ação declaratória de inexistência de débito, quando o autor requer a
imediata retirada de seu nome do SERASA.
30.2.3.2. Cabimento
A antecipação da tutela genérica, prevista no art. 273, é cabível nos procedimentos comuns
(ordinário, sumário e sumaríssimo), assim como nos procedimentos especiais que sejam
compatíveis com providências dessa natureza.
Juízo de verossimilhança é aquele que permite chegar a uma verdade provável sobre os fatos,
a um “elevado grau de probabilidade da versão apresentado pelo autor”. Ele se refere não só à
matéria de fato, como também à plausibilidade da subsunção dos fatos à norma invocada,
conduzindo aos efeitos pretendidos.
Nem sempre a prova inequívoca conduzirá ao juízo de verossimilhança, pois ela pode ser
robusta, mas não se subsumir ao diploma legal invocado. Do mesmo modo, nem sempre a
verossimilhança decorrerá de prova inequívoca, já que pode se basear em fatos incontroversos
ou notórios.
Entretanto, também poderá ocorrer o perigo da irreversibilidade à parte que pede, caso não
seja concedida a medida, como no caso de alguém que requer, a título de antecipação, uma
cirurgia vital ou medicamentos.
Como nesse caso haverá colidência entre direitos fundamentais – efetividade VS segurança – o
juiz deve decidir com base no princípio da proporcionalidade.
Registre-se que, de qualquer forma, poderá o juiz abrandar os prejuízos da tutela antecipada
exigindo do beneficiário uma caução. Não existe regramento específico para a caução na
tutela antecipada, aplicando-se o art. 804 à hipótese (referente às cautelares). A caução
funcionará como uma contracautela para garantir o ressarcimento dos eventuais danos a
serem suportados pela parte contrária, na hipótese de revogação da antecipação.
Dano irreparável é aquele cujos efeitos são irreversíveis, enquanto dano de difícil reparação é
aquele que provavelmente não será revertido, seja por sua própria natureza ou pelas
condições financeiras da parte beneficiada pela antecipação.
Porém, o receio que justifica a tutela antecipada nem sempre se refere a um dano. O temor
pode dizer respeito a um ato contrário ao direito. Dependerá, pois, do tipo de tutela definitiva
que se quer antecipar: inibitória, reintegratória ou ressarcitória.
Tutela inibitória é aquela que tem por fim evitar a ocorrência de um ato contrário ao direito
ou impedir sua confirmação.
Apesar do art. 273, II, se referir apenas ao réu, o comportamento temerário que autoriza a
concessão da tutela antecipada pode ser de qualquer das partes.
O ato, mesmo abusivo, que não impede nem retarda os atos processuais subsequentes, não
legitima a medida antecipatória. O QUE JUSTIFICA A TUTELA ANTECIPADA É A EFETIVA
PRÁTICA DE ATOS OU OMISSÕES DESTINADOS A RETARDAR O PROCESSO.
Na prática, são raras as hipóteses de tutela antecipada punitiva, já que o juiz possui outros
instrumentos eficazes para combater a deslealdade processual ou reprimir comportamentos
ardilosos (arts. 14, 15, 16, 18, 125, 130, 600, 601 do CPC, entre outros).
No que tange ao litisconsórcio passivo, caso ele seja simples, poderá ser concedida a tutela
antecipada sancionatória ao litisconsorte autor do ato guerreado; no unitário, não poderá, já
que se estaria prejudicando, também, o litisconsorte de boa fé.
30.2.3.6. Legitimidade
Assim, autor, réu, terceiros intervenientes podem requerer tutela antecipada, pois todos têm
o direito à tutela jurisdicional e, uma vez preenchidos os pressupostos do art. 273, também à
antecipação dos seus efeitos.
Didier defende que até mesmo na contestação de ação não dúplice pode o réu, preenchidos os
requisitos legais, requerer a tutela antecipada declaratória negativa (improcedência do pedido
do autor), em homenagem ao princípio da isonomia.
Essa hipótese não encontra previsão no ordenamento jurídico. Porém, de certa forma, o
julgamento antecipado da lide nas hipóteses de improcedência prima facie incorpora essa
ideia.
Pode ser feito ainda durante a sessão de julgamento no tribunal – reduzido a termo, ou no
bojo da petição recursal.
O importante é que o pleito antecipatório seja devidamente fundamentado e que a inicial seja
instruída com prova inequívoca e pré-constituída do quanto alegado.
30.2.3.8. Momento
30.2.3.8.2. Liminarmente
Ela só é possível quando se trata de antecipação assecuratória. Acaso não haja risco de
ocorrência do dano antes da citação do réu, não há que se concedê-la em caráter liminar.
No caso da antecipação da tutela punitiva, pressupõe-se que tenham sido praticados pelo réu
embaraços ao andamento do processo. Logo, é difícil de imaginar sua ocorrência antes de sua
efetiva participação na causa.
Entretanto, muitas vezes o juízo difere a concessão da tutela antecipada para após a resposta
do réu, a fim de melhor formar sua convicção, o que é postura prudente, não revelando o caso
urgência demasiada.
30.2.3.8.3. Na Sentença
A antecipação de tutela assecuratória ou punitiva pode ter seus pressupostos preenchidos no
momento da prolação da sentença. Nesse caso, poderá ter os seguintes efeitos:
Logo, vê-se que a concessão da tutela antecipada no bojo da sentença tem como grande
utilidade conferir eficácia imediata à decisão, evitando o efeito suspensivo do recurso.
sentença já foi proferida mas o processo está na primeira instância, já que o ofício
jurisdicional do juiz de primeiro grau já se encerrou.
Essa audiência não está prevista especificamente para a tutela antecipada, e sim para as
medidas cautelares, no art. 804. Entretanto, é inequívoco que se aplica à espécie.
Em relação ao prazo, não há disposição específica da lei. Deve ser fixado pelo juiz ou aplicado o
prazo supletivo de cinco dias.
30.2.3.11. Decisão
Em regra, a concessão de tutela antecipada será feita via decisão interlocutória. Poderá, ainda,
ser um capítulo de uma sentença, concedida por decisão monocrática de relator ou por
acórdão de tribunal.
30.2.3.12. Efetivação
Para a efetivação, aplica-se todo o regime legal da execução provisória (arts. 588, 461, § § 4º e
5º, e 461-A, além do art. 475-O).
Para a efetivação, poderá ainda o juiz se valer de medidas de coerção diretas e indiretas,
mesmo de ofício, como multas, busca e apreensão, desfazimento de obras etc.
Porém, para tal, exige-se que tenha ocorrido alguma alteração posterior no estado de fato –
rebus sic stantibus – ou o advento de novo elemento probatório, que tenha tornado
inexistente algum dos requisitos outrora presentes. Assim, a possibilidade de
revogação/modificação pode advir tanto de mudança fática quanto circunstanciais
(surgimento de outra evidência sobre uma situação fática inalterada).
A maioria da doutrina entende que o juiz não poderá revogar de ofício, entendendo ser
imprescindível a manifestação da parte contrária para que a decisão possa ser revista.
Há, ainda casos em que o pedido do autor é julgado improcedente e o juiz mantém a tutela
antecipada. Estranho, mas existem: Daniel Assumpção cita o caso do juiz que, reconhecendo
ser seu entendimento desfavorável ao autor minoritário, e que será fatalmente revertido no
Tribunal, mantém a tutela antecipada anteriormente concedida a fim de não causar ao mesmo
gravames irreversíveis.
Entretanto, mesmo assim o STJ tem proferido uma série de decisões em favor da perda do
objeto:
Depende. O STJ já adotou tanto o critério hierárquico, mediante o qual deve prevalecer a
determinação do tribunal, sobrepondo-se à sentença no que lhe for contrário, quanto o
critério cognitivo, mediante o qual prevalece a sentença, por ter se aprofundado melhor nos
fatos.
Porém, o caso concreto é que dirá. Certo é que, se a sentença se fundar em outros fatos que
não aqueles conhecidos quando do julgamento do agravo de instrumento pelo Tribunal, pode
a sentença prevalecer, já que o contexto fático se modifica.
30.2.3.15. Recursos
Como em regra a decisão que concede a tutela antecipada é interlocutória, em regra caberá
agravo de instrumento. Se concedida na sentença, caberá apelação com efeito suspensivo. Se,
porém, havia sido concedida por interlocutória e foi confirmada na sentença, cabe apelação
sem efeito suspensivo, relativamente ao capítulo que concedeu a antecipação (art. 520, VII).
Súmula 735, STF: “Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar”.
