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RESUMO

DE DIREITO
PROCESSUAL CIVIL

2012
2

SUMÁRIO

1. JURISDIÇÃO...................................................................................................................................... 33

1.1. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO ........................................................................................... 33


1.1.1. Conceito ................................................................................................................................... 33
1.1.1.1. Dinossauros da Jurisdição: Chiovenda e Carnelutti .......................................................................... 33
1.1.1.2. Teorias Modernas da Jurisdição ....................................................................................................... 34
1.1.2. Heterocomposição ................................................................................................................... 35
1.1.3. Jurisdição como Atividade Criativa .......................................................................................... 35
1.1.4. A Jurisdição Sempre Atua em uma Situação Concreta ............................................................ 36
1.1.5. Impossibilidade de Controle Externo ....................................................................................... 36
1.1.6. Escopos ou Finalidades da Jurisdição ....................................................................................... 36
1.2. EQUIVALENTES JURISDICIONAIS ............................................................................................................... 37
1.2.1. Autotutela ................................................................................................................................ 37
1.2.2. Autocomposição ...................................................................................................................... 38
1.2.2.1. Transação com o Poder Público ........................................................................................................ 38
1.2.3. Mediação ................................................................................................................................. 40
1.2.4. Arbitragem ............................................................................................................................... 40
1.2.4.1. Arbitragem e Poder Público .............................................................................................................. 44
1.2.5. Conciliação ............................................................................................................................... 47
1.2.6. Equivalentes Jurisdicionais – Tabela Síntese ............................................................................ 50
1.3. PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO..................................................................................................................... 50
1.4. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO ............................................................................................................ 52
1.5. ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO ........................................................................................................................ 53
1.6. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA OU INTEGRATIVA ............................................................................................... 53
1.6.1. Princípios .................................................................................................................................. 54
1.6.2. Natureza Jurídica ..................................................................................................................... 54
1.6.3. Características ......................................................................................................................... 55
1.7. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ..................................................................................................................... 55

2. COMPETÊNCIA ................................................................................................................................. 56

2.1. CONCEITO ........................................................................................................................................... 56


2.1.1. Fases da Determinação da Competência ................................................................................. 57
2.2. PRINCÍPIOS DA TIPICIDADE E DA INDISPONIBILIDADE DA COMPETÊNCIA ........................................................... 59
2.3. A PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO (ART. 87, CPC) ....................................................................................... 60
2.3.1. Exceções à Perpetuação da Jurisdição ..................................................................................... 61
2.4. COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO (ARTS. 251 E 252) ................................................................................. 61
2.5. CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA ........................................................................................................... 62
2.5.1. Competência do Foro (Territorial) e Competência do Juízo ..................................................... 62
2.5.2. Competência Originária e Derivada ......................................................................................... 62
2.5.3. Competência Relativa e Absoluta ............................................................................................ 63
2.5.3.1. Especificidades da Incompetência Relativa ...................................................................................... 64
2.5.3.2. Especificidades da Incompetência Absoluta ..................................................................................... 65
2.5.4. Síntese dos Pontos Vistos Anteriores ....................................................................................... 65
2.5.5. Competência Limitada e Competência Delimitada .................................................................. 66
2.6. COMPETÊNCIA INTERNACIONAL ............................................................................................................... 67
2.6.1. Introdução................................................................................................................................ 67
2.6.1.1. Competência Internacional Concorrente ou Cumulativa (art. 88, CPC) ................................ 67
2.6.1.2. Competência Internacional Exclusiva (art. 89, CPC) ......................................................................... 68
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2.6.1.3. Litispendência Internacional ............................................................................................................. 68


2.7. MÉTODO DE IDENTIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA .......................................................................................... 68
2.8. CRITÉRIOS DETERMINATIVOS DE DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA ................................................................. 69
2.8.1. A Competência Territorial (arts. 94 a 100, CPC) ...................................................................... 69
2.8.1.1. O Foro Comum, Geral ou Ordinário (art. 94, CPC) ............................................................................ 69
2.8.1.2. Direitos Reais Imobiliários (art. 95, CPC) .......................................................................................... 70
2.8.1.3. Ações Afetas às Sucessões ................................................................................................................ 71
2.8.1.4. Réu Ausente...................................................................................................................................... 71
2.8.1.5. Réu Incapaz ....................................................................................................................................... 71
2.8.1.6. União ................................................................................................................................................ 71
2.8.1.7. Competência por Delegação (art. 109, § 3º, CR/88) ......................................................................... 72
2.8.1.8. Separação, Conversão em Divórcio e Anulação de Casamento (art. 100, I) ..................................... 74
2.8.1.9. Ações de Alimentos (art. 100, II, CPC) .............................................................................................. 75
2.8.1.10. Outras Regras ................................................................................................................................. 75
2.8.1.11. Seções e Subseções Judiciárias ....................................................................................................... 76
2.9. COMPETÊNCIA FUNCIONAL..................................................................................................................... 77
2.9.1. Competência Funcional X Competência Territorial Absoluta ................................................... 78
2.9.2. O Princípio da Identidade Física do Juiz ................................................................................... 78
2.10. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA .................................................................................................. 79
2.10.1. Varas Especializadas: Competência Absoluta em Razão da Matéria .................................... 79
2.11. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA PESSOA .................................................................................................... 80
2.12. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO VALOR DA CAUSA....................................................................................... 80
2.12.1. Juizados Especiais Cíveis Estaduais – Lei nº 9.099/95............................................................ 80
2.12.2. Juizados Especiais Cíveis Federais – Lei nº 10.259/01 ........................................................... 81
2.12.2.1. Juizados Especiais Federais Adjuntos ............................................................................................. 82
2.13. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL....................................................................................................... 82
2.13.1. Características ....................................................................................................................... 82
2.13.2. Competência em Razão da Pessoa ........................................................................................ 83
2.13.2.1. Art. 109, I ........................................................................................................................................ 83
2.13.2.1.1. Exceções: Falência, Acidentes de Trabalho e Causas Sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho .................................................................................................................................................... 87
2.13.2.2. Art. 109, II ....................................................................................................................................... 87
2.13.2.3. Art. 109, VIII .................................................................................................................................... 88
2.13.3. Competência Funcional .......................................................................................................... 90
2.13.3.1. Art. 109, X, segunda parte .............................................................................................................. 90
2.13.4. Competência em Razão da Matéria....................................................................................... 91
2.13.4.1. Art. 109, III ...................................................................................................................................... 91
2.13.4.2. Art. 109, V-A ................................................................................................................................... 93
2.13.4.3. Art. 109, XI ...................................................................................................................................... 95
2.13.4.4. Art. 109, X, parte final ..................................................................................................................... 97
2.13.5. Competência Territorial da Justiça Federal ............................................................................ 98
2.13.5.1. A Competência Relativa das Subseções Judiciárias ...................................................................... 101
2.13.6. Juízo Estadual com Competência Federal ............................................................................ 104
2.13.6.1. Competência Delegada Prevista em Lei (Lei nº 5.010/66) ............................................................ 108
2.13.6.2. Conflitos em Sede Federal ............................................................................................................ 111
2.14. PRORROGAÇÃO OU MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA.............................................................................. 112
2.14.1. Conceito ............................................................................................................................... 112
2.14.2. Prorrogação Legal ................................................................................................................ 112
2.14.2.1. Conexão e Continência ................................................................................................................. 112
2.14.2.1.1. Conceito ................................................................................................................................ 112
2.14.2.1.2. Objetivos ............................................................................................................................... 116

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2.14.2.1.3. Obrigatoriedade ou Facultatividade? ................................................................................... 116


2.14.2.1.4. Competência na Conexão ..................................................................................................... 117
2.14.2.1.5. Distinção entre Alegação de Modificação de Competência e Alegação de Incompetência
Relativa ................................................................................................................................................... 119
2.14.2.2. Ausência de Ingresso pelo Réu de Exceção Declinatória de Foro ................................................. 119
2.14.3. Prorrogação Voluntária ....................................................................................................... 120
2.14.3.1. Eleição de Foro ............................................................................................................................. 120
2.14.3.2. Vontade Unilateral do Autor ........................................................................................................ 120
2.15. PREVENÇÃO .................................................................................................................................... 120
2.16. CONFLITO DE COMPETÊNCIA............................................................................................................... 121
2.16.1. Legitimidade e Participação do MP ..................................................................................... 122
2.16.2. Competência para Julgar o Conflito ..................................................................................... 123
2.16.3. Procedimento ....................................................................................................................... 123
2.17. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................. 123

3. PROCESSO ...................................................................................................................................... 129

3.1. TEORIAS DO PROCESSO........................................................................................................................ 129


3.1. PROCESSO X PROCEDIMENTO ............................................................................................................... 132
3.2. RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL ........................................................................................................... 134
3.2.1. Composição ............................................................................................................................ 134
3.2.2. Características ....................................................................................................................... 134
3.2.3. O Processo Como Aparato da Democracia ............................................................................ 134
3.3. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ............................................................................................................... 135
3.3.1. Pressupostos de Existência e Requisitos de Validade ............................................................ 135
3.3.1.1. Pressupostos de Existência ............................................................................................................. 136
3.3.1.2. Requisitos de Validade.................................................................................................................... 137
3.3.2. Pressupostos Objetivos e Subjetivos ...................................................................................... 139
3.3.2.1. Pressupostos Subjetivos ................................................................................................................. 139
3.3.2.2. Pressupostos Objetivos Extrínsecos e Intrínsecos .......................................................................... 139
3.3.2.3.Pressupostos Processuais – Tabelas Síntese .................................................................................... 140
3.4. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS..................................................................................................................... 140
3.4.1. Devido Processo Legal............................................................................................................ 140
3.4.2. Contraditório .......................................................................................................................... 142
3.4.3. Princípios Dispositivos e Inquisitivos ...................................................................................... 143
3.4.4. Motivação das Decisões......................................................................................................... 143
3.4.5. Isonomia ................................................................................................................................ 144
3.4.6. Economia Processual ............................................................................................................. 144
3.4.7. Instrumentalidade das Formas .............................................................................................. 144
3.4.8. Razoável Duração do Processo .............................................................................................. 144
3.4.8.1. Razoável Duração do Processo X Celeridade .................................................................................. 146
3.4.9. Duplo Grau de Jurisdição ....................................................................................................... 147
3.5. REGRAMENTO PROCESSUAL DAS PESSOAS CASADAS.................................................................................. 149
3.5.1. A Restrição da Capacidade Processual de Acordo com o CC/02 ............................................ 149
3.5.2. Forma e Prova do Consentimento.......................................................................................... 150
3.5.3. Aplicação das Disposições sobre o Consentimento do Cônjuge na União Estável ................. 150
3.5.4. O Controle da Legitimidade Processual do Cônjuge .............................................................. 150
3.6. CURADOR ESPECIAL ............................................................................................................................ 151
3.7. OS SUJEITOS DO PROCESSO .................................................................................................................. 151
3.7.1. Deveres e Direitos das Partes e Procuradores ....................................................................... 152
3.7.1.1. Atos Atentatórios ao Exercício da Jurisdição – Contempt of Court (art. 14, CPC) .......................... 152
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3.7.1.1.1. Contempt of Court X Astreintes .............................................................................................. 155


3.7.1.2. Responsabilidade das Partes por Danos Processuais (arts. 17 e 18, CPC) ...................................... 157
3.7.1.3. Despesas e Custas Processuais ....................................................................................................... 158
3.7.1.4. Advogados ...................................................................................................................................... 160
3.9. O NEOPROCESSUALISMO ..................................................................................................................... 161
3.9.1. Neoprocessualismo (Segundo Didier) .................................................................................... 167
3.10. O NEOPRIVATISMO NO PROCESSO CIVIL ............................................................................................... 168
3.10. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................. 168

4. AÇÃO ............................................................................................................................................. 174

4.1. TEORIAS DA AÇÃO .............................................................................................................................. 176


4.2. A DEMANDA E A RELAÇÃO JURÍDICA SUBSTANCIAL.................................................................................... 178
4.3. ELEMENTOS DA AÇÃO ......................................................................................................................... 178
4.3.1. Partes ..................................................................................................................................... 178
4.3.2. Pedido .................................................................................................................................... 179
4.3.3. Causa de Pedir ....................................................................................................................... 179
4.4. CONDIÇÕES DE AÇÃO .......................................................................................................................... 180
4.4.1. Momento de Verificação das Condições da Ação – Teoria da Asserção ou Prospecção X Teoria
da Exposição ou Apresentação ........................................................................................................ 180
4.4.2. A Possibilidade Jurídica do Pedido ......................................................................................... 182
4.4.3. Interesse de Agir .................................................................................................................... 183
4.4.4. Legitimidade .......................................................................................................................... 186
4.4.4.1. Classificação das Legitimidades ...................................................................................................... 187
4.4.4.2. Substituição Processual ou Legitimação Extraordinária ................................................................. 187
4.4.4.3. Substituição Processual e Representação Processual .................................................................... 188
4.5. TIPOLOGIA DAS AÇÕES ........................................................................................................................ 188
4.5.1. Ações de Prestação ................................................................................................................ 188
4.5.2. Ações Constitutivas ................................................................................................................ 190
4.5.3. Ações Meramente Declaratórias ........................................................................................... 190
4.5.4. Ações Dúplices ....................................................................................................................... 191
4.6. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................... 191

5. INTERVENÇÕES DE TERCEIROS ....................................................................................................... 192

5.1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 192


5.2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS ................................................................................................................. 194
5.3. EFEITOS NA RELAÇÃO PROCESSUAL ........................................................................................................ 195
5.4. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS E PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS ..................................................................... 195
5.4.1. Intervenções no Processo/Fase de Execução ......................................................................... 196
5.4.2. Intervenções no Processo Cautelar ........................................................................................ 196
5.4.3. Tabela Sintética – Hipóteses de Cabimento da Intervenção de Terceiros.............................. 197
5.5. INTERVENÇÕES TÍPICAS E INTERVENÇÕES ATÍPICAS .................................................................................... 197
5.5.1. A Lei nº 9.469/97 – Intervenção Anômala ............................................................................. 197
5.6. ASSISTÊNCIA (ARTS. 50 A 55, CPC) ....................................................................................................... 200
5.6.1. Conceito ................................................................................................................................. 200
5.6.2. Assistência Simples ou Adesiva .............................................................................................. 201
5.6.2.1. Efeitos da Decisão para o Assistente .............................................................................................. 203
5.6.3. Assistência Litisconsorcial ou Qualificada .............................................................................. 204
5.6.3.1. Qualidade do Assistente Litisconsorcial.......................................................................................... 204
5.6.3.2. Efeitos da Decisão para o Assistente Litisconsorcial ....................................................................... 205

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5.6.4. Procedimento ......................................................................................................................... 205


5.6.4.1. Assistência Litisconsorcial na Ação Popular .................................................................................... 206
5.7. OPOSIÇÃO (ARTS. 56 A 61, CPC) .......................................................................................................... 206
5.7.1. Conceito ................................................................................................................................. 206
5.7.1.1. Diferença entre Oposição e Embargos de Terceiros ....................................................................... 207
5.7.1.2. Demanda Bifronte .......................................................................................................................... 207
5.7.2. Espécies de Oposição ............................................................................................................. 207
5.7.2.1. Oposição Interventiva ..................................................................................................................... 208
5.7.2.2. Oposição Autônoma ....................................................................................................................... 208
5.7.3. Procedimento ......................................................................................................................... 209
5.7.3.1. Recurso Cabível contra Decisão da Oposição ................................................................................. 211
5.7.4. Oposição Sucessiva ................................................................................................................ 211
5.8. NOMEAÇÃO À AUTORIA (ARTS. 62 A 69, CPC) ........................................................................................ 211
5.8.1. Hipóteses de Cabimento ........................................................................................................ 212
5.8.1.1. Nomeação à Autoria pelo Mero Detentor ...................................................................................... 212
5.8.1.2. Nomeação à Autoria pelo Mandatário em Demandas de Reparação de Dano .............................. 212
5.8.1.3. Procedimento ................................................................................................................................. 212
5.9. DENUNCIAÇÃO DA LIDE (ARTS. 70 A 76, CPC) ......................................................................................... 214
5.9.1. Obrigatoriedade da Denunciação .......................................................................................... 215
5.9.2. Situação Processual do Denunciado ...................................................................................... 215
5.9.3. Denunciação Sucessiva .......................................................................................................... 217
5.9.4. Hipóteses de Cabimento ........................................................................................................ 218
5.9.4.1. Denunciação da Lide Feita pelo Comprador Evicto (art. 70, I, CPC e art. 456, CC/02) .................... 218
5.9.4.2. Denunciação da Lide Feita pelo Possuidor Direto (art. 70, II, CPC) ................................................. 218
5.9.4.3. Denunciação do Obrigado, por Lei ou Contrato, a Indenizar Regressivamente (art. 70, III) ........... 219
5.9.5. Procedimento ......................................................................................................................... 220
5.9.5.1. Denunciação Formulada pelo Autor ............................................................................................... 220
5.9.5.2. Denunciação Formulada pelo Réu .................................................................................................. 220
5.9.5.3. Denunciação da Lide nas Relações de Consumo ............................................................................ 221
5.10. CHAMAMENTO AO PROCESSO (ARTS. 77 A 80, CPC) .............................................................................. 222
5.10.1. Hipóteses de Cabimento ...................................................................................................... 222
5.10.2. Procedimento ....................................................................................................................... 224
5.10.3. Chamamento ao Processo no CDC ....................................................................................... 224
5.10.4. Chamamento ao Processo em Cautelares ........................................................................... 224
5.11. RECURSO DE TERCEIRO PREJUDICADO .................................................................................................. 225
5.12. TABELAS SÍNTESE ............................................................................................................................. 228
5.13. OBSERVAÇÕES DE PROVA................................................................................................................... 231

6. LITISCONSÓRCIO ............................................................................................................................ 233

6.1. CONCEITO ......................................................................................................................................... 233


6.2. CLASSIFICAÇÃO .................................................................................................................................. 234
6.2.1. Litisconsórcio Inicial e Ulterior ............................................................................................... 234
6.2.2. Diferenças entre Litisconsórcios Unitário, Simples, Necessário e Facultativo........................ 236
6.2.2.1. Litisconsórcio Unitário .................................................................................................................... 236
6.2.2.2. Litisconsórcio Simples ou Comum .................................................................................................. 238
6.2.2.3. Litisconsórcio Necessário (art. 47) .................................................................................................. 238
6.2.2.4. Litisconsórcio Facultativo ............................................................................................................... 239
6.2.3. Conjugações entre as Várias Tipologias de Litisconsórcios .................................................... 240
6.2.3.1. Litisconsórcio Necessário Ativo ...................................................................................................... 240
6.2.3.2. Litisconsórcio Facultativo Ativo Simples e Unitário ........................................................................ 241

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6.2.3.3. Litisconsórcio Facultativo Unitário ................................................................................................. 242


6.2.3.4. Litisconsórcio Necessário Unitário .................................................................................................. 245
6.2.3.5. Litisconsórcio Necessário Simples .................................................................................................. 246
6.2.3.6. Litisconsórcio Facultativo Simples .................................................................................................. 247
6.2.4. Litisconsórcio Eventual, Alternativo e Sucessivo .................................................................... 248
6.2.5. Litisconsórcio Facultativo Impróprio, Recusável e Multitudinário ......................................... 248
6.3. CONSEQUÊNCIA DA NÃO FORMAÇÃO DO LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO ........................................................ 249
6.4. REGIME DE TRATAMENTO DOS LITISCONSORTES ....................................................................................... 250
6.4.1. Regras .................................................................................................................................... 250
6.5. INTERVENÇÃO IUSSU IUDICIS (ART. 47, P. ÚNICO) ..................................................................................... 252
6.6. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................... 253

7. ALIENAÇÃO DA COISA OU OBJETO LITIGIOSO (ART. 42, CPC) ......................................................... 255

8. TEORIA DOS FATOS JURÍDICOS PROCESSUAIS – PLANO DA EXISTÊNCIA ......................................... 256

8.1. ATO E PROCEDIMENTO ........................................................................................................................ 256


8.2. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS ................................................................................................. 256
8.2.1. Ônus Processual, Dever Processual, Encargo Processual e Faculdade Processual ................. 257
8.3. CONCEITO DE ATO PROCESSUAL ............................................................................................................ 257
8.3.1. Atos Processuais dos Juízes Delegáveis aos Serventuários: Mero Expediente ....................... 257
8.4. ATO ILÍCITO PROCESSUAL ..................................................................................................................... 258
8.5. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................... 258

9.INVALIDADES PROCESSUAIS ........................................................................................................... 258

9.1. SISTEMA DE INVALIDADES PROCESSUAIS – REGRAS ................................................................................... 258


9.1.1. Sistema de Invalidades Processuais e Sistema de Invalidades do Direito Material ............... 258
9.1.1.1. Natureza Jurídica das Nulidades ..................................................................................................... 259
9.1.1.2. Natureza Jurídica da Decisão que Decreta a Nulidade ................................................................... 259
9.1.2. Os Tipos ou Espécies de Defeitos (ou Vícios) Processuais ...................................................... 259
9.1.3. Não Há Invalidades Sem Prejuízo – Princípios Regentes........................................................ 262
9.1.4. Intervenção do Ministério Público e Invalidade ..................................................................... 264
9.1.5. Princípio do Aproveitamento dos Atos Processuais Defeituosos – Fungibilidade .................. 264
9.1.6. Invalidade do Procedimento e Invalidade de Cada um dos Atos do Procedimento ............... 265
9.1.7. Invalidação de Atos do Juiz, das Partes e dos Auxiliares da Justiça ....................................... 265
9.1.7.1. Atos do Juiz ..................................................................................................................................... 265
9.1.7.2. Atos das Partes ............................................................................................................................... 265
9.1.7.3. Atos dos Auxiliares da Justiça ......................................................................................................... 266
9.1.8. Princípios da Proporcionalidade, da Cooperação e da Economia Processual ........................ 266
9.1.9. Princípio da Lealdade Processual (Venire Contra Factum Proprium) ..................................... 266
9.2. NULIDADES ABSOLUTAS E RELATIVAS ..................................................................................................... 266
9.3. SUPRIMENTO, SANAÇÃO, REPETIÇÃO E CONVALIDAÇÃO DAS NULIDADES....................................................... 267
9.4. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................... 268

10. PRECLUSÃO .................................................................................................................................. 269

10.1. CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................................................ 269


10.1.1. Preclusão Temporal ............................................................................................................. 269
10.1.2. Preclusão Lógica .................................................................................................................. 269
10.1.3. Preclusão Consumativa ........................................................................................................ 269
10.1.4. Preclusão Sanção ou Preclusão Punitiva .............................................................................. 270
10.2. NATUREZA JURÍDICA DA PRECLUSÃO .................................................................................................... 270

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10.3. PRECLUSÃO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA .............................................................................................. 270


10.4. EFEITOS DA PRECLUSÃO ..................................................................................................................... 270
10.5. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................. 270

11. TEORIA DA COGNIÇÃO JUDICIAL E TEORIA GERAL DO PROCEDIMENTO ....................................... 271

11.1. CONCEITO DE COGNIÇÃO ................................................................................................................... 271


11.2. CONCEITO DE QUESTÃO..................................................................................................................... 272
11.3. Resolução das Questões: Resolução Incidenter Tantum e Principaliter Tantum .................... 272
11.4. OBJETO DO PROCESSO E OBJETO LITIGIOSO DO PROCESSO ....................................................................... 273
11.5. OBJETO DA COGNIÇÃO JUDICIAL .......................................................................................................... 274
11.5.1. Questões de Fato e de Direito .............................................................................................. 274
11.5.2. Questões Preliminares e Questões Prejudiciais ................................................................... 275
11.5.3. Condições da Ação, Pressupostos Processuais e Mérito: Questões de Admissibilidade e
Questões de Mérito ......................................................................................................................... 275
11.6. O PROCEDIMENTO (VISÃO GERAL DO PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO) .............................................. 275
11.7. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................. 277

12. PETIÇÃO INICIAL ........................................................................................................................... 277

12.1. REQUISITOS ESTRUTURAIS DA INICIAL NO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO ....................................................... 277


12.2. EMENDA DA INICIAL .......................................................................................................................... 279
12.3. INDEFERIMENTO DA INICIAL (ARTS. 295 A 296) ..................................................................................... 279
12.3.1. Hipóteses de Indeferimento da Petição Inicial (art. 295) ..................................................... 281
12.4. O PEDIDO ....................................................................................................................................... 281
12.4.1. Conceito e Divisão ................................................................................................................ 281
12.4.2. Requisitos ............................................................................................................................. 282
12.4.3. Cumulação de Pedidos ......................................................................................................... 282
12.4.3.1. Cumulação Própria: Simples ou Sucessiva .................................................................................... 282
12.4.3.2. Cumulação Imprópria: Subsidiária ou Alternativa ........................................................................ 282
12.4.3.3. Cumulação Inicial e Cumulação Posterior..................................................................................... 284
12.4.3.4. Requisitos para a Cumulação........................................................................................................ 284
12.4.4. Tipologia .............................................................................................................................. 286
12.4.4.1. Pedido Implícito e Interpretação do Pedido ................................................................................. 286
12.4.4.2. Pedido Genérico (art. 286)............................................................................................................ 287
12.5. O VALOR DA CAUSA (ARTS. 258 A 261) ............................................................................................... 287
12.6. PRINCÍPIO DA ESTABILIZAÇÃO DA DEMANDA .......................................................................................... 291
12.7. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................. 293

13. JULGAMENTO PRELIMINAR DE MÉRITO – A IMPROCEDÊNCIA PRIMA FACIE ................................ 294

13.1. GENERALIDADES............................................................................................................................... 294


13.1.1. Indeferimento Liminar em Razão do Reconhecimento da Prescrição ou Decadência Legal 295
13.1.2. Julgamento de Causas Repetitivas (art. 285-A) ................................................................... 295
13.2. HIPÓTESES DE JULGAMENTO PRIMA FACIE – TABELA REPRESENTATIVA ....................................................... 297
13.3. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................. 298

14. CITAÇÃO E ATOS PROCESSUAIS .................................................................................................... 298

14.1. GENERALIDADES............................................................................................................................... 298


14.2. CITAÇÃO COMO PRESSUPOSTO PROCESSUAL.......................................................................................... 298
14.2.1. Nulidade da Citação – Não Convalescimento ...................................................................... 300
14.3. COMPARECIMENTO DO RÉU NÃO CITADO ............................................................................................. 302

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14.4. A RECORRIBILIDADE DO “CITE-SE” ....................................................................................................... 302


14.5. PESSOALIDADE (QUEM DEVE SER CITADO) ............................................................................................ 303
14.6. IMPEDIMENTO LEGAL PARA A CITAÇÃO (ART. 217) ................................................................................. 303
14.7. EFEITOS DA CITAÇÃO (ART. 219) ......................................................................................................... 303
14.7.1. Induz Litispendência............................................................................................................. 304
14.7.2. Torna Litigiosa a Coisa ......................................................................................................... 304
14.7.3. Torna Prevento o Juízo ......................................................................................................... 304
14.7.4. Constitui em Mora o Devedor .............................................................................................. 305
14.7.5. Interrompe a Prescrição, ainda que Ordenada por Juiz Incompetente ................................ 305
14.8. MODALIDADES DE CITAÇÃO................................................................................................................ 309
14.8.1. Citação por Correio (art. 222) .............................................................................................. 309
14.8.2. Citação por Mandado (art. 224) .......................................................................................... 311
14.8.3. Citação por Mandado com Hora Certa (arts. 227 a 229) ..................................................... 311
14.8.4. Citação por Edital (art. 231) ................................................................................................. 312
14.8.5. Citação Eletrônica ................................................................................................................ 313
14.9. ATOS PROCESSUAIS .......................................................................................................................... 313
14.9.1. Da Forma dos Atos Processuais (arts. 154 a 171) ................................................................ 313
14.9.2. Do Tempo e do Lugar dos Atos Processuais (arts. 172 a 176) ............................................. 314
14.9.3. Prazos Processuais (arts. 177 a 199) .................................................................................... 316
14.9.3.1. Prazos ........................................................................................................................................... 316
14.9.3.2. Curso dos Prazos ........................................................................................................................... 316
14.9.3.3. Contagem dos Prazos ................................................................................................................... 316
14.9.3.4. Prazos Especiais ............................................................................................................................ 317
14.9.4. Comunicações dos Atos – Cartas Precatórias, Rogatórias e de Ordem ............................... 318
14.9.5. Oficialidade das Informações Insertas em Sites dos Tribunais ............................................ 321
14.10. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ............................................................................................................... 322

15. RESPOSTA DO RÉU E REVELIA ....................................................................................................... 324

15.1. TEORIA GERAL DA EXCEÇÃO ............................................................................................................... 325


15.1.1. Acepções de Exceção ........................................................................................................... 325
15.2. ESPÉCIES DE DEFESA ......................................................................................................................... 325
15.2.1. Admissibilidade/Mérito ....................................................................................................... 325
15.2.2. Objeções/Exceções ............................................................................................................... 325
15.2.2.1. Relação entre Questões Prévias e Objeções e Exceções .............................................................. 326
15.2.3. Defesa Indireta e Direta ....................................................................................................... 326
15.2.4. Defesa Interna e Instrumental ............................................................................................. 326
15.2.5. DEFESAS PROCESSUAIS ................................................................................................................... 327
15.2.6. Regras dos Prazos de Resposta ............................................................................................ 327
15.3. A CONTESTAÇÃO .............................................................................................................................. 328
15.3.1. Noção Geral ......................................................................................................................... 328
15.3.2. A Regra da Eventualidade ou Concentração da Defesa ....................................................... 328
15.3.3. Ônus da Impugnação Específica (art. 302) .......................................................................... 330
15.3.4. Formas e Requisitos da Defesa ............................................................................................ 330
15.3.5. Aditamento e Indeferimento da Contestação ...................................................................... 331
15.3.6. Pedido Contraposto em Contestação................................................................................... 331
15.3.7. Defesas Dilatórias ................................................................................................................ 332
15.3.7.1. Inexistência ou Nulidade de Citação (art. 301, I, CPC) .................................................................. 332
15.3.7.2. Incompetência Absoluta do Juízo (art. 301, II, CPC) ..................................................................... 332
15.3.7.3. Conexão/Continência (art. 301, VII, CPC) ..................................................................................... 332

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15.3.8. Defesas Peremptórias .......................................................................................................... 333


15.3.8.1. Inépcia da Petição Inicial (art. 301, III, CPC) .................................................................................. 333
15.3.8.2. Perempção (art. 301, IV, CPC)....................................................................................................... 333
15.3.8.3. Litispendência (art. 301, V, CPC) ................................................................................................... 334
15.3.8.4. Coisa Julgada (art. 301, VI, CPC) ................................................................................................... 334
15.3.8.5. Convenção de Arbitragem (art. 301, IX, CPC) ............................................................................... 334
15.3.8.6. Carência de Ação (art. 301, X)....................................................................................................... 334
15.4. RECONVENÇÃO (ARTS. 315 A 318) ..................................................................................................... 334
15.4.1. Noções Gerais ...................................................................................................................... 334
15.4.2. Condições da Ação Reconvencional ..................................................................................... 336
15.4.3. Pressupostos Processuais Reconvencionais ......................................................................... 336
15.4.4. Reconvenção e Substituição Processual (art. 315, p. único) ................................................ 337
15.4.5. Julgamento da Reconveção ................................................................................................. 337
15.4.6. Reconvenção X Ação Dúplice X Pedido Contraposto ............................................................ 337
15.4.7. Tabela Síntese ...................................................................................................................... 338
15.5. EXCEÇÕES INSTRUMENTAIS OU PROCESSUAIS ......................................................................................... 338
15.5.1. Generalidades ...................................................................................................................... 338
15.5.2. Arguição de Impedimento e Suspeição (arts. 134 a 138)..................................................... 339
15.5.2.1. Generalidades ............................................................................................................................... 339
15.5.3. Exceção de Incompetência ................................................................................................... 342
15.5.4. Impugnação ao Valor da Causa ........................................................................................... 342
15.5.5. Impugnação à Concessão da Justiça Gratuita ..................................................................... 342
15.6. RECONHECIMENTO JURÍDICO DO PEDIDO .............................................................................................. 343
15.7. AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL ....................................................................................................... 343
15.7.2. Diferenças entre Ação Declaratória Incidental e Reconvenção ........................................... 345
15.8. REVELIA (ARTS. 319 A 322) ............................................................................................................... 346
15.8.1. Conceito ............................................................................................................................... 346
15.8.2. Efeitos da Revelia ................................................................................................................. 347
15.8.3. Mitigações à Eficácia da Revelia .......................................................................................... 347
15.8.3.1. A Confissão Ficta Não é Efeito Necessário da Revelia .................................................................. 347
15.8.3.2. Intervenção do Réu-Revel............................................................................................................. 348
15.8.3.3. Revelia Ulterior ............................................................................................................................. 349
15.8.3.4. Revelia Formal e Material ............................................................................................................. 349
15.8.3.5. A Revelia na Justiça Federal .......................................................................................................... 349
15.8.3.6. Tabela Síntese ............................................................................................................................... 350
15.9. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................. 350

16. PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO ............... 351

16.1. SANEAMENTO E FASE DE SANEAMENTO (OU FASE ORDINATÓRIA): AS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES................ 351
16.2. JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO................................................................................ 352
16.3. JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO DA CAUSA ................................................................................. 352
16.3.1. Hipóteses de Cabimento do Julgamento Antecipado (art. 330) .......................................... 353
16.4. AUDIÊNCIA PRELIMINAR (ART. 331) .................................................................................................... 355
16.4.1. Generalidades ...................................................................................................................... 355
16.5. O DESPACHO SANEADOR ................................................................................................................... 357
16.6. TABELA SÍNTESE ............................................................................................................................... 359

17. EXTINÇÃO DO PROCESSO ............................................................................................................. 360

17.1. DECISÕES QUE NÃO EXAMINAM O MÉRITO (ART. 267) ........................................................................... 360
17.1.1. Decisões em Espécie ............................................................................................................ 361
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17.2. DECISÕES QUE EXAMINAM O MÉRITO (ART. 269) .................................................................................. 366


17.2.1. Homologação da Autocomposição das Partes .................................................................... 366
17.2.2. Prescrição e Decadência ...................................................................................................... 366
17.3. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................. 367

18. SUSPENSÃO DO PROCESSO (ARTS. 265 A 266) ............................................................................. 368

18.1. INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 368


18.2. HIPÓTESES DE SUSPENSÃO ................................................................................................................. 368
18.3. PRÁTICA DE ATOS DURANTE O PROCESSO ............................................................................................. 370
18.4. TABELA SÍNTESE – EXTINÇÃO E SUSPENSÃO DO PROCESSO ....................................................................... 371
18.5. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................. 372

19. PROVAS........................................................................................................................................ 372

19.1. DIREITO FUNDAMENTAL À PROVA ....................................................................................................... 372


19.2. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROBATÓRIO................................................................................................... 373
19.2.1. Princípio Inquisitivo. Poderes Instrutórios do Juiz (arts. 130 e 1.107, CPC) .......................... 373
19.2.2. Princípio da Aquisição Processual, da Comunhão ou da Comunidade da Prova ................. 375
19.2.3. Proibição do Uso de Prova Ilícita ......................................................................................... 376
19.2.4. Livre Convencimento Motivado. Sistemas de Valoração das Provas ................................... 377
19.2.4.1. O Livre Convencimento Motivado e os Resquícios de Provas Tarifada no Brasil .......................... 378
19.3. OBJETO DA PROVA ........................................................................................................................... 379
19.3.1. Características do Fato Probando ........................................................................................ 379
19.3.2. Fatos que Independem de Prova (art. 334, CPC) ................................................................. 380
19.3.3. Indeferimento de Provas pelo Juiz (art. 130) ....................................................................... 381
19.4. PROVA EMPRESTADA ........................................................................................................................ 383
19.5. MÁXIMAS DE EXPERIÊNCIA, INDÍCIOS OU PRESUNÇÕES ............................................................................ 385
19.5.1. Máxima de Experiência ........................................................................................................ 385
19.5.2. Presunções e Indícios ........................................................................................................... 385
19.5.3. A Prova Prima Facie, de Primeira Aparência ou por Verossimilhança ................................. 386
19.6. ÔNUS DA PROVA .............................................................................................................................. 387
19.6.1. Ônus Subjetivo e Objetivo .................................................................................................... 387
19.6.2. Ônus da Prova como Regra de Julgamento e Aplicação Subsidiária ................................... 388
19.6.3. Distribuição Ônus da Prova .................................................................................................. 389
19.6.3.1. Distribuição Estática (art. 333)...................................................................................................... 389
19.6.3.2. Distribuição Dinâmica do Ônus da Prova ...................................................................................... 389
19.6.4. Inversão do Ônus da Prova Ope Legis e Ope Judicis ............................................................ 392
19.6.5. Convenções sobre o Ônus da Prova (art. 333, p. único) ....................................................... 393
19.6.6. Prova Diabólica .................................................................................................................... 393
19.7. OUTRAS REGRAS GERAIS ................................................................................................................... 394
19.8. PROCEDIMENTO PROBATÓRIO ............................................................................................................ 394
19.8.1. Preclusão para o Juiz em Matéria de Prova ......................................................................... 395

PROVAS EM ESPÉCIE .......................................................................................................................... 395

19.9. DEPOIMENTO PESSOAL (ARTS. 342 A 347) ........................................................................................... 395


19.9.1. Noções Gerais ...................................................................................................................... 395
19.9.2. Espécies: Depoimento por Provocação e Interrogatório ...................................................... 396
19.9.3. Depoimento do Presentante e do Representante ................................................................ 396
19.9.4. Recusa de Depor .................................................................................................................. 397
19.9.5. Escusa de Depor ................................................................................................................... 397
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19.9.6. Procedimento do Depoimento ............................................................................................. 398


19.10. CONFISSÃO (ARTS. 348 A 354) ........................................................................................................ 398
19.10.1. Generalidades .................................................................................................................... 398
19.10.2. Distinções ........................................................................................................................... 399
19.10.3. Espécies de Confissão......................................................................................................... 399
19.10.4. Eficácia da Confissão ......................................................................................................... 400
19.10.5. Invalidação da Confissão ................................................................................................... 400
19.10.6. Confissão Extrajudicial ....................................................................................................... 401
19.10.7. A Eficácia da Confissão por Representante........................................................................ 401
19.10.8. Indivisibilidade da Confissão (art. 364) .............................................................................. 401
19.10.9. Confissão Feita por Incapaz ............................................................................................... 401
19.11. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS OU COISAS (ARTS. 355 A 363) ................................................................... 401
19.12. PROVA DOCUMENTAL ..................................................................................................................... 403
19.12.1. Conceito de Documento ..................................................................................................... 403
19.12.2. Documento e Prova Documental ....................................................................................... 403
19.12.3. Prova Documental e Prova Documentada ......................................................................... 403
19.12.4. Importância da Prova Documental .................................................................................... 403
19.12.5. Elementos do Documento .................................................................................................. 403
19.12.5.1. Autoria de Documento ............................................................................................................... 403
19.12.5.1.1. Autoria Material e Autoria Intelectual ................................................................................ 403
19.12.5.1.2. Documento Autógrafo e Heterógrafo ................................................................................. 404
19.12.5.1.3. Documentos Públicos e Particulares ................................................................................... 404
19.12.5.1.4. Subscrição e Identificação da Autoria ................................................................................. 404
19.12.5.1.6. Autenticidade ..................................................................................................................... 404
19.12.5.2. Conteúdo .................................................................................................................................... 405
19.12.5.3. Suporte ....................................................................................................................................... 406
19.12.6. Eficácia Probatória do Documento .................................................................................... 406
19.12.6.1. Força Probante dos Documentos Públicos ................................................................................. 406
19.12.6.1.1. Fé Pública e Presunção de Autenticidade e de Veracidade do Conteúdo do Documento
Público .................................................................................................................................................... 406
19.12.6.1.2. A Caracterização da Escritura Pública como Prova Plena ................................................... 406
19.12.6.1.3 O Instrumento Público como Forma Solene do Ato Jurídico (art. 366, CPC) ....................... 406
19.12.6.1.4. O Documento Público Irregular (art. 367, CPC) .................................................................. 407
19.12.6.2. Força Probante dos Documentos Particulares............................................................................ 408
19.12.6.2.1. Autenticidade e Veracidade do Conteúdo do Documento Particular (art. 368, CPC) ......... 408
19.12.6.2.2. Eficácia Probatória dos Documentos Testemunhais (art. 368, p. único, CPC) .................... 408
19.12.6.2.3. Eficácia Probatória do Telegrama, Fax e Outros Meios de Transmissão de Dados ............. 408
19.12.6.2.4. Eficácia Probatória dos Livros Comerciais e da Escrituração Contábil ................................ 409
19.12.6.2.5. Indivisibilidade do Documento Particular (art. 373, p. único) e da Escrituração Contábil (art.
380, CPC)................................................................................................................................................. 409
19.12.6.3. Originais, Cópias, Certidões e Traslados ..................................................................................... 409
19.12.7. Vícios do Documento: a Irregularidade e a Falsidade........................................................ 409
19.12.8. Produção da Prova Documental ........................................................................................ 410
19.12.8.1. Momento da Proposição e Produção da prova .......................................................................... 410
19.12.8.2. Juntada Posterior de Documentos ............................................................................................. 411
19.12.8.3. Possíveis Atitudes da Parte contra quem a Prova Documental é Produzida .............................. 411
19.12.9. Meios de Obtenção da Prova Documental ........................................................................ 412
19.12.9.1. Requisição de Documentos ........................................................................................................ 412
19.12.9.2. Exibição de Documento ou Coisa ........................................................................................... 412
19.12.10. Arguição de Falsidade (arts. 390 a 395) .......................................................................... 412
19.12.10.1. Noção ................................................................................................................................... 412

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13

19.12.10.2 Natureza Jurídica e Finalidade .............................................................................................. 413


19.12.10.3. Legitimidade e Interesse ...................................................................................................... 413
19.12.10.4. Procedimento ...................................................................................................................... 413
19.12.11. Prova Documental Eletrônica .......................................................................................... 414
19.13. PROVA TESTEMUNHAL .................................................................................................................... 415
19.13.1. Noções Gerais .................................................................................................................... 415
19.13.2. Limitações à Prova Exclusivamente Testemunhal: Negócio Jurídico cujo Valor Exceda 10
SM .................................................................................................................................................... 415
19.13.3. Capacidade para Testemunhar .......................................................................................... 416
19.13.4. Local e Tempo do Testemunho .......................................................................................... 417
19.13.5. Juntada do Rol e Intimação da Testemunha ...................................................................... 417
19.13.6. Substituição da Testemunha (art. 408) .............................................................................. 418
19.13.7. Procedimento de Colheita do Depoimento ........................................................................ 418
19.13.8. Contradita das Testemunhas ............................................................................................. 419
19.13.9. Documentação do Testemunho ......................................................................................... 419
19.14. PROVA PERICIAL............................................................................................................................. 419
19.14.1. Conceito e Generalidades .................................................................................................. 419
19.14.2. Fontes da Prova Pericial ..................................................................................................... 419
19.14.3. Espécies de Perícia ............................................................................................................. 420
19.14.4. O Perito e o Assistente Técnico .......................................................................................... 420
19.14.4.1. O Perito e suas Funções .............................................................................................................. 420
19.14.4.2. Requisitos para a Escolha do Perito ............................................................................................ 420
19.14.4.3. Nomeação de Mais de um Perito. Perícia Complexa .................................................................. 421
19.14.4.4. Escusa ou Recusa do Perito ........................................................................................................ 421
19.14.4.5. Substituição do Perito................................................................................................................. 421
19.14.4.6. Assistente Técnico e suas Funções ............................................................................................. 421
19.14.5. Admissibilidade da Prova Pericial ...................................................................................... 421
19.14.6. Procedimento da Produção da Prova Pericial .................................................................... 422
19.14.7. Contraditório ...................................................................................................................... 423
19.14.8. Avaliação. Possibilidade de Segunda Perícia ou Outra Perícia .......................................... 423
19.14.9. Despesas com os Honorários Periciais ............................................................................... 423
19.14.9.1. Honorários Periciais e Inversão do Ônus da Prova ..................................................................... 424
19.15. INSPEÇÃO JUDICIAL ......................................................................................................................... 426
19.16 OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................ 427

20. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO (ARTS. 444 A 457) .................................................... 429


20.1. CONCEITO E GENERALIDADES.............................................................................................................. 429
20.2. CONTEÚDO E ESTRUTURA .................................................................................................................. 429
20.2.1. Considerações Iniciais .......................................................................................................... 429
20.2.2. Abertura da Audiência. Pregão Inicial ................................................................................. 430
20.2.3. Conciliação e Fixação dos Pontos Controvertidos ................................................................ 430
20.2.4. Produção de Provas Orais .................................................................................................... 431
20.2.5. Alegações Finais. Memoriais. .............................................................................................. 431
20.2.6. Sentença .............................................................................................................................. 431
20.2.7. Conversão do Julgamento em Diligência ............................................................................. 431
20.3. DOCUMENTAÇÃO DA AUDIÊNCIA E LAVRATURA DO TERMO DE AUDIÊNCIA .................................................. 432
20.4. DESIGNAÇÃO, ANTECIPAÇÃO E ADIAMENTO DA AIJ ................................................................................ 432
20.4.1. Ausência de Testemunhas, Peritos e Partes ......................................................................... 432
20.4.2. Juntada de Novas Provas Após o Encerramento da Instrução ............................................. 433

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21. TEORIA DA DECISÃO JUDICIAL (ARTS. 458 A 466) ......................................................................... 434

21.1. SISTEMATIZAÇÃO DOS PRONUNCIAMENTOS JUDICIAIS.............................................................................. 434


21.1.1. Decisões Proferidas pelo Juízo Singular ............................................................................... 434
21.1.2. Decisões Proferidas em Órgãos Colegiados ......................................................................... 435
21.2. ELEMENTOS DA DECISÃO JUDICIAL (ART. 458) ....................................................................................... 435
21.2.1. Introdução............................................................................................................................ 435
21.2.2. Relatório .............................................................................................................................. 435
21.2.3. Fundamentação ................................................................................................................... 436
21.2.3.1. Conteúdo da Fundamentação ...................................................................................................... 437
21.2.3.2.1. Fundamentação no Âmbito dos Juizados Especiais .............................................................. 441
21.2.3.2. A Fundamentação e a Coisa Julgada Material .............................................................................. 441
21.2.3.3. Decisão sem Motivação ................................................................................................................ 442
21.2.3.4. Motivação das Decisões: Aprofundamentos ................................................................................ 442
21.2.3.4.1. Motivação como Antecedente de Norma Individual e Concreta .......................................... 444
21.2.3.4.2. Alcance/Limite Material da Motivação ................................................................................. 447
21.2.3.4.3. Decisão Omissa ..................................................................................................................... 447
21.2.3.4.4. Carência de Motivação ......................................................................................................... 447
21.2.3.4.5. Motivação Subentendida ou Implícita .................................................................................. 448
21.2.3.4.6. Motivação Referenciada ou Per Relationem ........................................................................ 449
21.2.3.4.7. Persuasão Racional X Direito Alternativo ou Uso Alternativo do Direito .............................. 451
21.2.3.4.8. Utilização de Princípios na Fundamentação: Técnicas de Fundamentação Adequada ......... 452
21.2.3.5. Convencimento Judicial ................................................................................................................ 454
21.2.3.5.1. Convicção de Verdade e Participação do Juiz ....................................................................... 455
21.2.3.5.2. A Tese Sueca sobre o Convencimento Judicial ..................................................................... 456
21.2.3.5.3. A Tese de Gerhard Walter .................................................................................................... 457
21.2.3.5.4. Objeções à Tese da Verossimilhança Preponderante ........................................................... 458
21.2.3.5.5. O Convencimento Judicial e a Regra do Ônus da Prova ........................................................ 459
21.2.3.5.6. Sentença de Improcedência por Falta de Provas na Tutela Coletiva .................................... 461
21.2.3.5.7. Standards do Convencimento Judicial .................................................................................. 463
21.2.3.6. Decisionismo X Jurisprudencialismo ............................................................................................. 500
21.2.4. Dispositivo ............................................................................................................................ 501
21.2.4.1. Conceito ........................................................................................................................................ 501
21.2.4.2. Teoria dos Capítulos da Sentença ................................................................................................. 501
21.3. REQUISITOS DA DECISÃO JUDICIAL ....................................................................................................... 502
21.3.1. Congruência, Correlação ou Adstrição da Decisão Judicial.................................................. 502
21.3.1.1. Congruência Externa ..................................................................................................................... 504
21.3.1.1.1. A Congruência Objetiva ........................................................................................................ 504
21.3.1.1.2. A Congruência Subjetiva ....................................................................................................... 510
21.3.1.2. Congruência Interna ..................................................................................................................... 510
21.3.1.2.1. Sentença Certa (art. 460, p. único) ....................................................................................... 510
21.3.1.1.2. Sentença Líquida ................................................................................................................... 514
21.3.1.2.3. Sentença Clara e Coerente.................................................................................................... 516
21.3.2. Sentença e Fato Superveniente (art. 462, CPC) .................................................................... 516
21.3.3. Decisões Objetivamente e/ou Subjetivamente Complexas .................................................. 519
21.4. DECISÕES DEFINITIVAS E TERMINATIVAS ............................................................................................... 519
21.4.1. Efeitos da Decisão Judicial ................................................................................................... 520
21.4.1.1. Conteúdo e Efeitos: Distinção....................................................................................................... 520
21.4.1.2. Eficácia Principal ........................................................................................................................... 520
21.4.1.3. Eficácia Reflexa ............................................................................................................................. 520
21.4.1.4. Eficácia Anexa ou de Fato ............................................................................................................. 520
21.4.1.5. Eficácia Probatória ........................................................................................................................ 521

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21.5. CLASSIFICAÇÃO DAS SENTENÇAS .......................................................................................................... 521


21.6. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ............................................................................................................. 522
21.6.1. Princípio da Sucumbência e Princípio da Causalidade ......................................................... 525
21.6.2. Honorários Contratuais – Restitutio in Integrum ................................................................. 527
21.6.3. Honorários e Custas e Justiça Gratuita ................................................................................ 527
21.7. O PRECEDENTE JUDICIAL.................................................................................................................... 529
21.7.1. Conceito e Classificação ....................................................................................................... 529
21.7.2. Relevância do Tema ............................................................................................................. 530
21.7.2.1. O Precedente na Dimensão da Igualdade ..................................................................................... 531
21.7.2.2. O Precedente na Dimensão da Segurança Jurídica ....................................................................... 537
21.7.3. Jurisprudência como Fonte de Direito.................................................................................. 539
21.7.4. Holding, Ratio Decidendi e Obiter Dictum (ou Dictum)........................................................ 539
21.7.5. A Dinâmica do Precedente ................................................................................................... 540
21.7.5.1. Introdução .................................................................................................................................... 540
21.7.5.2. Técnicas de Confronto e Aplicação do Precedente. O Distinguishing e a Decisão Per Incuriam .. 541
21.7.5.3. Técnicas de Superação do Precedente. O Overrruling e o Overriding .......................................... 544
21.7.6. Alteração do Precedente e Eficácia Retroativa .................................................................... 546
21.7.7. As Súmulas Não Vinculantes dos Tribunais – Reclamação nelas Fundada .......................... 546
21.8. PUBLICAÇÃO, RETRATAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA DECISÃO (ART. 463)........................................................... 550
21.9. SENTENÇA BRANCA, SENTENÇA SUICIDA E SENTENÇA VAZIA ..................................................................... 550
21.10. SENTENÇAS DECLARATÓRIAS, CONSTITUTIVAS E CONDENATÓRIAS............................................................ 550
21.11. JUROS DE MORA NAS SENTENÇAS...................................................................................................... 551
21.11.1. Juros de Mora em Indenizações por Dano Moral .............................................................. 551
21.11.2. Juros e Correção Monetária em Face da Fazenda Pública ................................................. 552
21.12. JULGAMENTO COM EQUIDADE E JULGAMENTO POR EQUIDADE ............................................................... 553
21.13. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ............................................................................................................... 554

22. COISA JULGADA ........................................................................................................................... 558

22.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................................................... 558


22.2. COISA JULGADA FORMAL E COISA JULGADA MATERIAL ............................................................................ 559
22.3. PRESSUPOSTOS DA COISA JULGADA...................................................................................................... 560
22.4. NATUREZA JURÍDICA ......................................................................................................................... 561
22.5. REGIME JURÍDICO DA COISA JULGADA .................................................................................................. 561
22.5.1. Limites Objetivos .................................................................................................................. 562
22.5.2. Limites Subjetivos ................................................................................................................ 562
22.5.3. Modo de Produção ............................................................................................................... 563
22.6. COISA JULGADA NAS AÇÕES DE ESTADO................................................................................................ 563
22.7. EFEITOS DA COISA JULGADA ............................................................................................................... 564
22.7.1. Efeitos Negativos e Positivos ............................................................................................... 564
22.7.2. Efeito Preclusivo ou Eficácia Preclusiva da Coisa Julgada .................................................... 564
22.7.3. Efeito da Coisa Julgada Penal Condenatória na Esfera Cível ............................................... 566
22.7.4. Eficácia da Sentença X Eficácia da Coisa Julgada ................................................................ 566
22.8. COISA JULGADA E RELAÇÕES JURÍDICAS CONTINUATIVAS.......................................................................... 567
22.9. INSTRUMENTOS DE REVISÃO DA COISA JULGADA .................................................................................... 568
22.10. CONFLITO ENTRE COISAS JULGADAS ................................................................................................... 571
22.11. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA ................................................................................................... 573
22.12. COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL .................................................................................................. 573
22.13. POSICIONAMENTO DO STF QUANTO À RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA ............................................... 575
22.13.1. Pela Inadmissibilidade ....................................................................................................... 575
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22.13.1. Pela Admissibilidade – Leading Case ................................................................................. 586


22.14. LEADING CASE ............................................................................................................................... 592
22.15. COISA JULGADA NA TUTELA COLETIVA ................................................................................................ 597
22.16. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ............................................................................................................... 601

23. RECURSOS – TEORIA GERAL ......................................................................................................... 604

23.1. CONCEITO DE RECURSO ..................................................................................................................... 604


23.2. OS RECURSOS NO SISTEMA DOS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL ........................................... 604
23.3. CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................................................ 604
23.3.1. Quanto à Extensão da Matéria: Recurso Parcial e Recurso Total ........................................ 604
23.3.2. Quanto à Fundamentação: Fundamentação Livre e Fundamentação Vinculada ................ 605
23.3.3. Ordinário ou Excepcional (ou Extraordinário) ...................................................................... 605
23.4. ATOS SUJEITOS A RECURSO ................................................................................................................ 605
23.4.1. Introdução............................................................................................................................ 605
23.4.2. Sistematização ..................................................................................................................... 606
23.5. DESISTÊNCIA DO RECURSO ................................................................................................................. 606
23.6. RENÚNCIA AO DIREITO DE RECORRER E AQUIESCÊNCIA À DECISÃO ............................................................. 607
23.7. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO DO RECURSO.................................................................... 607
23.7.1. Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito: Distinção ......................................................... 607
23.7.2. Generalidades sobre o Juízo de Admissibilidade .................................................................. 607
23.7.3. Objeto do Juízo de Admissibilidade ...................................................................................... 607
23.7.3.1. Introdução .................................................................................................................................... 607
23.7.3.2. Cabimento. Princípios da Fungibilidade, Taxatividade e Singularidade Recursais ........................ 608
23.7.3.3. Legitimidade (art. 499) ................................................................................................................. 609
23.7.3.4. Interesse ....................................................................................................................................... 609
23.7.3.5. Inexistência de Fato Impeditivo ou Extintivo do Poder de Recorrer............................................. 610
23.7.3.6. Tempestividade (art. 506)............................................................................................................. 610
23.7.3.6.1. Recurso Interposto Antes da Publicação da Decisão ............................................................ 614
23.7.3.7. Regularidade Formal. O Princípio da Dialeticidade dos Recursos ................................................. 616
23.7.3.8. Preparo ......................................................................................................................................... 617
23.7.4. Natureza Jurídica do Juízo de Admissibilidade..................................................................... 618
23.7.5. Juízo de Mérito ..................................................................................................................... 619
23.7.5.1. Conceito de Mérito do Recurso .................................................................................................... 619
23.7.5.2. A Causa de Pedir Recursal: o Error in Procedendo e o Error in Judicando.................................... 619
23.7.5.3. Cumulação de Pedidos no Recurso ............................................................................................... 619
23.7.5.4. Julgamento Rescindente e Substitutivo. O Efeito Substitutivo dos Recursos ............................... 619
23.8. PRINCÍPIO DO NE REFORMATIO IN PEJUS. VEDAÇÃO AO BENEFÍCIO COMUM DO RECURSO ............................. 620
23.9. EFEITOS DOS RECURSOS..................................................................................................................... 622
23.9.1. Impedimento ao Trânsito em Julgado ................................................................................. 622
23.9.2. Efeito Suspensivo ................................................................................................................. 623
23.9.3. Efeito Devolutivo: Extensão e Profundidade ........................................................................ 623
23.9.3.1. Efeito Devolutivo: Possibilidade de Não Devolução para Tribunal ............................................... 624
23.9.4. Efeito Translativo ................................................................................................................. 625
23.9.4. Efeito Regressivo ou de Retratação ..................................................................................... 626
23.9.5. Efeito Expansivo Objetivo .................................................................................................... 626
23.9.6. Efeito Expansivo Subjetivo ................................................................................................... 627
23.9.7. Efeito Substitutivo ................................................................................................................ 627
23.10. RECURSO ADESIVO E RECURSO INDEPENDENTE .................................................................................... 627
23.10.1. Recurso Adesivo Condicionado .......................................................................................... 628
23.11. TABELA SÍNTESE – ALGUMAS CARACTERÍSTICAS RECURSAIS .................................................................... 629
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23.12. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ............................................................................................................... 630

24. RECURSOS EM ESPÉCIE ................................................................................................................. 632

24.1. APELAÇÃO (ARTS. 513 A 521)............................................................................................................ 632


24.1.1. Conceito ............................................................................................................................... 632
24.1.2. Situações Excepcionais......................................................................................................... 632
24.1.2.1. Embargos Infringentes de Alçada ................................................................................................. 632
24.1.2.2. Causas Internacionais ................................................................................................................... 632
24.1.2.3. Lei de Assistência Judiciária .......................................................................................................... 632
24.1.2.4. Sentença que Decreta a Falência .................................................................................................. 633
24.1.2.5. Juizados Especiais Cíveis ............................................................................................................... 633
24.1.3. Regularidade Formal............................................................................................................ 633
24.1.4. Efeitos .................................................................................................................................. 633
24.1.4.1. Efeito Devolutivo .......................................................................................................................... 633
24.1.4.2. Análise do Mérito pelo Tribunal, após Afastar o Motivo da Extinção do Processo (art. 515, § 3º) –
Teoria da Causa Madura .............................................................................................................................. 634
24.1.4.2.1. Inaplicabilidade da Teoria no Mandado de Segurança ......................................................... 635
24.1.4.2.2. Inaplicabilidade da Teoria no Recurso Especial .................................................................... 636
24.1.4.3. Apelação na Hipótese do Julgamento Prima Facie (art. 285-A) .................................................... 637
24.1.4.4. Efeito Suspensivo .......................................................................................................................... 637
24.1.4.5. Efeito Translativo .......................................................................................................................... 639
24.1.4.6. Meios para Concessão de Efeito Suspensivo à Apelação .............................................................. 642
24.1.5. Questões Anteriores à Sentença ainda Não Decididas (art. 516) ........................................ 642
24.1.6. Inovação em Sede de Apelo (art. 517) ................................................................................. 642
24.1.7. Procedimento ....................................................................................................................... 643
24.1.7.1. Procedimento em Primeira Instância. A Súmula Impeditiva de Recursos .................................... 643
24.1.7.2. Procedimento no Tribunal ............................................................................................................ 644
24.1.7.3. Correção de Defeitos Processuais no Procedimento da Apelação ............................................... 645
24.2. AGRAVO (ARTS. 522 A 529) .............................................................................................................. 645
24.2.1. O Agravo no CPC .................................................................................................................. 645
24.2.2. Agravo Retido ...................................................................................................................... 645
24.2.2.1. Agravo Retido e Reexame Necessário .......................................................................................... 646
24.2.2.2. Interposição de Agravo Retido pelo Terceiro Prejudicado ........................................................... 647
24.2.3. Impossibilidade de se Optar pelo Agravo Retido ou Agravo de Instrumento ...................... 647
24.2.4. O Agravo de Instrumento ..................................................................................................... 648
24.2.4.1. Peças Obrigatórias (art. 525, I) ..................................................................................................... 648
24.2.4.2. Peças Facultativas (art. 525, II) ..................................................................................................... 649
24.2.4.3. Peças Essenciais ou Necessárias ................................................................................................... 649
24.2.4.4. Comprovação da Interposição do AI (art. 526, p. único) .............................................................. 649
24.2.4.5. Procedimento (art. 527) ............................................................................................................... 650
24.2.4.6. Agravo de Instrumento e Sentença Superveniente ...................................................................... 651
24.2.4.7. Extinção do Processo em Julgamento de AI ................................................................................. 652
24.2.4.8. Multa por Agravo Manifestamente Protelatório .......................................................................... 652
24.2.5. Agravo Regimental e Agravo Interno ............................................................................................... 652
24.2.6. Agravo (Antigo Agravo de Instrumento) para o STJ e para o STF ........................................ 653
24.3. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO (ARTS. 535 A 538) ................................................................................... 654
24.3.1. Os Embargos de Declaração como Recurso e suas Hipóteses de Cabimento ...................... 654
24.3.2. Efeitos dos Embargos de Declaração ................................................................................... 655
24.3.2.1. Efeito Devolutivo .......................................................................................................................... 655
24.3.2.2. Efeito Suspensivo .......................................................................................................................... 655
24.3.2.3. Efeito Modificativo (Embargo de Declaração com Efeito Infringente) ......................................... 655

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24.3.2.4. Interrupção do Prazo de Interposição Recursal ............................................................................ 658


24.3.3. Natureza da Decisão que Julga os Embargos de Declaração .............................................. 658
24.3.4. Prazo .................................................................................................................................... 659
24.3.5. Regularidade Formal dos Embargos de Declaração ............................................................ 659
24.3.6. Dispensa de Preparo ............................................................................................................ 659
24.3.7. Contraditório e Embargos de Declaração ............................................................................ 659
24.3.8. Multa pelo Caráter Protelatório .......................................................................................... 659
24.3.9. Embargos de Declaração e Prequestionamento .................................................................. 659
24.3.10. Embargos de Declaração e Princípio da Complementaridade ........................................... 660
24.3.11. Controle de Constitucionalidade e o Julgamento dos Embargos de Declaração ............... 660
24.3.12. Competência para Julgamento dos Embargos .................................................................. 661
24.3.13. Embargos de Declaração em Decisão Monocrática (Descabimento) – Conversão em Agravo
Regimental ....................................................................................................................................... 661
24.4. EMBARGOS INFRINGENTES (ARTS. 530 A 534) ...................................................................................... 663
24.4.1. Hipóteses de Cabimento – O Requisito da Dupla Conformidade ......................................... 663
24.4.2. Cabimento dos Embargos Infringentes Apenas de Acórdão de Mérito que Julgar Apelação
......................................................................................................................................................... 664
24.4.3. Embargos Infringentes em Ação Rescisória ......................................................................... 665
24.4.4. Situações Polêmicas ............................................................................................................. 666
24.4.4.1. Reexame Necessário ..................................................................................................................... 666
24.4.4.2. Embargos Infringentes em Embargos de Declaração ................................................................... 666
24.4.4.3. Embargos Infringentes em Julgamento de Agravo ....................................................................... 667
24.4.4.4. Cabimento de Embargos Infringentes em Acórdão “Terminativo” pela Teoria da Asserção........ 668
24.4.5. Efeitos dos Embargos Infringentes ...................................................................................... 670
24.4.6. Embargos Infringentes e a Ausência de Declaração do Voto Vencido ................................. 670
24.4.7. Razões de Decidir nos Embargos Infringentes ..................................................................... 671
24.4.8. Procedimento dos Embargos Infringentes ........................................................................... 671
24.4.9. Embargos Infringentes e o Prazo para os Recursos Extraordinários .................................... 671
24.5. RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL (ART. 539 A 540) ...................................................................... 674
24.5.1. Generalidades ...................................................................................................................... 674
24.5.1.1. Efeitos da Interposição ................................................................................................................. 674
24.5.2. Recurso Ordinário para o STF (art. 539, I) ............................................................................ 674
24.5.3. Recurso Ordinário para o STJ (art. 539, II) ........................................................................... 675
24.5.3.1. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança ............................................................................ 675
24.5.3.2. Recurso Ordinário em Causas Internacionais ............................................................................... 675
24.6. RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS – TEORIA GERAL ..................................................................................... 675
24.6.1. Características Gerais .......................................................................................................... 675
24.6.2. Recursos de Fundamentação Vinculada .............................................................................. 675
24.6.3. Recurso Excepcional e Reexame de Prova ........................................................................... 675
24.6.4. Recurso Excepcional e Interpretação de Cláusula Contratual .............................................. 676
24.6.5. Prequestionamento ............................................................................................................. 676
24.6.6. Exigência de Prévio Esgotamento das Instâncias Ordinárias ............................................... 680
24.6.7. Recurso Extraordinário e Especial Contra Provimento de Urgência .................................... 680
24.6.8. Recurso Extraordinário e Recurso Especial Retidos (art. 542, § 3º) ..................................... 681
24.6.9. Sistema de Admissibilidade Desdobrado ou Bipartido ........................................................ 682
24.6.10. Permissão de Execução Provisória – Efeito Suspensivo em Recursos Excepcionais ........... 682
24.6.11. O Julgamento dos Recursos Excepcionais e Outras Questões............................................ 684
24.6.12. Preparo .............................................................................................................................. 685
24.6.13. Interposição Simultânea de REsp ou RE. A Súmula 126, STJ .............................................. 685
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24.6.14. Processamento dos Recursos de Superposição (art. 543) .................................................. 687


24.6.15. Recurso Especial Repetitivo: o Art. 543-C do CPC – Writ of Certiorari ............................... 687
24.6.16. Agravo Contra Decisão que Nega Seguimento, na Origem, a Recurso Excepcional (art. 544)
......................................................................................................................................................... 691
24.6.17. Profundidade e o Efeito Devolutivo dos Recursos Excepcionais (súmulas 292 e 528, STF) 693
24.7. RECURSO ESPECIAL (ART. 105, III, CR/88) ........................................................................................... 693
24.7.1. Considerações Gerais ........................................................................................................... 693
24.7.2. Cabimento com Fundamento no art. 105, III, a ................................................................... 694
24.7.3. Cabimento com Fundamento no art. 105, III, b ................................................................... 698
24.7.4. Cabimento com Fundamento no art. 105, III, c.................................................................... 699
24.7.5. Recurso Extraordinário em Julgamento de Recurso Especial ............................................... 700
24.7.6. Controle Difuso da Constitucionalidade de Lei Federal Apontada como Violada ................ 700
24.7.7. Efeito Suspensivo em Recurso Especial ................................................................................ 701
24.7.8. Descabimento de REsp com Fulcro nos Princípios da Proporcionalidade e Razoabilidade .. 703
24.8. RECURSO EXTRAORDINÁRIO (ART. 102, III, CR/88) ............................................................................... 704
24.8.1. Papel do STF ......................................................................................................................... 704
24.8.2. Considerações Gerais ........................................................................................................... 704
24.8.3. Cabimento com Fundamento na Letra “a” .......................................................................... 705
24.8.4. Cabimento com Fundamento na Letra “b” .......................................................................... 705
24.8.5. Recurso Extraordinário contra Julgamento que Contraria Tratado Internacional sobre
Direitos Humanos ............................................................................................................................ 705
24.8.6. Repercussão Geral ............................................................................................................... 705
24.8.6.1. Repercussão Geral no CPC (art. 543-A, CPC) ................................................................................ 708
24.8.6.2. Repercussão Geral por Amostragem – Art. 543-B ........................................................................ 710
24.8.6.3. Repercussão Geral e Direito Intertemporal .................................................................................. 714
24.8.6.4.. Repercussão Geral por Meio Eletrônico ...................................................................................... 716
24.8.6.5. A Objetivação do Recurso Extraordinário ..................................................................................... 716
24.9. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA (ARTS. 496, VIII, E 546)............................................................................ 717
24.9.1. Objetivos .............................................................................................................................. 717
24.9.2. Hipóteses de Cabimento ...................................................................................................... 718
24.9.3. Necessidade de a Divergência ser Atual e sua Comprovação (Confronto Analítico) ........... 720
24.9.4. Procedimento ....................................................................................................................... 721
24.10. TABELA SÍNTESE - RESP REPETITIVO E RE POR AMOSTRAGEM E AI DENEGADO .......................................... 721
24.11. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ............................................................................................................... 722

25. AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO E SUCEDÂNEOS RECURSAIS ........................................... 732

25.1. AÇÃO RESCISÓRIA ............................................................................................................................ 732


25.1.1. Noção Geral ......................................................................................................................... 732
25.1.2. Pressupostos da Ação Rescisória ......................................................................................... 733
25.1.3. Objeto da Ação Rescisória ................................................................................................... 734
25.1.3.1. Objetos Controversos ................................................................................................................... 734
25.1.4. Legitimidade (art. 487) ........................................................................................................ 735
25.1.4.1. Legitimidade Ativa ........................................................................................................................ 735
25.1.4.2. Legitimidade Passiva ..................................................................................................................... 736
25.1.4.3. Ação Rescisória e Procuração Específica ...................................................................................... 737
25.1.5. Competência para Processar e Julgar a Ação Rescisória ..................................................... 737
25.1.6. Prazo para Ajuizamento da Ação Rescisória ........................................................................ 739
25.1.6.1. Prazo na Impugnação de Diferentes Capítulos da Sentença ........................................................ 741
25.1.7. Hipóteses de Cabimento (art. 485) ...................................................................................... 742

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25.1.7.1. A Causa de Pedir na Ação Rescisória ............................................................................................ 742


25.1.7.2. Prevaricação, Concussão e Corrupção (inciso I)............................................................................ 742
25.1.7.3. Impedimento do Juiz (inciso II) ..................................................................................................... 743
25.1.7.4. Incompetência Absoluta (inciso II)................................................................................................ 743
25.1.7.5. Dolo da Parte Vencedora (inciso III) ............................................................................................. 743
25.1.7.6. Conluio entre as Partes (inciso III) ................................................................................................ 744
25.1.7.7. Ofensa à Coisa Julgada (inciso IV) ................................................................................................. 744
25.1.7.7. Violação a Literal Disposição de Lei (inciso V) .............................................................................. 744
25.1.7.7.1. Efeitos do Controle Abstrato de Constitucionalidade e Cabimento de Ação Rescisória ....... 747
25.1.7.8. Prova Falsa (inciso VI) ................................................................................................................... 750
25.1.7.9. Documento Novo (inciso VII) ........................................................................................................ 750
25.1.7.10. Houver Fundamento para Invalidar Confissão, Desistência ou Transação, em que se Baseou a
Sentença (inciso VIII) ................................................................................................................................... 751
25.1.7.11. Fundada em Erro de Fato, Resultante de Atos ou de Documentos da Causa (inc. IX) ................ 752
25.1.8. Procedimento da Ação Rescisória ........................................................................................ 753
25.1.8.1. Introdução .................................................................................................................................... 753
25.1.8.2. Petição Inicial e Depósito Obrigatório de 5% ................................................................................ 754
25.1.8.3. O Valor da Causa........................................................................................................................... 755
25.1.8.4. Prazo de Defesa (art. 491) ................................................................................................ 756
25.1.8.5. Revelia na Ação Rescisória ............................................................................................................ 757
25.1.8.6. Reconvenção na Ação Rescisória .................................................................................................. 757
25.1.8.7. Produção de Provas na Ação Rescisória (art. 492) ........................................................................ 757
25.1.8.8. Intervenção do MP ....................................................................................................................... 757
25.1.8.9. Tutela de Urgência – Cautelar ou Antecipada .............................................................................. 758
25.1.8.10. Julgamento: O Iudicium Rescindens e o Iudicium Rescisorium .................................................. 758
25.1.8.11. Recursos na Ação Rescisória ....................................................................................................... 759
25.1.8.12. Ação Rescisória Proferida em Julgamento de Ação Rescisória ................................................... 759
25.1.8.12. Competência para Executar Acórdão Emanado de Ação Rescisória ........................................... 759
25.2. AÇÃO TRANSRESCISÓRIA OU QUERELLA NULLITATIS ................................................................................ 760
25.3. RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL .......................................................................................................... 762
25.3.1. Noções Gerais ...................................................................................................................... 762
25.3.1.1. Introdução......................................................................................................................... 762
25.3.1.2. Natureza Jurídica .......................................................................................................................... 762
25.3.1.2.1. Natureza Jurídica - Aprofundamentos .................................................................................. 763
25.3.1.3. A Reclamação como Demanda Típica (Fundamentação Vinculada) ............................................. 769
25.3.1.4. Reclamação contra Ato que Desrespeitou Enunciado de Súmula Vinculante .............................. 769
25.3.2. Reclamação e Decisão Transitada em Julgado .................................................................... 770
25.3.3. Procedimento (Lei nº 8.038/90) ........................................................................................... 770
25.3.4. Efeitos da Decisão ................................................................................................................ 770
25.3.5. Recursos ............................................................................................................................... 771
25.4.6. Proibição da Utilização da Reclamação como Sucedâneo Recursal .................................... 771
25.4.7. Reclamação e Juizados Especiais ......................................................................................... 772
25.4. REEXAME NECESSÁRIO (ART. 475) ...................................................................................................... 775
25.4.1. Natureza Jurídica ................................................................................................................. 775
25.4.2. Hipóteses de Cabimento ...................................................................................................... 776
25.4.3. Procedimento ....................................................................................................................... 777
25.4.4. Hipóteses em que Poder ser Dispensado o Reexame Necessário (art. 475, § § 2º e 3º) ...... 779
25.4.5. Reexame Necessário em Ações Coletivas ............................................................................ 780
25.5. PEDIDO DE SUSPENSÃO DE SEGURANÇA E/OU DE LIMINAR ....................................................................... 782
25.5.1. Previsão Legal ...................................................................................................................... 782
25.5.2. Natureza Jurídica ................................................................................................................. 782

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25.5.3. Legitimidade para o Ajuizamento do Pedido de Suspensão ................................................ 783


25.5.4. Competência para o Pedido de Suspensão .......................................................................... 784
25.5.5. Procedimento do Pedido de Suspensão ............................................................................... 785
25.5.6. Duração da Suspensão Concedida ....................................................................................... 785
25.5.7. Agravo Interno contra a Decisão do Pedido de Suspensão .................................................. 786
25.5.8. Renovação do Pedido de Suspensão para o Tribunal Superior ............................................ 786
25.5.9. Suspensão para Várias Decisões Similares e Pedido de Aditamento ................................... 786
25.5.10. Possibilidade de Utilização Concomitante de Agravo de Instrumento e de Pedido de
Suspensão dos Efeitos das Liminares ............................................................................................... 786
25.6. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ................................................................................................................. 787

26. ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS (ARTS. 547 A 465) ....................................................... 791

26.1. GENERALIDADES............................................................................................................................... 791


26.2. A FUNÇÃO DO REGIMENTO INTERNO DOS TRIBUNAIS .............................................................................. 791
26.3. PROTOCOLO, REGISTRO E DISTRIBUIÇÃO (ARTS. 547 A 549) .................................................................... 791
26.4. DISTINÇÕES: VOTO, JULGAMENTO E ACÓRDÃO ...................................................................................... 792
26.5. A TUTELA DE URGÊNCIA NO ÂMBITO RECURSAL ..................................................................................... 794
26.6. A PRODUÇÃO DE PROVA EM TRIBUNAL................................................................................................. 794
26.7. O RELATOR ..................................................................................................................................... 794
26.7.1. Generalidades ...................................................................................................................... 794
26.7.2. Análise do Art. 557, CPC – Julgamento Monocrático ........................................................... 795
26.8. REVISOR ......................................................................................................................................... 796
26.9. O JULGAMENTO ............................................................................................................................... 797
26.9.1. A Colegialidade como Regra ................................................................................................ 797
26.9.2. Convocação de Outros Juízes para a Composição do Quórum de Julgamento .................... 798
26.9.3. Ordem de Julgamento, Inclusão e Publicação da Pauta ...................................................... 800
26.9.4. Exposição da Causa pelo Relator ......................................................................................... 801
26.9.5. Sustentação Oral.................................................................................................................. 801
26.9.5.1. Generalidades ............................................................................................................................... 801
26.9.5.2. Momento para Sustentação Oral ................................................................................................. 801
26.9.5.3. Sustentação Oral e Esclarecimento de Fato ................................................................................. 801
26.9.6. Pedido de Vistas ................................................................................................................... 801
26.9.7. Julgamento Separado do Juízo de Admissibilidade e de Cada um dos Pedidos Cumulados 802
26.9.8. Correção de Defeito Processual no Julgamento em Tribunal............................................... 802
26.9.10. Dispersão de Votos – O Voto Médio .................................................................................. 802
26.10. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA E INCIDENTE DE DECRETAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
............................................................................................................................................................. 805
26.10.1. Considerações Gerais sobre os Incidentes em Julgamento de Tribunal ............................. 805
26.10.2. Uniformização de Jurisprudência (arts. 476 a 479) ........................................................... 806
26.10.3. Uniformização da Jurisprudência: Distinção dos Embargos de Divergência ..................... 806
26.10.4. Incidente de Decretação de Inconstitucionalidade (arts. 480 a 482) ................................. 807
26.11. TABELA SÍNTESE – SÚMULA IMPEDITIVA DE RECURSO E JULGAMENTO MONOCRÁTICO................................. 807

27. EXECUÇÃO ................................................................................................................................... 808

27.1. INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 808


27.2. A EXECUÇÃO DA SENTENÇA NO CPC .................................................................................................... 809
27.2.1. O Sistema Executivo do art. 461 (Obrigação da Fazer ou Não Fazer).................................. 809
27.2.2. O Sistema Executivo do Art. 461-A (Entrega de Coisa) ........................................................ 810
27.2.3. O Desaparecimento da Ação de Execução de Sentença ...................................................... 810
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27.2.4. A infiltração da Execução no Processo de Conhecimento .................................................... 810


27.2.5. Os Meios Executivos Relacionados ao Fazer, Não Fazer, Entrega de Coisa e ao Pagamento
de Quantia ....................................................................................................................................... 811
27.2.6. A Possibilidade de Cumulação de Demandas Executivas ..................................................... 811
27.3. AS FORMAS DE EXECUÇÃO ................................................................................................................. 813
27.3.1. Execução Direta e Execução Indireta ................................................................................... 813
27.3.2. Execução Frutífera e Execução Infrutífera ........................................................................... 813
27.3.3. Atuação Executiva Mediante o Constrangimento da Vontade do Devedor......................... 813
27.3.3.1. Execução Através de Multa .......................................................................................................... 813
27.3.3.2. Execução Mediante Outras Modalidades de Convencimento ...................................................... 815
27.3.4. Atuação Executiva Alheia à Vontade do Devedor ................................................................ 816
27.4. PRINCÍPIOS EXECUTIVOS .................................................................................................................... 817
27.4.1. Nulla Executio Sine Titulo ..................................................................................................... 817
27.4.2. Patrimonialidade ................................................................................................................. 817
27.4.3. Desfecho Único e Disponibilidade da Execução ................................................................... 817
27.4.4. Utilidade .............................................................................................................................. 818
27.4.5. Menor Onerosidade ............................................................................................................. 818
27.4.6. Lealdade Processual e Boa Fé Processual ............................................................................ 818
27.4.7. Contraditório ........................................................................................................................ 819
27.5. PARTES NA EXECUÇÃO....................................................................................................................... 819
27.5.1. Introdução............................................................................................................................ 819
27.5.2. Legitimação Ativa (Arts. 566 e 567) ..................................................................................... 819
27.5.2.1. Credor a quem a lei Confere o Título Executivo (art. 566, I) ......................................................... 819
27.5.2.2. Legitimidade do MP (art. 566, II) .................................................................................................. 820
27.5.2.3. Legitimidade do Espólio, Herdeiros e Sucessores (art. 567, I) ...................................................... 820
27.5.2.4. Legitimidade do Cessionário e dos Subrrogados (art. 567, I e II) .................................................. 821
27.5.3. Legitimação Passiva ............................................................................................................. 821
27.5.3.1. Sujeito que Figura como Devedor no Título (art. 568, I) ............................................................... 821
27.5.3.2. Legitimidade do Responsável Secundário (art. 568, IV e V).......................................................... 821
27.5.3.3. Legitimidade Passiva do Espólio, Herdeiros e Sucessores (art. 568, II)......................................... 822
27.5.3.4. Novo Devedor (art. 568, III) .......................................................................................................... 822
27.5.3.5. Fiador Judicial (art. 568, IV) .......................................................................................................... 822
27.5.3.6. Responsável Tributário (art. 568, V, CPC e art. 4º, V, LEF) ............................................................ 823
27.5.4. Intervenção de Terceiros na Execução ................................................................................. 823
27.5.4.1. Intervenções Típicas ..................................................................................................................... 823
27.5.4.2. Intervenções Atípicas.................................................................................................................... 823
27.6. COMPETÊNCIA NA EXECUÇÃO ............................................................................................................. 824
27.6.1. Competência da Execução de Título Executivo Judicial ....................................................... 824
27.6.1.1. Competência Executiva dos Tribunais (art. 475-P, I) .................................................................... 824
27.6.1.2. Competência do Juízo que Processou a Causa no Primeiro Grau de Jurisdição (art. 475-P, II) .... 826
27.6.1.3. Competência para a Fase de Satisfação de Sentença Arbitral, Decisão Homologatória de Sentença
Estrangeira e Sentença Arbitral (art. 475-P, III) ........................................................................................... 826
27.6.2. Competência da Execução de Título Extrajudicial ................................................................ 827
27.6.3. Competência no Processo de Insolvência Civil ..................................................................... 827
27.6.4. Inexistência de Conexão entre a Execução Coletiva e a Individual ...................................... 827
27.7. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL ....................................................................................................... 828
27.7.1. Responsabilidade Patrimonial ............................................................................................. 828
27.7.2. Bens que Respondem pela Satisfação na Execução ............................................................. 829
27.7.3. Impenhorabilidade de Bens ................................................................................................. 829
27.7.3.1. As Hipóteses de Impenhorabilidade no Direito Brasileiro (art. 649) ............................................ 829

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27.7.3.1.1. Bens Inalienáveis e os Declarados, por Ato Voluntário, Não Sujeitos à Execução ................ 832
27.7.3.1.2. Móveis, Pertença e Utilidades Domésticas (art. 649, II) ....................................................... 832
27.7.3.1.3. Vestuários e Pertences de Uso Pessoal (art. 659, III) ............................................................ 832
27.7.3.1.4. Vencimentos, Salários, Remunerações, Pensões, Proventos, Ganhos do Trabalhador
Autônomo e Honorários de Profissional Liberal (art. 659, IV) ................................................................ 832
27.7.3.1.5. Bens Necessários ou Úteis ao Exercício Profissional (art. 659, V) ......................................... 833
27.7.3.1.6. Seguro de Vida, Materiais Necessários para Obra em Andamento (art. 659, VI e VII) ......... 833
27.7.3.1.7. Pequena Propriedade Rural Trabalhada pela Família, Recursos Públicos Ligados à Aplicação
Compulsória em Educação, Saúde e Assistência Social, Valores Depositados em Caderneta de Poupança
até 40 SM e os Recursos do Fundo Partidário (art. 659, VIII, IX, X e XI) .................................................. 833
27.7.3.1.7. Termo Final de Alegação, como Matéria de Defesa, da Impenhorabilidade de Bem ........... 833
27.7.4. Responsabilidade Patrimonial ou Secundária (art. 592) ...................................................... 834
27.7.4.1. Bens do Sucessor a Título Singular, Tratando-se de Execução Fundada em Direito Real ou
Obrigação Reipersecutória (art. 592, I)........................................................................................................ 834
27.7.4.2. Bens do Sócio, nos Termos da Lei (art. 592, II) ............................................................................. 835
27.7.4.2.1. Desconsideração da Personalidade Jurídica ......................................................................... 835
27.7.4.3. Bens do Devedor, Quanto Estiverem em Poder de Terceiros (art. 592, III) .................................. 836
27.7.4.4. Bens do Cônjuge, nos Casos em que os seus Bens Próprios, Reservados ou de Sua Meação
Respondem pela Dívida (art. 592, IV) .......................................................................................................... 836
27.7.4.5. Bens Alienados ou Gravados com Ônus Real em Fraude à Execução (art. 592, V) ....................... 836
27.7.5. Fraudes do Devedor ............................................................................................................. 836
27.7.5.1. Fraude Contra Credores (arts. 158 a 165, CC/02) ......................................................................... 837
27.7.5.2. Fraude à Execução (art. 593) ........................................................................................................ 839
27.7.5.2.1. O art. 615-A – Averbação no Registro ................................................................................... 839
27.7.5.2.2. Momento da Fraude à Execução quando o Exequente é a Fazenda Pública ........................ 840
27.7.5.3. Fraude de Bem Constrito Judicialmente ....................................................................................... 841
27.8. LIQUIDAÇÃO DA OBRIGAÇÃO (ARTS. 475-A A 475-H) ............................................................................ 841
27.8.1. Requisitos da Obrigação a Executar .................................................................................... 841
27.8.2. Liquidação da Obrigação. Considerações Gerais ................................................................. 842
27.8.2.1. Rito da Liquidação ........................................................................................................................ 843
27.8.2.2. Legitimidade para Requerer a Liquidação .................................................................................... 843
27.8.2.3. Competência para Julgamento da Liquidação .............................................................................. 844
27.8.2.4. Momento para Requerer a Liquidação ......................................................................................... 844
27.8.2.5. Limites da Cognição na Liquidação ............................................................................................... 844
27.8.2.6. Matéria de Defesa na Liquidação ................................................................................................. 845
27.8.3. Natureza Jurídica da Liquidação .......................................................................................... 845
27.8.4. Liquidação por Cálculos (art. 475-B) .................................................................................... 846
27.8.4.1. Necessidade de Dados em Poder do Devedor ou de Terceiros (art. 475-B, § 1º)......................... 846
27.8.4.1.1. Dados em Poder do Devedor ................................................................................................ 846
27.8.4.1.2. Dados em poder de Terceiros ............................................................................................... 847
27.8.4.2. Elaboração do Cálculo pelo Contador Judicial (art. 475-B, § 3º)................................................... 847
27.8.5. Liquidação por Arbitramento (art. 475-C) ........................................................................... 847
27.8.6. Liquidação por Artigos ......................................................................................................... 848
27.8.7. Princípio da Fidelidade ao Título .......................................................................................... 848
27.8.7.1. Liquidação de Valor Zero .............................................................................................................. 849
27.8.8. Natureza Jurídica da Decisão que Julga a Liquidação e Recurso Cabível ............................. 850
27.8.9. Liquidação e Coisa Julgada .................................................................................................. 851
27.8.10. Súmulas sobre Liquidação.................................................................................................. 851
27.9. TÍTULO EXECUTIVO ........................................................................................................................... 851
27.9.1. Introdução............................................................................................................................ 851
27.9.2. Títulos Executivos Judiciais (art. 475-N) ............................................................................... 853

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27.9.2.1. Sentença Proferida no Processo Civil que Reconheça a Existência de Obrigação de Fazer, Não
Fazer, Entregar Coisa ou Pagar Quantia (art. 475-N, I) ................................................................................ 853
27.9.2.2. Sentença Penal Condenatória Transitada em Julgado (art. 475-N, II) .......................................... 853
27.9.2.3. Sentença Homologatória de Conciliação ou de Transação, Ainda que Inclua Matéria não Posta em
Juízo (art. 475-N, III) .................................................................................................................................... 854
27.9.2.4. Sentença Arbitral (art. 475-N, IV) ................................................................................................. 854
27.9.2.5. Acordo Extrajudicial, de Qualquer Natureza, Homologado Judicialmente (art. 475-N, IV) .......... 855
27.9.2.6. Sentença Estrangeira Homologada pelo STJ (art. 475-N, VI) ........................................................ 855
27.9.2.7. Formal e a Certidão de Partilha, Exclusivamente em Relação ao Inventariante, aos Herdeiros e aos
Sucessores a Título Singular ou Universal (art. 475-N, VII) .......................................................................... 855
27.9.3. Títulos Executivos Extrajudiciais (art. 585, CPC) .................................................................. 855
27.9.3.1. Letra de Câmbio, a Nota Promissória, a Duplicata, a Debênture e o Cheque (art. 585, I) ............ 856
27.9.3.2. Escritura Pública ou Outro Documento Público Assinado pelo Devedor; o Documento Particular
Assinado pelo Devedor e por 02 Testemunhas; o Instrumento de Transação Referendado pelo Ministério
Público, pela Defensoria Pública ou pelos Advogados dos Transatores (art. 585, II) .................................. 856
27.9.3.3. Contratos Garantidos por Hipoteca, Penhor, Anticrese e Caução, bem como os de Seguro de Vida
(art. 585, III) ................................................................................................................................................. 857
27.9.3.4. Crédito Decorrente de Foro e Laudêmio (art. 585, IV) ................................................................. 857
27.9.3.5. Crédito, Documentalmente Comprovado, Decorrente de Aluguel de Imóvel, Bem como de
Encargos Acessórios, tais como Taxas e Despesas de Condomínio (art. 585, V) ......................................... 857
27.9.3.6. Crédito de Serventuário de Justiça, de Perito, de Intérprete, ou de Tradutor, quando as Custas,
Emolumentos ou Honorários forem Aprovados por Decisão Judicial (art. 585, VI)..................................... 858
27.9.3.7. Certidão de Dívida Ativa da Fazenda Pública da União, dos Estado, do Distrito Federal, dos
Território e Municípios, Correspondente aos Créditos Inscritos na Forma da Lei (art. 585, VII) ................ 858
27.9.3.8. Todos os Demais Títulos, a que, por Disposição Expressa, a Lei Atribuir Força Executiva (art. 585,
VIII) .............................................................................................................................................................. 858
27.10. EXECUÇÃO PROVISÓRIA ................................................................................................................... 858
27.10.1. Conceito ............................................................................................................................. 858
27.10.2. Execução Provisória de Título Executivo Extrajudicial ....................................................... 859
27.10.3. Desenvolvimento da Execução Provisória .......................................................................... 860
27.10.4. Caução na Execução Provisória (art. 475-O, III) ................................................................. 861
27.10.4.1. Dispensa da Caução (art. 475-O, § 2º) ........................................................................................ 862
27.10.5. Responsabilidade Objetiva do Exequente (art. 475-O, I) ................................................... 863
27.10.6. Autos da Execução Provisória (art. 475-O, § 3º) ................................................................ 863
27.10.7. Execução Provisória contra a Fazenda Pública .................................................................. 863
27.10.8. Impossibilidade de Aplicação da Multa do Art. 475-J na Execução Provisória .................. 865
27.11. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTIVA ............................................................................................. 866
27.12. NULIDADES NO PROCESSO DE EXECUÇÃO ............................................................................................ 866
27.13. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DA OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER (ART. 461) ..................................... 867
27.13.1. Introdução.......................................................................................................................... 867
27.13.2. Espécies de Tutelas Cabíveis .............................................................................................. 868
27.13.2. Aspectos Procedimentais ................................................................................................... 869
27.13.3. Tutela Específica e Conversão em Perdas e Dano (art. 461, § 1º) ..................................... 870
27.13.3.1. Vontade do Exequente ............................................................................................................... 870
27.13.3.2. Procedimento da Conversão em Perdas e Danos ....................................................................... 871
27.13.4. Atipicidade das Formas Executivas (art. 461, § 5º)............................................................ 871
27.13.5. Multa Coercitiva ou Astreintes (art. 461, § § 4º, 5º e 6º) .................................................. 872
27.13.5.1. Valor da Multa ............................................................................................................................ 872
27.13.5.2. Beneficiado pela Multa ............................................................................................................... 872
27.13.5.3. Alteração do Valor e Periodicidade da Multa (art. 461, § 6º) ..................................................... 874
27.13.5.4. Exigibilidade da Multa ................................................................................................................ 875

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27.13.5.5. Defesa do Executado .................................................................................................................. 877


27.13.5.5. Cabimento das Astreintes ...................................................................................................... 877
27.14. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DA OBRIGAÇÃO DE ENTREGAR COISA (ART. 461-A) ..................................... 879
27.14.1. Introdução.......................................................................................................................... 879
27.14.2. Aspectos Procedimentais ................................................................................................... 880
27.15. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DA OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA (ART. 475-J, L E M) ................... 881
27.15.1. Fase Inicial do Cumprimento de Sentença: o Cumprimento Voluntário e a Multa Legal
Coercitiva de 10% (art. 475-J) .......................................................................................................... 881
27.15.1.1. Necessidade de Intimação do Devedor ...................................................................................... 882
27.15.1.2. Desnecessidade de Intimação do Devedor Revel ....................................................................... 884
27.15.1.3. Execução por Quantia Certa e Aplicação de Astreintes .............................................................. 884
27.15.1.4. Inaplicabilidade da Multa em Execuções Individuais na Tutela Coletiva .................................... 885
27.15.2. Multa e o Pagamento ........................................................................................................ 886
27.15.3. Necessidade de Provocação do Credor na Instauração da Fase de Cumprimento de
Sentença .......................................................................................................................................... 886
27.15.4. Procedimento ..................................................................................................................... 888
27.15.5. Honorários Advocatícios .................................................................................................... 889
27.16. EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL ...................................... 890
27.16.1. Introdução.......................................................................................................................... 890
27.16.2. Obrigações de Fazer (arts. 632 a 638) ............................................................................... 891
27.16.2.1. Execução de Prestações Fungíveis .............................................................................................. 891
27.16.2.1.1. Posturas do Executado ....................................................................................................... 891
27.16.2.1.2. Posturas do Exequente ....................................................................................................... 891
27.16.2.2. Execução de Prestações Infungíveis ........................................................................................... 892
27.16.3. Execução das Obrigações de Não Fazer (arts. 642 e 643) ................................................. 893
27.17. EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE ENTREGAR COISA CERTA OU INCERTA (ARTS. 621 A 631) ............................. 893
27.17.1. Introdução.......................................................................................................................... 893
27.17.1.1. Entrega de Coisa Certa (arts. 621 a 628)..................................................................................... 894
27.17.1.2. Entrega de Coisa Incerta (arts. 629 a 631) .................................................................................. 895
27.17.1.2.1. Natureza Jurídica dos Efeitos da Impugnação ......................................................................... 896
27.18. EXECUÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE ....................................................... 896
27.18.1. Introdução.......................................................................................................................... 896
27.18.2. Fase de Proposição ............................................................................................................ 897
27.18.2.1. Petição Inicial .............................................................................................................................. 897
27.18.2.2. Averbação da Execução (art. 615-A) ........................................................................................... 898
27.18.2.3. Arresto Executivo (arts. 653 e 654)............................................................................................. 899
27.18.2.4. Citação e Pagamento (art. 652) .................................................................................................. 900
27.18.2.5. Atuação do Oficial de Justiça (art. 652) ...................................................................................... 900
27.18.2.6. Não Localização do Devedor para a Intimação da Penhora (art. 652, § 5º) ............................... 900
27.18.3. Moratória Legal ou Parcelamento (art. 745-A, caput) ...................................................... 900
27.18.3.1. Introdução .................................................................................................................................. 900
27.18.3.2. Requisitos Formais ...................................................................................................................... 901
27.18.3.3. Procedimento ............................................................................................................................. 902
27.18.3.4. Inadimplemento das Parcelas ..................................................................................................... 902
27.18.3. Fase de Instrução ............................................................................................................... 902
27.18.3.1. Penhora ...................................................................................................................................... 902
27.18.3.1.1. Definição ............................................................................................................................. 902
27.18.3.1.2. Natureza Jurídica ................................................................................................................ 903
27.18.3.1.3. Função da Penhora ............................................................................................................. 903
27.18.3.1.5. Efeitos da Penhora – Consequências para o Terceiro de Boa Fé - Preferência ................... 903
27.18.3.1.6. Bens Absolutamente Impenhoráveis (art. 649) .................................................................. 906

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27.18.3.1.7. Bens Relativamente Impenhoráveis (art. 650) .................................................................... 908


27.18.3.1.8. Ordem Legal de Penhora (art. 655)..................................................................................... 908
27.18.3.1.9. Dever de Cooperação do Executado na Localização de Bens na Penhora .......................... 908
27.18.3.1.10. Local da Penhora............................................................................................................... 909
27.18.3.1.11. Penhora de Dinheiro (Online) ........................................................................................... 909
27.18.3.1.12. Penhora de Percentual do Faturamento de Empresa Devedora (art. 655-A, § 3º) ........... 912
27.18.3.1.13. Penhora de Imóvel ............................................................................................................ 913
27.18.3.1.14. Procedimento da Penhora (arts. 659 a 676) ..................................................................... 913
27.18.3.1.16. Intimação da Penhora ....................................................................................................... 914
27.18.3.1.17. Penhoras Especiais ............................................................................................................ 915
27.18.3.1.16. Modificação e Reforço da Penhora ................................................................................... 917
27.18.3.2. Avaliação (arts. 680 a 684).......................................................................................................... 918
27.18.4. Formas de Expropriação ou Alienação............................................................................... 919
27.18.4.1. Adjudicação (arts. 685-A e 685-B) .............................................................................................. 920
27.18.4.1.1. Valor da Adjudicação .......................................................................................................... 920
27.18.4.1.2. Legitimados a Adjudicar ...................................................................................................... 921
27.18.4.1.3. Concurso de Pretendentes à Adjudicação .......................................................................... 921
27.18.4.1.4. Auto de Adjudicação (art. 685-B) ........................................................................................ 921
27.18.4.1.5. Adjudicação Provisória........................................................................................................ 922
27.18.4.2. Alienação por Iniciativa Particular (art. 685-C) ........................................................................... 922
27.18.4.2.1. Alienação pelo Exequente e a Necessidade de seu Pedido ................................................ 922
27.18.4.2.2. Alienação por Corretor Credenciado perante a Autoridade Judiciária ............................... 922
27.18.4.2.3. Requisitos para a Alienação (art. 685-C, § 1º)..................................................................... 923
27.18.4.2.4. Aperfeiçoamento da Alienação Particular .......................................................................... 923
27.18.4.3. Alienação em Hasta Pública (arts. 687 a 707) ............................................................................. 924
27.18.4.3.1. Requisitos Formais e Publicação do Edital (arts. 686 e 687) ............................................... 924
27.18.4.3.2. Dispensa da Publicação de Editais (art. 686, § 3º) .............................................................. 925
27.18.4.3.3. Comunicações da Hasta Pública (art. 687, § 5º) ................................................................. 925
27.18.4.3.4. Realização da Hasta Pública ................................................................................................ 925
27.18.4.3.5. Legitimados a Arrematar (art. 690-A) ................................................................................. 926
27.18.4.3.6. Procedimento ..................................................................................................................... 926
27.18.4.3.7. Auto de Arrematação.......................................................................................................... 927
27.18.4.3.8. Arrematação Ineficaz (art. 694, § 1º) .................................................................................. 928
27.18.4.3.9. Carta de Arrematação ......................................................................................................... 929
27.18.4.3.10. Efeitos da Arrematação .................................................................................................... 929
27.18.4.3.11. Evicção .............................................................................................................................. 930
27.18.4.3.12. Vícios Redibitórios ............................................................................................................ 931
27.18.4.3.13. Ação Anulatória de Arrematação e Embargos à Arrematação ......................................... 932
27.18.4.4. Usufruto Executivo de Móvel ou Imóvel (arts. 716 a 724).......................................................... 933
27.18.4.4.1. Objeto do Usufruto ............................................................................................................. 933
27.18.4.4.2. Procedimento ..................................................................................................................... 933
27.18.5. Pagamento ........................................................................................................................ 934
27.18.5.1. Entrega de Dinheiro ao Credor (arts. 709 a 713) ........................................................................ 934
27.18.5.1.1. Concurso Singular de Credores ........................................................................................... 934
27.18.6. Honorários Advocatícios em Execução de Título ............................................................... 935
27.19. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA ............................................................................................ 937
27.19.1. Introdução.......................................................................................................................... 937
27.19.2. Execução por Quantia Certa em Face da Fazenda Pública ................................................ 937
27.19.3. A Defesa da Fazenda Pública e os Embargos à Execução (art. 741) .................................. 938
27.19.3.1. O P. Único do Art. 741 do CPC .................................................................................................... 939
27.19.4. Natureza Jurídica da Atividade do Presidente do Tribunal do Precatório.......................... 940
27.19.5. Atualização Monetária e Juros no Pagamento dos Precatórios ........................................ 941

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27.19.6. Casos de Dispensa de Precatório ....................................................................................... 941


27.19.7. Execução Provisória contra a Fazenda Pública .................................................................. 942
27.19.8. Execução de Fazer, Não Fazer e Entregar Coisa contra a Fazenda Pública ....................... 942
27.19.9. Ação Monitória contra a Fazenda Pública ......................................................................... 942
27.19.10. Aprofundamentos Finais .................................................................................................. 944
27.20. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS ................................................................................................................ 945
27.20.1. Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente vs. Prisão Civil .............................. 945
27.20.2. Prisão Civil e Alimentos Indenizatórios .............................................................................. 946
27.20.3. Execução de Alimentos e Lei nº 11.232/2005 .................................................................... 946
27.20.4. Execução de Liminar de Alimentos Provisionais e de Sentença Condenatória de Alimentos
......................................................................................................................................................... 947
27.21. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR INSOLVENTE ............................................................ 947
27.21.1. Caracterização da Insolvência ........................................................................................... 948
27.21.2. Fases do Processo de Insolvência ....................................................................................... 948
27.21.3. Características da Execução Coletiva ................................................................................. 949
27.21.4. Efeitos da Declaração de Insolvência ................................................................................. 949
27.21.5. Legitimidade Ativa ............................................................................................................. 950
27.21.6. Competência ...................................................................................................................... 951
27.21.7. Sentença ............................................................................................................................ 951
27.21.8. Administrador Judicial ....................................................................................................... 952
27.21.9. Habilitação ......................................................................................................................... 952
27.21.10. Quadro Geral de Credores ............................................................................................... 953
27.21.11. Apuração do Ativo e Pagamento dos Credores ............................................................... 953
27.21.12. Encerramento e Suspensão do Processo .......................................................................... 954
27.21.13. Saldo Devedor .................................................................................................................. 954
27.21.14. Extinção das Obrigações .................................................................................................. 955
27.21.15. Disposições Gerais ........................................................................................................... 955
27.21.16. Ausência de Bens Penhoráveis do Devedor ..................................................................... 956
27.22. DEFESAS DO EXECUTADO ................................................................................................................. 956
27.22.1. Embargos à Execução (arts. 736 a 740) ............................................................................. 956
27.22.1.1. Natureza Jurídica ........................................................................................................................ 956
27.22.1.2. Garantia do Juízo ........................................................................................................................ 957
27.22.1.3. Prazo dos Embargos.................................................................................................................... 957
27.22.1.4. Rejeição Liminar dos Embargos .................................................................................................. 957
27.22.1.4.1. Intempestividade dos Embargos ......................................................................................... 958
27.22.1.4.2. Inépcia da Petição Inicial..................................................................................................... 958
27.22.1.4.3. Embargos Manifestamente Protelatórios ........................................................................... 958
27.22.1.5. Efeitos Suspensivo ...................................................................................................................... 958
27.22.1.5.1. Requisitos ........................................................................................................................... 958
27.22.1.5.2. Ausência de Preclusão Judicial ............................................................................................ 959
27.22.1.5.3. Limitação Objetiva e Subjetiva do Efeito Suspensivo ......................................................... 959
27.22.1.5.4. Suspensão Parcial do Processo ........................................................................................... 960
27.22.1.6. Procedimento dos Embargos ...................................................................................................... 960
27.22.1.6.1. Início do Procedimento ....................................................................................................... 960
27.22.1.6.2. Revelia ................................................................................................................................ 960
27.22.1.6.3. Decisão dos Embargos ........................................................................................................ 960
27.22.1.6.4. Competência para Conhecer dos Embargos ....................................................................... 961
27.22.1.6.5. Extinção dos Embargos por Desistência da Execução ......................................................... 961
27.22.1.7. Matérias que Podem ser Alegadas nos Embargos ...................................................................... 961
27.22.2. Embargos de Terceiros e Embargos do Executado ............................................................ 962

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28

27.22.3. Impugnação ao Cumprimento de Sentença ....................................................................... 965


27.22.4. Exceção de Pré- Executividade ........................................................................................... 968
27.22.4.1. Exceção de Pré-Executividade: Amparo Normativo ................................................................... 971
27.23. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ............................................................................................................... 971

28. JUIZADO ESPECIAL FEDERAL CÍVEL ............................................................................................... 983

28.1. INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 983


28.2. COMPETÊNCIA ................................................................................................................................. 984
28.2.1. Controle da Competência dos Juizados Via Mandado de Segurança perante o Tribunal .... 989
28.3. DELEGAÇÃO PARA A JUSTIÇA ESTADUAL E APLICAÇÃO DA LEI DO JEF .......................................................... 991
28.4. VALOR DA CAUSA ............................................................................................................................. 993
28.5. PARTES .......................................................................................................................................... 994
28.6. SENTENÇA LÍQUIDA........................................................................................................................... 994
28.7. RECURSOS ...................................................................................................................................... 994
28.7.1. As Turmas Recursais ............................................................................................................ 995
28.7.2. Os Incidentes de Uniformização .......................................................................................... 996
28.7.3. Recurso Extraordinário ........................................................................................................ 998
28.7.4. Cabimento de Reclamação para o STJ ................................................................................. 999
28.7.5. Enunciados do FONAJEF sobre Recursos ............................................................................ 1001
28.7.6. Ação Rescisória e Ação Anulatória..................................................................................... 1001
28.7.7. Mandado de Segurança como Sucedâneo Recursal no JEF ............................................... 1004
28.8. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA........................................................................................................... 1006
28.8.1. Execução de Valor Condenatório Superior à Competência dos Juizados: Competência do JEF
....................................................................................................................................................... 1007
28.8.2. Execução de Astreintes nos Juizados: Comptência em Função do Valor ........................... 1008
28.9. CUSTAS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS .............................................................................................. 1010
28.10. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ............................................................................................................. 1010

29. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS ...................................................................................................... 1014

29.1. AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO ............................................................................................................. 1019


28.1.1. Ação de Desapropriação no Decreto-Lei nº 3.365/41 ........................................................ 1020
28.1.2. Ação de Desapropriação na LC nº 76/93 ........................................................................... 1025
28.2. AÇÃO MONITÓRIA.......................................................................................................................... 1028
28.2.1. Conceito ............................................................................................................................. 1028
28.2.2. Natureza Jurídica ............................................................................................................... 1028
28.2.3. Admissibilidade .................................................................................................................. 1028
28.2.4. Fazenda Pública e Ação Monitória .................................................................................... 1029
28.2.5. Ingresso da Monitória ........................................................................................................ 1030
28.2.6. Posturas do Réu ................................................................................................................. 1030
28.2.7. O Mérito no Processo Monitório e seu Julgamento ........................................................... 1030
28.2.8. Natureza Jurídica dos Embargos ao Mandado Monitório ................................................. 1031
28.2.9. Procedimento dos Embargos à Monitória ......................................................................... 1031
28.2.10. Cumprimento de Sentença ............................................................................................... 1032
28.2.11. Impossibilidade de Conversão de Ação Executiva em Ação Monitória ............................ 1032
28.2.12. Súmulas Aplicáveis ........................................................................................................... 1032
28.3. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO (ARTS. 890 A 900)................................................................ 1033
28.3.1. Consignação por Dúvida quanto à Titularidade do Crédito ............................................... 1036
28.3.2. Resgate da Enfiteuse.......................................................................................................... 1036
28.3.3. Consignação de Aluguéis e Acessórios da Locação ............................................................ 1037
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28.4. AÇÃO POSSESSÓRIA (ARTS. 920 A 933) ............................................................................................. 1037


28.4.1. Introdução.......................................................................................................................... 1037
28.4.2. Hipóteses de Cabimento e Competência ........................................................................... 1040
28.4.3. Legitimidade Ativa e Passiva ............................................................................................. 1041
28.4.4. Pedidos............................................................................................................................... 1042
28.4.5. Procedimento ..................................................................................................................... 1043
28.4.6. Confronto entre Ações Possessórias e Petitórias ............................................................... 1045
28.5. AÇÃO DE DEMARCAÇÃO DE TERRAS PARTICULARES ............................................................................... 1047
28.5.1. Legitimidade Ativa ............................................................................................................. 1047
28.5.2. Legitimação Passiva ........................................................................................................... 1048
28.5.3. Competência ...................................................................................................................... 1048
28.5.4. Conexão e Litispendência ................................................................................................... 1049
28.5.5. Petição Inicial ..................................................................................................................... 1049
28.5.6. Revelia................................................................................................................................ 1049
28.5.7. Pendência de Ação Possessória ......................................................................................... 1049
28.5.8. Coisa Julgada ..................................................................................................................... 1049
28.5.9. Registro de Imóveis ............................................................................................................ 1050
28.5.10. O Usucapião como Matéria de Defesa (Exceção de Usucapião) ...................................... 1050
28.5.11. Súmulas Aplicáveis ........................................................................................................... 1050
28.6. EMBARGOS DE TERCEIROS ................................................................................................................ 1051
28.7. AÇÃO DE DEPÓSITO (ARTS. 901 A 906) ............................................................................................. 1056
28.8. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS (ARTS. 914 A 919) .......................................................................... 1056
28.8.1. Ação de Prestação de Contas em Contratos de Conta Corrente ........................................ 1057
28.9. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ............................................................................................................... 1059

30. TUTELAS DE URGÊNCIA .............................................................................................................. 1061

30.1. TUTELA ANTECIPADA E CAUTELAR: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ............................................................ 1063


30.1.1. Tutela Definitiva: Satisfativa (Padrão) e Cautelar ............................................................. 1063
30.1.2. A Tutela Provisória (Sumária e Precária): Tutela Antecipada. Antecipação dos Efeitos da
Tutela Definitiva............................................................................................................................. 1063
30.1.3. Tutela Cautelar e Tutela Antecipada: Distinções ............................................................... 1064
30.1.4. A Fungibilidade entre Tutela Cautelar e Antecipada Satisfativa (art. 273, § 7º, CPC) ....... 1065
30.1.4.1. Não Há Fungibilidade de Mão Dupla .......................................................................................... 1065
30.1.5. Tutela de Urgência X Tutela de Evidência .......................................................................... 1066
30.2. TUTELA ANTECIPADA ...................................................................................................................... 1066
30.2.1. Diferença entre Liminar e Tutela Antecipada .................................................................... 1066
30.2.2. Tutela Antecipada e Julgamento Antecipado da Lide ........................................................ 1067
30.2.3. Análise do Art. 273 do CPC ................................................................................................. 1067
30.2.3.1. Efeitos Antecipáveis .................................................................................................................... 1067
30.2.3.1.1. Antecipação da Eficácia Social da Tutela ............................................................................ 1067
30.2.3.1.2. A Antecipação nas Ações Constitutivas e Declaratórias ..................................................... 1067
30.2.3.2. Cabimento .................................................................................................................................. 1068
30.2.3.3. Hipóteses de Antecipação: Assecuratória e Punitiva .................................................................. 1068
30.2.3.4. Pressupostos Gerais.................................................................................................................... 1069
30.2.3.4.1. Prova Inequívoca e Verossimilhança das Alegações ........................................................... 1069
30.2.3.4.2. Reversibilidade dos Efeitos do Provimento e Caução ......................................................... 1069
30.2.3.5. Pressupostos Alternativos .......................................................................................................... 1070
30.2.3.5.1. Noções Iniciais .................................................................................................................... 1070
30.2.3.5.2. Perigo da Demora ............................................................................................................... 1070
30.2.3.5.3. Atos Protelatórios e Abusivos da Parte ............................................................................... 1070
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30.2.3.6. Legitimidade ............................................................................................................................... 1071


30.2.3.6.1. Autor, Réu e Terceiro Interveniente ................................................................................... 1071
30.2.3.6.2. Antecipação de Tutela Negativa ......................................................................................... 1071
30.2.3.6.32. Ministério Público ............................................................................................................. 1071
30.2.3.6.4. Concessão Ex Officio ........................................................................................................... 1071
30.2.3.7. Forma de Requerimento ............................................................................................................. 1072
30.2.3.7.1. Concessão de Tutela Antecipada Diversa da Pedida pela Parte ......................................... 1073
30.2.3.8. Momento .................................................................................................................................... 1073
30.2.3.8.1. Considerações Iniciais ......................................................................................................... 1073
30.2.3.8.2. Liminarmente...................................................................................................................... 1073
30.2.3.8.3. Na Sentença ........................................................................................................................ 1073
30.2.3.8.4. Em Grau Recursal ................................................................................................................ 1073
30.2.3.9. Instrução e Audiência de Justificação Prévia .............................................................................. 1074
30.2.3.10. Manifestação do Requerido ..................................................................................................... 1074
30.2.3.11. Decisão ..................................................................................................................................... 1074
30.2.3.12. Efetivação ................................................................................................................................. 1074
30.2.3.13. Possibilidade de Revogação/Modificação ................................................................................ 1074
30.2.3.14. Eficácia Temporal da Tutela Antecipada ................................................................................... 1075
30.2.3.14.1. Eficácia da Tutela Antecipada e Julgamento de Agravo de Instrumento .......................... 1076
30.2.3.15. Recursos ................................................................................................................................... 1077
30.2.4. Resolução Parcial do Mérito da Causa (art. 273, § 6º) ...................................................... 1078
30.2.4.1. Introdução .................................................................................................................................. 1078
30.2.4.2. Natureza Jurídica ........................................................................................................................ 1078
30.2.4.3. Execução ..................................................................................................................................... 1079
20.2.4.4. Tutela Antecipada nas Obrigações de Entrega de Coisa ............................................................. 1079
30.2.5. Tutela Antecipada contra a Fazenda Pública ..................................................................... 1079
30.2.5.1. Generalidades ............................................................................................................................. 1079
30.2.5.2. Leis Fundamentais de Limitação da Tutela Antecipada e sua Constitucionalidade .................... 1079
30.2.5.3. Exigência do Trânsito em Julgado para a Expedição de Precatório (EC nº 62/09) ...................... 1080
30.2.5.4. Tutela Antecipada da Obrigação de Fazer, Não Fazer e Dar Coisa ............................................. 1080
30.2.5.5. Meios de Impugnação da Concessão de Tutela Antecipada contra a Fazenda Pública .............. 1081
30.3. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ............................................................................................................... 1081

31. MEDIDAS CAUTELARES – TEORIA GERAL (ARTS. 796 A 812) ....................................................... 1083

31.1. CARACTERÍSTICAS ........................................................................................................................... 1083


31.1.1. Sumariedade ...................................................................................................................... 1083
31.1.2. Provisoriedade ou Temporariedade? ................................................................................. 1084
31.1.3. Instrumentalidade.............................................................................................................. 1084
31.1.4. Revogabilidade .................................................................................................................. 1085
31.2. COMPETÊNCIA (ART. 800) ............................................................................................................... 1085
31.2.1. Críticas ao Art. 800 do CPC ................................................................................................ 1085
31.2.2. Ações Cautelares Probatórias ............................................................................................ 1086
31.2.3. Competência e Prevenção do Juízo .................................................................................... 1086
31.2.3.1. Juiz Competente e Prevenção..................................................................................................... 1086
31.2.3.2. Juízo Incompetente e Prevenção ................................................................................................ 1086
31.2.3.3. Prevenção do Juízo e Cautelares Probatórias ............................................................................. 1086
31.2.3.4. Competência Cautelar em Grau Recursal (art. 800, p. único)..................................................... 1086
31.3. MÉRITO CAUTELAR ......................................................................................................................... 1087
31.4. PROCEDIMENTO ............................................................................................................................. 1087
31.4.1. Petição Inicial ..................................................................................................................... 1087
31.4.2. Contraditório na Demanda Cautelar (art. 802).................................................................. 1087
31.4.3. Revelia (art. 803, caput)..................................................................................................... 1088
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31.4.4. Instrução Probatória .......................................................................................................... 1088


31.4.5. Sentença ............................................................................................................................ 1089
31.5. LIMINAR (ART. 804) ....................................................................................................................... 1089
31.6. COISA JULGADA MATERIAL............................................................................................................... 1089
31.7. PODER GERAL DE CAUTELA .............................................................................................................. 1090
31.8. PRAZO DE EFICÁCIA DA MEDIDA CAUTELAR ......................................................................................... 1090
31.9. CESSAÇÃO DA EFICÁCIA DA TUTELA CAUTELAR (ART. 808) ..................................................................... 1091
31.9.1. Não Propositura da Ação Principal em 30 Dias (art. 808, I) ............................................... 1091
31.9.2. Ausência de Execução da Tutela Cautelar no Prazo de 30 Dias (art. 808, II) ..................... 1091
31.9.3. Extinção do Processo Principal com ou sem Resolução de Mérito..................................... 1091
31.10. RESPONSABILIDADE OBJETIVA (ART. 811) ......................................................................................... 1091
31.10.1. Introdução........................................................................................................................ 1091
31.10.2. Hipóteses de Responsabilidade Objetiva ......................................................................... 1092
31.10.3. Liquidação e Execução ..................................................................................................... 1092
31.11. CAUTELARES INOMINADAS ............................................................................................................. 1092
31.12. CAUTELARES NOMINADAS.............................................................................................................. 1093
31.12.1. Arresto ............................................................................................................................. 1093
31.12.1.1. Hipóteses de Cabimento........................................................................................................... 1094
31.12.1.2. Pressupostos de Concessão ...................................................................................................... 1094
31.12.1.3. Comprovação dos Pressupostos de Concessão ........................................................................ 1095
31.12.1.4. Procedimento ........................................................................................................................... 1095
31.12.1.5. Efeitos ....................................................................................................................................... 1095
31.12.1.6. Extinção .................................................................................................................................... 1096
31.12.2. Sequestro ......................................................................................................................... 1096
31.12.2.1. Cabimento (art. 812)................................................................................................................. 1096
31.12.2.2. Pressupostos de Concessão ...................................................................................................... 1097
31.12.2.3. Aplicação das Normas Relativas ao Arresto .............................................................................. 1097
31.12.3. Caução ............................................................................................................................. 1097
31.12.3.1. Procedimento ........................................................................................................................... 1098
31.12.4. Busca e Apreensão (arts. 839 a 843) ............................................................................... 1100
31.12.4.1. Procedimento ........................................................................................................................... 1100
31.12.5. Exibição (arts. 844 e 845) ................................................................................................. 1101
31.12.5.1. Hipóteses de Cabimento e Natureza ........................................................................................ 1101
31.12.5.2. Legitimidade ............................................................................................................................. 1102
31.12.5.3. Procedimento ........................................................................................................................... 1102
31.12.5.3.1. Exibição Proposta contra a Parte Titular do Dever de Exibir e da Relação Jurídica de Direito
Material ................................................................................................................................................ 1102
31.12.5.3.2. Exibição Proposta contra o Terceiro, Titular do Dever de Exibir mas não da Relação Jurídica
de Direito Material ............................................................................................................................... 1103
31.12.6. Produção Antecipada de Provas (arts. 846 a 851) ........................................................... 1103
31.12.6.1. Hipóteses de Cabimento ...................................................................................................... 1104
31.12.6.2. Procedimento ...................................................................................................................... 1105
31.12.7. Protestos, Notificações e Interpelações (arts. 867 a 873) ................................................ 1105
31.12.7.1. Protesto .................................................................................................................................... 1105
31.12.7.2. Notificação ................................................................................................................................ 1107
31.12.7.3. Interpelação .............................................................................................................................. 1107
31.12.8. Atentado (arts. 879 a 881) ............................................................................................... 1107
31.12.8.1. Pressupostos ............................................................................................................................. 1108
31.12.8.2. Legitimidade ............................................................................................................................. 1109
31.12.8.3. Procedimento ........................................................................................................................... 1109
31.12.8.4. Sentença: Efeitos e Execução ................................................................................................... 1110
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31.13. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ............................................................................................................. 1110

32. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA........................................................ 1113

33. PROCEDIMENTO SUMÁRIO ........................................................................................................ 1113

33.1. OBSERVAÇÕES DE PROVAS ............................................................................................................... 1113

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1. Jurisdição
1.1. Conceito e Características da Jurisdição

1.1.1. Conceito
Trata-se da FUNÇÃO atribuída a terceiro imparcial (Estado) de aplicar o direito objetivo ao caso
concreto, resolvendo por decisão definitiva e não passível de controle externo uma situação de
crise e gerando pacificação social.

A jurisdição é um PODER, já que representa o poder estatal de interferir na esfera jurídica dos
jurisdicionados.

A jurisdição, apesar de típica, não é função exclusiva do Poder Judiciário, já que os demais
Poderes exercem também a função judicante. A diferença é que a decisão destes não se
acoberta da coisa julgada material.

Vista como ATIVIDADE, a jurisdição é o complexo dos atos praticados pelo agente estatal
investido de jurisdição no processo. Nesse sentido, a jurisdição se aproxima da noção de
processo. Logo, são óticas da jurisdição:

Função
Poder
Atividade

1.1.1.1. Dinossauros da Jurisdição: Chiovenda e Carnelutti


Sobre a jurisdição, há também duas concepções clássicas, a de Chiovenda e a de Carnelutti.

Carnelutti era adepto de uma teoria chamada de teoria unitária do ordenamento jurídico; por
esta teoria ele e seus adeptos entendiam que o direito processual não tinha vida própria, ele
era um adendo do direito civil; época em que era chamado de direito adjetivo. Então era uma
época em que Carnelutti estava tentando provar que o processo civil era uma ciência à parte e
tão ou mais importante o que direito civil.

Segundo ele, o direito material não cria direito subjetivo, cria apenas uma expectativa de
direito. Isso porque o Código Civil estabelece uma série de determinações que serão
respeitadas de maneira espontânea pelas partes. O direito material não assegura meio algum
para se dirigir ao indivíduo, então de acordo com Carnelutti, para se obter o cumprimento
adequado da obrigação você vai precisar se socorrer do processo.

Para o Estado exercer a jurisdição, será preciso um instrumento que é o processo, mas o que
irá assegurar o cumprimento da obrigação é a sentença que será proferida no processo.
Segundo Carnelutti, é a sentença proferida no processo que cria direito subjetivo.

O MPF gosta de perguntar o que é o ARCO DE CARNELUTTI: este é exatamente essa primeira
fase em que ele afirma que o direito material cria uma mera expectativa de direito; o que
efetivamente cria direito subjetivo é a sentença proferida em um processo, é o que completa o
todo. É ela, sentença, que cria direito subjetivo.

Para Carnelutti, o direito objetivo não tem condições para disciplinar, sempre, todos os
conflitos de interesses, sendo necessário, muitas vezes, o processo para a complementação

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dos comandos da lei. O comando contido na lei é incompleto; é como se fosse um arco, que a
sentença completa, transformando em círculo. Não é tão nítida assim a cisão entre o direito
material e o direito processual. O processo participa da criação de direitos subjetivos e
obrigações, os quais só nascem efetivamente quando existe uma sentença a respeito. O
processo tem, assim, o escopo de compor a lide, ou seja, de discipliná-la, ditando a regra que a
soluciona.

De acordo com a teoria de Carnelutti jurisdição seria simplesmente a busca da justa


composição da lide.

Mas esta não é a teoria predominante; o nosso sistema adota a teoria de Chiovenda.

Chiovenda era adepto da teoria dualista do ordenamento jurídico. Por ela o ordenamento é
dividido em dois planos: o do direito material, que efetivamente cria direito subjetivo; e um
segundo plano que é o do direito processual.

Quando o plano do direito material é objeto de algum tipo de violação ela precisa ser corrigida
e o Estado é chamado a dizer qual é a interpretação que efetivamente deve ser dada àquela
norma, o que foi feito de errado que precisa ser corrigido.

Essa solução é realizada no plano do direito processual onde o Estado declara a vontade
concreta da lei. É por isso que, segundo Chiovenda, o conceito de jurisdição é o de aplicação da
vontade concreta da lei.

Essa aplicação da vontade concreta da lei realizada no plano do direito processual será
realizada através da substituição por órgãos públicos da vontade dos particulares ou de outros
órgãos públicos. Seja para declarar a vontade da lei (processo de conhecimento), seja para
torná-la efetiva (processo de execução).

1.1.1.2. Teorias Modernas da Jurisdição


Outras correntes de pensamento são mencionadas aqui no Brasil: a primeira delas é a do
Marinoni, lançada em 2000, com o livro “Novas linhas de processo civil”. Nesse livro ele
defendia que o conceito de jurisdição é maleável, volúvel, e, por isso, depende do tipo de
Estado e da época em que a jurisdição é exercida.

Quer basicamente dizer que se a jurisdição foi exercida pelo Estado nazista na década de 40,
por exemplo, é um tipo de jurisdição; se exercida pelo estado comunista na década de 30,
outro tipo de jurisdição; se exercida pelo Estado democrático de direito no ano 2000, é um
outro tipo de jurisdição. Então, a jurisdição não tem um conceito definido porque ela é
maleável, depende do tipo de Estado e da época.

Mas no curso que Marinoni tem agora de processo civil, ele afirma que o conceito de jurisdição
é baseado na aplicação da lei, mas sempre pautado pela observância dos princípios
constitucionais especialmente aqueles relacionados aos direitos fundamentais.

Então, ele afirma que modernamente só se pode falar em jurisdição se o Estado aplicar a lei
observando sempre a Constituição e os direitos fundamentais. Na verdade, segundo ele, o
Estado precisa sempre aplicar a Constituição, pois só assim há jurisdição, observando os
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35

direitos constitucionais. É um conceito muito importante na área federal, já que Marinoni já


teve uma tremenda ingerência nesta área.

A mais moderna das posições é a de Fredie Didier, que no primeiro volume de sua obra afirma
que a jurisdição é uma função atribuída a um terceiro imparcial de realizar o direito de
maneira imperativa e criativa reconhecendo, efetivando e protegendo situações jurídicas
concretamente deduzidas em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para se
tornar imutável ou indiscutível.

O conceito dele foi o analisado no início.

Importante deixar consignado que Didier sempre rejeitou a teoria do Carnelutti, a ideia dele
aqui é de que quando o juiz julga um pedido, ele vai pegar a lei que é abstrata e aplicar àquele
caso. Para ele o juiz estaria moldando a lei de uma determinada forma específica para o caso.
Mas para a doutrina tradicional os tribunais não criam nada, eles vão até a lei, interpretam e
aplicam ao caso concreto.

1.1.2. Heterocomposição
A jurisdição é técnica de solução de litígios por heterocomposição, já que um terceiro substitui
a vontade das partes e soluciona o problema apresentado. Trata-se, pois, do fenômeno da
substitutividade, conforme prelecionava Chiovenda.

O juiz deve ser imparcial, sem interesse no litígio e tratando igualmente as partes; nunca será,
entretanto, neutro, pois a neutralidade implicaria em ausência de manifestação no processo. O
juiz se manifesta, tendendo a uma solução da lide.

1.1.3. Jurisdição como Atividade Criativa


A jurisdição é função criativa; cria-se a norma do caso concreto, bem como se cria, muitas
vezes, a própria regra abstrata que deve regular o caso concreto. A norma é individualizada na
medida em que se a adapta à situação posta sub judice.

TAMBÉM É POSSÍVEL QUE A NORMA SEJA MODIFICADA ABSTRATAMENTE, EM


FUNÇÃO DE UMA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO, NO ÂMBITO DO
CONTROLE DIFUSO OU CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE.

A norma jurídica criada e contida na fundamentação do julgado compõe a ratio decidendi. Não
é essa a norma individual, a qual vem contida no dispositivo da sentença.

Logo, diferentemente do que propugnava a teoria clássica, o juiz não apenas declara a lei ou
cria a norma individual (dispositivo) a partir da norma geral. Ele efetivamente constrói a norma
jurídica.

Com o avanço do uso dos princípios, mais criativa ainda se tornou a jurisdição; isso. Por
evidente, gera muitas críticas que serão analisadas ao longo desse resumo.

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36

A criatividade judicial pode ser justificada ainda pelo princípio da inafastabilidade da jurisdição,
que proíbe a recusa da prestação jurisdicional ainda que não haja solução legal prevista
(vedação ao non liquet).

1.1.4. A Jurisdição Sempre Atua em uma Situação Concreta


A jurisdição sempre atua quando determinado problema é levado ao tribunal, ainda que se
trate dos processos de controle objetivo de constitucionalidade; isso porque no processo
objetivo, a situação concreta é a discussão sobre a higidez do ordenamento jurídico. Não se há
limitar situação concreta a uma situação fática.

Essa questão está intimamente ligada ao princípio da inércia da jurisdição, o qual veda o que
processo seja judicialiforme, iniciado de ofício.

Isso é diferente da atuação legislativa, por exemplo, a qual cria as normas abstratas.

1.1.5. Impossibilidade de Controle Externo


Trata-se da característica marcante da atividade jurisdicional, por produzir ela a última decisão
sobre a situação concreta deduzida em juízo, sem a possibilidade de controle algum por outro
Poder.

Veja que essa vedação de controle externo vem ganhando certa mitigação no cenário
internacional, com a possibilidade das Cortes Internacionais se pronunciarem sobre decisões
definitivas prolatadas em países sujeitos à elas.

1.1.6. Escopos ou Finalidades da Jurisdição


Diz-se que a jurisdição tem três escopos: o jurisdicional, o social e o político.

O escopo jurisdicional seria a aplicação da vontade concreta da lei.

Segundo Dinamarco, os escopos sociais seriam em primeiro lugar a pacificação da sociedade e,


em segundo, a realização do bem comum. O Estado, ao realizar a jurisdição, tem sempre em
vista o que a sociedade deseja. E, por fim, através da jurisdição se tem a educação com justiça,
o Estado educa os membros da coletividade através da justiça, ele ensina quais as condutas
que são permitidas e quais não são.

Além das finalidades sociais há o escopo político da jurisdição, que seria a garantia das
liberdades públicas, que nada mais significa do que garantia dos direitos fundamentais. Um
segundo escopo político seria a afirmação da autoridade Estatal, ou do poder Estatal. O poder
é uno, indivisível, e ele, Estado, é o único a exercê-lo proibindo a pessoa de exercer a
autotutela para satisfação, abrindo a oportunidade de nos dirigirmos a ele pleiteando a
atividade jurisdicional. O meio que nos possibilita dirigir ao Estado é o exercício do direito de
ação.

Para aqueles que defendem que a arbitragem é jurisdição, o Estado, através da lei, em
situação excepcional, preenchidas determinadas condições possibilita a escolha de um árbitro
para a solução de um conflito. A arbitragem não foge da regra, só que para encaixá-la aqui

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temos que lembrar que o Estado, através da lei, possibilita que preenchidas determinadas
condições possa ser escolhido um árbitro para a solução de um conflito.

E a última finalidade política é a garantia de participação nos destinos da nação, ou garantia


de participação democrática. Através da jurisdição o Estado oferece meios de qualquer um de
nós participar do destino da nação, então temos a ação popular, mandado de segurança
individual ou coletivo, mandado de injunção, habeas data, habeas corpus, demandas estas que
permitem nossa participação democrática no destino da nação.

Escopo jurisdicional Aplicar ou criar a norma geral e abstrata ao caso concreto


Pacificar a sociedade e educar os seus membros com o valor Justiça
Escopo social
Realizar o bem comum
Garantir os direitos fundamentais
Escopo político Afirmação da autoridade estatal
Garantia de participação democrática

1.2. Equivalentes Jurisdicionais


Trata-se das formas não jurisdicionais de solução de conflitos. São equivalentes porque, não
sendo jurisdição, funcionam como técnica de tutela dos direitos, resolvendo conflitos ou
certificando situações jurídicas.

Todas essas formas são não definitivas, já que passíveis de controle jurisdicional.

Importante ter em mente que as composições não judiciais de conflitos são completamente
fomentadas pela Constitução, a começar do preâmbulo:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional


Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
harmonia social e COMPROMETIDA, NA ORDEM INTERNA E
INTERNACIONAL, COM A SOLUÇÃO PACÍFICA DAS CONTROVÉRSIAS,
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

A passar pelos princípios que regem o Brasil nas relações internacionais:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações


internacionais pelos seguintes princípios:

[...]

VII - solução pacífica dos conflitos;

1.2.1. Autotutela
É a solução de conflitos que se dá com a imposição da vontade por uma das partes; logo, se
diferencia da autocomposição por ser unilateral. Permitida em algumas situações excepcionais
(v.g., desforço imediato), é em regra vedada, chegando até mesmo a se configurar o tipo penal
de exercício arbitrário das próprias razões.
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38

1.2.2. Autocomposição
É a forma de solução de conflitos pelo consentimento espontâneo de um dos contendores em
sacrificar o interesse próprio, no todo ou em parte, em favor do interesse alheio. Pode ocorrer
fora ou dentro do processo. Ela é o gênero, dos quais são espécies:

a) Transação: as partes efetivam concessões mútuas extrajudicialmente. Pode também


ser judicial, sendo devidamente homologada pelo juiz.

RESPONSABILIDADE CIVIL. REALIZAÇÃO DE ACORDO EXTRAJUDICIAL.


QUITAÇÃO TOTAL E IRRESTRITA.

Trata-se de ação proposta visando à reparação de danos causados em


acidente de trânsito a qual foi ajuizada após a realização de acordo entre a
vítima e a empresa de transporte de passageiros. A recorrente alegou
invalidade do negócio celebrado com a transportadora e requereu
judicialmente a complementação da indenização dos danos sofridos no
acidente. No caso, quando da transação, a autora da ação foi acompanhada
por advogado, que também assinou o documento. Nessas circunstâncias, a
Turma entendeu que no acordo foi dada plena quitação da obrigação e que,
não havendo qualquer vício que pudesse macular a manifestação de
vontade da passageira, NÃO SE PODE REDISCUTIR JUDICIALMENTE O
QUE FOI TRANSACIONADO, SOB PENA DE OFENDER O PRINCÍPIO DA
SEGURANÇA JURÍDICA. REsp 1.265.890-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 1º/12/2011.

b) Submissão: reconhecimento da procedência do pedido pelo réu (se feita no curso do


processo).

c) Renúncia: o autor, titular do pretenso direito, a ele renuncia espontaneamente.

Nos termos do art. 269, V, do CPC, o provimento jurisdicional que acolhe a


renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação tem natureza de sentença de
mérito, produzindo coisa julgada material. Logo, cabe ação rescisória do
referido ato, caso presentes os pressupostos do art. 485 do CPC. (STJ, 1S,
Informativo 436, AR 3.506-MG)

1.2.2.1. Transação com o Poder Público


Fundados em um antigo preconceito, no sentido da necessária oposição entre o interesse
público e o particular, entendem alguns que a Administração Pública em juízo não pode
transigir, não pode desistir e está obrigada a prosseguir em qualquer feito, indefinidamente,
enquanto houver algum recurso abstratamente possível.

Mas os tempos são outros. ATUALMENTE, COM BASE NO PRINCÍPIO PARTICIPATIVO,


AFIRMADO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, JÁ SE DESENVOLVEM VÁRIAS AÇÕES CALCADAS
NA COLABORAÇÃO, NO ENTENDIMENTO E NA SOMA DE ESFORÇOS DE AGENTES PRIVADOS E
GOVERNAMENTAIS. A atividade legislativa já se desenvolve hoje em dia com ampla
participação popular. Nos serviços prestados pela Administração Pública, isso é ainda mais
nítido e mais frequente. Diante disso, não pode o Judiciário, nas ações judiciais, simplesmente
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39

vedar e proscrever qualquer entendimento, qualquer negociação, que leve à satisfação do


interesse público.

Nunca é demais lembrar o superprincípio da estabilidade das relações jurídicas. Conflitos


inevitavelmente surgem nas relações jurídicas, criando situações de incerteza e instabilidade.
Mas isso é um mal que não pode ser perpetuado. O objetivo da atividade jurisdicional é a
composição dos conflitos, inclusive aqueles envolvendo a satisfação do interesse público. Uma
das formas de composição do conflito é a conciliação, que pode e deve ser promovida pelo
juiz.

AO OPTAR PELA SOLUÇÃO AMIGÁVEL, A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NÃO ESTÁ


NECESSARIAMENTE TRANSIGINDO COM O INTERESSE PÚBLICO, NEM ABRINDO MÃO
DE INSTRUMENTO DE DEFESA DE INTERESSES PÚBLICOS. Está, sim, escolhendo uma
forma mais expedita ou um meio mais hábil para a defesa do interesse público. O interesse
público não se confunde com o mero interesse da Administração ou da Fazenda Pública. Não
há interesse público legítimo ao se procrastinarem pagamentos efetivamente devidos, pois o
interesse público está na correta aplicação da lei, de acordo com a melhor interpretação
possível diante do caso concreto, em benefício da coletividade e de seus cidadãos1.

SOBRE A QUESTÃO DA TRANSAÇÃO NA EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA: SOBRE O


TEMA TRATA A LEI Nº 9.469/97. PERFEITAMENTE POSSÍVEL TRANSAÇÃO SE O ACORDO
OCORRER NA FASE DE CONHECIMENTO, COM A HOMOLOGAÇÃO PELO JUÍZO.

JÁ NA EXECUÇÃO CONTRA A FP, EVENTUAL ACORDO IMPLICARIA QUEBRA NA ORDEM DE


PAGAMENTO DOS REQUISITÓRIOS. CLARO QUE PODEM SER SELADAS TRANSAÇÕES, POR
EXEMPLO, PARA ABREVIAR A EXECUÇÃO, COMO ACORDO APÓS O OFERTAMENTO DOS
EMBARGOS DA FP, NO QUAL O CREDOR CONCORDE EM RENUNCIAR A PARTE DE SEU VALOR
PARA RECEBER VIA RPV, E NÃO POR PRECATÓRIOS.

De qualquer forma, seja o acordo celebrado judicialmente na fase de conhecimento (nas


hipóteses do art. 1º da supracitada lei), seja na de execução, isso não terá o condão de escapar
do requisitório.

O que poderia ocorrer, conforme se vê em determinados casos ligados a servidores públicos, é


que haja um acordo administrativo no qual a entidade devedora reconhece um débito e
propõe pagamento em certos termos. Nesse caso, eventual ação judicial em trâmite acabará
sendo extinta com a notícia, nos autos, do acordo.

Há precedente do STF admitindo a transação:

EMENTA: Poder Público. Transação. Validade. Em regra, os bens e o


interesse público são indisponíveis, porque pertencem à coletividade. É, por
isso, o Administrador, mero gestor da coisa pública, não tem disponibilidade
sobre os interesses confiados à sua guarda e realização. Todavia, há casos
em que o princípio da indisponibilidade do interesse público deve ser

1 Texto de Adilson de Abreu Dallari. “Viabilidade da Transação entre o Poder Público e Particular”, em Interesse Público, Ano 4, nº
13, janeiro/março de 2002, Editora Nota Dez, Porto Alegre, 2002, pp. 15-16.
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40

atenuado, mormente quando se tem em vista que a solução adotada pela


Administração é a que melhor atenderá à ultimação deste interesse. Assim,
tendo o acórdão recorrido concluído pela não onerosidade do acordo
celebrado, decidir de forma diversa implicaria o reexame da matéria fático-
probatória, o que é vedado nesta instância recursal (Súm. 279/STF). Recurso
extraordinário não conhecido.

(RE 253885, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Primeira Turma, julgado em


04/06/2002, DJ 21-06-2002 PP-00118 EMENT VOL-02074-04 PP-00796)

1.2.3. Mediação
Trata-se de uma técnica não estatal de solução de conflitos pela qual um terceiro se coloca
entre os contendores e tenta conduzi-los a uma solução autocomposta. Daniel Assumpção
afirma que a principal diferença entre conciliação e mediação é a postura do terceiro, sendo
nesta o mediador muito mais propositivo do que naquele (tenta forçar um acordo).

Existe uma outra opinião, no sentido de o mediador não fazer propostas e se comportar como
terceiro imparcial que apenas aproxima as partes. Segundo essa corrente,

A mediação, por sua vez, embora também tenha como característica o fato
de objetivar conseguir das partes um acordo, por meio de terceiro imparcial,
distingue-se da conciliação exatamente pela forma como esse terceiro age.
Na mediação, o terceiro não estimula nem faz propostas para se chegar a
um acordo. O mediador, literalmente, fica no meio. Nem de um lado, nem
de outro. Não adere a nenhuma das partes nem emite juízos de valor ou
opiniões acerca da melhor forma de se chegar a uma solução. Ele atua
simplesmente aproxima as partes para que elas, por si próprias, encontrem
uma solução para a causa.

Ou seja, exatamente em sentido contrário. Ora cai uma, ora cai a outra posição em provas
objetivas.

1.2.4. Arbitragem
O STF entende que A ESCOLHA ENTRE ARBITRAGEM E JURISDIÇÃO É ABSOLUTAMENTE
CONSTITUCIONAL, afirmando que a aplicação da garantia constitucional da inafastabilidade é
naturalmente condicionada à vontade das partes2. Se o próprio direito de ação é disponível,
também o será o exercício da jurisdição na solução do conflito de interesse.

A arbitragem serve para dirimir litígios sobre direitos patrimoniais disponíveis.

Normalmente os doutrinadores indicam que a arbitragem é apenas um equivalente


jurisdicional. Didier defende diferente.

Trata-se de uma técnica de solução de conflitos mediante a qual os conflitantes buscam em


uma terceira pessoa, de sua confiança técnica, a solução amigável e imparcial do litígio.

2
Houve declaração incidental do STF no julgamento da homologação de sentença estrangeira SE 5.206-7, em 12.12.2001.
Fundamentou seu entendimento no fato de ela não afastar a jurisdição por ser facultativa.
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41

A arbitragem é regulada pela Lei nº 9.307/96, a qual será constituída por meio de um negócio
jurídico denominado de convenção de arbitragem, o qual compreende duas subespécies:

a) Cláusula compromissória: convenção em que as partes acordam que as divergências


oriundas de certo negócio jurídico serão resolvidas pela arbitragem, prévia e
abstratamente.

b) Compromisso arbitral: acordo de vontades que visa submeter uma controvérsia


concreta, já existente, ao juízo arbitral, prescindindo do Poder Judiciário. No CPC, o
compromisso arbitral não poder ser reconhecido de ofício (art. 301, §4º). Tal vedação
inexiste quanto à cláusula compromissória.

Ambas são formas de se abdicar à tutela jurisdicional estatal, seja previamente ou após um
caso concreto.

Ressalte-se que a elaboração de cláusula compromissória aberta, sem especificação, poderá


forçar as partes após o surgimento do conflito a reafirmarem sua vontade pela solução arbitral
por meio da elaboração de um compromisso arbitral3.

A sentença arbitral não precisa ser homologada, sendo ela um título executivo JUDICIAL, de
acordo com o art. 475-N, IV, CPC. O árbitro pode decidir, mas não tem poder para tomar
qualquer providência executiva; PODE, NO ENTANTO, DEFERIR TUTELAR DE URGÊNCIA, AS
QUAIS, SE NÃO CUMPRIDAS VOLUNTARIAMENTE PELAS PARTES, DEVERÃO SER EXECUTADAS
NO JUDICIÁRIO. Veja:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ARBITRAGEM. MEDIDA CAUTELAR.


COMPETÊNCIA. JUÍZO ARBITRAL NÃO CONSTITUÍDO.

1. O Tribunal Arbitral é competente para processar e julgar pedido cautelar


formulado pelas partes, limitando-se, porém, ao deferimento da tutela,
estando impedido de dar cumprimento às medidas de natureza coercitiva,
as quais, havendo resistência da parte em acolher a determinação do(s)
árbitro(s), deverão ser executadas pelo Poder Judiciário, a quem se reserva
o poder de imperium.

2. Na pendência da constituição do Tribunal Arbitral, admite-se que a parte


se socorra do Poder Judiciário, por intermédio de medida de natureza
cautelar, para assegurar o resultado útil da arbitragem.

3. Superadas as circunstâncias temporárias que justificavam a intervenção


contingencial do Poder Judiciário e considerando que a celebração do
compromisso arbitral implica, como regra, a derrogação da jurisdição
estatal, os autos devem ser prontamente encaminhados ao juízo arbitral,
para que este assuma o processamento da ação e, se for o caso, reaprecie a
tutela conferida, mantendo, alterando ou revogando a respectiva decisão.

3
Carmona, Arbitragem, pp. 98-101
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42

4. Em situações nas quais o juízo arbitral esteja momentaneamente


impedido de se manifestar, desatende-se provisoriamente as regras de
competência, submetendo-se o pedido de tutela cautelar ao juízo estatal;
mas essa competência é precária e não se prorroga, subsistindo apenas para
a análise do pedido liminar.

5. Recurso especial provido.

(REsp 1297974/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 12/06/2012, DJe 19/06/2012)

SOMENTE EM RELAÇÃO À
Pode haver controle judicial da sentença arbitral?

SUA VALIDADE, NÃO SE PODENDO REVOGAR OU MODIFICAR


EM RELAÇÃO AO SEU MÉRITO. ESSA REVISÃO (JUDICIAL)
SOMENTE É POSSÍVEL SE AJUIZADA EM ATÉ 90 DIAS APÓS O
RECEBIMENTO DA INTIMAÇÃO DA SENTENÇA ARBITRAL OU DE
SEU ADITAMENTO. Logo, o máximo que se pode alcançar com a
arbitragem é a anulação da sentença arbitral.
A decisão arbitral fica imutável pela coisa julgada material, motivo pelo qual se trata de
jurisdição em si, para Didier (há doutrina contra: v.g., Marinoni)4.

O STJ publicou, recentemente, súmula sobre a arbitragem:

Súmula 485, STJ: “A Lei de Arbitragem aplica-se aos contratos que contenham cláusula arbitral,
ainda que celebrados antes da sua edição”. Isso porque a lei tem caráter eminentemente
processual, e não material; logo, deverá ser aplicada aos contratos celebrados antes de sua
vigência, mas cuja execução tenha se protraído no tempo, visto que as normas processuais são
de ordem pública, inderrogáveis pela vontade das partes.

Importante ter em mente que a propositura de ação, no Brasil, discutindo a validade de


cláusula arbitral porque inserida, sem destaque, em contrato de adesão, não impede a

4
Forte na doutrina contra: a maioria dos processualistas tem a arbitragem como um equivalente
jurisdicional e não como um exercício da própria jurisdição, tendo em vista os seguintes fundamentos: a
arbitragem é voltada apenas para direitos patrimoniais disponível, enquanto a jurisdição é irrestrita; a
arbitragem é manifestação da autonomia da vontade e a opção por árbitro implica a renúncia à
jurisdição; a jurisdição é atividade primária do Estado, própria dele mesmo, que não pode ser delegada a
particulares; a jurisdição só pode ser exercida por pessoa devidamente investida, que tenha a
autoridade de juiz, carreira cujo acesso dá-se exclusivamente mediante concurso púbico, enquanto a
arbitragem pode ser realizada por terceiro sem que tenha sido investido pelo Estado de parcela da
jurisdição; a jurisdição é indelegável, pois nenhum dos poderes pode delegar aquilo que é de sua
essência; as decisões dos árbitros, dentro de um determinado árbitro, estão sujeitas à revisão por juízes,
em obediência ao princípio da inafastabilidade da jurisdição (se as decisões de terceiros estão sujeitas à
revisão de um juiz de primeiro grau, é porque esses terceiros não exercem jurisdição). Finalizando, tem-
se que o árbitro não pode executar suas próprias decisões; quem o faz é o juiz.
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43

homologação de sentença arbitral estrangeira que, em procedimento instaurado de acordo


com essa cláusula, reputou-a válida. Nesse sentido:

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA CONTESTADA.


COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (CF. Art. 105, I, "i"; LEI
9.307/96, Art. 35). PEDIDO ADEQUADAMENTE INSTRUÍDO. DEFERIMENTO.

I - A sentença estrangeira não terá eficácia no Brasil sem a prévia


homologação pelo e. Superior Tribunal de Justiça ou por seu Presidente
(Resolução n.º 9/STJ, art. 4º).

II - A atuação jurisdicional do e. STJ no processo de homologação de


sentença arbitral estrangeira encontra balizas nos artigos 38 e 39 da Lei de
Arbitragem (Lei 9.307/96). Se não houver transgressão aos bons costumes, à
soberania nacional e à ordem pública, não se discute a relação de direito
material subjacente à sentença arbitral.

III - In casu, verifica-se a existência de contrato assinado pelas partes com


cláusula compromissória. Sem embargo, no âmbito de processo de
homologação de sentença arbitral estrangeira, é inviável a análise da
natureza do contrato a ela vinculado, para fins de caracterizá-lo como
contrato de adesão. Precedente do e. STF.

IV - Não há inexistência de notificação e cerceamento de defesa "ante a


comprovação de que o requerido foi comunicado acerca do início do
procedimento de arbitragem, bem como dos atos ali realizados, tanto por
meio das empresas de serviços de courier, como também, correio eletrônico
e fax" (SEC 3.660/GB, Corte Especial, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de
25/06/2009 ) V - "A propositura de ação, no Brasil, discutindo a validade de
cláusula arbitral porque inserida, sem destaque, em contrato de adesão, não
impede a homologação de sentença arbitral estrangeira que, em
procedimento instaurado de acordo com essa cláusula, reputou-a válida"
(AgRg na SEC 854/GB, Corte Especial, Rel. p./ Acórdão Minª. Nancy Andrighi,
DJe de 14/04/2011) VI - Constatada a presença dos requisitos indispensáveis
à homologação da sentença estrangeira (Resolução n.º 9/STJ, arts. 5º e 6º),
é de se deferir o pedido.

Sentença Arbitral homologada.

(SEC 6335/EX, Rel. Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em


21/03/2012, DJe 12/04/2012)

Segundo recente precedente do STJ, o Tribunal Arbitral é competente para processar e julgar
pedido cautelar formulado pelas partes, somente podendo elas se socorrerem da Justiça em
caso de impossibilidade de funcionamento do juízo arbitral:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ARBITRAGEM. MEDIDA CAUTELAR.


COMPETÊNCIA. JUÍZO ARBITRAL NÃO CONSTITUÍDO.

1. O Tribunal Arbitral é competente para processar e julgar pedido cautelar


formulado pelas partes, limitando-se, porém, ao deferimento da tutela,
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44

estando impedido de dar cumprimento às medidas de natureza coercitiva,


as quais, havendo resistência da parte em acolher a determinação do(s)
árbitro(s), deverão ser executadas pelo Poder Judiciário, a quem se reserva
o poder de imperium.

2. Na pendência da constituição do Tribunal Arbitral, admite-se que a parte


se socorra do Poder Judiciário, por intermédio de medida de natureza
cautelar, para assegurar o resultado útil da arbitragem.

3. Superadas as circunstâncias temporárias que justificavam a intervenção


contingencial do Poder Judiciário e considerando que a celebração do
compromisso arbitral implica, como regra, a derrogação da jurisdição
estatal, os autos devem ser prontamente encaminhados ao juízo arbitral,
para que este assuma o processamento da ação e, se for o caso, reaprecie a
tutela conferida, mantendo, alterando ou revogando a respectiva decisão.

4. EM SITUAÇÕES NAS QUAIS O JUÍZO ARBITRAL ESTEJA


MOMENTANEAMENTE IMPEDIDO DE SE MANIFESTAR, DESATENDE-SE
PROVISORIAMENTE AS REGRAS DE COMPETÊNCIA, SUBMETENDO-SE O
PEDIDO DE TUTELA CAUTELAR AO JUÍZO ESTATAL; MAS ESSA
COMPETÊNCIA É PRECÁRIA E NÃO SE PRORROGA, SUBSISTINDO APENAS
PARA A ANÁLISE DO PEDIDO LIMINAR.

5. Recurso especial provido.

(REsp 1297974/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 12/06/2012, DJe 19/06/2012)

1.2.4.1. Arbitragem e Poder Público


Quanto à aplicabilidade da Lei nº 9.307/96 à Administração Pública, não há impedimento.
Inclusive, há um famoso caso dos anos 50, chamado “Caso Lage”, em que foi aceito. Porém, há
uma questão importante que merece ser destacada: poderá a Arbitragem que envolve o
Estado e suas empresas controladas ser fundada na equidade, tendo-se em vista o princípio da
legalidade?

Com relação a essa questão, José Emílio Nunes Pinto pondera que:

“(...) Na medida em que o Estado e suas empresas estão sujeitos ao princípio


da legalidade, entendemos que somente poderão prever na cláusula
compromissória que a arbitragem será baseada na lei, e jamais na equidade.
A arbitragem fundada na equidade seria uma violação flagrante, a nosso
ver, ao princípio da legalidade”

Outro aspecto levantado por este autor é a violação ao Princípio da Publicidade, considerando-
se que a Arbitragem tem por característica a sigilosidade. Entretanto, o autor acima
mencionado disserta que o procedimento arbitral permite que as partes optem por dar ou não
um tratamento sigiloso à arbitragem. PINTO, José Emílio Nunes. Revista Brasileira de
Arbitragem. V.1, n.1 (jul./out..2003) .Porto Alegre: Síntese, 2003, pág.21.

Importante o seguinte julgado sobre a arbitragem:


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ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. PERMISSÃO DE ÁREA


PORTUÁRIA. CELEBRAÇÃO DE CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. JUÍZO
ARBITRAL. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. POSSIBILIDADE. ATENTADO.

1. A sociedade de economia mista, quando engendra vínculo de natureza


disponível, encartado no mesmo cláusula compromissória de submissão do
litígio ao Juízo Arbitral, não pode pretender exercer poderes de supremacia
contratual previsto na Lei 8.666/93.

5. Questão gravitante sobre ser possível o juízo arbitral em contrato


administrativo, posto relacionar-se a direitos indisponíveis.

6. A doutrina do tema sustenta a legalidade da submissão do Poder Público


ao juízo arbitral, calcado em precedente do E. STF, in litteris: "Esse
fenômeno, até certo ponto paradoxal, pode encontrar inúmeras
explicações, e uma delas pode ser o erro, muito comum de relacionar a
indisponibilidade de direitos a tudo quanto se puder associar, ainda que
ligeiramente, à Administração." Um pesquisador atento e diligente poderá
facilmente verificar que não existe qualquer razão que inviabilize o uso dos
tribunais arbitrais por agentes do Estado.

Aliás, os anais do STF dão conta de precedente muito expressivo, conhecido


como 'caso Lage', no qual a própria União submeteu-se a um juízo arbitral
para resolver questão pendente com a Organização Lage, constituída de
empresas privadas que se dedicassem a navegação, estaleiros e portos.

A decisão nesse caso unanimemente proferida pelo Plenário do STF é de


extrema importância porque reconheceu especificamente 'a legalidade do
juízo arbitral, que o nosso direito sempre admitiu e consagrou, até mesmo
nas causas contra a Fazenda.' Esse acórdão encampou a tese defendida em
parecer da lavra do eminente Castro Nunes e fez honra a acórdão anterior,
relatado pela autorizada pena do Min. Amaral Santos.

NÃO SÓ O USO DA ARBITRAGEM NÃO É DEFESO AOS AGENTES DA


ADMINISTRAÇÃO, COMO, ANTES É RECOMENDÁVEL, POSTO QUE
PRIVILEGIA O INTERESSE PÚBLICO." (in "Da Arbitrabilidade de Litígios
Envolvendo Sociedades de Economia Mista e da Interpretação de Cláusula
Compromissória" , publicado na Revista de Direito Bancário do Mercado de
Capitais e da Arbitragem, , Editora Revista dos Tribunais, Ano 5, outubro -
dezembro de 2002, coordenada por Arnoldo Wald, esclarece às páginas
398/399).

7. Deveras, NÃO
É QUALQUER DIREITO PÚBLICO SINDICÁVEL NA
VIA ARBITRAL, MAS SOMENTE AQUELES COGNOMINADOS
COMO "DISPONÍVEIS", porquanto de natureza contratual ou privada.

8. A escorreita exegese da dicção legal impõe a distinção jus-filosófica entre


o interesse público primário e o interesse da administração, cognominado
"interesse público secundário". Lições de Carnelutti, Renato Alessi, Celso
Antônio Bandeira de Mello e Min. Eros Roberto Grau.

9. O Estado, quando atestada a sua responsabilidade, revela-se tendente ao


adimplemento da correspectiva indenização, coloca-se na posição de

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atendimento ao "interesse público". Ao revés, quando visa a evadir-se de


sua responsabilidade no afã de minimizar os seus prejuízos patrimoniais,
persegue nítido interesse secundário, subjetivamente pertinente ao
aparelho estatal em subtrair-se de despesas, engendrando locupletamento
à custa do dano alheio.

10. Destarte, é assente na doutrina e na jurisprudência que indisponível é o


interesse público, e não o interesse da administração.

11. Sob esse enfoque, saliente-se que dentre os diversos atos praticados
pela Administração, para a realização do interesse público primário,
destacam-se aqueles em que se dispõe de determinados direitos
patrimoniais, pragmáticos, cuja disponibilidade, em nome do bem coletivo,
justifica a convenção da cláusula de arbitragem em sede de contrato
administrativo.

12. As sociedades de economia mista encontram-se em situação paritária


em relação às empresas privadas nas suas atividades comerciais, consoante
leitura do artigo 173, § 1º, inciso II, da Constituição da República,
evidenciando-se a inocorrência de quaisquer restrições quanto à
possibilidade de celebrarem convenções de arbitragem para solução de
conflitos de interesses, uma vez legitimadas para tal as suas congêneres.

13. Outrossim, a ausência de óbice na estipulação da arbitragem pelo Poder


Público encontra supedâneo na doutrina clássica do tema, verbis: (...) AO
OPTAR PELA ARBITRAGEM O CONTRATANTE PÚBLICO NÃO ESTÁ
TRANSIGINDO COM O INTERESSE PÚBLICO, NEM ABRINDO MÃO DE
INSTRUMENTOS DE DEFESA DE INTERESSES PÚBLICOS, ESTÁ, SIM,
ESCOLHENDO UMA FORMA MAIS EXPEDITA, OU UM MEIO MAIS HÁBIL,
PARA A DEFESA DO INTERESSE PÚBLICO. Assim como o juiz, no
procedimento judicial deve ser imparcial, também o árbitro deve decidir
com imparcialidade, O interesse público não se confunde com o mero
interesse da Administração ou da Fazenda Pública; O INTERESSE
PÚBLICO ESTÁ NA CORRETA APLICAÇÃO DA LEI E SE
CONFUNDE COM A REALIZAÇÃO CORRETA DA JUSTIÇA." (No
sentido da conclusão Dalmo Dallari, citado por Arnold Wald, Athos Gusmão
Carneiro, Miguel Tostes de Alencar e Ruy Janoni Doutrado, em artigo
intitulado "Da Validade de Convenção de Arbitragem Pactuada por
Sociedade de Economia Mista", publicado na Revista de Direito Bancário do
Mercado de Capitais e da Arbitragem, nº 18, ano 5, outubro-dezembro de
2002, à página 418).

14. A aplicabilidade do juízo arbitral em litígios administrativos, quando


presentes direitos patrimoniais disponíveis do Estado é fomentada pela lei
específica, porquanto mais célere, consoante se colhe do artigo 23 da Lei
8987/95, que dispõe acerca de concessões e permissões de serviços e
obras públicas, e prevê em seu inciso XV, dentre as cláusulas essenciais do
contrato de concessão de serviço público, as relativas ao "foro e ao modo
amigável de solução de divergências contratuais" . (Precedentes do
Supremo Tribunal Federal: SE 5206 AgR / EP, de relatoria do Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE, publicado no DJ de 30-04-2004 e AI. 52.191, Pleno,
Rel. Min. Bilac Pinto. in RTJ 68/382 - "Caso Lage". Cite-se ainda MS
199800200366- 9, Conselho Especial, TJDF, J. 18.05.1999, Relatora
Desembargadora Nancy Andrighi, DJ 18.08.1999.) 15. A aplicação da Lei
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9.307/96 e do artigo 267, inc. VII do CPC à matéria sub judice, afasta a
jurisdição estatal, in casu em obediência ao princípio do juiz natural (artigo
5º, LII da Constituição da República de 1988).

16. É CEDIÇO QUE O JUÍZO ARBITRAL NÃO SUBTRAI A GARANTIA


CONSTITUCIONAL DO JUIZ NATURAL, AO CONTRÁRIO, IMPLICA
REALIZÁ-LA, PORQUANTO SOMENTE CABÍVEL POR MÚTUA
CONCESSÃO ENTRE AS PARTES, INAPLICÁVEL, POR ISSO, DE FORMA
COERCITIVA, TENDO EM VISTA QUE AMBAS AS PARTES ASSUMEM O
"RISCO" DE SEREM DERROTADAS NA ARBITRAGEM. (Precedente:
Resp nº 450881 de relatoria do Ministro Castro Filho, publicado no DJ
26.05.2003)

17. Destarte, uma vez convencionada pelas partes cláusula arbitral, o árbitro
vira juiz de fato e de direito da causa, e a decisão que então proferir não
ficará sujeita a recurso ou à homologação judicial, segundo dispõe o artigo
18 da Lei 9.307/96, o que significa categorizá-lo como equivalente
jurisdicional, porquanto terá os mesmos poderes do juiz togado, não
sofrendo restrições na sua competência.

A arbitragem se revela, portanto, como o mecanismo adequado para a


solução da presente controvérsia, haja vista, tratar-se de relação contratual
de natureza disponível, conforme dispõe o artigo 1º, da Lei 9.307/96: "as
pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir
litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis." (fls. 472/473) 22. Ex
positis, concedo a segurança, para confirmar o teor da liminar dantes
deferida, em que se determinava a conservação do statu quo ante, face a
sentença proferida pelo Juízo da 42ª Vara Cível da Comarca do Rio de
Janeiro, porquanto o presente litígio deverá ser conhecido e solucionado
por juízo arbitral competente, eleito pelas partes. (STJ - MS 11308/DF, Rel.
Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/04/2008, DJe
19/05/2008)

1.2.5. Conciliação
A conciliação é medida prevista no Código de Processo Civil que visa obter das partes em litígio
um acordo amigável, mediante concessões mútuas. É sempre intermediada por um terceiro,
que pode ser o próprio juiz ou um conciliador (ou seja, pode ser judicial ou extrajudicial). Sua
característica marcante e a principal distinção entre ela e a mediação é a sua forte carga
indutiva, vez que o terceiro atua sugerindo opções, propostas para a solução da causa. Há,
portanto, um estímulo contínuo para a resolução da contenda, com uma participação ativa do
terceiro.

1.2.5.1. Notícias sobre a Conciliação

Conciliação é a melhor forma de solução dos conflitos5

Por Vladimir Passos de Freitas

5
Fonte: http://www.conjur.com.br/2012-out-14/segunda-leitura-conciliacao-melhor-forma-solucao-
conflitos
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Conciliar significa harmonizar, pôr de acordo, congraçar, combinar, grangear, captar, atrair,
conseguir, aliar, unir, harmonizar, no sempre bom ensinamento de Aurélio Buarque de
Holanda (Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 11. ed., p.308).

Nos conflitos jurídicos, o acordo, seja qual for o nome que se lhe dê, põe fim à controvérsia e,
consequentemente, ao ódio e a outros sentimentos negativos. Já uma sentença, por mais
fundamentada que seja, nem sempre dá a solução definitiva. Mesmo que seja executada, o
conflito permanece latente e pode eclodir tempos depois por outro motivo.

Tudo isto não é novidade alguma. Na Constituição de 1824, o artigo 161 era taxativo: “Sem se
fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliação, não se começará processo
algum.” A Lei de 15 de outubro de 1827 criava em cada uma das freguesias e das capelas
curadas um Juiz de Paz, determinando no artigo 5º, parágrafo 1º, que ele conciliasse as partes
que desejassem demandar. O Regulamento 120, de 1842, que tratava das atividades policiais,
previa no artigo 111 a utilização do “termo de bem viver”, destinado a apaziguar as relações na
sociedade da época.

O tempo passou, o Brasil tornou-se uma República e as formas de soluções dos conflitos foram
aos poucos se alterando. Por exemplo, criando-se a Justiça do Trabalho em 1932 (ao início
órgão administrativo), através das Juntas de Conciliação e Julgamento, compostas por
representantes dos empregados e dos empresários e por um Juiz Presidente, sendo
obrigatória a tentativa de conciliação.

No CPC de 1939 o Judiciário ficou alheio a qualquer composição. Cabia-lhe só julgar. Nos
artigos 263 a 272 nenhuma palavra é dirigida à possibilidade de conciliar. Esta tarefa
continuava sendo atribuição dos delegados de Polícia, juízes de Paz, além do promotor de
Justiça, que atendia os pobres sobre assuntos gerais e, inclusive, propunha reclamações
trabalhistas. Este poder, pouco e mal definido nas leis, baseava-se mais do que tudo no
respeito que a população tinha pelas autoridades. Darei um exemplo.

Em agosto de 1971, na cidade de Apiaí (SP), eu respondia pela Promotoria. Eis que chegou um
senhora pobre, ao redor dos 40 anos de idade, e muito envergonhada narrou seu drama. O
marido, ao manter relações sexuais, “jogava a semente fora” e isto lhe causava problemas,
pois há mais de um ano se excitava e não alcançava o prazer. Chamei o homem e ele, na sua
simplicidade, disse que de nada sabia (ela nunca reclamou por vergonha) e que assim agia
porque não queria mais filhos. Solteiro, pouco mais que um adolescente, aconselhei o homem
a retardar o gozo dando a ela a possibilidade de satisfazer-se e que, para tanto, durante o ato
sexual pensasse em alguma coisa diferente. Respondeu ele, “já sei dr., vou pensar no
Corinthians e tá tudo resolvido”.

Pois bem, entre amadorismo e vontade de acertar, o fato é que a sociedade tinha seus meios
de solução das desavenças, principalmente as de pequeno porte. E as pessoas tinham quem as
ouvisse. Aqui um aspecto pouco tratado. Muitas vezes, quem reclama quer apenas atenção,
um pedido de desculpas.

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Com a chegada da Constituição de 1988, todas estas formas alternativas foram abolidas ou
reduzidas em suas atividades. E passou-se tudo para os Juizados Especiais. Estes começaram a
receber uma quantidade despropositada de processos e tornaram-se congestionados como as
Varas. O que antes se resolvia com uma simples admoestação passou a ser uma ação de
indenização por dano moral. Nenhum Estado tem orçamento para criar estruturas de Juizados
que atendam todas as reclamações, hoje assoberbados pela vulgarização das ações por danos
morais.

Muitos anos se passaram até que se tentaram iniciativas conciliadoras. Por exemplo, criando
Juizados Especiais dentro das universidades, atuando os alunos como cartorários e
conciliadores, sob a supervisão de um juiz (v.g., pioneiramente, a Universidade Regional de
Blumenau (SC) e na UNISANTA, em Santos (SP). Ou Juizados Especiais Avançados em cidades
menores, como os instalados pelo TRF-4 em 2004, agora espalhados por todo o RS
(vide entrevista juiz Eduardo Picarelli, Conjur, 8 de abril de 2012) e também no estado de
Rondônia.

Mas estas medidas não bastavam. Faltava um passo à frente. E este só poderia vir do CNJ,
único órgão capaz de elaborar uma política judiciária de alcance nacional. E assim foi editada a
RESOLUÇÃO CNJ nº 125/2012.

Referido ato administrativo, após recomendar nos considerandos a mediação e a conciliação,


determina no artigo 7º, incisos IV e V, que os tribunais instalem Centros Judiciários de Solução
de Conflitos e Cidadania e promovam capacitação, treinamento e atualização permanente de
magistrados, servidores, conciliadores e mediadores nos métodos consensuais de solução de
conflitos.

A iniciativa, sem dúvida relevante, estabelece as condições de funcionamento dos Centros


(v.g., junto aos Juizados Especiais) e fixa prazo para que os tribunais promovam sua instalação
(4 a 12 meses). A supervisão cabe a um magistrado e ele contará com servidores capacitados e
conciliadores.

Os conciliadores deverão ser capacitados e submeter-se a cursos de reciclagem. Com razão,


pois o amadorismo do passado não se sustenta no presente, onde os conflitos se apresentam
com maior complexidade. Assim, as aulas de desenvolverão em módulos temáticos, cada um
com um número mínimo de horas/aula e estágio, perfazendo, no mínimo, 80 horas/aula de
capacitação.

As matérias são vinculadas ao sucesso da iniciativa. Desde noções de comunicação, para


facilitar a interlocução com as partes, até fundamentos filosóficos. Imagine-se, por exemplo, a
dificuldade em receber uma reclamação de um imigrante do Haiti. A Resolução estipula
também requisitos mínimos de estrutura física (v.g., data show) e formas de avaliação dos
participantes.

Não se descuidou da parte ética e, para isto, criou-se um Código para os Conciliadores e
Mediadores. Por exemplo, no artigo 1º, parágrafo 1º, estabelece-se a confidencialidade,
exigindo-se resguardo das informações obtidas na sessão. E no artigo 7º proíbe o conciliador

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ou mediador de prestar serviços profissionais às partes envolvidas em processo sob sua


condução, durante dois anos.

A Resolução deixa espaço para que o TJ de cada estado adapte suas normas gerais à realidade
local, e cada Justiça, às suas especificidades. Por exemplo, remunerando os conciliadores e
mediadores (artigo 7º, inciso VII). O que pode ser imprescindível em uma unidade da
Federação, pode ser desnecessário em outra, onde o serviço voluntário pode suprir as
necessidades.

Em suma, a boa iniciativa do CNJ, que teve no Des. Kazuo Watanabe o principal articulador,
mostra-se de todo oportuna e deve, por todos, ser incentivada. E na medida em que vai se
tornando realidade, já justifica a ideia de um novo passo: tornar, por lei, a tentativa de
conciliação ou de mediação obrigatórias e não facultativas, tal como fez a Argentina nas ações
de natureza patrimonial, com sucesso. Não a formal tentativa prevista no artigo 277 do CPC,
mas sim a feita por magistrados e pessoas capacitadas na busca da solução amigável.

O caminho é longo, os empecilhos são muitos, mas com iniciativas como a Resolução CNJ 125,
boa vontade dos presidentes de tribunais e dos administradores judiciais, aliadas a uma boa
dose de obstinação, chegaremos lá.

1.2.6. Equivalentes Jurisdicionais – Tabela Síntese


EQUIVALENTES JURISDICIONAIS
Autotutela Solução extrajudicial do conflito por vontade unilateral de uma das partes.
Transação Partes efetivam concessões mútuas extrajudicialmente.
Autocomposição Submissão Parte reconhece direito daquele que lhe pede.
Renúncia Titular do pretenso direito a ele renuncia espontaneamente.
Técnica não estatal de solução de conflitos pela qual um terceiro se coloca entre os
Mediação
contendores e tenta conduzi-los a uma solução autocomposta.
Técnica de solução de conflitos mediante a qual os conflitantes buscam em uma
terceira pessoa, de sua confiança técnica, a solução amigável e imparcial do litígio.
Lei nº 9.307/96.
Didier afirma que é jurisdição por ser definitiva. Há controvérsias.
Cláusula compromissória e compromisso arbitral.
Sentença arbitral não precisa ser homologada, sendo ela um título executivo
Convenção de JUDICIAL
Arbitragem Árbitro pode decidir, mas não tem poder para tomar qualquer providência
executiva ou para conceder provimentos de urgência.
Não pode haver controle judicial do mérito da sentença arbitral, somente de sua
validade e dentro do prazo de 90 dias da intimação.
Cabível com o Poder Público (STF; art. 23, Lei nº 8.987/95).
A sentença arbitral pode revestir-se de eficácias condenatórias, declarativas e
constitutivas, mas não terá jamais caráter mandamental ou executivo

1.3. Princípios da Jurisdição


São eles:

a) Investidura: o juiz deve ter sido regularmente investido na função jurisdicional. Caiu
em um concurso a seguinte indagação: você foi aprovado na prova da magistratura,
passou na prova oral, na de títulos, aí você se dirige até a vara em que era estagiário
para comunicar a notícia aos seus colegas; chegando lá o juiz não está, o advogado
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está no balcão querendo uma sentença, você profere a sentença, assina, o cartório
com pressa de realizar os atos, pega a sentença, certifica, intima os advogados. Essa
sentença é válida? Dez dias depois você tomou posse ninguém até então reclamou da
sentença, ela é válida? Tecnicamente a sentença é inexistente, porque você só pode
ser considerado juiz depois que toma posse, pois ainda não está investido de
jurisdição, não tem que aplicar a teoria da aparência.Logo, por ser inexistente,
impassível é até mesmo de convalidação.

b) Territorialidade: cada magistrado exerce a jurisdição num determinado território. Esse


é o motivo que justifica a existência dos atos de comunicação entre órgãos
jurisdicionais. Há, entretanto, exceções, como a realização de citação fora da comarca,
no caso do artigo 107 do CPC, em que um imóvel que é compreendido em duas ou
mais comarcas. Pela prevenção, o juiz de uma das comarcas ficará competente pela
parte do imóvel que está localizado em outra comarca etc.

c) Indelegabilidade: pode ser resumido na premissa de que a função jurisdicional não


pode ser delegada. Essa vedação se aplica integralmente no caso de poder decisório:
não é possível delegar o poder decisório a outro órgão, o que implicaria derrogação de
regra de competência, em violação à garantia do juiz natural. Essa regra sofre algumas
mitigações constitucionais e legais, como a expedição de carta de ordem, a permissão
ao STF de delegar atribuições para a prática de atos processuais (art. 102, I, m, CR/88)
a juízes de primeira instância, delegação da competência do tribunal pleno para a
corte especial (art. 93, XI) etc.

d) Inevitabilidade: as partes hão de submeter-se ao quanto decidido pelo órgão


jurisdicional. “Tratando-se de emanação do próprio poder estatal, impõe-se a
jurisdição por si mesma. A ‘situação de ambas as partes perante o Estado-Juiz (e
particularmente a do réu) é de sujeição, que independe de sua vontade e consiste na
impossibilidade de evitar que sobre ela e sobre suas esferas de direitos se exerça a
autonomia estatal’” (Didier).

e) Inafastabilidade: está positivado na Constituição Federal nos seguintes termos: “a lei


não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (art. 5º,
inciso XXXV, CF/88). Por ele, o interessado em provocar o Poder Judiciário em razão de
lesão ou ameaça de lesão a direito não é obrigado a esgotar antes disso os possíveis
mecanismos de solução e conflito (salvo previsão expressa nesse sentido, como no
caso de questões deportivas). Além disso, conforme o referido princípio, havendo
decisão administrativa desfavorável ao interessado, isso não obsta que tente reverter
tal situação perante o Judiciário, que é o poder adequado para dizer o direito com
definitividade. As únicas imposições constitucionais de esgotamento de vias
extrajudiciais ocorre na Justiça Desportiva, e isso tão-somente se for observado o
prazo dado a ela para julgar; e nos dissídios coletivos, que devem antes ser submetidos
à negociação coletiva. A inafastabilidade, para ser efetiva, tem que partir da premissa
de que não basta garantir o acesso formal, mas também a paridade de armas, para
que seja possível o justo exercício do direito de ação.

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f) Juiz natural: sem previsão expressa, advém dos preceitos constitucionais da vedação
de tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII) e de que ninguém será processado senão pela
autoridade competente (art. 5º, LIII).

Formalmente, juiz natural é o juiz competente de acordo com as regras gerais e abstratas
previamente estabelecidas; materialmente, consiste na exigência da imparcialidade e da
independência do magistrado. Sobre o tema:

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL. COMPETÊNCIA. AÇÃO POPULAR.


Constituição, art. 102, I, "n". I. - Ação popular ajuizada para o fim de anular a
nomeação de todos os membros do Tribunal de Justiça do Estado de
Roraima, estando os Juizes de 1. grau do mesmo Estado em estágio
probatório, assim sem a garantia de independência da vitaliciedade,
dependentes do Tribunal cujos integrantes são litisconsortes passivos na
ação popular. Impossibilidade de realização do devido processo legal, dado
que um dos componentes deste, o juiz natural, conceituado como juiz com
garantias de independência, juiz imparcial, juiz confiavel, não existe, no
caso. II. - Hipótese em que ocorre a competência do Supremo Tribunal
Federal, para processar e julgar a ação popular, na forma do disposto no art.
102, I, "n", da Constituição Federal. III. - Reclamação julgada procedente.

(Rcl 417, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em


11/03/1993, DJ 16-04-1993 PP-06430 EMENT VOL-01699-01 PP-00155)

O juiz, além de imparcial, deve ser dotado da impartialidade (com t mesmo!). Impartialidade
significa que ele não é parte, mas sim um terceiro estranho à causa.

Não viola o princípio do juiz natural a criação de varas especializadas, regras de competência
determinadas por prerrogativas de função, convocação de juízes para compor órgãos de
tribunais e a redistribuição de processos em decorrência da criação de vara com idêntica
competência (STJ, HC 102.193/SP).

1.4. Características da Jurisdição


São elas:

a) Caráter substitutivo: ela substitui a vontade das partes pela vontade da lei no caso
concreto, resolvendo o conflito existente.

b) Lide: lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. Trata-se
de um fenômeno não processual, preexistente ao processo. NEM SEMPRE HAVERÁ
LIDE, como ocorre nos processos objetivos, nas tutelas inibitórias, exibição de
testamento do artigo 1.129 do CPC, arrecadação de bens de herança jacente do artigo
1.142, na arrecadação de bens de herança vacante do artigo 1.160 etc. Há quem
defenda que lide não é característica da jurisdição (Dinamarco, Marinoni, Alexandre
Câmara, Araken de Assis). O conflito não é necessário. Para que se tenha jurisdição é
indispensável uma pretensão; quando o autor ajuíza uma demanda e formula um
pedido, pode ser que o réu reconheça a procedência do pedido. Se assim o fizer não

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há conflito, mas existe uma pretensão. O autor exigiu que o réu abrisse mão do seu
interesse a seu favor, assim a pretensão é indispensável.

c) Inércia: a movimentação inicial da jurisdição fica condicionada à provocação do


interessado. Essa característica decorre diretamente da disponibilidade do direito de
ação. Chama-se essa característica de princípio da inércia. Existem, pois, exceções,
como a possibilidade do juiz iniciar de ofício o processo de inventário e partilha (art.
989, CPC), a concessão de HC de ofício, arrecadação de bens de ausente, arrecadação
de herança jacente, exibição de testamento, execuções penais e trabalhistas etc. Diz-
se também que é exceção à inércia a concessão de cautelares incidentais de ofício.

d) Definitividade: formação da coisa julgada material.

1.5. Espécies de Jurisdição


Trata-se das subdivisões da função jurisdicional sugeridas pela doutrina, a qual é una e
indivisível. São elas:

a) Jurisdição penal ou civil: espécie que leva em conta a natureza do objeto da demanda.

b) Jurisdição superior ou inferior: aquela é a que tem competência recursal; esta, a que
possui competência originária, ou seja, juízes de primeiro grau e competências
originárias dos tribunais.

c) Jurisdição comum e especial: especiais são as Justiças do Trabalho, Eleitoral e Militar.

d) Contenciosa e voluntária: a jurisdição contenciosa é aquela exercida com o objetivo de


dirimir um conflito. Tecnicamente hoje se fala que serve para dirimir uma pretensão
que, normalmente, significa um conflito entre duas ou mais pessoas, é a existência da
lide como diriam os clássicos. Se o Estado é chamado para solucionar um conflito isso
significa que a atividade é substitutiva porque as partes não conseguiram chegar a um
consenso. Elas precisaram se dirigir ao Estado para o juiz solucionar a pretensão. O
Estado, ao substituir a vontade das partes, vai aplicar a vontade concreta da lei para
aquele caso, é uma atividade declaratória. O juiz não exerce este papel de ofício,
precisa ser provocado, então teremos partes, parte autora e parte ré. Então, há aquele
que pede a atividade jurisdicional e aquele em face de quem essa atividade é
pleiteada. A voluntária será vista no próximo tópico.

1.6. Jurisdição Voluntária ou Integrativa


Trata-se de uma modalidade de atividade estatal ou judicial em que o órgão que a exerce
tutela assistencialmente interesses particulares, concorrendo com o seu conhecimento ou com
sua vontade para o nascimento, a validade ou a eficácia de um ato da vida privada, para a
formação, o desenvolvimento, a documentação ou a extinção de uma relação jurídica ou para
a eficácia de uma situação fático-jurídica.

A regra é que não exista um conflito. Nela há determinados negócios jurídicos que o
legislador considerou tão importantes que vinculou a existência dos efeitos desse negócio
jurídico à presença do juiz. Em outras palavras, determinados negócios jurídicos só produzem
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54

efeitos se realizados perante o juiz. O que existe é um interesse do Estado para que
determinados efeitos se produzam, o juiz tenha que participar do processo.

1.6.1. Princípios
São eles:

a) Inquisitoriedade: o juiz possui maior liberdade em tomar providências não requeridas


pelas partes, como dar início de ofício a determinados procedimentos, decidir contra a
vontade de ambas as partes, produzir provas etc.

b) Possibilidade de decisão fundada na equidade: o juiz não está obrigado a decidir com
base na legalidade estrita (art. 1.109, CPC), facultando-lhe o juízo por equidade, que se
funda em critérios de conveniência e oportunidade (discricionariedade).

Daniel Assumpção defende que o juiz poderá decidir até mesmo contrariamente à lei, desde
que tenha em vista o bem comum e observe o princípio da proporcionalidade.

c) Participação do MP como fiscal da lei: o MP deverá sempre ser intimado (art. 1.105,
CPC) em toda demanda de jurisdição voluntária. O STJ adota uma concepção restritiva
do dispositivo (para alguns, interpretação lógico-sistemática), defendendo só ser
necessária a intervenção do MP se presentes algumas das situações do art. 82 do CPC.

d) Obrigatoriedade: apesar do nome (voluntária), a maioria das demandas de jurisdição


voluntária é obrigatória, exigindo-se das partes a intervenção do Poder Judiciário para
que obtenham o bem de vida pretendido.

1.6.2. Natureza Jurídica


Para a teoria clássica ou administrativa, o juiz não exerceria atividade jurisdicional na
jurisdição voluntária. Tratar-se-ia de mera administração pública de interesses privados. Os
adeptos desta teoria defendem que se você tem relações jurídicas particulares que o legislador
elencou que para produzir efeitos precisam da participação do juiz, o juiz não está decidindo
nada só está assegurando a produção dos efeitos, então, na verdade, você não tem uma
atividade jurisdicional, uma atividade substitutiva. É uma atividade de criação, extinção ou
modificação de relação jurídica, tem natureza constitutiva e não declaratória. Se não existe
conflito, não há partes. O que existe são interessados. Uma última característica dos adeptos
da teoria administrativista é que a decisão proferida nesses processos não faz coisa julgada.

Para a teoria revisionista ou jurisdicionalista, o juiz efetivamente exerce atividade


jurisdicional. Para os adeptos dessa teoria a jurisdição voluntária é sim espécie de jurisdição,
porque, em primeiro lugar, o artigo 1º do CPC expressamente afirma que a jurisdição civil,
contenciosa e voluntária é exercida pelos juízes em todo território nacional:

“Art. 1o A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes,


em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código
estabelece.”

Então, a jurisdição voluntária é espécie de jurisdição.

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55

Um segundo argumento para os adeptos da teoria revisionista é que tal como na jurisdição
contenciosa, na jurisdição voluntária o Estado precisa ser provocado e esta provocação é
realizada exatamente como nos casos de jurisdição contenciosa, ou seja, através do exercício
do direito de ação.

Eles vão além, e falam que se na jurisdição voluntária o Estado tem que ser provocado é
porque tem que existir um autor, pode não existir a parte ré, a chamada contraparte. Diante
disso, o último argumento é que de acordo com o artigo 1.111 do CPC a decisão na jurisdição
voluntária faz sim coisa julgada.

1.6.3. Características
São elas:

a) Inexistência de caráter substitutivo: o juiz apenas integra o acordo de vontades. Como


visto, isso é controverso, já que em alguns casos é imprescindível a manifestação do
juiz.

b) Ausência de lide: as vontades são convergentes.

c) Inexistência de partes, existência de interessados: pelo fato de inexistir uma situação


antagônica.

d) Inexistência de processo, existência de procedimento:

e) Existência de coisa julgada material: apesar de negada pela teoria clássica, não se
modificará ou discutirá novamente o que já foi decidido, salvo se sobrevierem novos
fatos, o que modificará a causa de pedir e não ofenderá a coisa julgada material.

1.7. Observações de Provas


1. TRF2 – XIII – CESPE – QUESTÃO 45. A jurisdição, como função criativa, pode criar regra
abstrata de regulação do caso concreto.

2. TRF4 – XIII – QUESTÃO 68. A sentença arbitral pode revestir-se de eficácias


condenatórias, declarativas e constitutivas, mas não terá jamais caráter
mandamental ou executivo6.

3. TRF5 – XI – CESPE – QUESTÃO 45. A figura do terceiro que conduz os interessados a


solução independentemente de intervenção judiciária indica a ocorrência de
mediação.

4. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 12. A propositura de ação, no Brasil, discutindo a


validade de cláusula arbitral porque inserida, sem destaque, em contrato de adesão,

6
Exatamente pela impossibilidade da sentença arbitral ser executada no próprio juízo arbitral. Para ter
caráter executivo, deve-se buscar a tutela do judiciário.
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56

não impede a homologação de sentença arbitral estrangeira que, em procedimento


instaurado de acordo com essa cláusula, reputou-a válida7.

5. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 12. De acordo com a jurisprudência pacificada pelo STJ,
a Lei de Arbitragem aplica-se aos contratos que contenham cláusula arbitral, ainda que
celebrados antes da sua edição.

6. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 12. Segundo recente precedente do STJ, o Tribunal


Arbitral é competente para processar e julgar pedido cautelar formulado pelas partes.

2. Competência
2.1. Conceito
Competência é o resultado de critérios para distribuir entre vários órgãos as atribuições
relativas ao desempenho da jurisdição, manifestação do poder estatal una e indivisível.

Todos os juízes de todos os órgãos jurisdicionais possuem jurisdição em todo o território


nacional, o que não significa que possam exercê-la de forma ilimitada. A competência é
justamente a limitação do exercício legítimo da jurisdição. Esse conceito é originado dos
ensinos de Liebman, que afirmava que competência é a medida da jurisdição.

Para outros autores, entretanto, a competência é o poder de exercer a jurisdição dentro de


determinados limites estabelecidos pela lei ou pela Constituição.

7
HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA CONTESTADA. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA (CF. Art. 105, I, "i"; LEI 9.307/96, Art. 35). PEDIDO ADEQUADAMENTE INSTRUÍDO.
DEFERIMENTO.
I - A sentença estrangeira não terá eficácia no Brasil sem a prévia homologação pelo e. Superior Tribunal
de Justiça ou por seu Presidente (Resolução n.º 9/STJ, art. 4º).
II - A atuação jurisdicional do e. STJ no processo de homologação de sentença arbitral estrangeira
encontra balizas nos artigos 38 e 39 da Lei de Arbitragem (Lei 9.307/96). Se não houver transgressão aos
bons costumes, à soberania nacional e à ordem pública, não se discute a relação de direito material
subjacente à sentença arbitral.
III - In casu, verifica-se a existência de contrato assinado pelas partes com cláusula compromissória. Sem
embargo, no âmbito de processo de homologação de sentença arbitral estrangeira, é inviável a análise
da natureza do contrato a ela vinculado, para fins de caracterizá-lo como contrato de adesão.
Precedente do e. STF.
IV - Não há inexistência de notificação e cerceamento de defesa "ante a comprovação de que o
requerido foi comunicado acerca do início do procedimento de arbitragem, bem como dos atos ali
realizados, tanto por meio das empresas de serviços de courier, como também, correio eletrônico e fax"
(SEC 3.660/GB, Corte Especial, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de 25/06/2009 ) V - "A propositura
de ação, no Brasil, discutindo a validade de cláusula arbitral porque inserida, sem destaque, em contrato
de adesão, não impede a homologação de sentença arbitral estrangeira que, em procedimento
instaurado de acordo com essa cláusula, reputou-a válida" (AgRg na SEC 854/GB, Corte Especial, Rel. p./
Acórdão Minª. Nancy Andrighi, DJe de 14/04/2011) VI - Constatada a presença dos requisitos
indispensáveis à homologação da sentença estrangeira (Resolução n.º 9/STJ, arts. 5º e 6º), é de se
deferir o pedido.
Sentença Arbitral homologada.
(SEC 6335/EX, Rel. Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/03/2012, DJe 12/04/2012)
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57

COMO PROVA DE QUE TODO ÓRGÃO JURISDICIONAL POSSUI JURISDIÇÃO MESMO


SEM COMPETÊNCIA, PODE-SE CITAR O PRINCÍPIO KOMPETENZ KOMPETENZ8, PELO
QUAL UM ÓRGÃO INCOMPETENTE TEM O PODER/DEVER DE DECLARAR A PRÓPRIA
INCOMPETÊNCIA. Isso é manifestação da jurisdição. Assim não fosse, esse pronunciamento
seria inexistente.

A competência é distribuída por meio de normas constitucionais, de leis processuais e de


organização judiciária, além da distribuição interna da competência nos tribunais feita por
meio de seus regimentos internos.

Na área federal, também é comum a distinção entre competência em sentido abstrato e


competência em sentido concreto. Qual é a diferença?

Competência em sentido abstrato

É o conjunto de atividades jurisdicionais atribuídas a um órgão ou grupo de órgãos pela


Constituição ou pelas leis.

Competência em sentido concreto

É a relação de adequação legítima entre o órgão jurisdicional (Juiz - Tribunal) e a função por ele
exercida perante cada caso que se põe para julgamento. Diz-se que um juiz é territorialmente
competente para determinada causa, guardando com ela uma relação de adequação legítima
(competência em sentido concreto) quando a causa considerada tem um elemento de ligação
com o território e a lei atribui a tal elemento a eficácia de fazer competente o território.
Assim, recebe o nome de competência em sentido concreto em decorrência de somente poder
ser verificada perante um caso concreto.

2.1.1. Fases da Determinação da Competência


Há várias propostas de fases para a determinação da competência. Trago aqui a de Nelson
Nery, que propõe quatro fases (competência internacional, competência da Justiça,
competência de foro e competência do juízo).

1ª Fase: é aquela em que ocorre a definição se o juiz brasileiro pode ou não examinar a causa.
Nessa primeira fase você tem a hipótese se é jurisdição ou, como preferem alguns,
competência internacional, ou se a hipótese é de jurisdição ou competência interna, brasileira.

Caso o juiz brasileiro tenha competência para o exame da causa, nós passamos à segunda fase.

2ª Fase: Na segunda fase, o que será definido é qual é a justiça competente para o exame da
causa. Aqui, teremos a definição se a competência é da justiça especial, ou seja, militar,
eleitoral ou trabalhista, ou se a competência é da justiça comum, entenda-se aqui, federal e
estadual.

8
Esse princípio se aplicaria aos órgãos arbitrais também, de forma que a incompetência da justiça
arbitral deveria ser determinada por ela mesma em caso de convenção com essa previsão.
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58

Nessa segunda fase, será preciso ser definido se a competência será chamada de justiça
especial ou jurisdição especial ou competência especial, que abrange a justiça militar, a
eleitoral e a trabalhista ou se a hipótese é de jurisdição ou competência comum que abrange a
justiça federal e estadual. Se a hipótese for da justiça especial seja, ela, militar ou eleitoral ou
trabalhista, você tem uma legislação específica para definir a competência em relação a essas
hipóteses aqui, então você tem a legislação militar, legislação eleitoral, legislação trabalhista
que tratam especificamente dessas hipóteses, o que não é nossa matéria, não é o nosso caso.
O nosso caso está na hipótese em que a competência comum é Federal ou Estadual.

3ª Fase: nessa terceira fase se define qual é o foro competente para o processamento e
julgamento da causa; quando se fala em foro se fala em comarca ou subseção judiciária.

Os critérios através dos quais o foro competente será definido estão expostos no Código de
Processo Civil como regra, então a regra é que o Código de Processo Civil é que estabeleça os
critérios através dos quais você vai saber qual é o foro competente para o julgamento da
causa.

É o foro do domicílio do réu, é o foro de situação da coisa, é o foro de eleição etc.

Qual é o foro? Qual é a cidade? Qual é a comarca? Qual é a subseção judiciária competente?

Se, porventura, o foro competente possuir apenas uma vara que julga todas as matérias é
chamado foro de juízo único ou, simplesmente, vara única, juízo único. Por exemplo: Sapucaia,
interior do Estado, Varre-Sai são comarcas de juízo único, tão pequenininhas que só tem um
juiz que examina qualquer material.

Em outras comarcas, dentro daquele foro você possui inúmeras varas, você tem, na Capital do
Estado do Rio de Janeiro, trinta Varas Cíveis, vinte e cinco Varas de Família, dezessete Varas
Criminais, dez Varas Empresariais.

Então, uma vez definido o foro, você não sabe exatamente qual é a vara competente, qual é o
juízo competente para examinar aquela pauta que você pretende apresentar, então você
passa para a quarta fase.

4ª Fase – que é a definição do juízo competente.

O juízo competente se refere à determinação da Vara. Por exemplo, se você quer ajuizar uma
demanda pedindo a declaração de inexistência de relação jurídico-tributária, você vai às
normas de organização e divisão judiciárias do TRF, são essas normas de organização
judiciárias que definem qual é a vara competente para o exame daquela causa. Por exemplo,
na subseção judiciária de Belo Horizonte, a 12ª Vara Cível é competente para todos os feitos
relativos à reforma agrária. Assim, somente ela poderá analisar essa matéria.

No caso da declaração de inexistência, todas as demais Varas cíveis federais são igualmente
competentes, de acordo com a organização e divisão judiciária. Nesse caso, determina-se a
competência pela livre distribuição.

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59

Na justiça federal, se você quer entrar com um pedido de naturalização, a competência é só da


primeira Vara Federal.

Questão muito ultrapassada, mas que ainda pode derrubar aí um ou outro.

O problema do foro regional:

A competência do foro regional é absoluta ou relativa? Você tem foro regional em que lugar
aqui do Estado? Jacarepaguá, Barra da Tijuca, Meier, Madureira, Campinho, mas vejam, esses
lugares são comarcas? Tecnicamente qual é o foro? O foro é da capital do Estado do Rio de
Janeiro, para desinchar o foro sede, eles descentralizaram administrativamente o foro da
capital e criaram os foros regionais.

Qual é o foro competente? O foro é o da capital do Estado do Rio de Janeiro que foi
descentralizado administrativamente, então isso significa que quando você fala em foro
regional, tecnicamente não está falando em foro, o foro é o da capital do Estado do Rio de
Janeiro. Isso é o que se denomina de foro regional, são descentralizações administrativas, eles
apenas quiseram definir que as pessoas que residem nestes bairros que discutissem as suas
demandas naqueles bairros que é para não inchar o foro central, não inchar a sede. Então, na
verdade, há uma descentralização de juízos. Qual foi a lei que estabeleceu essa
descentralização? Normas de organização de divisão do Estado. Será competência de juízo,
portanto possui competência absoluta. Por isso que o foro regional é de competência
absoluta. A sua competência não é competência de foro, é competência de juízo. O foro é um
só, o foro da capital do Estado do Rio de Janeiro. É uma descentralização administrativa, é uma
competência de juízo, daí a razão pela qual a competência desses foros é absoluta.

2.2. Princípios da Tipicidade e da Indisponibilidade da Competência


Canotilho identifica esses dois princípios. Pelo primeiro, as competências dos órgãos
constitucionais são, em regra, apenas as expressamente enumeradas na Constituição; pelo
segundo, as competências constitucionalmente fixadas não podem ser transferidas para
órgãos diferentes daqueles a quem a Constituição as atribui.

Entretanto, o STF, de certa forma, admite a mitigação do princípio da tipicidade ao reconhecer


a existência de competências implícitas (implied power) quando não houver regra expressa,
mas tendo algum órgão jurisdicional que se manifestar sobre a questão sob pena de se agredir
o princípio da indeclinabilidade da jurisdição.

No âmbito do STJ, por sua vez, se reconhece o princípio da tipicidade ao se inadmitir recurso
especial em face de acórdãos de turmas recursais, por falta de previsão na Constituição
(também admitiu a mitigação ao determinar que o STJ conheça das reclamações propostas em
face de decisões das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Estaduais Cíveis, enquanto não
criada a Turma Nacional de Uniformização nessa seara).

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2.3. A Perpetuação da Jurisdição (art. 87, CPC)


O termo “perpetuação da jurisdição” é tecnicamente equívoco, já que a jurisdição já existe
antes e continua existindo depois da propositura da demanda. O que ocorre, na verdade, é a
perpetuação da competência.

Não basta que as regras de competência sejam fixadas pela lei; é necessário que se saiba qual,
dentre os vários juízos competentes, será o juízo responsável concretamente pela demanda
ajuizada. A perpetuatio jurisdictionis consiste na regra segundo a qual a competência fixada
no momento da propositura9 da demanda não mais se modifica. Ela visa à estabilidade
processual.

Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é


proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito
ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou
alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia.

Assim, há dois momentos para se considerar a demanda proposta:

a) Quando distribuída, em comarcas com mais de uma vara com igual competência;

b) Quando protocoladas, em comarcas em que exista apenas uma vara.

Assim, após proposta a demanda, garante-se que nenhuma modificação no estado de fato ou
de direito superveniente poderá alterá-la. Por exemplo, proposta uma ação de alimentos no
foro do alimentando, conforme a regra, caso este mude de domicílio não haverá modificação
da competência para julgar o processo. O processo não será itinerante, seguindo o
alimentando aonde quer que vá.

Porém, importante ressaltar o seguinte: SOMENTE SE PERPETUARÁ A COMPETÊNCIA DE


JUÍZO COM A PROPOSITURA DA AÇÃO NAS HIPÓTESES EM QUE ESSE JUÍZO SEJA A
PRIORI COMPETENTE. Caso ele seja relativamente incompetente, por exemplo, tornar-se-á
competente não em função da perpetuação da competência, e sim em função da preclusão
para o réu operada por não ter proposto a exceção de incompetência. Haverá, nesse caso, a
prorrogação da competência, e não sua perpetuação.

Sobre a perpetuatio:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. MUDANÇA DE DOMICÍLIO.


INCOMPETÊNCIA RELATIVA.

A fixação de competência territorial se dá no momento da propositura da


ação, não sendo permitida sua alteração, seja por mudança de domicílio ou
por vontade da parte, sob pena de ofensa ao princípio do juiz natural.
Precedentes. Unânime. (TRF1, 1S, CC 009152-87.2012.4.01.0000/MG, rel.
Des. Federal Ângela Catão, em 17/04/2012.)

9
Cuidado: não fale que a competência é determinada no momento em que a ação é distribuída, pois
nem sempre haverá distribuição. Só se fala em distribuição quando existir dois ou mais juízos
igualmente competentes no mesmo foro.
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61

2.3.1. Exceções à Perpetuação da Jurisdição


Não haverá a perpetuação, ou restará ela fulminada, nos seguintes casos TAXATIVOS:

a) Modificação de competência absoluta: se houver uma modificação de competência


em razão da matéria, da hierarquia ou da pessoa, assim como de uma competência
territorial absoluta (ou qualquer outra considerada por lei como absoluta), será outro
o órgão do judiciário que julgará a causa.

MATÉRIA AMBIENTAL. CRIAÇÃO DE VARA ESPECIALIZADA. PRINCÍPIO DO


JUIZ NATURAL.

A redistribuição de processos em razão de criação de vara no interior dos


Estados não ofende o princípio da perpetuação da jurisdição nem a garantia
do juiz natural. Precedente. Unânime. (TRF1, 2S, CC 0005541-
63.2011.4.01.0000/ PA, rel. Juiz Federal Murilo Fernandes de Almeida
(convocado), em 31/08/2011.)

b) Supressão de órgão judiciário: evidentemente que se uma seção ou subseção judiciária


forem suprimidas, não haverá como ela continuar competente para julgar a causa.
Nesse caso, os processos deverão ser redistribuídos ou remetidos para o juízo
competente, se previamente definido.

Poderá ainda a competência deixar de ser perpetuada quando houver desmembramento de


seção ou comarca, desde que haja a alteração da competência absoluta (o que seria caso da
primeira hipótese).

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA.


CRIAÇÃO DE NOVA VARA POR LEI DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA.
REDISTRIBUIÇÃO DE PROCESSOS EM RAZÃO DO DOMICÍLIO TERRITORIAL.
IMPOSSIBILIDADE.

Exceções previstas no art. 87 do CPC. Rol taxativo.

- A criação de nova vara, em virtude de modificação da Lei de Organização


Judiciária, não autoriza a redistribuição dos processos, com fundamento no
domicílio do réu.

- AS EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA PERPETUATIO JURISDICTIONIS,


ELENCADAS NO ART. 87 DO CPC, SÃO TAXATIVAS, vedado qualquer
acréscimo judicial.

Recurso especial conhecido e provido.

(REsp 969.767/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 10/11/2009, DJe 17/11/2009)

2.4. Competência por Distribuição (arts. 251 e 252)


A distribuição dos processos somente ocorre em comarcas ou seções judiciárias em que
houver mais de um juízo competente para conhecer do feito. Não há sentido em se falar em

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distribuição havendo apenas uma vara no local, já que o resultado desse ato somente poderia
ser um.

As regras de distribuição são corolário do princípio constitucional do juiz natural (art. 5º, LIII e
LIV, CR/88), já que não se fixará o juízo competente de acordo com critérios desconhecidos, e
sim com critérios rigorosamente equânimes para todos os jurisdicionados. Além disso, é forma
de impedir que as partes escolham o juiz que julgará a causa.

A distribuição serve para transformar a competência cumulativa de vários juízos em


competência exclusiva de um só entre todos eles no caso concreto. Importante uma
observação: a competência se fixa no juízo, e não na pessoa do juiz. Tanto que um juiz titular
de uma Vara, caso removido ou ascendido a desembargador, por exemplo, não levará consigo
os processos em que atuava; eles continuarão na Vara, devendo ser julgados por seu
substituto.

2.5. Classificação da Competência

2.5.1. Competência do Foro (Territorial) e Competência do Juízo


Foro é o local onde o juiz exerce as suas funções; trata-se de conceito geográfico. Sobre o
mesmo território, porém, podem existir vários juízes com atribuições iguais ou diversas, a
depender da matéria sobre a qual versa a causa, a qual será distribuída de acordo com as
regras de organização judiciária.

Assim, para uma mesma causa, primeiro deve-se identificar o foro competente, depois o juízo
(Vara).

A competência do foro é regulada pelo CPC, enquanto a competência do juízo é matéria


pertinente às leis de organização judiciária.

2.5.2. Competência Originária e Derivada


Competência originária é aquela atribuída ao órgão jurisdicional diretamente, para conhecer
da causa em primeiro lugar; pode ser atribuída tanto ao juízo monocrático, o que é a regra,
como ao tribunal, o que geralmente é feito pela Constituição.

A competência derivada ou recursal é atribuída ao órgão jurisdicional destinado a rever a


decisão já proferida; normalmente ela é atribuída ao tribunal, havendo as seguintes exceções:

a) Embargos infringentes de alçada, cabíveis na forma do art. 34 da LEF, que serão


julgados pelo mesmo juízo prolator da sentença;

b) Embargos de declaração;

c) Recursos dos Juizados Especiais, que serão julgados pelas Turmas Recursais,
compostas por juízes de primeiro grau.

Ambas são espécies de competência absoluta.

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63

2.5.3. Competência Relativa e Absoluta


As regras de competência relativa e absoluta existem em função do reconhecimento de que
existem interesses jurídicos diferenciados na sociedade, alguns de ordem pública e outros
afetos estritamente à ordem particular. Assim, visa a equilibrar razões políticas divergentes.

A competência absoluta se funda em razões de ordem pública, para as quais a liberdade das
partes deve ser desconsiderada em virtude da prevalência do interesse público sobre os
particulares.

Já a competência relativa visa a prestigiar a vontade das partes, por meio da criação de normas
que buscam protegê-las, franqueando a elas a opção de aplicação ou não no caso concreto.

Exatamente em função dessas diferenças apresentadas, decorre uma série de pontos


divergentes entre ambas, sobremodo relevantes para o processo civil e com aplicações
práticas de alta incidência nos casos concretos, especialmente para os magistrados, que
devem ficar atentos ao que lhes é submetido, sob pena de causarem custos desnecessários e
demora indevida na prestação jurisdicional.

O defeito de competência gera a incompetência, a qual, em regra, não leva à extinção do


processo (natureza dilatória), mesmo em se tratando de incompetência absoluta, salvo nas
excepcionais hipóteses do inciso III, art. 51, da Lei nº 9.099/95 e da incompetência
internacional (arts. 88 e 89, CPC).

Há outro caso: se a demanda é proposta, por exemplo, na Justiça Federal, sendo que um dos
pedidos é afeto ao Juizado Especial Federal e outro, à Justiça do Trabalho, deve o processo ser
extinto com fundamento na incompetência absoluta. Isso porque não pode o juiz
desentranhar o pedido e elaborar petições diversas a cada Justiça para sanear a incompetência
intelectual do advogado.

Nos casos em que há extinção do processo, fala-se em natureza peremptória.

Quadro Esquemático – Incompetência Absoluta e Relativa

INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA INCOMPETÊNCIA RELATIVA


Ofende interesse de ordem pública Ofende interesse particular
Pode ser alegada a qualquer tempo, por qualquer Somente pode ser alegada pelo réu, no prazo de
das partes, pelo MP e reconhecida de ofício resposta10, sob pena de preclusão e prorrogação
A parte que deixar de alegá-la no primeiro da competência. O magistrado não pode conhecê-
momento que lhe couber falar nos autos arcará la de ofício (súmula 33, STJ). O MP pode suscitá-la
com as custas do retardamento. apenas em benefício de réu incapaz ou se for
parte.
Se alegada pelas partes, deverá ser feita como Deve necessariamente ser alegada por exceção
preliminar de contestação ou por meio de petição instrumental11, a qual será distribuída por

10
Esse prazo não será necessariamente de 15 dias. Por exemplo, aplica-se o prazo em quádruplo para a
Fazenda Pública e MP (art. 188, CPC) e o prazo em dobro para réus com patronos diferentes (art. 191,
CPC).
11
Nem tão necessariamente assim. Nos Juizados Especiais, não há previsão legal de oferta de exceção
de incompetência. Assim, se a defesa for apresentada por escrito, deverá a incompetência relativa ser
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incidental. Não há forma definida, não podendo, dependência ao processo principal e autuada em
entretanto, ser promovida por exceção apenso. Entretanto, o STJ tem considerado que a
instrumental; além disso, a alegação não alegação de incompetência relativa no bojo da
suspende o processo. contestação, como preliminar, por não causar
prejuízo, não pode ser desconsiderada,
Não suspende o andamento do processo. Seu ajuizamento suspende o andamento do
processo.
A incompetência absoluta pode ser originária ou A incompetência relativa é sempre originária. Não
derivada. Se ocorrer algumas das causas de existe incompetência relativa por fato posterior
incompetência absoluta, mesmo superveniente, ao ajuizamento do processo, em decorrência da
inaplicável a perpetuação da jurisdição. prorrogação da jurisdição.
Reconhecida, remetem-se os autos ao juízo Reconhecida, remetem-se os autos ao juízo
competente e reputam-se nulos os atos competente SEM ANULAR os atos decisórios já
decisórios praticados12. praticados.
Não podem as regras de incompetência absoluta Pode ser alterada pela vontade das partes, quer
ser alteradas pela vontade das partes. pelo foro eletivo, quer pela não oposição de
exceção de incompetência.
Não podem suas regras ser alteradas por conexão Podem suas regras ser modificadas por conexão
ou continência. ou continência.
São absolutas as competências materiais, São relativas, em regra, as competências em razão
funcionais, hierárquicas, da pessoa etc., assim do valor da causa, quando ele ficar aquém do
como a em valor da causa quando superar os limite previsto, e a territorial.
limites fixados

2.5.3.1. Especificidades da Incompetência Relativa


Como visto, o MP em regra não poderá alegá-la, salvo se for parte demandada, o que é
raríssimo, ou se houver réu incapaz no processo.

O assistente do autor não pode alegá-la, podendo fazê-lo o do réu. Entretanto, se a assistência
for simples, somente poderá prosperar a exceção se o assistido anuir com a exceção interposta
pelo assistente, caso contrário ela não poderá ser acolhida. Isso porque tal tipo de assistência
não permite a atuação deste contra a vontade daquele.

O juiz, apesar da súmula 33 do STJ, poderá alegar de ofício a incompetência relativa quando
se tratar de cláusula de eleição de foro prevista em contrato de adesão reputada por ele nula
por ser abusiva. Isso protege não somente o consumidor, mas todas as outras relações
jurídicas cuja contratação se dê mediante tal técnica contratual (art. 112, p. único, CPC).

Porém, de acordo com os arts. 112, p. único c/c art. 144, haverá preclusão temporal para o
juiz alegar de ofício essa incompetência caso deixe de fazê-lo no prazo de resposta do réu.

No procedimento sumário, o réu somente pode apresentar a exceção durante a audiência;


caso contrário, haveria a suspensão do processo antes mesmo da tentativa de conciliação, em
nítida incompatibilidade com a agilização pretendida por esse procedimento. Porém, o juiz não

alegada como preliminar de contestação. Já no procedimento sumário, caso o réu opte por resposta
oral, a exceção será dispensada, devendo constar a alegação no termo de audiência.
12
Pela lei, os atos decisórios são nulos, mas, na jurisprudência, os Tribunais admitem a ratificação de
todos os atos pelo juiz competente desde que ele faça expressamente, ele tem que dizer que confirma
todos os atos praticados porque ele os iria fazer da mesma maneira e, portanto, pelo princípio da
economia processual, pelo princípio da celeridade, a demanda seria processada daí por diante.
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65

deve determinar o desentranhamento do feito caso apresentado antes; deve apenas deixar
para apreciá-lo a partir da frustração da audiência de conciliação.

2.5.3.2. Especificidades da Incompetência Absoluta


Daniel Assumpção defende que até mesmo terceiros desinteressados, ou com interesses não
jurídicos, podem alegar a incompetência absoluta, já que cabe a todos resguardar a ordem
pública.

Como visto, a forma de alegação é livre.

Por fim, somente os atos decisórios de mérito serão nulos, APROVEITANDO-SE, POIS, OS
ATOS POSTULATÓRIOS, DE SANEAMENTO E PROBATÓRIOS. Decisões de questões incidentais,
tais como as decisões proferidas no saneamento, que determinam a exclusão de um
litisconsorte ou que decidem o valor da causa, são atos decisórios válidos.

Digamos que a parte tenha alegado a incompetência absoluta e o juiz a rejeitou, assim como o
Tribunal. Essa matéria, incompetência absoluta, pode ser matéria de ação rescisória? Pode. O
fato do juiz ou Tribunal tê-la rejeitado não impede que ela venha a ser novamente
apresentada em ação rescisória, é o art. 485, II CPC, A MATÉRIA É DE TANTA GRAVIDADE QUE
MESMO QUE O JUIZ OU TRIBUNAL TENHA REJEITADO ELA PODE SER OBJETO NOVAMENTE
DE AÇÃO RESCISÓRIA.

A incompetência absoluta pode ser alegada em grau de recursos excepcionais (REsp e RE)?

A corrente clássica defende que a incompetência absoluta só pode ser alegada em recurso
especial e em recurso extraordinário se ela tiver sido objeto de prequestionamento.

Para a corrente moderna, se o recurso especial ou o recurso extraordinário foram admitidos


por qualquer motivo que seja e agora eles terão o mérito examinado, no exame do mérito, as
partes e até o Tribunal, de ofício, podem examinar a incompetência absoluta, mesmo que ela
não tenha sido alegada anteriormente, é o que se chama de TEORIA DA JURISDIÇÃO ABERTA.

2.5.4. Síntese dos Pontos Vistos Anteriores


1. Competência: limitação do exercício legítimo da jurisdição por critérios pré-
determinados. Todos os juízes têm jurisdição em todo o território nacional,
competência não.

2. Princípio do Kompetenz kompetenz: prova que todo juiz tem jurisdição nacional, visto
que um órgão incompetente tem o poder/dever de declarar a própria incompetência.

3. Competência em sentido abstrato: conjunto de atividades jurisdicionais atribuídas a


um órgão ou grupo de órgãos pela Constituição ou pelas leis

4. Competência em sentido concreto: relação de adequação legítima entre o órgão


jurisdicional (Juiz - Tribunal) e a função por ele exercida perante cada caso que se põe
para julgamento.

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66

5. Tipicidade e indisponibilidade da competência: princípios constitucionais


reconhecidos por Canotilho. Pelo primeiro, as competências dos órgãos
constitucionais são, em regra, apenas as expressamente enumeradas na Constituição;
pelo segundo, as competências constitucionalmente fixadas não podem ser
transferidas para órgãos diferentes daqueles a quem a Constituição as atribui.
Exceções à tipicidade reconhecidas pelo STF com base no princípio dos poderes
implícitos.

6. Perpetuação da jurisdição: nenhuma alteração posterior irá modificar a competência


fixada no momento da propositura da ação, se o juiz era o competente (se não era e a
incompetência era relativa, fala-se em prorrogação da competência). Exceções:
supressão de órgão judiciário e modificação de competência absoluta.

7. Teoria da jurisdição aberta: permite que matérias de ordem pública sejam


questionadas ou reconhecidas de ofícios em recursos excepcionais, ainda que não
prequestionadas, desde que tenha sido o recurso admitido por qualquer outro motivo.

2.5.5. Competência Limitada e Competência Delimitada


Competência limitada é aquela que não se mostra plena, por não poder incidir em toda e
qualquer hipótese. A limitação ocorre, normalmente, com a instituição de normas proibitivas
do exercício da competência. Em analogia ao direito tributário, seriam, por exemplo, as causas
de imunidade tributária, em que, mesmo querendo e tendo competência para instituir
tributos, determinado ente não poderá exercer tal competência em hipóteses específicas.
Outro exemplo que pode ser dado é a limitação da competência que impõe o ordenamento
interno proibindo que decisões jurisdicionais de outros países decidam sobre bens imóveis
situados no Brasil.

Por sua vez, a competência delimitada é aquela restrita por outra norma. Não se trata de
proibição do exercício da competência em determinada hipótese, mas sim de delimitação de
seu âmbito, de modo que, ainda que praticado um ato fora do âmbito previsto, pode ele ser
eventualmente convalidado por aquele que de fato é competente (no caso de competência
relativa, é claro, pois em caso de competência absoluta os atos decisórios devem ser
repetidos).

Note-se que efeito prático é o de que, os casos de competência limitada não admitem
convalidação, por serem absolutas exclusões de atuação de um determinado juízo. Já os casos
de competência delimitada podem gerar atos passíveis de convalidação, por não se tratar de
exclusão absoluta da possibilidade de atuação do juízo.

A competência limitada é definida, em regra, em razão da matéria ou da função


(competência funcional ou competência material). A competência do STF, por exemplo, é
limitada aos casos expressos na CF/88.

De outro modo, a competência delimitada é definida por normas processuais. É a


competência de juízos (o juiz da primeira vara tem competência apenas para os processos
distribuídos para tal órgão jurisdicional e não para os feitos das outras varas, por exemplo).

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2.6. Competência Internacional

2.6.1. Introdução
A competência internacional visa, na verdade, a definir quais causas serão submetidas à
jurisdição nacional, delimitando o espaço em que deve haver jurisdição na medida em que o
Estado possa fazer cumprir soberanamente as suas sentenças. Por isso há várias críticas ao
termo utilizado, sendo que muitos doutrinadores sugerem a adoção do termo “competência
nacional”.

Para ser fixada, ela deve se basear no princípio da efetividade, já que a Justiça brasileira
somente deve se preocupar em julgar aquelas demandas cuja decisão gere efeitos em
território nacional ou em Estado estrangeiro que a reconheça. De nada adianta, por exemplo,
decretar um divórcio no Brasil entre dois russos que residem e se casaram na Rússia, já que
eles continuariam juridicamente casados naquele país.

Também informa a competência internacional o princípio da exclusividade, pelo qual cada


Estado tem a soberania interna de aplicar o seu Direito. Aplicará, pois, as decisões estrangeiras
se obrigou-se a tanto por tratado ou convenção.
Princípio da Efetividade
Assim, informam a competência internacional:
Princípio da Exclusividade
Em síntese, a competência internacional brasileira diz quais as causas que deverão ser
conhecidas e decididas pela justiça brasileira.

A disciplina legal reside nos arts. 88 e 89 do CPC e no art. 12 da LICC.

2.6.1.1. Competência Internacional Concorrente ou Cumulativa (art. 88, CPC)


Trata-se das hipóteses em que tanto a Justiça brasileira como a estrangeira terão competência
para conhecer da matéria.

Não quer dizer o artigo, evidentemente, que a legislação brasileira pretende conceder
competência a determinado país. Quer dizer apenas que, se ele vier a prolatar sentença sobre
as matérias abaixo, elas terão força executiva aqui, desde que homologadas pelo STJ. São elas
as seguintes:

Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:

I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no


Brasil;

II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.

Parágrafo único. Para o fim do disposto no n o I, reputa-se domiciliada no


Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal.

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2.6.1.2. Competência Internacional Exclusiva (art. 89, CPC)


O fato de a competência ser exclusiva significa que a Justiça nacional não reconhecerá as
decisões proferidas em território estrangeiro, ainda que tenham sido lá regularmente julgadas.
Assim, elas não produzirão quaisquer efeitos aqui, sendo, pois, inomologáveis pelo STJ em
função do resguardo dos interesses e da segurança nacionais.

Ocorre a competência internacional exclusiva nos seguintes casos:

Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de


qualquer outra:

I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;

II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o


autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território
nacional.

2.6.1.3. Litispendência Internacional


A existência de um processo em trâmite no estrangeiro com identidade em relação a outro
presente no Brasil não induzirá a litispendência.

Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz


litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da
mesma causa e das que Ihe são conexas.

Não se trata, entretanto, de regra constitucional, podendo vir a ser permitido o conhecimento
desse fenômeno processual desde que previsto em acordo internacional e desde que
respeitados os direitos fundamentais, em especial a inafastabilidade da jurisdição.

Há, entretanto, duas importantes regras a serem conhecidas:

a) Homologada sentença estrangeira em que se verifique identidade com ação aqui em


trâmite, deverá o processo nacional ser extinto sem resolução de mérito, por ofensa à
superveniente coisa julgada material;

b) Transitada em julgado decisão proferida em processo nacional, o STJ não poderá


homologar sentença estrangeira a fim de não agredir a coisa julgada material e,
mediatamente, a soberania nacional.

2.7. Método de Identificação da Competência


Nery-Nery indicam o seguinte roteiro, na ordem apresentada:

a) Identificar se a justiça brasileira é competente para julgar a causa (competência


internacional);

b) Identificar se é caso de competência originária de Tribunal ou de órgão jurisdicional


atípico;

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c) Não sendo de competência originária de Tribunal, verificar se é afeto às Justiças


Especiais ou à Comum;

d) Sendo da Justiça comum, verificar se compete à Justiça Federal nas hipóteses taxativas
do art. 109, CR/88; caso negativo, competirá à justiça comum estadual;

e) Sendo da Justiça Federal ou da estadual, verificar o foro competente (seção e subseção


judiciária/comarca);

f) Determinado o foro, verificar o juízo competente (Vara), de acordo com o CPC


(prevenção, conexão, continência etc.) e com as normas de organização judiciária que
criam varas especializadas);

g) Por fim, se necessário, verificar a competência recursal.

2.8. Critérios Determinativos de Distribuição da Competência

2.8.1. A Competência Territorial (arts. 94 a 100, CPC)


Trata-se da regra que determina em que território a causa deve ser processada. Trata-se do
critério que distribui a competência em razão do lugar, sendo, regra geral, relativa e
derrogável pela vontade das partes.

2.8.1.1. O Foro Comum, Geral ou Ordinário (art. 94, CPC)


O foro comum adotado no Brasil (art. 94) é o domicílio do réu.

Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real
sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu.

§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de


qualquer deles.

§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado


onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor.

§ 3o Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será
proposta no foro do domicílio do autor. Se este também residir fora do
Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.

§ 4o Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão


demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.

Como se observa, esse foro geral se aplica, entretanto, apenas sobre ações fundadas em
direito pessoal e direito real mobiliário. Isso inclui, portanto:

a) Direito pessoal sobre imóvel, v.g., relação locatícia de apartamentos;

b) Direito pessoal sobre móvel, v.g., contrato de comodato;

c) Direito real sobre móvel, v.g., usufruto de veículos pesados.

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70

A ação deverá ser proposta, pois, no local de domicílio13 do réu. Em sendo o réu pessoa
jurídica, considerar-se-á domicílio o local onde está a sua sede. Sendo a União, o Distrito
Federal; Estados, Capitais; Municípios, onde funcionar a administração municipal; autarquias,
fundações, EP e SEM, no local indicado na lei instituidora ou no Estatuto ou contrato social.

Se o réu tiver mais de um domicílio, poderá ser proposta a ação em qualquer deles, à escolha
do autor.

Se desconhecido ou incerto, o autor proporá a ação onde for o réu encontrado (em sua
residência) ou na subseção judiciária do próprio domicílio autoral, respeitando essa ordem, de
acordo com Daniel Assumpção.

Se não residir o réu no Brasil, deve o autor propor a ação em seu domicílio. Se o autor também
for outsider, deverá ser proposta a ação em qualquer lugar. Trata-se essa segunda hipótese de
um foro subsidiário.

Por fim, em havendo corréus com domicílios diferentes, proporá o autor a ação em qualquer
deles.

2.8.1.2. Direitos Reais Imobiliários (art. 95, CPC)


Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o
foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do
domicílio ou de eleição, não recaindo o litígio sobre direito de propriedade,
vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de
obra nova.

A regra quando se tratar de direitos reais imobiliários (lembrar que o rol de direitos reais é
taxativo) é que a ação seja proposta no local da situação da coisa, forum rei sitae. Trata-se de
uma regra de competência absoluta quando recair o litígio sobre direito de propriedade,
vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova.

A razão de ser absolutamente competente esse foro é:

a) Conveniência de decidir no local as demandas referentes a imóveis;

b) Facilidade de produção probatória;

c) Repercussão na vida econômica e social da localidade em que se situa o imóvel.

Se o imóvel estiver localizado nos limites de mais de uma subseção judiciária/comarca, será
competente qualquer delas, podendo o autor optar, tornando-se o juiz que receber a inicial
prevento para conhecer qualquer outra ação conexa.

Relativamente aos demais direitos reais, como uso, direito real de uso, enfiteuse etc., o art.
95 expressamente permite ao autor optar pelo foro da situação da coisa, do domicílio do réu

13
Domicílio é o local onde a pessoa fixa residência com ânimo definitivo, além dos domicílios legais
previstos no Código Civil.
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71

ou de eleição. Logo, somente é absoluta a competência relativamente àqueles direitos reais


citados no art. 95.

2.8.1.3. Ações Afetas às Sucessões

Art. 96. O foro do domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente


para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições
de última vontade e todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o
óbito tenha ocorrido no estrangeiro.

Parágrafo único. É, porém, competente o foro:

I - da situação dos bens, se o autor da herança não possuía domicílio certo;

II - do lugar em que ocorreu o óbito se o autor da herança não tinha


domicílio certo e possuía bens em lugares diferentes.

Logo, a regra é o foro do domicílio do autor da herança, ainda que a morte tenha se dado no
estrangeiro. Não tendo ele domicílio certo, a ação deverá ser proposta no lugar da situação
dos bens. Somente em último caso, com bens em múltiplos locais, se proporá a ação no local
do óbito.

As regras previstas no art. 96 são de competência relativa.

2.8.1.4. Réu Ausente


O foro será o do seu último domicílio (art. 97). Porém, assim como ocorre nas situações do art.
96, se a ação versar sobre alguma das matérias previstas no art. 95, prevalece o foro previsto
nesse artigo (forum rei sitae), já que se trata de foro absoluto.

2.8.1.5. Réu Incapaz


Devem ser propostas as ações no domicílio de seu representante legal (art. 97). Trata-se, pois,
de foro especial falso, já que, de qualquer jeito, o domicílio legal do incapaz é, de acordo com
o Código Civil, o de seu representante legal.

2.8.1.6. União
Figurando a União como autora, deverá propor a ação na seção judiciária do domicílio do réu,
mais especificamente na subseção judiciária que abrange o domicílio do réu. Se vários forem
os réus, aplica-se o critério do CPC, que faculta ao autor promover a ação no domicílio de
qualquer deles.

Porém, em sendo esse ente político o réu, o autor poderá optar entre a seção judiciária de seu
domicílio, a em que houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda, naquela onde
esteja situada a coisa objeto da demanda ou no Distrito Federal, tratando-se de verdadeira
competência concorrente.

E se houver litisconsórcio ativo facultativo nestes casos? Veja o seguinte:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO.


DEMANDA CONTRA A RFFSA. AUTORES DOMICÍLIOS EM DIFERENTES
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ESTADOS. FORO COMPETENTE. ESCOLHA DOS AUTORES. 28.ª VARA


FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO. COMPETÊNCIA
RECONHECIDA PARA O JULGAMENTO E PROCESSAMENTO DA AÇÃO
ORDINÁRIA N.º 2000.5101030867-0, RELATIVAMENTE A TODOS OS
AUTORES.

1. Havendo litisconsórcio ativo facultativo, a União, o INSS, e a Rede


Ferroviária Federal - RFFSA podem ser demandados no foro de qualquer
unidade da federação escolhida pelos Autores, ainda que sejam eles
domiciliados em Estados-membros diferentes. Precedentes.

2. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp 888.952/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,


julgado em 28/10/2008, DJe 17/11/2008)

Porém, se houver qualquer hipótese determinadora da competência absoluta, como no caso


de direito real sobre bens imóveis, em sendo a União ré, deverá o autor observar a regra do
art. 95 do CPC.

Art. 109. (CR/88) ...

[...]

§ 1º - As causas em que a União for autora serão aforadas na seção


judiciária onde tiver domicílio a outra parte14.

§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção


judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o
ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou,
ainda, no Distrito Federal.

2.8.1.7. Competência por Delegação (art. 109, § 3º, CR/88)

§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio


dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de
previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara
do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que
outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual.

§ 4º - Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para


o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.

O que deve acontecer se, após proposta a ação perante a Justiça Estadual, por delegação, for
criada sede de Vara federal no Município de domicílio do réu? O processo deve ser

14
Se a União quiser, por exemplo, ajuizar ação em face de pessoa domiciliada em Nanuque/MG, a qual
não é sede de subseção judiciária, deverá fazê-lo em Teófilo Otoni/MG, sede dessa subseção, salvo se
for caso de competência delegada.
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73

imediatamente enviado para a Justiça Federal; todos os atos decisórios de mérito praticados,
entretanto, serão válidos, já que a incompetência absoluta é superveniente, e não
contemporânea às decisões.

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO


FISCAL. INFRAÇÃO À LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
DO TRABALHO. JUIZ DE DIREITO INVESTIDO DE JURISDIÇÃO FEDERAL.
CRIAÇÃO SUPERVENIENTE DE VARA FEDERAL. DESLOCAMENTO.
COMPETÊNCIA ABSOLUTA EM RAZÃO DA MATÉRIA. ART. 87 DO CPC.

1. O fundamento legal da certidão de dívida ativa não é a violação à


Consolidação das Leis Trabalhistas, mas ofensa à legislação tributária (não-
recolhimento de IR, IPI e PIS). Assim sendo, é certo que não há competência
da Justiça do Trabalho.

2. Durante o trâmite do presente conflito, foi instalada em Ipatinga/MG a


Justiça Federal, motivo pelo qual cessa a delegação da jurisdição federal no
caso - por motivos de competência absoluta em razão da matéria (art. 87 do
Código de Processo Civil). Precedentes.

3. Conflito conhecido para declarar a competência da Vara da Subseção


Judiciária Federal de Ipatinga/MG (que não é suscitante nem suscitada).

(STJ, CC 60.807/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 10/12/2008, DJe 19/12/2008)

PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. CONFLITO NEGATIVO DE


COMPETÊNCIA. JUÍZO FEDERAL E JUÍZO ESTADUAL. INEXISTÊNCIA DE VARA
FEDERAL. SUBSISTÊNCIA DO ART. 109, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. COMPETENCIA DO JUIZO ESTADUAL.

1. Nos termos do art. 109, § 3º da Constituição da República, a justiça


estadual tem competência para processar e julgar as causas em que forem
partes instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca
não seja sede de vara ou juízo federal.

2. Não sendo a comarca sede de vara federal, SUBSISTE A COMPETÊNCIA


CONSTITUCIONALMENTE DELEGADA AO JUIZ ESTADUAL PARA O
CONHECIMENTO E JULGAMENTO DE FEITOS PREVIDENCIÁRIOS, MESMO
APÓS A CRIAÇÃO E INSTALAÇÃO DE VARA FEDERAL CUJA JURISDIÇÃO
ABRANJA A DA COMARCA. (AC 2007.01.99.027843-7/GO, Rel.
Desembargador federal José Amilcar Machado, Primeira Turma, e-DJF1
p.204 de 20/10/2009)"

3. O DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA SÓ OCORRERÁ QUANDO A


COMARCA PASSAR A SER SEDE DE VARA FEDERAL, hipótese não
vislumbrada na espécie, pois não existe sede de juízo federal em Itaúna/MG,
cuja jurisdição está abrangida pela Subseção Judiciária de Divinópolis/MG.

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4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara


Cível da Comarca de Itaúna/MG, ora Suscitado.

(TRF1, CC 0047244-76.2008.4.01.0000/MG, Rel. Desembargadora Federal


Ângela Maria Catão Alves, Conv. Juiz Federal Miguel Angelo De Alvarenga
Lopes (conv.), Primeira Seção,e-DJF1 p.43 de 26/04/2010)

2.8.1.8. Separação, Conversão em Divórcio e Anulação de Casamento (art. 100, I)


Trata-se de regra de competência relativa de duvidosa constitucionalidade que fixa a
competência no foro da residência da mulher. O STJ tem se posicionado constantemente
contrário à aplicação da regra em relação às uniões estáveis, interpretando restritivamente o
dispositivo legal.

O STF, entretanto, se manifestou recentemente sobre a hipótese:

Foro privilegiado e princípio da isonomia - 1

O art. 100, I, do CPC (“Art. 100. É competente o foro: I - da residência da


mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão desta em
divórcio, e para a anulação de casamento”) NÃO AFRONTA O PRINCÍPIO DA
IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES (CF, ART.5º, I), TAMPOUCO A
ISONOMIA ENTRE OS CÔNJUGES (CF, art. 226, § 5º). Com base nesse
entendimento, a 2ª Turma desproveu recurso extraordinário por reputar
que a norma processual fora recepcionada pela Constituição. Em preliminar,
o Min. Joaquim Barbosa, relator, enfatizou a competência da Turma para
processar e julgar o recurso extraordinário porque não se trataria de
declaração de inconstitucionalidade da mencionada norma processual, o
que requereria a observância da cláusula de reserva de plenário, cingindo-se
a discussão quanto à recepção, pela CF/88, do referido dispositivo.
Destacou-se que a Constituição seria marco histórico no processo de
proteção dos direitos e garantias individuais e, por extensão, dos direitos
das mulheres.

RE 227114/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 22.11.2011. (RE-227114)

Foro privilegiado e princípio da isonomia - 2

Ressaltou-se que, ao longo de mais de 2 décadas de vigência da


Constituição, a doutrina e a jurisprudência alinhar-se-iam segundo 3
concepções distintas acerca do dispositivo em discussão, que preconizariam:
a) a sua não-recepção; b) a sua recepção; e c) a recepção condicionada às
circunstâncias específicas do caso, em especial levando-se em conta o fato
de a mulher se encontrar em posição efetivamente desvantajosa em relação
ao marido. Asseverou-se não se cuidar de privilégio estabelecido em favor
das mulheres, mas de norma que visaria a dar tratamento menos gravoso à
parte que, em regra, se encontrava e, ainda hoje se encontraria, em
situação menos favorável do ponto de vista econômico e financeiro. Assim,
a propositura da ação de separação judicial no foro do domicílio da mulher
seria medida que melhor atenderia ao princípio da isonomia, consistente em
“tratar desigualmente os desiguais na medida em que se desigualam”.
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75

Ademais, A COMPETÊNCIA PREVISTA NO INCISO I DO ART. 100 DO CPC


SERIA RELATIVA, ou seja, se a mulher não apresentasse exceção de
incompetência em tempo hábil, a competência prorrogar-se-ia; ou, a própria
mulher poderia ajuizar a ação no foro do domicílio do ex-marido, de forma a
inexistir óbice legal a que a ação prosseguisse.

RE 227114/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 22.11.2011. (RE-227-114)

2.8.1.9. Ações de Alimentos (art. 100, II, CPC)


Sempre deverão ser propostas no foro do domicílio ou residência do alimentando, ainda que a
ação seja proposta pelo autor a fim de oferecer alimentos àquele.

O mesmo ocorre se o pedido da ação for a declaração de origem genética, paternidade ou


maternidade cumuladas com pedido de alimentos.

2.8.1.10. Outras Regras

Art. 100. É competente o foro:

[...]

III - do domicílio do devedor, para a ação de anulação de títulos extraviados


ou destruídos;

IV - do lugar:

a) onde está a sede, para a ação em que for ré a pessoa jurídica;

b) onde se acha a agência ou sucursal, quanto às obrigações que ela


contraiu;

c) onde exerce a sua atividade principal, para a ação em que for ré a


sociedade, que carece de personalidade jurídica;

d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se Ihe exigir o
cumprimento;

V - do lugar do ato ou fato:

a) para a ação de reparação do dano;

b) para a ação em que for réu o administrador ou gestor de negócios


alheios.

Parágrafo único. Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito


ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do
local do fato.

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2.8.1.11. Seções e Subseções Judiciárias


O Brasil atualmente tem a Justiça Federal dividida em cinco regiões. Em cada região
encontram-se determinadas seções judiciárias, as quais correspondem, cada uma, a um
estado-membro.

As seções judiciárias são ou podem ser, por sua vez, subdivididas em subseções judiciárias,
conforme lei de organização judiciária (as comarcas também podem ser subdivididas em
distritos).

TEM-SE ENTENDIDO QUE A CRIAÇÃO DE DISTRITOS E SUBSEÇÕES JUDICIÁRIAS É


HIPÓTESE DE CRIAÇÃO DE FOROS ABSOLUTOS, POIS A SUA INSTITUIÇÃO
DECORRERIA DE RAZÕES DE ORDEM PÚBLICA. Por isso, o desrespeito admite o
reconhecimento da incompetência de ofício pelo magistrado, sendo esta uma orientação
bastante consolidada.

Essa é a razão pela qual se considera lícita a redistribuição dos processos para novas
subseções, de acordo com a nova divisão territorial da competência: como se trata de
alteração superveniente de competência absoluta territorial, excepciona-se a regra da
perpetuação da jurisdição prevista no art. 87 do CPC.

Porém, se as duas subseções judiciárias já existirem, não será caso de incompetência absoluta,
e sim de incompetência relativa, somente podendo ser suscitada pelas partes. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. COMPETÊNCIA


TERRITORIAL INSUSCETÍVEL DE SER DECLARADA DE OFÍCIO.

1. Não cabe ao Magistrado suscitado - que determinou a remessa dos


autos à Subseção Judiciária de Juiz de Fora/MG - declarar, de ofício, sua
incompetência, por se tratar, na espécie, de competência relativa
(territorial), a qual só pode ser arguida por meio de exceção (CPC, art. 112).

2. Aplicação, na espécie, da Súmula 33 do egrégio STJ.

3. De todo modo, não há que se falar em competência absoluta do Juízo em


razão da Resolução TRF/1ª Região 600-17/2005, pois a situação da causa
não se subsume aos termos da aludida resolução, uma vez que não se trata
de redistribuição de processos em face da criação de vara federal no interior
do Estado.

4. Demais disso, o sujeito passivo da ação de origem (INSS) é sediado, por


seu órgão regional, na cidade de Belo Horizonte/MG, incidindo, pois, na
espécie, a regra do art. 100, IV, b, do CPC.

5. Conflito julgado procedente, para declarar competente o Juízo Federal da


21ª Vara da Seção Judiciária do Estado de Minas Gerais.

(TRF1, CC 2008.01.00.061369-7/MG, Rel. Desembargador Federal Fagundes


De Deus, Conv. Juiz Federal Pedro Francisco Da Silva (conv.), Terceira
Seção,e-DJF1 p.19 de 25/05/2009)

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2.9. Competência Funcional


Trata-se de competência relacionada com a distribuição das funções que devem ser exercidas
num mesmo processo, podendo ela se dar de forma horizontal, entre juízos de mesmo nível
hierárquico, e de forma vertical, em instâncias diversas.

É espécie de competência absoluta cujo desrespeito enseja nulidade dos atos posteriores.

Daniel Assumpção defende os seguintes critérios para se determinar a competência funcional:

a) Pelas fases do processo: o juízo que praticou determinado ato processual se torna
competente para os demais, como ocorre com o juízo que prolatou sentença ilíquida
em relação à competência para a liquidação.

DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL PARA FINS DE REFORMA


AGRÁRIA. FASE DE EXECUÇÃO. CRIAÇÃO DE VARA FEDERAL NO FORO DA
SITUAÇÃO DO IMÓVEL. REDISTRIBUIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.

Em sede de ação expropriatória por interesse social para fins de reforma


agrária, prevalece a competência funcional absoluta do juízo prolator da
sentença na fase de execução, independentemente da criação de nova vara
federal no foro da situação do imóvel. Unânime. (TRF1, 3T, AI 0046753-
64.2011.4.01.0000/GO, rel. Des. Federal Assusete Magalhães, em
30/07/2012.)

b) Relação entre ação principal e ações acessórias ou incidentais: o juízo que atua na
principal terá competência absoluta para atuar na acessória, como ocorre com a
reconvenção, com os embargos à execução, com as medidas cautelares preparatórias
etc.

c) Pelo grau de jurisdição: ocorre, por exemplo, com a competência recursal, na qual é
absoluta a função do tribunal de conhecer do recurso interposto por juízo a ele
vinculado.

d) Pelo objeto do juízo: o fenômeno ocorre quando numa única decisão atuam dois
órgãos jurisdicionais, cada um competente para certa parte do julgamento. No
processo penal, o exemplo clássico é o da sentença do Tribunal do Júri, em que os
jurados decidem predominantemente sobre as questões de fato, respondendo os
quesitos formulados sobre a materialidade do crime, a autoria, as circunstâncias
excludentes de pena etc., e cabe ao juiz togado, Presidente, obedecendo à
manifestação dos jurados, aplicar a pena, fixando-lhe o quantum. No processo civil, há
casos de competência funcional por objeto do juízo no procedimento de
uniformização da jurisprudência (arts. 476 e s.) e no de declaração incidental de
inconstitucionalidade (arts. 480 e s.), nos quais a Câmara ou Turma do Tribunal em
que são suscitados qualquer desses incidentes é competente para a aplicação da lei ao
caso concreto, mas a fixação da interpretação da lei ou sua declaração de
inconstitucionalidade é de competência do Tribunal Pleno. O julgamento se
desmembra, cada órgão decide uma parte do objeto da decisão que, no final, é única.

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78

Cuidado! Alguns afirmam que a competência hierárquica é sinônimo de competência


funcional. Não é sinônimo, é apenas uma das hipóteses de competência funcional que é a
competência funcional vertical (hierárquica).

2.9.1. Competência Funcional X Competência Territorial Absoluta


De acordo com Didier, o legislador brasileiro e parte da doutrina nacional adotam a concepção
chiovendiana, segundo a qual também se visualiza a competência funcional quando uma causa
é confiada ao juiz de determinado território, pelo fato de ser a ele mais fácil ou mais eficaz
exercer a sua função.

Tanto Didier quanto Daniel Assumpção consideram essa posição errada (para não dizer
imbecil), reconhecendo tratar-se apenas de competência territorial absoluta, como ocorre no
caso da ação civil pública e das ações que versam sobre direito real imobiliário.

2.9.2. O Princípio da Identidade Física do Juiz


O art. 132 do CPC estabelece que o juiz da sentença deve ser o mesmo que ultimou a
audiência de instrução e julgamento. Trata-se da consagração da identidade física do juiz,
decorrente diretamente do princípio da oralidade.

A vinculação do juiz ao processo exige, pois, o preenchimento de alguns requisitos:

a) Ter o juiz concluído a AIJ;

b) Ter havido colheita de prova oral;

c) Não estiver o juiz, por qualquer motivo, afastado ou impedido.

O desrespeito a essas regras é causa de nulidade absoluta, pois fere norma cogente de
competência, sendo, inclusive, motivo que autoriza o ajuizamento de ação rescisória (art. 485,
II, CPC).

TRATA-SE, POIS, DE REGRA DE COMPETÊNCIA FUNCIONAL PELA VINCULAÇÃO DO JUIZ AO


PROCESSO.

Porém, para mitigar modificações constantes na Justiça, foram excepcionados alguns casos,
como quando o juiz é promovido para comarcas distantes, quando é removido, promovido ou
aposentado etc.

É muito comum, infelizmente, que a audiência, principalmente em casos mais complexos, seja
realizada por dois ou até três magistrados, como também que aquele que concluiu a instrução
não seja o que proferirá a sentença, pois já não mais atua naqueles autos, por variadas razões,
de forma que a sentença, necessariamente, será proferida por juiz que não participou da
instrução. O que o CPC faculta, nesses casos, caso o magistrado sentenciante considere
necessário, é mandar repetir as provas já produzidas (p.ún. do art. 132 do CPC).

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2.10. Competência em Razão da Matéria


Trata-se de espécie de competência absoluta determinada em razão da natureza da causa.
Suas regras estão previstas na CR/88, em leis esparsas, em leis de organização judiciária e no
próprio CPC.

Quando previstas na lei de organização judiciária, fixarão a competência do juízo, como ocorre
quando se cria uma vara cível específica para questões agrárias em determinada seção
judiciária.

Na Constituição da República, a matéria determina a competência das Justiças, matéria que


deve ser estudada no Direito Constitucional.

2.10.1. Varas Especializadas: Competência Absoluta em Razão da Matéria

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL.


VARA ESPECIALIZADA. COMPETÊNCIA ABSOLUTA.
Conforme regulamentação dada pela Lei 5.010/1966, o TRF 1ª Região, com
suporte na Resolução 102/2010 do CJF, editou a Portaria/Presi/Cenag
200/2010, atribuindo à 9ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Pará a
competência para “todas as ações (cíveis, criminais e de execuções fiscais)
de todas as classes e ritos que direta, ou indiretamente, versem sobre o
Direito Ambiental ou Agrário”, com “jurisdição em todo o Estado do Pará”.
A competência das varas especializadas, em razão da matéria, é de caráter
absoluto, ATRAINDO O JULGAMENTO DAS CAUSAS CONEXAS COM
AQUELAS DISTRIBUÍDAS A ELA ANTERIORMENTE, conforme REsp
127.082/MG. Unânime. (TRF1, 3S, CC 0041327- 71.2011.4.01.0000/PA, rel.
Juiz Federal Evaldo de Oliveira Fernandes, filho (convocado), em
20/09/2011)

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO


ORDINÁRIA JÁ SENTENCIADA. CONEXÃO. SÚMULA 235 DO STJ.

1. Nos termos da Súmula 235 do STJ, "a conexão não determina a reunião
de processos, se um deles já foi julgado".

2. A EXISTÊNCIA DE VARA ESPECIALIZADA EM RAZÃO DA MATÉRIA


CONTEMPLA HIPÓTESE DE COMPETÊNCIA ABSOLUTA, sendo, portanto,
improrrogável, nos termos do art. 91 c/c 102 do CPC. Dessarte, seja porque
a conexão não possibilita a modificação da competência absoluta, seja
porque é vedada a cumulação em juízo incompetente para apreciar uma das
demandas, não é possível a reunião dos feitos no caso em análise, devendo
ambas as ações tramitarem separadamente. (STJ - CC 106041/SP, Relator
Ministro Castro Meira, Primeira Seção, DJe 09/11/2009).

3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Suscitado, ou seja, o


da 2ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Juiz de Fora - MG.

(TRF1, CC 0044817-09.2008.4.01.0000/MG, Rel. Desembargadora Federal


Neuza Maria Alves Da Silva, Primeira Seção,e-DJF1 p.7 de 29/03/2010)

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2.11. Competência em Razão da Pessoa


Competência sempre absoluta não prevista no CPC. Ela está prevista na CR/88, nas
Constituições Estaduais e nas leis de organização judiciária, sendo que estas fixarão o juízo, no
interesse da administração da justiça.

Seria o caso das Varas da Fazenda Pública estaduais, que concentram feitos envolvendo
Estados e Municípios.

A competência da Justiça Federal em razão do art. 109, I, da CR/88 é outro exemplo de


competência fixada em razão da pessoa.

2.12. Competência em Razão do Valor da Causa


Trata-se de regra de determinação de competência que atualmente somente tem relevância
para os Juizados Especiais. Diz-se que o valor da causa não tem qualquer importância, sendo
relativa quando inferior ao limite previsto para o órgão (não se aplica nos JEF’s), sendo,
entretanto, absoluta quando superior.

Logo, ultrapassado o teto, não poderá a causa ser afeta a Juizado. Porém, se inferiores ao teto
e ajuizada a ação na Justiça estadual comum pelo procedimento ordinário, a incompetência é
relativa. Se igual ou inferior a 60 SM, no entanto, será hipótese de competência absoluta dos
juizados especiais federais, salvo se a matéria for uma daquelas vedadas na Lei nº 10.259/01.

2.12.1. Juizados Especiais Cíveis Estaduais – Lei nº 9.099/95


Relativamente ao valor da causa, esse órgão judiciário somente poderá conhecer de matérias
cujo valor máximo seja igual ou inferior a 40 salários mínimos e desde que não envolvam os
seguintes sujeitos:

a) Incapaz;

b) Preso;

c) Pessoa jurídica de direito público;

d) Empresas públicas da União;

e) Massa falida;

f) Insolvente civil.

Importantíssima uma observação: a competência em razão do valor da causa somente se


aplica se não houver concomitância com as demais hipóteses ensejadoras da competência do
Juizado Especial Cível previstas no art. 3º, II a IV.

Isso porque essas hipóteses prevêem competências determinadas em razão da matéria,


sendo irrelevante o valor da causa. Logo, poderá ser proposta uma ação de despejo perante o
JEC ainda que o valor da causa seja de um bilhão de reais.

No JEC, relevante captar a facultatividade do procedimento, podendo o autor optar pela


Justiça comum ainda que o objeto processual esteja previsto na lei.
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81

Porém, se o objeto da demanda superar 40 salários mínimos e não renunciando ao excedente


o autor, deverá o juiz extinguir o processo sem resolução do mérito, sem nem mesmo se
cogitar em remessa a outro órgão judicial, sendo excepcional hipótese de peremptoriedade da
incompetência.

2.12.2. Juizados Especiais Cíveis Federais – Lei nº 10.259/01


A competência em razão do valor da causa dos JEF’s se estabelece mediante o valor máximo
de 60 salários mínimos calculados à data da propositura da ação, e desde que, obviamente, a
causa trate de matéria afeta à competência da Justiça Federal.

Para o cálculo do valor da causa, quando a pretensão tratar de prestações vincendas, não
poderá a soma de 12 parcelas exceder aos 60 salários mínimos. Porém, se a ação também visar
à obtenção de parcelas já vencidas, deverão ser somadas estas + 12 parcelas vincendas, para,
aí sim, se obter o verdadeiro valor da causa parâmetro do JEF.

Trata-se, pois, de órgão com competência absoluta e de caráter obrigatório, não podendo a
parte optar pela Justiça comum federal se possível valer-se do JEF.

Entretanto, não poderão ser julgados pelos JEF’s as causas:

a) Referidas no artigo 109, incisos II, III e XI, da Constituição da República15;

b) As ações de mandado de segurança;

c) De desapropriação, de divisão e demarcação;

d) Ações populares;

e) Execuções fiscais;

f) Ações de improbidade administrativa;

g) Demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;

h) Sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;

i) Para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza


previdenciária e o de lançamento fiscal;

j) Que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores


públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares.

Por fim, sobra ressaltar que, caso o juiz verifique que o valor da condenação ultrapassará o
montante limite do JEF, deverá ele intimar a parte para expressamente renunciar, se quiser, ao

15
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada
ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
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82

excedente, não se admitindo renúncia tácita16. Caso ela não renuncie, deverão os autos ser
enviados à Justiça Federal Comum.

Há, no entanto, orientações que defendem que o valor da condenação no JEF pode ser
qualquer um no momento da prolação da sentença, desde que a inicial se submeta ao limite
de 60 SM.

Não se aplica no JEF a regra do JEC de extinção do processo em caso de incompetência


absoluta. Deve o juiz, se for o caso, remeter os autos à Justiça competente.

2.12.2.1. Juizados Especiais Federais Adjuntos


CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE MENOR
POTENCIAL OFENSIVO. SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA SEM JUIZADO ESPECIAL
AUTÔNOMO. FUNCIONAMENTO DO JEF ADJUNTO CONDICIONADO À
DESIGNAÇÃO DE JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO. COMPETÊNCIA DA SUBSEÇÃO
JUDICIÁRIA.

1. A Resolução PRESI 600-018 estabelece, na redação dada pela Resolução


PRESI 600-001, de 09/05/2006, que as Varas Federais integrantes das
Subseções Judiciárias possuem competência geral e do Juizado Especial cível
e criminal (art. 1º, § 1º), ficando condicionado o exercício desta
competência apenas à designação de Juiz Federal Substituto.

2. Os Juizados Especiais funcionarão, de acordo com a Resolução de


regência, de forma autônoma ou adjunta. Autônomo será o seu
funcionamento quando instalada uma Vara Especializada, dirigida ao
exercício das competências previstas em lei como dos Juizados Especiais. DE
OUTRO LADO, O JUIZADO ESPECIAL ADJUNTO É AQUELE QUE FUNCIONA
VALENDO-SE DA MESMA ESTRUTURA DA VARA COMUM, QUE CUMULA,
NESSE CASO, AS COMPETÊNCIAS GERAIS E DOS JUIZADOS ESPECIAIS.

3. Nas Subseções Judiciárias em que não exista Juizado Especial funcionando


de forma autônoma, deverá, no entanto, funcionar de forma adjunta, pois
as Varas que compõe as Subseções possuem tanto as competências gerais
como as específicas dos Juizados Especiais.

4. Conflito de competência conhecido para declarar competente o juízo


suscitado.

(TRF1, CC 2007.01.00.057001-9/BA, Rel. Desembargador Federal Olindo


Menezes, Conv. Juiz Federal César Cintra Fonseca (conv.), Segunda Seção,e-
DJF1 p.18 de 10/03/2008)

2.13. Competência da Justiça Federal

2.13.1. Características
A competência da Justiça Federal é constitucional e taxativa, não comportando ampliação,
alteração ou redução por norma infraconstitucional. Ela está prevista no art. 108 (competência

16
Súmula 16, TNU: “Não há renúncia tácita no Juizado Especial Federal, para fins de competência”.
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83

recursal) e 109 da CR/88, e é fixada em razão da matéria e da pessoa (Didier acrescenta que
ela também é fixada com base em critérios funcionais).

A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL É ABSOLUTA, MAS, INTERNAMENTE, OS CRITÉRIOS


DETERMINADORES DE COMPETÊNCIA SÃO OS CRITÉRIOS NORMAIS, ou seja, competência em
razão da matéria, competência em razão da pessoa, competência em razão do valor da causa,
competência territorial e competência funcional. Esses critérios definem a competência
interna entre os vários juízes federais competentes. Mas a competência é sempre da Justiça
Federal.

2.13.2. Competência em Razão da Pessoa

2.13.2.1. Art. 109, I


Assim dispõe referido dispositivo:

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública


federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou
oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à
Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Esse artigo cuida essencialmente de causas cíveis, inclusive mandados de segurança impetrado
por um desses entes em face de ato de autoridade estadual ou municipal, excetuadas as
hipóteses em que estas autoridades tiverem foro privilegiado fixado na CR. Nesses casos, a
competência poderá ser do TRF, STJ ou STF.

A jurisprudência é pacífica em incluir as fundações federais como aptas a ensejar a


competência da Justiça Federal (por terem natureza de autarquia), sendo certo também que
as sociedades de economia mista constituídas pela União têm suas causas julgadas perante a
Justiça estadual.

Todas as causas que envolverem conselhos de fiscalização profissional devem tramitar perante
a Justiça Federal (pois são autarquias), inclusive a OAB, autarquia sui generis, segundo o STF,
cujas ações são propostas perante a Justiça Federal ainda que propostas por seccionais, ou
contra elas.

A simples presença do MPF na demanda não é motivo suficiente para afirmar a competência
federal, devendo a norma ser interpretada restritivamente17. Porém, sempre que for ACP
proposta pelo MPF, a competência será da JF:

A competência cível da Justiça Federal é definida ratione personae,


consoante o art. 109, I, da Carta Magna de 1988. Consectariamente, a
propositura de Ação Civil Pública pelo Ministério Público Federal, órgão da
União, conduz à inarredável conclusão de que somente a Justiça Federal
está constitucionalmente habilitada a proferir sentença que vincule tal
órgão, ainda que negando a sua legitimação ativa, a teor do que dispõe a

17
Isso porque se a causa não for de competência da Justiça Federal, não possui o MPF legitimidade
para atuar no feito. Caberá ao MPE. Por isso que deve ser analisado caso a caso se a ação ajuizada
pelo MPF é ou não passível de ter seguimento perante a JF.
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84

Súmula 150/STJ.” STJ, rel. Min. Herman Benjamin, RESP 1.060.759/AC,


18/08/2009) “Por se tratar de órgão da União, o ajuizamento da ação pelo
Ministério Público Federal é suficiente para determinar a competência da
Justiça Federal (art. 109, I, da Constituição), o que não afasta a necessidade
de verificação, pelo juiz, da legitimidade ad causam”.

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES CIVIS PÚBLICAS PROPOSTAS


PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E ESTADUAL. CONSUMIDOR.
CONTINÊNCIA ENTRE AS AÇÕES. POSSIBILIDADE DE PROVIMENTOS
JURISDICIONAIS CONFLITANTES. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

1. A presença do Ministério Público federal, órgão da União, na relação


jurídica processual como autor faz competente a Justiça Federal para o
processo e julgamento da ação (competência 'ratione personae')
consoante o art. 109, inciso I, da CR/88.

2. Evidenciada a continência entre a ação civil pública ajuizada pelo


Ministério Público Federal em relação a outra ação civil pública ajuizada na
Justiça Estadual, impõe-se a reunião dos feitos no Juízo Federal.

3. Precedentes do STJ: CC 90.722/BA, Rel. Ministro José Delgado, Relator p/


Acórdão Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, DJ de 12.08.2008;
CC 90.106/ES, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, DJ de
10.03.2008 e CC 56.460/RS, Relator Ministro José Delgado, DJ de
19.03.2007.

4. DECLARAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL DA 15ª VARA CÍVEL


DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO PARA O JULGAMENTO DE
AMBAS AÇÕES CIVIS PÚBLICAS.

5. CONFLITO DE COMPETÊNCIA JULGADO PROCEDENTE.

(STJ, CC 112.137/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,


SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/11/2010, DJe 01/12/2010)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL. COMPETÊNCIA DA


JUSTIÇA FEDERAL. VIOLAÇÃO DO ART. 333, I, DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA.

1. Na ação civil pública ambiental em que o Ministério Público Federal seja


o autor, a competência é da Justiça Federal (art. 109, I, e § 3º, da CR).

2. "Aquele que cria ou assume o risco de danos ambientais tem o dever de


reparar os danos causados e, em tal contexto, transfere-se a ele todo o
encargo de provar que sua conduta não foi lesiva." (REsp 1.049.822/RS, Rel.
Min. Francisco Falcão, Primeira Turma, julgado em 23.4.2009, DJe
18.5.2009.) Agravo regimental improvido.

(STJ, AgRg no REsp 1192569/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,


SEGUNDA TURMA, julgado em 19/10/2010, DJe 27/10/2010)

Somente o juiz federal poderá avaliar a existência de interesse jurídico de um desses entes.

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85

Súmula 224, STJ: “Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a
declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito”.

Súmula 254, STJ: “A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não
pode ser reexaminada no Juízo Estadual”. A base do raciocínio é simples. Compete à Justiça
Federal, e não a qualquer outra, dizer do interesse de ente federal a que intervenha no feito. E
a palavra da Justiça Federal é a última no tema, cabendo à Justiça Estadual apenas dar
prosseguimento ao feito, caso negada a intervenção do ente federal pela Justiça Federal. Em
resumo: se a Justiça Federal excluir o ente federal da lide, remetendo os autos à Justiça
Estadual, é preciso ressaltar duas conclusões: 1) não caberá suscitar conflito de competência;
2) a Justiça Estadual não poderá rever a decisão.

Súmula 270, STJ: “O protesto pela preferência de crédito, apresentado por ente federal em
execução que tramita na Justiça Estadual, não desloca a competência para a Justiça Federal”.
O fundamento de que partiu o STJ para assim decidir, seguindo a linha do que já deduzia o
extinto Tribunal Federal de Recursos, é o de que nessas hipóteses não há a intervenção do
ente federal como autor, réu, assistente ou opoente, o que faria atrair o art. 109, I, da CR/88.
Na verdade, tem-se uma simples intervenção em execução que corre na Justiça Estadual, para
solicitar preferência de crédito, o que, à míngua de expressa determinação constitucional, não
retira a competência dela (STJ; CC 1576; j. em 27.05.91).

A Lei nº 9.649, art. 58, § 8º, dizia competir à Justiça Federal a apreciação de controvérsias que
envolvessem os Conselhos de Fiscalização de Profissões, quando no exercício dos serviços a ele
delegados. Porém, o STF (ADIN 1.717), entendeu que toda causa que envolver Conselho de
Fiscalização Profissional, ainda que o Regional, deve tramitar na Justiça Federal18. Neste
sentido, há decisão do STJ no CC 69839/SP, rel, Min. Humberto Martins, 1ª Seção, 22/11/2006:
“1. O Supremo Tribunal Federal, ao declarar a inconstitucionalidade do art. 58, § § 1º, 2º, 4º,
5º, 6º, 7º e 8º, da Lei nº 9.649/98, por ocasião do julgamento do mérito da ADIn 1.717-DF,
reconheceu que os serviços de fiscalização de profissões regulamentadas constituem atividade
típica do Estado, preservando, assim, a natureza de autarquias federais dos conselhos de
fiscalização profissional.

O Interesse

O dispositivo prevê que a União e as entidades devem participar do processo na qualidade de


autor, réu, opoente e assistente. A assistência pode ser tanto simples quanto litisconsorcial.
Apesar de não escrito no texto, incluem-se também a nomeação à autoria19, a denunciação à
lide e o chamamento ao processo (na verdade, qualquer forma de participação). Isso porque,
nessas hipóteses, a União ou suas entidades passarão a integrar a lide na condição de autoras
ou rés supervenientes, em litisconsórcio ou não.

18
Inclusive a OAB.
19
A nomeação à autoria pressupõe a concordância da União, se ela não concordar, a nomeação à
autoria não é realizada e o processo segue entre as partes originárias. Se o juiz entender que a União
devesse estar no processo, ele vai extinguir o processo por ilegitimidade das partes e vai determinar que
o autor ajuíze a demanda contra os verdadeiros legitimados.
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A Lei nº 9.469/97 determinou que a mera intervenção DA UNIÃO em qualquer processo em


que figurem como autoras ou rés autarquias, fundações, EP e SEM, já é suficiente para atrair a
competência da Justiça Federal, ainda que o interesse seja meramente econômico.

Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras
ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e
empresas públicas federais.

Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas


cuja decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica,
intervir, independentemente da demonstração de interesse jurídico, para
esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e
memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer,
hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão
consideradas partes.

As demais pessoas jurídicas de direito público também poderão intervir no processo. Porém,
SOMENTE HAVERÁ DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL, EM SENDO
ELAS FEDERAIS, SE INTERPUSEREM RECURSO.

Não obstante a doutrina ter esbravejado, defendendo que o interesse há de ser jurídico, o STJ
já pacificou o entendimento de que essa forma de intervenção é apta a levar o processo para a
Justiça Federal.

Para aprofundar o tema, vide item 5.5.1. A Lei nº 9.469/97 – Intervenção Anômala.

Se a demanda estiver tramitando perante a Justiça estadual e houver a intervenção de alguma


das pessoas aptas a ensejar a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, I da
CR/88, não é o juiz estadual quem deverá analisar se possui ou não competência; A MERA
INTERVENÇÃO JÁ OBRIGA O JUIZ ESTADUAL A ENVIAR OS AUTOS À JUSTIÇA FEDERAL, órgão
competente para analisar sobre o cabimento ou não de intervenção de tais sujeitos no
processo (salvo na intervenção anômala, na qual, repita-se, só há deslocamento automático
para a JF se houver recurso).

Súmula 150, STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que
justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.

Se houver alegação de incompetência absoluta em sede recursal, após prolatada sentença


pelo juízo estadual, a quem caberá julgar o recurso? Inegavelmente ao Tribunal de Justiça a
que está vinculado o órgão prolator da decisão, o qual deverá anular a sentença proferida e
remeter o processo ao juízo federal de primeiro grau se ela for reconhecida.

E se o processo for deslocado para a Justiça Federal e lá o juiz federal reconhecer a ausência de
interesse do interveniente, determinando o retorno dos autos à Justiça estadual? Nesse caso,
deve-se interpor agravo de instrumento para o TRF. Haverá um excepcional caso de um agravo
de instrumento correndo no TRF relativo a processo já remetido para a JE.

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87

2.13.2.1.1. Exceções: Falência, Acidentes de Trabalho e Causas Sujeitas à Justiça Eleitoral e à


Justiça do Trabalho
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO (NEGATIVO) DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA
FEDERAL E JUSTIÇA ESTADUAL. INSOLVÊNCIA CIVIL REQUERIDA PELA UNIÃO.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL PARA PROMOVER A EXECUÇÃO
CONCURSAL.

1. Nos termos do art. 109, I, da CF/88, aos juízes federais compete processar
e julgar "as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública
federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou
oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à
Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho" (grifou-se). NÃO OBSTANTE A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO TENHA EXCEPCIONADO A
INSOLVÊNCIA CIVIL, NÃO HÁ RAZÕES QUE JUSTIFIQUEM A ADOÇÃO
DE CRITÉRIO DISTINTO DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA ENTRE A
FALÊNCIA E A INSOLVÊNCIA CIVIL.

2. Corroboram esse entendimento: (a) o princípio estabelecido na Súmula


244 do extinto TFR ("a intervenção da União, suas autarquias e empresas
públicas em concurso de credores ou de preferência não desloca a
competência para a Justiça Federal"); (b) os precedentes da Segunda Seção
deste Tribunal: CC 9.867/MG, 2ª Seção, Rel. Min. Waldemar Zveiter, DJ de
20.2.95; REsp 292.383/MS, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito, DJ de 8.10.2001; REsp 45.634/MG, 4ª Turma, Rel. Min. Sálvio de
Figueiredo Teixeira, DJ de 23.6.97; (c) o entendimento doutrinário de Nelson
Nery Junior (e Rosa Maria de Andrade Nery), Humberto Theodoro Junior e
Cândido Rangel Dinamarco.

3. Destarte, ainda que se trate de insolvência requerida pela União, entidade


autárquica ou empresa pública federal, subsiste a competência do juízo
universal, sobretudo em razão das peculiaridades existentes no processo de
insolvência civil (processo concursal — aspecto em que se assemelha ao
processo de falência), ou seja, compete à Justiça Comum Estadual promover
a execução concursal, excluída a competência da Justiça Federal.

4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 2ª


Vara Cível e Criminal de Santana do Ipanema/AL, o suscitante.

(CC 117210/AL, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 09/11/2011, DJe 18/11/2011)

2.13.2.2. Art. 109, II


Assim dispõe referido dispositivo:

II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e


Município ou pessoa domiciliada ou residente no País;

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Ou seja, a partir da constatação de que é da União a atribuição de manter relações com


Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais (art. 21, I, CF), compete aos
Juízes Federais processar e julgar causas entre:

a) Estado estrangeiro e Município brasileiro;

b) Estado estrangeiro e pessoa fisica ou jurídica domiciliada ou residente no Brasil;

c) Organismo internacional e Município brasileiro;

d) Organismo internacional e pessoa fisica ou jurídica domiciliada ou residente no Brasil.

A redação ampla do dispositivo em comento (art. 109, lI) não serviu, segundo a doutrina e a
jurisprudência, para deslocar à Justiça Federal o julgamento de matéria trabalhista, eleitoral,
de falência e de acidente de trabalho, já excepcionadas pela regra geral de competência da
Justiça Federal contida no inciso I do art. 109 da CF.

A pessoa domiciliada ou residente no País pode ser física ou jurídica, não tendo sido feita
qualquer restrição.

Ademais, para a determinação da competência territorial, devem ser utilizados os critérios


previstos no CPC.

Não se pode confundir essa competência com a competência cível originária do STF prevista
no art. 102, I, e, da CR/88, de julgar litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional
e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território.

A Carta Magna criou ainda outra peculiaridade em relação às causas envolvendo Estado
estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no
Brasil. É que a sentença do Juiz Federal não possui recurso de apelação para o Tribunal
Regional Federal. Sua impugnação deve ser dirigida diretamente ao Superior Tribunal de
Justiça, por meio de recurso ordinário (art. 105, lI, c, CF).

A solução da controvérsia em face de Estado estrangeiro ou de organismo internacional


esbarra, entretanto, na imunidade de jurisdição conferida aos aludidos entes, que significa,
segundo compreensão mais recente do Supremo Tribunal Federal, a impossibilidade de
exercício de atos constritivos contra os mesmos. A execução do julgado, assim, dependerá de
aquiescência do vencido, ou de homologação da sentença brasileira no estrangeiro, ali
buscando-se sua realização.

2.13.2.3. Art. 109, VIII


Assim dispõe referido dispositivo:

VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de


autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais
federais;

Autoridade federal aqui deve ser interpretada em sentido amplo, que compreende tanto a
autoridade pública sctricto sensu e o agente de pessoa jurídica de direito privado no exercício
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de atribuições do Poder Público por delegação, tal como nos serviços públicos delegados pela
União.

SÚMULA VINCULANTE Nº 27: “COMPETE À JUSTIÇA ESTADUAL JULGAR CAUSAS ENTRE


CONSUMIDOR E CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO DE TELEFONIA, QUANDO A ANATEL
NÃO SEJA LITISCONSORTE PASSIVA NECESSÁRIA, ASSISTENTE, NEM OPOENTE”

Porém, importante ressaltar que, para que haja competência do juízo de primeiro grau federal,
deverá antes ser eliminada a competência originária dos Tribunais (TRF, STJ e STF).

No caso de mandado de segurança impetrado em face de dirigente de universidade particular,


a competência é da Justiça Federal, já que ele atua por delegação do MEC.

[...]

2. A Primeira Seção desta Corte, no julgamento do CC 38.130/SP, Rel. Min.


Teori Albino Zavascki, DJ de 13.10.2003, firmou entendimento no sentido de
que, em se tratando de ação diversa à do mandado de segurança, a
competência para o seu processamento e julgamento, quando se discute a
matrícula de aluno em entidade de ensino particular, é da Justiça Estadual,
portanto inexistentes quaisquer dos entes elencados no art. 109 da CF/88.

(AgRg no REsp 1274304/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA


TURMA, julgado em 17/04/2012, DJe 25/04/2012)

A competência é federal quando o mandando de segurança for contra universidade pública


federal ou universidade particular. Por outro lado, em ações contra universidades públicas
estaduais e municipais a competência é da Justiça Estadual.

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CAUTELAR. ATO DE


FACULDADE PRIVADA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

1. A Primeira Seção do STJ, no CC n. 108.466/RS, de Relatoria do Exmo.


Ministro Castro Meira, julgado em 10 de fevereiro de 2010, nos processos
que envolvem o ensino superior, fixou regras de competência em razão da
natureza do instrumento processual utilizado.

2. Em se tratando de mandado de segurança, a competência será federal,


quando a impetração voltar-se contra ato de dirigente de universidade
pública federal ou de universidade particular; ao revés, será estadual
quando o mandamus for impetrado contra dirigentes de universidades
públicas estaduais e municipais, componentes do sistema estadual de
ensino.

3. Se forem ajuizadas ações de conhecimento, cautelares ou quaisquer


outras de rito especial, que não o mandado de segurança, a competência
será federal quando a ação indicar no polo passivo a União ou quaisquer
de suas autarquias (art. 109, I, da CR/88); será de competência estadual,

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entretanto, quando o ajuizamento voltar-se contra entidade estadual,


municipal ou contra instituição particular de ensino.

4. In casu, trata-se de ação cautelar inominada ajuizada contra instituição


particular de ensino, o que fixa a competência da Justiça Estadual.

5. Recurso especial provido.

(STJ, REsp 1.195.580/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,


SEGUNDA TURMA, julgado em 10/08/2010, DJe 10/09/2010)

Por que disso? Pois as universidades particulares atuam por delegação da União. Logo, são
tidas como se pela União atuassem, motivo pelo qual o STJ (bizarramente) reconhece a
competência da JF.

Importante, entretanto, ter em mente que É A AUTORIDADE COATORA QUE DEFINE A


COMPETÊNCIA DO MS. Assim, não se deve considerar a pessoa do impetrante, somente o
impetrado. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA.


MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO PELA ORDEM DOS ADVOGADOS DO
BRASIL CONTRA ATO DE PREFEITO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO ESTADUAL.

1. A competência para processar e julgar mandando de segurança decorre


da categoria da autoridade coatora ou de sua sede funcional, e não da
natureza do ato impugnado ou da matéria ventilada no writ ou em razão
da pessoa do impetrante, consoante assente na jurisprudência da egrégia
Primeira Seção deste sodalício (Precedentes: (CC 98.289/PE, Rel. Ministro
CASTRO MEIRA, DJe 10/06/2009; CC 99.118/RS, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, DJe 27/02/2009; CC 97.722/AM, Rel. Ministro
BENEDITO GONÇALVES, DJe 24/11/2008; CC 97.124/SP, Rel. Ministro TEORI
ALBINO ZAVASCKI, DJe 20/10/2008; CC 50.878/AL, Rel. Ministro LUIZ FUX,
DJe 19/05/2008; CC 68.834/SC, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, DJ
01/02/2008; CC 47.219 - AM, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, DJe 03/04/2006;
CC 38.008 - PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, DJe 01/02/2006).

2. In casu, a competência da Justiça Estadual resta evidenciada, porquanto


o mandando de segurança em questão foi impetrado contra ato do
Prefeito do Município de Santo André.

3. Conflito conhecido para declarar competente o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO


ESTADO DE SÃO PAULO, o suscitado.

(STJ, CC 107.198/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em


28/10/2009, DJe 19/11/2009)

2.13.3. Competência Funcional

2.13.3.1. Art. 109, X, segunda parte


Assim dispõe referido dispositivo:

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X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a


execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira,
após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opção, e à naturalização;

Há quem defenda que essa competência é material, e não funcional. Porém, talvez seja mais
correto entender que se trata efetivamente de competência funcional, visto se constituírem
em fase posterior ao processo de homologação ou de concessão do exequatur.

Após regularmente internalizada pelo STJ a carta rogatória, deverá haver o ajuizamento da
ação competente de acordo com os critérios normais fixadores de competência, devendo-se
atentar para a natureza executiva dos procedimentos.

Porém, independentemente da matéria, que poderá até mesmo ser uma típica da Justiça
estadual, deverá o processo tramitar perante a Justiça Federal.

2.13.4. Competência em Razão da Matéria

2.13.4.1. Art. 109, III


Assim dispõe referido dispositivo:

III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado


estrangeiro ou organismo internacional;

É competência fixada em razão da causa de pedir, logo, da matéria. É irrelevante, aqui, a


indagação de quem são os sujeitos do litígio. Não há, portanto, qualquer necessidade da
presença de ente federal.

Inicialmente, deve-se compatibilizar esta previsão com aquela trazida pelo art. 102, e, da
Constituição Federal (que atribui ao Supremo Tribunal Federal o julgamento das causas entre
Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União).

Se a controvérsia ocorrer entre a União e Estado estrangeiro (ou organismo internacional),


ainda que fundada em tratado·ou contrato celebrado entre ambos, a competência originária
para a causa deve ser garantida ao STF, como previsto no art. 102, e, da CR.

É evidente que a regra do art.109, III, da CR, não precisaria ser editada para conferir aos juízes
federais a competência para julgar causas (originadas a partir de tratado ou contrato
celebrado pela União e Estado estrangeiro ou organismo internacional) entre a União (como
também a autarquia e a empresa pública federal) e qualquer pessoa de direito interno, pois a
aludida competência já se encontrava assegurada por força do inciso I do art. 109 da Carta
Magna.

Resta entender, assim, que a intenção constituinte dirigiu-se verdadeiramente a deslocar à


Justiça Federal as causas entre qualquer pessoa de direito público ou privado, desde que:

a) Fundadas em tratado ou contrato da União com Estado esfrangeiro ou organismo


internacional;

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b) Não envolvam, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional, e, de


outro, a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território.

Como exemplo desta hipótese, podese imaginar o conflito entre uma empresa brasileira e
outra argentina, onde uma das partes invoque regra de tratado internacional firmado no
âmbito do Mercosul como direito a ser aplicado no caso concreto. Ou de uma lide entre um
Estado-membro da federação e fornecedor nacional ou estrangeiro, que alegue obrigação
surgida para o adquirente por força de tratado normativo sobre relações de compra e venda
públicas.

Para mitigar a amplitude dessa competência, já que são inúmeras as matérias reguladas por
tratados internacionais, o STF e o STJ têm decidido que somente estarão afetas à
competência federal as causas QUE TENHAM POR OBJETO ESSENCIAL OBRIGAÇÕES
DERIVADAS DE DISPOSIÇÕES CONTIDAS NO PRÓPRIO TRATADO.

Por exemplo, os títulos de crédito estão definidos na LUG. Isso, no entanto, não basta para
configurar a competência da Justiça Federal para conhecer de qualquer causa que envolva tais
documentos representativos de obrigações.

Um bom exemplo de demanda que atrai a competência da JF é a ação de alimentos


internacionais, envolvendo sujeitos que estejam em países diversos, regulada pelo Decreto
Legislativo nº 10/58 e Decreto nº 56.826/65. Nesse tipo de causa, NECESSARIAMENTE SERÁ
INVOCADO O TRATADO COMO FUNDAMENTO DE DIREITO, o que mostra a sua imediata
relação com a lide.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. UNIVERSIDADE FEDERAL. REVALIDAÇÃO E


REGISTRO DE DIPLOMA ESTRANGEIRO. AÇÃO ORDINÁRIA FUNDADA EM
CONVENÇÃO E ACORDO INTERNACIONAIS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL COMUM.

1. A causa fundada em Convenção e Acordo Internacionais encontra-se


inserida no rol de exceções da regra que disciplina a competência do Juizado
Especial Federal (art. 3º, § 1º, I, da Lei nº 10.259/01).

2. De acordo com o art. 109, III, da Constituição da República, "as causas


fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou
organismo internacional" são da competência da Justiça Federal.

3. É competente a Justiça Federal Comum para a análise da ação ordinária


que busca a revalidação e registro de diploma estrangeiro, com base em
Convenção e Acordo Internacionais, como se deduz do exame conjunto
dos arts. 3º da Lei nº 10.259/01 e 109, da CR.

4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 3ª Vara


da Seção Judiciária do Estado do Maranhão, ora suscitado.

(STJ, CC 104.102/MA, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO,


julgado em 24/06/2009, DJe 01/07/2009)

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2.13.4.2. Art. 109, V-A


Assim dispõe referido dispositivo:

V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste


artigo;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Trata o dispositivo das graves violações aos direitos humanos. Ela somente pode ensejar o
deslocamento para a Justiça Federal da competência se o Procurador-Geral da República
suscitar incidente de deslocamento para a Justiça Federal perante o STJ, com a finalidade de
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte.

Por que se deslocar para a Justiça Federal? Pois é interesse da União, representanto da
República Federativa do Brasil, que ela não seja internacionalmente responsabilizada por
acontecimentos internos. Assim, desloca para órgão de sua estrutura.

Importante realizar as seguintes observações:

a) Se o STJ negar o pedido de deslocamento de competência, caberá recurso


extraordinário para o STF;

b) Não houve a criação de foro privilegiado, pois a causa será julgada, se deslocada,
perante a Justiça Federal de primeira instância;

c) Acolhido o pedido de deslocamento da competência, os atos até então praticados são


válidos, pois a autoridade era a competente;

d) O STJ tem considerado como pressuposto para a federalização da competência a


incapacidade das autoridades estaduais de desincumbirem-se de suas funções,
motivo pelo qual será exigido o contraditório, com a oitiva do juiz de direito e do
promotor de justiça, os quais poderão demonstrar que estão cumprindo
satisfatoriamente seus deveres e que é desnecessário o deslocamento.

IMPORTANTE: APESAR DE SER A PRIMEIRA IDEIA QUE VEM À CABEÇA, NÃO É SOMENTE
CAUSA DE NATUREZA PENAL QUE ATRAI ESSE DISPOSITIVO. A VIOLAÇÃO A DIREITOS
HUMANOS PODE MUITO BEM GERAR UMA CAUSA DE NATUREZA CÍVEL, QUE TAMBÉM
CORRERÁ, SE FOR O CASO DESSE DISPOSITIVO, PERANTE A JF.

O deslocamento de competência – em que a existência de crime praticado com grave violação


aos direitos humanos é pressuposto de admissibilidade do pedido – deve atender ao princípio
da proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito),
compreendido na demonstração concreta de risco de descumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência,
falta de vontade política ou de condições reais do Estado-membro, por suas instituições, em
proceder à devida persecução penal.

Importante esse julgado que acatou o pedido de deslocamento da competência:

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INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇAS ESTADUAIS


DOS ESTADOS DA PARAÍBA E DE PERNAMBUCO. HOMICÍDIO DE VEREADOR,
NOTÓRIO DEFENSOR DOS DIREITOS HUMANOS, AUTOR DE DIVERSAS
DENÚNCIAS CONTRA A ATUAÇÃO DE GRUPOS DE EXTERMÍNIO NA
FRONTEIRA DOS DOIS ESTADOS. AMEAÇAS, ATENTADOS E ASSASSINATOS
CONTRA TESTEMUNHAS E DENUNCIANTES. ATENDIDOS OS PRESSUPOSTOS
CONSTITUCIONAIS PARA A EXCEPCIONAL MEDIDA.

1. A teor do § 5.º do art. 109 da Constituição da República, introduzido pela


Emenda Constitucional n.º 45/2004, o incidente de deslocamento de
competência para a Justiça Federal fundamenta-se, essencialmente, em três
pressupostos: A EXISTÊNCIA DE GRAVE VIOLAÇÃO A DIREITOS HUMANOS;
O RISCO DE RESPONSABILIZAÇÃO INTERNACIONAL DECORRENTE DO
DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES JURÍDICAS ASSUMIDAS EM
TRATADOS INTERNACIONAIS; E A INCAPACIDADE DAS INSTÂNCIAS E
AUTORIDADES LOCAIS EM OFERECER RESPOSTAS EFETIVAS.

2. Fatos que motivaram o pedido de deslocamento deduzido pelo


Procurador-Geral da República: o advogado e vereador pernambucano
MANOEL BEZERRA DE MATTOS NETO foi assassinado em 24/01/2009, no
Município de Pitimbu/PB, depois de sofrer diversas ameaças e vários
atentados, em decorrência, ao que tudo leva a crer, de sua persistente e
conhecida atuação contra grupos de extermínio que agem impunes há mais
de uma década na divisa dos Estados da Paraíba e de Pernambuco, entre os
Municípios de Pedras de Fogo e Itambé.

3. A existência de grave violação a direitos humanos, primeiro pressuposto,


está sobejamente demonstrado: esse tipo de assassinato, pelas
circunstâncias e motivação até aqui reveladas, sem dúvida, expõe uma lesão
que extrapola os limites de um crime de homicídio ordinário, na medida em
que fere, além do precioso bem da vida, a própria base do Estado, que é
desafiado por grupos de criminosos que chamam para si as prerrogativas
exclusivas dos órgãos e entes públicos, abalando sobremaneira a ordem
social.

4. O risco de responsabilização internacional pelo descumprimento de


obrigações derivadas de tratados internacionais aos quais o Brasil anuiu
(dentre eles, vale destacar, a Convenção Americana de Direitos Humanos,
mais conhecido como "Pacto de San Jose da Costa Rica") é bastante
considerável, mormente pelo fato de já ter havido pronunciamentos da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com expressa
recomendação ao Brasil para adoção de medidas cautelares de proteção a
pessoas ameaçadas pelo tão propalado grupo de extermínio atuante na
divisa dos Estados da Paraíba e Pernambuco, as quais, no entanto, ou
deixaram de ser cumpridas ou não foram efetivas. Além do homicídio de
MANOEL MATTOS, outras três testemunhas da CPI da Câmara dos
Deputados foram mortos, dentre eles LUIZ TOMÉ DA SILVA FILHO, ex-
pistoleiro, que decidiu denunciar e testemunhar contra os outros
delinquentes. Também FLÁVIO MANOEL DA SILVA, testemunha da CPI da

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Pistolagem e do Narcotráfico da Assembleia Legislativa do Estado da


Paraíba, foi assassinado a tiros em Pedra de Fogo, Paraíba, quatro dias após
ter prestado depoimento à Relatora Especial da ONU sobre Execuções
Sumárias, Arbitrárias ou Extrajudiciais. E, mais recentemente, uma das
testemunhas do caso Manoel Mattos, o Maximiano Rodrigues Alves, sofreu
um atentado a bala no município de Itambé, Pernambuco, e escapou por
pouco. Há conhecidas ameaças de morte contra Promotores e Juízes do
Estado da Paraíba, que exercem suas funções no local do crime, bem assim
contra a família da vítima Manoel Mattos e contra dois Deputados Federais.

5. É notória a incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer


respostas efetivas, reconhecida a limitação e precariedade dos meios por
elas próprias. Há quase um pronunciamento uníssono em favor do
deslocamento da competência para a Justiça Federal, dentre eles, com
especial relevo: o Ministro da Justiça; o Governador do Estado da Paraíba; o
Governador de Pernambuco; a Secretaria Executiva de Justiça de Direitos
Humanos; a Ordem dos Advogados do Brasil; a Procuradoria-Geral de Justiça
do Ministério Público do Estado da Paraíba.

6. As circunstâncias apontam para a necessidade de ações estatais firmes e


eficientes, as quais, por muito tempo, as autoridades locais não foram
capazes de adotar, até porque a zona limítrofe potencializa as dificuldades
de coordenação entre os órgãos dos dois Estados. Mostra-se, portanto,
oportuno e conveniente a imediata entrega das investigações e do
processamento da ação penal em tela aos órgãos federais.

7. Pedido ministerial parcialmente acolhido para deferir o deslocamento de


competência para a Justiça Federal no Estado da Paraíba da ação penal n.º
022.2009.000.127-8, a ser distribuída para o Juízo Federal Criminal com
jurisdição no local do fato principal;

bem como da investigação de fatos diretamente relacionados ao crime em


tela. Outras medidas determinadas, nos termos do voto da Relatora.

(STJ, IDC 2/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
27/10/2010, DJe 22/11/2010)

2.13.4.3. Art. 109, XI


Assim dispõe referido dispositivo:

XI - a disputa sobre direitos indígenas.

Como é cediço, a mera presença de indígena como parte da demanda não é suficiente para a
aplicação desse dispositivo. É necessário que a situação seja relevante para toda a coletividade
indígena. Seria o caso, por exemplo, de ação civil pública em favor de indígenas.

PROCESSUAL PENAL - AÇÃO PENAL - ARTS. 147, 214, C/C ART. 224, A E 225,
§ 1º, II, DO CP - ART. 7º, I E II DA LEI 11.340/2006 - ART. 59 DA LEI 6001/1973
- AUSÊNCIA DE OFENSA A INTERESSES COLETIVOS DA COMUNIDADE
INDÍGENA - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL - RECURSO IMPROVIDO.
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I - A competência constitucional da Justiça Federal para julgar disputa


sobre direitos indígenas deve ser interpretada restritivamente, limitando-
se a situações em que, de fato, interesses coletivos da comunidade
indígena estejam em risco ou tenham sido lesados. Precedentes.

II - "O crime perpetrado em desfavor de índios determinados, não sendo o


caso de afetação de interesses da coletividade dos povos indígenas, não
conduz à especializada competência da Justiça Federal - inteligência da
Súmula 140 desta Corte. (...)" (STJ, HC 200700274938, Maria Thereza de
Assis Moura, 6ª Turma, 12/04/2010)

III - A prática delituosa em apuração não atinge interesses da comunidade


indígena, de modo a afastar a competência da Justiça Federal para processar
e julgar o feito.

IV - Recurso improvido.

(TRF1, RSE 0001562-91.2010.4.01.3310/BA, Rel. Desembargadora Federal


Assusete Magalhães, Conv. Juiz Federal Murilo Fernandes De Almeida
(conv.), Terceira Turma,e-DJF1 p.86 de 11/02/2011)

CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. PEDIDO


DE INDENIZAÇÃO CONTRA INDÍGENAS. AUSÊNCIA DE INTERESSES
INDÍGENAS ENQUANTO COMUNIDADE SOB PROTEÇÃO DA UNIÃO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

1. Trata-se de Ação Ordinária proposta, no âmbito da justiça estadual, em


face de indígenas, em que se busca a reparação por danos morais e
materiais. Alega o autor que se encontrava passando pela Rua Curitiba c/c T-
11 quando parou para ajudar um conhecido, oportunidade em que foi
colhido pelo veículo Toyota, de propriedade do primeiro réu e conduzido
pelo segundo, que trafegava em alta velocidade, sendo imprensado contra
uma caçamba e tendo a bacia quebrada e a perna direita amputada.

2. A sentença julgou parcialmente procedente o pedido inicial para


condenar os réus a indenizarem o requerente.

3. A parte autora apelou alegando que o valor da indenização deveria ser


majorado, uma vez que o acidente resultou na perda de um membro,
gerando grande prejuízo patrimonial e moral a este.

4. O TJRO, apreciando o recurso de apelação, julgou-se incompetente, e


remeteu o feito a esta Corte.

5. Ao mencionar "a disputa sobre direitos indígenas" como sendo da


competência da Justiça Federal, a CR (art. 109, XI) o faz para abranger as
questões surgidas em torno da cultura dessas comunidades, tais como sua
organização social, seus costumes, línguas, crenças e tradições; sobretudo
as questões relacionadas aos direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam.

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6. Súmula 140 do STJ: "Compete à Justiça Comum Estadual processar e


julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima."

7. Desta forma, tampouco deve uma pretensão indenizatória movida contra


indígenas, em razão de acidente automobilístico, ser processada e julgada
pela Justiça Federal, vez que tal litígio, assim como os crimes em que índio
figura como autor ou vítima, não envolve interesses indígenas enquanto
comunidade sob proteção da União.

8. Reconhecida, de ofício, a incompetência da Justiça Federal, com a


determinação da remessa dos autos ao eg. Tribunal de Justiça do Estado de
Rondônia.

(TRF1, AC 2000.01.99.087880-6/RO, Rel. Desembargadora Federal Selene


Maria De Almeida, Conv. Juiz Federal Avio Mozar Jose Ferraz De Novaes,
Quinta Turma,DJ p.95 de 16/10/2006)

2.13.4.4. Art. 109, X, parte final


Assim dispõe referido dispositivo:

X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a


execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira,
após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opção, e à naturalização;

As controvérsias versando sobre quaisquer dessas questões, assim, encontrarão na Justiça


Federal o ramo do Poder Judiciário apto a dirimí-Ias (exceto quando se tratar de mandado de
segurança contra ato de Ministro de Estado, onde o Superior Tribunal de Justiça será
originariamente competente -art. 105, I, b). É o caso da declaração da perda da nacionalidade
brasileira daquele que "tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de
atividade nociva ao interesse nacional" (art. 12, §4°, 1). Vladimir Souza Carvalho, explicitando
serem as controvérsias relativas à nacionalidade de natureza cível (não penal), elenca ainda as
ações para concessão de passaporte, para registro de nacionalidade brasileira, para declaração
de direito não vedado a estrangeiro, dentre outras.

A ação para a perda de nacionalidade por atividade nociva ao interesse nacional é proposta
pelo Ministério Público Federal (LC 75/93, art. 6°, IX), e seu rito é previsto pela Lei nº 818/49.
Nela, o réu é citado para ser qualificado em audiência, após a qual terá cinco dias para
oferecer alegações escritas, requerer diligências e indicar o rol de testemunhas. Realizada a
instrução, e ultrapassada a fase de diligências, o MPF e o réu terão o prazo de três dias cada
um para alegações finais, seguindo-se a sentença do juiz, da qual cabe apelação apenas no
efeito devolutivo.

Mesmo alguns procedimentos de jurisdicão voluntária foram constitucional e legalmente


previstos de modo expresso. É o caso da opção pela nacionalidade brasileira, onde serão
considerados brasileiros natos "os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer
tempo, pela nacionalidade brasileira” (art. 12, I, c). Também a aquisição da nacionalidade

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brasileira derivada (naturalização) envolve procedimento legal que envolve a participação do


juiz federal (art. 12, 11, a e b), eventualmente através da forma de opção ["quando um dos
pais for estrangeiro, residente no Brasil a serviço de seu governo, e o outro for brasileiro, o
filho, aqui nascido, poderá optar pela nacionalidade brasileira na forma do art. 129, 11, da
Constituição (de 1946) -Lei 818/49, art.2°".]

Quanto à opção que garante a nacionalidade brasileiraorigináriaao optante nos termos do art.
12, I, c, da CF, é este o modo utilizado por estrangeiro não registrado em consulado brasileiro
no exterior (caso este em que seria desnecessária a opção). A opção é homologada, por
sentença, pelo juiz federal, após ser protocolada e autuada petição para este fim, ouvindo-se o
Ministério Público Federal, em cinco dias, sem necessidade de audiência. Há recurso de oficio
ao Tribunal Regional Federal, que, observados os requisitos próprios, e confirmando a
sentença homologatória, determina o retorno dos autos ao juízo de origem, onde os mesmos
são entregues ao requerente para inscrição da opção no registro civil de pessoas naturais.

A opção relativa à aquisição de nacionalidade derivada é prevista no art. 2° da Lei 818/49, e


não deve haver dúvida quanto à existência desse segundo modo de opção, ou quanto à
espécie de nacionalidade que confere, já que a Constituição permitiu a aquisição de
nacionalidade derivada "na forma da lei" (art. 12, 11, a)6. O procedimento no âmbito da Justiça
Federal, no caso, é idêntico ao previsto para a opção cuidada no art. 12, I, c, da Constituição
Federal.

A naturalização também pode ocorrer por processo diverso da opção cuidada no art. 2° da Lei
818/49, e é o que mais geralmenfe acontece. A participação do juiz federal é também bastante
diversa daquela ocorrente no rito da opção. A atribuição da nacionalidade derivada dá-se, in
casu, por Portaria do Ministro da Justiça, no uso do poder discricionário reservado à
Administração. Consuma-se com a entrega do certificado de naturalização ao naturalizando,
entrega esta que é feita pelo juiz federal da 1º Vara onde o naturalizando tenha domicílio (Lei
6.815/80, art. 119).

Importante ter em mente o seguinte: apesar de o art. 110 do Estatuto do Estrangeiro prever
que cabe ao juízo da 1ª Vara Federal promover a solenidade de entrega do certificado de
naturalização à pessoa, as ações sobre esses temas estão sujeitas à livre distribuição, não
sendo caso de competência necessária desse juízo.

Assim, se o MPF ajuizar uma ação de cancelamento de naturalização, deve-se distribuir.

2.13.5. Competência Territorial da Justiça Federal


A Justiça Federal se organiza em Regiões, atualmente no número de 05, sendo que em cada
uma delas presentes estão seções judiciárias, no mínimo uma por Estado, com sede na capital,
podendo haver ainda uma série de subseções judiciárias no interior.

Art. 109, CR/88

[..]

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§ 1º - As causas em que a União for autora serão aforadas na seção


judiciária onde tiver domicílio a outra parte.

§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção


judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o
ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou,
ainda, no Distrito Federal.

Apesar do texto do § 1º se referir apenas a seção judiciária, evidentemente deve-se incluir a


possibilidade de ajuizamento da ação na subseção judiciária do domicílio da parte.

Relativamente à União como ré, há verdadeira competência concorrente territorial, podendo


o autor escolher onde proporá a ação. Se o local onde ele reside não for sede de Vara Federal,
terá que ir para a Vara Federal que abrange aquele local.

O art. 109, § 2º, da Constituição deixou exclusivamente a critério do autor a escolha do juízo
no qual pretende propor a demanda, dentre aqueles nele previstos, sem estabelecer nenhuma
ressalva quanto a essa opção. Assim, ela acabou por permitir ao autor ajuizar a ação em face
da União em quatro locais diferentes:

a) Perante as Varas Federais do juízo federal de seu domicílio se houver;

b) Perante as Varas Federais da Capital do Estado;

c) Perante as Varas Federais onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à
demanda ou onde esteja situada a coisa;

d) Perante as Varas Federais do Distrito Federal.

EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Ações propostas


contra a União. Competência. Justiça Federal. 1. A jurisprudência desta
Corte firmou entendimento no sentido de que a parte autora pode optar
pelo ajuizamento da ação contra a União na capital do Estado-membro,
mesmo quando instalada Vara da Justiça Federal no município do mesmo
Estado em que domiciliada. 2. Agravo regimental não provido.

(RE 641449 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em
08/05/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-106 DIVULG 30-05-2012 PUBLIC
31-05-2012)

Se houver litisconsórcio ativo, caberá a regra do art. 94 do CPC. Vide:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. COMPETÊNCIA TERRITORIAL. AÇÃO


CONTRA A UNIÃO. LITISCONSÓRCIO ATIVO FACULTATIVO. AUTORES COM
DIFERENTES DOMICÍLIOS.

1. Proposta ação contra União Federal, a Constituição da República, art. 109,


§ 2º possibilita-se à parte autora o ajuizamento no foro de seu domicílio.

2. Sendo o polo ativo da demanda constituído por autores litisconsorciados


com diferentes domicílios, faz-se necessária a aplicação análoga e inversa da
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norma de competência expressa no CPC, art. 94, § 4º, possibilitando, a


demanda da União no foro de qualquer um deles à sua escolha. Caso em
que a competência se estende a todos os integrantes do litisconsórcio.

3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 4ª


Vara da Seção Judiciária do Estado do Paraná.

(STJ, CC 29.274/PR, Rel. Ministro EDSON VIDIGAL, TERCEIRA SEÇÃO, julgado


em 14/02/2001, DJ 12/03/2001, p. 87)

Importante relevar que os dispositivos (§ § 2º e 3º) se referem apenas à União, não se


manifestando sobre a competência territorial para julgar as causas intentadas contra
fundações, autarquias e empresas públicas. Nesses casos, deve-se seguir a regra de
competência do CPC, já que as entidades não têm procuradores lotados em todas as seções,
diferentemente da representação da União pela AGU. Essa é a interpretação da maioria da
doutrina, como Daniel Assumpção etc.

Súmula 689, STF: “O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o
Juízo Federal do seu domicílio ou nas varas federais da capital do Estado-Membro”.

Por fim, colaciono os seguintes julgado:

O rol de situações contempladas no § 2º do art. 109 da Carta Federal, a


ensejar a escolha pelo autor de ação contra a União, É EXAUSTIVO.
Descabe conclusão que não se afine com o que previsto
constitucionalmente – por exemplo, a possibilidade de a ação ser ajuizada
na capital do Estado.” (RE 459.322, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em
22-9-2009, Primeira Turma, DJE de 18-12-2009.)

Os litisconsortes, nas ações contra a União, podem optar pela propositura


da ação no domicílio de qualquer deles.” (RE 484.235-AgR, Rel. Min. Ellen
Gracie, julgamento em 25-8-2009, Segunda Turma, DJE de 18-9-2009.) Vide:
RE 234.059, Rel. Min. Menezes Direito, julgamento em 2-9-2008, Primeira
Turma, DJE de 21-11-2008

O art. 109, § 2º, da CR, não impede a formação de litisconsórcio ativo de


autores domiciliados em Estados-membros diversos daquele em que
ajuizada a causa. Aos litisconsortes é facultada a opção pela propositura da
ação em qualquer das possibilidades previstas no dispositivo
constitucional.” (RE 234.059, Rel. Min. Menezes Direito, julgamento em 2-9-
2008, Plenário, DJE de 21-11-2008.) Vide: RE 484.235-AgR, Rel. Min. Ellen
Gracie, julgamento em 25-8-2009, Segunda Turma, DJE de 18-9-2009

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. SERVIDOR


PÚBLICO. AÇÃO CONTRA A UNIÃO. COMPETÊNCIA. SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA.
AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. O Juízo Federal da Subseção Judiciária em que é domiciliado o autor da


ação é competente para processar e julgar a ação, e não o da capital do
Estado Membro. Precedente do Supremo Tribunal Federal e deste Tribunal
Regional Federal.

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2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AGA 2008.01.00.050490-4/MG, Rel. Juiz Federal Rodrigo Navarro De


Oliveira (conv.), Primeira Turma,e-DJF1 p.36 de 15/06/2010)

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO DE


INSTRUMENTO. FERROVIÁRIOS. AÇÃO PROPOSTA POR SEGURADO
DOMICILIADO UBERADA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL EM BELO
HORIZONTE. UNIÃO, INSS E REDE FERROVIÁRIA FEDERAL NO POLO PASSIVO
DA DEMANDA. ART. 109, § 2º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SÚMULA 689 do
STF.

1. Em se tratando de competência territorial (relativa), não poderia o juiz, de


ofício, extinguir o feito sem resolução do mérito, a menos que provocado
oportunamente pela parte ré, não podendo, pelo mesmo fundamento,
excluir o litisconsorte ativo, sob o fundamento de possuir domicílio não
localizado na capital daquele Estado.

2. Inclusive, nos termos do § 2º do art. 109 da Constituição Federal de 1988,


bem assim da regra de competência expressa no art. 94, § 4º, do CPC, em
caso de litisconsórcio ativo facultativo, com autores domiciliados em locais
diversos, a ação movida contra a União Federal pode ser proposta no
domicílio de qualquer um dos litisconsortes.

3. Ainda, SENDO A DEMANDA PROPOSTA POR SEGURADO DA


PREVIDÊNCIA SOCIAL CONTRA, TAMBÉM, A AUTARQUIA PREVIDENCIÁRIA,
O AJUIZAMENTO DA AÇÃO PODE SER FEITO PERANTE AS VARAS FEDERAIS
DA CAPITAL DO ESTADO-MEMBRO. Reinclusão no polo ativo do autor José
Marciolino Marciano.

4. Estabelece a SÚMULA Nº 689 do STF: O segurado pode ajuizar ação


contra a instituição previdenciária perante o juízo federal do seu domicílio
ou nas varas federais da capital do Estado-Membro.

3. Agravo a que dá provimento, para reincluir no polo ativo dos autos


principais o autor José Marciolino Marciano.

(TRF1, AG 2005.01.00.004183-4/MG, Rel. Desembargador Federal Francisco


De Assis Betti, Segunda Turma,e-DJF1 p.49 de 15/01/2010)

2.13.5.1. A Competência Relativa das Subseções Judiciárias


A competência das Subseções judiciárias é territorialmente fixada, logo, é relativa. Não pode o
juiz, se ajuizada a ação em outra Subseção judiciária da mesma Seção, reconhecer de ofício a
incompetência, dependendo de exceção de incompetência relativa da parte. Nesse sentido:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL AJUIZADA


CONTRA DEVEDOR DOMICILIADO NO INTERIOR. INAPLICABILIDADE DO
PROVIMENTO COGER Nº 19/2005. DECLARAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA, DE
OFÍCIO, PELO JUÍZO DA CAPITAL. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA
RELATIVA.

[...]

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2. A competência territorial, que é de natureza relativa, carece de


provocação do interessado, por meio de exceção de incompetência, para
ser modificada.

3. A regra de ajuizamento de execução fiscal no domicílio do executado


define competência relativa, não podendo ser alterada de ofício.
Precedentes do STJ e desta Corte.

4. Conflito conhecido e julgado procedente, declarando-se competente o


Juízo suscitado, da 18ª Vara da Seção Judiciária da Bahia.

(TRF1, CC 2006.01.00.027010-7/BA, Rel. Desembargador Federal Antônio


Ezequiel Da Silva, Quarta Seção,DJ p.7 de 20/10/2006)

Entretanto, há vários casos em que o Tribunal expede provimento criando Varas e atribuindo a
elas competência sobre determinado território, no qual não existia Vara Federal (e continua a
não existir enquanto sede). Nesses casos, em que a Vara Federal é superveniente, pode o
processo continuar tramitando perante a Vara estadual em que estava:

PROCESSO CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIAÇÃO DE VARAS.


REDISTRIBUIÇÃO DE PROCESSOS.

A criação de novas varas não implica incompetência superveniente do juízo


em que se iniciou a ação. O art. 87 do Código de Processo Civil leva à
perpetuação do foro, em respeito ao princípio do juiz natural.

(TRF1, CC 0053794-19.2010.4.01.0000/MA, Rel. Juiz Tourinho Neto, Segunda


Seção,e-DJF1 p.85 de 28/01/2011)

No entanto, muitas vezes a criação da nova Vara ocorre exatamente para que haja
redistribuição de processos, otimizando a prestação jurisdicional. Nesse caso, tem-se
entendido inexistir ofensa a qualquer princípio processual:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO MONITÓRIA. POSSIBILIDADE


DE REDISTRIBUIÇÃO DAS AÇÕES AJUIZADAS ANTES DA INSTALAÇÃO DE
NOVAS VARAS FEDERAIS. APLICAÇÃO DO PROVIMENTO COGER 19/2005.
NÃO CARACTERIZAÇÃO DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA PERPETUAÇÃO DA
JURISDIÇÃO E DO JUIZ NATURAL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO.

1. O presente conflito negativo de competência que tem como suscitante o


Juízo da Vara Única da Subseção Judiciária de Manhuaçu/MG e como
suscitado, Juízo da Vara Única da Subseção Judiciária de Ipatinga/MG em
sede de ação monitória proposta pela Caixa Econômica Federal.

2. A ação originária foi proposta em 25/11/2010, antes da instalação da


Subseção Judiciária de Manhuaçu (instalada em 14/06/2011).

3. A jurisprudência desta Corte tem entendido que o Provimento COGER n.


19/2005 (que determinou a redistribuição, em razão da instalação de novas
varas federais, dos processos que se encontrassem em tramitação e que
fossem alcançados pela jurisdição territorial da nova vara) se aplica
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exatamente aos processos em tramitação no momento da instalação da


nova vara federal.

4. "A instalação de novas varas federais, regularmente criadas por lei,


autoriza a redistribuição dos feitos, no âmbito da competência territorial
antes fixada, não configurando, na espécie, nenhuma ofensa aos princípios
da perpetuação da jurisdição e do juiz natural." (CC 0019554-
33.2012.4.01.0000/MG, Rel. Desembargador Federal Souza Prudente,
Terceira Seção,e-DJF1 p.28 de 12/06/2012)

5. Correta a redistribuição dos processos à subseção judiciária recém


instalada, estabelecendo-se no caso um novo foro competente, que
apenas poderá ser considerado relativo em relação às demandas
propostas após sua instalação.

6. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo da Vara Única da


Subseção Judiciária de Manhuaçu/MG, o suscitante (CC 0019565-
62.2012.4.01.0000/MG, Relator DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE
MARIA DE ALMEIDA, TERCEIRA SEÇÃO, Publicação 31/07/2012 e-DJF1 P. 22,
Data Decisão 03/07/2012).

Porém, se a Vara Federal é criada no Município da pessoa, o juiz estadual que agia com
competência delegada deverá necessariamente declinar da competência, ante a
incompetência absoluta superveniente. Veja bem: a Vara Federal deve ter sido criada no
Município da pessoa, não sendo o caso de criação de Vara em outro Município, mas cuja
competência abranja ele.

E as Seções e Regiões, possuem competência territorial absoluta ou relativa?

Isso é complicado. Primeiro porque as Seções Judiciárias estão previstas na Constituição da


República, o que, em tese, seria caso de competência territorial absoluta:

Art. 110. Cada Estado, bem como o Distrito Federal, constituirá uma seção
judiciária que terá por sede a respectiva Capital, e varas localizadas segundo
o estabelecido em lei.

As Regiões dos TRF’s estão previstas na Constituição da República, art. 27, § 6º20, ADCT. Cabe
ao STF e ao STJ propor a criação de Tribunais Regionais Federais:

Art. 96 [...]

II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de


Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art.
169:

[...]

20
Art. 27 [...]
§ 6º - Ficam criados cinco Tribunais Regionais Federais, a serem instalados no prazo de seis meses a
contar da promulgação da Constituição, com a jurisdição e sede que lhes fixar o Tribunal Federal de
Recursos, tendo em conta o número de processos e sua localização geográfica.
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104

c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;

Relativamente às Seções, certamente a competência é relativa. No que se refere às Regiões, há


controvérsias. Pela fórmula geral, seria também relativa, visto que é competência territorial.

2.13.6. Juízo Estadual com Competência Federal


Previsão no seguinte diploma da Constituição da República:

Art. 109 [...]

[...]

§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio


dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de
previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara
do juízo federal, e, se verificada essa condição, a LEI poderá permitir que
outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual.

§ 4º - Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para


o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.

Súmula 689, STF: “O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o
juízo federal do seu domicílio ou nas varas federais da capital do Estado-membro”.

Porém, somente poderá o jurisdicionado propor a ação em seu domicílio, no juízo federal com
jurisidição sobre seu domicílio ou na capital, não em outro local. Vide:

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA


ABSOLUTA. AFORAMENTO PERANTE COMARCA ESTADUAL DISTINTA DO
DOMICÍLIO DA PARTE. ART. 109, § 3º, CR. EXTINÇÃO DO FEITO. 1. Segundo
interpretação jurisprudencial e à vista do contido no § 3º do artigo 109 da
CR, o segurado, cujo domicílio não seja sede de Vara Federal, poderá aforar
a ação previdenciária perante o Juízo Estadual da comarca de seu domicílio;
no Juízo Federal com jurisdição sobre o seu domicílio ou, ainda, perante
Varas Federais da capital do Estado-membro. 2. Optando o segurado por
ajuizar a contenda perante Juízo Estadual, TERÁ DE FAZÊ-LO EM RELAÇÃO
À COMARCA QUE SEJA DE SEU DOMICÍLIO, NÃO EM OUTRO JUÍZO
ESTADUAL ONDE NÃO RESIDA, como na hipótese presente, pois, em
relação a esse foro, não há competência delegada. É que, em se tratando
de conflito de competência estabelecido entre dois Juízes Estaduais,
somente um deles detém a delegação da competência federal, não havendo
falar em prorrogação de competência, nem em aplicação do princípio da
perpetuatio jurisdictionis, por estar-se diante de regra de competência
absoluta decorrente de norma constitucional (§ 3º do art. 109 da CR). (TRF4,
AC 2009.70.99.001717-0, Quinta Turma, Relator Fernando Quadros da Silva,
D.E. 15/03/2010)

O constituinte expressamente autorizou que as causas previdenciárias sejam julgadas no foro


do segurado ou beneficiário, se lá não houver sede da Justiça Federal. Nada impede,
entretanto, que o segurado opte por ajuizar a ação perante um juízo federal da capital, não
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obstante tenha domicílio no interior em que não haja vara federal; porém, não se lhe
autoriza demandar em outra cidade, perante juízo estadual, se em sua cidade houver vara
federal. Essa competência delegada abrange a competência do procedimento de justificação e
do de ausência para fins previdenciários.

A criação ulterior de sede de vara federal no Município implica deslocamento da causa para
o juízo federal, porque se trata de fato superveniente que altera competência absoluta.

Por fim, ressalta-se que o dispositivo autoriza ainda, qualquer que seja a causa (excetuadas,
por evidente, as hipóteses de ações originárias previstas na CR/88), que o legislador
infraconstitucional atribua competência ao juízo estadual para julgar feitos quando não for o
local sede da Justiça Federal.

Relativamente aos recursos, ainda que quem decida seja o juiz estadual, como ele está
investido de jurisdição Federal, os recursos são sempre para o TRF da região. Ele proferiu
uma decisão interlocutória, agravo de instrumento para o TRF. Ele proferiu sentença, apelação
para o TRF. Repita-se, os recursos são sempre dirigidos ao Tribunal Regional Federal daquela
região.

Se, no entanto, o juiz de direito não estiver investido de jurisdição federal, mas analisar
matéria federal, caberá ao TJ conhecer do recurso para anular a sentença. Nesse sentido:

MANDADO DE SEGURANÇA. RESTABELECIMENTO DO BENEFÍCIO DE


APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. IMPETRAÇÃO E SENTENÇA
PROLATADA EM VARA DA JUSTIÇA ESTADUAL. INCOMPETÊNCIA DO
TRIBUNAL FEDERAL PARA APRECIAÇÃO DE ATO DO JUIZ SENTENCIANTE.
COMPETÊNCIA. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 1. A Terceira Seção do colendo
Superior Tribunal de Justiça firmou jurisprudência no sentido de que a
delegação de competência inserta no art. 109, § 3.º, da Constituição da
República, não incide em mandado de segurança no qual é discutida matéria
previdenciária, sendo ainda aplicável o verbete da Súmula n. 216 do extinto
Tribunal Federal de Recursos. 2. NÃO INVESTIDO O JUÍZO DE DIREITO DE
JURISDIÇÃO FEDERAL, CABE À CORTE ESTADUAL ANALISAR OS RECURSOS
INTERPOSTOS CONTRA SUAS DECISÕES, AINDA QUE SEJA PARA ANULÁ-LAS
E REMETER O FEITO AO ÓRGÃO JUDICIÁRIO COMPETENTE. 3. ASSIM, CABE
AO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, E NÃO AO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL,
JULGAR APELAÇÃO DE SENTENÇA PROLATADA POR JUIZ DE DIREITO A ELE
VINCULADO, AINDA QUE SEJA PARA ANULAR A DECISÃO RECORRIDA, POR
INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA, E REMETER OS AUTOS À JUSTIÇA
COMPETENTE. 4. Determinada a remessa dos autos ao egrégio Tribunal de
Justiça de São Paulo. Apelação do INSS e remessa oficial prejudicadas no
âmbito do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região.

(TRF3, AMS 200103990477334, JUIZ CONVOCADO JOÃO CONSOLIM,


JUDICIÁRIO EM DIA - TURMA F, DJF3 CJ1 DATA:13/01/2011 PÁGINA: 645.)

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Nunca, entretanto, poderá o juiz estadual exercer competência delegada para julgar mandado
de segurança, já que o writ tem a competência determinada em função da pessoa, da
autoridade que comete o ato ilegal. Vide o seguinte julgado:

COMPETENCIA. MANDADO DE SEGURANÇA - JUIZ ESTADUAL. EXERCICIO DE


COMPETENCIA DELEGADA. NÃO ABRANGENCIA.

I - CONSOANTE O DISPOSTO NO ART. 108, II, DA CR/88, A UNICA HIPOTESE


EM QUE A SENTENÇA PROLATADA POR JUIZ ESTADUAL VEM A SER
EXAMINADA POR TRIBUNAL FEDERAL E A DE QUE AQUELE ESTEJA NO
EXERCICIO DE COMPETENCIA FEDERAL DELEGADA, AUTORIZADA PELO
PARAGRAFO 3. DO ART. 109 DA CR/88.

II - A COMPETENCIA PARA PROCESSAR E JULGAR MANDADO DE SEGURANÇA


CONTRA ATO DE AUTORIDADE FEDERAL, SEGUNDO O ART. 109, VIII, DA
CR/88, E DOS JUIZES FEDERAIS. NESSE SENTIDO, TAMBEM A SUMULA 216
DO EX-TFR.

III - CONFLITO DE QUE SE CONHECE PARA DECLARAR A COMPETENCIA DO


MM. JUIZO FEDERAL, ANULADA A SENTENÇA PROFERIDA PELO MM. JUIZO
ESTADUAL.

(CC 15.203/RS, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 12/12/1995, DJ 26/02/1996, p. 3910)

Mais esclarecedor ainda o seguinte julgado:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. MANDADO DE SEGURANÇA


IMPETRADO CONTRA AUTORIDADE FEDERAL CHEFE DE FISCALIZAÇÃO DA
AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO - ANP - LIMINAR CONCEDIDA POR JUÍZO
ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE. ANULAÇÃO. COMPETÊNCIA PARA
JULGAR O FEITO DE UMA DAS VARAS DA JUSTIÇA FEDERAL DO ESTADO DE
ALAGOAS.

1. Cuidam os autos de conflito de competência suscitado pelo TRF 5ª Região


nos seguintes termos: O Juiz de Direito da Comarca de São Sebastião não
tem competência para processar e julgar mandado de segurança impetrado
contra ato de autoridade federal, pois tal hipótese não se encontra nas
exceções previstas no § 3º do art. 109 da CR.

O Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas declarou-se incompetente para o


julgamento do agravo de instrumento interposto, mas não declarou a
nulidade do ato proferido pelo Juiz de Direito. Este Tribunal, por outro lado,
não tem jurisdição sobre o Juízo Estadual, para declarar, por incompetência
absoluta, a nulidade da decisão agravada. Em resumo: a) Compete ao Juízo
Federal de Alagoas processar e julgar mandado de segurança contra ato de
autoridade federal, domiciliado em sua jurisdição - art. 109, VIII, CR; b)
compete ao eg. Tribunal de Justiça de Alagoas decidir recurso interposto
contra ato de Juiz de Direito não investido de competência delegada, ainda
que para declarar a nulidade do ato recorrido. Diante do exposto, suscito o

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conflito de competência e determino a remessa dos autos ao Superior


Tribunal de Justiça.

2. A competência para julgar mandado de segurança impetrado contra


autoridade federal, in casu, o Chefe de Fiscalização da Agência Nacional do
Petróleo e Gerente Regional de Administração Fazendária, é da Justiça
Federal nos moldes do artigo 109, VIII, da Constituição da República.

3. "A regra que confere competência à Justiça Federal para julgamento de


mandado de segurança de autoridade federal não se submete à permissão
constitucional de delegação à Justiça Estadual comum do art. 109, § 3º da
Constituição da República de 1988, quando inexistir Vara Federal no local
de domicílio do Autor, porque se trata de competência rationae personae
de natureza absoluta e indelegável." 4. Este Superior Tribunal de Justiça
por exercer jurisdição sobre as justiças estadual e federal, possui
autoridade para, ao examinar conflito de competência, anular decisão
proferida por juiz absolutamente incompetente de qualquer dessas
justiças.

5. Conflito conhecido para declarar nula a decisão proferida pelo Juízo


estadual da Comarca de São Sebastião/AL e determinar a competência de
uma das Varas de Justiça Federal/AL para apreciar e julgar o presente feito.

(STJ, CC 85.217/PE, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado


em 10/10/2007, DJ 29/10/2007, p. 173)

Esse julgado do TRF1 é interessante, não sei, entretanto, se os juízes estaduais teriam a
mesma opinião:

PROCESSO CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. OAB. VIOLAÇÃO DE


PRERROGATIVAS PREVISTA NO CPP. SENTENÇA PROFERIDA POR JUIZO
ESTADUAL. APELAÇÃO ENCAMINHADA A ESTA CORTE POR TRIBUNAL
ESTADUAL QUE SE DECLARA INCOMPETENTE RATIONE PERSONAE.
COMPETÊNCIA FEDERAL. ANULAÇÃO DA SENTENÇA PELO TRF: CELERIDADE
E ECONOMIA PROCESSUAL: POSSIBILIDADE.

1. Nos termos do art. 109, I, da Constituição Federal de 1988, compete à


Justiça Federal o julgamento das causas ajuizadas pela Ordem dos
Advogados do Brasil.

2. Julgada a causa por Juízo Estadual, incompetente, caberia ao respectivo


Tribunal Estadual anular a sentença e determinar a remessa do feito ao Juízo
Federal competente.

3. Não estando o Juízo Estadual que proferiu a sentença recorrida, no


exercício de jurisdição federal, o Tribunal Regional Federal não é
competente para julgar o recurso contra ela interposto (Súmula 55/STJ).

4. PRECEDENTES DO STJ E DESTE TRIBUNAL ENTENDEM QUE, POR


QUESTÃO DE ECONOMIA PROCESSUAL E CELERIDADE DA PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL, PODE O TRIBUNAL REGIONAL ANULAR JULGADO DE JUÍZO
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INCOMPETENTE, SEM NECESSIDADE DE SUSCITAR CONFLITO DE


COMPETÊNCIA, DETERMINANDO A REMESSA DOS AUTOS AO JUÍZO
COMPETENTE PARA CONHECER DA LIDE.

5. Declaração, de ofício, da nulidade da sentença, em face da


incompetência do Juízo de Direito da 1ª Vara de Parnaíba, determinando a
remessa dos autos ao Juízo Federal competente para processar e julgar a
causa.

(TRF1, AMS 0002787-73.2011.4.01.4002/PI, Rel. Desembargador Federal


Carlos Olavo, Terceira Turma,e-DJF1 p.1209 de 10/02/2012)

2.13.6.1. Competência Delegada Prevista em Lei (Lei nº 5.010/66)


O art. 109, § 3º, da CR/88 permite que a lei delegue em outras hipóteses a competência para a
Justiça estadual, quando a comarca não for sede de vara federal.

Quais são as outras hipóteses que podem ser adotadas para a aplicação do § 3º? Você vai
encontrar no art. 15, I da lei 5.010/66 (é a lei que criou a Justiça Federal), as execuções fiscais
entram nesse rol. As execuções fiscais são ajuizadas pela União em face do particular. Em tese,
teriam que ser ajuizadas em Vara Federal, só que a lei autoriza a aplicação do art. 109, § 3º. As
execuções fiscais podem ser ajuizadas no foro do domicílio do executado. Teremos, aqui, um
caso em que o juiz estadual também estará investido de jurisdição federal.

EXECUÇÃO FISCAL AJUIZADA EM SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA NA QUAL NÃO É


SEDIADO O EXECUTADO. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DA VARA FEDERAL
INTERIORANA. JURISDIÇÃO FEDERAL DELEGADA.

Se o executado é domiciliado em comarca diversa da subseção federal em


que foi ajuizada a execução fiscal, ainda que o Município ou comarca
pertença à jurisdição da subseção judiciária, o ajuizamento deve respeitar o
domicílio do devedor (jurisdição federal delegada). A delegação de
competência aos juízos estaduais para processar e julgar executivo fiscal
contra devedor domiciliado em comarca que não é sede de vara federal (art.
109, § 3º, da CF/1988 e art. 15, I, da Lei 5.010/1966), É ERIGIDA À
CONDIÇÃO DE COMPETÊNCIA ABSOLUTA, ABRANGENDO AS AÇÕES
INCIDENTAIS. Precedentes. Maioria. (TRF1, 7T, AI 0006571-
02.2012.4.01.0000/PA, rel. Des. Federal Tolentino Amaral, em 28/02/2012.)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL. COMPETÊNCIA ABSOLUTA.


DOMICÍLIO DO DEVEDOR. AUSÊNCIA DE SEDE DE FORO FEDERAL.

O juízo estadual é absolutamente competente para processar execução


fiscal ajuizada contra devedor domiciliado em comarca que não seja sede de
vara federal, ainda que o juízo federal tenha jurisdição sobre o território em
que se localiza a comarca e independentemente da natureza da dívida
inscrita. Maioria. (TRF1, 1T, CC 0051539- 20.2012.4.01.0000/BA, rel. Des.
Federal Novély Vilanova, em 21/11/2012.)

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Se, no domicílio do executado, existir sedede Vara Federal, tem que ser na Vara Federal.
Mesma coisa do benefício previdenciário. Se, no domicílio do segurado ou beneficiário, existir
Vara Federal, tem que ser na Vara Federal.

É por isso que, às vezes, acontece o seguinte: você tem uma Comarca com competência para
benefício previdenciário, a Comarca aplica o art. 109, § 3º. Digamos, Nova Iguaçu, o juiz
Estadual estava investido de competência delegada, não tinha Vara Federal, só que, quando
avisaram que iam instalar Vara Federal na Comarca, o que os juízes estaduais fazem? Eles,
simplesmente, mandam estocar todos os processos para, assim que a Vara Federal for criada,
mandar tudo pra lá.

Então, quando eles criam a Vara Federal, eles já têm que se organizar com o Tribunal de
Justiça: “a partir de agora, nós pegamos, mas o que já estava com o juiz estadual continua”.
Porque se não eles vão parar de mexer nos processos e, assim que a Vara Federal for criada,
eles mandam quinze mil processos de um dia para o outro para lá.

Outra hipótese é a do II, do art. 15 da lei 5.010/66, é a HIPÓTESE ENVOLVENDO


JUSTIFICAÇÕES OU INTERPELAÇÕES OU NOTIFICAÇÕES QUE TENHAM COMO
FINALIDADE PRODUZIR PROVA PERANTE A ADMINISTRAÇÃO FEDERAL, TAMBÉM
PODEM FAZER PARTE DESSE ROL.

Você pode ajuizar a justificação no juiz estadual que ele está investido na jurisdição federal
para praticar os atos pertinentes para que você produza provas perante a administração
federal.

Nessas hipóteses, juiz estadual está investido de jurisdição federal. Nas outras, aplicamos os
parágrafos 1º e 2º, Vara Federal.

PROCESSUAL CIVIL – CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA – AÇÃO


ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL – CONEXÃO COM A CORRESPONDENTE
EXECUÇÃO FISCAL – ALCANCE DA COMPETÊNCIA FEDERAL DELEGADA (ART.
15, I, DA LEI N. 5.010/1.966) – PRECEDENTES.

1. É possível a conexão entre a ação anulatória e a execução fiscal, em


virtude da relação de prejudicialidade existente entre tais demandas,
recomendando-se o simultaneus processus.

2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que


competência federal delegada para processar a ação de execução fiscal
proposta pela Fazenda Nacional (art. 15, I, da Lei n. 5.010/66), SE ESTENDE
TAMBÉM PARA A OPOSIÇÃO DO EXECUTADO, SEJA ELA PROMOVIDA
POR EMBARGOS, SEJA POR AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DA
OBRIGAÇÃO OU DESCONSTITUTIVA DO TÍTULO EXECUTIVO.

[..]

(STJ, AgRg no CC 96.308/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 14/04/2010, DJe 20/04/2010)

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CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL. FAZENDA


NACIONAL. JUSTIÇA ESTADUAL. EMBARGOS DE TERCEIROS. CONEXÃO. ART.
1.049 DO CPC. ART. 15, I, LEI 5.010/66. ART. 109, § 3º CR/88. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. A DELEGAÇÃO DE QUE TRATA O ART. 15, I,
DA LEI 5.010, DE 1966, PREVISTA NO ART. 109, § 3º DA
CONSTITUIÇÃO, ABRANGE TAMBÉM AS AÇÕES PARALELAS À
EXECUÇÃO FISCAL PROMOVIDA PELA FAZENDA PÚBLICA FEDERAL,
POIS QUEBRARIA TODA A LÓGICA DO SISTEMA PROCESSUAL
DISTRIBUIR A JUÍZOS DIFERENTES A COMPETÊNCIA PARA A AÇÃO E
A COMPETÊNCIA PARA A OPOSIÇÃO. 2. Assim, por imposição do
sistema, é de se entender que o juiz de direito ao qual for delegada a
competência para a ação de execução, será também competente para as
ações decorrentes e anexas a ela. 3. Deve ser observado, também nesses
casos, o disposto no art. 1049 do CPC. 4. Conflito conhecido e declarada a
competência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, o suscitado.

(STJ, CC 34.513/MG, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 12/11/2003, DJ 01/12/2003, p. 255)

Outras hipóteses de conexão aptas a atrair o foro estadual delegado do federal são as ações
cautelares conexas ao objeto da execução fiscal federal que já corre perante o juízo estadual.
Nesse sentido:

COMPETÊNCIA. MEDIDA CAUTELAR FISCAL. COMARCA SEM VARA


FEDERAL. INTERESSE DE AGIR. EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO.
PARCELAMENTO POSTERIOR À CONSTRIÇÃO.

Em preliminar, a Turma decidiu que a incompetência relativa para


julgamento de medida cautelar fiscal deve ser arguida por meio de exceção,
no prazo da resposta, sob pena de a matéria ficar preclusa. No caso, a
cautelar foi ajuizada na Justiça Federal com competência territorial sobre a
comarca da sede da empresa. Por força do disposto no art. 109, § 3º, da CF
e art. 15, I, da Lei n. 5.010/1966, a Justiça estadual também seria
competente, por delegação, para apreciar a ação. Em outras palavras, por
tratar-se de competência federal delegada à Justiça estadual, os dois juízos
teriam competência para apreciar a matéria. Nesse contexto, se o
contribuinte tivesse o interesse de ser a ação processada no seu domicílio,
deveria apresentar exceção para que a incompetência territorial fosse
reconhecida. Como a arguição da incompetência foi feita fora do prazo da
resposta, ficou perpetuada a competência do juízo federal. Em outra
preliminar, a Turma entendeu que o parcelamento requerido após a
realização de constrição patrimonial e ajuizamento da execução fiscal não
afeta o interesse de agir do fisco. Assim, se a suspensão da exigibilidade do
crédito em razão do parcelamento for posterior à constrição, ou a garantia
permanece na medida cautelar fiscal, ou se transfere para a execução fiscal,
na qual poderá ser pleiteada a sua substituição, conforme a ordem prevista
no art. 655 do CPC. O que não pode ocorrer é o crédito tributário ficar sem
garantia alguma, já que a constrição foi realizada antes mesmo do pedido de

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parcelamento e já havia execução fiscal em curso. REsp 1.272.414-SC, 2T,


Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 24/4/2012.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CAUTELAR INCIDENTAL. CONEXÃO COM


EXECUÇÃO FISCAL. JUÍZO ESTADUAL. EXTENSÃO DA COMPETÊNCIA FEDERAL
DELEGADA.

A competência federal delegada para processar e julgar a ação de execução


fiscal proposta pela Fazenda Nacional, nos termos do art. 15, I, da Lei
5.010/1966, se estende ao processo cautelar ajuizado incidentalmente
quando há manifesta conexão entre os feitos. Maioria. (TRF1, 4S, CC
0006607-44.2012.4.01.0000/MG, rel. Des. Federal Leomar Amorim, em
14/03/2012.)

Porém, somente se aplica a lei quando for o ente federal exequente, e não o executado. Nesse
sentido:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL AJUIZADA POR


MUNICÍPIO CONTRA EMPRESA PÚBLICA FEDERAL. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL.

O art. 15, I, da Lei 5.010/1966, recepcionado pelo art. 109, § 3º da CF, prevê
hipótese de delegação de competência federal à justiça estadual
relativamente a executivos fiscais em que a União ou suas autarquias
figurem como exequentes. NÃO SE ENQUADRA NESSA DELEGAÇÃO A
EXECUÇÃO FISCAL PROMOVIDA POR MUNICÍPIO CONTRA EMPRESA
PÚBLICA FEDERAL. Precedentes. Unânime. (TRF1, CC 0032064-
15.2011.4.01.0000/BA, rel. Des. Federal Reynaldo Fonseca, em 05/10/2011.)

2.13.6.2. Conflitos em Sede Federal


Conflito entre juiz estadual e juiz federal, de quem é a competência para dirimir esse conflito?
Juiz estadual investido de jurisdição federal em conflito com juiz federal, de quem é a
competência para dirimir o conflito? TRF, porque, se o juiz estadual está investido de jurisdição
federal, o conflito com juiz federal só pode ser dirimido pelo TRF.

Se for conflito entre juiz estadual sem jurisdição federal e juiz federal, de quem é a
competência para dirimir o conflito? É do STJ. E se for entre juiz estadual que está negando ter
competência delegada e o juiz federal? Predomina entendimento de que a competência
também é do STJ.

Se o conflito for entre juiz federal e o TRF ao qual ele está subordinado, de quem é a
competência para dirimir o conflito? Não existe conflito, não pode existir conflito, esse juiz
cumpre a determinação desse Tribunal ao qual está subordinado.

Se for entre juiz federal e Tribunal ao qual ele não está sujeito, a competência é do STJ, é como
se fosse conflito entre Tribunais.

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2.14. Prorrogação ou Modificação da Competência

2.14.1. Conceito
As hipóteses de prorrogação de competência previstas no CPC aplicam-se exclusivamente às
regras de competência relativa (arts. 102 e 114, CPC). A única exceção fica por conta da tutela
coletiva, que permite a reunião de demandas conexas mesmo com a determinação de
competência absoluta do local do dano.

Havendo para uma determinada situação uma regra modificadora de competência, o órgão
jurisdicional que era abstratamente incompetente poderá no caso concreto se tornar
competente, enquanto aquele apontado como competente pela regra determinadora tornar-
se-á concretamente incompetente. Logo, isso é prorrogar a competência, fazer um órgão não
competente abstratamente ser competente concretamente, em função de uma hipótese
prevista em lei ou voluntária21.

Costuma-se dividir as espécies de prorrogação de competência em:

a) Prorrogação legal:

i. Por conexão;

ii. Por continência;

iii. Por ausência de oposição de exceção de incompetência relativa.

b) Prorrogação voluntária:

i. Cláusula de eleição de foro;

ii. Prorrogação por vontade unilateral do autor.

A conexão/continência preferem à ausência de oposição de exceção, que prefere à cláusula de


eleição de foro, nessa ordem, em caso de conflito das normas de prorrogação da competência.

2.14.2. Prorrogação Legal

2.14.2.1. Conexão e Continência

2.14.2.1.1. Conceito
Ambas são espécies de relação entre causas, quando elas não são idênticas (caso contrário
CONEXÃO E
haveria litispendência), mas são semelhantes em função de seus elementos.
CONTINÊNCIA SÃO FATOS, NÃO SE CONFUNDINDO COM OS EFEITOS
JURÍDICOS QUE PODEM GERAR (modificação da competência com reunião das causas
num mesmo juízo).

21
É diferente da prevenção da competência. O que é a prevenção da competência? Prevenção da
competência é o critério, é o meio utilizado para definir qual dentre os juízos competentes irá processar
e julgar as demandas conexas.
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É perfeitamente possível que exista conexão/continência sem a verificação de seus efeitos,


caso pendentes, v.g., causas conexas em juízos com competência absoluta distinta.

Embora tenham pressupostos diversos, elas têm idêntico tratamento normativo.

A conexão está prevista no art. 103, CPC:

Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o
objeto ou a causa de pedir.

O artigo, na verdade, define uma hipótese restrita de conexão. Porém, ela é incompleta, sendo
a conexão fenômeno mais amplo do que o legalmente posto. Existem as seguintes teorias:

a) Teoria tradicional: adotada pelo CPC.

b) Teoria de Carnelutti: para que as demandas sejam conexas, bastará que ambas sejam
sede de discussões acerca de determinadas razões de fato e de direito comuns.

c) Teoria materialista: defende que as causas são conexas quando decidirem mesma
relação de direito material, ainda que sob enfoques diversos. A consequência de sua
adoção é a garantia de julgamentos uniformes e a economia processual. É a teoria
adotada na prática e na jurisprudência.

A conexão ocorre quando existe comunhão entre o objeto que nós conhecemos com o nome
de pedido ou entre a causa de pedir. A comunhão pode existir entre um desses elementos,
pedido ou causa de pedir, ou ela pode existir entre os dois elementos. Pode ser que em duas
ou mais demandas você tenha simultaneamente conexão com base no pedido e na causa de
pedir, não há problema nenhum, mas um desses elementos sendo comum a duas ou mais
demandas, você já teria caracterizada a conexão, não são necessários ambos os elementos
para que fique caracterizada a conexão.

A conexão deve ser definida à luz do direito material, defendendo Didier uma concepção ainda
mais ampla do instituto, no sentido de se reunirem causas ainda que sejam apenas
semelhantes, como ocorreria com ações diferentes em que, v.g., pede-se a declaração da
paternidade e, noutra, alimentos.

Por isso mesmo entende a doutrina que a identidade de causa de pedir pode ser parcial, não
precisa ser total, bastando que um de seus elementos seja coincidente para que haja conexão
entre as ações.

ADMITE-SE A REUNIÃO DE PROCESSOS EM RAZÃO DA CONEXÃO POR


PREJUDICIALIDADE, INCLUSIVE ENTRE AÇÃO DE CONHECIMENTO E AÇÃO EXECUTIVA,
SENDO ESSA A JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO STJ.

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSO JUDICIAL


TRIBUTÁRIO. EXACIONAL (EXECUÇÃO FISCAL) X ANTIEXACIONAL (AÇÃO
DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DA RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA DA

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QUAL DEFLUI O DÉBITO EXECUTADO). CONEXÃO. ARTIGO 103, DO CPC.


REGRA PROCESSUAL QUE EVITA A PROLAÇÃO DE DECISÕES INCONCILIÁVEIS.

1. A propositura de qualquer ação relativa ao débito constante do título


executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução (§ 1º, do artigo
585, do CPC).

2. A finalidade da regra é não impedir a execução calcada em título da dívida


líquida e certa pelo simples fato da propositura da ação de cognição, cujo
escopo temerário pode ser o de obstar o processo satisfativo
desmoralizando a força executória do título executivo.

3. À luz do preceito e na sua exegese teleológica, colhe-se que a recíproca


não é verdadeira, vale dizer: proposta a execução torna-se despiscienda e,
portanto, falece interesse de agir a propositura de ação declaratória
porquanto os embargos cumprem os desígnios de eventual ação
autônoma.

4. Conciliando-se os preceitos, tem-se que, PRECEDENDO A AÇÃO


ANULATÓRIA À EXECUÇÃO, AQUELA PASSA A EXERCER PERANTE ESTA
INEGÁVEL INFLUÊNCIA PREJUDICIAL A RECOMENDAR O SIMULTANEUS
PROCESSUS, posto conexas pela prejudicialidade, forma expressiva de
conexão a recomendar a reunião das ações, como expediente apto a evitar
decisões inconciliáveis.

5. O juízo único é o que guarda a mais significativa competência funcional


para verificar a verossimilhança do alegado na ação de conhecimento e
permitir prossiga o processo satisfativo ou se suspenda o mesmo.

6. Refoge à razoabilidade permitir que a ação anulatória do débito caminhe


isoladamente da execução calcada na obrigação que se quer nulificar, por
isso que, exitosa a ação de conhecimento, o seu resultado pode frustrar-se
diante de execução já ultimada (Recentes precedentes desta Corte sobre o
tema: REsp 887607/SC, Relatora Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma,
publicado no DJ de 15.12.2006; REsp 722303/RS, desta relatoria, Primeira
Turma, publicado no DJ de 31.08.2006; REsp 754586/RS, Relator Ministro
Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, publicado no DJ de 03.04.2006).

7. In casu, a execução fiscal restou ajuizada enquanto pendente a ação


declaratória da inexistência da relação jurídica tributária, o que reclama a
remessa dos autos executivos ao juízo em que tramita o pleito ordinário, em
razão da patente conexão.

8. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo da 7ª Vara


Federal de Campinas/SP.

(STJ, CC 81.290/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em


12/11/2008, DJe 15/12/2008)

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL E AÇÃO DECLARATÓRIA.


CONEXÃO. RISCO DE DECISÕES CONFLITANTES. COMPETÊNCIA DA VARA
ESPECIALIZADA EM EXECUÇÕES FISCAIS.

É competente a vara federal especializada em execuções fiscais para o


julgamento das ações que lhes sejam conexas, consoante o disposto no art.
103 do CPC. Unânime. (TRF1, 4S, CC 0029032-65.2012.4.01.0000/MG, rel.
Des. Federal Catão Alves, em 15/08/2012.)

Já a CONTINÊNCIA vem tratada no art. 104, CPC:

Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por
ser mais amplo, abrange o das outras.

A doutrina defende que continência nada mais é do que uma espécie de conexão.

Suponha duas demandas. Uma demanda de João em face de Maria, com base na causa de
pedir X, formulando o pedido A. Uma segunda demanda de João em face de Maria, com base
na causa de pedir X formulando os pedidos A, B e C.

Qual das duas varas está preventa para reunião, processamento e julgamento das duas? Como
vocês vão saber se eu não dei data nenhuma? Quais são os critérios de prevenção? Despacho
liminar positivo e citação válida.

O fato de possuir um pedido mais amplo é critério de prevenção? Não. Embora, na


jurisprudência se encontre vários acórdãos dizendo que, se é mais amplo, está prevento. Isso
não é critério de prevenção. Critérios de prevenção são aqueles do art.106 e 219 CPC.

Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a
mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que
despachou em primeiro lugar.

Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz
litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui
em mora o devedor e interrompe a prescrição. (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)

Quando a demanda chegar ao juízo continente, por que ele não pode extinguir aquela que
está contida no processo mais amplo? Qual o motivo jurídico, legal?

Porque não se pode extinguir o processo que deu origem à prevenção. Se a prevenção tem
origem nesse processo, como é que você vai extinguir o processo que deu origem à sua
prevenção? Foi ele que lhe permitiu ser prevento, você não pode extinguir o processo que lhe
permitiu ser prevento. Você tem que processar, tem que dar andamento a ele. Esse é o motivo
jurídico.

Sobre a continência, há súmula relacionada ao processo coletivo:

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Súmula 489, STJ: “Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações
civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual”. Isso porque a competência da Justiça
Federal é absoluta. Se há interesse federal envolvido e presente a conexão, não cabe ao juízo
estadual suscitar competência, tão simplesmente remeter os autos à JF, em decorrência do
art. 109 da CR/88. Esclarecedor, quanto á súmula, o julgado abaixo:

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA (JUSTIÇA


FEDERAL). AÇÃO CAUTELAR (JUSTIÇA ESTADUAL). DANOS AO MEIO
AMBIENTE. CONEXÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

1. Hipótese em que o Parquet federal e o Ministério Público do Estado do


Rio de Janeiro, individual e respectivamente, ajuizaram Ação Civil Pública
(Justiça Federal) e Ação Cautelar com base na mesma situação jurídica:
edificação supostamente irregular em imóvel localizado em área sujeita à
proteção ambiental.

2. A concorrência de atribuições administrativas relacionadas às medidas de


fiscalização ambiental deu ensejo à propositura de demandas similares nas
Justiças Comum e Federal.

3. Havendo, porém, inequívoca conexão entre as causas, impõe-se a reunião


no mesmo juízo, para o fim de evitar decisões conflitantes.

4. A competência da Justiça Federal, disciplinada no art. 109, I, da


Constituição, é fixada em razão da pessoa. Um dos fatores que a justificam,
portanto, é a presença do Ibama, réu na Ação Civil Pública proposta pelo
Ministério Público Federal.

5. Ademais, o princípio federativo impede que a União ou suas autarquias


fiquem sujeitas à jurisdição comum. Precedente do STJ.

6. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal.

(CC 78.058/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado


em 24/11/2010, DJe 01/02/2011)

2.14.2.1.2. Objetivos
Conexão e continência visam à economia processual e à harmonização dos julgados.
Entretanto, a economia deve ser considerada de forma secundária, visto que nem sempre
ocorre; pelo contrário, a reunião de processos distintos num único juízo pode causar ainda
mais demora.

Entretanto, necessária é, já que a prolação de decisões conflitantes pela Justiça acaba por
minar sua legitimidade e a confiança que deveria ensejar.

Logo, o objetivo primário dos institutos é evitar julgamentos contraditórios.

2.14.2.1.3. Obrigatoriedade ou Facultatividade?


De acordo com o art. 105 do CPC

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Havendo conexão ou continência, o juiz, de ofício ou a requerimento de


qualquer das partes, pode ordenar a reunião de ações propostas em
separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente.

Entretanto, o texto da lei não é suficiente. Apesar de parcela da doutrina defender que a
reunião é regra cogente quando houver identidade entre alguns dos elementos da ação, não
deve ocorrer a aplicação automática da reunião dos feitos, somente devendo se dar quando o
juiz verificar que efetivamente haverá harmonização dos julgados e economia processual.

Alexandre Câmara e Luiz Fux defendem que a reunião é obrigatória para evitar decisões
contraditórias e é facultativa no caso de economia processual.

A corrente majoritária, entretanto, defende que ela é sempre facultativa.

Obrigatória ou não, O TRATAMENTO DA CONEXÃO EM MATÉRIA PROCESSUAL É DE


ORDEM PÚBLICA, O QUE JUSTIFICA LEGITIMIDADE PLENA E AMPLA PARA
ARGUI-LA (de ofício, pelas partes, pelo MP, por terceiros intervenientes).
Ela NÃO ESTÁ SUJEITA À PRECLUSÃO, não havendo prazo e tampouco forma específica
para sua alegação no processo. Ademais, NÃO SE SUSPENDE O PROCESSO PARA SUA
ANÁLISE; por fim, se o juiz desrespeitar a regra de conexão, mesmo que evidente, NÃO
HAVERÁ NULIDADE DE IMEDIATO, devendo a parte recorrente provar o prejuízo
decorrente da não reunião dos processos para que a decisão possa ser anulada.

Há, entretanto, problema se a parte quiser alegar conexão com processo que já foi decidido,
processo findo. Tem uma súmula do STJ, 235.

Súmula 235, STJ: “A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi
julgado”.

Se um dos processos já foi julgado e um ainda está sendo processado, não tem mais como
reunir.

Cuidado: essa reunião pode ser determinada nos Tribunais. Por exemplo, está em fase de
apelação, ninguém havia identificado conexão até então. Foi identificado, agora, na fase de
apelação, logo, as apelações podem ser reunidas. Podem ser reunidos os recursos especiais,
podem ser reunidos os recursos extraordinários. Não tem problema nenhum, DESDE QUE
OS PROCESSOS ESTEJAM NA MESMA INSTÂNCIA.

2.14.2.1.4. Competência na Conexão


Se duas demandas já foram propostas e estão em andamento, isso significa que elas estão em
duas varas, dois juízos diferentes. Assim, será necessário definir qual o juízo competente.

Digamos que a primeira demanda está na décima primeira vara cível federal do Rio de Janeiro,
a segunda demanda está na vigésima quinta vara cível federal do RJ. Qual é o critério utilizado

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para se definir qual das duas varas é a competente para o julgamento e processamento das
duas causas? É a chamada prevenção.

A prevenção é um meio, é um critério através do qual será definido qual, dentre esses juízos, é
o competente para o processamento e julgamento de ambas as causas.

O CPC trata da prevenção no art.106.

Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a
mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que
despachou em primeiro lugar.

É qualquer despacho? Não. É o que se chama de despacho liminar positivo ou, simplesmente,
é o que nós conhecemos como “cite-se”.

Quando o juiz determina a citação do réu é que torna prevento o juízo, desde que os juízes
estejam no mesmo foro, possuam a mesma competência territorial. Se a competência
territorial for diferente, será competente aquele no qual primeiro ocorreu a citação válida, ou
seja, naquele em que primeiro foi juntado aos autos o mandado citatório cumprido.
Mesma competência territorial Competente o que despacha primeiro
Competência territorial diferente Competente o que faz a citação válida
E se a citação válida nos dois juízos se deu na mesma data? Aí deve prevalecer o primeiro
critério, do despacho positivo (cite-se). E se a data do despacho é a mesma? Prevalece a data
da distribuição. E se essa for a mesma? Prevalece o horário de registro da distribuição. E se
ainda forem iguais? Se mata!

O STJ publicou uma súmula referente à competência na conexão entre ações civis públicas
movidas pelo MPE e pelo MPF:

Súmula 489, STJ: “Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações
civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual”. Isso porque a competência da Justiça
Federal é absoluta. Se há interesse federal envolvido e presente a conexão, não cabe ao juízo
estadual suscitar competência, tão simplesmente remeter os autos à JF, em decorrência do
art. 109 da CR/88. Esclarecedor, quanto á súmula, o julgado abaixo:

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA (JUSTIÇA


FEDERAL). AÇÃO CAUTELAR (JUSTIÇA ESTADUAL). DANOS AO MEIO
AMBIENTE. CONEXÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

1. Hipótese em que o Parquet federal e o Ministério Público do Estado do


Rio de Janeiro, individual e respectivamente, ajuizaram Ação Civil Pública
(Justiça Federal) e Ação Cautelar com base na mesma situação jurídica:
edificação supostamente irregular em imóvel localizado em área sujeita à
proteção ambiental.

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2. A concorrência de atribuições administrativas relacionadas às medidas de


fiscalização ambiental deu ensejo à propositura de demandas similares nas
Justiças Comum e Federal.

3. Havendo, porém, inequívoca conexão entre as causas, impõe-se a reunião


no mesmo juízo, para o fim de evitar decisões conflitantes.

4. A competência da Justiça Federal, disciplinada no art. 109, I, da


Constituição, é fixada em razão da pessoa. Um dos fatores que a justificam,
portanto, é a presença do Ibama, réu na Ação Civil Pública proposta pelo
Ministério Público Federal.

5. Ademais, o princípio federativo impede que a União ou suas autarquias


fiquem sujeitas à jurisdição comum. Precedente do STJ.

6. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal.

(CC 78.058/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado


em 24/11/2010, DJe 01/02/2011)

2.14.2.1.5. Distinção entre Alegação de Modificação de Competência e Alegação de


Incompetência Relativa
ALEGAÇÃO DE MODIFICAÇÃO DE
ALEGAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA
COMPETÊNCIA RELATIVA POR
RELATIVA
CONEXÃO/CONTINÊNCIA
Qualquer das partes pode suscitar,
Legitimidade além de o órgão jurisdicional poder Somente o réu pode suscitar.
conhecê-la de ofício.
Remessa dos autos ao juízo Remessa dos autos ao juízo
Efeito do acolhimento
prevento. relativamente competente.
No bojo da petição inicial ou
Forma de alegação contestação, por simples petição Exceção instrumental.
ou até mesmo oralmente.
Enquanto o processo estiver No primeiro momento que couber
Momento
pendente. ao réu falar nos autos.

2.14.2.2. Ausência de Ingresso pelo Réu de Exceção Declinatória de Foro


É uma causa de prorrogação legal de competência, conforme o seguinte dispositivo do CPC:

Art. 114. Prorrogar-se-á a competência se dela o juiz não declinar na forma


do parágrafo único do art. 112 desta Lei ou o réu não opuser exceção
declinatória nos casos e prazos legais. (Redação dada pela Lei nº 11.280, de
2006)

Não é causa de prorrogação voluntária, porque é impossível presumir, na omissão da parte, a


manifestação de uma vontade. Não interessa no caso concreto o motivo que levou o réu a não
excepcionar o juízo, a prorrogação corre por determinação legal. É um fato processual em
sentido estrito.

Ademais, o juiz que era relativamente incompetente passará a ser competente no caso
concreto.
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2.14.3. Prorrogação Voluntária

2.14.3.1. Eleição de Foro


A validade da cláusula eletiva de foro está limitada às ações oriundas de direitos e obrigações,
o que significa dizer que só se admite cláusula de eleição de foro nas demandas fundadas em
direito obrigacional.

A cláusula deverá ser necessariamente escrita, indicando um negócio jurídico específico (não
é válida cláusula que estabeleça que todas as demandas envolvendo os sujeitos serão
decididas em determinado foro).

Ademais, evidentemente que a eleição de foro somente pode modificar competência relativa,
nunca absoluta.

Art. 111. A competência em razão da matéria e da hierarquia é inderrogável


por convenção das partes; mas estas podem modificar a competência em
razão do valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as ações
oriundas de direitos e obrigações.

§ 1o O acordo, porém, só produz efeito, quando constar de contrato escrito


e aludir expressamente a determinado negócio jurídico.

§ 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes.

Deve-se tomar cuidado com o caput do dispositivo acima, já que a modificação da


competência por eleição poderá se dar somente em caso de competência em razão do valor e
do território, mas nem sempre poderá ser modificada, ainda que fundada nesses critérios
(caso da competência territorial absoluta).

2.14.3.2. Vontade Unilateral do Autor


Trata-se daquelas hipóteses em que o autor possui a faculdade de propor uma ação, por
exemplo, no foro de seu domicílio, ou no do réu (foro geral). Nesse caso e em casos
semelhantes, ainda que o autor devesse utilizar a prerrogativa legal que lhe foi conferida,
poderá ele afastá-la, fazendo tornar-se competente o foro do domicílio do réu.

2.15. Prevenção
A prevenção é CRITÉRIO DE EXCLUSÃO DOS DEMAIS JUÍZOS COMPETENTES DE UM MESMO
FORO ou tribunal, não sendo uma forma de prorrogação ou determinação da competência.

Veja então que prevenção é algo diametralmente oposto da prorrogação de competência:


ENQUANTO A PREVENÇÃO EXCLUI OS DEMAIS JUÍZOS TAMBÉM COMPETENTES, A
PRORROGAÇÃO TORNA COMPETENTE UM JUÍZO , A PRIORI, RELATIVAMENTE
INCOMPETENTE.

A prevenção funciona como mecanismo de integração em casos de conexão, sendo o


instrumento de fixação do juízo no qual serão reunidas as causas conexas, dentre vários
abstratamente competentes, independentemente da data de ajuizamento das mesmas.

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O CPC traz duas regras de prevenção, que tratam de situações diferentes:

a) Se a conexão se der em juízos de comarcas diversas, prevento será aquele em que


tenha havido a primeira citação válida (art. 219, CPC);

b) Se a conexão se der em juízos da mesma comarca, prevento será o juiz que despachou
em primeiro lugar (art. 106, CPC).

Importante ter em mente que a prevenção não ocorrerá se uma das causas já foi julgada.

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CONEXÃO. PREVENÇÃO.


DESPACHO QUE ORDENA A CITAÇÃO. PRONUNCIAMENTO JUDICIAL
POSITIVO. CPC, ARTS. 106 E 219.

1. Nos termos do art. 106 do CPC, "correndo em separado ações conexas


perante juízes que têm a mesma competência territorial, considera-se
prevento aquele que despachou em primeiro lugar".

O
2. De acordo com entendimento doutrinário e jurisprudencial,
DESPACHO QUE GERA A PREVENÇÃO É O PRIMEIRO
PRONUNCIAMENTO JUDICIAL POSITIVO QUE ORDENA A
CITAÇÃO.

3. No caso dos autos, o Juízo suscitante despachou em primeiro lugar,


porém, tal despacho, de conteúdo meramente ordinatório, apenas
concedeu vista dos autos ao Réu, nada decidiu, portanto. Por sua vez, o
Juízo suscitado deferiu pedido de liminar e determinou a citação do Réu,
razão por que é ele o Juízo prevento.

4. Conflito conhecido e julgado procedente para declarar competente o


Juízo Federal suscitado da 4ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal.

(TRF1, CC 2008.01.00.038756-0/DF, Rel. Desembargador Federal Fagundes


De Deus, Conv. Juiz Federal César Augusto Bearsi (conv.), Terceira Seção,e-
DJF1 p.39 de 03/11/2008)

Assim, veja que é importante saber o conteúdo do despacho do juiz, não sendo qualquer
manifestação que serve para fixar a competência por prevenção.

2.16. Conflito de Competência


Ocorre quando dois ou mais juízes se declaram competentes para julgar determinada causa
(conflito positivo, art. 115, I, CPC) ou quando se declaram incompetentes (conflito negativo,
art. 115, II, CPC).

Somente pode haver conflito se ainda não houver sido julgada uma das causas; não haverá
conflito, também, entre juízos de hierarquia diferentes, quando o de menor hierarquia estiver
subordinado, quanto aos recursos de suas decisões, ao tribunal.

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Súmula 254, STJ: “A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não
pode ser reexaminada no Juízo Estadual”. Aqui não há conflito de competência, pois o juízo
estadual simplesmente não tem competência para examinar esta matéria.

Súmula 235, STJ: “A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi
julgado”.

Súmula 224, STJ: “Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a
declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito”.

Súmula 150, STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que
justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.

Súmula 59, STJ: “Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado,
proferida por um dos juízos conflitantes”.

Súmula 59, STJ: “TRF não é competente para julgar recurso de decisão proferida por juiz
estadual não investido de jurisdição federal”.

CC. DECISÕES CONFLITANTES. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. ART. 115 DO


CPC.