30.2.4.1. Introdução
De acordo com referido dispositivo, a tutela antecipada também poderá ser concedida quando
um ou mais pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso.
Por não se tratar de tutela antecipada, não se aplicam seus pressupostos. Seus únicos
requisitos são:
30.2.4.3. Execução
Como a execução será definitiva, não se lhe aplica o regramento da execução provisória.
Porém, para executar a decisão que resolve parcialmente o mérito da causa, não existe
qualquer tratamento normativo específico.
O credor exequente deverá formular seu requerimento por meio de petição escrita,
devidamente instruída com documentos e cópias de peças dos autos principais, que sejam
necessários para o desenvolvimento da execução.
[...]
30.2.5.1. Generalidades
É absolutamente certo que a tutela antecipada cabe contra a Fazenda Pública, em vista da Lei
nº 9.494/97. A discussão que ocorre é sobre quando e em quais casos, e sobre a
constitucionalidade e os limites das normas que impedem determinadas matérias de serem
antecipadas.
Outros autores alegavam que ela é incompatível com o regime de precatórios, o que não é
verdade.
c) Toda vez que providência semelhante não puder ser concedida em ações de mandado
de segurança, em virtude de vedação legal (Lei n° 8.437/1992, art. 1°);
Atualmente, qualquer decisão a título de tutela antecipada que conceda tais benefícios a
servidores pode ser cassada por reclamação perante o STF, face a decisão provisória prolatada
na ADC-4.
Essas vedações, de acordo com o STF, devem ser interpretadas restritivamente, não atingindo
as verbas previdenciárias e as verbas ilegitimamente tomadas do jurisdicionado.
Porém, para o próprio STF, o juiz poderá deferir a tutela antecipada contra a Fazenda Pública
nos casos vedados em lei, já que a ele é dado exercer o controle difuso de constitucionalidade
perante o caso concreto, afastando a incidência das normas restritivas por agressão ao art. 5º,
XXXV, da CR/88. Em suma, o afastamento das restrições justifica-se pela aplicação do
princípio da proporcionalidade.
Didier alega que tal emenda é inconstitucional; que, ao exigir o trânsito em julgado, faz-se
referência à coisa julgada formal, endoprocessual; que os débitos da tutela antecipada não são
originados de sentenças; assim, não haveria qualquer óbice para a expedição de precatório.
Didier afirma que o STJ tem admitido o cumprimento de tutela antecipada contra a Fazenda
Pública para o pagamento de quantia, independentemente de precatório, por ser ele
incompatível com a tutela de urgência. Entretanto, isso não é pacífico.
Não é possível a concessão de tutela antecipada em ação possessória contra a Fazenda Pública
sem sua prévia oitiva; não é possível a concessão de tutela antecipada nas ações que se
referem à liberação de mercadorias, bens ou coisas de procedência estrangeira, conforme Lei
nº 2.770/56 (proibição mitigada no caso do bem ser perecível).
A par deles pode a fazenda intentar, ainda, uma reclamação constitucional perante o STF,
caso tenha sido concedida a tutela antecipada em uma das hipóteses vedadas pela Lei n°
9.494/1997, pois a decisão estaria em confronto com o decidido na ADC 4. A propósito,
cumpre verificar que o STF vem acolhendo várias reclamações com esse objeto, em situações
da espécie (Rcl. 846/SP).
Todas essas medidas são concorrentes: Pode a Fazenda Pública valer-se, a um só tempo, de
todas elas. De acordo com o princípio da singularidade, é proibida a interposição simultânea
de mais de um recurso contra a mesma decisão, excepcionado apenas o ajuizamento conjunto
de recurso especial e extraordinário.
2. TRF4 – XII – QUESTÃO 69. Para a efetivação da antecipação da tutela que implique
levantamento de dinheiro, de regra, será exigida caução, ficando assim assegurado o
interesse do réu em caso de reversão da medida.
3. TRF4 – XII – QUESTÃO 69. Nas ações possessórias, a concessão de medida liminar para
as chamadas “ações de força nova” nada mais representa do que antecipação da
tutela, com o diferencial da dispensa da demonstração do periculum in mora.
4. EMAGIS 2012/17 – QUESTÃO 11. Pode ser deferida a tutela antecipada quando
caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do
réu.
6. EMAGIS 2012/17 – QUESTÃO 11. A tutela antecipada também poderá ser concedida
quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se
incontroverso.
10. EMAGIS – 2011/43 – QUESTÃO 09. A tutela antecipada também poderá ser concedida
quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se
incontroverso (tutela antecipada imprópria).
247
A teor do caput do art. 273 do CPC, o juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca,
se convença da verossimilhança da alegação. Somado a isso, deve estar presente uma das situações
trazidas nos seus incisos I e II, as quais, portanto, não são cumulativas, mas sim alternativas: a) exista
fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou b) fique caracterizado o abuso de direito
de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu.
248
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO QUE
CONCEDE TUTELA ANTECIPADA. SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA DE MÉRITO CONFIRMANDO A TUTELA. PERDA DO
OBJETO. INOCORRÊNCIA.
1. A superveniência da sentença de procedência do pedido não prejudica o recurso interposto contra a decisão que
deferiu o pedido de antecipação de tutela.
2. Embargos de divergência rejeitados. (STJ, Corte Especial, EREsp 765105, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe de
25/08/2010)
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13. EMAGIS – 2011/31 – QUESTÃO 10. Quando restar caracterizado o abuso do direito de
defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu, a tutela antecipada pode ser
concedida, desde que exista prova inequívoca da verossimilhança da alegação.
14. EMAGIS – 2011/30 – QUESTÃO 01. O juízo da Vara da Fazenda Pública, em Belo
Horizonte, determinou ao Estado de Minas Gerais, em sede de antecipação dos efeitos
da tutela pleiteada em ação civil pública movida pelo Ministério Público, que promova
o pagamento dos respectivos servidores públicos estaduais, a partir do mês seguinte,
atualizando os vencimentos e subsídios de acordo com o INPC apurado em relação ao
ano de 2010. Contra essa decisão, é correto afirmar que se revela cabível sua
impugnação diretamente no Supremo Tribunal Federal249.
31.1. Características
31.1.1. Sumariedade
O procedimento cautelar não se confunde com o procedimento comum. É uma tutela
diferenciada com regulamentação própria, já que se trata de uma tutela de urgência.
249
Consequência da ADC 4. Por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar
Peluso, está suspensa a decisão do juiz da 6ª Vara Cível e de Fazenda Pública da Comarca de Macapá
(AP) que ordenou ao Estado do Amapá o pagamento imediato de reajuste a servidores do Poder
Judiciário. A decisão atende a uma Reclamação (Rcl 11961) ajuizada na Corte pelo Estado do Amapá
contra a decisão que assegurou aos servidores revisão geral anual de 3% a ser pago imediatamente e
com efeito retroativo a partir de 1º de abril de 2011.
Para o Estado do Amapá, a determinação de pagamento desrespeita o entendimento do Supremo no
julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 4, em que o Tribunal confirmou a
aplicação do artigo 1º, da Lei 9.494/97 que impede a concessão de tutela antecipada contra a Fazenda
Pública. Com a decisão, a Corte proibiu toda decisão cautelar que reclassifique ou equipare servidores
públicos, conceda aumento, estenda vantagens ou ordene o pagamento de vencimentos.
Ao analisar o pedido, o ministro Peluso destacou que existem motivos suficientes para suspender
liminarmente a determinação, considerando que o juiz também impôs multa diária de R$ 20 mil em caso
de descumprimento. Além disso, há o risco da impossibilidade de restituição ao Estado dos valores pagos
caso o colegiado venha a ter um entendimento diferente do juiz.
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A tutela cautelar sobrevive enquanto as condições para a sua concessão não forem
modificadas e a situação de perigo continuar a exigir sua existência.
Para Daniel Assumpção, a cautelar é provisória pois será substituída pela tutela definitiva. Não
se confundiria, para ele, com temporariedade, que apesar de ter tempo de duração
determinado, não será substituída pelo decurso do prazo por simplesmente deixar de existir.
Penso que a razão está com Didier e sua turma. A cautelar não é substituída pela tutela
definitiva; os objetos de ambos são diferentes. A pretensão da cautelar é tão-somente
resguardar o objeto da lide principal. Finda sua função, a cautelar, cuja decisão transitou em
julgado, morrerá por não ter mais utilidade. Entretanto, por nada terá sido substituída. A
procedência do pedido definitivo se afasta do provimento cautelar, tendo sido apenas
amparado por este.
31.1.3. Instrumentalidade
O processo cautelar tem sua função ligada a outro processo, chamado principal, cuja utilidade
prática do resultado procurará resguardar. Se o processo principal é o instrumento para a
composição da lide ou para a satisfação do direito, o processo cautelar é o instrumento para
que essa composição ou satisfação seja praticamente viável no mundo dos fatos.
cautelar poderá não propor o processo principal, poderá nele sucumbir ou poderá o réu
satisfazer o direito do autor sem necessidade da ação principal.
31.1.4. Revogabilidade
A revogabilidade deve ser analisada sob dois aspectos, quando a cautelar é concedida
mediante liminar ou mediante sentença.
Liminarmente, a cautelar poderá ser revogada a pedido das partes ou de ofício, visto que a
preocupação de preservar a utilidade do provimento não fica adstrita ao interesse das partes.
Poderá ocorrer pelos seguintes motivos a revogação da liminar:
g) Prolação de sentença;
Quanto a tutela cautelar é concedida mediante sentença, duas situações diversas podem se
verificar, dado que a sentença cautelar, como qualquer outra, é impugnável por apelação.
Tanto pode contra a sentença ter sido interposto recurso de apelação como pode ela não ter
sofrido qualquer impugnação após o lapso temporal determinado em lei.
Quando produzir a coisa julgada formal, o juiz não poderá rever de ofício o seu entendimento.
Como não se poderá discutir novamente a mesma matéria no processo, será indispensável o
ingresso de nova demanda de procedimento cautelar para pedir a revogação ou modificação
da tutela cautelar já concedida em sentença.
Sumariedade
Assim, são características das cautelares: Provisoriedade
Instrumentalidade
Revogabilidade
Na verdade, a regra é a mesma tanto para a cautelar preparatória como para a principal: será
competente para julgar a ação cautelar o juízo competente para julgar a ação principal,
independentemente desta já existir ou estiver por vir.
A prevenção será determinada pela ação que vier em primeiro lugar, seja a principal, seja a
cautelar, mas sempre no foro competente para conhecer a ação principal.
Nessas ações, a proposição deverá ser feita, em função do princípio da eficácia da medida
cautelar, no local onde deverá a mesma ser efetivamente produzida, independentemente da
regra para o processo principal, evitando-se a desnecessária utilização de precatórias.
Cria-se, na verdade, uma competência funcional que determina que o mesmo juízo será
competente para conhecer e julgar ambas as demandas. Lembrar que a competência funcional
é absoluta.
Para o STJ não haverá prevenção, devendo a ação ser proposta no juízo competente.
Essa regra, entretanto, possui duas exceções expressamente previstas em lei, que determinam
a competência do juízo de primeiro grau, independentemente do processo principal já se
encontrar em fase recursal: trata-se da cautelar de alimentos provisionais (art. 853, CPC) e o
atentado (art. 880, p. único).
Fumus boni iuris é o convencimento parcial do juiz, fundado num juízo de mera probabilidade
em razão da cognição sumária que faz para conceder a tutela cautelar – de que o direito
material corre perigo provavelmente existente. Não é necessária certeza, apenas uma análise
perfunctória, superficial.
31.4. Procedimento
Os requisitos da inicial estão previstos no art. 801, CPC, aplicando-se subsidiariamente o art.
282. São requisitos especiais:
a) A lide e seus fundamentos (art. 801, III): trata-se da indicação do objeto da ação
principal, o que se exige em razão da instrumentalidade da ação cautelar. Cabe ao
requerente indicar do que tratará a futura ação principal, o que permitirá ao juiz
analisar se a cautelar efetivamente cumpre sua missão de acautelamento. Só se aplica
nas cautelares antecedentes;
b) Exposição sumária do direito ameaçado e o receio de lesão (art. 801, IV): trata-se do
fumus bonu iuris e do periculum in mora;
c) Valor da causa: não existe uma vinculação necessária entre o valor da causa na ação
cautelar e na ação principal. O bem de vida que se pretende obter com a tutela
cautelar é a garantia de eficácia do resultado final do processo, não se confundindo
com eventual bem de vida que será objeto da pretensão na ação principal. Isso é
reconhecido, inclusive, pelo STJ (REsp 860.877/CE, REsp 976.440/RJ).
requerido for a Fazenda Pública ou o MP (art. 188, CPC) e em dobro quando for a Defensoria
Pública e litisconsorte com procuradores diferentes (art. 191, CPC).
a) Não havendo concessão de cautelar liminarmente, o prazo tem início da juntada aos
autos do mandado de citação devidamente cumprido;
a) Fatos inverossímeis;
c) Quando houver litisconsórcio passivo unitário, um dos réus contestar (art. 320, I);
e) Quando a inicial não estiver acompanhada de instrumento público que a lei considere
indispensável à prova do art. (art. 320, III).
Havendo revelia e sendo gerada a presunção, deve ser feito julgamento antecipado da lide
(art. 330, II).
Todos os meios de prova legalmente admitidos são permitidos na cautelar. Além disso, todas
as provas produzidas no processo cautelar podem ser utilizadas no processo principal, já que
inegavelmente presentes os requisitos da prova emprestada.
31.4.5. Sentença
O processo cautelar será encerrado por uma sentença, ainda que a cautelar já tenha sido
concedida em sede liminar. A sentença que acolhe ou rejeita o pedido do autor é uma
sentença de mérito (art. 269, I).
De acordo com o art. 804, é cabível a concessão da liminar sempre que o réu, sendo citado,
puder tornar a medida cautelar ineficaz. O prejuízo advindo da citação do réu pode tanto ser
um ato seu positivo quanto em razão de meras circunstâncias de fato, como o decurso do
tempo.
Porém, na prática, os juízes não têm aferido ou exigido a demonstração desse perigo, exigindo
tão-somente a prestação de caução real ou fidejussória, o que para Daniel é errado.
Porém, o entendimento mais correto é de que existe sim a coisa julgada material. Isso porque,
após a preclusão definitiva da decisão final, não poderá haver modificação do que foi
concedido, salvo se sobrevier modificação nas questões de fato, como ocorre em todas as
sentenças. A autoridade da coisa julgada somente se verifica quando todos os elementos da
demanda (partes, pedido e causa de pedir) são iguais (teoria da tríplice identidade).
A existência de coisa julgada na sentença cautelar viria confirmada pela regra do art. 808 do
CPC, que impede a parte de repetir o pedido, salvo se por novo fundamento, se por qualquer
motivo cessar a medida cautelar (porém, destaca-se, essa é a posição da doutrina
minoritária).
Registre-se, por fim, que na hipótese do art. 810, ou seja, na sentença que reconhece a
prescrição ou decadência na própria cautelar e julga extinto o processo com esse fundamento,
a sentença será de mérito e produzirá coisa julgada material.
O PGC existe pois é impossível ao legislador prever todas as situações possíveis em que caiba
cautelar; porém, nem por isso poderia deixar de tutelá-las.
O PGC, entendido como a concessão de ofício de uma medida cautelar pelo juiz, afasta o
princípio dispositivo.
Não se permite o exercício do PGC como medida preparatória, ou seja, somente pode o juiz
exercer esse poder quando houver um processo instaurado, de qualquer natureza.
O objetivo de se limitar a cautelar no tempo é minimizar o prejuízo para o réu, já que, após
concedida, ele estará numa situação de prejuízo material.
Súmula 482, STJ: “A falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do CPC
acarreta a perda da eficácia da liminar deferida e a extinção do processo cautelar”. Esse
31.9.2. Ausência de Execução da Tutela Cautelar no Prazo de 30 Dias (art. 808, II)
O que cessa aqui não é o efeito da tutela cautelar, e sim a eficácia da decisão que concedeu a
tutelar cautelar. Isso porque a desídia da parte pode significar ou uma perda superveniente de
interesse do favorecido pela concessão da tutela cautelar (tipo de renúncia tácita), ou uma
ausência de urgência para sua efetivação, demonstrada pelo desinteresse em executá-la.
Súmula 482, STJ: “A falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do CPC
acarreta a perda da eficácia da liminar deferida e a extinção do processo cautelar”.