A Seção reafirmou o entendimento de que é suficiente para caracterizar o


conflito de competência a mera possibilidade ou risco de que sejam
proferidas decisões conflitantes por juízes distintos, consoante
interpretação extensiva dada por esta Corte ao artigo 115 do CPC. Na
hipótese, busca a suscitante – sob alegação de evitar decisões conflitantes –
a suspensão do decisum proferido pela Justiça estadual que determinou a
imissão na posse dos terceiros que arremataram o imóvel litigioso, uma vez
que, na Justiça Federal, questiona-se a validade do contrato de
financiamento do referido bem, realizado com a Caixa Econômica Federal.
Inicialmente, destacou-se não ser possível reunir os processos por conexão,
diante da impossibilidade de modificação da competência absoluta. Em
seguida, reconhecida a existência de prejudicialidade entre as demandas,
determinou-se, nos termos do art. 265, IV, a, do CPC, a suspensão da ação
de imissão na posse proposta no juízo estadual pelos arrematantes do
imóvel em hasta pública. Precedentes citados: MS 12.481-DF, DJe 6/8/2009,
e EREsp 936.205-PR, DJe 12/3/2009. AgRg no CC 112.956-MS, 2S, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 25/4/2012.

2.16.1. Legitimidade e Participação do MP


Podem suscitar o conflito o juiz, membro do MP ou qualquer das partes. Se o MP não o tiver
suscitado, deverá obrigatoriamente ser ouvido.

A parte não poderá suscitar o conflito se já tiver interposto exceção declinatória de foro.

Art. 117. Não pode suscitar conflito a parte que, no processo, ofereceu
exceção de incompetência.

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123

Parágrafo único. O conflito de competência não obsta, porém, a que a parte,


que o não suscitou, ofereça exceção declinatória do foro.

Entretanto, caso o motivo da incompetência seja superveniente, poderá ser suscitado o


conflito. A DOUTRINA DEFENDE QUE O QUE NÃO SE PODE FAZER É A UTILIZAÇÃO
SIMULTÂNEA DE AMBOS OS MEIOS DE CONTROLE DA COMPETÊNCIA; SE FOREM
SUCESSIVOS, PODE.

2.16.2. Competência para Julgar o Conflito


Será sempre de um tribunal. Deve-se verificar na Constituição as regras estabelecidas.
Importante mesmo saber das recentes decisões:

Compete ao TRF o julgamento de conflito de competência estabelecido


entre Juizado Especial Federal e juiz de primeiro grau da Justiça Federal da
mesma Seção Judiciária. (STF, Plenário, RE 590.409/RJ)

Se o JEF e o juiz de primeiro grau forem de seções judiciárias distintas, a competência será do
STJ.

2.16.3. Procedimento
Deverá o conflito ser suscitado por PETIÇÃO DIRIGIDA AO PRESIDENTE DO
TRIBUNAL competente, já acompanhada a inicial dos documentos necessários à prova do
conflito. Após distribuição para um relator, este deverá SOBRESTAR o feito, indicando qual o
juízo que deverá praticar atos urgentes enquanto o incidente não for decidido (ainda que o
conflito seja negativo).

Todos os atos já praticados, como, v.g., liminares concedidas, continuarão a gerar efeitos.

O relator poderá decidir liminarmente o conflito se houver jurisprudência dominante do


tribunal sobre a questão suscitada, decisão esta que poderá ser combatida por agravo interno.

No julgamento do conflito, o tribunal declarará qual aquele competente, PODENDO,


INCLUSIVE, SER DIFERENTE DAQUELES ENVOLVIDOS NO CONFLITO. Além disso, declarará
sobre a validade dos atos praticados pelo juiz incompetente, sempre levando em conta o
princípio da instrumentalidade das formas.

O conflito sempre terá natureza declaratória, visto não constituir qualquer nova situação
jurídica.

2.17. Observações de Provas


1. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 43. Se o órgão competente tiver jurisdição nacional,
não será obrigatória a apresentação, com a inicial do mandado de segurança coletivo,
de relação nominal e endereço dos associados substituídos22.

22
MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DO TRABALHO.
COMPOSIÇÃO DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO EM DECORRÊNCIA DA EXTINÇÃO DA
REPRESENTAÇÃO CLASSISTA NA JUSTIÇA LABORAL. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 24/99. VAGAS
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124

2. TRF1 – XII – QUESTÃO 75. Havendo conflito de competência entre Tribunal de Justiça e
TRF, competirá ao STJ resolvê-lo, PODENDO O MINISTRO RELATOR JULGAR DE
FORMA MONOCRÁTICA, NA HIPÓTESE DE A MATÉRIA SUSCITADA SER
JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO TRIBUNAl, sendo-lhe facultativo ser ouvido o MP.

3. TRF2 – XIII – CESPE – QUESTÃO 44. É da justiça federal a competência para processar e
julgar execução de dívida ativa inscrita pela fazenda nacional para cobrança de custas
processuais23 oriundas de reclamatória trabalhista.

4. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 46. É de competência da Justiça Federal a ação de


alimentos proposta em favor de alimentando residente em outro país contra
alimentante residente no Brasil, conforme a Convenção de Nova Iorque.

5. TRF4 – XIV – QUESTÃO 51. Compete à Justiça estadual julgar causas entre consumidor
e concessionária de serviço público de telefonia quando a Anatel não for litisconsorte
passiva necessária, assistente ou opoente.

6. TRF4 – XIII – QUESTÃO 69. A competência da autoridade judicial brasileira para julgar
causas relativas a imóveis situados no Brasil é chamada de “internacional exclusiva”.

7. TRF4 – XII – QUESTÃO 61. Em ação proposta por particular, a exclusão, pelo juiz
federal, de empresa pública federal, litisconsorte passiva, remanescendo na lide
apenas sociedade de economia mista, desloca a competência para a Justiça estadual,
não se aplicando a regra da perpetuatio jurisdictionis.

8. TRF4 – XII – QUESTÃO 61. Em execução fiscal movida na Justiça estadual pela Fazenda
Nacional, opostos embargos de terceiros pela CEF, a competência para julgamento
destes, segundo entende o STJ, será da Justiça Estadual, pois que compreendida a

DESTINADAS A ADVOGADOS E MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. CRITÉRIO DE


PROPORCIONALIDADE. 1 - Legitimidade do Presidente da República para figurar no polo passivo do writ,
tendo em vista ser ele o destinatário da lista tríplice prevista no § 2º do art. 111 da Constituição Federal,
visando ao provimento dos cargos em questão. Precedente: MS nº 21.632, rel. Min. Sepúlveda Pertence.
2 - Não aplicação, ao mandado de segurança coletivo, da exigência inscrita no art. 2º-A da Lei nº
9.494/97, de instrução da petição inicial com a relação nominal dos associados da impetrante e da
indicação dos seus respectivos endereços. Requisito que não se aplica à hipótese do inciso LXX do art. 5º
da Constituição. Precedentes: MS nº 21.514, rel. Min. Marco Aurélio, e RE nº 141.733, rel. Min. Ilmar
Galvão. 3 - Composição do Tribunal Superior do Trabalho. Proporcionalidade. Emenda nº 24/99. Artigos
111, § 1º, 94 e 115, caput da Constituição Federal. Por simetria com os TRF's e todos os demais tribunais
de grau de apelação, as listas tríplices haverão de ser extraídas das listas sêxtuplas encaminhadas pelos
órgãos representativos de ambas as categorias, a teor do disposto no art. 94, in fine. A regra de escolha
da lista tríplice, independentemente de indicação pelos órgãos de representação das respectivas classes
é restrita aos tribunais superiores (TST e STJ). Não procede a pretensão da impetrante de aplicar aos
Tribunais Regionais do Trabalho a regra especial de proporcionalidade estatuída pelo § 1º do art. 111 da
Constituição, alusiva ao Tribunal Superior do Trabalho. Segurança denegada. (MS 23769, Relator(a):
Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 03/04/2002, DJ 30-04-2004 PP-00033 EMENT VOL-
02149-07 PP-01231 RTJ VOL-00191-02 PP-00519)
23
Isso porque se trata de taxa por serviço público prestado pela União.
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125

ação incidental nominada no âmbito da competência federal delegada e as demais


ações conexas24.

9. TRF5 – XI – CESPE – QUESTÃO 45. O interesse jurídico do ente submetido à


competência da justiça federal é avaliado pelo juiz federal, PODENDO O PROTESTO
PELA PREFERÊNCIA DE CRÉDITO APRESENTADO POR ENTE FEDERAL EM EXECUÇÃO
QUE TRAMITE NA JUSTIÇA ESTADUAL DESLOCAR A COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA
FEDERAL, SE ASSIM ENTENDER O JUIZ FEDERAL25.

10. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 81. Quanto às regras de competência, é correto afirmar
que o juizo é um órgão jurisdicional que se coloca dentro do foro competente, o qual
diz respeito ao território em que é exercida a jurisdição.

11. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 90. Em geral o princípio da perpetuatio iurisdictionis
visa proteger o autor da demanda, quando é fixada pela regra geral, mas pode
proteger o réu em determinadas situações26.

12. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 90. Havendo extinção do órgão jurisdicional, é possível
a não aplicação do princípio da perpetuatio iurisdictionis, devendo a causa ser julgada
pelo órgão que o substituiu.

13. EMAGIS – 2012/23 – QUESTÃO 11. Alberto ajuizou ação indenizatória contra seu ex-
empregador em razão de acidente de trabalho, pleiteando compensação por danos
materiais e morais. A ação foi ajuizada em 17/03/2004. Reputando-se incompetente
para processar e julgar a demanda, o Juiz Estadual da Comarca de Alô Brasil/MT
declinou de sua competência para a Justiça do Trabalho desta mesma localidade, cujo
magistrado, por sua vez, suscitou conflito negativo de competência perante o STJ,
decidido em 1º/04/2009, em acórdão transitado em julgado que deu pela
competência da Justiça Estadual. Retornados os autos ao Juízo Estadual - o suscitante,
este, mais uma vez, em 03/12/2009, declinou da competência para a Justiça

24
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL. FAZENDA NACIONAL. JUSTIÇA ESTADUAL.
EMBARGOS DE TERCEIROS. CONEXÃO. ART. 1.049 DO CPC. ART. 15, I, LEI 5.010/66. ART. 109, § 3º CR/88.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. A delegação de que trata o art. 15, I, da Lei 5.010, de 1966,
prevista no art. 109, § 3º da Constituição, abrange também as ações paralelas à execução fiscal
promovida pela Fazenda Pública Federal, pois quebraria toda a lógica do sistema processual distribuir
a juízos diferentes a competência para a ação e a competência para a oposição. 2. Assim, por
imposição do sistema, é de se entender que o juiz de direito ao qual for delegada a competência para
a ação de execução, será também competente para as ações decorrentes e anexas a ela. 3. Deve ser
observado, também nesses casos, o disposto no art. 1049 do CPC. 4. Conflito conhecido e declarada a
competência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, o suscitado.
(CC 34.513/MG, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/11/2003, DJ
01/12/2003, p. 255)
25
Em regra, o protesto não desloca. Mas nesse caso, a questão trouxe explícito que o juiz federal
entendeu haver elemento concreto apto a ensejar o deslocamento.
26
Isso porque a ação geralmente é proposta no domicílio do réu. Se este se mudar, não altera a
competência. No entanto, se o autor tinha a faculdade de propor a ação em seu domicílio, mas ajuíza no
do réu, não pode depois voltar atrás.
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126

Trabalhista. Nesse caso, nenhum equívoco foi cometido pelo Juiz Estadual com essa
sua segunda decisão27.

14. EMAGIS – 2012/23 – QUESTÃO 11. Joana ajuizou reclamatória trabalhista contra sua
ex-empregadora. Proferida sentença de procedência, transitada em julgado, o valor da
execução chegou a R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Não satisfeita, Joana pretende
aforar nova ação contra sua ex-empregadora, agora para pleitear a restituição dos
honorários advocatícios contratuais desembolsados com vistas ao patrocínio da
anterior reclamatória trabalhista. Nessa hipótese, segundo recente posicionamento do
STJ, essa nova ação deverá ser ajuizada perante a Justiça do Trabalho28.

15. EMAGIS – 2012/22 – QUESTÃO 11. O julgamento de ação movida por particular,
usuário de serviço de telefonia, contra concessionária de serviço público federal, em
que se discuta ser indevida a cobrança de pulsos além da franquia, será da
competência da justiça estadual, carecendo de legitimidade para compor o pólo
passivo a Agência Nacional de Telecomunicações, por não figurar na relação jurídica de
consumo.

16. EMAGIS – 2012/22 – QUESTÃO 11. Dispõe o art. 90 do CPC que “A ação intentada
perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta que a autoridade
judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas”. Vale dizer, se
o Judiciário brasileiro for competente para julgar uma demanda, o fato de a ação já ter

27
O ponto de partida para sua análise é a Súmula Vinculante n. 22, a apregoar que "A Justiça do
Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais
decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas
que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda
Constitucional nº 45/04". Esse verbete sumular, importa notar, somente foi editado após deliberação do
plenário do Supremo em 02/12/2009.
No caso, relevantíssimo também lembrar que a EC 45/04 passou a viger em 31/12/2004. Assim, embora
a ação ajuizada por Alberto, em 17/03/2004, o tenha sido antes da promulgação da EC 45/04, verdade é
que não se tem notícia de que houvesse sido prolatada sentença anteriormente a 31/12/2004. Desse
modo, a competência, na espécie, recai na Justiça do Trabalho, em atendimento à posição sufragada
pelo STF na Súm. Vinc. 22.
Por outro lado, o fato de já ter sido decidido pelo STJ, em 1º/04/2009, pela competência da Justiça
Estadual, não impede que o Juiz de Direito da Comarca de Alô Brasil/MT, no caso, tornasse a declinar da
competência para a Justiça do Trabalho. Aliás, deveria fazê-lo, diante da força vinculante do
entendimento do Supremo, consagrado na Súm. Vinc. 22 (somente editada após a decisão do STJ no
conflito de competência).
28
Com efeito, começam a se avolumar as ações nas quais se pede a restituição dos honorários
advocatícios contratuais desembolsados pelo trabalhador em reclamatória trabalhista ganha na Justiça
Laboral. Tal fenômeno tem ocorrido por dois fatores: primeiro, porque, de regra, não há condenação em
honorários na Justiça Trabalhista; segundo, porque não se admite que o vencedor da causa tenha que
arcar com prejuízo pelo fato de ter sido compelido a ingressar na Justiça para fazer valer o seu direito.
Dúvida paira, contudo, no que se refere ao Juízo competente para apreciar esse tipo de demanda. Seria
do Juízo Estadual ou do Juízo Trabalhista, porquanto a discussão estaria ligada à reclamatória trabalhista
anteriormente aforada?
Embora a linha majoritária indicasse que a competência, na hipótese, recairia sobre a Justiça Estadual -
porque a situação não se amoldaria a nenhuma das previsões do art. 114 da CF -, fato é que o STJ,
recentemente, entendeu, por meio de sua Segunda Seção, que compete ao Juiz Trabalhista julgar essa
nova ação indenizatória.
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127

sido ajuizada em Estado estrangeiro, também competente (as hipóteses de


competência concorrente estão no art. 88 do CPC), não obsta que ela seja também
intentada no Brasil.

17. EMAGIS – 2012/17 – QUESTÃO 10. Compete à Justiça Federal o processamento e o


julgamento de mandado de segurança impetrado contra ato do Gerente Executivo do
Instituto Nacional do Seguro Social, MESMO QUE A MATÉRIA DE FUNDO SEJA DE
ÍNDOLE ACIDENTÁRIA29.

18. EMAGIS – 2012/17 – QUESTÃO 10. Compete à Justiça Estadual processar e julgar
pedido de insolvência civil formulado por autarquia federal ou empresa pública
federal30.

19. EMAGIS – 2012/17 – QUESTÃO 10. Cabe ao próprio TRF a competência para processar
e julgar mandado de segurança contra ato colegiado de órgão especial de Tribunal
Regional Federal31.

20. EMAGIS – 2012/16 – QUESTÃO 12. É firme a compreensão do STJ no sentido de que
COMPETE À JUSTIÇA ESTADUAL processar e julgar a ação mediante a qual se discute a
concessão, estabelecimento ou revisão de benefício previdenciário decorrente de
acidente de trabalho.

21. EMAGIS – 2012/16 – QUESTÃO 12. Segundo entende o STJ, a Justiça do Trabalho é
competente para processar e julgar as reclamações trabalhistas propostas por
servidores públicos municipais contratados sob o regime celetista, instituído por meio
de legislação municipal própria.

29
A competência da Justiça Federal em se cuidando de mandado de segurança é definida ratione
personae (CF, art. 109, VIII), e não de acordo com a matéria deduzida. Por isso, ainda que uma ação
previdenciária de um segurado contra o INSS, fundada em acidente de trabalho, seja, de fato, da alçada
estadual, mercê da parte final do inciso I do art. 109 da CF, a verdade é que, em sede de mandado de
segurança, a circunstância de a matéria de fundo tangenciar a ocorrência de um acidente de trabalho
não afasta a incidência do art. 109, VIII, da CF, se a autoridade coatora for federal.
30
É que na hipótese de demanda de insolvência civi movida pela União, suas autarquias ou empresas
públicas, o caso cai nas raias do inciso I do art. 109 da CF/88, cuja parte final ressalva da competência da
Justiça Federal as causas de falência, e, numa interpretação teleológica, também as de insolvência civil,
porquanto em ambas há o juízo universal adequado ao 'par conditio creditorum'.
31
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. IMPETRAÇÃO CONTRA
DECISÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUE NÃO ADMITIU RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. SÚMULA
41/STJ. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. "Compete ao Superior Tribunal de Justiça, processar e julgar, originariamente os mandados de
segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército
e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal" (art. 105, I, "b", da CF).
2. "O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar, originariamente,
mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos Respectivos órgãos" (Súmula 41/STJ).
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no MS 14174/MG, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
28/03/2012, DJe 09/04/2012)
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22. EMAGIS – 2012/16 – QUESTÃO 12. Mudando sua clássica jurisprudência, o STF passou
a entender que é da Justiça do Trabalho a competência para processar e julgar as
ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de
trabalho. Mais: como imperativo de política judiciária, decidiu que o marco temporal
da competência da Justiça trabalhista é o advento da EC 45/2004, de sorte QUE A
NOVA ORIENTAÇÃO NÃO ALCANÇA OS PROCESSOS EM TRÂMITE NA JUSTIÇA
ESTADUAL QUE JÁ TENHAM SENTENÇA DE MÉRITO PROFERIDA.

23. EMAGIS – 2012/08 – QUESTÃO 11. Segundo entendimento firmado pelo STF,
COMPETE À JUSTIÇA ESTADUAL O JULGAMENTO DE CAUSAS QUE DIGAM RESPEITO A
CONTRATOS TEMPORÁRIOS celebrados pela Administração Pública municipal32.

24. EMAGIS – 2012/08 – QUESTÃO 11. De acordo com recente precedente do STJ,
compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ação proposta por servidor público
municipal contratado temporariamente com base em legislação do respectivo ente
federativo na qual é determinada a aplicação do regime jurídico da CLT a esses
contratos33.

25. EMAGIS – 2012/08 – QUESTÃO 11. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar
ação indenizatória proposta por viúva e filhos de empregado falecido em acidente de
trabalho.

26. EMAGIS- 2011/40– QUESTÃO 09. O julgamento de ação ordinária, com pedido de
tutela antecipada, para ver declarada a nulidade de ato normativo praticado pelo
ministro da Justiça, proibindo o gozo de férias no mês de janeiro, é de competência de
vara federal34.

27. EMAGIS- 2011/39 – QUESTÃO 19. A CAIXA pretende discutir a inconstitucionalidade da


cobrança do imposto sobre serviços que lhe está sendo imposta pelo município de
Itaperuna – RJ. Considerando essa situação hipotética, é correto afirmar que o
advogado da CAIXA deverá ajuizar a ação na vara federal da subseção judiciária de

32
As causas dos temporários, não sendo em face da União, serão sempre julgadas na JE, salvo se seu
regime jurídico prever aplicação da CLT, caso em que irá para a Justiça do Trabalho. Se for da União, será
na JF ou, celetista, na JT. Vide nota seguinte.
33
A Justiça do Trabalho é a competente para processar e julgar as reclamações trabalhistas propostas
por servidores públicos municipais contratados sob o regime celetista instituído mediante legislação
municipal própria. Acolhido esse entendimento, a Primeira Seção deu provimento ao agravo regimental
para reformar a decisão atacada, reconhecendo a competência do Juízo da Vara do Trabalho para
análise da matéria. No caso dos autos, os servidores públicos municipais foram contratados
temporariamente, com base em legislação municipal específica na qual foi determinada a aplicação do
regime jurídico da CLT. Desse modo, diante da expressa determinação legal de que os servidores
públicos municipais têm seu vínculo com o poder público regido pela CLT, fica afastada a competência
da justiça comum para processar e julgar a demanda. AgRg no CC 116.308-SP, Min. Rel. Castro Meira,
julgado em 8/2/2012.
34
A ação revelada na espécie vai impugnar um ato praticado pelo Ministro da Justiça, que é um agente
da União. Fosse a espécie um mandado de segurança, e a competência seria do STJ, por força do art.
105, I, da CF. Mas o enunciado revela uma ação ordinária, a ser ajuizada, então, contra a União, o que
atria o art. 109, I, da CF, ficando a competência mesmo na Justiça Federal de 1º grau.
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129

Itaperuna, por se tratar de causa em que empresa pública federal é interessada na


condição de autora e por ser esta a subseção que jurisdiciona territorialmente o
município de Itaperuna.

28. EMAGIS- 2011/36 – QUESTÃO 20. Não pode suscitar conflito a parte que, no processo,
ofereceu exceção de incompetência35.

29. EMAGIS- 2011/31 – QUESTÃO 11. O conflito de competências em determinado


processo pode ser suscitado pelas partes, pelo juiz ou pelo MP.

30. GEMAF – 2010/03 – QUESTÃO 04. A decisão do juízo federal que exclui da relação
processual ente federal não pode ser reexaminada no juízo estadual.

3. Processo
3.1. Teorias do Processo
O processo já foi concebido de várias formas. Todas inúteis, mas seguem abaixo para fins de
concurso:

a) Teoria imanentista ou praxista: nessa fase, em que se via o direito de ação de forma
imanentista, sendo ele o próprio direito material reagindo contra uma agressão ou
ameaça de agressão, o processo era entendido como mero procedimento,
absolutamente acessório. O processo não é uma ciência autônoma, o processo seria
um adendo do direito civil, não teria vida própria. Para essa teoria, quando o direito
material sofre algum tipo de violação, ele reage, essa reação é exatamente conhecida
com o nome de processo, é por isso que o código civil de 1.916 tinha o art.75 que
afirma que para toda a violação do direito existia uma ação correspondente, para toda
a violação ao direito material corresponde uma ação que pode ser ajuizada para
corrigir essa violação. Havia uma certa vinculação entre a violação ao direito material e
o próprio direito material reagindo a essa violação, isso se denominava pelos adeptos
da Teoria Imanentista de processo. Eles entendiam o processo como o próprio direito
material reagindo a uma violação.

b) Teoria do contrato: teoria advinda do direito romano. Existia uma primeira fase que
era chamada in iure, onde o autor apresentava um pedido para o pretor (pretor era
uma espécie de governante, uma espécie de prefeito), que tinha como uma de suas
funções, ao receber o pedido formulado pelo autor, observar uma fórmula. O pretor
não decidia o pedido, ele verificava o pedido do autor, ouvia as alegações do réu e,
com base no que havia sido pedido, com base nas alegações do réu, ele estabelecia
uma fórmula em relação às quais o pedido deveria ser decidido. Autor e réu, eles, de

35
De fato, se a parte ofereceu exceção de incompetência, não pode suscitar conflito, hipótese
expressamente regulada no art. 117 do CPC. Seria mesmo uma contradição de comportamento permitir
que o sujeito que interpusesse exceção de incompetência pudesse ajuizar o conflito de competência. No
entanto, se a causa do conflito de competência for superveniente, abre-se a oportunidade de suscitar o
conflito.
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plena vontade, se sujeitavam a essa forma, reconheciam que o que quer que ficasse
decidido nessa fórmula, seria cumprido. Essa fórmula era remetida para um árbitro
que, em uma segunda fase do procedimento, chamada in iudicium, decidia. Qualquer
que fosse a decisão do árbitro, como as partes já haviam se comprometido a
reconhecer a decisão que constava da fórmula, qualquer que fosse a decisão, autor e
réu estavam a ela vinculados.

c) Teoria do quase contrato: teoria surgida em decorrência da constatação de que a


teoria anterior não estava certa, pois o processo não poderia ser um contrato, já que
este é uma relação jurídica que envolve apenas a vontade dos sujeitos. Contrato é
relação entre particulares. Mas como os romanos não sabiam categorizar essa
fórmula, como eles não tinham nenhuma categoria jurídica para incluir o processo,
como eles concluíram que o processo não era um contrato, surgiu a teoria do quase
contrato. Segundo o entendimento do professor Rosemiro Pereira Leal o processo era
considerado um quase contrato pelos teóricos, por que, “a parte que ingressava em
juízo já consentia que a decisão lhe fosse favorável ou desfavorável, ocorrendo um
nexo entre o autor e o juiz, ainda que o réu não aderisse espontaneamente ao debate
da lide” (LEAL, p.78, 2008)

Essas três teorias acima são as chamadas teorias do processo como direito privado.

Se perguntarem para vocês qual é a certidão de nascimento do processo civil moderno: é a


publicação do livro “Teoria das Exceções e dos Pressupostos Processuais” de Oskar Von
Bulow de 1.868, porque foi nesse livro que, pela primeira vez, se defendeu a natureza
jurídica do processo como sendo de direito público, a partir daqui surgem as chamadas
Teorias de Direito Público do Processo.

d) Teoria da relação jurídica processual: essa é a teoria clássica, ainda hoje é a teoria
majoritária no nosso ordenamento. Teoria criada por Von Bulow, foi a primeira que
separou definitivamente direito material de direito processual. Para Bulow, a relação
de direito material é o objeto de discussão no processo, enquanto a relação de direito
processual é a estrutura por meio da qual essa discussão ocorrerá. O processo, na
verdade, seria uma relação jurídica intersubjetiva de direito público com seus próprios
sujeitos, requisitos e conteúdo. Essa relação jurídica intersubjetiva de direito público
tem uma única finalidade, que é decidir a relação jurídica de direito material que lhe é
apresentada para julgamento. O conteúdo do processo é a relação jurídica de direito
material que foi apresentada para julgamento. Os sujeitos são Juiz, as partes e os
auxiliares da justiça.

e) Teoria da situação jurídica: teoria desenvolvida por James Goldschmidt. O teórico não
“admitia que o processo fosse uma relação jurídica, porque não concebia a existência
de relação (nexo) entre as partes e o juiz e nem entre as próprias partes” (ALVIM,
p;158, 2003). Portanto, sua teoria, vem intitular um processo como situação jurídica,
reconhecida e estabelecida por lei.

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Goldschimidt, não admite tal relação entre os sujeitos (juiz, autor, réu) porque para ele
“o juiz atua por dever funcional, de caráter administrativo, e as partes simplesmente
estão sujeitas à autoridade do órgão jurisdicional” (ALVIM, p.158, 2003). Portanto, as
partes no processo, atuam como sujeitas ao órgão da jurisdição, enquanto que o juiz
atua no processo por dever de sua função. Vê-se que não se relacionam. Sob este
ponto de vista, observa-se que nem mesmo as partes se relacionam.

f) Teoria da categoria jurídica autônoma: defendida por Afrânio Silva Jardim, Humberto
Dalla, Luiz Fux, Alexandre Câmara. Para os adeptos da categoria jurídica autônoma, o
processo não pode ser enquadrado como espécie de nenhum gênero conhecido.
Processo é simplesmente processo, como você não consegue enquadrá-lo em
nenhuma categoria jurídica conhecida, você tem que defender que ele é uma
categoria jurídica autônoma.

g) Teoria do procedimento em contraditório: propagada por um juiz mineiro chamado


Aroldo Gonçalves. O Aroldo Gonçalves foi estudar na Itália durante um tempo com um
processualista cuja especialidade é processo administrativo. Esse processualista
italiano é chamado de Elio Fazalari, mais vinculado à ideia de processo administrativo,
ele defendia que o gênero é o procedimento. Para ele, procedimento é gênero, e
desse gênero você tem várias espécies. Teríamos, como espécie de procedimento, o
processo legislativo, o processo executivo e, por fim, o processo judicial. Só que o
processo judicial tinha uma característica que nenhum dos outros dois possuía: o
processo judicial tem que ser realizado sempre em contraditório. No direito italiano, o
processo administrativo e o processo executivo não necessariamente precisariam
obedecer ao contraditório, somente o processo judicial. Assim, o processo nada mais
seria do que o procedimento em contraditório.

h) Teoria da identidade complexa: é a teoria mais moderna, adotada por Dinamarco.


Segundo Dinamarco, a Teoria da Identidade Complexa propugna o seguinte: o
processo tem que ser visualizado sob dois aspectos distintos, um aspecto externo que
é a maneira pela qual você visualiza o processo no dia a dia. Como ele se apresenta
externamente? Ele se apresenta como sendo uma série de atos processuais
encadeados, um após o outro, realizados em contraditório. Pelo aspecto interno, o
processo seria uma relação jurídica diferente da relação jurídica de direito material,
tem seus próprios sujeitos, tem seus próprios requisitos, tem seu próprio conteúdo,
ele é voltado para decidir a relação jurídica de direito material que lhe é apresentada.

Se perguntarem qual é o conceito de processo, deve-se responder: o conceito mais moderno é


baseado na Teoria da Identidade Complexa, no qual processo é o procedimento em
contraditório animado pela relação jurídica processual. Inclusive, autores que não adotam essa
teoria adotam o conceito dessa teoria. Por exemplo, Alexandre Câmara defende a categoria
jurídica autônoma, mas, quando vai conceituar, conceitua aqui. Marcelo Abelha Rodrigues
adota a majoritária, mas, quando vai conceituar, conceitua aqui. Fredie Didier fica no meio do
caminho, mas, quando vai conceituar, conceitua com base nessa teoria. Então, o conceito mais
moderno é esse.

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Processo não tinha autonomia, era um medo adendo do


IMANENTISTA OU
direito civil, uma reação do direito material a uma
PRAXISTA violação.
TEORIAS DO Aplicada no direito romano, o processo era um acordo
PROCESSO COMO CONTRATO entre as partes regido por fórmulas sacramentais fixadas
DIREITO PRIVADO pelo pretor.
Semelhante à anterior, apenas acrescia que não poderia
QUASE CONTRATO ser um contrato puro pois não se submetia puramente à
vontade das partes.
Criada por Von Bulow, foi a que separou direito material
de processo, sendo aquele o objeto de discussão deste. O
RELAÇÃO JURÍDICA
processo, na verdade, seria uma relação jurídica
PROCESSUAL intersubjetiva de direito público com seus próprios
sujeitos, requisitos e conteúdo.
Goldschimidt, não admite o processo como relação, por
SITUAÇÃO JURÍDICA inexistir relação entre os sujeitos, mas trata-se de uma
TEORIAS DO situação jurídica, reconhecida e estabelecida por lei.
PROCESSO COMO CATEGORIA JURÍDICA Processo seria simplesmente processo, não se enquadra
DIREITO PÚBLICO AUTÔNOMA em nenhum outro instituto jurídico.
Ressalta o fato de que processo é um procedimento como
PROCEDIMENTO EM
o administrativo e o executivo, com a particularidade de
CONTRADITÓRIO sempre ser submetido ao contraditório.
Processo apresenta dois aspectos: externo, conjunto de
atos processuais encadeados regidos pelo contraditório;
IDENTIDADE COMPLEXA interno, relação jurídica processual estabelecida entre os
sujeitos, que não se confunde com a relação material.

3.1. Processo X Procedimento


Procedimento é a exteriorização do processo, seu aspecto visível, considerando-se a noção de
que processo é teleológico, voltado para a finalidade de exercício da função jurisdicional no
caso concreto, enquanto a noção de procedimento é formal, significando essa sucessão de
atos como um objetivo final.

Distinguindo processo de procedimento, abaixo seguem linhas escritas por Dinamarco,


extraídas de seu livro “INSTITUIÇOES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL - Volume I - Livro I - Os
Fundamentos e as Instituições Fundamentais”:

O processo, como realidade fenomenológica, é uma entidade complexa em que figuram dois
elementos distintos e interligados: o procedimento, como série de atos coordenados a partir de
uma iniciativa de parte (demanda) e direcionados a um provimento do juiz (no processo de
conhecimento, sentença de mérito); e a relação jurídica processual, que é um vínculo dinâmico
e complexo entre os sujeitos processuais (juiz, autor e réu) e se expressa nas inúmeras
situações ocupadas por eles do princípio ao fim (deveres, poderes, faculdades, ônus, sujeição,
autoridade). Em preciosa síntese, disse a doutrina que o processo se constitui, ao mesmo
tempo, de uma relação entre seus sujeitos e de uma relação entre seus atos (Liebman) (infra, n.
387).

Mas existem vozes na doutrina, a sustentar uma precisa distinção entre normas processuais
stricto sensu e normas procedimentais, mas essa distinção só em modesta medida e sob
ressalvas compatibiliza-se com a natureza complexa do processo, porque se apóia na premissa
de que processo e procedimento fossem fenômenos independentes e autônomos. Superada
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essa visão inadequada dos fenômenos processo e procedimento, não há como distinguir, com
nitidez e generalidade, normas alusivas a um e normas alusivas a outro. Toda norma sobre o
procedimento em juízo é norma processual porque o procedimento integra o conceito de
processo. É impossível distinguir normas que disciplinem o procedimento sem influir no modo-
de-ser da relação jurídica processual que lhe está à base e, portanto, também impossível
encontrar normas de direcionamento exclusivo ao procedimento e normas direcionadas só à
relação processual (infra, n. 387).

A Constituição Federal de 1988, todavia, veio a realimentar essa distinção ao estabelecer a


competência concorrente da União e Estados para legislarem sobre procedimentos em
matéria processual (art. 24, me. XI), em confronto com a competência federal exclusiva para
ditar normas de direito processual (art. 22, me. 1). Essas disposições obrigam o intérprete a
renunciar à precisão dos conceitos e admitir que, na ordem jurídica brasileira, podem existir
normas puramente procedimentais ao lado de normas processuais stricto sensu. É preciso
penetrar no pensamento do constituinte e, em consonância com o sistema processual como um
todo, buscar o significado útil da distinção (interpretação sistemática).

Dado que no processo entrelaçam-se o procedimento e a relação jurídica vinculativa de seus


sujeitos, ENTENDE-SE QUE AS NORMAS PROCESSUAIS STRICTO SENSU SERIAM OS PRECEITOS
DESTINADOS A DEFINIR OS PODERES, DEVERES, FACULDADES, ÔNUS E SUJEIÇÃO DOS
SUJEITOS PROCESSUAIS (RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL), SEM INTERFERIR NO DESENHO
DAS ATIVIDADES A REALIZAR (PROCEDIMENTO). Normas procedimentais, nesse contexto,
seriam aquelas que descrevem os modelos a seguir nas atividades processuais, ou seja, (a) o
elenco de atos que compõem cada procedimento, (b) a ordem de sucessão a presidir a
realização desses atos, (c) a forma que deve ser observada em cada um deles (modo, lugar e
tempo) e (d) os diferentes tipos de procedimentos disponíveis e adequados aos casos que a
própria norma estabelece (infra, nn. 625-626).

Mesmo aceitando a (relativa) imposição constitucional de distinguir normas processuais stricto


sensu e normas procedimentais, continuemos a empregar ordinariamente a locução normas
processuais no sentido amplo, desconsiderada a distinção.

Existem ainda as normas de organização judiciária, que convivem com as duas categorias
precedentes e também são sujeitas a critérios diferentes de competência legislativa. Constitui
tendência entre os processualistas modernos a absorção da organização judiciária no objeto de
seus estudos, embora preponderem entre essas normas organizacionais as que disciplinam a
administração do Poder Judiciário, sem natureza processual. As normas gerais da organização
judiciária brasileira são ditadas superiormente pela Constituição Federal (arts. 92 ss.) e pela Lei
Orgânica da Magistratura Nacional (lei compl. n. 35, de 14.3.79, na medida de sua recepção
constitucional), sendo esperado o Estatuto da Magistratura, que a Constituição prevê mas não
foi editado até hoje (Const., art. 93). A essas normas superiores devem ater-se as que a própria
União e os Estados editam para a organização de suas Justiças (infra, n. 153).

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134

3.2. Relação Jurídica Processual

3.2.1. Composição
Afirma-se na doutrina que a relação jurídica de direito processual é formada por demandante,
demandado e pelo Estado-juiz, sendo essa sua composição mínima, ainda que
excepcionalmente possam existir processos sem autor ou réu (processos objetivos).

O entendimento doutrinário corrente é no sentido de ser o processo uma relação tríplice, com
dois sujeitos parciais (demandante e demandado) e um imparcial (juiz).

A relação processual é triangular36, já que as partes têm deveres entre si e perante a Justiça.

O processo existirá desde a propositura da demanda pelo autor, ainda que fique sua relação
limitada a demandante e juiz. A relação jurídica é incompleta, aperfeiçoando-se com a citação
válida.

Assim, completamente errada é a afirmativa de que somente a citação do réu faz surgir a
relação processual.

3.2.2. Características
Existem cinco principais características na relação jurídica de direito processual:

a) Autonomia: a relação processual é autônoma em relação ao direito material discutido,


exercendo-se o direito de ação mesmo que o direito material seja improcedente.

b) Complexidade: trata-se da série de atos e fatos processuais que ocorrem no curso do


processo, tornando-o complexo.

c) Dinamismo: o processo é dinâmico, segue um rito contínuo a fim de que possa, no


futuro, ser extinto.

d) Unidade: entende-se que os atos praticados pelos sujeitos processuais estão todos
interligados de forma lógica, dependendo o posterior de como foi praticado o anterior.

e) Natureza pública: a natureza pública decorre da participação do Estado no processo,


formalizada pelo juiz.

3.2.3. O Processo Como Aparato da Democracia


Linhas escritas pelo professor Eduardo Cambi em artigo intitulado “Norma e processo na
crença democrática”.

36
Teoria linear de KOHLER – exclui o juiz da relação processual, que se estabelece apenas entre as
partes. O juiz seria estranho à relação processual. Teoria bilateral de Carnelutti, Hellwig Plank e outros:
a relação é bilateral, compreendendo que os vínculos se dariam, de um lado entre autor e juiz e de
outro entre réu e juiz, reciprocamente. Teoria triangular de Bülow, Wach, Chiovenda, Calamandrei e
outros. É a majoritária. Há vínculos entre as partes e o juiz e entre as próprias partes. Humberto
Teodoro Júnior fala ainda em teoria angular, atribuindo-a Hellwig, perante a qual o juiz ocuparia uma
posição superior em relação às partes em razão do poder estatal que representa. As partes se
submeteriam à sua soberania, como representante do Estado. As pares teriam direitos e deveres
voltados para o Juiz.
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135

É o processo, enquanto espaço público de comunicação que permite a construção da norma


jurídica. Essa afirmação tem um alcance democrático extraordinário, pois rompe com as
vertentes filosóficas do positivismo jurídico que visavam à criação de um Estado neutro quanto
aos valores. Calcada na ideia de que a lei representava sempre a vontade geral, acreditava-se
que o sentido contido na regra legal era unívoco, devendo o juiz ser apenas a “boca da lei”
(Montesquieu).

Isso nada mais foi que um reflexo da desconfiança que a burguesia, ao proclamar a Revolução
Francesa, atribuía aos juízes, considerados aliados da nobreza e do clero. Felizmente, a
construção democrática do Estado e da sociedade contemporâneas está baseada no
pluralismo político, social, cultural e religioso, a fim de permitir a convivência dos contrários, a
tolerante, harmoniosa e pacífica coexistência de toda espécie de antagonismos. Por isso, a lei
não pode ser concebida como sendo a expressão da vontade geral, mas apenas a vitória em
um conflito político; vale dizer, o resultado da vontade da força política dominante no
Parlamento ou dessa vontade acordada com as outras vontades políticas também
representadas no seio do Poder Legislativo.

Como a lei é parcial e, sobretudo, procura oferecer condições para um determinado plano de
governo, o grupo político dominante dela se serve para constituir o seu próprio projeto
(político) de administração pública. Por isso, é importante não só recuperar a missão
democrática do Poder Judiciário que, ao interpretar a lei, tem o dever de controlar a sua
legitimidade, mas também ressaltar a importância de todos aqueles que, pelo acesso ao
Judiciário, têm oportunidade de fazer frente ao “império da lei”.

Com efeito, o real alcance da cidadania, que é um dos alicerces do Estado Democrático de
Direito (art. 1o, inc. II, da CF), é resgatar, principalmente pelo mecanismo processual, a
possibilidade dos cidadãos questionarem criticamente as regras que lhes são impostas, já
que não são escravos do poder (ao contrário, o poder a eles pertence; art. 1o, par. 1o, da CF),
nem se confundem com meros intérpretes passivos de textos legislativos, mas são os
verdadeiros vigilantes da Democracia, rompendo a inércia do Poder Judiciário, para que este,
valendo-se do exercício legítimo da jurisdição, construa, após a indispensável participação das
partes a serem atingidas pela decisão judicial (art. 5o, inc. LIV e LV, CF), a norma jurídica que
seja a mais adequada à promoção dos valores mais relevantes para a dignidade da pessoa
humana e para o bem-estar social.

3.3. Pressupostos Processuais


Os pressupostos processuais estão expressamente previstos no art. 267, IV CPC. Ele fala em
pressupostos processuais de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo.
Mas, na doutrina, os pressupostos de constituição são chamados de pressupostos de
existência. E os pressupostos de desenvolvimento válido e regular do processo são os
chamados de pressupostos processuais (ou requisitos) de validade.

3.3.1. Pressupostos de Existência e Requisitos de Validade


Importante ressaltar que essa divisão é uma opção doutrinária, sendo bem diversa a doutrina
a respeito dos pressupostos processuais.

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Essa subdivisão entre pressupostos de existência e requisitos de validade é a adotada por


Didier. A seguinte, que o divide em pressupostos subjetivos e objetivos, é a apresentada por
Daniel Assumpção.

O processo, do ponto de vista interno, é uma relação jurídica; do ponto de vista externo, um
procedimento. Possui, pois, como em toda relação jurídica, a coexistência de elementos
subjetivos (sujeitos) e objetivos (fato jurídico e objeto).

A presença ou não desses elementos é que caracteriza os pressupostos de existência. Já os


requisitos de validade se referem à necessidade de se respeitar a forma do ato e de se verificar
a capacidade das partes.

3.3.1.1. Pressupostos de Existência


São eles:

a) Investidura: é a existência de um órgão investido de jurisdição, apto a representar o


Estado na relação jurídica processual. O processo ajuizado perante não juiz é
considerado inexistente.

b) Existência de um ato inicial do procedimento (demanda): trata-se do ato de pedir, o


qual delimita a prestação jurisdicional.

Assim, verifica-se que o processo tem existência a partir do momento em que a petição
inicial é apresentada à Justiça, e não do despacho da inicial ou da citação do réu.

O processo só existe para o réu quando ele é citado, art. 219 CPC. O art. 214, § 1º, diz que o
processo é válido se o réu comparece voluntariamente ao processo.

Então isso é o que se chama de FORMAÇÃO GRADUAL DO PROCESSO, o processo se forma


primeiro para o autor e depois para o réu, enquanto o réu não for citado, em tese, para o réu
não existe processo. Existe processo para o autor, mas ainda não existe para o réu.

Essa é a corrente mais moderna e acertada, defendida por Didier e Dinamarco. Há outras
correntes:

1.Teoria básica do Alexandre Câmara:

Quais são os pressupostos processuais de existência?

São a Demanda, o órgão jurisdicional e as partes.

2.Para os autores tradicionais: Nelson Nery, Marcelo Abelha Rodrigues, Teresa Arruda Alvim,
Luiz Rodrigues Wambier.

Quais os pressupostos processuais de existência?

Petição inicial, jurisdição, citação e capacidade postulatória.

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Essas outras correntes estão erradas, especialmente a última, já que o processo existe, sem
dúvidas, antes da citação. Ademais, capacidade postulatória é requisito de validade.

3.3.1.2. Requisitos de Validade


São eles:

a) Imparcialidade: trata-se de pressuposto existencial para a validade do processo; não se


refere à existência, visto que, por mais parcial que seja o juiz, o processo nunca deixará
de existir juridicamente. Lembrar que a imparcialidade do juiz é pressuposto para a
obediência ao princípio do devido processo legal substantivo.

b) Capacidade de ser parte: trata-se da legitimidade ad causam ou personalidade


judiciária, aptidão para, em tese, ser sujeito da relação jurídica processual ou assumir
uma situação jurídica processual (autor, réu, assistente etc.)

Todos os que podem ser sujeitos de uma relação jurídica material como as pessoas
naturais, jurídicas, nascituro, condomínio, sociedade em comum etc., tem
personalidade judiciária, ou seja, poderão demandar ou ser demandados em juízo,
ainda que por representação. IMPORTANTE: A LEGITIMIDADE AD CAUSAM É UMA
CONDIÇÃO DA AÇÃO (LEGITIMIDADE), ENQUANTO A LEGITIMIDADE AD PROCESSUM
É, REALMENTE, UM REQUISITO PROCESSUAL DE VALIDADE.

c) Capacidade de estar em juízo ou capacidade processual: trata-se da legitimatio ad


processum, a capacidade que tem a parte de praticar atos processuais, espécie de ato
jurídico, de demandar e ser demandado (independentemente de assistência e/ou
representação). Assim, não têm capacidade processual os menores de idade, os quais
a adquirem mediante a assistência ou representação. Já os maiores têm capacidade de
serem parte e capacidade de estar em juízo, pois os atos que praticam são válidos,
sendo eles sujeitos capazes de assumir direitos e obrigações na vida civil.

A capacidade processual pressupõe a capacidade de ser parte e a sua falta é sempre sanável,
gerando como consequência, se sanada não for: extinção do processo, se por culpa do autor;
revelia, se por culpa do réu; exclusão do processo, se por culpa de terceiro.

d) Capacidade postulatória: trata-se da necessidade de capacidade técnica para a


realização válida de alguns atos processuais, abrangendo a capacidade de pedir e de
responder processualmente. Somente poderá ser vista como requisito de
admissibilidade a falta de capacidade postulatória por parte do autor, já que somente
ela tem a força de causar a não instauração do processo. Possuem capacidade
postulatória o advogado e o estagiário de direito, esse com capacidade reduzida.

Os atos privativos de advogados praticados por pessoas não inscritas na OAB são nulos, ou
seja, inválidos. Por vezes a capacidade postulatória é dispensada POR LEI, como pode ocorrer
nos Juizados Especiais Cíveis (até 20 SM), no HC, na Justiça do Trabalho (1ª instância) etc.

e) Ausência dos pressupostos processuais extrínsecos negativos: pressupostos


extrínsecos são a litispendência, coisa julgada, perempção, transação, convenção de
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arbitragem e ausência de pagamento de custas processuais em demanda idêntica


extinta anteriormente por sentença terminativa. Trata-se de pressuposto negativo, já
que a presença dele torna inválida a relação processual.

f) Petição inicial apta:

g) Citação válida: a citação inválida gera uma nulidade absoluta, a qual excepcionalmente
não se convalida com o trânsito em julgado.

O exposto acima é o defendido por Didier, e o que eu adoto. Evidentemente que há variações
na doutrina.

1. Para Câmara:

Pressupostos processuais de validade:

1.1- Demanda regularmente proposta, ou seja, com a observância dos arts. 282,
283 e 39, I do CPC.

1.2- Um órgão jurisdicional investido de jurisdição e partes capazes. O termo


partes capazes abrange a capacidade de ser parte, a capacidade de estar em juízo
e a capacidade postulatória.

2. Para a Teoria Tradicional:

Pressupostos processuais de validade:

2.1- Petição inicial apta, observância dos arts. 282, 283 e 39, I do CPC.

2.2 – A competência do juízo.

2.3 – A imparcialidade do Juiz.

2.4 – Citação válida.

2.5 – A capacidade processual e legitimidade processual.

3. Para Dinamarco:

Pressupostos processuais de validade:

3.1-Demanda regularmente proposta com a observância dos arts. 282, 283 e 39, I
do CPC.

3.2 – Personalidade jurídica plena do autor.

3.3 – personalidade judiciária do réu.

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3.3.2. Pressupostos Objetivos e Subjetivos

3.3.2.1. Pressupostos Subjetivos


Podem dizer respeito ao Juiz ou podem dizer respeito às partes. São eles:

a) Investidura: órgão judicial devida e oficialmente munido dos poderes judiciais;

b) Imparcialidade: se o juiz não for imparcial, a tutela jurisdicional prestada terá sido
absolutamente nula; não se pode falar em inexistência, mas em nulidade;

c) Competência: decisão tomada por juiz incompetente é nula, salvo se puder ser
aproveitada;

d) Capacidade de ser parte: todos têm capacidade de ser parte;

e) Capacidade de estar em juízo ou capacidade processual:

f) Capacidade postulatória:

3.3.2.2. Pressupostos Objetivos Extrínsecos e Intrínsecos


Pressupostos objetivos dizem respeitos à demanda. Os pressupostos objetivos podem ser
extrínsecos ou intrínsecos.

Pressupostos extrínsecos

Os pressupostos objetivos extrínsecos são analisados fora da relação jurídica processual,


considerados como pressupostos processuais negativos, já que a presença do vício torna
inviável a validade do processo. São pressupostos dessa espécie:

a) Coisa julgada material;

b) Litispendência;

c) Perempção;

d) Transação;

e) Convenção de arbitragem;

f) Ausência de pagamento de custas processuais.

Pressupostos intrínsecos

São pressupostos que devem ser analisados na própria relação processual. Eles são
pressupostos positivos, pois, ao contrário dos pressupostos extrínsecos, devem estar
presentes para a validade do processo. São eles:

a) Demanda: trata-se da ação em movimento, deve ser pedido algo;

b) Petição inicial apta: é o instrumento pelo qual se materializa a demanda. Será apta
quando inepta não for;
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c) Citação válida:

d) Regularidade formal:

3.3.2.3.Pressupostos Processuais – Tabelas Síntese


PRESSUPOSTOS DE INVESTIDURA Deve haver um órgão oficial que represente o Estado.
EXISTÊNCIA DEMANDA Inicia a tutela jurisdicional.
O juiz deve ser imparcial, sob pena de agressão ao devido
IMPARCIALIDADE processo legal substantivo.
É a capacidade de ser parte, todas as pessoas a possuem.
LEGITIMATIO AD CAUSAM Confunde-se com a condição de ação legitimidade
processual.
É a capacidade processual ou de estar em juízo, ou seja,
LEGITIMATIO AD
de praticar atos processuais sem representante ou
REQUISITOS DE PROCESSUM assistente.
VALIDADE CAPACIDADE Conferida aos advogados para a prática de atos de
POSTULATÓRIA natureza técnica.
AUSÊNCIA DE Litispendência, coisa julgada, perempção, convenção de
PRESSUPOSTOS arbitragem e transação.
EXTRÍNSECOS NEGATIVOS
PETIÇÃO INICIAL APTA Se inepta, pode levar à extinção do processo.
CITAÇÃO VÁLIDA É causa de nulidade processual a citação inválida.

PRESSUPOSTOS Investidura; Imparcialidade; Competência; Capacidade de ser parte; Capacidade de


SUBJETIVOS estar em juízo ou capacidade processual; Capacidade postulatória
Demanda; Petição inicial apta; Citação válida;
INTRÍNCECOS Regularidade formal.
PRESSUPOSTOS
Coisa julgada material; Litispendência; Perempção;
OBJETIVOS EXTRÍNSECOS Transação; Convenção de arbitragem; Ausência de
pagamento de custas processuais.

3.4. Princípios Processuais

3.4.1. Devido Processo Legal


Consagrado no art. 5º LIV, da CR/88, cuida ele de um supraprincípio norteador de todos os
demais que devem ser observados no processo.

Atualmente esse princípio é analisado sob duas vertentes, o devido processo legal substantivo
e o devido processo legal formal.

No sentido substantivo (ou material), o devido processo legal diz respeito ao campo da
elaboração e interpretação das normas jurídicas, ditando que estas devem ser interpretadas
de maneira razoável, evitando-se a atividade legislativa abusiva e irrazoável. Ele funciona como
parâmetro de controle dos abusos, principalmente do Poder Público (mas também dos
particulares), balizando-se na proporcionalidade.

Due process of law, com conteúdo substantivo - substantive due process -


constitui limite ao Legislativo, no sentido de que as leis devem ser
elaboradas com justiça, devem ser dotadas de razoabilidade

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(reasonableness) e de racionalidade (racinality), devem guardar, segundo


W. Holmes, um real substancial nexo com o objetivo que se quer atingir

E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - ELEIÇÕES


MUNICIPAIS DE 1996 - COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS APENAS PARA ELEIÇÕES
PROPORCIONAIS - VEDAÇÃO ESTABELECIDA PELA LEI N. 9.100/95 (ART. 6º) -
ALEGAÇÃO DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PARTIDÁRIA (CF,
ART. 17, § 1º) E DE VIOLAÇÃO AOS POSTULADOS DO PLURIPARTIDARISMO E
DO REGIME DEMOCRÁTICO - AUSÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE JURÍDICA -
MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA. PARTIDO POLÍTICO - AÇÃO DIRETA -
LEGITIMIDADE ATIVA - INEXIGIBILIDADE DO VÍNCULO DE PERTINÊNCIA
TEMÁTICA. [...] VEDAÇÃO DE COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS APENAS NAS
ELEIÇÕES PROPORCIONAIS - PROIBIÇÃO LEGAL QUE NÃO SE REVELA
ARBITRÁRIA OU IRRAZOÁVEL - RESPEITO À CLÁUSULA DO SUBSTANTIVE DUE
PROCESS OF LAW. - O ESTADO NÃO PODE LEGISLAR ABUSIVAMENTE. A
ATIVIDADE LEGISLATIVA ESTÁ NECESSARIAMENTE SUJEITA À RÍGIDA
OBSERVÂNCIA DE DIRETRIZ FUNDAMENTAL, QUE, ENCONTRANDO
SUPORTE TEÓRICO NO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE, VEDA OS
EXCESSOS NORMATIVOS E AS PRESCRIÇÕES IRRAZOÁVEIS DO PODER
PÚBLICO. O princípio da proporcionalidade - que extrai a sua justificação
dogmática de diversas cláusulas constitucionais, notadamente daquela que
veicula a garantia do substantive due process of law - acha-se vocacionado a
inibir e a neutralizar os abusos do Poder Público no exercício de suas
funções, qualificando-se como parâmetro de aferição da própria
constitucionalidade material dos atos estatais. A norma estatal, que não
veicula qualquer conteúdo de irrazoabilidade, presta obséquio ao postulado
da proporcionalidade, ajustando-se à cláusula que consagra, em sua
dimensão material, o princípio do substantive due process of law (CF, art.
5º, LIV). Essa cláusula tutelar, ao inibir os efeitos prejudiciais decorrentes do
abuso de poder legislativo, enfatiza a noção de que a prerrogativa de legislar
outorgada ao Estado constitui atribuição jurídica essencialmente limitada,
ainda que o momento de abstrata instauração normativa possa repousar em
juízo meramente político ou discricionário do legislador.

(ADI 1407 MC, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em
07/03/1996, DJ 24-11-2000 PP-00086 EMENT VOL-02013-10 PP-01974)

No sentido formal (devido processo legal adjetivo) está a definição tradicional do princípio,
dirigido ao processo em si, obrigando-se o juiz no caso concreto a observar os princípios
processuais na condução do instrumento estatal oferecido aos jurisdicionados para a tutela de
seus direitos materiais.

Hodiernamente o devido processo legal vem associado com a ideia de um processo justo, que
permite a ampla participação das partes e a efetiva proteção de seus direitos.

O procedural due process, também chamado de devido processo adjetivo ou procedimental, é


considerado mais restrito que o devido processo material e caracteriza-se pela simples norma
de respeito ao procedimento previamente regulado. Inobstante o alcance diminuto, esta
faceta do devido processo legal é mais empregada pela doutrina e pelos usuários do Direito,
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142

talvez exatamente por conta do vocábulo "processo" do princípio estudado, foi ele apenas
sub-utilizado nesta acepção.

3.4.2. Contraditório
Previsto no art. 5º, LV, da CR/88.

Tradicionalmente, o contraditório se consagra ante a possibilidade das partes se informarem e


de reagir aos atos processuais, devendo ser devidamente comunicadas dos atos a fim de se
lhes oportunizar a manifestação.

Entretanto, o contraditório enquanto reação depende da vontade da parte, pois após


garantida a informação mediante os atos de comunicação processual, é ela quem deve arcar
com o ônus processual de agir ou se omitir. Logo, não há contraditório ante a inércia da parte.

Porém, há outros aspectos sob o qual o princípio pode ser analisado.

a) Poder de influenciar no convencimento do juiz: se o juiz não aprecia a manifestação da


parte, o contraditório não tem qualquer valia. Ele deve efetivamente analisar o que a
parte alegou.

b) Contraditório como forma de evitar surpresas às partes: é o que deve ser feito se, por
exemplo, o juiz quiser conferir efeitos infringentes aos embargos de declaração.
Consubstancia essa vertente o seguinte julgado:

RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE POR VÍCIO NO


PRODUTO (ART. 18 DO CDC). ÔNUS DA PROVA. INVERSÃO 'OPE JUDICIS'
(ART. 6º, VIII, DO CDC). MOMENTO DA INVERSÃO. PREFERENCIALMENTE NA
FASE DE SANEAMENTO DO PROCESSO.

A inversão do ônus da prova pode decorrer da lei ('ope legis'), como na


responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço (arts.

12 e 14 do CDC), ou por determinação judicial ('ope judicis'), como no caso


dos autos, versando acerca da responsabilidade por vício no produto (art. 18
do CDC). Inteligência das regras dos arts. 12, § 3º, II, e 14, § 3º, I, e. 6º, VIII,
do CDC.

A distribuição do ônus da prova, além de constituir regra de julgamento


dirigida ao juiz (aspecto objetivo), apresenta-se também como norma de
conduta para as partes, pautando, conforme o ônus atribuído a cada uma
delas, o seu comportamento processual (aspecto subjetivo). Doutrina.

Se o modo como distribuído o ônus da prova influi no comportamento


processual das partes (aspecto subjetivo), não pode a a inversão 'ope judicis'
ocorrer quando do julgamento da causa pelo juiz (sentença) ou pelo tribunal
(acórdão).

Previsão nesse sentido do art. 262, § 1º, do Projeto de Código de Processo


Civil.

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143

A inversão 'ope judicis' do ônus probatório deve ocorrer preferencialmente


na fase de saneamento do processo ou, pelo menos, assegurando-se à parte
a quem não incumbia inicialmente o encargo, a reabertura de oportunidade
para apresentação de provas.

Divergência jurisprudencial entre a Terceira e a Quarta Turma desta Corte.

RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.

(REsp 802.832/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,


SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/04/2011, DJe 21/09/2011)

c) Contraditório inútil: em alguns casos, a ofensa ao contraditório não faz qualquer


diferença em relação ao resultado do processo. Apesar de ser um princípio
fundamental, ele é mitigado em várias ocasiões. Há inutilidade, por exemplo, quando
se desrespeitou o contraditório acerca da juntada de um documento, tendo a parte
cuja vista era exigida sido vencedora na demanda. Nenhum prejuízo houve, apesar de
ela não ter se manifestado numa situação específica.

d) Contraditório diferido: há vários casos em que a lei permite o diferimento do


contraditório, como naqueles casos de tutela de urgência, de pedidos em caráter
liminar que devem ser concedidos inaudita altera parte.

3.4.3. Princípios Dispositivos e Inquisitivos


No sistema inquisitivo puro, o juiz é colocado como a figura central do processo, cabendo a ele
a sua instauração e condução sem a necessidade de qualquer provocação das partes. A
liberdade do juiz é ampla e irrestrita.

No sistema dispositivo puro, o juiz passa a ter uma participação condicionada à vontade das
partes, que definem não só a existência do processo como também o seu desenvolvimento.

O sistema brasileiro adotou um sistema misto, preponderando o princípio dispositivo.

Comprova isso, por exemplo, o fato de o juiz estar vinculado aos pedidos e à causa de pedir
delimitados apenas pelas partes (princípio da congruência, art. 460, CPC), mas ainda assim
poder ele determinar a produção de provas de ofício (art. 130, CPC).

Esses poderes foram sendo conferidos ao juiz com a evolução da legislação decorrente do
publicismo processual, que retira parte da autonomia privada exclusiva no desenrolar
processual. É movimento que tem como contrários os neoprivatistas, que abominam o fato de
o juiz ter poderes instrutórios.

3.4.4. Motivação das Decisões


Princípio consagrado no art. 93, IX, da CR/88, pelo qual todas as decisões proferidas em
processo judicial ou administrativo devem ser motivadas de forma exteriorizada, com a
demonstração concreta do raciocínio fático e jurídico que se desenvolveu para chegar às
conclusões contidas na decisão.

Para aprofundar nesse tema, vide o capítulo sobre a teoria da decisão judicial.
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144

3.4.5. Isonomia
A isonomia é constitucionalmente exigida; ela permite, junto aos demais princípios
(especialmente o contraditório) a consagração da paridade de armas, além de ser meio de se
demonstrar concretamente a imparcialidade do juiz.

A isonomia é consagrada também mediante o tratamento diferenciado conferido a


determinadas pessoas, como o direito à justiça gratuita ao jurisdicionado pobre na forma da
lei, o direito a prazos em dobro às partes com procuradores diferentes e os privilégios (ou
prerrogativas, a depender do ponto de vista) da Fazenda Pública.

Trata-se, nesse caso, da isonomia em sua acepção vertical, igualando os desiguais.

3.4.6. Economia Processual


Esse princípio deve ser analisado sob dois enfoques diferentes: do ponto de vista sistêmico,
significa que quanto menos demandas existirem para se chegar aos mesmos resultados,
melhor será em termos de qualidade da prestação jurisdicional como um todo. Seria uma
forma de consagrar a economia processual a difusão das demandas coletivas, em substituição
às demandas fragmentárias ajuizadas individualmente por cada pessoa.

No mesmo sentido vai a permissão do litisconsórcio.

De um ponto de vista microscópico, a economia processual pode ser entendida como a


tentativa de ser o processo o mais barato possível, gerando o menor valor de gastos, tanto
relativamente às questões financeiras quanto aos atos processuais desnecessários.

3.4.7. Instrumentalidade das Formas


Princípio que consagra o afastamento da nulidade em decorrência da inobservância de uma
determinada formalidade prevista em lei, quando dela não advier prejuízo a ninguém, quando
o erro for demasiado grosseiro e quando se consiga o mesmo resultado que a adoção da forma
ideal implicaria.

3.4.8. Razoável Duração do Processo


A Emenda Constitucional nº 45/2004 inseriu o princípio da razoável duração do processo
dentro das garantias fundamentais asseguradas a cada indivíduo, insculpido no inciso LXXVIII
do art. 5º da Constituição da República de 1988.

Os motivos que levaram o legislador a erigir a questão do tempo do processo ao nível de


garantia fundamental demonstra uma insatisfação da sociedade com a prestação da tutela
jurisdicional e o entendimento de que a jurisdição não deve ser apenas "prestada" pelo
Estado como decorrência do direito de ação, mas que a tutela jurisdicional deve ser efetiva,
tempestiva e adequada, sendo atribuição do Estado alcançar este objetivo.

A ampliação dos direitos fundamentais com o reconhecimento de novos direitos faz surgir
também no panorama jurídico novas formas de conflito, especialmente as decorrentes dos
direitos de segunda e terceira dimensão, que trazem à baila questões relativas às relações de
emprego, habitação, educação, transporte, consumo, meio ambiente, entre outros,
aumentando sobremaneira o número de demandas levadas à apreciação do Poder Judiciário.
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145

O surgimento desses novos conflitos é indicado por alguns autores como o principal fator
responsável pela chamada ‘explosão da litigiosidade’, que deflagrou a CRISE NA
ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA, apontando a necessidade premente de desburocratização do
sistema e de simplificação dos procedimentos

O princípio da razoável duração do processo, inserto na Carta Constitucional no art. 5º, LXXVII,
por ocasião da Emenda Constitucional n. 45/2004 não é instituto novo. A Convenção
Americana de Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica,
que tem o Brasil como signatário, estabelece em seu art. 8º, que o direito a ser ouvido com
as devidas garantias e dentro de um prazo razoável por um juiz, imparcial, independente e
competente para o exame da matéria, é pertinente a todos os indivíduos.

Como paradigma, temos também o modelo americano, que no art. 6º de sua Emenda à
Constituição, trata do speedy trial clause (cláusula do julgamento rápido).

No dizer de Humberto Theodoro Júnior, tal garantia "trata-se de uma aproximação com o ideal
do processo justo que entre os constitucionalistas contemporâneos funciona como um
aprimoramento da garantia do devido processo legal. Para merecer esse nomen iuris, a
prestação jurisdicional, além de atender aos requisitos tradicionais – juiz natural, forma legal,
contraditório e julgamento segundo a lei – têm de proporcionar à parte um resultado
compatível com a efetividade e a presteza".

A introdução da garantia da razoável duração do processo, através da Emenda Constitucional


nº 45, de 2004, possibilitou à ciência processual deflagrar a efetiva necessidade de repensar a
prestação jurisdicional, não apenas como tarefa do Estado, mas um direito de todo indivíduo.

Nesse sentido, espera-se não apenas uma resposta do Estado para a solução da lide, mas uma
tutela efetiva, adequada e tempestiva, uma vez que o indivíduo enxerga na Justiça não
somente o lugar onde vai conseguir solucionar todos os seus problemas, mas também o
único lugar onde podem buscar isso.

Assegurado constitucionalmente, o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional


preconiza em termos mais amplos não somente o direito à prestação jurisdicional, mas ao
efetivo acesso à justiça, através da criação de novos procedimentos que buscam acelerar a
solução do litígio, através de juízos de cognição sumária.

A emenda constitucional nº 45, ao acrescentar ao artigo 5º o inciso LXXVIII, que conjugado


com a inafastabilidade do controle jurisdicional, garante também a "razoável duração do
processo" e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação, demonstrou a
preocupação (mesmo que tardia) do Estado com a "explosão da litigiosidade" existente na
sociedade brasileira.

O Estado, entretanto, deixou de lado uma questão lógica decorrente da nova garantia: a forma
de cumpri-la.

Isso porque há uma exigência de rapidez sem que exista uma estrutura judiciária que
comporte este ideal, o que acaba sendo motivo de deslegitimização do Estado, bem como
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146

desmoralização do próprio Judiciário, uma vez que a garantia por ele criada é meramente
programática, e sua aplicação depende de recursos outros além da boa vontade e agilidade do
Poder Judiciário na solução dos conflitos.

A tarefa a qual nos propomos é árdua, mas tangível: repensar os institutos processuais e
adequá-los à realidade social. Infelizmente, ocorre que a orientação ainda seguida pelas
universidades de direito remonta à concepção kantiana (racionalista) da ideia de direito, em
que temos o "ser" e o "dever ser" como divisores de águas entre o direito e o fato. O direito,
assim, preocupa-se tão somente com a norma positiva, deixando de lado a realidade social
existente fora do sistema jurídico.

Muito embora o sistema jurídico seja um sistema fechado, no sentido de que tem normas,
institutos e linguagem próprios, isso não quer dizer que o sistema do direito não possa
absorver dos demais sistemas a ideologia integradora da sociedade para a efetivação da
norma incompleta e/ou inexistente. A partir do momento em que o direito observa a
sociedade não com os "frios olhos da lei", mas como indivíduos receptores da norma jurídica,
mas também detentores de direitos não alcançados, na maioria das vezes, pela ineficiência do
Estado, o sistema do direito renova-se, multiplica-se, viabilizando o que então chamamos de
efetiva tutela jurisdicional.

Entretanto, a justiça, mesmo que rápida, deve sempre atentar para os princípios e garantias
constitucionalmente revestidas e de incondicional aplicação ao processo, sob pena do Estado
falhar pelo desejo de proteger os cidadãos da morosidade da Justiça e, com isso, forçando
decisões rápidas, advindas de uma cognição sumariamente instruída, afastando-se, portanto,
do ideal do "justo direito".

Isso costuma ocorrer quando os juízes, no anseio de julgar rapidamente as causas, “queimam
etapas” do processo, eliminando, por exemplo, a impugnação à contestação etc.

3.4.8.1. Razoável Duração do Processo X Celeridade


Não se confundem. A celeridade guarda relação com a velocidade rápida do processo. Já a
duração razoável do processo, princípio constitucional, estabelece uma relação de adequação
entre o tempo do processo e os instrumentos necessários para a sua tramitação, de modo a
se ter um tempo razoável - nem mais, nem menos que o necessário para a entrega da
prestação jurisdicional.

A relação de proporção acima citada deve observar três critérios para determinar a razoável
duração do processo:

a) A complexidade do assunto;

b) O comportamento dos litigantes e de seus procuradores ou da acusação e da


defesa no processo; e

c) A atuação do órgão jurisdicional.

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O reconhecimento destes critérios traz como imediata consequência a visualização das


dilações indevidas, permitindo o controle dos atos e as manobras processuais dos sujeitos
envolvidos.

Segundo Didier, “não existe um princípio da celeridade. O processo não tem que ser
rápido/célere: o processo deve demorar o tempo necessário e adequado à solução do caso
submetido ao órgão jurisdicional.

3.4.9. Duplo Grau de Jurisdição


Não se trata de um princípio constitucional explícito. Há mesmo quem diga que nem princípio
constitucional é.

Está previsto, para parte da doutrina, implicitamente na CR/88, no ponto em que dispõe ter o
réu a garantia do direito a todos os recursos inerentes à defesa. Além desse fundamento, há
quem defenda ser o princípio decorrência da própria estrutura constitucional do Poder
Judiciário, ao prever os tribunais de apelação. Essa posição NÃO é pacífica, há quem diga que
esse princípio NÃO tem amparo constitucional.

O princípio, de todo modo, está previsto no ordenamento jurídico brasileiro, na Convenção


Americana de Direitos Humanos, ou seja, no Pacto de San José da Costa Rica (artigo 8 o), e
sofre exceção nos casos de competência originária dos tribunais de segundo grau. Em se
tratando de competência originária, não há direito de apelação, mesmo que sejam, como são,
permitidos outros recursos, mas, que não são amplos como a apelação.

NA VISÃO DO STF, NÃO HÁ NENHUMA INCONSTITUCIONALIDADE NA PREVISÃO LEGAL QUE,


INIBINDO O ACESSO AO TRIBUNAL DE SEGUNDA INSTÂNCIA, ESTABELECE HIPÓTESES EM
QUE NÃO É CABÍVEL O RECURSO DE APELAÇÃO. Bem por isso, aliás, o STF reputa válido o art.
34 da Lei nº 6.830/80, que veda a interposição de recurso de apelação em se cuidando de
execuções fiscais de pequeno valor. Nesse sentido:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO - ARTIGO 108, INCISO II, DA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL - DESPROVIMENTO DO AGRAVO. Consoante a jurisprudência do
Supremo, o inciso II do artigo 108 da Lei Fundamental não é norma
instituidora de recurso. O dispositivo apenas define a competência para o
julgamento daqueles criados pela lei processual. Nada impede a opção
legislativa pela inviabilidade de inconformismo dirigido à segunda
instância. (STF, Primeira Turma, RE 460162 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio,
DJe de 12/03/2009)

Outros julgados que envolvem o princípio:

Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO DE INSTRUMENTO, COM PEDIDO DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITOS
INFRINGENTES. SUPRIMENTO DE OMISSÃO QUANTO À ALEGAÇÃO DE
VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DUPLO GRAU DE
JURISDIÇÃO E DO JUIZ NATURAL. MATÉRIA DE CUNHO
INFRACONSTITUCIONAL, CONSTITUINDO EVENTUAL OFENSA INDIRETA OU
REFLEXA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PERSISTÊNCIA DA INADMISSIBILIDADE
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DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 1. A garantia constitucional do duplo grau


de jurisdição (art. 5º, LV) insere-se no âmbito de proteção do princípio
constitucional da ampla defesa, insculpido no mesmo enunciado
normativo da Carta Magna, razão pela qual o tema foi enfrentado no
acórdão embargado sob essa ótica, consignando-se a natureza
infraconstitucional da controvérsia. 2. A violação do princípio constitucional
do juiz natural (art. 5º, LIII), implica suprir a omissão do acórdão embargado
para assentar que, também nessa hipótese, há eventual ofensa indireta ou
reflexa, que não autoriza a interposição do recurso extraordinário. 3.
Mantida a inadmissibilidade do recurso extraordinário, é de se rejeitar a
atribuição dos pretendidos efeitos infringentes. 4. Embargos declaratórios a
que se dá provimento parcial.

(AI 845223 AgR-ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
13/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-066 DIVULG 30-03-2012 PUBLIC
02-04-2012)

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL PENAL. ALEGAÇÃO DE


OFENSA AO ARTIGO 5°, PARÁGRAFOS 1° E 3°, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS
HUMANOS. EMENDA CONSTITUCIONAL 45/04. GARANTIA QUE NÃO É
ABSOLUTA E DEVE SE COMPATIBILIZAR COM AS EXCEÇÕES PREVISTAS NO
PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL. PRECEDENTE. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO
AO PRINCÍPIO DA IGUALDADE. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1.
Agravo que pretende exame do recurso extraordinário no qual se busca
viabilizar a interposição de recurso inominado, com efeito de apelação, de
decisão condenatória proferida por Tribunal Regional Federal, em sede de
competência criminal originária. 2. A Emenda Constitucional 45/04 atribuiu
aos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, desde
que aprovados na forma prevista no § 3º do art. 5º da Constituição Federal,
hierarquia constitucional. 3. Contudo, não obstante o fato de que o
princípio do duplo grau de jurisdição previsto na Convenção Americana de
Direitos Humanos tenha sido internalizado no direito doméstico brasileiro,
isto não significa que esse princípio revista-se de natureza absoluta. 4. A
própria Constituição Federal estabelece exceções ao princípio do duplo
grau de jurisdição. Não procede, assim, a tese de que a Emenda
Constitucional 45/04 introduziu na Constituição uma nova modalidade de
recurso inominado, de modo a conferir eficácia ao duplo grau de
jurisdição. 5. Alegação de violação ao princípio da igualdade que se repele
porque o agravante, na condição de magistrado, possui foro por
prerrogativa de função e, por conseguinte, não pode ser equiparado aos
demais cidadãos. O agravante foi julgado por 14 Desembargadores Federais
que integram a Corte Especial do Tribunal Regional Federal e fez uso de rito
processual que oferece possibilidade de defesa preliminar ao recebimento
da denúncia, o que não ocorre, de regra, no rito comum ordinário a que são
submetidas as demais pessoas. 6. Agravo regimental improvido.

(AI 601832 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma,


julgado em 17/03/2009, DJe-064 DIVULG 02-04-2009 PUBLIC 03-04-2009
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EMENT VOL-02355-06 PP-01129 RSJADV jun., 2009, p. 34-38 RT v. 98, n. 885,


2009, p. 518-524)

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. SENTENÇA CONDENATÓRIA.


RECURSO DE APELAÇÃO. PROCESSAMENTO. POSSIBILIDADE.
DESNECESSIDADE DE RECOLHIMENTO DO RÉU À PRISÃO. DECRETO DE
CUSTÓDIA CAUTELAR NÃO PREJUDICADO. PRISÃO PREVENTIVA
SUBSISTENTE ENQUANTO PERDURAREM OS MOTIVOS QUE A MOTIVARAM.
ORDEM CONCEDIDA I - Independe do recolhimento à prisão o regular
processamento de recurso de apelação do condenado. II - O decreto de
prisão preventiva, porém, pode subsistir enquanto perdurarem os motivos
que justificaram a sua decretação. III - A garantia do devido processo legal
engloba o direito ao duplo grau de jurisdição, sobrepondo-se à exigência
prevista no art. 594 do CPP. IV - O acesso à instância resursal superior
consubstancia direito que se encontra incorporado ao sistema pátrio de
direitos e garantias fundamentais. V - Ainda que não se empreste
dignidade constitucional ao duplo grau de jurisdição, trata-se de garantia
prevista na Convenção Interamericana de Direitos Humanos, cuja
ratificação pelo Brasil deu-se em 1992, data posterior à promulgação Código
de Processo Penal. VI - A incorporação posterior ao ordenamento brasileiro
de regra prevista em tratado internacional tem o condão de modificar a
legislação ordinária que lhe é anterior. VII - Ordem concedida.

(HC 88420, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma,


julgado em 17/04/2007, DJe-032 DIVULG 06-06-2007 PUBLIC 08-06-2007 DJ
08-06-2007 PP-00037 EMENT VOL-02279-03 PP-00429 LEXSTF v. 29, n. 345,
2007, p. 466-474)

3.5. Regramento Processual das Pessoas Casadas

3.5.1. A Restrição da Capacidade Processual de Acordo com o CC/02


As restrições existentes no CC/02, as quais se relacionam, sobretudo, à necessidade de
consentimento do cônjuge, não se aplicam aos regimes de separação total convencional ou
obrigatória de bens e participação final nos aquestos em que o pacto antenupcial preveja a
não aplicação.

Assim, aplicam-se aos regimes de comunhão parcial, comunhão total e participação final nos
aquestos sem exclusão da comunhão no pacto antenupcial.

Nesses casos, o cônjuge somente poderá demandar em juízo, sobre direitos reais imobiliários,
se o outro lhe der autorização expressa. Há outras hipóteses:

a) Ações resultantes de fatos que digam respeito a ambos os cônjuges ou de atos por eles
praticados;

b) Fundadas em dívidas contraídas pelo cônjuge a bem da família, mas cuja execução
recaia sobre o produto do trabalho do outro.

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Não é caso de litisconsórcio ativo necessário – o qual, aliás, não existe em nosso direito; após
o consentimento, somente o cônjuge que propôs a ação será parte no processo. Se não houver
o consentimento, opera-se conforme o art. 11 do CPC:

Art. 11. A autorização do marido e a outorga da mulher podem suprir-se


judicialmente, quando um cônjuge a recuse ao outro sem justo motivo, ou
lhe seja impossível dá-la.

Parágrafo único. A falta, não suprida pelo juiz, da autorização ou da outorga,


quando necessária, invalida o processo.

Porém, se o cônjuge figurar como réu na ação que tenha o objeto citado (direito real
imobiliário), o outro também deverá ser citado, sendo, pois, caso de litisconsórcio passivo
necessário.

Caso o cônjuge não seja ouvido, ou não autorize, poderá ingressar no processo e pedir a
anulação dos atos até então praticados, ajuizar ação rescisória ou ajuizar ação
transrrecisória.

Também é obrigatória a intimação do cônjuge do devedor, quando houver penhora de bem


imóvel. Com a intimação, haverá formação de um litisconsórcio necessário superveniente; sua
falta é vício que pode ser arguido a qualquer tempo e grau de jurisdição, já que a sentença
prolatada nesta condição não possui eficácia (art. 47, CPC).

3.5.2. Forma e Prova do Consentimento


O consentimento é ato de prova livre, que poderá se manifestar sob qualquer forma, desde
que inequívoco.

3.5.3. Aplicação das Disposições sobre o Consentimento do Cônjuge na União Estável


Deverão ser aplicadas as disposições vistas para as pessoas casadas, observado o princípio da
proporcionalidade para se solucionar o conflito existente entre a proteção do instituto pela
CR/88 e as garantias processuais das partes. Deve-se seguir a seguinte orientação (Didier):

a) Caso se trate de união estável notória, o companheiro deve ser intimado;

b) Não sendo notória, mas for alegada nos autos, deve-se providenciar a integração do
ato com a intimação do companheiro faltante;

c) Se não se tratar de união notória e nem houver alegação nos autos, após o trânsito em
julgado somente caberia ao companheiro ação regressiva contra o outro, sem
possibilidade de se rescindir a sentença.

3.5.4. O Controle da Legitimidade Processual do Cônjuge


O embate aqui reside na dúvida sobre se o juiz poderá ou não exercer o controle de ofício, já
que o art. 1.649 do CC/02 dispõe que somente o cônjuge preterido teria legitimidade para
pleitear a invalidação dos atos praticados sem o seu consentimento.

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Nesses casos, Didier afirma que a melhor postura seria o juiz determinar que o cônjuge
apresente a prova do consentimento; não apresentada, utilizando-se do poder geral de
cautela, poderá o juiz mandar intimar o cônjuge preterido.

O silêncio do cônjuge preterido, após citado, deve ser interpretado como se autorizado
tivesse.

A outorga uxória, que é a concedida pelo juiz mediante a negativa de consentimento


injustificada, pelo outro cônjuge, será procedida mediante procedimento de jurisdição
voluntária e deve ter a obrigatória participação do MP como custos legis.

3.6. Curador Especial


É uma espécie de representante processual, nomeado ad hoc, para o incapaz que não tenha
representante ou com ele esteja em litígio, para o réu preso e para o revel, ambos sem
representante.

Estes dois últimos são materialmente capazes, mas processualmente incapazes, já que
ausentes fisicamente. Se o revel comparecer, a presença do curador especial tornar-se-á
desnecessária.

A nomeação do curador especial é uma técnica para equilibrar o direito de ação e o de defesa.

O curador especial é representante processual. Sua função será sempre temporária, podendo
durar, no máximo, até o trânsito em julgado da decisão final. O curador não é parte no
processo e terá função apenas defensiva, não podendo reconvir por não ter legitimidade para
fazer pedido em nome do réu.

PODERÁ, NO ENTANTO, FORMULAR DEFESA GENÉRICA.

O autor não poderá desistir da demanda sem que o consinta o curador especial; hoje, a função
de curador especial foi expressamente atribuída à Defensoria Pública.

3.7. Os Sujeitos do Processo


Sujeitos processuais são o juiz, as partes, seus advogados e quaisquer terceiros intervenientes,
como os opoentes, denunciantes etc.

Sobre o juiz:

O Min. Relator ressaltou que, apesar de o juiz não ser apenas um espectador
da lide, sua atuação não pode sobrepor-se aos deveres impostos às partes
na condição de sujeitos processuais, quanto mais se o CPC, quando permite
uma participação mais efetiva do juízo, faz isso expressamente (vide art. 130
desse código). REsp 1.133.706-SP, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em
1º/3/2011.

Quais são os deveres do Juiz? Embora na doutrina se encontre várias discussões sobre quais
sejam os deveres do Juiz, basicamente eles se condensam em dois deveres: primeiro, garantir
O CONTRADITÓRIO E O SEGUNDO DE DECIDIR AS QUESTÕES APRESENTADAS. Alguns

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autores falam em sentenciar, mas decisão, aqui, abrange qualquer tipo de decisão, decisão
interlocutória, sentença, acórdão, no caso dos Tribunais.

O Juiz possui poderes administrativos e poderes jurisdicionais. Os administrativos são


baseados num poder de polícia, sempre que o Juiz atuar no poder de polícia que dispõe, está
falando em poderes administrativos do Juiz, por exemplo, o Juiz manda retirar uma
testemunha da sala de audiência porque está se comportando inadequadamente, o Juiz
manda retirar uma das partes porque está intimidando a outra; os atos que o Juiz pratica no
cartório, na secretaria, são todos atos praticados com base no poder administrativo do juiz,
baseados no poder de polícia que lhe é atribuído. Mas também tem poderes jurisdicionais, são
aqueles praticados no curso do processo para realizar uma decisão e seu efetivo cumprimento.
Esses poderes podem ser poderes meios e poderes fim. Os chamados poderes meios são
todos aqueles que o Juiz pratica no sentido de viabilizar o julgamento da causa, todos os atos
que ele vai praticar no curso do processo, atos ordinatórios, atos de saneamento, atos
instrutórios, todos têm como finalidade permitir que, ao final, ele possa julgar a causa.

Os poderes fim são os atos decisórios praticados pelo Juiz e os atos de execução voltados para
o cumprimento dessa decisão, os atos de decisão e os atos de execução são chamados poderes
fim do Juiz.

3.7.1. Deveres e Direitos das Partes e Procuradores

3.7.1.1. Atos Atentatórios ao Exercício da Jurisdição – Contempt of Court (art. 14, CPC)
Trata-se de atos dirigidos contra a própria Justiça, o que em muito ultrapassa o atentado
contra a parte contrária. Esses atos são punidos com multa bastante elevada, que podem
chegar até 20% do valor da causa.

Evidentemente que ela será devida EM FAVOR DOS COFRES PÚBLICOS, não para a parte
contrária. São atos atentatórios o descumprimento das seguintes disposições do artigo 14 do
CPC. Porém, SOMENTE O DESCUMPRIMENTO DO INCISO V ENSEJA APLICAÇÃO DE MULTA DE
ATÉ 20%:

I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;

II - proceder com lealdade e boa-fé;

III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são
destituídas de fundamento;

IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à


declaração ou defesa do direito.

V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar


embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória
ou final.

Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente


aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo

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constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem


prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao
responsável multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da
conduta e não superior a vinte por cento do valor da causa; não sendo paga
no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão final da
causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do
Estado.

Quem se sujeita à multa de 20%? Como visto, os advogados não se sujeitam. Defensores
públicos, procuradores e membros do MP também não. Igualmente, não se sujeitam os juízes,
os quais respondem a processo administrativo perante as Corregedorias. Logo, somente
restam as partes e terceiros intervenientes.

Porém, como visto, o conceito de parte é bem amplo. Assim, peritos, assistentes, opoentes
etc., todos podem sofrer a punição pela violação do art. 14, V. Nesse sentido:

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO. AUSÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DE LAUDO DE


AVALIAÇÃO. EMBARAÇO À EFETIVAÇÃO DE PROVIMENTO JUDICIAL.
APLICAÇÃO DA MULTA DO ART. 14, V, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC.

1 – O art. 14, V, parágrafo único, do CPC apenas especificou o dever


genérico de obediência às ordens e decisões judiciais que já existia no
ordenamento jurídico, estabelecendo ainda sanção específica para a
hipótese de descumprimento. Seus preceitos evidenciam a censura ao
chamado Contempt of Court37, também presente no código de processo civil
alemão (Missachtung des Gerichts).

2 - Os deveres contidos no art. 14 do CPC são extensivos a quem quer que


cometa o atentado ao exercício da jurisdição. Por esse motivo, A MULTA
POR DESACATO À ATIVIDADE JURISDICIONAL PREVISTA PELO PARÁGRAFO
ÚNICO DESTE ARTIGO É APLICÁVEL NÃO SOMENTE ÀS PARTES E
TESTEMUNHAS, MAS TAMBÉM AOS PERITOS E ESPECIALISTAS QUE, POR
QUALQUER MOTIVO, DEIXAM DE APRESENTAR NOS AUTOS PARECER OU
AVALIAÇÃO. Na hipótese julgada, a empresa que estava incumbida da
entrega do laudo desempenhava função de perito.

Recurso conhecido e não provido.

37
Para o direito anglo-saxônico, o contempt of court significa a prática de qualquer ato que tenda a
ofender um tribunal na administração da justiça ou a diminuir sua autoridade ou dignidade, incluindo
a desobediência a uma ordem. O contempt of court se divide em criminal e civil, sendo que o criminal
destina-se à punição pela conduta atentatória praticada, enquanto o civil destina-se ao cumprimento da
decisão judicial, usando para tanto meios coercitivos. É possível que uma conduta desrespeitosa seja
passível, ao mesmo tempo, de contempt civil e criminal, seja no processo civil, seja no processo penal.
No contempt criminal (punitivo), o processo, autônomo, sumário, é instaurado de ofício ou por
provocação da parte interessada; no civil (coercitivo), a aplicação ocorre nos mesmos autos, mediante
provocação do interessado, garantida a ampla defesa. Admite-se transação sobre o contempt civil. As
sanções ensejadas pelo contempt, em qualquer de suas modalidades, são a prisão, a multa, a perda de
direitos processuais e o sequestro. No civil, a punição é por tempo indeterminado, até que haja o
cumprimento da ordem judicial. Se a decisão se tornar de impossível cumprimento, a sanção também
deve cessar, motivando, entretanto, o contempt criminal. A multa pode ser compensatória, ou não.
Quando compensatória, reverte ao prejudicado; quando coercitiva, reverte ao Estado, considerado o
grande prejudicado pela recalcitrância. A prisão, aplicada com prudência, é considerada medida de
grande praticidade para a efetividade do processo (GRINOVER, 2001, p. 104).
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(STJ, REsp 1013777/ES, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 13/04/2010, DJe 01/07/2010)

Essa multa pode ser imposta à Fazenda Pública?

Na doutrina há quatro correntes.

Primeira corrente de pensamento defende que a multa não pode ser imposta à Fazenda
Pública, porque se ela for imposta à Fazenda Pública e não for paga voluntariamente, será
inscrita na dívida ativa. Então, se você condenar a Fazenda Pública a pagar essa multa, no final
das contas quando inscrita na dívida ativa da União e Estado, vai ocorrer hipótese de confusão,
a mesma pessoa jurídica de direito público pode ser credora e devedora dela mesma. Existe
uma corrente que defende que a Fazenda Pública não pode ser condenada ao pagamento
dessa multa. Jose Rogério Cruz e Tutti em SP, mas não é a posição dominante.

Segunda corrente, do Ceara de Gilvencio Vasconcelos Vianna, defende que é possível a


imposição de multa contra a Fazenda Pública, mas quem paga é o servidor que deu causa ao
descumprimento da decisão judicial. A multa é imposta para a Fazenda, mas sai do bolso do
servidor que descumpriu a decisão, exemplo: o chefe do posto de benefício do INSS, ele não
cumpriu decisão judicial, é do bolso dele que vai sair o valor da multa, a multa é imposta à
Fazenda, mas ele é intimado para depositar o valor da multa.

Luiz Rodrigues Wambier passou a defender esse entendimento agora.

Existe uma terceira corrente que é do Alexandre Câmara que entende que cabe a imposição da
multa, mas ela deveria ser revertida para um fundo do Poder Judiciário, uma posição isolada
porque a lei expressamente prevê que ela será inscrita na dívida ativa da União ou do Estado.
Na doutrina e na jurisprudência é boa a posição do Alexandre Câmara, tem fundamento nos
EUA, mas aqui no Brasil não conseguiu adeptos.

Última posição é do Dinamarco e na doutrina é muito adotada. Dinamarco entende que cabe a
imposição da multa e, para evitar a confusão entre credor e devedor, ele diz assim: por
exemplo, 13ª Vara Federal do RJ, a multa foi imposta em face da União. A União foi condenada
a pagar a multa, vai chegar no final, essa multa vai ser inscrita na dívida ativa da União, ela vai
cobrar dela mesma, será hipótese de confusão. É essa confusão que se quer evitar. Então ele
diz assim: toda multa que é imposta para a União, o Juiz terá que verificar em qual Estado da
Federação tramitava e vai inscrever em dívida ativa em favor do Estado por onde a demanda
tramitava. No caso no Estado do RJ, o Estado do RJ é que vai ser credor, no caso dessa multa e
vice-versa.

O STJ SÓ FALA QUE A APLICAÇÃO DA MULTA É PERFEITAMENTE CABÍVEL À FAZENDA SÓ


QUE, COMO ELA SERÁ EXECUTADA, NÃO HÁ ESCLARECIMENTO NENHUM.

Veja que a multa deverá ser paga no prazo determinado pelo juiz, após o trânsito em
julgado, devendo ser inscrita na dívida ativa da JF ou na JE (logo, nunca será credora a
fazenda pública municipal).

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3.7.1.1.1. Contempt of Court X Astreintes


O Código de Processo Civil prevê diversas multas, vinculando cada uma delas a fatos geradores
distintos. No tema, ganha relevância, de um lado, o chamado contempt of court, significando,
em tradução literal, atentado à corte; de outro, vem à baila as chamadas astreintes.

Tem a doutrina apontado, em linhas gerais, o art. 14, parágrafo único do CPC, como a fonte do
contempt of court. Mas se esse é o dispositivo que mais intensamente se relaciona com o
instituto, não se pode deixar de também vinculá-lo ao art. 601 do CPC, que trata dos atos
atentatórios do exercício da jurisdição. Seja como for, pela novidade que representou, o art.
14, par. único, do CPC, merece específica abordagem, em ordem a decifrá-lo e diferenciá-lo da
não menos importante multa do art. 461, § § 4º e 5º, do CPC.

Com efeito, tem-se na multa do contempt of court a finalidade de se atingir aquele que atua
em desrespeito à própria função jurisdicional. Especificamente quanto à norma tratada, pune-
se aquele que não cumpre com exatidão os provimentos mandamentais, ou aquele que cria
embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.

Embora ambas as multas, a do contempt of court e a astreinte, se encaixem dentro do


mesmo contexto de um processo civil de resultados, e produzam uma pressão psicológica no
infrator da conduta requerida, diferenças significantes existem.

A primeira se refere aos seus objetos imediato e mediato. Valemo-nos, então, de artigo escrito
pelo Desembargado Federal Paulo Afonso Brum Vaz, do TRF4, quando publicou na Revista do
Processo n. 118, o artigo intitulado O Contempt of Court no Novo Processo Civil:

“No contempt of court, a multa tem a função imediata de punir o menoscabo à função
jurisdicional (desrespeito à corte), e apenas mediatamente dirige-se a punir o prejuízo à
efetividade da prestação jurisdicional. As astreintes, ao contrário, estão imediatamente
vinculadas à efetividade da prestação jurisdicional e apenas mediatamente dirigidas a coibir o
ato atentatório à dignidade da Justiça. Dessarte, UMA MESMA CONDUTA DE QUE RESULTE O
DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO MANDAMENTAL DE FAZER OU NÃO FAZER PODERÁ
ENSEJAR A DUPLA INCIDÊNCIA DE MULTA: A DO ART. 14, PAR. ÚNICO (CONTEMPT OF
COURT), EM PROVEITO DO ESTADO, E A PREVISTA NO ART. 461, § 4º (§ 5º), EM FAVOR DA
PARTE QUE TENHA SIDO PREJUDICADA PELO DESCUMPRIMENTO DA ORDEM. Concedida, por
exemplo, uma antecipação de tutela determinando que o credor de um título de crédito se
abstenha de levá-lo a protesto, o descumprimento desta ordem de abstenção poderá ensejar a
dupla penalidade (astreintes e decorrente do contempt of court)”.

Nesse trecho, o autor já anunciou uma outra diferença entre essas multas: enquanto no
contempt of court do art. 14, par. único, o credor do montante é a União ou o Estado,
dependendo se se trata de Justiça da União ou estadual, no caso do art. 461, § 5º, o credor é a
parte adversária.

Aliás, o alcance subjetivo do art. 14, par. único, do CPC, mereceu o seguinte comentário do
autor citado:

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156

“Poderá a multa do par. único do art. 14 ser inflingida à pessoa física ou jurídica que deixa de
dar cumprimento à ordem; também ao empregado ou AGENTE PÚBLICO QUE, AGINDO
DELIBERADAMENTE OU APENAS COM CULPA, TENHA DADO CAUSA À DESATENÇÃO DA
ORDEM JUDICIAL, MESMO QUE NÃO FIGURE ELE COMO PARTE NO PROCESSO (…). O
empregado ou agente público que, encarregado de praticar determinado ato ou de abster-se
de praticá-lo, desatende à ordem judicial, sem justificativa legítima, poderá responder
pessoalmente pelo pagamento da multa em questão. (…) Hugo de Brito Machado entende que
a multa deve ser aplicada diretamente a quem corporifica a pessoa a não a esta: ‘(…) Quando a
parte seja a Fazenda Pública, a interpretação segundo a qual a multa seria aplicável à parte e
não a quem a corporifica mostra-se ainda mais inaceitável, pois na generalidade dos casos
implicaria anular a própria norma instituidora da sanção’.

A tese de Hugo de Brito Machado tem perfeita adaptabilidade às multas que devam ser pagas
pela União à própria União ou à multa que deva ser paga pelo Estado membro a ele próprio,
em caso de ato atentatório contra a dginidade da justiça cometido na Justiça Estadual. Não se
aplica, porém, quando demandadas entidades da administração indireta, que têm
personalidade jurídica própria e autonomia orçamentária e financeira”.

Também existe diferença no que toca à forma de se fixar a multa, é dizer, ao seu montante:

“O par. único do art. 14 do CPC, ao conferir poder judicial de aplicação de multa, em razão do
cometimento das condutas previstas no seu inc. V, não faz referência a dia-multa, dando a
entender que o valor da multa, que está limitado a 20% do valor da causa, será estabelecido
em montante fixo. De fato, em outra situação, no art. 461, § 4º, o legislador aludiu à multa
diária. Da mesma forma, na nova redação do § 5º do art. 461 possibilitou o legislador a
aplicação de multa por tempo de atraso, deixando margem ao juiz para fixar a periodicidade
em que a multa se renovaria, podendo ser diária, mensal ou observar outro critério que o
magistrado entenda adequado. Parece-nos, dessarte, que a multa do art. 14, par. único, à
míngua de previsão legal para fixação por tempo de atraso no cumprimento da decisão ou de
embaraço à efetividade do provimento judicial, deve ser estipulada em valor fixo”.

Cabe, por fim, tratar da exigibilidade e da exequibilidade da multa disposta no art. 14, par,
único do CPC, ainda seguindo feliz resumo de Paulo Afonso Brum Vaz:

“Pode-se dizer, em síntese, que a multa incide com o descumprimento da ordem no prazo
fixado, torna-se exigível com o trânsito em julgado da sentença e pode ser executada depois
de lançada em dívida ativa”.

Cabível, em arremate, formalizar este quadro:

CONTEMPT OF COURT (ART. 14, PAR. ASTREINTES (ART. 461, § § 4º E 5º,


ÚNICO, DO CPC) DO CPC)
Punir o menoscabo em relação Diretamente ligadas à
FINALIDADE IMEDIATA ao descumprimento de um efetividade do provimento
comando judicial judicial
União/Estado, com inscrição da
CREDOR Parte adversária
multa em dívida

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157

De livre fixação pelo magistrado,


que pode estabelecer a sua
periodicidade. Como se trata de
multa a impor o cumprimento
MONTANTE Até 20% sobre o valor da causa
de uma obrigação, o seu
montante a rigor não guarda
vinculação com o próprio
montante da obrigação principal

3.7.1.2. Responsabilidade das Partes por Danos Processuais (arts. 17 e 18, CPC)
Da má fé das partes resulta o dever de indenizar a parte contrária. Essa má fé é denominada
de litigância de má fé, e gera o dever de indenizar, IMPOSTO DE OFÍCIO OU A
REQUERIMENTO, fixado em até 1% do valor da causa.
Essa multa, diferentemente da multa do art. 14, p. único, SOMENTE SE APLICA AOS
LITIGANTES (AUTOR E RÉU).

AS HIPÓTESES DE LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ SÃO TAXATIVAS, somente podendo ser aplicada a


multa de 1% se subsumida a ocorrência a elas. São elas:

Art. 17. Reputa-se litigante de má-fé aquele que:

I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato


incontroverso;

II - alterar a verdade dos fatos;

III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;

IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;

V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;

VI - provocar incidentes manifestamente infundados;

VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Art. 18. O juiz ou tribunal, DE OFÍCIO OU A REQUERIMENTO, condenará o


litigante de má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o
valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu,
mais os honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou.

A litigância de má fé é punida de forma subjetiva, ou seja, deve ser demonstrado o dolo da


pessoa. Assim, mesmo em sendo a parte contrária ente público ou alguma das pessoas
previstas no art. 37, § 6º, da CR/88, não se poderá fazer em responsabilidade objetiva.

Essa multa do art. 18 pode ser cumulada com a multa do art. 14, V, p. único? Perfeitamente, já
que os destinatários das multas e seus fatos geradores são diferentes, não obstante as duas
terem caráter punitivo.

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Aquele que causar dano com sua conduta processual responde por litigância
de má-fé (arts. 17 e 18 do CPC). Porém, conforme o art. 16 do referido
codex, somente as partes, assim entendidas como autor, réu ou
interveniente, em sentido amplo, podem praticar o ato. Com efeito, todos
que, de qualquer forma, participam do processo têm o dever de agir com
lealdade e boa-fé (art. 14 do CPC). Apenas os litigantes estarão sujeitos à
multa e à indenização a que se refere o art. 18 do CPC em caso de má-fé.
Ademais, os danos eventualmente causados pela conduta do advogado
deverão ser aferidos em ação própria para esse fim, não podendo o
magistrado condenar o patrono da parte nas penas a que se refere o art. 18
do referido código, nos próprios autos do processo em que for praticada a
conduta de má-fé ou temerária (STJ, REsp 1.173.848-RS).

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO PENAL. CONDENAÇÃO


DO ADVOGADO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NOS MESMOS AUTOS EM QUE
CONDENADA A PARTE POR ELE PATROCINADA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO
PROVIDO.

1. A utilização de mandado de segurança contra ato judicial é admitida


excepcionalmente, desde que o referido ato seja manifestamente ilegal ou
revestido de teratologia, o que ocorre na hipótese.

2. "Os danos eventualmente causados pela conduta do advogado deverão


ser aferidos em ação própria para esta finalidade, SENDO VEDADO AO
MAGISTRADO, NOS PRÓPRIOS AUTOS DO PROCESSO EM QUE FORA
PRATICADA A ALEGADA CONDUTA DE MÁ-FÉ OU TEMERÁRIA, CONDENAR
O PATRONO DA PARTE nas penas a que se refere o art. 18, do Código de
Processo Civil" (Resp 1173848/RS, 4.ª Turma, Rel. Min. LUÍS FELIPE
SALOMÃO, DJe de 10/05/2010 - sem grifos no orignal).

3. Recurso provido para cassar o acórdão impugnado e determinar a


devolução dos autos ao Tribunal de origem, para que se manifeste quanto
ao mérito do Mandado de Segurança n.º 2007.00.2.012946-7.

(RMS 27868/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em


25/10/2011, DJe 11/11/2011)

Essa multa por litigância de má fé somente se aplica aos litigantes, conforme julgado acima
transcrito. Não se aplica aos demais intervenientes do processo, os quais, entretanto, estão
sujeitos à multa por atos atentatórios contra o exercício da jurisdição.

3.7.1.3. Despesas e Custas Processuais


Regra geral, cabe a cada parte arcar com as despesas dos atos que realizarem, de forma
antecipada; as mesmas poderão ser ressarcidas ao final do processo, dever esse imposto à
parte sucumbente.

Assim, ao sucumbente cabe arcar com as custas (verbas pagas pela prática dos atos
processuais, conforme tabela da lei ou regimento interno do tribunal) e honorários
advocatícios da parte contrária.

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Caso a parte sucumbente seja beneficiada pela Justiça Gratuita, deve o juiz suspender a
execução da cobrança da custas e emolumentos pelo prazo de 05 anos, conforme a Lei nº
1.060/50, até que a parte tenha condições de pagar ou que prescreva a pretensão.

Os honorários serão fixados entre o mínimo de 10% e o máximo de 20% do valor da


condenação. Havendo sucumbência recíproca, as custas serão proporcionalmente distribuídas
e compensados os honorários advocatícios, salvo se a sucumbência de uma das partes for
mínima, hipótese em que a outra responderá por inteiro.

Serão fixados mediante apreciação equitativa do juiz os honorários nas causas em que:

a) Não houver condenação;

b) De pequeno valor;

c) De valor inestimável;

d) Causas em que for vencida a Fazenda Pública;

e) Nas execuções, embargadas ou não.

São isentos de pagamento de custas perante a Justiça Federal (Lei nº 9.289/96, art. 4º):

I - a União, os Estados, os Municípios, os Territórios Federais, o Distrito Federal e as


respectivas autarquias e fundações;

II - os que provarem insuficiência de recursos e os beneficiários da assistência judiciária


gratuita;

III - o Ministério Público;

IV - os autores nas ações populares, nas ações civis públicas e nas ações coletivas de que
trata o Código de Defesa do Consumidor, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.

Parágrafo único. A isenção prevista neste artigo não alcança as entidades fiscalizadoras do
exercício profissional, nem exime as pessoas jurídicas referidas no inciso I da obrigação de
reembolsar as despesas judiciais feitas pela parte vencedora.

Há recente súmula do STJ que precisa ser conhecida e entendida:

Súmula 483, STJ: “O INSS não está obrigado a efetuar depósito prévio do preparo por gozar das
prerrogativas e privilégios da Fazenda Pública”. Por que o STJ editou essa súmula se o INSS é
autarquia e, por isso, é isento? Pois a isenção dele somente se aplica na Justiça Federal.
Perante a Justiça estadual, ele não tem isenção (salvo se o Estado a ele conceder). Assim, ele
precisa recolher custas. Ocorre que, por ser Fazenda Pública, possui o benefício do art. 27 do
CPC, que dispõe que as despesas dos atos por ele requeridos serão pagas apenas ao final, pelo
vencido.

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3.7.1.4. Advogados
A capacidade postulatória compete exclusivamente aos advogados, e aos estagiários, para
alguns atos. Munido da procuração, ele poderá realizar todos os atos do processo, salvo se
exigirem poderes especiais, quando a procuração deverá concedê-los.

Requerem poderes especiais os atos de receber citação, confessar, desistir, renunciar, receber,
dar quitação e firmar compromisso. Isso está previsto no art. 38, que deve ser interpretado de
forma estrita. Sobre a procuração nos autos:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO DO JUIZ. ART. 312


DO CPC. PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECÍFICOS. DESNECESSIDADE. ART. 538,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. MULTA. APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 98/STJ.
1. Hipótese em que, apresentada exceção de suspeição em face de juiz de piso, a
medida não foi conhecida por ausência de procuração com poderes específicos em
nome do advogado peticionante.
2. No que tange à necessidade de poderes específicos para a apresentação de
exceção de suspeição, importante frisar que o art. 38 do CPC estabelece as regras
gerais de representação processual das partes por seus patronos, instituindo a
chamada cláusula ad judicia, referente à capacidade para prática de todos os atos
processuais.
3. O mesmo dispositivo, em sua parte final, enumera as exceções, que, como tais,
devem ser interpretadas restritivamente. Dentre as as exceções, a exigir poderes
específicos, não consta a apresentação de exceção de impedimento ou suspeição,
RAZÃO PELA QUAL O NÃO-CONHECIMENTO DA MEDIDA SOB O FUNDAMENTO DE
INEXISTÊNCIA DE PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECÍFICOS É ILEGAL 38.
Precedentes.
[...](REsp 1233727/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 05/04/2011, DJe 05/05/2011)

O advogado poderá praticar atos reputados urgentes sem procuração, tendo o prazo de 15
dias para exibir o instrumento do mandato, prorrogável por mais 15. Se não sanada a falta de
procuração, os atos serão tidos por inexistentes (art. 37, CPC).

Sobre isso, entretanto, já se manifestou o STJ:

A representação processual do causídico é vício sanável nas instâncias


ordinárias, não estando o advogado adstrito ao prazo quinzenal (art. 37,
CPC) para juntar procuração aos autos e retificar o ato processual praticado.
É prazo de natureza dilatória, e não peremptória (STJ, REsp 264.101/RJ).

Deverá o advogado apor na inicial o endereço em que receberá as intimações (art. 39, I), sob
pena de indeferimento da inicial.

Caso a parte destitua seu advogado, deverá nomear outro no mesmo ato. Já se o advogado se
destituir, deverá continuar praticando os atos pela parte no prazo de 10 dias ou até que outro

38
Assim, agiu ilegalmente o TRF1 no julgado abaixo:
EXCEÇÃO DE IMPEDIMENTO. PROCURAÇÃO SEM PODERES ESPECÍFICOS. NÃO CONHECIMENTO.
A exceção de impedimento arguida por procurador constituído deverá ser acompanhada de
procuração específica para tal mister, sob pena de não ser conhecida por não cumprimento dos
requisitos impostos no procedimento reservado à exceção de suspeição, que se aplica
analogicamente. Unânime. (TRF1, 3T, Impedi 0009280- 83.2012.4.01.3500/GO, rel. Des. Federal
Tourinho Neto, em 11/06/2012.)
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seja nomeado. Ademais, a destituição deve ser expressa nos autos, com prova de
comunicação ao cliente. Se ele morrer, terá a parte 20 dias para nomear outro.

Recursos excepcionais interpostos por advogado sem procuração nos autos é considerado
INEXISTENTE. Nesse sentido:

Súmula 115, STJ: “Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem
procuração nos autos”.

3.9. O Neoprocessualismo39
A Constituição brasileira de 1988 ao contemplar amplos direitos e garantias fundamentais
tornou constitucionais os mais importantes fundamentos dos direitos materiais e processuais
(fenômeno da constitucionalização do direito infraconsticiocional).

Desse modo, alterou-se, radicalmente, o modo de construção (exegese) da norma jurídica.


Antes da constitucionalização do direito privado, como a Constituição não passava de uma
Carta Política, destituída de força normativa, a lei e os Códigos se colocavam no centro do
sistema jurídico.

A necessidade de legislação escrita como uma decorrência de segurança jurídica encontrou


seu ápice no século XIX. Foi exigência do iluminismo a sistematização racional do Direito, em
um ordenamento dotado de unidade, coerência e hierarquia. A codificação serviu para tornar
o ordenamento jurídico claro, harmônico e ordenado, mediante a previsão de princípios gerais
que informassem todo o corpo legislativo, evitando contradições, simplificando o
conhecimento do Direito e possibilitando a sua melhor aplicação e controle.

Em torno ao Code Napoleón, formou-se a Escola da Exegese, que erigiu este Código como
sendo a única fonte do Direito Civil, reduzindo o trabalho exegético à explicação literal dos
textos legais (dura lex sed lex). Houve, com efeito, uma tentativa de manipular
ideologicamente o Direito, com o fundamento de que a lei seria a tradução da vontade geral e
do bem comum. Essa manipulação ideológica partiu da burguesia que, pretendendo a
manutenção do status quo, visou ocultar o conflito de classes e de interesses, difundindo a
ideia de paz e harmonia, ordem e progresso, consenso e felicidade geral. Tratava-se, também,
de uma reação ao ancien régime, pois a codificação visava prevenir o arbítrio estatal contra
possíveis inovações judiciais. O juiz, portanto, deveria ser neutro aos interesses em jogo e aos
valores plasmados no Código, sendo considerado simplesmente como la bouche de la loi (a
boca da lei). A sentença deveria subsumir-se, direta e automaticamente, à lei para que, desta
forma, ficasse mais fácil controlar a atividade jurisdicional.

No entanto, neutralidade da lei e da jurisdição se justificam na identificação da “lei” com a


“vontade geral” e, portanto, na “lei” como sinônimo de “direito”. A premissa da lei geral e
abstrata, desenvolvida pelo Estado Liberal, propunha que todos os homens são livres e iguais,
bem como são dotados das mesmas necessidades. Tal concepção, ao afirmar que todos são
iguais perante a lei, pretendia acabar com os privilégios existentes no ancien regime e teve a

39
Retirado do artigo “Neoconstitucionalismo e Neoprocessualismo”, do Prof. Eduardo Cambi.
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162

sua importância histórica. Porém, não se sustenta, na medida em que ignora as diferenças
entre as pessoas e, assim, assegura a liberdade somente àqueles que têm condições
materiais mínimas de usufruir uma vida digna. A vontade geral da burguesia que ocupava o
Parlamento, no século XIX, e se expressava na lei perdeu o caráter genérico e abstrato. A lei,
no Estado Contemporâneo, é resultado de ajustes legislativos marcados pela vontade dos
lobbys e dos grupos de pressão. O fracasso da soberania do Parlamento e da concepção da lei
como vontade geral sepultaram o positivismo jurídico clássico centrado na identificação da lei
como expressão do direito.

A lei (e sua visão codificada do século XIX) perdeu sua posição central como fonte do direito
e passou a ser subordinada à Constituição, não valendo, por si só, mas somente se
conformada com a Constituição e, especialmente, se adequada aos direitos fundamentais. A
função dos juízes, pois, ao contrário do que desenvolvia Giuseppe Chiovenda, no início do
século XX, deixou de ser apenas atuar (declarar) a vontade concreta da lei e assumiu o caráter
constitucional, possibilitando, a partir da judicial review desenvolvida historicamente em 1.803
no caso Marbury v. Madison, o controle da constitucionalidade das leis e dos atos normativos.

A supremacia da Constituição sobre a lei e a repulsa à neutralidade da lei e da jurisdição


encontram, no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal um importante alicerce teórico.
Ao se incluir no rol do artigo 5º da CR a impossibilidade da lei excluir da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça ao direito, consagrou-se não apenas a garantia de inafastabilidade
da jurisdição (acesso à justiça), mas um verdadeiro direito fundamental à tutela jurisdicional
efetiva, célere e adequada (acesso à ordem jurídica justa).

Direito fundamental à ordem jurídica justa, direito fundamental ao processo justo e a visão
publicística do processo

O direito fundamental de acesso à justiça, previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da CF, significa o
direito à ordem jurídica justa. Assim, A DESIGNAÇÃO ACESSO À JUSTIÇA NÃO SE LIMITA
APENAS À MERA ADMISSÃO AO PROCESSO OU À POSSIBILIDADE DE INGRESSO EM
JUÍZO, MAS, AO CONTRÁRIO, ESSA EXPRESSÃO DEVE SER INTERPRETADA
EXTENSIVAMENTE, COMPREENDENDO A NOÇÃO AMPLA DO ACESSO À ORDEM
JURÍDICA JUSTA, QUE ABRANGE: I) O INGRESSO EM JUÍZO; II) A OBSERVÂNCIA DAS
GARANTIAS COMPREENDIDAS NA CLÁUSULA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL; III) A
PARTICIPAÇÃO DIALÉTICA NA FORMAÇÃO DO CONVENCIMENTO DO JUIZ, QUE IRÁ
JULGAR A CAUSA (EFETIVIDADE DO CONTRADITÓRIO); IV) A ADEQUADA E
TEMPESTIVA ANÁLISE, PELO JUIZ, NATURAL E IMPARCIAL, DAS QUESTÕES
DISCUTIDAS NO PROCESSO (DECISÃO JUSTA E MOTIVADA); V) A CONSTRUÇÃO DE
TÉCNICAS PROCESSUAIS ADEQUADAS À TUTELA DOS DIREITOS MATERIAIS
(instrumentalidade do processo e efetividade dos direitos).

Por isso, para a noção de acesso à ordem jurídica justa converge o conjunto das garantias e
dos princípios constitucionais fundamentais ao direito processual, o qual se insere no
denominado direito fundamental ao processo justo.

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Esse direito ao processo justo compreende as principais garantias processuais, como as da


ação, da ampla defesa, da igualdade e do contraditório efetivo, do juiz natural, da publicidade
dos atos processuais, da independência e imparcialidade do juiz, da motivação das decisões
judiciais, da possibilidade de controle recursal das decisões etc. Desse modo, pode-se afirmar
que o direito ao processo justo é sinônimo do direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva,
célere e adequada.

É IMPORTANTE FRISAR O FENÔMENO DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS E


DE RETIRAR DO CÓDIGO DE
GARANTIAS PROCESSUAIS, PORQUE, ALÉM
PROCESSO A CENTRALIDADE DO ORDENAMENTO PROCESSUAL
(FENÔMENO DA DESCODIFICAÇÃO), RESSALTA O CARÁTER PUBLICÍSTICO DO
PROCESSO.

Com efeito,
O PROCESSO DISTANCIA-SE DE UMA CONOTAÇÃO
PRIVATÍSTICA, DEIXANDO DE SER UM MECANISMO DE EXCLUSIVA
UTILIZAÇÃO INDIVIDUAL PARA SE TORNAR UM MEIO À DISPOSIÇÃO DO
ESTADO PARA A REALIZAÇÃO DA JUSTIÇA, QUE É UM VALOR
EMINENTEMENTE SOCIAL. O PROCESSO ESTÁ VOLTADO À TUTELA DE
UMA ORDEM SUPERIOR DE PRINCÍPIOS E DE VALORES QUE ESTÃO
ACIMA DOS INTERESSES CONTROVERTIDOS DAS PARTES (ordem pública) e
que, em seu conjunto, estão voltados à realização do bem comum. A preponderância da
ordem pública sobre os interesses privados em conflito manifesta-se em vários pontos da
dogmática processual, tais como, por exemplo, na garantia constitucional de inafastabilidade
da jurisdição, na garantia do juiz natural, no impulso oficial, no conhecimento de ofício
(objeções) e na autoridade do juiz, na liberdade de valoração das provas, no dever de
fundamentação das decisões judiciais, nas nulidades absolutas, nas indisponibilidades, no
contraditório efetivo e equilibrado, na ampla defesa, no dever de veracidade e de lealdade, na
repulsa à litigância de má fé etc.

Desse modo, os fins públicos buscados pelo processo, como instrumento democrático do
poder jurisdicional, transcendem os interesses individuais das partes na solução do litígio.
Esta visão publicística, imposta pela constitucionalização dos direitos e garantias processuais
(neoprocessualismo), não se esgota na sujeição das partes ao processo.

Direito fundamental à tutela jurisdicional, instrumentalidade do processo e a construção de


técnicas processuais adequadas à realização dos direitos materiais

A percepção de que a tutela jurisdicional efetiva, célere e adequada é um direito fundamental


(art. 5º, inc. XXXV, CF) vincula o legislador, o administrador e o juiz, isso porque os direitos
fundamentais possuem uma dimensão objetiva, ou seja, constituem um conjunto de valores
objetivos básicos e fins diretivos da ação positiva do Estado.

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Assim, é possível quebrar a clássica dicotomia entre direito e processo (substance-procedure),


passando-se a falar em instrumentalidade do processo e em técnicas processuais.

A INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO, COMO EXPLICA CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO,


TEM ASPECTOS NEGATIVOS E POSITIVOS. Sob o viés negativo, a instrumentalidade pretende
combater o formalismo (isto é, sem tornar o processo um conjunto de armadilhas
ardilosamente preparadas pela parte mais astuciosa em detrimento da mais incauta), capaz de
menosprezar o caráter instrumental (como bem sentiu o legislador ao adotar a fungibilidade
entre tutela cautelar e antecipada, no parágrafo 7º, do art. 273 do CPC), mas, ao mesmo
tempo, sem cair em um alternativismo destrambelhado, capaz de produzir a insegurança
jurídica. Por exemplo, a tese da relativização da coisa julgada material merece ser acolhida
para se tutelar os direitos da personalidade do filho que, com a chegada do DNA, pretende a
descoberta da verdade científica a respeito de seu suposto pai, mas não deve ser estendida de
forma desmensurada a gerar a instabilidade jurídico-social.

Sob o aspecto positivo, o processo deve ser apto a produzir todos os seus escopos
institucionais (jurídicos-políticos-sociais), em quatro campos fundamentais:

a) a admissão em juízo (envolvendo temas como o Juizado Especial Cível, a efetiva ampliação
das defensorias públicas e a consolidação do papel do Ministério Público na defesa de
interesses individuais homogêneos, coletivos e difusos);

b) o modo-de-ser do processo (abrangendo a dinâmica relação entre as partes, entre elas e o


juiz, bem como entre o juiz e o processo; a plenitude e a restrição das garantias processuais,
dentro do contexto do princípio da proporcionalidade; a elaboração de procedimentos
diferenciados à tutela dos direitos materiais etc);

c) a justiça das decisões (seja pela utilização de um procedimento válido e justo para se chegar
a decisão, seja pela reconstrução fiel dos fatos relevantes para a causa, seja ainda pela
adequada interpretação das regras e princípios aplicáveis ao caso concreto);

d) a efetividade das decisões (envolvendo temas como a melhor distribuição do ônus do tempo
do processo entre as partes, a ampliação das sentenças mandamentais e executivas lato sensu,
a concretização dos provimentos urgentes baseados em cognição sumária, o abandono da
rígida separação entre cognição e execução, a desmitificação da verdade processual “obtida”
formalmente com a coisa julgada etc).

O grande desafio do legislador e do juiz, na concretização do direito fundamental à tutela


jurisdicional adequada, célere e efetiva é a construção de técnicas processuais capazes de
tutelarem os direitos materiais.

No âmbito do processo civil, a depender do bem jurídico lesado, nem tudo deve ser
solucionado por intermédio do processo, mas aquilo que depender da técnica processual deve
ser resolvido de modo adequado.

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Por isto, a adoção do procedimento ordinário, prevista no Código de Processo Civil, deve ser a
exceção, não a regra, e ser utilizado tão somente quando não houver, no ordenamento
jurídico, outros instrumentos processuais mais adequados à realização do direito material.

O princípio da adequação do procedimento à causa assume grande relevância, na medida em


que o legislador, atendo às necessidades do direito material, permite uma tutela jurisdicional
mais célere e efetiva. O procedimento do mandado de segurança, permitindo apenas provas
pré-constituídas, é um bom exemplo de como um procedimento diferenciado pode contribuir
com a tutela célere dos direitos.

Não se pode ignorar que, em sua gênese, o processo civil estava ligado ao direito civil e, por
isto, seus institutos sempre estiveram voltados muito mais à tutela do patrimônio do que de
qualquer outro bem jurídico. Entretanto, o processo civil não se aplica somente ao direito
privado e, ainda que assim fosse, não se ignora que o próprio direito civil se alterou nos dois
últimos séculos, distanciando-se das matrizes liberais que marcaram o Código de Napoleão,
para assumir contornos publicísticos, aumentando a interferência do Estado-juiz nas relações
outrora reservadas apenas aos entes privados.

O Código de Processo Civil foi pensado para a tutela dos interesses individuais (direitos
subjetivos), sobretudo os de caráter patrimonial. A titularidade do direito subjetivo, irradiada
no ordenamento processual pelo princípio dispositivo (pelo qual a sorte do processo está, em
certa medida, entregue à vontade das partes), projetou o caráter eminentemente
individualista do CPC. Esta compreensão está expressa, por exemplo, em regras como as dos
artigos 6º (sobre a legitimação ordinária) e 472 (sobre os limites subjetivos da coisa julgada
material), cabendo ao titular do direito subjetivo o poder de fruir ou não dele, ou dele desistir,
transacionar etc, não podendo os efeitos da decisão ultrapassar a pessoa dos litigantes.

Assim, institutos como o da legitimidade ad causam, a prova, a sentença e a coisa julgada,


porque moldados sob o paradigma do Estado Liberal Clássico, impossibilitavam que a
sociedade civil organizada e os órgãos públicos de defesa dos interesses coletivos pudessem
levar e ver tutelados pelo Judiciário tais direitos de caráter transindividual. Com efeito, esses
institutos não acompanharam a passagem do Estado Liberal para o de Bem-Estar Social.

Três fatores acentuaram uma nova era de direitos, a partir de meados do século passado: i)
aumentaram os bens merecedores de tutela (as meras liberdades negativas, de religião,
opinião, imprensa etc, deram lugar aos direitos sociais e econômicos, a exigir uma intervenção
positiva do Estado); ii) surgiram outros sujeitos de direitos, além do indivíduo (singular), como
a família, as minorias étnicas e religiosas e toda a humanidade em seu conjunto; iii) o próprio
homem deixou de ser considerado em abstrato, para ser visto na concretude das relações
sociais, com base em diferentes critérios de diferenciação (sexo, idade, condições físicas etc),
passando a tratado especificamente como homem, mulher, homossexual, criança, idoso,
deficiente físico, consumidor etc.

Fatores como a circunstância do Código Civil ter deixado de ser o centro do ordenamento
jurídico, o surgimento dos microssistemas (Estatuto da Criança e do Adolescente, Código do
Consumidor, Estatuto do Idoso etc), o fenômeno da constitucionalização dos direitos
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166

materiais e processuais fundamentais, a crescente adoção da técnica legislativa das cláusulas


gerais e o aumento dos poderes do juiz EXPLICAM O SURGIMENTO DO
NEOPROCESSUALISMO.

Com o sepultamento do modelo liberal de direito, de cunho eminentemente patrimonial,


passando o Estado, por imposição constitucional, a tutelar bens jurídicos de caráter
extrapatrimonial (direitos da personalidade, direitos do consumidor, direito ao meio ambiente
saudável etc) os conceitos e institutos processuais clássicos precisaram ser revistos.

A descrença de que, pelo direito, se poderia obter a verdade, herança do pensamento


iluminista, permitiu a construção de técnicas cognitivas diferenciadas. A visualização do
tempo, como um ônus, a ser distribuído, de forma isonômica, entre as partes, contribuiu para
adiantar (para antes da sentença e do seu trânsito em julgado) à adequada e mais rápida
tutela jurisdicional.

A tutela antecipada, por isto, representa uma grande revolução conceitual na estrutura do
processo civil clássico, porque, em nome de uma técnica processual mais adequada a
realização dos direitos substanciais, quebra-se o mito do juiz que simplesmente servia para,
após tomar amplo conhecimento dos fatos, revelar a verdade, pela intermediação dos
acontecimentos com a lei.

Conhecer e Executar (efetivar) passou a ser duas necessidades contemporâneas à


concretização da tutela jurisdicional, superando-se o princípio liberal da nulla executio sine
titulo. Com efeito, a sentença condenatória e o meio de execução por sub-rogação (execução
forçada), que eram a regra no Código de Processo Civil, voltada somente para a tutela
ressarcitória, mostraram-se extremamente ineficientes, pois, a distribuição do ônus do tempo
do processo implicou a necessidade de se assumir alguns riscos, sem os quais sempre o autor
pagaria o preço da morosidade processual e direitos de caráter não-patrimonial não poderiam
ser adequadamente protegidos.

A aproximação da cognição à execução fez ruir a estrutura da classificação trinária das


sentenças, a qual, destituindo o juiz de poder de efetivar a decisão, impossibilitava a efetiva
tutela jurisdicional, sobretudo quando se pretendida evitar a lesão a bens jurídicos não
patrimoniais, os quais, para serem adequadamente protegidos, não poderiam ser sempre
convertidos em perdas e danos.

Logo, eram necessárias técnicas preventivas demandando, inclusive, a técnica da tutela


inibitória atípica a evitar que a ilicitude ocorresse ou continuasse a ocorrer, considerando que
a prevenção, nestas hipótese, é mais importante que a reparação. Por exemplo, se um
medicamento nocivo à saúde do consumidor (que, por hipótese, possa gerar câncer) seja
colocado no mercado, mais importante que buscar a proteção pecuniária ao consumidor
doente é evitar que o produto seja vendido.

Instrumentalidade e garantismo

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167

O grande desafio do neoprocessualismo, imposto pela constitucionalização das garantias


constitucionais fundamentais, é conciliar a instrumentalidade do processo, ramos do direito e,
por isto, influenciando a construção do neoprocessualismo.

Em outras palavras, a instrumentalidade do processo, relativizando o binômio substance-


procedure, permite a construção de técnicas processuais efetivas, rápidas e adequadas à
realização do direito processual. Este viés metodológico do neoprocessualismo, contudo,
precisa ser compatibilizado com o respeito aos direitos e garantias fundamentais do
demandado, no processo civil, e do acusado, no processo penal, que estão na essência do
garantismo.

3.9.1. Neoprocessualismo (Segundo Didier)


A evolução histórica do direito processual costuma ser dividida em três fases:

a) praxismo ou sincretismo, em que não havia distinção entre o processo e o direito material:
o processo era estudado apenas em seus aspectos práticos, sem preocupações científicas;

b) processualismo, em que se demarcam as fronteiras entre o direito processual e o direito


material, com o desenvolvimento científico das categorias processuais;

c) instrumentalismo, em que, não obstante se reconheçam as diferenças funcionais entre o


direito processual e o direito material, se estabelece entre eles uma relação circular de
interdependência: o direito processual concretiza e efetiva o direito material, que confere
ao primeiro o seu sentido (sobre a instrumentalidade, ver item anterior). Parece mais
adequado, porém, considerar a fase atual como uma quarta fase da evolução do direito
processual.

Não obstante mantidas as conquistas do processualismo e do instrumentalismo, a ciência teve


de avançar, e avançou. Fala-se, então, de um Neoprocessualismo: o estudo e a aplicação do
Direito Processual de acordo com esse novo modelo de repertório teórico. Já há significativa
bibliografia nacional que adota essa linha. O termo Neoprocessualismo tem uma interessante
função didática, pois remete rapidamente ao Neoconstitucionalismo, que, não obstante a sua
polissemia, traz a reboque todas as premissas metodológicas apontadas, além de toda
produção doutrinária a respeito do tema, já bastante difundida. Demais disso, o termo
Neoprocessualismo também pode ser útil por bem caracterizar um dos principais aspectos
deste estágio metodológico dos estudos sobre o direito processual: a revisão das categorias
processuais (cuja definição é a marca do processualismo do finaldo século XIX e meados do
século XX), a partir de novas premissas teóricas, o que justificaria o prefixo ‘neo’ . Na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil), sob a liderança de Carlos Alberto Alvaro de
Oliveira, costuma-se denominar esta fase do desenvolvimento do direito processual de
formalismo-valorativo, exatamente para destacar a importância que se deve dar aos valores
constitucionalmente protegidos na pauta de direitos fundamentais na construção e aplicação
do formalismo processual. As premissas deste pensamento são exatamente as mesmas do
chamado Neoprocessualismo, que, aliás, já foi considerado um formalismo ético, na feliz
expressão de RODRÍGUEZ URIBES. Embora seja correto afirmar que se trate de uma construção
teórica que nasce no contexto histórico do Neoconstitucionalismo, o formalismo-valorativo
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168

pauta-se, também, no reforço dos aspectos éticos do processo, com especial destaque para a
afirmação do princípi da cooperação (examinado no capítulo sobre os princípios do processo),
que é decorrência dos princípios do devido processo legal e da boa fé processual. Agrega-se,
aqui, o aspecto da moralidade, tão caro a boa parte dos pensadores neoconstitucionalistas´.

3.10. O Neoprivatismo no Processo Civil


A denominação “neoprivatismo” foi usada entre nós pelo professor Barbosa Moreira e parte
de um pressuposto historicamente acertado, de que a concepção originária do processo civil
era eminentemente privatista, onde a atuação do juiz era totalmente vinculada à iniciativa
das partes. Daí veio o movimento publicista, fenômeno que caracterizou o direito processual
privado ao longo dos últimos decênios, tanto no Brasil quanto no direito comparado,
consistente no reconhecimento de poderes mais incisivos aos juízes na condução das causas,
entre os quais ressalta-se o poder de requerer provas de ofício.

O neoprivatismo critica essa situação, argumentando que a concessão de poderes amplos


aos juízes desborda no ativismo judiciário e compromete os princípios cardinais do processo
civil, ou seja, a liberdade das partes e a segurança jurídica.

O neoprivatismo certamente ganhou relevante ressonância na legislação e prática forense


atuais. Pense-se por exemplo ao impulso que recebeu a arbitragem no Brasil, com respaldo e
respeito do Poder Judiciário. Pense-se, mais ainda, nos mutirões de conciliação, cujas
atividades de intermediação no mais das vezes são conduzidas por um leigo.

No entanto, isso não basta para dizer que o “publicismo” perdeu sua utilidade. Antes, num
contexto em que há notória disparidade econômica entre as partes, a existência de um juiz
atuante evita que a parte seja prejudicada por desídia de seu advogado. Além disso, a
tendência de ampliação “ultra partes” dos efeitos da coisa julgada (como acontece nos
processos coletivos e nas ações declaratórias de constitucionalidade), faz com que seja ainda
mais oportuno dar ao juiz poderes para que seu conhecimento de fatos e circunstâncias não
fique adstrito ao que as partes processuais desejam apresentar.

3.10. Observações de Provas


1. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 47. A consideração pelo juiz da possibilidade de
existência de propósito protelatório do réu indica análise da situação conforme o
princípio da boa fé processual, sob o ângulo objetivo.

2. TRF3 – XIII – QUESTÃO 65. Começa a existência do processo desde o momento em que
a petição inicial é apresentada à Justiça.

3. TRF3 – XIII – QUESTÃO 63. O estrangeiro tem, no processo civil brasileiro, os mesmos
direitos que os nacionais.

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4. TRF3 – XIII – QUESTÃO 62. Relativamente à vigência da lei processual, tem-se que cada
ato processual rege-se pela lei de seu tempo40.

5. TRF4 – XIV – QUESTÃO 47. O juiz ou tribunal condenará o litigante de má fé a pagar a


multa não excedente a 1% do valor da causa, de ofício ou a requerimento da parte,
recaindo a multa sobre a parte contrária, VEDADA A CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA AO
SEU ADVOGADO.

6. TRF4 – XIII – QUESTÃO 68. Os absolutamente incapazes serão representados em juízo


na forma da lei, tendo nada obstante, capacidade para figurar no polo ativo ou passivo
da lide.

7. TRF4 – XIII – QUESTÃO 60. Atribui-se a Alfredo Buzaid a criação da “Escola Processual
de São Paulo”, que influenciou decisivamente no plano de política legislativa do atual
CPC e em diversos institutos jurídicos, como, por exemplo, o da coisa julgada.

8. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 82. O requisito da capacidade postulatória admite


exceções previstas em lei.

9. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 40. O máximo resultado com o mínimo de emprego
de atividade processuais é ideia que sintetiza o chamado princípio da economia
processual, sendo a reunião de processos conexos exemplo de aplicação desse
princípio, assim como a ação declaratória incidente.

10. EMAGIS – 2012/31 – QUESTÃO 11. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de


que os honorários de advogado são devidos pelo sucumbente ao curador especial
nomeado ao réu citado por edital41.

11. EMAGIS – 2012/31 – QUESTÃO 11. Embora o Defensor Público que funciona como
curador especial do réu preso, contra quem é movida ação de indenização por danos
morais, não faça jus a honorários advocatícios por conta dessa atuação, será o caso de
condenar a parte autora ao pagamento dos honorários sucumbenciais na hipótese da
demanda ser julgada improcedente42.

40
Assim, havendo alteração da lei no curso do processo, os novos atos deverão ser regidos pela nova lei,
salvo se esta prever determinada vacatio legis.
41
PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CURADOR ESPECIAL. RÉU REVEL CITADO POR
EDITAL. CABIMENTO. PARTE VENCIDA. 1. A jurisprudência do STJ já apontou no sentido de que os
honorários de advogado são devidos pelo sucumbente ao curador especial nomeado ao réu citado por
edital. Precedentes. 2. Recurso especial provido. (STJ, REsp 1308550, Rel. Min. Mauro Campbell, DJe de
25/04/2012)
42
Com efeito, entende o STJ que, embora não faça jus o Defensor Público a honorários advocatícios
simplesmente pelo exercício da curadoria especial - uma vez que essa é uma das suas atribuições legais
(art. 4º, XVI, da LC 80/84), para a qual é remunerado pelo Estado -, não há que se eximir a parte vencida
ao pagamento dos honorários sucumbenciais à parte vencedora (CPC, art. 20), ainda que esta estivesse
representada por Defensor Público atuando na função de curador especial (réu preso: CPC, art. 9º, II,
primeira parte). Noutras palavras: o Defensor Público que atua como curador especial não tem direito a
honorários advocatícios pelo só-fato de ter atuado como tal, mas, caso a parte a quem representara
tenha se saído vencedora do litígio, haverá a condenação da parte vencida nos honorários
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12. EMAGIS – 2012/31 – QUESTÃO 11. Conquanto se saiba que o CPC prevê a nomeação
de curador especial caso os interesses do incapaz colidam com os de seus
representantes legais (art. 9º, I), firmou-se a jurisprudência em que não é necessário
nomear-lhe tal curador na ação de destituição de poder familiar ajuizada pelo
Ministério Público, uma vez que o órgão ministerial, nessa hipótese, já está zelando
pelo respeito aos direitos e interesses da criança ou adolescente.

13. EMAGIS – 2012/24 – QUESTÃO 10. A procuração geral para o foro, conferida por
instrumento público, ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar
todos os atos do processo, salvo para receber citação inicial, confessar, reconhecer a
procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a
ação, receber, dar quitação e firmar compromisso (art. 38, CPC).

14. EMAGIS – 2012/29 – QUESTÃO 11. Em caso de litigância de má-fé (CPC, art. 18), o juiz
não pode fixar multa superior a 1% (um por cento) sobre o valor da causa43.

15. EMAGIS – 2012/29 – QUESTÃO 11. Em determinada ação de rito sumário que tramita
perante a Justiça Estadual da Comarca de Augusto Pestana/RS, o juiz identificou que o
representante legal de uma certa empresa, no interesse desta, criou embaraços à
efetivação de um provimento judicial antecipatório. Aplicou-lhe, então, multa no valor
de R$ 10.000,00 (dez mil reais), determinando o seu pagamento no prazo de 48
(quarenta e oito) horas a contar do trânsito em julgado. Nesse caso, não havendo
pagamento no prazo estabelecido, a multa será inscrita como dívida ativa do Estado.

16. EMAGIS – 2012/29 – QUESTÃO 11. De acordo com recente julgado do STJ, as
astreintes aplicadas pelo juiz em razão do descumprimento da obrigação de fazer
fixada na sentença são devidas ao credor da obrigação, e não ao Estado.

17. EMAGIS – 2012/24 – QUESTÃO 10. Na instância especial é inexistente recurso


interposto por advogado sem procuração nos autos.

18. EMAGIS – 2012/24 – QUESTÃO 10. Não se exige procuração com poderes especiais a
fim de que o causídico possa suscitar exceção de suspeição do magistrado da causa44.

sucumbenciais (CPC, art. 20). Esclareça-se, apenas, que, nesse caso, os honorários sucubenciais serão
destinados à instituição (Defensoria Pública), e não propriamente àquele Defensor Público que tenha
atuado como curador especial.
43
Com efeito, tecnicamente, em caso de litigância de má-fé, a multa aplicada pelo juiz tem um limite
prefixado pelo legislador: 1% sobre o valor da causa. O que pode ocorrer, sim, é a condenação
cumulativa desse litigante a indenizar a parte contrária quanto a prejuízos por esta efetivamente
suportados, afora os honorários advocatícios e todas as despesas que realizou; tal indenização, importa
frisar, poderá ser fixada desde logo pelo juiz, em quantia não superior a 20% sobre o valor da causa, ou,
então, deixar para ser apurada em liquidação de sentença. Tais conclusões podem ser extraídas do art.
18, caput ("O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante de má-fé a pagar multa
não excedente a um por cento sobre o valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que
esta sofreu, mais os honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou") e § 2º ("O valor da
indenização será desde logo fixado pelo juiz, em quantia não superior a 20% sobre o valor da causa, ou
liquidado por arbitramento"), do CPC.
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19. EMAGIS – 2012/19 – QUESTÃO 12. O acordo ou a transação celebrados diretamente


pela parte ou por intermédio de procurador para extinguir ou encerrar processo
judicial, inclusive nos casos de extensão administrativa de pagamentos postulados em
juízo, implicará sempre a responsabilidade de cada uma das partes pelo pagamento
dos honorários de seus respectivos advogados, mesmo que tenham sido objeto de
condenação transitada em julgado.

20. EMAGIS – 2012/19 – QUESTÃO 12. De acordo com recente julgado do STJ, se, numa
determinada ação, o Município litigar ao lado de litisconsorte que tenha procurador
diverso, não cabe a aplicação conjugada dos arts. 188 ("Computar-se-á em quádruplo
o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda Pública
ou o Ministério Público") e 191 do CPC ("Quando os litisconsortes tiverem diferentes
procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer
e, de modo geral, para falar nos autos"), de forma a reconhecer-lhe prazo em
quádruplo para recorrer.

21. EMAGIS – 2012/19 – QUESTÃO 12. A Corte Especial do STJ firmou compreensão no
sentido de que a exigência do prévio depósito da multa prevista no art. 557, § 2º, do
CPC ("Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal
condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor
corrigido da causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao
depósito do respectivo valor") não se aplica à Fazenda Pública.

22. EMAGIS – 2012/18 – QUESTÃO 10. É dever das partes e de todos aqueles que de
qualquer forma participam do processo cumprir com exatidão os provimentos
mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de
natureza antecipatória ou final. Ressalvados os advogados públicos45 e os advogados

44
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO DO JUIZ. ART. 312 DO CPC.
PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECÍFICOS. DESNECESSIDADE. ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC.
MULTA. APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 98/STJ.
1. Hipótese em que, apresentada exceção de suspeição em face de juiz de piso, a medida não foi
conhecida por ausência de procuração com poderes específicos em nome do advogado peticionante.
2. No que tange à necessidade de poderes específicos para a apresentação de exceção de suspeição,
importante frisar que o art. 38 do CPC estabelece as regras gerais de representação processual das
partes por seus patronos, instituindo a chamada cláusula ad judicia, referente à capacidade para
prática de todos os atos processuais.
3. O mesmo dispositivo, em sua parte final, enumera as exceções, que, como tais, devem ser
interpretadas restritivamente. Dentre as as exceções, a exigir poderes específicos, não consta a
apresentação de exceção de impedimento ou suspeição, RAZÃO PELA QUAL O NÃO-CONHECIMENTO
DA MEDIDA SOB O FUNDAMENTO DE INEXISTÊNCIA DE PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECÍFICOS É
ILEGAL. Precedentes.
[...](REsp 1233727/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/04/2011, DJe 05/05/2011)
45
O CPC não prevê os advogados públicos. Trata-se de questão sobre a qual o STF teve de se manifestar:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAÇÃO AO PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 14
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, NA REDAÇÁO DADA PELA LEI 10358/2001. PROCEDÊNCIA DO
PEDIDO. 1. Impugnação ao parágrafo único do artigo 14 do Código de Processo Civil, na parte em
que ressalva "os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB" da imposição de
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172

que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação desse dever constitui
ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções
criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser
fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor
da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da
decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do
Estado (art. 14, c/c p. único, CPC).

23. EMAGIS – 2012/18 – QUESTÃO 10. O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento,


condenará o litigante de má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o
valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os
honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou. É certo dizer, ademais, que o
valor dessa indenização será desde logo fixado pelo juiz, em quantia não superior a
20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, ou liquidado por arbitramento (art. 18,
CPC).

24. EMAGIS – 2012/18 – QUESTÃO 10. Não é possível ao juiz, nos próprios autos do
processo em que fora praticada a conduta maliciosa, condenar o patrono da parte a
multa por litigância de má-fé.

25. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 12. O juiz dará curador especial ao incapaz, se não tiver
representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele.

26. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 12. Ao executado que, citado por edital ou por hora
certa, permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para
apresentação de embargos46.

27. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 12. Segundo entendimento pacificado pelo Superior
Tribunal de Justiça, o curador especial é dispensado de oferecer garantia ao Juízo para
opor embargos à execução, mesmo antes da Lei 11.382/0647.

multa por obstrução à Justiça. Discriminação em relação aos advogados vinculados a entes estatais,
que estão submetidos a regime estatutário próprio da entidade. Violação ao princípio da isonomia e
ao da inviolabilidade no exercício da profissão. Interpretação adequada, para afastar o injustificado
discrímen. 2. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente para, sem redução de texto,
dar interpretação ao parágrafo único do artigo 14 do Código de Processo Civil conforme a
Constituição Federal e declarar que a ressalva contida na parte inicial desse artigo alcança todos os
advogados, com esse título atuando em juízo, independentemente de estarem sujeitos também a
outros regimes jurídicos. (STF, ADI 2652, Rel. Min. Maurício Correa, DJ de 14/11/2003)
46
Súmula 196, STJ.
47
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO.
REVELIA. NOMEAÇÃO DE CURADOR ESPECIAL. DEFENSORIA PÚBLICA. GARANTIA DO JUÍZO, NOS TERMOS DO
REVOGADO ART. 737, INCISO I, DO CPC. INEXIBILIDADE. [...] 3. É dispensado o curador especial de oferecer
garantia ao Juízo para opor embargos à execução. Com efeito, seria um contra-senso admitir a legitimidade do
curador especial para a oposição de embargos, mas exigir que, por iniciativa própria, garantisse o juízo em nome
do réu revel, mormente em se tratando de defensoria pública, na medida em que consubstanciaria
desproporcional embaraço ao exercício do que se constitui um munus publico, com nítido propósito de se garantir
o direito ao contraditório e à ampla defesa. (STJ, REsp 1110548/PB, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL,
julgado em 25/02/2010, DJe 26/04/2010)
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28. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 12. Se a parte, mesmo estando presa, tem patrono
nomeado nos autos, torna-se absolutamente despicienda a indicação de um curador
especial para representá-la.

29. EMAGIS – 2011/43 – QUESTÃO 10. É desnecessária a autenticação de cópia de


procuração e de substabelecimento, porquanto se presumem verdadeiros os
documentos juntados aos autos pelas partes, cabendo a elas argüir a falsidade48.

30. EMAGIS – 2011/43 – QUESTÃO 10. Na instância especial é inexistente recurso


interposto por advogado sem procuração nos autos49.

31. GEMAF – 2010/08 – QUESTÃO 07. Existe estreita relação entre a capacidade
processual e a capacidade para o exercício de direitos, de modo que a primeira quase
sempre pressupõe a segunda, sem embargo da existência de exceções, como na
hipótese da ação popular, que pode ser ajuizada por eleitor de dezesseis anos de
idade.

32. Capacidade postulatória é a capacidade deferida pela lei ao advogado de poder agir e
falar em nome das partes em juízo.

33. A colusão, que ocorre quando autor e réu se utilizam do processo para simular algo ou
para fim proibido por lei, pode ser conhecida de ofício e suscitada por terceiros.

34. Se o representante legal do incapaz tiver interesses colidentes com os do


representado, nomear-lhe-á curador especial.

35. O menor relativamente incapaz deve ser citado pessoalmente, mesmo assistido pelos
pais.

36. O interdito é absolutamente incapaz e deve ser representado em juízo por seu
curador.

37. A União, se for parte na causa, deve depositar previamente os honorários do perito,
relativamente à perícia por ela requerida.

38. As despesas dos atos processuais efetuadas a requerimento do MP serão pagas a final
pelo vencido.

48
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL.
PROCURAÇÃO. AUTENTICAÇÃO. DESNECESSIDADE. PRESUNÇÃO JURIS TANTUM DE AUTENTICIDADE. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO DA FIDELIDADE DO DOCUMENTO. SÚMULA N. 168/STJ.
1. É desnecessária a autenticação de cópia de procuração e de substabelecimento, porquanto se presumem
verdadeiros os documentos juntados aos autos pelas partes, cabendo a elas argüir a falsidade. Precedentes da
Corte Especial.
[...]
(EREsp 725740/PA, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/12/2009, DJe
08/02/2010)
49
Súmula 115, STJ.
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174

39. Os honorários advocatícios em desapropriação direta são calculados sobre a diferença


entre a indenização e a oferta, corrigidos monetariamente.

40. Os honorários advocatícios em ações previdenciárias não incidem sobre prestações


vincendas.

4. Ação
A palavra ação pode ser entendida de várias formas: ação como direito cívico, ação como
direito a um processo justo e équo, ação como direito à jurisdição, ação no sentido de
demanda e ação de direito material. São estas as cinco acepções como a palavra ação pode ser
compreendida.

Ação como direito cívico é aquela ação a que se refere a Constituição da República, no artigo
5º, XXXV, é a palavra ação abstratamente concebida, ou seja, qualquer um de nós possui
direito de ação. Aquela ideia de que nenhuma lesão ou ameaça de lesão estará excluída de
análise do poder judiciário é exatamente esta como direito cívico. Por isso, ela tem um
conteúdo constitucional, ampla, aberta.

“XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça


a direito;”

A palavra ação como direito justo e équo está mais ligada à ideia de processo sob o
contraditório. Afirma que autor e réu possuem as mesmas faculdades, direitos, obrigações,
ônus e sujeições. Autor e réu devem ser tratados de maneira equânime, paritária, justa.
Devem ter os mesmos poderes de influir no convencimento do juiz. É uma acepção muito
adotada na Procuradoria da República.

A palavra ação como direito a jurisdição tem um sentido processual. É o meio através do qual
se provoca o Estado para prestar a atividade jurisdicional, mas para que esta provocação surta
efeito, eu, interessado, tenho que preencher determinados requisitos ou, como diz a lei, tenho
que preencher determinadas condições, as chamadas condições da ação.

A palavra ação como demanda. Sempre que se utilizar a palavra ação lembre-se que possui
uma concepção abstrata. Fica no plano das ideias: eu pretendo ajuizar uma ação, eu vou
ajuizar uma ação. A partir do momento em que se materializa este direito de ação em uma
petição, saindo do plano das ideias, passa-se a falar em demanda, que é a materialização do
direito de ação50. É a concretização do direito de ação. Quando o CPC fala em suspensão da
ação, na verdade, fala em suspensão da demanda. Se você vai ajuizar não é uma ação é uma
demanda porque está materializada. Passou para o plano concreto não se chama mais de
ação, mas de demanda.

50
É por isto que alguns doutrinadores defendem ser errado afirmar que foi ajuizada uma ação, pois o
correto é dizer ajuizar uma demanda: parte-se do pressuposto que apenas uma relação materializada (e
por isto, uma demanda) pode ser ajuizada
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175

A palavra ação como direito material deve ser analisada com mais calma. No sul do país
muitos afirmam que ação de direito material continua existindo, mas tirando esta região do
país, no norte, nordeste, sudeste a ação de direito material está extinta. O problema é
examinar se ainda existe ou se foi extinta, e como se chegou a esta conclusão.

Caracterizado que o devedor não irá cumprir a obrigação surge o que se denomina de ação de
direito material. Ela representa atos, que eu, credor, poderia praticar por minhas próprias
forças para obter a satisfação da obrigação. Só que o problema é que o Estado proibiu a
autotutela, inclusive existe um tipo penal para esta hipótese, que é o exercício arbitrário das
próprias razões. Surge um problema: a ação de direito material ainda existe ou foi extinta do
nosso ordenamento?

Existem duas correntes:

Uma primeira corrente afirma que ela foi extinta salvo nas exceções expressamente
mencionadas no ordenamento. São as hipóteses de desforço imediato, se lembra das
hipóteses em que o proprietário por suas próprias forças pode repelir esbulho, turbação é o
desforço pessoal imediato, ainda há outras hipóteses como o direito de defesa, o direito de
greve, a retenção de bagagem, a retenção por benfeitorias. Então, para os adeptos desta
primeira corrente, a ação de direito material está extinta salvo nas exceções expressas no
ordenamento.

Para uma segunda corrente, com destaque no sul do país, além das exceções a ação de direito
material agora também seria relacionada àqueles atos de execução praticados pelo Estado.
Então, entenderam que se o indivíduo não pode exercer mais ação de direito material porque
o Estado proibiu, o Estado, no entanto, possibilitou que o indivíduo exercesse o direito de ação
para provocá-lo (ao Estado) a exercer o direito material. Proibiu a ação de direito material, mas
abriu a possibilidade da ação de direito processual.

Para exercer a jurisdição ele precisa de um processo, dentro deste processo o interessado fará
um pedido, esse pedido nada mais significa do que uma pretensão feita dentro do processo, a
chamada pretensão processual. Formulada no processo dentro do pedido, feito o pedido ele
vai ser julgado por uma sentença que vai transitar em julgado fazendo coisa julgada formal e
material. Passa-se para a fase de execução. Dependendo do tipo de obrigação a fase de
execução pode variar. Mas nesta fase de execução o Estado pratica atos de execução:
bloquear verbas em conta corrente, bloquear bens, arrestar bens. São esses atos de execução
que para esta segunda corrente passaram a ser ação de direito material.

Impossibilidade da lei excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou


AÇÃO COMO DIREITO CÍVICO
ameaça a direito
Ideia de processo sob o contraditório. Afirma que autor e réu possuem
AÇÃO COMO DIREITO JUSTO
as mesmas faculdades, direitos, obrigações, ônus e sujeições. Autor e
E ÉQUO
réu devem ser tratados de maneira equânime, paritária, justa.
AÇÃO COMO DIREITO À Possibilidade abstrata que todos possuem de buscar a tutela do
JURISDIÇÃO Judiciário, preenchidas as condições de ação.
AÇÃO COMO DEMANDA É a ação ajuizada, exercício concreto do direito de ação.
AÇÃO COMO DIREITO Atos exercidos pela pessoa de satisfação do próprio direito. Vedado pelo

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176

MATERIAL ordenamento, salvo em casos excepcionais como no desforço imediato.

4.1. Teorias da Ação


O CPC expressamente consagrou a teoria eclética da ação. Entretanto, imprescindível
conhecer todas as concepções.

a) Teoria imanentista (civilista): teoria em que o direito de ação é considerado o próprio


direito material em movimento, reagindo a uma agressão ou a uma ameaça de
agressão. Trata-se de uma teoria romanista completamente ultrapassada.

b) Teoria concreta da ação: também conhecida como teoria do direito concreto de ação,
foi a primeira que fez distinção entre direito de ação e direito material. O erro dessa
teoria foi afirmar que o direito de ação só existe quando existir o direito material,
condicionando a existência do primeiro à do segundo, ao provimento do pedido. Caso
improcedente, não teria o autor direito de ação desde o início. É teoria errada e
ultrapassada, que confunde alhos com bugalhos.

c) Teoria potestativa do direito de ação: seu mentor é Chiovenda, os adeptos desta teoria
também eram concretistas, para eles, só possui direito de ação quem possui direito
material. Eles se distinguiam da concretista porque, segundo eles, o direito de ação
não era um direito subjetivo, porque não era exercido somente em face do Estado, o
direito de ação era exercido em face do réu e o réu se sujeitava a esse direito, não
tinha como se opor. Então, se não tinha o que fazer não era um direito subjetivo, era
um direito potestativo. Porque este impõe a outra parte aquela obrigação. A teoria foi
banida porque sendo também concretista não respondia às indagações.

d) Teoria abstrata: o direito de ação seria um direito abstrato incondicionado e


autônomo de obter um pronunciamento do Estado, por meio de decisão judicial. Por
ser incondicionado, para os abstrativistas puros inexistem as condições de ação, não se
podendo falar, v.g., em carência de ação.

e) Teoria eclética: teoria atribuída a Liebman, consiste na teoria abstrata com


temperamentos. Para essa teoria, o direito de ação é completamente independente
do direito material, existindo de forma autônoma. Não é, entretanto, incondicional e
genérico, porque só existe quando o autor tem o direito a um julgamento de mérito, o
qual só ocorrerá se preenchidos determinado requisitos.

Essa teoria defende o preenchimento das condições de ação, as quais não se


confundem com o mérito, sendo analisadas preliminarmente e, quando ausentes,
geram uma sentença terminativa de mérito sem a formação da coisa julgada material.

Imanentista ou Civilista
Concreta
Teorias da Ação Potestativa
Abstrata
Eclética (ADOTADA NO BRASIL)

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177

Por que Liebman inseriu as condições de ação? Liebman concebeu que há uma infinidade de
processos nos quais, ao final, o juiz verifica que a parte, autor ou réu, não era legítima ou
carecia de interesse de agir; então, havia um grande dispêndio de dinheiro com a prática
desses atos processuais para somente no final o juiz dizer que não havia interesse. Com isso,
ele retirou a legitimidade e o interesse do final para que fossem analisados antes, no momento
anterior, nesse momento anterior de análise, ele acrescentou a possibilidade jurídica do
pedido, porque ele entendia que determinados pedidos eram proibidos pela lei.

Posteriormente, ele reformou sua teoria. Com a exclusão da impossibilidade do divórcio no


ordenamento italiano, ele retirou a possibilidade jurídica do pedido como uma das condições
da ação

Podem te perguntar em concurso se a legitimidade e o interesse são matérias de mérito ou


não. Originariamente a legitimidade e o interesse estavam no final, ou seja, eram matérias de
mérito, mas passaram para um momento anterior, então alguns chamam de mérito lato sensu
e o pedido que ficou para ser analisado no final é mérito stricto sensu. A antecipação da
análise da legitimidade e do interesse, para boa parte da doutrina, não mudou sua natureza.
Só que o legislador escolheu que a análise da legitimidade e do interesse como condição da
ação não faz coisa julgada. Artigo 267 do CPC.

“Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:

Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a


possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;”

Se só for analisar a legitimidade e o interesse no mérito, aí faz coisa julgada que é o que
veremos quando analisarmos a teoria da asserção, que diz que depende do local em que se
examinar esta matéria, se examinar como condição da ação não faz coisa julgada, mas se
examinar no final tem gente que entende que faz.

Para a melhor doutrina, AS CONDIÇÕES DE AÇÃO DEVEM ESTAR PRESENTES NO MOMENTO


DA PROLAÇÃO DA SENTENÇA, DE FORMA QUE EVENTOS SUPERVENIENTES DEVEM SER
LEVADOS EM CONSIDERAÇÃO EM SUA ANÁLISE. Proposta uma ação que não atenda às
condições de ação, não caberá extinção do processo caso as condições sejam
supervenientemente observadas. Da mesma forma, proposta a ação com as condições de
ação, caso estas deixem de existir, o processo deve ser imediatamente extinto sem julgamento
de mérito.

O STJ, no entanto, não adota esse posicionamento, mas preceitua a adoção da teoria da
asserção: AgRg no AREsp 53.146/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado
em 16/02/2012, DJe 05/03/2012; REsp 595.188/RS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 22/11/2011, DJe 29/11/2011; REsp 1052680/RS, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/09/2011, DJe 06/10/2011; AgRg no REsp
877.161/RJ, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/12/2006, DJ
01/02/2007, p. 442

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4.2. A Demanda e a Relação Jurídica Substancial


Demanda significa:

a) Ato de ir a juízo provocar a atividade jurisdicional;

b) Conteúdo da postulação, ou seja, ação concretamente exercida.

A demanda, enquanto postulação, seria o nome processual que recebe a relação jurídica
substancial quando posta à apreciação do Poder Judiciário. Os elementos desta se manifestam
naquela. Pode-se traçar o seguinte paralelo:

RELAÇÃO JURÍDICA DE DIREITO SUBSTANCIAL DEMANDA


Sujeitos Parte
Fato jurídico Causa de pedir [fato (remota) + fundamento
jurídico (próxima)]
Objeto Pedido (imediato + mediato)

Assim, demanda difere-se de ação pois ação é abstratamente analisada, enquanto


DEMANDA É A AÇÃO AJUIZADA, QUE ESTÁ SENDO EXERCIDA. Ademais,
demanda se difere da relação jurídica de direito substancial pois os elementos desta
passam a ser analisados sob outro prisma, um prisma processual .

4.3. Elementos da Ação


Os elementos da ação são de extrema importância, já que com base neles que é possível saber
se existe litispendência e se a coisa julgada pode obstar a existência de um novo processo.

4.3.1. Partes
Parte processual é aquela que figura na relação jurídica processual, fazendo parte do
contraditório. Parte material ou do litígio é o sujeito da situação jurídica discutida em juízo. Em
geral ambas se confundem, havendo exceções, como ocorre, v.g., na substituição processual.

Porém, parte não se resume a autor e réu, sendo parte também os terceiros intervenientes e
os demais que participam da relação jurídica processual em contraditório defendendo
interesse próprio (essa ampliação subjetiva se chama de PARTES NO PROCESSO. PARTES
NA DEMANDA se resumiriam a autor e réu).

Segundo a melhor doutrina, existem quatro formas de adquirir a qualidade de parte:

a) Pelo ajuizamento da demanda (autor/opoente);

b) Pela citação;

c) De maneira voluntária (assistente, recurso de terceiro prejudicado e demais


intervenções de terceiros);

d) Sucessão processual.

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4.3.2. Pedido
O conceito de pedido será analisado detidamente em momento posterior, quando do estudo
da petição inicial, em face da relevância do tema.

4.3.3. Causa de Pedir


Existem duas doutrinas fundamentais que explicam a causa de pedir:

a) Teoria da individuação: causa de pedir seria tão-somente a relação jurídica afirmada


pelo autor. Ou seja, ao autor bastaria demonstrar as consequências jurídicas de
determinado fato, sem precisar nem mesmo narrar o fato. V.g., na petição inicial o
autor somente pediria para ser indenizado, sem esclarecer os fatos que geram o
direito à indenização, podendo o juiz investigar e apreciar todos os fatos e
fundamentos a ela relativos. Isso geraria o revés de não poder o autor retornar em
juízo para discutir o direito à indenização fundado em outros fatos ou fundamentos.

b) Teoria da substanciação: determina que a causa de pedir, independentemente da


natureza da ação e da relação jurídica afirmada pelo autor, é formada apenas pelos
fatos jurídicos narrados pelo autor. A doutrina majoritária afirma que essa é a
corrente adotada, não obstante o CPC ser expresso ao exigir a narração dos fatos E dos
fundamentos jurídicos.

Relevância dessa distinção com exemplo: ação para anular um contrato por dolo e ação para
anular um contrato por erro: pela Teoria da Substanciação as causas de pedir são distintas
(porque erro não é dolo); já para a Teoria da Individualização, se esta valesse entre nós, essas
causas de pedir seriam idênticas, porque em ambas se discutiria o mesmo direito (o direito de
anular). Esta é a importância de se saber qual a teoria por nós adotada.

Nas palavras de MOACYR AMARAL DOS SANTOS:

"A teoria da substanciação impõe que na fundamentação do pedido se


compreendam a causa próxima e a causa remota (fundamentum actionis
remotum), a qual consiste no fato gerador do direito pretendido" ("in"
PRIMEIRAS LINHAS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL. 2° vol. São Paulo:
Saraiva, 1997. p. 134).

No mesmo sentido, a lição de CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO:

"O direito brasileiro adota, quanto à causa de pedir, a chamada doutrina da


substanciação, que se difere da individuação, para a qual o que conta para
identificar a ação proposta é a espécie jurídica invocada (coação, crime de
homicídio, etc.) e não as meras circunstâncias de fato" ("in" TEORIA GERAL
DO PROCESSO. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 264).

Assim: Individuação => indica a relação jurídica


Substanciação => indica os fatos fundantes

A causa de pedir se classifica em próxima ou remota: a próxima é o fundamento jurídico do


pedido, enquanto a remota seria o fato constitutivo do direito, o fato da vida real. De acordo
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180

com Marinoni: causa de pedir remota: relação jurídica indicada ou fatos constitutivos,
próxima: fundamento do pedido e ou lesão à relação jurídica.

Fundamento jurídico não é o fundamento legal, a mera indicação do dispositivo de lei. Isso é
inútil, já que iura novit curia. Fundamento jurídico é o liame jurídico entre os
fatos e o pedido, ou seja, a explicação à luz do ordenamento jurídico do por quê o autor
merece o que está pedindo ante os fatos que narrou. Por exemplo, tenho o direito de receber
indenização porque a pessoa X, no dia tal, proferiu grave injúria contra mim, lesando minha
dignidade e surgindo, para ela, a responsabilidade civil.

4.4. Condições de Ação


O CPC adotou a concepção eclética sobre o direito de ação, segundo o qual o direito de ação é
o direito ao julgamento do mérito da causa, condicionado ao preenchimento de determinadas
condições.

De acordo com o CPC, a falta de qualquer das condições implicaria a extinção do processo sem
resolução de mérito (art. 267, VI), PODENDO A AUSÊNCIA DE UMA CONDIÇÃO DE AÇÃO,
QUE SIGNIFICA CARÊNCIA DE AÇÃO, SER RECONHECIDA DE OFÍCIO, EM QUALQUER
GRAU DE JURISDIÇÃO E A QUALQUER TEMPO (art. 267, § 3º, CPC).

4.4.1. Momento de Verificação das Condições da Ação – Teoria da Asserção ou Prospecção X


Teoria da Exposição ou Apresentação
Como visto, a carência de ação pode ser reconhecida a qualquer tempo. Essa é a posição do
CPC e da jurisprudência esmagadora.

Entretanto, esta posição do CPC é bastante prejudicial e criticável, já que permitiria, após
longos anos de debates processuais, que se reconhece-se a carência de ação e a consequente
extinção do processo sem julgamento de mérito.

A teoria da asserção ou prospecção (Teoria della prospettazione) defende que a análise


definitiva das condições de ação seja realizada no momento de prolação do juízo de
admissibilidade inicial do procedimento. Se positivo, não há mais discussão sobre elas, a não
ser que haja a perda superveniente de uma condição.

Tudo o que vier após a admissão da inicial será decisão de mérito; se a questão da existência
ou não de carência de ação requerer exame mais aprofundado, não podendo ser decidida
initio litis, o que antes era questão processual passará a ser questão de mérito. Logo, restará
formada a coisa julgada material.

Essa teoria, apesar de poupar alguns contratempos, é bastante criticada pois ao autor bastaria
mentir na inicial para que não houvesse reconhecimento da carência de ação, a fim de que
merecesse uma resolução de mérito.

Ademais, formaria coisa julgada sobre uma questão de condição da ação, impedindo a
repropositura da demanda futuramente, quando sanada.

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181

A teoria da asserção é, na concepção italiana tradicional, para ser aplicada, como visto, na fase
do juízo de admissibilidade da inicial51. Por quê? Pois a presença das condições de ação seriam
detectadas tão somente com base nas afirmativas do autor na inicial. A partir daí, o que vier
seria mérito. Entretanto, no Brasil ela foi ampliada, possibilitando que o réu fosse citado para
apresentar contestação e depois, em tese, as condições da ação e os pressupostos processuais
deveriam ser verificados.

Assim, hoje, até que momento as condições da ação podem ser analisadas como sendo
condições da ação? Até o momento anterior à fase instrutória. Isso pela doutrina. Após a
fase instrutória, após o começo da formação de provas no processo, haveria somente decisão
de mérito, haveria a efetiva formação da coisa julgada.

Quem adota a teoria da asserção? Barbosa Moreira, Alexandre Câmara, Fredie Didier,
Leonardo Greco, Marcelo Abelha, Teresa Arruda Alvim, Luiz Rodrigues Wambier.

Sobre a teoria da asserção na jurisprudência:

PROCESSUAL CIVIL – ADMINISTRATIVO – RESPONSABILIDADE CIVIL DO


ESTADO – AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL NA NARRAÇÃO CONTIDA NA
PETIÇÃO VESTIBULAR – CONDIÇÕES DA AÇÃO – LIMITES RAZOÁVEIS E
PROPORCIONAIS PARA A APLICAÇÃO DA TEORIA DA ASSERÇÃO –
ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO ENTE ESTATAL.

1. A teoria da asserção estabelece direito potestativo para o autor do


recurso de que sejam consideradas as suas alegações em abstrato para a
verificação das condições da ação, entretanto essa potestade deve ser
limitada pela proporcionalidade e pela razoabilidade, a fim de que seja
evitado abuso do direito.

2. O momento de verificação das condições da ação, nos termos daquela


teoria, dar-se-á no primeiro contato que o julgador tem com a petição
inicial, ou seja, no instante da prolação do juízo de admissibilidade inicial
do procedimento. Logo, a verificação da legitimidade passiva ad causam
independe de dilação probatória na instância de origem e de reexame
fático-probatório na esfera extraordinária.

3. Não se há falar em legitimidade passiva ad causam quando as alegações


da peça vestibular ilustrarem de maneira cristalina que o réu não figura na
relação jurídica de direito material nem em qualquer relação de causalidade.

Agravo regimental provido.

51
Em tese a análise deveria ser realizada inicialmente, porém, com base na teoria da asserção, por
relapso do juízo, ou por agravo de instrumento, é possível que o momento seja ulterior, pois as
condições da ação podem ser reconhecidas a qualquer tempo, por expressa disposição do §3º do art.
267 do CPC. O que é importante é que para seu reconhecimento seja desnecessária a análise
probatória.: ou seja, que as condições pudessem ser reconhecidas em tese no início, embora possam
reconhecidas a qualquer momento.
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182

(AgRg no REsp 1095276/MG, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA


TURMA, julgado em 25/05/2010, DJe 11/06/2010)52

Quem adota a teoria do Código, chamada da EXPOSIÇÃO OU DA APRESENTAÇÃO?


Dinamarco, Ada, Nery Jr. No que diz respeito às condições da ação, afirma-se que a teoria de
Liebman seria uma teoria da exposição ou apreciação, de forma que a presença das condições
deveria ser comprovada pelo autor. Nesses termos, em inúmeras situações, o processo
terminaria sem uma análise do mérito, ou seja, sem apreciação de seu objeto, daquilo para o
que se propôs o procedimento. A atividade processual, nesses moldes, teria sido inútil, e a
sentença judicial (terminativa) não inviabilizaria a propositura de nova demanda, envolvendo o
mesmo objeto litigioso.

Isso conduz à seguinte situação: a ausência de condição da ação para Liebman (condição não
comprovada pelo autor) conduz à extinção do processo sem resolução do mérito (com o
proferimento de uma sentença terminativa), mesmo que esta se dê após o julgamento do
mérito (sentença definitiva), em grau de recurso, uma vez que as condições podem ser
analisadas e demonstradas em qualquer momento e grau de jurisdição, conduzindo assim, à
anulação da sentença definitiva; já para a teoria da asserção, as condições da ação serão
analisadas com base tão-somente nas alegações feitas pela parte na peça de ingresso (petição
inicial do autor), deste modo as matérias referentes à legitimidade, interesse e possibilidade
jurídica serão analisadas junto com o mérito, o que conduz, caso não estejam presentes, à
improcedência do pedido, sentença de mérito (definitiva), em qualquer momento ou grau de
jurisdição, ou seja, no tribunal ocorrerá, assim, a reforma (não anulação) da sentença de
mérito.
ASSERÇÃO => Autor não precisa provar as condições de ação
EXPOSIÇÃO => Autor precisa provar as condições de ação
4.4.2. A Possibilidade Jurídica do Pedido
A teoria tradicional defende a possibilidade jurídica do pedido como a amparabilidade do
pedido formulado pelo autor perante o ordenamento jurídico (do pedido imediato). Isso,
entretanto, é uma lástima propagada por alguns doutrinadores.

A possibilidade jurídica do pedido somente pode ser apreciada à luz da vedação legal: é
possível todo pedido mediato que não seja juridicamente vedado, como seria o caso de uma
ação em que um Município pede para ser emancipado da República Federativa do Brasil.

Isso porque, de início, presume-se que todo pedido é amparável pelo Poder Judiciário, já que é
proibido aos particulares exercer a autotutela (em regra); trata-se de uma decorrência do
princípio da inafastabilidade da jurisdição.

52
IMPORTANTE: o STJ fala em teoria da asserção em diversos julgados, mas trata ela de forma diferente
do que prega a doutrina. De acordo com o inteiro teor do julgado acima colacionado, as condições da
ação devem ser analisadas de acordo com o que foi alegado pelo autor da ação na inicial sem sindicar as
questões meritórias. Isso não quer dizer, entretanto, que posteriormente não poderá a superveniente
falta de uma condição de ação levar à extinção do processo sem julgamento de mérito.
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183

O CPC de 1973 é baseado nas lições o jurista italiano Liebman, o qual elencava 03 condições da
ação: legitimidade de parte, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. Todavia, esse
autor, ao evoluir seu pensamento, excluiu a possibilidade jurídica do pedido do rol das
condições da ação sem ser acompanhado pelo nosso CPC.

A evolução do pensamento de Liebman se dera no sentido cassar a autonomia da possibilidade


jurídica do pedido para incluí-la no interesse de agir, em sua dimensão utilidade. Além do mais,
por ser a possibilidade jurídica do pedido conceituada como “conformidade do pedido com o
ordenamento jurídico” ou ainda como “a ausência de vedação explícita no ordenamento
jurídico para a concessão do provimento jurisdicional”, para muitos a possibilidade jurídica do
pedido não passava de uma análise de mérito.

No projeto do Novo CPC a possibilidade jurídica do pedido não é mais uma das condições da
ação. Para seus juristas idealizadores, a sentença que, à luz da lei revogada seria de carência
da ação, à luz do Novo CPC é de improcedência e resolve definitivamente a controvérsia.

Enfim, excluir a possibilidade jurídica do pedido do rol das condições da ação, significa trazer
maior estabilidade às relações sociais, tendo em vista que, verificado que o pedido não se
conforma ao ordenamento jurídico, haverá uma sentença de improcedência do pedido. Uma
sentença de mérito, que tende à formação da coisa julgada material. E que, por consequencia,
impede a rediscussão da matéria.

É melhor para os sujeitos processuais que suas pretensões sejam resolvidas definitivamente, a
fim de evitar reiteradas rediscussões daquilo que já se sabe não autorizado pelo ordenamento
e isto contribui a um só tempo para a economia processual (evitando-se a repetição de causas)
e para a pacificação social.

4.4.3. Interesse de Agir


O interesse de agir, ou interesse processual, está associado à utilidade e necessidade da
prestação jurisdicional que se pretende obter perante o Judiciário. Cabe ao autor demonstrar
que o provimento jurisdicional pretendido será capaz de lhe proporcionar uma melhora em
sua situação fática.

O juiz deve analisar, abstrata e hipoteticamente, se o autor, sagrando-se vitorioso, terá


efetivamente a melhora que pretendeu obter com o pedido de concessão de tutela
jurisdicional.

Pode o juiz indeferir a inicial, declarando a carência de ação por falta de interesse de agir por
não ter a demanda conteúdo econômico? Isso é controverso. O direito de ação é um direito
subjetivo que pode ser exercido independentemente do direito material subjacente. Porém, se
a demanda for de caráter estritamente patrimonial e for patente na inicial a impossibilidade de
qualquer melhora para o autor, a absoluta ausência de interesse econômico, poderá (em tese)
ser extinto o processo sem julgamento de mérito. Exemplo jurisprudencial disso é a liquidação
de valor zero:

EMBARGOS À EXECUÇÃO. LIQUIDAÇÃO DE VALOR ZERO. EXTINÇÃO DO


FEITO EXECUTIVO. 1-O cálculo homologado pelo julgador a quo observou
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184

estritamente os critérios e parâmetros especificados no título executivo


judicial, oferecendo subsídios à solução da controvérsia. A hipótese cuida de
liquidação zero e, conseqüentemente, de inexigibilidade do título, o que não
atenta contra o princípio da coisa julgada. 2- Apelação não provida.

(TRF2, AC 200251015098250, Desembargador Federal LUIZ ANTONIO


SOARES, QUARTA TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R - Data::27/04/2010 -
Página::191/192.)

Entretanto, caso se tratasse de uma ação declaratória ou ainda constitutiva, a ausência de


proveito econômico não implicaria na extinção do processo.

O interesse de agir não se confunde com o interesse substancial primário, com o bem de vida
que pede o autor. O seu objeto é a tutela jurisdicional.

a) Interesse-utilidade: há utilidade toda vez que o processo puder propiciar ao


demandante o resultado favorável pretendido, ou puder de alguma forma melhorar
a sua situação. É por isso que se afirma que há falta de interesse processual quando
não for mais possível a obtenção daquele resultado almejado. Por exemplo, não há
qualquer interesse-utilidade em manter o trâmite de uma ADIN quando a lei
questionada como inconstitucional for revogada. Perde-se o objeto, por superveniente
perda de interesse de agir.

Também faltará utilidade quando, v.g., o valor do crédito exequendo for absorvido
pelas custas do processo de execução, de tão ínfimo que é (art. 659, § 2º, CPC).

b) Interesse-necessidade: o exame da necessidade de jurisdição fundamenta-se na


premissa de que a jurisdição tem de ser encarada como a última forma de solução de
conflitos. Há necessidade sempre que o autor não puder obter o bem da vida
pretendido sem a devida intervenção do Poder Judiciário. Em regra, havendo lesão
ou ameaça de lesão a direito, há interesse de agir por presença da necessidade.
Interesse necessidade significa que aquele é o único meio através do qual é possível
obter a proteção à relação jurídica que está sendo apresentada. Em outras palavras, a
parte não dispõe de outra maneira de proteger o direito que ela julga ter sido violado.
Questiona-se, por exemplo, se no âmbito dos juizados especiais federais pode o
segurado ajuizar ação ante a ausência de requerimento administrativo do benefício.
Muitos juízes consideram que não podem, pois não houve pretensão resistida, logo,
inexistiria interesse-necessidade. Porém, não considero correto esse entendimento;
como o INSS não funciona direito, é certo que há interesse em ir direto à Justiça.
Ademais, não há norma que limite o acesso do jurisdicionado ao Poder Judiciário ou
que condicione a determinado ato, salvo na justiça desportiva.

O STJ tem entendimento recente nos dois sentidos, mas prevalece amplamente a
desnecessidade:

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PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO CONCESSÓRIA DE BENEFÍCIO. PROCESSO CIVIL.


CONDIÇÕES DA AÇÃO. INTERESSE DE AGIR (ARTS. 3º E 267, VI, DO CPC).
PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. NECESSIDADE, EM REGRA.

1. Trata-se, na origem, de ação, cujo objetivo é a concessão de benefício


previdenciário, na qual o segurado postulou sua pretensão diretamente no
Poder Judiciário, sem requerer administrativamente o objeto da ação.

2. A presente controvérsia soluciona-se na via infraconstitucional, pois não


se trata de análise do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º,
XXXV, da CF). Precedentes do STF.

3. O interesse de agir ou processual configura-se com a existência do


binômio necessidade-utilidade da pretensão submetida ao Juiz. A
necessidade da prestação jurisdicional exige a demonstração de resistência
por parte do devedor da obrigação, já que o Poder Judiciário é via destinada
à resolução de conflitos.

4. Em regra, não se materializa a resistência do INSS à pretensão de


concessão de benefício previdenciário não requerido previamente na esfera
administrativa.

5. O interesse processual do segurado e a utilidade da prestação


jurisdicional concretizam-se nas hipóteses de a) recusa de recebimento do
requerimento ou b) negativa de concessão do benefício previdenciário, seja
pelo concreto indeferimento do pedido, seja pela notória resistência da
autarquia à tese jurídica esposada.

6. A aplicação dos critérios acima deve observar a prescindibilidade do


exaurimento da via administrativa para ingresso com ação previdenciária,
conforme Súmulas 89/STJ e 213/ex-TFR.

7. Recurso Especial não provido.

(REsp 1310042/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,


julgado em 15/05/2012, DJe 28/05/2012)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. FUNDAMENTOS


INSUFICIENTES PARA REFORMAR A DECISÃO AGRAVADA. BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. POSTULAÇÃO PERANTE O PODER JUDICIÁRIO. PRÉVIO
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. DESNECESSIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO

1. O agravante não trouxe argumentos novos capazes de infirmar os


fundamentos que alicerçaram a decisão agravada, razão que enseja a
negativa de provimento ao agravo regimental.

2. O entendimento deste Superior Tribunal de Justiça está cristalizado no


sentido de ser prescindível o requerimento administrativo prévio à
propositura de ação judicial para caracterização do interesse de agir.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.


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(AgRg no REsp 1129119/RS, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), SEXTA TURMA, julgado em
13/12/2011, DJe 19/12/2011)

4.4.4. Legitimidade
No processo, impõe-se a existência de um vínculo entre os sujeitos da demanda e a situação
jurídica afirmada. Deve-se investigar a legitimidade no elemento subjetivo da demanda, as
partes.

LEGITIMIDADE PARA AGIR É A PERTINÊNCIA SUBJETIVA DA DEMANDA, a situação


prevista em lei que permite a um determinado sujeito propor a demanda judicial e a um
determinado sujeito formar o polo passivo dessa demanda.

No Brasil, para se examinar a legitimidade adota-se a posição do Liebman.

Liebman dizia que parte legítima ou legitimidade significa a pertinência subjetiva da lide. Mas
isso não quer dizer nada, é algo abstrato.

Quem possui legitimidade? Aquelas pessoas que irão obter um provimento favorável na
sentença de mérito ao final. Agora, quem são essas pessoas? Só se pode analisar isso com base
na relação jurídica de direito material, com base no caso concreto. É por isso que surge a
distinção entre legitimidade ad causam e legitimidade ad processum. Por que isso? Porque a
legitimidade ad causam é a legitimidade para aquela causa específica, para aquela demanda
em particular. Como é que o juiz vai saber se o autor e o réu possuem legitimidade para aquela
causa, de onde ele vai extrair essas informações, de onde ele vai tirar elementos para saber se
o autor e réu são partes legítimas para figurar naquele caso em particular? Ele vai ter que se
dirigir à relação jurídica de direito material.

O juiz faz um exame superficial da relação jurídica de direito material para saber se o
autor e o réu são partes legítimas para aquela demanda. Por isso que quando o juiz
faz esse exame, mesmo superficialmente, para caracterizar a legitimidade ad causam
está-se falando de uma condição da ação. A legitimidade ad causam é uma condição
da ação.

Se ele se aprofundasse no exame, ele iria passar das condições da ação e chegar no mérito.

A DIFERENÇA ENTRE AS CONDIÇÕES DA AÇÃO E O MÉRITO É A PROFUNDIDADE DO


EXAME. SE O JUIZ EXAMINA SUPERFICIALMENTE, É UMA CONDIÇÃO DA AÇÃO. QUANDO ELE
EXAMINA DE FORMA PROFUNDA COM BASE EM PROVAS, ELEMENTOS, ALEGAÇÕES, É
MÉRITO.

A legitimidade ad processum é o que se chama de capacidade de estar em juízo. Quem possui


capacidade de estar em juízo? Art. 3º e seguintes do CPC. Possuem capacidade de estar em
juízo todos aqueles maiores de idade que estejam no pleno exercício de suas faculdades
mentais.

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Há legitimação extraordinária autônoma quando o legitimado extraordinário está autorizado


a conduzir o processo independentemente da participação e da aquiescência do titular do bem
litigioso. É o caso dos legitimados a promover ação civil pública53.

Já a legitimação extraordinária subordinada é aquela em que a presença do titular da relação


jurídica controvertida é essencial para a regularidade do contraditório. É o caso, v.g., da
assistência simples.

HÁ CASOS EM QUE O SUJEITO PODE ESTAR, AO MESMO TEMPO, NA CONDIÇÃO DE


LEGITIMADO ORDINÁRIO E EXTRAORDINÁRIO. É o caso, por exemplo, do condômino que
está em juízo defendendo bem que é dele e também dos outros condôminos.

4.4.4.1. Classificação das Legitimidades


a) Legitimação ordinária: há correspondência entre a situação legitimante e as situações
jurídicas estabelecidas em juízo (os pretensos titulares dos bens discutidos são as
partes processuais). É o caso daquele que defende em juízo interesse próprio, ainda
que representado por advogado.

b) Legitimação extraordinária: é aquele que defende interesse alheio em nome próprio,


como ocorre com os legitimados para propor ação civil pública ou com o alienante do
bem litigioso que continua a atuar no processo.

c) Legitimação exclusiva: quando a relação jurídica somente pode ser estabelecida com a
presença de um determinado sujeito de direito. É o caso das ações penais públicas
incondicionadas.

d) Legitimação concorrente ou colegitimação: ocorre quando mais de um sujeito de


direito estiver autorizado a discutir em juízo determinada situação jurídica.

4.4.4.2. Substituição Processual ou Legitimação Extraordinária


Somente pode ocorrer quando autorizado por lei, já que deve ser encarada como algo
excepcional. O legitimado extraordinário atua no processo como parte, e não como
representante, ficando submetido ao regime jurídico do sujeito processual. É em face dele que
se examina o preenchimento dos pressupostos processuais subjetivos.

Salvo disposição legal, a coisa julgada surgida em processo conduzido pelo substituto
estenderá seus efeitos para o substituído.

O substituto processual pode ser sujeito passivo de sanções processuais, como ser punido por
litigância de má fé e ter contra si aplicadas multas.

53
Nelson Nerye usa a legitimação autônoma de uma forma diferente: “A terceira corrente tem em
NELSON NERY seu principal defensor. Inspirada no direito alemão, pugna por um abandono da
tradicional divisão em legitimação ordinária e extraordinária, pois que se trataria de conceituação
insuficiente para explicar o fenômeno da legitimidade no processo coletivo. Defende, assim, que os
entes legitimados à propositura da ação coletiva seriam dotados, pela lei, de uma legitimação
autônoma para a condução do processo.”
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188

A inexistência de legitimação extraordinária não leva à resolução do mérito, devendo a


demanda ser inadmitida por carência de ação.

IMPORTANTE: há quem distinga substituição processual de legitimação extraordinária


(Barbosa Moreira, por exemplo).

4.4.4.3. Substituição Processual e Representação Processual


Em nada se confundem. Há representação quando um sujeito está em juízo em nome alheio
defendendo direito alheio. Logo, esse sujeito “fala pelo representado” e em nome dele, ainda
que assine o próprio nome. Já na substituição, defende-se em nome próprio direito alheio.

É o caso dos advogados, que representam processualmente o autor ou réu. O representante


não é parte (na demanda não; é parte no processo); parte é o representado.

Tanto não se confundem que um substituto processual, v.g., uma associação legitimada para
propor ACP, deverá ser representada processualmente por um advogado. Logo, haverá
substituição processual exercida necessariamente com representação processual, ante a
inexistência de capacidade postulatória.

4.5. Tipologia das Ações

4.5.1. Ações de Prestação


Direito a uma prestação é o poder jurídico conferido a alguém de exigir de outrem
cumprimento de uma prestação. Ele precisa ser efetivado no mundo físico. Quando o sujeito
passivo não cumpre a prestação, há o inadimplemento, surgindo a responsabilidade e a
pretensão, devendo o titular recorrer ao Judiciário para obter a tutela. As ações de prestação
podem ser:

a) Declaratória: tem por objetivo certificar a existência ou inexistência de uma situação


jurídica. Não se busca nada no processo além da certificação, não havendo qualquer
alteração em situação jurídica existente. Não há prazo para ajuizamento de demanda
declaratória, ela é imprescritível. Não se admite ação meramente declaratória de fato,
ressalvada a ação sobre autenticidade de documento. O Judiciário declarará uma
situação jurídica, jamais um evento. Para declarar eventos, a pessoa pode se valer de
Cartórios oficiais.

Súmula 242, STJ: “Cabe ação declaratória para reconhecimento de tempo de serviço para fins
previdenciários”.

Súmula 181, STJ: “É admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto a exata
interpretação de cláusula contratual”. Nesse caso, há uma dúvida quanto ao direito, quanto a
uma situação jurídica, e não quanto a um fato, gerando insegurança social e justificando a
possibilidade do exercício do direito de ação.

b) Condenatórias: ações que reconhecem uma determinada situação jurídica e


condenam o réu a realizar determinada conduta, como pagar, fazer ou não fazer. Toda

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189

ação condenatória, de certa forma, traz em si algo declaratório, pois para se condenar
primeiro é necessário declarar (reconhecer) o direito. Em regra, tem efeitos ex tunc.

c) Constitutivas: ação de conhecimento que tem por fim a criação, modificação ou a


extinção de uma relação jurídica, sem estatuir qualquer condenação do réu ao
cumprimento de uma prestação, produzindo efeitos ex tunc ou ex nunc. Ação que tem
por objetivo certificar e efetivar direitos potestativos 54. A sentença que reconhece o
direito potestativo já o efetiva com o simples reconhecimento e implementação da
nova situação jurídica almejada, como, por exemplo, a anulação de um lançamento
fiscal: a própria sentença já promove a desconstituição do lançamento. Sempre que do
processo resultar uma nova situação jurídica ou a modificação/extinção de uma já
existente, é o caso de demanda constitutiva.

d) Mandamentais: ações que não precisam de fase de execução para se implementarem,


possuindo força executiva. A ação mandamental tem por fim obter, como eficácia
preponderante da respectiva sentença de procedência, a emissão de uma ordem pelo
juiz a ser observada pelo demandado, em vez de limitar-se a condená-lo a fazer ou não
fazer alguma coisa. É da essência, portanto, da ação mandamental que a sentença que
lhe reconheça a procedência contenha uma ordem para que se expeça um mandado.
Daí a designação de sentença mandamental. Neste tipo de sentença, o juiz ordena, e
não simplesmente condena. E nisso residem, precisamente, o elemento eficacial que a
faz diferente das sentenças próprias do processo de conhecimento

e) Executivas lato sensu: representa a possibilidade de ações que tragam embutidas no


processo de conhecimento capacidade executória, possibilitando ao juízo determinar,
desde logo, e independentemente de qualquer outra providencia, a entrega do bem
da vida objeto da lide, isto porque o provimento jurisdicional tem caráter executório.

Segundo Pontes de Miranda toda ação ou sentença carrega em si mesma, no bojo do


projeto de provimento jurisdicional esperado, por quem pede ao Estado, a satisfação
de seu interesse ofendido, existe uma carga maior, uma eficácia maior,
preponderante, sobre as demais provisões satisfativas de direito material contidas na

54
Há severas críticaas a essa definição. A primeira consiste em creditar na vinculação do direito
potestativo à ação constitutiva, o que seria retornar ao problema da teoria das ações, pois, se o direito
material está vinculando ao exercício do direito processual, tem-se a ação imanentista, ou na melhor
das hipóteses, como concreta. Lembre-se que esta questão não é de menor importância e impediu que
o próprio ALFREDO ROCCO, por tantos citado, aceitasse a categoria das ações constitutivas, porque fere
a lógica abstrata da ação. Também pela aguda percepção de ALFREDO ROCCO vem revelado o segundo
engano da doutrina que defende a sentença constitutiva, apoiada em um direito potestativo
preexistente como pressuposto da ação. ROCCO era defensor da ideia do “juízo lógico”, ou seja, o juiz
não pode intervir na prolação da sentença com um ato de vontade, este é reservado ao legislador, por
isso via na sentença constitutiva mera declaração. Ora, pretendendo-se a sentença vinculada a um
direito preexistente, a atividade do juiz é de simples “accertamento”, “Feststellung”, declaração da
existência daquele direito.Como já ficou claro acima não se trata de dupla declaração, mas de eficácia
própria, com características específicas. Portanto, engana-se ROCCO ao afirmar a não existência da
sentença constitutiva porque esta não se vincula aos chamados direitos potestativos e, sim, a formação,
extinção ou modificação dos direitos, que é atividade criadora do juiz.
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sentença. Desta forma, em toda ação declaratória a eficácia maior é a de declarar; na


constitutiva, é a de constituir; na condenatória, a de condenar; na mandamental a de
mandar e, na executiva, a de executar. Eis, os cinco verbos que emprestam a cada
ação ou sentença sua força ou eficácia preponderante.

4.5.2. Ações Constitutivas


São as demandas que têm por objeto certificar e efetivar direitos potestativos. O direito
potestativo é o poder conferido a alguém de submeter outrem à alteração, criação ou extinção
de situações jurídicas. Ele se efetiva no mundo jurídico das normas, e não no mundo dos fatos.

Sempre que do processo resultar uma situação jurídica nova ou na modificação/extinção de


uma já existente, o caso é de demanda constitutiva. Seus efeitos são, regra geral, ex nunc,
podendo, em alguns casos, ser ex tunc.

Exemplo de ação constitutiva seria o desfazimento de um contrato administrativo, pelo


particular, ante o inadimplemento prolongado da Administração Pública. A desconstituição da
relação jurídica será feita na sentença, liberando definitivamente o particular.

4.5.3. Ações Meramente Declaratórias


São aquelas que têm o objetivo de certificar a existência ou inexistência de uma situação
jurídica. Elas não possuem prazo de ajuizamento, são imprescritíveis. Elas não podem objetivar
a mera declaração de fato (salvo na ação de autenticidade documental), deve-se buscar a
declaração de uma situação jurídica.

Até mesmo as ações meramente declaratórias, se requerido pelo autor, poderão ter eficácia
executiva (art. 475-N, I, CPC)55.

Exemplo clássico são as ações de filiação, que não criam nada novo, apenas declaram quem é
o pai ou a mãe da pessoa.

55
Sobre esse dispositivo, Didier: “É preciso fazer algumas observações sobre essa novidade. a) A
mudança do texto legal ocorreu durante a tramitação do projeto de lei no Senado. O projeto não voltou
à Câmara de Deputados, para a aprovação da emenda. Discute-se, então, se o inciso I do art. 475-N é
formalmente inconstitucional. A questão passa pelo seguinte: o novo texto proposto pelo Senado
inovou em termos normativos ou se trata de apenas um aprimoramento da redação anterior? Como
sempre defendemos a possibilidade de execução de decisão meramente declaratória que reconhecesse
a existência de um dever de prestar, mesmo sob a égide do texto anterior, seja como consequência do
direito fundamental à efetividade, seja em razão da absoluta desnecessidade e impossibilidade de
instauração de nova atividade cognitiva judicial para apurar o que já está acobertado pela coisa julgada,
a redação proposta pelo Senado apenas aprimora o texto anterior, sem inovar substancialmente. Para
quem não admitia a possibilidade de decisões declaratórias terem força executiva, realmente é possível
alegar o vício formal de inconstitucionalidade. A solução da questão passará, necessariamente, pelo
exame da premissa de que parte cada doutrinador sobre a interpretação que se deveria dar ao texto
anterior, e, ainda, pela resposta à seguinte questão epistemológica: emprestar executividade a uma
decisão meramente declaratória é interpretação que está de acordo com o direito fundamental à
efetividade e, portanto, vale a pena ser adotada?”
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4.5.4. Ações Dúplices


São ações em que a condição dos litigantes é a mesma, não se podendo falar em autor e réu
no sentido clássico dos institutos, pois ambos possuem concomitantemente as duas posições.
Essa situação decorre da pretensão deduzida em juízo.

A ação dúplice pode ser compreendida na acepção processual e material.

Na acepção processual, a ação dúplice é aquela em que se permite ao réu a formulação de um


pedido contra o autor no bojo da contestação. O réu pode contestar e formular um pedido.
Nessa acepção, ela é sinônimo de pedido contraposto, e é possível nas hipóteses admitidas
em lei, como no procedimento sumário e na Lei dos Juizados Especiais.

Embora bastante utilizada, esta não é a acepção mais correta.

No sentido material, a ação dúplice é aquela em que o autor e o réu ocupam posições jurídicas
ativas e passivas na demanda simultaneamente, o que permite ao réu, independentemente de
pedido expresso obter a tutela jurisdicional do bem da vida, como resultado lógico e
automático da rejeição do pedido do autor. De acordo com Didier, “É como uma luta em cabo
de guerra: a defesa de uma equipe já é, ao mesmo tempo, também o seu ataque. São
exemplos: a) as ações declaratórias; b) as ações divisórias; c) as ações de acertamento, como a
prestação de contas e oferta de alimentos. A relação jurídica deduzida em juízo poderia ter sido
posta por qualquer das partes e, com a defesa, o réu já exercita a sua pretensão, sem a
necessidade de reconvenção ou pedido contraposto”.

A relação jurídica deduzida em juízo poderia ter sido posta por qualquer das partes e, COM A
DEFESA, O RÉU JÁ EXERCITA A SUA PRETENSÃO, SEM A NECESSIDADE DE
RECONVENÇÃO OU PEDIDO CONTRAPOSTO.

São dúplices as ações nos procedimentos sumário e sumaríssimo. Por que não é necessário
pedido contraposto? Pois se, por exemplo, no procedimento sumário o autor busca o
reconhecimento de seu direito de propriedade sobre um bem em posse do réu, o
indeferimento do pedido gerará o automático reconhecimento do direito de propriedade do
réu, salvo se, evidentemente, o argumento defensivo for que a propriedade é de terceiros.

Admite-se reconvenção em ação dúplice? Em regra, ela não é admitida. Não obstante,
excepcionalmente, a reconvenção pode ser ajuizada em ação dúplice, na hipótese em que o a
pretensão do réu é algo diferente do que alcançaria com o mero julgamento de improcedência
do pedido do autor. Exemplo disso é o disposto no enunciado n. 258 da Súmula do STF,
segundo o qual “é admissível a reconvenção em ação declaratória”, obviamente que, quando o
pedido não se limitar à declaração de improcedência. Ou seja, o pedido contraposto deve
agregar um elemento conexo. Por exemplo: sujeito ajuíza ação declaratória negativa de
paternidade. Réu contesta e, ao mesmo tempo, formula pedido de alimentos.

4.6. Observações de Provas


1. TRF3 – XIII – QUESTÃO 66. Em regra, as sentenças condenatórias e declaratórias têm
efeitos ex tunc.

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2. TRF3 – XIII – QUESTÃO 62. Proposta ação de usucapião de terras da União, o juiz deve
extinguir o processo por impossibilidade jurídica.

3. TRF4 – XIII – QUESTÃO 60. Atribui-se a Chiovenda a primazia de ter afirmado, na Itália,
a autonomia da ação, enquanto direito potestativo conferido ao autor, de obter, em
face do adversário, uma atuação concreta da lei.

5. Intervenções de Terceiros
5.1. Introdução
O normal é que, em uma relação processual envolvendo o autor e réu, todas as decisões que
porventura sejam proferidas no curso desse processo atinjam, num primeiro momento,
apenas autor e réu. Há casos, entretanto, em que a coisa julgada terá eficácia processual com
escopo que excede às partes que participaram do processo. Isso ocorre não somente nas
causas coletivas, mas em situações em que terceiros deveriam ter participado de processo
alheio e não o fizeram, sofrendo efeitos pro et contra.

Por isso mesmo que o direito criou técnicas para evitar ou minimizar as consequências dessa
ultraeficácia, tais como:

a) As modalidades de intervenção de terceiros;

b) A restrição da eficácia subjetiva da coisa julgada;

c) A permissão de processos incidentes.

É fundamental perceber que a correta compreensão das intervenções de terceiros passa,


necessariamente, pela constatação de que haverá, sempre, um vínculo entre o terceiro, o
objeto litigioso do processo e a relação jurídica material deduzida.

O vínculo há de ser jurídico, não basta que seja meramente econômico ou moral.

Por intervenção de terceiros entende-se a permissão LEGAL para que um sujeito alheio à
relação jurídica processual originária ingresse em processo JÁ EM ANDAMENTO.

Na prática são muito comuns decisões que, proferidas no curso de um determinado processo,
possam atingir outras pessoas que dele não participem. Então, o critério utilizado para definir
quem é o terceiro é o chamado critério da exclusão ou também chamado de critério da
negação.

Terceiro é todo aquele que não é parte. Se quem não é parte no processo é terceiro, quem são
as partes?

O conceito técnico de parte é dado por Liebman, que a maioria da doutrina adota aqui no
Brasil. Partes são sujeitos do contraditório instituídos perante o juiz.

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Logo, seriam partes aqueles que figuram no polo ativo e no polo passivo da relação
processual e que exercem todos os seus poderes, deveres, faculdades, sujeições e ônus no
processo. Quem não é parte é terceiro.

Dessa forma, por vezes, a decisão judicial proferida no processo ou mesmo uma decisão
judicial que pode vir a ser proferida terá a força de atingir a relação jurídica da qual o terceiro é
titular.

Se esse terceiro pode ter a sua relação jurídica, da qual é titular, atingida por uma decisão
proferida em processo do qual ele não faz parte, a lei autoriza a sua intervenção nesse
processo para defender a sua relação jurídica.

Então, tecnicamente, o que é a intervenção de terceiros? A INTERVENÇÃO DE TERCEIROS É


FENÔMENO PROCESSUAL ATRAVÉS DO QUAL UM TERCEIRO INGRESSA, MEDIANTE
PERMISSÃO LEGAL, EM RELAÇÃO PROCESSUAL ALHEIA, ADQUIRINDO A QUALIDADE DE
PARTE, PRINCIPAL OU ACESSÓRIA (secundária), A DEPENDER DO TIPO DE INTERVENÇÃO,
PARA DEFENDER INTERESSE JURÍDICO PRÓPRIO.

Para o terceiro intervir, a lei exige três pressupostos genéricos:

a) Pendência da relação processual: só existe intervenção de terceiro em processo


pendente. Tem que estar em curso.

b) Que o terceiro adquira a qualidade de parte quando ingressar no processo: cuidado,


por exemplo, com o amicus curiae. Muitos livros de constitucional atribuem a ele a
qualidade de parte. Está errado, visto que é uma participação autorizada pela lei de
determinados indivíduos com força representativa, sem ser intervenção de terceiros.

c) Previsão legal da espécie de intervenção de terceiros: só existe intervenção de


terceiros se ela estiver prevista na lei.

Quais são as espécies normalmente tratadas na doutrina como sendo intervenção de terceiro?
Quais as intervenções de terceiros previstas no CPC?

a) Assistência;

b) Oposição;

c) Nomeação à autoria;

d) Chamamento ao processo;

e) Denunciação da lide.

Então, na doutrina processual, o mais comum é que quando vem a ser examinada a
intervenção de terceiro, eles examinem a oposição, a nomeação à autoria, o chamamento ao
processo, a denunciação da lide, a assistência e o recurso de terceiro prejudicado.

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194

A intervenção fundada em contrato de seguro no procedimento sumário, como será visto


adiante, para alguns tem na verdade natureza de chamamento ao processo e, para outros, tem
natureza de denunciação da lide. Esse último entendimento é o que prepondera.

São espécies de intervenções de terceiros:

a) Intervenção voluntária ou espontânea: aquela na qual o interveniente solicita seu


próprio ingresso na relação processual: assistência, oposição e recurso de terceiro
prejudicado.

b) Intervenção forçada: aquela na qual o interveniente somente ingressa na relação por


provocação das partes originárias: nomeação à autoria, chamamento ao processo e
denunciação da lide.

c) Intervenção por inserção: aquela em que o terceiro ingressa em relação processual


alheia, mas não apresenta nenhum pedido novo, não existe uma nova demanda. São
os casos da assistência, nomeação à autoria e chamamento ao processo.

d) Intervenção por ação: dá ensejo a um novo pedido, a uma nova demanda, a uma nova
pretensão formulada. Ocorre nos casos de oposição e de denunciação da lide.

5.2. Conceitos Fundamentais


a) Parte: de acordo com Dinamarco, partes são os sujeitos do contraditório instituído
perante o juiz, ou seja, os sujeitos interessados da relação processual. A pessoa pode
ser parte propondo uma ação, sendo processada ou intervindo em processo já
existente.

b) Terceiro: terceiro é quem não seja parte, quer nunca o tenha sido, quer haja deixado
de sê-lo em momento anterior àquele que se profira a decisão.

c) Intervenção de terceiro: é fato jurídico processual que implica modificação de relação


jurídica processual já existente. Trata-se de ato jurídico processual pelo qual um
terceiro, autorizado por lei, ingressa em processo pendente, transformando-se em
parte. A intervenção de terceiros não importa criação de processo novo ou nova
relação processual, apenas torna mais complexa relação já existente, subjetiva e,
algumas vezes, objetivamente.

d) Processo incidente: é uma relação jurídica processual nova, assentada sobre novo
procedimento. Considera-se incidente porque instaurado sempre de modo
relacionado com algum processo pendente e porque visa a um movimento
jurisdicional que de algum modo influirá sobre este ou seu objeto. É o caso, v.g., dos
embargos de terceiros ou embargos do executado. Costumam ser sempre
potencialmente prejudiciais ao processo principal, dito prejudicado.

e) Incidente do processo: é ato ou série de atos realizados no curso de um processo. É


um procedimento menor, inserido no procedimento desse processo, sem que surja
nova relação jurídica processual. Toda intervenção de terceiros é um incidente

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processual, em alguns casos, entretanto, é um processo incidente numa demanda


em curso.

5.3. Efeitos na Relação Processual


A intervenção de terceiros pode, subjetivamente, apenas modificar as partes do processo,
como ocorre na nomeação à autoria, ou ampliá-las, como ocorre na assistência.

Objetivamente, o mesmo poderá ocorrer, permanecendo o objeto litigioso idêntico ao do


início da relação processual ou sendo ele ampliado, se for deduzida nova pretensão.

5.4. Intervenção de Terceiros e Procedimentos Específicos


Não se admite intervenção de terceiros no rito dos Juizados Especiais; o máximo que se admite
é o litisconsórcio (art. 10, Lei nº 9.099/95). Na doutrina há quem defenda o cabimento de
recurso de terceiro prejudicado, tal como o faz Didier. O argumento é que não haveria
qualquer prejuízo à celeridade do processo. É algo bom de saber, mas não se deve marcar isso
em prova objetiva.

Não se admite intervenção de terceiros no rito sumário, salvo:

d) A assistência;

e) O recurso de terceiro prejudicado;

f) Intervenção fundada em contrato de seguro, que pode ser a denunciação da lide ou


o chamamento ao processo.

Também não se admite, em sede de causas de defesa do consumidor, a denunciação da lide


(art. 88), salvo no caso do art. 101 do CDC:

Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e


serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão
observadas as seguintes normas:

[...]

II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá


chamar ao processo o segurador, vedada a integração do contraditório
pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta hipótese, a sentença que
julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do art. 80 do
Código de Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico
será intimado a informar a existência de seguro de responsabilidade,
facultando-se, em caso afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização
diretamente contra o segurador, vedada a denunciação da lide ao Instituto
de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório com este.

Em sede de controle concentrado de constitucionalidade, a Lei nº 9.868/99 taxativamente


afasta a possibilidade de intervenção de terceiros:

Art. 7o Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta


de inconstitucionalidade.

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196

§ 1o (VETADO)

§ 2o O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade


dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o
prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou
entidades.

[...]

Art. 18. Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação


declaratória de constitucionalidade.

Então, embora a lei afirme taxativamente que não trata de nenhuma hipótese de intervenção
de terceiros, Fredie Didier, Marinoni e alguns acórdãos do Supremo admitem, em tese, a
possibilidade de assistência litisconsorcial, sempre por algum dos colegitimados ao
ajuizamento da demanda.

5.4.1. Intervenções no Processo/Fase de Execução


Somente se considera possível a assistência no processo/fase de execução. Há, entretanto,
outras formas de ingresso de terceiros na demanda executiva, formas estas atípicas, como
ocorre com a adjudicação (art. 685-A, § § 2º e 4º), quando outros credores ingressarem na
demanda para discutir direito de preferência etc.

5.4.2. Intervenções no Processo Cautelar


São inadmissíveis no processo cautelar as intervenções de terceiros típicas, salvo a assistência.

Há de se ressaltar uma situação: na cautelar de produção antecipada de provas, como poderia


a prova ter eficácia contra terceiros que não tiverem dela participado? Se, por exemplo, A
manda citar B, o qual, se perder a demanda principal, desejará o regresso de C, poderá esse B
pedir a citação, no processo cautelar, de C, sendo isso chamado de “assistência provocada” e
sendo admitido nos tribunais (STJ, REsp 213.556RJ).

Processo civil. Recurso especial. Ação cautelar. Produção antecipada de


prova. Denunciação da lide. Assistência.

- Não cabe denunciação da lide em medida cautelar de produção


antecipada de prova. Precedente.

- É admissível a intervenção de terceiro em ação cautelar de produção


antecipada de prova, na forma de assistência provocada, pois visa a
garantir a efetividade do princípio do contraditório, de modo a assegurar a
eficácia da prova produzida perante aquele que será denunciado à lide,
posteriormente, no processo principal.

- Recurso especial a que se conhece pelo dissídio e, no mérito, nega-se


provimento.

(STJ, REsp 213.556/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 20/08/2001, DJ 17/09/2001, p. 161)

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Logo, não cabe denunciação a lide, mas cabe a assistência provocada para que o terceiro que
será denunciado no processo principal sofra as consequências da prova produzida, garantindo-
se o contraditório e o devido processo legal neste.

5.4.3. Tabela Sintética – Hipóteses de Cabimento da Intervenção de Terceiros


HIPÓTESE INTERVENÇÃO DE TERCEIRO CABÍVEL
Ação pelo rito ordinário Todas
Assistência, recurso de terceiro prejudicado, denunciação da lide ou
Ação pelo rito sumário
chamamento ao processo baseados em contrato de seguro
Juizados Litisconsórcio
Controle concentrado Amicus curiae (não é, tecnicamente, intervenção de terceiro)
Ação executiva Assistência
Assistência e assistência provocada, na cautelar de produção antecipada
Ação cautelar
de provas

5.5. Intervenções Típicas e Intervenções Atípicas


O CPC prevê cinco modalidades de intervenção de terceiros, a oposição, a nomeação à autoria,
a denunciação à lide, o chamamento ao processo e a assistência. Tais são as intervenções
típicas.

Entretanto, nem todas as intervenções encontram sua justificativa nessas cinco modalidades
típicas de intervenção de terceiro, o que demonstra que o rol legal é meramente
exemplificativo. Há previsões esparsas, denominadas de intervenções atípicas.

5.5.1. A Lei nº 9.469/97 – Intervenção Anômala


Essa lei prevê a possibilidade de intervenção da União nas causas em que figurarem, como
autoras ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas
públicas federais.

Prevê também a possibilidade de intervenção de pessoas DE DIREITO PÚBLICO


federais, estaduais e municipais EM QUAISQUER DEMANDAS,
INDEPENDENTEMENTE DE QUEM SEJA AUTOR OU RÉU, já em trâmite com fundamento no
eventual prejuízo indireto, mesmo que de natureza meramente econômica. Essa intervenção é
anômala e não se confunde com a assistência (não obstante o STJ já a ter considerado como
assistência simples), já que não há interesse jurídico, tem fundamento apenas no interesse
econômico.

A função da União e dos entes públicos federais é ESCLARECER QUESTÕES DE FATO E DE


DIREITO E JUNTAR DOCUMENTOS E MEMORIAIS, passando a ser considerada como parte se
recorrer de decisões.

Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras
ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e
empresas públicas federais.

Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas


cuja decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica,
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198

intervir, independentemente da demonstração de interesse jurídico, para


esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e
memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer,
hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão
consideradas partes.

Assim, verifica-se que essa lei permite uma intervenção sem interesse jurídico, com base
apenas em aspectos econômicos. Se a intervenção for da União, de autarquia, fundação ou
empresa pública federal, o feito que tramitava perante a Justiça Estadual deverá ser remetido
para a Justiça Federal. ISSO OCORRE, ENTRETANTO, APENAS SE A UNIÃO OU AS
DEMAIS ENTIDADES FEDERAIS RECORREREM. Se eles pedirem o ingresso apenas para
esclarecer questões de fato e de direito e juntar documentos e memoriais reputados úteis,
praticamente ficam na condição de amicus curiae, sem deslocar a competência. Quando o juiz
decidir a causa, se eles quiserem recorrer, aí, a situação muda de figura. Porque, para recorrer,
um dos requisitos do recurso é o interesse jurídico. Ora, SE ELE QUER RECORRER, PRECISA
DEMONSTRAR O INTERESSE JURÍDICO, SE ELE DEMONSTRAR ESSE INTERESSE JURÍDICO56, O
DISPOSITIVO FALA QUE ELE ADQUIRE A QUALIDADE DE PARTE. SE ELE ADQUIRE A
QUALIDADE DE PARTE, AÍ DESLOCA A COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL. Antes disso,
não desloca, fica no Justiça Estadual.

Se, após enviado o recurso para o tribunal, o juiz federal reconhecer que inexiste interesse
jurídico para o recurso o que deve fazer? Remeter imediatamente os autos para a Justiça
Estadual. Dessa decisão caberá agravo de instrumento para o TRF, criando a estranha situação
de um processo correndo na JE enquanto um recurso sobre ele sendo processado na JF.

Súmula 150, STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que
justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.

Súmula 224, STJ: “Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a
declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito”.

Súmula 254, STJ: “A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não
pode ser reexaminada no Juízo Estadual”.

Todos os atos anteriores, porém, serão válidos, inclusive os decisórios, já que não havia
qualquer inadequação ou incompetência a ensejar alguma nulidade. A incompetência é
superveniente.

Bastante esclarecedor esse julgado proferido pela 1ª Seção do STJ:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OCORRÊNCIA DE ERRO


MATERIAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO
SOBRE ENERGIA ELÉTRICA. PARTICIPAÇÃO DA UNIÃO NA FORMA DE
INTERVENÇÃO ANÔMALA PREVISTA NO ART. 5º DA LEI 9.469/97. INTERESSE
ECONÔMICO DEMONSTRADO. AUSÊNCIA DE INTERESSE JURÍDICO.

56
Para recorrer, tem que ter legitimidade e interesse, alguns dos requisitos e pressupostos recursais.
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199

IMPOSSIBILIDADE DE DESLOCAMENTO DO FEITO PARA A JUSTIÇA FEDERAL.


EMBARGOS ACOLHIDOS SEM EFEITOS MODIFICATIVOS.

1. Os embargos de declaração merecem acolhimento, pois, ao contrário do


que consta na decisão embargada, o MM. Juízo Federal não afastou a
participação da União na ação originária, mas permitiu sua permanência na
lide, na forma de intervenção anômala (art. 5º da Lei 9.469/97) diante da
demonstração do interesse econômico da União, declinando, todavia, de
sua competência para apreciar e julgar o feito, na medida em que não
demonstrado o interesse jurídico capaz de ensejar o julgamento da lide por
aquela justiça especializada.

2. A Lei 9.469/97, em seu art. 5º, autorizou a intervenção da União nas


ações em figurem como autoras ou rés autarquias, fundações públicas,
sociedades de economia mista e empresas públicas federais, ainda que haja
interesse meramente econômico, e não jurídico.

3. O dispositivo em comento traz nova forma anômala de intervenção de


terceiros, embasada apenas no interesse econômico, ainda que reflexo ou
indireto, dispensando a comprovação do interesse jurídico.

4. É de se considerar que, embora permitida essa peculiar modalidade de


intervenção da União e de outras pessoas jurídicas de direito público,
quando constatada a potencialidade de eventual lesão econômica, a
admissão do ente público não traz comando suficiente a modificar a
competência originária para julgamento da demanda. E ISSO PORQUE A
LEI ORDINÁRIA NÃO TEM A FORÇA DE AMPLIAR A ENUMERAÇÃO
TAXATIVA DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL ESTABELECIDA NO
ART. 109, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, RAZÃO PELA QUAL O
DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA ESPECIALIZADA
SOMENTE SE VERIFICARIA SE CONFIGURADO O EFETIVO INTERESSE
JURÍDICO DA UNIÃO OU DE OUTRO ENTE FEDERAL.

5. Impende relevar que, embora o ente público interveniente tenha sua


atuação limitada (o dispositivo legal apenas lhe permite esclarecer questões
de fato e de direito, além de juntar documentos ou memoriais úteis ao
esclarecimento da matéria sub judice), a parte final do parágrafo único do
art. 5º da Lei n. 9.469/97 permite-lhe a interposição de recurso cabível na
espécie, momento no qual passará a revestir a condição de parte, exercendo
os ônus, poderes, faculdades e deveres que são atribuídos a qualquer parte
no processo. E, PASSANDO A OSTENTAR A CONDIÇÃO DE PARTE NO
PROCESSO POR TER RECORRIDO DA DECISÃO QUE LHE FOR
DESFAVORÁVEL, HÁ, POR CONSEGUINTE, O DESLOCAMENTO DA
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM PARA A JUSTIÇA FEDERAL.

6. APRECIANDO CONTROVÉRSIAS ADVINDAS DA INTERVENÇÃO ANÔMALA


DE QUE TRATA O ART. 5º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 9.469/1997, A
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE TEM SE FIRMADO NO SENTIDO DE QUE,
QUANDO NÃO SE CONFIGURAR O INTERESSE JURÍDICO DO ENTE FEDERAL
PARA INTEGRAR A LIDE, A JUSTIÇA FEDERAL NÃO TERÁ COMPETÊNCIA
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PARA APRECIAR E JULGAR O FEITO. SOMENTE SE A PESSOA DE DIREITO


PÚBLICO RECORRER, HAVERÁ O DESLOCAMENTO. Precedentes: CC
101151/RS, Primeira Seção, rel. Ministro Castro Meira, 18/06/2009; REsp
1.097.759/BA, Rel. Ministro Luís Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe de
1º.06.09. REsp 574.697/RS, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma,
DJ de 06.03.06.

7. No caso em análise, considerando que o MM. Juízo Federal autorizou a


intervenção da União na lide na forma prescrita pelo art. 5º da Lei 9.469/97,
por não verificar na hipótese o interesse jurídico daquele ente federal, deve
ser conhecido o presente conflito para declarar competente o Juiz de Direito
da 5ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul.

8. Embargos de declaração acolhidos sem efeitos modificativos.

(STJ, EDcl no AgRg no CC 89.783/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL


MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/06/2010, DJe 18/06/2010)

Interposto o recurso pela União ou ente federal, o juiz estadual deve remeter
imediatamente os autos à Justiça Federal para que esta verifique se há ou não o interesse
jurídico recursal, não cabendo ao juiz estadual o exame de admissibilidade do recurso. Isso é o
que se depreende da súmula a seguir:

Súmula 150, STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que
justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.

5.6. Assistência (arts. 50 a 55, CPC)

5.6.1. Conceito
Trata-se da modalidade de intervenção de terceiro pela qual ele ingressa em processo alheio
para auxiliar uma das partes em litígio. Pode ocorrer em qualquer tempo e grau de jurisdição,
assumindo o terceiro o processo no estado em que se encontra.

O pressuposto da assistência é que haja INTERESSE JURÍDICO do terceiro na solução do


processo, não se admitindo que um interesse econômico, moral ou de qualquer outra natureza
legitime a intervenção por assistência.

O interesse jurídico fica caracterizado quando a relação jurídica, da qual o terceiro é o titular,
pode ser modificada por decisão proferida em processo do qual ele não faz parte. É isso que
caracteriza o interesse jurídico.

Então cuidado, porque no âmbito do processo civil o interesse jurídico só fica caracterizado se
a relação jurídica do terceiro pode ser modificada, alterada, atingida por força dessa decisão
proferida em processo do qual ele não faz parte. Porque, no Direito Civil, para os civilistas,
tudo é interesse jurídico, qualquer interesse que tenha é jurídico57.

57
Digamos que um terceiro é credor do réu, e ele está assistindo o autor a cobrar uma dívida do réu, só
que, agora, foi proferida uma decisão do processo que penhorou o único bem que o réu possui, um
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201

A natureza do interesse jurídico varia conforme a natureza da assistência, simples ou


litisconsorcial.

5.6.2. Assistência Simples ou Adesiva


Hipótese em que o terceiro ingressa no feito afirmando-se titular de relação jurídica conexa
àquela que está sendo discutida, devendo essa relação ser não controvertida e distinta
daquela discutida no processo em que haverá a intervenção, podendo vir a ser afetada pela
decisão a ser proferida no processo do qual não participa.

Na assistência simples, a relação jurídica que está sendo discutida em juízo é do assistido, e
não do assistente, que poderá ter a sua esfera jurídica afetada a depender do resultado do
processo.

Assim, caberá assistência, por exemplo, no caso em que o locador move ação de despejo
contra o locatário, o que afetará o direito do sublocatário de se manter no imóvel. Há relação
jurídica entre o locatário e o sublocatário apta a ser prejudicada pela decisão na ação de
despejo, o que justifica a intervenção de terceiro.

Não caberá, entretanto, assistência quando o devedor de algum credor é cobrado em juízo por
outrem, já que, ainda que o patrimônio desse outrem venha a diminuir em eventual
sucumbência, o interesse apresentado será meramente econômico, não jurídico.

Sobre a assistência:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO.


ASSISTÊNCIA SIMPLES. ARTIGO 50, DO CPC. INTERESSE JURÍDICO.
INEXISTÊNCIA. INTERESSE MERAMENTE ECONÔMICO.

1. O instituto da assistência é modalidade espontânea, ou voluntária, de


intervenção de terceiro, que reclama, como pressuposto, interesse jurídico
que se distingue do interesse meramente econômico (Precedentes do STJ:
REsp 1.093.191/PE, Rel.

2. O assistente luta pela vitória do assistido ou porque a sua relação


jurídica é vinculada àquele, ou a res in iudicium deducta também lhe
pertence. De toda sorte, além desses fatores, o assistente intervém
porque a decisão proferida na causa entre o assistido e a parte contrária
interferirá na sua esfera jurídica.

carro. O réu só possui esse bem para quitar suas dívidas. Ora, eu sou o credor do réu, mas, a partir do
momento em que é determinada a penhora do carro e ela seja realizada, mesmo que ela não tenha sido
realizada, mas só determinada, eu já vislumbro a possibilidade de ser prejudicado. Porque se o réu só
possui esse bem e o bem vai ser penhorado em favor do autor, por aquele princípio prior in tempore,
melior in iure, quem penhora em primeiro lugar recebe em primeiro lugar, isso significa que, quando eu
for cobrar a minha dívida, pode ser que o réu não tenha mais bem nenhum para quitá-la, já não tenha
mais qualquer bem suficiente para me pagar. Mas, perceba, eu sou credor do réu, a decisão de penhora
modifica alguma coisa na minha relação de credor? Não. Eu sou credor e continuo sendo credor, posso
ajuizar a ação que eu bem entender, ação de cobrança, ação de execução de título extrajudicial, tudo o
que eu posso fazer até agora continuo podendo fazer. A minha relação jurídica não é alterada. O que é
alterada é a situação econômica do réu. Logo, nesse caso não caberia assistência.
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3. Doutrina abalizada pontifica que: "Somente pode intervir como assistente


o terceiro que tiver interesse jurídico em que uma das partes vença a ação.
Há interesse jurídico do terceiro quando a relação jurídica da qual seja
titular possa ser REFLEXAMENTE atingida pela sentença que vier a ser
proferida entre assistido e parte contrária. Não há necessidade de que o
terceiro tenha, efetivamente, relação jurídica com o assistido, ainda que isto
ocorra na maioria dos casos. Por exemplo, há interesse jurídico do
sublocatário em ação de despejo movida contra o locatário. O interesse
meramente econômico ou moral não enseja a assistência, se não vier
qualificado como interesse também jurídico." (Nelson Nery Júnior e Rosa
Maria de Andrade Nery, in Código de Processo Civil Comentado e Legislação
Extravagante, 9ª ed., Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2006, pág. 232).

[...]

(STJ, AgRg na RCDESP no REsp 735.314/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 02/03/2010)

O assistente NÃO TERÁ QUALQUER VÍNCULO JURÍDICO COM O ADVERSÁRIO DO ASSISTIDO,


intervindo para ser parte auxiliar parcial subordinada à vontade do assistido.

Isso significa que o assistente se limita a utilizar dos meios processuais postos à disposição do
assistido, assumindo a responsabilidade pelo pagamento das custas na proporção da
atividade que tiver exercido (art. 32, CPC).

O assistente simples atua no processo como legitimado extraordinário, pois em nome próprio
auxilia a defesa de direito alheio. Trata-se de legitimação extraordinária subordinada.

Por ser subordinada, o assistente fica sujeito aos atos de disposição do assistido, pois é deste o
objeto da relação jurídica discutida. Ele pode fazer tudo o que o assistido poderia. Ele pode
juntar documentos, pode pedir perícia, pode indagar as testemunhas etc., desde que a
vontade dele não entre em confronto com a vontade do assistido. Em outras palavras, não
pode existir antagonismo de vontades.

Se o assistente praticar algum ato em função da omissão do assistido, sua eficácia ficará
condicionada à ausência de uma manifestação posterior contrária expressa da parte deste.
Assim, v.g., se o assistente recorrer, caso o assistido se manifeste em sentido contrário, o
recurso não deverá ser julgado pelo tribunal.

Se existir antagonismo de ressalvas, prevalece a do assistido. Agora, se o assistido permanecer


inerte, não existe antagonismo de vontades. Se não existe antagonismo de vontades,
prevalece a vontade de quem quer praticar o ato.

Sendo revel o assistido, será considerado o assistente seu gestor de negócios: a revelia do
assistido não produz efeitos ante a atuação do assistente. A gestão restringe-se ao campo
processual, somente podendo o assistente praticar atos benéficos ao assistido em nível
processual, nunca atos que lhe tragam prejuízos, como v.g., reconhecer a procedência do
pedido. Também não poderá ele celebrar acordo com a parte contrária, ainda que

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203

manifestamente benéfico ao assistido revel, já que não pode dispor sobre a esfera jurídica
alheia.

Não cometa burrice: o assistente não pode evitar a revelia do réu; o que ele faz é obstar a
consumação do principal efeito da revelia, qual seja, presunção de veracidade dos fatos.

5.6.2.1. Efeitos da Decisão para o Assistente


Para Marinoni, o efeito da decisão em relação ao assistente é, ao mesmo tempo, mais e menos
restrito do que a coisa julgada.

Mais abrangente porque, de acordo com o art. 55 do CPC, o assistente não poderá discutir a
justiça da decisão do processo em que intervir. Logo, ele não poderá, futuramente, se tiver
demanda contra o assistido, discutir novamente o que foi colocado no dispositivo e na
fundamentação da sentença/acórdão (na coisa julgada, somente não se pode discutir o
conteúdo do dispositivo).

Mais restrita porque a justiça da decisão (fundamentação e dispositivo) poderá ser afastada,
diferentemente do que ocorre na coisa julgada, se o assistente provar que:

a) Fora impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença;

b) Desconhecia a existência de alegações ou de provas de que o assistido, por dolo ou


culpa, não se valeu.

PROCESSUAL CIVIL. COISA JULGADA. LIMITES OBJETIVOS. ASSISTENTE


SIMPLES QUE, POSTERIORMENTE AO TRÂNSITO EM JULGADO DO PROCESSO
EM QUE SE DEU A INTERVENÇÃO, PODE AJUIZAR NOVA AÇÃO PARA
DISCUTIR OBJETO DIVERSO.

- A coisa julgada deve respeitar seus limites objetivos. O fundamento e as


razões de decidir não se tornam imutáveis, podendo ser rediscutidos em
processo futuro.

- Na intervenção que faz em processo havido entre terceiros, o assistente


simples não formula pedido, limitando-se a auxiliar uma das partes (art. 52,
CPC). Por isso, se sujeita à coisa julgada havida naquele processo, mas
respeitados seus limites objetivos (art. 55, CPC).

- Assim, embora não possa mais discutir a justiça da decisão que proíbe sua
licenciada de utilizar marca, o assistente simples pode, em novo processo,
ajuizado contra o oponente da parte outrora assistida, pleitear a abstenção
de uso de expressão que integra sua denominação social. O objeto deste
novo processo é diverso daquele em que se deu sua assistência.

Recurso especial provido.

(STJ, REsp 1087353/PB, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 17/02/2009, DJe 05/03/2009)

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5.6.3. Assistência Litisconsorcial ou Qualificada


Prevista no art. 54, se diferencia em muito da assistência simples.

Na assistência litisconsorcial, O TERCEIRO É TITULAR DA RELAÇÃO JURÍDICA DE DIREITO


MATERIAL DISCUTIDA NO PROCESSO (pelo menos afirma ser), sendo, portanto,
diretamente atingido em sua esfera jurídica pela decisão a ser proferida. Ou seja, o terceiro
alega um interesse jurídico imediato na causa, enquanto na assistência simples, o interesse é
mediato.

Mantém o terceiro relação jurídica com a parte adversária daquela a quem pretende ajudar,
diferentemente da assistência simples, em que essa relação não existe.

Por que, então, a parte estaria litigando se não estava o assistente, titular do direito material,
compondo o processo? Pois ou ele estava agindo como legitimado extraordinário ou pois era a
parte cotitular do direito.

Assim, A ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL SOMENTE É POSSÍVEL NOS CASOS DE


LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO, PORQUE SOMENTE NESSE CASO O TITULAR DO
DIREITO PODERÁ SER EXCLUÍDO DA DEMANDA POR VONTADE DAS PARTES. Logo, se
porventura o autor já tivesse formado o litisconsórcio entre todos os titulares do direito, não
haveria terceiros a ingressar como assistentes.

Também não é caso de assistência o litisconsórcio necessário. Não se confundem. A


ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL É INTERVENÇÃO DE TERCEIROS VOLUNTÁRIA; O
LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO É CONDIÇÃO DE LEGÍTIMO EXERCÍCIO DO DIREITO DA AÇÃO,
JÁ QUE SE REMETE À LEGITIMIDADE.

Desse modo, vê-se que se for caso de litisconsórcio processual necessário, será a assistência
litisconcorcial totalmente incompatível com o processo. Por quê? Pois o litisconsorte deveria
integrar a relação jurídica desde o início do processo, como parte originária. Houve formação
irregular do processo, sendo todos os atos praticados sem a presença da parte cujo direito
estava sendo discutido nulos. A citação tinha que ter se dirigido a todos.

São casos que permitem a assistência litisconsorcial, v.g., a defesa de interesses do


condomínio por apenas um ou alguns dos condôminos e a alienação da coisa litigiosa.

5.6.3.1. Qualidade do Assistente Litisconsorcial


Parcela da doutrina defende que o caráter de assistência prepondera sobre o caráter de
litisconsórcio em relação ao assistente litisconsorcial, com fundamento no fato de que o
assistente nada pede e contra ele nada é pedido no processo, de forma que o seu ingresso não
inclui no processo qualquer nova demanda. Errado.

Na verdade, correta a doutrina que defende que o assistente é verdadeiro litisconsorte, já que,
ainda que não haja modificação objetiva na demanda, por ser ele titular do direito material, o
acolhimento ou rejeição dos pedidos o atingirá da mesma forma que o atingiria se o sujeito
tivesse feito pedido diretamente contra ele.

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Logo, como o assistente litisconsorcial é reputado autor ou réu a partir do momento em que
ingressa no processo, tem-se verdadeira hipótese de litisconsórcio facultativo ulterior.

5.6.3.2. Efeitos da Decisão para o Assistente Litisconsorcial


Ele sofrerá normalmente os efeitos da coisa julgada, já que é parte cotitular do direito
discutido. Por isso que deve avaliar bem o estado do processo antes de intervir, já que o
receberá no estado em que se encontra.

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. EXECUÇÃO DE


SENTENÇA. ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL. LEGITIMIDADE.
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF.

1. É cediço que, para o conhecimento do recurso especial pela alínea "a" do


permissivo constitucional, se faz necessário que a norma infraconstitucional
tida como contrariada tenha sido objeto de análise pela instância de origem,
sob pena de não ser conhecido por ausência de prequestionamento.
Incidência da Súmula 282/STF.

2. Em caso de ocorrência de omissão, obscuridade, contradição ou erro


material, cabe à parte inconformada opor embargos de declaração,
suscitando o debate da matéria. Caso sejam rejeitados, deve apontar
violação do artigo 535 do Código de Processo Civil para a abertura da via
especial, a fim de permitir a análise de eventual omissão.

3. O ASSISTENTE LITISCONSORCIAL DETÉM RELAÇÃO DE DIREITO


MATERIAL COM O ADVERSÁRIO DO ASSISTIDO, DE MODO QUE A
SENTENÇA QUE VIER A SER PROFERIDA, EM RELAÇÃO A ELE,
CONSTITUIRÁ COISA JULGADA MATERIAL.

Assim, não há como afastar a legitimidade passiva ad causam do recorrente.

4. Recurso especial conhecido em parte e não provido.

(STJ, REsp 623.055/SE, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,


julgado em 19/06/2007, DJ 01/08/2007, p. 434)

5.6.4. Procedimento
O terceiro deverá fazer petição devidamente fundamentada a qualquer tempo, a qual deverá
ser protocolada no processo. Caso não haja impugnação no prazo de 05 dias, o pedido de
assistência será deferido (evidentemente que o juiz pode indeferir o pedido liminarmente).

Porém, ainda que as partes não impugnem, não necessariamente o pedido será acatado, já
que não ocorre preclusão para o juiz.

Havendo impugnação, o pedido será desentranhado dos autos principais e autuado em


apenso. A instauração desse incidente NÃO SUSPENDERÁ O ANDAMENTO DO
PROCEDIMENTO PRINCIPAL.

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206

Se indeferido o pedido, com ou sem a criação do incidente, caberá agravo de instrumento. O


mesmo recurso é cabível no caso de deferimento do pedido, somente tendo legitimidade
recursal as partes que não concordarem com a intervenção do terceiro.

5.6.4.1. Assistência Litisconsorcial na Ação Popular


ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL – AÇÃO
POPULAR – INGRESSO DE ASSISTENTES LITISCONSORCIAIS – POSSIBILIDADE.

1. O art. 6º, § 5º, da Lei n. 4.717/65 estabelece que: "É facultado a qualquer
cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor da ação
popular".

2. É possível o ingresso dos assistentes litisconsorciais na ação popular a


qualquer tempo, desde que comprovado o requisito da cidadania, mediante
cópia dos títulos de eleitor exigida pelo art. 1º, § 3º, da mencionada lei, o
que, in casu, ocorreu.

3. Na hipótese dos autos, a assistência é qualificada ou litisconsorcial,


porquanto o assistente atua com poderes equivalentes ao do litisconsorte,
uma vez que a quaestio iuris em litígio também é do assistente, o que lhe
confere a legitimidade para para discutí-la individualmente ou em
litisconsórcio com o assistido.

4. A assistência litisconsorcial se assemelha "a uma espécie de litisconsórcio


facultativo ulterior, ou seja, o assistente litisconsorcial é todo aquele que,
desde o início do processo, poderia ter sido litisconsorte facultativo-unitário
da parte assistida" (CPC Comentado por Nélson Nery Júnior e Rosa Maria de
Andrade Nery, 9ª Edição, Editora RT, p. 235, comentários ao art. 54 do CPC).

5. O simples fato dos assistentes litisconsorciais ostentarem a condição de


cidadãos já pressupõe a existência de interesse jurídico na causa,
representado pela pretensão de ter um governo probo e eficaz.

Agravo regimental improvido.

(AgRg no REsp 916.010/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA


TURMA, julgado em 19/08/2010, DJe 03/09/2010)

5.7. Oposição (arts. 56 a 61, CPC)

5.7.1. Conceito
Trata-se de demanda por meio da qual terceiro deduz em juízo pretensão incompatível com os
interesses conflitantes de autor e réu de um processo cognitivo pendente. Visa o terceiro
(opoente) excluir o direito de autor e réu (opostos).

Cabe a oposição quando terceiro pretende a coisa/direito que está sendo disputada por duas
ou mais pessoas. Logo, o terceiro agrega um novo pedido ao processo, devendo a sentença
examinar as pretensões do autor originário e do terceiro/opoente.

Por isso que se diz que a oposição torna o processo objetiva e subjetivamente mais complexo.

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207

Impossível a pretensão após a prolação de sentença, por meio de recurso, pois haveria
supressão de instância. Somente pode essa medida interventiva ser implementada no
processo de conhecimento e antes da sentença.

A oposição tem natureza jurídica de ação, é verdadeiro processo incidente.

5.7.1.1. Diferença entre Oposição e Embargos de Terceiros


A diferença diz respeito ao objeto de ambos os institutos: nos embargos de terceiro não
interessa ao terceiro o direito material discutido na ação principal, porque para ele é
irrelevante a determinação de ter razão nessa demanda autor ou réu, bastando a
demonstração de que a constrição foi realizada indevidamente e que o bem constrito deve ser
liberado; já na oposição, o terceiro terá que discutir o direito material controvertido no
processo entre autor e réu, porque será do convencimento de que o direito material não é de
um nem de outro, mas seu, que dependerá a vitória do opoente.

5.7.1.2. Demanda Bifronte


O opoente tem uma dupla pretensão, dirigida contra o autor e réu da ação originária, tendo
natureza declaratória contra o autor (declara que ele não tem o direito) e condenatória
contra o réu (condena-o a uma prestação), sendo invertidas tais pretensões quando a
demanda originária for declaratória negativa.

Fala-se, pois, que a oposição tem natureza bifronte, de forma que, extinta a ação originária por
qualquer razão, não há motivo para a extinção da oposição.

5.7.2. Espécies de Oposição


Há duas espécies de oposição: a oposição interventiva (art. 59) e a oposição autônoma (art.
60).

Em ambas as espécies, a oposição será de competência funcional (logo, absoluta) do juiz da


causa originária, devendo ser distribuída (e não protocolada) por dependência; será autuada
em apenso aos autos principais.

Também há outro ponto em comum: as duas permitem a citação no advogado das partes58,
citação que deverá ser feita tanto ao autor quanto ao réu da outra demanda, já que ambos
atuarão semelhantemente a litisconsortes passivos na oposição.

Entretanto, se na causa originária o réu for revel, a sua citação para a oposição será feita
normalmente, ou seja, será pessoal (art. 57, p. único).

Finalmente, em ambas as espécies, se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido,


contra o outro prosseguirá o opoente.

58
O legislador entendeu que o advogado do autor e do réu já possuem pleno conhecimento da causa,
que eles não precisam ter a citação realizada na pessoa das partes, os seus advogados podem ser
citados, e eles terão plena condição de apresentar defesa ao pedido formulado pelo opoente. Foi uma
maneira do legislador dar celeridade ao processo.
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5.7.2.1. Oposição Interventiva


A oposição interventiva é aquela ajuizada antes da AIJ; terá um procedimento conjunto ao da
ação originária e será julgada na mesma sentença. Nesse caso, ela deverá ser resolvida antes
do objeto da ação originária, num capítulo anterior, em razão da evidente prejudicialidade; se
julgada procedente a oposição, a ação principal perde o objeto, porque, sendo o direito ou
coisa do opoente, não há sentido em se continuar julgando a causa.

PROCESSUAL CIVIL. OPOSIÇÃO. JULGAMENTO SIMULTÂNEO COM A CAUSA


PRINCIPAL. INVERSÃO DA ORDEM DE CONHECIMENTO DOS PEDIDOS. ART.
61 DO CPC. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS.

1 - Não obstante tenha sido a causa principal decidida antes da oposição,


em afronta a letra do art. 61 do CPC, a sentença deu a cada parte o que lhe
era de direito. Apesar de não obedecida a forma, criada, aliás, por uma
questão de lógica, o fim visado pelo dispositivo foi atingido. Aplicação do
princípio da instrumentalidade das formas.

2 - Recurso não conhecido.

(STJ, REsp 420.216/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEXTA


TURMA, julgado em 01/10/2002, DJ 21/10/2002, p. 428)

A oposição interventiva é verdadeiramente uma intervenção de terceiro, sendo um


incidente processual.

5.7.2.2. Oposição Autônoma


Trata-se da oposição ajuizada após o início da AIJ e antes da sentença. O art. 60 prevê a
possibilidade do juiz sobrestar pelo prazo máximo de 90 dias a ação principal a fim de obter
identidade procedimental e harmonizar os julgados.

A OPOSIÇÃO AUTÔNOMA É UM PROCESSO INCIDENTE PROPOSTO POR TERCEIRO.

Importante destacar que na oposição autônoma poderá não haver o julgamento numa
mesma sentença da oposição e da ação principal. Assim perfeitamente possível que o autor
na ação principal perca para o opoente o direito que a ele foi reconhecido na sentença
primeva.

Se o terceiro não ingressar até o momento da sentença, ele pode se utilizar de recurso de
terceiro prejudicado? Não, porque o terceiro possui um direito que independe do que ficar
decidido entre autor e réu. O direito do terceiro é independente, ele vai apresentar o seu
pedido em face dos dois ou em face de ambos, mas é um pedido que independe do que ficou
decidido entre autor e réu.

Se fosse possível ao opoente apresentar o recurso de terceiro prejudicado, o pedido dele iria
pular um grau de jurisdição, sendo apresentado diretamente no segundo grau, pulando o
primeiro, e isso, ele não pode fazer.

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5.7.3. Procedimento
Deve o opoente apresentar petição inicial, preenchendo todos os pressupostos dos arts. 282 e
283 do CPC. O litisconsórcio que se forma na oposição é:

a) Inicial: é inicial pois existirá desde o início da demanda opositiva.

b) Passivo:

c) Necessário: pois prevista expressamente em lei a necessidade de sua formação.

d) Simples: porque o juiz não está obrigado a decidir da mesma forma para ambos os
litisconsortes. Ademais, pode um opoente reconhecer a procedência do pedido e o
outro não, o que demonstra a não obrigatoriedade de decisões iguais para todos os
opostos.

Os opostos serão citados na pessoa de seus advogados, sendo desnecessário poder especial
para tanto por ser o mesmo conferido pela lei. A citação deverá ser feita por AR, oficial, edital
ou meio eletrônico, conforme pedir o opoente, salvo, como visto, se o réu da demanda
originária era revel, hipótese em que deverá ser citado pessoalmente.

O prazo de contestação será de 15 dias, prazo este comum, NÃO SE APLICANDO


CONTAGEM EM DOBRO. Entretanto, isso somente para a resposta. O prazo das demais
manifestações no processo será em dobro, nos termos do art. 191.

PROCESSUAL CIVIL. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS. OPOSIÇÃO. NATUREZA AD


EXCLUDENDUM. INDEFERIMENTO DA INICIAL. INADEQUAÇÃO DA VIA
ELEITA. AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO
SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. APELAÇÃO NÃO PROVIDA.

1. No processo de oposição o terceiro busca ter reconhecido em juízo o


direito sobre o qual controvertem autor e réu. Assim, um dos requisitos
para o ajuizamento da oposição é que o opoente deduza pretensão contra
autor e réu ao mesmo tempo, já que essa espécie de intervenção de
terceiro tem natureza ad excludendum.

2. Considerando que uma das autoras figurou no polo passivo da demanda


originária e que a outra demandante poderia ter atuado naquela mesma
ação, para obter o benefício de pensão por morte como uma das
dependentes do ex-servidor militar, falta-lhes interesse processual para
propor ação de oposição.

3. A inadequação da via processual eleita implica ausência do interesse de


agir e gera o indeferimento da inicial, com a extinção do processo, sem a
resolução do mérito (art. art. 267, I, c/c art. 295, inc. III, do CPC).

4. Apelação a que se nega provimento.

(TRF1, AC 2003.38.01.002475-4/MG, Rel. Juiz Federal Antônio Francisco Do


Nascimento (conv.), Primeira Turma,e-DJF1 p.52 de 24/11/2009)

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PROCESSUAL CIVIL. OPOSIÇÃO. INEXISTÊNCIA DE IDENTIDADE DO OBJETO


DAS DEMANDAS PRINCIPAL E OPOSICIONAL. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE
AGIR. IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DO RITO. CARÊNCIA DA AÇÃO NÃO
ARGUIDA NO MOMENTO OPORTUNO. CUSTAS DE RETARDAMENTO.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. AUSÊNCIA DE CONDENAÇÃO. FIXAÇÃO
AQUÉM DO LIMITE LEGAL. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.

1. A oposição é modalidade de intervenção de terceiros na qual se permite


que o objeto de lide preexistente seja demandado por sujeito alheado da
relação processual, diverso das partes que a integram, SEM QUE SE FAÇA
NECESSÁRIA A INSTAURAÇÃO DE NOVO PROCESSO.

2. Caso em que inexiste identidade entre os objetos da ação principal e da


oposição, pois que a primeira versa sobre obrigação de indenizar decorrente
de locupletamento indevido da Administração Pública, ao passo que a
segunda concerne à cobrança de valores devidos pela Autora/Oposta
(empresa privada) à Opoente (outra empresa privada) por força de
inadimplemento em contrato por esta celebrado.

3. Se o instrumento utilizado pelo demandante para formular o pedido não


se compatibiliza com o delineamento abstrato que lhe foi conferido pela
legislação, carece o Opoente de condição para o exercício do direito de
ação, qual seja, o interesse de agir, por inadequação da via eleita.

4. A oposição interventiva, quando proposta antes do término da instrução


processual, integra com a ação principal um processo uno, embora
ambivalente, razão porque não se pode destacar deste para prosseguir sob
título e natureza diversas, sendo descabida, portanto, a alusão a
possibilidade de conversão para o rito adequado.

5. O art. 267, § 3º, do CPC, determina que, se a parte Ré não argüir a


carência da ação no primeiro momento em que lhe for oportunizado o
pronunciamento nos autos, imputar-se-lhe-ão as custas decorrentes do
retardamento. Na hipótese, a ausência de interesse de agir remonta à
propositura da ação, deixando de ser suscitada por qualquer das Apeladas
em sede de contestação.

6. À luz do art. 20, § 4º, do CPC, a inexistência de condenação autoriza a


fixação dos honorários advocatícios sem adstrição ao limite estabelecido no
caput do mesmo dispositivo, consoante apreciação eqüitativa, observando a
complexidade da causa e os esforços empreendidos pelo profissional.
Redução, no caso, para o equivalente a 5% (cinco por cento) do valor da
causa.

7. Apelação a que se dá parcial provimento para imputar às Opostas as


custas de retardamento, bem como para reduzir o valor dos honorários
advocatícios de R$ 5.000,00 para R$ 1.750,00.

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(TRF1, AC 1998.36.00.000731-2/MT, Rel. Desembargadora Federal Maria


Isabel Gallotti Rodrigues, Conv. Juiz Federal David Wilson De Abreu Pardo
(conv.), Sexta Turma,e-DJF1 p.52 de 16/06/2008)

5.7.3.1. Recurso Cabível contra Decisão da Oposição


Se a oposição e a ação originária forem julgadas em conjunto, mediante sentença comum, o
recurso cabível evidentemente será apelação, se o processo correr perante juízo de primeiro
grau.

O mesmo recurso será cabível contra a decisão que julga a oposição autônoma.

Porém, se inadmitido o pedido de oposição, caberá agravo de instrumento, se interventiva for


a oposição. E se for autônoma? Creio que caberá apelação, já que é um processo incidente, e
não um incidente processual.

5.7.4. Oposição Sucessiva


Pode um terceiro ajuizar à oposição oposta por um outro terceiro em processo existente? Sim,
perfeitamente cabível, só que o segundo opoente terá que colocar no polo passivo o autor, o
réu e o primeiro opoente. Tem que figurar no polo passivo todos que anteriormente estavam
discutindo a relação jurídica de direito material.

Pode acontecer, por exemplo, da segunda oposição ser apresentada sem que o opoente saiba
da primeira oposição, e com isso, vai colocar no polo passivo só o autor e o réu, faltando o
primeiro opoente. Nesse caso, essa hipótese do primeiro opoente e o segundo opoente
apresentarem oposições sem apresentarem esclarecimentos de um e de outro é o que se
chama de oposição convergente.

O juiz deverá intimar, nesse caso, o segundo opoente para que inclua no polo passivo o
primeiro.

5.8. Nomeação à Autoria (arts. 62 a 69, CPC)


Instituto processual pelo qual se convoca, coativamente, o sujeito oculto das relações de
dependência, corrigindo-se o polo passivo da relação jurídica processual. Ela tem dois
objetivos:

a) Indicar ao autor o real titular da situação legitimamente passiva;

b) Retirar do sujeito dependente o ônus de conduzir um processo que não lhe diz
respeito.

Esse instituto VISA A EVITAR A EXTINÇÃO DO PROCESSO POR ILEGITIMIDADE PASSIVA.


O legislador entendeu que em determinadas situações concretas, a possibilidade de equívoco
na definição do legitimado passivo era tão viável de acontecer que seria por bem permitir que
nessas hipóteses, expressamente por ele fixadas, o réu ao ser citado nomeasse o verdadeiro
legitimado.

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Ocorre uma espécie de sucessão processual mediante extromissão de parte, que não se
confunde com a sucessão processual tradicional, já que o sujeito passivo nunca deveria ter
figurado na relação jurídica.

Não haverá ampliação subjetiva do processo, motivo pelo qual não é uma autêntica
modalidade de intervenção de terceiros.

5.8.1. Hipóteses de Cabimento


O CPC somente prevê DUAS HIPÓTESES TAXATIVAS DE NOMEAÇÃO À
AUTORIA. Fora dessas duas situações, a ilegitimidade de parte gera a extinção do processo
sem resolução de mérito por carência de ação.

5.8.1.1. Nomeação à Autoria pelo Mero Detentor


O réu, quando mero detentor, deve nomear à autoria o possuidor ou proprietário, quando o
objeto discutido na demanda for a posse ou a propriedade, respectivamente.

5.8.1.2. Nomeação à Autoria pelo Mandatário em Demandas de Reparação de Dano


O mandatário deverá nomear o mandante em ação de reparação de danos sempre que for
demandado como réu, ainda que ele tenha praticado o ato, desde que por ordem ou
instruções de terceiros.

No entanto, essa hipótese é juridicamente questionada. Isso porque o art. 942, p. único, do
CC/02 determina que todo aquele que concorreu para o dano, praticando ato ilícito, é por ele
responsável.

Assim, mesmo que o mandatário tenha praticado o ato em nome do mandante, deverá
também arcar com a responsabilidade. Logo, não seria caso de nomeação à autoria, e sim de
chamamento ao processo (entendimento do Didier, Câmara etc.).

Logo, se realmente, no caso concreto, o mandatário não tiver responsabilidade, deverá


nomear. Mas se tiver, o juiz, utilizando-se do princípio da fungibilidade, poderá receber a
nomeação como chamamento ao processo, determinando a citação do mandante para
integrar o polo passivo juntamente ao mandatário.

5.8.1.3. Procedimento
A nomeação à autoria É CONSIDERADA UM DEVER DO RÉU, porque, não o fazendo ou
nomeando um terceiro diverso daquela pessoa que deveria ter sido nomeada responderá por
perdas e danos59 (art. 69, CPC). E por que as perdas e danos? Pois o réu que deveria nomear

59
Quem é que pode cobrar essas perdas e danos? Quem é que pode vir a ser prejudicado pela falta de
nomeação à autoria? Por estranho que possa parecer – não é o autor! É o nomeado. O autor ajuizou a
demanda de maneira incorreta – azar o dele! Deveria ter ajuizado de maneira adequada; então quem
pode cobrar as perdas e danos, aquele a quem as perdas e danos dizem respeito é o nomeado. Poderia
participar do processo para se defender e não foi nomeado adequadamente, não tem o que fazer.
Porém, na prática, como a lei não diz quem é o nomeado, o autor vai tentar cobrar também. A doutrina
majoritária defende que essa cobrança tem que ser cobrada em ação autônoma. Por quê? Pra evitar
complicação no andamento da causa principal.
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213

fará o autor perder tempo e recursos, além de gerar uma sentença absolutamente ineficaz e
inexigível contra quem deveria ser nomeado, já que não participou do processo.

É um dever processual com consequências de direito material.

A nomeação à autoria deverá ser feita no prazo de resposta (art. 64), SUSPENDENDO-SE
O PROCEDIMENTO PRINCIPAL DESDE QUANDO PROTOCOLADA.
Sugere-se que o réu não apresente contestação concomitante à nomeação pois, frustrando-se
a nomeação, O PRAZO DE RESPOSTA SERÁ A ELE DEVOLVIDO NA ÍNTEGRA . Nesse
sentido:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.


RECUSA DE NOMEAÇÃO À AUTORIA PELOS RÉUS. DEVOLUÇÃO DO PRAZO
PARA CONTESTAR. NECESSIDADE. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO
CONTRADITÓRIO, AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL. PRECLUSÃO.
INEXISTÊNCIA. MATÉRIAS DE ORDEM PÚBLICA.

1. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça possui entendimento


pacífico no sentido de que a recusa pelo autor da nomeação à autoria
pleiteada pela ré não impede a abertura de novo prazo para que a
nomeante apresente contestação.

2. A falta de prazo para contestação, nos termos do artigo 67 do Código de


Processo Civil, consiste em violação aos princípios do contraditório e ampla
defesa, hipótese de nulidade insanável, não sujeita à preclusão.

3. É possível, excepcionalmente, a consideração dos litisconsortes


facultativos como um todo, quando presente intensa identidade fático-
posicional entre eles, a ponto de impedir, para o julgador, a sua
consideração como litigantes autônomos.

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(STJ, AgRg no Ag 1293825/GO, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em
14/04/2011, DJe 25/04/2011)

Melhor explicando o entendimento dessa decisão:

PROCESSUAL CIVIL - NOMEAÇÃO À AUTORIA - OFENSA AO ARTIGO 67 DO


CPC.

I - Não há no artigo 67 do CPC qualquer ressalva quanto à hipótese de ter a


parte, quando da nomeação à autoria, apresentado peça de defesa,
devendo, portanto, este dispositivo ser aplicado mesmo que já tenha sido
apresentada contestação. Isso porque, após o indeferimento do pedido,
constata-se nova situação jurídica para o nomeante que a partir daí será
considerado, efetivamente, parte legítima no processo. Ofender-se-ia a

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214

ampla defesa e o contraditório se ficasse a parte, diante da confirmação de


sua legitimidade ad causam, impedida de apresentar resposta.

II - Recurso Especial conhecido e provido.

(STJ, REsp 235.644/SP, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, TERCEIRA


TURMA, julgado em 16/02/2001, DJ 09/04/2001, p. 354)

Deferido o pedido, o juiz intimará o autor para se manifestar sobre o pedido de nomeação no
prazo de 05 dias, sendo o seu silêncio entendido como aceitação tácita.

Aceitando o autor, será citado o terceiro, que poderá aceitar, se calar ou recusar. Aceitando
expressamente a nomeação, ocorre a extromissão de parte, devendo o terceiro, agora réu, ser
intimado para apresentação de resposta, o mesmo ocorrendo se ele se calar, hipótese em que
haverá aceitação tácita.

Aceita a nomeação pelo nomeado, nada impede que o nomeante remanesça nos autos como
assistente simples do nomeado, desde que haja interesse jurídico, claro.

Se o nomeado não aceitar a nomeação, o processo prossegue contra o nomeante. Parcela da


doutrina defende que, verificando o juiz, ao final do processo, que o nomeado realmente era a
pessoa legítima para figurar no processo, a nomeação contra ele deverá formar coisa julgada.
Isso, entretanto, não é pacífico.

5.9. Denunciação da Lide (arts. 70 a 76, CPC)


A denunciação da lide é uma intervenção de terceiros provocada. Trata-se de uma demanda
nova em processo já existente; por ela, não se forma processo novo. Possui, então, natureza
jurídica de ação regressiva condenatória incidental.

Ela serve para que uma das partes traga ao processo um terceiro que tem responsabilidade de
ressarci-la pelos danos de eventual sucumbência na lide. O direito regressivo da parte contra
terceiros, portanto, é o fator principal que legitima a denunciação.

A denunciação é coercitiva, pois não existe a possibilidade do denunciado negar sua


qualidade de parte, restando vinculado ao processo desde sua regular citação. O que ele
poderá fazer, evidentemente, é se defender da responsabilidade de indenizar.

Porém, assim que determina a citação, o juiz já terá feito um exame prévio de legitimidade do
denunciado, motivo que justifica a coercibilidade da denunciação.

Ela apresenta as seguintes características:

a) Incidente: será instaurada em processo já existente.

b) Regressiva: fundada no direito de regresso da parte contra o terceiro.

c) Eventual: guarda uma relação de prejudicialidade com a demanda originária,


considerando-se que, se o denunciante não suportar dano algum em razão de seu
resultado, a denunciação da lide perderá seu objeto.
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215

d) Antecipada: no confronto entre o interesse de agir e a economia processual, o


legislador prestigiou o primeiro, já que o denunciado participará do processo antes de
ter alguma responsabilidade.

5.9.1. Obrigatoriedade da Denunciação


A obrigatoriedade está prevista no caput do art. 70. Essa obrigatoriedade, entretanto, não
obriga em nada.

Isso porque a parte que deixar de denunciar poderá promover o direito de regresso
posteriormente, em ação autônoma. Lembrar que normas legais processuais não podem
criar, extinguir ou modificar direitos materiais.

A parte simplesmente arcará com o ônus da preclusão temporal, impedindo que a


denunciação seja feita após o decurso do prazo legal, arcando com os custos de
posteriormente ter que ajuizar uma ação regressiva.

O art. 456, caput, do CC/02 determina que o adquirente evicto promova a denunciação para
que possa exercer os direitos que da evicção resultam. Entretanto, até mesmo essa hipótese
é AFASTADA pelo STJ, já que a perda da possibilidade de propositura de demanda contra o
alienante geraria o ENRIQUECIMENTO ILÍCITO deste. Nesse sentido:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


PERDAS E DANOS. VEÍCULO IMPORTADO. EVICÇÃO. DENUNCIAÇÃO DA
LIDE. AUSÊNCIA DE OBRIGATORIEDADE.

1. Esta Corte tem entendimento assente no sentido de que "direito que o


evicto tem de recobrar o preço, que pagou pela coisa evicta, independe,
para ser exercitado, de ter ele denunciado a lide ao alienante, na ação em
que terceiro reivindicara a coisa" (REsp 255639/SP, Rel. Min. CARLOS
ALBERTO MENEZES DIREITO, Terceira Turma, DJ de 11/06/2001).

2. Agravo regimental desprovido.

(STJ, AgRg no Ag 917.314/PR, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,


QUARTA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 22/02/2010)

5.9.2. Situação Processual do Denunciado


O CPC trata o denunciado como um litisconsorte do denunciante. Entretanto, isso é
questionável, já que o denunciado não é titular do direito discutido na ação originária.

Assim, combatendo a lei, a doutrina diverge entre definir a situação dele como de assistente
simples, já que ele teria o interesse de ver o sucesso do denunciante na causa, ou de assistente
litisconsorcial.

Porém, até mesmo a posição de assistente simples é questionável, já que o denunciado estaria
limitado à vontade do denunciante. E isso não se mostraria juridicamente correto. Inclusive o
próprio STJ já rejeitou essa tese, ao afirmar que o acordo celebrado entre autor e réu
denunciante na ação principal não vincula o denunciado.

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De fato, o entendimento mais correto é que DENUNCIANTE E DENUNCIADO SÃO


LITISCONSORTES, permitindo a condenação direta do denunciado, principalmente nos
casos em que ele é empresa seguradora (STJ já entendeu assim, inclusive permitindo a
execução apenas e isoladamente da seguradora!).

ACIDENTE. TRÂNSITO. DENUNCIAÇÃO. SEGURADORA.

Cuida-se de ação de indenização ajuizada por companheira, filho e mãe de


falecido em consequência de atropelamento na calçada ocasionado por
caminhão conduzido por preposto de sociedade empresária. Discute a
empresa, no REsp, entre outras matérias, sua condenação solidária com a
seguradora denunciada e o termo final para a pensão. Quanto à idade para
o término da pensão, explica o Min. Relator que este Superior Tribunal tem
adotado a tabela de provável sobrevida utilizada pela Previdência Social,
que, por sua vez, segue a tabela do IBGE, que calcula a longevidade com
base no tempo de vida já decorrido de cada pessoa. Quanto à solidariedade
entre a empresa denunciante e a seguradora denunciada, assevera que,
assumindo a seguradora a condição de litisconsorte em razão da
denunciação da lide, a responsabilidade dela passa a ser solidária em
relação à empresa segurada, DE SORTE QUE A CONDENAÇÃO NO
PROCESSO DE CONHECIMENTO FORMA TÍTULO EXECUTIVO
JUDICIAL CUJA EXECUÇÃO PODE SER DIRIGIDA A AMBOS OU A
QUALQUER UMA DELAS. Com esse entendimento, a Turma deu parcial
provimento ao recurso, reconhecendo a pensão até a longevidade provável
da vítima segundo a tabela da Previdência Social, baseada nos cálculos do
IBGE, se a tanto sobreviverem os recorridos, e a solidariedade entre a
recorrente e a seguradora. (STJ, 4T, Informativo 450 REsp 736.640-RS).

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. LITISDENUNCIAÇÃO.


SEGURADORA. CONDENAÇÃO E EXECUÇÃO DIRETA E SOLIDÁRIA.
POSSIBILIDADE. FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO DE SEGURO. SÚMULA
83/STJ.

1. Comparecendo a seguradora em juízo, aceitando a denunciação da lide


feita pelo réu e contestando o pedido principal, assume a condição de
litisconsorte passiva.

2. Possibilidade de ser condenada e executada, direta e solidariamente,


com o réu.

3. Por se tratar de responsabilidade solidária, a sentença condenatória


pode ser executada contra qualquer um dos litisconsortes.

4. Concreção do princípio da função social do contrato de seguro, ampliando


o âmbito de eficácia da relação contratual.

5. Precedentes específicos da Terceira e da Quarta Turma do STJ.

6. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.


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217

(STJ, AgRg no REsp 474.921/RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO


SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/10/2010, DJe 19/10/2010)

Consolidando definitivamente o pensamento do Tribunal, por meio de julgado da Segunda


Seção:

RECURSO REPETITIVO. CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA DE SEGURADORA


DENUNCIADA À LIDE.

A Seção firmou o entendimento de que, em ação de reparação de danos


movida em face do segurado, a seguradora denunciada e a ele
litisconsorciada pode ser condenada, direta e solidariamente, junto com
este, a pagar a indenização devida à vítima nos limites contratados na
apólice. Na hipótese, a seguradora compareceu a juízo aceitando a
denunciação da lide feita pelo réu e contestou o pedido, assumindo a
condição de litisconsorte passiva. Assim, discutiu-se se a seguradora poderia
ser condenada solidariamente com o autor do dano por ela segurado.
Reconhecida a discussão doutrinária sobre a posição assumida pela
denunciada (se assistente simples ou litisconsorte passivo), o colegiado
entendeu como melhor solução a flexibilização do sistema, de modo a
permitir a condenação direta e solidária da seguradora litisdenunciada,
atendendo ao escopo social do processo de real pacificação social. Esse
posicionamento privilegia o propósito maior do processo, que é a
pacificação social, a efetividade da tutela judicial prestada, a duração
razoável do processo e a indenizabilidade plena do dano sofrido. Isso
porque a vítima não será obrigada a perseguir seu direito somente contra o
autor do dano, o qual poderia não ter condições de arcar com a
condenação. Além disso, impossibilitando a cobrança direta da seguradora,
poderia o autor do dano ser beneficiado pelo pagamento do valor
segurado sem o devido repasse a quem sofreu o prejuízo. A solução
adotada garante, também, a celeridade processual e possibilita à
seguradora denunciada o contraditório e a ampla defesa, com todos os
meios e recursos disponíveis. REsp 925.130-SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 8/2/2012.

Entretanto, a doutrina majoritária, em que pese reconhecer a posição de litisconsorte,


entende que não pode ele, por não ser titular da relação de direito material, ser diretamente
condenado, devendo as demandas serem decididas autonomamente em diferentes capítulos
da sentença.

Assim, haveria de primeiro ter a condenação do réu para, em seguida, do litisdenunciado.


Porém, creio ser isso um mero fetichismo processual.

5.9.3. Denunciação Sucessiva


Prevista no art. 73 do CPC, permite ao denunciado também denunciar um terceiro, e assim
sucessivamente.

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Como isso poderia gerar um processo demasiadamente complexo, a doutrina é pacífica em


apontar para o poder do juiz em indeferir a denunciação, amparado nos princípios da
celeridade processual e da efetividade da tutela jurisdicional.

5.9.4. Hipóteses de Cabimento

5.9.4.1. Denunciação da Lide Feita pelo Comprador Evicto (art. 70, I, CPC e art. 456, CC/02)
Deve o adquirente denunciar à lide o alienante sempre que terceiro demandar a coisa
adquirida, exercendo o direito de regresso contra a evicção.

A denunciação poderá ser feita na pessoa do alienante imediato ou em qualquer dos


anteriores (art. 456, CC/02). Ou seja, pode o adquirente denunciar à lide quem lhe vendeu a
coisa ou quem vendeu a quem lhe vendeu etc.

A doutrina, como sempre, se dividiu sobre o dispositivo. Parte entendeu que deveria ser feita
uma denunciação coletiva para se denunciar os alienantes indiretos, parte entendeu que o
denunciado deveria denunciar o alienante.

A doutrina majoritária, no entanto, entende ser permitida a denunciação per saltum,


podendo o denunciante denunciar qualquer dos sujeitos que participaram da cadeia de
transmissão do bem.

PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


PERDAS E DANOS. VEÍCULO IMPORTADO. EVICÇÃO. DENUNCIAÇÃO DA
LIDE. AUSÊNCIA DE OBRIGATORIEDADE.

1. Esta Corte tem entendimento assente no sentido de que "direito que o


evicto tem de recobrar o preço, que pagou pela coisa evicta, independe,
para ser exercitado, de ter ele denunciado a lide ao alienante, na ação em
que terceiro reivindicara a coisa" (REsp 255639/SP, Rel. Min. CARLOS
ALBERTO MENEZES DIREITO, Terceira Turma, DJ de 11/06/2001).

2. Agravo regimental desprovido.

(STJ, AgRg no Ag 917.314/PR, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,


QUARTA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 22/02/2010)

5.9.4.2. Denunciação da Lide Feita pelo Possuidor Direto (art. 70, II, CPC)
II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de obrigação
ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do
locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da coisa
demandada;

O réu, quando exerce a posse direta da coisa demandada, deverá realizar a denunciação da
lide do possuidor indireto ou do proprietário, em casos como o do usufrutuário, do credor
pignoratício, do locatário.

O rol de relações jurídicas descritas nesse inciso é meramente exemplificativo.

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Vamos supor a hipótese de ação de reintegração de posse, que A promove contra B, sob o
argumento de estar B lavrando terras de propriedade do demandante, e, pois, usurpando-lhe
a posse. O réu B, embora arrendatário da gleba, e, portanto, seu possuidor direto, é citado "em
nome próprio" (art. 70, 11), isto é, como se fora possuidor pleno. Em tais circunstâncias, B
deverá denunciar a lide ao seu arrendante C, possuidor indireto. Pela denunciação da lide, dois
objetivos são, neste caso, alcançados: 1º) dar-se-á ao arrendante a oportunidade de defender
sua posse indireta, em litisconsórcio com B (como adiante veremos); 2º) o possuidor direto B
demandará, mediante a ação regressiva contra o arrendante C, a indenização que lhe será
devida na hipótese de, se julgada procedente a ação principal, tornar-se impossível prosseguir
cumprindo o contrato de arrendamento.

A denunciação da lide, neste caso, como observam vários autores, reveste-se até certo ponto
de alguns aspectos da nomeação à autoria". Embora o arrendatário seja parte legítima como
réu na ação reintegratória de posse (pois não é ele um simples detentor da coisa), não menos
certo que ao arrendante assiste idêntico ou maior interesse jurídico em contestar a demanda
reintegratória, sendo, pois, igualmente parte legítima passiva na ação principal. Não se opera,
assim, a substituição do réu parte ilegítima. por um réu parte legítima, como na nomeação à
autoria, mas sim forma-se, no pólo passivo da ação principal, um litisconsórcio entre possuidor
direto e possuidor indireto.

5.9.4.3. Denunciação do Obrigado, por Lei ou Contrato, a Indenizar Regressivamente (art. 70,
III)
Trata-se da hipótese mais frequente de denunciação em razão de sua amplitude. Ela gera
cansativos debates doutrinários, com duas principais correntes.

Vale lembrar, desde logo, que o direito de regresso decorrente da fiança, da cofiança e das
obrigações solidárias não pode ser exercitado mediante denunciação da lide, já que o CPC
determinou o seu exercício pelo chamamento ao processo. Isso se dá porque, nesses casos,
tais pessoas não são garantes do réu, mas verdadeiros coobrigados perante o autor.

Concepção restritiva

Entende que somente seria possível a denunciação para a pretensão regressiva quando tiver
havido transferência de direito pessoal. Para essa corrente, o denunciado estaria
automaticamente obrigado a garantir o resultado da demanda ao perder o denunciante a
demanda originária, não podendo ele introduzir fundamento jurídico novo e causar acréscimo
da atividade instrutória, como discutir o próprio direito de regresso.

Somente caberia o instituto no caso de garantia própria, aquela em que o direito é


transmitido, e não nos casos de garantia imprópria (simples direito de regresso), como ocorre
nos contratos de seguro, onde nenhum direito é transmitido, mas há a responsabilidade
contratual de ressarcimento.

Concepção ampliativa

É a doutrina que merece acolhida.

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Por essa corrente, nosso direito não preveria a diferença entre a garantia própria e a
imprópria, de forma que não será legítimo o intérprete criar diferença não prevista em lei para
limitar a abrangência do direito de denunciar o responsável regressivo.

Assim, AINDA QUE A DENUNCIAÇÃO DA LIDE LEVE AO PROCESSO UM FUNDAMENTO


JURÍDICO NOVO, FUNDADO NA EXISTÊNCIA OU NÃO DO DIREITO DE REGRESSO NO
CASO CONCRETO, A DENUNCIAÇÃO DEVE SER ADMITIDA.

O direito regressivo surgiria toda vez que a pessoa busca de outrem aquilo de que se desfalcou
ou foi desfalcada a fim de se restabelecer sua posição anterior, com a satisfação do pagamento
ou indenização devida.

5.9.5. Procedimento

5.9.5.1. Denunciação Formulada pelo Autor


Nesse caso, deve o autor requerer a denunciação na própria petição inicial, pedindo a citação
do denunciado e do réu.

O PEDIDO DE DENUNCIAÇÃO SUSPENDE O ANDAMENTO DO PROCESSO , devendo


primeiro ser citado o denunciado no prazo de 10 dias quando domiciliado no mesmo foro em
que tramita a demanda, ou no prazo de 30 dias, em foro diferente.

Realizada a denunciação, o denunciado somente não assumirá a posição de litisconsorte se


negar-se a participar. Caso aceite ou fique omisso, assumirá a posição de litisconsorte do
denunciante, podendo aditar a petição inicial, sendo posteriormente citado o réu.

Interessante o seguinte: a princípio, o autor somente poderia pedir denunciação da lide de


pessoa que garantisse eventual sucumbência sua no processo. Entretanto, com o
entendimento do STJ de que o denunciado (do réu) pode ser solidariamente condenado, há
todo interesse jurídico em que ele promova a denunciação do garante do próprio réu. No
entanto, mais adequado seria, para não se apegar às formas, que o garante fosse
simplesmente citado como corréu, sendo em relação a ele dirigido um pedido sucessivo.

5.9.5.2. Denunciação Formulada pelo Réu


A denunciação deverá ser promovida no prazo de resposta. Pode ser ela procedida como um
tópico da contestação.

A DENUNCIAÇÃO É COERCITIVA, POIS NÃO EXISTE A POSSIBILIDADE DO DENUNCIADO


NEGAR SUA QUALIDADE DE PARTE, RESTANDO VINCULADO AO PROCESSO DESDE SUA
REGULAR CITAÇÃO. Se o denunciado aceitar, será considerado litisconsorte do réu. Se o
denunciado confessar os fatos alegados pelo autor, poderá o denunciante prosseguir na sua
defesa, sem qualquer prejuízo, porquanto a confissão de um litisconsorte não pode prejudicar
o outro (litisconsórcio simples).

A sentença que julgar procedente o pedido declarará o direito do evicto ou a responsabilidade


por perdas e danos, servindo como título executivo. Na verdade, ela deverá condenar o
denunciado nos termos do pedido do denunciante.
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221

Nagibe de Melo aconselha abrir um tópico na fundamentação e no dispositivo para se remeter


à denunciação da lide; esse tópico deverá vir após o julgamento da lide principal. Se houver
questionamento da própria denunciação ainda não enfrentado, abrir preliminar para acatar ou
não o incidente.

Porém, em caso de denunciação de seguradora, tendo em vista o posicionamento do STJ de


possibilidade de condenação direta, creio ser desnecessário um tópico apartado.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.


AUSÊNCIA DE RESISTÊNCIA À DENUNCIAÇÃO DA LIDE. CONDENAÇÃO EM
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS DA LIDE SECUNDÁRIA. IMPOSSIBILIDADE.

1. Não tendo havido resistência à denunciação da lide não cabe a


condenação da denunciada em honorários de advogado em face da
sucumbência do réu denunciante. Incidência da Súmula 83.

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(STJ, AgRg no Ag 1226809/MG, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,


QUARTA TURMA, julgado em 02/12/2010, DJe 01/02/2011)

5.9.5.3. Denunciação da Lide nas Relações de Consumo

DENUNCIAÇÃO DA LIDE. CDC. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO.

A Turma, ao rever orientação dominante desta Corte, assentou que é


incabível a denunciação da lide nas ações indenizatórias decorrentes da
relação de consumo seja no caso de responsabilidade pelo fato do produto,
seja no caso de responsabilidade pelo fato do serviço (arts. 12 a 17 do CDC).
Asseverou o Min. Relator que, segundo melhor exegese do enunciado
normativo do art. 88 do CDC, a vedação ao direito de denunciação da lide
não se restringiria exclusivamente à responsabilidade do comerciante pelo
fato do produto (art. 13 do CDC), mas a todo e qualquer responsável (real,
aparente ou presumido) que indenize os prejuízos sofridos pelo consumidor.
Segundo afirmou, a proibição do direito de regresso na mesma ação objetiva
evitar a procrastinação do feito, tendo em vista a dedução no processo de
uma nova causa de pedir, com fundamento distinto da formulada pelo
consumidor, qual seja, a discussão da responsabilidade subjetiva. Destacou-
se, ainda, que a única hipótese na qual se admite a intervenção de terceiro
nas ações que versem sobre relação de consumo é o caso de chamamento
ao processo do segurador – nos contratos de seguro celebrado pelos
fornecedores para garantir a sua responsabilidade pelo fato do produto ou
do serviço (art. 101, II, do CDC). Com base nesse entendimento, a Turma
negou provimento ao recurso especial para manter a exclusão de empresa
prestadora de serviço da ação em que se pleiteia compensação por danos
morais em razão de instalação indevida de linhas telefônicas em nome do
autor e posterior inscrição de seu nome em cadastro de devedores de
inadimplentes. REsp 1.165.279-SP, 3T, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 22/5/2012.

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222

5.10. Chamamento ao Processo (arts. 77 a 80, CPC)


Trata-se de uma espécie coercitiva de intervenção de terceiros pela qual o terceiro será
integrado à relação jurídica processual em virtude de pedido do réu e independentemente da
sua concordância. A mera citação válida, assim como na denunciação da lide, já é suficiente
para o chamado ao processo ser a ele integrado, suportando não somente os efeitos da
sentença a ser proferida, mas também a coisa julgada material.

O chamamento ao processo, de acordo com a corrente mais correta, possui natureza jurídica
de incidente processual (Athos Gusmão Carneiro, Câmara, Didier). De acordo com outra
corrente, defendida por Dinamarco, Nelson Nery, chamamento ao processo tem natureza
jurídica de ação regressiva. Essa corrente minoritária assim entende porque não admite que o
réu possa ampliar o polo passivo forçando o autor a demandar contra quem ele não queria.

Há uma incongruência entre as normas de direito processual e material. Isso porque, de


acordo com o art. 275 do CC/02, o credor pode exigir a dívida por inteiro de qualquer dos
devedores solidários.

Entretanto, com o chamamento, o réu retirará esse benefício do credor, na medida em que
incluirá no processo devedor de quem o autor não havia cobrado. Isso evidentemente pode
gerar uma série de inconvenientes, em decorrência dos prazos diferenciados, da possibilidade
de uma série de recursos pelos vários corréus etc60.

Logo, haverá a ampliação subjetiva da lide.

Não se trata do exercício de ação regressiva do chamante contra o chamado, já que este
deverá ao próprio autor. Não se trata também de uma obrigação do réu, ele promove o
incidente se quiser.

Haverá a formação de um litisconsórcio ulterior, passivo e facultativo, podendo ser unitário


ou simples61, a depender da indivisibilidade do bem objeto da dívida solidária.

5.10.1. Hipóteses de Cabimento


É cabível em três hipóteses, todas elas tendo como denominador comum o fato de o terceiro
chamado ser tão ou mais devedor que o réu.

60
Por que o Código de Processo Civil permite que esse coobrigado chame os demais coobrigados para
participarem como litisconsortes? Porque, de acordo com o CPC, quem deles cumprir a obrigação
perante o autor pode cobrar dos demais a respectiva cota parte. Então a ideia do chamamento ao
processo é vincular todos os coobrigados à coisa julgada, para que quando aquele que efetuou o
pagamento, que cumpriu a obrigação, quiser exigir dos demais a cota parte, todos eles estejam
vinculados à coisa julgada e não possam mais alegar nenhuma matéria de defesa desconhecida do
processo principal. Essa é a ideia do chamamento ao processo: é trazer todos ao processo para que
fiquem vinculados à coisa julgada, e ficando vinculados à coisa julgada, quando lhes for exigida a cota
parte, eles não vão poder alegar nenhuma matéria defensiva diferente daquelas que já teriam
apresentado no processo principal.
61
Há correntes que defendem que o litisconsórcio será sempre unitário; outras, que será sempre
simples.
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223

a) Do fiador, em relação ao afiançado. O contrário não pode acontecer, não tendo o


afiançado direito de chamar o fiador ao processo.

b) Do fiador, em relação aos demais fiadores.

c) Do devedor, em relação aos demais devedores solidários (somente em obrigações de


pagar quantia certa).

Sobre o chamamento na jurisprudência:

FORNECIMENTO. MEDICAMENTOS. CHAMAMENTO. PROCESSO. UNIÃO.

A questão versa sobre a possibilidade de chamamento ao processo da União


nos termos do art. 77, III, do CPC. No entanto, é pacífico no STJ o
entendimento de que o chamamento ao processo não é adequado às
ações que tratam de fornecimento de medicamentos. Isso porque tal
hipótese, prevista no dispositivo legal mencionado, É TÍPICA DE
OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS DE PAGAR QUANTIA. Tratando-se de hipótese
excepcional de formação de litisconsórcio passivo facultativo, promovida
pelo demandado, não se admite interpretação extensiva para alcançar
prestação de entrega de coisa certa. O Min. Relator também destacou
recente julgado do STF cuja conclusão foi de que o chamamento ao
processo da União por determinado estado-membro revela-se medida
protelatória que não traz nenhuma utilidade ao processo, além de atrasar a
resolução do feito, revelando-se meio inconstitucional para evitar o acesso
aos remédios necessários para o restabelecimento da saúde do enfermo.
Com essas e outras ponderações, a Turma deu provimento ao recurso.
Precedentes citados do STF: AgRg no RE 607.381-SC, DJe 17/6/2011; do STJ:
AgRg no AREsp 28.136-SC, DJe 17/10/2011; AgRg no AREsp 28.718-SC, DJe
30/9/2011; AgRg no REsp 1.249.125-SC, DJe 21/6/2011, e AgRg no Ag
1.331.775-SC, DJe 22/2/2011. REsp 1.009.947-SC, Rel. Min. Castro Meira,
julgado em 7/2/2012.

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. FORNECIMENTO DE


MEDICAMENTO. AÇÃO MOVIDA CONTRA ESTADO. CHAMAMENTO DA
UNIÃO AO PROCESSO. CPC, ART. 77, III. INVIABILIDADE.

1. A HIPÓTESE DE CHAMAMENTO AO PROCESSO PREVISTA NO ART. 77, III


DO CPC É TÍPICA DE OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS DE PAGAR QUANTIA.
Tratando-se de hipótese excepcional de formação de litisconsórcio passivo
facultativo, promovida pelo demandado, não comporta interpretação
extensiva para alcançar prestação de entrega de coisa certa, cuja
satisfação efetiva não comporta divisão.

2. Recurso Especial improvido.

(STJ, REsp 1.125.537/SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 16/03/2010, DJe 24/03/2010)

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224

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CAUSA AJUIZADA PERANTE A JUSTIÇA


COMUM, COM SUPERVENIENTE PEDIDO DE CHAMAMENTO DA UNIÃO AO
PROCESSO. DESLOCAMENTO PARA A JUSTIÇA FEDERAL. APLICAÇÃO DA
SÚMULA 150/STJ.

1. Cumpre à Justiça Federal examinar pedido de chamamento ao processo


da União Federal. Aplicação, por analogia, do enunciado da Súmula 150/STJ.

2. Tratando-se de causa de valor inferior a sessenta salários mínimos, a


competência, no âmbito do Judiciário Federal, é do Juizado Especial (Lei
10.259/2001, art. 3º). Todavia, tendo esse Juizado afastado o cabimento da
intervenção de terceiros no procedimento especial de sua alçada, emerge
a competência do Juízo Federal comum para, no âmbito da sua
competência, decidir a respeito. Somente após eventual rejeição do pedido
de chamamento da União é que ficará restaurada a competência da Justiça
Estadual.

3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo da 2ª Vara


Federal de Blumenau, o suscitado.

(STJ, CC 103.153/SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 24/06/2009, DJe 03/08/2009)

5.10.2. Procedimento
Segue o mesmo procedimento da denunciação da lide. Julgando o juiz procedentes os pedidos,
deverá condenar o réu e todos os chamados ao ônus da sucumbência.

A sentença de procedência, com a condenação de todos os obrigados que compõem o polo


VALERÁ COMO TÍTULO EXECUTIVO EM FAVOR DO
passivo da demanda,
COOBRIGADO QUE SATISFIZER A OBRIGAÇÃO (art. 80), podendo por meio de
execução de título executivo judicial cobrar dos demais obrigados o valor pago ou a cota parte
que couber a cada um dos coobrigados.

5.10.3. Chamamento ao Processo no CDC


O CDC expressamente permite, no art. 101, II, o chamamento ao processo da seguradora
quando o réu tiver com ela um contrato de seguro de responsabilidade. É um chamamento ao
processo impróprio, já que a seguradora não é titular do direito discutido na demanda
originária, tampouco obrigada solidariamente perante o consumidor-autor.

A doutrina entende que o CDC chamou esse instituto de chamamento ao processo a fim de
criar uma responsabilidade solidária entre o réu e a seguradora, beneficiando o consumidor e
criando para ele mais garantia do ressarcimento.

5.10.4. Chamamento ao Processo em Cautelares


De acordo com Arruda Alvim (posição controvertida na doutrina), somente cabe chamamento
ao processo em ação cautelar de produção antecipada de provas. Essa cautelar tem como
finalidade produzir uma determinada prova para que ela produza seus efeitos em uma futura
ação de conhecimento.
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225

Então na produção antecipada de provas você tem o autor apresentando, na cautelar de


produção antecipada de provas, um pedido para que determinada prova seja produzida
porque ela corre o risco de desaparecer, ela corre o risco de não ser mais possível de ser
realizada no futuro.

Presume-se que a ação de conhecimento que será proposta após a cautelar seja novamente
entre o autor e o coobrigado “A”. Só que ele pensou no seguinte: quando essa prova for levada
ao processo de conhecimento para produzir os seus efeitos, no polo passivo vai figurar o “A”
mas pode acontecer que seja uma hipótese de obrigação solidária, que tenham outros
coobrigados, outros codevedores. E o coobrigado “A” pode chamar ao processo o coobrigado
“B” e o coobrigado “C” e o coobrigado B e C; caso não tenham participado da cautelar de
produção antecipada de provas, não estão vinculados àquela prova . Então pode ser que o B e
o C ataquem aquela prova produzida na cautelar: eles podem querer formular alegações,
podem querer formular perícia, podem alegar que a prova não produz efeitos em relação a
eles porque eles não tiveram direito ao contraditório e à ampla defesa.

No momento em que ela foi produzida, o B e o C não participaram; quando chega o momento
dela produzir efeitos, B e C pelo fato de não terem participado da cautelar vão atacá-la. Se ela
não puder ser repetida, ela não vai produzir efeito nenhum: nem em relação ao B, nem em
relação ao C, nem em relação ao A porque como eles não tiveram direito ao contraditório e
ampla defesa eles não podem ser prejudicados pelos efeitos de uma prova em face da qual
eles não tiveram o direito de se manifestar. Para evitar isso o Arruda Alvim bolou a seguinte
hipótese:

Na cautelar de produção antecipada de provas, para evitar que os efeitos não se produzam no
futuro, deve ser viabilizado que o coobrigado A possa chamar ao processo o coobrigado B e C.

5.11. Recurso de Terceiro Prejudicado


O recurso de terceiro prejudicado não encontra nenhuma previsão legal, seja no CPC, seja em
leis especiais62.

O recurso de terceiro prejudicado não pode ser confundido com assistência em segundo grau
de jurisdição, como erroneamente o fazem Humberto Theodoro Junior e Vicente Greco Filho.
O assistente em segundo grau de jurisdição auxilia o assistido a defender os interesses deste,
sendo que o assistente se beneficiará de maneira reflexa; então a assistência no segundo grau
ela parte da premissa que o beneficiado pelo auxilio é o assistido.

No recurso de terceiro prejudicado a situação é diferente, quem será beneficiado é o terceiro


que recorreu de uma decisão contrária a seus interesses, ele não quer auxiliar ninguém, ele
quer defender a sua própria relação jurídica que está sendo atingida pelo teor de alguma
decisão.

É por isso que a hipótese é de recurso, existe uma decisão em sentido amplo, pode ser uma
decisão interlocutória, pode ser sentença, pode ser acórdão, pode ser qualquer coisa, existe

62
Mentira, encontra sim: Art. 499. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro
prejudicado e pelo Ministério Público.
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226

uma decisão contrária aos interesses do terceiro. Quando se fala em terceiro prejudicado,
como é que vai se saber se ele é ou não prejudicado? Ele é prejudicado porque ele é titular de
um interesse jurídico, esse interesse jurídico pode ser direto ou indireto, o interesse jurídico
dele é direto quando ele terceiro é cotitular da relação jurídica de direito material discutida em
juízo63.

Do processo principal ele não participa, ele não é nem autor nem réu, mas a relação jurídica
que está sendo discutida naquele processo também é dele; qualquer decisão que seja
proferida naquele processo irá atingi-lo diretamente.

Então se ele é cotitular da relação jurídica de direito material ou se ele é colegitimado


extraordinário, se ele poderia ter ajuizado a demanda, caso de ação civil pública, ação popular,
se ele poderia ter ajuizado a demanda e não fez, isso significa que quando se fala em interesse
jurídico direto, ele poderia ter sido, mas não foi assistente simples ou litisconsorte de alguma
das partes.

Não foi pois é terceiro, se ele tivesse tido alguma participação anterior no processo ele não
seria mais terceiro ele seria parte. O interesse jurídico dele é indireto ele será atingido de
maneira reflexa; a relação jurídica de direito material discutida em juízo não é dele, porém
alguma decisão ali proferida vai atingi-lo de maneira reflexa, de maneira indireta.

Então o terceiro prejudicado não é qualquer terceiro, é alguém que poderia ter sido
assistente simples ou litisconsorcial ou litisconsorte de algum das partes mais não foi. E
sendo atingido no teor da decisão daquele processo do qual ele não faz parte ele pode
recorrer dessa decisão. Mas que tipo de recurso ele pode se utilizar? Qual é o recurso de
terceiro prejudicado que pode se utilizar? QUALQUER RECURSO, EXCETO NA FORMA
RETIDA, visto que ele teria que reiterar o pedido de reexame na apelação, no recurso especial
retido e no recurso extraordinário retido.

Não existe recurso de terceiro prejudicado de forma autônoma, então ao se utilizar de um


recurso de terceiro prejudicado não é para esrever “Fulano de tal vem interpor recurso de
terceiro prejudicado”, isso não existe. O certo é “Fulano de tal, terceiro prejudicado, vem
interpor apelação...”, vem interpor agravo de instrumento, vem interpor recurso especial
etc.

O opoente em potencial pode se utilizar de recurso de terceiro prejudicado? Aquele terceiro


que poderia ser o opoente, objeto de intervenção de terceiro, e não a utilizou, poderia se valer
do recurso de terceiro prejudicado para recorrer da sentença? Não, porque ele, opoente, não
poderia ser nem assistente nem litisconsorte de uma das partes; então, o interesse jurídico
do opoente é independente daquele discutido em juízo, o interesse jurídico do opoente não
depende da decisão que será proferida nesse processo, ele poderá apresentar a oposição
através de uma ação autônoma livremente distribuída. Por ter perdido a possibilidade de

63
Pelo princípio da asserção, o simples fato de ele apresentar o recurso já é suficiente para o juiz fazer
uma análise de seu interesse. Se pelos fatos narrados, ainda que depois não se confirmem, o juiz
verifique a plausibilidade do interesse, deve receber o recurso.
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227

oposição, ele precisa se valer de uma ação autônoma, que só muda o nome, no momento
que o terceiro se utiliza desse recurso.

IMPORTANTE: seja qual for o recurso, ao utilizá-lo, ele adquire a qualidade de parte, ou ele
vai ser tratado como assistente ou será tratado como litisconsorte, ele adquire a qualidade
de parte e 99% das vezes passa a ser assistente.

Como é que a coisa julgada vai atingi-lo? Uma vez tendo recorrido, ele passa a ser considerado
parte, se for litisconsorte parte principal, se for assistente parte secundária, assessória, mas
passa a ser parte. SE ELE FOR TRATADO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL OU
LITISCONSORTE A COISA JULGADA VAI ATINGI-LO; SE ELE FOR TRATADO COMO
ASSISTENTE SIMPLES ELE É ATINGIDO PELA JUSTIÇA DA DECISÃO.

Ele pode interpor recurso de terceiro prejudicado, nos próprios autos da ação entre autor e
réu, até mesmo no STF; importa é que seja um recurso; se for qualquer outro tipo de
manifestação não recursal, será caso de assistência.

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO DE TERCEIRO. AÇÃO CAUTELAR.


INÉPCIA DA INICIAL AFASTADA. PROIBIÇÃO DE LIBERAÇÃO DAS GARANTIAS
CONSTITUÍDAS EM FAVOR DA CEF. TERCEIRO PREJUDICADO. TERMO INICIAL
DO PRAZO PARA RECURSO IGUAL AO DAS PARTES.

1. O prazo para interposição de recurso de terceiro prejudicado começa a


correr a partir do momento em que tal prazo se inicia para as partes.

2. A exigência do art. 801, inciso III, do Código de Processo Civil, quanto à


indicação da lide principal e seus fundamentos, significa a demonstração de
que o pleito da cautelar assegurará o resultado útil de uma ação de
conhecimento.

3. Em tema de ação cautelar se estão presentes os pressupostos processuais


e as condições da ação, não conhecer a plausibilidade do direito significa
apreciar o mérito da futura ação principal para tê-la como improcedente, o
que não se pode admitir.

4. O fato de o contrato firmado com a CEF não ter sido transcrito no registro
de imóveis não lhe retira a validade, vez que tal alegação só poderia ser
oposta por terceiro que não tenha participado da avença firmada, e nunca
pelas partes contratantes.

5. Sem a proibição de se proceder às liberações das garantias constituídas


em favor da CEF, seriam possíveis dilapidações dos bens que garantem o seu
crédito, o que denota, sem maiores tergiversações, o perigo de dano
irreparável advindo da demora no julgamento do feito. No entanto, a
medida cautelar não deve ser deferida para proibir o cancelamento de toda
e qualquer hipoteca oferecida em garantia à CEF, vez que tal medida pode
vir a causar prejuízo a terceiros que não fazem parte do litígio.

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6. Recurso de terceiro prejudicado não conhecido. Recurso da Ré


parcialmente provido.

(TRF1, AC 1999.01.00.054199-9/DF, Rel. Juiz Federal Wilson Alves De Souza


(conv.), Terceira Turma Suplementar (inativa),DJ p.82 de 19/08/2004)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO DE TERCEIRO PREJUDICADO.


DEMONSTRAÇÃO DO NEXO DE INTERDEPENDÊNCIA ENTRE O INTERESSE DE
INTERVIR E A RELAÇÃO JURÍDICA SUBMETIDA À APRECIAÇÃO JUDICIAL.
DIREITO À ALTERAÇÃO DE ITINERÁRIO DAS OPERADORAS DE SERVIÇOS DE
TRANSPORTE. DISCRICIONARIEDADE DA ADMINISTRAÇÃO. I - Presentes os
pressupostos legais exigidos para a admissão do Recurso de Terceiro
Prejudicado, já que restou demonstrado o legítimo interesse jurídico, ou
seja, que a decisão recorrida atingirá direta ou indiretamente a relação
jurídica de que o terceiro é titular; II – Os dispositivos legais invocados pelo
Embargante em nada alteram o resultado do julgamento. E isto porque
determinava o art. 38 do Decreto n.º 92.353/86, como não poderia ser
diferente, que a alteração definitiva de itinerário poderá ocorrer segundo
critérios de conveniência e oportunidade; III – Embargos de Declaração
improvidos.

(TRF2, EDAC 200102010356356, Desembargador Federal REIS FRIEDE,


PRIMEIRA TURMA, DJU - Data::28/02/2005 - Página::168.)

5.12. Tabelas Síntese


INTERVENÇÕES DE TERCEIROS
CONSIDERAÇÕES GERAIS
A intervenção de terceiros é fenômeno processual através do qual um terceiro ingressa, mediante permissão legal, em relação
processual alheia, adquirindo a qualidade de parte, principal ou acessória (secundária), a depender do tipo de intervenção, para
defender interesse jurídico próprio.
Pressupostos: a) Pendência da relação processual; b) Que o terceiro adquira a qualidade de parte quando ingressar no processo;
c) Previsão legal da espécie de intervenção de terceiros.
Classificações: Intervenção voluntária ou espontânea: interveniente solicita seu próprio ingresso na relação processual:
assistência, oposição e recurso de terceiro prejudicado; Intervenção forçada: interveniente somente ingressa na relação por
provocação das partes originárias: nomeação à autoria, chamamento ao processo e denunciação da lide; Intervenção por
inserção: terceiro ingressa em relação processual alheia, mas não apresenta nenhum pedido novo, não existe uma nova
demanda. São os casos da assistência, nomeação à autoria e chamamento ao processo; Intervenção por ação: dá ensejo a um
novo pedido, a uma nova demanda, a uma nova pretensão formulada. Ocorre nos casos de oposição e de denunciação da lide.
LEI Nº 9.469/97 – INTERVENÇÃO ANÔMALA
Possibilidade de intervenção da União nas causas em que figurarem, como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas,
sociedades de economia mista e empresas públicas federais. Possibilidade de intervenção de pessoas DE DIREITO PÚBLICO
federais, estaduais e municipais EM QUAISQUER DEMANDAS, INDEPENDENTEMENTE DE QUEM SEJA AUTOR OU RÉU, já em
trâmite com fundamento no eventual prejuízo indireto, mesmo que de natureza meramente econômica.
A função da União e dos entes públicos federais é ESCLARECER QUESTÕES DE FATO E DE DIREITO E JUNTAR DOCUMENTOS E
MEMORIAIS, passando a ser considerada como parte, inclusive para fins de deslocamento de competência, SE RECORRER de
decisões.
Súmula 150, STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo,
da União, suas autarquias ou empresas públicas”. Súmula 224, STJ: “Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz
Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito”. Súmula 254, STJ: “A decisão do
Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser reexaminada no Juízo Estadual”.

HIPÓTESE INTERVENÇÃO DE TERCEIRO CABÍVEL


Ação pelo rito ordinário Todas

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Assistência, recurso de terceiro prejudicado, denunciação da lide ou


Ação pelo rito sumário
chamamento ao processo baseados em contrato de seguro
Juizados Litisconsórcio
Controle concentrado Amicus curiae (não é, tecnicamente, intervenção de terceiro)
Ação executiva Assistência
Assistência e assistência provocada, na cautelar de produção antecipada
Ação cautelar
de provas

ASSISTÊNCIA
Conceito: Modalidade de intervenção de terceiro pela qual ele ingressa em processo alheio para auxiliar uma das partes em
litígio. Pode ocorrer em qualquer tempo e grau de jurisdição, assumindo o terceiro o processo no estado em que se encontra. O
pressuposto da assistência é que haja INTERESSE JURÍDICO do terceiro na solução do processo, que se caracteriza quando a
relação jurídica, da qual o terceiro é o titular, pode ser modificada por decisão proferida em processo do qual ele não faz parte.
Assistência Simples ou Adesiva: terceiro ingressa no feito afirmando-se titular de relação jurídica conexa àquela que está sendo
discutida. A relação jurídica que está sendo discutida em juízo é do assistido, e não do assistente, o qual terá sua relação jurídica
reflexamente afetada. Assistente NÃO TERÁ QUALQUER VÍNCULO JURÍDICO COM O ADVERSÁRIO DO ASSISTIDO, intervindo
para ser parte auxiliar parcial subordinada à vontade do assistido.
Assistência Qualificada ou Litisconsorcial: terceiro é titular, ou afirma ser, da relação jurídica de direito material discutida no
processo. Somente é possível nos casos de litisconsórcio facultativo, porque somente nesse caso o titular do direito poderá ser
excluído da demanda por vontade das partes. Não é caso de assistência o litisconsórcio necessário. A assistência litisconsorcial é
intervenção de terceiros voluntária; o litisconsórcio necessário é condição de legítimo exercício do direito da ação, já que se
remete à legitimidade. Ele sofrerá normalmente os efeitos da coisa julgada, já que é parte cotitular do direito discutido.
Procedimento: terceiro deverá fazer petição devidamente fundamentada a qualquer tempo, a qual deverá ser protocolada no
processo. Caso não haja impugnação no prazo de 05 dias, o pedido de assistência será deferido, caso o próprio juiz não indefira
por seu motivos fundamentados. Havendo impugnação, o pedido será desentranhado dos autos principais e autuado em
apenso. A instauração desse incidente NÃO SUSPENDERÁ O ANDAMENTO DO PROCEDIMENTO PRINCIPAL. Se indeferido o
pedido, com ou sem a criação do incidente, caberá agravo de instrumento. O mesmo recurso é cabível no caso de deferimento
do pedido, somente tendo legitimidade recursal as partes que não concordarem com a intervenção do terceiro.
Observações gerais: ingresso do assistente evita efeitos processuais da revelia. Será considerado o assistente gestor de negócios
do assistido. Assistente só poderá rediscutir a justiça da decisão se provar que fora impedido de produzir provas suscetíveis de
influir na sentença ou que desconhecia a existência de alegações ou de provas de que o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu.
OPOSIÇÃO
Conceito: demanda por meio da qual terceiro deduz em juízo pretensão incompatível com os interesses conflitantes de autor e
réu de um processo cognitivo pendente. Visa o opoente excluir o direito dos opostos. O terceiro agrega um novo pedido ao
processo, devendo a sentença examinar as pretensões do autor originário e do terceiro/opoente. Natureza bifronte, extinta a
ação originária por qualquer razão, prossegue a oposição.
Oposição interventiva: ajuizada antes da AIJ; procedimento conjunto ao da ação originária, julgada na mesma sentença, em
capítulo anterior; se julgada procedente a oposição, a ação principal perde o objeto, porque, sendo o direito ou coisa do
opoente, não há sentido em se continuar julgando a causa.
Oposição autônoma: processo incidente ajuizado após o início da AIJ e antes da sentença. Juiz pode sobrestar pelo prazo máximo
de 90 dias a ação principal a fim de obter identidade procedimental e harmonizar os julgados. Poderá não haver o julgamento
numa mesma sentença da oposição e da ação principal. Assim perfeitamente possível que o autor na ação principal perca para o
opoente o direito que a ele foi reconhecido na sentença primeva. Terceiro que não ingressar até o momento da sentença não
pode se utilizar de recurso de terceiro prejudicado, já que possui um direito que independe do que ficar decidido entre autor e
réu.
Procedimento: inicial com todos os pressupostos dos arts. 282 e 283 do CPC. A citação deverá ser feita por AR, oficial, edital ou
meio eletrônico, conforme pedir o opoente na pessoa do advogado, salvo, como visto, se o réu da demanda originária era revel,
hipótese em que deverá ser citado pessoalmente. O prazo de contestação será de 15 dias, prazo este comum, NÃO SE
APLICANDO CONTAGEM EM DOBRO. Entretanto, isso somente para a resposta. O prazo das demais manifestações no processo
será em dobro, nos termos do art. 191. Se a oposição e a ação originária forem julgadas mediante sentença comum, o recurso
cabível será apelação, se o processo correr perante juízo de primeiro grau. O mesmo recurso será cabível contra a decisão que
julga a oposição autônoma.
Observações gerais: será de competência funcional do juiz da causa originária, devendo ser distribuída (e não protocolada) por
dependência; será autuada em apenso aos autos principais. Citação será feita na pessoa do advogado das partes, que não
precisa de poder específico. Se na causa originária o réu for revel, a sua citação para a oposição será feita normalmente, ou seja,
será pessoal. Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente. Impossível
oposição perante o segundo grau de jurisdição, pois seria supressão de instância. Cabível a oposição sucessiva.
NOMEAÇÃO À AUTORIA
Conceito: convocação coativa do sujeito oculto das relações de dependência, corrigindo-se o polo passivo da relação jurídica
processual. Ela tem dois objetivos: indicar ao autor o real titular da situação legitimamente passiva;retirar do sujeito dependente
o ônus de conduzir um processo que não lhe diz respeito. Não é uma autêntica intervenção de terceiros pois não há ampliação
subjetiva do processo.
Cabimento: duas hipóteses taxativas: nomeação à autoria pelo mero detentor; nomeação à autoria pelo mandatário em
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demandas de reparação de dano.


Procedimento: ela É CONSIDERADA UM DEVER DO RÉU; não o fazendo ou nomeando um terceiro diverso do que deveria,
responderá por perdas e danos.É um dever processual com consequências de direito material. A nomeação à autoria deverá ser
feita no prazo de resposta, SUSPENDENDO-SE O PROCEDIMENTO PRINCIPAL DESDE QUANDO PROTOCOLADA. Frustrando-se a
nomeação, O PRAZO DE RESPOSTA SERÁ DEVOLVIDO NA ÍNTEGRA. Deferido o pedido, o juiz intimará o autor para se manifestar
sobre o pedido de nomeação no prazo de 05 dias, sendo o seu silêncio entendido como aceitação tácita. Aceitando o autor, será
citado o terceiro, que poderá aceitar, se calar ou recusar. Aceitando expressamente a nomeação, ocorre a extromissão de parte,
devendo o terceiro, agora réu, ser intimado para apresentação de resposta, o mesmo ocorrendo se ele se calar, hipótese em que
haverá aceitação tácita. Nomeante pode continuar no processo como assistente simples, se houver interesse jurídico. Se o
nomeado não aceitar a nomeação, o processo prossegue contra o nomeante. Parcela da doutrina defende que, verificando o juiz,
ao final do processo, que o nomeado realmente era a pessoa legítima para figurar no processo, a nomeação contra ele deverá
formar coisa julgada.

DENUNCIAÇÃO DA LIDE
Conceito: espécie de intervenção de terceiros provocada, demanda nova em processo já existente; natureza jurídica de ação
regressiva condenatória incidental. serve para que uma das partes traga ao processo um terceiro que tem responsabilidade de
ressarci-la pelos danos de eventual sucumbência na lide. Denunciação é coercitiva, não existe a possibilidade do denunciado
negar sua qualidade de parte, restando vinculado ao processo desde sua regular citação. Assim que determina a citação, o juiz
já terá feito um exame prévio de legitimidade do denunciado, motivo que justifica a coercibilidade da denunciação.
Situação do denunciado: correntes: assistente, litisconsorte. Esta prevalece.
Hipóteses: denunciação da lide feita pelo comprador evicto (admite-se a denunciação per saltum); denunciação da lide feita pelo
possuidor direto; denunciação do obrigado, por lei ou contrato, a indenizar regressivamente
Procedimento: denunciação feita pelo autor: deve o autor requerer a denunciação na própria petição inicial, pedindo a citação
do denunciado e do réu. O PEDIDO DE DENUNCIAÇÃO SUSPENDE O ANDAMENTO DO PROCESSO, devendo primeiro ser citado o
denunciado no prazo de 10 dias quando domiciliado no mesmo foro em que tramita a demanda, ou no prazo de 30 dias, em foro
diferente. Realizada a denunciação, o denunciado somente não assumirá a posição de litisconsorte se negar-se a participar. Caso
aceite ou fique omisso, assumirá a posição de litisconsorte do denunciante, podendo aditar a petição inicial, sendo
posteriormente citado o réu. Denunciação feita pelo réu: promovida no prazo de resposta. Pode ser ela procedida como um
tópico da contestação. A DENUNCIAÇÃO É COERCITIVA, POIS NÃO EXISTE A POSSIBILIDADE DO DENUNCIADO NEGAR SUA
QUALIDADE DE PARTE, RESTANDO VINCULADO AO PROCESSO DESDE SUA REGULAR CITAÇÃO. Se o denunciado aceitar, será
considerado litisconsorte do réu. Se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor, poderá o denunciante prosseguir na
sua defesa, sem qualquer prejuízo, porquanto a confissão de um litisconsorte não pode prejudicar o outro (litisconsórcio
simples). A sentença que julgar procedente o pedido declarará o direito do evicto ou a responsabilidade por perdas e danos,
servindo como título executivo. Na verdade, ela deverá condenar o denunciado nos termos do pedido do denunciante.
Nagibe de Melo aconselha abrir um tópico na fundamentação e no dispositivo para se remeter à denunciação da lide; esse tópico
deverá vir após o julgamento da lide principal. Se houver questionamento da própria denunciação ainda não enfrentado, abrir
preliminar para acatar ou não o incidente. Porém, em caso de denunciação de seguradora, tendo em vista o posicionamento do
STJ de possibilidade de condenação direta, creio ser desnecessário um tópico apartado.
Observações: art. 70 do CPC prevê que a denunciação é obrigatória. Porém, não obriga em nada e não causa nenhum prejuízo
deixar de denunciar, fora a perda de celeridade na demanda regressiva. Art. 456, caput, do CC/02 determina que o adquirente
evicto promova a denunciação para que possa exercer os direitos que da evicção resultam. Entretanto, até mesmo essa
hipótese é AFASTADA pelo STJ, já que a perda da possibilidade de propositura de demanda contra o alienante geraria o
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. Adotada a concepção ampliativa, pela qual pode-se introduzir fundamento novo na discussão do
cabimento da denunciação, não importando se a garantia é própria ou imprópria.
CHAMAMENTO AO PROCESSO
Conceito: espécie coercitiva de intervenção de terceiros pela qual o terceiro será integrado à relação jurídica processual em
virtude de pedido do réu e independentemente da sua concordância. A citação válida já é suficiente para o chamado ao processo
ser a ele integrado, suportando os efeitos da sentença, especialmente a coisa julgada material. Natureza jurídica de incidente
processual
Hipóteses: fiador, em relação ao afiançado (não tendo o afiançado direito de chamar o fiador ao processo); fiador, em relação
aos demais fiadores; devedor, em relação aos demais devedores solidários (somente em obrigações de pagar quantia certa).
Procedimento: mesmo procedimento da denunciação da lide. Julgando o juiz procedentes os pedidos, deverá condenar o réu e
todos os chamados ao ônus da sucumbência. A sentença de procedência, com a condenação de todos os obrigados que
compõem o polo passivo da demanda, VALERÁ COMO TÍTULO EXECUTIVO EM FAVOR DO COOBRIGADO QUE SATISFIZER A
OBRIGAÇÃO, podendo cobrar dos demais obrigados o valor pago ou a cota parte que couber a cada um dos coobrigados.
Observações: CDC expressamente permite, no art. 101, II, o chamamento ao processo da seguradora quando o réu tiver com ela
um contrato de seguro de responsabilidade. É um chamamento ao processo impróprio, já que a seguradora não é titular do
direito discutido na demanda originária, tampouco obrigada solidariamente perante o consumidor-autor. A doutrina entende
que o CDC chamou esse instituto de chamamento ao processo a fim de criar uma responsabilidade solidária entre o réu e a
seguradora, beneficiando o consumidor e criando para ele mais garantia do ressarcimento. Chamamento em cautelares:
somente se admite em cautelares de produção antecipada de provas.
RECURSO DE TERCEIRO PREJUDICADO
Previsão no art. 499 do CPC. O 3º ingressa na relação demonstrando o interesse jurídico em defender um direito atingido por
uma decisão judicial. Cabível qualquer recurso, menos na forma retida. Seja qual for o recurso, ao utilizá-lo, o 3º adquire a
qualidade de parte, ou ele vai ser tratado como assistente ou será tratado como litisconsorte. O prazo para interposição de
recurso de terceiro prejudicado começa a correr a partir do momento em que tal prazo se inicia para as partes.

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5.13. Observações de Prova


1. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 45. Legitimado extraordinário coletivo sem relação
jurídica com a parte autora pode ingressar, segundo o STF, como assistente simples.

2. TRF1 – XII – QUESTÃO 74. A citação dos opostos ocorrerá na pessoa de seus
advogados, que prescinde apresentar procuração com poderes especiais para
receber citação inicial, nos termos do art. 38 do CPC.

3. TRF4 – XIII – QUESTÃO 63. A nomeação de terceiros constitui forma de substituição


das partes, que se opera exclusivamente no polo passivo da lide.

4. TRF4 – XIII – QUESTÃO 63. Se o nomeado admitir a qualidade que lhe é atribuída, o
processo seguirá contra este, EXTINGUINDO-SE SEM EXAME DE MÉRITO CONTRA O
NOMEANTE.

5. TRF4 – XIII – QUESTÃO 63. A nomeação de terceiros pode ser rejeitada pelo autor da
ação, hipótese em que o processo seguirá contra o réu original, sendo-lhe devolvido o
prazo para defesa.

6. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 47. A pessoa jurídica de direito público pode ingressar no
feito servindo-se de forma anômala de intervenção, que a autoriza a esclarecer
questões de fato e de direito e até recorrer, se for o caso.

7. EMAGIS – 2011/25 – QUESTÃO 11. A União pode intervir nas causas em que figurarem,
como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e
empresas públicas federais. Trata-se de forma anômala de intervenção de terceiros,
embasada apenas no interesse econômico, ainda que reflexo ou indireto, dispensando
a comprovação do interesse jurídico.

8. EMAGIS – 2011/41 – QUESTÃO 17. Na hipótese de ser possível o chamamento ao


processo, há, entre o chamado e a parte adversa, uma relação jurídica direta.

9. Somente pode haver substituição voluntária das partes no curso do processo se


houver expressa previsão legal (art. 46).

10. O alienante ou cedente é substituto processual da coisa litigiosa alienada, se o


comprador não o substituir no processo.

11. A alienação da coisa litigiosa não altera a legitimidade das partes e possibilita ao
adquirente intervir no processo, assistindo ao alienante. Porém, ele somente poderá
ingressar em juízo como parte se houver consentimento da parte contrária. Para ser
assistente, desnecessária essa autorização. Por fim, a sentença proferida entre as
partes originárias estende seus efeitos ao adquirente/cessionário (art. 42, CPC).

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12. O fato de a parte ter mencionado, em sua petição, que estava deduzindo chamamento
ao processo em caso típico de denunciação da lide não inibe o juiz de determinar o
procedimento correto (princípio da instrumentalidade das formas).

13. É tempestivo o pedido de chamamento ao processo formulado em grau de apelação.

14. A oposição é caso de litisconsórcio necessário simples. Sua citação deverá ocorrer na
pessoa dos advogados.

15. A oposição interventiva, aquela oferecida antes da audiência, será apensada aos autos
principais e correrá simultaneamente com a ação, sendo ambas julgadas na mesma
sentença.

16. A denunciação da lide pressupõe o direito de regresso, decorrente de lei ou de


contrato.

17. A falta de denunciação da lide não impede o adquirente de ajuizar ação contra o
alienante para haver de volta o preço que pagou pela coisa.

18. A denunciação da lide implica uma espécie de ação regressiva secundum eventum litis.

19. Se a denunciação for feita pelo autor, o denunciado assumirá papel de litisconsorte,
podendo aditar a inicial.

20. A citação do denunciado será requerida, concomitantemente com a do réu, se o


denunciante for autor.

21. São intervenções de terceiros espontâneas a oposição e a assistência. As demais são


provocadas.

22. Na assistência simples ou adesiva, o interesse do assistente não é vinculado


diretamente ao litígio. A atuação desse assistente é meramente complementar.
Porém, se o revel for o assistido, ele será tido por seu gestor de negócios.

23. O assistente litisconsorcial que ingressa posteriormente no processo será atingido pela
coisa julgada.

24. Na qualidade de assistente simples, este apenas não poderá evitar que a sentença
proferida produza efeitos em relação a si quando lhe for dada a oportunidade de
participar adequadamente no processo.

25. Após o trânsito em julgado, em regra, não poderá o assistente simples discutir
posteriormente a justiça da decisão.

26. O assistente somente poderá discutir a justiça da decisão após o trânsito em julgado
se, v.g., alegar e provar que desconhecia provas de que o assistido, por culpa, não se
valeu.

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6. Litisconsórcio
6.1. Conceito
Litisconsórcio é a reunião de duas ou mais pessoas (e não duas ou mais partes) ou entes sem
personalidade jurídica, mas com capacidade processual, que assumem simultaneamente a
posição de autor ou réu. Caso possuam advogados distintos, seus prazos para contestar, para
recorrer e para falar nos autos, em geral, serão contados em dobro (art. 191, CPC).

Art. 191. Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-


lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de
modo geral, para falar nos autos.

Se forem dois advogados diferentes, mas que trabalham no mesmo escritório, aplica-se ou não
o art. 191? Aplica-se, mesmo sendo de um único escritório.

E se esses dois procuradores diferentes do mesmo escritório resolvem apresentar uma única
petição, eles defendem clientes diferentes, mas apresentam as suas manifestações em uma
única petição, aplica-se ou não o art. 191? Aplica-se. Ficando definido que cada um dos
advogados defende um dos litisconsortes, o fato de apresentar suas alegações em uma única
petição não afasta o prazo em dobro.

Esta regra não se aplica ao prazo recursal caso apenas um dos litisconsortes tenha sucumbido,
conforme a seguinte súmula:

Súmula 641, STF: “Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos
litisconsortes haja sucumbido”.

E se por exemplo acontece o seguinte: A e B são citados para contestar. De acordo com o art.
191, o prazo é contado em dobro para litisconsortes com diferentes procuradores para
contestar, recorrer e, de modo geral, para falar nos autos. Então, eles são citados para
contestar com prazo em dobro. Então, B constitui advogado e este, dentro do prazo de trinta
dias, apresenta, no vigésimo sétimo, a contestação. O A é citado, mas permanece revel, não
constitui advogado, permanece revel. Pergunto: contestação apresentada no vigésimo sétimo
dia é intempestiva porque ele deveria tê-la apresentado até o décimo quinto ou ela é
tempestiva porque o prazo era em dobro, mesmo o réu A sendo revel?

No STJ, você encontra acórdão num e noutro sentido, mas prepondera, é majoritário, o
entendimento de que o réu B não tinha como saber se o A iria contestar. Ele contratou
advogado presumindo que o A fosse apresentar sua contestação, então, se ele apresenta no
vigésimo sétimo dia e, em tese, o seu prazo seria em dobro, trinta dias, seria tempestiva. Só
que, a partir daqui, não se aplica mais o 191 porque não há mais um litisconsórcio com
diferentes procuradores, o que há agora é um réu revel e um réu apenas com patrono para
praticar atos no processo. Então, o STJ entende que, como o B não tinha como saber se ele
iria contestar ou não, conta-se em dobro o prazo para a contestação, só que, uma vez
encerrado o prazo para a contestação, todos os atos processuais são prazos simples, não há
mais litisconsórcio com diferentes procuradores.

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Além disso, lembrar que a Fazenda Pública tem prazo em quádruplo para contestar e em
dobro para recorrer (art. 188). Se houver litisconsórcio entre Fazendas Públicas diversas ou
entre elas e o particular, haverá prazo em dobro (120 dias)? Negativo.

Nesse caso não se aplica a regra do art. 191, somente a do art. 188.

São objetivos do litisconsórcio:

a) Economia processual: no litisconsórcio, vários atos são economizados. Se você tem


caso em que vários servidores vão demandar individualmente uma gratificação, se
puderem se reunir para demandar, aqueles vários mandados de citação que seriam
expedidos, aquelas várias autuações de processos, aquelas várias cargas efetivadas, o
tempo dos servidores etc., tudo isso será reduzido.

b) Evitar a prolação de decisões contraditórias: através do litisconsórcio, procura-se evitar


decisões contraditórias em causas semelhantes.

6.2. Classificação

6.2.1. Litisconsórcio Inicial e Ulterior


Litisconsórcio inicial ou originário é aquele que se forma contemporaneamente à formação do
processo (art. 263, CPC), quer porque mais de uma pessoa postulou, quer porque a demanda
foi proposta em face de mais de uma.

Litisconsórcio ulterior, posterior, incidental ou superveniente é aquele que surge após o


processo ter se formado. Ele pode surgir por três motivos:

a) Em função de uma intervenção de terceiros;

b) Pela sucessão processual;

c) Por conexão, caso se imponha a reunião das causas para processamento simultâneo.

Quando se fala em litisconsórcio inicial ou originário, isso significa que a pluralidade de


pessoas existe desde o início do processo, em outras palavras, na petição inicial. Na petição
inicial, ou você já tem uma pluralidade de pessoas no polo ativo, ou no polo passivo, já existe
uma pluralidade de autores ou uma pluralidade de réus. Caso, na petição inicial, não haja nem
pluralidade de autores e nem de réus, o litisconsórcio não é inicial e nem originário. Se ele
surgir no curso do processo, o litisconsórcio será ulterior ou superveniente.

A pergunta é: até que momento é possível o ingresso de um litisconsorte no processo?

O CPC cuida dessa possibilidade, mas, em primeiro lugar, quando é feita essa pergunta, o que
eles querem saber é até que momento alguém pode ingressar em processo alheio como
litisconsorte, eles estão perguntando do litisconsorte facultativo, a matéria está tratada no art.
264 do CPC é a chamada estabilização subjetiva da lide.

Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de


pedir, sem o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo
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235

as substituições permitidas por lei. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de


1º.10.1973)

SE O LITISCONSÓRCIO FOR NECESSÁRIO, É OBRIGATÓRIO O INGRESSO DO LITISCONSORTE


AUSENTE SEJA EM QUE MOMENTO FOR, SOB PENA DE EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO.

O momento limite para que alguém ingresse em processo alheio, facultativamente, é a


citação. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir sem o
consentimento do réu. Essa possibilidade de se modificar o pedido ou a causa de pedir é a
chamada estabilização objetiva da lide. Essa é a primeira parte do dispositivo.

O que nós estamos estudando agora é a segunda parte do dispositivo, “mantendo-se as


mesmas partes, salvo as substituições permitidas em lei”, ou seja, a ESTABILIZAÇÃO
SUBJETIVA DO PROCESSO.

Até que momento é possível a modificação da parte autora e da parte ré no processo? Até o
momento da citação, de acordo com o art. 264 do CPC.

Isso significa que, para o CPC, com base no art. 264, alguém pode ingressar em processo alheio
como litisconsorte até a citação, mais precisamente, alguém que queira participar como
litisconsorte facultativo, até a citação, pode ingressar.

Digamos que eu sou funcionário da Justiça Federal, determinada lei admite que servidores da
Justiça Federal que trabalhem há mais de cinco anos recebam uma determinada gratificação.
Eu trabalho há mais de cinco anos, mas não recebi gratificação, vou ajuizar uma demanda
cobrando o pagamento dessa gratificação, comentando com os meus colegas de Vara, eles
também querem ajuizar a demanda. Eu vou me litisconsorciar com os meus colegas para
agilizar essa demanda, cada um de nós vai defender o seu próprio direito à gratificação.

Imaginemos que eu não quis esperar, ajuizei minha demanda contra a União, caiu na quarta
Vara Federal. Os meus colegas resolvem pedir o ingresso como litisconsorte nessa ação.
Pergunto para vocês, é possível admitir o ingresso deles como litisconsorte? De acordo com o
CPC, é perfeitamente possível, porque, enquanto não feita a citação, podem ingressar como
litisconsorte. Mas essa é apenas a primeira corrente de pensamento.

Para a segunda corrente de pensamento, que é amplamente dominante na doutrina e na


jurisprudência (Barbosa Moreira, Nelson Nery, Luiz Rodrigues Wambier, Marcelo Abelha),
NÃO EXISTE LITISCONSÓRCIO ATIVO FACULTATIVO ULTERIOR, PORQUE,
EMBORA A LEI TENHA POSSIBILITADO QUE, ATÉ A CITAÇÃO, ALGUÉM
POSSA INGRESSAR NO PROCESSO COMO LITISCONSORTE, SE VOCÊ
PERMITIR O INGRESSO DESSE LITISCONSORTE FACULTATIVO ULTERIOR,
ELE VAI DEFENDER O INTERESSE DELE, ELE NÃO ENTRA PARA AJUDAR.

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236

Estaria ocorrendo uma burla ao princípio do juiz natural, porque, na verdade, esse
litisconsorte facultativo estaria escolhendo o juízo por onde ele quer ver a sua demanda
tramitar. Então, para essa segunda corrente, não existe litisconsórcio facultativo ulterior.

[... ] 2. Inadmissível a formação de litisconsórcio facultativo ativo após a


distribuição do feito, sob pena de violação ao Princípio do Juiz Natural, em
face de propiciar ao jurisdicionado a escolha do juiz. Precedentes do STJ. [...]
(STJ-2ª.T - AgRg no REsp 1022615 / RS – Rel. Herman Benjamin, j.
10.03.2009).

Na lei não há essa previsão, na lei é possível, até a citação, você poderia, em tese, ter um
litisconsórcio ativo facultativo ulterior. Depois da citação, não poderá ingressar como
litisconsorte ativo, mas, caso ele possua algum interesse jurídico, seja o interesse jurídico
direto ou indireto, ele pode ingressar como assistente. Se ele é cotitular da relação jurídica de
direito material, ele vai ser um assistente litisconsorcial ou, também chamado, qualificado. Se
o interesse jurídico dele não é o mesmo, é o interesse jurídico conexo, subordinado, ele será
um mero assistente simples.

Assim, ATÉ A CITAÇÃO PELA LEI, É POSSÍVEL ALGUÉM INGRESSAR COMO


LITISCONSORTE, APÓS A CITAÇÃO, SÓ COMO ASSISTENTE. Pode ingressar no curso do
processo, em primeiro grau, no tribunal de segundo grau, no STJ, no STF. Ele pode ingressar
no momento em que ele queria, mas vai receber o processo no estado em que o processo se
encontra. Ou o litisconsórcio facultativo já nasce na petição inicial, ou ele não pode ser
admitido posteriormente, porque seria um caso de burla ao princípio do juiz natural64.

LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO INGRESSO DEVE SER PERMITIDO A QUALQUER TEMPO


SOMENTE ATÉ A CITAÇÃO, PERMITINDO-SE SOMENTE INGRESSO NO
LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO
POLO PASSIVO

6.2.2. Diferenças entre Litisconsórcios Unitário, Simples, Necessário e Facultativo

6.2.2.1. Litisconsórcio Unitário


Ocorre quando o provimento judicial tiver que ser igual para todos. A pluralidade de pessoas é
considerada como se fosse uma. Em todo litisconsórcio unitário a relação jurídica discutida
deverá ser indivisível. Porém, não necessariamente há de se falar em solidariedade, já que
nem sempre a obrigação solidária é indivisível. A indivisibilidade é qualidade do objeto
prestacional, seja por sua natureza, por determinação jurídica ou por acordo das partes.

No litisconsórcio unitário, como o próprio nome dá a entender, existe apenas uma única
relação jurídica de direito material. Só que nessa única relação jurídica de direito material,
você tem vários indivíduos que estão a ela vinculados.

64
De acordo com a Lei do MS (Lei nº 12.016):
Art. 10 [...]
§ 2o O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o despacho da petição inicial.
Há quem aplique interpretação restritiva em relação ao dispositivo (porque pode representar a burla ao
juízo natural da CF), e outros aplicam este dispositivo.
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A relação jurídica de direito material é una, indivisível e incindível, no entanto, vários


indivíduos estão a ela vinculados no momento do julgamento dessa relação jurídica de direito
material. Quando ela for decidida, seja um julgamento de procedência, seja de improcedência,
seja de procedência parcial, independentemente do teor da decisão, essa decisão, seja de que
conteúdo for, atinge a todos os sujeitos vinculados à relação jurídica da mesma maneira.

No litisconsórcio NECESSÁRIO, há uma ênfase na proteção ao contraditório e ampla defesa.


No UNITÁRIO, a ênfase é em saber como a decisão atingirá todos aqueles que estão
vinculados à relação jurídica de direito material.

Exemplo corrente de litisconsórcio unitário na Justiça Federal é a citação dos mutuários


financiados com recursos do SFH pela CEF. Imagine que a CEF cite somente um dos mutuários,
pedindo a imissão na posse do imóvel. Ora, não há como tal imissão se realizar se o cônjuge
mutuário não citado permanecer no imóvel. Ademais, esse cônjuge não pode ser
legitimamente “despejado”, já que não teve a oportunidade de se defender. Logo, vê-se que o
provimento necessariamente atingirá sua esfera jurídica, de forma exatamente igual ao de seu
consorte. Logo, NÃO BASTA, PARA SER UNITÁRIO, QUE SUA ESFERA JURÍDICA SEJA
AFETADA. ELA HÁ DE SER AFETADA DE IGUAL MODO.

A não citação de um litisconsorte unitário acarreta nulidade processual absoluta, já que


ninguém poderá ter sua esfera jurídica atingida por relação processual da qual não participou.
Como o provimento judicial não é cindível, afetando necessariamente o litisconsorte unitário
não citado, caberá ação rescisória e, até mesmo, ação transrescisória.

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.


ILEGITIMIDADE DE PARTE. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. REFORMATIO IN
PEJUS. INOCORRÊNCIA. EFEITO EXPANSIVO SUBJETIVO. ART. 509 DO CPC.
LITISCONSÓRCIO SIMPLES. INAPLICABILIDADE.

1. As questões de ordem pública, no caso a ilegitimidade das partes, podem


ser alegadas em qualquer tempo e grau de jurisdição ordinária, podendo
ser, até mesmo, conhecidas de ofício pelo juiz, o que afasta as teses de
julgamento ultra petita e reformatio in pejus, levantadas pelos recorrentes.

2. O entendimento que firmemente prevalece nesta Corte é o de que o


recurso produz efeitos somente ao litisconsorte que recorre, ressalvados
os casos de litisconsórcio unitário, que não é o caso dos autos.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(STJ, AgRg no REsp 770.326/BA, Rel. Ministro CELSO LIMONGI


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em
02/09/2010, DJe 27/09/2010)

PROCESSO CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA. QUERELA NULLITATIS. CABIMENTO.


LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DE TODOS OS RÉUS.

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É cabível ação declaratória de nulidade (querela nullitatis), para se


combater sentença proferida sem a citação de todos os réus que, por se
tratar, no caso, de litisconsórcio unitário, deveriam ter sido citados.

(STJ, REsp 194.029/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,


SEXTA TURMA, julgado em 01/03/2007, DJ 02/04/2007, p. 310)

Importante salientar que, diferentemente do que ocorre no litisconsórcio necessário, no


litisconsórcio unitário, havendo nulidade por falta de um dos litisconsortes, o processo será
anulado para todos, e não somente em relação ao que dele não participou (para ele nem
mesmo haverá legítimos efeitos jurídicos a serem produzidos).

Já no litisconsórcio necessário, a sentença GERALMENTE continuará válida para os


litisconsortes, apenas não produzindo nenhum efeito para os não citados.

6.2.2.2. Litisconsórcio Simples ou Comum


Ocorre quando a decisão judicial PUDER ser diferente para os litisconsortes; cada um deles
atuará como se parte autônoma fosse. Nesse tipo de litisconsórcio, cada autor ou réu poderia
ser parte isoladamente em processos autônomos.

No litisconsórcio simples, está-se diante de uma situação litisconsorcial em que cada um dos
litisconsortes defende a sua própria relação jurídica de direito material. Em outras palavras,
existe um litisconsórcio, mas cada um dos litisconsortes possui a sua própria relação jurídica de
direito material sendo apresentada ao juiz. Não existe uma indivisibilidade de relação jurídica
de direito material, divididas entre os vários litisconsortes.

É caso, por exemplo, de servidores públicos A, B, C, D e E que resolvem exigir uma gratificação
que a lei concedeu para quem trabalha na União há mais de cinco anos. Eles ajuízam uma
demanda em conjunto para diminuir os gastos, mas cada direito será analisado em separado,
conforme forem sendo preenchidos os requisitos por cada um dos autores.

6.2.2.3. Litisconsórcio Necessário (art. 47)


Art. 47. Há litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela
natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme
para todas as partes; caso em que a eficácia da sentença dependerá da
citação de todos os litisconsortes no processo.

Parágrafo único. O juiz ordenará ao autor que promova a citação de todos


os litisconsortes necessários, dentro do prazo que assinar, sob pena de
declarar extinto o processo.

Ocorre pela própria natureza da relação jurídica discutida ou por imperativo legal65, quando
hão de ser citadas várias pessoas, como ocorre na usucapião. Uma sentença que repercutirá
na esfera alheia impõe, necessariamente, a formação do litisconsórcio, devendo o juiz
determinar o saneamento desse defeito (não citação) para evitar nulidade processual.

65
Por exemplo, oposição, ação possessória.
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239

No litisconsórcio necessário, deve-se ter como ponto de vista o direito ao contraditório e


ampla defesa de todos os que estão vinculados à relação jurídica de direito material. A
necessidade de citação daqueles que venham a ser diretamente afetados pela ordem judicial
não pode ser aferida pelo resultado final do julgamento, uma vez que decorre justamente da
possibilidade de os litisconsortes influenciarem na formação do convencimento do julgador.
A solidariedade obrigacional não importa em exigibilidade da obrigação em litisconsórcio
necessário (art. 47 do CPC), mas antes na eleição do devedor pelo credor, cabendo àquele,
facultativamente,o chamamento ao processo (art. 77, do CPC). Lembrar que solidariedade
passiva é uma garantia do credor. Ele poderá escolher de quem receber seu crédito e a quem
processar.

A ausência de litisconsórcio necessário pode ser alegada em apelação? Perfeitamente possível


a alegação em apelação, a parte deve alegar na apelação. Lembrem-se, É UMA QUESTÃO DE
ORDEM PÚBLICA, É GRAVÍSSIMO O VÍCIO, ESTÁ FALTANDO O LITISCONSORTE
NECESSÁRIO, ELE TEM QUE ESTAR PRESENTE, SOB PENA DE INEFICÁCIA DA
SENTENÇA. Então, esse vício pode ser alegado em apelação.

Pode ser alegado em recurso especial ou recurso extraordinário? Voltamos à divergência, para
a corrente clássica, só poderia ser objeto de alegação se fosse anteriormente objeto de pré-
questionamento, mesmo sendo questão de ordem pública, há necessidade de pré-
questionamento para que seja possível sua alegação no especial ou extraordinário.

E uma segunda corrente, mais moderna, não há necessidade de pré-questionamento, ela


pode, inclusive, ser objeto de exame de ofício no STJ e no STF desde que o especial ou o
extraordinário tenha sido admitido por outro motivo.

Digamos que ninguém alegou nada, transitou em julgado, fez coisa julgada material e formal, é
possível alegar esse vício depois do trânsito em julgado da sentença? É possível alegá-la em
ação rescisória? Perfeitamente possível. Você pode alegar esse vício em ação rescisória,
alegando violação a literal dispositivo de lei, art. 485, V do CPC. Que dispositivo? O art. 47.

Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida


quando:

[...]

V - violar literal disposição de lei;

Digamos que você perdeu o prazo da rescisória ou que você é daquela doutrina paulista que
acha que não pode rescindir o que não existe, você pode alegar esse vício depois do prazo da
rescisória de alguma maneira? Pode, através da querela nullitatis, também chamada de ação
declaratória de inexistência de relação jurídica, também chamada de ação declaratória de
nulidade, já que faltou a citação do litisconsorte necessário.

6.2.2.4. Litisconsórcio Facultativo


No litisconsórcio facultativo, o legislador disponibilizou, viabilizou com que determinadas
pessoas com interesses jurídicos conexos pudessem se litisconsociar para demandar em
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conjunto ou para que o autor pudesse demandar várias pessoas conjuntamente. Ele poderá
ser formado ou não, a critério dos litigantes. Está previsto nas hipóteses do art. 46 do CPC.

Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em


conjunto, ativa ou passivamente, quando:

I - entre elas houver comunhão de direitos66 ou de obrigações relativamente


à lide;

II - os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato ou


Litisconsórcio de direito;
Facultativo por
Conexão III - entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir;

IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de


direito.

Parágrafo único. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao


número de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio
ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para
resposta, que recomeça da intimação da decisão.(Incluído pela Lei nº 8.952,
de 13.12.1994)67

6.2.3. Conjugações entre as Várias Tipologias de Litisconsórcios

6.2.3.1. Litisconsórcio Necessário Ativo


Não existe litisconsórcio necessário ativo68 69. Isso porque, de acordo com a doutrina, não se
pode impedir o direito de qualquer pessoa postular em juízo em função da inércia de outra.
Essa é a posição do STJ.

66
Quando se fala em comunhão de direitos e obrigações, é necessário visualizar, no caso concreto, se
essa obrigação é divisível ou indivisível. Se o direito ou a obrigação for divisível, então tudo bem, o
litisconsórcio é facultativo. Mas se a obrigação for indivisível, cuidado, pois pode ser caso de
litisconsórcio necessário.
67
Algumas Corregedorias-Gerais dos TRFs tem estabelecido a limitação por dez autores , v.g., o
Provimento nº 19/95 da Corregedoria Geral da Justiça Federal do TRF3
68
No TRF1, entretanto, há entendimento diferente (não concordo com a decisão):
SFH. CONTRATO DE MÚTUO. CÔNJUGES CONTRATANTES. LITISCONSÓRCIO ATIVO. ANULAÇÃO DA SENTENÇA.
1. Se o mútuo foi assinado pelo casal, não pode apenas um dos cônjuges patrocinar a ação revisional deste contrato, pois a
hipótese é de litisconsórcio ativo unitário. Necessário se torna oportunizar ao cônjuge não autor figurar no polo ativo da
demanda. Precedentes.
2. Apelação da CEF parcialmente provida para anular a sentença, a fim de que seja oportunizada ao cônjuge varão, também
signatário do contrato de mútuo questionado na presente ação, compor o polo ativo da demanda.
3. Apelação da parte autora prejudicada.
(TRF1, AC 0003186-67.1999.4.01.3600/MT, Rel. Desembargadora Federal Selene Maria De Almeida, Conv. Juiz Federal Alexandre
Jorge Fontes Laranjeira (em Substituição), Quinta Turma,e-DJF1 p.93 de 09/07/2010)
69
Mas há quem pense de forma diferente, como Nelson Nery: segundo ele, que tem um pensamento
bastante difundido, há litisconsórcio necessário ativo. Há situações que uma pessoa só pode ir a juízo se
outra for, mas se um não quiser o outro pode ir sozinho, propondo ação contra aquele que ele proporia
e contra o potencial litisconsorte que não quis demandar. No final da explicação ele menciona que não
tem muita relevância saber se é no polo ativo ou passivo, o que importa é que tem que estar os dois em
juízo. Juiz do Trabalho no RJ cobrou posição de Nelson Nery.
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241

De acordo com Didier, sempre que o litisconsórcio for unitário, será também necessário.
Daniel Assumpção discorda disso, afirmando ser plenamente possível o litisconsórcio
facultativo e unitário. Ele cita exemplo das hipóteses em que a lei permite a legitimidade
extraordinária concorrente, como ocorre nas ações civis públicas. Tem razão.

Porém, importante ter em mente que se o litisconsórcio for ativo, unitário e facultativo, a
decisão afetará o direito material também daquelas pessoas que deixaram de atuar no
processo. Não consigo pensar, entretanto, em qualquer hipótese de legitimação ordinária que
permita o litisconsórcio unitário e facultativo (mentira: o MP pode pedir alimentos para o ‘de
menor’ e perder. O ‘de menor’ ficará sujeito à coisa julgada, ainda que seja ele o legitimado
ordinário). Será sempre necessário.

Porém, nem sempre que ele for necessário será unitário, já que a lei pode determinar o
litisconsórcio somente para harmonizar os julgados, sem igualdade de conteúdo para os
litisconsortes.

6.2.3.2. Litisconsórcio Facultativo Ativo Simples e Unitário


O litisconsórcio ativo será sempre facultativo (vide controvérsias no rodapé da página
anterior), já que não se pode obrigar alguém a postular/impedir que alguém exerça o direito
de ação em face da inércia de outrem. Essa é a posição de Didier.

Sobre o litisconsórcio ativo facultativo:

CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL -


FUNCIONÁRIO PÚBLICO - REAJUSTE DE VENCIMENTOS, EM JANEIRO DE
1993 (28,86%) - LEIS Nº 8.622/93 E 8.627/93 - JUROS DE MORA – TERMO
INICIAL - ART. 1.536, § 2º, DO CÓDIGO CIVIL - LITISCONSÓRCIO ATIVO
FACULTATIVO - RECURSO INTERPOSTO SÓ POR UM AUTOR - ART. 48 DO CPC
- INAPLICABILIDADE DO ART. 509 DO CPC.

I - Tratando-se de litisconsórcio ativo facultativo, os litisconsortes são


considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes
distintos, pelo que os atos e omissões de um não prejudicarão nem
beneficiarão os outros, tal como dispõe o art. 48 do CPC.

II - Interposto recurso especial apenas por um dos autores, o provimento do


apelo não aproveita aos demais, que não recorreram, de vez que a extensão
prevista no art. 509 do CPC aplica-se apenas à hipótese de litisconsórcio
unitário (RE nº 149.787-4-ES, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; REsp nº 84.079-
SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo).

[...]

(TRF1, AC 1998.01.00.087496-0/DF, Rel. Desembargadora Federal Assusete


Magalhães, Segunda Turma,DJ p.38 de 30/04/2001)

Existem outros posicionamentos:

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242

“A” e “B” mantém uma relação jurídica de direito material com “C”. Há um contrato que
vincula “A” e “B” de um lado e “C” de outro. Um dia, “A” decide rescindir o contrato. “C” não
concorda com a rescisão. Assim, “A” vai ser o autor da demanda, enquanto “C” será o réu. E
“B”? Não se sabe ainda. Só se sabe que ele não quer propor a demanda judicial. Ressalte-se
que “B” tem que estar no processo porque o litisconsórcio é necessário.

Diante dessa situação, há quatro possíveis soluções:

a) Dinamarco entende que se só “A” propuser a demanda, será considerado parte


ilegítima, isso porque ninguém pode ser obrigado a propor demanda. Portanto, sem
concordância de todos em propor a demanda, não há direito de ação. Essa ideia de
Dinamarco sacrifica o direito de ação de “A”. Lamentável o Dinarmarco defender isso...

b) Cássio Scarpinella Bueno (PUC/SP) entende que “B” entra no processo como um
sujeito atípico. Isso porque, por ora, quando a demanda começa, ele não é autor e
nem réu. Como sujeito atípico, ele será citado por meio de uma citação atípica (porque
só o réu é citado). Essa citação terá por função integrar o sujeito à relação jurídica de
direito processual. No entanto, quando da citação de “B”, ele pode optar por 3
caminhos distintos: a) assumir o polo ativo, será litisconsorte do autor; b) assumir o
polo passivo; c) ficar inerte, de modo a não suportar os ônus das verbas
sucumbenciais. Trata-se de uma invenção bobinha e inventiva, ao criar essa “citação
atípica”...

c) N.N.Jr. entende que o “A” será autor, “C” será réu e “B” também será réu, que será
citado, podendo continuar no polo passivo, assumindo a condição de réu, ou pode
passar para o polo ativo, assumindo a condição de autor. Isso já ocorre na Ação de
Improbidade Administrativa e Ação Popular.

d) Bedaque (magistratura-SP, examinador) entende que “A” será autor e “B” e “C” serão
réus, uma vez que o processo é baseado na lide, pois “A” quer um bem da vida e
encontrou resistência por parte de “C” e “B”. Assim, verifica-se que os dois estão
resistindo à pretensão do autor. Ressalte-se que o autor tem que certificar que a parte
está resistindo, para poder figurar no polo passivo (para mim, essa é a posição mais
correta. Entretanto, também tem coerência a posição do N. N. Jr., já que ao citar B e
deixar ele escolher o que fazer, estar-se-á dando caráter democrático ao processo e
ajudando a por termo na lide de uma forma mais pacificadora do ponto de vista
social, sem imposição unilateral do Estado).

6.2.3.3. Litisconsórcio Facultativo Unitário


Ainda que raro, o litisconsórcio facultativo poderá ser unitário, caso em que é reconhecida a
legitimação ordinária individual para a propositura da ação.

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL – AÇÃO


POPULAR – INGRESSO DE ASSISTENTES LITISCONSORCIAIS – POSSIBILIDADE.

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243

1. O art. 6º, § 5º, da Lei n. 4.717/65 estabelece que: "É facultado a qualquer
cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor da ação
popular".

2. É possível o ingresso dos assistentes litisconsorciais na ação popular a


qualquer tempo, desde que comprovado o requisito da cidadania, mediante
cópia dos títulos de eleitor exigida pelo art. 1º, § 3º, da mencionada lei, o
que, in casu, ocorreu.

3. Na hipótese dos autos, a assistência é qualificada ou litisconsorcial,


porquanto o assistente atua com poderes equivalentes ao do litisconsorte,
uma vez que a quaestio iuris em litígio também é do assistente, o que lhe
confere a legitimidade para para discutí-la individualmente ou em
litisconsórcio com o assistido.

4. A assistência litisconsorcial se assemelha "a uma espécie de litisconsórcio


facultativo ulterior, ou seja, o assistente litisconsorcial é todo aquele que,
desde o início do processo, poderia ter sido litisconsorte facultativo-unitário
da parte assistida" (CPC Comentado por Nélson Nery Júnior e Rosa Maria de
Andrade Nery, 9ª Edição, Editora RT, p. 235, comentários ao art. 54 do CPC).

5. O simples fato dos assistentes litisconsorciais ostentarem a condição de


cidadãos já pressupõe a existência de interesse jurídico na causa,
representado pela pretensão de ter um governo probo e eficaz.

Agravo regimental improvido.

(STJ, AgRg no REsp 916.010/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,


SEGUNDA TURMA, julgado em 19/08/2010, DJe 03/09/2010)

Por exemplo, o art. 1.314 do CC prevê a hipótese que existe um condomínio entre vários
sujeitos. Sujeito A, B e o C, só que o art. 1.314 autoriza que um dos condôminos, sozinho,
individualmente, possa reivindicar a coisa comum de terceiro.

Então, pelo art. 1.314 do CC, um dos condôminos titular da relação jurídica de direito material
pode, sozinho, ajuizar uma ação reivindicatória em face de um terceiro.

Caiu essa questão na prova do MP do RJ: o A não está com boas relações com B e C. B e C
viajaram, eles não estão se falando, A não está nem aí para B e C. O A resolve, sozinho, ajuizar
a ação reivindicatória, pleiteando para quem o imóvel? Para ele ou para todos do condomínio?
Quando ele ajuíza a ação reivindicatória, ele ajuíza para ele ou para todos? Para todos, ele
quer que o imóvel volte ao condomínio e não para ele, mas a lei autoriza que ele possa ajuizar
essa demanda, sozinho e individualmente, então, assim ele faz.

B toma conhecimento de que ele ajuizou essa demanda, até que momento eles podem
adentrar no processo? Na condição de parte, será até a citação, com o litisconsórcio
facultativo unitário porque a relação jurídica de direito material que o A está defendendo é a
mesma relação jurídica de direito material que B e C possuem, em outras palavras, eles são

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cotitulares da mesma relação jurídica de direito material. A relação jurídica de direito material,
discutida nesse processo, é não somente de A, mas de A, B ou C.

Então, até a citação, eles podem ingressar como litisconsortes, digamos que eles não
ingressaram, eles podem ingressar posteriormente à citação? Podem ingressar como
assistente litisconsorcial porque eles são titulares da mesma relação jurídica de direito
material que o autor da demanda. Eles poderiam ter sido litisconsortes até a demanda, depois
da demanda, eles podem ser assistentes litisconsorciais em qualquer momento e em qualquer
grau de jurisdição, eles podem ingressar como assistentes até no STF, não tem problema
algum.

Mas, se eles poderiam ter sido litisconsortes até a citação e depois da citação eles só podem
A
ser assistentes litisconsorciais, eu pergunto: qual é a diferença entre uma coisa e outra?

DIFERENÇA É QUE O LITISCONSORTE PODE FAZER PEDIDO, O


ASSISTENTE NUNCA PODE FAZER PEDIDO. Logo, o litisconsorte
pode tornar objetivamente mais complexa a relação processual, o
assistente litisconsorcial não.
Então, quando o litisconsorte é aceito no processo, ele pode formular pedido de indenização,
ele pode formular pedido de perdas e danos, ele pode fazer pedido de aumento, ele pode
fazer o pedido que ele quiser no processo. O assistente litisconsorcial não faz pedido, ele
ingressa no processo para auxiliar uma das partes, ele apenas vai auxiliar o que já foi objeto de
pedido anteriormente. Assistente nunca faz pedido.

Digamos que você não ingressou nem como litisconsorte e nem como assistente litisconsorcial,
a sentença foi proferida e transitou em julgado. Aí vem a pergunta: com o trânsito em julgado,
a coisa julgada formal e material, formada nesse caso, atinge A, B e C ou não? Posição
amplamente majoritária é de que atinge A, B e C, é a posição do Barbosa Moreira, José Rogério
Cruz e Tutti, Fredie Didier, Daniel Assumpção.

Por que ela atinge? Porque, se o litisconsórcio é facultativo e unitário e a relação jurídica de
direito material foi julgada, pouco importa se B e C participaram ou não, a coisa julgada vai
atingi-los.

É uma exceção ao art. 472 do CPC. Ele afirma que a coisa julgada não beneficia e nem
prejudica terceiros, mas, aqui, é uma exceção, porque o sistema tem que evitar que essa
relação jurídica volte a ser discutida em outro processo. Ela é una, indivisível, pode ser
decidida uma única vez. A decisão tem que atingir a todos a ela vinculados.

Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de
pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário,
todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a
terceiros.

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LEMBRAR QUE A SITUAÇÃO PROPOSTA SOMENTE OCORRE EM FUNÇÃO DE EXPRESSA


PREVISÃO LEGAL QUE AUTORIZA A PARTE A AJUIZAR A AÇÃO ISOLADAMENTE, estendendo o
efeito da coisa julgada a todos os demais titulares da relação jurídica de direito material.

É óbvio que, na doutrina, há quem defenda que deveria ser aplicado o art. 472, é
entendimento clássico, por exemplo, da Ada Pellegrini Grinover, ela entende que se o B e o C
não participaram do processo a coisa julgada não pode atingi-los. É pura e simples a aplicação
do art. 472. Então, para ela, eles podem ajuizar a mesma demanda, mesmo pedido e mesma
causa de pedir. Mas, para a maioria da doutrina, nesse caso teria, sim, coisa julgada.

Então o litisconsórcio é facultativo porque a lei autoriza que um dos litisconsortes possa ajuizar
a demanda sozinho, mas ele é unitário, porque, uma vez decidida a relação jurídica de direito
material, essa decisão atinge a todos aqueles que estiverem a ela vinculados.

Cuidado: não é a única hipótese de litisconsórcio facultativo unitário. Outra hipótese é a ação
de deserdação, prevista no art. 1.719 do CC. Um dos herdeiros pratica um ato qualquer que
caracteriza uma hipótese de deserdação. Quem possui legitimidade para ajuizar essa ação de
deserdação? Qualquer um dos outros beneficiários da herança.

Pode-se tirar algumas conclusões:

a) Todo litisconsórcio necessário em virtude da incindibilidade do objeto do processo


será também unitário;

b) Todo litisconsórcio facultativo em que exista legitimação ordinária ou extraordinária70


concorrente (vários legitimados) e disjuntiva (não é necessário que os vários
legitimados estejam presentes) será unitário;

c) Em regra, o litisconsórcio necessário em virtude de expressa previsão em lei será


simples (v.g., usucapião).

6.2.3.4. Litisconsórcio Necessário Unitário


Se o litisconsórcio é necessário unitário, significa que ele é obrigatório em sua formação e,
além disso, existe uma relação jurídica indivisível. Ele só pode ser um litisconsórcio necessário
com base na relação jurídica de direito material indivisível. Por isso que é necessário e unitário.
Exemplo seria o do MP propondo uma anulação de casamento em face do marido e da mulher.
Ora, se a relação jurídica que une marido e mulher é una, das duas uma: se o pedido for
julgado procedente, o casamento está anulado; se o pedido for julgado improcedente, marido
e mulher permanecem casados. A relação jurídica de direito material é una, só é possível uma
decisão, ou eles permanecem casados ou eles não estão mais casados e o casamento foi
anulado. Esse é o exemplo de livro.

Outros exemplos:

Primeira hipótese: investigação de paternidade. Eu, ajuizando uma investigação de


paternidade em face dos herdeiros do meu suposto pai, Pedro, Maria, José.

70
Pluralidade de titulares do direito, sendo que a lei permite que somente um deles litigue em juízo.
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246

Ou eu sou filho do Eduardzão, irmão de Pedro, Maria e José ou eu não sou filho de Eduardzão
e não sou irmão de Pedro, Maria e José. A relação jurídica de direito material é una.

Segunda hipótese muito comum de cair em prova da Defensoria Pública: exoneração de fiança.

Fiador quer se exonerar de fiança prestada, ele vai colocar no polo passivo, litisconsórcio
unitário, o afiançado e o beneficiário da fiança.

Vejam, eu sou o fiador, não quero mais que essa fiança exista, quero me exonerar da fiança. Eu
tenho que colocar no polo passivo quem eu afiancei e aquela pessoa que está garantida pela
fiança, porque, se eu obtiver a exoneração da fiança, nenhum deles tem mais fiança nenhuma
para falar comigo, nem o afiançado pode falar mais nada e nem quem se beneficiou da fiança
poderá falar alguma coisa. A relação jurídica de direito material é una. Ou eu estou exonerado
da fiança, ou eu permaneço fiador. Eu não posso continuar fiador para o afiançado e não
continuar para o beneficiário. Ou eu sou fiador, ou não.

Outra hipótese: dissolução de sociedade. O sócio A ajuíza uma demanda de dissolução de


sociedade em face dos sócios B, C e D. Digamos que tem uma sociedade entre esses quatro
sócios. O A descobre que o sócio D é um sem-vergonha, está roubando a sociedade. A quer
acabar com a sociedade por causa disso, comentou com B e com C, e esses não acham que
seja tão grave assim, acham que dá para recuperar, o cara é gente boa.

Só que, no momento que ele pede a dissolução da sociedade, isso significa que ou a sociedade
será dissolvida para todos os sócios, ou, se for julgado improcedente, ela permanece intacta,
logo, todos os sócios devem constar do polo passivo.

Outra hipótese é anulação de registro. Na anulação de registro, você tem que ajuizar a
demanda contra todos aqueles que constam no registro como sendo os proprietários.

Perceba que, no litisconsórcio necessário unitário, as hipóteses são sempre no polo passivo.
Todos os exemplos, todas as hipóteses, noventa e nove por cento das situações de necessário
unitário estão no polo passivo da demanda. Cuidado com respostas enfáticas.

6.2.3.5. Litisconsórcio Necessário Simples


Quando é que o litisconsórcio é obrigatório, no entanto, a decisão que vier a ser proferida
pode ser diferente em relação aos diversos litisconsortes? Em que hipótese o litisconsorte é
obrigatório, mas a decisão pode ser diferente? É aquela hipótese em que a relação jurídica de
direito material não é indivisível, porque, se ela fosse indivisível, o litisconsórcio teria que
ser unitário.

Então, se o litisconsórcio é obrigatório, mas não é por força da indivisibilidade da relação


jurídica de direito material, SÓ PODE SER PORQUE O LITISCONSÓRCIO É DETERMINADO
POR EXPRESSA DISPOSIÇÃO LEGAL. É aquela primeira hipótese de litisconsórcio necessário,
para a garantia do contraditório.

Então, por exemplo, na oposição você tem o A ajuizando uma demanda em face de B exigindo
a entrega de um carro. Só que um terceiro, considerando-se o titular do carro, ingressa nessa
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relação processual, através da oposição, exigindo para ele a entrega do carro. Então, na
verdade, ele cria uma segunda demanda, a demanda dele, em face do autor e do réu da
demanda originária, é o que dispõe o art. 56 do CPC.

Art. 56. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre


que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença,
oferecer oposição contra ambos.

Então, a oposição é oferecida contra ambos, o autor e o réu da demanda originária. Só que
pode acontecer que as provas e argumentos do autor da oposição desse terceiro sejam ótimos
em relação ao A, mas não consigam afastar o direito do B.

Então, em relação ao A é procedente, mas em relação ao B é improcedente. É o B quem tem


direito garantido pela lei, a decisão pode ser diferente em relação aos litisconsortes, é um
litisconsórcio necessário por imposição legal, mas a decisão pode ser diferente, então, um
litisconsórcio simples.

6.2.3.6. Litisconsórcio Facultativo Simples


No facultativo simples, o litisconsórcio não é obrigatório, então, os interessados se reúnem
porque eles querem, a lei possibilita uma faculdade para que os litisconsorciados se
litisconsorciem para demandar, em juízo, em conjunto.

Tem que estar relacionada a alguma das hipóteses do art. 46 do CPC, litisconsórcio facultativo
por comunhão de direitos e obrigações, objeto divisível, litisconsórcio facultativo por conexão
ou litisconsórcio facultativo por afinidade de questões. Tem que ser uma das hipóteses do art.
46.

Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em


conjunto, ativa ou passivamente, quando:

I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à


lide;

II - os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato ou


de direito;

III - entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir;

IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de


direito.

Parágrafo único. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao


número de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio
ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para
resposta, que recomeça da intimação da decisão.(Incluído pela Lei nº 8.952,
de 13.12.1994)

Só que, além dele ser facultativo, a decisão pode ser diferente para os inúmeros litisconsortes.
Nós estamos, aqui, diante do caso dos servidores que querem cobrar uma gratificação, cada
um deles poderia ajuizar a sua própria demanda cobrando o pagamento da gratificação. Só
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que a lei possibilita, com base na conexão, que eles se reúnam e, em conjunto, apresentem a
sua demanda cobrando o pagamento da gratificação. Só que a decisão pode ser diferente em
relação a todos eles, afinal, cada um defende a sua própria relação jurídica de direito material,
é o caso dos servidores públicos exigindo a sua gratificação. Cada um dos litisconsortes
defende a sua própria relação jurídica de direito material.

6.2.4. Litisconsórcio Eventual, Alternativo e Sucessivo


a) Litisconsórcio eventual: ocorre quando se coloca em juízo duas demandas dirigidas a
pessoas diferentes. Uma somente será provida se a outra não o for. A procedência de
um pedido contra um dos litisconsortes implicará a improcedência do pedido em
relação ao outro. É caso de litisconsórcio sem consórcio, pois os litisconsortes serão
adversários. Tem-se o cúmulo eventual, quando uma ação é proposta para o evento de
que outra seja rejeitada. O autor formula duas demandas, tendo preferência pela
primeira, mas pedindo ao juiz que conheça e acolha a segunda (que por isso mesmo se
considera subsidiária) no caso de não poder a primeira ser atendida. É o caso da ação
de alimentos proposta contra parente de primeiro e segundo grau. Este somente
poderá ser condenado a pagar se aquele não puder suportar todo o valor devido.

b) Litisconsórcio alternativo: caso em que o autor formula pedidos contra os


litisconsortes para que um deles seja provido. Diferencia-se do eventual pois neste o
autor possui uma preferência, o outro pedido feito é subsidiário. No litisconsórcio
alternativo tanto faz de quem será obtida a prestação. É o que ocorre, por exemplo,
quando o autor propõe ação contra dois réus com responsabilidade solidária. Exemplo
fático pode ser dado quando a Fazenda Nacional executa devedores constantes da
CDA. Tanto faz quem irá pagar, importa é o recebimento do crédito constante no
título.

c) Litisconsórcio sucessivo: ocorre quando os pedidos realizados somente puderem ser


concedidos quando o for o primeiro da ordem, em face de um litisconsorte. Por
exemplo, contratei com A de comprar com ele um apartamento, e com B de reformá-
lo. A não me entrega o apartamento e B já anuncia que não pretende dar
cumprimento ao contrato. Ajuízo a ação em face dos dois, para que A, em primeiro
lugar, me entregue o imóvel, e B, sucessivamente, faça a reforma. Impossível será que
o pedido em face de B seja analisaso se o em relação a A for julgado improcedente.
Julgado improcedente o primeiro pedido, o segundo fica automaticamente excluído.

Esses dois últimos não estão expressamente previstos no direito positivo; entretanto, são
aceitos pela doutrina e jurisprudência.

6.2.5. Litisconsórcio Facultativo Impróprio, Recusável e Multitudinário


a) Litisconsórcio facultativo impróprio: é o previsto no art. 46, IV, que ocorre por
afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito. Ele jamais será
unitário, sendo sempre facultativo e ativo.

b) Litisconsórcio recusável: o CPC de 39 previa que o réu poderia recusar o litisconsórcio


facultativo impróprio, desmotivadamente. Tal possibilidade foi retirada do
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249

ordenamento jurídico, somente podendo efetuar a recusa incidentemente, de forma


motivada, a qual será decidida pelo juiz em decisão interlocutória.

c) Litisconsórcio multitudinário: nos casos em que a quantidade de litisconsortes for


suficiente para atrapalhar o andamento processual, o juiz poderá desmembrá-
lo, DE OFÍCIO OU A PEDIDO. Esse desmembramento, entretanto, não será
permitido no litisconsórcio necessário. De acordo com o art. 46, p. único, se a parte
fizer um pedido de limitação do litisconsórcio facultativo, esse pedido interromperá o
prazo de resposta, que recomeçará da intimação da decisão. Todavia, esse pedido de
limitação deverá ser feito antes de decorrido o prazo para a defesa, sob pena de
preclusão.

PROCESSUAL CIVIL. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO MULTITUDINÁRIO.


RECUSA DO RÉU. MOMENTO. REQUERIMENTO FORMULADO A DESTEMPO.
PRECLUSÃO. PRECEDENTE.

1. A teor do que dispõe o parágrafo único do art. 46 do Código de Processo


Civil, pode a parte recusar a litisconsórcio multitudinário, interrompendo-se
o prazo para o oferecimento da resposta. Todavia, esse pedido de limitação
deverá ser feito antes de decorrido o prazo para a sua defesa, sob pena de
preclusão.

2. Recurso especial desprovido.

(STJ, REsp 402447/ES, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 04/04/2006, DJ 08/05/2006, p. 267)

Consequência da limitação do litisconsórcio facultativo: o juiz deverá determinar o


desmembramento da relação jurídica processual, criando-se novos processos com os
sujeitos excedentes (posição de Didier e Dinamarco). Ovídio Batista entende que o juiz
deve excluir os litisconsortes excedentes. Caberá ao patrono do autor escolher os
autores que ficarão na demanda originária e aqueles que criarão novas demandas,
que SERÃO DISTRIBUÍDAS POR DEPENDÊNCIA PARA O MESMO JUÍZO , em
respeito ao juiz natural.

O STJ entende que o litisconsórcio multitudinário pode ser conhecido de ofício pelo
juiz, não obstante essa matéria ser passível de preclusão. Se há preclusão, percebe-se
que não é matéria de ordem pública. O JUIZ PODERÁ CONHECER DO
LITISCONSÓRCIO MULTITUDINÁRIO ATÉ A CITAÇÃO. Após a citação, o réu, no
prazo de resposta poderá alegar essa espécie de litisconsórcio.

6.3. Consequência da Não Formação do Litisconsórcio Necessário


De acordo com o art. 47 do CPC, será ineficaz a sentença proferida no processo no qual se
verificar a ausência de litisconsórcio necessário. Porém, na verdade, o vício variará de acordo
com o motivo pelo qual o litisconsórcio é necessário.

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Se a previsão de formação do litisconsórcio necessário for legal, a sentença proferida será


absolutamente nula. Se a sentença não for anulada por ação rescisória ou antes de seu
trânsito em julgado, somente gerará efeitos para os que participaram do processo, não
vinculando os terceiros.

Se o litisconsórcio for necessário em virtude da incindibilidade da relação jurídica de direito


material, a sentença será ineficaz, não tendo condição de gerar qualquer efeito, seja para
quem participou do processo ou não. Nesse caso, o vício não se convalidará mesmo com o
trânsito em julgado e mesmo com o decurso do prazo da ação rescisória, podendo ser
apontado a qualquer tempo por meio de uma ação declaratória.

Logo,SENDO CASO DE LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO SIMPLES, A


SENTENÇA GERA EFEITOS SOMENTE PARA OS QUE
PARTICIPARAM DO PROCESSO. SENDO CASO DE
LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO UNITÁRIO, NÃO GERA EFEITO
PARA NINGUÉM.
6.4. Regime de Tratamento dos Litisconsortes
A regra do litisconsórcio é que os litigantes sejam considerados, em suas relações com a parte
contrária, como litigantes distintos (art. 48), salvo disposição em contrário.

Se o litisconsórcio for unitário, o tratamento dos litisconsortes deverá ser uniforme. Se


simples, seus atos serão considerados isoladamente, não beneficiando e nem prejudicando ao
outro.

Necessário é que se entenda os seguintes conceitos, desenvolvidos no Brasil por Barbosa


Moreira:

a) Conduta determinante: é a conduta da parte que a leva a uma situação desfavorável,


como v.g., a revelia, a desistência, a renúncia etc.

b) Conduta alternativa: é aquela pela qual a parte visa a uma melhora de sua situação
processual, ainda que não a obtenha efetivamente. É aquela praticada com o objetivo
de alcançar um resultado favorável aos litisconsortes. Então, se a parte requer a
juntada de um documento, se a parte requer a oitiva do perito, se a parte quer
recorrer, todas essas condutas voltadas para o resultado favorável, resultado positivo,
são chamadas de condutas alternativas. Diante dessas condutas, o ato praticado por
um dos litisconsortes produz efeitos para todos, independentemente de qualquer
manifestação de vontade.

Assim, vejamos as regras.

6.4.1. Regras
A conduta determinante de um litisconsorte não pode prejudicar o outro. O ato praticado por
um dos litisconsortes, somente, produz efeitos se todos concordarem. Isso significa que, se um
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dos litisconsortes não concordar com a manifestação de vontade, o ato não produz nenhum
efeito.

Exemplo: digamos que você tem um litisconsórcio passivo necessário unitário, dez
litisconsortes, o primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo, oitavo, nono, nove
dos litisconsortes passivos unitários reconhecem a procedência do pedido do autor, mas um
deles não concorda com o reconhecimento da procedência do pedido, produz efeitos? Não,
para ninguém. Na conduta determinante, o ato só produz efeitos se todos os litisconsortes
concordam, se um deles não concordar, o ato não produz qualquer efeito.

Mas lembre-se, é sempre na conduta determinante prejudicial, porque, se for uma conduta
benéfica, produz efeitos automaticamente, independentemente de qualquer indagação.

No litisconsórcio simples, a conduta alternativa de um litisconsorte não aproveita aos


demais. Porém, nesse caso, a prova produzida por um dos litisconsortes aproveitará aos
demais, CASO O FATO QUE SE QUEIRA PROVAR SEJA COMUM, em função do princípio da
comunhão das provas.

CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL -


FUNCIONÁRIO PÚBLICO - REAJUSTE DE VENCIMENTOS, EM JANEIRO DE
1993 (28,86%) - LEIS Nº 8.622/93 E 8.627/93 - JUROS DE MORA – TERMO
INICIAL - ART. 1.536, § 2º, DO CÓDIGO CIVIL - LITISCONSÓRCIO ATIVO
FACULTATIVO - RECURSO INTERPOSTO SÓ POR UM AUTOR - ART. 48 DO CPC
INAPLICABILIDADE DO ART. 509 DO CPC.

I - Tratando-se de litisconsórcio ativo facultativo, os litisconsortes são


considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes
distintos, pelo que os atos e omissões de um não prejudicarão nem
beneficiarão os outros, tal como dispõe o art. 48 do CPC.

II - Interposto recurso especial apenas por um dos autores, o provimento


do apelo não aproveita aos demais, que não recorreram, de vez que a
extensão prevista no art. 509 do CPC aplica-se apenas à hipótese de
litisconsórcio unitário (RE nº 149.787-4-ES, Rel. Min. Sepúlveda Pertence;
REsp nº 84.079-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo).

[...]

(TRF1, AC 1998.01.00.087496-0/DF, Rel. Desembargadora Federal Assusete


Magalhães, Segunda Turma,DJ p.38 de 30/04/2001)

No litisconsórcio unitário, a contestação/interposição de recursos por um aproveita a todos os


litisconsortes.

Art. 509. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita,


salvo se distintos ou opostos os seus interesses.

Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por


um devedor aproveitará aos outros, quando as defesas opostas ao credor
Ihes forem comuns.
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Na verdade, todas as condutas alternativas estendem os efeitos aos demais no litisconsórcio


unitário. Entretanto, não pode o litisconsorte confessar ou desistir; tal ato será nulo sem a
ratificação dos demais. Isso de acordo com Didier.

Daniel Assumpção esclarece que essa interpretação do art. 350 do CPC é errada. Isso porque a
confissão é um meio de prova. Se um dos litisconsortes confessa um fato que diga respeito a
todos, convencendo-se o juiz da veracidade do que foi dito, todos os sujeitos sofrerão os
efeitos disso, não sendo lógico que o juiz, num mesmo processo, considere um fato existente
para uma das partes e o mesmo fato inexistente para as outras.

Esse entendimento se aplicará pouco importando qual a espécie de litisconsórcio; sendo


unitário ou simples, o fato será sempre um só, de forma que, sendo a confissão eficaz,
vinculará a todos, sendo ineficaz, não vinculará a ninguém.

CONDUTA DETERMINANTE CONDUTA ALTERNATIVA


LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO Não gera efeitos em relação aos Beneficia aos demais,
demais, salvo se ratificada por independentemente de
todos. manifestação.
LITISCONSÓRCIO SIMPLES Somente prejudica quem Não favorece aos demais
manifestar a vontade. litisconsortes, salvo se tratar-se
de juntada de provas.

6.5. Intervenção Iussu Iudicis (art. 47, p. único)


Nada mais é do que o ingresso de terceiros no processo pendente por ordem do juiz. O CPC
prevê que somente pode ocorrer em relação ao litisconsorte necessário não citado no polo
passivo.

O juiz determinará ao autor a citação de todos os litisconsortes necessários no prazo que


assinar, sob pena de extinção do processo.

Então, se o autor não incluir, o processo será extinto sem resolução do mérito, mas com base
em quê?

Duas posições:

1. Para Luiz Fux, a hipótese é de falta de requisito processual de validade, art.267, IV do CPC.
Adotar a posição do Fux, já que é Ministro do STF agora.

2. Para Alexandre Câmara, é extinto sem resolução do mérito por falta de legitimidade passiva
ad causam, art.267, VI do CPC.

Didier defende interpretação extensiva para que também se adote tal postura para o
litisconsorte unitário facultativo não citado, já que este também será atingido pela coisa
julgada.

Porém, NÃO DEVE O JUIZ DETERMINAR DIRETAMENTE A CITAÇÃO DO LITISCONSORTE


FALTANTE, JÁ QUE É O AUTOR QUEM ARCARÁ COM AS CUSTAS PROCESSUAIS DE FAZÊ-LO E,
TAMBÉM, COM O ÔNUS DE NÃO FAZÊ-LO.
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6.6. Observações de Provas


1. TRF1 – XII – QUESTÃO 77. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com
a parte adversa, como litigantes distintos; os atos e omissões de um não prejudicarão
nem beneficiarão os outros.

2. TRF1 – XII – QUESTÃO 77. Mesmo considerando que os atos e omissões de um


litisconsorte não prejudicarão nem beneficiarão os outros, pode-se afirmar que o
recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou
opostos seus interesses.71

3. TRF5 – IX – CESPE – QUESTÃO 100. Caracterizada a afinidade das questões propostas


em juízo, impõe-se o deferimento da formação do litisconsórcio ativo facultativo72,
mas a parte contrária pode recusar o litisconsórcio multitudinário, demonstrando
fundamentadamente a dificuldade do exercício de defesa73. Esse pedido de limitação
deve ser feito antes de decorrido o prazo para a defesa, sob pena de preclusão.

4. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 83 – O parágrafo único do art. 46 do CPC (limitação de


litisconsortes) pode ser aplicado quando contribuir para a rápida solução do litígio ou
para evitar comprometimento da defesa.

5. EMAGIS – 2012/24 – QUESTÃO 11. Pacificou-se no STJ a orientação pela


desnecessidade de citação dos candidatos aprovados e dos demais inscritos no
concurso público, a título de litisconsórcio necessário, em demanda cuja pretensão se
limita a discutir ato de exclusão de certo candidato do certame, por gozarem tais
candidatos de mera expectativa de direito74.

6. EMAGIS – 2012/24 – QUESTÃO 11. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo


quanto ao número de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio
ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para resposta, que
recomeça da intimação da decisão

71
Essa assertiva está correta em função da oração final, “salvo se distintos ou opostos seus interesses”:
a ressalva se refere ao litisconsórcio simples.
72
Isso está errado, em parte, pois o juiz pode recusar de ofício o litisconsórcio multitudinário, quando
ativo e facultativo, até a citação do réu.
73
Não se trata de litisconsórcio recusável, já que esse ocorria, quando era permitido pela legislação,
independentemente de fundamentação.
74
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONCURSO PÚBLICO. PETROBRÁS. EXCLUSÃO DE CANDIDATO
DO CERTAME. MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. ATO DE AUTORIDADE. FORMAÇÃO DE
LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. DESNECESSIDADE. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DESTA
CORTE SUPERIOR NESSES SENTIDOS. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ CARACTERIZADA.
[...]
2. Também pacificou-se no Superior Tribunal de Justiça a orientação pela desnecessidade de citação dos
candidatos aprovados e dos demais inscritos no concurso público, a título de litisconsórcio necessário,
em demanda cuja pretensão se limita a discutir ato de exclusão de certo candidato do certame, por
gozarem tais candidatos de mera expectativa de direito. Precedentes.
[...]
(REsp 1298074/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
12/04/2012, DJe 17/04/2012)
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7. EMAGIS – 2012/24 – QUESTÃO 11. Segundo entendimento firmado pelo STJ, a


propositura de ação rescisória sem a presença, no polo passivo, de litisconsorte
necessário somente comporta correção até o prazo decadencial de dois anos
disciplinado pelo art. 495 do CPC ("Art. 495. O direito de propor ação rescisória se
extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão"). Após essa
data, a falta de citação do litisconsorte implica a decadência do direito de pleitear a
rescisão, conduzindo à extinção do processo sem resolução do mérito75.

8. Na ação pauliana há formação de litisconsórcio passivo necessário entre alienante e


adquirente, sendo NULO o processo que assim não observar.

9. Nas ações versando sobre posse de imóvel, quando não litiguem entre si, quer no polo
ativo ou passivo da relação processual, o litisconsórcio dos cônjuges somente é
indispensável nos casos de composse ou por ato de ambos.

10. Na sucessão da parte, a título singular ou universal, há litisconsórcio superveniente.

11. O juiz só pode limitar o número de litigantes no litisconsórcio facultativo.

12. O litisconsórcio passivo formado na ação de usucapião é necessário simples.

13. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter
reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da
demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito.

14. Se o autor não promover a citação do litisconsorte necessário determinada pelo juiz
(iussu iudicis), em ações de direitos disponíveis, extingue-se o processo (art. 47, p.
único).

15. O litisconsórcio será necessário e unitário sempre que for obrigatória a participação de
todos os integrantes da relação material incindível.

16. O litisconsórcio multitudinário poderá ser limitado pelo juiz.

75
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. AÇÃO RESCISÓRIA.
PROPOSITURA APENAS EM FACE DE PARTE DOS INTEGRANTES DA RELAÇÃO ORIGINÁRIA.
LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. CORREÇÃO. DECADÊNCIA.
1. Nas ações rescisórias integrais devem participar, em litisconsórcio unitário, todos os que foram partes
no processo cuja sentença é objeto de rescisão.
2. A propositura de ação rescisória sem a presença, no polo passivo, de litisconsorte necessário somente
comporta correção até o prazo de dois anos disciplinado pelo art. 495 do CPC. Após essa data, a falta de
citação do litisconsorte implica a decadência do direito de pleitear a rescisão, conduzindo à extinção do
processo sem resolução do mérito.
3. Embargos de divergência conhecidos e providos.
(EREsp 676159/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/12/2010, DJe
30/03/2011)
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7. Alienação da Coisa ou Objeto Litigioso (art. 42, CPC)


É permitido que, na pendência do processo, uma das partes aliene, a título particular, a coisa
ou direito litigioso a terceiro. A litispendência é pressuposto para a ocorrência de uma
alienação da coisa ou do direito litigioso.

Para o demandante, a litispendência se inicia com a propositura da ação. Para o demandado,


com a citação.

Neste instituto, tem-se, em nível processual, a relação autor versus réu/cedente, e, em nível
extraprocessual, cedente e cessionário. Se o objeto litigioso for julgado em favor do autor, o
processo produzirá efeitos em relação ao cessionário, que não era parte, PRODUZINDO
CONTRA ELE COISA JULGADA.

A regra é que o cessionário/adquirente não precisa saber da litigiosidade da coisa para que
fique submetido aos efeitos da coisa julgada.

Porém, em relação a imóvel litigioso o terceiro de boa fé ficará protegido após o registro,
caso a ação real imobiliária não tenha sido averbada na matrícula do imóvel. Porém, cabe a
esse terceiro provar que promoveu diligências acerca do imóvel, como a procura de processos
nos cartórios distribuidores etc., já que o processo é público e há uma presunção relativa de
conhecimento sobre ele. Sobre esse tema:

PROCESSO CIVIL. ALIENAÇÃO DE BEM IMÓVEL LITIGIOSO. TERCEIRO


ADQUIRENTE. EXTENSÃO DOS EFEITOS DA SENTENÇA. LIMITES.

1. A regra do art. 42, § 3º, do CPC, que estende ao terceiro adquirente os


efeitos da coisa julgada, somente deve ser mitigada quando for evidenciado
que a conduta daquele tendeu à efetiva apuração da eventual litigiosidade
da coisa adquirida. Há uma presunção relativa de ciência do terceiro
adquirente acerca da litispendência, cumprindo a ele demonstrar que
adotou todos os cuidados que dele se esperavam para a concretização do
negócio, notadamente a verificação de que, sobre a coisa, não pendiam
ônus judiciais ou extrajudiciais capazes de invalidar a alienação.

2. Na alienação de imóveis litigiosos, ainda que não haja averbação dessa


circunstância na matrícula, subsiste a presunção relativa de ciência do
terceiro adquirente acerca da litispendência, pois é impossível ignorar a
publicidade do processo, gerada pelo seu registro e pela distribuição da
petição inicial, nos termos dos arts. 251 e 263 do CPC. Diante dessa
publicidade, o adquirente de qualquer imóvel deve acautelar-se, obtendo
certidões dos cartórios distribuidores judiciais que lhe permitam verificar a
existência de processos envolvendo o comprador, dos quais possam
decorrer ônus (ainda que potenciais) sobre o imóvel negociado.

3. Cabe ao adquirente provar que desconhece a existência de ação


envolvendo o imóvel, não apenas porque o art. 1.º, da Lei n.º 7.433/85,
exige a apresentação das certidões dos feitos ajuizados em nome do
vendedor para lavratura da escritura pública de alienação, mas, sobretudo,

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porque só se pode considerar, objetivamente, de boa-fé o comprador que


toma mínimas cautelas para a segurança jurídica da sua aquisição.

4. Recurso ordinário em mandado de segurança a que se nega provimento.

(STJ, RMS 27.358/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 05/10/2010, DJe 25/10/2010)

Com a alienação, a parte alienante/cedente permanecerá no processo discutindo interesse


alheio. Logo, é hipótese de legitimação extraordinária/substituição processual superveniente.

Porém, SERÁ POSSÍVEL, TAMBÉM, QUE A ALIENAÇÃO DA COISA OU SUCESSÃO NO


DIREITO LITIGIOSO IMPLIQUE UMA SUCESSÃO PROCESSUAL. Nesse caso, será
necessário que o adquirente requeira ao juiz, em qualquer tempo, seu ingresso no processo,
recebendo-o no estado em que se encontra. Porém, SERÁ IMPRESCINDÍVEL A ANUÊNCIA DA
PARTE CONTRÁRIA PARA QUE ISSO OCORRA.

Caso ela não o permita, o adquirente poderá intervir no processo como assistente
litisconsorcial do cedente, já que seu interesse jurídico é direto.

8. Teoria dos Fatos Jurídicos Processuais – Plano da Existência


8.1. Ato e Procedimento
O processo é um conjunto de atos teleologicamente organizados para a prática de um ato
final. É também um procedimento, ato-complexo, sendo ele, do ponto de vista interno, uma
unidade composta de várias unidades.

8.2. Classificação dos Atos Processuais


a) Fatos jurídicos em sentido estrito: são os fatos não-humanos que influenciam
juridicamente no processo, como a morte, a força maior, calamidade pública etc. Uma
menor parte da doutrina não admite sua existência.

b) Atos jurídicos em sentido estrito: são os atos jurídicos processuais cujos efeitos são
determinados em lei, apesar de serem realizados pela iniciativa humana.

c) Atos-fatos processuais: são os atos em que é irrelevante se discutir sobre a existência


da vontade humana e sobre seu conteúdo, como a revelia, a preclusão etc. O ato
decorreu de um comportamento humano, mas foi absolutamente independente de
sua vontade para ser observado.

d) Negócios jurídicos processuais: são os contratos ou acordos e convenções celebrados


pela parte no curso do processo e sobre ele, como os acordos para dilação de prazo,
adiamento acordado em audiência etc. Podem os negócios serem unilaterais, como a
desistência e a renúncia. Alguns negócios precisam ser homologados pelo magistrado,
como aqueles realizados no curso do processo que envolvam menor de idade.
Entretanto, a maior ou menor regulação legal não descaracteriza o ato como negócio.
O relevante para se caracterizar um negócio não é apenas o direcionamento da
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vontade para a prática de um ato, mas também o desejo de se produzir determinado


efeito jurídico escolhido.

8.2.1. Ônus Processual, Dever Processual, Encargo Processual e Faculdade Processual


Ônus deriva do latim onus, significando carga, peso. Quando se diz que a parte tem um ônus,
trata-se de uma faculdade não sujeita à coerção, mas que gera efeitos em seu prejuízo, no
caso de inércia. Já o dever geralmente é ligado ao direito material e requer algum
adimplemento, podendo a omissão caracterizar ilícito ou resultar em coerção. Assim, por
exemplo, há o ônus de provar, mas, por outro lado, o dever de se proceder com lealdade e
boa-fé.

Em outras palavras, o dever está sempre acompanhado de coerção na medida em que seu
descumprimento afeta o sistema como um todo. Não há, portanto, qualquer liberalidade. A
conduta é exigida em benefício de todos. Daí porque o seu descumprimento gera uma sanção.

Por outro lado, apesar do ônus também exigir determinada conduta, tal exigência é feita
apenas em benefício de seu detentor. O não cumprimento de um ônus gera consequências
processuais, mas não uma sanção específica. Por exemplo, se o autor não quiser, ele não
precisa provar o que alega, mas sofrerá evidentemente os efeitos da ausência da prova.

8.3. Conceito de Ato Processual


Ato processual não abrange somente aqueles endoprocedimentais, mas também os demais
atos que interfiram, de algum modo, no desenvolvimento da relação jurídica processual.

Ato processual é todo comportamento humano volitivo que, considerado pelo Direito como
relevante para o processo, está apto a produzir efeitos jurídicos na relação jurídica
processual.

São atos processuais do juiz os despachos e as decisões, (interlocutórias ou definitivas).

8.3.1. Atos Processuais dos Juízes Delegáveis aos Serventuários: Mero Expediente
Trata-se de uma expressa previsão constitucional, a fim de racionalizar a atividade judicante e
garantir uma razoável duração do processo.

Art. 93 [...]

XIV os servidores receberão delegação para a prática de atos de


administração e atos de mero expediente sem caráter decisório; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Para atos próprios de magistrados (entendendo-se atos próprios como atos privativos e
decisórios), não pode, por evidente, haver delegação. No entanto, o próprio CPC admite a
delegação de atos de mero expediente aos serventuários, isto é, atos que não tenham
conteúdo decisório, como a determinação de especificação de provas, por exemplo.

Atos de mero expediente são aqueles que se destinam a impulsionar o processo, sem,
contudo, resolver qualquer questão. A decisão, nos processos, é ato privativo do juiz e não

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pode ser delegada a terceiros. Os atos de mero expediente, por não terem conteúdo
decisórios, estão sujeitos à delegação.

8.4. Ato Ilícito Processual


a) Ilícito indenizativo: é o ato contrário ao direito cujo efeito jurídico é o surgimento da
obrigação de indenizar, como a litigância de má fé etc.

b) Ilícito invalidante: é a conduta contrária ao direito cujo efeito jurídico é dar ensejo à
invalidação de um ato jurídico. Geralmente, nela há um requisito não cumprido.

c) Ilícito autorizante: é a conduta contrária ao direito cujo efeito é a permissão de


praticar um determinado ato.

d) Ilícito caducificante: é o ilícito preclusivo, conduta contrária do direito cujo efeito é a


perda de uma situação jurídica.

8.5. Observações de Provas


1. TRF4 – XIII – QUESTÃO 68. A intimação presume-se válida quando dirigida ao endereço
referido pela parte na inicial ou contestação.

9.Invalidades Processuais
9.1. Sistema de Invalidades Processuais – Regras

9.1.1. Sistema de Invalidades Processuais e Sistema de Invalidades do Direito Material


O sistema de invalidades do processo civil é construído para que não haja invalidades. A
invalidação do ato deve ser tida como solução ultima ratio, tomada apenas quando não for
possível aproveitar o ato praticado com defeito.

O ato processual defeituoso produz efeitos até a decretação de sua invalidade. Não existe
invalidade processual de pleno direito. Ela deve, necessariamente, ser decretada.

Para o retrógrado CPC, o ato realizado em desacordo com a forma prevista na lei é o que se
chama de ato nulo, porque, para o CPC, com base no direito civil, existe ato nulo de pleno
direito, em outras palavras, o ato que é realizado em desacordo com a lei nasce nulo.

Porém, na verdade, o ato realizado em desconformidade com o ato previsto na lei não é um
ato nulo de pleno direito, em processo civil não existe ato nulo de pleno direito, o ato não
nasce nulo. O ato nasce imperfeito, nasce viciado ou, como se diz normalmente, trata-se de
um ato inválido. Para essa corrente de pensamento (Didier, Marinoni), o ato realizado em
desconformidade com o modelo legal é um ato imperfeito, ato inválido. É o que,
tecnicamente, eles denominam de invalidade.

Mas, veja, ainda não é uma nulidade. Por quê? Porque, para ser considerado uma nulidade, é
preciso uma decisão judicial que decrete o ato inválido.

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ENTÃO, NÃO EXISTE, EM PROCESSO CIVIL, ATO NULO DE PLENO DIREITO. O QUE EXISTE É
UMA INVALIDADE QUE, SOMENTE POR INTERMÉDIO DE UMA DECISÃO JUDICIAL, PASSA A
SER UMA NULIDADE.

9.1.1.1. Natureza Jurídica das Nulidades


A corrente clássica defende que a natureza jurídica da nulidade é de sanção. É majoritária,
principalmente na jurisprudência.

Porque, quando se afirma que a nulidade é a inobservância da forma prevista em lei, quando
se afirma que a nulidade nada mais é do que a desobediência da forma prevista em lei, essa
inobservância precisa ser punida, precisa ser sancionada de alguma maneira. A sanção que a
lei estabelece de alguma maneira é a nulidade do ato.

Então, a natureza jurídica seria de sanção, porque a nulidade nada mais é do que a punição da
lei ao ato praticado em desconformidade com o modelo nela previsto. Essa é a posição
majoritária.

Mas existe uma posição mais moderna, não majoritária, defendida pela Teresa Arruda Alvim,
Câmara, que defende que a sanção pressupõe a existência de um ato ilícito.

Então, se a sanção pressupõe um ato ilícito, existe um problema, porque a inobservância da


forma prevista em lei não é uma ilicitude. O problema de o ato não observar a forma prevista
em lei não é uma ilicitude, então, se não é uma ilicitude, ela não pode ser sancionada, o que
vai ocorrer na verdade é que a parte irá sofrer um prejuízo, é a decretação da nulidade do ato
realizado em desacordo com a lei.

Para os adeptos da segunda corrente, a natureza jurídica da nulidade não é de sanção, mas sim
de consequência, de prejuízo à parte. A parte sofre um prejuízo que é a declaração de nulidade
do ato ou decretação da nulidade do ato em virtude de sua desconformidade com a lei.

9.1.1.2. Natureza Jurídica da Decisão que Decreta a Nulidade


A natureza jurídica dependerá da posição adotada. Se adotar a posição do Código Civil, aquela
de que o ato nasce nulo, a decisão judicial, nessa hipótese, vai declarar uma nulidade
existente. Então, para a teoria do código, o ato nasce nulo. Ao adotar essa teoria, a natureza
da decisão é declaratória.

Se adotar a posição mais moderna, de que, na verdade, se está diante de uma invalidade e,
somente após uma decisão judicial se pode falar em nulidade, essa decisão judicial terá
natureza constitutiva negativa ou também chamada de desconstitutiva, porque é essa decisão
judicial que vai decretar a nulidade do ato e de todos aqueles que são dele dependentes.
Pelo Código Civil Natureza jurídica da nulidade é declaratória
Pela teoria moderna Natureza jurídica da nulidade (sanção) é desconsitutiva
9.1.2. Os Tipos ou Espécies de Defeitos (ou Vícios) Processuais
a) Meras irregularidades: são defeitos processuais que não geram qualquer invalidade. A
lei não dá maior importância a suas próprias exigências, quando superficialmente
formais, porque insignificante ou nenhuma é a relação dessas exigências com a

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indispensável seriedade na produção do resultado querido pelo agente. Ex.: o uso do


vernáculo, quando há algumas citações latinas ou o uso de expressões de língua
estrangeira. A irregularidade se caracteriza por ser a prática de erros materiais no
processo. Esses erros materiais não acarretam a nulidade do ato, eles podem ser
corrigidos de ofício pelo juiz e eles são os mais frágeis dos vícios processuais
existentes. Entre as imperfeições processualmente irrelevantes, ou meras
irregularidades, existem as que não produzem consequência alguma e as que geram
sanções de outra ordem, como a responsabilidade civil ou certas punições disciplinares
a juízes, auxiliares da Justiça, partes ou mesmo ao advogado. Ex.: CPC, arts. 22, 133, II,
144, I, etc.

b) Não decretáveis de ofício: são defeitos mais raros, cuja forma é estabelecida com o
objetivo de resguardar interesse particular. Geralmente, eles estão expressamente
previsto em lei.

c) Decretáveis de ofício: são situações que normalmente decorrem de defeitos de


procedimento, ausência de pressupostos processuais e condição de ação.

d) Decretáveis de ofício ou por manifestação das partes:

e) Atos inexistentes: a existência de um ato jurídico depende invariavelmente da


presença de seus elementos essenciais, sem os quais ele não é o que talvez aparente
ser. Essa situação típica é composta pela forma determinada em lei, pelo sujeito
qualificado a realizar o ato, pela vontade do agente e pelo objeto admissível em
direito. Isoladamente, a observância dos requisitos formais é insuficiente para tipificar
o ato processual e inseri-lo no mundo jurídico como existente; do mesmo modo, sem
um mínimo formal o ato não existe ainda que o sujeito seja adequado e o objeto
possível. Diante disso, diz-se juridicamente inexistente o ato processual quando lhe
falta algum dos requisitos mínimos caracterizadores do tipo que ele aparenta
reproduzir. Sem a presença cumulativa de todos esses mínimos, ele jamais poderá
chegar ao resultado proposto. Materialmente, existe. Uma sentença não-assinada ou
proferida por não-juiz é algo que em si mesmo tem realidade material e histórica,
porque o ato aconteceu, mas essa sentença perante o direito e em face do resultado
proposto é precisamente como algo que não existe. É um nada jurídico, ou um não-
ser (Calmon de Passos). Não se vê na lei a definição da inexistência jurídica de atos
processuais nem a explícita formulação de critérios para sua existência. O conceito de
ato processual inexistente é puramente doutrinário76. Há um único caso em que o

76
Qual é a diferença entre o ato inexistente e o ato nulo? E, consequentemente, qual deles, se é que
algum deles, produz coisa julgada? O ato inexistente não produz nenhum efeito jurídico. O ato
processual nulo pode produzir efeitos até o momento que a sua nulidade seja decretada. Se eu estou
falando em ato nulo, como a nulidade pode ser decretada? Porque, na verdade, o que o código chama
de ato nulo nós já sabemos que se trata de um ato inválido. Não existe ato nulo de pleno direito no
processo civil. É indispensável uma decisão judicial, enquanto essa invalidade não tiver sua nulidade
decretada ela continua produzindo efeitos, até o momento em que a nulidade for decretada. Então, o
ato inexistente não faz coisa julgada. Por que ele não faz coisa julgada? Não faz coisa julgada, porque,
como a sentença é inexistente e não produz qualquer efeito, a coisa julgada não tem sobre o que incidir.
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261

ato vem explicitamente qualificado como inexistente, que é a PROPOSITURA DA


DEMANDA INICIAL POR ADVOGADO QUE AFIRMA SER PROCURADOR DO AUTOR,
MAS NÃO O É (art. 37, § único). Em cinco situações básicas o ato processual é
juridicamente inexistente: a) quando não está ligado à vontade de seu aparente autor
(falta de assinatura); b) quando o agente não tem mínimas condições, perante o
direito, para realizar o ato; c) quando o ato não contém conclusão alguma (petição
inicial sem pedido, sentença sem dispositivo); d) quando dita um resultado
materialmente impossível; ou e) quando o resultado ditado afronta normas superiores
de proteção ao Estado ou ao ser humano

Nulidades cominadas ou não-cominadas: no processo civil moderno INEXISTEM listas de


nulidades, formuladas em lei. Assim não há o duplo inconveniente de enrijecer o sistema,
dando por nulo o ato apesar de não haver falhado ao escopo, e de permitir que atos inidôneos
tenham eficácia. O legislador resigna-se a especificar apenas algumas hipóteses em que o ato
será nulo e, no mais, deixa ao intérprete a avaliação da aptidão ou inaptidão de cada um
deles a produzir o escopo para o qual foi concebido. São raras as nulidades cominadas, como
as que proclamam que a citação é indispensável à validade do processo (arts. 214 e 1.105) e
que o processo será nulo por falta de intimação do Ministério Público nos casos em que sua
intervenção seja necessária (arts. 84 e 246), entre outras.

As nulidades não-cominadas constituem o volumoso e delicado material a ser considerado no


trato das nulidades dos atos processuais em geral. A caracterização de cada uma delas resulta
de uma DUPLA OPERAÇÃO, EM QUE SE LEVA EM CONTA O ATO CONCRETAMENTE
REALIZADO, EM CONFRONTO COM O MODELO DEFINIDO EM LEI, PARA DEPOIS VERIFICAR SE
O EVENTUAL DEFEITO FOI CAPAZ DE INABILITÁ-LO A PRODUZIR O EFEITO DESEJADO. O ato só
será nulo se concorrerem as duas situações. As nulidades não-cominadas têm natureza
sistemática, no sentido de que decorrem de uma colisão com o sistema e não de uma
irracional formulação de listas de atos abstratamente nulos. Importante: apesar de suas
redações, os arts. 243 e 244 do CPC77 se aplicam às nulidades cominadas e também às não
cominadas.

Porém, até mesmo as nulidades cominadas poderão não gerar a nulidade do ato, se não
demonstrado prejuízo à parte, já que nem todas elas teriam o prejuízo presumido.

Segundo Dinamarco, pode-se ter nulidades cominadas absolutas ou nulidades cominadas


relativas. E, da mesma maneira, pode-se ter as nulidades não cominadas absolutas e nulidades
não cominadas relativas.

E o ato nulo? O ato nulo faz coisa julgada? O ato nulo produz algum efeito? Produz. Ele produz efeitos
até o momento em que a nulidade é decretada. Enquanto a nulidade não for decretada, estará
produzindo efeitos. Se a coisa julgada material incide sobre os efeitos de uma sentença, a sentença nula
pode fazer coisa julgada? Pode, porque, enquanto não for decretada a nulidade da sentença, ela faz
coisa julgada.
77
Art. 243. Quando a lei prescrever determinada forma, sob pena de nulidade, a decretação desta não
pode ser requerida pela parte que Ihe deu causa.
Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará
válido o ato se, realizado de outro modo, Ihe alcançar a finalidade.
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262

Qual é a hipótese que a nulidade está prevista expressamente no ordenamento e ela deve ser
decretada independentemente de se verificar a existência de prejuízo? Segundo ele, só
existiria uma hipótese, que é a falta de fundamentação de decisões judiciais.

Na hipótese de falta de fundamentação de decisões judiciais, prevista no art. 93, IX da CR/88,


única hipótese de nulidade cominada absoluta, o prejuízo é presumido, ela tem que ser
decretada.

9.1.3. Não Há Invalidades Sem Prejuízo – Princípios Regentes


Somente pode ser decretada a nulidade se cumularem-se o defeito processual com a
existência de efetivo prejuízo. Isso porque a nulidade deve ser ao máximo evitada. São
princípios que informam essa posição legislativa:

a) Princípio do prejuízo ou da transcendência: pelo princípio do prejuízo ou da


transcendência, atualmente, para que uma nulidade seja decretada, é indispensável a
demonstração de prejuízo para a parte.

Art. 249. O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarará que atos são atingidos,
ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos, ou
retificados.

§ 1o O ato não se repetirá nem se Ihe suprirá a falta quando não prejudicar
a parte.

No sentido do ora exposto:

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INTIMAÇÃO. AMPLA DEFESA.

Trata-se de REsp em que o recorrente, entre outras alegações, sustenta que


os princípios do contraditório e da ampla defesa não foram observados
quando o juiz de primeira instância não procedeu à sua intimação como réu
para a audiência de oitiva de testemunha. Afirma, ainda, que a não
observância do art. 331 do CPC representou-lhe um grande prejuízo, pois,
assim, ficou impedido de se manifestar sobre a produção de provas
importantes para o deslinde da lide. A Turma, ao prosseguir o julgamento,
por maioria, negou provimento ao recurso por entender que, no caso,
constata-se flagrante irregularidade processual, qual seja, ausência de
intimação do recorrente para acompanhar a audiência da testemunha. Tal
irregularidade, contudo, não lhe trouxe prejuízo, seja porque a prova
produzida sem o contraditório não foi determinante na fundamentação da
sentença, seja porque o fato sobre o qual a testemunha foi interrogada era
incontroverso ante a ausência de impugnação. Consignou-se que tais
circunstâncias elevam o peso dos princípios da instrumentalidade das
formas e da economia processual; pois, não obstante a ausência de
intimação do acusado para exercer o contraditório na oitiva da testemunha,
esse vício, como dito, não o prejudicou. Ademais, o acórdão recorrido, ao
condenar o agente público, assentou-se, exclusivamente, em elementos
fáticos, o que não pode ser examinado em recurso especial. REsp 1.201.317-
GO, 2T, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/6/2011.

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263

b) Instrumentalidade das formas (art. 244): quando a lei prescrever determinada forma,
sem cominar nulidade, o juiz considerará o ato válido, se, praticado de outra forma,
alcançar a finalidade. A consciência de que as exigências formais do processo não
passam de técnicas destinadas a impedir abusos e conferir certeza aos litigantes (due
process of law) manda que elas não sejam tratadas como fins em si mesmas, senão
como instrumentos a serviço de um fim. Tal é a ideia da instrumentalidade das formas
processuais, que se associa à liberdade das formas e à não taxatividade das nulidades,
na composição de um sistema fundado na razão e na consciência dos escopos a
realizar. Assim, a invalidade do ato é essencial para que ele seja nulo, mas não é
suficiente nem se confunde com a sua nulidade, que também deve deixar de realizar
o escopo ao qual se destina e, por esse motivo, causar prejuízo a uma das partes.

c) Causalidade, consequencialidade ou efeito expansivo (art. 249, caput): a nulidade de


uma parte do ato prejudicará todos os outros aos quais lhes sejam dependentes, sem
prejudicar os outros, que dela sejam independentes.

d) Princípio do legítimo interesse: pelo princípio do legítimo interesse, também chamado


de princípio do interesse processual, quando em um processo você tem um ato cuja
nulidade possa ser declarada, essa nulidade só pode ser alegada por quem não lhe deu
causa, porque, do contrário, se permitiria que a parte se beneficiasse de sua própria
torpeza, por isso não pode. Isso é o que dispõe o art. 243. Porém, o art. 249, § 2º diz:
“quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da
nulidade o juiz não a pronunciará e nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta”.
Se, no momento em que essa nulidade é alegada, o juiz da causa verifica que pode
decidir o mérito a favor da parte a quem a nulidade beneficia, a lei afirma que o juiz
deve decidir o mérito.

e) Princípio da preclusão: a parte a quem interessa alegar a nulidade do ato deverá fazê-
la na primeira oportunidade que possuir para falar nos autos, sob pena de preclusão.
Esse princípio diz respeito às nulidades chamadas de relativas, porque as nulidades
absolutas podem ser alegadas a qualquer momento e em qualquer grau de
jurisdição.

f) Princípio do confinamento das nulidades processuais e princípio da conservação dos


atos processuais: quando se tem um determinado ato que padece de um vício, é
preciso de uma decisão judicial que assim o declare. O ato não nasce nulo, embora o
código assim determine, ele nasce viciado, imperfeito, inválido, ele passa a ser uma
nulidade através de uma decisão judicial. É a ideia de que se deve tentar ao máximo
conservar os atos processuais, quando não é possível conservá-los, você tem que
decretar a nulidade, que você procure confinar as nulidades somente aos atos que não
possam ser salvos, muito embora, por vezes, além daquele ato decretado nulo, todos
aqueles que dele dependam também são atingidos pela decretação da nulidade por
força do princípio da causalidade, da consequencialidade ou do chamado efeito
expansivo das nulidades. É por isso que, quando o juiz decreta a nulidade, ele diz o
seguinte: “decreto a nulidade do ato de folhas tais e de todos os atos subsequentes”;

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264

ele faz isso porque se tiver que examinar um por um ele vai dar margem a decisões
interlocutórias.

Art. 249. O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarará que atos são atingidos,
ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos, ou
retificados.

Art. 250. O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos


atos que não possam ser aproveitados, devendo praticar-se os que forem
necessários, a fim de se observarem, quanto possível, as prescrições legais.

Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que


não resulte prejuízo à defesa.

O erro de forma do processo acarreta somente a invalidação dos atos que não possam ser
aproveitados, o que ocorrerá sempre que não resultar prejuízo à defesa.

9.1.4. Intervenção do Ministério Público e Invalidade


De acordo com o texto legal (art. 246), a falta de intervenção do MP implica nulidade do
procedimento, a partir do momento em que ele deveria ter sido intimado. Logo, o que dá
ensejo à nulidade é a falta de intimação. SE, INTIMADO, O MP NÃO SE MANIFESTAR, NÃO
HAVERÁ NULIDADE.

Porém, não se invalidará o procedimento pela falta de intimação caso a decisão seja favorável
ao incapaz que motivou a interveniência. O MP poderá ratificar os atos de que não participou
por falta de intimação, observando o princípio do prejuízo.

9.1.5. Princípio do Aproveitamento dos Atos Processuais Defeituosos – Fungibilidade


De acordo com o princípio do aproveitamento, o magistrado deve tentar aproveitar o ato
processual ou procedimento defeituoso, independentemente do grau de defeito do
ato/procedimento.

Já o princípio da fungibilidade, vertente do acima, consagra que o aproveitamento poderá se


dar ainda que o ato praticado deva ser considerado como outro, como no caso do art. 273, §
7º, que determina que o pedido de tutela antecipada, se não for possível, mas puder ser
aproveitado, deverá ser tido como solicitação acautelatória.

No direito processual civil não há defeito que não possa ser sanado, por mais grave que seja,
sem exceções. Às vezes o ato não poderá ser aproveitado; nesse caso, deve o juiz promover a
sua renovação, de molde a evitar, sempre, a nulidade do processo.

A nulidade processual no âmbito civil é o mais trágico erro que o juiz pode deixar acontecer no
processo em que atua, já que revela um grau altíssimo de, pode-se dizer, incompetência ou
descaso, já que ele sempre teve às mãos a possibilidade de consertar o procedimento.

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9.1.6. Invalidade do Procedimento e Invalidade de Cada um dos Atos do Procedimento


A nulidade do procedimento atinge o processo como um todo e se relaciona ao não
preenchimento dos requisitos de admissibilidade do processo. São os chamados vícios de
fundo.

Já a invalidade de atos do procedimento é a que determina a invalidação dos demais atos que
lhes seguirem (atos praticados após e deles dependentes, conforme princípio da causalidade).
O ato do procedimento tem, cada um, seu próprio requisito de validade, sendo casuística a
invalidação ou não.

Mesmo diante do defeito que gera a nulidade do processo, o juiz está autorizado a
desconsiderá-lo, evitando a nulidade, se puder aproveitar o ato sem causar prejuízo à parte
que se beneficiaria com a nulificação (art. 249, § 2º).

9.1.7. Invalidação de Atos do Juiz, das Partes e dos Auxiliares da Justiça

9.1.7.1. Atos do Juiz


A decisão judicial defeituosa deve ser invalidada por meio da interposição de recurso, pelo
qual se alegue error in procedendo. Em alguns casos, antes do encerramento da instância, é
possível pedir a invalidação do ato por simples petição dirigida ao próprio juízo que a proferiu,
o qual poderá invalidar a sua própria decisão.

Porém, se o erro de procedimento ocorrer na sentença, não poderá o juiz anulá-la, e sanar o
erro. Deverá a parte interpor recurso pleiteando anulação.

Art. 463. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:

I - para Ihe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões


materiais, ou Ihe retificar erros de cálculo;

II - por meio de embargos de declaração.

Muitas vezes a parte interpõe agravo de instrumento para tentar anular um ato processual e o
processo chega ao fim, em primeira instância, sendo interposta apelação, sem que ainda tenha
sido julgado o AI. Nesse caso, os Tribunais quase sempre julgam o AI prejudicado, já que a
matéria nele ventilada deverá ser objeto da apelação.

Os vícios transrrecisórios são aqueles que podem ser invalidados mesmo após o decurso do
prazo de propositura da ação rescisória, que tem por instrumento processual adequado a ação
de nulidade. Somente é cabível em dois casos: decisão proferida em desfavor do réu, em
processo que correu à sua revelia, quer porque não fora citado, quer porque o fora de maneira
defeituosa.

9.1.7.2. Atos das Partes


Sua invalidação depende da existência ou não de coisa julgada material.

a) Se há coisa julgada material, os atos processuais das partes tornam-se invulneráveis,


não podendo mais ser invalidados.

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b) Se não há coisa julgada material e o processo ainda está em curso, o ato processual da
parte pode ser invalidado, se não tiver havido preclusão, de ofício ou através de
simples petição dirigida para o juiz. Não é necessária ação autônoma para tal mister.
Se o juiz não invalidar, deve a parte agravar, reiterando os argumentos na apelação.

Se não há coisa julgada material, mas o processo já se encerrou, é possível o ajuizamento de


ação declaratória de nulidade.

9.1.7.3. Atos dos Auxiliares da Justiça


São invalidados pelo juiz da causa, no mesmo processo, de ofício ou a requerimento das
partes.

9.1.8. Princípios da Proporcionalidade, da Cooperação e da Economia Processual


a) Proporcionalidade: o juiz, no exame da gravidade do feito, deve ponderar se a
invalidação a ela é proporcional, ou se não seria medida muito drástica.

b) Cooperação: as partes devem cooperar com o Judiciário e entre si para que o processo
tenha um curso regular, devendo o juiz adverti-las sobre os defeitos e consequências
processuais de seus atos. Lembrar até que a ausência de cooperação, a depender do
caso, pode resultar em multa por deslealdade processual ou por ato atentatório contra
a dignidade da Justiça;

c) Economia processual: a declaração de nulidade dos atos deve ser evitada ao máximo,
pois a repetição de atos implica em perda de tempo e recursos públicos.

9.1.9. Princípio da Lealdade Processual (Venire Contra Factum Proprium)


O comportamento contraditório é proibido no processo, já que ofende os princípios da
lealdade processual e da boa fé objetiva.

De acordo com o art. 243, quando a lei prescrever determinada forma, sob pena de nulidade, a
decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa. Porém, para a maioria
da doutrina, esse enunciado somente se aplica aos casos em que o defeito processual não for
absoluto, invalidável a qualquer tempo.

9.2. Nulidades Absolutas e Relativas


A distinção entre nulidades absolutas e relativas não está na lei, mas na doutrina e nas
manifestações dos juízos e tribunais. A orientação consiste em dimensionar a ineficácia do ato
processual à gravidade ou relevância do defeito.

Constituem causas de nulidade absoluta as infrações a exigências estabelecidas com o objetivo


de preservar o correto funcionamento dos órgãos e serviços judiciários – e por isso, estando
em jogo o interesse público da Justiça, o juiz tem o dever de fazer a verificação motu proprio e
a qualquer tempo ou grau de jurisdição, independentemente de provocação pela parte.

Inversamente, a declaração das nulidades relativas depende da iniciativa desta, sempre que a
infração à lei seja prejudicial a ela, sem atingir o interesse público. Embora em tese não haja

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uma relação necessária ou constante entre nulidades cominadas e nulidades absolutas, no


direito brasileiro são absolutas quase todas as nulidades cominadas.

A regra de que a declaração da nulidade absoluta deve ser feita em qualquer tempo ou grau
de jurisdição é sujeita a três ressalvas. A primeira delas é que em recurso extraordinário ou
especial, as nulidades anteriores ao acórdão recorrido só podem ser conhecidas quando já
aventadas e expressamente repelidas (súmulas 282 e 356 do STF)78. A segunda é que o juiz só
tem poder-dever de pronunciar as nulidades absolutas até o momento em que publica em
cartório a sentença. A terceira é que, com o trânsito em julgado, todas as nulidades ficam
neutralizadas (podendo ser atacadas por rescisória, art. 485, V).

A nulidade relativa depende que a parte inocente formule o pedido de anulação, que haja
interesse processual na anulação e que a parte interessada a alegue na primeira oportunidade
que tenha para manifestar-se no processo.

9.3. Suprimento, Sanação, Repetição e Convalidação das Nulidades


Quando um ato é nulo, não há como redimi-lo da invalidade, sanando-o mediante
retificações que o ponham conforme as exigências de modo, lugar ou tempo formuladas pela
lei. Mas em alguns casos é possível sanar o procedimento mediante realização do ato omitido
ou repetição do nulo. Por três vezes – e todas no art. 249 – o CPC fala em repetir o ato ou
suprir-lhe a falta. Nunca, porém, em sanar o próprio ato.

Não existe uma relação constante entre a sanabilidade do procedimento e o caráter absoluto
ou relativo da nulidade. Há nulidades absolutas sanáveis e insanáveis, o mesmo acontecendo
com as relativas, porque com a realização do ato omitido ou a repetição do ato nulo
desaparece a causa contaminadora. Diferente da sanação do processo, que se faz com
providências destinadas a eliminar as nulidades decorrentes, é o convalescimento do próprio
ato por força de uma preclusão superveniente. AS NULIDADES RELATIVAS DESAPARECEM E O

78
Digamos que o pedido de nulidade não seja formulado na apelação. Pode a parte fazer esse pedido no
Recurso Especial e no Recurso Extraordinário?Duas correntes:
Primeira corrente exige um pré-questionamento. É a corrente clássica do STJ e STF. Se não houve pré-
questionamento anterior, a matéria não pode ser alegada nem no Recurso Especial e nem no Recurso
Extraordinário. Segunda corrente, mais moderna, defende o seguinte: se aquela matéria, a nulidade é
de tal gravidade que ela se enquadra dentre as questões de ordem pública, o STJ ou STF poderia analisá-
la, inclusive, de ofício no âmbito do Recurso Especial e Recurso Extraordinário, desde que o Especial e o
Extraordinário tivessem sido admitidos por outros motivos.
Esse último posicionamento veio sendo adotado pelo STJ, o qual, no entanto, reviu sua posição:
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUNAL DE CONTAS. ILEGITIMIDADE PASSIVA. AUSÊNCIA DE PERSONALIDADE
JURÍDICA. EXCLUSÃO DA RELAÇÃO PROCESSUAL. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. 1. A jurisprudência desta Corte é pacífica ao determinar que mesmo as
matérias de ordem pública precisam ser prequestionadas. 2. O ENTENDIMENTO DE QUE É POSSÍVEL
CONHECER DAS QUESTÕES DE ORDEM PÚBLICA DE OFÍCIO, AINDA QUE NÃO PREQUESTIONADAS OU
SUSCITADAS, NA EXCEPCIONAL HIPÓTESE DE O RECURSO ESPECIAL TER SIDO CONHECIDO POR
OUTROS FUNDAMENTOS, EM RAZÃO DO EFEITO TRANSLATIVO, FOI SUPERADO EM NOVA ANÁLISE
PELA CORTE ESPECIAL, QUE CONCLUIU PELA NECESSIDADE DO REQUISITO DO PREQUESTIONAMENTO
NA INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA. Precedente: AgRg nos EREsp 999.342/SP, Rel. Min. Castro Meira,
Corte Especial, julgado em 24/11/2011, DJe 01/02/2012. [...] (EDcl nos EDcl no AgRg no AREsp
32.420/PB, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe
28/06/2012)
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ATO CONVALESCE SE NA PRIMEIRA OPORTUNIDADE A PARTE PREJUDICADA NÃO LHE


POSTULAR A ANULAÇÃO.

Toda e qualquer nulidade fica afastada quando ocorre o trânsito em julgado. PORÉM, ISSO
HÁ DE SER BEM ENTENDIDO: se chegamos nessa fase, é porque a invalidade não teve
sua nulidade decretada no curso do processo. Com a coisa julgada, o que se costuma dizer?
Que, com a coisa julgada, todas as nulidades estão convalidadas, todas as nulidades estão
sanadas79. Isso, tecnicamente, é um equivoco porque, se fosse uma nulidade, não tinha como
estar sanada, não tinha como estar convalidada. O QUE É DE SE ENTENDER É QUE, COM A
COISA JULGADA, TODOS OS VÍCIOS QUE NÃO TIVERAM A NULIDADE DECRETADA NÃO
PODEM MAIS TÊ-LA, TODAS AS INVALIDADES QUE NÃO FORAM DECRETADAS NULAS NÃO
PODEM MAIS SER.

NÃO É QUE COM A COISA JULGADA TODAS AS NULIDADES ESTÃO


CONVALIDADAS, ISSO É ERRADO! A nulidade continua, mas acobertada pela
imutabilidade efeito da coisa julgada material. Se fosse uma nulidade, não ia ter como
convalidar, ela já estaria sendo resolvida da maneira correta. O que, na verdade, se quer dizer
é que, com a coisa julgada, todas as invalidades, todos os vícios, cujas invalidades não foram
decretadas até esse momento, não poderão mais ser decretados nulos.

Às vezes esse vício é tão grave que ele pode ser enquadrado em uma das hipóteses do art. 485
CPC. Ele era uma invalidade, com a coisa julgada você não pode mais dizer que a invalidade
subsiste, pois ela deixou de ser declarada, mas, às vezes, o vício é tão grave que ele se
enquadra em alguma das hipóteses de ação rescisória.

Até antes da coisa julgada, a nulidade poderia ter sido decretada; com a coisa julgada, ela não
pode mais, mas ela pode se enquadrar em uma das hipóteses da ação rescisória, ela passa a
ser uma hipótese de rescindibilidade. Mas cuidado, a ação rescisória não é para decretar a
nulidade de nada, a ação rescisória é rescindir a coisa julgada, permitindo um novo
julgamento da causa, não é para decretar a nulidade de coisa nenhuma, não se decreta mais
a nulidade de nada com a coisa julgada, o que pode acontecer é que, pelo fato do vício ser
muito grave, ocorrer a rescisão da coisa julgada. Passa a ser uma hipótese de rescindibilidade.

Só que tem prazo dentro do qual essa hipótese possa ser alegada, são dois anos. Decorridos os
dois anos, não cabe mais essa hipótese, salvo nos casos dos vícios transrescisórios. A única
hipótese admitida pela doutrina e pela jurisprudência é a falta ou nulidade de citação.

Os atos inexistentes, entretanto, não convalescem, porque não existem perante o direito.

9.4. Observações de Provas


1. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 46. O juiz deve tentar aproveitar o ato processual
defeituoso, independentemente do grau de defeito.

79
É por isso que se costuma taxar a coisa julgada de uma sanatória geral de nulidade.
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269

2. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 44. Não é possível que oficial de justiça de comarca
vizinha e contígua proceda à penhora e depósito de bem em comarca diferente da sua.
Tal afirmação diz respeito ao princípio da jurisdição denominado territorialidade.

10. Preclusão
A preclusão é um fato processual que tem como consequência a perda de um poder
processual pelas partes. Ela é instituto fundamental para o bom desenvolvimento do
processo, delimitando a estrutura do procedimento e as regras que compõem o formalismo
processual.

A preclusão se apresenta como um limitador do exercício abusivo dos poderes processuais.

De acordo com o princípio da preclusão, o procedimento não deve ser interrompido ou


embaraçado. Deve sempre caminhar adiante. Porém, ela não serve somente à ordem, busca
também preservar a boa fé e a lealdade endoprocessual.

10.1. Classificação

10.1.1. Preclusão Temporal


Consiste na perda do poder processual pelo seu não exercício no momento/prazo oportuno; a
perda do prazo ou a inércia perante ele implica em preclusão.

A doutrina tradicional não reconhece a preclusão temporal para o juiz, pois, para ele, os prazos
são impróprios, acarretando somente, no máximo, em sanções disciplinares.

10.1.2. Preclusão Lógica


Consiste na perda de um poder processual por se ter praticado ato incompatível com seu
exercício. A conduta processual anterior da parte é incompatível com o que ela agora
pretende.

Assim, é plenamente possível a preclusão lógica contra o magistrado, que ocorre, v.g., quando
o juiz julga antecipadamente a lide, mas declara improcedente o pedido por falta de provas.
Ora, ele somente pode realizar o julgamento antecipado se entender haver provas suficientes
para tal, sendo este comportamento incompatível com aquele. Nesse caso, entretanto, ele não
perderá, por evidente, a oportunidade de promover o ato; apenas dará azo à anulação pelo
tribunal por error in procedendo.

A preclusão lógica está intimamente ligada ao venire contra factum proprium, ofendendo
aos princípios da lealdade processual e da boa fé objetiva.

10.1.3. Preclusão Consumativa


Consiste na perda de um poder processual em razão de já ter sido ele exercido. Assim, não
poderá a parte, v.g, apelar novamente após tê-lo feito, ainda que mal feito. Decorre do
brocardo ne bis in idem.

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270

10.1.4. Preclusão Sanção ou Preclusão Punitiva


Para Didier, existe também este tipo de preclusão, que decorre de um ilícito de natureza
processual, ou seja, pelo descumprimento de um preceito processual ou pela tipificação em
uma conduta vedada à qual se atribui uma sanção.

É o caso, v.g., da confissão ficta decorrente da revelia, ou a perda do direito de falar nos autos
pela prática do atentado (art. 881).

10.2. Natureza Jurídica da Preclusão


Em regra, a preclusão seria um efeito jurídico, consequência da inércia ou de algum ato
processual. Porém, ela também poderá ser um fato jurídico, que poderá compor o suporte
fático de um outro fato qualquer.

É o que ocorre, v.g., com a coisa julgada, fato processual composto pela preclusão temporal
máxima, que é a coisa julgada formal.

Porém, Dinamarco não entende que a preclusão seja um efeito, e sim um fato impeditivo do
exercício de um poder processual.

10.3. Preclusão, Prescrição e Decadência


A preclusão e a decadência são espécies do gênero caducidade, designação utilizada para a
perda de uma situação jurídica.

A decadência é a perda do direito potestativo em razão do seu não exercício dentro do prazo.
Assemelha-se à preclusão temporal em função do requisito “tempo” para se operar
Entretanto, trata-se de questão de direito material e, em regra, direitos pré-processuais,
enquanto a preclusão é instituto de direito instrumental e se refere sempre à perda de
faculdade processuais.

Já a prescrição é a perda da exigibilidade judicial de determinada pretensão reparatória de um


direito violado, por não ter sido exercida no prazo legal. Ao contrário da preclusão, a
prescrição não gera a perda de qualquer direito ou faculdade, seja ela material ou
processual. Além disso, é instituto de direito material.

10.4. Efeitos da Preclusão


A priori, o efeito da preclusão é a perda de um direito processual. Porém, caso o ato jurídico
precluso seja levado adiante pela parte ou pelo juiz, ele será defeituoso, devendo ser
invalidado, especialmente se gerar prejuízo para a parte.

10.5. Observações de Provas


1. TRF4 – XIII – QUESTÃO 71. Consideram-se prazos impróprios aqueles cujo
descumprimento não gera consequências processuais, mas apenas disciplinares, como
é o caso de prazo conferido ao juiz para proferir a sentença ou aos serventuários para
praticar atos de sua atribuição.

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271

11. Teoria da Cognição Judicial e Teoria Geral do Procedimento


11.1. Conceito de Cognição
Cognição é ato de inteligência, de análise e valoração das provas produzidas para se chegar à
sentença devidamente fundamentada. A análise da cognição judicial é o exame da técnica pela
qual o magistrado tem acesso e resolve as questões que lhe são postas para apreciação.

De acordo com Kazuo Watanabe, a COGNIÇÃO PODE SER HORIZONTAL OU VERTICAL.

A cognição horizontal é aquela que se refere às matérias as quais o juiz pode conhecer num
processo, podendo ela ser limitada ou plena. A cognição horizontal cinge-se à extensão fática e
à amplitude do conhecimento do juiz na causa e se relaciona com os elementos objetivos do
trinômio processual: pressupostos processuais, condições da ação e mérito. Pode a cognição
horizontal ser plena ou parcial.

Cognição horizontal parcial ou limitada é a cognição na qual o conhecimento do juiz restringe-


se a questões tópicas da causa, não se estendendo sobre toda a complexidade factual
envolvida pelo processo. Pode-se citar as ações de desapropriação, na qual o réu somente
poderá alegar determinadas matérias, assim como as ações rescisórias, cujo objeto cognitivo é
limitado no CPC80.

Já a cognição horizontal integral ou plena é a que se estende sobre toda a extensão fática da
causa, é aquela em que a parte pode alegar tudo, como ocorre, v.g., nas ações comuns e no
mandado de segurança (o fato de ser procedimento especial não significa que o objeto de
conhecimento é limitado, apenas que deve haver prova pré-constituída do que se alega).

LOGO, A COGNIÇÃO HORIZONTAL ESTÁ LIGADA AO TIPO DE ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA QUE


PODERÁ SER SUSTENTADA PELAS PARTES E LEGITIMAMENTE CONHECIDA PELO JUIZ: SE
TODAS AS MATÉRIAS, A COGNIÇÃO HORIZONTAL SERÁ PLENA; SE A PARTE SOMENTE PUDER
DEDUZIR NA DEMANDA MATÉRIAS ESPECÍFICAS, A COGNIÇÃO SERÁ LIMITADA.

Já a cognição vertical se refere à profundidade com a qual será analisado o objeto de


conhecimento. Trata-se da profundidade da análise do tema, variando desde tutelas
exaurientes de mérito (definitivas) até as não exaurientes, como ocorre com as liminares e
com as tutelas antecipadas.

A cognição vertical mantém relação de pertinência com a profundidade do exame,


subdividindo-se em: cognição vertical exauriente e cognição vertical sumária81. A cognição
exauriente visa pôr fim à incerteza existente sobre o conflito de interesses discutido no

80
É o que ocorre, por exemplo, nas ações possessórias (em que ficam excluídas do conhecimento as
objeções referentes ao domínio), nos embargos do executado (cujo conhecimento é limitado pelo art.
741 e incisos do CPC) e nas desapropriações por necessidade ou utilidade pública ou interesse social (DL
nº 3.365/42, art. 20 – contestação só pode versar sobre vício do processo judicial ou impugnação do
preço).
81
A cognição sumária pertine aos procedimentos que não permitem, em face de determinada situação,
a cognição aprofundada do objeto litigioso, sendo, pois, característica da tutela cautelar e da tutela
sumária antecipatória.
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272

processo de conhecimento. Neste, não há limites à cognição vertical. No processo de


conhecimento, a cognição além de exauriente pode ser também plena, quer se trate de
procedimento comum ordinário, quer do sumário82 ou sumaríssimo específico dos juizados
especiais83, acarretando a formação de coisa julgada material. A cognição sumária, por sua vez,
é típica dos juízos de probabilidades que envolvem situações de aparência de direito, de
verossimilhança. Por essa razão não podem decidir a lide: restringem-se, assim (tais juízos), às
tutelas cautelares e antecipatórias84.

Logo, a cognição vertical se refere ao nível de aprofundamento do juízo no conhecimento da


matéria, se de forma exauriente, se de forma mais superficial. TODAS AS DECISÕES JUDICIAIS
POSSUEM DETERMINADOS NÍVEIS DE COGNIÇÃO VERTICAL: OU SUMÁRIA OU EXAURIENTE.

11.2. Conceito de Questão


Existem, ao menos, duas definições. A primeira entende que questão é qualquer ponto de fato
ou de direito controvertido, ou seja, a respeito dos quais as partes divergiram, de que dependa
o pronunciamento judicial.

Porém, entende-se também por questão o próprio pedido, o objeto litigioso do processo.
Logo, vê-se que a primeira acepção é mais ampla, já que envolve questões prejudiciais
incidentais, tais como a discordância entre as partes acerca dos valores fixados pelo perito a
título de honorários.

11.3. Resolução das Questões: Resolução Incidenter Tantum e Principaliter Tantum


Questões incidenter tantum são aquelas que surgem no curso do processo e que devem ser
resolvidas para fundamentar a decisão final do objeto litigioso. O magistrado tem de resolvê-
las, mas não ficarão elas alcançadas pelos efeitos da coisa julgada.

As questões incidenter tantum, que não fazem coisa julgada, são, v.g., os motivos, a verdade
dos fatos e as questões prejudiciais decididas incidentemente no processo (art. 469).

Art. 469. Não fazem coisa julgada:

I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte


dispositiva da sentença;

Il - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;

82
De salientar que no procedimento sumário a aceleração da prática dos atos processuais que lhe é
própria não implica a limitação da cognição – o procedimento sumário é caracterizado apenas pela
abreviação do iter procedimental, em nada interferindo com a cognição.
83
O procedimento de cognição plena e exauriente é o procedimento comum do processo de
conhecimento. O processo especial dos juizados especiais apesar da extrema simplicidade,
informalidade e celeridade, é de cognição plena e exauriente, apto, portanto, à formação da coisa
julgada material, e não processo de cognição superficial.
84
O mandado de segurança, por exemplo, é um processo que tem o exame de mérito condicionado à
existência de prova capaz de fazer surgir cognição exauriente. A afirmação de existência do direito deve
ser provada mediante prova documental anexa à petição inicial. Portanto, há uma relação necessária
entre o nível de cognição e a justiça das decisões: quanto mais aprofundado aquele, maior será o grau
de probabilidade de acerto da sentença.
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273

III - a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no


processo.

Já as questões principaliter tantum são aquelas que devem ser decididas por se constituírem
nos pedidos constantes na petição inicial, compondo o objeto do juízo, a qual faz coisa julgada
e tem força de lei, nos limites da lide.

A questão prejudicial, que seria resolvida incidentemente, poderá ser alçada ao status de
questão principal, se a parte o requerer (art. 470), deixando de ser um simples fundamento
decisório. É o que ocorre na ação declaratória incidental.

No controle difuso de constitucionalidade tem-se um exemplo, por excelência, de questão


incidenter tantum, já que a declaração de inconstitucionalidade é apenas fundamento do
pedido principal.

11.4. Objeto do Processo e Objeto Litigioso do Processo


O objeto do processo abrange a totalidade das questões submetidas a juízo, sejam as
prejudiciais, sejam as principais. Já o objeto litigioso do processo é a questão principal, o
mérito da causa. Segundo a maior parte da doutrina, o objeto litigioso do processo seria
apenas o pedido, não incluindo a causa de pedir.

Questões prejudiciais
Sob essa lógica:
Objeto do processo
Objeto litigioso do
Questões principais
processo

Não obstante, IMPORTANTÍSSIMO entender o seguinte: os pedidos não serão


necessariamente apenas aqueles que o advogado aduz no capítulo “pedidos e
requerimentos”. É possível que tenha sido feito pedido no corpo da peça inicial, o qual poderá
ser julgado procedente pelo juiz e, inclusive, sobre o qual será formada a coisa julgada
material.

Nesse sentido, muito esclarecedor o seguinte julgado:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA.


VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535, CPC. NÃO OCORRÊNCIA. INÉPCIA DA INICIAL E
JULGAMENTO EXTRA PETITA. INEXISTÊNCIA. DENUNCIAÇÃO DA LIDE.
IMPOSSIBILIDADE. IRREGULARIDADE NA REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL.
FUNDAMENTO NÃO ATACADO. MULTA PREVISTA NO ARTIGO 538, CPC.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PROTELATÓRIOS. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.
SÚMULA 07/STJ.

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274

1. Os embargos de declaração, de que trata o art. 535 do CPC, tem por


finalidade exclusiva provocar o saneamento de omissão, contradição ou
obscuridade eventualmente existentes na sentença ou acórdão, não se
prestando, destarte, a mera rediscussão da matéria apreciada.

2. O pedido feito com a instauração da demanda emana de interpretação


lógico-sistemática da petição inicial, não podendo ser restringido somente
ao capítulo especial que contenha a denominação "dos pedidos",
DEVENDO SER LEVADOS EM CONSIDERAÇÃO, PORTANTO,
TODOS OS REQUERIMENTOS FEITOS AO LONGO DA PEÇA
INAUGURAL, AINDA QUE IMPLÍCITOS. Assim, se o julgador se ateve
aos limites da causa, delineados pelo autor no corpo da inicial, não há falar
em decisão citra, ultra ou extra petita.

[...]

(STJ, AgRg no REsp 243.718/RS, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em
28/09/2010, DJe 13/10/2010)

11.5. Objeto da Cognição Judicial

11.5.1. Questões de Fato e de Direito


O fato jurídico é aquele apto a produzir efeitos jurídicos; a questão de direito, por sua vez, se
refere à norma que pretensamente tutela o pedido do autor ou da parte. Apesar de a parte
não precisar citar leis, ela tem que embasar juridicamente seu pedido, explicar o por quê,
perante o ordenamento jurídico, determinados fatos justificam o acolhimento de sua
pretensão85.

Considera-se questão de fato toda aquela relacionada aos pressupostos fáticos de incidência,
todas aquelas relacionadas à existência do suporte fático concreto. Qualquer questão
relacionada à causa de pedir será considerada questão de fato.

Já a questão de direito é aquela relacionada à subsunção do fato à norma, podendo ser


apreciada de ofício pelo magistrado (iura novit curia).

Alguns incidentes processuais e algumas ações somente podem ter por objeto questões de
direito, como as ADI, ADC, REsp, RE etc.

AS QUESTÕES DE FATO COMPÕEM O OBJETO DE PROVA. As de direito não requerem


prova, salvo se municipal, estadual ou alienígena, e isso somente se o juiz determinar (art.
337).

85
Por exemplo, sendo o pedido de indenização, ela tem que demonstrar o fundamento jurídico que leva
ao dever de indenizar por parte de alguém lhe causou danos materiais, por meio da elucidação da
conduta ilícita, do resultado, do nexo causal e da culpa/dolo.
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275

11.5.2. Questões Preliminares e Questões Prejudiciais


Questões preliminares são aquelas cuja solução crie ou remova obstáculo à apreciação de
outra. Elas se referem à possibilidade de exame da questão de mérito, como os pressupostos
processuais, as condições da ação, os requisitos de admissibilidade recursais etc. Estão ligadas
eminentemente a questões processuais, nas quais se suscitam defeitos do processo, não
atendimento à teoria da substanciação etc. Enfim, visam pôr termo ao processo sem
julgamento de mérito ou dilatar sua duração, com a remessa para outro juízo, v.g.

Questões prejudiciais são aquelas que se caracterizam por ser um antecedente lógico e
necessário da questão prejudicada, cuja solução condiciona o teor do julgamento da questão
subordinada.

“A relação de prejudicialidade entre demandas existe sempre que uma delas


verse sobre a existência, inexistência ou modo-de-ser de uma relação
jurídica fundamental, da qual dependa o reconhecimento da existência,
inexistência ou modo-de-ser do direito controvertido na outra”
(DINAMARCO, Cândido Rangel, Instituições de Direito Processual Civil, São
Paulo, vol. II, 2001, Malheiros Ed., pág. 155).

As questões prejudiciais poderão ser objeto de processo autônomo. São exemplos de questões
prejudiciais a prescrição, decadência, compensação etc. Por quê? Pois elas evidentemente
prejudicarão o pedido, ao menos em parte, se reconhecidas, além de tratarem acerca do
mérito.

Na elaboração da sentença, o juiz primeiro deverá analisar as questões preliminares; somente


depois as prejudiciais. Por quê? Pois seria absolutamente incongruente o juiz reconhecer o
direito à compensação, mas se declarar, posteriormente, absolutamente incompetente para
conhecer o feito.

11.5.3. Condições da Ação, Pressupostos Processuais e Mérito: Questões de Admissibilidade


e Questões de Mérito
De acordo com o legislador pátrio, as condições da ação e os pressupostos processuais
comporiam as questões de admissibilidade do processo, nas quais não se examinam quaisquer
questões ligadas ao mérito (questões preliminares ao mérito).

Já o juízo de mérito é a decisão sobre a questão de mérito principal (pedido) e as outras


questões de mérito (fundamentos).

11.6. O Procedimento (Visão Geral do Procedimento Comum Ordinário)


O procedimento tradicionalmente é examinado como sendo a forma através da qual os atos
processuais são encadeados um após o outro com o objetivo de viabilizar o julgamento da
causa.

Modernamente, o italiano Elio Fazzalari, que estuda o procedimento administrativo, afirma


que o procedimento é a produção de atos sucessivos voltados para a prática de um ato final.
Essa teoria foi introduzida no Brasil pelo Dinamarco.

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Seja qual for o procedimento, ele será composto pelos chamados elementos estruturais. São
eles: a demanda, a citação, a resposta, a instrução e a decisão.

Dependendo do tipo de procedimento, os elementos estruturais podem estar extremamente


coesos de tal forma que não seja possível distingui-los; em outras espécies de procedimentos,
eles se mostrarão perfeitamente delineados. Certo é, no entanto, que eles sempre estão
presentes.

Geralmente o procedimento adotado será o comum de rito ordinário; se porventura a


demanda estiver expressamente prevista como sendo hipótese de utilização de alguma outra
espécie de procedimento, o procedimento comum de rito ordinário será subsidiariamente
observado.

Art. 272 - O procedimento comum é ordinário ou sumário.

Parágrafo único - O procedimento especial e o procedimento sumário


regem-se pelas disposições que lhes são próprias, aplicando-se-lhes,
subsidiariamente, as disposições gerais do procedimento ordinário.

As partes em comum acordo podem adotar um procedimento diverso daquele estabelecido


pela lei? Não, procedimento é HIPÓTESE DE NORMA COGENTE, portanto, de observância
obrigatória; logo, as partes não podem escolher o tipo de procedimento que pretendem
adotar.

Pode o magistrado modificar o procedimento por julgar mais conveniente para a causa,
adaptando-o? Não, o procedimento só pode ser alterado pelo juiz nas hipóteses
expressamente previstas na lei, a alteração do procedimento não pode ser feita a critério do
juiz, só quando a lei autoriza.

E em relação à conversão de processos, é ela possível? Pode-se converter um processo de


conhecimento em processo de execução? Um processo cautelar em processo de
conhecimento? Um processo de execução em cautelar? Pela lei não, é incabível conversão de
processos, apesar de na prática alguns juízes o fazerem.

Pois bem.

O procedimento comum ordinário possui quatro fases:

a) Postulatória: envolve a inicial, a citação e a resposta;

b) Saneamento ou ordinatória: é fase geralmente difusa no processo, tendo como marco


final, em tese, o despacho saneador; diz-se que o incío do saneamento começa após o
fim do prazo de resposta;

c) Instrução: fase de produção probatória, onde os pontos controvertidos fixados no


despacho saneador serão discutidos sob o crivo do contradiório;

d) Julgamento:

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11.7. Observações de Provas


1. TRF3 – XIII – QUESTÃO 67. Entre duas causas há relação de prejudicialidade quando o
julgamento de uma delas influir no teor do julgamento da outra.

12. Petição Inicial


A petição inicial é o instrumento que dá início ao processo, o qual já existe desde sua
distribuição (ou registro, se houver apenas uma Vara na subseção judiciária ou comarca). Ela
também tem a função de identificar a demanda, decorrência natural da necessidade de
menção às partes, causa de pedir e pedido (elementos da ação). Essa segunda característica
permite alguns efeitos:

a) Aplicação do princípio da congruência, indicando os limites objetivos e subjetivos da


sentença;

b) Verificação de eventual litispendência, coisa julgada ou conexão;

c) Fornece elementos para a fixação da competência;

d) Indica desde logo ao juiz a eventual ausência de alguma das condições da ação;

e) Pode influenciar na determinação do procedimento.

Ela é um instrumento solene, já que requer o atendimento de requisitos fixados em lei, os


quais, se inobservados, podem gerar nulidade absoluta ou relativa, aquela causando o
indeferimento da inicial, esta sendo motivo de determinação da emenda.

12.1. Requisitos Estruturais da Inicial no Procedimento Ordinário


Os requisitos abaixo são os previstos para o procedimento ordinário. Em procedimentos
diferenciados, costuma haver algumas variantes, como a necessidade de se especificar de
imediato as testemunhas e de indicar os quesitos periciais no procedimento sumário.

a) Forma escrita: como regra, a inicial deve ser escrita, datada e assinada por advogado,
somente sendo admitida a petição inicial de forma oral nos Juizados Especiais Cíveis e
no procedimento especial da ação de alimentos. Ainda assim, nesses casos o pedido
deverá ser atermado pelo servidor da Justiça.

b) Firma de advogado legalmente habilitado: as iniciais devem contar com a assinatura


de advogado, salvo nos casos de:

i. Não haver advogado na comarca, ou, se houver, todos se negarem a


patrocinar a causa (postulação em causa própria, art. 36, caput, CPC);

ii. Habeas corpus;

iii. Juizados Especiais Cíveis, na primeira instância, em causa de até 20 salários


mínimos. Se federais, até 60 SM;

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iv. Justiça do Trabalho, nas instâncias ordinárias.

c) Endereçamento: deverá o juízo competente, seja ele de primeiro ou segundo grau, ser
identificado;

d) Verificação das partes: deve constar na inicial, no preâmbulo, a indicação das partes e
sua qualificação, com indicação de nome completo, estado civil, profissão, domicílio e
residência. Isso se presta a permitir a citação e a individuação dos sujeitos processuais.
Outros dados também serão altamente recomendados, como o RG, CPF e CNPJ.

Quando se tratar de pessoa jurídica na propositura de ação, é fundamental que a


inicial venha acompanhada do estatuto social e da documentação que comprove a
regularidade da representação. Na Justiça Federal, tem sido exigida também o
comprovante de cadastro do CNPJ na receita federal, o qual pode ser retirado de graça
pela internet;

e) Fato e fundamento jurídico do pedido: a exposição de ambos materializa a causa de


pedir; a causa remota é o fato real, da vida, enquanto a causa próxima ou imediata é o
fundamento jurídico. A causa de pedir é o fato ou conjunto de fatos jurídicos e a
relação jurídica, trazidos pelo demandante como fundamento de seu pedido.

Logo, não basta a indicação da relação jurídica, efeito do fato jurídico, sem que se
indique qual o fato jurídico que lhe deu causa – teoria da individualização. Conforme já
visto anteriormente, o Brasil adotou a teoria da substanciação impura da causa de
pedir.

Lembrar que não se pode confundir fundamento jurídico com fundamentação legal, a qual é
dispensável; afinal, iura novit curia.

f) Pedido: petição inicia sem pedido é inepta. As características do pedido serão


analisadas em capítulo próprio.

g) Valor da causa: será visto adiante. Tem grande importância na Justiça Federal, já que o
valor da causa pode ou não determinar a competência absoluta dos Juizados Especiais
Federais.

h) Indicação dos meios de prova: se o procedimento for o sumário, devem ser já


apresentados na inicial os quesitos periciais.

i) Requerimento de citação do réu:

j) Indicação do local onde o patrono receberá intimações: previsão do art. 39, I.

k) Outros documentos indispensáveis à propositura da ação: previsão aposta no art. 283,


variará de acordo com cada demanda.

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12.2. Emenda da Inicial


Se a petição estiver irregular por lhe faltar algum dos requisitos, o magistrado deverá intimar o
autor para emendá-la, no prazo de 10 dias. Se a primeira emenda não foi satisfatória, permite-
se nova emenda. No caso de falta de endereço do patrono, o prazo de emenda será de 48
horas, conforme art. 39, p. único.

Esses prazos podem ser dilatados pelo magistrado, a depender do caso concreto, e apedido
das partes. Veja:

RECURSO REPETITIVO. PRAZO. EMENDA À INICIAL.

A Seção, ao apreciar o REsp submetido ao regime do art. 543-C do CPC e


Res. n. 8/2008-STJ, firmou o entendimento de que o prazo previsto no art.
284 do CPC não é peremptório, mas dilatório. Caso a petição inicial não
preencha os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283 do CPC, ou apresente
defeitos e irregularidades sanáveis que dificultem o julgamento do mérito, o
juiz determinará que o autor a emende ou a complete no prazo de 10 dias.
Porém, decidiu-se que esse prazo pode ser reduzido ou ampliado por
convenção das partes ou por determinação do juiz, nos termos do art. 181
do código mencionado. Com base nesse entendimento, concluiu-se que
mesmo quando descumprido o prazo de 10 dias para a regularização da
petição inicial, por tratar-se de prazo dilatório, caberá ao juiz, analisando o
caso concreto, admitir ou não a prática extemporânea do ato pela parte.
Precedentes citados: REsp 871.661-RS, DJ 11/6/2007, e REsp 827.242-DF,
DJe 1º/12/2008. REsp 1.133.689-PE, 2S, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado
em 28/3/2012.

A EMENDA DA INICIAL É UM DIREITO SUBJETIVO DO AUTOR, não podendo o juiz indeferi-la,


sendo o defeito sanável, antes de determinar sua sanação.

A decisão do juiz que determina a emenda deve ser, assim como qualquer decisão judicial,
fundamentada, sendo passível de agravo de instrumento. No entanto, o STJ por várias vezes já
entendeu que a decisão que determina a emenda é um mero despacho, sendo, pois,
irrecorrível.

Se o autor não atender o chamado do juízo, não emendando a inicial, será caso de
indeferimento da inicial, com consequente extinção do processo sem julgamento de mérito.

NÃO SÃO PASSÍVEIS DE EMENDA DEFEITOS RELACIONADOS ÀS CONDIÇÕES DA AÇÃO


(CARÊNCIA DE AÇÃO) E QUANDO HOUVER DECADÊNCIA OU PRESCRIÇÃO.

12.3. Indeferimento da Inicial (arts. 295 a 296)


A inicial somente deve ser indeferida se não houver a possibilidade de correção do vício ou se
o autor não a tiver emendado no prazo fixado pelo juiz. Também poderá haver o
indeferimento se as sucessivas emendas não forem capazes de sanar seu defeito

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SE HOUVER INDEFERIMENTO PARCIAL DA INICIAL, CABERÁ AGRAVO DE INSTRUMENTO, JÁ


QUE A DECISÃO SERÁ UMA INTERLOCUTÓRIA. SE HOUVER INDEFERIMENTO TOTAL, CABERÁ
APELAÇÃO.

Se o indeferimento for em sede de tribunal, em causa de competência originária, caberá


agravo interno em sendo o julgamento monocrático, seja o indeferimento total ou parcial; se
for do órgão colegiado, caberá REsp, RExt, recurso ordinário constitucional ou embargos
infringentes, a depender do caso.

APÓS A CITAÇÃO, NÃO MAIS SERÁ POSSÍVEL INDEFERIR A INICIAL JÁ


ADMITIDA. Se, posteriormente, o magistrado reconhecer sua inépcia, o que pode ser feito a
qualquer tempo, ele deverá simplesmente extinguir o processo sem exame de mérito.

Se o autor apelar da sentença que indefere a inicial, caberá o juízo de retratação pelo órgão
prolator no prazo impróprio de 48 horas (art. 296). O JUIZ SOMENTE PODERÁ SE RETRATAR
SE RECEBER O RECURSO, entendendo que ele preenche todos os requisitos de admissibilidade.
Logo, necessário um juízo positivo de admissibilidade86.

O réu não será citado ou intimado para contra-arrazoar. Nesse sentido:

Direito processual civil e civil. Agravo no recurso especial. Ação de cobrança.


Poupança. Diferença de aplicação de índices de correção monetária.
Indeferimento da inicial. Inexistência de citação.

Relação processual não efetivada. Desnecessidade de intimação para


apresentar contrarrazões. Prescrição. Vintenária.

- A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de


que, indeferida a petição inicial, sem que houvesse a citação do réu,
desnecessária se torna a sua intimação para apresentar contrarrazões,
porque ainda não se encontra efetivada a relação processual. Precedentes.

[...]

(STJ, AgRg no REsp 1109508/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA


TURMA, julgado em 20/04/2010, DJe 30/04/2010)

No caso de provimento, o tribunal determinará que o juiz retome o processo, o qual citará o
réu e continuará o processo.
Sim

Recebido Possibilidade de juízo de


Indeferimento da inicial
recurso? retratação em 48 horas
Não Sim

Retratação
Extinção do processo
86
Se não há recurso, ao juiz não se pode abrir essa possibilidade,Manda citar
porque feita? Mas,
o feito estaria terminado.
além disso, se exige um juízo positivo de admissibilidade desse recurso de apelação, porque é
exatamente a potencialidade de a decisão do magistrado vir a ser reformada pelo Tribunal que lhe
possibilita, por economia processual, que ele próprio já a reconsidere, na hipótese de indeferimento da
petição inicial. E se o recurso de apelação nesse caso não for recebido, ao magistrado não será dado
fazer juízo de retratação, atingindo o processo o trânsito em julgado.
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Não Sim Não

Recurso Processo segue para


provido? Tribunal

12.3.1. Hipóteses de Indeferimento da Petição Inicial (art. 295)


A petição inicial será indeferida quando houver:

a) Inépcia: a inépcia gira em torno de defeitos vinculados à causa de pedir e ao pedido.


São defeitos que não apenas dificultam, mas impedem o julgamento do mérito da
causa. São hipóteses de inépcia:

i. Ausência de pedido ou de causa de pedir;

ii. Quando da narração dos fatos não decorrer logicamente o pedido;

iii. Quando o pedido for juridicamente impossível (hipótese de carência de ação);

iv. Quando os pedidos forem incompatíveis entre si.

b) Manifesta ilegitimidade de parte: é causa de carência de ação, mas sem tornar a inicial
inepta; o artigo exige que a ilegitimidade seja manifesta. Entretanto, pode o juiz
indeferir a inicial mesmo se não for ela manifesta, mas se convencendo ele da inépcia,
seja a parte ilegítima autor ou réu. Lembrar que a ilegitimidade da parte pode ser
reconhecida a qualquer tempo. Porém, se após o recebimento da inicial, o processo
não será extinto por indeferimento da mesma (preclusão lógica), mas sim por carência
de ação.

c) Falta de interesse de agir: outra das condições de ação, cuja ausência leva à carência
de ação e indeferimento da inicial, mas não por sua inépcia;

d) Prescrição ou decadência: trata-se da única hipótese em que o indeferimento da inicial


se dará mediante uma sentença que julga o mérito, fazendo coisa julgada material.

e) Erro de procedimento: quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não


corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será
indeferida se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal.

f) Quando não atendidas as prescrições do art. 39, p. único, e 284: ocorre se a inicial não
indicar o endereço do patrono do autor, após determinada a emenda.

12.4. O Pedido

12.4.1. Conceito e Divisão


O pedido é aquilo que se pede, a pretensão material deduzida em juízo. Pedido imediato é a
providência jurisdicional que se pretende (condenação, constituição, declarar etc.). Pedido

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mediato é o bem de vida, o resultado prático que o demandante espera conseguir com a
tomada da providência.

Importante salientar que, ainda que se indique que o pedido deva vir expresso ao final da
petição inicial, na parte de requerimentos, pode o tribunal conceder tutela com base nos
pedidos efetivados ao longo da fundamentação, ainda que não tenham sido reiterados ao final
da petição. Nesse sentido:

A Turma, entre outras questões, entendeu que não houve pedido inicial
explícito do MP no sentido de que qualquer construção fosse demolida, nem
mesmo de que fossem suspensas as atividades da ora recorrente, ao propor
a ação civil pública (ACP) de responsabilidade por danos causados ao meio
ambiente. Porém essa simples constatação não conduz à nulidade por
desobediência do dever de adstrição ao pedido. A jurisprudência deste
Superior Tribunal entende que o pedido não deve ser extraído apenas do
capítulo da petição reservado aos requerimentos, mas da interpretação
lógico-sistemática das questões apresentadas pela parte ao longo da
petição. (STJ, REsp 967.375-RJ)

12.4.2. Requisitos
O pedido deve ser certo e determinado (ou determinável).

Certo é o pedido expresso, sem obscuridade, que não seja vago. Aplica-se tanto ao pedido
mediato quanto ao pedido imediato.

Determinado é o pedido delimitado em relação à qualidade e à quantidade do bem


pretendido; a determinação não precisa ser total, já que muitas vezes somente se poderá fixar
exatamente o quantum debeatur na fase de liquidação.

12.4.3. Cumulação de Pedidos

12.4.3.1. Cumulação Própria: Simples ou Sucessiva


A cumulação própria ocorre quando se formulam vários pedidos, pretendendo-se o
acolhimento de todos.

Será cumulação simples quando as pretensões não tiverem entre si relação de precedência
lógica, podendo ser analisadas uma independentemente da outra.

Será cumulação sucessiva quando os pedidos guardarem um vínculo de precedência lógica


entre si: o acolhimento de um pressupõe o acolhimento do anterior. V.g.: a pessoa pretende
obter um carro de uma concessionária; obtido, pretende que esse carro já venha segurado
conforme promoção por esta prometida.

12.4.3.2. Cumulação Imprópria: Subsidiária ou Alternativa


É a formulação, pelo autor, de vários pedidos ao mesmo tempo, de modo que apenas um
deles seja atendido. O acolhimento de um implica na exclusão do outro.

Ocorrerá a cumulação subsidiária ou eventual (art. 289) quando o autor estabelecer uma
hierarquia de preferência entre os pedidos: o segundo somente será examinado se o primeiro
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283

for rejeitado, assim em diante. Se o juiz acolher o pedido principal, estará dispensado de
examinar o subsidiário, O QUAL NÃO FICARÁ ACOBERTADO PELA COISA JULGADA, JÁ QUE
NÃO FOI EXAMINADO. Se o magistrado examinar o pedido subsidiário sem examinar o
principal, estará atuando per saltum, logo, cometendo error in procedendo. Agora, se o
magistrado rejeitar o pedido principal, mas acolher o subsidiário, o principal também restará
acobertado pela coisa julgada.

Se somente o pedido subsidiário for acolhido, poderá o autor recorrer da decisão, já que ao
estabelecer a hierarquia de preferência, definiu o que lhe é mais interessante. Se acolhido
totalmente um dos pedidos, mesmo que o subsidiário, o autor será vencedor da causa, não
podendo ser condenado ao pagamento de verbas sucumbenciais87. Ademais, o acolhimento
de um dos pedidos subsidiários faz coisa julgada em relação a todos os demais pedidos
preferenciais, já que foram analisados. Existindo outros pedidos subsidiários após o acolhido,
sobre estes não recai a coisa julgada.

A cumulação imprópria subsidiária de pedidos, também chamada de


eventual por alguns doutrinadores, está regulada no art. 289 do CPC e se faz
presente quando o autor formula dois ou mais pedidos excludentes em
ordem de hierarquia fixada na petição inicial, os quais somente deverão ser
examinados e eventualmente acolhidos no caso de ser rejeitado o pedido
imediatamente anterior. Dessa forma, EVIDENCIA-SE, NA CUMULAÇÃO
SUBSIDIÁRIA DE PEDIDOS, HAVER PARCIAL SUCUMBÊNCIA DA PARTE QUE
NÃO TEVE SUA PRETENSÃO ATENDIDA NA EXTENSÃO QUE
PREFERENCIALMENTE DESEJAVA. Assevera que, nesses casos, a solução a
ser adotada para resolver a controvérsia passa, em um primeiro momento,
pela classificação do pedido, para que então possa ser definido o regime
jurídico a ele aplicável, sobretudo quanto aos honorários advocatícios e ao
interesse de recorrer. Diante do exposto, os embargos de divergência foram
providos de acordo com a orientação do acórdão paradigma de que,
havendo a rejeição do pedido principal e o acolhimento de outro
subsidiário, estará configurada a mútua sucumbência, PODENDO AINDA O
JUIZ, NO CASO CONCRETO E COM RESPALDO NA EQUIDADE, ATRIBUIR OS
ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA INTEGRALMENTE AO RÉU, QUANDO
RECONHECER A SUCUMBÊNCIA MÍNIMA DO AUTOR NAQUELES CASOS EM
QUE HÁ PARCIAL EQUIVALÊNCIA ENTRE OS PEDIDOS PRINCIPAL E
SUBSIDIÁRIO. (STJ, Corte Especial, Informativo 441, EREsp 616.918-MG)

Ocorrerá cumulação imprópria alternativa (não prevista no nosso direito positivo) quando o
autor formula mais de uma pretensão, para que uma ou outra seja acolhida, sem expressar
qualquer preferência.

O valor da causa será o do pedido que tiver o maior valor, nesse caso.

87
O julgado abaixo arrolado do STJ diverge desse entendimento do Didier. Atenção: o julgado é da Corte
Especial. Por ele, se acolhido somente o pedido subsidiário, há sucumbência recíproca, salvo se o pedido
subsidiário acolhido for de valor similar ao principal, quando então poderá o juiz condenar apenas o réu.
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284

12.4.3.3. Cumulação Inicial e Cumulação Posterior


Será inicial quando veiculada pela petição inicial; será ulterior quando a parte agregar novo
pedido à sua demanda já no curso do processo. São exemplos de cumulação posterior
aditamento do pedido e o ajuizamento de ação declaratória incidental.

12.4.3.4. Requisitos para a Cumulação


a) Competência: se os pedidos forem de competência de juízos com competência
absoluta diferentes, somente prosseguirá no juízo proposto o pedido de sua
competência, indeferindo de plano o outro. Trata-se de extinção parcial do processo.
Caso se trate de incompetência relativa, a cumulação só será possível se o réu não
propor exceção de incompetência. Proposta, há de ser extinto também parcialmente
o processo, já que o juiz não irá determinar que sejam tiradas cópias da inicial para
que o outro juízo julgue parcialmente a causa.

b) Compatibilidade dos pedidos: é requisito da cumulação a compatibilidade lógica dos


pedidos entre si.

c) Identidade do procedimento ou conversibilidade no rito ordinário: não há qualquer


problema se um dos pedidos tivesse que ser processado pelo rito sumário e outro pelo
ordinário, já que ambos seguem procedimento comum. Caso haja cumulação de
pedidos de rito especial com de rito comum, ou de pedidos que seguem ritos especiais
diferentes, poderá ser feita a cumulação desde que seguindo o rito ordinário.

Porém, há casos em que o procedimento especial não pode ser convertido ao ordinário, por
incompatibilidade, não podendo, portanto, haver cumulação de pedidos. Sobre o tema:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PETIÇÃO INICIAL. PEDIDOS. CUMULAÇÃO.


PROCEDIMENTOS DISTINTOS. CONVERSÃO PARA O RITO ORDINÁRIO.
REQUISITOS. APROVEITAMENTO DOS PEDIDOS COMPATÍVEIS COM A AÇÃO
AJUIZADA. PEDIDO SEM NEXO LÓGICO COM A NARRATIVA DOS FATOS.
INÉPCIA DA PETIAÇÃO INICIAL. - De acordo com o art. 292, § 1º, III e § 2º, do
CPC, a cumulação de pedidos se sujeita, entre outros requisitos, à
identidade de procedimento ou à possibilidade de que todos os pedidos
sejam processados pelo rito ordinário. - Em nosso sistema processual
prevalece a regra da indisponibilidade do procedimento, segundo a qual as
partes não podem alterar a espécie procedimental prevista para
determinada situação litigiosa. Todavia, há situações em que o
ordenamento jurídico possibilita que pedidos sujeitos a procedimentos
especiais sejam também formulados via procedimento comum, como é o
caso das ações possessórias e monitórias. - Dessa forma, a partir de uma
análise sistemática do CPC, conclui-se que a regra do art. 292, § 2º, não se
aplica indiscriminadamente, alcançando apenas os pedidos sujeitos a
procedimentos que admitam conversão para o rito ordinário. - Na
cobertura do art. 292, § 2o, do CPC, os pedidos que guardam
compatibilidade e não demonstram diversidade de procedimento podem e
devem ser apreciados. Precedentes. - No particular, tendo a parte feito uso
dos embargos de terceiro, poderiam, em princípio, ser conhecidos os

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285

pedidos compatíveis com o procedimento aplicável a tal ação. Todavia, a


parte estabelece confusão acerca da condição em que litiga no processo, se
como proprietária do imóvel ou credora hipotecária dos executados. Essa
confusão, que impede o estabelecimento de uma ligação lógica e coerente
entre a narrativa dos fatos e os pedidos formulados, caracteriza a inépcia da
petição inicial, nos termos do art. 295, parágrafo único, II, do CPC, a ensejar
a extinção da ação sem o julgamento do mérito, com fulcro no art. 267, I, do
CPC. Recurso especial a que se nega provimento.

(STJ, RESP 200702332400, NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, DJE


DATA:22/04/2010.)

PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE MÚTUO. SFH. CUMULAÇÃO DE


DEMANDA SUJEITA A RITO COMUM COM PRETENSÃO À CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Não cabe, em recurso especial,
questionar interpretação de cláusulas contratuais (Súmula 5/STJ). 2. Não
tendo o recurso atacado fundamento relevante do acórdão recorrido aplica-
se, por analogia, a Súmula 283 do STF. 3. A norma processual segundo a
qual o autor pode optar pelo procedimento comum mesmo havendo
previsão de procedimento especial (§ 2º do art. 292 do CPC), não é de
aplicação universal. ELA SUPÕE, EM PRIMEIRO LUGAR, QUE O DIREITO
MATERIAL EM FUNÇÃO DO QUAL SE CRIOU O PROCEDIMENTO ESPECIAL
SEJA COMPATÍVEL COM O RITO COMUM; E, EM SEGUNDO LUGAR, QUE O
PROCEDIMENTO ESPECIAL TENHA SIDO ESTABELECIDO APENAS NO
INTERESSE DO AUTOR, E NÃO DO RÉU. Ora, no caso da ação consignatória,
além de ter rito especialmente amoldado à satisfação específica do direito
material de liberar-se da obrigação, sua adoção, na forma como
estabelecida a partir da reforma processual de 1994, é também de
interesse do réu, não só por lhe ser facultado levantar antecipadamente os
depósitos (CPC, art. 899, § 1º), mas sobretudo porque poderá, ao final,
obter tutela jurisdicional em seu favor (art. 899, § 2º). Trata-se de ação
dúplice, em que a tutela em favor do réu é dada independentemente de
reconvenção, o que não ocorre no procedimento comum. Assim, porque
prejudicial ao réu, já não dispõe o autor da faculdade de optar pelo rito
comum, ao exercer a sua pretensão de consignar em pagamento. 4.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido.

(STJ, RESP 200600165155, TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, DJE


DATA:23/09/2009.)

PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. SISTEMA


FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. DISCUSSÃO ACERCA DA LEGALIDADE E
VALIDADE DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. 1.
A ação de consignação não se presta a discutir a correção do valor das
prestações cobradas no contrato de financiamento imobiliário, se para tanto
pretendem também os autores discutir a validade e legalidade de diversas
cláusulas contratuais. 2. A ação de consignação em pagamento é ação que
exige procedimento especial de jurisdição contenciosa, expressamente
previsto nos artigos 890 a 900 do CPC - Código de Processo Civil, e segue rito

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286

especial, onde o pedido do autor tem que estar limitado ao constante do


artigo 893, e a contestação do réu somente pode versar sobre as matérias
elencadas no artigo 896, ambos do CPC. 3. Não é cabível da ação de
consignação em pagamento para rever cláusulas contratuais, ao argumento
de abusividade ou ilegalidade, posto que para tanto deve ser ajuizada ação
própria, pleiteando-se provimento jurisdicional constitutivo, pelo rito do
procedimento comum. 4. É incabível, por incompatibilidade de
procedimentos, a cumulação da ação de consignação em pagamento com
ação de rito ordinário. Não incide na hipótese dos autos a ressalva
constante do §2º do artigo 292 do CPC, pois não há como processar a ação
de consignação em pagamento pelo rito ordinário. Precedentes. 5. Processo
extinto sem resolução do mérito. Apelação prejudicada.

(TRF3, AC 199961000124743, JUIZ CONVOCADO MÁRCIO MESQUITA,


PRIMEIRA TURMA, DJF3 CJ1 DATA:25/11/2009 PÁGINA: 65.)

Apesar de não ser possível a alteração objetiva da demanda após a citação (sem concordância
do réu) ou após o saneamento (mesmo com a concordância do réu), em decorrência do
PRINCÍPIO DA ESTABILIZAÇÃO DA DEMANDA, correções de erros materiais
poderão ser promovidas a qualquer tempo.

12.4.4. Tipologia

12.4.4.1. Pedido Implícito e Interpretação do Pedido


É pedido que, embora não explicitado na demanda, compõe o mérito do processo por força de
lei; mesmo que a parte não peça, deve o magistrado examiná-lo e decidi-lo. São exemplos de
pedidos implícitos:

a) Correção monetária;

O tema da correção monetária classifica-se como matéria de ordem pública


e integra o pedido de forma implícita. Por isso, não caracteriza julgamento
extra ou ultra petita sua inclusão ex officio no decisum feita pelo juiz ou
tribunal; pois, nessa hipótese, conforme precedentes, é prescindível aplicar
o princípio da congruência (entre o pedido e a decisão judicial). Anote-se
que a correção monetária plena busca apenas recompor a efetiva
desvalorização da moeda, com o fim de preservar seu poder aquisitivo
original: não é plus, mas um minus que se evita. (STJ, Corte Especial,
Informativo 445, REsp 1.112.524-DF).

b) Honorários advocatícios;

c) Juros moratórios;

d) Ressarcimento das despesas processuais;

e) Parcelas vencidas no decorrer do processo em obrigações periódicas (art. 290);

f) Alimentos, em ações de paternidade.

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287

12.4.4.2. Pedido Genérico (art. 286)


Ocorre em situações excepcionais previstas em lei. Tais situações devem ser interpretadas
sempre restritivamente. São elas:

a) Nas ações universais, se o autor não puder individuar na inicial os bens demandados.
Ações universais são aquelas em que a pretensão recai sobre uma universalidade, seja
ela de fato ou de direito. Exemplo que pode ser dado é o fianciamento concedido pela
CEF para plantio de lavoura de café, onde a garantia dada é o direito de usufruto da
lavoura;

b) Nas ações indenizatórias, quando não for possível determinar, definitivamente, as


consequências do ato ou fato ilícito;

c) Quando a determinação do valor da condenação depender de ato a ser praticado pelo


próprio réu.

Nos pedidos genéricos, somente poderá ser genérica a quantidade, devendo o gênero ser
determinado. Em todas as hipóteses em que o pedido for genérico, poderá o juiz prolatar
sentença ilíquida, salvo nos juizados.

Lembrar que não se considera ilíquida a sentença cuja precisa determinação do quantum
debeatur depende exclusivamente de cálculos aritméticos.

12.5. O Valor da Causa (arts. 258 a 261)

Art. 259. O valor da causa constará sempre da petição inicial e será:

I - na ação de cobrança de dívida, a soma do principal, da pena e dos juros


vencidos até a propositura da ação;

II - havendo cumulação de pedidos88, a quantia correspondente à soma dos


valores de todos eles;

III - sendo alternativos os pedidos, o de maior valor;

IV - se houver também pedido subsidiário, o valor do pedido principal;

V - quando o litígio tiver por objeto a existência, validade, cumprimento,


modificação ou rescisão de negócio jurídico, o valor do contrato;

VI - na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais, pedidas


pelo autor;

VII - na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, a estimativa


oficial para lançamento do imposto.

Art. 260. Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, tomar-se-á


em consideração o valor de umas e outras. O valor das prestações vincendas

88
Cumulação própria, no caso.
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288

será igual a uma prestação anual, se a obrigação for por tempo


indeterminado, ou por tempo superior a 1 (um) ano; se, por tempo inferior,
será igual à soma das prestações.

Art. 261. O réu poderá impugnar, no prazo da contestação, o valor atribuído


à causa pelo autor. A impugnação será autuada em apenso, ouvindo-se o
autor no prazo de 5 (cinco) dias. Em seguida o juiz, sem suspender o
processo, servindo-se, quando necessário, do auxílio de perito, determinará,
no prazo de 10 (dez) dias, o valor da causa.

Parágrafo único. Não havendo impugnação, presume-se aceito o valor


atribuído à causa na petição inicial.

Jurisprudência selecionada:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. REAJUSTE DE 3,17%.


LITISCONSÓRCIO ATIVO FACULTATIVO. CONTEÚDO ECONÔMICO DA
DEMANDA. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL CÍVEL. LEI
10.259/2001.

1. A competência dos Juizados Especiais Federais é absoluta e determinada


pelo valor da causa, conforme o disposto no artigo 3º da Lei nº 10.259/2001,
compreendendo as causas até o valor de sessenta salários mínimos.

2. Para efeito de determinação de competência no caso de litisconsórcio


ativo facultativo, esta Corte firmou entendimento no sentido de que O
VALOR DA CAUSA É AQUELE ENCONTRADO PELA DIVISÃO DO VALOR
GLOBAL PELO NÚMERO DE LITISCONSORTES.

3. Como o valor atribuído à demanda foi de R$ 15.700,00 e são 10 (dez)


autores, o valor da causa individualmente é de apenas R$ 1.570,00,
circunstância que revela que a pretensão econômica dos autores
efetivamente se encontra dentro do limite previsto na Lei 10.259/01.

4. Agravo de instrumento desprovido. (TRF1, AG 0033958-


70.2004.4.01.0000/DF, Rel. Desembargadora Federal Neuza Maria Alves Da
Silva, Segunda Turma,e-DJF1 p.104 de 08/07/2010)

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL


FEDERAL E JUÍZO FEDERAL COMUM. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO
(SFH). REVISÃO GERAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO.
VALOR DA CAUSA SUPERIOR A SESSENTA SALÁRIOS MÍNIMOS.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL DA VARA COMUM.

[...]

2. O valor da causa deverá corresponder à pretensão econômica, objeto do


pedido, cabendo ao juiz determinar, até mesmo de ofício, a sua retificação,
quando verificar que não atende ao escopo da lei.

3. Em se tratando de ação de procedimento ordinário, na qual se busca a


revisão geral de contrato de financiamento imobiliário, com a restituição,
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289

em dobro, dos valores que o autor alega ter sido pago indevidamente, o
valor da causa deve corresponder à diferença entre o saldo devedor
apurado pelo agente financeiro e aquele considerado correto pelo
mutuário.

[...] (TRF1, CC 0069281-63.2009.4.01.0000/DF, Rel. Desembargador Federal


Daniel Paes Ribeiro, Terceira Seção,e-DJF1 p.136 de 07/06/2010)

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO FEDERAL


E JUIZADO ESPECIAL FEDERAL. DEFINIÇÃO DO VALOR DA CAUSA, NO
MOMENTO PROCESSUAL OPORTUNO, PELO JUÍZO A QUEM FOI
DISTRIBUÍDO ORIGINARIAMENTE O FEITO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
SUSCITADO.

I - A verificação do valor da causa, em face do conteúdo econômico da


demanda, poderá ser adotada, com auxílio da contadoria judicial, no
momento processual oportuno, até mesmo, de ofício, pelo juízo a quem foi
distribuído, originariamente, o feito, para definição da competência
absoluta do Juizado Especial Federal Cível, de que trata o parágrafo 3º do
artigo 3º da Lei nº 10.259/2001, assegurando-se à parte contrária, em
qualquer caso, o direito à impugnação daquele valor (CPC, art, 261, caput),
em homenagem à garantia constitucional do amplo contraditório (CR, art.
5º, LV).

[...]

III - Em se tratando de cumulação de pedidos, o valor da causa deve


corresponder à soma do conteúdo econômico da demanda de cada um dos
pleitos (CPC, art. 259, II), que, na espécie, em muito ultrapassa o limite
legalmente estabelecido para definição da competência do Juizado Especial
Federal.

[...] (TRF1, CC 0054698-73.2009.4.01.0000/BA, Rel. Desembargador Federal


Souza Prudente, Quarta Seção,e-DJF1 p.09 de 31/05/2010)

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL


FEDERAL E JUÍZO FEDERAL COMUM. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL
REGIONAL FEDERAL PARA O JULGAMENTO DO CONFLITO. AÇÃO CAUTELAR
DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO, PREPARATÓRIA DE AÇÃO DE COBRANÇA.
VALOR DA CAUSA INFERIOR A SESSENTA SALÁRIOS MÍNIMOS.
COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL.

1. A competência dos Juizados Especiais Federais Cíveis é absoluta, e fixada


em função do valor da causa. Excetuam-se da regra geral, todavia, as causas
a que se refere o § 1º, incisos I a IV, do art. 3º da Lei n. 10.259/2001, entre
as quais, todavia, não se incluem as ações cautelares.

2. A ação cautelar de exibição de documentos, preparatória de ação de


cobrança, pode ser processada perante o Juizado Especial Federal Cível,
visto que a ação principal também pode aí ser ajuizada. Caso o valor da
causa atribuído ao feito principal exceda o valor de sessenta salários
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290

mínimos, "nada impede que a competência para a apreciação das ações


(cautelar preparatória e principal) seja alterada, como aliás autoriza o
artigo 102 do Código de Processo Civil". Precedente do STJ.

3. Conflito conhecido e julgado improcedente, declarando-se a competência


do Juízo Federal da 6ª Vara (Juizado Especial Federal Cível e Criminal) da
Seção Judiciária do Estado do Amazonas, o suscitante. (TRF1, CC
2009.01.00.073981-9/AM, Rel. Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro,
Corte Especial,e-DJF1 p.86 de 11/02/2010)

EMENTA: AÇÃO REVISIONAL. VALOR DA CAUSA. ALTERAÇÃO EX OFFICIO.


COMPETÊNCIA. JUIZADOS ESPECIAIS. VALOR DA CAUSA.
PREQUESTIONAMENTO. É POSSÍVEL AO MAGISTRADO, DE OFÍCIO,
ORDENAR A RETIFICAÇÃO DO VALOR DA CAUSA, QUANDO O
CRITÉRIO DE FIXAÇÃO ESTIVER PREVISTO NA LEI, QUANDO A
ATRIBUIÇÃO CONSTANTE DA INICIAL CONSTITUIR EXPEDIENTE
DO AUTOR PARA DESVIAR A COMPETÊNCIA, O RITO
PROCEDIMENTAL ADEQUADO OU ALTERAR A REGRA
RECURSAL. O controle de competência das Varas Cíveis remanescentes
deve ser feito de forma rígida e nos exatos termos da legalidade,
prestigiando assim a jurisdição dos Juizados Especiais Federais e evitando
que processos que não são da competência das Varas Cíveis tramitem
nessas. O fator determinante da fixação da competência no Juizado Especial
Federal Cível é o valor da causa, que não pode ultrapassar 60 salários
mínimos. Prequestionamento quanto à legislação invocada estabelecido
pelas razões de decidir. Apelação improvida. (TRF4, AC 2008.71.08.007576-
1, Quarta Turma, Relatora Silvia Maria Gonçalves Goraieb, D.E. 14/06/2010)

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA. JUÍZADO ESPECIAL.


RETIFICAÇÃO DO VALOR DA CAUSA. 1. Pode o magistrado da causa retificar
de ofício o valor atribuído à causa, quando o critério estiver estatuído em
lei. 2. Em se tratando de prestações vencidas e vincendas, o valor da causa
corresponde ao total das parcelas vencidas somadas a doze vezes o valor
da prestação vincenda. Aplicação do art. 260 do CPC. 3. Hipótese em que,
corrigido o valor da causa, fixa-se a competência absoluta do Juizado
Especial Federal. Aplicação do art. art. 3º, caput e § § 2º e 3º, da Lei n°
10.259/01. (TRF4, AG 0005644-23.2010.404.0000, Sexta Turma, Relator João
Batista Pinto Silveira, D.E. 02/06/2010)

EMBARGOS DE TERCEIRO. AUSÊNCIA DO VALOR DA CAUSA.

A jurisprudência pacífica do STJ é que, em ação de embargos de terceiro, o


valor da causa deve ser o do bem levado à constrição, não podendo
exceder o valor da dívida. Na espécie, a sentença que fixou os honorários
advocatícios explicitou o percentual devido a título de tal verba. Porém, o
valor da causa não foi indicado, uma vez que o autor da ação de embargos
de terceiro não se desincumbiu de tal providência. Contudo, não há iliquidez
no título executivo a autorizar a extinção da execução dos honorários como
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291

determinado pelo juízo sentenciante, tendo em vista que os valores são


alcançados por simples cálculos aritméticos consistentes na aplicação do
percentual arbitrado na sentença ao valor que legalmente deveria ter sido
atribuído aos embargos de terceiro. Precedentes citados: AgRg no Ag
1.379.627-SP, DJe 4/5/2011; EREsp 187.429-DF, DJ 29/11/1999, e REsp
161.754-SP, DJ 15/3/1999. REsp 957.760-MS, 4T, Rel. Min. Luiz Felipe
Salomão, julgado em 12/4/2012.

12.6. Princípio da Estabilização da Demanda


Com a citação válida o réu passa de mera parte na demanda a parte no processo, não se
podendo confundir o prazo para resposta, que corre da juntada do documento que prova a
citação aos autos com, a própria citação; é neste momento e não naquele que o réu passa a
integrar a relação processual. Assim, não se confundem a existência do processo com a
possibilidade deste produzir efeitos quanto ao demandado, o que se dá posteriormente. Há
assim uma formação gradual do processo (Moniz Aragão), primeiro quanto ao autor, depois
quanto ao réu.

Distinguem-se então os efeitos substanciais da litispendência (litigiosidade da coisa,


interrupção da prescrição e mora do devedor) dos processuais (vedação de nova demanda
idêntica, prevenção, estabilização da demanda, suspensão de outro processo que seja
prejudicado pelo processo agora deflagrado).

Uma vez proposta a demanda, seus elementos identificadores ainda podem ser alterados,
objetivamente (causa de pedir ou pedido) ou subjetivamente (partes). O art. 264 afirma que
feita a citação mantêm-se as partes, salvo nas hipóteses em que a lei autorize a “substituição”;
aqui embora a lei assim o diga trata-se de sucessão processual onde outra pessoa (ou ente
dotado de capacidade judiciária) passa a figurar no lugar da parte original. São exemplos a
nomeação à autoria, a alienação de coisa litigiosa com substituição da parte e a morte da
parte. Desse modo, a alteração subjetiva pode dar-se até a citação, salvo as substituições
(sucessões) permitidas por lei (morte, nomeação à autoria, v.g.).

Já a alteração objetiva pode-se operar desde a propositura até o momento de saneamento.


Assim, ANTES DA CITAÇÃO É LIVRE O AUTOR PARA PROMOVER ESSA ALTERAÇÃO, CONTUDO,
CITADO O RÉU, SÓ COM SUA CONCORDÂNCIA PODERÁ OCORRER A ALTERAÇÃO OBJETIVA.

DIZ-SE AINDA QUE COM O SANEAMENTO OCORRE A ESTABILIZAÇÃO DA DEMANDA,


POIS DAÍ EM DIANTE NÃO MAIS SE ADMITE NENHUMA FORMA DE ALTERAÇÃO
OBJETIVA (a lei é expressa nesse sentido).

Processual Civil. Recurso Especial. Ação de compensação por danos morais.


Extinção do processo sem a resolução do mérito. Inépcia da inicial.
Impossibilidade de emenda após a contestação. Inaplicabilidade do art. 515,
§ 3º, do CPC. Revisão do valor fixado a título de honorários advocatícios.
Incidência da Súmula 7/STJ - Trata-se de ação de compensação por danos
morais em que o recorrente não descreveu, na petição inicial, os fatos
ocorridos, tampouco uniu esses fatos ao nexo causal capaz de justificar o
pedido compensatório.
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292

- De acordo com o art. 282, III, do CPC, compete ao autor indicar na inicial o
direito que pretende exercer contra o réu, apontando o fato proveniente
desse direito. A narração dos fatos deve ser inteligível, de modo a enquadrar
os fundamentos jurídicos ao menos em tese, e não de forma vaga ou
abstrata.

- Ausente na petição inicial a indicação dos fatos e dos fundamentos


jurídicos do pedido, é de se declarar a sua inépcia, nos termos do art. 295, I,
do CPC.

- É vedado emendar a inicial após o oferecimento da contestação, SALVO


EM HIPÓTESES EXCEPCIONAIS – isso para atender os princípios da
instrumentalidade das formas, da celeridade, da economia e da
efetividade processuais. Precedentes.

- A adoção desse entendimento não se confunde com o rigorismo do


procedimento. Ao contrário, firma-se no princípio da estabilidade da
demanda, consubstanciado no art. 264, caput e parágrafo único, do CPC.

- Com a estabilização da demanda, é inaplicável o art. 284 do CPC, quando


a emenda implicar a alteração da causa de pedir ou do pedido, ou violar os
princípios do contraditório e da ampla defesa.

- A incidência do art. 515, § 3º, do CPC pressupõe o provimento da apelação


interposta contra sentença que extingue o processo, sem a análise do
mérito.

- A modificação do valor fixado a título de honorários advocatícios somente


é permitida em caráter excepcional, quando a quantia estipulada for
irrisória ou exagerada, o que não está caracterizado neste processo.
Incidência da Súmula 7/STJ.

Recurso especial não provido.

(STJ, REsp 1074066/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 04/05/2010, DJe 13/05/2010)

PROCESSUAL CIVIL. SÚMULA N. 284/STF. DEFICIÊNCIA NA


FUNDAMENTAÇÃO. CITAÇÃO REALIZADA. ESTABILIZAÇÃO DA LIDE.
INCLUSÃO DE RÉU NO POLO PASSIVO. VEDAÇÃO.

1. "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua


fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia" (Súmula
n. 284/STF).

2. Após a estabilização da lide, com a fixação dos seus elementos objetivos


e subjetivos, é vedada a modificação do juízo, do pedido ou causa de pedir
se não houver acordo com o réu e das partes litigantes, salvo as
substituições permitidas por lei.

3. Recurso especial conhecido em parte e provido.

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293

(STJ, REsp 875.696/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA


TURMA, julgado em 23/02/2010, DJe 08/03/2010)

PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS À EXECUÇÃO – ALTERAÇÃO DO POLO


PASSIVO DA AÇÃO ANTES DA CITAÇÃO – POSSIBILIDADE – PRINCÍPIO DA
ESTABILIZAÇÃO SUBJETIVA DO PROCESSO – RECONVENÇÃO – AUTONOMIA
– HONORÁRIOS – CABIMENTO.

1. Até a citação, a parte autora pode emendar a inicial, com a correção do


polo passivo, em razão de não ter ocorrido a estabilização da demanda
(arts. 264 e 294 CPC). Precedentes: REsp 799.369/BA, Rel. Min. Teori Albino
Zavascki, Primeira Turma, julgado em 18.9.2008, DJe 25.9.2008; REsp
988.505/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em
26.6.2008, DJe 5.8.2008; e REsp 435.580/RJ, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, Segunda Turma, julgado em 3.8.2006, DJ 18.8.2006, p. 362.

2. A reconvenção constitui ação autônoma; dessa forma, são devidos os


honorários em razão da sucumbência, independentemente do resultado da
ação principal. Precedentes: AgRg no Ag 690.300/RJ, Rel. Min. Massami
Uyeda, Quarta Turma, julgado em 13.11.2007, DJ 3.12.2007, p. 311; AgRg no
REsp 753.095/DF, Rel. Min. Castro Meira, Terceira Turma, julgado em
23.8.2007, DJ 10.9.2007, p. 228; e EDcl no REsp 468.935/SP, Rel. Min. Carlos
Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, julgado em 24.8.2004, DJ
4.10.2004, p. 283.

Recurso especial parcialmente provido.

(STJ, REsp 614.617/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA


TURMA, julgado em 09/06/2009, DJe 29/06/2009)

O PRÓPRIO CPC, ENTRETANTO, TRAZ ALGUMAS HIPÓTESES LEGAIS DE


EXCEÇÃO À ESTABILIZAÇÃO DA DEMANDA:
Art. 303. Depois da contestação, só é lícito deduzir novas alegações quando:

I - relativas a direito superveniente;

II - competir ao juiz conhecer delas de ofício;

III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer


tempo e juízo.

MODIFICAÇÕES SUBJETIVAS Somente até a citação


Unilateralmente, até a citação
MODIFICAÇÕES OBJETIVAS
Com anuência do réu, até o saneamento

12.7. Observações de Provas


1. TRF4 – XIII – QUESTÃO 61. O pedido mediato, no processo comum ordinário, pode ser
genérico quando a determinação do valor da condenação dependa de ato a ser

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294

praticado pelo réu, hipótese em que o juiz fica autorizado a proferir sentença
ilíquida.

2. TRF4 – XII – QUESTÃO 63. Na hipótese de pedidos sucessivos (art. 289, CPC), a
procedência do anterior e a declaração da prejudicialidade do seguinte não atrai, em
relação a este último, o manto da coisa julgada.

3. EMAGIS – 2012/02 – QUESTÃO 12. Na cumulação imprópria subsidiária de pedidos, o


juiz está condicionado à ordem de apresentação.

4. EMAGIS – 2011/29 – QUESTÃO 10. Considerando que, ao examinar uma inicial, o juiz
tenha detectado a ausência de uma das condições da ação e indeferido seu
processamento, antes mesmo de levar ao conhecimento do réu a existência do
pedido, e que o autor tenha interposto apelação a essa sentença no prazo legal,
somente após juízo de admissibilidade positivo o juiz prolator da decisão recorrida
pode exercer o juízo de retratação.

5. EMAGIS – 2011/26 – QUESTÃO 10. Em ação iniciada sob o rito ordinário, o autor
requereu a condenação do réu ao pagamento do preço previamente ajustado pela
entrega de uma máquina agrícola. De acordo com a inicial, fora firmado contrato para
venda da máquina e de um automóvel. No entanto, mesmo após a entrega do
primeiro objeto, o comprador não teria cumprido a obrigação de pagar o preço. Diante
do pedido, o juiz deve, em caso de procedência, ater-se à condenação do réu ao
pagamento do valor ajustado89.

13. Julgamento Preliminar de Mérito – A Improcedência Prima Facie


13.1. Generalidades
Improcedência prima facie ocorre quando o pedido do autor é indeferido, COM RESOLUÇÃO
DE MÉRITO, sendo a sentença ou acórdão aptos a ficarem amparados pela coisa julgada
material.

ELA É PROFERIDA SEM OUVIR O RÉU, MAS EM FAVOR DELE. Em relação ao contraditório
para o autor, este ficará garantido pela recorribilidade da decisão e pela retratabilidade da
sentença de que se pode valer o juiz.

Se o juiz manter a decisão, deverá intimar o réu para apresentar contrarrazões de apelação.

89
Quando se postula uma obrigação de dar dinheiro, não há alternativa ao magistrado: se o caso for de
procedência, a sentença condenatória abrange apenas essa espécie de obrigação, com os consectários
legais, e sem qualquer alternativa de cumprimento voluntário de outro modo. Se o autor tivesse pedido
a entrega do automóvel, aí sim seria possível condenar o réu, em caso de impossibilidade, pelo
pagamento do valor equivalente. Não pode, entretanto, o autor ser compelido a receber o bem se o que
ele pediu foi o cascalho.
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295

Se a improcedência do pedido transitar em julgado, o escrivão deverá comunicar ao réu sua


vitória, para que possa alegar objeção de coisa julgada material, caso o autor renove a
demanda. Ela é possível em três situações:

a) Indeferimento da inicial em razão de prescrição ou decadência (arts. 295, IV c/c 269,


IV);

b) Julgamento imediato de causas repetitivas;

c) Rejeição liminar dos embargos à execução manifestamente protelatórios.

13.1.1. Indeferimento Liminar em Razão do Reconhecimento da Prescrição ou Decadência


Legal
Certo é que o reconhecimento da prescrição ou decadência é análise de mérito. A grande
controvérsia é se poderá ser feito de ofício ou se depende de manifestação da parte
interessada.

De acordo com o art. 219, § 5º, o juiz pronunciará de ofício a prescrição. Porém, tal fato não
poderá ocorrer em qualquer hipótese. V.g., o juiz não poderá reconhecer de ofício a
prescrição que opere efeitos desfavoráveis ao consumidor, ao menor, ao idoso e ao índio, mas
somente se fosse alegada pela outra parte.

Essa hipótese de improcedência prima facie somente poderá ocorrer de ofício, se envolver
direitos indisponíveis, se favorável aos sujeitos constitucionalmente protegidos.

Sendo indeferida a inicial pelo reconhecimento da prescrição ou decadência, havendo


apelação e não exercido o juízo de retratação em 48 horas (art. 296), os autos seguem para o
tribunal sem a citação e sem contrarrazões recursais.

Importante deixar consignado que o juiz, antes de decretar a prescrição de ofício, deverá
intimar as partes de que assim pretende agir. Não há norma determinando essa postura,
entretanto é a melhor conduta a ser adotada, já que pode ter havido renúncia ou alguma
causa interruptiva ou suspensiva de que ele não conheça e ainda não tenha sido trazida aos
autos.

Fazendo isso, poupará o autor de elaborar recurso somente para alegar, v.g., a renúncia à
prescrição.

13.1.2. Julgamento de Causas Repetitivas (art. 285-A)


Hipótese em que o juiz poderá, quando a matéria discutida for unicamente de direito e
houver no juízo sentenças semelhantes que julguem totalmente improcedentes pedidos
semelhantes, dispensar a citação e proferir sentença, de acordo com as anteriormente
prolatadas.

O juiz não é obrigado a aplicar esse dispositivo legal, já que é livre para alterar seu
posicionamento anterior. São pressupostos dessa hipótese de improcedência prima facie:

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296

a) Causa unicamente de direito, ou seja, não há fase de produção de provas, as quais já


deverão ser pré-constituídas e juntadas aos autos antecipadamente; logo, possível que
existam questões de fato, desde que não controvertidas. Entretanto, lembrar que
como o réu não foi citado, somente podem ser consideradas não controvertidas as
questões em favor das quais milite presunção legal de veracidade;

b) A causa deve ser repetitiva, ou seja, ser objeto de processos semelhantes no mesmo
juízo;

c) Os processos semelhantes devem ter tido seus pedidos julgados totalmente


improcedentes;

d) Há outro pressuposto que começa a ser fixado pela jurisprudência do STJ: que o
entendimento do juízo singular esteja alinhado com a jurisprudência dos Tribunais
superiores.

É permitido o julgamento prima facie parcial, quando o processo tiver apenas semelhança
parcial com o processo paradigma? Daniel Assumpção entende que não, já que o objetivo da
norma, fazer o julgamento sem a citação, não será observado, tendo em vista que o réu
necessariamente será citado para responder em relação à parte controversa.

A apelação interposta contra essa sentença também permite o juízo de retratação do


magistrado, em cinco dias (prazo impróprio) (art. 285-A, § 1º). Se o magistrado não se
retratar, antes de encaminhar os autos ao tribunal, deverá proceder à citação do réu, para
responder ao recurso.

Se mantida a decisão, o réu será citado e intimado, na mesma ocasião, para responder ao
recurso. Daniel Assumpção defende que o réu deverá alegar nas contrarrazões toda a matéria
de contestação possível. Assim:

Se retrata no prazo de 05 dias, determinando a citação do réu;


O Juiz ou
Mantém a decisão, citando o réu para contrarrazões, remetendo o recurso para o tribunal

No Tribunal

No Tribunal, poderá o recurso ser não conhecido ou improvido.

Porém, se conhecido e provido, poderá a decisão ser anulada, caso o tribunal reconheça não
ser o caso de julgamento prima facie, pela ausência de semelhança com os casos paradigmas
ou por haver outros elementos no processo.

Poderá também, reconhecendo que a causa é só de direito, o próprio tribunal reformar e dar
provimento à apelação para dar ganho de causa ao réu, valendo-se da teoria da causa madura
do art. 515, § 3º.

ART. 285-A DO CPC. ENTENDIMENTO. TRIBUNAIS SUPERIORES.


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297

A Turma entendeu que a aplicação do art. 285-A do CPC SUPÕE QUE A


SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA PRIMA FACIE ESTEJA ALINHADA AO
ENTENDIMENTO CRISTALIZADO NAS INSTÂNCIAS SUPERIORES,
ESPECIALMENTE NO STJ E NO STF. Segundo o Min. Relator, os casos em que
o CPC permite o julgamento liminar ou monocrático baseiam-se na solidez
da jurisprudência, não havendo como se dissociar dessa técnica quando da
utilização do dispositivo em comento. Ressaltou que a Lei n. 11.277/2006,
ao incluí-lo no código processual, trouxe mecanismo voltado à celeridade e
racionalidade processuais, o que não seria alcançado caso fosse permitida a
prolação de decisões contrárias aos posicionamentos já consolidados. REsp
1.109.398-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/6/2011.

CÓPIA. SENTENÇAS ANTERIORES. DISPENSABILIDADE. ART. 285-A DO CPC.

In casu, a ação de cobrança foi julgada improcedente na origem e o TJ deu


provimento a apelo não para reformar a sentença e sim para anulá-la, tendo
em vista um vício de procedimento. Aquele tribunal argumentou que o art.
285-A do CPC exige, implicitamente, que o juiz não apenas transcreva as
sentenças proferidas anteriormente que servem de paradigma para a
solução abreviada do feito, como, ainda, providencie a juntada de cópias
dessas sentenças para que se verifique a coincidência entre o seu conteúdo
e o que foi reproduzido no corpo da decisão. Neste Superior Tribunal, entre
outras considerações, o Min. Relator ressaltou que a exigência acessória de
que sejam juntadas as cópias das sentenças quando já houve a transcrição
do seu conteúdo depõe contra os princípios da celeridade e economia
processual, que serviram justamente de inspiração da lei. E que a
interpretação da norma realizada pelo tribunal de origem evidencia uma
desconfiança injustificada quanto à honestidade argumentativa do
magistrado sentenciante. Esse entendimento foi acompanhado pelos
demais ministros, que deram provimento ao REsp e determinaram o retorno
dos autos ao tribunal a quo a fim de que, dispensada a apresentação de
cópia das sentenças, processe e julgue o recurso de apelação como
entender de direito. REsp 1.086.991-MG, 3T, Rel. Min. Sidnei Beneti,
julgado em 16/8/2011.

13.2. Hipóteses de Julgamento Prima Facie – Tabela Representativa


REJEIÇÃO LIMINAR DE
INDEFERIMENTO DA INICIAL CAUSAS REPETITIVAS EMBARGOS À EXECUÇÃO
MERAMENTE PROTELATÓRIOS
Inicial inepta; Causa unicamente de direito, Que os embargos tragam
Reconhecimento da ou seja, não há fase de argumento teratológico,
prescrição ou decadência; produção de provas, as quais manifestamente
Parte manifestamente protelatórios e sem
já deverão ser pré-
ilegítima; fundamentos minimamente
Ausência de interesse constituídas e juntadas aos plausíveis.
processual. autos antecipadamente;
A causa deve ser repetitiva,
ou seja, ser objeto de
PRESSUPOSTOS processos semelhantes no
mesmo juízo;
Os processos semelhantes
devem ter tido seus pedidos
julgados totalmente
improcedentes;
Pressuposto fixado pela
jurisprudência do STJ: que o
entendimento do juiz

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monocrático esteja alinhado


com a jurisprudência dos
Tribunais superiores.
RETRATAÇÃO Possível, no prazo de 48h. Possível, no prazo de 5 dias. Não há previsão.
Não cita; havendo recurso e Cita-se o réu, caso não ocorra Não cita.
CITAÇÃO inexistindo retratação, sobe retratação, para que ofereça
para o tribunal. contrarrazões.
Se reformada sentença, Pode anular sentença, por Não sobe para o tribunal. Juiz
determina retomada do entender não ser caso do art. fixará multa de até 20% o
processo no 1º grau com 285-A, ou reformar e julgar valor da execução.
DECISÃO DO TRIBUNAL citação do réu. pela teoria da causa madura,
ou mesmo reformar para
determinar andamento no
juízo a quo.
PREVISÃO LEGAL Art. 296. Art. 285-A. Art. 739, III.

13.3. Observações de Provas


1. EMAGIS – 2011/35 – QUESTÃO 10. Sentenciado o processo com base nesse preceito
legal (art. 285-A), faculta-se ao juiz, se houver recurso de apelação, decidir, no prazo
de 5 (cinco) dias, não manter a sentença e determinar o prosseguimento da ação. Caso
seja mantida a sentença, será ordenada a citação do réu para responder ao recurso.

2. EMAGIS – 2011/35 – QUESTÃO 10. Segundo recente precedente do Superior Tribunal


de Justiça, a aplicação do art. 285-A do CPC supõe que a sentença esteja alinhada ao
entendimento cristalizado nas instâncias superiores, especialmente no STJ e no STF.

14. Citação e Atos Processuais


14.1. Generalidades
A citação é o ato processual de comunicação ao sujeito passivo da relação jurídica processual
de que em face dele foi proposta uma demanda. Logo, visa a convocar o réu em juízo e
cientificar-lhe do teor da demanda formulada.

Daniel Assumpção esclarece que a citação não é o ato de chamar o réu a responder. Repita-se:
ela serve apenas para cientificá-lo da demanda, aperfeiçoando a relação processual. Isso
porque ela se limita a integrar a relação processual; o ato de se defender é suscitado pela
intimação, a qual ocorre, quase sempre, junto da própria citação e sem que seja destacado o
nomen juris “intimação”.

14.2. Citação como Pressuposto Processual


A citação é condição de eficácia do processo em relação ao réu e requisito de validade dos atos
processuais que lhe seguirem.

A CITAÇÃO NÃO É PRESSUPOSTO PROCESSUAL, POIS DEVE SER REALIZADA APÓS A


FORMAÇÃO DESTE. O QUE ELA FAZ É APERFEIÇOAR A RELAÇÃO JURÍDICA TRILATERAL DO
PROCESSO AO TRAZER O RÉU.

Nos casos de litisconsórcio necessário unitário passivo, a falta de citação de qualquer dos réus
torna a sentença passível de nulificação a qualquer tempo, por provocação de qualquer deles.

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Na verdade, em qualquer litisconsórcio necessário será caso de nulidade de sentença a falta de


citação de um consorte necessário. A diferença, entretanto, é qie no litisconsórcio necessário
passivo simples, o trânsito em julgado operará regulares efeitos entre os réus que participaram
da lide, em regra, visto que o direito do réu não citado em nada favorece ou atrapalha suas
situações jurídico-patrimoniais.

O STJ entende que, no caso de falta de um dos litisconsortes necessários, a sentença será
inexistente, e não nula, relativamente ao réu que não integrou a relação processual, sendo
possível manejar ação de querella nullitatis a qualquer tempo. É IMPORTANTE ESSA
DIFERENCIAÇÃO, JÁ QUE SE A SENTENÇA FOR INEXISTENTE, NÃO SERÁ CASO DE AÇÃO
RESCISÓRIA, JÁ QUE NÃO HAVERÁ O QUE RESCINDIR. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DE LITISCONSORTE PASSIVO


NECESSÁRIO. HABILITAÇÃO DOS HERDEIROS NECESSÁRIOS. REJEIÇÃO.
CITAÇÃO DOS LITISCONSORTES. AUSÊNCIA. HIPÓTESE DE QUERELLA
NULITATIS. ARGUIÇÃO POR SIMPLES PETIÇÃO. POSSIBILIDADE.

1. As hipóteses excepcionais de desconstituição de acórdão transitado em


julgado por meio da ação rescisória estão arroladas de forma taxativa no art.
485 do Código de Processo civil. Pelo caput do referido dispositivo legal,
evidencia-se que esta ação possui natureza constitutiva negativa, que
produz sentença desconstitutiva, quando julgada procedente. Tal ação tem
como pressupostos (i) a existência de decisão de mérito com trânsito em
julgado; (ii) enquadramento nas hipóteses taxativamente previstas; e (iii) o
exercício antes do decurso do prazo decadencial de dois anos (CPC, art.
495).

2. O art. 485 em comento não cogita, expressamente, da admissão da ação


rescisória para declaração de nulidade por ausência de citação, pois não há
que se falar em coisa julgada na sentença proferida em processo em que
não se formou a relação jurídica apta ao seu desenvolvimento. É que nessa
hipótese estamos diante de uma sentença juridicamente inexistente, que
nunca adquire a autoridade da coisa julgada. Falta-lhe, portanto, elemento
essencial ao cabimento da rescisória, qual seja, a decisão de mérito
acobertada pelo manto da coisa julgada. Dessa forma, as sentenças tidas
como nulas de pleno direito e ainda as consideradas inexistentes, a
exemplo do que ocorre quando proferidas sem assinatura ou sem
dispositivo, ou ainda quando prolatadas em processo em que ausente
citação válida ou quando o litisconsorte necessário não integrou o polo
passivo, não se enquadram nas hipóteses de admissão da ação rescisória,
face a inexistência jurídica da própria sentença porque inquinada de vício
insanável.

3. Apreciando questão análoga, atinente ao cabimento ou não de ação


rescisória por violação literal a dispositivo de lei no caso de ausência de
citação válida, o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça
já se posicionaram no sentido de que o vício apontado como ensejador da
rescisória é, em verdade, autorizador da querela nullitatis insanabilis.
Precedentes: do STF - RE 96.374/GO, rel. Ministro Moreira Alves, DJ de
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300

30.8.83; do STJ - REsp n. 62.853/GO, Quarta Turma, rel. Min. Fernando


Gonçalves, unânime, DJU de 01.08.2005; AR .771/PA, Segunda Seção, Rel.
Ministro Aldir Passarinho Junior DJ 26/02/2007.

4. No caso específico dos autos, em que a ação tramitou sem que houvesse
citação válida do litisconsórcio passivo necessário, não se formou a relação
processual em ângulo. Há, assim, vício que atinge a eficácia do processo em
relação ao réu e a validade dos atos processuais subsequentes, por afrontar
o princípio do contraditório. Em virtude disto, aquela decisão que transitou
em julgado não atinge aquele réu que não integrou o polo passivo da ação.
Por tal razão, a nulidade por falta de citação poderá ser suscitada por meio
de ação declaratória de inexistência por falta de citação, denominada
querela nullitatis, ou, ainda, por simples petição nos autos, como no caso
dos autos.

5. Recurso especial provido.

(REsp 1105944/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA


TURMA, julgado em 14/12/2010, DJe 08/02/2011)

Porém, inexistindo prejuízo para o réu não citado, não se há falar em invalidade ou ineficácia
da sentença.

14.2.1. Nulidade da Citação – Não Convalescimento


Como visto no julgado acima, a irregularidade da citação é considerada vício tão grave que faz
com que seja a sentença, até mesmo, tida por inexistente em caso de falta de citação de
litisconsorte necessário.

A nulidade de citação é vício tão grave, segundo a jurisprudência, que pode mesmo ser
alegada depois do biênio de ajuizamento da ação rescisória, seja por uma petição nos autos,
seja por uma ação declaratória de inexistência. É ver o STJ:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. ART. 485, III E V, DO CPC. AUSÊNCIA


DE CITAÇÃO DE LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. HIPÓTESE DE
QUERELLA NULITATIS. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE
MÉRITO.
[...]

4. As hipóteses excepcionais de desconstituição de acórdão transitado em


julgado por meio da ação rescisória estão arroladas de forma taxativa no art.
485 do Código de Processo civil.

5. Pelo caput do referido dispositivo legal, evidencia-se que esta ação possui
natureza constitutiva negativa, que produz sentença desconstitutiva,
quando julgada procedente. Tal ação tem como pressupostos (i) a existência
de decisão de mérito com trânsito em julgado; (ii) enquadramento nas
hipóteses taxativamente previstas; e (iii) o exercício antes do decurso do
prazo decadencial de dois anos (CPC, art. 495).

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6. O ART. 485 EM COMENTO NÃO COGITA, EXPRESSAMENTE, DA


ADMISSÃO DA AÇÃO RESCISÓRIA PARA DECLARAÇÃO DE NULIDADE POR
AUSÊNCIA DE CITAÇÃO, POIS NÃO HÁ QUE SE FALAR EM COISA JULGADA
NA SENTENÇA PROFERIDA EM PROCESSO EM QUE NÃO SE FORMOU A
RELAÇÃO JURÍDICA APTA AO SEU DESENVOLVIMENTO. É QUE NESSA
HIPÓTESE ESTAMOS DIANTE DE UMA SENTENÇA JURIDICAMENTE
INEXISTENTE, QUE NUNCA ADQUIRE A AUTORIDADE DA COISA
JULGADA. Falta-lhe, portanto, elemento essencial ao cabimento da
rescisória, qual seja, a decisão de mérito acobertada pelo manto da coisa
julgada. Dessa forma, as sentenças tidas como nulas de pleno direito e ainda
as consideradas inexistentes, a exemplo do que ocorre quando proferidas
sem assinatura ou sem dispositivo, ou ainda quando prolatadas em processo
em que ausente citação válida ou quando o litisconsorte necessário não
integrou o polo passivo, não se enquadram nas hipóteses de admissão da
ação rescisória, face a inexistência jurídica da própria sentença porque
inquinada de vício insanável.

7. APRECIANDO QUESTÃO ANÁLOGA, ATINENTE AO CABIMENTO OU NÃO


DE AÇÃO RESCISÓRIA POR VIOLAÇÃO LITERAL A DISPOSITIVO DE LEI NO
CASO DE AUSÊNCIA DE CITAÇÃO VÁLIDA, O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
E O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA JÁ SE POSICIONARAM NO SENTIDO
DE QUE O VÍCIO APONTADO COMO ENSEJADOR DA RESCISÓRIA É, EM
VERDADE, AUTORIZADOR DA QUERELA NULLITATIS INSANABILIS.
Precedentes: do STF - RE 96.374/GO, rel. Ministro Moreira Alves, DJ de
30.8.83; do STJ - REsp n. 62.853/GO, Quarta Turma, rel. Min. Fernando
Gonçalves, unânime, DJU de 01.08.2005; AR .771/PA, Segunda Seção, Rel.
Ministro Aldir Passarinho Junior DJ 26/02/2007.

8. No caso específico dos autos, em que a ação principal tramitou sem que
houvesse citação válida do litisconsórcio passivo necessário, não se formou
a relação processual em ângulo. HÁ, ASSIM, VÍCIO QUE ATINGE A EFICÁCIA
DO PROCESSO EM RELAÇÃO AO RÉU E A VALIDADE DOS ATOS
PROCESSUAIS SUBSEQUENTES, POR AFRONTAR O PRINCÍPIO DO
CONTRADITÓRIO. EM VIRTUDE DISTO, AQUELA DECISÃO QUE TRANSITOU
EM JULGADONÃO ATINGE AQUELE RÉU QUE NÃO INTEGROU
O POLO PASSIVO DA AÇÃO. POR TAL RAZÃO, A NULIDADE POR FALTA
DE CITAÇÃO PODERÁ SER SUSCITADA POR MEIO DE AÇÃO DECLARATÓRIA
DE INEXISTÊNCIA POR FALTA DE CITAÇÃO, DENOMINADA QUERELA
NULLITATIS, QUE, VALE RESSALTAR, NÃO ESTÁ SUJEITA A PRAZO PARA
PROPOSITURA, E NÃO POR MEIO DE AÇÃO RESCISÓRIA, QUE TEM COMO
PRESSUPOSTO A EXISTÊNCIA DE DECISÃO DE MÉRITO COM TRÂNSITO EM
JULGADO.

9. Ação rescisória extinta sem julgamento do mérito.

(STJ, AR .569/PE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 22/09/2010, DJe 18/02/2011)

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ASSIM, NÃO COMETER ERRO: PARA O RÉU NÃO CITADO EM HIPÓTESES


DE LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO, NÃO HÁ MOTIVO PARA AJUIZAR AÇÃO
RESCISÓRIA. ELE DEVE AJUIZAR AÇÃO DE QUERELLA NULLITATIS. EM
RELAÇÃO A ELE, NÃO HÁ O QUE RESCINDIR, JÁ QUE A DECISÃO É
JURIDICAMENTE INEXISTENTE PARA SI.
Veja, no entanto, que no julgado acima o STJ deixou expressamente consignado que essa
inexistência somente recai sobre o réu não citado. Para aqueles que regularmente
participaram do processo, a coisa julgada restará formada.

14.3. Comparecimento do Réu Não Citado


O réu não citado pode comparecer ao processo apenas para alegar a inexistência ou invalidade
da citação. Se decretada a nulidade, considera-se ele citado a partir da data em que seu
advogado foi intimado da decisão; se não decretada, o processo prosseguirá regularmente.

14.4. A Recorribilidade do “Cite-se”


O “cite-se” será recorrível dependendo da natureza jurídica que se lhe confira, mero despacho
ou decisão interlocutória. Tal somente poderá ser aferido à luz do caso concreto: se o ato de
citação causar gravame considerável ao citando, será possível agravo de instrumento; se não,
não é recorrível, por se constituir em mero despacho. Sobre o tema:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMENDA DA INICIAL. EXECUÇÃO


FISCAL. CONTEÚDO DECISÓRIO. GRAVAME. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

1. Cuida-se de recurso especial interposto pela Fazenda Nacional pela letra


'a" da permissão constitucional de acórdão assim sumariado: EMENTA:
AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMENDA DA INICIAL.
DESPACHO. ART. 504 DO CPC. NÃO-CONHECIMENTO. AGRAVO IMPROVIDO.

1. "A determinação de emenda de petição inicial tem natureza de


despacho de mero expediente, sendo impassível de Agravo de
Instrumento." (STJ, Resp 66.123/RJ, Rel. Min. Edson Vidigal).

2. É imperativo ressaltar que a jurisprudência daquela Corte também se


orienta no sentido de ser insusceptível de agravo ato que determina a
citação na execução fiscal (REsp 537379/RN, Rel. Min. Luiz Fux; DJ
19.12.2003; AgRg no REsp 58.4694/RJ, Rel. Min. Francisco Falcão; DJ
17.05.2004; AgRg na MC 5846/MG, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito, DJ 07.04.2003; REsp 141592/GO, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha; DJ
04.02.2002).

3. A caracterização do 'cite-se' como despacho exige, por razões de lógica,


que o ato antecedente do juiz, pela emenda da petição inicial, também o
seja, pois, intrinsecamente vinculado ao juízo de admissibilidade da
demanda. 4. Agravo interno conhecido, porém desprovido.

[...]

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(STJ, REsp 907.303/ES, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA,


julgado em 26/06/2007, DJ 13/08/2007, p. 341)

14.5. Pessoalidade (Quem Deve ser Citado)


a) Regra geral: pessoa do réu;

b) Relativamente incapaz: pessoa do réu E seu assistente;

c) Absolutamente incapaz: seu representante;

d) União, Estados, DF e Territórios: seus procuradores;

e) Municípios: Prefeitos e procuradores;

f) Massa falida: síndico;

g) Herança jacente ou vacante: curador;

h) Espólio: inventariante;

i) Pessoas jurídicas de direito privado: os designados por seus estatutos sociais, ou, não
havendo, seus diretores;

j) Condomínio: administrador ou síndico.

O réu poderá ser citado na pessoa de seu advogado quando este tiver poderes especiais para
isso ou nas hipóteses de ações incidentais.

14.6. Impedimento Legal para a Citação (art. 217)


Não se fará citação, salvo para evitar perecimento de direito:

a) A quem estiver assistindo culto religioso;

b) Ao cônjuge ou qualquer parente do morto, no dia do falecimento e nos sete dias


seguintes;

c) Aos noivos, nos três primeiros dias de bodas;

d) Aos doentes, enquanto perdurar seu estado.

Porém, tais impedimentos se referem apenas à pessoa do réu, de modo que, se ele dispuser
de procurador com poderes adequados, poderá ele ser citado.

14.7. Efeitos da Citação (art. 219)


A citação produz efeitos de duas ordens: processuais e materiais.

São efeitos processuais:

a) Tornar litigiosa a coisa;

b) Induzir a litispendência;
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304

c) Tornar prevento o juízo.

São efeitos materiais:

a) Interromper a prescrição;

b) Constituir em mora o devedor (é por isso que os juros de mora correm a partir da
citação em obrigações ex persona).

Além disso, ela completa a relação processual trilateral.

14.7.1. Induz Litispendência


A litispendência, forma de defesa pela qual um processo idêntico não pode ser proposto na
constância do outro, é um dos efeitos da citação.

Na verdade, o que a citação faz é determinar qual processo deverá prevalecer em caso de
múltipla proposição, tendo o STJ pacífico entendimento de que A PRIMEIRA CITAÇÃO
DETERMINA A EXTINÇÃO DOS DEMAIS PROCESSOS.

Dessa forma, pendendo duas ações idênticas, mas em nenhuma delas tendo havido a citação,
deve-se aguardar que uma delas ocorra para que se saiba qual processo extinguir. Se as ações
pendentes forem em juízos de mesma competência territorial, é prevento o juízo que primeiro
despachou positivamente (cite-se). Se em foros diversos, pela juntada o mandado de citação
nos autos.

Importante uma observação: a litispendência existe para o autor desde o momento da


propositura da demanda.

14.7.2. Torna Litigiosa a Coisa


Fenômeno que igualmente só ocorre em relação ao réu, já que litigiosa era para o autor desde
a propositura.

A COISA OU DIREITO ESTARÃO VINCULADOS AO


Tornar litigioso significa que
RESULTADO DO PROCESSO, de forma que ao vencedor será entregue a coisa ou direito
independentemente de quem o mantenha em seu patrimônio no momento da execução.

Assim, as alterações de fato relativas ao objeto processual supervenientes à citação não


produzirão efeitos jurídicos, via de regra, em relação ao autor.

Por isso mesmo que a alienação da coisa litigiosa será ineficaz perante o vencedor da
demanda.

14.7.3. Torna Prevento o Juízo


Lembrar que o juízo prevento, se houver identidade de competência territorial, será aquele
que primeiro despachar positivamente no processo; se houver conexão entre ações em
trâmite em foros diferentes, será aquele que primeiro realizar a citação válida.

Mesma competência territorial Prevento o que primeiro despachou positivamente (cite-se)

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Competência territorial diferente Prevento o que primeiro aperfeiçoou a citação com a juntada do mandado

14.7.4. Constitui em Mora o Devedor


Somente constituirá a citação em mora o devedor no caso de obrigações ex persona, sem
termo certo, nas quais o devedor não tenha sido constituído em mora por meio de
interpelação prévia. Se a obrigação era ex re, com data certa para vencer, já havia a mora.

Em caso de ato ilícito, considera-se em mora o devedor desde o momento em que praticou o
ato.

Súmula 54, STJ: “Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de
responsabilidade extracontratual”.

Isso coorre, inclusive, para os danos morais, tendo sido reafirmada esse posicionamento
jurisprudencial após breve período de variação no STJ:

RECLAMAÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. EXECUÇÃO DE


SENTENÇA. MANDADO DE SEGURANÇA. TERMO INICIAL DOS JUROS DE
MORA E DA CORREÇÃO MONETÁRIA. SÚMULAS 54 E 362 DO STJ.

1. Em ação indenizatória por danos morais, o termo inicial para incidência


dos juros de mora é a data do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual. Aplicação da Súmula 54/STJ.

2. A correção monetária deve incidir desde a data do julgamento em que a


indenização foi arbitrada. Inteligência da Súmula 362/STJ.

3. Reclamação procedente.

(Rcl 3.893/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado
em 23/05/2012, DJe 01/06/2012)

14.7.5. Interrompe a Prescrição, ainda que Ordenada por Juiz Incompetente


Não é a citação pessoal do réu que interrompe o prazo prescricional, e sim o despacho do juiz
que ordena a citação. Porém, não pode ser qualquer despacho, mas sim um em que haja juízo
positivo, ainda que precário, de admissibilidade da causa convocando o réu ao processo.

NO CASO DO JUIZ INCOMPETENTE, A CITAÇÃO SOMENTE PRODUZIRÁ EFEITOS MATERIAIS,


QUAIS SEJAM, INTERROMPER A PRESCRIÇÃO E CONSTITUIR EM MORA O DEVEDOR.

A interrupção da prescrição, se feita regularmente, retroagirá à data da propositura da


demanda.

O autor terá o prazo de 10 dias para citar o réu, podendo pedir, motivadamente, a
prorrogação deste prazo por até 90 dias. Após, ter-se-á por NÃO INTERROMPIDA a prescrição
no momento da propositura da ação, mas apenas na data em que ela efetivamente se
realizar.

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Súmula 106, STJ: “Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação,
por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de
prescrição ou decadência”.

A CITAÇÃO VÁLIDA INTERROMPE A PRESCRIÇÃO, MESMO QUE O PROCESSO SEJA


EXTINTO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO, SALVO SE A EXTINÇÃO SE DEU POR
CONTUMÁCIA DAS PARTES OU ABANDONO DA CAUSA PELO AUTOR. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. FUNDAMENTOS


INSUFICIENTES PARA REFORMAR A DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 83/STJ.

1. Essa Corte firmou entendimento no sentido de que a citação válida


interrompe a prescrição ainda que o processo seja extinto sem julgamento
do mérito, excetuando-se as hipóteses do art. 267, incisos II e III do CPC,
incidindo, assim, o óbice da Súmula 83.

[...]

(STJ, AgRg no Ag 1201956/RS, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em
17/08/2010, DJe 25/08/2010)

DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS


DECLARATÓRIOS. CONTRADIÇÃO. EXISTÊNCIA. AÇÃO CAUTELAR. CITAÇÃO
VÁLIDA. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. EMBARGOS ACOLHIDOS
SEM EFEITOS INFRINGENTES.

1. O ajuizamento de ação cautelar vinculada à controvérsia mantida na


ação principal, enquanto durar a demanda, importa em interrupção do
prazo prescricional, nos termos do art. 219, § 1º, do CPC.

[...]

(STJ, EDcl no REsp 949.204/RJ, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,


QUINTA TURMA, julgado em 17/03/2009, DJe 06/04/2009)

PROCESSUAL CIVIL. AJUIZAMENTO DE MANDADO DE SEGURANÇA.


INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. POSSIBILIDADE. ART. 219, § 1º,
DO CPC. PRAZO PRESCRICIONAL QUE RETROAGIRÁ À DATA DA PROPOSIÇÃO
DA AÇÃO. VERBA HONORÁRIA. ART. 20, § § 3º E 4º, DO CPC. VALOR
CONSIDERADO IRRISÓRIO. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DE MATÉRIA
FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 7 DO STJ.

1. A IMPETRAÇÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA INTERROMPE A


FLUÊNCIA DO PRAZO PRESCRICIONAL, de modo que somente após o
trânsito em julgado da decisão nele proferida é que voltará a fluir a
prescrição da ação ordinária para a cobrança dos créditos recolhidos
indevidamente referentes ao quinquênio que antecedeu a propositura do
writ.

[...]
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(STJ, AgRg no REsp 1161472/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,


SEGUNDA TURMA, julgado em 18/11/2010, DJe 29/11/2010)

AGRAVO INTERNO. PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. PRESCRIÇÃO.


INTERRUPÇÃO. CITAÇÃO VÁLIDA. POSSIBILIDADE (PRECEDENTES).

1. Conforme precedentes desta Corte, a citação válida interrompe a


prescrição, ainda que tenha havido extinção do processo por ilegitimidade
da parte.

2. Agravo interno ao qual se nega provimento.

(STJ, AgRg no REsp 1216368/SC, Rel. Ministro CELSO LIMONGI


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em
28/04/2011, DJe 11/05/2011)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO A DISPOSITIVOS DO CPC.


INOCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO. CITAÇÃO VÁLIDA. EXTINÇÃO
DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO.

[...]

2. Diferentemente do esposado no acórdão recorrido, esta Corte possui o


entendimento no sentido de que a citação válida, que em processo extinto
sem julgamento de mérito, é causa interruptiva da prescrição.

[...]

(STJ, REsp 1239002/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,


SEGUNDA TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 27/04/2011)

PROCESSUAL CIVIL. BNCC. EXTINÇÃO. SUCESSÃO DA UNIÃO.


ADMINISTRAÇÃO PELO BANCO DO BRASIL S/A. LEI 8.029/90 E E DECRETO Nº
1.260/94. PLANO COLLOR. VALORES RETIDOS.INTERRUPÇÃO DA
PRESCRIÇÃO. PROCESSO EXTINTO, SEM JULGAMENTO DO MÉRITO, POR
ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 172 E
175, DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 E DO ART. 219, DO CPC. SEGUNDA
DEMANDA, AJUIZADA CONTRA A UNIÃO, ANTES DE CINCO ANOS DO
TRÂNSITO EM JULGADO DA PRIMEIRA AÇÃO CONTRA O BANCO DO BRASIL.
PRAZO PRESCRICIONAL NÃO TRANSCORRIDO. DECRETO N.º 20.910/32.

[...]

7. A ratio essendi dos arts 172 e 175 do Código Civil revogado e do art. 219,
do CPC, é a de favorecer o autor diligente na proteção do seu direito,
porquanto, raciocínio inverso conspiraria contra a dicção do art. 219, do CPC
e do art. 172 Código Civil, bem como do art. 175, do CC, o qual preceitua
que "A PRESCRIÇÃO NÃO SE INTERROMPE COM A CITAÇÃO
NULA POR VÍCIO DE FORMA, POR CIRCUNDUTA, OU POR SE ACHAR
PEREMPTA A INSTÂNCIA OU A AÇÃO." 8. Deveras, o prazo prescricional
interrompido pela citação válida somente reinicia o seu curso após o

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trânsito em julgado do processo extinto sem julgamento do mérito, tanto


mais que, se assim não o fosse, a segunda ação também seria extinta por
força da litispendência.

9. A doutrina sob esse enfoque preconiza que: "423. Reinício da fluência do


prazo prescricional. Detido o curso do prazo prescricional pela citação, ele
não recomeça a fluir logo em seguida, como ocorre nos demais casos de
interrupção da prescrição. A citação é uma causa interruptiva diferenciada:
segundo o art. 202, par., do Código Civil, a prescrição interrompida por ela
só se reinicia depois do último ato do processo para interromper - OU
SE INTERROMPE NO MOMENTO INDICADO
SEJA, A PRESCRIÇÃO
PELO ART. 219 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E SEU CURSO
PERMANECE IMPEDIDO DE FLUIR DURANTE TODA A
LITISPENDÊNCIA (sendo extraordinários os casos de prescrição
intercorrente, que só se configuram quando a longa paralização do
processo é fruto exclusivo da desídia do demandante).

Tendo fim a litispendência pela extinção do processo, o prazo recomeça -


e, como é natural às interrupções de prazo, quando a contagem volta a ser
feita desconsidera-se o tempo passado antes da interrupção e começa-se
novamente do zero (o dia em que o processo se considerar extinto será o
dies a quo no novo prazo prescricional.

Obviamente, se o processo terminar com a plena satisfação do direito


alegado pelo credor - contrato anulado pela sentença, execução consumada,
bem recebido etc. - nenhum prazo se reinicia, simplesmente porque o
direito está extinto e nenhuma ação ainda resta pro exercer em relação a
ele."(Cândido Rangel Dinamarco, in "Instituições de Direito Processual Civil",
volume II, 3ª Edição, 2002, Malheiros, p. 89).

10. Consectariamente, em tendo ocorrido o trânsito em julgado da sentença


da primeira ação proposta contra o Banco do Brasil, que foi extinta, sem
julgamento do mérito, publicada em 08.09.2003 (fl. 154), a segunda
demanda, ajuizada contra a União, em 16.04.2004, não foi atingida pela
prescrição quinquenal do Decreto n.º 20.910/32.

11. Recurso especial desprovido.

(STJ, REsp 934.736/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 06/11/2008, DJe 01/12/2008)

Síntese dos julgados:

a) A interrupção da prescrição ocorre mesmo por extinção do processo sem julgamento


de mérito;

b) A interrupção da prescrição ocorre pela propositura de ações pelo autor que busquem
conservar/reconhecer seu direito, como ações cautelares e mandados de segurança;

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c) A interrupção da prescrição ocorre mesmo que proferido o “cite-se” por juízo


incompetente;

d) A interrupção da prescrição não ocorre se o processo for extinto por contumácia das
partes ou por abandono pelo autor;

e) A interrupção da prescrição não ocorre se houver vício de forma ou for circunduta a


ação;

f) Não há efeito retroativo na interrupção da citação até a data do “cite-se” quando o


autor deixa de promover a citação do réu no prazo legal;

g) O autor não fica prejudicado pela demora na citação em decorrência de falhas


inerentes ao mecanismo da Justiça.

14.8. Modalidades de Citação

14.8.1. Citação por Correio (art. 222)


É a regra geral, não dependendo de requerimento da parte. É espécie de citação real, podendo
ser realizada em qualquer comarca ou seção judiciária do território nacional,
independentemente de precatória, que depende da efetiva entrega da correspondência ao
citando. Será inadmissível nos seguintes casos:

a) Ações de estado;

b) Quando o réu for incapaz;

c) Quando for ré pessoa jurídica de direito público;

d) Nos processos de execução (salvo de dívida ativa fazendária);

e) Quando o réu residir em local ao qual não chega correio;

f) Quando o autor requerer a citação de outra forma.

Devem acompanhar a citação, dentre outros requisitos, cópia da inicial e do despacho do juiz,
consignando-se expressamente que a não apresentação de resposta resultará na presunção de
veracidade dos fatos.

Somente o réu poderá assinar a citação, não sendo admissível a assinatura por familiares ou
outras pessoas. Porém, o STJ tem mitigado essa regra, permitindo que o AR seja assinado por
outrem, mas recaindo sobre o autor a prova de que o réu teve conhecimento da demanda.
Nesse sentido:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. CORTE ESPECIAL. CITAÇÃO POR AR. PESSOA


FÍSICA. ART. 223, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 1. A
citação de pessoa física pelo correio deve obedecer ao disposto no art. 223,
parágrafo único, do Código de Processo Civil, necessária a entrega direta ao
destinatário, de quem o carteiro deve colher o ciente. 2. Subscrito o aviso

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por outra pessoa que não o réu, o autor tem o ônus de provar que o réu,
embora sem assinar o aviso, teve conhecimento da demanda que lhe foi
ajuizada. 3. Embargos de divergência conhecidos e providos. (EREsp
117949/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, CORTE
ESPECIAL, julgado em 03/08/2005, DJ 26/09/2005, p. 161)

Em relação às pessoas jurídicas, o STJ tem entendimento no sentido de que se qualquer


pessoa que aparenta ter poderes para representar a pessoa jurídica tiver sido citada, a
citação terá sido válida. Nesse sentido:

CITAÇÃO. TEORIA DA APARÊNCIA.

A pessoa jurídica – ente evidentemente abstrato – faz-se representar por


pessoas físicas que compõem seus quadros dirigentes. Se a própria diretora
geral, mesmo não sendo a pessoa indicada pelo estatuto para falar
judicialmente em nome da associação, recebe a citação e, na ocasião, não
levanta nenhum óbice ao oficial de justiça, há de se considerar válido o ato
de chamamento, sob pena de, consagrando exacerbado formalismo, erigir
inaceitável entrave ao andamento do processo. Precedente citado: AgRg nos
EREsp 205.275-PR, DJ 28/10/2002. EREsp 864.947-SC, Corte Especial,
Rel. Min. Ministra Laurita Vaz, julgados em 6/6/2012.

RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM MEDIDA CAUTELAR.


EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO. EFEITO SUSPENSIVO. JULGAMENTO CONJUNTO DO
RECURSO PRINCIPAL E OS SUCEDÂNEOS RECURSAIS. TEORIA DA APARÊNCIA.
NULIDADE DE CITAÇÃO. INOCORRÊNCIA. DESACOLHIMENTO DA EXCEÇÃO
DE PRÉ-EXECUTIVIDADE MANTIDA.

[...]

6. A Corte Especial do STJ já firmou entendimento no sentido de que É


VÁLIDA A CITAÇÃO DE PESSOA JURÍDICA FEITA EM PESSOA QUE SE
APRESENTA COMO REPRESENTANTE LEGAL DA EMPRESA E RECEBE
A CITAÇÃO SEM RESSALVA QUANTO À INEXISTÊNCIA DE PODERES
DE REPRESENTAÇÃO EM JUÍZO (AgRg nos EREsp 205275/PR, Rel. Min.
ELIANA CALMON, CORTE ESPECIAL).

7. A alegação de não ser funcionário quem recebeu a citação sem fazer


ressalvas no local onde funciona "um pequeno escritório da empresa"
encontra óbice na Súmula 07 do STJ, pois demandaria o revolvimento ao
acervo fático probatório, o que não é possível nesta instância recursal.

8. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA PARTE,


DESPROVIDO.

(STJ, REsp 1118939/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,


TERCEIRA TURMA, julgado em 28/09/2010, DJe 24/11/2010)

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A citação será realizada por carta com AR, só se aperfeiçoando com sua juntada aos autos, a
partir de quando começa a correr o prazo de resposta. Se houver recusa do recebimento,
reputa-se frustrada a diligência, já que o carteiro não tem fé pública.

Entretanto, a juntada aos autos é a regra, existindo várias exceções, como no caso das
execuções fiscais, em que se começa a contar o prazo desde o recebimento da citação pelo
réu, e não da juntada.

Se houver litisconsórcio passivo necessário, o prazo para resposta, em dobro se procuradores


diferentes houver, somente se inicia com a juntada do último mandado de citação cumprido
(isso não vale para os embargos à execução).

PROCESSO CIVIL. PRAZO PARA A RESPOSTA. O PRAZO DA CONTESTAÇÃO


SÓ INICIA APÓS A JUNTADA AOS AUTOS DO MANDADO DE
CITAÇÃO DE TODOS OS LITISCONSORTES NECESSÁRIOS; a revelia de
um desses litisconsortes, decretada sem que os demais tenham sido citados,
não produz efeitos, e a sentença proferida neste contexto é nula. Recurso
especial conhecido e provido.

(STJ, REsp 436.838/AM, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA,


julgado em 15/08/2002, DJ 02/12/2002 p. 308)

14.8.2. Citação por Mandado (art. 224)


É a que ocorre por Oficial de Justiça, sendo o mandado a instrumentalização do ato do juiz
pelo escrivão. É hipótese de citação real. Pode ocorrer nas seguintes hipóteses:

a) Quando o autor o requerer;

b) Em todas aquelas em que não se admite a citação por correio;

c) Quando frustrada a citação por correio.

A citação por mandado exige algumas formalidades:

a) Leitura do mandado pelo oficial;

b) Entrega da contrafé;

c) Certidão de recebimento ou recusa da contrafé.

Poderá ser feita a citação em comarcas vizinhas ou nas da mesma região metropolitana,
independentemente de carta precatória (art. 230).

Se ele se recusar a receber a contrafé, será tido por citado e poderá assumir a condição de
revel se não responder no prazo.

14.8.3. Citação por Mandado com Hora Certa (arts. 227 a 229)
Citação ficta, já que se presumirá que ela ocorreu.

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Ela é ADMISSÍVEL NO PROCESSO DE EXECUÇÃO, INCLUSIVE NA EXECUÇÃO


FISCAL.
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CITAÇÃO POR
HORA CERTA. POSSIBILIDADE. 1. Pode o credor, valendo-se do disposto no
art. 227 do Código de Processo Civil, requerer a citação do devedor, por
hora certa, se este se esquiva em receber o Oficial de Justiça. 2. Agravo
provido.

(TRF1, AG 200501000259735, DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES


RIBEIRO, SEXTA TURMA, DJ DATA:05/09/2005 PAGINA:154.)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. CITAÇÃO COM HORA


CERTA. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO CPC. I - a jurisprudência
já firmou posição entendendo que esta é possível, haja vista que o artigo
277 do Código de Processo Civil Brasileiro possui natureza subsidiária e
aplicável tanto ao processo cognitivo, quanto aos demais processos,
incluindo-se o de execução, por força do artigo598 do mesmo estatuto. II -
Uma vez verificado nos autos que o executado evita o contato pessoal com
o oficial de justiça, como no caso, furtivamente se esquivando da execução
forçada do título extrajudicial, pode o credor se valer do disposto no art. 227
do Código de Processo Civil, requerendo a citação por hora certa do
devedor. III - Agravo Instrumento provido. IV - Agravo Interno prejudicado.
(TRF2, AG 200702010060962, Desembargadora Federal LANA REGUEIRA,
QUARTA TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R - Data::31/08/2010 - Página::126.)

Os requisitos para que se efetue essa modalidade citatória são:

a) Objetivos: procura do réu por três vezes, em três dias diferentes, em seu domicílio ou
residência, sem encontrá-lo;

b) Subjetivos: suspeita de ocultação, devidamente fundamentada pelo Oficial de Justiça.

Se houver a citação por hora certa e o réu não comparecer, será ele considerado revel,
nomeando-se-lhe curador especial.

14.8.4. Citação por Edital (art. 231)


É outra hipótese de citação ficta. Se houver revelia, também se lhe nomeia curador especial.
Somente é admitida nos seguintes casos:

a) Quando o réu for desconhecido;

b) Quando ignorado ou incerto o lugar em que se encontra;

c) Quando incerto o réu;

d) Quando inacessível o lugar em que se encontra;

e) Nos casos expressos em lei.

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Considera-se inacessível o país que recusar cumprimento a carta rogatória.

Citado por edital, o réu terá entre 20 e 60 dias, a critério do juiz, para comparecer; após,
será considerado revel, contra ele se produzindo, inclusive, os efeitos da revelia, como a
presunção de veracidade dos fatos declarados pelo autor.

Se o autor da citação editalícia agir maliciosamente, fazendo afirmação falsa, poderá ser
condenado a pagar multa de até cinco vezes o valor do salário mínimo ao citando, além de
ser nula a citação (art. 233).

14.8.5. Citação Eletrônica


Prevista na Lei nº 11.419/06. Ela determina que a citação poderá ser feita por meio eletrônico;
geralmente é feita contra litigantes contumazes, após celebração de convênios
(credenciamento prévio) entre estes e o Poder Judiciário a fim de que possam registrar
endereços eletrônicos confiáveis.

Esses cadastros poderão ser feitos tanto por pessoas jurídicas de direito privado quanto de
direito público, inclusive órgãos da administração direta.

14.9. Atos Processuais

14.9.1. Da Forma dos Atos Processuais (arts. 154 a 171)


Os atos e termos processuais não dependerão de forma, senão quando a lei expressamente
o exigir (princípio da liberdade das formas). Entretanto, os atos serão sempre reputados
válidos quando, praticados de qualquer outro modo, atenderem à finalidade a que se
destinava (instrumentalidade das formas). Os tribunais poderão adotar, dentro da respectiva
competência jurisdicional, a prática e a comunicação oficial dos atos processuais por meios
eletrônicos.

Os atos processuais são públicos; correrão, entretanto, em segredo de justiça, quando o exigir
o interesse público ou quando disser respeito a casamento, filiação, separação, alimentos e
guarda de menores.

A juntada de documentos ao processo deverá ser feita em vernáculo; se em língua estrangeira,


deverá vir acompanhada de tradução, feita por tradutor juramentado, salvo se proveniente de
país do MERCOSUL. No entanto, o STJ tem relativizado essa obrigação, como bem expõe o
julgado abaixo:

AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO. OPÇÃO DE NACIONALIDADE. PROVAS


NOS AUTOS. AUSÊNCIA DE TRADUÇÃO DOS DOCUMENTOS. LINGUA
ESPANHOLA. DISPENSABILIDADE.

1. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que em se tratando de


documento redigido em língua estrangeira, cuja validade não se contesta e
cuja tradução não se revele indispensável para a sua compreensão, não se
afigura razoável negar-lhe eficácia de prova tão-somente pelo fato de ter
sido o mesmo juntado aos autos sem se fazer acompanhar de tradução
juramentada, máxime quando não resulte referida falta em prejuízo para
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quaisquer das partes, bem como para a escorreita instrução do feito (pas de
nulitté sans grief).

2. Desnecessária a tradução, se o documento é redigido em língua


espanhola. Precedentes TRF/1ª Região.

3. Agravo regimental da União improvido (AGRAC 2005.38.00.042441-8/MG,


Relator DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA, QUINTA
TURMA, Publicação 22/06/2012 e-DJF1 P. 587, Data Decisão 06/06/2012).

Os atos das partes podem ser unilaterais ou bilaterais. Eles produzem imediatamente a
constituição, modificação ou extinção de direitos processuais, salvo a desistência da ação, que
deverá ser homologada por sentença.

As partes não podem lançar nos autos anotações ou quaisquer outros dados ou informações
marginais, devendo o juiz mandar riscá-las e impor a cominação de multa correspondente à
metade do salário mínimo.

14.9.2. Do Tempo e do Lugar dos Atos Processuais (arts. 172 a 176)


Os atos realizam-se na sede do juízo, das 6 às 20 horas, nos dias úteis. Esse horário,
entretanto, se refere apenas aos atos externos. Se o expediente forense for diferente, como,
por exemplo, aquele que determina o fechamento das secretarias do fórum às 18:30h, esse é o
limite para o protocolo de petições, ainda que por fax. Esse expediente é fixado pelo
regimento interno do tribunal.

PROCESSO CIVIL. PRAZO. TERMO FINAL PARA INTERPOSIÇÃO DE RECURSO.


ALTERAÇÃO DE HORÁRIO DO EXPEDIENTE FORENSE.

I - O conceito de "hora normal" a que se refere o Art. 182, § 1º do CPC está


definido no Art. 172 desse Código, a dizer que "os atos processuais realizar-
se-ão em dias úteis, das seis às vinte horas".

II - SE, POR EFEITO DE ATO DO TRIBUNAL, ENCERROU-SE O EXPEDIENTE


ANTES DA "HORA NORMAL", O PRAZO É PRORROGADO PARA O
"PRIMEIRO DIA ÚTIL SEGUINTE" (CPC, Art. 184, § 1º, II). Nada importa a
circunstância de que a antecipação do encerramento tenha resultado de
Portaria do Tribunal, previamente publicada, informando da alteração
ocasional do horário de funcionamento normal do protocolo.

(STJ, REsp 802.561/DF, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS,


TERCEIRA TURMA, julgado em 14/02/2008, DJe 05/03/2008)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO


REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DISPENSA SEM JUSTA CAUSA. IMPOSTO
DE RENDA. INCIDÊNCIA. PREVIDÊNCIA PRIVADA. COMPLEMENTAÇÃO DE
APOSENTADORIA. LEIS 7.713/88 E 9.250/95. RECURSO INTERPOSTO POR
POR FAC-SÍMILE APÓS O HORÁRIO DE EXPEDIENTE DO TRIBUNAL.
PROTOCOLO. DIA SEGUINTE AO TÉRMINO DO PRAZO. INTEMPESTIVIDADE.
ARTIGO 4º DA LEI Nº 9.800/99.

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1. A Lei n.º 9.800/99, faculta "às partes a utilização de sistema de


transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a
prática de atos processuais que dependem de petição escrita",
determinando, em seu artigo 4º, que "quem fizer uso de sistema de
transmissão torna-se responsável pela qualidade e fidelidade do material
transmitido, e por sua entrega ao órgão judiciário." 2. Considera-se
intempestivo o recurso transmitido por fac-símile que, embora interposto
no último dia do prazo recursal, é recebido após o expediente forense,
pois o protocolo só poderá ser efetivado no dia seguinte ao término do
prazo recursal.

3. Agravo regimental provido.

(STJ, AgRg no AgRg no REsp 1050282/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 18/06/2009, DJe 06/08/2009)

No caso dos processos eletrônicos, o prazo somente finda no último momento do último dia.
Ou seja, se, por exemplo, o prazo findar na quarta-feira, é tempestivo o protocolo digital feito
até às 23:59:59.

Serão concluídos depois das 20 horas os atos iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a
diligência ou causar grave dano.

NOS JUIZADOS ESPECIAIS, PODEM SER PRATICADOS ATOS PROCESSUAIS EM


HORÁRIO NOTURNO.

A citação e a penhora, em casos excepcionais, mediante autorização do juiz, poderão realizar-


se nos domingos e feriados, ou nos dias úteis, fora do horário estabelecido.

Durante as férias e feriados, praticam-se:

a) Produção antecipada de provas;

b) Citação, a fim de evitar o perecimento de direito;

c) Arresto, sequestro, penhora, arrecadação, busca e apreensão, depósito, prisão,


separação de corpos, abertura de testamento, embargo de terceiros, nunciação de
obra nova e outros atos análogos.

Essa regra, entretanto, somente se aplica, agora, aos feriados e às férias coletivas dos tribunais
superiores, já que a EC nº 45/04 proibiu férias coletivas nos juízos cíveis e nos tribunais de
segundo grau.

Entretanto, o prazo para a resposta do réu somente começará a correr no primeiro dia útil
seguinte ao feriado ou às férias.

CONSIDERAM-SE FERIADOS, PARA EFEITO FORENSE, OS DOMINGOS E OS DIAS DECLARADOS


POR LEI.

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14.9.3. Prazos Processuais (arts. 177 a 199)

14.9.3.1. Prazos
a) Conceito: lapso de tempo em que o ato processual pode ser validamente praticado.

b) Natureza:

i. Dilatórios: podem ser ampliados ou reduzidos de acordo com a convenção das


partes, homologada pelo juiz;

ii. Peremptórios: não permitem alteração. Regra geral, não existe prazo
peremptório para o juiz e auxiliares da Justiça;

iii. Legais: são estabelecidos na lei, de forma fixa;

iv. Judiciais: são fixados pelo juiz (ex.: art. 491 – prazo para resposta na ação
rescisória);

v. Convencionais: são os que a lei permite sejam acordados pelas partes (art. 181).
Somente podem ser convencionados os prazos dilatórios, desde que antes de
findo e houver legítimo motivo.

c) Notas:

i. Mesmo os prazos peremptórios podem ser renunciados. Porém, nunca poderão


eles ser reduzidos ou prorrogados pelas partes.

ii. Pode o juiz prorrogar os prazos por no máximo até 60 dias nas comarcas onde
for difícil o transporte, ou pelo tempo necessário, em caso de calamidade

14.9.3.2. Curso dos Prazos


a) O prazo legal e o judicial é contínuo, não se interrompendo nos feriados; começa a
correr do primeiro dia útil seguinte à intimação, recaindo no primeiro dia útil seguinte
ao feriado ou fim de semana, se o termo final recair nesses dias;

b) As férias suspendem os prazos;

c) Também suspendem os prazos os obstáculos criados pela parte contrária, a morte ou


perda da capacidade processual, a convenção das partes e a exceção de
incompetência;

d) A parte poderá renunciar ao prazo estabelecido exclusivamente em seu favor.

Decorrido o prazo, a parte não perderá o direito de praticar o ato se comprovar justa causa.
Considera-se justa causa o evento imprevisto, alheio à vontade da parte.

14.9.3.3. Contagem dos Prazos


a) Os prazos começam a fluir a partir do dia útil seguinte ao da intimação;

b) Exclui-se o dia do começo e inclui-se o dia do vencimento;

c) Intimação feita na sexta-feira: início do prazo na segunda-feira, se for dia útil;

d) Intimação feita no sábado: início do prazo na terça-feira, se for dia útil.


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O prazo geral legal supletivo, quando a lei não determinar outro ou quando o juiz não assinalar
diferente, é de 05 dias. Entretanto, o prazo geral para comparecer em juízo é de 24 horas.

14.9.3.4. Prazos Especiais


a) Para o MP e Fazenda Pública (art. 182):

i. Em quádruplo para contestar; esse prazo se aplica à reconvenção, à ação


declaratória incidental e às exceções instrumentais;

ii. Em dobro para recorrer. Esse prazo não se aplica às contrarrazões;

iii. Não se combinam as disposições do art. 182 e do art. 191.

b) Defensoria Pública (organizada e mantida pelo Estado): todos em dobro.

c) Litisconsortes com procuradores diferentes (art. 191): prazo será em dobro para
contestar, para recorrer e para falar nos autos, em geral.

Súmula 641, STF: “Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando um só dos
litisconsortes haja sucumbido”.

Sendo o advogado intimado, se não devolver ele os autos em 24 horas, perderá o direito de
vistas fora do cartório e incorrerá em multa, correspondente à metade do salário mínimo
vigente na sede do juízo e intimará a OAB para as providências devidas. Isso também se aplica
ao MP e à Fazenda Pública.

Sobre o prazo do MP:

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL.


ALEGAÇÃO DE INTEMPESTIVIDADE DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
INTERPOSTO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL: OCORRÊNCIA. HABEAS
COPRUS DEFERIDO. 1. A jurisprudência predominante deste Supremo
Tribunal firmou-se no sentido de que o prazo para a interposição dos
recursos ministeriais inicia-se com o ingresso dos autos na repartição do
Ministério Público. Precedentes. 2. Habeas coprus deferido.

(STF, HC 92814, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado


em 19/02/2008, DJe-055 DIVULG 27-03-2008 PUBLIC 28-03-2008 EMENT
VOL-02312-05 PP-00868)

Assim, o prazo não se conta desde o dia em que o Procurador teve vistas pessoal dos autos,
mas sim com o ingresso dos mesmos na repartição. O mesmo vale para a defensoria pública.

PROCESSUAL CIVIL. LITISCONSÓRCIO PASSIVO. CITAÇÃO. REÚS


REPRESENTADOS POR DEFENSOR PÚBLICO. INÍCIO DO PRAZO PARA
CONTESTAR. ART. 241 DO CPC VS. ART. 128, INC. I, DA LC N. 80/94.
PREVALÊNCIA DO PRIMEIRO DISPOSITIVO.

1. Trata-se de recurso especial interposto contra acórdão que manteve a


intempestividade de contestações apresentadas por certos réus.

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2. Nas razões recursais, sustentam os recorrentes ter havido violação ao art.


128, inc. I, da Lei Complementar n. 80/94, ao argumento de que, no caso, o
prazo em dobro para oferecer a contestação não pode ser contato da data
da juntada do último mandado de citação, na forma do art. 241 do Código
de Processo Civil - CPC, pois os recorrentes eram assistidos por Defensoria
Pública - o que atrai o início da contagem para a vista pessoal do defensor.

3. Em primeiro lugar, o art. 128, inc. I, da Lei Complementar n. 80/94 não


fala em citação, mas em intimação. Daí porque não é aplicável ao caso.

4. Em segundo lugar, o ato citatório é personalíssimo, sendo realizado


sempre na pessoa do réu, e não da seu defensor (mesmo quando o réu é
representado por advogado particular), contando-se o prazo na forma do
art. 241 do CPC. Esta regra só é afastada quando o reú é revel.

5. Em terceiro lugar, admitir a tese da Defensoria Pública importaria em


contemplar, por via indireta, uma espécie de interrupção do prazo para
apresentação de contestação que não está prevista no ordenamento
jurídico.

6. Recurso especial não provido.

(STJ, REsp 660.900/MS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,


SEGUNDA TURMA, julgado em 19/11/2009, DJe 27/11/2009)

Sobre o privilégio da DP:

INTIMAÇÃO PESSOAL. DEFENSORIA PÚBLICA. SENTENÇA PROFERIDA EM


AUDIÊNCIA.

É prerrogativa da Defensoria Pública a intimação pessoal dos seus


membros de todos os atos e termos do processo. A presença do defensor
público na audiência de instrução e julgamento na qual foi proferida a
sentença não retira o ônus da sua intimação pessoal que somente se
concretiza com a entrega dos autos com abertura de vistas, em
homenagem ao princípio constitucional da ampla defesa. Para o Min.
Relator, não se cuida de formalismo ou apego exacerbado às formas, mas
sim de reconhecer e dar aplicabilidade à norma jurídica vigente e válida,
preservando a própria função exercida pelo referido órgão e,
principalmente, resguardando aqueles que não têm condições de contratar
um defensor particular. REsp 1.190.865-MG, Rel. Min. Massami Uyeda,
julgado em 14/2/2012.

14.9.4. Comunicações dos Atos – Cartas Precatórias, Rogatórias e de Ordem


O processo de conhecimento é instituto essencialmente dialético. É por meio da colaboração
das partes que o Estado-juiz poderá examinar os fatos postos à sua deliberação. Por isso, é
inerente à ideia de processo a noção de contraditório, concebido pelo binômio conhecimento
e reação. As partes envolvidas no processo devem ter condições de saber o que nele se passa,
podendo reagir de alguma forma aos atos nele praticados (Marinoni). A comunicação
processual é essencial ao binômio ciência-reação que norteia a efetividade do contraditório
(Dinamarco).
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Assim, percebe-se claramente a existência de conexão entre o princípio do contraditório e a


congruência da sentença. A sentença somente poderá ser formada de forma válida, e somente
será congruente, se os pedidos elencados na exordial tiverem sido submetidos ao
contraditório, caso contrário, será nula. É por isso que o legislador não permite que a sentença
seja extra ou ultra petita, pois sentença que dá além ou coisa diversa da pedida pelo autor
acaba entregando-lhe bem jurídico não submetido ao contraditório. Em outros termos, A
VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA IMPLICA EM VIOLAÇÃO AO
CONTRADITÓRIO.

Entende-se por comunicação processual a transmissão de informações sobre os atos do


processo às pessoas sobre cuja esfera de direitos atuarão os efeitos do mesmo, por vezes
contendo um comando para prática de um ato ou abstenção.

Na forma da legislação atual, há dois meios de comunicação dos atos processuais: a citação e a
intimação.

Os atos judiciais serão cumpridos por ordem judicial ou por carta conforme se realize dentro
ou fora da subseção ou comarca judiciária.

A carta será de ordem, quando expedida para juiz subordinado, delegando a ele a prática de
determinado ato processual, ou rogatória, quando expedida para autoridade judiciária
estrangeira. Nos demais casos, será precatória. Sempre haverá identidade de grau
jurisdicional entre o juízo deprecante e o juízo deprecado.

A carta tem caráter itinerante, podendo ser apresentado a juízo diverso do que dela constar, a
fim de se praticar o ato. Havendo urgência, a precatória e a de ordem poderão ser transmitidas
por telefone, telegrama ou radiofone.

As cartas devem atender a uma série de formalidades previstas no art. 202; se não atendidos,
podem elas ter seu cumprimento recusado:

Art. 209. O juiz recusará cumprimento à carta precatória, devolvendo-a com


despacho motivado:

I - quando não estiver revestida dos requisitos legais;

II - quando carecer de competência em razão da matéria ou da hierarquia;

III - quando tiver dúvida acerca de sua autenticidade.

Sobre a dinâmica das precatórias, esclarecedor o seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL. CARTA PRECATÓRIA. JUÍZO DEPRECADO. DÚVIDA SOBRE


A POSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DA CARTA PRECATÓRIA.
POSSIBILIDADE DE SUSPENSÃO DO CUMPRIMENTO DA CARTA ATÉ A
MANIFESTAÇÃO DO JUIZ DEPRECANTE.

1. O juízo deprecado pode recusar cumprimento à carta precatória,


devolvendo-a com despacho motivado, desde que evidenciada uma das

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hipóteses enumeradas nos incisos do art. 209 do CPC, quais sejam: (i)
quando não estiver a carta precatória revestida dos requisitos legais; (ii)
quando carecer o juiz de competência, em razão da matéria ou hierarquia;
(iii) quando o juiz tiver dúvida acerca de sua autenticidade.

2. Na hipótese dos autos, contudo, o juízo deprecado não recusou o


cumprimento da carta precatória. Ele apenas encaminhou os autos ao juiz
deprecante para aguardar a sua manifestação sobre as alegações feitas pelo
Oficial de Justiça e pelo exequente acerca da possibilidade de se cumprir a
determinação inserida na carta.

3. O JUIZ DEPRECADO, NO EXERCÍCIO DA SUA FUNÇÃO DE COOPERADOR,


PODE DIALOGAR COM O JUIZ DEPRECANTE ACERCA DO ATO PROCESSUAL
REQUERIDO, pois o diálogo é pressuposto da cooperação e contribui para
que a atividade jurisdicional seja pautada pelos princípios constitucionais
que informam o processo e exercida sem vícios, evitando-se a decretação
de nulidades.

4. Recurso especial não provido.

(REsp 1203840/RN, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 06/09/2011, DJe 15/09/2011)

Intimação: “é ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo, bem assim
para que faça ou deixe de fazer alguma coisa” (art. 234). É menos formal e mais dinâmica que
a citação, preocupando mais em seu aspecto teleológico.

A efetivação das intimações se dá por quatro vias distintas: por publicação no órgão oficial, de
regra, constando o nome da parte e do advogado. Também pelo correio e pessoalmente, pelo
escrivão ou pelo oficial de justiça. A Lei nº 11.419/06 introduziu o parágrafo único no art. 237
do CPC, possibilitando a intimação por meio eletrônico. O Ministério Público tem prerrogativa
de intimação pessoal (art. 236, § 2º).

Admite-se também por edital e por hora certa.

Art. 241. Começa a correr o prazo:

I - quando a citação ou intimação for pelo correio, da data de juntada aos


autos do aviso de recebimento;

II - quando a citação ou intimação for por oficial de justiça, da data de


juntada aos autos do mandado cumprido;

III - quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último
aviso de recebimento ou mandado citatório cumprido;

IV - quando o ato se realizar em cumprimento de carta de ordem, precatória


ou rogatória, da data de sua juntada aos autos devidamente cumprida;

V - quando a citação for por edital, finda a dilação assinada pelo juiz.

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Art. 242. O prazo para a interposição de recurso conta-se da data em que


os advogados são intimados da decisão, da sentença ou do acórdão.

§ 1o Reputam-se intimados na audiência, quando nesta é publicada a


decisão ou a sentença.

§ 2o Havendo antecipação da audiência, o juiz, de ofício ou a requerimento


da parte, mandará intimar pessoalmente os advogados para ciência da nova
designação.

14.9.5. Oficialidade das Informações Insertas em Sites dos Tribunais


RECURSO ESPECIAL - PROCESSO CIVIL - INFORMAÇÕES PROCESSUAIS
DISPONIBILIZADAS VIA INTERNET - CARÁTER OFICIAL À LUZ DA LEI N.
11.419/2006 - PRESTÍGIO À EFICÁCIA E CONFIABILIDADE DAS INFORMAÇÕES
PRESTADAS POR MEIO DA INTERNET - HIPÓTESE DE ERRO OU FALHA DO
SISTEMA - JUSTA CAUSA - POSSIBILIDADE DE IDENTIFICAÇÃO - CONJUNTURA
LEGISLATIVA E JURISPRUDENCIAL - ATUALIDADE - HOMENAGEM À ADOÇÃO
DE RECURSOS TECNOLÓGICOS - MELHORIA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL -
ART. 5º, INCISO LVXXII, DA CARTA REPUBLICANA - RECURSO ESPECIAL
IMPROVIDO.

I - Com o advento da Lei n. 11.419/2006, que veio disciplinar "(...) o uso de


meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e
transmissão de peças processuais", a tese de que as informações
processuais fornecidas pelos sites oficiais dos Tribunais de Justiça e/ou
Tribunais Regionais Federais, somente possuem cunho informativo perdeu
sua força, na medida em que, agora está vigente a legislação necessária
para que todas as informações veiculadas pelo sistema sejam consideradas
oficiais.

II - A razão desta interpretação é consentânea com o art. 4º, caput e § 2º da


Lei n. 11.419/2006, que expressamente apontam, in verbis:"(...) Art. 4º. Os
tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico, disponibilizado em sítio
da rede mundial de computadores, para publicação de atos judiciais e
administrativos próprios e dos órgãos a eles subordinados, bem como
comunicações em geral.(...) § 2.º A publicação eletrônica na forma deste
artigo substitui qualquer outro meio e publicação oficial, para quaisquer
efeitos legais, à exceção dos casos que, por lei, exigem intimação ou vista
pessoal." III - A DISPONIBILIZAÇÃO, PELO TRIBUNAL, DO SERVIÇO
ELETRÔNICO DE ACOMPANHAMENTO DOS ATOS PROCESSUAIS,
PARA CONSULTA DAS PARTES E DOS ADVOGADOS, IMPÕE QUE ELE
SE REALIZE DE MODO EFICAZ, UMA VEZ QUE HÁ PRESUNÇÃO DE
CONFIABILIDADE DAS INFORMAÇÕES DIVULGADAS. E, NO CASO DE
HAVER ALGUM PROBLEMA TÉCNICO DO SISTEMA, OU ATÉ MESMO
ALGUM ERRO OU OMISSÃO DO SERVENTUÁRIO DA JUSTIÇA,
RESPONSÁVEL PELO REGISTRO DOS ANDAMENTOS, QUE
PORVENTURA PREJUDIQUE UMAS DAS PARTES, PODERÁ SER
CONFIGURADA A JUSTA CAUSA PREVISTA NO CAPUT E § 1º DO ART.

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322

183 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, SALVO IMPUGNAÇÃO


FUNDAMENTADA DA PARTE CONTRÁRIA.

IV - A atual conjuntura legislativa e jurisprudencial é no sentido de, cada


vez mais, se prestigiar a divulgação de informações e a utilização de
recursos tecnológicos em favor da melhor prestação jurisdicional, com
evidente economia de recursos públicos e em harmonia com o que dispõe
o art. 5º, inciso LXXVIII, da Carta Republicana.

V - Recurso especial improvido.

(STJ, REsp 1186276/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA,


julgado em 16/12/2010, DJe 03/02/2011)

14.10. Observações de Provas


1. TRF1 – XII – QUESTÃO 83. Interrompe a prescrição a citação realizada em
procedimento preliminar, seja ou não cautelar, desde que seja requisito necessário ao
ajuizamento de posterior ação principal90.

2. TRF1 – XII – QUESTÃO 83. A citação válida interrompe a prescrição, mesmo que o
processo seja extinto sem julgamento de mérito, SALVO SE A EXTINÇÃO SE DEU POR
CONTUMÁCIA DAS PARTES OU ABANDONO DA CAUSA PELO AUTOR.

3. TRF1 – XII – QUESTÃO 83. A citação ordenada por juiz incompetente, seja absoluta ou
relativamente, é válida, mas PARCIALMENTE INEFICAZ POR PRODUZIR APENAS
EFEITOS MATERIAIS91.

4. TRF4 – XIII – QUESTÃO 71. Consideram-se prazos impróprios aqueles cujo


descumprimento não gera consequências processuais, mas apenas disciplinares, como
é o caso de prazo conferido ao juiz para proferir a sentença ou aos serventuários para
praticar atos de sua atribuição.

5. TRF4 – XII – QUESTÃO 60. Os prazos iniciados antes do recesso forense fluem até a
data imediatamente anterior ao início deste, inclusive, ainda que recaia em domingo
ou feriado92.

6. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 42. Com a citação, torna-se inviável acolher o aditamento
ao pedido sem o consentimento do réu, dada a estabilidade da lide. Contudo, o

90
Em decorrência do seguinte art. do CC/02: Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá
ocorrer uma vez, dar-se-á: [...]V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
91
Perfeito. Apenas interrompe a prescrição e constitui o devedor em mora. Os efeitos processuais,
como tornar prevento o juízo, induzir litispendência e torna litigiosa a coisa, não ocorrem.
92
Ou seja: se a parte tem um prazo de 10 dias, que começa a ser contado na terça-feira, sendo que a
partir da segunda-feira da semana seguinte, até a quarta-feira, haverá recesso forense, na quinta-feira já
terão decorridos 06 (seis) dias (terça a domingo).
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323

pedido de desistência pode ser acolhido, desde que isso ocorra antes de a resposta
do réu ser apresentada93.

7. EMAGIS – 2012/11 – QUESTÃO 11. O fechamento das agências bancárias em seu


horário habitual, ainda que anterior ao término do expediente forense, não é causa
para ensejar o pagamento do preparo após o prazo recursal94.

8. EMAGIS – 2011/41 – QUESTÃO 19. Havendo na procuração a constituição de vários


advogados, é legítima a publicação de intimação em diário no nome de qualquer deles,
SALVO SE TIVER havido pedido de que ela fosse em nome de advogado específico.

9. EMAGIS – 2011/41 – QUESTÃO 19. A certidão de intimação da decisão agravada pode


ser substituída por outro documento na formação do agravo, desde que ele seja
suficiente a revelar a tempestividade do recurso.

10. EMAGIS – 2011/41 – QUESTÃO 19. A falta de intimação da parte adversa para se
manifestar sobre os embargos de declaração, quando eles possam ter efeitos
infringentes, traduz motivo suficiente ao manejo de uma ação rescisória95.

11. EMAGIS – 2011/41 – QUESTÃO 18. A citação postal, quando autorizada por lei, exige o
aviso de
 recebimento96.

12. EMAGIS – 2011/38 – QUESTÃO 19. Ajuizada ação contra uma autarquia, o juiz
condutor do processo determinou a citação da ré, ressalvando-lhe prazo em quádruplo
para apresentação da defesa. A situação configura exemplo de incidência do chamado

93
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 267, § 4º, DO CPC. PEDIDO DE DESISTÊNCIA. CONCORDÂNCIA
DO RÉU. NECESSIDADE.
1. Após o oferecimento da resposta, o autor não pode desistir da ação sem o consentimento do réu (CPC, art.
267, § 4º).
Porém, no MS, isso não se aplica. O impetrante pode desistir do processo até a sentença.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp 608.957/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 26/04/2011, DJe
04/05/2011)
94
Entendimento parcialmente superado: Súmula 484, STJ: “Admite-se que o preparo seja efetuado no
primeiro dia útil subsequente quando a interposição do recurso ocorrer depois do encerramento do
expediente bancário”.
95
A Seção, por maioria, afastando a aplicação da Súm. n. 343-STF, julgou procedente pedido aviado em
ação rescisória para declarar a nulidade de acórdão proferido em julgamento de embargos de
declaração (EDcl) aos quais foram emprestados efeitos infringentes, sem, contudo, intimar-se a parte
contrária. No entendimento do Min. Relator para o acórdão, houve ofensa ao art. 5º da CF, que rege os
princípios do contraditório e da ampla defesa. AR 2.702-MG, Rel. originário Min. Mauro Campbell, Rel.
para acórdão Min. Teori Albino Zavascki, julgada em 14/9/2011.
96
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. CORTE ESPECIAL. CITAÇÃO POR AR. PESSOA FÍSICA. ART. 223,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 1. A citação de pessoa física pelo correio deve
obedecer ao disposto no art. 223, parágrafo único, do Código de Processo Civil, necessária a entrega
direta ao destinatário, de quem o carteiro deve colher o ciente. 2. Subscrito o aviso por outra pessoa
que não o réu, o autor tem o ônus de provar que o réu, embora sem assinar o aviso, teve
conhecimento da demanda que lhe foi ajuizada. 3. Embargos de divergência conhecidos e providos.
(EREsp 117949/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, CORTE ESPECIAL, julgado em
03/08/2005, DJ 26/09/2005, p. 161)
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324

princípio da adequação sob a ótica subjetiva, na medida em que a regra especial existe
em função da peculiar posição da parte a quem se confere prazo dilatado.

13. GEMAF – 2010/05 – QUESTÃO 06. O STJ possui entendimento firmado no sentido de
ser válida a citação via postal com AR efetivada no endereço da ré e recebida por
qualquer um de seus funcionários, ainda que sem poder expresso para tanto97.

14. Interrompe a prescrição a citação realizada em procedimento preliminar, seja ou não


cautelar, desde que seja requisito necessário ao ajuizamento de posterior ação
principal.

15. A citação válida interrompe a prescrição, mesmo que o processo seja extinto sem
julgamento de mérito, salvo se a extinção se deu por contumácia das partes ou
abandono da causa pelo autor.

16. A citação ordenada por juiz incompetente, seja absoluta ou relativamente, é válida,
mas parcialmente ineficaz por produzir apenas efeitos materiais.

15. Resposta do Réu e Revelia


O réu somente responde se quiser. Trata-se de um ônus processual, cuja ausência de prática
possivelmente lhe trará prejuízos.

O art. 297 traz as respostas tradicionais do réu: contestação, reconvenção e exceções rituais.
Entretanto, não são somente estas as possibilidades que se facultam ao réu, podendo ele
ainda suscitar as seguintes defesas:

a) Nomeação à autoria;

b) Chamamento ao processo;

c) Denunciação da lide;

d) Reconhecimento jurídico do pedido;

e) Ação declaratória incidental;

f) Impugnação ao valor da causa;

97
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. PRELIMINAR DE INADMISSIBILIDADE
DO RECURSO APELATÓRIO. REJEIÇÃO. CITAÇÃO FEITA PELOS CORREIOS. PESSOA ESTRANHA AOS QUADROS DA
EMPRESA, POSSIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
[...]
4. Não merece amparo a simples alegação formulada pela empresa de que a pessoa que assinou a carta de citação
com AR não fazia parte da sua diretoria ou de que a signatária era "[...] em princípio pessoa desconhecida da
empresa", devendo-se anotar que consta do AR o número do registro da pessoa que o assinou. Este Superior
Colegiado possui entendimento firmado no sentido de ser válida a citação via postal com AR efetivada no
endereço da ré e recebida por qualquer um de seus funcionários, ainda que sem poder expresso para tanto.
5. Recurso especial conhecido e provido para reformar o acórdão na parte em que deu pela invalidade da citação
postal, determinando a volta do processo ao Tribunal para apreciar o mérito da lide, em grau de apelação.
(STJ, REsp 913.671/AL, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/11/2007, DJe 07/05/2008)
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325

g) Apresentar pedido contraposto;

h) Impugnação à concessão da justiça gratuita.

15.1. Teoria Geral da Exceção


Exceção é qualquer tipo de defesa. As exceções de incompetência e suspeição são categorias
de defesa, exceções stricto sensu.

15.1.1. Acepções de Exceção


a) Em sentido pré-processual: direito abstrato de defesa em processo judicial;

b) Em sentido processual: exercício do direito abstrato de defesa em processo judicial;

c) Em sentido material: situação jurídica que a lei considera como apta a impedir ou
retardar a eficácia de determinada pretensão manifestada pelo autor. Exemplos:
pagamento, compensação, novação, prescrição e decadência.

15.2. Espécies de Defesa

15.2.1. Admissibilidade/Mérito
a) Processuais de admissibilidade: são as defesas que têm por objeto os requisitos de
admissibilidade da causa (condições da ação e pressupostos processuais). Dizem
respeito a questões puramente processuais; o objetivo do demandado é questionar a
viabilidade de apreciação do mérito; são as famosas preliminares de mérito. São
defesas processuais as previstas no art. 301. Se alguma delas for alegada, o juiz deve
abrir ao autor vistas para, no prazo de 10 (dez) dias, promover impugnação (art. 327);

b) Defesa de mérito: aquela que o demandado opõe contra a pretensão deduzida em


juízo pelo autor. Pode ser:

i. Direta: aquela que apenas nega o direito alegado pelo autor;

ii. Indireta: aquelas nas quais o réu, RECONHECENDO O FATO EM QUE SE


FUNDOU A AÇÃO, traz outros impeditivos, modificativos ou extintivos do direito
do autor. Nesse caso, o juiz também deve abrir prazo de 10 (dez) dias para o réu
impugnar (art. 326).

15.2.2. Objeções/Exceções
Exceção (em sentido estrito) é a alegação de defesa que, para ser conhecida pelo magistrado,
precisa ter sido arguida pelo interessado. Nela não se discute a pretensão. A exceção pode ser
substancial ou processual.

As exceções, em regra, não podem ser conhecidas de ofício, salvo se houver prescrição,
hipótese em que o juiz poderá reconhecê-la em qualquer caso (art. 219, § 5º, CPC).

Objeção é a matéria de defesa que pode ser conhecida de ofício pelo magistrado. Ela discute
a pretensão, adentra no mérito, negando a pretensão. Também podem as objeções ser

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processuais ou substanciais. É o caso do reconhecimento da decadência legal, do pagamento e


das causas de nulidade absoluta do negócio jurídico.

Assim, temos:

EXCEÇÕES EM SENTIDO ESTRITO OBJEÇÕES


São as matérias que não podem ser conhecidas de São as matérias que podem ser conhecidas de
ofício pelo juiz, devendo ser alegadas pela parte, ofício pelo juiz, tais como a decadência legal,
salvo a prescrição matérias de ordem pública
Podem ser substanciais ou processuais Podem ser substanciais ou processuais
Não discutem a pretensão em si, não adentram Se substancial, adentra no mérito, negando a
no mérito pretensão

15.2.2.1. Relação entre Questões Prévias e Objeções e Exceções


Antes do mérito, o juiz tem que decidir outras questões no curso do processo, que são
denominadas questões prévias, ou seja, questões prévias são todas as questões que tem que
ser analisadas antes de se apreciar o mérito/pedido/objeto do processo. Assim, o gênero
questões prévias engloba as espécies questões preliminares e questões prejudiciais.

As questões prévias tanto podem ser consideradas como exceções e como objeções, vale
dizer, existem questões prévias que podem ser conhecidas de ofício pelo juiz como a coisa
julgada, tratando-se, pois, de objeção. Por outro lado, há questões prévias que o julgador
somente pode conhecer quando provocado pelas partes tal qual a competência relativa,
sendo, então, uma exceção.

15.2.3. Defesa Indireta e Direta


Defesa direta é aquela em que o demandado se limita a:

a) Negar a existência dos fatos jurídicos constitutivos do direito do autor;

b) Negar as consequências jurídicas que o autor pretende retirar dos fatos que aduz.

Defesa indireta ocorre quando o demandado agrega ao processo fato novo, que impede,
modifica ou extingue o direito do autor. V.g., quando o demandado requer compensação com
o pedido do autor de crédito que este lhe deve. Nesse caso, não pode o juiz conhecer a defesa
indireta de ofício.

O juiz deverá conceder o prazo de 10 dias para que o autor impugne a contestação,
possibilitando o contraditório sobre os novos fatos acostados aos autos (art. 326).

15.2.4. Defesa Interna e Instrumental


Exceção interna é aquela que pode ser formulada no bojo dos autos em que está sendo
demandado o réu. Seria o caso da exceção de não executividade e da alegação de
incompetência absoluta.

Exceção instrumental é aquela que, para ser apreciada, necessita da formação de um


instrumento autônomo e apenso aos autos principais.

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15.2.5. Defesas Processuais


Estão previstas no art. 301 do CPC. São tratadas como defesas preliminares, já que alegadas
idealmente antes do mérito. Essas defesas não se relacionam ao objeto material pedido pelo
autor, tão somente a aspectos formais do processo. Elas são divididas em duas espécies:

a) Dilatórias: o acolhimento não põe fim ao processo, tão-somente aumenta o seu tempo
de duração;

b) Peremptórias: aquelas que, uma vez acolhidas, fazem com que o processo seja extinto
sem a resolução do mérito.

15.2.6. Regras dos Prazos de Resposta


1ª Regra – O prazo de resposta somente tem inicio após esgotado todo o procedimento
citatório.

Quando se esgota o procedimento citatório? Seja ele de que forma for, por mandado, por
correio ou por edital, a resposta está no art. 24198 do CPC, que fornece elementos para que se
saiba exatamente a partir de que momento tem início o prazo de resposta do réu.
Normalmente é da juntada aos autos do mandado de citação, aviso de recebimento, ou
quando esgotado o prazo determinado no edital.

2ª Regra – No caso de litisconsórcio passivo, o prazo de resposta somente tem início no


mesmo momento, para todos os litisconsortes.

É exatamente o caso do art. 241, inciso III: “quando houver vários réus, da data de juntada aos
autos do último aviso de recebimento ou mandado citatório cumprido”. No caso de
litisconsórcio passivo, o prazo de resposta se inicia, para todos eles, no mesmo momento.
MAS PODE NÃO SE ENCERRAR NO MESMO MOMENTO.

Uma hipótese de encerramento diferenciado é a de um, por exemplo, litisconsórcio entre uma
pessoa jurídica de direito público e uma empresa particular, tal como a União e a Petrobrás,
sociedade de economia mista.

Essa situação entre a União e a Petrobrás, acarreta o seguinte: são citadas União e Petrobrás,
para contestar. A União, com base no art. 188 do Código de Processo Civil, tem prazo em
quádruplo para contestar, então o prazo de resposta dela é de 60 dias. A Petrobrás pode se
valer do art. 188?

98
Art. 241 - Começa a correr o prazo:
I - quando a citação ou intimação for pelo correio, da data de juntada aos autos do aviso de
recebimento;
II - quando a citação ou intimação for por oficial de justiça, da data de juntada aos autos do mandado
cumprido;
III - quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último aviso de recebimento ou
mandado citatório cumprido;
IV - quando o ato se realizar em cumprimento de carta de ordem, precatória ou rogatória, da data de
sua juntada aos autos devidamente cumprida;
V - quando a citação for por edital, finda a dilação assinada pelo juiz.

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Ela é Fazenda? Não, ela não é fazenda. Se ela não é fazenda, é sociedade de economia mista,
empresa particular, ela tem direito ao prazo quádruplo também? Não. Mas, como ela está em
litisconsórcio com a União, e Petrobras e União são defendidas por procuradores distintos,
aplica-se o art. 191 do Código de Processo Civil. Assim, o prazo da Petrobrás é de 30 dias.

O prazo de resposta tem início no mesmo momento, da juntada de todos os mandados de


citação aos autos . DETALHE IMPORTANTE É QUE EXISTE UMA EXCEÇÃO A ESSA REGRA, OS
EMBARGOS:

Art. 736 - O executado, independentemente de penhora, depósito ou


caução, poderá opor-se à execução por meio de embargos.

Não há mais necessidade de garantia do juízo para que possam ser interpostos os embargos.
Só que o art. 738 diz:

Art. 738 - Os embargos serão oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias,


contados da data da juntada aos autos do mandado de citação.

§ 1º Quando houver mais de um executado, o prazo para cada um deles


embargar conta-se a partir da juntada do respectivo mandado citatório,
salvo tratando-se de cônjuges.

Então, qual é a exceção? É a de que, NOS EMBARGOS, O PRAZO PARA ELES É CONTADO
INDIVIDUALMENTE A PARTIR DA JUNTADA AOS AUTOS DE CADA MANDADO DE
CITAÇÃO, individualmente considerado. O prazo não tem início no mesmo momento, o prazo
pode se iniciar em momentos distintos, salvo se eles forem cônjuges porque aí se adota a
regra geral do início do prazo no mesmo momento.

15.3. A Contestação

15.3.1. Noção Geral


É o instrumento de exercício do direito de defesa, pela qual o réu apresenta seus argumentos.
Deve obedecer a duas regras:

a) Concentração da defesa ou regra da eventualidade;

b) Ônus da impugnação específica.

15.3.2. A Regra da Eventualidade ou Concentração da Defesa


Significa que cabe ao réu formular toda sua defesa na contestação, sob pena de preclusão
consumativa. Assim, apresentará tanto defesas processuais e de mérito, com a possibilidade
de apresentação de teses de defesa cumulativas, para o caso de rejeição das anteriores.

A cumulação é eventual porque o réu alegará as matérias de defesa indicando que a posterior
seja enfrentada na eventualidade de a matéria defensiva anterior ser rejeitada pelo juiz.

O princípio vem previsto no art. 300:

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Art. 300. Compete ao réu alegar na contestação toda a matéria de defesa


expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor
e especificando as provas que pretende produzir.

As exceções a esse princípio estão previstas no art. 303:

Art. 303. Depois da contestação, só é lícito deduzir novas alegações quando:

I - relativas a direito superveniente;

II - competir ao juiz conhecer delas de ofício;

III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer


tempo e juízo.

E também no 517:

Art. 517. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser
suscitadas na apelação se a parte provar que deixou de fazê-la por motivos
de força maior.

Existe um rol de defesas processuais que devem ser apresentadas na concentração antes de se
discutir o mérito, previsto no art. 301 do CPC. São elas:

a) Incompetência absoluta do juízo: deve ser alegada dentro do prazo de defesa, no bojo
da contestação, sob pena de ter o réu que arcar com as custas processuais decorrentes
da alegação tardia;

b) Nulidade ou inexistência de citação:

c) Perempção, litispendência e coisa julgada:

d) Ausência dos requisitos de admissibilidade do processo:

e) Conexão ou continência:

f) Convenção de arbitragem:

g) Falta de caução ou outra prestação que a lei exige como preliminar:

h) Carência de ação, incapacidade da parte ou defeito de representação:

O JUIZ PODERÁ CONHECER DE OFÍCIO TODAS ESSAS MATÉRIAS, SALVO A EXISTÊNCIA DE


CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM (ART. 301, § 4º).

Algumas matérias deverão ser arguidas em peças distintas da contestação:

a) Incompetência relativa;
Exceções Instrumentais.
b) Impedimento/suspeição do magistrado, perito, tabelião etc.; Devem ser distribuídas por
dependência aos autos
c) Impugnação ao valor da causa; principais, e não
protocoladas.
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d) Pedido de revogação da justiça gratuita, concedida ao autor.

Algumas matérias podem ser alegadas após a apresentação da contestação. São elas (art. 303):

a) Matérias que se refiram a direito superveniente;

b) Matérias que o juiz pode conhecer de ofício;

c) Matérias que, por força de lei, podem ser deduzidas a qualquer tempo.

15.3.3. Ônus da Impugnação Específica (art. 302)


Não se admite a formulação de defesa genérica no processo. Cada fato apresentado pelo autor
deve ser impugnado especificadamente, sob pena de o fato não impugnado ser havido como
existente e verdadeiro. Trata-se da revelia material, hipótese em que há a contestação, mas
ela deixa de impugnar determinados pontos.

Esse ônus não se aplica às seguintes pessoas:

a) Defensor dativo;

b) Defensor público;

c) Curador especial;

d) Membro do Ministério Público;

e) Fazenda Pública.

Em alguns casos, a não impugnação do fato não pode produzir a presunção de ser ele
verdadeiro. São eles:

a) Se havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação, salvo se o litisconsórcio


passivo for facultativo e simples (art. 320, I);

b) Se a respeito do fato não for admitida confissão, como ocorre com os direitos
indisponíveis (art. 320, II);

c) Se a inicial não estiver acompanhada de instrumento público que a lei considerar


substância do ato (art. 320, III);

d) Se os fatos não impugnados estiverem em contradição com a defesa apresentada;

e) Se os fatos não forem minimamente verossimilhantes.

15.3.4. Formas e Requisitos da Defesa


Os requisitos são os mesmos da inicial. Ela deve vir em forma escrita, salvo no rito sumário e
nos Juizados Especiais Cíveis, em que poderão ser orais, apresentadas em audiência e
reduzidas a termo em ata.

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Deve ser apresentada no prazo de 15 dias, no rito ordinário. Havendo litisconsórcio com
procuradores diferentes, o prazo é em dobro. Defensoria pública tem prazo em dobro,
Fazenda Pública e MP, em quádruplo.

Se houver como litisconsortes Fazenda Pública e outra pessoa, somente se aplica o prazo em
quádruplo, e não o prazo em quádruplo dobrado em decorrência de serem litisconsortes com
procuradores diferentes.

15.3.5. Aditamento e Indeferimento da Contestação


Ela poderá ser indeferida se intempestiva ou se faltar capacidade processual ao réu. Em regra,
não se admite o aditamento da contestação, somente sendo possível excepcionalmente.

Se o réu se apresenta ao juízo sem advogado, não deve o juiz indeferir sua contestação,
devendo nomear um advogado dativo para ratificá-la, salvo no procedimento sumário:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RITO SUMÁRIO. COMPARECIMENTO DO RÉU À


AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO. AUSÊNCIA DE SEU PATRONO. APRESENTAÇÃO
DE DEFESA ESCRITA, FIRMADA POR ADVOGADO. IMPOSSIBILIDADE. RÉU
REVEL. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 36, 37, 277, 278 e 319 DO C.P.C.
RECURSO IMPROVIDO.

1. Os atos processuais devem ser praticados por advogados devidamente


habilitados, sob pena de serem considerados inexistentes, nos termos do
parágrafo do art. 37 do Código de Processo Civil. A não apresentação de
defesa por advogado acarreta os efeitos do art. 319 do Estatuto Processual
Civil.

2. A presença do patrono da parte ré é imprescindível na audiência de


conciliação do procedimento sumário, uma vez que neste momento
processual será oportunizada a prática de atos defensivos e outros
relativos à produção de prova, os quais jamais podem ser realizados pela
própria parte, mas, sim, por intermédio de seu causídico.

3. Conquanto o réu tenha comparecido a audiência conciliatória, a defesa


em juízo deve ser praticada por defensor regularmente habilitado,
circunstância que não se verifica na espécie, motivo pelo qual evidencia-se o
acerto do decisum atacado, pois a apresentação de contestação por pessoa
sem capacidade postulatória, ocasiona a inexistência do ato e, por
conseguinte, a revelia do réu.

4. Recurso especial a que se nega provimento.

(REsp 336.848/DF, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR


CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 06/04/2010, DJe
16/04/2010)

15.3.6. Pedido Contraposto em Contestação


Na contestação não se formula pedido contra o autor, nela não se amplia o objeto litigioso do
processo. Essa é a regra, cuja exceção é o chamado pedido contraposto.

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Nos pedidos contrapostos, o réu formula pedido contra o autor dentro da própria contestação.
Só que, para tanto, os pedidos contrapostos precisam estar expressamente autorizados na lei.
SÓ É POSSÍVEL FORMULAR PEDIDO CONTRAPOSTO, QUANDO EXISTE
EXPRESSA AUTORIZAÇÃO LEGAL. A hipótese clássica é a do art. 278, parágrafo
primeiro do Código de Processo Civil, no procedimento comum de rito sumário. Ele assim
dispõe:

§ 1º - É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, DESDE


QUE FUNDADO NOS MESMOS FATOS REFERIDOS NA INICIAL.

A possibilidade de apresentação de pedidos contrapostos é bem rígida, bem restrita. Ela só


cabe com autorização da lei, e com base nos mesmos fatos afirmados na inicial.

Que outras hipóteses de pedidos contrapostos a doutrina menciona? Art. 922 do Código de
Processo Civil, possessórias. Art. 31 dos Juizados Especiais Cíveis. Então, é possível a
apresentação de pedidos contrapostos. Você tem um verdadeiro exercício do direito de ação,
formulado pelo réu. Mas esse exercício do direito de ação não cria processo novo, o processo
é o mesmo. Você tem um pedido novo formulado pelo réu, dentro da contestação, nos autos
daquele mesmo processo. Os fatos são os mesmos.

15.3.7. Defesas Dilatórias

15.3.7.1. Inexistência ou Nulidade de Citação (art. 301, I, CPC)


A inexistência ou nulidade de citação é matéria de ordem pública, alegável em qualquer
momento do processo e, até mesmo, após ele. É defesa dilatória.

Ocorrendo tal situação, o réu poderá se comportar de duas formas: tão-somente alegar a
inexistência ou nulidade de citação ou também expor outras defesas processuais ou de mérito.

Se acolhida a alegação do réu, o prazo de resposta lhe será devolvido.

15.3.7.2. Incompetência Absoluta do Juízo (art. 301, II, CPC)


É também matéria de ordem pública, podendo ser alegada a qualquer momento. Se o réu
alegá-la no prazo de resposta, o fará como um tópico na contestação.

Essa exceção, em regra, é apenas dilatória, pois causa a remessa do processo para outro juízo.
Entretanto, se no processo houver vários pedidos e apenas contra alguns deles for acolhida a
exceção, deverá o processo ser parcialmente extinto, já que não há como enviar somente
parte dos autos e parte da petição inicial para a Justiça competente.

Se o processo estiver no Juizado Especial Cível ESTADUAL, o reconhecimento da


incompetência absoluta também acarreta a extinção do processo.

15.3.7.3. Conexão/Continência (art. 301, VII, CPC)


Trata-se, como já visto, de institutos afetos à prorrogação de competência (juiz que era
relativamente incompetente passa a ser competente). O legislador expressamente prevê que

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essa defesa deverá ser suscitada como preliminar de contestação, não se a admitindo por
meio de exceção instrumental.

São defesas processuais dilatórias, já que buscam a remessa do processo para outro juízo.
Podem ser alegadas a qualquer tempo, salvo se já sentenciado o outro processo. Poderá ser
alegada inclusive no Tribunal, se ambos os processos se encontrarem nessa fase. Por que não
pode ser alegada antes?

Pois haveria supressão de instância, caso o Tribunal avocasse o processo ainda não
sentenciado.

15.3.8. Defesas Peremptórias

15.3.8.1. Inépcia da Petição Inicial (art. 301, III, CPC)


Trata-se da inépcia decorrente das situações previstas no art. 295, p. único CPC99. Apesar dessa
restrição, todas as causas de indeferimento da inicial, e não somente a inépcia, podem ser
suscitadas como defesa peremptória, salvo a prescrição e a decadência e a carência de ação.

Essa última exceção, apesar de ser tratada como peremptória, na verdade é dilatória
potencialmente peremptória, já que o juiz, se a acolher, deverá determinar a emenda da inicial
no prazo de 10 dias; somente caso o autor não promova as modificações necessárias, deverá
haver a extinção do processo.

15.3.8.2. Perempção (art. 301, IV, CPC)


Ocorre quando o autor dá causa à extinção do processo por abandono POR TRÊS VEZES, não
importando o motivo do abandono. Motivos diferentes levam à extinção pelo mesmo
fundamento, gerando a perempção.

A perempção não extingue o direito material do autor, apenas não permite que se proponha
nova ação sobre ele. Ela se distingue da prescrição, pois não extingue a pretensão ao direito
material. Distingue-se da decadência, pois não extingue o próprio direito.

Além disso, diferentemente das duas, a perempção não obsta que a parte alegue o direito
material objeto das três ações extintas por abandono em sua defesa, quando réu.

Assim, vê-se que a perempção é uma sanção processual ao autor que agiu desidiosamente
perante a Justiça, provocando a jurisdição, mas depois deixando o processo abandonado por
tempo suficiente para sua extinção.

99
Art. 295 [...]
Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
I - Ihe faltar pedido ou causa de pedir; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
III - o pedido for juridicamente impossível; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1
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334

15.3.8.3. Litispendência (art. 301, V, CPC)


Haverá litispendência quando duas ações tiverem identidade de elementos: partes, pedido e
causa de pedir.

É defesa que causará a extinção do processo do juízo que não o prevento, aquele que primeiro
despachou, se na mesma subseção judiciária ou comarca, ou que primeiro determinou a
citação, se em subseções ou comarcas diferentes.

15.3.8.4. Coisa Julgada (art. 301, VI, CPC)


Coisa julgada ocorre quando alguém propõe ação com idênticos elementos relativamente a
uma outra já definitivamente julgada. Essa defesa é peremptória em função da segurança
jurídica que deve ser concedida às decisões judiciais definitivas, cercadas pela imutabilidade e
pela indiscutibilidade.

Há tópico específico nesse resumo sobre a relativização da coisa julgada.

15.3.8.5. Convenção de Arbitragem (art. 301, IX, CPC)


Como visto, a arbitragem é tratada pela Lei nº 9.307/96. A convenção de arbitragem é o
gênero do qual são espécies o compromisso arbitral (posterior ao conflito) e a cláusula
compromissória (anterior ao conflito).

Lembrar que é a única preliminar de mérito que não pode ser conhecida de ofício pelo juiz.

15.3.8.6. Carência de Ação (art. 301, X)


Trata-se de matéria já vista, quando faltar legitimidade da parte, interesse processual ou por
impossibilidade jurídica do pedido, ou seja, quando ausentes algumas das condições de ação.

15.4. Reconvenção (arts. 315 a 318)

15.4.1. Noções Gerais


É demanda do réu contra o autor no mesmo processo em que está sendo demandado. É um
incidente processual que amplia o objeto litigioso do processo. Não se trata de processo
incidente, pois é demanda nova em processo já existente. Ela possui NATUREZA JURÍDICA
DE AÇÃO AUTÔNOMA.

O réu passará a ser autor na reconvenção, e o autor, réu. Como ela tem natureza jurídica de
ação, haverá apenas um processo, mas com duas ações.

Ela é uma faculdade, já que se o réu não a ajuizar, poderá ajuizar demanda autônoma.

A contestação da reconvenção, cuja intimação pode ser feita na pessoa do próprio advogado,
deve ser feita no prazo de 15 dias (art. 316).

A reconvenção, que é oferecida em peça autônoma, mas nos mesmos autos (SEM FORMAR
INSTRUMENTO),DEVERÁ SER JULGADA NA MESMA SENTENÇA DA AÇÃO
PRINCIPAL, SOB PENA DE NULIDADE.

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Não é admitida reconvenção que amplie subjetivamente o processo ou cujo objeto seja de
incompetência absoluta do juiz da causa principal, assim como é vedada sua apresentação nos
procedimentos sumário e sumaríssimo (nestes, cabe pedido contraposto). Há, entretanto,
quem diga que sim, quando a reconvenção trouxer demanda que afete direito de terceira
pessoa, a qual deverá ser citada100.

Também é posível reconvenção em face de apenas um ou alguns dos autores em litisconsórcio


ativo (reconvenção subjetivamente restritiva, conforme defende Dinamarco). Obviamente,
isso pressupõe que o litisconsórcio facultativo seja simples, e não unitário, porque se for
unitário eles estão vinculados à mesma relação jurídica e todos teriam que fazer parte do polo
passivo da reconvenção.

A RECONVENÇÃO DEVE TRATAR DE MATÉRIA CONEXA COM A AÇÃO PRINCIPAL OU COM O


FUNDAMENTO DE DEFESA, não podendo tratar de fato absolutamente estranho ao que
originariamente se discute no processo.

Caso o réu perca o prazo da reconvenção, poderá propor ação autônoma, podendo promover
a distribuição por dependência ao processo, em função da similitude fática entre ambos.
Assim, haverá o mesmo efeito prático da reconvenção, com a diferença de que, ao invés de
um, haverá dois processos.

SE A INICIAL DA RECONVENÇÃO FOR INDEFERIDA, O RECURSO CABÍVEL


SERÁ O AGRAVO DE INSTRUMENTO, e não a apelação, como antes era feito.
PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS À EXECUÇÃO – ALTERAÇÃO DO POLO
PASSIVO DA AÇÃO ANTES DA CITAÇÃO – POSSIBILIDADE – PRINCÍPIO DA
ESTABILIZAÇÃO SUBJETIVA DO PROCESSO – RECONVENÇÃO – AUTONOMIA
– HONORÁRIOS – CABIMENTO.

[...]

2. A reconvenção constitui ação autônoma; dessa forma, são devidos os


honorários em razão da sucumbência, independentemente do resultado
da ação principal. Precedentes: AgRg no Ag 690.300/RJ, Rel. Min. Massami
Uyeda, Quarta Turma, julgado em 13.11.2007, DJ 3.12.2007, p. 311; AgRg no
REsp 753.095/DF, Rel. Min. Castro Meira, Terceira Turma, julgado em
23.8.2007, DJ 10.9.2007, p. 228; e EDcl no REsp 468.935/SP, Rel. Min. Carlos
Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, julgado em 24.8.2004, DJ
4.10.2004, p. 283.

Recurso especial parcialmente provido.

(STJ, REsp 614.617/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA


TURMA, julgado em 09/06/2009, DJe 29/06/2009)

100
A isso a doutrina chama de reconvenção subjetivamente ampliativa.
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15.4.2. Condições da Ação Reconvencional


As condições da ação reconvencional, ainda que sejam as mesmas, possuem algumas
especificidades que merecem comentários.

a) Legitimidade de parte: somente o réu poderá propor a reconvenção. Entretanto, a


reconvenção pode ter um efeito interessante, diminuindo subjetivamente os
reconvindos; logo, se no processo original havia litisconsórcio ativo, a ação
reconvencional poderá ser proposta somente contra um ou parte deles;

b) Interesse de agir: o provimento a ser obtido com a reconvenção deve ser diferente do
que poderia ter sido obtido somente com a contestação. Assim, se a demanda for
dúplice, ou seja, se o bem de vida já for entregue ao réu pelo improvimento do pedido
do autor, não há interesse de agir;

As ações meramente declaratórias são ações dúplices. Porém, o STF nelas admite
reconvenção. Como exemplo pode-se citar o caso do homem que tem a fama de ser pai de
determinada criança. A fim de se livrar disso, ele ajuíza ação declaratória negativa de
paternidade. O infante, representado pela mãe, não somente contesta, mas apresenta
reconvenção pedindo a fixação de alimentos.

Súmula 258, STF: “É admissível reconvenção em ação declaratória”.

c) Possibilidade jurídica do pedido:

15.4.3. Pressupostos Processuais Reconvencionais


a) Litispendência: a reconvenção somente pode ser proposta em processo existente.

b) Observância do prazo de resposta: se o réu apresenta contestação no sexto dia do


prazo, não terá ainda mais nove dias para apresentar a reconvenção. Ambas devem
ser apresentadas O OFERECIMENTO ANTECIPADO DA
juntas.
CONTESTAÇÃO GERA PRECLUSÃO CONSUMATIVA. Nesse sentido:
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE COBRANÇA. CONVÊNIO
FIRMADO ENTRE MUNICÍPIO E ESTADO. RECONVENÇÃO. CONTESTAÇÃO.
SIMULTANEIDADE. PRECLUSÃO CONSUMATIVA. ART. 299 DO CPC.

1. A contestação e a reconvenção devem ser apresentadas


simultaneamente, ainda que haja prazo para a resposta do réu, sob pena
de preclusão consumativa. Precedentes do STJ: REsp 31353/SP, QUARTA
TURMA, DJ 16/08/2004; AgRg no Ag 817.329/MG, QUARTA TURMA, DJ
17/09/2007; e REsp 600839/SP, DJe 05/11/2008.

2. Agravo Regimental desprovido.

(AgRg no REsp 935.051/BA, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,


julgado em 14/09/2010, DJe 30/09/2010)

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337

c) Competência: o juízo da ação originária é absolutamente competente para a ação


reconvencional, de forma que, sendo a competência absoluta dessa ação diferente da
ação originária, será proibido o ingresso da ação reconvencional, devendo a parte
ingressar com ação autônoma perante o juízo absolutamente competente;

d) Peça autônoma:

e) Compatibilidade entre os procedimentos (art. 318): isso porque ambas seguirão


juntas, sendo, inclusive, decididas por uma mesma sentença;

f) Conexão (art. 315): basta uma afinidade de questões;

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. LOCAÇÃO. AÇÃO DE DESPEJO.


RECONVENÇÃO. POSSIBILIDADE. CONEXÃO COM OS FUNDAMENTOS DA
DEFESA. PRECEDENTES DO STF E DO STJ.

1. A legislação de regência prevê a utilização da reconvenção sempre que


houver conexão com a ação principal ou com o fundamento da defesa.
Inteligência do artigo 315 do CPC.

2 Presente o vínculo entre o fundamento da defesa e a pretensão


reconvinte, consistente no contrato locativo, possível a propositura da
reconvenção em ação de despejo. Precedentes.

3. Recurso especial a que se dá provimento, para determinar o retorno dos


autos à origem, a fim de que as questões de mérito tecidas com a
reconvenção sejam apreciadas.

(REsp 293.784/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em


17/05/2011, DJe 06/06/2011)

g) Cabimento: como visto, não é cabível reconvenção nos JEC e no procedimento sumário
(cabe, repita-se, pedido contraposto).

15.4.4. Reconvenção e Substituição Processual (art. 315, p. único)


Se o réu quiser reconvir em face do substituto processual, deverá fundar seu pedido em
pretensão que tenha em face do substituído. Logo, impossível, num dado processo, promover
o réu pedido em face do autor, o que deverá ser feito em ação e processo próprios.

15.4.5. Julgamento da Reconveção


A reconvenção deverá ser julgada na mesma sentença da ação, sob pena de nulidade.

A desistência da ação, ou a existência de qualquer causa que a extinga, não obsta ao


prosseguimento da reconvenção (art. 317).

15.4.6. Reconvenção X Ação Dúplice X Pedido Contraposto


Ação Dúplice: Do prisma material, é dúplice a ação que a contestação do réu já basta à
obtenção do bem da vida. Em geral, o autor pede e o réu somente impede. São chamadas de
ações de mão dupla, com sinais trocados. Nas ações dúplices, a simultaneidade da posição de
autor e réu assumida pelos litigantes decorre da pretensão deduzida em juízo.
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338

Reconvenção: como modalidade de resposta que é, permite que o réu não apenas ofereça
resistência à pretensão buscada pelo autor mas também pleiteie o reconhecimento de uma
pretensão da qual se julga titular em face do autor acerca de questão conexa à causa principal.

Pedido Contraposto: A técnica da contraposição de pedidos implica a formulação de pedido,


por parte do réu, na mesma oportunidade de oferecimento de sua defesa, sem a necessidade
de utilização do procedimento próprio da via reconvencional. Desse modo, há o exercício do
direito de ação, mas não se exigem as formalidades inerentes à demanda reconvencional, pois
que essa técnica foi pensada para homenagear os princípios da simplicidade e celeridade nos
Juizados Especiais e no Procedimento Sumário.

15.4.7. Tabela Síntese


RECONVENÇÃO
Não é processo novo, apenas demanda nova em processo existente. Natureza jurídica: ação autônoma. Não
CONSIDERAÇÕES forma instrumento; intimação na pessoa do advogado; não pode ampliar subjetivamente a lide (para alguns
GERAIS pode, se envolver direito de terceiro); pode ser subjetivamente restritiva; julgamento na mesma sentença,
sob pena de nulidade; cabe honorários na decisão da reconvenção; rejeitada a inicial, cabe AI.
Legitimidade: somente réu; interesse de agir: o provimento a ser obtido com a reconvenção deve ser
CONDIÇÕES DA
diferente do que poderia ter sido obtido somente com a contestação, em ações dúplices ou que admitam
AÇÃO
pedido contraposto; possibilidade jurídica do pedido.
Litispendência: a reconvenção somente pode ser proposta em processo existente; Observância do prazo de
resposta: se o réu apresenta contestação no sexto dia do prazo, não terá ainda mais nove dias para
apresentar a reconvenção. Ambas devem ser apresentadas juntas. O OFERECIMENTO ANTECIPADO DA
CONTESTAÇÃO GERA PRECLUSÃO CONSUMATIVA; Competência: o juízo da ação originária é absolutamente
PRESSUPOSTOS competente para a ação reconvencional, de forma que, sendo a competência absoluta dessa ação diferente
PROCESSUAIS da ação originária, será proibido o ingresso da ação reconvencional, devendo a parte ingressar com ação
autônoma perante o juízo absolutamente competente;Peça autônoma; Compatibilidade entre os
procedimentos; Conexão: basta uma afinidade de questões. Deve haver conexão de questões com a ação
principal ou com o fundamento da defesa. Cabimento: não é cabível reconvenção nos JEC e no
procedimento sumário (cabe, repita-se, pedido contraposto).
Súmula 258, STF: “É admissível reconvenção em ação declaratória”; se o autor for substituto processual,
OBSERVAÇÕES
somente caberá reconvenção em face do substituído.

15.5. Exceções Instrumentais ou Processuais

15.5.1. Generalidades
É o incidente processual pelo qual se pode alegar, com a suspensão do procedimento
principal até o julgamento definitivo (art. 306), determinadas matérias que, por determinação
legal, devem ter um procedimento próprio para serem investigadas e decididas. São espécies
de defesa que compreendem as alegações de suspeição ou impedimento do juiz e
incompetência relativa do juízo.

Essas defesas não adentram no mérito, sempre irão atacar o processo por alguma
irregularidade que causa prejuízo à parte.

As partes são o excipiente e o exceto.

É possível que seja oferecida sem a contestação, já que aquela suspende o prazo. Tão logo o
excipiente tenha julgada sua exceção, deverá contestar no prazo que lhe resta.

Se o exceto for a Fazenda Pública, terá prazo em quádruplo para contestar.

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O autor não poderá alegar a exceção de incompetência relativa. Já autor e réu poderão alegar
exceção de suspeição/impedimento.

15.5.2. Arguição de Impedimento e Suspeição (arts. 134 a 138)

15.5.2.1. Generalidades
São as formas estabelecidas em lei para afastar o juiz da causa, por lhe faltar capacidade
subjetiva ou compatibilidade, que é pressuposto processual de validade. Ambas são voltadas
contra a pessoa física do juiz, podendo (devendo) HAVER A DECLARAÇÃO DE OFÍCIO se
configuradas101.

A parcialidade é vício que não gera a extinção do processo; ao ser verificada, os autos devem
ser remetidos ao substituto legal.

As hipóteses de impedimento ensejam nulidade, há presunção absoluta de que o magistrado


não tem condições subjetivas de atuar com parcialidade. É vício que pode ser alegado a
qualquer tempo e grau de jurisdição, além de poder ser reconhecido de ofício e admitir futura
ação rescisória.

Já a suspeição forma presunção relativa de parcialidade, tornando o ato anulável; o


magistrado pode se declarar suspeito, mas a parte só tem 15 dias para argui-la, contados de
quando souber do vício.

São hipóteses legais de impedimento:

Art. 134. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso


ou voluntário:

I - de que for parte;

II - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito,


funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como
testemunha;

III - que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido


sentença ou decisão;

IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge


ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha
colateral até o segundo grau;

V - quando cônjuge, parente, consangüíneo ou afim, de alguma das partes,


em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau;

101
Discute-se a natureza jurídica do impedimento e da suspeição, divergindo-se correntes que
entendem sê-las objeções e exceções. De acordo com o art. 137, “...O juiz que violar o dever de
abstenção, ou não se declarar suspeito, poderá ser recusado por qualquer das partes (art. 304)”. Assim,
por ele ter o dever processual de se declarar suspeito/impedido, ou seja, sendo questão reconhecível
de ofício, mais correto é classifica como objeção.
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340

VI - quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica,


parte na causa.

Parágrafo único. No caso do no IV, o impedimento só se verifica quando o


advogado já estava exercendo o patrocínio da causa; é, porém, vedado ao
advogado pleitear no processo, a fim de criar o impedimento do juiz.

[...]

Art. 136. Quando dois ou mais juízes forem parentes, consangüíneos ou


afins, em linha reta e no segundo grau na linha colateral, o primeiro, que
conhecer da causa no tribunal, impede que o outro participe do julgamento;
caso em que o segundo se escusará, remetendo o processo ao seu
substituto legal.

São hipóteses legais de suspeição:

Art. 135. Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando:

I - amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;

II - alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de


parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau;

III - herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes;

IV - receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar


alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para
atender às despesas do litígio;

V - interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.

Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo.

A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de
propósito der motivo para criá-la (art. 256)102.

Se a suspeição/impedimento forem verificados após a prolação da sentença, tais defeitos


poderão ser arguidos na apelação, como preliminar de mérito.

Em qualquer caso, o magistrado, após receber a apelação, terá oportunidade de oferecer a sua
defesa.

102
Busca-se, com essa regra, evitar sejam criados incidentes artificiosos no curso do processo com o
propósito de afastar o juízo natural do processamento da causa. Do contrário, não simpatizando a parte
com o magistrado definido à luz das regras processuais prévias e objetivas que assentam o juízo
competente para a causa, ou então temendo a linha de entendimento por ele já manifestada em outros
casos, bastar-lhe-ia criar no curso do processo situação de conflito com o juiz para, através de
reprovável postura, obter o que deseja: substituir o juízo natural da ação.
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341

A SIMPLES INTERPOSIÇÃO DESSAS EXCEÇÕES JÁ É CAUSA DE SUSPENSÃO DO


PROCEDIMENTO PRINCIPAL. Do procedimento principal, repita-se, porque o processo
continua correndo, com o julgamento da própria exceção.

NÃO SE OUVE A PARTE CONTRÁRIA, QUE NÃO PARTICIPA DESSES INCIDENTES. Se a


exceção for acolhida, o tribunal condenará o juiz ao pagamento das custas e remeterá os autos
ao substituto legal.

SE TODO O TRIBUNAL OU A MAIORIA DELE FOR SUSPEITO/IMPEDIDO, O


INCIDENTE SERÁ JULGADO PELO STF; SE PROVIDA, TAMBÉM A CAUSA O
SERÁ.
Também poderão ser declarados impedidos/suspeitos o perito, o intérprete, o serventuário e
órgãos do MP; porém, nesses casos, não há suspensão do processo. Logo, só há suspensão se
o suspeito/impedido for o juiz da causa.

A exceção de suspeição/impedimento será sempre decidida por acórdão, recorrível somente


por recurso especial ou extraordinário, a depender do motivo do não provimento.

O advogado do excipiente NÃO PRECISA DE PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECIAIS para


propor essa exceção.

A participação de ministro impedido em julgamento em órgão colegiado não anula o processo


se o voto não tiver sido decisivo para o resultado da controvérsia (EREsp 1.008.792). Sobre o
tema:

JULGAMENTO COLEGIADO. MINISTRO IMPEDIDO. NULIDADE.

Cuida-se de embargos de divergência em que a controvérsia cinge-se à


nulidade de julgamento colegiado em decorrência da participação de
Ministro impedido. A Seção conheceu dos embargos, mas lhes negou
provimento ao entendimento de que não há nulidade do julgamento em
órgão colegiado do qual participou Ministro impedido, se o seu voto não foi
decisivo para o resultado. Ressaltou-se que, no caso concreto, trata-se de
acórdão proferido por unanimidade de votos, com relatoria atribuída a
julgador diverso do Ministro impedido, de modo que a declaração de
nulidade do referido voto não implicaria alteração do resultado do
julgamento. Precedentes citados: RMS 20.776-RJ, DJ 4/10/2007; EDcl no
REsp 78.272-DF, DJ 14/2/2005; EDcl no AgRg no Ag 1.019.080-RS, DJe
17/5/2010; RMS 24.798-PE, DJe 16/3/2009, e REsp 318.963-RJ, DJ
7/5/2007. EREsp 1.008.792-RJ, 2S, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgados em
9/2/2011.

Isso, entretanto, somente deve ocorrer se o Ministro impedido foi voto vencido. Se ele foi
relator ou prolatou voto no sentido da tese vencedora, não tendo sido unânime o julgamento,
ainda que subsistissem votos suficientes para manter o acórdão no mesmo sentido do
decidido, é altamente recomendável a anulação do acórdão, já que ele provavelmente
influenciou no julgamento (o que não ocorreu no julgado acima).
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342

15.5.3. Exceção de Incompetência


A exceção de incompetência relativa não pode ser oferecida a qualquer tempo. Deve ser
ajuizada no prazo de 15 dias, aquele destinado para a apresentação da resposta.

Ela poderá ser apresentada no domicílio do réu, com o requerimento de sua imediata
remessa ao juízo que determinou a citação. É uma faculdade sua.

Admitida a petição, o magistrado determinará a suspensão do processo. Não admitida, caberá


agravo, já que se trata de decisão interlocutória. O mesmo vale para o resultado de seu
julgamento.

A exceção de incompetência que é processada em autos apartados é a relativa. A absoluta


deverá ser oferecida em preliminar de contestação.

Não obstante, lembrar que muitos juízes admitem a exceção de incompetência relativa
oferecida como preliminar de contestação, em consagração ao princípio da instrumentalidade
das formas.

Existem três possibilidades de indeferimento liminar da exceção:

a) Manifesta improcedência;

b) Manifesta inadmissibilidade (v.g., por ser intempestiva);

c) Ausência de indicação do juízo ou foro competente.

Para maiores detalhes, olhar capítulo sobre competência, onde esta exceção foi trabalhada
com maior profundidade.

15.5.4. Impugnação ao Valor da Causa


Está prevista no art. 258 do CPC. É espécie de defesa a ser apresentada no prazo de resposta
pelo réu. O STJ tem entendimento pacificado no sentido de que a Fazenda Pública possui prazo
em quádruplo para apresentar essa defesa.

Ela será apensada aos autos principais, sem a suspensão do trâmite do procedimento
principal. O autor será intimado para ser ouvido no prazo de 05 dias; sendo necessário, poderá
haver produção de prova, inclusive pericial.

O juiz tem o prazo impróprio de 10 dias para resolver a impugnação, mediante decisão
interlocutória atacável por agravo de instrumento.

15.5.5. Impugnação à Concessão da Justiça Gratuita


Prevista na Lei nº 1.060/50. O réu deverá apresentar a impugnação assim que concedida pelo
juiz. Geralmente o juiz concede a justiça gratuita quando despacha a inicial e determina a
citação. Assim o réu terá o prazo de resposta para impugnar.

E se a justiça gratuita for concedida no curso do processo? Não há prazo especificado para tal
situação, sendo admissível entender pelo prazo supletivo de 05 dias do CPC.

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343

Diferencia-se a impugnação do pedido de revogação da justiça gratuita. A revogação deverá


ser pedida pelo réu quando verificar que o autor perdeu a condição de legalmente pobre.

A lei em comento determina que o recurso cabível contra decisão proferida na impugnação à
justiça gratuita é apelação. Entretanto, isso deve ser visto com reservas: somente se apelará se
o incidente for autuado em apenso. Assim, haverá o desapensamento com a consequente
remessa dos autos do incidente, junto da apelação, ao tribunal.

Entretanto, se a denegação da justiça gratuita ou sua revogação se der nos próprios autos
principais, o recurso manejável é o agravo de instrumento. Esse é o entendimento do STJ:

PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. AUTOS


APARTADOS. IMPUGNAÇÃO. INDEFERIMENTO. APELAÇÃO.

1. É cabível recurso de apelação contra decisão que indefere impugnação a


pedido de assistência judiciária gratuita efetuada em autos apartados.
Precedentes.

2. Agravo regimental provido.

(AgRg no REsp 1000482/DF, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,


QUARTA TURMA, julgado em 06/05/2008, DJe 19/05/2008)

15.6. Reconhecimento Jurídico do Pedido


Trata-se da declaração de concordância do réu com o pedido do autor. É um ato de disposição
de direito, que gera a extinção do processo com julgamento de mérito ante sentença
homologatória (art. 269, II, CPC), acaso o reconhecimento recaia sobre todos os pedidos.

Caso o reconhecimento seja parcial, o juiz deverá antecipar os efeitos da tutela mediante
decisão interlocutória (art. 273, § 6º).

Com o reconhecimento jurídico do pedido, o réu reconhece os aspectos fáticos e jurídicos


narrados pelo autor. Essa é uma das principais diferenças em relação à confissão, na qual o réu
somente admite determinados fatos, não implicando, necessariamente, no imediato
reconhecimento do direito do autor.

Tanto é assim que, nas defesas indiretas, o réu concorda com os fatos alegados pelo autor,
mas lhe contrapõe fatos modificativos, impeditivos ou extintivos do seu direito.

O reconhecimento jurídico do pedido pode ser repudiado pelo juiz? Em regra não, salvo se
tratar-se de direitos indisponíveis ou de manifestação feita por pessoa sem capacidade para
tanto. Nesse caso, evidentemente que ele poderá se valer do fato para formar seu
convencimento, mas deve fundamentar também com base em outros elementos sua decisão.

15.7. Ação Declaratória Incidental


A ação declaratória incidental é um pedido feito por uma das partes no decorrer da ação para
que uma questão prejudicial, que necessariamente deverá ser enfrentada antes do mérito, na
fundamentação da sentença, seja abrangida pela coisa julgada material.

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Se, por exemplo, A pede indenização em face de B por ter este descumprido um contrato, e B
alega que o contrato era nulo (defesa indireta), A deverá ajuizar ação declaratória incidental
para alçar a questão do contrato, a qual necessariamente deverá ser analisada para se decidir
sobre a indenização, à condição de questão principal, pedindo que o juiz reconheça sua
validade.

Art. 5o Se, no curso do processo, se tornar litigiosa relação jurídica de cuja


existência ou inexistência depender o julgamento da lide, qualquer das
partes poderá requerer que o juiz a declare por sentença.

Art. 325. Contestando o réu o direito que constitui fundamento do pedido, o


autor poderá requerer, no prazo de 10 (dez) dias, que sobre ele o juiz profira
sentença incidente, se da declaração da existência ou da inexistência do
direito depender, no todo ou em parte, o julgamento da lide (art. 5 o).

Esse reconhecimento deverá ser feito no dispositivo da sentença, já que é essa a parte que faz
coisa julgada material.

O pedido é autuado nos próprios autos e julgado junto com a ação principal. O juiz deve
decidir, na sentença, primeiro a questão prejudicial, abrindo um tópico na fundamentação
para tratar da questão incidente e sobre ela se manifestando no dispositivo. Não é cabível no
rito sumário nem nos juizados especiais.

Ambas as partes têm legitimidade para o ingresso da ação declaratória incidental, a qual
somente será considerada uma espécie de resposta do réu quando por ele utilizada.

O réu, entretanto, deverá propor a ação declaratória junto à contestação, enquanto o autor
terá o prazo de 10 dias contados da intimação da apresentação da resposta pelo réu.

CIVIL e PROCESSUAL CIVIL. LOCAÇÃO. COISA JULGADA. FUNDAMENTAÇÃO.


LIMITES OBJETIVOS. FIADOR. ILEGITIMIDADE. NULIDADE DA FIANÇA.
AUSÊNCIA DE OUTORGA UXÓRIA. BOA FÉ OBJETIVA.

1. Se o decisum recorrido utiliza motivos de outra demanda transitada em


julgado com o fim de declarar a coisa julgada material, sem propositura de
ação declaratória incidental (artigos 5º e 325, CPC), esse proceder ofende
os limites objetivos da coisa julgada, a teor do art. 469, incisos I, II e III do
CPC.

[...]

(STJ, REsp 1128770/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Rel. p/ Acórdão Ministro
HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/AP), QUINTA TURMA, julgado em 16/11/2010, DJe 06/12/2010)

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. FUNGIBILIDADE. OFENSA À COISA
JULGADA. INEXISTÊNCIA. POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL. REAJUSTE DE
3,17%. ART. 10 DA MEDIDA PROVISÓRIA N.º 2.225/2001 E LEI 9.654/98.
LIMITAÇÃO. REESTRUTURAÇÃO DE CARREIRA.
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[...]

2. Nos termos do art. 469, incisos I, II e III, do Código de Processo Civil, não
fazem coisa julgada: (a) os motivos, ainda que importantes para
determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; (b) a verdade dos
fatos, estabelecida como fundamento da sentença; e (c) A APRECIAÇÃO DA
QUESTÃO PREJUDICIAL, DECIDIDA INCIDENTEMENTE NO PROCESSO, A
NÃO SER, QUANTO A ESSA ÚLTIMA HIPÓTESE, ANTE A PROPOSITURA DE
AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL.

[...]

(STJ, AgRg no REsp 1172646/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA


TURMA, julgado em 26/10/2010, DJe 22/11/2010)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL AJUIZADA APÓS A


REJEIÇÃO LIMINAR DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA INTERPOSTOS
CONTRA O ACÓRDÃO QUE JULGARA O RECURSO ESPECIAL. PRETENSÃO DE
REFORMA DOS JULGADOS. DESCABIMENTO.

1. A "ação declaratória incidental" tem por objeto a declaração da existência


ou da inexistência de relação jurídica da qual dependa o julgamento do
pedido formulado em processo já em curso, ex vi do disposto nos artigos 5º
e 325, do CPC, verbis: "Art. 5º. Se, no curso do processo, se tornar litigiosa
relação jurídica de cuja existência ou inexistência depender o julgamento da
lide, qualquer das partes poderá requerer que o juiz a declare por sentença.
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973) (...) Art. 325. Contestando o réu o
direito que constitui fundamento do pedido, o autor poderá requerer, no
prazo de 10 (dez) dias, que sobre ele o juiz profira sentença incidente, se da
declaração da existência ou da inexistência do direito depender, no todo ou
em parte, o julgamento da lide (art. 5o)." 2. CONSEQUENTEMENTE, SENDO
SEU OBJETO A RELAÇÃO JURÍDICA CONTROVERTIDA, NÃO CABE AÇÃO
DECLARATÓRIA INCIDENTAL PARA DECLARAÇÃO DE FATOS, NEM PARA
SIMPLES INTERPRETAÇÃO DE TESE JURÍDICA OU DE QUESTÃO DE DIREITO.

[...]

(STJ, AgRg nos EDcl na Pet 5.830/DF, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 22/04/2009, DJe 25/05/2009)

15.7.2. Diferenças entre Ação Declaratória Incidental e Reconvenção


RECONVENÇÃO AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL
Legitimidade: só o réu pode reconvir. Qualquer das partes pode ajuizar.
A efetiva contestação é requisito para a ADI, caso
contrário não haverá questão prejudicial.
Não há necessidade de contestar a ação principal.
Lembrar que questão é apenas o que se tornou
litigioso.
É acessória à ação principal, não podendo
Tem autonomia.
prosseguir se o autor dela desistir.
Tipo de demanda: qualquer natureza. Sempre declaratória.
Aumenta a carga cognitiva do juiz. Mesma carga cognitiva: juiz de qualquer forma

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346

deverá decidir a questão prejudicial, ainda que na


fundamentação.
Ambas têm o efeito de restarem protegidas pela coisa julgada material.

15.8. Revelia (arts. 319 a 322)

15.8.1. Conceito
CONSISTE NA NÃO APRESENTAÇÃO, OU NA APRESENTAÇÃO
INTEMPESTIVA, DA CONTESTAÇÃO. Assim, um réu-revel pode perfeitamente ter
apresentado outros tipos de resposta, como a reconvenção. Entretanto, continuará sendo
revel.

PROCESSO CIVIL. PRAZO PARA RESPOSTA DO RÉU. JUNTADA DA CARTA


PRECATÓRIA DESTINADA À CITAÇÃO. TERMO INICIAL. CERTIDÃO DE
SERVENTUÁRIO DA JUSTIÇA. FÉ PÚBLICA NÃO DESCONSTITUÍDA POR PROVA
ROBUSTA. CONTESTAÇÃO INTEMPESTIVA. DECRETAÇÃO DE REVELIA.
NULIDADE DA SENTENÇA. NÃO CONFIGURAÇÃO. 1. A certidão do
serventuário de justiça goza de fé pública, só podendo ser desconstituída
por prova robusta, que no caso não se fez. 2. A certidão de juntada de Carta
Precatória destinada à citação do réu constitui termo inicial do prazo para a
contestação, independentemente de outras providências. 3. A
Jurisprudência é pacífica no sentido de que com a juntada aos autos da carta
precatória começa a correr o prazo para a contestação e, "para que isso
ocorra, não há necessidade de qualquer intimação ou de abertura de vista
aos réus" e que "para fluir o prazo, não é necessária intimação de que o
mandado ou a carta, precatória ou rogatória, foram juntos aos autos". 4. Tal
se justifica dado que o prazo é de natureza legal, não processual, e flui
independentemente de intimação. 5. Regular a decretação da revelia,
devendo ser mantida a sentença, dado que não padece de nenhum vício
que possa ser reconhecido de ofício. 6. Apelação a que se nega provimento.

(TRF3, AC 00484063819784036100, JUIZ CONVOCADO WILSON ZAUHY,


JUDICIÁRIO EM DIA - TURMA Y, e-DJF3 Judicial 1 DATA:20/06/2011 PÁGINA:
107 ..FONTE_REPUBLICACAO:.)

NO RITO SUMÁRIO, a revelia se configurará também se o advogado não comparecer à


audiência de conciliação, ainda que a parte compareça com contestação devidamente
assinada por ele. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE RITO SUMÁRIO. INICIAL SUFICIENTEMENTE


INSTRUÍDA. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO. COMPARECIMENTO DO RÉU SEM
SEU ADVOGADO. REVELIA. 1. A inicial encontra-se suficientemente instruída,
não havendo falar, em ausência de demonstração de impontualidade dos
pagamentos para efeito de incidência dos artigos 282, 283 e 333, I e II, do
CPC. 2. O agravado, além de ter comparecido à audiência de conciliação
sem seu advogado, retirou-se antes do seu término, o que acarretou sua
revelia, questão exaustivamente analisada pela decisão agravada. 3. A

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ausência de contestação na audiência de conciliação do procedimento


sumário a revelia do réu. 4. Agravo regimental improvido.

(TRF1, AGRAC 201038000009341, DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE


MARIA DE ALMEIDA, QUINTA TURMA, e-DJF1 DATA:30/07/2012
PAGINA:47.)

Revelia não se confunde com os efeitos da revelia, já que nem sempre estes se farão
presentes.

15.8.2. Efeitos da Revelia


Efeito Material

a) Presunção de veracidade dos fatos afirmados pelo demandante;

Efeitos Processuais

b) Prosseguimento do processo sem intimação do réu-revel que não tenha patrono


constituído nos autos, correndo os prazos a partir de cada ato decisório. Voltará ele,
entretanto, a ser intimado após se habilitar regularmente no processo;

c) Preclusão em desfavor do réu do poder de alegar algumas matérias de defesa;

d) Possibilidade de julgamento antecipado da lide (art. 330, II).

15.8.3. Mitigações à Eficácia da Revelia


É possível que haja revelia e não se presuma a ocorrência dos fatos deduzidos contra o revel.

O comparecimento do réu à audiência de conciliação desacompanhado de


advogado, porém munido de peça contestatória, não afasta os efeitos da
revelia, uma vez que o advogado é quem possui capacidade postulatória.
(STJ, 3T, Informativo 429, REsp 336.848-DF)

15.8.3.1. A Confissão Ficta Não é Efeito Necessário da Revelia


É possível que haja revelia sem que se presuma a confissão ficta. V.g.,

a) Se não houver o mínimo de verossimilhança na postulação do autor;

b) Quando a citação tiver sido ficta;

c) Quando terceiro tiver ingressado no processo como assistente do revel;

d) Se o direito material em discussão for indisponível: como ocorre com as causas contra
menores ou movidas em face da Fazenda Pública;

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSO CIVIL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ.


REVELIA DA AUTARQUIA FEDERAL. INAPLICABILIDADE DE SEUS EFEITOS.
PROVA PERICIAL. INEXISTÊNCIA. IMPRESCINDIBILIDADE DA PERÍCIA
JUDICIAL. SENTENÇA ANULADA. RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM. 1. A
decretação da revelia, em face de o INSS não ter apresentado sua
contestação, não acarreta os efeitos de presunção de veracidade dos fatos
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alegados, por se tratar de pessoa jurídica de direito público, cujos direitos


são indisponíveis, a teor do art. 320, II, do CPC. 2. Segundo jurisprudência
desta Corte "é indispensável a produção de prova pericial médica em Juízo
se é controvertida a questão que envolve existência e a extensão da
invalidez (se total ou parcial, temporária ou permanente), devendo tal prova
ser produzida para que se verifique, com exatidão, a alegada ausência da
capacidade laborativa do autor. 3. Sentença anulada, de ofício,
determinando o retorno dos autos à vara de origem para a regular instrução
do feito. Apelação do INSS e remessa prejudicadas.

(TRF1, AC 200801990394612, DESEMBARGADORA FEDERAL MONICA


SIFUENTES, SEGUNDA TURMA, e-DJF1 DATA:05/07/2012 PAGINA:451.)

e) Se a inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considere da


substância do ato;

f) No caso da ação rescisória;

g) Se o litisconsorte passivo contestar: isso somente ocorre no litisconsórcio unitário. SE


O LITISCONSÓRCIO FOR SIMPLES, DEPENDERÁ DA IDENTIDADE DE MATÉRIA
DEFENSIVA. Se ela aproveitar ao réu omisso, ele não será revel. Se for autônoma,
será.

O AUTOR, MESMO DIANTE DA REVELIA, NÃO PODERÁ ALTERAR O


PEDIDO OU A CAUSA DE PEDIR APÓS A CITAÇÃO, E NEM APRESENTAR
AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL, SALVO SE PROMOVER NOVA
CITAÇÃO DO RÉU, QUE TERÁ O PRAZO DE 15 DIAS PARA RESPONDER (art.
321).

Quando ocorre o afastamento desse efeito da revelia, caberá ao autor provar o que alegou.

Importante também o seguinte: somente se reputam verdadeiros os fatos alegados pelo autor,
não os fundamentos jurídicos. É exatamente isso que explica o fato de o pedido do
autor poder ser julgado improcedente, já que os fundamentos jurídicos (a relação
jurídica por ele deduzida) poderão não convencer o juiz de que o autor tenha o
direito que pleiteia, em que pese a veracidade dos fatos.

15.8.3.2. Intervenção do Réu-Revel


O réu-revel pode intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se
encontra; poderá, inclusive, produzir provas. Nesse sentido:

Súmula 231, STF: “O revel, em processo civil, pode produzir provas, desde que compareça em
tempo oportuno”.

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15.8.3.3. Revelia Ulterior


Segundo Cândido Rangel Dinamarco, em determinados casos pode ocorrer o que se denomina
de revelia ulterior, ou seja, o réu, a princípio, não é revel por ter contestado, mas no curso do
processo passa a ser considerado como tal.

1º. - art. 13, inciso II, CPC. Neste caso o réu já está participando do processo no polo passivo,
ou seja, ele já contestou. Mas existe um vício no que diz respeito à sua capacidade processual
ou em sua representação. Diante disso, o juiz determinará ex officio que ele providencie a
regularização de tais vícios. Decorrido o prazo sem o respectivo cumprimento da
determinação, ele será considerado revel de acordo com a Lei.

2º. - art. 265, parágrafo 2º., CPC . Nos casos de falecimento do procurador da parte.

Neste caso, o réu, a princípio, não era revel, mas se ele não providencia a regularização de sua
representação processual no prazo de 20 dias, de acordo com o referido artigo, ele passará a
ser considerado revel.

3º. - art. 265, parágrafo 1º, CPC. No caso de morte da própria parte.

Nestes casos, deverá ser realizada a habilitação dos sucessores junto ao juízo ou o ingresso do
espólio no polo passivo da demanda. Se ele não se habilitarem ou não ocorrer a sucessão
processual pelo espólio no pólo passivo da demanda, a parte ré passa a ser considerada revel.

15.8.3.4. Revelia Formal e Material


A revelia formal é a ausência de contestação ou contestação fora do prazo, intempestiva.

A revelia material é aquela em que há a apresentação da contestação, mas nela não se realiza
a impugnação específica dos fatos afirmados pelo autor. Então, apesar de não ser revel, vai
ocorrer a mesma consequência: a presunção de veracidade dos fatos afirmados pelo autor.

15.8.3.5. A Revelia na Justiça Federal


Não se desconhece a peculiar característica da Justiça Federal de lidar majoritariamente com
questões de direito público, muito em razão da sua competência constitucional, cuja ratio
exige, para sua verificação, a presença de interesse direto e imediato da União, suas
autarquias, fundações públicas e empresas públicas. Por conta disso, por exemplo, nas causas
cíveis contra o INSS perante a JF, a revelia, principalmente no seu aspecto material (presunção
de veracidade dos fatos alegados pelo autor), tem tratamento diverso ao que a ela é dado na
JE, a qual, em regra, lida com direitos de particulares.

Isso mesmo, a jurisprudência do TRF-1, acompanhando a doutrina mais abalizada, entende


que “A falta de contestação do INSS não enseja a aplicação do disposto no artigo 319 do CPC,
uma vez que, em se tratando de pessoa jurídica de direito público, cujos interesses são
indisponíveis, não se operam os efeitos da revelia (artigo 320, II, do CPC).” (AC
200701990077958, DESEMBARGADORA FEDERAL MONICA SIFUENTES, TRF1 - SEGUNDA
TURMA, e-DJF1 DATA:29/06/2012 PAGINA:42.).

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Logo, caracterizada a revelia, não se lhe deve reconhecer efeitos patrimoniais, continuando-se
a instrução processual para fins de certificação ou não do direito pleiteado pelo autor.

15.8.3.6. Tabela Síntese


REVELIA
Consiste na não apresentação tempestiva da CONTESTAÇÃO. Há revelia mesmo se somente outras formas
de defesa forem apresentadas.
CONSIDERAÇÕES Revelia formal é a ausência de contestação ou contestação fora do prazo, intempestiva. Revelia material é
GERAIS aquela em que há a apresentação da contestação, mas nela não se realiza a impugnação específica dos
fatos afirmados pelo autor. Então, apesar de não ser revel, vai ocorrer a mesma consequência: a presunção
de veracidade dos fatos afirmados pelo autor.
Presunção de veracidade dos fatos afirmados pelo demandante; Prosseguimento do processo sem intimação
EFEITOS DA do réu-revel que não tenha patrono constituído nos autos, correndo os prazos a partir de cada ato decisório.
REVELIA Voltará ele, entretanto, a ser intimado após se habilitar regularmente no processo; Preclusão em desfavor
do réu do poder de alegar algumas matérias de defesa; Possibilidade de julgamento antecipado da lide.
Os efeitos da revelia não serão observados se:
não houver o mínimo de verossimilhança na postulação do autor; Quando a citação tiver sido ficta; Quando
terceiro tiver ingressado no processo como assistente do revel; Se o direito material em discussão for
MITIGAÇÃO AOS
indisponível: como ocorre com as causas contra menores ou movidas em face da Fazenda Pública; Se a
EFEITOS DA
inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considere da substância do ato; No caso
REVELIA da ação rescisória; Se o litisconsorte passivo contestar: isso somente ocorre no litisconsórcio unitário. SE O
LITISCONSÓRCIO FOR SIMPLES, DEPENDERÁ DA IDENTIDADE DE MATÉRIA DEFENSIVA. Se ela aproveitar ao
réu omisso, ele não será revel. Se for autônoma, será.
O autor, mesmo diante da revelia, não poderá alterar o pedido ou a causa de pedir após a citação, e nem
apresentar ação declaratória incidental, salvo se promover nova citação do réu, que terá o prazo de 15 dias
para responder; somente se reputam verdadeiros os fatos alegados pelo autor, não os fundamentos
OBSERVAÇÕES jurídicos. É exatamente isso que explica o fato de o pedido do autor poder ser julgado improcedente, já que
os fundamentos jurídicos (a relação jurídica por ele deduzida) poderão não convencer o juiz.
Súmula 231, STF: “O revel, em processo civil, pode produzir provas, desde que compareça em tempo
oportuno”.

15.9. Observações de Provas


1. TRF4 – XII – QUESTÃO 73. Contra a decisão que põe fim à ação declaratória incidental
cabe agravo de instrumento, se a ação versar sobre questão prejudicial ao
julgamento da principal e for julgada anteriormente a esta, dada a natureza de
decisão interlocutória.

2. TRF4 – XII – QUESTÃO 60. A perempção corresponde a uma sanção ao demandante


que deixar de realizar ato ou diligência a seu cargo, em subsequentes processos
relativos à mesma causa.

3. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 87. É admissível reconvenção em ação declaratória.

4. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 87. O revel pode produzir provas, desde que
compareça ao processo em tempo oportuno.

5. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 81. Quanto às regras de competência, é correto afirmar
que o juizo é um órgão jurisdicional que se coloca dentro do foro competente, o qual
diz respeito ao território em que é exercida a jurisdição.

6. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 85. A sentença que decidir a ação declaratória
incidental faz coisa julgada.

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7. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 82. A perempção é pressuposto processual extrínseco e


negativo.

16. Providências Preliminares e Julgamento Conforme o Estado do


Processo
16.1. Saneamento e Fase de Saneamento (ou Fase Ordinatória): as Providências
Preliminares
A fase de saneamento é aquela em que o magistrado, se for o caso, deve tomar providências
que deixem o processo apto para que nele seja proferida uma decisão, chamada de
julgamento conforme o estado do processo.

O significado das providências preliminares é, além de garantir o contraditório, evitar que


invalidades processuais se perpetuem de forma a macular o processo e levar a futura anulação
da sentença.

A atividade de saneamento, entretanto, não se esgota nessa fase, já que o saneamento deve
ser exercido ao longo de todo o procedimento, sendo ele mais concentrado nessa fase. Porém,
desde a análise da inicial já há saneamento, quando o juiz, por exemplo, manda regularizar a
representação processual, manda emendar a inicial etc.

A fase concentrada de saneamento se inicia após o escoamento do prazo de resposta do réu.

São as seguintes as providências preliminares tomadas para sanear o processo (arts. 323 a
327):

a) Tendo sido apresentada defesa indireta, deve o juiz intimar o autor para replicar em
10 dias (impugnar a contestação), manifestando-se o demandante sobre os novos
fatos deduzidos pelo réu que possam modificar, extinguir ou impedir seus direitos (art.
326);

b) Se o réu apresentar somente defesa direta, mas juntar documentos, deve o juiz
intimar o autor para se manifestar no prazo de 05 dias (art. 398);

c) Se o réu apresentar defesa direta, consistente na negação geral da relação jurídica


prejudicial deduzida pelo autor, deve o juiz intimar o autor para que possa, em 10 dias,
promover ação declaratória incidental, ampliando o objeto litigioso do processo;

Como visto, a ação declaratória incidental consiste em uma demanda, formulada pelo autor,
para que o magistrado declare a existência da relação jurídica prejudicial, para que essa
decisão possa ficar imune pela coisa julgada material (art. 470).

d) Se há defeitos processuais que possam ser corrigidos, inclusive relacionados aos


requisitos de admissibilidade, deve o juiz providenciar sua correção, fixando prazo não
superior a 30 dias (art. 327);

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e) Se houve revelia, deve o magistrado verificar a regularidade da citação;

f) Se tiver havido revelia sem efeito da confissão ficta, deve o magistrado intimar o autor
para especificar as provas que pretenda produzir em audiência, no prazo de 05 dias
(art. 324);

g) Se a revelia decorrer de citação por edital ou por hora certa, deve o magistrado
designar curador especial (art. 9º, II);

h) Se o réu reconveio, deve o magistrado intimar o autor para contestar no prazo de 15


dias (ou nos prazos especiais, quando cabíveis);

i) Se o réu alegar alguma defesa processual (art. 301), deve o juiz intimar o autor para
que sobre ela se manifeste no prazo de 10 dias (art. 327).

16.2. Julgamento Conforme o Estado do Processo


Cumpridas as providências preliminares ou não havendo necessidade delas, o magistrado
examinará o processo para que tome uma das seguintes decisões:

a) Extinguir o processo sem julgamento de mérito, nos casos do art. 267;

b) Extinguir o processo com resolução de mérito, nos casos do art. 269, II a V103 (logo, o
juiz somente não extinguirá o processo com resolução de mérito, proferindo
julgamento conforme seu estado, na hipótese de acolher ou rejeitar o pedido do
autor);

c) Julgar antecipadamente o mérito da lide (ou a causa) (art. 330);

d) Marcar audiência preliminar de conciliação (art. 331). Não será marcada essa
audiência caso o objeto da lide não admita transação ou se for improvável a
conciliação ante as circunstâncias (art. 331, § 3º);

e) Não sendo caso de audiência preliminar, determinar imediatamente a realização de


audiência de instrução e julgamento (AIJ), proferindo o chamado despacho saneador,
ordenando o processo para a fase probatória e mandando as partes especificarem
fundamentadamente as provas que pretendem produzir.

16.3. Julgamento Antecipado do Mérito da Causa


É uma das possíveis decisões que podem ser tomadas após as providências preliminares.
Trata-se de decisão de mérito em que o juiz decide o objeto litigioso, julgando procedente ou
improcedente a demanda formulada.

103
Art. 269. Haverá resolução de mérito:
[...]
II - quando o réu reconhecer a procedência do pedido;
III - quando as partes transigirem;
IV - quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição;
V - quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação.
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É decisão de mérito fundada em cognição exauriente, proferida após a fase de saneamento do


processo, em que o magistrado reconhece a desnecessidade de produção de mais provas em
AIJ.

Ele entende ser possível a decisão de mérito apenas com base na prova documental produzida
pelas partes e nos argumentos trazidos na inicial, na contestação e na impugnação.

16.3.1. Hipóteses de Cabimento do Julgamento Antecipado (art. 330)


Inicialmente, ressalta-se que, pelo princípio da cooperação, o magistrado deve comunicar às
partes a intenção de abreviar o procedimento, julgando antecipadamente a lide.

Assim, são hipóteses de julgamento antecipado:

a) Quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou sendo de direito e de fato,


não houver necessidade de produzir provas para audiência. Sobre essa hipótese:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. FUNDAMENTOS


INSUFICIENTES PARA REFORMAR A DECISÃO AGRAVADA. JULGAMENTO
ANTECIPADO DA LIDE. POSSIBILIDADE. SUFICIÊNCIA DA PROVA
DOCUMENTAL.

[...]

2. Não traduz cerceamento de defesa o julgamento antecipado da lide


(Art. 330, inciso I, do CPC), quando as instâncias ordinárias constatam que
os fatos estão suficientemente demonstrados.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(STJ, AgRg no REsp 806.289/SP, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em
01/09/2009, DJe 23/10/2009)

b) Quando ocorrer a revelia, desde que ela produza o efeito da confissão ficta.

O magistrado não pode, no julgamento antecipado, concluir pela improcedência por falta de
provas, já que isso seria um comportamento contraditório inadmissível. Quando for o caso, o
julgamento antecipado não é faculdade, mas dever, em homenagem ao princípio da economia
processual.

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. VENDA DE ASCENDENTE A


DESCENDENTE, SEM O CONSENTIMENTO DOS DEMAIS DESCENDENTES.
AÇÃO DE NULIDADE/ANULAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA DE COTAS DE
SOCIEDADE EMPRESARIAL. ART. 1.132 DO CÓDIGO CIVIL/1916. NULIDADE
RELATIVA. PRECEDENTE DA EG. SEGUNDA SEÇÃO. NECESSIDADE DE
DILAÇÃO PROBATÓRIA PARA A COMPROVAÇÃO DE EVENTUAL PREJUÍZO
DECORRENTE DA ALIENAÇÃO, BEM COMO PARA A AFERIÇÃO DO
PATRIMÔNIO DO DE CUJUS, SEM O QUE NÃO SE PODERIA COGITAR DE
OFENSA À LEGÍTIMA. RECONHECIMENTO, PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, DE
QUE HOUVE CERCEAMENTO DE DEFESA COM O JULGAMENTO ANTECIPADO
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DA LIDE. OFENSA AOS ARTS. 330, I, 334, II, 249, § 1º, DO CPC, 1.132 E 145, IV
E V, DO CC/16 NÃO CARACTERIZADA. DIVERGÊNCIA PRETORIANA SUPERADA
PELO MENCIONADO PRECEDENTE DA SEGUNDA SEÇÃO.

[...]

3. Está correto o acórdão hostilizado ao acatar a alegação dos ora


recorridos de que houve cerceamento de defesa com o julgamento
antecipado do feito, sem que lhes fosse oportunizado produzir provas
capazes de demonstrar a ausência de prejuízo, o que, se reitere, seria
indispensável, haja vista que o descumprimento da norma inserta no
mencionado art. 1.132 do CC/1916 constitui nulidade relativa, e não
absoluta, como pretendem os recorrentes.

[...]

(STJ, REsp 752.149/AL, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,


julgado em 14/09/2010, DJe 02/12/2010)

Muitas vezes ocorre de o magistrado dispensar a produção de provas pelas partes, com
fundamento em sua desnecessidade, julgando antecipadamente o mérito da causa, e elas
alegarem cerceamento do direito de defesa. Nesse caso, as partes deverão interpor agravo de
instrumento ou apelação, a depender do momento em que foi feita a dispensa. O mérito da
prova não poderá ser discutido em sede de recurso excepcional, pois implicaria em análise do
conjunto probatório. O que será discutido é o direito de produção probatória. Sobre isso:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL


PÚBLICA. SERVIÇO DE TELEFONIA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO-
OCORRÊNCIA. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. PRODUÇÃO DE PROVAS
INDEFERIDA. ALEGADO CERCEAMENTO DE DEFESA. REEXAME DE MATÉRIA
FÁTICA. SÚMULA 7/STJ. DISPONIBILIZAÇÃO DE PONTO DE ATENDIMENTO
PRESENCIAL AO CONSUMIDOR. PREVISÃO CONTIDA EM RESOLUÇÃO DA
ANATEL. PODER NORMATIVO CONFERIDO ÀS AGÊNCIAS REGULADORAS.
ANÁLISE DE SUPOSTA OFENSA A DISPOSITIVO DE RESOLUÇÃO. NÃO-
ENQUADRAMENTO NO CONCEITO DE "LEI FEDERAL".

[...]

3. O deferimento do pedido de produção de provas está vinculado à livre


convicção do magistrado de primeiro grau de jurisdição, na medida em que
incumbe "ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as
provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis
ou meramente protelatórias", podendo julgar antecipadamente a lide
quando não houver necessidade de produzir prova em audiência, conforme
o disposto nos arts. 130 e 330 do CPC.

4. Entretanto, saber se a prova cuja produção fora requerida pela parte é


ou não indispensável à solução da controvérsia, de modo a se permitir ou
não o julgamento antecipado da lide, é questão que exige o revolvimento

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do contexto fático-probatório dos autos, a atrair o óbice previsto na


Súmula 7/STJ.

[...]

(STJ, REsp 976.599/SC, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA,


julgado em 10/11/2009, DJe 01/12/2009)

Entretanto, há um caso em que o julgador pode julgar antecipadamente a lide por ausência
de provas no processo, de acordo com a distribuição estática do ônus da prova: quando as
partes dispensam a produção de provas e pedem o julgamento antecipado. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL


NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ACOLHIMENTO, SEM A ATRIBUIÇÃO DE
EFEITO MODIFICATIVO.

[...]

4. Acrescente-se que foi consignado expressamente na sentença que:


"Instadas a especificar provas, manifestaram-se as partes às fls. 150 e
151/152, requerendo o julgamento antecipado da lide". Desse modo, "o
entendimento adotado pelo Tribunal de origem, no sentido de julgar
improcedente o pedido por inobservância da regra contida no art. 333, I,
do CPC, não implica ofensa aos arts. 130, 330, I, e 331, § 2º, do CPC. A
jurisprudência desta Corte, com base no princípio da boa fé objetiva, tem
consagrado a proibição do venire contra factum proprium" (REsp
876.682/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de
5.8.2010).

5. Embargos acolhidos, sem a atribuição de efeito modificativo.

(STJ, EDcl no AgRg no Ag 1023655/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL


MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/09/2010, DJe 06/10/2010)

16.4. Audiência Preliminar (art. 331)

16.4.1. Generalidades
Ultrapassada a fase de providências preliminares e não ocorrendo a extinção do processo sem
exame de mérito, caberá ao juiz designar audiência preliminar, situação em que tentará
promover a conciliação das partes.

Não alcançada a conciliação, o juiz deverá resolver as questões processuais pendentes e fixar
os pontos controvertidos do processo, designando de imediato a AIJ. Havendo conciliação,
deve ser reduzida a termo e homologada pelo juiz.

Sugere-se que conste na ata também que as partes renunciam ao direito de recorrer, para que
o processo efetivamente chegue ao fim.

A não marcação da audiência preliminar só anulará o processo se houver prejuízo às partes,


devidamente comprovados. Na Justiça Federal é muito comum não ocorrer essa audiência,

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salvo em causas que envolvam a CEF ou em algumas causas previdenciárias, especialmente em


aposentadoria do segurado especial.

PROCESSO CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL - RESPONSABILIDADE CIVIL -


DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL - FALTA DE COTEJO ANALÍTICO -
AUDIÊNCIA PRELIMINAR - NÃO REALIZAÇÃO - AUSÊNCIA DE NULIDADE -
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - CERCEAMENTO DE DEFESA -
INOCORRÊNCIA.

1 - Quanto à divergência jurisprudencial, a recorrente limitou-se no recurso


especial a transcrever ementas, deixando de proceder ao cotejo analítico
com a finalidade de demonstrar as circunstâncias que assemelham os casos
confrontados.

2 - Não importa nulidade do processo a não realização da audiência de


conciliação, uma vez que a norma contida no artigo 331 do CPC visa a dar
maior agilidade ao processo e as partes podem transigir a qualquer
momento. Precedentes.

3 - No que se refere à apontada ofensa aos artigos 234 e 330, I, do CPC,


relativa ao julgamento antecipado da lide, o magistrado tem o poder-dever
de julgar antecipadamente a lide, desprezando a realização audiência para
produção de provas, ao constatar que o acervo documental é suficiente para
nortear e instruir seu entendimento. É do seu livre convencimento o
deferimento de pedido para a produção de quaisquer provas que entender
pertinentes ao julgamento da lide.

4 - Agravo regimental desprovido.

(AgRg no Ag 693.982/SC, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA


TURMA, julgado em 17/10/2006, DJ 20/11/2006, p. 316)

A audiência preliminar somente deve ser marcada se a lide versar sobre direitos que
admitam transação, disponíveis.

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO


ESTADO. AUDIÊNCIA PRELIMINAR. DESNECESSIDADE. DIREITOS
INDISPONÍVEIS. AUSÊNCIA DE FASE DE SANEAMENTO. FUNDAMENTO
INATACADO DO ACÓRDÃO COMBATIDO. SÚMULA 283/STF. ASSINATURA DE
TODOS OS MAGISTRADOS NO ACÓRDÃO. PRESCINDIBILIDADE. ART. 164 DO
CPC. ATO ILÍCITO. COMPROVAÇÃO. SÚMULA 7/STJ. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊNCIA. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA
211/STJ. ART. 538 DO CPC. MULTA. AFASTAMENTO.

1. Em ações que versam sobre a responsabilidade civil do Estado por ato


ilícito, não há necessidade de realização de audiência preliminar, já que o
direito discutido é indisponível e, portanto, não é passível de transação.
Precedente.

[...]

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(REsp 819.734/RR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado


em 20/05/2008, DJe 13/08/2008)

É possível a conciliação em causas que envolvam pessoas jurídicas de direito público ou a


Fazenda Pública, desde que exista lei do ente que autorize.

16.5. O Despacho Saneador


Como visto, a audiência preliminar ou a AIJ somente serão marcadas se não ocorrer o
julgamento antecipado da lide ou a extinção do processo.

O despacho saneador, que será prolatado logo após a audiência preliminar, se não obtida a
conciliação, ou logo que os autos forem conclusos ao juiz, caso a causa trate de direitos
indisponíveis ou tudo indique que não haverá conciliação, após adotadas as providências
preliminares, conterá (art. 331, § 2º):

a) Marcação da AIJ;

b) Fixação dos pontos controvertidos;

c) Decisão sobre as questões processuais pendentes;

d) Determinação das provas a serem produzidas.

O despacho saneador é uma decisão interlocutória, agravável, que, após a verificação da


regularidade do processo, o impele em direção à AIJ, por não estar ainda madura a causa para
a decisão de mérito.

Dificilmente aparece, num processo, uma manifestação do juiz com o título “despacho
saneador”. Normalmente vem da seguinte forma:

Vista às partes. Prazo de 0005 dia(s). Ficam intimadas as partes para que
especifiquem as provas que entendem ser necessárias ao desate da lide,
apontando, com clareza e objetividade, a justificativa para que elas sejam
produzidas, sem prejuízo de eventual julgamento antecipado da lide no caso
de as provas que vierem a ser requeridas se mostrarem inúteis ou
meramente protelatórias.

Vê-se que, no despacho acima prolatado (caso real), o juiz não marcou a AIJ e se resguardou
com a possibilidade de julgar antecipadamente a lide.

Assim, importante observar a seguinte sequência:

Propositura da ação Apresentação de Providências Audiência de


defesa Preliminares Conciliação

Despacho Audiência
AIJ frutífera?
Saneador

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358

Encerramento
do processo

Importante deixar consignado, entretanto, que essa é a sequência ideal, nunca devendo,
entretanto, ser um fim a ser perseguido pelo juiz. Se o juiz puder, de forma legítima, passar da
fase de apresentação de defesa diretamente para o julgamento, sem agredir direitos,
excelente. Se puder suprimir a audiência de conciliação por flagrante inutilidade, deve fazê-lo.
Se verificar ser alta a probabilidade de conciliação, deve marcá-la.

Inclusive, pode até mesmo, após o insucesso da audiência de conciliação, designar uma
nova, caso as partes mudem seu comportamento e se mostrem prontas a transigirem. Não
há limite temporal para a conciliação, sendo sempre preferível o acordo, por ser mais
democrático, ao julgamento.

O despacho saneador muitas vezes nem mesmo aparece com esse nome no processo. Às vezes
o saneamento é difuso. Entretanto, se no despacho saneador ou no saneamento houver o
afastamento da prescrição/decadência, deve a parte interpor decisão interlocutória, caso
contrário a matéria ficará preclusa, não podendo ser afastada nem mesmo em grau de
apelação. Nesse sentido o entendimento do STJ:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO SECURITÁRIA. PRESCRIÇÃO REJEITADA NO


DESPACHO SANEADOR. QUESTÃO RENOVADA NA APELAÇÃO. OCORRÊNCIA
DE PRECLUSÃO.

1. Afastada a prescrição no despacho saneador e não havendo a


interposição do recurso de agravo de instrumento, não pode o Tribunal,
em sede de apelação, sob pena de ofensa ao instituto da preclusão,
proferir nova decisão sobre a matéria.

2. Agravo regimental desprovido.

(STJ, AgRg no REsp 1147834/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,


QUARTA TURMA, julgado em 10/05/2011, DJe 19/05/2011)

AGRAVO REGIMENTAL - PROCESSUAL CIVIL - PREVIDÊNCIA PRIVADA -


PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO - QUESTÃO PRECLUSA POR R. DECISUM
SANEADOR QUE RESTOU IRRECORRIDA - AGRAVO IMPROVIDO.

1. Afastada a prescrição no despacho saneador e não havendo recurso,


não há como rediscutir a matéria em sede de apelação, em face da
preclusão.

2. Agravo improvido.

(STJ, AgRg no REsp 1045481/PR, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA


TURMA, julgado em 07/08/2008, DJe 28/08/2008)

Ademais, muito comum que os juízes, após a manifestação das partes pela produção de
provas, indefiram-nas e façam os autos conclusos para proferir sentença. O STJ entende que,

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359

nesses casos, se as partes não interpuserem recurso (agravo retido ou de instrumento), a


possibilidade de impugnar a decisão ficará preclusa. Nesse sentido:

PRECLUSÃO. CÉDULA DE CRÉDITO COMERCIAL. CAPITALIZAÇÃO. JUROS.

Na espécie, ante a demora do banco ora recorrido em apresentar a


documentação necessária à realização de perícia contábil, o juízo a
quo determinou que eventuais custas remanescentes fossem quitadas e os
autos, a ele conclusos para sentença. Intimados dessa decisão, não se
opuseram os recorrentes, depositando as quantias devidas à escrivania, o
que levou à conclusão irrefutável de desistência tácita da produção de
provas então oportunizada. Embora os recorrentes aleguem jamais ter
desistido da prova pericial, não informam por que não agravaram da decisão
que determinou o julgamento antecipado do processo, tampouco por que
recolheram o devido preparo. Assim, improcedente a alegação de
cerceamento de defesa, quer por ausência de recurso conveniente se
contrapondo ao julgamento antecipado (preclusão temporal), quer por
pagamento das custas processuais imprescindíveis ao julgamento
(preclusão lógica), ou seja, a prática de ato incompatível com a
mencionada alegação, uma vez que transcorreu in albis o momento para
os recorrentes se insurgirem contra a dispensa da realização da prova
pericial. [...] REsp 1.134.955-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
13/3/2012.

16.6. Tabela Síntese


PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Fase de saneamento: magistrado, se for o caso, toma providências que deixem o processo apto para que nele seja proferida uma
decisão, chamada de julgamento conforme o estado do processo. A atividade de saneamento não se esgota nessa fase, deve ser
exercida ao longo de todo o procedimento, sendo ele mais concentrado nessa fase. A fase concentrada de saneamento se inicia
após o escoamento do prazo de resposta do réu.
PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DESPACHO SANEADOR
Podem ser adotadas as seguintes: Cumpridas as providências preliminares O despacho saneador é uma decisão
Tendo sido apresentada defesa indireta, ou não havendo necessidade delas, o interlocutória, agravável, que, após a
deve o juiz intimar o autor para replicar magistrado examinará o processo para verificação da regularidade do processo,
em 10 dias (impugnar a contestação), que tome uma das seguintes decisões: o impele em direção à AIJ, por não estar
Se o réu apresentar somente defesa Extinguir o processo sem julgamento de ainda madura a causa para a decisão de
direta, mas juntar documentos, deve o mérito, nos casos do art. 267; mérito. Nele o juiz poderá determinar:
juiz intimar o autor para se manifestar Extinguir o processo com resolução de Marcação da AIJ;
no prazo de 05 dias; mérito, nos casos do art. 269, II a V; Fixação dos pontos controvertidos;
Se o réu apresentar defesa direta, Julgar antecipadamente o mérito da lide Decisão sobre as questões processuais
consistente na negação geral da relação (ou a causa) (art. 330); pendentes;
jurídica prejudicial deduzida pelo autor, Marcar audiência preliminar de Determinação das provas a serem
deve o juiz intimar o autor para que conciliação (art. 331). Não será marcada produzidas.
possa, em 10 dias, promover ação essa audiência caso o objeto da lide não Se no despacho saneador ou no
declaratória incidental, ampliando o admita transação ou se for improvável a saneamento houver o afastamento da
objeto litigioso do processo; conciliação ante as circunstâncias (art. prescrição/decadência, deve a parte
Se há defeitos processuais que possam 331, § 3º); interpor decisão interlocutória, caso
ser corrigidos, inclusive relacionados aos Não sendo caso de audiência preliminar, contrário a matéria ficará preclusa, não
requisitos de admissibilidade, deve o juiz determinar imediatamente a realização podendo ser afastada nem mesmo em
providenciar sua correção, fixando prazo de audiência de instrução e julgamento grau de apelação.
não superior a 30 dias; (AIJ), proferindo o chamado despacho
Se houve revelia, deve o magistrado saneador, ordenando o processo para a
verificar a regularidade da citação; fase probatória e mandando as partes
Se tiver havido revelia sem efeito da especificarem fundamentadamente as
confissão ficta, deve o magistrado provas que pretendem produzir.

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intimar o autor para especificar as


provas que pretenda produzir em
audiência, no prazo de 05 dias;
Se a revelia decorrer de citação por
edital ou por hora certa, deve o
magistrado designar curador especial;
Se o réu reconveio, deve o magistrado
intimar o autor para contestar no prazo
de 15 dias (ou nos prazos especiais,
quando cabíveis);
Se o réu alegar alguma defesa
processual (art. 301), deve o juiz intimar
o autor para que sobre ela se manifeste
no prazo de 10 dias (art. 327).
Hipóteses de Cabimento do Julgamento Antecipado
Trata-se de decisão de mérito em que o juiz decide o objeto litigioso, julgando procedente ou improcedente a demanda
formulada. É decisão de mérito fundada em cognição exauriente, proferida após a fase de saneamento do processo, em que o
magistrado reconhece a desnecessidade de produção de mais provas em AIJ. São hipóteses de julgamento antecipado:
a) Quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou sendo de direito e de fato, não houver necessidade de
produzir provas para audiência.
b) Quando ocorrer a revelia, desde que ela produza o efeito da confissão ficta.
O magistrado não pode, no julgamento antecipado, concluir pela improcedência por falta de provas, já que isso seria um
comportamento contraditório inadmissível. Quando for o caso, o julgamento antecipado não é faculdade, mas dever, em
homenagem ao princípio da economia processual.
Muitas vezes ocorre de o magistrado dispensar a produção de provas pelas partes, com fundamento em sua desnecessidade,
julgando antecipadamente o mérito da causa, e elas alegarem cerceamento do direito de defesa. Nesse caso, as partes deverão
interpor agravo de instrumento ou apelação, a depender do momento em que foi feita a dispensa. O mérito da prova não poderá
ser discutido em sede de recurso excepcional, pois implicaria em análise do conjunto probatório. O que será discutido é o direito
de produção probatória.
Entretanto, há um caso em que o julgador pode julgar antecipadamente a lide por ausência de provas no processo, de acordo
com a distribuição estática do ônus da prova: quando as partes dispensam a produção de provas e pedem o julgamento
antecipado.

O julgamento antecipado é decisão de mérito fundada em cognição exauriente, proferida após a fase de saneamento do
processo, em que o magistrado reconhece a desnecessidade de produção de mais provas em AIJ. Ele entende ser possível a
decisão de mérito apenas com base na prova documental produzida pelas partes e nos argumentos trazidos na inicial, na
contestação e na impugnação.
Se o juiz indeferir a produção de provas e a parte não recorrer, a matéria ficará preclusa. Se o juiz dispensar a produção de
provas, não poderá julgar pedidos improcedentes por falta de provas, salvo se as partes tiverem pedido a dispensa. A não
realização da audiência preliminar dificilmente será causa de nulidade, visto que as partes podem transigir a qualquer tempo.

17. Extinção do Processo


A sentença é o ato que, geralmente, encerra a fase de conhecimento/execução; geralmente,
pois pode ter havido recurso, ou pode a demanda ser de competência originária de tribunal,
hipótese em que haverá acórdão, e não sentença.

17.1. Decisões que Não Examinam o Mérito (art. 267)


Ao reconhecer existente qualquer das causas do rol do art. 267, o juiz constata a
impossibilidade de julgar/resolver o pedido do demandante. Profere, neste caso, decisão
terminativa de mérito. Nesses casos, A DECISÃO NÃO FICARÁ IMUTÁVEL PELA
COISA JULGADA MATERIAL, já que não houve exame do mérito da causa.
Entretanto, obstarão a proposição de nova demanda as decisões terminativas sobre
perempção, litispendência e coisa julgada, e que reconheçam a convenção de arbitragem.

Veja bem: essas decisões continuarão sendo terminativas. Por quê? Pois não adentrarão no
mérito. Simplesmente por isso.

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17.1.1. Decisões em Espécie


a) Indeferimento da inicial: trata-se de espécie de decisão terminativa que, se
reconhecida pelo juiz, leva à extinção liminar do processo, sem necessidade de ouvir a
parte contrária. As hipóteses de indeferimento da inicial já foram analisadas no
capitulo da petição inicial.

b) Abandono do processo pelas partes: hipótese em que o processo se extingue em razão


de sua paralisação, por mais de um ano, por inércia das partes. Antes de extinguir,
deve o magistrado providenciar a intimação pessoal das partes para que se
manifestem em 48 horas, sob pena de nulidade do ato (art. 267, § 1º).

c) Abandono do processo pelo autor: ocorre quando o autor abandonar a causa por mais
de 30 dias, devendo o magistrado também intimá-lo para que se manifeste em 48
horas sobre a vontade de prosseguir no processo. Caso o réu já esteja integrado à
lide, não poderá o juiz promover a extinção de ofício. Nesse sentido:

Súmula 240, STJ: “A extinção do processo, por abandono da causa pelo autor, depende
de requerimento do réu”. Por que disso? Pois o réu tem direito de ter também apreciada sua
tese de defesa, obtendo em seu favor a coisa julgada material, para que o autor não o
importune novamente em momento futuro.

E se o autor propõe a demanda, mas não dá andamento ao processo, não promovendo


a citação? Poderá o juiz extinguir o processo de ofício? Nesse caso sim, desde que
promova a intimação do autor para que, em 48 horas, dê andamento ao processo.

d) Falta de pressupostos processuais: quando faltarem os pressupostos de constituição


ou de desenvolvimento válido do processo, não sendo o defeito sanável.

e) Perempção: quando o autor der causa por três vezes à extinção do processo por
abandono. Nesse caso, ele não poderá mais de forma alguma demandar sobre o seu
direito perante o Judiciário; poderá somente invocá-lo em algum processo como
matéria de defesa.

f) Litispendência: existência de processo com os mesmos elementos (identidade de ação)


em trâmite.

g) Coisa julgada: existência de processo com os mesmos elementos (identidade de ação)


já julgado e acobertado pela coisa julgada material.

h) Quando faltar condições de ação: leva à carência de ação.

Nesses cinco últimos casos, poderá o juiz conhecer da matéria de ofício, em qualquer grau e
tempo de jurisdição, devendo o réu sobre elas alegar assim que tiver oportunidade, sob pena
de arcar com as custas do retardamento indevido do processo. É esse o teor do art. 267, § 3º.
Isso não se aplica, entretanto, em relação ao pressuposto processual (negativo)
“incompetência relativa”.

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Pode o STJ e o STF conhecerem de ofício essas matérias? NÃO MAIS, NO ÂMBITO DO STJ. Eles
não as poderão conhecer caso tenham sido invocadas como objeto do recurso excepcional e
não tenha havido prequestionamento. Entretanto, se o objeto do recurso tiver sido outro, por
exemplo, a inconstitucionalidade de uma norma, poderá o STF, no RE, ainda que não suscitada
a prescrição (no recurso), dela conhecer e declarar, por exemplo. Esse é o teor da seguinte
súmula:

Súmula 456, STF: “O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará
a causa, aplicando o direito à espécie”.

No STJ o tema, agora, se encontra da seguinte forma assentado:

O entendimento no sentido de ser possível conhecer das questões de ordem pública de


ofício, ainda que não prequestionadas ou suscitadas, na excepcional hipótese de o recurso
especial ter sido conhecido por outros fundamentos, em razão do efeito translativo, FOI
SUPERADO EM NOVA ANÁLISE PELA CORTE ESPECIAL, QUE CONCLUIU PELA NECESSIDADE
DO REQUISITO DO PREQUESTIONAMENTO NA INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA. A propósito:

"TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. PRECLUSÃO. MATÉRIA DE ORDEM


PÚBLICA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. 1. A
jurisprudência desta Corte é pacífica ao determinar que, mesmo as matérias
de ordem pública, precisam ser prequestionadas. 2. O entendimento de que
é possível conhecer das questões de ordem pública de ofício, ainda que não
prequestionadas ou suscitadas, na excepcional hipótese de o recurso
especial ter sido conhecido por outros fundamentos, em razão do efeito
translativo, foi superado em nova análise pela Corte Especial, que concluiu
pela necessidade do requisito do prequestionamento na instância
extraordinária. Precedente: AgRg nos EREsp 999.342/SP, Rel. Min. Castro
Meira, Corte Especial, julgado em 24/11/2011, DJe 01/02/2012. 3. Hipótese
em que a tese de existência de preclusão não foi analisada pelo Tribunal de
origem. Incidência da Súmula 211/STJ. Agravo regimental improvido." (AgRg
nos EDcl no REsp 1304093/SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma,
julgado em 17/5/2012, DJe 25/5/2012)

Portanto, hodiernamente impera nesta Corte o entendimento de que, mesmo as matérias


de ordem pública necessitam estar devidamente prequestionadas para ensejar o
pronunciamento deste Tribunal em sede de recurso especial. A propósito, os recentes
julgados:

"AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA.


POLICIAL MILITAR. ART. 535 DO CPC. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU
OBSCURIDADE. INEXISTÊNCIA. LITISCONSORTES PASSIVO NECESSÁRIOS.
CITAÇÃO. AUSÊNCIA. INOVAÇÃO RECURSAL. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. (...) Ademais, esta Corte tem
jurisprudência consolidada no sentido de que mesmo as matérias de ordem
pública necessitam do prequestionamento para serem analisadas em sede
de recurso especial. Agravo regimental improvido. " (AgRg no REsp

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1212586/AM, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Segunda Turma, julgado em


15/09/2011, DJe 30/09/2011)

"ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ALÍNEA "A".


AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO CONSIDERADO
VIOLADO.FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. APLICAÇÃO ANALÓGICA DA
SÚMULA N. 284 DO STF. OFENSA A DIVERSOS DISPOSITIVOS DE LEGISLAÇÃO
FEDERAL. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DA
SÚMULA N. 282 DO STF.ENFRENTAMENTO DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL.
IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO STF. APROVAÇÃO EM CONCURSO
PÚBLICO DENTRO DO NÚMERO DE VAGAS PREVISTO NO EDITAL.
NOMEAÇÃO E POSSE NO CARGO ALMEJADO. DIREITO SUBJETIVO. (...) 5.
Oportuno observar que, quando o recurso é conhecido por outro
fundamento, como é o caso dos autos, mesmo as questões de ordem
pública demandam o prequestionamento da matéria. Precedentes. (...) 8.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido." (REsp
1248839/BA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado
em 28/06/2011, DJe 03/08/2011)

i) Convenção de arbitragem: é a única dessas matérias terminativas de mérito que não


pode ser reconhecida de ofício, repita-se.

j) Quando o autor desistir da ação: a desistência do processo é ato unilateral; poderá ser
total, relativo a todo o objeto litigioso do processo, ou parcial.
POR SER
UNILATERAL, ELA NÃO REQUER O CONSENTIMENTO DO RÉU,
SALVO SE JÁ TIVER SIDO APRESENTADA RESPOSTA (ART. 267, §
4º). COM A CONCORDÂNCIA DO RÉU, PODERÁ HAVER
DESISTÊNCIA ATÉ A PROLAÇÃO DA SENTENÇA. PROLATADA A
SENTENÇA, NÃO CABE MAIS DESISTÊNCIA. Se o réu tiver apresentado sua
defesa antes do fim do prazo para a resposta (o prazo é de 15 dias e o réu apresenta a
defesa já no 2º dia), se o autor quiser desistir da ação no 5º dia, mesmo assim o réu
terá que ser ouvido para que seja homologada a desistência. Se já tiver decorrido o
prazo para a resposta e o réu não tiver apresentado defesa (foi revel), não será
necessária nova intimação do réu para se manifestar sobre a desistência.

RECURSO REPETITIVO. DESISTÊNCIA DA AÇÃO. NÃO CONSENTIMENTO DO


RÉU. ART. 3º DA LEI N. 9.469/1997. LEGITIMIDADE.

A Seção, ao apreciar o REsp submetido ao regime do art. 543-C do CPC e


Res. n. 8/2008-STJ, assentou que, após o oferecimento da contestação, não
pode o autor desistir da ação sem o consentimento do réu (art. 267, § 4º, do
CPC), sendo legítima a oposição à desistência com fundamento no art. 3º da
Lei n. 9.469/1997104, razão pela qual, nesse caso, a desistência é

104
Art. 3º As autoridades indicadas no caput do art. 1º poderão concorda com pedido de desistência da
ação, nas causas de quaisquer valores desde que o autor renuncie expressamente ao direito sobre que
se funda a ação (art. 269, inciso V, do Código de Processo Civil).
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364

condicionada à renúncia expressa ao direito sobre o qual se funda a


ação. REsp 1.267.995-PB, 1S, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 27/6/2012.

DESISTÊNCIA APÓS PRAZO PARA RESPOSTA. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO


DO RÉU.

A Turma decidiu pela possibilidade da extinção do processo sem resolução


do mérito, depois de decorrido o prazo para a resposta, quando o autor
desistir da ação e o réu, intimado a se manifestar, permanece silente, ainda
mais quando declara ter tido ciência da desistência da ação. Precedente
citado: REsp 930.317-RN, DJe 28/6/2010. REsp 1.036.070-SP, 3T, Rel. Min.
Sidnei Beneti, julgado em 5/6/2012.

A desistência da ação é instituto nitidamente processual, pois não atinge o


direito material objeto da ação, tanto que descompromete o Judiciário de
manifestar-se. No entanto, após o oferecimento da resposta, é defeso ao
autor desistir da ação sem o consentimento do réu, nos termos do art. 267,
§ 4º, do CPC. Essa regra impositiva decorre da bilateralidade formada no
processo, o réu também tem direito de solucionar o conflito. Mas, apesar
desse direito de o réu manifestar-se sobre a desistência do autor da ação,
ESSA OPOSIÇÃO DEVE SER FUNDAMENTADA e justificada sob pena de
configurar abuso de seu direito. (STJ, 1T, Informativo 429, REsp 1.174.137-
PR)

O STF admite a desistência do mandado de segurança a qualquer tempo, ainda que o


impetrado dela discorde.

E M E N T A: MANDADO DE SEGURANÇA - DESISTÊNCIA - POSSIBILIDADE -


INAPLICABILIDADE DO ART. 267, § 4º, DO CPC - RECURSO IMPROVIDO. - É
lícito ao impetrante desistir da ação de mandado de segurança,
independentemente de aquiescência da autoridade apontada como
coatora ou da entidade estatal interessada ou, ainda, quando for o caso,
dos litisconsortes passivos necessários, mesmo que já prestadas as
informações ou produzido o parecer do Ministério Público. Doutrina.
Precedentes.

(STF, MS 26890 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno,


julgado em 16/09/2009, DJe-200 DIVULG 22-10-2009 PUBLIC 23-10-2009
EMENT VOL-02379-03 PP-00511 RT v. 99, n. 892, 2010, p. 108-111 LEXSTF v.
31, n. 371, 2009, p. 129-133)105

105
Isso recentemente teve repercussão geral reconhecida pelo STF:
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 669.367-RJ
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. DESISTÊNCIA DO MANDAMUS APÓS
PROLAÇÃO DE SENTENÇA. AUSÊNCIA DE ANUÊNCIA DO IMPETRADO. NECESSIDADE DE PACIFICAR A
JURISPRUDÊNCIA. TEMA QUE TRANSCENDE O INTERESSE SUBJETIVO DAS PARTES. MANIFESTAÇÃO
PELO RECONHECIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL.
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EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA.
POSSIBILIDADE DE HOMOLOGAÇÃO DE PEDIDO DE DESISTÊNCIA. AGRAVO
REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. A jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido da
possibilidade de homologação, A QUALQUER TEMPO, DE PEDIDO DE
DESISTÊNCIA DE MANDADO DE SEGURANÇA, AINDA QUE TENHA SIDO
PROFERIDA DECISÃO DE MÉRITO.

(STF, RE 231509 AgR-AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma,


julgado em 13/10/2009, DJe-213 DIVULG 12-11-2009 PUBLIC 13-11-2009
EMENT VOL-02382-03 PP-00442 LEXSTF v. 31, n. 372, 2009, p. 178-182)

A desistência deve ser homologada pelo juiz. Se o autor vier a propor novamente a
mesma demanda, o juízo ficará prevento para dela conhecer106 (art. 253, II). Poderá a
desistência ser efetivada em relação a um ou alguns dos corréus, desde que não sejam
litisconsortes necessários, assim como poderá ser parcial, do ponto de vista objetivo.

A Lei nº 9.469/97 determina que os representantes judiciais da União, suas autarquias,


fundações e empresas públicas somente podem concordar com a desistência do
processo se o autor renunciar ao direito sobre que se funda a demanda. Ou seja, eles
condicionam a desistência à formação da coisa julgada material mediante a
renúncia107.

k) Falecimento do autor e intransmissibilidade do direito discutido:

l) Confusão:

DESISTÊNCIA DA AÇÃO RENÚNCIA AO DIREITO


O autor desiste de prosseguir com a ação naquele O autor abre mão do direito material que alegava
processo. possuir.
Após o juízo homologar a desistência, o autor O autor não poderá propor nova ação fundada
poderá repropor a mesma ação. naquele direito material que foi objeto de
renúncia.
Se o réu já tiver apresentado contestação, é Não existe obrigatoriedade legal de ouvir o réu
obrigatório que o réu consinta com a desistência. sobre a renúncia do direito manifestada pelo
autor.
A sentença que homologa a desistência é A sentença que reconhece a renúncia é definitiva
terminativa (extingue o processo sem resolução (extingue o processo com resolução do mérito –
do mérito – art. 267, VIII). art. 269, V).
A sentença faz apenas coisa julgada formal. A sentença faz coisa julgada formal e material.
Produz efeitos meramente processuais. Produz efeitos materiais.

106
Para que não ocorra a escolha do juízo, ferindo-se o princípio do juiz natural.
107
Art. 3º As autoridades indicadas no caput do art. 1º poderão concordar com pedido de desistência da
ação, nas causas de quaisquer valores desde que o autor renuncie expressamente ao direito sobre que
se funda a ação (art. 269, inciso V, do Código de Processo Civil).
Parágrafo único. Quando a desistência de que trata este artigo decorrer de prévio requerimento do
autor dirigido à administração pública federal para apreciação de pedido administrativo com o mesmo
objeto da ação, esta não poderá negar o seu deferimento exclusivamente em razão da renúncia prevista
no caput deste artigo.
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17.2. Decisões que Examinam o Mérito (art. 269)


Trata-se das decisões de resolução de mérito, acolhendo ou rejeitando o pedido do autor.

17.2.1. Homologação da Autocomposição das Partes


a) Quando o réu reconhece a procedência do pedido: conduta do demandado que
admite a procedência do pedido que lhe foi dirigido, espécie de submissão.

b) Quando as partes transigem: transação é o negócio jurídico pelo qual as partes põem
fim consensualmente ao litígio, após concessões mútuas.

c) Quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação: ato abdicativo pelo
qual o demandante reconhece não possuir o direito alegado ou dele abre mão.

Didier defende que todas essas posturas são espécies de conciliação.

É possível que a autocomposição seja parcial, a qual ensejará a solução parcial do mérito
mediante decisão interlocutória homologatória. É POSSÍVEL ATÉ MESMO QUE HAJA
AUTOCOMPOSIÇÃO SOBRE OBJETO ESTRANHO AOS LIMITES DO MÉRITO,
TRAZENDO-SE À CONCILIAÇÃO UMA LIDE OUTRA QUE NÃO A DISCUTIDA. Isso é bem
interessante, sendo uma clara manifestação do Poder Judiciário de pacificador social. Não há
motivo algum para que o juiz conheça de objeto estranho à lide e sobre ele decida, a pedido
das partes, inclusive formando coisa julgada material.

A CONCILIAÇÃO PODE OCORRER MESMO NO PROCESSO OU FASE DE EXECUÇÃO E NO


PROCESSO CAUTELAR.

Em qualquer caso, a decisão que homologa a conciliação, em qualquer de suas espécies,


formará coisa julgada material.

A Lei nº 9.469/97 prevê uma série de hipóteses de transação pelos representantes da Fazenda
Pública, quando permitido, por exemplo, pelo AGU e pelos dirigentes máximos das empresas
públicas federais nas causas de valor até R$ 50.000,00.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CELEBRAÇÃO DE TERMO DE AJUSTAMENTO DE


CONDUTA NO CURSO DA DEMANDA JUDICIAL.

A celebração de Termo de Ajustamento de Conduta – TAC no curso da


instrução processual, com o escopo específico de por fim à ação civil
pública, enseja a extinção do processo, com resolução do mérito, a teor do
art. 269, III, do CPC. Unânime. (TRF1, 5T, Ap 2004.38.02.003745-3/MG, rel.
Des. Federal Fagundes de Deus, em 31/08/2011.)

17.2.2. Prescrição e Decadência


São institutos de direito material tratados no Direito Civil.

Importa saber que ambas podem ser reconhecidas de ofício a qualquer tempo e grau de
jurisdição (arts. 211, CC/02 e 219, § 5º), inclusive contra a Fazenda Pública.
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367

Entretanto, lembrar que A DECADÊNCIA CONVENCIONAL NÃO PODERÁ SER RECONHECIDA DE


OFÍCIO, somente a legal.

17.3. Observações de Provas


1. TRF2 – XIII – CESPE – QUESTÃO 46. Constitui alegação válida para a parte ré obter a
anulação de sentença homologatória proferida por juiz de primeira instância a
comprovação de vício de vontade no acordo celebrado e homologado.

2. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 42. Com a citação, torna-se inviável acolher o aditamento
ao pedido sem o consentimento do réu, dada a estabilidade da lide. Contudo, o pedido
de desistência pode ser acolhido, desde que isso ocorra antes de a resposta do réu ser
apresentada.

3. EMAGIS – 2012/09 – QUESTÃO 11. A extinção do processo por abandono de causa


depende de prévia intimação do autor para que supra a omissão em 48 horas, não
sendo suficiente a intimação pessoal do seu advogado para que o faça (art. 267, III
c/c § 2º).

4. EMAGIS – 2012/09 – QUESTÃO 11. Embora, de regra, a extinção do processo, por


abandono da causa pelo autor, dependa de requerimento do réu, essa exigência não
se aplica em se cuidando de execução de título extrajudicial não embargada108.

5. EMAGIS – 2012/09 – QUESTÃO 11. Em que pese não poder o autor, depois de
decorrido o prazo para a resposta, desistir, sem o consentimento do réu, da ação,

108
É que, diante da própria natureza do processo executivo, não se vislumbra interesse do executado
em prosseguir com a cobrança, que se desenrola no interesse do credor. Outra não é a visão adotada
pelo STJ, hoje reafirmada em sede de recurso especial repetitivo (CPC, art. 543-C):
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C,
DO CPC. EXECUÇÃO FISCAL. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. INÉRCIA DA EXEQUENTE. ABANDONO DA CAUSA.
EXTINÇÃO DE OFÍCIO. EXECUÇÃO NÃO EMBARGADA. EXIGÊNCIA DE REQUERIMENTO DO EXECUTADO.
DESNECESSIDADE NAS HIPÓTESES DE NÃO FORMAÇÃO DA RELAÇÃO BILATERAL. SÚMULA 240/STJ.
INAPLICABILIDADE. 1. A inércia da Fazenda exequente, ante a intimação regular para promover o
andamento do feito e a observância dos artigos 40 e 25 da Lei de Execução Fiscal, implica a extinção
da execução fiscal não embargada ex officio, afastando-se o Enunciado Sumular 240 do STJ, segundo o
qual "A extinção do processo, por abandono da causa pelo autor, depende de requerimento do réu''.
Matéria impassível de ser alegada pela exequente contumaz. [...] 2. É que a razão para se exigir o
requerimento de extinção do processo pela parte contrária advém primacialmente da bilateralidade da
ação, no sentido de que também assiste ao réu o direito à solução do conflito. Por isso que o não
aperfeiçoamento da relação processual impede presumir-se eventual interesse do réu na
continuidade do processo, o qual, "em sua visão contemporânea, é instrumento de realização do direito
material e de efetivação da tutela jurisdicional, sendo de feição predominantemente pública, que não
deve prestar obséquios aos caprichos de litigantes desidiosos ou de má-fé". (REsp 261789/MG, Rel.
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 13/09/2000, DJ 16/10/2000) 3.
In casu, a execução fiscal foi extinta sem resolução de mérito, em virtude da inércia da Fazenda Nacional
ante a intimação do Juízo a quo para que desse prosseguimento ao feito, cumprindo o que fora
ordenado no despacho inicial, razão pela qual é forçoso concluir que a execução não foi embargada e
prescindível, portanto, o requerimento do devedor.
4. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do art.
543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008.
(REsp 1120097/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/10/2010, DJe 26/10/2010)
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pode o juiz, em certas situações, extinguir o processo pela desistência mesmo que o
réu haja expressamente discordado quanto a isso e ainda que o prazo de resposta já
houvesse se esgotado109.

6. EMAGIS – 2011/29 – QUESTÃO 09. Em processo que tramita sob o rito comum
ordinário, após a citação do réu e passados dez dias da juntada do mandado
devidamente cumprido aos autos, o autor protocolou petição na qual manifestou sua
desistência do prosseguimento do feito. Nessa situação, o réu não precisa ser ouvido,
mesmo porque não apresentou defesa ainda, apesar de citado.

18. Suspensão do Processo (arts. 265 a 266)


18.1. Introdução
A suspensão do processo não significa a suspensão dos efeitos jurídicos do processo (v.g.,
gerar litispendência). É apenas a suspensão do curso do procedimento, a paralisia da marcha
processual, vedando-se que se pratiquem atos processuais.

Ademais, é possível que a suspensão seja relativa somente a alguns atos do processo, como
ocorre com a suspensão do procedimento principal mediante a exceção de incompetência.

Ela dependerá sempre de decisão judicial não terminativa.

Ela é, ao lado da extinção do processo sem julgamento de mérito, uma das formas de
manifestação da CRISE DE INSTÂNCIA OU DO PROCEDIMENTO, já que este não atinge o
seu objetivo principal, dirimir o objeto litigioso processual.

A decisão que determina a suspensão do processo tem NATUREZA JURÍDICA CONSTITUTIVA,


e não declaratória, como erroneamente defende parte da doutrina. Além disso, ela gera, em
regra, efeitos retroativos, até a data da ocorrência do fato jurídico que ensejou a suspensão.
Por exemplo, se um advogado morre com o prazo de contestação aberto, a parte pode se
manifestar apenas no último dia (20 dias após a morte) acerca disso. A decisão do juiz que
suspende o processo, para que novo causídico seja constituído, terá retroatividade até a data
da morte, devolvendo ao advogado que vier a ser constituído o prazo restante.

18.2. Hipóteses de Suspensão


a) Morte ou perda da capacidade processual da parte, representante legal ou advogado:
se o objeto do litígio for intransmissível, a morte da pessoa gerará a extinção do
processo. A regra, entretanto, é a suspensão, a fim de que os sucessores ou o espólio
assumam. Sobre essa hipótese:

109
Mesmo diante dessa discordância do réu quanto ao pleito de desistência, pode o juiz acolhê-la e
extinguir o feito (CPC, art. 267, VIII) quando a recusa expressada pela parte adversa não vier
acompanhada de justo motivo ou configurar abuso de direito. Isso é o que tem ensinado o STJ.

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FALECIMENTO DE LITISCONSORTE. SUSPENSÃO DO PROCESSO. NULIDADE


RELATIVA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO.

A Turma entendeu que a inobservância do art. 265, I, do CPC, que determina


a suspensão do processo a partir da morte da parte, enseja apenas nulidade
relativa, sendo válidos os atos praticados, desde que não haja prejuízo aos
interessados, visto que a norma visa preservar o interesse particular do
espólio e dos herdeiros do falecido. Somente deve ser declarada a nulidade
que sacrifica os fins de justiça do processo. No caso, o falecido era, ao
mesmo tempo, sócio da sociedade executada e fiador da dívida, juntamente
com outro sócio. Assim, não houve prejuízo ao espólio do falecido,
porquanto, tratando-se de garantia pessoal e possuindo o fiador em seu
favor o benefício de ordem, seus bens somente estarão sujeitos à execução
se os da sociedade executada forem insuficientes à satisfação do crédito, o
que não ocorre no caso em tela. REsp 959.755-PR, 4T, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 17/5/2012.

Somente haverá suspensão do processo se a morte se der antes da AIJ; se após o início
dela, o processo prosseguirá até a prolação de decisão final, sendo o advogado do
falecido seu substituto processual; publicada a decisão, só então o processo será
suspenso (art. 265, § 1º).

Morrendo ou tornando-se incapaz o advogado do autor, antes ou depois da AIJ, ele


terá o prazo de 20 dias para constituir outro, após o que o processo será extinto sem
julgamento de mérito (primeiro se suspende por 20 dias e depois se extingue, face a
ausência de um pressuposto processual); se for o do réu, será declarada a revelia
ulterior.

b) Convenção das partes: as partes podem convencionar por suspender o processo por
prazo nunca superior a 06 meses. Caso elas não convencionem expressamente o
prazo, subentende-se que foi pelo prazo máximo. Convencionada a suspensão, cabe
ao magistrado determiná-la, não podendo, em regra, recusá-la.

c) Oposição de exceção de incompetência, impedimento e suspeição: lembrar que a


exceção de impedimento de membro do MP de serventuários da Justiça, de intérprete
e de perito não suspende o processo (art. 138, § 1º).

d) Prejudicialidade ou preliminaridade externa: quando depender do julgamento de


outra causa, ou da declaração da existência ou inexistência da relação jurídica, que
constitua o objeto principal de outro processo pendente (art. 265, IV, a). Essa
suspensão deve durar por, no máximo, 01 ano.

e) Depender da verificação de um fato ou da produção de uma prova: também deve


durar por, no máximo 01 ano (art. 265, § 5º). Trata-se, por exemplo, da hipótese em
que se faz necessário cumprir uma precatória cujo objeto é essencial para o deslinde
da questão, sendo, pois, uma questão preliminar.

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370

f) Julgamento de questão de estado objeto de pedido de declaração incidente: trata-se,


segundo Didier, de prejudicial interna de estado, objeto de ação declaratória
incidental, que, uma vez proposta, suspende o curso do procedimento principal, até a
sua solução.

g) Força maior:

h) Outros casos: tais como para regularizar representação processual, EM


DETERMINADOS CASOS DE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS, do
incidente de falsidade, na execução fiscal, ação autônoma prejudicial à desapropriação
etc.

i) Concessão de liminar em ADC: a Lei nº 9.868/99 autoriza, no art. 21, p. único, a


suspensão por 180 dias dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato
normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo pelo STF.

18.3. Prática de Atos Durante o Processo


O art. 266 prescreve ser proibida a prática de qualquer ato processual durante a suspensão do
processo, ressalvando a possibilidade do magistrado determinar a realização de atos
urgentes para evitar danos irreparáveis.

Se praticados, tais atos serão passiveis de anulação, caso provoquem prejuízo e não sejam
convalidáveis.

SUSPENSÃO DO PROCESSO. PRÁTICA DE ATO PROCESSUAL. PRAZO


PEREMPTÓRIO.

Como consabido, durante a suspensão do processo (art. 266 do CPC), é


vedada a prática de qualquer ato processual, com a ressalva dos urgentes a
fim de evitar dano irreparável. Dessa forma, a lei processual não permite
que seja publicada decisão durante a suspensão do feito, não se podendo
cogitar, por conseguinte, do início da contagem do prazo recursal enquanto
paralisada a marcha do processo. In casu, o tribunal a quo não conheceu da
apelação da recorrente por concluir que se tratava de recurso intempestivo,
sob o fundamento de que a suspensão do processo teria provocado indevida
modificação de prazo recursal peremptório. Ocorre que, antes mesmo de
publicada a sentença contra a qual foi interposta a apelação, o juízo singular
já havia homologado requerimento de suspensão do processo pelo prazo de
90 dias, situação em que se encontrava o feito naquele momento (art. 265,
II, § 3°, do CPC). Nesse contexto, entendeu-se não se tratar de indevida
alteração de prazo peremptório (art. 182 do CPC). Isso porque a convenção
não teve como objeto o prazo para a interposição da apelação, tampouco
este já se encontrava em curso quando requerida e homologada a
suspensão do processo. Ademais, ressaltou-se que, ao homologar a
convenção pela suspensão do processo, o Poder Judiciário criou nos
jurisdicionados a legítima expectativa de que o processo só voltaria a
tramitar após o termo final do prazo convencionado. Portanto, não se

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371

mostraria razoável que, logo em seguida, fosse praticado ato processual de


ofício – publicação de decisão – e ele fosse considerado termo inicial do
prazo recursal, pois caracterizar-se-ia a prática de atos contraditórios,
havendo violação da máxima nemo potest venire contra factum proprium,
reconhecidamente aplicável no âmbito processual. Precedentes citados:
REsp 1.116.574-ES, DJe 27/4/2011, e RMS 29.356-RJ, DJe 13/10/2009. REsp
1.306.463-RS, 2T, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 4/9/2012.

18.4. Tabela Síntese – Extinção e Suspensão do Processo


PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO
CONSIDERAÇÕES GERAIS
A extinção do processo sem julgamento de mérito e a suspensão do processo são hipóteses de CRISE DE INSTÂNCIA OU DO
PROCEDIMENTO, visto que não adentram no mérito da causa.
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM EXTINÇÃO DO PROCESSO COM
SUSPENSÃO DO PROCESSO
JULGAMENTO DO MÉRITO JULGAMENTO DO MÉRITO
Indeferimento da inicial: Abandono do Quando o réu reconhece a procedência A decisão que determina a suspensão do
processo pelas partes: hipótese em que do pedido: conduta do demandado que processo tem NATUREZA JURÍDICA
o processo se extingue em razão de sua admite a procedência do pedido que lhe CONSTITUTIVA. Gera, em regra, efeitos
paralisação, por mais de um ano, por foi dirigido, espécie de submissão. retroativos, até a data da ocorrência do
inércia das partes. Antes de extinguir, Quando as partes transigem: transação fato jurídico que ensejou a suspensão.
deve o magistrado providenciar a é o negócio jurídico pelo qual as partes Morte ou perda da capacidade
intimação pessoal das partes para que põem fim consensualmente ao litígio, processual da parte, representante legal
se manifestem em 48 horas, sob pena após concessões mútuas. Quando o ou advogado: se o objeto do litígio for
de nulidade do ato. Abandono do autor renunciar ao direito sobre que se intransmissível, a morte da pessoa
processo pelo autor: quando o autor funda a ação: ato abdicativo pelo qual o gerará a extinção do processo. A regra,
abandona a causa por mais de 30 dias, demandante reconhece não possuir o entretanto, é a suspensão, a fim de que
devendo o magistrado também intimá- direito alegado ou dele abre mão. os sucessores ou o espólio assumam.
lo para que se manifeste em 48 horas É possível que a autocomposição seja Somente haverá suspensão do processo
sobre a vontade de prosseguir no parcial, a qual ensejará a solução parcial se a morte se der antes da AIJ; se após o
processo. Caso o réu já esteja integrado do mérito mediante decisão início dela, o processo prosseguirá até a
à lide, não poderá o juiz promover a interlocutória homologatória. É prolação de decisão final, sendo o
extinção de ofício. Nesse sentido: POSSÍVEL ATÉ MESMO QUE HAJA advogado do falecido seu substituto
Súmula 240, STJ: “A extinção do AUTOCOMPOSIÇÃO SOBRE OBJETO processual; publicada a decisão, só
processo, por abandono da causa pelo ESTRANHO AOS LIMITES DO MÉRITO, então o processo será suspenso.
autor, depende de requerimento do réu”. TRAZENDO-SE À CONCILIAÇÃO UMA Convenção das partes: as partes podem
Falta de pressupostos processuais: LIDE OUTRA QUE NÃO A DISCUTIDA. convencionar por suspender o processo
Perempção: autor der causa por três Isso é bem interessante, sendo uma por prazo nunca superior a 06 meses.
vezes à extinção do processo por clara manifestação do Poder Judiciário Oposição de exceção de incompetência,
abandono. Litispendência: Coisa julgada: de pacificador social. Não há motivo impedimento e suspeição: lembrar que a
Quando faltar condições de ação: leva à algum para que o juiz conheça de objeto exceção de impedimento de membro do
carência de ação. Convenção de estranho à lide e sobre ele decida, a MP de serventuários da Justiça, de
arbitragem: é a única dessas matérias pedido das partes, inclusive formando intérprete e de perito não suspende o
terminativas de mérito que não pode ser coisa julgada material. A CONCILIAÇÃO processo. Prejudicialidade ou
reconhecida de ofício. Quando o autor PODE OCORRER MESMO NO PROCESSO preliminaridade externa: quando
desistir da ação: a desistência do OU FASE DE EXECUÇÃO E NO PROCESSO depender do julgamento de outra causa,
processo é ato unilateral; poderá ser CAUTELAR. Quando juiz reconhece a ou da declaração da existência ou
total, relativo a todo o objeto litigioso do prescrição ou a decadência: lembrando inexistência da relação jurídica, que
processo, ou parcial. POR SER que a decadência convencional não constitua o objeto principal de outro
UNILATERAL, ELA NÃO REQUER O pode ser conhecida de ofício. processo pendente. Deve durar por, no
CONSENTIMENTO DO RÉU, SALVO SE JÁ máximo, 01 ano. Depender da
TIVER SIDO APRESENTADA RESPOSTA. verificação de um fato ou da produção
COM A CONCORDÂNCIA DO RÉU, de uma prova: deve durar por, no
PODERÁ HAVER DESISTÊNCIA ATÉ A máximo 01 ano. Julgamento de questão
PROLAÇÃO DA SENTENÇA. PROLATADA de estado objeto de pedido de
A SENTENÇA, NÃO CABE MAIS declaração incidente: Força maior:
DESISTÊNCIA. A desistência deve ser Outros casos: tais como para regularizar
homologada. Se o autor vier a propor representação processual, EM
novamente a mesma demanda, o juízo DETERMINADOS CASOS DE
ficará prevento para dela conhecer. A INTERVENÇÃO DE TERCEIROS, do
Lei nº 9.469/97 determina que os incidente de falsidade, na execução
representantes judiciais da União, suas fiscal, ação autônoma prejudicial à
autarquias, fundações e empresas desapropriação etc. Concessão de
públicas somente podem concordar com liminar em ADC: a Lei nº 9.868/99

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a desistência do processo se o autor autoriza, no art. 21, p. único, a


renunciar ao direito sobre que se funda suspensão por 180 dias dos processos
a demanda. Falecimento do autor e que envolvam a aplicação da lei ou do
intransmissibilidade do direito ato normativo objeto da ação até seu
discutido:Confusão: julgamento definitivo pelo STF.
Obstarão a proposição de nova demanda as decisões terminativas sobre perempção, litispendência e coisa julgada, e que
reconheçam a convenção de arbitragem. Ainda que a extinção do processo, por abandono da causa pelo autor, dependa de
requerimento do réu, essa exigência não se aplica em se cuidando de execução de título extrajudicial não embargada.
Mesmo diante dessa discordância do réu quanto ao pleito de desistência, pode o juiz acolhê-la e extinguir o feito (CPC, art. 267,
VIII) quando a recusa expressada pela parte adversa não vier acompanhada de justo motivo ou configurar abuso de direito.
É proibida a prática de qualquer ato processual durante a suspensão do processo, ressalvando a possibilidade do magistrado
determinar a realização de atos urgentes para evitar danos irreparáveis.

18.5. Observações de Provas


1. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 44. Em regra, a decisão que determina a suspensão do
processo é de natureza constitutiva, EMBORA SE LHE CONFIRAM EFEITOS
RETROATIVOS.

19. Provas
19.1. Direito Fundamental à Prova
O direito de produzir prova engloba o direito à adequada oportunidade de requerer a sua
produção, o direito de participar de sua realização e o direito de falar sobre os resultados.

A efetividade do direito à prova significa o reconhecimento da máxima potencialidade possível


ao instrumento probatório para que as partes tenham amplas oportunidades de demonstrar
os fatos que alegam.

Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não previstos no CPC,
são hábeis para provar a verdade dos fatos em que se funda a ação ou sua defesa.

Prova, em sua acepção processual, é todo elemento que contribui para a formação do
convencimento do juiz. Tradicionalmente, doutrina e jurisprudência dizem que a prova incide
sobre fatos; no entanto modernamente há outra corrente de pensamento, tecnicamente
melhor, que defende que na verdade a prova não incide sobre os fatos propriamente ditos,
porque os fatos eles ocorreram ou não ocorreram; NÃO SE PROVA OS FATOS, MAS
SIM AS ALEGAÇÕES DAS PARTES acerca daqueles fatos que devem ser objeto de
prova.

Por que a prova é tratada no Código Civil e no CPC?

De acordo com Barbosa Moreira, quando uma mesma matéria é simultaneamente tratada no
âmbito do direito material e no âmbito do direito processual, diz-se que esta norma é uma
NORMA HETEROTÓPICA110. Então, prova seria uma matéria heterotópica pois tem valores e

110
Na verdade, norma heterotópica é a norma que se encontra fora do local em que deveria estar. Por
exemplo, o CP não deveria tratar sobre ação penal. Agora, no caso das provas, há sim partes que
interessam ao direto material, assim como ao direito processual. Desse modo, mais correto seria chamá-
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objetivos diferenciados: no processo, convencer o juiz; no direito material, provar os fatos


jurídicos, criando mais segurança jurídica.

19.2. Princípios do Direito Probatório

19.2.1. Princípio Inquisitivo. Poderes Instrutórios do Juiz (arts. 130 e 1.107, CPC)
Nosso modelo é informado pelo princípio inquisitivo, no qual se atribuem poderes ao juiz para
a produção de provas, adotando uma postura mais ativa, diferentemente do modelo
dispositivo.

Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar


as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências
inúteis ou meramente protelatórias.

Art. 1.107. Os interessados podem produzir as provas destinadas a


demonstrar as suas alegações; mas ao juiz é licito investigar livremente os
fatos e ordenar de ofício a realização de quaisquer provas.

Isso ocorre em função da tendência de se conferir ao Estado-juiz poderes instrutórios em


função do caráter publicista do processo civil. Sobre o tema:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRODUÇÃO DE PROVA


PERICIAL APÓS AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO.
POSSIBILIDADE. 1. Sendo o juiz o destinatário da prova, cabe a ele, com
base em seu livre convencimento, avaliar a necessidade desta, podendo
determinar a sua produção até mesmo de ofício, conforme prevê o art. 130
do Código de Processo Civil. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AGA 200802417317, MARIA ISABEL GALLOTTI, STJ - QUARTA TURMA, DJE


DATA:04/02/2011.)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PREQUESTIONAMENTO.


AUSÊNCIA. SÚMULAS 282 E 356/STF. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.
SIMILITUDE FÁTICA. AUSÊNCIA. FUNDAMENTO SUFICIENTE À MANUTENÇÃO
DO ACÓRDÃO NÃO IMPUGNADO NAS RAZÕES DO ESPECIAL. SÚMULA
283/STF. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 07/STJ. ACERVO
PROBATÓRIO DOS AUTOS. DESTINATÁRIO. MAGISTRADO. 1. Carecem do
necessário prequestionamento as matérias constantes dos arts. 399, I, do
CPC, 54 da Lei 3.470/58 e 198 do CTN, uma vez não debatidas pelo Tribunal
de origem. 2. Apesar da oposição de dois embargos de declaração pela
recorrente, estes não versaram acerca dos mencionados dispositivos legais,
reputados violados nas razões do especial. Incidência das súmulas 282 e
356/STF. 3. O conhecimento do recurso especial pela alínea "c" do
permissivo constitucional pressupõe a identidade de bases fáticas entre os
acórdãos considerados divergentes. Ausente a necessária similitude fática,
resta não configurado o dissídio pretoriano. 4. "É inadmissível o recurso
extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um

la de norma bifronte. Não confundir com defesa heterotópica, aqueles meios de defesa baseados em
ações autônomas de impugnação, tais como a ação rescisória, os embargos à execução etc.
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fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles" (súmula


283/STF). 5. Para que se infirmassem as conclusões do aresto impugnado no
sentido da necessidade e utilidade da prova grafotécnica e da expedição de
ofício à Receita Federal, seria necessária a incursão na seara fático-
probatória da demanda, providência vedada em sede especial, a teor da
súmula 07/STJ. 6. Não é possível compelir o magistrado a abdicar da
produção de provas reputadas necessárias à elucidação dos fatos. O juiz, no
sistema do livre convencimento motivado, é o destinatário final da prova,
a quem cabe a análise da conveniência e necessidade da sua produção 7.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(AGRESP 200101684453, PAULO DE TARSO SANSEVERINO, STJ - TERCEIRA
TURMA, DJE DATA:06/10/2010.)

PROCESSUAL CIVIL - PROVA PERICIAL - DETERMINAÇÃO DE OFÍCIO PELO JUIZ


- POSSIBILIDADE, NÃO DEVER - CERCEAMENTO DE DEFESA - INOCORRÊNCIA.

1. Os arts. 130 e 1.107 do CPC, mitigando o Princípio da Demanda,


conferem poderes instrutórios ao Juiz, mas não lhe impõem o dever da
investigação probatória. Mesmo porque, nos fatos constitutivos do direito
o ônus da prova cabe ao autor (CPC, art. 333, I).

2. A faculdade outorgada para instrução probatória do Juízo milita em


favor duma melhor formação da convicção do Magistrado. NO ENTANTO,
O JUIZ NÃO PODE SUBSTITUIR AS PARTES NOS ÔNUS QUE LHE COMPETEM,
ainda mais quando a perícia não se realizou por inércia da parte no
pagamento dos honorários do perito.

3. Recurso improvido.

(STJ, REsp 471.857/ES, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS,


PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/10/2003, DJ 17/11/2003, p. 207)

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. PROVA PERICIAL.


INDISPENSÁVEL PARA O JULGAMENTO DA LIDE. INCABÍVEL O JULGAMENTO
ANTECIPADO. JUSTIÇA GRATUITA. RESOLUÇÕES 541/2007 E 558/2007 DO
CNJ. SENTENÇA ANULADA. 1. Para a concessão do benefício de
aposentadoria por invalidez, faz-se necessário a observância dos seguintes
requisitos: a condição de segurado da Previdência Social, observada a
carência de 12 (doze) contribuições mensais, com exceção das hipóteses
previstas no art. 26, II, da Lei n. 8.213/91; e a comprovação, por perícia
médica, de sua incapacidade laborativa para sua atividade habitual,
insuscetível de reabilitação, nos termos do art. 42 da referida lei. 2.
Tratando-se de benefício por incapacidade, para o deslinde da questão é
imprescindível a realização de perícia médica oficial, de modo que sejam
analisadas as condições de saúde do(a) autor(a) com segurança e
imparcialidade. 3. A perícia médica deve ser determinada pelo juízo até
mesmo de ofício. Precedente desta Corte. 4. Incabível o julgamento
antecipado da lide, se os documentos apresentados pelas partes não são
suficientes para comprovar suas alegações, devendo o juiz instruir
regularmente o feito. 5. Sendo o Autor beneficiário da justiça gratuita, é
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375

responsabilidade da União o pagamento dos honorários periciais, nos


termos do art. 1º da Resolução 541/2007 do Conselho da Justiça Federal,
que estabelece que "as despesas com advogados dativos e peritos no
âmbito da jurisdição delegada correrão à conta da Justiça Federal". 6.
Conforme o art. 1º, § 3º da Resolução 558/2007 do CJF, o pagamento é feito
com os recursos vinculados ao custeio da assistência judiciária aos
necessitados, que, posteriormente, serão reembolsados ao Erário pelo
vencido (art. 6º) quando este não for beneficiário da justiça gratuita. 7.
Apelação do autor provida para anular a sentença e determinar o retorno
dos autos à Origem para a produção de prova pericial e regular instrução do
feito.
(AC , JUÍZA FEDERAL CLÁUDIA OLIVEIRA DA COSTA TOURINHO SCARPA
(CONV.), TRF1 - SEGUNDA TURMA, e-DJF1 DATA:15/08/2012 PAGINA:644.)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. REEXPORTAÇÃO DE BEM ADMITIDO SOB


O REGIME ESPECIAL DE ADMISSÃO TEMPORÁRIA SEM O PAGAMENTO DE
TRIBUTOS. NECESSIDADE DE PROVA PERICIAL. CERCEAMENTO DE DEFESA.
NULIDADE. ÔNUS DA PROVA E DESPESAS A CARGO DO AUTOR.

1. O princípio do contraditório e da ampla defesa, previsto no art. 5º, LV,


da Constituição da República, exige que se possibilite às partes produzir
provas na fase de instrução, ainda que não tenham elas protestado por
esse direito na inicial ou na contestação.

2. O JUIZ TEM PODERES INSTRUTÓRIOS E DEVE, PORTANTO, ANTES DO


JULGAMENTO DA LIDE, DETERMINAR A REALIZAÇÃO DAS PROVAS QUE
ENTENDER NECESSÁRIAS, SE OS ELEMENTOS DA PROVA DOCUMENTAL
APRESENTADA PELAS PARTES NÃO FOREM SUFICIENTES PARA O DESLINDE
DO FEITO.

[...]

(TRF1, AC 2006.34.00.017788-9/DF, Rel. Desembargador Federal Antônio


Ezequiel Da Silva, Conv. Juíza Federal Anamaria Reys Resende (conv.),
Sétima Turma,e-DJF1 p.305 de 07/03/2008)

19.2.2. Princípio da Aquisição Processual, da Comunhão ou da Comunidade da Prova


A prova, uma vez produzida, desgarra-se daquele que a produziu e é incorporada ao processo,
não podendo ser dele extraída ou desentranhada.

Quando trazida aos autos, a prova torna-se pública, comum e parte integrante do conjunto
probatório, para favorecer ou desfavorecer quem quer que seja.

O responsável pela prova, após sua produção, não pode retirá-la do processo ou impedir que o
juiz a considere na formação de seu convencimento, sob o argumento de que o resultado lhe é
prejudicial ou por estar arrependido de tê-la requerido e produzido.

A prova produzida pela parte é comum e, tal como valorada, produz efeitos para seus
litisconsortes. Em se tratando de litisconsórcio unitário, a produção de provas é conduta
alternativa, sendo que a prova produzida sempre atingirá os demais, ainda que para
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376

prejudicar. Porém, no caso da confissão realizada por apenas um ou alguns dos litisconsortes,
ela será ineficaz, não produzindo efeitos nem para o confitente e nem para os consortes.

No caso do litisconsórcio simples, a prova produzida por um deles também beneficiará ou


prejudicará os demais. A diferença é que, se houver confissão, ela será eficaz somente em
relação ao confitente.

Uma vez requerida e admitida a prova, a parte requerente somente poderá dela desistir se
tiver anuência da parte adversária e se houver homologação do juízo.

O mesmo vale para a prova de produção determinada de ofício, somente podendo o juiz dela
desistir após anuência das partes.

19.2.3. Proibição do Uso de Prova Ilícita


É um direito fundamental do jurisdicionado.

As regras excludentes do direito à prova ilícita operam, principalmente, no momento


preliminar à elaboração da prova, no seu juízo de admissibilidade.

Porém, tal proibição não é absoluta, devendo-se aplicar o princípio da proporcionalidade


para se resolver problemas atinentes à colisão de direito fundamentais. Para se admitir a
prova ilícita, deve-se atender alguns critérios:

a) Imprescindibilidade: ela somente deve ser aceita quando verificado, no caso concreto,
que não havia outro modo de se demonstrar a alegação do fato objeto da prova ilícita;

b) Proporcionalidade: o bem de vida objeto da prova ilícita deve se mostrar mais digno de
proteção do que o bem de vida violado pela ilicitude da prova;

c) Punibilidade: o juiz deve tomar as medidas necessárias para que a parte que se utiliza
de provas ilícitas de forma antijurídica seja punida;

d) Utilização pro reo no processo penal: apenas no processo penal que só se admite a
prova ilícita a favor do réu.

Vida íntima é a esfera que diz respeito ao relacionamento da pessoa consigo mesma; vida
privada é a esfera que diz respeito ao relacionamento da pessoa com um número restrito de
pessoas.

O STF não tem admitido, também, as provas ilícitas por derivação; porém, admite-se a prova
inevitável, aquela que, ainda que derivada de uma prova ilícita, seria inevitavelmente
descoberta por outros meios lícitos.

Quanto à admissão do uso das provas ilícitas, existem três correntes.

a) A corrente restritiva, não admitindo em nenhuma hipótese sua utilização no


processo civil, fundando-se no art. 50, LVI, da CF/88 e art. 332 do CPC, advindo dela a
teoria dos frutos da árvore envenenada, não se admitindo também provas legítimas,
mas que tenham sido produzidas como desdobramento de uma prova ilícita, salvo
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377

naquelas situações contornáveis (ausência de nexo de causalidade, descoberta


inevitável e descontaminação).

b) Em sentido diametralmente oposto está a corrente liberal ou permissiva, amparada


no irrestrito direito/dever de o juiz conhecer a verdade a respeito dos fatos.

c) Uma corrente intermediária, a meu ver mais adequada, atribuindo ao princípio da


vedação das provas ilícitas um caráter relativo e não absoluto, de forma que,
dependendo das circunstâncias, seria possível a utilização da prova ilícita, não
impedindo a geração de efeitos civis, penais e administrativos, mediante a aplicação
do postulado da proporcionalidade, tendo em conta a gravidade do caso, a espécie
de relação jurídica controvertida, a dificuldade de demonstrar a veracidade de forma
lícita, a prevalência do direito protegido com a utilização da prova ilícita comparado
ao direito violado e a imprescindibilidade da prova na formação do convencimento
judicial. Essa posição, segundo Assumpção Neves, é majoritária na doutrina
brasileira.

19.2.4. Livre Convencimento Motivado. Sistemas de Valoração das Provas


a) Critério positivo ou legal: ocorre quando cada prova tem como que tabelado o seu
valor, do qual não há como o magistrado fugir (prova tarifada);

b) Livre convicção: o juiz é soberanamente livre para indagar, apreciar e atribuir valor às
provas, sem necessidade de fundamentar seu convencimento, como ocorre no júri
popular;

c) Persuasão racional ou livre convencimento motivado: aqui, apesar de o juiz apreciar


livremente as provas, ele não pode decidir com base em suas impressões pessoais,
devendo tirar a sua convicção das provas produzidas. É este o sistema adotado pelo
CPC. É vedado, na apreciação dos fatos, que o magistrado exerça um juízo de
equidade, por achar justa determinada decisão, salvo se a lei expressamente o
permitir.

CIVIL E PROCESSO CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. AÇÃO DE


REVISÃO CONTRATUAL. ERROR IN JUDICANDO OU ERROR IN PROCEDENDO
NÃO VERIFICADO. PRELIMINARES DE NULIDADE POR AUSÊNCIA DE
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO, CERCEAMENTO DE DEFESA E AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO REJEITADAS. ALEGAÇÃO DE JULGAMENTO CITRA PETITA
NÃO CONHECIDA. PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL - PES. REAJUSTE DAS
PRESTAÇÕES. PLANO REAL. SEGURO OBRIGATÓRIO E FCVS. COEFICIENTE DE
EQUIPARAÇÃO SALARIAL - CES. FUNDO DE ASSISTÊNCIA HABITACIONAL -
FUNDHAB. CORREÇÃO DO SALDO DEVEDOR (TR X INPC). CRITÉRIO DE
AMORTIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES PAGAS. SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO SÉRIE
EM GRADIENTE E SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO CONSTANTE. JUROS
NOMINAIS E EFETIVOS. PACTA SUNT SERVANDA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
JUROS MORATÓRIOS. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA.

[...]

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IV - No direito processual brasileiro vige o princípio do livre convencimento


motivado do julgador em que o magistrado NÃO ESTÁ OBRIGADO A FALAR
SOBRE TODOS OS ARGUMENTOS SUSCITADOS PELAS PARTES, devendo
apenas apresentar os fundamentos que considera suficientes para o
deslinde da controvérsia. Assim, não merece prosperar preliminar de
nulidade por falta de fundamentação, quando o juízo primevo analisou as
questões de fato e de direito submetidas à apreciação judicial,
demonstrando as razões de seu convencimento, a teor do art. 93, IX,
CR/88 e 458, II, do CPC.

[...]

(TRF1, AC 0012678-87.2002.4.01.3500/GO, Rel. Desembargador Federal


Jirair Aram Meguerian, Sexta Turma,e-DJF1 p.28 de 10/01/2011)

AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO QUE NEGA SEGUIMENTO


MONOCRATICAMENTE A AGRAVO DE INSTRUMENTO. PERÍCIA
CONSIDERADA SATISFATÓRIA PELO MAGISTRADO. PEDIDO DE NOVA
INTIMAÇÃO DE PERITO E OU REALIZAÇÃO DE NOVA PERÍCIA, CPC ARTS. 435
e 437. PRINCIPIOS DA NÃO ADSTRIÇÃO DO JUIZ AO LAUDO E DO LIVRE
CONVENCIMENTO MOTIVADO. EFEITO SUSPENSIVO INDEFERIDO.
CONVERSÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RETIDO.

1.O destinatário da prova é o magistrado e a sua finalidade é a convicção do


julgador a respeito dos fatos postos em julgamento.

2. Segundo o Superior Tribunal de Justiça, como consequência do princípio


da não adstrição do juiz ao laudo na formação de seu convencimento (art.
436 do CPC), a lei processual o autoriza, como diretor do processo, mas
não lhe impõe, determinar realização de nova perícia (art. 437 do CPC).

3. Ademais, já havendo sido realizada perícia e sendo considerado, pelo


Magistrado, satisfatório o esclarecimento dado pelo perito sobre as
questões levantadas pela parte, torna-se desnecessária a realização de
audiência prevista no art. 435, do CPC

[...]

(TRF1, AG 0069377-78.2009.4.01.0000/DF, Rel. Desembargadora Federal


Selene Maria De Almeida, Quinta Turma,e-DJF1 p.191 de 13/08/2010)

19.2.4.1. O Livre Convencimento Motivado e os Resquícios de Provas Tarifada no Brasil


O art. 131 do CPC dispõe que “o juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e
circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar,
na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento”.

Trata-se do princípio do livre convencimento motivado, que rege o processo civil na apreciação
da prova.

Já o art. 332 diz que “todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que
não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a
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ação ou a defesa”, significando que os fatos podem ser provados por quaisquer meios, além
daqueles tipificados no CPC. Não há, em regra, hierarquia no exame das provas pelo
magistrado.

Entretanto, essa ausência de hierarquia não é absoluta.

O art. 401 do CPC (praticamente repetido pelo art. 227, caput, do CC), que limita o uso da
prova exclusivamente testemunhal apenas aos contratos que não excedam 10 (dez) salários
mínimos, além das presunções absolutas, são resquícios da prova tarifada em nosso
ordenamento. Da mesma forma os artigos 215 e 227 do CC – 364 e 383 do CPC (prova plena
por escritura pública e reproduções mecânica).

A ideia de prova tarifada plena agride frontalmente o princípio do livre convencimento


motivado, não devendo ser entendida como regra absoluta, mas como simples parâmetro para
a decisão judicial, pois tais provas também podem ser obtidas por meios imorais e ilegítimos.
Admitir que a veracidade que decorre da fé pública do oficial é absoluta é incorrer em grave
equívoco, de forma que deve ser vista apenas como presunção relativa, podendo, obviamente,
ser afastada por outras provas produzidas.

19.3. Objeto da Prova

19.3.1. Características do Fato Probando


a) Controvertido: o fato, se não for controvertido, resumir-se-á à mera aplicação do
direito. Quando o fato será não controvertido? Quando verificada a revelia, com seu
efeito material, quando não houver impugnação especificada pelo réu (não sendo caso
dele poder fazer defesa genérica), e quando houver confissão111. Também
independem de prova os fatos notórios e os reputados ocorridos por presunção legal;

Excepciona-se esta independência de prova quando o juiz a solicita, quando a lide versar sobre
direitos indisponíveis ou quando a prova exigida por lei se revestir de forma especial (tal como
a prova do casamento).

b) Relevante: devem ser provados apenas os fatos que tenham relação com a causa
ajuizada. O fato é relevante quando ele pode vir a influenciar no convencimento do
juiz acerca do objeto litigioso do processo;

c) Determinado: o fato probando deve ser identificado no tempo e no espaço, sendo o


fato indeterminado insuscetível de prova.

111
Pode haver fato não controvertido em favor do réu? Sim, na reconvenção. Se o réu formula
alegações na reconvenção e o autor reconvindo não as refuta, eles podem ser considerados
incontroversos. Outra hipótese em que o réu pode apresentar fatos que no final podem restar
incontroversos é quando na contestação ele apresenta fatos impeditivos, extintivos e modificativos no
direito do autor, não promovendo este a impugnação destes fatos. Evidentemente que tudo isso deverá
ser considerado em conjunto com os demais elementos dos autos.
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19.3.2. Fatos que Independem de Prova (art. 334, CPC)


Independem de prova os fatos notórios, os afirmados por uma parte e confessados pela outra,
os não contestados e os em que a favor milita presunção legal de existência ou veracidade.

Fatos notórios são aqueles cujo conhecimento faz parte da cultura normal própria de um
determinado grupo social. É o fato conhecido ou que, para o homem médio, poderia ser
conhecido. ESSA NOTORIEDADE DEVE SE REVELAR PARA O JUIZ, devendo ser
levada em consideração para fundamentar sua decisão.