31.10.1. Introdução
O beneficiado pela concessão e efetivação da tutela cautelar poderá ser responsabilizado pelos
danos suportados pela parte contrária caso se verifique uma das hipóteses do artigo. Trata-se
da teoria do risco proveito, pela qual a parte deve arcar com o ônus e bônus da cautelar.
c) Cessação da eficácia nos casos do art. 808 do CPC: trata-se da hipótese de não
interposição da ação principal em 30 dias da efetivação da cautelar, entre outras;
Deve-se demonstrar na petição inicial, também, em que consiste o fumus boni iuris e o
periculum in mora;
Na primeira análise, pode o juiz determinar seja sanado algum vício, indeferir a petição inicial,
ou determinar a citação do demandado;
Estando em ordem o processo, será o demandado citado para contestar, no prazo de 5 dias,
contados da juntada aos autos do mandado de citação (ou do AR, se a citação se der pela via
postal) ou da efetivação da medida cautelar, quando concedida inaudita altera parte ou após
justificação prévia e desde que dela tome conhecimento o demandado, assim como que o
mandado de intimação preencha todos os requisitos formais do mandado de citação;
Pode o juiz, sem ouvir o réu, quando verificar que este, sendo citado, poderá torná-la ineficaz,
conceder, liminarmente ou após justificação prévia, a medida cautelar pleiteada;
Audiência de justificação prévia: aquela na qual se ouve o demandante e se colhe provas por
ele produzidas, sem a oitiva do demandado;
Pode o juiz, no caso de concessão liminar de cautelar inaudita altera parte, determinar que o
demandante preste caução, real ou fidejussória. Trata-se da chamada contracautela;
Segundo entendimento doutrinário pacífico, inobstante o art. 802, CPC, fazer menção apenas à
contestação, é cabível o oferecimento também de outro tipo de resposta, no caso, as
exceções. A reconvenção, todavia, segundo entendimento dominante (Calmon de Passos tem
posição contrária, mas isolada), não é admitida;
A fase instrutória ocorre tal como no processo de conhecimento. Destaque-se, apenas, que
descabe a demanda declaratória incidental, eis que no processo cautelar não se exerce
cognição em profundidade suficiente para que se possa declarar, com força de coisa julgada
material, a existência ou inexistência de qualquer relação jurídica, ainda que prejudicial. Da
mesma forma, no procedimento cautelar não se realiza a audiência preliminar do art. 331,
CPC;
Efetiva-se nos próprios autos, por ordem do juiz, independentemente da fase do cumprimento
de sentença;
A apelação é recebida apenas no efeito devolutivo (art. 520, IV, CPC), mas a ela pode
excepcionalmente ser atribuído efeito suspensivo 9art. 558, CPC);
A efetivação da medida cautelar se faz por conta e risco do demandante, que responde pelos
prejuízos causados, independentemente de dolo ou culpa, nos casos do art. 811, CPC. Dita
espécie de responsabilidade processual civil não se confunde com o dever de reparar prejuízos
decorrentes da litigância de má-fé, que, obviamente, é de índole subjetiva (pressupõe a má-
fé). O prejuízo será apurado e ressarcido nos próprios autos.
31.12.1. Arresto
Conceito: medida cautelar de apreensão de bens destinada a assegurar a efetividade de um
processo de execução por quantia certa;
Dá-se quando houver fundado receio de diminuição patrimonial daquele que será executado
de modo a não restar patrimônio suficiente para satisfazer a alegada dívida;
Difere do arresto previsto no art. 653, CPC, eis que este não tem natureza cautelar, não tem
como requisito o fumus boni iuris e o periculum in mora, e é medida provisória que ao final de
conserte em penhora. É uma “antecipação de penhora” ou uma “pré-penhora”;
Sendo medida cautelar de constrição de direitos, tem aplicação o art. 806, CPC (30 d para o
ajuizamento da ação principal);
Nos termos do parágrafo único, “equipara-se à prova literal da dívida líquida e certa, para
efeito de concessão de arresto, a sentença, líquida ou ilíquida, pendente de recurso,
condenando o devedor ao pagamento de dinheiro ou de prestação que em dinheiro possa
converter-se”.
Dívida líquida e certa é aquela representada por título executivo; mas dito dispositivo é
atenuado pelo parágrafo único, que equipara à dívida líquida e certa as obrigações de pagar
quantia certa decorrentes de sentença, ainda que ilíquidas e não definitivas;
Não se exige a certeza da obrigação, inobstante a expressão ‘dívida líquida e certa’, vez que,
tratando-se de medida cautelar, apenas exige-se a formação de juízo de probabilidade;
Para Freitas Câmara, o requisito exigido nesse inciso nada mais é do que o fumus boni iuris,
que resta presumido se o demandante é titular de título executivo ou de sentença, ainda que
ilíquida e não definitiva. Inobstante, seria possível a concessão de medida cautelar de arresto
250
Art. 813. O arresto tem lugar:
I - quando o devedor sem domicílio certo intenta ausentar-se ou alienar os bens que possui, ou deixa de
pagar a obrigação no prazo estipulado;
II - quando o devedor, que tem domicílio:
a) se ausenta ou tenta ausentar-se furtivamente;
b) caindo em insolvência, aliena ou tenta alienar bens que possui; contrai ou tenta contrair dívidas
extraordinárias; põe ou tenta pôr os seus bens em nome de terceiros; ou comete outro qualquer artifício
fraudulento, a fim de frustrar a execução ou lesar credores;
III - quando o devedor, que possui bens de raiz, intenta aliená-los, hipotecá-los ou dá-los em anticrese,
sem ficar com algum ou alguns, livres e desembargados, equivalentes às dívidas;
IV - nos demais casos expressos em lei.
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1095
mesmo fora das hipóteses expressamente elencadas, desde que se demonstre o fumus boni
iuris. Seria o caso, por exemplo, de título não executivo, mas hábil a lastrear o procedimento
monitório.
A norma deve ser entendida como a existência de periculum in mora, já que o rol do art. 813 é
meramente exemplificativo. Deve, assim, haver prova que gere juízo de probabilidade sobre a
existência de fundado risco de que, com a demora do processo, não se alcance a efetividade
do provimento a ser dado no processo principal.
Já o inciso II prevê que o periculum in mora pode ser provado através de prova documental e
de justificação, a qual evidentemente só é realizada quando o juiz a entender indispensável.
Da justificação não participa o demandado, até mesmo porque a sua notificação para
comparecer já poderia frustrar a medida (lembre-se que trata de medida urgente em
decretada em razão da dilapidação patrimonial levada a cabo pelo demandante). Destaque-se
que apenas a liminar inaudita altera parte pode ser concedida com base na prova produzida na
audiência de justificação, eis que para a prolação da sentença há de se prestigiar o
contraditório. A audiência de justificação será dispensada se a medida de arresto for requerida
por pessoa jurídica de direito público, assim como se o demandante prestar caução. Nesses
casos não se dispensa, por óbvio, a prova do periculum in mora (senão apenas para a
concessão da liminar), mas apenas se a posterga para a fase instrutória
31.12.1.4. Procedimento
Observa-se o procedimento cautelar comum;
Na falta de norma específica sobre a efetivação do arresto, devem ser aplicadas as normas
atinentes à penhora: mediante auto ou termo de arresto seguido de, no caso de bens móveis,
o depósito dos bens arrestados, e, no caso de imóveis, o registro da medida no cartório de
imóveis respectivo.
31.12.1.5. Efeitos
Afetação do bem apreendido à futura execução;
Demandado perde a posse direta do bem. Não se lhe retira, contudo, o domínio, razão pela
qual é possível a alienação do bem arrestado, que apenas será ineficaz perante o credor;
31.12.1.6. Extinção
Pela extinção da obrigação, do que é exemplo o rol do art. 820, CPC. Nesse ponto destaque-se
que o pagamento apenas extingue o arresto se este já tiver sido efetivado; se não, apenas
suspende a sua efetivação (art. 819, CPC);
Quando exaurido o seu objeto, tendo sido realizada a penhora no processo executivo.
Observe-se que o arresto não se converte em penhora, mas se extingue ante a realização
desta.
31.12.2. Sequestro
Destina-se a resguardar a coisa sobre a qual incide um conflito de interesses, evitando o seu
desaparecimento;
Rixa: não guarda qualquer relação com o conceito do direito penal. Basta que
haja algum desentendimento entre as partes que gero o risco de que alguma
delas chegue à violência;
Também os frutos dos bens móveis podem ser objeto de sequestro, desde que
haja fumus boni iuris e periculum in mora;
III - dos bens do casal, nas ações de separação judicial e de anulação de casamento, se
o cônjuge os estiver dilapidando:
Não incide apenas sobre os bens do casal, mas também sobre bens próprios
de um dos cônjuges.
Freitas Câmara, Theodoro Jr. entendem que o rol do art. 822, CPC, é meramente
exemplificativo, podendo ser concedida medida cautelar de sequestro sempre que presentes o
fumus boni iuris e o periculum in mora relativos a um bem específico.
periculum in mora: demonstração de que há risco efetivo de que ao final a coisa sobre
a qual pende a disputa não mais existirá ou estará deteriorada.