Apesar do fato notório não precisar ser comprovado, pode ser necessário à parte comprovar a
própria notoriedade do fato, se a outra impugnar e defender que o fato nada tem de notório.

O fato deve ser notório de acordo com determinada época. Hoje em dia é notório que o
mundo é redondo, mas isso não era notório no século XI, por exemplo. Assim, a notoriedade é
conceito jurídico indeterminado e altamente paradigmático.

Sobre o fato notório, elucidativa a seguinte decisão:

CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. SOLDADOS DA BORRACHA. PENSÃO


MENSAL VITALÍCIA (ART. 54 DO ADCT DA CR DE 1988). PEDIDO
PROCEDENTE. CONDIÇÃO DE SERINGUEIRO DO AUTOR COMPROVADA.
JUSTIFICAÇÃO. LEI 9.711/98. INÍCIO DE PROVA MATERIAL: DESNECESSIDADE.

1. Comprovada a condição de seringueiro que trabalhou na produção de


borracha na Região Amazônica, em regime de esforço de guerra, durante a
Segunda Grande Guerra, o suplicante tem direito à pensão, nos termos da
Lei 7.986/89.

2. A norma que especificou os critérios para concessão da pensão vitalícia a


que se refere o art. 54 do ADCT-CR/88 não previu o estabelecimento de
idade mínima. Precedente deste Tribunal.

3. As circunstâncias em que se deu o trabalho dos soldados da borracha,


além de constituírem fato notório e reconhecido pela nação, não podem
deixar de ser consideradas como o motivo de força maior ou caso fortuito
referido na Lei de Benefícios da Previdência Social (art. 54, § 3º), que
dispensa, para a justificação administrativa ou judicial, o início da prova
material, sendo bastante a exclusivamente testemunhal. Precedente deste
Tribunal.

[...]

(TRF1, AC 2007.39.01.001466-4/PA, Rel. Desembargadora Federal Ângela


Catão, Conv. Juiz Federal Miguel Angelo De Alvarenga Lopes (conv.),
Primeira Turma,e-DJF1 p.33 de 19/10/2010)

A confissão sobre um fato, quando existente, independe de outro meio de prova, já que
afrontaria diretamente o princípio da economia processual, salvo quando o juiz desconfiar
existir conluio entre as partes.

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Regras de direito independem de prova, pois do direito cuida o juiz. Porém, essa regra é
excepcionada pelo art. 337, CPC, devendo a parte provar o direito municipal, estadual,
estrangeiro ou consuetudinário invocado, se assim determinar o juiz.

19.3.3. Indeferimento de Provas pelo Juiz (art. 130)


Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar
as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências
inúteis ou meramente protelatórias.

O juiz pode indeferir a produção de provas solicitada pelas partes, se entender que os
elementos já colacionados aos autos são suficientes para julgamento ou que a prova é
dispensável. Porém, deve tomar muito cuidado ao assim proceder, visto que se julgar
improcedente ou procedente a demanda em desfavor daquele que a solicitou, poderá ver todo
o procedimento anulado se o tribunal entender que houve ofensa ao contraditório.

Muito comum, inclusive, é na Justiça Federal os juízes dispensarem a solicitação de provas


periciais, especialmente de natureza contábil. Entretanto, não poderão, e nem deverão, fazê-lo
se a prova se revelar imprescindível para o julgamento, mormente por exigir conclusões de
natureza técnica (que não podem ser fornecidas pelo juiz, mesmo se ele for perito no assunto).

Sobre o tema:

CARTA ROGATÓRIA. OITIVA REQUERIDA ANTES DO SANEAMENTO.


SUSPENSÃO DO PROCESSO. CONDIÇÕES.

A Turma entendeu que a prova testemunhal por precatória ou rogatória


requerida nos moldes do art. 338 do CPC não impede o juiz de julgar a ação,
muito menos o obriga a suspender o processo, devendo fazê-lo apenas
quando considerar essa prova imprescindível, assim entendida aquela sem a
qual seria inviável o julgamento do mérito. A prova meramente útil,
esclarecedora ou complementar, não deve obstar o curso regular do
processo. Ademais, nos termos do art. 130 do CPC, não há preclusão
absoluta em matéria de prova, até por se tratar de questão de ordem
pública. MESMO PROFERIDO O DESPACHO SANEADOR, O JUIZ PODE, MAIS
TARDE, DETERMINAR A REALIZAÇÃO DE OUTRAS PROVAS, CASO ENTENDA
SER A PROVIDÊNCIA NECESSÁRIA À INSTRUÇÃO DO PROCESSO. REsp
1.132.818-SP, 3T, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/5/2012.

ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO DE CONCESSÃO DE


SERVIÇOS DE TRANSPORTE INTERESTADUAL DE PASSAGEIROS.
CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE DO
PROCESSO. DIVERGÊNCIA ENTRE DEMANDA E ESTIMATIVA CONSTANTE DE
PROJETO BASICO. INEXISTÊNCIA DE CAUSA DE DESEQUILIBRIO ECONÔMICO
FINANCEIRO DO CONTRATO.

1. Não se reconhece nulidade do processo, por cerceamento de direito de


defesa, em virtude de indeferimento de produção de prova pericial que
não era necessária para o julgamento da lide.

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382

[...]

(TRF1, AC 2000.34.00.038614-3/DF, Rel. Juiz Federal Rodrigo Navarro De


Oliveira, 5ª Turma Suplementar,e-DJF1 p.330 de 27/03/2012)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO (SFH).


AÇÃO ANULATÓRIA DE EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL. PRELIMINARES DE
NULIDADE DA SENTENÇA E DO PROCESSO QUE SE REJEITAM. ALEGAÇÃO DE
IRREGULARIDADE NO PROCEDIMENTO, NÃO VERIFICADA. DECRETO-LEI N.
70/1966. CONSTITUCIONALIDADE DECLARADA PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL (STF).

1. Tendo o juízo a quo observado todos os trâmites previstos no Código de


Processo Civil (CPC), julgando a causa com base nas provas produzidas nos
autos, a respeito das quais as partes tiveram oportunidade de se manifestar,
não há que se falar em nulidade de processo, por inobservância ao que
dispõe o art. 331 do CPC.

2. Não constitui cerceamento de defesa o indeferimento de provas inúteis


para a solução da controvérsia (CPC, art. 130), caso da produção de prova
pericial, que em nada mudaria a conclusão do julgamento, considerando
que a execução extrajudicial já fora concluída.

3. Consoante a jurisprudência predominante, adjudicado o imóvel objeto de


financiamento no âmbito do SFH, inexiste espaço para discussão a respeito
do reajuste e a forma de pagamento das prestações da casa própria, em
razão da falta de interesse processual, visto que não mais existe contrato a
ser revisado.

4. "Não há ilegalidade na nomeação unilateral do agente fiduciário


devidamente autorizado pelo Banco Central do Brasil nos contratos
firmados no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação, ex vi do disposto
no art. 30, I, § 2º, do DL 70/66" (AC 2000.36.00.005306-8/MT - Relator Juiz
Federal Moacir Ferreira Ramos (Convocado) - DJ de 23.04.2007, p. 63).

5. A constitucionalidade do Decreto-Lei n. 70/1966 já foi declarada pelo STF,


pelo que não merece maiores considerações a alegação de
inconstitucionalidade desse diploma legal.

6. Comprovado nos autos que o procedimento de execução extrajudicial


observou as normas previstas no Decreto-Lei n. 70/1966, não merece
acolhimento a alegação de vícios apontados pelos mutuários inadimplentes.

7. Sentença confirmada.

8. Apelação desprovida.

(TRF1, AC 2008.38.00.003106-5/MG, Rel. Desembargador Federal Daniel


Paes Ribeiro, Sexta Turma,e-DJF1 p.1031 de 23/03/2012)

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19.4. Prova Emprestada


É a prova de um fato produzida num processo que é trasladada para outro por meio de
certidão extraída daquele. Ela ingressa no outro processo sob a forma documental. É o
transporte da produção probatória.

A prova emprestada, se pericial, é plenamente admitida. É controvertida, entretanto, a prova


emprestada oral. Didier defende que deve ser aceita caso tenha passado pelo crivo do
contraditório. Para a eficácia da prova emprestada, é imprescindível que a parte contra
quem a prova será usada tenha sido parte no processo anterior. Nesse sentido:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA APÓS


SENTENÇA CONDENATÓRIA INDEFERIDO. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO
CONFIGURADO. PRODUÇÃO DE PROVA E PROVA EMPRESTADA.
POSSIBILIDADE. EMBARGOS À EXECUÇÃO E AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO.

[...]

IV - No direito processual brasileiro a prova produzida nos autos deve ser


dirigida ao convencimento do julgador e cabe a este determinar àquelas
necessárias à instrução do processo e apreciá-las livremente, atendendo aos
fatos e circunstâncias constantes dos autos (arts. 130 e 131 do CPC).
Eventual inconformismo diante do indeferimento de determinada prova
deve ser atacado por recurso próprio e no momento adequado, por tratar-
se de decisão de natureza interlocutória.

V - É desnecessária a produção de prova pericial em sede de embargos à


execução, quando a perícia, com idêntico objeto, é realizada nos autos de
ação de consignação em pagamento, cujo resultado poderá ser
aproveitado. Isso porque não há vedação legal à utilização de prova
emprestada quando produzida com observância do contraditório e
participação daquele contra quem deve operar. Precedente do STJ.

[...]

(TRF1, AC 0047472-85.2007.4.01.0000/GO, Rel. Desembargador Federal


Jirair Aram Meguerian, Sexta Turma,e-DJF1 p.36 de 10/01/2011)

As provas produzidas em segredo de justiça somente poderão ser emprestadas para outro
processo que envolva as mesmas partes. O terceiro não poderá, de forma alguma, pedir o
empréstimo de provas.

A prova emprestada NÃO TEM EFEITO VINCULANTE, PODENDO O JUIZ QUE A ADMITIR
CONFERIR-LHE VALOR DIVERSO DAQUELE DO PROCESSO ORIGINAL.

A doutrina diverge quanto à validade ou não da utilização das informações reconhecidamente


sigilosas obtidas licitamente em feito criminal para processos disciplinares decorrentes do
mesmo fato, ou em procedimentos investigatórios por outros crimes. Significativa parcela da
doutrina tem entendido que a utilização dessas informações sigilosas (tais como as obtidas por

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384

meio de interceptação telefônica autorizada judicialmente) em outros processos implicaria


burla às regras da lei regulamentadora, que exige requisitos específicos para autorizar a
medida que possibilita a colheita da prova. Outra parcela da doutrina entende, porém, que
seria perfeitamente possível a utilização da prova sigilosa colhida em outro processo, seja este
de caráter civil, administrativo ou penal, desde que produza efeitos contra quem tenha sido
parte no processo originário (para evitar ofensa ao princípio da ampla defesa e do
contraditório), POIS A INTIMIDADE JÁ TERIA SIDO VIOLADA LICITAMENTE, nada mais havendo
o que se preservar, devendo ser afastada a alegação de que a Constituição da República
estaria sendo obliquamente ferida. Nesse sentido:

"DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PROVA EMPRESTADA. PENAL. INTERCEPTAÇÃO


TELEFÔNICA. AUTORIZAÇÃO JUDICIAL E PRODUÇÃO PARA FIM DE
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. SUSPEITA DE DELITOS COMETIDOS POR
AUTORIDADES E AGENTES PÚBLICOS. USO EM PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO. ADMISSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 5º DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E DOS ART. 1º E 8º DA LEI Nº 9.296/96.
PRECEDENTES DO EXCELSO STF. 1. Segundo entendimento consolidado
pelo Pleno do E. STF, "os dados obtidos em interceptação de comunicações
telefônicas, judicialmente autorizadas para produção de prova em
investigação criminal ou em instrução processual penal, podem ser usados
em procedimento administrativo, contra a mesma ou as mesmas pessoas
em relação às quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos
supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova". 2. Embargos
de declaração acolhidos para sanar a omissão quanto à aplicabilidade dos
dispositivos legais invocados, atribuindo-se efeitos infringentes para prover
o apelo e, assim, denegar a segurança." (TRF4, APELREEX
2003.70.02.008443- 5, Quarta Turma, Relatora Marga Inge Barth Tessler,
D.E. 09/11/2009)

O STJ tem entendimento pacificado de que PODE O JUIZ DETERMINAR DE OFÍCIO a juntada da
prova emprestada ao processo:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. ILICITUDE DA PROVA. FUNDAMENTO


CONSTITUCIONAL NÃO ATACADO POR RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
SÚMULA 126/STJ. PRODUÇÃO DE PROVAS. INICIATIVA DO JUIZ.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. SIGILO PROFISSIONAL. ADVOGADO E
CLIENTE. DEFICIÊNCIA DA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF.
FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO NÃO ATACADO. SÚMULA 283/STF. VIOLAÇÃO
DO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. DEVIDO ENFRENTAMENTO DAS
QUESTÕES RECURSAIS. INCONFORMISMO COM A TESE ADOTADA.

1. O Tribunal de origem rechaçou a alegação de ilicitude da prova


emprestada e solucionou a controvérsia à luz do art. 1º da Lei n. 9.296/96,
do art. 5º, XII, da Constituição Federal, e de precedente jurisprudencial do
STF. O acórdão recorrido abriga fundamentos de índole constitucional e
infraconstitucional. O recorrente não cuidou de interpor o devido recurso
extraordinário ao Supremo Tribunal Federal. Incidência da Súmula 126/STJ.

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2. A Corte a quo infirma a alegação de violação dos arts. 130 e 131 do


Código de Processo Civil, ao fundamento de que "tampouco se vislumbra, na
decisão do magistrado a quo determinando a juntada de tais elementos
probatórios aos autos, qualquer desdordamento (sic) de seus poderes ou
atuação ex officio indevida. Com efeito, a moderna processualística já em
por ultrapassada a concepção primeva segundo a qual o magistrado figura
como sujeito inerte, de atuação meramente passiva, no campo instrutório.
Compete-lhe, hodiernamente, determinar a produção de provas necessárias
à formação de seu livre convencimento, em busca da verdade material".

3. O entendimento firmado encontra respaldo na jurisprudência do Superior


Tribunal de Justiça pois, "SENDO
O JUIZ O DESTINATÁRIO DA
PROVA, CABE A ELE, COM BASE EM SEU LIVRE
CONVENCIMENTO, AVALIAR A NECESSIDADE DESTA,
PODENDO DETERMINAR A SUA PRODUÇÃO ATÉ MESMO DE
OFÍCIO, CONFORME PREVÊ O ART. 130 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL" (AgRg no Ag 1.114.441/SP, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, Quarta Turma, julgado em 16.12.2010, DJe 4.2.2011). Outros
precedentes: AgRg na AR .746/SP, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Primeira
Seção, julgado em 9.6.2010, DJe 18.6.2010; AgRg no REsp 294.609/RJ, Rel.
Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Terceira Turma,
julgado em 8.6.2010, DJe 24.6.2010.

[...]

(REsp 1264313/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,


julgado em 06/10/2011, DJe 14/10/2011)

E se a prova emprestada for tida por ilícita no processo penal, após já ter produzido seus
efeitos no processo civil? Há alguma consequência?

Em teses, seria possível o manejo da ação rescisória, que poderia estar fundamentada na
violação de dispositivo literal de lei pela sentença, quais sejam os dispositivos constitucionais e
infraconstitucionais que vedam o uso da prova ilícita. Isso se a ilicitude não puder ser excluída
pelo princípio da proporcionalidade.

19.5. Máximas de Experiência, Indícios ou Presunções

19.5.1. Máxima de Experiência


As máximas de experiência são o conjunto de juízos já fundados sobre a observação do que de
ordinário acontece, podendo formular-se em abstrato por todo aquele de nível mental médio.

19.5.2. Presunções e Indícios


Indício é uma prova indireta, fato objetivo conhecido que, por via de raciocínio, sugere o fato
probando do qual é causa ou efeito. Possui natureza jurídica de meio indireto de prova.

Presunção não é meio nem fonte de prova. É uma operação mental feita pelo juiz para inferir a
existência/veracidade de determinado fato.
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As presunções se classificam em:

a) Simples, comuns, de homem: é a presunção judicial, que resulta do raciocínio do juiz,


que as estabelece. Forma-se na consciência do magistrado: conhecido o indício,
desenvolve o raciocínio e estabelece a presunção. Quando não for possível prova
exclusivamente testemunhal, também não será possível decisão fundada em
presunção judicial.

b) Legais: são aquelas presunções que resultam do raciocínio do legislador, que as


consagra em textos legais. Elas estabelecem como verdade os fatos presumidos,
tornando a sua prova irrelevante. Podem ser absolutas, peremptórias ou iure et de iure
(raríssimas), não admitindo prova em contrário, assim como condicionais, relativas,
disputáveis ou iuris tantum, aquelas que a lei estabelece como verdade até a prova em
contrário. Aqui, A PRESUNÇÃO ATUA NA DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA,
atribuindo à parte que não aproveita a presunção o dever de provar.

c) Mistas ou intermediárias: aquelas contra as quais não se admitem quaisquer provas,


mas apenas as referidas e previstas na própria lei.

19.5.3. A Prova Prima Facie, de Primeira Aparência ou por Verossimilhança


É o resultado de uma presunção judicial que se constrói a partir da experiência da vida. O juiz
não se baseia, aqui, na existência de um indício para concluir sobre o fato desconhecido, mas
tão-somente nas regras de experiência.

A normalidade de alguns acontecimentos faz com que a experiência considere irrelevantes as


circunstâncias concretas do caso, cabendo às partes provar, unicamente, a existência desse
evento típico. Bom exemplo pode ser dado no seguinte julgado do STJ:

RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL - NEGATIVA


DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - NÃO OCORRÊNCIA - INDEVIDA INVERSÃO
DOS ÔNUS PROBATÓRIOS - NÃO VERIFICAÇÃO - APLICAÇÃO DAS REGRAS DE
EXPERIÊNCIA SOBRE OS ELEMENTOS FÁTICOS-PROBATÓRIOS -
POSSIBILIDADE - OVERBOOKING - COMPANHIA QUE PERMITE O EMBARQUE
DO PASSAGEIRO E O ACOMODA NA CABINE DOS PILOTOS - DANO MORAL -
VERIFICAÇÃO - QUANTUM - REDUÇÃO - NECESSIDADE - JUROS DE MORA -
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO TEMPUS REGIT ACTUM - RECURSO ESPECIAL
PARCIALMENTE PROVIDO.

I - A conclusão do acórdão é resultante da aplicação das regras de


experiência sobre os elementos fáticos-probatórios reunidos nos autos.
Procedimento, aliás, absolutamente correto e respaldado pelo artigo 131 do
Código de Processo Civil;

II - O autor logrou êxito em comprovar o fato constitutivo de seu direito;

III - É possível aferir todo o constrangimento suportado pelo ora recorrido,


que se iniciou perante os funcionários da companhia, para conseguir
embarcar na aeronave, prosseguiu, na constatação de que seu assento por

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outra pessoa estava ocupado, e culminou com sua indevida acomodação na


cabine dos pilotos, frustrando, inequivocamente, todas as expectativas
naturais que o contrato de transporte pode gerar ao passageiro;

[...]

(STJ, REsp 750.128/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA,


julgado em 05/05/2009, DJe 15/05/2009)

19.6. Ônus da Prova

19.6.1. Ônus Subjetivo e Objetivo


Ônus é o encargo atribuído à parte cujo não desempenho a coloca em situação de
desvantagem perante o direito, a qual responderá pela ausência de prova de determinado
fato.

Ônus da prova subjetivo é uma regra de conduta dirigida às partes, que indica quais os fatos
que a cada uma incumbe provar.

Ônus objetivo é uma regra dirigida ao juiz que INDICA COMO ELE DEVERÁ JULGAR ACASO
NÃO ENCONTRE A PROVA DOS FATOS; que indica qual das partes deverá suportar os riscos
advindos do mau êxito na atividade probatória, amargando uma decisão desfavorável.

Importante não é a conduta das partes na instrução (ônus subjetivo), mas o resultado da
instrução e sua avaliação e julgamento pelo juiz.

Um correto entendimento e uma correta aplicação do ônus da prova é fundamental para a


justeza do resultado do processo, já que muitas vezes é tarefa difícil, senão impossível, a
reconstrução e demonstração dos fatos ocorridos no passado. Sobre esse tema:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA


PROVA. MOMENTO. SENTENÇA. POSSIBILIDADE. REGRA DE JULGAMENTO.
OFENSA AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO. INEXISTÊNCIA.

1. A jurisprudência do STJ não se pacificou quanto à possibilidade de o juízo


inverter o ônus da prova no momento de proferir a sentença numa ação que
discuta relação de consumo.

2. O Processo Civil moderno enfatiza, como função primordial das normas


de distribuição de ônus da prova, a sua atribuição de regular a atividade
do juiz ao sentenciar o processo (ônus objetivo da prova). POR
CONDUZIREM A UM JULGAMENTO POR PRESUNÇÃO, ESSAS REGRAS
DEVEM SER APLICADAS APENAS DE MANEIRA EXCEPCIONAL.

3. As partes, no Processo Civil, têm o dever de colaborar com a atividade


judicial, evitando-se um julgamento por presunção. Os poderes instrutórios
do juiz lhe autorizam se portar de maneira ativa para a solução da
controvérsia. As provas não pertencem à parte que as produziu, mas ao
processo a que se destinam.

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4. O processo não pode consubstanciar um jogo mediante o qual seja


possível às partes manejar as provas, de modo a conduzir o julgamento a
um resultado favorável apartado da justiça substancial. A ÊNFASE NO
ÔNUS SUBJETIVO DA PROVA IMPLICA PRIVILEGIAR UMA VISÃO
INDIVIDUALISTA, QUE NÃO É COMPATÍVEL COM A TEORIA
MODERNA DO PROCESSO CIVIL.

5. Inexiste surpresa na inversão do ônus da prova apenas no julgamento da


ação consumerista. Essa possibilidade está presente desde o ajuizamento da
ação e nenhuma das partes pode alegar desconhecimento quanto à sua
existência.

6. A exigência de uma postura ativa de cada uma das partes na instrução do


processo não implica obrigá-las a produzir prova contra si mesmas. Cada
parte deve produzir todas as provas favorável de que dispõe, mas não se
pode alegar que há violação de direito algum na hipótese em que, não
demonstrado o direito, decida o juiz pela inversão do ônus da prova na
sentença.

7. Recurso especial conhecido e improvido.

(STJ, REsp 1125621/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 19/08/2010, DJe 07/02/2011)

19.6.2. Ônus da Prova como Regra de Julgamento e Aplicação Subsidiária


QUANDO DA PROLAÇÃO DA
O ônus da prova é regra de julgamento, cabendo ao juiz,
SENTENÇA, PROFERIR JULGAMENTO CONTRÁRIO ÀQUELE QUE TINHA O
ÔNUS DA PROVA E DELE NÃO SE DESINCUMBIU.
O JUIZ SOMENTE DEVE APLICAR ESTE CRITÉRIO PARA JULGAR EM ÚLTIMO CASO, QUANDO
AS PARTES NÃO TIVEREM CONSEGUIDO FAZER PROVA DO QUE ALEGARAM. Assim, vê-se que
o ônus da prova é regra que salva o juiz do non liquet, ou seja, da impossibilidade de não
julgar. Como ele não pode deixar de dizer o direito, deverá se valer do ônus da prova sempre
que as partes tiverem sido inábeis.

Porém, repito, deve haver cuidado, já que a questão ficará abrangida pela coisa julgada
material, ainda que provas suficientes surjam depois.

Ao julgar com base no ônus da prova, a decisão do juiz ficará com baixa carga de
fundamentação, pois não terá elementos MATERIAIS suficientes para acolher ou repelir a
pretensão do autor, irá apenas se valer de uma regra de julgamento. Nesse caso, o processo
terá sido pobre no que se refere à instrução, ainda que por culpa das partes; e, mais
importante, a decisão final poderá se revelar injusta, o que é o pior vício filosófico possível que
pode conter uma sentença.

Vide o julgado colacionado acima para maior profundidade.

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19.6.3. Distribuição Ônus da Prova

19.6.3.1. Distribuição Estática (art. 333)


Compete, em regra, a cada uma das partes o ônus de fornecer os elementos de prova das
alegações de fato que fizer. A parte que alega deve buscar os meios necessários para
convencer o juiz da veracidade do fato alegado.

Ao autor cabe o ônus da prova de fato constitutivo de seu direito; ao réu cabe a prova de fato
extintivo, impeditivo ou modificativo desse mesmo direito.

Fato constitutivo é o fato gerador do direito afirmado pelo autor em juízo. O réu poderá
defender-se simplesmente negando, não lhe pesando, em regra, qualquer ônus de fazer prova
da negativa (defesa direta). Poderá, também, trazer fatos novos, aptos a modificar, impedir ou
extinguir o direito alegado pelo autor, cabendo-lhe, neste caso, o ônus probatório (defesa
indireta).

Logo, a prova de todos estes fatos novos que abalam o direito do autor é encargo do réu.

Fato extintivo é aquele que retira a eficácia do fato constitutivo, fulminando o direito do autor
e a pretensão de vê-lo satisfeito.

Fato impeditivo é aquele cuja existência obsta que o fato constitutivo produza efeitos. É um
fato de natureza negativa, é a falta de uma circunstância imprescindível para a concretização
do direito do autor.

Fato modificativo é aquele que, reconhecendo o direito do autor, o altera em seus efeitos
pretendidos.

O CPC adotou uma concepção estática do ônus da prova (art. 333).

19.6.3.2. Distribuição Dinâmica do Ônus da Prova


É teoria concebida pelos argentinos Jorge Peyrano e Augusto Morello. Por ela, a prova
incumbe a quem tem melhores condições de produzi-la, à luz das circunstâncias do caso
concreto. De acordo com essa teoria:

a) O encargo não deve ser repartido prévia e abstratamente, e sim casuisticamente;

b) Sua distribuição não pode ser estática e inflexível, e sim dinâmica;

c) Pouco importa, para sua distribuição, se é favorecido o autor ou o réu;

d) Não é relevante a natureza do fato probando.

O juiz, nesse contexto, será um gestor de provas, com poderes ainda maiores, pois lhe
incumbe avaliar qual das partes está em melhores condições de produzir a prova.

O CPC não adotou expressamente esta teoria, mas a doutrina a acolhe a partir de uma
interpretação sistemática da legislação processual. Decorreria dos princípios da igualdade

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(para haver paridade real de armas), lealdade, boa fé e veracidade, solidariedade, devido
processo legal substantivo e acesso à justiça.

O STJ admite a aplicação da distribuição dinâmica do ônus da prova em matérias que não
sejam de consumo, que se sujeitem ordinariamente ao CPC:

“- Do ponto de vista eminentemente formal, é do autor o ônus da juntada,


na petição inicial, dos documentos que fundamentam sua pretensão. Com a
perda do contrato mediante a qual aderiu a consórcio, a autora teria, em
princípio, de ajuizar uma ação cautelar preparatória de exibição de
documentos para, só depois, se for o caso, ajuizar a ação principal de
cobrança das parcelas pagas.

- Numa perspectiva dinâmica do processo, é possível ao juiz admitir a


propositura da ação principal sem esses documentos, se formulado pedido
incidental para sua exibição.

(...)

- Se o documento não puder ser exibido, por sua inexistência ou extravio,


competirá ao juiz decidir por: (i) impor ao autor o ônus da prova quanto à
sua existência; (ii) aplicar a inversão determinada no art. 6º, VIII, do CDC, se
entender aplicável; (iii) distribuir, ainda que não se aplique o CDC, de forma
dinâmica o ônus da prova, com base no risco, assumido pelo réu, pela
impossibilidade de apresentação do documento.

Recurso especial provido.

(REsp 896435/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 27/10/2009, DJe 09/11/2009)”

“Ainda que não se considere possível aplicar o CDC à espécie, o pedido de


exibição de documentos encontra previsão expressa no CPC e pode ser
deferido independentemente de eventual inversão do ônus probatório.
Consoante precedente da 3ª Turma (REsp 896.435/PR, de minha relatoria,
DJe 9/11/2009), a eventual inexistência dos extratos que conduza à
impossibilidade de produção da prova pode ser decidida pelo juízo mediante
a utilização das regras ordinárias do processo civil, inclusive com a aplicação
da teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova, conforme o caso.

(REsp 1189679/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO,


julgado em 24/11/2010, DJe 17/12/2010)”

A doutrina adverte que a distribuição dinâmica deve ser utilizada cuidadosamente, somente
nos casos em que a prova é diabólica, não se podendo tutelar a inércia ou desídia de quem
tinha o ônus de provar. A priori, deve-se manter a concepção clássica da prova estática.

Nem mesmo o CDC prevê a inversão do ônus da prova como regra de julgamento; o que ele
faz é permitir ao juiz a inversão no caso concreto, se verificar a necessidade de que assim se
proceda (inversão ope judicis).

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PROCESSUAL CIVIL. DIREITO PROBATÓRIO. DISTRIBUIÇÃO DA CARGA DA


PROVA. PARTE AUTORA QUE INSTRUI MAL A INICIAL. OPORTUNIDADE DE
PRODUÇÃO DE NOVAS PROVAS. SILÊNCIO. SENTENÇA. ANULAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

[...]

2. Nas razões recursais, sustenta a parte recorrente ter havido violação ao


art. 333, inc. I, do Código de Processo Civil (CPC), ao argumento de que
incumbia à parte autora fazer prova do que alegou na inicial, razão pela
qual, reconhecida a inexistência de prova dos fatos constitutivos de seu
direito, correto seria o julgamento de improcedência do pedido, e não a
anulação da sentença a fim de que fossem produzidas novas provas, as
quais, em momento algum, foram solicitadas na primeira instância pela
própria parte autora.

3. O chamado "ônus da prova" é instituto de direito processual que busca,


acima de tudo, viabilizar a consecução da vedação ao non liquet, uma vez
que, por meio do art. 333, inc. I, do CPC, garante-se ao juiz o modo de
julgar quando qualquer dos litigantes não se desincumbir da carga
probatória definida legalmente, apesar de permanecer dúvidas razoáveis
sobre a dinâmica dos fatos.

4. Ainda acerca do direito probatório, convém ressaltar que, via de regra, a


oportunidade adequada para que a parte autora produza seu caderno
probatório é a inicial (art. 282, inc. I, do CPC). Para o réu, este momento é a
contestação (art. 300 do CPC). Qualquer outro momento processual que
possa eventualmente ser destinado à produção probatória deve ser
encarado como exceção.

[...]

(STJ, REsp 840.690/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,


SEGUNDA TURMA, julgado em 19/08/2010, DJe 28/09/2010)

A aplicação da inversão do ônus da prova, quando não derive diretamente da lei e dependa de
uma atuação do juiz (ope judicis), cuida-se de regra de procedimento (e não de julgamento),
devendo existir uma decisão que determine a redistribuição (inversão) do ônus probatório
antes da sentença ou acórdão, preferencialmente no despacho saneador, como decidido pelo
STJ:

“A distribuição do ônus da prova, além de constituir regra de julgamento


dirigida ao juiz (aspecto objetivo), apresenta-se também como norma de
conduta para as partes, pautando, conforme o ônus atribuído a cada uma
delas, o seu comportamento processual (aspecto subjetivo). Doutrina.

Se o modo como distribuído o ônus da prova influi no comportamento


processual das partes (aspecto subjetivo), não pode a inversão 'ope judicis'
ocorrer quando do julgamento da causa pelo juiz (sentença) ou pelo tribunal

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(acórdão). Previsão nesse sentido do art. 262, §1º, do Projeto de Código de


Processo Civil.

A inversão 'ope judicis' do ônus probatório deve ocorrer preferencialmente


na fase de saneamento do processo ou, pelo menos, assegurando-se à parte
a quem não incumbia inicialmente o encargo, a reabertura de oportunidade
para apresentação de provas.

(REsp 802832/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA


SEÇÃO, julgado em 13/04/2011, DJe 21/09/2011)”

Do voto vencido do julgado anterior, posição minoritária da jurisprudência e doutrina,


extraem-se os seguintese argumentos:

É possível a inversão do ônus da prova no momento da prolação da sentença na hipótese em


que o juiz verifica a presença dos pressupostos legais que autorizam a mencionada inversão
em ação de responsabilidade por vício no produto, pois é no momento da sentença que o juiz
possui realmente condições de realizar aprofundado exame de toda a controvérsia trazida aos
autos e julgar com segurança, sopesando as posições das partes, os fatos subjacentes e o
direito aplicável.

É possível a inversão do ônus da prova no momento da prolação da sentença na hipótese em


que o juiz verifica a presença dos pressupostos legais que autorizam a mencionada inversão
em ação de responsabilidade por vício no produto, pois inverter o ônus da prova em outro
momento, além de obrigar o juiz a adiantar prematuramente parte do mérito, se contrapõe ao
princípio da liberdade na formação da convicção do julgador, já que o juiz da sentença, que
pode não ser o mesmo juiz da instrução, estará obrigado a julgar vinculado à decisão
interlocutória que anteriormente determinou a inversão.

É possível a inversão do ônus da prova no momento da prolação da sentença na hipótese em


que o juiz verifica a presença dos pressupostos legais que autorizam a mencionada inversão
em ação de responsabilidade por vício no produto, pois a exigência de decisão interlocutória
prévia para determinar a inversão fragmenta o procedimento e dá ensejo a muitos recursos, o
que alonga o processo judicial e viola os princípios da efetividade e celeridade processual.

19.6.4. Inversão do Ônus da Prova Ope Legis e Ope Judicis


Inversão ope legis é aquela determinada por lei, aprioristicamente, independentemente do
caso concreto e da atuação do juiz. É um caso de presunção legal relativa, estando a parte que
alega o fato dispensada de prová-lo (é o caso do art. 38 do CDC).

É também caso de inversão do ônus da prova a existência de indícios suficientes de


agiotagem, cabendo ao credor comprovar a regularidade de seu crédito. Nesse sentido:

AGIOTAGEM. INDÍCIOS. INVERSÃO. ÔNUS. PROVA. CREDOR.

Trata-se de REsp em que se discute a possibilidade de inversão do ônus da


prova ante a existência de indícios da prática de agiotagem. In casu, o ora
recorrente ajuizou execução de título extrajudicial em desfavor do ora
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recorrido, com o fim de receber a quantia de R$ 62.659,00, devidamente


corrigida, em razão da ausência de adimplemento de empréstimos
pactuados entre as partes. O recorrido apresentou embargos à execução ao
fundamento de que os encargos cobrados são extorsivos e decorrentes da
prática de agiotagem. Nesse contexto, a Turma conheceu parcialmente do
recurso e, na parte conhecida, negou-lhe provimento ao entendimento de
que, havendo indícios suficientes da prática de agiotagem, nos termos da
MP n. 2.172-32/2001, é possível a inversão do ônus da prova, imputando-se,
assim, ao credor, a responsabilidade pela comprovação da regularidade
jurídica da cobrança. Precedente citado: REsp 722.600-SC, DJ
29/8/2005. REsp 1.132.741-MG, 3T, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em
6/9/2011.

Inversão ope iudicis é verdadeira inversão, quando o juiz, no caso concreto, constatando a
presença de requisitos e a necessidade de tal, realiza a inversão. Para fins de resguardo do
devido processo legal, deve ser tido como uma regra de instrução, devendo o juiz alertar a
parte desfavorecida que lhe caberá a prova do fato que, em outras hipóteses, caberia ao autor.

Ao se valer da inversão como regra de julgamento, o juiz surpreende a parte, a qual poderia
ter se utilizado de outras provas no curso do processo caso previamente soubesse do ônus que
lhe pesaria. Como não havia sido alertada, deixou de produzir prova sobre fato cujo ônus, em
tese, era da outra parte. Isso fere de morte, especialmente, a ampla defesa.

19.6.5. Convenções sobre o Ônus da Prova (art. 333, p. único)


AS PARTES PODERÃO DISTRIBUIR DE MANEIRA DIVERSA O ÔNUS DA PROVA
MEDIANTE CONVENÇÃO, formada antes ou no curso do processo. Porém, tal não poderá
ocorrer quando:

a) Recair sobre direito indisponível da parte;

b) Tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.

19.6.6. Prova Diabólica


É aquela que é difícil, senão impossível, de ser produzida. Nesse caso, o juiz, perante os fatos,
deverá distribuir o ônus da prova de forma dinâmica, com base em sua experiência.

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.


PEÇA OBRIGATÓRIA. CERTIDÃO DE INTIMAÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA.
FORMALISMO EXCESSIVO. PROVA DIABÓLICA. MEIO DIVERSO DE
VERIFICAÇÃO DA TEMPESTIVIDADE. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL.
POSSIBILIDADE.

1 - Em homenagem ao princípio da instrumentalidade, a ausência da


certidão de intimação da decisão agravada pode ser suprida por outro
instrumento hábil a comprovar a tempestividade do agravo de instrumento.

2 - Exigir dos agravados a prova de fato negativo (a inexistência de


intimação da decisão recorrida) equivale a prescrever a produção de prova
diabólica, de dificílima produção. Diante da afirmação de que os agravados
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somente foram intimados acerca da decisão originalmente recorrida com o


recebimento da notificação extrajudicial, caberia aos agravantes a
demonstração do contrário.

3 - Dentro do contexto dos deveres de cooperação e de lealdade


processuais, é perfeitamente razoável assumir que a notificação remetida
por uma das partes à outra, em atenção à determinação judicial e nos
termos da Lei 6.015/73, supre a intimação de que trata o art. 525, I, do CPC.

Agravo a que se nega provimento.

(STJ, AgRg no AgRg no REsp 1187970/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,


TERCEIRA TURMA, julgado em 05/08/2010, DJe 16/08/2010)

19.7. Outras Regras Gerais


Não dependem de prova os fatos:

a) Notórios;

b) Afirmados por uma parte e confirmados pela outra;

c) Admitidos no processo como incontroversos;

d) Irrelevantes;

e) Em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.

Salvo disposições especiais em contrário, as provas devem ser produzidas em audiência.


Porém, muitas provas já devem ter sido juntadas ao processo com a petição inicial, se à
disposição do autor, conforme determina o art. 283 do CPC:

Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à


propositura da ação.

19.8. Procedimento Probatório


O procedimento probatório consiste na sequência logicamente ordenada de atos que tende à
produção da prova.

São quatro os momentos da prova:

a) Requerimento ou propositura: é o momento em que as partes indicam, de forma


especificada, os meios de prova de que pretendem se utilizar para contribuir na
formação da convicção do juiz. O autor deve especificar provas na petição inicial, e o
réu na contestação. Em qualquer caso cabe ao juiz determinar de ofício a realização de
provas que julgue necessárias (art. 130). O poder de ordenar de ofício a realização de
provas subsiste íntegro mesmo que o juiz tenha anteriormente indeferido o
requerimento da parte; não ocorre, para ele, a preclusão.

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395

b) Admissão ou deferimento: ocorre no momento em que o juiz dispõe sobre os meios de


prova que entende devam ser utilizados para que seu convencimento possa se formar.
Tal se dá na decisão declaratória de saneamento do processo.

c) Produção: consiste na carreação aos autos do meio de prova cuja utilização foi
deferida. Em regra, a produção da prova se dá na audiência de instrução e julgamento,
havendo exceções no tocante à prova documental, à prova pericial e à inspeção
judicial.

d) Valoração: é o momento em que o juiz irá valorar a prova. Ocorre na sentença.

19.8.1. Preclusão para o Juiz em Matéria de Prova


O juiz, no bojo da decisão saneadora, deverá delimitar a atividade probatória a ser realizada
em AIJ (art. 331, § 2º) – ou antes dela. Porém, não há preclusão absoluta em matéria de prova
à luz do art. 130 do CPC. Isso quer dizer que, mesmo proferido o saneador, mais tarde poderá
o juiz determinar a realização de outras provas para se entender a providência necessária para
a realização do feito.

Porém, se o juiz deferir a produção de prova, caso mais tarde a considere desnecessária, não
poderá recusar a sua feitura, em razão da preclusão. O momento único e adequado para
indeferir a produção de provas inúteis ou desnecessárias é o despacho saneador.

Caso o juiz indefira uma prova, em nome da segurança jurídica não poderá voltar atrás em sua
decisão, salvo se ocorrer um fato novo.

E, por fim, se o juiz determinar de ofício ou a requerimento da parte a realização de prova, não
poderá dela desistir, já que pouco importa de quem partiu o pedido; uma vez deferida,
confere-se às partes o direito de vê-la produzida – princípio da comunhão da prova -, o qual
não pode mais ser suprimido, ressalvando-se a ocorrência de fato novo ou a expressa
anuência de ambas as partes e do juiz.

Qual o momento final em que o juiz poderá mandar produzir alguma prova de ofício, se
entender pela necessidade? Até a prolação da sentença. Antes disso,

Provas em Espécie
19.9. Depoimento Pessoal (arts. 342 a 347)

19.9.1. Noções Gerais


É o conjunto de comunicações da parte, autor ou réu, para dizer o que sabe a respeito do
pedido, ou da defesa, ou das provas produzidas ou a serem produzidas, para ajudar o juiz a
formar seu esclarecimento/convencimento. Inclui-se no conceito de parte autor, réu,
denunciado, substituto processual, assistente, opoente etc.

O depoimento da parte é meio de prova que efetiva o princípio da oralidade, colocando as


partes em contato imediato com o magistrado que julgará a causa.

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Ela tem dois objetivos (Dinamarco): trazer esclarecimentos acerca dos fatos da causa (fatos
controvertidos e relevantes alegados pelas partes) e provocar a confissão.

19.9.2. Espécies: Depoimento por Provocação e Interrogatório


Depoimento da parte por provocação é aquele requerido pela parte adversária, realizado na
AIJ e determinado sob pena de confissão ficta, caso a parte se recuse ou não compareça a
depor.

A confissão ficta será valorada pelo magistrado como se real fosse, inclusive podendo ser
afastada, acaso os fatos fictamente confessos sejam inverossímeis. A PARTE NÃO PODE
REQUERER O SEU PRÓPRIO DEPOIMENTO PESSOAL.

O interrogatório é determinado de oficio pelo juiz, em qualquer estágio do processo, inclusive


em instância recursal, não sendo possível, neste caso (instância recursal), cominar a pena de
confissão ficta ante o não comparecimento ou recusa. O objetivo do interrogatório é
esclarecer o magistrado sobre os fatos da causa.

A parte pode ser convocada mais de uma vez para interrogatório; é permitida a convocação de
incapaz para depor, já que não se visa à confissão.

A DIFERENÇA ENTRE O DEPOIMENTO DA PARTE E O INTERROGATÓRIO É


QUE, NESTE, A CONFISSÃO FICTA NÃO PODE SER PREVISTA COMO
SANÇÃO AO NÃO COMPARECIMENTO OU À RECUSA DE DEPOR.
Não comparecimento ou recusa de depor
DEPOIMENTO DA PARTE Requerido pela parte contrária
implica em confissão ficta
Não comparecimento ou recusa de depor
INTERROGATÓRIO Determinado pelo juiz
NÃO implica em confissão ficta

Freitas Câmara esclarece o seguinte:

Duas são as diferenças essenciais entre estes dois meios de prova: primeiro,
enquanto o depoimento pessoal é prestado na audiência de instrução e
julgamento, o interrogatório pode ser produzido em “qualquer estado do
processo”, o que significa dizer a qualquer tempo; segundo, enquanto o
depoimento pessoal tem duplo objetivo, esclarecer os fatos da causa e
provocar a confissão, o interrogatório possui uma finalidade única, carrear
para os autos esclarecimentos sobre os fatos da causa. Conseqüência disso é
que não se poderá aplicar a pena de confissão, ou seja, não se poderá
presumir confessados os fatos da causa sobre as quais a parte seria
interrogada. Portanto, é possível a marcação de nova AIJ para que o juiz
possa interrogar as partes, mas não é possível isso em relação ao
depoimento pessoal.

19.9.3. Depoimento do Presentante e do Representante


Não é possível o depoimento pessoal do representante do incapaz, que, se depuser, o fará na
condição de testemunha. Não se tem aceito a possibilidade do depoimento do presentante
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acarretar em confissão provocada, pela falta de poderes para tal (evidentemente que se tiver
poderes para confessar, aceita-se tal efeito).

Entretanto, já em relação ao representante da pessoa jurídica, como o preposto, tem sido


reconhecido o instituto da confissão provocada.

19.9.4. Recusa de Depor


Barbosa Moreira diz que a recusa de depor tanto pode caracterizar-se pela negativa direta e
frontal, como pela simples omissão em responder ou pelo recurso a evasivas, sem motivo
justificado. Em casos tais, cabe ao órgão judicial, à luz de outras circunstâncias e elementos de
provas disponíveis, verificar se a atitude da parte há de ser considerada como recusa de depor
– hipótese em que, naturalmente, se lhe imporá a pena de confissão. Deve o juiz esclarecer na
sentença as razões de seu convencimento a esse respeito (art. 345).

Cada uma das partes tem o dever de comparecer a juízo e responder ao que lhe for
perguntado (art. 340, I), SEMPRE QUE SEU DEPOIMENTO FOR ORDENADO EX OFFICIO PELO
JUIZ OU DEFERIDO POR ESTE A REQUERIMENTO DA OUTRA PARTE (art. 343).

Com relação ao depoimento requerido (não ao determinado de ofício!), comina a lei sanção
para o descumprimento do dever de comparecer e depor (ou seja, se ela se esquivar de
depor). A sanção consiste na aplicação à parte, pelo juiz, da pena de confissão (art. 343, § 2º);
isto é, presumem-se (fingem-se) confessados, nos termos do art. 343, § 1º, os fatos contra ela
alegados.

Sob pena de nulidade, deve a respectiva cominação, ainda que não requerida, constar do
mandado através do qual se intima pessoalmente a parte a comparecer para prestar
depoimento (art. 343, § 1º).

Trata-se, entretanto, de confissão presumida, e não, de confissão ficta. Presunção relativa,


iuris tantum, que poderá, portanto, ser elidida pelo conjunto probatório constante dos autos.
Se a parte não comparecer por motivo justificado não se lhe imporá a pena, adiando-se a
audiência.

19.9.5. Escusa de Depor


A escusa de depor é lícita em duas situações: uma atípica (art. 345), quando se baseia apenas
na justeza do motivo, e outra típica, prevista nos arts. 347 do CPC e 229 do CC.

Se a escusa se basear na justeza do motivo, o magistrado avaliará para verificar se ele


realmente é justo.

Exclui-se o dever de depor quando:

a) Se tratar de fatos criminosos ou torpes, imputados à parte;

b) Fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo (art. 347, I e II); esse
caso não subsiste nas ações de filiação, de separação e de anulação (ou nulidade) de
casamento (art. 347, § único).

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O direito ao silêncio sobre fatos criminosos têm natureza fundamental.

Lembrar que a mentira em juízo é um ilícito processual (litigância de má fé, art. 17, II, CPC),
podendo ser punida com multa. Essa conduta não se confunde com o crime de falso
testemunho, já que a parte não é testemunha.

19.9.6. Procedimento do Depoimento


A parte será interrogada na forma prescrita para a inquirição de testemunhas (art. 344), sendo
defeso a quem ainda não depôs assistir ao interrogatório da outra parte.

Primeiro presta depoimento o autor (ou os vários litisconsortes ativos que tenham de fazê-lo),
em seguida o réu (ou os vários litisconsortes passivos que hajam de prestar depoimento).

A parte responderá pessoalmente sobre os fatos articulados, não podendo servir-se de escritos
adrede preparados, sendo-lhe permitido, todavia, a consulta a notas breves, desde que
objetivem completar esclarecimentos. Se, porém, a parte for incapaz, prestará depoimento o
representante, sem que fique afastada a possibilidade de, em casos especiais, inquirir-se o
próprio incapaz. As pessoas jurídicas e as entidades não personificadas, mas dotadas de
capacidade para ser parte, prestam depoimento por meio dos órgãos indicados no art. 12.

Digitado ou registrado por qualquer outro método o depoimento, será assinado pelo juiz, pelo
depoente e pelos procuradores. Faculta-se à parte, evidentemente, impugnar a exatidão de
qualquer ponto, ou reclamar contra alguma omissão, incumbindo ao juiz, se for o caso,
determinar a retificação ou a complementação necessária.

O advogado do depoente, assim como seu litisconsorte simples ou unitário, não poderá
formular perguntas a ele.

19.10. Confissão (arts. 348 a 354)

19.10.1. Generalidades
Há confissão quando alguém reconhece a existência de um fato contrário ao seu interesse e
favorável ao do seu adversário (art. 348, CPC). Logo, são necessários três elementos para haver
confissão:

a) Sujeito declarante;

b) Vontade para declarar um fato;

c) Fato contrário ao confitente.

O declarante é a parte, pessoalmente, a qual pode, no entanto, permitir que um procurador


com poderes especiais leve sua confissão ao processo.

A confissão tem natureza jurídica de meio de prova, não importando que o confitente tenha a
vontade de que sejam produzidos os efeitos jurídicos dela decorrentes, já que decorrem da lei.

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19.10.2. Distinções
a) Confissão e reconhecimento jurídico do pedido: a confissão é um ato jurídico em
sentido estrito, enquanto o reconhecimento é um negócio jurídico unilateral. Ela tem
por objetivo um fato e dispensa sua prova, gerando presunção de veracidade. Já este
tem por objeto o pedido da outra parte e por efeito a resolução do mérito da causa
por autocomposição. É errado definir o reconhecimento jurídico do pedido como ato
que só pode emanar do réu ou seus litisconsortes, já que nas ações dúplices poderá o
autor reconhecer o pedido da parte contrária, assim como nas ações declaratórias
incidentais;

b) Confissão e admissão: a confissão é um ato jurídico unilateral que tem por objeto um
fato deduzido por qualquer sujeito, é uma conduta positiva (ativa), podendo se dar nas
modalidades espontânea ou provocada, tendo origem judicial ou extrajudicial,
necessitando o procurador de poderes especiais para fazê-la e dispensando a prova do
fato, sendo vedada prova em contrário. Já a admissão é um ato-fato que tem por
objeto uma alegação da parte contrária, é uma conduta omissiva (passiva), se dá na
modalidade espontânea (com a revelia, não impugnação especificada dos fatos, não
comparecimento para depor), representante não precisa de poderes especiais e tem
como efeito a confissão ficta, admitindo prova em contrário.

RECONHECIMENTO JURÍDICO DO
CONFISSÃO ADMISSÃO
PEDIDO
Objeto é um fato. Objeto é o pedido da parte Objeto é uma alegação da parte
contrária. contrária
Natureza de ato jurídico em sentido Natureza de negócio jurídico Natureza de ato-fato jurídico.
estrito. unilateral.
Efeito é a dispensa da prova sobre o Efeito é a resolução do processo Efeito é a dispensa da prova sobre o
fato, que se tornará incontroverso. com julgamento de mérito, ainda fato, que se tornará incontroverso.
que parcial, por autocomposição.
Pode ser espontânea ou provocada. Somente pode ser espontêno. Somente pode ser espontânea.
Pode ser judicial ou extrajudicial. Somente pode ser judicial. Somente pode ser judicial.
Representante precisa de poderes Representante precisa de poderes Representante não precisa de
especiais. especiais. poderes especiais.

19.10.3. Espécies de Confissão


Ela pode ser judicial ou extrajudicial (art. 348, 2ª parte). A judicial pode ser real ou ficta. A real
subdivide-se em:

a) Espontânea: pode ser feita pela própria parte, ou por mandatário com poderes
especiais. Deve ser reduzida a termo nos autos;

b) Provocada: obtida mediante o interrogatório da parte, em seu depoimento pessoal.

A confissão ficta resulta de sanção da recusa da parte, cujo depoimento foi requerido, a
comparecer ou a depor. A ficta é a confissão que se reputa ocorrida, embora se saiba que, de
fato, não ocorreu.

Já a real é aquela efetivamente feita pelo confitente, oralmente ou por escrito.

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Poderá a confissão ainda ser:

a) Simples: quando a parte se restringe à declaração de ciência do fato contrário;

b) Qualificada: quando o confitente nega os efeitos jurídicos que a parte adversária


pretende obter do fato confessado;

c) Complexa: quando o confitente, mediante sua confissão, trouxer ao processo fatos


novos e relevante.

19.10.4. Eficácia da Confissão


A confissão implica em:

a) Abdicação do direito da parte produzir prova sobre o fato confessado (preclusão


lógica), não atingindo os demais litisconsortes simples e não gerando qualquer efeito
caso os demais litisconsortes unitários não confessem;

b) Liberação da parte contrária em provar os fatos que afirmou;

c) Não vincula o magistrado, em função do princípio do livre convencimento motivado, o


qual a examinará e valorará conforme entender pertinente. Entretanto,
evidentemente deverá motivar o porquê deu ou não eficácia à confissão.

Assim, a confissão judicial faz prova contra o confitente, não prejudicando, todavia, os
litisconsortes. Entretanto, pelo princípio da comunhão da prova, a confissão será valorada
pelo juiz, destinatário direto da mesma, e poderá servir de base para a formação de seu
convencimento, sendo ilógico admitir a possibilidade de o juiz considerar que o fato
confessado ocorreu para o confitente e não ocorreu para os demais.

NAS AÇÕES QUE VERSAREM SOBRE BENS IMÓVEIS OU DIREITOS SOBRE IMÓVEIS ALHEIOS, A
CONFISSÃO DE UM CÔNJUGE NÃO VALERÁ SEM A DO OUTRO, SALVO SE O REGIME DE BENS
FOR DE SEPARAÇÃO TOTAL OU PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS.

19.10.5. Invalidação da Confissão


A confissão somente pode versar sobre fatos concernentes a direitos disponíveis e, quando
emanar de erro, dolo ou coação, poderá ser revogada (o CPC usa o termo revogada, mas na
verdade, deve-se entender por invalidada):

a) Por ação anulatória: se pendente o processo em que foi feita; a ação anulatória não
pode ser proposta incidentalmente no processo em que se deu a confissão. Ela requer
a instauração de uma ação nova, cabendo a suspensão do processo ou a reunião dos
feitos por conexão, conforme o caso.

b) Por ação rescisória: depois de transitada em julgado a sentença, da qual constituir o


único fundamento, cabendo ao confitente o direito de propor as referidas ações, mas,
uma vez iniciada, passa aos seus herdeiros.

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A confissão somente poderá ser invalidada por erro de fato (isso porque recai sobre fatos),
sendo inadmissível como fundamento da anulação o erro de direito.

19.10.6. Confissão Extrajudicial


A confissão extrajudicial, feita por escrito à parte ou a quem a represente, tem a mesma
eficácia probatória da judicial; feita a terceiro, ou contida em testamento, será livremente
apreciada pelo juiz. Todavia, quando feita verbalmente, só terá eficácia nos casos em que a lei
não exija prova literal.

19.10.7. A Eficácia da Confissão por Representante


Poderá o representante confessar caso tenha recebido poderes especiais para tanto. Caso não,
estará adstrito à possibilidade de encaminhar a confissão espontânea ao magistrado, feita pelo
representado.

Confissão de representante de incapaz e de pessoa jurídica sem os devidos poderes somente


tem eficácia de testemunho, não de confissão em si.

19.10.8. Indivisibilidade da Confissão (art. 364)


A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a parte, que a quiser invocar como prova,
aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável. Cindir-se-á,
todavia, quando o confitente lhe aduzir fatos novos, suscetíveis de constituir fundamento de
defesa de direito material ou de reconvenção.

Isso porque, na verdade, haverá mais do que uma confissão: parte das declarações será tida
por confissão, parte será tida por inovação. Por isso que se pode cindir, eis que a parte com
fatos novos deverá, em regra, ser objeto de novas provas.

19.10.9. Confissão Feita por Incapaz


Um dos requisitos para a validade da confissão é ter capacidade para confessar. Assim, se a
confissão for feita por incapaz, ela será nula. Entretanto, o juiz poderá considerá-la para
formar seu convencimento, por ser informação relevante para o caso.

19.11. Exibição de Documentos ou Coisas (arts. 355 a 363)


A exibição constitui figura estranha na matéria da prova. Não porque seja inábil para aportar
ao processo meios de prova, mas porque não constitui verdadeiramente prova, e sim mero
mecanismo de obtenção de elementos de prova, assim como a interceptação telefônica, no
processo penal. Observe-se que, em sentido lato, também uma coisa (enquanto meio de
prova) não deixa de ser, na maioria das vezes, um documento.

Efetivamente, a exibição do documento não deixa de ser uma forma de produção de prova
documental. Ela encontraria lugar melhor para ser inserida nas Disposições Gerais do Capítulo
referente às provas (Marinoni).

O juiz pode ordenar à parte ou à terceiro particular que exiba documento ou coisa, que se
ache em seu poder. Caso se pretenda a exibição de documento existente em repartição
pública, haver-se-á de recorrer à previsão normativa do art. 399 (ou a previsão correlata em

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legislação extravagante, como nas Leis nº 4.717/65 e 12.016/09, ou mesmo à Lei de Acesso a
Informações, Lei nº 12.527/11).

Legitimado ativo para a exibição é qualquer das partes, sendo legitimado passivo seu
adversário no processo principal ou terceiro em cujo poder se encontre o documento ou a
coisa e, em cada uma dessas hipóteses, haverá um procedimento diferente a ser obedecido.

A natureza jurídica da exibição é dúplice. Dirigindo-se contra a parte será mero incidente
processual, que não culminará diretamente em decisão, mas, ao contrário, na exibição do
documento ou na aplicação da admissão do fato probando na sentença final. De outro lado,
havendo determinação de exibição contra terceiro, existirá verdadeira ação incidental, que
terá por ápice sentença em que o juiz determinará a exibição, liberará o terceiro dessa
imposição (por ter como legítima a recusa em fazê-lo) ou apenas declarará a satisfação da
pretensão à exibição (porque esta ocorreu espontaneamente).

Na petição inicial da “ação de exibição”, além dos requisitos de qualquer petição inicial, deverá
haver a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa; a finalidade da
prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento ou a coisa; e as circunstâncias
em que se funda o requerente para afirmar a existência do documento ou da coisa, bem como
sua localização em mãos do requerido. Este será citado para responder em cinco dias (se se
tratar do adversário do requerente no processo principal) ou em dez dias (se for terceiro
estranho ao processo para onde se pretende carrear a prova).

A exibição será dispensada: se concernente a negócios da própria vida da família; se a sua


apresentação puder violar dever de honra; se a publicidade do documento redundar em
desonra à parte ou ao terceiro, bem como a seus parentes consanguíneos ou afins até o
terceiro grau; ou lhes representar perigo de ação penal; se a exibição acarretar a divulgação de
fatos, a cujo respeito, por estado ou profissão, devam guardar segredo; ou se subsistirem
outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz, justifiquem a recusa de
exibição. Todavia, se os motivos disserem respeito só a uma parte do conteúdo do documento,
da outra se extrairá uma suma para ser apresentada em juízo.

O REQUERIDO TERÁ QUE EXIBIR A COISA


Não se encaixando em tais situações,
OU O DOCUMENTO QUE SE ENCONTRE EM SEU PODER E, EM NÃO
CUMPRINDO A ORDEM, O JUIZ CONSIDERARÁ VERDADEIROS OS FATOS
QUE O REQUERENTE PRETENDIA PROVAR ATRAVÉS DA EXIBIÇÃO
(QUANDO O REQUERIDO FOR SEU ADVERSÁRIO NO PROCESSO
PRINCIPAL – ART. 359); OU EXPEDIRÁ MANDADO DE APREENSÃO SE O
REQUERIDO FOR TERCEIRO (ART. 362).

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19.12. Prova Documental

19.12.1. Conceito de Documento


Documento é o registro de um fato. Ele é uma coisa representativa de um fato. Ele tem que
revelar alguma ideia ou documentar a ocorrência desta.

Para que seja considerado documento, a coisa, além de satisfazer os demais elementos do
conceito, deve ter aptidão para representar outro fato. Se ela não representa fato algum, não
é documento. Ele deve ser obra da atividade humana.

19.12.2. Documento e Prova Documental


O documento é a fonte da prova, é de onde se pode extrair a informação acerca do fato ou do
ato nele representado. A prova documental é o veículo por meio do qual essa fonte vai ser
levada ao processo para análise judicial; é a ponte entre o fato e a mente do juiz.

19.12.3. Prova Documental e Prova Documentada


Nem todo documento constante dos autos representa, necessariamente, uma prova
documental. V.g., a inicial e a sentença são documentos, porém não são provas documentais.

Prova documentada é todo tipo de prova juntada ao processo formalmente, v.g., o


depoimento de uma testemunha, uma perícia. Estas são provas não documentais
documentadas.

Prova documental é o documento fonte de prova, que contém em sua substância um teor
probatório, e não apenas representa um fato de outra prova.

É importante ter isso em mente porque vulgarmente se confunde documento com o papel,
com o suporte em que alguma informação aparece. Isso está errado.

A diferença é que a prova documental é um meio de prova, enquanto a prova documentada


é apenas o suporte de quaisquer meios de prova juntado ao processo.

19.12.4. Importância da Prova Documental


Sua importância está ligada à característica do documento, que é a estabilidade. Por ter o
condão de representar um fato de modo permanente e duradouro, ele é considerado uma
fonte segura.

O legislador optou por não estabelecer, em regra, hierarquia entre os meios de prova,
podendo o magistrado livremente formar o seu convencimento, desde que fundamente sua
decisão (art. 131, CPC).

19.12.5. Elementos do Documento

19.12.5.1. Autoria de Documento

19.12.5.1.1. Autoria Material e Autoria Intelectual

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O autor de um documento é a pessoa a quem se atribui a sua formação. A autoria é um


pressuposto de existência do documento, já que, em sua essência, documento deriva de ato
humano. Nenhum documento gera a si mesmo...

A autoria material é aquela atribuída à pessoa que criou o suporte em que o fato está
representado (quem escreveu o documento, quem gravou a fita etc.).

A autoria intelectual é da pessoa que determinou a feitura da prova, que idealizou o


conteúdo.

Investigar a autoria de um documento é importante para que se possa definir a fé que ele
merece.

19.12.5.1.2. Documento Autógrafo e Heterógrafo


É autógrafo quando a autoria material e intelectual se fundem numa só pessoa; quando
distintos, se dizem heterógrafos.

19.12.5.1.3. Documentos Públicos e Particulares


SERÁ PÚBLICO QUANDO O SEU AUTOR IMEDIATO FOR AGENTE INVESTIDO DE
FUNÇÃO PÚBLICA, E QUANDO A FORMAÇÃO DO DOCUMENTO SE DER NO EXERCÍCIO
DESTA FUNÇÃO. Será particular quando sua autoria imediata se dê por ação de um particular
ou mesmo de um funcionário público, desde que este não se encontre no exercício de suas
funções.

Pode-se dizer que todo documento para cuja formação não participou qualquer agente
público no exercício de suas funções é particular. Logo, documento particular é determinado
por exclusão.

19.12.5.1.4. Subscrição e Identificação da Autoria


Subscrição é a aposição de um sinal exclusivo que comprove a autoria, determinado pelo
legislador. Geralmente ocorre por assinatura ou rubrica, mas também pode ser por
autenticação mecânica ou assinatura digital.

19.12.5.1.6. Autenticidade
É autêntico o documento cuja autoria aparente corresponde à autoria real. Isto é, quando ele
efetivamente provém do autor nele indicado. Essa autenticidade se presume em relação ao
documento público, já que ele faz prova de sua formação (art. 364, CPC). Também reputa-se
autêntico o documento particular se o tabelião reconheceu a firma do signatário, declarando
que foi aposta em sua presença (art. 469, CPC). É o que se chama de reconhecimento por
autenticidade.

Caso o interessado assine fora da presença do tabelião e leve a ele para reconhecimento, tem-
se o reconhecimento por semelhança.

Em todos os casos, porém, tem-se uma presunção juris tantum, que pode ceder em face de
prova contrária.
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405

Quanto ao documento particular cuja firma não tenha sido reconhecida por tabelião, reputar-
se-á autêntico se a parte contrária não impugnar a sua autenticidade no prazo da
contestação, se o documento tiver sido juntado junto à inicial, ou em 10 dias, nos demais
casos, contados da data da intimação para falar sobre ele.

A MERA IMPUGNAÇÃO DA AUTENTICIDADE JÁ FAZ CESSAR A FÉ DO


DOCUMENTO PARTICULAR (ART. 388, I, CPC).
Porém, após comprovada a sua autenticidade, a sua fé retorna.

Esclarecedor o seguinte julgado, acerca da autenticidade de documentos particulares e


públicos (estes, quando assinados na frente de Tabelião e quando reconhecidos por
semelhança):

IMPUGNAÇÃO. ASSINATURA POR SEMELHANÇA. TÍTULO EXTRAJUDICIAL.

A quaestio juris dirimida consistiu nos ônus da prova na hipótese de


contestação de assinatura que teve sua autenticidade reconhecida em
cartório por semelhança. Conforme jurisprudência assente, INCUMBE AO
APRESENTANTE DO DOCUMENTO O ÔNUS DA PROVA DA
AUTENTICIDADE DA ASSINATURA QUANDO IMPUGNADO PELA
PARTE CONTRÁRIA. Contudo, o art. 369 do CPC confere presunção de
autenticidade ao documento quando o tabelião reconhecer a firma do
signatário, declarando que foi aposta em sua presença. NESSE CASO,
CONSIDERA-SE QUE O APRESENTANTE, AO EXIBIR O DOCUMENTO
CUJA ASSINATURA CONTÉM PRESUNÇÃO DE AUTENTICIDADE,
CUMPRE O SEU ÔNUS, DE MODO QUE VOLTA A PREVALECER A
REGRA GERAL DE ÔNUS DA PROVA (art. 389, j, do CPC). No caso, o
recorrido instruiu a execução com documento cuja assinatura foi
reconhecida em cartório, não por autenticidade, mas por semelhança. O art.
369 do CPC, ao conferir presunção de autenticidade ao documento, quando
o tabelião reconhece a firma do signatário, declarando que foi aposta em
sua presença, não exclui a possibilidade de o magistrado considerar
cumprido o ônus do apresentante pela exibição de documento cuja firma
tenha sido reconhecida por semelhança. O RECONHECIMENTO POR
SEMELHANÇA POSSUI APTIDÃO PARA ATESTAR A SIMILITUDE DA
ASSINATURA APRESENTADA NO DOCUMENTO COM RELAÇÃO ÀQUELAS
APOSTAS NA FICHA DE SERVIÇO DO CARTÓRIO, BEM COMO O
RECONHECIMENTO DE FIRMA POR AUTENTICIDADE TEM A FINALIDADE DE
ATESTAR, COM FÉ PÚBLICA, QUE DETERMINADA ASSINATURA É DE CERTA
PESSOA, AINDA QUE COM MENOR GRAU DE SEGURANÇA. Precedente
citado: REsp 908.728-SP, DJe 26/4/2010. REsp 302.469-MG, Rel. Min. Villas
Bôas Cuevas, julgado em 4/10/2011.

19.12.5.2. Conteúdo
Existem duas classificações principais sobre o conteúdo:

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a) Documentos dispositivos: aqueles que contêm uma declaração de vontade, como os


contratos; eles fazem prova de seu conteúdo.

b) Documentos testemunhais: aqueles que contêm uma declaração de ciência (ou


declaração de verdade, ou narrativa ou de fato) como o recibo de pagamento e o B.O.
Eles somente fazem prova de que a declaração neles constante foi feita.

Quando a parte tiver a intenção de provar uma declaração de vontade, os documentos


dispositivos são plenamente eficazes. Porém, o mesmo não se pode dizer dos documentos
testemunhais, os quais têm o condão de provar a declaração (prova somente que a pessoa
testemunhou), não o fato declarado.

19.12.5.3. Suporte
Constitui o elemento físico do documento, a sua expressão exterior; é o elemento material no
qual se imprime a ideia transmitida.

Sua identificação é importante para se aferir a sua estabilidade e durabilidade e a forma pela
qual o juiz deve ter acesso às informações nele representadas.

19.12.6. Eficácia Probatória do Documento

19.12.6.1. Força Probante dos Documentos Públicos

19.12.6.1.1. Fé Pública e Presunção de Autenticidade e de Veracidade do Conteúdo do


Documento Público
O documento público faz prova não só de sua formação, mas também dos fatos que o
escrivão, o tabelião ou o funcionário declarar que ocorreram em sua presença (art. 364, CPC).
A presunção (juris tantum) de autenticidade e de veracidade do conteúdo do documento
público decorre da fé pública, que lhe é reconhecida.

A fé pública cobre a declaração formulada pelo oficial, mas não atribui veracidade ao
conteúdo da declaração formulada pelo interessado ao oficial.

19.12.6.1.2. A Caracterização da Escritura Pública como Prova Plena


O fato de ser prova plena não significa que este tipo de documento é absoluto e que deve
prevalecer sobre todo meio de prova. A interpretação a ser dada é de que, apenas, a sua
autenticidade e a veracidade do seu conteúdo são presumidas, embora essa presunção seja
relativa.

19.12.6.1.3 O Instrumento Público como Forma Solene do Ato Jurídico (art. 366, CPC)
Há casos em que o legislador exige forma especial como sendo da substância do ato jurídico;
às vezes a forma especial exigida é o instrumento público. Em tais casos, o ato somente poderá
ser PROVADO mediante a juntada do instrumento público, não se admitindo outro meio de
prova, por mais especial que seja.

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Veja bem: isso não quer dizer que o ato não ocorreu, mas sim que sua prova, se não
apresentado o instrumento solene, não será reconhecida, não podendo o fato ser provado
perante a Justiça ou invocado perante terceiros.

Trata-se de resquício do sistema de tarifamento das provas, configurando em exceção à regra


geral do livre convencimento motivado.

Como exemplos, pode-se citar:

CC/02, Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é


essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de
valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

CC/02 Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente


testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o
décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram
celebrados.

Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova


testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por
escrito.

19.12.6.1.4. O Documento Público Irregular (art. 367, CPC)


O documento, feito por oficial público incompetente, ou sem a observância das formalidades
legais, sendo subscrito pelas partes, TEM A MESMA EFICÁCIA PROBATÓRIA DO
DOCUMENTO PARTICULAR.

Qual a diferença? É que se a parte impugnar a validade de um instrumento particular, o ônus


da prova de sua validade recai sobre a parte contrária. O mesmo ocorrerá com o documento
público irregular, se puder ser tido como prova.

Apesar de a incompetência ser vício sanável de ato administrativo, ela vem sendo relevada
pelo exercício da função de fato (aparência de legitimidade e legalidade) e se demonstrada a
boa fé da parte. Trata-se da aplicação da teoria do funcionário de fato. Porém, devem ser
feitas algumas observações:

a) O documento irregular somente poderá ser aproveitado, atribuindo-se-lhe a eficácia


de um documento particular, nos casos em que a forma pública não seja substancial,
casos em que a conversão seria inútil, já que o ato seria considerado inexistente ante a
irregularidade formal;

b) Somente se admitirá o aproveitamento do documento público irregular como


documento particular se e na medida em que estiverem satisfeitos os requisitos de
validade e as condições de eficácia deste último.

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Se para a eficácia probatória do documento particular não se exigir subscrição, o documento


público irregular terá a força probatória do documento particular, ainda que não subscrito
pelas partes.

19.12.6.2. Força Probante dos Documentos Particulares

19.12.6.2.1. Autenticidade e Veracidade do Conteúdo do Documento Particular (art. 368, CPC)


As declarações constantes do documento particular, escrito e assinado, ou somente assinado,
presumem-se verdadeiras em relação ao signatário, caso este não impugne o conteúdo ou a
autenticidade do documento na forma e prazos legais, se apresentado o documento pela parte
contrária (art. 372, CPC) ou se a sua autenticidade for induvidosa porque reconhecida pelo
tabelião ou admitida expressamente pela parte.

Logo, pode-se deduzir o seguinte:

a) O reconhecimento expresso da autenticidade e da veracidade das declarações


contidas no documento pode ser anulado quando se demonstrar ter-se produzido por
erro de fato ou coação. Ou seja, cessa a eficácia da admissão expressa ou tácita.

Configurado o erro ou a coação, caberá à parte que admitiu a autenticidade buscar a


sua invalidação, por meio de ação anulatória, se pendente o processo, ou ação
rescisória, se já houver transitado em julgado a decisão baseada no documento
admitido.

b) As declarações lançadas num documento, sejam elas narrativas ou dispositivas, não


podem ser presumidas verdadeiras em relação a quem não o subscreveu.

c) As declarações lançadas num documento, sejam elas narrativas ou dispositivas, fazem


prova contra o signatário, no que lhe for desfavorável.

d) As declarações lançadas num documento, sendo favoráveis ao signatário, não lhe


servem de prova contra a outra parte, se esta não participou de sua formação – seria o
chamado documento unilateral. Excepciona-se esta regra no caso dos livros
empresariais.

19.12.6.2.2. Eficácia Probatória dos Documentos Testemunhais (art. 368, p. único, CPC)
Documento testemunhal é aquele que contém uma declaração narrativa; quando o
documento particular contiver declaração de ciência relativa a determinado fato, ele prova a
declaração, mas não o fato declarado, cabendo ao interessado em sua veracidade o ônus de
prová-lo.

Nisso reside a diferença em relação aos documentos dispositivos, os quais provam também o
seu conteúdo.

19.12.6.2.3. Eficácia Probatória do Telegrama, Fax e Outros Meios de Transmissão de Dados


Eles têm a mesma força probatória do documento particular, se o original constante da
estação expedidora foi assinado pelo remetente (art. 374, CPC).
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19.12.6.2.4. Eficácia Probatória dos Livros Comerciais e da Escrituração Contábil


Os livros comerciais provam contra o seu autor, ainda que irregularmente preenchidos. Porém,
é lícito ao empresário demonstrar que os lançamentos realizados não correspondem à
verdade. Assim, a prova é relativa.

Os livros comerciais, quando preencherem os requisitos exigidos por lei e forem escriturados
sem vícios extrínsecos ou intrínsecos, provam também a favor do seu autor, desde que
confirmados por outros subsídios.

Porém, tais provas não serão suficientes nos casos em que a lei exige escritura pública, ou
escritos particulares revestidos de requisitos especiais, e pode ser elidida pela composição
da falsidade ou inexatidão dos lançamentos (art. 226, p. único).

19.12.6.2.5. Indivisibilidade do Documento Particular (art. 373, p. único) e da Escrituração


Contábil (art. 380, CPC)
O documento particular, admitido expressa ou tacitamente, é indivisível, sendo defeso à parte
que dele pretende valer-se aceitar os fatos que lhe são favoráveis e recusar os que são
contrários ao se interesse, salvo se provar que estes não se verificaram.

Porém, mesmo que um documento contenha declarações favoráveis e desfavoráveis a uma


determinada parte, isso não impede o juiz de julgar a demanda em favor dela, face o princípio
do livre convencimento motivado.

19.12.6.3. Originais, Cópias, Certidões e Traslados


Fazem a mesma prova que os originais:

a) As certidões de qualquer peças dos autos, do protocolo das audiências ou outro livro a
cargo do escrivão, sendo extraídas por ele ou sob sua vigilância e por ele subscritas;

b) Os traslados e as certidões extraídas por tabelião ou oficial público, de instrumentos


ou documentos lançados em suas notas;

c) As reproduções de documentos públicos, desde que autenticadas por oficial público


ou conferidas em cartório, com os respectivos originais;

d) As cópias reprográficas de peças do processo judicial, quando declaradas autênticas


pelo próprio advogado sob sua responsabilidade pessoal, se não lhes for impugnada a
autenticidade.

19.12.7. Vícios do Documento: a Irregularidade e a Falsidade


Vícios extrínsecos são aqueles que dizem respeito à sua forma, como, v.g., a inobservância de
formalidades legais ou dos critérios de competência para a formação de um documento
público, existência de entrelinhas, emendas, borrões etc. São vícios ligados ao suporte, em
regra.

Vícios intrínsecos são aqueles inerentes ao seu conteúdo, isto é, à essência do documento ou
à substância do ato ou fato nele representado.

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NEM SEMPRE O VÍCIO GERA A FALSIDADE DO DOCUMENTO, JÁ QUE ESTA CONSISTE EM


FORMAR DOCUMENTO NÃO VERDADEIRO OU ALTERAR DOCUMENTO VERDADEIRO.

A falsidade material consiste na ofensa à verdade devido à formação de documento falso ou a


alterações introduzidas em documento verdadeiro (falsidade do suporte).

Ocorre falsidade ideológica quando, em um documento verdadeiro, são expostos fatos ou


declarações desconformes a verdade (falsidade do conteúdo).

A falsidade pode ser arguida como questão incidental no processo ou por meio de pedido de
declaração incidental de falsidade.

A simples contestação da assinatura aposta num documento particular ou a alegação de que


fora abusivamente preenchido já é suficiente para impedir que sobre um documento
particular incida a presunção de autenticidade e veracidade (art. 388, CPC), transferindo para a
parte que juntou o documento o ônus de provar sua veracidade.

Isso não ocorrerá, quando a questão sobre a autenticidade recair sobre a assinatura da pessoa
subscrevente, quando tiver o documento sido reconhecido em cartório, seja por autenticidade
ou por semelhança.

AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO. OPÇÃO DE NACIONALIDADE. PROVAS


NOS AUTOS. AUSÊNCIA DE TRADUÇÃO DOS DOCUMENTOS. LINGUA
ESPANHOLA. DISPENSABILIDADE.

1. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que em se tratando de


documento redigido em língua estrangeira, cuja validade não se contesta e
cuja tradução não se revele indispensável para a sua compreensão, não se
afigura razoável negar-lhe eficácia de prova tão-somente pelo fato de ter
sido o mesmo juntado aos autos sem se fazer acompanhar de tradução
juramentada, máxime quando não resulte referida falta em prejuízo para
quaisquer das partes, bem como para a escorreita instrução do feito (pas de
nulitté sans grief).

2. Desnecessária a tradução, se o documento é redigido em língua


espanhola. Precedentes TRF/1ª Região.

3. Agravo regimental da União improvido (AGRAC 2005.38.00.042441-8/MG,


Relator DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA, QUINTA
TURMA, Publicação 22/06/2012 e-DJF1 P. 587, Data Decisão 06/06/2012).

19.12.8. Produção da Prova Documental

19.12.8.1. Momento da Proposição e Produção da prova


Em regra, os momentos de proposição e de produção da prova documental são os mesmos. Ao
requerer a prova documental, a parte já a produz, protocolando-a aos autos. A parte deve
instruir a inicial ou a resposta com os documentos destinados a provar-lhe as alegações (art.
396).

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Substanciais são os documentos que a lei expressamente exige para que a demanda seja
proposta. Fundamentais são os documentos que se tornam indispensáveis porque o autor a
eles se referiu na petição inicial, como fundamento do seu pedido.

Faltando um desses documentos na inicial, cabe ao juiz intimar o autor para emendá-la, na
forma do art. 284 do CPC.

O momento final de petição de produção de provas ocorre quando o juiz manda as partes
especificarem as provas que desejam produzir, com o despacho saneador que encerra a fase
ordinatória/saneadora do processo. Se as partes não especificarem as provas ou deixarem de
especificar alguma daquelas que poderiam/deveriam ter produzido, para elas ocorre a
preclusão temporal/consumativa, respectivamente.

Isso é extremamente importante, especialmente com a consideração da regra do ônus da


prova prevista no art. 333, I, do CPC.

Entretanto, especificamente em relação ao juiz, ele poderá determinar a produção probatória


a qualquer tempo, eis que o destinatário da prova (art. 130, CPC). Deverá, no entanto, fazê-lo
com cautela, pois corre o risco de acabar atuando como se fosse advogado de uma das partes,
perdendo a imparcialidade e, por consequência, ferindo o devido processo legal substantivo.

Tal faculdade processual do juiz deve ser prefencialmente exercida somente nos casos em que
há hipossuficientes em algum dos polos processuais, como em ações previdenciárias em geral
e SFH.

19.12.8.2. Juntada Posterior de Documentos


EM REGRA É VEDADA A JUNTADA POSTERIOR DE DOCUMENTO, salvo nas seguintes
situações:

a) Quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois de articulados ou para


contrapô-los aos que foram produzidos nos autos;

b) Quando o documento estiver em poder de repartição pública, caso em que poderá ser
requisitado (art. 399, CPC);

c) Quando o documento estiver em poder da parte adversária ou de terceiro particular,


caso em que poderá ser determinada a sua exibição em juízo (art. 355 e seguintes,
CPC).

Porém, mesmo fora dos casos previstos expressamente em lei, se o juiz observar que a juntada
posterior não causa tumulto algum ao processo, tampouco foi pleiteada temerariamente pela
parte, poderá admiti-la.

19.12.8.3. Possíveis Atitudes da Parte contra quem a Prova Documental é Produzida


a) Impugnar a juntada do documento, ao fundamento de que a prova documental,
naqueles casos, é inadmissível; é o que ocorre, v.g., quando o fato probando só é
admissível por prova pericial;

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b) Admitida expressa ou tacitamente a prova documental, pode a parte arguir a falsidade


do documento através do pedido de declaração incidental. Se for principaliter tantum,
fará coisa julgada (art. 387, p. único);

c) Admitida expressa ou tacitamente a prova documental, pode a parte suscitar a


falsidade do documento, impugnando a sua autenticidade ou o seu conteúdo, em
questão incidenter tantum, que não fará coisa julgada material. O prazo é o mesmo da
contestação, se a prova foi juntada com a inicial, ou de 10 dias contados da intimação,
se juntada em outra oportunidade;

d) Pode ainda negar a capacidade probatória do documento.

19.12.9. Meios de Obtenção da Prova Documental

19.12.9.1. Requisição de Documentos


O juiz requisitará documentos às repartições públicas, em qualquer tempo e grau de jurisdição,
para provar as alegações das partes. Recebidos os documentos, o juiz mandará extrair, no
prazo máximo e improrrogável de 30 dias, certidões ou reproduções fotográficas das peças
necessárias, devolvendo os autos à repartição de origem (art. 399, § 1º, CPC).

Tais documentos poderão ser requisitados pelo juiz de ofício, face o seu poder instrutório
(art. 130), a fim de que possa melhor formar a sua convicção e melhor decidir.

19.12.9.2. Exibição de Documento ou Coisa


A exibição de documento não é um meio de prova, mas sim um meio de obtenção de
elementos de prova. Caso o documento se encontre em mãos da parte adversária, ter-se-á
um incidente processual. Caso se encontre em mãos de terceiros, ter-se-á um processo
incidente.

O tema já foi estudado no item 19.11.

19.12.10. Arguição de Falsidade (arts. 390 a 395)

19.12.10.1. Noção
De acordo com Marinoni, o incidente de falsidade caberá sempre em relação às falsidades
materiais. Quanto às falsidades intelectuais, será necessário distinguir: se tratar-se de
documento narrativo (testemunhal), também a arguição pelo incidente será viável, já que se
pretende apenas declarar o documento como inábil para a prova de certo fato; se o
documento, ao contrário, for constitutivo (declaratório), então será necessário propor ação
própria que objetive à desconstituição do ato jurídico (representado pelo documento)
viciado.

Por outras palavras, se o interesse da parte limitar-se a buscar a negativa do valor do


documento como prova no processo, questionando sua autenticidade, apenas, então ficará
aberta a via do incidente. Se, porém, seu interesse for além, pretendendo questionar a própria
relação jurídica refletida no documento, então a questão deixa de ser incidental à demanda

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outra, passando a assumir estrutura e feição próprias, o que exigirá a propositura de ação
autônoma, destinada a desconstituir a relação jurídica.

19.12.10.2 Natureza Jurídica e Finalidade


Assim, o objeto da arguição é uma questão de fato (autenticidade ou falsidade de um
documento) que é prejudicial ao objeto litigioso. Essa questão tem que ser apta a influenciar
na resolução do próprio mérito da demanda.

O incidente de arguição de falsidade é, em verdade, uma ação declaratória incidental


(demanda incidental), cuja formulação tem o condão de ampliar objetivamente o objeto
litigioso do processo, acrescentando-lhe mais uma questão principal para ser decidida

Seu objetivo é fazer com que uma questão passe a ser resolvida e decidida principaliter
tantum, a fim de que sua solução seja abarcada pela coisa julgada material.

A única diferença existente em relação ao tempo de sua proposição reside no modus operandi:
se antes de encerrada a instrução, a petição comporá os autos do processo principal; suscitada
após, a petição será autuada em apenso (art. 393, CPC).

19.12.10.3. Legitimidade e Interesse


Tem legitimidade para propor a falsidade o sujeito parcial contra quem foi produzido o
documento (art. 390). Poderá também o MP, como custos legis, propor a arguição, mas apenas
como incidente do processo, e não como demanda incidental.

Ela deverá ser deduzida contra o sujeito que trouxe aos autos a prova, ainda que haja
litisconsorte. Se o documento foi trazido aos autos de ofício pelo juiz, deve ser deduzida
contra o beneficiado.

Nesta ação declaratória incidental de falsidade de documento o ônus de provar a falsidade


cabe à parte que arguiu o incidente. Porém, se a falsidade disser respeito à assinatura do
documento, o ônus caberá a quem assinou ou a quem juntou o documento aos autos (art. 389,
II).

19.12.10.4. Procedimento
Suscitado o incidente por petição escrita, o juiz suspenderá o processo principal (o que se tem,
na verdade, é uma suspensão imprópria do processo, já que parte dele, o incidente,
continuará tramitando).

Na petição, a pessoa deve expor a causa de pedir, formular pedido de declaração de falsidade
e indicar os meios de prova a serem utilizados na instrução do fato (art. 391, CPC).

Se o incidente ocorrer no tribunal, a petição deverá ser dirigida ao relator do processo (art.
393).

Arguida a falsidade do documento, a parte que carreou o documento aos autos será intimada
para oferecer resposta no prazo de dez dias, devendo o órgão jurisdicional, a seguir,
determinar a realização de prova pericial. A sentença, que resolver o incidente, declarará a
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falsidade ou autenticidade do documento. A natureza deste provimento jurisdicional é, para


alguns autores, decisão interlocutória, recorrível mediante agravo; contudo, a doutrina
majoritária entende tratar-se de verdadeira sentença. Assim, por sentença única, o juiz
decidirá a demanda principal e a demanda incidental de declaração de falsidade do
documento.

Por fim, a sentença que declarar a falsidade (ou a autenticidade) do documento transita em
julgado apenas inter partes (art. 472).

19.12.11. Prova Documental Eletrônica


A Lei nº 11.419/2006 decidiu enfrentar o tema espinhoso da prova eletrônica, buscando dar
parâmetros mais estáveis para sua disciplina. Em grande parte, sua inovação fica por conta da
eleição de instrumento de certificação digital, capaz de conferir maior segurança aos
documentos que circulam por meio eletrônico ou que são guardados em meio telemático.
Segundo prevê o art. 11 da lei, os documentos produzidos eletronicamente – anexados em
processos eletrônicos – têm o mesmo valor dos originais, desde que produzidos com a garantia
de sua autenticidade (certeza de sua autoria). A lei atribui ao impugnante o ônus da prova
quanto à demonstração da inexatidão da prova produzida nos termos da legislação que trata
da prova eletrônica.

A Lei nº 11.419/06 acrescentou ainda três incisos e dois parágrafos ao art. 365 do CPC, que
trata da força probante das cópias:

Art. 365. Fazem a mesma prova que os originais:

(...)

IV - as cópias reprográficas de peças do próprio processo judicial declaradas


autênticas pelo próprio advogado sob sua responsabilidade pessoal, se não
lhes for impugnada a autenticidade. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).

V - os extratos digitais de bancos de dados, públicos e privados, desde que


atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que as informações
conferem com o que consta na origem; (Incluído pela Lei nº 11.419, de
2006).

VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento, público ou


particular, quando juntados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus
auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias,
pelas repartições públicas em geral e por advogados públicos ou privados,
ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração antes ou
durante o processo de digitalização. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).

§ 1o Os originais dos documentos digitalizados, mencionados no inciso VI


do caput deste artigo, deverão ser preservados pelo seu detentor até o
final do prazo para interposição de ação rescisória. (Incluído pela Lei nº
11.419, de 2006).

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§ 2o Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudicial ou outro


documento relevante à instrução do processo, o juiz poderá determinar o
seu depósito em cartório ou secretaria. (Incluído pela Lei nº 11.419, de
2006).

19.13. Prova Testemunhal

19.13.1. Noções Gerais


Conceitua-se testemunha como sendo a pessoa estranha ao feito (pois se for parte o que se
tem é depoimento pessoal) que vai a juízo dizer o que sabe sobre os fatos da causa. Não
podem ostentar essa condição aqueles que, no processo, assumem a função de parte (como
seria o nomeado à autoria, o chamado ao processo, o opoente, o denunciado à lide e o
assistente litisconsorcial).

Em regra, a testemunha depõe em juízo sobre o que presenciou; contudo, a testemunha pode
presenciar também o que não vê, mas apenas ouve, como, por exemplo, os gritos
provenientes da casa do vizinho. Em geral, não há utilidade no depoimento referencial, aquele
em que a testemunha narra que ouviu de alguém algo sobre fato que interessa para o
processo, todavia, esse tipo de depoimento, embora não se preste como prova testemunhal,
pode configurar indício.

A prova testemunhal é a mais antiga das que se tem notícia. A testemunha pode ser:

a) Presencial: a que pessoalmente presenciou o fato probando;

b) De referência: a que soube do fato por meio de terceira pessoa;

c) Referida: aquela cuja existência foi apurada por meio de outro depoimento;

d) Judiciária: a que relata em juízo o seu conhecimento a respeito do fato;

e) Instrumentária: a que presenciou a assinatura do instrumento do ato jurídico e o


firmou.

A prova testemunhal, em regra admissível, é vedada para a comprovação de fatos já provados


por documento ou confissão da parte (art. 400, I) ou que só por documento ou exame pericial
puderem ser provados (art. 400, II).

19.13.2. Limitações à Prova Exclusivamente Testemunhal: Negócio Jurídico cujo Valor Exceda
10 SM
Não se admite a prova testemunhal como ÚNICA fonte de prova em negócios jurídicos cujo
valor ultrapasse 10 salários mínimos ao tempo em que foi celebrado (assim, o valor não deve
ser apurado com base no SM atual).

Porém, há exceções.

Admitir-se-á a prova testemunhal, qualquer que seja o valor do negócio, quando:

a) Houver começo de prova por escrito;


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b) O credor não pode ou não podia, moral ou materialmente, obter a prova escrita da
obrigação. Deve, logicamente, essa condição ser comprovada.

19.13.3. Capacidade para Testemunhar


Nem todos podem testemunhar.

São incapazes:

a) O interdito por demência;

b) O que, acometido por enfermidade, ou debilidade mental, ao tempo em que


ocorreram os fatos, não podia discerni-los; ou, ao tempo em que deve depor, não está
habilitado a transmitir as percepções;

c) O menor de dezesseis anos;

d) O cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes faltam.

São impedidos:

a) O cônjuge, bem como o ascendente e o descendente em qualquer grau, ou colateral,


em terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou afinidade, salvo se o
exigir o interesse público, ou, tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, não
se puder obter de outro modo a prova, que o juiz repute necessária ao julgamento do
mérito;

b) O que é parte na causa;

c) O que intervém em nome de uma parte, como o tutor na causa do menor, o


representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros, que assistam ou
tenham assistido as partes.

São suspeitos:

a) O condenado por crime de falso testemunho, havendo transitado em julgado a


sentença;

b) O que, por seus costumes, não for digno de fé;

c) O inimigo capital da parte, ou o seu amigo íntimo; e o que tiver interesse no litígio.

Sendo estritamente necessário, o juiz ouvirá testemunhas impedidas ou suspeitas; o juiz


poderá admitir o depoimento dessas pessoas para a prova de fatos que só elas conheçam.

Porém, o recurso à testemunha impedida deve ser tido como exceção, para suprir a falta das
desimpedidas, sempre sujeita ao prudente arbítrio do juiz.

Decidindo o magistrado ouvir tais pessoas, deverá tê-las apenas como informantes, não
prestando compromisso de dizer a verdade (art. 405, § 4º).

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Caso o juiz tenha conhecimento dos fatos da causa ou nada saiba, deverá, respectivamente,
reconhecer o seu impedimento para julgá-la ou excluir o seu nome do rol de testemunhas (art.
409, I e II).

Em síntese, o legislador cuidou de enumerar uma série de pessoas cujo testemunho deve ser
visto com reserva, quando não for absolutamente inadmissível. SEMPRE, PORÉM, QUE A
ELUCIDAÇÃO DOS FATOS RELEVANTES PARA A CAUSA DEPENDER DA OUVIDA DE TAIS
PERSONAGENS, OU PUDER POR ELA SER FACILITADA, DEVE O MAGISTRADO DETERMINAR A
COLHEITA DA PROVA ORAL, QUE SE REALIZARÁ SEM QUE SE PRESTE COMPROMISSO. NA
HORA DO JULGAMENTO, O MAGISTRADO, DE ACORDO COM A REGRA QUE LHE CONFERE O
LIVRE CONVENCIMENTO, DARÁ AOS TESTEMUNHOS O VALOR QUE MERECEREM.

No curso da audiência, logo no início de sua oitiva, a testemunha pode requerer ao juiz que a
escuse de depor, alegando os motivos de que trata o artigo 406; ouvidas as partes, o juiz
decidirá de plano.

19.13.4. Local e Tempo do Testemunho


A prova testemunhal deverá ser produzida perante o juiz da causa, durante a AIJ. É ato
processual interno que deve ser realizado na sede do juízo. Há exceções:

a) Oitiva de testemunha por outro juiz: quando feito por carta;

b) Oitiva fora da sede do juízo: seja por doença ou motivo relevante (art. 410, III), seja
pelo fato de as testemunhas serem consideradas pessoas egrégias (art. 411, CPC)

19.13.5. Juntada do Rol e Intimação da Testemunha


Cabe às partes o ônus de juntar o rol de testemunhas no prazo determinado na audiência
preliminar ou no despacho saneador. Acaso o juiz não fixe prazo, prevê o art. 407 um prazo
supletivo de 10 dias.

Se o procedimento for o sumário, o rol de testemunhas deverá obrigatoriamente vir na inicial,


sob pena de preclusão.

As partes poderão oferecer, no máximo, 10 testemunhas; quando qualquer delas oferecer


mais de 03, o juiz poderá dispensar as restantes (art. 407, p. único). Se houver litisconsórcio
unitário, o limite decenal é comum; se simples, cada litisconsorte poderá oferecer 10.

A intimação da testemunha poderá ser feita por correio, com AR, ou com entrega em mão
própria, quando a testemunha tiver residência certa (art. 412, caput e § 3º).

Figurando como testemunha funcionário público ou militar, o juiz os requisitará ao chefe da


repartição ou do comando em que servir, respectivamente.

Deixando de comparecer injustificadamente, haverá condução coercitiva da testemunha,


respondendo ela pelas despesas referentes ao adiamento da AIJ (art. 412, caput).

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19.13.6. Substituição da Testemunha (art. 408)


Após apresentado o rol de testemunhas, a parte somente poderá realizar a substituição de
alguma:

a) Se houver falecimento;

b) Se, por enfermidade, não estiver em condições de depor;

c) Tendo mudado de residência, não for encontrada pelo oficial de justiça (art. 408, CPC).

19.13.7. Procedimento de Colheita do Depoimento


No sistema brasileiro de processo civil, diferentemente do processo penal, as partes não
realizam perguntas diretamente às testemunhas. Elas devem ser dirigidas ao juiz, o qual
questionará a testemunha, podendo indeferir perguntas que julgar impertinentes (art. 413).

O procedimento é o seguinte:

a) Magistrado formula suas perguntas à testemunha sobre o fato probando;

b) Faculta-se à parte que arrolou a testemunha formular outras perguntas para


esclarecer ou completar o depoimento;

c) Faculta-se à parte contrária proceder aos seus questionamentos.

Primeiramente serão ouvidas as testemunhas do autor; depois, as do réu, não podendo uma
testemunha ouvir o depoimento da outra (art. 413).

Antes de iniciar a inquirição, deve o magistrado tomar da testemunha o compromisso de dizer


a verdade do que souber e lhe for perguntado, incorrendo em crime de falso testemunho caso
minta ou omita a verdade (art. 415).

Entretanto, poderão as testemunhas alegar todos os fatos de escusa de depor permitidos em


lei, previstos no art. 406 do CPC.

CARTA ROGATÓRIA. OITIVA REQUERIDA ANTES DO SANEAMENTO.


SUSPENSÃO DO PROCESSO. CONDIÇÕES.

A Turma entendeu que a prova testemunhal por precatória ou rogatória


requerida nos moldes do art. 338 do CPC não impede o juiz de julgar a ação,
muito menos o obriga a suspender o processo, devendo fazê-lo apenas
quando considerar essa prova imprescindível, assim entendida aquela sem a
qual seria inviável o julgamento do mérito. A prova meramente útil,
esclarecedora ou complementar, não deve obstar o curso regular do
processo. Ademais, nos termos do art. 130 do CPC, não há preclusão
absoluta em matéria de prova, até por se tratar de questão de ordem
pública. Mesmo proferido o despacho saneador, o juiz pode, mais tarde,
determinar a realização de outras provas, caso entenda ser a providência
necessária à instrução do processo. REsp 1.132.818-SP, 3T, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 3/5/2012.

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19.13.8. Contradita das Testemunhas


É licito à parte contraditar a testemunha, arguindo-lhe a incapacidade, o impedimento ou a
suspeição. Se a testemunha negar os fatos que lhe são imputados, a parte poderá provar a
contradita com documentos ou com testemunhas, até três, apresentadas no ato e inquiridas
em separado. Sendo provados ou confessados os fatos, o juiz dispensará a testemunha, ou lhe
tomará o depoimento, observando o disposto no art. 405, § 4º.

19.13.9. Documentação do Testemunho


O testemunho deverá ser documentado, seja por transcrição em ata, datilografia ou outra
forma de registro idôneo (art. 417). Ao final, deverá ser assinado pelos procuradores, juiz e
depoente.

Havendo divergência entre os depoimentos colhidos, pode o magistrado determinar, de ofício


ou a requerimento, a acareação dos depoentes, a fim de esclarecer a controvérsia (art. 418, II)

19.14. Prova Pericial

19.14.1. Conceito e Generalidades


Existem casos em que o julgamento do mérito da causa depende de conhecimentos técnicos
de que o magistrado não dispõe. Nesses casos, deverá ele recorrer ao auxílio de um
especialista, o perito, auxiliar da justiça. Não importa que o magistrado que está tratando da
causa, em virtude de capacitação técnica individual e específica (porque é, por exemplo,
formado em engenharia), tenha conhecimento para analisar a situação controvertida. Se a
capacitação requerida não estiver dentro dos parâmetros daquilo se pode esperar de um
juiz, não há como se dispensar a prova pericial. É que o resultado de uma prova pericial só é
legítimo quando tiver sido facultado às partes participar em contraditório da sua formação.
(Marinoni).

O juiz sempre orientará e presidirá as atividades do perito, o qual é um auxiliar do juízo, que
deverá atuar:

a) Por simples percepção técnica, ou seja, apenas declarando a ciência dos fatos;

b) Por afirmação de juízo técnico, formulando um parecer.

Segundo Didier, sempre que as noções técnicas exigidas para a elucidação dos fatos
extrapolarem o conhecimento esperado de um homem médio, a prova pericial será
necessária.

19.14.2. Fontes da Prova Pericial


Na prova pericial pessoas ou coisas serão as fontes de prova, pois podem ser objeto do exame.
A jurisprudência do STF já há muito firmou o entendimento de que ninguém pode ser coagido
a se submeter a exame pericial na esfera cível.

Porém, tal fato causa prejuízo a quem se recusa, podendo o juiz presumir a veracidade do fato
a ser provado, a favor da contraparte.

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Se a coisa a ser examinada estiver em poder das partes ou de uma repartição pública, o
próprio perito poderá solicitá-la (art. 429).

O juiz deve tomar todas as providências para que a solicitação do perito seja atendida,
podendo considerar, em caso de descumprimento, verdadeiras as alegações que a perícia viria
provar (art. 359).

19.14.3. Espécies de Perícia


a) Exame: é o ato de inspeção de pessoas e bens móveis ou semoventes;

b) Vistoria: é o ato de inspeção de bens imóveis;

c) Avaliação: é a atividade de fixação do valor de coisas e direitos.

A perícia poderá consistir apenas na inquirição do perito e dos assistentes técnicos, quando da
audiência de instrução e julgamento, a respeito das coisas que houverem informalmente
avaliado ou examinado, toda vez que a natureza do fato probandi o permitir.

Poderão as perícias ser, ainda:

a) Extrajudiciais ou amigáveis: aquelas promovidas fora do processo em comum acordo


das partes (v.g., aposentadoria por invalidez no INSS);

b) Necessárias ou obrigatórias: aquelas impostas pelo legislador como meio adequado


para a verificação de certos fatos, etapa necessária do procedimento.

19.14.4. O Perito e o Assistente Técnico

19.14.4.1. O Perito e suas Funções


O perito é um auxiliar da justiça, que contribui para o julgamento da causa, transmitindo ao
juiz suas impressões técnicas e científicas sobre os fatos postos à sua apreciação,
manifestando-se no laudo pericial.

O laudo pericial é o instrumento escrito apresentado pelo perito, no qual ele registra suas
respostas aos quesitos, que devem ser expostos de maneira objetiva, abordando os pontos
controvertidos.

Difere-se sua função das testemunhas, pois a estas cabe narrar fatos que foram objeto de
percepção sensorial, com uma visão leiga, e não constatar ou fazer um juízo técnico sobre eles.

Ao perito não é dado opinar sobre questões jurídicas, interpretando lei ou citando
jurisprudência. O PERITO NÃO PRESTA TERMO DE COMPROMISSO (art. 422 c/c 146),
entretanto deverá cumprir escrupulosamente o seu encargo.

19.14.4.2. Requisitos para a Escolha do Perito


Ele deve ser pessoa física ou jurídica, com aptidão técnica para periciar o objeto.

Se a perícia versar sobre autenticidade ou falsidade de documento ou sobre medicina legal,


deve-se dar preferência aos estabelecimentos oficiais especializados.
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Para que se produza a prova pericial, o juiz deve nomear expert de sua confiança, fixando
desde logo o prazo para a entrega do laudo pericial.

A confiança em nada se confunde com amizade ou proximidade do magistrado, mas tão-


somente na qualidade do trabalho pericial, apto aos fins que se colima.

19.14.4.3. Nomeação de Mais de um Perito. Perícia Complexa

19.14.4.4. Escusa ou Recusa do Perito


Poderá haver escusa quando o perito alegar motivos justos e legítimos, dentre eles seu
impedimento ou suspeição (art. 138, III, 146 e 423, CPC).

A escusa deverá ser apresentada no prazo de 05 dias, contados da juntada do despacho


intimação.

Poderá haver recusa, que é a repulsa do perito pelas partes, por impedimento ou suspeição ou
por ser o perito inabilitado para atuar na causa (art. 147).

A recusa deverá ser processada via incidente processual não suspensivo, a ser processado em
autos apartados.

Ao aceitar a escusa ou ao julgar procedente a recusa, o juiz nomeará novo perito e a parte
poderá indicar outro assistente técnico.

19.14.4.5. Substituição do Perito


A princípio, a substituição é admitida nas seguintes hipóteses:

a) Quando o perito não detiver conhecimentos técnicos suficientes (art. 424);

b) Quando, sem justo motivo, não apresentar o laudo no prazo fixado pelo juiz, fato este
que consiste em falta grave (art. 424, p. único);

c) Quando a escusa ou recusa forem aceitas.

No caso da letra b, o perito será multado e o juiz comunicará a ocorrência ao Conselho


Profissional respectivo.

19.14.4.6. Assistente Técnico e suas Funções


O assistente técnico é um auxiliar da parte, não do juízo. Sendo assim, ele não tem a obrigação
de prestar compromisso e não se submete às hipóteses de impedimento e suspeição (art.
422). Ele é parcial e livremente indicado pelas partes, se manifestando via parecer técnico.

19.14.5. Admissibilidade da Prova Pericial


A perícia é prova onerosa, complexa e demorada. Por isso, só deve ser admitida quando
imprescindível para a elucidação dos fatos.

Toda vez que se puder verificar a verdade dos fatos de forma mais simples e menos custosa, a
perícia deve ser dispensada ou indeferida pelo juiz.

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Caso requerida a perícia e denegada, o juiz deve fundamentar os motivos de sua decisão, ainda
que brevemente. Poderá haver a dispensa da perícia, também, quando as partes, na inicial e
na contestação, já tiverem trazido seus pareceres técnicos (art. 427).

É admissível a prova pericial nos juizados especiais cíveis, conforme art. 35 da Lei nº
9.099/95. Ademais, ela é amplamente utilizada nas causas previdenciárias dos juizados
especiais federais.

Se for requerida a perícia e o juiz a indeferir, a parte deve agravar de imediato, sob pena de
preclusão.

19.14.6. Procedimento da Produção da Prova Pericial


A PROVA PERICIAL PODERÁ SER DETERMINADA PELO JUIZ DE OFÍCIO
(ART. 130) OU REQUERIDA PELAS PARTES. O requerimento, em regra, será
formulado na fase postulatória, na petição inicial ou na contestação, podendo ocorrer em
outras fases caso surjam fatos novos.

Quando a prova tiver de realizar-se por carta, poderá proceder-se à nomeação de perito e
indicação de assistentes técnicos no juízo ao qual se requisitar a perícia.

No procedimento sumário, só pode ser requerida na inicial ou na contestação, sob pena de


preclusão, devendo os quesitos serem apresentados desde logo (art. 276).

As partes devem ser intimadas da decisão de nomeação do perito para que, no prazo de 05
dias, indiquem seus assistentes técnicos e formulem quesitos, os quais serão submetidos a um
“filtro” do juiz (art. 246).

Também pode o juiz formular quesitos (o que geralmente é feito), até mesmo no curso da
perícia (art. 426).

O resultado da perícia somente será constitucionalmente legítimo quando as partes e seus


assistentes tiverem participado de sua formação, garantido o contraditório.

O laudo pericial deve ser apresentado no prazo fixado pelo juiz, pelo menos 20 dias antes da
realização da AIJ.

Para o desempenho de sua função, pode o perito utilizar-se de todos os meios necessários,
ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder
de parte ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com plantas, desenhos,
fotografias e outras peças quaisquer.

Apresentado o laudo, os assistente terão o prazo comum de 10 dias, após intimados, para
oferecer seus pareceres técnicos. Não há prazo em dobro, ainda que os litisconsortes tenham
procuradores diferentes.

Embora a prova pericial tenha por fim dar ao órgão jurisdicional elementos técnicos de que o
magistrado não dispõe para que se torne possível o julgamento do mérito da causa, o juiz não

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está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos ou
fatos provados nos autos.

19.14.7. Contraditório
O contraditório foi garantido legalmente pela inclusão do art. 431-A, que prevê a informação
às partes da data e local designados pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a
produção da prova.

Evidentemente que em nem todos os casos isso será possível: por exemplo, numa perícia
contábil, o perito não designará o dia em que fará a perícia para que as partes fiquem olhando
ele trabalhar, evidentemente. Nesse caso, o contraditório se operará mediante vista dos autos,
após juntado o laudo pericial.

19.14.8. Avaliação. Possibilidade de Segunda Perícia ou Outra Perícia


A parte que desejar esclarecimento do perito e do assistente técnico, requererá ao juiz que
mande intimá-lo a comparecer à audiência, formulando desde logo as perguntas, sob forma de
quesitos. Mas o perito e o assistente técnico só estarão obrigados a prestar os esclarecimentos
a que se refere este artigo, quando intimados cinco dias antes da audiência, momento em que
já tomarão conhecimento do teor das perguntas que lhes serão formuladas naquele momento.

Caso o juiz verifique que o resultado da primeira perícia foi insuficiente, por omissão ou
obscuridade relativas a um fato importante no desate da lide, poderá determinar a realização
de uma segunda perícia (art. 437), de ofício ou a requerimento das partes, desde que sobre os
mesmos fatos.

A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre os quais recaiu a primeira e destina-
se a corrigir eventual omissão ou inexatidão dos resultados a que esta conduziu. A segunda
perícia rege-se pelas disposições estabelecidas para a primeira, mas esta não substitui,
cabendo ao juiz apreciar livremente o valor de uma e outra.

Caso se trate de outros fatos, será uma nova perícia, e não uma segunda.

Esse segundo procedimento pericial só deve ser instaurado se o juiz exaurir todas as
possibilidades de corrigir defeitos e falhas no laudo resultante do primeiro, a fim de evitar
desperdícios.

19.14.9. Despesas com os Honorários Periciais


De acordo com o art. 33:

a) Cada parte deverá arcar com a remuneração do assistente técnico que assisti-la;

b) A parte que requerer a perícia deverá antecipar os honorários do perito;

c) O autor deverá antecipar os honorários do perito, quando a perícia for requerida por
ambas as partes ou determinada de ofício pelo juiz;

d) Se quem requerer a perícia for a Fazenda Pública ou o MP, os honorários do perito


somente serão pagos ao final do processo, pelo vencido (art. 27)
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19.14.9.1. Honorários Periciais e Inversão do Ônus da Prova


Se o juiz inverter o ônus da prova, a quem cabe pagar os honorários periciais? Se, por exemplo,
numa demanda consumeirista houver a inversão, deve o réu, que não pediu a perícia, arcar
com os honorários de forma antecipada?

Não.

Para a jurisprudência majoritária do Superior Tribunal de Justiça, uma coisa é a inversão do


ônus probatório, prevista no art. 6º, VIII, do CDC, e outra bem diferente é a inversão do ônus
do pagamento das despesas.

Com efeito, o adiantamento das despesas processuais, em especial o honorário do perito, fica
submetido ao regime dos arts. 19, §§ 1º e 2º, 33, caput, do CPC. Eis dispositivos legais:

“Art. 19. Salvo as disposições concernentes à justiça gratuita, cabe às partes


prover as despesas dos atos que realizam ou requerem no processo,
antecipando-lhes o pagamento desde o início até sentença final; e bem
ainda, na execução, até a plena satisfação do direito declarado pela
sentença.

§ 1º O pagamento de que trata este artigo será feito por ocasião de cada ato
processual.

§ 2º Compete ao autor adiantar as despesas relativas a atos, cuja realização


o juiz determinar de ofício ou a requerimento do Ministério Público.”

“Art. 33. Cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que houver
indicado; a do perito será paga pela parte que houver requerido o exame,
ou pelo autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de
ofício pelo juiz.”

O STJ vem aplicando a literalidade do CPC, mesmo para procedimentos extravagantes,


inclusive para o microssistema consumeirista:

“ADIANTAMENTO DAS DESPESAS NECESSÁRIAS À PRODUÇÃO DE PROVA


PERICIAL. CPC, ART. 19. ATO DETERMINADO DE OFÍCIO PELO JUIZ. ART. 9º, §
1º, DA LC 76/03. ÔNUS DA PARTE AUTORA.

2. Cabe ao autor adiantar as despesas relativas a atos cuja realização o juiz


determinar de ofício ou a requerimento do Ministério Público (CPC, art. 19,
§ 2º). Não existe, mesmo em se tratando de ação de desapropriação para
fins de reforma agrária, qualquer previsão normativa que obrigue o réu a
adiantar as despesas necessárias à realização de ato processual ou à
produção de prova pericial que não requereu.

(REsp 930.486/MT, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 15/05/2008, DJe 29/05/2008)”

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ALIÁS, ATÉ MESMO A EXCEÇÃO PREVISTA NO INÍCIO DO CAPUT DO ART. 19 DO CPC – A


HIPÓTESE DA PARTE SER BENEFICIÁRIA DA JUSTIÇA GRATUITA – NÃO SIGNIFICA, EM
ABSOLUTO, INVERTER O ÔNUS DO PAGAMENTO DAS DESPESAS PROCESSUAIS, COMO JÁ
RECONHECEU O STJ:

“ANTECIPAÇÃO DOS HONORÁRIOS PERICIAIS. JUSTIÇA GRATUITA.


EXPROPRIADO BENEFICIADO. INADEQUAÇÃO DA IMPUTAÇÃO DO ÔNUS AO
EXPROPRIANTE.

1. O beneficiário da justiça gratuita, nos termos do art. 3º, inciso V, da Lei


n.º 1.060/50, não está obrigado a arcar com as despesas relativas aos
honorários periciais, ainda que a prova técnica tenha sido por ele requerida,
consoante a exceção à regra prevista na primeira parte do art. 19, do CPC
(Salvo as disposições concernentes à justiça gratuita, cabe às partes prover
as despesas dos atos que realizam ou requerem no processo, antecipando-
lhes o pagamento desde o início até sentença final; e bem ainda, na
execução, até a plena satisfação do direito declarado pela sentença.).

2. O fato de o beneficiário da justiça gratuita não ostentar o poder de arcar


com o adiantamento das despesas, não autoriza o juízo a inverter o ônus
de seu pagamento.

(REsp 1116139/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em


03/09/2009, DJe 14/10/2009)”

Por outro lado, já assentou o STJ que não se pode exigir que o trabalho do perito seja
prestado de forma gratuita, isto é, sem o adiantamento dos honorários, evitando que o
expert aguarde o pagamento à sorte do resultado final da demanda ao fixar a sucumbência:

“(...) a Primeira Seção desta Corte, no julgamento dos EREsps 733.456/SP e


981.949/RS, ocorrido na assentada do dia 24 de fevereiro de 2010, decidiu
que, conquanto não se possa obrigar o Ministério Público a adiantar os
honorários do perito nas ações civis públicas em que figura como parte
autora, diante da norma contida no art. 18 da Lei 7.347/85, também não se
pode impor tal obrigação ao particular, tampouco exigir que o trabalho do
perito seja prestado gratuitamente.

(RMS 30.812/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado


em 04/03/2010, DJe 18/03/2010)”

“HONORÁRIOS PERICIAIS. ANTECIPAÇÃO PELO ESTADO, QUANDO O EXAME


FOR REQUERIDO POR BENEFICIÁRIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA.
DESCABIMENTO. REALIZAÇÃO DA PERÍCIA. RESPONSABILIDADE DO ESTADO
EM COLABORAÇÃO COM O PODER JUDICIÁRIO. [...]

3. Tendo em vista que o perito nomeado não é obrigado a realizar o seu


trabalho gratuitamente, incumbe ao magistrado requisitar ao Estado, a

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quem foi conferido o dever constitucional de prestar assistência judiciária


aos hipossuficientes, o ônus de promover a realização da prova técnica,
por meio de profissional de estabelecimento oficial especializado ou de
repartição administrativa do ente público responsável pelo custeio da
produção da prova, o que deve ocorrer em colaboração com o Poder
Judiciário.

(REsp 1245684/MG, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 13/09/2011, DJe 16/09/2011)”

Desta forma, como não se pode impor ao réu/fornecedor que arque com a obrigação de
pagamento dos honorários periciais em reclamações consumeristas, e igualmente não se pode
exigir que o perito trabalhe de modo gratuito, é situação comum na prática judiciária a não
realização da prova perícial quando inexiste o adiantamento da despesa do honorário do
perito pelo autor/consumidor.

Para o STJ o que verdadeiramente ocorre quando há a inversão do ônus da prova e não ocorre
a produção de prova técnica pelo não adiantamento das despesas periciais é a SUBMISSÃO DO
FORNECEDOR ÀS CONSEQUÊNCIAS PROCESSUAIS E JURÍDICAS DA NÃO PRODUÇÃO DA PROVA.

“PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.


HONORÁRIOS DO PERITO. RESPONSABILIDADE. HIPOSSUFICIÊNCIA.

1. A simples inversão do ônus da prova, no sistema do Código de Defesa do


Consumidor, não gera a obrigação de custear as despesas com a perícia,
embora sofra a parte ré as conseqüências decorrentes de sua não-produção.

(REsp 1063639/MS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado


em 01/10/2009, DJe 04/11/2009).”

Como conclusão, em razão da inversão do ônus da prova, sofrerá a parte ré/fornecedor as


consequências processuais e jurídicas da não produção da prova, o que, provavelmente,
ocasionará a procedência do pedido do autor/consumidor na demanda.

Embora haja doutrina minoritária em sentido contrário, entendemos que a posição do STJ é
acertada e deriva do princípio nemo tenetur se detegere, isto é, do direito de não produzir
prova contra si mesmo, também aplicável no âmbito cível (não-penal). O Anteprojeto do Novo
Código de Processo Civil trata do tema no art. 262, § 2º: “A inversão do ônus da prova,
determinada expressamente por decisão judicial, não implica alteração das regras referentes
aos encargos da respectiva produção”.

19.15. Inspeção Judicial


Trata-se de meio de prova em que o próprio juiz, através de seus sentidos, examina pessoa
ou coisa, a fim de obter esclarecimentos sobre os fatos da causa. Consiste, portanto, na
percepção sensorial direta do juiz sobre qualidades ou circunstâncias corpóreas de pessoas ou
coisas relacionadas com o litígio.
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A inspeção judicial pode ser feita, de ofício ou a requerimento das partes, em qualquer fase
do processo.

Ao realizar a inspeção direta, o juiz poderá ser assistido de um ou mais peritos e deverá ir ao
local, onde se encontre a pessoa ou coisa, toda vez que julgar necessário para a melhor
verificação ou interpretação dos fatos que deva observar; quando a coisa não puder ser
apresentada em juízo, sem consideráveis despesas ou graves dificuldades; e também quando
determinar a reconstituição dos fatos. Nas demais hipóteses, a inspeção judicial deverá ser
realizada na própria sede do juízo, lugar onde, via de regra, devem ser praticados todos os atos
do processo.

As partes têm direito a assistir à inspeção, prestando esclarecimentos e fazendo observações


que reputem de interesse para a causa.

Uma vez concluída a diligência, o juiz mandará lavrar auto circunstanciado, mencionando nele
tudo quanto for útil à decisão da causa. Tal auto poderá ser instruído com desenho, gráfico,
fotografia ou peça análoga.

19.16 Observações de Provas


1. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 49. O juiz pode determinar de ofício o empréstimo de
prova.

2. TRF2 – XIII – CESPE – QUESTÃO 42. É aceita no processo cível a gravação de conversa
por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro112.

3. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 48. A notoriedade de um fato deve estar relacionada
com o momento da decisão113.

4. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 45. Em processo no qual se discutia a obrigação de


pagar taxas condominiais, o réu resistiu ao pedido com argumento de que do contrato
de locação seria possível identificar a atribuição do pagamento das taxas ao autor.
Durante a audiência de instrução e julgamento, apresentaram-se o autor e suas
testemunhas, bem como o réu, seu advogado e sua testemunha, não arrolada. O
advogado do autor ausentou-se, sem justificativa. Iniciado o ato, o réu esclareceu que
sua testemunha fora uma das testemunhas signatárias do contrato e, apesar de não
conhecer detalhes do instrumento, faria prova de sua existência. Nesse caso, A

112
CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRAVAÇÃO DE CONVERSA POR UM
DOS INTERLOCUTORES. PROVA LÍCITA. DESNECESSIDADE DE O JULGADOR DEBATER TODOS OS ARGUMENTOS
LEVANTADOS PELA PARTE. ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA
7 DO STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.
I. A gravação de conversa realizada por um dos interlocutores que se vê envolvido nos fatos é prova lícita e pode
servir de elemento probatório. Precedentes.
[...]
(AgRg no Ag 962.257/MG, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 10/06/2008, DJe
30/06/2008)
113
A notoriedade é uma qualidade do fato que é conhecido no momento e no lugar em que a decisão é
proferida. Quando for necessário produzir prova sobre a notoriedade – nunca sobre o fato em si, pois o
art. 334, I, afirma que o fato, admitido como notório, não precisa ser provado -, obviamente não há
como pensar em rediscutir a convicção a respeito da notoriedade.
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428

inquisição das testemunhas do autor será objeto de avaliação judicial, dada a ausência
do advogado114.

5. TRF4 – XII – QUESTÃO 64. A parte ou terceiro podem, validamente, recusar-se a


apresentar, quando requisitado pelo juízo, documento CUJA PUBLICIDADE LHES
POSSA REPRESENTAR PERIGO DE SOFRER AÇÃO PENAL.

6. TRF5 – XI – CESPE – QUESTÃO 43. No curso de determinado processo, o réu, em


depoimento pessoal, confessou fato contrário a seu interesse. Em momento seguinte à
coleta da prova, foi juntada aos autos a informação de que à época o réu já era
absolutamente incapaz. Nessa situação hipotética, a confissão é inadmissível, mas
pode servir ao convencimento do juiz conforme sua avaliação.

7. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 87. A admissão da prova emprestada exige a


participação das partes no processo originário.

8. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 45. É ônus do réu a prova da existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito alegado pelo autor; portanto, o autor,
caso alegue a inexistência de negócio jurídico entre as partes e o réu a negue e aponte
a falsidade do documento que materializa o negócio, estará exercendo sua defesa de
forma distinta daquela que lhe é atribuída como ônus.

9. Procurador BACEN – 2009 – CESPE. Proposta ação em determinado município, a parte


ré invocou como fundamento de sua pretensão de provar fato modificativo do direito
do autor norma vigente em outro município do mesmo estado. Nessa situação, caso o
juiz não determine que a parte comprove a vigência da norma municipal invocada, não
será necessária a produção desta115.

10. EMAGIS – 2011/40 – QUESTÃO 11. Durante depoimento prestado no curso de ação
movida por José para obter condenação de João a reparar determinados danos, uma
testemunha acabou declarando que havia sido firmado um contrato posterior entre as
partes. Mais tarde, José ajuizou outra ação contra João, exigindo o cumprimento de
cláusula daquele contrato cuja existência foi informada no depoimento. Ainda que seja
possível a José utilizar a prova emprestada, extraindo dos autos originais cópia do
termo, essa prova não perde o caráter de prova oral116.

114
O juiz poderá ouvi-los como informantes, se achar relevante para esclarecer questão controversa.
Porém, o não comparecimento injustificado do advogado não é causa de adiamento da AIJ, conforme
dispõe o art. 453:
[...]
§ 1o Incumbe ao advogado provar o impedimento até a abertura da audiência; não o fazendo, o juiz
procederá à instrução.
115
Isso porque o direito só deve ser provado se determinado pelo juiz.
116
A prova emprestada não perde a natureza da espécie em que foi originariamente produzida. Se na
origem a prova era uma perícia, essa prova emprestada a um dado processo não se reveste de outra
natureza, remanescendo como prova pericial. Se na origem cuidava-se de prova testemunhal, ela vai
entrar emprestada a outro processo pela cópia dos termos, mas nem por isso deixa de ser prova
testemunhal, substância que a acompanha nesse caso.
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429

11. EMAGIS – 2011/36 – QUESTÃO 19. É possível ao juiz, por sua própria iniciativa,
determinar as provas que entender necessárias à instrução do processo, indeferindo
diligências inúteis ou meramente procrastinatórias.

20. Audiência de Instrução e Julgamento (arts. 444 a 457)


20.1. Conceito e Generalidades
A AIJ é a sessão pública, que transcorre de portas abertas, presidida por juízo de primeira
instância e que tem por escopo tentar conciliar as partes, produzir prova oral, debater e
decidir a causa. Ela tem a natureza jurídica de ato processual complexo.

Instruir significa produzir provas; a AIJ não se trata de ato essencial dentro do processo, já que
pode ser dispensada quando cabível o julgamento antecipado da lide (art. 330) ou quando as
partes dispensarem produção de provas.

A instrução é a fase do processo em que se realizam as audiências, se ouvem as partes,


testemunhas, se fazem as juntadas de documentos, enfim, são colhidas as provas que
esclarecerão o julgador para que possa proferir sua decisão.

O direito pátrio adota o sistema presidencial na condução da audiência, cabendo ao juiz direta
e pessoalmente colher a prova (art. 446, II), de forma que as perguntas feitas pelos advogados
ao perito, às partes e testemunhas deverão sempre ser dirigidas ao juiz. Os advogados
somente poderão intervir ou apartear com a licença deste, geralmente utilizando-se do termo
“pela ordem”.

A audiência deve ser una e contínua. Ser una significa que para todos os diferentes atos
previstos é realizada somente uma audiência, enquanto continuidade significa que a audiência
deve começar e terminar em uma única assentada.

Interrompida a audiência, o que deve ser excepcional, não se designará uma nova, apenas se
prosseguirá em data próxima à audiência interrompida.

São princípios que informam a instrução: oralidade, concentração, imediatidade, publicidade e


identidade física do juiz.

20.2. Conteúdo e Estrutura

20.2.1. Considerações Iniciais


As principais atividades desenvolvidas na AIJ são:

a) Tentativa de conciliação;

b) Produção de prova oral;

c) Alegações finais;

d) Prolação de sentença.

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Após coletadas as provas, abre-se a oportunidade para os advogados deduzirem alegações


finais, ao que se segue a prolação de sentença. A AIJ é ato processual complexo, que
transcorre de acordo com a seguinte ordem:

a) Abertura;

b) Pregão;

c) Tentativa de conciliação;

d) Fixação dos pontos controvertidos;

e) Esclarecimento do perito e dos assistentes técnicos;

f) Depoimento pessoal;

g) Oitiva das testemunhas;

h) Debates orais;

i) Prolação de sentença.

Todos os atos serão praticados primeiro pelo autor e depois pelo réu, podendo essa ordem ser
modificada se houver a devida fundamentação.

20.2.2. Abertura da Audiência. Pregão Inicial


Inicialmente, o juiz declara aberta a audiência, determinando que se apregoem as partes e
seus procuradores. Ela deverá ocorrer nos dias úteis, dentro do horário de funcionamento do
expediente forense. A abertura, geralmente, é um ato simples e informal.

O pregão inicial é a comunicação da abertura feita às partes e procuradores, cuja falta pode
conduzir à invalidade, caso haja prejuízo às partes.

O juiz poderá limitar o número de pessoas na AIJ e determinar a retirada daquelas que se
portarem de forma inconveniente, já que ele exerce o poder de polícia e tem o dever de zelar
pelo regular andamento do processo (art. 445).

Não correrá a portas abertas as audiências nos casos do art. 155 do CPC.

Não é causa de nulidade do ato o fato de a audiência correr a portas fechadas em função do ar
condicionado.

20.2.3. Conciliação e Fixação dos Pontos Controvertidos


O juiz deverá tentar conciliar as partes (art. 447), desde que se trate de direitos disponíveis,
inclusive nas causas de família. SE O ADVOGADO TIVER PODER PARA TRANSIGIR, O
COMPARECIMENTO DAS PARTES À AIJ É DESNECESSÁRIO. Será, no entanto,
imprescindível se o juiz deferir como prova o depoimento pessoal.

As partes serão intimadas para a audiência por meio de seus patronos, sendo necessária a
intimação pessoal somente na hipótese de depoimento pessoal da parte.
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Se houver conciliação, deverá ser reduzida a termo. Não havendo, deve o juiz fixar os pontos
controvertidos a ser objeto de prova oral, a qual só é necessária para os pontos ainda não
elucidados.

A tentativa de conciliação é obrigatória, mas sua ausência não gera vício apto a anular a
audiência.

20.2.4. Produção de Provas Orais


São elas tomadas na seguinte sequência:

a) Tomada dos esclarecimentos de peritos e assistentes técnicos, nessa ordem;

b) Tomada do depoimento pessoal do autor e, depois, do réu;

c) Inquirição das testemunhas arroladas pelo autor, na ordem que preferir, e depois, as
do réu.

20.2.5. Alegações Finais. Memoriais.


Após coletadas as provas orais, o juiz deverá abrir oportunidade para alegações finais (debates
orais), que será de 20 minutos para cada parte, prorrogável por mais 10. Se forem orais, elas
serão reduzidas a termo pelo auxiliar da justiça. Se houver litisconsórcio, o prazo será de 30
minutos, devendo ser rateados entre as partes. Nada impede que os litisconsortes
convencionem o uso da palavra por um só advogado.

Se houver participação de membro do MP, este falará após as partes. Havendo opoente, ele
fará os debates orais em primeiro lugar, seguido pelos opostos (art. 454, § 2º).

Quando a causa envolver questões de fato ou de direito complexas, as alegações finais


poderão ser oferecidas por escrito, sob a forma de memoriais.

Não há prazo legal para o oferecimento de memoriais, devendo o juiz fixá-lo.

20.2.6. Sentença
Se o juiz prolatar a sentença na AIJ, deverá ditá-la para o oficial de justiça reduzi-la a termo.
Porém, poderá optar por proferir a decisão por escrito, no prazo impróprio de 10 dias (art.
456).

A sentença só poderá ser proferida em audiência se as alegações finais forem deduzidas


oralmente. Caso contrário, será proferida por escrito em cartório da justiça, intimando-se as
partes por meio de seus procuradores.

20.2.7. Conversão do Julgamento em Diligência


Poderá o juiz fazê-lo, finda a fase de instrução e oferecidas as razões finais, retornando à
instrução, para determinar a produção de novas provas para a elucidação de pontos que
restaram obscuros e para sanar erros procedimentais que poderiam ensejar a nulidade do
processo.

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20.3. Documentação da Audiência e Lavratura do Termo de Audiência


As ocorrências em geral na AIJ serão registradas no termo de audiência, que recebe a
designação de ata. Porém, os esclarecimentos do perito ou do assistente, bem como o
depoimento das partes e das testemunhas, serão baixados no denominado Termo de
Assentada.

20.4. Designação, Antecipação e Adiamento da AIJ


Designação é o ato pessoal do juiz, pelo qual ele marca a data e hora da AIJ, devendo observar
o tempo necessário para a realização de eventual perícia ou outras diligências.

A antecipação da audiência poderá ocorrer de ofício ou a requerimento das partes, se


verificada urgência na solução da causa ou disponibilidade na pauta de audiência. Se houver
antecipação, o juiz deverá ordenar a intimação pessoal do advogado.

O adiamento da audiência poderá ocorrer em duas hipóteses (art. 453):

a) Por convenção das partes, uma única vez, nunca por prazo superior a 06 meses;

b) Pela ausência dos sujeitos do processo, por motivo justificado.

Quem der causa ao adiamento responderá pelas despesas acrescidas.

Se a parte não comparecer e mesmo assim o juiz adiar a audiência, deve a parte contrária se
insurgir contra esse ato, já que estará agindo em evidente error in procedendo o magistrado. O
que ele deve fazer é julgar, dando ganho de causa ao autor ou ao réu, a depender de quem se
ausentou, e a depender, também, dos elementos probatórios já acostados aos autos.

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO.


AUSÊNCIA DO AUTOR E DE SEU ADVOGADO. ADIAMENTO. PROCEDIMENTO
NÃO IMPUGNADO À ÉPOCA. PRECLUSÃO. PARALISAÇÃO DO PROCESSO POR
MAIS DE TRINTA DIAS. INTIMAÇÃO PESSOAL. NÃO ATENDIMENTO.
EXTINÇÃO. CPC, ART. 267, III C/C PARÁGRAFO 1º.

I. Preclusa a controvérsia acerca do art. 453, parágrafos 1o e 2o, e 262 do


CPC, se a parte prejudicada não se insurgiu, na ocasião própria, contra o
indevido adiamento da audiência de instrução não realizada em face da
não justificada ausência do autor e de seu advogado.

[...]

(STJ, REsp 64.748/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA


TURMA, julgado em 07/06/2001, DJ 08/10/2001, p. 217)

20.4.1. Ausência de Testemunhas, Peritos e Partes


Se a testemunha (ou o perito) foi intimada e não compareceu à AIJ, sua ausência dá ensejo ao
adiamento e à sua condução coercitiva ao juízo. Se ela não foi intimada, só haverá adiamento
se a ausência for justificada.

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Se o assistente técnico foi intimado e não compareceu, não deverá haver adiamento, já que
ele é auxiliar da parte.

Também enseja o adiamento da AIJ o atraso na entrega do laudo pericial.

Se a parte se ausenta justificadamente da audiência, ela deverá ser adiada. Se


injustificadamente, a audiência será realizada normalmente.

A audiência realizada sem a presença do membro do MP, qualquer que seja o motivo, gerará
uma nulidade relativa.

Se o advogado não comparecer de forma justificada, deverá a audiência ser adiada. Ele deverá
justificar até a abertura da audiência (art. 453, § 1º). Se injustificada, a audiência se realiza
normalmente, podendo o juiz dispensar a prova por ele requerida, se não se tratar de direito
indisponível.

20.4.2. Juntada de Novas Provas Após o Encerramento da Instrução


Se a matéria tornou-se controvertida após a fase instrutória do processo, é lícito às partes
apresentarem os documentos pertinentes à comprovação de seu direito subjetivo na fase
recursal.

PROCESSO CIVIL - RECURSO ESPECIAL - CONCESSÃO DE FINANCIAMENTO -


REQUISITOS - DESEMBARAÇO ADUANEIRO EM PORTO CAPIXABA - MATÉRIA
NÃO CONTROVERTIDA - JUNTADA DE DOCUMENTOS APÓS FASE
INSTRUTÓRIA - POSSIBILIDADE - LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO -
INEXISTÊNCIA - ACÓRDÃO - OMISSÃO - NÃO-OCORRÊNCIA.

1. Inexiste omissão em acórdão que expressamente aborda as questões


veiculadas por embargos de declaração.

2. Se a matéria tornou-se controvertida após a fase instrutória do


processo, é lícito às partes apresentarem os documentos pertinentes à
comprovação de seu direito subjetivo na fase recursal.

3. A ressalva à regra geral do momento processual oportuno para a


apresentação de documentos (cf. art. 397 do CPC) ganha ainda mais
pertinência quando se cogita que fora admitido o fato do desembaraço
aduaneiro em porto capixaba, o que torna prescindível a sua comprovação
em juízo.

4. Se o BANDES é o órgão gestor do FUNDAP, competindo-lhe reconhecer a


presença dos requisitos necessários à concessão de financiamento, o fato de
o Estado do Espírito Santo ser o ente público fomentador do benefício fiscal
não o promove a litisconsorte passivo necessário no feito.

5. Recurso especial não provido.

(STJ, REsp 1041786/ES, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,


julgado em 04/06/2009, DJe 15/06/2009)

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AGRAVO REGIMENTAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. FUNDAMENTAÇÃO


RECURSAL DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA
7/STJ. JUNTADA POSTERIOR DE DOCUMENTOS. POSSIBILIDADE. FATOS
OCORRIDOS APÓS O AJUIZAMENTO DA DEMANDA OU CONTRAPOSIÇÃO A
DOCUMENTOS TRAZIDOS PELA PARTE ADVERSA. ART. 397 DO CPC.
MEMORIAL. NOVAS ALEGAÇÕES E DOCUMENTOS. IMPOSSIBILIDADE.
PRECLUSÃO CONSUMATIVA.

[...]

4. NÃO SE ADMITE A JUNTADA DE DOCUMENTOS APÓS A INSTRUÇÃO, SE


NÃO VISAM PROVAR FATOS OCORRIDOS APÓS A PROPOSITURA DA AÇÃO,
OU PARA CONTRAPOR A OUTROS JUNTADOS PELA PARTE ADVERSA.

5. A apresentação de memorial não possibilita a invocação de fatos novos e


a juntada de documentos, haja vista tratar-se de providência vedada pela
preclusão consumativa, uma vez que a faculdade processual de recorrer já
foi exercida quando da interposição da apelação.

6. Agravo regimental desprovido.

(STJ, AgRg no Ag 1112190/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,


QUARTA TURMA, julgado em 13/04/2010, DJe 26/04/2010)

Logo, pode haver juntada de provas após a instrução somente nos seguintes casos:

a) Para provar fatos ocorridos após a instrução;

b) Para contrapor outros documentos juntados pela parte contrária.

21. Teoria da Decisão Judicial (arts. 458 a 466)


21.1. Sistematização dos Pronunciamentos Judiciais
Os pronunciamentos judiciais podem ser feitos mediante despachos, sentenças, acórdãos ou
decisões interlocutórias.

Despacho é todo pronunciamento desprovido de carga decisória; assim, não será despacho,
ainda que o ato tenha esse nome, a manifestação do juiz que decida algo, como ocorre com o
“despacho saneador”, não importando o nomen juris dado à peça judicial, e sim o seu
conteúdo.

21.1.1. Decisões Proferidas pelo Juízo Singular


A sentença não pode ser identificada pelo seu conteúdo, já que nem todas elas implicam em
alguma das situações dos arts. 267 e 269 do CPC, e nem tudo o que implica em alguma dessas
situações será necessariamente sentença, podendo ser acórdão.

Sentença é o ato que, analisando ou não o mérito da demanda, encerra uma das etapas
(cognitiva/executiva) do processo em primeira instância julgado por juiz singular.

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Decisão interlocutória é o pronunciamento pelo qual se resolve qualquer questão decisória,


sem por fim ao procedimento na etapa em que se encontre. É plenamente possível,
entretanto, que uma decisão interlocutória dê causa à parcial extinção do processo, com ou
sem julgamento de mérito.

21.1.2. Decisões Proferidas em Órgãos Colegiados


Acórdão é o pronunciamento judicial com conteúdo decisório proferido por um órgão
colegiado, seja ele tribunal ou turma recursal.

Decisão monocrática é o pronunciamento proferido por apenas um dos membros do órgão


colegiado, nos casos em que o admita a lei ou o regimento interno do tribunal. Geralmente é
atribuído ao Presidente ou Vice-Presidente do tribunal, como ocorre nos casos de juízo de
admissibilidade do REsp, e da competência para analisar o pedido de suspensão de segurança;
ou então, ao relator da causa.

Decisão monocrática do relator da causa haverá quando o pronunciamento não tiver aptidão
para por fim ao procedimento naquela instância, sendo certo que existe uma série de
hipóteses de decisões monocráticas com aptidão para se tornarem definitivas, especialmente
quando for para dnegar recurso por, v.g., estar em confronto com SV.

A sentença é um ato jurídico que contém uma norma jurídica individualizada, definida pelo
Poder Judiciário, que se diferencia das demais normas jurídicas em razão da possibilidade de
tornar-se indiscutível pela coisa julgada material.

21.2. Elementos da Decisão Judicial (art. 458)

21.2.1. Introdução
Os três elementos básicos, relatório, fundamentação e dispositivo (ou conclusão), são exigidos
em conjunto apenas nas sentenças e acórdãos.

21.2.2. Relatório
É o histórico do que de relevante aconteceu no processo. Deve apresentar os nomes das
partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências
havidas no andamento do processo, sendo dispensado nos Juizados Especiais Cíveis Estaduais
e Federais. Até mesmo no procedimento ordinário a jurisprudência já aceitou, em alguns
casos, sua ausência, desde que não tenha desaguado em prejuízo para as partes.

Entretanto, a regra impõe a obrigatoriedade do relatório, cuja falta poderá suscitar pedido de
anulação por error in procedendo.

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


AUSÊNCIA DE RELATÓRIO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. NULIDADE
CONFIGURADA (ARTS. 165 E 458, DO CPC, E 93, IX, DA CR/88).
RECONHECIMENTO DE OFÍCIO. RECURSO ORDINÁRIO PREJUDICADO.

1. Nos termos dos arts. 165 e 458 do Código de Processo Civil, são requisitos
essenciais da sentença o relatório, os fundamentos e o dispositivo. Na
hipótese examinada, não foi lavrado o relatório do acórdão que julgou o
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mandado de segurança impetrado pela ora recorrente, do qual somente


constou a fundamentação e a parte dispositiva do julgado.

2. O relatório é requisito essencial e indispensável da sentença e a sua


ausência prejudica a análise da controvérsia, suprimindo questões
fundamentais para o julgamento do processo. Tal consideração impõe o
reconhecimento da nulidade do julgado impugnado, em manifesta
violação dos arts. 165 e 458, do Código de Processo Civil, e 93, IX, da
Constituição da República.

3. Precedentes do STJ.

4. Recurso ordinário prejudicado.

(STJ, RMS 25.082/RJ, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA,


julgado em 21/10/2008, DJe 12/11/2008)

21.2.3. Fundamentação
Consiste na exposição de motivos pelo juiz dos elementos que o levaram à formação de sua
convicção, com base nos elementos carreados ao processo. É uma obrigação
constitucionalmente imposta ao Poder Judiciário, que deverá fundamentar não só as
sentenças e acórdãos, mas todos os pronunciamentos com carga decisória (art. 93, IX).

A falta de fundamentação é causa de nulidade. Isso é certo. Entretanto, muitas vezes é


possível que o processo não seja anulado, quando a parte interpõe recurso e o tribunal julga a
causa com base na teoria da causa madura. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. SENTENÇA PROFERIDA COM


RESOLUÇÃO DE MÉRITO. SENTENÇA DECLARADA NULA. AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO. ART. 93, IX, DA CR. ARTS. 165 E 458, DO CPC.
APLICAÇÃO DO ART. 515, § 3º, DO CPC. TEORIA DA CAUSA MADURA.
POSSIBILIDADE.

1. A aplicação da Teoria da Causa Madura trazida à lume pelo novel § 3º, do


art. 515, do CPC, pressupõe prévia cognição exauriente, de sorte que a
pretensão do retorno dos autos à instância a quo revela notória inutilidade.

2. A nulidade da sentença por ausência de fundamentação indica vício do


próprio ato decisório, o que não impede a aplicação do § 4º, do art. 515,
do CPC, presentes os demais requisitos legais.

3. In casu, o Tribunal assentou de forma insindicável pelo E. STJ (Súmula 07)


que: "a sentença atacada deixou de informar os motivos e as razões que
conduziram à procedência do pedido formulado na inicial (...).

Diante de tais considerações, voto no sentido de se acolher a alegação


formulada pelo Apelante para, com fundamento nos artigos 165 e 458 do
Código de Processo Civil e artigo 93, IX, da Constituição da República,
reconhecer a nulidade da sentença.

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Por outro lado, ressalto que o § 3º do art. 515, do CPC, representado pela
Lei n.º 10.352/01 permite ao Tribunal, em caso de extinção do processo
sem julgamento do mérito, julgar desde logo a lide, quando a questão
versar exclusivamente sobre matéria de direito e estiver em condições de
imediato julgamento ou, ainda, utilizando-se de interpretação extensiva
do referido parágrafo, estando a lide em condições de imediato
julgamento, em face da desnecessidade de outras provas (causa madura).

(...) NO CASO EM EXAME, OBSERVO QUE O FEITO SE ENCONTRA


DEVIDAMENTE INSTRUÍDO E EM CONDIÇÕES DE JULGAMENTO, O QUE
PERMITE AO TRIBUNAL CASSAR A SENTENÇA E, DE IMEDIATO, PROFERIR
NOVA DECISÃO EM SEU LUGAR, APRECIANDO AS MATÉRIAS ARGUIDAS
PELAS PARTES" (fls. 119/121).

4. A nulidade sanável pelo próprio tribunal à luz das questões fáticas e


jurídicas postas nos autos, permite a adoção do art. 515, § 4º, do CPC, com
o prosseguimento do julgamento da apelação.

5. A exclusão da multa imposta com base no art. 538, parágrafo único, do


CPC, é medida que se impõe quando opostos os embargos para fins de
prequestionamento, ante a ratio essendi da Súmula 98 do STJ.

6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, provido tão-


somente para afastar a multa imposta.

(STJ, REsp 1096908/AL, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 06/10/2009, DJe 19/10/2009)

21.2.3.1. Conteúdo da Fundamentação


É na fundamentação que o magistrado resolve as questões incidentais (art. 458, II), assim
entendidas as que devem ser solucionadas para que a questão principal possa ser decidida.
Trata-se do local correto para a apreciação e resolução das questões de fato e de direito.

Não havendo ou após resolvidas as preliminares de mérito (questões processuais), ele passará
à análise dos fundamentos de fato da demanda e da defesa, bem como à análise das provas
produzidas no processo, devendo deixar bem claro por que toma tal ou qual posicionamento,
apontando os elementos que formaram sua convicção.

Integra o direito ao contraditório a efetiva análise e valoração das provas produzidas pelas
partes pelo magistrado, devendo ao sucumbente ser possível conhecer o porquê de não ter
sido acatada sua tese.

Após analisar as questões de fato, DEVE O MAGISTRADO APONTAR O


EMBASAMENTO NORMATIVO QUE INCIDE SOBRE AQUELA SITUAÇÃO
FÁTICA, as chamadas questões jurídicas de mérito.
Também é na fundamentação que o juiz deverá deliberar sobre a constitucionalidade ou não
de ato normativo, acaso as questões sejam suscitadas pelas partes ou analisadas de ofício.

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NO CASO DE SÚMULA VINCULANTE, O JUIZ PODERÁ APENAS FAZER


MENÇÃO A ELA NA TOMADA DA DECISÃO, DEMONSTRANDO,
ENTRETANTO, SE E COMO A SITUAÇÃO CONCRETA A ELA SE SUBSUME.
O magistrado não está obrigado a rebater um a um os argumentos trazidos pela parte, desde
que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão, seja para
acolher ou rejeitar o pedido. Trata-se de posicionamento pacífico no STJ e majoritário no STF.

Isso, entretanto, é controverso. O Min. Gilmar Mendes, no MS 25.787, esclareceu que a Corte
Constitucional alemã entende que o contraditório somente é perfeito se atendidos três
direitos:

a) Direito à informação: informação sobre os atos processuais, intimação e citação;

b) Direito a manifestação: direito de falar nos autos sobre os atos praticados; motivo pelo
qual, v.g., a pena, na prática do ato de atentado, de perder o direito de falar nos autos
seria inconstitucional (art. 881, CPC);

c) Direito à apreciação das teses de defesa: a jurisprudência alemã fala que o tribunal
tem o dever não só de tomar conhecimento, como de considerar com seriedade todas
as teses da parte sucumbente. Ele não pode dizer, como ocorre aqui no Brasil, que o
argumento não tem nenhum fundamento, que o argumento é absurdo, foge ao
razoável etc. Isso não é seriedade, isso é esnobar ou destratar o argumento da parte.
Por mais que o argumento seja totalmente inapropriado, o tribunal alemão diz que
tem que ter uma análise séria. O juiz tem que analisar aquilo com seriedade porque é
o argumento da parte, ela tem direito a que o tribunal responda sobre aquilo que ela
está dizendo, só os tribunais não costumam fazer isso quando a matéria é
prequestionamento. A análise dos argumentos da parte pelo tribunal é diferente
quando a parte ganhou provimento ao seu recurso, pois se o tribunal analisa o
primeiro argumento e verifica que a parte tem razão, aí é diferente, ele não precisa
analisar os demais argumentos. Agora, para você dizer que os argumentos não têm
fundamento, tem que ser um por um, e não é isso que acontece nos tribunais. Você
quer fazer o prequestionamento e dá cinco argumentos, o tribunal analisa um e diz
que você perdeu. Você tem direito de ver os outros quatro, aí eles dizem que não são
obrigados a verificar um por um.

Não obstante, nem mesmo o STF respeita isso.

No sentido do exposto, clássica frase utilizada nos julgados do STJ:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO


DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. TERRENOS DE MARINHA.
COBRANÇA DA TAXA DE OCUPAÇÃO. PRESCRIÇÃO. DECRETO-LEI 20.910/32 E
LEI Nº 9.636/98. DECADÊNCIA. LEI 9.821/99. PRAZO QUINQUENAL. LEI
10.852/2004. PRAZO DECENAL MARCO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO.

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ART. 8º, § 2º, DA LEI 6.830/80. REFORMATIO IN PEJUS. NÃO CONFIGURADA.


VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, CPC. INOCORRÊNCIA.

[...]

11. No caso sub examine não se denota o agravamento da situação da


Fazenda Nacional, consoante se infere do excerto voto condutor do acórdão
recorrido: "(...) o primeiro ponto dos aclaratórios se baseia na reformatio in
pejus. O acórdão proferido, ao negar provimento à apelação, mantém os
termos da sentença, portanto, reforma não houve. O relator apenas utilizou
outra fundamentação para manter a decisão proferida, o que não implica
em modificação da sentença" (fl. 75) 12. Os Embargos de Declaração que
enfrentam explicitamente a questão embargada não ensejam recurso
especial pela violação do artigo 535, II, do CPC, tanto mais que, o
magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos
pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes
para embasar a decisão.

[...]

(STJ, REsp 1133696/PE, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
13/12/2010, DJe 17/12/2010)

Igualmente o STF:

Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PROCESSUAL CIVIL. OMISSÃO.
INEXISTÊNCIA. EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE. REJEIÇÃO. 1. O
inconformismo, que tem como real escopo a pretensão de reformar o
decisum, não há como prosperar, porquanto inocorrentes as hipóteses de
omissão, contradição, obscuridade ou erro material, sendo inviável a revisão
em sede de embargos de declaração, em face dos estreitos limites do art.
535 do CPC. 2. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a
um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos
utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão. 3. A pretensão
de revisão do julgado, quando manifestamente infringente, revela-se
inadmissível, em sede de embargos de declaração. Precedentes. 4.
Embargos de declaração REJEITADOS.

(ARE 648614 AgR-ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
12/06/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 26-06-2012 PUBLIC
27-06-2012)

Igualmente os TRFs:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DA


SENTENÇA. PRELIMINAR AFASTADA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
MENSAGEM ELETRÔNICA CONSIDERADA PUNITIVA. NÃO COMPROVAÇÃO
DA OFENSA ALEGADA. SERVIÇOS PRESTADOS DE FORMA INADEQUADA AOS
PADRÕES EXIGIDOS PELA CEF. I - Rejeito os agravos retidos, uma vez que os
despachos recorridos não possuem teor decisório, mas apenas esclarecem
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que o feito encontra-se paralisado por aguardo do julgamento de exceção


de suspeição, não revelando qualquer tipo de prejuízo ao recorrido a
justificar o acolhimento dos recursos. II - O julgador não está obrigado a
enfrentar um a um os argumentos invocados pela parte, bastando, para
tanto, que justifique, ainda que de forma sucinta, os fundamentos pelos
quais acolhe ou rejeita o pedido do autor (AC 2000.35.00.002067-3/GO -
Relatora Desembargadora Federal Maria Isabel Gallotti Rodrigues, Relator
Convocado Juiz Federal Rodrigo Navarro de Oliveira - Sexta Turma, e-DJF1
de 26.10.2009, p. 134 e EDAC 2006.38.10.005659-0/MG - Relatora
Desembargadora Federal Monica Sifuentes - Segunda Turma, e-DJF1de
19.05.2011, p. 139). Preliminar de nulidade da sentença afastada. III -
Indevida a indenização por danos morais quando o conteúdo da mensagem
eletrônica não é bastante para ofender a moral do autor. IV - Além disso,
havendo prova dos autos indicando que os serviços prestados pelo autor
não se enquadravam aos padrões exigidos pela empresa ré, destitui-se a
credibilidade da alegação de dano à imagem. V - Agravos retidos de fls.
588/590 e 594/595 rejeitados VI - Apelações não providas.

(TRF1, AC 199833000142028, DESEMBARGADOR FEDERAL JIRAIR ARAM


MEGUERIAN, SEXTA TURMA, e-DJF1 DATA:18/06/2012 PAGINA:658.)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. IPI. MATÉRIA-PRIMA E INSUMOS


TRIBUTADOS. PRODUTO FINAL SEM TRIBUTAÇÃO. OMISSÃO.
INOCORRÊNCIA. CARÁTER INFRINGENTE. Cediço, no âmbito do E. Superior
Tribunal de Justiça, que o magistrado não fica obrigado a manifestar-se
sobre todas as alegações deduzidas nos autos, nem a ater-se aos
fundamentos indicados pelas partes, ou a responder um a um a todos os
seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar
a decisão, o que de fato ocorreu. Precedentes jurisprudenciais. Em relação à
embargante, no período anterior à Lei 9.779/99, não há direito ao
aproveitamento dos créditos de IPI, bem assim no período posterior, por
não estar a embargante submissa à hipótese de incidência legal para a
obtenção do favor fiscal. Forçoso concluir que o teor da peça processual
demonstra, por si só, que a embargante deseja alterar o julgado, em
manifesto caráter infringente para o qual não se prestam os embargos de
declaração, uma vez que seu âmbito é restrito: visam a suprir omissão,
aclarar ponto obscuro ou, ainda, eliminar contradição eventualmente
existente em decisão, sentença ou acórdão. Embargos de declaração
rejeitados.

(TRF3, AMS 00049372220044036102, DESEMBARGADORA FEDERAL MARLI


FERREIRA, QUARTA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:18/06/2012
..FONTE_REPUBLICACAO:.)

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA.


CRÉDITO-PRÊMIO DO IPI. JULGADO DO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. EXTINÇÃO EM 5 DE OUTUBRO DE 1990. PREQUESTIONAMENTO. 1.
A natureza reparadora dos embargos de declaração só permite a sua
oposição contra sentença ou acórdão acoimado de omissão, obscuridade ou

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contradição, bem assim, por construção jurisprudencial, para fins de


prequestionamento, como indicam as Súmulas nºs 282 e 356 do STF e 98 do
STJ, ou, ainda, para fins de correção de erro material na decisão. 2. Não há
falar em omissão quando o acórdão examina suficientemente e com
coerência a matéria posta em discussão, com a devida apreciação dos
pontos relevantes e controvertidos na demanda, sendo que o julgador não
está obrigado a responder um a um todos os argumentos da parte, desde
que haja suficiente razão para decidir. 3. O Supremo Tribunal Federal, ao
julgar o RE nº 561.485-0/RS, Rel. Ministro RICARDO LEWANDOWSKI (DJE
26/02/2010), assentou que o crédito-prêmio do IPI foi extinto em 5 de
outubro de 1990. Seria caso de parcial provimento à apelação, em
excepcionais efeitos modificativos. Contudo, eventuais créditos estão
atingidos pela prescrição, nos termos já reconhecido pela acórdão
embargado de declaração. 4. Prequestionados os dispositivos legais
suscitados pela embargante, a fim de evitar que seja obstaculizado o acesso
às instâncias superiores, e considerando que os preceitos foram suscitados
no momento oportuno.

(TRF4, AC 200770020090386, OTÁVIO ROBERTO PAMPLONA, SEGUNDA


TURMA, D.E. 12/05/2010.)

21.2.3.2.1. Fundamentação no Âmbito dos Juizados Especiais


Como tudo no juizado costuma ser mais singelo, o STF tem corroborado o entendimento de
SE
que essa singeleza pode incidir até mesmo sobre a própria fundamentação, de forma que
O ACÓRDÃO DA TURMA RECURSAL FOR CONFIRMATÓRIO DA
SENTENÇA, A SIMPLES REMIÇÃO AOS FUNDAMENTOS DESSA JÁ É
SUFICIENTE. Nesse sentido:
Juizado especial. Parágrafo 5º do art. 82 da Lei nº 9.099/95. Ausência de
fundamentação. Artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal. Não
ocorrência. Possibilidade de o colégio recursal fazer remissão aos
fundamentos adotados na sentença. Jurisprudência pacificada na Corte.
Matéria com repercussão geral. Reafirmação da jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal. (STF, Plenário, RExt 635729, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de
23/08/2011)

21.2.3.2. A Fundamentação e a Coisa Julgada Material


As questões resolvidas na fundamentação não ficam acobertadas pela coisa julgada material
(art. 469). Tudo o que é nela analisado pode ser revisto em outro processo.

Art. 469. Não fazem coisa julgada:

I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte


dispositiva da sentença;

Il - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;


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III - a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no


processo.

O assistente simples fica vinculado às questões resolvidas na fundamentação (justiça da


decisão), mas não o fica à coisa julgada que se forma sobre a parte dispositiva se provar que
não teve acesso a provas de que não se valeu o assistido.

21.2.3.3. Decisão sem Motivação


Considera-se não motivada sentença que apenas repete os termos da lei, ou que apenas arrola
ementas de jurisprudência (não obstante isso seja uma praxe constante nos Tribunais em
geral). A falta de motivação é vício gravíssimo, podendo ser anulada de ofício ou invalidada
por ajuizamento de ação rescisória.

Ademais, é inconstitucional decidir sem fundamentar. Se a decisão for de fraca


fundamentação, a parte pode interpor embargos de declaração ou mesmo apelar, tentando
reverter a situação no tribunal. Entretanto, geralmente a fundamentação fraca não gera a
nulidade da sentença, e sim sua reforma, se os argumentos para tanto forem fortes.

21.2.3.4. Motivação das Decisões: Aprofundamentos


A fim de trazer algumas noções acerca do princípio da motivação das decisões proferidas pelos
órgãos do Poder Judiciário, são pertinentes as palavras de PIERO CALAMANDREI: “A
fundamentação da sentença é sem dúvida uma grande garantia da justiça quando consegue
reproduzir exatamente, como num levantamento topográfico, o itinerário lógico que o juiz
percorreu para chegar à sua conclusão, pois se esta é errada, pode facilmente encontrar-se,
através dos fundamentos, em que altura do caminho o magistrado se desorientou”.

É importante mencionar que o texto constitucional não apenas exige a fundamentação das
decisões proferidas pelos órgãos do Poder Judiciário, como as declara nulas se desatenderem a
esse comando. Menciona DJANIRA MARIA RADAMÉS DE SÁ que garante tal princípio a
inviolabilidade dos direitos em face do arbítrio, posto que os órgãos jurisdicionais têm de
motivar, sob pena de nulidade, o dispositivo contido na sentença. Porém, o que significa
motivar as decisões judiciais? Motivar todas as decisões significa fundamentá-las, explicar as
razões de fato e de direito que implicam no convencimento do juiz, devendo esta
fundamentação ser substancial e não meramente formal.

TERESA ARRUDA ALVIM menciona que é ato de inteligência e de vontade; não se pode
confundir sentença com um ato de imposição pura e imotivada de vontade. Daí a necessidade
de que venha expressa sua fundamentação (CR, art. 93, IX). Diz mais a referida autora que
fundamentação deficiente, para todos os efeitos, equivale à falta de fundamentação.

A motivação da sentença, também, faz-se útil para enriquecer e uniformizar a jurisprudência,


servindo como valioso subsídio àqueles que contribuem para o aprimoramento e aplicação do
direito.

Daniel Ustárroz aponta: “No Brasil, antes mesmo da Constituição, o Código de Processo Civil de
1973 já exigia a motivação das decisões. Reza o art. 165 que todas as decisões devem ser
formalmente justificadas, ainda que de modo conciso. Orientação idêntica vem esposada no
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art. 458, que, ao traçar os requisitos da sentença, aponta a exigência de explicação dos
fundamentos da matéria (fática e jurídica) envolvida na demanda. Embora haja similitude dos
textos constitucionais e infra, não se deve perder de vista que os escopos diferem. No
primeiro, a tutela imediata é do interesse público na legitimação das decisões estatais. No
segundo, o interesse imediato protegido é o da agilidade do processo, e, por decorrência, um
direito subjetivo dos próprios litigantes, que podem se valer dos mecanismos de impugnação
que o ordenamento lhes faculta. Acatando a orientação de Barbosa Moreira, a Constituição da
República anotou em seu art. 93, IX, que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, sendo fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade”.

O princípio guarda correspondência com o sistema da livre convicção. “Com efeito, tanto
maior o poder discricionário do magistrado, quanto mais importante a necessidade de
fundamentar sua decisão”.

A Constituição se refere a todas as decisões, o que não pode ser levado ao pé da letra. Não se
exige, por exemplo, fundamentação da decisão que recebe a inicial e determina a citação do
réu.

Sem fazer essa observação, o Autor, mirando a jurisprudência, anota que se tem admitido a
fundamentação de decisão anterior. Diz o Autor: “Caso fosse necessário ao magistrado
explicitar passo a passo o caminho lógico que percorreu para tomar todas as decisões do
processado, por seguro a efetividade processual restaria comprometida. Daí que a motivação,
em casos numerosos, poderá ser sucinta ou mesmo, agora em hipóteses especialíssimas,
suprimida, dada a presença de outros valores presentes no processo, como a efetividade.
Mas condena (com razão) as fórmulas mágicas, repetidas sem qualquer ponto de apoio no
caso específico, como as seguintes “totalmente impertinente a preliminar, que vai rejeitada;
ausentes os requisitos legais, inviável a antecipação de tutela postulada”, e assim por diante.

Sustenta o Autor que da falta de motivação decorre nulidade insanável da sentença: “A falta
ou deficiência da motivação induz a vício insanável, cujo reconhecimento pode dar-se em
qualquer grau de jurisdição e independentemente de provocação da parte”. Propugna, porém,
pela “relativização desta nulidade para amoldar-se com o espírito do sistema das nulidades,
inclusive mediante o emprego da preclusão, para a hipótese de direitos disponíveis”.

Na verdade, a previsão constitucional dessa hipótese de nulidade não implica regime jurídico
próprio, nem significa seja mais grave do que as outras. A falta de citação do réu e sentença a
respeito de pedido não formulado pelo autor são exemplos de vícios ainda mais relevantes.
Nada impede (pelo contrário, é necessário) que a nulidade decorrente da falta de motivação
da sentença seja tratada de conformidade com o respectivo sistema processual.

Em suma, a decisão motivada aponta o entendimento das razões do juiz, que é imparcial, e
assim torna essa decisão, sendo que se constitui tal princípio em verdadeira garantia
inerente ao Estado de Direito.

Acerca dessa disposição, a ideia de motivação configura um princípio em sentido amplo, ou


lato, atestando a sua natureza de limite objetivo. Disso resulta que a aferição do cumprimento

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ou não do dever de motivar deverá se submeter à análise objetiva do próprio conteúdo da


decisão judicial exarada, a qual não pode ficar limitada a aspectos axiomáticos, “a dados
genéricos, a standards contidos no próprio direito positivo, sem qualquer referência à hipótese
decidida”.

Segundo a doutrina, esse princípio é dirigido ao juiz para garantir a efetividade de outros
princípios como o do devido processo legal, da imparcialidade do julgador, da legalidade das
decisões, da ampla defesa e do contraditório.

Cotejando com a motivação das decisões judiciais, a imparcialidade do juiz é dever jurídico
correlato ao direito ao devido processo legal e que inspira o senso comum de justiça. Não
pode o juiz, segundo o que se extrai de nosso sistema processual constitucional, exarar decisão
sem que tenha observado o substantive and procedural due process, julgando a causa segundo
os critérios técnicos para aplicação das normas jurídicas ao caso concreto. Essa observância
revelará a lisura ou não do órgão julgador e a consequente imparcialidade
constitucionalmente estabelecida.

Nesse sentido, Michele Taruffo entende que não só o juiz deve ser imparcial, mas importa que
a imparcialidade possa ser verificada em qualquer decisão concreta: a decisão não é imparcial
em si, mas enquanto o demonstre ser. A relação com a obrigatoriedade de motivar é intuitiva:
se a decisão não motivada pode indiferentemente ser parcial ou imparcial, é apenas através da
motivação que pode ser revelada a parcialidade e, então, garantida a imparcialidade.

Quanto à legalidade da decisão, em face do princípio da livre apreciação das provas pelo
órgão julgador, assim como também o recorrente emprego de conceitos jurídicos
indeterminados pelo legislador, torna-se cada vez mais necessário que a decisão seja
concretamente motivada.

Diante desse cenário de discricionariedade jurídico-processual, a legalidade da decisão se


revelará por meio da demonstração do bom ou mau uso dessa discricionariedade. Assim, a
forma como o julgador demonstra o emprego dos institutos é revelada pela motivação da
respectiva decisão. Só a motivação possui o condão de dar o conhecimento da maneira como
foi feito o uso do poder decisório em confronto com os ditames constitucionais.

Havendo descompasso entre a decisão e a sua motivação, afrontada estará a Constituição da


República. Em outras palavras, a garantia da ampla defesa só se operará se o órgão
jurisdicional competente estiver obrigado a demonstrar que as partes foram atendidas em
seus respectivos pleitos e que a sua decisão foi adequada às considerações feitas sobre as
manifestações processuais.

Isso revela-nos que a motivação também está presente aqui como instrumento processual a
garantir a adequação do julgado aos pleitos das partes, forma adequada de distribuição de
justiça.

21.2.3.4.1. Motivação como Antecedente de Norma Individual e Concreta

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Como se sabe, a norma jurídica geral e abstrata é aquela que decorre dos enunciados
prescritivos dos textos legais, que possuem um mínimo deôntico117, com a descrição de um
evento hipotético no antecedente, bem como a previsão também hipotética de que a
ocorrência da hipótese descritiva implicará o surgimento de uma relação jurídica entre sujeitos
de direito (de um ou mais em face de outro ou outros). Refiro-me aos modais deônticos
permitido, proibido e obrigado.

Por essa forma, pode-se esmiuçar, ainda no plano das normas gerais e abstratas, os
enunciados prescritivos relativamente ao dever de motivação das decisões judiciais. Devemos,
para tanto, selecionar os enunciados da legislação infraconstitucional e da Constituição da
República que prescrevem tal dever. Esse processo nos levará a uma relação extensa de
normas gerais e abstratas que prescrevem referido dever. Só para termos alguma ideia desse
universo, vale lembrar alguns dispositivos infraconstitucionais, tais como: artigos 165; 273 §
4º; 277, § 1º; 458, II; 459, in fine; 461, § 3º; além de tantos outros do Código de Processo Civil.
Nessa linha, acrescentem-se os incisos IX e X do artigo 93 da Constituição da República,
norteadores de todas as decisões.

Assim, segundo se infere de nosso sistema positivado, há inúmeros enunciados dos quais
poderíamos construir as respectivas normas jurídicas, uma a uma para cada caso em
particular; isso só em relação ao dever de motivar! No entanto, para os fins deste artigo,
fiquemos com os principais enunciados esculpidos nos incisos LIII do artigo 5º e no IX do artigo
93, ambos da Constituição da República, tendo em vista que a análise destes permitirá revelar
a constituição das demais normas jurídicas, cuja estrutura/forma será a mesma das normas
que podem ser construídas partindo-se daqueles enunciados infraconstitucionais.

Assim, podemos observar que a estrutura normativa nos oferece a conclusão de que a
previsão da hipótese normativa (no antecedente) implica imediatamente uma prescrição

117
Deontologia jurídica é a ciência que cuida dos deveres e dos direitos dos operadores do direito,
bem como de seus fundamentos éticos e legais. Etimologicamente, deontologia significa ciência dos
deveres. Assim, deontologia jurídica é essa ciência aplicada àqueles que exercem alguma profissão
jurídica, em especial os advogados, magistrados e promotores de justiça. O dever fundamental do
magistrado é o de exercer a jurisdição, que lhe foi confiada no momento da investidura no cargo. Todos
os outros deveres que a lei impõe ao juiz constituem, em última análise, meios para que seja cumprido
esse dever.
A norma jurídica estabelece como deve se dar o comportamento humano nas relações intersubjetivas
quando ocorre determinado fato de interesse jurídico. Assim, verificada a hipótese prescrita na norma,
o comportamento humano deverá estar em conformidade com um dos três modais do deôntico:
PERMITIDO, PROIBIDO OU OBRIGATÓRIO. Se ocorrer isso, faça aquilo, ou não faça aquilo. O
consequente é função do antecedente. Que significa afirmar que a norma jurídica é “o mínimo
irredutível de manifestação do deôntico”? Há três modais deônticos: permitido, proibido e obrigatório.
Temos norma jurídica, em sua concepção científica, quando ocorre enunciado prescritivo antecedente
(hipótese) relacionado ao enunciado prescritivo consequente (tese) através de um operador deôntico.
Assim, pelas sucessivas camadas enunciativas da lei, o intérprete chega à norma jurídica em essência,
ou seja, ao mínimo irredutível de manifestação do deôntico. No momento em que o direito positivo
estabelece uma regra de comportamento, estabelecendo uma hipótese de incidência sobre um fato
socialmente relevante, e agora, portanto, também juridicamente relevante, definindo deonticamente
o comportamento do sujeito (permitindo, obrigando ou proibindo), e vinculando-o a uma
consequência (sanção), teremos a norma jurídica em sua plenitude.
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jurídica (no consequente). Essa é a estrutura. No que atine ao conteúdo normativo, aspecto
substancial da motivação, podemos observar que a sua identificação se dará por processo de
subsunção, concretizado por meio do relato em linguagem competente da coincidência do
conceito do evento ocorrido no mundo fenomênico com o conceito hipotético descrito na
norma (coincidência do conceito do fato ao conceito da norma).

Explicando melhor. Se a norma descreve em seu antecedente uma determinada circunstância


e esta vem a ocorrer nos exatos termos descritos, teremos aí subsunção do conceito do “fato-
evento” ao conceito da norma. Contudo, não mais estaremos no plano das normas gerais e
abstratas, pois adentraremos no plano de aplicação do direito, da incidência normativa
operada por autoridade competente.

Explicitando essa ideia, podemos concluir que a norma introduzida por uma decisão judicial,
para ser válida, precisa possuir no seu antecedente o relato de eventos processuais, visando
constituir o fato jurídico implicador de uma relação jurídica processual. Assim, em termos de
estrutura normativa, a norma introduzida por uma decisão no sistema do direito positivo
deveria ser assim: Dada a ocorrência dos eventos processuais “x”, “y” e “z” e as provas de sua
veracidade “f”, “g” e “h”, então, deve-ser a decisão correlata. Reparem, há antecedente formal
e substancial na estrutura dessa norma, logo, há fato jurídico motivacional capaz de implicar a
respectiva relação jurídica e, portanto, uma decisão judicial passível de introduzir uma norma
individual e concreta no sistema do direito positivo.

Por essa forma, a motivação das decisões judiciais ocorrerá toda vez que as questões de fato
e de direito, ocorridas no curso do processo, forem individualizadas no antecedente
(fundamentação) do consequente “norma individual e concreta” (dispositivo) posta pela
decisão judicial no sistema do direito positivo processual.

Em face dessa estrutura normativa e da necessidade de que o conteúdo normativo seja


identificado a partir da constituição de fatos jurídicos processuais, somos da opinião de que a
motivação se dá pelo relato explícito, em linguagem competente, das questões de fato e de
direito, no enunciado da decisão judicial, possibilitando, consequentemente, a construção da
respectiva norma individual e concreta, por meio da qual poderemos aferir a substância dos
fatos jurídicos no seu antecedente e a correspondente relação jurídica implicada no seu
consequente.

Assim é que podemos afirmar se uma decisão judicial está ou não motivada. A FALTA OU A
INSUFICIÊNCIA NA DESCRIÇÃO DAS QUESTÕES DE FATO E DE DIREITO NA CONSTITUIÇÃO DO
FATO JURÍDICO DO ANTECEDENTE DA NORMA INDIVIDUAL E CONCRETA (decisão judicial,
sentença, acórdão ou decisão administrativa) implica a sua nulidade.

Por derradeiro, podemos, então, concluir que se os fatos jurídicos processuais são enunciados
decorrentes de entidades linguísticas que podem sustentar-se em face das provas processuais
admitidas pelo sistema positivado, MOTIVAR É PRODUZIR ENUNCIADO LINGUÍSTICO EM QUE
SE RELATAM TODAS AS QUESTÕES DE FATO E DE DIREITO PERTINENTES À DECISÃO JUDICIAL
PROLATADA, CONSTITUINDO O ANTECEDENTE NORMATIVO E POSSIBILITANDO A
CONSEQUENTE IMPLICAÇÃO JURÍDICO-PROCESSUAL CORRELATA.
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21.2.3.4.2. Alcance/Limite Material da Motivação


Sucintamente podemos demonstrar na prática que os elementos de fato e de direito, a serem
relatados em linguagem, que constituirão os fatos jurídicos processuais, são aqueles que
mantêm relação de pertinência com a demanda judicial em julgamento e que forem
enunciados na parte fundamentadora da decisão judicial.

Não basta simples cognição, é indispensável um procedimento que constitua um enunciado a


ponto de relatar expressamente, mesmo nos casos de motivação sucinta, os eventos
processuais em confronto com as conclusões adotadas pelo órgão julgador (autoridade
competente).

É limite mínimo da motivação que o enunciado descritor das questões de fato e de direito
revele os dados relevantes e discrimine as regras de escolha, quando a discricionariedade for
possível. Essa, a nosso ver, a inteireza material ou substancial da motivação.

21.2.3.4.3. Decisão Omissa


Diante do acima exposto, há que se destacar, para efeitos práticos desses argumentos, que a
omissão de qualquer questão processual implica limites aos efeitos da decisão.

Assim, como há uma relação de implicação entre antecedente e consequente normativos, a


decisão está, por uma questão de lógica jurídica, vinculada, não podendo surtir efeitos além
das questões de fato e de direito que efetivamente constituíram o fato jurídico motivador.
Aqui vale uma argumentação análoga ao brocardo “fora dos autos fora do mundo”, em que
teríamos, então, a circunstância de que as questões fora do fato jurídico motivador estão fora
da decisão.

Obviamente que as questões de fato e de direito que não pertencem ao enunciado


constitutivo do fato jurídico motivador não geram efeitos em relação às partes processuais e,
portanto, eventual suposta relação jurídica processual pretensamente constituída no
enunciado que será o plano de expressão do fato jurídico motivador.

21.2.3.4.4. Carência de Motivação


A motivação pode ser tida como insuficiente quando na constituição do fato jurídico
motivador são lançadas todas as afirmações relativas às questões de fato e de direito,
enunciadas detalhadamente com o fim de constituição do antecedente normativo da decisão
judicial, porém, faltam-lhe as descrições (ou são obscuras) das fontes de prova de que decorre
o acertamento das questões afirmadas no enunciado descritor (as motivações do juiz utilizadas
para fundamentar o dispositivo não encontram suporte fático nos elementos de prova
carreados aos autos, ou então não foram eles identificados). Assim, considera-se que as
afirmações estavam presentes no fato jurídico motivador, mas restaram ausentes as premissas
de constituição das próprias questões de fato e de direito, v.g., quando se descreve a prova,
mas não se descreve a legalidade ou ilegalidade da fonte produtora desta mesma prova.

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Essas circunstâncias acarretam uma norma (decisão interlocutória, sentença, acórdão ou


decisão administrativa) obscura ou contraditória pela imperfeição na constituição do seu fato
jurídico motivador (antecedente normativo), carecendo, portanto, de reforma.

21.2.3.4.5. Motivação Subentendida ou Implícita


Fala-se em motivação subentendida ou implícita quando ela é pressuposta e não expressada
na decisão judicial, sendo dedutível por processo lógico-mental. A doutrina tem admitido
como motivação a aferição lógico-dedutiva das causas motivadoras da decisão judicial,
entretanto, é importante destacar que esta é uma norma individual e concreta possuindo,
portanto, estrutura normativa com um mínimo deôntico. Assim, se a estrutura normativa exige
um fato jurídico no antecedente para que haja a implicação relacional no consequente, é
fundamental que este fato seja efetivamente constituído, nos termos legais.

Com efeito, como se não bastasse por si só a própria estrutura lógico-jurídica da norma, o
nosso sistema jurídico processual foi enfático ao exigir a fundamentação das decisões judiciais
(artigo 93, IX da CR e artigos 165 e 458 do Código de Processo Civil) na sua arquitetura.

É imperioso insistir que a decisão judicial é uma norma jurídica, capaz de impor a vontade do
Poder constituído por meio de um dos modais deônticos (proibido, permitido e obrigatório)
nos exatos termos delineados pelo Estado Democrático de Direito. Assim, temos que concluir
que a decisão judicial é norma e, enquanto esta, observar a sua estrutura mínima (constituição
do fato jurídico e implicação de uma relação jurídica) para afastar a possibilidade de motivação
subentendida ou implícita.

A doutrina cita exemplificativamente três situações que ela considera como “hipóteses
principais” de motivações implícitas, sendo:

a) Quando o juiz deixa de referir-se a um ou alguns dos pontos do processo, por serem
estes supérfluos em relação a outro ou outros pontos já expressamente considerados;

b) Quando, diante de teses contrapostas, a aceitação motivada de uma deixa implícitas


as razões da rejeição de outra;

c) Quando a solução de uma questão resulte em precluir o exame das questões e


pontos sucessivos, ou da própria causa principal.

Vale comentar que no exemplo da alínea “a” não dá para admitir que haja motivação implícita,
pois, se o juiz considerou um ou alguns “pontos” do processo, a motivação é expressa. Os
“pontos” desconsiderados não eram, portanto, relevantes para a decisão e ficaram fora da
norma introduzida no sistema jurídico positivo processual. Em relação ao exemplo “b”, das
teses contrapostas, a consideração de uma tese implica a decisão em relação a esta e também
em relação à outra. A motivação aqui também é expressa em relação às duas teses, pois, ao
fundamentar porque decide, o juiz está expressamente demonstrando porque deve prevalecer
uma tese e não outra, logo se expressa diretamente a ambas. Não há que se falar em
motivação implícita nesta hipótese também. O que difere em relação às teses contrapostas
são os efeitos da decisão, não a motivação.

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449

Para uma a decisão é favorável e para a outra desfavorável, no entanto, a motivação será a
mesma.

No que pertine ao exemplo “c”, preclusão das questões sucessivas, quer-nos parecer que se
refere às questões prejudiciais em que a apreciação de questões desta natureza impede a
apreciação das questões posteriores ou de que delas dependam.

Nessa linha, entendemos também que as decisões sobre as questões prejudiciais são normas
que exigem motivação própria cujo resultado representará mais um daqueles eventos
processuais que poderão ou deverão, conforme o caso, integrar o fato jurídico no antecedente
da norma de decisão final.

Vemos que há, sim, uma motivação para a decisão sobre a questão prejudicial, cujo resultado
constituir-se-á em novo evento processual, e outra para a decisão final, que poderá ou deverá,
conforme a prejudicialidade, relatar aquele evento no enunciado normativo constituindo a
norma decorrente da decisão final. Não há, portanto, motivação implícita neste caso também.

Assim sendo, em que pesem posições doutrinárias acerca da existência de motivação implícita,
somos da opinião de que não é possível motivação subentendida ou implícita por não haver
constituição do fato jurídico processual (enunciado linguístico prolatado por autoridade
competente) no antecedente da norma implicadora de relações jurídicas processuais.

21.2.3.4.6. Motivação Referenciada ou Per Relationem


No caso da motivação referenciada (“per relationem”), habitualmente empregada nos
julgamentos de recursos em segunda instância, embora boa parte da doutrina e da
jurisprudência entenda que é possível o seu emprego, temos a fazer um alerta quanto ao
limite de sua utilização.

Como, em regra, se trata de hipóteses recursais, entendemos que o limite da utilização da


motivação referenciada deverá ser na proporção do alegado no recurso, ou seja, CASO O
RECURSO QUESTIONE ACERCA DA PRÓPRIA MOTIVAÇÃO DA DECISÃO DA INSTÂNCIA
INFERIOR, NÃO PODERÁ A DECISÃO SUPERIOR DEIXAR DE APRECIAR ESSA QUESTÃO
RECURSAL, devendo considerar esta como um novo evento processual que agora passa a ser
relevante para a constituição do fato jurídico motivador da decisão superior, além daqueles
outros eventos relacionados ao mérito da própria causa.

Vemos que, na motivação referenciada, o chamado “mero reenvio” (...) “por seus próprios e
jurídicos fundamentos (...)” poderá constituir o fato jurídico da decisão de instância superior
tão somente quando o mérito recursal for exatamente o mesmo posto à autoridade recorrida.
Neste caso vislumbramos a possibilidade de constituição da norma superior nos seguintes
termos:

Norma Individual e Concreta expedida em grau de recurso: antecedente da


norma (constituição do fato jurídico motivador): Dado o fato de ter sido
expedida decisão pelo juízo da Subseção Judiciária “X”, nos autos do
processo n.º, em que são partes, Recorrido: Senhor Fulano de Tal e

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Recorrente: Senhor Beltrano, estando este inconformado com a referida


decisão e interposto recurso pelo mesmo mérito apreciado naquele juízo,
assim como os fundamentos jurídicos da decisão contestada estão de
acordo com o sistema jurídico processual; Consequente da norma
(implicação relacional): Então, deve ser negado provimento ao recurso pelos
mesmos motivos enunciados na sentença contestada, os quais passam
integralmente a fazer parte da motivação desse acórdão.

Note que nesta norma temos a constituição, no antecedente normativo, do fato jurídico
(enunciando os elementos motivadores) que dá ensejo ao consequente da norma, com a
implicação da relação jurídica entre os sujeitos Senhor Fulano de Tal em face de Senhor
Beltrano pelos mesmos motivos; tudo isso, em virtude do imperativo deôntico da norma
expedida.

Essa técnica de decisão é amplamente corroborada na jurisprudência:

HC N. 101.684-SP
RELATOR: MIN. JOAQUIM BARBOSA
EMENTA: Habeas Corpus. Prisão preventiva. Motivação per relationem.
Técnica plenamente admitida por esta Corte. Condições pessoais
favoráveis. Insuficiência. Requisitos cautelares concretamente
demonstrados. Ausência de constrangimento ilegal. Habeas corpus
denegado.
A jurisprudência desta Corte admite a utilização, por magistrados, da técnica
da motivação per relationem, caracterizada pela remissão que o ato judicial
expressamente faz a outras manifestações ou peças processuais constantes
dos autos e cujos fundamentos justificam e integram o ato decisório
proferido. Precedentes.
[...]

Por fim, vale repisar que não seria possível a constituição de motivação “per relationem” caso
ocorresse qualquer mudança nos eventos processuais que gerassem, em decorrência de
ataques do recurso sobre a motivação da sentença recorrida, a constituição de fato diverso do
acima detalhado, restando, então, outra motivação para o julgamento do recurso pela
autoridade superior. Não caberia aqui mera referenciação, sob pena de não motivar a decisão
que aprecia as alegações deste recurso.

Um exemplo simples que pode ser dado é quando o juiz decide a demanda em favor do INSS e
a parte autora apela com base em argumentos de índole processual, buscando fulminar a
sentença e o próprio processo por error in procedendo. Não terá, em regra, força para
sustentar a decisão do juízo a quo a simples fundamentação do acórdão com base nos próprios
argumentos da sentença, visto que o que se está questionando se dissocia dos fundamentos
nesta apresentados.

FUNDAMENTAÇÃO REMISSIVA. NULIDADE.

O órgão judicante, ao decidir um recurso, deve agregar suas próprias


fundamentações nas razões de decidir. A mera repetição da decisão ou a
referência remissiva à sentença violam o art. 93, IX, da CF e prejudicam a

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garantia do duplo grau de jurisdição. No caso, o órgão julgador do tribunal


de origem apenas ratificou as razões da sentença e incorporou o parecer da
Procuradoria-Geral de Justiça, sem acrescentar argumentos próprios ao
acórdão. A Min. Relatora, com base na doutrina, alertou que tal
procedimento resulta em omissão do julgador, que deixa de expor suas
próprias razões para justificar a manutenção da decisão recorrida. Em outras
palavras, nessas situações, o magistrado se omite quanto à valoração crítica
dos argumentos por ele adotados. Por outro lado, ficou registrada a
possibilidade de o órgão julgador adotar razões de decidir da sentença,
desde que traga ao contexto os argumentos contrapostos nas razões e
contrarrazões recursais, de tal forma a viabilizar o salutar caráter dialético,
expressão da garantia do contraditório. Com esses fundamentos, a Turma
anulou o acórdão atacado, determinando novo julgamento que enfrente os
argumentos contrapostos no recurso. Precedentes citados: HC 90.684-RS,
DJe 13/4/2009; HC 63.664-SP, DJ 26/2/2007, e HC 23.893-PA, DJ
17/11/2003. HC 232.653-SP, 6T, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 24/4/2012.

21.2.3.4.7. Persuasão Racional X Direito Alternativo ou Uso Alternativo do Direito


Inicialmente cabe salientar que a legitimidade democrática do Magistrado não resulta de uma
delegação a priori de mecanismos jurídicos.

O fato de ser o magistrado selecionado via concurso público (determinação constitucional), e


de serem os membros de Tribunais escolhidos na forma da Constituição, somente legitima a
divisão fundamental de funções do Estado, uma questão estrutural de organização. Não já pré-
legitima as decisões do juiz.

Em verdade, a legitimidade da atuação do juiz ocorre sempre a posteriori, mediante o devido


processo legal e a fundamentação de suas decisões. Ou seja, a sua decisão deve respeitar
procedimentalmente o processo de produção da norma individual e concreta, assim como
deve seu conteúdo ser adequado ao Direito.

O que impede que o magistrado, ante a liberdade que possui decorrente de sua livre
persuasão, se enverede pelo campo do arbítrio, ou seja, o que o “vincula dentro de sua
discricionariedade” é a exteriorização das razões de decidir, a qual expõe que foi observado o
devido processo legal, assim como a matriz de produção do direito que lhe foi apresentada
pelo ordenamento jurídico, sem se desviar para o arbítrio na construção de um direito que lhe
pareça justo, ou seja, sem se valer do uso alternativo do direito.

O direito alternativo é expressão surgida na Europa; trata-se de um pensamento que


propugna o rompimento das amarras da legalidade estrita, quando estas parecerem, aos olhos
do julgador, obstáculos à solução da lide com justiça.

Na América Latina, ganhou forças, ousando muito mais do que a matriz europeia. Por aqui,
tenta-se pensar num modelo alternativo que saiba indicar como agir para romper os limites da
legalidade quando esta é entrave ao valor Justiça comprometido com a maioria da população;

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ou quando a legalidade, em tese, é justa, mas na concretização carrega injustiça; ou ainda,


quando deve ser efetivado um direito democrático não oficial que conflita com o estatal.

A corrente alternativa no Brasil, reconhecendo a diversidade de relações sociais ou de relações


jurídicas não assimiladas pelo Direito Objetivo, pretende tornar o juiz um verdadeiro
modelador de Direitos, um autêntico escultor de uma ordem jurídica não reconhecida
oficialmente que, contrastando com o Direito Estabelecido, se construa a partir do Juízo
pessoal e isolado do Magistrado.

Isso causa uma subversão do Direito Positivo, mormente pelo fato do potencial destrutivo que
adviria da falta de ordem criada pela ausência de limites efetivos ao amplo poder discricionário
– quando não arbitrário – do julgador direcionado pelo seu subjetivo senso de justiça118.

No Estado Democrático de Direito, entretanto, é imperioso que os governantes e cidadãos


estejam sempre imbuídos do sentimento jurídico. O desrespeito à ordem jurídica traz graves
consequências, pois desmoraliza o princípio da autoridade encarnado pelo Executivo, avilta o
Poder Legislativo e agride o Poder Judiciário, atingindo sua razão de existir. Conforme visto
acima, a legitmidade desse Poder – enquanto função – está na Constituição e no restante do
ordenamento jurídico, que fornecem o material com o qual o magistrado deve trabalhar – o
direito objetivo (todas as normas jurídicas, ou seja, regras e princípios) oficial.

A racionalidade das decisões judiciais se fará com o livre convencimento motivado – que
impõe fundamentação racional e objetiva no ato de julgar – impondo ao magistrado que se
aparte de suas convicções pessoais estritamente subjetivas para exercer o seu mister.

21.2.3.4.8. Utilização de Princípios na Fundamentação: Técnicas de Fundamentação Adequada


Conforme visto no resumo de Direito Constitucional, os princípios, no pós-segunda guerra
mundial, têm sido bastante invocados como fundamentos decisórios, máxime pelo
reconhecimento de sua força normativa.

Entretanto, isso também tem gerado uma série de decisões não fundamentadas, visto que a
simples invocação de princípios, sem a devida conjugação com outros elementos de fato e de
direito, geram decisões vazias, com muitas palavras e pouco conteúdo. Ademais, a técnica de
ponderação principiológica proporciona um alto grau de discricionariedade ao magistrado,
quando não arbitrariedade.

A doutrina tem apontado, hoje em dia, quatro principais tendências para que essa nulidade
absoluta (falta ou deficiência da fundamentação) não ocorra:

a) Tendência da coerência: são partidários dessa vertente Ronald Dworkin e Klaus


Günther. Ela impõe que o magistrado realize o dever prévio de reconstruir o sistema
de princípios a fim de torná-lo coerente, manejando as colisões principiológicas
situadas em diferentes planos de abstração. Essa técnica exige que nenhum dos
princípios seja eliminado em detrimento do outro (em semelhança ao que ocorre com

118
Aqui entra a questão do solipsismo jurídico, forma decisional dos magistrados de buscar apenas em
sua consciência o que seria Justiça.
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o princípio de hermenêutica constitucional da concordância prática). Pode-se dar um


exemplo, conforme Dworkin, na colisão existente entre liberdade e igualdade: em um
liberalismo igualitário, ambos os princípios se fazem imprescindíveis. Assim, Dworkin
constrói seu sistema de forma a responsabilizar os indivíduos pelas escolhas que fazem
(liberdade), mas desde que haja a responsabilidade da sociedade em criar as
oportunidades para que as escolhas individuais sejam efetivas (liberdade). Assim,
conclui-se que aqui se exige a não aplicação da técnica da ponderação de princípios,
visto que não se pode afastar totalmente o princípio de maior valor no caso concreto
(apesar de Dworkin ser mais moderado e defender que, em último caso, pode).

b) Tendência da razão pública: nessa técnica, o conteúdo dos princípios que serão
ponderados será determinado em conformidade com a razão pública. Para Rawls, a
razão pública se refere ao que é consensual, ao que está ligado à democracia, aos
direitos humanos e às teorias científicas incontroversas. Para ele não devem ser
consideradas, na hermenêutica principiológica, as “doutrinas abrangentes” (filosóficas
e políticas, que informam a estrutura básica da sociedade mas não geram consenso,a
ntes pertencendo à crença de um certo grupo da sociedade). Os membros do Poder
Judiciário, como não são eleitos, não possuem legitimidade para adotar uma doutrina
abrangente para decidir, não podem invocar sua própria moralidade particular.
Somente quando decidem com base nas razões públicas é que suas decisões se
mostram em consonância com a democracia. E como define o magistrado o que está
dentro da razão pública? Quando ele constata que a sua decisão contenha valores que
todos os cidadãos racionais e razoáveis endossariam (ahã.. me engana que eu gosto.
Isso é praticamente impossível). Pois bem. No que se refere à ponderação, ela deve ser
feita ante o dever prévio do magistrado conferir um sentido razoável aos princípios
colidentes, de forma a selecionar o que prevalece ou, até mesmo, e
preferencialmente, eliminar a colisão.

c) Tendência da decomposição analítica: busca tornar explícitos os elementos


englobados pela ponderação, de forma a facilitar o controle pelo público. Todos os
elementos que o intérprete usa para ponderar devem ser lançados aos autos, de modo
a que não haja espaço para o subjetivismo decisório (ainda que a razão de decidir do
agente seja plenamente jurídica e correta). Para Alexy (que criou até uma fórmula
matemática para ponderar...), a atividade de ponderação deve considerar, por um
lado, o peso abstrato de cada princípio; isso porque, para ele, nem todos os princípios,
especialmente os constitucionais, possuem sempre o mesmo peso. Porém, deve
também ser considerado o grau de interferência de um princípio no caso concreto
(um princípio abstratamente mais relevante pode ter pouca influência ante as
particularidades apresentadas). Por fim, impõe ele ainda a análise da confiabilidade.
Enfim, o importante dessa técnica é que o julgador, ao abordar as questões que
formarão sua convicção, explicite o raciocínio e o caminho lógico de sua decisão,
explicando os motivos de conferir a certo princípio maior grau de interferência, maior
peso abstrato e maior confiabilidade, e torne passível de controle sua decisão.

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d) Tendência da pré-definição de standards: busca pré-definir parâmetros de ponderação


de alguns conjuntos de princípios, de forma a se criar uma expectativa razoável quanto
à solução da colisão. Esses padrões resultam, regra geral, da experiência jurídica, em
razão da frequente colisão de determinados princípios, com a consequente filiação
jurisprudencial a uma determinada solução constante. Além de criar previsibilidade
para os casos futuros, essa técnica evita que, a cada nova colisão concreta envolvendo
os mesmos princípios, todos os argumentos envolvidos na ponderação precisem ser
novamente suscitados. Exemplo clássico é a colisão entre liberdade de imprensa e
intimidade: em quase todos os casos em que a pessoa tem sua intimidade
supostamente violada, costuma-se dar razão à liberdade de imprensa, desde que
tenha esta agido no interesse geral, com o intuito de informar. Os magistrados não são
obrigados a decidir de acordo com o padrão, mas para se afastarem dele, precisam se
valer de uma carga argumentativa forte. No Brasil, sustentam essa tendência Barroso e
Sarmento, entre outros.

Os princípios não devem se excluir, devem ser


TENDÊNCIA DA COERÊNCIA Dworkin e Klaus Günther
compatibilizados no caso concreto.
Deve-se fundamentar a utilização dos
TENDÊNCIA DA RAZÃO PÚBLICA Rawls
princípios com fulcro nas razões públicas.
Deve-se analisar cientificamente os princípios
TENDÊNCIA DA DECOMPOSIÇÃO
Alexy com base no grau de interferência, no peso
ANALÍTICA abstrato e na confiabilidade.
Deve o intérprete se valer de padrões pré-
TENDÊNCIA DA PRÉ-DEFINIÇÃO DE definidos de decisão quando da colisão de
Barroso, Sarmento.
STANDARDS princípios, geralmente dados pela
jurisprudência.

21.2.3.5. Convencimento Judicial


É importante esclarecer a distinção entre busca da verdade e convicção de verdade.

Quando se afirma que a prova não pode traduzir a verdade, alude-se a uma ideia que há muito
tempo está presente na filosofia. O que se quer dizer, mais precisamente, é que a essência da
verdade é inatingível. E não apenas pelo processo, mas por qualquer mecanismo que se preste
a verificar um fato passado. Apesar disso ser absolutamente óbvio em outros setores do
conhecimento, o direito não consegue se livrar do peso da ideia de que o juiz, para aplicar a lei
ao caso concreto, deve estar iluminado pela verdade.

A coisa julgada material tem a ver com a necessidade da definição dos casos conflitivos. Como
é lógico, uma decisão definitiva somente é legítima quando resulta de um processo que
confere às partes a devida oportunidade de participação. É essa participação que legitima a
coisa julgada material, e não o encontro da verdade dos fatos.

Tal explicação dá base à proibição de se rediscutir os fatos já definidos, ainda que a partir de
outras provas. Ora, se essa proibição inexistisse, o julgamento do mérito não colocaria fim
ao conflito de interesses nunca, pois uma outra prova sempre seria capaz de abrir
oportunidade para a sua rediscussão.

É evidente que a impossibilidade de o juiz descobrir a essência da verdade dos fatos não lhe dá
o direito de julgar o mérito sem a convicção da verdade. ESTAR CONVICTO DA VERDADE NÃO
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É O MESMO QUE ENCONTRAR A VERDADE, até porque, quando se requer a convicção de


verdade, não se nega a possibilidade de que as coisas não tenham acontecido assim. Ou seja,
a verossimilhança, quando compreendida na linha da teoria do conhecimento, não pode se
colocar no mesmo plano da convicção de verdade. Ao lado dessa última categoria deve ser
colocada a convicção de verossimilhança, pois não há como aceitar a antítese 'convicção-
verossimilhança', como se fosse possível pensar que a convicção somente pode ser qualificada
pela verdade. Ora, como é óbvio, pode haver convicção de verdade e convicção de
verossimilhança, ainda que ambas, na perspectiva gnoseológica119, somente possam resultar
em verossimilhanças.

Em resumo: O JUIZ, PARA POR FIM AO CONFLITO, DEVE ESTAR CONVICTO, DENTRO
DAS SUAS LIMITAÇÕES, A RESPEITO DA VERDADE, UMA VEZ QUE A SUA ESSÊNCIA É
IMPENETRÁVEL.

21.2.3.5.1. Convicção de Verdade e Participação do Juiz


Não há dúvida de que o juiz, para formar a sua convicção, pode determinar prova de ofício.
Isso, porém, não significa que a participação de oficio do juiz se dirija à busca da verdade. O
objetivo da produção da prova de ofício é o de possibilitar ao juiz, quando as provas
produzidas pelas partes lhe pareçam insuficientes, a elucidação dos fatos imprescindíveis para
a formação da sua convicção sobre o mérito.

De modo que a prova de ofício não se destina à descoberta da verdade, mas apenas a suprir,
dentro de limitações naturais, a insuficiência de produção de provas pelas partes, com o fim de
possibilitar ao juiz a formação do seu convencimento para o julgamento do mérito.

Lembre-se, ainda, que a prova de ofício, além de ter que ser adequadamente justificada pelo
juiz, deve abrir às partes a devida oportunidade: i) de considerar sobre a sua oportunidade;
ii) de participar da sua produção; e iii) de falar sobre o seu resultado. Portanto, a
possibilidade da participação do juiz na produção da prova não retira das partes a
possibilidade de participar da formação (produção) e da interpretação da prova
(consideração dos seus resultados).

A participação das partes é imprescindível para a formação do convencimento judicial, ainda


que, em alguns casos, o juiz possa atuar de ofício. Ou melhor: a consciência de que a atuação
do juiz, em tais casos, é supletiva, evidencia que a oportunidade de participação é
fundamental à legitimação do processo.

Limitações da prova pelo processo:

A cognição sumária admite que uma decisão seja proferida com base em parcela das provas
que podem ser produzidas pelas partes. Ou ainda: a cognição sumária é uma técnica que limita
a participação das partes e, ainda assim, viabiliza a decisão do juiz.

119
Ontognoseologia é a teoria do conhecimento; ramo filosófico que busca entender como se dá o
processo de cognição e até mesmo se é possível a cognição, a qual recairá sobre o aspecto ontológico,
ou seja, sobre um determinado objeto a ser estudado. Gnoseologia se refere ao sujeito do
conhecimento, sobre como e se é possível a ele conhecer algo.
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456

Essa limitação da participação das partes, que na verdade mais se aproxima a uma limitação da
possibilidade de produzir prova, é característica à tutela cautelar e à tutela antecipatória.
Nessas duas hipóteses, o legislador processual estabelece a limitação da produção de prova,
mandando o juiz se contentar com uma convicção de probabilidade ou verossimilhança.

Nessa linha, o Código de Processo Civil afirma que o autor da ação cautelar deve fazer a
'exposição sumária do direito ameaçado e o receio da lesão' (art. 801, IV); que o juiz deve se
'convencer da verossimilhança da alegação' (art. 273, 'caput'); e, ainda por exemplo, que
'sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do
provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação
prévia, citado o réu (art. 461, § 3º).

São exemplos que limitam a possibilidade da produção de prova e, por isso, permitem que o
juiz decida com base em uma convicção de verossimilhança ou probabilidade. Perceba-se que
não há razão e viabilidade lógica na distinção entre verossimilhança, probabilidade, ou
qualquer outro termo que queira indicar os seus conteúdos, uma vez que não há como se
quantificar o grau de probabilidade de uma prova e, muito menos, o grau de convicção judicial.
Ou melhor, é um grande equívoco filosófico supor que a probabilidade pode variar, conforme
se esteja diante da tutela cautelar ou da tutela antecipatória. O que poderia variar, e isso
evidentemente não poderia interferir no grau de probabilidade, seria a prova a ser utilizada
em cada uma das hipóteses. Porém, como os referidos artigos não limitam a prova a uma
determinada espécie, nem mesmo nisso se pode pensar.

Em suma: em um caso a lei reduz a prova e, no outro, a lei não faz redução alguma, embora se
entenda que o juiz possa, justificadamente, reduzir o módulo da prova.

21.2.3.5.2. A Tese Sueca sobre o Convencimento Judicial


Como é sabido, a regra do ônus da prova faz pesar sobre o autor o ônus de demonstrar o fato
constitutivo, e sobre o réu o ônus de demonstrar o fato extintivo, modificativo ou impeditivo
(art. 333 do CPC). A ideia posta nessa regra não é bem vista por muitos, que dizem que não há
racionalidade em julgar contra o autor que demonstrou o que alegou com certo grau de
probabilidade, mas não conseguiu convencer o juiz.

A teoria que se estabeleceu na Escandinávia tem uma vinculação muito íntima com essa
problemática. Essa teoria propõe uma restrição da importância da regra do ônus da prova,
sintetizando, em suma, a ideia de que ao juiz bastaria uma convicção de verossimilhança.

Em certos casos, o juiz deveria chegar à verossimilhança prevista na lei, enquanto que, em
outros, ele mesmo poderia determinar o grau de verossimilhança necessário, considerando as
circunstâncias do caso concreto. Ou seja, a falta de previsão legal não retiraria do juiz a
possibilidade de julgar com base em verossimilhança, quando então o julgamento deveria
considerar as consequências que derivariam da exigência de um grau de verossimilhança
muito alto e, portanto, de um julgamento fundado na regra do ônus da prova.

Nessa dimensão o raciocínio judicial deve observar duas fases: na primeira o juiz estabelece o
grau de prova suficiente e, na segunda, atribui determinado grau às provas produzidas.
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457

Somente quando a prova não alcançar o grau preestabelecido é que o juiz lançará mão da
regra do ônus da prova.

Se a posição de uma das partes é mais verossímil que a da outra, ainda que minimamente, isso
seria suficiente para lhe dar razão. Nessa lógica, ainda que a prova do autor demonstrasse com
um grau de 51% a verossimilhança da alegação, isso tornaria a sua posição mais próxima da
verdade, o que permitiria – segundo a doutrina escandinava – um julgamento mais racional e
melhor motivado que aquele que, estribado na regra do ônus da prova, considerasse a
alegação como não provada.

Nesse sentido, a doutrina fala em verossimilhança preponderante - na Suécia em


Överviktsprincip e na Alemanha em Uberwiegensprinzip - para significar a suficiência de um
grau de probabilidade mínimo. Aí, como é fácil perceber, a ideia de ônus da prova acaba
assumindo importância não como mecanismo de distribuição desse ônus e, muito menos,
como regra de juízo, mas como uma espécie de régua que indicaria a parte que deveria obter
êxito.

O ônus da prova constituiria o ponto central dessa régua, e assim o ônus de produzir prova não
pesaria sobre nenhuma das partes. A parte que conseguisse fazer a régua pender para o seu
lado, ainda que a partir de um mínimo de prova, mereceria ganhar a causa, quando então
prevaleceria o princípio da 'verossimilhança preponderante'.

Essa tese – que obviamente não é imune a críticas – ao menos serve para chamar a atenção
para o seguinte problema: é certo pensar que a verossimilhança preponderante é um estado
de dúvida, que assim impede a formação da convicção judicial e deve conduzir à rejeição do
pedido, ou esse grau de probabilidade, ainda que mínimo, significa que, na realidade, o juiz
superou a dúvida para concluir que o autor tem razão?

21.2.3.5.3. A Tese de Gerhard Walter


WALTER - processualista alemão que muito contribuiu para o estudo da convicção judicial –
refere três métodos de constatação dos fatos: o modelo da convicção da verdade, o modelo de
controle por terceiros e o modelo da verossimilhança, cuja variante mais importante seria o
modelo da preponderância.

A particularidade da sua tese, em relação às teses antes expostas – da verossimilhança e da


preponderância (ou verossimilhança preponderante), reside no fato de que pergunta se
existiria um princípio unitário, válido para todos os casos e procedimentos, segundo o qual
deveria ser feita a constatação dos fatos. Indaga, em outros termos, se aquilo que chama de
'módulo da prova' poderia variar conforme a situação concreta.

Comparando a convicção judicial no processo penal e no processo civil, afirma WALTER que, se
a presunção de inocência que emana do princípio do Estado de Direito não deve ser
desvirtuada apenas por ser muito verossímil a culpabilidade do acusado, o princípio do Estado
Social seria invalidado se, para a prova de um acidente de trabalho ou do direito a uma
pensão, fosse exigido o mesmo grau de certeza que no processo penal. Nessa linha, conclui
que, quando se determina o 'módulo da prova', não há como deixar de levar em conta a
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matéria subjacente ao direito processual, sob pena de os fins do próprio direito material serem
desvirtuados, ou ainda de se entrar em choque com outros importantes princípios do direito.

Argumenta que, para se pensar na adequação e na legitimidade do módulo da prova, não


basta considerar os princípios jurídicos, ainda que os mais elevados, mas é também necessário
analisar os propósitos que o legislador teve em relação a uma matéria concreta, seja quando a
lei os mencione expressamente como fins, ou quando possam ser inferidos a partir das razões
da lei ou do procedimento; o módulo da prova dos procedimentos diferenciados tem que
responder a esses fatores e, assim, ser variável.

Afirma, então, que não há como se pensar na aplicação de um modelo unitário, chamado
'verdade', para todas as situações concretas. Não obstante - e aqui fica nítido o seu
distanciamento em relação à tese da verossimilhança preponderante -, conclui, a partir da
premissa de que o legislador alemão estabeleceu a necessidade de o juiz se convencer da
verdade, que é inadmissível se pensar em reduzir, para todas as situações concretas, o módulo
de prova. Ou seja, o seu entendimento é de que nem o modelo da convicção de verdade, nem
o modelo da verossimilhança preponderante (ou ainda o modelo de controle por terceiros),
poderiam ser aplicados a todos os casos.

A encruzilhada, posta no meio do desenvolvimento do seu raciocínio, impôs a análise acerca


de quando o método da convicção da verdade pode ser dispensado em favor do método da
verossimilhança. É quando demonstra a necessidade de um agrupamento dos casos que
exigiriam a redução do módulo da prova.

Como exemplos de grupo de casos, ressalta: enfermidades profissionais; acidentes de


trabalho; lesões pré-natais; casos de refugiados e de vítimas do nazismo; casos de seguros;
trabalho perigoso; proteção do trabalhador contra a despedida; recusa ao serviço militar por
razões de consciência; responsabilidade objetiva; infrações a determinados deveres. Adverte
que esses casos não são taxativos. O seu objetivo é unicamente deixar claro o sistema
subjacente. Os casos devem formar um campo que, diante de sua natureza, tem dificuldade de
ser esclarecido. Ademais, o direito material deve deixar entrever que essas dificuldades de
prova não devem ser suportadas pela vítima.

21.2.3.5.4. Objeções à Tese da Verossimilhança Preponderante


Não há como negar que o juiz não pode apreender a essência da verdade e que a prova não
pode ser pensada como meio capaz de reconstruir os fatos da causa. Isso não significa,
entretanto, conforme já dito, que o juiz não deva procurar se convencer a respeito da
verdade. Ou melhor, não é porque a verdade do processo é construída através da participação
das partes e do próprio juiz, e, nesse sentido, não pode ser confundida com a 'verdade' dos
fatos - que é inatingível -, que o juiz pode definir o conflito de interesses com base na tese da
verossimilhança preponderante, como pretendia a doutrina sueca e parte da doutrina alemã.
O juiz, ainda que não possa buscar, na perspectiva gnoseológica, a verdade dos fatos – até
porque essa não pode sequer ser a sua intenção -, evidentemente não pode abrir mão da
necessidade de se convencer para julgar o mérito.

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Aliás, mesmo aqueles que desejam que o juiz dê ganho de causa à parte cujo direito é mais
verossímil, encontram um obstáculo insuperável na sustentação dessa teoria. É que não é
possível medir, em termos matemáticos, a graduação de uma prova ou de um conjunto de
provas, o que impediria a devida justificação da 'verossimilhança preponderante'. É preciso
que exista algo externo à prova para justificar a redução da sua exigência.

De qualquer forma, não há como negar a obviedade de que o juiz, para julgar adequadamente,
deve buscar se convencer da verdade. Ora, supor que o juiz, em regra, deve proferir a
sentença com base na verossimilhança que preponderar, é simplesmente imaginar que o juiz
não precisa se convencer para julgar.

A VEROSSIMILHANÇA SOMENTE PODE SER VISTA COMO REGRA NO CHAMADO JUÍZO


SUMÁRIO, OU MELHOR, QUANDO O JUIZ DEVE DECIDIR ANTES DE DAR ÀS PARTES A
DEVIDA OPORTUNIDADE DE PARTICIPAÇÃO. É certo que a tutela antecipatória se funda
no princípio da probabilidade. Mas isso não é decorrência da dificuldade de prova ou da
natureza do direito material discutido, mas sim uma limitação natural derivada da
postecipação do contraditório, isto é, de uma limitação à participação imposta pela própria lei
processual.

21.2.3.5.5. O Convencimento Judicial e a Regra do Ônus da Prova


Como visto no último item, em casos excepcionais o juiz pode julgar, fundado na dificuldade
da prova e nas particularidades do direito material, com base em verossimilhança. Mas por
enquanto é oportuno tratar da questão relativa ao julgamento com base na regra do ônus da
prova, ou mais precisamente, da situação em que o juiz, por não ter se convencido de que o
autor provou o fato constitutivo, proferiu a sentença afirmando que a regra do ônus da prova
não foi observada.

É claro que o juiz, quando não convencido pela prova das partes, pode determinar prova de
ofício. Acontece que essa possibilidade não é suficiente para permitir elucidar todos os casos
concretos, especialmente porque, na maioria das vezes, não há outras provas a produzir ou o
juiz desconhece os meios de prova que efetivamente podem auxiliar. Portanto, a tão
decantada tese de que o juiz deve determinar prova de ofício deve ser vista como uma ideia
simplista e ingênua caso tenha a pretensão de se constituir em uma alternativa ao julgamento
baseado na regra do ônus da prova.

Como fazer, então, ante o princípio da vedação ao non liquet?

Em alguns casos, o juiz pode estar em estado de dúvida no momento de sentenciar. Nessas
hipóteses, se a dificuldade da prova e as características do direito material em litígio não
justificarem a chamada 'redução do módulo da prova' ou a inversão do ônus da prova, não
resta outra saída ao juiz senão julgar improcedente o pedido com base na regra do ônus da
prova.

Portanto, além de ser falsa a suposição de que o juiz sempre julga depois de 'ter descoberto a
verdade', é impossível afirmar que o juiz pode deixar de julgar por não estar convencido. No
máximo, o que alguém poderia dizer é que a sentença, quando lastreada em dúvida, não
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produz coisa julgada material, quando se teria uma espécie de coisa julgada 'secundum
eventum probationis'. Porém, a aceitação dessa tese eliminaria a própria razão de ser da coisa
julgada material, que é, como se sabe há muito, a de impedir a eternização dos conflitos. Dizer
que uma sentença, que trata do litígio, não se reveste da autoridade da coisa julgada material,
é simplesmente afirmar que ela não tem valor algum. Ou mais precisamente: retirar a coisa
julgada da sentença é o mesmo que concluir que o juiz está autorizado a não julgar.

Não há mais como supor que a decisão jurisdicional encontre fundamento na verdade, pois é
óbvio que não existe uma verdade, mas tantas versões de verdade quantas forem necessárias.
Cada parte tem a sua, e o juiz, para proferir a decisão, elabora a própria – que pode ser a
versão inteira ou parcial de uma das partes.

É certo que o juiz deve buscar se convencer da verdade. Mas essa convicção se faz com base
na argumentação ou nas provas trazidas ao processo, inclusive as determinadas de ofício, o
que gera uma verdade construída no processo. O que legitima a decisão jurisdicional ou a
coisa julgada é a devida participação das partes e do juiz, ou melhor, as próprias regras que
criam as balizas para a construção da verdade processual.

Não se confunda tudo isso com a possibilidade de a parte propor ação rescisória quando, após
a sentença, obtiver documento novo, 'cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso,
capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável' (art. 485, VII, CPC). Essa hipótese,
como é evidente, não abre ensejo para a simples rediscussão do litígio, uma vez que admite a
rescisão da sentença que produziu coisa julgada material, e isso quando a parte puder
apresentar documento cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, e capaz, por si
só, de lhe assegurar resultado favorável.

Embora o art. 485, VII do CPC fale em documento, cuja existência a parte ignorava ou de que
não pôde fazer uso, é correto interpretar documento como abrangente de qualquer meio
técnico não existente à época em que o conflito foi discutido, e assim compreender o caso
excepcional e exemplar da investigação de paternidade. Com efeito, não há como deixar de
observar que, quando se pensa em documento novo, supõe-se documento existente à época
da ação, mas que não pôde ser utilizado, e que esse raciocínio não pode ser empregado diante
do DNA, pois esse não constitui documento ou algo que existia na época da ação. O exame de
DNA é um meio técnico novo para se pôr em evidência um fato que foi afirmado na ação, ou
uma prova pericial que não pôde ser realizada para demonstrar o fato afirmado, por
consistente em técnica que ainda não podia ser utilizada.

Frise-se que a possibilidade de ação rescisória com base em documento novo nada tem a ver
com a suposição de que a coisa julgada é legitimada pela verdade. A COISA JULGADA
ENCONTRA LEGITIMAÇÃO, COMO JÁ FOI DITO, NA ADEQUADA PARTICIPAÇÃO DAS PARTES E
DO JUIZ E, ASSIM, NAS PRÓPRIAS REGRAS QUE TORNAM LEGÍTIMA A CONSTRUÇÃO DA
VERDADE PROCESSUAL. Quando se entende que a participação, diante da não possibilidade
do uso de um documento ou meio técnico, foi prejudicada, confere-se à parte a possibilidade
de propor ação rescisória. É pouco mais que evidente que tal possibilidade não se fundamenta
na ideia de que a verdade ainda não foi encontrada, até porque a ação rescisória pode ser
julgada improcedente. A ação rescisória com base em documento novo, que é limitada no
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tempo - como qualquer outra rescisória - em razão da necessidade da estabilização dos


conflitos, relaciona-se com a necessidade de adequada participação das partes no processo.

21.2.3.5.6. Sentença de Improcedência por Falta de Provas na Tutela Coletiva


É interessante abordar as hipóteses em que a lei, tratando de direitos difusos e coletivos,
afirma que a sentença de improcedência por insuficiência de provas não gera coisa julgada
material.

Segundo o art. 1º da Lei da Ação Popular, 'qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a
anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito
Federal, dos Estados e dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia
mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União
represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de
instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou
concorra com mais de 50% (cinquenta por cento) do patrimônio ou da receita ânua de
empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos
Municípios e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres
públicos'. Considerando que a ação popular diz respeito a direitos difusos, e que uma sentença
de improcedência, fruto da participação de um só cidadão, poderia prejudicar a todos, e até
mesmo resultar de uma deficiente – e quem sabe proposital – deficiência de instrução do
processo com provas, concluiu o art. 18 dessa mesma lei: 'a sentença terá eficácia de coisa
julgada oponível erga omnes, exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por
deficiência de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova'.

Na Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), que também trata de direitos difusos e coletivos
(art. 1o), o art. 16 possui a mesma inspiração: 'a sentença civil fará coisa julgada erga omnes,
nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova'.

O Código de Defesa do Consumidor, também ao tratar dos direitos difusos e coletivos,


praticamente repete a ideia no art. 103, I e II: 'Nas ações coletivas, de que trata este Código, a
sentença fará coisa julgada: I – erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com
idêntico fundamento, valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do
art. 81; II – ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência
por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese
prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81'.

Todos esses dispositivos têm o mesmo fim: possibilitar a discussão do litígio que, em princípio,
seria solucionado contrariamente aos direitos difusos e coletivos em razão de insuficiência de
provas. Essa 'insuficiência de provas' seria o sinal de que a parte que foi a juízo para defender
os direitos difusos e coletivos poderia ter atuado de modo deficiente ou, o que é pior, de
maneira intencionalmente precária.

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Isso evidencia, em primeiro lugar, que a sentença de improcedência por insuficiência de provas
nada tem a ver com a sentença própria ao mandado de segurança, em que o juiz apenas julga
o mérito quando tem prova documental. No caso de direitos difusos e coletivos não há
restrição ao julgamento do mérito pelo motivo de não existir prova documental, mas sim
limitação à coisa julgada por ter a sentença de improcedência baseado-se em provas
insuficientes.

Quando não há prova documental no mandado de segurança, o juiz não julga o mérito, mas
apenas afirma que a via do mandado de segurança não é adequada. Mas nas ações relativas a
direitos difusos e coletivos, a insuficiência de provas obriga o juiz a proferir uma sentença de
improcedência.

A razão dessa diferença é simples: no mandado de segurança, a inexistência de prova


documental faz ver que a via processual é inadequada, enquanto que, nas demandas coletivas,
a insuficiência de provas tem apenas relação com a possibilidade de instrução deficiente da
ação adequada. Ou melhor: no primeiro caso não há a espécie probatória exigida, o que
impede o julgamento do mérito – seja favorável ou desfavorável ao autor -, e, no segundo, a
insuficiência de provas gera o julgamento de improcedência.

Assim, a real diferença entre as hipóteses está em que, no mandado de segurança, não existe
cognição exauriente quando não há prova documental (cognição exauriente 'secundum
eventum probationis'), ao passo que, nas demandas coletivas, a sentença é proferida - e,
assim, a cognição é exauriente -, existindo somente uma limitação à formação da coisa
julgada material.

Lembre-se que o juiz pode produzir prova de ofício, especialmente nas demandas coletivas,
dada a relevância do direito material em litígio e o fato de apenas um dos legitimados à sua
defesa estar em juízo. Assim, a insuficiência de provas somente pode ser o resultado de um
processo em que se deu às partes e ao juiz a devida oportunidade de participação. O fato de o
juiz, após tudo isso, não ter formado a sua convicção a respeito da verdade, deve viabilizar um
julgamento de procedência - com base na redução das exigências de prova - ou um julgamento
de improcedência - com base na regra do ônus da prova.

Para se admitir que o julgamento com base em insuficiência de provas é um julgamento


fundado em cognição exauriente 'secundum eventum probationis', teríamos que concluir que o
juiz, no caso de insuficiência de provas, não deve julgar, o que é absolutamente contrário aos
fundamentos do direito processual civil e à própria letra das normas antes referidas, que falam
em improcedência. Ou ainda, admitir que a sentença de improcedência somente abre
oportunidade para ação baseada em 'nova prova' quando afirmar expressamente a
insuficiência de provas. Perceba-se, porém, que então não haveria razão para distinguir a
sentença baseada em insuficiência de provas e o não-julgamento, pois a improcedência,
atrelada pelo juiz à sentença, seria um qualificativo sem valor algum. O juiz estaria dizendo que
proferiu sentença de improcedência para esconder que não julgou por não ter provas.

Acontece que o juiz pode estar convencido, diante das provas produzidas, que o autor não tem
razão, e assim entendê-las como suficientes. Nesse caso, se outro legitimado possuir 'nova
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prova', estará proibido de propor nova ação? Como é evidente, tal proibição estaria negando
as próprias razões das exceções legais – previstas nos artigos antes referidos - à coisa julgada
material. Recorde-se – apenas para evitar mal entendidos - que se o juiz souber que existe
uma prova que não foi utilizada pela parte, deve determinar a sua produção de ofício, o que
obriga à distinção entre a impossibilidade de o juiz prever uma 'nova prova' e a possibilidade
dele determinar a produção de ofício de prova - que ele obviamente conhece - não utilizada
pela parte.

Se é possível pretender rediscutir a demanda coletiva com base em 'nova prova', para se evitar
que um direito difuso ou coletivo seja prejudicado pela atuação deficiente ou maliciosa de um
legitimado, não há qualquer motivo para entender que 'nova prova' é somente aquela que não
existia, que era desconhecida ou que não pôde ser utilizada pelo autor da demanda anterior.
Considerada a própria razão de ser da limitação à coisa julgada, não há como deixar de
concluir que toda e qualquer prova não produzida e valorada no processo encerrado, pode ser
qualificada como 'nova prova'.

Mas se é assim, cabe esclarecer que essa 'nova prova' deve ser indicada na petição inicial da
nova demanda coletiva, dando-se ao juiz, com isso, apenas a possibilidade de saber se tal
prova não foi valorada anteriormente. É lógico que, ao lado dessa 'nova prova', o juiz deverá
considerar as provas que já foram valoradas, pois não se nega a possibilidade do
aproveitamento da prova já produzida, mas apenas a necessidade de que, ao lado dessas, seja
indicada e produzida uma 'nova prova' .

Como se vê, toda sentença que se baseia em fato que deixou de ser devidamente provado
para conduzir à procedência da demanda coletiva pode ser revista em ação posterior fundada
em 'nova prova'. Por isso não produz coisa julgada material e, assim, ainda que não proposta
nova ação, não merece a mesma credibilidade da sentença por ela acobertada. Isso quer dizer,
basicamente, que ainda que não seja proposta ação fundada em 'nova prova', a sentença de
improcedência, nessas circunstâncias – ainda que nada tenha dito sobre a insuficiência de
provas -, pode ser discutida por qualquer legitimado, logicamente com base em 'nova prova',
em qualquer outra ação em que o réu na demanda coletiva pretenda utilizá-la.

21.2.3.5.7. Standards do Convencimento Judicial120


INTRODUÇÃO.

Não se pode pôr em dúvida que os progressos alcançados pela metodologia e hermenêutica
jurídicas têm-se refletido na ciência processual. Importantes estudos vêm sendo produzidos
em busca de novas soluções para antigos e recorrentes impasses, cujos modelos, até então
estabelecidos, não vinham produzindo ou não produziram resultados de todo satisfatórios.
Nesse contexto, um tema que realmente precisa ser revisitado, e com urgência, é o do
convencimento judicial ou, mais precisamente, o problema do seu controle.

A literatura sobre esse fenômeno altamente complexo  “convencimento judicial” ou


“convicção judicial”  converge, já em seu ponto de origem, para setores de pensamento

120
Disponível em: http://www.abdpc.org.br/artigos/artigo37.htm. Consulta aos 09/02/2011.
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relativamente conhecidos. Costuma-se, a respeito, expor os três modelos históricos atinentes


à valoração das provas  íntima convicção, prova legal ou tarifada e persuasão racional 
destacando-se, em seguida, a excelência deste último, normalmente associado tanto a
eminentes valores democráticos, como a legítimas conexões do processo com o ordenamento
jurídico-constitucional. Sua caracterização, destarte, vem, de regra, estabelecida com as
seguintes notas: “a) embora livre o convencimento, este não pode ser arbitrário, pois fica
condicionado às alegações das partes e às provas dos autos; b) a observância de certos
critérios legais sobre provas e sua validade não pode ser desprezada pelo juiz (arts. 335 e 336,
bem como das presunções legais); c) o juiz fica adstrito às regras de experiência, quando
faltam normas legais sobre as provas; d) as sentenças devem ser sempre fundamentadas, o
que impede julgamentos arbitrários da prova dos autos”.

Essa impostação  que se poderia qualificar de tradicional  deixa, no entanto, sem resposta
um sério e grave problema. Afinal, ao se ter assim conceituado o sistema da persuasão
racional, terá faltado estabelecer, justamente, o núcleo do problema por ele suscitado, ou
seja, a questão de saber se existe, ou não, uma instrumentação jurídica capaz de efetuar o
controle da convicção judicial formada em determinado caso concreto. Em outros termos,
fica por identificar uma base teórica, eminentemente voltada à prática, capaz de orientar o
exame científico de um determinado convencimento judicial, com vistas à sua crítica, análise e
correção.

Chega-se, então, a um dilema: ou a instrumentação para esse controle existe  e se de deve


tentar enunciá-la  ou esse controle deve ser havido como impossível (ou ainda impossível),
caso em que seria hora de, quando menos, reconhecê-lo abertamente. Nesse sentido,
VITTORIO DENTI põe em evidência duas abordagens teóricas frente à questão: (a) ou se exclui
a possibilidade mesma de um controle puramente lógico do juízo de fato, resolvendo esse
controle na mera renovação do próprio juízo (recurso) ou (b) se recorre a parâmetros lógicos,
originários do valor de probabilidade em que se fundam as inferências probatórias para
efetuá-lo. Trilhada a segunda via, obviamente tem de construir-se um modelo científico capaz
de proceder à verificação de tais parâmetros.

É justamente para essa problemática que o presente trabalho atenta: existirá um módulo (ou
módulos) suscetível de utilização pelos operadores jurídicos, para a crítica e o controle do
mérito de um convencimento judicial, ou esse controle somente será possível mediante a
simples renovação ou repetição do próprio processo de convencimento por um juiz diverso?

Ao que parece, a praxis, pelo menos a brasileira, orienta-se pela pura e simples renovação ou
repetição do próprio juízo de fato, como forma de efetuar este controle: os tribunais
brasileiros, quando do exame da quaestio facti, em geral reavaliam a prova como um todo,
de modo que o mecanismo de controle da convicção judicial acaba reduzindo-se à sua
própria renovação. Em outras palavras, o objeto do controle – a convicção judicial – num
segundo momento – o do recurso – transforma-se no próprio mecanismo de controle, pois não
se costuma, antes e por primeiro, ou mesmo concomitantemente, examinar e verificar o iter
lógico, a congruência narrativa, a consistência lógico-argumentativa do juízo de fato como
uma questão ‘in se’, ou seja, como uma questão autônoma e relevante. Como bem observou
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SERGI GUASCH FERNÁNDEZ: “a falta de esquemas racionais de valoração da prova adequados


e a degeneração mesma (...) da livre valoração, tem servido para que, de maneira quase cíclica,
se solicite uma revalorização da apreciação legal da prova como remédio contra o arbítrio do
juiz”.

Nesse sentido, se nos debruçarmos sobre a teoria estabelecida a respeito do princípio da


persuasão racional – a começar por sua definição doutrinária – observaremos, de pronto, um
hiato inaceitável. Sua formulação clássica postula que “a convicção está na consciência
formada pelas provas, não arbitrária e sem peias, e, sim, condicionada a regras jurídicas, a
regras de lógica jurídica, a regras de experiência, tanto que o juiz deve mencionar na sentença
os motivos que a formaram. (...) Há liberdade no sentido de que o juiz aprecia as provas
livremente, uma vez que na apreciação não se afaste dos fatos estabelecidos, das provas
colhidas, das regras científicas, regras jurídicas, regras da lógica, regras da experiência”. Ora, a
partir desta compreensão, deveriam necessariamente existir “controles”, “modelos de
constatação”, “standards jurídicos” ou “instrumentos” capazes de evitar que a
discricionariedade judicial, agudizada neste delicado setor da experiência processual, se viesse
a traduzir em arbítrio.

Não se trata  é bom advertir desde logo  de mero academicismo, mas de uma questão
essencialmente prática. Por exemplo, a opção por um controle de tipo lógico e substancial
implicaria um alargamento do âmbito dos recursos especial e extraordinário. Viabilizaria,
outrossim, uma possibilidade de diálogo muito mais amplo, franco e consistente no terreno do
juízo de fato, superando a mera substituição de uma convicção – a do Juiz – por outra – a do
Tribunal. Entretanto, é óbvio que essa mesma construção oferece seus riscos: poderia
determinar um formalismo exagerado no setor da prova, a ponto de autonomizar, por
exemplo, uma verdade judiciária ou processual por oposição à assim chamada “realidade”,
confundindo opinião e verdade, donde se percebe, a um só tempo, a complexidade e a
importância do tema.

2. O convencimento judicial como um problema permanente, fundado no dilema


metodológico questão de fato/questão de direito.

Nesse sentido, como primeira questão, impõe-se justificar o caráter problemático do controle
da convicção judicial, vale dizer, da formação da base fática de uma decisão. Tem-se, a
propósito, a nítida impressão de que, com isso, repropõe-se, em menor escala, a dicotomia
jurídica questão-de-fato—questão-de-direito, cuja reformulação teórica geral não teve,
segundo parece, uma proporcional ressonância no âmbito da ciência processual. Somente o
seu enfrentamento, ainda que sucinto, permitirá fixar os pressupostos da construção de um
possível modelo de controle.

A propósito, como está assente, durante o largo tempo em que dominou o positivismo
jurídico, fato e direito, no contexto da decisão jurídica, eram vistos a partir de um enfoque
estático, imóvel. A ideia de “subsunção”, largamente dominante, apoiada no silogismo puro,
como modelo não apenas descritivo, mas explicativo da aplicação do direito, pressupunha,
efetivamente, a heterogeneidade e a independência dessas duas questões. Heterogeneidade,

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porque uma (a questão de fato) não se poderia confundir com outra (a questão de direito); e
independência, porque ambas poderiam ser, não apenas isoladas, como, sobretudo,
examinadas isoladamente, cada qual com o seu instrumental próprio. Assim, numa estrutura
tipicamente silogística, o Juiz deveria estabelecer a norma aplicável ao caso concreto e, numa
operação separada e distinta, o fato controvertido, procedendo, em seguida, à subsunção do
fato à norma. Consequência: ao direito probatório, assim, só restava a função, quase que
extrajurídica, de introduzir o fato no silogismo judiciário, uma função, por certo, marginal.

O quão esse modelo fosse falacioso não vale, mais, insistir, tanto que, na feliz expressão de
Coing, “significa já, hoje, ‘arrombar portas abertas o pretender-se combater a concepção que
vê na aplicação do direito uma actividade puramente lógica”. Efetivamente, o subsuntivismo
estava assentado em bases conhecidas: “a titularidade do direito pelo Estado, e, dentro do
Estado, pelo Poder Legislativo”, com “a total exclusão do poder criador de direito por parte
da função judicial (...) para uma absoluta garantia contra o arbítrio judicial”; a noção de que,
na decisão judicial, “tudo se devia passar em termos de perfeito automatismo e estrita
necessidade”. Tais postulados, prenhes de sentido político-ideológico, se evidenciam nas
palavras de ROBESPIERRE, a proclamar que “esta expressão, jurisprudência dos tribunais,
deveria ser eliminada de nossa língua. Num Estado que tem uma Constituição, uma legislação,
a jurisprudência dos tribunais não é outra coisa que a lei”. E, não fosse bastante esse desgaste
ideológico, também seus problemas metodológicos acabaram expostos, resultando, no preciso
dizer de HUMBERTO ÁVILA, “invencíveis”.

Caem, destarte, a heterogeneidade e a independência dessas duas questões (fato e direito).


Mas se nos perguntamos a respeito dos modelos que vieram a substituir a velha fórmula,
teremos de confessar a ausência de uma explicação definitiva, muito embora alguns novos
pontos de partida – e que contribuirão para a enunciação dos standards de controle – tenham
sido formulados. É que o abandono da ideia subsuntivista reclama, como contrapartida
necessária, um instrumental novo de verificação dos fatos, pois, vinculadas agora as duas
questões, tem de cessar a posição marginal e a neutralidade dos fatos perante a teoria
jurídica.

No que nos diz respeito, pelo menos duas noções merecem registro. Referimo-nos, em
primeiro lugar, à “Espiral Hermenêutica”121, segundo a qual a aplicação do direito envolve uma

121
No âmbito jurídico não pode ser considerada verdadeira a ideia de Schleiermacher sobre a
existência de um momento no qual ocorre a compreensão total. Compatibiliza-se mais o pensamento
de que: o círculo da compreensão não é cumulativo, não é um círculo que se fecha sobre si mesmo, não
tem a forma de uma circunferência, mas de uma espiral. Por isso, “não é correto falar em compreender
melhor”, como se a verdade fosse um objeto a ser alcançado ao final do processo de elaboração da
compreensão e de uma vez para sempre (...) explicita a prévia estrutura da compreensão e concebe a
verdade como o sentido possível de ser manifestado e jamais esgotável (ALMEIDA, 2002, p. 275-276).
A percepção de Gadamer acerca do círculo hermenêutico é mais coerente com a seara jurídica, pois
rechaça o ponto final no qual surge a verdade. Ao contrário, as interpretações são inesgotáveis
possibilidades. Este filósofo detalha seu pensamento da seguinte maneira: “o círculo, portanto, não é
de natureza formal. Não é objetivo nem subjetivo, descreve, porém, a compreensão como o jogo no
qual se dá o intercâmbio entre o movimento da tradição e o movimento do intérprete. A antecipação de
sentido, que guia a nossa compreensão de um texto, não é um ato da subjetividade, já que se determina
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atividade altamente dinâmica, em que se circula das premissas menores às maiores, diversas
vezes e sucessivamente, até se conformarem fato e direito naquilo que, apenas
descritivamente, ou seja, em sua forma ou aparência externa, será um silogismo. Aqui, a
formulação do juízo de fato e do direito a aplicar são conjunta e reciprocamente elaborados,
um exercendo grande influência sobre o outro, num intenso movimento da norma ao fato, do
fato à norma, até chegar-se ao produto final.

a partir da comunhão que nos une com a tradição. Mas em nossa relação com a tradição essa comunhão
é concebida como um processo em contínua formação” (GADAMER, 2005, p. 388).
Dessa forma, “compreender não é compreender melhor, nem sequer no sentido de possuir um melhor
conhecimento sobre a coisa em virtude de conceitos mais claros, nem no sentido da superioridade
básica que o consciente possui com relação ao caráter inconsciente da produção. Basta dizer que,
quando se logra compreender, COMPREENDE-SE DE UM MODO DIFERENTE” (GADAMER, 2005, p. 392).
Há dois fatos que devem ser especialmente frisados: primeiramente, que a tradição influencia no
processo de compreensão, isso significa que Gadamer considera o caldo cultural no qual o intérprete
está imerso; e, secundariamente, para este filósofo inexiste a compreensão, como uma única
possibilidade verdadeira, mas sim posições, interpretações. Neste ínterim, solução divergentes entre
juízes ou tribunais é apenas uma questão de interpretação adotada, não havendo certo/errado.
Isso remete a uma explicação de Hegel para a filosofia de Heráclito, expressa pelo pensamento de que
“tudo o que é ao mesmo tempo não é, [o qual salienta] o fato de ele esclarecer que a certeza sensível
não possui verdade alguma” (Os Pré-Socráticos, 1973, p. 106). Ora, se a certeza sensível não é
verdadeira poder-se-ia falar em verdade única advinda de um texto? Palavras são mais confiáveis que os
sentidos?
A posição de que “o que é, ao mesmo tempo já novamente não é” (Os Pré-Socráticos, 1973, p. 98-99) é
plenamente verossímil quando pensamos no Direito, pois não há como, antecipadamente, ter plena
certeza da decisão que será dada pelo julgador e a mudança de entendimento é algo comum no mundo
jurídico. Inclusive poder-se-ia afirmar que é esta mutabilidade que dá vida ao Direito e impulsiona-o a
um progresso.
Retomando a ideia gademeriana acerca da inexistência de uma interpretação correta, fá-se importante
mencionar as palavas de Kelsen: “A interpretação jurídico-científica tem de evitar, com o máximo
cuidado, a ficção de que uma norma jurídica apenas permite, sempre e em todos os casos, uma só
interpretação “correta”. Isto é uma ficção de que se serve a jurisprudência tradicional para consolidar o
ideal da segurança jurídica. Em vistas da plurissignificação da maioria das normas jurídicas, este ideal
somente é realizável aproximativamente” (KELSEN, 1998, p. 396).
Nota-se que Kelsen trata a univocidade das normas como uma ficção e assim ratifica a existência de
interpretações, de possibilidades. Sendo o texto normativo dotado de vários significados, a segurança
jurídica fica prejudicada pois depende da interpretação dada pelo órgão aplicador do direito.
Quanto à estrutura do círculo hermenêutico, interessante a representação como um espiral. Esta pode
ser empregada para explicar o processo evolutivo do campo jurídico: o julgador parte do sistema
jurídico (cuja hipotética e simplista composição foi anteriormente explanada) e de elementos da
tradição, para assim interpretar os fatos expostos pelas partes e decidir; ocorre que essa decisão
também passa a integrar o sistema jurídico e, portanto, modifica-o. DESSA FORMA, EM UMA
DEMANDA POSTERIOR TEM-SE NOVAS PARTES, UM SISTEMA JURÍDICO DIFERENTE, UM JULGADOR
CUJAS IDIOSSINCRASIAS JÁ NÃO SÃO EXATAMENTE AS MESMAS E PODE-SE COGITAR QUE ATÉ
MESMO A TRADIÇÃO JÁ FORA LEVEMENTE ALTERADA.
EM SUMA, A JURISPRUDÊNCIA ASSUME PAPEL CENTRAL NO ESPIRAL JURÍDICO-
HERMENÊUTICO, POIS ALÉM DE SER O RESULTADO DA TUTELA JURISDICIONAL É FONTE DO
DIREITO. ATRAVÉS DESSA MUTABILIDADE HÁ CORREÇÃO DO DIREITO ABSTRATO,
POSSIBILITANDO QUE NO ÂMBITO DISCRICIONÁRIO HAJA UMA CONSTANTE ATUALIZAÇÃO
COM VISTAS AOS IDEAIS SOCIAIS. A IMAGEM DO ESPIRAL SALIENTA QUE O SISTEMA
JURÍDICO NÃO ESTÁ COMPLETO, TAMPOUCO É FECHADO; AO CONTRÁRIO, ESTÁ EM PERMANENTE
FORMAÇÃO.
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Desaparece, portanto, a ideia de independência entre quaestio facti e quaestio juris, que
resultam em estreita conexão, no sentido de progressiva e reciprocamente determinarem-se:
a aplicação da norma ao fato consiste na determinação (na descoberta) da sua coincidência,
através de um movimento circular de compreender, que procede a uma pluralidade de níveis
sucessivos: “é o direito que define e determina aquilo que no processo constitui o fato”.

Ao lado da noção de Espiral Hermenêutica, cabe mencionar a ideia de Pré-Compreensão,


segundo a qual se supõe que “no início do processo do compreender, existe, por regra, uma
conjectura de sentido, mesmo que por vezes ainda vaga, que acorre a inserir-se numa primeira
perspectiva ainda fugidia. O intérprete está munido de uma pré-compreensão, com que
penetra o texto. (...). O jurista que interpreta uma lei, ou um contrato, enfrenta a sua tarefa
com todo o seu saber acerca dos problemas jurídicos, conexões de problemas, formas de
pensamento e, assim, possibilidades condicionadas de solução do direito vigente, assim como,
e não em último lugar, o seu saber acerca da linguagem que costumam utilizar o legislador e –
no caso de um contrato – o particular versado em matérias jurídicas. A sua pré-compreensão é
o resultado de um longo processo de aprendizagem (...)”. Entende-se, então, que “no auge da
compreensão do jurista está um projeto e uma antecipação de significado, denominada pré-
compreensão (Vorverständnis). Hoje se admite que a pesquisa judicial da máxima de decisão
não pode surgir sem aquela intuitiva pré-compreensão que reclama, continuamente, um vai-e-
vem do olhar, da norma ao fato e do fato à norma. A pré-compreensão não se substancia,
contudo, de meras antecipações teóricas, presentes evidentemente na compreensão da
norma e do fato, mas, também, em uma antecipação de aplicação prática, mediante um
impulso de vontade que se torna proeminente, com respeito ao procedimento cognoscitivo
mesmo”.

Particularmente no que diz respeito ao juízo de fato, se a espiral hermenêutica põe em causa
sua interrelação com o juízo normativo (porque exercem uma influência recíproca, de modo
que o fato não ingressa, pela prova, em bruto, mas já moldado pela norma jurídica que
resolverá o caso concreto), o contributo da pré-compreensão vem da constatação de que,
também o fato concreto, “caracteriza-se como uma prevaloração, que é submetida a um
controle crítico não logicamente definido e a uma contínua verificação até o momento em que
se realiza o convencimento conclusivo do juiz”, o qual, destarte, “surge sob a reserva de um
melhor exame”. Remete-nos, então, a pré-compreensão à referência valorativa do juízo fático,
reclamando uma verificação suficientemente aberta das implicações, ponderações e
horizontes eventualmente considerados pelo juiz na sua identificação (p.ex., um mesmo fato
poderá ser qualificado como uma locação ou um comodato). Assim, PASTORE identifica, como
postulados da pré-compreensão, dentre outros, uma “orientação preventiva relativamente aos
eventos a serem julgados”, “a individualização dos elementos juridicamente relevantes”, “uma
atividade seletiva que se realiza na e com a linguagem jurídica”, a “cognição dos vários e
complexos elementos da realidade”.

A complexidade do processo fático, brevemente exposta, talvez explique, em parte, porque o


núcleo do convencimento judicial tenha permanecido “terra incógnita, privada de qualquer
ponto de referência”, na feliz expressão de Michelle Tarufo. Enquanto se considerou válido o
esquema subsuntivo, com a separação ingênua e radical do fato e do direito, compreende-se
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que a avaliação do fato tenha sido, realmente, “terra incógnita”, de pouco interesse para o
jurista. Afinal, o direito ou o jurista não tinham maiores responsabilidades no que era
concernente ao fático, considerado como marginal e independente de uma abordagem
eminentemente jurídica: a atenção do jurista, por óbvio, estava voltada para o direito legislado
ou para as questões legais. Daí que, nesse contexto, o máximo a que se poderia atingir – e já
não terá sido pouco –fora a regulamentação da forma probatória, ou seja, do processo legal de
aquisição da prova, mas, não, o estabelecimento de modelos jurídicos de constatação e análise
do próprio conteúdo do raciocínio judicial, levando em consideração essa influência recíproca.

Mas no momento em que se preconiza a superação do modelo positivista – sem que isso, sob
hipótese alguma, signifique o abandono da positividade do direito e sem que, por igual,
represente uma absorção do fato ao direito – bem como o abandono das concepções político-
jurídicas que lhe estavam implicadas, obviamente o juízo fático volta a merecer, também ele,
um instrumental jurídico mais adequado à sua realidade e à posição que assume no contexto
da decisão judiciária. Em síntese, se o fato não mais é independente do direito, nem pode ser
construído com total abstração das categorias jurídicas, é sinal de que ele está a reclamar um
instrumental jurídico de controle.

3. O paralelismo parcial entre teoria geral do direito e a posição do fato no raciocínio


judicial.

Por modelos de controle do juízo de fato (ou standards, critérios etc.) provisoriamente
definimos enunciações teóricas capazes de ensejar o controle da convicção judicial objeto de
uma determinada decisão. Por seu intermédio, ao invés de os partícipes de uma relação
processual simplesmente pretenderem a prevalência de uma convicção sobre a outra (p. ex., a
do Tribunal sobre a do Juiz; a do autor sobre a do réu etc.), cria-se um complexo de regras
lógicas de caráter auxiliar, capazes de estabelecer um arsenal crítico comum para o debate
acerca da convicção.

Mas, antes que se enunciem especificamente tais modelos (v. n. 07, infra), mostra-se
imprescindível, ainda preliminarmente, pôr em evidência a distinção entre a noção “clássica” e
a noção “moderna” da prova, incursionando, muito resumidamente, na evolução histórica do
“controle do raciocínio de fato” do juiz. Com efeito, será possível demonstrar que, à evolução
operada no terreno da teoria geral do direito, rapidamente referida no item anterior, também
sucedeu uma evolução no plano da teoria da prova.

Nesse sentido, é sabido que o direito romano não conheceu, ao menos no ordo judiciorum
privatorum, uma possibilidade de controle sobre o raciocínio de fato. O juiz era totalmente
livre e o juízo tendente à arbitrariedade. Basta, a esse propósito, lembrar que o iudex romano,
encarregado da fase apud iudicem, era simplesmente um cidadão romano, julgando em nome
do povo. A própria fórmula romana continha a cláusula “si paret—si non paret”, ou seja,
determinava ao juiz condenar “se lhe parecesse” e absolver “se não lhe parecesse” verídica a
narração do demandante, de modo que tudo se reconduzia à percepção íntima do juiz privado.
Era, pois, o iudex, até o final do formulário romano, totalmente livre para valorar os elementos
probatórios.

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Na fase do direito justinianeu, essa situação altera-se significativamente, em especial pelo


desaparecimento da divisão do processo nas fases in iure—apud iudicem. Com efeito, na
extraordinaria cognitio, em que o juiz-cidadão é suplantado pelo juiz-funcionário, inserido na
burocracia escalonada da República, o direito romano, abandonando aquela liberdade
absoluta, começa a fixar numerosas provas tarifadas, passando a exercer um controle muito
mais rigoroso, de tipo objetivo, sobre o raciocínio judicial. Iniciava-se, pois, um processo de
substituição do modelo da íntima convicção pelo modelo da tarifa legal, ainda não em sua
forma pura.

Na esteira do genial pensamento de GIULIANI, chega-se, então, a uma oposição entre dois
conceitos de prova – o conceito moderno e o clássico. Essa noção é de fundamental
importância para que os modelos de constatação possam ser compreendidos. Nesse sentido, o
conceito moderno de prova é fruto do iluminismo e do racionalismo, tendo um sentido
objetivista, cientificista, absoluto; o segundo, dito clássico, dominante na Idade Média, é fruto
de uma perspectiva problemática, tópica, argumentativa.

Nesse sentido, GIULIANI demonstra que “o contraste entre o conceito clássico e o conceito
moderno se manifesta de maneira estridente na determinação daquilo que é essencial,
relevante, na indagação: estão na sua base uma oposta análise do fato. A concepção clássica
põe em evidência o caráter seletivo do conhecimento e relativo do fato: dominada, como é,
pelo problema do erro, trata de limitar rigidamente o campo da indagação, renunciado ao
conhecimento do fato na sua totalidade. A concepção moderna vê, ao contrário, no
alargamento do campo de indagação o meio para um melhor conhecimento dos fatos (o
princípio da ‘total evidence’): a determinação do fato parece uma operação em certo sentido
técnica, e o mundo dos fatos parece ter uma autonomia completa, tornando possível a
introdução de critérios quantitativos, numéricos para seu acertamento”. Ou seja, o conceito
clássico de prova, dominante entre os séculos XII a XV, partindo das limitações próprias do
homem na apreensão do fato, da falibidade do próprio conhecimento humano, da sempre
presente hipótese do erro e, com isso, da injustiça, procurava, pois, fornecer as bases para que
o erro, o equívoco, fossem evitados; já o conceito moderno, numa visão positivista e
cientificista, procura, na verdade, “conhecer” o fato em sua inteireza fenomênica,
reconhecendo-o como um “mundo autônomo”, perfeitamente “apreensível” pelos sentidos
com o auxílio da razão.

Seria, aqui, absolutamente inviável uma longa incursão pela extraordinária experiência que a
medieval representou. Trata-se de um momento histórico simplesmente impressionante, a
que ainda resta fazer justiça. No que nos interessa, cabe apenas destacar a “ars inveniendi”
que o dominou, “arte” essa dominada pelo problema, pela discussão, pelo debate, pelos
diferentes pontos de vista, pela comparação e pelo pluralismo.

Com efeito, no trabalho dos glosadores, pode-se perceber toda uma preocupação com a
relevância dos argumentos, a partir da ideia tópico-retórica: “não se pode determinar o que é
revelante de um ponto de vista abstrato, mas em relação à causa, ou seja, ao ponto em
discussão”. Com isso, os juristas medievais estavam não só valorizando o debate enquanto tal,
como, sobretudo, emprestando-lhe uma função constitutiva: inviável, inatingível ou

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inapreensível uma “verdade necessária” ou “absoluta”, quanto ao conhecimento dos fatos, até
pela ampla possibilidade de erro, o processo devia contentar-se com uma “verdade provável”
nele construída. A verdade judicial, observa GULIANI, “se identifica, então, com um
procedimento de pesquisa baseado sobre as provas: a reconstrução judicial do fato aparece
aos doutores medievais, nutridos de estudos lógicos e dialéticos, um aspecto particular do
estudo das funções da razão prática em relação ao problema do conhecer através de
testemunhos. Em tal reconstrução, a indagação se apresenta essencialmente como uma
análise de proposições prováveis. (...)”.

Obviamente, não se pode superestimar a visão medieval a respeito da prova. ALESSI


PALAZZOLO denota o “bipolarismo das concepções processuais medievais, oscilando entre a
obsessiva pesquisa da verdade e o uso da violência, bipolarismo que é revelado também na
tendência de precisar em regras mínimas o processo intelectual do juiz no seu itinera, mas, ao
mesmo tempo, na exigência de confiar-lhe uma responsabilidade elevadíssima de atingir a
consciência do acusado, responsabilidade indefinida, largamente além de qualquer possível
predeterminação”.

Serão os juristas medievais, certamente influenciados pelo direito canônico, os responsáveis


por longas dissertações sobre a probatio plena, probationes verae, probationes fictae etc.
Exsurge aí a noção de prova per argumentum. As polêmicas medievais giravam em torno da
admissibilidade da prova per argumentum. Assim, p. ex., o canonista GOFFREDO substituirá a
clássica impostação de que “probatio est rei dubiae per argumenta sufficientia ostensio”, pela
formulação de que “probatio est rei dubiae per testes et instrumenta et plerumque indicia et
paresumptiones ostensio”. BALDO, personagem dos mais importantes da história jurídica,
admitiria, p. ex., uma certeza judicial obtida através de “indicia et argumenta”. Já BÁRTOLO, de
importância talvez maior ainda – sua glosa granjeou uma autoridade impressionante– em
determinados casos reclamava uma “plena cognitio et plena probatio”, donde se vê uma
graduação de standards, ou seja, de quantidades e qualidades de prova para dar-se o juiz por
convicto.

Com o predomínio do pensamento de corte racional, todavia, o polo metodológico do direito


probatório altera-se radicalmente: o raciocínio dialético cede espaço ao pensamento
apodítico, construído a partir de premissas necessárias e absolutas. Com efeito, não se deve
olvidar que, a partir do século XVII, um novo e ambicioso projeto tem início. Consoante TÉRCIO
FERRAZ Jr., “podemos dizer que o ideal clássico da ciência, correspondente aos séculos XVII e
XVIII, está ligado ao pensamento sistemático no sentido apresentado. As ciências, nesta época,
conforme nos mostra FOUCAULT, trazem sempre consigo o projeto, ainda que longínquo, de
uma ordenação exaustiva”. Já então pode-se identificar obras como as de PUFFENDORF,
THOMASIUS, LEIBNIZ e WOLF, procurando, de um modo ou de outro, uma construção quase
que matemática a respeito do direito. Por isso, a mundivisão medieval acha-se aqui
completamente alterada: com MICHELE TARELLO, “qualquer questão duvidosa admite uma e
só uma solução, e esta solução pode ser, deve ser demonstrada; a solução, na verdade, é uma
proposição jurídica verdadeira, que pode ser descoberta argumentado a partir de proposição
jurídicas verdadeiras e já conhecidas”.

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Identifica-se, pois, que, ao mesmo tempo em que as ideias atinentes ao positivismo ganharam
força, o sistema da prova haveria, necessariamente, de sofrer a sua influência, pois,
finalmente, a aceitação do modelo subsuntivista determinaria que a pesquisa de fato, até
então concebida dentro de uma premissa dialética e pluralista, pudesse ser concebida na sua
totalidade absoluta, na sua verdade total e objetiva, na sua independência e autonomia
quanto ao mundo do direito, desprezando-se, com isso, a relatividade que lhe era imanente, a
possibilidade do erro e do equívoco. Por isso, demonstra GIULIANI, o conceito moderno de
probabilidade não guardaria mais nenhuma relação com esse mesmo conceito na Idade
Média, em que estava ligado à opinião, ao consenso, ao contingente; agora, a probabilidade, o
id quod plerumque accidit, restou vinculado com o estatístico, com o necessário, com o
matemático. Em realidade, DENTI observa que, a partir da Revolução Francesa, inicia-se uma
acentuada tendência ao “juiz-funcionário”, inserido num sistema administrativo-burocrático,
que considera “a verificação dos fatos como uma operação técnica, análoga àquela realizada
pela pública administração em qualquer outro ramo de sua atividade”.

O pensamento probatório medieval é, pois, o pensamento de uma verdade provável, obtido a


partir da ars opponendi et respondendi, ou seja, a partir de um diálogo, de um debate regrado
não só em sua estrutura, como também em suas escolhas éticas. Essa noção, obviamente,
seria afastada pelo racionalismo imperante na Idade Moderna, de modo que a pesquisa fática
acabaria, pois, resultando terreno estranho ao trabalho do jurista, exatamente porque o fato
fora então visto como ente autônomo (a que correspondeu as construções jurídicas
examinadas no n. 02, supra). Com GIULIANI, “ao mundo dos fatos vem reconhecida uma
autonomia completa: quando se admite o fato como alguma ciosa de externo, de objetivo, é
menosprezado aquele aspecto da contraditoriedade na pesquisa, que no passado pareceu
essencial, sob o influxo das teorias retóricas e dialéticas”. Perde-se a ideia, até então corrente,
de que poderia dar-se uma “patologia da argumentação”: “a consciência medieval”, afirma,
“adverte não apenas sob o plano da experiência judicial, mas também sobre o político e
religioso, a preocupação de subtrair a verdade do fato e a prova dos fatos ao arbítrio do
príncipe. A sua atividade normativa não tem uma presunção de legitimidade. Essa pressupõe,
como a judicial, uma notitia facti ao lado de uma notitia juris: também nesse caso o fato deve
ser submetido à verificação pelo contraditório”.

Ora, à vista da evolução teórica conducente à superação do positivismo jurídico e,


particularmente, ao reenquadramento do fato no contexto da decisão judicial (cf. n. 02,
supra), considerando-se, também, a substituição do conceito clássico de prova pelo conceito
moderno, torna-se visível a sintonia entre as concepções de teoria geral do direito e as
concepções a respeito da prova. No seio do positivismo e a partir de uma visão axiomático-
dedutiva, foi possível, haja vista, conceber uma separação absoluta entre a questão de fato e a
questão de direito, a partir da ideia de que seriam “mundos” heterogêneos e independentes. A
esse “pensamento jurídico moderno” correspondeu o conceito moderno de prova em que –
assinala GIULIANI – “a) a questão de fato é absolutamente separada da questão de direito (que
só o juiz conhece); b) deve existir uma relação de necessidade entre o fato e a consequência
jurídica. “Se anuncia a concepção do fato como um dado objetivo, externo ao trabalho de
interpretação”. Em síntese, a transição do conceito clássico para o conceito moderno de prova

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é, também ela, a transição da concepção lógico—escolástica para a concepção lógico—


gnosiológica. Com DENTI, “a consequência mais relevante do cientismo oitocentesco fora a
prevalência da concepção técnica do acertamento do fato, conexa com o convencimento que
as afirmações das partes em torno aos fatos da causa possam ser verificadas mediante o
enfrentamento com a verdade real, perceptível através do emprego de meios técnicos, o mais
possível racionalizáveis e objetivos”. Trata-se, portanto, de um modelo persuasivo face a um
modelo demonstrativo.

Ora, tudo isso leva a concluir no sentido da existência de um paralelismo defasado. Com efeito,
demonstrou-se que a experiência medieval não consentia com a extromissão do fático perante
o jurídico, ou seja, a quaestio factii estava implicada na juris: havia toda uma teoria para
estabelecer as quantidades e as qualidades requeridas para ter-se como provado determinado
fato. A introdução do positivismo jurídico, a seu turno, dissociou tais questões, de modo que o
fato restou um objeto “in se”, um mundo de plena autonomia, próprio das ciências
naturalísticas e à margem da ciência jurídica. A visão contemporânea, todavia, da aplicação do
direito – recordando-se aqui as noções de espiral hermenêutica e pré-compreensão (item n.
02, supra) – reaproximou ambas questões, na medida em que afastou o paradigma da
subsunção. Consequentemente, a mesma retificação deveria operar-se no terreno da prova,
no sentido de que o jurista já não pode restar infenso à aquisição e ao estabelecimento do
juízo fático: ele tem de munir-se de modelos capazes de efetuar o seu controle jurídico.

Assim, a reconciliação do fato com o direito no processo de aplicação das normas jurídicas,
com o afastamento do modelo subsuntivista, exige, pois, que também no terreno da prova e
da convicção judicial haja uma meditação jurídica. É justamente isso que os modelos de
controle ou standards tentam estabelecer.

4. Consequência: necessidade de ajuste teórico para definir o discurso aplicável à matéria.


apelo a paradigmas e standards, com a retomada da tópica-retórica.

Está visto, então, que, se há, ou, quando menos, deve haver um paralelismo entre as
concepções de teoria geral do direito e o conceito de prova, um ajuste teórico se faz
necessário, no sentido de estabelecer um modelo tendente ao controle do juízo fático. Mas
ainda convém estabelecer em que exatamente consistirão tais modelos e o que deles
poderemos legitimamente reclamar.

Nesse sentido, a problemática toda exige que desde logo se distinga, na assim chamada
questão-de-fato, a existência de pelo menos dois níveis fundamentais de trabalho: um, de
caráter mais subjetivo, de peso, contagem, medida; outro, de caráter mais lógico, inferencial,
indutivo. Com SERGI GUASCH FERNÁNDEZ, “em todo juízo de fato, devemos diferenciar,
portanto, o aspecto que corresponde à imediação do órgão jurisdicional com respeito aos
meios de prova praticados pela decisão e, de outro lado, o raciocínio inferencial que permite a
justificação da decisão”. É nesta segunda dimensão que paradigmas, standards jurídicos ou
modelos de constatação entram em cena.

Para entender o funcionamento dessas categorias, basta destacar algumas notas atinentes à
aplicação dos princípios jurídicos. Nesse sentido e superficialmente, sabe-se que os princípios
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jurídicos, de uma forma geral, são dotados de um conteúdo geralmente mais aberto do que
conteúdo de certas normas jurídicas. Por isso, enquanto o conflito de normas pode, no mais
das vezes, ser posto em termos de uma antinomia, que se resolvem pelo conflito aparente de
normas, no caso dos princípios, tem-se, frequentemente, a ocorrência de polaridades,
conflitos ou tensões, que se resolvem mediante juízos de ponderações ou balanceamentos.

Os modelos vocacionados ao controle do juízo fático, porque assimilados a paradigmas ou


standards, operam semelhantemente aos princípios jurídicos, envolvendo, pois, abertura,
polissemia, alta flexibilidade. Os standards “não são, como acertadamente observa STRACHE,
regras configuradas conceptualmente, às quais se possa efectuar simplesmente a subsunção
por via do procedimento silogístico, mas pautas ‘móveis’, que têm de ser inferidas da conduta
reconhecida como ‘típica’, e que têm que ser permanentemente concretizadas ao aplicá-las
no caso a julgar. O standard é, segundo STRACHE, decerto um tipo real, mas é, ao mesmo
tempo, sempre um tipo ideal axiológico. Isto não, certamente, no sentido de um tipo de
totalidade ou tipo configurativo, mas de um tipo de frequência ou tipo médio, que é elevado à
norma”.

Portanto, todos os standards, paradigmas ou modelos de constatação, sob pena de destruir-se


a si próprios, são abertos. Deles não se podem esperar soluções lógico-dedutivas. A regra que
eles encerram “deve, assim, ser hetero-integradas, ou seja, completadas com base em critérios
meta-jurídicos que, segundo o lugar comum tradicional, existem na sociedade.

Essa compreensão, associada à ideia de que, no encaminhamento da questão de fato, pelo


juiz, há pelo menos uma dupla dimensão (diríamos, lógica – relativa às inferências e
conclusões – e a perceptiva, atinente, apenas, ao peso, medida e contagem da prova), desde
logo assinala que esses standards jamais poderão, nem deverão, precisar estritamente o
controle da convicção. Isso não é possível. Antes, sua maior missão é fundar um código
balizador do diálogo, ensejando, pois, a máxima submissão do convencimento judicial ao
contraditório.

5. Fundamentos jusfilosóficos para a revalorização dos “argumenta”.

Finalmente, antes que sejam expostos os modelos de constatação ou standards jurídicos (v. n.
07, infra), convém lembrar que a aceitação de uma regra auxiliar de controle da “infra-
estrutura lógica” do juízo fático, parte também de uma concepção metodológica do direito, se
bem que não exaustiva. Assim, após ter-se afastado uma separação radical entre o fato e o
direito, ter-se definido a modalidade de discurso jurídico possível na matéria (aberto e
flexível), faz-se necessário situá-los sob a perspectiva do princípio do contraditório.

Nesse sentido, CARLOS ALBERTO ÁLVARO DE OLIVEIRA demonstra que, a partir dos anos 50,
“amplamente se renovam os estudos da lógica jurídica e se revitaliza, com novas roupagens e
ideias, o sentido problemático do direito, precisamente quando – já prenunciando o pós-
modernismo – mais agudos e prementes se tornavam os conflitos de valores e mais imprecisos
e elásticos os conceitos. Recupera-se, assim, o valor essencial do diálogo judicial na formação
do juízo, fruto da colaboração e cooperação das partes com o órgão judicial e deste com as
partes, segundo as regras formais do processo”; “o monólogo apouca necessariamente a
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perspectiva do observador e, em contrapartida, o diálogo, recomendado pelo método


dialético, amplia o quadro de análise, constrange à comparação, atenua o perigo de opiniões
preconcebidas e favorece a formação de um juízo mais aberto e ponderado”.

Ora, consoante já foi visto, o diálogo e o método dialético tem como base a falibilidade do
conhecimento humano e a chance de erro. Os “pontos de partida” deixam de ser necessários
ou absolutos e passam a ser prováveis, possíveis, razoáveis, aceitáveis pelo consenso. Para que
esse consenso se estabeleça, deve haver um procedimento que permita, ordenada e
regradamente, o aflorar de vários pontos de vista a respeito de um mesmo tema, o pluralismo
por parte dos interessados. Por isso, com SOUTO MAIOR BORGES, “é para a dialética essencial
seja ouvida a argumentação produzida pela parte contrária: audiatur et altera pars. As palavras
da Constituição da República de 1988, art. 5 º, inc. LV, ressoam como eco dessa arte venerável.
(...). A dialética exerce portanto função nuclear no direito processual, depositário dessa lógica
natural ao Direito e infelizmente – fora do processo – praticamente abandonada”.

PERELMAN, nesse sentido, assinala que “embora problemas essenciais, em se tratando de


questões morais, sociais ou políticas, filosóficas ou religiosas, escapem, por sua própria
natureza, aos métodos das ciências matemáticas e culturais, não parece razoável afastar com
desprezo todas as técnicas de raciocínio próprias da deliberação, da discussão, numa palavra,
da argumentação. (...) Se tivéssemos de considerar como raciocínio enganador toda
argumentação dessa espécie, a insuficiência das provas lógico-experimentais deixaria em todas
as áreas essenciais da vida humana, o campo inteiramente livre à sugestão e à violência.
Pretendendo que o que não é objetiva e indiscutivelmente válido se prende ao subjetivo e ao
arbitrário, cavar-se-ia um fosso intransponível entre o conhecimento teórico, o único racional,
e a ação, cujas motivações seriam inteiramente irracionais”. Então, ou se assume que a
argumentação tem um papel fundamental a desempenhar naqueles setores “essenciais da
vida humana” em que verdades e premissas universais e “necessariamente” válidas não são
praticáveis, ou se relegam essas mesmas experiências vitais da humanidade – dentre elas o
direito – ao subjetivismo, à arbitrariedade, à irracionalidade.

Então, apresenta-se-nos relevante não apenas o resultado da convicção, mas o processo


inferencial, a infra-estrutura lógico-argumentativa pela qual ela fora atingida. Para que a praxis
probatória não se possa considerar inteiramente “livre”, “subjetiva”, tendente à violência, à
arbitrariedade, nossa atenção deve estar voltada, também, para a forma de pensamento, para
todos os pontos de vista possíveis. Nesse contexto, o diálogo proporcionado pelo princípio do
contraditório, passa a operar como um instrumento fundamental, superando a dimensão
meramente formal que, por largo tempo, praveleceu. As inferências estabelecidas pelo juiz
devem, então, ser testadas e verificadas por modelos e standards que permitam submetê-las,
no âmbito do contraditório, a um juízo crítico comum, garantindo a cientificidade da decisão
jurídica. Dito de outra forma, o emprego dos modelos de constatação ou standards permite
que se traga ao debate, regrado e inteligível, critérios decisionais importantes (p. ex., o optar
o juiz por um indício a outro, o entender ‘subjetivamente’ insuficiente a prova produzida, o
pretender a parte a prevalência de determinada interpretação ou inferência etc.), que, até
então, não possuíam um código comum e, de certo modo, ficavam à margem de uma
discussão crítica.
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Do ponto de vista filosófico, não há como afastar a ideia de “verdade procedimental”, mas não
por oposição à assim chamada ‘verdade material’. Quanto a isso, ressaltemos, apenas, com A.
PINTORE, que “se fala de ética procedimental para indicar aquelas concepções que nos dizem,
não quais valores e quais normas morais individuar, escolher, preferir, mas sim como
individuá-las, escolhê-las, preferi-las”. Assumindo-se e aceitando-se a limitação inerente ao
conhecimento humano e, muito especialmente, ao conhecimento obtido pelo processo – sem
que isso implique na desilusão perfeccionista, a que bem aludiu M. TARUFFO, essa margem de
erro tem de ser sistematizada, regrada e administrada pelo próprio processo, sob pena de
restar dissimulada, disfarçada, escamoteada no processo, gerando indesejável arbitrariedade.

Essa “visão procedimental”, que, em filosofia, dá lugar à altamente problemática “ética


procedimental”, oferece, dentre outras vantagens, o estabelecimento de pontos de encontro
entre posições opostas, atenuando o confronto, viabilizando o discurso leal, aberto, franco,
ensejando o pluralismo de ideias, convidando à síntese racionalizável. Nesse contexto, os
standards podem colaborar na denúncia de desvios lógico-inferenciais, no sentido de indiciar a
ocorrência de erros, subjetivismos, arbitrariedades, a partir do exame lógico do “como”, do
“por que meios”, do “por que maneira” etc. atingiu-se uma certa convicção.

No âmbito jusfilosófico, portanto, esses standards, uma vez que sinalizam uma reação do
próprio sistema quanto à sua externa e manifesta falibilidade, estão ligados a uma
compreensão autopoiética do direito, ainda que de modo parcial. Na medida em que o próprio
processo reconheça a chance de erro na apropriação do fato, esse elemento perturbador (a
chance de erro) deve ser incorporado pelo sistema e, por ele, regulado. Com Teubner, que “a
emergência da autopoiesis no direito opera como que uma transposição de funções evolutivas
do exterior para o seio do próprio sistema, uma internalização dos mecanismos de variação,
seleção e retenção. Este processo de internalização transfere, assim, o epicentro da dinâmica
evolutiva do meio envolvente para o interior do próprio sistema e subordina-o à lógica
autopoiética. Ou, posto de forma mais precisa: estamos aqui perante uma transposição de
mecanismos evolutivos sociais ‘externos’ para mecanismos jurídicos ‘internos’, no sentido de
que tais mecanismos externos passam a exercer um mero efeito modelador da evolução
jurídica, ao passo que o protagonista do processo evolutivo passa a caber a elementos
estruturais internos”. Como dissera, objetivamente, ENGRACÍA ANTUNES, “muito embora o
fluxo dos eventos extrassistémicos jamais possa funcionar como fonte de informação direta
para o sistema de referência, ele estimula os respectivos processos evolutivos internos de
seleção que operam a partir de um critério de relevância básicos intrassistémico (‘order from
noise’, ‘hasard organisateur’)”.

Assim, embora não se adira, aqui, totalmente, ao pensamento autopoéitico, não resta dúvida
de que podemos invocá-lo no sentido de justificar uma apropriação, pelo sistema jurídico, de
um dado extra-sistemático – a grave falibilidade da apreensão fática, a chance de erro – com a
decorrente formulação de uma lógica intra-sistemática de controle, que vai desaguar,
justamente, nos standards que a doutrina preconiza. Ou seja: os standards jurídicos ou
mecanismos de controle na mais são do que a reação do próprio sistema contra a sua
falibilidade na determinação do juízo fático.

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6. Quão “livre”, então, é o princípio do “Livre Convencimento”?

O ter-se demonstrado não apenas a defasagem entre a teoria geral e a teoria processual, e a
necessidade, por conta disso, de uma correção científica a ser construída em termos de
standards jurídicos, a partir de sua apropriação pelo próprio sistema, não permitiria, sem mais,
a apresentação dos principais modelos de constatação existentes. Teríamos de nos haver,
ainda, já com um problema linguístico, a saber, a denominação “princípio do livre
convencimento”, e, em especial, com a palavra livre, pois se o convencimento for, por
“princípio”, totalmente livre, de nenhum sentido serão os pretendidos standards ou
paradigmas. Então, somos obrigados a questionar: quão livre é o princípio do livre
convencimento?

Nesse sentido, mostra-se indiscutível registrar, com NOBILI, que o princípio do livre
convencimento, apontado como culturalmente superior, apresenta, tanto quanto o sistema da
íntima convicção e o da prova legal, um “custo fisiológico”: “a exaltação daquele critério de
valoração das provas” [o do livre convencimento] “não nos exime de uma realística
consideração de suas possíveis degenerações patológicas”. Com efeito, o objetivo da doutrina
medieval, ao operar à base da prova tarifada, fora, justamente, banir a arbitrariedade do juiz e,
ao mesmo tempo, garantir alguma dose de racionalidade do acertamento fático (embora, na
prática, isso não tenha ocorrido). A substituição de um sistema pelo outro acabou por detonar
uma “tendência a reduzir a atividade cognoscitiva do juiz a um fenômeno de pura consciência,
que se exaure sob o pano íntimo e imprescrutável da mera subjetividade”, o qual acabaria
reduzido, ainda conforme NOBILI, a um momento “misterioso e inefável, a ponto de não poder
ser sujeito a análises e controles, portanto, impenetráveis a qualquer tipo de indagação”.

Todavia, tal concepção revela-se absolutamente inadequada e, mais do que isso,


desnecessária. De um lado, já em sua origem, o princípio do livre convencimento encarnou
uma reação contra o julgamento por íntima convicção, portanto, uma reação contra o
subjetivismo, a arbitrariedade e a violência, nunca o contrário! De outro lado, também se
combateu a rigidez da prova legal, donde se pode constatar uma considerável ambiguidade: ao
mesmo tempo em que se repelia a tarifação e se prestigiava a liberdade do juiz – o que
poderia conduzir ao subjetivismo – combatia-se, também, o psicologismo, a arbitrariedade
das convicções imotivadas e injustificadas!

Afirma por isso NOBILI que, efetivamente, daí exsurgiriam duas formas de pensamento: uma,
tendente à exaltação do momento emocional e subjetivo da decisão judicial; outra, ligada à
noção oitocentista de prova e vinculada à valorização dos argumenta medievais, daria lugar a
uma leitura racional e lógica do mesmo princípio. E, no jogo dessas duas mundivisões, a
concepção eminentemente silogística do decidir haveria por conduzir o princípio pelo primeiro
desses caminhos, pois, afinal, o jurista, como se procurou demonstrar, nada tinha de fazer com
os fatos, que, em realidade, sequer diziam respeito ao seu saber tecnológico (v. n. 02, supra).
Se o direito, no que toca à premissa menor, não tinha maiores responsabilidades – não porque
não devesse ter, mas porque isso não interessava a um puro saber jurídico, de índole
marcadamente positivista –nenhum estatuto dogmático se poderia oferecer quanto ao mérito
da convicção do juiz.

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Todavia, superada essa vetusta concepção, a medida da liberdade do convencimento judicial


retoma o curso de sua vertente lógica, consistente precisamente numa oposição ao
subjetivismo, ao emocionalismo, à arbitrariedade e à violência dos vários sujeitos processuais
no que diz respeito ao fato. Se o direito tem de se haver também com os fatos, e tem de se
haver com os fatos porque são indissociáveis das normas e se inserem na cadeia dinâmica da
concreção (v. n º 02, supra), surge a necessidade de banir-se todo o arbítrio que possa inquinar
essa operação.

Assim, pouco a pouco, vem a doutrina, especialmente a alienígena, salientando que o livre
convencimento não significa, na verdade, um “convencimento livre” ou “livresco”.
Prestigiando a vertente logicista, fruto da oposição do princípio à negativa praxis de um
convencimento íntimo e subjetivo, a doutrina passa a assinalar que “la libertad en la
apreciación de las pruebas no significa ausencia de reglas a las que el juzgador debe recurrir en
el momento de la valoración de ese material probatorio”. Com efeito, diz-se, doravante, que o
convencimento “no ha de entenderse o hacerse equivalente a cerrado e inabordable criterio
personal e íntimo del juzgador, sino a una apreciación lógica de la prueba, no exenta de pautas
o directrices de rango objetivo, que aboque en una historificación de los hechos en adecuado
ensamblaje com esse acervo, de mayor o menor amplitud, de datos acreditativos y reveladores,
que haya sido posible concentrar en el proceso”. Supõe-se, pois, uma “valoración racional y
lógica (...) con criterios de cientificidad”; “no ha de ser una simple probabilidad o un mero juicio
de verosimilitud, sino que (...) debe entenderse referido a que la valoración del material
probatorio sea la racional y lógica, o, como se denomina por relevante doctrina científica, que
la prueba se aprecie com cientificidad”.

Nota-se, pois, uma polarização objetivista, em detrimento à visão subjetivista, da prova. Assim,
para que não se pague um “preço indébito” do livre convencimento, é preciso racionalizá-lo o
quanto possível. Com GUASCH FERNÁNDEZ, “el peligro de incurrir en arbitrariedad está
presente en la libre apreciación, mientras no se de una definición basada en criterios de
racionalidad. La forma de limitar la arbitrariedad sólo puede ser a través de una justificación
suficiente de la elección”, mediante o apelo “por criterios racionales, de modo que si no está
vinculado po normas jurídicas, lo está por normas lógicas y aun experenciales que regulan el
correcto discurso de la mente en sus operaciones intelectivas”.

Essa “objetivização” está dirigida, pois, à razão prática, à lógica do discurso, à teoria da
argumentação. Por definição, ensina FERNÁNDEZ, todo juízo há de ser lógico (...). As regras da
razão crítica são standards jurídicos, que atuam como princípios da conduta humana a seguir
e, ainda que não sejam normas jurídicas em sentido estrito, o são os artigos que a ela se
referem. Mais que servir de limite à livre apreciação, fundam a correção do juízo que se
obtém através delas. A razão crítica é, basicamente, a aplicação dos princípios do correto
entendimento humano com especial fundamento na lógica jurídica, na equidade e na justiça e
nos princípios científicos do direito.

Essa objetivização do princípio vai ligar-se, igualmente, ao fundamento constitucional de


acesso ao serviço da justiça e ao princípio da fundamentação expressa (dando lugar, como
veremos, à formulação de um importante standard, o da arbitrariedade, utilizado

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especialmente na Argentina). Assim, GHIRARDI afirmará que “si la fundamentación de la


sentencia tiene jerarquía constitucional y existe un control de constitucionalidad, va de suyo
que es atinado un control logico el razonamento del juez. Este control, por cierto, no sale de los
límites de lo formal-lógico. De ahí que el proceso reposa también en la teoría del razonamento
correcto, ya que el juez tiene la obligación constitucional de razonar correctamente y de no
violar las reglas que rigen el pensar”.

Parece muito claro, a partir das ideias examinadas, o fundamento central da vertente
objetivista do livre convencimento. Firma-se, ela, na arte do bem pensar. A propósito, JAUME
BALMES, em seu célebre ensaio “O criterio”, escrito em 1843, numa síntese inexcedível do
conceito clássico de prova e na forma tópico-retórica de encaminhar a discussão, afirmara:
‘pensar bem é conhecer a verdade ou dirigir o entendimento pelo caminho que a ela conduz”.
Assim, o critério não é mais que “um meio para conhecer a verdade”! Aplicando-se tal noção
ao princípio, surgem necessários os “modelos de constatação” ou, simplesmente, os
standards. Como veremos, eles nada mais serão do que critérios para orientar a análise da
prova, critérios para efetivamente submeter ao contraditório, a par de um diálogo comum, as
opções valorativas do juiz.

Portanto, à luz de tudo o que se disse, se quisermos responder científica e adequadamente


sobre a questão de saber se a livre convicção do juiz é livre, ou quão livre ela é, teremos de
concluir que, com FERNÁNDEZ, “no parece muy propia la definición de la convicción como libre,
pues a los órganos jurisdicionales no se les conceden márgenes de aportación subjetivos”.
Todavia, “es aceptable la cualidad de libre si se predica de un sistema que actúa según reglas
superiores”. Ou seja: a liberdade de que se trata é uma liberdade objetiva e, não, uma
liberdade subjetiva, donde fica postulada, no contexto de sua objetividade, o apelo aos
referidos modelos de constatação.

7. Soluções paradigmáticas de direito comparado: a ‘evidence beyond a reasonable doubt’, a


‘preponderance of evidence’, as ‘special rules’ (v.g., “clear and convincing evidence”), a
“mínima atividade probatória”, o modelo das dúvidas positivo-concretas, a “doutrina do
absurdo” e da “arbitrariedade”, a “congruência narrativa”, o “défaut de motifs”, os modelos
matemático- probabilísticos.

Urge, então, identificar ao menos alguns dos standards jurídicos existentes para o controle
lógico da convicção judicial, observadas suas características gerais (cf. ns. 3 e 4, supra). Aqui,
todavia, abre-se um elenco insuscetível de ser exaurido, tendo-se presente que as formulações
são várias e diversas, muito embora – pelo menos é que se objetiva demonstrar– haja entre
elas um denominador comum. Permita-se-nos, então, um exame sucinto das principais.

1. Um primeiro modelo jurídico, ligado à tradição da common law, opera à base de dois
standards jurídicos: a ‘evidence beyond a reasonable doubt’, ou seja, a prova acima de toda
dúvida razoável, de emprego em casos criminais, e a ‘preponderance of evidence’, ou
preponderância de prova, de utilização dos casos civis, ao lado das quais costuma-se agregar
regras particulares, como, v.g., a ‘clear and convincing evidence’, ou seja, a prova clara e
convincente.

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Essa matéria é tratada pelos juristas norte-americanos no terreno do burden of persuasion


(ônus de persuasão). Segundo C. LILLY, “a parte sobre que recai o ônus tem de convencer o
julgador acerca da existência desses elementos, de acordo com um standard ou grau de
certeza, determinado pelo tipo de procedimento: num julgamento criminal, o governo tem de
provar os elementos do crime ‘acima de toda a dúvida razoável’; num típico caso civil, a parte
tem de provar os elementos de seu pedido por uma preponderância de prova (algumas vezes
expressa por frases como ‘grande peso de prova’, ‘mais provável do que não’)”. Acrescenta o
tratadista que “há standards intermediários, como a ‘clara e convincente prova’, sendo que
eles não indicam a quantidade de prova reclamada (como, p. ex., cinco testemunhas ao invés
de uma), mas o nível de credibilidade (“believability”) da prova.

Obviamente, não é fácil precisar os limites e o conteúdo desses standards. “Qual é o


significado mais aceitável da frase – prova pela preponderância, ou grande peso de prova?”,
indaga McCormick, respondendo então que, para além do common sense a respeito (“a que é
mais convincente do que a prova oposta”) deve-se entendê-la como sendo “a prova que
conduz o júri a achar que a existência dos fatos contestados é mais provável do que a não
existência”.

Assim, na construção de alguns tribunais norte-americanos, prevalece a tese de que o


standard da preponderância é encontrado quando o júri – e, aplicando-se o modelo para o
nosso caso –, diríamos, quando o juiz acredita na preponderância, ainda que haja dúvida a
respeito. Em Norton –v– Futrell estabeleceu-se que “o termo probabilidade denota um
elemento de dúvida ou incerteza e reconhece que onde há duas opções, não é necessário que
o júri esteja absolutamente certo ou em dúvida, sendo suficiente que a escolha selecionada
seja mais provável que a escolha rejeitada”. Todavia, algumas Cortes rejeitaram a possibilidade
de que o standard seja atingido com base em nada mais do que possibilidades, passando a
caracterizá-lo como uma verdadeira crença ou convencimento acerca da verdade pela
preponderância da prova. Um exemplo dessa corrente é dado por Sargent – v – Massachusetts
Accident Co., segundo o qual “depois que a prova tiver sido sopesada, a proposição reputa-se
provada por uma preponderância de provas se resultar mais provável no sentido de que uma
verdadeira crença na sua verdade, decorrente da prova, existe na mente do Tribunal, não
obstante algumas dúvidas que possam remanescer”. Certo é, assim, que esse standard
significa, pelo menos para os juízes, “pouco mais que a metade”, sendo, assim, discutível se há
de exigir-se uma crença efetiva do julgador ou apenas uma preferência objetiva pelo que mais
provável se desenhar, conforme acima visto.

Ao lado desse standard geral, usa-se outro para assinalar casos civis considerados socialmente
mais graves – a “prova clara e convincente” (“clear and convincing proof”). Na verdade, há
vários outros paradigmas semelhantes, como o “clear, convincing and satisfactory”, “clear and
unequivocal” e o “clear, cogent and convincing”. De uma forma geral, concebe-se tal standard
intermediário como sendo uma “alta probabilidade”. Todavia, as cortes costumam, ainda
segundo McCormick, distinguir com um certo rigor esses diversos parâmetros, em princípio
proporcionalmente à gravidade dos fatos cuja prova se pretende. Aliás, o juiz Burger, da
Suprema Corte dos Estados Unidos, acentuou que ‘o standard de prova é mais do que uma
exercício semântico vazio. Em caso envolvendo direitos individuais, sejam criminais ou civis, o
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standard de prova no mínimo reflete o valor que a sociedade atribui à liberdade individual”.
Nesse sentido, consigna McCormick o vasto elenco de precedentes em que as cortes de
apelação verificaram se a convicção originária dos jurados atenderam a tais requisitos (clear
and convincing).

Ao lado da preponderância – pouco mais de que a metade – seguida pela prova clara e
convincente – alta probabilidade –, observadas as duas vertentes (objetivista e subjetivista),
acrescenta esse modelo a prova acima de qualquer dúvida razoável (‘evidence beyond a
reasonable doubt’), de utilização em casos criminais. Funda-se essa regra na ideia de que “a
sociedade julga ser preferível um culpado ser havido por inocente do que um inocente ser
havido por culpado”, o que se pode obter exigindo o requisito da prova naqueles termos. Sua
primeira aparição teria sido num caso de 1798, estando hoje integrado à cláusula do due
process of law. Evidentemente, estamos, aqui, além da própria alta probabilidade, convindo
salientar que há e deve ser observada uma efetiva diferença entre esses standards. Com
efeito, a maioria da Suprema Corte dos EUA (In Re Winship) rejeitou a tese de que haveria
apenas uma tênue diferença entre a reasonable doubt e a preponderance of evidence.

Um dado interessante é que o modelo da evidence beyond a reasonable doubt não deve ser
utilizado em casos não-criminais, ainda que o fato nele versado seja um delito, ou seja, quando
houver multi-incidência. “Quando uma acusação de crime está em causa numa ação cível, as
consequências ameaçadoras (...) desta acusação, embora incomumente prejudiciais (...) não
são tão sérias quanto num processo criminal pelo crime”. Então, dever-se-á, ainda aqui, usar o
standard civil ou o intermédiário, conforme o caso, mas não o mais rigoroso, próprio dos casos
criminais.

7.2. Outra formulação bastante interessante é a preconizada pelo standard da “Mínima


Atividade Probatória”, desenvolvido originariamente para o processo penal, mas utilizável,
segundo se pretende aqui demonstrar, como um paradigma geral. Estamos em presença de
uma típica ‘doutrina jurisprudencial’ elaborada pelo Tribunal Constitucional da Espanha,
totalmente voltada à verificação do convencimento judicial desde uma perspectiva jurídico-
objetiva.

O ponto de partida dessa construção já foi referido alhures (cf. n. 06, supra). Como
demonstrado, sustenta-se que a livre apreciação “não é de entender-se ou haver-se
equivalente a um fechado e inabordável critério pessoal e íntimo do julgador, mas a uma
apreciação lógica da prova, não isenta de pautas ou diretrizes de natureza objetiva”. Antes,
tratar-se-á mais de uma “valoração racional e lógica da prova, com critérios de cientificidade”,
donde possível verificar-se a consistência lógica do raciocínio judicial. Deste modo, a mínima
atividade probatória nada mais pretende do que marcar a exigência de um substrato
probatório adjetivado por determinadas características, sem o que resultariam arbitrárias e
ilegítimas as respectivas decisões.

Fiel a esse postulado, a doutrina da Mínima Atividade Probatória vai debruçar-se, justamente,
sobre a “a infraestrutura racional da formação da convicção”, procedendo a um verdadeiro
metajuízo, vale dizer, um “juízo sobre um juízo”. Seu viés, ao contrário do modelo anterior,
que ainda está bastante próximo da avaliação da prova (embora, decididamente, orientado
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por um critério), é, aqui, pronunciadamente logicista, objetivista, cientificista. Isso permite à


doutrina, inclusive, desempenhar outros papéis, especialmente os relacionados ao controle
cassacional do convencimento judicial, de larga difusão no ordenamento espanhol.

No que nos diz respeito mais propriamente – o controle da motivação do juiz, sem termos
aqui uma exclusiva preocupação cassacional, embora indissociáveis tais questões – a doutrina
em exame começa por postular “não apenas a ocorrência de uma mínima carga de prova, mas
que ela tenha a condição de suficiência”. O questionamento, então, desloca-se para a
significação da suficiência probatória. Fiel à sua linha logicista, apela a doutrina, naturalmente,
para uma base probatória que se possa declarar conforme às regras da lógica em que se
integram as normas da experiência.

Assim, a partir das decisões do T.C., ESTRAMPES conclui que “la suficencia de la prueba sería
equivalente a prueba de cargo congruente e razonable, al haberse observado en su valoración
las reglas de la sana critica”. Neste particular, nota-se um ponto de encontro da mínima
atividade probatória com os standards da common-law, pois, como tal, dever-se-á entender a
prova que “haja eliminado qualquer dúvida racional sobre a culpabilidade do acusado. Prova
convincente e prova suficiente aparecem, pois, como conceitos sinônimos”.

À vista do que se examinou, nota-se que a mínima atividade probatória preconiza um controle
lógico fundado em dois aspectos básicos:

1o) De um lado, procura-se eliminar um convencimento judicial baseado em suspeitas,


pressentimentos, intuições, convicções pessoais do julgador, conjecturas, crenças ou
impressões: “la acción de juzgar no es una actividad puramente intuitiva, sino una actividad
racional, científica y fundamentada en las pruebas practicadas”. Essa verificação é estabelecida
a partir da motivação judicial explícita, à qual a doutrina assinará “diferentes funciones. Por un
lado, permite el ulterior control de la racionalidad y logicidad de dicho convencimiento por
medio del sistema de recursos jurisdicicionales diseñado por el legislador lo que conecta,
directamente, com el derecho de defensa. La motivación fáctica de las sentencias penales
actúa, por tanto, como presupuesto indispensable para controlar la recta valoración de las
pruebas”. Pela motivação, dever-se-á examinar as regras ou máximas de experiência utilizadas
pelo julgador em sua tarefa valorativa.

2o) Por outro lado, procura-se exigir, ao menos para os casos penais, uma prova que
elimine a existência de dúvidas racionais, obviamente não segundo um critério quantitativo,
mas sob a ótica qualitativa. A grande decorrência da teoria que, segundo VEGAS TORRES,
chegou a causar certa comoção, veio na STC de 28 de julho de 1981, que “en aplicación de la
doctrina del Tribunal Constitucional, el juzgador se viera obligado a absolver al acusado aun
teniendo el convencimiento íntimo o en conciencia de la culpabilidad del mismo”. Ao assim
proceder, a doutrina inclina-se à exigência de um nível probatório mínimo no que tange ao
processo criminal, podendo-se estabelecer o requisito cível por oposição.

As virtualidades cassacionais da mínima atividade probatória são manifestas. De efeito,


segundo VEGAS TORRES, “el nuevo plantenimiento en cuanto al alcance del principio de
convicción en conciencia ha afectado también a la tradicional doctrina sobre la inatacabilidad
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en casación del juicio de hecho de la sentencia de instancia. (...). Así, la jurisprudencia parte
ahora, como principio general, de que la facultad revisora que corresponde al Tribunal
Supremo se extiende a la comprobación de la racionalidad y la conformidad com las reglas de
la experiencia de la valoración de la prueba realizada por el juzgador de instancia”.

Poder-se-á dizer que a doutrina da mínima atividade probatória deixa inúmeras questões
irrespondidas. Afinal, o quesito da suficiência, em que pese o apelo à lógica e às máximas da
experiência, é em si mesmo vago. A tanto, inicialmente, poder-se-á objetar que é próprio do
standard uma área vaga, a ser preenchida caso a caso (cf. nr. 3 e 4, supra). Poder-se-á, mais,
objetar que, por força dessa impostação, diversas regras práticas pontuais, sempre passíveis
de complementação, derivadas da lógica e da experiência, acabaram sendo enunciadas: “el
nuevo enfoque jurisprudencial en cuanto al alcance del principio de apreciación en conciencia
(...) ha permitido al Tribunal Supremo establecer ciertas reglas relativas a la valoración de la
prueba referidas (...) a circunstancias que, incidiendo en la falibilidad de algunos medios de
prueba, pueden ser tenidas en cuenta en cassación en la medida que su apreciación no
depende de la inmediación. En este terreno, revista especial interés la doctrina jurisprudencial
que se ocupa de los problemas relacionados con el valor probatorio de las declaraciones de
los coimputados (...), la valoración del testimonio de las victimas del delito (...)”, bem assim o
problema das presunções e indícios, os quais excedem, em parte, aos limites deste trabalho. O
que impota frisar é que, com abstração do requisito da imediação, a mínima atividade
probatória permite localizar no ciclo inferencial da convicção pontos em que defeitos lógico-
objetivos podem ser encontrados e, a partir disso, legitimar ou não o convencimento judicial.

7.3. Se indagamos, agora, acerca da suficiência, em que a doutrina da mínima atividade


probatória de certa forma é lacunar, verificaremos nos modelos de constatação ou standards
do direito alemão respostas em princípios bem mais satisfatórias, porque voltadas à
verificação da consistência dos elementos que afastam a decisão de um determinado
convencimento, donde elevado o seu horizonte prático.

Uma primeira formulação pode ser encontrada em decisão do ano de 1885 (RGZ, 15, 338), em
que o Tribunal Supremo da Alemanha afirmara que “debido a lo limitado de los medios
humanos de cognición, nadie puede saber com certeza absoluta que algún hecho haya
ocurrido efectivamente (ni siquiera habiéndolo presenciado directamente). Siempre cabe
imaginar posibilidades abstractas de que las cosas hayan sucedido de otro modo. (...) En la vida
práctica vale, pues, como verdad, el alto grado de verosimilitud que se obtiene aplicando los
medios de cognición disponibles de una manera en lo posible exhaustiva y concienzuda y si el
que conoce tiene conciencia de que existe esta alta verossimilitud así determinada, ello
equivale a estar convencido de la verdad”.

Assim, notadamente no processo civil, o requisito da “suficiência” vinha caracterizado como


um alto grau de verossimilhança, admitida, assim, a coexistência da dúvida, orientação que
prosseguiria até o pós-Guerra. Para os casos penais, a jurisprudência empregava uma cláusula
assemelhada, reclamando “un grado de verosimilitud rayano en certeza” (ou seja, um grau de
verossimilhança nos limites ou próximos da certeza). Por exemplo, no RGSt 51, 227 afirmar-se-

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ia que “para suponer una relación causal basta que se compruebe (...) com una verosimilitud
rayana en la certeza”, cláusula que continuou sendo utilizada largamente.

Contudo, segundo G. WALTER, a partir de RGSt 58, 130, esse estado de coisas sofreria uma
virada, notadamente por força de decisões penais. Passa-se a afirmar, sem mais, que “un
grado alto de verossimilitud tiene valor de verdad y la conciencia de esa verdad tiene valor de
convicción”. Com base nesta noção, mais concessiva à dúvida em matéria penal inclusive,
passa-se a revisar várias decisões absolutórias, de cortes inferiores, fundadas em dúvidas, as
quais restavam cassadas por não comprometerem o standard requerido – ou seja, o “alto grau
de verossimilhança”. Exemplificativamente, a Sala Penal, em 1929, deparando-se com uma
decisão do tribunal de jurados – segundo a qual apesar da ‘suspeita fundadíssima’ de que o
acusado cometera perjúrio, dera-se a absolvição, ante a ‘possibilidade, altamente improvável,
de que as testemunhas tivessem faltado com a verdade’ – concluiu que “tais expressões
faziam supor que o tribunal de jurados se havia convencido da culpabilidade do acusado”,
afastando-se, assim, ilegitimamente dessa conclusão. “Se se admitisse”, frisou a Corte,
“justificações tão gerais, ter-se-ia de concluir que a prova da culpabilidade do acusado não
seria possível em caso algum”.

Assim, tanto nos casos civis, quanto criminais, o standard para haver-se como legítima a
convicção judicial confundir-se-ia, simplesmente, com “um alto grau de verossimilhança” ou
com uma “verossimilhança próxima da certeza”. Mas esse estado de coisas muda radicalmente
após a Segunda Guerra Mundial, quando, então, restaram fixados os novos lineamentos até
hoje empregados. Basicamente, a novidade será introduzida relativamente à valoração das
dúvidas (e aqui, vai-se ver, reside o seu alto sentido prático, dando excelente concreção ou
mesmo completando às próprias ideias da evidence beyond a reasonable doubt).

Parte-se da ideia fundamental de que “a possibilidade meramente teórica ou abstrata de que o


acusado não haja sido autor não pode impedir a sua condenação”. Daí dever-se distinguir
entre “dúvidas abstratas” e “dúvidas concretas”, ou “dúvidas positivas” e “dúvidas negativas”,
adjudicada, a partir de 1950, à doutrina jurisprudencial alemã. Retifica-se, então, para os casos
penais, a ideia da mera verossimilhança. Dir-se-á, pois, que “uma grande verossimilhança (...)
não era suficiente como prova, enquanto não se pudesse descartar qualquer dúvida possível,
qualquer outra possibilidade, ainda que relativamente rara”. Até aí, nenhuma diferença em
relação ao modelo americano! O elemento diferenciador reside no conceito de dúvida positiva
e dúvida negativa, ou dúvida abstrata e dúvida concreta. Segundo o ‘new deal’ , o standard
dos casos penais passa a ser um ‘alto grau de verossimilhança a que não corresponda
nenhuma dúvida’, mas, agora exatamente, um alto grau de verossimilhança a que não
corresponda nenhuma dúvida concreta.

Mas um último e decisivo passo ainda seria dado pelo BGH, em decisão de 1953. Como anota
G. WALTER, “a Corte Federal de Justiça seguiu distinguindo entre dúvidas abstrato-teóricas e
dúvidas positivo-concretas, mas com enfoque, desta vez, à pessoa do julgador: ‘a forma como
estão redigidos os considerandos não exclui que a câmara penal haja estado em si convencida
de que o acusado era culpado, mas, não obstante, incorreu em um erro de direito ao supor
que não estava em condições de condená-lo, porque logo após sopesar todas as circunstâncias

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restava ainda a possibilidade teórica de que os fatos se houvessem desenvolvido de um modo


distinto do que imaginavam os juízes em seu convencimento, ou seja, que outro julgador
poderia ainda duvidar da culpabilidade do acusado. Justamente essa fundamentação faz
suspeitar que a câmara se sentiu impedida de condenar NÃO POR SUAS DÚVIDAS, mas por
DÚVIDAS QUE ERAM EM SI POSSÍVEIS”.

O standard, com essa evolução, avança, destarte, no sentido de melhor precisar o requisito da
suficiência, destacado pela doutrina da mínima atividade probatória mas por ela não
especificado. O convencimento reputar-se-á válido e legítimo na presença de um alto grau de
verossimilhança em que as dúvidas subjetivas, ou seja, as dúvidas do juiz ‘in concreto’ sejam
descartáveis. Então, sob essa ótica, dever-se-á, primeiramente, verificar se a convicção foi
atingida, para, logo após, examinar os elementos que dela afastam, ou seja, as dúvidas. A
qualificação téorica das dúvidas mencionadas na fundamentação da decisão é que servirão de
critério. As dúvidas abstrato-negativas (téoricas) deverão ser desprezadas, enquanto que as
dúvidas concreto-positivas viciarão a convicção judicial. Por dúvidas abstrato-teóricas hão de
compreender-se não apenas creditadas à imperfeição do conhecimento humano, mas,
também, “os escrúpulos de um juiz que, estando ele mesmo convencido, estima que outro juiz
o algum terceiro poderia haver chegado a uma conclusão distinta. Também essas dúvidas são
irrelevantes. O juiz somente não estará convencido quando se veja frente a dúvidas concretas
(reais, positivas) e não possa superá-las. Se, apesar disso, sentencia, a sua sentença será
viciosa”.

Uma leitura apressada do que acaba de ser dito poderia supor que o modelo de constatação
em tela teria pouco poder de controle, em função de seu caráter mais descritivo do que
prescritivo. Por evidente, sua virtualidade cassacional talvez seja inferior. Todavia, sua
operacionalidade no campo do convencimento enquanto tal parece inegável: por seu
intermédio, “a falta de convicção estará mal fundamentada quando as dúvidas supostamente
concretas que se aleguem sejam em realidade dúvidas abstratas, o que ocorre em particular
quando as que se dizem dúvidas concretas não tenham fundamento em fato real. Em tal caso,
se aplica o dito a respeito das dúvidas abstratas”, donde o requisito da suficiência há de
repousar sobre uma análise ponderada a partir dos elementos divergentes da convicção.

Dentro dessa perspectiva, o standard geral do alto grau de verossimilhança, com exclusão de
todas as dúvidas positivo-concretas, oferece um valioso critério de verificação lógica, pela sua
dimensão prática e, de certa forma, complementar aos modelos até aqui examinados.

7.4. Outra formulação de inegável consistência, preordenada mais ao fenômeno


cassacional e de uma perspectiva negativa (no sentido de demonstrar quando um juiz não
poderia dar-se por convencido), está na chamada “doutrina do absurdo” ou da
“arbitrariedade”. Não se trataria propriamente, assim, de um standard voltado à conferência
do juízo fático, mas uma espécie de instituto destinado à cassação mesma da decisão.

Parte-se da ideia fundamental de que a garantia de acesso ao Poder Judiciário supõe uma
análise ponderada e efetiva da prova judiciária. Assim, a desconsideração do material
probatório representa uma violação constitucional ao serviço da justiça e, como tal, é uma

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ofensa à Constituição e, não, simplesmente, ao jus litigatoris. É para essa circunstância que se
reserva a qualificação técnica de sentença arbitrária ou absurda.

Nesse sentido, MORELLO invocando manifestações jurisprudenciais, assevera que “la tacha de
arbitrariedad requiere que se invoque y demuestre la existencia de vicios graves en el
pronunciamento judicial consistentes en razonamientos groseramente ilógicos o
contradictorios, apartamiento palmario de las circunstancias del proceso, omisión de
considerar hechos y pruebas decisivas o carencia absoluta de fundamentación”.

Trata-se, assim, de vícios flagrantes e manifestos na apreciação da prova. O absurdo, assevera,


“consiste em um vício de valoração material, quando se errou na apreciação da prova; e
formal, se se infringiram as leis da lógica”. A arbitrariedade e o absurdo, assim, seriam limites
impostos ao juiz na valoração das provas. Embora aberto o seu campo de atuação, algumas
situações tem sido consideradas típicas. Nesse sentido, considerar-se-á arbitrária a sentença
que “en la valoración de la prueba, ha de entenderse aquel que escapa a las leyes lógicas
formales o las transgrede; o lo que es impensable o inconcebible y no puede ser di ninguna
manera por haber quedado al margen de las reglas de raciocínio”. Assim não deverá reputar-
se, todavia, uma “apreciación equivocada, discutible, objetable o poco convincente de la
prueba”, sendo que o erro na valoração da prova somente recairá sob as malhas do absurdo
“se vicia de tal modo el mecanismo lógico de la sentencia”.

Parece evidente a semelhança entre a doutrina da mínima atividade probatória e a da


arbitrariedade e do absurdo. Todavia, algumas diferenças podem ser detectadas. É verdade
que ambas têm uma vocação tipicamente cassacional. Todavia, enquanto o modelo da mínima
atividade probatória procura construir um metajuízo puramente lógico, a arbitrariedade e o
absurdo avançam no sentido do próprio processo formativo da convicção. Sua atenção volta-
se para os desvios que o juiz possa eventualmente cometer na própria valoração. Por isso,
ESTRAMPES assevera que, para a última doutrina, “el fundamento del control casacional del
razionamento probatorio hay que encontrarlo en la ‘interdicción de la arbitrariedad de los
poderes públicos’, proclamada nel art. 9.3. C.E., de tal forma que la casación (...) además de
cumplir la finalidad tradicional de asegurar una aplicación uniforme de la ley penal, deve
perseguir, también, un fin de protección contra la arbitrariedad, es decir, la casación no puede
dejar de ser un medio de protección jurídica contra la arbitrariedad”. Parece-nos, assim, que o
arbitrariedade representa um desenvolvimento posterior à mínima atividade probatória, ou
seja, um desenvolvimento no sentido das regras lógico-experienciais do raciocínio judicial para
as regras lógico-experienciais da própria percepção probatória, ambas, porém, sempre tendo
por objeto a fundamentação. Reconheça-se, porém, que, em seu estado atual, as duas teorias
poderiam definir-se como ‘variações sobre um mesmo tema’.

7.5. Um dos grandes problemas com que todos os standards têm de se haver, a nosso
juízo, está no fato de, necessariamente, recair sobre a fundamentação, ou seja, sobre uma
manifestação linguística ou simplesmente um discurso (jurídico). Desse modo, quiçá
dissimuladamente, qualquer análise que se empreenda, seja pela ideia da arbitrariedade, pela
mínima atividade probatória, pelos standards da preponderância ou da eliminação da dúvida
razoável etc. pode ser reconduzida, na verdade, a uma perspectiva linguística, tendo em causa

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as ideias da coerência (manutenção do eixo de sentido) e da coesão (a manutenção do eixo


lógico) do discurso em que a convicção judicial se exterioriza. Então, poderia ter algum
sentido, talvez, formular-se um standard atento à base linguística ou comunicativa da
convicção.

Nessa direção, vão surgir os modelos chamados “narrativísticos”: “a escolha diz respeito a
‘story’ na sua globalidade e o critério da escolha é identificado na coerência e persuasividade
da narração. As provas são consideradas à luz da sua capacidade de fundar uma ou outra
‘story’, globamente entendida”. Parte-se da ideia segundo a qual, no processo, identifica-se
“uma reconstrução, re-descrição nas representações linguísticas que permitem dar conta do
agir humano enquanto efetivamente ocorrente no mundo”, representações essas que se
reduzem a narrações. Na teorização preconizada pelo narrativismo a atenção está concentrada
fundamentalmente na análise semiótico-estrutural das narrações. Evidentemente, tal
impostação suscita um importante debate, infelizmente incabível nesta sede. Por ora, refira-se
apenas que, não tendo os standards qualquer pretensão de exclusão, elencar-se um conjunto
de modelos linguísticos, ao lado dos demais modelos de constatação estudados, seria
certamente tarefa proveitosa – em que pese, segundo PASTORE, a tendência, ao menos nas
concepções semiótico-narrativas, de confundir-se a opinião com a verdade.

Nesse sentido, um modelo narrativístico que assume, abertamente, a suficiência do substrato


probatório, de um ponto de vista lógico, como uma questão de “congruência” ou de
“coerência da motivação”, sem perder de vista, contudo, nexos com o mundo concreto, ou o
nexo de referência, foi enunciado por Neil MacCormick. Com efeito, para o tratadista, ‘a
coerência do raciocínio é um teste importante a respeito de sua solidez enquanto tal. Trata-se
de um teste que não é plenamente satisfeito pela mera consistência, ou seja, pela ausência de
autocontradição’. Com efeito, “àquilo que eu digo, pode não faltar consistência interna, não
obstante, como um todo, possa não fazer sentido”. Então, o que se deve ter em causa na
realização desse teste é, justamente, o “fazer sentido”, o “estar em conjunto”, o ser
“coerente”, tanto nas as questões de direito, como nas questões de fato, às quais
correspondem os conceitos de congruência normativa e congruência narrativa.

Define-a o próprio autor: “congruência narrativa é o meu nome para um teste de veracidade
ou probabilidade nas questões de fato e de prova, para as quais não seja disponível uma prova
direta, mediante observação imediata”. A preocupação do modelo, já se vê, é auxiliar,
justamente, em casos difíceis, em que os meios de prova se mostrem escassos. Todavia, a
missão do standard é substancialmente ampliada, tendo em conta a premissa suscitada pelo
próprio autor: “dado que quase todas as disputas jurídicas e processos e causas concernem a
fatos e eventos do passado, e dado que nenhum fato ou evento do passado é suscetível de
prova direta mediante observação imediata, a congruência narrativa é um teste de grande e,
realmente, central importância na justificação das decisões jurídicas”.

Como é próprio dos juristas norte-americanos, N. MacCormick parte de um exemplo do qual


induz suas reflexões. Trata-se de Rex v. Smith, no qual o réu (sr. Smith) fora acusado de matar
sua esposa, encontrada morta no chuveiro. A acusação ofereceu como prova a circunstância
de que o mesmo fato – morte no chuveiro – sucedera com as duas primeiras esposas do réu,

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também assim falecidas. Aduziu, também, que o Sr. Smith consultara um advogado para
certificar-se de que herdaria os bens da vítima. Assim, cinco aspectos poderiam dar-se por
conhecidos, tais como: (1) a primeira senhora Smith morreu no chuveiro e Smith estava em
casa naquele momento; (2) a segunda senhora Smith morreu no chuveiro e Smith estava em
casa naquele momento; (3) a terceira senhora Smith moreu no chuveiro e Smith estava em
casa naquele momento; (4) anteriormente à morte da primeira senhora Smith, o Sr. Smith
verificou a possibilidade de herdar-lhe os bens.

A partir desses fatos conhecidos, MacCormick alude a dois outros enunciados, em tese
possíveis, e em torno dos quais se polarizara a questão de fato: (5) todas as ‘senhoras Smith’
morreram no chuveiro por um puro e simples acidente e (6) o senhor Smith assassinou, com
premeditação, todas as ‘senhoras Smith’ no chuveiro. Pois bem, o autor constata que os
enunciados (1-4) não contradizem nem o enunciado (5), nem o enunciado (6). Isso apenas
demonstra uma das premissas da sua teoria, qual seja, a de que a não contradição, por si só,
pouco oferece em termos de controle da decisão fática. É preciso introduzir, então, o critério.

Ora, o critério ou standard introduzido por N. MacCORMICK afasta-se, já foi visto, da mera
não-contradição. Ele observa que, apesar de ambos (5 e 6) serem não-contraditórios com
relação aos fatos conhecidos (1-4), (6) é, todavia, congruente com (1-4), enquanto que (5) não
é congruente com os mesmos (1-4). Então, cabe perguntar por que (6) foi havido por
congruente e (5) não o foi, ou, em outros termos, porque (6) deveria ser a resposta para a
questão de fato, e não (5), uma vez que também (5) não contradizia (1-4).

Para responder a essa pergunta, Neil MacCormick lança mão de uma interessante, embora
complexa, distinção. O mundo natural seria explicável segundo princípios ou leis de tipo
naturalístico-causal e probabilístico, ao passo que o mundo das vivências e ocorrências
humanas seria explicado por “leis” de tipo racional, intencional e motivacional. Logo, nos fatos
que sucedem sem a intervenção do homem, a explicação de que se deve lançar mão é de tipo
não motivacional, não intencional, mas causal e probabilística. Então, a probabilidade de se
verificarem, conjuntamente, as condições de tipo naturalístico-causal para que três pessoas,
sempre relacionadas com uma terceira pessoa constante (Smith, no exemplo), venham a
morrer no chuveiro é muito baixa. Agora, a probabilidade de que um agente humano possa
intencionalmente determinar a realização destas condições necessárias é alta, e mais alta
ainda se existir um motivo para fazê-lo, a ponto de poder legitimamente ser tida como uma
certeza para efeitos judiciários.

A partir dessa sofisticada lógica de pensamento, Neil MacCormick permite-se concluir que a
combinação de (6) com (1-4) é débil, à luz das correspondentes causas explicativas. Convém,
porém, atentar para a seguinte observação: “esta não é uma derivação dedutiva de (6) para (1-
4); trata-se, muito mais, disto: (6) e (1-4) pertencem a um único esquema racional de
explicação dos eventos, ao passo que (5) e (1-4) não pertencem a um mesmo esquema, salvo
pressupondo-se fatos ulteriores e hipóteses auxiliares”.

Então, “para resumir a congruência narrativa: ela fornece um teste da verdade ou da provável
verdade de proposições sobre coisas e eventos não observados. O teste consiste na
explicabilidade das proposições controladas no mesmo esquema de explicação que se utiliza
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para as proposições consideradas verdadeiras sob a base da percepção. A probabilidade


relativa de proposições mutuamente incoerentes, que se referem ao mesmo evento não
observado (no exemplo, o afogamento da senhora Smith), depende do número de outros
eventos que devem supor-se para atingir a congruência, e da medida em que se deve fazer
recurso a ulteriores hipóteses explicativas auxiliares, para obtê-la”.

Como resultado, narração mais congruente, entre as mutuamente contraditórias (no caso Rex
– v – Smith, as hipóteses excludentes (5) ou (6)) será aquela que comportar a mais baixa
improbabilidade mediante esse teste, que, por isso, outorga credibilidade e justifica a decisão
sobre questões de fato do passado, porque é uma “condição necessária de inteligibilidade do
mundo fenomênico e porque a racionalidade é necessária para tornar inteligível o mundo
fenomênico.

Se, agora, observarmos criticamente a teoria, em primeiro lugar ressumbra que a noção de
congruência narrativa ostenta um corte nitidamente racionalista. Embora narrativista, ela não
perde suas conexões com o mundo e postula a manutenção de referências extra-linguísticas. O
critério decisivo, ao que se compreende, é o da manutenção das causas explicativas: em Rex –
v– Smith, a conclusão factual (6) se impõe sobre a (5) porque, para manter esta última, seria
necessário alterar o paradigma explicativo. Dito de outro modo, para assumir que houve três
acidentes naturais, ter-se-ia de apelar a eventos altamente improváveis do próprio ponto de
vista naturalístico. Já a conclusão factual (6), empregando um esquema explicativo de tipo
intencional, não lança mão nem de pressuposições auxiliares, nem de premissas improváveis.

Uma variante dessa impostação reside no standard proposto por COHEN – o da probabilidade
indutiva. O modelo procura, justamente, controlar a passagem inferencial do fato conhecido
“A” para o fato desconhecido “B” e oferece soluções interessantes no campo da valoração
judicial, tanto no âmbito criminal, como no âmbito civil.

No primeiro caso, COHEN lança mão do seguinte exemplo: um policial que declara ter
descoberto o acusado, em plena noite, no jardim de uma casa na qual pouco antes jóias
haviam sido furtadas, sendo que tais jóias foram encontradas na casa do réu. Nessa situação a
acusação lançará mão de uma generalização – se um objeto foi furtado e uma pessoa é
encontrada logo após sob a posse de tal objeto, nas proximidades de onde foi retirado, é
porque essa pessoa o retirou. Todavia, anota COHEN, essa generalização, para servir de
fundamento à condenação, deverá resistir à interferência de todos aqueles fatores diversos
que posam ser levantados pela defesa, que poderá tentar demonstrar que existiam outras
pessoas no jardim logo após o furto etc. À vista disso, COHEN constrói o seguinte critério:
“para que possa considerar-se atingido o standard de prova para além de toda dúvida razoável
necessária para o processo penal, é preciso estabelecer que qualquer característica relevante
da situação é coerente com a generalização invocada”.

O mesmo serve ao processo civil, apenas ajustando-se a verificação do processo generalizador


para o nível da preponderância. COHEN, também, aqui, lança mão do seguinte exemplo: uma
pessoa é condenada a indenizar perdas e danos pelo descumprimento de um contrato de
construção de um edifício. Resta claro que nenhum edifício fora construído e que o autor, se o
contrato fosse respeitado, teria ganho algum dinheiro. Duvida-se, contudo, se o contrato foi
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efetivamente concluído. Em apoio à sua tese, o autor demonstra que em sucessivas


oportunidades o réu manifestou seu interesse no contrato. Extrai-se uma primeira
generalização, segundo a qual, normalmente, se um contrato é proposto a uma pessoa e esta
exprime seu interesse em várias ocasiões, é presumível tê-lo aceitado. O réu, porém, assevera
que o autor não tem condições de prová-lo documentalmente e, nesse momento, o autor
reforça sua posição, provando que uma soma de dinheiro foi dada ao réu. O réu, a seu turno,
alega que essa soma de dinheiro foi dada a outro título. Então, o autor ainda prova que o réu
procurou materiais de construção, e assim sucessivamente, seguindo-se uma espécie de jogo
de probabilidades indutivas, em que toda e qualquer tentativa de generalização é posta em
cheque e permanemente testada pelas possibilidades indutivas em sentido contrário.

Parece claro também que ambos os standards narrativísticos mencionados – a ideia de


congruência e a ideia de probabilidade indutiva – partem de uma concepção de mundo
estritamente racional, mantendo-se absolutamente fiel a esse paradigma. Aliás, MacCormick
reconhece: “visão racional do mundo é aquela que inclua um conjunto mutuamente coerente
de princípios explicativos em modo tal que estes princípios delineiem um modelo inteligível de
eventos em um mundo possível, e que esses tornem inteligíveis (porque explicáveis com
referência ao princípio) os eventos que a nossa percepção nos revela. Não poderemos ter um
ordenamento formativo racional sem ter também uma visão de mundo racional. Mas não
necessitaremos de uma visão de mundo racional e certamente não necessitaremos de modos
de decidir em torno da realidade das coisas se não fôssemos também sujeitos ativos desejosos
de racionalidade prática nas nossas ações”. Preside-a, assim, a ideia de normalidade, como
inerente a toda sua construção: “a verdade provável relativa às alegações dos fatos se baseia
sobre um ‘stock’ de conhecimentos sobre o curso comum dos eventos no mundo externo, que
inclui generalizações aceitas pela comunidade científica, baseadas sobre a experiência dos
componentes da sociedade.

A crença na “racionalidade” do mundo até poderia estar em contradição com o modelo


explicativo das ações humanas, em que comparece o motivacional. Todavia, as próprias leis
motivacionais participam dessa racionalidade, o que desnuda as limitações a que estão
sujeitos esses modelos. Não se consegue, em primeiro lugar, avançar no estabelecimento do
critério lógico para controlar o paradigma da suficiência, sobre o qual pouco se diz. Na
verdade, o conceito central fornecido pelo standard em tela, congruência ou probabilidade
indutiva, diz respeito mais à eleição entre opções contraditórias, mas possíveis logicamente
(tal era o caso das sentenças (5) e (6)). De outra parte, embora se postule geral, sua
atendibilidade parece mais ligada aos casos atinentes à prova indiciária e presuntiva, quando,
aí sim, o teste proposto tem um horizonte prático considerável.

Todavia, ambos os standards têm a vantagem de permitir um diálogo mais consistente e


regrado no campo das generalizações. Eles evitam, justamente, que fique à margem do
contraditório esse momento delicado do processo decisório, em que o juiz, partindo dos fatos
conhecidos, chega ao fato desconhecido. Assim ocorre porque a verificação da congruência da
decisão judiciária, assim também a probabilidade indutiva, exigem do intérprete uma
meditação específica sobre a formulação da máxima de experiência ou da lei de experiência

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formulada pelo juiz no caso concreto e, neste particular, são altamente educativos, elevando o
debate judiciário. Todavia, sua vocação cassacional parece ser muito reduzida.

Assim, se pode concluir dizendo que o standard da congruência narrativa manifesta-se como
um bom instrumento para o controle das inferências judiciais em casos complexos,
principalmente os que envolvem indícios e circunstâncias e, mais exatamente, para o controle
da transição fato conhecido—fato desconhecido. Fiel ao seu programa, dever-se-á, num
primeiro momento, selecionar um tipo de causalidade explicativa para a premissa conhecida
(naturalístico-causal ou motivacional) e, a partir disso, examinar qual, dentre as proposições
fáticas possíveis e não-contraditórias, recorre a um menor número de premissas auxiliares,
refugindo, assim, ao paradigma da normalidade, ou qual tem o seu processo de generalização
indutiva quebrado por um desvio fático considerável.

Com isso, é verdade, não se terá estabelecido exatamente o “quantum” de prova, mas já se
terá avançado numa espécie de sub-critério, sub-standard, através do qual se poderá fazer um
controle lógico a respeito das premissas de que o juiz se utilizou quando de uma ou outra
opção, como, no exemplo citado, ocorreu entre as soluções (5) e (6), e, com tais limitações, a
teoria pode significar um instrumento auxiliar bastante interessante.

7.6. Partindo da ideia básica de que a cassação não reexamina fatos, a Corte de Cassação
francesa desenvolveu um interessante elenco de standards capazes de efetuar um abragente
controle lógico do juízo fático. Esse instrumental, relativamente sofisticado e formal, é
genericamente conhecido por Controle da Motivação. Por seu intermédio, “impõe-se ao juiz
da questão de fundo uma motivação suficiente e coerente, a fim de evitar uma degradação da
função judiciária”. Referem os juristas franceses a um “controle mínimo dos motivos de fato”.

Como foram criados para funcionar na cassação francesa, seu horizonte prático se confunde
com as necessidades e limitações daquele recurso, mas sua utilização, tanto no contexto dos
recursos Especial e Extraordinário, como no âmbito dos modelos de constatação até aqui
estudados, não é de todo impraticável. Todavia, presente a dicotomia entre o juiz de fundo e o
juiz da cassação, no sistema francês, o seu enfoque é exclusivamente cassacional, destinando-
se à anulação da decisão e, não, à sua efetiva reforma.

Nesse sentido, o Controle da Motivação subdivide-se em três standards fundamentais: o (1)


défaut de motifs (falta ou carência de motivos), o (2) défaut de base légal (falta de base legal)
e a (3) dénaturation de l’ecrit (desnaturação ou, mais livremente, deturpação de um escrito). O
controle da motivação – frisam os juristas franceses – “distingue-se do erro de fato”: “se uma
decisão está suficientemente motivada de fato, ela é invulnerável, sejam quais forem os erros
de fato que contemple”. Assim, o controle de motivação examina o motivo indicado na
decisão e a consistência da conclusão que dele se faz, bem marcando tratar-se de um
mecanismo auxiliar para o exame da infra-estrutura da convicção.

Ocorrerá (1) défaut de motifs, ou falta de motivos, toda vez que faltarem os motivos
necessários para a afirmação de uma determinada decisão. Partindo da ideia de que “a
obrigação de motivar, é, nos termos da lei, uma forma substancial do julgamento” e de que,

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por isso, “a Corte de Cassação considera a falta dos motivos como um vício de forma”, surgem
quatro standards básicos que permitem apontar o vício de uma decisão carente de motivos:

1.1) Absence de motifs (Ausência de Motivos): caracteriza-se pela falta absoluta de motivos,
ou pela existência, apenas, “de uma motivação de pura forma, que não passa de um simulacro
de motivação”. Tal é o caso, p. ex, de uma decisão que se limita a declarar que uma alegação
“não é séria”, “não é fundada” ou, simplesmente, assevera estar a demanda “bem fundada e
justa”, ou apenas invoca “a jurisprudência”, sem explicitação. Todas essas circunstâncias
podem indicar o vício apontado;

1.2) Contradiction de motifs (contradição de motivos): standard utilizado para cassar a


decisão fática contraditória, exigindo a concorrência de, pelo menos, cinco características: a) a
existência de uma contradição real no juízo de fato, que atinge o próprio pensamento do
julgado; b) que a contradição se estabeleça ou entre os próprios motivos da decisão ou entre
os motivos e o dispositivo da decisão; c) que essa contradição ocorra no plano dos motivos de
fato da decisão; d) que a contradição tenha exercido uma efetiva influência sobre a decisão,
capaz de prejudicar a parte que a invoca; e, finalmente, e) que a contradição esteja revelada
pela própria decisão;

1.3) Motif dubitatif ou hypothétique (motivos dubitativos ou hipotéticos): a categoria em


apreço assimila os motivos hipotéticos à ausência de motivos. A ideia que preside esse
standard vincula-se ao ônus da prova: o acolhimento de uma demanda com base em motivos
hipotéticos substanciará uma violação ao nível de prova exigido para a procedência da
demanda, porque o juiz estaria, em realidade, reconhecendo que o demandante ou o
demandado, conforme a questão controvertida, não teriam provado devidamente os pontos
em que apoiadas as respectivas pretensões;

1.4) Défaut de réponse à conclusion (falta de enfrentamento de uma questão), que se


caracteriza quando um fundamento relevante, validamente posto pelas partes, é deixado de
lado pela decisão combatida.

Ao lado do défaut de motifs, insere-se no “controle mínimo dos fatos” o (2) défaut de base
légale, ou seja, a falta ou insuficiência de base legal, que, segundo BORÉ, é “uma criação
puramente jurisprudencial”. Versa a categoria sobre situações em que a decisão tem motivos,
de sorte que sua regularidade formal não pode ser atacada através do défaut de motifs, mas
esses mesmos motivos fáticos são manifestamente insuficientes ou precários para suportar as
conclusões jurídicas que sobre eles se apóiam. Viola-se, aqui, não o dever de fundamentação,
mas o dever de exposição completa do fato. Portanto, verifica-se, em primeiro lugar, à luz das
conclusões jurídicas da decisão, a existência de uma “insuficiente constatação de fatos”.

É preciso, neste ponto, distingui-lo do défaut de motifs. Realmente, este standard supõe a
inexistência de motivos – seja por que estão de todo ausentes, seja por que são contraditórios,
seja por que são hipotéticos, seja por que há uma falta específica. Portanto, o défaut de motifs
é aferido a partir de um controle formal do juízo de fato. Já o standard do défaut de base
légale é um controle substancial e, não, meramente formal, implicando a insuficiência de
mérito dos motivos fáticos invocados em face da conclusão jurídica estabelecida, por isso que
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sempre de aplicação subsidiária (se da aplicação do primeiro standard resultar viciosa a


decisão, não há que se prosseguir no teste). No limite, porém, nem sempre será possível a sua
radical distinção, donde “sejam invocados conjuntamente” e “se excluam mutuamente”, ainda
segundo BORÉ.

Assim como no défaut de motifs, há uma extensa tipologia de casos ou ‘substandards’ típicos,
que indiciam ter havido o (2) défaut de base legal, quais sejam: a) o fato é constatado de
maneira incompleta; b) o juiz se omite de indicar a origem das constatações de fato; c) o juiz se
omite de apreciar o conjunto dos fatos constatados; d) o juiz se omite de interpretar uma
cláusula obscura; e) o juiz deduz um motivo abstrato e geral em lugar de considerar o fato
concreto; f) o juiz omite-se de determinar a realização de uma prova que lhe permitiria
resolver a questão de fato; g) a decisão é ambígua e não se sabe se o juiz resolveu o fato ou o
direito; h) os motivos tornam incerta a base legal da condenação; i) o motivo eleito é
ininteligível; j) o motivo deriva de pura e simples afirmação; k) o fato constatado é hipotético
ou dubitativo. São exemplos do défaut de base légale, extraídos da jurisprudência da Corte de
Cassação: o acórdão considera o empregador civilmente responsável por ato de seu preposto,
sem verificar se, no momento do fato, o preposto estava no exercício de suas funções; o
acórdão anula um ato assemblear, sob a alegação de ser ilegal, sem que se defina em que
consiste a ilegalidade; o acórdão se vale de expressões como ‘parece’, ‘tem-se a impressão’, ‘é
possível que’, ‘não se exclui que’, ficando no terreno de conjecturas etc.

O terceiro e último standard do controle mínimo do fato é dado pela chamada ‘dénaturation
de l’écrit’, ou descaracterização, deturpação de um escrito, também uma “criação puramente
jurisprudencial”, sendo “a forma mais recente de controle da motivação”. Trata-se da
“deturpação, pelo juiz da questão de fundo, do sentido de um escrito claro e preciso” (cf. Cass.
1er. Civ. 28 févr. 1962, Bull. Civ., n. 128). Segundo a jurisprudência francesa, a deturpação é
um erro flagrante na apreciação do sentido de um ato claro, um erro de apreciação e, não,
uma falta de apreciação, não se confundindo, assim, com o erro de direito. Para configurá-la,
exigem-se, cumulativamente, os seguintes requisitos: a) que exista um escrito válido; b) que o
escrito seja claro, manifesto; c) que a interpretação seja contrária ao escrito; d) que o escrito
tenha sido abstraído pela decisão (embora seja polêmico esse requisito); e) por fim, que não
haja um motivo diverso (motivo superabundante), capaz de fundamentar a decisão, a despeito
da deturpação.

Como se observa, as categorias aqui examinadas, por estarem exclusivamente vocacionadas à


cassação francesa, sofrem uma limitação no seu uso enquanto standards, já que a sua função é
mais negativa que positiva, ou seja, auxiliando a denunciar o erro da decisão e a cassá-la, mas
não a definir a decisão que seria a correta. Todavia, essa é uma praxis bastante próxima à que
o Superior Tribunal de Justiça vem exercendo por intermédio de sua Súmula nº 211:
apontando o recorrente um daqueles erros, não reparados por embargos declaratórios, o
Tribunal opta pela cassação do acórdão estadual, sem proceder ao enfrentamento imediato do
fundo do litígio.

Todavia, talvez por isso mesmo, os modelos franceses podem ser extremamente úteis no
sentido de, sem apontar o caminho correto, alertar os interlocutores do debate judicial de que

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pode haver problemas em determinado juízo de fato, a cuja correção poder-se-á chegar
mediante o recurso aos demais standards.

7.7. Nossa análise seria absolutamente incompleta se, pelo menos, não mencionássemos -
nada além disso - os chamados modelos probabilístico-matemáticos. Com efeito, deparamo-
nos com a tentativa de aplicar-se, ao diálogo judiciário, teoremas, fórmulas e demonstrações
estatísticas capazes de assegurar o grau de segurança da inferência.

O paradigma em torno do qual essa questão vem polemicamente debatida – e, a esse respeito,
faremos uma breve referência – remonta ao caso People v. Collins, julgado pela Suprema Corte
da Califórnia, em que foi rejeitada a introdução de prova estatística em determinado processo
segundo o qual a chance de os réus serem os responsáveis por determinado ato era de 1 entre
12 milhões. Um dos argumentos de peso, utilizado pela Corte, foi, no dizer do Juiz Sullivan, o
de que “nenhuma equação matemática poderia provar além da dúvida razoável que somente
um homem”, com as características descritas e com o grau de certeza 1:12.000.000, “poderia
ser encontrado em toda a área de Los Angeles”.

Esse acórdão marca uma importante discussão a respeito do uso de regras probabilísticas no
campo probatório. FINKELSTEIN e FAIRLEY, o primeiro um jurista, o segundo um matemático-
estatístico, passariam a defender a aplicação do teorema Bayesiano nesses domínios, ao que
se opôs, em diversos artigos, L. TRIBE. Aliás, este último chamou a atenção para a perspectiva
“matemática” da prova medieval, na medida em que aqueles juristas tratavam de estabelecer
o número de testemunhas requerido para a prova determinadas questões, donde “o direito
medieval (...) procurou na precisão matemática uma escapatória contra os perigos do
julgamento irracional e subjetivo”, ponto sobre o qual já versamos (v. n. 2, supra). Em busca da
segurança é que certos autores vão, destarte, defender o uso de modelos matemáticos.

Não pretendemos, aqui, examinar o mérito das formulações matemáticas, senão apenas
noticiá-las, porque tudo leva a crer que a impostação tradicional de Collins v. People
seguramente exigirá uma nova reflexão por parte dos juristas. A tendência de rejeitar os
modelos matemáticos, prima facie, torna-se prontamente relativizada quando se pensa, p. ex,
nos testes genéticos com altos percentuais de certeza. Imagine-se, por exemplo, um teste
pericial indicando um percentual de 90%. Como o jurista deverá ler essa informação
estatística? Se o jurista ler 90% sobre um universo de 10, sobre 100, sobre 1.000, sobre
1.000.000, as respostas não tenderão a variar? E não tenderão a variar conforme a matéria sub
judice? Afinal, em números absolutos, 90% de 10 é 9 (a chance de não-ocorrência é 1); mas
90% de, p. ex., 1.000.000 é 900.000 (caso em que a chance de não ocorrência passa para
100.000)! As diversas concepções de probabilidade (probabilidade absoluta, probabilidade
frequência, probabilidade lógica etc.) entram aí em cena.

O que cabe registrar, neste particular, é que o avanço das ciências exatas reproporá o
problema dos modelos matemáticos. A ciência jurídica terá de dar resposta para isso, e o
progresso das ciências exatas, certamente, vai suscitar esses questionamentos. O referencial
mais utilizado nessa matéria é ainda o aludido teorema de BAYES, insuscetível de ser abordado

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nesta sede. Tudo leva a crer que perspectiva pessimista de Collins v. People exigirá novas
reflexões.

De todo modo, impende aqui destacar que, à base dos modelos narrativísticos acima vistos,
principalmente, está uma probabilidade, mas não uma probabilidade matemática, pelo que a
rejeição desta última não pode implicar, ipso facto, a rejeição da primeira. Com MARCHEIS,
“em primeiro lugar, um conceito de probabilidade não matemático e fundado essencialmente
sobre a base do id quod plerumque accidit apresenta a vantagem de não impor ao juiz uma
bagagem de conhecimentos especializados que ele não tem em virtude de sua formação
profissional e se revela particularmente idôneo a descrever em termos racionais o raciocínio
na valoração das provas”. Ou seja, a probabilidade dos modelos narrativos, por oposição a dos
modelos matemáticos, funda-se no conceito de normalidade.

Não se pode negar, evidentemente, que o mesmo argumento poderia ser usado em apoio da
teoria matemática. O próprio conceito de “id quod plerumque accidit”, ou seja, o conceito de
normalidade, pressuposto nas formulações linguísticas, contém, em si, a chance de erro, que a
própria estatística contempla, e nem por isso deixa de ser válido. Com a estatística, ocorreria o
mesmo fenômeno. A chamada “probabilidade-frequência” leva em consideração essa
realidade, donde a aparente contradição entre a relatividade do conhecimento humano e a
aparente certeza do modelo matemático não estariam, em princípio, em cheque.

Assim, observa-se que, sem dúvida, o tempo e, em especial, a evolução das ciências exatas,
exigirá uma tomada de partido quanto aos modelos probabilísticos de tipo matemático e um
debate mais profundo do tema por parte da classe jurídica. Por ora, contudo, sirva-nos apenas
a referência de que, ao lado dos modelos estudados, abre-se a perspectiva da utilização
paralela dos modelos matemáticos, cujo estatuto fica, ainda, por discutir.

8. A praxis brasileira e a importante decisão do Superior Tribunal de Justiça, de 01/10/98.

Tendo-se presente uma visão geral do fenômeno, resta-nos referir, brevemente, a praxis
nacional. E, prontamente, localiza-se a noção mais próxima das que foram até aqui
examinadas: aludimos à dicotomia reexame de prova - reexame da valoração jurídica da
prova.

Nesse sentido, essas expressões vêm sendo utilizadas no processo brasileiro desde o Recurso
Extraordinário, sendo recepcionadas no Especial, nos termos da Súmula nº 07 do S.T.J., a dizer
que “a pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”, repristinada,
portanto, a Súmula nº 279 do S.T.F., segundo a qual “para simples reexame de prova não cabe
recurso extraordinário”.

A tônica de ambas as formulações, percebe-se, recai no adjetivo “simples”, a partir do qual


ambas as Cortes permitiram-se, eventualmente, abandonar sua posição de total neutralidade
relativamente aos fatos e deles conhecer, mas apenas ‘sub specie juris’, ou seja, apenas em
sua dimensão lógico-jurídica. Em voto que se tem por clássico, o Ministro Vilas Boas, afirmou
que a “Corte Suprema tem feito, a propósito, nítida distinção entre apreciação de prova e
valorização da prova. A primeira hipótese diz respeito à pura operação mental de conta,

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peso e medida, a qual é imune ao controle excepcional. Na segunda, exatamente porque se


envolve na teoria do valor do conhecimento, esta Augusta Corte pode sair da sua posição de
neutralidade, dispondo-se a apurar se houve ou não a infração a algum princípio probatório
e, desta perspectiva, tirar alguma conclusão que sirva para emenda da injustiça proventura
cometida” (RE nº 57420-GB, in RTJ, 37/480). O voto é paradigmático porque refere-se a um
típico controle lógico da prova, ou seja, um controle que, debruçando-se sobre a teoria do
valor ou do conhecimento – e, não, sobre o material probatório –, permite verificar a
existência de alguma infração lógico-jurídica e, “desta perspectiva”, ou seja, sem ainda
enveredar por problemas eminentemente fáticos – o que lhe seria defeso – corrigir a decisão
de meritis.

A distinção sub examen não só tem permitido a execução de controles lógicos no âmbito
desses recursos, como, igualmente, a realização de controles tipicamente narrativos. Assim, o
S.T.F. decidiu que “não constitui matéria de fato, mas de Direito, a valoração jurídica das
provas, quando a decisão nega qualquer efeito à adequação, como a perícia contábil, para
apurar-se a simulação disfarçada nos livros mercantis do simulador” (RTJ 72/472). Já o S.T.J.,
num exemplo típico de controle narrativo, efetuado a partir do discurso linguístico do acórdão
estadual, sem recorrer ao exame das provas, assim ementou o REsp. nº 32.932-6-RS, relatado
pelo Ministro Eduardo Ribeiro: “Litigância de Má Fé. Averbação que se cancela, posto que o
acórdão não demonstrou que realizada alguma das hipóteses do art. 17 do C.P.C.” (RSTJ nº 66,
259).

Por evidente, a distinção reexame de prova – reexame da valoração jurídica da prova é


absolutamente fiel e limitada ao contexto em que originada – o Recurso Extraordinário e, hoje,
o Especial - ressentido-se, assim, daquela perspectiva própria dos standards, que, pelo menos
alguns deles, permite um diálogo efetivo com o material probatório. Na verdade, a distinção
em causa não é propriamente uma regra de controle (como, p. ex., são os standars da
preponderância, do alto grau de verossimihança, da dúvida abstro-negativa etc.), mas é a
categoria jurídica por intermédio da qual aqueles controles são feitos!

Disso, duas consequências decorrem: em primeiro lugar – e esta é a que mais nos importa aqui
– fica claro que, na praxis processual brasileira, estão presentes, de longa data, os ingredientes
necessários para que, enquanto mecanismo auxiliar e complementar, proceda-se a um
controle lógico da motivação judicial; em segundo lugar, que se mostra absolutamente
possível e praticável a execução desse controle, vale dizer, que a construção teórica
mencionada tem densidade prática, pois, se ela é factível no âmbito do Recurso Especial e do
Extraordinário, sabidamente restrito, com muito mais razão o será quanto ao mais.

Uma decisão do Superior Tribunal de Justiça, nesse sentido, veio a dar um passo importante e
decisivo na matéria. Referimo-nos, aqui, ao Recurso Especial nº 184.156-SP, julgado em
1/10/98, pela Egrégia 5ª Turma do S.T.J., relator o eminente Ministro Félix Fischer (RSTJ, 114,
535). A decisão, no mais alto sentido, simplesmente aplicou, em sede de Recurso Especial, os
mais modernos standards de controle lógico, podendo ser invocada com um verdadeiro
leading case, doravante, no assunto. Vejamo-la brevemente.

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No precedente, que é de natureza criminal, a Corte deparou-se com a questão de saber se


determinado acórdão estadual absolutório (por entender insuficientes as provas colhidas) não
teria violado o art. 386, inc. VI do C.P.P.. Em outros termos, discutiu-se se o standard exigido
pelo Tribunal do Estado, para efeitos de condenar, era, realmente, o standard próprio dos
casos criminais, donde a Corte em verdade deparou-se não com a incumbência de reexaminar
a prova, o que lhe seria defeso, mas sob o enfoque de sua suficiência jurídica. O recorrente
especial, pois, sustentava, precisamente, que o “non liquet” da Corte Local ensejava uma
ilegalidade probatória, porque a prova era suficiente.

O cultíssimo Ministro Félix Fischer, relator do caso, invocando, com extrema felicidade, as
lições de CASTANHEIRA NEVES, afirmou que, em princípio, não se exclui a atuação da Corte
“em domínios que pertenceriam à questão de facto. Pensemos no controle do ‘défaut de base
légale’, no controle do ‘dever de averiguação da verdade’, com o respeito pelos ‘fatos
notórios’ e a exigência de concludente motivação na censura dos desvios de poder relativos ao
cumprimento da objectividade probatória etc.; ponto este que se encontra, em momentos
decisivos, diretamente relacionado com as questões de controle em geral das violações das
regras de experiência e das violações das leis do pensamento. Consideraremos ainda as
questões muito discutidas relativas à admissibilidade de uma censura em revista quer da
manifesta contradição com os autos, vício que a doutrina alemã designa por Aktenwidrigkeit”
(ob. cit. p. 362).

Fixadas tais premissas, a Corte, então, debruça-se sobre a consistência lógico-jurídica da


dúvida mencionada pelo tribunal estadual aos efeitos de decretar o non liquet, e conclui
tratar-se de uma dúvida abstrato-negativa (cf. item 7.3., supra) e, por isso, inservível à
absolvição. Cabe transcrever a manifestação do Tribunal:

“...quanto aos precedentes, que não são poucos, em torno da revaloração da prova (...),
aonde se vê que, em casos como este, a pretensão recursal não esbarra na Súmula n º 07-STJ.
‘Insisti naquele ponto de que o juiz, evidentemente, na apreciação da prova, tem uma latitude
muito grande (nunca lhe negamos), mas ele não a tem por arbítrio e sim fundamentando
lógica e racionalmente porque se afasta de uma determinada prova’ (RE 78036-GO, STF, Pleno,
rel. Ministro Aliomar Balleiro, RTJ 72/477-478). O v. acórdão reprochado, portanto, indica
inicialmente, o que é profundamente lamentável, o choque frontal entre perícias realizadas.
Mas, como está registrado no voto-vencido, da lavra do magistrado Dr. Corrêa Moraes, a
douta maioria desprezou, in totum, a prova testemunhal nos tópicos em que ela era e é
obviamente taxativa e decisiva. TUDO ISTO COM BASE EM ESPECULAÇÕES TEÓRICAS, acerca
da captação dos fatos, contidas em livros e artigos...”.

Percebe-se, assim, com toda a clareza, que a Corte empregou, explicitamente, o modelo
calcado na distinção entre dúvidas abstrato-negativas e dúvidas positivo-concretas, sendo
certo que somente as últimas têm aptidão para excluir o processo inferencial. Aliás, ao
terminar seu douto voto, o eminente Ministro-Relator asseverou uma vez mais: “ao se negar a
incisiva prova testemunhal (admitida e especificada em segundo grau) em proveito de
especulações teóricas (...) construiu-se um decisum com flagrante violação ao art. 386, VI do

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CPP”, razão pela qual a Corte findou, sinale-se, por reformar o acórdão absolutório estadual,
reestabelecendo decisão condenatória monocrática.

Como a decisão deu-se em sede de recurso especial, igualmente os standards franceses,


examinados no item 7.6, supra, permitiriam a mesma ordem de conclusões. Percebe-se que a
Corte Superior superior detectou, no acórdão, o standard (1.3), ou seja, um “Défaut de Motif”
(falta de motivos), qualificado por um “Motif dubitatif ou hypothétique” (motivos dubitativos
ou hipotéticos), ou, ainda, o standard do Défaut de base légale (falta de base legal), qualificado
pela hipótese “2e”, em que o juiz deduz um motivo abstrato e geral, em lugar de considerar o
fato concreto.

Percebe-se, assim, no precedente invocado, que a distinção reexame das provas e reexame da
valoração jurídica das provas atesta, não apenas a presença dos elementos culturais
necessários à utilização daqueles paradigmas, como, igualmente, a sua plena utilização na
prática.

9. Conclusão: do possível controle e do CONTROLE desejável.

Que conclusões podem ser extraídas da exposição precedente? Ora, ao longo do presente
trabalho, partiu-se do caráter problemático do convencimento judicial, para justificar a
necessidade de uma equalização entre as concepções da teoria geral do direito e a questão do
controle da convicção judicial, no sentido que das primeiras poder-se-ia extrair contribuições
importantes para a segunda.

Aceitando-se abertamente a contingência da falibilidade do conhecimento humano –


largamente “dissimulada” pela ostensiva difusão do racionalismo de tipo cartesiano – e, no
que diz respeito à prova, soterrada pela substituição do conceito clássico pelo conceito
moderno de prova – demonstrou-se, cientificamente, a necessidade e a vantagem de serem
formulados critérios, instrumentos, modelos de constatação ou, mais propriamente, standards
jurídicos capazes, não apenas de auxiliar na evitação do erro, como, igualmente, de comunicar
as vantagens do contraditório ao próprio processo de formação da convicção judicial,
doravante não mais concebida como “equivalente a cerrado e inabordable criterio personal y
íntimo del juzgador”, mas como “una apreciación lógica de la prueba, no exenta de pautas o
directrices de rango objetivo”.

Obviamente, pressupôs-se, nesse contexto, o papel constitutivo e necessário do contraditório,


no sentido de que “a verdade se manifesta e emerge na disputa entre opostas perspectivas
através de um conhecimento discursivo”, sendo “o procedimento dialético próprio do
contraditório (...) estruturalmente comunicativo enquanto exige (...) o diálogo interpessoal
peripatético; crítico, enquanto submete à discussão os pressupostos sobre os quais baseia as
hipóteses probatórias e também autenticamente cognoscitivo, porque consente em
argumentar-se com referências a hipóteses determinadas, no confronto dialético para a
assunção da prova, de modo que, restando confutada uma hipótese, ela possa ser abandonada
porque falsa ou insutentável”.

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Com essas premissas, chegou-se à conclusão de que o processo de convicção, com toda a sua
carga problemática, poderia muito bem beneficiar-se da abertura legitimadora e constitutiva
do contraditório, desde que fossem nele integrados os critérios que presidem a formação da
convicção judicial. Lembrou-se, aqui, com apoio em JAUME BALMES (O critério) e à luz da
concepção clássica da prova, que ‘pensar bem é conhecer a verdade ou dirigir o entendimento
pelo caminho que a ela conduz”, sendo os critérios ou os standards, justamente, os “meios
para conhecer a verdade”!

À luz desta pré-compreensão e pressupondo que a liberdade outorgada ao juiz não pode
redundar no desrespeito às regras do bem pensar, exsurge, não apenas como necessário, mas
como vantajoso, a invocação de tais critérios como instrumento que viabiliza uma discussão
regrada, leal e honesta também a respeito da estrutura lógica da convição judicial. Então,
partindo da experiência do direito comparado, colhem-se os critérios, standards ou modelos
de constatação, sempre alternativos e desprovidos de qualquer pretensão de exclusividade ou
rigorismo, capazes de permitir, aos partícipes do debate judicial, não apenas a efetiva
explicitação desse juízo, mas, sobretudo, a discussão a respeito de seu acerto, razoabilidade,
racionalidade e justiça. Tal procedimento visaria, em última análise, a evitar que passos
importantes dessa delicada operação fiquem à margem do diálogo judiciário, o que seria
equivalente a uma forma escamoteada de arbitrariedade ou a um dissimulado monólogo.

Os diversos standards – tais quais a ‘evidence beyond a reasonable doubt’, a ‘preponderance


of evidence’ e as ‘special rules’ (v.g., “clear and convincig evidence”); a “mínima atividade
probatória”, as dúvidas positivo-concretas e abstrato-negativas, a “doutrina do absurdo” e da
“arbitrariedade”, a “congruência narrativa”, o “défaut de motifs” e os modelos matemático-
probabilísticos –, por serem tais, devem ser vistos, apenas, como mais um ponto de vista para
analisar-se um mesmo problema, concepção que se ajusta a uma ‘visão problemática’ do
direito. Por isso, eles não podem, nem devem, ter por missão substituir o processo de
convicção enquanto tal: seria algo absolutamente indesejável. Eles são verdadeiros momentos
argumentativos, ângulos ou enfoques de observação, devendo ser testados e utilizados
sucessivamente, de tal modo que o observador (o juiz, as partes, o tribunal) possa ou seja,
inclusive, obrigado a mudar seu ponto de vista e experimentar outra abordagem, consoante é
da essência do pensamento problemático, que, haja vista, “amplia o quadro de análise,
constrange à comparação, atenua o perigo de opiniões preconcebidas e favorece a formação
de um juízo aberto e ponderado”.

Não cuidamos, aqui, do uso desses standards no âmbito específico dos recursos Especial e
Extraordinário, embora, alguns, dentre os examinados, sejam mais voltados para essa
finalidade. Essa, todavia, é uma outra dimensão prática que ostentam, o que já se pode inferir
dos precedentes invocados. Nosso objetivo, ao contrário, foi o de preconizar a sua utilização
como forma de submeter o processo de convencimento judicial a um possível controle. E diz-
se, expressamente, um “possível controle” porque, como visto no curso deste trabalho, é
próprio do standard uma indeterminação de sentido, no caso da convicção judicial, ademais,
insubstituível.

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Assim sendo, ao lado do juízo de fato e de sua sempre possível renovação como forma de
controle, é recomendável e altamente proveitoso que se recorra também a parâmetros
lógicos, a partir dos diversos standards a esse título enunciados, para que também a
apreciação da prova mereça todo um diálogo franco, aberto e possível, plenamente integrado
pelo contraditório e pelo pensamento problemático. Bem utilizados, poderão, também,
contribuir na solução de importantes questões no plano dos Recursos Especial e
Extraordinário.

21.2.3.6. Decisionismo X Jurisprudencialismo


O decisionismo baseia-se na ideia segundo a qual a justiça é um conceito abstrato, de modo
que a construção do juízo decisório não decorre necessariamente de um critério objetivo
forjado numa norma. Substitui-se a norma pela decisão, como fundamento de validade.

Entre os expoentes do decisionismo está o jusfilósofo Carl Schmitt, que considera a


Constituição uma decisão política fundamental, que repousa sua validade no ato de vontade
do poder constituinte. A ordem jurídica seria essencialmente um sistema de atos de vontade,
um sistema de decisões. Para o autor, a essência da Constituição não está contida em uma lei
ou em uma norma. No fundo de toda normação reside uma decisão política do titular do poder
constituinte, isto é, do Povo na Democracia e do Monarca na monarquia autêntica.

Como se nota, há aí uma teoria política da decisão. O fundamento de todo o direito seria, em
última instância, o poder decisório a partir do qual se cria uma dada ordem jurídica.

O decisionismo de Carl Schmitt difere do positivismo de Hans Kelsen, quando o primeiro


acolhe um elemento substancial da validade das decisões (o poder), ao passo que o segundo,
ao menos de forma teórica, não confere maior relevo ao fato do poder, afirmando tratar-se,
este, de questão relativa à política ou à sociologia.

Kelsen fica no plano da norma. Schmitt avança até o poder.

Já o jurisprudencialismo reconhece um conteúdo material de índole normativa nos


fundamentos de validade de uma decisão.

E esse conteúdo material de índole normativa não se confundiria com a norma pura, como
diria Kelsen.

Para jurisprudencialistas, como Ronald Dworkin e António Castanheira Neves, a norma seria
a expressão de um aspecto da existência humana, baseado na ideia de justiça. Seria a partir
dela que o direito se construiria, num diálogo perene entre os critérios decisórios (de índole
normativa), critérios estes voltados, não para uma ordenação do mundo, mas para a realização
da justiça, considerando as exigências normativas de cada caso como exigências de justiça e
não de coerência sistemática.

Por isso é que o jurisprudencialismo, diferentemente do decisionismo, não reconhece validade


em qualquer ato de poder que alcance o âmbito da legitimidade política.

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Para o jurisprudencialismo, a ideia de direito e de justiça está ligada substancialmente a uma


construção histórica de proteção de direitos subjetivos e identificação de deveres jurídicos,
que pairam sobre as ordens jurídicas.

O jurisprudencialismo vê uma impossibilidade do retorno à escravidão, não por força de uma


cláusula pétrea proveniente do poder constituinte, mas por uma impossibilidade derivada da
própria ideia de direito.

Já o decisionismo busca legitimar os atos de vontade em última instância num fato político que
logrou assumir o protagonismo em um dado momento histórico. Também por isso, e pela
aproximação ao pensamento nazista, foi acusado de infiltrar, em sua teoria jurídica, elementos
ideológicos no nacional-socialismo.

21.2.4. Dispositivo

21.2.4.1. Conceito
É o elemento nuclear comum a todo e qualquer pronunciamento judicial com conteúdo
decisório. É a parte em que o órgão jurisdicional estabelece um preceito, concluindo a análise
do pedido que lhe fora dirigido.

É no dispositivo que se encontra a lei individualizada para o caso concreto prevista no CPC:

Art. 468. A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei
nos limites da lide e das questões decididas.

Sentença sem dispositivo é considerada sentença inexistente.

21.2.4.2. Teoria dos Capítulos da Sentença


Ocorre quando a sentença é cindível em face da cumulação de pedidos, se ela for
decomponível etc. É toda unidade autônoma contida na parte dispositiva de uma decisão
judicial que poderia ideologicamente ser vinculada em demandas distintas.

A sentença poderá ser:

e) Homogênea: quando tiver apenas capítulos processuais ou de mérito;

f) Heterogênea: quando contém tanto capítulos processuais quanto de mérito.

Essa teoria é extremamente importante:

a) Para a teoria das nulidades, em especial ao confinamento da nulidade a determinados


capítulos da decisão;

b) Na teoria dos recursos, em especial no tocante à devolutividade recursal;

c) Na fixação dos encargos da sucumbência;

d) Na executividade parcial das decisões, ainda que recorridas com recursos recebidos no
efeito suspensivo.

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Sobre os capítulos das sentenças, colaciono as seguintes decisões:

PROCESSO CIVIL - AÇÃO RESCISÓRIA - CAPÍTULO DA DECISÃO - HONORÁRIOS


DE SUCUMBÊNCIA - CONSECTÁRIO DE MÉRITO - INADMISSÃO -
PRECEDENTES.

1. Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é incabível


rescisória de capítulo de sentença ou acórdão, que fixa honorários de
sucumbência.

2. Precedentes.

3. Agravo regimental não provido.

(STJ, AgRg no REsp 1117811/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA


TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 08/09/2010)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. INDEFERIMENTO LIMINAR.


DECADÊNCIA. TERMO INICIAL. TRÂNSITO EM JULGADO DA ÚLTIMA DECISÃO
DO PROCESSO. SÚMULA 401/STJ.

1. "O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for


cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial” (Súmula
401/STJ).

2. Inexiste no ordenamento jurídico brasileiro a "coisa julgada material de


capítulos de sentença", de modo que o prazo decadencial de dois anos
para a propositura da ação rescisória, a que alude o art. 495 do CPC,
somente tem início a partir do trânsito em julgado da última decisão
proferida na causa (STJ, EREsp 404.777/DF, Rel. p/ acórdão Min. Francisco
Peçanha Martins, Corte Especial, DJU de 11.04.05).

3. Agravo regimental provido.

(STJ, AgRg na AR 2.785/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, Rel. p/ Acórdão Ministro
CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 23/06/2010, DJe 17/12/2010)

21.3. Requisitos da Decisão Judicial

21.3.1. Congruência, Correlação ou Adstrição da Decisão Judicial


O princípio da demanda tem como corolário o princípio da congruência, também conhecido
como da adstrição da sentença ao pedido, da correlação, da correspondência ou da simetria.
Segundo ele, ao julgar, o juiz deverá declarar a procedência ou improcedência do pedido do
autor, jamais podendo ir além deste, deixar de se pronunciar sobre a totalidade da
pretensão do demandante ou conceder bem de vida diverso do pleiteado. Caso viole
qualquer dessas afirmativas estará o juiz proferindo, respectivamente, sentenças ultra, citra e
extra petita.

A congruência da decisão judicial tem que ser analisada por dois prismas: interno e externo.

De acordo com Didier, a congruência externa se refere:


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503

“...à necessidade de que ela seja correlacionada, em regra, com os sujeitos


envolvidos no processo (congruência subjetiva) e com os elementos
objetivos da demanda que lhe deu ensejo e da resposta do demandado
(congruência objetiva).

Vale anotar que a congruência externa impõe que a sentença mantenha correlação com os
elementos objetivos da demanda, isto é, com o pedido (imediato e mediato), com a causa de
pedir (apenas a causa remota, pois causa de pedir próxima não se submete a regra da
congruência) e, por fim, com os fundamentos de defesa alegados pelo réu.

Ainda a respeito da congruência externa, importa frisar que a sentença normalmente deve
atingir apenas aqueles que participaram da relação jurídica processual (elemento subjetivo).

Por sua vez, a congruência interna diz respeito aos requisitos para a sua inteligência como
ato processual; nesse sentido, a decisão precisa revestir-se dos atributos da clareza, certeza
e liquidez.

Congruência interna Decisão clara, certa e líquida


Congruência externa Decisão objetiva e subjetivamente congruente

O pedido, juntamente com as partes e a causa de pedir, é elemento da ação. Através desses
elementos é que se dá o fenômeno da individualização e estabilização da demanda, por
conseguinte, identificando-a. Não há que se cogitar a existência de ação sem que haja pedido
previsto na petição inicial, baseado em determinada causa de pedir igualmente expressa na
peça incoativa, pelo qual uma parte busca a prestação jurisdicional em face do réu.

O princípio da congruência está também intimamente ligado ao princípio do devido processo


legal, do contraditório e da ampla defesa. Vislumbra-se este fato facilmente quando o juiz
decide conceder bem da vida diverso do qual foi objeto de pedido ou, ainda, quando decide
além do que foi pedido. O contraditório e a ampla defesa impõem que o julgador conceda a
oportunidade da parte se manifestar sobre todos os temas que serão objeto do provimento
jurisdicional final (contraditório em sentido formal), de maneira que potencialmente tenham
as partes o poder de influenciar no convencimento do magistrado (contraditório em sentido
material). No momento em que o juiz decide ultra ou extra petita, a parte que não se
manifestou sobre o tema tem por prejudicado o exercício pleno de seu direito de defesa.

A congruência sofre mitigações, já que o disposto no artigo 462 do CPC permite que o juiz
considere fatos constitutivos, modificativos e extintivos supervenientes.

Art. 462. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo,


modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento da lide, caberá ao
juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no
momento de proferir a sentença.

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21.3.1.1. Congruência Externa


A decisão deve conter a análise e a decisão de todos os pedidos deduzidos no processo e
somente deles, não podendo ir além, ficar aquém e nem ir fora do que foi pleiteado. O juiz
decidirá a lide nos limites em que foi proposta (art. 128).

É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa do pedido, bem como
condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.

O princípio da congruência é uma garantia de que o contraditório se efetivará, já que o juiz


deverá se ater, para decidir, àquilo que as partes tiveram oportunidade de se manifestar. Logo,
é verdadeiro limite ao exercício da jurisdição. Sobre o tema:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL.


SUBSCRIÇÃO DE AÇÕES. BRASIL TELECOM. ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS
ARTS. 128 E 460 DO CPC. JUROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO. JULGAMENTO
EXTRA PETITA. OCORRÊNCIA. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA.

1. Os pedidos, no direito processual, devem ser interpretados


estritamente, não podendo ser alargados para incluir, na condenação,
aquilo que não foi seu objeto e não discutido no processo, sob pena de
infringência ao princípio processual da congruência.

2. Sob essa ótica, a eg. Segunda Seção deste STJ, em recente julgamento
(Resp 1.171.095-RS, rel. p/ acórdão Min. Sidnei Beneti, julgado em
09/06/2010), entendeu que a condenação ao pagamento dos juros sobre
capital próprio demanda pedido expresso na petição inicial da ação de
complementação acionária, sem o qual a decisão que os concede incorre em
julgamento extra petita.

[...]

(STJ, EDcl no REsp 1161015/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,


QUARTA TURMA, julgado em 14/09/2010, DJe 29/09/2010)

21.3.1.1.1. A Congruência Objetiva


TRATA-SE DA CONGRUÊNCIA QUE DEVE EXISTIR ENTRE O PEDIDO DO AUTOR E O
QUE DECIDIDO, OU TAMBÉM EM RELAÇÃO AOS PEDIDOS DO RÉU, QUANDO O
PROCESSO ADMITIR PEDIDO CONTRAPOSTO OU HOUVER RECONVENÇÃO. É objetiva
pois se refere ao objeto da demanda, ao que se pede, ao bem de vida a que visam as partes.

Esclarecedor o seguinte julgado, a título de exemplo:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. QUESTÃO ESTRITAMENTE


PROCESSUAL. PETIÇÃO INICIAL APTA. PEDIDO DETERMINADO. SENTENÇA.
OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA. APELAÇÃO. EFEITO
DEVOLUTIVO. COGNIÇÃO. LIMITES (CPC, ART. 515, § 1º). ACÓRDÃO EXTRA
PETITA. NULIDADE. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

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505

1. A delimitação objetiva da lide dá-se no momento em que o autor


formula, em sua petição inicial, seus pedidos. Portanto, se o que se pede é
o afastamento da cobrança tão-somente de IPTU, é defeso ao Tribunal de
origem, sob pena de incorrer em julgamento extra petita, conhecer de
outra matéria – que não aquelas cognoscíveis ex officio –, ou seja, não
poderia julgar, procedente ou não, a exclusão da cobrança da TIP e da
TCLLP, já que pedido não houve.

2. Assim, correto o juízo de primeiro grau ao ater-se, unicamente, à exclusão


da cobrança do IPTU, sem analisar TIP nem TCLLP.

3. Noutro passo, a matéria impugnável em sede de apelação seria,


unicamente, a cobrança do IPTU, pois apenas ela foi decidida.

4. A extensão do efeito devolutivo mede-se pela extensão da matéria


impugnada. E como não se pode impugnar algo que não existe – in casu, a
discussão sobre TIP e TCLLP, porquanto não julgadas na primeira instância –
o Tribunal de origem não poderia conhecer da apelação que extrapola esses
limites, pois deveria analisar somente a matéria relativa ao IPTU. Se o faz,
incorre em julgamento extra petita.

5. Em suma, nos termos do art. 514, II, do CPC, a apelação deve conter os
fundamentos de fato e de direito que ensejariam a reforma ou anulação da
sentença atacada, nos pontos em que esta decisão resolveu a lide, dentro
dos limites impostos pela petição inicial. A atuação do órgão ad quem,
tendo em vista o efeito devolutivo do recurso, está restrita à matéria do
inconformismo apresentada nas razões, que não pode ultrapassar, portanto,
o que foi decidido no primeiro grau, sob pena de supressão da primeira
instância e julgamento extra petita no segundo grau.

5. Recurso especial provido para anular o acórdão recorrido e restabelecer a


sentença de primeiro grau nos estritos limites em que conheceu da lide e
julgou a demanda, unicamente quanto à exclusão da cobrança do IPTU.

(STJ, REsp 707.074/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,


SEGUNDA TURMA, julgado em 13/10/2009, DJe 23/10/2009)

Existem três modalidades de vícios objetivos que podem macular a decisão judicial:

a) Decisão ultra petita: ocorre quando se concede ao demandante mais do que pediu,
analisando não apenas os fatos postos pelas partes, como também outros; também
pode ocorrer quando a demanda é resolvida em relação a outros sujeitos.

Nessa hipótese, haverá uma parte da sentença que guardará congruência com o
pedido ou com os fundamentos e outra que os excede.

Quando uma decisão é ultra petita, há error in procedendo, devendo ser invalidado
somente o capítulo que supera os limites do pedido. Se o excesso não corresponder a
capítulo autônomo, tudo deve ser invalidado.

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506

OS FUNDAMENTOS JURÍDICOS NÃO SE SUBMETEM, EM PARTE, AO PRINCÍPIO


DA CONGRUÊNCIA, JÁ QUE CABE AO JUIZ ZELAR PELO DIREITO. Os fundamentos
revelam a relação existente entre os fatos e o que foi pedido. Por exemplo: Fato –
Batida de Carro – Pedido – Indenização por danos materiais – Fundamento –
Responsabilidade civil com base nos arts. 920 e seguintes do CC/02. Assim, o juiz
deverá observar, para julgar procedente o pedido, a responsabilidade civil, não
podendo embasar sua fundamentação em outro argumento, por exemplo, que há o
dever de indenizar porque o réu tinha assinado um contrato de seguro com o autor.
Porém, se o autor tiver embasado sua fundamentação legal em outros dispositivos,
não haverá incongruência se o juiz trouxer em sua fundamentação diferentes e
corretos dispositivos legais que sustentem a matéria.

Existem algumas situações em que o magistrado está autorizado a ir além do pedido


da parte:

iii. Pedidos implícitos (honorários, correção monetária, juros moratórios,


prestações vencidas no curso do processo);

CORREÇÃO MONETÁRIA. ÍNDICES NEGATIVOS. APLICAÇÃO.

O cerne da questão é a aplicação de índices negativos (IGP-M) de correção


monetária para fins de cálculo de atualização do montante da execução nos
períodos deflacionários. No caso, a agravante alega que não houve dúvidas
quanto à inclusão da correção monetária a ser aplicada (na decisão
transitada em julgado na ação de conhecimento), todavia não foi feita
nenhuma ressalva quanto à exclusão de índices negativos, de modo que
excluí-los na fase de execução afronta a coisa julgada. Entende o STJ que a
correção monetária possui a função de manter o poder aquisitivo da moeda
e recompor seu valor originário corroído pela inflação, sob pena de redução
do débito judicialmente apurado. No entanto, não deve representar, por si
só, nem um plus nem um minus em sua substância. De modo que, in casu,
os índices negativos de correção monetária (deflação) verificados no curso
do período a ser corrigido devem ser considerados no cálculo de atualização
do montante da execução. Contudo, ressaltou-se que, se, no cálculo final, a
atualização implicar redução do principal, deve prevalecer o valor nominal.
Precedente citado: REsp 1.265.580-RS, DJe 18/4/2012. AgRg no REsp
1.300.928-RS, 4T, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 5/6/2012.

iv. Ações de alimentos;

v. Aplicação de multa coercitiva;

vi. Fungibilidade, como ocorre entre ações possessórias e ações cautelares.

b) Decisão extra petita: é aquela que tem natureza diversa ou concede ao demandante
coisa distinta da que foi pedida; leva em consideração apenas fundamentos não
suscitados pelas partes; atinge sujeito que não faz parte da relação processual.

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507

Nesse caso, o magistrado sequer analisa o pedido ou o fundamento invocado pela


parte. Ocorre verdadeiro error in procedendo, não havendo qualquer parcela da
sentença que possa ser aproveitada. A apelação deverá buscar a nulidade da decisão.
Sobre o tema:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.


JULGAMENTO EXTRA PETITA. ANULAÇÃO DA SENTENÇA. AGRAVO
REGIMENTAL IMPROVIDO.

1. Havendo julgamento de pedido estranho à lide, é imperioso o


reconhecimento do julgamento extra petita, que consequencializa a
nulidade do decisum e a prolação de nova decisão.

2. Agravo regimental improvido.

(STJ, AgRg no REsp 1118668/SP, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO,


PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 01/10/2010)

PROCESSUAL. TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO. LC 118/2005. CONTRIBUIÇÃO


PREVIDENCIÁRIA. COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS RURAIS. ART. 25, I E II,
DA LEI 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DECORRENTE DAS LEIS 8.540/1992 E
9.528/1997. INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA PELO STF.
REPRISTINAÇÃO. DESCABIMENTO. LEI 10.256/2001. REPETIÇÃO DO
INDÉBITO. CORREÇÃO MONETÁRIA PELA TAXA SELIC. 1. A segunda parte do
art. 4º da LC 118/2005 foi declarada inconstitucional, e considerou-se válida
a aplicação do novo prazo de cinco anos apenas às ações ajuizadas a partir
de 9 de junho de 2005 - após o decurso da vacatio legis de 120 dias (STF, RE
566.621/RS, rel. ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, DJe de 11/10/2011). 2.
Incabível o efeito repristinatório pretendido pela Fazenda Nacional, por
desbordar dos limites do pedido e da própria lide. Em consequencia, deve
ser decotada da sentença a determinação relativa à exigência de
recolhimento prevista no art. 22, I e II, da Lei 8.212/1991, por configurar
julgamento extra petita. [...]

(TRF1, AC , DESEMBARGADORA FEDERAL MARIA DO CARMO CARDOSO,


OITAVA TURMA, e-DJF1 DATA:22/06/2012 PAGINA:1007.)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA.


APOSENTADORIA. PORTADOR DE MOLÉSTIA GRAVE NÃO ESPECIFICADA EM
LEI: IMPOSSIBILIDADE. [...] 3. Na hipótese dos autos, verifica-se que as
doenças indicadas pelo autor da petição inicial não se encontram elencadas
no rol do art. 6º da Lei 7.713/88 para fins de isenção de imposto de renda. O
rol previsto no artigo 6º é taxativo, razão pela qual o benefício da isenção
não se aplica ao caso. 4. "Configura-se o julgamento extra petita quando o
juiz concede prestação jurisdicional diferente da que lhe foi postulada ou
quando defere a prestação requerida, porém com base em fundamento
não invocado como causa do pedido". (RESP 200501865745, JOÃO OTÁVIO
DE NORONHA, STJ - QUARTA TURMA, DJE DATA:26/08/2010.) 5. Apelação
não provida. Sentença mantida.

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(TRF1, AC , DESEMBARGADOR FEDERAL REYNALDO FONSECA, SÉTIMA


TURMA, e-DJF1 DATA:15/06/2012 PAGINA:640.)

PROCESSUAL CIVIL. REMESSA OFICIAL E APELAÇÃO. AÇÃO ORDINÁRIA.


REPETIÇÃO DE INDÉBITO. AUSÊNCIA DE CORRELAÇÃO LÓGICA ENTRE CAUSA
DE PEDIR E PEDIDO. NULIDADE DA SENTENÇA. [...] III - Não havendo
correção lógica entre pedido e decisão monocrática, caracteriza-se, assim,
sentença extra petita. Outrossim, é assente o entendimento no sentido da
nulidade da sentença em tais casos, devendo os autos serem devolvidos ao
juízo de origem para novo julgamento, porquanto o Tribunal não pode
conhecer originariamente das questões não examinadas pelo juiz de
primeiro grau, sob pena de supressão de um grau de jurisdição. IV - Agravo
Legal improvido.

(TRF3, APELREEX 00224738120064036100, DESEMBARGADORA FEDERAL


REGINA COSTA, SEXTA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:24/05/2012
..FONTE_REPUBLICACAO:.)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. PEDIDO DE


PAGAMENTO DE BENEFÍCIO ACIDENTÁRIO. DEFERIMENTO DE INDENIZAÇÃO
(PENSÃO). SENTENÇA EXTRA PETITA. NULIDADE. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO
OU CONTRADIÇÃO. JULGAMENTO DE IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
CONDENAÇÃO DO AUTOR AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS. BENEFICIÁRIO
DA JUSTIÇA GRATUITA. OMISSÃO QUANTO À SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA
VERBA HONORÁRIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PARCIALMENTE
ACOLHIDOS. 1. Os embargos de declaração servem apenas para esclarecer o
obscuro, corrigir a contradição ou completar o julgado. 2. Em sua peça
proemial o embargante pleiteou o recebimento de "benefício acidentário",
ao passo que a r. sentença lhe deferiu indenização por danos materiais,
verba de natureza jurídica diversa da pleiteada, configurando julgamento
extra petita, consequentemente, a nulidade da sentença. [...]

(TRF3, AC 00304946619944036100, DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM


GUIMARÃES, SEGUNDA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:17/05/2012
..FONTE_REPUBLICACAO:.)

c) Decisão citra petita: é aquela que deixa de analisar pedido formulado; fundamento de
fato ou de direito trazido pela parte; pedido formulado por ou em face de um
determinado sujeito do processo. Como visto anteriormente, o juiz não está obrigado
a enfrentar todos os fundamentos e teses trazidos pelas partes, desde que a
fundamentação utilizada seja suficiente para sustentar sua decisão.

Aqui, haverá omissão quanto ao exame de uma questão. Essas omissões podem ser
sanadas com embargos declaratórios. Se não opostos, não examinado um pedido o
tribunal deve determinar que o juízo a quo complete o julgamento. Em relação aos
pedidos decididos, estes podem prosseguir na apelação, havendo cisão objetiva do
processo.

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Porém, PODERÁ TAMBÉM O PRÓPRIO TRIBUNAL, VENDO QUE UMA QUESTÃO


NÃO FOI JULGADA, EXAMINÁ-LA, NÃO DEVOLVENDO OS AUTOS AO JUÍZO DE
PRIMEIRO GRAU. ISSO OCORRE NO CASO DA TEORIA DA CAUSA MADURA.
Entretanto, tal teoria deve ser analisada com cuidado. Se não foi estabelecido o
contraditório sobre a questão não analisada, deve voltar para análise no juízo primevo,
sob pena de supressão de instância e ofensa ao devido processo legal.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AUSÊNCIA DE OMISSÃO,


CONTRADIÇÃO OU FALTA DE MOTIVAÇÃO NO ACÓRDÃO A QUO. SENTENÇA
CITRA-PETITA. CAUSA COMPLEXA E NÃO-MADURA. INAPLICABILIDADE DO
ART. 515, § 3º, DO CPC.

1. Agravo regimental contra decisão que negou seguimento a recurso


especial.

2. Acórdão a quo segundo o qual “não havendo correlação lógica entre


pedido e sentença, esta deve ser anulada ou reduzida a fim de que os
impetrantes tenham apenas o seu pedido examinado, recebendo a
adequada prestação jurisdicional. Não existindo o pronunciamento
jurisdicional quanto a um dos pedidos formulados expressamente perante
o Juízo "a quo", não pode o Tribunal examiná-lo sob pena de supressão de
um grau de jurisdição”.

3. Decisão a quo clara e nítida, sem omissões, obscuridades, contradições ou


ausência de motivação. O não-acatamento das teses do recurso não implica
cerceamento de defesa. Ao juiz cabe apreciar a questão de acordo com o
que entender atinente à lide. Não está obrigado a julgá-la conforme o
pleiteado pelas partes, mas sim com seu livre convencimento (CPC, art.
131), usando fatos, provas, jurisprudência, aspectos atinentes ao tema e
legislação que entender aplicáveis ao caso. Não obstante a oposição de
embargos declaratórios, não são eles mero expediente para forçar o
ingresso na instância especial, se não há vício para suprir. Não há ofensa ao
art. 535, II, do CPC quando a matéria é devidamente abordada no aresto a
quo.

4. O art. 515, § 3º, do CPC estatui que “nos casos de extinção do processo
sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a
lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em
condições de imediato julgamento”. NO ENTANTO, NÃO SE TRATANDO
DE MATÉRIA EXCLUSIVAMENTE DE DIREITO, COM CAUSA
COMPLEXA E NÃO ESTANDO MADURA SUFICIENTE PARA SER
JULGADA DE PRONTO, NÃO SE APLICA O REFERIDO DISPOSITIVO,
DEVENDO OS AUTOS RETORNAREM AO JUÍZO DE ORIGEM PARA
NOVO PRONUNCIAMENTO.

5. Agravo regimental não-provido.

(STJ, AgRg no REsp 1018466/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 20/05/2008, DJe 19/06/2008)
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CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA "CITRA


PETITA" - APLICAÇÃO DO ART. 515, §3º CPC. SEGURANÇA. SERVIDORA
PÚBLICA. "ABATE-TETO". VANTAGENS DE CARÁTER PESSOAL. ART. 37, XI, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REGULAMENTAÇÃO. ART. 8º DA EMENDA
CONSTITUCIONAL 41/2003. LIMITAÇÃO TEMPORAL. GRATIFICAÇÃO
NATALINA. QUINTOS/DÉCIMOS. INCORPORAÇÃO. EXCLUSÃO DO TETO.
PRECEDENTES. GADF. NATUREZA FUNCIONAL. INCLUSÃO NO TETO.
VANTAGEM DO ARTIGO 5º LEI 8.852/1994. MERO REGISTRO ESCRITURAL.
PRECEDENTES. 1. Sentença "citra petita", que não apreciou pedido
expresso, deve-se aplicar o §3º do art. 515 do CPC, por força da incidência
da teoria da causa madura e em observância aos princípios da celeridade e
economia processuais. [...]

(TRF1, AMS 200236000057590, JUIZ FEDERAL FRANCISCO HÉLIO CAMELO


FERREIRA, 1ª TURMA SUPLEMENTAR, e-DJF1 DATA:03/02/2012
PAGINA:1175.)

21.3.1.1.2. A Congruência Subjetiva


A decisão judicial deve guardar congruência com os sujeitos da relação jurídica, não podendo,
em regra, atingir quem dela não tenha participado. Poderá, também, ser subjetivamente ultra,
extra, ou citra petita, somente sendo invalidada se for extra petita, já que não haverá o que
aproveitar.

Há casos, entretanto, em que a decisão atinge quem não participou do processo, tal qual
ocorre com o adquirente da coisa litigiosa, com o substituído no processo etc.

Exemplo clássico de ofensa à congruência subjetiva é a não citação de litisconsorte necessário


para participar do processo, assim como de litisconsorte unitário. Nesses casos, a decisão é
nula, devendo ser sanado o erro e proferida uma nova. Para o litisconsorte necessário simples,
a decisão é inexistente, subsistindo para os demais.

21.3.1.2. Congruência Interna


A decisão deve também se mostrar congruente em si mesma, sob pena de ser inválida. Para
que seja considerada internamente congruente, há a sentença de ser certa, líquida e
clara/coerente.

21.3.1.2.1. Sentença Certa (art. 460, p. único)


A sentença não pode criar condições à sua própria eficácia.

Certo é o pronunciamento do juiz quando ele expressamente certifica a existência ou


inexistência de um direito afirmado pela parte. A certeza é a necessidade de que o juiz venha
a fixar norma jurídica para o caso concreto e, com isso, retire as partes do estado de dúvida
no qual se encontravam, julgando procedente, improcedente ou deixando de analisar.

A exigência de certeza como requisito de validade da decisão não impede que o juiz, ao julgar,
crie, ele mesmo, uma condição de eficácia do seu pronunciamento, como por exemplo,
determinar alguma prestação do autor para que se possa efetivá-la, ou determinar uma

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obrigação de fazer num determinado prazo sob pena de multa. Vide que nesse caso, a multa
está submetida a condição suspensiva.

Igualmente, a decisão que condena o beneficiário da justiça gratuita em honorários


advocatícios fica suspensa durante cinco anos, até que ele venha a ter condições de arcar com
o processo.

Há também condições legais, como o reexame necessário.

Assim, o importante é tirar as partes da situação de dúvida em que se encontravam. Por isso
que a sentença será certa quando determinar a existência ou não do direito pleiteado na
inicial, com a consequente concessão do pedido imediato (pagar, fazer ou não fazer).

Não pode o juiz, por exemplo, condenar o INSS a implementar aposentadoria em favor de
fulano desde que este prove futuramente que laborou em atividades rurais. Por isso que é
absolutamente repudiada a sentença condicional ou condicionada:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. OFENSA AO ART. 460 DO CPC.


INEXISTÊNCIA. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA NÃO VERIFICADA.
EVENTO FUTURO E INCERTO. AGRAVO DESPROVIDO.

1. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça firmou entendimento


no sentido de ser nula a sentença que submete a procedência ou a
improcedência do pedido à ocorrência de fato futuro e incerto, como no
caso em apreço, no qual o que se pretende é o direito à complementação
de aposentadoria que ainda não se efetivou.

2. Agravo regimental desprovido.

(STJ, AgRg no Ag 934.982/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,


julgado em 05/02/2009, DJe 09/03/2009)

TRIBUTÁRIO E PROCESSO CIVIL. TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA. MUNICÍPIO


DE LONDRINA. RESTITUIÇÃO. PROVA DO FATO CONSTITUTIVO (EFETIVAÇÃO
DO PAGAMENTO INDEVIDO). INDISPENSABILIDADE.

1. Em ação de repetição de indébito tributário - em que os fatos da causa


não comportam confissão por parte da Fazenda Pública (CPC, art. 351) e
nem estão sujeitos aos efeitos da revelia (CPC, art. 320, II) -, o juízo de
procedência supõe a comprovação, pelo autor (CPC, art. 333, I), do fato
constitutivo do direito, qual seja, o do recolhimento dos valores indevidos a
serem restituídos. A sentença de procedência que delega à fase de
liquidação a prova desse fato constitutivo é sentença condicional e,
portanto, nula, pois fundada num pressuposto de fato cuja existência é
incerta. Precedentes de ambas as Turmas da 1ª Seção.

2. Recurso especial provido.

(STJ, REsp 969.472/PR, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 18/09/2007, DJ 08/10/2007, p. 242)

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AGRAVO REGIMENTAL. DANOS MORAIS. CONDENAÇÃO. RAZOABILIDADE.


ACÓRDÃO FUNDADO NOS ELEMENTOS FÁTICOS DOS AUTOS. SÚMULA
07/STJ. LIQUIDAÇÃO. SENTENÇA CONDICIONAL. CONTROLE. SÚMULA
83/STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.

1. Danos Morais. Acórdão fundado nos elementos fáticos: ao firmar a


conclusão da razoabilidade da condenação por danos morais, o Tribunal
recorrido tomou em consideração os elementos fáticos carreados aos autos.
Incidência da Súmula 07/STJ.

2.NÃO É CONDICIONAL O ACÓRDÃO QUE ADMITE A PROVA


DO FATO CULPOSO E A EXISTÊNCIA DOS DANOS DELE
DECORRENTES, ASSIM COMO ENUMERADOS PELA AUTORA
NOS AUTOS, MAS RELEGA PARA A FASE DA LIQUIDAÇÃO DA
SENTENÇA A DEFINIÇÃO DO SEU VALOR. Precedentes.

3. A definição do quantum debeatur na fase de liquidação do título judicial


condenatório não impedirá o condenado, no momento oportuno, de
exercer a fiscalização e pleitear o controle jurisdicional do valor fixado.
Precedentes.

4. Agravo regimental não-provido.

(STJ, AgRg no Ag 1140198/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA


TURMA, julgado em 29/09/2009, DJe 26/10/2009)

PROCESSUAL CIVIL. PROVA DOS FATOS ALEGADOS. AUSÊNCIA. INSTRUÇÃO


PROBATÓRIA. OMISSÃO. DEFERIMENTO DO PEDIDO CONDICIONADO À
COMPROVAÇÃO DOS FATOS. SENTENÇA CONDICIONAL. ANULAÇÃO. 1. A
sentença foi proferida com o seguinte fundamento: "...conforme parte da
contestação do Agente financeiro deixou bem claro, a renda era
representada pela soma da receita mensal das duas pessoas físicas, as que
constam do pólo ativo da lide. Daí a diferença mostrada pelas mesmas em
sua inicial parecer tão grande. Nesse caso, a argumentação de cada lado
muda um pouco, pois, segundo a réplica das autoras à contestação do
Agente Financeiro, apenas uma das duas continuou a ter renda e por isso
mesmo a diferença gritante do comprometimento de renda. Nesse caso,
deve ser restabelecido o equilíbrio financeiro e talvez isso pudesse ser
tratado administrativamente". 2. Em seguida, o dispositivo: "julgo
PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO do(s) autor(es) nesta Ação para declarar
que deve o equilíbrio contratual ser restabelecido, de modo que se obedeça
ao percentual de comprometimento inicial da renda do(s) mutuário(s),
conforme assumido na data da celebração do contrato, observado o art. 9º
do Decreto-Lei 2164/84, verificando-se a renda básica após ficar reduzida a
um componente, se é o caso". 3. Na apelação, votou vencido o Juiz Federal
(convocado) Alexandre Vidigal, ao fundamento de que: "Ao decidir o pedido,
o ilustre Juiz 'a quo' acolheu a postulação reconhecendo que restou rompido
o equilíbrio contratual pelo fato de que os reajustes continuaram
observando a renda conjunta das duas Autoras quando apenas uma delas, a
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primeira, é que continuou a ter renda, pelo que o referido


comprometimento deveria considerar então apenas a situação daquela
primeira Autora. Ocorre, porém, que, não bastasse a total ausência de
comprovação nos autos a respeito do alegado, e mesmo que se admitisse tal
fato, a solução como bem acentuado pelo agente financeiro, deveria balisar-
se pelo próprio contrato, o qual definiu, por sua cláusula 24ª, a possibilidade
de obtenção de empréstimo do FUNDO FIEL como medida assecuratória da
manutenção do equilíbrio contratual, situação esta, aliás, que encontra
expressa previsão legal, como está a retratar o artigo 9º, § 6º, da Lei
8004/90". 4. Foi vencedor o voto do juiz Hilton Queiroz (acompanhado pelo
voto da ainda Juíza Federal Selene de Almeida): "... o agente financeiro não
demonstrou que o mutuário estivesse empregado ou até que mantivesse a
sua situação profissional quando do momento da contratação". 5. Daí os
embargos infringentes, em que se alega: a) "o fato constitutivo do direito
dos Autores consiste na alteração do equilíbrio contratual entre as partes,
materializada na perda da renda de um dos Contratantes em virtude do
evento desemprego. Ocorre, porém, que não houve qualquer produção
probatória acerca dessa premissa fática"; b) "se não há lide, na medida em
que o contrato prevê a possibilidade de 'socorro' à parte que tenha perda de
renda por intermédio de acesso ao denominado FUNDO FIEL, não há,
consequentemente, interesse processual para que seja modificada a
prestação devida pelos Autores". 6. De fato, a autora não fez qualquer prova
das alegações formuladas na inicial. A sentença pressupôs o desequilíbrio
contratual, para decidir, condicionalmente, que deveria "o equilíbrio
contratual ser restabelecido, de modo que se obedeça (obedecesse) ao
percentual de comprometimento inicial da renda do(s) mutuários(s),
conforme assumido na data de celebração do contrato, observado o art. 9º
do Decreto-Lei 2164/84, verificando-se a renda básica após ficar reduzida a
um componente, se é (fosse) o caso" (grifei). Trata-se de sentença
puramente condicional. A autora requereu, na inicial, a produção de provas
e o juiz, em nenhum momento, deu oportunidade para a respectiva
especificação. 7. Anulada, de ofício, a sentença, para que seja realizada
instrução probatória.

(TRF1, EIAC 200901000727862, DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA


MOREIRA, TERCEIRA SEÇÃO, e-DJF1 DATA:19/12/2011 PAGINA:116.)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA.


RECADASTRAMENTO DE CRIADORES AMADORISTAS DE PASSERIFORMES.
INSTRUÇÃO NORMATIVA 06/2002. FIXAÇÃO DE PRAZO. NULIDADE DA
SENTENÇA NÃO CONFIGURADA. PRELIMINARES DE INADEQUAÇÃO DA VIA
ELEITA, AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR E ILEGITIMIDADE PASSIVA AD
CAUSAM REJEITADAS. DECADÊNCIA INEXISTENTE. AUSÊNCIA DE
RAZOABILIDADE NA RECUSA DO RECADASTRAMENTO. [...] 2. O fato de ter o
magistrado determinado o recadastramento do impetrante na hipótese de
atendidas as exigências normativas não torna a sentença condicional, até
porque cabe ao IBAMA, e não ao órgão judicante, aferir se o interessado
preenche os requisitos legais. [...]

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(TRF1, AC 200538000066275, JUIZ FEDERAL DAVID WILSON DE ABREU


PARDO, TRF1 - 5ª TURMA SUPLEMENTAR, e-DJF1 DATA:09/11/2011
PAGINA:289.)

PROCESSO CIVIL. CONCURSO PÚBLICO. PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 460


DO CPC. SENTENÇA CONDICIONAL ANULADA. FEITO EM CONDIÇÕES
IMEDIATAS DE JULGAMENTO. ANALOGIA AO ART. 515, § 3º, DO CPC.
CONTEÚDO DAS DISCIPLINAS CURSADAS NO SEXTO SEMESTRE DO CURSO
DE GRADUAÇÃO EM SISTEMAS DE INFORMAÇÃO. REQUISITO DE
ESCOLARIDADE CUMPRIDO PARA O CARGO DE TÉCNICO DE TECNOLOGIA DE
INFORMAÇÃO. NOMEAÇÃO E POSSE APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO.
SEGURANÇA CONCEDIDA. I - Nos termos do artigo 460 do CPC, não é
possível que o conteúdo de uma sentença fique submetido a realização de
uma condição, como na hipótese dos autos, na qual o deferimento de
posse em cargo público ficou submetido a averiguação de supressão de
requisito de escolaridade pela autoridade coatora. Sentença anulada, de
ofício. II - Tendo em vista que a matéria fática restou devidamente
comprovada em obediência ao rito mandamental e estando o feito em
condições imediatas de julgamento, passo ao exame de mérito, em
analogia, ao disposto no art. 515, § 3º, do Código de Processo Civil. III - O
conteúdo ministrado nas disciplinas cursadas pelo impetrante no curso de
Graduação em Sistemas de Informação supre o conteúdo programático
exigido pelo edital para provimento cargo de Técnico de Tecnologia de
Informação, consoante conclusão do colegiado de docentes da área
pertencentes à UFAC. IV - Ao candidato sub judice não se reconhece direito
à nomeação e posse, antes do trânsito em julgado da decisão, já que
inexiste, em Direito Administrativo, o instituto da posse precária em cargo
público (AMS n. 0006306-34.2002.4.01.3400/DF - e-DJF1 de 28.06.2010). V -
Sentença anulada de ofício. Segurança concedida em parte, nos termos do
art. 515, §3º do CPC, por analogia (item IV). VI - Apelação da UFAC e
remessa oficial prejudicadas.

(TRF1, AMS 200930000005830, DESEMBARGADOR FEDERAL JIRAIR ARAM


MEGUERIAN, SEXTA TURMA, e-DJF1 DATA:24/10/2011 PAGINA:420.)

21.3.1.1.2. Sentença Líquida


A decisão judicial deve se pronunciar sobre a existência da dívida, a quem é devida, quem
deve, o que é devido e quanto.

A princípio, toda decisão deve ser líquida, somente se admitindo que ela seja ilíquida quando o
demandante formula pedido ilíquido (art. 459, p. único, c/c art. 286). Porém, há mitigações
para esse entendimento, conforme julgado a seguir:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO


INDENIZATÓRIA. INSPEÇÃO JUDICIAL. AUTO CIRCUNSTANCIADO. AUSÊNCIA.
PRESENÇA DE OUTROS ELEMENTOS PROBATÓRIOS. NULIDADE.
AFASTAMENTO. SENTENÇA ILÍQUIDA. PEDIDO CERTO. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTES.

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1. A ausência do auto circunstanciado, lavrado a partir da diligência feita


pelo juiz, não é capaz de macular a sentença quando, como no caso dos
autos, outras provas forem suficientes à formação da convicção do julgador.

2. A jurisprudência desta Corte consagrou o entendimento segundo o qual


o enunciado do art. 459, paragrafo único, do CPC, deve ser interpretado
em consonância com o principio do livre convencimento, de sorte que,
NÃO ESTANDO O JUIZ CONVENCIDO DA EXTENSÃO DO PEDIDO CERTO
formulado pelo autor, pode reconhecer-lhe o direito, remetendo as partes
para a liquidação. Precedentes.

3. Agravo regimental não provido.

(STJ, AgRg no Ag 676.160/MG, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,


QUARTA TURMA, julgado em 23/11/2010, DJe 17/12/2010)

Nos Juizados Especiais, por força do art. 1º da Lei nº 10.259/01 e art. 38, p. único, da Lei nº
9.099/95, é absolutamente vedada a prolação de sentença ilíquida, assim como nas ações sob
rito sumário para cobrança de indenização por acidente de veículo terrestre ou para cobrança
de seguro relativo aos danos causados em acidente de veículo (art. 475-A, § 3º, CPC).

Nesse sentido:

JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. PREVIDENCIÁRIO. IGP-DI. INPC. JUNHO DE


1997 EM DIANTE. SENTENÇA ILÍQUIDA. ANULAÇÃO. ART. 38, PARÁGRAFO
ÚNICO, DA LEI Nº 9.099/95.

1 - Não basta que a sentença seja exequível, uma vez que o procedimento
aqui adotado exige que a sentença já consigne o valor da condenação, no
que se refere aos valores do benefício e das parcelas vencidas no período
concedido, pois não haverá a fase de liquidação do julgado.

2 - Sentença anulada.

3 - Prejudicada a análise do recurso do INSS.

4 - V.V. da Juíza Federal Maria Edna Fagundes Veloso, entendendo que a


falta de menção do valor da condenação na sentença, que ensejaria meros
cálculos matemáticos, não leva à sua anulação. (TRF1, 1TR/MG,
2003.38.00.708535-0 , DJ-MG 31/10/2003)

Havendo os parâmetros para a realização dos cálculos (apenas aritméticos), não há que se
falar em julgamento ilíquido, bem como inexiste iliquidez na parte que condena em obrigação
de fazer devidamente descrita. Logo, não se considera ilíquida a sentença que exige meros
cálculos aritméticos.

Súmula 318, STJ: “Formulado pedido certo e determinado, somente o autor tem interesse
recursal em arguir o vício da sentença ilíquida”. Evidentemente que essa súmula não se aplica
se tiver havido pedido contraposto. Essa súmula é, no mínimo, controversa, visto que o réu
tem todo o interesse em saber o quantum debeatur decorrerá da sentença. Se a sentença

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deveria ser líquida, mas não foi, eu particularmente entendo que ele possui todo o interesse
de ver o vício corrigido, de modo a por fim à insegurança jurídica que isso lhe causa. Basta
imaginar que, em sendo a sentença ilíquida, ele não terá argumentos para impugnar o
quantum debeatur com base em elementos da fase de conhecimento caso isso seja deixado
apenas para a fase de liquidação (que ocorre apenas após o trânsito em julgado), visto que
tudo o que poderia ter sido alegado antes da execução reputa-se alegado e rejeitado (art. 474,
CPC).

21.3.1.2.3. Sentença Clara e Coerente


É fundamental que a linguagem utilizada na decisão judicial seja clara e direta. Não basta,
contudo, que seja clara e direta: é necessário que ela seja concludente, que haja uma
vinculação lógica entre tudo o que se narrou no relatório, os fundamentos lançados na
motivação e a conclusão alcançada no dispositivo.

Didier ressalta que os defeitos na congruência interna podem ser sanados via embargos de
declaração, já que se incluem em suas hipóteses de cabimento a contradição e obscuridade.

A sentença em que os argumentos da fundamentação são contraditórios entre si, ou em que


estes se contraponham ao que decidido no dispositivo é chamada de sentença suicida. Já a
sentença com fundamentação pobre, insuficiente, ou mesmo sem fundamentação, é chamada
de sentença vazia.

21.3.2. Sentença e Fato Superveniente (art. 462, CPC)


Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito
influir no julgamento da lide, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a
requerimento da parte, no momento de proferir a sentença. É necessário observar o
contraditório.

A DECISÃO DEVE REFLETIR O ESTADO


O art. 462 parte da premissa segundo a qual
DE FATO E DE DIREITO EXISTENTE NO MOMENTO DO JULGAMENTO DA
DEMANDA, E NÃO AQUELE QUE EXISTIA QUANDO DA SUA
PROPOSITURA.
É possível a alteração de ofício ou a requerimento dos fundamentos de fato narrados como
causa de pedir da demanda, julgar uma demanda com base em causa de pedir superveniente?
De forma geral, prevalece o entendimento, segundo Didier, de que os fatos supervenientes são
apenas os fatos simples ou fatos constitutivos, que não alterem a causa de pedir, mas apenas a
confirmem; ou seja, os fatos que se conformam à causa de pedir alegada, como o vencimento
superveniente da dívida cobrada com fundamento em suposta inadimplência.

Esse artigo é uma exceção ao princípio da estabilização da demanda, segundo o qual não
poderia haver alteração da causa de pedir após a fase de saneamento.

A flexibilização do rigor do princípio da estabilidade objetiva da demanda, nestes casos,


proporciona não só resultados úteis, justos e efetivos, como também uma maior economia

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processual, já que torna desnecessária a propositura de nova ação para discutir questão que,
embora superveniente, pode ser colocada para debate na ação já em curso.

Ademais, importante esclarecer que o fato superveniente deve ser apto a influenciar na
mesma relação jurídica já posta em juízo, não podendo inovar deflagrando relação jurídica
diversa. Ou seja, O FATO NÃO PODE ENSEJAR PEDIDO AUTÔNOMO NA LIDE, ELE DEVE
INCIDIR DIRETAMENTE SOBRE UM DAQUELES JÁ POSTOS EM JUÍZO.

Devem ser atendidos os seguintes pressupostos para a alegação do fato superveniente:

a) O fato realmente deve ser superveniente, seja porque posterior à propositura da


demanda, seja porque conhecido somente após ela;

b) É indispensável o estabelecimento do contraditório;

c) O FATO NOVO PODE SER CONHECIDO DE OFÍCIO PELO JUIZ, MAS DESDE QUE CONSTE
DOS AUTOS, NÃO PODENDO ELE TRAZER FATO DE SEU CONHECIMENTO PESSOAL.

Pode o fato novo ser suscitado em instância recursal? Didier defende que sim. Porém, não
poderá ser nas instâncias extraordinárias, em função da ausência de prequestionamento.

Sobre o fato superveniente na jurisprudência:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE PARCELA
INDENIZATÓRIA. NÃO INCIDÊNCIA. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL. ADEQUAÇÃO DO JULGADO AO ENTENDIMENTO DO STF EM
RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. 1. No julgamento do RE
566621/RS, julgado no regime do art. 543-B, § 3º, o STF concluiu pela
prescrição quinquenal para a repetição de indébito às ações ajuizadas a
partir de 09 de junho de 2005, como é o caso dos autos. 2. Considerando
esse fato, superveniente à prolação do acórdão da Oitava Turma (CPC, art.
462), e em observância aos princípios da economia e celeridade
processuais, atribui-se efeitos infringentes aos embargos declaratórios,
para aplicar a prescrição quinquenal, na forma como decidido pelo STF,
decretando-se prescrita a pretensão de repetição do indébito das parcelas
recolhidas nos cinco anos anteriores ao ajuizamento da ação. [...]

(TRF1, EDAC , JUIZ FEDERAL ALEXANDRE BUCK MEDRADO SAMPAIO


(CONV.), TRF1 - OITAVA TURMA, e-DJF1 DATA:01/06/2012 PAGINA:454.)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO POSSESSÓRIA. BEM IMÓVEL DA UNIÃO. DECRETO-


LEI N. 9.760/46. ENFITEUSE. INOCORRÊNCIA. REGISTRO DE OCUPAÇÃO. ATO
ADMINISTRATIVO UNILATERAL E PRECÁRIO QUE ENSEJA A RETOMADA DO
BEM A QUALQUER TEMPO. CANCELAMENTO DO REGISTRO. FATO
SUPERVENIENTE A SER CONSIDERADO NA PROLAÇÃO DA SENTENÇA. ART.
462 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
CONDENAÇÃO. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. 1. Nos termos do Decreto-lei n.
9.760/46, que dispõe sobre os bens imóveis da União, o aforamento é
estabelecido mediante contrato, que apenas se extingue nas hipóteses
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previstas em lei (Decreto-lei n. 9.760/46, art. 103), ao passo que o registro


de ocupação consubstancia-se em ato administrativo unilateral e precário,
que pode cessar a qualquer tempo, possibilitando a retomada do imóvel
pela União (Decreto-lei n. 9.760/46, arts. 127 a 132). 2. Assim, não pode ser
reconhecida a posse dos autores, uma vez que houve o posterior
cancelamento de seu registro de ocupação pelo Serviço de Patrimônio da
União - SPU, fato superveniente que deve ser considerado pela sentença,
consoante dispõe o art. 462 do Código de Processo Civil. [...]

(TRF3, AC 00320464319694036100, DESEMBARGADOR FEDERAL ANDRÉ


NEKATSCHALOW, QUINTA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:02/05/2012
..FONTE_REPUBLICACAO:.)

TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. FALÊNCIA DA EMPRESA


EXECUTADA E POSTERIOR ENCERRAMENTO DO PROCESSO FALIMENTAR NO
CURSO DO PROCESSO. FATO SUPERVENIENTE (ART. 462 DO CPC). EXTINÇÃO
DO FEITO EXECUTIVO. REDIRECIONAMENTO EM FACE DO SÓCIO.
INADMISSIBILIDADE. MERO INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA (ART. 13 DA LEI Nº 8.620/93). APLICAÇÃO
CONJUNTA COM O ART. 135, III DO CTN. NÃO CONFIGURAÇÃO DAS
HIPÓTESES PREVISTAS NO DISPOSITIVO. 1. A falência da executada e o
posterior encerramento do processo falimentar constitui-se em fato
superveniente a ser considerado pelo julgador no momento da decisão,
conforme previsto no artigo 462 do CPC. 2. Esta C. Sexta Turma, na esteira
de jurisprudência consagrada no E. STJ, tem entendido que, encerrado o
processo falimentar, não há mais utilidade na execução fiscal movida em
face da massa falida, pelo que a medida que se impõe é a extinção do feito
executivo sem julgamento do mérito (art. 267, IV do CPC). Precedente: STJ,
1ª Turma, AGRESP 200701484452, Rel. Min. Denise Arruda, j. 21.08.2008,
DJE 10.09.2008). [...]

(TRF3, APELREEX 05056673719984036182, DESEMBARGADORA FEDERAL


CONSUELO YOSHIDA, SEXTA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:12/04/2012
..FONTE_REPUBLICACAO:.)

ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO. RAZÕES DISSOCIADAS. REMESSA OFICIAL.


CONCURSO PÚBLICO. AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL. EDITAL 001/93. AÇÃO
DECLARATÓRIA. NOMEÇÃO. SUB JUDICE. FATO SUPERVENIENTE. COISA
JULGADA. I - Dissociadas as razões, aduzidas na apelação, do conteúdo da
sentença impugnada, desatendido está o disposto no inciso II do artigo 514
do CPC, impossibilitando o conhecimento do recurso. II - Em ação anulatória
anterior o autor logrou provimento procedente para desconstituir sua
reprovação no exame psicotécnico do concurso de agente da policia federal.
III. Aqui a demanda objetiva o direito à nomeação para o cargo de Agente de
Polícia Federal, todavia o único óbice ao atendimento do pedido estava
"subjudice", sem refletir a coisa julgada. III - Todavia, no interstício até o
presente julgamento, a sentença anulatória favorável aos autores transitou
em julgado. A decisão judicial deve refletir o estado de fato da lide no
momento da entrega da prestação jurisdicional, donde a devida análise do

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fato superveniente, conforme art. 462 do Código de Processual Civil. IV -


Com efeito, em consulta ao sistema processual desta Corte e do STJ, a ação
declaratória que visava a anulação do ato de reprovação do exame
psicotécnico, baixou definitivamente ao arquivo, com decisão definitiva
favorável aos autores e, este era o único óbice ao direito de nomeação
pleiteado pelos autores. V- Assim, de se confirmar e manter a sentença que
os nomeou definitivamente ao cargo de Agente da Polícia Federal, com
efeitos retroativos à data em que foram nomeados os demais concludentes
do mesmo Curso de Formação Profissional, com direito a todas as
promoções, como se na ativa estivessem, sendo vedado, entretanto, o
pagamento dos vencimentos atrasados, os quais somente poderiam ser
recebidos com o efetivo exercício do cargo, sob pena de enriquecimento
ilícito. VI - Apelação não conhecida. Remessa oficial tida por ocorrida,
parcialmente provida.

(TRF3, AC 00151433820034036100, DESEMBARGADORA FEDERAL ALDA


BASTO, QUARTA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:09/02/2012
..FONTE_REPUBLICACAO:.)

21.3.3. Decisões Objetivamente e/ou Subjetivamente Complexas


São objetivamente complexas as decisões cujo dispositivo pode ser fracionado em capítulos.
São subjetivamente complexas as decisões para cuja formação devem concorrer,
necessariamente, as vontades de mais de um órgão jurisdicional (logo, subjetivamente
complexa NÃO É a que atinge mais de uma pessoa, não confundir).

Decisão advinda de órgão colegiado é subjetivamente simples, visto que é um órgão só, não
obstante composto por vários magistrados.

Exemplos dessa última são as decisões do Tribunal do Júri (juízes leigos e togados, órgãos
distintos) e os casos dos incidentes de decretação de inconstitucionalidade ou de
uniformização de jurisprudência suscitados em tribunal.

No caso de decretação de inconstitucionalidade em tribunal, há uma cisão de órgãos


competentes para julgamento, porque o órgão fracionário julgará o recurso, porém deverá
submeter, em função da reserva de plenário, a questão constitucional ao órgão especial. Didier
se refere a isso como uma cisão da competência funcional; ressalta ser importante o
conhecimento dessa regra, pois eventual ação rescisória será julgada pelo órgão competente
para julgar a rescisória advinda do órgão de maior hierarquia, ou seja, a Corte Especial.

21.4. Decisões Definitivas e Terminativas


Terminativa é a decisão em cujo dispositivo não se resolve o mérito do procedimento,
enquanto definitiva é aquela em cujo dispositivo há resolução do objeto litigioso do
procedimento. As hipóteses terminativas estão previstas no art. 267 do CPC, enquanto as
definitivas, no art. 269.

Sentença condicional: nula é a sentença que julga o pedido procedente, condicionada esta
procedência ao preenchimento de determinados requisitos legais pelo autor. Na verdade, a
vedação é que o conteúdo da sentença esteja sujeito a evento futuro e incerto.
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Decisão definitiva em relação a um procedimento principal fica acobertada pela coisa julgada
material, desde que se tenha fundado em juízo de cognição exauriente; entretanto, a definitiva
em relação a um procedimento incidente ou a terminativa em qualquer procedimento não
ficam por ela acobertadas, ficando sujeitas à simples preclusão.

O juiz, a requerimento ou de ofício, pode levar em consideração fatos constitutivos,


modificativos ou extintivos de direito que sejam supervenientes e influam no julgamento da
causa. Tal não é possível na instância extraordinária por falta de prequestionamento.

21.4.1. Efeitos da Decisão Judicial

21.4.1.1. Conteúdo e Efeitos: Distinção


O conteúdo compreende a norma jurídica individualizada estabelecida pelo magistrado, seja
para certificar o direito a uma prestação, seja para reconhecer um direito potestativo, seja
ainda para tão-somente declarar algo. Efeito é a repercussão que a determinação dessa norma
jurídica individualizada pode gerar e que vincula, de regra, as partes do processo.

A COISA JULGADA MATERIAL ATINGE O CONTEÚDO DA NORMA JURÍDICA


INDIVIDUALIZADA ESTABELECIDA PELO MAGISTRADO, E NÃO OS SEUS EFEITOS. Tanto
que, após o trânsito em julgado da sentença, podem as partes transacionarem ou o autor
renunciar ao direito que lhe foi conferido. O conteúdo permanece. Os efeitos cessam.

21.4.1.2. Eficácia Principal


Trata-se dos efeitos que decorrem diretamente do conteúdo da decisão, como a possibilidade
de tomada de providências executivas, a criação de uma situação jurídica nova, a certeza
jurídica etc.

21.4.1.3. Eficácia Reflexa


Eficácia reflexa é aquela gerada em uma relação jurídica estranha ao processo, mas que
mantém um vínculo de conexão jurídica com a relação nele discutida. Seria o clássico caso da
sentença que determina o despejo do locatário gerando o despejo do sublocatário.

Em muitos casos, a própria lei, em função da importância do efeito reflexo para terceiros,
impõe que este seja cientificado do que ocorre no processo a fim de tomar as providências
necessárias, como ocorre nos vários casos de intervenção de terceiros.

21.4.1.4. Eficácia Anexa ou de Fato


São anexos ou secundários os efeitos que decorrem de previsão legal, i.e., não são
consequência do conteúdo da decisão, mas de uma específica determinação legislativa.
Independem de pedido da parte, da manifestação do juiz ou do conteúdo da decisão. São
exemplos o direito ao ressarcimento dos danos, quando prolatada sentença penal
condenatória, a perempção etc.

Didier destaca importante efeito anexo: o previsto no art. 466 do CPC, o estabelecimento de
hipoteca judiciária da decisão que certifica um direito ao pagamento de quantia. Assim,
proferida e publicada a decisão, basta que a parte, demonstrando a existência de bens

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hipotecáveis, peça a expedição de mandado para registro da hipoteca junto à matrícula do


imóvel, a fim de que a medida constritiva possa operar efeitos em relação a terceiros.

O ato do juiz que determina a inscrição da hipoteca judiciária é mero despacho, não havendo
nele qualquer cunho decisório.

Art. 466. A sentença que condenar o réu no pagamento de uma prestação,


consistente em dinheiro ou em coisa, valerá como título constitutivo de
hipoteca judiciária, cuja inscrição será ordenada pelo juiz na forma prescrita
na Lei de Registros Públicos.

Parágrafo único. A sentença condenatória produz a hipoteca judiciária:

I - embora a condenação seja genérica;

II - pendente arresto de bens do devedor;

III - ainda quando o credor possa promover a execução provisória da


sentença.

21.4.1.5. Eficácia Probatória


A decisão judicial prova o juízo do magistrado, ou seja, aquilo que e como ele decidiu. Porém,
ela não serve como prova dos fatos examinados pelo órgão jurisdicional. A sentença prova
que o órgão jurisdicional examinou as alegações de fato em um determinado sentido; não
prova, porém, que os fatos realmente aconteceram como dito pelo magistrado. Por isso que
a coisa julgada não recai sobre a verdade dos fatos estabelecidos no processo.

Somente pode ser utilizada como prova do fato “decisão”, ou seja, de que em determinado
tempo, foi exarada decisão judicial na qual o magistrado tal reconheceu como existentes os
fatos tais, podendo ser isso um indício de prova.

21.5. Classificação das Sentenças


a) Classificação ternária: desenvolvida no Brasil segundo as lições de Liebman.

i. Condenatória: é a sentença que, além de declarar um direito do autor, condena o


réu a alguma prestação de fazer, não fazer, entregar ou pagar quantia certa. Seu
efeito é a criação de um título executivo que permitirá a adoção de atos
executivos. Pode ter efeitos ex tunc;

ii. Declaratória: é sentença que apenas declara a existência ou inexistência de


relação jurídica. Seu conteúdo é gerar a certeza jurídica. Ela somente pode ter
como objeto fatos jurídicos, somente excepcionalmente recaindo sobre simples
fatos materiais (art. 4º, II). Toda sentença possui um pouco de declaratoriedade.
Entretanto, toda sentença de improcedência será declaratória, já que assentará a
inexistência de um direito. Os efeitos da sentença declaratória são ex tunc,
retroagindo à data de surgimento da relação jurídica que se afirma ou nega;

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iii. Constitutiva: ela cria (constitutiva), extingue (desconstitutiva) ou modifica uma


relação jurídica, tendo como efeito a alteração de uma situação jurídica. Ela terá
efeitos apenas ex nunc, exceto quando a lei prever diferente, como ocorre nas
anulatórias de ato jurídico ou na sentença de interdição, cujos efeitos são a partir
da publicação em 1º grau e não do trânsito em julgado.

b) Classificação quinária: desenvolvida no Brasil por Pontes de Miranda.

i. As três acima

ii. Executiva lato sensu: seria aquela sentença que dispensaria o processo de
execução, sendo autoexecutável. Não é muito aceita por boa parte da doutrina.

iii. Mandamental: se caracteriza pela existência de uma ordem do juiz dirigida à


pessoa ou órgão para que faça ou deixe de fazer algo, não se limitando à
condenação do réu.

21.6. Honorários Advocatícios


A fixação dos honorários advocatícios é um grande tormento para os juízes.

Trata-se sempre de pedido implícito na petição inicial e da resposta do réu, devendo o juiz
proceder à condenação de ofício.

Sobre o tema, o CPC dispõe o seguinte:

Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas


que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será
devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria.
(Redação dada pela Lei nº 6.355, de 1976)

§ 1º O juiz, ao decidir qualquer incidente ou recurso, condenará nas


despesas o vencido. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)

§ 2º As despesas abrangem não só as custas dos atos do processo, como


também a indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração do
assistente técnico. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)

§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o


máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos:
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)

a) o grau de zelo do profissional; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de


1.10.1973)

b) o lugar de prestação do serviço; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de


1.10.1973)

c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o


tempo exigido para o seu serviço. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1.10.1973)

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§ 4o Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em


que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas
execuções, embargadas ou não, os honorários SERÃO FIXADOS CONSOANTE
APRECIAÇÃO EQUITATIVA DO JUIZ, atendidas as normas das alíneas a, b e c
do parágrafo anterior. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)

§ 5o Nas ações de indenização por ato ilícito contra pessoa, o valor da


condenação será a soma das prestações vencidas com o capital necessário a
produzir a renda correspondente às prestações vincendas (art. 602),
podendo estas ser pagas, também mensalmente, na forma do § 2o do
referido art. 602, inclusive em consignação na folha de pagamentos do
devedor. (Incluído pela Lei nº 6.745, de 5.12.1979) (Vide § 2º do art 475-Q)

Art. 21. Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e
proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles os honorários e
as despesas.

Parágrafo único. Se um litigante decair de parte mínima do pedido, o outro


responderá, por inteiro, pelas despesas e honorários.

Art. 22. O réu que, por não arguir na sua resposta fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor, dilatar o julgamento da lide,
será condenado nas custas a partir do saneamento do processo e perderá,
ainda que vencedor na causa, o direito a haver do vencido honorários
advocatícios. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1.10.1973)

Art. 23. Concorrendo diversos autores ou diversos réus, os vencidos


respondem pelas despesas e honorários em proporção.

Art. 24. Nos procedimentos de jurisdição voluntária, as despesas serão


adiantadas pelo requerente, mas rateadas entre os interessados.

Art. 25. Nos juízos divisórios, não havendo litígio, os interessados pagarão as
despesas proporcionalmente aos seus quinhões.

Art. 26. Se o processo terminar por desistência ou reconhecimento do


pedido, as despesas e os honorários serão pagos pela parte que desistiu ou
reconheceu.

§ 1o Sendo parcial a desistência ou o reconhecimento, a responsabilidade


pelas despesas e honorários será proporcional à parte de que se desistiu ou
que se reconheceu.

§ 2o Havendo transação e nada tendo as partes disposto quanto às


despesas, estas serão divididas igualmente.

Vencida a Fazenda Pública, a fixação dos honorários não está adstrita aos
limites percentuais de 10% e 20%, podendo ser adotado como base de
cálculo o valor dado à causa ou à condenação nos termos do art. 20, § 4º, do
CPC ou mesmo um valor fixo, segundo o critério de equidade. Nas
demandas de cunho declaratório, até por inexistir condenação pecuniária
que possa servir de base de cálculo, os honorários devem ser fixados com

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referência no valor da causa ou em montante fixo. (STJ, 1S, Informativo 426,


REsp 1.155.125-MG)

Há inúmeras súmulas sobre honorários advocatícios, as quais devem ser conhecidas pelo
candidato.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REDUÇÃO DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE

Nos casos em que seja negado provimento ao recurso, a redução dos


honorários advocatícios só é possível se houver pedido expresso na petição
recursal. Nessa circunstância, reduzir de ofício o montante destinado ao
pagamento de honorários ofende os arts. 128, 460 e 515 do CPC. Isso
porque a matéria a ser debatida no recurso é determinada pelas partes e a
inobservância desses limites importa em julgamento ultra ou extra
petita.Tal hipótese difere dos casos nos quais não há pedido específico de
redução de honorários, mas há provimento do recurso, pois nesses casos a
alteração da verba honorária é uma decorrência lógica do provimento do
recurso. Precedentes citados: EDcl no REsp 560.165-CE, DJ de 9/2/2004;
EDcl no REsp 1.276.151-SC, DJe 17/2/2012; AgRg no AREsp 43.167-RJ, DJe
14/5/2012; AgRg no Ag 1.296.268-SP, DJe de 22/6/2010; REsp 870.444-CE,
DJ 29/3/2007. EREsp 1.082.374-RJ, Corte Especial, Rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima, julgados em 19/9/2012.

Caso o juiz não fixe os honorários advocatícios na decisão e o advogado


não interponha embargos de declaração, não poderá o tribunal fixar tais
honorários futuramente nem poderá o advogado interpor ação autônoma
de cobrança dos mesmos, face a preclusão e a ocorrência da coisa julgada.
(STJ, Corte Especial, REsp 886.178-RS)

É possível alterar os valores dos honorários advocatícios fixados quando


forem irrisórios ou excessivos para adequá-los ao disposto no § 4º do art. 20
do CPC. (STJ, 1T, Informativo 414, REsp 939.684/RS)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ARBITRADOS


EM VALOR FIXO. TERMO INICIAL PARA A CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS
MORATÓRIOS.

1. Os honorários advocatícios arbitrados em valor fixo, nos termos do art.


20, § 4º, do CPC, sofrem correção monetária a partir do seu arbitramento.
Também devem incidir juros de mora sobre a verba advocatícia, desde o
trânsito em julgado da sentença a fixou.

2. Embargos de declaração acolhidos.

(STJ, EDcl no REsp 1119300/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,


SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/10/2010, DJe 20/10/2010)

Súmula 453, STJ: “Os honorários sucumbenciais, quando omitidos em decisão transitada em
julgado, não podem ser cobrados em execução ou em ação própria”.

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21.6.1. Princípio da Sucumbência e Princípio da Causalidade


O Código de Processo Civil, ao dispor sobre os ônus processuais, adotou o princípio da
sucumbência, segundo o qual incumbe ao vencido o pagamento dos honorários ao vencedor.
Entretanto, referido princípio deve ser analisado em consonância com o princípio da
causalidade, sob pena de aquele que não deu causa à propositura da demanda se ver
prejudicado.

São da autoria de Chiovenda as principais ideias acerca da teoria da sucumbência.

Sucumbir, segundo a definição do Aurélio, é ‘’não resistir, ceder, ser derrotado’’. Na linguagem
jurídica, o significado não é diferente, sendo sucumbente aquele que é vencido na demanda
judicial.

Assim, é o ‘’fato objetivo da derrota’’ que legitima a sucumbência. Comportamentos subjetivos


das partes não interessam à teoria da sucumbência: vencido no processo, deverá arcar com as
despesas do processo.

E o fundamento da teoria da sucumbência é de que a aplicação da lei, no processo, não deve


onerar a quem ela dá razão. Quem tem o direito não pode sofrer o prejuízo pelo fato de
querer que ele seja concretizado através da tutela jurisdicional.

A justificação para o princípio da sucumbência é uniforme entre os autores: aquele que se


pretende necessitado da tutela jurisdicional, se não é atendido senão recorrendo às vias
judiciais, não deve suportar um sacrifício econômico (que, segundo a clássica proposição,
diminuiria o valor do direito reconhecido); ‘’à sentença cabe prover para que o direito do
vencedor não saia diminuído de um processo em que foi proclamada a sua razão’’.

A teoria da sucumbência, contudo, tem-se revelado insuficiente para atender a situações


específicas, nas quais não se justificava que a parte arcasse com o ônus da sucumbência,
ainda que vencida na demanda. Foi quando a teoria da causalidade começou a ganhar espaço.

A teoria da causalidade mostrou-se muito mais racional como regra da responsabilidade


processual pelas despesas do processo, preenchendo as lacunas das hipóteses em que a teoria
da sucumbência não se mostrava adequada.

Defendida principalmente por Carnelutti, a teoria da causalidade funda-se no princípio de que


aquele que deu causa à movimentação do aparato judiciário, do processo judicial, deve arcar
com as suas despesas.

(...) o princípio da causalidade responde justamente a um princípio de justiça distributiva e a


um princípio de higiene social. De um lado, é justo que aquele que tenha feito necessário o
serviço público da administração da Justiça lhe suporte a carga; é oportuno, pois, a previsão
deste encargo reage a uma contenção no sentido de se fazer valer o cidadão mais cauteloso
(...)

Portanto, diferentemente da teoria da sucumbência, a da causalidade prescinde de um


comportamento subjetivo das partes, principalmente para se auferir se este comportamento

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foi o responsável, foi quem deu causa, à instauração do processo judicial. Exige, pois, ‘’uma
indagação mais criteriosa e penetrante das razões dos litigantes’’.

Mas embora conceitualmente diferentes, a aplicação da teoria da causalidade não exclui


necessariamente a da teoria da sucumbência. Ao revés, a teoria da sucumbência revela-se
mais como um dos critérios de aplicação da teoria da causalidade.

Basta partir da ideia estatisticamente comprovada de que geralmente quem dá causa ao


processo é quem está errado e, consequentemente, resta vencido na demanda. Sob esta ótica,
o princípio da sucumbência nada mais é do que um dos parâmetros para a aplicação da teoria
da causalidade.

(...) entre a sucumbência e a causalidade não existe contraste, mas harmonia; trata-se de
dois conceitos, do qual o primeiro é o conteúdo, o segundo o continente. O círculo do princípio
da causalidade tem em seu interior vários círculos reveladores da existência do princípio; o
mais importante é constituído pelo subcírculo, por assim dizer, da sucumbência. A
sucumbência será, sob um plano conceitual e estático, ao mesmo tempo, o elemento
normalmente revelador mais expressivo da causalidade, pois, normalmente, aquele que
sucumbe é exatamente o sujeito que havia provocado o processo, fazendo surgir a
necessidade da utilização do instrumento do processo, para que o titular do direito obtivesse
coativamente aquilo que espontaneamente não havia obtido. E, em ordem de disposição,
este elemento estatístico constitui a base da construção tradicional do princípio da
sucumbência.

Dessa maneira, mercê da teoria da causalidade ser atualmente a mais eficiente regra da
responsabilidade processual pelas despesas do processo, a sucumbência, antes de ser um
princípio que lhe contraria, constitui verdadeiramente o seu principal critério para aplicação.

Pelo princípio da causalidade, aquele que deu causa à propositura da demanda ou à


instauração de incidente processual deve responder pelas despesas daí decorrentes. Isto
porque, às vezes, o princípio da sucumbência se mostra insatisfatório para a solução de
algumas questões sobre a responsabilidade pelas despesas do processo.

No mesmo sentido leciona o prof. Cândido Dinamarco:

Só por comodidade de exposição alude-se à sucumbência como critério


para atribuir o custo final do processo a uma das partes, sabendo-se no
entanto que essa é apenas uma regra aproximativa, ou mero indicador do
verdadeiro critério a prevalecer, que é o da causalidade: deve responder
pelo custo do processo, sempre, aquele que houver dado causa a ele ao
propor uma demanda improcedente ou sem necessidade, ou ao resistir a
ela sem ter razão.

Por fim, a jurisprudência pátria é farta ao reconhecer a causalidade como princípio informador
da responsabilidade processual pelas despesas do processo, bastando citar algumas das
inúmeras decisões existentes:

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RECURSO ESPECIAL – PROCESSUAL CIVIL – IMÓVEL – CONTRATO DE


COMPRA E VENDA NÃO-REGISTRADO – PENHORA – EMBARGOS DE
TERCEIRO – CONSECTÁRIOS DA SUCUMBÊNCIA – PRINCÍPIO DA
CAUSALIDADE – O princípio da causalidade não se contrapõe ao princípio da
sucumbência. Antes, é este um dos elementos norteadores daquele, pois,
de ordinário, o sucumbente é considerado responsável pela instauração do
processo e, assim, condenado nas despesas processuais. O princípio da
sucumbência, contudo, cede lugar quando, embora vencedora, a parte
deu causa à instauração da lide. Se o credor indicou à penhora imóvel
objeto de contrato de compra e venda não registrado, é iniludível que a
necessidade do ajuizamento dos embargos de terceiro pelo adquirente é
resultado da desídia deste em não promover o registro, providência que a
par da publicidade do ato poderia evitar a indesejada constrição
patrimonial, haja vista a eficácia erga omnes dos atos submetidos a registro.
Assim, face ao princípio da causalidade, cabe aos terceiro-embargante,
adquirente do imóvel, arcar com os consectários da sucumbência.

21.6.2. Honorários Contratuais – Restitutio in Integrum


Como os honorários convencionais são retirados do patrimônio da parte
lesada – para que haja reparação integral do dano sofrido –, aquele que deu
causa ao processo deve restituir os valores despendidos com os honorários
contratuais. Contudo, embora os honorários convencionais componham os
valores devidos pelas perdas e danos, o valor cobrado pela atuação do
advogado não pode ser abusivo, cabendo ao juiz analisar as peculiaridades
de cada caso e, se for preciso, arbitrar outro valor, podendo para isso utilizar
como parâmetro a tabela de honorários da OAB (STJ, REsp 1.134.725-MG,
3T, 14/06/2011)

21.6.3. Honorários e Custas e Justiça Gratuita


Se o sucumbente for beneficiário da Justiça Gratuita, ele deve ser condenado em custas e
honorários advocatícios, os quais ficarão suspensos até que ele venha a ter condições de arcar
ou até que ocorra a prescrição, o que primeiro vier, de acordo com a Lei nº 1.060/50.

Julgados colacionados:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.


AUSENTE INDEFERIMENTO EXPRESSO DO PEDIDO. CONCESSÃO PRESUMIDA.
PRECEDENTES.

1. Esta Corte tem entendimento pacífico de que A DECLARAÇÃO DE


POBREZA COM O INTUITO DE OBTER O BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA
GOZA DE PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE, ADMITINDO PROVA EM
CONTRÁRIO. Precedentes.

2. Do entendimento acima decorre que, não analisado o pedido, como é o


caso dos autos, prevalece a presunção inicial, já que ausente prova em
sentido contrário. Assim, feito o pedido expresso pela parte, com a
declaração de pobreza, a ausência de sua análise só pode levar à presunção
de que a parte está sob o pálio da justiça gratuita. Precedentes.

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Agravo regimental improvido.

(AgRg no REsp 1285116/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA


TURMA, julgado em 13/12/2011, DJe 19/12/2011)

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. PROCESSO CIVIL.


FUNDAÇÃO HOSPITALAR DE CUNHO FILANTRÓPICO E ASSISTENCIAL.
JUSTIÇA GRATUITA NÃO CONCEDIDA. MISERABILIDADE. NECESSIDADE DE
PROVA. QUESTÃO RECENTEMENTE APRECIADA PELA CORTE ESPECIAL.
ENTENDIMENTO EM CONSONÂNCIA COM O ACÓRDÃO EMBARGADO.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 168 DO STJ. EMBARGOS AOS QUAIS SE NEGOU
SEGUIMENTO. DECISÃO MANTIDA EM SEUS PRÓPRIOS TERMOS.

[...]

2. "A egr. Corte Especial, na sessão de 02.08.2010, passou a adotar a tese já


consagrada STF, segundo a qual É ÔNUS DA PESSOA JURÍDICA COMPROVAR
OS REQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DO BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA GRATUITA, MOSTRANDO-SE IRRELEVANTE A FINALIDADE
LUCRATIVA OU NÃO DA ENTIDADE REQUERENTE. Precedente: EREsp nº
603.137/MG, Corte Especial, de minha relatoria, DJe 23.08.10." (AgRg nos
EREsp 1103391/RS, CORTE ESPECIAL, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, DJe de
23/11/2010).

[...]

(AgRg nos EAg 833722/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL,
julgado em 12/05/2011, DJe 07/06/2011)

Quanto à pessoa jurídica, o STJ publicou súmula:

Súmula 481, STJ: “Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins
lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais”. Ou seja,
o STJ deixa claro que pessoa jurídica TEM que comprovar sua impossibilidade de arcar com os
encargos processuais, como já vinha sinalizando em sua jurisprudência.

RECURSO ESPECIAL. HONORÁRIOS PERICIAIS. JUSTIÇA GRATUITA.


RESPONSABILIDADE DO ESTADO PELA SUA REALIZAÇÃO.

1. Os benefícios da assistência judiciária gratuita incluem os honorários de


perito, razão pela qual não deve ser imputado ao beneficiário da justiça
gratuita o dever de adiantar tal despesa, nos termos do art. 3º, inciso V, da
Lei n.º 1.060/50.

2. A parte que não requereu a realização da prova técnica não deve arcar
antecipadamente com os custos dos honorários periciais, segundo o art. 33
do CPC, da mesma forma que não é razoável imputar ao profissional técnico
os custos da realização de perícia, que só aproveitará aos particulares e à
eficiente prestação jurisdicional.

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3. Deve-se adotar uma interpretação sistemática e teleológica das normas


processuais, a fim de não se esvaziar a garantia fundamental de acesso
gratuito ao Judiciário, pelos jurisdicionados menos afortunados, e nem se
desvirtuar completamente o princípio da causalidade, que informa a justa
distribuição das despesas processuais entre as partes.

4. Dessa forma, devem os autos retornar ao Juízo a quo para a efetivação da


prova. Não concordando o perito nomeado em aguardar o final do
processo, para o recebimento dos honorários, deve o Juízo a quo nomear
outro perito, a ser designado entre técnicos de estabelecimento oficial
especializado ou repartição administrativa do ente público responsável
pelo custeio da prova pericial, devendo a perícia se realizar com a
colaboração do Poder Judiciário.

[...]

(REsp 1190021/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,


julgado em 01/12/2011, DJe 19/12/2011)

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. DEFERIMENTO NO CURSO DO


PROCESSO. EFEITOS RETROATIVOS. IMPOSSIBILIDADE.

O deferimento do pedido de assistência judiciária gratuita, quando


formulado no curso do processo, NÃO POSSUI EFEITOS RETROATIVOS.
Precedentes. Unânime. (TRF1, 6T, AI 2005.01.00.072078-0/MG, rel. Des.
Federal Jirair Aram Meguerian, em 28/11/2011.)

PESSOA JURÍDICA. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. INSUFICIÊNCIA DE


RECURSOS. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO.

Para fazer jus aos benefícios da assistência judiciária gratuita, AS PESSOAS


JURÍDICAS NECESSITAM COMPROVAR A INSUFICIÊNCIA DE RECURSOS, AO
CONTRÁRIO DO QUE OCORRE COM AS PESSOAS FÍSICAS, PARA AS QUAIS
BASTA A SIMPLES DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA. Unânime. (TRF1,
5T, AI 2008.01.00.000310-5/MG, rel. Juiz Federal Evaldo de Oliveira
Fernandes filho (convocado), em 18/01/2012.)

21.7. O Precedente Judicial

21.7.1. Conceito e Classificação


Precedente é a decisão judicial tomada à luz de um caso concreto, cujo núcleo essencial pode
servir como diretriz para o julgamento posterior de casos análogos.

A regra do stare decisis, presente nos países de common law, determina que casos iguais serão
julgados da mesma forma, conferindo força vinculante aos julgados precedentes sobre os
julgamentos atuais. Entretanto, esta teoria vem sofrendo modificações voltadas à adaptação
do direito jurisprudencial aos novos elementos da realidade. As mudanças sociais ocasionaram
a elaboração de instrumentos capazes de conferir aos tribunais a possibilidade de revogar
precedentes aos quais estariam vinculados obrigatoriamente pelo instituto do stare decisis,
seja por que, ao reanalisar a questão tratada em caso anterior, a Corte tenha entendido que o
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julgamento se deu de forma equivocada, de maneira a, eventualmente, suplantar o direito da


parte; seja em face da alteração de instituições sociais, o que implicaria no exame dos fatos
sob uma nova ótica.

Os precedentes judiciais podem ser classificados quanto ao seu conteúdo ou quanto aos seus
efeitos.

Quanto ao conteúdo podem ser:

a) Declarativos: precedente que simplesmente reconhece e aplica uma norma jurídica


previamente existente. Assim, seria declarativo o precedente que simplesmente aplica
uma súmula vinculante;

b) Criativos: cria e aplica uma norma jurídica. Seria criativo o precedente em que o
magistrado precisa suprir uma lacuna legislativa, ou ainda quando se depara com
cláusulas gerais.

Quanto aos efeitos, podem ser:

a) Vinculante ou obrigatório (binding precedent): é o precedente dotato de binding


autority (autoridade vinculante), quando tiver eficácia vinculativa em relação aos
julgados que, em situações análogas, lhe forem supervenientes. Essa é a regra nos
países que adotam a common law. São relativamente obrigatórios quando, por
fundadas razões, puderem ser afastados, e absolutamente obrigatórios quando, ainda
que incorretos, tiverem de ser seguidos.

b) Persuasivo (persuasive precedent): não tem eficácia vinculante, possuindo apenas


força persuasiva (persuasive autority), na medida em que constitui indício de uma
solução racional e socialmente adequada. Nenhum magistrado está obrigado a segui-
lo, somente o fazendo por seu próprio convencimento. Essa é (por enquanto!) a regra
no Brasil e nos países que adotam o sistema da civil Law (ressalvada a súmula
vinculante).
Binding Precedent (vinculante)
Persuasive Precedent (não vinculante)

21.7.2. Relevância do Tema


O sistema da common law é informado pela teoria do stare decisis, segundo a qual o
precedente judicial, sobretudo aquele emanado de Corte superior, é dotado de eficácia
vinculante não só para a própria Corte, como principalmente para os juízos que lhe são
hierarquicamente inferiores.

Apesar disso, a força vinculante dos precedentes tem ganhado espaço no ordenamento
brasileiro, mormente por ser uma forma de dar celeridade à atuação do judiciário e por criar,
de certa forma, mais segurança jurídica e previsibilidade nas decisões.

Há vários exemplos de aplicação dos precedentes no Brasil:

a) Adoção da súmula vinculante;


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531

b) Valor que se tem atribuído a enunciados de súmulas dos tribunais, especialmente para
se denegar recursos (arts. 475, § 3º, 518, § 1º, 544, § 3º, 557 e outros do CPC);

c) Possibilidade de julgamento liminar de causas repetitivas (art. 285-A);

d) Os recursos repetitivos e a repercussão geral por amostragem (art. 543-B, CPC);

e) Ações concentradas de constitucionalidade;

f) Utilização da reclamação por terceiros com fulcro em decisões de caráter subjetivo.

21.7.2.1. O Precedente na Dimensão da Igualdade122


PRINCÍPIO DA IGUALDADE

O princípio da igualdade encontra-se expressamente consagrado no caput do art. 5º da CR/88.


Trata-se de uma igualdade, em primeira face, formal, mas que deve também ser buscada no
sentido material.

IGUALDADE PERANTE A JURISDIÇÃO

Perante a jurisdição, a igualdade se manifesta em três vertentes, segundo Marinoni:

a) Igualdade no processo;

b) Igualdade ao processo;

c) Igualdade diante das decisões judiciais

A igualdade no processo é a que tradicionalmente se estuda na academia, em um primeiro


contato, e a que é observada, via de regra, na prática processual. Trata-se de fenômeno
endoprocessual, que tem em foco a paridade de armas entre as partes e o direito ao
contraditório.

A igualdade ao processo se refere ao direito de acesso à justiça, garantido como direito


fundamental a todos, inclusive mediante a assistência jurisdicional gratuita e o benefício da
justiça gratuita aos necessitados, e o direito a técnicas e procedimentos diferenciados.

Essas duas “igualdades”, não obstante serem de inegável importância, não são suficientes para
garantir a isonomia entre os jurisdicionados, visto que necessário é ainda perquerir sobre a
igualdade perante as decisões judiciais.

Em que local está a igualdade diante das decisões judiciais? Ora, o acesso à justiça e a
participação adequada no processo só tem sentido quando correlacionados com a decisão.
Afinal, esta é o objetivo daquele que busca o Poder Judiciário e, apenas por isso, tem
necessidade de participar do processo. Em outros termos, a igualdade de acesso, a igualdade à
técnica processual e a igualdade de tratamento no processo são valores imprescindíveis para a
obtenção de uma decisão racional e justa.

122
Extraído de artigo homônimo escrito por Luiz Guilherme Marinoni.
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532

Vendo-se a decisão como fruto do sistema judicial e não como mera prestação atribuída a um
juiz – singularmente considerado –, torna-se inevitável constatar que A RACIONALIDADE DA
DECISÃO ESTÁ ANCORADA NO SISTEMA E NÃO APENAS NO DISCURSO DO JUIZ QUE A
não há racionalidade na decisão ordinária que
PROFERIU. Assim, por exemplo,
atribui à lei federal interpretação distinta da que lhe foi dada pelo órgão
jurisdicional incumbido pela constituição federal de uniformizar tal
interpretação, zelando pela unidade do direito federal. A irracionalidade é
ainda mais indisfarçável na decisão que se distancia de decisão anterior, proferida pelo mesmo
órgão jurisdicional em caso similar, ou melhor, em caso que exigiu a apreciação de questão
jurídica que o órgão prolator da decisão já definira.

Não se pode confundir, entretanto, direito à decisão racional e justa com o direito ao
processo justo. O direito ao processo justo é satisfeito com a realização de direitos
fundamentais de natureza processual, como o direito à efetividade da tutela jurisdicional e o
direito ao contraditório. Mas a legitimação da jurisdição não depende apenas da observância
desses direitos e nem pode ser alcançada somente pelo procedimento em contraditório e
adequado ao direito material, sendo aí imprescindível pensar em uma legitimação pelo
conteúdo da decisão.

O procedimento pode ser legítimo à luz dos direitos fundamentais processuais, mas ainda
assim ser descompromissado com a substância das normas constitucionais. A jurisdição
somente se afirma legitimamente quando garante o conteúdo dos direitos fundamentais.
Porém, quando ela o faz, sobreleva-se a questão da jurisdição contramajoritária, colocando em
estado de tensão a função Judiciária, composta por agentes não eleitos e técnicos, e a função
Legislativa, composta por agentes políticos representantes do povo.

Diante do problema posto pela questão do contramajoritarismo e buscando explicar a


legitimidade da decisão judicial, invocam-se as seguintes teorias:

a) Teorias textualistas: propõem uma interpretação textualista da Constituição,


atrelando a legitimidade da jurisdição ao literalismo das normas constitucionais. O
textualismo é incapaz de dar legitimidade à decisão jurisdicional, uma vez que as
normas constitucionais, especialmente as que afirmam direitos fundamentais, têm
natureza aberta e indeterminada. Para concretizar os direitos fundamentais –
viabilizando a sua proteção e realização fática – e bem situar e controlar as normas
infraconstitucionais, é necessário delinear os conteúdos dos direitos fundamentais, o
que não pode ser feito através de uma interpretação textual da Constituição. Essa
dificuldade leva os textualistas à recriação do próprio problema a ser enfrentado, pois,
diante da necessidade do preenchimento do sentido vago das disposições
constitucionais, são forçados a definir critérios capazes de selecionar qual é o correto
sentido “literal” do texto constitucional. Alguns dizem que é o sentido atribuído pelos
membros da assembleia constituinte que elaborou a Constituição; outros que é o
sentido que pareceria razoável aos olhos da geração constituinte; e outros, ainda, que
é o sentido que lhe dá a geração atual. Ou seja, os textualistas têm de apelar para fora
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533

do texto constitucional para solucionar dúvidas interpretativas. Porém, este é


precisamente o defeito que eles apontam nas demais teorias constitucionais. Logo,
essa é uma teoria que reproduz a sua própria crítica.

b) Teorias procedimentalistas: buscam dar legitimidade à jurisdição destacando seu papel


de reforço do processo democrático de elaboração da lei. Criticam a busca de um
conteúdo substancial na tutela dos direitos fundamentais com base no argumento
de que inexistem valores fundamentais aceitos por todos os cidadãos de forma
pacífica. Aqueles que se encontram nessas correntes afirmam que, diante da natureza
aberta das normas constitucionais, não se deve dar ao juiz o poder de escolher os
valores substanciais nelas contidos, pois isso poderia gerar a tirania dos tribunais.
Portanto, a legitimidade da decisão, segundo essas teorias, jamais seria encontrada
dando-se ao juiz o poder de determinar o conteúdo substancial dos direitos
fundamentais para se opor à decisão da maioria da casa legislativa. Eis o que escreve
John Hart Ely, um dos mais importantes representantes do procedimentalismo norte-
americano: “Nossa sociedade não tomou a decisão constitucional a favor de um
sufrágio quase-universal para mudar de atitude e aceitar, em decisões populares, a
imposição, desde o alto, dos valores de juristas de primeira classe. Como Robert Dahls
observou, ‘após quase vinte e cinco séculos, as únicas pessoas que parecem
convencidas das vantagens de serem governadas por reis-filósofos são (...) uns poucos
filósofos’” (ELY, John Hart. Democracy and distrust: A theory of Judicial Review.
Cambridge: Harvard University Press, 1980, p. 59-60). Embora parte das teorias
procedimentalistas faça preponderar a participação popular sobre os direitos
fundamentais, a teoria de Habermas – ao contrário das outras teorias
procedimentalistas – permite a infiltração da decisão por paradigmas ético-morais,
mostrando-se preocupada com a formação de um consenso a respeito dos direitos
fundamentais, em um espaço público no qual deva se desenvolver o debate popular.
Segundo o filósofo alemão, a jurisdição constitucional deve buscar legitimidade
assegurando que o processo de gênese da lei seja receptivo àquilo que os cidadãos
estabelecem como consenso no espaço público. Para ele, os juízes constitucionais
devem agir de modo a garantir as condições do processo democrático de legislação. A
eles cabe “examinar os conteúdos de normas controvertidas, principalmente em
conexão com os pressupostos comunicativos e condições procedimentais do processo
legislativo democrático”. As teorias procedimentalistas têm como suporte as diversas
teorias da argumentação jurídica, visto que buscam fornecer subsídios para o embate
argumentativo para a formação do consenso, sem se basearem em uma verdade única
a ser aos poucos desvendada.

c) Teorias substancialistas: dão ênfase ao conteúdo material dos preceitos


constitucionais, advindo a legitimação da jurisdição do fato de os juízes aplicarem as
cláusulas amplas da Constituição de acordo com uma concepção atraente dos
valores morais que lhes servem de base. Ronald Dworkin sintetiza a proposta
substancialista na seguinte passagem: “Nosso sistema constitucional repousa sobre
uma teoria moral particular, isto é, que homens têm direitos morais [moral rights]

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contra o Estado. As cláusulas difíceis da Carta de Direitos (...) têm de ser entendidas
como apelativas a conceitos morais (...); por essa razão uma corte que está incumbida
do ônus de aplicar estas cláusulas plenamente como direito tem de ser uma corte
ativista, no sentido de que precisa estar preparada para moldar e responder questões
de moralidade política” (DWORKIN, Ronald. Taking rights seriously, Cambridge,
Harvard Press, 1978, p. 147). Em John Rawls, o substancialismo foi formulado a partir
de sua filosofia política. Concebe a deliberação como um processo parcialmente
fechado quanto aos seus resultados finais, já que tem como função aplicar princípios
de justiça previamente justificados, consensualmente definidos no contrato social
quando da “posição original”. A deliberação versaria, portanto, sobre conteúdo
predeterminado.

IGUALDADE PERANTE A LEI E IGUALDADE PERANTE A INTERPRETAÇÃO JUDICIAL DA LEI

Não haveria motivo para falar em igualdade diante das decisões caso estas pudessem se
resolver na mera aplicação da lei. Bastaria a noção de igualdade perante a lei. Portanto,
quando se pensa em igualdade perante as decisões, remete-se ao problema da interpretação
judicial.

Já é muito mais do que descartada a ideia exegética do magistrado apenas como um mero
explicitador do texto da norma; seu papel é altamente interpretativo, visto que até mesmo
perante regras jurídicas bem definidas textualmente se abre a possibilidade de múltiplos
significados, conforme a pré-compreensão de cada intérprete.

O problema da aplicação da lei não está propriamente no poder conferido ao juiz, mas na
própria dicção da norma legal. Embora o objetivo da limitação da decisão à letra da lei seja o
de conter o arbítrio do juiz, não há dúvida que a compreensão da lei, e, portanto, o
subjetivismo, varia na medida em que a letra da norma abre maior ou menor espaço para o
magistrado atuar na definição do significado normativo. Entende-se, em vista disso, que o
subjetivismo do juiz é um dado; o que importa, diante da construção da decisão, é o texto
legal. A lei é interpretada – e não meramente aplicada – não apenas porque o juiz
inevitavelmente deve compreendê-la, mas especialmente porque o seu significado precisa ser
apreendido e deduzido.

Estamos já há um bom tempo inseridos num contexto de decodificação, deixando os códigos


supostamente completos e perfeitos de serem os centros normativos da situações reais para
dar espaço a uma miríade de leis esparsas e de grande relevo. Isso é evidente no Direito
Administrativo, no Direito Civil, no Direito Penal, no Direito Tributário, no Direito
Previdenciário etc.

O Legislativo, em um sistema da família do Civil Law como o adotado no Brasil, tornou-se


incapaz de positivar todas as situações concretas da vida real (sempre foi, na verdade); ESSA
PERCEPÇÃO, EM GRANDE PARTE AUTOCRÍTICA, LEVOU ESSA MESMA FUNÇÃO DO
ESTADO A SE VALER DE CLÁUSULAS GERAIS, TÉCNICA LEGISLATIVA QUE SE
CONTRAPÕE À TÉCNICA CASUÍSTICA, além dos conceitos jurídicos indeterminados.
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A técnica casuística é utilizada quando, para a estruturação da norma, estabelecem-se, na


medida do possível, critérios para a qualificação dos fatos normados. Norma de tal espécie não
exige maior esforço do juiz, permitindo aplicação por meio de subsunção. Ao revés, as
cláusulas gerais são caracterizadas por vagueza ou imprecisão de conceitos, tendo o objetivo
de permitir o tratamento de particularidades concretas e de novas situações, inexistentes e
imprevisíveis à época da elaboração da norma.

Observa Judith Martins-Costa que as cláusulas gerais não pretendem “dar, previamente,
respostas a todos os problemas da realidade, uma vez que essas respostas são
progressivamente construídas pela jurisprudência”. Adverte que, “por nada regulamentarem
de modo complexo e exaustivo, atuam tecnicamente como metanormas, cujo objetivo é
enviar o juiz para critérios aplicativos determináveis ou em outros espaços do sistema ou
através de variáveis tipologias sociais, dos usos e costumes objetivamente vigorantes em
determinada ambiência social. Em razão destas características esta técnica permite capturar,
em uma mesma hipótese, uma ampla variedade de casos cujas características específicas serão
formadas por via jurisprudencial, e não legal.

ESSE TIPO DE TÉCNICA, NO ENTANTO, TROUXE O DESAFIO AO PODER JUDICIÁRIO DE


LEGITIMAR SUAS DECISÕES DE MANEIRA CONVINCENTE, VISTO QUE, SENDO O PONTO DE
PARTIDA DO MAGISTRADO A LEI ABERTA, ELE EFETIVAMENTE EXERCERÁ UMA FUNÇÃO
CRIATIVA DO DIREITO PERANTE O CASO CONCRETO, FAZENDO AS VEZES DE LEGISLADOR.

Ora, se o juiz se vale da cláusula geral para chegar na regra adequada à regulação do caso
concreto, a cláusula geral é norma legislativa incompleta e a decisão é a verdadeira norma
jurídica do caso concreto. Dessa forma, como é intuitivo, afigura-se previsível a possibilidade
de os juízes criarem diversas normas jurídicas para a regulação de casos substancialmente
idênticos. Acontece que, como é óbvio, a função das cláusulas gerais não é a de permitir uma
inflação de normas jurídicas para um mesmo caso, mas o estabelecimento de normas
jurídicas de caráter geral.

Para se ter segurança jurídica e para garantir a isonomia entre os jurisdicionados, que têm
perante si a infinita possibilidade de receberem tutelas jurisdicionais completamente
diversificadas, ainda que baseadas no mesmo diploma normativo, não há mais como se
recorrer ao princípio da tipicidade das formas processuais do processo civil clássico.

Se antigamente o controle do poder jurisdicional era feito a partir do princípio da tipicidade,


ou da definição dos instrumentos que podiam ser utilizados, hoje esse controle é mais
complexo e sofisticado.

Embora as cláusulas gerais também tenham a função de viabilizar a infiltração dos direitos
fundamentais nos códigos e leis, o impacto do neoconstitucionalismo sobre a interpretação
jurídica é mais extenso.

No Estado constitucional, as normas constitucionais e os direitos fundamentais dão unidade e


harmonia ao sistema e, por isto, obrigam o intérprete a colocar o texto da lei na sua

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536

perspectiva. Em outras palavras, as normas constitucionais são vinculantes da interpretação


das leis.

Quando o intérprete estiver diante de um hard case, a margem de discricionariedade de que


dispõe para interpretar a norma é incontestavelmente mais ampla do que aquela que lhe é
conferida por uma regra que deve ser aplicada mediante simples processo subsuntivo.

É certo que a decisão deve se guiar pela lei, mas isso não é suficiente como argumento em
favor da decisão. Decisão racional não é o mesmo que decisão baseada apenas em dados
dotados de autoridade; geralmente, senão sempre, a decisão judicial exige que a
argumentação recaia em pontos que não podem ser dedutivamente expostos. Melhor
dizendo, a racionalidade do discurso judicial, sempre que ultrapassa a simples dedução
lógica a partir da norma geral para o caso particular – é dizer, sempre que põe em questão a
premissa da subsunção – envolve um discurso que vai além daquilo que tradicionalmente se
concebe como jurídico – que extravasa o domínio restrito das “fontes do direito” –, o qual se
pode chamar de DISCURSO PRÁTICO OU MORAL.

Embora o controle da constitucionalidade na via difusa ou concentrada possa ser visto como
força contramajoritária, a sua legitimidade advém da circunstância de que os direitos
fundamentais estão excluídos da disposição do Legislativo, tendo o Judiciário o dever de
protegê-los, concretizá-los e afirmá-los para a própria constitucionalização do ordenamento
jurídico.

NA REALIDADE, COMO OS DIREITOS FUNDAMENTAIS SÃO AFIRMADOS POR UM


PODER COM DÉFICIT DE LEGITIMIDADE POPULAR, ELES DEVEM EXPRESSAR O
CONSENSO POPULAR. Porém, o consenso popular é formado por diversas concepções, as
quais são naturalmente conflitivas e antagônicas. Alexy distingue uma concepção moral
individual ou particular diante de uma concepção moral pública, afirmando que essa última
envolve uma representação comum sobre as condições justas de cooperação social em um
mundo caracterizado pelo pluralismo. Para tanto, fundando-se em Rawls123, conclui que o
conteúdo dos direitos fundamentais está no que os cidadãos racionais com concepções
pessoais distintas consideram como condições de cooperação social justas “tão importantes”
(consenso) que não podem ser deixadas nas mãos do legislador.

Ao afirmar a inadequação da lei a um direito fundamental, o juiz deve argumentar que a lei
interfere sobre o bem que foi excluído da sua esfera de disposição. Não se trata simplesmente
de opor o direito fundamental à lei, mas sim de demonstrar, mediante adequada
argumentação, que a lei se choca com o direito fundamental. Portanto, A AFIRMAÇÃO DO
DIREITO FUNDAMENTAL DIANTE DA LEI DEVE SIGNIFICAR OPOSIÇÃO ENTRE UMA
ARGUMENTAÇÃO JURISDICIONAL EM PROL DA SOCIEDADE E A DECISÃO TOMADA
PELO LEGISLATIVO. TRATA-SE, COMO DIZ ALEXY, DE UMA REPRESENTAÇÃO

123
Segundo Rawls, as concepções individuais racionais, ainda que opostas, podem permitir um
consenso. Para explicar a sua idéia, diz Rawls que deve haver um consenso sobreposto (overlapping
consensus), o qual seria a única forma de alcançar uma concepção pública de justiça em uma sociedade
pluralista (RAWLS, John. A theory of justice.Cambridge: Harvard University Press, 1971, p. 132 e ss.).
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ARGUMENTATIVA A CARGO DA JURISDIÇÃO EM FACE DE


UMA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA CONCRETIZADA NA LEI

Mas a compreensão da existência destas duas formas de representação não resolve o


SE A JURISDIÇÃO DETÉM A REPRESENTAÇÃO ARGUMENTATIVA
problema.
EM BENEFÍCIO DA SOCIEDADE E EM DEFESA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS, MAS A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA ESTÁ
CONSUBSTANCIADA NA LEI, É NECESSÁRIO QUE A REPRESENTAÇÃO
ARGUMENTATIVA SUPERE A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA.
Nessa perspectiva a democracia não se resume apenas a um processo de decisão marcado
pela existência de eleições periódicas e pela regra da maioria. Um conceito adequado de
democracia deve envolver não somente decisão, mas também discussão. A
INCLUSÃO DA
DISCUSSÃO NO CONCEITO DE DEMOCRACIA TORNA A DEMOCRACIA
DELIBERATIVA. Trata-se de uma tentativa de institucionalizar o discurso tanto quanto
possível como um instrumento para a produção de decisões públicas. Essa dimensão
discursiva da democracia é exercida pela representação argumentativa, e é nela que se
situam as bases da convivência política legítima. O controle judicial de constitucionalidade da
lei se justifica quando os juízes demonstram publicamente que seus julgamentos estão
amparados em argumentos que são reconhecidos como bons argumentos, ou, ao menos,
como argumentos plausíveis, por todas aquelas pessoas racionais que aceitam a Constituição
(razão pública).

21.7.2.2. O Precedente na Dimensão da Segurança Jurídica124


A segurança jurídica, vista como estabilidade e continuidade da ordem jurídica e
previsibilidade das consequências jurídicas de determinada conduta, é indispensável para a
conformação de um Estado que pretenda ser “Estado de Direito”. A doutrina considera a
segurança jurídica como expressão do Estado de Direito, conferindo àquela a condição de
subprincípio concretizador do princípio fundamental e estruturante do Estado de Direito.

O cidadão precisa ter segurança de que o Estado e os terceiros se comportarão de acordo com
o direito e de que os órgãos incumbidos de aplicá-lo o farão valer quando desrespeitado. Por
outro lado, a segurança jurídica também importa para que o cidadão possa definir o seu
próprio comportamento e as suas ações.

Para que o cidadão possa esperar um comportamento ou se postar de determinado modo, é


necessário que haja univocidade na qualificação das situações jurídicas, garantindo-se-lhe
previsibilidade em relação às consequências de suas ações. Porém, COMO A
PREVISIBILIDADE NÃO DESCURA DA CIRCUNSTÂNCIA DE QUE A NORMA DEVE SER
INTERPRETADA, TORNOU-SE NECESSÁRIO TOCAR NA QUESTÃO DA INTERPRETAÇÃO
JURÍDICA, DAÍ TENDO NATURALMENTE SURGIDO A PREOCUPAÇÃO COM A EFETIVIDADE DO

124
Extraído de artigo homônimo escrito pelo Luiz Guilherme Marinoni.
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538

SISTEMA JURÍDICO EM SUA DIMENSÃO DE CAPACIDADE DE PERMITIR A PREVISIBILIDADE,


NA MEDIDA EM QUE O CONHECIMENTO DA NORMA E A UNIFORMIDADE DA
INTERPRETAÇÃO DE NADA ADIANTARIAM CASO O JURISDICIONADO NÃO PUDESSE CONTAR
COM DECISÕES PREVISÍVEIS.

Ora, SE A PREVISIBILIDADE NÃO DEPENDE DA NORMA EM QUE A AÇÃO SE FUNDA, MAS DA


SUA INTERPRETAÇÃO JUDICIAL, É EVIDENTE QUE A SEGURANÇA JURÍDICA ESTÁ LIGADA À
DECISÃO JUDICIAL E NÃO À NORMA JURÍDICA EM ABSTRATO. Não é por outra razão que
Massimo Corsale concluiu que, para que se possa realizar a certeza da ação através do direito,
o que conta, em última análise, não é tanto a fórmula escrita no código, a norma abstrata, mas
a dita norma individual, a concretização da regra no caso específico. Da mesma forma, porque
a inteligência de uma norma pode ser controvertida, é claro que a norma em abstrato não é
suficiente para que o cidadão possa prever o comportamento dos terceiros que com ele
podem se deparar.

CURIOSO É QUE O DIREITO LEGISLADO, AO CONTRÁRIO DE CONSTITUIR


UM PRESSUPOSTO, REPRESENTA UM OBSTÁCULO PARA A SEGURANÇA
JURÍDICA. ISSO SE DÁ NÃO APENAS EM RAZÃO DA HIPERINFLAÇÃO
LEGISLATIVA OU EM VIRTUDE DE SER IMPOSSÍVEL O PLENO
CONHECIMENTO DAS REGRAS LEGAIS, MAS SUBSTANCIALMENTE
PORQUE O SISTEMA DE DIREITO LEGISLADO NÃO LIGA A
PREVISIBILIDADE E A CONFIANÇA A QUEM DEFINE O QUE É O DIREITO.
Um ordenamento inidôneo a viabilizar a previsibilidade não pode ser qualificado de jurídico. A
ideia de “certeza do direito” visivelmente representa um componente indispensável da
essência do próprio direito.

O sistema jurídico brasileiro, em tal dimensão, afigura-se completamente privado de


efetividade, pois indubitavelmente não é capaz de permitir previsões e qualificações jurídicas
unívocas. Há alguma preocupação, na ordem jurídica brasileira, com a previsibilidade. Neste
sentido, podem ser citadas as normas constitucionais que prevêem as funções do Superior
Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, respectivamente, de uniformizar a
interpretação da lei federal e de “afirmar” o sentido das normas constitucionais. Deixando-se
de lado a questão relacionada ao Supremo, torna-se estarrecedor perceber que a própria
missão de garantir a unidade do direito federal, atribuída e imposta pela Constituição ao
Superior Tribunal de Justiça, é completamente desconsiderada na prática jurisprudencial
brasileira.

As decisões do Superior Tribunal de Justiça não são respeitadas nem no âmbito interno da
Corte. As Turmas não guardam respeito pelas decisões das Seções e, o que é pior, entendem-
se livres para decidir casos iguais de forma desigual. Resultado disso, como não poderia ser
diferente, é o completo descaso dos juízes de primeiro grau de jurisdição e dos Tribunais
Estaduais e Regionais Federais em relação às decisões tomadas pelo Superior Tribunal de
Justiça. Isso configura um atentado contra a essência do direito e contra a efetividade do
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sistema jurídico. Como é óbvio, também porque a segurança jurídica é direito fundamental e
subprincípio concretizador do princípio do Estado de Direito, tais decisões não podem ser
ignoradas, admitindo-se a sua fácil e constante alteração no âmbito da Corte e permitindo-se
que os juízes de primeiro grau e tribunais ordinários possam livremente delas discordar ou
sequer considerá-las.

É preciso que a ordem jurídica, e assim a lei e as decisões judiciais, tenham estabilidade. A
ordem jurídica deve ter um mínimo de continuidade, até mesmo para que o Estado de
Direito não seja um Estado provisório, incapaz de se impor enquanto ordem jurídica dotada
de eficácia e potencialidade de se impor aos cidadãos.

Pouco adiantaria ter legislação estável e, ao mesmo tempo, frenética alternância das decisões
judiciais. Para dizer o mínimo, AS DECISÕES JUDICIAIS DEVEM TER ESTABILIDADE PORQUE
CONSTITUEM ATOS DE PODER. Ora, os atos de poder geram responsabilidade àquele que os
instituiu. Assim, as decisões não podem ser livremente desconsideradas pelo próprio Poder
Judiciário.

Não há como ter estabilidade quando os juízes e tribunais ordinários não se vêem como peças
de um sistema, mas se enxergam como entes dotados de autonomia para decidir o que bem
quiserem.

21.7.3. Jurisprudência como Fonte de Direito


Tem restado cada vez mais indiscutível que a jurisprudência é fonte de direito. Didier afirma
que a função criativa da jurisdição, a qual refuta a visão de que o magistrado seria um mero
subsuntor da norma ao caso concreto, é uma prova inequívoca da fonte dos precedentes.

A atividade criativa também se mostraria presente nos casos em que o magistrado se depara
com conceitos vagos, atualmente bastante comuns.

Para Lenio Streck, é induvidoso que a jurisprudência no Brasil se constitui, além de fonte de
normas jurídicas gerais, em uma fonte subsidiária de informação e alimentação ao sistema de
produção de normas jurídicas. Isso pode ser comprovado pela própria análise da nova lei do
MS, que incorporou ao seu texto enunciados de súmulas dos tribunais.

21.7.4. Holding, Ratio Decidendi e Obiter Dictum (ou Dictum)


Entende-se por holding “a norma, extraída do caso concreto, que vincula os tribunais
inferiores; o princípio jurídico que o tribunal estabeleceu para decidir; a regra necessária para
solução do caso.”

O holding é composto por duas partes essenciais: a ratio decidendi e a obiter dicta, as quais
constituem, respectivamente, a razão principal do julgamento e os argumentos externos ao
fundamento principal, sendo que apenas o fundamento da ratio decidendi vincula os
julgamentos posteriores.

Assim, os precedentes possuem duas partes distintas:

a) As circunstâncias de fato que embasaram a decisão;

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b) A tese ou princípio jurídico assentado na motivação.

Essa última parte é a ratio decidendi: fundamentos jurídicos que sustentam a decisão, opção
hermenêutica adotada na sentença, sem a qual a decisão não teria sido proferida como foi. É a
tese jurídica necessária adotada pelo julgador no caso concreto.

Já o obiter dictum ou simplesmente dictum consiste nos argumentos que são expostos apenas
de passagem na motivação da decisão, consubstanciando juízos acessórios, provisórios,
secundários, impressões ou qualquer outro elemento que não tenha influência relevante e
substancial para a decisão. É apenas algo que se faz constar na decisão, não podendo ser
utilizado com força vinculativa por não ter sido determinante para a decisão.

Pode ocorrer de a fundamentação se basear em vários motivos. A doutrina defende que todos
eles devem ter força vinculante, não podendo o julgador se valer de apenas um ou alguns para
fundamentar seu julgado e relegar aos demais a condição de um simples dictum.
Ratio Decidendi Tese jurídica adotada, fundamentos da decisão
Obiter Dictum Elementos não relevantes para a decisão

A separação do argumento principal (ratio) dos argumentos periféricos (dicta) constitui


questão de relativa complexidade, uma vez que é intrínseca à subjetividade do juiz, não
importando em qual posição diante da aplicação do precedente este se encontre.

Há, na prática norteamericana, dois principais métodos para se saber o que é ratio decidendi e
obter dictum:

a) Teste de Wambaugh: este método consiste em separar aquilo que se considerou como
principal proposição jurídica do precedente (suposta ratio decidendi), e inserir uma
palavra que inverta o seu significado. Se, mesmo com essa inversão, o resultado do
julgamento permanecer o mesmo, a proposição isolada não constituía proposição
principal, devendo ser descartada como ratio. Entretanto, se tal inversão operar
também a modificação do resultado do julgamento, então teremos a razão principal,
sem a qual o caso seria decidido em outro sentido.

b) Método do Dr. Goodhart: o método do Dr. Goodhart, por sua vez, implica em isolar no
julgado precedente os fatos considerados pelo juiz prolator como materialmente
relevantes e o que foi decidido em relação a eles. Não há relevância, portanto, em se
identificar as opiniões do juiz, a regra de direito aplicada ao caso ou as considerações
feitas sobre os demais casos: a ratio decidendi é definida pela forma como o julgador
tratou os fatos materialmente relevantes.

21.7.5. A Dinâmica do Precedente

21.7.5.1. Introdução
O uso do precedente é uma técnica. Assim, somente é possível aprendê-lo na prática. O que se
pode fazer doutrinariamente é indicar conceitos e pontos de partida.

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21.7.5.2. Técnicas de Confronto e Aplicação do Precedente. O Distinguishing e a Decisão Per


Incuriam
Nos casos em que o juiz está vinculado a precedentes, sua primeira atitude é verificar se o caso
em julgamento guarda alguma semelhança com o precedente. Para tanto, deve comparar os
elementos do caso concreto com os elementos caracterizadores das demandas anteriores, que
formaram o precedente (logo, primeiro é necessário o confronto fático entre os casos).

Se houver aproximação, passará a analisar a ratio decidendi firmada no precedente.

Fala-se em distinguishing quando houver distinção entre o caso concreto em julgamento e o


paradigma, seja porque não há coincidência entre os fatos fundamentais discutidos e aqueles
que serviam de base à ratio decidendi constante no precedente, seja porque, a despeito de
existir uma aproximação entre eles, alguma peculiaridade no caso em julgamento afasta a
aplicação do precedente.

ASSIM, DISTINGUISHING É UM MÉTODO DE CONFRONTO PELO QUAL O JUIZ


VERIFICA SE O CASO EM JULGAMENTO PODE OU NÃO SER CONSIDERADO ANÁLOGO
AO PARADIGMA.

Veja hipótese de aplicação do distinguishing:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. MEDICAMENTO. FORNECIMENTO.


TUTELA IRREVERSÍVEL ANTECIPADA. EXCEÇÃO. DIREITO DE RECOMPOSIÇÃO
DO PATRIMÔNIO. NATUREZA DO BEM JURÍDICO TUTELADO. PROIBIÇÃO DO
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. 1. Hipótese em que, após a antecipação da
tutela de forma irreversível (fornecimento de medicamentos pelo Estado),
concluiu-se ser desnecessário o provimento de urgência. Contudo, não se
reconheceu o direito da parte lesada de pleitear a recomposição de seu
patrimônio indevidamente desfalcado, sob o argumento de que o bem
jurídico tutelado (verba destinada a tratamento de saúde) possui natureza
alimentar. 2. Distinguishing: inaplicabilidade do entendimento consagrado
nas ações previdenciárias que versam sobre a irrepetibilidade do benefício
pago a maior pelo Estado por ausência de similitude fática, com absoluta
distinção de pressupostos concessivos. 3. De modo geral, constatado o
perigo da irreversibilidade da tutela, ela não será concedida (art. 273, § 3º,
do CPC). 4. Em casos excepcionais e devidamente justificados, pode o
Judiciário deferir a medida de urgência, independentemente de sua
reversibilidade. Precedentes do STJ. 5. A natureza do bem jurídico, tutelado
por antecipação, ou sua irreversibilidade não impedem, por si sós, que a
parte lesada em seu patrimônio possa pleitear a restituição. Aplicação da
regra neminem laedere (a ninguém prejudicar) e da vedação ao
enriquecimento sem causa. 6. O caráter de excepcionalidade da medida de
urgência deve orientar a prestação jurisdicional nos casos em que sua
concessão não mais se justifica, sob pena de beneficiar poucas pessoas em
detrimento de muitas. Se o magistrado antecipa a tutela de forma
injustificada, não pode permitir que uma decisão de caráter precário –
posteriormente considerada indevida ou injusta – prevaleça sobre
interesses mais abrangentes do que o individual do jurisdicionado, sob pena
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de conferir verdadeiro salvo-conduto para as lides temerárias. 7. Recurso


Especial provido para reconhecer o direito do Estado de pleitear a
restituição in integrum dos valores despendidos a título de antecipação de
tutela.

(STJ, RESP 200801695491, HERMAN BENJAMIN, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE


DATA:24/09/2010.)

Notando o juiz que há distinção entre o caso sub judice e aquele que ensejou o precedente,
pode seguir os seguintes caminhos:

a) Dar à ratio decidendi uma interpretação restritiva, por entender que peculiaridades do
caso concreto impedem a aplicação da mesma tese jurídica outrora firmada (restrictive
distinguishing);

b) Estender ao caso a mesma solução conferida aos casos anteriores, por entender que, a
despeito das peculiaridades concretas, aquela tese jurídica é aplicável.

Se, feita a comparação, o magistrado perceber que a questão está sendo enfrentada pela
primeira vez tem-se então um hard case, cujo mérito deve ser enfrentado diferentemente da
utilização, como fundamento, de precedentes judiciais.

MANDADO DE SEGURANÇA. UTILIZAÇÃO COMO VEÍCULO ACAUTELATÓRIO.


SITUAÇÃO DE URGÊNCIA. VIABILIDADE. CONFLITO DE PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS. SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO VERSUS
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. PONDERAÇÃO DE VALORES. SOLUÇÃO QUE
LEVA EM CONTA A PROPORCIONALIDADE . ORDEM PARCIALMENTE
CONCEDIDA. 1) Deflagrou-se, em Fortaleza-CE, uma persecução criminal
contra várias pessoas; no bojo das tais investigações, foram apreendidos
bens pertencentes a uma empresa - Nossa Casa Comércio e Importação
LTDA (Collection), ora impetrante - por meio da qual, dizem as autoridades
envolvidas (fls. 897), teriam sido cometidos diversos crimes, notadamente o
de descaminho, haja vista a importação de material "de alto valor agregado"
sem o correspondente pagamento de tributos; fala-se, igualmente, que, de
tão vultoso o acervo acautelado, as diligências ainda não teriam sido
concluídas (nada obstante o envolvimento, na apuração, de um contingente
significativo de agentes fazendários e de policiais federais); 2) É fato que
existe, também, na primeira instância, deflagrado e em plena tramitação,
um incidente de restituição de coisas apreendidas (autuado sob nº
2009.81.00.004198); são, as mencionadas 'coisas', as "referentes aos
cheques pré-datados e mercadorias apreendidas" (fls. 899); 3) Alega-se - e é
totalmente crível -- que, a permanecer uma sócia como depositária de todos
os bens da empresa, então o empreendimento quedará condenado à
falência (típico padecimento por inanição financeira), posto que, em tal
condição, ela decai do status de proprietária/possuidora do estoque para o
de simples detentora, donde a privação (já experimentada) dos poderes
necessários à prática dos atos de comércio; 4) Daí já se vê, de um lado, que
o uso do mandado de segurança se justifica; diz-se, quando não por outro
motivo, ao menos porque lhe negar o conhecimento poderia significar ---
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543

dada a urgência que permeia todo o imbróglio --- a negativa da própria


jurisdição, o que o Texto Maior repugna (Art. 5º, XXXV); mais que isso,
registra-se que não se fará, na sede presente, a separação de mercadorias
(as nacionais; as importadas validamente; as importadas
'desencaminhadamente'), porque a medida é impossível na esqualidez
procedimental própria do writ; com isso, rechaça-se a tentação de não
divisar liquidez e certeza que permitisse atuação segura do Regional, o qual,
deste modo, também não suprimirá a cognição planicial; 5) Uma das
grandes questões de justiça (senão a maior) é a da solução dos chamados
casos difíceis (os "hard cases"), aqueles nos quais são contrapostos
direitos subjetivamente importantes, mas de algum modo excludentes
entre si; não raro, eleger um significa preterir outro, e vice-versa; e tais
composições restam ainda mais complexas quando a fase processual é -
como sucede aqui, no instante presente - demasiadamente embrionária; a
solução, quase sempre, passa pela densificação dos princípios
constitucionais, valorados de um lado para outro à cata de saída, a um só
tempo, legal, razoável e proporcional, capaz de, respeitando a supremacia
do interesse público sobre o privado (própria da apuração inquisitorial em
que a medida ora combatida foi adotada), não solapar os direitos e
garantias fundamentais; 6) Assim, por meio de analogia autorizada (feita a
partir da Lei nº 5010/66, Art. 15), define-se a) a ANULAÇÃO da condição de
depositária, que foi atribuída à sócia relativamente a todo o estoque de
bens, de modo que esta pode voltar a realizar o comércio; b) MANTEM-SE,
nada obstante, a noticiada apreensão de outros bens (livros comerciais,
computadores etc.), posto que necessários à apuração dos fatos e ao
correto descortino judicial da causa; e c) FACULTA-SE, outrossim, às
autoridades envolvidas na persecução criminal, e dentro do prazo de 15
(quinze) dias, a realização da arrecadação de todos os bens (mercadorias)
pertencentes à autora que tenham sido pretensamente desencaminhados,
os quais - separada e isoladamente - devem merecer o tratamento
processual adequado (que, em juízo criminal, é a sujeição ao incidente de
restituição de coisas apreendidas [com todos os seus desdobramentos
recursais]; em atuação administrativa, quiçá uma autuação fiscal até o
possível perdimento); 7) Ordem parcialmente concedida, nos exatos termos
da liminar já deferida nesta relação processual.

(TRF1, MS 200905000658709, Desembargador Federal Paulo Roberto de


Oliveira Lima, TRF5 - Terceira Turma, DJE - Data::29/09/2009 - Página::180 -
Nº::20.)

Para se valer do distinguishing, o magistrado tem que utilizar forte argumentação racional que
demonstre como o caso sob julgamento se diferencia das situações contempladas nos
precedentes.

A decisão per incuriam é aquela na qual o magistrado ignora um precedente obrigatório ou


uma lei relacionada ao caso quando julga a lide.

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544

21.7.5.3. Técnicas de Superação do Precedente. O Overrruling e o Overriding


Overruling é a técnica através da qual um precedente perde a sua força vinculante e é
substituído (overruled) por um outro precedente. O próprio tribunal que firmou o precedente
pode abandoná-lo no futuro, caracterizando o overruling. Assemelha-se à revogação de uma
lei por outra. Essa substituição pode ser:

a) Expressa (express overruling): quando expressamente o tribunal resolve abandonar a


posição anterior;

b) Tácita (implied overruling): quando uma orientação é adotada em confronto com


posição anterior, embora sem expressa substituição dessa última.

A decisão que implicar no overruling exige como pressuposto uma carga de motivação maior,
que traga argumentos até então não suscitados e a justificação complementar da necessidade
de superação do precedente.

É possível que à substituição se dê eficácia ex tunc (retrospective overruling), caso em que o


precedente substituído não poderá ser invocado nem mesmo quanto a fatos anteriores à
substituição, que ainda estejam pendentes de análise e julgamento pelos tribunais. Ou seja, as
decisões do common law são normalmente retroativas, no sentido de que a nova regra,
estabelecida para o caso sob julgamento, é aplicável às situações que ocorreram antes da
decisão que a fixou, bem como a todos aquelas que lhes são similares e, assim, estão expostas
à mesma ratio decidendi.

O STF constantemente (até constante por demais, gerando insegurança jurídica) faz isso em
relação às suas orientações jurisprudenciais.

Há ainda a substituição com feitos ex nunc (prospective overruling), quando a ratio decidendi
do precedente substituído permanece válida e vinculante para os fatos ocorridos e para os
processos instaurados antes da substituição (dá maior segurança jurídica, sacrificando, por
outro lado, a justiça por desigualar os provimentos jurisdicionais. Seria o caso da tese dos 5 + 5
adotada pelo STJ, mas destruída pelo STF)125.

125
Há aí, antes de tudo, plena consciência de que a retroatividade de uma decisão que substitui
precedente que, por certo período de tempo, pautou e orientou a conduta dos jurisdicionados, é tão
injusta quanto a perpetuação do precedente judicialmente declarado injusto. Mas, para que a não-
retroatividade se justifique, exige-se que a credibilidade do precedente não tenha sido abalada, de
modo a não tornar previsível a sua revogação. Caso a doutrina e os tribunais já tenham advertido para
o equívoco do precedente ou apontado para a sua conveniente ou provável revogação, não há
confiança justificável ou confiança capaz de fazer acreditar que os jurisdicionados tenham,
legitimamente, traçado os seus comportamentos e atividades de acordo com o precedente. De modo
que, para que o overruling não tenha efeitos retroativos, as situações e relações antes estabelecidas
devem ter se fundado em uma confiança qualificada, que pode ser dita uma “confiança justificável”.
O prospective overruling pode gerar resultados ou decisões inconsistentes, especialmente quando se
está diante do overruling cujos efeitos apenas podem ser produzidos a partir de certa data ou do
overruling cujos efeitos retroativos incidem apenas sobre determinado caso.
Note-se que, na primeira hipótese, como o overruling tem efeitos somente a partir de certa data, as
situações e relações que se formam depois da decisão são tratadas de modo diverso, conforme tenham
se estabelecido antes ou depois da data prevista na decisão, ainda que esta tenha declarado a
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Há também a selective prospective overruling, hipótese em que o precedente firmado já se


aplica ao próprio caso sob análise da Corte.

Por fim, tem-se a antecipatory overruling, espécie de revogação preventiva, por órgãos
inferiores, do precedente firmado pela Corte superior, nos casos em que esta última, embora
sem fazê-lo expressamente altera o seu posicionamento quanto a precedente outrora firmado.

quando o tribunal apenas LIMITA O ÂMBITO DE


Já o overriding ocorre
INCIDÊNCIA DE UM PRECEDENTE, em função da SUPERVENIÊNCIA de
uma regra ou princípio legal. Assim, não há superação total do precedente, apenas
parcial.

Overruling não se confunde com reversal: esse é apenas a revisão pelo Tribunal da decisão
proferida pelo órgão a quo, reformando o entendimento deste.

Todos esses mecanismos, segundo Cruz e Tucci, estão a evidenciar que a força do precedente
ainda NÃO IMPEDE QUE UMA DETERMINADA TESE DOMINANTE, ANTES SEDIMENTADA,
POSSA SER SUPERADA, PASSANDO-SE A UM NOVO PROCESSO DE NORMATIZAÇÃO
PRETORIANA. A mutação progressiva de paradigmas de interpretação de um determinado
episódio de vida, dotado de relevância jurídica, sempre veio imposta pela historicidade da
realidade social, constituindo mesmo uma exigência de justiça.

O ordenamento brasileiro prevê técnicas de superação dos precedentes, como no caso da


revisão de súmula vinculante prevista no art. 103-A, § 2º. Ademais, o próprio STF pode
modificar seu posicionamento em decisões tomadas em sede de ADI.

Retrospective Overruling (ex tunc)


Express Overruling
Overruling Prospective Overruling (ex nunc)
Implied Overruling
Antecipatory Overruling (órgãos inferiores)

Overriding

ilegitimidade do precedente. De outro lado, a admissão da retroatividade em relação apenas a um caso


ou somente ao caso sob julgamento, faz com que todos os outros casos passados sejam tratados à luz
do precedente, embora se declare que este não mais tem autoridade. Tais situações permitem o
surgimento de resultados inconsistentes.
Quando se posterga a produção de efeitos da nova regra, não se admitindo que produza efeitos para o
caso analisado, fala-se em “prospective prospective overruling”. Ademais, alude-se a “pure prospective
overruling” para demonstrar o que ocorre quando a Corte não aceita que a nova regra regule o próprio
caso sob julgamento, restando a terminologia “prospective overruling” para anunciar a mera
irretroatividade da nova regra às situações anteriores à data da decisão. Esta técnica foi utilizada na ADI
4.029/DF, que declarou inconstitucional a forma de criação do Instituto Chico Mendes (aprovação da
MP pelo relator da Comissão no Congresso, e não pela Comissão como manda a CR/88), mas
determinando a sua aplicação somente para as medidas provisórias em trâmite e que viessem a ser
editadas, com expressa exclusão do caso concreto. A pure prospective overruling se contrapão ao
selective prospective overruling.
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21.7.6. Alteração do Precedente e Eficácia Retroativa


Didier defende que a alteração dos precedentes não deve ter eficácia retroativa. Isso porque
geraria grave insegurança jurídica e instabilidade social às relações estabelecidas, que são
firmadas na vigência de determinado e fixado entendimento jurisprudencial.

Foi por isso que, ao menos no processo de controle objetivo de constitucionalidade, se deu ao
STF o poder de modular suas decisões.

Porém, A REGRA GERAL NOS TRIBUNAIS É QUE OS PRECEDENTES SE APLIQUEM A


TODOS OS CASOS EM CURSO, MESMO SE HOUVER ALTERAÇÃO DO ENTENDIMENTO
JURISPRUDENCIAL POUCO ANTES DA PROLAÇÃO DA SENTENÇA.

Há que se lembrar, mais uma vez, que no Brasil ainda vige o princípio do livre convencimento
motivado: não se pode pretender, ainda, que aqui haja a mesma força do precedente
observada em países anglo-saxões. Os juízes ainda têm liberdade para decidir.

O que realmente vincula, por enquanto, são somente as súmulas vinculantes e as decisões
derivadas do controle objetivo de constitucionalidade.

21.7.7. As Súmulas Não Vinculantes dos Tribunais – Reclamação nelas Fundada


Torna-se imperioso referir, por oportuno, que a mera invocação de enunciado sumular do STF,
quando desvestido de efeito vinculante, não se qualifica como fundamento juridicamente
idôneo e processualmente apto a viabilizar a adequada utilização do instrumento
constitucional da reclamação (Rcl 6.165-MC/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).

Cumpre destacar, no ponto, a natureza jurídica de que se reveste, em seu perfil ordinário ou
comum, a súmula da jurisprudência predominante do Supremo Tribunal Federal (o que
também se aplica aos demais Tribunais), valendo relembrar, quanto a tal aspecto, decisão
emanada da colenda Primeira Turma desta Corte:

“A SÚMULA DA JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE DO SUPREMO TRIBUNAL.

- A Súmula - enquanto instrumento formal de enunciação da jurisprudência


consolidada e predominante de uma Corte judiciária - constitui mera
proposição jurídica, destituída de caráter prescritivo, que não vincula, por
ausência de eficácia subordinante, a atuação jurisdicional dos magistrados
e Tribunais inferiores. A Súmula, em consequência, não se identifica com
atos estatais revestidos de densidade normativa, não se revelando apta, por
isso mesmo, a gerar o denominado ‘binding effect’, ao contrário do que se
registra, no sistema da ‘Common Law’, por efeito do princípio do ‘stare
decisis et non quieta movere’, que confere força vinculante ao precedente
judicial.

- A Súmula, embora refletindo a consagração jurisprudencial de uma dada


interpretação normativa, não constitui, ela própria, norma de decisão, mas,
isso sim, decisão sobre normas, na medida em que exprime - no conteúdo
de sua formulação - o resultado de pronunciamentos jurisdicionais

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reiterados sobre o sentido, o significado e a aplicabilidade das regras


jurídicas editadas pelo Estado.

- A formulação sumular, que não se qualifica como ‘pauta vinculante de


julgamento’, há de ser entendida, consideradas as múltiplas funções que lhe
são inerentes - função de estabilidade do sistema, função de segurança
jurídica, função de orientação jurisprudencial, função de simplificação da
atividade processual e função de previsibilidade decisória,v.g. (RDA
78/453-459 - RDA 145/1-20) –, como resultado paradigmático a ser
autonomamente observado, sem caráter impositivo, pelos magistrados e
demais Tribunais judiciários, nas decisões que venham a proferir.”

(STF, AI 179.560-AgR/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

Esse entendimento que venho de mencionar nada mais reflete senão a advertência do
Supremo Tribunal Federal de que “(...) Súmula é cristalização de jurisprudência”, não
constituindo, por isso mesmo, ela própria, uma “norma jurídica” (RE 116.116/MG, Rel. Min.
MOREIRA ALVES).

Nesse contexto, mostra-se necessário acentuar que a Súmula, em seu perfil ordinário, ainda
que se possa considerar inexistente qualquer “distinção ontológica” entre ela e aquela de
caráter vinculante (LUIZ GUILHERME MARINONI, “Precedentes Obrigatórios”, 2010, RT), não
realiza as funções específicas da norma. A formulação sumular, embora refletindo precedente
jurisprudencial, não se reveste de caráter impositivo, prescritivo, permissivo, autorizativo ou
derrogatório de condutas individuais ou sociais.

A Súmula de jurisprudência, portanto, quando desprovida de eficácia vinculante, encerra mero


conteúdo descritivo. Ao ostentar essa condição, torna-se lícito asseverar que lhe falece a nota
da multidimensionalidade funcional que tipifica, sob os atributos da imposição, da permissão,
da autorização e da derrogação, as funções específicas da norma jurídica.

Daí a advertência da doutrina, segundo a qual o direito proclamado pelas formulações


jurisprudenciais tem valor meramente persuasivo, “(...) maior ou menor, na medida do
prestígio jurídico de que desfrutem os juízes ou Tribunais de onde ele procede” (RUBEM
NOGUEIRA, “Desempenho normativo da jurisprudência do STF”, “in” RT 448/24).

A interpretação jurisprudencial consubstanciada no enunciado sumular, ressalvada a hipótese


excepcional a que alude o art. 103-A da Lei Fundamental, constitui, em nosso sistema jurídico -
que se ajusta, em sua linhagem histórica, ao sistema de direito estatutário - precedente de
valor meramente relativo, despojado, não obstante a estatalidade de que se reveste, da força
vinculante e da autoridade subordinante da lei, tal como acentua o magistério doutrinário
(JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA, “O Novo Processo Civil Brasileiro”, p. 245; VICENTE GRECO
FILHO, “Direito Processual Civil Brasileiro”, vol. 2/322; HUMBERTO THEODORO JÚNIOR,
“Processo de Conhecimento”, vol. II/751; ERNANE FIDELIS DOS SANTOS, “Manual de Direito
Processual Civil”, vol. 2/280 e ROBERTO ROSAS e PAULO CEZAR ARAGÃO, “Comentários ao
Código de Processo Civil”, vol. V/70, v.g.).

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Cumpre enfatizar, neste ponto, a autorizada advertência de JOSÉ FREDERICO MARQUES


(“Manual de Direito Processo Civil”, vol. 3/206) - que recebeu, em seu magistério, a prestigiosa
adesão de JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA (“Comentários ao Código de Processo Civil”, vol.
V/38-39) - no sentido de que os precedentes e as súmulas, porque desprovidos do conteúdo
eficacial pertinente ao ato legislativo (exceção feita à súmula vinculante), “(...) não passam
de indicações úteis para uniformizar-se a jurisprudência, a que, entretanto, juízes e Tribunais
não se encontram presos”, eis que - consoante acentua o Mestre paulista – “VINCULAÇÃO
DESSA ORDEM, SÓ A CONSTITUIÇÃO PODERIA CRIAR”.

Sabemos que a Súmula - idealizada e concebida, entre nós, pelo saudoso Ministro VICTOR
NUNES LEAL (“Passado e Futuro da Súmula do STF”, “in” RDA 145/1-20) - desempenha, na
lição desse eminente Magistrado, enquanto método de trabalho e ato provido de eficácia
“interna corporis”, várias e significativas funções, pois:

a) Confere maior estabilidade à jurisprudência predominante nos Tribunais;

b) Atua como instrumento de referência oficial aos precedentes jurisprudenciais nela


compendiados;

c) Acelera o julgamento das causas;

d) Evita julgados contraditórios.

A Súmula, contudo (excetuada aquela de perfil vinculante), ao contrário das notas que
tipificam o ato normativo, não se reveste de compulsoriedade na sua observância externa e de
cogência na sua observância externa e de cogência na sua aplicação por terceiros. A Súmula,
na realidade, CONFIGURA MERO INSTRUMENTO FORMAL DE EXTERIORIZAÇÃO
INTERPRETATIVA DE UMA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL.

A Súmula, portanto, tendo em vista a tese jurisprudencial não vinculante que nela se acha
consagrada, encerra, apenas, um resultado paradigmático para decisões futuras.

A jurisprudência compendiada na formulação sumular, desse modo, não se reveste de


expressão normativa, muito embora traduza, a partir da experiência jurídica motivada pela
atuação jurisdicional do Estado, o significado da norma de direito positivo, tal como ela é
compreendida e constatada pela atividade cognitiva e interpretativa dos Tribunais.

Em uma palavra: a Súmula não é, em nosso sistema de direito positivo - e para utilizar uma
significativa expressão de KARL LARENZ - uma pauta vinculante de julgamento, ressalvada,
por óbvio, a possibilidade – agora legitimada pela EC nº 45/2004 – de formulação de súmulas
impregnadas de efeito vinculante.

Sendo assim - e diversamente do que ocorria com os “Arrêts de Règlement” dos órgãos
judiciários franceses, de que emanavam as “Lois Provisionelles” no sistema anterior ao da
Revolução de 1789, e com os “Assentos” da Casa de Suplicação, que dispunham de força de lei
e de consequente eficácia vinculante -, a Súmula configura, ordinariamente, modelo de

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conteúdo descritivo, qualificável como fonte de conhecimento - e não de produção - do


Direito, a partir da interpretação jurisprudencial das normas jurídicas nela consubstanciada.

Cumpre relembrar, por isso mesmo, a lição de KARL LARENZ (“Metodologia da Ciência do
Direito”, p. 499, item n. 4, 2ª ed., 1978, Fundação Calouste Gulbenkian) sobre o valor e o
significado do direito revelado pela interpretação dos Tribunais:

“Quem quiser conhecer o Direito tal como é realmente aplicado e ‘vive’, não
pode contentar-se com as normas, tem de inquirir do entendimento que
lhes é dado pela jurisprudência. Os precedentes são, pois, uma fonte de
conhecimento do Direito. Não, porém, uma fonte de normas jurídicas
imediatamente vinculativas (...).” (grifei)

Concluindo: a formulação sumular de perfil ordinário, que não se qualifica como “pauta
vinculante de julgamento” (despojada, portanto, da eficácia vinculante que lhe é excepcional,
considerado o que dispõe o art. 103-A da Carta Magna), há de ser entendida, em face das
múltiplas funções que lhe são inerentes - função de estabilidade do sistema, função de
segurança jurídica, função de orientação jurisprudencial, função de simplificação da atividade
processual e função de previsibilidade decisória, v.g. (RDA 78/453-459 – RDA 145/1-20) –,
como mero resultado paradigmático a ser autonomamente observado, sem caráter impositivo,
pelos magistrados e demais Tribunais judiciários, nas decisões que venham a proferir.

É por essas razões que não se adquire relevo, para fins de acesso ao instrumento da
reclamação, a invocação de enunciado sumular (como aquele inscrito na Súmula 627/STF)
destituído de eficácia vinculante, tal como adverte a jurisprudência desta Suprema Corte, que
considera inadmissível, presente referida circunstância, a utilização da via reclamatória:

“1. A petição inicial sustenta que, ao dar provimento a agravo regimental no


agravo de instrumento nº 4.769, o Tribunal Superior Eleitoral contrariou a
Súmula 279 do STF. Requer, o reclamante, a concessão de medida liminar
para ‘tornar nula a decisão do TSE que deferiu a transferência de domicílio
eleitoral’ (fl. 10).

2. A reclamação é manifestamente incabível. Possível descumprimento de


Súmula do STF não justifica o uso da via processual escolhida como meio de
correção do ato impugnado. Além disso, inexiste decisão desta Corte
relacionada diretamente com o objeto da decisão impugnada.

3. Nos termos do art. 21, § 1º do RISTF, nego seguimento à reclamação,


restando prejudicada a liminar.”

(Rcl 3.043/RJ, Rel. Min. ELLEN GRACIE - grifei)

Desse modo, em virtude da ausência de indicação de paradigma supostamente desrespeitado


(que há de ser, necessariamente, uma decisão do Supremo Tribunal Federal), torna-se
evidente a inadmissibilidade da reclamação, cuja pertinência somente se justificaria nas
estritas hipóteses definidas no art. 102, I, “l”, da Constituição da República, conforme tem sido
assinalado pela jurisprudência desta Corte (RTJ 134/1033, Rel. Min. CELSO DE MELLO).

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21.8. Publicação, Retratação e Integração da Decisão (art. 463)


Após a publicação, não pode mais o juiz alterar a sentença. Publicar é apenas tornar a
sentença pública, conhecida pelo povo. Assim, por isso que se considera publicada na própria
audiência ou sessão o julgamento feito pelo órgão colegiado, visto que a audiência é pública.
Igualmente, quando juntada a sentença aos autos pelo juízo de primeiro grau.

Isso não significa, porém, que o prazo recursal será contado a partir da publicação. Esse
começará a correr somente a partir da intimação.

Como visto, após publicada não pode a sentença ser alterada. Entretanto, há exceções:

a) Quando o juiz constata a existência de erro material: erro material é aquele observado
na forma de expressão do julgamento, como nos cálculos, na datilografia do nome das
partes, erro pontual na remissão a dispositivo legal etc. – JAMAIS NO CONTEÚDO. A
correção de erros materiais pode ser feita até mesmo após o trânsito em julgado da
decisão.

b) Quando o juiz acolhe embargos de declaração;

c) Quando se retrata em face de recurso interposto que admite o juízo de retratação,


como no caso do indeferimento da petição inicial (arts. 296 e 285-A, § 1º, CPC).

21.9. Sentença Branca, Sentença Suicida e Sentença Vazia


Sentença branca é a que remete ao Tribunal o julgamento de questão cuja solução depende
da interpretação de um tratado internacional. Por força do princípio da indeclinabilidade da
jurisdição, o juiz deve decidir. Portanto, não existe sentença branca no Brasil.

Sentença vazia é a sentença sem fundamentação.

Já sentença suicida é sentença que o dispositivo não tem relação com a fundamentação ou
que está em contradição com ela.

21.10. Sentenças Declaratórias, Constitutivas e Condenatórias


Nas sentenças condenatórias o efeito é ex tunc, mas a retroação se faz apenas até a data em
que o devedor foi constituído em mora; via de regra, à data da citação, conforme o art. 219
do Código de Processo Civil.

Igualmente as sentenças declaratórias produzem efeito ex tunc, retroagindo o efeito


declaratório à época em que se formou a relação jurídica, ou em que se verificou a situação
jurídica declarada. Exemplo: declarado nulo o casamento, o efeito da sentença retroage à data
da celebração.

A sentença declaratória pode ser analisada sob dois ângulos. Ela pode conter uma declaração
de procedência (declaratória positiva) ou de improcedência (declaratória negativa). Tenha ela
cunho positivo ou negativo, é possível afirmar que as sentenças declaratórias gozam de efeito
ex tunc, isto é, retroagem à data em que a relação jurídica declarada se formou. Produz, assim,
um efeito declaratório.

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As sentenças constitutivas, além da declaração, criam, modificam ou extinguem uma relação


jurídica. A declaração, portanto, de existência ou inexistência de uma relação jurídica é
antecedente lógico para que se possa processar a modificação ou mesmo a extinção de uma
relação jurídica anteriormente existente para que se justifique a criação de uma nova relação
jurídica. Por esta razão, o efeito das sentenças constitutivas é normalmente ex nunc. Produz-
se para o futuro. Exemplo de provimento constitutivo (negativo) é a dissolução judicial de
sociedade empresarial, que tem efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença.

Sentença Condenatória Eficácia ex tunc


Sentença Declaratória Eficácia ex tunc
Sentença Constitutiva Eficácia ex nunc

Destaca-se a existência de doutrina contrária a tais afirmações.

Quanto à distinção entre declarar e constituir. As sentenças declaratórias e constitutivas têm


de comum a circunstância de que ambas são bastantes em si: 'satisfazem por si mesmas a
pretensão processual, sem necessidade de qualquer ato material futuro'. As sentenças
constitutivas criam estado jurídico novo. É escassa a utilidade da distinção entre essas
sentenças, mesmo porque a certeza jurídica decorrente da sentença declaratória pode ser
considerada como novo estado jurídico.

Não se diga que as sentenças declaratórias produzem efeitos ex tunc e as constitutivas, efeitos
ex nunc, porque estas podem produzir efeitos desde a data da propositura da ação, ou da
citação, da sentença, de seu trânsito em julgado, ou de qualquer outro momento previsto em
lei ou fixado pelo juiz.

21.11. Juros de Mora nas Sentenças

21.11.1. Juros de Mora em Indenizações por Dano Moral


A jurisprudência do STJ se consolidou no sentido de que, nos casos de responsabilidade
extracontratual, os juros de mora fluem desde a data do evento danoso (Súmula 54). Por outro
lado, tratando-se de responsabilidade contratual, os juros de mora contam-se a partir da
citação, salvo se algum outro marco já tenha previamente constituído em mora o devedor.

A ministra Gallotti esclareceu que, no caso de pagamento de indenização em dinheiro por


dano moral puro, “não há como considerar em mora o devedor, se ele não tinha como
satisfazer obrigação pecuniária não fixada por sentença judicial, arbitramento ou acordo
entre as partes”. O artigo 1.064 do Código Civil de 1916 e o artigo 407 do atual CC
estabelecem que os juros de mora são contados desde que seja fixado o valor da dívida.

Como os danos morais somente assumem expressão patrimonial com o arbitramento de seu
valor em dinheiro na sentença de mérito, a ministra concluiu que o não pagamento desde a
data do ilícito não pode ser considerado omissão imputável ao devedor, para efeito de tê-lo
em mora: “Mesmo que o quisesse, o devedor não teria como satisfazer obrigação decorrente
de dano moral não traduzida em dinheiro nem por sentença judicial, nem por arbitramento e
nem por acordo (CC/16, artigo 1.064)”.

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O seu posicionamento, entretanto, não prevaleceu, eis que o STJ, ainda que tenha brevemente
pendido para reconhecer a mora em indenização por danos extrapatrimoniais a partir do
arbitramento, reafirmou seu entendimento de que a mora ocorre desde o evento danoso.

21.11.2. Juros e Correção Monetária em Face da Fazenda Pública


O § 12 do novo art. 100 da CR/88 determina duas coisas diferentes: correção monetária
deverá ser feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança. Juros de
mora deverão observar os juros incidentes sobre a caderneta de poupança. São duas coisas
diferentes.

Temos:

a) ÍNDICE OFICIAL DE REMUNERAÇÃO BÁSICA DA CADERNETA DE POUPANÇA (TRA)=


CORREÇÃO MONETÁRIA; esse índice oficial de remuneração básica é calculado pelo BACEN,
de acordo com o que estabelece a Lei nº 8.660/93, art. 7º.

b) JUROS INCIDENTES SOBRE A CADERNETA DE POUPANÇA (TR) = JUROS DE MORA. Onde


está fixado os juros de mora da caderneta de poupança? No art. 12, II da Lei nº 8.177/01, que
fixa em 0,5% ao mês. Por isso que os juízes fazem a ressalva "ou outro índice que vier a ser
estabelecido".

Pois bem. No caso dos precatórios, incidirão apenas juros remuneratórios até a inclusão na
lista de pagamentos, já que antes disso, o Estado não estará em mora, além, é claro, da
correção monetária. Após, apenas correção monetária (TRA) e juros de mora (TR), que serão
calculados apenas uma vez, no exato momento do pagamento do credor fazendário.

Ok, isso resolve quando o precatório foi expedido. Mas e agora, como fazer no caso, por
exemplo, de responsabilidade civil do Estado, em que ele causa um dano material a alguém,
sendo que os juros deveriam ser contados a partir do evento danoso?

Nos casos de responsabilidade extracontratual, ainda que objetiva, os juros de mora são
devidos, inclusive sobre o valor dos danos morais, a partir do evento danoso e não da citação,
no percentual de 6% (seis por cento) ao ano até o advento do novo Código Civil, quando, a
contar de 11/01/2003, são devidos pela TAXA SELIC, sem correção monetária, a qual já inclusa.

Como funcionaria, então, no caso de uma indenização por danos materiais e morais ocorridos
em 06/02/2005 e julgada em 11/06/2011? Incidência da taxa SELIC até a entrada em vigor da
Lei nº 11.960 no que se refere aos danos materiais, quando, a partir de então, deverá se valer
dos índices do art. 100, § 12 da CR/88 (ou art. 1º-F dessa lei). No que se refere aos danos
morais, incidência da TR e TRA desde o arbitramento.

Os valores serão, então, atualizados pela Justiça até a liquidação. Após a expedição do
precatório, deverão os valores ser atualizados pela TRA até inclusão na ordem de pagamento.
Após fatalmente entrar em mora o ente público, passa a incidir TR e TRA, porém somente uma
vez, na data do pagamento.

Acerca da aplicação da Lei nº 11.960/09, o STJ decidiu o seguinte:

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REPETITIVO. LEI N. 11.960/2009. NATUREZA PROCESSUAL. APLICAÇÃO


IMEDIATA.

Trata-se de REsp sob o regime do art. 543-C do CPC e Res. n. 8/2008-STJ, em


que se discute a possibilidade de aplicação imediata da Lei n. 11.960/2009
às ações em curso, em face da alteração promovida no art. 1º-F da Lei n.
9.494/1997. O referido artigo estabeleceu novos critérios de correção
monetária e de juros de mora a serem observados nas condenações
impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza, quais
sejam, os índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à
caderneta de poupança. A Corte Especial, ao prosseguir o julgamento,
vencida, em parte, a Min. Maria Thereza de Assis Moura, conheceu do
recurso e deu-lhe parcial provimento, consignando, entre outras questões,
que A LEI N. 11.960/2009 É NORMA DE NATUREZA EMINENTEMENTE
PROCESSUAL E DEVE SER APLICADA DE IMEDIATO AOS PROCESSOS
PENDENTES. Frisou-se não se tratar de retroatividade de lei, mas sim de
incidência imediata de lei processual sob a tutela do princípio tempus regit
actum, de forma a não atingir situações jurídico-processuais consolidadas
sob o regime de lei anterior, mas alcançando os processos pendentes que se
regem pela lei nova. Daí, concluiu-se que os valores resultantes de
condenações proferidas contra a Fazenda Pública, após a entrada em vigor
da mencionada lei, devem observar os critérios de atualização (correção
monetária e juros) nela disciplinados, enquanto vigorarem. Por outro lado,
no período anterior, tais acessórios deverão seguir os parâmetros definidos
pela legislação então vigente. Precedentes citados: EREsp 1.207.197-RS, DJe
2/8/2011, e EDcl no MS 15.485-DF, DJe 30/6/2011. REsp 1.205.946-SP, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, julgado em 19/10/2011.

21.12. Julgamento com Equidade e Julgamento por Equidade


O art. 127 do CPC dispõe que “o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”. As
normas que permitem ao juiz decidir por equidade são: Lei dos Juizados Especiais (art. 6º); CLT
(art. 8º), CTN (art. 108, IV e 172, IV) e CDC (art. 7º). Embora não dirigida ao juiz togado, a Lei
de Arbitragem (art. 2º) também autoriza o seu uso da equidade.

DECIDIR POR EQÜIDADE é decidir sem as limitações impostas pela precisa regulamentação
legal. A jurisdição de eqüidade está contraposta à jurisdição de direito e sua admissibilidade
é excepcional.

DECIDIR COM EQUIDADE é um imperativo do Direito e de justiça. É a autorização legal, ainda


que tácita, para que o juiz, no confronto entre a norma e o fato, aplique a lei atendendo a
seus fins sociais e ao bem comum, nos termos do art. 5º da Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro.

A norma jurídica precisa ser interpretada teleologicamente, buscando sempre – porque aí está
a sua finalidade – realizar solução de interesse social, que atenda ao bem comum, a solução
justa e equânime. Se assim não for, a atividade judiciária será ociosa, inútil, mera homenagem
à tradição. A norma jurídica não pode ser considerada como um fim em si mesma, mas como

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554

um meio para a consecução dos valores concretos almejados pelo legislador, que são a justiça,
o bem-estar social, a dignidade da pessoa humana, a liberdade e a igualdade perante o Direito.
O magistrado contemporâneo precisa tomar consciência de que não é apenas um aplicador da
lei, mas seu agente.

21.13. Observações de Provas


1. TRF2 – XIII – CESPE – QUESTÃO 46. Constitui alegação válida para a parte ré obter a
anulação de sentença homologatória proferida por juiz de primeira instância a
comprovação de vício de vontade no acordo celebrado e homologado126.

2. TRF3 – XIII – QUESTÃO 66. Em regra, as sentenças condenatórias e declaratórias têm


eficácia ex tunc.

3. TRF4 – XII – QUESTÃO 65. O sistema processual brasileiro adota, dentre os critérios
para a condenação em honorários advocatícios, a regra da causalidade.

4. TRF4 – XII – QUESTÃO 65. Os honorários de sucumbência pertencem ao advogado,


tendo este o direito autônomo de executar a sentença NESTA PARTE, podendo
requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor.

5. TRF4 – XII – QUESTÃO 65. Segundo entendimento do plenário do STF, não são devidos
pela Fazenda Nacional honorários advocatícios nas execuções não embargadas,
EXCLUÍDOS OS CASOS DE PAGAMENTO DE OBRIGAÇÕES DEFINIDA EM LEI COMO DE
PEQUENO VALOR.

6. TRF4 – XII – QUESTÃO 65. Na hipótese de cumulação eventual de pedidos, o


acolhimento de um apenas não implica sucumbência para o autor e, portanto, não
gera condenação ao pagamento de honorários advocatícios127.

126
Fundamento no art. 485, VIII, CPC:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
[...]
Vl - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na
própria ação rescisória;
127
STJ superou esse entendimento:
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. ART. 289 DO CPC. CUMULAÇÃO IMPRÓPRIA
SUBSIDIÁRIA DE PEDIDOS (CUMULAÇÃO EVENTUAL). ACOLHIMENTO DO PEDIDO SUBSIDIÁRIO E
REJEIÇÃO DO PRINCIPAL. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.
1. Embora não tenham adotado a mesma terminologia para decidir a cumulação de pedidos de que
trata o art. 289 do Código de Processo Civil-CPC, os arestos embargado e paradigma divergem quanto à
correta interpretação desse dispositivo. O primeiro conclui que o acolhimento do pedido subsidiário, e a
rejeição do principal, conduz à sucumbência integral da parte ré, enquanto o segundo entende, em
situação análoga, que há mútuo sucumbimento das partes. No caso, apenas foi deferida a restituição
dos valores recolhidos a título de FINSOCIAL e do PIS, nos termos dos Decretos-leis nºs 2.445 e
2.449/88, no que se refere ao montante recolhido através de substituição tributária, nos termos do
pedido subsidiário (e não a restituição da totalidade dos valores retidos por substituição tributária a
título de PIS, COFINS e FINSOCIAL), mesmo assim, houve o reconhecimento da sucumbência integral da
Fazenda Pública, ora embargante.
2. Na cumulação alternativa não há hierarquia entre os pedidos, que são excludentes entre si. O
acolhimento de qualquer um deles satisfaz por completo a pretensão do autor, que não terá interesse
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7. EMAGIS – 2012/28 – QUESTÃO 12. Mesmo se presentes os pressupostos legais, não se


admite que o juiz conceda ex officio a assistência judiciária gratuita128.

8. EMAGIS – 2012/28 – QUESTÃO 12. Admite-se a concessão dos benefícios da


assistência gratuita na fase de execução; todavia, os seus efeitos não podem retroagir
para alcançar o processo de conhecimento.

9. EMAGIS – 2012/26 – QUESTÃO 12. O termo inicial dos juros moratórios referentes a
honorários advocatícios decorrentes da sucumbência é a data da ciência do devedor
quanto à sua execução129.

10. EMAGIS – 2012/26 – QUESTÃO 12. Tendo o executado realizado o depósito judicial,
para garantia do juízo e oferecimento de impugnação ao cumprimento de sentença ou
de embargos à execução, não há falar em incidência de novos juros moratórios130.

em recorrer da decisão que escolheu uma dentre outras alternativas igualmente possíveis e
satisfativas. Se não há interesse recursal, conclui-se que os ônus da sucumbência devem ser
integralmente suportados pelo réu.
3. Já na cumulação subsidiária, como é o caso dos autos, os pedidos são formulados em grau de
hierarquia, denotando a existência de um pedido principal e outro (ou outros) subsidiário(s). Assim, se
o pedido principal foi rejeitado, embora acolhido outro de menor importância, surge para o autor o
interesse em recorrer da decisão. Se há a possibilidade de recurso, é evidente que o autor sucumbiu
de parte de sua pretensão, devendo os ônus sucumbenciais serem suportados por ambas as partes, na
proporção do sucumbimento de cada um.
4. Casos há em que existe um grande distanciamento entre os pedidos cumulados, de modo que a
aplicação da tese do aresto paradigma imporia flagrante infringência ao princípio da equidade que deve
nortear a fixação de honorários advocatícios.
5. A tese do aresto embargado franqueia ao autor, em grande número de casos, a possibilidade de
eximir-se dos ônus da sucumbência. Para tanto, bastaria que formulasse pedido subsidiário mínimo,
com grande chance de êxito, para conseguir afastar a condenação em honorários.
6. A orientação consagrada no aresto paradigma, na linha dos precedentes desta Corte, não traz o
inconveniente. Havendo a rejeição do pedido principal e o acolhimento de outro subsidiário, estará
configurada a mútua sucumbência, podendo o juiz, no caso concreto e com recurso ao juízo de
equidade, atribuir os ônus sucumbenciais integralmente ao réu, quando reconhecer a sucumbência
mínima do autor naqueles casos em que há parcial equivalência entre os pedidos principal e subsidiário.
7. Embargos de divergência providos.
(EREsp 616.918/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, CORTE ESPECIAL, julgado em 02/08/2010, DJe
23/08/2010)
128
PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL TEMPESTIVIDADE. RECONHECIDA.
ANÁLISE DA QUESTÃO MERITÓRIA. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. CONCESSÃO DE OFÍCIO.
IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO (PETIÇÃO N.º 00059892). (...) 2. É vedado ao juiz
conceder ex officio o benefício da assistência judiciária gratuita, quando ausente, nos autos, pedido
expresso da parte. 3. Agravo regimental de fls. 566/577 provido. Agravo Regimental de fls. 553/556
desprovido. (STJ, Quinta Turma, AgRg no AgRg no REsp 1101077, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de
28/06/2012)
129
AÇÃO RESCISÓRIA. IMPROCEDÊNCIA. EXECUÇÃO. CUMPRIMENTO VOLUNTÁRIO, MEDIANTE
DEPÓSITO DO VALOR DA SUCUMBÊNCIA - INEXISTÊNCIA DE MULTA ANTE O CUMPRIMENTO
TEMPESTIVO DA SENTENÇA (CPC, ART. 475-J) – NÃO INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA - AGRAVO
REGIMENTAL IMPROVIDO. (...) 2.- De acordo com a jurisprudência desta Corte, o termo inicial de juros
moratórios referentes a honorários advocatícios decorrentes da sucumbência é a data da citação do
devedor para o processo de execução, o que não ocorreu no caso, ante o cumprimento espontâneo do
julgado. 3.- Agravo Regimental improvido. (STJ, Segunda Seção, AgRg na ExeAR 3225, Rel. Min. Sidnei
Beneti, DJe de 20/04/2012)
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11. EMAGIS – 2012/26 – QUESTÃO 12. Em ação de indenização por danos morais,
o termo inicial para incidência dos juros de mora é a data do evento danoso.

12. EMAGIS – 2012/26 – QUESTÃO 11. Segundo entendimento da Corte Especial


do STJ, a alteração da natureza da execução de sentença, que deixou de ser tratada
como processo autônomo e passou a ser mera fase complementar do mesmo processo
em que o provimento é assegurado, não trouxe modificações no que tange aos
honorários advocatícios131.

13. EMAGIS – 2012/26 – QUESTÃO 11. De acordo com a orientação pacificada pelo
STJ, são devidos honorários advocatícios em fase de cumprimento de sentença,
sempre que não houver o pagamento espontâneo da dívida reconhecida no título
judicial132.

14. EMAGIS – 2012/26 – QUESTÃO 11. Segundo entendimento do STJ, conquanto


não caiba condenação em honorários advocatícios em sede de mandado de segurança,
é cabível essa condenação nos embargos do devedor opostos contra a execução de
sentença prolatada em mandado de segurança133.

130
De fato, vem entendendo o STJ que os juros moratórios deixam de incidir caso o executado realize o
depósito judicial, para garantia do juízo e oferecimento de impugnação ao cumprimento de sentença ou
de embargos à execução. Assim o é porque o depósito judicial já é remunerado por juros pela instituição
financeira que o custodia, de sorte que haveria dupla incidência de juros caso também se impusessem
juros moratórios nesse período.
131
Para o STJ, a modificação da natureza da execução de sentença, que deixou de ser tratada como
processo autônomo e passou a ser mera fase complementar do mesmo processo em que o provimento
é assegurado (Lei 11.232/05), não trouxe nenhuma alteração no que tange ao regime dos honorários
advocatícios. Confira-se:
PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. NOVA SISTEMÁTICA IMPOSTA PELA LEI Nº
11.232/05. CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS. POSSIBILIDADE. - A alteração da natureza da execução
de sentença, que deixou de ser tratada como processo autônomo e passou a ser mera fase
complementar do mesmo processo em que o provimento é assegurado, não traz nenhuma
modificação no que tange aos honorários advocatícios. - A própria interpretação literal do art. 20, §
4º, do CPC não deixa margem para dúvidas. Consoante expressa dicção do referido dispositivo legal,
os honorários são devidos “nas execuções, embargadas ou não”. - O art. 475-I, do CPC, é expresso
em afirmar que o cumprimento da sentença, nos casos de obrigação pecuniária, se faz por
execução. Ora, se nos termos do art. 20, § 4º, do CPC, a execução comporta o arbitramento de
honorários e se, de acordo com o art. 475, I, do CPC, o cumprimento da sentença é realizado via
execução, decorre logicamente destes dois postulados que deverá haver a fixação de verba
honorária na fase de cumprimento da sentença. - Ademais, a verba honorária fixada na fase de
cognição leva em consideração apenas o trabalho realizado pelo advogado até então. - Por
derradeiro, também na fase de cumprimento de sentença, há de se considerar o próprio espírito
condutor das alterações pretendidas com a Lei nº 11.232/05, em especial a multa de 10% prevista no
art. 475-J do CPC. Seria inútil a instituição da multa do art. 475-J do CPC se, em contrapartida, fosse
abolida a condenação em honorários, arbitrada no percentual de 10% a 20% sobre o valor da
condenação. Recurso especial conhecido e provido. (STJ, Corte Especial, REsp 1028855, Rel. Min.
Nancy Andrighi, DJe de 05/03/2009)
132
STJ, Primeira Turma, AgRg no REsp 1226298, Rel. Min. Napoleão Nunes, DJe de 08/02/2012.
133
STJ, Primeira Seção, AR 4365, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 14/06/2012.
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557

15. EMAGIS – 2012/20 – QUESTÃO 12. Em se tratando de pessoa física, a


declaração de pobreza, com o intuito de obter os benefícios da assistência judiciária
gratuita, goza de presunção relativa, admitindo, portanto, prova em contrário.

16. EMAGIS – 2012/20 – QUESTÃO 12. A prova de que a parte não se encontra na
faixa de isenção tributária do imposto de renda NÃO é fato suficiente para afastar o
benefício da assistência judiciária gratuita.

17. EMAGIS – 2012/20 – QUESTÃO 12. É ônus da pessoa jurídica comprovar os


requisitos para a obtenção do benefício da assistência judiciária gratuita, mostrando-se
irrelevante a finalidade lucrativa ou não da entidade requerente.

18. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 03. Nas condenações impostas à Fazenda


Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária,
remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez,
até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à
caderneta de poupança.

19. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 03. As normas legais que cuidam dos juros
moratórios, inclusive no que diz respeito à respectiva taxa, têm natureza processual,
aplicando-se, pois, aos processos em curso, independentemente da data do seu
ajuizamento (STF, Segunda Turma, AI 776497 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de
28/02/2011).

20. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 10. A declaração de pobreza, com o intuito de


obtenção dos benefícios da justiça gratuita, goza de presunção ‘iuris tantum’ de
veracidade.

21. EMAGIS – 2012/08 – QUESTÃO 10. Segundo entendimento do STJ, as pessoas


jurídicas de direito privado, com ou sem fins lucrativos, para obter os benefícios da
justiça gratuita, devem comprovar o estado de miserabilidade, não bastando a
declaração de pobreza.

22. EMAGIS – 2012/08 – QUESTÃO 10. Os benefícios da assistência judiciária gratuita


incluem os honorários de perito, razão pela qual não deve ser imputado ao
beneficiário da justiça gratuita o dever de adiantar tal despesa, ainda que por ele
tenha sido requerida a prova pericial e mesmo que essa seja precipuamente de seu
interesse.

23. EMAGIS – 2011/49 – QUESTÃO 11. Os honorários advocatícios, sejam contratuais ou


sucumbenciais, possuem natureza alimentar134.

134
ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DESAPROPRIAÇÃO. REFORMA AGRÁRIA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. NATUREZA ALIMENTAR. PAGAMENTO. ACÓRDÃO RECORRIDO. FUNDAMENTO
EXCLUSIVAMENTE CONSTITUCIONAL. ARTS. 100 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E 78 DO ADCT. AGRAVO NÃO
PROVIDO. 1. Os honorários advocatícios, sejam contratuais ou sucumbenciais, possuem natureza alimentar. [...]
(STJ, Primeira Turma, AgRg no REsp 1236401, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de 27/06/2011)
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24. EMAGIS – 2011/49 – QUESTÃO 11. Os honorários advocatícios, mesmo aqueles


pertencentes à sociedade de advogados, possuem natureza alimentar135.

25. EMAGIS – 2011/45 – QUESTÃO 13. O STJ já teve oportunidade de decidir que, na
atualização monetária de débitos judiciais, deve-se considerar, em regra, tanto a
inflação quanto à deflação136.

26. EMAGIS – 2011/24 – QUESTÃO 09. Se o advogado fizer juntar aos autos o seu
contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de levantamento ou
precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da
quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou.

27. EMAGIS – 2011/24 – QUESTÃO 09. Os honorários advocatícios devem ser


compensados quando houver sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo
do advogado à execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte (súmula
306, STJ).

22. Coisa Julgada


22.1. Considerações Iniciais
A coisa julgada é técnica de que se pode valer o legislador, quando entender oportuno – sob o
ponto de vista da conveniência social e da estabilidade de certas relações jurídicas – de que
determinados tipos de julgados permaneçam imutáveis e projetem essa imutabilidade erga
omnes.

135
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. NATUREZA
ALIMENTAR. TITULARIDADE DA VERBA.
[...] 3. Uma vez reconhecida que os honorários constituem a remuneração do advogado - sejam eles contratuais ou
sucumbenciais -, conclui-se que tal verba enquadra-se no conceito de verba de natureza alimentícia, sendo portanto
impenhorável. 4. "Esse entendimento não é obstado pelo fato de o titular do crédito de honorários ser uma
sociedade de advogados, porquanto, mesmo nessa hipótese, mantém-se a natureza alimentar da verba (REsp
566190/SC, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJ 01/07/2005). (STJ, AgRg no REsp 1228428/RS, Rel.
MIN. BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 29/06/2011)
136
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO ECONÔMICO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. CORREÇÃO MONETÁRIA. IGP-M. ÍNDICES
DE DEFLAÇÃO. APLICABILIDADE, QUANDO NÃO IMPORTEM REDUÇÃO DO VALOR NOMINAL ORIGINAL. 1. A correção
monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do poder aquisitivo da moeda, não devendo
representar, consequentemente, por si só, nem um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor nominal
da obrigação nada mais representa do que manter, no tempo, o seu poder de compra original, alterado pelas
oscilações inflacionárias positivas e negativas ocorridas no período. ATUALIZAR A OBRIGAÇÃO LEVANDO EM
CONTA APENAS OSCILAÇÕES POSITIVAS IMPORTARIA DISTORCER A REALIDADE ECONÔMICA
PRODUZINDO UM RESULTADO QUE NÃO REPRESENTA A SIMPLES MANUTENÇÃO DO PRIMITIVO
PODER AQUISITIVO, MAS UM INDEVIDO ACRÉSCIMO NO VALOR REAL.
NESSA LINHA, ESTABELECE O MANUAL DE ORIENTAÇÃO DE PROCEDIMENTO DE CÁLCULOS
APROVADO PELO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL QUE, NÃO HAVENDO DECISÃO JUDICIAL EM
CONTRÁRIO, "OS ÍNDICES NEGATIVOS DE CORREÇÃO MONETÁRIA (DEFLAÇÃO) SERÃO
CONSIDERADOS NO CÁLCULO DE ATUALIZAÇÃO", SALVO "SE A ATUALIZAÇÃO IMPLICAR REDUÇÃO DO
PRINCIPAL", hipótese em que “deve prevalecer o valor nominal”.
2. Recurso especial provido” (REsp 1240963/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 16/08/2011, DJe 24/08/2011).
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559

Ela garante ao jurisdicionado que a decisão final dada à sua demanda será definitiva, não
podendo ser rediscutida, alterada ou desrespeitada.

22.2. Coisa Julgada Formal e Coisa Julgada Material


A coisa julgada é a imutabilidade da norma jurídica individualizada contida na parte dispositiva
de uma decisão judicial.

Art. 468. A sentença que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei
nos limites da lide e das questões decididas.

Coisa julgada formal é a imutabilidade da decisão judicial dentro do processo em que foi
proferida, não podendo mais ser impugnada por recurso, seja pelo esgotamento das vias
recursais, seja pelo decurso do prazo do recurso cabível. Ela também é chamada de preclusão
máxima.

A coisa julgada formal é conceituada no art. 6º, § 3º, da LINDB: “Chama-se coisa julgada ou
caso julgado a decisão judicial de que não caiba recurso”.

Coisa julgada material é a indiscutibilidade da decisão judicial no processo em que foi


produzida e em qualquer outro, tornando-se inalterável.

De acordo com Dinamarco,

A coisa julgada material é a imutabilidade dos efeitos substanciais da


sentença de mérito. Quer se trate de sentença meramente declaratória,
constitutiva ou condenatória, ou mesmo quando a demanda é julgada
improcedente, no momento em que já não couber recurso algum institui-se
entre as partes e em relação ao litígio que foi julgado uma situação, ou
estado, de grande firmeza quanto aos direitos e obrigações que os
envolvem, ou que não os envolvem. Esse status, que transcende a vida do
processo e atinge a das pessoas, consiste na intangibilidade das situações
jurídicas criadas ou declaradas, de modo que nada poderá ser feito por elas
próprias, nem por outro juiz, nem pelo próprio legislador, que venha a
contrariar o que houver sido decidido (ainda Liebman). Não se trata de
imunizar a sentença como ato do processo, mas os efeitos que ela projeta
para fora deste e atingem as pessoas em suas relações – e daí a grande
relevância social do instituto da coisa julgada material, que a Constituição
assegura (art. 5º , XXXVI) e a lei processual disciplina (arts. 467 e seguintes).

A distinção entre coisa julgada material e formal consiste, portanto, em que


(a) a primeira é a imunidade dos efeitos da sentença, que os acompanha na
vida das pessoas ainda depois de extinto o processo, impedindo qualquer
ato estatal, processual ou não, que venha a negá-los; enquanto que (b) a
coisa julgada formal é fenômeno interno ao processo e refere-se à sentença
como ato processual, imunizada contra qualquer substituição por outra.

Coisa julgada material (auctoritas rei iudicatae), assim, é a qualidade que torna imutável e
indiscutível o comando que emerge da parte dispositiva da sentença de mérito, quando não

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mais cabível recurso ordinário ou extraordinário, tampouco sujeita ao reexame obrigatório em


duplo grau de jurisdição.

O art. 467, do CPC, conceitua explicitamente a coisa julgada material, dispondo:

“Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável
e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou
extraordinário”.

A doutrina brasileira, majoritariamente, segue o conceito de Liebman sobre a coisa julgada,


considerando que a imutabilidade da sentença corresponde à coisa julgada formal, derivada da
preclusão de todos os recursos, enquanto que a coisa julgada material consiste na
imutabilidade dos efeitos da sentença.

A coisa julgada material é uma qualidade dos efeitos da sentença e não um efeito da própria
sentença. É essa qualidade que torna imutável e indiscutível a parte dispositiva da sentença
de mérito.

Entre o justo absoluto, utópico, e o justo possível, realizável, o sistema


constitucional brasileiro, a exemplo do que ocorre na maioria dos sistemas
democráticos ocidentais, optou pelo segundo (justo possível), que é
consubstanciado na segurança jurídica da coisa julgada material.
Descumprir-se a coisa julgada é negar o próprio estado democrático de
direito, fundamento da república brasileira. A lei não pode modificar a coisa
julgada material (CF 5º XXXVI); a CF não pode ser modificada para alterar-se
a coisa julgada material (CF 1º caput, 60, §4º); o juiz não pode alterar a coisa
julgada (CPC 467 e 471)”.

22.3. Pressupostos da Coisa Julgada


Para que a decisão judicial fique imune pela coisa julgada material, necessários quatro
requisitos:

a) Há de ser uma decisão jurisdicional: ou seja, prolatada legitimamente por um órgão do


Poder Judiciário;

b) O provimento há de versar sobre o mérito da causa: somente faz coisa julgada decisão
que resolve o objeto litigioso, que certifique a existência ou inexistência de direitos.
Ou seja, a decisão deve ser definitiva, não fazendo coisa julgada da decisão
terminativa137;

c) O mérito deve ter sido analisado em cognição exauriente: a decisão de mérito tem que
ter caráter definitivo, não se admite coisa julgada sobre tutelas antecipadas ou
medidas cautelares;

d) Ocorrência da preclusão máxima (coisa julgada formal): imutabilidade decisória no


próprio processo.

137
A decisão terminativa está sujeita apenas à coisa julgada formal, ou seja, de não caber mais recurso
no processo em que ela foi prolatada.
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Qualquer espécie de decisão judicial que preencha tais pressupostos pode fazer coisa julgada,
seja interlocutória, sentença, acórdão ou decisão monocrática.

22.4. Natureza Jurídica


Há várias correntes. As principais são as seguintes:

d) Efeito da decisão: pela primeira corrente defendida por Chiovenda, que foi adotada no
Brasil por Celso Neves, as sentenças de mérito produziriam, além dos efeitos
declaratórios, constitutivos ou condenatórios, um quarto efeito, que seria a
imutabilidade e indiscutibilidade do que fora decidido, o qual só seria eficaz quando o
trânsito em julgado daquela decisão judicial. Segundo o doutrinador, a coisa julgada
também era efeito do trânsito em julgado da sentença definitiva. Adeptos dessa
corrente doutrinária, que possui forte influência dos processualistas alemães, defendem
ser a coisa julgada apenas um efeito da decisão, limitando a coisa julgada ao conteúdo
declaratório da decisão. Para estes doutrinadores a coisa julgada é mera declaração da
existência ou inexistência de um direito que seria indiscutível e imutável posto que
nada apaga a declaração do juiz.

e) Qualidade dos efeitos da decisão: a segunda corrente é defendida por Liebman e


adotada pela majoritária doutrina pátria (defendida também por Vicente Greco Filho,
Dinamarco, Humberto Theodoro Jr.) que sustentam que a coisa julgada é qualidade que
incide sobre a sentença e sobre os efeitos por esta produzidos. Na verdade, a coisa
julgada está fora da sentença, não sendo o efeito dessa. Mas na verdade a decisão
incide sobre esses efeitos materiais condenatórios, constitutivos ou declaratórios, como
sendo uma qualidade desses efeitos. Quando nos referimos à autoridade da coisa
julgada estamos nos referindo à coisa julgada material. Sintetizando, para a majoritária
corrente doutrinária nacional a coisa julgada: a formal é a qualidade incidente sobre a
sentença, tornando-a imutável e indiscutível. A coisa julgada material é a qualidade
incidente sobre os efeitos materiais da sentença de mérito (imutabilidade).

f) Situação jurídica do conteúdo da decisão: já a terceira corrente com base nos


ensinamentos de Luiz Machado Guimarães, José Carlos Barbosa Moreira e de
Alexandre F. Câmara sustenta que a coisa julgada é uma situação jurídica nova, que se
caracteriza pela imutabilidade e indiscutibilidade do conteúdo da decisão, de seu
comando (dispositivo), que é composto pela norma jurídica concreta. Para os adeptos
desta corrente, não há que se falar em imutabilidade dos efeitos da coisa julgada, haja
vista que tais efeitos podem ser alterados.

Pela corrente mais acertada, a coisa julgada seria uma situação jurídica do conteúdo da
decisão, não produzindo consequências sobre os efeitos da mesma. É a imutabilidade do
comando dispositivo, que é composto pela norma jurídica concreta.

22.5. Regime Jurídico da Coisa Julgada


Nesse tópico se estudam as normas que estruturam o fenômeno da coisa julgada.

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22.5.1. Limites Objetivos


Somente se submete à coisa julgada material a norma jurídica concreta, contida no dispositivo
da decisão, que julga o pedido.

Questões deduzidas e examinadas incidentalmente não ficarão imunes pela coisa julgada.

Não fazem coisa julgada (art. 469):

a) Os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da


sentença;

b) A verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;

c) A apreciação da questão prejudicial decidida incidentalmente no processo.

Fará coisa julgada material a questão prejudicial se a parte o requerer, o juiz for competente
em razão da matéria e constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide, mediante
ação declaratória incidental.

Ademais, fará coisa julgada a justiça da decisão para o assistente simples.

Já caiu em concurso o seguinte: houve um pedido não analisado na sentença. O advogado não
opôs embargos de declaração; na apelação não houve qualquer referência ao fato; o tribunal
não analisou de ofício; houve o trânsito em julgado, surgindo a coisa julgada formal e material.
O advogado percebe que determinado pedido não foi examinado, vai até seu escritório,
imprime a mesma petição, exclui as páginas que falavam sobre o outro pedido analisado e vai
até o tribunal, distribuindo novamente a mesma petição. Nessa hipótese essa demanda pode
ser processada e julgada ou existe coisa julgada neste caso?

Não é caso de coisa julgada; esta nova petição pode ser processada e julgada porque não
houve julgamento. SE NÃO HOUVE JULGAMENTO DE UM PEDIDO NÃO HÁ COISA JULGADA.
Não foi questão decidida (art. 468).

22.5.2. Limites Subjetivos


Os limites subjetivos da coisa julgada é matéria essencial no processo civil, já que determina
quem sofrerá os efeitos da decisão. Por isso que é tão importante a citação válida de todos os
legitimados, além de se conhecer bem as regras sobre o litisconsórcio.

a) Inter partes: é a regra, vinculando somente as partes que figuraram no processo. Isso
porque a afetação de quem não foi parte ofende a ampla defesa e o contraditório;

b) Ultra partes: é aquela coisa julgada que atinge não somente as partes do processo,
como também determinados terceiros, vinculando-os. Ocorre, v.g., no caso de
substituição processual, em que o substituído, apesar de não ter figurado como parte
da demanda, será submetido a ela. O mesmo ocorre, v.g., com a substituição
processual ulterior decorrente da alienação da coisa litigiosa (exceto se o adquirente
substituir o alienante).

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c) Erga omnes: é aquela cujos efeitos atingem todos os jurisdicionados, quer tenham ou
não participado do processo, v.g., ações coletivas sobre direitos difusos, ações de
controle abstrato de constitucionalidade e ações de estado de pessoas.

22.5.3. Modo de Produção


a) Coisa julgada pro et contra: trata-se da regra geral. É aquela que se forma
independentemente do resultado do processo, seja de procedência ou improcedência
do pedido, seja por falta de provas ou com ampla instrução probatória.

A improcedência por insuficiência de provas, no campo da teoria do


processo, constitui, sim, um julgamento de mérito, e não uma sentença
meramente terminativa. Tocar no mérito de uma demanda é apreciar o
pedido formulado pelo autor, julgando-o procedente ou improcedente, seja
por conta da prova produzida, seja em razão das regras de direito material
aplicáveis ao caso. O julgamento conforme o ônus da prova, como ensina o
Prof. Barbosa Moreira, tem lugar justamente nos casos em que, apesar da
insuficiência da prova produzida, não pode o magistrado se omitir no dever
de prestar jurisdição a respeito da pretensão veiculada, de vez que
inadmissível, nos dias atuais, o non liquet. Vale esclarecer que a coisa
julgada secundum eventum probationis apenas ocorre, no direito
brasileiro, nos casos em que há expressa previsão legal, a exemplo do que
se passa com a ação popular – Lei nº 4.717/65, art. 18 –, com a lei da ação
civil pública – Lei nº 7.347/85, art. 16 – e, ainda, com as ações coletivas
disciplinadas pelo Código de Defesa do Consumidor a respeito de direitos
difusos e coletivos – CDC, art. 103, inc. I e II (STF, RE 363889/DF).

b) Coisa julgada secundum eventum litis: aquela que somente é produzida quando a
demanda for julgada procedente. Se improcedente, ela poderá ser reproposta. V.g.,
sentença de improcedência em desfavor do réu no processo penal sempre pode ser
revista por revisão de sentença.

c) Coisa julgada secundum eventum probationem: é aquela que só se forma em caso de


esgotamento das provas, após exauridos todos os meios de prova. Julgada a demanda
improcedente por falta de provas, não formará coisa julgada. V.g., ações civis públicas.

22.6. Coisa Julgada nas Ações de Estado


Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não
beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de
pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário,
todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a
terceiros.

Nas ações de estado, todos os interessados devem ser citados para que a sentença seja válida
e lhes possa ser eficaz. Se todos os interessados tiverem sido citados como litisconsortes
necessários, a decisão produzirá coisa julgada erga omnes, mesmo contra aqueles que não
participaram do processo (art. 472).

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22.7. Efeitos da Coisa Julgada

22.7.1. Efeitos Negativos e Positivos


O efeito negativo impede que a questão principal já definitivamente decidida seja objeto de
novo julgamento como questão principal em outro processo. Ele dá azo à exceptio rei
judicatio.

O efeito positivo determina que a questão principal decidida e transitada em julgado, se


retornar ao judiciário como questão incidental, não possa ser decidida de modo distinto
daquele como o foi no processo anterior, em que foi questão principal. O efeito positivo da
coisa julgada gera, portanto, a vinculação do julgadorde outra causa ao quanto decidido na
causa em que a coisa julgada foi produzida. Exemplo constante de manifestação do efeito
positivo da coisa julgada ocorre na fase de liquidação de sentença: o magistrado não pode
desrespeitar o que já decidido, deve-se ater ao que está contido no comando da norma
indidual colocada no dispositivo.

A função da coisa julgada é, pois, dúplice: de um lado, define,


vinculativamente, a situação jurídica das partes; de outro lado, impede que
se restabeleça, em outro processo, a mesma controvérsia. Em virtude da
primeira função, não podem as partes, unilateralmente, escapar aos efeitos
da declaração jurisdicional; por decorrência da segunda, cabe a qualquer
dos litigantes a exceptio rei iudicatae, para excluir novo debate sobre a
relação jurídica decidida.

Enquanto a exceptio rei judicatio é forma de defesa a ser empregada pelo demandado, o efeito
positivo da coisa julgada pode ser fundamento de uma segunda demanda.

Assim, A COISA JULGADA RELATIVA À QUESTÃO PRINCIPAL NUM PROCESSO


VINCULA O JULGADOR DE OUTRO, QUANDO ELA FOR SUSCITADA COMO QUESTÃO
INCIDENTAL.

22.7.2. Efeito Preclusivo ou Eficácia Preclusiva da Coisa Julgada


Art. 474. Passada em julgado a sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas
e repelidas todas as alegações e defesas, que a parte poderia opor assim ao
acolhimento como à rejeição do pedido.

O efeito preclusivo se manifesta, conforme art. 474, pelo fato de que, transitada em julgado a
decisão definitiva da causa, todas as alegações e defesas que poderiam ter sido formuladas
para o acolhimento ou rejeição do pedido reputam-se arguidas e repelidas. Preclui a
possibilidade de rediscutir todos os argumentos que poderiam ter sido discutidos, mas não
foram.

O significado do art. 474 é impedir não só que o vencido volte à discussão de pontos já
discutidos e resolvidos na motivação da sentença, como também que ele venha a suscitar
pontos novos, não alegados nem apreciados, mas que sejam capazes de alterar a conclusão
contida no decisório.

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TAL FATO É TAMBÉM DENOMINADO DE JULGAMENTO IMPLÍCITO.


Logo, as questões novas sobre a causa principal que não foram arguidas perdem toda a
relevância, salvo se supervenientes.

A corrente majoritária entende que a eficácia preclusiva só atinge argumentos e provas QUE
SIRVAM PARA EMBASAR A CAUSA PETENDI DEDUZIDA pelo autor e as alegações que a ela se
refiram.

Assim, é possível propor nova ação deduzindo o mesmo pedido, desde que fundados numa
nova causa de pedir, já que se trata de fundamento diferente. O efeito preclusivo não atinge
todas as causas de pedir que pudessem ter servido para fundamentar a pretensão formulada
em juízo, mas tão somente a causa de pedir que, de fato, embasou o pedido apresentado pelo
autor, e as alegações que a ela se refiram. Se assim não fosse, haveria ofensa ao devido
processo legal e ao contraditório, seria formada a coisa julgada a ser oposta perante ação não
idêntica (sem iguais elementos).

Não se confundem as alegações e defesas que poderiam ser deduzias com a causa de pedir. A
causa de pedir seria, v.g., a existência de uma relação obrigacional contratual; a alegação, o
inadimplemento. Refutado o pedido, forma-se coisa julgada material, não podendo se ajuizar
nova ação. Porém, se o pedido foi, por exemplo, o conserto de um carro, esse mesmo pedido
poderá ser feito com fundamento na responsabilidade civil extracontratual.

Não poderá, evidentemente, se na primeira ação a parte trouxe como causa de pedir a relação
obrigacional contratual E a responsabilidade civil extracontratual, pois aí haverá identidade
parcial de ação.

Importante: no XI concurso para juiz federal da 5ª Região, a questão 50 touxe as seguintes


assertivas erradas, considerando os limites objetivos da coisa julgada:

a) Em ação condenatória, não há empecilho legal à alegação de pagamento anterior à


sentença durante a impugnação ao seu cumprimento: ocorrido o pagamento antes da
prolação da sentença de conhecimento, ele já não poderá ser arguido na fase
destinada ao cumprimento do ato judicial; deveria, ao contrário, ter sido invocado
dentro da fase anterior do processo, sob pena de se gerar coisa julgada. O único
pagamento que se pode arguir quando do cumprimento da sentença é aquele que se
dá após a prolação da sentença condenatória. Eis o teor do art. 475-L do CPC.

b) Proposta ação que vise rescindir contrato por falta de pagamento, será inviável
pretender a mesma rescisão pelo posterior encerramento do prazo contratual: errado,
pois se trata de outro fundamento do pedido, não havendo identidade de ações.

c) Não existe óbice ao fato de o autor, após insucesso na pretensão de reaver um bem,
pleitear o seu equivalente: errado, já que se trata de repetição de ação, somente
mudando a forma de adimplemento.

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d) Se não houver exata identidade entre o pedido e a causa de pedir das ações
examinadas, não será possível identificar a ocorrência da coisa julgada: errado, pois A
IDENTIFICAÇÃO DA COISA JULGADA PODE SER PARCIAL, causando a extinção parcial
do processo posterior. “A identificação das causas em razão de seus elementos,
conforme definição legal, é insuficiente à caracterização da coisa julgada, pois ela pode
ocorrer, sem que, no rigor dos tempos, o pedido ou a causa de pedir sejam os
mesmos” (Ernane Fidélis dos Santos).

22.7.3. Efeito da Coisa Julgada Penal Condenatória na Esfera Cível


O efeito ocorre se a sentença for condenatória, em relação à obrigação de indenizar ou outros
pontos comuns. Excludentes de ilicitude somente excluem a responsabilidade se a vítima tiver
dado causa aos fatos. Excludentes de culpabilidade nunca excluem a responsabilidade.

Se a sentença penal for absolutória por negativa de autoria ou por inexistência do fato, haverá
exclusão da responsabilidade civil do agente, fazendo coisa julgada no cível, ressalvada a
obrigação de indenizar pelo dano, se existir.

22.7.4. Eficácia da Sentença X Eficácia da Coisa Julgada


Não se pode confundir eficácia da sentença com eficácia da coisa julgada.

A constatação da independência entre a eficácia da sentença e a eficácia da coisa julgada não é


nova, e resta cediça no direito processual civil brasileiro. Sua defesa originária foi feita por
ENRICO TULLIO LIEBMAN, para quem a eficácia da sentença consubstanciaria os efeitos
modificativos do mundo jurídico promovidos por esse ato judicial, enquanto eficácia da coisa
julgada seria meramente a imutabilidade conferida a tais efeitos em decorrência do trânsito
em julgado da decisão. Nesse sentido, confiram-se as palavras do ilustre professor italiano, que
tanto influenciou o direito processual civil brasileiro (LIEBMAN, Enrico Tullio, Eficácia e
Autoridade da Sentença e outros escritos sobre a coisa julgada , 3ª Edição, Forense, Rio de
Janeiro, 1984, pág. 170):

“I - A declaração oriunda da sentença, assim como seus outros efeitos


possíveis, pode conceber-se e produzir-se independentemente da coisa
julgada; na aptidão da sentença em produzir os seus efeitos e na efetiva
produção deles (quaisquer que sejam, segundo o seu conteúdo) consiste a
sua eficácia, e esta se acha subordinada à validade da sentença, isto é, à sua
conformidade com a lei.

II – A eficácia da sentença, nos limites de seu objeto, não sofre nenhuma


limitação subjetiva; vale em face de todos.

III – A autoridade da coisa julgada não é efeito ulterior e diverso da


sentença, mas uma qualidade dos seus efeitos e a todos os seus efeitos
referente, isto é, precisamente a sua imutabilidade. Ela está limitada
subjetivamente só às partes do processo.”

Dessa lição, extraem-se três noções fundamentais: (i) a eficácia da sentença, por ser distinta da
eficácia da coisa julgada, se produz independentemente desta; (ii) a eficácia da sentença,

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desde que não confundida com a figura do trânsito em julgado, não sofre qualquer limitação
subjetiva: vale perante todos; (iii) a imutabilidade dessa eficácia, ou seja, a impossibilidade de
se questionar a conclusão a que se chegou na sentença, limita-se às partes do processo
perante as quais a decisão foi proferida, e só ocorre com o trânsito em julgado da decisão.

22.8. Coisa Julgada e Relações Jurídicas Continuativas


Sentença sobre relação jurídica continuativa é aquela que versa sobre relação jurídica que se
projeta no tempo, envolvendo prestações periódicas, como a de aluguéis ou de alimentos.

Tal sentença faz coisa julgada material efetiva.

O fato de ser possível a modificação da decisão por superveniência de modificação no estado


de fato ou de direito em nada afeta a coisa julgada, já que a nova sentença será relativa a uma
nova situação, visto que modificado o fato/fundamento jurídico que sustentará a nova
decisão.

A decisão é imutável e indiscutível, e a possibilidade de sua revisão,


condicionada à modificação do estado de fato ou de direito, é permitida tão
somente em razão da modificação da causa de pedir, de forma a afastar a
tríplice identidade, indispensável para a aplicação da função negativa da
coisa julgada material” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de
direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Método, 2010, p. 504).

Sobre essa hipótese:

ACIDENTE. INDENIZAÇÃO. REVISÃO DE PENSÃO VITALÍCIA.

É cediço que, uma vez transitada em julgado a sentença de mérito, torna-se


imutável a norma jurídica nela contida, inclusive quanto às questões que
poderiam ter sido alegadas oportunamente, mas não o foram, segundo a
inteligência do art. 474 do CPC. Por conseguinte, consoante o princípio da
congruência, o pedido delimita o objeto litigioso e o âmbito de atuação do
órgão judicial (art. 128 do CPC). Dessa forma, assume extrema importância a
identificação, na ação ajuizada, da ocorrência de litispendência ou de coisa
julgada, que constituem impeditivos da propositura de ação idêntica.
Entretanto, em se tratando de obrigação de trato continuativo fixada com
base nas necessidades da pessoa vitimada, ela pode ser revista na hipótese
de alteração das condições econômicas das partes envolvidas, a teor do art.
471, I, do CPC. Ademais, o art. 475-Q, § 3º, do CPC admite expressamente a
possibilidade de majoração da pensão fixada em decorrência da prática de
ato ilícito, quando ocorre alteração superveniente na condição econômica
das partes. Na hipótese dos autos, decorridos 26 anos do trânsito em
julgado de sentença que determinou o pagamento de indenização pelos
danos decorrentes em acidente em ferrovia, a recorrente, pleiteou o
recebimento de danos morais, materiais e estéticos, por não estarem
encartados na indenização originalmente arbitrada, bem como a majoração
da pensão mensal vitalícia. Nesse contexto, ressaltou-se que, na primeira
demanda, a recorrente pleiteou o pagamento de indenização em

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decorrência de todos os danos sofridos, quer patrimoniais quer


extrapatrimoniais, uma vez que se reportou ao gênero do qual eles são
espécies. Assim, concluiu-se que a análise da segunda demanda – quanto
aos danos – encontra óbice na existência de coisa julgada material, cuja
eficácia impede o ajuizamento de outra ação com a mesma causa de pedir e
pedido, ainda que especifique os danos passíveis de indenização. Contudo,
quanto ao valor da pensão vitalícia, determinou-se o retorno dos autos à
instância primeva para análise do pedido de sua majoração. REsp 1.230.097-
PR, 4T, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 6/9/2012.

22.9. Instrumentos de Revisão da Coisa Julgada


Tem-se, atualmente, os seguintes instrumentos:

a) Ação rescisória: é uma ação autônoma de impugnação de decisão de mérito transitada


em julgado quando houver vícios rescisórios, visando a desconstituir a coisa julgada
material;

b) Ação transrescisória ou querella nulitatis: pode ser proposta quando o réu tiver sido
condenado em processo para o qual não foi citado ou cuja citação tenha sido
defeituosa. É ação imprescritível, podendo ser proposta a qualquer tempo e
aceitando-se a ação civil pública em seu lugar;

PROCESSUAL CIVIL - VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC - INEXISTÊNCIA -


SENTENÇA IMPREGNADA DE VÍCIO TRANSRESCISÓRIO -
RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA - QUERELA NULLITATIS - ARTS.
475-L, I E 741, I, DO CPC - AÇÃO CIVIL PÚBLICA: ADEQUABILIDADE -
DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO - LEGITIMIDADE DO PARQUET.

1. Não ocorre ofensa ao art. 535 do CPC, se o Tribunal de origem,


para resolver a lide, analisa suficientemente a questão por
fundamentação que lhe parece adequada e refuta os argumentos
contrários ao seu entendimento.

2. A sentença proferida em processo que tramitou sem a citação de


litisconsorte passivo necessário está impregnada de vício insanável
(transrescisório) que pode ser impugnado por meio de ação
autônoma movida após o transcurso do prazo decadencial para
ajuizamento da ação rescisória. Querela nullitatis que encontra
previsão nos arts. 475-L, I e 741, I, do CPC.

3. Por ação autônoma de impugnação (querela nullitatis insanabilis)


deve-se entender qualquer ação declaratória hábil a levar a Juízo a
discussão em torno da validade da sentença.

4. O Ministério Público detém legitimidade para atuar na defesa do


patrimônio público.

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5. A ação civil pública constitui instrumento adequado a


desconstituir sentença lesiva ao erário e que tenha sido proferida
nos autos de processo que tramitou sem a citação do réu.
Precedente.

6. Recurso especial provido.

(REsp 445.664/AC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,


julgado em 24/08/2010, DJe 03/09/2010)

c) Revisão por erro material:

AÇÃO RESCISÓRIA. ACOLHIMENTO DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE


POR ERRO MATERIAL. ACÓRDÃO RESCINDENDO QUE, ALÉM DE LEVAR EM
CONSIDERAÇÃO A EXISTÊNCIA DE ERRO MATERIAL, REPUTOU DEVIDA A
RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA POR CONSIDERAR INADMISSÍVEL A
PERPETRADA OFENSA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA JUSTA
INDENIZAÇÃO, DA RAZOABILIDADE E DA MORALIDADE.

1. Nos termos do art. 333, II, do CPC, cabe ao réu demonstrar a existência de
fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Portanto,
cumpriria à ré demonstrar a insuficiência do depósito prévio efetuado pelo
autor, como alegado nas razões finais, ônus do qual não se desincumbiu.

2. "O pedido a ser considerado pelo juiz não se restringe aos requerimentos
relacionados em capítulo intitulado "pedidos". Entende-se como pedido o
conjunto de súplicas formuladas ao longo da petição inicial" (REsp
234396/BA, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU de 14.11.05).

3. Em que pese o argumento de que a discussão cinge-se à possibilidade de


revisão da coisa julgada (pois teria sido esse o fundamento utilizado pelo
Tribunal de origem e por esta Corte para manter a decisão que acolheu a
exceção de pré-executividade manejada pela ré), a constatação de
ocorrência de erro material torna inócuo o debate a respeito da
relativização, por inexistir coisa julgada.

4. Erro material é aquele perceptível primus ictus oculi, ou seja, aquele que
se pode divisar facilmente, como na hipótese em tela, em que o
dispositivo sentencial manifestamente não corresponde à vontade do
magistrado.

5. O laudo pericial estabeleceu que os prejuízos causados ao autor


perfaziam, àquela data, os montantes de Cr$ 17.111.553,00, no que se
refere à Eletrosul, e de Cr$ 1.270.062,50, no que tange à CEEE. A juíza
condenou as rés ao pagamento das quantias especificadas no referido
laudo, efetuado em 1980. Assim, por óbvio a correção monetária de tais
valores apenas poderia ocorrer a partir da data da elaboração do laudo,
uma vez que sua retroação até o momento da instalação da rede elétrica
no terreno – como determinado apenas relativamente à Eletrosul –
acarretaria dupla incidência naquele período.
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6. "Theodoro Júnior, tratando de caso em que o juiz fez incidir correção


monetária sobre valor principal já atualizado, consigna que isso não
poderia retratar 'vontade' do julgador, apenas podendo ser considerado
um 'lapso', que 'jamais entrou no ato de inteligência e vontade do
magistrado'. Afinal, 'inadmissível é adotar-se uma interpretação de
vontade sentencial que conduza a uma imoralidade'.

Tratando de situação muito semelhante, Teresa Wambier observa que 'o


que ocorreu no caso sob exame não foi dúvida quanto ao critério adotado,
mas certeza, absoluta certeza, de que uma mesma quantia não pode ser
corrigida duas vezes, por dois índices!'. Julgando caso também similar, o
Superior Tribunal de Justiça, em acórdão cuja ementa destaca a
necessidade de 'interpretação coerente e razoável', decidiu que 'não se
pode entender como coerente a incidência de uma correção monetária
retroativa ao ano de 1981, quando o laudo de avaliação do imóvel,
elaborado em fevereiro de 1984, já correspondia ao valor atualizado da
área à época" (Eduardo Talamini, in "Coisa Julgada e sua revisão", no
tópico intitulado "Erro material e razoabilidade da atuação estatal" -
Editora Revista dos Tribunais – São Paulo – 2005, pág. 530).

7. O art. 485, IV, do Código de Ritos prevê a possibilidade de ajuizamento de


ação rescisória quando a decisão rescindenda houver ofendido a coisa
julgada. Na espécie, como já dito, houve erro material, que não faz coisa
julgada. Por conseguinte, incabível a rescisória proposta com fundamento
no referido preceito normativo.

8. Ação rescisória extinta, sem resolução de mérito.

(AR 3.697/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em


09/12/2009, DJe 01/02/2010)

d) Impugnação da sentença inconstitucional: (art. 475-L , parágrafo 1º, e art.741,


parágrafo único do CPC).

e) Denúncia por violação à Convenção Americana de Direitos Humanos:

f) Ação anulatória de decisões dos juizados especiais:

g) Mandado de segurança para controle da competência dos juizados especiais, mesmo


se transitada em julgado a sentença:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO


REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO E
OBSCURIDADE NÃO VERIFICADAS. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO
DE TURMA RECURSAL DE JUIZADO ESPECIAL. CONTROLE DE COMPETÊNCIA.
DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO.

[...]

2. A TESE EMBARGADA - CABIMENTO DE MANDADO DE SEGURANÇA


FRENTE AOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DOS ESTADOS PARA CONTROLE DA
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571

COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS, AINDA QUE A DECISÃO


OBJETO DO WRIT JÁ TENHA TRANSITADO EM JULGADO - ENCONTRA-
SE EM ESTRITA CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA
DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

3. Embargos de declaração rejeitados.

(EDcl no AgRg no AgRg no RMS 32632/ES, Rel. Ministro RICARDO VILLAS


BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/03/2012, DJe 12/03/2012)

22.10. Conflito entre Coisas Julgadas


Para Nelson Nery deve prevalecer a primeira coisa julgada, partindo da ideia de que a segunda
nem chegou a se formar ou, no mínimo, formou-se ofendendo a CR/88, na medida em que
ofendeu a primeira coisa julgada. Para o Autor, a segunda coisa julgada é passível de ação
rescisória. Pontes de Miranda, Ada Grinover e Barbosa Moreira entendem que deve prevalecer
a segunda, já que o juiz não pode negar a esta cumprimento, pelo menos, até que seja
rescindida.

Dinamarco entende que a primeira deve prevalecer, entretanto, enquanto não for proposta
e acolhida a demanda rescisória quanto à segunda, esta terá validade, uma vez que não
poderá haver simples desconsideração da decisão. Para que ela perca sua eficácia, é
necessária a sua desconstituição, seja por meio da rescisória, seja através de ação ordinária
desconstitutiva, quando já tiver ultrapassado o prazo de dois anos.

E se a segunda coisa julgada não for rescindida, o que fazer? Eis o que diz o STF (HC
101.131/DF):

Cândido Rangel Dinamarco, ao sustentar a prevalência da segunda coisa julgada,


ressalta a possibilidade de um novo ato estatal revogar o anterior. Assim, a sentença
posterior, por não ter sido rescindida no prazo legal, teria o condão de revogar a sentença
anterior. Eis como expõe seu ponto de vista, baseado nas formulações de Liebman:

Disse ele, realmente, que uma sentença proferida depois da outra tem a eficácia de
cancelar os efeitos desta, como todo ato estatal revoga os anteriores. Assim como a lei
revoga a lei e o decreto revoga o decreto, assim também a sentença passada em julgado
revoga uma outra, anterior, também passada em julgado. Estamos pois fora do campo
específico do direito processual, em uma visão bastante ampla dos atos estatais de
qualquer dos três Poderes e sempre segundo uma perspectiva racional e harmoniosa do
exercício do poder. Na nova lei há uma nova vontade do legislador, que sobrepuja a
vontade dele próprio, contida na lei velha. No novo decreto, nova vontade da
Administração. Na nova sentença, nova vontade do Estado-juiz. (Fundamentos do
processo civil moderno. 6. ed., São Paulo: Malheiros, 2010, p. 1.135).

No mesmo sentido a lição de Pontes de Miranda, que entende prevalecer a segunda


coisa julgada sobre a primeira, porque a norma processual somente prevê a possibilidade
de desconstituir a segunda coisa julgada dentro de um prazo específico e, se isso não
ocorrer, a anterior é revogada pela posterior. Confira-se o seguinte trecho da obra do
autor:

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Dissemos que falta o segundo elemento “sentença trânsita em julgado, que se quer
rescindir”, se precluiu o prazo para a rescisão de tal sentença. Uma vez que se admitiu, de
lege lata, com o prazo preclusivo, a propositura somente no biênio a respeito da segunda
sentença, o direito e a pretensão à rescisão desaparecem, e a segunda sentença, tornada
irrescindível, prepondera. Em conseqüência, desaparece a eficácia de coisa julgada da
primeira sentença. Esse é um ponto que não tem sido examinado, a fundo, pelos juristas e
juízes: há duas sentenças, ambas passadas em julgado, e uma proferida após a outra, com
infração da coisa julgada. Se há o direito e a pretensão à rescisão da segunda sentença, só
exercível a ação no biênio e não foi exercida, direito, pretensão à rescisão e ação rescisória
extinguiram-se. A segunda sentença lá está, suplantando a anterior. [...] (Tratado da ação
rescisória das sentenças e de outras decisões. 1. ed., Campinas: Bookseller, 1988, pp. 259-
260)

Ademais, o fato de a segunda coisa julgada prevalecer sobre a primeira é razão única
da previsão legal de ação rescisória por ofensa à coisa julgada (art. 485, inciso IV, do CPC),
o que pressupõe decisão trânsita anterior. Marinoni e Arenhart, corroborando este
entendimento, lecionam:

A GRANDE QUESTÃO OCORRE NO CONFLITO DESSAS COISAS JULGADAS, APÓS O


ESGOTAMENTO DO PRAZO EXISTENTE PARA O OFERECIMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA
(de dois anos – cf. Art. 495 do CPC). Findo esse prazo, tem-se em tese duas coisas julgadas
(possivelmente antagônicas) convivendo no mundo jurídico, o que certamente não é
possível. PARECE QUE, NESSES CASOS, DEVE PREVALECER A SEGUNDA COISA
JULGADA EM DETRIMENTO DA PRIMEIRA. ALÉM DE A PRIMEIRA COISA JULGADA
NÃO TER SIDO INVOCADA NO PROCESSO QUE LEVOU À EDIÇÃO DA SEGUNDA,
ELA NEM MESMO FOI LEMBRADA EM TEMPO OPORTUNO, PERMITINDO O USO
DA AÇÃO RESCISÓRIA E, ASSIM, A DESCONSTITUIÇÃO DA COISA JULGADA
FORMADA POSTERIORMENTE. É absurdo pensar que a coisa julgada, que poderia ser
desconstituída até determinado momento, simplesmente desaparece quando a ação
rescisória não é utilizada. Se fosse assim, não haveria razão para o art. 485, IV, e,
portanto, para a propositura da ação rescisória, bastando esperar o escoamento do prazo
estabelecido para seu uso. (Processo de conhecimento. 7. ed. rev. e atual. - São Paulo: RT,
2008, p. 665 – negritei)

Esse foi o voto vencido do Min. Marco Aurélio. O julgado decidiu pela validade da primeira
coisa julgada:

PROCESSO – DUPLICIDADE – SENTENÇAS CONDENATÓRIAS. Os institutos da


litispendência e da coisa julgada direcionam à insubsistência do segundo
processo e da segunda sentença proferida, sendo imprópria a prevalência
do que seja mais favorável ao acusado.

(HC 101131, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO
AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 25/10/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-029 DIVULG 09-02-2012 PUBLIC 10-02-2012)

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22.11. Relativização da Coisa Julgada


É o movimento pelo qual decisão injusta ou inconstitucional não poderia ficar acobertada pelo
manto da coisa julgada, pelo qual a decisão, a qualquer tempo, poderia ser revista ou revisada,
por critérios e meios atípicos.

O problema é definir o que seria injusto a ponto de ameaçar toda a segurança jurídica
possibilitada pela estabilização jurisdicional da coisa julgada.

Algumas decisões pontuais já se utilizaram da relativização, como no STJ, que afirmou


existirem situações em que a própria sentença, por conter vícios insanáveis, será considerada
juridicamente inexistente.

Entretanto, a regra é que a relativização da coisa julgada seja repelida, dando-se primazia à
segurança jurídica em detrimento de determinadas situações de injustiça.

22.12. Coisa Julgada Inconstitucional


Cumpre registrar que alguns estudos vêm sendo feitos na tentativa de demonstrar a
admissibilidade de se recorrer a uma ação autônoma de impugnação quanto à coisa julgada
inconstitucional. Todos buscam consolidar o entendimento segundo o qual não é absoluto o
princípio da imutabilidade da res judicata.

Concepção de PAULO OTERO

Esse autor faz distinção entre inexistência e inconstitucionalidade das decisões judiciais,
salientando que as meras aparências de atos judiciais não são reduzíveis ao conceito de
inconstitucionalidade, antes se afirmam como casos de inexistência jurídica. E arremata:
“apenas as decisões judiciais com o mínimo de identificabilidade são passíveis de um juízo de
inconstitucionalidade”.

Tipifica as principais modalidades de inconstitucionalidade do caso julgado, dando destaque à


decisão judicial cujo conteúdo viola direta e imediatamente um preceito ou um princípio
constitucional.

Assevera, ainda, que: “A ideia da defesa da segurança e certeza da ordem jurídica constituem
princípios fundamentadores de uma solução tendente a limitar ou mesmo excluir a relevância
da inconstitucionalidade como fator autônomo de destruição do caso julgado. No entanto, se
o princípio da constitucionalidade determina a insusceptibilidade de qualquer ato normativo
inconstitucional se consolidar na ordem jurídica, tal fato poderá fundamentar a possibilidade,
senão mesmo a exigência, de destruição do caso julgado desconforme com a Constituição”.

A regra é, pois, que o caráter relativo da coisa julgada conquanto não se possa desfigurar a
segurança e a certeza de ordem jurídica que encarna, permite sua destruição em ação
autônoma intentada com esse objetivo.

A concepção de PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA

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O referido autor desenvolve as mesmas ideias ao tecer considerações acerca da revisão da


coisa julgada, advertindo que “a imutabilidade que a caracteriza não é tão absoluta quanto se
imagina”.

Sustentando a inelinabilidade do instituto, a bem do funcionamento do processo, adentra


sobre o erro da sentença como causa de sua revisão, assinalando: “o princípio da legalidade
não pode ser sacrificado em homenagem à coisa julgada, tampouco o princípio da isonomia.
No choque entre uns e o outro, a imutabilidade tem de ceder passagem àqueles princípios
basilares do constitucionalismo nacional”.

Por outro lado, enfatizando que a lista de casos julgados é infindável, após elencar diversas
situações passíveis de revisão e aventar a hipótese de que “sempre haverá inúmeros exemplos
de divergências objetivas sobre o sentido de determinadas regras jurídicas”, aduz que cabe “ao
sistema garantir a revisão desses julgados, instituindo remédio jurídico-processual próprio, sob
pena de prevalecer a dualidade do direito”.

A posição de CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO

Desenvolve sua visão sistemática utilizando-se de critérios objetivos, ao apontar a prevalência


de certos valores garantidos constitucionalmente “tanto quanto a coisa julgada, os quais
devem prevalecer mesmo com algum prejuízo para segurança das relações jurídicas. Justo
por isso, acatar a ideia da coisa julgada inconstitucional, que, embora assentada na
Constituição, não pode ser tida como absoluta”. Seu ponto de vista tem apoio também no
equilíbrio que há muito venho postulando, entre duas exigências opostas, mas conciliáveis, ou
seja, entre a exigência de certeza ou segurança, que a autoridade da coisa julgada prestigia, e a
de justiça e legitimidade das decisões, que aconselha não radicalizar essa autoridade. Nessa
linha, repito: a ordem constitucional não tolera que se eternizem injustiças a pretexto de não
eternizar litígios (Carlos Valder Nascimento).

Reafirma Dinamarco: “propõe-se apenas um trato extraordinário destinado às situações


extraordinárias com o objetivo de afastar absurdos, injustiças flagrantes, fraudes e infrações à
Constituição – com a consciência de que as providências destinadas a esse objetivo devem ser
tão excepcionais quanto é a ocorrência desses graves inconvenientes. Não me move o intuito
de propor insensata inversão, para que a garantia da coisa julgada passasse a operar em casos
raros e a sua infringência se tornasse a regra geral”.

Finalmente, o referido autor assevera, estribado na posição adotada pelo STF, que a ação
autônoma por esse aventada é a mesma proposta por Piero Calamandrei que o instrumento
“adequado contra a sentença nula será a ação declaratória negativa de certeza, mediante a
qual, sem aportar modificação alguma ao mundo jurídico, far-se-á declarar o caráter negativo
que o conteúdo da sentença trouxe consigo desde o momento de sua concepção”.

Concepção de JOSÉ AUGUSTO DELGADO

Segundo o autor: “a injustiça, a imoralidade, o ataque à Constituição, a transformação da


realidade das coisas quando presentes na sentença viciam a vontade jurisdicional de modo
absoluto, pelo que, em época alguma ela transita em julgado. Os valores absolutos da
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legalidade, moralidade e justiça estão acima do valor segurança jurídica. Aqueles são pilares
entre outros que sustentam o regime democrático, de natureza constitucional, enquanto
esse é valor infraconstitucional oriunda de regramento processual”.

“Cresce a preocupação da doutrina com a instauração da coisa julgada decorrente de


sentenças injustas, violadoras da moralidade, de legalidade e dos princípios constitucionais”.

As situações atentatórias tidas como atentatórias à CR: “nunca terão força de coisa julgada e
poderão, a qualquer tempo, ser desconstituídas, porque praticam agressão ao regime
democrático no seu âmago mais consistente que é a garantia da moralidade, da legalidade, do
respeito à Constituição e da entrega da justiça”.

Concepção de JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA

Não se compadece com o ordenamento positivo o aumento da dose de “relativização” da


coisa julgada material que ele próprio (o ordenamento) já consagra, porém não é infenso à
proposta de que tal dose seja elevada em alguns casos, como os seguintes:

1) descoberta científica demonstra a erronia da solução dada anteriormente ao litígio, em


época na qual não era possível contar com determinada prova. Para a hipótese do exame de
DNA, a jurisprudência já vem atenuando, por via interpretativa, o rigor do art. 485, VII, CPC,
para admitir rescisória com fundamento no laudo pericial, incluído no conceito de “documento
novo”. Para evitar que casos como esses fiquem sem resposta adequada, se decorrido o biênio
decadencial, o autor defende fixar o termo inicial do prazo no dia em que o interessado obtém
o laudo, em vez do trânsito em julgado da sentença rescindenda.

2) Sentença violadora de disposição constitucional, o que é caso raro, pois normalmente o


processo terá chegado ao STF, mediante recurso extraordinário. BARBOSA MORERIA não se
inclina a sugerir que se elimine a imunidade da res judicata à posterior declaração de
inconstitucionalidade, mesmo no julgamento de ação direta. Pode acontecer, no entanto,
que a sentença em questão haja aplicado a lei já então declarada inconstitucional pelo STF. O
caso enquadra-se na hipótese do art. 485, V do CPC, visto que a sentença terá violado a
Constituição. Em atenção à particular gravidade do vício, o autor entende que seria razoável
abrandar essa exigência, permitindo, a título excepcional, o ajuizamento da rescisória a
qualquer tempo.

No mais, BARBOSA MOREIRA entende que a disciplina atual já leva em suficiente conta os
motivos capazes de justificar a “relativização” da coisa julgada material. Não há lugar para
invocar, com o fito de aumentar a dosagem, quaisquer princípios supostamente desprezados
pelo legislador. O regime vigente atende às exigências de razoabilidade normativa.

22.13. Posicionamento do STF Quanto à Relativização da Coisa Julgada

22.13.1. Pela Inadmissibilidade


Coisa Julgada - Relativização - Inadmissibilidade (Transcrições)

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RE 594350/RS*

RELATOR: Min. Celso de Mello

EMENTA: COISA JULGADA EM SENTIDO MATERIAL. INDISCUTIBILIDADE, IMUTABILIDADE E


COERCIBILIDADE: ATRIBUTOS ESPECIAIS QUE QUALIFICAM OS EFEITOS RESULTANTES DO
COMANDO SENTENCIAL. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL QUE AMPARA E PRESERVA A
AUTORIDADE DA COISA JULGADA. EXIGÊNCIA DE CERTEZA E DE SEGURANÇA JURÍDICAS.
VALORES FUNDAMENTAIS INERENTES AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. EFICÁCIA
PRECLUSIVA DA “RES JUDICATA”. “TANTUM JUDICATUM QUANTUM DISPUTATUM VEL
DISPUTARI DEBEBAT”. CONSEQUENTE IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO DE
CONTROVÉRSIA JÁ APRECIADA EM DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO, AINDA QUE
PROFERIDA EM CONFRONTO COM A JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE NO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. A QUESTÃO DO ALCANCE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 741 DO CPC.
MAGISTÉRIO DA DOUTRINA. RE CONHECIDO, PORÉM IMPROVIDO.

- A sentença de mérito transitada em julgado só pode ser desconstituída mediante


ajuizamento de específica ação autônoma de impugnação (ação rescisória) que haja sido
proposta na fluência do prazo decadencial previsto em lei, pois, com o exaurimento de
referido lapso temporal, estar-se-á diante da coisa soberanamente julgada, insuscetível de
ulterior modificação, ainda que o ato sentencial encontre fundamento em legislação que, em
momento posterior, tenha sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal,
quer em sede de controle abstrato, quer no âmbito de fiscalização incidental de
constitucionalidade.
- A decisão do Supremo Tribunal Federal que haja declarado inconstitucional determinado
diploma legislativo em que se apóie o título judicial, ainda que impregnada de eficácia “ex
tunc”, como sucede com os julgamentos proferidos em sede de fiscalização concentrada (RTJ
87/758 – RTJ 164/506-509 – RTJ 201/765), detém-se ante a autoridade da coisa julgada, que
traduz, nesse contexto, limite insuperável à força retroativa resultante dos pronunciamentos
que emanam, “in abstracto”, da Suprema Corte. Doutrina. Precedentes.

DECISÃO: Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão, que, proferido por
Tribunal de jurisdição inferior, manteve decisão prolatada em execução de sentença.
Não há como acolher o presente recurso extraordinário, eis que a parte recorrente, na
realidade, busca rescindir o julgado, pretendendo, em sede processualmente inadequada e de
maneira absolutamente imprópria, o reexame do fundo da controvérsia, que já constituiu
objeto de decisão – tornada irrecorrível - proferida no processo de conhecimento.
É importante rememorar, no ponto, o alto significado de que se reveste, em nosso sistema
jurídico, o instituto da “res judicata”, que constitui atributo específico da jurisdição e que se
revela pela dupla qualidade que tipifica os efeitos emergentes do ato sentencial: a
imutabilidade, de um lado, e a coercibilidade, de outro.
Esses atributos que caracterizam a coisa julgada em sentido material, notadamente a
imutabilidade dos efeitos inerentes ao comando sentencial, recebem, diretamente, da própria
Constituição, especial proteção destinada a preservar a inalterabilidade dos pronunciamentos
emanados dos Juízes e Tribunais, criando, desse modo, situação de certeza, de estabilidade e
de segurança para as relações jurídicas.
É por essa razão que HUMBERTO THEODORO JÚNIOR (“Curso de Direito Processual Civil”, vol.
I/539-540, item n. 509, 51ª ed., 2010, Forense), discorrendo sobre o fundamento da
autoridade da coisa julgada, esclarece que o legislador, ao instituir a “res judicata”, objetivou
atender, tão-somente, “uma exigência de ordem prática (...), de não mais permitir que se volte

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a discutir acerca das questões já soberanamente decididas pelo Poder Judiciário”,


expressando, desse modo, a verdadeira razão de ser do instituto em questão: preocupação
em garantir a segurança nas relações jurídicas e em preservar a paz no convívio social.
Mostra-se tão intensa a intangibilidade da coisa julgada, considerada a própria disciplina
constitucional que a rege, que nem mesmo lei posterior – que haja alterado (ou, até mesmo,
revogado) prescrições normativas que tenham sido aplicadas, jurisdicionalmente, na
resolução do litígio – tem o poder de afetar ou de desconstituir a autoridade da coisa julgada.
Daí o preciso magistério de JOSÉ FREDERICO MARQUES (“Manual de Direito Processual Civil”,
vol. III/329, item n. 687, 2ª ed./2ª tir., 2000, Millennium Editora) em torno das relações entre a
coisa julgada e a Constituição:

“A coisa julgada cria, para a segurança dos direitos subjetivos, situação de imutabilidade que
nem mesmo a lei pode destruir ou vulnerar - é o que se infere do art. 5º, XXXVI, da Lei Maior. E
sob esse aspecto é que se pode qualificar a ‘res iudicata’ como garantia constitucional de
tutela a direito individual.
Por outro lado, essa garantia, outorgada na Constituição, dá mais ênfase e realce àquela da
tutela jurisdicional, constitucionalmente consagrada, no art. 5º, XXXV, para a defesa de direito
atingido por ato lesivo, visto que a torna intangível até mesmo em face de ‘lex posterius’,
depois que o Judiciário exaure o exercício da referida tutela, decidindo e compondo a lide.”
(grifei)

Não custa enfatizar, de outro lado, na perspectiva da eficácia preclusiva da “res judicata”,
que, em sede de execução, não mais se justifica a renovação do litígio que foi objeto de
resolução no processo de conhecimento, especialmente quando a decisão que apreciou a
controvérsia apresenta-se revestida da autoridade da coisa julgada, hipótese em que, nos
termos do art. 474 do CPC, “reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e defesas
que a parte poderia opor (...) à rejeição do pedido” (grifei).
Cabe ter presente, neste ponto, a advertência da doutrina (NELSON NERY JUNIOR/ROSA
MARIA ANDRADE NERY, “Código de Processo Civil Comentado”, p. 709, 10ª ed., 2007, RT),
cujo magistério - em lição plenamente aplicável ao caso ora em exame - assim analisa o
princípio do “tantum judicatum quantum disputatum vel disputari debebat”:

“Transitada em julgado a sentença de mérito, as partes ficam impossibilitadas de alegar


qualquer outra questão relacionada com a lide sobre a qual pesa a autoridade da coisa
julgada. A norma reputa repelidas todas as alegações que as partes poderiam ter feito na
petição inicial e contestação a respeito da lide e não o fizeram. Isto quer significar que não se
admite a propositura de nova demanda para rediscutir a lide, com base em novas alegações.”
(grifei)

Esse entendimento - que sustenta a extensão da autoridade da coisa julgada em sentido


material tanto ao que foi efetivamente arguido quanto ao que poderia ter sido alegado, mas
não o foi, desde que tais alegações e defesas se contenham no objeto do processo - também
encontra apoio no magistério doutrinário de outros eminentes autores, tais como HUMBERTO
THEODORO JÚNIOR (“Curso de Direito Processual Civil”, vol. I/550-553, itens ns. 516/516-a,
51ª ed., 2010, Forense), VICENTE GRECO FILHO (“Direito Processual Civil Brasileiro”, vol.
2/267, item n. 57.2, 11ª ed., 1996, Saraiva), MOACYR AMARAL SANTOS (“Primeiras Linhas de
Direito Processual Civil”, vol. 3/56, item n. 754, 21ª ed., 2003, Saraiva), EGAS MONIZ DE
ARAGÃO (“Sentença e Coisa Julgada”, p. 324/328, itens ns. 224/227, 1992, Aide) e JOSÉ
FREDERICO MARQUES (“Manual de Direito Processual Civil”, vol. III/332, item n. 689, 2ª ed.,
2000, Millennium Editora).

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Lapidar, sob tal aspecto, a autorizadíssima lição de ENRICO TULLIO LIEBMAN (“Eficácia e
Autoridade da Sentença”, p. 52/53, item n. 16, nota de rodapé, tradução de Alfredo
Buzaid/Benvindo Aires, 1945, Forense), que, ao referir-se ao tema dos limites objetivos da
coisa julgada, acentua que esta abrange “tanto as questões que foram discutidas como as que
o poderiam ser”:

“(...) se uma questão pudesse ser discutida no processo, mas de fato não o foi, também a ela
se estende, não obstante, a coisa julgada, no sentido de que aquela questão não poderia ser
utilizada para negar ou contestar o resultado a que se chegou naquele processo. Por exemplo,
o réu não opôs uma série de deduções defensivas que teria podido opor, e foi condenado. Não
poderá ele valer-se daquelas deduções para contestar a coisa julgada. A finalidade prática do
instituto exige que a coisa julgada permaneça firme, embora a discussão das questões
relevantes tenha sido eventualmente incompleta; absorve ela, desse modo, necessariamente,
tanto as questões que foram discutidas como as que o poderiam ser.” (grifei)

A necessária observância da autoridade da coisa julgada representa expressivo consectário da


ordem constitucional, que consagra, dentre os vários princípios que dela resultam, aquele
concernente à segurança jurídica.
É por essa razão que o Supremo Tribunal Federal, por mais de uma vez, já fez consignar
advertência que põe em destaque a essencialidade do postulado da segurança jurídica e a
consequente imprescindibilidade de amparo e tutela das relações jurídicas definidas por
decisão transitada em julgado:

“O CUMPRIMENTO DAS DECISÕES JUDICIAIS IRRECORRÍVEIS IMPÕE-SE AO PODER PÚBLICO


COMO OBRIGAÇÃO CONSTITUCIONAL INDERROGÁVEL.
A exigência de respeito incondicional às decisões judiciais transitadas em julgado traduz
imposição constitucional justificada pelo princípio da separação de poderes e fundada nos
postulados que informam, em nosso sistema jurídico, a própria concepção de Estado
Democrático de Direito.
O dever de cumprir as decisões emanadas do Poder Judiciário, notadamente nos casos em que
a condenação judicial tem por destinatário o próprio Poder Público, muito mais do que simples
incumbência de ordem processual, representa uma incontornável obrigação institucional a
que não se pode subtrair o aparelho de Estado, sob pena de grave comprometimento dos
princípios consagrados no texto da Constituição da República.
A desobediência a ordem ou a decisão judicial pode gerar, em nosso sistema jurídico,
gravíssimas consequências, quer no plano penal, quer no âmbito político-administrativo
(possibilidade de ‘impeachment’), quer, ainda, na esfera institucional (decretabilidade de
intervenção federal nos Estados-membros ou em Municípios situados em Território Federal,
ou de intervenção estadual nos Municípios).”
(RTJ 167/6-7, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)

O que se revela incontroverso, nesse contexto, é que a exigência de segurança jurídica,


enquanto expressão do Estado Democrático de Direito, mostra-se impregnada de elevado
conteúdo ético, social e jurídico, projetando-se sobre as relações jurídicas, mesmo as de
direito público (RTJ 191/922, Rel. p/ o acórdão Min. GILMAR MENDES), em ordem a viabilizar
a incidência desse mesmo princípio sobre comportamentos de qualquer dos Poderes ou
órgãos do Estado, para que se preservem, desse modo, situações consolidadas e protegidas
pelo fenômeno da “res judicata”.

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Importante referir, no ponto, em face de sua extrema pertinência, a aguda observação de J. J.


GOMES CANOTILHO (“Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, p. 250, 1998,
Almedina):

“Estes dois princípios - segurança jurídica e protecção da confiança - andam estreitamente


associados a ponto de alguns autores considerarem o princípio da protecção de confiança
como um subprincípio ou como uma dimensão específica da segurança jurídica. Em geral,
considera-se que a segurança jurídica está conexionada com elementos objectivos da ordem
jurídica - garantia de estabilidade jurídica, segurança de orientação e realização do direito -
enquanto a protecção da confiança se prende mais com as componentes subjectivas da
segurança, designadamente a calculabilidade e previsibilidade dos indivíduos em relação aos
efeitos jurídicos dos actos dos poderes públicos. A segurança e a protecção da confiança
exigem, no fundo: (1) fiabilidade, clareza, racionalidade e transparência dos actos do poder;
(2) de forma que em relação a eles o cidadão veja garantida a segurança nas suas disposições
pessoais e nos efeitos jurídicos dos seus próprios actos. Deduz-se já que os postulados da
segurança jurídica e da protecção da confiança são exigíveis perante ‘qualquer acto’ de
‘qualquer poder’ - legislativo, executivo e judicial.” (grifei)

Nem se diga, ainda, para legitimar a pretensão jurídica da parte ora recorrente, que esta
poderia invocar, em seu favor, a tese da “relativização” da autoridade da coisa julgada, em
especial da (impropriamente) denominada “coisa julgada inconstitucional”, como sustentam
alguns autores (JOSÉ AUGUSTO DELGADO, “Pontos Polêmicos das Ações de Indenização de
Áreas Naturais Protegidas – Efeitos da coisa julgada e os princípios constitucionais”, “in”
Revista de Processo nº 103/9-36; CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO, “Relativizar a Coisa Julgada
Material”, “in” Revista de Processo nº 109/9-38; HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, “A Reforma
do Processo de Execução e o Problema da Coisa Julgada Inconstitucional (Código de Processo
Civil, artigo 741, Parágrafo Único)”, “in” Revista dos Tribunais, vol. 841/56/76, ano 94; TERESA
ARRUDA ALVIM WAMBIER e JOSÉ MIGUEL GARCIA MEDINA, “O Dogma da Coisa Julgada –
Hipóteses de Relativização”, 2003, RT; TEORI ALBINO ZAVASCKI, “Embargos à Execução com
Eficácia Rescisória: Sentido e Alcance do Art. 741, Parágrafo Único, Do CPC”, “in” Revista de
Processo, vol. 125/79-91, v.g.).
Tenho para mim que essa postulação, se admitida, antagonizar-se-ia com a proteção jurídica
que a ordem constitucional dispensa, em caráter tutelar, à “res judicata”.
Na realidade, a desconsideração da “auctoritas rei judicatae” implicaria grave
enfraquecimento de uma importantíssima garantia constitucional que SURGIU, DE
MODO EXPRESSO, EM NOSSO ORDENAMENTO POSITIVO, COM A
CONSTITUIÇÃO DE 1934.
A pretendida “relativização” da coisa julgada provocaria consequências altamente lesivas à
estabilidade das relações intersubjetivas, à exigência de certeza e de segurança jurídicas e à
preservação do equilíbrio social, valendo destacar, em face da absoluta pertinência de suas
observações, a advertência de ARAKEN DE ASSIS (“Eficácia da Coisa Julgada Inconstitucional”,
“in” Revista Jurídica nº 301/7-29, 12-13):

“Aberta a janela, sob o pretexto de observar equivalentes princípios da Carta Política,


comprometidos pela indiscutibilidade do provimento judicial, não se revela difícil prever que
todas as portas se escancararão às iniciativas do vencido. O vírus do relativismo contaminará,
fatalmente, todo o sistema judiciário. Nenhum veto, ‘a priori’, barrará o vencido de desafiar e
afrontar o resultado precedente de qualquer processo, invocando hipotética ofensa deste ou
daquele valor da Constituição. A simples possibilidade de êxito do intento revisionista, sem as

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peias da rescisória, multiplicará os litígios, nos quais o órgão judiciário de 1º grau decidirá,
preliminarmente, se obedece, ou não, ao pronunciamento transitado em julgado do seu
Tribunal e até, conforme o caso, do Supremo Tribunal Federal. Tudo, naturalmente justificado
pelo respeito obsequioso à Constituição e baseado na volúvel livre convicção do magistrado
inferior.
Por tal motivo, mostra-se flagrante o risco de se perder qualquer noção de segurança e de
hierarquia judiciária. Ademais, os litígios jamais acabarão, renovando-se, a todo instante, sob
o pretexto de ofensa a este ou aquele princípio constitucional. Para combater semelhante
desserviço à Nação, urge a intervenção do legislador, com o fito de estabelecer, previamente,
as situações em que a eficácia de coisa julgada não opera na desejável e natural extensão e o
remédio adequado para retratá-la (...). Este é o caminho promissor para banir a insegurança
do vencedor, a afoiteza ou falta de escrúpulos do vencido e o arbítrio e os casuísmos judiciais.”
(grifei)

Esse mesmo entendimento - que rejeita a “relativização” da coisa julgada em sentido material
– foi exposto, em lapidar abordagem do tema, por NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA DE
ANDRADE NERY (“Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante”, p.
715/717, itens ns. 28 e 30, e p. 1.132, item n. 14, 11ª ed., 2010, RT):

“28. Coisa julgada material e Estado Democrático de Direito. A doutrina mundial reconhece o
instituto da coisa julgada material como ‘elemento de existência’ do Estado Democrático de
Direito (...). A ‘supremacia da Constituição’ está na própria coisa julgada, enquanto
manifestação do Estado Democrático de Direito, fundamento da República (CR 1.º ‘caput’),
não sendo princípio que possa opor-se à coisa julgada como se esta estivesse abaixo de
qualquer outro instituto constitucional. Quando se fala na intangibilidade da coisa julgada,
não se deve dar ao instituto tratamento jurídico inferior, de mera figura do processo civil,
regulada por lei ordinária, mas, ao contrário, impõe-se o reconhecimento da coisa julgada
com a magnitude constitucional que lhe é própria, ou seja, de elemento formador do Estado
Democrático de Direito, que não pode ser apequenado por conta de algumas situações, velhas
conhecidas da doutrina e jurisprudência, como é o caso da sentença injusta, repelida como
irrelevante (...) ou da sentença proferida contra a Constituição ou a lei, igualmente considerada
pela doutrina (...), sendo que, nesta última hipótese, pode ser desconstituída pela ação
rescisória (CPC 485 V). (...) O risco político de haver sentença injusta ou inconstitucional no
caso concreto parece ser menos grave do que o risco político de instaurar-se a insegurança
geral com a relativização (‘rectius’: desconsideração) da coisa julgada.

.......................................................
30. Controle da constitucionalidade da sentença. Coisa julgada inconstitucional. Os atos
jurisdicionais do Poder Judiciário ficam sujeitos ao controle de sua constitucionalidade, como
todos os atos de todos os poderes. Para tanto, o ‘due process of law’ desse controle tem de ser
observado. Há três formas para fazer-se o controle interno, jurisdicional, da
constitucionalidade dos atos jurisdicionais do Poder Judiciário: a) por recurso ordinário; b) por
recurso extraordinário; c) por ações autônomas de impugnação. Na primeira hipótese, tendo
sido proferida decisão contra a CR, pode ser impugnada por recurso ordinário (agravo,
apelação, recurso ordinário constitucional etc.) no qual se pedirá a anulação ou a reforma da
decisão inconstitucional. O segundo caso é de decisão de única ou última instância que ofenda
a CR, que poderá ser impugnada por RE para o STF (CR 102 III ‘a’). A terceira e última
oportunidade para controlar-se a constitucionalidade dos atos jurisdicionais do Poder
Judiciário ocorre quando a decisão de mérito já tiver transitado em julgado, situação em que
poderá ser impugnada por ação rescisória (CPC 485 V) ou revisão criminal (CPP 621). Passado

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o prazo de dois anos que a lei estipula (CPC 495) para exercer-se o direito de rescisão de
decisão de mérito transitada em julgado (CPC 485), não é mais possível fazer-se o controle
judicial da constitucionalidade de sentença transitada em julgado. No século XXI não mais se
justifica prestigiar e dar-se aplicação a institutos como os da ‘querela nullitatis insanabilis’ e da
‘praescriptio immemorialis’. Não se permite a reabertura, a qualquer tempo, da discussão de
lide acobertada por sentença transitada em julgado, ainda que sob pretexto de que a
sentença seria inconstitucional. O controle da constitucionalidade dos atos jurisdicionais do
Poder Judiciário existe, mas deve ser feito de acordo com o devido processo legal.
.......................................................
14. Inconstitucionalidade material do CPC 741 par. ún. Título judicial é sentença transitada
em julgado, acobertada pela autoridade da coisa julgada. Esse título judicial goza de
proteção constitucional, que emana diretamente do Estado Democrático de Direito (CR 1º
‘caput’), além de possuir dimensão de garantia constitucional fundamental (CR 5º XXXVI).
Decisão ‘posterior’, ainda que do STF, não poderá atingir a coisa julgada que já havia sido
formada e dado origem àquele título executivo judicial. A decisão do STF que declara
inconstitucional lei ou ato normativo tem eficácia retroativa ‘ex tunc’, para atingir situações
que estejam se desenvolvendo com fundamento nessa lei. Essa retroatividade tem como
limite a ‘coisa julgada’ (Canotilho. ‘Dir. Const.’, p. 1013/1014). Não pode alcançar, portanto,
as relações jurídicas firmes, sobre as quais pesa a ‘auctoritas rei iudicatae’, manifestação do
Estado Democrático de Direito (do ponto de vista político-social-coletivo) e garantia
constitucional fundamental (do ponto de vista do direito individual, coletivo ou difuso). A esse
respeito, ressalvando a coisa julgada dos efeitos retroativos da decisão de
inconstitucionalidade, embora nem precisasse fazê-lo, é expressa a CR portuguesa (art. 282, n.
3, 1ª parte). Caso se admita a retroação prevista na norma ora comentada como possível, isso
caracterizaria ofensa direta a dois dispositivos constitucionais: CR 1º ‘caput’ (Estado
Democrático de Direito, do qual a coisa julgada é manifestação) e 5º XXXVI (garantia
individual ou coletiva da intangibilidade da coisa julgada). A norma, instituída pela L 11232/05,
é, portanto, materialmente inconstitucional. Não se trata de privilegiar o instituto da coisa
julgada sobrepondo-o ao princípio da supremacia da Constituição (...). A coisa julgada é a
própria Constituição da República, vale dizer, manifestação, dentro do Poder Judiciário, do
Estado Democrático de Direito (CR 1º ‘caput’), fundamento da República.” (grifei)

Absolutamente correto, pois, o magistério de autores – como JOSÉ CARLOS BARBOSA


MOREIRA (“Considerações Sobre a Chamada ‘Relativização’ da Coisa Julgada Material” “in”
Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro nº 62/43-69);
ROSEMIRO PEREIRA LEAL (“Relativização Inconstitucional da Coisa Julgada – Temática
Processual e Reflexões Jurídicas”, p. 3/22, 2005, Del Rey); SÉRGIO GILBERTO PORTO
(“Cidadania Processual e Relativização da Coisa Julgada” “in” Revista Jurídica nº 304/23-31) e
LUIZ GUILHERME MARINONI e DANIEL MITIDIERO (“Código de Processo Civil”, p. 716/717,
item n. 9, 2ª ed., 2010, RT) – que repudiam a tese segundo a qual mostrar-se-ia viável a
“relativização” da autoridade da coisa julgada, independentemente da utilização ordinária da
ação rescisória, valendo relembrar, no ponto, a advertência de LEONARDO GRECO (“Eficácia
da Declaração ‘Erga Omnes’ de Constitucionalidade ou Inconstitucionalidade em Relação à
Coisa Julgada Anterior” “in” “Relativização da Coisa Julgada”, p. 251/261, 2ª ed./2ª tir., 2008,
JusPODIVM), para quem se revelam conflitantes, com a garantia constitucional da “res
judicata”, as regras legais que autorizam a desconsideração da coisa julgada material em face
de declaração de inconstitucionalidade (ou de uma nova interpretação constitucional)
emanada do Supremo Tribunal Federal, à semelhança do que prescrevem, p. ex., o art. 475-L,
§ 1º, e o art. 741, parágrafo único, ambos do Código de Processo Civil:

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“2. Para examinar o conflito entre a coisa julgada e a declaração de constitucionalidade ou


inconstitucionalidade, assim como para avaliar se a demonstrada vulnerabilidade da coisa
julgada é compatível com o Estado Democrático de Direito instituído entre nós a partir da
Constituição de 1988, considero necessário assentar uma segunda premissa, ou seja, se a
coisa julgada é um direito fundamental ou uma garantia de direitos fundamentais e, como
tal, se a sua preservação é um valor humanitário que mereça ser preservado em igualdade de
condições com todos os demais constitucionalmente assegurados; ou, se, ao contrário, é
apenas um princípio ou uma regra de caráter técnico processual e de hierarquia infra-
constitucional, que, portanto, deva ser preterida ao primado da Constituição e da eficácia
concreta dos direitos fundamentais e das demais disposições constitucionais.
.......................................................
Todavia, parece-me que a coisa julgada é uma importante garantia fundamental e, como tal,
um verdadeiro direito fundamental, como instrumento indispensável à eficácia concreta do
direito à segurança, inscrito como valor e como direito no preâmbulo e no ‘caput’ do artigo 5º
da Constituição de 1988. A segurança não é apenas a proteção da vida, da incolumidade física
ou do patrimônio, mas também e principalmente a segurança jurídica.
.......................................................
A segurança jurídica é o mínimo de previsibilidade necessária que o Estado de Direito deve
oferecer a todo cidadão, a respeito de quais são as normas de convivência que ele deve
observar e com base nas quais pode travar relações jurídicas válidas e eficazes.
.......................................................
A coisa julgada é, assim, uma garantia essencial do direito fundamental à segurança jurídica.
Em recente estudo sobre as garantias fundamentais do processo, recordei que, na jurisdição
de conhecimento, a coisa julgada é garantia da segurança jurídica e da tutela jurisdicional
efetiva. Àquele a quem a Justiça reconheceu a existência de um direito, por decisão não mais
sujeita a qualquer recurso no processo em que foi proferida, o Estado deve assegurar a sua
plena e definitiva fruição, sem mais poder ser molestado pelo adversário. Se o Estado não
oferecer essa garantia, a jurisdição nunca assegurará em definitivo a eficácia concreta dos
direitos dos cidadãos. Por outro lado, a coisa julgada é uma consequência necessária do
direito fundamental à segurança (artigo 5º, inciso I, da Constituição) também dos demais
cidadãos, e não apenas das partes no processo em que ela se formou, pois todos aqueles que
travam relações jurídicas com alguém que teve determinado direito reconhecido judicialmente
devem poder confiar na certeza desse direito que resulta da eficácia que ninguém pode negar
aos atos estatais.
.......................................................
5. Com essas premissas, parece-me claro que a declaração de constitucionalidade ou de
inconstitucionalidade em controle concentrado de normas pelo Supremo Tribunal Federal não
deve ter nenhuma influência sobre anteriores sentenças transitadas em julgado que tenham
fundamento em entendimento contrário ao do STF sobre a questão constitucional.
A segurança jurídica, como direito fundamental, é limite que não permite a anulação do
julgado com fundamento na decisão do STF. O único instrumento processual cabível para essa
anulação, quanto aos efeitos já produzidos pela sentença transitada em julgado, é a ação
rescisória, se ainda subsistir o prazo para a sua propositura.

.........................................................
Uma última palavra deve ser reservada à disposição constante da Medida Provisória 2.180/01,
mantida em vigor pela Emenda Constitucional nº 32/01, que ampliou a vulnerabilidade da
coisa julgada através dos embargos à execução, com a introdução de parágrafo único ao
artigo 741 do CPC, tornando inexigível a dívida se o título judicial se fundar em lei ou ato
normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal ou em aplicação ou

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interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição. Nela se nota a clara intenção de
transpor para o Direito brasileiro a hipótese da parte final do § 79 da Lei Orgânica do Tribunal
Constitucional Federal alemão, que preserva os efeitos pretéritos da coisa julgada, mas
impede a execução futura. Entretanto, o ilegítimo legislador governamental, com o
sectarismo que o caracterizou nos últimos anos, importou a regra pela metade, ou seja,
permitiu o bloqueio da execução, mas não garantiu a manutenção intacta dos efeitos
pretéritos da coisa julgada. Também omitiu o legislador governamental a ressalva de que não
cabe qualquer repetição do que tiver sido recebido com base na lei posteriormente declarada
inconstitucional.
Tanto quanto aos efeitos pretéritos, quanto aos efeitos futuros da decisão proferida no
controle concentrado, parece-me inconstitucional o disposto no referido parágrafo único do
artigo 741, que encontra obstáculo na segurança jurídica e na garantia da coisa julgada, salvo
quanto a relações jurídicas continuativas, pois, quanto a estas, modificando-se no futuro os
fatos ou o direito, e no caso da declaração ‘erga omnes’ pelo STF pode ter sofrido alteração o
direito reconhecido na sentença, cessará a imutabilidade dos efeitos do julgado, nos termos do
artigo 741 do CPC.
6. Em síntese, a segurança jurídica, como direito fundamental, assegurada pela coisa julgada,
não permite, como regra, a propositura de ação de revisão da coisa julgada como
consequência da declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade pelo Supremo
Tribunal Federal.” (grifei)

Cabe ter presente, neste ponto, o que a própria jurisprudência constitucional do Supremo
Tribunal Federal vinha proclamando, já há quatro (4) décadas, a respeito da invulnerabilidade
da coisa julgada em sentido material, enfatizando, em tom de grave advertência, que
sentenças transitadas em julgado, ainda que inconstitucionais, somente poderão ser
invalidadas mediante utilização de meio instrumental adequado, que é, no domínio processual
civil, a ação rescisória.
Com efeito, esta Suprema Corte, já em 1968, quando do julgamento do RMS 17.976/SP, Rel.
Min. AMARAL SANTOS (RTJ 55/744), proferiu decisão na qual reconheceu a impossibilidade
jurídico-processual de válida desconstituição da autoridade da coisa julgada, mesmo na
hipótese de a sentença transitada em julgado haver resolvido o litígio com fundamento em lei
declarada inconstitucional:

“A suspensão da vigência da lei por inconstitucionalidade torna sem efeito todos os atos
praticados sob o império da lei inconstitucional. Contudo, a nulidade da decisão judicial
transitada em julgado só pode ser declarada por via de ação rescisória, sendo impróprio o
mandado de segurança (...).” (grifei)

Posteriormente, em 1977, o Supremo Tribunal Federal, reafirmando essa corretíssima


orientação jurisprudencial, fez consignar a inadmissibilidade de embargos à execução
naqueles casos em que a sentença passada em julgado apoiou-se, para compor a lide, em lei
declarada inconstitucional por esta Corte Suprema:

“Recurso Extraordinário. Embargos à execução de sentença porque baseada, a decisão


trânsita em julgado, em lei posteriormente declarada inconstitucional. A declaração da
nulidade da sentença somente é possível via da ação rescisória. Precedentes do Supremo
Tribunal Federal. (...).”
(RE 86.056/SP, Rel. Min. RODRIGUES ALCKMIN – grifei)

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Vê-se, a partir das considerações que venho de expor, que não se revela processualmente
ortodoxo nem juridicamente adequado, muito menos constitucionalmente lícito, pretender-se
o reconhecimento da inexigibilidade de título judicial, sob pretexto de que a sentença
transitada em julgado fundamentou-se em lei declarada inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal.
É que, em ocorrendo tal situação, a sentença de mérito tornada irrecorrível em face do
trânsito em julgado só pode ser desconstituída mediante ajuizamento de uma específica ação
autônoma de impugnação (ação rescisória), desde que utilizada, pelo interessado, no prazo
decadencial definido em lei, pois, esgotado referido lapso temporal, estar-se-á diante da coisa
soberanamente julgada, que se revela, a partir de então, insuscetível de modificação ulterior,
ainda que haja sobrevindo julgamento do Supremo Tribunal Federal declaratório de
inconstitucionalidade da própria lei em que baseado o título judicial exequendo, como
observa JOSÉ FREDERICO MARQUES (“Manual de Direito Processual Civil”, vol. III/344, item n.
698, 2ª ed./2ª tir., 2000, Millennium Editora):

“Passando em julgado a sentença ou acórdão, há um julgamento com força de lei entre as


partes, a que estas se encontram vinculadas imutavelmente.
Permitido está, no entanto, que se ataque a ‘res iudicata’ (...), principalmente através de ação
rescisória. (...).
Esse prazo é de decadência e seu ‘dies a quo’ se situa na data em que ocorreu a ‘res iudicata’
formal. (...).
Decorrido o biênio sem a propositura da rescisória, há coisa ‘soberanamente’ julgada, o que
também se verifica depois de transitada em julgado decisão declarando improcedente a
rescisória.” (grifei)

Em suma: A DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE HAJA DECLARADO


INCONSTITUCIONAL DETERMINADO DIPLOMA LEGISLATIVO EM QUE SE APÓIE O ATO
SENTENCIAL TRANSITADO EM JULGADO, AINDA QUE IMPREGNADA DE EFICÁCIA “EX
TUNC”, COMO SUCEDE COM OS JULGAMENTOS PROFERIDOS EM SEDE DE
FISCALIZAÇÃO CONCENTRADA (RTJ 87/758 – RTJ 164/506-509 – RTJ 201/765),
DETÉM-SE ANTE A AUTORIDADE DA COISA JULGADA, QUE TRADUZ, NESSE
CONTEXTO, LIMITE INSUPERÁVEL À FORÇA RETROATIVA RESULTANTE DOS
PRONUNCIAMENTOS QUE EMANAM, “IN ABSTRACTO”, DA SUPREMA CORTE.
Impõe-se registrar, finalmente, no que concerne à própria controvérsia suscitada nesta causa,
que o entendimento exposto na presente decisão tem sido observado em julgamentos,
monocráticos ou colegiados, proferidos no Supremo Tribunal Federal (AI 723.357/RS, Rel. Min.
CEZAR PELUSO - RE 593.160/RN, Rel. Min. EROS GRAU, v.g.):

“EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. Precatório. Incidência de juros de mora entre a


expedição e o pagamento no prazo constitucional. Previsão em sentença transitada em
julgado. Exigibilidade. Garantia da coisa julgada material. Jurisprudência assentada. Recurso
extraordinário inadmissível. Ausência de razões consistentes. Decisão mantida. Agravo
regimental improvido. Sob pretexto de contrariar a jurisprudência, não pode ser descumprida
sentença recoberta por coisa julgada material.”
(RE 486.579-AgR-AgR/RS, Rel. Min. CEZAR PELUSO - grifei)

“COISA JULGADA EM SENTIDO MATERIAL. INDISCUTIBILIDADE, IMUTABILIDADE E


COERCIBILIDADE: ATRIBUTOS ESPECIAIS QUE QUALIFICAM OS EFEITOS RESULTANTES DO
COMANDO SENTENCIAL. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL QUE AMPARA E PRESERVA A
AUTORIDADE DA COISA JULGADA. EXIGÊNCIA DE CERTEZA E DE SEGURANÇA JURÍDICAS.
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VALORES FUNDAMENTAIS INERENTES AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. EFICÁCIA


PRECLUSIVA DA ‘RES JUDICATA’. ‘TANTUM JUDICATUM QUANTUM DISPUTATUM VEL
DISPUTARI DEBEBAT’. CONSEQUENTE IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO DE CONTROVÉRSIA
JÁ APRECIADA EM DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO, AINDA QUE PROFERIDA EM
CONFRONTO COM A JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A
QUESTÃO DO ALCANCE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 741 DO CPC. MAGISTÉRIO DA
DOUTRINA. RE CONHECIDO, PORÉM IMPROVIDO.
- A sentença de mérito transitada em julgado só pode ser desconstituída mediante
ajuizamento de específica ação autônoma de impugnação (ação rescisória) que haja sido
proposta na fluência do prazo decadencial previsto em lei, pois, com o exaurimento de referido
lapso temporal, estar-se-á diante da coisa soberanamente julgada, insuscetível de ulterior
modificação, ainda que o ato sentencial encontre fundamento em legislação que, em
momento posterior, tenha sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, quer
em sede de controle abstrato, quer no âmbito de fiscalização incidental de constitucionalidade.
- A decisão do Supremo Tribunal Federal que haja declarado inconstitucional determinado
diploma legislativo em que se apóie o título judicial, ainda que impregnada de eficácia ‘ex
tunc’, como sucede com os julgamentos proferidos em sede de fiscalização concentrada (RTJ
87/758 – RTJ 164/506-509 – RTJ 201/765), detém-se ante a autoridade da coisa julgada, que
traduz, nesse contexto, limite insuperável à força retroativa resultante dos pronunciamentos
que emanam, ‘in abstracto’, da Suprema Corte. Doutrina. Precedentes.”
(RE 592.912/RS, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

“CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. PRECATÓRIO COMPLEMENTAR. INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA.
EXISTÊNCIA DE COISA JULGADA. AGRAVO IMPROVIDO.
I - Não obstante a jurisprudência pacífica desta Corte ser no sentido de que, não havendo
atraso na satisfação do débito, não incidem juros moratórios entre a data da expedição e a
data do efetivo pagamento do precatório, transitou em julgado a sentença, proferida no
processo de conhecimento, que estipulou a incidência de juros moratórios até o depósito da
integralidade da dívida.
II - Agravo regimental a que se nega provimento.”
(RE 504.197-AgR/RS, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI - grifei)

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO.


DESAPROPRIAÇÃO. BENFEITORIAS. PAGAMENTO EM ESPÉCIE. DISPOSITIVOS LEGAIS
DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. COISA JULGADA.
DESCONSTITUIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
É certo que esta Suprema Corte declarou a inconstitucionalidade de dispositivos que
autorizam o pagamento, em espécie, de benfeitorias fora da regra do precatório. Isso não
obstante, no caso dos autos, esse pagamento foi determinado por título executivo que está
protegido pelo manto da coisa julgada, cuja desconstituição não é possível em sede de
recurso extraordinário interposto contra acórdão proferido em processo de embargos à
execução.
Precedente: RE 443.356-AgR, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence.
Agravo regimental desprovido.”
(RE 473.715-AgR/CE, Rel. Min. AYRES BRITTO - grifei)

“Desapropriação: recurso do INCRA contra decisão proferida em execução, onde se alega


impossibilidade do pagamento de benfeitorias úteis e necessárias fora da regra do precatório:
rejeição: preservação da coisa julgada.

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Malgrado o Supremo Tribunal Federal tenha se manifestado, por duas vezes, quanto à
inconstitucionalidade dos dispositivos legais que autorizam o pagamento das benfeitorias
úteis e necessárias fora da regra do precatório (ADIn 1.187-MC, 09.02.1995, Ilmar; RE 247.866,
Ilmar, RTJ 176/976), a decisão recorrida, exarada em processo de execução, tem por
fundamento a fidelidade devida à sentença proferida na ação de desapropriação, que está
protegida pela coisa julgada a respeito.”
(RE 431.014-AgR/RN, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - grifei)

22.13.1. Pela Admissibilidade – Leading Case


Ação de investigação de paternidade e coisa julgada (Transcrições)
(v. Informativo 629)

RE 363889/DF*
[...]

13. Houve, portanto, coisa julgada material no processo anterior, de forma alguma
afastada pela fundamentação lastreada apenas na ausência de provas. E é por essa razão que a
decisão a ser tomada nestes autos não pode passar ao largo da controvérsia em torno da
cognominada relativização da coisa julgada material.
14. Firmada essa premissa, ainda outra ressalva inicial tem de ser feita. É que encontram-
se, em tese, inseridos no grande rol de questões relacionadas à relativização da coisa julgada
material temas com perfis sutilmente diversos. Deveras, nesse rol se encaixam, por exemplo,
as seguintes hipóteses: (i) o ataque a decisões transitadas em julgado não por conta apenas de
uma interpretação jurídica, mas em razão da superveniência, dado o avanço da tecnologia, de
meios de prova inexistentes à época da prolação da decisão, que, dependendo do resultado
que se possa deles extrair para a instrução da causa, conduziriam a conclusão diversa da
alcançada na decisão anterior, e que, apenas nesse caso, restaria configurada a violação de
princípios ou regras constitucionais pela manutenção da coisa julgada; (ii) o puro e simples
questionamento de decisões transitadas em julgado que já se chocassem, por uma pura
interpretação de direito a ser realizada pelo julgador do caso concreto, com o teor de algum
direito ou garantia constitucional; e (iii) a impugnação de decisões transitadas em julgado na
fase de execução de condenações de pagar quantia certa, quando a lei em que havia se
fundado a decisão exequenda tiver a respectiva constitucionalidade rejeitada em decisão do
Supremo Tribunal Federal, como prevêem no âmbito do processo civil e do processo
trabalhista, respectivamente, os arts. 475-L, § 1º, e 741, parágrafo único, do Código de
Processo Civil e o art. 884, § 5º, da CLT.
[...]

18. Porém, a Segunda Seção do STJ, no final do ano de 2008, uniformizou o entendimento
pela impossibilidade de se afastar a coisa julgada material mesmo diante da perspectiva de
realização de exame de DNA, conforme o seguinte precedente:

“PROCESSO CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. Coisa julgada decorrente de


ação anterior, ajuizada mais de trinta anos antes da nova ação, esta reclamando a
utilização de meios modernos de prova (exame de DNA) para apurar a paternidade
alegada; preservação da coisa julgada. Recurso especial conhecido e provido”. (REsp
706.987/SP, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Rel. p/ Acórdão Min. Ari Pargendler,
2ª Seção, DJe 10/10/2008)

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19. Em seu núcleo, a tese ali firmada teve por fundamento o primado do princípio da
segurança jurídica, que seria ferido em seu âmago caso fosse desfeita a proteção
constitucionalmente assegurada à coisa julgada material. Não seria lícito, sob esse prisma,
submeter a coisa julgada a renovados ataques a cada descoberta científica, com sensível
impacto na estabilidade por que devem se pautar as relações sociais.
21. No plano constitucional, a garantia da coisa julgada material tem assento, no direito
brasileiro, desde a Constituição de 1934 como uma regra expressa (CR/34, Art 113 - A
Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos
direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) 3) A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada.). Na Carta de 88, sua previsão encontra-se no inciso XXXVI do rol dos direitos e
garantias fundamentais constante do art. 5º, segundo o qual “a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. A redação do dispositivo, por sua
literalidade, interditaria apenas a atuação do legislador que fosse contrária à imutabilidade
das decisões judiciais passadas em julgado, e não, a rigor, de quaisquer outros agentes
investidos de poder público. NÃO É ESSA, EVIDENTEMENTE, A TELEOLOGIA QUE DEVE
SER EXTRAÍDA DO TEXTO DA CONSTITUIÇÃO: NA VERDADE, SE SEQUER AO
LEGISLADOR, DOTADO DO BATISMO DEMOCRÁTICO, É LÍCITA A INTERVENÇÃO
CONTRÁRIA À PROCLAMAÇÃO JUDICIAL, EM DEFINITIVO, DA VONTADE CONCRETA
DA LEI, AOS DEMAIS PODERES CONSTITUÍDOS, QUE SE SUBORDINAM AO PRINCÍPIO
DA LEGALIDADE, JAMAIS, COMO REGRA, PODERIA SE PASSAR DE MODO DIFERENTE
(TALAMINI, Eduardo. Coisa julgada e sua revisão, São Paulo: Ed. RT, 2005, p. 50-2).
22. Na essência, a proteção à coisa julgada material é uma decorrência do princípio da
segurança jurídica (CR, art. 5º, caput), na medida em que se destina à pacificação dos conflitos
sociais. É através da proteção do que já decidido em definitivo pelo Judiciário que se promove
a confiança recíproca entre os atores da sociedade, que podem pautar suas condutas à luz dos
efeitos já oficialmente proclamados dos atos por eles praticados, e com isso planejando o
futuro a ser trilhado. Tanto o vencedor quanto o vencido, sob certo ângulo, beneficiam-se da
indiscutibilidade inerente à coisa julgada, pois mesmo o segundo passa a saber, com precisão,
a exata medida em que sua esfera jurídica restou subordinada ao interesse do adversário
(BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Considerações sobre a chamada “relativização” da coisa
julgada material. In: Temas de direito processual, Nona Série. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 245).
23. O princípio da segurança jurídica é tão relevante que, além de contribuir para a
duração de um sistema político, na sua ausência, qualquer sociedade entra em colapso. Ela é
um dos mais elementares preceitos que todo ordenamento jurídico deve observar. Nesse
diapasão, cumpre a todo e qualquer Estado reduzir as incertezas do futuro, pois, segundo
pontifica Richard S. Kay, “um dos mais graves danos que o Estado pode infligir aos seus
cidadãos é submetê-los a vidas de perpétua incerteza” (No original: “One of the most serious
injuries the state can inflict on its subjects is to commit them to lives of perpetual uncertainty”.
KAY, Richard S.. American Constitutionalism. In: Constitutionalism: Philosophical Foundations.
Ed. Larry Alexander. Cambridge: Cambridge University Press, 1998, p. 22. Sua citação foi feita
em KIRSTE, Stephan. Constituição como Início do Direito Positivo. A estrutura temporal das
constituições. In: Anuário dos Cursos de Pós-Graduação em Direito. Número 13. Recife:
Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Ciências Jurídicas, Faculdade de Direito do
Recife, 2003, p. 116).
24. Em última análise, portanto, a garantia da coisa julgada material pode ser reconduzida,
ainda que indiretamente, também ao princípio-matriz da Constituição da República,
verdadeiro fundamento da República Federativa do Brasil, consistente na dignidade da pessoa
humana (CR, art. 1º, III).

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[...]

28. Como se sabe, a jurisdição cumpre o seu escopo de pacificação social através da
imperatividade e da imutabilidade da resposta jurisdicional. O fato de para cada litígio
corresponder uma só decisão, sem a possibilidade de reapreciação da controvérsia após o que
se denomina trânsito em julgado da decisão, caracteriza essa função estatal e a difere das
demais (A coisa julgada “es el atributo específico de la jurisdicción”, segundo COUTURE, in
Fundamentos del Derecho Procesal Civil, 1951, p. 304). O fundamento substancial da coisa
julgada, na realidade, é eminentemente político, uma vez que o instituto visa à preservação da
estabilidade e segurança sociais (Nesse sentido Prieto Castro, in Derecho Procesal Civil, 1946,
vol. I, p. 381. Chiovenda assentava a explicação da coisa julgada na “exigência social da
segurança no gozo dos bens da vida”, in Instituições de Direito Processual Civil, 1942, vol. I, pp.
512 e 513), revelando fator de equilíbrio social na medida em que os contendores obtêm a
última e decisiva palavra do Judiciário acerca do conflito intersubjetivo. Politicamente, a coisa
julgada não está comprometida nem com a verdade nem com a justiça da decisão. Uma
decisão judicial, malgrado solidificada, com alto grau de imperfeição, pode perfeitamente
resultar na última e imutável definição do Judiciário, porquanto o que se pretende através dela
é, repita-se, a estabilidade social.
[...]

Cabe ao intérprete conciliar as normas constitucionais cujas fronteiras não se mostram nítidas
à primeira vista, assegurando a mais ampla efetividade à totalidade normativa da Constituição,
sem que qualquer de seus vetores seja relegado ao vazio, desprovido de eficácia normativa.
32. Todo esse caminho lógico a ser percorrido para a harmonização de comandos
normativos indicando soluções opostas demanda do aplicador da Constituição a reconstrução
do sistema de princípios e de regras exposto no seu texto, guiado por um inafastável dever de
coerência (NETO, Cláudio Pereira de Souza. Ponderação de princípios e racionalidade das
decisões judiciais: coerência, razão pública, decomposição analítica e standards de
ponderação, In: Constitucionalismo democrático e governo das razões, Rio de Janeiro: Ed.
Lumen Juris, 2011, p. 144-7). E é somente quando essa tentativa de definição dos limites
próprios a cada norma fundamental se mostrar infrutífera, já que sobrepostos os respectivos
âmbitos de proteção, que cabe ao intérprete fazer o uso da técnica da ponderação de valores,
instrumentalizada a partir do manuseio do postulado da proporcionalidade (ÁVILA, Humberto.
Teoria dos princípios – da definição à aplicação dos princípios jurídicos, São Paulo: Ed.
Malheiros, 2009, p. 163 e segs.), a fim de operar concessões recíprocas, tanto quanto se faça
necessário, entre os enunciados normativos em jogo, resguardado, sempre, o núcleo essencial
de cada direto fundamental (PEREIRA, Jane Reis Gonçalves).

[...]

34. Na forma em que configurado o litígio in casu, não há modo de prestigiar a coisa
julgada material sem que, simultaneamente, sejam colocados de lado os dois outros princípios
constitucionais contrapostos: impedir o prosseguimento da demanda, reconhecendo-se o
óbice da coisa julgada material, implica vedar peremptoriamente a elucidação, à luz da nova
prova técnica disponível – o exame de DNA –, da origem biológica do autor, não trazida à tona,
na demanda anterior já julgada, por consequência da insuficiência do sistema estatal de
assistência jurídica aos necessitados. E, de outro lado, o raciocínio simétrico também se
mostra verdadeiro: tolerar a realização do exame técnico nestes autos, como fruto da

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admissibilidade da demanda, colocará em xeque inarredável a regra da coisa julgada material,


desfazendo a proteção que ela visa a promover.
35. Os dois vetores mostram-se, assim, inconciliáveis, de modo que a prevalência de um
leva ao afastamento da eficácia normativa do outro para a solução da presente controvérsia.
Em um cenário como este, e na linha do que já mencionado, a única opção
metodologicamente válida é a utilização, por esta Corte Constitucional, da técnica da
ponderação.
36. Ressalte-se desde logo que a previsão normativa da garantia da coisa julgada sob a
forma de regra não é suficiente, por si só, para pôr fim a qualquer perspectiva de ponderação.
Como vem reconhecendo a novel doutrina da hermenêutica constitucional, também as
regras jurídicas, em hipóteses excepcionais, submetem-se a um raciocínio ponderativo
(Assim, por exemplo, ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios – da definição à aplicação dos
princípios jurídicos, São Paulo: Ed. Malheiros, 2009, p. 112 e segs. Em sentido próximo, mas
com distinções sensíveis, BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação, racionalidade e atividade
jurisdicional, Rio de Janeiro: Ed. Renovar, 2005, p. 201 e segs.). Para tanto, deve ser realçada a
razão subjacente à regra, isto é, o princípio que informa a sua interpretação finalística e a
sua aplicação aos casos concretos: in casu, é o princípio da segurança jurídica (CR, art. 5º,
caput), como já visto, que serve de manancial para a definição do sentido e do alcance da
garantia da coisa julgada material. Não basta, no entanto, cotejar, imediatamente após isso, o
peso de tal razão subjacente diante dos outros princípios em jogo. É imprescindível que se leve
em conta, ainda, que as regras jurídicas, como categoria normativa, têm por reflexo, em sua
aplicação, a promoção de valores como previsibilidade, igualdade e democracia: a aplicação
das regras promove a previsibilidade pela certeza de que a configuração de seus pressupostos
de fato desencadeará a consequência estabelecida em seu enunciado normativo; a igualdade,
pois cada agente social que se deparar com a hipótese de incidência de uma regra poderá se
pautar, diante dos demais membros da comunidade, de acordo com o que ela prescreve, sem
que seu regime jurídico fique a depender de padrões comportamentais vagas ou imprecisos,
definidos casuisticamente; e a democracia, na medida em que o legislador, constitucional ou
ordinário, ao fixar um comando normativo através de uma regra jurídica, já realiza desde logo
uma decisão conteudística sobre o que deve ser, sem que delegue ao judiciário a
maleabilidade na definição da conduta válida à luz do Direito (Nesse sentido, cf. SCHAUER,
Frederick. Thinking like a lawyer – a new introduction to legal reasoning, Cambridge: Harvard
University Press, 2009, p. 35 e 195-6; e, do mesmo autor, Playing by the rules – a philosophical
examination of rule-based decision-making in law and in life, Oxford: Clarendon Press, 2002, p.
135-66).
37. Assim, a técnica da ponderação apenas poderá levar ao afastamento de uma regra
jurídica quando restar demonstrado, de modo fundamentado, que os princípios que lhe são
contrapostos superam, axiologicamente, o peso (i) da razão subjacente à própria regra e (ii)
dos princípios institucionais da previsibilidade, da igualdade e da democracia. Deste modo,
como afirma o Prof. Luís Roberto Barroso especificamente quanto à tese da relativização da
coisa julgada material (BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito
brasileiro, São Paulo: Saraiva, 2009, p. 226), a técnica da ponderação, instrumentalizada pelo
postulado da proporcionalidade, tem de ser usada com cautela, já que a previsão da coisa
julgada como uma regra “reduz a margem de flexibilidade do intérprete”.
38. A hipótese dos autos, no entanto, tende a caracterizar justamente a
excepcionalidade capaz de autorizar o afastamento da regra da coisa julgada material, em
prol dos direitos fundamentais à filiação e à assistência jurídica aos necessitados.
[...]

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43. É sob esse ângulo que se pode apontar, hoje, a construção de um direito fundamental
à identidade genética, por força do qual se torna factível esclarecer, como antes não era
possível, a origem e a historicidade pessoal de cada membro componente da sociedade,
principalmente através do exame de DNA. A identidade, nesse novo contexto, passa a ser
concebida como o complexo de elementos que individualizam cada ser humano, distinguindo-o
dos demais na coletividade, conferindo-lhe autonomia para que possa se desenvolver e se
firmar como pessoa em sua dignidade, sendo, portanto e nessa medida, expressão objetiva do
princípio da dignidade da pessoa humana.

[...]

57. Esse conflito entre princípios fundamentais não pode servir, porém, como visto antes,
para a ablação da garantia fundamental da coisa julgada sem quaisquer balizamentos, sob
pena de se frustrar de forma absoluta o princípio da segurança jurídica.
58. Em primeiro lugar, a prova pericial vive hoje, no processo civil, um momento de crítica
e de renascimento. O juiz, como se sabe, é titular do que se pode chamar de uma cultura
média, porquanto, no que excede o campo do exclusivamente jurídico, seu conhecimento
serve-se de noções de fato que estão dentro da experiência comum do lugar e do tempo em
que vive. Não é de todo raro, porém, que no desenrolar de um litígio civil se faça necessário o
apelo a conhecimentos técnico-científicos, que apenas um especialista nos domínios
particulares do saber humano pode manusear com segurança e habilidade. E é nessas
hipóteses que deve ocorrer a cooperação entre o perito – o expert técnico – e o julgador.
59. Mas essa cooperação não pode ser levada a cabo sem as devidas cautelas. Com efeito,
há um grande risco de que o julgador simplesmente se demita da prestação da jurisdição,
delegando-a ao expert, sem que tome em consideração a prova técnica produzida em seus
devidos termos, isto é, como um componente da instrução processual, e que, para lastrear
uma decisão de mérito, deve se submeter, como qualquer outro material probatório, ao dever
de motivação inerente ao sistema do livre convencimento motivado de valoração da prova civil
(CPC, art. 131) (Alertam para esse risco ALMEIDA, Diogo Assumpção Rezende de. A prova
pericial no processo civil: o controle da ciência e a escolha do perito, Rio de Janeiro: Ed.
Renovar, 2011, p. 94 e segs.; e GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil – Processo de
conhecimento, Vol. II, 2010, p. 286-7).
60. Foi diante desses riscos, que se concretizam muitas vezes com a utilização, por peritos,
de supostas técnicas que sequer gozam de aceitabilidade nos respectivos campos do
conhecimento humano (junk science), que a Suprema Corte dos Estados Unidos da América
impôs aos juízes, principalmente a partir do célebre caso Daubert vs. Merrell, de 1993, um
controle sobre a racionalidade da prova pericial a ser valorada em juízo. Com efeito, e como
narra Michele Taruffo (TARUFFO, Michele. Ciencia y proceso, In: Páginas sobre justicia civil,
Madrid: Ed. Marcial Pons, 2009, p. 464), a Suprema Corte, pela lavra do Justice Blackmun,
determinou que a admissão ou exclusão da prova científica deve ser submetida aos seguintes
critérios: (i) a controlabilidade ou a falsificabilidade da teoria que se encontra na base na
técnica empregada, fazendo expressa remissão à filosofia da ciência de autores como Carl
Hempel e Karl Popper (Para uma crítica desse primeiro critério, v. ALMEIDA, Diogo Assumpção
Rezende de. A prova pericial no processo civil: o controle da ciência e a escolha do perito, Rio
de Janeiro: Ed. Renovar, 2011, p. 25 e segs.); (ii) a explicitação do percentual de erro relativo à
técnica empregada; e (iii) sua aceitação pela comunidade científica especializada.
[...]

69. Ademais, o que se ressaltou acima a respeito da ponderação entre a regra da coisa
julgada e os demais princípios em jogo não afasta a preservação da eficácia, e em um grau
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ainda que mínimo, do princípio subjacente à coisa julgada material, consistente na segurança
jurídica (CR, art. 5º, caput). Com efeito, já restou claro que a manutenção da imutabilidade
inerente à coisa julgada feriria de morte, in casu, o direito fundamental à filiação e a garantia
da assistência jurídica aos desamparados. Contudo, essa superação da regra da coisa julgada
não pode ser conduzida sem qualquer observância do princípio da segurança jurídica, cuja
eficácia principiológica permite contrações de seu âmbito de proteção, devendo, assim, influir
no próprio balizamento para a permissão da relativização da coisa julgada material em
demandas de filiação.
70. Reitere-se, portanto, que o direito à filiação por certo ostenta uma conexão nuclear
com a dignidade da pessoa humana. A partir, porém, (i) da previsão da coisa julgada como
uma regra, que denota o prestígio que merece no conjunto de garantias fundamentais, (ii) da
necessidade de preservação da eficácia mínima do princípio da segurança jurídica, que subjaz à
própria coisa julgada material, e (iii) dos riscos que envolvem o exame de DNA, cuja
perspectiva de realização nem sempre é idônea a trazer aos autos a verdade quanto à origem
biológica, impõe-se balizar a relativização da coisa julgada com alguns parâmetros.
71. Na ausência de previsão legal específica, que poderia operar a conciliação adequada
entre o princípio da segurança jurídica e os direitos fundamentais à filiação e à assistência
jurídica, impõe-se buscar, no sistema processual em vigor, o regime mais aproximado e
também tendente à tutela da segurança quando em causa o ataque à coisa julgada material,
adaptando-o, porém, à ponderação ora desenvolvida. Preservar-se-á, assim, a eficácia mínima
necessária do princípio da segurança jurídica, prestigiando-se, igualmente, o princípio
democrático, pela adaptação às peculiaridades desta hipótese sui generis com a disciplina
processual já prevista em lei.
72. O paralelo mais evidente a ser buscado, como é claro, é encontrado na ação rescisória
(CPC, art. 485 e segs.). As regras especiais com que o legislador processual disciplina essa
espécie de demanda têm em vista a sensibilidade de alguns valores fundamentais que
sobrepujam a coisa julgada material, e cuja violação, por isso mesmo, não poderia ficar
eternizada por conta do esgotamento das possibilidades recursais em um determinado
processo. É assim, por exemplo, que, em um verdadeiro raciocínio ponderativo, explicitou o
legislador que a coisa julgada poderia ser desfeita quando em pauta violações, por exemplo, à
imparcialidade judicial (inc. I), à garantia do juiz natural (inc. II), à legalidade e à juridicidade
(inc. V) ou ao direito à prova (inc. VII). Em todos esses casos o que fez o legislador processual
foi mitigar o valor constitucional da segurança jurídica em prol de outros princípios
constitucionais contrapostos, e que, assim, obedecido o prazo decadencial de dois anos,
poderiam operar a desconstituição da coisa julgada material em caso de procedência do
pedido.
73. O tema em discussão, como se vê, aproxima-se em alto grau da teleologia que subjaz
ao regime da ação rescisória. Em outras palavras, e com especial atenção ao que prevê o inc.
VII do art. 485 do CPC, o próprio sistema processual já tolera a fragilização da coisa julgada
diante da alteração do cenário probatório, quando “depois da sentença, o autor obtiver
documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de
lhe assegurar pronunciamento favorável”. Tradicionalmente, sempre se entendeu que o
conceito de “documento novo” deveria se restringir a documentos que já existissem ao tempo
da prolação da decisão rescindenda. Mas a doutrina, de forma mais recente, e com base em
precedente do Superior Tribunal de Justiça (REsp nº 300.084, DJ 06/09/2004), tem defendido a
interpretação ampliativa de tal dispositivo, para abarcar também o caso do advento da técnica
que embasa a realização do DNA (Por todos, cf. a lição do Prof. BARBOSA MOREIRA, José
Carlos. Considerações sobre a chamada “relativização” da coisa julgada material. In: Temas de
direito processual – Nona Série, São Paulo: Saraiva, 2007).

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74. E é justamente essa exegese calcada substancialmente na previsão do art. 485, VII,
do CPC que deve ser prestigiada, em uma interpretação conforme à luz do direito
fundamental à filiação (CR, art. 227, caput e § 6º) e da garantia fundamental da assistência
jurídica integral aos desamparados (CR, art. 5º, LXXIV), para que se admita o ajuizamento de
demandas em que se pretenda a desconstituição de decisão transitada em julgado que
considerara improcedente demanda de investigação de paternidade por ausência de provas,
dada a impossibilidade de realização, à época, do exame de DNA por hipossuficiência
financeira da parte.
[...]

77. Em outras palavras, a harmonização entre os princípios constitucionais da segurança


jurídica, de um lado, e do direito fundamental à filiação e da garantia da assistência jurídica
aos desamparados, de outro, consiste na aplicação analógica do marco inicial flexibilizado
para o ajuizamento da ação rescisória, que não pode permanecer rigidamente contado da
data do trânsito em julgado. Ao contrário, o marco para a contagem dos dois anos deve
poder ser alterado quando demonstrado pelo autor, argumentativamente, que não pudera
ajuizar, anteriormente, a demanda, pela impossibilidade prática de obtenção do exame de
DNA. Desta forma, é apenas da data da possibilidade prática de obtenção do DNA que deve
ser contado o referido prazo, pois apenas nesse momento que se mostra possível o
exercício, in concreto, do direito à tutela jurisdicional efetiva, de modo que, apenas nessas
condições, a omissão em fazê-lo poderá ser imputada à própria parte.
78. Nessa linha, e em razão da abertura deste parâmetro para a definição do marco inicial
para o prazo de dois anos, deve ser entendido como ônus do autor da demanda a
demonstração de que somente lhe foi assegurada a possibilidade prática de obtenção da nova
prova no espaço inferior a dois anos contados da data da propositura. Caso não satisfeito tal
ônus, o transcurso do prazo de dois anos, contados, como tradicionalmente, do trânsito em
julgado da decisão anterior, formará a cognominada coisa soberanamente julgada, inalterável
por qualquer demanda posterior. Na realidade, e em prestígio à segurança jurídica, deve-se
fixar uma verdadeira presunção de inadmissibilidade de revisão de decisões judiciais, em
hipóteses similares, após o decurso do prazo de dois anos do trânsito em julgado, mantendo-se
a regra geral de que o prazo decadencial se conta a partir do marco previsto no art. 495 do
CPC, presunção essa que só poderá ser superada quando demonstrada robustamente a
anterior impossibilidade de obtenção do exame de DNA. E foi justamente isto que aconteceu
no caso presente, como se vê dos trechos transcritos acima, da sentença anteriormente
transitada em julgado, pela absoluta impossibilidade prática, por questões financeiras, de
realização do exame, dada a fragilidade do regime de gratuidade de justiça até então em vigor.

22.14. Leading Case


O caso aqui foi o seguinte: há vinte anos foi impetrado um MS por duas empresas (empreiteira
campo claro e outras) para impugnar a cobrança de PIS. Esse MS foi contra a União.Eles
impugnaram a cobrança de PIS baseados em dois decretos de 1988. O TRF à época, já julgando
o recurso das partes, considerou devido o recolhimento do tributo, portanto, denegou a
ordem, porque os dois decretos são constitucionais. Aí houve um RE que não foi conhecido.
Portanto, essa decisão fez coisa julgada e, desde então, essas empresas vêm recolhendo o
tributo com base nesse decreto.

Posteriormente o STF, julgando um RE, declarou a inconstitucionalidade daqueles dois


decretos. Então, essa decisão do STF contraria aquela decisão antiga do TRF.

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Aí as empresas ajuizaram em face da União uma ação declaratória de inexistência de relação


jurídica. Qual relação jurídica que elas queriam que fosse declarada inexistente? A relação
jurídica que elas, as autoras, tinham com a União, decorrente do acórdão resultante do
julgamento da apelação em MS.

As empresas estão dizendo que a declaração de inconstitucionalidade faz com que essa
relação que eles têm de direito material tributário com a União seja desconectada do mundo
jurídico. Aí eles pedem a declaração de inexistência da relação jurídica.

O juiz julgou o pedido improcedente, ou seja, a sentença de primeiro grau foi pela
improcedência do pedido. O argumento foi o seguinte: no caso dos presentes autos renova-se
a pretensão anteriormente deduzida. Só aí já dá para ver porque que o tribunal reformou a
sentença e o STJ manteve a decisão do tribunal. O juiz errou porque ele diz na sua sentença
que a ação das empresas renova a pretensão anteriormente deduzida. O que ele está
querendo dizer com isso?

Que essa ação está tentando violar a coisa julgada, porque é uma pretensão de renovação da
ação anteriormente deduzida, objetivando-se nova prestação jurisdicional contrária à decisão
já consolidada, posto que na época própria não obteve a sua desconstituição pelo MS.

Então eles estão tentando desconstituir agora o que eles tentaram com o MS e não
conseguiram.

Então, o que ele fez? Julgou improcedente. Está errado. Por quê? Porque ele está julgando de
novo, ele está confirmando a relação jurídica, o que o MS já decidiu. Ele está julgando de novo,
ou seja, ele está violando a coisa julgada. O STJ fala isso no seu acórdão.

Barbosa Moreira diz isso: violar a coisa julgada significa dar uma decisão contrária à transitada
em julgado, ou dar uma nova decisão igual à que transitou em julgado. Ou seja, violar coisa
julgada também pode ocorrer quando o juiz confirma sentença já transitada em julgado. A
coisa julgada não impede o julgamento futuro contrário, a coisa julgada impede um novo
julgamento futuro, ainda que seja igual ao anterior.

O STJ disse que a coisa julgada impede que o juiz no futuro decida de novo, seja no mesmo
sentido, seja em sentido contrário.

Então o juiz de primeiro grau errou porque ele julgou o mérito da causa, mas ao mesmo tempo
ele está dizendo que aquela causa é repetição da anterior. Então ele não pode julgar o mérito,
e ele julgou improcedente o pedido. Ao julgar improcedente o pedido, ele declarou a
existência de relação jurídica, algo que já tinha sido declarado no MS. Ele não pode mais
repetir.

O acórdão repete o que Barbosa Moreira diz: violar a coisa julgada é rejulgar o que já foi
julgado, seja confirmando, seja contrariando.

Voltando ao caso das empresas, houve um julgamento de improcedência e uma apelação das
autoras (as empresas). As autoras queriam que o tribunal reformasse para julgar procedente

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porque a tese deles era coisa julgada inconstitucional, que aquela decisão lá do passado é
contrária à decisão nova do Supremo, portanto, é inconstitucional. O que eles querem é
relativizar a coisa julgada através dessa ação declaratória.

O tribunal reformou a sentença, mas para julgar extinto o processo sem julgamento de mérito,
por inadequação da via eleita – art 257, VI. Quem fez os embargos de declaração foi a Fazenda,
porque na visão da Fazenda ela saiu derrotada, porque ela tinha uma decisão de mérito
favorável a ela e depois, no recurso, ela perdeu aquela decisão de mérito favorável a ela.

Aí o STJ enfrentou essa mesma questão controvertida.

O réu tem interesse em recorrer contra a decisão que julga extinto o processo sem julgamento
de mérito? Para ele é favorável, ele não perdeu, só que ele poderia ter algo melhor. O que é
melhor para o réu, o art. 267 ou o 269 (a seu favor, é claro)? O art. 269.

Aí o STJ decidiu em duas linhas: o réu tem interesse em recorrer contra decisão que julga
extinto o processo sem julgamento de mérito.

E aí esse REsp aqui é recurso da Fazenda, a Fazenda quer que o tribunal julgue o pedido
improcedente. É isso que o tribunal vai decidir, se a coisa julgada deve ou não ser relativizada.

Aí o Ministro Fux coloca a segurança jurídica como uma cláusula pétrea. Pronto,
prequestionou matéria constitucional, interpretou a Constituição. Ele não falou que a cláusula
pétrea está na Constituição, não precisa dizer isso, prequestionar é falar da matéria
constitucional, ele não precisa dizer qual é o artigo e ele nem diz qual é o artigo da segurança
jurídica, é o art. 5º, caput.

Então, foi prequestionada matéria constitucional, se a Fazenda não gostar da decisão ela pode
interpor o RE para ver o que o Supremo pensa do caso.

Então, o STJ está dizendo que a segurança jurídica é cláusula pétrea, garantia fundamental do
jurisdicionado. E olha a conclusão dele, vejam que isso é prequestionamento: o sistema
constitucional brasileiro desautoriza a relativização da coisa julgada. Essa é a posição
dominante nos tribunais hoje – prevalência da segurança jurídica sobre a pretensão de
rescisão da coisa julgada.

Quer dizer que nunca mais vai haver pretensão de rescisão da coisa julgada?

Sim, com a ação rescisória. Isso ele deixa bem claro depois, só que a rescisória tem um prazo
de dois anos e esse acórdão é de 1989, já era, o prazo já acabou desde 1991.

Então, ele está dizendo que a segurança jurídica tem que ser prestigiada. Aí ele disse o
seguinte: a decisão judicial transitada em julgado passou por um longo processo de
maturação.

O que é um longo processo de maturação da decisão? Ele está se referindo à duração do nosso
processo com a possibilidade de interposição de diversos recursos. Então ele está dizendo que
a decisão judicial quando faz coisa julgada ou ela passou por diversos recursos, ou ela poderia
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ter passado. Então, existe um processo longo para se chegar à decisão final. Após esse longo
processo, a coisa julgada tem que ser respeitada, porque ela é reflexo do entendimento do
Judiciário após esse longo processo. Então, você tem que preservar a coisa julgada. É isso que
ele está dizendo.

Os tribunais estão dizendo que nos vícios transrescisórios não tem coisa julgada. Aqueles vícios
transrescisórios que existem para a doutrina, como a coisa julgada inconstitucional, a falta ou
nulidade de citação, eles, tribunais, estão dizendo que não tem coisa julgada.

Eles afirmam que a ação declaratória para desconstituir coisa julgada de vinte anos é uma ação
inadequada, por isso que o fundamento foi o art. 267, VI. Então, inadequação da via eleita, não
cabe ação declaratória para desconstituir coisa julgada.

Aí o voto dele termina, dizendo que nesse caso nega provimento ao REsp, ou seja, ele confirma
o acórdão recorrido (art. 267, VI – inadequação da via eleita).

Tudo bem, já tinha julgado a causa; só que aí pediu vista para dar um “votinho” o Ministro
Teori Zavascki. Se vocês lerem essa decisão, vocês verão que o voto dele é uma aula sobre
relativização da coisa julgada, baseando-se naquele livro dele que está esgotado, que é o
“eficácia das sentenças na jurisdição constitucional”.

Se vocês não leram, leiam logo, pois já passou uma semana!!!

Nesse voto, se você começar a ler, tende a acreditar que ele vai votar a favor da empresa e
que vai quebrar a coisa julgada, porque ele diz que não pode subsistir coisa julgada frente uma
decisão do STF, que é o guardião da Constituição, e que diz que aquela lei é inconstitucional.
Só que ele diz que falta interesse de agir para as autoras, dizendo assim: carecem as autoras
de interesse no provimento jurisdicional que declara a insubsistência da sentença. É outro
fundamento diferente do Ministro Luiz Fux, ele diz que falta interesse. Inadequação também é
interesse, mas ele está passando a impressão de que as partes sequer precisam do Judiciário.
Ele não está dizendo se a via escolhida foi a certa ou a errada, elas não precisam do Judiciário.

A conclusão que ele chega é que é a principal: essas empresas não precisam do Judiciário para
deixar de pagar o tributo, porque elas não têm que pagar mais o tributo.

Ele diz que essas empresas, em parte, têm razão. Erraram porque não precisam do Judiciário.
Então, ele entende que as empresas não têm que pagar o tributo, porque há uma decisão
transitada em julgado do Supremo dizendo que os decretos que justificam a cobrança são
inconstitucionais.

Só que ele diz que essa decisão do Supremo é ex nunc, então, o quê as empresas não podem é
pedir de volta o que já pagaram (que é o quê elas também queriam).

Então, o Ministro Teori Zavascki está dizendo que as empresas não têm que pagar mais nada,
mas não tem o Fisco que devolver o que recebeu porque amparado em decisão anterior.

Essa decisão do Supremo no RE fez a norma ser suspensa pelo Senado, ou seja, a partir do
momento em que ela foi suspensa no Senado, ela ganhou eficácia erga omnes.
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O Ministro Teori é tradicional e ele então diz: quando o Supremo diz que uma norma é
inconstitucional julgando um RE, é uma decisão que vale entre as partes. Ela só terá eficácia
erga omnes quando e se o Senado suspender.

O Ministro Gilmar Mendes, entretanto, já tinha decidido, num voto conduzido por ele, que a
decisão do STF sobre inconstitucionalidade em RE vale erga omnes por si só e que a função do
Senado é só dar publicidade à decisão do STF.

Para a doutrina, o que o STF está fazendo é inconstitucional, ele está juntando os dois
controles, difuso e concentrado, em um só, só que não tem ninguém para dizer isso ao
Supremo.

Para o Ministro Teori, a resolução do Senado importa em reconhecimento estatal, que só a


decisão do Supremo não dá, de que a norma em questão jamais teve aptidão para incidir e,
portanto, jamais incidiu em qualquer situação. É como se houvesse uma revogação ex tunc da
norma. Só que não revoga a coisa julgada.

Ele diz que se essa lei, que é lei inconstitucional, foi aplicada no caso concreto, já era, a coisa
julgada prevalece. Aí ele diz: você pode desconstituir a coisa julgada? Pode, mas a única via
admissível é a ação rescisória.

Agora, como já passou o prazo para a rescisória, já era, o máximo que essas empresas podem
fazer é não pagar mais o tributo. Ele diz ainda que esse tributo é inexigível.

Ele continua: as situações jurídicas decorrentes do cumprimento da sentença na demanda


particular naquele período (de 1989 para frente) não são infirmadas nem anuladas
automaticamente pela Resolução superveniente, cuja força não é retroativa. Assim, para
desfazer as consequências então produzidas por essa sentença transitada em julgado, deve o
interessado utilizar a via judicial ordinária, nomeadamente a da ação rescisória. No caso
concreto as autoras pretendem, por meio de ação ordinária ajuizada após o esgotamento do
prazo da rescisória, desconstituir a coisa julgada. Tal intento inviável.

A Resolução do Senado de 1995 impede a Fazenda de realizar lançamentos futuros com base
naquela norma e também obstaculiza a execução das prestações anteriores pendentes, razão
pela qual, desde então, elas não têm interesse de agir. Ou seja, elas não precisam ir ao
Judiciário para deixar de pagar.

E quando a Fazenda executá-las por terem deixado de pagar? Elas vão alegar nos embargos a
coisa julgada inconstitucional – art. 741, § 1º do CPC – você pode alegar nos embargos à
execução que o título é inexigível quando o título sentença baseou-se em lei que foi
posteriormente declarada inconstitucional pelo Supremo.

O voto do Ministro Teori dá a entender o seguinte: às empresas bastam parar de pagar o


tributo, quando elas deixarem de pagar o tributo, a Fazenda não pode mais executar, mas se
executar, elas vão oferecer embargos e nos embargos elas vão alegar o art 741, § 1º, que é a
coisa julgada inconstitucional, ou seja, eu não tenho mais que pagar, o título é inexigível

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porque ele se baseou numa lei que depois foi declarada inconstitucional, porém, a coisa
julgada está preservada. O quê eles pagaram até a coisa julgada já era.

E se eles pagaram alguma coisa errada? Pede de volta, mas tem o prazo prescricional de cinco
anos, e não vinte anos, como é o que eles querem nessa ação.

Pergunta: poderia aí nesse caso ser um exemplo de querella nullitattis?

Resposta: não. Eles não falam em momento algum em querella, que não tem prazo.

Agora eu pergunto: será que eles não argumentaram lá no recurso que eles queriam
prequestionar sobre a querella? Não se sabe, porque o tribunal não prequestionou tudo, eles
só analisaram o que eles achavam que devia, o que era suficiente, na visão deles, para negar
provimento. Então, pode até ser que eles aduziram no recurso a querella, e como não foi
prequestionada, não chegou lá.

Então, isso foi o que o STJ decidiu sobre coisa julgada inconstitucional.

22.15. Coisa Julgada na Tutela Coletiva


Diplomas regentes do assunto:

No CDC:

CAPÍTULO IV

Da Coisa Julgada

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa
julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por


insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na
hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo


improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior,
quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art.
81;

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar


todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo
único do art. 81.

§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão


interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo,
categoria ou classe.

§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido,


os interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes
poderão propor ação de indenização a título individual.
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§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art.
13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de
indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou
na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão
as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à
execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal


condenatória

Na LACP:

Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-
se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)

Origem da discussão: art. 16, LACP: bizarra escolha do legislador de limitar a coisa julgada aos
limites territoriais do órgão prolator.

O STJ está dando largos passos para superar um dos temas mais debatidos na doutrina
processual coletiva brasileira, em torno do qual havia frontal oposição entre o entendimento
doutrinário e a aplicação pelos tribunais: a inaplicabilidade dos limites territoriais do órgão
prolator para definição da extensão erga omnes das sentenças coletivas (art. 16 da Lei da
Ação Civil Pública). Aproveitando julgamento anterior, Resp n. 1.247.150/PR (Corte Especial,
rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJ de 12.12.2011), que introduziu novamente na jurisprudência
do STJ a vexata questio dos limites territoriais do órgão prolator nas sentenças coletivas, a
Min. Fátima Nancy Andrighi presta grande contribuição ao avanço da jurisprudência do
Tribunal.

Como sabemos, o processo coletivo implica uma revisitação de muitos institutos clássicos do
processo, especialmente, mas não somente, a legitimação processual, a coisa julgada, a
competência, a liquidação e a execução. Nosso modelo processual coletivo é muito avançado,
e funciona. Mas algumas das soluções pensadas cuidadosamente pelos “pais fundadores” do
“modelo processual coletivo brasileiro” não foram observadas por reformas legislativas
posteriores, sendo atacadas expressamente para negar efetividade ao sistema. Esses ataques,
muito decorrentes de medidas provisórias, convertidas ou não, em lei, foram severamente
criticados na doutrina como formas de tornar a ACP “refém do autoritarismo”, na expressão
de conhecido artigo de Ada Pellegrini Grinover. O caso que acaba de ser julgado no STJ é um
dos exemplos mais bem acabados desse fenômeno: a malsinada limitação territorial da coisa
julgada, surgida primeiramente por medida provisória e, depois, consolidada pelo Poder
Legislativo pela Lei n. 9.494/1997, que alterou o teor do art. 16 da LACP, de acordo com esse
artigo, a decisão coletiva só é eficaz nos limites territoriais do órgão julgador. As críticas a esse
dispositivo são inúmeras. Tratamos disso no v. 4 do Curso de Direito Processual Civil,
inteiramente dedicado ao estudo do processo coletivo. Convém reproduzir, em síntese, nossos
argumentos: a) a norma representa ofensa constitucional aos princípios da igualdade e do
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acesso à jurisdição, criando diferença no tratamento processual dado aos brasileiros e


dificultando a proteção dos direitos coletivos em juízo; b) gera prejuízo à economia
processual e fomenta o conflito lógico e prático de julgados, com descrença nas instituições
de justiça, pois uma sentença do Rio Grande do Sul pode deixar de garantir um direito
reconhecido pelo Rio Grande do Norte; c) ataca a indivisibilidade ontológica do objeto da
tutela jurisdicional cole¬tiva, ou seja, é da natureza dos direitos coletivos lato sensu sua
indivisibilidade no curso da demanda coletiva (art. 81, parágrafo único do CDC); d) há, ainda,
equívoco na técnica legislativa, como bem adverte, na decisão, a Min. Nancy Andrighi, pois
confundem-se com¬petência e jurisdição, autoridade da sentença com eficácia decorrente
do comando jurisdicional e os limites objetivos e subjetivos da coisa julgada, valendo repisar
que a jurisdição é una em todo o território nacional, os juízes no Brasil decidem para todo o
país, não apenas nos limites de seu território; e) por fim, existe a ineficácia da própria regra
de competência em si em face do microssistema do processo coletivo (art. 21 da LACP c/c o
art. 90 do CDC), vez que o legislador estabeleceu expressamente no art. 93 do CDC (lembre-
se, aplicável a todo o sistema das ações coletivas) que a competência para julgamento de
ilícito de âmbito regional ou nacional é do juízo da capital dos Estados ou no Distrito Federal,
portanto, nos termos da Lei em comento, ampliou a “jurisdição” do órgão prolator para todo
o território nacional, quando este for o juízo da capital do Estado. Embora com alguma
oscilação, o STJ vinha adotando a posição legalista, limitando a eficácia territorial da coisa
julgada, nos estritos termos da lei citada, ou seja, “nos limites territoriais do órgão prolator”
(Cf., no entendimento anterior, AgRg no REsp 1105214/DF). Recentemente, em decisão da
Corte Especial do STJ, ao julgar recursos especiais repetitivos (art. 543-C, do CPC), o
entendimento consolidado começou a ser reformulado. Na ementa dos precedentes (REsp
1243887 e REsp 1247150), o STJ firmou a tese para os fins do art. 543-C do CPC
estabelecendo: “OS
EFEITOS E A EFICÁCIA DA SENTENÇA NÃO ESTÃO
CIRCUNSCRITOS A LINDES GEOGRÁFICOS, MAS AOS LIMITES OBJETIVOS E
SUBJETIVOS DO QUE FOI DECIDIDO, LEVANDO-SE EM CONTA, PARA
TANTO, SEMPRE A EXTENSÃO DO DANO E A QUALIDADE DOS
INTERESSES METAINDIVIDUAIS POSTOS EM JUÍZO (ARTS. 468, 472 E 474,
CPC E 93 E 103, CDC)”, OU SEJA, A SENTENÇA NÃO ESTÁ CIRCUNSCRITA
AOS LIMITES TERRITORIAIS DO ÓRGÃO PROLATOR (LINDES
GEOGRÁFICOS), MAS SOMENTE A “EXTENSÃO DO DANO” E “A
QUALIDADE DOS INTERESSES METAINDIVIDUAIS POSTOS EM JUÍZO”, isso
decorre da conjugação dos arts. 93 e 103 do CDC, deixando claro que os direitos coletivos
lato sensu são indivisíveis para fins de tutela, tutela que se dá molecularmente e não de
forma individualizada.

Naqueles casos o STJ afastou a aplicação da norma para consolidar o entendimento de que
cabe ao consumidor (titular do direito individual vinculado à decisão genérica) escolher o juízo
mais conveniente para promover a liquidação e a execução (o próprio domicílio, o do domicílio
do réu, o do domicílio dos bens sujeitos à eventual expropriação ou o da sentença, art.475-P
do CPC c/c art. 98, § 2º, I do CDC). Posicionamento que também sempre defendemos.
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600

A decisão aqui comentada veio reforçar este entendimento, conforme se depreende da


ementa:

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO COLETIVA AJUIZADA POR


SINDICATO. SOJA TRANSGÊNICA. COBRANÇA DE ROYALTIES. LIMINAR
REVOGADA NO JULGAMENTO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. CABIMENTO
DA AÇÃO COLETIVA. LEGITIMIDADE DO SINDICATO. PERTINÊNCIA
TEMÁTICA. EFICÁCIA DA DECISÃO. LIMITAÇÃO À CIRCUNSCRIÇÃO DO
ÓRGÃO PROLATOR. 1. O alegado direito à utilização, por agricultores, de
sementes geneticamente modificadas de soja, nos termos da Lei de
Cultivares, e a discussão acerca da inaplicabilidade da Lei de Patentes à
espécie, consubstancia causa transindividual, com pedidos que buscam
tutela de direitos coletivos em sentido estrito, e de direitos individuais
homogêneos, de modo que nada se pode opor à discussão da matéria pela
via da ação coletiva. 2. Há relevância social na discussão dos royalties
cobrados pela venda de soja geneticamente modificada, uma vez que o
respectivo pagamento necessariamente gera impacto no preço final do
produto ao mercado. 3. A exigência de pertinência temática para que se
admita a legitimidade de sindicatos na propositura de ações coletivas é
mitigada pelo conteúdo do art. 8º, II, da CF, consoante a jurisprudência do
STF. Para a Corte Suprema, o objeto do mandado de segurança coletivo será
um direito dos associados, independentemente de guardar vínculo com os
fins próprios da entidade impetrante do ‘writ’, exigindo-se, entretanto, que
o direito esteja compreendido nas atividades exercidas pelos associados,
mas não se exigindo que o direito seja peculiar, próprio, da classe.
Precedente. 4. A Corte Especial do STJ já decidiu ser válida a limitação
territorial disciplinada pelo art. 16 da LACP, com a redação dada pelo art. 2-
A da Lei 9.494/97. Precedente. Recentemente, contudo, a matéria
permaneceu em debate. 5. A distinção, defendida inicialmente por Liebman,
entre os conceitos de eficácia e de autoridade da sentença, torna inóqua a
limitação territorial dos efeitos da coisa julgada estabelecida pelo art. 16 da
LAP. A COISA JULGADA É MERAMENTE A IMUTABILIDADE DOS EFEITOS DA
SENTENÇA. MESMO LIMITADA AQUELA, OS EFEITOS DA SENTENÇA
PRODUZEM-SE ERGA OMNES, PARA ALÉM DOS LIMITES DA COMPETÊNCIA
TERRITORIAL DO ÓRGÃO JULGADOR. 6. O art. 2º-A da Lei 9.494/94
restringe territorialmente a substituição processual nas hipóteses de ações
propostas por entidades associativas, na defesa de interesses e direitos dos
seus associados. A presente ação não foi proposta exclusivamente para a
defesa dos interesses trabalhistas dos associados da entidade. Ela foi
ajuizada objetivando tutelar, de maneira ampla, os direitos de todos os
produtores rurais que laboram com sementes transgênicas de Soja RR, ou
seja, foi ajuizada no interesse de toda a categoria profissional. Referida
atuação é possível e vem sendo corroborada pela jurisprudência do STF. A
limitação do art. 2-A, da Lei nº 9.494/97, portanto, não se aplica. 7. Recursos
especiais conhecidos. Recurso da Monsanto improvido. Recurso dos
Sindicatos provido. (REsp 1243386/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe 26/06/2012)

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A maior novidade do precedente foi sem dúvida revisar o antigo entendimento que reconhecia
plena vigência ao art. 16 caput da LACP e do seu corolário no art. 2º-A da Lei
9.494/1994. Excelente precedente, parabéns ao STJ que mostra sinais claros do
amadurecimento da matéria em prol da maior efetividade material das ações coletivas.
Espera-se que a oscilação termine e essa orientação se consolide em definitivo, e para todos os
processos coletivos, não apenas para o processo coletivo do consumidor, atingindo todas as
demais situações jurídicas coletivas merecedoras de tutela, em especial as relativas ao meio
ambiente.

22.16. Observações de Provas


1. TRF4 – XIII – QUESTÃO 66. A coisa julgada formal pode ocorrer sem que se verifique a
coisa julgada material; esta, no entanto, é sempre dependente daquela.

2. TRF4 – XII – QUESTÃO 63. A coisa julgada formal pode ocorrer sem que se verifique a
coisa julgada material, mas esta pressupõe sempre ocorrência daquela.

3. TRF5 – XI – CESPE – QUESTÃO 50. Considerando os limites objetivos da coisa julgada, a


ação de usucapião encontra óbice na coisa julgada em face de anterior ação
reivindicatória cuja sentença já tenha transitado em julgado e na qual não tenha
havido alegação da usucapião como defesa138.

4. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 86. A coisa julgada material torna a sentença imutável
e indiscutível, adquirindo a decisão força de lei nos limites da lide e das questões
decididas.

5. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 12. Dionísio ajuizou ação de cobrança relativa a valor
investido em instituição financeira, porém, em sua petição inicial, não referiu em
momento algum a incidência de juros remuneratórios, tampouco o fazendo a sentença
que julgou procedente o seu pedido e transitada em julgado logo em seguida. Nesse
caso, não é lícito a Dionísio incluir nos cálculos que aparelham o seu requerimento de
cumprimento de sentença (CPC, art. 475-J c/c art. 614, II) tal espécie de juros, sob
pena de violação à coisa julgada.

6. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 12. Embora o STJ entenda ser indevida a inclusão dos
juros de mora no período compreendido entre a data da expedição do precatório
principal e a do seu efetivo pagamento - desde que respeitado o prazo constante no
art. 100, § 1º, da CF -, CONSIDERA QUE ESSE ENTENDIMENTO NÃO É APLICÁVEL NOS
CASOS EM QUE HOUVER DETERMINAÇÃO EXPRESSA NA SENTENÇA EXEQUENDA NO
SENTIDO DE QUE OS JUROS MORATÓRIOS DEVEM INCIDIR ATÉ O PAGAMENTO

138
A banca examinadora do concurso do TRF5/2011 considerou no item “e” esse instituto da eficácia
preclusiva da coisa julgada. Primeiro houve ação reivindicatória, que foi julgada procedente. A defesa
não arguiu o usucapião, embora pudesse fazê-lo. Daí que, por força do art. 474 do CPC, já não poderá
fazê-lo em uma outra ação, pena de se contrariar a coisa julgada formada na demanda anterior.
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602

INTEGRAL DA DÍVIDA, HAJA VISTA A NECESSIDADE DE RESPEITO À COISA


JULGADA139.

7. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 12. A inclusão de juros remuneratórios e moratórios


capitalizados nos cálculos de liquidação, sem que tenha havido tal previsão no título
executivo, implica violação da coisa julgada.

8. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 12. Em relação aos juros que buscam a remunerar o
capital investido, sua cobrança há de ser fundada em pedido expresso feito na inicial,
e, da mesma forma, não podem ser reclamados se a sentença exequenda nada disse a
respeito, sob pena de configurar afronta à coisa julgada140.

9. EMAGIS – 2011/24 – QUESTÃO 01. Marcelo, então com 8 (oito) anos de idade,
ingressou, representado por sua mãe, com ação de investigação de paternidade em
desfavor do seu suposto pai. Julgada improcedente a demanda por falta de provas e
não tendo sido realizada, àquela ocasião, a prova de DNA - ante o seu elevado custo -,
Marcelo, agora com 28 (vinte e oito) anos de vida, intentou nova ação com idêntico
objeto e em face do mesmo réu. Nesse caso, não há que se colocar a coisa julgada
como óbice à continuidade desse segundo processo judicial141.

139
Sem embargo desse posicionamento – consagrado pelo STF e seguido pelo STJ -, entende este último
que a situação será diversa se o título executivo judicial expressamente consignar que os juros
moratórios incidirão até o efetivo pagamento da dívida, pois, nesse caso, deve ser observada a coisa
julgada material formada a respeito. Inúmeros precedentes do STJ vêm nesse sentido, dos quais
extraímos o seguinte (isso é evidente caso de coisa julgada inconstitucional):
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PRECATÓRIO COMPLEMENTAR. JUROS DE MORA.
PERÍODO ENTRE A DATA DE EXPEDIÇÃO DO PRECATÓRIO PRINCIPAL E A DO EFETIVO PAGAMENTO. ART.
100, § 1º, DA CF. DETERMINAÇÃO JUDICIAL DE INCIDÊNCIA ATÉ O DEPÓSITO INTEGRAL DA
DÍVIDA. RESPEITO À COISA JULGADA. RECURSO DESPROVIDO. 1. A orientação jurisprudencial desta
Corte Superior é no sentido de ser indevida a inclusão dos juros de mora em precatório complementar
- período compreendido entre a data da expedição do precatório principal e a do seu efetivo pagamento
-, desde que respeitado o prazo constante no art. 100, § 1º, da CF, uma vez que, nesta hipótese, não há
falar em inadimplência do Poder Público (cf. Súmula Vinculante nº 17 do STF). 2. Todavia, tal
entendimento não se aplica nos casos em que houver determinação expressa na sentença exequenda
no sentido de que os juros moratórios devem incidir até o depósito integral da dívida, haja vista a
necessidade de respeito à coisa julgada. (cf. Recurso Especial Repetitivo 1.143.677/RS, Rel. Min. Luiz
Fux, DJe 4.2.2010). 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, Sexta Turma, AgRg no REsp
1181805, Rel. Des. conv. Vasco Della Giustina, DJe de 05/10/2011)
140
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUROS REMUNERATÓRIOS NÃO FIXADOS EM
SENTENÇA. INCLUSÃO NA FASE DE LIQUIDAÇÃO. OFENSA À COISA JULGADA. DECISÃO MANTIDA PELOS
PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO NÃO PROVIDO. 1 - Segundo orientação fixada por este Superior
Tribunal, diversamente do que sucede com os juros moratórios (Súmula n° 254/STF), ofende a coisa
julgada a inclusão, em fase de liquidação, de juro remuneratório não expressamente fixado em
sentença. Precedentes da Segunda Seção do STJ. 2 - Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ,
Quarta Turma, AgRg no Ag 1339464, Rel. Min. Maria Gallotti, DJe de 28/10/2011)
141
Em conclusão, o Plenário, por maioria, proveu recurso extraordinário em que discutida a
possibilidade, ou não, de superação da coisa julgada em ação de investigação de paternidade cuja
sentença tenha decretado a extinção do processo, sem julgamento do mérito, por insuficiência
probatória - v. Informativo 622. Decretou-se a extinção do processo original sem julgamento do mérito e
permitiu-se o trâmite da atual ação de investigação de paternidade. Prevaleceu o voto proferido pelo
Min. Dias Toffoli. Para ele, dever-se-ia ressaltar a evolução dos meios de prova para aferição da
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603

10. A regra do art. 16 da Lei nº 7.347/85 (“a sentença civil fará coisa julgada erga omnes,
nos limites da competência territorial do órgão prolator”) não se aplica às ações
coletivas que versem sobre relação de consumo142.

11. Na extinção do processo sem julgamento de mérito, ocorre coisa julgada formal em
todos os casos, podendo o autor intentar de novo a ação, salvo se a extinção decorreu
de perempção, litispendência ou coisa julgada.

12. A coisa julgada pode ser arguida a todo tempo no processo de conhecimento.

13. A decisão que rejeita a alegação de coisa julgada não transita em julgado.

14. Não há coisa julgada material quando as questões decididas forem de natureza
processual.

15. O reconhecimento da coisa julgada deve fundamentar-se na identidade dos elementos


da ação.

16. A coisa julgada pode se estender à motivação no caso de ação declaratória incidental.

paternidade - culminada com o advento do exame de DNA - e a prevalência da busca da verdade real
sobre a coisa julgada, visto estar em jogo o direito à personalidade. Ressaltou que este direito teria sido
obstaculizado, no caso, pelo fato de o Estado haver faltado com seu dever de assistência jurídica, uma
vez que não custeara o exame à época da ação anterior. Os demais Ministros que deram provimento ao
recurso ressaltaram que a espécie envolveria o cotejo entre a coisa julgada e o princípio da dignidade da
pessoa humana, consubstanciado no direito à informação genética. O Min.Luiz Fux destacou a existência
de corrente doutrinária que flexibilizaria o prazo para ajuizamento de ação rescisória nas hipóteses de
ação de investigação de paternidade julgada improcedente por ausência de provas, o que corroboraria a
superação da coisa julgada. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Cezar Peluso, Presidente, que
desproviam o recurso. O Min. Marco Aurélio apontou que o réu, na ação em comento, não poderia ser
obrigado a fazer o exame de DNA. Isso, entretanto, não implicaria presunção absoluta de paternidade,
mas apenas relativa, a ser confrontada com as provas trazidas ao processo. Asseverou que o
ordenamento traria exceções à imutabilidade da coisa julgada, a exemplo da ação rescisória, limitada ao
prazo de 2 anos após o trânsito em julgado da ação de origem. Como, na situação em tela, haveria lapso
de mais de 10 anos, a aludida exceção não seria aplicável. Destacou, ainda, a probabilidade de o
interesse do autor ser patrimonial, e não relativo à sua identidade genética. O Presidente, por sua vez,
afirmou que o princípio da coisa julgada seria o postulado da certeza, a própria ética do direito. A
respeito, assinalou que o direito não estaria na verdade, mas na segurança. Reputou que a relativização
desse princípio em face da dignidade da pessoa humana poderia justificar, de igual modo, a prevalência
do direito fundamental à liberdade, por exemplo, de maneira que nenhuma sentença penal
condenatória seria definitiva. Salientou que, hoje em dia, o Estado seria obrigado a custear o exame de
DNA do autor carente, de forma que a decisão da Corte teria pouca aplicabilidade prática. Por fim, frisou
que a questão envolveria também a dignidade humana do réu, não apenas do autor, visto que uma
nova ação de investigação de paternidade teria profunda repercussão na vida familiar daquele.
STF, RE 363889/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 2.6.2011. (RE-363889)
142
Nas relações de consumo, a coisa julgada erga omes ocorre em todo o território nacional.
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604

23. Recursos – Teoria Geral


23.1. Conceito de Recurso
Recurso é o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma,
invalidação, esclarecimento ou integração de decisão judicial que se impugna.

O recurso prolonga o estado de litispendência, não instaurando processo novo. É por isso que
não é recurso a ação autônoma de impugnação, já que dá origem a novo processo.

O recurso é uma extensão do direito de ação, de obter a tutela jurídica do Estado.

O direito de recorrer é um direito potestativo, já que a parte pode fazê-lo


independentemente do agir da outra.

São, pois, características dos recursos:

a) Voluntariedade;

b) Taxatividade;

c) Não cria processo novo;

d) Direito potestativo;

e) Extensão do direito de ação.

23.2. Os Recursos no Sistema dos Meios de Impugnação da Decisão Judicial


O sistema de impugnação da decisão judicial é composto dos seguintes instrumentos:

a) Recursos: meio de impugnação voluntário da decisão judicial utilizado dentro do


mesmo processo em que proferida;

b) Ações autônomas de impugnação: instrumento de impugnação da decisão judicial,


pelo qual se dá origem a um processo novo, cujo objetivo é o de atacar/interferir em
decisão judicial;

c) Sucedâneo recursal: são todos os outros meios de impugnação de decisão judicial,


como o pedido de suspensão de segurança e o pedido de reconsideração.

23.3. Classificação

23.3.1. Quanto à Extensão da Matéria: Recurso Parcial e Recurso Total


Recurso parcial é aquele que, em virtude de limitação voluntária, não compreende a
totalidade do conteúdo impugnável da decisão. Ele impugna apenas alguns capítulos dela.
Porém, os capítulos acessórios não impugnados, se impugnados os principais, serão
considerados impugnados.

Os demais capítulos não impugnados ficam preclusos e, se tratarem do mérito, cobertos pela
coisa julgada material.

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Recurso total é aquele que abrange todo o conteúdo impugnável da matéria recorrida (caso a
lei somente permita que uma determinada matéria da decisão seja recorrida, e ela o seja,
considera-se que o recurso foi total).

23.3.2. Quanto à Fundamentação: Fundamentação Livre e Fundamentação Vinculada


De fundamentação livre é o recurso em que o recorrente está livre para, em suas razões,
deduzir quaisquer argumentos contra a decisão, sem que isso influa na admissibilidade
recursal. A causa de pedir não está delimitada pela lei.

De fundamentação vinculada será o recurso em que a lei limita o tipo de crítica que se possa
fazer contra a decisão impugnada: a fundamentação é típica. É o que ocorre, v.g., no embargo
de declaração, no qual somente podem ser levantadas questões que versem sobre a omissão,
obscuridade ou contradição.

23.3.3. Ordinário ou Excepcional (ou Extraordinário)


São ordinários os recursos cujo objeto imediato é a tutela do direito subjetivo, e excepcionais
(ou extraordinários) aqueles cujo fim imediato é a tutela do direito objetivo. Encontram-se na
primeira espécie recursos como apelação, agravo e embargos infringentes; na segunda, o
recurso extraordinário e o especial. É bem de ver que no recurso ordinário pode-se discutir
questões de fato e de direito, ao passo que no excepcional (ou extraordinário) somente se
veiculam questões de direito, apesar de, evidentemente, a parte ter um interesse subjetivo em
causa.

23.4. Atos Sujeitos a Recurso

23.4.1. Introdução
É com base no conceito de sentença que se saberá qual o recurso cabível. Deve-se entender
sentença como o ato que encerra o procedimento nas fases de conhecimento ou de execução;
ela encerra a primeira instância, fundando-se ora no art. 267, ora no 269 do CPC. Porém, deve-
se ressalvar:

a) A sentença nem sempre encerrará toda a fase do procedimento, quer porque pode
haver recurso, quer porque sendo ato de competência originária de tribunal, o ato que
porá fim ao procedimento será acórdão ou decisão monocrática;

b) Nem toda decisão que tiver por conteúdo uma das hipóteses dos arts. 267 e 269 terá
por efeito a extinção do procedimento. V.g., decisão que indefere parcialmente a
inicial, decisão que reconhece a decadência de um dos pedidos cumulados, decisão
que exclui um litisconsorte por ilegitimidade.

A despeito da redação do § 1º do art. 162, os arts. 267 e 269 não prevêem hipóteses em que
necessariamente o processo será extinto nem estabelecem matérias que sejam exclusivas de
sentença.

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23.4.2. Sistematização
Somente as decisões judiciais podem ser alvo de recurso. Os despachos, atos não decisórios,
são irrecorríveis. Também são irrecorríveis os atos praticados pelo escrivão por conta de
delegação do magistrado.

As decisões que podem ser proferidas pelo juízo singular são:

a) Decisão interlocutória: toda decisão que não encerrar o procedimento em primeira


instância;

b) Sentença: decisão judicial que encerra a primeira instância, ultimando a fase de


conhecimento ou execução.

23.5. Desistência do Recurso


Desistência é a revogação pelo recorrente. Ela pode ser parcial ou total, e PODE OCORRER
ATÉ O INÍCIO DO JULGAMENTO. O recorrente pode desistir por escrito ou em
sustentação oral. Não comporta condição nem termo.

A DESISTÊNCIA É ATO DISPOSITIVO QUE INDEPENDE DE


CONSENTIMENTO DA PARTE ADVERSÁRIA (ART. 501) E DE
HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL PARA A PRODUÇÃO DE EFEITOS.
Art. 501. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do
recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso.

A desistência, que pressupõe recurso já interposto (caso contrário seria renúncia) é conduta
determinante, só produzindo efeito em relação ao recorrente.

No caso de litisconsórcio unitário, ela só será eficaz se todos os litisconsortes desistirem.

A desistência impede uma nova interposição do recurso de que se desistiu, mesmo se ainda
dentro do prazo. Se renovado o recurso, ele deverá ser considerado inadmissível (preclusão
lógica).

Existem diferenças evidentes entre desistência do processo e desistência do recurso:

DESISTÊNCIA DO PROCESSO DESISTÊNCIA DO RECURSO


Pode implicar extinção do processo com ou em
Extingue o processo sem resolução de mérito (art.
julgamento do mérito; pode não implicar extinção
267, VIII)
do processo, como no caso do ag. de instrumento.
Precisa ser homologada pelo juiz (art. 158, p. ún.) Dispensa homologação
Depende de consentimento do réu, se houver
Independe de anuência do recorrido
resposta
Pode ocorrer, unilateralmente, até a Pode ocorrer até o início do julgamento do
apresentação da resposta. recurso.
Requer poder especial do advogado Requer poder especial do advogado

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23.6. Renúncia ao Direito de Recorrer e Aquiescência à Decisão


A renúncia é o ato pelo qual uma pessoa manifesta a vontade de não interpor recurso de que
poderia valer-se contra determinada decisão. Ela é sempre anterior à interposição do recurso,
NÃO SENDO ADMITIDA ANTES DO MOMENTO EM QUE O DIREITO DE RECORRER SEJA
EXERCITÁVEL.

A aceitação é o ato pelo qual alguém manifesta a vontade de conformar-se com a decisão
proferida, podendo ser por escrito ou tácita, quando ela pratica atos de concordância. Poderá
ser parcial ou total.

Havendo litisconsórcio unitário, para que a aceitação seja eficaz, todos os litisconsortes devem
aceitar.

23.7. Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito do Recurso

23.7.1. Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito: Distinção


O juízo de admissibilidade opera sobre o plano de validade dos atos jurídicos. Toda postulação
se sujeita a um duplo exame do magistrado: primeiro, verifica-se a possibilidade do exame do
conteúdo da postulação; após, e em caso de um juízo positivo naquele, examina-se a
procedência ou não daquilo que se postula.

No juízo de admissibilidade verifica-se a existência dos requisitos de admissibilidade. Ele é


sempre preliminar ao juízo de mérito: a sua solução determina se o mérito será ou não
examinado.

23.7.2. Generalidades sobre o Juízo de Admissibilidade


Quando o recurso é inadmitido, diz-se que o Poder Judiciário não o conheceu ou não o
admitiu.

Em regra, reconhece-se ao órgão perante o qual se interpõe o recurso a competência para


verificar a admissibilidade; nega-se-lhe competência para examinar o mérito.

Ressalvado o agravo de instrumento, os recursos são interpostos perante o órgão que proferiu
a decisão recorrida. Ele, entretanto, já tem o juízo de admissibilidade exercido diretamente
pelo órgão ad quem.

Porém, o juízo a quo exerce um exame provisório de admissibilidade, sempre cabendo recurso
da decisão que não conhece um recurso.

23.7.3. Objeto do Juízo de Admissibilidade

23.7.3.1. Introdução
O objeto é classificado em dois grupos:

REQUISITOS RECURSAIS
REQUISITOS INTRÍNSECOS REQUISITOS EXTRÍNSECOS
Cabimento Preparo
Legitimidade Tempestividade
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Interesse Regularidade formal


Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do
-
poder de recorrer
Requisitos intrínsecos estão ligados à existência do direito de recorrer; os
extrínsecos, ao seu regular exercício.

23.7.3.2. Cabimento. Princípios da Fungibilidade, Taxatividade e Singularidade Recursais


Só podem ser considerados recursos aqueles meios de impugnação expressamente arrolados
em lei. Um recurso somente é cabível quando a lei processual indicar-lhe – diante de
determinada finalidade específica e certo ato judicial – como o adequado para extravasar a
insurgência. Poderia esse pressuposto ser tomado por analogia, como a adequação da via,
elemento da condição da ação denominado “interesse de agir”.

a) Princípio da fungibilidade: é aquele pelo qual se permite a conversão de um recurso


em outro, no caso de equívoco da parte, desde que não haja erro grosseiro ou não
haja preclusão no prazo de interposição do recurso adequado.

Erro grosseiro é aquele em que nada justifica a troca de um recurso pelo outro, não
havendo dúvida objetiva razoável.

O STJ exige que o recurso interposto no lugar do outro obedeça ao prazo deste, mesmo que
menor. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO NOS EMBARGOS


DECLARATÓRIOS NO RECURSO ESPECIAL. RECEBIMENTO DA PETIÇÃO COMO
NOVOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS. IMPOSSIBILIDADE. ERRO GROSSEIRO.
INOBSERVÂNCIA DO PRAZO PREVISTO NO ART. 536 DO CPC.

1. A Segunda Seção, ao julgar o RCDESP no CC 107.155/MT (Rel. Min. Aldir


Passarinho Junior, DJe 17.9.2010), deixou consignado que o pedido de
reconsideração não possui previsão legal, mormente quando dirigido contra
acórdão, procedimento que configura erro grosseiro e que inviabiliza, por
aplicação do princípio da fungibilidade recursal, o recebimento como
embargos de declaração. Mesmo que fosse possível superar tal obstáculo, e
não é, a Segunda Seção ressaltou que, ainda assim, no referido caso não
restaria satisfeito o requisito da tempestividade, pois o pedido de
reconsideração fora protocolado fora do prazo fixado no art. 536 do Código
de Processo Civil. No mesmo sentido são os seguintes precedentes: RCDESP
nos EREsp 1.055.223/RS, 3ª Seção, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
DJe 1º.7.2009; RCDESP no AgRg nos EREsp 966.714/GO, 1ª Seção, Rel. Min.
Hamilton Carvalhido, DJe 6.4.2010.

2. No caso concreto, a par da configuração de erro grosseiro, o


recebimento do pedido de reconsideração como embargos declaratórios
encontra óbice, ainda, na inobservância do prazo estabelecido no art. 536
do Código de Processo Civil.

3. Pedido de reconsideração não conhecido.


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(STJ, RCDESP nos EDcl no AgRg no REsp 899.146/PR, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe
10/02/2011)

b) Princípio da unicidade, unirrecorribilidade ou singularidade: não é possível a utilização


simultânea de dois recursos contra a mesma decisão; para cada caso, há um recurso
adequado, e somente um. Trata-se de princípio implícito no sistema recursal brasileiro.

c) Princípio da taxatividade: a enumeração dos recursos deve ser taxativamente prevista


em lei, sendo o rol legal de recursos numerus clausus. Por isso que não se admite a
apelação por instrumento.

23.7.3.3. Legitimidade (art. 499)


Têm legitimidade para recorrer as partes, o MP e o terceiro juridicamente interessado
(prejudicado e interveniente).

A caracterização do terceiro que é efetivamente prejudicado é dada pelo art. 499, § 1º, que
exige a demonstração do “nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a
relação jurídica submetida à apreciação judicial”. Quando o juiz for “parte” em incidente
processual (e.g. exceção de suspeição ou impedimento), tem legitimidade para recorrer do
acórdão que der pela procedência da exceção.

O recurso de terceiro deve ser preparado e deve ser interposto no mesmo prazo de que dispõe
a parte.

O MP tem legitimidade para recorrer no processo em que atuou como custos legis, ainda que
não tenha havido recurso da parte (art. 499, § 2º).

23.7.3.4. Interesse
A fim de que possa o interessado socorrer-se do recurso, é fundamental que possa antever
algum interesse na utilização deste caminho. À semelhança do que acontece com o interesse
de agir (condição da ação), que engloba a adequação da via eleita (cabimento, no caso dos
recursos), é necessário que o interessado possa vislumbrar alguma utilidade na veiculação do
recurso, utilidade esta que somente possa ser obtida através da via recursal (necessidade).

A fim de preencher o requisito “utilidade”, será necessário que a parte (ou terceiro)
interessada em recorrer, tenha sofrido algum prejuízo jurídico – sucumbido - em decorrência
da decisão judicial, ou ao menos que esta não tenha satisfeito plenamente a pretensão
exposta – (uma vez que, sendo vencidos autor e réu, ambos terão interesse em recorrer).

O interesse é subjetivo; porém, é apurado pela sucumbência.

Em relação à “necessidade”, esta estará presente se, por outro modo, não for possível resolver
a questão, alterando-se ou suplantando-se o prejuízo verificado.

Não há interesse recursal quando o recorrido puder, por meio mais rápido e mais fácil
(contrarrazões de apelação), obter o resultado que pretende (a inadmissibilidade do recurso
da parte contrária).
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TAMBÉM NÃO HAVERÁ INTERESSE EM RECORRER SE O RECORRENTE


IMPUGNAR TÃO-SOMENTE O FUNDAMENTO DA DECISÃO, POIS O
RECURSO DEVE ATACAR O DISPOSITIVO DO ATO JUDICIAL RECORRIDO.
Isso porque a motivação não fica imutável pela coisa julgada material. Exceção a essa regra se
verifica quando o fundamento é causa determinante do resultado da demanda, como, p. ex., a
improcedência do pedido deduzido em ACP que, se for deficiência de prova, não será
acobertada pela coisa julgada, podendo ensejar a repropositura da ação (LACP 16).

Não é de ser exigido o requisito do interesse recursal quanto ao MP. Seu interesse processual
e recursal deriva do poder (legitimidade) que o legislador lhe outorgou para o exercício da
ação civil, ou seja, o interesse está pressuposto (in re ipsa) na própria outorga de legitimação.
A razão de ser da atuação do MP no processo civil, seja como autor da ação civil (CR 129 III;
CPC 81), seja como custos legis (CPC 82), é sempre o interesse público, do qual ele é tutor
natural. Daí decorre a consequência de afirmar-se que o interesse recursal não se constitui
para ele em pressuposto de admissibilidade do recurso.

23.7.3.5. Inexistência de Fato Impeditivo ou Extintivo do Poder de Recorrer


Os Fatos extintivos do direito de recorrer são a renúncia e a aceitação ou aquiescência à
decisão.

Fatos impeditivos do direito de recorrer ou do seguimento do recurso. O interessado pode ter


o direito de recorrer, mas esse direito estar inibido por alguma causa externa: a desistência e o
não pagamento de algumas multas previstas pelo CPC. A desistência assemelha-se à renúncia,
tendo como diferença básica em relação a esta última o fato de que se opera posteriormente
ao oferecimento do recurso.

Pode o recorrente desistir do recurso já interposto mesmo sem a anuência da parte contrária
ou de seus litisconsortes, seguindo-se então o curso normal do procedimento no juízo a quo
(CPC 501). Ocorrendo a desistência do recurso, impede-se o prosseguimento do respectivo
processamento, ficando ao tribunal vedado conhecer da insurgência.

O inadimplemento das multas fixadas em lei, que impede a interposição de novos recursos,
ocorre com as previsões dos arts. 538, p. único (embargos de declaração protelatórios) e 557,
§ 2º do CPC (agravo manifestamente inadmissível ou infundado).

23.7.3.6. Tempestividade (art. 506)


Os recursos devem ser interpostos no prazo que a lei assinalar para tanto. Esse prazo tem
termo inicial a partir da intimação da decisão, podendo ser contado da audiência, se prolatada
decisão oral, ou da publicação do acórdão. A tempestividade é aferida pelo protocolo.

O prazo recursal submete-se a regras especiais, decorrentes de certas circunstâncias subjetivas


e objetivas específicas. Assim, em sendo parte a Fazenda Pública ou o MP, os prazos recursais
serão computados em dobro (CPC 188); também havendo no processo litisconsortes com
advogados distintos, os prazos para recurso são contados em dobro (CPC 191).

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Ademais, para a Fazenda Pública, o prazo somente começa a correr com a intimação pessoal
do seu representante:

PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. SENTENÇA CONCESSIVA.


APELAÇÃO. TERMO INICIAL DO PRAZO. INTIMAÇÃO PESSOAL DO
REPRESENTANTE DA FAZENDA PÚBLICA.

1. É HARMÔNICO O POSICIONAMENTO NO STJ NO SENTIDO DE SER


OBRIGATÓRIA A INTIMAÇÃO PESSOAL DOS REPRESENTANTES DA FAZENDA
PÚBLICA ACERCA DE TODOS OS ATOS PROCESSUAIS DOS FEITOS EM QUE
ATUE COMO INTERESSADA, OPONENTE, RECORRENTE OU RECORRIDA,
consoante dispõem os artigos 38 da Lei Complementar 73/93 e 6º da Lei
9.028/95. Precedentes.

2. No caso concreto, a intimação pessoal do procurador da União da


sentença concessiva ocorreu em 21.08.00 (e-STJ fl. 61), mas foi
protocolizado o recurso de apelação somente em 11.10.00 (e-STJ fl. 68), o
que manifesta sua intempestividade.

3. Recurso especial provido.

(STJ, REsp 1132226/ES, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,


julgado em 02/03/2010, DJe 10/03/2010)

Os prazos recursais – embora não admitam dilação por acordo entre as partes – podem ser
prorrogados em caso de calamidade pública ou de outra justa causa, que impeça a prática do
ato no tempo oportuno (CPC 182, p. único. e 183).

Podem submeter-se a causas de suspensão e interrupção. Ocorre a suspensão do prazo


recursal, p. ex. pela arguição de exceção de impedimento ou suspeição do juízo (CPC arts. 265,
III e 306), pela superveniência de férias forenses, perda da capacidade processual de qualquer
das partes ou de seus procuradores. Nesses casos, finda a causa da suspensão, o prazo será
devolvido pelo quanto faltava para o seu término.

Já no caso de interrupção, uma vez findo, o prazo será devolvido integralmente. São exemplos
de causas interruptivas a interposição de embargos de declaração (CPC 538), salvo no juizado,
e os motivos arrolados no CPC 507 (Se, durante o prazo para a interposição do recurso,
sobrevier o falecimento da parte ou de seu advogado, ou ocorrer motivo de força maior, que
suspenda o curso do processo, será tal prazo restituído em proveito da parte, do herdeiro ou
do sucessor, contra quem começará a correr novamente depois da intimação).

No procedimento dos Juizados Especiais Federais (Lei nº 10.259/01) não há prazo diferenciado
para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público (art. 9º),
bem como inexiste reexame necessário (art. 13).

E, no dos Juizados Especiais Cíveis (Lei nº 9.099/95), os embargos de declaração devem ser
interpostos no prazo de 5 dias, e, ao contrário dos embargos previstos no CPC – que
interrompem o prazo recursal -, os embargos de declaração do JEC, quando interpostos contra
sentença, apenas suspendem o prazo para recurso.
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Lembre-se ainda que a Lei nº 9.800/99 possibilita a interposição de recursos por FAX até o
último dia do prazo, impondo ao recorrente o dever de juntar os originais na secretaria do
tribunal até cinco dias depois do término do prazo.

O benefício do prazo em dobro para a Fazenda Pública e para o MP não se aplica ao prazo de
contrarrazões; Defensores Públicos têm prazo em dobro para recorrer e contra-arrazoar.

Os embargos de declaração contra acórdão, sentença ou decisão interlocutória (CPC 535), bem
como os agravos (agravo interno) do CPC, devem ser interpostos no prazo de 5 dias. Os
agravos de instrumento e retido, bem como o agravo contra decisão que inadmite RE ou REsp,
devem ser interpostos em 10 dias (CPC 522 e 544). Os recursos de apelação, embargos
infringentes, ordinário, especial, extraordinário e embargos de divergência são interponíveis
no prazo de 15 dias (CPC 508). O recurso de forma adesiva (apelação, embargos infringentes,
recurso especial e recurso extraordinário) devem ser interpostos no prazo de 15 dias (CPC 500,
I), tendo o recorrido o mesmo prazo para contra-arrazoá-lo.

RECURSO PRAZO
Embargos de declaração 05 dias
Agravos internos, regimentais 05 dias
Agravo de instrumento 10 dias
Agravo retido 10 dias
Recurso inominado dos juizados cíveis 10 dias
Apelação 15 dias
Embargos de divergência 15 dias
Embargos infringentes 15 dias
Recurso especial 15 dias
Recurso extraordinário 15 dias
Recurso ordinário constitucional 15 dias

O DIES A QUO DO RECURSO PODE SE


Outra coisa importantíssima é o seguinte:
INICIAR DESDE O MOMENTO EM QUE A PARTE TOMA CIÊNCIA
INEQUÍVOCA DA DECISÃO, ainda que não tenha a mesma sido publicada. Assim, se ela
dá carga no processo logo após verificar, no andamento processual, que foi prolatada a
decisão, já começará a correr o prazo recursal. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO


– INTEMPESTIVIDADE RECURSAL – CONSULTA DOS AUTOS POR ADVOGADO
– CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA DECISÃO – INÍCIO DO PRAZO.

1. Considera-se a parte regularmente intimada quando faz carga dos autos,


passando a correr daí o prazo para interposição do recurso de apelação,
independentemente de publicação no Diário Oficial.

2. Inviável análise de pretensão que demanda revolvimento do conjunto


fático-probatório dos autos.

3. Agravo regimental não provido.

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(STJ, AgRg no Ag 972.990/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA


TURMA, julgado em 20/05/2008, DJe 11/06/2008)

PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA. CÓPIA. MOMENTO. ANTERIOR.


PUBLICAÇÃO. CONHECIMENTO INEQUÍVOCO. INÍCIO. CONTAGEM. PRAZO.
INTERPOSIÇÃO. APELAÇÃO.

1 - O prazo para recurso começa com a intimação da sentença. Se a parte,


entretanto, antecedentemente à publicação, toma inequívoca ciência do
seu inteiro teor, inclusive, mediante extração de fotocópia, neste dia terá
ele (prazo) início, sendo irrelevante a posterior publicação e a falta de
retirada dos autos do cartório.

(STJ, REsp 503.636/RS, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA


TURMA, julgado em 09/03/2004, DJ 19/04/2004, p. 202)

PROCESSO CIVIL - AÇÃO DE COBRANÇA - PROLAÇÃO DE SENTENÇA -


APRESENTAÇÃO DE PETIÇÃO ADUZINDO NULIDADES - INDEFERIMENTO -
MEIO INADEQUADO - INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DE APELAÇÃO -
INTEMPESTIVIDADE - TERMO INICIAL CONTADO COMO SENDO A PARTIR DO
COMPARECIMENTO DA PARTE AOS AUTOS ALEGANDO NULIDADES -
VIOLAÇÃO À NORMA INFRACONSTITUCIONAL - INOCORRÊNCIA - DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL - NÃO CONFIGURAÇÃO.

1 - Consoante entendimento desta Corte, o comparecimento da parte, por


meio de advogado, que, após a prolação de sentença, peticiona alegando
nulidades, é ato capaz de indicar a ciência inequívoca do decisum
impugnado, suprindo a intimação.

[...]

(STJ, REsp 578.861/SP, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA,


julgado em 08/11/2005, DJ 28/11/2005, p. 294)

O STF, assim como o STJ, entendia que a tempestividade do recurso em decorrencia de feriado
local ou suspensão dos prazos processuais pelo Tribunal a quo deveriam ser demonstrados no
momento da sua interposição, não sendo possível a juntada posterior de documento que
comprove a sua tempestividade (ARE 668.294, 1ª T., relatora Min Carmen Lúcia, 28/2/12).

Ocorre que em precedente ainda mais recente, a Suprema Corte, em decisão plenária,
modificou seu entendimento permitindo que o recorrente comprove posteriormente a
tempestividade, por meio de juntada posterior de documentação a indicar a interposição do
RE no seu prazo. Nesse sentido:

É admissível comprovação posterior de tempestividade de RE quando


houver sido julgado extemporâneo por esta Corte em virtude de feriados
locais ou de suspensão de expediente forense no tribunal a quo. Com base
nessa orientação, o Plenário, por maioria, proveu Ag Regmental interposto
de decisão do Min. Cezar Peluso, Presidente, que negara seguimento a RE,
do qual relator, a fim de permitir o seu regular trâmite. Ressaltou-se que, na

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verdade, o recurso seria tempestivo, mas não houvera prova a priori disto.
Assim, reputou-se aceitável a juntada ulterior de documentação a indicar a
interposição do extraordinário no seu prazo. O Min. Marco Aurélio frisou
haver, na espécie, deficiência cartorária, porque a serventia deveria ter
consignado o fechamento do foro em razão de feriado local. O Min. Luiz Fux
sublinhou aplicar-se a regra do art. 337 do CPC (“A parte, que alegar direito
municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a
vigência, se assim o determinar o juiz”). Vencido o Min. Celso de Mello, que
negava provimento ao agravo. (RE 626.358-AgR/MG, Pleno, 22/03/12)

23.7.3.6.1. Recurso Interposto Antes da Publicação da Decisão


Parte da transcrição do voto do Min. Luiz Fux veiculada no informativo 665 do STF (HC
101.132-ED/MA).

Voto: Senhor Presidente, há uma preliminar a ser vencida, antes que se adentre o mérito
recursal.

Os presentes embargos de declaração foram opostos, mediante fac-símile, em 13/06/2011; a


petição original foi protocolada em 16/06/2011. O acórdão recorrido somente veio a ser
publicado em 01/07/2011.

Não ignoro que a jurisprudência desta Turma é no sentido de que o recurso ajuizado antes da
publicação do acórdão de julgamento é extemporâneo, porquanto se entende que a
impugnação é prematura. Assim, v. g. : HC 85.314/SP, Rel. Min. Eros Grau, Primeira Turma,
Julg. em 14/03/2006.

Essa orientação, no entanto, merece uma melhor reflexão da Corte. Uma tal visão do processo,
que eleva filigranas estéreis a um patamar de importância maior que o próprio direito
material, está vinculada à denominada FASE CIENTÍFICA DO DIREITO PROCESSUAL,
na qual, ante a necessidade de afirmação da nova ciência que surgia no final do séc. XIX, os
operadores do direito se apegavam demasiadamente a querelas meramente acadêmicas.

Pela pena de notáveis juristas modernos, dentre os quais destaco, na doutrina nacional, os
professores Cândido Dinamarco, José Roberto dos Santos Bedaque e Carlos Alberto Alvaro de
Oliveira, a doutrina processual, a pouco e pouco, vem adequando os institutos deste ramo do
Direito para que cumpram a sua verdadeira função: a de conferir efetividade aos direitos
materiais.

A FASE INSTRUMENTALISTA DO DIREITO PROCESSUAL deriva da necessidade de


legitimação do Judiciário. Com efeito, o descrédito social gerado em razão de decisões que se
furtam à resolução do mérito por apego exagerado a questiúnculas procedimentais, sem
qualquer fundamento razoável, gera uma crise de efetividade dos direitos e põe em xeque, em
última análise, a sobrevivência dos Poderes instituídos. A persistir a orientação formalista,
veremos ressuscitado o regime romano das legis actiones , do purismo formal excessivo e
absoluto desse período data a conhecida passagem das Institutas de Gaio (IV/11), em que
relata a perda de uma causa em virtude de a parte ter utilizado o termo vide no lugar de

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árvore, que era o correto. Em artigo publicado em obra recente que coordenei, Bruno Bodart
vaticina que [a] forma, se imposta rigidamente, sem dúvidas conduz ao perigo do arbítrio das
leis, nos moldes do velho brocardo dura lex, sed lex (BODART, Bruno Vinícius Da Rós.
Simplificação e adaptabilidade no anteprojeto do novo CPC brasileiro. In : O Novo Processo
Civil Brasileiro Direito em Expectativa. Org. Luiz Fux. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 76).

Carlos Alberto Alvaro de Oliveira observa que O FORMALISMO EXCESSIVO FAZ COM QUE O
SEU PODER ORGANIZADOR, ORDENADOR E DISCIPLINADOR ANIQUILE O PRÓPRIO DIREITO
OU DETERMINE UM RETARDAMENTO IRRAZOÁVEL NA SOLUÇÃO DO LITÍGIO. Segundo anota
o autor, as formas processuais cogentes não devem ser consideradas formas eficaciais
(Wirkform), mas formas finalísticas (Zweckform), subordinadas de modo instrumental às
finalidades processuais. Se a finalidade da prescrição foi atingida na sua essência, sem
prejuízo a interesses dignos de proteção da contraparte, o defeito de forma não deve
prejudicar a parte, mesmo em se tratando de prescrição de natureza cogente, pois, por
razões de equidade (justiça do caso concreto, segundo Radbruch), a essência deve sobrepujar
a forma (OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. O formalismo-valorativo no confronto com o
formalismo excessivo. In : Revista de Processo, São Paulo: RT, n.º 137, p. 7-31, 2006).

A finalidade da publicação do acórdão de julgamento é dar ciência à parte do teor da decisão,


de modo que a interposição anterior do recurso denota que o referido propósito foi atingido
por outros meios. Penalizar a parte diligente, que contribuiu para a celeridade do processo, é
contrariar a própria razão de ser dos prazos processuais e das preclusões: evitar que o
processo se transforme em um retrocesso, sujeito a delongas desnecessárias.

Neste sentido, a lição de José Roberto dos Santos Bedaque, in verbis : se for possível verificar
que o reconhecimento da preclusão em determinado caso concreto, além de não favorecer a
celeridade do processo, irá proporcionar tutela jurisdicional a quem não tem direito a ela,
deverá o juiz afastá-la (Efetividade do Processo e Técnica Processual. 3ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2010. p. 130).

O formalismo desmesurado ignora, ainda, a boa-fé processual que se exige de todos os


sujeitos do processo, inclusive, e com maior razão, do Estado-Juiz. Nas palavras de
Dinamarco, a supervalorização do procedimento, à moda tradicional e sem destaques para a
relação jurídica processual e para o contraditório, constitui postura metodológica favorável a
essa cegueira ética que não condiz com as fecundas descobertas da ciência processual nas
últimas décadas (DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 14ª ed. São
Paulo: Malheiros, 2009. p. 267).

A Constituição de 1988 foi o estopim de um marco científico, consistente na difusão da


doutrina neoconstitucionalista no Brasil, cuja metodologia assume a existência de uma
conexão necessária entre direito e moral. No plano teórico, afasta-se o estatalismo, o
legicentrismo e o formalismo interpretativo na análise do sistema jurídico, e desenvolvem-se
mecanismos para a efetividade dos princípios constitucionais que abarcam os valores mais
caros à nossa sociedade (COMANDUCCI, Paolo. Formas de (neo)constitucionalismo: un análisis
metateórico. Trad. Miguel Carbonell. In : Isonomía. Revista de Teoría y Filosofía del Derecho,
nº 16, 2002). Impossível, portanto, interpretar as normas processuais de modo desfavorável à
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consecução do acesso à justiça (art. 5º, XXXV, da Constituição) e desconectada da necessidade


de conferir aplicabilidade às normas de direito material.

O Supremo Tribunal Federal, recentemente, sob o influxo dessas novas ideias, modificou a sua
jurisprudência para permitir a comprovação posterior de tempestividade do Recurso
Extraordinário, quando reconhecida a sua extemporaneidade em virtude de feriados locais ou
de suspensão de expediente forense no Tribunal a quo (RE nº 626.358-AgR/MG, rel. Min. Cezar
Peluso, Tribunal Pleno, julg. 22/03/2012).

Sabe-se que o direito não socorre aos que dormem; porém, deve acudir aqueles que estão
bem acordados. É por isso que reconheço a tempestividade do recurso, à luz da visão
instrumentalista do processo.

23.7.3.7. Regularidade Formal. O Princípio da Dialeticidade dos Recursos


O recurso somente será admissível se o procedimento utilizado pautar-se estritamente pelos
critérios descritos em lei.

Além disso, pelo princípio da dialeticidade, exige-se que todo recurso seja formulado por meio
de petição na qual a parte não apenas manifeste sua inconformidade com ato judicial, mas
também, e necessariamente, INDIQUE OS MOTIVOS DE FATO E DE DIREITO PELOS
QUAIS REQUER O NOVO JULGAMENTO. Não basta que se interponha recurso pedindo
reforma porque com a decisão não se concorda.

Deve-se dizer exatamente os motivos que embasam a discordância.

Trata-se, em síntese, da fundamentação do recurso.

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


RAZÕES RECURSAIS DISSOCIADAS DOS FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO
RECORRIDO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS N. 283 E 284 DO STF, POR
ANALOGIA.

1. Segundo a interpretação que esta Corte confere aos arts. 514, II, 539, II, e
540 do Código de Processo Civil, a petição do recurso ordinário em
mandado de segurança deve observar o princípio da dialeticidade, ou seja,
deve apresentar as razões pelas quais a parte recorrente não se conforma
com o acórdão proferido pelo Tribunal de origem, o que, todavia, não se
verifica nos presentes autos, em que a impetrante deixou de impugnar
especificamente o ponto do acórdão recorrido consistente na denegação do
mandado de segurança com base na Súmula n. 266/STF. Incidência das
Súmulas n.

283 e 284 do STF, por analogia.

2. Recurso ordinário não conhecido.

(STJ, RMS 33.459/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA


TURMA, julgado em 01/03/2011, DJe 15/03/2011)

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23.7.3.8. Preparo
É o adiantamento das despesas relativas ao julgamento do recurso, cuja não realização se
chama deserção. Ele há de ser comprovado no momento da interposição (art. 511), mediante
juntada aos autos da Guia de Recolhimento.

Nos Juizados Especiais, é possível efetivar o preparo recursal contra a sentença em até 48
horas após a sua interposição.

Há recursos que dispensam o preparo:

a) Agravo retido;

b) Embargos de declaração;

c) Embargos infringentes de alçada;

d) Agravo (antigo “de instrumento”) contra decisão que nega seguimento a RE ou REsp;

e) Recursos no ECA;

f) Agravo interno.

CASO O PREPARO SEJA INSUFICIENTE, O RECURSO NÃO SERÁ


CONSIDERADO DESERTO. DEVE O JUIZ DETERMINAR A SUA
COMPLEMENTAÇÃO NO PRAZO DE 05 DIAS, APÓS O QUE SERÁ DESERTO
(art. 511, § 2º).

Atualmente, a maior parte da jurisprudência entende que, se o banco fecha antes do


expediente forense, o prazo para o recolhimento do preparo deve ser prorrogado pra o
próximo dia útil subsequente, pois a instituição financeira atua na hipótese como auxiliar do
juízo. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. PREPARO. CHEQUE RECUSADO PELO BANCO.


ENTREGA DIRETA AO SERVENTUÁRIO. EXPEDIENTE BANCÁRIO NÃO
COINCIDENTE COM O PROTOCOLO FORENSE. CPC, ARTS. 511 E 519.

I. Demonstrado pela parte, induvidosamente, o seu desejo de observar o


termo previsto no art. 511 do CPC, porquanto buscou pagar o preparo com
cheque recusado pela agência bancária no mesmo dia da interposição do
recurso, e o juntou como prova em petição dirigida ao Juízo
concomitantemente, obstáculo cuja transposição restou dificultada pelo
encerramento do expediente do banco antes do forense, é de se aplicar, até
com mais razão ainda, a orientação jurisprudencial no sentido de se admitir
o elastecimento do prazo de recolhimento das custas até o dia útil
subsequente, atendido pela recorrente.

II. Recurso especial conhecido e provido, para que, afastado o óbice alusivo
ao preparo, prossiga o Tribunal a quo no exame da apelação.

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(STJ, REsp 195.890/RJ, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA


TURMA, julgado em 16/11/2000, DJ 19/02/2001, p. 175)

Quanto a isso, inclusive, publicou o STJ súmula pacificando seu entendimento e confirmando o
julgado acima:

Súmula 484, STJ: “Admite-se que o preparo seja efetuado no primeiro dia útil subsequente,
quando a interposição do recurso ocorrer após o encerramento do expediente bancário”.

No caso da apelação (CPC 519), a deserção pode ser relevada em caso de justo motivo: EM

DECISÃO IRRECORRÍVEL, MAS SUJEITA À REAPRECIAÇÃO PELO


TRIBUNAL, O MAGISTRADO FIXARÁ NOVO PRAZO PARA O PREPARO DO
RECURSO. Contra a decisão que denega a relevação, cabe agravo de instrumento, se a
decisão for do órgão a quo ou agravo interno, em se tratando de decisão do relator.

Esclareço: o que é relevada é a deserção, não o preparo: o juiz fixará prazo de recolhimento.
Vide o dispositivo legal:

Art. 519. Provando o apelante justo impedimento, o juiz relevará a pena de


deserção, fixando-lhe prazo para efetuar o preparo. (Redação dada pela Lei
nº 8.950, de 13.12.1994)

Parágrafo único. A decisão referida neste artigo será irrecorrível, cabendo ao


tribunal apreciar-lhe a legitimidade. (Incluído pela Lei nº 8.950, de
13.12.1994)

O valor do preparo em hipótese alguma será devolvido, mesmo se o recurso não for
conhecido.

Estão dispensados do preparo:

a) MP;

b) Fazenda Pública;

c) Defensoria Pública;

d) Beneficiário da justiça gratuita (Lei 1.060/50, art. 3º, I e 9º);

e) Na Justiça Federal, a União, suas autarquias e fundações, salvo entidades autárquicas


representantes de categorias profissionais (Lei nº 9.289/96);

f) Outras entidades que forem isentas mediante lei.

23.7.4. Natureza Jurídica do Juízo de Admissibilidade


O juízo de admissibilidade, de acordo com a corrente majoritária, se positivo ou negativo,
possui NATUREZA JURÍDICA DECLARATÓRIA, isso porque o juiz apenas dirá se o recurso
deve ou não ter regular processamento, seguindo para o tribunal.
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23.7.5. Juízo de Mérito

23.7.5.1. Conceito de Mérito do Recurso


O mérito do recurso é sua causa de pedir e seu pedido (pretensão), que pode ser de
invalidação, reforma, integração ou esclarecimento.

O mérito, diferentemente da admissibilidade, em regra é sujeito a uma única apreciação, feita


pelo órgão ad quem, existindo casos, entretanto, em que se admite o juízo de retratação pelo
órgão a quo.

É possível que uma questão seja de admissibilidade da causa e, ao mesmo tempo, de mérito
do recurso. V.g.: o juiz indeferiu liminarmente a inicial por considerar a parte ilegítima. O
recurso terá como mérito a legitimidade da parte para figurar na ação. Sendo provido, a ação
continua no juízo a quo.

23.7.5.2. A Causa de Pedir Recursal: o Error in Procedendo e o Error in Judicando


A causa de pedir recursal compõe-se do fato jurídico apto a autorizar a reforma, invalidação,
integração ou esclarecimento da decisão recorrida.

O error in judicando e o error in procedendo são os fatos jurídicos capazes de,


respectivamente, gerarem a reforma e a invalidação da decisão.

Error in judicando (vício de juízo) é o equívoco de juízo, a má apreciação da questão de direito


ou da questão de fato, ou ambas; o juiz decide mal aquilo que lhe foi submetido. Isso não quer
dizer que a matéria não possa ser processual, já que este tipo de matéria pode ser exatamente
o mérito recursal.

Error in procedendo (vício de atividade) ocorre quando há imperfeição formal na decisão,


quando o juiz desrespeita norma de procedimento provocando gravame à parte ou quando
sua decisão não é devidamente fundamentada. O vício de atividade quase sempre implica em
anulação da sentença ou do processo, a partir de determinado ponto, com o retorno dos autos
ao juízo a quo, salvo quando se puder aplicar a teoria da causa madura.

23.7.5.3. Cumulação de Pedidos no Recurso


Ambos os tipos de erros podem ser alegados simultaneamente no recurso. O vício de atividade
deve ser alegado de início, sendo seguido do vício de juízo. Isso porque o acolhimento do
primeiro gera a sua anulação. O pedido de reforma só será analisado se não tiver sido acolhido
o de nulidade.

23.7.5.4. Julgamento Rescindente e Substitutivo. O Efeito Substitutivo dos Recursos


Julgamento rescindente é o que acolhe o error in procedendo, determinando que o juízo a quo
profira nova decisão. Porém, em algumas hipóteses, o próprio tribunal corrigirá o erro, sem
devolver os autos ao juízo a quo, como ocorre na sentença ultra petita.

Trata-se de aplicação da regra do aproveitamento dos atos processuais válidos.

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Julgamento substitutivo é o que, acolhendo ou não o error in judicando, ou não acolhendo o


error in procedendo, opera a substituição da decisão recorrida pela decisão que julgou o
recurso exatamente porque não podem subsistir duas decisões com o mesmo objeto.

Evidentemente a decisão somente substituirá o que tiver sido objeto de recurso, prevalecendo
a parte não recorrida, se o recurso tiver sido parcial (art. 512).

SÓ SE PODE FALAR EM JULGAMENTO SUBSTITUTIVO QUANDO O RECURSO FOR


CONHECIDO E QUANDO NÃO FOR ACOLHIDA A PRETENSÃO ANULATÓRIA da decisão
do juízo a quo. Neste último caso, em havendo anulação, o acórdão não substitui, justamente
porque a decisão anterior foi rescindida, como se não mais existisse. Assim, não haverá o que
substituir.

23.8. Princípio do Ne Reformatio in Pejus. Vedação ao Benefício Comum do Recurso


Caso um dos litigantes parcialmente vencido impugne a decisão, a parte desta que lhe foi
favorável transitará normalmente em julgado, não sendo lícito ao órgão ad quem retirar, no
todo ou em parte, a vantagem obtida com o julgamento inferior, nem ao menos sobre ela
exercer atividade cognitiva.

A reformatio in pejus ocorre quando o órgão ad quem, no julgamento de um recurso, proferir


decisão mais desfavorável ao recorrente, sob o ponto de vista prático, do que aquela contra a
qual se interpôs o recurso.

Súmula 45, STJ: “É vedado ao tribunal agravar a situação da Fazenda Pública em reexame
necessário”.

A VEDAÇÃO DA REFORMA PARA PIOR ADVÉM DO EFEITO


DEVOLUTIVO. Por limitar a cognição a ser exercida pelo órgão ad quem ao que foi objeto
de impugnação, tal efeito da interposição do recurso faz presente o princípio da personalidade
dos recursos. ISTO SIGNIFICA DIZER QUE O RECURSO SÓ APROVEITA AO RECORRENTE, NÃO
PODENDO BENEFICIAR A PARTE QUE NÃO O INTERPÔS.

Repita-se: proibida é a reformatio in pejus, ou seja, a reforma para pior. Em outros termos, não
se pode, no julgamento de um recurso, agravar a situação de quem recorreu, em benefício de
quem não recorreu.

Esclarecedor o seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL


PÚBLICA. CONCESSÃO DE ORDEM PARA LICENÇA DE OPERAÇÃO. ESTUDO DE
IMPACTO AMBIENTAL (EIMA). RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL (RIMA).
DECISÃO EXTRA PETITA. REFORMATIO IN PEJUS. OFENSA ART. 535.
INOCORRÊNCIA. INOVAÇÃO EM SEDE DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.

1. A REFORMATIO IN PEJUS OCORRE NAS HIPÓTESES EM QUE A


DECISÃO QUANTITATIVA OU QUALITATIVA PIORA A SITUAÇÃO DO
ÚNICO RECORRENTE.
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2. Deveras, a proibição da reformatio in pejus, não obstante não seja


textual, infere-se da adstrição à devolutividade do recurso, não podendo o
tribunal infringir a regra de que a devolução deve ter como limite a
impugnação das partes (tantum devollutum quantum apelatum).

3.AO JUÍZO AD QUEM É VEDADO INOVAR, BEM COMO DE


CONFERIR AO ÚNICO RECORRENTE DECISÃO MAIS
DESFAVORÁVEL DO QUE AQUELA OBTIDA EM PRIMEIRO
GRAU E SUBMETIDA À REEXAME.

4. Sob o ângulo doutrinário: Quanto ao primeiro aspecto da vedação a


inovação (jus novorum), a sua justificativa obedece a um dos aspectos da
devolutividade, que impõe ao Tribunal colocar-se nas mesmas condições
em que se encontrava o juiz ao decidir, para aferir-lhes os errores in
procedendo e in judicando. Tudo deve se passar como na primeira
instância, pois, do contrário, não se pode conferir se o juiz, trabalhando
com elemento novo, também decidiria de forma diversa. (in, Curso de
Direito Processual Civil, Processo de Conhecimento, Vol. I, Luiz Fux, pág. 754,
Editora Forense) 5. Deveras, a vedação da reformatio in pejus em sede de
recurso exclusivo da defesa decorre do fato de que o Tribunal ad quem deve
pronunciar-se em conformidade com o postulado no recurso, consagrando a
proibição do julgamento extra e ultra petita, a que se referem os arts. 128 e
460 do Código de Processo Civil.

6. In casu, versam os autos ação civil pública movida pela ASSOCIAÇÃO DE


DEFESA DO MEIO AMBIENTE DE ARAUCÁRIA - AMAR em face de MILÊNIA
AGROSCIÊNCIAS S/A, postulando, liminarmente, a concessão da ordem que
suspendesse a licença de operação da empresa, bem como a obrigasse a
apresentar o Estudo Prévio de Impacto Ambiental/EIMA, o Relatório de
Impacto Ambiental/RIMA e, ainda, a realização de exames em seus
funcionários, moradores, bem como do solo e do ar dos arredores da
empresa.

7. Deveras, adotando as razões de decidir do Ministério Público Federal


verifica-se a caracterização da reformatio in pejus, nos seguintes
fundamentos: AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. Ação
civil pública com pedido de medida liminar de suspensão da licença de
operação da Recorrente e apresentação de estudo prévio de impacto
ambiental, EIMA e RIMA. Decisão administrativa do IAP, paralela ao curso do
processo, negando a concessão da licença ambiental à empresa Recorrente.
Decisão administrativa afastada por decisão judicial que determinou que as
licenças fossem concedidas pelo prazo de 120 dias, ao tempo em que
determinou a alteração cadastral da empresa Recorrente pelo IAP. Decisão
atacada por Agravo de Instrumento apenas em relação à limitação temporal
da licença.

Recurso Especial contra Acórdão que deu provimento ao Agravo de


Instrumento, anulando integralmente a decisão agravada. Embargos
declaratórios rejeitados. Prequestionamento verificado. Dissídio
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jurisprudencial demonstrado. Alegada omissão do Acórdão atacado não


demonstrada. Acórdão que, embora não tenha acolhido a tese da
Recorrente, tem fundamentos de fato e de direito suficientes para a
prestação jurisdicional. Alegada ocorrência de reformatio in pejus.

Procedência. Incompatibilidade da exigência administrativa de um Estudo


Prévio de Impacto Ambiental com o funcionamento de empresa instalada há
mais de três décadas. Conclusão alcançada no RESP766236/PR. Acórdão
atacado que além de não combater a limitação temporal agravada, anulou
decisão favorável à Recorrente, que determinava a alteração da situação
cadastral da Recorrente no IAP, e que não foi objeto do agravo da
Recorrente ou de qualquer recurso da parte contrária. Reformatio in pejus
caracterizada. Recurso especial que deve ser conhecido e provido. (fl. 1811)
8. Os embargos de declaração que enfrentam explicitamente a questão
embargada, qual seja a prescrição da pretensão indenizatória, não ensejam
recurso especial pela violação do artigo 535, II, do CPC, tanto mais que, o
magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos
pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes
para embasar a decisão.

9. O Tribunal de origem decidiu, de maneira fundamentada, as questões


relevantes ao deslinde da controvérsia, apresentados no agravo de
instrumento, inexistindo ponto omisso sobre o qual se devesse pronunciar
em sede de embargos declaratórios. A questão acerca da ofensa ao art. 227,
da Lei nº 6.404/76, apenas foi suscitada nos embargos de declaração
opostos na origem - reiterada no presente recurso especial -, não foi
abordada na petição de apelação, constituindo, portanto, inovação nas
razões recursais.

10. Recurso Especial desprovido.

(STJ, REsp 1091905/PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 16/12/2010, DJe 23/02/2011)

23.9. Efeitos dos Recursos

23.9.1. Impedimento ao Trânsito em Julgado


A interposição do recurso prolonga a litispendência, impedindo o trânsito em julgado da
sentença, agora em nova instância. Qual o momento, entretanto, em que ocorre o trânsito em
julgado?

a) Quando o recurso for conhecido, da data do trânsito em julgado da última decisão;

b) Quando o recurso não for conhecido, de acordo com o STJ, na data do trânsito em
julgado da sentença ou do acórdão. Nesse caso, é como se o recurso não tivesse sido
interposto. Porém, isso não ocorrerá no caso de embargos de declaração, já que se
não forem conhecidos, eles interromperão do mesmo modo o prazo para
interposição de outros recursos.