Para Freitas Câmara, com esteio na lição de Ovídio Baptista da Silva, apenas são aplicáveis ao
sequestro as normas do arresto relativas ao modus operandi da medida, bem como aquelas
que regulam a forma de administração dos bens. No mais, são disposições incompatíveis.
31.12.3. Caução
Nem toda caução prevista no ordenamento jurídico brasileiro é cautelar, inobstante o
significado do termo, que remete à ideia de garantia, possa levar a essa equivocada conclusão.
É que algumas espécies de caução visam a garantir o próprio direito material e não a
efetividade do processo. Dessas cauções de direito material seria exemplo a do art. 1.280,
CC/02;
Classifica-se em três espécies: a) legal, b), negocial e c) judicial (para alguns, processual);
Segundo Freitas Câmara, Ovídio Baptista da Silva, Humberto Theodoro Jr. a caução que se
presta através do procedimento previsto nos arts. 826 e ss, CPC, não tem natureza cautelar.
Para estes autores, seriam cautelares, por exemplo, as cauções previstas nos arts. 475-O251,
804, 805 e 819, todos do CPC. Ademais, as cauções cautelares (ou processuais) seriam
prestadas como ato do processo cuja efetividade se pretende proteger, e não através de
procedimento autônomo;
A prestada nos termos dos arts. 826 e ss, CPC, é, então, legal ou negocial, e de direito material.
A “ação de caução” é, portanto, ação de conhecimento;
Outra forma de classificar as cauções, prevista no art. 826, é em real ou fidejussória: real é
aquela que consiste em um bem determinado, que fica desde logo afetado a uma futura
execução da obrigação que a caução visava assegurar, tal como ocorre na hipoteca e no
penhor. Fidejussória, por sua vez, é espécie de caução pessoal, em que a garantia não recai
sobre um bem determinado, mas sobre todo o patrimônio de uma pessoa, como a fiança;
O rol das formas através das quais a caução pode ser prestada, art. 827, CPC, é meramente
exemplificativo. Registre-se que a escolha apenas cabe à parte quando a lei ou o negócio
jurídico que a determina não especificar a espécie de caução a ser prestada;
Nos termos do art. 828, CPC, a caução pode ser prestada pelo interessado ou por terceiro. Dito
dispositivo não confere a terceiro legitimidade para ser parte na “ação de caução”, mas apenas
esclarece que, proposta a ação por quem de direito, a caução poder ser prestada por terceiro
estranho à relação processual (aliás, a caução fidejussória é, por natureza, prestada por
terceiro).
31.12.3.1. Procedimento
Pode ser proposta tanto por aquele que está obrigado a prestar caução como por aquele que
tem o direito de exigir a sua prestação. Proposta por quem está obrigado a prestar caução,
deve ser observado o art. 829252, CPC. Ajuizada a demanda por quem tem o direito de a exigir,
aplica-se o art. 830253, CPC;
Em ambos os casos, o demandado será citado para oferecer resposta, no prazo de 5 dias, e
pode, nos temos do art. 831, CPC, aceitar a caução oferecida, prestar a caução demandada ou
contestar o pedido. Nos dois primeiros casos há o reconhecimento jurídico do pedido. Pode,
ainda, permanecer revel ou oferecer exceção de incompetência, de impedimento ou
suspeição. Não é cabível, contudo, a reconvenção, eis que a “ação de caução”, podendo ser
ajuizada por qualquer das partes da relação jurídica de direito material, é considerada de
251
Na edição que estou utilizando, de 2004, na verdade o Autor faz menção ao revogado art. 588.
252
Art. 829. Aquele que for obrigado a dar caução requererá a citação da pessoa a favor de quem tiver de
ser prestada, indicando na petição inicial:
I - o valor a caucionar;
II - o modo pelo qual a caução vai ser prestada;
III - a estimativa dos bens;
IV - a prova da suficiência da caução ou da idoneidade do fiador.
253
Art. 830. Aquele em cujo favor há de ser dada a caução requererá a citação do obrigado para que a
preste, sob pena de incorrer na sanção que a lei ou o contrato cominar para a falta.
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1099
natureza dúplice. Assim, o demandado, querendo manifestar pretensão em seu favor, deve
fazê-lo na própria contestação;
No caso de ação proposta por quem tem o direito de exigir caução (art. 830, CPC), a sentença
de procedência do pedido terá natureza condenatória, impondo ao demandado o dever de
prestar a caução, sob pena de incidir na sanção cominada, pela lei ou pelo contrato, para a sua
não prestação;
No caso de ação proposta por quem tem o dever de prestar caução (art. 829, CPC), a sentença
de procedência do pedido terá natureza declaratória, limitando-se a afirmar que a caução está
prestada;
A sentença de procedência deve assinalar prazo ao caucionante para prestar a caução, se esta
ainda não houver sido prestada (art. 830, CPC) e/ou assinalar diligências a serem cumpridas
(ex: proceder ao registro da hipoteca no cartório de imóveis). Caso seja descumprida254, será
considerada não prestada a caução (art. 829, CPC) – será desconstituída a caução que se
houvera declarada prestada; ou será “efetivada a sanção que cominou” (art. 830, CPC). Para
parte da doutrina a norma posta no art. 834, parágrafo único, CPC, é teratológica – pois prevê
provimento jurisdicional posterior à sentença, ato que põe termo ao ofício de julgar do juiz – e
desnecessária, pois que tudo poderia ser resolvido na própria sentença, ou na impossibilidade,
deveria ser objeto de outro processo. Esta corrente, portanto, considera tal provimento
jurisdicional irrecorrível. A posição dominante, contudo, é a de que se trata de outra sentença
dentro do mesmo processo, a qual também pode ser desafiada por recurso de apelação
(Humberto Theodoro Jr., Ovídio Baptista da Silva);
A sentença de improcedência é meramente declaratória. No caso do art. 829, CPC, declara não
prestada a caução. No caso do art. 830, CPC, declara a inexistência do dever jurídico de prestá-
la;
O art. 835255, CPC, regula a chamada cautio iudicatum solvi ou cautio pro expensis, caução das
despesas processuais, exigida para o demandante não residente no Brasil. É norma de
constitucionalidade duvidosa, pois, segundo alguns doutrinadores (Ada Pellegrini Grinover),
ofende a garantia de amplo acesso à jurisdição. Também não é caução cautelar. Não é exigida
254
Art. 834, parágrafo único, CPC.
255
Art. 835. O autor, nacional ou estrangeiro, que residir fora do Brasil ou dele se ausentar na pendência
da demanda, prestará, nas ações que intentar, caução suficiente às custas e honorários de advogado da
parte contrária, se não tiver no Brasil bens imóveis que lhes assegurem o pagamento.
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1100
nos casos do art. 836256, CPC. Prestada a caução e instaurado o processo cujas despesas visa a
garantir, e tornando-se a mesma insuficiente, pode o interessado requerer, em petição inicial
que originará processo incidente, o seu reforço. Julgando procedente o pedido, o juiz assinará
prazo para que o obrigado reforce a caução, sob pena de cessarem os efeitos da caução
prestada, presumindo-se que, com relação ao processo cujas despesas visa a garantir, o autor
tenha desistido da ação ou o recorrente desistido do recurso.
É medida única, um todo indivisível, embora formada por dois atos, a busca seguida da
apreensão.
31.12.4.1. Procedimento
Observa-se o procedimento cautelar comum, com algumas peculiaridades, especialmente no
que concerne à efetivação da medida;
Além dos requisitos de toda petição inicial de processo cautelar, deve a da busca e apreensão
demonstrar o local onde está o bem ou a pessoa objeto da medida pretendida;
O mandado dever ser cumprido por 2 oficiais de justiça, que, após a sua leitura ao responsável
pela casa/estabelecimento comercial, têm autorização para arrombar portas internas e
externas e quaisquer móveis onde presumam que esteja oculta a pessoa ou a coisa procurada,
caso o mesmo não as abra voluntariamente;
256
Art. 836. Não se exigirá, porém, a caução, de que trata o artigo antecedente: I - na execução
fundada em título extrajudicial; II - na reconvenção.
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1101
O § 3º, art. 842, trata da medida cautelar de busca e apreensão nos casos em que o direito
substancial a ser tutelado no processo principal seja direito autoral ou direito conexo do
artista, intérprete ou executante, produtores de fonogramas e organismos de radiodifusão.