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Isso é muito importante, já que influencia na contagem do prazo de ajuizamento da ação


rescisória, na contagem do prazo prescricional da pretensão de execução da sentença etc.

23.9.2. Efeito Suspensivo


A interposição do recurso prolonga o estado de ineficácia em que se encontrava a decisão,
impedindo que produza efeitos. Na verdade, ocorre apenas o prolongamento da ineficácia, e
não a suspensão em si, já que a decisão não é eficaz enquanto sujeita a recurso, ela já nasce
não exequível, somente adquirindo essa qualidade após seu trânsito em julgado (salvo caso de
execução provisória). Logo, o efeito suspensivo resulta da mera recorribilidade do ato.
ENQUANTO FOR CABÍVEL RECURSO, A DECISÃO SE ENCONTRA
Esclareço:
AUTOMATICAMENTE SUSPENSA. HAVENDO RECURSO, A
SUSPENSIVIDADE É CONFIRMADA, SALVO NOS CASOS EM QUE SE
PERMITE A EXECUÇÃO PROVISÓRIA E NO CASO DO RE E DO RESP, QUE
NÃO TÊM EFEITO SUSPENSIVO.
No direito brasileiro, ainda vige a regra de que os recursos, ordinariamente, são dotados do
efeito suspensivo. Caso não possua tal efeito, isto deverá estar expresso em lei (art. 497, CPC).

Um dos fatores de importância da tutela antecipada é, exatamente, ainda que concedida na


sentença, retirar o efeito suspensivo do recurso.

23.9.3. Efeito Devolutivo: Extensão e Profundidade


A interposição do recurso transfere ao órgão ad quem o conhecimento da matéria impugnada.
Esse é um efeito comum a TODOS os recursos, ainda que o julgamento seja feito por outro ou
pelo mesmo julgador.

A extensão do efeito devolutivo determina o que se submete, por força do recurso, ao


julgamento do órgão ad quem. Determina-se pela extensão da impugnação, pela parte do
dispositivo e da fundamentação que foi guerreada pelo recorrente. Trata-se do tantum
devolutum quantum appellatum.

O recurso só devolve a matéria apelada, não devolve o conhecimento de matéria estranha ao


âmbito do julgamento. A extensão do efeito devolutivo determina o objeto litigioso, a questão
principal do recurso. Trata-se de sua dimensão horizontal. Exemplo simples: se na sentença o
juiz concedeu os pedidos A, B e D ao autor, recorrendo o réu só do A e D, não poderá o
tribunal conhecer sobre o pedido B e reformar a decisão para conceder o pedido C ao autor,
por não ter sido pedido.

Já a profundidade recursal determina com qual material o tribunal deverá trabalhar para
julgar. Trata-se da dimensão vertical. Em profundidade, é amplíssima a devolução das
questões, abrangendo as questões determináveis de ofício, as questões acessórias, incidentais
e todos os fundamentos do pedido e da defesa, ainda que não examinados pela decisão do
juízo a quo. Assim, no exemplo dado acima, o tribunal poderá analisar todos os fatos,
fundamentos e questões de direito invocáveis de ofício acerca dos pedidos A e D, não se
limitando aos fundamentos invocados no recurso.
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O EFEITO DEVOLUTIVO EM SUA DIMENSÃO HORIZONTAL LIMITA O EFEITO


TRANSLATIVO, já que o tribunal poderá apreciar todas as questões que se relacionem
somente àquilo que foi impugnado.

O efeito devolutivo relaciona-se ao objeto litigioso do recurso, enquanto o efeito translativo


relaciona-se ao objeto de conhecimento, às questões que devem ser examinadas como
fundamentos do objeto litigioso recursal.
Efeito devolutivo Objeto litigioso do recurso
Efeito translativo Objeto de conhecimento
23.9.3.1. Efeito Devolutivo: Possibilidade de Não Devolução para Tribunal
O STF considera válida e devidamente recepcionada pela CR/88 regra que, a exemplo do art.
34 da Lei 6.830/80 [“Das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de valor
igual ou inferior a 50 (cinqüenta) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, só se
admitirão embargos infringentes e de declaração. (...) Ouvido o embargado, no prazo de 10
(dez) dias, serão os autos conclusos ao Juiz, que, dentro de 20 (vinte) dias, os rejeitará ou
reformará a sentença”], considera incabível a interposição de recurso para o tribunal de
segundo grau. NOUTRAS PALAVRAS, NÃO É INCONSTITUCIONAL NORMA QUE, EM
DETERMINADAS SITUAÇÕES, INIBE O ACESSO AO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO .

A seguinte notícia bem elucida a questão e indica os precedentes pertinentes:

“O artigo 34 da Lei 6.830/80 - que afirma ser incabível a apelação em casos de execução fiscal
cujo valor seja inferior a 50 ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional) – é
compatível com os princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório, da
ampla defesa, do acesso à jurisdição e do duplo grau de jurisdição. Essa foi a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmada pelo Plenário Virtual da Corte no Recurso
Extraordinário com Agravo (ARE) 637975.

O processo é de autoria do Estado de Minas Gerais contra decisão do Tribunal de Justiça


mineiro (TJ-MG) que, em sede de agravo regimental, confirmou a decisão do relator e do juízo
de primeiro grau, inadmitindo recurso de apelação interposto contra sentença em embargos a
execução fiscal de valor inferior a 50 ORTN.

Ao verificar a presença dos requisitos formais de admissibilidade, o ministro Cezar Peluso


(relator) deu provimento ao agravo e o converteu em recurso extraordinário. Ele lembrou que a
Corte possui jurisprudência firmada no sentido de que o artigo 34 da Lei 6.830/80 está de
acordo com o disposto no artigo 5º, incisos XXXV e LIV, da Constituição da República, como se
vê nos julgamentos dos REs 460162, 140301 e do Agravo de Instrumento (AI) 710921.

Ainda conforme a jurisprudência do Supremo, o inciso II do artigo 108 da CR “não é norma


instituidora de recurso”. Segundo o STF, tal dispositivo apenas define a competência para o
julgamento daqueles criados pela lei processual. “Nada impede a opção legislativa pela
inviabilidade de inconformismo dirigido à segunda instância”, entende a Corte, que decidiu que
o artigo 108, inciso II, da CR não revogou tacitamente o disposto no artigo 34 da Lei 6830/80.

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Dessa forma, o Plenário Virtual do Supremo reafirmou a jurisprudência da Corte para negar
provimento ao recurso extraordinário.” (www.stf.jus.br, seção ‘Notícias STF’, acesso em
28/07/2011)

23.9.4. Efeito Translativo


Diferentemente do efeito devolutivo, o efeito translativo não possui origem no princípio
dispositivo, mas sim no princípio inquisitório. Destarte, tem-se que neste instituto o órgão
destinatário do recurso não precisa se ater apenas ao pedido de nova decisão. Isto decorre de
casos em que O SISTEMA PROCESSUAL AUTORIZA O ÓRGÃO AD QUEM A JULGAR
FORA DAS RAZÕES OU CONTRARRAZÕES SUSCITADAS PELAS PARTES, O QUE, DIGA-
SE DE PASSAGEM, NÃO CONSISTIRÁ EM JULGAMENTO EXTRA, ULTRA OU CITRA
PETITA.

Acompanhando os ensinamentos de Barbosa Moreira, Nelson Nery Jr. identifica o efeito


translativo como a profundidade do próprio efeito devolutivo, aduzindo que sempre que o
tribunal puder apreciar uma questão - geralmente de ordem pública - fora dos limites
impostos pelo recurso, estar-se-á diante de uma manifestação desse efeito.

Para Fredie Didier Jr., o efeito translativo determina os limites verticais do recurso,
delimitando o material com o qual o tribunal ad quem trabalhará para decidir a questão que
lhe foi submetida, se relacionando diretamente com o objeto de conhecimento do próprio
recurso, ou seja, às questões que devem ser examinadas pelo órgão destinatário do mesmo,
como fundamentos para a solução do objeto litigioso recursal.

Vislumbra-se ser atualmente o efeito translativo aceito como um efeito autônomo dos
recursos, na medida em que o mesmo permite que o tribunal ad quem, sempre que possível,
aprecie questões que estejam até mesmo fora dos limites impostos pelos recursos (no STJ,
exige-se o prequestionamento).

Do julgado supra, depreende-se que a autonomia do efeito translativo dos recursos permite a
apreciação das matérias de ordem pública de ofício por parte do tribunal ad quem, o que
certamente consiste em grande utilidade prática do mencionado efeito.

Um exemplo da utilidade prática do efeito translativo é o caso do recurso de apelação. Afinal,


o artigo 515, § 1º, do Código de Processo Civil, aduz que o tribunal ad quem, quando do
julgamento da apelação, poderá apreciar e julgar todas as questões suscitadas e discutidas no
processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro.

Isto certamente contribui para que sempre seja alcançado o objetivo maior do direito, qual
seja a justiça, uma vez que O EFEITO TRANSLATIVO PERMITE ÀS INSTÂNCIAS SUPERIORES
APRECIAREM E JULGAREM DE OFÍCIO AS QUESTÕES DE ORDEM PÚBLICA CONSTANTES NOS
AUTOS, INCLUSIVE AS QUE SEQUER FORAM SUSCITADAS NO RECURSO INTERPOSTO.

Típico caso da implicação do efeito translativo é a licitude do tribunal em extinguir o processo


sem resolução do mérito, na hipótese de julgamento de apelação interposta apenas pelo autor

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contra a sentença de mérito a quo, sendo que esse autor não possuía legitimidade para figurar
no processo.

Doutra banda, destaque-se também a presença do efeito translativo quando se fala em agravo
retido, haja vista que, mesmo que não se conheça de recurso de apelação eventualmente
interposto, em matéria de ordem pública poderá ser conhecido e julgado o agravo retido
constante nos autos.

23.9.4. Efeito Regressivo ou de Retratação


Trata-se do efeito que autoriza o juízo a quo a rever a decisão recorrida antes de remetê-lo ao
tribunal, exercendo ou o juízo de retratação ou o juízo de sustentação.

É o que ocorre nos seguintes recursos:

a) Agravo de instrumento (art. 523, § 2º);

b) Apelação contra sentença que indefere a inicial, no prazo de 48 h (art. 296);

c) Apelação interposta em face de julgamento prima facie de causas repetitivas, no prazo


de 05 dias (art. 285-A);

d) Apelação em causas propostas no âmbito do ECA.

23.9.5. Efeito Expansivo Objetivo


Tem nítida vinculação com a própria noção dos atos processuais e do tema das nulidades no
processo civil. Como se sabe, é característica natural do ato processual sua interdependência.
Vale dizer que um ato processual é praticado no processo por decorrência de outro,
anteriormente praticado, determinando a realização de outros, que lhe seguem formando o
procedimento. Por conta dessa vinculação necessária entre os atos do processo, o CPC, ao
tratar da matéria das nulidades, deixa evidenciado que os atos dependentes do ato nulo se
reputam de nenhum efeito (art. 248 e 249 do CPC).

Se assim acontece no exame horizontal dos atos processuais, naturalmente essa


interdependência deve mostrar-se também em matéria de recursos. Assim, a modificação ou
mesmo a anulação de uma decisão judicial, pode determinar, em cadeia, o desfazimento de
outros tantos atos – dependentes do primeiro na sequência do procedimento. Dessa forma,
por exemplo, se for anulada, no exame do agravo, uma decisão judicial que admita, para fins
civis, a interceptação telefônica, certamente essa decisão contaminará a prova colhida com
base nessa interceptação e, ainda, a eventual sentença prolatada com fulcro nessa prova.
ENFIM, TODOS OS ATOS JUDICIAIS QUE DEPENDAM DO ATO JUDICIAL ATACADO NO
RECURSO (E QUE NÃO TENHAM SIDO MODIFICADOS OU ANULADOS EM DECORRÊNCIA
DESSE RECURSO) PODEM TER SUA EFICÁCIA TAMBÉM CASSADA OU AO MENOS ALTERADA.

Efeito expansivo objetivo interno refere-se a capítulos não impugnados da decisão recorrida
que serão atingidos pelo julgamento do recurso. Somente ocorrerá com os capítulos não
impugnados que tenham relação de prejudicialidade com os impugnados.

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Efeito expansivo objetivo externo se verifica sempre que o julgamento do recurso atinge
outros atos processuais que não a decisão recorrida.

23.9.6. Efeito Expansivo Subjetivo


É uma regra própria do litisconsórcio unitário, aplicável no âmbito recursal, pela qual a
interposição de recurso por um dos litisconsortes aproveita aos demais.

23.9.7. Efeito Substitutivo


Faz com que a decisão do juízo ad quem, qualquer que seja ela, substitua a decisão recorrida.
O efeito vem expressamente previsto no art. 512 do CPC, que prevê que “o julgamento
proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida, no que tiver sido objeto
do recurso”.

ASSIM, AINDA QUE A DECISÃO DO TRIBUNAL CONFIRME A DECISÃO RECORRIDA SEM NADA
ALTERAR EM SUA ESSÊNCIA, POR ESSE EFEITO, UMA VEZ JULGADO O RECURSO, NÃO MAIS
EXISTIRÁ A DECISÃO RECORRIDA, MAS APENAS A DO TRIBUNAL. A noção desse efeito é
relevante, seja para efeitos de interposição de ação rescisória, seja ainda para a impugnação
da decisão por outras vias autônomas (mandado de segurança, reclamação, etc.),
determinando-se, em todos esses casos, a competência para a apreciação da nova
insurgência.

Por substituir, a natureza jurídica de decisão que decide o recurso será a mesma da decisão
recorrida. Assim, embargos declaratórios contra decisão interlocutória terão natureza jurídica
de decisão interlocutória. O mesmo recurso contra acórdão deverá ser julgado por acórdão
etc.

LEMBRAR QUE NÃO OCORRE O EFEITO SUBSTITUTIVO SE O RECURSO


NÃO FOR CONHECIDO, OU, SENDO CONHECIDO, A DECISÃO
IMPUGNADA FOR TOTALMENTE ANULADA.
23.10. Recurso Adesivo e Recurso Independente
Recurso adesivo é aquele contraposto à parte adversa por aquela que se dispunha a não
impugnar a decisão, por ter ficado satisfeita com a decisão, e só veio a impugná-la porque o
fizera o outro litigante.

Recurso independente é aquele interposto autonomamente por qualquer das partes, sem
qualquer relação com o comportamento adversário.

SOMENTE É POSSÍVEL COGITAR DE INTERPOSIÇÃO ADESIVA EM CASO DE


SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA (art. 500, CPC), razão pela qual não se admite, v.g., recurso
adesivo do réu contra sentença que julgou totalmente improcedente o pedido do autor (por
flagrante falta de interesse recursal).

O recurso adesivo não é espécie de recurso, tratando-se de forma, técnica de interposição


recursal. NÃO CABE RECURSO ADESIVO NOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS
E ESTADUAIS.
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O recurso adesivo deve atender a todos os requisitos de admissibilidade exigidos para os


respectivos recursos, inclusive o preparo.

O prazo para sua interposição é o prazo que dispõe a parte para contra-arrazoar o recurso
principal. Logo, ela deve, além de contra-arrazoar, oferecer recurso em peça distinta.

Assim, vê-se que o prazo recursal acaba por ser ampliado, já que, havendo sucumbência
recíproca, se a parte ex adversa interpor apelação no 15º dia, a outra apresentará
contrarrazões e recurso adesivo.

São pressupostos do recurso adesivo:

a) Sucumbência recíproca;

b) Recurso de uma parte e SILÊNCIO DAQUELA QUE INTERPORÁ O ADESIVO.

Assim, se ambas as partes recorrem e uma desiste de seu recurso, ao ser intimada para contra-
arrazoar o recurso da outra, poderia ela interpor o adesivo? Não, porque ela recorreu. E se o
recurso desistido era parcial, poderá ela recorrer adesivamente da parte não recorrida? Não,
porque ela recorreu. O recurso adesivo não serve para complementar recurso já interposto. Há
preclusão consumativa. E se a parte interpôs um recurso e ele foi intempestivo, pode haver
recurso adesivo do recurso da outra parte? Não, pois ela recorreu, ainda que o tenha feito mal.

VALE, AQUI, A REGRA SEGUNDO A QUAL O ACESSÓRIO SEGUE O


PRINCIPAL. ASSIM, O EXAME DO RECURSO ADESIVO FICA
CONDICIONADO AO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO
PRINCIPAL, ENQUANTO SEU MÉRITO SÓ PODERÁ SER ANALISADO SE O
PRINCIPAL FOR CONHECIDO (AINDA QUE IMPROVIDO).
É importante lembrar que o recurso adesivo não pode ser interposto pelo Ministério Público
ou por terceiro prejudicado, apenas por quem foi parte no processo, portanto.

Não é cabível recurso adesivo de reexame necessário, pois este instituto não é recurso.

23.10.1. Recurso Adesivo Condicionado


Pode acontecer da parte fundamentar o pedido com base em questão constitucional e
questão federal. Se a parte vencedora no tribunal perdeu, v.g., no fundamento em questão
constitucional (tendo obtido o provimento do recurso, entretanto, com base na questão
federal), ela poderá interpor recurso extraordinário adesivo cruzado, sob condição de somente
ser processado se o recurso independente da outra parte (recurso especial) for acolhido.

Nesse caso, o STJ enviará o recurso extraordinário ao STF.

Exemplo clássico é a ação declaratória de inexistência de relação jurídico-tributária do


contribuinte combinada com repetição de indébito. Nos fundamentos, ele alega que o tributo
é inconstitucional em face do dispositivo X da CR/88 e ilegal em face do disposto na lei Y. Ele

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perde a pretensão em primeiro grau. Apelando, ele obtém provimento do recurso com base na
ilegalidade da lei, sendo rejeitada a tese da inconstitucionalidade.

Assim, ele estaria satisfeito se a coisa parasse por aí. Acontece que a PGFN interpõe REsp para
o STJ visando a reforma da decisão por entender pela legalidade da lei. O contribuinte, então,
interporá recurso extraordinário adesivo cruzado, que somente será processado se o especial
for provido. Por quê? Pois no caso do STJ declarar a legalidade da lei, se o STF declarar a
inconstitucionalidade do tributo com o processamento do RE, essa decisão será suficiente, por
si só, para sustentar a pretensão do contribuinte.

Por fim, Didier esclarece:

O recurso adesivo visa evitar a interposição precipitada do recurso pelo


parcialmente vencido, graças à certeza de que terá nova oportunidade de
impugnar a decisão. Ambas as partes vêem-se incentivadas a abster-se de
impugnar a decisão, pois, recorrendo imediatamente, poderiam provocar a
reação de um adversário em princípio disposto a conservar-se inerte. É um
contra-estímulo ao recurso.

23.11. Tabela Síntese – Algumas Características Recursais


RECURSOS – ALGUMAS CARACTERÍSTICAS
RECURSOS QUE PESSOAS NÃO SUJEITAS RECURSOS QUE MATÉRIAS COM APELAÇÃO SEM
DISPENSAM PREPARO AO PREPARO PERMITEM RETRATAÇÃO EFEITO SUSPENSIVO
Agravo retido; MP; Agravo de Homologar a divisão ou a
Embargos de Fazenda Pública; instrumento (art. demarcação; Condenar à prestação
declaração; Defensoria Pública; 523, § 2º); de alimentos;
Decidir o processo cautelar; e se o
Embargos Beneficiário da Apelação contra
juiz julgar o processo cautelar e a
infringentes de justiça gratuita (Lei sentença que
ação principal numa mesma
alçada; 1.060/50, art. 3º, I e indefere a inicial, no sentença, como fica a apelação?
Agravo (antigo “de 9º); prazo de 48 h (art. Depende do capítulo impugnado.
instrumento”) Na Justiça Federal, a 296); Se ambos, ela será recebida
contra decisão que União, suas Apelação interposta parcialmente com duplo efeito para
nega seguimento a autarquias e em face de a ação principal e só no efeito
RE ou REsp; fundações, salvo julgamento prima devolutivo da parte da sentença
Recursos no ECA. entidades facie de causas cautelar.
Rejeitar liminarmente embargos à
autárquicas repetitivas, no prazo
execução ou julgá-los
representantes de de 05 dias (art. 285-
improcedentes; SE A APELAÇÃO
categorias A); FOR DA FAZENDA PÚBLICA, SERÁ
profissionais (Lei nº Apelação em causas NECESSARIAMENTE RECEBIDA NO
9.289/96); propostas no âmbito DUPLO EFEITO. Julgar procedente o
Outras entidades que do ECA. pedido de instituição de
forem isentas arbitragem; Confirmar a
mediante lei. antecipação dos efeitos da tutela;
aqui cabe a mesma observação do
processo cautelar. Se somente um
dos pedidos teve tutela antecipada,
e o outro foi provido somente ao
final, sem antecipação, a apelação
terá efeito suspensivo em relação
ao capítulo não antecipado e
apenas devolutivo em relação ao
capítulo antecipado. Decretar a
interdição; Concessão do MS e HD:

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no MS, quando denegatória a


ordem, de imediato se torna, regra
geral, sem efeito a liminar
anteriormente concedida, ainda
que interposta apelação.
Recursos da LACP, em regra;
Sentença que julgar a liquidação de
sentença; Sentença proferida nos
procedimentos do ECA: ressalvada
a hipótese de sentença que defere
adoção por estrangeiro, que
sempre terá efeito suspensivo.
A DECISÃO QUE RECEBE O RECURSO NO EFEITO SUSPENSIVO TEM, QUANTO A ESSA PARTE,
NATUREZA DECLARATÓRIA. PORÉM, SE ELA NÃO ERA PARA TER ESSE EFEITO, MAS O JUIZ O
CONFERE, TERÁ NATUREZA CONSTITUTIVA

23.12. Observações de Provas


1. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 50. Um juiz, antes da fase de instrução do processo,
verificou que não havia controvérsia acerca de um dos pedidos da inicial. Diante
disso, em razão de requerimento da parte interessada, resolveu antecipar os efeitos
da tutela relativa ao pedido. Inconformada com a decisão, a parte prejudicada
interpôs, no juízo recorrido, apelação, requerendo, ao fim de suas razões, que esta
ficasse retida nos autos, enquanto não ocorresse o julgamento dos demais pedidos.
Trata-se de exemplo de violação do princípio da taxatividade, pois a parte
prejudicada não poderia inaugurar uma nova forma de interpor o recurso de
apelação.

2. TRF2 – XIII – CESPE – QUESTÃO 50. Interposto o recurso cabível, intimou-se a parte
recorrente devido ao provimento de embargos de declaração opostas pela outra
parte e que modificaram a fundamentação da decisão recorrida, tendo o recorrente
protocolado aditamento ao recurso já interposto. Nessa situação, é aplicável o
PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE.

3. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 89. Os chamados recursos extraordinários têm efeito
meramente devolutivo, não impedindo a execução da sentença.

4. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 89. O órgão do Ministério Público pode recorrer quer
atue como parte quer como fiscal da lei.

5. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 89. O interesse recursal corresponde ao binômio


necessidade + utilidade.

6. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 89. Para que o recurso seja cabível, a decisão deve ser
recorrível e a modalidade recursal adequada.

7. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 86. A fungibilidade recursal exige dúvida objetiva e
inexistência de erro grosseiro na interposição do recurso.

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8. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 11. A Jurisprudência do STF é pacífica no sentido de


ser extemporâneo o recurso interposto antes da publicação do julgado recorrido e
sem posterior ratificação no prazo recursal143. (superado)

9. GEMAF – 2010 – 09. A insuficiência do valor do preparo, por si só, não acarreta a
deserção do recurso, sendo de rigor a concessão de prazo para a sua
complementação, nos termos do que dispõe o art. 511, § 2º, do CPC

10. O efeito devolutivo está presente em todos os recursos. O essencial não é que ele
seja dirigido a outro órgão jurisdicional, e sim que haja a transferência da matéria
decidida para que seja novamente analisada, pouco importando a qual órgão.

11. A dimensão horizontal da devolução é a extensão da devolução, matéria em relação


à qual uma nova decisão é pedida.

12. Dimensão vertical é a profundidade; o tribunal poderá, dentro dos limites fixados na
extensão, resolver todas as alegações, fundamentos e questões referentes à
matéria devolvida, ainda que não ventiladas nas razões recursais ou, até mesmo,
ainda que não tenham sido enfrentadas em primeiro grau.

13. É errado afirmar que o recurso tem efeito suspensivo. O que suspende a eficácia da
decisão é sua mera recorribilidade. O recurso apenas prolonga o estado inicial de
ineficácia da decisão até seu trânsito em julgado, salvo se a decisão não for
impugnável por recurso com efeito suspensivo.

14. Nem todos os recursos têm efeito suspensivo, mas a todos eles é possível atribuir tal
efeito.

15. A DECISÃO QUE RECEBE O RECURSO NO EFEITO SUSPENSIVO TEM, QUANTO A ESSA
PARTE, NATUREZA DECLARATÓRIA. PORÉM, SE ELA NÃO ERA PARA TER ESSE
EFEITO, MAS O JUIZ O CONFERE, TERÁ NATUREZA CONSTITUTIVA, com efeitos ex
nunc.

16. Efeito translativo é a possibilidade de o tribunal conhecer de ofício matéria de ordem


pública no julgamento do recurso.

17. Para o STF, não se admite o efeito translativo nos recursos extraordinários, face a
ausência de prequestionamento. Já o STJ admite, desde que outra matéria esteja
sendo alegada em sede de recurso especial.

18. Efeito expansivo ocorre sempre que o julgamento do recurso ensejar decisão mais
abrangente do que a matéria impugnada, ou quando atingir sujeitos que não

143
Agravo regimental nos embargos declaratórios no inquérito. Embargos opostos antes da publicação
do julgado no órgão oficial. Extemporaneidade. Precedentes. Recurso não conhecido
monocraticamente. Interposição de regimental, ao qual se nega provimento. 1. A Jurisprudência desta
Corte é pacífica no sentido de ser extemporâneo o recurso interposto antes da publicação do julgado
recorrido e sem posterior ratificação no novo prazo recursal. 2. Agravo regimental não provido. (STF,
Pleno, Inq. 2969 ED-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 09/02/2012)
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participaram do recurso, apesar de participarem na demanda, como ocorre com a


interposição de um recurso por um dos litisconsortes unitários.

19. A substituição da decisão recorrida pelo julgamento do recurso (efeito substitutivo)


somente ocorre na hipótese de julgamento do mérito recursal, e ainda assim a
depender do resultado do julgamento.

20. A insuficiência do preparo não acarreta automaticamente deserção, devendo o


recorrente ser intimado para complementá-lo.

21. O recorrente pode desistir de qualquer recurso, a qualquer tempo, sem a anuência
do recorrido ou dos litisconsortes.

22. Os recursos da LACP têm, regra geral, apenas efeitos devolutivos.

23. Os recursos interpostos nas causas de procedimento sumário deverão ser julgados
pelo tribunal no prazo máximo de 40 dias.

24. Recursos em Espécie


24.1. Apelação (arts. 513 a 521)

24.1.1. Conceito
Apelação é o recurso por excelência. Ela pode ser interposta contra toda e qualquer sentença,
definitiva ou terminativa.

Ela é o recurso cabível para se impugnar os atos do juiz que ponha termo ao procedimento.
Assim, igualmente, caberá apelação da sentença que encerra o processo cautelar, ainda que
não haja julgamento.

24.1.2. Situações Excepcionais

24.1.2.1. Embargos Infringentes de Alçada


Contra as sentenças em execuções ficais de valor igual ou inferior a 50 ORTN só se admitirão
embargos infringentes e de declaração. Estes embargos são conhecidos como embargos
infringentes de alçada, tratando-se de recurso que será julgado pelo próprio juiz prolator,
interponível no prazo de 10 dias, sem preparo.

24.1.2.2. Causas Internacionais


Nas causas que envolvam Estado estrangeiro e organismo internacional contra Município ou
pessoa residente ou domiciliada no Brasil, julgada perante a Justiça Federal de 1º grau, a
sentença é impugnada por recurso ordinário constitucional. Ela será dirigida ao STJ, e será
julgada por uma Turma de cinco membros.

24.1.2.3. Lei de Assistência Judiciária


A lei determina que as decisões que concederem ou denegarem o pedido de justiça gratuita
poderão ser impugnadas por apelação, apesar de ser autêntica decisão interlocutória.
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24.1.2.4. Sentença que Decreta a Falência


A Lei nº 11.101/05 determina que da decisão que decretar a falência cabe agravo, não
obstante ser a decretação da falência procedida por sentença.

24.1.2.5. Juizados Especiais Cíveis


Interpõe-se o recurso inominado, e não apelação.

24.1.3. Regularidade Formal


A apelação deve ser interposta no prazo de 15 dias por meio de petição escrita dirigida ao juízo
de primeira instância que proferiu a sentença. Poderá ela ser interposta via fac-símile, desde
que os originais cheguem ao juízo ou tribunal em até 05 dias após o vencimento do prazo.

Ela poderá ser interposta por petição única ou por petição de interposição, com as razões
recursais, e deverá ser subscrita por advogado habilitado nos autos. Não se admite sua
interposição por cota nos autos.

24.1.4. Efeitos

24.1.4.1. Efeito Devolutivo


É efeito de toda a apelação, com o qual se transfere ao órgão ad quem as questões suscitadas
pelas partes no processo, com o objetivo de serem reexaminadas.

O objeto ou extensão do recurso é definido pelo recorrente, só podendo o tribunal julgar


objeto igual ou menos extenso do que o fez o juízo a quo.

Tanto as questões suscitadas e discutidas no processo – mesmo que não inteiramente


decididas – como as questões anteriores à sentença – ainda não decididas – poderão ser
sustentadas no recurso do apelante (art. 515, § 1º).

Logo, a profundidade do efeito devolutivo da apelação torna possível que os fundamentos da


ação e da defesa sejam analisados pelo tribunal, ainda que não versados na sentença.

Permite-se assim, apontar tanto a inadequação formal da sentença, - que por exemplo, não
obedeceu aos ditames legais sobres seus requisitos - , já quanto ao equivoco cometido nos
juízos ali alcançados – como, exemplificativamente, a errônea interpretação da lei, a
inadequada avaliação dos fatos etc. Os vícios formais, encontrados na sentença, farão com que
ela seja anulada pelo tribunal, devendo então os autos retornar ao primeiro grau para a
elaboração de nova sentença.

Também é possível que na apelação, se invoque a nulidade da sentença por vícios anteriores, e
não internos a ela, como por exemplo no caso do juiz absolutamente incompetente, lança
sentença no processo. Mesmo que a questão não seja interna à sentença, e ainda que ela seja
materialmente perfeita, o vício que contamina todo o curso do processo macula também a
sentença prolatada. Assim é possível deduzir-se em apelação o tema, para desconstituir-se a
sentença.

O juiz, para decidir o objeto recursal, poderá abordar tudo o que consta dos autos, ainda que
não analisado na sentença (dimensão vertical da devolutividade).
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As questões decididas devem ser impugnadas. Se o pedido tiver uma pluralidade de causas de
pedir, e o juiz o julgou improcedente com base em todas elas, deve o recorrente impugnar a
solução de cada uma delas, sob pena de somente as questões impugnadas subirem ao
tribunal.

Isso porque a questão decidida, se não impugnada, fará coisa julgada, sustentando a decisão
do juízo a quo.

Assim se o pedido X foi provido pelos motivos A, B, C e D, se o recorrente apelar apenas de A,


B e C, esquecendo-se de D, ainda que seu recurso seja completamente provido, o fundamento
D, transitando em julgado, será suficiente para sustentar a decisão.

Por fim, não se devolve as questões relativas aos pedidos implícitos quando na apelação não
houver pedidos específicos sobre eles.

24.1.4.2. Análise do Mérito pelo Tribunal, após Afastar o Motivo da Extinção do Processo
(art. 515, § 3º) – Teoria da Causa Madura
Tratando-se de sentença terminativa e interposta apelação, caso a julgue procedente, não
poderá o tribunal também adentrar no mérito da causa, pois isso configuraria supressão de
instância. Ele deve determinar o retorno dos autos ao juízo a quo para continuar o julgamento.

Há, porém, exceções.

Caso o juiz tenha extinto o processo face o reconhecimento de prescrição ou decadência –


logo, com julgamento de mérito – ainda que no primeiro grau o juízo não tenha analisado o
objeto recursal, poderá o tribunal acolher ou rejeitar o pedido do autor após a interposição de
apelação.

Outra hipótese.

De acordo com o art. 515, § 3º, EXTINTO


O PROCESSO SEM JULGAMENTO
DO MÉRITO NA PRIMEIRA INSTÂNCIA, PODERÁ O TRIBUNAL,
AO DAR PROVIMENTO À APELAÇÃO, ADENTRAR O EXAME DO
MÉRITO, DESDE QUE PRESENTES NOS AUTOS ELEMENTOS DE
PROVA SUFICIENTES OU CASO SE TRATE DE MATÉRIA
EXCLUSIVAMENTE DE DIREITO.
§ 3o Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267),
o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão
exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento.

A aplicação desse dispositivo deve ser expressamente requerida pelo apelante em suas
razões recursais. Se não houver o pedido, não poderá o tribunal, de ofício, adentrar no
mérito, pois estará profedindo julgamento extra ou ultra petita. Além disso, ele somente se
aplica caso o fundamento da apelação seja error in iudicando.
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635

O art. 515 do CPC foi modificado pela Lei n. 10.352/2001, que lhe inseriu o §
3º, segundo o qual, nos casos de extinção do processo sem julgamento do
mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar
exclusivamente questão de Direito e estiver em condições de imediato
julgamento (teoria da causa madura). Esse princípio introduzido no CPC, ao
permitir que o Tribunal, no exercício do duplo grau de jurisdição, pronuncie-
se sobre matéria não examinada na primeira instância, nos casos de
extinção do processo sem julgamento do mérito, ampliou a devolutividade
do recurso de apelação (STJ, T1. REsp 866.997-PB)

Por que ampliou a devolutividade? Pois a matéria sobre a qual o Tribunal poderá se pronunciar
é mais extensa do que aquela objeto do recurso da parte que visa a anulação da sentença que
extinguiu o processo sem julgamento de mérito.

Assim, são hipóteses de aplicação da teoria da causa madura:

Se a causa envolver somente questão de direito


Processo extinto sem julgamento de mérito
ou já houver elementos de prova suficientes

Processo extinto com julgamento de mérito Por prescrição ou decadência

24.1.4.2.1. Inaplicabilidade da Teoria no Mandado de Segurança


Informativo 610
RMS e art. 515, § 3º, do CPC
O art. 515, § 3º, do CPC não se aplica em sede de mandado de segurança
[“Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria
impugnada. ... § 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do
mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar
questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato
julgamento”]. Com base nessa orientação, a 1ª Turma proveu recurso
extraordinário para reformar decisão do STJ e determinar o retorno dos
autos ao TJDFT para que julgue a demanda como entender de direito. Na
espécie, o STJ, ao adentrar a matéria de fundo e prover o recurso ordinário
no mandado de segurança, teria afastado a decisão que, na origem, julgara
extinto o processo sem julgamento de mérito. Consignou-se que em jogo o
devido processo legal, cerne do Estado Democrático de Direito, a direcionar
a legislação comum. Asseverou-se que não se poderia transportar para o
recurso ordinário constitucional o que previsto no art. 515 do CPC — sobre
o recurso de apelação, sempre direcionado contra decisão de juízo e não de
Tribunal — e que, ao aplicá-lo, teria havido supressão de instância. (STF, 1T,
RE 621.473/DF)

Veja bem: o STF não permitiu a aplicação da teoria da causa madura porque se tratou de
recurso ordinário constitucional para o STJ, e não de apelação. Se fosse o caso de apelação em
mandando de segurança, tem sim aplicabilidade a teoria da causa madura, desde que o
impetrado já tenha sido notificado e prestado as informações devidas. Nesse sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE


NOTIFICAÇÃO DA AUTORIDADE IMPETRADA. IMPOSSIBLIDADE DE
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636

APLICAÇÃO DA "TEORIA DA CAUSA MADURA" (ART. 515, § 3º, DO CPC).


ERROR IN PROCEDENDO. ACÓRDÃO PARCIALMENTE ANULADO. EMBARGOS
PARCIALMENTE ACOLHIDOS. EFEITOS INFRINGENTES.

1. Nos termos do artigo 535 do CPC, os embargos de declaração são cabíveis


quando houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição, ou
for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se.

2. Tendo o v. acórdão embargado afastado a carência de ação da


impetrante acolhida pela sentença, não poderia aplicar a teoria da causa
madura (art. 515, § 3º, do CPC), analisando o mérito da lide, se o processo
não se encontra em condições de imediato julgamento no Tribunal, em
face da ausência de notificação da autoridade impetrada para prestar
informações.

3. Embargos de declaração parcialmente acolhidos com efeitos infringentes


para anular parcialmente o v. acórdão embargado e determinar o retorno
dos autos ao Juízo de origem para que dê ao feito regular processamento,
notificando-se a autoridade impetrada para prestar informações.

(TRF1, EDAC 0008546-28.2000.4.01.3800/MG, Rel. Desembargador Federal


Leomar Barros Amorim De Sousa, Conv. Juiz Federal Cleberson José Rocha
(conv.), Oitava Turma,e-DJF1 p.475 de 17/09/2010)

TRIBUTÁRIO. PROCEDIMENTO ORDINÁRIO. REPETIÇÃO INDÉBITO. ANO BASE


1995. HOMOLOGAÇÃO TÁCITA NÃO AFASTADA. TEORIA DA CAUSA
MADURA. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO DA AUTORIDADE IMPETRADA.

1. O imposto de renda é tributo sujeito a lançamento por homologação,


sendo o prazo para a propositura da ação de repetição de indébito de 10
(dez) anos a contar do fato gerador, se a homologação for tácita (tese dos
"cinco mais cinco"), e de 5 (cinco) anos a contar da homologação, se esta for
expressa. Precedentes desta Corte e do STJ.

2. Não tendo sido oportunizado à autoridade impetrada exercer o


contraditório e a ampla defesa, não incide a norma constante do art. 515,
§ 3º, do CPC.

3. Apelação provida em parte.

(TRF1, AC 2006.33.00.006131-3/BA, Rel. Desembargador Federal Leomar


Barros Amorim De Sousa, Conv. Juiz Federal Cleberson José Rocha (conv.),
Oitava Turma,e-DJF1 p.420 de 05/02/2010)

24.1.4.2.2. Inaplicabilidade da Teoria no Recurso Especial


PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA. REGRA DO ART. 515, § 3º, DO CPC. APLICAÇÃO NO ÂMBITO
DO RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. MATÉRIA PACIFICADA NO
ÂMBITO DA PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.

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1. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento


de que, por força do requisito do prequestionamento, de que versa o art.
105, III, da Constituição Federal, é inaplicável, em recurso especial, a teoria
da causa madura, tratada no art. 515, § 3º, do CPC, que permite ao tribunal
julgar desde logo a lide quando a causa versar questão exclusivamente de
direito e estiver em condições de imediato julgamento.

2. "Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do


Tribunal se firmou no mesmo sentido do acórdão embargado" (Súmula
168/STJ).

3. Agravo regimental não provido.

(AgRg nos EREsp 1044015/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,


PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/04/2011, DJe 29/04/2011)

24.1.4.3. Apelação na Hipótese do Julgamento Prima Facie (art. 285-A)


Proferida a sentença com base no art. 285-A144, o juiz poderá retratar-se, modificando sua
sentença, se verificar que o caso não se identifica com os anteriores já julgados
desfavoravelmente ao autor.

Mantida a sentença, o réu será citado para responder ao recurso (isso porque o processo não
chegou a se aperfeiçoar com a sua citação).

O tribunal poderá, reformando a sentença, já julgar o pedido contido na inicial, desde que o
apelante o tenha requerido e que a causa esteja madura.

Porém, ao chegarem os autos ao tribunal, poderá o relator constatar que a matéria contraria
súmula dominante dos tribunais superiores, negando-lhe seguimento.

24.1.4.4. Efeito Suspensivo


Via de regra, a apelação possui o efeito suspensivo. De acordo com o art. 520, caput, ela deve
ser recebida tanto no efeito devolutivo quanto no suspensivo. Os casos em que ela não tem
efeito suspensivo estão expressamente relacionados por lei, quais sejam:

a) Homologar a divisão ou a demarcação;

b) Condenar à prestação de alimentos;

AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS. APELAÇÃO. EFEITOS.

144
Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido
proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e
proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. (Incluído pela Lei nº 11.277, de
2006)
§ 1o Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no prazo de 5 (cinco) dias, não manter a sentença e
determinar o prosseguimento da ação. (Incluído pela Lei nº 11.277, de 2006)
§ 2o Caso seja mantida a sentença, será ordenada a citação do réu para responder ao recurso. (Incluído
pela Lei nº 11.277, de 2006)
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638

A apelação interposta contra sentença que julgar pedido de alimentos ou


pedido de exoneração do encargo deve ser recebida apenas no efeito
devolutivo. O Min. Relator afirmou que a sentença que fixa ou redefine o
valor dos alimentos, bem como aquela que exonera o alimentante do dever
de prestá-los, gera uma presunção ora a favor do alimentado, ora em favor
do alimentante. Assim, por uma interpretação teleológica do art. 14 da Lei
n. 5.478/1968 (com a redação dada pela Lei n. 6.014/1973), a apelação
interposta contra sentença em ação de exoneração de alimentos deve ser
recebida unicamente no efeito devolutivo, não sendo aplicável ao caso a
regra geral prevista no art. 520 do CPC. Precedentes citados: REsp
1.138.898-PR, DJe 25/11/2009, e RMS 25.837-SP, DJe 5/11/2008. REsp
1.280.171-SP, 3T, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 2/8/2012.

c) Decidir o processo cautelar; e se o juiz julgar o processo cautelar e a ação principal


numa mesma sentença, como fica a apelação? Depende do capítulo impugnado. Se
ambos, ela será recebida parcialmente com duplo efeito para a ação principal e só no
efeito devolutivo da parte da sentença cautelar.

Ainda que julgadas por sentença única ação principal e cautelar, o recurso
de apelação interposto deve ser recebido no duplo efeito quanto ao capítulo
que decide a principal e apenas no efeito devolutivo no capítulo relativo à
ação cautelar. (STJ, 5T, Informativo 390, EREsp 663.570/SP)

d) Rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; SE A


APELAÇÃO FOR DA FAZENDA PÚBLICA, SERÁ NECESSARIAMENTE RECEBIDA NO
DUPLO EFEITO

e) Julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem;

f) Confirmar a antecipação dos efeitos da tutela; aqui cabe a mesma observação do


processo cautelar. Se somente um dos pedidos teve tutela antecipada, e o outro foi
provido somente ao final, sem antecipação, a apelação terá efeito suspensivo em
relação ao capítulo não antecipado e apenas devolutivo em relação ao capítulo
antecipado.

g) Decretar a interdição;

h) Concessão do MS e HD: no MS, quando denegatória a ordem, de imediato se torna,


regra geral, sem efeito a liminar anteriormente concedida, ainda que interposta
apelação.

i) Recursos da LACP, em regra;

j) Sentença que julgar a liquidação de sentença;

k) Sentença proferida nos procedimentos do ECA. Ressalvada a hipótese de sentença que


defere adoção por estrangeiro, que sempre terá efeito suspensivo.

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639

24.1.4.5. Efeito Translativo


Efeito translativo se refere à necessidade do tribunal conhecer a fundo todos os fundamentos
jurídicos elencados pelas partes, ainda que não tenham sido utilizados pelo juízo a quo para
julgar procedentes ou improcedentes os pedidos.

Sobre esse efeito:

EXECUÇÃO FISCAL. EFEITO TRANSLATIVO. APELAÇÃO.

Em embargos à execução fiscal, a autora (recorrente) apontou mais de um


fundamento para a nulidade da execução, mas a sentença, ao julgá-los, só
se baseou em um deles para anular a certidão de dívida ativa. Agora, no
REsp, a recorrente alega que, como houve apelação da Fazenda estadual
julgada procedente, o TJ deveria ter apreciado todos os pedidos e as
questões suscitadas nos autos, ainda que não apontados nas contrarrazões.
Para o Min. Relator, não se pode exigir que todas as matérias sejam
abordadas em contrarrazões de apelação, visto existirem determinadas
situações em que há falta de interesse para a parte impugná-las
expressamente, como no caso dos autos, cujos embargos à execução fiscal
foram julgados procedentes em primeiro grau de jurisdição. Ademais, em
função do efeito translativo dos recursos, a apelação devolve
obrigatoriamente ao tribunal o conhecimento de todos os fundamentos do
pedido, ainda que eles não tenham sido deduzidos nas contrarrazões. A
TRANSLAÇÃO OCORRE EM RELAÇÃO ÀS MATÉRIAS DE ORDEM PÚBLICA,
BEM COMO NAS HIPÓTESES AUTORIZADAS PELO ART. 515, § § 1º E 2º, DO
CPC145. Por conta desse efeito é que, no caso, quando os embargos à
execução fiscal trouxeram mais de um fundamento para sua nulidade e o
juiz só acolheu um deles para julgá-los procedentes, a apelação interposta
pela Fazenda Pública devolveu ao tribunal a quo todos os argumentos do
contribuinte formulados desde o início do processo. Assim, ainda que
aquele tribunal julgue procedente a apelação da Fazenda Pública, não
poderia deixar de apreciar também os fundamentos do contribuinte. Diante
do exposto, a Turma deu provimento ao recurso do contribuinte para
determinar que o tribunal a quo proceda a novo julgamento da apelação
nos termos do art. 515, § § 1º e 2º, do CPC. Precedentes citados: REsp
246.776-SP, DJ 26/6/2000; REsp 232.116-SP, DJ 15/10/2001, e REsp
824.430-PR, DJ 1º/2/2007. REsp 1.125.039-RS, Rel. Min. Humberto Martins,
julgado em 1º/3/2011.

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ESPECIAL.


MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. NULIDADE ABSOLUTA.
PREQUESTIONAMENTO. EFEITO TRANSLATIVO.

145
Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
§ 1o Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e
discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro. (efeito devolutivo na
acepção vertical) § 2o Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher
apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.
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640

1. As matérias de ordem pública, ainda que desprovidas de


prequestionamento, podem ser analisadas excepcionalmente em sede de
recurso especial, cujo conhecimento se deu por outros fundamentos, à luz
do efeito translativo dos recursos. Precedentes do STJ: REsp 801.154/TO, DJ
21.05.2008; REsp 911.520/SP, DJ 30.04.2008; REsp 869.534/SP, DJ
10.12.2007; REsp 660519/CE, DJ 07.11.2005.

2. Superado o juízo de admissibilidade, o recurso especial comporta efeito


devolutivo amplo, já que cumprirá ao Tribunal "julgar a causa, aplicando o
direito à espécie" (Art. 257 do RISTJ; Súmula 456 do STF).

3. In casu, o Tribunal a quo atribuiu efeito modificativo aos embargos de


declaração, para excluir da condenação da recorrida o pagamento de juros
compensatórios e inverter os efeitos da sucumbência, deixando de intimar a
recorrente para apresentar impugnação ao recurso.

4. Embargos de declaração de fls. 3319/3329 acolhidos, para dar-lhes efeitos


modificativos e prover o recurso especial, impondo-se o retorno dos autos à
instância de origem, para que seja aberto prazo para impugnação aos
embargos de declaração opostos pelo ora recorrido, nos termos do voto
anteriormente proferido às fls. 3400/3405.

(STJ, EDcl no AgRg no REsp 1043561/RO, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO,


Rel. p/ Acórdão Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em
15/02/2011, DJe 28/02/2011)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA TRAZIDA


SOMENTE NAS RAZÕES DE AGRAVO REGIMENTAL. IMPOSSIBILIDADE DE
EXAME. PRETENSÃO DE PREQUESTIONAMENTO DE MATÉRIA
CONSTITUCIONAL PARA INTERPOSIÇÃO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
IMPROPRIEDADE DA VIA.

1. Como regra, esta Corte exige o prequestionamento para as questões


de ordem pública. Entretanto, permite-se a análise dessas matérias
quando o recurso especial supera o juízo de admissibilidade por outros
fundamentos, à luz do efeito translativo. Precedentes.

2. Não conhecido o recurso especial, inviável examinar as nulidades


suscitadas já em sede de agravo regimental.

3. É inadmissível o manejo de embargos declaratórios para fins de


prequestionamento, com vistas a interposição de recurso extraordinário.
Precedentes.

4. Embargos de declaração rejeitados.

(STJ, EDcl no AgRg no REsp 926.198/AL, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 26/10/2010, DJe 16/11/2010)

IMPORTANTE: a parte riscada se refere ao antigo posicionamento do STJ, agora superado.

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641

No STJ o tema, agora, se encontra da seguinte forma assentado:

O entendimento no sentido de ser possível conhecer das questões de ordem pública de


ofício, ainda que não prequestionadas ou suscitadas, na excepcional hipótese de o recurso
especial ter sido conhecido por outros fundamentos, em razão do efeito translativo, FOI
SUPERADO EM NOVA ANÁLISE PELA CORTE ESPECIAL, QUE CONCLUIU PELA NECESSIDADE
DO REQUISITO DO PREQUESTIONAMENTO NA INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA. A propósito:

"TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. PRECLUSÃO. MATÉRIA DE ORDEM


PÚBLICA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. 1. A
jurisprudência desta Corte é pacífica ao determinar que, mesmo as matérias
de ordem pública, precisam ser prequestionadas. 2. O entendimento de que
é possível conhecer das questões de ordem pública de ofício, ainda que não
prequestionadas ou suscitadas, na excepcional hipótese de o recurso
especial ter sido conhecido por outros fundamentos, em razão do efeito
translativo, foi superado em nova análise pela Corte Especial, que concluiu
pela necessidade do requisito do prequestionamento na instância
extraordinária. Precedente: AgRg nos EREsp 999.342/SP, Rel. Min. Castro
Meira, Corte Especial, julgado em 24/11/2011, DJe 01/02/2012. 3. Hipótese
em que a tese de existência de preclusão não foi analisada pelo Tribunal de
origem. Incidência da Súmula 211/STJ. Agravo regimental improvido." (AgRg
nos EDcl no REsp 1304093/SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma,
julgado em 17/5/2012, DJe 25/5/2012)

Portanto, hodiernamente impera nesta Corte o entendimento de que, mesmo as matérias


de ordem pública necessitam estar devidamente prequestionadas para ensejar o
pronunciamento deste Tribunal em sede de recurso especial. A propósito, os recentes
julgados:

"AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA.


POLICIAL MILITAR. ART. 535 DO CPC. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU
OBSCURIDADE. INEXISTÊNCIA. LITISCONSORTES PASSIVO NECESSÁRIOS.
CITAÇÃO. AUSÊNCIA. INOVAÇÃO RECURSAL. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. (...) Ademais, esta Corte tem
jurisprudência consolidada no sentido de que mesmo as matérias de ordem
pública necessitam do prequestionamento para serem analisadas em sede
de recurso especial. Agravo regimental improvido. " (AgRg no REsp
1212586/AM, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Segunda Turma, julgado em
15/09/2011, DJe 30/09/2011)

"ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ALÍNEA "A".


AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO CONSIDERADO
VIOLADO.FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. APLICAÇÃO ANALÓGICA DA
SÚMULA N. 284 DO STF. OFENSA A DIVERSOS DISPOSITIVOS DE LEGISLAÇÃO
FEDERAL. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DA
SÚMULA N. 282 DO STF.ENFRENTAMENTO DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL.
IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO STF. APROVAÇÃO EM CONCURSO
PÚBLICO DENTRO DO NÚMERO DE VAGAS PREVISTO NO EDITAL.
NOMEAÇÃO E POSSE NO CARGO ALMEJADO. DIREITO SUBJETIVO. (...) 5.
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642

Oportuno observar que, quando o recurso é conhecido por outro


fundamento, como é o caso dos autos, mesmo as questões de ordem
pública demandam o prequestionamento da matéria. Precedentes. (...) 8.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido." (REsp
1248839/BA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado
em 28/06/2011, DJe 03/08/2011)

24.1.4.6. Meios para Concessão de Efeito Suspensivo à Apelação


Nos casos em que a apelação não possui efeito suspensivo, poderá o juiz concedê-lo, se
houver requerimento da parte nesse sentido. Trata-se de efeito suspensivo ope judicis.

O JUIZ SOMENTE PODERÁ CONCEDER EFEITO SUSPENSIVO SE A LEI ASSIM


DETERMINAR (OPE LEGIS) OU SE A PARTE ASSIM O REQUERER (OPE JUDICIS). NÃO
PODE HAVER CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO EX OFFICIO.
Caso o juiz receba a apelação somente no efeito devolutivo, poderá o apelante interpor dessa
decisão recurso de agravo de instrumento (art. 522, caput).

24.1.5. Questões Anteriores à Sentença ainda Não Decididas (art. 516)


Trata-se das questões incidentes anteriores à sentença, cuja solução não influi no resultado do
julgamento (v.g., concessão da justiça gratuita) e que foram ou poderiam ter sido suscitadas
no apelo, mas não chegaram a ser resolvidas.

O TRIBUNAL DEVERÁ RESOLVER ESSAS QUESTÕES ANTES DE JULGAR A QUESTÃO PRINCIPAL,


COMPONDO SUA SOLUÇÃO A FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO.

24.1.6. Inovação em Sede de Apelo (art. 517)


Art. 517. As QUESTÕES DE FATO, não propostas no juízo inferior, poderão
ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por
motivo de força maior.

Em regra, é proibido inovar em segunda instância.

Porém, o art. 517 permite que o apelante/apelado suscite questões de fato novas, desde que
prove que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.

 Superveniência do fato. Indubitavelmente, se o fato é novo, tendo surgido apenas


após a prolação da sentença, isto constitui motivo suficiente de força maior para que
venha a ser ventilado exclusivamente no tribunal ad quem. A fim de que essa hipótese
se apresente, é preciso que o fato seja ulterior à publicação da sentença, ainda que
seja anterior à chegada dos autos ao tribunal;

 Ignorância do fato pela parte. Ainda que o fato seja anterior à sentença, e desde que
tenha ocorrido algum motivo objetivo que tenha gerado a impossibilidade de seu
conhecimento pela parte, o fato há de ser considerado como fato novo, para os fins
aqui examinados, autorizando-se sua dedução imediatamente perante o juízo
superior;

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 Impossibilidade efetiva de comunicar o fato ao advogado (ou ao juiz) a tempo. Não


obstante o fato possa ser anterior à prolação da sentença, tornou-se, por alguma
causa objetiva impossível comunicar o fato ao juiz para que este pudesse considerá-lo
em seu julgamento. Essa força maior, que impediu que o fato fosse levado ao
conhecimento do magistrado a tempo, autoriza sua dedução perante o tribunal, para
consideração por ocasião do julgamento da apelação;

 Impossibilidade de provar o fato até a sentença. Entende a doutrina que a


impossibilidade material de provar o fato equivalente à impossibilidade de apontá-lo.
Efetivamente, a simples alegação do fato novo, sem que se possa demonstrá-lo ao juiz,
pode ser equiparado à ausência do fato, já que a regra do ônus da prova acarretará a
aplicação da desconsideração dessa alegação de fato, em prejuízo de quem alega
diante da ausência de prova nos autos.

As novas alegações ainda poderão ser apresentadas diretamente ao tribunal em duas outras
situações, não relacionadas especificamente com o art. 517 do CPC, ou com as hipóteses
referidas acima. É o caso do RECURSO INTERPOSTO POR TERCEIRO
PREJUDICADO (art. 499 § 1º do CPC) e as QUESTÕES DE ORDEM PÚBLICA. O
primeiro autoriza a dedução de fatos novos perante o tribunal: se o terceiro prejudicado
apenas ingressa no processo por ocasião da interposição desse recurso, é evidente que nele
deverá apresentar todas as objeções à sentença impugnada. Suas preocupações, em relação à
sentença impugnada, podem ser bem diferentes daquelas trazidas pelas partes anteriormente,
razão pela qual todas as questões por ele apresentadas podem ser novas em relação ao
material já apresentado nos autos.

24.1.7. Procedimento

24.1.7.1. Procedimento em Primeira Instância. A Súmula Impeditiva de Recursos


Juntada a apelação aos autos, deve ser logo encaminhada ao juiz para análise da
admissibilidade provisória. Não é lícito ao juiz exercer o efeito regressivo (retratar-se), salvo:

a) Nas causas que tramitam sob o procedimento do ECA;

b) Na apelação contra sentença que indefere a petição inicial, em 48h (art. 296);

c) Na improcedência prima facie, em 05 dias (art. 285-A).

Verificando que a sentença tem sentido igual ao de súmula do STJ ou do STF, ele não receberá
o recurso (art. 518, § 1º).

Art. 518. Interposta a apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a


recebe, mandará dar vista ao apelado para responder. (Redação dada pela
Lei nº 8.950, de 13.12.1994)

§ 1o O juiz NÃO RECEBERÁ O RECURSO DE APELAÇÃO quando a sentença


estiver EM CONFORMIDADE COM SÚMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE

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JUSTIÇA OU DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. (Renumerado pela Lei nº


11.276, de 2006)

Trata-se essa de uma hipótese de se tentar conferir eficácia vinculante às súmulas meramente
enunciativas (persuasive precedent) do entendimento jurisprudencial. Por isso que se torna
cada vez mais importante dominar os conceitos de distinguishing, overruling e overriding.

Se o juiz não admitir o recurso de apelação alegando que a sentença está em conformidade
com a súmula do STJ ou STF, caberá AGRAVO DE INSTRUMENTO com base no art. 522, caput
do CPC, que deverá demonstrar a inaplicabilidade da súmula em face do caso concreto ou a
necessidade da revisão do entendimento nela consolidado.

Porém, o agravo que se limitar a trazer fundamentos comumente reiterados e já identificados


pelos tribunais como insuficientes, sem seriamente argumentar acerca da necessidade da
revisão ou a respeito da inaplicabilidade da súmula diante da situação concreta, deve ser
considerado meramente protelatório e, assim, abrir oportunidade para a penalização do
agravante com multa.

Não se aplica a súmula impeditiva de recursos nas seguintes situações:

a) Se o apelante discutir a incidência da súmula no caso concreto;

b) Se a apelação tiver por incidência error in procedendo;

c) Se o apelante trouxer em suas razões fundamento novo, não examinado pelos


precedentes que geraram a súmula;

d) Se houver choque entre enunciados de súmula do STJ e STF;

e) Se, embora não em choque de enunciados, houver divergência manifesta de


posicionamento entre o enunciado de um e a jurisprudência do outro.

Admitida a apelação, deve o juiz declarar em que efeitos a recebe, determinando a intimação
da parte contrária para contra-arrazoar. Após, É FACULTADO AO JUIZ REAPRECIAR, EM 05
DIAS, OS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DA APELAÇÃO (art. 518, § 2º). Em
seguida, ele deve remeter os autos ao tribunal.

24.1.7.2. Procedimento no Tribunal


Mantida a admissibilidade da apelação, seguem os autos para distribuição no tribunal. A
apelação tem um relator e um revisor, em regra (art. 551), devendo ser julgada por órgão
composto de 03 membros (art. 555). Nas hipóteses seguintes, não haverá revisor, apenas
relator (art. 551, § 3º):

a) Quando a apelação for interposta em causa que tramite pelo rito sumário;

b) Quando se tratar de apelação contra o indeferimento da petição inicial;

c) Quando se tratar de ação de despejo.

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Após distribuída ao relator, este poderá NEGAR-LHE SEGUIMENTO, por ser intempestiva,
manifestamente improcedente ou contrária a súmula ou jurisprudência de tribunal superior ou
do próprio tribunal. Nesses casos, caberá agravo interno, no prazo de 05 dias (art. 557).

Tendo seguimento, o relator elaborará relatório e remeterá os autos ao revisor para apor seu
visto e pedir inclusão do feito em pauta para julgamento.

Súmula 117, STJ: “Feita a inclusão em pauta, esta deve ser publicada no diário de justiça, com
antecedência mínima de 48 horas da sessão de julgamento, sob pena de nulidade”.

24.1.7.3. Correção de Defeitos Processuais no Procedimento da Apelação


De acordo com o art. 515, § 4º, poderá o tribunal corrigir defeitos processuais em sede de
apelação, baixando os autos em diligência e intimando as partes. Ele poderá determina o
sobrestamento do julgamento para que seja suprido vício, retomando-o em seguida à sanação.

Isso é medida de economia processual, para se evitar a anulação do processo com o retorno a
repetição de várias etapas no juízo a quo.

24.2. Agravo (arts. 522 a 529)

24.2.1. O Agravo no CPC


Só existe um recurso de agravo: agravo retido, agravo de instrumento, agravo interno e
regimental são modalidades de agravo, formas de interposição.

O agravo foi o recurso designado pelo CPC para servir de meio à impugnação de decisões
interlocutórias. Com o novo art. 475-H, introduzido pela Lei nº 11.232/2005, também caberá
agravo (de instrumento) contra qualquer espécie de decisão que julgue liquidação de
sentença.

Será apenas agravo quando interposto imediatamente nos mesmos autos em que a decisão
recorrida foi proferida, sendo desnecessária a formação do instrumento, por já se
encontrarem os autos no tribunal onde deverá ser apreciado o mérito do recurso.

É o caso do agravo interno, que prescinde da formação do instrumento.

24.2.2. Agravo Retido


Uma vez interposto, deverá ficar mantido nos autos, somente devendo ser processado e
julgado pelo tribunal caso não haja retratação imediata do juízo de primeiro grau e desde que
a parte o reitere, em preliminar de apelação ou outro recurso cabível (art. 523), para que o
tribunal, quando do julgamento da apelação, dele conheça. Se o agravante não reiterar seu
agravo, o tribunal dele não conhecerá (entende-se que houve desistência).

Esse recurso independe de preparo e deve ser interposto no prazo de 10 dias da decisão.

A regra é o cabimento de agravo retido contra decisão interlocutória, somente devendo ser
interposto o agravo de instrumento quando a questão envolver risco de lesão grave ou de
difícil reparação, ou houver previsão legal específica ou o agravo retido se revelar inadequado.

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Mesmo não sendo o caso de agravo de instrumento, sendo este interposto, o relator poderá
convertê-lo em agravo retido. Dessa conversão NÃO CABE RECURSO, podendo vir a ser o caso
de mandado de segurança, se houver prejuízo para a parte.

Interposto o agravo retido, o agravado será intimado para apresentar suas contrarrazões no
prazo de 10 dias, podendo o juiz, após as contrarrazões, exercer a retratação (art. 523, § 2º).
Entende-se que o contraditório apenas é obrigatório quando o magistrado vislumbrar a
hipótese de retratar-se em sua decisão. Não sendo esse o caso, dispensa-se a oitiva do
agravado, pois o recurso não será encaminhado de imediato ao Tribunal.

Estabelece o art. 523, § 3º, que as decisões proferidas em AIJ deverão, se for o caso do agravo
retido, ser agravadas oralmente, já arrazoando a parte e constando as razões do termo de
audiência.

Interposto o agravo retido oral, devem ser colhidas as contrarrazões na própria audiência, para
que esta se encerre com esse incidente já resolvido e para que o juiz se retrate ou mantenha
desde já sua decisão.

O JUIZ SOMENTE PODERÁ EXERCER RETRATAÇÃO SE OPORTUNIZADAS AS


CONTRARRAZÕES, CASO CONTRÁRIO HAVERÁ OFENSA AO CONTRADITÓRIO.

Entretanto, isso não quer dizer que não possa ser interposto agravo de instrumento das
decisões proferidas em audiência, desde que atendidos os requisitos.

Caso seja interposto agravo de instrumento no lugar de agravo retido de forma dolosa, sem
qualquer urgência, o relator deverá inadmiti-lo, e não convertê-lo em retido, já que se
consumou a preclusão para interposição.

Assim, tem-se que:

a) Agravo retido interposto em AIJ: interposição oral e simultânea;

b) Agravo retido contra decisão não proferida em audiência: interposição por escrito e no
prazo de 10 dias.

Quando do julgamento do recurso de apelação, ultrapassado o segundo juízo de


admissibilidade, o provimento do agravo retido provocará a nulidade da sentença proferida
pelo juiz de primeiro grau.

24.2.2.1. Agravo Retido e Reexame Necessário


Se for o caso de sentença sujeita ao reexame necessário e tiver havido, nos autos, interposição
de agravo retido, deve-se verificar de quem é o agravo: se da Fazenda, não há necessidade de
se reiterar o recurso, eis que a remessa já abrangerá a questão.

O problema ocorre quando não há apelação da Fazenda Pública, já que o agravo retido será
examinado sem a prévia manifestação do agravado. Nesse caso, o agravado não será intimado
para contra-arrazoar, já que não há resposta na remessa de ofício.

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Interposto agravo retido, e desde que se permita ao agravado apresentar sua resposta no
prazo de 10 dias ou na mesa, oralmente, conforme o caso, pode o juiz reformar sua decisão.

Caso tenha sido interposto agravo retido e não tenha havido manifestação pela outra parte,
antes de julgada a apelação, deve haver a colheita das contrarrazões, consagrando-se o
contraditório.

24.2.2.2. Interposição de Agravo Retido pelo Terceiro Prejudicado


São argumentos contra essa possibilidade:

a) Impossibilidade de prever que o terceiro poderá apelar para reiterar o pedido;

b) O recurso tem a função principal de evitar a preclusão, fenômeno endoprocessual que


não afeta terceiros.

Argumentos a favor:

a) O terceiro evitará a perda da faculdade processual de impugnar;

b) Sua irresignação não será processada imediatamente;

c) Ele pode ter o interesse de recorrer de uma decisão interlocutória.

24.2.3. Impossibilidade de se Optar pelo Agravo Retido ou Agravo de Instrumento

O AGRAVANTE NÃO TEM QUALQUER MARGEM DE


ESCOLHA: OU É CASO DE UM OU DE OUTRO. Veja-se:
a) Agravo de instrumento em razão de urgência: se a decisão agravada puder produzir
um dano ao recorrente, somente caberá AI. Se não houver a situação de urgência, o
relator determinará a conversão em AR, mandando que sigam os autos ao juízo a quo
para que sejam apensados aos principais.

O preparo eventualmente feito não será devolvido.

A lesão grave ou de difícil reparação constitui um conceito vago ou indeterminado,


devendo ser definida pelas peculiaridades do caso concreto.

CONVERSÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA ANTECIPAÇÃO DE


TUTELA EM AGRAVO RETIDO. EXAME DO AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUIZ
NATURAL.

A conversão do agravo de instrumento em agravo retido, prevista no art.


527, II, do CPC, somente pode ocorrer quando e se a decisão agravada for
insuscetível de causar à parte imediata lesão grave e de difícil reparação.
Nos casos de decisões liminares ou antecipatórias da tutela, todavia, o
agravo interposto deve ser, obrigatoriamente, o de instrumento.
Precedentes. Unânime. (TRF1, Corte Especial, MS 0012756-
56.2012.4.01.0000/DF, rel. Des. Federal Tolentino Amaral, em 17/05/2012.)

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b) Agravo de instrumento por expressa determinação legal: são as hipóteses em que a lei
determina que o agravo deverá ser interposto na modalidade de instrumento.
Geralmente, sempre será retido o agravo nas decisões posteriores à sentença.

Nessas hipóteses não é possível converter o AI em AR, nem negar-lhe efeito


suspensivo. São elas, v.g.:

i. Decisão que receber a apelação em efeitos diversos dos que deveriam (art.
522)146;

ii. Decisão que não receber apelação (art. 522);

iii. Decisão que julgar a liquidação da sentença (art. 475-H), não havendo, aqui a
possibilidade de retratação.

c) Incompatibilidade do agravo retido: há casos em que, a despeito da inexistência de


urgência, somente caberá AI em razão da incompatibilidade do regime de AR com a
situação concreta. É o exemplo das decisões interlocutórias proferidas em processo de
execução.

24.2.4. O Agravo de Instrumento


O AI constituía o agravo padrão, até o advento da Lei nº 11.187/2005. Recebe esse nome
porque a sua interposição faz com que se forme um instrumento próprio, a ser encaminhado
ao Tribunal, com cópias das peças relevantes do processo.

Somente caberá AI quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de
difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos
em que a apelação é recebida (art. 522). Assim, vê-se que essas hipóteses não são taxativas.

Seu prazo de interposição é de 10 dias, sendo exigido o preparo, conforme o regime legal de
custas federal ou estadual.

No AI também se aplica o art. 523, § 2º, podendo o juiz, após as contrarrazões, exercer o juízo
de retratação, salvo no caso que julga a liquidação de sentença.

24.2.4.1. Peças Obrigatórias (art. 525, I)


São peças imprescindíveis no AI, sob pena de inadmissibilidade recursal:

a) Decisão agravada;

146
Nesse caso, é muito comum que, com o julgamento do AI, seja interposto REsp. Nesse caso, se o REsp
não for julgado antes de julgada a apelação, perde ele seu objeto. Nesse sentido:
RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO QUE DECIDIU SOBRE OS EFEITOS
DA APELAÇÃO. JULGAMENTO SUPERVENIENTE DO RECURSO. PERDA DE OBJETO.
1. O recurso especial interposto contra agravo de instrumento que decidiu sobre os efeitos com os
quais a apelação é recebida, perde seu objeto se superveniente o julgamento do respectivo recurso.
Precedentes. 2. Recurso especial prejudicado. (REsp 1127930/CE, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA,
Rel. p/ Acórdão Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/10/2011,
DJe 17/10/2011)
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b) Certidão de intimação da decisão (para se averiguar a tempestividade);

c) Procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado

Os membros do MP, da Fazenda Pública e da Defensoria Pública prescindem de procuração, já


que eles representam ex lege.

24.2.4.2. Peças Facultativas (art. 525, II)


São aquelas que pareçam convenientes ao agravante para contribuir na formação do
convencimento judicial.

REPETITIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUSÊNCIA DE PEÇAS


FACULTATIVAS.

A Corte, ao rever seu posicionamento – sob o regime do art. 543-C do CPC e


Res. n. 8/2008-STJ –, firmou o entendimento de que a ausência de peças
facultativas no ato de interposição do agravo de instrumento, ou seja,
aquelas consideradas necessárias à compreensão da controvérsia (art. 525,
II, do CPC), não enseja a inadmissão liminar do recurso. Segundo se afirmou,
deve ser oportunizada ao agravante a complementação do
instrumento. REsp 1.102.467-RJ, Corte Especial, Rel. Min. Massami Uyeda,
julgado em 2/5/2012.

24.2.4.3. Peças Essenciais ou Necessárias


Trata-se de construção jurisprudencial. São aquelas peças vitais para o entendimento da causa
como a petição inicial. Muitos tribunais têm indeferido o AI face a falta delas, embora o coreto
seria, por não estarem previstas em lei, a intimação do agravante para regularizar o
procedimento recursal.

As peças do AI não precisam ser autenticadas, se não lhes for impugnada a autenticidade.

24.2.4.4. Comprovação da Interposição do AI (art. 526, p. único)


O agravante deverá, no prazo de 03 dias, requerer a juntada aos autos do processo de cópia da
petição do AI e do comprovante de sua interposição (só se deve comprovar a interposição do
AI, não dos documentos que o acompanharam).

O NÃO CUMPRIMENTO DESSA ORDEM PODERÁ IMPLICAR NO NÃO


CONHECIMENTO DO RECURSO. Porém, para tal, é imprescindível que haja arguição e
comprovação pelo agravado, sendo ônus exclusivamente seu, na primeira oportunidade que
tiver para falar nos autos, não podendo o juiz ou o relator alegar a não juntada da cópia aos
autos de ofício.

ASSIM, LEMBRAR: NÃO SE ADMITE O NÃO CONHECIMENTO DE


OFÍCIO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO PELA FALTA DE
COMPROVAÇÃO DA INTERPOSIÇÃO NO PRAZO DE 03 DIAS.

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Mesmo assim, arguido e comprovado, o AI só não será admitido se tiver havido prejuízo para o
agravado.

ART. 526 DO CPC. ALEGAÇÃO DE DESCUMPRIMENTO. COMPROVAÇÃO


POR MEIOS DIVERSOS DA JUNTADA DE CERTIDÃO.

A Turma, ao prosseguir o julgamento, deu provimento ao agravo regimental


ao entender que o parágrafo único do art. 526 do CPC não determina a
forma pela qual será provado o descumprimento, sendo possível a
comprovação por outros meios, que não a certidão cartorária, como modo
eficaz de atestar a negativa da exigência imposta à parte. Precedente
citado: AgRg no Ag 1.276.253-GO, DJe de 21/9/2010. AgRg nos EDcl
no AREsp 15.561-SP, 2T, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/2/2012.

24.2.4.5. Procedimento (art. 527)


O agravo por instrumento é interposto diretamente perante o Tribunal, no prazo de 10 dias.
O recorrente dirigirá o recurso ao Tribunal mediante petição escrita, em que deverá indicar
(art. 524) a exposição do fato e do direito, as razões do pedido de reforma da decisão e o
nome e o endereço dos advogados constantes do processo.

Essa petição formará um instrumento, que deve vir acompanhado obrigatoriamente (525, I),
sob pena de não conhecimento, com cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva
intimação e das procurações outorgadas aos advogados do agravante; e facultativamente
(525, II), com outras peças que o agravante entender úteis.

Acompanhará a petição, outrossim, o comprovante do pagamento das custas e do porte de


retorno, quando devidos.

Oferecido o recurso, é dever do agravante fazer juntar aos autos do processo, em 3 dias, cópia
da petição do agravo, acompanhada da relação de documentos juntados, bem como
comprovante de sua interposição (526). Não observada essa obrigação, o agravo não deve ser
admitido, cabendo ao agravado arguir e provar o descumprimento (526, parágrafo único).

No Tribunal, poderá o relator, se houver pedido para tanto, desde logo, ou após
contrarrazões, atribuir efeito suspensivo ao recurso, ou antecipar os efeitos da pretensão
recursal (527, III – decisão irrecorrível, podendo o relator reconsiderar). Poderá, também,
requisitar informações ao juízo a quo (10 dias para prestar). Será também possível ao relator,
se for o caso, negar monocrática e liminarmente seguimento ao agravo (527, I, c/c 557).
Nesse caso, caberá agravo interno ou regimental.

Se o juiz comunicar ao Tribunal que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará


prejudicado o agravo.

Poderá, ademais, o relator, converter o agravo de instrumento em agravo retido (527, II),
remetendo-o ao primeiro grau (também se trata de decisão irrecorrível – 527, parágrafo
único. A parte pode se valer de MS para tentar reverter isso. Ademais, pode o relator
reconsiderar). Assim, sempre que o relator verificar de plano que o recurso não deveria ter
sido interposto por instrumento, poderá ele remeter o recurso para o primeiro grau, para que
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assuma o caráter retido que deveria ter sido empregado originalmente. Contudo, nas
hipóteses em que a lei autoriza a interposição do agravo por instrumento, tal conversão não
será permitida.

Além disso, determinará o relator, após dar seguimento ao recurso, a oitiva do agravado para
contrarrazões, intimando-o na pessoa de seu advogado, no prazo de 10 dias. Efetivado o
contraditório, abrir-se-á vista ao Ministério Público, se for o caso, para manifestação em 10
dias (527, V e VI).

Após, será pedido dia para julgamento. Se, todavia, o juiz a quo comunicar, até a data do
julgamento, que reformou sua decisão, o relator deverá julgar prejudicado o agravo (529).

Observe-se que no agravo não existe a figura do revisor. Não se admite, também, que as
partes sustentem oralmente suas razões (554).

Por fim, enquanto estiver pendente de julgamento agravo relativo a determinado processo,
não pode o Tribunal julgar eventual apelação interposta contra sentença nele proferida. Se,
eventualmente, tiverem de ser julgados, em uma mesma sessão, apelação e agravo,
primeiramente será julgado o agravo e, somente depois, se ainda houver necessidade, será
apreciada a apelação.

24.2.4.6. Agravo de Instrumento e Sentença Superveniente


O que fazer quando, num processo, um juiz indefere, v.g., uma antecipação de tutela, a parte
interpõe AI e, antes do julgamento do recurso, sobrevém sentença? Depende do caso
concreto. Em regra, deve prevalecer a decisão do juízo exauriente (prevalência do critério de
cognição sobre o critério de hierarquia), restando prejudicado o AI e devendo o juiz a quo
determinar que seja oficiado o tribunal sobre a sentença. O STJ já adotou esse entendimento
(Rcl 1.444/MA). Esse é o entendimento amplamente majoritário no STJ:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO CONTRA


ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DEFERIDA NA ORIGEM. PROLAÇÃO DE SENTENÇA
DE MÉRITO CONFIRMATÓRIA. PERDA DO OBJETO DO RECURSO.
PRECEDENTES. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA.

1.- Perde o objeto o recurso interposto contra decisão que defere


antecipação dos efeitos da tutela com a prolação da sentença de mérito que
a confirma.

2.- Agravo Regimental improvido.

(AgRg no REsp 1275410/MG, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 27/03/2012, DJe 13/04/2012)

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO CONFIGURADA.


MEDIDA LIMINAR. SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA QUE JULGOU A CAUSA.
PERDA DE OBJETO DO RECURSO RELATIVO À MEDIDA ANTECIPATÓRIA.

1. É entendimento pacífico do STJ que a superveniência da sentença de


mérito que confirmar a liminar ocasiona a perda do objeto do recurso.
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2. Embargos de Declaração acolhidos, com efeitos modificativos, para sanar


a omissão apontada e julgar prejudicado o Recurso Especial, por perda do
objeto.

(EDcl no AgRg no AgRg no Ag 1244483/SP, Rel. Ministro HERMAN


BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/02/2012, DJe 24/02/2012)

Entretanto, se o agravo puder resultar em algum benefício prático para o agravante, Didier
defende que ele deve ser julgado. Seria o caso, por exemplo, em que o juiz não admite a
denunciação da lide e interpõe-se AI. Ora, sobrevindo sentença, especialmente se desfavorável
ao denunciante, o julgamento posterior do recurso será benéfico ao recorrente, já que lhe
garantirá o direito de ser indenizado.

Outro exemplo é a antecipação, por AI, de um dos capítulos da demanda que não necessite de
dilação probatória.

24.2.4.7. Extinção do Processo em Julgamento de AI


Pode ocorrer que uma decisão interlocutória extinga o processo, com base no art. 267, em se
tratando de questão de ordem pública, desde que o AI tenha sido admitido.

24.2.4.8. Multa por Agravo Manifestamente Protelatório


Art. 557 [...]

§ 2o Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o


tribunal condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez
por cento do valor corrigido da causa, ficando a interposição de qualquer
outro recurso condicionada ao depósito do respectivo valor. (Incluído pela
Lei nº 9.756, de 17.12.1998)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. MULTA DO ART. 557, § 2º, DO CPC. FAZENDA


PÚBLICA.

A Corte, por maioria, assentou o entendimento de que a exigência do prévio


depósito da multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC não se aplica à Fazenda
Pública. Nos termos do disposto no art. 1º-A da Lei n. 9.494/1997, as
pessoas jurídicas de direito público federais, estaduais, distritais e
municipais “estão dispensadas de depósito prévio, para interposição de
recurso”. Ademais, a multa em comento teria a mesma natureza da prevista
no art. 488 do CPC, da qual está isento o Poder Público. EREsp 1.068.207-PR,
Rel. originário Min. Castro Meira, Rel. para o acórdão Min. Arnaldo Esteves
Lima, julgados em 2/5/2012.

24.2.5. Agravo Regimental e Agravo Interno


No CPC há três outros agravos que não têm o mesmo regime jurídico do art. 522 e § § . São os
chamados agravos internos ou regimentais; assemelham-se ao agravo retido, mas não são
regulados pelo art. 523.

Hipóteses de cabimento do agravo regimental (ou interno):

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1. Contra decisão de relator, negando seguimento a recurso manifestamente


inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou
jurisprudência dominante do respectivo Tribunal, do STF ou de Tribunal Superior (art.
557, § 1º);

2. Contra o indeferimento dos embargos infringentes pelo relator (art. 532);

3. Contra ato do relator que, no STF ou STJ, não admite o agravo de instrumento, nega-
lhe provimento ou reforma o acórdão recorrido (art. 545).

Nestes casos o agravo deve ser interposto no prazo de cinco dias e não de dez, e deve ficar
encartado nos autos, sendo competente para julgá-los o mesmo órgão do tribunal que teria
competência para julgar o recurso decidido monocraticamente pelo relator. O procedimento
do agravo interno é ditado pelos regimentos internos de cada Tribunal.

24.2.6. Agravo (Antigo Agravo de Instrumento) para o STJ e para o STF


O art. 544 do CPC traz regramento específico para o agravo de instrumento contra decisão que
não admite ao recurso extraordinário ou recurso especial. A nova redação desse artigo foi
dada pela Lei nº 12.322/10, que dispensou a formação do instrumento. Agora, os próprios
autos do processo sobem para a instância superior. Sobre isso, já teve conflito intertemporal,
julgado pelo STJ no seguinte sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DE LEI ANTERIOR.


PEÇAS OBRIGATÓRIAS.

A Lei n. 12.322/2010, que transformou o agravo de instrumento em agravo


nos próprios autos, não se aplica aos recursos interpostos antes da sua
vigência. Assim, aos agravos de instrumento anteriores a 9/12/2010, data na
qual entrou em vigor a referida lei, devem-se aplicar as regras anteriores. No
caso, verificou-se a má formação do agravo de instrumento, interposto em
10/9/2010, por não atender ao disposto na redação anterior do art. 544, §
1º, do CPC, já que deixou de juntar cópias de peças obrigatórias.
Precedentes citados: AgRg no Ag 1.400.931-RS, DJe 16/3/2012, e AgRg no Ag
1.407.812-PB, DJe 20/3/2012. AgRg no Ag 1.391.012-RJ, 4T, Rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, julgado em 3/5/2012.

A petição será dirigida à presidência do tribunal de origem, não dependendo do pagamento


de custas. O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer
resposta. Em seguida, os autos serão remetidos à superior instância, onde serão processados
na forma regimental.

No Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, o julgamento do agravo


obedecerá ao disposto no respectivo regimento interno, podendo o relator:

I - não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado


especificamente os fundamentos da decisão agravada;

II - conhecer do agravo para:


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a) negar-lhe provimento, se correta a decisão que não admitiu o recurso;

b) negar seguimento ao recurso manifestamente inadmissível, prejudicado ou em confronto


com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal;

c) dar provimento ao recurso, se o acórdão recorrido estiver em confronto com súmula ou


jurisprudência dominante no tribunal.

Da decisão do relator que não conhecer do agravo, negar-lhe provimento ou decidir, desde
logo, o recurso não admitido na origem, caberá agravo, no prazo de 5 (cinco) dias, ao órgão
competente.

24.3. Embargos de Declaração (arts. 535 a 538)

24.3.1. Os Embargos de Declaração como Recurso e suas Hipóteses de Cabimento


O ED é recurso previsto no art. 496, CPC, cabível quando houver, na sentença, no acórdão ou
na decisão interlocutória, obscuridade ou contradição, ou omissão, quando o juiz ou tribunal
tiver deixado de apreciar pontos sobre os quais deveriam ter se pronunciado.

Trata-se de um recurso de fundamentação vinculada, por só caber em casos específicos.

Ocorre omissão quando a decisão não se manifestar:

a) Sobre um pedido;

b) Sobre argumentos relevantes lançados pelas partes e não apreciados;

c) Sobre questões de ordem pública, que devem ser apreciadas de ofício pelo
magistrado.

A decisão é obscura quando for ininteligível, quer porque mal redigida, que porque ilegível.
Será contraditória quando trouxer proposições entre si inconciliáveis, principalmente entre a
fundamentação e o dispositivo.

Ele também vem sendo admitido para a correção de erros materiais, pois é permitido ao juiz,
de ofício ou a requerimento, corrigir erros ou inexatidões materiais em seus pronunciamentos
(art. 463).

Há uma tendência jurisprudencial de cabimento do ED para correção de equívocos manifestos,


como o erro de fato e a decisão ultra petita.

Apesar de não previsto na lei, o ED é cabível também contra decisões interlocutórias e, até
mesmo, contra despachos.

Isso porque, de acordo com a CR/88, toda decisão judicial deve ser devidamente
fundamentada. Importante é ressaltar que o art. 535, I, determina que os casos de contradição
e obscuridade se referem apenas a sentença e acórdão. Porém, esse não é o entendimento
que deve ser adotado.

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655

Porém, o STF possui várias decisões no sentido de não admitir ED contra decisões
monocráticas, ao fundamento de que o recurso cabível seria o agravo regimental. Na verdade,
o que o tribunal faz é converter o ED em agravo regimental, ante o princípio da fungibilidade
recursal:

Embargos de declaração em agravo de instrumento. 2. Decisão monocrática.


Embargos de declaração recebidos como agravo regimental. 3. Esta Corte
reconheceu que os servidores do Município de São Paulo fazem jus ao
reajuste referente ao mês de fevereiro de 1995, nos termos das leis
municipais 10.688/88 e 10.722/89. 4. Todavia, a apuração do índice
demanda análise da legislação infraconstitucional. Súmula 280. 5. Agravo
regimental a que se nega provimento.

(STF, AI 698029 ED, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma,


julgado em 05/04/2011, DJe-073 DIVULG 15-04-2011 PUBLIC 18-04-2011
EMENT VOL-02505-01 PP-00135)

24.3.2. Efeitos dos Embargos de Declaração

24.3.2.1. Efeito Devolutivo


O ED tem efeito devolutivo, impedindo que se opere a preclusão quanto à decisão embargada.
Impede também a formação da coisa julgada.

Como já visto anteriormente, ter efeito devolutivo não significa necessariamente que o
recurso será julgado por órgão superior.

24.3.2.2. Efeito Suspensivo


A regra do direito brasileiro é que todos os recursos serão dotados de efeito suspensivo, salvo
se houver expressa previsão legal em sentido contrário, como no REsp e no RE. Como no ED
não há nenhum dispositivo com essa ressalva, CONCLUI-SE QUE ELE POSSUI EFEITO
SUSPENSIVO.
24.3.2.3. Efeito Modificativo (Embargo de Declaração com Efeito Infringente)
Pode-se dizer que o ED pode ter esse efeito, pois havendo contradição, ao adaptar ou eliminar
alguma das proposições constantes da parte decisória, já a nova decisão altera, em certo
aspecto, a anterior.

Quando se supre a omissão, certamente a nova decisão será diferente da anterior, havendo
novo teor nela.

Porém, isso deve ser visto com reservas. Muitos advogados se valem do expediente como
meio de infringir o princípio da unicidade recursal, tentando alterar o julgado perante o juízo a
quo e, depois, perante o Tribunal.

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.


FALTA DE APRECIAÇÃO DOS DISPOSITIVOS LEGAIS. OMISSÃO. OCORRÊNCIA.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA N. 282/STF. EXECUÇÃO DE

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SENTENÇA. JUROS DE MORA. CONDENAÇÃO DA FAZENDA NACIONAL.


OMISSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. REDISCUSSÃO DO MÉRITO.

1. Quanto à alegada ofensa aos arts. 107 e 118 da LOMAN e 4º da Lei n.


9.788/99, de fato, tal questão não foi apreciada no aresto recorrido.
Todavia, dessume-se do exame dos autos que os dispositivos tidos por
ofendidos não foram, em nenhum momento, enfrentados no aresto
recorrido, carecendo o apelo especial do obrigatório prequestionamento.
Incide, no caso, a Súmula 282/STF.

2. Em relação às demais omissões, o decisório está claro e suficientemente


fundamentado, decidindo integralmente a controvérsia, não padecendo dos
vícios apontados.

3. Devem ser repelidos os embargos declaratórios manejados com o nítido


propósito de rediscutir matéria já decidida.

4. Embargos de declaração parcialmente acolhidos, sem efeitos infringentes,


apenas para integração do julgado.

(STJ, EDcl no REsp 1210648/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,


SEGUNDA TURMA, julgado em 07/04/2011, DJe 15/04/2011)

Súmula 278, STJ: “A natureza da omissão suprida pelo julgamento do embargo de declaração
pode ocasionar efeito modificativo no julgamento”.

Para o STJ, se houver a possibilidade de concessão de efeitos infringentes, deve o juiz primeiro
mandar intimar a parte contrária para se manifestar sobre essa possibilidade, de forma a se
garantir o contraditório e evitar surpresas no processo. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. OMISSÃO. OCORRÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
EFEITOS INFRINGENTES.

1. Não tendo a decisão embargada se pronunciado a respeito de tema


posto no recurso especial, correta a decisão agravada regimentalmente
que, após intimar para manifestação a parte contrária, acolheu os
embargos de declaração com efeitos infringentes.

2. Agravo regimental não provido.

(STJ, AgRg nos EDcl no Ag 788.560/SC, Rel. Ministra MARIA ISABEL


GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 22/03/2011, DJe 28/03/2011)

O STF também repele a possibilidade de concessão de efeitos infringentes nos ED, somente
reconhecendo isso de forma excepcional:

DIREITO ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. PRETENSÃO DE REFORMA DO JULGADO: IMPOSSIBILIDADE.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE,
PROPORCIONALIDADE E ISONOMIA. PREQUESTIONAMENTO FICTO:

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IMPOSSIBILIDADE. OMISSÃO: INEXISTÊNCIA. 1. Os embargos de declaração


não constituem meio processual cabível para reforma do julgado, não
sendo possível atribuir-lhes efeitos infringentes, salvo em situações
excepcionais. 2. A questão constitucional invocada no recurso
extraordinário não foi objeto de debate e de decisão no acórdão recorrido.
Desatendido o pressuposto recursal do prequestionamento, imprescindível
para o conhecimento do apelo extremo. Súmulas STF 282 e 356. 3.
Inexistência de omissão, contradição ou obscuridade a sanar. 4. Embargos
de declaração rejeitados.

(STF, AI 743641 ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado
em 08/02/2011, DJe-039 DIVULG 25-02-2011 PUBLIC 28-02-2011 EMENT
VOL-02472-01 PP-00206)

Na verdade, o que o STF mais costuma fazer é converter os embargos de declaração para
agravo regimental:

CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM


RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. ICMS.
SALDO CREDOR. CORREÇÃO MONETÁRIA. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL.
AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E NÃO-CUMULATIVIDADE.
INOCORRÊNCIA. CORREÇÃO DA RESTITUIÇÃO DE VALORES A PARTIR DA
DATA DO REQUERIMENTO E O EFETIVO PAGAMENTO. QUESTÃO PRECLUSA.
1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental diante da
manifesta infringência do julgado e consoante iterativa jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal. 2. Não constitui ofensa aos princípios da
isonomia e da não-cumulatividade o fato de a legislação estadual
desautorizar a correção monetária de créditos escriturais e saldos credores
de ICMS. Precedentes. 3. A questão relativa à correção da diferença dos
valores a serem apurados entre a data do requerimento da restituição e o
efetivo pagamento pelo Estado de São Paulo está preclusa, dado o
acolhimento dos embargos de declaração proferidos na instância de origem
e a não-impugnação pela recorrente no momento oportuno. 3. Agravo
regimental a que se nega provimento.

(STF, RE 275507 ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado
em 07/06/2011, DJe-123 DIVULG 28-06-2011 PUBLIC 29-06-2011 EMENT
VOL-02553-01 PP-00132)

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. RESOLUÇÃO DE CONTRATO DE


PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. AÇÕES NÃO SUBSCRITAS. RESTITUIÇÃO DOS
VALORES PAGOS. AFASTAMENTO DOS JUROS COMPENSATÓRIOS.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS DE DECISÃO DO RELATOR.
CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AOS ARTS.
5º, XXXV, LIV, LV, E 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. RECURSO QUE NÃO
SE INSURGE CONTRA A FUNDAMENTAÇÃO DO ATO JUDICIAL. ARTIGO 317, §
1º, DO RISTF. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA N. 283/STF. 1. Os embargos de
declaração opostos objetivando reforma da decisão do relator, com
caráter infringente, devem ser convertidos em agravo regimental, que é o

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recurso cabível, por força do princípio da fungibilidade. (Precedentes: Pet


4.837-ED, rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, DJ 14.3.2011; Rcl 11.022-
ED, rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, DJ 7.4.2011; AI 547.827-ED, rel.
Min. DIAS TOFFOLI, 1ª Turma, DJ 9.3.2011; RE 546.525-ED, rel. Min. ELLEN
GRACIE, 2ª Turma, DJ 5.4.2011 2. [...]

(STF, AI 783653 ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
07/06/2011, DJe-124 DIVULG 29-06-2011 PUBLIC 30-06-2011 EMENT VOL-
02554-03 PP-00476)

24.3.2.4. Interrupção do Prazo de Interposição Recursal


A interposição do ED interrompe o prazo para a interrupção de outros recursos cabíveis contra
a mesma decisão (art. 538); no âmbito dos Juizados Especiais, o prazo é apenas suspenso.

A interrupção vale para qualquer das partes, para o MP e para terceiros, independentemente
de quem haja interposto o recurso, ainda que o ED tenha tido apenas escopo protelatório.

IMPORTANTE: a simples interposição do recurso suspende ou interrompe o prazo, ainda que


posteriormente o recurso não seja recebida ou seja improvido. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO. OPOSIÇÃO TEMPESTIVA. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PARA A
INTERPOSIÇÃO DE OUTROS RECURSOS.

1. "A jurisprudência desta Superior Corte é no sentido de que os embargos


de declaração são oponíveis em face de qualquer decisão judicial e, uma
vez opostos, AINDA QUE NÃO CONHECIDOS OU NÃO ACOLHIDOS,
INTERROMPEM O PRAZO DE EVENTUAIS E FUTUROS RECURSOS,
COM EXCEÇÃO DO CASO EM QUE SÃO CONSIDERADOS
INTEMPESTIVOS." (REsp 1.147.525/DF, Rel. Min. MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/8/2010, DJe 20/9/2010).

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(STJ, AgRg no REsp 1154775/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA


TURMA, julgado em 03/03/2011, DJe 21/03/2011)

24.3.3. Natureza da Decisão que Julga os Embargos de Declaração


Ao apreciar os embargos, o órgão julgador deverá julgá-los em decisão que contenha a mesma
natureza do ato judicial embargado.

Isso porque os Embargos de Declaração contém o chamado efeito integrativo, objetivando


complementar, aperfeiçoar a decisão embargada, com vistas a exaurir a prestação jurisdicional
que se encontra inacabada, imperfeita ou incompleta.

Isso quer dizer que, opostos o ED contra sentença, a decisão terá natureza de sentença; conta
acórdão, natureza de acórdão; contra interlocutória, natureza de interlocutória.

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24.3.4. Prazo
Ele deve ser interposto em até 05 dias, a contar da intimação da decisão embargada. O MP, a
FP e o defensor público terão prazos em dobro.

Os litisconsortes com procuradores diferentes terão prazo em dobro, ainda que apenas um
deles haja sucumbido, contrariando a súmula 641 do STF. Isso porque o requisito recursal é a
omissão, contradição ou obscuridade, e não a sucumbência.

24.3.5. Regularidade Formal dos Embargos de Declaração


Deve o ED ser oposto por escrito (salvo no JEC, onde pode ser oral), dirigida a petição ao
próprio órgão prolator da decisão.

24.3.6. Dispensa de Preparo


O art. 536 expressamente dispensa do preparo do ED. Isso porque eles não recebem autuação
e nem geram nova autuação para o processo, sendo dirigido ao mesmo órgão julgador e
simplesmente juntado a processo existente. Assim, não há o fato gerador do preparo, que é a
custa pelos serviços judiciários.

24.3.7. Contraditório e Embargos de Declaração


O ED não possui contraditório; porém, parte da jurisprudência vem entendendo que no ED
com efeitos modificativos deve-se dar à parte contrária a possibilidade de contradizer o pedido
do embargante.

24.3.8. Multa pelo Caráter Protelatório


Quando manifestamente protelatório o ED, prevê o p. único do art. 538 que o juiz ou tribunal
condenará o embargante à multa de 1% do valor da causa. Se reiterado o ED protelatório, a
multa é elevada para 10%.

24.3.9. Embargos de Declaração e Prequestionamento


Caso tenha havido omissão do órgão julgador, o ED tem o fito de corrigir o julgado. Porém, se
não suprido o questionamento, entende o STJ que não houve prequestionamento (súmula
211), devendo ser interposto REsp para forçar o pronunciamento do tribunal de origem.

Súmula 211, STJ: “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição
de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo”.

O STJ tem mantido constantemente essa posição:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. FALTA DE


PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. OMISSÃO. NÃO
OCORRÊNCIA.REDISCUSSÃO DO MÉRITO.

1. Incide a Súmula 211/STJ quando a matéria federal supostamente


violada não foi enfrentada no aresto recorrido, malgrado a oposição dos
embargos declaratórios.

2. Devem ser repelidos os embargos declaratórios manejados com o nítido


propósito de rediscutir matéria já decidida.

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3. Embargos de declaração parcialmente acolhidos, sem efeitos infringentes.

(STJ, EDcl no REsp 1190005/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,


SEGUNDA TURMA, julgado em 05/04/2011, DJe 13/04/2011)

Súmula 98, STJ: “O embargo declaratório com intuito de prequestionamento não tem caráter
protelatório”.

Importante, no entanto, entender uma coisa: o embargo de declaração para fins de


prequestionamento deve ser oposto quando a decisão tiver sido omissa sobre questão já
suscitada, não podendo a matéria federal ou constitucional vir constante apenas nos
embargos, inovando no processo. Nesse sentido:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


PROCESSUAL PENAL. DEFICIÊNCIA NO TRASLADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
N. 288 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO DA MATÉRIA CONSTITUCIONAL. SÚMULA N. 282 DO
SUPREMO TRIBUNAL. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA
PROVIMENTO. O cumprimento do requisito do prequestionamento dá-se
quando oportunamente suscitada a matéria constitucional, o que ocorre em
momento processual adequado, nos termos da legislação vigente. A
inovação da matéria em embargos de declaração é juridicamente
inaceitável para os fins de comprovação de prequestionamento.
Precedentes.

(STF, AI 836511 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma,


julgado em 23/03/2011, DJe-067 DIVULG 07-04-2011 PUBLIC 08-04-2011
EMENT VOL-02499-02 PP-00539)

24.3.10. Embargos de Declaração e Princípio da Complementaridade


Pelo princípio da complementaridade, o recorrente poderá complementar a fundamentação
de seu recurso já interposto, se houver alteração ou integração da decisão, em virtude de
acolhimento do ED.

Para que isso seja possível, é necessário que:

a) A parte já tenha interposto o recurso;

b) Que o provimento do ED tenha tido efeito modificativo.

Assim, a parte poderá apenas aditar o recurso, e não interpor um outro.

24.3.11. Controle de Constitucionalidade e o Julgamento dos Embargos de Declaração


Caso tenha havido omissão quanto à constitucionalidade de dispositivo no âmbito do controle
difuso, se o órgão do colegiado for outro que não o plenário, deverão os autos ser remetidos
ao pleno para processar o incidente de decretação da inconstitucionalidade (Reserva de
Plenário).

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Lembrar, entretanto, que há várias causas de dispensa da reserva de plenário (ou full bench,
no direito americano), como no caso de declaração de constitucionalidade, de prévia
decretação da inconstitucionalidade pelo pleno ou pelo STF etc.

24.3.12. Competência para Julgamento dos Embargos


É do próprio órgão que prolatou a decisão. Esclarecedor o seguinte julgado:

COMPETÊNCIA. EDCL. DECISÃO MONOCRÁTICA.

A Turma declarou nulo o acórdão embargado, reafirmando que O PRÓPRIO


RELATOR É COMPETENTE PARA JULGAR OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
(EDCL) CONTRA SUA DECISÃO MONOCRÁTICA, NÃO O ÓRGÃO COLEGIADO.
Essa jurisprudência firmou-se na Corte Especial ao uniformizar a matéria
neste Superior Tribunal, que, em razão do princípio do paralelismo das
formas, definiu ser sempre do órgão julgador que proferiu a decisão
embargada a competência para julgar os embargos declaratórios, ou seja,
quando os EDcl forem apresentados contra decisão do colegiado, é dele a
competência para julgá-los, mas é do relator se os declaratórios forem
contra sua decisão monocrática. Em outro precedente, a Corte Especial
enfatizou ser diferente na hipótese em que o órgão colegiado, por economia
processual, julga os EDcl como agravo regimental e enfrenta a matéria
objeto do REsp; nesse caso, a competência é do colegiado. Precedentes
citados: REsp 1.086.142-SC, DJe 1º/12/2008; REsp 401.366-SC, DJ
24/2/2003; EREsp 332.655-MA, DJ 22/8/2005, e EDcl nos EREsp 174.291-DF,
DJ 25/6/2001.EDcl nos EDcl no REsp 1.194.889-AM, Rel. Min. Humberto
Martins, julgados em 1º/3/2011.

24.3.13. Embargos de Declaração em Decisão Monocrática (Descabimento) – Conversão em


Agravo Regimental
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE NEGA ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO OU TUTELA
DE URGÊNCIA A AGRAVO DE INSTRUMENTO. NÃO CABIMENTO.
CONHECIMENTO DO RECURSO COMO AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL
CIVIL. RECURSO. RAZÕES QUE NÃO ATACAM COM ESPECIFICIDADE OS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO RECORRIDA. INADMISSIBILIDADE.
LEGIMITIMIDADE DE PARTE. ADVOGADO. AÇÃO CAUTELAR. TUTELA DE
URGÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE DA TESE ARGUIDA. DENSA
PROBABILIDADE DE CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO RECURSO
AUSENTES. AGRAVO DE INSTRUMENTO QUE FOI OBJETO DE DECISÃO
MONOCRÁTICA. CONFIRMAÇÃO PELO COLEGIADO. Nos termos da
orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal, não cabe recurso de
embargos de declaração interposto de decisão monocrática. Embargos de
declaração, com efeitos modificativos, conhecidos como agravo
regimental. [...]

(STF, AC-MC-ED 1511, JOAQUIM BARBOSA, STF)

PROCESSUAL CIVIL. DECISÃO MONOCRÁTICA. EMBARGOS DECLARATÓRIOS.


PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. RECEBIMENTO COMO AGRAVO
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INTERNO. DESNECESSIDADE DE INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE


INCONSTITUCIONALIDADE. RESERVA DE CLÁUSULA DE PLENÁRIO. SÚMULA
VINCULANTE N. 10. INEXISTÊNCIA, IN CASU, DE DECLARAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE. PREQUESTIONAMENTO DE MATÉRIA
CONSTITUCIONAL POR EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
ADMINISTRATIVO. HOMOLOGAÇÃO DE CERTIFICADO. CURSO DE VIGILANTE.
INQUÉRITO POLICIAL EM CURSO. PROFISSIONAL INDICIADO
CRIMINALMENTE. POSSIBILIDADE DE REGISTRO. AUSÊNCIA DE
ANTECEDENTES CRIMINAIS. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. MAGISTÉRIO
JURISPRUDENCIAL DO STF E DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Admite-se o recebimento de embargos declaratórios opostos à decisão
monocrática do relator como agravo interno, em atenção aos princípios da
economia processual e da fungibilidade recursal. [...]

(STJ, EERESP 200901299391, MAURO CAMPBELL MARQUES, STJ - SEGUNDA


TURMA, DJE DATA:08/02/2011.)

MANDADO DE SEGURANÇA. ATO JUDICIAL. HIPÓTESE EXCEPCIONAL DE


CABIMENTO NÃO CONFIGURADA. INDEFERIMENTO DA INICIAL. DECISÃO
MONOCRÁTICA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO
REGIMENTAL.

Conforme entendimento jurisprudencial dominante, não é cabível a


oposição de embargos de declaração de decisão monocrática do relator,
admitindo-se, no entanto, o seu recebimento como agravo regimental, em
observância ao princípio da fungibilidade. Precedentes. Maioria

(TRF1, Corte Especial, MS 0032764-25.2010.4.01.0000/MG, rel. Des. Federal


Daniel Paes Ribeiro, em 02/02/2012.)

TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS


ADVOCATÍCIOS. CABIMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO ADMITIDOS COMO AGRAVO INTERNO. DESPROVIMENTO. 1.
[...] 2. Inicialmente, é de se ressaltar que são inadmissíveis os Embargos
Declaratórios que ataquem decisão monocrática do Relator, aderindo a
entendimento já consagrado pelo E. Supremo Tribunal Federal, no
seguinte sentido: “É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que
não cabem embargos declaratórios contra decisão monocrática, devendo
esses embargos, quando possível – e é o caso -, ser conhecidos como
agravo regimental” [...]

(TRF2, AC 200351030006441, Desembargadora Federal SANDRA CHALU


BARBOSA, TRF2 - TERCEIRA TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R -
Data::04/05/2011 - Página::246.)

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DIREITO ADMINISTRATIVO. DECISÃO


MONOCRÁTICA DO RELATOR. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS
COMO AGRAVO REGIMENTAL. PRINCÍPIOS DA ECONOMIA PROCESSUAL E
FUNGIBILIDADE RECURSAL. MANDADO DE SEGURANÇA. SINDICATO. PEDIDO
DE FORNECIMENTO DE LISTA COM DADOS COMPLETOS DOS PROFISSIONAIS

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INSCRITOS NO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. FALTA DE


INTERESSE DE AGIR. PROCESSO EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
SENTENÇA CONFIRMADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Devem
ser recebidos como agravo regimental os embargos de declaração
interpostos contra decisão do relator, proferida com base no art. 557, do
CPC, em homenagem aos princípios da economia processual e da
fungibilidade recursal. 2. Precedentes dos Tribunais Superiores e desta
Corte. [...]

(TRF3, AMS 00392511019984036100, DESEMBARGADORA FEDERAL SALETTE


NASCIMENTO, TRF3 - QUARTA TURMA, TRF3 CJ1 DATA:01/12/2011
..FONTE_REPUBLICACAO:.)

24.4. Embargos Infringentes (arts. 530 a 534)

24.4.1. Hipóteses de Cabimento – O Requisito da Dupla Conformidade


Inicialmente, há que se ressaltar que o EI não recebe mais a denominação de embargos de
nulidade. Também é absolutamente incabível o EI no processo de MS, ainda que se trate de
julgamento não unânime de apelação. Trata-se do teor das súmulas 169 do STJ e 597 do STF,
incorporado à nova lei do MS (Lei nº 12.016/09).

De acordo com o art. 530, CPC, cabe EI quando:

a) Acórdão não unânime HOUVER REFORMADO, em grau de apelação, a sentença de


mérito;

b) Acórdão não unânime houver julgado procedente ação rescisória

Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto da divergência.

Assim, não caberá EI contra acórdão que:

a) Não conhecer da apelação;

b) Conhecer da apelação para anular a sentença (já que deverá ser prolatada outra
sentença);

c) Conhecer da apelação para manter a sentença, ainda que de forma não unânime;

d) Apreciar a sentença terminativa (que não julga o mérito), seja para mantê-la ou
reformá-la;

e) Não admitir a ação rescisória;

f) Julgar improcedente o juízo nela formulado, confirmando o pronunciamento judicial


rescindendo;

g) Julgar procedente a ação rescisória por meio de acórdão unânime.

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Assim, vê-se que a manutenção de qualquer sentença pelo acórdão inviabiliza a interposição
de EI, ainda que o acórdão não tenha sido unânime. Trata-se do critério da dupla
conformidade, expresso na existência de duas decisões em sentidos diversos.

Além de se exigir que a sentença examinada tenha apreciado o mérito, é necessário que o
acórdão não unânime a tenha reformado, ainda que parcialmente.

Ademais, a divergência entre os votos vencidos e vencedores deve ser clara, não podendo ser
mínima, tratando apenas de questões periféricas. Se não houver clareza suficiente na
divergência apta a demonstrar o requisito dos infringentes, esse não será cabível. Porém,
perfeitamente lícito que a clareza não presente no voto seja trazida por intermédio de
embargos de declaração. Nesse sentido:

DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


VIOLAÇÃO AO ART. 535, II, DO CPC. NÃO-OCORRÊNCIA. APELAÇÃO E
REMESSA NECESSÁRIA PROVIDAS PARCIALMENTE, POR MAIORIA.
EMBARGOS INFRINGENTES. NECESSIDADE DE OPOSIÇÃO DE EMBARGOS
DECLARATÓRIOS PRÉVIOS PARA SE IDENTIFICAR A EXTENSÃO DO VOTO
VENCIDO. DISSÍDIO JURIPRUDENCIAL NÃO-COMPROVADO. AUSÊNCIA DE
SIMILITUDE ENTRE OS ACÓRDÃOS CONFRONTADOS. RECURSO CONHECIDO
E IMPROVIDO.

1. Tendo o Tribunal de origem se pronunciado de forma clara e precisa


sobre as questões postas nos autos, assentando-se em fundamentos
suficientes para embasar a decisão, não há falar em afronta ao art. 535, II,
do CPC.

2. Havendo omissão no acórdão recorrido quanto à extensão do voto


vencido, que impeça inferir se a divergência diz respeito à parte do
acórdão que reformou a sentença ou, em contrário, acerca da parte que a
confirmou, a oposição de embargos declaratórios torna-se condição sine
quo non para a oposição de embargos infringentes.

3. Dissídio jurisprudencial não-comprovado, em face da ausência de


similitude fática entre os acórdãos confrontados.

4. Recurso especial conhecido e improvido.

(STJ, REsp 1050427/CE, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA


TURMA, julgado em 15/10/2009, DJe 16/11/2009)

24.4.2. Cabimento dos Embargos Infringentes Apenas de Acórdão de Mérito que Julgar
Apelação
Na verdade, a definição legal mais correta deveria dispor que o acórdão deve, também,
apreciar o mérito. Isso porque a sentença de mérito poderá ser reformada por um acórdão
terminativo, o qual tem efeito substitutivo sobre a sentença, v.g., quando ela julga haver
ilegitimidade da parte. Nesse caso, não cabe EI, já que a demanda poderá ser renovada.

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Porém, PODE HAVER CASO DE UMA SENTENÇA TERMINATIVA SER REFORMADA POR
UM ACÓRDÃO QUE ADENTRA NO MÉRITO. Nesse caso, sendo ele não unânime, é
permitida a interposição do EI, como ocorre no caso do art. 515, § 3º.

Nesse sentido:

EMBARGOS INFRINGENTES. SENTENÇA TERMINATIVA.MÉRITO.

A recorrida ajuizou ação declaratória de inexistência de dívida,


cancelamento de protesto e indenização por danos morais contra o banco
recorrente e uma sociedade empresária. O juiz julgou parcialmente
procedente a ação em relação à sociedade empresária, mas, quanto ao
recorrente, julgou extinto o processo sem julgamento de mérito, diante da
ilegitimidade de parte. O TJ deu provimento ao apelo da recorrida ao
reconhecera legitimidade da recorrente, contudo passou a analisar a
existência de sua culpa, concluindo haver sua responsabilidade. Vêm daí os
embargos infringentes, rejeitados pelo TJ ao fundamento de que não houve
reforma do mérito da sentença proferida. Nesse contexto, vê-se que nem
sempre é terminativo o acórdão que julga a apelação contra a sentença
terminativa; pois, nos casos de extinção do processo sem julgamento de
mérito (art. 267 do CPC), o tribunal pode julgar desde logo a lide se a causa
tratar exclusivamente de questão dedireito e estiver pronta para julgamento
(art. 515, § 3º, do citado codex). Assim, é possível o acórdão referente à
apelação de sentença terminativa adentrar o mérito e produzir coisa
julgada material, a impedir a repetição em juízo de mesma pretensão. Se o
mérito é julgado somente pelo TJ, não há como aplicar o critério da dupla
sucumbência (o vencido em julgamento não unânime de apelação não terá
direito a embargos infringentes se é vencido também na sentença). Dessa
forma, o regramento do art. 530 do referido código deve sofrer
interpretação harmoniosa e sistemática com os outros artigos,
especialmente com o § 3º do art. 515, a permitir a admissão de embargos
infringentes contra acórdão que, por maioria, reforma a sentença
terminativa e analisa o mérito da ação. Se o magistrado realizar cognição
profunda sobre as alegações apresentadas na petição após esgotados os
meios probatórios, é certo que terá, em verdade, proferido juízo sobre o
mérito (teoria da asserção). Daí que se mostra sem influência a qualificação
ou nomen iuris que se atribui ao julgado, seja na fundamentação seja na
partedispositiva, porque a natureza da sentença (de mérito ou processual) é
definida por seu conteúdo. Na hipótese, quanto ao recorrente, entende-se
como de mérito a sentença, o que propicia o cabimento dos embargos
infringentes. Precedente citado: REsp 832.370-MG, DJ 13/8/07. (REsp
1.194.166-RS, Rel.Min. Nancy Andrighi, 3ª T., 28/9/10).

24.4.3. Embargos Infringentes em Ação Rescisória


A ação rescisória desencadeia o exercício de três juízos:

a) Admissibilidade: tribunal verifica se realmente é cabível a ação rescisória;

b) Juízo rescindente: será decidido se deve ou não ser desconstituída a coisa julgada;
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c) Juízo rescisório: promove-se um novo julgamento da causa.

Somente cabe EI se julgada procedente, por maioria de votos, a ação rescisória. Logo, se ela
não for admitida, ou sendo, for improcedente, não cabe o juízo infringente.

Logo, deve ter havido a desconstituição da ação rescisória, modificando a situação anterior.

24.4.4. Situações Polêmicas

24.4.4.1. Reexame Necessário


O cabimento de EI em remessa de ofício é controverso. Para Didier, deveria ser cabível. Porém,
o STJ já pacificou o seu entendimento:

Súmula 390, STJ: “Nas


decisões por maioria, em reexame necessário, não se
admitem embargos infringentes”. Essa orientação tem sido mantida:
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. MODIFICAÇÃO
DA SENTENÇA DE MÉRITO. DECISÃO NÃO-UNÂNIME PROFERIDA EM SEDE
DE REMESSA NECESSÁRIA. EMBARGOS INFRINGENTES. NÃO-CABIMENTO.
1. Não são cabíveis os embargos infringentes contra acórdão proferido em
sede de remessa ex officio, tendo em vista que o duplo grau de jurisdição
obrigatório tem o seu estatuto processual próprio, distinto do recurso
voluntário de apelação, não devendo, portanto, serem aplicadas normas
referentes à apelação ao reexame necessário.
2. A regra inserta no art. 530 do Código de Processo Civil, com a nova
redação dada pela Lei n.º 10.352/2001, deve ser interpretada
restritivamente, em consonância com a inequívoca intenção do legislador
de restringir o cabimento dos embargos infringentes, adstritos à
impugnação de acórdãos proferidos em apelação ou ação rescisória.
Precedentes.
3. Recurso especial provido.
(STJ, REsp 925.084/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 17/09/2009, DJe 26/10/2009)

24.4.4.2. Embargos Infringentes em Embargos de Declaração


Caberão EI contra acórdãos que julgarem ED, desde que:

a) Os ED tenham sido interpostos contra acórdão proferido em apelação ou ação


rescisória;

b) Os demais pressupostos de cabimento do EI sejam preenchidos.

O entendimento do STJ é no sentido de que são cabíveis EI de acórdão não unânime, prolatado
em sede de ED, uma vez que tais embargos constituem uma complementação do acórdão de
apelação, incorporando-se a este. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM


AÇÃO RESCISÓRIA. VOTO-VENCIDO DE CUNHO FORMAL. DESCABIMENTO DE
EMBARGOS INFRINGENTES. NOVEL REDAÇÃO DO ARTIGO 530 DO CPC.

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1. Os embargos de declaração integram o acórdão recorrido, de sorte que,


EM NÃO SENDO UNÂNIME A VOTAÇÃO DOS MESMOS, CONSIDERA-SE O
RECURSO ORIGINÁRIO ACLARADO DECIDIDO POR MAIORIA.

2. Deveras, o recurso decidido por maioria com a integração dos embargos


de declaração improvidos de forma não unânime apenas DESAFIAM OS
EMBARGOS INFRINGENTES SE REFORMADA A DECISÃO DA APELAÇÃO OU
DA AÇÃO RESCISÓRIA na novel definição da Lei 10.352, de 26 de dezembro
de 2001.

3. O voto divergente integrativo dos embargos de declaração enseja, em


princípio, o cabimento dos embargos infringentes, salvo se o seu conteúdo
for de nítido caráter formal, não adentrando "conclusivamente" no
meritum causae.

4. Consequentemente, não restou violado o novel artigo 530 do Código de


Processo Civil, cuja dicção é inequívoca no sentido de que cabem embargos
infringentes quando o acórdão não unânime houver reformado, em grau de
apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação
rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria
objeto da divergência.

5. Recurso especial desprovido.

(STJ, REsp 997.336/PR, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, Rel. p/ Acórdão


Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/04/2008, DJe
05/06/2008)

24.4.4.3. Embargos Infringentes em Julgamento de Agravo


Caso o agravo retido seja julgado, por maioria dos votos, para, uma vez provido, modificar
matéria de mérito, não há razão para não se permitir o EI. Nesse sentido:

Súmula 255, STJ; “Cabem embargos infringentes contra acórdão, proferido por maioria, em
agravo retido, quando se tratar de matéria de mérito”.

Ademais, a doutrina ainda cita um exemplo específico de cabimento de embargos infringentes


em agravo retido. É o caso em que o juiz, em decisão interlocutória, rejeita a tese de
prescrição e a parte interpõe agravo retido. Nesse caso, o agravo é reiterado em preliminar,
por ocasião da apelação. Se o agravo retido for provido, por maioria, para reformar sentença e
reconhecer a prescrição, cabem embargos infringentes. Se agravo retido for improvido, não
cabem infringentes.

Também entende a doutrina que são admissíveis embargos infringentes contra acórdão não
unânime proferido em sede de agravo de instrumento, quando for decidida matéria de
mérito (por exemplo, no caso em que o Tribunal, apreciando agravo de instrumento, extingue
o feito, com julgamento do mérito por maioria, acolhendo a prescrição). Nesse sentido:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO


CONFIGURADO.

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1. O aresto embargado e o paradigma da Corte Especial adotam a mesma


tese, qual seja, a de que cabem embargos infringentes contra decisão
prolatada no âmbito de agravo de instrumento quando houver julgamento
de mérito, inexistindo a divergência.

2. Em sede de embargos de divergência não é possível desconstituir a


premissa adotada pelo acórdão embargado, no caso, a de que se tratava de
questão de fundo a enfrentada pelo acórdão do agravo de instrumento, sob
pena de se rejulgar o recurso especial.

3. A finalidade dos embargos de divergência é uniformizar a jurisprudência


do Superior Tribunal de Justiça em sede de recurso especial, não tendo por
escopo corrigir eventual equívoco cometido ou realizar novo julgamento das
questões já apreciadas pelo acórdão recorrido.

4. Embargos de divergência não conhecidos no tocante ao paradigma da


Corte Especial, redistribuindo-se o feito no âmbito da Segunda Seção.

(STJ, EREsp 163.239/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, Rel. p/ Acórdão Ministro
PAULO GALLOTTI, CORTE ESPECIAL, julgado em 04/02/2009, DJe
05/03/2009)

24.4.4.4. Cabimento de Embargos Infringentes em Acórdão “Terminativo” pela Teoria da


Asserção
Como visto, os embargos infringentes somente serão cabíveis se o acórdão reformar, por
maioria, sentença de mérito. O STJ, entretanto, trouxe um interessante julgado pelo qual, em
coerência com a teoria da asserção, seriam cabíveis os infringentes quando o acórdão
reformar a sentença para extinguir a ação sem exame do objeto principal da demanda.

O caso foi o seguinte: o juiz singular julgou procedentes os pedidos da demanda afastando a
preliminar de ilegitimidade passiva e adentrando no mérito. O Tribunal, em julgamento de
apelação e por maioria, reformou a sentença e extinguiu o processo sem julgamento de mérito
em função da ilegitimidade passiva do apelado.

De acordo com a Teoria da Exposição, o Tribunal teria prolatado um acórdão sem exame do
mérito, terminativo, que não desafiaria embargos infringentes. Porém, como o STJ adota a
Teoria da Asserção, entende esta Corte que o juiz, ao afastar preliminares, o faz com base em
análise de provas, com profundidade, emitindo um juízo definitivo sobre o tema. O Tribunal,
igualmente, ao dar provimento à apelação para extinguir por ilegitimidade passiva o processo,
teria prolatado um acórdão de mérito, motivo pelo qual cabíveis os infringentes. Eis a ementa
do julgado:

EMBARGOS INFRINGENTES. MATÉRIA FORMALMENTE PROCESSUAL.


TEORIA DA ASSERÇÃO.

A Turma decidiu que cabem embargos infringentes contra acórdão que, por
maioria, acolhe preliminar de ilegitimidade passiva e reforma sentença para
extinguir a ação sem julgamento do mérito. Assim, em respeito ao devido
processo legal, o art. 530 deve ser interpretado harmoniosa e

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sistematicamente com o restante do CPC, admitindo-se embargos


infringentes contra decisão que, a despeito de ser formalmente processual,
implicar análise de mérito. Para a Min. Relatora, adotando a teoria da
asserção, se, na análise das condições da ação, o juiz realizar cognição
profunda sobre as alegações contidas na petição, depois de esgotados os
meios probatórios, terá, na verdade, proferido juízo sobre o mérito da
controvérsia. Na hipótese, o juiz de primeiro grau se pronunciou acerca da
legitimidade passiva por ocasião da prolação da sentença, portanto depois
de toda a prova ter sido carreada aos autos. REsp 1.157.383-RS, 3T, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/8/2012.

Eis o voto da Ministra Relatora:

A atual redação da norma, conferida pela Lei nº 10.352/01, passou a fazer


referência expressa à reforma de “sentença de mérito”, de sorte que, uma
análise isolada e apriorística do dispositivo legal indica a intenção – ao
menos aparente – do legislador, de excluir do rol de acórdãos suscetíveis de
embargos infringentes aqueles em que sejam proferidas decisões
terminativas.

Argumentar-se-ia, nesse sentido, que, a teor do que estabelece o art. 268 do


CPC, o trânsito em julgado de uma decisão terminativa não impede a parte
de retornar a juízo com igual pretensão, instaurando um novo processo,
motivo pelo qual não haveria nenhuma violação do direito de acesso à
justiça, tampouco negativa de prestação jurisdicional.

Há de se ter em mente, no entanto, que em se tratando de condições da


ação, não obstante a matéria seja formalmente considerada processual, ela
na prática pode envolver a análise do próprio mérito da controvérsia. Diante
disso, assume relevo a teoria da asserção, que ganha expressão na doutrina,
secundada por juristas como Ada Pellegrini Grinover e Kazuo Watanabe.
Para os adeptos dessa teoria, como é o caso também de José Roberto dos
Santos Bedaque, na análise das condições da ação “se o juiz realizar
cognição profunda sobre as alegações contidas na petição, após esgotados
os meios probatórios, terá, na verdade, proferido juízo sobre o mérito da
questão” (Direito e Processo, São Paulo: RT, 1995, p. 78).

Em outras palavras, sempre que a relação existente entre as condições da


ação e o direito material for estreita ao ponto da verificação da presença
daquelas exigir a análise desta, haverá exame de mérito. Ainda que
tacitamente, a teoria assertista encontra respaldo em julgados desta Corte,
nos quais entendeu-se que a decisão acerca das condições da ação implicou
numa sentença de mérito. Confira-se, nesse sentido, os seguintes
precedentes: [...]

Assim, em respeito ao devido processo legal, o art. 530 deve ser


interpretado harmoniosa e sistematicamente com o restante do CPC,
admitindo-se embargos infringentes contra decisão que, a despeito de ser
formalmente processual, implicar análise de mérito.

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Essa exegese se faz necessária inclusive para fazer valer a vontade do


próprio legislador que, na justificativa do projeto da Lei nº 10.352/01,
afirmou somente ser conveniente manter os embargos infringentes quando
“a divergência tenha surgido em matéria de mérito, não simplesmente em
tema processual”.

No que tange especificamente à legitimidade ad causam , sua verificação


invariavelmente exige a análise da lide em concreto, havendo enorme
dificuldade prática em separar tal questão do mérito da causa. Ainda que se
admita o exame da legitimidade in statu assertiones , muitas vezes é no
curso do processo que se chega à efetiva decisão sobre tal condição da ação,
importando, desse feita, na análise da relação jurídica de direito material.

Na espécie não foi diferente. Verifica-se que o Juiz de primeiro grau de


jurisdição somente se pronunciou acerca da legitimidade passiva por
ocasião da prolação da sentença, depois de toda a prova ter sido carreada
aos autos.

Também o TJ/RS, ao reformar por maioria a sentença, concluindo pela


extinção do processo em relação ao banco com fulcro no art. 267, VI, do
CPC, foi obrigado a se imiscuir no próprio mérito da ação, notadamente a
efetiva participação da instituição financeira no resultado danoso.

Note-se, por oportuno, que a natureza da decisão, se processual ou de


mérito, é definida por seu conteúdo e não pela mera qualificação ou nomen
juris atribuído ao julgado, seja na fundamentação ou na parte dispositiva.
Portanto, também sob esse prisma, entendida como de mérito a parte da
sentença que extinguiu a ação em relação à instituição financeira recorrida,
indiscutível o cabimento dos embargos infringentes.

Patente, pois, a necessidade de retorno dos autos à origem para que o TJ/RS
prossiga no julgamento dos embargos infringentes.

24.4.5. Efeitos dos Embargos Infringentes


Efeito devolutivo, restrito, contudo, ao objeto da divergência. Logo, se a divergência for
parcial, os EI se restringem ao reexame da matéria que foi alvo de dissidência no julgamento
originário.

Efeito suspensivo, quando interposto contra acórdão que julgar a ação rescisória.

Em relação à apelação, o EI somente terá efeito suspensivo caso a própria apelação tenha sido
recebida no efeito suspensivo.

24.4.6. Embargos Infringentes e a Ausência de Declaração do Voto Vencido


É direito da parte conhecer os fundamentos do voto vencido. Caso o voto divergente não
tenha fundamento, deve-se considerar que a divergência foi total, cabendo o EI contra todo o
teor da decisão.

Se o julgamento não unânime reformador de mérito da apelação ou rescisória não contiver a


declaração do voto vencido, cabem embargos declaratórios, para ter acesso ao teor do voto
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vencido. Se mesmo depois dos embargos de declaração o voto vencido não for obtido, cabem
embargos infringentes, considerando que a divergência foi total.

24.4.7. Razões de Decidir nos Embargos Infringentes


Não importa o fundamento utilizado para se chegar a cada uma das conclusões no voto
vencido; o que é relevante para a interposição do EI é a conclusão de cada voto. Assim, ao
julgar os embargos infringentes, o Tribunal poderá analisar todos os fundamentos do pedido,
independentemente dos fundamentos do voto vencido, ante a profundidade do efeito
devolutivo (acepção vertical).

Porém, se em relação a um pedido havia uma pluralidade de causas de pedir, não é possível,
em sede de EI, julgá-lo procedente por qualquer das outras se o acolhimento foi fundado em
apenas uma. A causa de pedir não se confunde com o fundamento do voto vencido,
evidentemente. Exemplo: pedido X tinha como fundamentos causas de pedir A, B, C e D.
Acórdão, em sede de apelação, julgou procedente o pedido de reforma da sentença, que
acolheu todas as causas de pedir. Voto vencido sustentou a decisão original apenas com
fundamento na causa de pedir D. Logo, o fundamento da decisão dos embargos infringentes
deverá se ater à divergência, que é a causa de pedir D, já que no resto houve unanimidade.

24.4.8. Procedimento dos Embargos Infringentes


O EI deve ser interposto no prazo de 15 dias e contra-arrazoado no mesmo prazo, seguindo os
autos conclusos ao relator do acórdão embargado para o exercício do juízo de admissibilidade.
Assim, deve-se dirigir o recurso ao relator. É possível a interposição de EI adesivo, se houver
sucumbência recíproca.

Segundo Didier, o relator dos embargos infringentes não poderá, aplicando o art. 557
(contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante de tribunal superior), julgar
monocraticamente os embargos infringentes (sob pena de ele sozinho se sobrepor à decisão
do colegiado). Necessariamente, o mérito dos embargos infringentes será apreciado pelo
colegiado. O que o relator pode fazer é examinar monocraticamente a admissibilidade dos
infringentes (não o mérito).

O processamento do EI terá um revisor. Ver tópico sob a ordem dos processos nos tribunais.

24.4.9. Embargos Infringentes e o Prazo para os Recursos Extraordinários


Se o acórdão tiver parte unânime e parte não unânime, a parte sucumbente não poderá
interpor desde já o REsp e o RE antes de findo o prazo do EI, ficando ele sobrestado até o
momento da intimação do acórdão que julgar os embargos infringentes. E se não for
interposto o EI?

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ALEGAÇÃO DE


INTEMPESTIVIDADE DO RECURSO. NÃO INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS
INFRINGENTES CONTRA A PARTE NÃO UNÂNIME DO ACÓRDÃO. INÍCIO DO
PRAZO PARA A INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ESPECIAL CONTRA A PARTE
UNÂNIME DA DECISÃO.

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1.- Quando o dispositivo do Acórdão contiver julgamento por maioria de


votos e julgamento unânime e não forem interpostos embargos
infringentes, o prazo relativo à parte unânime da decisão terá como dia de
início aquele em que transitar em julgado a decisão por maioria de votos.

2.- Agravo Regimental improvido.

(AgRg no AgRg no AgRg no REsp 1251921/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI,


TERCEIRA TURMA, julgado em 28/02/2012, DJe 13/03/2012)

Entretanto, a parte que interpôs o EI pode e deve, desde já, interpor REsp e RE contra o
capítulo unânime, sob pena de formação da coisa julgada.

Logo, em sendo o acórdão não unânime, a parte terá 30 dias (15 do EI + 15 do REsp e RE) para
a interposição dos recursos extraordinários, contados da intimação do acórdão que julgar a
apelação ou a ação rescisória.

Porém, se os recursos excepcionais tiverem sido interpostos após o prazo de 15 dias, por ter
sido interposto embargo infringente, mas esse for considerado não cabível, aqueles deverão
ser tidos por intempestivos, de acordo com o STJ:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. EMBARGOS INFRINGENTES NÃO CONHECIDOS PELO TRIBUNAL
ESTADUAL. NÃO INTERRUPÇÃO DE PRAZO RECURSAL. RECURSO
INTEMPESTIVO. SEGUIMENTO NEGADO. AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. "Os embargos infringentes incabíveis não interrompem o prazo para a


interposição do recurso especial, motivo pelo qual, não conhecidos
aqueles, deve ser reconhecida a intempestividade deste último" (AgRg no
Ag 1.295.106/MG).

2. Agravo regimental não provido.

(STJ, AgRg no REsp 1053521/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,


PRIMEIRA TURMA, julgado em 22/03/2011, DJe 07/04/2011)

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS INFRINGENTES. NÃO-CONHECIMENTO.


PRAZO RECURSAL. INTERRUPÇÃO OU SUSPENSÃO.

1. A jurisprudência desta Corte consolidou a orientação de que os


embargos infringentes, quando não conhecidos, não suspendem ou
interrompem o prazo para a interposição do recurso especial.

2. Agravo regimental não provido.

(STJ, AgRg no REsp 1215685/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA


TURMA, julgado em 07/12/2010, DJe 14/02/2011)

Isso, no entanto, somente ocorre se os EI forem manifestamente incabíveis, como no caso de


acórdão que reforma sentença em mandado de segurança (vedação legal). A razão dessa

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vedação é obstar que a parte se valha de recurso somente para aumentar o prazo recursal do
recurso excepcional.

É prematura a interposição de REsp antes do julgamento dos EI, momento em que ainda não
está esgotada a instância ordinária. Se isso ocorrer, o REsp/RE deverá ser posteriormente
ratificado, sob pena de ser tido por intempestivo.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.


RECURSO ESPECIAL PREMATURO. INTERPOSIÇÃO ANTERIOR AO
JULGAMENTO DOS EMBARGOS INFRINGENTES. RATIFICAÇÃO POSTERIOR
INTEMPESTIVA. NÃO EXAURIMENTO DA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. SÚMULA N.
418-STJ. IMPROVIMENTO.

I. Estando pendente o julgamento dos embargos infringentes, é inoportuna


a interposição do recurso especial, vez que não houve o necessário
exaurimento da instância.

II. Não cabe ao STJ reexaminar de ofício pressupostos de admissibilidade de


recurso anterior à interposição do especial.

III. A ratificação do inconformismo apresentado prematuramente deve


ocorrer no prazo recursal assinado na lei processual, após o esgotamento
da instância ordinária.

IV. "É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do


acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação" (Súmula
n. 418-STJ).

V. Agravo regimental a que se nega provimento.

(STJ, AgRg no Ag 1056581/MG, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR,


QUARTA TURMA, julgado em 18/11/2010, DJe 01/12/2010)

PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO NA ANÁLISE


DE ALEGAÇÃO DA DEFESA. CASO. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ESPECIAL
QUANTO À PARTE UNÂNIME DO JULGADO QUANDO PENDENTE O
JULGAMENTO DOS EMBARGOS INFRINGENTES. AUSÊNCIA DE REITERAÇÃO.
RECURSO ESPECIAL INTEMPESTIVO. EMBARGOS ACOLHIDOS SEM EFEITOS
MODIFICATIVOS.

1. O art. 498, do Código de Processo Civil, estabelece que ficam


sobrestados os prazos para interposição de recurso especial ou
extraordinário quando forem oferecidos embargos infringentes CONTRA A
PARTE NÃO UNÂNIME do acórdão vergastado.

2. Na espécie, mostra-se intempestivo o recurso especial interposto antes


do julgamento dos embargos infringentes sem que tenha sido feita a
devida reiteração das razões do apelo nobre, mesmo que se recorra, no
especial, da parte unânime do aresto objurgado.

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3. Aclaratórios acolhidos sem efeitos modificativos, apenas para integrar o


acórdão embargado.

(STJ, EDcl no AgRg no Ag 997.079/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA


TURMA, julgado em 17/06/2010, DJe 28/06/2010)

24.5. Recurso Ordinário Constitucional (art. 539 a 540)

24.5.1. Generalidades
Como o próprio nome diz, trata-se de um recurso ordinário, só que dirigido ao STF/STJ, que
exercerão competência recursal sem qualquer limitação em relação à matéria fática. Os
tribunais superiores funcionarão como segundo grau de jurisdição, dispensado o
prequestionamento.

24.5.1.1. Efeitos da Interposição


Assemelha-se em tudo à apelação, conforme art. 540 do CPC. Em regra, tem o recurso
ordinário efeito devolutivo amplo. Assim, a cognição (em extensão) do tribunal superior fica
limitada ao objeto da impugnação no recurso, sendo viável, todavia, que, em profundidade,
se conheçam de todos os fundamentos atinentes à matéria, assim como acontece com a
apelação.

Também podem ser deduzidos fatos novos em casos excepcionais, podendo ainda o tribunal
conhecer das matérias que lhe tocariam examinar de ofício, em qualquer tempo ou grau de
jurisdição (efeito translativo).

Contra os acórdãos denegatórios de MS caberá recurso ordinário, sem efeito suspensivo.

24.5.2. Recurso Ordinário para o STF (art. 539, I)


Tem como objeto as decisões denegatórias, em única instância, proferidas em tribunais
superiores, em:

a) MS;

b) HD;

c) Mandado de injunção.

É recurso secundum eventum litis, que só pode ser utilizado se a decisão for denegatória,
mesmo que somente em relação a alguns capítulos da sentença. Deve ser interposto no prazo
de 15 dias.

Cabe contra qualquer decisão denegatória, ainda que extinga o processo sem o julgamento de
mérito.

Súmula 272, STF: “Não se admite como recurso ordinário, recurso extraordinário de decisão
denegatória de MS”. Isso porque o STF entende que há erro grosseiro, não justificando a
fungibilidade recursal.

Não há/não cabe no Recurso Ordinário:


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a) Embargos infringentes contra acórdão não unânime que o julga, reformando decisão
anterior;

b) Interposição adesiva;

c) Revisor.

Há juízo de admissibilidade, já que o recurso é interposto perante o Presidente ou Vice do


tribunal recorrido, o qual poderá aplicar o art. 515, § 3º, não o admitindo se estiver em
desconformidade com súmula do STF ou STJ ou jurisprudência dominante.

24.5.3. Recurso Ordinário para o STJ (art. 539, II)

24.5.3.1. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança


Cabível contra decisões denegatórias em MS proferidas em única instância pelos TRFs ou pelos
TJs, quando for o caso de competência originária deles, no prazo de 15 dias.

Não é cabível contra decisão de turma recursal do Juizado Especial, nem contra acórdão do
TRT ou TRE.

24.5.3.2. Recurso Ordinário em Causas Internacionais


É o recurso cabível contra decisões nas causas em que forem partes, de um lado, estado
estrangeiro ou organismo internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou
domiciliada no país. Nesses casos, a sentença do juiz de primeiro grau poderá ter sido em
qualquer sentido, extintiva, de procedência ou improcedência, total ou parcial.

Estas causas tramitam perante a Justiça Federal de primeira instância, indo o recurso
diretamente ao STJ, sem passar pelo TRF.

Será julgada por uma Turma do STJ, onde todos votam. Nestas causas, cabe agravo das
decisões interlocutórias (art. 539, p. único).

24.6. Recursos Extraordinários – Teoria Geral

24.6.1. Características Gerais


Recursos extraordinários (recursos excepcionais ou de superposição) é gênero do qual são
espécies o recurso extraordinário e o recurso especial. Esses recursos possuem um regime
jurídico parecido, com requisitos comuns.

24.6.2. Recursos de Fundamentação Vinculada


Assim como o embargo de declaração, os recursos excepcionais são de fundamentação
vinculada, já que as hipóteses de cabimento estão previstas na CR/88 (art. 102, III e art. 105,
III).

24.6.3. Recurso Excepcional e Reexame de Prova


O efeito devolutivo destes recursos é restrito, já que só se os admite para controlar a higidez
do direito objetivo, sendo inadmissível o reexame de matéria probatória.

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É preciso, porém, distinguir o recurso excepcional interposto para discutir a apreciação da


prova, que não se admite, daquele que se interpõe para discutir a aplicação do direito
probatório, que é uma questão de direito e, como tal, possível de controle por esse gênero de
recurso.

Assim, é possível o exame de eficácia ou verossimilhança, em tese, de determinado meio de


prova.

24.6.4. Recurso Excepcional e Interpretação de Cláusula Contratual


Não se permite recurso excepcional que objetive o reexame de cláusula contratual, o que
envolveria matéria de fato, já que averiguaria a vontade dos contratantes.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE


ADIMPLEMENTO CONTRATUAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA. REEXAME DE
FATOS.

INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. INADMISSIBILIDADE.

- O reexame de fatos e a interpretação de cláusulas contratuais em recurso


especial são inadmissíveis.

- Agravo no agravo de instrumento não provido.

(STJ, AgRg no Ag 1359265/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA


TURMA, julgado em 07/04/2011, DJe 13/04/2011)

Isso, porém, não se confunde com a qualificação jurídica do contrato, que é matéria de direito
passível de ser analisada por recurso excepcional.

24.6.5. Prequestionamento
Trata-se de exigência obrigatória pela qual se impõe que a questão federal/constitucional
objeto do recurso de superposição tenha sido suscitada/analisada na instância inferior.

Não se trata, porém, de um requisito especial de admissibilidade dos recursos extraordinários.

Trata-se, pois, de etapa no exame de cabimento dos recursos excepcionais, um exame de


tipicidade do texto constitucional.

Preenche-se o prequestionamento com o exame, na decisão recorrida, da questão federal ou


constitucional que se quer ver analisada pelo STJ ou STF.

Há prequestionamento implícito quando o tribunal de origem, apesar de se pronunciar


explicitamente sobre a questão federal controvertida, não menciona explicitamente o texto ou
o número do dispositivo legal com o afrontado. Ele vem sendo admitido pelo STJ:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS-IMPORTAÇÃO. LEI N.


9.317/96. PESSOA JURÍDICA OPTANTE DO SIMPLES NACIONAL. INCIDÊNCIA.
PRECEDENTES.

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1. É uníssona a jurisprudência desta Corte no sentido de que "a adesão ao


SIMPLES não exclui, por si só, a incidência do PIS-Importação e COFINS-
Importação, pois estes tributos foram criados posteriormente à instituição
do benefício. Precedentes: REsp 1.060.145/PE, 1ª T., Min. Francisco Falcão,
DJ de 04.09.2008; REsp 1.039.325/PR, 2ª T., Min. Herman Benjamim, DJe de
13/03/2009. 2. Recurso especial parcialmente provido." (REsp 1.040.640/PR,
Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 11.5.2009).

2. Outrossim, tendo o acórdão recorrido decidido a questão confirmando a


tese de que os optantes do SIMPLES são isentos do recolhimento do
PIS/PASEP e da COFINS na importação, ainda que não tenham sido
apontados expressamente os dispositivos nos quais fundamentou-se o
aresto, RECONHECE-SE O PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO DA MATÉRIA,
conforme admitido pela jurisprudência desta Corte (AgRg no Ag
963.394/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 18.8.2009,
DJe 25.8.2009).

Agravo regimental improvido.

(STJ, AgRg no REsp 1219227/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,


SEGUNDA TURMA, julgado em 15/03/2011, DJe 23/03/2011)

Súmula 320, STJ: “A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao
requisito de prequestionamento”. Ou seja, se a questão federal tiver sido levantada APENAS no
voto vencido, sem sequer ter sido mencionada em algum dos votos vencedores, ainda que de
forma divergente, não há prequestionamento. Essa súmula continua sendo observada no STJ:

PROCESSUAL CIVIL. ART. 535 DO CPC. OMISSÃO NO ACÓRDÃO RECORRIDO.


PRAZO PRESCRICIONAL. INTERRUPÇÃO.

1. Apesar de provocada pela via dos embargos declaratórios, a Corte de


origem não se pronunciou sobre a interrupção do prazo prescricional da
execução com a propositura da ação coletiva. Com efeito, a matéria tida
por violada não foi devidamente prequestionada, uma vez que apenas foi
exposta no voto-vencido do acórdão recorrido. Assim, incidiria o disposto
na Súmula 320 do STJ: "A questão federal somente ventilada no voto
vencido não atende ao requisito do prequestionamento".

2. Caracterizado o vício da omissão, impõe-se o reconhecimento de ofensa


ao art. 535 do CPC, anulando-se o acórdão proferido no julgamento dos
embargos de declaração e determinando-se o retorno dos autos à origem
para que seja sanada a eiva apontada, prejudicada a análise dos demais
tópicos.

3. Recurso especial provido.

(STJ, REsp 1238095/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,


julgado em 07/04/2011, DJe 14/04/2011)

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Logo, o STJ exige que seja interposto embargo de declaração para que algum dos votos
vencedores se pronuncie sobre a questão. Caso mesmo assim não se proceda, a parte deverá
interpor REsp para demonstrar a omissão ilegal do Tribunal a quo e pedir ao STJ que force o
pronunciamento da instância inferior, anulando o acórdão.

O STF adota o mesmo posicionamento, em decorrência da seguinte súmula:

Súmula 282, STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão
recorrida, a questão federal suscitada”. ISSO PORQUE O VOTO VENCIDO NÃO FAZ PARTE DA
DECISÃO RECORRIDA. O recurso recairá sobre o mérito dos votos vencedores, que
determinaram o resultado do julgamento. Nesse sentido:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. VOTO VENCIDO. AUSÊNCIA DE


PREQUESTIONAMENTO. VOTO DE QUALIDADE. FUNDAMENTO EM NORMAS
INFRACONSTITUCIONAIS. IMPOSSIBILIDADE. QUESTÃO DE ORDEM.
REMESSA AO PLENO. INDEFERIMENTO. REGIMENTAL IMPROVIDO. I - O
presquestionamento requer que, na decisão impugnada, haja sido adotada
explicitamente a tese sobre a matéria do recurso extraordinário. II - Se, no
acórdão recorrido, apenas o voto vencido, isoladamente, tratou do tema
constitucional suscitado no RE, não se tem por configurado o
prequestionamento. Precedentes. III - O Tribunal de origem decidiu a
questão relativa ao voto de qualidade com base em normas
infraconstitucionais, o que torna inviável o recurso. IV - Indeferimento de
questão de ordem no sentido de se remeter o caso ao Pleno. V - Agravo
regimental improvido.

(STF, AI 682486 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira


Turma, julgado em 18/12/2007, DJe-047 DIVULG 13-03-2008 PUBLIC 14-03-
2008 EMENT VOL-02311-10 PP-01874 RTJ VOL-00205-02 PP-00935)

Problema relevante é saber se mediante a omissão do acórdão, e interposto embargos de


declaração para supri-la, sem sucesso, para fins de prequestionamento, este restará ou não
caracterizado.

Para o STJ, de acordo com a súmula 211, não haverá prequestionamento, devendo o
recorrente interpor REsp por violação ao art. 535, CPC, para forçar o pronunciamento do
tribunal de origem.

Súmula 211, STJ: “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição
de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo”.

JÁ PARA O STF, ADMITIDO É O PREQUESTIONAMENTO FICTO, AQUELE


OCORRIDO COM A SIMPLES INTERPOSIÇÃO DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. Porém, se não interpostos os embargos de declaração, impossível se querer
ver prequestionada a questão apenas nas razões do recurso excepcional. Nesse sentido:

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Súmula 356, STF: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos
declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do pré-
questionamento”.

DIREITO ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. PRETENSÃO DE REFORMA DO JULGADO: IMPOSSIBILIDADE.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE,
PROPORCIONALIDADE E ISONOMIA. PREQUESTIONAMENTO FICTO:
IMPOSSIBILIDADE. OMISSÃO: INEXISTÊNCIA. 1. Os embargos de declaração
não constituem meio processual cabível para reforma do julgado, não sendo
possível atribuir-lhes efeitos infringentes, salvo em situações excepcionais.
2. A questão constitucional invocada no recurso extraordinário não foi
objeto de debate e de decisão no acórdão recorrido. Desatendido o
pressuposto recursal do prequestionamento, imprescindível para o
conhecimento do apelo extremo. Súmulas STF 282 e 356. 3. Inexistência de
omissão, contradição ou obscuridade a sanar. 4. Embargos de declaração
rejeitados.
(STF, AI 743641 ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado
em 08/02/2011, DJe-039 DIVULG 25-02-2011 PUBLIC 28-02-2011 EMENT
VOL-02472-01 PP-00206)

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO


ESPECÍFICA. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE RECURSAL. SÚMULA 182/STJ.
PREQUESTIONAMENTO FICTO. INAPLICABILIDADE NO STJ. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO CONHECIDO.

I - O agravante deve atacar, de forma específica, os argumentos lançados na


decisão combatida, sob pena de vê-la mantida (Súmula 182/STJ).

II - Em obediência ao princípio da dialeticidade, deve o agravante


demonstrar o desacerto da decisão agravada, não se afigurando suficiente a
impugnação genérica ao decisum combatido. Precedentes.

III - Inaplicável, no STJ, o chamado prequestionamento ficto, entendimento


decorrente da Súmula 356/STF. Precedentes.

IV - Agravo regimental não conhecido.

(STJ, AgRg no REsp 829.083/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO


SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/04/2011, DJe 11/04/2011)

O terceiro recorrente também se sujeita à necessidade de prequestionamento para a


interposição dos recursos excepcionais.

IMPORTANTE: o prequestionamento é requisito para se recorrer. Logo, o recorrido pode


invocar argumento não pré-questionados no acórdão do Tribunal. Bastante esclarecedor o
julgado abaixo:

DIVERGÊNCIA EM MATÉRIA PROCESSUAL. FALTA DE


PREQUESTIONAMENTO PELA PARTE VENCEDORA.

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A Seção, por maioria, entendeu ser possível o conhecimento dos embargos


de divergência, quando caracterizada a divergência entre o acórdão
embargado e o paradigma sobre questão de direito processual civil, mesmo
que não haja similitude fática entre os pressupostos de fato do processo.
Quanto ao grau de devolução do REsp, a Seção aduziu que o STJ pode
apreciar os fundamentos invocados pela parte vencedora na instância de
origem, mas não examinados no acórdão recorrido, que deferiu o pedido
por outro fundamento, sem necessidade de prequestioná-lo, haja vista não
ter interesse processual na interposição de nenhum recurso. Em atenção ao
princípio da eventualidade, a parte vencedora nas instâncias ordinárias pode
suscitar a questão omitida pelo tribunal a quo nas contrarrazões do REsp
interposto pela parte vencida. EREsp 595.742-SC, Rel. originário Min.
Massami Uyeda, Rel. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgados
em 14/12/2011.

24.6.6. Exigência de Prévio Esgotamento das Instâncias Ordinárias


Os recursos excepcionais pressupõem um julgado contra o qual já foram esgotadas as
possibilidades de impugnação nas instâncias ordinárias ou na instância única. Logo, imperioso
é o esgotamento, não podendo a parte deixar, v.g., de interpor apelação para, de imediato,
interpor recurso especial.

Súmula 207, STJ: “É inadmissível REsp quando cabíveis embargos infringentes contra o acórdão
proferido no tribunal de origem”.

Logo, reformada a sentença de mérito por maioria, não se pode interpor, desde logo, o REsp,
já que ainda cabe embargo infringente, não tendo sido esgotada a instância ordinária. Do
mesmo modo a seguinte súmula:

Súmula 281, STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na Justiça de


origem, recurso ordinário da decisão impugnada”.

Assim, caso haja algum recurso que venha a ser julgado monocraticamente pelo relator, é
imprescindível que seja interposto o agravo interno para o cabimento dos recursos
excepcionais, pois somente aí terá havido esgotamento de instância, sendo proferido acórdão.
Mesmo que contra a decisão monocrática a parte venha a interpor embargo de declaração
julgado por acórdão, ainda assim será incabível o extraordinário, pois a parte deixou de
esgotar a instância.

24.6.7. Recurso Extraordinário e Especial Contra Provimento de Urgência


Súmula 86, STJ: “Caberá recurso excepcional contra agravo de instrumento” (acórdão que o
julgue).

PROCESSUAL CIVIL. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. BLOQUEIO DE


VERBAS PÚBLICAS. RECURSO ESPECIAL. IMPUGNAÇÃO DE AGRAVO DE
INSTRUMENTO. POSSIBILIDADE. SÚMULA 86/STJ.

I - Em sendo de última instância a decisão colegiada proferida em sede de


agravo de instrumento, é cabível recurso especial interposto para
impugná-la, nos termos da súmula 86 desta Corte.

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II - Agravo regimental improvido.

(AgRg no REsp 1054530/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 26/08/2008, DJe 04/09/2008)

Porém, quando interpostos contra decisão interlocutória, os recursos excepcionais ficarão


retidos nos autos (art. 542, § 3º).

Art. 542 [...]

§ 3o O recurso extraordinário, ou o recurso especial, quando interpostos


contra decisão interlocutória em processo de conhecimento, cautelar, ou
embargos à execução ficará retido nos autos e somente será processado se
o reiterar a parte, no prazo para a interposição do recurso contra a decisão
final, ou para as contra-razões.

Porém, de acordo com a súmula 735, STF, não


caberá recurso extraordinário
contra acórdão que defere medida liminar. Isso porque tal julgamento terá sido
um juízo de cognição sumária, provisório.

24.6.8. Recurso Extraordinário e Recurso Especial Retidos (art. 542, § 3º)


O RE ou REsp, quando interposto contra decisão interlocutória em processo de conhecimento,
cautelar ou embargos à execução, ficará retido nos autos e somente será processado se o
reiterar a parte, no prazo para a interposição do recurso contra a decisão final, ou para
contrarrazões.

Essa retenção obrigatória visa a evitar que determinados recursos sejam julgados, se a matéria
neles versada deixou de se revelar relevante ou necessária para a parte recorrente.

O STJ, entretanto, admite excepcionalmente a flexibilização dessa regra de retenção nos autos:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO


ESPECIAL RETIDO. ART. 542, § 3º DO CPC.

- A flexibilização da regra do artigo 542, § 3º, do CPC é excepcional e


justifica-se somente nas hipóteses de dano irreparável ou de difícil
reparação.

- Agravo não provido.

(STJ, AgRg no Ag 1332855/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA


TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 18/04/2011)

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL


RETIDO. DESTRANCAMENTO. AUSÊNCIA DO FUMUS BONI IURIS.
IMPOSSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DA REGRA GERAL DO ARTIGO 542,
PARÁGRAFO 3º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

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1. A agravante não trouxe argumentos novos capazes de infirmar os


fundamentos que alicerçaram a decisão agravada, razão que enseja a
negativa do provimento ao agravo regimental.

2. Admite-se o destrancamento do recurso especial, apenas quando a


retenção do apelo possa torná-lo inócuo. Para tanto exige-se um mínimo
de aparência de bom direito (fumus boni iuris) e de demonstração do
perigo na demora (periculum in mora).Destrancar sem justa causa o
recurso retido é transformar em letra morta o Art. 542, § 3º, do CPC. (AgRg
no AgRg no Ag 790.939/RJ, Rel. Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS, DJ
10/09/2007).

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(STJ, AgRg nos EDcl no Ag 1108480/RJ, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em
07/04/2011, DJe 18/04/2011)

Isso, porém, não ocorrerá se a decisão interlocutória for definitiva ou terminativa.

24.6.9. Sistema de Admissibilidade Desdobrado ou Bipartido


É bipartido ou desdobrado pois o recurso de superposição será, primeiro, submetido a um
juízo prévio de admissibilidade perante o Presidente ou Vice do tribunal de origem e, depois, a
um juízo definitivo de admissibilidade perante o tribunal superior.

24.6.10. Permissão de Execução Provisória – Efeito Suspensivo em Recursos Excepcionais


A interposição dos recursos excepcionais não impede a execução provisória do julgado, visto
que eles não possuem efeito suspensivo.

PORÉM, CASO A EXECUÇÃO PROVISÓRIA VENHA A CAUSAR LESÃO


GRAVE OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃO AO RECORRENTE, PODERÁ SER
INTENTADA UMA MEDIDA CAUTELAR PARA DAR EFEITO SUSPENSIVO, A
QUAL SERÁ INTERPOSTA PERANTE O TRIBUNAL SUPERIOR, SE O
PROCESSO NELE SE ENCONTRAR, OU PERANTE O PRESIDENTE OU VICE
DO TRIBUNAL LOCAL, SE AINDA ESTIVER NO JUÍZO PRIMÁRIO DE
ADMISSIBILIDADE.
Súmula 635, STF: “Cabe ao Presidente do tribunal de origem decidir o pedido de medida
cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de admissibilidade”.

Súmula 634, STF: “Não compete ao STF conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a
recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem”.

Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NA MEDIDA CAUTELAR. PROCESSUAL CIVIL. EFEITO


SUSPENSIVO A RECURSO ESPECIAL (EXECUÇÃO FISCAL. AVALIAÇÃO DO BEM.

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DIVERGÊNCIA NAS AVALIAÇÕES REALIZADAS SOBRE O MESMO BEM.


POSSIBILIDADE DE REAVALIAÇÃO.). FUMUS BONI JURIS E PERICULUM IN
MORA. EXISTÊNCIA.

1. A concessão de efeito suspensivo a recurso especial reclama a


demonstração da existência de fumus boni juris, consistente na
plausibilidade do direito alegado, bem como de periculum in mora, que se
traduz na urgência da prestação jurisdicional.

2. Nada obstante, compete ao Tribunal de origem a apreciação de pedido de


efeito suspensivo a recurso especial pendente de admissibilidade, ante a
incidência analógica das Súmulas 634 e 635, do Supremo Tribunal Federal,
verbis: "Não compete ao supremo tribunal federal conceder medida
cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não
foi objeto de juízo de admissibilidade na origem." (Súmula 634/STF) "Cabe
ao presidente do tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em
recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de admissibilidade."
(Súmula 635/STF) 3. Entrementes, em casos excepcionais, o Superior
Tribunal de Justiça tem mitigado a aludida regra, atribuindo efeito
suspensivo a recurso especial pendente de juízo de admissibilidade ou ainda
não interposto, com o escopo de evitar teratologia, ou, ainda, obstar os
efeitos de decisão contrária à jurisprudência pacífica desta Corte
Extraordinária, em hipóteses em que demonstrado o perigo de dano
irreparável ou de difícil reparação

[...]

(STJ, AgRg na MC 17.177/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,


julgado em 14/12/2010, DJe 17/12/2010)

Bem esclarecedor o julgado abaixo acerca da competência para se conceder o efeito


suspensivo:

PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR. OBTENÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO


A RECURSO ESPECIAL. JUÍZO NEGATIVO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO.
TÍTULO JURIDICO ENSEJADOR DA MEDIDA CAUTELAR DESCONSTITUIDO.
AUSÊNCIA DE JURISDIÇÃO DESTA CORTE. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA QUE
JULGOU OS EMBARGOS DECLARATÓRIOS PREJUDICADOS. AGRAVO
REGIMENTAL IMPROVIDO.

1. O Supremo Tribunal Federal sumulou a matéria por meio do verbete n.


635 no sentido de que "cabe ao Presidente do tribunal de origem decidir o
pedido de medida cautelar no recurso extraordinário ainda pendente do seu
juízo de admissibilidade". Assim, infere-se que a atribuição desta Corte
refere-se ao período intermediário que fluirá da interposição até a admissão
do apelo extremo. Proferido juízo negativo de admissibilidade, esgota-se a
função jurisdicional intercalar desta Corte, visto que deliberada a questão da
admissibilidade.

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2. Entendimento do e. STJ no sentido de que, após o juízo de admissibilidade


do recurso especial, instaura-se o poder cautelar do STJ. Com isso, o
Tribunal de origem não mais poderá deliberar sobre o efeito suspensivo
anteriormente concedido ao recurso especial, como objetivado por via de
embargos declaratórios que, ipso facto foram julgados prejudicados, não
havendo fundamento jurídico para a reabertura da questão e deferimento
da medida cautelar no âmbito do recurso regimental.

3. Agravo regimental a que se nega provimento (MCI 0050811-


13.2011.4.01.0000/RO, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ AMILCAR
MACHADO, CORTE ESPECIAL, Publicação 30/04/2012 e-DJF1 P. 38, Data
Decisão 19/04/2012).

24.6.11. O Julgamento dos Recursos Excepcionais e Outras Questões


Se os recursos excepcionais forem interpostos por outro motivo, sendo admitidos, poderá o
STF/STJ, ao julgá-lo, conhecer de oficio ou por provocação todas as matérias que podem ser
alegadas a qualquer tempo (art. 267, § 3º e a prescrição e decadência), bem como todas as
questões suscitadas e discutidas no processo (efeito translativo), relacionadas ao capítulo
decisório objeto do recurso excepcional, mesmo que não tenham sido enfrentadas no acórdão
recorrido.

O prequestionamento influencia nesta questão: o que deve ter sido prequestionado são os
fatos e fundamentos do pedido excepcional. Isso é um juízo de admissibilidade. Admitido o
recurso, nada obsta que haja análise pelos tribunais superiores de matérias que não tenham
nem mesmo sido suscitadas na instância ordinária, desde que se tratem de matérias
alegáveis a qualquer tempo. Trata-se de uma manifestação do efeito translativo.

PROCESSUAL CIVIL. PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. JUÍZO DE


ADMISSIBILIDADE QUE DIFERE DO JUÍZO DE REJULGAMENTO. ABERTURA DE
INSTÂNCIA. PROFUNDIDADE DO EFEITO DEVOLUTIVO. SÚMULA 456/STF.
APLICAÇÃO DO DIREITO À ESPÉCIE.

1. O Tribunal de origem quando julgou a causa apreciou a questão da


violação do princípio da razoabilidade, o que configura o
prequestionamento implícito do art. 2º da Lei n. 9.784/99.

2. Conhecido o recurso especial por qualquer dos seus fundamentos,


opera-se a abertura de instância, de modo que, ao julgá-lo, poderá esta
Corte Superior conhecer de ofício, ou por provocação, de todas as matérias
que podem ser alegadas a qualquer tempo, bem como, de todas as
questões suscitadas e discutidas no processo, mesmo que não tenham sido
enfrentadas no acórdão recorrido.

3. É preciso fazer uma diferenciação entre o juízo de admissibilidade e


juízo de rejulgamento. Para ser admitido o recurso especial, é
indispensável o prequestionamento; mas, uma vez admitido, no juízo de
rejulgamento não há qualquer limitação cognitiva, a não ser a limitação
horizontal estabelecida pelo recorrente.

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4. Trata-se do chamado efeito translativo (profundidade do efeito


devolutivo), reconhecido na Sumula 456/STF, segundo a qual, "O Supremo
Tribunal Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa,
aplicando o direito à espécie." Agravo regimental improvido.

(STJ, AgRg no REsp 1200904/ES, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,


SEGUNDA TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 29/03/2011)

Porém, não poderá o tribunal superior analisar pedido não feito pela parte, julgar extra ou
ultra petita. Somente as questões de ordem pública.

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO EM GRUPO.


PRESCRIÇÃO ÂNUA. TERMO INICIAL. SÚMULA 83 DO STJ. AGRAVO INTERNO.
INÉPCIA. SÚMULA 182 DO STJ. RECURSO ESPECIAL. OBJETO DO RECURSO.
INOVAÇÃO. INADMISSIBILIDADE.

[...]

5 - Não se conhece do agravo interno que busca inovar o objeto do recurso


especial, por força da preclusão.

6 - Agravo desprovido.

(STJ, AgRg no REsp 840.462/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO


SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/04/2011, DJe 26/04/2011)

24.6.12. Preparo
Há preparo nos recursos excepcionais, o qual somente foi dispensado, pelo RISTJ, em alguns
processos de competência originária ou recursal.

Súmula 187, STJ: “É deserto o recurso interposto para o STJ, quando o recorrente não recolhe,
na origem, a importância das despesas de remessa e retorno dos autos”.

24.6.13. Interposição Simultânea de REsp ou RE. A Súmula 126, STJ


Súmula 126, STJ: “É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em
fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para
mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário”.

Há casos em que a parte deve interpor RE e REsp contra o mesmo acórdão, em duas situações:

a) Quando um acórdão tiver mais de um capítulo, cada um impugnável por uma


modalidade de recurso;

b) Quando o acórdão prover um pedido fundamentado em lei federal e na Constituição.

No segundo caso é imperiosa a interposição recursal simultânea, pois se o recorrente for


vitorioso só no STF, por exemplo, o fundamento da lei federal será suficiente para sustentar a
decisão, sobre ele se operando a cosia julgada.

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O STJ é constante em inadmitir REsp se verificar que a decisão se fundamentou em matéria


constitucional também e esta não foi recorrida perante o STF:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DESCARGA ELÉTRICA QUE


ACARRETOU DEFICIÊNCIA AUDITIVA PERMANENTE EM EMPREGADO DE
CONCESSIONÁRIA DE ENERGIA ELÉTRICA. ACÓRDÃO APOIADO EM MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL E CONSTITUCIONAL NÃO-IMPUGNADA MEDIANTE
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SÚMULA 126/STJ. APELO NOBRE APOIADO
NAS PROVAS E FATOS COLGIDOS NOS AUTOS PARA AFASTAR NEXO DE
CAUSALIDADE. SÚMULA 7/STJ. RECURSO NÃO CONHECIDO.

1. Não é viável o exame do recurso especial que aponta afronta a preceitos


de lei federal, se o Tribunal de origem também se respaldou em matéria
constitucional não impugnada mediante recurso extraordinário dirigido ao
Supremo Tribunal Federal. Incidência da Súmula 126 desta Corte.

2. Se a fundamentação desenvolvida no apelo nobre busca demonstrar a


ausência de conduta culposa da recorrente, relativamente ao acidente
sofrido pelo recorrido, o seu exame esbarra no óbice do enunciado 7 da
súmula deste STJ.

3. Recurso especial não-conhecido.

(STJ, REsp 793.327/TO, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA


TURMA, julgado em 22/03/2011, DJe 25/03/2011)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. RECURSO


ESPECIAL. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO COMUM. CONVERSÃO
DE TEMPO NO EXERCÍCIO DO MAGISTÉRIO EM ESPECIAL. MATÉRIA
CONSTITUCIONAL. EMENDA CONSTITUCIONAL 18/81. VERBETE SUMULAR
126/STJ. ESTAGIÁRIO BOLSISTA. FINALIDADE. APRENDIZADO. LEI 5.890/73.
INSCRIÇÃO PREVIDENCIÁRIO. NÃO COMPROVAÇÃO. AGRAVO IMPROVIDO.

1. A simples leitura do acórdão combatido revela que os seus fundamentos


guardam amparo tanto na Constituição da República, quanto legislação
infraconstitucional, sendo todos eles capazes de alterar a solução da
questão. Não tendo sido interposto recurso extraordinário, incide, à
espécie, a Súmula n.º 126 desta Corte.

[...]

(STJ, AgRg no REsp 929.894/PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS


MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 01/03/2011, DJe 16/03/2011)

No primeiro caso, porém, será formada a coisa julgada somente contra o(s) capítulo(s) não
impugnado(s). Assim, nada obstará que os demais capítulos que não se assentem sobre
matéria constitucional, por exemplo, sejam combatidos apenas com REsp.

Se interpostos conjuntamente REsp e RE, forem ambos inadmitidos na origem, deve a parte
interessada interpor agravo de instrumento, obrigatoriamente para o STJ e para o STF.

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24.6.14. Processamento dos Recursos de Superposição (art. 543)


a) Recebimento da petição pelo tribunal de origem, com intimação do recorrido para
contra-arrazoar no prazo de 15 dias;

b) Conclusão dos autos para o Presidente ou vice para, em 15 dias, fundamentadamente,


admitir ou não o recurso;

c) Não admitidos ambos, cabe agravo de instrumento (não mais de instrumento, os


próprios autos sobem para o Tribunal) para o STF e STJ a fim de obter a admissão;

d) Se admitido apenas um deles, os autos seguem para o tribunal superior competente


para o exame do recurso, cabendo o agravo de instrumento pertinente contra o
inadmitido;

e) Admitidos ambos os recursos, os autos serão remetidos ao STJ para julgamento do


especial, após o que serão remetidos para o STF para julgamento do extraordinário, se
este não restar prejudicado (por não ter sido provido o pedido do REsp);

f) Estará prejudicado o extraordinário se o REsp for conhecido e provido ou, não sendo
provido, for fundamento do mesmo pedido do RE;

Logo, sendo caso de interposição simultânea de RE e REsp, por conter o acórdão recorrido
fundamentos constitucional e legal, qualquer deles suficientes para sustentar a decisão, o
não provimento do REsp acarreta a perda de interesse recursal do RE.

g) Haverá casos, porém, em que o RE será prioritário em relação ao REsp, quando o


julgamento deste depender da definição da constitucionalidade da norma de direito
federal tida como violada. Ou seja, no REsp estará sendo questionada a aplicação de
uma norma federal, norma esta que estará sendo apontada como inconstitucional
no RE.

Neste caso, o relator do REsp, em decisão irrecorrível, sobrestará o seu julgamento e


remeterá os autos ao STF para julgamento do RE.

24.6.15. Recurso Especial Repetitivo: o Art. 543-C do CPC – Writ of Certiorari147

Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em


IDÊNTICA QUESTÃO DE DIREITO, o recurso especial será processado nos
termos deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

§ 1o Caberá ao PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE ORIGEM ADMITIR UM OU


MAIS RECURSOS REPRESENTATIVOS DA CONTROVÉRSIA, os quais serão
encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça, ficando suspensos os demais
recursos especiais até o pronunciamento definitivo do Superior Tribunal de
Justiça. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

147
Writ of certiorari equivale ao nosso recurso repetitivo, técnica processual por meio da qual a Corte
superior, diante de vários recursos semelhantes, requer ao Tribunal inferior que este pince aquele
representativo da controvérsia e o envie para que, aquele, decida a questão.
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§ 2o Não adotada a providência descrita no § 1o deste artigo, o RELATOR no


Superior Tribunal de Justiça, ao identificar que sobre a controvérsia já existe
jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado,
PODERÁ DETERMINAR A SUSPENSÃO, NOS TRIBUNAIS DE SEGUNDA
INSTÂNCIA, DOS RECURSOS NOS QUAIS A CONTROVÉRSIA ESTEJA
ESTABELECIDA. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

§ 3o O relator poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo de


quinze dias, aos tribunais federais ou estaduais a respeito da controvérsia.
(Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

§ 4o O relator, conforme dispuser o regimento interno do Superior Tribunal


de Justiça e considerando a relevância da matéria, poderá admitir
manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na
controvérsia. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008). (essa questão é
muito importante: como o recurso afetará uma grande quantidade
de pessoas, é importante que seja ouvida a sociedade na condição
de amicus curiae, para um melhor esclarecimento e formação da
opinião do julgador)

§ 5o Recebidas as informações e, se for o caso, após cumprido o disposto no


§ 4o deste artigo, terá vista o Ministério Público pelo prazo de quinze dias.
(Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

§ 6o Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do


relatório aos demais Ministros, o processo será incluído em pauta na seção
ou na Corte Especial, devendo ser julgado com preferência sobre os demais
feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas
corpus. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

§ 7o Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos


especiais sobrestados na origem: (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir


com a orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou (Incluído pela Lei nº
11.672, de 2008). Acórdão conforme à orientação do STJ deve ser
mantido.

II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o


acórdão recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.
(Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008). Acórdão desconforme à
orientação do STJ deve ser revisto. Se não o for, pode o tribunal dar
processamento ao REsp.

§ 8o Na hipótese prevista no inciso II do § 7o deste artigo, mantida a decisão


divergente pelo tribunal de origem, far-se-á o exame de admissibilidade do
recurso especial. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

§ 9o O Superior Tribunal de Justiça e os tribunais de segunda instância


regulamentarão, no âmbito de suas competências, os procedimentos
relativos ao processamento e julgamento do recurso especial nos casos
previstos neste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).

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Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito, o


recurso especial será processado por amostragem.

Caberá ao Presidente do Tribunal de origem admitir um ou mais recursos representativos da


controvérsia, encaminhando-os ao STJ; os demais ficarão suspensos até o pronunciamento
definitivo da Corte.

Determinada a suspensão do andamento de recursos no âmbito do STJ, em virtude de


OS JUÍZES
instauração do procedimento do art. 543-C do CPC (recursos repetitivos),
APRECIARÃO NORMALMENTE OS PEDIDOS DE MEDIDAS DE URGÊNCIA
MESMO NOS PROCESSOS COM ANDAMENTO SUSPENSO.
A decisão do presidente do Tribunal de origem que determina o
sobrestamento do recurso especial sob o regime do art. 543-C do CPC
(recurso representativo de NÃO TEM CARÁTER
controvérsia)
DECISÓRIO. ASSIM, NÃO CABE AGRAVO DE INSTRUMENTO.
(STJ, 2T, Informativo 426, Ag 1.223.072-SP)

RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DECISÃO QUE DETERMINA


O SOBRESTAMENTO. IRRECORRIBILIDADE.

Se o voto condutor do acórdão, objeto de recurso especial, trata de


bloqueio de ativos financeiros do devedor tributário, mediante a utilização
do sistema Bacenjud, e a parte não impugna a decisão pela via dos
embargos de declaração, não cabe à Presidência deste Tribunal declarar a
impertinência da matéria, menos ainda suspender o sobrestamento do
REsp, na existência de recurso representativo de controvérsia sobre a
questão no STJ. Não cabe recurso de decisão da Presidência do Tribunal
que determina o sobrestamento do recurso especial por não ostentar
conteúdo decisório. Precedentes. Unânime. (TRF1, Corte Especial, AI
2008.01.00.050823-3/BA, rel. Des. Federal Olindo Menezes, em
29/09/2011.)

Se essa medida não for adotada, caberá ao Relator no STJ, ao identificar que sobre a
controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado,
determinar a suspensão dos recursos nos tribunais de segunda instância.

O relator poderá negar seguimento ao recurso por decisão monocrática, nos termos
do art. 557 (confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do STF ou do
próprio STJ).

Recebido o recurso, o Relator poderá solicitar informações a serem prestadas em 15 dias pelos
tribunais, a respeito da controvérsia.

Como essas causas afetam um grande número de pessoas, poderá ser admitido a falar, desde
que previsto no RISTJ, amicus curiae. Sobre isso, decidiu a Corte:

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QO. REPETITIVO. AMICUS CURIAE. SUSTENTAÇÃO ORAL.

Em questão de ordem, a Corte Especial, por maioria, firmou a orientação de


não reconhecer o direito do amicus curiae de exigir a sua sustentação oral
no julgamento de recursos repetitivos, a qual deverá prevalecer em todas
as Seções. Segundo o voto vencedor, o tratamento que se deve dar
ao amicus curiae em relação à sustentação oral é o mesmo dos demais atos
do processo: O STJ TEM A FACULDADE DE CONVOCÁ-LO
OU NÃO. Se este Superior Tribunal entender que deve ouvir a
sustentação oral, poderá convocar um ou alguns dos amici curiae, pois não
há por parte deles o direito de exigir sustentação oral. QO no REsp
1.205.946-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, em 17/8/2011.

QO. AMICUS CURIAE. RESP. AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. PREVIDÊNCIA


PRIVADA.

Em questão de ordem, a Seção indeferiu todas as intervenções de amicus


curiae, inclusive a anteriormente deferida, sem prejuízo de que fiquem nos
autos as manifestações apresentadas, inclusive memoriais. A participação
do amicus curiae é prevista no ordenamento jurídico para os processos e
julgamentos de ações de natureza objetiva, admitindo-se essa espécie de
intervenção, excepcionalmente, no processo subjetivo quando a
multiplicidade de demandas similares demonstra a generalização da decisão
a ser proferida. [...] REsp. 1.023.053-RS, 2S, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 23/11/2011.

Em seguida, será dada vistas ao MP pelo prazo de 15 dias.

O recurso será colocado em pauta e será necessariamente julgado pela Corte Especial ou
Seção, tendo preferência sobre todos os demais feitos, salvo os que envolverem réu preso e
pedidos de HC.

Após a publicação do acórdão, os recursos sobrestados terão o seguinte destino:

a) Se o acórdão recorrido tiver o mesmo entendimento do julgamento do STJ, terão eles


seguimento denegado (art. 543-C, § 7º, I);

Trata-se, no caso, do cabimento de agravo de instrumento contra a decisão


que nega seguimento ao recurso especial lastreada no art. 543-C, § 7º, I, do
CPC, pois o acórdão recorrido estaria no mesmo sentido daquele proferido
em recurso representativo de controvérsia por este Superior Tribunal. A
CORTE ESPECIAL, AO PROSSEGUIR O JULGAMENTO, POR MAIORIA,
ENTENDEU NÃO SER CABÍVEL O AGRAVO DE INSTRUMENTO NESSE CASO.
Manter a possibilidade de subida do agravo para este Superior Tribunal
viabilizaria a eternização do feito, obstaculizando o trânsito em julgado da
sentença ou acórdão e abarrotando-o de recursos inúteis e protelatórios, o
que estaria em desacordo com o objetivo da Lei n. 11.672/2008. Por fim,
entendeu que, quando houver indevidamente negativa de seguimento a

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recurso especial por erro do órgão julgador na origem, caberá agravo


regimental para o tribunal a quo. Assim, a Corte Especial, por maioria, não
conheceu do agravo de instrumento. Precedente citado do STF: Ag 760.358-
SE, DJe 19/2/2010. QO no Ag 1.154.599-SP, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha,
julgada em 16/2/2011.

b) Se o acórdão recorrido tiver conteúdo diferente do entendimento do STJ, ele será


novamente analisado pelo tribunal de origem, o qual simplesmente prolatará outra
decisão, sem renovar o procedimento recursal;

c) Caso o tribunal não reveja seu entendimento, ele fará o exame de admissibilidade do
recurso e, se positivo o juízo, remeterá os autos ao STJ.

24.6.16. Agravo Contra Decisão que Nega Seguimento, na Origem, a Recurso Excepcional
(art. 544)

Art. 544. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial,


caberá agravo nos próprios autos, no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada
pela Lei nº 12.322, de 2010)

§ 1o O agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não


admitido. (Redação dada pela Lei nº 12.322, de 2010)

§ 3o O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias


oferecer resposta. Em seguida, os autos serão remetidos à superior
instância, observando-se o disposto no art. 543 deste Código e, no que
couber, na Lei no 11.672, de 8 de maio de 2008. (Redação dada pela Lei nº
12.322, de 2010)

§ 4o No Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, o


julgamento do agravo obedecerá ao disposto no respectivo regimento
interno, podendo o relator: (Redação dada pela Lei nº 12.322, de 2010)

I - não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha


atacado especificamente os fundamentos da decisão agravada; (incluído
pela Lei nº 12.322, de 2010)

II - conhecer do agravo para: (incluído pela Lei nº 12.322, de 2010)

a) negar-lhe provimento, se correta a decisão que não admitiu o


recurso; (incluído pela Lei nº 12.322, de 2010)

b) negar seguimento ao recurso manifestamente inadmissível, prejudicado


ou em confronto com súmula ou jurisprudência dominante no
tribunal; (incluído pela Lei nº 12.322, de 2010)

c) dar provimento ao recurso, se o acórdão recorrido estiver em confronto


com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal. (incluído pela Lei nº
12.322, de 2010)

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O agravo será na modalidade instrumento, no prazo de 10 dias, dirigido para o STF ou STJ,
conforme o caso.

Caso interposto um RE ou um REsp, com dois ou mais fundamentos, e inadmitido por um


deles, mas admitido pelo outro, incabível é o agravo de instrumento por falta de
interesse/necessidade, já que o recurso subirá de qualquer jeito.

Isso não impedirá que o fundamento inadmitido seja revisto no tribunal superior, em função
do efeito translativo.

O agravo de instrumento contra denegação de seguimento de REsp ou RE não depende de


preparo, conforme § 2º do art. 544.

O juízo de admissibilidade do agravo é exercido exclusivamente pelo tribunal superior, sendo


impossível ao Presidente ou Vice do tribunal de origem negar-lhe seguimento ou inadmiti-lo.
Nesse sentido:

Súmula 727, STF: “Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao STF o agravo de
instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário, ainda que referente
a causa instaurada no âmbito dos juizados especiais”.

Após interposto o agravo, deve o agravado ser intimado para contra-arrazoar no prazo de 10
dias, sendo, depois, remetidos os próprios autos para o Tribunal, não mais sendo formado
instrumento, como antes era feito. O agravo será julgado nos termos do regimento interno do
tribunal, podendo o relator:

a) Não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado


especificamente os fundamentos da decisão agravada;

b) Conhecer do agravo para:

i. Negar-lhe provimento, se correta a decisão que não admitiu o recurso;

ii. Negar seguimento ao recurso manifestamente inadmissível, prejudicado ou


em confronto com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal;

iii. Dar provimento ao recurso, se o acórdão recorrido estiver em confronto com


súmula ou jurisprudência dominante no tribunal.

Das decisões do relator caberá agravo interno no prazo de 5 dias:

Art. 545. Da decisão do relator que não conhecer do agravo, negar-lhe


provimento ou decidir, desde logo, o recurso não admitido na origem,
caberá agravo, no prazo de 5 (cinco) dias, ao órgão competente, observado
o disposto nos § § 1o e 2o do art. 557.

Como visto, poderá o relator já conhecer e julgar do REsp ou do RE, tanto para dar
provimento quanto para denegar, se estiver fundado em súmula ou jurisprudência unânime
do tribunal superior (art. 544, § 4º).
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24.6.17. Profundidade e o Efeito Devolutivo dos Recursos Excepcionais (súmulas 292 e 528,
STF)
De acordo com referidas súmulas, interposto um recurso de superposição por mais de um dos
fundamentos indicados na Constituição, a admissão apenas por um deles não prejudica o seu
conhecimento por qualquer dos outros. Porém, estas súmulas só devem ser aplicadas na
hipótese de um mesmo capítulo da decisão ser objeto de recurso, com mais de um
fundamento.

Isso porque, caso um outro capítulo seja inadmitido por certo fundamento, sobre ele se
operará o trânsito em julgado se não houver agravo.

Súmula 528, STF: “Se a decisão contiver partes autônomas, a admissão parcial, pelo Presidente
do tribunal a quo, de recurso extraordinário que, sobre qualquer delas se manifestar, não
limitará a apreciação de todas pelo STF, independentemente de interposição de agravo de
instrumento.

Súmula 292, STF: “Interposto o recurso extraordinário por mais de um dos fundamentos
indicados no art. 101, III, da Constituição, a admissão apenas por um deles não prejudica o
seu conhecimento por qualquer dos outros”.

24.7. Recurso Especial (art. 105, III, CR/88)


Trata-se de recurso dirigido ao STJ para corrigir ilegalidade contra leis federais cometidas em
última ou única instância pelos TRFs e pelos TJs. Também tem a função de uniformizar a
jurisprudência nacional.

Vê-se, pois, que o STJ desempenha uma função paradigmática, já que suas decisões servem de
exemplo a ser seguido pelos demais tribunais.

Ainda que exerça controle do direito federal relevante, o STJ respeita a autonomia da Justiça
local quanto às questões de fato.

A Fazenda Pública, mesmo que não tenha apresentado recurso de apelação,


pode interpor recurso especial (ou recurso extraordinário) contra acórdão
que, julgando reexame necessário, manteve a sentença de primeiro grau
contrária aos seus interesses. O comportamento omissivo da Fazenda, ao
não apelar, não configura a preclusão lógica para um futuro recurso às
instâncias extraordinárias. (STJ, Corte Especial, Informativo 441, REsp
905.771-CE)

A Fazenda Pública, ainda que não tenha apresentado apelação da sentença


que lhe foi desfavorável, pode interpor recurso especial, pois não há falar
em preclusão lógica. (STJ, Corte Especial, Informativo 445, EREsp 1.119.666-
RS)

24.7.1. Considerações Gerais


Caberá o REsp para o STJ nas causas decididas em única ou última instância pelos TRFs ou
pelos TJs quando a decisão recorrida:

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a) Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

b) Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;

c) Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

Súmula 203, STJ: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo
grau dos juizados especiais”. Isso porque as hipóteses de cabimento do REsp são taxativas

24.7.2. Cabimento com Fundamento no art. 105, III, a


Contrariar significa toda e qualquer forma de ofensa ao texto legal, quer deixando de aplicá-lo,
quer aplicando-o de forma errônea, quer interpretando-o de forma inadequada.

Lei federal, para efeito de cabimento do REsp, engloba todos os atos legislativos primários,
desde decreto-lei, mp, decreto autônomo até lei complementar federal.

Súmula 399, STF: “Não cabe recurso especial por violação a regimento interno de tribunal”.

É cabível recurso especial com fulcro no art. 105, III, ‘a’, da CF baseado em negativa de
vigência de dispositivo legal que apenas reproduza norma ou princípio constitucional?

Não.

Embora no âmbito de abrangência do recurso especial estejam as leis federais ou nacionais, aí


incluídas a lei complementar, ordinária, delegada, decreto-lei, decreto autônomo e medida
provisória, caso o dispositivo legal apenas reproduza norma ou princípio constitucional, O STJ
ESTARIA, EM ÚLTIMA ANÁLISE, A DECIDIR SOBRE MATÉRIA CONSTITUCIONAL, USURPANDO
COMPETÊNCIA RESERVADA AO STF nos moldes do art. 102, III, ‘a’, da CF.

O legislador ordinário não poderia alterar uma regra de competência de julgamento dos
tribunais superiores apenas por encartar uma regra constitucional na legislação ordinária, que
essencialmente ainda continuaria sendo a mesma norma constitucional. Tal entendimento há
muito é adotado pelo STJ:

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. PRINCIPIO CONSTITUCIONAL


REPRODUZIDO EM NORMA LEGAL. A NORMA CONSTITUCIONAL ABSORVE O
ARTIGO DE LEI QUE A REPRODUZ, ATRAINDO A QUESTÃO RESULTANTE DA
APLICAÇÃO DESTE PARA O AMBITO DO RECURSO EXTRAORDINARIO
PERANTE O STF. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. (REsp 79015/PE, Rel.
Ministro ARI PARGENDLER, SEGUNDA TURMA, julgado em 25/09/1997, DJ
13/10/1997, p. 51555)

Exemplo em que a corte que tem por missão uniformizar a interpretação da legislação
infraconstitucional abdicou de manifestar-se quanto à matéria foi em relação ao art. 110 do
CTN, que a despeito de ser formalmente lei complementar, materialmente encarta princípio
de competência tributária, matéria nitidamente afeta ao patamar constitucional. Eis
precedente:

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PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – LEI N. 9.718/98 – BASE DE CÁLCULO –


RECEITA OPERACIONAL BRUTA – ACÓRDÃO A QUO COM MATÉRIA DE
ÍNDOLE CONSTITUCIONAL – SUPOSTA VIOLAÇÃO DO ART. 110 DO CTN –
COMPETÊNCIA DO STF.

1. O acórdão a quo firmado majoritariamente em preceitos e em


dispositivos constitucionais elide, na via especial, a manifestação do
Superior Tribunal de Justiça (art. 105, inciso III, da Constituição da
República).

2. Remansosa a jurisprudência acerca da natureza constitucional do


pronunciamento do STJ, na hipótese de acórdão regional versar sobre a
sistemática de determinação da base de cálculo tributário, sob a égide da Lei
n. 9.718/98; logo, intransitável o recurso especial, porquanto esbarra na
competência atribuída pela Constituição da República ao STF, por meio do
recurso extraordinário, na forma do art. 102, inciso III.

3. A alegada negativa de vigência do art. 110 do CTN, que obsta à lei


tributária a alteração da definição, do conteúdo e do alcance de institutos,
de conceitos e de formas das normas que determinam as competências
tributárias tem enfoque constitucional. Em razão disso, frise-se que
apreciação do litígio faz-se incabível no STJ, guardião do sistema jurídico
infraconstitucional pátrio.

(AgRg no REsp 736.545/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA


TURMA, julgado em 24/03/2009, DJe 16/04/2009)

Em outro precedente, o tribunal da cidadania não conheceu do REsp pautado na negativa de


vigência dos arts. 77 e 79 do CTN dado que tais artigos repetiam em maior ou menor grau o já
disposto no art. 145, II, § 2º, da CF. Observe-se o acórdão:

PROCESSO CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO-OCORRÊNCIA.


OFENSA AOS ARTS. 77 E 79 DO CTN. PROGRESSIVIDADE DA ALÍQUOTA DO
IPTU. EXIGÊNCIA DA TCLLP. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. REEXAME DA
VERBA HONORÁRIA. SÚMULA 7/STJ.

[...]

2. A questão relativa à interpretação dos arts. 77 e 79 do CTN constitui tema


de índole essencialmente constitucional, já que ambos os dispositivos
reproduzem o art. 145 da Constituição Federal, razão por que não se presta
a via do recurso especial para sua apreciação.

3. As matérias relativas à constitucionalidade da Taxa de Coleta de Lixo e


Limpeza Pública, assim como à progressividade da alíquota do IPTU, por
possuírem possuem assento na Carta Magna, são insuscetíveis de
apreciação em sede de recurso especial.

(REsp 617.076/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA


TURMA, julgado em 17/10/2006, DJ 08/02/2007, p. 314)

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Outro precedente tratava do art. 97, I, do CTN, que consigna a garantia da legalidade tributária
adotada pelo art. 150, I, da CF:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.
ARTIGO 97 DO CTN. REPETIÇÃO DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL.
APRECIAÇÃO VEDADA EM RECURSO ESPECIAL. COFINS. SOCIEDADES CIVIS
DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PROFISSIONAIS. ISENÇÃO CONCEDIDA PELA LC
70/91. REVOGAÇÃO PELA LEI 9.430/96. MATÉRIA SUBMETIDA À
SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC. RECURSO REPETITIVO. RESP
826.428/MG.

[...]

2. O art. 97 do CTN reproduz a norma encartada no art. 150, I, da


Constituição da República (Princípio da Legalidade Tributária) e sua análise
implica apreciação de questão constitucional, o que é inviável em sede de
recurso especial. Neste sentido: AgRg no REsp 1.176.217/SP, Rel. Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 22/9/2010; AgRg no REsp
1.154.339/RS, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe 26/08/2010 e
REsp 753.562/MG, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe
2/2/2010. (AgRg no Ag 1375795/RJ, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/08/2011, DJe 19/08/2011)

Podemos concluir que QUANDO ATO NORMATIVO PRIMÁRIO ABRANGIDO PELO


CONCEITO DE LEI FEDERAL EM SENTIDO AMPLO REPRODUZIR NORMA
CONSTITUCIONAL, OU MESMO VERSAR SOBRE TEMA DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL,
APLICAR-SE-IA A JURISPRUDÊNCIA REITERADA DO STJ DE QUE A VIA ESPECIAL,
DESTINADA À UNIFORMIZAÇÃO DO DIREITO FEDERAL, NÃO SE PRESTA À ANÁLISE DE
DISPOSITIVOS DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, AINDA QUE PARA FINS DE
PREQUESTIONAMENTO, SOB PENA DE USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DA SUPREMA
CORTE.

Outro ponto digno de nota seria a diferenciação entre 2 situações: (i) quando a lei nada
agrega de carga ou densidade normativa por apenas reproduzir norma ou princípio
constitucional; e (ii) quando a lei agrega carga e densidade normativa, não apenas
reproduzindo, mas também concretizando norma constitucional.

Na hipótese (ii) ocorreria a ofensa reflexa ou indireta à constituição, que para a jurisprudência
do STF não é passível de recurso extraordinário, consoante Súmula 636, STF: “Não cabe
recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a
sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela
decisão recorrida”. A despeito de a Súmula se referir à legalidade, o raciocínio é aplicável a
qualquer preceito constitucional, consoante reiterada jurisprudência da corte excelsa:

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ALEGADA OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO, DA AMPLA DEFESA


E AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. OFENSA INDIRETA. AGRAVO
IMPROVIDO.

I – Esta Corte firmou orientação no sentido de ser inadmissível, em regra, a


interposição de recurso extraordinário para discutir matéria relacionada à
ofensa aos princípios constitucionais do devido processo legal, da ampla
defesa e do contraditório, quando a verificação dessa alegação depender de
exame prévio de legislação infraconstitucional, por configurar situação de
ofensa reflexa ao texto constitucional.

(ARE 669045 ED, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,


julgado em 13/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-061 DIVULG 23-03-
2012 PUBLIC 26-03-2012)

O outro aspecto da hipótese (ii) é o de que quando a ofensa à constituição é meramente


reflexa ou indireta, por envolver também normas infralegais, aí sim seria cabível o recurso
especial. Observe que o enunciado da presente questão claramente se refere à hipótese (i), na
qual não é cabível o REsp, apenas o RE.

Recentemente o STJ estabeleceu que QUANDO HOUVER DÚVIDA SOBRE A CONTROVÉRSIA


DA OFENSA À CONSTITUIÇÃO, SE DIRETA OU INDIRETA/REFLEXA, DEVE-SE ADMITIR O
PROCESSAMENTO DO RESP, DADA PREVALÊNCIA DO PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA e não
negativa da jurisdição nas vias recursais extraordinárias. Confira-se o acórdão bastante
didático que resume com maestria toda a controvérsia aplicável na questão:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. DISSENSO INTERNO A


RESPEITO DA INTERPRETAÇÃO DE NORMAS PROCESSUAIS QUE DISCIPLINAM
O INCIDENTE DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. CPC, ARTS.
480 A 482. CONTROLE POR RECURSO ESPECIAL. CABIMENTO.

[...]

2. A concretização das normas constitucionais depende, em muitos casos,


da intermediação do legislador ordinário, a quem compete prover o sistema
com indispensáveis preceitos complementares, regulamentares ou
procedimentais. Dessa pluralidade de fontes normativas resulta a
significativa presença, em nosso sistema, de matérias juridicamente
miscigenadas, a ensejar (a) que as decisões judiciais invoquem,
simultaneamente, tanto as normas primárias superiores, quanto as normas
secundárias e derivadas e (b) que também nos recursos possa ser alegada,
de modo concomitante, ofensa a preceitos constitucionais e a
infraconstitucionais, tornando problemática a definição do recurso cabível
para as instâncias extraordinárias (STF e STJ).

3. O critério em geral adotado pelo STJ para definir o recurso cabível nessas
situações é o de que não cabe o recurso especial, e sim o extraordinário,
quando a norma infraconstitucional apontada como violada simplesmente
reproduz uma norma constitucional. O sentido positivo inverso do critério é,
consequentemente, o do cabimento do recurso especial quando a norma
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infraconstitucional não é mera reprodução da norma superior, mas traz uma


disciplina mais abrangente ou mais específica da matéria tratada. A
dificuldade, muitas vezes presente, de distinguir a simples reprodução da
efetiva inovação no campo normativo deve ser superada à luz do princípio
do acesso à justiça, afastando, desse modo, o sério risco de se negar ao
jurisdicionado tanto um quanto outro dos recursos à instância
extraordinária.

4. O chamado princípio da reserva de plenário para declaração incidental de


inconstitucionalidade de atos normativos é típica hipótese dessa
miscigenação jurídica imposta pela pluralidade de fontes, já que tratada
concomitantemente no art. 97 da Constituição e nos artigos 480 a 482 do
CPC. Todavia, os dispositivos processuais não representam mera reprodução
da norma constitucional. Além de incorporar a essência da norma superior
(que, no fundo, não é uma norma propriamente de processo, mas de
afirmação do princípio da presunção de validade dos atos normativos,
presunção que somente pode ser desfeita nas condições ali previstas), esses
dispositivos estabelecem o procedimento próprio a ser observado pelos
tribunais para a concretização da norma constitucional. Assim, embora, na
prática, a violação da lei federal possa representar também violação à
Constituição, o que é em casos tais um fenômeno inafastável, cumpre ao STJ
atuar na parte que lhe toca, relativa à correta aplicação da lei federal ao
caso, admitindo o recurso especial.

(EREsp 547.653/RJ, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, CORTE ESPECIAL,


julgado em 15/12/2010, DJe 29/03/2011)

24.7.3. Cabimento com Fundamento no art. 105, III, b


Julgar válido ato de governo local significa que o acórdão que analisou o ato deverá contrariar
a lei federal, de alguma forma, para a tutela do referido ato.

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DECLARATÓRIOS RECEBIDOS


COMO AGRAVO REGIMENTAL. INSTRUMENTALIDADE RECURSAL. ICMS.
DESCONTO CONDICIONADO. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES. RECURSO
ESPECIAL. ART. 105, III, ALÍNEA "B". PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
CONSTITUCIONALIDADE DE ATO LOCAL. COMPETÊNCIA DO STF.

[...]

4. O recurso especial interposto com fundamento no art. 105, III, "b", da


CR não dispensa o pressuposto intrínseco do prequestionamento da
legislação federal, bem como mostra-se inviável a modificação do acórdão
que reconhece a constitucionalidade do ato de governo local, sob pena de
usurpar a competência do STF.

Embargos declaratórios conhecidos como agravo regimental, mas


improvido.

(STF, EDcl nos EDcl nos EDcl no REsp 1109943/SP, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 29/03/2011)

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24.7.4. Cabimento com Fundamento no art. 105, III, c


Trata-se da função uniformizadora do STJ, de julgar as divergências entre julgados de
tRIBUNAIS DIFERENTES. Se do mesmo tribunal, incabível o recurso:

Súmula 13, STJ: “A divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja recurso especial”.

Não bastará que o recorrente transcreva ementas dos acórdãos. Ele deve proceder com o
cotejo analítico entre o julgado recorrido e o paradigma, tanto comparando os relatórios, para
demonstrar a semelhança, quanto os votos, para demonstrar as divergências.

Entretanto, se a ementa contiver todos os detalhes do caso, será o bastante para, feito o
cotejo analítico, ter como provada a divergência jurisprudencial.

É PRECISO, AINDA, QUE A DIVERGÊNCIA SEJA ATUAL, não sendo possível o


confronto entre julgados de épocas diferentes, ante a evolução interpretativa.

PROCESSUAL CIVIL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.


AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. ANÁLISE DE
VIOLAÇÃO À RESOLUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL. NÃO-COMPROVAÇÃO. DESCUMPRIMENTO DOS
REQUISITOS LEGAIS.

[...]

5. A divergência jurisprudencial deve ser comprovada, cabendo a quem


recorre demonstrar as circunstâncias que identificam ou assemelham os
casos confrontados, com indicação da similitude fática e jurídica entre
eles. Indispensável a transcrição de trechos do relatório e do voto dos
acórdãos recorrido e paradigma, realizando-se o cotejo analítico entre
ambos, com o intuito de bem caracterizar a interpretação legal divergente.
O desrespeito a esses requisitos legais e regimentais (art. 541, parágrafo
único, do CPC e art. 255 do RI/STJ) impede o conhecimento do Recurso
Especial, com base no art. 105, III, alínea "c", da Constituição da República.

6. A Corte Especial do STJ firmou o entendimento de que, mesmo quando


o dissídio for notório, deve o agravante cumprir as formalidades no que
concerne à comprovação da divergência jurisprudencial, realizando o
cotejo analítico.

[...]

(STJ, AgRg no AREsp .300/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA


TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 18/04/2011)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL E


ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. ARTIGOS TIDOS POR VIOLADOS.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. ART. 105, INCISO III,
ALÍNEA "C", DA CR. COTEJO ANALÍTICO. AUSÊNCIA. DIVERGÊNCIA
SUPERADA. REALIZAÇÃO DE NOVO TESTE DE APTIDÃO FÍSICA. TRATAMENTO

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DIFERENCIADO ENTRE CANDIDATOS. IMPOSSIBILIDADE. ANTECIPAÇÃO DE


TUTELA. TEORIA DO FATO CONSUMADO. INAPLICÁVEL.

[...]

2. Da mesma forma, não se conhece do recurso especial, com base no art.


105, inciso III, alínea "c", da CR, quando o recorrente deixa de providenciar
o devido cotejo analítico entre a decisão recorrida e os acórdãos
paradigmas, na forma dos artigos 541, parágrafo único, do CPC, e 255, §
2º, do Regimento Interno deste Tribunal, atendo-se a transcrever ementas
de julgados. Precedentes.

3. Além disso, "o recurso especial interposto pela alínea 'c' é inadmissível
quando a divergência apontada pelo acórdão paradigma já não é atual,
mas pretérita e superada. (AgRg nos EDcl no Ag 1.045.943/RJ, Rel. Min.
Luiz Fux, DJe 03/08/2010).

[...]

(STJ, AgRg no REsp 1222863/PE, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA


TURMA, julgado em 07/04/2011, DJe 14/04/2011)

24.7.5. Recurso Extraordinário em Julgamento de Recurso Especial


Admite-se a interposição do RE contra acórdão que julga REsp, como, v.g.:

a) Se o STJ deixar de aplicar lei sobre cuja interpretação se discute por entendê-la
inconstitucional;

b) Se o STJ julgar REsp sem a observância dos requisitos constitucionais.

Porém, não será cabível RE para rever pressupostos de cabimento de REsp, já que isso seria
analisar matéria infraconstitucional.

24.7.6. Controle Difuso da Constitucionalidade de Lei Federal Apontada como Violada


O STJ pode perfeitamente exercer esse controle. Entretanto, isso deve ser entendido com o
devido cuidado: não pode a matéria constitucional ser submetida ao STJ. Se isso for feito e o
STJ declarar, ainda que nos fundamentos da sentença, a inconstitucionalidade, ele estará
usurpando competência do STF.

A declaração de inconstitucionalidade deve se dar apenas incidentalmente, sem que o mérito


do recurso especial interposto pelo recorrente tenha sido a própria constitucionalidade. Nesse
sentido:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. ALÍNEA C DO PERMISSIVO


CONSTITUCIONAL: AUSÊNCIA DE COTEJO ANALÍTICO. ALEGADA VIOLAÇÃO
DO ARTIGO 263 DO CPP. AUSÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DAS ALEGAÇÕES
FINAIS PELO DEFENSOR CONSTITUÍDO. ALEGAÇÃO NO SENTIDO DE QUE
NÃO PODERIA O JUIZ NOMEAR DEFENSOR DATIVO ANTES DE CONFERIR AO
RÉU A OPORTUNIDADE PARA CONSTITUIR OUTRO CAUSÍDICO DE SUA
CONFIANÇA.QUESTÃO DECIDIDA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM COM

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FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE, SOB PENA


DE USURPAR A COMPETÊNCIA DO STF. APRESENTAÇÃO, ADEMAIS, DE
FUNDAMENTO ADICIONAL SEQUER MENCIONADO NAS RAZÕES DO
RECURSO ESPECIAL (SÚMULA/STF Nº 283). CONCESSÃO, ENTRETANTO, DE
ORDEM DE HABEAS CORPUS DE OFÍCIO, FICANDO PREJUDICADAS, EM
CONSEQUÊNCIA, AS DEMAIS QUESTÕES ARGUIDAS NO RECURSO ESPECIAL,
REFERENTES À FIXAÇÃO DA PENA E O REGIME PRISIONAL.

[...]

2. Com relação à alínea a do permissivo constitucional, cumpre analisar,


inicialmente, a alegada violação do artigo 263 do CPP, ao argumento de que,
não tendo sido apresentadas alegações finais pelo defensor constituído, não
pode o juiz nomear, desde logo, defensor dativo, sem prévia notificação do
réu, para que, querendo, constitua outro advogado. No caso, contudo, essa
questão foi decidida pelo Tribunal de origem a partir da interpretação e
aplicação do princípio constitucional da ampla defesa, que não pode ser
analisado em tema de recurso especial. Assim, há que se reconhecer a
inviabilidade, no ponto, do presente recurso especial, que não se presta
para rever questões decididas com fundamentos constitucionais, sob pena
de usurpar a competência do Supremo Tribunal Federal, tendo em vista a
interposição simultânea de recurso extraordinário: o Pleno do colendo
STF, a respeito do âmbito de cognição do recurso especial, já se
manifestou no sentido de que, embora não se conteste "que, no sistema
difuso de controle de constitucionalidade, o STJ, a exemplo de todos os
demais órgãos jurisdicionais de qualquer instância, tenha o poder de
declarar incidentemente a inconstitucionalidade da lei, mesmo de ofício",
não é dado a esta Corte, em recurso especial, "rever a decisão da mesma
questão constitucional do tribunal inferior; se o faz, de duas uma: ou
usurpa a competência do STF, se interposto paralelamente o
extraordinário ou, caso contrario, ressuscita matéria preclusa" (v.g., AI
145.589 AgR, Relator Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, TRIBUNAL PLENO,
julgado em 02/09/1993, DJ 24/06/1994).

[...]

(STJ, REsp 565.310/TO, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR


CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 21/10/2010, DJe
16/11/2010)

24.7.7. Efeito Suspensivo em Recurso Especial


Como cediço, via de regra os recursos excepcionais não possuem efeito suspensivo. No
entanto, esse poderá ser pedido pela parte por meio de ação cautelar para fins de concessão
de referido efeito.

Essa cautelar poderá ser ajuizada perante o tribunal de origem, se o recurso ainda não foi
admitido perante o STJ, ou perante o próprio STJ, caso já admitido. Quando ajuizada perante o
STJ, deverá ser distribuída na Corte, pedindo-se que seja feito por dependência. Nesse
sentido:
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PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO. REVOGAÇÃO


DE DOAÇÃO POR INEXECUÇÃO DE ENCARGO. MEDIDA CAUTELAR. NÃO
COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO.

1. Em circunstâncias excepcionais, admite-se a concessão de efeito


suspensivo a recurso especial por meio de medida cautelar inominada,
quando satisfeitos concomitantemente os requisitos fumus boni iuris e
periculum in mora.

2. Não viola o art. 535 do CPC, nem importa negativa de prestação


jurisdicional, o acórdão que, mesmo sem ter examinado individualmente
cada um dos argumentos trazidos pelo vencido, adotou, entretanto,
fundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia
posta.

3. A probabilidade de êxito do recurso especial deve ser verificada na


medida cautelar, ainda que de modo superficial. Assim, não comprovado de
plano a fumaça do bom direito apta a viabilizar o deferimento da medida de
urgência é de rigor o seu indeferimento.

4. A mera alegação de receio de dano irreparável ou de difícil reparação não


é isoladamente suficiente para a concessão da tutela cautelar. Não basta a
existência de um receio estritamente subjetivo, pois deve referir-se a uma
situação objetiva, baseada em fatos concretos - situação que não identifico
nos autos.

Medida cautelar improcedente.

(MC 18.259/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,


julgado em 24/04/2012, DJe 02/05/2012)

Interessante que o STJ tem admitido a cautelar até mesmo para conceder o efeito suspensivo
a recurso especial ainda não interposto, quando a situação for teratológica. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. PAGAMENTO POR


ESTIMATIVA. BALANCETES MENSAIS (ART. 35, LEI N. 8.981/95).
COMPENSAÇÃO. VEDAÇÃO (ART. 74, § 3º, IX, LEI N. 9.430/96). AGRAVO
REGIMENTAL. MEDIDA CAUTELAR COM PEDIDO LIMINAR PARA A
ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO ATIVO A RECURSO ESPECIAL AINDA
NÃO ADMITIDO NA ORIGEM. AUSÊNCIA DE FUMUS BONI JURIS. 1. Somente
em casos excepcionais o STJ tem concedido efeito suspensivo a recurso
especial ainda não-admitido ou não-interposto, notadamente quando a
decisão recorrida é teratológica ou manifestamente contrária à
jurisprudência pacífica desta Corte. Incidência, por analogia, das Súmulas
634 e 635/STF.(...) (STJ, Segunda Turma, AgRg na MC 18981, Rel. Min.
Mauro Marques, DJe de 18/04/2012)

AGRAVO REGIMENTAL EM MEDIDA CAUTELAR. PRETENSÃO VOLTADA À


ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. RECURSO ESPECIAL AINDA NÃO
INTERPOSTO. HIPÓTESES EXCEPCIONALÍSSIMAS. CABIMENTO. PRECEDENTES
DA CORTE.
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1. Esta Corte de Justiça possui entendimento no sentido de afastar a


incidência das Súmulas 634 e 635 do STF em casos excepcionais, evidenciada
flagrante teratologia ou contrariedade da decisão prolatada pelo Tribunal a
quo à jurisprudência deste Superior Tribunal. Hipótese verificada no caso
em apreço.

2. Acórdão atacado que determinou o imediato levantamento de quantia


aproximada de R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais), decorrente de
bloqueio judicial, sem a prévia deflagração das fases de liquidação de
sentença, e posterior execução provisória (art.

475-O, do CPC). Presença, ademais, do perigo de dano de difícil reparação,


consistente na liberação de vultosa quantia depositada judicialmente, sem a
observância do procedimento legal, e a exigência de caução idônea.

3. Requisitos do fumus boni juris e periculum in mora demonstrados.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg na MC 19.104/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA,


julgado em 08/05/2012, DJe 15/05/2012)

PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. EFEITO


SUSPENSIVO A RECURSO ESPECIAL PENDENTE DE ANÁLISE PELA CORTE
LOCAL. TEMPESTIVIDADE DO RECURSO DE APELAÇÃO. TERMO INICIAL DO
PRAZO. ART. 184 DO CPC. PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES
PARA SUA CONCESSÃO. 1. Na origem, cuida-se de ação civil pública em que
o Ministério Público do Estado de São Paulo requereu o bloqueio de bens e
valores dos réus para a garantia de futura execução quanto aos prejuízos
urbanísticos causados pela implementação de parcelamento irregular. 2. A
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça admite, em casos
excepcionalíssimos, a atribuição de efeito suspensivo a recurso especial
ainda não interposto ou pendente de análise no órgão ordinário. (STJ,
Segunda Turma, MC 16633, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de
28/03/2012)

24.7.8. Descabimento de REsp com Fulcro nos Princípios da Proporcionalidade e


Razoabilidade
Necessário que se diga, a propósito, que a função do recurso especial, na forma definida no
art. 105, inciso III, alínea "a", da Constituição Federal, é preservar a inteireza do direito positivo
federal, assegurando que as decisões dos tribunais estaduais ou regionais federais não
contrariem ou neguem vigência às normas legais que fundamentam suas conclusões. Não se
presta o recurso especial à modificação de acórdão com fundamento em princípios jurídicos,
naturalmente vagos e imprecisos. Somente quando apresentarem-se como norma de direito
positivo é que os princípios jurídicos poderão abrir espaço para o conhecimento de recurso
especial.

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Isso não quer dizer, evidentemente, que o STJ não acata os argumentos dos recursos especiais
com base nesses princípios; pelo contrário, é muito comum encontrar julgados da Corte que
tem como fundamento ofensa a eles.

24.8. Recurso Extraordinário (art. 102, III, CR/88)

24.8.1. Papel do STF


Compete ao STF a guarda da Constituição, preservando e interpretando as normas
constitucionais. Logo, ele tem a função de uniformizar a jurisprudência nacional quanto à
interpretação das normas constitucionais.

24.8.2. Considerações Gerais


O RE sempre teve como finalidade, entre outras, a de assegurar a inteireza do sistema jurídico,
que deve ser submisso à Constituição da República.

Cabe julgar, mediante RE, as causas decididas em última ou única instância, quando a decisão
recorrida:

a) Contrariar dispositivo da Constituição da República;

b) Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

c) Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição;

d) Julgar válida lei local em face de lei federal.

Diferentemente do que ocorre em relação ao REsp, o RE não faz previsão de que a decisão
deva ter emanado de TRF ou de TJ. Também não há qualquer óbice ao RE contra decisão
proferida por Turma Recursal.

PORÉM, NÃO CABE RE CONTRA DECISÃO PROFERIDA EM


PROCESSAMENTO DE PRECATÓRIO (SÚMULA 733), POR SE TRATAR DE
DECISÃO ADMINISTRATIVA, E CONTRA ACÓRDÃO QUE DEFERE MEDIDA
LIMINAR (SÚMULA 735), PORQUE NÃO É DECISÃO FINAL.
Súmula 735, STF: “Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar”.

Súmula 733, STF: “Não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida no processamento
de precatórios”. Pois se trata de procedimento administrativo.

Súmula 637, STF: “Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça que
defere pedido de intervenção estadual em Município”. Pois se trata de decisão política.

Súmula 636, STF: “Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio
constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever interpretação dada a
normas infraconstitucionais pela decisão recorrida”. O STF não é o Tribunal para dar a
interpretação da legislação infraconstitucional. A ofensa ao princípio da legalidade tem de ser

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705

de forma direta; se for necessário reanálise da legislação infraconstitucional a ofensa será de


FORMA REFLEXA.

Súmula 272, STF: “Não se admite como ordinário recurso extraordinário de decisão
denegatória de mandado de segurança”. Para casos de recurso de decisão denegatória de
mandado de segurança do art. 102, II, “a”, CR; STF entende que tais recursos são bem
diferentes, não sendo razoável se aplicar a fungibilidade. Trata-se de ERRO GROSSEIRO.

Súmula 528, STF: “Se a decisão contiver partes autônomas, a admissão parcial, pelo presidente
do tribunal 'a quo', de recurso extraordinário que, sobre qualquer delas, não se manifestar, não
limitará a apreciação de todas pelo Supremo Tribunal Federal, independentemente de
interposição de agravo de instrumento”. EM DECORRÊNCIA DA SÚMULA, É SUFICIENTE
QUE O JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE PROFERIDO NO TRIBUNAL A QUO ANALISE OS
FUNDAMENTOS RECURSAIS ATÉ ENCONTRAR UM ÚNICO QUE DÊ SUPORTE AO
PLEITO, NÃO NECESSITANDO MANIFESTAR-SE SOBRE OS DEMAIS. PORÉM, EM
DECORRÊNCIA DO EFEITO TRANSLATIVO, PODERÁ O SUPREMO ANALISAR TODAS AS
TESES SUSCITADAS PELA PARTE E INADMITIDAS PELO TRIBUNAL A QUO.

24.8.3. Cabimento com Fundamento na Letra “a”


Quando a decisão recorrida contrariar dispositivo da Constituição da República, a
contrariedade deve ser direta e frontal, não sendo cabível o recurso se, para demonstrar a
contrariedade a dispositivo constitucional, seja preciso antes demonstrar a contrariedade a
alguma norma infraconstitucional.

24.8.4. Cabimento com Fundamento na Letra “b”


Declarada a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, caberá RE, já que deve ser
preservada a supremacia da Constituição. Ademais, é o Supremo quem tem a palavra final
quanto à constitucionalidade ou não de normas.

ESSA HIPÓTESE DE CABIMENTO DISPENSA O


PREQUESTIONAMENTO, IMPORTANDO APENAS QUE O
TRIBUNAL RECORRIDO DECRETE A INCONSTITUCIONALIDADE.
Poderá ser admitido RE contra acórdão proferido por Tribunal local que, em ADI, reconheça
a inconstitucionalidade de lei estadual em face de norma da Constituição do estado, desde
que tal norma constitucional constitua mera repetição de dispositivo da CR.

24.8.5. Recurso Extraordinário contra Julgamento que Contraria Tratado Internacional sobre
Direitos Humanos
A violação a este tipo de tratado, caso recepcionado com o quórum de emenda à
Constituição, dará ensejo ao RE, não ao REsp.

24.8.6. Repercussão Geral


A repercussão geral foi inserida na Constituição da República pela Emenda Constitucional nº
45/03, com a seguinte previsão:
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706

Art. 102 [...]

§3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a


repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos
termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso,
somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus
membros.

A repercussão geral é um conceito jurídico indeterminado. Como é cediço, a função do


conceito vago não é outra senão a de driblar a complexidade das relações sociais do mundo
contemporâneo e a de fazer com que haja certa flexibilização adaptativa na construção e na
aplicação da norma jurídica. Eles se constituem na resposta adequada à permanente e
freqüentíssima mobilidade da realidade objetiva abrangida pela previsão normativa,
permitindo uma ‘aplicação atualista e individualizada da norma, ajustada às peculiaridades de
cada situação concreta’. Uma das mais relevantes funções do conceito vago é a de fazer com
que a norma dure mais tempo, fixar flexivelmente os limites de abrangência da norma, fazê-la
incidir em função das peculiaridades de casos específicos

Tem natureza jurídica de requisito de admissibilidade recursal.

Finalidades do instituto148:
1. Firmar o papel do STF como Corte Constitucional e não como órgão recursal;

2. Ensejar que o STF só analise questões relevantes para a ordem constitucional, cuja
solução extrapole o interesse subjetivo das partes;

3. Fazer com que o STF decida uma única vez cada questão constitucional, não se
pronunciando em processos com idêntica matéria.

O texto constitucional prescreve que o conteúdo normativo do que seja “repercussão geral”
deve ser delimitado por lei federal. A Lei Federal nº 11.418/2006 tratou de fazê-lo,
esclarecendo em seu art. 4º que a exigência se aplica aos recursos interpostos a partir da data
de sua vigência (na verdade, o STF entendeu que a exigência só se aplica aos recursos
extraordinários quando a intimação do acórdão recorrido tenha ocorrido a partir de 03 de
maio de 2007, data da publicação da Emenda Regimental n. 21, de 30 de abril de 2007 – AI-QO
664567/RS, abaixo transcrito).

c) Conforme entendimento do STF: 1) a exigência de repercussão geral é requisito de


admissibilidade de todos os recursos extraordinários, inclusive em matéria penal; 2) exige-se
a preliminar formal de repercussão geral, sob pena de não ser admitido o recurso
extraordinário; 3) A VERIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA DA PRELIMINAR FORMAL É DE
COMPETÊNCIA CONCORRENTE DO TRIBUNAL OU TURMA RECURSAL DE ORIGEM E DO STF; 4)
a análise da repercussão geral é de competência exclusiva do STF; 5) toda decisão de
inexistência de repercussão geral é irrecorrível (art. 543-A, caput, CPC e art. 326 do
Regimento Interno do STF).

148
Fonte: Site do STF. Jurisprudência - repercussão geral.
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707

Medina, Wambier e Wambier propõem a seguinte sistematização dos critérios para aferição
da repercussão geral149:1) repercussão geral jurídica: a definição da noção de um instituto
básico do nosso direito, de “molde a que aquela decisão, se subsistisse, pudesse significar
perigoso e relevante precedente”; 2) repercussão geral política: quando “de uma causa
pudesse emergir decisão capaz de influenciar, por exemplo, relações com Estados estrangeiros
ou organismo internacionais”; 3) repercussão geral social: quando se discutissem problemas
relacionados “à escola, à moradia ou mesmo a legitimidade do MP para a propositura de
certas ações”; 4) repercussão geral econômica: quando se discutisse, por exemplo, o sistema
financeiro de habitação ou a privatização de serviços públicos essenciais.
“A transcendência (TEORIA DA GRAVIDADE INSTITUCIONAL150)- que ultrapassem os limites
subjetivos da causa - da controvérsia constitucional levada ao conhecimento do Supremo
Tribunal Federal, pode ser caracterizada tanto em uma perspectiva qualitativa como
quantitativa”. Na primeira, sobreleva para individualização da transcendência o importe da
questão debatida para a sistematização e desenvolvimento do direito; na segunda, o número
de pessoas susceptíveis de alcance, atual ou futuro, pela decisão daquela questão pelo
Supremo e, bem assim, a natureza do direito posto em causa (notadamente, coletivo ou
difuso). 151

É totalmente justificável a decisão do constituinte derivado de atribuir exclusivamente ao STF


o poder de examinar a presença ou a ausência de repercussão geral das questões
constitucionais objeto do RE. É que, dada a função política exercida por essa Corte no sistema
brasileiro, e considerado o seu mister primordial de guardar a Constituição, deve ser sua a
atribuição de definir quais questões são capazes de efetivamente abalar a integridade do texto
constitucional. Ocorre que essa definição não está ao talante da Corte, livre de critério. Antes,
dentre tantos critérios possíveis, o constituinte derivado elegeu como parâmetro a ser seguido
pelo STF a potencialidade de as questões discutidas virem a interessar indiretamente a um
largo espectro de pessoas

149
Medina, José Miguel Garcia, Wambier, Teresa Arruda Alvim Wambier, Wambier, Luiz Rodrigues.
Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil 3. p. 246.
150
Na visão da Corte Suprema da Argentina, já recepcionada pela doutrina, pela legislação processual
(CPC, arts. 543-A, § 1º, e 543-C, caput) e pela jurisprudência dos Tribunais do Brasil, na compreensão
racional de que tais questões excedem ao mero interesse individual das partes e afetam de modo direto
o da comunidade em geral, conforme lições autorizadas de Nestor Pedro Saguès, citado por Bruno
Dantas, em sua dissertação de Mestrado sobre “Repercussão Geral”, dentro das questões de gravidade
institucional, pois é possível distinguir as que “superam os interesses dos princípios da causa, de tal
modo que ela comove a sociedade inteira, em seus valores mais substanciais e profundos (CSJN,
Julgados, 257:134 – caso Panjerek) – algo que poderia se denominar questão constitucional de interesse
comunitário total – daquelas que, ainda que não afetem a todos os habitantes, têm sua dimensão
suficiente para repercutir – no presente ou no futuro – em uma ampla gama de relações humanas:
questão de interesse comunitário parcial” (tradução livre, in “Repercussão Geral” – Perspectivas
histórica, dogmática e de direito comparado. Questões Processuais. RT. SP. 2ª Edição. 2009, pp.
121/122).
151
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão geral no recurso extraordinário. São
Paulo: Revista dos Tribunais, p. 37.
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708

24.8.6.1. Repercussão Geral no CPC (art. 543-A, CPC)

Art. 543-A. O Supremo Tribunal Federal, EM DECISÃO IRRECORRÍVEL,


não conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão constitucional
nele versada não oferecer repercussão geral, nos termos deste artigo.
(Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).

§ 1o Para efeito da repercussão geral, será considerada a existência, ou não,


de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou
jurídico, QUE ULTRAPASSEM OS INTERESSES SUBJETIVOS DA CAUSA.
(Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).

§ 2o O recorrente deverá demonstrar, em preliminar do recurso, para


apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a existência da
repercussão geral. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).

§ 3o Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão


contrária a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal. (Incluído pela
Lei nº 11.418, de 2006).

§ 4o Se a Turma decidir pela existência da repercussão geral por, no


mínimo, 4 (quatro) votos, ficará dispensada a remessa do recurso ao
Plenário. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).

§ 5o Negada a existência da repercussão geral, A DECISÃO VALERÁ PARA


TODOS OS RECURSOS SOBRE MATÉRIA IDÊNTICA, QUE SERÃO
INDEFERIDOS LIMINARMENTE, SALVO REVISÃO DA TESE, tudo nos termos
do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. (Incluído pela Lei nº
11.418, de 2006). Cabe aos Tribunais, de acordo com o STF, fazer
essa filtragem dos Recursos Extraordinários, devendo eles
próprios verificar se o RE não trata de tema cuja repercussão
geral já foi repelida. Caso haja erro no reconhecimento da
similitude do recurso, não cabe recurso para o STF, mas sim
agravo interno.

Sobre essa hipótese o STF já consolidou que “não é cabível a reclamação para corrigir eventual
equívoco na aplicação da repercussão geral pela Corte de origem” (AgRg na RCL 9.757/MG).
Assim, não há recurso apto dirigido ao STF para guerrear a decisão do Tribunal que obsta a
subida de recurso para o STF por ter entendido que o caso específico se enquadrava na
hipótese de inexistência de repercussão geral decidida no recurso selecionado por
O RECURSO CABÍVEL SERÁ O AGRAVO INTERNO,
amostragem.
PERANTE O TRIBUNAL DE ORIGEM. Nesse sentido:
Reclamação e erronia em aplicação de precedente em RG - 1
O Plenário retomou julgamento de agravos regimentais interpostos de
decisões do Min. Ricardo Lewandowski que, em reclamações das quais
relator, delas não conhecera ao aplicar a orientação da Corte no sentido de
ser incabível a reclamação para correção de eventual equívoco na
sistemática do regime da repercussão geral. A parte agravante alega
usurpação de competência do Supremo. Na sessão de 29.6.2011, o Min.
Ricardo Lewandowski desproveu o agravo regimental. Consignou que a
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709

competência para adoção do entendimento firmado pelo STF, em regime de


repercussão geral, seria dos tribunais de origem. Asseverou não haver
previsão constitucional a permitir reclamação para corrigir suposta erronia
nessas hipóteses. Afirmou que, caso haja algum equívoco nessa aplicação, as
partes não ficariam desabrigadas, dispondo do recurso de agravo interno
para sua correção. Nesta assentada, a Min. Ellen Gracie, em voto-vista,
acompanhou o relator para negar provimento ao agravo regimental. Aduziu
que a competência do STF somente se iniciaria com a manutenção, pela
instância ordinária, de decisão contrária ao entendimento firmado no
Supremo. REMEMOROU NÃO CABER AGRAVO DE INSTRUMENTO
NEM RECLAMAÇÃO DA DECISÃO CONTRA O ATO DA PRESIDÊNCIA
DO TRIBUNAL DE ORIGEM QUE, NA APLICAÇÃO DO PRECEDENTE
FIRMADO EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL, CLASSIFICASSE
ERRONEAMENTE O CASO CONCRETO. Nessa circunstância, reafirmou
ser cabível agravo interno. Acrescentou que, da decisão equivocada do
órgão especial ou do plenário, ainda poderiam ser opostos os embargos de
declaração para corrigir a ocorrência de erro material. Tudo no âmbito do
tribunal a quo. Rcl 11427AgR/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4.8.2011.
(Rcl-11427)

§ 6o O Relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a


manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos termos
do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. (Incluído pela Lei nº
11.418, de 2006). Importante isso, já que confere maior
legitimidade ao processo de objetivação do controle difuso .

§ 7o A Súmula da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, que


será publicada no Diário Oficial e valerá como acórdão. (Incluído pela Lei nº
11.418, de 2006).

A repercussão geral é um ônus do recorrente introduzido pela EC nº 45/04, a fim de que o


tribunal examine a admissão do recurso, que só poderá ser recusado pela manifestação de 2/3
dos seus membros. Se uma Turma decidir, pelo mínimo de 04 membros, sobre a existência de
repercussão geral, não é necessário o envio ao Plenário. Ela tem natureza jurídica de
PRESSUPOSTO PROCESSUAL DE ADMISSIBILIDADE.
Como o quórum qualificado é para decidir que o recurso não tem repercussão geral, pode-se
dizer que existe uma presunção em favor da existência de repercussão geral.

Somente o STF poderá decidir se existe ou não repercussão geral, podendo o tribunal
conhecer do recurso sem necessidade de recorrer ao pleno, já que se houver voto favorável de
04 Ministros, estará o recurso recebido.

Não existe recurso para combater a negativa de existência de repercussão geral, cabem no
máximo embargos de declaração.

Existem, porém, hipóteses de presunção absoluta de repercussão geral: sempre que o recurso
impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do STF e sempre que for
declarada a inconstitucionalidade de lei federal ou tratado.

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O legislador valeu-se de conceitos jurídicos indeterminados para a aferição da repercussão


geral.

Ela deve vir em preliminar do recurso, formalmente destacada, com um item expresso
chamado “repercussão geral”.

24.8.6.2. Repercussão Geral por Amostragem – Art. 543-B

Art. 543-B. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em


idêntica controvérsia, a análise da repercussão geral será processada nos
termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o
disposto neste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).

§ 1o Caberá ao Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos


representativos da controvérsia e encaminhá-los ao Supremo Tribunal
Federal, sobrestando os demais até o pronunciamento definitivo da Corte.
(Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).

§ 2o Negada a existência de repercussão geral, os recursos sobrestados


considerar-se-ão automaticamente não admitidos. (Incluído pela Lei nº
11.418, de 2006).

§ 3o Julgado o mérito do recurso extraordinário, os recursos sobrestados


serão apreciados pelos Tribunais, Turmas de Uniformização ou Turmas
Recursais, que poderão declará-los prejudicados ou retratar-se. (Incluído
pela Lei nº 11.418, de 2006).

§ 4o Mantida a decisão e admitido o recurso, poderá o Supremo Tribunal


Federal, nos termos do Regimento Interno, CASSAR OU REFORMAR,
LIMINARMENTE, O ACÓRDÃO CONTRÁRIO À ORIENTAÇÃO
FIRMADA. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).

§ 5o O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal disporá sobre as


atribuições dos Ministros, das Turmas e de outros órgãos, na análise da
repercussão geral. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006).

A Lei Federal nº 11.418/06 instituiu um incidente de análise da repercussão geral por


amostragem. Quando houver multiplicidade de recursos extraordinários com fundamento em
idêntica controvérsia, a análise dela será processada nos termos do RISTF.

Nesses casos, o tribunal de origem deverá selecionar um ou mais recursos representativos da


controvérsia e encaminhá-los ao STF, sobrestando os demais até o julgamento definitivo pela
Corte.

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA.


ALEGADA USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL PARA EXAMINAR A REPERCUSSÃO GERAL DE RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. NÃO CUMPRIMENTO DO REQUISITO EXIGIDO NO
ART. 317, § 1º, DO REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. 1. O fundamento da decisão agravada não foi impugnado
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711

pelo Agravante, que se limitou a reiterar os argumentos


apresentados na inicial. Precedentes. 2. Não cabe recurso ou outra
medida processual para o Supremo Tribunal Federal contra decisão
que aplica a sistemática da repercussão geral na origem, nos termos
do art. 543-B do Código de Processo Civil. Precedentes. 3. Agravo
regimental ao qual se nega provimento.

(STF, MS 29009 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno,


julgado em 02/03/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-070 DIVULG 12-
04-2011 PUBLIC 13-04-2011)

Veja, no entanto, que o que se sobresta é o seguimento dos recursos extraordinários, e não os
processos que estão discutindo as matérias constantes no recurso repetitivo selecionado:

PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - AUSENTES AS HIPÓTESES


DE CABIMENTO - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO IMPROVIDOS. Afastado o
pedido do INSS de sobrestamento do julgamento do presente recurso até
final decisão da repercussão geral pelo Plenário do STF, uma vez que além
de não ter sido determinada a suspensão de recursos fundados em idêntica
controvérsia, nos termos do art. 22, inciso II, do Regimento Interno deste
Tribunal compete ao Vice-Presidente decidir sobre a admissibilidade dos
recursos especiais e extraordinários. Nesse sentido o E. STJ firmou
entendimento de que, de acordo com o estabelecido no art. 543-B, do CPC,
o reconhecimento da repercussão geral em torno de determinada matéria
constitucional não impõe o sobrestamento de outros processos que
versem sobre a mesma questão. Apenas os recursos extraordinários
eventualmente apresentados é que poderão ser sobrestados. Ausentes
quaisquer das hipóteses do art. 535 do CPC a autorizar o provimento dos
embargos. A matéria objeto dos presentes embargos de declaração traz
questão que foi apreciada de forma explícita com o mérito da causa, não
apresentando o acórdão embargado, obscuridade, contradição ou omissão.
Embargos de declaração a que se nega provimento.( AC – 1414906 Data do
Julgamento: 07/11/2011)

Quando o Tribunal, apesar de recebida amostra de recurso para reconhecimento da


repercussão geral pelo STF, não sobresta o andamento dos demais processos, tem a Corte
determinado o retorno dos RE para a origem, a fim de aguardar o julgamento. Nesse sentido:

Embargos de declaração em agravo regimental em recurso extraordinário. 2.


Contribuição social previdenciária. Empregador rural pessoa física.
Incidência sobre a comercialização da produção. Reconhecimento da
repercussão geral. 3. Embargos acolhidos. Multa afastada. 4. Recurso
extraordinário devolvido ao tribunal de origem, com base no disposto no
art. 543-B do CPC.

(STF, RE 511332 AgR-ED, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda


Turma, julgado em 05/10/2010, DJe-204 DIVULG 22-10-2010 PUBLIC 25-10-

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712

2010 EMENT VOL-02421-02 PP-00392 LEXSTF v. 32, n. 383, 2010, p. 218-


221)

Negada a existência de repercussão geral, os recursos sobrestados serão considerados


AUTOMATICAMENTE INADMITIDOS.

Reconhecida a existência da repercussão geral E JULGADO O MÉRITO DO RE, os


recursos sobrestados serão apreciados pelos próprios tribunais, que poderão declará-los
prejudicados (se a pretensão recursal for contrária ao julgado do STF) ou retratar-se (se o
acórdão do Tribunal for divergente do acórdão do STF). Serão declarados prejudicados os
recursos cujo pedido for divergente da decisão do recurso por amostragem julgado pelo STF,
que, se processados, seriam improvidos.

QUANDO FOR JULGADO PREJUDICADO O RE, O STF TEM ENTENDIDO


QUE NÃO CABE RECURSO ALGUM.
Se não houver a retratação, admitido o RE cujo processamento ficara sobrestado, esse será
remetido ao STF para cassar ou reformar, liminarmente, o acórdão contrário à orientação
firmada.

O STF também fixou entendimento de que se o tribunal inferior não aplicar corretamente a
sistemática da repercussão geral, por entender erroneamente que determinado RE tem objeto
semelhante àquele cuja repercussão geral já foi descartada, não caberá reclamação dessa
decisão, devendo ela ser corrigida no âmbito do próprio tribunal, mediante algum recurso
regimental ou pedido de reconsideração. Nesse sentido:

RECLAMAÇÃO. SUPOSTA APLICAÇÃO INDEVIDA PELA PRESIDÊNCIA DO


TRIBUNAL DE ORIGEM DO INSTITUTO DA REPERCUSSÃO GERAL. DECISÃO
PROFERIDA PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO
JULGAMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 576.336-RG/RO. ALEGAÇÃO
DE USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DE
AFRONTA À SÚMULA STF 727. INOCORRÊNCIA. 1. Se não houve juízo de
admissibilidade do recurso extraordinário, não é cabível a interposição do
agravo de instrumento previsto no art. 544 do Código de Processo Civil,
razão pela qual não há que falar em afronta à Súmula STF 727. 2. O Plenário
desta Corte decidiu, no julgamento da Ação Cautelar 2.177-MC-QO/PE, que
a jurisdição do Supremo Tribunal Federal somente se inicia com a
manutenção, pelo Tribunal de origem, de decisão contrária ao
entendimento firmado no julgamento da repercussão geral, nos termos do §
4º do art. 543-B do Código de Processo Civil. 3. Fora dessa específica
hipótese não há previsão legal de cabimento de recurso ou de outro
remédio processual para o Supremo Tribunal Federal. 4. Inteligência dos
arts. 543-B do Código de Processo Civil e 328-A do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal. 5. Possibilidade de a parte que considerar
equivocada a aplicação da repercussão geral interpor agravo interno
perante o Tribunal de origem. 6. Oportunidade de correção, no próprio
âmbito do Tribunal de origem, seja em juízo de retratação, seja por
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713

decisão colegiada, do eventual equívoco. 7. Não-conhecimento da


presente reclamação e cassação da liminar anteriormente deferida. 8.
Determinação de envio dos autos ao Tribunal de origem para seu
processamento como agravo interno. 9. Autorização concedida à Secretaria
desta Suprema Corte para proceder à baixa imediata desta Reclamação.

(Rcl 7569, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em


19/11/2009, DJe-232 DIVULG 10-12-2009 PUBLIC 11-12-2009 EMENT VOL-
02386-01 PP-00158)

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. RECLAMAÇÃO. USURPAÇÃO DE


COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ALEGAÇÃO DE EQUÍVOCO
NA APLICAÇÃO DA REPERCUSSÃO GERAL PELO TRIBUNAL DE ORIGEM.
INOCORRÊNCIA. AGRAVO IMPROVIDO. I – A jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal firmou-se no sentido de que não é cabível a reclamação
para corrigir eventual equívoco na aplicação da repercussão geral pela
Corte de origem. II – Agravo improvido.

(Rcl 11250 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno,


julgado em 07/04/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 30-06-
2011 PUBLIC 01-07-2011)

Interessante saber que mesmo os recursos que vierem após o leading case do STF deverão ser
automaticamente inadmitidos pelo Tribunal. Porém, se por acaso o Tribunal ainda assim fizer
seu processamento, somente servirá para que o STF aplique seu precedente (reversal).

Assim, vê-se que o Supremo está fechando à força as portas de acesso, tentando ser uma
Corte puramente constitucional, para discutir teses constitucionais, e não casos. Isso dificulta
em muito o overruling, a possibilidade de alteração de uma tese consolidada, mas que deveria
ser superada ultrapassada.

No site do STF, no link que trata da RG tem uma parte que traz os recursos representativos da
controvérsia. Quando se clica nos representativos, aparece assim: sobre as matérias
relacionadas no quadro abaixo, já foi encaminhado ao STF os recursos representativos da
controvérsia, nos termos do art. 543-B, § 1º do CPC, o que permite o imediato sobrestamento
dos recursos que versem sobre os mesmos temas nos tribunais e turmas recursais de origem.

Notas do Master Juris

Então aconteceu um caso (AI 760358) que estava julgando exatamente o que? AI interposto
pela União contra a decisão proferida pela presidência da turma recursal federal do Estado de
Sergipe, que declarara prejudicado o RE interposto, tendo em vista o julgamento da matéria
pelo Supremo no RE nº tal. Então, o recurso foi declarado prejudicado e seria mais ou menos
isso: o acórdão do TRF é igual ao acórdão do STF. Então, o órgão responsável pela
admissibilidade declara ele prejudicado, é claro. Aí o que a parte fez?

Interpôs o agravo de instrumento (AI) e o Ministro Gilmar Mendes deu o seu voto e o
julgamento foi suspenso pelo pedido de vista da Ministra Ellen Gracie.

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714

O Ministro Gilmar Mendes está dizendo o seguinte: nesse caso específico a controvérsia era
sobre uma gratificação. A União está alegando que o STF julgou uma gratificação desta, mas o
caso concreto, que acabou sendo prejudicado, fala de outra gratificação. A parte que teve o
recurso prejudicado está alegando o seguinte: Supremo, o meu caso é diferente daquele que
você julgou. O que eles estão tentando fazer é a técnica do distinguish. É a mesma coisa que
você querer dizer que um recurso que discute prisão decorrente de inadimplemento de
pensão alimentícia fique prejudicado por já haver um precedente que tratou de prisão de
depositário infiel. Os dois casos são casos de prisões civis, só que por fundamentos diferentes.
Então o resultado tem que ser diferente. Isso é distinguish. Só que aqui o distinguish foi
travado nos limites da nova compreensão, porque a gente tem que analisar as leis que
instituíram essas duas gratificações que a União está dizendo que são diferentes. Portanto, o
julgamento de uma gratificação daquelas não pode ser estendido para a outra. É a técnica do
distinguish, a parte está querendo demonstrar que o caso concreto dela é diferente daquele
paradigma, aquele que o STF escolheu para representar a controvérsia.

Pois bem, o Ministro Gilmar Mendes disse o seguinte: o AI dirigido ao Supremo não é o meio
processual adequado para que a parte questione decisão de tribunal a quo que julga
prejudicado o recurso.

Qual é o instrumento então?

Ele falou que é nenhum, ele disse que não tem esse instrumento. Aí é que vem a relevância
desse voto dele. Ele falou que nós estamos na 2ª fase da reforma constitucional que instituíra
a RG, dando origem ao novo modelo de controle difuso de constitucionalidade no âmbito do
STF.

24.8.6.3. Repercussão Geral e Direito Intertemporal


Sabe-se que a CR/88, na redação atribuída pela EC 45/04, previu a repercussão geral no
recurso extraordinário em norma constitucional dotada de eficácia limitada (art. 102, § 3º).
Veio, então, a Lei 11.418, em 19/12/2006, cuja vigência, no entanto, somente se deu 60 dias
mais tarde. De sua parte, o STF apenas em 03/05/2007 fez publicar emenda regimental (n.
21/2007) que deu aplicabilidade àquela lei, definindo uma série de aspectos cujo trato o
legislador encomendou exatamente ao regimento interno do STF. E, em suas decisões, adotou
exatamente este último marco como o ponto de referência a fim de se aquilatar a aplicação da
nova sistemática tracejada particularmente nos § § 1º, 2º e 3º do art. 543-B do CPC.

Afora adotar o dia 03/05/2007 como parâmetro, o Plenário do STF também decidiu que os
PODEM SER APLICADOS
regramentos trazidos nos § § 1º e 3º do art. 543-B do CPC
INCLUSIVE QUANTO A RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS - E AOS AGRAVOS
DE INSTRUMENTO DELES DECORRENTES - INTERPOSTOS
ANTERIORMENTE. Por outro lado, firmou-se entendimento no sentido de que a regra
burilada pelo § 2º deste mesmo art. 543-B não pode irradiar efeitos quanto a recurso
interposto antes de 03/05/2007.

Veja-se a ementa do leading case em que assentadas essas premissas:


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715

QUESTÕES DE ORDEM. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONVERSÃO EM


RECURSO EXTRAORDINÁRIO (CPC, ART. 544, PARÁGRAFOS 3º E 4º).
MAJORAÇÃO DA ALÍQUOTA DA COFINS DE 2 PARA 3 POR CENTO.
CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 8º DA LEI 9.718/99. RELEVÂNCIA
ECONÔMICA, SOCIAL E JURÍDICA DA CONTROVÉRSIA. RECONHECIMENTO DA
EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL DA QUESTIO DEDUZIDA NO APELO
EXTREMO INTERPOSTO. PROCEDIMENTOS DE IMPLANTAÇÃO DO REGIME
DA REPERCUSSÃO GERAL. PLENA APLICABILIDADE DOS MECANISMOS
PREVISTOS NOS PARÁGRAFOS 1º E 3º DO ART. 543-B, DO CPC, AOS
RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS (E AOS AGRAVOS DE INSTRUMENTOS A ELES
VINCULADOS) QUE DISCUTAM QUESTÃO DOTADA DE REPERCUSSÃO GERAL
JÁ FORMALMENTE PROCLAMADA, MAS QUE TENHAM SIDO INTERPOSTOS
CONTRA ACÓRDÃOS PUBLICADOS EM DATA ANTERIOR A 3 DE MAIO DE
2007. AUTORIZAÇÃO CONCEDIDA ÀS INSTÂNCIAS A QUO DE ADOÇÃO,
QUANTO AOS RECURSOS ACIMA ESPECIFICADOS, DOS PROCEDIMENTOS DE
SOBRESTAMENTO, RETRATAÇÃO E DECLARAÇÃO DE PREJUDICIALIDADE
CONTIDOS NO ART. 543-B, DO CPC. 1. Mostram-se atendidos todos os
pressupostos de admissibilidade, inclusive quanto à formal e expressa
defesa pela repercussão geral da matéria submetida a esta Corte Suprema.
Da mesma forma, o instrumento formado traz consigo todos os subsídios
necessários ao perfeito exame do mérito da controvérsia. Conveniência da
conversão dos autos em recurso extraordinário. 2. A constitucionalidade do
art. 8º da Lei 9.718/99 (majoração da alíquota da COFINS de 2 para 3 por
cento) - assunto de indiscutível relevância econômica, social e jurídica - será,
em breve, apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, em razão da afetação
ao Plenário, pela 2ª Turma, do julgamento do RE 527.602-AgR. 3. Primeira
questão de ordem resolvida, com a conversão do agravo de instrumento em
recurso extraordinário e o reconhecimento, pelo Plenário, da repercussão
geral da matéria nele discutida. 4. RECONHECIDA, PELO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL, A RELEVÂNCIA DE DETERMINADA CONTROVÉRSIA
CONSTITUCIONAL, APLICAM-SE IGUALMENTE AOS RECURSOS
EXTRAORDINÁRIOS ANTERIORES À ADOÇÃO DA SISTEMÁTICA DA
REPERCUSSÃO GERAL os mecanismos previstos nos parágrafos 1º e 3º do
art. 543-B, do CPC. Expressa ressalva, nessa hipótese, quanto à
inaplicabilidade do teor do parágrafo 2º desse mesmo artigo (previsão legal
da automática inadmissão de recursos), por não ser possível exigir a
presença de requisitos de admissibilidade implantados em momento
posterior à interposição do recurso. 5. Segunda questão de ordem resolvida
no sentido de AUTORIZAR OS TRIBUNAIS, TURMAS RECURSAIS E TURMAS
DE UNIFORMIZAÇÃO A ADOTAREM, QUANTO AOS RECURSOS
EXTRAORDINÁRIOS INTERPOSTOS CONTRA ACÓRDÃOS PUBLICADOS
ANTERIORMENTE A 03.05.2007 (E AOS SEUS RESPECTIVOS AGRAVOS DE
INSTRUMENTO), OS MECANISMOS DE SOBRESTAMENTO, RETRATAÇÃO E
DECLARAÇÃO DE PREJUDICIALIDADE PREVISTOS NO ART. 543-B, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. (STF, Plenário, AI 715423 QO, Rel. Min. Ellen
Gracie, DJe de 04/09/2008)

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24.8.6.4.. Repercussão Geral por Meio Eletrônico


Para acelerar a análise da repercussão geral, caberá ao relator manifestar-se sobre sua
existência ou não, submetendo a questão aos demais Ministros, por meio eletrônico, que
TERÃO O PRAZO DE 20 DIAS PARA SE PRONUNCIAREM.

SE, DENTRO DESTE PRAZO, NINGUÉM SE MANIFESTAR OU SE MANIFESTAR O NÚMERO


SUFICIENTE, CONSIDERAR-SE-Á QUE EXISTE A REPERCUSSÃO GERAL. Logo, trata-se de prazo
próprio preclusivo.

24.8.6.5. A Objetivação do Recurso Extraordinário


Trata-se de fenômeno de, não obstante o RE ser recurso de controle difuso, vir sendo utilizado
para o controle abstrato (exame da inconstitucionalidade em tese, não diante de um fato
concreto).

Nada impede que o controle de constitucionalidade seja difuso, mas abstrato: a análise da
constitucionalidade é feita em tese, embora por qualquer órgão judicial.

O STF, ao examinar a constitucionalidade de uma lei em RE, tem decidido em abstrato sobre a
questão de inconstitucionalidade, passando a orientar os tribunais em situação semelhante.

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


CONTRIBUIÇÃO SOCIAL. ALTERAÇÃO. BASE DE CÁLCULO. LEI N. 9.718/98.
VIOLAÇÃO DO ARTIGO 239 DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. O Supremo
Tribunal Federal tem entendido, a respeito da tendência de não-estrita
subjetivação ou de maior objetivação do recurso extraordinário, que ele
deixa de ter caráter marcadamente subjetivo ou de defesa de interesse
das partes, para assumir, de forma decisiva, a função de defesa da ordem
constitucional objetiva. Precedentes. Agravo regimental a que se nega
provimento.

(STF, RE 475812 AgR, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado
em 13/06/2006, DJ 04-08-2006 PP-00073 EMENT VOL-02240-08 PP-01542)

Indo mais além, o Supremo já determinou em sede de RE que os tribunais inferiores são
obrigados a seguir seu entendimento jurisprudencial firmado pelo plenário quando do
julgamento de extraordinário:

RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE INOBSERVÂNCIA POR MAGISTRADO DE


PRIMEIRA INSTÂNCIA DA DECISÃO PROFERIDA PELO PLENÁRIO DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO JULGAMENTO DO MÉRITO DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO 583.955-RG/RJ. INSTITUTO DA REPERCUSSÃO GERAL.
COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE ORIGEM PARA SOLUCIONAR CASOS
CONCRETOS. CORREÇÃO DA EVENTUAL DESOBEDIÊNCIA À ORIENTAÇÃO
ESTABELECIDA PELO STF PELA VIA RECURSAL PRÓPRIA, EM JULGADOS DE
MÉRITO DE PROCESSOS COM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
RECLAMAÇÃO NÃO CONHECIDA. 1. AS DECISÕES PROFERIDAS PELO
PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUANDO DO JULGAMENTO
DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS COM REPERCUSSÃO GERAL VINCULAM
OS DEMAIS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO NA SOLUÇÃO, POR ESTES, DE
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OUTROS FEITOS SOBRE IDÊNTICA CONTROVÉRSIA. 2. CABE AOS JUÍZES E


DESEMBARGADORES RESPEITAR A AUTORIDADE DA DECISÃO DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL TOMADA EM SEDE DE REPERCUSSÃO
GERAL, ASSEGURANDO RACIONALIDADE E EFICIÊNCIA AO SISTEMA
JUDICIÁRIO E CONCRETIZANDO A CERTEZA JURÍDICA SOBRE O TEMA. 3. O
LEGISLADOR NÃO ATRIBUIU AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL O ÔNUS DE
FAZER APLICAR DIRETAMENTE A CADA CASO CONCRETO SEU
ENTENDIMENTO. 4. A Lei 11.418/2006 evita que o Supremo Tribunal
Federal seja sobrecarregado por recursos extraordinários fundados em
idêntica controvérsia, pois atribuiu aos demais Tribunais a obrigação de os
sobrestarem e a possibilidade de realizarem juízo de retratação para
adequarem seus acórdãos à orientação de mérito firmada por esta Corte. 5.
Apenas na rara hipótese de que algum Tribunal mantenha posição contrária
à do Supremo Tribunal Federal, é que caberá a este se pronunciar, em sede
de recurso extraordinário, sobre o caso particular idêntico para a cassação
ou reforma do acórdão, nos termos do art. 543-B, § 4º, do Código de
Processo Civil. 6. A competência é dos Tribunais de origem para a solução
dos casos concretos, cabendo-lhes, no exercício deste mister, observar a
orientação fixada em sede de repercussão geral. 7. A cassação ou revisão
das decisões dos Juízes contrárias à orientação firmada em sede de
repercussão geral há de ser feita pelo Tribunal a que estiverem vinculados,
pela via recursal ordinária. 8. A atuação do Supremo Tribunal Federal, no
ponto, deve ser subsidiária, só se manifesta quando o Tribunal a quo
negasse observância ao leading case da repercussão geral, ensejando,
então, a interposição e a subida de recurso extraordinário para cassação ou
revisão do acórdão, conforme previsão legal específica constante do art.
543-B, § 4º, do Código de Processo Civil. 9. Nada autoriza ou aconselha que
se substituam as vias recursais ordinária e extraordinária pela reclamação.
10. A novidade processual que corresponde à repercussão geral e seus
efeitos não deve desfavorecer as partes, nem permitir a perpetuação de
decisão frontalmente contrária ao entendimento vinculante adotado pelo
Supremo Tribunal Federal. Nesses casos o questionamento deve ser
remetido ao Tribunal competente para a revisão das decisões do Juízo de
primeiro grau a fim de que aquela Corte o aprecie como o recurso cabível,
independentemente de considerações sobre sua tempestividade. 11. No
caso presente tal medida não se mostra necessária. 12. Não-conhecimento
da presente reclamação.

(STF, Rcl 1.0793, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em
13/04/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-107 DIVULG 03-06-2011 PUBLIC
06-06-2011)

24.9. Embargos de Divergência (arts. 496, VIII, e 546)

24.9.1. Objetivos
Trata-se de recurso que visa uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, afastando
conflitos internos de entendimento. Obtida a uniformização, atende-se ao segundo objetivo
dos embargos de divergência: reformular/anular o acórdão embargado.

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24.9.2. Hipóteses de Cabimento


Os embargos de divergência cabem do JULGAMENTO DE TURMA. Se, no STJ, o julgamento
tiver sido proferido por Seção ou pela Corte Especial, e, no STF, pelo Plenário, não será cabível
o recurso.

Também só será cabível caso a divergência se baseie em REsp ou RE, podendo dizer respeito
tanto ao mérito quanto à admissibilidade (desde que conhecido o recurso).

A jurisprudência não admite a interposição do recurso se o REsp ou Re não tiver sido


conhecido.

Em resumo, para que caibam os embargos, é preciso que:

a) Tenha havido decisão colegiada, ou seja, mediante acórdão, não sendo cabível contra
decisão monocrática de relator;

b) O acórdão tenha sido proferido por Turma;

c) Esse acórdão tenha decidido um REsp ou RE. Confirmando esse requisito:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. DECISÃO EM


RECURSO ESPECIAL.

Nos embargos de divergência, apenas as decisões proferidas em recurso


especial são admitidas para comprovar os dissídios jurisprudenciais entre
as Turmas deste Tribunal, entre estas e a Seção ou Corte Especial (art. 546,
I, do CPC e art. 266 do RISTJ). Com base nesse entendimento, a Seção negou
provimento ao regimental que utilizara habeas corpus como
paradigma. EREsp 998.249-RS, 3S, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgados
em 12/9/2012.

Há, no entanto, uma situação que autoriza a interposição do recurso contra acórdão proferido
por Turma em agravo de instrumento ou agravo regimental interno. É o caso da parte que
interpõe agravo interno em face de decisão do relator que julga monocraticamente o REsp ou
o RE, por se encontrar o pedido em conflito com a jurisprudência interna. Se do julgamento do
agravo interno por turma houver dissídio com julgado proferido por outro órgão do tribunal,
será ele cabível. Nesse sentido:

Em regra, os embargos de divergência da competência do STJ só seriam


cabíveis quando interpostos contra decisão de Turma que julgar recurso
especial, conforme o disposto no art. 546, I, do CPC e art. 266 do RISTJ.
Ocorre que, diante da competência atribuída ao relator para decidir
monocraticamente o recurso especial (arts. 544, § 3º, e 557, ambos do CPC),
a jurisprudência do STJ passou a admitir a interposição dos referidos
embargos contra decisão de Turma proferida em sede de agravo regimental,
seja nos autos de recurso especial seja nos autos de agravo de instrumento
convertido, desde que apreciado o mérito do recurso especial interposto.
(STJ, Corte Especial, Informativo 452, EAg 1.132.430-SC)

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A regra é que os embargos de divergência são cabíveis apenas em acórdão em Resp e RE, não
de acórdão em agravos de instrumento, regimental ou interno. Há, todavia, exceções. Por
exemplo, se o relator do agravo de instrumento, contra a denegação de Resp, dá provimento
do agravo de instrumento, para prover o Resp, neste caso, cabe agravo regimental. Do
acórdão do tribunal que julgar o regimental, se houver algum dissídio com o julgamento de
outra turma, cabem embargos de divergência.

Súmula 316, STJ: “Cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo regimental,
decide recurso especial”.

Súmula 315, STJ: “Não cabem embargos de divergência no âmbito do agravo de instrumento
que não admite recurso especial”.

O recurso é cabível quando a decisão da Turma estiver divergindo da decisão tomada por
outra Turma, Seção, Corte Especial ou Plenário. Se a divergência for com outra Turma que
integre a mesma Seção ou com a própria Seção, será esta quem julgará os embargos. Se a
divergência for com Turma de outra Seção, com outra Seção ou com a Corte Superior, cabe a
esta o julgamento.

ADMITINDO
Consoante Didier, o STF alterou o seu entendimento quanto à Súmula 353,
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA COM BASE EM DIVERGÊNCIA DE JULGADO
DA MESMA TURMA, NO CASO DE TER VARIADO A RESPECTIVA
COMPOSIÇÃO, de um para outro julgamento:
E M E N T A: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA - PRESSUPOSTOS FORMAIS DE
SUA UTILIZAÇÃO - CRITÉRIO DA DIVERSIDADE ORGÂNICA (SÚMULA 353/STF)
- PADRÃO DE DIVERGÊNCIA QUE EMANOU DA MESMA TURMA QUE
PROFERIU A DECISÃO EMBARGADA - COMPOSIÇÃO SUBSTANCIALMENTE
IDÊNTICA DESSE ÓRGÃO FRACIONÁRIO - EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NÃO
ADMITIDOS. - Os embargos de divergência estão sujeitos, dentre os vários
pressupostos que lhe condicionam a interposição, à observância do
requisito da diversidade orgânica. Esse requisito impõe que o padrão de
divergência - para ser validamente invocado como expressão do dissídio
interpretativo - resulte de acórdão emanado, ou do Plenário ou de outra
Turma do Supremo Tribunal Federal, pois não se reveste de idoneidade
processual, para efeito de demonstração do conflito pretoriano, a indicação
de acórdão proferido pela própria Turma de que proveio a decisão contra a
qual foram opostos os embargos de divergência (Súmula 353/STF),
ressalvada a hipótese excepcional de a Turma haver sofrido substancial
modificação em sua composição. Precedentes. - Inocorrência, na espécie,
dessa hipótese excepcional, pois os acórdãos em confronto emanaram da
mesma Turma cuja composição majoritária - quatro (4) Ministros, no caso -
manteve-se substancialmente inalterada.

(STF, RE 318469 EDv-QO, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno,


julgado em 03/10/2002, DJ 11-10-2002 PP-00022 EMENT VOL-02086-06 PP-
01184 RTJ VOL-00183-02 PP-00793)
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Porém, o STJ entende e continua entendendo diferente:

Informativo 457

A Seção, entre outras questões, reiterou o entendimento de que não cabem


embargos de divergência entre acórdãos oriundos da mesma Turma,
mesmo que sua composição tenha sido alterada. Precedentes citados:
AgRg nos EREsp 944.410-RN, DJe 23/3/2009; AgRg na Pet 6.558-SP, DJe
28/10/2008; AgRg nos EREsp 442.774-SP, DJ 21/8/2006, e EREsp 255.378-SC,
DJ 13/9/2004. (STJ, 2S, EREsp 798.264-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgados em 24/11/2010).

Não se exige ausência de unanimidade. Ainda que a decisão tenha sido unânime, cabem os
embargos de divergência, se o acórdão divergir de acórdão de outra turma, v.g.

24.9.3. Necessidade de a Divergência ser Atual e sua Comprovação (Confronto Analítico)


A divergência, para que se possa interpor os embargos, tem que ser atual. Isso quer dizer que
o acórdão paradigma deve ser recente e que o entendimento sobre o assunto não tenha sido
pacificado.

Súmula 168, STJ: “Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do tribunal se
formou no mesmo sentido do acórdão embargado”.

Súmula 598, STF: “Nos embargos de divergência não servem como padrão de discordância os
mesmos paradigmas invocados para demonstrá-la, mas repelidos como dissidentes no
julgamento do recurso extraordinário”. Essa súmula quer dizer que os julgados colacionados no
recurso extraordinário da parte a fim de dar suporte à sua fundamentação, no ensejo de dar
provimento ao RE, não serão válidos como fundamento para futuros embargos de divergência
se o próprio acórdão que julga o recurso extraordinário repele a divergência, por não ser ela
mais atual.

Além de ser atual a divergência, é preciso que o acórdão paradigma tenha sido proferido por
órgão que ainda mantenha competência para a matéria ali versada. Se tiver ocorrido
modificação de tal competência, não será mais cabível. Nesse sentido:

Súmula 158, STJ: “Não se presta a justificar embargos de divergência o dissídio com acórdão de
Turma ou seção que não mais tenha competência para a matéria neles versada”.

Somente será admitido o recurso se houver o confronto analítico entre o acórdão recorrido e o
acórdão paradigma. Cabe à parte proceder tal confronto, o que é verdadeira condição de
admissibilidade, não sendo suficiente a mera transcrição de ementas.

Impõe-se que, na petição recursal, para efeito de caracterização do conflito interpretativo,


sejam reproduzidos os trechos dos votos que configuram a divergência indicada,
mencionando, ainda, as circunstâncias que identificam ou que tornam assemelhados os casos
em confronto.

Porém, se a ementa contiver todos os detalhes do caso, será o bastante para, feito o cotejo
analítico, ter como comprovada a divergência jurisprudencial.
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24.9.4. Procedimento
O recurso deve ser interposto no prazo de 15 dias. Após admitido, será intimado o embargado
para contrarrazões, após o que será incluído em pauta para julgamento. Ele não terá efeito
suspensivo, embora na prática a jurisprudência o conceda.

Após a interposição, não se intima desde logo a outra parte para contra-arrazoar. Desde logo
será sorteado relator, o qual poderá indeferir liminarmente o recurso quando:

a) For intempestivo;

b) Contrariar súmula do Tribunal;

c) Não se configurar a divergência jurisprudencial.

Após admitido, abre-se o prazo de 15 dias.

Não cabem embargos de divergência adesivos; não haverá revisor, sendo possível a
sustentação oral.

O recurso exige preparo somente quando interposto contra acórdão que julga RE, não se
exigindo no caso do REsp.

24.10. Tabela Síntese - REsp Repetitivo e RE por Amostragem e AI Denegado


AGRAVO DE INSTRUMENTO
RECURSO ESPECIAL REPETITIVO REPERCUSSÃO GERAL POR
QUANDO DENEGADO RESP OU
(POR AMOSTRAGEM) AMOSTRAGEM
RE
Previsão Art. 544 Art. 543-C Art. 543-B
Quando o RE ou REsp tiver Quando houver multiplicidade de Quando houver multiplicidade de
seguimento negado no Tribunal recursos com fundamento em recursos com fundamento em
de origem. idêntica questão de direito. idêntica controvérsia, a análise da
Caberá ao Presidente do Tribunal repercussão geral será processada
de origem admitir um ou mais nos termos do Regimento Interno
Conceito recursos representativos da do STF.
controvérsia, encaminhando-os
ao STJ; os demais ficarão
suspensos até o pronunciamento
definitivo da Corte
Poderá o relator: Não conhecer O RELATOR no STJ, ao identificar Caberá ao Tribunal de origem
do agravo manifestamente que sobre a controvérsia já existe selecionar um ou mais recursos
inadmissível ou que não tenha jurisprudência dominante ou que representativos da controvérsia e
atacado especificamente os a matéria já está afeta ao encaminhá-los ao Supremo
fundamentos da decisão colegiado, PODERÁ DETERMINAR Tribunal Federal.
agravada; Conhecer do agravo A SUSPENSÃO, NOS TRIBUNAIS DE Quando o Tribunal, apesar de
para: Negar-lhe provimento, se SEGUNDA INSTÂNCIA, DOS recebida amostra de recurso para
correta a decisão que não admitiu RECURSOS NOS QUAIS A reconhecimento da RG pelo STF,
Procedimento o recurso; Negar seguimento ao CONTROVÉRSIA ESTEJA não sobresta o andamento dos
recurso manifestamente ESTABELECIDA. demais processos, tem a Corte
inadmissível, prejudicado ou em Poderá o relator negar determinado o retorno dos RE
confronto com súmula ou seguimento ao REsp se em para a origem, a fim de aguardar
jurisprudência dominante no conformidade a súmula ou juris o julgamento.
tribunal; Dar provimento ao dominante do STJ/STF.
recurso, se o acórdão recorrido
estiver em confronto com súmula
ou jurisprudência dominante no
tribunal.
O relator, poderá admitir O Relator poderá admitir, na
Participação manifestação de pessoas, órgãos análise da RG, a manifestação de
de Terceiros ou entidades com interesse na terceiros, subscrita por
controvérsia. É uma faculdade do procurador habilitado, nos termos

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Tribunal e não um direito do Regimento Interno do


subjetivo. Supremo Tribunal Federal.
Se o acórdão recorrido tiver o Negada a existência de RG, os
mesmo entendimento do recursos sobrestados serão
julgamento do STJ, terão eles considerados automaticamente
seguimento denegado (art. 543-C, inadmitidos. Reconhecida a
§ 7º, I) Se o acórdão recorrido existência da RG E JULGADO O
tiver conteúdo diferente do MÉRITO DO RE, os recursos
entendimento do STJ, ele será sobrestados serão apreciados
novamente analisado pelo pelos próprios tribunais, que
tribunal de origem, o qual poderão declará-los prejudicados
Julgamento simplesmente prolatará outra (se a pretensão do RE contrariar o
decisão, sem renovar o julgado do STF) ou retratar-se (se
procedimento recursal. Caso o o acórdão do Tribunal divergir do
tribunal não reveja seu acórdão do STF). Se não houver a
entendimento, ele fará o exame retratação, admitido o RE cujo
de admissibilidade do recurso e, processamento ficara sobrestado,
se positivo o juízo, remeterá os esse será remetido ao STF para
autos ao STJ. cassar ou reformar, liminarmente,
o acórdão contrário à orientação
firmada.
Cabe agravo de instrumento. Não cabe recurso da decisão do Não cabe recurso ou outra
relator, do STJ ou do Tribunal, que medida processual para o STF
Recurso determina o sobrestamento. Não contra decisão que aplica a
cabe recurso pela aplicação sistemática da RG na origem.
errada no tribunal da sistemática.
Os juízes apreciarão normalmente Se o tribunal errando na análise
os pedidos de medidas de da RG, entender determinado RE
urgência mesmo nos processos tem objeto semelhante àquele
Observações com andamento suspenso. cuja RG já foi descartada, não
caberá reclamação dessa decisão,
devendo ela ser corrigida no
âmbito do próprio tribunal.

24.11. Observações de Provas


1. TRF1 – XII – QUESTÃO 76. Das decisões proferidas em audiência de instrução, nos
procedimentos ordinário e no sumário, caberá a interposição do agravo de forma
retida, que deve ser interposto de forma oral e imediata sob pena de preclusão.

2. TRF1 – XII – QUESTÃO 76. Quando do julgamento do recurso de apelação,


ultrapassado o segundo juízo de admissibilidade, o provimento do agravo retido
provocará a NULIDADE DA SENTENÇA proferida pelo juiz de primeiro grau.

3. TRF1 – XII – QUESTÃO 76. Da decisão que determina a retenção do agravo de


instrumento em retido NÃO CABERÁ RECURSO DE AGRAVO, no prazo de cinco dias,
mesmo na hipótese de haver prejuízos à parte, cabendo ao agravante impetrar
mandado de segurança contra ato judicial.

4. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 45. A apelação de sentença proferida em processo


cautelar que condene autarquia federal a pagar vantagens pecuniárias a servidor
público será recebida no duplo efeito152.

5. TRF3 – XV – QUESTÃO 95. A lei estrangeira, aplicada por força de dispositivo de


direito internacional privado brasileiro, SE EQUIPARA À LEGISLAÇÃO FEDERAL

152
Isso porque, apesar de nominalmente cautelar, o efeito do processo foi flagrantemente satisfativo,
motivo que enseja o efeito suspensivo.
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723

BRASILEIRA, para efeito de admissibilidade de recurso especial, quando contrariada


ou lhe for negada vigência pelo Juiz nacional.

6. TRF3 – XIII – QUESTÃO 69. A apelação pode ser interposta a partir do momento em
que a parte toma ciência inequívoca da decisão, ainda que sem publicação pela
imprensa.

7. TRF4 – XIV – QUESTÃO 44. Determinada a suspensão do andamento de recursos no


âmbito do STJ, em virtude de instauração do procedimento do art. 543-C do CPC
(recursos repetitivos), os juízes apreciarão normalmente os pedidos de medidas de
urgência mesmo nos processos com andamento suspenso.

8. TRF4 – XIII – QUESTÃO 72. Não admite agravo regimental a decisão que defere ou
indefere a antecipação dos efeitos da tutela recursal.

9. TRF4 – XIII – QUESTÃO 66. Presume-se a repercussão geral nas hipóteses em que o
recurso extraordinário impugnar acórdão cujo fundamento contrariar súmula ou
jurisprudência dominante do STF.

10. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 52. Ao julgar antecipadamente uma lide, o juiz apontou,
de forma equivocada, a prescrição da pretensão do autor de obter do réu reparação
por danos materiais e proferiu sentença de mérito sem ouvir testemunhas ou
deliberar acerca de perícia requerida. Contra a sentença foi interposta apelação,
conhecida e provida. Com relação à situação hipotética ainda que não ocorra, na
hipótese, o chamado efeito desobstrutivo153, o tribunal deve determinar o retorno dos
autos ao primeiro grau, para a devida instrução.

11. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 44. Apesar de a lei exigir como requisito formal da
apelação que, na peça de interposição, constem o nome e a qualificação das partes, a
falta de qualificação pode ser considerada mera irregularidade quando a interposição
é feita por uma delas, O QUE NÃO OCORRE SE O APELANTE FOR UM TERCEIRO
PREJUDICADO.

12. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 43. Um TRF, julgando determinado recurso interposto
contra decisão de juiz federal, reconheceu a ilegitimidade passiva da União, a qual
integrava a lide no polo passivo em litisconsórcio com outras pessoas. Caso o recurso
julgado tivesse sido um agravo, não subsistiria motivo para justificar a competência da
justiça federal, devendo ocorrer a remessa dos autos à justiça estadual, visto que da
lide não mais participa o ente federal.

13. TRF5 – IX – CESPE – QUESTÃO 95. É irrecorrível a decisão monocrática do relator que
determine a conversão do agravo de instrumento em agravo retido e que decida
sobre a antecipação dos efeitos da tutela recursal ou a concessão de efeito
suspensivo ao recurso.

153
Efeito desobstrutivo é o que ocorre, após o julgamento da apelação, que permite ao tribunal
adentrar no mérito da AÇÃO, que não é o mérito da apelação.
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724

14. TRF5 – IX – CESPE – QUESTÃO 91. Ao julgar apelação, o órgão ad quem pode
reexaminar de ofício questões já decididas no curso do processo, relativas às
condições da ação, à litispendência, à coisa julgada ou aos pressupostos processuais,
ainda que a parte prejudicada pela decisão não tenha contra elas interposto recurso.

15. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 84. O recurso especial, interposto antes da publicação
do acórdão dos embargos de declaração, necessita de posterior ratificação.

16. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 85. A questão federal somente ventilada no voto
vencido não atende ao requisito do pré–questionamento.

17. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 85. Os embargos infringentes são cabíveis quando tiver
havido divergência quanto à parte dispositiva da decisão.

18. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 87. Não cabe recurso, por violação de lei federal,
quando houver ofensa a regimento de tribunal.

19. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 50. O direito processual civil acolhe o princípio da
vedação à reformatio in pejus, mas, na hipótese de a apelação interposta pelo autor
evidenciar, por exemplo, a ausência de condição de ação, o órgão ad quem poderá
extinguir o processo, sem julgamento do mérito, o que é decorrência do chamado
efeito translativo do recurso.

20. EMAGIS – 2012/30 – QUESTÃO 11. Contra acórdão exarado pelo Tribunal de Justiça,
João interpõs recurso especial ao passo que a parte adversa opôs embargos de
declaração. Publicado o acórdão relativo a esses embargos, se João não ratificar o seu
recurso especial anteriormente interposto, é correto afirmar que lhe será negado
trânsito154.

21. EMAGIS – 2012/30 – QUESTÃO 11. A empresa TEM S/A foi condenada, em acórdão
prolatado pela 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais de Goiânia, a devolver à parte
autora todos os valores que lhe foram cobrados a título de assinatura básica em
relação aos serviços de telefonia fixa. Nesse caso, em hipótese alguma será cabível
recurso especial contra esse acórdão155.

22. EMAGIS – 2012/20 – QUESTÃO 11. Não compete ao Supremo Tribunal Federal
conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que
ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem156.

23. EMAGIS – 2012/20 – QUESTÃO 11. Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o
pedido de medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de
admissibilidade157.

154
Súmula 418, STJ: “É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos
embargos de declaração, sem posterior ratificação”.
155
Súmula 203, STJ: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos
Juizados Especiais”.
156
Súmula 634, STF.
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725

24. EMAGIS – 2012/20 – QUESTÃO 11. Segundo o Superior Tribunal de Justiça, é cabível,
em casos excepcionalíssimos, o ajuizamento de medida cautelar diretamente
naquela Corte Superior com vistas a atribuir efeito suspensivo a recurso especial que
sequer fora interposto no Tribunal de origem158.

25. EMAGIS – 2012/19 – QUESTÃO 11. A regra é que seja interposto o agravo na
modalidade retida, somente cabendo sua interposição por instrumento quando se
tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem
como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a
apelação é recebida.

26. EMAGIS – 2012/19 – QUESTÃO 11. Na modalidade de agravo retido o agravante


requererá que o tribunal dele conheça, preliminarmente, por ocasião do julgamento
da apelação. Não se conhecerá desse agravo se a parte não requerer expressamente,
nas razões ou na resposta da apelação, sua apreciação pelo Tribunal.

27. EMAGIS – 2012/19 – QUESTÃO 11. Das decisões interlocutórias proferidas na


audiência de instrução e julgamento caberá agravo na forma retida, devendo ser
interposto oral e imediatamente, bem como constar do respectivo termo, nele
expostas sucintamente as razões do agravante.

157
Súmula 635, STF.
158
AGRAVO REGIMENTAL. MEDIDA CAUTELAR. LIMINAR. 1) EFEITO SUSPENSIVO PRÉVIO A RECURSO
ESPECIAL, CUJA INTERPOSIÇÃO VEM SENDO IMPOSSIBILITADA PELA DEMORA NO DESLINDE DE
SUCESSIVOS INCIDENTES NA ORIGEM. 2) SITUAÇÃO PROCESSUAL POLÊMICA NA ORIGEM. DECISÃO EM
PLANTÃO JUDICIÁRIO, APÓS DIVERSAS DECISÕES E ALEGAÇÃO DE VÍCIO NA DISTRIBUIÇÃO. 3) MENOR
DE CERCA DE SEIS ANOS NÃO DEVOLVIDO PELO GENITOR, APÓS PERÍODO DE FÉRIAS, À MÃE, DE QUEM
JAMAIS SE SEPAROU E COM QUEM ERA MANTIDO EM CIDADE DISTANTE. PREVALÊNCIA DO INTERESSE
DO MENOR A EXIGIR URGENTE DEFINIÇÃO CAUTELAR. 4) NECESSIDADE DE VIR A SER CONSIDERADA A
ORIENTAÇÃO DE COMPETÊNCIA EM FUNÇÃO DO LOCAL DE RESIDÊNCIA DO MENOR. 5) EFEITO
SUSPENSIVO PRÉVIO CONCEDIDO, PARA O IMEDIATO RETORNO DO MENOR À COMPANHIA DA MÃE.
1.- Em situações excepcionalíssimas é admitida a atribuição de efeito suspensivo a recurso especial
ainda não interposto no Tribunal de origem, presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, em
processo em que a interposição do Recurso Especial vendo sendo impossibilitada pela demora no
deslinde de sucessivos incidentes na origem. 2.-Decisão proferida em processo de situação
especialmente polêmica, em regime de plantão de final de semana, no Tribunal estadual, com
declaração pessoal de suspeição de expressivo número de julgadores do Tribunal e alegação de vício na
distribuição, objeto de representação ao CNJ - matérias a serem ulteriormente enfrentadas sob o
contraditório, mas que não interferem na garantia cautelar do melhor interesse da criança.
3.- No caso, há que ser considerada a condição peculiar da criança em desenvolvimento, com cerca de
seis anos de idade, que desde o nascimento até o mês de dezembro de 2011 viveu na companhia da
mãe, não sendo devolvida pelo pai quando foi passar férias escolares com este em cidade distante, em
que a família morava antes da separação, devendo a matéria controvertida ser analisada sob a égide da
prevalência do interesse do menor, tal como assegurado Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 6º).
4.- Necessidade, ademais, de atenção à orientação jurisprudencial desta Corte, no sentido de ser
competente o foro da residência do menor para o julgamento de ação de modificação de guarda, em
consonância com o que dispõe o art. 147, I, do Estatuto da Criança e do Adolescente.
5.- Agravo Regimental provido, para concessão prévia de efeito suspensivo, determinando o retorno da
guarda do menor à sua genitora, ora agravante.
(AgRg na MC 19084/PI, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/04/2012, DJe
27/04/2012)
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28. EMAGIS – 2012/19 – QUESTÃO 11. A ausência de peças facultativas no ato de


interposição do agravo de instrumento, ou seja, aquelas consideradas necessárias à
compreensão da controvérsia (art. 525, II, do CPC), não enseja a inadmissão liminar do
recurso, devendo ser oportunizada ao agravante a complementação do instrumento.

29. EMAGIS – 2012/16 – QUESTÃO 11. Na linha da jurisprudência majoritária do STJ,


perde o objeto o recurso interposto contra decisão que defere antecipação dos
efeitos da tutela com a prolação da sentença de mérito que a confirma.

30. EMAGIS – 2012/16 – QUESTÃO 11. Embora cumpra à parte o dever de apresentar as
peças obrigatórias e as facultativas – de natureza necessária, essencial ou útil –
quando da formação do agravo para o seu perfeito entendimento, sob pena de não
conhecimento do recurso, a ordem das peças que o instruem não é determinante
para o seu conhecimento159.

31. EMAGIS – 2012/16 – QUESTÃO 11. O recurso especial interposto contra acórdão
oriundo do julgamento de agravo de instrumento no qual se decidiu sobre os efeitos
com os quais a apelação é recebida, perde seu objeto se superveniente o julgamento
desse recurso de apelação.

32. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 11. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento


da matéria impugnada (tantum devolutum quantum appellatum). Serão, porém,
objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e
discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro (art.
515, CPC).

33. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 11. Nossa legislação processual civil acolheu a teoria da
causa madura, particularmente no que diz respeito ao recurso de apelação. Assim, nos
casos de extinção do processo sem julgamento do mérito, o tribunal pode julgar desde
logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições
de imediato julgamento.

34. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 11. Segundo entendimento da Primeira Seção do STJ, a
teoria da causa madura não pode ser aplicada em sede de recurso especial.

35. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 12. Das decisões interlocutórias cabe agravo, no prazo
de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de

159
PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEÇAS INDISPENSÁVEIS AO EXAME DA CONTROVÉRSIA.
JUNTADA. NECESSIDADE. CORRETA FORMAÇÃO DO INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE DO
AGRAVANTE. ORDEM DE JUNTADA DAS PEÇAS. INDIFERENÇA. AUTENTICAÇÃO DAS CÓPIAS.
DESNECESSIDADE. [...] 3. A ordem das peças que instruem o agravo não é determinante para o seu
conhecimento. A sequência de juntada dos documentos é realizada a partir de um juízo
absolutamente subjetivo, que irá variar não apenas conforme o trâmite de cada processo e da
maneira como as razões recursais forem redigidas, mas principalmente conforme a percepção
individual de cada advogado, que poderá ou não coincidir com a percepção do Relator e demais
julgadores que venham a analisar o processo. [...] (REsp 1184975/ES, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 02/12/2010, DJe 13/12/2010)
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727

causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão
da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será
admitida a sua interposição por instrumento (art. 522, CPP).

36. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 12. É pacífico o entendimento do STJ no sentido de que
é INADMISSÍVEL converter o julgamento em diligência, a fim de regularizar o agravo
cujo instrumento não traz todos os documentos necessários à compreensão da
controvérsia160.

37. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 12. De acordo com precedentes do STJ, é


DESNECESSÁRIA a autenticação, pela secretaria do Juízo, das cópias que formam os
autos do agravo de instrumento. (art. 365, IV, CPC).

38. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 11. A ECT foi intimada, via mandado cumprido em
1º/03/2012 (quinta-feira), quanto a acórdão que negou provimento ao seu recurso de
apelação. Juntado aos autos esse mandado de intimação no dia 02/03/2012, a ECT
interpôs dois recursos, um especial e outro extraordinário, em petições que foram
protocolizadas em 19/03/2012 e 20/03/2012, respectivamente. Nesse caso, é correto
afirmar que ambos os recursos são tempestivos (art. 12, Decreto-Lei 509/69).

39. EMAGIS – 2012/14 – QUESTÃO 11. Consoante pacífico entendimento do STJ, é


inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos
embargos de declaração, sem posterior ratificação161.

40. EMAGIS – 2012/13 – QUESTÃO 12. O STF, EM DECISÃO IRRECORRÍVEL, não


conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão constitucional nele versada
não oferecer repercussão geral.

41. EMAGIS – 2012/13 – QUESTÃO 12. Para efeito da repercussão geral, será considerada
a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico, político,
social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa.

42. EMAGIS – 2012/13 – QUESTÃO 12. É imprescindível que o recorrente, nas razões do
recurso extraordinário, demonstre, EM PRELIMINAR FORMAL E FUNDAMENTADA, a
existência de repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, sob
pena de não conhecimento da súplica recursal162.

160
Cabe ao advogado cuidar para que o recurso seja regularmente instruído. Caso não o faça, não
permite o STJ, com razão, que ele sane sua própria incompetência no âmbito daquele tribunal. Mais do
que isso, aliás, há uma série de precedentes que não permitem a regularização do instrumento nem se
ocorrer de forma espontânea pela própria parte e mesmo que se dê ainda no curso do prazo recursal,
face à preclusão consumativa operada. Nesse sentido vide STJ, Sexta Turma, AgRg no Ag 1243157, Rel.
Min. Maria Thereza, DJe de 17/11/2011 e STJ, Terceira Turma, AgRg no Ag 1314541, Rel. Min. Ricardo
Cueva, DJe de 05/08/2011
161
Súmula 418, STJ.
162
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DA
PRELIMINAR DE REPERCUSSÃO GERAL DAS QUESTÕES CONSTITUCIONAIS SUSCITADAS. AGRAVO
IMPROVIDO. I - Não ficou demonstrada, nas razões do recurso extraordinário, em preliminar formal e
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728

43. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 11. O conhecimento do recurso especial, ainda que se
trate de questão de ordem pública, apreciável de ofício nas instâncias ordinárias, exige
o requisito do prequestionamento163.

44. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 11. A falta de prequestionamento da matéria suscitada


obsta o conhecimento do recurso também pela alínea ‘c’ do permissivo constitucional.

45. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 11. É imprescindível que, também no recurso especial
interposto com base na alínea ‘c’ do permissivo constitucional, o recorrente INDIQUE
O PRECEITO DE LEI FEDERAL SOBRE CUJA INTERPRETAÇÃO HAJA DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL164.

46. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 11. Não cabe recurso especial interposto com
fundamento na violação de resolução, portaria, circular, regimento interno ou súmula,
mesmo que do próprio STJ165.

47. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 11. Contra acórdão prolatado em sede de recurso
especial, NÃO SE ADMITE A OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM

fundamentada, a existência de repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso. II -


Nos termos do art. 327, § 1º, do RISTF, com a redação dada pela Emenda Regimental 21/2007, os
recursos que não apresentem preliminar formal e fundamentada de repercussão geral serão recusados.
III - Agravo regimental improvido. (STF, Segunda Turma, AI 815486 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
DJe de 23/03/2012)
163
Isso quer dizer que o recorrente não pode inovar em sede de recurso especial matéria não
prequestionada, mesmo em sendo de ordem pública. Lembrar, no entanto, que se o especial for
conhecido por qualquer motivo, o STJ admite conhecer de ofício de matérias de ordem pública.
164
PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO. INDENIZAÇÃO. FÉRIAS. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE
DISPOSITIVO DE LEI VIOLADO. NECESSIDADE MESMO EM RECURSO ESPECIAL POR DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL. SÚMULA 284 DO STF. 1. A jurisprudência desta Corte é assente no sentido de que A
AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS EM TORNO DOS QUAIS TERIA HAVIDO INTERPRETAÇÃO
DIVERGENTE, POR OUTROS TRIBUNAIS, NÃO AUTORIZA O CONHECIMENTO DO RECURSO ESPECIAL
quando interposto com base na alínea "c" do permissivo constitucional. 2. O requerente não
demonstrou suficientemente as circunstâncias identificadoras da divergência com o caso confrontado,
conforme dispõem os arts. 541 do Código de Processo Civil e 255, § § 1º e 2º, do Regimento Interno do
Superior Tribunal de Justiça. O desrespeito a esses requisitos legais e regimentais impede o
conhecimento do recurso especial, com base na alínea "c" do inciso III do art. 105 da Constituição
Federal. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp 49378/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 02/02/2012, DJe 09/02/2012)
165
É certo que, no conceito de “lei federal” (CF, art. 105, III), não se enquadram súmulas, portarias,
resoluções, circulares ou regimentos internos. Noutra forma de dizê-lo, não cabe recurso especial
fundado na violação a verbete sumular (ainda que do STJ), portarias (ministeriais, por exemplo),
resoluções (v.g., das agências reguladoras) ou regimentos internos (de Tribunais, por exemplo).
Precedente:
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA.
SEGURO DPVAT. VIOLAÇÃO DE SÚMULA. DESCABIMENTO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO,
CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. HARMONIA ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO E
A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO NÃO IMPUGNADO. SÚMULA 283/STF. - A
interposição de recurso especial não é cabível quando ocorre violação de súmula, de dispositivo
constitucional ou de qualquer ato normativo que não se enquadre no conceito de lei federal,
conforme disposto no art. 105, III, "a" da CF/88. (...) (STJ, Terceira Turma, AgRg no AREsp 70773, Rel.
Min. Nancy Andrighi, DJe de 23/02/2012)
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729

PROPÓSITO DE PREQUESTIONAMENTO DE PRECEITOS CONSTITUCIONAIS, com


vista à interposição de recurso extraordinário166.

48. EMAGIS – 2012/05 – QUESTÃO 12. Incabível, em embargos de divergência, discutir o


valor de indenização por danos morais167.

49. EMAGIS – 2012/05 – QUESTÃO 12. Não cabem embargos de divergência, quando a
jurisprudência do Tribunal se firmou no mesmo sentido do acórdão embargado168.

50. EMAGIS – 2012/05 – QUESTÃO 12. Cabem embargos de divergência contra acórdão
que, em agravo regimental, decide recurso especial169.

51. EMAGIS – 2012/05 – QUESTÃO 12. Não cabem embargos de divergência no âmbito do
agravo de instrumento que não admite recurso especial170.

52. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 11. Embora o reexame de prova seja inadmissível em
sede de recurso especial, a valoração jurídica de fatos incontroversos autoriza o
manejo dessa via recursal extraordinária171.

166
O STJ, com efeito, não vem admitindo, em sede de recurso especial, embargos de declaração com
propósito de prequestionar dispositivos constitucionais, com vista a futuro recurso extraordinário. É que
não cabe, em recurso especial, discutir sobre temas de extração constitucional. Se o caso comportava
duplo enfoque – infraconstitucional e constitucional -, cabia ao interessado interpor ambos os recursos
contra o acórdão do Tribunal de origem, na esteira, aliás, da Súm. 126 do STJ (“É inadmissível recurso
especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional,
qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso
extraordinário”). Sobre o assunto, vejam-se os julgados a seguir:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO - INEXISTÊNCIA -
EFEITOS MODIFICATIVOS - EXCEPCIONALIDADE - IMPOSSIBILIDADE NA ESPÉCIE -
PREQUESTIONAMENTO DE DISPOSITIVOS E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS - INADMISSIBILIDADE –
EMBARGOS DECLARATÓRIOS REJEITADOS. (...) 3. O exame de contrariedade a dispositivos ou
princípios constitucionais é censurado em sede de recurso especial, razão por que resta inviável a
oposição de embargos de declaração destinados a prequestionar essas questões nesta Instância
especial. 4. Embargos de declaração rejeitados. (STJ, Terceira Turma, EDcl no AgRg no Ag 1416901,
Rel. Min. assami Uyeda, DJe de 09/02/2012)
167
Entende o STJ que não se pode, em embargos de divergência em recurso especial, debater a respeito
do quantum indenizatório fixado à guisa de danos morais. Por quê? Porque não se consegue, nesses
casos, estabelecer uma divergência na interpretação da lei, haja vista que essa indenização é pautada
segundo as circunstâncias específicas de cada caso concreto. Daí a súmula 420, STJ: “Incabível, em
embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos morais”.
168
Se a vocação dos embargos de divergência é resolver um dissídio jurisprudencial e se esse dissenso já
foi resolvido em outro processo, não mais se faz presente o pressuposto essencial a que essa súplica
recursal tenha trânsito.
169
Assim o é porque, tanto em sede de agravo regimental em recurso especial como diante de recurso
especial devidamente processado pelo relator, é absolutamente possível discutir sobre o mérito da
pretensão recursal.
170
Isso porque, nesses casos, tem-se discussão meramente em torno de requisitos de admissibilidade
recursais, analisada caso a caso.
171
O simples reexame de prova não é cabível na via do recurso especial, consoante entendimento
absolutamente pacífico do STJ (Súm. 7 do STJ: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja
recurso especial”). Com isso, entrementes, não se confunde a chamada valoração jurídica das provas tal
qual já interpretadas pelo Tribunal a quo. Noutras palavras, a valoração jurídica dos fatos já desenhados
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730

53. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 11. Segundo entendimento da Corte Especial do STJ,
NÃO É NECESSÁRIA a menção explícita aos dispositivos legais no texto do acórdão
recorrido para que seja atendido o requisito de prequestionamento172.

54. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 11. É necessária, ainda que inexista previsão legal, a
ratificação do recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos
embargos de declaração.

55. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 11. Opostos embargos declaratórios com o propósito
explícito de prequestionamento, não se tem por atendido esse requisito de
admissibilidade no que tange ao recurso especial ulteriormente interposto se não for a
matéria ventilada no voto vencedor.

56. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 11. Uma vez que a interposição de um recurso é
faculdade da parte – e não obrigação -, não é ela obrigada a apresentar embargos de
divergência contra o acórdão do Tribunal de Justiça, quando admissíveis, como
condição para a posterior interposição de recurso especial.

57. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 11. A interposição do recurso extraordinário pressupõe


o exaurimento da instância ordinária.

58. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 11. Não é admitido o reexame de prova em sede de
recurso extraordinário.

59. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 11. É inadmissível o recurso extraordinário, quando a


deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da
controvérsia173.

60. EMAGIS – 2012/01 – QUESTÃO 11. Interposto o recurso extraordinário, compete ao


Supremo Tribunal Federal apreciar pedido de medida cautelar para agregar-lhe efeito
suspensivo, mas tão somente se já tiver sido admitido no Tribunal de origem174.

no acórdão recorrido – ou seja, dar uma outra consequência jurídica a um mesmo fato – não esbarra na
Súm. 7 do STJ. Resumindo: O QUE NÃO CABE É REDISCUTIR OS FATOS TAL COMO DELINEADOS PELA
CORTE DE ORIGEM, MAS O EFEITO JURÍDICO QUE SE LHES DEVE ATRIBUIR É MATÉRIA DE DIREITO QUE
ENSEJA, SIM, A VIA EXTRAORDINÁRIA EM FOCO (lembre-se que, quando se fala em ‘recursos
extraordinários’, no plural, está-se aludindo tanto ao recurso extraordinário propriamente dito como ao
recurso especial, ambos ulteriores à fase da chamada instância ordinária).
172
EXECUÇÃO FISCAL. PRECATÓRIOS JUDICIAIS. PENHORA. ADMISSIBILIDADE. RECUSA DA FAZENDA
PÚBLICA. POSSIBILIDADE. ORDEM DE PENHORA. INEXISTÊNCIA DE EQUIVALÊNCIA COM DINHEIRO.
PRECEDENTES.
[...]
3. A Corte Especial do STJ estabeleceu o entendimento de que é desnecessária a menção explícita aos
dispositivos legais no texto do acórdão recorrido para que seja atendido o requisito de
prequestionamento. Precedente: EREsp 161.419/RS, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, Rel. p/
Acórdão Min. Ari Pargendler, Corte Especial, julgado em 15/08/2007, DJe 10/11/2008. Agravo
regimental improvido.
(AgRg no AREsp 48580/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em
22/11/2011, DJe 25/11/2011)
173
Súmula 284, STF.
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731

61. EMAGIS – 2011/43 – QUESTÃO 10. A divergência jurisprudencial com fundamento na


alínea "c" do permissivo constitucional exige comprovação e demonstração, com a
transcrição dos trechos dos julgados que configurem o dissídio, mencionando-se as
circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, não sendo
suficiente a transcrição de ementas, sem o necessário cotejo analítico a evidenciar a
similitude fática entre os casos apontados e a divergência de interpretações.

62. EMAGIS – 2011/39 – QUESTÃO 01. Não cabe pedido de suspensão de segurança contra
acórdão de Tribunal de Justiça, publicado após a introdução da sistemática da
repercussão geral (CPC, art. 543-A), que trata de questão cuja repercussão geral fora
negada pelo Supremo Tribunal Federal175.

63. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 12. João interpôs, em 08 de janeiro de 2007, recurso
extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça. O presidente daquela Corte, no
entanto, negou-lhe seguimento. Inconformado, João apresentou, no dia 18 de
fevereiro daquele ano, agravo de instrumento contra essa decisão monocrática. Nesse
caso, é correto afirmar que não se poderá exigir que João tenha articulado, como
preliminar de seu recurso, a existência de repercussão geral na matéria controvertida.

64. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 11. Para efeito da repercussão geral, será considerada
a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico, político,
social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa.

65. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 11. Haverá repercussão geral sempre que o recurso
impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal.

66. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 11. É irrecorrível decisão de Ministro do STF que,
aplicando a sistemática da repercussão geral, determina a devolução dos autos ao
órgão jurisdicional de origem.

67. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 11. CABE AO STF, COM EXCLUSIVIDADE, EXAMINAR SE
UM DADO RECURSO EXTRAORDINÁRIO APRESENTA, OU NÃO, REPERCUSSÃO GERAL,
NÃO CABENDO AO TRIBUNAL A QUO FAZER ESSE FILTRO DE ADMISSIBILIDADE.

68. EMAGIS – 2011/22 – QUESTÃO 10. O Supremo Tribunal Federal, em decisão


irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão constitucional
nele versada não oferecer repercussão geral.

174
Súmula 634, STF.
175
Ante a inexistência de repercussão geral da matéria, o Plenário desproveu agravo regimental
interposto de decisão do Presidente, na qual negado seguimento a pedido de suspensão de segurança.
Impugnava-se, na espécie, acórdão de tribunal de justiça estadual publicado posteriormente à exigência
do requisito de repercussão geral no recurso extraordinário. Consignou-se que a repercussão geral da
questão — relativa à equiparação entre procuradores autárquicos e procuradores de Estado para fins de
cálculo do teto remuneratório — fora rejeitada no RE 562581/SP (DJe de 22.2.2008).
 SS 4394/SP, rel.
Min. Presidente, 14.9.2011. (SS-4394). Nesse caso, foi interposto MS e provido. Como a situação não
tinha repercussão geral, sendo inadmissível RE, seria uma forma transversa de impedir os efeitos do
writ o pedido de suspensão de segurança.
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732

69. EMAGIS – 2011/22 – QUESTÃO 10. A inexistência de repercussão geral somente pode
ser reconhecida por decisão de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos membros do
Supremo Tribunal Federal.

70. EMAGIS – 2011/22 – QUESTÃO 10. Turma do Supremo Tribunal Federal pode
RECONHECER a existência de repercussão geral quanto a tema versado em certo
recurso extraordinário.

71. GEMAF – 2010/12 – QUESTÃO 08. A apelação de sentença proferida em processo


cautelar que condene autarquia federal a pagar vantagens pecuniárias a servidor
público será recebida no duplo efeito.

72. GEMAF – 2010/11 – QUESTÃO 05. Se a decisão contiver partes autônomas, a admissão
parcial, pelo presidente do tribunal 'a quo', de recurso extraordinário que, sobre
qualquer delas, não se manifestar, não limitará a apreciação de todas pelo Supremo
Tribunal Federal, independentemente de interposição de agravo de instrumento

73. GEMAF – 2010/09. É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido


assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles
suficientes, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso
extraordinário.

74. Os embargos infringentes são incabíveis quando interpostos contra decisão não
unânime que se limitou a anular sentença de primeiro grau, após constatar error in
procedendo, ou seja, erro que se comete quando não são obedecidas determinadas
normas processuais (STJ).

75. Quando interpostos contra decisão interlocutória em processo de conhecimento,


cautelar ou embargos à execução, o REsp e o RE ficarão retidos nos autos.

76. Nos embargos infringentes e na ação rescisória, devolvidos os autos pelo relator, a
secretaria do tribunal expedirá cópias autenticadas do relatório e as distribuirá entre
os juízes que compuserem o tribunal para julgamento.

25. Ações Autônomas de Impugnação e Sucedâneos Recursais


25.1. Ação Rescisória

25.1.1. Noção Geral


A ação rescisória possui natureza jurídica de ação constitutiva negativa, sendo uma ação
autônoma de impugnação, voltando-se contra a decisão de mérito transitada em julgado,
quando presentes as hipóteses do art. 485 do CPC.

Ela objetiva o desfazimento da coisa julgada material, por motivos de INVALIDADE ou de


INJUSTIÇA. O julgamento da rescisória é, ordinariamente, dividido em duas fases: juízo
rescindente, em que se busca a desconstituição da sentença, e juízo rescisório, que vai decidir
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novamente o que foi objeto da sentença rescindida. O primeiro deles ocorrerá em todas as
ações rescisórias e é preliminar ao rescisório, que é eventual. A decisão proferida no juízo
rescindente é desconstitutiva e a de procedência no juízo rescisório será, conforme o caso,
declaratória, constitutiva ou condenatória.

As hipóteses de cabimento da AR são:

a) Verificar que a decisão final foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;

b) For proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;

c) Resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão


entre as partes a fim de fraudar a lei;

d) Ofender a coisa julgada;

e) Violar literal dispositivo de lei;

f) Se fundar em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja
provada na própria ação rescisória;

g) Depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de


que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;

h) Houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se


baseou a sentença;

i) Fundada em erro de fato resultante de atos ou de documentos da causa.

A AR, repita-se, não é recurso, por não atender ao princípio da taxatividade; além disso, ela
gera uma relação jurídica processual nova, instaurando um novo processo, coisa que não faz o
recurso.

A AR serve ao desfazimento da coisa julgada material, quer por motivos de invalidade, quer
por motivos de injustiça.

Como toda ação, a AR deve preencher as condições da ação e o procedimento deve observar
os pressupostos processuais.

25.1.2. Pressupostos da Ação Rescisória


Além das condições da ação e dos pressupostos processuais genéricos, deve haver:

a) Uma decisão de mérito transitada em julgado;

b) A configuração de um dos fundamentos de rescindibilidade, arrolados no art. 285;

c) Prazo decadencial de 02 anos

As hipóteses que ensejam a rescisão da sentença estão arroladas em numerus clausus. Esse rol
taxativo não admite ampliação por interpretação analógica ou extensiva.
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Essa posição do legislador foi adotada para conferir maior segurança à coisa julgada.

25.1.3. Objeto da Ação Rescisória


Ela é cabível para desconstituir a decisão de mérito transitada em julgado. Não cabe, em
princípio, AR contra decisão que tenha tratado de matéria estanha ao meritum causae.

A ação rescisória somente é cabível de SENTENÇA DE MÉRITO TRANSITADA EM JULGADO, nos


termos do art. 485/CPC. Esse artigo deve ser interpretado de forma ampla, abrangendo
também os acórdãos, inclusive o proferido no julgamento de outra rescisória.

O que importa em relação à decisão de mérito é que tenha transitado em julgado. É


indiferente que o trânsito em julgado tenha ocorrido porque a parte não interpôs recurso ou
porque interpôs todos. Não há exigência de esgotamento das instâncias recursais para a
propositura da AR. Nesse sentido:

Súmula 514, STF: “Admite-se ação rescisória contra sentença transitada em julgado, ainda que
contra ela não se tenham esgotados todos os recursos”.

Logo, se é cabível AR somente contra decisão de mérito, ela só é cabível se tiver apreciado o
pedido, examinando a pretensão, ainda que para declarar a prescrição ou a decadência. Assim,
a princípio, não cabe AR nos casos do art. 267, mas é cabível em todos os casos do art. 269.

De acordo com a orientação predominante, as sentenças proferidas em procedimento de


jurisdição voluntária não produzem coisa julgada material e, assim, não poderiam ser alvo de
AR.

A AR pode impugnar toda a decisão judicial ou apenas algum ou alguns de seus capítulos,
quando então é designada de ação rescisória parcial.

Não se admite ação rescisória no âmbito dos JEC, na ADIN, ADC e na ADPF.

É possível, também, AR para desconstituir incidente processual, desde que sobre ele tenha
sido formada a coisa julgada material.

25.1.3.1. Objetos Controversos


AR e execução: “na execução não há, em princípio, ‘mérito’ que deva ser julgado (...) sentenças
de mérito, e, portanto, rescindíveis, poderão surgir em processos cognitivos incidentes, ou
‘embutidos’ na execução. Servem de exemplo a que julgue procedentes ou improcedentes os
embargos do devedor, a que lhe declare a insolvência ou rejeite o pedido de declaração”

AR e liquidação: “A liquidação não é execução (já não o era ainda quando impropriamente
colocados no Livro II os dispositivos pertinentes), e a sentença que a julgava podia sem dúvida
constituir objeto de rescisória; agora, porém nos termos do art. 475-H, segundo a redação da
Lei nº 11.232, passou-se a ter uma ‘decisão de liquidação’, interlocutória, impugnável por
agravo de instrumento. Não obstante, cuida-se de pronunciamento equiparável a uma
sentença, capaz de produzir coisa julgada material e, portanto, rescindível”.

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AR e processo cautelar: “quanto ao processo cautelar, não parece impróprio falar-se de


‘mérito’, por oposição às preliminares referentes a matéria puramente processual ou às
condições do regular exercício da ação cautelar. É evidente que esse ‘mérito’ não se confunde
com o do processo principal, a que acede o cautelar; mas, guardada a distinção, pode-se dizer
que o juiz profere ‘sentença de mérito’ toda vez que defere ou indefere a providência
acautelatória pleiteada, por entender satisfeitos ou não, respectivamente, os seus
pressupostos. Apesar disso, não se nos afigura admissível a ação rescisória contra semelhantes
decisões, por lhe faltar o requisito (...) da idoneidade para produzir coisa julgada material.
Ressalvem-se os casos em que o juiz, por autorização legal expressa, decide no processo
cautelar matéria pertinente à relação jurídica substancial, como pode ocorrer com a
decadência ou a prescrição, nos termos do art. 810”.

Há entendimento que admite AR contra decisão que, embora não seja de mérito, tornou a
questão preclusa, impedindo a sua revisão, se não houver outro meio para eliminar a
ilegalidade. Seria o caso das sentenças terminativas que impedem a repropositura da ação (art.
268 do CPC), na medida em que, embora fundadas no art. 167, adquirem status semelhante ao
daquelas submetidas à coisa julgada material (art. 269 do CPC).

25.1.4. Legitimidade (art. 487)

25.1.4.1. Legitimidade Ativa


Tem legitimidade para propor a AR quem foi parte no processo ou seu sucessor a título
universal ou singular. De igual modo, a rescisória pode ser intentada pelo terceiro
juridicamente interessado.

Terceiro juridicamente interessado é aquele que tinha legitimidade para intervir como
assistente no processo principal ou para recorrer como terceiro prejudicado. É legitimado para
propor a AR porque a coisa julgada pode atingir de forma reflexa o seu direito (interesse
jurídico apenas, não meramente de fato). Assim, tem legitimidade na qualidade de terceiro
aqueles que poderiam ter ingressado no processo originário como assistente e litisconsorte
(inclusive o adquirente e o cessionário, com fundamento nos § § 2º e 3º do art. 42 do CPC), o
substituído processualmente nos termos do art. 6º do CPC, alem do terceiro prejudicado por
julgamento proferido em processo simulado.

Assim, têm legitimidade ativa na condição de terceiros prejudicados os que poderiam ter
ingressado no processo primitivo como assistente ou litisconsorte.

Ainda que a parte tenha sido revel no processo originário, ela possui legitimidade. Além disso,
poderá o MP propor AR, seja como parte, seja como custos legis. Nesta última hipótese, só
haverá legitimidade:

a) Se o MP não foi ouvido no processo em que era obrigatória a sua intervenção (nesse
caso, somente se o MP demonstrar e comprovar a existência de prejuízo em razão da
falta de sua intervenção);

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b) Quando a sentença é o efeito de colusão das partes, a fim de fraudar lei (nesse caso,
autor e réu da ação rescindenda deverão ser citados, sendo caso de litisconsórcio
passivo necessário).

Até mesmo quem participou do conluio pode propor a AR.

Regra geral, o terceiro sem interesse jurídico não possui legitimidade para intentar a AR, já que
a coisa julgada não o atinge, não o beneficiando nem prejudicando.

25.1.4.2. Legitimidade Passiva


Todos os partícipes da relação processual oriunda da ação original devem ser citados, como
litisconsortes necessários, já que o acórdão que será nela proferido atingirá a esfera jurídica de
todos. Porém, se o objeto da AR só disser respeito a algum ou alguns dos partícipes do
processo originário, a citação se restringirá a eles.

Terceiro que não integrou a relação processual primitiva pode, eventualmente, ser legitimado
passivo na AR, o que depende diretamente do pedido deduzido no juízo rescisório (Didier
exemplifica com o caso de AR que objetiva exclusivamente a desconstituição do capítulo
reservado à condenação ao pagamento de honorários advocatícios; o advogado da parte no
processo originário, na época um terceiro, apresenta-se na condição de parte da relação
discutida na AR).

A legitimidade passiva da AR deve observar o capítulo da decisão que se busca rescindir,


para identificar quem é o titular atual do direito ali certificado, que será a parte legítima na
ação autônoma de impugnação.

IMPORTANTE O SEGUINTE JULGADO DO STJ, QUE DEMONSTRA QUE SE


ALGUM DOS LITISCONSORTES NECESSÁRIOS PASSIVOS DA RESCISÓRIA
FOREM DEIXADOS DE CITAR, E DECORRIDO O PRAZO DECADENCIAL DE
AJUIZAMENTO, O PROCESSO DEVE SER EXTINTO, SEM A POSSIBILIDADE
DE NOVA PROPOSITURA ANTE O DECURSO DO PRAZO E SEM
POSSIBILIDADE DE SUPRIMENTO DAS CITAÇÕES FALTANTES:
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. AÇÃO RESCISÓRIA.
PROPOSITURA APENAS EM FACE DE PARTE DOS INTEGRANTES DA RELAÇÃO
ORIGINÁRIA. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. CORREÇÃO. DECADÊNCIA.

1. Nas ações rescisórias integrais devem participar, em litisconsórcio


unitário, todos os que foram partes no processo cuja sentença é objeto de
rescisão.

2. A propositura de ação rescisória sem a presença, no polo passivo, de


litisconsorte necessário somente comporta correção até o prazo de dois
anos disciplinado pelo art. 495 do CPC. Após essa data, a falta de citação do
litisconsorte implica a decadência do direito de pleitear a rescisão,
conduzindo à extinção do processo sem resolução do mérito.

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3. Embargos de divergência conhecidos e providos.

(EREsp 676159/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL,


julgado em 01/12/2010, DJe 30/03/2011)

PROCESSO CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. AJUIZAMENTO. DECADÊNCIA.


VERIFICAÇÃO. LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. CITAÇÃO. FALTA.
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. RELAÇÃO
PROCESSUAL. REGULARIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.

Uma vez decorrido o prazo decadencial para a propositura de ação


rescisória contra qualquer dos litisconsortes passivos necessários, co-
autores na demanda originária, é impossível a regularização da relação
processual nos termos do artigo 47 do CPC.

Agravo regimental desprovido.

(STJ, AgRg na AR 3.070/AL, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO,


julgado em 28/02/2007, DJ 02/04/2007, p. 225)

25.1.4.3. Ação Rescisória e Procuração Específica


Ação Rescisória e Necessidade de Nova Procuração
A propositura de ação rescisória exige a juntada de instrumento de mandato
original assinado pelo outorgante, mesmo que a procuração concernente à
ação subjacente confira poderes específicos para a rescisória. Ao reafirmar
essa orientação, o Tribunal, por maioria, negou provimento a agravo
regimental interposto contra decisão da Min. Ellen Gracie que concedera
prazo para que os agravantes regularizassem sua representação processual
na ação rescisória, da qual relatora, sob pena de inépcia. Preliminarmente, o
Tribunal, também por maioria, aplicou a jurisprudência da Corte segundo a
qual não cabem embargos de declaração contra despacho monocrático do
relator, e conheceu de embargos como agravo regimental. Vencido o Min.
Marco Aurélio que não convertia os embargos e provia o recurso ao
fundamento de que não se poderia limitar a vigência do instrumento de
mandato credenciado ao profissional da advocacia, tendo em conta que os
poderes teriam sido outorgados por prazo indeterminado.
AR 2156 ED/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 18.8.2010. (AR-2156)
AR 2183 ED/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 18.8.2010. (AR-2183)
AR 2202 ED/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 18.8.2010. (AR-2202)

25.1.5. Competência para Processar e Julgar a Ação Rescisória


A AR constitui demanda de competência originária de tribunal, não devendo ser ajuizada
perante o juízo de primeira instância NUNCA, ao qual não compete nem processá-la nem julgá-
la. Os tribunais julgam as ações rescisórias de seus próprios julgados, o que se trata de
competência material atribuída pela CR/88.

As decisões de mérito proferidas por juízes de primeira instância são desconstituídas perante o
tribunal ao qual está vinculado o juízo que proferiu a sentença.

Proferida uma sentença de mérito, não havendo apelação, ou se houver, ela não for
conhecida, é a própria sentença que será desconstituída.

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Se a apelação for provida ou desprovida, é o acórdão que transita em julgado, sendo ele
objeto da rescisória face o efeito substitutivo em relação à sentença. Porém, se a apelação
foi provida para anular a sentença, não haverá efeito substitutivo e não caberá a AR,
devendo os autos retornar à primeira instância para que o juiz profira outra sentença.

No caso das causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou


pessoa domiciliada ou residente no Brasil, que são processadas na Justiça Federal de primeiro
grau, apesar do juiz federal estar ligado a um TRF, a AR deverá ser interposta perante o STJ,
que é o órgão competente por julgar o recurso ordinário.

Súmula 515, STF: “A competência para a ação rescisória não é do Supremo Tribunal Federal,
quando a questão federal, apreciada no recurso extraordinário ou no agravo de instrumento,
seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisório”.

Essa súmula somente esclarece o óbvio, já que se a questão não foi apreciada pelo STF, não
haverá efeito substitutivo da decisão, não cabendo ao tribunal julgar o que não foi decidido.

Súmula 249, STF: “É competente o STF para a ação rescisória, quando, embora não tendo
conhecido o recurso extraordinário, ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado
a questão federal controvertida”. DIDIER alerta que há um erro técnico no enunciado, e, assim,
onde se lê “conhecido”deve-se ler “provido”, tendo em vista que o STF examinou a questão
discutida, com exame do mérito do recurso.

AÇÃO RESCISÓRIA. DESCONSTITUIÇÃO DA DECISÃO MONOCRÁTICA QUE


APRECIOU O PRÓPRIO MÉRITO DO RECURSO ESPECIAL. CABIMENTO.
JULGAMENTO EXTRA PETITA CARACTERIZADO. OFENSA LITERAL AO
DISPOSTO NOS ARTS. 128 E 460 DO CPC.

[...]

2. Ao apreciar o agravo de instrumento interposto por Votorantin


Participações S/A contra inadmissão do recurso especial, A DECISÃO QUE
SE INTENTA RESCINDIR APRECIOU QUESTÕES DE MÉRITO DO PRÓPRIO
RECURSO ESPECIAL. DESSE MODO, COM O TRÂNSITO EM JULGADO DA
REFERIDA DECISÃO, É INDISCUTÍVEL O CABIMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA,
bem como a competência do Superior Tribunal de Justiça para o seu
julgamento. Incide, por analogia, o prescrito no verbete 249 da Súmula do
STF: "É competente o Supremo Tribunal Federal para ação rescisória
quando, embora não tendo conhecido do recurso extraordinário, ou
havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questão federal
controvertida". Precedentes: AR 3182 / MG, Terceira Seção, rel. Ministro
Paulo Medina, DJ 30/04/2007; REsp 733621 / SC, Primeira Turma, rel.
Ministro Luiz Fux, DJ 24/10/2005.

[...]

(STJ, AR 2.955/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 08/09/2010, DJe 29/09/2010)

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E se a sentença de primeiro grau tiver parcialmente transitado em julgado, e em relação a um


de seus capítulos tiver sido interposta apelação, denegada, e, depois, REsp? Como deverá a
parte proceder para desconstituir toda a decisão? Contra os capítulos transitados em julgado
na primeira instância, deverá interpor AR perante o TRF ou TJ, e contra os capítulos transitados
em julgados no STJ, perante esta Corte.

25.1.6. Prazo para Ajuizamento da Ação Rescisória


O prazo é de 02 anos, contados do trânsito em julgado da decisão. A Fazenda Pública não
dispõe de prazo em dobro, já que não se trata de recurso.

O prazo do ajuizamento da ação rescisória é decadencial, por se tratar de um direito


potestativo, não se prorrogando, nem se suspendendo e nem se interrompendo. Apenas a
citação válida obsta a consumação da decadência. Entretanto, o STJ entende que, ainda que
decadencial, se o prazo terminar em dia não útil, ele se prorrogará para o primeiro dia útil
subsequente.

Apenas a citação válida obsta a consumação da decadência (art. 219, § § 2º e 3º c/c art. 220 do
CPC), retroagindo à data da propositura da ação: assim, basta que a ação tenha sido proposta
dentro do biênio, pouco importando que o réu venha a ser citado fora dele.

Da decisão do tribunal que conhecer da decadência, cabe agravo interno ou regimental para o
colegiado. Interposto um recurso, enquanto este não vier a ser apreciado, não se pode ajuizar
a AR. Se o recurso foi inadmitido, será apenas do trânsito em julgado da decisão que não o
admitir que se iniciará o prazo para a propositura da AR.

O prazo para ajuizamento da ação rescisória somente tem início com o trânsito em julgado
material, ou seja, após o transcurso in albis do prazo para recorrer, mesmo que o último
recurso interposto não tenha sido conhecido por inobservância de requisito legal.

DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. AÇÃO RESCISÓRIA. PRAZO DECADENCIAL.
TERMO INICIAL. TRÂNSITO EM JULGADO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

1. Nos termos do art. 495 do CPC, o prazo para ajuizamento da ação


rescisória somente tem início com o trânsito em julgado material, ou seja,
após o transcurso in albis do prazo para recorrer, mesmo que o último
recurso interposto não tenha sido conhecido por inobservância de requisito
legal. Precedentes do STJ.

2. Recurso especial conhecido e provido.

(STJ, REsp 1003403/MG, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA


TURMA, julgado em 02/06/2009, DJe 03/08/2009)

Veja, no entanto, que esse é o posicionamento do STJ, sendo bem diferente o do STF.

A questão polêmica é a seguinte:

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Qual é o dia do trânsito em julgado quando a última decisão do processo não conheceu do
recurso (recurso inadmissível)?

Conta-se da decisão que não conheceu do recurso ou retroage à data em que foi proferida a
decisão recorrida?

Ex: A sentença julgou improcedente o pedido de “João”. “João” apelou. O TJ manteve a


sentença. “João” interpôs recurso especial que, no entanto, não foi conhecido (recurso
inadmissível).

Quando será a data do trânsito em julgado para fins de rescisória? Será a data do acórdão no
TJ (que julgou improvida a apelação) ou da decisão do STJ (que inadmitiu o recurso)?

ENTENDIMENTO DO STJ ENTENDIMENTO DO STF


No exemplo acima, o prazo para a rescisória seria No exemplo acima, o prazo para a rescisória seria
contado da data da decisão do STJ. contado da data da decisão do TJ.
O prazo para a rescisória é contado da data da Se a última decisão foi no sentido de que o
última decisão proferida no processo, ainda que recurso não podia ser admitido (recurso
esta tenha se restringido a não admitir inadmissível), esta decisão não tem o condão de
determinado recurso. Se o recurso vier a ser prolongar o trânsito em julgado e o termo inicial
inadmitido, é a partir do trânsito em julgado da do prazo para a rescisória. Em outras palavras, se
decisão que não o admitir que se inicia o prazo o recurso não foi admitido (no exemplo, o REsp),
para a propositura da ação rescisória. Súmula entende-se que o trânsito em julgado ocorreu não
401-STJ: O prazo decadencial da ação rescisória só nesta data, mas sim na data da decisão que
se inicia quando não for cabível qualquer recurso apreciou o mérito (no caso, a apelação no TJ).
do último pronunciamento judicial. Logo, entende-se que o prazo de dois anos é
contado da última decisão que apreciou o mérito
recursal. O termo inicial de prazo de decadência
para a propositura da ação rescisória coincide
com a data do trânsito em julgado do título
rescindendo. Recurso inadmissível não tem o
efeito de empecer (impedir) a preclusão -
"Comentários ao Código de Processo Civil", José
Carlos Barbosa Moreira, volume 5, Editora
Forense. (AR 1472, Relator Min. Marco Aurélio,
Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2007). Vide
também RE 444.816/RS.

Há, ainda, outro elemento fundamental a ser conhecido quanto ao prazo de ajuizamento da
ação rescisória:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. ART. 485, III E V, DO CPC. AUSÊNCIA


DE CITAÇÃO DE LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. HIPÓTESE DE
QUERELLA NULITATIS. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE
MÉRITO.

[...]

3. A contagem do prazo decadencial de dois anos previsto no art. 495 do


CPC somente tem início a partir da ciência inequívoca da decisão que se
intenta rescindir pela parte vencida. Assim, ausente a intimação da parte

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vencida, rejeita-se a preliminar de decadência para a propositura da


rescisória.

[...]

(STJ, AR 569/PE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 22/09/2010, DJe 18/02/2011)

Por fim, lembrar que o prazo decadencial não corre contra absolutamente incapazes:

AÇÃO RESCISÓRIA. PRAZO DECADENCIAL.

Discute-se no REsp se o prazo de dois anos previsto no art. 495 do CPC para
a propositura de ação rescisória flui em desfavor de incapazes. Noticiam os
autos que os recorrentes, ainda menores de idade, ajuizaram ação de
indenização visando à condenação dos recorridos pelos danos morais
sofridos em razão da morte de seu avô, em virtude de acidente em que
esteve envolvido veículo pertencente a um dos recorridos. O acórdão que
julgou o recurso de apelação interposto reformou a sentença para julgar
improcedente o pedido. Alegaram, na inicial da ação rescisória, que os
fundamentos da improcedência tomaram o pedido relativo ao dano moral
como se se tratasse de dano material, pois exigiu a dependência econômica
como requisito para acolhimento do pleito. O relator, monocraticamente,
julgou extinta a ação rescisória ao fundamento de ter ocorrido decadência.
Alegam os recorrentes que, à época, por serem menores absolutamente
incapazes, não fluia contra eles prazo, nem de decadência nem de
prescrição. Admitido o REsp, o Min. Relator entendeu que o prazo para o
ajuizamento da ação rescisória é de decadência (art. 495, CPC), por isso se
aplica a exceção prevista no art. 208 do CC/ 2002, segundo a qual os prazos
decadenciais não fluem contra os absolutamente incapazes. Esse
entendimento foi acompanhado pelos demais Ministros, que deram
provimento ao REsp e determinaram o prosseguimento da ação
rescisória. REsp 1.165.735-MG, 4T, Rel.Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 6/9/2011.

25.1.6.1. Prazo na Impugnação de Diferentes Capítulos da Sentença


Em relação aos capítulos de sentença, impugnada a sentença apenas parcialmente, os
capítulos não impugnados transitam em julgado. A partir desse momento, teoricamente,
deveria ser cabível a AR em relação a eles.

Não é esse, entretanto, o entendimento do STJ, o qual se posiciona no sentido de que, em


casos de recurso parcial, somente se inicia o prazo para ajuizamento da AR depois de
esgotada a possibilidade de interposição de qualquer recurso em relação ao processo como
um todo.

PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


RESCISÓRIA. DECADÊNCIA DO DIREITO AO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. ART.
495 DO CPC. TERMO INICIAL DO BIÊNIO DECADÊNCIA. TRANSITO EM
JULGADO DA AÇÃO. NULIDADE DA CITAÇÃO. SÚMULA 07/STJ.

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1. A ação rescisória tem como termo a quo do biênio decadencial o dia


seguinte ao trânsito em julgado da decisão rescindenda. Precedente: EREsp.
341.655/PR, Corte Especial, DJU 04.08.08.

2. "Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ação


rescisória se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em
julgado da última decisão proferida na causa." (EREsp. 404.777/DF, Corte
Especial, DJU 11.04.05).

[...]

(STJ, AgRg no REsp 1166282/RN, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 28/09/2010, DJe 08/10/2010)

25.1.7. Hipóteses de Cabimento (art. 485)

25.1.7.1. A Causa de Pedir na Ação Rescisória


As causas de pedir estão dispostas no art. 485, sendo cada uma suficiente de per si. Quando
alguém pede a rescisão de sentença com invocação de dois ou mais fundamentos, na realidade
está propondo duas ou mais rescisórias cumuladas.

O tribunal não poderá rescindir a decisão por fundamento não invocado, em razão do princípio
da congruência. No entanto, se o proponente indicar um inciso, mas nos fatos descrever a
hipótese prevista em outro, o julgador poderá examinar o pedido, desde que a narração do
fato conste na inicial (iura novit curia).

O órgão julgador não poderá apreciar o pedido de rescisão à luz de outra norma, que o autor
se haja abstido de dizer violada.

BARBOSA MOREIRA: “havendo mais de um fundamento, vale dizer, havendo cumulação de


rescisórias, com diferentes causae petendi -, para que o pedido de rescisão seja procedente, é
necessário (e basta) que ao menos um dos fundamentos seja reconhecido pela maioria dos
votantes: não se podem somar, para dar como procedente o pedido, votos que só o
acolhessem por um fundamento com votos que só o acolhessem por outro. A própria votação
deve realizar-se em etapas distintas, cada qual referente a um dos fundamentos; ou, quando
menos, o presidente do órgão há de ter o cuidado de efetuar somas separadas”.

25.1.7.2. Prevaricação, Concussão e Corrupção (inciso I)


Tais condutas correspondem aos tipos penais previstos nos arts. 316, 317 e 319 do CP. Não há
necessidade de que o juiz tenha sido condenado na esfera criminal, pois os delitos podem ser
comprovados no curso da ação rescisória. Nem mesmo se exige ação penal em curso.

Se houver sentença penal condenatória ou absolutória por ausência do fato ou da autoria, os


julgadores da AR a ela estarão vinculados.

Será rescindível também a decisão exarada por órgão colegiado, desde que algum dos
julgadores tenha praticado qualquer um dos crimes. Porém, se o voto do juiz viciado for
vencido, não se deverá admitir a AR.

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Porém, se forem interpostos embargos infringentes e estes forem acolhidos para fazer
prevalecer o voto vencido, deverá ser acolhido o pedido rescisório, eis que o voto dado em
prevaricação, corrupção ou concussão influenciou o resultado.

No caso dos tribunais, somente poderá ser acolhida a AR se o voto contaminado tiver sido
um dos vencedores.

25.1.7.3. Impedimento do Juiz (inciso II)


Apenas o impedimento (CPC, art. 134), e não a suspeição (CPC, art. 135), gera rescindibilidade.
O impedimento acarreta falta de pressuposto processual de validade. É preciso que o juiz
tenha proferido a sentença, e não simplesmente participado do processo ou nele atuado. É
irrelevante que tenha havido ou não exceção de impedimento no curso do processo
originário.

Da mesma forma, será o acórdão prolatado por tribunal rescindível se um dos julgadores era
impedido, desde que seu voto tenha concorrido para a formação da maioria.

25.1.7.4. Incompetência Absoluta (inciso II)


A competência é também um pressuposto processual de validade. No caso da AR, somente
poderá ser proposta se for absoluta a incompetência, e não a relativa.

Em razão do princípio da identidade física do juiz, competente para julgar a causa é o juiz que
tenha encerrado a instrução. Não se observando isso, cabível será a rescisória.

Ressalte-se, nesses casos, diferentemente das ações rescisórias fundadas no inciso I do art.
485, não haverá juízo rescisório, devendo o tribunal após rescindir a sentença (juízo
rescindente), remeter os autos ao juízo competente (ou a um juiz imparcial) para que julgue
novamente a causa.

Todavia, afirma DIDIER que se o tribunal competente para julgar a rescisória tiver competência
para rejulgamento, o que normalmente ocorre quando o objeto da rescisória é uma sentença,
será cabível o iudicium rescissorium.

25.1.7.5. Dolo da Parte Vencedora (inciso III)


O dolo aqui é aquele que prejudica a parte vencida e induz o juiz a erro.

Há dolo toda vez que a parte vencedora, faltando a seu dever de lealdade e boa fé (CPC, art.
14, II), haja impedido ou dificultado a atuação processual do vencido, ou influenciado a
formação do juízo do magistrado, afastando-o da verdade. Ao dolo da parte equipara-se o dolo
de seu representante legal e do seu advogado.

Se houver litisconsórcio, o dolo de apenas um dos litisconsortes é suficiente para a rescisão da


sentença, a menos que se trate de litisconsórcio simples, situação em que cada litisconsorte
terá um capítulo da sentença a ele dedicado.

Para que o comportamento doloso enseje a AR, é preciso que haja nexo de causalidade entre
a conduta da parte vencedora e a decisão rescindenda. O DOLO DEVE TER SIDO
DETERMINANTE PARA O RESULTADO A QUE CHEGA O JUIZ.
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25.1.7.6. Conluio entre as Partes (inciso III)


Conluio é ato bilateral, dando ensejo ao chamado processo fraudulento ou emulado.
Considera-se fraudulento o processo quando as partes o utilizam em conluio para obtenção de
finalidade proibida por lei, tendo-se por simulado o processo quando as partes fazem uso dele
para prejudicar terceiro.

A colusão processual se encontra definida no art. 129 do CPC (“convencendo-se, pelas


circunstâncias da causa, de que autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado
ou conseguir fim proibido por lei, o juiz proferirá sentença que obste aos objetivos das
partes”).

Cabe a AR apenas nos casos de processo fraudulento, não cabendo quanto aos casos de
processo simulado, pois o art. 485,III do CPC prevê a hipótese de colusão “com o fim de
fraudar a lei”.

25.1.7.7. Ofensa à Coisa Julgada (inciso IV)


Ofende a coisa julgada a sentença que decide questão já decidida por sentença transitada em
julgado. O segundo juiz está impedido de conhecer a matéria em razão do efeito negativo da
coisa julgada material. Não há, porém ofensa à coisa julgada, se a segunda sentença contraria
os fundamentos da primeira, porque os motivos da sentença não fazem coisa julgada. Caso a
rescisória não seja ajuizada no prazo legal de dois anos, entende a doutrina que deve
prevalecer a segunda coisa julgada em detrimento da primeira, em homenagem ao princípio
da segurança jurídica e pelo fato de que, se a sentença faz lei entre as partes “lei posterior
revoga a anterior”que, embora pudesse ter sido rescindida, não o foi, restando imutável pela
coisa julgada.

Nesse caso, haverá apenas o juízo rescindente, e não o rescisório, pois o que ocorre é que, em
princípio, o tribunal acolherá a AR para desconstituir a decisão, não proferindo novo
julgamento, já que assim também estaria ofendendo a coisa julgada.

Há, contudo, um caso em que a AR por ofensa à coisa julgada admite pedido de rejulgamento:
quando a ofensa dirige-se ao efeito positivo da coisa julgada (ex: ação de alimentos em que o
juiz julga improcedente por entender inexistente o vinculo de parentesco, embora o autor
tenha fundamentado o pedido em coisa julgada advinda de ação de investigação de
paternidade).

25.1.7.7. Violação a Literal Disposição de Lei (inciso V)


Lei aqui deve ser interpretada em sentido amplo, incluindo qualquer ato normativo que
deveria ter sido aplicado ao caso, bem como as normas de natureza processual. Todavia, a
expressão não abrange violação a texto de súmula, mesmo se súmula vinculante. Não se exige
prequestionamento, vale dizer, não é necessário que a norma tenha sido expressa ou
implicitamente referida na decisão rescindenda.

Entretanto não se admite a rescisória por esse fundamento, quando a decisão rescindenda
houver se baseado em texto legal, à época, de interpretação controvertida nos tribunais
(Súmula 343, STF: “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a

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decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos


tribunais”).

Confirmado esse entendimento:

AÇÃO RESCISÓRIA. REMISSÃO DA DÍVIDA. LEI 11.941/2009. NÃO


OCORRÊNCIA. CONTROVÉRSIA JURISPRUDENCIAL AO TEMPO DO ACÓRDÃO.
MATÉRIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL.

Mudança de entendimento jurisprudencial não justifica rescisão de


sentença, seja porque a matéria tem índole infraconstitucional, seja
porque o entendimento acolhido era o majoritário, à época. Não obstante
a atual jurisprudência do STJ em sentido contrário, é assente o
entendimento de que, se o acórdão/sentença rescindendo elege uma
dentre as interpretações cabíveis, ainda que não seja a melhor, não se
admite a ação rescisória. Precedentes. Unânime. (TRF1, 4S, AR 0043373-
67.2010.4.01.0000/MT, rel. Des. Federal Reynaldo Fonseca, em
29/02/2012.)

Ressalte-se que o STF já decidiu diversas vezes que o enunciado desta súmula não tem
aplicação quando a matéria em discussão for de índole constitucional (Informativo 295, RE nº
328.812). Nesse sentido:

Ementa: PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. ART. 8º DO ADCT. DECISÃO QUE AFASTOU A PRETENSÃO
DO AUTOR EM RELAÇÃO ÀS PROMOÇÕES POR MERECIMENTO COM BASE
NA ENTÃO JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. MODIFICAÇÃO
JURISPRUDENCIAL PARA CONSIDERAR QUE A NORMA DO CITADO ART. 8º
ABARCA AS PROMOÇÕES POR MERECIMENTO. SÚMULA 343/STF. MATÉRIA
CONSTITUCIONAL. INAPLICABILIDADE. VIOLAÇÃO A LITERAL DISPOSIÇÃO DE
LEI. CONFIGURAÇÃO. AÇÃO RECISÓRIA PROVIDA. I – Cabe ação rescisória
por ofensa à literal disposição constitucional, ainda que a decisão
rescindenda tenha se baseado em interpretação controvertida, ou seja,
anterior à orientação fixada pelo Supremo Tribunal Federal. [...]

(AR 1478, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado


em 17/11/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-022 DIVULG 31-01-2012
PUBLIC 01-02-2012)

CONSTITUCIONAL. PROCESSO CIVIL. SUMULA STF 343. QUESTÃO


CONSTITUCIONAL. INAPLICABILIDADE. CONCESSÃO DE JUSTIÇA GRATUITA.
MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. REEXAME DE FATOS E PROVAS. 1. É
inaplicável a Súmula STF 343, quando a ação rescisória está fundamentada
em violação literal a dispositivo da Constituição da República. 2. A
concessão de justiça gratuita, por depender da interpretação da legislação
infraconstitucional e reexame de fatos e provas, é inviável nesta sede
recursal. 3. Inexistência de argumento capaz de infirmar a decisão agravada,
que deve ser mantida pelos seus próprios fundamentos. 4. Agravo
regimental improvido.

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(STF, RE 564781 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma,


julgado em 09/06/2009, DJe-121 DIVULG 30-06-2009 PUBLIC 01-07-2009
EMENT VOL-02367-07 PP-01384)

Isso quer dizer então que cabe ação rescisória perante o STF quando a violação ao texto
constitucional for decorrente de interpretação controvertida de norma constitucional nos
tribunais.

Em razão do princípio da congruência, é necessário que o autor aponte expressamente o


dispositivo que reputa violado, não podendo o tribunal suprir a omissão.

Debate-se acerca do alcance da expressão “violação literal”: há quem sustente que é


empregado no sentido de expresso, revelado, sendo cabível quando o juiz tiver violado o
direito expresso ou revelado no caso concreto, o que abrangeria a violação literal a “fonte de
direito”, cabendo a AR se o juiz violar qualquer direito expresso ou revelado, escrito ou não
escrito, costume, norma interpretativa ou princípio. Por outro lado, há quem defenda que a
expressão equivale a “direito escrito”, devendo a violação atingir a lei ou a tese nela contida
expressamente. O entendimento prevalente é de que não é necessária a violação à literalidade
da norma: há violação à lei não apenas quando se contraria expressamente o dispositivo
normativo, aplicando-o onde não cabe, mas também quando se lhe nega vigência ou, ainda,
quando evidente erro na qualificação jurídica dos fatos. Tratando-se de norma
constitucional, haverá violação quando a decisão rescindenda tiver destoada da
interpretação dada àquela norma pelo STF. Caso a norma seja infraconstitucional, haverá
violação quando destoar daquela conferida pelo STJ.

Na AR fundada nesse inciso, não se permite o reexame de fatos ou de provas: não se admite a
AR para tratar sobre questão de fato, pois constitui mecanismo de direito estrito, destinado ao
controle da decisão de mérito transitada em julgado.

Para prosperar a ação rescisória fundada no art. 485, V, do CPC, é necessário


que a interpretação dada pelo decisum rescindendo seja de tal modo
aberrante que viole o dispositivo legal em sua literalidade. Se, ao
contrário, o acórdão rescindendo elege uma dentre as interpretações
cabíveis, ainda que não seja a melhor, a ação rescisória não merece vingar
sob pena de tornar-se recurso ordinário com prazo de interposição de dois
anos. (STJ, 1T, Informativo 412, REsp 1.032.814/RS)

O REsp, na AR, ao deduzir violação do art. 485, V, do CPC pela decisão


rescindenda, ultrapassa os lindes do pedido de desconstituição e invade o
próprio mérito daquele provimento jurisdicional, tanto mais que a ruptura
da coisa julgada no iudicium rescindens conduz ao rejulgamento, qual seja,
o iudicium rescissorium. Diante do exposto, a Corte Especial, ao prosseguir o
julgamento, por maioria, firmou o entendimento de que, na ação rescisória
baseada em violação de literal disposição de lei, o mérito do recurso
especial se confundiria com os próprios fundamentos para a propositura
da ação rescisória, autorizando o STJ a examinar também o acórdão
rescindendo. Precedente citado: REsp 476.665-SP, DJ 20/6/2005. EREsp

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1.046.562-CE, Rel. originária Min. Eliana Calmon, Rel. para acórdão Min.
Nancy Andrighi, julgados em 2/3/2011.

Esse último julgado se justifica pelo seguinte: a pessoa ajuíza ação rescisória com fulcro em
violação a literal dispositivo de lei. O tribunal afirma que não houve literal violação. A parte
interpõe recurso especial, arguindo que o tribunal errou, que houve sim literal violação. Nesse
caso, se o STJ der provimento ao recurso, não estará apenas falando que o tribunal está
errado, como também estará imediatamente falando que o próprio acórdão rescindendo
violou literal dispositivo de lei.

25.1.7.7.1. Efeitos do Controle Abstrato de Constitucionalidade e Cabimento de Ação Rescisória


Retirado da internet
(http://www.lfg.com.br/artigos/Blog/Controle_de_Constitucionalidade_e_Acao_Rescisoria.pdf
).

Vimos que o controle concentrado produz efeitos vinculantes e erga omnes, vinculando todos
os órgãos do Poder Judiciário e também a Administração Pública seja ela federal, estadual,
municipal ou distrital. Vimos também, adotando a teoria da abstrativização do controle difuso,
que o controle incidental da constitucionalidade realizado pelo Supremo Tribunal Federal
também deve vincular os demais órgãos do Poder Judiciário. Cabe agora indagar se tal efeito
vinculante afeta as coisas julgadas que consolidarem entendimento diverso do explicitado pelo
Supremo Tribunal Federal nos citados casos. Além disso, cabe analisar se tais julgamentos
causam influência no cabimento da ação rescisória por violação literal disposição de lei.

A coisa julgada, como já visto, representa garantia constitucional dotada de imunidade em


face, inclusive, de mudanças legislativas. No entanto, a coisa julgada está sujeita ao
regramento infraconstitucional que lhe for atribuída à época da decisão.

A questão a se definir é se o efeito vinculante do controle de constitucionalidade e a aplicação


retroativa de tais efeitos têm o condão de alterar a coisa julgada que se encontre em
desacordo com tais decisões.

O efeito vinculante e retroativo do controle de constitucionalidade não tem a capacidade,


por si só, de mudar o quanto fixado na decisão que tenha transitado em julgado, ainda que
se venha a entender que a situação jurídica resguardada pela coisa julgada possua
fundamento em lei declarada inconstitucional. Esta situação é comumente e
equivocadamente denominada coisa julgada inconstitucional. Equivocadamente, pois,
segundo Barbosa Moreira, o defeito encontra-se na sentença e não na sua imutabilidade, pois
na sentença é que se encontra a inconstitucionalidade.

Se o legislador não pode alterar tal situação, nem mesmo o Supremo Tribunal Federal poderá
fazê-lo simplesmente emitindo uma decisão em sede de controle de constitucionalidade.
Assim, temos que as decisões do Supremo Tribunal Federal, no controle de
constitucionalidade, seja por via concentrada, seja por via incidental, não terão o condão de
alterar a coisa julgada de forma automática ou de torná-la sem efeito de forma imediata. A
coisa julgada, a princípio, mesmo que resguarde sentença que possua fundamento
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inconstitucional, continua preservada se não for utilizado algum instrumento, já previsto no


ordenamento, que tenha por fim elidir a situação jurídica reputada como inconstitucional.

Entres os instrumentos já previstos, está a ação rescisória e o disposto no art. 741, parágrafo
único. Os embargos à execução previstos no art. 741, parágrafo único, neste caso, seriam o
meio de obstacularizar a produção de efeitos da sentença acobertada pela coisa julgada. As
sentenças ditas inconstitucionais não são inexigíveis automaticamente, pois, caso não haja o
oferecimento dos embargos dentro do prazo legal, haverá preclusão de tal direito, podendo a
sentença ser executada normalmente, já que a declaração de inexigibilidade do título não
pode ser declarada ex officio pelo magistrado.

Nesse sentido, citamos Barbosa Moreira:

A partir do trânsito em julgado, a norma concreta contida na sentença


adquire, por assim dizer, vida própria e não é atingida pelas vicissitudes
capazes de atingir a norma abstrata: nem é outra a razão pela qual, ainda
que surta efeitos ex tunc, a declaração da inconstitucionalidade da lei não
afeta a auctoritas rei iudicatae da sentença que a tenha aplicado.

Em relação ao cabimento da ação rescisória, com base na literal violação de disposição de lei, a
decisão do Supremo Tribunal Federal, realizada no controle de constitucionalidade, seja ele
difuso (desde que realizado pelo Pleno) ou concentrado, servirá de fundamento para se
comprovar a violação literal de lei.

No julgamento da ação rescisória proposta com base no art. 485, V, do CPC, em face de
decisão que tenha estabelecido entendimento diverso ao fixado pelo Supremo Tribunal
Federal, no controle de constitucionalidade, o efeito vinculante das decisões do Supremo
Tribunal Federal incidirá sobre este novo pronunciamento do tribunal acerca da matéria, sob
pena de violação à autoridade das decisões do Supremo Tribunal Federal. ASSIM, O
TRIBUNAL ESTARÁ, CASO SEJA PROPOSTA A AÇÃO RESCISÓRIA DENTRO DO PRAZO
DE 2 (DOIS) ANOS, OBRIGADO A MUDAR O QUANTO FIXADO NA DECISÃO
RESCINDENDA.

Nesse sentido encontram-se as lições de Barbosa Moreira, nos seguintes termos:

“Se porventura transitar em julgado com a mácula, caberá ação rescisória


para desconstituí-la: é pacífico que o texto do art. 485, n° V, do Código de
Processo Civil (verbis "literal disposição de lei") abrange a Constituição.”

Nesse sentido, citamos o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal:

Ação Direta de Inconstitucionalidade. Julgamento. Sentença de mérito.


Oponibilidade erga omnes e força vinculante. Efeito ex tunc. Ofensa à sua
autoridade. Caracterização. Acórdão em sentido contrário, em ação
rescisória. Prolação durante a vigência e nos termos de liminar expedida na
ação direta de inconstitucionalidade. Irrelevância. Eficácia retroativa da
decisão de mérito da ADI. Aplicação do princípio da máxima efetividade das
normas constitucionais. Liminar concedida em reclamação, para suspender
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os efeitos do acórdão impugnado. Agravo improvido. Voto vencido. Reputa-


se ofensivo à autoridade de sentença de mérito proferida em ação direta de
inconstitucionalidade, com efeito ex tunc, o acórdão que, julgando
improcedente ação rescisória, adotou entendimento contrário, ainda que na
vigência e nos termos de liminar concedida na mesma ação direta de
inconstitucionalidade. (STF, Rcl 2.600-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso,
julgamento em 14-9-06,DJ de 3-8-07).

Na doutrina, Luiz Fux acolhe a influência do controle de constitucionalidade apenas em relação


ao controle concentrado, nos seguintes termos:

Questão lindeira à violação literal de lei é a que pertine à declaração de


inconstitucionalidade da lei aplicada, e que exsurge no prazo da propositura
da ação rescisória. Tratando-se de controle concentrado e dispondo o
Supremo Tribunal Federal no acórdão declaratório dos efeitos ex tunc da
declaração, é imperioso o acolhimento do iudicium rescindens. Ao revés, se
a declaração é oriunda de controle difuso, prestigia-se a coisa julgada e a
segurança jurídica, interditando-se a ação rescisória sob os mesmos
fundamentos da Súmula nº. 343, vale dizer: à época da decisão, o juízo não
violou a lei, porquanto hígida no sistema jurídico.

Discordamos do citado entendimento, em razão da adoção da objetivização do controle difuso


de constitucionalidade realizado pelo Supremo Tribunal Federal. Sendo assim, mesmo as
decisões oriundas do controle difuso possibilitam o uso da ação rescisória com base no art.
485, V, do CPC. Este entendimento deve ser aplicado da mesma forma que tem se admitido
decisão em sede de controle difuso para os casos de inexigibilidade do título em função da
sentença possuir conteúdo ou ser baseada em lei em desconformidade à Constituição, no caso
do art. 741, parágrafo único. Nesse sentido, citamos Paulo Roberto Lyrio Pimenta:

Importa observar, entretanto, que o legislador não diferenciou as decisões


proferidas em controle abstrato e difuso - que têm eficácia subjetiva distinta
-, não cabendo ao intérprete fazê-lo. O enunciado fala apenas em lei
declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, sem mencionar o
tipo de procedimento em que a decisão foi prolatada. Assim sendo, tanto a
pronúncia de inconstitucionalidade em sede de ADIn ou de ADC (controle
abstrato), quanto em Recurso Extraordinário (controle difuso) motivam a
alegação de inexigibilidade do título executivo. Em se tratando de
fiscalização difusa, cuja decisão tem eficácia inter partes, pensamos ser
desnecessária a expedição da Resolução do Senado Federal, expulsando do
mundo jurídico a norma impugnada. Isso porque a decisão, embora não
elimine a inconstitucionalidade do sistema, retira a presunção de
constitucionalidade da norma jurídica, justificando a prevalência do
princípio da supremacia constitucional, que deve ser aplicado ao caso
concreto, afastando-se a garantia da coisa julgada.

Registre-se que, por razões de segurança jurídica, só é possível a alteração da coisa julgada,
nesses casos, com a utilização da ação rescisória dentro do prazo estabelecido para a mesma,
ou seja, 2 anos a partir do trânsito em julgado da decisão.

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25.1.7.8. Prova Falsa (inciso VI)


Não é qualquer prova falsa que serve de fundamento para a rescisória, mas apenas aquele que
constituiu o fundamento para a sentença rescindenda, que foi determinante para a decisão.
Caso ela tenha sido prolatada com base também em outros elementos, não será cabível.

A falsidade pode ser material ou ideológica. É irrelevante que tenha sido alegada no processo
em que proferida a sentença rescindenda, a menos que tenha sido objeto de incidente de
arguição de falsidade, cuja sentença tenha transitado em julgado e afirmado ser autêntico o
documento, salvo se, obviamente, se puder rescindir, também, esta decisão.

Ademais, é irrelevante que a falsidade da prova tenha ocorrido consciente ou


inconscientemente por quem a utilizou.

A falsidade pode ser apurada no curso da ação rescisória ou haver sido declarada em processo
criminal. Nesta hipótese, não poderá o tribunal que julgar a rescisória desconsiderar a coisa
julgada criminal, devendo considerar, necessariamente, que a prova é falsa. A defesa do réu,
neste caso, só poderá se fundar (quanto ao mérito) em que a prova não era o fundamento
único da sentença, ou seja, que havia outro fundamento suficiente a embasar a sentença
rescindenda.

DIDIER anota que também se deve admitir a AR quando a falsidade for apurada em ação
declaratória civil (CPC, art. 4º, II). Todavia, se a Ação declaratória de autenticidade houver
declarado autêntico o documento, fica excluída a possibilidade de rescisão com esse
fundamento, em razão da eficácia positiva da coisa julgada.

Prova ilícita: se a sentença for fundamentada em prova ilícita, deverá ser desconsiderada sua
produção e a sentença, consequentemente, estará fundada em fato não provado, deixando de
haver fundamentação e sendo, portanto, sentença nula. Todavia, o fundamento para a AR
nesses casos será o inciso V (ofensa a literal disposição de lei), pois restou violada norma que
veda utilização de prova ilícita. Não cabe com fundamento no inciso VI pois a prova, conquanto
obtida por meios ilícitos, é verdadeira.

25.1.7.9. Documento Novo (inciso VII)


Só se admite a rescisória, com base nesse inciso, fundada em documento. Não se pode fazer
uso da analogia para se admitir a rescisória com base em outro meio de prova, como a
testemunhal, a pericial etc.

Como documento novo, pode o autor se valor de qualquer documento. Porém, não será aceito
aquele cuja lei exigia a forma pública para fazer prova dos fatos alegados no processo original.

Documento novo não é aquele constituído posteriormente, e sim aquele que não foi
apresentado no curso do processo originário, destinado a provar fato já ocorrido. Ele já deveria
existir no momento do julgado rescindendo, não ensejando a rescisória documento não
existente à época do processo originário.

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Também se exige que o autor ignorasse a existência do documento até o momento em que ele
podia juntar provas no processo original ou que dele ele não pudesse fazer uso, razão pela
qual ele deve demonstrar o momento em que obteve o documento.

Se ainda era possível à parte juntar o documento no processo original e ela não o fez, não
caberá a AR. É necessário, também, que o documento novo se refira a fatos controvertidos no
processo originário, RAZÃO PELA QUAL O RÉU REVEL NÃO PODERÁ VALER-SE DA
RESCISÓRIA COM FULCRO NESTE INCISO.

O documento novo há de ser suficiente para modificar a conclusão a que se chegou na


decisão rescindenda, gerando ele, necessariamente e sozinho, um pronunciamento favorável
ao autor da AR, ainda que parcial.

A inicial deve, obrigatoriamente, vir instruída com o documento novo, sem o qual o juiz deverá
determinar à parte que efetue a emenda, sob pena de indeferimento.

O STJ vem aceitando a AR com base em exame de DNA, por entender que ele se enquadra no
conceito de documento novo. Também se considera documento novo fotos, fita gravada,
reprodução mecânica (art. 383).

Transitada em julgado sentença condenatória de reparação civil, a superveniente sentença


penal absolutória não se enquadra no conceito de documento novo, já que este, como visto, já
deveria existir ao tempo da ação originária.

O documento novo deve referir-se a fatos controvertidos no processo originário: se o fato não
foi alegado nem objeto de controvérsias no processo, não cabe a AR. Assim, ao revel (que
justamente por ser revel, não alegou qualquer fato) não se franqueia a possibilidade da AR
com esse fundamento (inc. VII).

Assim, temos que:

Documento Novo
Já existia ao tempo do processo originário
Autor desconhecia ou dele não podia fazer uso
Documento se refira a fatos controvertidos no processo originário
Documento seja hábil, por si só, a modificar a decisão rescindenda, ainda que parcialmente

25.1.7.10. Houver Fundamento para Invalidar Confissão, Desistência ou Transação, em que


se Baseou a Sentença (inciso VIII)
A referência à confissão deve ser interpretada extensivamente, para abranger também o
reconhecimento jurídico do pedido. No que tange à desistência, a sentença que nela se baseou
não pode ser rescindida. Isto porque a desistência é causa de extinção do processo sem
julgamento do mérito (CPC, art. 267, III). Assim, a desistência a que se refere o inciso VIII do
art. 485 deve ser entendida como renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação (CPC, art.
269, II).

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Para anular confissão, reconhecimento do pedido, renúncia à pretensão ou transação,


quando ainda não houver ocorrido o trânsito em julgado da sentença homologatória o
remédio adequado é a ação anulatória (CPC, art. 486). Após o trânsito em julgado, o único
meio de impugnação adequado é a ação rescisória.

Confissão: BARBOSA MOREIRA entende que o inciso VIII deve ser interpretado extensivamente
para se admitir a rescisão do julgado por todo e qualquer motivo para invalidar a confissão
(porquanto o art. 214 do CC dispõe que a confissão somente pode ser anulada por coação ou
erro de fato). A ação anulatória proposta antes do trânsito em julgado tem causa de pedir
restrita, somente cabendo nos casos de erro de fato e coação (art. 214 do CC c/c art. 352 do
CPC). Quanto à AR não há qualquer restrição, pois cabível quando “houver fundamento para
invalidar” (isto é, qualquer fundamento para invalidar). O dispositivo vale, igualmente, para o
“reconhecimento da procedência do pedido”.

Sentença meramente homologatória: a sentença que extingue o processo com resolução de


mérito pela transação é uma sentença meramente homologatória (art. 269, III). Há polêmica
sobre o cabimento da rescisória ou da anulatória do art. 486.

Didier sustenta que as sentenças homologatórias previstas no art. 486 não são aquelas que se
encontram no art. 269 do CPC, mas apenas aquelas que não serão alcançadas pela coisa
julgada material, mas simplesmente pela preclusão máxima (ex.: homologação da arrematação
e da adjudicação). Assim, o critério distintivo seria a coisa julgada material. Todavia, há
entendimento segundo o qual cabe a AR quando o juiz, ao homologar a transação, fizer
considerações acerca do mérito da demanda, cabendo a anulatória quando o juiz se restringe a
homologar a transação. Ainda, há quem diferencie a sentença que homologa a transação
(cabível a anulatória) e sentença que se baseia em uma transação (cabível a AR).

25.1.7.11. Fundada em Erro de Fato, Resultante de Atos ou de Documentos da Causa (inc. IX)
Haverá erro de fato apto a permitir a AR quando:

a) O erro de fato tiver sido determinante para o mérito da sentença prolatada pelo juiz;

b) Que o erro seja apurável mediante o simples exame dos documentos e demais peças
dos autos;

c) Que a sentença tenha admitido um fato inexistente, ou quando considerar inexistente


um fato efetivamente ocorrido;

d) Que não tenha havido controvérsia nem pronunciamento judicial sobre o fato:
inexistirá controvérsia se o fato não foi alegado por nenhuma das partes, se uma
admitiu expressamente a alegação da outra ou se uma parte não contestou o que a
outra disse.

A configuração do erro de fato denota a existência de uma sentença injusta, devido a um erro
de percepção ou de uma falha que escapou ao juiz ao compulsar os autos, relativamente a um
ponto incontroverso.

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PROCESSO CIVIL – AÇÃO RESCISÓRIA – ART. 485, IX, DO CPC – ERRO DE FATO
– INEXISTÊNCIA.

1. Cabe ação rescisória fundada em erro somente "quando a sentença


admitir um fato inexistente ou quando considerar inexistente um fato
efetivamente ocorrido. É indispensável, num como noutro caso, QUE NÃO
TENHA HAVIDO CONTROVÉRSIA JUDICIAL sobre o fato" (art. 485, § § 1º e
2º, do CPC).

2. Ação rescisória julgada improcedente.

(STJ, AR 4.277/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado


em 25/08/2010, DJe 10/09/2010)

AÇÃO RESCISÓRIA FUNDADA NO ART. 485, INCISOS V E IX, DO CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL - CONTROVÉRSIA ENTRE AS PARTES E PRONUNCIAMENTO
JUDICIAL SOBRE O TEMA DA EXISTÊNCIA OU NÃO DE EXECUÇÃO EM CURSO
QUANDO DA ALIENAÇÃO DO IMÓVEL OBJETO DA EXECUÇÃO - ERRO DE
FATO - NÃO-OCORRÊNCIA, NA ESPÉCIE - INTERPRETAÇÃO RAZOÁVEL DA
LEGISLAÇÃO - DESCABIMENTO DA VIA RESCISÓRIA - ALEGAÇÃO DE OFENSA
AO ENUNCIADO N. 5 DA SÚMULA/STJ - NÃO-OCORRÊNCIA - QUESTIONES
JURIS TRATADAS NOS AUTOS UNICAMENTE DE DIREITO - AÇÃO RESCISÓRIA
JULGADA IMPROCEDENTE.

I - Para que haja plausibilidade jurídica ao pleito de rescisão do julgado com


base na alegação de erro de fato (art. 485, inciso IX, do Código de Processo
Civil), é indispensável, em síntese: i) que o erro de fato seja relevante para
o julgamento da questão, ou seja, que sem ele a conclusão do julgamento
necessariamente houvesse de ser diferente; ii) que seja apurável mediante
simples exame das provas já constantes dos autos da ação matriz, sendo
inadmissível a produção, na rescisória, de novas provas para demonstrá-lo;
e iii) que não tenha havido controvérsia nem pronunciamento judicial
sobre o fato;

[...]

(STJ, AR 1421/PB, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado


em 26/05/2010, DJe 08/10/2010)

Vide, assim, que não se admite ação rescisória fundada em erro de fato (CPC, art. 485, IX)
quando, no acórdão rescindendo, houve debate a respeito dessa circunstância fática e dos
respectivos elementos probatórios amealhados aos autos.

25.1.8. Procedimento da Ação Rescisória

25.1.8.1. Introdução
A AR é proposta mediante petição inicial, contendo os requisitos do art. 282, além daqueles
previstos no art. 488 do CPC.

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A inicial será indeferida nos casos do art. 295 ou quando a parte não fizer o depósito prévio de
5% do valor da causa.

25.1.8.2. Petição Inicial e Depósito Obrigatório de 5%


A inicial deve vir acompanhada de cópia da decisão rescindenda e da certidão de seu trânsito
em julgado, sob pena de inadmissibilidade da demanda. Didier afirma que tais cópias não
precisam ser autenticadas, bastando a declaração de autenticidade do advogado, nos termos
do art. 365, IV.

Deverá, ainda, ser cumulado ao pedido rescindente o pedido rescisório, caso o autor queira
também nova decisão, e não apenas desconstituir a originária.

Deverá ele depositar 5% do valor da causa, a título de multa a ser entregue à parte contrária,
SEJA DECLARADA INADMISSÍVEL OU IMPROCEDENTE POR
caso a ação
UNANIMIDADE.
Na ação rescisória, o depósito inicial tem a finalidade de evitar a propositura
desmedida de ações dessa natureza, não se cogitando de qualquer caráter
indenizatório ao réu, seja por eventuais despesas com advogados, seja pelo
desgaste por enfrentar nova demanda. (STJ, Corte Especial, Informativo 395,
REsp 754.254/RS)

ESSE DEPÓSITO NÃO SERÁ EXIGIDO DA FAZENDA PÚBLICA (ART. 488, P.


ÚNICO), DO MP, DA DP E DOS BENEFICIÁRIOS DA JUSTIÇA GRATUITA.
Súmula 175, STJ: “Descabe o deposito previo nas ações rescisorias propostas pelo INSS”
Somente há a dispensa quanto à antecipação do depósito dessa quantia (5% sobre o valor da
causa). No entanto, não há nada a dispensá-lo do pagamento dessa multa caso julgado, à
unanimidade, improcedente o pedido rescisório formulado.

AÇÃO RESCISÓRIA. PRELIMINAR. DEPÓSITO PRÉVIO. BENEFICIÁRIO DA


JUSTIÇA GRATUITA. NÃO OBRIGATORIEDADE.

I - É pacífico o entendimento desta e. Corte Superior de que a parte


beneficiária da justiça gratuita não está obrigada a efetuar o depósito de
que trata o art. 488, inciso II, do CPC. Precedentes.

[...]

(STJ, AR 3.828/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em


28/04/2010, DJe 07/05/2010)

PROCESSO CIVIL. DECISÃO PROFERIDA EM INCIDENTE PROCESSUAL.


PUBLICAÇÃO TAMBÉM NA AÇÃO PRINCIPAL. DESNECESSIDADE. AÇÃO
RESCISÓRIA. DEPÓSITO PRÉVIO. AUSÊNCIA DE COMPLEMENTAÇÃO.
INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. EXTINÇÃO DA AÇÃO SEM
APRECIAÇÃO DO MÉRITO. INTIMAÇÃO PESSOAL DA PARTE.
DESNECESSIDADE.

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[...]

3. De acordo com o art. 490 do CPC, a falta ou insuficiência do depósito


prévio motiva o indeferimento da petição inicial, conduzindo à extinção da
ação rescisória sem apreciação do mérito, nos termos do art. 267, I, do CPC,
situação que dispensa a prévia intimação pessoal da parte, visto que o § 1º
desse mesmo dispositivo legal somente exige essa providência nas hipóteses
dos incisos II e III.

[...]

(STJ, AgRg na AR 3.223/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA


SEÇÃO, julgado em 10/11/2010, DJe 18/11/2010)

Assim, diferentemente dos recursos, em que a insuficiência do preparo gera a oportunidade


de preparo complementar, na Ação Rescisória a insuficiência do depósito inicial será causa
de indeferimento da petição inicial. Nesse caso poderá a parte levantar o que depositou;
ademais, se ainda houver prazo, poderá tranquilamente propor outra rescisória, já que sobre a
anterior não se formou coisa julgada.

Se o valor da causa se mostrar excessivamente elevado, poderá o juiz diminuir o montante do


depósito necessário a fim de não vedar o acesso à jurisdição.

25.1.8.3. O Valor da Causa


Firmou-se o entendimento de que o valor da causa na AR equivale, em princípio, ao da ação
originária, corrigido monetariamente. Todavia, deve guardar equivalência com o benefício
patrimonial visado; assim, pode o demandado impugná-lo para demonstrar que o proveito
econômico a ser auferido pelo autor supera tal montante.

Se a AR for proposta quando já promovida a liquidação do julgado, em que se demonstra que


o benefício a ser auferido é superior ao valor da causa da ação originária, deve o valor da causa
da AR ser equivalente ao montante liquidado.

Por outro lado, se a AR envolver apenas um ou alguns dos capítulos da decisão rescindenda, O
VALOR DA CAUSA DEVE CORRESPONDER AO PROVEITO ECONÔMICO que se possa
obter com a rescisão de apenas esse capítulo.

Apesar do valor legal fixado, o juiz poderá determinar valor menor, caso o valor da causa
seja excessivo e impeça ou inviabilize o acesso à justiça. Trata-se de uma construção
jurisprudencial e doutrinária.

AGRAVO REGIMENTAL. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA. AÇÃO


RESCISÓRIA. BENEFÍCIO ECONÔMICO. VALOR ELEVADO. ACESSO À JUSTIÇA.
POSSÍVEL OFENSA. ADEQUAÇÃO. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA
JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. AGRAVO IMPROVIDO.

1. O valor da causa na ação rescisória deve ser, em regra, o mesmo


atribuído à ação que originou o julgado rescindendo. Não obstante, a
jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de
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que referida regra deve ser mitigada quando restar demonstrada a


discrepância entre tal valor e o benefício econômico auferido com a
decisão a ser rescindida.

2. Na espécie, o valor atribuído à causa originária corresponde, segundo as


autoras, a R$94.085,25, atualizados. De fato, não restam dúvidas de que tal
valor se distancia daquele que se pretende obter com o cumprimento do
julgado rescindendo, já em fase de execução, em que os cálculos
apresentados pela exequente alcançam R$77.119.872, 10. Assim, impõe-se
a adequação do valor da causa na presente ação rescisória, diante da
disparidade entre o valor da ação originária e do seu benefício econômico,
já revelado, ainda que não definitivamente, na execução, especialmente
tendo-se em vista que se trata de rescisão de contrato de compra e venda
das ações representativas do controle acionário do Banco de Produção S/A.

3. De outra sorte, há de se ter sob mira que o elevado valor da causa não
pode representar, em razão da necessidade de recolhimento de custas e, na
espécie, do depósito do artigo 488, inciso II, da Lei de Ritos, um obstáculo ao
direito constitucional de acesso à justiça. Com efeito, equiparar, no caso em
apreço, a atribuição do valor da causa ao valor da condenação inviabilizaria
o direito das autoras de buscarem a rescisão do julgado e do
correspondente novo julgamento do feito.

4. Dessa forma, tendo em vista que a desconstituição do julgado


rescindendo não beneficiaria apenas as autoras, mas também diversas
outras sociedades alcançadas pela compra e venda das ações do Banco de
Produção S/A e pelo processo de cisão da Fayal S/A, revela-se oportuno
imputar àquelas, para fins de atribuição do valor à causa na presente ação
rescisória, tão-somente o benefício econômico que lhes atingiria
diretamente. Impugnação ao valor da causa julgada parcialmente
procedente.

5. Agravo improvido.

(STJ, AgRg na Pet 5.144/MG, Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA,


SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/04/2007, DJ 24/05/2007, p. 309)

25.1.8.4. Prazo de Defesa (art. 491)


Recebida a inicial, o réu será citado para oferecer resposta no prazo fixado pelo relator, que
NÃO DEVE SER INFERIOR A QUINZE NEM SUPERIOR A TRINTA DIAS.
Didier entende que se trata de prazo judicial, porquanto sua fixação depende de determinação
judicial e, por esse motivo, sustenta que não se aplica o art. 188 do CPC ao prazo de resposta
da Fazenda Pública na AR. Ademais, o art. 491 estabelece o prazo máximo de 30 dias, o que
colidiria com a possibilidade do computo em quádruplo para a resposta da Fazenda Pública.

A 6º Turma do STJ, entretanto, entende diferente:

PROCESSO CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. PRAZO PARA CONTESTAÇÃO. ARTIGO


188 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
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1. A regra do artigo 188 do Código de Processo Civil, referente à dilação de


prazos processuais, é aplicável ao prazo de resposta para a ação rescisória.

2. Precedentes do STF e do STJ.

3. Recurso especial conhecido.

(STJ, REsp 363.780/RS, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA,


julgado em 27/08/2002, DJ 02/12/2002, p. 379)

Didier sugere que o relator faça expresso no mandado citatório o benefício à Fazenda, caso
queira concedê-lo.

25.1.8.5. Revelia na Ação Rescisória


A revelia ocorre naturalmente. Entretanto, seus efeitos são diferentes:

a) Efeito processual: ocorre normalmente o efeito processual de dispensa de intimação


do réu para os atos processuais;

b) Efeito material: não haverá o efeito material de presunção da veracidade dos fatos
alegados pelo autor na AR. Isso porque o autor sempre terá o ônus de demonstrar a
ocorrência de algum dos vícios relacionados no art. 485, já que a autoridade da coisa
julgada, que favorece o réu-revel, não pode ser desfeita com uma simples presunção.

25.1.8.6. Reconvenção na Ação Rescisória


Ela é perfeitamente admitida, desde que atendidos três requisitos:

a) A reconvenção seja também uma AR;

b) Se trate de AR do mesmo julgado que já é objeto do pedido de rescisão;

c) Ainda haja prazo para a propositura da rescisória.

Será cabível, v.g., quando houver sucumbência recíproca, hipótese em que o réu reconvirá
buscando rescindir a parte em que o autor foi vencedor no processo original. Para reconvir,
necessário é que ainda haja prazo.

25.1.8.7. Produção de Provas na Ação Rescisória (art. 492)


Se os fatos alegados dependerem de prova, o relator delegará a competência ao juízo de
origem, onde deverão ser produzidas no prazo de 45 a 90 dias, mediante carta de ordem (art.
492).

Concluída a instrução, será aberta vista, sucessivamente, ao autor e ao réu, pelo prazo de dez
dias para alegações finais. Em seguida, será dada vista ao MP para parecer.

25.1.8.8. Intervenção do MP
A intervenção do MP na AR será obrigatória, já que a lide evidencia o interesse público, salvo
se o próprio MP for parte.

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25.1.8.9. Tutela de Urgência – Cautelar ou Antecipada


O simples ajuizamento da AR não suspende ou paralisa a execução da decisão transitada em
julgado. Porém, tal efeito poderá ser concedido se pedido e se necessário para que a
pretensão do autor não se torne impossível.

A tutela de urgência poderá ser uma cautelar ou antecipada, a depender do pedido. Até
mesmo de ofício poderá o juiz concedê-la, utilizando-se do seu poder geral de cautela.

Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA EM AÇÃO RESCISÓRIA.


SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DE JULGADO. ICMS. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA.
OPERAÇÃO EM VALOR INFERIOR AO ESTIMADO. RESTITUIÇÃO DA
DIFERENÇA. REALIZAÇÃO DO FATO GERADOR PRESUMIDO.
VEROSSIMILHANÇA DA ALEGAÇÃO. AUSÊNCIA DE DANO INVERSO.

1. É admissível, EXCEPCIONALMENTE, a antecipação dos efeitos da tutela


em sede de ação rescisória para suspender a execução da decisão
rescindenda, quando presentes os requisitos do artigo 273 do Código de
Processo Civil.

2. Demonstradas a verossimilhança da alegação deduzida na exordial e a


urgência da medida requerida em face do iminente creditamento da
diferença de ICMS recolhido a maior em regime de substituição tributária, é
de ser preservada a decisão que deferiu o pedido de tutela antecipada para
suspender a execução de julgado em dissonância com o entendimento
firmado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 1.851/AL.

3. Precedente (AgRgAR nº 3.119/MG, Relator Ministro Castro Meira, in DJ


8/11/2004).

4. Agravo regimental improvido.

(STJ, AgRg na AR 4.640/DF, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO,


PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 23/03/2011, DJe 05/04/2011)

25.1.8.10. Julgamento: O Iudicium Rescindens e o Iudicium Rescisorium


O juízo rescindens (rescindente) é aquele pelo qual se decide, na AR, se deve ou não ser
desconstituída a coisa julgada. Consiste no pedido do autor para que seja desconstituída a
decisão transitada em julgado.

Ele estará presente em todas as hipóteses de cabimento da ação rescisória.

O juízo rescisorium (rescisório) é aquele em que o tribunal, após desconstituída a coisa julgada,
promove um novo julgamento da causa. Logo, a vitória no juízo rescindente não significa
vitória no rescisório.

A pretensão rescindente é sempre desconstitutiva; a rescisória poderá ser declaratória,


constitutiva ou condenatória, a depender da natureza da causa. Se o pedido por novo
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julgamento da causa não for formulado, havendo cumulação, é defeso ao tribunal julgar, pois
estará atuando extra petita.

Se o pedido de novo julgamento for obrigatório, cabe ao relator, nos termos do art. 284 do
CPC, determinar a intimação do autor para emendar a inicial, sob pena de indeferimento.

Súmula 252, STF: “Na ação rescisória, não estão impedidos juízes que participaram do
julgamento rescindendo”. Isso porque o tribunal entende que os juízes que rescindem a causa
não ficam viciados para exercer o mérito rescisório.

Cabe sustentação oral em julgamento de AR.

25.1.8.11. Recursos na Ação Rescisória


Há dois tipos de decisões na AR: a decisão monocrática do relator e a do órgão colegiado.

Contra a decisão isolada do relator, cabe agravo interno para o órgão colegiado competente
para o julgamento da AR.

Contra o acórdão que julga a AR podem caber embargos infringentes (art. 530: acórdão não
unânime que tenha rescindido a decisão judicial).

Contra acórdão unânime ou não unânime que tenha mantido a decisão judicial, cabem REsp
ou RE, desde que versem sobre questão que tenha surgido durante o processo da AR e que
tenha sido enfrentada pelo tribunal recorrido (prequestionamento).

Nos recursos excepcionais não é possível renovar a discussão sobre a ocorrência ou não da
causa de pedir da AR, pois se trata de questão de fato176. Em razão da possibilidade de
interposição dos recursos excepcionais, cabem embargos de divergência e agravo de
instrumento contra decisão do presidente/vice do tribunal a quo que não admite Resp/RE (art.
544 do CPC).

25.1.8.12. Ação Rescisória Proferida em Julgamento de Ação Rescisória


Só é possível a discussão em nova rescisória, de vícios relacionados à decisão proferida na
rescisória antecedente. Não se pode repetir em outra rescisória a mesma causa de pedir que
deu ensejo à antecedente.

25.1.8.12. Competência para Executar Acórdão Emanado de Ação Rescisória


ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. ALEGADA CONTRARIEDADE A
DISPOSITIVOS DE REGIMENTO INTERNO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 399
DO EXCELSO PRETÓRIO. OFENSA AO ART. 575, INCISO I, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. NÃO OCORRÊNCIA. EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL
ORIUNDO DE AÇÃO RESCISÓRIA. COMPETÊNCIA. JUÍZO DE 1.º GRAU.

1. Dispositivos de regimento interno do Tribunal a quo não se enquadram


no conceito de lei federal, capaz de ensejar a abertura da via especial.
Incidência da Súmula n.º 399/STF. Precedentes.

176
Salvo se se tratar de causa de pedir fundada em violação de dispositivo legal
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760

2. A execução do título executivo emanado da ação rescisória julgada


procedente deve ser realizada PELO JUÍZO NO QUAL SE INICIOU A
DEMANDA em que foi proferida a decisão rescindida, nos termos do art.
575, inciso II, do Código de Processo Civil, de modo a atender os princípios
da instrumentalidade, da celeridade, da economia e da efetividade do
processo.

3. Promovida no âmbito dos Tribunais, a execução de acórdão que rescindiu


o título executivo oriundo de ação ordinária se mostra extremamente
dispendiosa para a parte, mormente em situações que envolvam valores
ilíquidos, exigindo-se, para maior efetividade da prestação jurisdicional, o
envio dos autos ao juízo de 1.º grau.

Precedentes.

4. Recurso especial desprovido.

(STJ, REsp 860.634/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 16/12/2010, DJe 07/02/2011)

25.2. Ação Transrescisória ou Querella Nullitatis


A decisão judicial existente pode ser impugnada, basicamente, por dois meios: o recurso e a
ação rescisória. Existem, porém, duas hipóteses em que a decisão judicial pode ser invalidada
após o decurso do prazo da ação rescisória. É o caso da proferida em desfavor do réu, em
processo que correu à sua revelia, quer porque não fora citado ou o fora de maneira
defeituosa.

Nesses casos, a decisão estará contaminada por vício transrescisório.

A AR permite a rescisão da sentença por motivos relacionados à sua validade e à sua justiça e a
querela nullitatis serve exclusivamente à invalidação da sentença nos casos previstos.

Se a sentença for favorável ao réu, não cabe a querela, pois não há nulidade sem prejuízo,
não havendo interesse na ação. Também não caberá se o réu foi citado regularmente, ou não
o foi, mas compareceu espontaneamente, mesmo que somente para alegar o vício (art. 214).

Essa ação é imprescritível e deve ser proposta perante o juízo que proferiu a decisão. Ela não
serve para impugnar sentença injusta, o erro impugnável é apenas de procedimento. Como
visto. É cabível em apenas duas hipóteses:

a) Impugnação à execução de sentença (art. 475-L, I);

b) Embargos à execução contra a Fazenda Pública (art. 741, I).

Contudo, a querela pode assumir a feição de outro procedimento, distinto dos embargos à
execução, sendo possível a invalidação via ação autônoma, em espécie atípica de defesa do
executado. O STJ já admitiu a querela nullitatis deduzida em uma ACP proposta pelo MP para
invalidar decisão judicial proferida sem a citação de um Estado-membro, no caso de
litisconsorte necessário unitário (Resp 445664-AC).
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Há discussão acerca da possibilidade de ajuizamento de AR contra sentença nula ou se cabe


apenas nos casos de sentença rescindível. Didier defende a fungibilidade (decisão com vicio
transrescisório poderia ser impugnada via AR), embora a recíproca não seja verdadeira, isso
porque os motivos que ensejam a AR são taxativos, nos quais não previstos as hipóteses da
querela.

Não é possível a utilização da ação anulatória do art. 486, pois esta visa a atingir ato
processual da parte, não se trata de meio de impugnação de decisão judicial.

Na hipótese do art. 475-L, I, o oferecimento da impugnação sem a alegação de vicio


transrescisório implica preclusão. Pontes de Miranda já entendia que mesmo nos casos de
ausência/defeito da citação que gerou revelia, se o réu intimado regularmente na execução
comparece e não aponta o vicio, sanado estaria pela preclusão.

Informativo 448

QUERELLA NULLITATIS. FALTA. CITAÇÃO. LITISCONSORTE PASSIVO


NECESSÁRIO.

Em vez de ação rescisória, que exige a existência de decisão de mérito com


trânsito em julgado, a nulidade por falta de citação deve ser suscitada por
meio de ação declaratória denominada querella nullitatis, que não possui
prazo para sua propositura. Com esse entendimento, a Seção, por maioria,
extinguiu a ação rescisória sem julgamento de mérito. No caso dos autos, a
ação principal tramitou sem que houvesse citação válida de litisconsorte
passivo necessário. Esse vício, segundo o Min. Relator, atinge a eficácia do
processo em relação ao réu e a validade dos atos processuais subsequentes,
por afrontar o princípio do contraditório. Assevera que aquela decisão
transitada em julgado não atinge o réu que não integrou o polo passivo da
ação. Trata-se, nesses casos, de sentenças tidas como nulas de pleno direito,
que ainda são consideradas inexistentes, que ocorrem, por exemplo,
quando as sentenças são proferidas sem assinatura ou sem dispositivo, ou
ainda quando prolatadas em processo em que falta citação válida ou
quando o litisconsorte necessário não integrou o polo passivo. Assim, essas
sentenças não se enquadrariam nas hipóteses de admissão da ação
rescisória (art. 485, I a IX, § § 1º e 2º), pois não há previsão quanto à
inexistência jurídica da própria sentença atingida de vício insanável.
Observa, ainda, o Min. Relator que este Superior Tribunal, em questão
análoga, decidiu no mesmo sentido e o Supremo Tribunal Federal também
entende que a existência da coisa julgada é condição essencial para o
cabimento da ação rescisória, motivo pelo qual, ausente ou sendo nula a
citação, é cabível a qualquer tempo a ação declaratória de nulidade, em vez
da ação rescisória prevista no art. 485 do CPC. Por fim, ressalta não
desconhecer a existência de respeitável doutrina e jurisprudência que
defendem a admissibilidade da ação rescisória na hipótese, no entanto
posiciona-se em sentido diverso. Precedentes citados do STF: RE 96.374-GO,
DJ 30/8/1983; do STJ: REsp 62.853-GO, DJ 1º/8/2005, e AR 771-PA, DJ

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26/02/2007. AR 569-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgada em


22/9/2010.

Sobre a competência para julgar a querella nullitatis:

COMPETÊNCIA. QUERELA NULLITATIS. JUÍZO. DECISÃO VICIADA.

Trata-se de definir a competência para processar e julgar a ação ajuizada


pelo INSS, que alegava não ter sido citado para a demanda que determinou
a revisão do benefício acidentário do segurado. Logo, versa sobre a
competência para processar e julgar a querela nullitatis. A Seção entendeu
COMPETIR AO JUÍZO QUE PROFERIU A DECISÃO SUPOSTAMENTE VICIADA
PROCESSAR E JULGAR A AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE. Precedente
citado: AgRg no REsp 1.199.335-RJ, DJe 22/3/2011. CC 114.593-SP, Rel. Min.
Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 22/6/2011.

25.3. Reclamação Constitucional

25.3.1. Noções Gerais

25.3.1.1. Introdução
A reclamação constitucional é uma ação de competência originária de tribunal, prevista na CR
e nas CE’s, que tem o objetivo de preservar a competência e garantir a autoridade das
decisões destes tribunais.

A CR prevê a reclamação para o STF (art. 102, I, “l”) e para o STJ (art. 105, I, “f”). Há previsão
fora da CR no Regimento Interno do TST, no do TSE e no do STM (nesse último do CPPM e da
lei federal 8.457/92).

A reclamação tem sua origem na dificuldade do Supremo Tribunal em fazer valer a autoridade
de suas decisões, seja na interpretação ou na execução das mesmas por parte de juízes e
tribunais. Em 1957, diante da possibilidade de o STF organizar seu regimento interno, e
fundada na doutrina dos poderes implícitos conferiu-se legitimidade ao PGR e ao interessado
na causa para a reclamação. Era de discutida constitucionalidade a medida, posto traduzir
verdadeira avocatória. Contudo como a constituição de 1967 deu ampla deliberação ao STF
para feitos da sua competência entendeu-se válida. Com a CR/88 foi expresso no sentido do
cabimento.

25.3.1.2. Natureza Jurídica


Há grande divergência quanto à natureza da reclamação, sendo as duas principais correntes as
que seguem:

a) Ação: sendo ação, somente pode ser disciplinada por Lei Federal, eis que ação
constitui matéria de processo, a cujo respeito é privativa a competência legislativa da
União (art. 22, I, CR). Ela está disciplinada nos artigos 13/18 da Lei Federal nº 8.038/90.
Além do mais, sendo ação que provoca o exercício da Jurisdição contenciosa, a decisão
nela proferida produz coisa julgada material, somente podendo ser revista mediante o
ajuizamento de ação rescisória, consoante já decidido pelo STF (Rcl. 532 AgR/RJ).
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Por ser ação, a reclamação constitucional segue a mesma regra das demais ações:
exige para sua propositura que haja capacidade postulatória, de sorte que o
reclamante deve fazer-se representar por advogado legalmente constituído. Parece,
realmente, que a Lei nº 8.038/90, ao disciplinar a reclamação constitucional levou em
conta sua natureza de ação que provoca o exercício da jurisdição contenciosa, eis que,
em seu art. 15, prevê o contraditório, sendo certo, ainda, a existência de uma
pretensão a ser acolhida ou rejeitada pelo tribunal.

b) Exercício do direito de petição (posição do STF): consoante esposado na ADI 2.212-


1/CE. A Corte Constitucional, valendo-se de lições de Ada Pellegrini Grinover (para a
autora trata-se de garantia especial ligada ao direito de petição, uma vez que se
vincula a um abuso por parte do órgão inferior que desrespeita a decisão do STF,
muito embora a própria autora reconheça a origem comum do direito de petição aos
três poderes, do qual a ação é uma expressão apenas com peculiaridades próprias.
Contudo ainda assim não se impede que haja exercício do direito de petição perante o
Judiciário. É mero procedimento de natureza disciplinar correicional), considerou a
reclamação constitucional como manifestação do direito de petição previsto no art. 5º,
XXXIV, “a”, CR, em razão do qual o cidadão se dirige ao poder público com vistas a
obter a defesa de direito ou objetivando combater ilegalidade ou abuso de poder.
Ainda segundo entendimento firmado pelo STF, sendo a reclamação a manifestação
de um simples direito de petição, aos Estados se franqueia a possibilidade de
estabelecer, em suas constituições as reclamações para os seus respectivos tribunais,
podendo cada Reg. Interno, fixar o procedimento e competência do órgão fracionário
destinado ao seu julgamento.

Com efeito, sendo a reclamação mero direito de petição e de acordo com o princípio
da simetria, permite-se que as CE’s prevejam a reclamação destinada a preservar a
competência dos TJ’s e a garantir a autoridade de seus julgados. No entender do STF,
não se viabiliza a reclamação para os TRF’s. A doutrina critica o entendimento do STF.
É que o direito de petição pode ser exercido tanto no âmbito administrativo como na
seara judicial. E a reclamação, como se viu, constitui medida judicial. Além do mais, se
realmente a reclamação consiste numa manifestação do direito de petição, não
haveria razão para exigir-se a capacidade postulatória, quando de sua propositura,
sendo incompatível com sua natureza de mero direito de petição entender que sua
decisão produz coisa julgada material. As críticas continuam: “O equívoco do STF é
reforçado com as contradições encontradas. O STF, conquanto tenha definido que a
reclamação constitui mero exercício do direito de petição, estabeleceu que somente
os Estados-membros podem prever, em suas respectivas constituições, a reclamação
para a preservação de competência e garantia da autoridade das decisões de seus TJ’s,
cujos regimentos internos podem estabelecer regras de processamento e julgamento
da reclamação; os TRF’s não podem, segundo o STF, processar e julgar reclamação,
muito embora constitua exercício do direito de petição.

25.3.1.2.1. Natureza Jurídica - Aprofundamentos

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A natureza jurídica da reclamação constitucional é matéria bastante controvertida


doutrinariamente, apresentando dissenso na jurisprudência. Nos primórdios, dada a falta de
contornos definidos e sua positivação como medida correicional, “[...] a reclamação quase
sempre era tida como providência administrativa [...]”.

No princípio, a reclamação tinha a sua natureza jurídica assemelhada, ou confundida, com a da


correição parcial, entendendo-se que constituía uma modalidade de medida administrativa,
especialmente quando, já num segundo momento, foi introduzida no regimento interno da
Corte Suprema.

Entretanto, com a evolução do instituto, a reclamação constitucional foi tomando contornos


próprios, afastando-se dos fundamentos de sua função corregedora e assumindo
características de medida jurisdicional, conforme alerta Dinamarco:

Confirmação do caráter jurisdicional da reclamação é também o fato de esse


controle ser feito necessariamente mediante provocação de parte ou do
Ministério Público (RISTF, art. 156, e RISTJ, art. 187). Se os objetivos do
controle fossem puramente administrativos, não haveria razão para
condicioná-lo a essa iniciativa, que vem de pessoas ou entes interessados na
eliminação de conflitos; a jurisdição, como expressão do poder estatal,
caracteriza-se e distingue-se das demais funções do Estado, precisamente
por essa sua destinação pacificadora, eliminando conflitos mediante
critérios de justiça.

Para Dantas, a correição e a reclamação são institutos diferenciados, eis que a correição é uma
medida:

[…] originária do instituto romano das correições, que passou para o direito
lusitano, e deste ao brasileiro, de caráter puramente
administrativodisciplinar, pertinente ao governo interno da magistratura,
direcionada a coibir erros e abusos de juízes de primeiro grau, cujo uso
recursal – que só se pode ter inconstitucional – é mera deturpação,
incrementada, a partir da vigência do Código de Processo Civil de 1939, pelo
princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias.

Já a reclamação constitucional, para o citado autor, é:

[...] fruto de construção pretoriana do Supremo Tribunal, a partir de meados


deste século, com base, principalmente, na teoria dos poderes implícitos, do
direito americano, e que, posteriormente, foi introduzida no Regimento
Interno dessa corte, e, passando por outras etapas, findou acolhida na
vigente constituição, tanto para o STF como para o STJ, para preservar-lhes
a competência e a autoridade de suas decisões.

Grinover, baseando-se no entendimento proferido pelo Ministro Nelson Hungria, em 1952,


para quem a reclamação não passava de simples representação, afirma ser o instituto fruto do
direito de petição previsto constitucionalmente:

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A meu ver, a providência em questão [reclamação constitucional] constitui


uma garantia especial que pode ser subsumida na cláusula constitucional
que assegura “o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de
direito ou contra a ilegalidade ou abuso de poder” (CR, art. 5º XXXIV, letra
a). Esse entendimento está corroborado pela posição de NELSON HUNGRIA
que, como visto, ponderava, na Reclamação nº 141/52, não tratar-se “de
recurso, mas simples representação, em que se pede ao STF que faça
cumprir o julgado tal como nele se contém”, acrescentando cuidarse de
hipótese em que o interessado, verificando ser mal-guardada a decisão,
representa contra esse abuso.

O Supremo Tribunal Federal, em 2003, ao julgar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade


ajuizada em razão da previsão da reclamação constitucional junto ao Regimento Interno do
Tribunal de Justiça do Ceará, manifestou-se sobre a natureza jurídica da reclamação
acompanhando o entendimento de Grinover:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 108, INCISO VII,


ALÍNEA I DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ E ART. 21, INCISO VI,
LETRA J DO REGIMENTO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA LOCAL. PREVISÃO, NO
ÂMBITO ESTADUAL, DO INSTITUTO DA RECLAMAÇÃO. INSTITUTO DE
NATUREZA PROCESSUAL CONSTITUCIONAL, SITUADO NO ÂMBITO DO
DIREITO DE PETIÇÃO PREVISTO NO ARTIGO 5º, INCISO XXXIV, ALÍNEA A DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 22,
INCISO I DA CARTA.

1. A natureza jurídica da reclamação não é a de um recurso, de uma ação e


nem de um incidente processual. Situa-se ela no âmbito do direito
constitucional de petição previsto no artigo 5º, inciso XXXIV da Constituição
da República [...] (ADI 2.212)

Didier Júnior e Cunha, comentando o posicionamento referido, sustentam não ser possível
enquadrar a reclamação como manifestação do direito de petição, pois se assim fosse “[...] não
haveria razão para exigir-se a capacidade postulatória, quando de sua propositura, sendo
igualmente incompatível com sua natureza de mero direito de petição entender que sua
decisão produz coisa julgada material.”

Marques, de maneira mais genérica, afirmou que a reclamação trata-se “[...] de medida de
Direito Processual Constitucional, porquanto tem como causa finalis assegurar os poderes e
prerrogativas que ao Supremo Tribunal e ao Superior Tribunal foram dados pela Constituição
da República.”

Já, Dinamarco, sem definir precisamente a natureza jurídica da reclamação constitucional,


sustenta enquadrar-se na categoria dos remédios processuais, por ser esta mais ampla e
abrigar todas as medidas mediante as quais, ante um ato judicial viciado, afasta-se a eficácia,
retifica-se ou produz sua adequação aos requisitos da conveniência ou da justiça.

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Definindo de maneira mais específica e aceitando tratar-se a reclamação constitucional uma


medida de jurisdição contenciosa, renomados processualistas divergem, ao classificar a
natureza jurídica da reclamação como: incidente processual, recurso ou ação.

Aragão, em trabalho dedicado ao estudo da correição parcial, afirma que a reclamação “[...] é
um incidente processual, provocado pela parte ou pelo Procurador-Geral, visando a que o
Supremo Tribunal imponha a sua competência quando usurpada, explícita ou implicitamente,
por outro qualquer tribunal ou juiz.”

Sustentando que a tese de Aragão já não sobrevive diante da atual Constituição, Morato relata
os fundamentos que nortearam o referido doutrinador ao firmar o entendimento de que a
reclamação possui natureza de incidente processual: Pautava-se no fato de a reclamação, tal
como por ele [Aragão] concebida, ter cabimento apenas e tão-somente perante o Supremo
Tribunal Federal.

Para ele, a reclamação teria natureza jurídica de incidente processual (incidente de


competência), porque o Pretório Excelso não estava, como não está, sujeito a participar de
conflito de competência, nem ter a sua competência submetida à apreciação de um outro
órgão, tendo em vista tratar-se de uma Corte de superposição perante as demais [...]
Entretanto, a atual Carta Política prevê, expressamente, a reclamatória também perante o
Superior Tribunal de Justiça, o qual pode, perfeitamente – e nos termos da própria
Constituição, art. 102, I, o –, ter a sua competência submetida à apreciação do Supremo
Tribunal Federal, em caso de conflito de competência. Em face disso, não há mais como se
sustentar a tese de Moniz de Aragão, segundo a qual a reclamação seria incidente de
competência.

Ainda, ao contrapor o posicionamento de Aragão, Dantas salienta que “[...] afirmar como
incidente processual algo que pode ocorrer depois que o processo se encerra é, certamente,
forçar um pouco demais a mão.”

Precursor da assertiva de que a reclamação possui natureza jurídica de recurso, o Ministro


Amaral Santos, em decisão proferida em 1970, relatou em seu voto que, constituem-se
pressupostos da reclamação, a existência de uma relação processual em curso, bem como, que
nesta, ocorra ato contrariando a competência ou decisão proferida pelo Supremo Tribunal
Federal na mesma relação processual ou que desta seja dependente.

[...] atento à finalidade da reclamação, esta não pode deixar de ter em vista a existência de
uma relação processual, em relação à qual se cogite da preservação da competência do
Tribunal ou em relação à qual se vise a garantir a autoridade de sua decisão [...] penso que a
reclamação se destina a corrigir um desvio na relação processual em andamento, que
desconheça ou viole a competência do STF ou negue autoridade à sua decisão nessa relação
processual [...] Tais pressupostos me levam a configurar a reclamação muito mais aproximada
do recurso que da ação.

Contrariando a tese de que a reclamação somente é cabível na mesma relação processual,


Santos afirma que, a reclamação constitucional, não se trata de recurso, eis que “[...] a

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767

Constituição da República de 1988 inseriu a reclamação nos processos de competência


originária do STF e do STJ, e não nos processos de competência recursal.”

No mesmo sentido, Morato ressalta que:

[...] em nosso sistema vigora o princípio da taxatividade, pelo qual os


recursos são previstos numerus clausus em rol exaustivo. Em outras
palavras, o que não estiver expressamente indicado pela lei como recurso
não pode assim ser considerado. E a reclamação não está arrolada em nosso
sistema como uma modalidade recursal.

No entendimento de Dinamarco:

[...] a reclamação consagrada no texto constitucional não é todavia um


recurso, seja porque não consta entre as modalidades recursais
tipificadasem lei (argumento secundário), seja porque não se destina a
desempenhar a missão que os recursos têm [...] Não se trata de cassar o ato
e substituí-lo por outro, em virtude de algum error in judicando, ou de
cassá-lo simplesmente para que outro seja proferido pelo órgão inferior, o
que ordinariamente acontece quando o ato contém algum vício de ordem
processual [...] As hipóteses de admissibilidade da reclamação, ditadas na
Constituição da República, mostram que, quando acolhida esta, o tribunal
cuja autoridade fora de algum modo molestada pela decisão inferior
condena o ato à ineficácia total, sem reformá-lo e mesmo sem anulá-lo para
que outro seja proferido.

Em sendo apresentado como contraponto à aceitação da natureza de recurso, a ausência, em


sede de reclamação constitucional, de sucumbência, de revisão da matéria, bem como, de
prazo para impugnação, requisitos estes envoltos aos recursos, Pacheco destaca que a
reclamação:

[...] não é recurso não só porque a ela são indiferentes os pressupostos


recursais da sucumbência e da revisibilidade, ou os prazos, mas sobretudo,
porque não precisa que haja sentença ou decisões, nem que se pugne pela
reforma ou modificação daquelas, bastando que haja interesse em que se
corrija eventual desvio de competência ou se elida qualquer estorvo à plena
eficácia dos julgados do STF ou do STJ.

Segundo Morato, encerrou-se a discussão quanto à natureza recursal da reclamação


constitucional, com a publicação da Lei n° 11.417/200649, tendo esta previsto o cabimento da
reclamação independentemente de previsão de outros recursos.

[...] Ora, se a reclamação pode ser proposta ao mesmo tempo que um recurso, é porque a
reclamação não é mesmo um recurso, pois, caso contrário, ao incidir o princípio da
unirrecorribilidade, a reclamação não poderia ser proposta quando houvesse um recurso
interposto.

Em contrapartida, a tese de que a reclamação constitucional possui natureza jurídica de ação


vem se firmando nas mais recentes doutrinas sobre o tema, “[...] tendo em vista o atual
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contexto político (também social e econômico) e a estrutura jurídico-normativa vigente, em


que a reclamação foi alçada ao nível constitucional, com expressa previsão na Carta Política.”

Contudo, muito antes da atual previsão legal do instituto, Pontes de Miranda já afirmava que a
reclamação “[...] é ação contra ato do juiz suscetível de exame fora da via recursal”53,
destacando ainda que:

A ação de reclamação que rechaça o ato do juiz por invadente da competência do tribunal
superior é constitutiva negativa. A ação de reclamação que rechaça o ato do juiz e repele a
interpretação que fora dada à decisão sua, no tocante à força e à eficácia, também é
constitutiva negativa. A ação de reclamação que rechaça o ato do juiz por ter retardado,
materialmente a cognição pelo tribunal superior é mandamental.

Logo após a promulgação da Constituição da República de 1988, Pacheco já ressaltava que a


reclamação constitucional:

Trata-se, na realidade, de ação, fundada no direito de que a resolução seja


pronunciada por autoridade judicial competente; de que a decisão já
prestada por quem tinha competência para fazê-lo tenha plena eficácia, sem
óbices indevidos, e de que se eliminem os óbices ou se elidam os estorvos
que se antepõem, se põem ou se pospõem à plena eficácia das decisões ou
à competência para decidir.

Desprezando todas as demais teses quanto à natureza jurídica da reclamação, Dantas


conceitua o instituto como ação, ante a provocação da jurisdição por meio de um pedido de
tutela jurisdicional, contendo uma lide.

No mesmo sentido, Mendes elucida, afirmando:

Tal entendimento [de que a reclamação possui natureza de ação] justifica-se


pelo fato de, por meio da reclamação, ser possível a provocação da
jurisdição e a formulação de pedido de tutela jurisdicional, além de conter
em seu bojo uma lide a ser solvida, decorrente do conflito entre aqueles que
persistem na invasão de competência ou no desrespeito das decisões do
Tribunal e, por outro lado, aqueles que pretendem ver preservada a
competência e a eficácia das decisões exaradas pela Corte.

Dantas complementa ainda:

Possui, então, a reclamação, os três elementos da ação: a) partes – o


reclamante, isto é, quem quer preservar a competência ou a autoridade da
decisão da corte; e o reclamado, ou seja, quem está invadindo a referida
esfera competencial, ou desobedecendo decisão promanada dela; b) pedido
– a decisão que resguarde a competência da corte ou imponha o
cumprimento do seu julgado; e c) causa de pedir – a invasão de
competência ou a desobediência à decisão da Corte.

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Recentemente, em decisão monocrática, o Ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal


Federal, extinguiu sem resolução de mérito por considerar inepta a petição inicial de
reclamação, destacando, então, nitidamente a natureza de ação dada à reclamação.

A reclamação, tal como prevista no art. 102, I, “I”, da Constituição, e regulada nos artigos 13 a
18 da Lei n° 8.038/90, e nos artigos 156 a 162 do Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal, constitui ação de rito essencialmente célere, cuja estrutura procedimental, bastante
singela, coincide com o processo do mandado de segurança e de outras ações constitucionais
de rito abreviado [...] A tendência hodierna, portanto, é de que a reclamação assuma cada vez
mais o papel de ação constitucional voltada à proteção da ordem constitucional como um
todo.

Outrossim, conclui Morato seu estudo aprofundado quanto à natureza jurídica do instituto em
comento, afirmando que:

É a reclamação uma ação de conhecimento, com o escopo de alcançar uma


decisão de mérito, que julgue a lide existente entre o reclamante, o qual
alega ter sofrido uma lesão a direito seu, e a autoridade reclamada, à qual a
prática de desacato ou de usurpação. E essa decisão de mérito que vier a ser
alcançada revestir-se-á da autoridade da coisa julgada, sendo rescindível,
apenas, por ação rescisória.

25.3.1.3. A Reclamação como Demanda Típica (Fundamentação Vinculada)


A reclamação somente pode ser utilizada em hipóteses previamente determinadas pelo
legislador, que são:

a) Reclamação para a preservação da competência: é aquela cabível contra ato que


importe usurpação da competência do tribunal como, v.g., aquela contra ato do
Presidente de Tribunal que não remete ao STJ/STF o agravo de instrumento contra
decisão que negou seguimento a REsp/RE, reclamação contra decisão do juiz de
primeira instância que suspende o processamento da execução em razão da pendência
de AR.

b) Reclamação para garantir a autoridade da decisão de tribunal: é aquela cabível quando


houver ofensa a decisão específica do tribunal, não se admitindo sua propositura para
assegurar o respeito a entendimento jurisprudencial. Como exemplo, pode-se citar a
reclamação contra ato contrário a preceito de súmula vinculante, seja ele judicial ou
administrativo, reclamação contra ato judicial que desobedeça a decisão do STF, seja
definitiva ou liminar, em ADI, ADC etc.

25.3.1.4. Reclamação contra Ato que Desrespeitou Enunciado de Súmula Vinculante


De início, cabe salientar que, nesse caso, a reclamação é viável sem prejuízo de outros
recursos, havendo um cúmulo de meios de impugnação.

A reclamação contra omissão ou ato da administração pública EXIGE O PRÉVIO


ESGOTAMENTO DAS VIAS ADMINISTRATIVAS para reparar o ato (Lei nº 11.417/06).

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770

Porém, se o demandante não puder esperar a decisão administrativa, caberá a ele demonstrar
a necessidade e utilidade de se recorrer diretamente ao STF contra o ato que contrariou sua
súmula vinculante.

Interposto o recurso administrativo, a autoridade deverá justificar as razões da aplicabilidade


ou não da súmula. Acolhida a reclamação pelo STF, dar-se-á ciência à autoridade prolatora e
ao órgão para o julgamento do recurso, que deverão adequar as futuras decisões
administrativas em casos semelhantes, sob pena de responsabilização pessoal nas esferas
cível, penal e administrativa.

25.3.2. Reclamação e Decisão Transitada em Julgado


O STF MANTÉM
Não há prazo para o ajuizamento da reclamação. No entanto,

FIRME ENTENDIMENTO NO SENTIDO DE QUE NÃO CABE A


RECLAMAÇÃO CONTRA DECISÃO JUDICIAL TRANSITADA EM
JULGADO, SOB PENA DE CARACTERIZAR-SE COMO UM
INADMISSÍVEL SUCEDÂNEO DA AÇÃO RESCISÓRIA.
Súmula 734, STF: “Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial
que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal”.

25.3.3. Procedimento (Lei nº 8.038/90)


Tem procedimento fixado na Lei nº 8.038/90, no RISTF e no RISTJ. O ajuizamento depende de
provocação da parte ou do MP.

Instruída com prova documental pré-constituída (já que NÃO SE ADMITE PRODUÇÃO DE
PROVAS no curso do procedimento) e dirigida ao Presidente do tribunal, deve ser autuada e
distribuída ao relator da causa principal, sempre que possível.

NO STF, A RECLAMAÇÃO PODERÁ SER JULGADA MONOCRATICAMENTE QUANDO SE


TRATAR DE MATÉRIA COM JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA. OS DEMAIS TRIBUNAIS
TAMBÉM PODERÃO ADOTAR ESSE ENTENDIMENTO, CASO PREVEJAM EM SEU
REGIMENTO INTERNO.

Ao despachar a reclamação, o relator: (i) requisitará informações a serem prestadas em 10 dias


(o RISTF fala 5, prevalece o prazo legal – 10); e (ii) ordenará, se necessário, para evitar dano
irreparável, a suspensão do processo ou do ato impugnado (essa decisão tem natureza de
tutela antecipada, mas pode ser concedida ex officio pelo relator).

O MP, quando não intentar, terá vista dos autos por 5 dias após o decurso do prazo para
informações. No que toca à competência para julgar, ela é do plenário do STF; no caso do STJ,
do órgão especial.

25.3.4. Efeitos da Decisão


Se for reconhecida a procedência da reclamação, podem ser adotadas duas providências:

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a) Cassação da decisão judicial impugnada ou anulação do ato administrativo;

b) Avocação do processo de conhecimento onde houve a usurpação.

25.3.5. Recursos
Não cabem: Embargos Infringentes, Recurso Ordinário Constitucional, Embargos de
Divergência nem Agravo de Instrumento dos artigos 524/527, CPC;

Cabem: Embargos de Declaração, Agravo Interno contra decisões do relator, Recurso Especial
(quando julgada por TJ) e Recurso Extraordinário.

25.4.6. Proibição da Utilização da Reclamação como Sucedâneo Recursal


Cumpre destacar, finalmente, um outro aspecto, que, assinalado em sucessivas decisões do
STF, afasta a possibilidade jurídico-processual de emprego da reclamação, notadamente
naqueles casos em que a parte reclamante busca a revisão de certo ato decisório.

É que, considerada a ausência, na espécie, dos pressupostos que poderiam legitimar o


ajuizamento da reclamação, este remédio constitucional não pode ser utilizado como um
(inadmissível) atalho processual destinado a permitir, por razões de caráter meramente
pragmático, a submissão imediata do litígio ao exame direto desta Suprema Corte.

Com efeito, tal como já referido, a reclamação constitucionalmente vocacionada a cumprir a


dupla função a que alude o art. 102, I, “l”, da Carta Política (RTJ 134/1033) – não se qualifica
como sucedâneo recursal nem configura instrumento viabilizador do reexame do conteúdo do
ato reclamado, eis que tal finalidade revela-se estranha à destinação constitucional subjacente
à instituição dessa medida processual, consoante adverte a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal:

“(...) - O remédio constitucional da reclamação não pode ser utilizado como


um (inadmissível) atalho processual destinado a permitir, por razões de
caráter meramente pragmático, a submissão imediata do litígio ao exame
direto do Supremo Tribunal Federal. Precedentes. (...).”

(Rcl 6.534-AgR/MA, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. A RECLAMAÇÃO NÃO É


SUCEDÂNEO DE RECURSO PRÓPRIO. RECURSO IMPROVIDO.

I - A reclamação constitucional não pode ser utilizada como sucedâneo de


recurso próprio para conferir eficácia à jurisdição invocada nos autos da
decisão de mérito.

.......................................................

III - Reclamação improcedente.

IV - Agravo regimental improvido.”

(Rcl 5.684-AgR/PE, Rel. Min.RICARDO LEWANDOWSKI - grifei)

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“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECLAMAÇÃO. CONVERSÃO EM AGRAVO


REGIMENTAL. AUSÊNCIA DE ARGUMENTOS NOVOS. RECLAMAÇÃO
UTILIZADA COMO SUCEDÂNEO RECURSAL. INEXISTÊNCIA DE AFRONTA AO
ART. 93, INC. IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AGRAVO REGIMENTAL
NÃO PROVIDO.

.......................................................

3. O instituto da Reclamação não se presta para substituir recurso específico


que a legislação tenha posto à disposição do jurisdicionado irresignado com
a decisão judicial proferida pelo juízo ‘a quo’.

.......................................................

5. Agravo regimental não provido.”

(Rcl 5.465-ED/ES, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA - grifei)

25.4.7. Reclamação e Juizados Especiais


A partir de sinalização do Supremo, o STJ passou a admitir reclamação contra acórdão de
Turma Recursal (TR) dos Juizados Especiais Estaduais (JEEstaduais), quando contrariar
jurisprudência consolidada por essa Corte Superior. Essa verdadeira construção pretoriana,
hoje, está disciplinada pela Resolução 12/2009 do STJ.

Em primeiro lugar, é de ver-se que esse tipo de reclamação somente cabe contra acórdão de
TR dos JEEstaduais. Assim o é porque, em relação aos Juizados Especiais Federais (JEF), a Lei
10.259/01 já prevê a forma de recorrer contra decisões das Turmas Recursais, a fim de fazer
chegar a discussão, inclusive, até o STJ, depois de passar pela Turma Nacional de
Uniformização dos JEF. Aliás, foi exatamente ante a falta desse tipo de escada recursal no
âmbito estadual – que somente existia na seara dos JEF – que o Supremo reconheceu o
cabimento do uso da reclamação na hipótese acima indicada.

O precedente do STF que deu origem a esse entendimento é o seguinte:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AUSÊNCIA DE


OMISSÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO. JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. APLICAÇÃO ÀS CONTROVÉRSIAS SUBMETIDAS AOS
JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS. RECLAMAÇÃO PARA O SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CABIMENTO EXCEPCIONAL ENQUANTO NÃO CRIADO,
POR LEI FEDERAL, O ÓRGÃO UNIFORMIZADOR[...] 2. Quanto ao pedido de
aplicação da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, observe-se que
aquela egrégia Corte foi incumbida pela Carta Magna da missão de
uniformizar a interpretação da legislação infraconstitucional, embora seja
inadmissível a interposição de recurso especial contra as decisões proferidas
pelas turmas recursais dos juizados especiais. 3. No âmbito federal, a Lei
10.259/2001 criou a Turma de Uniformização da Jurisprudência, que pode
ser acionada quando a decisão da turma recursal contrariar a jurisprudência
do STJ. É possível, ainda, a provocação dessa Corte Superior após o
julgamento da matéria pela citada Turma de Uniformização. 4.

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INEXISTÊNCIA DE ÓRGÃO UNIFORMIZADOR NO ÂMBITO DOS JUIZADOS


ESTADUAIS, CIRCUNSTÂNCIA QUE INVIABILIZA A APLICAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. RISCO DE MANUTENÇÃO DE DECISÕES
DIVERGENTES QUANTO À INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO FEDERAL,
GERANDO INSEGURANÇA JURÍDICA E UMA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL
INCOMPLETA, EM DECORRÊNCIA DA INEXISTÊNCIA DE OUTRO MEIO
EFICAZ PARA RESOLVÊ-LA. 5. EMBARGOS DECLARATÓRIOS ACOLHIDOS
APENAS PARA DECLARAR O CABIMENTO, EM CARÁTER EXCEPCIONAL, DA
RECLAMAÇÃO PREVISTA NO ART. 105, I, F, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL,
PARA FAZER PREVALECER, ATÉ A CRIAÇÃO DA TURMA DE
UNIFORMIZAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS, A
JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NA
INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL.

(RE 571572 ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em
26/08/2009, DJe-223 DIVULG 26-11-2009 PUBLIC 27-11-2009 EMENT VOL-
02384-05 PP-00978 RTJ VOL-00216- PP-00540)

Sobre o tema, há precedente esclarecedor do STJ:

PROCESSUAL CIVIL. RECLAMAÇÃO. FUNGIBILIDADE. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. INSURGÊNCIA
CONTRA DECISÃO DE TURMA RECURSAL DE JUIZADO ESPECIAL FEDERAL.
NÃO CABIMENTO. 1. Cuida-se de embargos de declaração recebidos como
agravo regimental, em obediência aos Princípios da Economia Processual e
da Fungibilidade. EDcl no AgRg no REsp 1.208.878/SP, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 30.5.2011. 2. NO CASO DOS
AUTOS, A RECLAMAÇÃO FOI AJUIZADA CONTRA DECISÃO DA TURMA
RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS DA SEÇÃO
JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL QUE RECONHECEU A PRESCRIÇÃO E
EXTINGUIU O PROCESSO COM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, NOS TERMOS DO
ART. 269, INCISO IV, DO CPC. 3. INCABÍVEL A PRESENTE RECLAMAÇÃO. NO
ÂMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS, HÁ PREVISÃO LEGAL DE
PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA PARA A TURMA
NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO - TNU, NOS TERMOS DO ART. 14 DA LEI N.
10.259/01. Precedente: AgRg na Rcl 5.510/DF, Rel. Ministro Arnaldo Esteves
Lima, Primeira Seção, DJe 17.6.2011. Agravo regimental improvido. (STJ,
Primeira Seção, EDcl no AgRg na Rcl 6016, Rel. Min. Humberto Martins, DJe
de 29/11/2011)

Quais são as condições estabelecidas para que o STJ conheça e julgue a reclamação proposta
em face de Turma Recursal dos Juizados Estaduais?

RECLAMAÇÃO. RESOLUÇÃO/STJ Nº 12/2009. JUIZADOS ESPECIAIS.


REQUISITOS. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA. DEFINIÇÃO. 1. Para que seja
admissível o manejo da Reclamação disciplinada pela Res/STJ nº 12/2009 é
necessário que se demonstre a contrariedade a jurisprudência consolidada
desta Corte quanto a matéria, entendendo-se por jurisprudência
consolidada: (i) PRECEDENTES EXARADOS NO JULGAMENTO DE RECURSOS

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ESPECIAIS EM CONTROVÉRSIAS REPETITIVAS (ART. 543-C DO CPC); OU (II)


ENUNCIADOS DE SÚMULA DA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. 2. Não se
admite, com isso, a propositura de reclamações com base apenas em
precedentes exarados no julgamento de recursos especiais. 3. Para que seja
admissível a reclamação É NECESSÁRIO TAMBÉM QUE A DIVERGÊNCIA SE
DÊ QUANTO A REGRAS DE DIREITO MATERIAL, NÃO SE ADMITINDO A
RECLAMAÇÃO QUE DISCUTA REGRAS DE PROCESSO CIVIL, à medida que o
processo, nos juizados especiais, orienta-se pelos peculiares critérios da Lei
9.099/95. 4. As hipóteses de teratologia deverão ser apreciadas em cada
situação concreta. 5. Reclamação não conhecida. (STJ, Segunda Seção, Rcl
4858, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de 30/11/2011)

AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS.


CABIMENTO LIMITADO À CONTRARIEDADE ENTRE DECISÃO DE COLÉGIO
RECURSAL E JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO STJ ACERCA DE TEMA DE
DIREITO MATERIAL. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. (STJ, Primeira Seção, AgRg na Rcl 6995, Rel. Min. Teori
Zavascki, DJe de 02/12/2011)

Conquanto a Resolução n. 12/2009 preveja que a decisão do relator que nega seguimento a
essa reclamação é irrecorrível, a Corte Especial do STJ, recentemente, entendeu cabível
mandado de segurança – exatamente por não caber qualquer recurso – contra essa decisão do
relator, particularmente quando se puder concluir, “sem maior esforço interpretativo”, pela
ilegalidade da decisão impugnada. Confira-se, a respeito, os contornos do caso concreto
analisado pelo STJ ao admitir o mandado de segurança nessa hipótese:

MANDADO DE SEGURANÇA. ATO DE MINISTRO RELATOR. INDEFERIMENTO


DE RECLAMAÇÃO. TURMA RECURSAL. RESOLUÇÃO STJ N. 12/2009.
IRRECORRIBILIDADE. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. NÃO OBSERVÂNCIA DA LEI
11.419/06. DIÁRIO ELETRÔNICO. PUBLICAÇÃO. DIA ÚTIL SUBSEQUENTE.
TEMPESTIVIDADE DA RECLAMATÓRIA. SEGURANÇA CONCEDIDA. 1. Discute-
se no mandado de segurança o ato do Ministro do Superior Tribunal de
Justiça que indeferiu o processamento de reclamação ajuizada com base na
Resolução STJ nº 12/2009, por considerá-la intempestiva. Na ocasião,
considerou-se que o prazo para o ajuizamento da demanda deveria ser
contado a partir da veiculação do acórdão combatido no diário oficial
eletrônico. 2. Para o cabimento do mandado de segurança contra ato
judicial exige-se, além dos requisitos gerais da ação mandamental, a
aferição de que não há recurso apto a sanar a ilegalidade, a comprovação da
excepcionalidade da medida e o evidente equívoco do julgado impugnado.
3. No caso, está-se diante de ato judicial praticado num procedimento sui
generis, com origem na construção jurisprudencial e regrado por Resolução
do STJ, a qual expressamente consigna que a decisão do relator que
indeferir o processamento de reclamação é irrecorrível. Nesse contexto, o
writ apresenta-se como único remédio hábil a preservar o direito líquido e
certo do reclamante e lhe garantir o acesso à prestação jurisdicional. 4. A
UTILIZAÇÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA NAS RECLAMAÇÕES
REGRADAS PELA RESOLUÇÃO STJ 12/2009 DEVE SER AUTORIZADA COM

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GRANO SALIS, QUANDO SE PUDER CONCLUIR, SEM MAIOR ESFORÇO


INTERPRETATIVO, QUE A DECISÃO VERGASTADA DESTOA CLARAMENTE
DO ORDENAMENTO JURÍDICO. NO CASO, O PRAZO DE 15 DIAS PARA O
AJUIZAMENTO DA RECLAMAÇÃO, DE ACORDO COM O ART. 1º DA
RESOLUÇÃO STJ Nº 12/2009, É CONTADO A PARTIR DA CIÊNCIA DA
DECISÃO IMPUGNADA, DEVENDO-SE EXCLUIR O DIA DE INÍCIO E
COMPUTAR O DIA DO VENCIMENTO, NOS TERMOS DO ART. 184 DO CPC. 5.
Quando o ato judicial é divulgado no diário oficial eletrônico, a data da
publicação a ser considerada corresponde ao primeiro dia útil subsequente,
consoante dispõe a Lei 11.419/06 (art. 4º, § 4º). 6. In casu, a publicação do
acórdão ocorreu em 18.11.10, primeiro dia útil após a sua divulgação no
diário oficial eletrônico, tendo o prazo de quinze dias iniciado em 19.11.10 e
findado em 03.12.10, data em que foi protocolizada a inicial, evidenciando-
se a tempestividade da reclamação. 7. Segurança concedida. (STJ, Corte
Especial, MS 16180, Rel. Min. Castro Meira, DJe de 01/02/2012)

25.4. Reexame Necessário (art. 475)

Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito
senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: (Redação dada pela
Lei nº 10.352, de 26.12.2001)

I - proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as


respectivas autarquias e fundações de direito público; (Redação dada pela
Lei nº 10.352, de 26.12.2001)

II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de


dívida ativa da Fazenda Pública (art. 585, VI). (Redação dada pela Lei nº
10.352, de 26.12.2001)

§ 1o Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao
tribunal, haja ou não apelação; não o fazendo, deverá o presidente do
tribunal avocá-los. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)

§ 2o Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o


direito controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta)
salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do
devedor na execução de dívida ativa do mesmo valor. (Incluído pela Lei nº
10.352, de 26.12.2001)

§ 3o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença


estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal
Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.
(Incluído pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)

25.4.1. Natureza Jurídica


O reexame necessário não é recurso. Há duas justificativas para tal:

a) Não atende ao princípio da taxatividade;

b) Não atende ao princípio da voluntariedade.

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O reexame necessário condiciona a eficácia da sentença à sua reapreciação pelo tribunal ao


qual está vinculado o juiz que a proferiu. Enquanto não for procedida à reanálise da sentença,
esta não transita em julgado. Logo, não será cabível a ação rescisória.

Assim, o reexame necessário possui natureza jurídica de condição de eficácia da sentença, não
ostentando feição de recurso.

25.4.2. Hipóteses de Cabimento


a) Sentenças proferidas contra a Fazenda Pública em processo de conhecimento (art.
475, I): não será cabível o RN se a decisão for interlocutória. Entretanto, se a
interlocutória resolver definitivamente parte do mérito da causa, sendo apta a ficar
imune pela coisa julgada material, é possível o RN. Porém, a regra, repita-se, é pelo
não cabimento. Nesse sentido:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA


TUTELA. REQUISITOS AUTORIZADORES. SÚMULA N. 7/STJ. REEXAME
NECESSÁRIO. ART. 475 DO CPC. INAPLICABILIDADE. VERBA DE CARÁTER
ALIMENTAR. EXCEÇÃO AO ART. 2°-B DA LEI N. 9.494/97.

[...]

2. A decisão que antecipa os efeitos da tutela proferida no curso do


processo tem natureza de interlocutória, não lhe cabendo aplicar o art.
475 do CPC, o qual se dirige a dar condição de eficácia às sentenças
proferidas contra a Fazenda Pública, quando terminativas com apreciação
do mérito (art. 269 do CPC).

[...]

(STJ, REsp 659.200/DF, Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, SEXTA


TURMA, julgado em 21/09/2004, DJ 11/10/2004, p. 384)

Porém, SE A FAZENDA PÚBLICA FOR AUTORA DO PROCESSO, NÃO HAVERÁ


REEXAME NECESSÁRIO. Isso se verifica da própria redação dos incisos do art. 475, pois
fala “ação interposta contra a União...” e julgar “procedentes embargos”. Os embargos são
ações ajuizadas pelo executado.

b) Sentença que julgar procedente, no todo ou em parte, os embargos à execução de


dívida ativa da Fazenda Pública: logo, caso o embargo seja de título judicial executado
pela Fazenda Pública, não caberá o reexame, já que o titulo judicial não é uma CDA;
outros títulos de que a Fazenda seja portadora também não ensejarão, na sua
execução, o reexame necessário; se os embargos forem da FP, não há reexame
necessário ante improcedência;

c) Sentença concessiva da segurança: (art. 14, § 1º, Lei nº 12.016/09)


independentemente do valor da causa;

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d) Sentença que extinguir a ação popular por carência de ação ou improcedência do


pedido: (art. 19, Lei nº 4.717/65).

Súmula 390, STJ: “Nas decisões por maioria, em reexame necessário, não se admitem
embargos infringentes”. Isso porque os embargos infringentes somente podem ser utilizados
em julgamento de mérito no acórdão não unânime proferido em apelação ou ação rescisória.

25.4.3. Procedimento
Cabe ao juiz, ao proferir a sentença que se enquadre numa das hipóteses, determinar
expressamente a remessa dos autos ao tribunal que lhe seja hierarquicamente superior e ao
qual esteja funcionalmente vinculado.

A ausência de tal determinação impede o trânsito em julgado, podendo o juiz corrigir a


omissão a qualquer tempo, ato este não sujeito à preclusão.

Caso haja apelação, deve-se aguardar seu regular processamento perante o juiz prolator da
sentença, para então determinar o envio dos autos ao tribunal, que apreciará em conjunto o
reexame necessário e o recurso. Se o ente público apelar, o reexame necessário somente
ficará prejudicado se a apelação for total. Se for parcial, o restante da parte sucumbida deverá
ser analisada na remessa.

O RN não está sujeito ao preparo e não admite a apresentação de razões e contrarrazões,


sendo absolutamente descabido, também, recurso adesivo ao RN. O procedimento para seu
processamento e julgamento é idêntico ao da apelação, devendo o julgamento ser incluído em
pauta ao menos 48 horas antes da sessão.

Súmula 423, STF: “Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ‘ex officio’,
que se considera interposto ‘ex lege’”. Isso confirma a natureza jurídica do reexame necessário.

Também poderá o relator aplicar ao RN o art. 557177, negando o seu seguimento se


manifestamente improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou jurisprudência
dominante do respectivo tribunal, do STF ou de outro tribunal superior. Nesse sentido:

Súmula 253, STJ: “O art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o
reexame necessário”.

177
Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente,
prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do
Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
§ 1o-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência
dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao
recurso. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
§ 1o Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do
recurso, e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto;
provido o agravo, o recurso terá seguimento. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
§ 2o Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal condenará o agravante a
pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor corrigido da causa, ficando a interposição de
qualquer outro recurso condicionada ao depósito do respectivo valor. (Incluído pela Lei nº 9.756, de
17.12.1998)
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Do julgamento do RN cabe a interposição de qualquer recurso, atendidos os requisitos de


admissibilidade. Também entende o STJ que é possível a sustentação oral. Por fim, é vedado
que o resultado do julgamento do RN implique em agravamento da condenação da Fazenda
Pública, conforme segue:

Súmula 45, STJ: “No reexame necessário, é defeso ao tribunal agravar a condenação imposta à
Fazenda Pública”.

Ainda sobre essa súmula:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 475, INCISO I


DO CPC. REMESSA NECESSÁRIA. PERCENTUAL DE JUROS DE MORA.
MAJORAÇÃO. REFORMATIO IN PEJUS. SÚMULA N. 45/STJ. PRECEDENTES.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

[...]

3. O reexame necessário previsto no art. 475 do CPC não pode ser utilizado
como mecanismo prejudicial à entidade de direito público que dele se
beneficia, por ser manifestação do princípio inquisitório, que tem como
consequência o efeito translativo, e nada tem a ver com reformatio in pejus,
que é manifestação do princípio do efeito devolutivo do recurso (princípio
dispositivo).

Precedentes: AgRg no Ag 1.051.505/SP, DJ 28/10/2008; REsp 713.609/MT,


DJ 1/6/2006; AR 1.428/SP, DJ 1/2/2008.

4. A parte vencedora, que no primeiro grau de jurisdição deixou de recorrer


conformou-se in totum com o julgamento, sendo-lhe vedado valer-se da
remessa oficial, cujo interesse tutelado é o público. A reformatio in pejus
atrai o óbice do verbete sumular n. 45 do STJ, que dispõe: "No reexame
necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar condenação imposta à Fazenda
Pública".

5. Recurso especial provido para anular em parte o acórdão recorrido,


apenas no que se refere a incidência dos juros moratórios, que devem ser
aplicados no percentual de 6% (seis por cento) ao ano, conforme
determinado pelo juízo de primeiro grau.

(STJ, REsp 1089261/PR, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 17/03/2009, DJe 30/03/2009)

Por fim, na remessa oficial pode o Tribunal analisar TODAS AS QUESTÕES discutidas no
processo e decididas em desfavor da União e dos demais beneficiados pelo RE (não poderá
analisar e modificar nada decidido em favor dela).

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


REMESSA NECESSÁRIA. AUSÊNCIA DE APELAÇÃO DO ENTE PÚBLICO. NÃO
CONFIGURAÇÃO DE PRECLUSÃO LÓGICA. DEVOLUÇÃO DA MATÉRIA AO

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TRIBUNAL LOCAL. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO SOBRE A MP 2180-35.


VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535, II, DO CPC.

[...]

3. Em reexame necessário, devolve-se ao Tribunal a análise de toda


matéria discutida na demanda, ainda quando a Fazenda Pública não
interpõe a apelação contra a sentença. Por conseguinte, é de rigor o
reconhecimento da violação do artigo 535 do CPC, anulando-se o acórdão
dos embargos de declaração, determinando o retorno dos autos para que a
Corte de origem possa suprir a referida omissão.

Precedentes: AgRg no Ag 631562/RJ, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira


Turma, DJ 7/3/2005; e REsp 1.148.432/RS, Rel. Ministro Castro Meira,
Segunda Turma, DJe 10/3/2010.

4. Agravo regimental não provido.

(STJ, AgRg no Ag 1347988/PE, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,


PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/04/2011, DJe 08/04/2011)

Na remessa oficial, o Tribunal ad quem pode conhecer de todas as


questões suscitadas nos autos e decididas em desfavor da União, dos
Estados ou do DF e de suas respectivas autarquias e fundações de direito
público, e, ainda, há presunção legal de interposição de recursos
voluntário. (STJ, 1S, Informativo 411, EREsp 1.036.329/SP)

25.4.4. Hipóteses em que Poder ser Dispensado o Reexame Necessário (art. 475, § § 2º e 3º)
De início, cabe salientar que o STJ mantém firme entendimento de que as hipóteses de
dispensa do reexame necessário NÃO SE APLICAM AO PROCESSO DE MANDADO DE
SEGURANÇA, já que este é regulado por lei especial em relação ao CPC.

As hipóteses são as seguintes:

a) Quando o direito controvertido ou a condenação for de valor certo e não excedente a


60 salários mínimos: deve-se levar em contar o valo do efetivo proveito econômico
proporcionado pelo processo, e não o valor da causa. Por esse motivo que, se uma
ação foi proposta no JEF e o valor da condenação ultrapassa 60 SM, deve a parte se
manifestar expressamente sobre se renuncia ao excedente, sob pena de
reconhecimento da incompetência absoluta e remessa do processo para redistribuição
na Justiça Federal comum; no JEF NÃO EXISTE REMESSA NECESSÁRIA

Sobre essa hipótese, recenta súmula do STJ:

Súmula 490, STJ: “A dispensa de reexame necessário, quando o valor da condenação ou do


direito controvertido for inferior a 60 salários mínimos, não se aplica a sentenças ilíquidas”.
Isso porque se a sentença é ilíquida, não se sabe ao certo o valor devido pelo ente beneficiado
com o reexame necessário. Somente a liquidação o dirá, podendo, pois, ultrapassar 60 SM.

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Essa hipótese de dispensa do reexame somente se aplica a sentenças o acórdãos de valor certo
e que, evidentemente, não ultrapassem 60 SM. Sobre o tema:

PROCESSO CIVIL. REEXAME NECESSÁRIO. SENTENÇA ILÍQUIDA. A sentença


ilíquida proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município e
as respectivas autarquias e fundações de direito público está sujeita ao
duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada
pelo tribunal; a exceção contemplada no § 2º do art. 475 do Código de
Processo Civil supõe, primeiro, que a condenação ou o direito controvertido
tenham valor certo e, segundo, que o respectivo montante não exceda de
60 (sessenta) salários mínimos. Embargos de divergência conhecidos e
providos.

(EREsp 1103025/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, CORTE ESPECIAL,


julgado em 12/04/2010, DJe 10/05/2010)

b) Quando procedentes os embargos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo


valor: caso haja a reunião de várias execuções, por conexão, deve ser levado em
consideração o valor de cada dívida individualmente;

c) Quando a sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário ou em súmula do


STF ou, ainda, em súmula de outro tribunal superior: sabe-se que o relator poderá
negar seguimento a recurso ou RN de sentença fundada em súmula ou jurisprudência
dominante. Porém, para evitar todo o trâmite necessário até que eles cheguem ao
relator, permite-se, desde logo, que o juiz dispense o RN na sentença. Há, na verdade,
uma gradação na matéria, chegando-se à seguinte conclusão:

i. Denegação do seguimento monocraticamente pelo relator: deve se fundar em


súmula ou jurisprudência dominante do próprio tribunal ou de tribunal
superior (art. 557);

ii. Provimento monocrático pelo relator: somente se baseado em súmula ou


jurisprudência de tribunal superior ou do STF (art. 557, § 1º);

iii. Dispensa do reexame por juiz de primeira instância: somente se baseado em


súmula de tribunal superior ou do STF ou em jurisprudência do Plenário do
STF.

d) Se, no âmbito da União, houver recomendação de não se interpor recurso ou caso haja
instrução do AGU nesse sentido, tal determinação vincula os advogados ou
procuradores federais, não devendo haver o reexame necessário, que deverá ser
dispensado pelo juiz.

25.4.5. Reexame Necessário em Ações Coletivas


Bo silêncio da Lei nº 7.347/85 (LACP) sobre o cabimento do reexame necessário, deve-se
aplicar o disposto no art. 19 da Lei 4.717/65 - Lei da Ação Popular - e no art. 4º da Lei nº
7.853/89 - Lei da Ação Civil Pública das Pessoas Portadoras de Deficiência - que impõem o
duplo grau de jurisdição quando a sentença concluir pela improcedência ou carência da ação.
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Assim, jamais ocorreria a incidência do contido no art. 475 do CPC, de modo que o reexame
seria regido pelas regras do processo coletivo e não do individual. Eis os dispositivos dos
diplomas coletivos aplicáveis por analogia a todos os procedimentos coletivos:

“Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da


ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá
apelação, com efeito suspensivo.”

“Art. 4º A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível erga omnes,


exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de
prova, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação
com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

§ 1º A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação


fica sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois
de confirmada pelo tribunal.

§ 2º Das sentenças e decisões proferidas contra o autor da ação e


suscetíveis de recurso, poderá recorrer qualquer legitimado ativo, inclusive
o Ministério Público.”

Trilha o mesmo entendimento a jurisprudência do STJ:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE DANOS AO


ERÁRIO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. REMESSA NECESSÁRIA. ART. 19 DA
LEI Nº 4.717/64. APLICAÇÃO. 1. Por aplicação analógica da primeira parte do
art. 19 da Lei nº 4.717/65, as sentenças de improcedência de ação civil
pública sujeitam-se indistintamente ao reexame necessário. Doutrina.

2. Recurso especial provido.

(REsp 1108542/SC, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado


em 19/05/2009, DJe 29/05/2009)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.


REEXAME NECESSÁRIO. CABIMENTO. APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DO ART.
19 DA LEI 4.717/1965. 1. "Por aplicação analógica da primeira parte do art.
19 da Lei nº 4.717/65, as sentenças de improcedência de ação civil pública
sujeitam-se indistintamente ao reexame necessário" (REsp 1.108.542/SC,
Rel. Ministro Castro Meira, j. 19.5.2009, Dje 29.5.2009).

2. Agravo Regimental não provido.

(AgRg no REsp 1219033/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA


TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 25/04/2011)

Assim, nas ações coletivas em geral, sejam relacionadas ao CDC, à LIA, à LAP, à LACP ou outro
diploma referente à tutela coletiva qualquer, haverá o reexame necessário quando o pedido
do autor for julgado improcedente ou for declarada carência de ação, fazendo, pois, incidir o
teor da seguinte súmula do STF:
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Súmula 423, STF: “Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ‘ex officio’,
que se considera interposto ‘ex lege’”.

25.5. Pedido de Suspensão de Segurança e/ou de Liminar

25.5.1. Previsão Legal


a) Lei nº 12.016/09: “quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público
interessada ou do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à
segurança e à economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o
conhecimento do respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a
execução da liminar e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito
suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias (esse prazo, na lei antiga, era de 10 dias), que
será levado a julgamento na sessão seguinte à sua interposição” (art. 15).

Atualmente, contudo, o pedido de suspensão cabe em todas as hipóteses em que se


concede provimento de urgência contra a Fazenda Pública ou quanto a sentença
contém efeitos imediatos, por ser impugnada por recurso desprovido de efeito
suspensivo.

b) Lei nº 7.347/85: lei da ACP. Prevista com a mesma redação da lei anterior (art. 12, §
1º).

c) Lei nº 8.437/92: essa lei dispõe sobre a concessão de cautelares contra atos do poder
públicos. “Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do
respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas
ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do MP ou da
pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto interesse público
ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança
e à economia pública” (art. 4º).

A lei dispõe ainda que aplica-se tal dispositivo à sentença proferida em processo de
ação cautelar inominada, no processo de ação popular e na ACP, enquanto não
transitada em julgado.

Essa é a lei mais completa sobre os pedidos de suspensão, constituindo-se no regime jurídico
geral do instituto.

d) Lei nº 9.507/97: disciplina o processo do Habeas Data. “Quando o ‘habeas data’ for
concedido e o Presidente do Tribunal ao qual competir o conhecimento do recurso
ordenar ao juiz suspensão da execução da sentença, desse seu ato caberá agravo para
o Tribunal a que presida” (art. 16).

25.5.2. Natureza Jurídica


O PSS/PSL não possui natureza recursal, já que não está previsto em lei como recurso e por
não gerar a reforma, anulação ou desconstituição da decisão liminar ou antecipatória. Da
mesma forma, não gera o efeito substitutivo.

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O STJ entende que o juízo exercido no julgamento do pedido de suspensão possui natureza
política, razão pela qual não comporta REsp. Do mesmo modo, o STF entende não caber RE.

O pedido de suspensão constitui incidente processual, com finalidade de contracautela,


voltado a subtrair da decisão sua eficácia. No mérito, não se adentra na matéria da
controvérsia, apenas se atendo à ocorrência de lesão a interesses públicos relevantes.

O pedido que será feito é de que seja sustada a eficácia da decisão impugnada visando tutelar
um interesse difuso.

25.5.3. Legitimidade para o Ajuizamento do Pedido de Suspensão


São legitimados para propor o PS:

a) Todos aqueles que integram o conceito de Fazenda Pública;

b) O Ministério Público, já que cabe a ele zelar pelos interesses difusos;

c) As concessionárias de serviços públicos cuja decisão que se pretende suspender


ofenda o interesse público;

d) O prefeito alijado do exercício do mandato por efeito de medida liminar (SS 444, STF).

Essas pessoas não precisam, salvo o Prefeito, ter sido parte no processo para ajuizar o
pedido de suspensão.

Importante ter em mente que O PEDIDO DE SUSPENSÃO SOMENTE É POSSÍVEL CASO


ESTEJA EM JOGO INTERESSE PÚBLICO, E NÃO INTERESSE DO PARTICULAR. É um
instrumento que buscar resguardar a ordem pública decorrente de possível lesão advinda de
ordem judicial.

Como exemplo, embora se admita a legitimidade, em tese, de uma concessionária de serviço


público para apresentar pedido de suspensão de segurança ou liminar (Lei 12.016/09, art. 15),
isso não se dará quando a concessionária, a bem da verdade, busca o resguardo de interesse
eminentemente privado, e não propriamente o interesse público presente, por exemplo, na
continuidade do serviço público. Daí que o STJ tem frisado que, nestes casos em que o que se
almeja é a tutela de interesse particular, não detém a concessionária legitimidade para esse
pleito. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. CONCESSIONÁRIA DE


SERVIÇO PÚBLICO. DISPUTA RELATIVA AO AUMENTO DE FROTA EM
TRANSPORTE URBANO DE PASSAGEIROS. AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE.
– A concessionária de serviço público, atuando na defesa de interesses
particulares, não detém legitimidade para pedir a suspensão de liminar com
o propósito de aumentar a sua frota em determinada linha ou itinerário em
detrimento de outras linhas e itinerários servidos por outras empresas.
Agravo regimental improvido. (STJ, Corte Especial, AgRg na SS 2176, Rel.
Min. César Asfor Rocha, DJe de 03/08/2010)

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25.5.4. Competência para o Pedido de Suspensão


Compete ao tribunal ao qual esteja vinculado o juiz conhecer do pedido de suspensão; de
forma mais específica, compete ao Presidente do Tribunal que teria competência para julgar o
recurso contra a decisão concessiva do provimento liminar, antecipatório ou final de mérito.

Se, todavia, o provimento liminar tiver sido concedido, originariamente, por tribunal, o pedido
de suspensão será dirigido ao Presidente do STJ ou do STF, quando a causa for fundada em lei
federal ou matéria constitucional, respectivamente.

SE A LIMINAR FOR CONCEDIDA MONOCRATICAMENTE POR MEMBRO DE


TRIBUNAL, O PS SERÁ DIRIGIDO AO PRÓPRIO PRESIDENTE DESTE.
Havendo matéria constitucional, a competência para o PS será do STF, ainda que venha
cumulada com matéria de índole infraconstitucional, já que aquela absorve esta.

Sobre isso:

EMENTAS: 1. SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. Liminar deferida em agravo de


instrumento. Necessidade de exaurimento de instância. Inexigibilidade.
Agravo regimental improvido. Liminar concedida em agravo de instrumento
inaugura competência do Presidente do Supremo Tribunal Federal para
julgamento de suspensão de segurança relativa às questões
constitucionais. 2. SERVIDOR PÚBLICO. Ativo e inativo. Teto salarial.
Percepção de vencimentos e proventos acima dos limites constitucionais.
Ordem concedida. Diversas ações idênticas pendentes. Efeito multiplicador.
Caracterização. Suspensão de segurança deferida. Agravo regimental
improvido. O chamado efeito multiplicador, que provoca lesão à economia
pública, é fundamento suficiente para deferimento de pedido de
suspensão de segurança e caracteriza-se pela pendência de ações
idênticas.

(STF, SS 4265 AgR, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO (Presidente), Tribunal


Pleno, julgado em 09/12/2010, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-028 DIVULG 10-
02-2011 PUBLIC 11-02-2011)

AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. DECISÃO PROFERIDA


PELO SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR. EXISTÊNCIA DE TEMA DE ÍNDOLE
CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
OCORRÊNCIA DE GRAVE LESÃO À ORDEM PÚBLICA, CONSIDERADA EM
TERMOS DE ORDEM JURÍDICO-CONSTITUCIONAL. TETO. ART. 37, XI, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, REDAÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIONAL
41/2003. 1. A DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL PARA O EXAME DE PEDIDO DE SUSPENSÃO DÁ-SE EM FACE DA
EXISTÊNCIA, OU NÃO, DE TEMA DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL NA CAUSA
PRINCIPAL, A ENSEJAR, EM TESE, A FUTURA INTERPOSIÇÃO DE RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. Precedentes. 2. A agravante não logrou infirmar ou
mesmo elidir os fundamentos adotados para o deferimento do pedido de
suspensão. 3. No presente caso, a imediata execução da decisão impugnada

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impede, em princípio, a aplicação da regra inserta no art. 37, XI, da


Constituição da República, que integra o conjunto normativo estabelecido
pela Emenda Constitucional 41/2003. 4. Na suspensão de segurança não se
aprecia o mérito do processo principal, mas tão-somente a ocorrência dos
aspectos relacionados à potencialidade lesiva do ato decisório em face dos
interesses públicos relevantes consagrados em lei, quais sejam, a ordem, a
saúde, a segurança e a economia públicas. 5. Precedentes do Plenário. 6.
Agravo regimental improvido.

(STF, SS 2504 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado
em 17/03/2008, DJe-078 DIVULG 30-04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT
VOL-02317-02 PP-00231)

25.5.5. Procedimento do Pedido de Suspensão


Deve ser elaborado por meio de uma petição dirigida ao Presidente do Tribunal, sendo
IMPOSSÍVEL A SUSPENSÃO DE OFÍCIO. Não há requisitos formais fixados; porém,
deve o requerente narrar os fatos e os fundamentos da demanda, demonstrando como a
decisão hostilizada afeta os interesses públicos.

Apresentada a petição, o Presidente do Tribunal poderá:

a) Determinar a emenda ou complementação da petição;

b) Denegar o pedido de suspensão, quando não vislumbrar a lesão apontada;

c) Determinar a intimação do MP e do autor para que se pronunciem em 72 horas;

d) Conceder, liminarmente, o pedido, sobrestando o cumprimento da decisão, se


vislumbrar periculum in mora e a plausibilidade do direito.

25.5.6. Duração da Suspensão Concedida


Não há limite temporal para o ajuizamento do PS; poderá ser intentado enquanto durar o risco
de grave lesão a um dos interesses públicos.

O PEDIDO DE SUSPENSÃO PODE SER INTENTADO A QUALQUER


MOMENTO, ENQUANTO NÃO SOBREVIER O TRÂNSITO EM
JULGADO DA DECISÃO.

ALÉM DISSO, UMA VEZ CONCEDIDA, A SUSPENSÃO VIGORARÁ


ATÉ O TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO DE MÉRITO NA
AÇÃO PRINCIPAL (LEI Nº 8.437/92, ART. 4º, § 9º).
Súmula 626, STF: “A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em
contrário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva de
concessão da segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção pelo STF, desde que o
objeto da liminar deferida coincida, total ou parcialmente, com o da impetração”.
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De acordo com essa súmula, proferida a sentença em MS, e mantida a mesma situação que
deu ensejo à suspensão da liminar, devem ser suspensos também os efeitos da sentença.
Porém, se quando da prolação da sentença a ameaça ao interesse público não mais existir,
estará afastada a ultra-atividade da suspensão que já fora deferida.

25.5.7. Agravo Interno contra a Decisão do Pedido de Suspensão


A Lei nº 8.437/92 prevê que da decisão do Presidente que DEFERE OU INDEFERE o PS cabe
agravo interno para o Plenário ou Corte Especial, no prazo de 05 dias, sem necessidade de
inclusão em pauta. O mesmo prazo se verifica no MS com a nova lei do mandado de
segurança.

Evidentemente que não há prazo em dobro

25.5.8. Renovação do Pedido de Suspensão para o Tribunal Superior


Caso o PS da Fazenda Pública não seja provido, ou caso não o seja o agravo que indeferiu
aquele, ou caso seja provido o agravo interposto pelo autor contra a concessão da suspensão
em favor da Fazenda Pública, poderá esta renovar o pedido de suspensão, dessa vez para o
Presidente do STF ou do STJ, a depender da matéria tratada.

Porém, a renovação somente é permitida após o julgamento proferido no agravo interno;


isso obriga a Fazenda Pública a interpor o agravo caso seu pedido de suspensão tenha sido
denegado (Didier).

Entretanto, a lei de MS não traz essa disposição expressa.

25.5.9. Suspensão para Várias Decisões Similares e Pedido de Aditamento


“As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma única decisão, podendo
o presidente do tribunal estender os efeitos da suspensão a liminares supervenientes,
mediante simples aditamento do pedido original” (Lei nº 8.437/92, art. 4º, § 8º e Lei nº
12.016/09, art. 15, § 5º).

Essas regras visam a dar celeridade processual, buscando proteger o Poder Judiciário das
demandas de massa, além do Poder Público, já que a decisão que suspender várias liminares
obstará o efeito multiplicador, caracterizado pela multiplicidade de liminares a serem
concedidas em demandas que tenham o mesmo objeto.

25.5.10. Possibilidade de Utilização Concomitante de Agravo de Instrumento e de Pedido de


Suspensão dos Efeitos das Liminares
“A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movidas contra
o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de
suspensão” (Lei nº 8.437/92, art. 4º, § 6º e Lei nº 12.016/09, art. 15, § 3º).

Esse dispositivo permite aos legitimados duplo meio de obstar os efeitos das liminares,
havendo cumulação de meios de impugnação.

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O que justifica isso é o fato de ambos os remédios possuírem natureza e objetivos distintos,
um para reformar/invalidar a decisão com base em error in judicando/error in procedendo,
outro para sustar os efeitos da decisão com argumentos político-administrativos.

25.6. Observações de Provas


1. TRF1 – XIII – CESPE – QUESTÃO 38. É cabível ao autor da ação rescisória postular a
antecipação da tutela para suspender os efeitos da sentença rescindenda, em caso
de dano irreparável ou de difícil reparação e se demonstrar a verossimilhança do
fundamento da ação.

2. TRF1 – XII – QUESTÃO 80. De decisão que não conhece do recurso especial, embora
tenha sido analisada a questão de mérito, a competência para apreciar a ação
rescisória é do STJ.

3. TRF1 – XII – QUESTÃO 80. Ao ser citado, o réu poderá apresentar no momento de sua
defesa reconvenção à ação rescisória, desde que o prazo decadencial de dois anos não
tenha exaurido.

4. TRF1 – XII – QUESTÃO 80. A jurisprudência majoritária do STJ adotou o entendimento


no sentido de que sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em
fracionamento da sentença e/ou acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito
em julgado parcial, contando-se o prazo para a propositura da ação rescisória a partir
do trânsito em julgado da última decisão proferida na causa.

5. TRF1 – XII – QUESTÃO 77. A não apresentação da contestação nos autos da ação
rescisória torna o réu revel, embora os fatos não impugnados não serão considerados
verdadeiros, afastando-se a aplicação do que determina o art. 319 do CPC.

6. TRF3 –XVI – CESPE – QUESTÃO 53. Considerando que, proferida sentença em desfavor
de ente público que integra a relação processual, tenha sido interposta apelação
apenas contra parte da decisão, até mesmo na parte sujeita à remessa obrigatória, o
relator poderá reformar a sentença caso esta esteja em manifesto confronto com
súmula do STF.

7. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 83. Em relação à ação rescisória, seu pedido tem
natureza constitutiva negativa quanto ao juizo rescindendo, podendo o juizo rescisório
ser de natureza constitutiva, condenatória ou meramente declaratória.

8. MPF – XXV – 2011 – QUESTÃO 85. Conforme entendimento do STJ, na ação rescisória
não se aplicam os efeitos da revelia178.

178
Isso está parcialmente errado. Para o STJ, somente não se aplicam os efeitos materiais, os
processuais se operam regularmente. Nesse sentido o seguinte julgado, que reconhece apenas a
aplicação do art. 319, que se refere à presunção de veracidade dos fatos:
PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO RESCISÓRIA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. RURÍCOLA. VIOLAÇÃO DO ART. 485,
INCISOS V E VI, DO CPC. REVELIA. ART. 319 DO CPC. NÃO-OCORRÊNCIA. PEDIDO IMPROCEDENTE.
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9. EMAGIS – 2012/25 – QUESTÃO 12. O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia


quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial179.

10. EMAGIS – 2012/25 – QUESTÃO 12. Não se admite ação rescisória fundada em erro de
fato (CPC, art. 485, IX) quando, no acórdão rescindendo, houve debate a respeito
dessa circunstância fática e dos respectivos elementos probatórios amealhados aos
autos.

11. EMAGIS – 2012/25 – QUESTÃO 12. Antes da edição da Lei 11.280/06, que deu nova
redação ao art. 289 do CPC ("Art. 489. O ajuizamento da ação rescisória não impede o
cumprimento da sentença ou acórdão rescindendo, ressalvada a concessão, caso
imprescindíveis e sob os pressupostos previstos em lei, de medidas de natureza
cautelar ou antecipatória de tutela"), a jurisprudência majoritária do STJ já admitia a
concessão de antecipação de tutela para suspender o cumprimento do acórdão
rescindendo180.

12. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 1. João viu ser negado provimento ao recurso
extraordinário que interpusera, transitando em julgado a sentença que havia julgado
improcedente o seu pedido. Posteriormente, contudo, a jurisprudência do STF mudou
de rumos e, em um recurso extraordinário interposto por outro autor, firmou
entendimento que daria ensejo à procedência do pedido anteriormente formulado por
João em sua ação. Nesse contexto, a mudança de orientação do Supremo enseja o
ajuizamento de ação rescisória por João, diretamente naquela Corte, contra o acórdão
que negou provimento ao seu anterior recurso extraordinário181.

1. Em observância ao princípio da preservação da coisa julgada não incidem sobre a rescisória os efeitos da
revelia previstos no art. 319 do CPC. [...] (AR 3.341/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 14/12/2009, DJe 01/02/2010)
179
A tese da "coisa julgada fragmentada", para fins de contagem do prazo decadencial da ação
rescisória, foi rechaçada pela jurisprudência da Corte Especial do STJ, que firmou orientação no sentido
de que "O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do
último pronunciamento judicial (Súm. 401 do STJ).
180
ADMINISTRATIVO. PENSÃO ESPECIAL. EX-COMBATENTE. REVERSÃO DO BENEFÍCIO EM FAVOR DE
FILHA. ACÓRDÃO QUE SEGUIU A JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
AUSÊNCIA DE VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA INDEFERIDA.
1. Com a edição da Lei 11.280/2006, o art. 489 do CPC positivou entendimento doutrinário e
jurisprudencial que reconhece a possibilidade de se antecipar os efeitos da tutela em sede de ação
rescisória, para o fim de suspender a execução do acórdão rescindendo, quando demonstrado o
preenchimento dos requisitos previstos no art. 273 do CPC, quais sejam, prova inequívoca da
verossimilhança da alegação e o fundado receio de dano. (...) (STJ, Primeira Seção, AgRg na AR 4855, Rel.
Min. Mauro Campbell, DJe de 14/02/2012)
181
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 8º DO ADCT. DECISÃO QUE
AFASTOU A PRETENSÃO DO AUTOR EM RELAÇÃO ÀS PROMOÇÕES POR MERECIMENTO COM BASE NA
ENTÃO JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. MODIFICAÇÃO JURISPRUDENCIAL PARA CONSIDERAR QUE A
NORMA DO CITADO ART. 8º ABARCA AS PROMOÇÕES POR MERECIMENTO. SÚMULA 343/STF. MATÉRIA
CONSTITUCIONAL. INAPLICABILIDADE. VIOLAÇÃO A LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI. CONFIGURAÇÃO. AÇÃO
RECISÓRIA PROVIDA. I – Cabe ação rescisória por ofensa à literal disposição constitucional, ainda que a
decisão rescindenda tenha se baseado em interpretação controvertida, ou seja, anterior à orientação
fixada pelo Supremo Tribunal Federal. [...] (STF, Pleno, AR 1478, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de
31/01/2012)
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13. EMAGIS – 2012/12 – QUESTÃO 11. A sentença, de acordo com a Corte Especial do STJ,
é um ato uno e, por isso, o prazo decadencial para a ação rescisória há de ser contado
de forma única, a partir do trânsito em julgado da última decisão aviada nos autos,
ainda que tivesse por objeto apenas uma parte da sentença.

14. EMAGIS – 2012/07 – QUESTÃO 12. Embora se admita a propositura de reclamação


contra acórdão de Turma Recursal dos Juizados Especiais Estaduais que divirja da
jurisprudência consolidada do STJ, NÃO SE DEVE ADMITI-LA QUANDO EM JOGO
REGRAS DE DIREITO PROCESSUAL.

15. EMAGIS – 2012/07 – QUESTÃO 12. É irrecorrível a decisão do Relator que nega
seguimento a reclamação aforada sob o fundamento de contrariedade entre acórdão
de Turma Recursal dos Juizados Especiais Estaduais e a jurisprudência consolidada pela
STJ, conquanto recentemente a Corte Especial desse Tribunal tenha admitido a
impetração de mandado de segurança contra essa decisão monocrática.

16. EMAGIS – 2012/11 – QUESTÃO 12. A concessionária de serviço público não detém
legitimidade para pedir a suspensão de liminar com o propósito de aumentar a sua
frota em determinada linha ou itinerário em detrimento de outras linhas e itinerários
servidos por outras empresas, ainda que suscite a possível lesão à ordem, à saúde, à
segurança ou à economia públicas182.

17. EMAGIS – 2011/41 – QUESTÃO 19. A falta de intimação da parte adversa para se
manifestar sobre os embargos de declaração, quando eles possam ter efeitos
infringentes, traduz motivo suficiente ao manejo de uma ação rescisória183.

18. EMAGIS – 2011/40 – QUESTÃO 10. Uma vez concedida a suspensão, a sua eficácia
atinge todo o processo até o trânsito em julgado, mesmo depois que proferida
sentença de procedência na ação principal (Lei nº 8.437/92, art. 4º, § 9º)184.

19. EMAGIS – 2011/40 – QUESTÃO 10. Negada a suspensão de segurança pelo presidente
da Corte, é cabível o recurso de agravo, o qual, sendo interposto pelo ente público,
NÃO TEM O PRAZO CONTADO EM DOBRADO.185

182
Embora se admita a legitimidade, em tese, de uma concessionária de serviço público para apresentar
pedido de suspensão de segurança ou liminar (Lei 12.016/09, art. 15), isso não se dará quando a
concessionária, a bem da verdade, busca o resguardo de interesse eminentemente privado, e não
propriamente o interesse público presente, por exemplo, na continuidade do serviço público. Daí que o
STJ tem frisado que, nestes casos em que o que se almeja é a tutela de interesse particular, não detém a
concessionária legitimidade para esse pleito.
183
A Seção, por maioria, afastando a aplicação da Súm. n. 343-STF, julgou procedente pedido aviado em ação
rescisória para declarar a nulidade de acórdão proferido em julgamento de embargos de declaração (EDcl) aos quais
foram emprestados efeitos infringentes, sem, contudo, intimar-se a parte contrária. No entendimento do Min.
Relator para o acórdão, houve ofensa ao art. 5º da CF, que rege os princípios do contraditório e da ampla defesa. AR
2.702-MG, Rel. originário Min. Mauro Campbell, Rel. para acórdão Min. Teori Albino Zavascki, julgada em
14/9/2011.
184
Súmula 626, STF: “A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em
contrário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva de concessão
da segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção pelo Supremo Tribunal Federal, desde que o
objeto da liminar deferida coincida, total ou parcialmente, com o da impetração”.
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790

20. EMAGIS – 2011/40 – QUESTÃO 10. O EFEITO MULTIPLICADOR SEM SIDO LEVADO EM
CONTA, SÓ POR SI, PARA JUSTIFICAR O DEFERIMENTO DA SUSPENSÃO DE
SEGURANÇA.

21. EMAGIS – 2011/40 – QUESTÃO 10. Deferida que seja uma liminar a potencialmente
agravar a ordem pública, primeiro é caso de se interpor uma suspensão de liminar
junto ao Presidente do Tribunal ao qual o magistrado que a deferiu é vinculado.
Negada a suspensão, deve ser interposto agravo. Somente se improvido, caberá novo
pedido de suspensão, para o o STJ ou para o STF, a depender de ser matéria
constitucional ou infraconstitucional.

22. EMAGIS – 2011/39 – QUESTÃO 01. Não cabe pedido de suspensão de segurança contra
acórdão de Tribunal de Justiça, publicado após a introdução da sistemática da
repercussão geral (CPC, art. 543-A), que trata de questão cuja repercussão geral fora
negada pelo Supremo Tribunal Federal186.

23. EMAGIS – 2011/34 – QUESTÃO 08. Para que seja cabível ação rescisória com
fundamento em erro de fato, é necessário, entre outros pressupostos, QUE O ERRO
SEJA APURÁVEL INDEPENDENTEMENTE DA PRODUÇÃO DE NOVAS PROVAS e que,
sobre o fato, não tenha havido controvérsia entre as partes nem pronunciamento
judicial.

24. GEMAF – 2010/11 – QUESTÃO 06. A propositura de ação rescisória exige a juntada de
instrumento de mandato original assinado pelo outorgante, mesmo que a procuração
concernente à ação subjacente confira poderes específicos para a rescisória.

25. GEMAF – 2010/10 – QUESTÃO 08. Na ação rescisória, é indispensável a citação de


todos os integrantes da relação processual originária cujo julgado se pretende
desconstituir, uma vez que a decisão proferida pelo juízo rescindendo atingirá a todos
indistintamente, formando-se, no polo passivo da rescisória, litisconsórcio passivo
necessário unitário.

185
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE
SEGURANÇA. PRAZO RECURSAL. ARTIGO 188 DO CPC. PRAZO EM DOBRO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Lei 4348/64 e
superveniência da Lei 8437/92. Conciliação de sistemas legais pertinentes à possibilidade de suspensão de medida
liminar e de tutela antecipada. Desfazimento de aparente assimetria processual então existente entre as ações de
mandado de segurança e os demais procedimentos de contracautela. Precedente do Tribunal Pleno. 2. Agravo
regimental. Cabimento do recurso contra a decisão que defere ou indefere o pedido de suspensão de liminar ou de
tutela antecipada, no prazo de cinco dias. Contagem em dobro do prazo para recorrer quando a parte for a
Fazenda Pública ou o Ministério Público. Inaplicabilidade do artigo 188 do Código de Processo Civil à espécie,
tendo em vista o disposto no artigo 4º, § 3º, da Lei 8437/92. Agravo regimental não conhecido. (SS 2198 AgR-AgR,
Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 03/03/2004, DJ 02-04-2004 PP-00010 EMENT VOL-
02146-02 PP-00341)
186
Ante a inexistência de repercussão geral da matéria, o Plenário desproveu agravo regimental
interposto de decisão do Presidente, na qual negado seguimento a pedido de suspensão de segurança.
Impugnava-se, na espécie, acórdão de tribunal de justiça estadual publicado posteriormente à exigência
do requisito de repercussão geral no recurso extraordinário. Consignou-se que a repercussão geral da
questão — relativa à equiparação entre procuradores autárquicos e procuradores de Estado para fins de
cálculo do teto remuneratório — fora rejeitada no RE 562581/SP (DJe de 22.2.2008).
 SS 4394/SP, rel.
Min. Presidente, 14.9.2011. (SS-4394)
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26. GEMAF – 2010/10 – QUESTÃO 08. O autor da ação rescisória deverá, na petição inicial,
cumular ao pedido de rescisão da sentença de primeiro grau pleito específico para que
o feito seja julgado novamente. Se, para isso, alegar a existência de documento novo,
este deve ser entendido como aquele que, mesmo existindo na época da instrução
probatória da ação principal, não foi utilizado por desconhecimento da parte ou,
embora conhecido, não foi possível à parte dele fazer uso, apesar de ele apresentar-se
bastante para alterar o resultado da causa.

27. GEMAF – 2010/09. O duplo grau de jurisdição só aproveita o Poder Público, não sendo
tutelado o interesse da parte vencedora que deixou de apelar, demonstrando que se
conformou com a decisão (REsp 1.089.261).

28. Da decisão que não conhece o recurso especial, embora tenha sido analisada a
questão de mérito, a competência para apreciar a ação rescisória é do STJ.

29. Ao ser citado, o réu poderá apresentar no momento de sua defesa reconvenção à ação
rescisória, desde que o prazo decadencial de 02 anos não tenha exaurido.

30. O prazo para a propositura da ação rescisória é de 02 anos, contados a partir do


trânsito em julgado da última decisão proferida na causa. Isso conforme o STJ, que
entende que como a ação e una e indivisível, não há que se falar em fracionamento do
acórdão, o que afasta a possibilidade de seu trânsito em julgado parcial.

26. Ordem dos Processos nos Tribunais (arts. 547 a 465)


26.1. Generalidades
Embora inseridos no título concernente aos recursos, tais dispositivos aplicam-se a quaisquer
processos que tramitam em tribunal.

Em geral, o procedimento no tribunal tem duas fases distintas: uma perante o relator, a quem
se atribui a função de praticar todos os atos até a sessão de julgamento, e a outra perante o
colegiado, que tem por finalidade o debate e o julgamento do caso.

26.2. A Função do Regimento Interno dos Tribunais


Os RI são lei em sentido material, tendo a Constituição conferido aos tribunais o poder de
elaborar seus regimentos internos (art. 96, I, a).

Não podem os demais Poderes participar dessa elaboração, sob pena de inconstitucionalidade.

26.3. Protocolo, Registro e Distribuição (arts. 547 a 549)


O protocolo é um livro oficial com a função de autenticar a data da apresentação dos autos ou
petições, sendo possível, a partir daí, a obtenção de certidões ou, se for o caso, de recibo da
entrega dos autos ou da petição.

O registro tem por objetivo garantir a publicidade dos atos processuais, devendo ser feito no
mesmo dia da apresentação da petição ou da chegada dos autos ao tribunal.

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A distribuição dos processos será imediata, conforme determina ao art. 93, XV, da CR/88, em
todos os graus de jurisdição. É pela distribuição que se define se o processo deverá
encaminhar-se ao pleno ou a algum outro órgão do tribunal, estabelecendo, ainda quem será
o relator e, se for o caso, o revisor.

O princípio do sorteio garante que a escolha do órgão que julgará o feito se dará por critérios
objetivos, sendo uma das manifestações do princípio do juiz natural.

Em função da conexão, a turma julgadora que conhecer de um recurso acerca de determinada


demanda atrairá, para julgamento, outros que sejam eventualmente interpostos no mesmo
processo.

26.4. Distinções: Voto, Julgamento e Acórdão


O julgamento antecede o acórdão. Ele ocorre após a colheita dos votos proferidos por cada
membro do órgão. Posteriormente, será reduzido a termo, recebendo a denominação de
acórdão.

O termo “acórdão” engloba o conjunto dos votos vencedores; logo, O VOTO VENCIDO NÃO
INTEGRA O ACÓRDÃO. Eis o porquê de a matéria referida apenas no voto vencido não
configurar como prequestionamento para a interposição de recursos excepcionais.

O acórdão deve conter relatório, fundamentação e dispositivo. Faltando os dois primeiros, ele
será nulo. Faltando o dispositivo, será inexistente.

Os acórdãos nulos podem ser atacados por REsp/RE, além dos demais recursos previstos na
legislação. Sobrevindo trânsito em julgado, poderá caber ação rescisória ou querela nullitatis, a
depender da hipótese.

Acórdãos inexistentes nunca transitam em julgado, exatamente por inexistirem.

Em relação à ementa, o art. 563 determina que “todo acórdão conterá ementa”. Significa, pois,
que os acórdãos deverão ter relatório, voto e ementa, não sendo possível que o regimento
interno de qualquer tribunal dispense algum desses elementos.

Ementa é o resumo do julgamento. Acórdão sem ementa não é nulo; porém, pode ser
impugnado por embargos de declaração, a fim de suprir a omissão.

Após o julgamento, os autos são enviados ao relator para que este lavre o acórdão. Se,
contudo, o voto por ele proferido tiver sido vencido, caberá ao julgador que conduziu o
julgamento ou abriu a dissidência lavrar o acórdão.

Lavrado o acórdão, publica-se no DOJ no prazo de 10 dias, sendo que é a partir da publicação
que se inicia a contagem do prazo para interposição de recursos (art. 564). Sobre o prazo para
interposição de recurso:

AGRAVO REGIMENTAL. MULTA ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC.


CABIMENTO. QUESTÃO SUSCITADA APENAS NOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. INTERPOSIÇÃO DE

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RECURSO ANTES DA PUBLICAÇÃO DA DECISÃO RECORRIDA. CABIMENTO.


FALTA DE IMPUGNAÇÃO DE FUNDAMENTOS CONSTANTES NO ACÓRDÃO
RECORRIDO. SÚMULA N. 283/STF.

[...]

3. A parte pode interpor recurso antes da publicação da decisão recorrida


quando tenha efetivo conhecimento do inteiro teor da decisão judicial,
ainda que não tenha sido intimada formalmente.

[...]

(STJ, AgRg no Ag 1023738/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,


QUARTA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe 02/02/2011)

PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA. CÓPIA. MOMENTO. ANTERIOR.


PUBLICAÇÃO. CONHECIMENTO INEQUÍVOCO. INÍCIO. CONTAGEM. PRAZO.
INTERPOSIÇÃO. APELAÇÃO.

1 - O prazo para recurso começa com a intimação da sentença. Se a parte,


entretanto, antecedentemente à publicação, toma inequívoca ciência do
seu inteiro teor, inclusive, mediante extração de fotocópia, neste dia terá
ele (prazo) início, sendo irrelevante a posterior publicação e a falta de
retirada dos autos do cartório.

[...]

(STJ, REsp 503.636/RS, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA


TURMA, julgado em 09/03/2004, DJ 19/04/2004, p. 202)

Só se considerarão efetivamente intimadas as partes e seus advogados quando da publicação


do acórdão, e não meramente do resultado do julgamento, no órgão oficial.

Protocolo, registro Autos conclusos Autos conclusos p/ Autos conclusos


e distribuição para o Relator Revisor (somente em para Presidente
apelação, Embargos marcar dia p/
infringentes e ação julgamento
rescisória)

Publicação Publicação

Relator lavra
acórdão, salvo se Colheita dos votos,
Presidente anuncia Julgamento
seu voto foi vencido, 1º do Relator
resultado
quando lavrará o 1º
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26.5. A Tutela de Urgência no Âmbito Recursal


A cautelar, em sede recursal, destina-se a agregar efeito suspensivo a recurso dele desprovido,
obstando que a decisão recorrida produza seus efeitos. Já a tutela antecipada tem a finalidade
inversa, ou seja, busca afastar o efeito suspensivo, fazendo com que se determine o imediato
cumprimento da decisão recorrida.

O relator poderá, a requerimento do agravante, em casos nos quais possa resultar lesão grave
e de difícil reparação, suspender o cumprimento da decisão até o pronunciamento definitivo
da Turma ou Câmara (art. 558). Poderá também, ainda que não esteja na lei, conceder a
decisão que foi negada, a título precário, até o julgamento definitivo.

Art. 558. O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de


prisão civil, adjudicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem
caução idônea e em outros casos dos quais possa resultar lesão grave e de
difícil reparação, sendo relevante a fundamentação, suspender o
cumprimento da decisão até o pronunciamento definitivo da turma ou
câmara. (Redação dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)

Parágrafo único. Aplicar-se-á o disposto neste artigo as hipóteses do art.


520. (Redação dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)

26.6. A Produção de Prova em Tribunal


Ela é completamente possível, já que os membros do tribunal também possuem poderes
instrutórios. Assim, eles podem determinar a produção de novas provas. Se entender
conveniente, o desembargador converterá o julgamento em diligência para a produção de
novas provas, destinadas à formação do convencimento de seus membros, e poderá excluir as
provas que considerar ilícitas.

Evidentemente que essa colheita de provas deve ser feita com bastante cuidado, sob pena de
se ferir a isonomia processual e de ofender gravemente o princípio dispositivo.

A prova oral, em tribunal, pode ser colhida de três formas:

a) Expedindo-se carta de ordem para que o faça um juiz de primeira instância (art. 492);

b) Colheita pelo relator em seu gabinete;

c) Produzida em sessão do órgão colegiado (raríssimo).

26.7. O Relator

26.7.1. Generalidades
Nos tribunais vigora o princípio da colegialidade das decisões, segundo o qual elas não devem
ser monocráticas, em regra.

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Ao relator cabe estudar o caso e firmar o seu entendimento para, então, elaborar o relatório e
levar o caso a julgamento, a fim de, na correspondente sessão, expor os detalhes aos seus
pares, emitindo seu voto.

As atribuições do relator variam conforme se trate de recurso ou de causa de competência


originária do tribunal. Nas ações originárias, cabe ao relator deferir ou indeferir a petição
inicial, determinando, na primeira hipótese, a citação do réu.

Ao relator cabe, ainda, deferir ou indeferir a produção de provas, expedir carta de ordem a
juízes de primeira instância para realização de diligências ou coleta de provas.

26.7.2. Análise do Art. 557, CPC – Julgamento Monocrático

Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente


inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou
com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal
Federal, ou de Tribunal Superior. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de
17.12.1998)

§ 1o-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou


com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal
Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso. (Incluído pela Lei nº
9.756, de 17.12.1998)

§ 1o Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente


para o julgamento do recurso, e, se não houver retratação, o relator
apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o
recurso terá seguimento. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)

§ 2o Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal


condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento
do valor corrigido da causa, ficando a interposição de qualquer outro
recurso condicionada ao depósito do respectivo valor. (Incluído pela Lei nº
9.756, de 17.12.1998)

Trata-se do julgamento monocrático pelo relator do recurso interposto. Ele poderá:

a) Negar seguimento ao recurso: por ser intempestivo, deserto, prejudicado,


manifestamente inadmissível ou improcedente ou por contrariar súmula ou
jurisprudência do próprio tribunal, de tribunal superior ou do STF; sobre essa hipótese:

JULGAMENTO MONOCRÁTICO. ANÁLISE DE PROVAS.

O relator pode julgar monocraticamente, de acordo com o art. 557 do CPC,


os recursos manifestamente inadmissíveis ou questões repetitivas a respeito
das quais já haja jurisprudência pacificada. Porém, no caso, o relator, ao
apreciar a apelação, modificou a sentença baseado na reanálise das provas.
Portanto, não houve julgamento de matéria exclusivamente de direito com
aplicação de jurisprudência consolidada para autorizar o julgamento
unipessoal do recurso. Assim, a Turma anulou o julgamento promovido;

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pois, quando é necessário reapreciar as provas, isso deve ser feito pelo
colegiado. REsp 1.261.902-RJ, 4T, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
16/8/2012.

b) Dar provimento ao recurso: caso a decisão recorrida esteja em manifesto contraste


com súmula ou jurisprudência de tribunal superior ou do STF, apenas.

Assim, vê-se que para dar provimento, as hipóteses são mais restritas, já que somente
servem como parâmetro a jurisprudência de tribunal superior ou do STF, a do próprio
tribunal não.

Essas disposições não se aplicam às ações autônomas de impugnação e às causas


originárias de tribunal; aplicam-se, entretanto, ao reexame necessário, conforme súmula
253, do STJ.

Súmula 253, STJ: “O art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o
reexame necessário”.

Caso o recurso seja daqueles em que ocorre o contraditório ainda perante o juiz, como na
apelação, em que se colhem razões e contrarrazões, não precisa o relator se preocupar em
ouvir as partes. Porém, caso o recurso seja interposto diretamente perante o tribunal, como se
procede no agravo de instrumento, deverá o relator ouvir o recorrido antes de julgar, mas
tão-somente se for para dar provimento ao recurso, já que dessa forma este não sairá
prejudicado.

Em qualquer caso, da decisão monocrática caberá agravo interno e JUÍZO DE RETRATAÇÃO; se


este for manifestamente inadmissível ou infundado, revelando-se protelatório, o agravante
deverá ser condenado a pagar multa de 1% a 10% do valor corrigido da causa (art. 557, § 1º),
ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito do respectivo
valor.

Isso não se aplica, entretanto, à Fazenda Pública.

26.8. Revisor

Art. 551. Tratando-se de apelação, de embargos infringentes e de ação


rescisória, os autos serão conclusos ao revisor.

§ 1o Será revisor o juiz que se seguir ao relator na ordem descendente de


antiguidade.

§ 2o O revisor aporá nos autos o seu "visto", cabendo-lhe pedir dia para
julgamento.

§ 3o Nos recursos interpostos nas causas de procedimentos sumários, de


despejo e nos casos de indeferimento liminar da petição inicial, não haverá
revisor. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)

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É aquele a quem se confere, igualmente ao relator, a atribuição de examinar os autos e a


controvérsia ali deduzida. O revisor estará presente nos recursos e causas considerados, em
tese, mais complexos, que são (art. 551):

a) Apelação;

b) Ação rescisória;

c) Embargos infringentes.

Será revisor o juiz que se seguir ao relator na ordem descendente de antiguidade (art. 551, §
1º). A preterição dessa ordem somente implicará em nulidade se for demonstrado o prejuízo.

Porém, se faltar revisor quando exigida sua presença, haverá nulidade, de acordo com
precedentes do STJ.

Porém, se a matéria veiculada no recurso for predominantemente de direito e não houver


prejuízo, não se deve anular o julgamento em razão da ausência de revisor. Além disso, deve
haver previsão regimental de dispensa.

Não haverá revisor nos seguintes casos:

a) Apelação interposta em execução fiscal;

b) Recursos interpostos nas causas do procedimento sumário (art. 551, § 3º);

c) Recursos em ações de despejo (art. 551, § 3º);

d) Recursos nos casos de indeferimento da petição inicial (art. 551, § 3º);

e) Apelações de competência do STJ;

f) Apelação no mandado de segurança.

26.9. O Julgamento

26.9.1. A Colegialidade como Regra


Em regra, o julgamento efetiva-se em sessão pública, na sede do tribunal. Porém, poderão os
tribunais (TRF, TRT e TJ) implementar funcionamento descentralizado, constituindo câmaras
regionais, por expressa disposição constitucional, a fim de assegurar o pleno acesso do
jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.

NÃO HÁ PRAZO LEGAL PARA O JULGAMENTO DE RECURSOS, incidentes ou causas originárias


no tribunal; porém, recursos em causas de procedimento sumário deverão ser julgados no
tribunal em 40 dias, no máximo.

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26.9.2. Convocação de Outros Juízes para a Composição do Quórum de Julgamento


O julgamento deve ser composto por membros do próprio tribunal. Porém, quando esses
membros, por qualquer motivo, se afastam por mais de 30 dias, é comum ser feita a
convocação de juiz de primeira instância, como autorizado no art. 118 da LOMAN187.

No âmbito do STF, permite-se a convocação de Ministros do STJ; neste, por sua vez, podem ser
convocados desembargadores dos TRFs e TJs.

Porém, o Poder Judiciário é hierarquizado, não podendo haver revisão de julgados de juízes de
primeira instância por outros do mesmo nível, salvo nas Turmas Recursais.

Ofende o princípio constitucional do juiz natural o julgamento de recursos, no tribunal, por


órgão composto, em sua maioria, por juízes de primeira instância.

JULGAMENTO EM SEGUNDO GRAU FEITO POR JUÍZES DE PRIMEIRO GRAU


(NULIDADE). JUIZ NATURAL (OFENSA).

1. Nulo é o julgamento realizado, em segundo grau, por órgão composto


por juízes de primeiro grau – embora louváveis as razões que levaram a
assim se proceder –, não podendo, como de fato não pode, subsistir.

2. Tão antigo como antiga é a própria jurisdição – não há falar em jurisdição


sem falar em juiz natural –, o princípio do juiz natural tem, ao fim e ao cabo,
a finalidade de resguardar a legitimidade, a imparcialidade e a legalidade da
jurisdição.

187
Art. 118. Em caso de vaga ou afastamento, por prazo superior a 30 (trinta) dias, de membro dos
Tribunais Superiores, dos Tribunais Regionais, dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais de Alçada,
(Vetado) poderão ser convocados Juízes, em Substituição (Vetado) escolhidos (Vetado) por decisão da
maioria absoluta do Tribunal respectivo, ou, se houver, de seu Órgão Especial: (Redação dada pela Lei
Complementar nº 54, de 22.12.1986)
§ 1º - A convocação far-se-á mediante sorteio público dentre:
I - os Juízes Federais, para o Tribunal Federal de Recursos;
II - o Corregedor e Juízes Auditores para a substituição de Ministro togado do Superior Tribunal
Militar;
III - Os Juízes da Comarca da Capital para os Tribunais de Justiça dos Estados onde não houver
Tribunal de Alçada e, onde houver, dentre os membros deste para os Tribunais de Justiça e dentre os
Juízes da Comarca da sede do Tribunal de Alçada para o mesmo;
IV - os Juízes de Direito do Distrito Federal, para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos
Territórios;
V - os Juízes Presidentes de Junta de Conciliação o Julgamento da sede da Região para os Tribunais
Regionais do Trabalho.
§ 2º - Não poderão ser convocados Juízes punidos com as penas previstas no art. 42, I, II, III e IV,
nem os que estejam respondendo ao procedimento previsto no art. 27.
§ 3º - A convocação de Juiz de Tribunal do Trabalho, para substituir Ministro do Tribunal Superior
do Trabalho, obedecerá o disposto neste artigo.
§ 4º Em nenhuma hipótese, salvo vacância do cargo, haverá redistribuição de processos aos Juízes
convocados. (Parágrafo incluído pela Lei Complementar nº 54, de 22.12.1986)
Art. 119 - A redistribuição de feitos, a substituição nos casos de ausência ou impedimento eventual
e a convocação para completar quorum de julgamento não autorizam a concessão de qualquer
vantagem, salvo diárias e transporte, se for o caso.
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3. Agravo regimental improvido.

(STJ, AgRg no HC 106.590/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES, SEXTA TURMA,


julgado em 05/05/2009, DJe 01/06/2009)

Porém, o STF e o STJ possuem decisões em sentido diametralmente contrário, que mesmo
quando a maioria do órgão for composta por juízes de primeiro grau, não haverá nulidade.
Nesse sentido:

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSUAL PENAL. JULGAMENTO


DE APELAÇÃO POR TURMA JULGADORA COMPOSTA MAJORITARIAMENTE
POR JUÍZES FEDERAIS CONVOCADOS. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. OFENSA AO
PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. INOCORRÊNCIA. PRECEDENTES. RECURSO
DESPROVIDO. I – Não viola o postulado constitucional do juiz natural o
julgamento de apelação por órgão composto majoritariamente por juízes
convocados, autorizado no âmbito da Justiça Federal pela Lei 9.788/1999.
II – Colegiado constituídos por magistrados togados, integrantes da Justiça
Federal, e a quem a distribuição de processos é feita aleatoriamente. III –
Julgamentos realizados com estrita observância do princípio da publicidade,
bem como do direito ao devido processo legal, à ampla defesa e ao
contraditório. IV – Recurso extraordinário desprovido.

(STF, RE 597.133, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno,


julgado em 17/11/2010, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-065 DIVULG
05-04-2011 PUBLIC 06-04-2011 EMENT VOL-02497-02 PP-00273)

EMENTA: HABEAS CORPUS. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. CÂMARA


MAJORITARIAMENTE COMPOSTA POR JUÍZES DE 1º GRAU. PRECEDENTES.
DESCAMINHO. TIPICIDADE. INSIGNIFICÂNCIA PENAL DA CONDUTA. VALOR
DAS MERCADORIAS. VALOR DO TRIBUTO. LEI 10.522/02 (redação da Lei
11.033/04). IRRELEVÂNCIA PENAL. HABEAS CORPUS INDEFERIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é
firme no sentido de que não viola o princípio do juiz natural a convocação
de juízes de primeiro grau para compor órgão julgador do respectivo
Tribunal. Precedente: HC 86.889, da relatoria do ministro Menezes Direito.
2. No julgamento do HC 96.821 (Sessão de 08/04/2010), o Plenário desta
nossa Corte fixou a orientação de que não há nenhuma violação ao
princípio do juiz natural quando a Turma julgadora é composta, na sua
maioria, por juízes convocados de primeiro grau. Entendimento, esse, que
homenageia a duração razoável do processo, "materializando o ideal de
uma prestação jurisdicional célere e efetiva".

[...]

(STF, HC 103243, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Primeira Turma, julgado


em 29/06/2010, DJe-190 DIVULG 07-10-2010 PUBLIC 08-10-2010 EMENT
VOL-02418-04 PP-00682)

PROCESSUAL PENAL – HABEAS CORPUS – APROPRIAÇÃO INDÉBITA


PREVIDENCIÁRIA – CONDENAÇÃO EM 1ª INSTÂNCIA – APELAÇÃO

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DEFENSIVA – JULGAMENTO POR CÂMARA COMPOSTA MAJORITARIAMENTE


POR JUÍZES DE 1º GRAU CONVOCADOS – NULIDADE, IN CASU, INEXISTENTE
– CONVOCAÇÃO QUE NÃO SE DEU INDISTINTAMENTE, MAS APENAS PARA
AUXILIAR DESEMBARGADORES FEDERAIS NOS TERMOS DA LEI –
SUBSTITUIÇÃO DE CUNHO MERAMENTE EVENTUAL – FÉRIAS DO
DESEMBARGADOR FEDERAL – INEXISTÊNCIA DE CRIAÇÃO DE CÂMARAS
FORMADAS EXCLUSIVA OU MAJORITARIAMENTE POR MAGISTRADOS DE 1ª
INSTÂNCIA CONVOCADOS – ORDEM DENEGADA.

I. É perfeitamente possível o julgamento nos Tribunais por Turmas ou


Câmaras parcialmente integradas por Juízes de 1º Grau, mediante
convocação.

II. Ausente a criação de novas Câmaras compostas exclusiva ou


majoritariamente por Magistrados de 1ª Instância convocados, mas
unicamente a convocação para auxiliar Desembargadores específicos e,
apenas eventualmente (em casos de férias ou outros afastamentos),
substituí-los, não há nulidade a sanar. Precedentes do STF e do STJ.

III. In casu, evidenciando-se que dois Desembargadores Federais


encontravam-se de férias no dia do julgamento da apelação defensiva,
ambos foram substituídos pelos Juízes Federais previamente convocados
para substituir especificamente aqueles dois, razão pela qual não há
nulidade a sanar.

IV. Ordem denegada.

(STJ, HC 109456/DF, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA


CONVOCADA DO TJ/MG), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/03/2009, DJe
20/10/2009)

26.9.3. Ordem de Julgamento, Inclusão e Publicação da Pauta


Após a distribuição para o relator, este estudará o caso e fará nos autos uma exposição dos
pontos controvertidos sobre que versar a causa. Lançada nos autos, o relator ficará vinculado à
causa, devendo participar do julgamento ainda que venha a ser removido para outra Câmara
ou Turma.

Todo aquele que lançar seu visto nos autos participará do julgamento, salvo motivo de força
maior, como morte, licença etc.

Caso haja revisor, os autos seguem para ele, e será dele, não do relator, a competência para
pedir dia para julgamento.

Em seguida, os autos vão para o Presidente, que designará dia para julgamento, mandando
publicar a pauta no diário oficial com antecedência mínima de 48 horas da sessão de
julgamento, sob pena de nulidade.

No julgamento, primeiro o relator exporá a causa, depois haverá sustentação oral, colhendo-se
o voto dos julgadores; em seguida, o Presidente anuncia o resultado do julgamento e, por fim,

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designa o relator, se seu voto não for vencido, para lavrar acórdão. Caso seja vencido, o voto
cabe àquele que primeiro proferiu voto dissidente.

26.9.4. Exposição da Causa pelo Relator


O acórdão deve conter os mesmos requisitos da sentença (relatório, fundamentação,
dispositivo).

A falta de referência, no relatório, das razões de uma das partes implica em ofensa ao princípio
do contraditório. Isso porque o relator é obrigado a enfrentar a suma do pedido e da resposta
do réu. Se isso não ocorrer, os demais membros do colegiado não terão contato com as teses
defendidas pelas partes, causando parcialidade.

A omissão do relatório, consistente na falta de registro ou de narrativa da argumentação de


uma das partes, pode ser corrigida via embargos de declaração. Não suprida a omissão, cabe
REsp.

O revisor poderá corrigir o relatório e complementar as informações nele contidas.

26.9.5. Sustentação Oral

26.9.5.1. Generalidades
As partes poderão fazer a sustentação oral durante improrrogáveis 15 minutos, iniciando-se
pelo recorrente e, logo após, pelo recorrido. Trata-se da efetivação da garantia constitucional
do contraditório.

Somente não caberá sustentação oral em recurso se este for embargos de declaração ou
agravo de instrumento, e no agravo interno.

26.9.5.2. Momento para Sustentação Oral


Ela deverá ser feita após a leitura do relatório, mas antes do voto do relator (salvo regra
regimental diversa). Se a causa exigir intervenção do MP, esse também terá direito à
sustentação oral.

Os advogados poderão requerer que na sessão imediata seja o feito julgado em primeiro lugar
(art. 565). A finalidade deste artigo é evitar que os advogados sejam obrigados a aguardar por
horas o julgamento de todas as causas e recursos em prejuízo de suas outras atribuições.

26.9.5.3. Sustentação Oral e Esclarecimento de Fato


Ao advogado se permite, em qualquer momento do julgamento, usar da palavra, pela ordem,
para esclarecer fatos ou dúvidas surgidos na sessão. Não está limitado a uma única
oportunidade, como ocorre na sustentação oral. Ele não comporta qualquer ressalva.

26.9.6. Pedido de Vistas


Não se considerando habilitado a proferir imediatamente seu voto, a qualquer juiz é facultado
pedir vista do processo, devendo devolvê-lo no prazo de 10 dias de seu recebimento. Essa
hipótese é a vista em gabinete.

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Poderá, entretanto, ocorrer vistas em mesa, que é aquela realizada imediatamente, com breve
suspensão do julgamento.

O relator e o revisor, teoricamente, não poderiam pedir vista; não é contudo, o que acontece
na prática.

26.9.7. Julgamento Separado do Juízo de Admissibilidade e de Cada um dos Pedidos


Cumulados
Primeiro, deverá o relator expor suas conclusões sobre a admissibilidade do recurso, que será
apreciada pelo colegiado. Superada a admissibilidade, ele exporá suas conclusões sobre cada
um dos pedidos formulados. Logo, haverá uma votação para cada pedido.

Esse pronunciamento é essencial para que possa ser bem compreendido o cabimento dos
embargos infringente parciais, já que poderá haver unanimidade quanto a parte dos pedidos e
não haver quanto a outra.

26.9.8. Correção de Defeito Processual no Julgamento em Tribunal


Se o tribunal constatar a existência de um defeito processual relevante, tem o dever de
determinar a sua correção ou o aproveitamento do ato defeituoso. Após cumprida a diligência,
prosseguirá no julgamento recursal.

Tal dever visa a evitar futura arguição de nulidade e anulação do julgamento, ou seja, preza
pela economia processual.

26.9.10. Dispersão de Votos – O Voto Médio


Os julgamentos efetuados por órgãos colegiados dos Tribunais em geral são realizados por
maioria dos votos. Em alguns casos, no entanto, acontece de nenhum dos posicionamentos
sustentados pelos componentes do órgão ter atingido a maioria.

Para solucionar esses casos, a regra dos Tribunais nacionais é a adoção do chamado voto
médio, buscando um voto que represente um meio termo entre os posicionamentos
divergentes. Essa fórmula, porém, não resolve todos os casos, sobre o que passaremos a
discorrer a seguir.

Quanto à natureza das divergências passíveis de ocorrer, podemos dividi-las em duas, quais
sejam, a divergência quantitativa e a divergência qualitativa.

A quantitativa refere-se ao desencontro de pensamentos acerca da estipulação dos valores de


uma obrigação.

A qualitativa, hipótese mais complexa de solucionar, refere-se ao próprio direito pleiteado e


objeto da ação. Para solução das divergências quantitativas, como afirmado anteriormente, os
ordenamentos em geral adotam a técnica do voto médio, que tem dois sistemas de aplicação.

A TÉCNICA DO VOTO MÉDIO SOMENTE SE APLICA NA DISPERSÃO QUANTITATIVA.

O primeiro é o Sistema da Continência que adota como voto vencedor aquele que se encontra
entre as extremidades dos demais posicionamentos. Por exemplo, um órgão com três juízes
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tendo como posicionamentos a condenação em 100, 70 e 50 reais, respectivamente. O voto


médio e vencedor seria o de 70 reais, que se encontra no meio entre os demais julgamentos.

No Brasil, alguns Tribunais adotam esse sistema de estabelecer o voto vencedor:

"Se, em relação a uma única parte do pedido, não se puder formar a


maioria, em virtude de divergência quantitativa, o Presidente disporá
os diversos votos, com as quantidades que cada qual indicar, em ordem
decrescente de grandeza, prevalecendo à quantidade que, com as que lhe
forem superiores ou iguais, reunir votos em número suficiente para
construir a maioria" (art. 148, § 3o do Regimento Interno do Tribunal
Regional Federal da 2a Região).

"Se, em relação a uma única parte do pedido, não se puder formar a


maioria, em virtude de divergência quantitativa, o Presidente disporá
os diversos votos, com as quantidades que cada qual indicar, em ordem
decrescente de grandeza, prevalecendo à quantidade que, com as que lhe
forem superiores ou iguais, reunir votos em número suficiente para
constituir a maioria" (art. 83 do Regimento Interno do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro).

"Se houver divergência em relação ao "quantum" da condenação de modo


que não haja maioria nessa parte, somam-se os votos em ordem
decrescente, até ser atingida a maioria absoluta" (art. 136, II do
Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Pará).

Por outro lado, há o Sistema da Média Aritmética, no qual se somam os


valores contidos nos diversos votos e em seguida divide-se o total pelo número de votantes.
No mesmo caso acima, com votos divergentes de 100, 70 e 50 reais, a média dos
posicionamentos seria R$73,33. O problema desse sistema é que o resultado encontrado é
diferente de todos os julgamentos, ou seja, adota-se uma solução que não é defendida por
nenhum dos votantes.

O Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo em seu art. 263, § 1º consagra o
sistema da média aritmética:

"Tratando-se de determinação do valor ou quantidade, o resultado do


julgamento será expresso pelo quociente da divisão dos diversos valores ou
quantidades homogêneas, pelo número de juízes votantes". (art. 456 e § 1º,
do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo).

Também adota essa solução, o Regimento Interno do Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

"Tratando-se de determinação de valor ou quantidade, o resultado do


julgamento será expresso pelo termo médio aritmético, obtido pelo
quociente da divisão da soma dos diversos valores ou quantidades, pelo
número de juízes que os houverem determinado" (art. 138).

Assim, em se tratando de dispersão quantitativa: Sistema da Continência


Sistema da Média Aritmética
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Em relação ao dissenso qualitativo, visto que impossível realizar fórmulas matemáticas para
encontrar uma solução, a solução é mais complexa.

Existem três métodos para solução.

A primeira é a que obriga os juízes adeptos das soluções menos sufragadas a aderir a uma das
correntes mais numerosas, a fim de que uma se torne majoritária. Esta posição é adotada pelo
STF, conforme o no art. 185, § 2º de seu Regimento Interno:

"Na hipótese de os votos se dividirem entre mais de duas interpretações,


proceder-se-á, em outra sessão designada pelo presidente, ‘a segunda
votação restrita à escolha, pelo quorum de seis Ministros, pelo menos, de
uma entre as duas interpretações anteriormente mais votadas".

Esta solução opta por um prematuro descarte dos entendimentos menos sufragados nas
causas em que não se atinge a maioria de votos. Há um desprestígio da autonomia dos
votantes, o que cria a possibilidade do resultado do julgamento oriundo do voto médio não
representar, de fato, o melhor posicionamento do órgão julgador.

A segunda forma de que solucionar a divergência é a convocação de mais magistrados para


que, com um número maior de votantes, seja possível resolver a dispersão qualitativa de
votos. Sistema adotado pelos códigos de processo de alguns países latino-americanos e pela
Espanha. Em tese, essa seria a solução mais adequada para resolver o problema da dispersão
de votos. Com um número maior de magistrados, tem-se um novo debate e as possibilidades
de se chegar a um entendimento majoritário aumentam consideravelmente. Todavia, não se
pode analisar esta hipótese sem inseri-la no contexto do Poder Judiciário nacional.

A convocação de outros juízes para uma nova votação acarretaria na postergação da sessão do
julgamento para outra data, fato este que aumentaria o tempo de duração do processo,
agravando, por consequência, a morosidade da Justiça brasileira.

No último método, oriundo do ordenamento italiano, o presidente da sessão, em face da


discordância, reformulará o julgamento, pondo novamente as questões em voto, duas a duas,
até que pelo regime de exclusão apure-se a posição vitoriosa.

Alguns Regimentos Internos brasileiros consagram esse sistema de dissolução da dispersão de


votos:

"Se a impossibilidade de apurar-se a maioria for devida à divergência


qualitativa, o Presidente porá em votação, primeiro, 02 (duas) quaisquer
dentre as soluções sufragadas, sobre as quais terão de manifestar-se
obrigatoriamente todos os votantes, eliminando-se as que obtiverem menor
número de votos; em seguida, serão submetidas à nova votação a solução
remanescente e outra das primitivamente sufragadas, procedendo-se de
igual modo; e assim sucessivamente até que todas se hajam submetido à
votação. Será vencedora a solução que obtiver a preferência na última
votação." (art. 84 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro).

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"Se na votação da questão global, insuscetível de decomposição, ou das


questões distintas, três ou mais opiniões se formarem, serão as soluções
votadas duas a duas, de tal forma que a vencedora será posta em votação
com as restantes, até se fixar, das duas últimas, a que constituirá a decisão."
(art. 183 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Paraná).

As soluções para os casos de dispersão de votos é tema ainda controvertido e em razão de


lacunas existentes em nosso ordenamento, cada Tribunal adota uma solução diferente em
seus Regimentos Internos.

O grande problema dessa realidade é que, dependendo do método adotado, uma mesma
causa pode ter desfechos diferentes pelo simples fato de ser o feito processado em diferentes
estados da federação.

26.10. Incidente de Uniformização de Jurisprudência e Incidente de Decretação de


Inconstitucionalidade

26.10.1. Considerações Gerais sobre os Incidentes em Julgamento de Tribunal


Em qualquer causa que tramita perante tribunal (de sua competência originária, recursal ou
por remessa necessária) podem surgir alguns incidentes processuais, que lhe são típicos. Esses
agora tratados possuem as seguintes características:

a) Natureza jurídica: não são recursos e nem meios autônomos de impugnação; Trata-se
de incidentes processuais;

b) Objetivo: têm por função transferir, a um órgão do tribunal, a competência funcional


para a análise de determinadas questões de direito, examinadas incidenter tantum e
havidas como relevantes para o deslinde da causa.

Normalmente, o exame das questões incidentes é da competência do juízo que examinará a


questão principal. Porém, suscitado e admitido o incidente, ocorre uma divisão de
competência: um órgão julgador fica com a competência para julgar a questão principal e as
demais que não foram objeto de incidente e outro fica com a competência de julgar a questão
incidente sobre a qual versa um dos institutos.

A questão do incidente só pode ser de direito e só pode ser julgada se relevante para decidir a
questão principal.

Suscitado o incidente, e admitido por acórdão lavrado pelo órgão fracionário no qual tramitava
o processo, será o mesmo suspenso e enviado ao órgão colegiado maior definido pelo
regimento interno. Após decidido, retoma-se o julgamento da causa no órgão fracionário. Por
isso que se fala que a decisão no processo, como um todo, será subjetivamente complexa.

Nesses casos, a competência para julgar ação rescisória interposta será do órgão do tribunal
competente para rescindir julgados do órgão colegiado maior, ainda que ele só tenha
decidido a questão incidente.

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Súmula 513, STJ: “A decisão que enseja a interposição de recurso ordinário ou extraordinário
não é a do plenário, que resolve o incidente de inconstitucionalidade, mas a do órgão
(câmaras, grupos ou turmas) que completa o julgamento do feito”.

c) Inexistência de coisa julgada: a decisão do incidente comporá os fundamentos da


decisão, razão pela qual não é alcançada pela coisa julgada;

d) Intervenção do MP: em ambos os pleitos a intervenção será obrigatória, em função do


interesse jurídico em jogo.

Em um mesmo processo pode ser suscitado mais de um incidente processual.

26.10.2. Uniformização de Jurisprudência (arts. 476 a 479)


Tem sua importância em função da segurança jurídica (previsibilidade das decisões) e da força
vinculativa dos precedentes jurisprudenciais do STF.

Esse incidente faz parte do sistema de mecanismos processuais para a composição das
divergências jurisprudenciais. Para sua instauração, necessários os seguintes pressupostos
específicos:

a) Que esteja em curso um julgamento de recurso ou processo de competência originária


dos tribunais numa câmara, grupo ou turma: se o julgamento se desenvolve no
plenário, ou no órgão especial, não é o caso de se suscitar o incidente, porque o
próprio pleno fixará a tese jurídica que entender cabível; por outro lado, não pode juiz
de primeiro grau suscitar o incidente;

b) Questão de direito controvertida e relevante para a solução do caso concreto: é


preciso que exista divergência jurisprudencial entre juízes. Dissídio relevante é aquele
que oponha julgados do mesmo tribunal, unicamente, não sendo suficiente a
divergência entre votos; deve ser entre julgamentos.

O incidente pode ser suscitado por qualquer juiz que irá votar no julgamento, pelas partes e
pelo MP, além do assistente simples; a provocação pode ser por escrito ou em sustentação
oral, desde que antes da prolação do julgamento da causa.

Uma vez requerida a instauração do incidente, é preciso que o órgão jurisdicional originário
reconheça a divergência, por acórdão, para só então remeter os autos ao colegiado maior
(art. 447). Referido acórdão é IRRECORRÍVEL.

Se a tese jurídica for fixada como voto da maioria absoluta dos membros do órgão, ela
deverá ser consagrada em súmula de jurisprudência predominante do tribunal (art. 479).

26.10.3. Uniformização da Jurisprudência: Distinção dos Embargos de Divergência


EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA
Recurso Incidente processual
Finalidade corretiva Finalidade preventiva num caso concreto
Cabe em recurso, reexame necessário ou causa de
Cabem contra acórdão proferido em RE/REsp
competência originária

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Por ser recurso, só cabe após o julgamento Por ser incidente, só cabe antes do julgamento

26.10.4. Incidente de Decretação de Inconstitucionalidade (arts. 480 a 482)


Dispõe o art. 97 da CR/88 que somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos
membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de
lei ou ato normativo do Poder Público.

Trata-se da regra da Reserva de Plenário (Full bench), pela qual foi estabelecida uma regra de
competência funcional, logo, absoluta, para o reconhecimento da inconstitucionalidade de lei.

A cláusula da reserva de plenário não se aplica às Turmas Recursais; também não se aplicam
aos juízos singulares; caso a questão já tenha sido decidida pelo Plenário do STF ou pelo
próprio tribunal anteriormente, estará também dispensada.

Assim, vê-se que um órgão fracionário do tribunal não tem competência para decretar,
incidenter tantum, a inconstitucionalidade de uma lei. Uma vez suscitada a questão, deverá
esse órgão remeter os autos ao Pleno ou órgão especial, conforme o caso, motivo pelo qual se
diz que ocorre a cisão funcional do julgamento.

Da mesma forma que no outro incidente, para que a questão seja submetida ao Pleno, da
alegação de inconstitucionalidade acolhida deverá ser lavrado acórdão pelo órgão fracionário
perante o qual se alegou a inconstitucionalidade.

A DECISÃO QUE EXAMINA O INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE É IRRECORRÍVEL,


ASSIM COMO OCORRE COM O INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. Cabe,
contudo, recurso da decisão do órgão fracionário que, adotando o entendimento fornecido
pelo tribunal (a respeito da inconstitucionalidade da regra), julga o caso concreto. Nesse
caso, será cabível o recurso específico, conforme as circunstâncias da decisão prolatada. Nesse
sentido é a Súmula 513 do STF: "A decisão que enseja a interposição do recurso ordinário ou
extraordinário não é a do Plenário, que resolve o incidente de inconstitucionalidade, mas a
do órgão (Câmaras, Grupos ou Turmas) que completa o julgamento do feito".

Com efeito, proferida a decisão do incidente, restituem-se ao colegiado suscitante os autos, a


fim de que prossiga no julgamento do caso específico. Seja qual for o resultado do julgamento
do incidente de inconstitucionalidade, será ele vinculante para o órgão. Ou seja, o colegiado
que suscitou a questão da inconstitucionalidade fica vinculado ao julgamento a esse respeito,
devendo julgar o caso específico que lhe foi submetido conforme esse "resultado”.

26.11. Tabela Síntese – Súmula Impeditiva de Recurso e Julgamento Monocrático


SÚMULA IMPEDITIVA DE JULGAMENTO MONOCRÁTICO
RECURSOS NO TRIBUNAL
Previsão Art. 518. § 1º Art. 557
O juiz NÃO RECEBERÁ O RECURSO Trata-se de hipóteses em que o
DE APELAÇÃO quando a sentença relator pode negar seguimento ou
Conceito estiver EM CONFORMIDADE COM dar provimento ao recurso de
SÚMULA DO STJ OU DO STF. forma monocrática.
Não se aplica o instituto se: Se o Poderá o relator: Negar
apelante discutir a incidência da seguimento ao recurso: por ser
Julgamento súmula no caso concreto; Se a intempestivo, deserto,
apelação tiver por incidência error prejudicado, manifestamente

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in procedendo; Se o apelante inadmissível ou improcedente ou


trouxer em suas razões por contrariar súmula ou juris do
fundamento novo, não examinado próprio tribunal, de tribunal
pelos precedentes que geraram a superior ou do STF; Dar
súmula; Se houver choque entre provimento ao recurso: caso a
enunciados de súmula do STJ e decisão recorrida esteja em
STF; Se, embora não em choque manifesto contraste com súmula
de enunciados, houver ou juris de tribunal superior ou do
divergência manifesta de STF, apenas.
posicionamento entre o Assim, vê-se que para dar
enunciado de um e a provimento, as hipóteses são mais
jurisprudência do outro. restritas, já que somente servem
como parâmetro a juris de
tribunal superior ou do STF, a do
próprio tribunal não.
Cabe agravo de instrumento. Da decisão monocrática caberá
agravo interno e JUÍZO DE
RETRATAÇÃO; se este for
manifestamente inadmissível ou
Recurso infundado, revelando-se
protelatório, o agravante deverá
ser condenado a pagar multa de
1% a 10% do valor corrigido da
causa (à FP n
- Essas disposições não se aplicam
às ações autônomas de
impugnação e às causas
Observações originárias de tribunal; aplicam-se
ao reexame necessário, conforme
súmula 253, do STJ.

27. Execução
27.1. Introdução
O juiz, ao resolver o litígio, nem sempre presta a tutela do direito material. O autor, mesmo no
caso de sentença favorável, pode não obter a tutela do direito. Ou seja, a justiça, a tutela
jurídica, apesar de chegar ao provimento formal idealizado, não está dotada de efetividade.

Isso ocorre porque a sentença precisa ser implementada (executada) para que o autor seja
satisfeito. Logo, vê-se que a sentença não se confunde com a tutela do direito (há exceções,
como no pleito meramente declaratório ou constitutivo).

A tendência do processo é se extinguir. Após a prolação da sentença, ele só caminha adiante


quando a tutela do direito não foi integralmente prestada, dependendo de meios de execução.

Quem vai a juízo, seja a partir da mera afirmação do direito de crédito, seja a partir do título
executivo extrajudicial, quer tutela jurisdicional do direito material. Em um caso, a ação, para
prestar a tutela do direito, deve passar pela sentença condenatória, complementando-se com
a execução. No outro, a ação dispensa a verificação do direito e, também, a sentença
condenatória, viabilizando a imediata instauração da execução. No primeiro, a execução é
complemento da ação; no segundo, a execução é a única prestação jurisdicional buscada com
a ação.

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27.2. A Execução da Sentença no CPC

27.2.1. O Sistema Executivo do art. 461 (Obrigação da Fazer ou Não Fazer)


O objeto máximo do CPC é obter a tutela específica, concedendo ao autor exatamente aquilo
que pleiteado na petição inicial.

Em se tratando de obrigação de fazer, deve-se adotar mecanismos que convençam o


executado ao cumprimento de sua obrigação, já que é impossível forçá-lo a fazer o que não
quer. Para tal, o § 5º prevê que o juiz poderá determinar, de ofício ou a requerimento,
medidas necessárias para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático
equivalente.

Em relação à obrigação de não fazer, a tutela jurisdicional somente poderá visar uma situação
anterior à ocorrência do ilícito, preventiva, já que se consumado o ato que se não deveria
consumar, não poderá o réu ser condenado a uma obrigação de fazer (ou desfazer). Aqui, o
Estado lançará mão da tutela inibitória.

A tutela ressarcitória na forma específica requer que do infrator seja exigida uma prestação de
fazer ou a entrega de uma coisa equivalente à danificada, embora na grande maioria das vezes
dependa apenas de uma prestação de fazer.

Marinoni afirma que o nosso CPC durante muitos anos foi inconstitucional por omissão, já que
não conferia ao jurisdicionado e ao juiz técnicas processuais executivas indispensáveis à tutela
dos direitos materiais.

Somente a partir de 1994 isso começou a mudar, com a Lei nº 8.952/94, que instituiu a
antecipação da tutela do art. 273 e as técnicas executivas do art. 461. Veja-se:

a) § 1º: a obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor requerer ou se


impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático ao do adimplemento
(inadimplemento absoluto);

b) § 2º: a indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa;

c) § 3º: sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de


ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou
mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou
modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada (tutela antecipada nas
obrigações de fazer e não fazer);

d) § 5º: para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático


equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas
necessárias (...);

e) § 6º: o juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso


verifique que se tornou insuficiente ou excessiva.

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O artigo 461 visa à obtenção da tutela específica, dar ao autor o direito material. A tutela
específica é o contrário da tutela pelo equivalente ao valor da lesão. A tutela pelo equivalente
implica na monetarização dos direitos ou na aceitação de que os direitos são iguais e, por isso,
podem ser convertidos em espécie.

O escopo mais importante do art. 461, para Marinoni, é permitir a tutela inibitória – a mais
relevante espécie de tutela específica, pois dirigida a inibir o ilícito – a e as tutelas de remoção
do ilícito e ressarcitória na forma específica, as quais, apesar de viáveis após a violação da
norma e da produção do dano, são voltadas a tutelar, na medida do possível, a integridade do
direito, evitando a sua degradação em pecúnia.

27.2.2. O Sistema Executivo do Art. 461-A (Entrega de Coisa)


Esse artigo foi acrescentado pela Lei nº 10.444/02. Dispõe em seu caput que o juiz, ao
conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação.

Se o devedor não obedecer, poderá ser expedido mandado de busca e apreensão ou de


imissão na posse, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel (§ 2º). Além disso, aplicam-se
todas as disposições do art. 461, podendo o juiz aplicar qualquer medida necessária à
concessão da tutela específica, inclusive multa de ofício.

27.2.3. O Desaparecimento da Ação de Execução de Sentença


Com a Lei nº 11.232/05, toda sentença que dependa de execução para a concretização da
tutela jurisdicional não exige mais ação de execução de sentença (exceto execução de quantia
certa em face da Fazenda Pública), devendo ser cumprida no próprio processo, mediante as
formas executivas do art. 461 (fazer e não fazer), 461-A (entrega de coisa) e 475-J e seguintes
(pagar).

Agora, o processo de conhecimento prossegue até que a tutela do direito almejada seja
prestada, mediante a atividade executiva necessária.

Isto porque o processo, ainda que vocacionado à descoberta da existência do direito afirmado,
destina-se a prestar tutela jurisdicional à parte que tem razão, o que não acontece quando se
profere sentença de procedência dependente de execução.

27.2.4. A infiltração da Execução no Processo de Conhecimento


Não há mais qualquer dúvida que a execução da sentença se dá em razão de uma única ação e
no interior de um único e mesmo processo. Além disso, não mais subsiste o princípio que
impedia a execução no curso do processo de conhecimento, com a introdução do instituto da
tutela antecipada (nulla executio sine titulo).

Essa tutela é substancialmente a mesma da obtida com a execução; a diferença é que o rito
para lhe garantir efetividade deve ser diferenciado, mais célere, já que a tutela de urgência é
baseada na verossimilhança e no periculum in mora.

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27.2.5. Os Meios Executivos Relacionados ao Fazer, Não Fazer, Entrega de Coisa e ao


Pagamento de Quantia
O fazer e o não fazer têm à sua disposição, além da multa, todo e qualquer meio de execução
idôneo e necessário a determinado caso concreto.

Já a entrega de coisa pode se valer, conforme o caso, da imissão na posse, da busca e


apreensão e da multa, além de todas as demais medidas necessárias, conforme art. 461, § 3º.

Já o pagamento de quantia pode ser obtido mediante as técnicas executivas da execução por
expropriação, isto é, mediante penhora, avaliação, expropriação e pagamento do credor.

Em casos excepcionais, como do credor de alimentos, as técnicas executivas são mais incisivas,
como o desconto em folha, o desconto de rendas periódicas e até mesmo a prisão.

27.2.6. A Possibilidade de Cumulação de Demandas Executivas


É possível a cumulação de demandas executivas? - Denise Cristina Mantovani Cera

Sim. Nos termos do artigo 573 do Código de Processo Civil, é possível em um processo de
execução a cumulação de demandas executivas, desde que presentes 03 condições, quais
sejam:

a) identidade de devedor;

b) mesmo juízo competente;

c) identidade de procedimento.

O MESMO NÃO SE DIGA, ENTRETANTO, EM RELAÇÃO AO


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, JÁ QUE O JUIZ POSSUI COMPETÊNCIA
FUNCIONAL, LOGO, ABSOLUTA.
CPC, Art. 573. É lícito ao credor, sendo o mesmo o devedor, cumular várias
execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, desde que para todas
elas seja competente o juiz e idêntica a forma do processo.

Neste sentido, STJ/REsp 871617 / SP - Data do Julgamento - 25/03/2008

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. IPTU. EXECUÇÃO FISCAL. EXTINÇÃO


DO PROCESSO POR AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR. IMPOSSIBILIDADE.
CUMULAÇÃO DE DEMANDAS EXECUTIVAS. ART. 573 DO CPC. SÚMULA 27
DO STJ. PROSSEGUIMENTO DO PROCESSO EM RELAÇÃO ÀS EXECUÇÕES
REMANESCENTES.

1. O acordo de parcelamento de créditos tributários (art. 151, VI, do CTN),


bem como a extinção destes mediante o respectivo pagamento (art. 156, I,
do CTN), não têm o condão de ensejar a extinção do processo executivo
fiscal, porquanto, nos termos do art. 573 do CPC, é legítima a cumulação de
demandas executivas em um mesmo processo, sendo factível o
prosseguimento do processo em relação às execuções remanescentes. 2.
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Coexistência de 53 ações, consubstanciando uma cumulação de executivos


fiscais em um único processo executivo, no qual se exigem créditos
tributários de IPTU relativos a 53 imóveis diversos pertencentes ao mesmo
sujeito passivo, sendo que, durante o trâmite processual, houve sucessivas
petições da exequente para extinção de algumas ações executivas pelo
pagamento dos respectivos créditos tributários e suspensão do processo em
relação ao parcelamento de outros. 3. A cumulação de demandas executivas
é admissível contra o mesmo devedor, consoante a dicção do art. 573, do
CPC, verbis: "É lícito ao credor, sendo o mesmo o devedor, cumular várias
execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, desde que para toas
elas seja competente o juiz e idêntica a forma do processo." 4. Essa também
a ratio essendi da Súmula 27 do STJ: "Pode a execução fundar-se em mais de
um título extrajudicial relativos ao mesmo negócio". 5. Em importante sede
doutrinária: ""A cumulação de execuções é possível desde que respeitados
os requisitos previstos no art. 573 do Código de Processo Civil. (...) Verifica-
se, pela leitura do artigo de lei acima transcrito, que a cumulação de
demandas executivas é possível quando são as mesmas as partes em todas
as demandas. Não deve o intérprete, porém, se impressionar com o fato de
a lei fazer referência a que seja o "mesmo o devedor". Não significa isto
dizer que fica proibida a cumulação nos processos em que haja
litisconsórcio. Basta pensar, por exemplo, num caso em que alguém seja
credor de dois títulos executivos, em que figuram como devedoras (ou como
responsáveis) as mesmas pessoas (Estado e Município, por exemplo). O
segundo requisito da cumulação de demandas executivas é a competência
do juízo. Isto porque, obviamente, só se pode admitir a cumulação quando o
mesmo juízo é competente para todas as execuções. Fica, assim,
INVIABILIZADA A CUMULAÇÃO DE DEMANDAS EXECUTIVAS
QUANDO FUNDADAS AMBAS EM TÍTULOS JUDICIAIS, POIS A
COMPETÊNCIA PARA A EXECUÇÃO, NESTE CASO, É DO JUÍZO ONDE
SE DESENVOLVEU O MÓDULO PROCESSUAL COGNITIVO DE CUNHO
CONDENATÓRIO. SENDO ESTA A COMPETÊNCIA DE CARÁTER
FUNCIONAL, É A MESMA INDERROGÁVEL, O QUE IMPEDE A
CUMULAÇÃO (além do que a execução de sentença se desenvolve nos
mesmos autos do módulo processual de conhecimento). Além disso, é
perfeitamente possível a cumulação de demandas executivas fundadas em
títulos extrajudiciais, ou ainda a cumulação de uma demanda fundada em
título judicial com outra que tenha por base título extrajudicial (e, também
aqui, será competente o juízo onde se formou o título executivo judicial). O
terceiro requisito de admissibilidade da cumulação de demandas executivas
é, nos expressos termos do art. 573 do Código de Processo Civil, que seja
"idêntica a forma do processo". Significa isto dizer que só é possível a
cumulação de demandas executivas quando todas as demandas cumuladas
darão origem a uma mesma espécie de execução." (Alexandre Freitas
Câmara, in Lições de Direito Processual Civil, Vol. II, Ed. Lumen Juris, p.
433/434) 4. Destarte, verifica-se que, in casu, todos os requisitos do art. 573
do CPC foram devidamente observados, viabilizando o ajuizamento da ação
executiva tal qual efetuado, máxime porque a causa de suspensão da

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exigibilidade relativa aos créditos tributários referentes a alguns dos imóveis


objeto de parcelamento (art. 151, VI, do CTN), bem como a causa de
extinção do crédito tributário mediante o pagamento (art. 156, I, do CTN),
ocorreram posteriormente à propositura do executivo fiscal. 5. In casu, das
várias ações, algumas foram extintas, outras objeto de desistência por parte
da Exequente, e outras, ainda, suspensas, devendo o Juízo prosseguir na
análise das demais execuções remanescentes, sem cogitar-se em extinção
do processo. 6. A cumulação implica o dever de o juiz de efetivar todas as
ações executivas cumuladas, sob pena de incidir em error in procedendo.
(Precedentes: REsp 687.476/SP, DJ 23.04.2007; REsp 255.406/RJ, DJ
01.07.2004; REsp 160.037/RS, DJ 16.02.2004) 7. Recurso especial provido.
(Destacamos)

27.3. As Formas de Execução

27.3.1. Execução Direta e Execução Indireta


Execução direta é a execução forçada, em que a jurisdição substitui a vontade do devedor
para que o direito seja realizado independentemente de adimplemento voluntário. Como
exemplo tem-se a penhora e alienação de bem do devedor para quitar obrigação de pagar
quantia certa.

Execução indireta, também chamada de coerção indireta, não busca realizar, por si só, o
direito material, mas apenas atua sobre a vontade do devedor com o objetivo de fazê-lo
adimplir. V.g.: astreintes.

Apesar de serem formas de execução distintas, ambas constituem formas de execução das
tutelas jurisdicionais.

27.3.2. Execução Frutífera e Execução Infrutífera


Execução infrutífera é aquela que, apesar de fundada em título não contestado, não permite a
satisfação do direito em razão da insuficiência de bens no patrimônio do devedor.

Execução frutífera é aquela que encontra patrimônio do devedor suficiente para permitir a
realização do direito, mediante a expropriação de bens.

Assim, em ambas a tutela jurisdicional é prestada, porém, somente na segunda há efetividade.

27.3.3. Atuação Executiva Mediante o Constrangimento da Vontade do Devedor

27.3.3.1. Execução Através de Multa


A multa tem natureza jurídica de meio de execução indireto. Ela não objetiva dar algo ao
lesado em troca do dano sofrido, ou seja, não possui natureza indenizatória. É uma coerção
indireta, instrumento à disposição do juiz que pode ser aplicado independentemente de
pedido do exequente.

O fim da multa é convencer o demandado a cumprir a decisão. No direito brasileiro, assim


como no francês e no argentino, o valor da multa, no caso de inadimplemento, será devido à
parte.

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Já o direito alemão adota a tese de que o valor da multa deve ser dirigido ao Estado, com uma
visão nitidamente publicista, já que ela seria voltada à defesa do Estado-juiz.

Durante muito tempo se afirmou que a multa só seria cabível em obrigações infungíveis, já que
nas fungíveis seria possível a contratação de terceiro para prestar a obrigação. Entretanto, tal
ideia não prospera. Isso porque a execução sob pena de multa é mais rápida, barata e simples
do que a execução que depende do encontro de terceiro para fazer o que deveria ter sido feito
pelo réu. Isso porque, nesse caso, caberia ao autor pagar o terceiro para depois cobrar do réu,
verdadeira insanidade.

Logo, quando se diz que a obrigação infungível deve ser tutelada através de multa, não se quer
dizer que apenas esta espécie de obrigação pode ser assim tutelada, e sim que a obrigação
infungível somente pode ser tutelada (sua efetividade depende disso) mediante imposição de
multa.

A multa deve incidir de maneira a convencer o demandado, não estando limitada pelo valor do
dano ou pelo valor da prestação inadimplida.

Aceita-se que a multa seja maior do que o valor da prestação, exatamente porque a sua
finalidade é convencer o devedor do cumprimento da prestação, e não dar ao credor o
equivalente em dinheiro.

A multa, para poder convencer, deve ser fixada em montante que seja suficiente para fazer o
réu acreditar que é mais conveniente cumprir a obrigação a desconsiderar a ordem do juiz.

Na definição do valor da multa, é importante considerar a capacidade econômica do


demandado. O juiz, ao considerá-la, não deve se limitar à análise de seu patrimônio
imobilizado, mas a tudo o que indique sua verdadeira situação financeira.

Em relação ao tempo, embora o art. 461, § 4º, fale em multa diária, e o § 5º em multa por
tempo de atraso, nada impede que a multa seja fixada em valor fixo, ou que seja progressiva,
semanal ou mensal, por exemplo.

A multa produz efeitos desde o momento em que a decisão produz efeito. Logo, se a multa é
fixada para dar efetividade à tutela antecipatória, seus efeitos são imediatos e no curso do
processo, durante a fase de conhecimento.

Se fixada na sentença e houver apelação, a multa produzirá efeitos imediatos apenas se o


recurso não for recebido no efeito suspensivo, tão-somente no devolutivo.

A finalidade coercitiva da multa não se relaciona com sua cobrança imediata, mas apenas com
sua possibilidade de cobrança futura. Assim, presume-se que ela será suficiente para
convencer o réu.

Porém, não se recomenda, apesar de não ser proibido, que haja o pagamento antes do
trânsito em julgado; isso porque existe a possibilidade de o réu/executado obter êxito recursal,
não podendo o autor, nesse caso, receber adiantadamente a multa imposta para o
cumprimento de direito material que não possuía.
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O STJ TEM DECISÕES NO SENTIDO DE SER NECESSÁRIO E DESNECESSÁRIO O TRÂNSITO EM


JULGADO DA SENTENÇA PARA PODER SE EXECUTAR A MULTA. NÃO É MATÉRIA PACÍFICA.

Efeito perverso da multa: trata-se da situação gerada ao réu diante do acúmulo do valor da
multa em face do não cumprimento da decisão judicial, tornando-se tal valor muitas vezes
superior ao da obrigação inadimplida ou do dano praticado e, logo, impagável pelo réu, além
de ser causa de enriquecimento sem causa.

Esse valor poderá ser suprimido pelo juiz, nos termos do art. 461, § 6º.

Art. 461 [...]

§ 6o O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa,


caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva. (Incluído pela Lei nº
10.444, de 7.5.2002)

Modificação do valor da multa: o juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade


da multa, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessivo (art. 461, § 6º).

Esse parágrafo demonstra que a parte (capítulo) da sentença transitada em julgado que fixa a
multa não fica imunizada pela coisa julgada material.

Isso porque a multa não é fixada para castigar o réu ou para dar algo ao autor. Seu escopo é o
de dar efetividade às decisões do juiz. Logo, verificando que a periodicidade ou o valor da
multa não mais está de acordo com a ideia que presidiu sua fixação, poderá ela ser agravada
ou atenuada, conforme as exigências do caso concreto.

27.3.3.2. Execução Mediante Outras Modalidades de Convencimento


A norma do § 5º do art. 461, que confere expressamente ao juiz o poder necessário para
determinar a modalidade de execução perante o caso concreto, elimina as discussões acerca
de só se poder utilizar meios de execução tipificados.

Art. 461 [...]

§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado


prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento,
DETERMINAR AS MEDIDAS NECESSÁRIAS, TAIS COMO a imposição de
multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e
coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se
necessário com requisição de força policial. (Redação dada pela Lei nº
10.444, de 7.5.2002)

ASSIM, A REDAÇÃO DO PARÁGRAFO CLARAMENTE


DEMONSTRA QUE OS MEIOS DE EXECUÇÃO INDIRETA SÃO
EXEMPLIFICATIVOS.
Ele deve se utilizar do meio executivo mais idôneo, que deverá conjugar os seguintes
princípios:
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a) Máxima efetividade;

b) Menor onerosidade possível ao executado.

Diz-se, também, que o juiz, além de poder utilizar dos meios coercitivos, pode se valer das
sanções premiativas, mecanismos estimulantes que visam a obter o resultado desejado
mediante a concessão de um benefício para o imediato cumprimento da ordem.

Esse mecanismo só pode ser utilizado se houver expressa previsão legal, já que o juiz estará
manejando direitos que não lhe pertencem. Aliás, nas situações em que a multa se revela
imprestável, essa é a única forma executiva idônea, como ocorre no caso do devedor
insolvente.

ASSIM, AS SANÇÕES INDIRETAS NÃO PRECISAM ESTAR TIPIFICADAS, MAS AS SANÇÕES


PREMIATIVAS PRECISAM DE EXPRESSA PREVISÃO LEGAL.

27.3.4. Atuação Executiva Alheia à Vontade do Devedor


Existem casos em que a mera prolação da sentença já é suficiente para efetivar o direito
material do autor, embora a sentença não seja declaratória ou constitutiva. Tal sentença é
independente de atividade posterior do demandado ou da própria jurisdição.

É o que ocorre, v.g., com a ação de adjudicação compulsória, cabível quando o réu deixa de
adimplir a sua obrigação de outorgar a escritura definitiva. Assim, percebe-se que a própria
decisão já executa o direito.

Importante lembrar, também, que os auxiliares do juízo podem realizar atividades executivas
complementares, como remover obstáculos, localizar coisas etc.

Execução por particular: trata-se daqueles casos em que é necessário recorrer a um terceiro
para se obter aquilo que deveria ter sido feito pelo demandado. O problema nessa hipótese é
que o autor deverá pagar ao terceiro, para depois cobrar do réu. Assim, acabaria não havendo
a efetividade necessária, em especial se o réu continuar inadimplente e se tornar insolvente.
Evidentemente que não cabe esse tipo de atuação do devedor quanto às obrigações
infungíveis.

Execução por expropriação: ocorre nos casos em que é retirado patrimônio do demandado
para o pagamento de quantia em dinheiro ao autor. Nesses casos, inicialmente deve ser
realizada a penhora de bem do devedor, dinheiro em primeiro lugar. Não sendo possível, a
expropriação se dá:

a) Mediante alienação de bens;

b) Mediante adjudicação em favor do credor;

c) Mediante usufruto.

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A expropriação para o pagamento de quantia certa pode se dar através de outros meios, como
o desconto em folha e o desconto de rendas periódicas. Porém, estes só são permitidos para a
satisfação do crédito alimentar.

27.4. Princípios Executivos

27.4.1. Nulla Executio Sine Titulo


Não pode haver execução sem título que a embase. Ele indica a probabilidade da existência de
crédito contra o devedor, servindo de garantia a este. É esse o motivo pelo qual os títulos
executivos são típicos, numerus clausus, somente se qualificando como tal aquilo que a lei o
determine.

Assim, a doutrina afirma que a decisão interlocutória de concessão de tutela antecipada


cumpre o papel de título executivo, considerando-se que essa espécie de urgência só é
concedida quando há grande probabilidade de o direito alegado existir.

27.4.2. Patrimonialidade
A execução é sempre real, nunca pessoal, em razão de recair sobre os bens do executado.
Somente se excetua tal princípio a execução de alimentos, que permite a possibilidade de
prisão civil por dívida.

27.4.3. Desfecho Único e Disponibilidade da Execução


O desfecho normal é a satisfação do credor; o anômalo, a extinção do processo sem
julgamento de mérito, conforme alguma das situações do art. 267. Porém, de qualquer forma,
o princípio do desfecho único considera que a única forma de prestação que pode ser obtida
em execução é a satisfação do direito do exequente, nunca do executado, o qual, na melhor
das hipóteses, verá impedido o direito do credor.

É permitido ao exequente, em qualquer momento, desistir do processo, sendo dispensada a


concordância do executado (art. 569, caput).

Art. 569. O credor tem a faculdade de desistir de toda a execução ou de


apenas algumas medidas executivas.

Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o seguinte:


(Incluído pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)

a) serão extintos os embargos que versarem apenas sobre questões


processuais, pagando o credor as custas e os honorários advocatícios;
(Incluído pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)

b) nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do embargante.


(Incluído pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)

Desistência não é renúncia. Esta é instituto de direito material, irretratável. Porém, após a
desistência poderá o exequente ingressar novamente com ação idêntica, desde que comprove
o pagamento das custas processuais da primeira ação (art. 258).

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A admissibilidade da desistência da execução está condicionada à não realização no processo


de atos que não possam ser anulados sem prejuízo do devedor ou terceiro, prejuízo que
ocorreria, v.g., após a arrematação em hasta pública do bem.

Embargos à execução pendentes poderão ou não obstar a desistência:

a) Se versarem sobre matéria puramente processual, perderão o objeto e serão extintos


sem resolução de mérito, condenando-se o embargado ao pagamento de custas e
honorários;

b) Caso versem sobre matéria de mérito referente ao direito alegado pelo exequente, a
extinção dos embargos FICA CONDICIONADA À CONCORDÂNCIA DO EMBARGANTE, já
que o julgamento dos embargos favorável a este lhe dará um título judicial oponível
contra futura nova execução idêntica.

27.4.4. Utilidade
A penhora não será realizada quando restar evidente que o produto da execução dos bens
encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas de execução (art. 659, §
2º). O mesmo princípio impede que sejam aplicadas astreintes quando o juiz se convencer que
a obrigação se tornou materialmente impossível de ser cumprida.

Trata-se, como se vê, da necessidade de que a execução possibilite ao exequente algum


resultado prático.

EXECUÇÃO FUNDADA EM TÍTULO EXTRAJUDICIAL. FALECIMENTO DO


EXECUTADO SEM DEIXAR BENS AOS HERDEIROS.

Embora a inexistência ou a não localização de bens penhoráveis não


autorize a extinção do processo de execução, por perda do interesse
processual, o falecimento do executado, sem deixar bens, determina a
confirmação da sentença extintiva. Com o falecimento, as dívidas do
falecido apenas se transmitem nas forças da herança por ele instituída, de
modo que, inexistindo bens deixados aos herdeiros, inexiste pressuposto
para o desenvolvimento regular do processo. Unânime. (TRF1, 7T, Ap
0000143-79.1999.4.01.3000/AC, rel. Des. Federal Carlos Moreira Alves, em
27/07/2012.)

27.4.5. Menor Onerosidade


Princípio que instrui que, quando houver vários meios de satisfazer o direito do credor, o juiz
mandará que a execução se faça pelo modo menos gravoso ao devedor (art. 620).

Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o
juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor.

27.4.6. Lealdade Processual e Boa Fé Processual


Aplicam-se à execução todas as sanções previstas nos arts. 14, 17 e 18 do CPC. Porém, há atos
atentatórios à dignidade da justiça específicos da execução, que somente podem ser
aplicados ao executado. Eles estão previsto nos arts. 600 e 601.

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Existem quatro atos atentatórios à dignidade da justiça no art. 600:

a) Fraude à execução;

b) Ato de oposição maliciosa à execução, com o emprego de ardis e meios artificiosos;

c) Resistência injustificada às ordens judiciais;

d) Não indicação ao juiz de onde se encontram os bens passíveis de penhora após


intimado pelo juiz de ofício ou se a pedido do exequente no prazo de 05 dias: nesse
caso, o que enseja a aplicação da multa é o silêncio do executado. Isto porque se ele só
tiver bens impenhoráveis ou não tiver bens, deverá informar ao juiz. Nem sempre,
porém, será necessária a indicação, v.g., quando o exequente indica os bens ou
quando a execução é fundada em garantia real.

A multa aqui será de até 20% do valor atualizado do débito em execução, reversível ao credor
(art. 601). Ela pode ser cumulada com a do p. único do art. 14, ato atentatório contra a
jurisdição, já que esta reverte ao Estado, não havendo bis in idem.

O juiz poderá relevar a multa caso o executado se comprometa a não repetir a conduta E der
fiador idôneo que responda ao exequente pelo principal e acessórios.

27.4.7. Contraditório
O contraditório se aplica na execução, já que há uma série de questões incidente que devem
ser decididas pelo juiz após ouvidas as duas partes, como a penhora de bens, alienação
antecipada etc.

27.5. Partes na Execução

27.5.1. Introdução
Como se sabe, as partes na execução se chamam exequente e executado, tanto na fase como
no processo executivo autônomo. Observa-se, no CPC, tanto legitimação ordinária primária,
quando o sujeito legitimado a propor o processo executivo estiver indicado como credor no
próprio título; legitimação ordinária secundária, quando o sujeito que demanda só ganha
legitimação para tal por um ato ou fato superveniente ao surgimento do título; legitimação
extraordinária, na qual o sujeito litiga em nome próprio demandando interesse alheio.

O mesmo ocorre tanto no polo ativo quanto no passivo da relação processual.

27.5.2. Legitimação Ativa (Arts. 566 e 567)

27.5.2.1. Credor a quem a lei Confere o Título Executivo (art. 566, I)


É hipótese de legitimidade ordinária primária ou superveniente. Apesar de o CPC nomear o
exequente de credor, muitas vezes ele não o será, sendo isso indiferente. Basta, pois, que ele
figure no título como tal.

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Há casos, no entanto, em que o exequente não será o credor por disposição ou autorização
legal, originariamente, como ocorre com a possibilidade do advogado executar a sentença que
fixa os seus honorários (art. 23, Lei nº 8.906/94).

27.5.2.2. Legitimidade do MP (art. 566, II)


O MP poderá litigar como legitimado ordinário primário, quando ele for parte no processo
demandando interesse próprio, como ocorre quando ele processa um contratado para lhe
prestar uma obra pública.

Porém, a principal atuação do MP é como legitimado extraordinário, quando não era o titular
do direito material discutido durante a fase de conhecimento e continua não sendo durante a
de execução.

O simples fato do MP constar do título executivo não é suficiente para a aplicação do art. 566,
I, do CPC.

Isso porque, v.g., ele consta como credor no TCAC, mas não é o titular do direito material a ser
executado.

Nas ações coletivas para as quais o MP tem legitimidade ativa, sua legitimação para a execução
independe de sua participação como autor no processo em que foi formado o título. Trata-se,
na verdade, de um dever funcional do MP, que pode ser acionado concorrentemente ou
supletivamente à pessoa que propôs a ação coletiva.

Em relação à ACP fundada em direito individual homogêneo, o MP somente poderá executar a


sentença se no prazo de um ano do trânsito em julgado não se habilitarem interessados a
tanto (art. 100, CDC).

Há casos, ainda, em que o MP não tinha legitimidade ativa para figurar na fase de
conhecimento, porém o terá, por força de lei, para a de execução (legitimação extraordinária
exclusiva para a execução), como é o caso da Ação Popular, em que a legitimidade surgirá caso
o autor ou qualquer outro cidadão não promova a execução em 60 dias da decisão de segundo
grau.

27.5.2.3. Legitimidade do Espólio, Herdeiros e Sucessores (art. 567, I)


É uma legitimidade ativa superveniente causa mortis. Seus requisitos legais são diferentes, a
depender do momento da sucessão:

a) Antes de iniciada a execução, basta a demonstração, por provas suficientes, da


legitimidade;

b) Após iniciada a execução, em tese deverá ser instaurado um processo de habilitação


incidente (arts.1.055 a 1.062, CPC). Em tese porque o sincretismo tem dispensado o
processo incidental.

Espólio é a massa patrimonial deixada pelo decujus, que, apesar de não ter personalidade
jurídica, tem capacidade de ser parte, sendo representado pelo inventariante e,
excepcionalmente, pelos herdeiros (art. 12, V, § 1º).
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Mesmo que o inventariante atue como legitimado, poderão os herdeiros e sucessores


participar do processo como assistentes litisconsorciais.

Na hipótese de o inventariante ser dativo, haverá litisconsórcio necessário entre todos os


herdeiros e sucessores (art. 12, § 1º).

27.5.2.4. Legitimidade do Cessionário e dos Subrrogados (art. 567, I e II)


O cessionário deverá provar em sua petição inicial ou em seu requerimento de execução de
sentença sua condição de legitimado ordinário secundário, juntando o instrumento da cessão
de crédito. O mesmo ocorre com o subrrogado. Ambos podem suceder ao
cedente/subrrogante no processo, independentemente de anuência, bastando provar sua
condição.

Caso não o faça, o demandante originário continuará no processo, porém com uma
legitimação extraordinária superveniente, já que estará defendendo direito alheio.

27.5.3. Legitimação Passiva

Art. 568. São sujeitos passivos na execução: (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)

I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo; (Redação dada pela


Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor; (Redação dada pela


Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

III - o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a


obrigação resultante do título executivo; (Redação dada pela Lei nº 5.925,
de 1º.10.1973)

IV - o fiador judicial; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

V - o responsável tributário, assim definido na legislação própria. (Redação


dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

27.5.3.1. Sujeito que Figura como Devedor no Título (art. 568, I)


Trata-se da legitimação ordinária primária, sendo irrelevante, para fins de execução, se o
executado é o sujeito que realmente deve.

Devedor é todo sujeito que esteja, à luz da lei civil ou comercial, obrigado a solver a obrigação,
ainda que possa afirmar não ser o devedor por não ter participado como parte principal na
relação de direito material da qual surgiu a dívida.

27.5.3.2. Legitimidade do Responsável Secundário (art. 568, IV e V)


Esses dispositivos prevêem a legitimidade passiva do fiador judicial e do responsável tributário,
ambos sujeitos que não são devedores, mas respondem com seus bens pela satisfação da
obrigação.

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Sendo esses sujeitos responsáveis por dívida que não é sua, é natural que sejam considerados
partes na demanda executiva, visto que serão os maiores interessados em apresentar defesa
para evitar a expropriação de seu bem.

Para que seja demonstrada a legitimação do responsável secundário já com a distribuição da


inicial ou com o protocolo do requerimento, é imprescindível que o exequente indique nessas
peças processuais bens do patrimônio do responsável secundário, o que justificará sua
presença no polo passivo da demanda.

Poderá ocorrer supervenientemente, com a efetiva constrição de bem que não pertence ao
executado, quando o terceiro deverá ser citado para que participe da relação processual.

27.5.3.3. Legitimidade Passiva do Espólio, Herdeiros e Sucessores (art. 568, II)


Aplicam-se aqui todas as observações da legitimação ativa. Porém, lembrar que os herdeiros
somente respondem pelas dívidas do decujus no limite da herança, ao que se chama de
BENEFÍCIO DE INVENTÁRIO.

27.5.3.4. Novo Devedor (art. 568, III)


É legitimação ordinária superveniente por ato inter vivos, cuidando dos fenômenos da
assunção de dívida ou cessão de crédito.

Essa transferência da dívida a um novo sujeito, que não o devedor originário, exige a
concordância expressa do credor (art. 299, CC/02), porque, a partir do momento em que se
modifica o devedor, automaticamente modifica-se qual patrimônio responderá pela dívida.

27.5.3.5. Fiador Judicial (art. 568, IV)


Trata-se de um terceiro no processo judicial que presta uma garantia em favor de uma das
partes, sendo ela real ou fidejussória. É o caso, v.g., daquele que presta caução para que
outrem obtenha a tutela provisória.

Sua legitimidade é extraordinária, prevista, pois, em lei. Logo, seu nome não precisa constar da
sentença, respondendo ele em nome próprio por dívida alheia.

O fiador pode se valer do benefício de ordem, indicando à penhora bens do devedor antes que
seus próprios bens sejam objeto de constrição judicial (art. 595, caput, CPC).

O fiador, convencional ou judicial, poderá executar o afiançado no mesmo processo em que


ocorreu o pagamento (art. 592, p. único).

Art. 595. O fiador, quando executado, poderá nomear à penhora bens livres
e desembargados do devedor. Os bens do fiador ficarão, porém, sujeitos à
execução, se os do devedor forem insuficientes à satisfação do direito do
credor.

Parágrafo único. O fiador, que pagar a dívida, poderá executar o afiançado


nos autos do mesmo processo.

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Essa afirmação deve ser interpretada corretamente, já que a execução no mesmo processo
somente se dará se o afiançado tiver figurado no litisconsórcio passivo junto ao fiador. Se o
fiador tiver sido executado direta e individualmente, após realizar o pagamento deverá citar o
devedor, integrando-o à relação jurídico-processual, o que faz surgir um novo processo.

27.5.3.6. Responsável Tributário (art. 568, V, CPC e art. 4º, V, LEF)


A responsabilidade tributária pode ser do contribuinte, aquele que tem relação pessoal e
direta com o fato gerador, ou de terceiros, que terão a obrigação de saldar a dívida por força
de lei.

Na responsabilidade tributária por transferência, o contribuinte deixa de cumprir sua


obrigação por alguma razão, mas não é originariamente ignorado, transferindo-se a
responsabilidade somente posteriormente, por ato superveniente.

Na responsabilidade tributária por substituição, o contribuinte é desde logo afastado, não


chegando nem mesmo a ser considerado sujeito passivo, sendo que a própria lei,
independentemente de um fato posterior, atribui a responsabilidade a quem não é
contribuinte.

Não é necessário que o responsável tributário seja expressamente indicado na Certidão de


Dívida Ativa. Isso porque acabaria se tornando devedor principal.

O sócio-gerente somente será tributariamente responsabilizado quando as obrigações


tributárias forem inadimplidas como resultado de atos praticados com excesso de poderes ou
infração de lei, contrato social ou estatuto.

27.5.4. Intervenção de Terceiros na Execução

27.5.4.1. Intervenções Típicas


a) Oposição: não é cabível pois na fase de execução já não há nenhuma discussão a
respeito de quem tem o direito ao bem de vida pretendido pelo exequente, discussão
que já fora encerrada com a coisa julgada formal da fase de conhecimento;

b) Nomeação à autoria: incabível, já que o devedor já se encontra determinado no título


executivo;

c) Denunciação da lide: incabível;

d) Chamamento ao processo: incabível;

e) Assistência: é admitida na execução, independentemente de terem sido opostos


embargos à execução.

27.5.4.2. Intervenções Atípicas


Sempre que um terceiro ingressa na demanda executiva durante a fase de desapropriação do
bem com a intenção de adquiri-lo, estar-se-á diante de uma espécie atípica de intervenção de
terceiros. É o que ocorre na adjudicação, na arrematação, na alienação por iniciativa particular

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e quando outros credores ingressarem na demanda executiva para discutir o direito de


preferência.

27.6. Competência na Execução

Art. 475-P. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: (Incluído pela


Lei nº 11.232, de 2005)

I – os tribunais, nas causas de sua competência originária; (Incluído pela Lei


nº 11.232, de 2005)

II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição; (Incluído


pela Lei nº 11.232, de 2005)

III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal


condenatória188, de sentença arbitral ou de sentença estrangeira. (Incluído
pela Lei nº 11.232, de 2005)

Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste artigo, o exequente


poderá optar pelo juízo do local onde se encontram bens sujeitos à
expropriação ou pelo do atual domicílio do executado, casos em que a
remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem. (Incluído
pela Lei nº 11.232, de 2005)

27.6.1. Competência da Execução de Título Executivo Judicial

27.6.1.1. Competência Executiva dos Tribunais (art. 475-P, I)


É de competência executiva dos tribunais todas as ações de competência originária que
exijam uma fase procedimental posterior à prolação da decisão para satisfazer o direito
material. A ÚNICA EXCEÇÃO é a decisão proferida no processo de homologação de sentença
estrangeira, cuja competência executiva é do juiz federal (art. 109, X, CR/88).

É possível a delegação da competência do tribunal para o juízo de primeiro grau, para que
este pratique os atos materiais necessários ao bom desenvolvimento da execução.

Essa delegação deve ser interpretada restritivamente, referindo-se apenas aos atos materiais
de execução, e não aos atos decisórios, que são indelegáveis.

O STJ, no entanto, tem ignorado isso no que se refere à ação rescisória. Ele tem afirmado que
cabe ao juízo de primeiro grau cumprir seu acórdão, não obstante ser uma ação originária:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. ALEGADA CONTRARIEDADE A


DISPOSITIVOS DE REGIMENTO INTERNO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 399

188
Sobre essa hipótese:
SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. EXECUÇÃO DE COMPETÊNCIA DO JUÍZO CÍVEL. COMPETÊNCIA
FEDERAL.
Sendo competência federal crime praticado no exercício ou pretexto de exercício de função pública
federal, a sentença penal condenatória será executada no juízo cível federal, conforme disposto no art.
63 do CPP. Unânime. (TRF1, 6T, Ap 2007.34.00.015255-2/DF, rel. Des. Federal Daniel Paes Ribeiro, em
26/03/2012.)
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DO EXCELSO PRETÓRIO. OFENSA AO ART. 575, INCISO I, DO CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL. NÃO OCORRÊNCIA. EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL
ORIUNDO DE AÇÃO RESCISÓRIA. COMPETÊNCIA. JUÍZO DE 1.º GRAU.

1. Dispositivos de regimento interno do Tribunal a quo não se enquadram


no conceito de lei federal, capaz de ensejar a abertura da via especial.
Incidência da Súmula n.º 399/STF. Precedentes.

2. A execução do título executivo emanado da ação rescisória julgada


procedente deve ser realizada pelo juízo NO QUAL SE INICIOU a demanda
em que foi proferida a decisão rescindida, nos termos do art. 575, inciso II,
do Código de Processo Civil, de modo a atender os princípios da
instrumentalidade, da celeridade, da economia e da efetividade do
processo.

3. Promovida no âmbito dos Tribunais, a execução de acórdão que rescindiu


o título executivo oriundo de ação ordinária se mostra extremamente
dispendiosa para a parte, mormente em situações que envolvam valores
ilíquidos, exigindo-se, para maior efetividade da prestação jurisdicional, o
envio dos autos ao juízo de 1.º grau.

Precedentes.

4. Recurso especial desprovido.

(STJ, REsp 860.634/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 16/12/2010, DJe 07/02/2011)

O TRF1 tem decisão no sentido de ser sua a competência:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO.


COMPETÊNCIA ABSOLUTA. EXECUÇÃO. AÇÃO RESCISÓRIA. REMESSA DOS
AUTOS AO JUÍZO DE 1º GRAU. IMPOSSIBILIDADE.

1. Nos termos do art. 475-P, I, do CPC, a competência para o cumprimento


de acórdão proferido em ação rescisória é do Tribunal que o proferiu.

2. Por tratar-se o caso de competência funcional, de natureza absoluta, não


cabe a sua delegação ao juízo que processou, em primeiro grau, a causa em
que proferido o acórdão rescindido. Precedente do STJ.

3. Agravo regimental não provido.

(TRF1, AGRAR 2002.01.00.033920-7/MG, Rel. Desembargador Federal Luiz


Gonzaga Barbosa Moreira, Rel.Acor. Desembargador Federal Antônio
Ezequiel Da Silva, Primeira Seção,e-DJF1 p.30 de 18/08/2008)

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27.6.1.2. Competência do Juízo que Processou a Causa no Primeiro Grau de Jurisdição (art.
475-P, II)
Trata-se da regra geral de competência para os títulos judiciais, estabelecendo ser competente
para executá-los o juízo que tenha sido o competente para a fase de conhecimento no
processo sincrético (juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição).

O art. 475-P, p. único, traz hipótese de foro concorrente à regra geral: poderá o exequente
optar por ajuizar a execução também no local onde se encontram os bens que serão sujeitos
à expropriação ou no atual domicílio do executado.

Caso o exequente queira que a execução se dê no foro concorrente à regra geral, deverá
requerer de forma fundamentada a remessa dos autos ao novo juízo. Poderá o executado, no
entanto, alegar exceção de incompetência, caso não preenchidos os requisitos legais.

Vê-se, pois, que se trata de uma exceção à regra da perpetuatio jurisdictionis prevista no art.
87, já que modificações no estado de fato ou/e de direito poderão causar modificação
superveniente de competência. V.g., A processou B que morava em BH. Tendo este se mudado
para SP, A poderá executar, após o ganho de causa, em SP. Isso desde que o requerimento da
execução em outro local se dê logo no início dessa fase. NÃO SE PODE MODIFICAR O LOCAL
DA EXECUÇÃO APÓS JÁ TER ELA SIDO INICIADA.

O requerente deverá peticionar no juízo em que se formou o título, o qual será responsável
pelo envio dos autos ao novo juízo.

EXECUÇÃO DE SENTENÇA. COMPETÊNCIA FUNCIONAL ABSOLUTA.

É absoluta a competência funcional prevista no art. 475-P, II, do CPC,


referente à execução de sentença no juízo em que se processou a causa no
primeiro grau de jurisdição. Unânime. (TRF1, 4S, CC 0049092-
93.2011.4.01.0000/MG, rel. Juiz Federal Cleberson José Rocha (convocado),
4S, em 19/10/2011.)

27.6.1.3. Competência para a Fase de Satisfação de Sentença Arbitral, Decisão


Homologatória de Sentença Estrangeira e Sentença Arbitral (art. 475-P, III)
Será competente o juízo cível que seria competente para conhecer o processo de
conhecimento se não existisse título executivo.

A competência para a execução da sentença arbitral será sempre relativa, podendo ser
modificada pelas hipóteses de prorrogação de competência já estudadas, com especial ênfase
para a cláusula eletiva de foro.

A sentença penal condenatória deverá ser executada concorrentemente entre o foro do local
em que foi cometido o delito e o foro do domicílio do executado, ainda que tenha sido
proferida perante a Justiça Federal, salvo se existente alguma das hipóteses o art. 109 da
CR/88.

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27.6.2. Competência da Execução de Título Extrajudicial


O art. 576 determina que a competência para a execução de título extrajudicial seguirá as
regras do processo de conhecimento. São apontadas as seguintes regras, que devem ser
definidas de acordo com o caso concreto:

a) Foro de eleição;

b) Local do cumprimento da obrigação;

c) Foro do domicílio do executado.

Em relação à execução de títulos de crédito, a existência de protesto não tem o condão de


modificar a regra de competência, considerando que o protesto é providência de natureza
meramente administrativa.

27.6.3. Competência no Processo de Insolvência Civil


A competência para a falência e para a insolvência civil, de acordo com a jurisprudência do STJ,
será sempre da Justiça estadual, ainda que presentes órgãos e entes federais como credores.
Em relação à competência territorial, deverá ser proposta no domicílio do devedor.

Se vários forem seus domicílios, criando situação de conexão entre as ações propostas, firmar-
se-á a competência pela prevenção do juízo.

27.6.4. Inexistência de Conexão entre a Execução Coletiva e a Individual


STJ - Foro da execução individual pode ser distinto do foro da ação coletiva

Execuções individuais de sentenças condenatórias em ações coletivas não


justificam a prevenção do órgão julgador que examinou o mérito da ação
coletiva. Esse foi o entendimento da Terceira Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), ao analisar um recurso do Ministério Público Federal (MPF). A
relatora é a ministra Nancy Andrighi.

A prevenção é a reserva de competência para um juiz ou órgão julgador, em


razão de ter tratado de determinada matéria antes dos demais. No caso, a
ação coletiva foi proposta pelo MPF contra uma instituição de ensino em
Goiás. A ação visava impedir que a instituição retivesse documentos
necessários à transferência de alunos para outras instituições até o
pagamento da renovação de matrícula. A ação teve êxito e a decisão
transitou em julgado.

Uma das ex-alunas buscou a execução do título executivo judicial


decorrente da ação coletiva. A execução foi livremente distribuída ao juízo
de direito da 3ª Vara da Seção Judiciária de Goiás, que, no entanto,
encaminhou os autos para a 4ª Vara, na qual tramitou a ação coletiva. O
juízo da 3ª Vara alegou que as disposições do Código de Defesa do
Consumidor (CDC) que tratam da indenização de vítimas com indenização já
fixada em sentença não poderiam suspender os efeitos do Código de
Processo Civil (CPC), que define que a execução deve ser examinada pelo
juízo que decidiu primeiro sobre a causa.

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Já o juízo da 4ª Vara afirmou que a distribuição deveria ocorrer por sorteio,


pois não haveria prevenção no caso. Por isso, suscitou um conflito de
competência negativo (quando os órgãos julgadores consideram não ter
competência para tratar da matéria) em relação ao juízo da 3ª Vara da
mesma seção.

O Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF1) considerou que os


processos deveriam ser julgados pela 4ª Vara, que julgou primeiro a
matéria. Com base no CPC, o tribunal regional afirmou que as execuções
individuais de ações coletivas deveriam ser propostas no mesmo juízo no
qual foi proferida a sentença condenatória.

O MPF recorreu. Em seu voto, a ministra Nancy Andrighi considerou que a


aplicação dada pelo TRF1 aos artigos do CPC tem um pressuposto razoável.
“As ações coletivas, contudo, apresentam particularidades que tornam
complexa a aplicação das regras do CPC à execução judicial”, ponderou a
relatora.

A ministra apontou que ações coletivas têm alto grau de generalidade e,


muitas vezes, não estabelecem os direitos de cada um dos interessados. A
execução, entretanto, deve demonstrar nexo causal (relação de causa e
efeito) entre o dano genérico e os prejuízos realmente suportados. “Não se
trata aqui de somente proceder à liquidação de uma sentença ilíquida,
porque o grau de indeterminação é muito maior”, asseverou. Assim, a
ministra concluiu que inexiste interesse que justifique a prevenção do juízo
que examinou o mérito da ação coletiva.

Quanto aos artigos do CDC, a ministra relatora argumentou que a legislação


se omitiu quanto à execução individual em ações coletivas, sendo necessária
a interpretação sistemática para sanar a lacuna. Destacou que o artigo 101
da norma permite ao consumidor escolher o foro de seu domicílio para
ajuizar a ação.

Para a ministra Nancy Andrighi, não faz sentido negar tal direito na ação de
execução. Já o artigo 98 do mesmo código também admitiria a competência
do foro da liquidação da sentença ou da ação condenatória para a ação
individual, ou seja, os dois podem ser diferentes. “Qualquer conclusão que
imponha o deslocamento da competência para o julgamento da execução
individual ao juízo no qual foi prolatada a sentença condenatória coletiva
dificulta o acesso ao Judiciário”, concluiu a relatora. Com essas
considerações, a Turma definiu a competência para a 3ª Vara da Seção
Judiciária de Goiás.

27.7. Responsabilidade Patrimonial

27.7.1. Responsabilidade Patrimonial


A responsabilidade patrimonial é instituto de direito processual, conceituando-se como a
possibilidade de sujeição de um determinado patrimônio à satisfação do direito substancial do
credor. Já obrigação é instituto de direito material, representado por uma situação jurídica de

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desvantagem. A responsabilidade surge somente com a não satisfação do crédito obrigacional,


já que somente a partir do inadimplemento da obrigação é que os bens do devedor são alvo
de execução.

É por isso que se fala que a obrigação é estática, gerando uma mera expectativa de satisfação,
enquanto a responsabilidade patrimonial é dinâmica, representada pela forma jurisdicional de
efetiva satisfação do direito.

A responsabilidade patrimonial somente tem razão de ser discutida quando há o benefício de


ordem entre devedores, já que se for apenas um devedor ou se forem vários, solidariamente,
eles serão responsáveis primários diretos.

Não existe responsabilidade pessoal no processo civil, ela sempre recai sobre bens, nunca
sobre pessoa. A prisão civil por alimentos não é exceção a isso, já que ela não satisfaz a
obrigação, é apenas um meio de coerção.

27.7.2. Bens que Respondem pela Satisfação na Execução


Determina o art. 591 que o devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros.

Bens presentes, de acordo com a melhor doutrina, são aqueles existentes ao tempo da
instauração do processo executivo ou após o trânsito em julgado da decisão que forma o título
executivo judicial.

Bens futuros são os adquiridos durante o seu trâmite.

Apesar de o artigo não se referir, também respondem os bens passados, aqueles que não
estão mais no patrimônio do executado quando do início da execução, mas em função de
fraude à execução.

27.7.3. Impenhorabilidade de Bens


De início, tenha-se em mente que podem ser penhorados os frutos e rendimentos de bens
inalienáveis, à falta de outros, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia (art.
650, CPC).

27.7.3.1. As Hipóteses de Impenhorabilidade no Direito Brasileiro (art. 649)


A impenhorabilidade é instituto que visa a garantir o mínimo existencial ao ser humano, e, por
conseguinte, a dignidade da pessoa humana.

Veja que a impenhorabilidade não impede a indisponibilidade,

INDISPONIBILIDADE DE BENS. FUMUS BONI IURIS. PERICULUM IN MORA


PRESUMIDO. BEM DE FAMÍLIA.

O caráter jurídico de bem de família de imóvel não tem a força de obstar a


determinação de sua indisponibilidade, em ação civil pública por ato de
improbidade, pois tal medida não implica a expropriação do bem.
Precedentes do STJ. Unânime. (TRF1, 4T, AI 0011327-
88.2011.4.01.0000/MG, rel. Des. Federal Olindo Menezes, em 13/11/2012.)

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Impenhoráveis são os bens que, em nenhuma hipótese, responderão pela satisfação do direito
material, salvo nas seguintes exceções:

a) Penhorabilidade de salários e demais vencimentos pela satisfação de créditos


alimentícios (art. 649, IV, c/c § 2º);

b) Penhorabilidade do bem financiado, quando se está cobrando crédito utilizado para


pagar o próprio bem (art. 649, § 1º);

c) Penhorabilidade do bem de família em razão do crédito de trabalhadores da própria


residência e respectivas contribuições previdenciárias (art. 3º, I);
Hipóteses da Lei nº 8.009/90

d) Pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à


aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do
respectivo contrato (art. 3º, II);

e) Pelo credor de pensão alimentícia (art. 3º, IV); Sobre essa hipótese:

PENSÃO ALIMENTÍCIA. IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA.

A pensão alimentícia é prevista no art. 3º, III, da Lei n. 8.009/1990 como


hipótese de exceção à impenhorabilidade do bem de família. E tal
dispositivo não faz qualquer distinção quanto à causa dos alimentos, se
decorrentes de vínculo familiar ou de obrigação de reparar danos. Na
espécie, foi imposta pensão alimentícia em razão da prática de ato ilícito –
acidente de trânsito –, ensejando-se o reconhecimento de que a
impenhorabilidade do bem de família não é oponível à credora da pensão
alimentícia. Precedentes citados: EREsp 679.456-SP, DJe 16/6/2011, e REsp
437.144-RS, DJ 10/11/2003. REsp 1.186.225-RS, 3T, Rel. Min. Massami
Uyeda, julgado em 4/9/2012.

f) Para cobrança de IPTU, ITR, taxas e contribuições devidas em função do imóvel


familiar (art. 3º, IV);

g) Para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real (art. 3º, V);
sobre essa hipótese:

IMPENHORABILIDADE. BEM DE FAMÍLIA.

A exceção prevista no art. 3º, V, da Lei n. 8.009/1991, que deve ser


interpretada restritivamente, somente atinge os bens que foram dados em
garantia de dívidas contraídas em benefício da própria família. No caso, a
hipoteca foi constituída em garantia de dívida de terceiro, o que não
afasta a proteção dada ao imóvel pela lei que rege os bens de família.
Precedentes citados:REsp 268.690-SP, DJ 12/3/2001; REsp 1.022.735-RS, DJe
18/2/2010, e AgRg no AgRg no Ag 1.094.203-SP, DJe 10/5/2011. REsp
997.261-SC, 4T, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/3/2012.

h) Por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação (art. 3º, VII).
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Bem de família é o imóvel residencial próprio do casal ou da unidade familiar, considerando-se


como residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia
permanente. De acordo com a Lei nº 8.008/90:

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é


impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial,
fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou
pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas
hipóteses previstas nesta lei.

Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se


assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza
e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que
guarnecem a casa, desde que quitados.

O STJ, inclusive, estendeu a impenhorabilidade do bem de família para o caso do imóvel que é
locado, mas cujo aluguel seja revertido para a subsistência ou moradia da família:

Súmula 486, STJ: “É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a
terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família”. A razão dessa súmula é simples: se o imóvel de propriedade do
executado está sendo locado, mas comprovadamente a renda dessa locação reverta em favor
de sua subsistência, é natural que tal bem seja mantido sob o pálio da impenhorabilidade, caso
contrário a finalidade de garantia do mínimo existencial seria subvertida por simples
preciosidade processual.

Confirmando o teor sumular:

PENHORA. BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE.

A impenhorabilidade prevista na Lei 8.009/1990 se estende ao único imóvel


do devedor, ainda que este se encontre locado a terceiros, revertendo a
renda auferida com o aluguel para custear pagamento de moradia em outro
imóvel. Precedentes. Unânime. (TRF1, 7T, Ap 2008.38.00.007875-7/MG, rel.
Des. Federal Reynaldo Fonseca, em 24/07/2012.)

Por outro lado, se o imóvel puder ser fracionado, sem que a parte em que reside a pessoa
perca sua função de moradia, poderá ele ser penhorado, conforme pacificado entendimento
do STJ:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. MATÉRIA


CONSTITUCIONAL. IRREGULARIDADE FORMAL. NÃO IMPUGNAÇÃO DAS
BASES DA DECISÃO AGRAVADA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 182/STJ. REEXAME
DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE SÚMULA 7/STJ. BEM DE FAMÍLIA. IMÓVEL.
DESMEMBRAMENTO. PENHORA DE FRAÇÃO. POSSIBILIDADE.

1. Refoge à competência deste Superior Tribunal de Justiça, a quem a Carta


Política (art. 105, III) confia a tarefa de unificação do direito federal, apreciar
violação de dispositivo constitucional.

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2. Não se conhece de agravo regimental por falta do requisito da


regularidade formal se o agravante não ataca, de forma específica, as bases
da decisão agravada. Aplicação da súmula 182 do Superior Tribunal de
Justiça.

3. Tendo o Tribunal a quo consignado a possibilidade de fracionamento do


imóvel, a revisão dessa circunstância é vedada em sede de recurso especial,
ante o óbice da súmula 7 desta Corte.

4. "Admite-se, no entanto, a penhora de parte do imóvel quando possível


o seu desmembramento sem descaracterizá-lo, levando em consideração,
com razoabilidade, as circunstâncias e peculiaridades do caso" (REsp
326.171/GO, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4ª Turma, DJ
22/10/2001).

5. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no Ag 1130780/RS, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA


TURMA, julgado em 23/03/2010, DJe 12/04/2010)

27.7.3.1.1. Bens Inalienáveis e os Declarados, por Ato Voluntário, Não Sujeitos à Execução
Se o bem for inalienável por disposição de últimas vontades, não afasta a penhorabilidade por
ato/dívida do decujus.

27.7.3.1.2. Móveis, Pertença e Utilidades Domésticas (art. 649, II)


São impenhoráveis, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns
correspondentes a um médio padrão de vida. É errado interpretar médio padrão de vida como
se fosse “manutenção do padrão de vida do executado”. O que deve ser preservada é a
dignidade da pessoa humana.

A jurisprudência atual vem incluindo entre os bens impenhoráveis aqueles que, apesar de não
serem imprescindíveis ao funcionamento da residência, mostram-se necessários ao lazer do
executado. Isso porque o lazer e um direito social do cidadão (art. 6º, CR/88).

27.7.3.1.3. Vestuários e Pertences de Uso Pessoal (art. 659, III)


Salvo se de elevado valor, a ser aferido pelo juiz no caso concreto.

27.7.3.1.4. Vencimentos, Salários, Remunerações, Pensões, Proventos, Ganhos do Trabalhador


Autônomo e Honorários de Profissional Liberal (art. 659, IV)
BLOQUEIO DE ATIVOS. VIA BACENJUD. CONTA SALÁRIO.
IMPENHORABILIDADE.

É ilegítima a penhora de percentual de 70% sobre a remuneração de


professor percebida pelo agravado e depositada em conta-corrente, sob
pena de violação ao disposto no art. 649, inciso IV do CPC. Precedentes.
Unânime. (TRF1, 5T, AI 0013637-67.2011.4.01.0000/MG, rel. Juiz. Federal
Ricardo Machado Rabelo (convocado), em 13/02/2012.)

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27.7.3.1.5. Bens Necessários ou Úteis ao Exercício Profissional (art. 659, V)


Está limitado às pessoas físicas e às ME e EPP, segundo o STJ. Para se determinar quais
instrumentos são necessários e úteis, deve-se levar em conta os seguinte critérios, de acordo
com Araken de Assis:

a) Uso: os instrumentos devem ser utilizados no dia a dia do profissional, e não


esporadicamente;

b) Quantidade razoável:

c) Utilidade ou necessidade: deve haver uma ligação entre os bens e a profissão exercida
pelo devedor, devendo restar devidamente comprovada que a utilização de tais bens
se presta à realização das tarefas compreendidas em seu trabalho.

27.7.3.1.6. Seguro de Vida, Materiais Necessários para Obra em Andamento (art. 659, VI e VII)
Sem muito o que dizer sobre essa hipótese.

27.7.3.1.7. Pequena Propriedade Rural Trabalhada pela Família, Recursos Públicos Ligados à
Aplicação Compulsória em Educação, Saúde e Assistência Social, Valores Depositados em
Caderneta de Poupança até 40 SM e os Recursos do Fundo Partidário (art. 659, VIII, IX, X e XI)
Sobre os valores depositados em poupança:

PENHORABILIDADE DA POUPANÇA. DEVEDOR TITULAR DE VÁRIAS


CADERNETAS.

A impenhorabilidade prevista no art. 649, X, do CPC refere-se ao montante


de 40 salários mínimos, considerando a totalidade do valor depositado em
caderneta de poupança, independentemente do número de cadernetas
titularizadas pelo devedor. No caso, o executado tinha seis cadernetas de
poupança. O tribunal a quo determinou a penhora de uma das cadernetas
de poupança ao fundamento de que o devedor mantinha várias aplicações
de mesma natureza, sem considerar o valor total dos depósitos. A Min.
Relatora asseverou ser indiferente o número de cadernetas de poupança
titularizadas pelo devedor, pois o critério fixado por lei, apesar de ambíguo,
diz respeito ao total do montante depositado. Registrou, ainda, que o limite
de 40 salários mínimos foi adotado como o valor mínimo necessário para
manutenção digna do executado. Assim, para a realização da penhora de
poupança, deve-se apurar o valor de todas as aplicações em caderneta de
poupança titularizadas pelo devedor e realizar a constrição apenas sobre o
valor que exceder o limite legal de 40 salários mínimos. REsp 1.231.123-SP,
3T, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 2/8/2012.

27.7.3.1.7. Termo Final de Alegação, como Matéria de Defesa, da Impenhorabilidade de Bem


O termo final para alegação da impenhorabilidade do bem que se quer constrigir, em sendo o
bem móvel ou imóvel, é a arrematação pelo terceiro. Isso para proteger o terceiro e para não
diminuir a confiança dos eventuais participantes das hastas públicas na sistemática de
aquisição de bens executados.
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Sobre essa hipótese:

PENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. ALEGAÇÃO TARDIA E ÔNUS DA


PROVA

A IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA, POR SER MATÉRIA DE


ORDEM PÚBLICA, PODE SER ARGUIDA A QUALQUER TEMPO ANTES
DA ARREMATAÇÃO DO IMÓVEL. Caso comprovada a má-fé do devedor
em fazer a alegação tardia, resolve-se na redistribuição dos ônus
sucumbenciais, nos termos do art. 22 do CPC. Para rebater o
questionamento acerca da impossibilidade da alegação da
impenhorabilidade do bem de família apenas na apelação, pois a matéria
estaria preclusa, o Min. Relator fez distinção entre duas hipóteses. Na
primeira, o assunto já foi alegado e decidido no processo, situação na qual
há preclusão da matéria (art. 473 do CPC). Na segunda, a alegação é feita
tardiamente, após a defesa de mérito do devedor. Nesse caso, por ser
matéria de ordem pública, a impenhorabilidade do bem de família poderá
ser conhecida a qualquer tempo antes da arrematação do imóvel. A
depender da situação do caso concreto, comprovada a má-fé do devedor e
conduta voltada para o prolongamento da lide, poderá haver redistribuição
dos ônus sucumbenciais, nos termos do art. 22 do CPC. Outra questão
debatida no recurso foi o ônus da prova sobre a impenhorabilidade do bem
de família. O Min. Relator afirmou que a regra do art. 333 do CPC é voltada
para os casos nos quais o magistrado não está plenamente convencido
sobre as alegações das partes, ou seja, somente há necessidade de a solução
do litígio se apoiar no ônus da prova quando não houver provas dos fatos ou
quando essas se mostrarem insuficientes a que o julgador externe com
segurança a solução que se lhe afigure a mais acertada. No caso, o Tribunal
decidiu sobre a impenhorabilidade do bem de família com base nas provas
já constantes nos autos, razão pela qual não se mostra relevante a discussão
sobre o ônus da prova no caso concreto. Apreciando esses e outros
assuntos, a Turma conheceu parcialmente do recurso e, nessa extensão,
negou-lhe provimento. Precedentes citados: REsp 976.566-RS, DJ 5/4/2010;
REsp 467.246-RS, DJ 12/8/2003; REsp 262.654-RS, DJ 20/11/2000; REsp
282.354-MG, DJ 19/3/2001, e AgRg no Ag 927.913-RJ, DJ 17/12/2007. REsp
981.532-RJ, 4T, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/8/2012

27.7.4. Responsabilidade Patrimonial ou Secundária (art. 592)


A responsabilidade do devedor será primária quando ele corresponder ao obrigado no plano
do direito material. Será secundária quando, por algum motivo, ele guardar alguma relação
com o débito do executado, e desde que previsto em lei.

27.7.4.1. Bens do Sucessor a Título Singular, Tratando-se de Execução Fundada em Direito


Real ou Obrigação Reipersecutória (art. 592, I)
Obrigação reipersecutória é aquela objeto de um processo em que se pleiteia a restituição de
bens que estejam fora do patrimônio do autor ou em poder de terceiros. O autor pede a
restituição do que é dele ou a entrega daquilo que a ele é devido. Assim, os bens que o

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herdeiro houver recebido a título singular objeto de execução fundada nesses direitos
sujeitam-se à responsabilização.

27.7.4.2. Bens do Sócio, nos Termos da Lei (art. 592, II)


A lei geralmente tem caráter empresarial. Esse tipo de responsabilização poderá ocorrer em
função do tipo societário adotado ou da desconsideração da personalidade jurídica.

Na primeira, enquadram-se as sociedades em nome coletivo, o sócio comanditado da


sociedade em comandita simples, os sócios da sociedade cujo capital não foi integralizado e as
sociedades em comum.

Eles responderão subsidiariamente aos bens da sociedade e solidariamente entre si.

27.7.4.2.1. Desconsideração da Personalidade Jurídica


Existem vários diplomas legais que a prevêem. Primeiro, há que se lembrar que há duas
teorias:

a) Teoria menor: se dá pela simples prova de insolvência, não sendo necessário se


imiscuir no ânimo do agente. É chamada de teoria menor pois os requisitos para a sua
aplicação são mais brandos;

b) Teoria maior: exige o abuso da gestão, a prova da confusão patrimonial ou desvio de


finalidade, mediante dolo de utilizar a sociedade para fraude.

Assim, tem-se a desconsideração legal nos seguintes casos:

a) CDC, art. 28: quando a pessoa jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores;

b) Lei nº 9.605/98, art. 4º (PNMA): autoriza a desconsideração sempre que a


personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do
meio ambiente (se aplica às sanções pecuniárias de natureza administrativa);

c) Lei nº 12.529/11 (Infrações contra a Ordem Econômica): autoriza a desconsideração da


personalidade jurídica quando houver abuso de direito, excesso de poder, infração da
lei, fato ou ato ilícito ou violação dos atos constitutivos.

d) CC/02, art. 50: sempre que houver confusão patrimonial ou abuso da personalidade.

A desconsideração pode ser realizada incidentalmente na própria execução, dispensando-se o


ingresso de demanda autônoma de natureza constitutiva negativa (REsp 418.485/SP).
Evidentemente que deverá ser oportunizado ao sócio o contraditório.

Qualquer que seja a razão para se responsabilizar secundariamente os sócios, tem ele direito
de exigir que seja primeiro executados os bens da sociedade (benefício de ordem), cabendo a
ele nomear os bens da sociedade (art. 596).

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Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da
sociedade senão nos casos previstos em lei; o sócio, demandado pelo
pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os
bens da sociedade.

§ 1o Cumpre ao sócio, que alegar o benefício deste artigo, nomear bens da


sociedade, sitos na mesma comarca, livres e desembargados, quantos
bastem para pagar o débito.

27.7.4.3. Bens do Devedor, Quanto Estiverem em Poder de Terceiros (art. 592, III)
Não se trata de responsabilidade patrimonial secundária propriamente dita, já que são os bens
do próprio devedor que responderão pela dívida. Eles apenas serão retirados do poder do
terceiro.

27.7.4.4. Bens do Cônjuge, nos Casos em que os seus Bens Próprios, Reservados ou de Sua
Meação Respondem pela Dívida (art. 592, IV)
Se as dívidas forem adquiridas para a compra de coisas necessárias à economia doméstica ou
se tratar de empréstimo para a compra de tais coisas (eletrodomésticos etc.), o que haverá é
responsabilidade solidária primária entre os cônjuges (arts. 1.659, IV c/c 1663 c/c § 1º, 1.664
c/c 1.677, CC/02).

No regime de comunhão parcial de bens e participação final nos aquestos, as dívidas que
revertam em prol do casal têm como garantia o patrimônio comum, ainda que contraídas por
apenas um dos cônjuges (arts. 1.659, IV c/c 1.663, § 1º c/c 1.677, CC/02).

No regime de comunhão universal, todas as dívidas contraídas por qualquer deles estão
garantidas pelo patrimônio comum, ainda que em favor de um deles, excluídas as do art.
1.688, CC/02.

Sempre que o cônjuge não devedor puder ter seus bens constritos por dívida do outro, poderá
adotar as seguintes posições, de acordo com a jurisprudência do STJ:

a) Embargar/impugnar a execução: nesse caso, ele atuará como parte, quando ele pensar
que seus bens efetivamente podem responder pela dívida;

b) Embargos de terceiros: quando ele quiser atuar como terceiro, por entender que seus
bens não respondem pelo objeto da dívida.

Súmula 134, STJ: “Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado
pode opor embargos de terceiros para defesa de sua meação”.

27.7.4.5. Bens Alienados ou Gravados com Ônus Real em Fraude à Execução (art. 592, V)

27.7.5. Fraudes do Devedor


As fraudes podem ser classificadas em três espécies:

a) FRAUDE CONTRA CREDORES;

b) FRAUDES À EXECUÇÃO;

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c) FRAUDE DE BEM CONSTRITO JUDICIALMENTE.

27.7.5.1. Fraude Contra Credores (arts. 158 a 165, CC/02)


Trata-se de instituto de direito material, representando defeito do negócio jurídico que
importa alienação ou oneração patrimonial, praticado por quem está em situação de
insolvência em prejuízo dos seus credores. Trata-se de violação de direitos privados, razão pela
qual é menos grave do que a fraude à execução.

São requisitos para que ocorra a fraude contra credores:

a) Eventus damni: caráter objetivo, existência de ato de disposição de bem pelo devedor
que prejudique o credor;

b) Insolvência: incapacidade do devedor de arcar com suas obrigações;

c) Tempo: caráter objetivo, QUE O CRÉDITO DO LESADO SEJA


PREEXISTENTE AO ATO;
d) Consilium fraudis: requisito controverso, de caráter subjetivo. Trata-se da intenção do
devedor de provocar sua redução patrimonial até o estado de insolvência. Presume-se
absoluto o intento quando praticado ato a título gratuito ou com remissão de dívida.
Se oneroso, é preciso demonstrar que o devedor tinha ao menos o potencial
conhecimento de que seu ato o levaria à insolvência e que o terceiro adquirente tinha
conhecimento – efetivo ou presumido – de que a alienação levaria o alienante a esse
estado. Parte da doutrina dispensa esse requisito. O STJ o acolhe.

PROCESSO CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FRAUDE PREORDENADA PARA


PREJUDICAR FUTUROS CREDORES. ANTERIORIDADE DO CRÉDITO. ART. 106,
PARÁGRAFO ÚNICO, CC/16 (ART. 158, § 2º, CC/02). TEMPERAMENTO.

1. Da literalidade do art. 106, parágrafo único, do CC/16 extrai-se que a


afirmação da ocorrência de fraude contra credores depende, para além da
prova de consilium fraudis e de eventus damni, da anterioridade do
crédito em relação ao ato impugnado.

2. Contudo, a interpretação literal do referido dispositivo de lei não se


mostra suficiente à frustração da fraude à execução. Não há como negar
que a dinâmica da sociedade hodierna, em constante transformação,
repercute diretamente no Direito e, por consequência, na vida de todos nós.
O intelecto ardiloso, buscando adequar-se a uma sociedade em ebulição,
também intenta - criativo como é - inovar nas práticas ilegais e manobras
utilizados com o intuito de escusar-se do pagamento ao credor. Um desses
expedientes é o desfazimento antecipado de bens, já antevendo, num
futuro próximo, o surgimento de dívidas, com vistas a afastar o requisito da
anterioridade do crédito, como condição da ação pauliana.

[...]

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(STJ, REsp 1092134/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 05/08/2010, DJe 18/11/2010)

Na transmissão gratuita de bens e na remissão de dívida o legislador dispensa o consilium


fraudis (o art. 158 diz “ainda quando o ignore”). Entende-se que inexistindo contraprestação
deve prevalecer o interesse dos credores sobre a manifestação da vontade.

Do mesmo modo, quando a insolvência for notória ou houver motivo para ser conhecida do
outro contratante (art. 159), quando se der, por insolvente, pagamento antecipado de dívidas
vincendas (art. 162) ou constituição de garantias para credor quirografário (art. 163).

São casos em que o consilium fraudis é presumido ou seja, presume-se a má fé do terceiro


adquirente:

a) Insolvência notória: o terceiro adquirente está adquirindo de alguém que é


notoriamente insolvente. Exemplo: vendedor que deve muito, tem muitos protestos
contra si. A presunção é relativa.

b) Insolvência presumida: a aquisição se faz em condições tais que levariam o adquirente


a desconfiar: preço vil; alienação clandestina; vendedor quer vender tudo que tem,
sem um motivo aparente.

A natureza jurídica do ato praticado contra os credores é controversa. Tem-se as seguintes


correntes:

a) Ato anulável: posição do CC/02, de Marinoni, Greco e Nery. Se o ato é anulável, sua
anulação implicará em retorno ao status quo ante, retornando o bem ao patrimônio
do devedor e compondo o acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
credores. Adotada essa corrente, o autor da ação pauliana não teria seu crédito
satisfeito, deveria concorrer com os demais credores quirografários.

b) Ato ineficaz perante o credor: nesse caso, após obtida a procedência na ação
revocatória, o credor poderia invadir o patrimônio do terceiro para satisfazer seu
direito, não retornando o bem ao patrimônio do devedor. Na hipótese de o valor da
expropriação ser maior que a dívida, a quantia remanescente deverá ser entregue ao
terceiro adquirente, já que entre ele e o devedor se mantém validamente o negócio
jurídico anterior. É a posição de Dinamarco, Daniel Assumpção, Alexandre Câmara e
HTJ.

Não se admite o reconhecimento da fraude contra credores incidentalmente em outros


processos, sendo indispensável a propositura de uma ação específica para esse fim.

Somente poderá propor a ação pauliana o credor quirografário, já que o real tem o bem como
garantia (lembrar que uma das características principais do direito real é a sequela); este
somente poderá caso a garantia se torne insuficiente.

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27.7.5.2. Fraude à Execução (art. 593)


Trata-se de vício muito mais grave, que não atinge apenas os interesses dos credores, afetando
diretamente a autoridade do Estado concretizada no exercício jurisdicional, razão pela qual se
configura ato atentatório contra a dignidade da justiça.

A doutrina é pacífica em aceitar que o ato cometido em fraude à execução é válido, porém
ineficaz perante o credor.

Na fraude à execução é dispensado o consilium fraudis, pouco importando que o devedor


soubesse ou não que o ato o levaria à falência. Assim, ela é OBJETIVAMENTE AFERIDA.
Entretanto, o STJ entende que o terceiro de boa fé deve ser protegido, não havendo ineficácia
no ato se o adquirente demonstrar sua boa fé. Nesse sentido:

Súmula 375, STJ: “O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do


bem alienado ou da prova da má-fé do terceiro adquirente, cabendo ao credor o ônus da prova
de que o terceiro adquirente tinha a ciência da constrição ou demanda contra o vendedor
capaz de levá-lo à insolvência”.

São três os requisitos que configuram fraude à execução:

a) Alienação ou oneração de bens quando sobre eles pender ação fundada em direito
real: trata-se do direito de sequela ínsito ao direito real. A caracterização da fraude
independerá da existência do estado de solvência do devedor;

b) Existência de demanda judicial ao tempo da alienação capaz de reduzir o devedor à


insolvência: o dispositivo permite duas interpretações: ou o valor da causa era tão alto
que, se sucumbente, poderia o devedor se tornar insolvente, razão pela qual ele aliena
seus bens; ou ele aliena tantos bens seus durante o processo que se torna insolvente.
Essa fraude pode ocorrer na fase de conhecimento/processo cautelar, tendo o seu
reconhecimento caráter declaratório, com eficácia ex tunc (desde o momento em que
a fraude ocorreu). É como se, para a execução, a alienação não tivesse ocorrido.

Como a fraude à execução demanda ciência do devedor da existência de ação judicial que
potencialmente possa levá-lo ao Estado de insolvência, somente restará caracterizada após a
válida citação do devedor. Antes disso, haverá fraude contra credores.

Inclusive, é desnecessária a ação específica para o reconhecimento da fraude, podendo ser


pedida por petição nos autos e deferida por decisão interlocutória.

Mesmo que o demandado ainda não tenha sido citado, caso já proposta a ação ele aliene seus
bens, poderá o credor pedir o reconhecimento da fraude se provar que ele já tinha a ciência
inequívoca da existência da ação.

c) Nos demais casos previstos em lei:

27.7.5.2.1. O art. 615-A – Averbação no Registro

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Ao distribuir a ação, poderá o exequente obter certidão comprobatória do ajuizamento, a qual


poderá ser averbada no RGI, DETRAN ou em outros registros de bens sujeitos à constrição
judicial. Após averbada, deverá comunicar ao juízo a efetivação da averbação no prazo de 10
dias, respondendo por má fé quando realizar averbação manifestamente indevida.

Tal fato dará PRESUNÇÃO ABSOLUTA DE CONHECIMENTO DA DEMANDA POR TERCEIROS, e


relativa quanto ao devedor (pois este pode alienar o bem averbado caso tenha outros para
garantir a execução).

Se a execução for em execução de sentença (e não em processo de execução), a diferença é


que o exequente não pedirá ao distribuidor a certidão, e sim à secretaria da vara.

27.7.5.2.2. Momento da Fraude à Execução quando o Exequente é a Fazenda Pública


Em relação à fraude, imperativo citar o teor do art. 185 do Código Tributário Nacional, que
aduz que “presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo,
por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente
inscrito como dívida ativa”.

Até a LC nº 118/05, exigia-se a citação do devedor para que seus atos de alienação fossem
considerados fraudulentos. Porém, a partir de então isso mudou. Veja:

Portanto, se o débito já está regularmente inscrito em dívida ativa,


qualquer alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo pelo
sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, será considerada
fraudulenta. (SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. São Paulo:
Saraiva, 2009, pg. 892)

Ainda, o mesmo autor:

A redação dada pela Lei Complementar n. 118/2005 veio a ratificar o


entendimento de que A MERA INSCRIÇÃO EM DÍVIDA ATIVA – ATO DE
CONTROLE NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO DA LEGALIDADE DA CONDUTA
FAZENDÁRIA, NO QUAL SE APURAM A LIQUIDEZ E CERTEZA DO CRÉDITO
TRIBUTÁRIO – E, NÃO MAIS A EFETIVA PROPOSITURA DA AÇÃO DE
EXECUÇÃO FISCAL, JÁ SE MOSTRA BASTANTE PARA CONFIGURAR A
FRAUDE NA ALIENAÇÃO OU NA ONERAÇÃO DE BENS, o que espelha um
aumento das garantias do crédito tributário.

27.7.5.2.3. Diferenças entre Fraude Contra Credores e Fraude à Execução


FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDE À EXECUÇÃO
Não há processo judicial em andamento Há processo judicial em andamento
Precisa de ação autônoma para ser reconhecida Pode ser reconhecida incidenter tantum
O que está sendo fraudado é o crédito do credor, O que está sendo fraudada é a atividade estatal de
prejudicando o credor. jurisdição
Quando o juiz reconhece a fraude, ele considera Quando o juiz reconhece a fraude, ele considera
anulado o ato. ineficaz perante o exequente a venda ou gravame.

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27.7.5.3. Fraude de Bem Constrito Judicialmente


É espécie de fraude ainda mais grave do que a fraude à execução, pois o bem penhorado,
arrestado ou depositado já passou a estar diretamente vinculado, de forma individualizada, ao
processo.

Tal gravidade afasta o preenchimento de qualquer requisito, de forma que a mera alienação
ou oneração de bem constrito judicialmente já é suficiente para a configuração dessa espécie
de fraude.

O ato de alienação do bem penhorado é ineficaz, sendo desnecessário demonstrar insolvência


do executado.

O STJ, entretanto, tem exigido a má fé do adquirente.

27.8. Liquidação da Obrigação (arts. 475-A a 475-H)


Apesar de ter sido incluída no capítulo de execução, esclareço desde já que a liquidação é uma
ante-fase do cumprimento de sentença ou da ação executiva, não podendo se falar que já
houve início de execução.

A execução somente se inicia quando o título apresentar todos os requisitos, certeza, liquidez
e exigibilidade.

A liquidação serve para se apurar o exato valor do débito, o que lhe dará o atributo da liquidez.

27.8.1. Requisitos da Obrigação a Executar


O título executivo judicial ou extrajudicial, para poder ser executado, precisa apresentar as
seguintes características:

a) Exigibilidade: trata-se da condição conferida ao credor de já poder exigir a obrigação. É


o poder inerente à prestação devida. A lei brasileira não admite sentenças
condicionais, razão pela qual o problema da exigibilidade, normalmente, só diz
respeito aos títulos extrajudiciais; o título será exigível quando já estiver vencido e não
pender nenhuma condição/termo ainda não implementado;

b) Certeza (art. 460, p. único): a certeza diz respeito à ausência de dúvida quanto à
existência da obrigação que se pretende exigir. Trata-se, no entanto, de uma certeza
relativa, mesmo porque é possível que, no curso do processo, perceba-se que a
prestação é inexistente, seja porque nunca existiu, v.g., o título é falso, seja porque foi
extinta, v.g., por já ter sido paga;

Essa ausência de dúvida não advirá de um reexame da discussão conduzida no processo de


conhecimento, o que feriria a coisa julgada, e sim num juízo provisório, com a aferição pelo
magistrado dos atendimentos aos requisitos básicos do título.

c) Liquidez: trata-se da exata definição daquilo que é devido e de sua quantidade.


Lembrar que não é ilíquido o título que requer a mera atualização monetária ou
simples cálculos aritméticos.

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27.8.2. Liquidação da Obrigação. Considerações Gerais


Em geral, os títulos extrajudiciais já nascem líquidos, já que é requisito intrínseco ao seu
principal representante, o título de crédito. Entretanto, excepcionalmente poderão ser
ilíquidos, sujeitando-se, pois, à liquidação, como ocorre no TAC.

Porém, a regra é que sejam ilíquidos, ao menos os judiciais, requerendo, pois, fase de
liquidação (art. 475-N).

Nesse caso, antes de se adentrar na fase de execução de sentença, é necessária a liquidação,


incidente processual capaz de especificar o objeto da prestação e seu valor.

A liquidação é, pois, uma fase do processo; NUNCA PODERÁ SER INICIADA DE OFÍCIO,
sempre depende de requerimento, DEVENDO SER A PARTE CONTRÁRIA INTIMADA NA
PESSOA DE SEU ADVOGADO (art. 475-A, § 1º).

Liquidação de sentença pode ser definida como a atividade judicial cognitiva pela qual se busca
complementar a norma jurídica individualizada estabelecida em um título judicial.

A liquidação poderá ocorrer em relação a decisões transitadas em julgado ou em execução


de decisões provisórias (art. 475-A, § 2º). Este último caso, que pode ocorrer, v.g., na
pendência de recurso, não significa que a decisão poderá ser imediatamente executada; a
norma apenas quis dar maior celeridade ao processo, tornando desnecessária a espera pelo
trânsito em julgado para, só então, se permitir a liquidação.

Porém, se a apelação for provida, a liquidação prévia perderá seu sentido. É este um dos
motivos pelo qual o incidente não pode ser determinado de ofício.

Assim, podem ser liquidadas: Sentenças definitivas, nos próprios autos


Decisões provisórias, em autos apartados
A LIQUIDAÇÃO DA DECISÃO PROVISÓRIA CORRERÁ EM AUTOS APARTADOS PERANTE O
JUÍZO DE ORIGEM, enquanto a da decisão definitiva, nos mesmos autos.

Se a decisão definitiva somente foi proferida no grau recursal, a liquidação e o cumprimento


da decisão se farão perante o juiz de origem.

Há sentenças que não podem ser liquidadas (art. 475-A, § 3º), já que serão necessariamente
líquidas:

a) Proferidas em procedimento sumário, tratando de ressarcimento por danos causados


em acidente de veículo terrestre (art. 275, II, d);

b) Proferidas em procedimento sumário, tratando de cobrança de seguro relativamente


aos danos causados em acidente de veículo (art. 275, II, e);

c) Sentenças proferidas nos juizados especiais, tanto estaduais quanto federais,


conforme art. 38, p. único, da Lei nº 9.099/95.

Dos títulos executivos judiciais do art. 475-N, exigem liquidação, além da sentença civil
condenatória líquida:
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a) Sentença penal condenatória transitada em julgado (para fins de indenização);

b) Sentença estrangeira homologada pelo STJ;

c) Sentença arbitral (apesar de prevista no CPC, a lei de arbitragem exige que sua
sentença seja nele – no juízo arbitral – liquidada).

Não se entende como ilíquidos os títulos executivos em que o valor a ser pago, embora não
expresso no seu texto, possa ser obtido pela simples aplicação de índices ou indexadores de
mercado.

27.8.2.1. Rito da Liquidação


A liquidação se dará através de PROCESSO AUTÔNOMO nas hipóteses de: sentença penal
condenatória; sentença arbitral; sentença estrangeira; acórdão que julga procedente a revisão
criminal; sentença coletiva nas ações que versam sobre direitos individuais homogêneos. SÃO
CASOS EM QUE, MESMO HAVENDO PROCESSO ANTERIOR, NELE NÃO É
POSSÍVEL INSTAURAR-SE UMA FASE DE LIQUIDAÇÃO.
Nesse caso, o processo autônomo se encerrará com uma sentença, contra a qual caberá
recurso de apelação (e não agravo de instrumento).

Já a liquidação incidental (ou liquidação-incidente), como foi dito acima, é aquela que ocorre
como incidente processual da execução (seja da fase executiva do procedimento, seja do
processo autônomo de execução). Ela pode ser visualizada nos seguintes exemplos: na
execução por quantia certa, quando houver necessidade de atualizar o valor devido, defasado
pelo decurso do tempo, ou por qualquer outra razão, desde que não demande simples cálculos
aritméticos; quando, inviabilizado o cumprimento da prestação específica, o objeto da
execução se converter em perdas e danos; na execução para entrega de coisa, para apurar o
valor das benfeitorias indenizáveis feitas pelo devedor; entre outros exemplos.
Sentença penal condenatória
Sentença arbitral
Processo de Liquidação
Acórdão que julga procedente ação rescisória
Sentença em tutela coletiva sobre D.I.H.

Antes do cumprimento de sentença


Liquidação Incidental
Antes da execução do título em processo executivo

27.8.2.2. Legitimidade para Requerer a Liquidação


De forma geral, a legitimidade para instaurar a liquidação de sentença, seja como processo
autônomo, como fase, ou como incidente, é do credor.

Antes da Lei nº 11.232/2005, o art. 570 do CPC permitia que o devedor instaurasse o processo
executivo e o procedimento de liquidação (art. 605, CPC). Entretanto, com o advento da
reforma processual civil, houve revogação expressa desses dois dispositivos. Não obstante,

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continua o devedor com a possibilidade de ajuizar ação de consignação em pagamento (art.


890 e ss., CPC), sem prevenção do juízo que proferiu a condenação.

Mesmo considerando tal possibilidade, alguns doutrinadores (como Araken de Assis)


entendem que o devedor continua sendo parte legítima para instaurar a liquidação, para
que assim seja viabilizada a propositura de eventual ação de consignação em pagamento.
Afirma que há interesse bilateral na satisfação da dívida, não podendo se exigir do devedor
que fique aguardando a iniciativa do credor para que possa ter sua obrigação extinta.

27.8.2.3. Competência para Julgamento da Liquidação


O CPC se omite no que tange à competência para o processo e julgamento da liquidação. Por
analogia, podem-se aplicar as regras estabelecidas para o cumprimento de sentença (art. 475-
P) e execução de título extrajudicial (art. 576).

Na liquidação-incidente não há dúvida: é o mesmo juízo competente para conhecer da


execução.

Na liquidação-fase, a competência será a do juízo que proferiu a decisão liquidanda, pois se


trata apenas de uma fase do mesmo processo. Trata-se de competência funcional, logo,
absoluta.

Porém, em ação rescisória, o STJ já decidiu que cabe a liquidação e execução do julgado ao
juízo que proferiu a sentença no procedimento principal originário.

No caso de processo autônomo de liquidação, pode-se aplicar o inciso III do art. 475-P, CPC (o
juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição).

27.8.2.4. Momento para Requerer a Liquidação


Não é necessário aguardar o trânsito em julgado da decisão para só então promover a
liquidação. O art. 475-A, § 2° admite que ela seja promovida mesmo na pendência de
recurso, processando-se em autos apartados, no juízo de origem. Não importa que o recurso
tenha ou não efeito suspensivo. Tal requerimento constitui incidente processual que possui
autos próprios. Eventual acolhimento do recurso pendente, com a consequente cassação ou
reforma da decisão liquidanda, esvaziará o conteúdo da atividade liquidatória, fazendo com
que perca seu objeto.

SE A SENTENÇA CONTIVER CAPÍTULOS LÍQUIDOS E OUTROS ILÍQUIDOS,


PODE O CREDOR, SIMULTANEAMENTE, PROMOVER A EXECUÇÃO
DAQUELES E A LIQUIDAÇÃO DESTES.
27.8.2.5. Limites da Cognição na Liquidação
Princípio da fidelidade ao título: não se pode, em liquidação, discutir de novo as questões
resolvidas na decisão liquidanda, nem modificar seu conteúdo (art. 475-G), sob pena de ofensa
ao efeito positivo da coisa julgada ou de reconhecimento de litispendência (caso haja recurso
pendente). Dessa forma, a matéria de mérito da liquidação cinge-se ao elemento que falta
para completar a sentença liquidanda.
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A jurisprudência dominante não admite a inclusão, na liquidação, do valor das despesas


judiciais ou dos honorários de advogado, se a decisão liquidanda não impôs expressamente à
parte sucumbente o pagamento dessas parcelas. Apesar de o pedido ser considerado implícito
nesses casos (art. 20), não pode ser implícita a condenação. Se o juiz se omitir, a parte deverá
impugnar por recurso próprio (embargos declaratórios), sob pena de preclusão. Não se poderá
incluir tais verbas em futura liquidação.

Entretanto, renomados autores (como Cândido Dinamarco, v.g.) afirmam que os juros
moratórios e a correção monetária, desde que não negados expressamente na sentença,
podem ser incluídos legitimamente na liquidação, ainda que omissa a sentença liquidanda.
Repare que a correção monetária e os juros moratórios também são pedidos implícitos (assim
como as custas e os honorários), mas nesse caso entendem não ser exigível expressa
condenação na sentença. Há algumas súmulas do STJ que podem ser interpretadas (dão a
entender) no sentido de não ser necessária expressa previsão na decisão judicial (ver tópico
que trata dos pedidos implícitos – atenuação à norma da correlação, acima exposto).

27.8.2.6. Matéria de Defesa na Liquidação


Na liquidação deve ser observado o contraditório. O sujeito passivo da liquidação deve ser
cientificado (citado ou intimado) da pretensão do liquidante, a fim de que sobre ela se
manifeste.

A regra é que só é possível ao sujeito passivo discutir questões processuais ligadas à própria
liquidação, e desde que não haja comprometimento ou incompatibilidade com o estabelecido
na decisão liquidanda.

A doutrina entende, porém, que também pode ser alegado na liquidação (além da matéria
relativa à sua admissibilidade) as matérias alegáveis na impugnação ao cumprimento da
sentença (art. 475-L), tais como: pagamento, novação, compensação, transação, prescrição,
etc., desde que supervenientes à sentença; falta ou nulidade da citação no processo de
conhecimento, se houve revelia; inexigibilidade do título executivo; superveniência de
decretação de inconstitucionalidade do ato normativo em que se fundou a sentença
liquidanda, etc. Não seria necessário, portanto, que o sujeito passivo tivesse que aguardar a
execução da sentença para alegar tais matérias. Acolhida qualquer dessas arguições, a
liquidação deverá ser extinta. Tal decisão será sentença, impugnável por apelação (aplicação
analógica do art. 475-M, § 3°).

27.8.3. Natureza Jurídica da Liquidação


Antes das reformas do CPC iniciadas em 1994, era comum entender a liquidação como um
processo autônomo, complementar ao de conhecimento.

Hoje em dia, porém, com a redação do art. 475-A, § 1º, é clara a natureza jurídica da
liquidação de incidente processual, uma fase do processo posterior à sentença (salvo se for
liquidação de decisão interlocutória concessiva de tutela antecipada) e anterior à execução,
voltada ao cumprimento da sentença.

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27.8.4. Liquidação por Cálculos (art. 475-B)


É uma liquidação realizada, em regra, extrajudicialmente, a cargo exclusivo do credor. Neste
caso, cumpre ao credor, ao requerer a execução da condenação, instruir o requerimento com
a memória discriminada e atualizada do cálculo que fez para chegar ao quantum debeatur.

Não se aceita que os cálculos sejam apresentados apenas com o valor total ou valores parciais;
é necessário que o credor detalhe os valores, indicando como foram obtidos, a correção
monetária e a taxa de juros aplicada e os períodos em que incidiram.

A função desse detalhamento é dar ao juiz e ao devedor conhecimento da composição dos


cálculos, aumentando a garantia do contraditório. A apresentação da memória de cálculo é
imprescindível, sob pena de restar inviabilizado o impulso “à fase de execução de sentença ou,
até mesmo, de indeferimento da inicial na ação de execução”.

CRÉDITO-PRÊMIO DO IPI. INCLUSÃO DE VALORES REFERENTES AO FRETE E


AO SEGURO NO CÁLCULO. IMPOSSIBILIDADE. QUESTÃO ANALISADA NA
FASE DE CONHECIMENTO. TRÂNSITO EM JULGADO.

É vedada a análise da discussão trazida em impugnação intempestiva da


executada referente ao mérito da obrigação do pagamento do benefício,
que já foi objeto de análise na fase de conhecimento e nos embargos à
execução. Com o trânsito em julgado das sentenças do processo de
conhecimento e dos embargos à execução é cabível apenas a discussão
acerca dos critérios de atualização do indébito. A determinação judicial de
apresentação de documentos novos na fase processual de atualização de
cálculos gera insegurança jurídica e tumulto no andamento do feito, assim
como esbarra não só no instituto da preclusão como da própria coisa
julgada, uma vez que já ultrapassada a fase de liquidação e dos embargos do
devedor. Unânime. (TRF1, 8T, AI 0067946-72.2010.4.01.0000/DF, rel. Des.
Federal Maria do Carmo Cardoso, em 27/04/2012.)

27.8.4.1. Necessidade de Dados em Poder do Devedor ou de Terceiros (art. 475-B, § 1º)


Trata-se das hipóteses em que o credor não possui condições de proceder os cálculos por força
própria por não dispor de elementos para tanto, os quais estão na posse do devedor ou de
terceiros.

Nessas hipóteses, o credor deve requerer ao juiz da causa que intime o devedor para
apresentar os dados ou cite o terceiro, em prazo não superior a 30 dias.

Mesmo no caso da citação do terceiro, não há processo autônomo; é mero incidente ligado ao
processo de conhecimento ou de execução.

27.8.4.1.1. Dados em Poder do Devedor


Caso o devedor não apresente os dados ou afirme que não os possui, não se convencendo o
juiz quando da análise de sua justificativa (ele poderá determinar a produção de provas),
reputar-se-ão corretos os cálculos do credor. Além disso, será aplicado o art. 14, p. único (ato
atentatório contra a jurisdição, multa de até 20%), assim como poderá haver a
responsabilização por crime de desobediência.
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Porém, se os dados forem absolutamente imprescindíveis, de nada adiantarão tais sanções,


devendo o juiz determinar a busca e apreensão.

27.8.4.1.2. Dados em poder de Terceiros


Apresentados os dados, encerra-se o procedimento. Descumprida a ordem por omissão ou por
não comprovação ao juiz de que ele não os detinha, deverá ser determinada a busca e
apreensão, além da responsabilidade por crime de desobediência e adoção de outras sanções
cabíveis.

27.8.4.2. Elaboração do Cálculo pelo Contador Judicial (art. 475-B, § 3º)


Poderá ocorrer em duas situações:

a) Memória de cálculo aparentemente excede os limites da decisão exequenda: com essa


contestação, o juiz determinará, de ofício, a remessa dos autos ao contador do juízo
para análise da memória de cálculo. O credor poderá, após ser intimado para se
manifestar em 05 dias, aceitar ou recusar o cálculo, insistindo que a execução prossiga
pelo valor que ele apresentou;

Neste caso, a execução será feita pelo valor originalmente pretendido, mas somente poderá
ser penhorado bem que corresponda ao valor fixado pelo contador, ficando a discussão
sobre o valor correto da execução delegada a eventual impugnação/embargos apresentados
pelo devedor (art. 475-B, § 4º).

Oferecida a impugnação, o devedor deverá alegar e provar excesso de execução. Se


acolhida, o valor da execução será reduzido. Se não oferecida ou rejeitada, executar-
se-á o valor originalmente postulado.

b) Casos de assistência judiciária: neste caso, esteja o cálculo aparentemente superior ou


inferior ao entendido pelo juiz, ele deverá determinar o envio ao contador.

Poderá ocorrer, ainda, que em ambos os casos o contador encontre valor superior ao
apresentado pelo credor; neste caso, o exequente poderá escolher entre manter o valor
original ou ficar com os cálculos do contador, desde que por este escolha expressamente, já
que o crédito é direito patrimonial disponível.

27.8.5. Liquidação por Arbitramento (art. 475-C)


A liquidação por arbitramento se dá mediante atividade de perito oficial judicial, objetivando
fixar o valor de certo bem ou de determinada prestação.

Tal forma de liquidação se mostra necessária quando a determinação do valor a ser


executado exceder os limites do conhecimento ordinário.

Requerida a liquidação por arbitramento, cabe ao juiz, antes de qualquer outra providência,
intimar o devedor para participar da perícia a ser instalada. Logo, nela, incide o contraditório
(art. 475-A, § 1º), podendo a parte contrária indicar assistente técnico, apresentar quesitos e
acompanhar a perícia.

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A intimação do devedor não ocorre para que se defenda da liquidação, e sim para que possa,
no prazo de 05 dias, impugnar o perito designado, indicar assistente técnico e formular
eventuais quesitos pertinentes.

Após apresentado o laudo pericial, as partes terão o prazo de 10 dias para falar, aceitando ou
impugnando os termos do arbitramento. Havendo impugnação, cumpre ao juiz decidir em AIJ
designada pra esse fim (art. 475-D), decisão que poderá ser impugnada por agravo.

27.8.6. Liquidação por Artigos


É modalidade de liquidação cabível quando, para se determinar o valor da condenação, houver
necessidade de se alegar e provar fato novo (art. 475-E).

Fato novo é o que ficou de fora da condenação por não ter sido alegado, em virtude de
autorização legal, na fase de conhecimento e que tenha influência na apuração do quantum
debeatur.

É o caso comum nas ações coletivas, em que se prova o dano mas não se sabe o valor do dano
individual, e na sentença penal condenatória.

Apresentado o pedido de liquidação por artigos, o requerido será intimado, quando possível,
na pessoa de seu advogado (art. 475-A, § 1º), para impugnar os fatos narrados no
requerimento no prazo de 15 dias. Ao fim, o juiz decide a liquidação, fixando o valor exato da
execução, decisão recorrível por agravo de instrumento.

Face o exposto viu-se que a liquidação pode ser:


Por Cálculos Quando necessários cálculos para tornar a obrigação líquida
Por Arbitramento Quando necessário conhecimento especial, de perito judicial
Por Artigos Quando necessário provar fatos novos para se liquidas

27.8.7. Princípio da Fidelidade ao Título


É proibido na liquidação, em qualquer de suas modalidades, inovar ou rediscutir a causa ou
modificar a sentença que a julgou (at. 475-G). Essa regra decorre do respeito à coisa julgada,
sublinhando a instrumentalidade da liquidação.

A liquidação se presta apenas a especificar o conteúdo da sentença que depende de execução,


não servindo para constituir novo título.

Porém, há exceções a essa regra, como no caso do art. 290, em que se permite incluir na
liquidação os novos inadimplementos após o trânsito em julgado, sem necessidade de se
propor nova ação. Também poderá incluir os juros legais, juros de mora e a correção
monetária, ainda que a eles não referido na sentença. Aliás:

Súmula 253, STF: “Incluem-se os juros moratórios na liquidação, embora omissos o pedido
inicial ou a condenação”.

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27.8.7.1. Liquidação de Valor Zero


Trata-se da situação em que, diante de sentença condenatória ilíquida, apura-se o valor igual a
zero na liquidação. Para a doutrina majoritária, esta situação não importa alteração da
sentença condenatória, de forma que a liquidação de valor igual a zero ainda significaria a
existência de condenação.

RECURSO ESPECIAL - LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA -


RECONHECIMENTO DE LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ DOS AUTORES DA AÇÃO E
CONDENAÇÃO DESTES À REPARAÇÃO AOS DANOS PROCESSUAIS -
ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DA COISA JULGADA - NÃO OCORRÊNCIA -
"LIQUIDAÇÃO ZERO" - ADEQUAÇÃO DO JULGADO AOS DANOS QUE
RESTARAM NÃO QUANTIFICADOS E, PORTANTO, NÃO DEMONSTRADOS -
RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.

I - O reconhecimento da litigância de má-fé acarreta ao improbus litigator a


imposição de multa, de caráter punitivo, bem como a condenação à
reparação pelos prejuízos processuais decorrentes de sua conduta
processual, esta de caráter indenizatório. Tais reflexos, portanto, não se
confundem;

II - A liquidação por arbitramento, na espécie, destina-se a quantificar os


prejuízos processuais, e não materiais, que o liquidante suportou decorrente
da conduta processual dos autores da ação. Para tanto, revela-se necessário
evidenciar o fato processual praticado pelos autores da ação que ensejou a
condenação destes à indenização pelas perdas e danos (processuais,
portanto), e aferir, de acordo com a moldura fática delineada pelas
Instâncias ordinárias, se o mencionado fato processual repercute nos danos
alegados pelo liquidante;

III - Na hipótese dos autos, o reconhecimento da litigância de má-fé dos


autores da ação decorreu da utilização da tese inverídica, consistente na
impossibilidade de continuidade do vínculo obrigacional, por perda de
objeto pelo desaparecimento da legítima do réu, decorrente de sua
deserdação (fato que não se verificou);

IV - As Instâncias ordinárias, ao contrário do que sustenta o ora recorrente,


não excluíram a condenação por perdas e danos processuais, reconhecida
definitivamente, na sentença, mas sim, quando de seu arbitramento,
chegaram à conclusão de que o quantum debeatur é zero, o que, de forma
alguma, significa inobservância da coisa julgada. É o que autorizada
doutrina denomina "liquidação zero", situação que, ainda que não
desejada, tem o condão de adequar à realidade uma sentença
condenatória que, por ocasião de sua liquidação, mostra-se vazia,
porquanto não demonstrada sua quantificação mínima e, por conseguinte,
sua própria existência;

V - Não há como prosperar a pretensão do liquidante, ora recorrente, no


sentido de que o arbitramento deveria se pautar na apuração do valor da
cota hereditária a ele devida, ante o alegado descumprimento contratual

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por parte dos autores da ação. Primeiro, porque, como expressamente


consignado pelas Instâncias ordinárias, inexiste prova da perda do quinhão
hereditário. Segundo, e principalmente, porque o reconhecimento da
alegada perda do quinhão hereditário, em razão do também alegado
descumprimento contratual por parte dos autores, em nenhum momento
foi objeto da ação em que se formou o presente título liquidando;

VI - Na verdade, conferir à presente liquidação contornos mais abrangentes


daqueles gizados na ação de resolução parcial do contrato, dissonante,
portanto, de seu objeto, tal como pretendido pelo ora recorrente,
redundaria, inequivocamente, à tangibilidade da coisa julgada, o que não se
afigura, na espécie, permitido;

VII - Recurso Especial improvido.

(REsp 1011733/MG, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA,


julgado em 01/09/2011, DJe 26/10/2011)

Sendo de valor zero a liquidação, e não havendo nenhuma outra pretensão no título executivo
a ser exigível do executado, deve o juiz extinguir o processo sem julgamento de mérito, eis que
descaracterizado o próprio título executivo, que não apresentará nenhum conteúdo
econômico apto a sustentar o andamento da demanda (hipótese de carência de ação por
ausência de interesse de agir, em minha opinião). Nesse sentido:

EMBARGOS À EXECUÇÃO. LIQUIDAÇÃO DE VALOR ZERO. EXTINÇÃO DO


FEITO EXECUTIVO. 1-O cálculo homologado pelo julgador a quo observou
estritamente os critérios e parâmetros especificados no título executivo
judicial, oferecendo subsídios à solução da controvérsia. A hipótese cuida de
liquidação zero e, conseqüentemente, de inexigibilidade do título, o que não
atenta contra o princípio da coisa julgada. 2- Apelação não provida.

(TRF2, AC 200251015098250, Desembargador Federal LUIZ ANTONIO


SOARES, QUARTA TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R - Data::27/04/2010 -
Página::191/192.)

27.8.8. Natureza Jurídica da Decisão que Julga a Liquidação e Recurso Cabível


Trata-se de decisão interlocutória, ato jurisdicional recorrível mediante agravo de instrumento
(art. 475-H).

Há uma exceção. Há a possibilidade de haver julgamento da liquidação a ser processada


autonomamente, ou seja, liquidação processada em autos apartados, na hipótese de
requerimento da liquidação enquanto pendente recurso, ocasião em que competirá ao
liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes, com supedâneo no
art. 475-A, § 2°, CPC.

Nessa situação específica, por se tratar de liquidação a ser processada em autos apartados, do
provimento jurisdicional que julgar esse processo será cabível o recurso de apelação.

Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/8406/qual-o-recurso-cabivel-da-liquidacao#ixzz20NJzZ17a

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27.8.9. Liquidação e Coisa Julgada


Não se pode falar em coisa julgada, e sim em preclusão. Se após a decisão que julga a
liquidação sobrevier nova decisão alterando o valor, esta será legítima, dando indiscutibilidade
à decisão sobre o quantum debeatur.

27.8.10. Súmulas sobre Liquidação


Súmula 344, STJ: “A liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não ofende a
coisa julgada”. Essa súmula foi definitivamente incorporada ao CPC, no art. 475-B e C. Explica
ela o fato de que a decisão que determina a forma de liquidação não transita em julgado,
nessa parte. A liquidação segue o princípio da fungibilidade das formas, devendo sempre ser
adotada a forma mais adequada ante as circunstâncias do caso concreto.

Súmula 118, STJ: “O agravo de instrumento é o recurso cabível da decisão que homologa a
atualização do cálculo da liquidação”. Igualmente, o conteúdo da sumula foi acrescentado ao
CPC (art. 475-H). A decisão que julga os pedidos da liquidação tem caráter interlocutório,
motivo pelo qual desafiam recurso de agravo de instrumento, salvo se houver um processo de
liquidação.

27.9. Título Executivo

27.9.1. Introdução
Segundo Alexandre Câmara, tanto o conceito quanto a função do título executivo é um dos
temas mais controvertidos de toda a ciência processual. Por isso várias foram as teorias
desenvolvidas com vistas a defini-los. As principais são:

a) Teoria Documental: que trata o título executivo como um documento representativo


da existência do crédito exequendo. Seria uma prova do crédito, cuja eficácia estaria
estabelecida na lei, daí ser considerada uma prova legal;

b) Teoria do Título Executivo como Ato Jurídico: por esta se vê no título o ato capaz de
tornar adequada a via executiva como meio de atuação concreta da vontade da lei;

c) Teoria Mista: por esta o título é visto como Ato e Documento. Corrente perfilhada pela
Doutrina italiana;

d) Teoria que considera o Título como Ato de Acertamento do Direito Substancial: Esta
teoria também foi defendida pelos italianos.

Destas teorias predominou o entendimento segundo o qual o título executivo é o ato (ou fato)
jurídico a que a lei atribui eficácia executiva, tornando adequada a utilização da via executiva
como forma de fazer atuar a responsabilidade patrimonial.

Quanto ao tocante à função alguns autores consideram se tratar de um ‘fator de legitimação’,


ligando o título à legitimidade das partes para a demanda executiva. Outros afirmam ser o
título executivo a causa petendi da demanda executiva.

Ambas as posições são inaceitáveis uma vez que pode ser parte legitimado aquele que nem
figure no título executivo e porque no caso da demanda executiva, a causa de pedir remota
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será o fato constitutivo do direito do demandante, e a causa próxima seria o inadimplemento


do demandado, não tendo, assim, o título a função de servir de causa da execução.

A verdadeira função do título executivo liga-se ao interesse de agir, portanto, está relacionado
com uma das “condições da ação”, a qual consiste na utilidade da tutela jurisdicional
pretendida pelo demandante. Esta utilidade estará presente toda vez que se verificar a
existência de 02 elementos: a necessidade da tutela jurisdicional pretendida (interesse-
necessidade) e a adequação do provimento pleiteado e do procedimento escolhido para obtê-
lo (interesse-adequação). O título executivo tem a função de fazer presente este último
elemento do interesse de agir in executivis. Havendo título executivo será adequada a
demanda de execução forçada do crédito alegado.

Portanto, o título executivo é, pois, responsável por tornar adequada a via executiva como
instrumento de atuação da vontade concreta do Ordenamento Jurídico. Posição esta também
defendida por Cândido Rangel Dinamarco.

Além de necessário para desencadear o processo executivo, o titulo é que dará os contornos e
os limites da execução, uma vez que como o processo de execução pode gerar consequências
graves ao devedor inadimplente, caberá, tão-somente, ao legislador conferir eficácia executiva
a determinado documento, sendo, portanto, taxativo o rol de títulos executivos (numerus
clausus), devendo estar previsto no bojo do Código de Processo Civil ou em leis especiais.

Como o título é indispensável para o ajuizamento da execução, ele deverá vir instruindo a
petição inicial, sob pena de ela ser indeferida (art. 283, CPC). Não se admite, igualmente, que a
petição inicial venha instruída com cópia do título executivo, devendo ser anexado o original
do documento. Admitir-se-á, porém, a utilização de cópia autenticada quando o original
estiver instruindo outro processo, o que deverá ser comprovado pelo exequente por certidão
juntada com a inicial.

Nada obsta que o credor cumule várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes.
No entanto, exige-se que para todas elas seja competente o mesmo juiz e seja idêntica a
forma do processo (CPC, art. 573). É possível também fundar a mesma execução em 02 títulos
extrajudiciais relativos ao mesmo negócio (Súmula 27 do STJ). Assim, nada impede que a
execução seja fundada em uma confissão de dívida firmada por duas testemunhas e em uma
nota promissória emitida como garantia. Eventual vício formal de um dos títulos não
contaminará o outro, e a execução terá regular seguimento.

Os chamados requisitos do título executivo encontram-se definidos no art. 586 do CPC, o qual
relaciona a liquidez, a certeza e a exigibilidade, como atributos inerentes aos títulos
executivos.

Por certeza do título entende-se que não há controvérsia quanto a existência do crédito por
ele manifestado. A certeza decorre, normalmente, da perfeição formal do título.

Título líquido é aquele em que se encontra determinado o valor e a natureza daquilo que se
deve. Por sua vez, um título não deixa de ser líquido por não apontar o montante da dívida,

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desde que se possa, pelos elementos nele contidos, e por simples cálculo aritmético, chegar ao
valor devido.

Já a exigibilidade diz respeito ao vencimento da dívida. Se a obrigação estiver sujeita a


condição ou termo, somente com a verificação de um dos institutos é que o crédito tornar-se-
á exigível.

Título executivo judicial é o formado pelo juiz, por meio de atuação jurisdicional, enquanto o
título extrajudicial é formado por ato de vontade das partes envolvidas na relação jurídica de
direito material, sem nenhuma intervenção jurisdicional.

Essa regra possui duas exceções: a sentença arbitral é considerada pela lei um título judicial,
enquanto a decisão judicial que aprova crédito de serventuário da justiça, um título
extrajudicial.

Somente é título judicial o que a lei federal assim determina, sendo inadmissível que as partes
criem um título executivo por vontade própria, face o princípio do nullus titulus sine lege. O
título executivo tem natureza jurídica mista, pois é, ao mesmo tempo:

a) Documento representativo de crédito;

b) Ato jurídico.

27.9.2. Títulos Executivos Judiciais (art. 475-N)

27.9.2.1. Sentença Proferida no Processo Civil que Reconheça a Existência de Obrigação de


Fazer, Não Fazer, Entregar Coisa ou Pagar Quantia (art. 475-N, I)
Geralmente será sentença condenatória, sendo excepcionalmente sentença declaratória, em
especial a sentença meramente declaratória proferida em demanda movida pelo contribuinte
em face do fisco (declaratória de inexistência de indébito tributário, pedido com o qual
geralmente se cumula o de repetição de indébito).

IMPORTANTE: A redação que admite execução de decisão declaratória é inconstitucional, por


vício de forma (a alteração não passou pela outra casa legislativa). Assim, quem defendia que
já era possível antes a execução da decisão declaratória, afirma que a redação é irrelevante, e
os outros afirmam que o dispositivo é inaplicável.

27.9.2.2. Sentença Penal Condenatória Transitada em Julgado (art. 475-N, II)


Um dos efeitos secundários da sentença penal condenatória transitada em julgado é a criação
de um título executivo na esfera civil, ainda que nenhuma referência tenha sido feita a esse
respeito pelo juízo penal (efeito anexo).

A sentença que condena à medida de segurança, embora absolutória (imprópria), também


enseja a execução, já que é um título que reconheceu o fato típico, ilícito, porém, não culpável.

A sentença penal condenatória poderá ser executada imediatamente se fixar o mínimo


indenizatório, perante o próprio juízo penal; para a obtenção de valores maiores exige-se a
liquidação, que geralmente se fará por artigos.
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A execução somente poderá ter como executado a pessoa do condenado, não podendo sua
liquidação ser proposta em face dos corresponsáveis. Isso porque o processo não foi
integrado por estes, não se podendo fazer incidir os efeitos de uma sentença sobre alguém
que não participou da relação processual por evidente ofensa ao devido processo legal e a
vários outros princípios.

Contra estes deve ser proposta ação de conhecimento.

No caso de revisão criminal julgada procedente, haverá as seguintes situações:

a) Execução não iniciada: não poderá mais se iniciar, face o desaparecimento do título;

b) Execução iniciada: deverá ser extinta, pelo desaparecimento do título;

c) Execução finalizada: dependerá das razões da procedência da revisão criminal;

i. Se fundada em causa que não exclui a responsabilidade civil (como o estado de


necessidade agressivo, prescrição penal): não será possível a repetição de
indébito;

ii. Se fundada em causa que exclui a responsabilidade civil (como a legítima


defesa não fundada em erro na execução, prova de inocência ou inexistência
do fato): haverá a possibilidade de repetição, desde que existente prazo para a
propositura de ação rescisória.

A sentença penal requer a instauração de um processo autônomo de liquidação, com a citação


do acusado.

27.9.2.3. Sentença Homologatória de Conciliação ou de Transação, Ainda que Inclua Matéria


não Posta em Juízo (art. 475-N, III)
Transação é o acordo celebrado entre as partes com sacrifícios recíprocos. Conciliação é a
solução da lide em audiência, por acordo entre as partes e com intermediação do juiz.

A parte final do inciso (matéria não posta em juízo) significa que as partes poderão
transacionar ou se conciliar sobre tema que não foi demandado no processo por qualquer
das partes, o qual constará da sentença e terá eficácia executiva. Nesse caso ocorrerá
ampliação objetiva do objeto da decisão, sem observância do princípio da adstrição ou
correlação.

Porém, nada há de ilegal, já que as partes assim acordam e já que o Judiciário serve para solver
lides entre os particulares.

27.9.2.4. Sentença Arbitral (art. 475-N, IV)


A arbitragem é a mediação de conflitos de interesses entre particulares que optaram pela
resolução extrajudicial do conflito em que se viram envolvidos, seja porque o contrato previa a
cláusula compromissória, seja porque firmaram o compromisso arbitral.

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A sentença daí advinda foi equiparada à sentença judicial, de acordo com o art. 31 da Lei nº
9.307/96.

27.9.2.5. Acordo Extrajudicial, de Qualquer Natureza, Homologado Judicialmente (art. 475-N,


IV)
Deve haver acordo de vontade entre as partes para que esse acordo judicial possa ser
homologado. Assim, trata-se de procedimento de jurisdição voluntária, no qual deverão
concorrer os interessados contra ou a favor dos quais se formará o título.

27.9.2.6. Sentença Estrangeira Homologada pelo STJ (art. 475-N, VI)


Poderá ser homologada qualquer sentença estrangeira, desde que tenha satisfeito os
requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua formação e que indique o Brasil como
lugar de cumprimento da obrigação.

Não se admite a homologação de sentença estrangeira declaratória do estado de pessoa (art.


15, p. único, LICC). Nesse sentido:

PARTILHA DE BENS. SEPARAÇÃO DECRETADA NA ESPANHA. COMPETÊNCIA


DA JUSTIÇA BRASILEIRA PARA DECIDIR A PARTILHA DE BENS IMÓVEIS
LOCALIZADOS NO PAÍS. AUSÊNCIA DE NECESSIDADE DE HOMOLOGAÇÃO DE
SENTENÇA ESTRANGEIRA SOBRE O ESTADO DAS PESSOAS. ART. 15,
PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL.

1. Havendo nos autos, confirmado pelo acórdão, partilha de bens realizada


em decorrência da separação, impõe-se o processo de homologação no
Brasil, aplicando-se o art. 89, II, do Código de Processo Civil apenas em casos
de partilha por sucessão causa mortis.

2. Não há necessidade de homologação de sentenças meramente


declaratórias do estado das pessoas (art. 15, parágrafo único, da Lei de
Introdução ao Código Civil).

3. Recurso especial conhecido e provido.

(STJ, REsp 535.646/RJ, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO,


TERCEIRA TURMA, julgado em 08/11/2005, DJ 03/04/2006, p. 330)

A decisão de homologação tem caráter constitutivo, pois cria no Brasil uma nova relação
jurídica. Porém, somente poderão ser executadas aquelas de natureza condenatória.

27.9.2.7. Formal e a Certidão de Partilha, Exclusivamente em Relação ao Inventariante, aos


Herdeiros e aos Sucessores a Título Singular ou Universal (art. 475-N, VII)
Não se admite a execução de obrigação de fazer ou não fazer baseada nesse título.

27.9.3. Títulos Executivos Extrajudiciais (art. 585, CPC)


Trata-se de documentos particulares ou públicos aos quais a lei empresta força executiva. Eles
possuem a mesma eficácia executiva dos títulos judiciais, submetendo-se ao princípio da
tipicidade, ou seja, somente será título o que a lei nacional dizer que é.

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27.9.3.1. Letra de Câmbio, a Nota Promissória, a Duplicata, a Debênture e o Cheque (art.


585, I)
A duplicata só é título executivo se aceita; se não aceita, ela só terá força executiva se
acompanhada do instrumento de protesto, do comprovante de entrega da mercadoria ou da
prestação do serviço, e se o sacado não houver recusado o aceite, na forma como lhe é
facultado na Lei das Duplicatas.

Os demais títulos não precisam de protesto para que sejam considerados títulos executivos
extrajudiciais.

Em razão do princípio da circulabilidade do título, para o ingresso na ação executiva exige-se a


instrução da inicial com o título original, não sendo permitidas fotocópias, ainda que
autenticadas. Sugere-se ao advogado que, ao instruir a inicial, peça ao juiz para que o título
fique guardado no cofre da secretaria, para que ele não seja “extraviado”.

Súmula 600, STF: “Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas ainda que não
apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária”.

Lembrar, entretanto, que de acordo com a teoria dos títulos de crédito, somente poderão ser
cobrados os endossatários e seus avalistas se o título tiver sido regular e tempestivamente
protestado. Caso contrário, somente poderá ser cobrado o sacado/aceitante e seus próprios
avalistas.

Por fim, vide que o rol de títulos de créditos EXECUTÁVEIS é taxativo: existe uma série de
outros títulos de crédito, geralmente denominados de atípicos, os quais, entretanto, não terão
força de iniciar o processo de execução.

27.9.3.2. Escritura Pública ou Outro Documento Público Assinado pelo Devedor; o


Documento Particular Assinado pelo Devedor e por 02 Testemunhas; o Instrumento de
Transação Referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos Advogados
dos Transatores (art. 585, II)
O documento público é aquele produzido por qualquer agente público no exercício de suas
funções; a escritura pública é ato privativo do tabelião de notas. Esta independe de assinatura
do devedor que confessa a dívida; aquela depende.

A primeira parte se refere à confissão de dívida pelo próprio devedor ou por mandatário com
poderes expressos. No documento particular, exige-se a assinatura de duas testemunhas, não
podendo elas serem os advogados. As assinaturas não precisam ser autenticadas e com firma
reconhecida, bastando a real possibilidade de se identificar inequivocamente as testemunhas.

No caso da homologação realizada pelos advogados dos transatores, esta será válida se
realizada perante um só advogado constituído por ambas as partes.

A partir da Lei nº 8.953/94 não mais persiste a restrição quanto ao objeto de execução, sendo
possível promover a execução das obrigações de dar, fazer ou não fazer.

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Súmula 300, STJ: “O instrumento de confissão de dívida, ainda que originário de contrato de
abertura de crédito, constitui título executivo extrajudicial”. Explicação: o STJ não reconhece o
contrato de abertura de crédito em conta-corrente (cheque especial), mesmo se
acompanhado de memória de cálculo, como título executivo (já que formado
unilateralmente). Entretanto, se o devedor assinar documento de confissão de dívida,
devidamente assinado por duas testemunhas, ele valerá como título executivo extrajudicial.

27.9.3.3. Contratos Garantidos por Hipoteca, Penhor, Anticrese e Caução, bem como os de
Seguro de Vida (art. 585, III)
A palavra caução é de significado amplo, genérico, e no seu sentido lato, significa segurança ou
garantia que o devedor oferece ao credor. Abrange as reais (hipoteca, penhor e anticrese) e as
pessoais ou fidejussórias (fiança).

Com a reforma da Lei 11.382/2006, a força executiva ficou limitada aos contratos de seguro
de vida. Para o manejo da execução, o beneficiário do seguro deverá instruir seu pedido com o
contrato (apólice) e a prova do óbito do segurado. Não se inclui no rol dos títulos executivos o
seguro obrigatório, cuja cobrança se faz pelo procedimento sumário.

Também não se inclui os seguros pessoais, de acidentes etc. A hipótese é específica, somente
seguro de vida.

27.9.3.4. Crédito Decorrente de Foro e Laudêmio (art. 585, IV)


Foro é a pensão anual certa e invariável do enfiteuta paga ao senhorio direto pelo direito de
usar, gozar e dispor do imóvel objeto do direito real de enfiteuse. Laudêmio é a compensação
que é devida ao senhorio direto pelo não uso do direito de preferência, quando o enfiteuta
aliena onerosamente o imóvel foreiro.

No caso de várias pessoas serem enfiteutas de um imóvel, deverão eles elegerem entre eles
um cabecel com a função de representar todos perante o senhorio, sendo esse cabecel a parte
legítima no processo de execução.

27.9.3.5. Crédito, Documentalmente Comprovado, Decorrente de Aluguel de Imóvel, Bem


como de Encargos Acessórios, tais como Taxas e Despesas de Condomínio (art. 585, V)
Tanto a prestação principal (aluguel) como as acessórias podem ser exigidas na relação entre
locador e locatário. A ação de execução só é admitida para a cobrança de dívidas existentes
em razão do contrato de locação.

Assim, as “taxas” devidas AO CONDOMÍNIO não são executáveis. Somente são executáveis os
créditos devidos ao locador.

Tem, pois, o condomínio de sujeitar-se à ação de conhecimento pelo procedimento sumário,


para haver em juízo as contribuições devidas pelos comunheiros. Ademais, o STJ tem
importante entendimento sobre o objeto de execução do condomínio, para fins de que sejam
adimplidas as suas taxas:

EXECUÇÃO DE DÍVIDA CONDOMINIAL. PENHORA ON LINE.

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Na execução de dívida relativa a taxas condominiais, ainda que se trate de


obrigação propter rem, a penhora não deve necessariamente recair sobre o
imóvel que deu ensejo à cobrança, na hipótese em que se afigura viável a
penhora on line. [...] REsp 1.275.320-PR, 3T, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 2/8/2012.

27.9.3.6. Crédito de Serventuário de Justiça, de Perito, de Intérprete, ou de Tradutor, quando


as Custas, Emolumentos ou Honorários forem Aprovados por Decisão Judicial (art. 585, VI)
Apesar da aprovação judicial, o título executivo é extrajudicial, e, portanto, não será
executado no mesmo juízo que aprovou o crédito, devendo o credor valer-se de processo
autônomo. A aprovação não deve ser confundida com sentença, porque não existe entre o
serventuário e a parte devedora das custas uma relação processual. É simples medida de
caráter administrativo para assegurar a regularidade da conta.

27.9.3.7. Certidão de Dívida Ativa da Fazenda Pública da União, dos Estado, do Distrito
Federal, dos Território e Municípios, Correspondente aos Créditos Inscritos na Forma da Lei
(art. 585, VII)
A CDA diz respeito, tão-somente, às dívidas de pagar quantia certa. Outros tipos de obrigações
como de fazer, não fazer e entregar coisa não podem ser inscritos na dívida ativa da Fazenda
Pública, exigindo do ente público um processo regular de conhecimento, ou um de execução,
caso exista algum dos demais títulos previstos no art. 585 do CPC.

Esse é o único título extrajudicial que pode ser formado unilateralmente, sem a participação
do devedor ou de terceiros, face a presunção de legitimidade do ato administrativo.

27.9.3.8. Todos os Demais Títulos, a que, por Disposição Expressa, a Lei Atribuir Força
Executiva (art. 585, VIII)
A lei pode criar outros títulos executivos extrajudiciais, além do rol do art. 585 do Código de
processo Civil. Assim ocorre com as cédulas de crédito rural e industrial, os certificados de
depósito bancário, o warrant e o conhecimento de depósito, entre outros.

Não são, porém, títulos executivos extrajudiciais os contratos de abertura de crédito, ainda
que firmados por duas testemunhas e acompanhados dos extratos. A questão pacificou-se
com a edição da Súmula 233, STJ: “O contrato de abertura de crédito em conta-corrente,
acompanhado do demonstrativo do débito, constitui título hábil para o ajuizamento da ação
monitória” (Súmula 247 STJ).

Assim, se é necessária ação monitória, será justamente para dar força executiva ao título.

27.10. Execução Provisória

27.10.1. Conceito
A execução provisória é aquela fundada em título executivo judicial provisório, aquela decisão
não transitada em julgado que tiver sido recorrida sem que se tenha conferido efeito
suspensivo ao recurso.

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Isso porque, se o efeito suspensivo tiver sido conferido, a execução ficará suspensa. Logo,
NÃO CABE EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE SENTENÇA OU ACÓRDÃO
CUJO RECURSO FOI RECEBIDO COM EFEITO SUSPENSIVO.
Art. 475-I. [...]

§ 1o É definitiva a execução da sentença transitada em julgado e provisória quando


se tratar de sentença impugnada mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito
suspensivo. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

O critério de diferenciação entre a execução definitiva e a provisória é, portanto, a estabilidade


do título executivo judicial em que se funda a execução: se a decisão judicial estiver acobertada
pela coisa julgada material, a execução é definitiva; se a decisão judicial ainda for passível de
alteração (reforma ou invalidação) em razão da pendência de recurso contra ela interposto (a
que não tenha sido atribuído efeito suspensivo, é claro), a execução é provisória.

A execução provisória permite que o vencedor (credor) efetive uma decisão que lhe foi
favorável, ainda que tenha sido impugnada por recurso. Como o credor executa com base em
título provisório, passível de modificação, também há uma legítima preocupação da lei na
preservação dos interesses do devedor, que se traduz na garantia da REVERSIBILIDADE e na
atribuição de RESPONSABILIDADE OBJETIVA ao exequente.

Dentre os títulos judiciais elencados no rol do art. 475-N, nem todos podem ser objeto de
execução provisória, sendo esta incompatível com:

a) Os títulos dos incisos II (sentença penal condenatória transitada em julgado);

b) Os títulos dos incisos IV (sentença arbitral);

c) Os títulos dos incisos VI (sentença estrangeira homologada pelo STJ).

LOGO, NEM TODOS OS TÍTULOS JUDICIAIS PODEM SER OBJETO


DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA
Em todos esses casos só se poderá realizar execução definitiva.

A execução provisória visa a assegurar o direito à efetividade do credor com a necessidade de


se conferir segurança jurídica ao devedor.

27.10.2. Execução Provisória de Título Executivo Extrajudicial


É provisória a execução enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos
embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo. Assim, o que foi recebido
com efeitos suspensivos foram os embargos, o qual não teve o condão de suspender a ação
executiva. Julgados improcedentes, automaticamente se perde o efeito suspensivo, mesmo
que interposta apelação.

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Assim, se a apelação tiver sido recebida apenas no efeito devolutivo, a execução será
definitiva.

A partir daí, a execução do título extrajudicial seguirá as regras do art. 475-O.

Porém, a provisoriedade só se justifica quando pendente julgamento de apelação, de forma


que, confirmada a sentença em segundo grau de jurisdição e interpostos REsp/RE, a execução,
se ainda existir, prosseguirá em sua forma definitiva.

Súmula 317, STJ: “É definitiva a execução de título extrajudicial, ainda que pendente apelação
contra sentença que julgue improcedentes os embargos”. Essa súmula teve seu teor superado,
já que editada antes da Lei nº 11.382/06, que alterou o CPC. Ela somente terá validade se a
apelação não tiver sido recebida no efeito suspensivo.

EXECUÇÃO DEFINITIVA EXECUÇÃO PROVISÓRIA


Sentença ou acórdão recebido sem efeito
Título executivo judicial transitado em julgado
suspensivo
Título extrajudicial cujos embargos recebidos com Título extrajudicial cujos embargos recebidos com
efeito suspensivo foram julgados improcedentes e efeito suspensivo foram julgados improcedentes e
a apelação foi recebida sem efeito suspensivo a apelação foi recebida com efeito suspensivo

27.10.3. Desenvolvimento da Execução Provisória

Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do


mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: (Incluído
pela Lei nº 11.232, de 2005)

I – corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exequente, que se


obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado
haja sofrido; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

II – fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença


objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados
eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento; (Incluído pela Lei
nº 11.232, de 2005)

III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que


importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano
ao executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano
pelo juiz e prestada nos próprios autos. (Incluído pela Lei nº 11.232, de
2005)

§ 1o No caso do inciso II do caput deste artigo, se a sentença provisória for


modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a
execução. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

§ 2o A caução a que se refere o inciso III do caput deste artigo poderá ser
dispensada: (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

I – quando, nos casos de crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato


ilícito, até o limite de sessenta vezes o valor do salário-mínimo, o exequente
demonstrar situação de necessidade; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
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II - nos casos de execução provisória em que penda agravo perante o


Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça (art. 544), salvo
quando da dispensa possa manifestamente resultar risco de grave dano, de
difícil ou incerta reparação. (Redação dada pela Lei nº 12.322, de 2010)

§ 3o Ao requerer a execução provisória, o exequente instruirá a petição com


cópias autenticadas das seguintes peças do processo, podendo o advogado
declarar a autenticidade, sob sua responsabilidade pessoal: (Redação dada
pela Lei nº 12.322, de 2010)

I – sentença ou acórdão exequendo; (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

II – certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo;


(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

III – procurações outorgadas pelas partes; (Incluído pela Lei nº 11.232, de


2005)

IV – decisão de habilitação, se for o caso; (Incluído pela Lei nº 11.232, de


2005)

V – facultativamente, outras peças processuais que o exequente considere


necessárias. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

A execução provisória desenvolve-se da mesma forma que a definitiva, observadas as


particularidades estabelecidas no art. 475-O, são elas:

1) sempre depende de requerimento do credor, consistindo sempre em uma escolha deste


(tendo em vista os ônus que terá que suportar, pois corre por sua conta e responsabilidade);

2) requerimento por petição escrita, instruída com os documentos e cópias dos autos
principais necessários para a atividade executiva (estabelecidos no § 3°);

3) autos apartados (salvo exceções legais);

4) restituição das partes ao estado anterior, extinção da execução e liquidação por


arbitramento de eventuais prejuízos, em caso de anulação ou reforma do título judicial objeto
da execução provisória;

5) responsabilidade objetiva do exequente;

27.10.4. Caução na Execução Provisória (art. 475-O, III)


Independe de caução a simples propositura do pedido de execução provisória. Ela somente
poderá ser demandada nas seguintes situações:

a) Quando requerido o levantamento de depósito em dinheiro;

EXECUÇÃO PROVISÓRIA. LEVANTAMENTO DE DEPÓSITO JUDICIAL. CAUÇÃO.


NECESSIDADE.

Na execução provisória não cabe levantamento de depósito em dinheiro


nem atos que importem alienação de bens ou que possam acarretar grave
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862

dano ao executado, salvo quando houver prestação de caução suficiente e


idônea. Precedentes desta Corte e do STJ. Unânime. (TRF1, 5T, AI
2005.01.00.061626-0/DF, rel. Des. Federal João Batista Moreira, em
23/11/2011.)

b) Para a prática de atos que importem alienação de propriedade do executado;

c) Para a prática de quaisquer atos que possam resultar grave dano ao executado.

A caução exerce a função de garantia ao efetivo ressarcimento de um bem indevidamente


executado enquanto a decisão exequenda não era definitiva. Não se trata, pois, de medida
cautelar.

A CAUÇÃO É EXIGÊNCIA LEGAL, NÃO CABENDO AO JUIZ QUALQUER


GRAU DE DISCRICIONARIEDADE AO ANALISAR SEU CABIMENTO. Ainda que
o executado não tenha qualquer razão em se opor ao exequente, tampouco sofra um risco de
grave dano, será ela devida se presente alguma das hipóteses autorizadoras.

A caução deve ser suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios
autos. Isso quer dizer que:

a) Idônea: é a caução séria, suficiente para fazer frente a um eventual prejuízo do


executado;

b) Suficiente: suficiente para restaurar o status quo ante;

c) Arbitrada de plano: não quer dizer que pode ser fixada de ofício pelo juiz, já que
depende de requerimento pelo exequente. Quer dizer que ele deverá fixá-la sem a
oitiva das partes, com valor por ele arbitrado, após solicitada a execução provisória e
presentes algumas das hipóteses do art. 475-O, III.

Assim, a caução não pode ser fixada de ofício pelo juiz.

27.10.4.1. Dispensa da Caução (art. 475-O, § 2º)


As hipóteses de dispensa da caução não fazem com que a execução se torne definitiva. O título
executivo continua a ser provisório, permanecendo a execução com tal natureza.

A execução provisória, em qualquer caso, mesmo quando dispensada a caução, corre por
iniciativa, conta e responsabilidade do exequente. A responsabilidade pelos danos causados
ao executado no caso de reforma ou anulação da decisão é objetiva.

São as seguintes as hipóteses de dispensa de caução:

a) Crédito de natureza alimentar, com prova da necessidade do exequente e valor não


superior a 60 SM: caso o crédito ultrapasse 60 SM, ele poderá executar
provisoriamente, sem caução, o limite, e executar com caução o que for além do
limite;
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b) Crédito decorrente de ato ilícito, com prova da situação de necessidade do exequente


e valor não superior a 60 SM: esse crédito decorre de ilícito contratual ou
extraconcursal;

c) Quando pender julgamento de agravo de instrumento junto ao STF ou STJ, salvo se da


dispensa puder resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta separação: essa
hipótese leva em conta a grande probabilidade de a sentença ser confirmada de forma
definitiva.

27.10.5. Responsabilidade Objetiva do Exequente (art. 475-O, I)


Como visto, a responsabilidade é objetiva, face a teoria do risco-proveito. A execução
provisória fica sem efeito no caso de anulação ou modificação da sentença que serviu como
título executivo, restituindo-se as partes ao estado anterior. Se a anulação ou modificação for
parcial, somente esta parte ficará sem efeito (art. 475-O, § 1º).

O terceiro adquirente do bem penhorado não perderá o bem com a reforma ou anulação da
sentença; O RETORNO AO ESTADO ANTERIOR DEVE OCORRER RELATIVAMENTE À SITUAÇÃO
PATRIMONIAL DO EXECUTADO antes da execução provisória.

27.10.6. Autos da Execução Provisória (art. 475-O, § 3º)


Como os autos do processo estarão no tribunal, novos autos deverão ser formados, extraindo-
se peças do processo que poderão ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, conforme
art. 544, § 1º.

27.10.7. Execução Provisória contra a Fazenda Pública


A CR/88 exige o trânsito em julgado da decisão de caráter condenatório de pagar quantia
certa contra a Fazenda Pública, para que seja expedido o precatório ou a requisição de
pequeno valor.

O que se pode permitir, com o ajuizamento de uma execução provisória diante de um recurso
desprovido de efeito suspensivo, é o processamento imediato da execução, procedendo-se
com a liquidação do julgado e, posteriormente, citando-se a Fazenda Pública para
oferecimento de embargos do devedor, os quais serão processados e julgados, daí se seguindo
a interposição de eventual recurso de apelação. Encerrado todo o processamento da execução
contra a Fazenda Pública, deverá, então, aguardar-se o desfecho do processo de
conhecimento. A partir do trânsito em julgado, poder-se-á expedir o precatório.

Assim, a execução provisória servirá apenas para adiantar o processamento da execução


contra a Fazenda Pública, eliminando uma etapa futura.

O STJ vem admitindo a expedição de precatório e, consequentemente, o início da execução,


ainda que a sentença seja provisória, quando houver no caso concreto, parcela incontroversa
da pretensão do exequente. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PROVISÓRIA. PARTE


INCONTROVERSA. INEXISTÊNCIA.

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1. É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA CONTRA A FAZENDA


PÚBLICA COM O SISTEMA DE PRECATÓRIOS, DESDE QUE SE TRATE
DE QUANTIA INCONTROVERSA.

2. Neste caso, o Tribunal a quo consignou expressamente não haver parte


incontroversa a ensejar a execução provisória, porquanto a União teria
embargado a totalidade da execução.

3. Agravo Regimental não provido.

(STJ, AgRg no REsp 1225274/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,


SEGUNDA TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 04/04/2011)

O STJ entende também que caso a execução provisória tivesse sido proposta antes da EC nº
30/00, não incidiria a exigência constitucional do prévio trânsito em julgado para o
processamento da execução.

Não dependem da expedição de precatório, logo, podem ser provisoriamente executadas, as


sentenças que determinem a obrigação de fazer, não fazer e dar coisa certa, não impedindo
a execução provisória o reexame necessário, o qual só obsta a consumação da coisa julgada.

Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535


DO CPC. INEXISTÊNCIA. EXECUÇÃO PROVISÓRIA CONTRA A FAZENDA
PÚBLICA. REINTEGRAÇÃO. POSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ.

1. A jurisprudência pacífica desta Corte é no sentido de que o art. 2º da Lei


n. 9.494/1997 não veda o cumprimento de decisão judicial provisória que
determina a reintegração de servidor.

2. A legislação vigente permite a reintegração do servidor afastado, com


respectivas incidências (promoções, reajustes etc), uma vez que o
pagamento dos vencimentos é mera consequência da reintegração do
servidor público.

Agravo regimental improvido.

(STJ, AgRg no Ag 1380177/PE, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA


TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 26/04/2011)

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PROVISÓRIA CONTRA A


FAZENDA PÚBLICA. POSSIBILIDADE. INDENIZAÇÃO FIXADA NA SENTENÇA
EXEQUENDA. TERMO INICIAL DOS JUROS MORATÓRIOS. CITAÇÃO PARA A
EXECUÇÃO.

[...]

3. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que, em relação às


execuções provisórias iniciadas antes da edição da Emenda 30/2000, não
havia a exigência do trânsito em julgado como condição para expedição de

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precatório. Após a Emenda 30, limitou-se o âmbito dos atos executivos, mas
ASSIM, EXCLUÍDAS
não foi inteiramente extinta a execução provisória.
AS HIPÓTESES PREVISTAS NO ART. 2º-B DA LEI N. 9.494/97, É
POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA CONTRA A FAZENDA
PÚBLICA.

[...]

(STJ, REsp 818.349/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,


SEGUNDA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe 08/02/2011)

O art. 2º-B da decisão acima dispõe o seguinte:

Art. 2o-B. A sentença que tenha por objeto a liberação de recurso, inclusão
em folha de pagamento, reclassificação, equiparação, concessão de
aumento ou extensão de vantagens a servidores da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, inclusive de suas autarquias e fundações,
somente poderá ser executada após seu trânsito em julgado. (Incluído pela
Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

Já para execução provisória promovida pela Fazenda Pública, como credora, não há qualquer
restrição. O STJ, inclusive, a DISPENSA DE PRESTAR CAUÇÃO, pois entende que milita em seu
favor uma presunção de idoneidade financeira.

27.10.8. Impossibilidade de Aplicação da Multa do Art. 475-J na Execução Provisória

EXECUÇÃO PROVISÓRIA. MULTA. ART. 475-J DO CPC.

A CORTE ESPECIAL, ao prosseguir o julgamento, decidiu, por maioria, que,


NA EXECUÇÃO PROVISÓRIA, NÃO PODE INCIDIR A
MULTA DE 10% PREVISTA NO ART. 475-J DO CPC
(acrescentado pela Lei n. 11.232/2005). Para o Min. Aldir Passarinho Junior,
na execução provisória, a parte ainda está exercendo seu direito
constitucional de recorrer, então, não seria o momento compatível para a
exigência de multa incidental, pois não se poderia punir a parte enquanto no
gozo de seu direito constitucional de apelar, visto que só não faz o
pagamento porque se trata de uma execução provisória, a qual ainda
deveria aguardar uma decisão definitiva. Ressaltou que essa situação difere
da execução definitiva quando a multa prevista no citado artigo serve para
punir aquele que se nega ou recusa a pagar a obrigação decorrente de uma
decisão judicial já transitada em julgado, que é irrecorrível. Também
ressaltou precedentes julgados nas Turmas do STJ, destacando a doutrina na
qual se observa que o art. 475-J utiliza os termos “condenado” e
“condenação”; logo, não haveria condenação enquanto houvesse recurso
pendente de julgamento. Note-se que essa matéria é controvertida tanto na
doutrina como na jurisprudência, daí a remessa deste recurso oriundo da
Quarta Turma para o julgamento na Corte Especial, que pacificou o
entendimento jurisprudencial. Precedentes citados: AgRg no Ag 1.046.147-
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RS, DJe 16/10/2008; REsp 954.859-RS, DJe 27/8/2007; AgRg no REsp


1.076.882-RS, DJe 8/10/2008; REsp 1.100.658-SP, DJe 21/5/2009; AgRg no
Ag 993.399-RS, DJe 17/5/2010, e REsp 1.038.387-RS, DJe 29/3/2010. REsp
1.059.478-RS, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão
Min. Aldir Passarinho Junior, Corte Especial, julgado em 15/12/2010.

27.11. Prescrição da Pretensão Executiva


Se a execução é considerada proposta a partir de sua distribuição no órgão judicial, é só com a
citação do executado que ela estará aperfeiçoada. Para a interrupção da prescrição, a
execução deve ter sido proposta e deferida pelo juiz. O artigo 617 do CPC prescreve essa
mentalidade ao mesmo tempo em que remete ao artigo 219.

Art. 617. A propositura da execução, deferida pelo juiz, interrompe a


prescrição, mas a citação do devedor deve ser feita com observância do
disposto no art. 219.

Então, o que de fato interrompe a prescrição é a citação válida, retroagindo os seus efeitos até
a data do ajuizamento da ação (219, § 1.º). Se o executado não for citado dentro do prazo e a
demora puder ser atribuída ao exequente, a interrupção da prescrição não ocorrerá.

Se houver a interrupção da prescrição, ela só recomeçará a ser computada depois de praticado


o último ato do processo, mas pode acontecer que o exequente abandone a execução, ainda
mais quando não encontra bens ou encontra bens de pequeno valor. Neste caso, a prescrição
já começa novamente a fluir a partir do último ato praticado no processo que precedeu a
inércia do exequente.

Se a execução for por cumprimento de sentença, o prazo prescricional é intercorrente, ou seja,


se inicia logo em que transitada em julgado, contando-se até o prazo da prescrição da ação de
conhecimento que ensejou a formação da sentença.

IMPORTANTE: a prescrição pode ser arguida a qualquer tempo e não preclui!

Súmula 150, STF: “Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação”. Assim, por
exemplo, o prazo de execução de sentença em face da Fazenda Pública será de 05 anos.

27.12. Nulidades no Processo de Execução


O processo de execução está sujeito ao regime comum das nulidades previstas no processo de
conhecimento (arts. 243 a 250). No entanto, o artigo 618 contempla vícios que são típicos da
execução, ou seja, daqueles pressupostos sem os quais o credor não se legitima a manejar o
processo executivo.

Assim, é nula a execução:

- se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível (Art.
586);

- se o devedor não for regularmente citado;

- se a execução for instaurada antes de se verificar a condição ou ocorrido o termo (art. 572).
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IMPORTANTE: o que justifica a nulidade do processo por falta de citação é a quebra da


garantia fundamental do devido processo legal e do contraditório (art. 5.º, incisos LIV e LV, da
CR).

A nulidade é vício fundamental e, portanto, priva o processo de toda e qualquer eficácia. Sua
declaração, no curso da execução, não exige forma ou procedimento especial. A todo
momento o juiz poderá declarar a nulidade do feito tanto a requerimento da parte como de
ofício. Não é preciso que o devedor utilize dos embargos à execução, podendo arguir a
nulidade por simples petição nos próprios autos da execução. No entanto, se a arguição da
nulidade exigir exame mais detido que reclama o contraditório, somente através dos
embargos é que poderá ser feita a arguição.

27.13. Cumprimento de Sentença da Obrigação de Fazer e Não Fazer (art. 461)

27.13.1. Introdução
No cumprimento das obrigações de fazer ou não fazer, o que se pretende não é uma coisa ou
quantia, senão uma conduta do devedor que pode consistir numa atividade ou numa
abstenção. Nessa modalidade de cumprimento por execução de sentença assume maior relevo
a colaboração do devedor, diferentemente do que ocorre nas demais formas de obrigação.

As obrigações de fazer podem ser fungíveis ou infungíveis. No primeiro caso, transitada em


julgado a sentença condenatória da obrigação de fazer (ou no caso de antecipação de tutela
ou recurso sem efeito suspensivo), abrem-se as seguintes alternativas (no caso de obrigação
fungível):

a) O juiz se utiliza das medidas de apoio dos § § 2º e 4º do art. 461 do CPC, para
conceder a tutela específica ou resultado equivalente (por opção do credor);

b) Escolhe um terceiro para realizar o fazer às custas do devedor (por opção do


credor);

c) O próprio credor realiza o conteúdo da sentença;

d) Converte-se a obrigação em perdas e danos, iniciando-se o cumprimento por


quantia certa;

e) O credor aguarda a realização da prestação, incidindo multa diária por atraso.

Tratando-se de obrigações infungíveis se o devedor não cumprir a obrigação no prazo o


devedor pode aguardar o cumprimento incidindo multa diária, ou pleitear a conversão em
perdas e danos; nestas os meios de subrrogação não são utilizados.

As obrigações de não fazer também revelam diversidade procedimental entre as que podem e
as que não podem ser desfeitas, isto é, entre as permanentes e as instantâneas. As primeiras,
denominadas contínuas, admitem que o autor peça que cesse a violação sem prejuízo do
desfazimento do que já foi feito, as segundas só admitem reparação pecuniária (por isso a
importância da tutela inibitória neste caso). Nas obrigações de não fazer permanentes o
credor pode:
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a) Optar por desfazer por terceiro às custas do devedor;

b) Aguardar o desfazimento sob pressão exercida pela incidência da multa


diária até o efetivo desfazimento;

c) Requerer a conversão da obrigação em perdas e danos, executando por


quantia certa nos próprios autos.

A coerção exercida pela multa é tanto maior se não houver compromisso quantitativo com a
obrigação principal, obtemperando-se os rigores com a percepção lógica de que o meio
executivo deve conduzir ao cumprimento da obrigação e não o inviabilizar, pela bancarrota
patrimonial do devedor.

27.13.2. Espécies de Tutelas Cabíveis


Para as obrigações de fazer e não fazer, tem-se diferentes tipos de tutela:

a) Tutela inibitória: é a tutela destinada a inibir ato contrário ao direito, a fazer com que
ele não ocorra ou que cesse. O seu único pressuposto é a ameaça da prática de ato
contrário ao direito. Ela somente tem razão de ser diante da atividade ou da ação
ilícita continuada e não da atividade ou da ação que se exauriu. Segundo Marinoni, é a
mais importante tutela jurisdicional. É a tutela destinada a impedir a prática do ilícito,
do ato contrário ao direito, e não simplesmente a prática do dano. Nesta dimensão o
ilícito é dissociado do dano, podendo-se falar em duas espécies de ilícito,
configurando-se um como ato contrário ao direito e outro como ilícito danoso. Por
isso, o dano ou a sua probabilidade não constituem pressupostos deste tipo de
tutela, seu único pressuposto é a ameaça da prática de ato contrário ao direito, sendo
desnecessário indagar sobre a culpa, sendo esta critério, apenas, para imputação da
sanção ressarcitória, ou para constatação do dever de indenizar.

É uma tutela voltada para o futuro, seja para evitar a realização de um único ato, ou
para evitar a repetição deles, não se voltando para atos que já aconteceram. O ato a
ser evitado pode ser comissivo ou omissivo, ou seja, um fazer ou um não fazer. Sua
fundamentação é o direito constitucional de ação (art. 5º, inciso XXXV), pois, tal direito
tem como corolário o direito às técnicas processuais idôneas a tutela do direito
material. A ação inibitória é estruturada com base nos arts. 461 do CPC e 84 do CDC,
para os direitos individuais ou coletivos. Os § § dos artigos citados dão ao juiz o poder
de construir a ação e prestar a tutela jurisdicional utilizando a multa ou qualquer outra
medida de execução que for necessária ao caso concreto. Segundo Marinoni, diante da
tutela inibitória, quando nenhuma modalidade de execução for eficaz, a prisão poderá
ser utilizada para constranger o demandado a não fazer ou a prestar um fazer
infungível, que não dependa de disposição de dinheiro;

b) Tutela de remoção do ilícito: aqui, é necessário que a ação contrária ao direito já tenha
ocorrido e que haja efeitos ilícitos, derivados da ação praticada, que estejam em ato
no momento da propositura da ação judicial. Nela o dano ainda não ocorreu. Busca-se
eliminar o ilícito exatamente porque a probabilidade de sua ocorrência é grande. Tal

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tutela também é estruturada nos arts. 461 do CPC e 84 do CDC. É uma tutela
geneticamente dependente da tutela antecipatória, na medida em que o perigo de
dano se relaciona com a ideia embutida na necessidade de se remover os efeitos da
ação ilícita. Os § § 5º dos artigos citados concedem ao juiz a possibilidade de requerer
e adotar a modalidade executiva adequada ao caso concreto;

c) Tutela de ressarcimento específico: não se confunde com ressarcimento pelo


equivalente. É a tutela que visa a que a coisa perdida seja recomposta como
originalmente era, em espécie, buscando restaurar a situação anterior, que existiria
caso o fato danoso não houvesse sido praticado, v.g., como na obrigação de plantar
área desmatada;

d) Tutela do adimplemento na forma específica: trata-se da tutela em que se visa a coagir


o executado a prestar exatamente o que foi contratado com o exequente. Ela
pressupõe o inadimplemento.

e) Tutela do adimplemento perfeito: volta-se contra o cumprimento imperfeito da


prestação. Realiza na forma específica, o adimplemento da prestação originária. A
tutela que aqui interessa pressupõe vício na prestação do fazer ou na coisa,
realizando-se sua reexecução, não se confundindo com a tutela ressarcitória
específica;

f) Tutela específica do cumprimento do dever legal de fazer: são muitos os deveres de


fazer decorrentes de imposição legal. Neste caso também é dispensável a presença de
dano e de culpa, bastando o descumprimento da regra legal.

De acordo com o art. 475-I do CPC, o cumprimento da sentença far-se-á conforme o art. 461
do CPC, quando o objeto da condenação for uma obrigação de fazer ou não fazer. Porém, o
art. 461 não prevê um procedimento executivo para cumprir sentença, antes prevê meios
materiais à disposição do juízo para efetivar o direito do credor.

27.13.2. Aspectos Procedimentais


O cumprimento de sentença deve se iniciar com um requerimento do exequente, após findo o
prazo dado pelo juiz para o cumprimento da obrigação previsto na sentença, prazo este que
deve ter sido intimado ao devedor. Se aplicada multa coercitiva, sua eficácia dependerá da
intimação pessoal do devedor.

O STJ já decidiu que não cabem embargos à execução no cumprimento de sentença de


obrigação de fazer. Admite-se, entretanto, a apresentação de defesa por meio de mera
petição exposta de forma incidental, inclusive se o executado for a Fazenda Pública. Nesse
exato e esclarecedor sentido:

PROCESSUAL CIVIL. LEI N. 11.232, DE 23.12.2005. CUMPRIMENTO DA


SENTENÇA. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA. JUÍZO COMPETENTE. ART.
475-P, INCISO II, E PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. TERMO INICIAL DO PRAZO
DE 15 DIAS. INTIMAÇÃO NA PESSOA DO ADVOGADO PELA PUBLICAÇÃO NA
IMPRENSA OFICIAL. ART. 475-J DO CPC. MULTA. JUROS COMPENSATÓRIOS.

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INEXIGIBILIDADE.

1. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou


seja, logo após o trânsito em julgado da decisão. De acordo com o art. 475-
J combinado com os arts. 475-B e 614, II, todos do CPC, cabe ao credor o
exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória,
especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o
montante apurado, consoante memória de cálculo discriminada e
atualizada.

2. Na hipótese em que o trânsito em julgado da sentença condenatória com


força de executiva (sentença executiva) ocorrer em sede de instância
recursal (STF, STJ, TJ E TRF), após a baixa dos autos à Comarca de origem e a
aposição do "cumpra-se" pelo juiz de primeiro grau, o devedor haverá de
ser intimado na pessoa do seu advogado, por publicação na imprensa
oficial, para efetuar o pagamento no prazo de quinze dias, a partir de
quando, caso não o efetue, passará a incidir sobre o montante da
condenação, a multa de 10% (dez por cento) prevista no art. 475-J, caput,
do Código de Processo Civil.

3. O juízo competente para o cumprimento da sentença em execução por


quantia certa será aquele em que se processou a causa no Primeiro Grau de
Jurisdição (art. 475-P, II, do CPC), ou em uma das opções que o credor
poderá fazer a escolha, na forma do seu parágrafo único – local onde se
encontram os bens sujeitos à expropriação ou o atual domicílio do
executado.

4. Os juros compensatórios não são exigíveis ante a inexistência do prévio


ajuste e a ausência de fixação na sentença.

5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.

(STJ, REsp 940.274/MS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Rel.


p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE ESPECIAL, julgado
em 07/04/2010, DJe 31/05/2010)

27.13.3. Tutela Específica e Conversão em Perdas e Dano (art. 461, § 1º)


O ideal é a prestação da tutela específica. Entretanto, não sendo possível a obrigação de fazer
ou não fazer ou não mais sendo essa a vontade do exequente, haverá a conversão em perdas e
danos.

27.13.3.1. Vontade do Exequente


É a vontade do exequente que definirá a conversão, ainda que a melhor qualidade da
prestação judicial seja a tutela específica. O juiz fica subordinado à escolha dele. Isso porque,
se existem condições para o cumprimento da sentença, é porque o executado não adimpliu a
obrigação no prazo que tinha, não podendo, pois, se opor.

Porém, em se tratando de direito indisponível, a mera vontade do autor não será suficiente,
admitindo-se a conversão em perdas e danos somente quando a tutela específica se tornar
impossível.
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27.13.3.2. Procedimento da Conversão em Perdas e Danos


Sendo a conversão vontade do exequente, basta uma mera petição ao juízo para que se passe
à fixação do valor das perdas e danos, o que será feito por meio de liquidação de sentença
incidental, sem se intimar o executado.

Entretanto, caso a conversão seja pedida por uma das partes, inclusive o executado, em
função da impossibilidade da tutela específica, em respeito ao contraditório, deve o juiz
intimar a parte contrária para se manifestar no prazo de 05 dias.

A decisão que defere o pedido ou determina de ofício a conversão em perdas e danos tem
natureza jurídica interlocutória, recorrível por agravo de instrumento.

27.13.4. Atipicidade das Formas Executivas (art. 461, § 5º)


Art. 461 [...]

§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado


prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento,
DETERMINAR AS MEDIDAS NECESSÁRIAS, TAIS COMO a imposição de
multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e
coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se
necessário com requisição de força policial. (Redação dada pela Lei nº
10.444, de 7.5.2002)

De acordo com o § 5º do art. 461 do CPC, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção
do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as
medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão,
remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se
necessário com requisição de força policial. Esta norma, além de falar expressamente em
“medidas necessárias”, tem nítido conteúdo exemplificativo, valendo-se da expressão “tais
como”, ou seja, tal norma dá ao juiz o poder de utilizar o meio de execução adequado ao caso
concreto.

Esse dispositivo é fruto do direito fundamental de ação (art. 5º, XXXV da CR/88), pois tal direito
exige que o juiz tenha o poder para determinar a medida executiva adequada e, por isto, fez
com que o legislador deixasse de lado o princípio da tipicidade dos meios executivos e
consagrasse o princípio da concentração dos poderes de execução do juiz, sendo tal dispositivo
aberto a concretização judicial.

O § 5º do art. 461 possui uma característica especial, uma vez que nem só apresenta uma
moldura ampla, dentro da qual o juiz pode trabalhar, como anuncia que este trabalho deve ser
realizado segundo as circunstâncias do caso concreto, como uma causa geral executiva.

Ressalte-se que o art. 461 do CPC não só dá ao juiz a possibilidade de definir o meio de
execução a ser utilizado, como o poder de determinar meio de execução diferente do
solicitado pelo autor, quebrando o princípio da tipicidade, e excepcionando o princípio da
congruência entre o pedido e a sentença.

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27.13.5. Multa Coercitiva ou Astreintes (art. 461, § § 4º, 5º e 6º)

27.13.5.1. Valor da Multa


Não existe nenhuma previsão legal referente ao valor da multa coercitiva, devendo apenas ser
suficiente e compatível com a obrigação. Cabe ao juiz analisar as particularidades do caso
concreto para determinar um valor que seja apto a efetivamente exercer tal influência no
devedor para que seja convencido de que a melhor alternativa é o cumprimento da obrigação.

Nos Juizados Especiais Estaduais existe entendimento consolidado no sentido de que as


astreintes não se limitam ao valor-teto de 40 SM, que se refere somente à pretensão
principal do autor.

27.13.5.2. Beneficiado pela Multa


As astreintes sempre beneficiarão à parte contrária, geralmente o exequente, jamais o Estado
(salvo se parte). É pacífico o entendimento do STJ de que as astreintes também são aplicáveis
à Fazenda Pública quando ela é devedora em obrigação de fazer ou não fazer.

Nesse sentido notícia veiculada pelo site do STJ:

Astreintes são devidas apenas ao credor da obrigação e não podem ser divididas com o
Estado

Não há lacuna legal suficiente para destinar, mesmo parcialmente, as astreintes para o Estado
e não ao credor da obrigação. Por maioria, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) rejeitou a proposta do relator, ministro Luis Felipe Salomão, de dividir a condenação.
Prevaleceu o voto do ministro Marco Buzzi, que mantém a jurisprudência do tribunal.

“Embora o texto de lei não seja expresso sobre o tema”, afirmou o ministro Buzzi, “inexiste
lacuna legal no ponto, pertencendo exclusivamente ao autor da ação o crédito decorrente da
aplicação do instituto”.

“Quando o ordenamento processual quer destinar ao Estado o produto de uma sanção, assim
o faz expressamente, estabelecendo parâmetros para sua aplicação, como bem se depreende
do disposto no artigo 14 do Código de Processo Civil (CPC)”, acrescentou.

Para o ministro Buzzi, é impossível estabelecer a titularidade estatal para o recebimento das
astreintes por violar o princípio constitucional da legalidade em sentido estrito e da reserva
legal. Conforme o ministro, a norma que prevê penalidades deve sempre prever um patamar
máximo, delimitador da discricionariedade da autoridade sancionadora.

Direito material

No voto prevalecente, o relator do acórdão apontou que a multa diária por descumprimento
de obrigação de fazer ou não fazer, as astreintes, possuem função de direito material.

Segundo Buzzi, o instituto objetiva ressarcir o credor pelo tempo que se encontra privado do
bem da vida tutelado, coagir indiretamente o devedor e servir como incremento à ordem
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judicial final ou cautelar. Para o ministro, reconhecida uma função de direito material na
multa, a titularidade do credor restaria induvidosa.

Ele também ressaltou que a multa é apenas uma das providências disponíveis ao magistrado,
havendo outros meios mais eficazes para alcançar a pronta satisfação do direito do credor.

Inutilidade

No caso concreto, tratou-se de ação revisional. A multa fora aplicada por conta do
descumprimento da obrigação de se excluir o nome da autora de cadastros de proteção ao
crédito. A solução final da ação alterou minimamente o contrato, restando certa a
inadimplência da autora.

O ministro entendeu que na hipótese, as astreintes eram inúteis, já que o próprio magistrado
poderia ter expedido ofício diretamente ao órgão de cadastro, para afastar o estado de mora
da autora e obter a satisfação imediata da ordem judicial.

Enriquecimento ilícito

Em vista dessas circunstâncias, o relator entendeu que a redução substancial do valor da multa
estipulado pelo tribunal de origem seria adequada. A condenação somou R$ 393.600,00 ao
longo de sete anos. Porém, os parâmetros do STJ arbitram cifras entre R$ 5 mil e R$ 15 mil
para indenizações por registro indevido em cadastros de proteção ao crédito.

Como a autora se encontrava efetivamente inadimplente ao final da ação de conhecimento, a


Turma entendeu adequado restabelecer o valor da multa ao valor fixado na sentença,
evitando-se seu enriquecimento sem causa: R$ 7.932,00, corrigidos pela taxa Selic a partir de
2004.

Divergência

O relator original, ministro Luis Felipe Salomão, propunha a fixação da multa em R$ 100 mil, a
ser dividida igualmente entre o Rio Grande do Sul e a autora. Para Salomão, as astreintes não
poderiam servir de enriquecimento ilícito para o credor, mas tampouco perder seu caráter de
coercitividade frente à parte relutante em cumprir a decisão judicial.

Como em seu entender o texto legal também seria omisso em atribuir a destinação dos valores
da multa, o ministro Salomão recorria ao direito comparado para aplicar a norma do sistema
português, que prevê a divisão do produto financeiro decorrente de astreintes entre o Estado
e o demandante.

Para ele, a divisão resguardaria melhor tanto o direito da parte em ter satisfeita sua pretensão
quanto o interesse estatal em ver cumprido o comando judicial"

(http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=106362)

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27.13.5.3. Alteração do Valor e Periodicidade da Multa (art. 461, § 6º)


O VALOR PODERÁ SER MODIFICADO A QUALQUER MOMENTO PELO JUIZ, ATÉ
MESMO DE OFÍCIO, CASO ELE ENTENDA QUE O VALOR NÃO ESTÁ SURTINDO OS
EFEITOS PSICOLÓGICOS ESPERADOS, OU CASO ESTEJA EXCESSIVO . Para Daniel
Assumpção, a modificação do valor ou da periodicidade só deve ocorrer por circunstâncias
supervenientes.

Assim, não há coisa julgada sobre o valor da multa (nem sobre qualquer outro meio
executivo).

A multa não integra o objeto da sentença, o qual é abarcado pela coisa julgada material. Logo,
não pode ser óbice à sua alteração a alegação de coisa julgada. Inclusive, se ao final o valor
total da execução, somado à multa, for muito alto, deverá ele ser reduzido para evitar o
enriquecimento sem causa, segundo o STJ.

Importantíssimo o seguinte julgado sobre o tema, noticiado no informativo 448 do STJ:

ASTREINTES. REDUÇÃO.

Trata-se, na origem, de ação de indenização proposta pelo ora recorrido em


razão de protesto indevido de título e consequente inscrição de seu nome
em cadastro restritivo de crédito. O ora recorrente fora condenado a retirar
o protesto, bem como a indenizar o autor em 20 salários mínimos a título de
dano moral. O juízo disponibilizou ao autor um ofício para que ele mesmo
providenciasse a baixa dos apontamentos discutidos. Contudo, alegando ser
pobre e ser alto o custo para tal providência, solicitou o autor que o réu
solucionasse a questão. Assim, a princípio, o juízo fixou um salário mínimo
por dia de descumprimento a título de multa, que, posteriormente, foi
majorada. Daí foi ajuizada uma execução pelo descumprimento da
obrigação por determinado período, cujo valor era cerca de R$ 27 mil
recebidos pelo credor, ora recorrido. Mesmo diante da propositura daquela
execução, a ordem não foi cumprida pelo ora recorrente, o que levou o juízo
a majorar, outra vez, a multa para R$ 1 mil por dia de descumprimento,
vindo o recorrente a adimplir a obrigação poucos dias depois. Em
consequência, foi proposta uma segunda execução para recolhimento da
multa devida pelo período remanescente de descumprimento da ordem não
abrangido pela primeira execução, cujo valor, na data do ajuizamento, era
de quase R$ 13 mil. Assim, a Turma negou provimento ao recurso, por
entender, entre outras questões, que, mesmo diante de multas elevadas,
se o único obstáculo ao cumprimento da ordem judicial foi o descaso do
devedor, não se deve reduzir a multa, uma vez que a análise sobre o
excesso dela não deve ser feita na perspectiva de quem, olhando os fatos
já consolidados no tempo, agora que a prestação foi cumprida, procura
razoabilidade, quando há justamente um comportamento desarrazoado
de uma das partes. No caso, a recorrente não alega qualquer impedimento
excepcional para cumprir a obrigação fixada. Logo, reduzir as astreintes,
nesta sede, indicaria às partes e jurisdicionados em geral que as multas
fixadas para cumprimento de obrigações de fazer não são sérias, são
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meros símbolos que não serão necessariamente tornados realidade. A


procrastinação ao cumprimento das ordens judiciais sempre poderia levar
a crer que, caso o valor da multa se torne elevado, o inadimplemento
poderá reduzi-lo no futuro, contando com a complacência do Poder
Judiciário. Precedente citado: REsp 681.294-PR, DJe 18/1/2009. REsp
1.135.824-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/9/2010.

O STJ admite até mesmo o manejo de exceção de pré-executividade para se afastar o valor da
multa:

ASTREINTE. DISCRICIONARIEDADE DO JULGADOR. APRECIAÇÃO. EXCEÇÃO


DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. POSSIBILIDADE.

Trata-se de REsp em que o cerne da questão está na ocorrência da preclusão


quanto à determinação de incidência de multa diária em caso de
descumprimento de decisão judicial. In casu, o tribunal de origem afastou a
possibilidade de se apreciar em sede de exceção de pré-executividade as
questões referentes à inexigibilidade do título, mora e culpa, ante a
necessidade de dilação probatória. Todavia, quanto à astreinte, na esteira
jurisprudencial do STJ, acatou o pedido dos excipientes, ora recorridos, haja
vista a exorbitância do valor executado e por não terem os exequentes, ora
recorrentes, comprovado no início da execução o descumprimento do
acordo judicial. Nesse contexto, a Turma negou provimento ao recurso eis
que, acerca do tema, é consabido que O VALOR DA MULTA DIÁRIA FIXADA
NÃO FAZ COISA JULGADA MATERIAL E PODE SER REVISTA A QUALQUER
TEMPO PELO MAGISTRADO. NO QUE SE REFERE À PRÓPRIA DECISÃO
QUE FIXA A ASTREINTE, DA MESMA FORMA, NÃO HÁ QUE SE FALAR
EM COISA JULGADA MATERIAL E, TAMPOUCO EM PRECLUSÃO. ISSO
PORQUE, SE AO MAGISTRADO É FACULTADO IMPOR A MULTA, DE
OFÍCIO, NÃO SERIA RAZOÁVEL VEDAR-LHE A SUA SUSPENSÃO.
Assim, mostra-se perfeitamente possível o manejo da exceção de pré-
executividade com objetivo de discutir matéria atinente ao valor da multa
diária executada, quanto mais se a matéria poderia ser conhecida até
mesmo sem a manifestação das partes. Ademais, o acórdão recorrido não
reconsiderou a decisão que fixou a multa diária, mas sim a excluiu, ante a
abusividade do seu valor e por não constar dos autos da execução a prova
da mora do executado. REsp 1.019.455-MT, Rel. Min. Massami Uyeda,
julgado em 18/10/2011.

27.13.5.4. Exigibilidade da Multa


A multa coercitiva pode ser concedida tanto para pressionar o devedor a cumprir uma tutela
de urgência concedida por decisão interlocutória (art. 461, § 4º) quanto para cumprir uma
sentença que julga procedente o pedido do autor.

Porém, a partir de quando ela se torna exigível? Para uma corrente, desde a preclusão da
decisão que a fixou, seja porque não foi recorrida ou porque o foi sem efeito suspensivo (é a
corrente que defende a celeridade). Nesse sentido:

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A decisão interlocutória que fixa multa diária por descumprimento de


obrigação de fazer é título executivo hábil para a execução definitiva. Sendo
assim, a execução de multa diária (astreintes) por descumprimento de
obrigação fixada em liminar concedida em ação popular pode ser realizada
nos próprios autos, consequentemente não carece de trânsito em julgado
da sentença final condenatória. (STJ, 1T, Informativo 422, REsp 1.098.028-
SP)

PROCESSUAL CIVIL. ASTREINTES. FIXAÇÃO EM SEDE DE ANTECIPAÇÃO DE


TUTELA. EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE .

1. É desnecessário o trânsito em julgado da sentença para que seja


executada a multa por descumprimento fixada em antecipação de tutela.

2. A fixação de multa diária em sede de antecipação de tutela por


decorrência de descumprimento de obrigação de fazer é título executivo
hábil para a execução provisória.

3. Havendo, na sentença, posterior alteração da decisão que promoveu a


antecipação de tutela e, por conseguinte, conferiu aplicação às astreintes,
ficará sem efeito o crédito derivado da fixação da multa diária, perdendo o
objeto a execução provisória daí advinda.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp 1094296/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,


QUARTA TURMA, julgado em 03/03/2011, DJe 11/03/2011)

Outra corrente defende a segurança jurídica, fixando como marco para a cobrança o trânsito
em julgado. Isso porque a eventual vitória em embargos à execução ou em impugnação elide o
dever da multa. Nesse sentido:

Mostra-se coerente entender, apesar de não se desconhecer haver


divergências na jurisprudência, que as astreintes são devidas desde o
descumprimento da determinação judicial, mas só passam a ser exigíveis
depois do trânsito em julgado da sentença, seja a multa fixada
antecipadamente seja a fixada na sentença. (STJ, 6T, Informativo 456, REsp
903.226-SC)

Nesse sentido também:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE


MULTA COMINATÓRIA - IMPOSSIBILIDADE - RECURSO IMPROVIDO.

(AgRg no REsp 1173655/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA


TURMA, julgado em 12/04/2012, DJe 26/04/2012)

Do inteiro teor desse julgado: Não é possível a execução da astreinte fixada pelo
descumprimento de obrigação de fazer imposta em tutela antecipada na hipótese em que não
houve o trânsito em julgado da respectiva decisão, pois, conforme precedente da Terceira
Turma, a multa diária fixada antecipadamente ou na sentença, em conformidade com o artigo
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461, §§ 3º e 4º, do CPC, só será exigível após o trânsito em julgado da sentença que julga
procedente a ação, sendo devida, todavia, desde o dia em que se deu o descumprimento.

Porém, em alguns casos o legislador expressamente previu que a multa só será exigível após
o trânsito em julgado da decisão. São eles:

a) Nas demandas regidas pelo ECA;

b) Na ACP;

c) Nas demandas regidas pelo Estatuto do Idoso.

Porém, é muito comum que ocorra a fixação de multa no curso do cumprimento de sentença,
já após a formação definitiva do título executivo. Nesses casos, se tiver havido preclusão, e se
não tiverem sido interpostos embargos com efeito suspensivo, o credor poderá pedir a
execução da multa a qualquer momento.

27.13.5.5. Defesa do Executado


Em relação à defesa do executado ressaltamos a possibilidade de recorrer contra o meio
executivo e a forma de tutela do direito fixados na sentença, por meio de apelação, podendo,
com base no art. 558 do CPC, pedir a suspensão do cumprimento da decisão.

No caso de alteração do meio de execução ou da forma de tutela na fase de execução, poderá


o réu utilizar-se do agravo de instrumento, com a possibilidade de se requerer efeito
suspensivo a tal recurso. O réu poderá utilizar-se também, quanto às defesas substantivas da
impugnação a execução, prevista nos arts. 475-L e 475-M.

27.13.5.5. Cabimento das Astreintes


Cabe astreinte em face de obrigação de pagar? O STJ nunca se manifestou de maneira
definitiva sobre isso, por Seção189. Apenas tangenciou a questão. Há entendimentos em ambas
as vertentes. Entendo, entretanto, não caber. Isso porque a astreinte tem por objetivo forçar o

189
Na verdade, se manifestou uma vez, pela 2ª Seção:
ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. PRESERVAÇÃO DA SAÚDE E FORNECIMENTO DE
REMÉDIOS. BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS. POSSIBILIDADE. ART. 461, § 5º, DO CPC. INEXISTÊNCIA DO APONTADO
DISSENSO PRETORIANO. PRECEDENTES. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NÃO-PROVIDOS.
[...]
1. É cabível, inclusive contra a Fazenda Pública, a aplicação de multa diária (astreintes) como meio coercitivo para impor o
cumprimento de medida antecipatória ou de sentença definitiva de obrigação de fazer ou entregar coisa, nos termos dos
artigos 461 e 461A do CPC. Nesse sentido é a jurisprudência do STJ, como se pode verificar, por exemplo, nos seguintes
precedentes: AgRg no Ag 646240/RS, 1ª T., Min. José Delgado, DJ de 13.06.2005; RESP 592132/RS, 5ª T., Min. José
Arnaldo da Fonseca, DJ de 16.05.2005; AgRg no RESP 554776/SP, 6ª T., Min.
Paulo Medina, DJ de 06.10.2003; AgRg no REsp 718011/TO, 1ª Turma, Min. José Delgado, DJ de 30.05.2005.
2. Todavia, não se pode confundir multa diária (astreintes), com bloqueio ou sequestro de verbas públicas. A multa é
meio executivo de coação, não aplicável a obrigações de pagar quantia, que atua sobre a vontade do demandado a fim
de compeli-lo a satisfazer, ele próprio, a obrigação decorrente da decisão judicial. Já o sequestro (ou bloqueio) de
dinheiro é meio executivo de sub-rogação, adequado a obrigação de pagar quantia, por meio do qual o Judiciário obtém
diretamente a satisfação da obrigação, independentemente de participação e, portanto, da vontade do obrigado.
3. Em se tratando da Fazenda Pública, qualquer obrigação de pagar quantia, ainda que decorrente da conversão de
obrigação de fazer ou de entregar coisa, está sujeita a rito próprio (CPC, art. 730 do CPC e CR, art. 100 da CR), que não
prevê, salvo excepcionalmente (v.g., desrespeito à ordem de pagamento dos precatórios judiciários), a possibilidade de
execução direta por expropriação mediante sequestro de dinheiro ou de qualquer outro bem público, que são
impenhoráveis.
[...]
(STJ, EREsp 770.969/RS, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/06/2006, DJ 21/08/2006, p. 224)
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executado a tomar uma medida, fazer, não fazer ou entregar coisa (diferente de dinheiro).
Trata-se dos casos em que há execução específica, sem a conversão no equivalente em
dinheiro.

A astreinte perderia sentido no caso da obrigação de entrega de dinheiro. Isso porque ela
somente teria o efeito de agravar a situação do devedor que já precisa entregar "o cascalho";
geralmente ele já está ferrado. Cominar astreinte, meio psicológico de mesma natureza da
sanção principal seria absolutamente ineficaz. Para tanto, já existe a multa legal (10%).

É verdade que esse raciocínio pode gerar uma série de distorções, como no caso em que a
astreinte é comida em obrigação de fazer durante longo tempo e, futuramente, essa obrigação
é convertida em obrigação de pagar por perda do objeto por culpa do devedor. Assim, o
credor seria altamente beneficiado, torcendo para que tal situação se configurasse, já que não
existe limite para a astreinte. Pensando nisso que os tribunais permitem a redução da
astreinte, para não justificar o enriquecimento ilícito.

Além da multa de 10%, há ainda a incidência de juros moratórios e correção monetária para
forçar o pagamento nas obrigações de pagar.

Além disso, os arts. 461 e 461-A somente prevêem as astreintes para as obrigações de fazer,
não fazer e entregar coisa, mas não para a execução por quantia certa.

As astreintes têm o objetivo principal de obrigar o devedor a cumprir a obrigação específica


(fazer, não fazer ou entregar), e somente subsidiariamente de se converterem em sanção
pecuniária. Assim, parece que elas não teriam sido previstas para a execução por quantia
certa.

Ademais, na obrigação de pagar, cominada a multa legal, resta dar continuidade a todo o
procedimento executivo (penhora, avaliação, expropriação, pagamento), não se justificando,
então, a astreinte.

A astreinte é cabível, inclusive, em face da Fazenda Pública. Nesse sentido:

Informativo 460

A quaestio juris está na possibilidade de aplicação de multa cominatória


(astreinte) contra a Fazenda Pública na hipótese em que o juízo singular
considere descumprida ordem judicial que determinava a apresentação de
documentos necessários ao deslinde da controvérsia. É cediço que
o Codex processual, entre outras medidas coercitivas, atribuiu ao juiz a
faculdade de impor astreinte em desfavor do devedor – ainda que se trate
da Fazenda Pública –, objetivando inibir o descumprimento das obrigações
de fazer ou não fazer (fungíveis ou infungíveis) ou de entregar coisa, que
deverá incidir a partir da ciência do obrigado e da sua recalcitrância.
Ressalte-se que, quanto à obrigação de entregar coisa, o art. 461-A, § 2º, do
CPC determina que, não cumprida a obrigação no prazo fixado pelo juiz,
expede-se, em favor do credor, mandado de busca e apreensão ou de
imissão na posse conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel. No caso dos

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autos, trata-se de multa cominatória imposta pelo juízo singular em ação


mandamental, em função do descumprimento pela Fazenda Nacional de
ordem judicial para a apresentação de cópias das fichas financeiras dos
servidores públicos federais, objetivando a apuração da existência de
descontos indevidos nos vencimentos. Dessarte, havendo a possibilidade de
expedição de mandado de busca e apreensão dos documentos requisitados
pela autoridade judicial (arts. 461, § 5º, e 461-A, § 2º, do mesmo diploma),
como na hipótese, não se mostra razoável a fixação de multa pecuniária
pelo descumprimento da ordem de apresentação, ademais, quando
existente pedido de dilação de prazo formulado pela recorrente (Fazenda
Nacional), o que afasta a caracterização de seu suposto intuito recalcitrante.
Com essas considerações, a Turma deu provimento ao recurso,
determinando a exclusão da astreinte cominada pelo juízo singular em
desfavor da Fazenda Pública. Precedentes citados: REsp 1.162.239-PR, DJe
8/9/2010; AgRg no REsp 1.176.638-RS, DJe 20/9/2010; AgRg no Ag
1.247.323-SC, DJe 1º/7/2010, e REsp 987.280-SP, DJe 20/5/2009. REsp
1.069.441-PE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/12/2010.

27.14. Cumprimento de Sentença da Obrigação de Entregar Coisa (art. 461-A)

27.14.1. Introdução

Art. 461-A. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao
conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da
obrigação. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)

§ 1o Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e


quantidade, o credor a individualizará na petição inicial, se lhe couber a
escolha; cabendo ao devedor escolher, este a entregará individualizada, no
prazo fixado pelo juiz. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)

§ 2o Não cumprida a obrigação no prazo estabelecido, expedir-se-á em


favor do credor mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse,
conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel. (Incluído pela Lei nº 10.444, de
7.5.2002)

§ 3o Aplica-se à ação prevista neste artigo o disposto nos § § 1o a 6o do art.


461. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)

A sentença que reconhece a existência de obrigação de entregar coisa presta a tutela do


direito material apenas em parte, exatamente porque necessita de execução para que a tutela
do direito possa ser integralmente prestada.

O artigo previu apenas o procedimento inicial, não prevendo um procedimento específico para
essa fase de cumprimento de sentença. Caberá ao juiz adotar o procedimento mais adequado,
aplicando-se, aqui, todas as regras previstas ao art. 461, § § 1º a 6º, a respeito da conversão
em perdas e danos, da não taxatividade dos meios executivos e da multa coercitiva.

É inviável, aqui, a obtenção do resultado prático equivalente; se impossível a entrega, restará


apenas a conversão em perdas e danos para suprir o inadimplemento.
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27.14.2. Aspectos Procedimentais


Ao condenar o réu, deverá o juiz fixar um prazo razoável para o cumprimento da obrigação. A
partir daí, após o fluxo prazal, tem início o cumprimento da sentença em si.

Se a coisa for incerta, deverá o credor já lhe ter individualizado na petição inicial; se a escolha
cabia ao devedor, deverá individualizar-lhe no ato de entrega da coisa. Não o fazendo, a
escolha passa ao credor, que deverá individualizar no requerimento inicial do cumprimento de
sentença.

De acordo com o § 2º do art. 461-A se não for cumprida a obrigação no prazo estabelecido,
expedir-se-á em favor do credor mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse,
conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel, ou seja, para tutela específica das coisas móveis
ou imóveis, são previstos, respectivamente, os meios executivos da busca e apreensão e da
imissão na posse. Porém, a maior novidade inserida no art. 461-A foi o disposto no § 3º, que
manda aplicar a execução para entrega de coisa o disposto nos § § do art. 461, pois, essa
norma abre a possibilidade para o uso da multa, assim como de qualquer modalidade
executiva que se mostrar necessária em face do caso concreto, consoante expressas previsões
destinadas a viabilizar a tutela específica diante das sentenças que reconhecem obrigações de
fazer e de não fazer.

Segundo Marinoni, a multa poderá ser utilizada como primeiro meio de coerção para obrigar
o devedor a restituir a coisa, antes mesmo da busca e apreensão, podendo também o juiz
requisitar força policial (que ele considera uma via auxiliar ao meio executivo) para
possibilitar o cumprimento de busca e apreensão ou imissão na posse (em sentido oposto
Luiz Fux, entendendo que a multa só deve ser utilizada caso os outros meios não surtam
efeitos).

Em relação à defesa do devedor, a parte poderá impugnar o meio de execução estabelecido na


sentença através de recurso de apelação, com pedido de efeito suspensivo, se for o caso. Além
disso, a defesa observará, no que for aplicável, as regras pertinentes à impugnação da
sentença que reconhece a obrigação de pagar quantia, podendo de acordo com o § 1º do art.
475-M ser suspensa a execução, diante da presença de fundado receio de dano. Deferido o
prazo para o exequente responder a defesa do executado, o juiz decidirá através de sentença
ou de decisão interlocutória, conforme seja extinta ou não a fase de execução.

O direito de retenção está no plano do direito material, objetiva impedir o enriquecimento


ilícito, constituindo garantia do possuidor (e do devedor) de boa fé que, com seu trabalho e
gasto, conservou o bem, aumentou ou facilitou o seu uso. Há direito de reter a coisa em razão
de benfeitorias, acessões, acréscimos ou melhoramentos, necessários ou úteis. A retenção
deve ser alegada na contestação feita pelo réu, devendo ser apurada antes da sentença, e
não em liquidação de sentença, apurando-se crédito para o réu a entrega da coisa fica
condicionada ao depósito do crédito apurado, podendo o autor prestar caução destes valores,
quando pender discussão sobre eles, ou para obter tutela antecipada.

O perecimento ou a destruição da coisa podem transmudar a execução específica em


cumprimento por quantia correspondente às perdas e danos.
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Portanto, o novo cumprimento da sentença implica em que transitada em julgado a decisão


(ressaltando-se a possibilidade de tutela antecipada e de recurso sem efeito suspensivo) e não
cumprida a decisão no prazo, expede-se em favor do credor, independente de requerimento,
mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse.

Saliente-se que a apreensão do bem é provisória, podendo levantar-se ou converte-se em


definitiva, conforme o julgamento da impugnação resulte em procedência ou improcedência,
podendo o juiz utilizar-se dos meios de coerção previstos no art. 461 e § § .

Por fim, ressalta-se que caso a coisa tenha sido alienada a terceiro, também deve ser expedida
o mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse.

27.15. Cumprimento de Sentença da Obrigação de Pagar Quantia Certa (art. 475-J, L


e M)

27.15.1. Fase Inicial do Cumprimento de Sentença: o Cumprimento Voluntário e a Multa


Legal Coercitiva de 10% (art. 475-J)
O art. 475-J, caput, prevê que, não sendo efetuado o pagamento em 15 dias, o montante da
condenação será acrescido de multa no percentual de 10%, multa esta de natureza
sancionatória, a qual não precisa ser requerida pela parte, podendo fazer-se incidir de ofício,
pelo juiz (NÃO CONFUNDIR ESSA MULTA COM AS ASTREINTES, QUE SÃO FORMAS DE
COERÇÃO).

Parte da doutrina defende uma natureza dupla da multa: é medida de coerção indireta, ex
lege, que dispensa manifestação judicial. Também tem finalidade sancionatória, punindo o
devedor pelo não adimplemento da obrigação.

Ela difere da multa prevista no art. 461 (§ § 4° e 5°), pois não tem origem em decisão judicial,
sendo desnecessário que haja pedido da parte ou imposição expressa na decisão judicial.
Como se disse: é ex lege.

Somente o devedor moroso, que descumpriu a obrigação no prazo, poderá observar o início da
fase de cumprimento de sentença ser consolidado contra si. Se ele paga, não há se falar em
cumprimento.

É importante lembrar que para que o prazo de 15 dias comece a ser contado é preciso que a
dívida seja líquida. Enquanto não liquidado o valor da obrigação, não se pode falar em
inadimplemento, muito menos em multa.

Assim, a fase de cumprimento da sentença é dividida em duas etapas sucessivas: fase de


cumprimento voluntário (com ou sem intimação, dependendo da corrente que se adote); início
da atividade de execução forçada, caso não haja o cumprimento, após intimado o devedor, na
pessoa de seu advogado, para pagamento em 15 dias.

Se efetuado o pagamento parcial, a multa incidirá sobre o restante.

PROCESSUAL CIVIL. LEI N. 11.232, DE 23.12.2005. CUMPRIMENTO DA


SENTENÇA. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA. JUÍZO COMPETENTE. ART.
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475-P, INCISO II, E PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. TERMO INICIAL DO PRAZO


DE 15 DIAS. INTIMAÇÃO NA PESSOA DO ADVOGADO PELA PUBLICAÇÃO NA
IMPRENSA OFICIAL. ART. 475-J DO CPC. MULTA. JUROS COMPENSATÓRIOS.

INEXIGIBILIDADE.

1. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou


seja, logo após o trânsito em julgado da decisão. De acordo com o art. 475-J
combinado com os arts. 475-B e 614, II, todos do CPC, cabe ao credor o
exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória,
especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o
montante apurado, consoante memória de cálculo discriminada e
atualizada.

2. Na hipótese em que o trânsito em julgado da sentença condenatória com


força de executiva (sentença executiva) ocorrer em sede de instância
recursal (STF, STJ, TJ E TRF), após a baixa dos autos à Comarca de origem e a
aposição do "cumpra-se" pelo juiz de primeiro grau, o devedor haverá de ser
intimado na pessoa do seu advogado, por publicação na imprensa oficial,
para efetuar o pagamento no prazo de quinze dias, a partir de quando, caso
não o efetue, passará a incidir sobre o montante da condenação, a multa de
10% (dez por cento) prevista no art. 475-J, caput, do Código de Processo
Civil.

3. O juízo competente para o cumprimento da sentença em execução por


quantia certa será aquele em que se processou a causa no Primeiro Grau de
Jurisdição (art. 475-P, II, do CPC), ou em uma das opções que o credor
poderá fazer a escolha, na forma do seu parágrafo único – local onde se
encontram os bens sujeitos à expropriação ou o atual domicílio do
executado.

4. Os juros compensatórios não são exigíveis ante a inexistência do prévio


ajuste e a ausência de fixação na sentença.

5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.

(STJ, REsp 940274/MS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Rel.


p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 07/04/2010, DJe 31/05/2010)

27.15.1.1. Necessidade de Intimação do Devedor


Para o STJ, havia divergência entre a 3ª e a 4ª Turma sobre o termo inicial dos 15 dias, se
dependeria ou não da intimação do devedor para que a multa pudesse ser cobrada. A Corte
Especial sanou a divergência no seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL. LEI N. 11.232, DE 23.12.2005. CUMPRIMENTO DA


SENTENÇA. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA. JUÍZO COMPETENTE. ART.
475-P, INCISO II, E PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. TERMO INICIAL DO PRAZO
DE 15 DIAS. INTIMAÇÃO NA PESSOA DO ADVOGADO PELA PUBLICAÇÃO NA

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IMPRENSA OFICIAL. ART. 475-J DO CPC. MULTA. JUROS COMPENSATÓRIOS.


INEXIGIBILIDADE.

1. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou


seja, logo após o trânsito em julgado da decisão. De acordo com o art. 475-
J combinado com os arts. 475-B e 614, II, todos do CPC, cabe ao credor o
exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória,
especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o
montante apurado, consoante memória de cálculo discriminada e
atualizada.

2. Na hipótese em que o trânsito em julgado da sentença condenatória com


força de executiva (sentença executiva) ocorrer em sede de instância
recursal (STF, STJ, TJ E TRF), após a baixa dos autos à Comarca de origem e a
aposição do "cumpra-se" pelo juiz de primeiro grau, O DEVEDOR HAVERÁ
DE SER INTIMADO NA PESSOA DO SEU ADVOGADO, POR PUBLICAÇÃO NA
IMPRENSA OFICIAL, PARA EFETUAR O PAGAMENTO NO PRAZO DE QUINZE
DIAS, A PARTIR DE QUANDO, CASO NÃO O EFETUE, PASSARÁ A INCIDIR
SOBRE O MONTANTE DA CONDENAÇÃO, A MULTA DE 10% (DEZ POR
CENTO) PREVISTA NO ART. 475-J, caput, do Código de Processo Civil.

3. O juízo competente para o cumprimento da sentença em execução por


quantia certa será aquele em que se processou a causa no Primeiro Grau de
Jurisdição (art. 475-P, II, do CPC), ou em uma das opções que o credor
poderá fazer a escolha, na forma do seu parágrafo único – local onde se
encontram os bens sujeitos à expropriação ou o atual domicílio do
executado.

4. Os juros compensatórios não são exigíveis ante a inexistência do prévio


ajuste e a ausência de fixação na sentença.

5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.

(STJ, REsp 940.274/MS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Rel.


p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE ESPECIAL, julgado
em 07/04/2010, DJe 31/05/2010)

A partir de então, esse entendimento passou a ser observado:

Seguiu-se com o agravo regimental em que a Quarta Turma, antes da edição


da Súm. n. 410-STJ, decidiu pela desnecessidade de citação do devedor
quando aplicada a multa diária. Daí a seguradora opôs os embargos de
divergência a fim de prevalecer o entendimento adotado pela Terceira
Turma no qual ficou decidido ser necessária a intimação pessoal do devedor
quando aplicada multa diária pelo descumprimento de obrigação de fazer
ou não fazer. Isso posto, observou, em voto-vista, o Min. Luis Felipe
Salomão que não há motivo para qualquer modificação no entendimento
consolidado na Súm. n. 410-STJ – de que o cumprimento da obrigação não é
ato cuja realização dependa de advogado, mas é ato da parte –; assim, A
PRÉVIA INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR CONSTITUI CONDIÇÃO

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NECESSÁRIA PARA A COBRANÇA DE MULTA PELO DESCUMPRIMENTO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER. (STJ, EAg 857.758-RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgados em 23/2/2011).

27.15.1.2. Desnecessidade de Intimação do Devedor Revel

CUMPRIMENTO. SENTENÇA. INÍCIO. PRAZO. REVEL. CITAÇÃO FICTA. ART.


475-J DO CPC. DESNECESSIDADE.

A quaestio iuris consiste em determinar se é necessária a prévia intimação


do devedor para a fluência do prazo de cumprimento voluntário da
sentença, quando há citação ficta do réu e este é representado por defensor
público que atua no exercício da curadoria especial – nos termos do art. 9º,
II, do CPC e art. 4º, XVI, da LC 80/1994. A Turma entendeu que, como na
citação ficta não existe comunicação entre o réu e o curador especial,
sobrevindo posteriormente o trânsito em julgado da sentença
condenatória para o pagamento de quantia, não há como aplicar o
entendimento de que prazo para o cumprimento voluntário da sentença
flui a partir da intimação do devedor por intermédio de seu advogado.
Entender que a fluência do prazo previsto no art. 475-J do CPC dependerá
de intimação dirigida pessoalmente ao réu fere o novo modelo de execução
de título executivo judicial instituído pela Lei n. 11.232/2005. Isso porque a
intimação pessoal traria os mesmo entraves que a citação na ação de
execução trazia à efetividade da tutela jurisdicional executiva. O defensor
público, ao representar a parte citada fictamente, não atua como advogado
do réu mas apenas exerce o dever funcional de garantir o desenvolvimento
de um processo equânime, apesar da revelia do réu e de sua citação ficta.
Portanto, não pode ser atribuído ao defensor público – que atua como
curador especial – o encargo de comunicar a condenação ao réu, pois não é
advogado da parte. O devedor citado por edital, contra quem se inicia o
cumprimento de sentença, não está impedido de exercer o direito de defesa
durante a fase executiva, pois o ordenamento jurídico coloca a sua
disposição instrumentos para que ele possa se contrapor aos atos
expropriatórios. Portanto, na hipótese de o executado ser representado por
curador especial em virtude de citação ficta, NÃO HÁ NECESSIDADE DE
INTIMAÇÃO PARA A FLUÊNCIA DO PRAZO ESTABELECIDO NO
ART. 475-J DO CPC. REsp 1.189.608-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 18/10/2011.

27.15.1.3. Execução por Quantia Certa e Aplicação de Astreintes


Cabe aplicação de astreintes na execução por quantia certa?

O STJ nunca se manifestou de maneira definitiva sobre isso, por meio de uma de suas Seções.
Apenas tangenciou a questão. Há entendimentos em ambas as vertentes. Entendo, entretanto,
não caber. Isso porque a astreinte tem por objetivo forçar o executado a tomar uma medida,
fazer, não fazer ou entregar coisa (diferente de dinheiro). Trata-se dos casos em que há
execução específica, sem a conversão no equivalente em dinheiro.

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A astreinte perderia sentido no caso da obrigação de entrega de dinheiro. Isso porque ela
somente teria o efeito de agravar a situação do devedor que já precisa entregar "o cascalho";
geralmente ele já está ferrado. Cominar astreinte, meio psicológico de mesma natureza da
obrigação principal seria absolutamente ineficaz. Para tanto, já existe a multa legal (10%).

É verdade que esse raciocínio pode gerar uma série de distorções, como no caso em que a
astreinte é cominada em obrigação de fazer durante longo tempo e, futuramente, essa
obrigação é convertida em obrigação de pagar por perda do objeto por culpa do devedor.
Assim, o credor seria altamente beneficiado, torcendo para que tal situação se configurasse, já
que não existe limite para a astreinte. Pensando nisso que os tribunais permitem a redução da
astreinte, para não justificar o enriquecimento ilícito.

Ademais, na obrigação de pagar, após cominada a multa legal, resta dar continuidade a todo o
procedimento executivo (penhora, avaliação, expropriação e pagamento), não se justificando,
então, a astreinte.

27.15.1.4. Inaplicabilidade da Multa em Execuções Individuais na Tutela Coletiva


DIREITO PROCESSUAL. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (ART.
543-C, CPC). DIREITOS METAINDIVIDUAIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. APADECO X
BANESTADO. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. ALCANCE SUBJETIVO DA
SENTENÇA COLETIVA. LIMITAÇÃO AOS ASSOCIADOS. INVIABILIDADE.
OFENSA À COISA JULGADA. MULTA PREVISTA NO ART. 475-J, CPC. NÃO
INCIDÊNCIA.

1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: 1.1. A sentença genérica proferida na


ação civil coletiva ajuizada pela Apadeco, que condenou o Banestado ao
pagamento dos chamados expurgos inflacionários sobre cadernetas de
poupança, dispôs que seus efeitos alcançariam todos os poupadores da
instituição financeira do Estado do Paraná. Por isso descabe a alteração do
seu alcance em sede de liquidação/execução individual, sob pena de
vulneração da coisa julgada. Assim, não se aplica ao caso a limitação contida
no art. 2º-A, caput, da Lei n. 9.494/97.

1.2. A sentença genérica prolatada no âmbito da ação civil coletiva, por si,
não confere ao vencido o atributo de devedor de "quantia certa ou já
fixada em liquidação" (art. 475-J do CPC), porquanto, "em caso de
procedência do pedido, a condenação será genérica", apenas "fixando a
responsabilidade do réu pelos danos causados" (art. 95 do CDC). A
CONDENAÇÃO, POIS, NÃO SE REVESTE DE LIQUIDEZ NECESSÁRIA AO
CUMPRIMENTO ESPONTÂNEO DO COMANDO SENTENCIAL, NÃO SENDO
APLICÁVEL A REPRIMENDA PREVISTA NO ART. 475-J DO CPC.

2. Recurso especial parcialmente provido.

(REsp 1247150/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL,


julgado em 19/10/2011, DJe 12/12/2011)

Extratos do voto do Min. Luis Felipe Salomão:

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A sentença proferida em ação civil pública, por si, não confere ao vencido o atributo de
devedor de "quantia certa ou já fixada em liquidação" (art. 475-J do CPC), porquanto, "em caso
de procedência do pedido, a condenação será genérica", apenas "fixando a responsabilidade
do réu pelos danos causados" (art. 95 do CDC).

A condenação, pois, não se reveste de liquidez necessária ao cumprimento espontâneo do


comando sentencial, não havendo razão lógica ou jurídica para incidir a reprimenda prevista
no art. 475-J do CPC.

Primeiramente, apuram-se, na própria execução, a titularidade do crédito e o quantum


debeatur apresentado pelo beneficiário do provimento, e somente a partir daí é que fica
individualizada a parcela que tocará ao exequente, segundo o comando sentencial proferido
na ação coletiva.

Uma vez mais, acolho os fundamentos do voto proferido nos EREsp. n. 475.566/PR, citados
pelo Ministro Teori Zavascki:

A despeito de ser conhecida como um processo executivo, a ação em que


se busca a satisfação do direito declarado em sentença de ação civil
coletiva não é propriamente uma ação de execução típica. As sentenças
proferidas no âmbito das ações coletivas para tutela de direitos individuais
homogêneos, por força de expressa disposição do Código de Defesa do
Consumidor (Lei nº 8.078/90, art. 95), são condenatórias genéricas. Nelas
não se especifica o valor da condenação nem a identidade dos titulares do
direito subjetivo. A carga condenatória, por isso mesmo, é mais limitada do
que a que decorre das demais sentenças condenatórias. Sobressai nelas a
carga de declaração do dever de indenizar, transferindo-se para a ação de
cumprimento a carga cognitiva relacionada com o direito individual de
receber a indenização. Assim, a ação de cumprimento não se limita, como
nas execuções comuns, à efetivação do pagamento. Nelas se promove, além
da liquidação do valor se for o caso, o juízo sobre a titularidade do
exeqüente em relação ao direito material, para somente então se passar aos
atos propriamente executivos.

27.15.2. Multa e o Pagamento


O mero oferecimento de bens à penhora não ilide a incidência da multa, já que o art. 475-J
determina que seja feito o pagamento, e não a garantia do juízo.

O executado poderá oferecer coisa diversa do dinheiro para evitar a multa, pois estará
efetuando dação em pagamento. Isso porque a obrigação de adimplir é perante o juízo, o qual
alienará o bem e satisfará o exequente.

27.15.3. Necessidade de Provocação do Credor na Instauração da Fase de Cumprimento de


Sentença
Há que se fazer uma separação: o pagamento deve ocorrer em 15 dias do trânsito em julgado.
Entretanto, o cumprimento de sentença somente se inicia com o requerimento do credor
(logo, não poderá ocorrer de ofício), apesar de ser possível ao juiz intimar o demandante para
que cumpra a decisão.
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A partir do requerimento, expede-se mandado de penhora e avaliação, nos termos do art. 614,
II. Do auto de penhora e avaliação será o executado intimado, na pessoa de seu advogado,
para oferecer impugnação no prazo de 15 dias.

Para a maioria da doutrina, o ingresso da impugnação é condicionado à existência da garantia


do juízo, já que, de acordo com interpretação literal do art. 475-J, § 1º, CPC, a impugnação
depende de existir no processo uma auto de penhora e avaliação.

Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já


fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da
condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a
requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta
Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação. (Incluído pela Lei nº
11.232, de 2005)

§ 1o Do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o


executado, na pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237), ou, na falta deste,
o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio,
podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias.
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

No requerimento do exequente, DEVERÁ ele indicar os bens a serem penhorados (art. 475-J, §
3º), não existindo mais a figura da nomeação feita pelo devedor. É responsabilidade do credor
identificar os bens para penhora, não podendo ele transferir ao juízo essa incumbência:

EXECUÇÃO FISCAL. DILIGÊNCIAS JUDICIAIS PARA LOCALIZAÇÃO DE BENS À


PENHORA. ÔNUS DO CREDOR.

Compete ao credor empregar os esforços necessários à localização de bens


para satisfação de seu crédito, devendo o juiz, somente quando
comprovada a impossibilidade de localização de tais bens, requisitá-las aos
órgãos competentes. NÃO É ATRIBUIÇÃO DO JUDICIÁRIO DILIGENCIAR NO
INTERESSE DE QUALQUER DAS PARTES, NOTADAMENTE SE NÃO HÁ
PROVA DA IMPOSSIBILIDADE DE FAZÊ-LO POR SEUS PRÓPRIOS MEIOS.
Unânime. (TRF1, 7T, AI 0035403-45.2012.4.01.0000/MT, rel. Juiz Federal
Ricardo Machado Rabelo (convocado), em 03/09/2012.)

Além disso, não sendo requerida a execução no prazo de 06 meses, o juiz mandará arquivar os
autos, podendo a parte pedir o seu desarquivamento enquanto não prescrito seu crédito (§
5º), o que ocorrerá em 05 anos, conforme art. 206, § 5º, I, CC/02.

Art. 475 [...]

§ 5o Não sendo requerida a execução no prazo de seis meses, o juiz mandará


arquivar os autos, sem prejuízo de seu desarquivamento a pedido da parte.
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

Art. 206 (CC/02). Prescreve:

[...]
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§ 5o Em cinco anos:

I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento


público ou particular;

27.15.4. Procedimento
Apresentado o requerimento de instauração da fase executiva, expedir-se-á mandado de
avaliação e penhora de bens (art. 475-J).

Não há mais a figura da nomeação de bens à penhora pelo devedor. Pode o credor indicar
(facultativamente) os bens a serem penhorados, sem a ouvida prévia do executado (art. 475-J,
§ 3°), sendo que este poderá impugná-la no momento da impugnação ao cumprimento da
sentença, após intimado, no prazo de 15 dias (art. 475-L).

Art. 475-J

[...]

§ 3o O exequente poderá, em seu requerimento, indicar desde logo os bens


a serem penhorados. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)

A indicação de bens pelo credor não é necessária, podendo o oficial de justiça procurá-los.

O convênio BACEN-JUD (celebrado entre o BACEN e o Poder Judiciário) permite um


rastreamento de contas-correntes em nome do executado perante instituições financeiras,
com o fim de penhorar dinheiro (bem preferencial para fins de penhora). A indisponibilidade
dos valores em dinheiro se dá de forma eletrônica (on line). Tal modalidade de penhora, hoje,
é expressamente permitida pelo art. 655-A.

No caso de outras espécies de bens, a avaliação dos mesmos deve ser feita pelo próprio oficial
de justiça que proceder à penhora. Esta poderá ser questionada pelo executado na
impugnação, sob pena de preclusão. Se o oficial de justiça não dispuser de conhecimentos
especializados, o juiz nomeará avaliador (perito).

Discute-se a respeito de ser ou não a penhora um requisito para que possa o executado
apresentar impugnação ao cumprimento da sentença. Isso se dá porque a Lei 11.382/2006
alterou a redação do CPC passando a não exigir a penhora como requisito para apresentação
de embargos de devedor na execução de título extrajudicial. Discute-se, pois, se tal alteração
atingiu o cumprimento da sentença. Aplicando a analogia, muitos doutrinadores entendem
que não é necessária a penhora para haver a impugnação.

O executado pode reagir à execução (cumprimento da sentença) apresentando impugnação,


defesa típica regulada pelos arts. 475-J a 475-M do CPC. Também poderá apresentar exceção
de não-executividade (ou “de pré-executividade”), independentemente de prévia penhora.

Quanto ao procedimento da fase final da execução forçada de título judicial (atos de


pagamento ou expropriação de bens), que se dá após a fase de impugnação do executado,
deverão ser observadas as regras do processo de execução de títulos extrajudiciais, na

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execução por quantia certa contra devedor solvente e insolvente (art. 646 e ss., CPC),
conforme determina o art. 475-R, CPC.

27.15.5. Honorários Advocatícios


O STJ já assentou entendimento de que são cabíveis honorários advocatícios na fase de
cumprimento de sentença, salvo se houver o cumprimento voluntário da obrigação. Isso
porque os honorários fixados na sentença condenatória referem-se apenas aos trabalhos
prestados na fase de conhecimento.

Importante o seguinte julgado:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CUMPRIMENTO. SENTENÇA. IMPUGNAÇÃO.

Trata-se de recurso especial sob o regime do art. 543-C do CPC c/c a Res. n.
8/2008-STJ em que a Corte Especial, ao prosseguir o julgamento, decidiu
serem cabíveis honorários advocatícios em fase de cumprimento de
sentença, haja ou não impugnação, depois de escoado o prazo para o
pagamento voluntário a que faz menção o art. 475-J do CPC, o qual somente
se inicia depois da intimação do advogado, com a baixa dos autos e a
aposição do “cumpra-se”. Entendeu, ainda, que somente são cabíveis
honorários advocatícios na impugnação ao cumprimento de sentença em
caso de acolhimento dela, com a consequente extinção do procedimento
executório. Por fim, asseverou não se tratar de dupla condenação. Os
honorários fixados no cumprimento de sentença, de início ou em momento
posterior, em favor do exequente deixam de existir em caso de acolhimento
da impugnação com extinção do procedimento executório, momento em
que serão arbitrados honorários únicos ao impugnante. Por outro lado, em
caso de rejeição da impugnação, somente os honorários fixados no pedido
de cumprimento da sentença subsistirão. Sendo infundada a impugnação, o
procedimento executivo prossegue normalmente, cabendo, eventualmente,
incidência de multa por litigância de má-fé ou por ato atentatório à
dignidade da Justiça, mas não honorários advocatícios. Na espécie, houve
condenação à verba advocatícia devido à rejeição da impugnação, o que
contraria o entendimento esposado acima, motivo pelo qual devem ser
decotados os honorários fixados no acórdão recorrido, sem prejuízo do
arbitramento no âmbito do próprio cumprimento da sentença, de acordo
com o art. 20, § 4º, do CPC. Precedentes citados: REsp 920.274-RS, DJ
24/4/2007, e REsp 1.048.043-SP, DJe 26/5/2008. REsp 1.134.186-RS, Corte
Especial, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/8/2011.

Logo, serão devidos honorários ao advogado do exequente pela simples petição de


cumprimento de sentença, após decorrido o prazo para pagamento de 15 dias dado ao
executado.

Ao advogado do executado somente serão devidos honorários se tiver sucesso na impugnação,


levando à extinção da fase de cumprimento.

Não deverá haver acréscimo de honorários em função da rejeição da impugnação.

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27.16. Execução das Obrigações de Fazer e Não Fazer por Título Extrajudicial

27.16.1. Introdução
Os títulos extrajudiciais podem impor obrigações de fazer, de não fazer e de entregar coisa. O
tema foi tratado nos arts. 621 a 645 do CPC, aplicando-se, subsidiariamente, as regras que
regem o processo de execução por quantia certa. Tratando-se de títulos judiciais deste tipo de
obrigação são utilizadas as regras dos arts. 461 e 461-A, conforme visto acima. Advirta-se que
a ação dos arts. 461 e 461-A dão ao juiz uma ampla latitude de poder executivo, bem mais
extensa da que lhe é outorgada pelas normas que regem o processo de execução de título
extrajudicial.

No processo de execução de título extrajudicial, apenas se admite o meio coercitivo da multa


periódica (art. 645 do CPC) ou, eventualmente, a subrrogação do fato a terceiro e a
conversão da obrigação original em perdas e danos.

Já o art. 461, § 5º, contém regra processual aberta, que dá ao autor e ao juiz o poder de utilizar
a técnica executiva adequada (de acordo com as regras do meio idôneo e da menor restrição
possível) ao caso concreto (por isto, Marinoni entende que o juiz pode utilizar o § 5º do art.
461 do CPC, mesmo nos casos de execução de título extrajudicial, considerando o direito a
tutela efetiva com base no inciso XXXV do art. 5º da CR/88).

A petição inicial do processo de execução, como visto, deve conter todos os requisitos do art.
282, além dos previstos no art. 614, que são:
a) O título executivo extrajudicial ou judicial que requeira ação de execução autônoma;
b) O demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, caso se trate
de execução por quantia certa.
c) A prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo.
Recebida a inicial o juiz deve, além de determinar a citação do requerido, fixar de imediato o
valor dos honorários (por aplicação subsidiária do art. 652-A, podendo ser reduzido pela
metade no caso de cumprimento imediato da obrigação), e fixar a multa periódica, como
forma de induzir o devedor ao cumprimento da obrigação (a fixação inicial da multa não
impede a sua alteração posterior, nem o uso subsidiário das permissões contidas no art. 461 §
4º), fixando um prazo a partir do qual a multa é devida, com tempo razoável para o
cumprimento da obrigação, a não ser que este prazo esteja previsto no título, que neste caso
deve ser respeitado.

Existe também a possibilidade do valor da multa estar previsto no título; nesta situação, o
valor estabelecido deve servir de teto para a multa, que pode ser diminuída se o juiz entender
excessivo (art. 645, parágrafo único).

Se a obrigação de fazer for fungível, haverá maior variedade de formas executivas:

a) Aplicar as astreintes (art. 646);

b) Determinar a realização da obrigação por terceiros (arts. 633 e 634);


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c) Determinar a realização da obrigação pelo próprio exequente ou sob sua supervisão


(art. 633).

Tratando-se de obrigação infungível, o juiz praticamente só possui as astreintes como forma


de coerção indireta.

27.16.2. Obrigações de Fazer (arts. 632 a 638)

27.16.2.1. Execução de Prestações Fungíveis


Nessa espécie de execução não é possível garantir o juízo, sendo impossível ao executado
prestar uma garantia de que a obrigação de fazer será satisfeita.
Inicialmente, o executado será citado para satisfazer a obrigação no prazo assinalado pelo
juiz, na ausência de indicação de prazo no título (art. 632). O prazo poderá ser prorrogado por
caso fortuito ou força maior. Ao despachar a inicial, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento,
fixar multa por dia de atraso, ou por outros períodos que fixar (art. 645), determinando a data
a partir da qual será devida. Se silente, a multa é devida imediatamente.
Porém, de acordo com o STJ, essa multa só é devida após a intimação pessoal do executado.
O juiz pode modificar o valor e a periodicidade da multa, caso se revelem inadequados, tanto a
maior quanto a menor.