Nesse caso o juiz designará, para acompanharem os oficiais de justiça, dois peritos aos quais
incumbirá confirmar a ocorrência da violação antes de ser efetivada a apreensão;
Tem por objetivo a obtenção de coisa ou documento para conhecer o seu conteúdo (e não
para apreendê-lo);
A “ação de exibição” terá, conforme o caso, natureza cautelar ou satisfativa. Tem natureza
satisfativa quando assegura o direito substancial da parte de examinar o documento ou coisa,
tal como no art. 1.021, CC/02. Já nos casos em que assegura a efetividade de um futuro
processo principal, onde a coisa/documento será utilizado como prova, tem natureza cautelar.
Tanto as demandas de exibição de natureza satisfativa, quanto as de natureza cautelar são
reguladas pelos arts. 844 e 845, CPC;
I - de coisa móvel em poder de outrem e que o requerente repute sua ou tenha interesse em
conhecer
Há autores que consideram não poder ser objeto de exibição coisa imóvel, que apenas poderia
ser objeto de vistoria, obtida através da produção antecipada de provas (Theodoro Jr.). Há
também quem entenda cabível a exibição de imóveis, eis que a produção antecipada de
provas seria espécie, no caso, de prova pericial – vistoria por peritos (Freitas Câmara, Álvaro de
Oliveira, Ovídio Baptista da Silva). Dos que defendem o cabimento, alguns o fundamentam no
poder geral de cautela do juiz (Ovídio Baptista da Silva), outros dão interpretação mais ampla
ao art. 844, I, CPC (Freitas Câmara, Álvaro de Oliveira);
Para Pontes de Miranda, tem natureza cautelar, pois serve para autor de futura demanda
obter informações acerca do bem que será objeto ou meio de prova no processo principal. Já
para Baptista da Silva, trata-se de demanda de natureza satisfativa, eis que assegura ao
demandante o direito material de ter vista da coisa. Freitas Câmara e Álvaro de Oliveira
defendem a tese de que ora terá natureza cautelar ora natureza satisfativa, a depender do
caso concreto.
Há, também, autores defendendo a natureza satisfativa da demanda (Fidélis dos Santos), e
outros defendendo possuir natureza cautelar (Theodoro Jr.). Freitas Câmara e Álvaro de
Oliveira mais uma vez defendem a tese de que ora terá natureza cautelar ora natureza
satisfativa, a depender do caso concreto.
III - da escrituração comercial por inteiro, balanços e documentos de arquivo, nos casos
expressos em lei
Álvaro de Oliveira mais uma vez defendem a tese de que ora terá natureza cautelar ora
natureza satisfativa, a depender do caso concreto. Greco Filho, por sua vez, entende que
sempre tem natureza cautelar. Já Freitas Câmara, Fidélis dos Santos e Baptista Filho entendem
que sempre terá natureza satisfativa, ao fundamento de que a exibição de tais documentos,
quando visar a garantir efetividade de outro processo, será o caso do II. Para estes últimos
autores, não há como conciliar a cautelaridade e a expressão “nos casos expressos em lei”.
31.12.5.2. Legitimidade
Quanto à legitimidade para as demandas satisfativas não há qualquer dificuldade: terá
legitimidade ativa aquele que se afirma titular do direito de exibição e passiva aquele em
poder de quem se encontra o bem e seja apontado pelo demandante como titular do dever
jurídico de exibir;
Com relação à exibição cautelar, destaque-se que nem sempre a legitimidade para ser parte
passiva na demanda cautelar coincide com a legitimidade passiva para a demanda principal.
Isso porque o bem que se deseja seja exibido pode estar em poder de terceiro, estranho à
causa principal. Assim, esse terceiro será legitimado passivo para a demanda cautelar, eis que
terá o dever de exibir o bem, mas não o será para a demanda principal, eis que não é titular da
relação jurídica de direito material que envolve o bem cuja exibição se pretende.
31.12.5.3. Procedimento
31.12.5.3.1. Exibição Proposta contra a Parte Titular do Dever de Exibir e da Relação Jurídica de
Direito Material
Aplica-se o disposto nos arts. 355 a 359, CPC;
Além dos requisitos essenciais a toda petição inicial de processo cautelar, a do processo em
questão deve conter a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa;
a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento ou a coisa; as
circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que o documento ou a coisa existe e
se acha em poder da parte contrária (art. 356, CPC);
Citado para responder em 5 dias, o demandado pode exibir o bem, oferecer contestação
(alegando que não possui o bem ou recusando o dever de exibir) ou permanecer silente.
Tendo o demandado silenciado, deve o juiz determinar a busca e apreensão da coisa ou
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1103
31.12.5.3.2. Exibição Proposta contra o Terceiro, Titular do Dever de Exibir mas não da Relação
Jurídica de Direito Material
Arts. 360 a 362, CPC;
As razões de escusa de exibir e os casos em que ela nunca será aceita são os mesmos do
procedimento contra a parte;
Se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a efetuar a exibição, o juiz lhe ordenará que
proceda ao respectivo depósito em cartório ou noutro lugar designado, no prazo de 5 (cinco)
dias, impondo ao requerente que o embolse das despesas que tiver; se o terceiro descumprir a
ordem, o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se necessário, força policial, tudo
sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência (art. 362, CPC).
257
Art. 363. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o documento ou a coisa:
I - se concernente a negócios da própria vida da família;
II - se a sua apresentação puder violar dever de honra;
III - se a publicidade do documento redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem como a seus parentes
consanguíneos ou afins até o terceiro grau; ou lhes representar perigo de ação penal;
IV - se a exibição acarretar a divulgação de fatos, a cujo respeito, por estado ou profissão, devam guardar
segredo;
V - se subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz, justifiquem a recusa da
exibição.
Parágrafo único. Se os motivos de que tratam os ns. I a V disserem respeito só a uma parte do conteúdo
do documento, da outra se extrairá uma suma para ser apresentada em juízo.
258
Art. 358. O juiz não admitirá a recusa:
I - se o requerido tiver obrigação legal de exibir;
II - se o requerido aludiu ao documento ou à coisa, no processo, com o intuito de constituir prova;
III - se o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.
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1104
apenas, que a fonte da prova estará preservada. Trata-se, portanto, de medida de natureza
cautelar;
É, inobstante, medida cautelar um pouco diferente das demais, eis que não visa a assegurar a
efetividade do processo e, por consequência, prestar tutela jurisdicional mediata a um direito
substancial. Presta, sim, tutela jurisdicional mediata a um direito de índole processual: o
direito de prova.
Interrogatório da parte não se confunde com depoimento pessoal: enquanto este só pode se
dar na audiência de instrução e julgamento, aquele pode ocorrer em qualquer fase do
processo. Além disso o interrogatório tem por finalidade apenas esclarecer o juiz sobre fatos
da causa, enquanto o depoimento pessoal, além dessa finalidade, visa também a provocar
confissão;
Com relação ao depoimento de testemunhas, como a prova não está sendo produzida, mas
apenas assegurada, descabe a contradita do depoente. Ficará a cargo do juiz do processo
principal valorar o depoimento de acordo com princípio da persuasão racional, verificando,
inclusive, a existência de incapacidade, impedimento ou suspeição da testemunha;
A necessidade de ausentar-se da pessoa a ser ouvida deve ser prolongada e para local distante
ou de difícil acesso;
No que pertine ao exame pericial, tem predominado a tese (Freitas Câmara, Baptista da Silva,
Álvaro de Oliveira) de que apenas se assegura o exame stricto sensu (inspeção realizada por
perito em pessoas, coisas móveis e semoventes) e a vistoria (inspeção pericial sobre imóveis),
e não a avaliação e nem o arbitramento (as outras espécies de prova pericial). Isso porque
tanto a avaliação e quanto o arbitramento levam a um resultado valorativo, inadmissível em
sede cautelar que tem por objetivo apenas assegurar a produção da prova;
A antecipação do exame pericial cabe não só nos casos em que haja fundado receio de que
venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da
ação, mas também nas hipóteses em tal verificação se tornaria muito onerosa;
31.12.6.2. Procedimento
Varia de acordo com a prova a ser assegurada;
As três medidas “têm a genérica função de meramente possibilitar à parte manifestar, por
meio delas, qualquer intenção (como a de prevenir responsabilidades, a de ressalvar direitos,
impedir futura alegação de ignorância)”259;
31.12.7.1. Protesto
Segundo Theodoro Jr., é o ato judicial de comprovação ou de documentação de intenção do
promovente. Tem três finalidades: prevenir responsabilidades (ex: engenheiro que elaborou
um projeto e protesta para informar que o construtor não está seguindo), prover a
conservação (ex: interromper a prescrição) ou a ressalva (ex: credor que protesta contra ato
do devedor – e que também atinge os interessados na aquisição – de alienação do seu
patrimônio de modo a tornar-se insolvente) de direito (art. 867, CPC);
259
Wambier et alii, Curso avançado de processo civil, vol. 3, p. 112, apud Freitas Câmara.
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1106
A petição inicial deverá expor a conveniência e utilidade da medida, assim como o legítimo
interesse do requerente. Descabe, pois, o protesto genérico, em que não haja descrição dos
fatos e fundamentos da manifestação da vontade;
“Art. 869. O juiz indeferirá o pedido, quando o requerente não houver demonstrado legítimo
interesse e o protesto, dando causa a dúvidas e incertezas, possa impedir a formação de
contrato ou a realização de negócio lícito”. Por protesto que dá causa a dúvidas e incertezas
deve-se entender o protesto nocivo. A falta de interesse e a nocividade são requisitos
alternativos. Inobstante o dispositivo, o protesto não será capaz de criar obstáculo jurídico a
celebração de qualquer negócio jurídico;
O provimento judicial que indefere o protesto é sentença, passível de ser desafiada por
recurso de apelação;
A intimação será feita como no processo de conhecimento. Será, contudo, feita por editais nos
casos do art. 870, CPC: I - se o protesto for para conhecimento do público em geral, nos casos
previstos em lei, ou quando a publicidade seja essencial para que o protesto, notificação ou
interpelação atinja seus fins; II - se o citando for desconhecido, incerto ou estiver em lugar
ignorado ou de difícil acesso; III - se a demora da intimação pessoal puder prejudicar os efeitos
da interpelação ou do protesto;
Quando se tratar de protesto contra a alienação de bens, pode o juiz ouvir, em 3 dias, o
requerido, desde que Ihe pareça haver no pedido ato emulativo, tentativa de extorsão, ou
qualquer outro fim ilícito, decidindo em seguida sobre o pedido de publicação de editais.
Nesse caso o que se suspende não é o protesto, mas a publicação de editais;
Não admite a apresentação de defesa nem de contraprotesto, exceto, neste último caso, se
em processo distinto (que na verdade não será contraprotesto, mas sim um protesto dirigido
pelo requerente ao requerido);
Após a comunicação do protesto, os autos permaneceram em cartório por 48h, para que as
partes possam requerer as certidões que lhe interessem, após o qual serão os autos entregues
ao requerente independentemente de traslado;
No protesto não há sentença final, nem mesmo homologatória, por se tratar de mera
comunicação de uma manifestação de vontade;
Súmula 270, STJ: “O protesto pela preferência de crédito, apresentado por ente federal em
execução que tramita na Justiça Estadual, não desloca a competência para a Justiça Federal”.
31.12.7.2. Notificação
Consiste na cientificação que se faz a outrem conclamando-o a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa, sob cominação de pena. Não é capaz por si só de levar à efetivação prática da intenção
do requerente;
Seria exemplo a notificação feita pelo locador ao locatário, quando a locação estiver
prorrogada por prazo indeterminado, informando não ter mais interesse na continuação da
locação.
Ela pode ser feita extrajudicialmente, em tabelionato de títulos e protestos. Sobre essa
hipótese:
31.12.7.3. Interpelação
Tem o fim específico de fazer conhecer ao devedor a exigência de cumprimento de obrigação,
sob pena de ficar constituído em mora. Assim, só o credor pode interpelar;
260
Segundo Freitas Câmara a alienação de bem penhorado não é atentado, eis que é inoponível ao
exequente.
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1108
forma ilícita, alterando a estrutura física ou orgânica do bem litigioso, desviando-o, ocultando-
o, destruindo-o ou inutilizando-o (Theodoro Jr.). São exemplos: demandante que, após
cumprimento de liminar de reintegração de posse, dá início à demolição de benfeitoria
executada pelo demandado; nova turbação praticada pelo demandado após cumprimento de
liminar de manutenção de posse.
A “ação de atentado” é a via capaz de, cometido atentado, permitir o retorno ao estado
anterior, além de permitir a condenação do atentante a indenizar os prejuízos causados pelo
atentado;
Há quem considere que a “ação de atentado” não pode prosperar se a inovação for irreversível
(Baptista da Silva). Para Galeno Lacerda, Freitas Câmara não é a melhor posição, eis que a
tutela jurisdicional de atentado não se esgota com a reposição ao estado anterior, eis que a
sentença de procedência não só ordenará o restabelecimento do estado anterior, a suspensão
da causa principal e a proibição de o réu falar nos autos até a purgação do atentado, com
também poderá condenar o réu a ressarcir à parte lesada as perdas e danos que sofreu em
consequência do atentado;
Para Baptista da Silva, Freitas Câmara não é possível o atentado por omissão, eis que inovar no
estado de fato pressupõe conduta positiva. Contra: Galeno Lacerda;
Freitas Câmara também destaca não se tratar de atentado o ato da parte de mera continuação
de atos iniciados antes da pendência do processo;
Natureza jurídica: para Fidélis dos Santos é ação cautelar, eis que tem por finalidade assegurar
o desenvolvimento do processo já instaurado e no qual ocorreu a inovação. Para Baptista da
Silva, Freitas Câmara é ação de conhecimento, eis que o provimento jurisdicional nela
proferido tem conteúdo declaratório e condenatório, sujeito à formação da coisa julgada
material. Para Galeno Lacerda tem natureza mista, eis que cumula demanda cautelar – de
restituição dos fatos ao estado quo ante – e cognitiva – pretensão de natureza
condenatória/declaratória – de ressarcimento de dano causado;
É cabível apenas em caráter incidental, eis que pressupõe alteração ilícita de fatos em
processo principal já em tramitação;
Pode haver atentado no curso de demanda de qualquer natureza, desde que o processo
principal ainda esteja em curso e que dele já tenha conhecimento o demandado.
31.12.8.1. Pressupostos
Os requisitos do atentado são os seguintes: pendência do processo principal, inovação do
estado de fato inicial, ilegalidade da inovação e prejuízo para o interesse da outra parte;
Segundo Silva Pacheco, por alteração ilegal no estado de fato inicial se compreende tudo
aquilo que “atinja o objeto da ação ou tudo que lhe seja decorrente. Assim, constitui atentado:
(a) a modificação da matéria de fato ou de direito exposta na petição inicial; (b) a alteração na
posição das partes em relação a essa matéria exposta, objeto da ação; (c) a modificação de
tudo que seja decorrência desse objeto da ação, inclusive daquilo que lhe constitua meio de
prova e de tudo que decorra da relação processual criada”261;
No que pertine ao prejuízo à outra parte, não exige prejuízo material (que pode, ou não
ocorrer), mas apenas prejuízo à expectativa que tem a outra parte (adversária do atentante)
de obter resultado favorável, de obter em seu favor tutela jurisdicional.
31.12.8.2. Legitimidade
Apenas é legitimado para a “ação de atentado” quem for parte no processo principal. Parte em
sentido de “parte do processo”, todos aqueles que no processo principal participam do
contraditório: demandante, demandado e terceiros intervenientes. Assim, não são parte
legítima o MP (fiscal da lei) e os auxiliares da justiça;
Observe-se, contudo, que ocorre atentado quando o ato é praticado por terceiro, mas a
mando ou por instrução da parte.
31.12.8.3. Procedimento
A petição inicial deve observar os requisitos genéricos (art. 282, CPC), além daqueles previstos
no art. 801, CPC (inobstante não seja medida cautelar, mas por força do art. 812, CPC). Será
autuada em apartado e observará, quanto ao procedimento, o disposto nos arts. 802 e 803;
Será distribuída a inicial ao juiz do processo principal. Estando este pendente de apreciação de
recurso, mantém-se a competência do juiz que apreciou, em 1° grau, a “ação de atentado”, o
qual, contudo, deve informar o relator do recurso do seu oferecimento e do teor da sentença
proferida nos autos do processo respectivo;
261
Silva Pacheco. O atentado no processo civil. P. 174-175. Apud Freitas Câmara, v. 3.
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1110
Para os que defendem a natureza cognitiva da “ação de atentado”, há quem entenda ter a
sentença caráter mandamental (Baptista da Silva), e aqueles que sustentam o seu caráter
condenatório (Freitas Câmara, que, aliás, discorda da classificação quinária das ações);
A suspensão da causa principal é efeito que nem sempre deverá ser produzido, já que muitas
vezes apenas beneficia o atentador;
Sendo purgado o atentado, volta o demandado a poder falar no processo principal, que
retoma do ponto onde o mesmo estiver, não se afastando nenhuma das preclusões que se
tiverem operado enquanto perdurou a proibição de manifestação;
2. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 51. Acerca da legitimidade ativa para a propositura da
ação cautelar de arresto, o MP será parte ativa legítima, ainda que atue como custos
legis.
3. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 50. Na busca e apreensão de bens, com exceção de
situações abarcadas por lei especial, a adoção do rito específico previsto pelo CPC
independe de se tratar de medida de cunho tipicamente cautelar.
4. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 54. Antes de encerrado o processo cautelar de arresto
no qual foi deferida medida liminar, o requerido pediu ao juiz que a medida constritiva
cautelar fosse substituída por caução. Considerando essa situação, dado o pedido e
considerado o motivo de substituição da medida por outra menos gravosa, aplica-se a
fungibilidade.
5. TRF4 – XII – QUESTÃO 70. Não são cabíveis no processo cautelar, segundo a doutrina
majoritária, a denunciação da lide, o chamamento ao processo e a oposição, mas
admite-se a assistência e a nomeação à autoria.
6. TRF4 – XII – QUESTÃO 70. A competência para o processo cautelar é do juiz da causa
principal, mas, em caso de urgência, mostrando-se inviável o requerimento perante
este, a medida cautelar pode ser requerida ao juiz do local dos bens em risco de
lesão, que, em seguida, remeterá os autos ao juiz competente, que poderá manter ou
não a liminar.
10. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 11. O requerido será citado, qualquer que seja o
procedimento cautelar, para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o pedido, indicando
as provas que pretende produzir (art. 802, CPC).
11. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 11. Cessa a eficácia da medida cautelar preparatória se
o juiz declarar extinto o processo principal, com ou sem julgamento do mérito (art.
808, III, CPC).
12. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 11. O indeferimento da medida cautelar não obsta a
que a parte intente a ação, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no
procedimento cautelar, acolher a alegação de decadência ou de prescrição do direito
do autor (art. 810, CPC).
14. EMAGIS – 2012/13 – QUESTÃO 11. Segundo pacífica jurisprudência do STJ, O PRAZO
DE TRINTA DIAS PARA O AJUIZAMENTO DA AÇÃO PRINCIPAL É CONTADO A
PARTIR DA DATA DA EFETIVAÇÃO DA MEDIDA LIMINAR E NÃO DA SUA
CIÊNCIA AO AUTOR DA AÇÃO CAUTELAR. Inobservado esse prazo, será o caso de
extinção do processo sem julgamento do mérito.
15. EMAGIS – 2012/13 – QUESTÃO 11. Se já ajuizada a execução fiscal, não se admite que
o devedor ajuíze ação cautelar buscando caucionar a dívida a fim de obter certidão de
regularidade fiscal262.
16. EMAGIS – 2012/04 – QUESTÃO 11. Falta ao autor interesse de agir para a ação em que
postula a obtenção de documentos com dados societários, se não logra demonstrar,
cumulativamente, a) haver apresentado requerimento formal à ré nesse sentido e b) o
pagamento pelo custo do serviço respectivo, quando a empresa lho exigir263.
262
É certo que a jurisprudência do STJ sedimentou-se em reconhecer o cabimento de ação cautelar para
antecipar a futura penhora e autorizar a expedição de CPDEN (CTN, art. 206), sob pena de o contribuinte
ficar de mãos atadas enquanto o Fisco não aforar a competente execução fiscal. Pressuposto básico
para a aplicação desse entendimento, contudo, é a inexistência de execução fiscal ajuizada, pois, do
contrário, a penhora há de ser demandada na via própria, e não mediante ação cautelar que nem
mesmo interesse processual reuniria. Nesse sentido, veja-se o seguinte precedente do STJ:
TRIBUTÁRIO - PROCESSO CIVIL - AÇÃO CAUTELAR - EXECUÇÃO FISCAL - CERTIDÃO DE REGULARIDADE
FISCAL - SUFICIÊNCIA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - MANUTENÇÃO DE VÍCIOS JÁ APONTADOS PELO
STJ - NULIDADE - ART. 249, § 2º DO CPC - INSTRUMENTALIDADE – MULTA PROCESSUAL - PRETENSÃO
PREQUESTIONATÓRIA - SÚMULA 98/STJ. 1. (...) 2. É vedada a utilização de ação cautelar para a
prestação de caução ou fiança bancária se já ajuizada a execução fiscal. 3. Condicionada a vigência da
liminar em ação cautelar ao ajuizamento da execução, e movida esta, perde o objeto o provimento de
urgência. (...) (STJ, Segunda Turma, REsp 1176913, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe de 01/07/2010)
263
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE
PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. FORNECIMENTO DE DOCUMENTOS COM DADOS SOCIETÁRIOS. RECUSA. RECURSO À
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. LEI N. 6.404/1976, ART. 100, § 1º. AUSÊNCIA DO COMPROVANTE DE
RECOLHIMENTO DA "TAXA DE SERVIÇO". RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. LEI N. 11.672/2008. RESOLUÇÃO/STJ N. 8,
DE 07.08.2008. APLICAÇÃO.
I. Falta ao autor interesse de agir para a ação em que postula a obtenção de documentos com dados societários, se
não logra demonstrar: a) haver apresentado requerimento formal à ré nesse sentido; b) o pagamento pelo custo do
serviço respectivo, quando a empresa lhe exigir, legitimamente respaldada no art. 100, parágrafo, 1º da Lei
6.404/1976. [...] (REsp 982133/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
10/09/2008, DJe 22/09/2008)
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1113
17. EMAGIS – 2012/04 – QUESTÃO 11. A presunção de veracidade contida no art. 359264
do Código de Processo Civil não se aplica às ações cautelares de exibição de
documentos265.
2. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 51. A ausência do réu à audiência de conciliação não
gera revelia, ainda que seu advogado, presente ao ato, não tenha poderes para transigir.
4. EMAGIS – 2012/30 – QUESTÃO 12. Não será observado o rito sumário nas ações
relativas ao estado e à capacidade das pessoas.
264
Trata-se da presunção existente no procedimento probatório de exibição de documento ou coisa: Art.
359. Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que, por meio do documento ou da coisa, a
parte pretendia provar:
I - se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qualquer declaração no prazo do art. 357;
II - se a recusa for havida por ilegítima.
265
AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. ART. 359 DO CPC. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. NÃO
APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. LEI N. 11.672/2008. RESOLUÇÃO/STJ N. 8, DE 07.08.2008.
APLICAÇÃO.
1. A presunção de veracidade contida no art. 359 do Código de Processo Civil não se aplica às ações cautelares de
exibição de documentos. Precedentes.
2. Na ação cautelar de exibição, não cabe aplicar a cominação prevista no art. 359 do CPC, respeitante à confissão
ficta quanto aos fatos afirmados, uma vez que ainda não há ação principal em curso e não se revela admissível,
nesta hipótese, vincular o respectivo órgão judiciário, a quem compete a avaliação da prova, com o presumido
teor do documento. [...] (REsp 1094846/MS, Rel. Ministro CARLOS FERNANDO MATHIAS (JUIZ FEDERAL
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/03/2009, DJe 03/06/2009)
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6. EMAGIS – 2012/30 – QUESTÃO 12. Se, na primeira audiência do rito sumário, o réu
comparece desacompanhado de advogado e sem apresentar contestação, está
caracterizada a revelia266.
7. EMAGIS – 2011/52 – QUESTÃO 11. Marta ajuizou ação, pelo procedimento sumário,
pedindo indenização no valor de R$ 60 mil por danos materiais que teria suportado após
ter sido atropelada por um motorista de veículo de passeio que realizara manobra
abrupta. A autora requereu perícia e oitiva de testemunhas. Nessa situação hipotética,
de acordo com o direito processual civil, a falta de contestação e a ausência do réu à
audiência de conciliação poderão ensejar a revelia.
266
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUDIÊNCIA DE QUE
TRATA O ART. 277 DO CPC. COMPARECIMENTO DO RÉU DESACOMPANHADO DE ADVOGADO E SEM
APRESENTAR CONTESTAÇÃO. REVELIA. SÚMULA N. 83/STJ. ALEGAÇÃO DE IRREGULARIDADE NA
CITAÇÃO. SÚMULA N. 7/STJ.
1. Considera-se caracterizada a revelia nas causas de procedimento sumário quando o réu comparece
ao ato sem, no entanto, apresentar contestação. Precedentes. 2. "Não se conhece do recurso especial
pela divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida" -
Súmula n. 83/STJ. 3. O recurso especial não é sede própria para rever questão referente à regularidade
do ato citatório se, para tanto, faz-se necessário reexaminar elementos fáticos. Aplicação da Súmula n.
7/STJ. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 1331798/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 05/05/2011, DJe 12/05/2011)
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