27.16.2.1.1. Posturas do Executado


O executado poderá adotar as seguintes posturas:
a) Embargar a execução: no prazo de 15 dias. Se não for concedido efeito suspensivo, os
embargos e a execução seguem normal e paralelamente. Se concedido efeito
suspensivo, o procedimento executivo somente retomará o seu andamento após a
prolação da sentença nos embargos;
b) Cumprir a obrigação: nesse caso, a execução será extinta (caso cumprida dentro do
prazo), já que o direito do credor restará satisfeito;
c) Permanecer inerte: nesse caso, que se equipara ao não cumprimento, o
prosseguimento da execução dependerá das posturas do exequente, a seguir
analisadas.

27.16.2.1.2. Posturas do Exequente


Se, vencido o prazo da citação, o devedor não cumprir a obrigação, o credor poder optar entre:
a) Pedir a realização da prestação por terceiro, à custa do devedor: então, se a prestação
puder ser realizada por terceiro, o juiz, a requerimento do exequente, decidirá que um
estranho realize o fato à custa do executado (art. 634). O exequente pode apresentar
uma ou algumas propostas (subscritas por interessados na realização da obrigação),
sobre as quais o juiz ouvirá o executado, garantindo o contraditório. Aprovada a
proposta pelo juiz, lavrar-se-á termo nos autos para a formalização do respectivo
contrato. Para viabilizar a obra, cabe ao exequente adiantar as quantias previstas na
proposta aprovada em juízo.

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Portanto, a escolha do terceiro e as condições da contratação devem partir do


exequente, que as submeterá ao juiz para que este autorize o início das obras. Não é
do juiz a escolha, a sua função é apenas a de conferir o projeto do credor com a força
do título executivo e evitar qualquer excesso.
Concluída a obrigação, as partes deverão ser ouvidas no prazo de 10 dias. As eventuais
impugnações serão solucionadas de plano. Não havendo impugnação ou estando as
impugnações resolvidas, o juiz dará por cumprida a obrigação, pondo fim à execução
(art. 635).
A recuperação das importâncias adiantadas pelo exequente para custeio da prestação
se dará com os acréscimos dos gastos processuais (custas e honorários) por meio de
execução por quantia certa, nos próprios autos, uma vez que a realização do fato deve
se dar à custa do executado (art. 634). O procedimento será o dos artigos 475-I e
seguintes.
No entanto, pode ocorrer do contratante não prestar o fato no prazo convencionado
ou que o realize de modo incompleto ou defeituoso. Caso isso ocorra, o exequente
poderá requerer autorização judicial para concluir a obra ou repará-la (art. 636), mas
por conta do contratante. Sobre esse pedido (que deverá ser formulado nos 10 dias
seguintes ao cumprimento da obrigação), o contratante será ouvido em 5 dias. Com
isso, será estabelecido um incidente processual, com contraditório, entre o exequente
e o contratante. A solução certamente exigirá que o juiz realize uma vistoria.
Comprovada a inexecução total ou parcial da obra, deverá ser realizada uma perícia
para avaliar o custo das despesas a serem efetuadas para a conclusão ou reparo da
obra, devendo o contratante ser condenado a pagá-lo.
b) Realizar a obrigação pessoalmente ou através de prepostos: o exequente não está
obrigado a ver a obra sempre executada por terceiro autorizado judicialmente. O
artigo 249 do Código Civil assegura a opção de realizar a prestação pessoalmente ou
por prepostos, sendo que, nos casos de urgência, poderá realizar a prestação até
mesmo sem a autorização do juiz. No mesmo sentido orienta o artigo 637 do CPC.
Cabe observar que, se o propósito do credor já é requerer a execução da prestação
por sua própria conta, deve assim se manifestar já na petição inicial. Isso porque ele
tem direito de preferência de executar a obrigação, desde que apresente igualdade de
condições em comparação a terceiros;
A decisão que decide pela rejeição, aprovação ou pelo direito de preferência do exequente
tem natureza interlocutória, sendo recorrível por agravo de instrumento.
c) Reclamar perdas e danos, convertendo a obrigação em indenização: hipótese em o
valor será apurado em liquidação (arts. 475-A a 475-H) e, após a devida apuração, a
execução se converterá em execução por quantia certa.

27.16.2.2. Execução de Prestações Infungíveis


Nesta hipótese, a execução consiste em assinar um prazo ao devedor para que cumpra a
obrigação, citando-o para tanto. Se houver recusa ou mora de sua parte, outra solução não há
senão a de converter a obrigação personalíssima em perdas e danos (obrigação subsidiária).
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Deverá haver a liquidação incidental, somando-se ao valor da multa, e, em seguida, adotando


conforme o rito da execução por quantia certa.
IMPORTANTE: neste caso não cabe a aplicação da multa cominatória (astreinte). O próprio
direito material (art. 247 do Código Civil) determina como sanção aplicável a substituição por
perdas e danos.
Se o contrato não fez previsão do valor da indenização em caso de inadimplemento, o credor
deverá realizar a liquidação. Uma vez líquido o valor da indenização, a execução tomará as
feições da execução por quantia certa.

27.16.3. Execução das Obrigações de Não Fazer (arts. 642 e 643)


Quanto às prestações de não fazer, do ponto de vista estrito o CPC não oferece remédio
especifico para elas, pois o regime dos arts. 642 e 643 tratam das obrigações de desfazer, que
com elas não se confundem. As prestações de não fazer são na verdade infungíveis, pois, sua
intenção é evitar a conduta, e não a subrrogação a terceiros. Estes artigos tratam da obrigação
de desfazer, que não passa de uma obrigação de fazer, não existindo previsão específica para
as obrigações da não fazer, sendo a multa coercitiva (art. 645 do CPC) a única técnica a ser
utilizada neste tipo de obrigação.

Ressalte-se que a multa por dia de atraso não tem aplicação às obrigações de não fazer
instantâneas; nesses casos a multa deve ser estabelecida em valor fixo para o caso de
inadimplemento, ou melhor, a multa deve ser estabelecida para o caso de prática da
conduta a ser obstada, pois a multa por dia de atraso revela em si a aceitação do
inadimplemento.

O mandado de citação deve conter a advertência de que a violação da obrigação de não fazer
sujeitará o devedor à multa nele fixada, a par de outras medidas cabíveis, como o
desfazimento da obra.

Abstendo-se de realizar o ato o devedor o feito será extinto, salvo nos casos de obrigações
continuadas, ou de prestações instantâneas que se repetirão no tempo, pois, nestes casos o
feito deverá no máximo ser arquivado, aguardando-se a perda do objeto da execução.

Descumprida a ordem de não fazer, além da multa, poderá o credor pedir ao juiz que
determine ao executado que desfaça o que não deveria ter realizado, e caso este descumpra
esta decisão, poderá o juiz determinar que o fato seja desfeito por terceiro à custa do devedor,
seguindo-se o regime previsto para execução de obrigações de fazer.

Sendo impossível o desfazimento, ou não havendo mais interesse do credor, a obrigação se


converterá em perdas e danos, seguindo-se liquidação incidental e execução nos mesmos
autos, na forma prevista para a execução de quantia certa. O devedor poderá opor-se à
execução por meio de embargos.

27.17. Execução da Obrigação de Entregar Coisa Certa ou Incerta (arts. 621 a 631)

27.17.1. Introdução
Essa modalidade de execução forçada pode ser classificada em:
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a) Dar: a obrigação é de dar quando incumbe ao devedor entregar o que não é seu,
embora estivesse agindo como dono;

b) Prestar: a obrigação é de prestar quando a entrega é de coisa feita pelo devedor, após
a respectiva conclusão;

c) Restituir: a obrigação é de restituir quando o devedor tem a obrigação de devolver ao


credor algo que recebeu deste para posse ou detenção temporária.

Essas ações se voltam para o cumprimento de obrigação de entregar coisa que não seja
dinheiro. No entanto, o objeto da prestação nem sempre vem completamente individualizado,
pelo que o CPC separou a execução da entrega de coisa certa (art. 621) e a entrega de coisa
incerta (art. 629), conforme será estudado.

É de fundamental importância a definição da coisa como certa ou incerta.

27.17.1.1. Entrega de Coisa Certa (arts. 621 a 628)


Tratando-se de entrega de coisa certa o juiz poderá, ao receber a inicial, fixar multa coercitiva
a fim de estimular o executado a cumprir a obrigação assumida, sendo este citado para
entregar o bem no prazo de dez dias, sendo entregue a coisa no prazo, extingue-se o feito,
não se cogitando de multa, ressaltando-se que a execução pode prosseguir em relação a
eventuais frutos e danos.

Destaque-se que o executado pode depositar a coisa no prazo de dez dias; neste caso não
incide a multa.

O depósito da coisa passou a ser condição para o pedido de outorga de efeito suspensivo aos
embargos (art. 739-A), porém, o réu pode opor embargos, independente do depósito da
coisa.

Art. 739-A. Os embargos do executado não terão efeito suspensivo.


(Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).

§ 1o O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito


suspensivo aos embargos quando, sendo relevantes seus fundamentos, o
prosseguimento da execução manifestamente possa causar ao executado
grave dano de difícil ou incerta reparação, e desde que a execução já esteja
garantida por penhora, depósito ou caução suficientes. (Incluído pela Lei nº
11.382, de 2006).

Lembrar que os embargos à execução recebidos no efeito suspensivo suspendem a execução.

Ressalte-se que o prazo de 15 dias para embargar a execução é independente do prazo de 10


dias para depositar a coisa. O efeito suspensivo a ser atribuído aos embargos depende, além
do depósito, que estejam presentes os requisitos do § 1º do art. 739-A, ou seja, a relevância
dos fundamentos dos embargos e a circunstância de o prosseguimento da execução
manifestamente poder causar grave dano ao executado, de difícil ou incerta reparação.

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Não sendo concedido efeito suspensivo aos embargos, será possível o levantamento da coisa
que foi depositada pelo credor (art. 623), e, mesmo que tenha sido concedido efeito
suspensivo aos embargos, o exequente poderá prestar caução suficiente e idônea para
requerer o levantamento da coisa, requerendo a expedição de mandado de busca e
apreensão ou de imissão na posse, conforme se trate de bem móvel ou imóvel,
respectivamente.

Alienada a coisa já litigiosa, o mandado será expedido contra o terceiro adquirente (neste caso
se o credor assim requerer, este tem a opção de pedir a conversão em perdas e danos), que
apenas será ouvido após depositá-la (art. 627).

Saliente-se que o devedor de boa fé (ou terceiro de boa fé que esteja na posse do bem) só
terá de entregar a coisa depois de indenizado das benfeitorias úteis e necessárias que
houver realizado, podendo o devedor alegar em embargos a retenção por benfeitorias.

Nesse caso, deverá ser instaurado um incidente de execução para se apurar o saldo relativo às
benfeitorias.

O embargado pode alegar a compensação do valor das benfeitorias com o ressarcimento de


danos e frutos, cabendo ao juiz nomear perito para apuração dos valores correspondentes, e
havendo crédito em favor do devedor o credor deverá depositar a diferença, em caso de
crédito em favor do credor, seguirá a execução deste valor, nos mesmos autos. Efetuado o
pagamento do valor da diferença o credor poderá ser imitido na posse da coisa, salvo, se a
execução tiver sido suspensa.

Quando a coisa não for entregue pelo devedor, tiver sido deteriorada, desaparecido ou,
estando em poder de terceiro adquirente, não for reclamada pelo credor, terá esse o direito
de receber valor em dinheiro equivalente ao da coisa, mais perdas e danos (art. 627 do CPC).

Não sendo possível apurar o valor devido, poderá o juiz arbitrá-lo por equidade ou determinar
sua liquidação, nas formas regulares (art. 627, § § 1º e 2º, c/c arts. 475-A a 475-H, do CPC), a
liquidação corre no processo original.

27.17.1.2. Entrega de Coisa Incerta (arts. 629 a 631)


Quando a obrigação envolver coisa incerta, deverá haver a prévia determinação do bem a ser
entregue (concentração). Se não existir previsão contratual de quem cabe a escolha, esta é
deferida ao devedor (art. 244 do CC). Se a escolha couber ao credor este a fará na petição
inicial, seguindo-se o procedimento acima estudado para entrega de coisa certa (art. 629 do
CPC).

Citado o executado este tem o prazo de 48 horas para impugnar a escolha do exequente, e o
prazo de dez dias para promover a entrega ou o depósito do bem. Apresentada impugnação, a
escolha do bem será decidida pelo juiz de plano, ou após ouvir perito de sua confiança; nesse
caso, enquanto pender a solução do incidente da escolha ficará suspenso o prazo de 10 dias
para entrega do bem.

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Se, porém, a determinação competir ao devedor, será ele citado para entregar o bem
individualizado no prazo de 10 dias; também aqui poderá o credor impugnar a escolha feita
no prazo de 48 horas, contado da entrega ou do depósito do bem. Impugnada a escolha
caberá ao juiz decidir nos termos acima indicados. Caso a parte que cabia a escolha não o fizer,
tal direito passa para a outra, ou seja, caso o credor não o faça na inicial, caberá ao devedor
fazê-lo e vice versa.

Assim: Escolha do credor Deve ser feita na inicial, com prazo de 48h p/ devedor impugnar
Escolha do devedor Deve ser feita em 10 dias, com prazo de 48h p/ credor impugnar

Em seguida segue-se a execução normal para entrega de coisa, cabendo salientar que a perda
ou a deterioração da coisa, antes da escolha, é irrelevante, mesmo quando oriunda de força
maior ou caso fortuito (art. 246 do CC).

27.17.1.2.1. Natureza Jurídica dos Efeitos da Impugnação


Como visto, qualquer das partes poderá, em 48 (quarenta e oito) horas, impugnar a escolha
feita pela outra, e o juiz decidirá de plano, ou, se necessário, ouvindo perito de sua nomeação
(CPC, art. 630).

De toda maneira, frise-se: a impugnação deve der fundamentada, sob pena de sua
inadmissibilidade (MARINONI). Porém, existe larga discussão doutrinária a respeito dessa
decisão judicial: reveste-se ela da imutabilidade decorrente da preclusão, da coisa julgada
material ou da coisa julgada formal?

Jurisprudência e doutrina afirmam que a decisão se reveste de coisa julgada material: o


magistrado julga a escolha, declarando-a eficaz ou ineficaz. Aliás, como bem aponta PONTES
DE MIRANDA, trata-se de matéria típica de embargos do devedor, que, por técnica legislativa,
se tornou mais simples e breve. Daí por que, tendo sido julgada “de plano” a escolha, não
poderá ser ela ser rediscutida ulteriormente em sede de embargos.

27.18. Execução de Pagar Quantia Certa contra Devedor Solvente

27.18.1. Introdução
A execução por quantia certa, no âmbito da jurisdição, é um serviço público que o Estado põe
à disposição do credor para realizar, coativamente, em benefício deste, mas também no
interesse público de manutenção da ordem jurídica, o crédito não satisfeito voluntariamente
pelo devedor, na época e forma devidas.
Partindo da regra de que “o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com
todos os seus bens presentes e futuros” (art. 591 do CPC), a execução por quantia certa tem
por objetivo expropriar aqueles bens do devedor inadimplente que sejam necessários à
satisfação do direito do credor, como dispõe o art. 646 do CPC.
Art. 646. A execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do
devedor, a fim de satisfazer o direito do credor (art. 591).

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Essa expropriação executiva para obter o numerário a ser aplicado na realização do crédito
exequendo se opera, ordinariamente, por meio da alienação forçada do bem afetado ao
processo, seja em favor de terceiros, seja em favor do próprio credor. Mas pode,
excepcionalmente, limitar-se à instituição de um vínculo real temporário em benefício do
credor, que, assim, através de um usufruto forçado, extrairá do bem apreendido o rendimento
que possa cobrir o crédito satisfeito (art. 647).
A expropriação executiva não é, em essência, diversa da desapropriação por utilidade ou
necessidade pública.
A exemplo do que se passa na atividade da Administração Pública que vai se utilizar
compulsoriamente de bens particulares, o procedimento complexo de expropriação da
execução por quantia certa compreende providências de três espécies, quais sejam:
- de afetação de bens;
- de transferência forçada de domínio;
- de satisfação de direitos.
Isso, em outras palavras, faz da execução por quantia certa uma sucessão de atos que
importam:
- a escolha dos bens do devedor que se submeterão à sanção;
- a transformação desses bens em dinheiro (ou na sua expressão econômica);
- o emprego do numerário ou valor apurado no pagamento a que tem direito o credor.
É importante definir que devedor solvente é aquele cujo patrimônio apresenta ativo maior do
que o passivo.
IMPORTANTE: devedor insolvente é somente aquele que teve sua condição de insolvência
declarada por sentença. Isso será estudado com detalhes.
Para facilitar o estudo da execução por quantia certa, utiliza-se uma divisão idealizada por
Liebman, que se dá da seguinte forma:
- fase de proposição (petição inicial e citação);
- fase de instrução (penhora e alienação);
- fase de entrega do produto (satisfação do direito/pagamento).

27.18.2. Fase de Proposição

27.18.2.1. Petição Inicial


A execução desenvolve-se com uma petição inicial que atenda aos arts. 282 e 283, sendo
imprescindíveis o título executivo e o demonstrativo do débito atualizado. Além disso, deve ser
provado o inadimplemento e, se for o caso, a ocorrência do termo, condição ou encargo.
Poderá o exequente indicar o número de cadastro do executado perante a RFB, nos termos do
art. 15 da Lei nº 11.419/06, para, entre outros, viabilizar a penhora online.

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O exequente tem a faculdade de indicar bens do executado para penhora na inicial. Porém,
poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, intimar a qualquer tempo o executado para
nomear bens; o não cumprimento no prazo de 05 dias é ato atentatório à dignidade da
justiça, ensejando aplicação de multa de até 20% do valor exequendo (art. 600, IV).

Art. 600. Considera-se atentatório à dignidade da Justiça o ato do


executado que: (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).

[...]

IV - intimado, não indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais são e onde se


encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos valores. (Redação
dada pela Lei nº 11.382, de 2006).

Art. 601. Nos casos previstos no artigo anterior, o devedor incidirá em multa
fixada pelo juiz, em montante não superior a 20% (vinte por cento) do valor
atualizado do débito em execução, sem prejuízo de outras sanções de
natureza processual ou material, multa essa que reverterá em proveito do
credor, exigível na própria execução.(Redação dada pela Lei nº 8.953, de
13.12.1994)

O ideal é que essa intimação seja feita na própria citação, a qual é pessoal (art. 222).

27.18.2.2. Averbação da Execução (art. 615-A)

Art. 615-A. O exequente poderá, no ato da distribuição, obter certidão


comprobatória do ajuizamento da execução, com identificação das partes e
valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, registro de
veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto. (Incluído
pela Lei nº 11.382, de 2006).

§ 1o O exequente deverá comunicar ao juízo as averbações efetivadas, no


prazo de 10 (dez) dias de sua concretização. (Incluído pela Lei nº 11.382, de
2006).

§ 2o Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da


dívida, será determinado o cancelamento das averbações de que trata este
artigo relativas àqueles que não tenham sido penhorados. (Incluído pela Lei
nº 11.382, de 2006).

§ 3o PRESUME-SE EM FRAUDE À EXECUÇÃO A ALIENAÇÃO OU ONERAÇÃO


DE BENS EFETUADA APÓS A AVERBAÇÃO (art. 593). (Incluído pela Lei nº
11.382, de 2006).

§ 4o O exequente que promover averbação manifestamente indevida


indenizará a parte contrária, nos termos do § 2o do art. 18 desta Lei,
processando-se o incidente em autos apartados. (Incluído pela Lei nº
11.382, de 2006).

§ 5o Os tribunais poderão expedir instruções sobre o cumprimento deste


artigo. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).

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Trata-se de uma faculdade do exequente. É uma certidão que será pedida ao Cartório
distribuidor, atestando a terceiros e ao executado de que contra este existe um débito em
aberto. Ela poderá ser averbada no RGI, no registro de veículos ou em qualquer outro
registro de bens sujeitos à penhora ou arresto.

Cabe ao exequente, munido da Certidão, promover a averbação em tantos registros quantos


necessários para prover a dívida; se ele atuar abusivamente, com culpa, será obrigado a
indenizar (art. 615-A, § 4º).

Caso o executado aliene o bem averbado, há presunção RELATIVA de fraude à execução, a


qual cederá se ele provar que possui outros bens desembaraçados para garanti-la.

Formalizada a penhora sobre bens suficientes, cabe ao exequente informar ao juízo a


realização da averbação no prazo de 10 dias; se houver averbação em excesso, o juiz
determinará o cancelamento do excedente.

27.18.2.3. Arresto Executivo (arts. 653 e 654)

Art. 653. O oficial de justiça, não encontrando o devedor, arrestar-lhe-á


tantos bens quantos bastem para garantir a execução.

Parágrafo único. Nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial


de justiça procurará o devedor três vezes em dias distintos; não o
encontrando, certificará o ocorrido.

Art. 654. Compete ao credor, dentro de 10 (dez) dias, contados da data em


que foi intimado do arresto a que se refere o parágrafo único do artigo
anterior, REQUERER A CITAÇÃO POR EDITAL DO DEVEDOR. Findo o prazo
do edital, terá o devedor o prazo a que se refere o art. 652 190, convertendo-
se o arresto em penhora em caso de não-pagamento.

Ocorre DE OFÍCIO pelo oficial de justiça, quando não for possível a citação do executado pela
sua não localização, mas localizando-se bem ou bens de seu patrimônio. Recai sobre tantos
bens quantos necessários.

Não se confunde com o arresto cautelar, já que o executivo não pressupõe periculum in
mora, é realizado de ofício pelo oficial e outorga ao credor o direito de preferência.

Nos 10 dias seguintes ao arresto, deverá o oficial procurar o devedor por 03 vezes em dias
distintos. Não o encontrando, o arresto será convertido em penhora após intimado o
exequente e após findar o prazo do edital citatório que deve ser promovido por este.

A conversão do arresto em penhora somente ocorre 10 dias após o fim do prazo do edital.

Por se tratar de citação ficta, não comparecendo o executado, ser-lhe-á nomeado curador
especial, o qual poderá, inclusive, oferecer embargos à execução.

190
Art. 652. O executado será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o pagamento da dívida.
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
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900

Súmula 196, STJ: “Ao executado que, citado por edital ou hora certa, permanecer revel, será
nomeado curador especial, com legitimidade para a apresentação de embargos”.

27.18.2.4. Citação e Pagamento (art. 652)


O executado é citado pessoalmente, por oficial (art. 222), para pagar em 03 dias, contados da
juntada aos autos da primeira via do mandado de citação devidamente cumprido. Na citação,
o juiz fixará de plano os honorários advocatícios (art. 652-A c/c art. 20, § 4º), obedecendo à
regra do máximo de 20% da condenação.

A citação poderá ser agravada por instrumento, relativamente à parte que fixa os honorários.

Se o pagamento for integralmente feito em 03 dias, os honorários reduzem-se à metade (art.


652-A, p. único). Trata-se de medida de execução indireta (sanção premial).

Art. 652-A. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários de


advogado a serem pagos pelo executado (art. 20, § 4o). (Incluído pela Lei nº
11.382, de 2006).

Parágrafo único. No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, a


verba honorária será reduzida pela metade. (Incluído pela Lei nº 11.382, de
2006).

Realizando o pagamento, deve o exequente ser intimado para se manifestar em 05 dias, a fim
de concordar ou impugnar. Se rejeitada a impugnação ou se houver concórdia do exequente,
extingue-se a execução. Acatada a impugnação, o processo prossegue quanto ao valor
restante.

27.18.2.5. Atuação do Oficial de Justiça (art. 652)


Se, após citado, o executado não tiver pago nos 03 dias, deverá o oficial voltar ao seu endereço
e, em poder da segunda via do mandado, realizar a PENHORA E AVALIAÇÃO de bens (art. 652,
§ 1º), só cabendo o avaliador perito quando o bem for de valor de cálculo complexo.

No mesmo ato, deverá o oficial lavrar o auto e intimar o executado. Se não localizado, deve ser
intimado na pessoa de seu advogado (o que é preferencial) (art. 652, § 4º).

27.18.2.6. Não Localização do Devedor para a Intimação da Penhora (art. 652, § 5º)
Esse parágrafo só se aplica se o executado não for localizado para ser intimado da penhora e
se não tiver patrono constituído nos autos. Nesse caso, poderá o juiz dispensar a intimação ou
determinar novas diligências.

Para Daniel Assumpção, essa situação só pode ocorrer caso o executado esteja se escondendo
maliciosamente, conforme as evidências.

27.18.3. Moratória Legal ou Parcelamento (art. 745-A, caput)

27.18.3.1. Introdução
Art. 745-A. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente
e comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em execução,
inclusive custas e honorários de advogado, poderá o executado requerer
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901

seja admitido a pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas


de correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês.

§ 1o Sendo a proposta deferida pelo juiz, o exequente levantará a quantia


depositada e serão suspensos os atos executivos; caso indeferida, seguir-se-
ão os atos executivos, mantido o depósito.

§ 2o O não pagamento de qualquer das prestações implicará, de pleno


direito, o vencimento das subsequentes e o prosseguimento do processo,
com o imediato início dos atos executivos, imposta ao executado multa de
10% (dez por cento) sobre o valor das prestações não pagas e vedada a
oposição de embargos.

Trata-se do direito subjetivo do executado de, atendidos os pressupostos legais formais, obter
o parcelamento do débito em, no máximo, 06 vezes mensais.

ESSE PARCELAMENTO NÃO SE APLICA NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA,


somente na ação executiva autônoma. ESSE PARCELAMENTO SE APLICA NO
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA:

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. VALOR EXEQUENDO. PARCELAMENTO.

Na fase de cumprimento de sentença, aplica-se a mesma regra que rege a


execução de título extrajudicial quanto ao parcelamento da dívida. É que o
art. 475-R do CPC prevê expressamente a aplicação subsidiária das normas
que regem o processo de execução de título extrajudicial naquilo que não
contrariar o regramento do cumprimento de sentença, não havendo óbice
relativo à natureza do título judicial que impossibilite a aplicação da referida
norma, nem impeditivo legal. Ademais, a Lei n. 11.382/2006, ao alterar as
regras do processo de execução de título extrajudicial, concedeu ao devedor
o direito de parcelar o débito exequendo em até seis meses, desde que
preenchidos os requisitos do art. 745-A do CPC e que requeira o
parcelamento em até quinze dias a contar da intimação para o cumprimento
da sentença, nos termos do art. 475-J, caput, do mencionado codex. Não
obstante, o Min. Relator ressaltou que o parcelamento da dívida não é
direito potestativo do devedor, cabendo ao credor impugná-lo, desde que
apresente motivo justo e de forma fundamentada; o juiz pode deferir o
parcelamento (se verificar atitude abusiva do credor), o que, por sua vez,
afasta a incidência da multa (art. 475-J, § 4º do CPC) por inadimplemento da
obrigação reconhecida na sentença, uma vez que o depósito dos 30% do
valor devido tem o condão de demonstrar o cumprimento espontâneo da
obrigação, como ocorreu na espécie. Com essas e outras fundamentações, a
Turma negou provimento ao recurso. REsp 1.264.272-RJ, 4T, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 15/5/2012.

27.18.3.2. Requisitos Formais


a) Prazo: o pedido para parcelar deve ser feito no prazo para oferecimento dos embargos
(15 dias), contados da juntada aos autos do mandado de citação devidamente
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cumprido. A APRESENTAÇÃO DE EMBARGOS IMPEDE O PEDIDO DE PARCELAMENTO,


E VICE-VERSA.

b) Reconhecimento do crédito do exequente: trata-se do ato pelo qual o executado


reconhece e, ao mesmo tempo renuncia ao direito de interpor embargos;

c) Depósito: no ato do pedido de parcelamento deve ser depositado 30% do valor da


execução, inclusive custas e honorários do advogado;

d) Pedido de parcelamento: deve-se pedir o parcelamento dos 70% restantes, em no


máximo 06 parcelas, acrescidas de correção monetária e juros de 1% ao mês.

27.18.3.3. Procedimento
Apesar de não previsto no CPC, deverá o juiz intimar o exequente para, em 05 dias, se
manifestar sobre o pedido do executado. Se o exequente impugnar, somente poderá versar
sobre os requisitos formais, jamais sobre o aceitar ou não o parcelamento, já que se trata,
repita-se, de um direito subjetivo do executado.

Deferida a proposta pelo juiz, o exequente levantará o valor já depositado, ficando suspensos
os atos executivos. Essa suspensão impede que sejam realizados atos de constrição judicial de
bens do executado. Porém, as penhoras já realizadas não serão desfeitas, ficando eficazes até
a extinção da execução.

A decisão que defere ou indefere o pedido de pagamento parcelado é recorrível por agravo de
instrumento.

Indeferido o pedido, prossegue-se a execução, sendo mantido o depósito (Daniel Assumpção


defende que ele deveria ser liberado ao exequente).

27.18.3.4. Inadimplemento das Parcelas


Se o executado se tornar inadimplente quanto a qualquer das parcelas, ocorrerá o seguinte:

a) Vencimento automático das parcelas subsequentes;

b) Imposição de multa de 10% sobre o valor das parcelas não pagas;

c) Vedação da oposição de embargos: essa vedação se limita à discussão do crédito, o


qual já foi reconhecido pelo executado;

d) Início imediato dos atos executivos.

27.18.3. Fase de Instrução


Como visto, a fase de instrução compreende a penhora e a expropriação (alienação).

27.18.3.1. Penhora

27.18.3.1.1. Definição
A penhora é um ato de afetação, pois sua imediata consequência, de ordem prática e jurídica,
é sujeitar os bens do devedor (por ela alcançados) aos fins da execução, colocando-os à
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903

disposição do órgão judicial para, à custa e mediante sacrifício desses bens, realizar o objetivo
da execução, que é a função pública de dar satisfação ao credor.
Por ela se individualiza determinado bem do patrimônio do executado que passa, mediante
apreensão física, direta ou indireta, de uma parte determinada e específica de seu patrimônio.

27.18.3.1.2. Natureza Jurídica


Existem três correntes principais acerca da natureza jurídica da penhora:
a) Penhora é uma medida cautelar: esse entendimento é criticado porque a penhora não
possui caráter eventual e acessório (como ocorre com as medidas cautelares. Ex.:
arresto, sequestro...). A penhora é um necessário instrumento do processo executivo;
b) Penhora é unicamente um ato executivo: esse é o entendimento majoritário na
doutrina.
c) Penhora é um ato executivo que também possui efeitos conservativos: esse é o
entendimento de Ugo Rocco, para quem a penhora é também um ato de império do
órgão jurisdicional que se destina à realização coativa do direito. Critica-se essa teoria
porque a eficácia conservativa (ou cautelar) dos bens é apenas um efeito indireto da
indisponibilidade a que se submetem os bens penhorados.

27.18.3.1.3. Função da Penhora


A penhora tem tríplice função:
a) Individualizar e apreender efetivamente os bens destinados ao fim da execução: o
Oficial de Justiça irá buscar ou procurar os bens do devedor (individualização) e
apreendê-los;
b) Conservar ditos bens, evitando sua deterioração ou desvio: após a apreensão, irá
entregá-los a um depositário, que assumirá um encargo público, ficando, assim,
responsável pela guarda e conservação dos bens penhorados e seus acessórios,
presentes e futuros. Aperfeiçoada a penhora pela apreensão e depósito dos bens (e
consequente lavratura do termo processual), surge para o devedor a indisponibilidade
de tais bens, pelo que não mais poderá realizar livremente a transferência de domínio
ou posse, sob pena de ineficácia do ato perante o credor exequente.
c) Criar a preferência para o exequente, sem prejuízo das prelações de direito material
estabelecidas anteriormente: a penhora cria para o credor que a promove uma
preferência que, em face dos demais credores quirografários do devedor comum,
equivale a um “direito real” sobre o bem penhorado. Reconhece-se à penhora a força
de sequela, representada pela ineficácia das alienações diante do gravame judicial,
além do direito de preferência que dela decorre, oponível a qualquer outro credor que
não tenha privilégio ou garantia anterior.

27.18.3.1.5. Efeitos da Penhora – Consequências para o Terceiro de Boa Fé - Preferência


A penhora produz efeitos materiais e processuais.
São efeitos processuais:
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a) Garantia do juízo: garantir o juízo significa dar ao exequente a segurança de que a


execução será útil e eficaz;
b) Individualização dos bens que suportarão a atividade executiva: ao individualizar os
bens, os demais bens do devedor passam a ser livremente negociáveis, sem que se
possa falar em fraude à execução;
c) Geração do direito de preferência ao exequente: isso porque um mesmo bem pode ser
penhorado mais de uma vez. Havendo penhoras diversas, terá preferência o
exequente que primeiro penhorou salvo se aparecer algum credor com crédito
privilegiado. Se ocorrer o arresto executivo do art. 653 e posterior penhora sobre o
mesmo bem, a data do arresto é considerada para fins de preferência em razão de sua
natureza pré-penhora.
Um dos efeitos da penhora é gerar para o exequente direito de preferência
do produto apurado com a alienação do bem objeto da constrição. Assim,
recaindo mais de uma penhora sobre o mesmo bem, terá preferência
aquele que primeiro houver realizado a penhora. O registro da constrição ou
a sua averbação no registro de imóveis é um ato acessório com o objetivo
de dar publicidade da penhora e gerar conhecimento em relação a terceiros.
SE CONSIDERA PERFEITA E ACABADA A PENHORA
Isso porque
DESDE A EXPEDIÇÃO DO RESPECTIVO TERMO, revelando-se,
assim, desinfluentes, no estabelecimento da preferência, o registro ou a
averbação no registro de imóveis. (STJ, 2T, Informativo 437, REsp 829.980-
SP)

A incidência de múltiplas penhoras sobre um mesmo bem não leva ao


concurso universal de credores. Essa circunstância implica sim concurso
especial ou particular, que não reúne todos os credores do executado,
tampouco todos os seus bens, consequências que são próprias do concurso
universal. Em princípio, havendo mais de uma penhora em juízos diferentes
contra o mesmo devedor, o concurso efetuar-se-á naquele em que houver
a primeira constrição. Porém, tal regra comporta exceções. (STJ, T3, REsp
976.522/SP).

O registro da penhora não faz parte do ato processual da penhora, prestando-se tão-
somente a dar ciência erga omnes da realização da constrição judicial. Isso ajuda também a
resguardar os interesses de terceiros, os quais verificarão o status do bem perante a Justiça.
Nesse sentido:
Dessa forma, inexistindo registro da penhora sobre bem alienado a terceiro,
incumbia à exequente e embargada fazer a prova de que o terceiro tinha
conhecimento da ação ou da constrição judicial, agindo, assim, de má-fé.
Ressaltou-se que, in casu, a alienação do bem objeto da constrição judicial
operou-se antes do registro dela, razão pela qual descabido presumir a má-
fé ou o prévio conhecimento do terceiro adquirente quanto ao gravame. Em
verdade, o ônus da prova de que o terceiro tinha conhecimento da
demanda ou do gravame transferiu-se para a credora, que dela não se
desincumbiu. Desse modo, presume-se a boa-fé (ausência de registro) que

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merece ser prestigiada, não havendo, portanto, falar em fraude à execução


na espécie (Súm. n. 375-STJ). (STJ, 4T, Informativo 437, REsp 753.384-DF)

Pelo julgado acima, pode-se observar que:

a) Se a alienação do bem penhorado se deu antes da expedição do termo de


penhora, cabe ao exequente provar a má fé do adquirente;

b) Se a alienação se deu depois, cabe ao adquirente provar a sua boa fé;

c) Se o registro tiver sido efetuado, há presunção absoluta de que o terceiro


conhecia o status do bem se o tiver adquirido após o registro.

O registro poderá ser promovido, inclusive, pelo juiz, de ofício, na utilização de seu poder geral
de cautela. Nesse sentido:

A averbação, no cartório de registro de imóveis, de protesto contra


alienação de bem está dentro do poder geral de cautela do juiz (art. 798 do
CPC) e se justifica pela necessidade de dar conhecimento do protesto a
terceiros, prevenindo litígios e prejuízos para eventuais adquirentes. (STJ,
2S, Informativo 428, EREsp 696.603-PE)

São efeitos materiais:


a) Retirada do executado da posse direta do bem penhorado: a penhora não retira a
propriedade, somente a posse direta, salvo se o executado ficar como depositário do
bem;
b) Ineficácia dos atos de alienação ou oneração do bem penhorado: a disposição do bem
não é negócio jurídico nulo e nem anulável, apenas não gerará efeitos perante o
exequente, salvo na hipótese de comprovada boa fé do terceiro adquirente (posição
do STJ).
Assim, a penhora esvazia os poderes jurídico-materiais que definem o gozo direto da coisa,
reduzindo-se o executado à situação de nu-proprietário, representada pela detenção de “um
simples poder jurídico de disposição do direito”. O caso é simplesmente de indisponibilidade
relativa.
A disposição feita pelo devedor, em desatenção à penhora, é sempre válida como ato jurídico
perfeito praticado entre ele e o adquirente. Juridicamente, portanto, nada impede que o
executado venda, doe, permute, onere seu direito sobre o bem penhorado, pois o efeito da
penhora não recai sobre o direito (substancial) do credor, nem correlativamente, sobre a
obrigação (substancial) do devedor a respeito dele, e sim sobre a responsabilidade do devedor
com relação à ação executiva do credor, a qual pode continuar sendo exercida como se o
devedor não houvesse disposto do bem penhorado.
Portanto, a penhora atua em prejuízo de terceiros, pois o bem continuará submetido à
expropriação em prejuízo do terceiro e em favor do credor exequente, além dos credores
intervenientes.

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EFEITOS PROCESSUAIS EFEITOS MATERIAIS


Garantia do juízo Retirada do executado da posse direta
Individualização de um bem Ineficácia dos atos de alienação ou oneração
Direito de preferência para o exequente -

27.18.3.1.6. Bens Absolutamente Impenhoráveis (art. 649)


A razão mais comum para a impenhorabilidade de origem não-econômica é a preocupação do
Código de preservar as receitas alimentares do devedor e de sua família. Funda-se no princípio
clássico de que a execução não deve levar o executado a uma situação incompatível com a
dignidade humana. Não é por outra razão que o CPC não tolera a penhora de bens econômicos
como provisões de alimentos, salários, instrumentos de trabalho, pensões, seguro de vida, etc.
Deve o juiz da execução impedir atos executivos ruinosos, dos quais nenhum benefício se
extraia para o credor, e para o devedor só possa advir ruína e prejuízos injustificáveis.
Dentre as hipóteses de impenhorabilidade absoluta (art. 649) destaco e comento as seguintes:
- inciso I: os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução  o
inciso I trata:
- dos bens públicos, pois, dada sua intrínseca inalienabilidade (art. 100 do CC), são sempre
impenhoráveis;
- dos bens particulares que podem se tornar inalienáveis ou apenas impenhoráveis em
decorrência de atos de vontade unilaterais ou bilaterais, como nas doações, testamentos,
instituição do bem de família, etc.
IMPORTANTE: qualquer que seja a inalienabilidade do bem particular, não prevalecerá em face
das obrigações tributárias, nos termos do artigo 186 do CTN.
- dos bens vinculados às cédulas de crédito rural, enquanto não resgatado o financiamento
(art. 69 do Decreto-Lei 167/67). No entanto, essa imunidade executiva que envolve os bens
vinculados às cédulas rurais hipotecárias e pignoratícias não é absoluta e deve cessar quando
se decreta a insolvência do devedor, além de não prevalecer quando a execução é movida pelo
próprio titular da garantia cedular.
- da impenhorabilidade da parte do produto dos espetáculos que é reservada ao autor e aos
artistas (art. 76 da Lei 9610/98).
- dos bens abrangidos pela Lei 8009/90.
Faz jus aos benefícios da Lei n. 8.009/1990 o devedor que, mesmo não
residindo no único imóvel que lhe pertence, utiliza o valor obtido com a
locação desse bem como complemento da renda familiar, considerando
que o objetivo da norma é o de garantir a moradia familiar ou a
subsistência da família. Precedentes citados: AgRg no Ag 385.692-RS, DJ
19/8/2002, e REsp 315.979-RJ, DJ 15/3/2004. REsp 243.285-RS, Rel. Min.
Luís Felipe Salomão, julgado em 26/8/2008.

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- do artigo 53, § 1.º, da Lei 8212/91, que determinada a indisponibilidade automática dos bens
penhorados pela Fazenda Federal. Essa impenhorabilidade, todavia, é relativa, pois não opera
em face de outras fazendas públicas (estadual e municipal – art. 187, parágrafo único, do CTN),
mas apenas perante particulares. Nesse sentido: Ap. 29.886-0/4 e Ap. 5.235/0, ambas do TJSP.
- inciso IV: os vencimentos e outras verbas de natureza alimentar  o que há a se destacar
neste inciso, no meu entender, é a questão dos honorários advocatícios. Havia divergência
doutrinária e jurisprudencial acerca da natureza alimentar dos honorários do advogado. Esta
divergência não mais existe, pois a redação do inciso IV ampliou sua abrangência para toda e
qualquer remuneração obtida por exercício autônomo de trabalho ou profissão. Ademais, a Lei
nº 11.033/2004 reconhece que entre os créditos de natureza alimentar estão incluídos os
honorários advocatícios (art. 19, parágrafo único, inciso I). Apesar disso, os honorários não
gozam de preferência ante o crédito tributário, sendo a eles reconhecido apenas privilégio
geral na falência.
IMPORTANTE: atentar para a ressalva do art. 649, § 2.º, do CPC!
- inciso V: os bens necessários ou úteis ao exercício de profissão  havia dúvida e divergência
de entendimento sobre a abrangência deste privilégio, principalmente em torno das pessoas
jurídicas e bens imóveis. O STF e o STJ entendiam que o benefício se referia somente às
pessoas físicas. No entanto, o entendimento atual é no sentido de que também as pequenas
empresas (em que os sócios pessoalmente desempenhem a atividade) gozam deste
privilégio. Ex.: oficinas de consertos, serviços de limpeza, pintura, confecções. Nesse sentido:
Resp 512.564/SC. Já no que se refere aos bens imóveis, estes não se enquadram no privilégio
do inciso V, ainda que o bem imóvel se preste a sediar o desempenho da profissão. Nesse
sentido REsp 98.025/RS.
- inciso IX: os recursos públicos recebidos por instituições privadas  os recursos públicos não
perdem sua impenhorabilidade, mesmo quando recebidos por instituições privadas para
aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social.
IMPORTANTE: o fato de uma instituição ser beneficiária de subvenções do Poder Público não
torna seu patrimônio imune de penhora! Apenas as verbas públicas, enquanto tais, é que não
podem ser bloqueadas por meio de penhora.
- inciso XI: os recursos públicos oriundos do fundo partidário  em regra os bens dos partidos
políticos não gozam do privilégio da impenhorabilidade. No entanto, são impenhoráveis os
recursos públicos transferidos, na forma da lei, a partir do fundo partidário. Os demais bens
que integram o patrimônio do partido político continuam respondendo executivamente por
suas dívidas.
IMPORTANTE: Ver art. 15-A da Lei nº 9.096/95. Embora o partido político, como pessoa
jurídica, seja uma unidade nacional, para efeito de responsabilidade, a lei o fracionou entre os
vários órgãos que atuam em seu nome nas esferas municipal, estadual e nacional. Atribuiu a
responsabilidade civil com exclusividade ao órgão que houver descumprido a obrigação,
violado o direito ou causado dano pela prática de ato ilícito. Cada órgão responderá
individualmente pelos atos que praticar, sujeitando à execução apenas os recursos e bens

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penhoráveis que lhe pertençam. Expressamente, ressalvou-se a inexistência de solidariedade


entre os vários órgãos da direção partidária.
IMPORTANTÍSSIMO: o § 1.º do artigo 649 estabelece uma ressalva à regra da
impenhorabilidade. Seria injusto que o credor (que propiciou a aquisição do bem através da
concessão do crédito) não tivesse como haver o respectivo preço. Ocorreria um intolerável
locupletamento por parte do adquirente. Segundo ensina Humberto Theodoro Júnior, duas
são as maneiras para surgir o crédito a que se refere o § 1.º: “(i) o alienante concede ao
adquirente prazo para pagar o preço do bem que lhe é desde logo transferido; (ii) o adquirente
obtém financiamento com terceiro para custear o preço da coisa adquirida.”

27.18.3.1.7. Bens Relativamente Impenhoráveis (art. 650)


Bens relativamente impenhoráveis são aqueles bens cuja penhora a lei só permite quando
inexistirem outros bens no patrimônio do devedor que possam garantir a execução.
A regra é que os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis seguem o destino destes, ou seja,
tornam-se também impenhoráveis. No entanto, esta imunidade não foi considerada absoluta
pelo CPC. Na falta de outros bens livres, cessará a impenhorabilidade dos frutos e
rendimentos, sujeitando-os à penhora. Por isso a impenhorabilidade é relativa.
IMPORTANTE: tratando-se de crédito de prestação alimentícia a penhorabilidade deixa de ser
relativa e passa a ser plena! Significa que o credor pode, desde logo, fazer a penhora recair
sobre os frutos e rendimentos do bem inalienável, sem ter de demonstrar a inexistência de
outros bens livres para garantir a execução. Esta disposição do CPC segue o raciocínio do § 2.º
do artigo 649.

27.18.3.1.8. Ordem Legal de Penhora (art. 655)


A ordem legal não é peremptória, podendo ser modificada pelo juiz no caso concreto, desde
que ele considere e harmonize os princípios da menor onerosidade do executado e da maior
efetividade da execução.

Porém, como a penhora busca proteger primariamente os direitos do exequente, deve haver a
oitiva deste.

A gradação legal há de ter em conta, de um lado, o objetivo de satisfação do


crédito e, de outro, a forma menos onerosa para o devedor. A conciliação
desses dois princípios é que deve nortear a interpretação da lei processual,
especificamente os arts. 655, 656 e 620 do CPC (STJ, REsp 167.158/PE).

27.18.3.1.9. Dever de Cooperação do Executado na Localização de Bens na Penhora


No caso de o credor não conseguir localizar o bem que possa, adequadamente, constituir a
penhora, para indicá-lo na petição inicial da execução (art. 652, § 2.º), o Código impõe ao
executado o dever de indicar, no prazo fixado pelo juiz, “onde se encontram os bens sujeitos à
execução, exibir a prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus, bem
como abster-se de qualquer atitude que dificulte ou embarace a realização da penhora”. A
infringência desse dever configura litigância de má-fé (art. 14, parágrafo único) e ato
atentatório à dignidade da justiça (art. 600).
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Caso não existam bens para garantir a execução o executado não deverá ser punido por isso.
Deverá, contudo, esclarecer sua situação patrimonial. Sua omissão em comunicar tal fato
implicará em litigância de má fé e multa.
Sobre o tema:
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXPEDIÇÃO OFÍCIO
RECEITA FEDERAL. EXCEPCIONALIDADE NÃO CONFIGURADA.

1. Descabe a quebra de sigilo bancário ou fiscal com a finalidade de fornecer


elementos úteis à localização do devedor e de seus bens para penhora, eis
que, na espécie, não se configura o interesse da Justiça, mas o particular do
próprio credor, que deve utilizar-se dos meios adequados à cobrança, não se
justificando tratamento excepcional, que venha a afastar a regra legal do
sigilo. (AgRg no Ag 661.986/SP, Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior,
publicação: DJ 29/08/2005)

2. Agravo regimental da CEF improvido (AGA 2009.01.00.070670-4/MG,


Relator DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA, QUINTA
TURMA, Publicação 22/06/2012 e-DJF1 P. 598, Data Decisão 04/06/2012).

27.18.3.1.10. Local da Penhora


Os bens são penhorados no local em que se encontram, pois a penhora compreende sua
efetiva apreensão e entrega a um depositário (art. 664). Por isso, quando o devedor não tiver
bens no foro da causa, far-se-á a execução por carta, penhorando-se, avaliando-se e
alienando-se os bens no foro da situação (art. 658).
Se a nomeação de bens é feita pelo próprio devedor, que assume o encargo de depositário
perante o juiz da execução, permite-se que se lavre o respectivo termo nos autos principais,
ainda que os bens estejam em outra Comarca e independentemente de carta precatória.
Nesse caso, a carta precatória só será necessária para a avaliação e praceamento do bem
penhorado.
Quando se tratar de execução de crédito pignoratício, anticrético ou hipotecário, como a lei
determina que a penhora recairá sobre a coisa gravada, independentemente de nomeação,
pode a penhora, sem ofensa à lei, ser concretizada no juízo da execução, diverso da situação
dos bens, sem necessidade de se expedir carta precatória para a constrição judicial.

27.18.3.1.11. Penhora de Dinheiro (Online)


O melhor bem a ser penhorado é o dinheiro, já que ele dispensa a fase de avaliação e
alienação do bem. Com a sua penhora, bastará entregá-lo ao exequente para que reste
satisfeito o crédito.
O STJ somente permitia a penhora de dinheiro após o esgotamento de todos os meios de
localização do patrimônio do devedor. Isso, porém, tem mudado, por ser prática
excessivamente protetiva e por tornar muito cara e demorada a execução.
O atual entendimento do STJ foi fixado recentemente no seguinte sentido (informativo 447):

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A Corte Especial, ao julgar recurso sob o regime do art. 543-C do CPC c/c a
Res. n. 8/2008-STJ, entendeu que a penhora online, antes da entrada em
vigor da Lei n. 11.382/2006, configura medida excepcional cuja efetivação
está condicionada à comprovação de que o credor tenha realizado todas as
diligências no sentido de localizar bens livres e desembaraçados de
titularidade do devedor. CONTUDO, APÓS O ADVENTO DA REFERIDA
LEI, O JUIZ, AO DECIDIR SOBRE A REALIZAÇÃO DA
PENHORA ONLINE, NÃO PODE MAIS EXIGIR DO CREDOR
PROVA DE EXAURIMENTO DAS VIAS EXTRAJUDICIAIS NA
BUSCA DE BENS A SEREM PENHORADOS. Precedentes citados:
AgRg no Ag 1.010.872-RS, DJe 15/9/2008; AgRg no REsp 1.129.461-SP, DJe
2/2/2010; REsp 1.066.091-RS, DJe 25/9/2008; REsp 1.009.363-BA, DJe
16/4/2008, e EREsp 1.087.839-RS, DJe 18/9/2009. REsp 1.112.943-MA, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2010.

Muito comum hoje em dia é a penhora online, prevista no art. 655-A. Esse artigo prevê que o
exequente deverá requerer na petição inicial a penhora online, a qual será feita antes da
citação e tem nítido caráter cautelar, devendo ser demonstrados o FBI + PIM.
Porém, após citado o executado e não sendo realizado o pagamento em 03 dias, é
absolutamente dispensável o pedido do exequente, cabendo ao impulso oficial a realização da
penhora.
O juiz, para fazer penhora online, poderá solicitar informações às instituições financeiras e
efetivar ele mesmo a penhora por meio do BACENJUD, sempre limitado ao valor da execução.
Como o BACENJUD ainda permite a realização da penhora em diversas contas, o que pode
ultrapassar o valor da execução, foi criado um registro de conta única na página do STJ, na
qual as pessoas jurídicas cadastram qual a conta que deve ser objeto de penhora.
Pode ocorrer que o valor depositado em conta e penhorado seja impenhorável, caso em que
cabe ao executado comprovar para que se libere tais quantias (art. 644-A, § 2º).

PENHORA ONLINE. FORMA PREFERENCIAL.

Em execução promovida na origem, a recorrente pleiteou a requisição de


informações e o bloqueio de valores constantes de depósito ou aplicação
financeira do recorrido por meio eletrônico nos termos do art. 655-A do CPC
(penhora online). Contudo, o juízo executório indeferiu seu pedido sob a
justificativa de que não utilizava o Bacen-Jud, decisão mantida pelo
tribunal a quo ao fundamento de que o magistrado não está obrigado a
aderir ao sistema. Nesse contexto, a Turma deu provimento ao recurso
especial para afirmar que a penhora por via eletrônica constitui apenas uma
forma preferencial, e não exclusiva, podendo a medida ser realizada pelo
método tradicional da expedição de ofício. Ademais, explicitou o Min.
Relator que, não obstante o cadastro no Bacen-Jud seja facultativo, as
medidas constritivas devem ser adotadas quando requeridas pelo
exequente, desde que cumpridos os demais requisitos necessários à

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efetivação da penhora. REsp 1.017.506-RS, Rel. Min. João Otávio de


Noronha, julgado em 22/3/2011.

Possível, também, a reiteração de penhora no mesmo processo:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA


ELETRÔNICA DE DINHEIRO. BACEN JUD. DILIGÊNCIA INFRUTÍFERA.
REITERAÇÃO. ADMISSIBILIDADE.

1. Controverte-se a respeito da decisão colegiada do Tribunal de origem,


que afirmou que a pesquisa eletrônica da existência de dinheiro, por meio
do sistema Bacen Jud, somente pode ser feita uma única vez, mesmo que o
resultado tenha sido infrutífero, sob o argumento de que o Poder Judiciário
não pode fazer papel de diligenciador da Fazenda Pública credora.

2. Conforme decidido pela Corte Especial (REsp 1.112.943/MA, julgado sob o


rito dos recursos repetitivos), com a vigência da Lei 11.382/2006, não mais
se exige a comprovação de exaurimento das diligências administrativas para
penhora por meio do Bacen Jud.

3. A lei (art. 655-A do CPC) não limitou o uso do Bacen Jud a uma única vez.
Por se tratar de instrumento destinado a promover a satisfação da
pretensão creditória, ele pode servir também para qualquer outra
diligência (e.g., expedição de ofício ao Detran ou aos Cartórios de Imóveis),
isto é, tantas vezes quanto necessário.

4. Aplicação, por analogia, do art. 15, II, da Lei 6.830/1980, segundo o qual a
viabilização da penhora (mediante substituição ou reforço) pode ser feita a
qualquer tempo.

5. No atual estágio da legislação processual e material, o emprego do


aludido programa informatizado é privativo do Poder Judiciário, pois os
representantes judiciais da Fazenda Pública não possuem autorização legal
para, a um só tempo, acessar informações relativas ao patrimônio dos
devedores e, ex officio, determinar a respectiva constrição.

6. Desse modo, sendo a referida atribuição privativa de um determinado


órgão (na espécie, o jurisdicional), é de manifesta improcedência a
afirmação de que o pleito fazendário representa uma tentativa de
transformar a autoridade judiciária em mero agente diligenciador da parte
processual.

7. A utilização do Bacen Jud, em termos de reiteração da diligência, deve


obedecer ao critério da razoabilidade. Não é o Poder Judiciário obrigado a,
diariamente, consultar o referido programa informatizado. Contudo,
inexiste abuso ou excesso na reiteração da medida quando decorrido, por
exemplo, o prazo de um ano, sem que tenha havido alteração no processo.

8. Naturalmente, isso não impede que, antes da renovação da pesquisa via


Bacen Jud, a Fazenda Pública credora promova as diligências ao seu alcance,
para localização de outros bens. Porém, conduta dessa natureza

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(comprovação do exaurimento de outras diligências) não pode ser exigida


como requisito para fins de exame judicial do pedido iterativo da tentativa
de penhora por meio do Bacen Jud, pois isso seria equiparável a, de maneira
oblíqua, fazer retornar orientação jurisprudencial ultrapassada.

9. Recurso Especial provido.

(REsp 1199967/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,


julgado em 16/11/2010, DJe 04/02/2011)

No julgado abaixo, entretanto, o STJ permitiu limitar a excessiva utilização da penhora online
sem que o exequente promova medidas que demonstrem a modificação da situação
econômica do executado; assim decidiu ante o fundamento de que não é legítimo transformar
a Justiça em mecanismo privado de satisfação dos interesses individuais dos credores.

PENHORA ONLINE. NOVO PEDIDO. SITUAÇÃO ECONÔMICA.


MODIFICAÇÃO.

Na espécie, a controvérsia diz respeito à possibilidade de condicionar


novos pedidos de penhora online à existência de comprovação da
modificação econômica do devedor. In casu, cuidou-se, na origem, de ação
de execução de título extrajudicial em que, diante da ausência de
oferecimento de bens à penhora e da inexistência de bens em nome da
recorrida, foi deferido pedido de penhora online de quantias depositadas
em instituições financeiras. Entretanto, como não foram identificados
valores aptos à realização da penhora, o juízo singular condicionou
eventuais novos pedidos de bloqueio eletrônico à comprovação,
devidamente fundamentada, da existência de indícios de recebimento de
valor penhorável, sendo que tal decisão foi mantida pelo tribunal a quo.
Nesse contexto, a Turma negou provimento ao recurso ao reiterar que a
exigência de condicionar novos pedidos de penhora online à demonstração
de indícios de alteração da situação econômica do devedor não viola o
princípio de que a execução prossegue no interesse do credor (art. 612 do
CPC). Consignou-se que, caso não se obtenha êxito com a penhora
eletrônica, é possível novo pedido de bloqueio online, demonstrando-se
provas ou indícios de modificação na situação econômica do devedor; pois,
de um lado, protege-se o direito do credor já reconhecido judicialmente e,
de outro, PRESERVA-SE O APARATO JUDICIAL, POR NÃO TRANSFERIR PARA
O JUDICIÁRIO OS ÔNUS E AS DILIGÊNCIAS QUE SÃO DE
RESPONSABILIDADE DO CREDOR. Precedentes citados: REsp 1.137.041-AC,
DJe 28/6/2010, e REsp 1.145.112-AC, DJe 28/10/2010. REsp 1.284.587-SP,
Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 16/2/2012.

27.18.3.1.12. Penhora de Percentual do Faturamento de Empresa Devedora (art. 655-A, § 3º)


Não se confunde com o extinto usufruto de empresa, no qual havia a transmissão da própria
administração da pessoa jurídica. Além disso, a penhora de percentual tem natureza jurídica
de forma de garantia do juízo, enquanto o usufruto era forma de satisfação.
Nessa espécie de penhora é nomeado pelo juiz um depositário (arts. 678 e 719), com a
atribuição de submeter à aprovação judicial a forma de efetivação da constrição, bem como de
prestar contas mensalmente.

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O depositário irá recolhendo valores e depositando-os em juízo até que o valor total atinja o
valor da dívida. Somente no momento de satisfação do direito do exequente que o valor
depositado em juízo lhe será entregue.
Requer-se, também, os seguintes requisitos cumulativos:
a) Inexistência de outros bens penhoráveis, ou, se existirem, sejam eles de difícil
execução ou insuficientes para saldar o crédito exequendo;
b) O percentual fixado sobre o faturamento não pode inviabilizar o exercício da atividade
empresarial.

27.18.3.1.13. Penhora de Imóvel


Talvez seja interessante saber que havia uma divergência doutrinária e jurisprudencial acerca
da necessidade ou não de registro da penhora no Cartório de Registro de Imóveis. A Lei nº
10.444/2002 colocou fim à discussão. Desta forma, chega-se à seguinte conclusão:
- o ato de penhora sobre imóvel, para o processo, aperfeiçoa-se com a lavratura do respectivo
auto ou termo;
- ao credor, e não ao juízo, incumbe providenciar o registro do gravame processual no Cartório
Imobiliário; esse ato registral será feito mediante apresentação de certidão de inteiro teor do
ato, independentemente de mandado judicial;
- o objetivo do registro é a publicidade erga omnes da penhora, de sorte a produzir a
presunção absoluta de conhecimento por terceiros. Isso significa que, estando a penhora
registrada no CRI, o eventual adquirente do imóvel penhorado jamais poderá arguir a boa fé
para se furtar aos efeitos da aquisição em fraude de execução;
- o registro, porém, não é condição para que a execução tenha prosseguimento! Portanto, há
total separação do ato processual e do ato registral. O ato processual possui efeito interno no
processo, enquanto o ato registral possui efeito externo (perante terceiros).

27.18.3.1.14. Procedimento da Penhora (arts. 659 a 676)


Não ocorrendo o pagamento no prazo de 03 dias da citação, caberá ao oficial de justiça
nomear tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal, juros, custas e honorários
advocatícios.

Poderá ele realizá-la onde quer que se encontrem os bens, ainda que em posse de terceiros. Se
os bens estiverem em outro foro, será necessária a expedição de carta precatória, salvo duas
exceções:

a) Penhora online:

b) Penhora de imóvel: já que, como visto, pode ser realizada por termo de penhora nos
autos (art. 659, § § 4º e 5º).

Poderá o oficial, se encontrar resistência, arrombar e requerer força policial ao juiz, devendo,
ao fim do ato, elaborar um auto de resistência.

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A penhora considerar-se-á realizada mediante a lavratura do respectivo termo de apreensão;


o depósito é ato complementar à penhora, dele não fazendo parte.

Um dos efeitos da penhora é gerar para o exequente direito de preferência


do produto apurado com a alienação do bem objeto da constrição. Assim,
recaindo mais de uma penhora sobre o mesmo bem, terá preferência
aquele que primeiro houver realizado a penhora. O registro da constrição ou
a sua averbação no registro de imóveis é um ato acessório com o objetivo
de dar publicidade da penhora e gerar conhecimento em relação a terceiros.
Isso porque se considera perfeita e acabada a penhora desde a expedição
do respectivo termo, revelando-se, assim, desinfluentes, no
estabelecimento da preferência, o registro ou a averbação no registro de
imóveis. (STJ, REsp 829.980-SP)

No art. 666 está prevista a ordem preferencial de realização do depósito dos bens, somente
devendo o executado figurar como depositário nos casos de difícil remoção. Poderá o
exequente pedir o afastamento do executado do cargo de depositário, se houver motivo
justo.

No caso de penhora de imóveis, caberá ao exequente efetuar o registro no RGI, mediante


apresentação de certidão de inteiro teor do ato de penhora e independentemente de
mandado judicial (art. 659, § 4º), o que servirá para gerar a presunção absoluta de
conhecimento por terceiros.

Se o bem tiver que ser meado com o cônjuge, este recairá sobre o produto da alienação do
bem (art. 655-B).

Permite-se a realização de uma segunda penhora no processo, desde que a primeira tenha
sido anulada, se o valor da alienação for insuficiente, se o exequente desistir da primeira por
serem os bens litigiosos, estiverem penhorados, arrestados ou se eles perecerem (art. 667).

Poderão os bens penhorados ser alienados antecipadamente quando (art. 670):

a) Sujeitos à deterioração ou depreciação:

b) Houver manifesta vantagem:

Sempre que a alienação antecipada for originada de requerimento de uma das partes, deverá
a outra ser ouvida, respeitando-se o contraditório (a decisão de alienação antecipada é
interlocutória, recorrível por agravo de instrumento).

27.18.3.1.16. Intimação da Penhora


Formalizada a penhora mediante a lavratura do auto de penhora (art. 665), o oficial de justiça
intimará o executado na mesma oportunidade (art. 652, § 1.º). Não se pode esquecer que não
há mais a intimação para embargar, pois agora OS EMBARGOS DO EXECUTADO NÃO
DEPENDEM DE PENHORA e o prazo para a sua interposição conta-se da juntada aos autos do
mandado citatório cumprido (art. 736 e 738).

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Quando a penhora é feita por termo do escrivão (nos autos do processo), a intimação se
confunde com o próprio ato processual, visto que o devedor terá de participar da lavratura do
termo, firmando-o, através de seu advogado, juntamente com o serventuário da Justiça.
Recaindo a penhora sobre bem imóvel e sendo casado o devedor, exige a lei que se faça a
intimação da penhora também ao seu cônjuge (art. 655, § 2.º). Trata-se de cumprimento do
litisconsórcio necessário dos cônjuges (art. 10 e parágrafo único). Além da intimação
obrigatória do cônjuge, a penhora de imóvel também se sujeita à averbação no Registro
Imobiliário, cuja diligência incumbe ao exequente (art. 659, § 4.º).
IMPORTANTE: conforme já estudado anteriormente, a averbação no CRI não é condição para
que a execução tenha prosseguimento. No entanto, como uma medida de prudência e devido
cumprimento da legislação, não se deve prosseguir com os atos finais de expropriação sem a
consumação da averbação no CRI, principalmente em razão da necessidade de proteger os
interesses de todos os que se envolvem nas alienações judiciais e, também, evitar a ocorrência
de fraudes.
Também não custa repetir e relembrar que a Lei nº 10.444 inovou quanto ao termo de
penhora de imóvel, permitindo que, mediante a exibição de certidão de matrícula do CRI
(exibida por qualquer das partes), possa o termo ser lavrado mesmo sem a presença do
devedor ou de seu advogado. Nesse caso, a intimação será feita pelas vias adequadas após a
formalização do ato constritivo e será pessoal ao executado, se este ainda não tiver
procurador nos autos, ou ao seu advogado, caso já constituído. Ao ser intimado da penhora,
em qualquer das duas situações, o executado se investe, por força da lei, no encargo de
depositário do imóvel constrito.

27.18.3.1.17. Penhoras Especiais


a) Penhora de bem indivisível e preservação da quota do cônjuge não devedor: na
constância do casamento os bens da comunhão não respondem, além da meação,
pelas dívidas contraídas individualmente por um dos cônjuges, a não ser quando
reverterem na cobertura dos encargos da família, das despesas de administração dos
próprios bens comuns, ou as decorrentes de imposição legal (art. 1664 do CC).
Discutia-se na jurisprudência sobre a forma de excluir da penhora a meação do
cônjuge não devedor ou não responsável pela dívida exequenda.
A solução foi dada pela Lei nº 11.382/2006: a penhora deve recair sobre a totalidade
do bem comum, devendo a meação ser excluída sobre o produto apurado na
expropriação executiva. Portanto, a expropriação incidirá sobre o bem por inteiro e,
ao final, o cônjuge não devedor será restituído da parcela do produto apurado que
corresponda à sua meação;
Penhora-se o bem Promove-se a Entrega-se a meação
indivisível por inteiro alienação do bem ao cônjuge

b) Penhora de direitos e ações: incluem-se entre os direitos e ações penhoráveis as


dívidas ativas, vencidas e vincendas, as ações reais, reipersecutórias, ou pessoais, para

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cobrança de dívidas, as quotas de herança em inventários, os fundos líquidos do


devedor em sociedades civis ou comerciais e todos os demais direitos similares.
IMPORTANTE: não podem ser penhorados os direitos do arrendatário de gleba rural,
que decorrem de contrato sinalagmático não transferível. Também não pode ser
penhorado o direito real de usufruto, por se tratar de bem jurídico inalienável (art.
1393 do CC). No entanto, é possível a penhora do exercício do usufruto, como um
direito pessoal transferível e de valor econômico. Da mesma forma, é possível a
penhora de título de sócio de sociedade civil (quando negociável), do direito de uso de
telefone, dos direitos decorrentes do compromisso de compra e venda de imóvel.
c) Penhora sobre créditos do executado (arts. 671 e 672): o oficial de justiça realizará a
penhora, intimando o terceiro devedor para que não pague ao executado-credor e
intimando este para que não pratique atos de disposição do crédito.
A penhora de crédito representado por letra de câmbio, nota promissória, duplicata,
cheque ou outros títulos de crédito se realiza pela efetiva apreensão do documento,
esteja ou não em poder do devedor (art. 672). Não sendo encontrado o título, mas
havendo confissão de terceiro sobre a existência da dívida, tudo se passará como nos
casos comuns de penhora de créditos, isto é, o terceiro será havido como depositário
da importância, ficando intimado a não pagá-la ao seu credor (o executado). O terceiro
responsável pelo crédito penhorado só obtém exoneração se depositar em juízo a
importância devida (art. 672, § 2.º).
IMPORTANTE: no caso de penhora de crédito, a fim de esclarecer e definir a situação,
pode o credor requerer que o juiz determine o comparecimento do devedor e do
terceiro para, em audiência especialmente designada, tomar os seus depoimentos (art.
672, § 4.º).
Entre os créditos penhoráveis incluem-se os representados por precatório contra a
Fazenda Pública. Nesse sentido REsp 667.810/PR.
IMPORTANTE: a penhora em direito e ação subroga o credor nos direitos do
executado, até a concorrência do seu crédito (art. 673), que, assim, poderá mover
contra terceiro as ações que competiam ao devedor. Se o credor, por meio da sub-
rogação, não conseguir apurar o suficiente para saldar seu crédito, poderá prosseguir
na execução, nos mesmos autos, penhorando outros bens do devedor (art. 673, § 2.º).
d) Penhora no rosto dos autos (art. 674): é uma técnica de penhora na qual o exequente
extrai certidão e averba em processo no qual o executado pleiteia um crédito contra
outrem. Se este vier a vencer, o juiz deste processo não permitirá que a ele seja pago o
crédito, o qual será penhorado em favor do exequente.
“Quando a penhora alcançar direito objeto de ação em curso, proposta pelo devedor
contra terceiro, ou cota de herança em inventário, o oficial de justiça, depois de
lavrado o auto de penhora, intimará o escrivão do feito para que este averbe a
constrição na capa dos autos, a fim de se tornar efetiva, sobre os bens que,
oportunamente, forem adjudicados ou vierem a caber ao devedor”.

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e) Penhora sobre créditos parcelados ou rendas periódicas: a penhora pode recair sobre
créditos vincendos exigíveis em prestações ou sujeitos a juros periódicos. Quando isto
ocorre o terceiro fica obrigado a depositar em juízo os juros, rendas ou prestações à
medida que se vencerem.
f) Empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público (art. 678): em face do
poder de encampação dos serviços de concessão e da reversão dos bens empregados
nesses serviços, a Administração Pública pode impedir a alienação judicial do acervo
penhorado da empresa concessionária (arts. 35 a 37 da Lei nº 8.987/95). O interesse
público em jogo suplanta o interesse privado dos credores exequentes.
Entretanto, ocorrendo a hipótese de absorção do patrimônio da concessionária pelo
Poder Público, terá este, naturalmente, de responder pelas obrigações que o oneram,
pelo menos nos limites do acervo incorporado ao patrimônio público. Do contrário,
estabelecer-se-ia um intolerável locupletamento do Estado à custa do prejuízo dos
credores da concessionária.

27.18.3.1.16. Modificação e Reforço da Penhora


Apreendido o bem e entregue ao depositário, lavrado o auto ou termo e intimado o devedor,
tem-se por perfeita a penhora, que, via de regra, é irretratável (art. 667).
No entanto, em casos especiais, admite-se que a penhora sofra modificações, que se dão sob
as formas de:
a) Substituição de bens (arts. 656 e 668): é uma faculdade conferida ora ao devedor, ora
ao credor, de trocar o bem penhorado por dinheiro ou outros bens, liberando os
originariamente constritos; o art. 656, § 3º, exige expressa anuência do cônjuge
quando o executado indicar bens imóveis em substituição. Se o cônjuge anuir, não
haverá para ele preclusão lógica a obstar a interposição de embargos de terceiros, haja
vista que a preclusão somente gera efeitos endoprocessuais. De qualquer forma, a
substituição do bem penhorado dependerá do contraditório. Por fim, o STJ vem
entendendo que se um bem de maior liquidez tiver sido penhorado, não cabe a
substituição por outro de menor liquidez por simples petição do executado. Esse
entendimento foi firmado para a execução fiscal, mas pode ser aplicado no processo
civil:
Na execução fiscal, embora seja admissível a substituição da penhora por
depósito em dinheiro ou fiança bancária (art. 15, I, da Lei n. 6.830/1980),
quando for garantida por penhora sobre o dinheiro, torna-se inviável a
substituição do bem por fiança bancária, tendo em vista que aquela confere
maior liquidez ao processo executivo. Com efeito, o poder de substituição
concedido ao devedor só pode ser exercido para melhorar a liquidez da
garantia, não sendo possível que uma garantia privilegiada por expressa
disposição legal, e líquida por excelência, seja substituída por outra menos
benéfica ao credor. (STJ, REsp 1.049.760-RJ).

A Primeira Seção uniformizou orientação jurisprudencial de que a penhora


de dinheiro e a fiança bancária não possuem o mesmo status, de modo que

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a constrição sobre a primeira não pode ser livremente substituída pela


garantia fidejussória. (STJ, 1T, REsp 1.163.553-RJ, 03/05/2011)

b) Ampliação do alcance da penhora (art. 685, II): pode ocorrer quando, após a avaliação,
verificar-se que os bens apreendidos são insuficientes para o resgate integral do
direito do credor. Pode compreender a apreensão de novos bens para reforço dos já
penhorados ou a substituição destes por outros mais valiosos;
A Seção entendeu que o reforço da penhora não pode ser determinado de
ofício pelo juízo, visto ser imprescindível o requerimento do interessado,
nos termos dos arts. 15, II, da Lei n. 6.830/1980 (Lei de Execuções Fiscais) e
685 do CPC. (STJ, 1S, Informativo 457, REsp 1.127.815-SP)

c) Redução do alcance da penhora (art. 685, I): ocorre quando, após a avaliação, apura-se
que o valor dos bens penhorados é excessivamente superior ao crédito do exequente,
mais os acessórios. A redução pode consistir em liberação parcial dos bens avaliados
ou em total substituição por outros de menor valor;
IMPORTANTE: tanto na substituição, como na ampliação e na redução o pedido da
parte interessada será feito por simples petição (ou seja, não precisa ser através de
embargos). No entanto, há de se observar o contraditório, devendo o juiz ordenar a
oitiva da parte contrária antes da decisão (art. 657);
d) Renovação da penhora (art. 667): constitui medida extraordinária que consiste em
realização de uma nova penhora, o que só ocorre nos casos do artigo 667.

27.18.3.2. Avaliação (arts. 680 a 684)


A avaliação se presta a indicar um valor econômico ao bem penhorado. Dependendo de seu
valor, o juiz poderá determinar a diminuição ou aumento da penhora, tudo visando a
satisfação do credor e a menor onerosidade do executado. Além disso, o valor da execução
serve para:

a) Fixar o valor do lanço mínimo para a arrematação no primeiro leilão ou praça;

b) Determinar o que é preço vil.

Ela será preferencialmente realizada pelo oficial de justiça; excepcionalmente, quando


necessários conhecimentos específicos, o juiz nomeará avaliador, perito judicial ou da
confiança do juízo.

O prazo será não superior a 10 dias para o avaliador entregar o laudo.

Como a avaliação é sumária, parcela da doutrina e o STJ entendem ser desnecessária a


indicação de quesitos ou assistentes técnicos pelas partes, preservando-se o contraditório com
a intimação das partes para se manifestarem sobre o laudo.

O laudo de avaliação deverá descrever o bem, seu estado e seu valor, e ele integrará o auto de
penhora se feita pelo oficial de justiça.

O oficial de justiça fará a penhora e avaliação no mesmo ato.


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Não é necessária avaliação quando (art. 684):

a) O exequente aceitar a estimativa feita pelo executado;

b) Quando a penhora recair sobre títulos e mercadorias com cotação em bolsa, cujo valor
dependa da cotação oficial do dia.

Poderá haver repetição da avaliação quando (art. 683):


a) Qualquer das partes, ou o juiz, arguir fundamentadamente erro ou dolo do avaliador;
b) Se, posteriormente à avaliação, houver significativa alteração do valor do bem;
c) Houver fundada dúvida sobre o valor atribuído ao bem;
d) Sempre que julgada procedente a impugnação ou os embargos à execução fundados
em avaliação errônea (art. 475-L, III e 745, II).
Se o valor dos bens for diferente do crédito exequendo, poderá o juiz:
a) Reduzir ou transferir a penhora para outros bens;
b) Ampliar ou transferir a penhora para bens mais valiosos.
Por fim, imprescindível ter em mente que a avaliação se submete ao contraditório, sendo
que a decisão que a decide pode ser recorrida por agravo de instrumento.

27.18.4. Formas de Expropriação ou Alienação


A expropriação se inclui dentro da fase de instrução, porém não a coloquei como um subitem
dela para facilitar no layout dos estilos do Word.

Vamos lá!

Se a penhora recaiu sobre dinheiro, ultrapassada a fase dos embargos (caso existentes), passa-
se imediatamente ao resgate da dívida exequenda. Mas, se os bens penhorados são de outra
natureza, a instrução da execução terá de se completar com os atos de alienação forçada, que
pode ser alcançada de quatro maneiras (art. 647):
- adjudicação (art. 685-A);
- alienação por iniciativa particular (art. 685-C);
- alienação em hasta pública (art. 686);
- usufruto (art. 716).
Há uma ordem de preferência para as quatro formas de alienação forçada.
Preferencialmente deve ser realizada a adjudicação. Não havendo interesse na adjudicação, a
expropriação poderá ser realizada através da alienação por iniciativa particular, a
requerimento do exequente. Se não houver requerimento de adjudicação ou de alienação por
iniciativa particular, o caminho será a expropriação através da alienação em hasta pública. Em
último lugar vem a constituição do usufruto, que passou a ser admissível quando a penhora
recair sobre móvel ou imóvel (não há mais a possibilidade de usufruto de empresa, o que

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subsiste é a penhora de faturamento de empresa), sempre por opção do exequente e desde


que não aumente a onerosidade da execução para o executado.

27.18.4.1. Adjudicação (arts. 685-A e 685-B)


É forma de expropriação judicial por meio da qual o bem penhorado é retirado do patrimônio
do executado e transferido, como forma de pagamento, ao patrimônio do legitimado a
adjudicar.

A adjudicação é uma figura assemelhada à dação em pagamento, uma forma indireta de


satisfação do crédito do exequente, que se realiza pela transferência do próprio bem
penhorado ao credor, para extinção do seu direito. Conceitua-se a adjudicação, portanto,
como ato de expropriação executiva em que o bem penhorado se transfere in natura para o
credor, fora da arrematação, ou para terceiros.

Se o valor do bem avaliado e adjudicado for igual ou inferior ao valor da execução, ter-se-á a
chamada adjudicação satisfativa. Nesse caso, a execução persiste para obter o restante do
crédito.

Já se o valor do bem adjudicado superar a execução, deve o exequente depositar em juízo a


diferença do valor. A isso se dá o nome de adjudicação venda.

Em outros casos o adjudicatário terá de efetuar o depósito integral do preço da adjudicação. É


o caso que concorre com outros credores com penhora anterior à sua ou com preferência legal
sobre o bem adjudicado. Nesse tipo de concurso (art. 711) o exequente só tem direito de
levantar o produto da alienação judicial se houver sobra depois de satisfeitos os credores
preferenciais. Daí porque, ao requerer a adjudicação, tem de depositar integralmente o valor
de avaliação do bem penhorado; para evitar que se frustre o direito de preferência do credor
hipotecário ou pignoratício, ou titular de outros privilégios legais.

A adjudicação é, hoje, a forma preferencial de satisfação do crédito do exequente, gozando de


primazia sobre as demais formas.

A adjudicação pode ser realizada a qualquer tempo, não havendo preclusão temporal que
impeça sua realização após o início da expropriação; exige-se apenas que ela ainda seja
materialmente possível, ou seja, que o bem, v.g., não tenha sido transferido a terceiros.

Porém, não se pode permitir a adjudicação antes de transcorrido o prazo para interposição
de embargos; isso para dar um mínimo de segurança ao executado, o qual não terá seu bem
sumariamente subtraído.

27.18.4.1.1. Valor da Adjudicação


O exequente ou os demais legitimados não podem oferecer preço inferior ao valor da
avaliação. Isso, entretanto, depende do momento em que ofertada a adjudicação pelo
interessado. Isso porque se ele quiser a adjudicação apenas após fracassadas as tentativas de
alienação do bem, estará concretamente comprovado que ninguém se interessou por ele.
Logo, não faz sentido não poder a adjudicação ser por preço inferior.

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ENTRETANTO, DOUTRINA MAJORITÁRIA E O STJ NÃO ENTENDEM ASSIM, DEFENDENDO A


TESE DE NÃO PODER O VALOR DA ADJUDICAÇÃO SER INFERIOR AO DA AVALIAÇÃO.

27.18.4.1.2. Legitimados a Adjudicar


São eles:

a) Exequente;

b) Credor com garantia real;

c) Credores concorrentes que já tenham penhorado o bem;

d) Cônjuge, descendentes e ascendentes do executado.

Esses últimos não são partes e nem cientificados da possibilidade de adjudicação, intervindo
de forma voluntária e atípica. Já os dois primeiros serão necessariamente cientificados do
processo executivo.

27.18.4.1.3. Concurso de Pretendentes à Adjudicação


Se houver concurso, será feita uma licitação, abrindo-se prazo aos interessados em adjudicar
para apresentarem propostas, preferindo-se a maior oferta. Sendo iguais todas as ofertas, a
ordem de preferência é:

a) Cônjuge; Assim, vê-se que o


legislador deu
b) Descendentes; preferência em manter os
bens no âmbito familiar.
c) Ascendentes;

d) Credor com garantia real;

e) Demais credores.

Tendo sido penhoradas quotas de uma sociedade e não sendo o exequente sócio, serão
intimados os sócios não devedores para manifestar a vontade de adjudicar, com preferência
sobre todos os demais credores; isso visa à preservação da affectio societatis (art. 685-A, § 4º).

Todas as decisões sobre a adjudicação são interlocutórias, desafiando agravo de instrumento.

27.18.4.1.4. Auto de Adjudicação (art. 685-B)


A adjudicação considera-se perfeita e acabada com a lavratura e assinatura do auto pelo juiz,
pelo adjudicante, pelo escrivão e pelo executado, se presente.

Apenas será expedida carta de adjudicação na hipótese de bens imóveis, bastando para os
bens móveis a expedição de mandado de entrega.
Carta de Adjudicação Bens imóveis
Mandado de Entrega Bens móveis

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A carta de adjudicação será o título utilizável para registro da propriedade em nome do


adjudicante no Registro de Imóveis. O auto de adjudicação funciona como o título material de
aquisição, enquanto a carta de adjudicação funciona como o título (ou instrumento) formal
para acesso ao registro competente, onde de fato se dará a transferência da propriedade. A
carta de adjudicação deverá conter a prova de pagamento do imposto referente à
transferência do imóvel ao adjudicante, e não da quitação de todas as obrigações tributárias
do executado. Débitos tributários que acaso existam referentes ao imóvel ou ao seu antigo
dono, sub-rogam-se no preço acaso recolhido no processo. O BEM ADJUDICADO PASSA AO
ADJUDICANTE LIVRE DE ÔNUS TRIBUTÁRIOS, QUE NÃO SEJAM OS DECORRENTES DA
PRÓPRIA TRANSMISSÃO OPERADA EM JUÍZO.

27.18.4.1.5. Adjudicação Provisória


Logo após a penhora do bem, ainda que o executado se insurja contra a execução por meio
dos embargos, poderá o exequente ou outro legitimado pedir a adjudicação. Nesse caso, estar-
se-á diante de uma adjudicação provisória, porque já que pendentes os embargos à execução,
é possível que se demonstre futuramente que não existe o direito exequendo com a
procedência dos embargos.

27.18.4.2. Alienação por Iniciativa Particular (art. 685-C)


Tal artigo permite que o próprio exequente ou um corretor credenciado perante a autoridade
judiciária realize a alienação do bem, conforme o procedimento legal. Isso ajuda a evitar a
hasta pública, trazendo potencial benefício a todos os envolvidos.
Para se cogitar da alienação por iniciativa particular é necessário que não tenha ocorrido a
adjudicação, por desinteresse do exequente e dos outros legitimados previstos nos § § 2.º e
4.º do art. 685-A.

27.18.4.2.1. Alienação pelo Exequente e a Necessidade de seu Pedido


A lei prevê que somente o exequente poderá pedir a alienação por conta própria ou por
corretor, o que se trata de uma mera faculdade sua. Logo, O EXECUTADO NÃO TEM O DIREITO
DE PEDIR ESSA FORMA DE EXPROPRIAÇÃO, o que não impede que ele indique comprador
para o bem penhorado.

Caberá ao exequente, após abrir mão do direito de adjudicar os bens penhorados pelo valor da
avaliação (art. 685-A), requerer a alienação projetada, esclarecendo se pretende ele próprio
promover os atos alienatórios, ou se deseja confiá-los à intermediação de um corretor
profissional.

27.18.4.2.2. Alienação por Corretor Credenciado perante a Autoridade Judiciária


Corretor é qualquer agente comercial que sirva de intermediário entre o comprador e o
vendedor, o que permite a intermediação qualquer que seja o bem penhorado.

Se o exequente optar pela intermediação profissional, a escolha deverá recair sobre corretor
não só inscrito no órgão específico da classe, mas também inscrito no rol dos credenciados
pela autoridade judiciária.

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O sistema de credenciamento poderá ser regulado por provimentos dos Tribunais,


observando-se, em qualquer caso, o exercício mínimo de 5 anos na profissão. Sistemas
eletrônicos de divulgação e licitação poderão ser incluídos na disciplina traçada pelos Tribunais
(art. 685-C, § 3.º).

Poderá o exequente contratar corretor próprio para achar comprador para o bem; nesse
caso, o executado não deverá pagar comissão de corretagem, cujo valor deverá ser arcado
pelo exequente.

27.18.4.2.3. Requisitos para a Alienação (art. 685-C, § 1º)


Os requisitos legais somente deverão ser observados caso não haja acordo prévio entre
exequente e executado. Assim, nesse caso, o juiz deverá fixar:

a) Prazo dentro do qual a alienação deverá ser efetivada: prazo de natureza peremptória,
que deve ser obedecido pelo exequente alienante. Tem o objetivo de não permitir
dilação excessiva do processo; entretanto, pode ser prorrogado;
b) Forma de publicidade a ser cumprida:
c) Preço mínimo de alienação (art. 680): o juiz deve levar em conta o valor da avaliação
feita pelo oficial de justiça para fixar o preço mínimo, o qual não será necessariamente
igual àquele. A doutrina majoritária entende, entretanto, que não poderá ser inferior;
d) Condições de pagamento:
e) Garantias:
f) Comissão de corretagem: somente no caso de corretor oficial, já que se o corretor for
do exequente, ele quem arcará com a comissão.

27.18.4.2.4. Aperfeiçoamento da Alienação Particular


A alienação por iniciativa particular se aperfeiçoa através de termo lavrado nos autos da
execução, por ato do escrivão do feito, devendo ser devidamente subscrito pelo juiz, pelo
exequente (representado por seu advogado) e pelo adquirente. Não há a obrigatoriedade de o
executado assinar o termo, e sim mera faculdade que em nada prejudica o ato.
Formalizado o termo (art. 685-C, § 2.º), será expedida a carta de alienação do imóvel em favor
do adquirente, para que este possa transferir a propriedade no Registro Imobiliário. A carta de
alienação do imóvel deve desempenhar a mesma função da carta de adjudicação, pelo que os
requisitos são os mesmos do art. 685-B.
IMPORTANTE: se a venda por iniciativa particular for a prazo, a carta transcreverá as
respectivas condições, que, aliás, já constarão do termo de alienação previamente lavrado. Em
tal caso, será indispensável a estipulação de garantias, aplicando-se, analogicamente, a
disposição do § 1.º do artigo 690: o saldo devedor será garantido por hipoteca sobre o próprio
imóvel. Essa garantia e outras acaso ajustadas serão constituídas no termo de alienação, cujo
inteiro teor será reproduzido na carta a ser utilizada para registro no CRI. O termo lavrado nos
autos tem força de instrumento público e, por isso, dispensa o recurso à escritura pública em
separado para o ajuste da hipoteca.
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Quando o bem penhorado for móvel a alienação não ensejará a expedição de carta. Uma vez
lavrado o termo, expedir-se-á simplesmente mandado de entrega ao adquirente (art. 685-C, §
2.º).

27.18.4.3. Alienação em Hasta Pública (arts. 687 a 707)


Trata-se da última espécie de expropriação na ordem de preferência. Apesar de muito
criticada, e com razão, em determinadas situações não haverá outra forma de expropriação.
A hasta pública é a alienação de bens em pregão (ou seja, em oferta pública) promovida pelo
Poder Público. Já a arrematação é o ato que encerra a hasta pública, adjudicando os bens ao
licitante que formulou o melhor lanço.
Desde já, lembre-se que há três formas de hasta pública:
a) Praça (art. 686, IV): se destina à alienação de bens imóveis e é realizada por
serventuário de justiça no átrio do fórum;
b) Leilão (art. 704): se destina à alienação dos demais bens, excluídos os negociados em
bolsa de valores, sendo realizados por leiloeiro indicado pelo exequente e ocorrendo
em lugar designado pelo juiz;
c) Pregão da bolsa de valores (art. 684, II c/c art. 704): quando se tratar de títulos ou
mercadorias que tenham cotação em Bolsa.
Praça Bens imóveis
Leilão Bens móveis
Pregão Títulos ou mercadorias em Bolsa

IMPORTANTE: a doutrina moderna entende ser a arrematação um típico ato executivo, ou


seja, um ato de direito público. É um ato de desapropriação, um ato processual de soberania
do Estado que, através do órgão judicial, “expropria os bens do executado” e transfere, a
título oneroso, sua propriedade a terceiro. Portanto, não há que se cogitar de natureza
contratual, pois esta é incompatível com a arrematação.

27.18.4.3.1. Requisitos Formais e Publicação do Edital (arts. 686 e 687)


A arrematação, seja qual for a espécie da hasta pública, será sempre precedida de editais, isto
é, de avisos ao público com o fim de convocar todos os interessados para que venham
participar da licitação (art. 686). Atenção para a hipótese de dispensa dos editais (art. 686, §
3.º).
IMPORTANTE: o prazo dos editais de arrematação flui nas férias, pois não se trata de prazo
assinado à parte para o exercício de faculdade processual. A hipótese é de divulgação perante
terceiros, que nada têm que ver com a suspensão dos prazos processuais em período de férias
forenses.
No edital, o bem deve estar perfeitamente descrito, constando o seu valor, o lugar onde se
encontra, o dia e a hora da praça ou leilão, a condição jurídica do bem penhorado (ônus,
recursos ou causas pendentes sobre os bens arrematados) e a expressa comunicação de que
se o bem não alcançar lance superior ao da avaliação, haverá nova hasta entre os 10 e 20 dias
seguintes.

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Assim, no segundo pregão, caso exista, não se exige preço mínimo.

Deve-se interpretar os requisitos, entretanto, à luz do princípio da instrumentalidade das


formas, não se devendo anular a hasta somente por um vício forma do edital. Até mesmo um
vício grave poderá não ser causa de anulação, caso não haja prejuízo às partes.

O edital deve ser publicado, em resumo, num jornal de ampla circulação com antecedência
mínima de 05 dias da hasta pública. Ampla circulação tem o jornal que chega ao conhecimento
de grande parcela da população local.
O diário oficial deve ser utilizado somente na hipótese de o exequente ser beneficiário da
justiça gratuita (art. 687, § 1º).
Poderá o juiz adotar outras providências para divulgar o feito, inclusive meios eletrônicos.

27.18.4.3.2. Dispensa da Publicação de Editais (art. 686, § 3º)


Ocorrerá quando a avaliação dos bens penhorados não for superior a 60 SM. Nesse caso, a
arrematação, ainda que em segunda hasta pública, só poderá ser efetivada pelo valor mínimo
da avaliação, o que é uma salvaguarda legal em virtude da dispensa da publicidade oficial.

27.18.4.3.3. Comunicações da Hasta Pública (art. 687, § 5º)


O executado, que antes tinha de ser intimado pessoalmente, agora há de ser intimado na
pessoa de seu advogado; ausente este, por meio de mandado, carta registrada, edital ou
outro meio idôneo (prazo de 10 dias anteriores à hasta).

Sendo o executado revel, bastará que conste no edital da hasta uma especial menção à sua
cientificação, sendo desnecessária a publicação de novo edital.
Se houver litisconsórcio passivo, desnecessário intimar os executados que não tenham tido
bens seus penhorados. Se a penhora recair sobre cotas sociais, a doutrina se divide sobre se
devem ou não os demais sócios ser intimados, o que seria interessante para que eles
pudessem exercer o direito de preferência e para preservar a affectio societatis.
A respeito do cônjuge do executado, o STJ entende pela desnecessidade de sua intimação.
Daniel Assumpção entende que deve ser intimado, já que ele terá bem de seu patrimônio
afetado (parte da doutrina diz que não, já que ele foi intimado sobre a penhora e está ciente
da execução).
A ausência de intimação do devedor ou de qualquer outra pessoa que tenha bem seu
oferecido em hasta gera a nulidade de eventual arrematação, com a necessidade de se realizar
nova hasta.
Não se efetuará a adjudicação ou alienação de bem do executado sem que da execução seja
cientificado, por qualquer modo idôneo e com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência, o
senhorio direto, o credor com garantia real ou com penhora anteriormente averbada, que não
seja de qualquer modo parte na execução (art. 698).

27.18.4.3.4. Realização da Hasta Pública

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Ocorrerá na hora marcada pelo juiz, salvo se por motivo justo não puderem se realizar, quando
o juiz mandará publicar pela imprensa local e no órgão oficial nova data. O art. 698-A permite
que a hasta seja eletrônica, por meio da internet; ela devera ser regulada pelo CNJ e pelos TJs
no âmbito de suas respectivas competências.

27.18.4.3.5. Legitimados a Arrematar (art. 690-A)


Todos são, em regra, legitimados para efetivar lances e arrematar, exceto:

a) Tutores, curadores, testamenteiros, síndicos e liquidantes;

b) Mandatários;

c) Juiz, membro do MP, da DP, escrivão e demais auxiliares da justiça;

d) O arrematante e o fiador remissos, que não honraram o compromisso de pagar o


preço firmado na arrematação (art. 695).

O EXEQUENTE PODE ARREMATAR, AINDA QUE ELE TENHA O PRIVILÉGIO


DE ADJUDICAR. NA ARREMATAÇÃO, ELE PODE ATÉ FAZÊ-LO POR PREÇO
MENOR DO QUE O DA AVALIAÇÃO, DESDE QUE NÃO SEJA VIL. ATÉ
MESMO O EXECUTADO PODE ARREMATAR.

27.18.4.3.6. Procedimento
Se o bem for imóvel, os interessados deverão fazer proposta, nunca inferior à avaliação, por
escrito, com oferta de pelo menos 30% à vista e o restante garantido por hipoteca sobre o
próprio imóvel (art. 690, § 1º).
Se não for alcançado o valor da avaliação, deverá ser realizada a segunda hasta, entre 10 e 20
dias após a primeira. Nesta se admite a alienação por qualquer valor, desde que não seja vil
(art. 692). Porém, em determinadas situações, não se admite lances e arrematação por valor
inferior ao da avaliação, mesmo sem segunda hasta. São elas:
a) Quando dispensado o edital, por ser o valor da coisa inferior a 60 SM (art. 686, § 3º);
b) Pertencendo o imóvel a incapaz, exige-se que o valor da arrematação represente ao
menos 80% do valor da avaliação. Nesse caso deverá o juiz nomear depositário
idôneo para o bem e adiar a praça por prazo não superior a 01 ano (art. 701).
O pagamento poderá ser feito em dinheiro, imediatamente, com depósito em conta oficial, em
cheque com natureza pro solvendo (condicionado à compensação bancária), e a prazo (até 15
dias), com o oferecimento de caução (art. 690, caput).
Quanto ao prazo para pagamento, há uma diferença entre o terceiro e o exequente: o
terceiro tem 15 dias para pagar, enquanto o exequente tem 03 dias.
Tal diferenciação se justifica porque o terceiro deverá pagar o preço total do bem, enquanto o
exequente somente pagará o que exceder ao valor que está executando (art. 690-A, p.

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único). Se quem arrematar o bem for um credor não exequente, evidentemente esse será
considerado um terceiro, devendo depositar o valor total da coisa.
Se o arrematante e o fiador frustrarem o pagamento no prazo, haverá duas sanções (art. 695):
a) Perda da caução prestada em favor do exequente;
b) Impedimento de arrematar os bens, que voltarão à praça ou leilão.
Em sendo infrutífera a arrematação, o CPC prevê que poderá ser realizada uma segunda hasta.
Não prevê uma terceira. Entretanto, sobre a terceira hasta já se manifestou o STJ:
Apesar de não existir previsão no CPC, o STJ entende ser possível a
realização, excepcionalmente, de uma terceira praça, tendo falhado as duas
anteriores, sendo que deverão ser consideradas, entre outras
circunstâncias, a probabilidade de êxito, ainda que baixa, da praça pública,
seu custo em face do valor da execução, a possibilidade de existirem outros
bens em nome dos devedores, o custo de sua penhora e o comportamento
processual das partes. A omissão legislativa, por si só, não constitui
impedimento para que o julgador, diante das necessidades do caso
concreto, disponibilize ao credor a técnica processual apta à satisfação de
seu direito, pois o principal objetivo do Direito Processual Civil como um
todo e da execução em particular consiste na tutela do direito material.
(REsp 946.660-MS, 3T, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
1º/9/2011.)

27.18.4.3.7. Auto de Arrematação


O aperfeiçoamento da arrematação ocorre com a assinatura do respectivo auto, que é lavrado
pelo oficial de justiça (na hipótese de praça) ou pelo leiloeiro (na hipótese de leilão) e assinado
por este, pelo arrematante e pelo juiz.
IMPORTANTE: os embargos do executado ainda pendentes não impedem que a arrematação,
com o auto, seja aperfeiçoada e se torne irretratável (Art. 694). Nem mesmo a sentença de
procedência dos embargos, proferida ulteriormente à arrematação, comprometerá, por si só, a
eficácia da alienação judicial.
A execução é definitiva (art. 587), o que resolve em perdas e danos a procedência dos
embargos decretada após a arrematação, sem prejudicar os direitos adquiridos pelo
arrematante. Os efeitos da sentença restringem-se às partes da ação incidental (embargante e
embargado), conforme deixa claro o art. 694, § 2.º.
No entanto, se os embargos do devedor forem beneficiados com o efeito suspensivo e forem
julgados improcedentes, uma eventual apelação fará com que a execução seja provisória (e
não definitiva). Mesmo assim, eventual arrematação não sofrerá prejuízo, pois, se a apelação
por provida, tudo se resolverá em perdas e danos. A única diferença é que na execução
definitiva a arrematação se dá sem exigência de caução, sendo que, na execução provisória a
caução é indispensável. DE QUALQUER MANEIRA, COM OU SEM CAUÇÃO, EVENTUAL
ARREMATAÇÃO RESTARÁ PERFEITA, ACABADA E IRRETRATÁVEL EM BENEFÍCIO DO

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TERCEIRO ARREMATANTE, NÃO SENDO PREJUDICADA POR EVENTUAL PROCEDÊNCIA


DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO.
Nesse sentido:

NULIDADE. FRAUDE À EXECUÇÃO. ARREMATAÇÃO.

In casu, a recorrida propôs ação de execução para entrega de coisa incerta


contra o interessado, amparada em duas cédulas de produto rural.
Convertido o feito em execução de quantia certa e decorrido o prazo sem
manifestação, sem que o executado pagasse ou nomeasse bens à penhora,
foi requerida pela exequente, ora recorrida, a penhora de bens a qual foi
deferida. A recorrida pugnou pela decretação de nulidade, por fraude à
execução, da arrematação havida em processo executório distinto,
promovido pela ora recorrente em desfavor do mesmo executado. O juízo
singular acolheu o pedido formulado pela recorrida, reconhecendo a fraude
à execução. Irresignada, a recorrente, na condição de terceira interessada e
de arrematante do bem em questão, interpôs agravo de instrumento. O
tribunal a quo negou provimento ao recurso. Daí a interposição do presente
recurso especial. A jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido de
que, após a expedição da carta de arrematação, não pode a
desconstituição da alienação ser feita nos próprios autos da execução, mas
sim por meio de ação anulatória. No caso, a situação é agravada pela
circunstância de o reconhecimento ter ocorrido em processo executório
distinto, sem a oitiva da arrematante, ora recorrente. O eventual
reconhecimento de fraude à execução por má-fé do adquirente não
poderia prescindir da sua manifestação prévia, em respeito aos princípios
do contraditório e da ampla defesa. Ademais, é desarrazoado supor a
ocorrência de fraude à execução quando a expropriação do bem foi feita de
forma coativa, sob a tutela jurisdicional, porquanto a presunção é inversa,
ou seja, de higidez da titulação do arrematante. Nesse contexto, eventual
desconstituição da arrematação, amparada em vício do instrumento de
confissão de dívida - título embasador da execução que culminou com a
alienação judicial do bem em tela – deve ser buscada em procedimento
próprio com a participação de todos os interessados na controvérsia. Diante
dessa e de outras considerações, a Turma deu provimento ao recurso. REsp
1.219.093-PR, 3T, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
27/3/2012.

27.18.4.3.8. Arrematação Ineficaz (art. 694, § 1º)


Como já visto, com a assinatura do auto, logo após o encerramento da hasta pública, a
arrematação é considerada perfeita, acabada e irretratável, ainda que venham a ser julgados
procedentes os embargos do executado (art. 694).
No entanto, excepcionalmente, a arrematação poderá se tornar sem efeito (art. 694, § 1.º),
sem necessidade de ação autônoma, nos seguintes casos:
a) Vício de nulidade:

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b) Não pagamento do preço ou não prestação da caução:


c) Provar o arrematante, no prazo de 05 dias depois da assinatura do auto, a existência
de ônus real ou de gravame não mencionados no edital:
d) Se julgados procedentes os embargos à arrematação:
e) Quando feita a arrematação por preço vil:
f) Ausência de intimação dos sujeitos do art. 698:
A doutrina majoritária afirma que os vícios da arrematação têm natureza pública, podendo seu
reconhecimento se dar de ofício, em qualquer momento do processo e por mera petição.

27.18.4.3.9. Carta de Arrematação


A arrematação, como já citado, não é ato contratual, e sim um ato processual de transferência
coativa (daí sua irretratabilidade). Também não é sentença, de maneira que não pode ser
objeto nem de recurso e nem de ação rescisória. A arrematação é título de domínio, em
sentido material, do arrematante sobre os bens adquiridos na hasta pública. Assim, como
visto, o auto de arrematação representa um título em sentido formal. Como a propriedade
imóvel se transfere com o registro no CRI, a transferência forçada somente se aperfeiçoa com
a expedição da carta de arrematação. Os requisitos estão no art. 703. As despesas da
arrematação, da extração da carta, bem como os impostos devidos pela transmissão do
imóvel, são ônus do arrematante.
IMPORTANTE: o imposto referido no art. 703 é apenas o de transmissão! Os impostos acaso
devidos pelo executado não são cobráveis do arrematante, pois, nos termos do CTN,
subrrogam-se no preço da arrematação (art. 130, parágrafo único).

27.18.4.3.10. Efeitos da Arrematação


A arrematação perfeita e acabada produz os seguintes efeitos:
a) Transfere o domínio do bem ao arrematante;
b) Transfere ao arrematante direito aos frutos pendentes, com a obrigação de indenizar
as despesas havidas com os mesmos;
c) Torna o arrematante e seus fiadores devedores do preço, nos casos em que a
arrematação é feita a prazo (arts. 690 e § § );
d) Obriga o depositário judicial ou particular ou eventualmente o devedor a transferir ao
arrematante a posse dos bens arrematados;
e) Extingue as hipotecas inscritas sobre o imóvel (art. 1499, VI, do Código Civil): o vínculo
hipotecário subrroga-se no preço da arrematação. A extinção ocorre desde que a
execução tenha sido promovida pelo próprio credor hipotecário ou, caso contrário,
quando tenha ocorrido sua intimação na forma dos artigos 615, II, 619 e 698. A
omissão dessa intimação, na execução promovida por terceiro, acarreta a ineficácia
relativa da arrematação perante o titular do direito real e lhe dá, ainda, a opção de
privar de efeitos a transferência forçada do imóvel hipotecado (art. 694, § 1.º, VI).

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f) Transfere para o preço depositado pelo arrematante o vínculo da penhora: o dinheiro


pago toma, com efeito, o lugar dos bens arrematados. Entra provisoriamente para o
patrimônio do executado, mas, no mesmo momento, fica sujeito ao vínculo da
penhora, porque deverá ser distribuído entre os credores depois de pagas as custas. O
que sobrar eventualmente será devolvido à livre disposição do devedor. Neste sentido
o seguinte julgado:

ARREMATAÇÃO. DÉBITOS CONDOMINIAIS. SUB-ROGAÇÃO.

A Turma, ao dar provimento ao recurso especial, consignou que o


arrematante não responde pelas despesas condominiais anteriores à
arrematação do imóvel em hasta pública que não constaram do edital da
praça. Salientou-se que, nesse caso, os referidos débitos sub-rogam-se no
valor da arrematação (assim como ocorre com os débitos tributários nos
termos do art. 130, parágrafo único, do CTN), podendo o arrematante
requerer a reserva de parte do produto da alienação judicial para pagar a
dívida. Segundo a Min. Relatora, rESPONSABILIZÁ-LO POR EVENTUAIS
ENCARGOS INCIDENTES SOBRE O BEM OMITIDOS NO EDITAL
COMPROMETE A EFICIÊNCIA DA TUTELA EXECUTIVA E É INCOMPATÍVEL
COM OS PRINCÍPIOS DA SEGURANÇA JURÍDICA E DA PROTEÇÃO DA
CONFIANÇA. Ressaltou que, embora o art. 694, § 1º, III, do CPC estabeleça
que a existência de ônus não mencionados no edital pode tornar a
arrematação sem efeito, é preferível preservar o ato mediante a aplicação
do art. 244 da lei processual civil. Precedentes citados: REsp 540.025-RJ, DJ
30/6/2006; REsp 1.114.111-RJ, DJe 4/12/2009, e EDcl no REsp 1.044.890-RS,
DJe 17/2/2011. REsp 1.092.605-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
28/6/2011.

27.18.4.3.11. Evicção
A arrematação não é um contrato, e sim uma desapropriação, de sorte que não se pode falar
em responsabilidade contratual, como é o caso da garantia da evicção (art. 447 do Código
Civil). No entanto, o próprio artigo 447 do Código Civil enfrenta o problema e dispõe que a
garantia da evicção subsiste ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.
A solução mais plausível é oferecida por Frederico Marques (apoiada em Micheli e Liebman),
no sentido que, embora não haja compra e venda na arrematação, o executado responde pela
evicção porque, se o seu patrimônio é garantia comum de todos os credores, seria injusto,
caso o bem arrematado não lhe pertencesse, fosse o arrematante obrigado a arcar com todo o
peso da execução, beneficiando os credores com um enriquecimento injustificado porque
obtido à custa de algo que não era devido. Daí a conclusão de Liebman de que o primeiro
responsável pela reparação do prejuízo do arrematante é o executado e, subsidiariamente, o
credor. Para Libeman: “embora não se possa falar de garantia da evicção propriamente dita,
porque o executado não vendeu, é inegável o direito do arrematante de reaver o que pagou
sem causa. Quem se enriqueceu indevidamente foi o executado, que se livrou das dívidas à
custa de bens alheios; é ele obrigado a indenizar o arrematante. Mas, às vezes, ele é
insolvente; o arrematante poderá, então, repetir dos credores o que receberam, porque,

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embora tivessem direito ao pagamento, não o tinham a ser pagos pela alienação de bens a
terceiros.”
O STJ parece pender para a seguinte solução: mesmo arrematando em hasta pública, o
arrematante perderá o bem evicto, não ficando livre da evicção. A única coisa que ele poderá
fazer será ajuizar ação de regresso em face de quem recebeu o preço pago. Nesse sentido:
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONTRADIÇÃO INEXISTENTE.
LITISPENDÊNCIA INOCORRENTE. DIREITO CIVIL. EVICÇÃO SOBRE BEM
ARREMATADO EM HASTA PÚBLICA. CÓDIGO CIVIL DE 1916. SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA E COMPENSAÇÃO DE HONORÁRIOS. POSSIBILIDADE.

1. A litispendência se caracteriza quando há identidade de partes, causa de


pedir e pedido. Sendo inocorrente é descabida a sustentação de negativa de
prestação jurisdicional, sobretudo quando o Tribunal de origem aprecia a
questão e decide com fundamentos diversos. Inexistência de ofensa ao art.
535 do CPC 2. Apesar de o CC/1916 não prever a evicção sobre bem
arrematado em hasta pública, tanto a doutrina e a jurisprudência do STF já
se preocupavam há muito tempo com a peculiar situação e admitiam sua
possibilidade, a qual foi confirmada no art. 447 do CC/2002.

3. Se o Tribunal de origem admite evicção sobre bem arrematado em hasta


pública e ressalva o direito de regresso do arrematante contra o credor
que recebeu o preço da arrematação, inexiste interesse recursal do evicto
para afastar a própria evicção.

4. Havendo sucumbência recíproca, devem-se compensar os honorários


advocatícios. Inteligência do art. 21 do CPC c/c a Súmula 306/STJ.

5. Recurso parcialmente provido apenas para reconhecer a possibilidade de


compensação de honorários advocatícios.

(STJ, REsp 1237703/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 26/04/2011, DJe 13/05/2011)

27.18.4.3.12. Vícios Redibitórios


Como se trata de uma alienação forçada (e não de transferência contratual), não há lugar para
reclamação contra eventuais vícios redibitórios. Na arrematação o arrematante não adquire
nenhuma ação de garantia.
O art. 1106 do Código Civil de 1916 possuía vedação expressa de ação redibitória de coisa
alienada em hasta pública. No entanto, o Código Civil de 2002 não contemplou a vedação,
deixando a matéria sem regulamentação.
ARREMATAÇÃO DE IMÓVEL EXPROPRIADO EM PORÇÃO MENOR DO QUE A
AQUISIÇÃO JUDICIAL. PRETENSÃO DO ARREMATANTE À SUB-ROGAÇÃO NO
PREÇO DO IMÓVEL, PRETENDENDO ASSIMILAR A INDENIZAÇÃO PELA
TOTALIDADE DO BEM QUE NÃO FOI LEVADA À HASTA PÚBLICA POSTO
COMPOSTO DE PARCELA DE IMÓVEL PÚBLICO INALIENÁVEL. EXPROPRIAÇÃO
OCORRENTE APÓS O TÉRMINO E O TRÂNSITO EM JULGADO DO PROCESSO
EXPROPRIATÓRIO COM PAGAMENTO SUJEITO AO REGIME DO PRECATÓRIO.

[...]
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4. A NATUREZA DA ARREMATAÇÃO, ASSENTADA PELA DOUTRINA E PELA


JURISPRUDÊNCIA, AFASTA A NATUREZA NEGOCIAL DA COMPRA E VENDA,
POR ISSO QUE O ADQUIRENTE DE BEM EM HASTA PÚBLICA NÃO TEM A
GARANTIA DOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS NEM DA EVICÇÃO.

5. O arrematante lesado pode desfazer a arrematação, investir contra o


devedor que liberou-se com alienação juridicamente interditada ou voltar-
se mesmo contra o credor que se pagou de modo indevido, mas jamais sub-
rogar-se em crédito do processo de expropriação cuja própria execução
ultimou-se com o pagamento do precatório.

6. Ao arrematante reserva-se o acesso à justiça amplo à evitar o


locupletamento sem causa, podendo constringir o crédito do expropriado,
em medida acautelatória que lhe garanta o pagamento a posteriori.
Deveras, outra alternativa não se lhe reserva, por isso que o tribunal a quo
bem decidiu ao assentar: "DESAPROPRIAÇÃO - Indireta - Agravo de
Instrumento - Levantamento - Não se adquire por meio de arrematação em
hasta pública, realizada em execução contra o antigo proprietário, bem já
entregue ao uso público, realizada em execução contra o antigo
proprietário, bem já entregue ao uso público, nem há sub-rogação apenas
no crédito, depois de já exercido o direito à indenização e reconhecido por
acórdão transitado em julgado, além de já satisfeito com o depósito, em
cumprimento de precatório destinado ao autor da demanda - Negado
provimento ao recurso, cancelado o efeito suspensivo." 7. Recurso especial
a que se nega provimento.

(STJ, REsp 625.322/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 11/05/2004, DJ 14/06/2004, p. 184)

27.18.4.3.13. Ação Anulatória de Arrematação e Embargos à Arrematação


Quando não mais for possível a anulação da arrematação dentro dos próprios autos da
execução a parte interessada terá de propor ação anulatória pelas vias ordinárias. Como não
há sentença no procedimento da arrematação, o ato processual se anula por ação comum,
como os atos jurídicos em geral (art. 486). No entanto, encerrada a execução, não mais
guardará vínculo com a arrematação, de forma que não haverá conexão, pois não ocorre
conexão entre processo atual e outro já findo. Também não há acessoriedade.
Sobre os embargos, que devem versar sobre uma das matérias previstas no art. 694, § 1º:
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS A ARREMATAÇÃO. ART. 746, CAPUT, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. LEGITMIDADE DO DEVEDOR/EXECUTADO, NÃO
DE TERCEIROS ESTRANHOS À RELAÇÃO PROCESUAL.

1 - Embargos a arrematação correspondem a uma ação posta à disposição


do devedor/executado, não de terceiros estranhos à relação processual, aos
quais, obviamente, a lei oferece os embargos de terceiro para defesa de
seus interesses, razão pela qual andou bem o juízo de origem ao julgar
extintos referidos embargos, sem resolução de mérito, à falta de
legitimidade ad causam, em que o Embargante pretende anulação de leilão,

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e consequente levantamento de penhora sobre bem, para satisfação de


crédito trabalhista que tem com a empresa executada.

2 - Apelação a que se nega provimento. (AC 2003.32.00.001812-3/AM,


Relator JUIZ FEDERAL SAULO JOSÉ CASALI BAHIA, 7ª TURMA SUPLEMENTAR,
Publicação 30/03/2012 e-DJF1 P. 715, Data Decisão 13/09/2011)

27.18.4.4. Usufruto Executivo de Móvel ou Imóvel (arts. 716 a 724)


Em regra, a execução se perfaz com a perda de determinado bem pelo executado. Com o
usufruto, o bem penhorado será preservado no patrimônio do executado, provindo a
satisfação dos direitos do exequente dos frutos e rendimentos retirados periodicamente do
bem penhorado, até que o valor total da dívida seja quitado.
Com a Lei nº 11.382/06, o usufruto de empresa e imóvel passou a ser chamado de móvel ou
imóvel. Apesar do nome usufruto, ele se assemelha muito mais a um anticrese, devendo suas
regras serem aplicadas de forma subsidiária.
Entretanto, evidentemente que este usufruto não é direito real, apenas instrumento
processual.

27.18.4.4.1. Objeto do Usufruto


A partir de referida lei, poderá ser tanto móvel quanto imóvel. Não é necessária a
concordância do executado, apenas a sua oitiva para se garantir o contraditório.

O juiz não pode conceder usufruto de ofício, sendo imprescindível o pedido do exequente,
apesar de não ser suficiente, já que o juiz só deverá concedê-lo quando o considerar menos
gravoso ao executado e mais eficiente para o recebimento do crédito.

O usufruto poderá ser pedido até a realização da hasta (art. 721). Porém, na verdade, poderá
ser pedido até antes da alienação, e mesmo depois de realizada, se frustrada a hasta pública.

27.18.4.4.2. Procedimento
Após ouvir o executado no prazo de 05 dias, poderá o juiz realizar breve instrução probatória,
se houver divergência, decidindo a questão em decisão recorrível por agravo de instrumento.
Deferido o usufruto, o executado perde o gozo do imóvel, até que sejam pagos principal, juros,
custas e honorários advocatícios (art. 711).

Na decisão concessiva, o juiz nomeará um perito encarregado de avaliar os frutos e


rendimentos do bem penhorado, calculando o tempo necessário para o pagamento da dívida,
e indicará um administrador, que poderá ser o exequente ou o executado, desde que o outro
concorde (art. 719).

Com a publicação da decisão de usufruto, este passa a ter eficácia também erga omnes (art.
718).

Também será expedida carta de usufruto, se imóvel o bem, para fins de averbação. Se o
imóvel estiver alugado, pagará o inquilino aluguel diretamente ao usufruturário; poderá

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também o exequente alugar para si o bem móvel ou imóvel, desde que antes ouvido seja o
executado, por preço a ser acordado ou fixado pelo juiz.

27.18.5. Pagamento
O pagamento se dará:

a) Pela entrega do dinheiro ao exequente;

b) Pela adjudicação dos bens penhorados;

c) Pelo usufruto de móvel ou imóvel.

Os dois últimos já foram estudados. Resta ver somente a entrega de dinheiro.

27.18.5.1. Entrega de Dinheiro ao Credor (arts. 709 a 713)


O valor do fruto da alienação judicial por iniciativa particular ou arrematação será depositado
em juízo para posterior entrega ao credor. Se após o levantamento pelo credor do principal,
juros, custas e honorários houver saldo, este será levantado pelo executado.

Se a hipótese for de satisfação a prazo, a cada depósito poderá o credor requerer o


levantamento, até que seja integralmente satisfeito em seu crédito.

Quando vários credores pretenderem o recebimento da quantia resultante da alienação de um


bem específico do devedor, após o terem penhorado concorrentemente, instaura-se no
processo um incidente chamado CONCURSO SINGULAR DE CREDORES, que não se confunde
com o concurso universal, reservado para a execução contra devedor insolvente.

27.18.5.1.1. Concurso Singular de Credores


No concurso singular, tem-se a seguinte ordem de preferência:

a) Créditos trabalhistas até 150 SM por credor e créditos decorrentes de acidente de


trabalho;

b) Créditos tributários;

c) Créditos com garantia real até o limite do bem gravado;

d) Créditos com privilégio especial;

e) Créditos com privilégio geral.

Esse concurso é sumariamente processado como incidente de fase de pagamento, dentro


dos próprios autos da execução (art. 711).
Entre credores da mesma categoria, a ordem de preferência se estabelece pela anterioridade
da penhora, valendo, para fins de comparação, a data do arresto do bem, tanto de natureza
executiva quanto cautelar. A decisão que resolve o incidente é recorrível por agravo de
instrumento.

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IMPORTANTE: o credor quirografário que recebe o pagamento em primeiro lugar não é


necessariamente o que promove a execução, em cujos autos se deu a arrematação, mas sim o
que efetuou a primeira penhora, pois pode acontecer que, por embaraços procedimentais, sua
execução sofra atraso com relação a outras de credores com penhora de grau inferior. O que
importa é respeitar a ordem das penhoras e não o andamento das diversas execuções
concorrentes.
IMPORTANTE: no concurso por intercorrência de várias penhoras sobre os mesmos bens o
pagamento dos credores respeita a ordem cronológica dos gravames, de maneira que os
subsequentes só recebem se houver sobra após a satisfação do antecedente. O concurso não é
de rateio, mas de preferência!
Para processar este concurso particular os credores interessados devem formular suas
pretensões em petição nos autos em que ocorreu a alienação forçada, indicando, se for o caso,
as provas que irão produzir em audiência (art. 712). Se houver divergência, promover-se-á
uma audiência em que os credores provarão suas preferências de direito material e disputarão
as questões atinentes à ordem das penhoras. Concluído o debate oral o juiz decidirá, se
possível na própria audiência, apreciando exclusivamente os “privilégios” disputados e as
“preferências” decorrentes de anterioridade de cada penhora. Não haverá necessidade de
audiência quando a matéria discutida for apenas de direito ou baseada somente em prova
documental.
IMPORTANTE: a decisão é interlocutória, atacável através de agravo por instrumento, uma vez
que se trata de mero incidente processual.
Quando surgir questão de alta indagação entre devedores e credores (ou entre os vários
credores, como a discussão em torno da validade do próprio título do credor concorrente,
vícios do contrato, extinção do crédito, etc.), o juiz poderá sustar o pagamento e remeter os
interessados para as vias ordinárias.
Havendo acordo entre os interessados, inclusive o devedor, o juiz simplesmente determinará
que o contador prepare o plano de pagamento, segundo a ordem de preferências,
autorizando, a seguir, os respectivos levantamentos.
IMPORTANTE: quanto à verba de honorários de advogado, também não há lugar para impô-la,
visto que só em sentença se pode penalizar o vencido com a reposição de tal gasto processual
(art. 20).

27.18.6. Honorários Advocatícios em Execução de Título

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DUPLA CONDENAÇÃO.

A doutrina e a jurisprudência do STJ consagraram o entendimento de que é


cabível a dupla condenação em honorários advocatícios fixados na ação de
execução com aqueles arbitrados nos respectivos embargos do devedor,
porquanto os embargos constituem autêntica ação de conhecimento.
Precedentes citados: EREsp 81.755-SC, DJ 2/4/2001; AgRg nos EDcl nos EDcl
no REsp 1.101.165-SP, DJe 3/5/2010; REsp 1.033.295-MG, DJe 1º/12/2008;
REsp 1.019.720-PA, DJe 2/10/2008; REsp 906.057-SP, DJe 26/8/2008, e REsp
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995.063-SP, DJe 30/6/2008. REsp 1.212.563-RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 7/12/2010. (Informativo 459)

Assim, proposta a ação de execução, caso o executado proponha embargos e perca, ele deverá
pagar honorários tanto pelos embargos quanto pela ação executiva, diferentemente do que
ocorre com o cumprimento de sentença, hipótese em que somente serão devidos honorários
em decorrência da fase executiva.

Os honorários, no entanto, não poderão ultrapassar 20% do valor da causa no caso de dupla
condenação.

Incabível, entretanto, os honorários se o titular do crédito exequendo é a União e o título for


uma CDA, visto que, ao constituir tal título, ela já acrescenta 20% no valor devido em função
das custas e honorários. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NA DESISTÊNCIA NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS
À EXECUÇÃO FISCAL PROMOVIDA PELA FAZENDA NACIONAL. DESISTÊNCIA,
PELO CONTRIBUINTE, DA AÇÃO JUDICIAL PARA FINS DE ADESÃO A
PROGRAMA DE PARCELAMENTO FISCAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
(ARTIGO 26, DO CPC). DESCABIMENTO. REsp 1.143.320-R. MATÉRIA
SUBMETIDA AO RITO DO ART. 543-C DO CPC. HOMOLOGAÇÃO (ART. 269, V,
DO CPC).

1. O presente recurso é tirado contra decisão que, ao homologar o pedido


de renúncia sobre o qual se funda a ação, com fundamento no art. 269, V,
do CPC, afastou a condenação de honorários advocatícios, considerando a
Enunciado da Súmula 168 do Tribunal Federal da Recursos.

2. O tema não comporta maiores discussões, considerando que o STJ, na


sistemática do art. 543-C do Código de Processo Civil - CPC, quando do
julgamento do REsp 1.143.320/RS, confirmou entendimento de que
havendo desistência da ação pelo executado, em embargos à execução, não
há falar em pagamento de honorários advocatícios, visto que já estão
inclusos no encargo legal de 20% previsto no Decreto-Lei 1.025/69 (REsp
1.143.320/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seção, DJe 21/5/10). Incidência do
Enunciado da Súmula 168 ex-TFR: "o encargo de 20% do Decreto-Lei
1.025/1969, é sempre devido nas execucões fiscais da União e substitui, nos
embargos, a condenação do devedor em honorários advocatícios".

3. "Ademais, seria um evidente contra-senso, diante, ainda, da


jurisprudência formada sobre a matéria, condenar o contribuinte desistente
ao pagamento de honorários advocatícios, porquanto, em última análise,
remanesceria restaurado um encargo que a própria lei de parcelamento
expressamente afastou" (AgRg no REsp 1.115.119/SP, Rel. Ministro Arnaldo
Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 13/10/2011).

4. Agravo regimental não provido.

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(AgRg nos EDcl na DESIS no Ag 1370647/AL, Rel. Ministro BENEDITO


GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/05/2012, DJe 22/05/2012)

27.19. Execução contra a Fazenda Pública

27.19.1. Introdução
Quando a Fazenda Pública é o devedor, as regras gerais de expropriação não têm aplicação,
porquanto os bens públicos são impenhoráveis e inalienáveis. Além disso, o procedimento
especial visa também a observância do princípio da isonomia, já que o pagamento por
precatórios garante que não haja preferência na ordem de pagamento aos credores.

O conceito de Fazenda Pública abrange União, Estados, DF, Município, suas autarquias e
fundações públicas. Não inclui as EP e SEM.

A execução contra a FP é cabível tanto com base em título judicial quanto extrajudicial. Nesse
sentido:

Súmula 297, STJ: “É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública”.

27.19.2. Execução por Quantia Certa em Face da Fazenda Pública


A execução conta ela sempre se dará por processo de execução, não havendo se falar em
cumprimento de sentença. A FP será citada, nos termos do art. 730 do CPC, para opor
embargos, expedindo-se, ao final do procedimento, o correspondente precatório.

Embora não se aplique o art. 475-J, as regras de liquidação de sentença são plenamente
aplicáveis (arts. 475-A ao 475-H).

Todos os créditos contra a FP submeter-se-ão ao sistema de precatórios, ressalvados os


considerados de pequeno valor.

A FP terá o prazo de 30 dias para opor embargos, de acordo com o art. 1º-B da Lei nº
9.494/97. Ela será citada para opor embargos, e não para pagar.

Não apresentados ou rejeitados os embargos, o juiz solicitará a expedição de precatório ao


presidente do Tribunal, o qual determinará às autoridades administrativas a inclusão do
crédito no orçamento geral.

Determinada a expedição do precatório pelo juiz, deverá o cartório judicial providenciar sua
autuação com cópia das principais peças dos autos originários, dentre elas a certidão de
trânsito em julgado e a referência à natureza do crédito, se alimentício ou não.

Sobre os objetivos e motivos dos precatórios, esclarecedor o excerto do seguinte julgado:

Informativo 610

Inicialmente, salientou que o regime constitucional de execução por quantia


certa contra o Poder Público, qualquer que seja a natureza do crédito
exequendo — ressalvadas as obrigações definidas em lei como de pequeno
valor —, imporia a necessária extração de precatório cujo pagamento deve
observar a regra fundamental que outorga preferência a quem dispuser de
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precedência cronológica, em obséquio aos princípios ético-jurídicos da


moralidade, impessoalidade e igualdade. Aduziu, em sequência, que esse
instrumento de requisição judicial de pagamento teria por finalidade: 1)
assegurar a igualdade entre os credores e proclamar a inafastabilidade do
dever estatal de solver os débitos judicialmente reconhecidos em decisão
transitada em julgado; 2) impedir favorecimentos pessoais indevidos e c)
frustrar tratamentos discriminatórios, evitando injustas perseguições ou
preterições motivadas por razões destituídas de legitimidade jurídica. (STF,
Plenário, ADI 2356 MC/DF).

27.19.3. A Defesa da Fazenda Pública e os Embargos à Execução (art. 741)


O precatório ou a RPV somente serão expedidos depois de não haver mais qualquer discussão
quanto ao valor executado, ou seja, a expedição depende do trânsito em julgado da sentença
que julgar os embargos.

Assim, os embargos da Fazenda Pública deverão sempre ser recebidos no efeito suspensivo.

Quando os embargos forem parciais, a execução prosseguirá quanto à parte não embargada
(art. 739-A, § 3º, CPC), expedindo-se, quanto a essa parte, o precatório, não se podendo falar
em fracionamento vedado, já que não se trata de intenção do exequente repartir o valor.

Em relação às matérias de que podem tratar os embargos, estas estão taxativamente previstas
no art. 741 do CPC. São elas:

a) Falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;

b) Inexigibilidade do título;

c) Ilegitimidade das partes;

d) Cumulação indevida de execuções;

e) Excesso de execução;

f) Qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento,


novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença;

g) Incompetência do juízo da execução, bem como suspeição ou impedimento do juiz.

NÃO SE APLICA À FP A MULTA DE 10% PREVISTA PARA O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.

Entretanto, em se tratando de título executivo extrajudicial, não há razão para restringir o


âmbito dos embargos, eis que não há preclusão nem coisa julgada material relativamente ao
título que impeça a alegação de questões pertinentes à obrigação ou à relação jurídica que
deu origem ao crédito.

Logo, a FP pode suscitar qualquer matéria de defesa quando executada com base em título
extrajudicial.

Execução de título judicial Matéria dos embargos é restrita


Execução de título extrajudicial
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939

Assim:

Opostos os embargos, o juiz intimará o exequente para impugná-los no prazo de 15 dias;


depois, julgará imediatamente o pedido, ou designará AIJ, proferindo sentença no prazo de 10
dias.

Poderá o juiz rejeitar liminarmente os embargos, quando intempestivos, ineptos ou quando


manifestamente protelatórios.

JULGADOS OS EMBARGOS, A SENTENÇA NÃO ESTARÁ SUJEITA AO


REEXAME NECESSÁRIO; contra ela caberá apelação, a qual sempre será recebida no
duplo efeito.

27.19.3.1. O P. Único do Art. 741 do CPC

Art. 741. Na execução contra a Fazenda Pública, os embargos só poderão


versar sobre: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005)

[...]

II - inexigibilidade do título;

[...]

Parágrafo único. Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo,


CONSIDERA-SE TAMBÉM INEXIGÍVEL O TÍTULO JUDICIAL FUNDADO EM LEI
OU ATO NORMATIVO DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS PELO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL, OU FUNDADO EM APLICAÇÃO OU INTERPRETAÇÃO
DA LEI OU ATO NORMATIVO TIDAS PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
COMO INCOMPATÍVEIS COM A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. (Redação
pela Lei nº 11.232, de 2005)

Esse parágrafo é de extrema importância. Quando o STF declara, ainda que em controle
incidental, a inconstitucionalidade de uma determinada norma, pode a Fazenda Pública
suscitar a inexigibilidade do título no qual se baseou.

Isso, entretanto, tem gerado divergências. Até que momento a Fazenda Pública poderá alegar
que determinada sentença é inexigível por ter sido o ato normativo no qual se baseou
declarado inconstitucional?

O STJ resolveu essa questão:

ERESP. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. LEGITIMIDADE. ART. 741,


PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC.

Trata-se de embargos de divergência (EREsp) em que a questão centra-se


em definir o limite da imediata aplicabilidade do parágrafo único do art. 741
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940

do CPC na fase de cumprimento de sentença cujo trânsito em julgado ocorre


em data anterior à edição e vigência da Medida Provisória (MP) n. 2.180-
35/2001. A Corte Especial acolheu os embargos e reiterou que o parágrafo
único do art. 741 do CPC não se aplica de imediato às sentenças que
transitaram em julgado antes da vigência da MP 2.180-35/2001, ou seja, que
foram proferidas até 24/8/2001, mesmo que sejam tais sentenças contrárias
à CR/1988. Observou-se que, não obstante o princípio da aplicabilidade
imediata das modificações normativas de natureza processual, não se pode
olvidar o respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa
julgada, formados em data anterior à alteração do CPC. Assim, na hipótese,
tendo a sentença exequenda transitado em julgado antes da vigência da
referida MP, impõe-se a exigibilidade do título executivo judicial.
Precedentes citados do STF: RE 594.350-RS, DJe 11/6/2010; do STJ: AgRg nos
EAg 868.198-RS, DJe 11/11/2010. EREsp 1.050.129-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgados em 12/5/2011.

Eis súmula sobre o tema:

Súmula 487, STJ: “O parágrafo único do art. 741 do CPC não se aplica às sentenças transitadas
em julgado em data anterior à da sua vigência”. Não obstante o princípio da aplicabilidade
imediata das modificações normativas de natureza processual, não se pode olvidar o respeito
ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, formados em data anterior à
alteração do CPC. A sentença de mérito transitada em julgado só pode ser desconstituída
mediante ajuizamento de específica ação autônoma de impugnação (ação rescisória) que
haja sido proposta na fluência do prazo decadencial previsto em lei. Com o exaurimento de
referido lapso temporal, estar-se-á diante da coisa soberanamente julgada, insuscetível de
ulterior modificação, ainda que o ato sentencial encontre fundamento em legislação que,
em momento posterior, tenha sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal, quer em sede de controle abstrato, quer no âmbito de fiscalização incidental de
constitucionalidade. A decisão do Supremo Tribunal Federal que haja declarado
inconstitucional determinado diploma legislativo em que se apóie o título judicial, ainda que
impregnada de eficácia “ex tunc” , detém-se ante a autoridade da coisa julgada, que traduz,
nesse contexto, limite insuperável à força retroativa resultante dos pronunciamentos que
emanam, “in abstracto”, da Suprema Corte (RE 594.350).

27.19.4. Natureza Jurídica da Atividade do Presidente do Tribunal do Precatório


Tanto o STF quanto o STJ reconhecem que a atividade do Presidente no processamento do
precatório é meramente administrativa (ADI 1.098/SP). Nesse mesmo sentido:

Súmula 311, STJ: “Os atos do presidente do tribunal que disponham sobre processamento e
pagamento de precatório não tem caráter jurisdicional”.

Por esse motivo que todas as questões incidentais no processamento dos precatórios deverão
ser resolvidas pelo juízo que julgou a causa em primeiro grau. Essas questões se referem, v.g.,
à divisão de honorários, à correção monetária, à sucessão do exequente falecido etc.

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É competente para decidir sobre a atualização monetária dos precatórios o


juiz da execução, não o presidente do tribunal. Como já dito, a atividade
desempenhada pelo presidente do tribunal é meramente administrativa.
Por este motivo, está ele restrito a: a) “examinar as formalidades extrínsecas
do precatório e o erro material, o qual jamais transita em julgado e pode ser
corrigido a qualquer tempo” (STJ-Bol. AASP 1.931/413-j); b) expedir ofício
requisitório, controlar o respeito à ordem cronológica, promover o
sequestro de rendas púbicas e eventualmente propor intervenção (cf. STJ,
2ª Turma, RMS 1.129-0-SP, rel. Min. José de Jesus, j. 16.03.1994, DJU
18.04.1994, pág. 8.471, v.u., deram provimento parcial); c) corrigir “erro
material ou inexatidão nos cálculos”, “a partir dos parâmetros do título
executivo judicial, i. é., da sentença exequenda” (STF, Pleno, ADIN 1.091-1-
SP, rel. Min. Marco Aurélio, j. 11.09.1996, DJU 25.10.1996, p. 41.026).

Assim, não cabe qualquer recurso contra ato do Presidente do tribunal, cabendo, entretanto,
mandado de segurança contra ato ilegal ou abusivo.

Súmula 733, STF: “Não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida no processamento
de precatórios”.

27.19.5. Atualização Monetária e Juros no Pagamento dos Precatórios


A CR determina que haja o pagamento corrigido dos precatórios, entretanto, não faz
referência aos juros moratórios. São esses devidos? Sim, mas apenas após ocorrer a mora,
após se caracterizar o atraso, que se dá um ano e meio após a apresentação dos precatórios
para pagamento, se procedida até 1º de julho.

Para que esses juros sejam pagos, necessário será haver a expedição de um precatório
complementar, pois não se podem agregar valores a um precatório já inscrito.

Porém, a expedição desse precatório não exige nova execução, a qual será feita no curso do
processo de execução antigo, intimando-se a Fazenda Pública a se manifestar.

Qual o índice a ser aplicado à atualização do precatório? É o índice de remuneração da


caderneta de poupança (TR), conforme § 12 do art. 100 da CR.

A Lei nº 9.494/96 também determina isso:

Art. 1o-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública,


independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária,
remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma
única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração
básica e juros aplicados à caderneta de poupança. (Redação dada pela Lei nº
11.960, de 2009)

27.19.6. Casos de Dispensa de Precatório


Dispensa-se o precatório somente no caso de RPV.

Nos Juizados Especiais Federais, a obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em julgado
da decisão, será atendida independentemente de precatório (art. 17, Lei nº 10.259/01), desde
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que respeitado o limite de 60 salários mínimos. Não se pode, evidentemente, fracionar o valor
da execução para se adequar a esse limite, salvo nos casos previstos na Constituição após a EC
nº 62/09 (pessoa com 60 anos ou mais na data da expedição do precatório ou pessoa
portadora de doença grave, na forma da lei).

Entretanto, a parte poderá renunciar ao valor excedente para que possa ser paga sem a
expedição do precatório.

Nos casos em que se dispensa o precatório, a sentença não perde sua feição condenatória e
nem elimina a necessidade de um futuro e posterior processo de execução, salvo no JEF, em
que a sentença tem caráter mandamental e prescinde de posterior processo de execução.

Ajuizada a execução, não oferecidos ou rejeitados os embargos, será emitida ordem de


pagamento ao invés de precatório, cabendo à FP creditar o valor respectivo, no prazo
assinalado pelo juiz. Não o fazendo, caberá o sequestro ou bloqueio de verbas públicas, em
valor suficiente para o cumprimento da ordem.

Se na demanda houver litisconsórcio ativo, a dispensa do precatório decorrerá do valor global


da demanda ou do valor devido a cada litisconsorte? Deverá ser considerado o valor devido a
cada um, expedindo-se cada requisição de pagamento para cada um dos litisconsortes,
podendo ser expedidos precatórios para uns e RPVs para outros, a depende do valor devido.

27.19.7. Execução Provisória contra a Fazenda Pública


Item já visto.

27.19.8. Execução de Fazer, Não Fazer e Entregar Coisa contra a Fazenda Pública
Para essas execuções, a partir da Lei nº 10.444/02, deixou-se de exigir um processo autônomo
de execução se fundada em título judicial (se extrajudicial, a necessidade subsiste). Nos títulos
judiciais, adotar-se-á o procedimento do cumprimento de sentença.

27.19.9. Ação Monitória contra a Fazenda Pública


Cabe ação monitória contra a Fazenda Pública. Esse entendimento já é pacífico no STJ e,
inclusive, foi objeto da Súmula 339, que dispõe: “É cabível ação monitória contra a Fazenda
Pública.”

A ação judicial de procedimento monitório visa somente à formação antecipada de título


executivo judicial, que, uma vez formado, deflagra o curso procedimental estabelecido no art.
730 do CPC, expedindo-se o precatório judiciário, nos termos do art. 100 da Carta de 1988. A
constituição de pleno iure de um título executivo judicial contra a Fazenda Pública não enseja o
pagamento imediato ou a possibilidade de penhora de bens. Por conseguinte, estando o
crédito provado por documento hábil, é absolutamente possível o aforamento de ação de
procedimento monitório em face da Fazenda Pública.

Qual a utilidade disso? O juiz não poderá mandar citar a Fazenda para pagar (procedimento
natural na ação monitória), visto que isso quebraria a ordem de pagamento dos precatórios
judiciais.

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Assim, cita-se a Fazenda para pagar ou apresentar embargos. Não apresentando embargos ou
sendo os mesmos rejeitados, o juiz prolatará sentença que será constitutiva do título judicial
que dará ensejo à ação de execução em conformidade com o art. 730 do CPC. Ao final desse
procedimento, será o crédito inscrito em precatório seguindo a eterna fila de pagamento.

Sobre o tema:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. FAZENDA PÚBLICA. CABIMENTO.


SÚMULA 339/STJ. INADIMPLEMENTO DO MANDADO MONITÓRIO. ISENÇÃO
DE HONORÁRIOS E CUSTAS. IMPOSSIBILIDADE.

1. A controvérsia consiste em saber se, ao reconhecer a dívida cobrada pelo


autor da ação monitória e deixar de apresentar embargos ao mandado
inicial, a Fazenda Pública ré goza da isenção de custas e honorários
advocatícios estabelecida no art. 1.102-C, § 1º, do CPC ou se esse benefício
encontra-se condicionado também ao imediato adimplemento do crédito da
parte adversa – como decidiu a Corte de origem –.

2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça acabou por orientar-se no


sentido de que inexiste qualquer empecilho à propositura de ação monitória
em desfavor da Fazenda Pública. Incidência da Súmula 339/STJ.

3. O administrador público, ante o princípio da moralidade, não só pode


como deve cumprir voluntariamente a ordem de pagamento, caso
reconheça a obrigação e o montante devido. Assim, se à administração é
lícito adimplir espontaneamente a dívida, também pode resgatá-la em
razão de um mandamento injuntivo ou sujeitar-se à execução fundada no
título obtido pela via monitória, o que demonstra que a indisponibilidade
do interesse público é apenas relativa.

4. Nem todo crédito oponível à Fazenda Pública necessita de execução


forçada para seu regular cumprimento. As obrigações documentalmente
assumidas pelo Poder Público, presumidamente, já contam com a
indispensável dotação orçamentária, sob pena de caracterizar-se crime de
responsabilidade do gestor público.

5. O procedimento injuntivo traz vantagem ao devedor que paga


voluntariamente, cumprindo o mandado monitório, PORQUE DISPENSA O
PAGAMENTO DE CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
como preceituado no § 1o do art. 1.102-C do CPC. Dessa forma, CASO O
ADMINISTRADOR PÚBLICO OPTE POR CUMPRIR O MANDADO
MONITÓRIO, ESSA DECISÃO ACABA FAVORECENDO A FAZENDA PÚBLICA
POR FORÇA DA ISENÇÃO QUE LHE BENEFICIA.

6. No caso concreto, a Fazenda Estadual apenas reconheceu a existência


do crédito da parte adversa e deixou de oferecer embargos, acarretando a
formação do título executivo sem a isenção de honorários e custas, o que
somente seria cabível caso ocorresse o imediato adimplemento da dívida
em questão.

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7. Não se pode admitir que a sabida inadimplência contumaz do Estado


não somente force terceiros a ingressarem no Poder Judiciário para
receberem o que lhes é devido, como também exclua o pagamento de
honorários advocatícios sem que haja o pronto cumprimento da
obrigação, circunstância que, sublinhe-se, representa exatamente o
intento do legislador ao elaborar a norma contida no art. 1.102-C, § 1º, do
CPC, beneficiando ambas as partes.

8. Recurso especial não provido.

(REsp 1170037/RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado


em 04/02/2010, DJe 24/02/2010)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. EMBARGOS. FAZENDA PÚBLICA.


PRAZO. ART. 188 DO CPC. INCIDÊNCIA.

1. Computa-se em quádruplo o prazo para a Fazenda Pública oferecer


embargos à ação monitória, nos termos do art. 188 do CPC.

2. Recurso especial provido.

(REsp 845.545/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA,


julgado em 02/09/2010, DJe 10/09/2010)

27.19.10. Aprofundamentos Finais


Se a Fazenda embarga apenas parcialmente a execução contra ela movida, pergunta-se: cabe a
expedição de precatório da parcela incontroversa?

O contribuinte está cobrando, por exemplo, execução de sentença de indébito tributário. A


sentença condenou a FP a pagar 100 mil reais. A FP embargou dizendo que não são 100 mil
reais, são na verdade 20 mil reais. Então ela está embargando parte da execução, está
embargando 80 mil, e reconhece 20 mil reais. Pode mandar expedir RPV dessa parcela de 20
mil reais? O juiz vai lá e diz: expeça-se RPV referente à parcela incontroversa.

Não pode mandar expedir.

Agora, digamos que no mesmo caso, o juiz mande expedir precatório dos 20 mil reais. Pode?

Pode, porque no tocante aos vinte mil não houve embargos, a execução é não embargada. Ela
só foi embargada nos 80 mil, nos 20 mil reais ela é não embargada, porque a União não
recorreu. Porque que no primeiro caso é falso?

Porque no primeiro caso, embora o valor seja de 20 mil reais, o valor total da execução é que
norteia o regime de requisição judicial, mesmo que uma parte seja embargada e a outra não.
Por isso é que é precatório de 20 mil, porque o contribuinte não pode se beneficiar de a FP ter
embargado a maior parte para requisitar como RPV e pagar em 60 dias a parte não
embargada. O que norteia o regime é o valor da execução.

Agora, sendo precatório pode, porque os 20 mil reais não foram embargados, ali não apenas o
título transitou em julgado, como também a execução não foi embargada, está pronta para a
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expedição de precatório. Em relação aos 20 mil a decisão é definitiva, pois não houve
embargos. Veja o RE 493129.

Os honorários do advogado, segundo o estatuto da OAB, pertencem ao próprio advogado.


Não os contratuais, os contratuais ele não vai cobrar, pois a parte recebe e ele cobra da
parte, agora, aqueles judiciais pertencem ao advogado, a requisição sai em nome dele.
Vamos imaginar que a execução seja de 80 mil, superior aos 60 SM, mas a parcela do
advogado seja 8 mil. Então, o advogado faz o seguinte pedido: requeiro a expedição de
precatório para a parte e RPV para mim.

Está certo ou está errado?

Está errado. Ele vai dizer: mas a minha execução é autônoma.

O STF disse que não, mesmo que a parcela do advogado seja requisitada para ele, em nome
dele, ele seja o exequente, autônomo, O VALOR QUE VAI NORTEAR A REQUISIÇÃO É O
VALOR GERAL. Se a soma da parcela devida à parte e à devida ao advogado supera 60 SM,
então todo mundo vai por precatório. Então o precatório de 8 mil sai no nome dele.

27.20. Execução de alimentos

27.20.1. Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente vs. Prisão Civil
O CPC faculta ao credor a escolha do procedimento na execução de alimentos: (a) no que
concerne às três últimas prestações as vencidas nos meses imediatamente anteriores à
citação, e as que se vencerem depois, o credor pode valer-se tanto do procedimento previsto
no art. 732 (execução por quantia certa contra devedor solvente) quanto do previsto no art.
733 (prisão civil) (razão por que não existe a necessidade de antes promover uma possível
execução por quantia para só após pedir a prisão civil do devedor inadimplente, embora isto
seja possível, cf. STJ, 4ª Turma, RESP 216.560-SP, rel. Min. César Rocha, j. 28.11.2000, DJU
05.03.2001, p. 169); (b) no que concerne às prestações vencidas anteriormente, só cabe
execução por quantia certa contra devedor solvente (cf. RSTJ 84/197, apud NEGRÃO,
Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 35. ed. São Paulo:
Saraiva, 2003, p. 766, nota 1a ao art. 732 do CPC). Portanto, não se admite a prisão civil para a
cobrança executória de parcelas vencidas antes dos três meses anteriores à citação: “A prisão
civil não deve ser tida como meio de coação para o adimplemento de parcelas atrasadas de
obrigação alimentícia – acumuladas por inércia da credora – já que com o tempo, a quantia
devida perde o cunho alimentar e passa a ter caráter de ressarcimento de despesas realizadas”
(STF, HC 75.180-MG, rel. Min. Moreira Alves, j. 10.06.1997, apud Inf. STF 75, de 09.06.1997, p.
2. No mesmo sentido, p. ex.: STJ, 6ª Turma, HC 6.789-Es, rel. Min. Anselmo Santiago, j.
01.09.1998, DJU 13.10.1998; STJ, 3ª Turma, RHC 7.816-ES, rel. Min. Nilson Naves, j.
18.02.1999, DJU 29.03.1999, p. 150; STJ, 4ª Turma, HC 15.612-BA, rel. Min. Barros Monteiro, j.
25.05.2001, DJU 27.08.2001, p., 338). De qualquer forma, a alegação da impossibilidade de
cumprir a obrigação só é possível na execução prevista no art. 733 (prisão civil), não na
prevista no art. 732 (execução por quantia certa) (com o quê o devedor deixa de sofrer a
prisão se a justificativa se der no prazo legal, mas não se exonera da dívida, cf. JTJ 153/9, RTJ
94/147, 104/586, 122/117, RT 463/313).
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27.20.2. Prisão Civil e Alimentos Indenizatórios


A jurisprudência é uníssona em afirmar que não cabe a prisão por inadimplemento de
prestação alimentícia decorrente de responsabilidade civil por ato ilícito (art. 602) (cf., p. ex.,
STJ, 3ª Turma, RESP 93.948-SP, rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 02.04.1998, DJU 01.06.1998, p. 79).
Entendendo também que a prisão civil não se aplica aos alimentos indenizatórios decorrentes
de ação de responsabilidade ex delicto, pois restritos aos alimentos constitutivos de relação
jurídica de direito de família: CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. São Paulo: RT, 1986, p. 631;
VILLAR, Willard de Castro. Processo de execução. São Paulo: RT, 1975, p. 267. Em sentido
contrário: MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos, São Paulo: RT,
2004, p. 630; PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao Código de Processo
Civil. t. X,, Rio de Janeiro: Forense, 1976, p. 485. Segundo Araken de Assis, “o verdadeiro
espírito da lei é franquear meios executórios mais lestos e eficazes aos alimentários em geral,
deixando de discriminá-los em razão da fonte da obrigação alimentar” (Da execução de
alimentos e prisão do devedor. 5. ed. São Paulo: RT, 2001, p. 112). De qualquer maneira, antes
do advento da Lei 11.232/2005, cabia nesses casos: a) desconto em folha (art. 16 da Lei
5.478/68 c.c. art. 734 do CPC); b) expropriação de rendas e alugueres (art. 17 da Lei nº
5.468/68); c) expropriação de bens do réu (art. 735 do CPC). Com a nova, lei, passou-se a
admitir a figura da “constituição de capital” (CPC, art. 475-Q: “quando a indenização por ato
ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz, quanto a esta parte, poderá ordenar ao devedor
constituição de capital, cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão”), de
modo “esse capital, representado por imóveis, títulos da dívida pública ou aplicações
financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação do
devedor” (CPC, art. 475-Q, § 1º). Embora salutar a novidade trazida pelo art. 475-Q do CPC,
causa surpresa a redação do seu § 2º, que diz permitir a substituição da “constituição do
capital pela inclusão do beneficiário da prestação em folha de pagamento de entidade de
direito público ou de empresa de direito privado de notória capacidade econômica, ou, a
requerimento do devedor, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de
imediato pelo juiz”. Tomando-se o texto pela sua literalidade, tem-se a impressão de que, não
obstante a possibilidade de expropriação de bens do réu, a execução de alimentos
indenizatórios será promovida prioritariamente por constituição de capital, e só
subsidiariamente será efetuada por desconto em folha ou prestação de fiança bancária ou
garantia real. Noutras palavras: não só se deixa de indicar a expropriação de rendas e aluguéis,
como se estabelece inadequada hierarquia entre todos esses instrumentos executivos.

27.20.3. Execução de Alimentos e Lei nº 11.232/2005


O novo regime de cumprimento de sentença não se aplica à execução de alimentos. Segundo o
artigo 732 do CPC, “a execução de sentença, que condena ao pagamento de prestação
alimentícia, far-se-á conforme o disposto no Capítulo IV deste Título”. Ora, o Capítulo IV do
Titulo II do Livro II do CPC, cuida das “execuções por quantia certa contra devedor solvente”.
Na verdade, após a Lei 11.232/2005, o capitulo citado pelo art. 732 do CPC se circunscreve à
execução de títulos executivos extrajudiciais. Não há na nova lei qualquer dispositivo que
altere a redação do artigo 732 e remeta a execução de prestação alimentícia ao regime de
cumprimento de sentença genérico constante do Capítulo X, Título VIII, Livro I, do CPC (o que,
portanto, elide a aplicação do regime de cumprimento sentencial à execução alimentícia

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expropriatória). Há quem defenda que o regime de cumprimento de sentença tem uma “maior
adequação material” à execução de prestação alimentícia do que o regime de execução dos
títulos extrajudiciais, já que o pagamento dos alimentos é imposto por sentença, e não por
título extrajudicial. O problema desse entendimento está em que a Lei 11.232 seria aplicável
em partes ao âmbito das execuções alimentícias, visto que na efetivação de penhora sobre
dinheiro os embargos jamais teriam efeito suspensivo (CPC, art. 732, par. único), podendo o
credor levantar mensalmente a importância da prestação, sem necessidade de caução. Com
isto, o Judiciário teria de referendar uma combinação de regimes distintos, o que costuma
trazer graves perigos à segurança jurídica, porquanto cada juiz faria a “combinação” de formas
diversas. Logo, não é possível, p. ex., aplicar aqui a multa de 10% (dez por cento), incidente
sobre o montante da condenação, prevista no caput do art. 475-J do CPC.

27.20.4. Execução de Liminar de Alimentos Provisionais e de Sentença Condenatória de


Alimentos
Não existe diferença entre execução de liminar de alimentos provisionais e execução de
sentença condenatória de alimentos: as decisões concessivas de alimentos provisionais
executam-se, normalmente, como qualquer outra sentença condenatória. Isto decorre da
índole satisfativa não-cautelar dos alimentos provisionais, já que a sentença cautelar que os
concede, depois do trânsito em julgado, se transforma em autêntico título executivo capaz de
incluir-se no preceito contido no art. 584, inciso I, do CPC, e legitimar uma demanda de
execução forçada para entrega de quantia certa (cf., v.g., SILVA, Ovídio A. Baptista da. Do
processo cautelar. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2001, p.437; THEODORO JR.,
Humberto. Processo cautelar. 19. ed. São Paulo: LEUD, 2000, p. 310: “a exigência dos
alimentos provisionais se faz pelas regras da execução por quantia certa, com as
peculiaridades dos artigos 732 a 735, inclusive com possibilidade de prisão civil do devedor
inadimplente (art. 733, § 1º)”). Ainda sobre a possibilidade de prisão por descumprimento de
obrigações alimentar, quer se trate de alimentos provisionais, provisórios ou alimentos
definitivos: RT 477/115, 491/81, RJTJESP 37/139, RT 86/126, 87/1025, STF-RT 567/226.

27.21. Execução por Quantia Certa contra Devedor Insolvente


A execução por quantia certa contra devedor insolvente é uma execução concursal (concurso
universal de credores) que se deve instalar quando haja insolvência, ou seja, a insuficiência do
patrimônio do devedor para a inteira satisfação de todos os seus credores (se bem que é
possível ocorrer a insolvência mesmo que só haja um único credor). Nesse sentido, assemelha-
se à falência.

Se o executado é solvente, o procedimento é de índole individualista, realizado no interesse


particular do credor, assegurando-lhe a penhora direito de preferência perante os demais
credores quirografários, segundo a máxima prior tempore potior jure (art. 612).

Se o executado é insolvente, o princípio que rege a execução já se inspira na solidariedade e


universalidade, dispensando o legislador um tratamento igualitário a todos os credores
concorrentes, tendente a realizar o ideal de par conditio creditorum.

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Dessa forma, por meio do processo executivo concursal, impõe-se um princípio de ordem,
fazendo com que todos os bens do devedor comum se integrem numa massa para responder
pelo conjunto de créditos, até onde alcance o produto da execução, de modo a assegurar a
observância de regras equitativas de distribuição, capazes de evitar que o patrimônio do
insolvente seja dilapidado inútil ou nocivamente, com desigualdade e prejuízos à ordem
econômica geral.

Há quem defenda que o credor tem o (pesado) ônus de provar a insuficiência do patrimônio
do devedor; todavia, melhor o entendimento de que ao devedor cabe demonstrar que seu
ativo é superior ao passivo (cf. SILVA, Ovídio A. Baptista da. Curso de processo civil. v. 2. 4. ed.
São Paulo: RT, 2000, p. 169): “ao devedor incumbe a prova de sua solvência” (RSTJ 75/195);
“presume-se, até prova em contrário, a insolvabilidade daquele contra quem está ocorrendo a
execução” (Bol. AASP 1.543/166)

Somente os não-empresários, pessoas físicas e jurídicas, é que se submetem ao regime da


insolvência civil, sob o rito da execução por quantia certa contra devedor insolvente.

IMPORTANTE: a execução concursal é facultativa! Não é obrigatória! O credor não é obrigado a


promover a execução concursal, ainda que o devedor notoriamente esteja em estado de
insolvência. O credor pode adotar o meio que mais lhe interessa para recuperar seu crédito.

27.21.1. Caracterização da Insolvência


A execução concursal exige, além do título executivo e do inadimplemento, um terceiro
requisito: o estado de insolvência do devedor.

A insolvência, como pressuposto da execução concursal, pode ser real (art. 748) ou presumida
(art. 750).

No entanto, o estado de insolvência não depende de prova pré-constituída. Sua apuração


pode ser feita na fase de cognição, dentro da própria ação de insolvência civil.

27.21.2. Fases do Processo de Insolvência


Tal como ocorre no processo falimentar, a execução do devedor insolvente compreende duas
fases:

- uma inicial, que tende à verificação do estado de insolvência do devedor;

- uma segunda fase, subsequente, em que são executados seus bens para saldar os créditos
concorrentes.

Na primeira fase do processo de insolvência não se pode, ainda, falar em execução forçada,
pois a atividade jurisdicional então desenvolvida é tipicamente de cognição, encontrando sua
culminância na sentença que declara, ou não, o estado de insolvência do devedor. Com efeito,
o estado de insolvência, com todos os efeitos que dele decorrem, só pode ser criado por
sentença judicial. Na primeira fase não há sequer a universalidade.

Aberta a insolvência, cria-se um juízo duplamente universal, por abranger a universalidade dos
bens do devedor e a universalidade de seus credores. Por isso se diz que a universalidade da
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insolvência é tanto objetiva como subjetiva. A universalidade objetiva consiste na expropriação


ou transferência forçada de todo o patrimônio do insolvente para apurar-se o numerário com
que pagar os credores concorrentes. Naturalmente, só os bens alienáveis podem ser
penhorados, de maneira que o concurso universal não atinge aqueles legalmente inalienáveis,
nem os restritamente impenhoráveis (art. 751, II).

27.21.3. Características da Execução Coletiva


- universalidade  a execução alcança a totalidade dos bens do devedor, constituindo a massa
de bens do insolvente;

- caráter de execução coletiva  ao juízo da insolvência concorrerão todos os credores do


devedor comum. O pagamento será feito por rateio, com observância da par conditio
creditorum.

- convocação geral dos credores por editais  é medida de ampla publicidade do estado de
insolvência do devedor;

- nomeação de administrador para a massa  o administrador terá poderes de representação


ativa e passiva, em juízo e fora dele, e com exclusão do devedor da gestão e disponibilidade de
seus bens (arts. 752 e 763);

- extinção das obrigações do insolvente  art. 778.

27.21.4. Efeitos da Declaração de Insolvência


- Efeitos objetivos:

- vencimento antecipado de todas as dívidas;

- arrecadação de todos os seus bens penhoráveis, tanto os atuais como


aqueles que vieram a ser adquiridos no curso do processo;

- execução coletiva ou juízo universal do concurso dos credores.

Observação: o principal efeito objetivo é que, em razão do juízo universal, as penhoras já


existentes perdem a eficácia e privilégio, uma vez que todas as execuções singulares são
atraídas para a execução coletiva.

- Efeito subjetivo: é o maior efeito da declaração de insolvência. Trata-se da perda do


direito de administrar os seus bens e dispor deles até a sentença declaratória de extinção de
todas as obrigações do insolvente (art. 782). Não se trata de perda da capacidade do
insolvente, pois ele conserva a plenitude da aptidão para exercer todos os direitos não-
patrimoniais e mesmo os de natureza patrimonial que se refiram aos bens não penhoráveis. A
perda se refere apenas à disponibilidade e administração dos bens.

Além da gestão administrativa e financeira, também a atividade judicial lhe é restringida.


Embora possa assistir e fiscalizar as ações em que tenha interesse patrimonial, o insolvente
perde a capacidade processual ou a de ser parte. Não pode, por isso, estar em juízo, nem na

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qualidade de autor nem na de réu, pois toda a representação da massa compete ao


administrador.

IMPORTANTE: no que se refere ao cumprimento dos contratos bilaterais a doutrina reconhece


que a declaração de insolvência não resolve os contratos bilaterais, competindo ao
administrador dar-lhe cumprimento, se houver conveniência para a massa.

IMPORTANTE: no que se refere ao contrato de alienação fiduciária – Decreto-Lei n.º 911/69,


este não deve ser considerado antecipadamente vencido. Inexistindo mora do devedor poderá
o administrador, se achar conveniente para a massa, prosseguir na execução normal do
contrato, pagando em dia as prestações vincendas.

27.21.5. Legitimidade Ativa


Nos termos do artigo 753 possuem legitimidade para requerer a declaração da insolvência: o
credor quirografário; o próprio devedor; o inventariante do espólio do devedor. Nunca é dado
ao juiz declarar a insolvência ex officio e instaurar o referido concurso.

- Credor  art. 754 ao 758. O seu credito deve ser quirografário (art. 753, I). Se o crédito
desfrutar de alguma garantia real, o credor não terá legitimidade para pedir a declaração de
insolvência, pois a dívida estaria garantida com o bem afetado com a garantia, cabendo ao
credor excutir o bem destinado ao pagamento. Porém, decretada a insolvência, terá de
habilitar-se. Nem mesmo a remessa das execuções individuais ao juízo universal da insolvência
(art. 762) supre a necessidade de habilitação, a qual deve fazer-se através de petição inicial
que atenda aos requisitos do art. 282 do CPC (cf. STJ, 4ª Turma, RESP 45.634-MG, rel. Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 26.05.1997, DJU 25.08.1997, p. 39.374).

Cumprida a citação, 5 situações diferentes podem ocorrer:

- o devedor paga a dívida, o que demonstra sua solvabilidade e extingue a execução (art. 794,
I);

- o devedor não se manifesta, deixando de pagar ou opor embargos. Neste caso o juiz, em 10
dias, proferirá a sentença e, provavelmente, dada a revelia, acolherá o pedido do credor. Pode
ocorrer, no entanto, que o título exibido pelo credor não seja líquido, certo e exigível, ou que o
narrado na inicial não demonstre ser caso de insolvência;

- o devedor opõe embargos visando ao não pagamento da dívida, aduzindo matéria de defesa
cabível nos embargos da execução por quantia certa contra devedor solvente. Não está
obrigado a nomear bens à penhora, nem a depositar o valor da dívida, mas, se for vencido, a
insolvência fatalmente será decretada;

- o devedor opõe embargos apenas para provar que seu passivo é menor do que o ativo, ou
seja, procura ilidir o pedido ao demonstrar sua solvabilidade (art. 756, II). Também não está
obrigado a garantir a execução, mas ficará sujeito à decretação da insolvência caso seus
embargos sejam julgados improcedentes;

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- no prazo dos embargos o devedor deposita a importância do crédito do exequente com o fim
de discutir sua legitimidade ou valor, caso em que a insolvência já estará, desde logo, ilidida.

Da sentença que decide os embargos caberá recurso de apelação, que não terá efeito
suspensivo se a decisão for de rejeição da defesa (art. 520, V).

- Devedor ou Inventariante do espólio do devedor  arts. 759 e 760. É a chamada “auto-


insolvência”. Diversamente do que ocorre com o empresário, que é obrigado a requerer a
autofalência, o devedor não é obrigado a promover a própria insolvência. O devedor civil ou
seu espólio possuem a faculdade de requerer a auto-insolvência. A confissão de insolvência
importa na renúncia implícita à administração e disponibilidade dos próprios bens, de modo
que a procuração outorgada para o procedimento depende de poderes especiais.

A natureza jurídica da auto-insolvência é controvertida na doutrina. Alguns entendem ser um


exercício de direito de ação (Celso Neves) e outros entendem ser procedimento de jurisdição
voluntária (Carnelutti, Oetker, Bonelli, Humberto Theodoro Junior). O entendimento
predominante é o de que a natureza jurídica da auto-insolvência é um procedimento de
jurisdição voluntária.

27.21.6. Competência
Juízo da Comarca onde o devedor tem seu domicílio.

27.21.7. Sentença
Acolhido o pedido do credor ou do próprio devedor (ou de seu espólio), o juiz proferirá
sentença, encerrando a fase preliminar (ou de cognição) do processo de insolvência.

Discute-se sobre a natureza jurídica da sentença. Pontes de Miranda, Araken de Assis e Ovídio
Baptista entendem que a sentença proferida tem cunho preponderantemente declaratório Já
Barbosa Moreira e Humberto Theodoro Junior entendem tratar-se de uma decisão
constitutiva:

Ensina Humberto Theodoro Junior que essa sentença, embora tenha a função evidente de
declarar um estado de fato do devedor (a insuficiência patrimonial para cobrir todas as
dívidas), reveste-se, também, de preponderante eficácia constitutiva, criando uma situação
jurídica nova para o devedor e para os credores. Basta dizer que, por força da sentença de
insolvência, o devedor perde a administração e disponibilidade dos bens e que os credores
perdem os privilégios decorrentes de penhoras anteriores e são arrastados pela força atrativa
do concurso universal.

Na mesma sentença o juiz, ao declarar a insolvência, nomeará, dentre os maiores credores, um


administrador da massa (art. 761, I) e mandará expedir edital, convocando todos os credores
para que apresentem, no prazo de 20 dias, a declaração de crédito acompanhada do
respectivo título (art. 761, II).

A publicação do edital será feita segundo a regra geral do art. 232, III: uma vez no órgão oficial
e pelo menos duas vezes em jornal local, onde houver.

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A universalidade do juízo da insolvência atrai para seu âmbito todos os credores do insolvente,
sejam privilegiados ou quirografários. A execução é coletiva e concursal. Excetuam-se
unicamente os créditos fiscais, que não se sujeitam aos juízos universais por expressa
disposição de lei (art. 187 do CTN).

Mesmo os credores de cédulas rurais hipotecárias e pignoratícias, cujas garantias se revestem


de impenhorabilidade perante os credores quirografários do devedor comum (art. 69 do
Decreto-Lei 167/67), não se excluem do juízo universal da insolvência.

Todas as execuções individuais serão remetidas para o juízo comum da insolvência (art. 762, §
1.º). As penhoras perdem a eficácia e os exequentes os privilégios de ordem de penhora. As
execuções são neutralizadas, cessando os respectivos cursos, salvo apenas no caso de existir
praça ou leilão já designados, quando, então, a alienação judicial será realizada, mas o produto
não beneficiará mais o exequente singular, visto que entrará para a massa (art. 762, § 2.º).

A perda da capacidade processual do devedor e a representação da massa pelo administrador


judicial fazem com que a universalidade do juízo concursal atinja toda e qualquer ação
patrimonial instaurada contra o insolvente, inclusive aquelas em que haja intervenção da
União ou Território, na forma do artigo 99, I.

27.21.8. Administrador Judicial


O administrador prestará seu compromisso, ficando responsável pela gestão da massa,
devendo, ao assinar o termo (art. 765), entregar a declaração de seu crédito, acompanhada do
título executivo. De acordo com o art. 766, compete-lhe: I – arrecadar todos os bens do
devedor, onde quer que estejam, requerendo para esse fim as medidas judiciais necessárias; II
– representar a massa, ativa e passivamente, contratando advogado, cujos honorários serão
previamente ajustados e submetidos à aprovação judicial; III – praticar todos os atos
conservatórios de direitos e ações, bem como promover a cobrança das dívidas ativas; IV –
alienar em praça ou leilão, com autorização judicial, os bens da massa.

27.21.9. Habilitação
Na sentença que declara a insolvência, o juiz manda expedir edital, convocando os credores
para que em 20 (vinte) dias apresentem as declarações de seus créditos, acompanhadas dos
respectivos títulos (art. 761, II), as quais serão autuadas pelo escrivão e apensadas ao processo
de insolvência. De qualquer forma, o CPC não esclarece como e onde será publicado o edital
(THEOTÔNIO NEGRÃO entende que a citação edital deve fazer-se aqui nos termos do art. 779
do CPC: uma vez no órgão oficial e outra em jornal local). A seguir, novo edital será publicado
intimando os credores para que, no prazo comum de 20 (vinte) dias, aleguem suas
preferências, nulidades, simulação, fraude ou falsidade de dívidas e contratos (art. 768)
porventura assinados pelo devedor com algum dos credores que desejam habilitar-se
amparados pelos negócios jurídicos aos quais se atribui algum desses vícios. Também o
devedor pode impugnar os créditos apresentados à habilitação no dito prazo (art. 768,
parágrafo único). Em qualquer caso, havendo controvérsia, o juiz poderá determinar produção
de provas, inclusive em audiência, proferindo depois a sentença, declarando ou não habilitado
o crédito impugnado (art. 772). Aqui, o vencido responde pelas verbas de sucumbência, nos

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termos do regime geral fixado no art. 20 do CPC (cf. STJ, 3ª Turma, RESP 37.703-SP, rel. Min.
Ari Pargendler, j. 08.06.2000, DJU 28.08.2000, p. 70).

O credor retardatário (isto é, o que não se apresentar dentro do prazo do art. 761, II, embora
em condições de fazê-lo) pode disputar, por ação direta, antes do rateio final, a prelação ou
cota proporcional ao seu crédito (art. 784). Há quem entenda que o credor, que não dispunha
ainda de título executivo durante o prazo do art. 761, II, do CPC, vindo, porém, a obtê-lo antes
do “rateio final”, está legitimado a promover a dita “ação direta” (cf. SILVA, Ovídio A. Baptista
da. Curso de processo civil. v. 2. 4. ed. São Paulo: RT, 2000, p. 177).

27.21.10. Quadro Geral de Credores


Transitado em julgado a sentença que julga a habilitação, remetem-se os autos ao contador
para organização do quadro geral de credores (atentando-se à natureza de cada crédito,
eventuais preferências reconhecidas por lei e os privilégios de que o crédito goza). Após, abre-
se um novo prazo os interessados manifestarem-se sobre a relação de credores habilitados e a
respectiva posição no quadro geral. Julgadas eventuais impugnações quanto essa classificação,
proferir-se-á nova sentença homologatória do quadro geral. Com base nessa decisão, será
partilhado entre os credores o numerário obtido pela alienação dos bens formadores da
massa. Daí por que o momento processual adequado para a venda dos bens da massa é após a
organização do quadro geral, razão por que “só excepcionalmente, quando sujeitos a
deterioração ou depreciação, ou ainda quando houver manifesta vantagem, é podem ser
alienados antecipadamente” (RF 307/137, apud NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil
e legislação processual em vigor. 35. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 797, nota 1ª ao art. 773
do CPC). De todo modo, restando saldo credor insatisfeita, o devedor não se exonera desde
logo (art. 774): continua por ele obrigado até que, pelo decurso de 5 (cinco) anos, a contar da
instauração do concurso, considerem-se extintas as obrigações do insolvente (arts. 777 e 778).
Durante esse período, os bens por ele adquiridos respondem pelo pagamento dos credores,
que poderão reabrir o concurso.

27.21.11. Apuração do Ativo e Pagamento dos Credores


Compete ao administrador apurar o ativo da massa e promover a alienação dos bens
arrecadados, com prévia anuência do juiz da causa. A hasta pública será realizada conforme as
regras dos artigos 686 a 707.

O CPC não fixa um momento certo e determinado para a alienação. O art. 770 admite
expressamente a possibilidade de ter a arrematação ocorrido antes da elaboração do quadro
geral de credores. O art. 773 faz concluir que o juiz determinará a realização de praça ou leilão
dos bens da massa após o julgamento do quadro, somente quando a alienação não tiver
ocorrido antes de sua organização.

Então, a arrematação é um ato de administração da massa. Ultimada a arrecadação e


avaliação dos bens, se nada contra-indicar, estará o administrador preparado para realizar a
apuração do ativo. Obtida a anuência do juiz, poderá realizar a hasta pública segundo a
sistemática das arrematações (arts. 686 a 707) e das alienações judiciais (arts. 1113 a 1119).

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IMPORTANTE: não havendo razões especiais, deve-se aguardar o julgamento do quadro geral
de credores, porque é nessa fase que se enseja oportunidade ao devedor de se compor com os
credores habilitados para negociar um plano de pagamento, evitando a alienação forçada do
patrimônio arrecadado. Isso será visto adiante.

27.21.12. Encerramento e Suspensão do Processo


O processo de insolvência pode terminar de três maneiras diversas:

- sem chegar à execução coletiva, quando os embargos do devedor são acolhidos (na primeira
fase do processo);

- pelo cumprimento do acordo de pagamento ajustado entre devedor e credores (art. 783);

- por ter atingido o seu fim próprio e específico, que é a liquidação total do ativo e rateio de
todo o produto apurado entre os credores concorrentes.

Qualquer que seja a forma de término da insolvência, haverá sempre uma sentença de
encerramento, cujo trânsito em julgado, nos casos de incompleta satisfação dos credores,
funcionará como marco do reinício do curso das prescrições (art. 777) e como ponto de partida
do prazo de extinção das obrigações do insolvente (art. 778).

Já com relação à suspensão, são três maneiras:

- quando ocorre a convenção entre devedor e credores para estabelecimento de um plano de


pagamento (art. 783);

- quando o produto da realização do ativo não é suficiente para a solução integral dos créditos
concorrentes, dada a possibilidade de reabertura da execução caso o devedor venha a adquirir
novos bens penhoráveis (art. 775 e 776);

- quando não se encontram bens a arrecadar ou o ativo da massa não se mostra suficiente
sequer para atender os gastos processuais da insolvência (arts. 659, § 2.º, e 791, III).

IMPORTANTE: também equivale a uma forma de suspensão a falta de habilitação de credores


no prazo legal. A execução não pode ter andamento sem os sujeitos ativos. Se aparecer algum
interessado, a reabertura será feita sob a forma de habilitação retardatária de crédito, com a
posterior retomada do curso normal.

27.21.13. Saldo Devedor


A sentença de encerramento, embora ponha momentaneamente fim à execução, não
desobriga, de pronto, o devedor pelo remanescente dos débitos da insolvência. Continua ele
obrigado pelo saldo (Art. 774) e responderão por ele os bens que insolvente vier a adquirir
enquanto não declarada a extinção de suas obrigações (art. 778).

Não há início de outra execução contra o devedor. Aparecendo novos bens, a arrecadação será
feita nos próprios autos da insolvência, que serão reabertos a requerimento de qualquer dos
credores incluídos no quadro geral (art. 776).

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O administrador será o mesmo que figurou na fase primitiva da insolvência.

27.21.14. Extinção das Obrigações


ULTRAPASSADO O PRAZO DE 5 (CINCO) ANOS DA SENTENÇA, HAJA OU NÃO VERIFICADO A
PRESCRIÇÃO, TODAS AS OBRIGAÇÕES DO DEVEDOR INSOLVENTE SERÃO CONSIDERADAS
EXTINTAS (ART. 778). ESSE PRAZO É DECADENCIAL! Não admite nem suspensão, nem
interrupção.

A extinção alcança todos os créditos que concorreram no processo de insolvência,


privilegiados ou não, e também aqueles outros que tinham condições de concorrer mas não
foram habilitados pelos interessados.

A extinção é direito inconteste do devedor e resulta do simples decurso do prazo legal, mas
depende de declaração judicial para operar seus efeitos jurídicos (art. 782). O pedido deverá
ser feito pelo devedor, não podendo o juiz declarar a extinção ex officio.

A sentença que declarar extintas as obrigações será publicada por edital e só transitará em
julgado, se não houver nenhum recurso, após a ultrapassagem do prazo estipulado na
publicação, que será o comum das intimações por edital (art. 232, IV).

Trata-se de sentença constitutiva (e não meramente declarativa), pois dependem dela a


eficácia da extinção das dívidas do insolvente e a reabilitação do devedor para praticar
livremente todos os atos da vida civil (art. 782).

27.21.15. Disposições Gerais


- Concordata civil  a insolvência levada às últimas consequências gera a ruína do devedor. O
art. 783 prevê a possibilidade do devedor insolvente, após aprovado o quadro geral, acordar
com os credores uma forma de pagamento. Não se requer a concordância expressa dos
credores (pode ser tácita, ou seja, ausência de oposição). No entanto, a oposição da minoria
dos credores será suficiente para frustrar a concordata civil.

A sentença de aprovação da concordata na insolvência é apenas homologatória, de forma que


não extingue as obrigações do devedor, nem elimina a possibilidade de ser restabelecida a
execução em caso de descumprimento. Provoca apenas a suspensão da execução coletiva.

- Pensão para o devedor  art. 785. Será cabível apenas quando a massa possuir capacidade
de produzir frutos ou rendimentos, dos quais se possa destacar a ajuda para o devedor, sem
diminuição efetiva dos bens arrecadados. Não será deferida quando importar necessidade de
dispor de bens arrecadados, sem prejuízo imediato da massa.

- Insolvência das pessoas jurídicas  as pessoas jurídicas que não se dediquem às práticas
empresariais (sociedades não empresárias) não são incluídas na Lei Falimentar (Lei
11.101/2005), e sim na insolvência civil (art. 786). Estão sujeitos à insolvência civil todos os
entes de direito privado não compreendidos no âmbito da Lei 11.101/2005, tais como as
sociedades de prestação de serviço, as associações de fins recreativos, culturais, assistenciais
ou religiosos e as fundações de direito privado. Excluem-se também aquelas instituições
sujeitas à liquidação extrajudicial.
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- Editais  caso o devedor insolvente possua mais de um centro de atividade, os editais de


que trata o procedimento de insolvência civil serão publicados nos órgãos oficiais dos Estados
em que tiver filiais ou representantes.

27.21.16. Ausência de Bens Penhoráveis do Devedor


Há entendimento no sentido de não ser admissível o procedimento da insolvência civil
quando, anteriormente, em execução singular (quantia certa contra devedor solvente) tivesse
sido comprovada a inexistência de bens penhoráveis. Isto porque não se concebe execução
sem objeto, e o objetivo da execução, seja do devedor solvente ou do insolvente, é o de
expropriar bens para satisfazer o direito dos credores.

Esse não é o entendimento de Humberto Theodoro Junior, para quem o procedimento de


insolvência civil não nasce como uma execução forçada, e sim como um procedimento de
cognição que nenhuma relação tem com a existência ou inexistência de bens do devedor. Na
primeira fase o que se busca é a decretação de um estado jurídico novo para o devedor, com
consequências de direito processual e material, tanto para o insolvente como para seus
credores.

Apenas na segunda fase, que se abre com a arrecadação, é que o processo de insolvência se
torna executivo. Aí então, à falta de bens penhoráveis, ocorrerá a suspensão dos atos
executivos e a declaração de encerramento do feito, para contagem do prazo de extinção das
obrigações do insolvente.

Assim, a inexistência de bens penhoráveis não impede o ajuizamento nem da auto-insolvência


nem da insolvência requerida pelos credores.

27.22. Defesas do Executado

27.22.1. Embargos à Execução (arts. 736 a 740)

27.22.1.1. Natureza Jurídica


Os embargos possuem natureza jurídica de ação, o que faz com que, no mesmo processo,
tramitem duas ações: a executiva e os embargos.

Como no processo de execução não há mais espaço para se discutir a respeito da existência ou
da dimensão do direito exequendo, isso deverá ser feito em processo cognitivo, ou seja, nos
embargos. Assim, pode-se dizer que os embargos têm natureza jurídica de ação de
conhecimento incidental.

Os embargos são autuados em apartado da ação executiva e distribuídos por dependência.


Lembrar que ser autuada em apartado significa que, além de ter autos próprios, não ficam as
ações apensadas (amarradas) uma à outra, tramitando de forma independente entre si.

Cabe ao embargante instruir a ação com todas as peças que no caso concreto se mostrem
úteis ao julgamento dos embargos (art. 736, p. único).

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27.22.1.2. Garantia do Juízo


Desde a Lei nº 11.382/06 NÃO MAIS SE EXIGE QUALQUER GARANTIA DO JUÍZO para o
ingresso dos embargos à execução. Porém, também deixaram os embargos, regra geral, de ter
efeitos suspensivos (art. 739-A).

EMBARGOS. EXECUÇÃO FISCAL. NOMEAÇÃO DE CURADOR ESPECIAL.


DEFENSORIA PÚBLICA. GARANTIA DO JUÍZO. DISPENSA. POSSIBILIDADE.
REPETITIVO.

É dispensado o curador especial de oferecer garantia ao juízo para opor


embargos à execução. A atuação correspondente a um munus público não
pode ser obstado por ausência de garantia do juízo, ainda que por
inexistência de previsão legal específica. Precedentes. Repetitivo. Unânime.
(TRF1, 8T, Ap 0003711-16.2008.4.01.3800/MG, rel. Des. Federal Maria do
Carmo Cardoso, em 07/10/2011.)

27.22.1.3. Prazo dos Embargos


O termo inicial para a contagem do prazo para a interposição dos embargos à execução é a
juntada aos autos do mandado de citação devidamente cumprido (art. 738, caput).

Quando houver mais de um executado, o prazo para cada um deles embargar conta-se a partir
da juntada do respectivo mandado citatório, salvo tratando-se de cônjuges, quando o prazo
será contado a partir da última juntada de citação (art. 738, § 1º). Isso porque, como os
embargos são ação, cada executado deve ter o direito de exercer seu direito abstrato de forma
independente, não sendo viável condicionar o exercício do direito de ação de um dos
executados a outros.

Assim, o prazo para embargar conta-se de forma independente para os executados.

Em se tratando de cônjuges, o termo inicial para a interposição dos embargos é a juntada do


último mandado de citação cumprido. Se houver união estável, essa disposição somente se
aplica se ela for conhecida. Se depender de prova, se aplica a regra geral.

Se a citação for feita por precatória, o prazo se inicia desde a juntada aos autos da
comunicação do juízo deprecado ao juízo deprecante de que a citação foi feita, e não do
retorno da precatória devidamente cumprida (art. 738, § 2º).

Em sede de embargos, não se aplicam quaisquer prazos diferenciados (salvo os da Fazenda


Pública, que são de 30 dias, em função da Lei nº 9.494/97). Assim, eles devem ser
apresentados em 15 dias da juntada do mandado de citação aos autos, NÃO OBSTANTE TER
O EXECUTADO SIDO CITADO PARA PAGAR EM 03 DIAS.

27.22.1.4. Rejeição Liminar dos Embargos


Ocorrerá nas hipóteses do artigo 739 do CPC, quando o juiz extinguirá a demanda judicial
incidental sem nem ao menos intimar o embargado para se manifestar a respeito das
alegações do embargante.

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Deve-se entender como rejeição tanto os embargos extintos com ou sem julgamento de
mérito.

A decisão que rejeita liminarmente os embargos à execução é uma sentença, recorrível por
apelação, que não terá efeito suspensivo (art. 520, V, CPC), ainda que seja possível ao apelante
obtê-lo por meio de ação cautelar incidental ou de pedido de efeito suspensivo ao relator (art.
588, CPC), desde que preenchidos os requisitos.

Porém, Daniel Assumpção cita o caso de cabimento de agravo de instrumento quando ocorrer
a rejeição liminar parcial dos embargos em função da inépcia parcial da inicial.

Quando o excesso de execução for fundamento dos embargos, o


embargante deverá declarar, na petição inicial, o valor que entende
correto, apresentando memória de cálculo sob pena de rejeição liminar
dos embargos ou de não conhecimento desse fundamento. (STJ, 1T,
Informativo 421, REsp 1.115.217/RS)

27.22.1.4.1. Intempestividade dos Embargos


A intempestividade dos embargos não gera preclusão temporal, já que preclusão é fenômeno
endoprocessual. Daniel Assumpção defende que nesse caso haverá falta de interesse-
adequação, já que o instrumento processual não será mais próprio para fazer valer a
pretensão do embargante.

Por fim, mesmo diante da intempestividade dos embargos, poderá o juiz convertê-lo em mera
petição, juntando-os aos autos da execução e acolhendo a alegação, quando se tratar de
matéria de ordem pública, funcionando os embargos como uma exceção de não
executividade.

27.22.1.4.2. Inépcia da Petição Inicial


Sendo inepta a inicial (art. 295) e não sendo emendada, deverá ser extinto o processo sem
julgamento de mérito.

27.22.1.4.3. Embargos Manifestamente Protelatórios


Hipótese em que se permite a rejeição dos embargos quando o embargante atuar com abuso
de direito, deslealdade e má fé processual.

Não há como se pré-definir a hipótese, devendo-se ter em mente os casos de contrariedade


flagrante à lei, aos fatos já definitivamente assentados em ação de conhecimento etc.

27.22.1.5. Efeitos Suspensivo

27.22.1.5.1. Requisitos
São quatro os requisitos que devem ser preenchidos no caso concreto para a concessão de
efeito suspensivo (art. 739-A, § 1º):

c) Pedido expresso do embargante: poderá ocorrer a qualquer momento do


procedimento;
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d) Relevância da fundamentação: seria o FBI dos embargos;

e) Grave dano de difícil ou incerta reparação: seria o PIM.

f) Garantia do juízo: a execução já deverá estar garantida por penhora, depósito ou


caução suficientes. Por ser suficiente, a garantia deve ser total, apta a amparar todo do
direito do exequente em caso de improcedência dos embargos.

Assim, vê-se que a ideia é que não haja efeito suspensivo, devendo esse ser deferido em
último caso, prestigiando-se a força executiva do título, sem a paralisação do procedimento.

Há parcela da doutrina que defende que, ainda que não garantido o juízo, pode o efeito
suspensivo ser conferido se houver grande probabilidade de vitória do embargante.

27.22.1.5.2. Ausência de Preclusão Judicial


Como visto, a obtenção do efeito suspensivo pode ocorrer posteriormente ao ajuizamento dos
embargos. Isso é muito comum até, já que muitas vezes somente ficará garantido o juízo após
a realização do ato de penhora.

A concessão ou o indeferimento do efeito suspensivo se sujeita ao agravo de instrumento.


Entretanto, após concedido, ou se denegado, poderá haver reiteração ao próprio juízo a quo
de retirada do efeito suspensivo ou concessão do mesmo, porém somente se ocorrer alteração
da situação fática. É assim que deve ser interpretado o art. 739-A, § 2º, que dispõe:

§ 2o A decisão relativa aos efeitos dos embargos poderá, a requerimento da


parte, ser modificada ou revogada a qualquer tempo, em decisão
fundamentada, cessando as circunstâncias que a motivaram.

27.22.1.5.3. Limitação Objetiva e Subjetiva do Efeito Suspensivo


Art. 739-A [...]

§ 3o Quando o efeito suspensivo atribuído aos embargos disser respeito


apenas a parte do objeto da execução, essa prosseguirá quanto à parte
restante.

Esse dispositivo limita objetivamente o efeito suspensivo dos embargos, já que a parcela não
embargada será definitivamente executada no processo de execução.

§ 4o A concessão de efeito suspensivo aos embargos oferecidos por um dos


executados não suspenderá a execução contra os que não embargaram,
quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao
embargante.

Porém, poderão haver casos em que o embargo interposto por um executado favoreça o
outro, como no caso de ele comprovar que inexiste a dívida pela qual estão sendo cobrados.
Nesse caso, haverá favorecimento do executado que não embargou.

Esse efeito expansivo subjetivo dos embargos poderá atingir, para beneficiar, até mesmo
pessoas que embargaram e tiveram seus embargos já julgados improcedentes.
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27.22.1.5.4. Suspensão Parcial do Processo


Mesmo com a concessão do efeito suspensivo, alguns atos da ação de execução não ficarão
suspensos, como a penhora e avaliação (art. 739-A, § 6º).

27.22.1.6. Procedimento dos Embargos

27.22.1.6.1. Início do Procedimento


Aparentemente, o procedimento dos embargos é muito simples. Parte da doutrina aponta que
o procedimento é o ordinário, equivocadamente, já que não há fase formal de saneamento, há
somente uma audiência etc.

Entretanto, o procedimento ordinário se aplica subsidiariamente.

A profundidade cognitiva dos embargos à execução é ampla e irrestrita. Assim, fica aberta a
ampla possibilidade de dilação probatória, se necessário.

O procedimento se inicia pela petição inicial nos termos do art. 282 e 283, citando-se o
embargado, se não houver rejeição liminar, para apresentar resposta no prazo de 15 dias.

Essa resposta poderá ser qualquer uma das admitidas, reconvenção, contestação,
reconhecimento jurídico do pedido etc.

27.22.1.6.2. Revelia
A revelia ocorre naturalmente, com o mero decurso do prazo de resposta. A questão se atém
sobre seus efeitos.

É pacífico que o embargado deixará de ser intimado dos atos processuais caso fique omisso. A
questão mais séria, entretanto, é sobre a presunção ou não de veracidade das questões
alegadas pelo embargante.

A melhor doutrina (Dinamarco , Marinoni, Greco Filho) é no sentido de inexistir esse efeito,
ante a existência de um título executivo em favor do embargado, o qual goza de presunção
legal de que o direito exequendo exista.

27.22.1.6.3. Decisão dos Embargos


Os embargos serão decididos por sentença, que poderá tanto ser terminativa quanto
definitiva.

Essa sentença será recorrível por apelação, que deverá ser recebida sem efeito suspensivo (art.
520, V). Assim, o andamento da execução não será suspenso em virtude da propositura da
apelação, o que atualmente significa dizer que se prosseguirá com a não suspensão da
execução, considerando-se a inexistência de efeito suspensivo dos embargos à execução.

E se os embargos tiverem sido recebidos no efeito suspensivo, continuará o processo


executivo suspenso ante seu indeferimento? Depende dos efeitos em que recebida a apelação.
Como em regra o efeito será somente devolutivo, não ficará suspenso.

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Assim, quase sempre a execução será definitiva ou se tornará definitiva a partir do


indeferimento dos embargos.

Sendo uma decisão de mérito, sempre que rejeitado o pedido do embargante terá a sentença
natureza declaratória negativa, já que declara a inexistência do direito alegado nos embargos.

27.22.1.6.4. Competência para Conhecer dos Embargos


A competência é do juízo no qual se processa a execução, devendo os embargos serem
distribuídos por dependência.

Porém, no caso de execução por carta (art. 658), a competência para o julgamento dos
embargos não é exclusiva do juízo deprecante; na execução por carta, os embargos podem ser
julgados pelo juízo deprecado, se eles versarem sobre vícios ou defeitos da penhora,
avaliação ou alienação de bens (art. 747/CPC).

27.22.1.6.5. Extinção dos Embargos por Desistência da Execução


Embargos à execução pendentes poderão ou não obstar a desistência:

a) Se versarem sobre matéria puramente processual, perderão o objeto e serão extintos


sem resolução de mérito, condenando-se o embargado ao pagamento de custas e
honorários;

b) Caso versem sobre matéria de mérito referente ao direito alegado pelo exequente, a
extinção dos embargos FICA CONDICIONADA À CONCORDÂNCIA DO EMBARGANTE, já
que o julgamento dos embargos favorável a este lhe dará um título judicial oponível
contra futura nova execução idêntica.

Art. 569. O credor tem a faculdade de desistir de toda a execução ou de


apenas algumas medidas executivas.

Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o seguinte:


(Incluído pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)

a) serão extintos os embargos que versarem apenas sobre questões


processuais, pagando o credor as custas e os honorários advocatícios;
(Incluído pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)

b) nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do embargante.


(Incluído pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)

27.22.1.7. Matérias que Podem ser Alegadas nos Embargos


O art. 745 prevê as matérias que podem ser alegadas em sede de embargos à execução
fundada em título executivo extrajudicial, desde que não tenha como polo passivo a Fazenda
Pública, já que nesse caso as matérias são as do art. 741.

a) Nulidade da execução, por não ser executivo o título apresentado:

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b) Penhora incorreta ou avaliação errônea:

c) Excesso de execução ou cumulação indevida de execuções:

d) Retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de título para entrega de
coisa certa (art. 621):

e) Qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de
conhecimento:

Nos embargos não poderá ser discutido nada que já o foi na fase de conhecimento, visto que
preclusa a instância. Nesse caso, ter-se-ia os embargos sendo convertidos em ação rescisória, o
que não é admissível. Neste sentido:

EMBARGOS À EXECUÇÃO. REDISCUSSÃO DOS LIMITES FIXADOS NO TÍTULO


JUDICIAL. VIOLAÇÃO À COISA JULGADA E AO PRINCÍPIO DA SEGURANÇA
JURÍDICA.

A via dos embargos à execução não pode ser usada como sucedâneo da
ação rescisória para rediscutir os limites fixados no título executivo judicial
em violação à coisa julgada e ao princípio da segurança jurídica. Unânime.
(TRF1, 3T, Ap 0051666-72.2010.4.01.3800/MG, rel. Des. Federal Tourinho
Neto, em 29/05/2012.)

27.22.2. Embargos de Terceiros e Embargos do Executado


Muitas vezes uma pessoa executada interpõe, erroneamente, um embargos de terceiro, ou o
terceiro acaba por interpor o embargo do executado. O STJ, tendo em vista o princípio da
fungibilidade, entende que os embargos devem ser recebidos como se o correto fosse, dês
que respeitado o prazo adequado. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL.


VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO-OCORRÊNCIA. TRIBUTÁRIO.
EXECUÇÃO FISCAL. REDIRECIONAMENTO. SÓCIO. EMBARGOS DE TERCEIRO.
CABIMENTO DE EMBARGOS DO DEVEDOR. PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS. TEMPESTIVIDADE DOS EMBARGOS. PRINCÍPIO DA
FUNGIBILIDADE RECURSAL. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO.
RESPONSABILIDADE DO SÓCIO VINCULADA AO EXERCÍCIO DE GERÊNCIA OU
ATO DE GESTÃO. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO DESPROVIDO.

[...]

2. "Os embargos a serem manejados pelo sócio-gerente contra quem se


redirecionou ação executiva, regularmente citado e, portanto, integrante do
pólo passivo da demanda, são os de devedor, e não por embargos de
terceiros, adequados para aqueles que não fazem parte da relação
processual. TODAVIA, EM HOMENAGEM AO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE
DAS FORMAS, DA INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO E DA AMPLA
DEFESA, A JURISPRUDÊNCIA ADMITE O PROCESSAMENTO DE EMBARGOS
DE TERCEIRO COMO EMBARGOS DO DEVEDOR. EXIGE, PARA TANTO,
ENTRE OUTRAS CIRCUNSTÂNCIAS, A COMPROVAÇÃO DO IMPLEMENTO
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DOS REQUISITOS LEGAIS DE ADMISSIBILIDADE, NOTADAMENTE QUANTO


À SUA PROPOSITURA DENTRO DO PRAZO LEGAL" (EREsp 98.484/ES, 1ª
Seção, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 17.12.2004).

[...]

(AgRg no Ag 847.616/MG, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA,


julgado em 04/09/2007, DJ 11/10/2007, p. 302)

Há outra questão a ser tratada: quando o embargante for sócio e tiver bem seu indevidamente
constrito, ele deve apresentar embargos de terceiros. Porém, se for sócio-gerente, tem
entendido o STJ que deve apresentar embargos à execução. Nesse sentido:

PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS DE TERCEIRO


CONVERTIDO EM EMBARGOS DO DEVEDOR NA SENTENÇA. GARANTIA DO
JUÍZO. ART. 16, § 1º, DA LEI 6.830/80. RECURSO NÃO PROVIDO.

1. O sócio-gerente de sociedade empresária interpôs embargos de terceiro,


em razão de ter havido a penhora sobre seus bens no transcorrer da
execução. Ao proferir a sentença, o magistrado converteu esse recurso em
embargos do devedor e julgou procedente o pedido. No apelo nobre, a
Fazenda Nacional aponta violação do art. 16, § 1º, da Lei 6.830/80, ao
argumento de que não é possível admitir os embargos sem a garantia
integral da execução.

2. A insuficiência da penhora não impede o recebimento de embargos do


devedor na execução fiscal, uma vez que o art. 15, II, da Lei 6.830/90
permite o reforço dessa garantia em qualquer momento. Esse
entendimento está pacificado na jurisprudência do STJ.

3. No caso, a complementação da penhora não se faz necessária. Com


efeito, não existe qualquer utilidade na discussão acerca da garantia da
execução fiscal, quando a própria responsabilidade pelo débito já foi
excluída pelo Tribunal a quo, com base nos elementos probatórios da
demanda. Essa conclusão tecida pela Corte de origem não pode ser revista
no âmbito do recurso especial, ante o óbice da Súmula 07/STJ.

4. Recurso especial não provido.

(REsp 1215579/AL, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado


em 17/02/2011, DJe 28/02/2011)

PROCESSUAL - EXECUÇÃO FISCAL - SOCIEDADE LIMITADA - EXECUÇÃO


CONTRA SÓCIO SEM PODER DE GERÊNCIA - EMBARGOS DE TERCEIRO.

- Admite-se que o sócio não gerente, citado em execução fiscal - como


litisconsorte passivo da sociedade limitada - ofereça embargos de terceiros,
para desconstituir penhora incidente sobre seus bens particulares.
Precedentes do STJ.

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(REsp 139199/MG, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 15/09/1998, DJ 03/11/1998, p. 22)

Quanto à legitimidade do cônjuge e do espólio, esclarecedor o seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL - EXECUÇÃO FISCAL - PENHORA DE BEM IMÓVEL -


LEGITIMIDADE DO ESPÓLIO PARA INTERPOR EMBARGOS À EXECUÇÃO OU
DE TERCEIRO.

1. A intimação do cônjuge é imprescindível, tratando-se de constrição que


recaia sobre bem pertencente ao casal, constituindo sua ausência causa de
nulidade dos atos posteriores à penhora.

2. É cediço nesta Corte que: A intimação do cônjuge enseja-lhe a via dos


embargos à execução, nos quais poderá discutir a própria causa debendi e
defender o patrimônio como um todo, na qualidade de litisconsorte passivo
do(a) executado(a) e a via dos embargos de terceiro, com vista à defesa da
meação a que entende fazer jus.( REsp 252854 / RJ, Ministro SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ 11.09.2000).

3. Falecendo o cônjuge, a intimação deve operar-se na pessoa do


representante do espólio da mesma, porquanto a constrição influi no
regime jurídico do bem do acervo. Deveras, por força dos arts. 12 da Lei nº
6.830/80 e 669 do CPC, o cônjuge e a fortiori o seu espólio, são partes
legitimadas para oferecerem embargos à execução e, nessa qualidade
deveriam ter sido intimados.

3. In casu, o cônjuge foi intimado em 12.11.2001 no lugar de sua esposa


falecida, sendo certo que o recorrente e demais partes interessadas
protocolaram no dia 04.12.2001 os embargos à execução.

4. Dessarte, nesse incidente o cônjuge é parte, aplicando-se,


analogicamente o artigo 43 do CPC, verbis: Art. 43. Ocorrendo a morte de
qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos seus
sucessores, observado o disposto no art. 265.

5. O espólio não se limita à interposição dos embargos de terceiro, podendo


suceder o de cujos, ajuizando, inclusive, embargos à execução, a fim de
proteger a fração ideal que lhe pertence, da penhora realizada.

6. Recurso especial provido, para determinar o recebimento dos embargos


do espólio, ora recorrente, a fim de processá-lo.

(REsp 740.331/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em


14/11/2006, DJ 18/12/2006, p. 318)

Ainda sobre os embargos de terceiros:

EMBARGOS DE TERCEIRO. CITAÇÃO. EXECUTADO. EXISTÊNCIA.


LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO UNITÁRIO.

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Nos embargos de terceiro, deve-se promover também a citação do


executado quando ele indicar o bem sobre o qual recaiu a constrição. No
caso, a indicação do bem se deu em momento anterior à execução, quando
o devedor ofereceu o imóvel em garantia hipotecária, circunstância que
ensejou o arresto na forma do disposto no art. 655, § 1º, do CPC. A nulidade
estabelecida no art. 47 do CPC, incidente apenas em caso de litisconsórcio
necessário unitário, fulmina por completo a eficácia da sentença, a qual não
produz efeito sequer entre as partes citadas. Por esses motivos, a Turma
deu provimento ao recurso especial para julgar procedente o pedido
rescisório e invalidar a sentença nos embargos de terceiro por falta de
citação de litisconsorte necessário. Precedente citado: REsp 298.358-SP, DJ
27/8/2001. REsp 601.920-CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
13/12/2011.

27.22.3. Impugnação ao Cumprimento de Sentença


A Lei n. 11.232/05 criou um novo procedimento para a execução das sentenças condenatórias,
mas especificamente para as sentenças que “condenam ao pagamento de quantia”, chamado
de cumprimento de sentença. O processo de execução autônomo remanesce apenas para a
execução dos títulos extrajudiciais, para execução contra a Fazenda Pública, a execução de
alimentos e a execução por quantia certa contra devedor insolvente. Assim, agora, o
reconhecimento e a concretização do direito serão realizadas em um único processo.

De acordo com o art. 475-J, caput, do CPC, o devedor tem um prazo de 15 dias para a
satisfação da sentença condenatória, pois do contrário incidirá uma multa de 10%. Assim,
estabelece-se uma multa de caráter penitencial, com o objetivo de fazer o devedor cumprir
voluntariamente o pagamento da quantia. Além disso, não há mais citação, como havia no
processo de execução. O devedor é intimado para pagar a quantia estipulada na sentença.

No dizer de Cassio Scarpinella Bueno, o prazo para o cumprimento inicia desde que a sentença
esteja liquidada e dela não penda condição suspensiva, ou seja, a multa depende do trânsito
em julgado e aparece como incentivo ao pronto pagamento, a incidir sobre a parte não
cumprida (art. 475-J, § 4.°, do CPC). Por sua vez, Guilherme Rizzo Amaral entende que pode
haver o cumprimento provisório da sentença, contanto que o credor assim o requeira,
inclusive com a aplicação da multa.

O EXECUTADO É INTIMADO PARA PAGAR, E NÃO PARA IMPUGNAR. ELE SOMENTE PODERÁ
OFECERER IMPUGNAÇÃO APÓS JUNTADO O AUTO DE PENHORA E AVALIAÇÃO NOS AUTOS.
Sobre isso:

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. IMPUGNAÇÃO. GARANTIA DO JUÍZO.

A garantia do juízo é pressuposto para o processamento da impugnação ao


cumprimento de sentença (art. 475-J, § 1º, do CPC). É que, como esse
dispositivo prevê a impugnação posterior à lavratura do auto de penhora e
avaliação, conclui-se pela exigência de garantia do juízo anterior ao
oferecimento da impugnação. Tal exegese é respaldada pelo disposto no
inciso III do art. 475-L do CPC, que admite como uma das matérias a ser
alegada por meio da impugnação a penhora incorreta ou avaliação errônea,
que deve, assim, preceder à impugnação. O Min. Relator salientou que,
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vistas tais regras em conjunto, observa-se que a impugnação ofertada pelo


devedor não será apreciada antes do bloqueio de valores do executado que,
eventualmente, deixar de indicar bens à penhora, como forma de garantir o
juízo. Mas, caso o devedor prefira não esperar a penhora de seus bens ou
mesmo o bloqueio de seus ativos financeiros, deve, para tanto, efetuar o
depósito do valor exequendo, para, então, insurgir-se contra o montante
exigido pelo credor. Precedente citado: REsp 972.812-RJ, DJe
12/12/2008. REsp 1.195.929-SP, 3T, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em
24/4/2012.

Em havendo depósito do valor em dinheiro, desnecessário lavrar auto de avaliação e penhora,


visto que ele estará automaticamente constituído:

IMPUGNAÇÃO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. TERMO INICIAL. DEPÓSITO


JUDICIAL.

O termo inicial para o oferecimento de impugnação ao cumprimento de


sentença começa com o depósito judicial em dinheiro do valor executado,
consubstanciando tal ato em penhora automática, sendo desnecessária a
lavratura do respectivo termo e a intimação do devedor. Ademais, com o
depósito, entende-se que o executado teve ciência dos atos processuais e
da oportunidade para produzir a sua defesa. Precedente citado: REsp
972.812-RJ, DJe 12/12/2008.REsp 965.475-SP, 4T, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 21/6/2012.

Ressalte-se que a intimação deve ser feita na pessoa do advogado, somente a partir de então
correndo o prazo para pagamento.

O descumprimento da sentença dá ensejo aos atos executórios e gera para o advogado direito
a honorários, ainda que tenha havido a atribuição de honorários na fase meramente cognitiva.
Assim, o devedor que não satisfaz (voluntariamente) a condenação deve arcar com a multa de
10% e mais honorários.

A multa de 10% incide sobre o montante da condenação, devendo esta ser entendida como o
somatório de tudo o que há de ser pago: honorários, juros, correção, etc. O beneficiário da
multa é o credor.

Assim, o devedor não pode mais dar início à execução, indicando bens à penhora, devendo
apenas dar cumprimento à sentença. No procedimento para o cumprimento de sentença não
mais existe o direito de o executado indicar bens à penhora, pois a iniciativa na indicação de
bens penhoráveis é do credor ou do oficial de justiça (art. 475-J, § 3.°, CPC).

Realizada a penhora, o devedor é intimado desta na pessoa de seu advogado, podendo


oferecer impugnação no prazo de 15 dias. A impugnação pode versar sobre as seguintes
matérias (matérias mais restritas do que a dos embargos à execução de título extrajudicial):

I) Falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;

II) Inexigibilidade do título;

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III) Penhora incorreta ou avaliação errônea;

IV) Ilegitimidade das partes;

V) Excesso de execução;

VI) Qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento,


novação, compensação, transação ou prescrição, DESDE QUE SUPERVENIENTE À
SENTENÇA (art. 475-L, CPC).

Esse inciso III, admitindo a impugnação pela penhora incorreta ou avaliação errônea, é tido
como novidade, por ser mais abrangente que a disposição anterior (que compreendia apenas a
nulidade da execução até a penhora). Além disso, nos termos do inciso II, considera-se
também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados
inconstitucionais pelo STF, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato
normativo tidas pelo STF como incompatíveis com a CR/88. Critica-se esse dispositivo na
doutrina, sob a alegação que se empresta à decisão do STF uma eficácia retroativa mais forte
que a ação rescisória, principalmente porque feita sem limitação de tempo e que passa ao
largo da necessária segurança jurídica desejável para as normas processuais. Por fim, no que
tange ao inciso V, o § 2.° traz uma novidade: “quando o executado alegar que o exequente, em
excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar
de imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa impugnação”.

Muito importante também o inciso IV.

Nos embargos não poderá ser discutido nada que já o foi na fase de conhecimento, visto que
preclusa a instância.

Nesse caso, ter-se-ia os embargos sendo convertidos em ação rescisória, o que não é
admissível. Neste sentido:

EMBARGOS À EXECUÇÃO. REDISCUSSÃO DOS LIMITES FIXADOS NO TÍTULO


JUDICIAL. VIOLAÇÃO À COISA JULGADA E AO PRINCÍPIO DA SEGURANÇA
JURÍDICA.

A via dos embargos à execução não pode ser usada como sucedâneo da
ação rescisória para rediscutir os limites fixados no título executivo judicial
em violação à coisa julgada e ao princípio da segurança jurídica. Unânime.
(TRF1, 3T, Ap 0051666-72.2010.4.01.3800/MG, rel. Des. Federal Tourinho
Neto, em 29/05/2012.)

A impugnação não terá efeito suspensivo, devendo ser expressamente requerido pela parte,
ressalvando a possibilidade de concessão desse efeito quando o prosseguimento da
execução tenha a probabilidade de causar dano grave ou de difícil reparação ao executado
(art. 475-M, caput, CPC), sendo que ainda há a necessidade de se garantir o juízo para se
obter o efeito.

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Em sendo atribuído efeito suspensivo à impugnação, o exequente pode nela prosseguir


PRESTANDO CAUÇÃO SUFICIENTE E IDÔNEA (art. 475-M, § 1.°, CPC).

A ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO FAZ COM QUE A IMPUGNAÇÃO TRAMITE NOS


MESMOS AUTOS, POIS SE NÃO HOUVER O EFEITO SUSPENSIVO ELA TRAMITARÁ EM
APENSO, EM AUTOS APARTADOS (art. 475-M, § 2º).

O exequente faz o pedido e oferece caução que, uma vez aceita, gera a revogação da decisão
concessiva.

Ela tem natureza jurídica de incidente processual e, após apresentada, deverá o exequente ser
intimado para apresentar contestação no prazo de 15 dias.

Por fim, se a impugnação for julgada totalmente procedente, ela causará a extinção da fase de
execução, desafiando apelação. Se for julgada parcialmente procedente ou se for rejeitada in
totum, caberá agravo de instrumento.

Intima-se na pessoa Não pago, incide Impugnação em 15 dias, Intima-se exequente


do advogado para multa de 10% e faz contados da juntada do para contestar em
pagar em 15 dias penhora e avaliação auto de penhora 15 dias

Não
Impugnação em apenso
Efeito
suspensivo? Julgamento
Impugnação nos mesmos autos ?
Sim
Sim
Totalmente, apelação
Procedente
impugnação?
Parcialmente ou improcedente,
agravo de instrumento
Não

27.22.4. Exceção de Pré- Executividade


Trata-se de meio endoprocessual de reação do executado contra a execução em curso, não-
condicionado à penhora (“oposição por simples requerimento”). Via de regra, está-se diante
de um controle da pretensão executiva tanto no plano dos pressupostos processuais e quanto
no das condições da ação, que ganha guarida no postulado da proporcionalidade: i) a exceção
de pré-executividade é um meio adequado para a alegação de matéria apreciável simpliciter et
de plano (subpostulado da adequação); ii) a exceção cumpre a função dos embargos à
execução de uma maneira menos restritiva ao patrimônio do devedor (subpostulado da
necessidade); iii) a necessidade de serem evitadas execuções infundadas justifica a renúncia à
cognição nos embargos (subpostulado da proporcionalidade stricto sensu). Na dita “exceção
de pré-executividade” são arguíveis: a) objeções: a.1) pressupostos processuais (perempção,
coisa julgada, compromisso arbitral, falta ou vício de citação, litispendência, incompetência,
inépcia da inicial, etc.); a.2) condições da ação (legitimidade, interesse de agir, possibilidade
jurídica do pedido, etc.); b) exceções substanciais (excesso de execução, pagamento,
compensação, novação, remissão, anistia, decadência, prescrição, nulidade material ou formal
do título, imunidade, isenção, inconstitucionalidade de uma norma legal já declarada pelo

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Supremo Tribunal Federal, etc.); c) vícios incidentais do procedimento executivo


(impenhorabilidade, nulidade de praça pela inadequação de preço, etc.).

Enfim, é cabível a exceção de pré-executividade para a alegação de matéria jurídica ou fática,


desde que acatável ictu oculi. Não se admite, portanto, a dilação probatória: a prova tem de
ser pré-constituída (STJ, 2ª T., AGA 444.744-SC, rel. Min. Castro Meira, j. 21.08.2003, DJU
20.10.2003, p. 254). Porém, o manejo de uma exceção de pré-executividade não pode ser
irresponsável e temerário: a sua arguição dolosa pode ensejar arresto (CPC, art. 813 e ss.) +
imposição de multa pelo ato atentatório à dignidade da justiça (CPC, art. 600, II, c.c. art. 601).

De qualquer maneira, não há um prazo para a arguição da exceção: pode ser empregada a
qualquer tempo, enquanto não extinto o processo (STJ, 4ª T., RESP 419.376-MG, rel. Min. Aldir
Passarinho; STJ, 4ª T., RESP 220.100-RJ, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar), mesmo que expirado
o prazo para embargos (cf. Alberto Camiña Moreira, Leandro Paulsen, Lenice Silveira Moreira),
já que a coisa julgada só se forma quanto a questão constante do pedido. Todavia, se o vício
não for alegado na primeira oportunidade em que caber ao devedor falar nos autos, será ele
responsabilizado pelas custas do retardamento (CPC, artigo 267, § 3º, parte final). Deve-se
lembrar que: 1) a apresentação de exceção não suspende a execução, uma vez que as causas
de suspensão processual são taxativas (CPC, arts. 265 e 791), embora inevitável o retardo
processual; 2) o contraditório é obrigatório, devendo o exequente pronunciar-se em 30 (trinta)
dias (LEF, art. 17, analogia); 3) a decisão que acolhe a exceção de pré-executividade é sentença
(se extinguir totalmente a execução. Se extinguir parcialmente, será decisão interlocutória)
Pode , podendo ser ela desafiada por meio de apelação e remessa obrigatória (CPC, artigo 475,
§ § 1º e 3º); 4) não cabe a condenação nos honorários advocatícios em se tratando de
processo de execução fiscal (Lei 9.494/97, art. 1º-D: “não serão devidos honorários
advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções não embargadas”), não obstante a
jurisprudência unânime do STJ entenda que os honorários aqui são sempre cabidos, a menos
que a execução fiscal tenha sido deflagrado por erro do próprio contribuinte, p. ex., no erro de
preenchimento de DARF ou DCTF.

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.


FAZENDA PÚBLICA SUCUMBENTE. CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. POSSIBILIDADE.

1. É possível a condenação da Fazenda Pública ao pagamento de


honorários advocatícios em decorrência da extinção da Execução Fiscal
pelo acolhimento de Exceção de Pré-Executividade.

2. Agravo Regimental não provido.

(STJ, AgRg no Ag 1375026/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA


TURMA, julgado em 15/03/2011, DJe 25/04/2011)

RECURSO ESPECIAL DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE PRÉ


EXECUTIVIDADE. IMPUGNAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
PROVIMENTO.

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1. Os honorários fixados no início ou em momento posterior do processo de


execução, em favor do exequente, deixam de existir em caso de
acolhimento da impugnação ou exceção de pré-executividade, com extinção
do procedimento executório, ocasião em que serão arbitrados honorários
únicos ao impugnante. Por outro lado, em caso de rejeição da impugnação,
somente os honorários fixados no procedimento executório subsistirão.

2. Por isso, são cabíveis honorários advocatícios na exceção de pré


executividade quando ocorre a extinção, ainda que parcial, do processo
executório.

3. No caso concreto, a exceção de pré-executividade foi acolhida


parcialmente, com extinção da execução em relação a oito, dos dez cheques
cobrados, sendo devida a verba honorária proporcional.

4. Recurso especial provido.

(STJ, REsp 664.078/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA


TURMA, julgado em 05/04/2011, DJe 29/04/2011)

A exceção de pré-executividade é cabível quando atendidos dois requisitos,


um de ordem material e outro de ordem formal: a matéria ser suscetível de
conhecimento de ofício pelo juiz e não haver necessidade de dilação
probatória. (STJ, 1S, Informativo 391, REsp 1.110.925/SP)

EXCEÇÃO. PRÉ-EXECUTIVIDADE. EMBARGOS. EXECUÇÃO.

Antes das Leis ns. 11.232/2005 e 11.382/2006, não se aceitava a insurgência


do devedor quanto ao débito exequendo sem estar garantido o juízo por
penhora. Contudo, em certas hipóteses, a jurisprudência aceita a exceção de
pré-executividade, construída pela doutrina como meio de defesa do
executado sem se aventar garantir o juízo. Segundo precedente do STJ
relativo a recurso repetitivo, aquela exceção é cabível se a matéria for
suscetível ao conhecimento de ofício pelo juízo e não houver necessidade
de dilação probatória para sua solução; daí a exceção não comportar a
alegação de excesso de execução em razão da necessária incursão na
prova, salvo quando esse excesso é evidente. Disso tudo se deduz que só
há justificativa para a exceção se ela puder evitar a constrição indevida dos
bens. Então, se já realizada a penhora, com a consequente oposição de
embargos à execução, vê-se prejudicada a exceção por perda do objeto,
pois, se não foi evitada a constrição, restam os embargos em que se
deduzirá toda a matéria de defesa, esvaziando-se por completo a exceção.
No caso, a recorrida, antes da vigência das referidas leis, sem prévia garantia
do juízo, insurgiu-se contra a memória de cálculo apresentada pelo
recorrente quanto ao dies a quo da incidência de juros, questão unicamente
de direito que dispensa a produção de provas, o que foi equiparado pelo TJ
à exceção de pré-executividade. Logo, no momento de sua adoção, a
medida era cabível, pois buscava evitar a constrição de bens. Sucede que o
juízo não suspendeu o trâmite da execução, o que resultou na penhora e na
oposição dos embargos, que repisaram o tema do excesso da execução.
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Dessarte, naquele instante, a recorrente perdeu o interesse em prosseguir


na exceção, mas, mesmo assim, o juízo não declarou estar prejudicada a
medida e sobreveio decisão do STJ no âmbito da exceção (juros a contar da
citação), que conflita com a solução dada pelo TJ nos embargos (juros desde
o ato ilícito), a que primeiro transitou em julgado. Portanto, há que
reconhecer a nulidade da decisão proferida na exceção para que prevaleça a
decisão proferida nos embargos à execução, a única válida e dotada de
imutabilidade proveniente do trânsito em julgado. Precedentes citados:
REsp 1.110.925-SP, DJe 4/5/2009; REsp 841.967-DF, DJe 2/4/2008; AgRg no
REsp 1.086.160-RS, DJe 9/3/2009, e EDcl no REsp 795.764-PR, DJ
26/5/2006. REsp 1.061.759-RS, 3T, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
21/6/2011

SERVIDOR PÚBLICO. REINTEGRAÇÃO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.

A exceção de pré-executividade somente tem cabimento em hipóteses


excepcionais, tais como prescrição, compensação, novação, transação e
excesso de execução por serem matérias capazes de tornar nulo o título
que embasa a execução e que não demandam dilação probatória.
Unânime. (TRF1, 2T, AI 0026455-85.2010.4.01.0000/DF, rel. Des. Federal
Mônica Sifuentes, em 21/09/2011.)

27.22.4.1. Exceção de Pré-Executividade: Amparo Normativo


Embora a exceção de pré-executividade seja um instituto supralegal, tem lastro em, pelo
menos, dois princípios: o princípio da razoabilidade (pois não é racional que o juiz postergue o
conhecimento de questões que poderiam e/ou deveriam ser levantadas liminarmente,
condicionando-lhes o conhecimento à constituição de penhora, que muitas vezes é gravosa ao
patrimônio do executado) e o princípio da proporcionalidade stricto sensu (pois a necessidade
de que execuções infundadas sejam evitadas justifica, por vezes, a renúncia à cognição nos
embargos) (CASTRO, Carlos Alberto Siqueira. O devido processo legal e os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 205, pp. 141. e ss). Frise-
se: a exceção de pré-executividade é construção doutrinário-jurisprudencial (cf.. e.g.,
MOREIRA, Alberto Camiña. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, pp. 21 e ss.), mas não construção
ex nihilo, sem respaldo normativo. A sua prática se legitima em princípios (implícitos)
plenamente identificáveis. Caso contrário, estar-se-ia impropriamente admitindo um posterius
empírico-forense sem correspondente prius lógico-normativo.

27.23. Observações de Provas


1. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 52. Sendo insuficiente o dinheiro arrecadado, se os
exeqüentes se mantiverem inertes, o juiz poderá, de ofício, inaugurar o procedimento
de execução contra o insolvente.

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2. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 48. Promovida a execução, ainda que os embargos
parciais opostos pela fazenda pública sejam recebidos no efeito suspensivo, poderá a
execução prosseguir com relação aos valores incontroversos191.

3. TRF1 – XIII – CESPE – QUESTÃO 39. O devedor de obrigação de entrega de coisa pode
opor-se ao pedido de efetivação da respectiva sentença judicial, valendo-se da
impugnação, por simples petição, ou da exceção ou objeção de pré-executividade.

4. TRF1 – XII – QUESTÃO 82. É título judicial a sentença proferida no processo civil que
reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar
quantia, incluindo-se neste rol as sentenças declaratórias que reconhecem a
existência dos elementos da obrigação.

5. TRF1 – XII – QUESTÃO 81. A execução da sentença estrangeira homologada pelo STJ
não permite que a fase cognitiva e a fase executiva sejam realizadas num único
processo.

6. TRF1 – XII – QUESTÃO 81. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante o juízo


que processou a causa no primeiro grau de jurisdição, PODENDO O EXEQUENTE
OPTAR PELO JUÍZO DO LOCAL ONDE SE ENCONTRAM BENS SUJEITOS À
EXPROPRIAÇÃO OU PELO ATUAL DOMICÍLIO DO EXECUTADO.

7. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 48. Na penhora em execução, o juiz pode ampliar as
regras de impenhorabilidade.

8. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 47. De acordo com a jurisprudência dominante, não
cabe a inclusão de juros moratórios no período entre a data de expedição e a do
efetivo pagamento do precatório.

9. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 49. No curso de processo de execução, tendo o


exequente manifestado intento de desistir do feito, este foi extinto,
independentemente da anuência do executado, que opusera embargos para discutir a
legitimidade do exequente. A viabilidade da providência tomada pelo condutor do

191
TRIBUTÁRIO. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. DEPÓSITO JUDICIAL. TRÂNSITO EM
JULGADO PARCIAL FAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. LEVANTAMENTO DE DEPÓSITO REFERENTE À PARTE
INCONTROVERSA. POSSIBILIDADE. 1. Segundo o disposto nos artigos 151, inciso II, do Código Tributário Nacional e
32, § 2º, da Lei 6.830/80, o deferimento do pedido de levantamento pelo contribuinte dos depósitos efetuados
para fins de suspender a exigibilidade do crédito tributário, bem como a sua conversão em renda em favor do ente
público, pressupõe o trânsito em julgado da decisão final que julga a lide em definitivo.2. No caso em exame, é fato
incontroverso que o recurso especial interposto pela Fazenda Nacional não foi conhecido, e o agravo regimental
então apresentado teve negado o seu provimento por acórdão já transitado em julgado. Pende de julgamento no
Superior Tribunal de Justiça apenas o recurso especial interposto pelo contribuinte, o qual visa obter a declaração
de seu direito em permanecer sujeito ao regime cumulativo das contribuições do PIS e da COFINS.3. Sendo assim,
em relação à parte da sentença favorável ao contribuinte, resta atendido o requisito do trânsito em julgado,
indispensável para o deferimento do pedido de levantamento relativo à parcela proporcional ao seu sucesso na
demanda. Essa interpretação assemelha-se àquela relativa à expedição de precatório da parte incontroversa, tendo
essa Corte firmado posicionamento no sentido de que a execução da parcela da dívida não impugnada pelo ente
público deve ter regular prosseguimento, ausente, em conseqüência, óbice à expedição de precatório.4. Recurso
especial não provido.(REsp 1240477/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/05/2011, DJe 09/05/2011).
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feito guarda relação direta com o princípio do desfecho único do processo de


execução.

10. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 48. Ajuizada ação de execução para entrega de coisa
certa, o executado não a entregou no prazo que lhe foi assinalado, constatando-se que
o bem estava em poder de terceiro. Verificada a situação descrita quando já litigiosa a
coisa, deve-se expedir mandado de busca e apreensão ou imissão na posse da coisa.

11. TRF4 – XIV – QUESTÃO 70. A objeção de pré-executividade não suspende a execução e
nem impede a penhora.

12. TRF4 – XIV – QUESTÃO 68. Os embargos de terceiro são a via processual adequada
quando é penhorado bem do sócio, não havendo ele sido citado.

13. TRF4 – XIV – QUESTÃO 54. Como regra geral, admite-se a possibilidade de quebra de
sigilo bancário (expedição de ofício ao Banco Central para obter informações acerca da
existência de ativos financeiros do devedor), desde que esgotados todos os meios para
localizar bens passíveis de penhora.

14. TRF4 – XIV – QUESTÃO 54. Antes da Lei nº 11.382/06, a penhora online é medida
excepcional, cabível somente quando o exequente comprova que exauriu todas as vias
extrajudiciais em busca dos bens do executado.

15. TRF4 – XIV – QUESTÃO 54. Depois da vigência da Lei nº 11.382/06, a penhora online
não exige mais o esgotamento de vias extrajudiciais de busca de bens a serem
penhorados.

16. TRF4 – XIII – QUESTÃO 73. A fraude contra credores é instituto de direito material
regulado pelo CC; enquanto a fraude à execução é instituto de direito processual
regulado pelo CPC.

17. TRF4 – XIII – QUESTÃO 73. A fraude contra credores gera a possibilidade de anulação
de atos praticados pelo devedor após ter contraído a dívida, mesmo antes do início do
processo.

18. TRF4 – XIII – QUESTÃO 72. A fraude à execução pode ser decretada incidenter tantum
no próprio processo de execução, dispensando processo autônomo, ao contrário da
fraude contra credores, que pressupõe o ajuizamento da ação pauliana.

19. TRF4 – XIII – QUESTÃO 71. A execução, seja provisória ou definitiva, corre sob
responsabilidade do exequente, que deve indenizar o executado em caso de tornar-se
insubsistente o título exequendo.

20. TRF4 – XIII – QUESTÃO 71. As medidas de efetivação da tutela específica previstas na
lei NÃO SÃO NUMERUS CLAUSUS, podendo o juiz, para dar efetividade a sua decisão,
utilizar outras que se façam necessárias.

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21. TRF4 – XIII – QUESTÃO 65. A execução de título extrajudicial, que inicia definitiva,
passa a ser provisória enquanto pendente apelação contra sentença que julgue
improcedentes os embargos recebidos com efeito suspensivo.

22. TRF4 – XIII – QUESTÃO 65. Na execução por título extrajudicial, a segurança do juízo
não é condição para oposição dos Embargos do Devedor.

23. TRF4 – XIII – QUESTÃO 65. Segundo a jurisprudência do STJ, existe prejudicialidade, a
ensejar o simultaneus processus, entre a ação anulatória previamente ajuizada e a
execução, opostos ou não, em relação a esta, os embargos do devedor.

24. TRF4 – XIII – QUESTÃO 62. A defesa contra a execução de sentença, chamada de
impugnação, pressupõe a realização da penhora.

25. TRF4 – XIII – QUESTÃO 62. Vigora em nosso sistema processual a regra da autonomia
dos Embargos de cada coexecutado quanto ao prazo para oposição, exceto na
situação de litisconsórcio passivo entre cônjuges.

26. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 48. Ainda que intimado da penhora, o cônjuge poderá
opor embargos de terceiro, dado o nítido caráter possessório dessa ação.

27. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 51. O credor exequente é admitido como arrematante
ainda que possa requerer a adjudicação do bem.

28. TRF5 – X – CESPE – QUESTÃO 42. Verificando-se a instalação de concurso singular de


credores após o depósito de valor decorrente da alienação de bem penhorado,
garantida a preferência daqueles que possuem em seu favor garantias gerais ou
especiais, entre os credores quirografários deve ser observada ordem de preferência
em relação aos demais da mesma categoria.

29. TRF5 – IX – CESPE – QUESTÃO 78. A contagem do prazo para os embargos do devedor,
em qualquer modalidade de execução de título extrajudicial192, é feita a partir da
citação do executado. O termo inicial é determinado pela juntada aos autos do
mandado com que se cumpriu a citação. NOS CASOS EM QUE OS CÔNJUGES SÃO
ORIGINARIAMENTE EXECUTADOS, O PRAZO PARA A APRESENTAÇÃO DOS
EMBARGOS É COMUM, contando-se a partir da juntada do último mandado de
citação devidamente cumprido.

30. TRF5 – IX – CESPE – QUESTÃO 76. A execução por título extrajudicial é provisória no
caso de pendência de julgamento de recurso contra sentença que tenha julgado
improcedentes os embargos do devedor quando recebidos com efeito suspensivo. No
entanto, a concessão de efeito suspensivo não impede a efetivação dos atos de
penhora e de avaliação dos bens.

192
Isso está errado. O prazo dos embargos do devedor em execução fiscal só se inicia após a efetiva
penhora do bem. Logo, não é em qualquer execução.
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31. MPF – XXVI – 2012 – QUESTÃO 90. O executado, independentemente de penhora,


depósito ou caução, poderá opor–se à execução por meio de embargos.

32. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 32. A jurisprudência e a doutrina admitem que o
executado se valha do que se convencionou chamar exceção de pré-executividade,
independentemente da segurança do juízo, para alegar matérias que o juiz possa
conhecer de ofício ou que estejam provadas de plano, sendo um limite a essa
possibilidade a existência de prévia decisão acerca do tema.

33. EMAGIS – 2012/28 – QUESTÃO 11. O novo parágrafo único do art. 741 do CPC se aplica
às sentenças prolatadas em data anterior à da sua vigência, mas não transitadas em
julgado até então193.

34. EMAGIS – 2012/28 – QUESTÃO 11. O imóvel utilizado para o exercício da profissão não
é abrangido pela garantia da impenhorabilidade194.

35. EMAGIS – 2012/28 – QUESTÃO 11. É acobertado pela garantia da impenhorabilidade o


único imóvel residencial do devedor que esteja sendo locado a terceiros195.

36. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 13. Conservam seus respectivos direitos os credores,
hipotecários ou privilegiados, sobre o valor da indenização, se a coisa obrigada a
hipoteca ou privilégio for desapropriada (art. 959, II, CC).

37. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 13. O crédito real prefere ao pessoal de qualquer
espécie; o crédito pessoal privilegiado, ao simples; e o privilégio especial, ao geral (art.
961, CC).

38. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 13. O crédito por despesa de seu funeral, feito segundo
a condição do morto e o costume do lugar, goza de privilégio geral – e não especial,
como dito – sobre os bens do devedor falecido (art. 965, I, CC).

39. EMAGIS – 2012/23 – QUESTÃO 12. A sentença homologatória de conciliação ou de


transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo, é considerada título executivo
judicial.

40. EMAGIS – 2012/23 – QUESTÃO 12. A empresa Alfa ajuizou ação pleiteando
unicamente a declaração da inexistência de relação jurídica tributária que a obrigasse
a pagar determinado tributo. Transitada a sentença em julgado, dando pela
procedência do pedido, admite-se que a autora promova o cumprimento da sentença,

193
Súmula 487, STJ.
194
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL. ERRO MÉDICO. EXECUÇÃO.
IMÓVEL COMERCIAL. POSSIBILIDADE DE PENHORA. IMÓVEL RESIDENCIAL. POSSIBILIDADE DE PENHORA
PARA O PAGAMENTO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA DERIVADA DE ATO ILÍCITO. 1. O imóvel utilizado para o
exercício da profissão não é abrangido pela garantia da impenhorabilidade. Precedentes específicos. (...)
(STJ, Terceira Turma, AgRg nos EDcl no Ag 1232795, Rel. Min. Paulo de Tarso, DJe de 28/05/2012)
195
Súmula 486, STJ.
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976

a fim de buscar a repetição do indébito correspondente, mediante ulterior expedição


de precatório196.

41. EMAGIS – 2012/23 – QUESTÃO 12. Joãozinho Inadimplente ajuizou ação contra a
concessionária Energia S/A postulando o reconhecimento da ilegalidade da dívida
cobrada relativamente a uma fraude no medidor, ou, subsidiariamente, o
reconhecimento da ilegalidade da parcela correspondente ao adicional de 30% relativo
ao custo administrativo de recuperação do crédito. A sentença, transitada em julgado,
julgou parcialmente procedente o pedido, declarando a legalidade do débito
impugnado, à exceção da parcela referente ao adicional de 30%, tida por ilegal. Nesse
caso, é correto afirmar que a ré Energia S/A poderá promover, nos mesmos autos, a
execução desse julgado, na parte atinente à parcela do débito reconhecida como
devida197.

42. EMAGIS – 2012/21 – QUESTÃO 11. A aplicação da multa depende de nova intimação
do devedor, que poderá ser feita na pessoa de seu advogado, por publicação na
imprensa oficial. Somente se transcorrido o prazo de 15 dias a contar dessa intimação,
sem que tenha havido o pagamento da dívida, é que se tornará possível acrescer-se
essa multa ao quantum debeatur.

43. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 10. Reconhece a jurisprudência do STJ que a Lei
11.382/06, efetivamente, significou um divisor de águas no processo civil brasileiro:
antes desse Diploma Legal, exigia-se o prévio esgotamento das diligências para
localização de bens do devedor a fim de que fosse realizada a penhora on-line de
ativos financeiros; depois disso, não pode o juiz exigir do credor o exaurimento das

196
Súmula 461, STJ: “O contribuinte pode optar por receber, por meio de precatório ou por
compensação, o indébito tributário certificado por sentença declaratória transitada em julgado”.
197
Veja bem: no corpo do julgado, ficou esclarecido que o juiz da causa reconheceu expressamente no
dispositivo da sentença que a obrigação do consumidor era legal, sendo, pois, devido o débito. Por essse
motivo que se possibilitou ao réu executar essa sentença.
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC.
SENTENÇA QUE CONDENA CONCESSIONÁRIA DE ENERGIA ELÉTRICA EM OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER
(IMPEDIMENTO DE CORTE NO FORNECIMENTO) E DECLARA LEGAL A COBRANÇA IMPUGNADA EM
JUÍZO, SALVO QUANTO AO CUSTO ADMINISTRATIVO DE 30% REFERENTE A CÁLCULO DE
RECUPERAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 475-N, INC. I, DO CPC PELA CONCESSIONÁRIA EM RELAÇÃO À
PARTE DO QUE FOI IMPUGNADO PELO CONSUMIDOR NA FASE DE CONHECIMENTO. POSSIBILIDADE
NO CASO CONCRETO.
1. Com a atual redação do art. 475-N, inc. I, do CPC, atribuiu-se "eficácia executiva" às sentenças
"que reconhecem a existência de obrigação de pagar quantia". 2. No caso concreto, a sentença que
se pretende executar está incluída nessa espécie de provimento judicial, uma vez que julgou
parcialmente procedente o pedido autoral para (i) reconhecer a legalidade do débito impugnado,
embora (ii) declarando inexigível a cobrança de custo administrativo de 30% do cálculo de
recuperação de consumo elaborado pela concessionária recorrente, e (iii) discriminar os ônus da
sucumbência (v. fl. 26, e-STJ).
3. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ
n. 8/08. (STJ, Primeira Seção, REsp 1261888, Rel. Min. Mauro Campbell, DJe de 18/11/2011)
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977

diligências, na busca por outros bens, como condição à decretação da penhora on


line198.

44. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 10. Frustrada, por duas vezes, a tentativa de penhora
on line de valores, ainda assim se admite reiteração do pedido pelo exequente199.

45. EMAGIS – 2012/10 – QUESTÃO 10. NO CASO DE CONTA CORRENTE CONJUNTA, A


TOTALIDADE DO VALOR DEPOSITADO PODE SER PENHORADO EM GARANTIA
DA EXECUÇÃO, AINDA QUE SOMENTE UM DOS CORRENTISTAS SEJA
RESPONSÁVEL PELO PAGAMENTO DA DÍVIDA200.

198
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA ON LINE. BACENJUD. DEPÓSITOS BANCÁRIOS.
CONSTRIÇÃO EFETIVADA APÓS A LEI Nº 11.382/06. 1. A Corte Especial, no julgamento do REsp
1.112.943-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, ocorrido em 15/09/2010, pela sistemática do artigo 543-C do
CPC, decidiu que, após o advento da Lei nº 11.382/06, o juiz não pode exigir do credor o exaurimento
das diligências, na busca por outros bens, para a decretação da penhora on line. 2. A Primeira Seção
deste Tribunal ratificou a necessidade de interpretação sistemática dos artigos 655-A do CPC e 185-A
do CTN, de modo a autorizar a penhora eletrônica de depósitos e aplicações financeiras,
independentemente do exaurimento de diligências extrajudiciais, por parte do exequente, após o
advento da Lei nº 11.382/06. Recurso especial representativo de controvérsia n.º 1.184.765/PA. 3.
Portanto, no regime posterior à Lei nº 11.382/06, a aplicação dos artigos 655 e 655-A, do CPC aos feitos
de execução fiscal conduzem ao entendimento de que a penhora em dinheiro, por ser preferencial,
pode ser requerida pelo credor, mesmo que o devedor indique bens na ordem inferior do rol do artigo
11 da Lei de Execuções Fiscais, como ocorreu no presente caso, em que se nomeou precatório (inciso
VIII). 4. Recurso especial provido. (REsp 1229689/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,
julgado em 13/12/2011, DJe 16/02/2012)
199
A reiteração do pleito de penhora on line é, sim, admitido, mesmo que duas outras tentativas já
tenham sido feitas sem que fossem localizados ativos financeiros ou depósitos bancários. O que a
jurisprudência do STJ tem sinalizado é que, nessa reiteração, haja razoabilidade, analisando-se, pois,
caso a caso. Noutras palavras, é verdade que o juiz não está obrigado a deferir sucessivos pedidos no
sentido da reiteração da tentativa de penhora on line; sem embargo, é plenamente admissível essa
reiteração, que deve ser examinada com razoabilidade. Assim, por exemplo, ultrapassado período
significativo desde a última tentativa, ou surgindo elementos novos a sinalizar a possibilidade de
mudança no quadro anteriormente verificado, não há óbice ao acolhimento do pedido de reiteração do
uso do Bacen-Jud.
200
EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA ON LINE. CONTA CORRENTE CONJUNTA. TERCEIRO NA EXECUÇÃO.
IRRELEVÂNCIA. POSSIBILIDADE DE SE PENHORAR A TOTALIDADE DA CONTA CORRENTE.
1. No caso de conta conjunta, cada um dos correntistas é credor de todo o saldo depositado, de forma
solidária. O valor depositado pode ser penhorado em garantia da execução, ainda que somente um dos
correntistas seja responsável pelo pagamento do tributo. 2. Se o valor supostamente pertence somente
a um dos correntistas - estranho à execução fiscal - não deveria estar nesse tipo de conta, pois nela a
importância perde o caráter de exclusividade. 3. O terceiro que mantém dinheiro em conta corrente
conjunta, admite tacitamente que tal importância responda pela execução fiscal. A solidariedade,
nesse caso, se estabelece pela própria vontade das partes no instante em que optam por essa
modalidade de depósito bancário. 4. In casu, importante ressaltar que não se trata de valores
referentes a "vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria,
pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao
sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional
liberal", previstos como impenhoráveis pelo art. 649, IV, do Código de Processo Civil, inexistindo óbice
para a penhora da conta corrente conjunta. Recurso especial improvido. (REsp 1229329/SP, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 29/03/2011)
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978

46. EMAGIS – 2012/07 – QUESTÃO 11. Os embargos de terceiro podem ser opostos a
qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não transitada em julgado a
sentença, e, no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da arrematação,
adjudicação ou remição, MAS SEMPRE ANTES DA ASSINATURA DA RESPECTIVA
CARTA (art. 1.048, CPC).

47. EMAGIS – 2012/07 – QUESTÃO 11. É admissível a oposição de embargos de terceiro


fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de
imóvel, ainda que desprovido do registro201.

48. EMAGIS – 2012/07 – QUESTÃO 11. Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o
cônjuge do executado pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação202.

49. EMAGIS – 2012/06 – QUESTÃO 13. Em embargos de terceiro, não é possível anular ato
jurídico por fraude contra credores203.

50. EMAGIS – 2012/06 – QUESTÃO 13. O filho que reside no imóvel, mesmo que o bem
não esteja registrado em seu nome, tem legitimidade para ajuizar embargos de
terceiro suscitando a impenhorabilidade da residência204.

51. EMAGIS – 2012/06 – QUESTÃO 13. Não servem os embargos de terceiros para
oposição a turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão
administrativo205.

201
LOCAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO COM PEDIDO DE EFEITOS
INFRINGENTES. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. EMBARGOS RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL.
APLICABILIDADE DA SÚMULA N.º 84 DESTA CORTE APÓS A VIGÊNCIA DO CÓDIGO DE 2002. VALIDADE.
PRECEDENTES. [...] 2. Segundo o entendimento desta Corte, a teor da Súmula 84/STJ - perfeitamente
válida e eficaz -, ainda que a doação não esteja registrada no competente cartório de imóveis, é
facultado aos possuidores do imóvel ajuizar embargos de terceiro. [...] (STJ, Quinta Turma, AgRg no REsp
1004151, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 04/05/2011)
202
Súmula 134, STJ.
203
Diante da sua natureza possessória, o STJ, por sua Corte Especial, firmou o entendimento de que os
embargos de terceiro não se prestam a anular ato jurídico supostamente realizado em fraude contra
credores (arts. 158 e ss. do CC/02), o que deve ser objeto de ação anulatória específica (também
chamada, nesse caso, de ação pauliana). Daí ter-se chegado à Súm. 195, assim redigida: “Em embargos
de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores”.
204
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. LEGITIMIDADE ATIVA. ESPOSA DEVEDORA.
FILHA.
1 - Não reconhecimento de legitimidade para oposição de embargos de terceiro à parte que figura como executada
por ser também devedora indicada no título executivo. Precedentes. 2 - O filho, integrante da entidade familiar, é
parte legítima para opor embargos de terceiro, discutindo a condição de bem de família do imóvel onde reside com
os pais. 3 - Garantia da função social do imóvel, preservando uma das mais prementes necessidade do ser humano,
protegida constitucionalmente, que é o direito à moradia. [...] (REsp 473984/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/10/2010, DJe 08/11/2010)
205
O art. 1046 do CPC cuida das hipóteses de cabimento dos embargos de terceiro. Nele, não se prevê a
possibilidade de ajuizar-se esse tipo específico de ação diante de ato de apreensão administrativo:
nesse caso, deve o administrado interessado valer-se dos meios processuais colocados à sua
disposição (mandado de segurança, ação ordinária, etc.). Somente em caso de apreensão derivada de
ato judicial é que se reputam cabíveis os embargos de terceiro.
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52. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 10. Na execução civil, a penhora de dinheiro na ordem
de nomeação de bens não tem caráter absoluto.

53. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 10. A penhora online, antes da entrada em vigor da Lei
11.382/2006, configura medida excepcional cuja efetivação está condicionada à
comprovação de que o credor tenha realizado todas as diligências no sentido de
localizar bens livres e desembaraçados de titularidade do devedor. Contudo, após o
advento da referida lei, o juiz, ao decidir sobre a realização da penhora online, não
pode mais exigir do credor prova de exaurimento das vias extrajudiciais na busca de
bens a serem penhorados.

54. EMAGIS – 2012/03 – QUESTÃO 10. Segundo recente precedente do STJ, embora
cabível a reiteração da pesquisa através do Bacen-Jud mesmo quando anterior
diligência tenha restado infrutífera, o novo requerimento do exequente deve obedecer
ao critério da razoabilidade, sendo possível que o juiz o indefira, exceto ao argumento
de que não fora comprovado o exaurimento de outras diligências na busca de bens
penhoráveis.

55. EMAGIS – 2011/52 – QUESTÃO 11. Considere que, para fixar o quantum debeatur, a
parte ajuíze demanda de liquidação da sentença condenatória por arbitramento.
Nessa situação, o juiz deverá, no despacho liminar, em que determina a intimação do
demandado, também nomear perito e fixar prazo para a entrega do laudo pericial (art.
475-D).

56. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 11. Mesmo após o advento da Lei 11.232/05, que
introduziu a fase do cumprimento de sentença e extinguiu a execução ‘ex intervallo’, A
EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA, SEJA EM SE TRATANDO DE TÍTULO
JUDICIAL, SEJA QUANTO A TÍTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS, SEGUE SENDO
REGIDA PELO MESMO RITO TRACEJADO NO ART. 730 DO CPC206.

57. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 11. Embora haja preceito legal dispondo que não
serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções não
embargadas, em se cuidando de débito de pequeno valor é cabível a fixação da
verba honorária em desfavor da Fazenda Pública quando esta, voluntariamente, não
adimple com a obrigação assentada no título executivo207.

206
Segue sendo aplicado o rito do art. 730 do CPC à execução contra a Fazenda Pública, malgrado as
profundas modificações introduzidas pela Lei nº 11.232/05 na sistemática das ‘execuções fundadas em
título judicial’ (que identificamos, hoje, como a fase processual de ‘cumprimento da sentença’, sem a
necessidade efetiva de se instaurar um novo processo executório ‘ex intervallo’). Com efeito, a execução
por quantia certa em face da Fazenda Pública, quer se trate de título executivo judicial, quer
extrajudicial, permanece sendo regida pela mencionada disposição específica do Código de Processo
Civil, consoante corrobora a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
207
A Lei 9.494/97, na redação outorgada pela Medida Provisória nº 2.180-35, de 2001, trouxe peculiar
disposição acerca dos honorários advocatícios em sede de execução, in verbis: “Art. 1º-D. Não serão
devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções não embargadas.”
Os tribunais pátrios foram provocados a analisar a legitimidade desse preceito normativo, não
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980

58. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 11.São devidos honorários advocatícios pela Fazenda
Pública nas execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que
não embargadas208. Assim o é porque, nesse caso, mesmo não havendo embargos e
ainda que haja o art. 1º-D da Lei 9.494/97, o STJ o reputa inaplicável porquanto o
advogado contratado para promover essa execução ficaria sem qualquer espécie de
remuneração, situação que fez com que aquela Corte abrandasse o alcance do
preceito legal em mira.

59. EMAGIS – 2011/39 – QUESTÃO 07. A apelação interposta contra sentença que julga
embargos à arrematação tem efeito apenas devolutivo209.

60. EMAGIS – 2011/39 – QUESTÃO 07. Em embargos de terceiro, quem deu causa à
constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios210.

61. EMAGIS – 2011/39 – QUESTÃO 01. O art. 1º-F da Lei 9.494/97, na redação dada pela
MP 2.180-35/2001, tem natureza processual, aplicando-se de forma imediata aos
processos em curso211.

62. EMAGIS – 2011/37 – QUESTÃO 18. No tocante à liquidação, quando esta se der por
artigos, haverá necessidade de alegar e provar fato novo para determinar o valor da
condenação.

63. EMAGIS – 2011/32 – QUESTÃO 11. Na execução por título extrajudicial, o


oferecimento dos embargos à execução não exige a prévia segurança do juízo. Porém,

demorando a ensejar pronunciamento do Supremo Tribunal Federal. Em 29/09/2004, ao apreciar o


Recurso Extraordinário nº 420.816/PR, cujo redator para o Acórdão foi o ilustre Ministro Sepúlveda
Pertence, o Plenário da Suprema Corte delineou a conformação daquele preceito (art. 1º-D da Lei nº
9.494/97, acrescido pela Medida Provisória suso indicada) compatível com a Carta da República,
conferindo interpretação conforme naquela assentada, “de modo a restringir-lhe a aplicação à
hipótese de execução por quantia certa contra a Fazenda Pública (C. Pr. Civil, art. 730), excluídos os
casos de pagamento de obrigações definidos em lei como de pequeno valor”. (STF, Pleno, RE nº
420.816, rel. p/ Acórdão Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, DJU 10/12/2006, p. 50)
208
Súmula 345, STJ. Assim o é porque, nesse caso, mesmo não havendo embargos e ainda que haja o
art. 1º-D da Lei 9.494/97, o STJ o reputa inaplicável porquanto o advogado contratado para promover
essa execução ficaria sem qualquer espécie de remuneração, situação que fez com que aquela Corte
abrandasse o alcance do preceito legal em mira.
209
Emprestando uma interpretação extensiva ao art. 520, V, do CPC, o STJ entende que a apelação
interposta contra sentença que julga embargos à arrematação tem efeito meramente devolutivo. Nessa
direção caminha a Súmula 331, editada pela Corte Especial daquele Sodalício.
210
sintonia com a Súmula 303, a qual, à luz do princípio da causalidade – que norteia a disciplina jurídica
dos ônus sucumbenciais (art. 20 e ss. do CPC), assenta que, em embargos de terceiro, quem deu causa à
constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios.
211
Agravo regimental em agravo de instrumento. 2. Execução contra a Fazenda Pública. Juros de mora.
Art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela MP 2.180-35/2001. 3. Entendimento pacífico desta
Corte no sentido de que a MP 2.180-35/2001 tem natureza processual. Aplicação imediata aos
processos em curso. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF, AI 776497 AgR, Segunda
Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 28/02/2011)
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o executado só poderá pleitear a atribuição de efeito suspensivo aos embargos,


quando o juízo estiver garantido por penhora, depósito ou caução suficientes212.

64. EMAGIS – 2011/30 – QUESTÃO 12. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça


firmou o entendimento de que, apesar das alterações implementadas pela Lei
11.232/05, não houve nenhuma modificação no que se refere aos honorários
advocatícios no cumprimento de sentença, que são devidos no caso de não haver o
cumprimento voluntário da sentença.

65. EMAGIS – 2011/30 – QUESTÃO 12. Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de


Justiça, é possível a imposição de honorários advocatícios em sede de execução
provisória de sentença213.

66. EMAGIS – 2011/25 – QUESTÃO 10. Caso o devedor, condenado ao pagamento de


quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o
montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a
requerimento do credor, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação. Do auto de
penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na pessoa de seu
advogado, ou, na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por
mandado ou pelo correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de
quinze dias (art. 475-J e § 1º).

67. EMAGIS – 2011/25 – QUESTÃO 10. A impugnação não terá efeito suspensivo,
PODENDO O JUIZ ATRIBUIR-LHE TAL EFEITO DESDE QUE RELEVANTES SEUS
FUNDAMENTOS E O PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO SEJA MANIFESTAMENTE
SUSCETÍVEL DE CAUSAR AO EXECUTADO GRAVE DANO DE DIFÍCIL OU INCERTA
REPARAÇÃO. Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao
exequente requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando caução
suficiente e idônea, arbitrada pelo juiz e prestada nos próprios autos (art. 475-M e §
1º).

68. EMAGIS – 2011/21 – QUESTÃO 11. Considera-se inexigível o título judicial fundado em
lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou

212
Os embargos, para serem admitidos, não impõem a segurança do juízo; mas para atingirem o efeito
de suspenderem a execução por título extrajudicial, aí sim a segurança (por depósito, penhora ou
caução suficiente) há de estar presente.
213
AGRAVO REGIMENTAL - AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - DECISÃO DO ACÓRDÃO REGIONAL EM CONSONÂNCIA COM O
ENTENDIMENTO DESTA CORTE - INCIDÊNCIA DA SÚMULA/STJ 83 - DECISÃO AGRAVADA MANTIDA -
IMPROVIMENTO.
1.- O Colegiado estadual, ao entender pela possibilidade de imposição dos honorários advocatícios em
sede de execução provisória de sentença, julgou em consonância com o entendimento jurisprudencial
deste Superior Tribunal de Justiça.
[...]
(STJ, AgRg no AREsp 5733/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/06/2011,
DJe 01/07/2011)
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fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo


Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição da República.

69. EMAGIS – 2011/21 – QUESTÃO 11. A empresa Alfa ingressou com ação de repetição de
indébito contra o Estado do Acre, argumentando a inconstitucionalidade de lei que
majorara certo tributo instituído por aquele ente federativo. Regularmente
processado o feito, sobreveio sentença que, declarando incidentalmente a
inconstitucionalidade da lei invectivada, julgou procedente o pedido e condenou a
parte ré na devolução dos valores recolhidos pela demandante. Operado o trânsito em
julgado dessa decisão, mais exatamente no dia 23/08/2001, iniciou-se a execução do
título judicial e o Estado do Acre opôs embargos no qual sustentada a sua
inexigibilidade, uma vez que o Supremo Tribunal Federal, em sede de controle
concentrado de constitucionalidade, reputou compatível com a CR/88 aquela lei.
Nesse caso, era incabível o reconhecimento da inexigibilidade do título judicial com
base na fundamentação articulada por aquela Fazenda Pública Estadual214.

70. GEMAF – 2010/15 – QUESTÃO 01. Após o advento da Lei nº 11.382/06, o juiz, ao
decidir sobre a realização da penhora online, não pode mais exigir do credor
exaurimento das vias extrajudiciais na busca de bens a serem penhorados.

71. GEMAF – 2010/04 – QUESTÃO 08. É possível a oposição de embargos de terceiros


para a defesa de bens alienados fiduciariamente que sofrem constrição judicial.

72. GEMAF – 2010/04 – QUESTÃO 08. É necessário que o garantidor hipotecário, terceiro
na relação entre o credor e o devedor principal, figure na relação executiva, para que
a penhora do bem dado em garantia tenha validade. Assim, É NULA A PENHORA SE
NÃO HOUVE CITAÇÃO DO PROPRIETÁRIO DO BEM HIPOTECADO EM GARANTIA DE
DÍVIDA ALHEIA.

73. GEMAF – 2010/04 – QUESTÃO 08. O registro da constrição ou sua averbação no


registro de imóveis é um ato acessório com o objetivo de dar publicidade da penhora e
ISSO PORQUE SE CONSIDERA
gerar conhecimento em relação a terceiros.
PERFEITA E ACABADA A PENHORA DESDE A EXPEDIÇÃO DO
RESPECTIVO TERMO, REVELANDO-SE, ASSIM, DESINFLUENTES, NO
ESTABELECIMENTO DA PREFERÊNCIA, O REGISTRO OU A
AVERBAÇÃO NO REGISTRO DE IMÓVEIS.

214
Isso porque essa hipótese de inexigibilidade do título só ocorre quando o STF declara a lei
inconstitucional, e não quando a declara constitucional.
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983

28. Juizado Especial Federal Cível


28.1. Introdução
A criação dos JEFs foi possibilitada pela EC nº 22/1999, e sua instituição se deu com a edição
da Lei nº 10.259/2001. A previsão está no art. 98, § 1º, da CR/88.

O procedimento no âmbito dos Juizados é pautado pelos princípios da oralidade, simplicidade,


celeridade, informalidade e economia processual. Na verdade, a Lei nº 10.259/2001 não
traçou com precisão um rito para os processos a ela sujeitos, determinando, em seu art. 1º, a
aplicação da Lei nº 9.099/95, no que com ela não conflitar. Desse modo, cabe principalmente
aos juízes estabelecer o procedimento das ações em trâmite nos Juizados.

As principais inovações trazidas pela Lei nº 10.259/2001 são as seguintes:

a) Igualdade de prazos para a prática de atos processuais (art. 9º): fim das prerrogativas da
Fazenda Pública no que diz respeito à contagem em dobro ou em quádruplo dos prazos
processuais;

b) Fim do reexame necessário (art. 13): como todas as causas devem ter seu valor limitado a
60 salários-mínimos, ainda que aplicado o CPC, não haveria reexame;

c) Redução dos recursos (arts. 5º, 14 e 15): somente serão admitidos recursos das decisões
finais e das decisões que deferirem medidas cautelares e antecipação de tutela no curso do
processo;

d) pagamento imediato das condenações (60 dias), por meio de requisição de pequeno valor,
desde que a condenação importe em até 60 salários mínimos. Superada essa soma, pode a
parte renunciar ao excedente, para receber o valor por RPV, ou optar pelo precatório;

e) Desnecessidade de representação das partes por advogado (art. 10): declarada


constitucional pelo STF na ADIN 3.168. Entretanto, imprescindível advogado para interpor
recurso.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. JUIZADOS ESPECIAIS


FEDERAIS. LEI 10.259/2001, ART. 10. DISPENSABILIDADE DE ADVOGADO NAS
CAUSAS CÍVEIS. IMPRESCINDIBILIDADE DA PRESENÇA DE ADVOGADO NAS
CAUSAS CRIMINAIS. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA LEI 9.099/1995.
INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO. É constitucional o art. 10 da
Lei 10.259/2001, que faculta às partes a designação de representantes
para a causa, advogados ou não, no âmbito dos juizados especiais federais.
No que se refere aos processos de natureza cível, o Supremo Tribunal
Federal já firmou o entendimento de que a imprescindibilidade de advogado
é relativa, podendo, portanto, ser afastada pela lei em relação aos juizados
especiais. Precedentes. Perante os juizados especiais federais, em processos
de natureza cível, as partes podem comparecer pessoalmente em juízo ou
designar representante, advogado ou não, desde que a causa não ultrapasse
o valor de sessenta salários mínimos (art. 3º da Lei 10.259/2001) e sem
prejuízo da aplicação subsidiária integral dos parágrafos do art. 9º da Lei
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984

9.099/1995. Já quanto aos processos de natureza criminal, em homenagem


ao princípio da ampla defesa, é imperativo que o réu compareça ao
processo devidamente acompanhado de profissional habilitado a oferecer-
lhe defesa técnica de qualidade, ou seja, de advogado devidamente inscrito
nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil ou defensor público.
Aplicação subsidiária do art. 68, III, da Lei 9.099/1995. Interpretação
conforme, para excluir do âmbito de incidência do art. 10 da Lei
10.259/2001 os feitos de competência dos juizados especiais criminais da
Justiça Federal.

(ADI 3168, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em


08/06/2006, DJe-072 DIVULG 02-08-2007 PUBLIC 03-08-2007 DJ 03-08-2007
PP-00029 EMENT VOL-02283-02 PP-00371)

f) autorização legal aos representantes judiciais dos entes públicos para conciliar, transigir ou
desistir (art. 10, parágrafo único).

g) Citação para audiência de conciliação deve se dar com antecedência mínima de trinta dias
(art. 9º)

h) As partes serão intimadas, quando houver perícia, a apresentar quesitos e indicar


assistentes em 10 dias nas ações previdenciárias e relativas à assistência social, correndo as
despesas do perito por conta de verba do tribunal, que depois cobrará do vencido (art. 12).

28.2. Competência
Diferentemente da escolha legislativa em definir os critérios norteadores dos JE Estaduais
(quantitativo e qualitativo), a Lei 10.259/2001 utilizou-se, preponderantemente, do critério
quantitativo, erigindo o valor de 60 salários-mínimos215 como patamar de alçada dos JEF (nos
Estaduais, são 40), enquanto as matérias objeto de cognição são estabelecidas por exclusão.

Contudo, em que pese a Lei dos JEF ter deixado de fazer menção expressa à observância do
critério qualitativo (demandas de menor complexidade), considera-se esse requisito como
implicitamente integrante da norma, em atenção ao preceito constitucional insculpido no art.
98, I, da Lei Maior, que é expresso quanto à competência dos Juizados Especiais para julgar
causas de menor complexidade.

A complexidade diz respeito à necessária adequação e harmonia que deverá sempre haver
entre o instrumento e a relação de direito material conflituosa, objeto de cognição, e, por
conseguinte, à produção de provas mais simplificadas. Segundo o STJ, compete ao JEF julgar a
ação revisional de contrato de financiamento celebrado sob o Sistema Financeiro Nacional,
mesmo que necessário realizar perícia contábil (CC 83.130-ES, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 26/9/2007).

215
Enunciado FONAJEF 15: Na aferição do valor da causa, deve-se levar em conta o valor do salário mínimo em vigor
na data da propositura de ação.
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Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de competência do Juizado
Especial, a soma de 12 (doze) parcelas não poderá exceder o valor de 60 salários-mínimos (art.
3º, §2º)216. Se houverem parcelas vencidas, seu valor deve ser somado às vincendas.

Na hipótese do valor da causa217 ultrapassar os 60 salários-mínimos, deve o Juiz reconhecer a


incompetência do JEF e determinar a extinção do processo218, pois não é admitida a renúncia
tácita ao valor excedente219, ao contrário do que ocorre nos Juizados Especiais Estaduais (art.
15 c/c art. 39 da Lei 9.099/95).

No litisconsórcio ativo, o valor da causa deve ser calculado por autor, sob pena de burla ao
sistema dos JEF, especialmente na hipótese de litisconsórcio ativo facultativo. Caso o número
de autores dificulte a solução da lide, é possível a sua limitação pelo Juiz220.

No foro onde estiver instalada Vara do Juizado especial, a sua competência é absoluta (art. 3º,
§3º). Nos Juizados Especiais Estaduais, a competência é relativa, cabendo o autor da demanda
optar por ajuizar a ação perante a justiça comum ou perante os juizados. Diferentemente, a
competência dos juizados especiais cíveis federais é absoluta, razão pela qual não pode ser
alterada pela vontade das partes.

A competência definida na LJEF é absoluta onde houver o Juizado Federal instalado (art. 3º,
§3º, LJEF); logo, como conseqüências imediatas, têm-se, dentre outras, que pode ser
conhecida de ofício e a qualquer momento; não pode ser objeto de eleição de foro; o seu
desrespeito implica nulidade dos atos decisórios; o autor não pode escolher entre a Vara
Federal comum e o Juizado Especial Federal;

No caso de a União ou a Autarquia Previdenciária figurarem como ré, deve-se, em razão do


princípio da supremacia da Constituição, observar o disposto no art. 109, §§2º e 3º da
Constituição da República, implicando, assim, três espécies de regras para fixação da
competência territorial, conforme seja o pólo passivo: União, INSS e regra geral aplicável às
demais pessoas previstas no art. 6º, II, da LJEF, as duas primeiras com primazia em relação à
última, dada a natureza constitucional da norma.

216
Enunciado FONAJEF 17: Não cabe renúncia sobre parcelas vincendas para fins de fixação de competência nos
Juizados Especiais Federais.
217
Enunciado FONAJEF 48: Havendo prestação vencida, o conceito de valor da causa para fins de competência do
JEF é estabelecido pelo art. 260 do CPC.
Enunciado FONAJEF 49: O controle do valor da causa, para fins de competência do JEF, pode ser feito pelo juiz a
qualquer tempo.
218
Enunciado FONAJEF 24: Reconhecida a incompetência do Juizado Especial Federal, é cabível a extinção do
processo, sem julgamento de mérito, nos termos do art. 1º da Lei n. 10.259/2001 e do art. 51, III, da Lei n. 9.099/95,
não havendo nisso afronta ao art. 12, § 2º, da Lei 11.419/06. (Nova redação – V FONAJEF).

219
Enunciado FONAJEF 16: Não há renúncia tácita nos Juizados Especiais Federais para fins de fixação de
competência. (No mesmo sentido, Súmula n.º 17 da Turma Nacional de Uniformização: Não há renúncia tácita
no Juizado Especial Federal, para fins de competência)
220
Enunciado FONAJEF 18: No caso de litisconsorte ativo, o valor da causa, para fins de fixação de competência
deve ser calculado por autor.
Enunciado FONAJEF 19: Aplica-se o parágrafo único do art. 46 do CPC em sede de Juizados Especiais Federais.
OBS: possibilidade de limitação do litisconsórcio multitudinário.
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Em relação à segunda premissa, cabe esclarecer que a melhor exegese, em razão da


literalidade da parte inicial do § 3º do art. 3º da LJEF da parte (“No foro onde estiver instalada
Vara do Juizado Especial”), é a de que se trata de uma questão sui generis de competência, à
semelhança do que ocorre nas comarcas estaduais em que existe uma vara especializada
(exemplo: Vara da Fazenda Pública).

Assim, a competência dos Juizados Especiais Federais é absoluta dentro do foro (leia-se:
circunscrição), mas relativa em relação às Varas Federais de regiões geográficas. É que tal
fato decorre da intenção do legislador de evitar a opção existente na Lei 9.099/95, que
permite ao autor a escolha de ingressar a sua demanda tanto no Juizado Especial Estadual
quanto na Vara comum.

Como bem explica Sérgio Cruz Arenhart:

“ (...) estaria a lei criando uma competência ‘semi-absoluta’, por permitir que a parte escolha
o foro onde quer propor a ação, mas não o juízo (dentro daquele, se nele existir juizado
especial) em que fará tramitar seu pleito? A resposta há de ser positiva. Embora confusa a
regra, esta é precisamente a intenção manifesta, o que, aliás, está plena consonância com a
disciplina normal da competência em processo civil. A solução apontada pela lei é
exatamente a mesma aplicável à questão das varas da fazenda pública: onde ela existe, sua
competência é absoluta; onde não, as ações de interesse do Estado são de atribuição de
qualquer outra vara. No campo da Justiça Federal, entretanto, em vista da regra acima
apontada, que prevê a opção de foro para a propositura de ação em face da União, essa
faculdade pode resultar na burla à previsão legal, permitindo que a parte escolha submeter ou
não sua demanda ao juizado especial (Arenhart, 2001, p. 40).”

Trata-se, em verdade, no resultado prático de criação de uma nova espécie de competência


material, ou seja, ainda que vinculadas a um mesmo ramo do Direito (tributário, previdenciário
etc.), as causas serão formalmente consideradas como matérias distintas, vale dizer, juizados e
não-juizados. Desta forma, o conflito entre duas varas, sendo uma comum e outra Juizado
Especial Federal, dentro de um mesmo foro será resolvido pelas normas atinentes à
competência material, que é absoluta, e não territorial, que é relativa.

Nas demandas voltadas contra o INSS, a regra geral delineada a partir das leis 10.259/2001 e
9.099/95 tem que conviver com o disposto no § 3º do art. 109 da CR, cedendo lugar a esta
quando possível a sua incidência. É que, diante do princípio da supremacia da Constituição, a
hierarquia normativa implica, necessariamente, que as regras estipuladas no texto
constitucional não podem ser violadas ou restringidas pelas veiculadas por lei ordinária; logo,
interpreta-se a lei a partir da Constituição, e não o contrário.

Evidenciada a impossibilidade de as leis processuais modificarem o mandamento decorrente


do § 3º do art. 109 da CR, resta, ainda, verificar qual a exegese adequada deste dispositivo,
buscando-se extrair tanto a hipótese de incidência quanto a conseqüência jurídica decorrentes
da norma originada.

(...)

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Sobrevoando o texto é possível apresentar as seguintes conclusões: (a) o caráter absoluto dos
juizados especiais federais refere-se à matéria, servindo para evitar a opção pelo autor, o
que não se confunde com a competência em razão do local; (b) a hipótese normativa prevista
no § 3º do art. 109 da Constituição refere-se à delegação de competência, matéria que não se
confunde com conflito de competência territorial; (c) nas demandas previdenciárias, o
segurado terá uma opção se em seu domicílio não houver vara federal, ou ajuíza a causa na
Justiça Estadual, ou o faz na Vara Federal competente de acordo com a legislação pertinente,
seja o CPC, seja a LJEF; (d) a regra geral de competência territorial para a LJEF deve ser
buscada no art. 4o da Lei nº 9.099/95; por isso (e) há foros concorrentes relativos às cidades
onde houver instalada agência do INSS, seja na Capital do Estado, seja no seu interior.

Pela fundamentação apresentada, se presente agência do INSS, o segurado poderá ajuizar a


demanda tanto na vara federal (ou juizado especial, se existente) do seu domicílio, quanto na
capital do estado e em qualquer outra cidade, pois todas elas são foros concorrentes, não
sendo cabível falar em incompetência territorial, já que todas elas são competentes.

A competência dos JEFs é fixada no art. 3º da Lei nº 10.259/2001:

Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e


julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta
salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.

§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:

I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição da República, as


ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e
demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa
e as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais
homogêneos;

Enunciado 88, FONAJEF: “É admissível MS para Turma Recursal de ato jurisdicional que causa
gravame e não haja recurso”.

II - sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;

III - para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o


de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE ANULAÇÃO DE ATO


ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE VEDAÇÃO DA LEI 10.259/2001.

Na ação em que se pretende buscar o recebimento de valores pagos a


menor, relativos ao exercício de horas extras, ainda que a questão envolva
indiretamente anulação de ato administrativo, este não pode ser
considerado de alcance geral. A vedação prevista na Lei 10.259/2001 deve
ser entendida em relação às demandas complexas de anulação de ato
administrativo de alcance geral, já que os princípios próprios dos Juizados
Especiais não se mostram compatíveis com a complexidade da causa.

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Maioria. (TRF1, 1S, CC 0040785-19.2012.4.01.0000/MA, rel. Juiz Federal


Cleberson José Rocha (convocado), em 30/10/2012.)

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE JUÍZO FEDERAL E JUIZADO


ESPECIAL FEDERAL. PEDIDO DE REMOÇÃO DE ADVOGADO DA UNIÃO.
VAGAS OCUPADAS IRREGULARMENTE POR PESSOAS QUE NÃO INTEGRAM
OS QUADROS DA AGU. ANULAÇÃO OU CANCELAMENTO DE ATO
ADMINISTRATIVO.

A anulação ou cancelamento de ato administrativo federal não se inclui na


competência do Juizado Especial Federal Cível, exceto os de natureza
previdenciária e o de lançamento fiscal, conforme permissivo legal do art.
3º, § 1º, inciso III, da Lei 10.259/2001. Unânime. (TRF1, Corte Especial, CC
2009.01.00.072226-7/MG, rel. Des. Federal Néviton Guedes, em
24/01/2012.)

IV - que tenham como objeto a impugnação DA PENA DE DEMISSÃO


imposta a servidores públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a
militares.

§ 2o Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de


competência do Juizado Especial, a soma de doze parcelas não poderá
exceder o valor referido no art. 3o, caput.

§ 3o No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua


competência é absoluta.

De acordo com o FONAJEF:

Enunciado 9: “Não se incluem na competência dos JEFs os procedimentos especiais previstos no


CPC, salvo quando possível a adequação ao rito da Lei nº 10.259/01”.

Enunciado 25: “Reconhecida a incompetência do JEF é cabível a extinção do processo, sem


julgamento de mérito, nos termos do art. 1º da Lei nº 10.259/01 e do art. 51, III, da Lei nº
9.099/95”.

Se houver JEF no Município onde resida o réu, ele não poderá optar por ajuizar a ação na
Justiça Estadual.

Cabe salientar que a Turma de Uniformização Nacional editou a Súmula de nº 17, segundo a
qual “Não há renúncia tácita no Juizado Especial Federal para fins de competência”. Assim, não
se aplica o art. 3º, § 3º, da Lei nº 9.099/95, que determina que a opção pelo rito dos Juizados
determina a renúncia tácita ao valor excedente à competência desse órgão. Contudo, como
nos JEFs a competência é considerada absoluta, de modo que o ajuizamento da ação não se
trata de uma escolha da parte, não pode haver renúncia tácita, devendo ela ser expressa.

Isso significa que, caso o juiz, antes ou durante a prolação da sentença, verifique que o valor
da condenação final será maior do que o limite da competência do JEF, deverá intimar o Autor
para se manifestar sobre possível renúncia. Se renunciar, prolata a sentença. Se não renunciar,
deve remeter os autos à Justiça Federal.
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Caso ele não o faça, prolatando a sentença sem ouvir o Autor, este deverá interpor recurso
inominado para a Turma Recursal, a qual anulará a decisão face a incompetência absoluta,
determinando a remessa ao juízo competente.

Note-se ainda que o § 2º refere-se apenas ao cálculo do valor da causa naquelas situações em
que há somente parcelas vincendas. Quando existirem parcelas vencidas e vincendas, a TNU já
se manifestou no sentido de que o cálculo é feito na forma do art. 260 do CPC, isto é, a soma
das vencidas e 12 parcelas vincendas. Essa questão é muito controversa no âmbito dos JEFs, e
tem possibilitado o ajuizamento de ações com valor muito superior aos 60 salários mínimos.

Apesar da ressalva do inciso I do § 1º, tem sido admitida a impetração de mandado de


segurança como sucedâneo de recurso, já que as hipóteses recursais no rito dos JEFs são muito
limitadas.

Por fim, importantíssima a seguinte súmula:

Súmula 689, STF: “O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o
Juízo Federal do seu domicílio ou nas varas federais da capital do Estado-Membro”.

Notas do Master Juris

Há o cálculo do valor da causa para a fixação da competência, uma vez que a competência é
absoluta. Então ele deve envolver de acordo com o CPC os valores vencidos e 12 vincendos,
isso tem que ficar limitado a 60 salários mínimos para fixar a competência, mas digamos que
dure mais do que doze meses, então haverá parcelas vincendas maiores do que doze. E na
hora de fazer o pagamento? E se ultrapassar 60 salários mínimos no momento expedir a RPV?
Tem duas saídas: ou recebe tudo por precatório, mesmo no juizado, ou abre mão e recebe até
60 salários mínimos no valor do salário mínimo do momento do pagamento da RPV e não do
momento da distribuição. Porque, às vezes, do momento da propositura até a expedição da
RPV demora mais de doze meses. Há primeiro um cálculo do valor da causa para fixar a
competência, que vai levar em conta doze prestações vincendas, mas às vezes demora três
anos para executar desde o momento da distribuição, daí tem que fazer um cálculo para efeito
de pagamento.

28.2.1. Controle da Competência dos Juizados Via Mandado de Segurança perante o Tribunal
A jurisprudência do STJ firmou orientação de que cabe ao TJ, em relação aos Juizados Especiais
Estaduais, e ao TRF, em se tratando de Juizados Especiais Federais, apreciar mandado de
segurança no qual se discute a competência desses órgãos para processar e julgar
determinadas demandas. Nunca, porém, para revisar o mérito de decisões desses Juizados,
que, jurisdicionalmente, não estão subordinados a tais Tribunais como cortes de revisão.

Por fim, será cabível o writ mesmo que a decisão já tenha transitado em julgado.

Por todos, cito os seguintes julgados:

PROCESSO CIVIL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. MANDAMUS


IMPETRADO, PERANTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA, VISANDO PROMOVER

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CONTROLE DE COMPETÊNCIA DE DECISÃO PROFERIDA POR JUIZADO


ESPECIAL CÍVEL.

Possibilidade. Ausência de confronto com a jurisprudência consolidada do


STJ, que veda apenas a impetração de mandado de segurança para o
controle do mérito das decisões proferidas pelos Juizados Especiais.

- Não se admite, consoante remansosa jurisprudência do STJ, o controle,


pela justiça comum, sobre o mérito das decisões proferidas pelos juizados
especiais. Exceção é feita apenas em relação ao controle de
constitucionalidade dessas decisões, passível de ser promovido mediante a
interposição de recurso extraordinário.

- A autonomia dos juizados especiais, todavia, não pode prevalecer para a


decisão acerca de sua própria competência para conhecer das causas que
lhe são submetidas. É necessário estabelecer um mecanismo de controle da
competência dos Juizados, sob pena de lhes conferir um poder
desproporcional: o de decidir, em caráter definitivo, inclusive as causas para
as quais são absolutamente incompetentes, nos termos da lei civil.

- Não está previsto, de maneira expressa, na Lei nº 9.099/95, um mecanismo


de controle da competência das decisões proferidas pelos Juizados
Especiais. É, portanto, necessário estabelecer esse mecanismo por
construção jurisprudencial.

- Embora haja outras formas de promover referido controle, a forma mais


adequada é a do mandado de segurança, por dois motivos: em primeiro
lugar, porque haveria dificuldade de utilização, em alguns casos, da
Reclamação ou da Querela Nullitatis; em segundo lugar, porque o
mandado de segurança tem historicamente sido utilizado nas hipóteses
em que não existe, no ordenamento jurídico, outra forma de reparar lesão
ou prevenir ameaça de lesão a direito.

- O entendimento de que é cabível a impetração de mandado de segurança


nas hipóteses de controle sobre a competência dos juizados especiais não
altera o entendimento anterior deste Tribunal, que veda a utilização do writ
para o controle do mérito das decisões desses juizados.

Recurso conhecido e provido.

(RMS 17524/BA, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado


em 02/08/2006, DJ 11/09/2006, p. 211)

PROCESSO CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. JUIZADO ESPECIAL.


COMPETÊNCIA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. MULTA COMINATÓRIA.
ALÇADA. LEI 9.099/1995. RECURSO PROVIDO.

1. A jurisprudência do STJ admite a impetração de mandado de segurança


para que o Tribunal de Justiça exerça o controle da competência dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais, vedada a análise do mérito do
processo subjacente.
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[...]

(RMS 33155/MA, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA,


julgado em 28/06/2011, DJe 29/08/2011)

PROCESSO CIVIL. COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS. CONTROLE.


MANDADO DE SEGURANÇA PERANTE O TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CABIMENTO.
IMPETRAÇÃO. PRAZO. EXCEÇÃO À REGRA GERAL.

1. É cabível a impetração de mandado de segurança perante o Tribunal de


Justiça para realizar o controle da competência dos Juizados Especiais,
ressalvada a autonomia dos Juizados quanto ao mérito das demandas.
Precedentes.

2. O mandado de segurança contra decisão judicial deve, via de regra, ser


impetrado antes do trânsito em julgado desta sob pena de caracterizar a
incabível equiparação do mandamus à ação rescisória.

3. COMO EXCEÇÃO À REGRA GERAL, PORÉM, ADMITE-SE A IMPETRAÇÃO


DE MANDADO DE SEGURANÇA FRENTE AOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DOS
ESTADOS PARA O EXERCÍCIO DO CONTROLE DA COMPETÊNCIA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS, AINDA QUE A DECISÃO A SER ANULADA JÁ TENHA
TRANSITADO EM JULGADO.

4. Recurso ordinário em mandado de segurança provido.

(RMS 32.850/BA, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado


em 01/12/2011, DJe 09/12/2011)

28.3. Delegação para a Justiça Estadual e Aplicação da Lei do JEF


Ressalte-se que o art. 20 da Lei nº 10.259/01 veda a aplicação do rito deste no âmbito da
Justiça comum estadual. Logo, também não se aplicará, evidentemente, para as ações
acidentárias.

Vê-se, pois, que o referido dispositivo da Lei dos JEFs não retira a competência federal
delegada à Justiça Estadual, dada pelo art. 109, § 3º, da CR/88. De fato, o segurado pode
ajuizar sua demanda na Justiça local sem nenhum empecilho, embora, caso queira se valer do
rito especial previsto na referida Lei - que regulamentou o art. 98, parágrafo único, da CR /
88 - deva ajuizar sua ação na Justiça Federal, seja na mais próxima, seja na Capital.

Tampouco a referida Lei delegou aos Juizados Especiais Estaduais competência para processar
e julgar, nas comarcas que não disponham de Varas Federais, causas em que forem parte
instituição de previdência social e segurado:

“PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL DE


JUIZADO ESPECIAL. TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL. INCOMPETÊNCIA
ABSOLUTA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. DECLARAÇÃO DE OFÍCIO. LEI
10.259/01. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA
ESTADUAL. PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE DE SER
PARTE EM JUIZADO ESPECIAL ESTADUAL. ART. 8º DA LEI 9.099/95.
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COMPETÊNCIA DAS TURMAS RECURSAIS PARA O JULGAMENTO DO "WRIT".


PRECEDENTES.

I - O recurso ordinário em mandado de segurança é apelo que possui


natureza similar à apelação, devolvendo ao Tribunal o conhecimento de
toda a matéria alegada na impetração, independentemente de eventual
análise pelo Tribunal de origem, principalmente quando se tratar de matéria
de ordem pública, que pode ser reconhecida a qualquer tempo.
Precedentes.

II - Nos termos dos arts. 113 e 301, § 4º do Código de Processo Civil, a


questão atinente à incompetência absoluta, por ser matéria de ordem
pública, deve ser declarada de ofício pelo juiz.

III - Em sede de mandado de segurança a competência para o


processamento e julgamento do processo é definida segundo a hierarquia
funcional da autoridade coatora e sua sede funcional, não sendo relevante a
matéria deduzida na impetração, excetuando-se a hipótese em que a União,
entidade autárquica ou empresa pública federais sejam impetrantes,
competindo à Justiça Federal, nestes casos, o processamento e julgamento
do "writ". Precedentes do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo
Tribunal Federal.

IV - O art. 20 da Lei nº 10.259/01, que regula a instituição dos Juizados


Cíveis e Criminais Federais, estabelece ser vedada a aplicação desta Lei no
âmbito do juízo estadual. A referida Lei não delegou aos Juizados Especiais
Estaduais competência para processar e julgar, nas comarcas que não
disponham de Varas Federais, causas em que forem parte instituição de
previdência social e segurado.

V - A vedação prevista no artigo 20 da Lei nº 10.259/01 somente poderá


ser removida se for declarada a sua inconstitucionalidade, no foro e
procedimento previstos no artigo 97 da Constituição da República c/c os
artigos 480 e seguintes do Código de Processo Civil. Nenhum Tribunal pode
deixar de aplicar a lei, sem declarar-lhe a inconstitucionalidade.

VI - A teor do artigo 8º da Lei 9.099/95 (aplicável aos Juizados Especiais


Federais, por força do artigo artigo 1º da Lei 10.259/01), as pessoas
jurídicas de direito público não podem ser partes em ação processada
perante nos Juizados Especiais Estaduais.

VII - Não há que se falar em inviabilização do acesso à justiça, tendo em


vista que permanece garantido ao segurado o direito de propor ação
contra o Instituto Previdenciário no seu domicílio, somente não podendo a
ação ser proposta sob o rito do juizado especial.

VIII - Os Juizados Especiais Federais foram instituídos no pressuposto de que


as respectivas causas seriam resolvidas no âmbito de sua jurisdição. De
outro modo, sua criação não teria sentido.

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IX - Consoante entendimento desta Corte, compete às Turmas Recursais o


processamento e julgamento de mandado de segurança impetrado contra
ato de Juizado Especial. Precedentes.

X - Declaração de ofício da incompetência do Eg. Tribunal Regional Federal


da 1ª Região para o processamento e julgamento do mandamus, com a
anulação de todos os atos decisórios e remessa dos autos para a Turma
Recursal Federal que jurisdiciona a Comarca de Santa Inês/MA. (RMS
18433/MA, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em
17.02.2005, DJ 28.02.2005 p. 341)”

Assim, pelo julgado supra, o segurado ou dependente poderá ajuizar ação perante a Justiça
Estadual contra o INSS, por expressa disposição constitucional, se não houver vara federal
em seu Município. Somente não o poderá fazer pelo rito sumaríssimo, perante o juizado
especial estadual cível, já que não se admite pessoa de direito público no polo passivo desse
rito.

JUÍZO DE DIREITO E JUÍZO FEDERAL. JURISDIÇÃO FEDERAL DELEGADA.


COMPETÊNCIA RELATIVA.

É prerrogativa do segurado ajuizar ação previdenciária perante a justiça


estadual ou federal, para facilitaro acesso dos hipossuficientes ao Judiciário,
não cabendo ao juiz de direito, investido de jurisdição federal delegada,
declinar de ofício da competência que, no caso, é relativa. Precedentes do
STF. Unânime. (TRF1, 1S, CC 0026437-93.2012.4.01.0000/GO, rel. Des.
Federal Néviton Guedes, em 18/09/2012.)

Ademais, importante lembrar que não se poderá exercer a competência delegada


relativamente ao mandado de segurança, este deverá sempre ser ajuizado perante a Justiça
Federal.

28.4. Valor da Causa


De acordo com o STJ, para estabelecimento do valor da causa, devem ser somadas as parcelas
vencidas com doze parcelas vincendas, ante a conjugação da Lei nº 10.259/01 com o art. 260
do CPC (CC 46.732/MS).

De acordo com o FONAJEF:

Enunciado 15: “Na aferição do valor da causa, deve-se levar em conta o valor do salário
mínimo em vigor na data da propositura da ação”.

Enunciado 18: “No caso de litisconsorte ativo, o valor da causa, para fins de fixação de
competência deve ser calculado por autor”.

Enunciado 49: “O controle do valor da causa, para fins de competência do JEF, pode ser feito
pelo juiz a qualquer tempo”.

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28.5. Partes
A Lei nº 10.259/2001 também determina quem pode ocupar os polos ativo e passivo das ações
sujeitas ao rito dos JEFs:

Art. 6o Podem ser partes no Juizado Especial Federal Cível:

I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de


pequeno porte, assim definidas na Lei no 9.317, de 5 de dezembro de 1996;

II – como rés, a União, autarquias, fundações e empresas públicas federais.

Discute-se se as ações em que se pleiteia pensão por morte, onde poderia haver a exclusão ou
diminuição da cota de outro dependente do de cujus, poderiam ser propostas nos JEFs, já que,
necessariamente, o polo passivo seria composto pelo INSS e por uma pessoa física, a saber, os
dependentes do instituidor da pensão. A jurisprudência tem entendido que é possível a
participação dos dependentes no polo passivo, já que a Lei dos JEFs, embora não explicite essa
permissão, tampouco impõe vedação nesse sentido.

Enunciados do FONAJEF:

Enunciado 12: “No Juizado Especial Federal, não é cabível o pedido contraposto pela União
Federal, autarquia, fundação ou empresa pública federal”.

Enunciado 14: “Nos Juizados Especiais Federais, não é cabível a intervenção de terceiros ou a
assistência”.

Enunciado 21: “As pessoas físicas, jurídicas, de direito privado ou de direito público estadual
ou municipal podem figurar no polo passivo, no caso de litisconsórcio necessário”.

Enunciado 82: “O espólio pode ser parte autora nos juizados especiais federais cíveis”.

28.6. Sentença Líquida


A sentença do juizado tem de ser líquida, conforme art. 38, p. único, da Lei nº 9.099/95. Após o
trânsito em julgado, deve-se apenas atualizar os valores da condenação e incluir parcelas
vencidas com a finalidade de ser expedida desde logo a RPV ou o precatório.

De acordo com o FONAJEF:

Enunciado 32: “A decisão que contenha os parâmetros de liquidação atende ao disposto no art.
38, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95”.

Enunciado 13: “Não são admissíveis embargos de execução nos Juizados Especiais Federais,
devendo as impugnações do devedor ser examinadas independentemente de qualquer
incidente”.

28.7. Recursos
A sistemática recursal prevista na Lei nº 10.259/2001 é bastante peculiar, uma vez que toda a
estrutura foi pensada para diminuir o número de recursos, em prol da celeridade da prestação

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jurisdicional e, ao mesmo tempo, permitir a uniformização da jurisprudência no âmbito dos


Juizados.

Assim é que não há previsão de recurso contra decisões interlocutórias, a exceção daquelas
que concedem medida cautelar (ou antecipação de tutela, numa interpretação extensiva do
art. 4º da Lei dos JEFs).

Art. 4o O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir


medidas cautelares no curso do processo, para evitar dano de difícil
reparação.

Art. 5o Exceto nos casos do art. 4o, somente será admitido recurso de
sentença definitiva.

De acordo com Tourinho Neto, esse recurso cabível nos casos do art. 4º é o agravo de
instrumento. Caberá também, de acordo com o mesmo autor, embargos de declaração de
decisões interlocutórias, e não apenas das sentenças ou acórdãos (2010, p. 297).

Caberá recurso inominado das decisões finais, o qual não pode ser interposto pela via
adesiva por ser incompatível com o procedimento.

São previstos, ainda, recurso contra sentença (art. 5º), pedidos de uniformização regional (com
fundamento em divergência entre decisões de Turmas Recursais da mesma região) e
uniformização nacional (conflito entre decisões de Turmas Recursais de diferentes regiões ou
entre decisão da Turma Recursal e súmula ou jurisprudência dominante do STJ), (art. 14), e
recurso extraordinário.

28.7.1. As Turmas Recursais


As Turmas Recursais são órgãos criados pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais
de Justiça a estes subordinadas administrativamente. Não se tratam de tribunais, visto que
não previstas entre as Cortes arroladas na CR/88.

São compostas por juízes federais ou estaduais de primeiro grau, designados para o ofício por
ato do Tribunal.

Vários foram as controversas e os entendimentos firmados acerca delas, desde o seu


surgimento em 1995. Abaixo alguns julgados:

Compete à turma recursal o exame de mandado de segurança, quando


utilizado como substitutivo recursal, contra ato de juiz federal dos juizados
especiais federais. Reputou-se que, verificado o caráter recursal do
mandado de segurança, deveriam ser aplicadas as regras de competência
atinentes à apreciação dos recursos, o que afastaria a incidência do art. 108,
I, c, da CF, que trata da competência dos Tribunais Regionais Federais para
processarem e julgarem, originariamente, mandado de segurança e habeas
data contra ato do próprio tribunal ou de juiz federal. Nesse aspecto, os
juízes de 1º grau e as turmas recursais que eles integram seriam instituídos
pelos respectivos Tribunais Regionais Federais, estando subordinados a
estes administrativamente, mas não jurisdicionalmente. As turmas recursais
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seriam, portanto, órgãos recursais ordinários de última instância


relativamente às decisões dos juizados especiais, a elas vinculados no que
concerne ao reexame de seus julgados, sob pena de transformar o Tribunal
Regional Federal em instância ordinária para reapreciação de decisões
interlocutórias proferidas pelos juizados especiais (RE 586789/PR, rel. Min.
Ricardo Lewandowski, 16.11.2011).

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA.


CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. PROCEDIMENTO DE CONTROLE
ADMINISTRATIVO. ATO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO. COMPOSIÇÃO DAS TURMAS RECURSAIS. DESIGNAÇÃO DE
MAGISTRADOS DE PRIMEIRO GRAU. DEFINIÇÃO DE CRITÉRIOS.
COMPETÊNCIA DO RESPCTIVO TRIBUNAL. AUSÊNCIA DE LIQUIDEZ E CERTEZA
NO DIREITO PLEITEADO. SEGURANÇA DENEGADA. JULGAMENTO
MONOCRÁTICO. POSSIBILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. I – Não verificada,
no caso, a existência de qualquer vício no ato impugnado que pudesse
caracterizar ofensa a direito líquido e certo do impetrante, mostra-se lícita a
denegação da ordem de plano. II – Ademais, o ato de composição das
Turmas recursais não caracteriza promoção de magistrado para outra
entrância ou mesmo de remoção, porém de mera designação para integrar
órgão de primeiro grau, não se impondo, portando, a observância dos
critérios de merecimento ou antiguidade. III- Nessa linha, a definição dos
critérios para composição da Turma Recursal é ato interna corporis do
respectivo Tribunal. IV - Nos termos do art. 205 do Regimento Interno do
STF, pode o Relator julgar monocraticamente pedido que veicule pretensão
incompatível com a jurisprudência consolidada desta Corte, ou seja,
manifestamente inadmissível. V – Agravo regimental improvido.

(MS 28254 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno,


julgado em 24/03/2011, DJe-069 DIVULG 11-04-2011 PUBLIC 12-04-2011
EMENT VOL-02501-01 PP-00115)

Súmula 376, STJ: “Compete a turma recursal processar e julgar o MS contra ato do juizado
especial”.

28.7.2. Os Incidentes de Uniformização


Vale lembrar que os incidentes de uniformização devem versar sobre divergências entre
decisões de questões de direito material, NUNCA DE DIREITO PROCESSUAL. Isso não quer
dizer que a matéria fática será revolvida. Nesse sentido:

Enunciado 99, FONAJEF: “É inadmissível o reexame de matéria fática em pedido de


uniformização de Jurisprudência”.

Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal


quando houver divergência entre decisões sobre questões de direito
material proferidas por Turmas Recursais na interpretação da lei.

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§ 1o O pedido fundado em divergência entre Turmas da mesma Região


será julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a
presidência do Juiz Coordenador.

Assim, se o pedido de uniformização for feito entre Turmas divergentes da mesma Região, ou
seja, uma Turma Recursal de Minas Gerais com outra da Bahia, por exemplo, caberá a elas, em
reunião conjunta, resolver o conflito para chegar a um consenso sobre a questão de direito
material. Vide que a lei exige diferença de interpretação entre Turmas da mesma Região, e não
da mesma Seção Judiciária, o que possibilita uma imensa quantidade de incidentes.

§ 2o O pedido fundado em divergência entre decisões de turmas de


diferentes regiões ou da proferida em contrariedade a súmula ou
jurisprudência dominante do STJ será julgado por Turma de Uniformização,
integrada por juízes de Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador
da Justiça Federal.

Aqui se trata da hipótese de conflito de interpretação do direito material entre Turmas de


diferentes regiões ou de alguma Turma com súmula ou jurisprudência dominante do STJ.
Nesse caso, o incidente será julgado pela Turma Nacional de Uniformização.

§ 3o A reunião de juízes domiciliados em cidades diversas será feita pela via


eletrônica.

§ 4o Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em


questões de direito material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante
no Superior Tribunal de Justiça -STJ, a parte interessada poderá provocar a
manifestação deste, que dirimirá a divergência.

Somente caberá a provocação do STJ quando a Turma Nacional de Uniformização tiver sido
instada a se manifestar sobre questão de direito material e, chegando a um consenso, adotar
tese divergente de súmula ou jurisprudência do STJ, caso em que caberá a essa Corte dirimir
a divergência.

§ 5o No caso do § 4o, presente a plausibilidade do direito invocado e


havendo fundado receio de dano de difícil reparação, poderá o relator
conceder, de ofício ou a requerimento do interessado, medida liminar
determinando a suspensão dos processos nos quais a controvérsia esteja
estabelecida.

No Regimento Interno da TNU, que tem sede em Brasília e é presidida pelo coordenador da
Justiça Federal, há a previsão de que o incidente de uniformização também será cabível
quando houver divergência com jurisprudência do STF.

Sobre o processamento desses recursos, dispõe a Lei dos JEFs:

§ 6o Eventuais PEDIDOS DE UNIFORMIZAÇÃO IDÊNTICOS, recebidos


subsequentemente em quaisquer Turmas Recursais, FICARÃO RETIDOS NOS
AUTOS, aguardando-se pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça.

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§ 7o Se necessário, o relator pedirá informações ao Presidente da Turma


Recursal ou Coordenador da Turma de Uniformização e ouvirá o Ministério
Público, no prazo de cinco dias. Eventuais interessados, ainda que não sejam
partes no processo, poderão se manifestar, no prazo de trinta dias.

§ 8o Decorridos os prazos referidos no § 7o, o relator incluirá o pedido em


pauta na Seção, com preferência sobre todos os demais feitos, ressalvados
os processos com réus presos, os habeas corpus e os mandados de
segurança.

§ 9o Publicado o acórdão respectivo, os pedidos retidos referidos no § 6o


serão apreciados pelas Turmas Recursais, que poderão exercer juízo de
retratação ou declará-los prejudicados, se veicularem tese não acolhida
pelo Superior Tribunal de Justiça.

Não se admite o recurso especial, já que as Turmas Recursais, órgãos de segunda instância dos
Juizados, não podem ser consideradas Tribunais.

Nesse sentido:

Súmula 203, STF: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo
grau dos juizados especiais”.

Observe-se que o art. 14, § 4º, prevê um recurso contra a decisão da Turma de Uniformização
Nacional que contrariar a jurisprudência dominante do STJ, a ser examinado por esse Tribunal.

Assim, o processamento funciona da seguinte forma: a parte interessada, quando a orientação


da TNU contrariar súmula ou jurisprudência do STJ, provocará a manifestação desse tribunal
para que resolva a divergência. Se houver plausibilidade do direito invocado e receio de dano
de difícil reparação, poderá o relator conceder, com ou sem requerimento, medida liminar,
determinando a suspensão dos processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida.

Contudo, a doutrina tem considerado inconstitucional esse dispositivo, já que representaria a


criação de uma nova espécie de recurso especial por meio de simples lei ordinária. Não se tem
notícia de interposição desse pedido de uniformização até o momento.

A Lei nº 10.259/2001, em seu art. 14, § 5º, prevê a possibilidade de concessão de medida
liminar determinando a suspensão dos processos em que uma mesma controvérsia esteja
estabelecida até que sejam julgados os incidentes de uniformização. O STF alterou seu
regimento para permitir a concessão dessa liminar. A medida já foi aplicada por esse Tribunal,
suspendendo todos os processos em que se discute questão relativa ao FGTS nos JEFs do Rio
de Janeiro (Informativo 364).

28.7.3. Recurso Extraordinário


É cabível a interposição de recurso extraordinário, conforme previsão do art. 15 da Lei.

O STF entende ser necessário, entretanto, para a interposição do recurso, que o recorrente
tenha já buscado a tutela recursal da Turma de Uniformização, mediante incidente de
uniformização; somente após o esgotamento da prestação jurisdicional, com a publicação da
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decisão do incidente de uniformização de interpretação de lei, é que haveria a possibilidade


de interposição do RE. Nesse sentido:

E MENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO INTERPOSTO CONTRA DECISÃO DE TURMA RECURSAL DE
JUIZADO ESPECIAL FEDERAL. INTERPOSIÇÃO SIMUTÂNEA DE PEDIDO DE
UNIFORMIZAÇÃO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO EXTEMPORÂNEO. AGRAVO
IMPROVIDO. I - Esta Corte firmou entendimento no sentido de se considerar
extemporâneo o recurso extraordinário interposto contra decisão
proferida por Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais antes do
julgamento de pedido de uniformização interposto contra essa mesma
decisão. II – Ante a existência de incidente de uniformização pendente de
julgamento, não há decisão de única ou última instância que dá ensejo a
abertura da via extraordinária. Incidência da Súmula 281 do STF. III – Agravo
regimental improvido.

(RE 468692 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma,


julgado em 03/05/2011, DJe-094 DIVULG 18-05-2011 PUBLIC 19-05-2011
EMENT VOL-02525-03 PP-00375)

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


ESGOTAMENTO DA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. SÚMULA 281 DO STF.
Consoante a jurisprudência sumulada do Supremo Tribunal Federal, "é
inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na justiça de origem,
recurso ordinário da decisão impugnada" (Súmula 281 do STF). Admitido
Incidente de Uniformização em face de acórdão de Turma Recursal dos
Juizados Especiais Federais, resta demonstrada a ausência de decisão de
única ou última instância. Pelo que incabível, concomitantemente, a
interposição do apelo extremo. Agravo Regimental desprovido.

(STF, RE 468365 AgR, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma,


julgado em 14/12/2006, DJ 20-04-2007 PP-00093 EMENT VOL-02272-11 PP-
02145)

RECURSO EXTRAORDINÁRIO – TURMA RECURSAL – INCIDENTE DE


UNIFORMIZAÇÃO. O pronunciamento da Turma Recursal no incidente de
uniformização não é impugnável mediante o extraordinário. Este somente
se mostra cabível contra a decisão que desprovê o recurso por meio do qual
se ataca o ato do Juízo.

(RE 479465 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado
em 06/12/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-022 DIVULG 31-01-2012
PUBLIC 01-02-2012)

28.7.4. Cabimento de Reclamação para o STJ


O STJ não aceitava, de forma alguma, julgar reclamação de decisão de juizado especial ou de
suas Turmas Recursais ajuizadas em face de decisões que afrontassem sua jurisprudência. Dizia
que não tinha competência constitucional para tanto, que suas atribuições jurisdicionais eram
taxativas, excluindo peremptoriamente essas ações.

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Na verdade, ele queria era evitar uma enxurrada de processos que essa possibilidade de ação
heterotrópica criaria.

O STF, no entanto, “cortou o barato” do STJ. No que se refere aos juizados especiais estaduais,
por não existir Turma de Uniformização de Jurisprudência, diferentemente do que ocorre no
âmbito dos JEF’s, seria imprescindível que aceitas fossem as reclamações sob pena de
aprofundar a divergência na interpretação da legislação federal, papel que cabe ao STJ.

Eis o leading case:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AUSÊNCIA DE


OMISSÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO. JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. APLICAÇÃO ÀS CONTROVÉRSIAS SUBMETIDAS AOS
JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS. RECLAMAÇÃO PARA O SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CABIMENTO EXCEPCIONAL ENQUANTO NÃO CRIADO,
POR LEI FEDERAL, O ÓRGÃO UNIFORMIZADOR. 1. No julgamento do recurso
extraordinário interposto pela embargante, o Plenário desta Suprema Corte
apreciou satisfatoriamente os pontos por ela questionados, tendo
concluído: que constitui questão infraconstitucional a discriminação dos
pulsos telefônicos excedentes nas contas telefônicas; que compete à Justiça
Estadual a sua apreciação; e que é possível o julgamento da referida matéria
no âmbito dos juizados em virtude da ausência de complexidade probatória.
Não há, assim, qualquer omissão a ser sanada. 2. Quanto ao pedido de
aplicação da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, observe-se que
aquela egrégia Corte foi incumbida pela Carta Magna da missão de
uniformizar a interpretação da legislação infraconstitucional, embora seja
inadmissível a interposição de recurso especial contra as decisões proferidas
pelas turmas recursais dos juizados especiais. 3. No âmbito federal, a Lei
10.259/2001 criou a Turma de Uniformização da Jurisprudência, que pode
ser acionada quando a decisão da turma recursal contrariar a jurisprudência
do STJ. É possível, ainda, a provocação dessa Corte Superior após o
julgamento da matéria pela citada Turma de Uniformização. 4. Inexistência
de órgão uniformizador no âmbito dos juizados estaduais, circunstância
que inviabiliza a aplicação da jurisprudência do STJ. Risco de manutenção
de decisões divergentes quanto à interpretação da legislação federal,
gerando insegurança jurídica e uma prestação jurisdicional incompleta, em
decorrência da inexistência de outro meio eficaz para resolvê-la. 5.
Embargos declaratórios acolhidos apenas para declarar o cabimento, em
caráter excepcional, da reclamação prevista no art. 105, I, f, da
Constituição Federal, para fazer prevalecer, até a criação da turma de
uniformização dos juizados especiais estaduais, a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça na interpretação da legislação
infraconstitucional.

(STF, RE 571572 ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado
em 26/08/2009, DJe-223 DIVULG 26-11-2009 PUBLIC 27-11-2009 EMENT
VOL-02384-05 PP-00978 RTJ VOL-00216- PP-00540)

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Em novo capítulo da novela, o STJ, irresignado, buscou limitar a possibilidade aberta pelo STF,
decidindo o seguinte:

RECLAMAÇÃO. JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS. REQUISITOS.

A Seção, ao prosseguir o julgamento, deliberou, entre outras questões,


limitar a admissibilidade das reclamações que chegam ao STJ contra
decisões das turmas recursais dos juizados especiais estaduais àquelas que
afrontam julgados em recurso repetitivo (art. 543-C do CPC e Res. n. 8/2008-
STJ) ou enunciados da Súmula deste Superior Tribunal. Ademais, consignou
que a divergência deve referir-se às regras de direito material, não se
admitindo a reclamação que discuta regras de direito processual civil, tendo
em vista que o processo, nos juizados especiais estaduais, orienta-se pelos
critérios da Lei n. 9.099/1995. Outrossim, firmou que não serão conhecidos
eventuais agravos regimentais interpostos de decisões monocráticas que
não conheceram dessas reclamações. Rcl 3.812-ES, 2S, Rel. originário Min.
Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. Nancy Andrighi, julgada em
9/11/2011.

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

28.7.5. Enunciados do FONAJEF sobre Recursos


O Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais já publicou alguns enunciados orientativos
para o processamento dos recursos no âmbito dos JEFs. Eis alguns dos principais:

Enunciado 44: “Não cabe ação rescisória no JEF”.

Enunciado 57: “Nos JEFs, somente o recorrente vencido arcará com honorários advocatícios”.

Enunciado 59: “Não cabe recurso adesivo nos Juizados Especiais Federais”.

Enunciado 60: “A matéria não apreciada na sentença, mas veiculada na inicial, pode ser
conhecida no recurso inominado, mesmo não havendo a oposição de embargos de
declaração”.

Enunciado 61: “O recurso será recebido no duplo efeito, salvo em caso de antecipação de tutela
ou medida cautelar de urgência”.

Enunciado 88: “É admissível MS para Turma Recursal de ato jurisdicional que causa gravame e
não haja recurso”.

Enunciado 89: “Não cabe processo cautelar autônomo, preventivo ou incidental, no âmbito do
JEF”.

28.7.6. Ação Rescisória e Ação Anulatória


O art. 59 da Lei nº 9.099/95 afirma não caber ação rescisória nos Juizados Especiais.

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Segundo o art. 486, do CPC, os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta
for meramente homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos
termos da lei civil.

O dispositivo na verdade quer dizer que, quando não for cabível a rescisória para anulação de
um ato judicial, será cabível a anulatória. Ora, em face da vedação do art. 59, da Lei 9.099/95,
a providência processual a ser adotada num caso de rescindibilidade seria a propositura de
uma ação anulatória endereçada à respectiva Turma Recursal, que seria o órgão competente
para apreciar, por exemplo, uma ação anulatória de uma sentença homologatória de acordo
no próprio juizado especial.

O STJ JÁ ADMITIU MANDADO DE SEGURANÇA (Inf. 219/STJ) como meio adequado


para rescisão de sentença prolatada no Juizado Especial por juízo absolutamente
incompetente. Isso, aliás, ainda que a decisão já tenha transitado em julgado. Nesse sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO


REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO E
OBSCURIDADE NÃO VERIFICADAS. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO
DE TURMA RECURSAL DE JUIZADO ESPECIAL. CONTROLE DE COMPETÊNCIA.
DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO.

[...]

2. A TESE EMBARGADA - CABIMENTO DE MANDADO DE SEGURANÇA


FRENTE AOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DOS ESTADOS PARA CONTROLE DA
COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS, AINDA QUE A DECISÃO
OBJETO DO WRIT JÁ TENHA TRANSITADO EM JULGADO - ENCONTRA-
SE EM ESTRITA CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA
DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

3. Embargos de declaração rejeitados.

(EDcl no AgRg no AgRg no RMS 32632/ES, Rel. Ministro RICARDO VILLAS


BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/03/2012, DJe 12/03/2012)

Há quem defenda o cabimento da querella nullitatis, como Alexandre Câmara. Vide:

Estabelece o art. 59 da Lei nº 9.099/95 que ‘não se admitirá ação rescisória


nas causas sujeitas ao procedimento instituído por esta Lei’. A ação
rescisória é, como se sabe, demanda que tem por objeto a desconstituição
de sentença de mérito transitada em julgado, com eventual rejulgamento da
causa nela decidida. Através dessa demanda autônoma de impugnação
pode-se, pois pleitear a desconstituição de sentenças de mérito transitadas
em julgado.A ação rescisória não é um mecanismo de impugnação de
sentenças injustas, mas se destina a atacar decisões de mérito que possuem
graves vícios em seu procedimento de formação. É o que se dá, por
exemplo, com a sentença que ofende a coisa julgada, ou com a sentença
proferida por juiz corrupto. (...)Ocorre que, como visto, o art. 59 da Lei nº
9.099/95 proíbe, categoricamente, o ajuizamento de ação rescisória com o
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1003

fim de impugnar sentença (ou acórdão) que já tenha alcançado a autoridade


da coisa julgada.Esta impossibilidade jurídica do ajuizamento da ação
rescisória, porém, não traz qualquer vantagem prática para o sistema. Isto
porque os casos de rescindibilidade podem se manifestar também em sede
de Juizados Especiais Cíveis. Nada impede, por exemplo, que uma sentença
proferida em processo que tramita perante Juizado Especial Cível tenha sido
prolatada por um juiz que tenha sido corrompido. (...)Sempre me pareceu
que a ação rescisória deveria ser possível nos sistemas dos Juizados
Especiais Cíveis. A meu ver, a única modificação que deveria ser feita
quando da transposição do instituto do sistema processual comum para o
microssistema dos Juizados Especiais Cíveis era a diminuição do prazo. A
meu juízo, o exercício do direito à rescisão da sentença nos Juizados
Especiais Cíveis deveria estar sujeito a prazo decadencial de, no máximo,
seis meses. Nos casos regidos pelo sistema processual civil comum, como se
sabe, este prazo é de dois anos (...)Há de se buscar, pois, a razão que leva a
Lei nº 9.099/95 a proibir a ação rescisória nos processos que regula. Isto
porque não se pode acreditar que a proibição da ação rescisória tenha sido
uma opção arbitrária do legislador. Como sabido, é da tradição do direito
processual brasileiro atribuir-se aos Tribunais a competência originária para
conhecer do processo da ação rescisória. Cada Tribunal do país é
competente para conhecer da ação rescisória de seus próprios julgados
(...)Acontece que no microssistema processual dos Juizados Especiais Cíveis
a causa não passa por Tribunais (ressalvada a atuação do Supremo Tribunal
Federal, no caso de ter sido admitido algum recurso extraordinário), mas
pelas Turmas Recursais, que são órgãos da primeira instância. Note-se: a
Turmas Recursais, posto que atuem em segundo grau de jurisdição, são
órgãos de primeira instância. Assim sendo, é razoável supor que o
legislador tenha suprimido a ação rescisória do microssistema processual
dos Juizados Especiais Cíveis em razão do fato de que os Tribunais não
atuam no processo por esse microssistema regido.Parece-me, pois que
pelo menos nos casos em que tenha sido conhecido um recurso
extraordinário será cabível o ajuizamento de ação rescisória. (...)Isto, porém,
a meu sentir, não significa dizer que nos casos previstos no art. 485 do
Código de Processo Civil fiquem as decisões proferidas pelos Juizados
Especiais Cíveis e por suas Turmas Recursais imunes a qualquer controle. Tal
controle, porém, não se fará por ação rescisória, simplesmente por causa da
competência para o exame desse tipo de demanda autônoma de
impugnação. (...)Surge, então, uma questão final a ser resolvida: não sendo
cabível a ação rescisória, qual será o meio processual adequado para
impugnar-se as sentenças dos Juizados Especiais Cíveis e os acórdãos das
Turmas Recursais que se enquadrem em qualquer das hipóteses previstas
no art. 485 do Código de Processo Civil. A única solução possível, a meu
juízo, é afirmar o cabimento da querella nullitatis (...)Chama-se querella
nullitatis a demanda através da qual se pleiteia a declaração de ineficácia de
uma sentença transitada em julgado. É preciso, em primeiro lugar, fazer um
esclarecimento de ordem terminológica. Não obstante chamar-se querella
nullitatis, a demanda de que ora se trata visa ao reconhecimento da
ineficácia, e não da invalidade.A coisa julgada, registre-se, é capaz de sanar

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as invalidades processuais, mas não a ineficácia. É perfeitamente possível,


pois, reconhecer-se a ineficácia de uma sentença transitada em julgado,
como se dá, por exemplo, no caso de ter sido a sentença de mérito
alcançada pela autoridade de coisa julgada, proferida em um processo que
tenha deixado de ser citado algum litisconsorte necessário.Ocorre que,
como visto anteriormente, não é cabível o ajuizamento de ação rescisória
contra decisões de mérito proferidas nos processo que tramitam nos
Juizados Especiais Cíveis. Isto não pode, porém, significar que as decisões
proferidas com os gravíssimos vícios enumerados no art. 485 do Código de
Processo Civil fiquem absolutamente protegidas conta qualquer
impugnação. (...) Será adequada, pois, a adoção da querella nullitatis nesses
casos.Em outras palavras, deve-se considerar cabível a querella nullitatis, no
microssistema dos Juizados Especiais Cíveis, em todos os casos em que a
sentença de mérito, transitada em julgado, tenha sido proferida com a
violação de norma constitucional ou em qualquer dos casos previstos no art.
485 do CPC.Dois problemas, porém, surgem quando se constrói este esteja:
o da competência e o da existência (ou não) de prazo decadencial a que se
submeta o direito à declaração de ineficácia da sentença.Em primeiro lugar,
é preciso examinar-se a questão da competência. Há quem sustente ser
competente, para a querella nullitatis, o juízo em que tramitou o processo
em primeiro grau de jurisdição. Assim, porém, não me parece. No sistema
processual comum, regido pelo Código de Processo Civil, não há essa fixação
de competência, devendo a querella nullitatis ser livremente distribuída.
(...)Em primeiro lugar merece registro que a querella nullitatis, por sua
extrema complexidade jurídica, não deve ser considerada causa de
competência dos Juizados Especiais Cíveis, qualquer que seja seu valor. Em
outros termos, não se pode admitir que uma querella nullitatis seja ajuizada
perante um Juizado Especial Cível. A querella nullitatis será de competência
das varas cíveis. E, entre estes juízos, deverá a querella nullitatis ser levada à
livre distribuição.Em segundo lugar, é preciso examinar a questão da
existência (ou não) de prazo decadencial a que se submeta o direito à
declaração da ineficácia da sentença. Costuma-se afirmar que a querella
nullitatis não está sujeita a qualquer prazo. Isso é verdade no que concerne
à querella nullitatis fundada em inconstitucionalidade da sentença
transitada em julgado. (...) Não é assim, porém, nos casos previstos no art.
485 do CPC. A meu juízo, sendo a querella nullitatis um sucedâneo da ação
rescisória, a ser usada simplesmente porque a ação rescisória não é
juridicamente possível em sede de Juizados Especiais Cíveis, mas não
havendo nenhuma modificação no plano do direito material, o prazo
decadencial previsto no art. 495 do Código de Processo Civil [de dois anos]
deve ser respeitado.

28.7.7. Mandado de Segurança como Sucedâneo Recursal no JEF


EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Juizados especiais.
Decisão interlocutória. Mandado de segurança. Não cabimento do
mandamus. Precedentes. 1. O Plenário desta Corte, no julgamento do RE nº
576.847/BA, Relator o Ministro Eros Grau, DJe de 6/8/09, firmou
entendimento no sentido de NÃO SER CABÍVEL MANDADO DE SEGURANÇA

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CONTRA DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS EXARADAS EM PROCESSOS DA


COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS. 2. Agravo regimental não provido.

(RE 650293 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em
17/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-099 DIVULG 21-05-2012 PUBLIC
22-05-2012)

Ementa: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA PARA O


EXAME DE MANDADO DE SEGURANÇA UTILIZADO COMO SUBSTITUTIVO
RECURSAL CONTRA DECISÃO DE JUIZ FEDERAL NO EXERCÍCIO DE
JURISDIÇÃO DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL. TURMA RECURSAL. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. I - As Turmas Recursais são órgãos
recursais ordinários de última instância relativamente às decisões dos
Juizados Especiais, de forma que os juízes dos Juizados Especiais estão a elas
vinculados no que concerne ao reexame de seus julgados. II – COMPETENTE
A TURMA RECURSAL PARA PROCESSAR E JULGAR RECURSOS CONTRA
DECISÕES DE PRIMEIRO GRAU, TAMBÉM O É PARA PROCESSAR E JULGAR
O MANDADO DE SEGURANÇA SUBSTITUTIVO DE RECURSO. III – Primazia da
simplificação do processo judicial e do princípio da razoável duração do
processo. IV - Recurso extraordinário desprovido.

(RE 586789, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno,


julgado em 16/11/2011, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-039 DIVULG 24-02-2012 PUBLIC 27-02-2012)

COMPETÊNCIA – MANDADO DE SEGURANÇA – ATO DE TURMA RECURSAL. O


JULGAMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO DE TURMA
RECURSAL CABE À PRÓPRIA TURMA, NÃO HAVENDO CAMPO PARA
ATUAÇÃO QUER DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA, QUER DO SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA. Precedente: Questão de Ordem no Mandado de Segurança nº
24.691/MG, Plenário, 4 de dezembro de 2003, redator do acórdão Ministro
Sepúlveda Pertence. CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE –
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Todo e qualquer órgão investido do ofício
judicante tem competência para proceder ao controle difuso de
constitucionalidade. Por isso, cumpre ao Superior Tribunal de Justiça,
ultrapassada a barreira de conhecimento do especial, apreciar a causa e,
surgindo articulação de inconstitucionalidade de ato normativo envolvido na
espécie, exercer, provocado ou não, o controle difuso de
constitucionalidade. Considerações. AGRAVO REGIMENTAL – JULGAMENTO
SUMÁRIO. A circunstância de o agravo regimental ser examinado de forma
sumária é conducente a assentar-se o provimento quando não alcançada a
unanimidade no Colegiado – salutar doutrina trazida do Superior Tribunal de
Justiça pelo saudoso Ministro Menezes Direito e adotada pelo relator.

(AI 666523 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Relator(a) p/


Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 26/10/2010,
DJe-234 DIVULG 02-12-2010 PUBLIC 03-12-2010 EMENT VOL-02444-02 PP-
00415)

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PROCESSO CIVIL. COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS. CONTROLE.


MANDADO DE SEGURANÇA PERANTE O TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CABIMENTO.
IMPETRAÇÃO. PRAZO. EXCEÇÃO À REGRA GERAL.

1. É cabível a impetração de mandado de segurança perante o Tribunal de


Justiça para realizar o controle da competência dos Juizados Especiais,
ressalvada a autonomia dos Juizados quanto ao mérito das demandas.
Precedentes.

2. O mandado de segurança contra decisão judicial deve, via de regra, ser


impetrado antes do trânsito em julgado desta sob pena de caracterizar a
incabível equiparação do mandamus à ação rescisória.

3. Como exceção à regra geral, porém, admite-se a impetração de mandado


de segurança frente aos Tribunais de Justiça dos Estados para o exercício do
controle da competência dos Juizados Especiais, ainda que a decisão a ser
anulada já tenha transitado em julgado.

4. Recurso ordinário em mandado de segurança provido.

(RMS 32.850/BA, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado


em 01/12/2011, DJe 09/12/2011)

28.8. Cumprimento de Sentença


Acerca da execução das sentenças no âmbito dos Juizados, cabe destacar a natureza
mandamental dessas decisões, de modo que não há previsão de um processo autônomo de
execução. Ressalte-se que a Lei prevê que o cumprimento das decisões só acontece depois do
trânsito em julgado. Nesse sentido, os arts. 16 e 17 da Lei:

Art. 16. O cumprimento do acordo ou da sentença, com trânsito em julgado,


que imponham obrigação de fazer, não fazer ou entrega de coisa certa, será
efetuado mediante ofício do Juiz à autoridade citada para a causa, com
cópia da sentença ou do acordo.

Art. 17. Tratando-se de obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em


julgado da decisão, o pagamento será efetuado no prazo de sessenta dias,
contados da entrega da requisição, por ordem do Juiz, à autoridade citada
para a causa, na agência mais próxima da Caixa Econômica Federal ou do
Banco do Brasil, independentemente de precatório.

§ 1o Para os efeitos do § 3o do art. 100 da Constituição da República, as


obrigações ali definidas como de pequeno valor, a serem pagas
independentemente de precatório, terão como limite o mesmo valor
estabelecido nesta Lei para a competência do Juizado Especial Federal Cível
(art. 3o, caput).

§ 2o Desatendida a requisição judicial, o Juiz determinará o sequestro do


numerário suficiente ao cumprimento da decisão.

§ 3o São vedados o fracionamento, repartição ou quebra do valor da


execução, de modo que o pagamento se faça, em parte, na forma
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estabelecida no § 1o deste artigo, e, em parte, mediante expedição do


precatório, e a expedição de precatório complementar ou suplementar do
valor pago221.

§ 4o Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido no § 1o, o pagamento


far-se-á, sempre, por meio do precatório, sendo facultado à parte
exequente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa optar
pelo pagamento do saldo sem o precatório, da forma lá prevista.

Destaque-se, entretanto, que na prática os Juízes têm se utilizado da concessão de


antecipação de tutela quando da prolação da sentença, o que obriga a Autarquia
Previdenciária ao imediato cumprimento da obrigação de fazer determinada na mesma
(implantação ou restabelecimento de benefício, por exemplo). Mas o pagamento de
quaisquer valores a título de parcelas em atraso ocorre após o trânsito em julgado.

Após o trânsito em julgado, o juiz deverá expedir ao Tribunal a requisição dos créditos de
pequeno valor ou o precatório, devendo, no prazo de 60 dias, contados do envio da RPV, o
valor estar disponível no banco.

De acordo com o FONAJEF;

Enunciado 35 “A execução provisória para pagar quantia certa é inviável em sede de juizado,
considerando outros meios jurídicos para assegurar o direito da parte”.

Enunciado 69: “O levantamento de valores decorrentes de RPV’s e Precatórios no âmbito dos


JEF’s, é condicionado à apresentação pelo mandatário de procuração específica com firma
reconhecida, da qual conste, ao menos, o número de registro do Precatório ou RPV ou o
número da conta do depósito, com o respectivo valor”.

28.8.1. Execução de Valor Condenatório Superior à Competência dos Juizados: Competência


do JEF
Em relação à questão da competência, quando superado pela execução ou cumprimento de
sentença o limite estabelecido no art. 3º, caput, inc. I, da Lei 9.099/1995, há precedentes, da
3ª e da 4ª Turma, nos quais se estabeleceu que "compete ao próprio juizado especial cível a
execução de suas sentenças independentemente do valor acrescido à condenação" (4ª Turma,
RMS 27.935/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, unânime, DJe de 16.6.2010). No
mesmo sentido, 4ª Turma, REsp 691.785/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, unânime, DJe de
20.10.2010, e 3ª Turma, AgRg no RMS 32.032/BA, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA
(Desembargador convocado do TJ/RS), unânime, DJe de 23.9.2010.

221
Art. 100 [...]
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na
data de expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei, serão
pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei
para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que
o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009).
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Com efeito, dispõe o art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei 9.099/95, que compete ao Juizado Especial
promover a "execução dos seus julgados", não fazendo o referido dispositivo legal restrição ao
valor máximo do título, o que não seria mesmo necessário, uma vez que o art. 39 da mesma lei
estabelece ser "ineficaz a sentença condenatória na parte em que exceder a alçada
estabelecida nesta lei". Valor da alçada é de quarenta salários mínimos calculados na data da
propositura da ação, e de sessenta salários mínimos no JEF.

SE, QUANDO DA EXECUÇÃO, O TÍTULO OSTENTAR VALOR SUPERIOR, EM DECORRÊNCIA DE


ENCARGOS INERENTES À CONDENAÇÃO, TAIS COMO JUROS, CORREÇÃO MONETÁRIA E
ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA, TAL CIRCUNSTÂNCIA NÃO ALTERARÁ A COMPETÊNCIA PARA A
EXECUÇÃO E NEM IMPLICARÁ A RENÚNCIA AOS ACESSÓRIOS E CONSECTÁRIOS DA
OBRIGAÇÃO RECONHECIDA PELO TÍTULO. A renúncia ao crédito excedente à alçada, imposta
pelo art. 3º, § 3º, é exercida quando da opção pelo ajuizamento da ação no Juizado e,
portanto, o valor deve ser aferido na data da propositura da ação, não perdendo o autor
direito aos encargos decorrentes da demora na solução da causa (correção e juros posteriores
ao ajuizamento da ação e ônus da sucumbência).

Nesse exato sentido:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL FEDERAL. EXECUÇÃO DE


SENTENÇA. VALOR DA CONDENAÇÃO SUPERIOR A 60 SALÁRIOSMÍNIMOS.

Compete aos Juizados Especiais Federais Cíveis executar seus julgados,


ainda que o valor da condenação, transitada em julgado, ultrapasse o teto
de 60 salários-mínimos, hipótese em que deverá ser expedido o
competente precatório, se o exequente optar por não renunciar ao
montante que exceder a esse valor (Lei 10.259/2007, art. 17, §4º).
Unânime. (TRF1, 1S, CC 3714831.2010.4.01.0000/MG, rel. Des. Federal
Néviton Guedes, em 16/10/2012.)

28.8.2. Execução de Astreintes nos Juizados: Comptência em Função do Valor


Excerto do voto da Min. Relatora Isabel Galoti no RMS 33.155/MA, 4ª Turma, por
unanimidade.

Tratando-se de obrigação de fazer, cujo cumprimento é imposto sob pena de multa diária, a
incidir após a intimação pessoal do devedor para o seu adimplemento, O EXCESSO EM
RELAÇÃO À ALÇADA SOMENTE É VERIFICÁVEL NA FASE DE EXECUÇÃO, DONDE A
IMPOSSIBILIDADE DE CONTROLE DA COMPETÊNCIA DO JUIZADO NA FASE DE
CONHECIMENTO. Afasta-se, portanto, a preclusão alegada como obstáculo, pelo acórdão
recorrido, para a concessão da segurança.

No caso em exame, o valor da causa e da condenação por danos materiais e morais imposta
pela sentença situaram-se em patamar inferior à alçada, de modo que a competência do
Juizado revelava-se indene de dúvidas, assim como o é, para prosseguir na execução de seu
próprio julgado, dentro do limite da alçada legal, estabelecido pelo art. 3º, inciso 1º e § 3º e
art. 39 da Lei 9.099/95.

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O valor da alçada (quarenta salários mínimos, 60 no JEF) é fator eleito pela lei para definir o
que se entende por causa de "menor complexidade". Presume a lei que causas das quais possa
resultar a imposição, ao vencido, de obrigações pecuniárias de maior valor mereçam a
tramitação pelo rito processual comum, cercado de maiores garantias processuais, entre as
quais a cadeia de recursos no âmbito da Justiça de segundo grau, o acesso ao Superior Tribunal
de Justiça por meio de recurso especial e a ação rescisória.

Fixado o valor da pretensão do autor quando do ajuizamento da inicial, renunciando ele, por
imposição legal (art. 3º, § 3º), ao valor que exceder a alçada dos Juizados, não se põe em
dúvida a competência do Juizado para a execução da sentença, mesmo que ultrapassado
este valor por contingências inerentes ao decurso do tempo, como correção monetária e
juros de mora, os quais incidem sobre aquela base de cálculo situada no limite da alçada,
além dos honorários de advogado, encargo este que também encontra parâmetros definidos
em lei (CPC, art. 20).

JÁ A MULTA COMINATÓRIA NÃO É ESTIMADA SEGUNDO CRITÉRIO OBJETIVO


CORRESPONDENTE AO CONTEÚDO MATERIAL DA OBRIGAÇÃO QUE BUSCA COMPELIR O
DEVEDOR A CUMPRIR. Penso que a interpretação sistemática dos dispositivos da Lei 9.099/95
conduz à limitação da competência do Juizado Especial para cominar - e executar - multas
coercitivas em valores consentâneos com a alçada respectiva (art. 52, inciso V). SE A
OBRIGAÇÃO É TIDA PELO AUTOR, NO MOMENTO DA OPÇÃO PELA VIA DO JUIZADO
ESPECIAL, COMO DE "BAIXA COMPLEXIDADE" A DEMORA EM SEU CUMPRIMENTO
NÃO DEVE RESULTAR EM VALOR DEVIDO A TÍTULO DE MULTA SUPERIOR AO VALOR
DA ALÇADA. Anoto que, na linha de reiterada jurisprudência do STJ, o valor da multa diária
cominatória não faz coisa julgada material, podendo ser revisto, a qualquer momento, se se
revelar insuficiente ou excessivo, conforme dispõe o art. 461, § 6º, do CPC (cf., entre muitos
outros, o acórdão da 4ª Turma já citado, no REsp 691.785/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO,
unânime, DJe de 20.10.2010). O valor executado a título de multa excedente à alçada deve
ser suprimido, sem que tal constitua ofensa a coisa julgada.

Considero, portanto, que o valor da alçada previsto no art. 3º, inciso I, da Lei 9.099/95, o qual
tem em mira o valor da obrigação principal na data do ajuizamento da ação (quarenta
salários mínimos), deve ser aplicado, por analogia, como o valor máximo a ser executado
contra o devedor, a título de multa cominatória.

Nessa linha de entendimento, o devedor poderá ser, em execução perante o Juizado,


compelido a pagar, no máximo, o valor da obrigação principal e seus consectários, acrescido
de multa cominatória, esta no valor máximo de quarenta salários mínimos. Tendo por norte a
circunstância de se tratar de causa de menor complexidade, assim entendido baixo valor,
caberá ao Juiz do Juizado, verificando o atraso desmotivado no cumprimento da obrigação
OS ATOS EXECUTÓRIOS DEVEM
imposta pela sentença, arbitrar a multa diária.
VISAR AO PAGAMENTO DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL (A QUAL É LIMITADA
PELOS ARTS. 3º E 39 EM QUARENTA SALÁRIOS MÍNIMOS NA DATA DA
PROPOSITURA), SEUS ACESSÓRIOS POSTERIORES AO AJUIZAMENTO
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(JUROS, CORREÇÃO E EVENTUALMENTE ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA) E


MULTA COMINATÓRIA (ESTA ATÉ O LIMITE DE OUTROS QUARENTA
SALÁRIOS, NA ÉPOCA DA EXECUÇÃO, SENDO DECOTADO O EXCESSO,
MESMO APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO). Se a multa até este limite não for
suficiente para constranger o devedor a cumprir a sentença, restará ao credor, que livremente
optou pelo via do Juizado, valer-se de outros meios, como, por exemplo, notitia criminis por
desobediência à ordem judicial ou ajuizamento de nova ação perante a Justiça Comum, caso o
inadimplemento retardado tenha dado origem a outros danos posteriores ao ajuizamento da
ação no Juizado. Será instaurada, então, nova fase de conhecimento para apurar fatos
posteriores (embora ligados ao alegado descumprimento da decisão do juizado) que possam
ensejar outra indenização.

28.9. Custas e Honorários Advocatícios


No JEF, a parte não pagará custas, taxas ou despesas em primeiro grau de jurisdição, conforme
art. 54, Lei nº 9.099/95.

Entretanto, em grau recursal, o preparo compreenderá todas as despesas processuais,


inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau, ressalvada a hipótese de assistência
judiciária gratuita.

Somente há previsão de custas para o recuso inominado para a Turma Recursal e de Recurso
Extraordinário.

O art. 55 da Lei nº 9.099/95 prevê que, em primeiro grau, o vencido não pagará custas e
honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância de má fé. Em segundo grau, o
recorrente vencido pagará as custas e honorários de advogado, que serão fixados entre 10 por
cento e 20 por cento do valor da condenação, ou, não havendo condenação, do valor corrigido
da causa.

28.10. Observações de Provas


1. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 46. É lícito a empresa pública federal promover a
execução de honorários advocatícios em vara de juizado especial222.

2. TRF1 – XIII – CESPE – QUESTÃO 41. Não há renúncia tácita nos juizados especiais
federais para fins de fixação de competência quanto ao valor da causa.

3. TRF1 – XIII – CESPE – QUESTÃO 41. O recurso inominado não pode ser interposto pela
via adesiva nos juizados especiais federais, pois não se coaduna com a sistemática dos
juizados em que as demandas precisam ser rapidamente solucionadas.

222
Súmula 90, FONAJEF.
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO FEDERAL DE JUIZADO ESPECIAL E JUÍZO FEDERAL DE JUIZADO
COMUM. EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS POR EMPRESA PÚBLICA FEDERAL. APLICAÇÃO DO ART. 3º DA
LEI 10.259/2001. PRECEDENTE DA 1ª SEÇÃO (CC 92.057/ES). COMPETÊNCIA JURISDICIONAL DO JUIZADO
ESPECIAL.(CC 103.217/TO, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/05/2009, DJe
25/05/2009).
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4. TRF1 – XIII – CESPE – QUESTÃO 41. A matéria não apreciada na sentença, mas
veiculada na inicial, pode ser conhecida no recurso inominado, mesmo não havendo
embargos de declaração.

5. TRF1 – XIII – CESPE – QUESTÃO 17. A Lei nº 10.259/01 estabelece que, nas ações
previdenciárias e nas relativas à assistência social, havendo designação de exame, as
partes serão intimadas a apresentar quesitos e indicar assistentes no prazo de dez
dias.

6. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 43. Nesses juizados, a parte não precisa constituir
advogado, ainda que o valor exceda vinte salários mínimos.

7. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 49. As entidades públicas rés devem juntar aos autos,
nos processos dos juizados, a documentação de que disponham para esclarecimento
das causas, até a instalação da audiência de conciliação, independentemente de
pedido da parte autora.

8. TRF3 –XVI – CESPE – QUESTÃO 52. Descumprida a ordem emanada da sentença nos
juizados federais, cabe a imposição de multa à autoridade comunicada por ato
atentatório ao exercício da jurisdição.

9. TRF4 – XIV – QUESTÃO 18. Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias,


devem incidir somente sobre as parcelas vencidas até a data da sentença de
procedência ou do acórdão que reforme a sentença de improcedência.

10. TRF4 – XIII – QUESTÃO 70. Não cabe pedido de uniformização contra decisão recursal
que julga agravo interposto em face de decisão concessória de antecipação de tutela.

11. TRF4 – XIII – QUESTÃO 70. As pretensões cautelares no rito dos juizados especiais
federais serão deduzidas incidentalmente, não tendo autonomia procedimental.

12. TRF4 – XIII – QUESTÃO 70. A Lei nº 10.259/01, apesar de prever a aplicação subsidiária
da Lei nº 9.099/95, não autoriza a arbitragem no âmbito dos juizados especiais
federais.

13. TRF4 – XII – QUESTÃO 87. Em ações de natureza previdenciária, os honorários


advocatícios incidem sobre o valor da condenação, nesta compreendidas as parcelas
vencidas até a prolação da sentença.

14. TRF4 – XII – QUESTÃO 72. Não é admitida a execução provisória das sentenças
proferidas nos JEFs.

15. TRF4 – X – QUESTÃO 79. No âmbito dos JEFs, pacificou-se a jurisprudência no sentido
de que a União é parte ilegítima para figurar no polo passivo das ações em que se
pleiteia o benefício assistencial previsto no art. 20 da Lei nº 8.742/93.

16. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 39. As leis que disciplinam os juizados especiais
vedam o acesso das partes à ação rescisória, mas essa vedação não atinge a
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possibilidade de ajuizamento de ação declaratória da inexistência de ato processual.


Por causa disso, diante de vício grave e de tal natureza, a parte prejudicada terá acesso
à querella nullitatis223.

17. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 38. Ajuizada ação de consignação em pagamento em
juizado especial federal, este continuará competente se, na consignatória, além das
prestações vencidas, estiverem sendo cobradas as prestações vincendas que, no curso
da lide, possam vir a superar o limite de 60 salários mínimos.

18. EMAGIS – 2012/15 – QUESTÃO 10. Não se incluem na competência do Juizado Especial
Federal Cível as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e
demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as
demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos.

19. EMAGIS – 2012/15 – QUESTÃO 10. Compete à turma recursal processar e julgar o
mandado de segurança contra ato de juizado especial.

20. EMAGIS – 2012/15 – QUESTÃO 10. Admite-se a impetração de mandado de segurança


frente aos Tribunais de Justiça dos Estados para o exercício do controle da
competência dos respectivos Juizados Especiais, ainda que a decisão a ser anulada já
tenha transitado em julgado.

21. GEMAF – 2010/10 – QUESTÃO 03. A Lei n.º 10.259/2001 estabelece que, nas ações
previdenciárias e nas relativas à assistência social, havendo designação de exame, as
partes serão intimadas a apresentar quesitos e indicar assistentes no prazo de dez
dias.

22. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 10. O Superior Tribunal de Justiça entende que as
demandas que envolvem a concessão de medicamentos, ainda que requereiram uma
análise do princípio ativo adequado ao autor do feito, não traduzem complexidade que
as exclua a priori da competência dos Juizados224.

223
A utilização da querela nullitatis ganha ainda mais vulto quando se analise a ação jurisdicional nos
Juizados Especiais, tendo em vista que, em razão da omissão da Lei n° 10.259/01 a respeito do
cabimento da ação rescisória, entende-se prevalecer a respeito do assunto o disposto na Lei n° 9.099/95
que, em seu artigo 59, veda expressamente ser cabível a rescisória nos Juizados Especiais Cíveis. Nesse
sentido, ficou estabelecido no verbete n° 44 do FONAJEF que: "Não cabe ação rescisória no JEF. O artigo
59 da Lei no 9.099/95 está em consonância com os princípios do sistema processual dos Juizados
Especiais, aplicando-se também aos Juizados Especiais Federais." Por essa razão, pode-se dizer que a
querela nullitatis, por ser espécie de ação autônoma de impugnação, encontra especial utilidade no
Juizado Especial Federal por ser a única forma autônoma de afastar a sentença tida por inconstitucional
que tenha produzido coisa julgada, ante o não cabimento da ação rescisória nesse rito sumaríssimo dos
Juizados Especiais.
224
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. COMPETÊNCIA DO STJ. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. VALOR
DA CAUSA. REGRA GERAL. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO.
INEXISTÊNCIA. [...] III - O ARESTO EMBARGADO JULGOU O CONFLITO EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA
DESTE SODALÍCIO, NO SENTIDO DA COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS PARA PROCESSAR E JULGAR A AÇÃO
EM QUE O PARTICULAR PRETENDE O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS, COM VALOR DA CAUSA INFERIOR A
SESSENTA SALÁRIOS MÍNIMOS, NÃO SENDO O FEITO DE ALTA COMPLEXIDADE. IV - Inocorrente a hipótese de
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23. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 10. O litisconsórcio passivo entre a União e um Estado
da Federação NÃO impede que a demanda seja processada nos Juizados Especiais
Federais225.

24. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 10. É possível ao conciliador, com a finalidade de obter
o acordo em processo de Juizado Especial, realizar instrução oral do feito226.

25. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 10. O pedido de uniformização fundado em divergência


de Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais da mesma Região será dirimido
pela Turma Regional de Uniformização.

26. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 10. Aquele que, em processo em trâmite no Juizado
Estadual, desejar auxiliar uma dada parte por deter interesse jurídico em que a
sentença seja a ela favorável, não poderá ingressar como assistente.227

27. EMAGIS – 2011/48 – QUESTÃO 01. É da competência da Turma Recursal processar e


julgar mandado de segurança contra ato de juiz do juizado especial federal do qual não
caiba recurso228.

omissão, não há como prosperar o inconformismo, cujo real intento é a obtenção de efeitos infringentes. V -
Embargos de declaração rejeitados. (STJ, EDcl no AgRg no CC 92593/SC, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/05/2009, DJe 08/06/2009)
225
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO FEDERAL DE JUIZADO ESPECIAL E JUÍZO FEDERAL DE JUIZADO COMUM.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. CAUSA DE VALOR INFERIOR A SESSENTA SALÁRIOS MÍNIMOS. UNIÃO, ESTADO
MEMBRO E MUNICÍPIO NO PÓLO PASSIVO. ART. 6º, II, DA LEI 10.259/2001. INTERPRETAÇÃO AMPLA.
COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS.
[...] 3. A PRESENÇA, COMO LITISCONSORTE PASSIVO DA UNIÃO, DE ENTIDADE NÃO SUJEITA A JUIZADO ESPECIAL
FEDERAL (NO CASO, O ESTADO DE SANTA CATARINA E O MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ), NÃO ALTERA A COMPETÊNCIA
DO JUIZADO. APLICA-SE À SITUAÇÃO O PRINCÍPIO FEDERATIVO (QUE DÁ SUPREMACIA À POSIÇÃO DA UNIÃO EM
FACE DE OUTRAS ENTIDADES) E O DA ESPECIALIDADE (QUE CONFERE PREFERÊNCIA AO JUÍZO ESPECIAL SOBRE O
COMUM). Precedentes. 4. Conflito conhecido, declarando-se a competência do Juizado Especial, o suscitado.
(CC 97.273/SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/10/2008, DJe 20/10/2008
LEXSTJ vol. 232, p. 33)
226
De fato, a Lei nº 12.153/09 dispõe sobre os chamados Juizados Especiais da Fazenda Pública, norma que em seu
art. 17, § 1o, estabeleceu que “Poderá o conciliador, para fins de encaminhamento da composição amigável, ouvir
as partes e testemunhas sobre os contornos fáticos da controvérsia”. Ora, ouvir partes e testemunhas nada mais é
que do que promover a instrução oral do processo. E mais: é bem possível afirmar a presença de um verdadeiro
microssistema dos Juizados, composto por três leis: L. 9.099/95 (Juizados Estaduais); L. 10.259/2001 (Juizados
Federais) e L. 12.153/2009 (Juizados Especiais da Fazenda Pública). Estes últimos devem ser criados pelos Estados
da Federação respectivos, ou pela União, no caso do Distrito Federal. E o intuito de sua previsão foi a de
expressamente estabelecer a possibilidade de que os entes públicos estaduais litigassem em Juizados de natureza
estadual, algo antes vedado na L. 9.099/95.
227
Por primar pela simplicidade procedimental e pela celeridade processual o Juizado não admite intervenção de
terceiros e tampouco a assistência. Indica-o expressamente o art. 10 da Lei 9.099/95.
228
Compete à turma recursal o exame de mandado de segurança, quando utilizado como substitutivo recursal,
contra ato de juiz federal dos juizados especiais federais. Essa a conclusão do Plenário ao desprover recurso
extraordinário em que pleiteado o estabelecimento da competência de Tribunal Regional Federal para processar e
julgar o writ, visto que a referida Corte entendera competir à turma recursal apreciar os autos. [...]Aduziu-se que,
nesse contexto, entre as competências definidas pela Constituição para o reexame das decisões, estariam as das
turmas recursais dos juizados especiais (CF, art. 98, I) e a dos Tribunais Regionais Federais (CF, art. 108, II).
Destacou-se que a Corte já teria afirmado que o texto constitucional não arrolara as turmas recursais entre os
órgãos do Poder Judiciário, os quais estariam discriminados, numerus clausus, no art. 92 da CF. Depreender-se-ia,
assim, que a Constituição não conferira às turmas recursais a natureza de órgãos autárquicos do Judiciário,
tampouco a qualidade de tribunais, como também não lhes outorgara qualquer autonomia com relação aos
Tribunais Regionais Federais. Nesse aspecto, os juízes de 1º grau e as turmas recursais que eles integram seriam
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28. EMAGIS – 2011/23 – QUESTÃO 10. Ronaldo ingressou com ação de repetição de
indébito relativo a valores recolhidos a título de assinatura básica mensal,
especificamente no que tange ao serviço de telefonia fixa contratado. Julgado
procedente o pedido perante o Juizado Especial, a concessionária ré "Olá S/A" interpôs
recurso à Turma Recursal do Estado, tendo-lhe sido negado seguimento em decisão
tomada pelo juiz relator a quem foram distribuídos os autos, ao argumento de que a
sentença estava em sintonia com a jurisprudência daquele órgão colegiado. Nesse
caso, não é cabível reclamação em face de decisão monocrática de juiz da Turma
Recursal229; não cabe recurso especial; O entendimento adotado pela referida Turma
Recursal, quanto à questão de fundo, contraria jurisprudência pacífica do Superior
Tribunal de Justiça, sem se notar qualquer oscilação entre as Turmas daquela Corte
Superior230.

29. Súmula nº 17, TNU. “Não há renúncia tácita no Juizado Especial Federal, para fins de
competência”.

30. Súmula nº 7, TNU. “Descabe incidente de uniformização versando sobre honorários


advocatícios por se tratar questão de direito processual”.

29. Procedimentos Especiais


Procedimento especial é aquele que se acha submetido a trâmites específicos e que se revela
parcial ou totalmente distintos dos procedimentos comuns. Procedimentos especiais são
regramentos próprios trazidos pelo CPC acerca de relações jurídicas específicas. É o
disciplinamento de sua particular forma de ser em juízo, com regras distintas das do
procedimento ordinário, em geral mais simplificadas e céleres, com requisitos próprios,
normalmente relacionados ao direito material de base da relação.

Humberto Theodoro Jr. Observa que o procedimento especial surge toda vez que se torna
necessário criar alguns atos processuais destinados a acomodar o rito processual à pretensão
da parte, em virtude da especial natureza do direito material que serve de instrumento. O
procedimento especial revela a profunda relação que existe entre o processo e o direito
material. A criação de procedimentos especiais ocorre por meio das seguintes técnicas:
a) Simplificação e agilização de trâmites processuais, por meio da diminuição de prazos e
eliminação de atos desnecessários;
b) Delimitação do tema, na inicial ou na contestação;

instituídos pelos respectivos Tribunais Regionais Federais, estando subordinados a estes administrativa, mas não
jurisdicionalmente. As turmas recursais seriam, portanto, órgãos recursais ordinários de última instância
relativamente às decisões dos juizados especiais, a elas vinculados no que concerne ao reexame de seus julgados.
STF, RE 586789/PR, Plenário, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 16.11.2011.
229
O STJ editou a Resolução 12/2009 para disciplinar o cabimento de reclamação contra acórdão de
Turma Recursal que contrarie a jurisprudência firmada pelo STJ, a fim de que, assim, tenha-se zelo maior
pela uniforme interpretação da lei federal em todo o território nacional. O problema, contudo, é que tal
reclamação é cabível contra acórdão de Turma Recursal, ou seja, contra decisão colegiada, não contra
simples decisão monocrática de um dos juízes integrantes daquele órgão jurisdicional.
230
Súmula 356, STJ: “É legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de telefonia fixa”.
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c) Explicitação de requisitos materiais e processuais para que o procedimento especial


seja eficazmente utilizado;
d) Anulação da dicotomia cognição-execução. (deixou de ser técnica de especialização de
procedimentos após as modificações do CPC, em 2002 e 2005, que tornaram a
execução uma fase complementar do processo de conhecimento).
Calmon de Passos observou que se deve atentar para o fato de que a especialidade do
procedimento deve ser a exceção e o ordinário a regra. Atribui-se a difusão dos procedimentos
especiais, no último decênio, à necessidade de se assegurar a tutela aos novos direitos que
surgiram na passagem do Estado Liberal para o Welfare State. O direito e o processo devem
estar aderentes à realidade, de sorte que os direitos e pretensões encontrem uma tutela
rápida, justa e adequada.
No Brasil, conforme Dr. Wildo (Desembargador TRF5 e membro da banca VIIJuiz5), os
procedimentos especiais são:
a) Procedimento de rito diferenciado, considerado por ele subsistema de processo: JEC’s.
b) Procedimento sumário.
c) Procedimentos especiais de jurisdição voluntária e contenciosa que englobam:
d) Procedimento de jurisdição constitucional,
e) Procedimentos de jurisdição constitucional das liberdades: MS, MI, HD.
f) Procedimentos de jurisdição voluntária e contenciosa disciplinados no CPC ou em leis
extravagantes.
Não há qualquer liberdade de escolha do procedimento pela parte. Havendo procedimento
especial, não caberá o comum, ordinário ou sumário. Segundo Freitas Câmara, a única exceção
seria o procedimento monitório.
TENDO, CONTUDO, O DEMANDANTE OPTADO POR PROCEDIMENTO INADEQUADO, CABE AO
JUIZ DETERMINAR A CONVERSÃO, APROVEITANDO-SE OS ATOS JÁ PRATICADOS QUE SE
REVELEM COMPATÍVEIS COM O PROCEDIMENTO CORRETO. Apenas no caso de ser impossível
o aproveitamento de qualquer ato, e não tendo o demandante adaptado a sua petição inicial
aos requisitos do procedimento adequado (caso haja peculiaridades não presentes no
procedimento equivocadamente escolhido), é que deverá ser indeferida a petição inicial.
Diverge a doutrina sobre a natureza dos procedimentos especiais: há corrente sustentando
não se tratarem de processo de conhecimento, porque, pelo menos em alguns deles, há
atividade cognitiva e executiva (posição de Theodoro Jr.); e há quem entenda se tratarem de
processo de conhecimento, eis que neles predomina a atividade cognitiva (Freitas Câmara,
Barbosa Moreira).
Por expressa disposição do art. 272, parágrafo único, CPC, aos procedimentos especiais
aplicam-se subsidiariamente as regras do procedimento ordinário.
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA (RETIRADO DO MATERIAL DO TJDFT)

Segundo entendimento majoritário da doutrina é a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE INTERESSES


PRIVADOS. Essa idéia funda-se no fato de que certos atos da vida privada das pessoas

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merecem fiscalização pelos órgãos públicos, pois têm repercussão na coletividade. Essa
fiscalização foi confiada ao Judiciário porque o legislador reputou-os mais bem preparados
para tanto. Porém, apenas o fato dessa administração ter sido afeta aos magistrados não lhe
atribui caráter jurisdicional.

Na jurisdição voluntária, a função do juiz não é decidir um litígio, mas fiscalizar e integrar o
negócio jurídico privado dos envolvidos. Não há propriamente lide, embora possa existir entre
os interessados certa controvérsia. Por isso, também não é apropriado se falar em partes,
expressão que deve ficar reservada aos procedimentos de jurisdição contenciosa, deve-se usar
o termo interessados.

Aplicação mitigada dos princípios processuais

As peculiaridades da jurisdição voluntária impedem que a ela se apliquem indistintamente


muitos dos princípios gerais do processo civil. Assim, o princípio da demanda é mitigado
porque o juiz pode instaurar de ofício muitos desses procedimentos, como o das alienações
judiciais, abertura e cumprimento de testamento e os de arrecadação de herança jacente.

Também não se aplica o princípio dispositivo, mas o inquisitório em que o juiz tem plenos
poderes de investigação, determinando as provas que entender necessárias, ainda que contra
a vontade dos interessados.

Além disso, não vigora o princípio da legalidade estrita, pois nos termos do art. 1.109 CPC. O
juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar critério de
legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou
oportuna.

Na época em este dispositivo foi inserido no CPC (1973) causou controvérsias, pois se tratava
um juízo de equidade na jurisdição voluntária, contrapondo-se à legalidade estrita. Entretanto,
atualmente, este dispositivo nada tem de novidade, pois o juiz não decide com base na
legalidade estrita, mas com base no direito.

Defesa

Na jurisdição voluntária não há propriamente uma contestação (que pressupõe existência de


partes em conflito). Apesar disso, os interessados são citados e podem manifestar-se
apresentando resposta. A sua falta, porém, não implica revelia com as conseqüências dela
decorrentes.

Não é viável reconvenção e nem necessária a nomeação de curador especial, caso o réu tenha
sido citado por edital ou com hora certa e não tenha respondido.

Coisa julgada

As sentenças proferidas nessa espécie de procedimento podem ser modificadas em razão de


circunstâncias supervenientes. Não há coisa julgada material, posto que devam ser
respeitados os efeitos já produzidos. As despesas judiciais serão adiantadas pelo requerente,
mas rateadas entre os interessados.
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Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se
ocorrerem circunstâncias supervenientes.

Obrigatoriedade

Discute-se muito se a jurisdição voluntária é necessária, ou seja, obrigatória. A verdade é que


em quase todos os casos de jurisdição voluntária é necessário que se recorra a ela (Ex.:
interdição). Há raros casos em que a jurisdição voluntária é opcional (ex.: separação
consensual sem filhos incapazes). O acordo extrajudicial pode ser homologado pelo juiz, neste
caso, passa a valer como sentença. Se não for homologado, não faz coisa julgada. É uma opção
das partes pedir a homologação ou não o acordo extrajudicial.

“A jurisdição voluntária nem é jurisdição e nem é voluntária”. Não é jurisdição segundo o


entendimento majoritário da doutrina porque não há lide, e nem voluntária, pois na maioria
dos casos ela é necessária.

Participação do Ministério Público

Art. 1.105. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como o
Ministério Público.

A leitura apressada do art. 1.105 do CPC pode levar à conclusão de que o MP deverá
obrigatoriamente intervir em todos os processos de jurisdição voluntária. Entretanto, o
correto é que o MP apenas intervirá nos casos previstos no art. 82 do CPC.

Art. 82. Compete ao Ministério Público intervir:

I - nas causas em que há interesses de incapazes;

II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição,
casamento, declaração de ausência e disposições de última vontade;

III - nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas em
que há interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.

O CNJ já decidiu que é uma opção o casal separar-se em cartório ou consensualmente em


juízo. Caso seja feita a separação consensual em juízo, sem interesses de menores envolvidos,
o MP não intervirá, pois ausentes as hipóteses do art. 82 do CPC.

Também haverá necessidade de ouvir a Fazenda Pública naqueles processos em que ela tiver
interesse.

O art. 1.110 CPC prevê o cabimento de apelação nos processos de jurisdição voluntária.

QUADRO COMPARATIVO: Discussão doutrinária sobre a natureza jurídica da jurisdição


voluntária

Corrente tradicional (majoritária) Corrente moderna (inclusive DIDIER)

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NATUREZA ADMINISTRATIVA NATUREZA JURISDICIONAL

Argumento base: não há lide na jurisdição A lide não é situação que sempre ocorre na
voluntária. Como não há lide, não há que se jurisdição. O que ocorre é que a jurisdição
falar em jurisdição (pois nesta sempre há sempre atua na situação concreta (na ADI, a
lide). análise de uma lei inconstitucional é a situação
concreta), mas esta não é necessariamente
uma lide.

Quem disse que não há lide em jurisdição


voluntária? Se os interessados podem ser
citados, é porque pode surgir alguma
controvérsia. Ocorre que na jurisdição
voluntária, o autor não precisa afirmar a
existência de uma lide, mas pode ser que essa
lide ocorra.

O resto é conseqüência do argumento base: Há partes


Não há partes em jurisdição voluntária, há
interessados.

Também não há ação, o que existe é apenas Há ação


requerimento de Jurisdição Voluntária.

Não se pode falar em processo (ele Há processo (o processo administrativo é


pressupõe jurisdição e ação). Deve-se falar considerado processo).
em procedimento.

Finalmente, NÃO HÁ coisa julgada, que é um Há coisa julgada. É a discussão mais


atributo exclusivo da jurisdição. problemática, pois as duas correntes lêem o
mesmo artigo de formas diversas:

Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada,


sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se
ocorrerem circunstâncias supervenientes”

Corrente tradicional: Se pode ser modificada,


não há coisa julgada.

Corrente moderna: Se o fato é superveniente,


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não se refere com a coisa julgada. Coisa julgada


tem relação apenas com o fato existente à
época do julgamento e, portanto, aquele fato
não pode mais ser julgado. Isso porque fato
superveniente pode alterar qualquer sentença;
qualquer decisão pode ser modificada por fato
posterior. Se aquele fosse o argumento, não
existiria coisa julgada para sentença nenhuma.

Existe o procedimento comum de jurisdição voluntária, que é o que está nos arts. 1.103 a
1.112. Entretanto, podem existir procedimentos especiais de jurisdição voluntária, para
determinadas situações como interdição e separação consensual. Assim, na ausência de
previsão de procedimento específico aplica-se o procedimento comum.

- procedimento especial, que regula os atos praticados no curso das ações alinhadas a partir
do art. 890 do CPC. Conceito: ações que têm curso por rito diferenciado, se comparadas às
demandas reguladas pelos procedimentos comum e sumaríssimo, e que de igual modo se
apresenta no gênero com as espécies:

a) dos procedimentos especiais de jurisdição contenciosa, que ocupa o


compartimento do CPC situado entre os arts. 890 a 1.102, marcados pela
presença de partes, de processo e de sentença traumática, proferida por pura
criação do magistrado;
b) dos procedimentos especiais de jurisdição voluntária, posicionados a partir do
art. 1.103 do CPC, marcados pela presença de interessados, de procedimento e
de sentença meramente homologatória ou permissiva da prática de um ato, no
interesse de pessoa que merece especial proteção do Estado.

29.1. Ação de Desapropriação


Como é sabido, o procedimento da desapropriação é dividido em duas fases. A primeira,
denominada declaratória, tem por objetivo a declaração de utilidade pública ou interesse
social. A partir da divulgação da declaração expropriatória, tem início o prazo decadencial,
para a promoção da desapropriação (acordo ou ajuizamento da ação), de cinco anos, no caso
de utilidade e necessidade, e de dois anos, no caso de interesse social. No DL 3.365/41 há
previsão de um prazo para nova declaração de utilidade quando a primeira caducar, desde que
feita em 1 ano; entende-se que, ausente tal previsão nas demais lei, não se admite nova
declaração.

A segunda fase, chamada executória, diz respeito às providências no plano concreto para a
efetivação da manifestação de vontade relativa à primeira fase, podendo ser subdivida em
administrativa (quando o Poder Público e o expropriado acordam quanto à indenização e o
ato da expropriação) e judicial.

No caso de ingresso em juízo, tem-se a Ação de Desapropriação.

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Diversamente do que ocorre com a competência declaratória, a executória é atribuída a outros


entes como empresas públicas, sociedades de economia mista e mesmo concessionárias de
serviço público podem promover a esta etapa desde que autorizadas por lei ou contrato.

A legitimidade para a ação de desapropriação é, como regra, do Poder Executivo. O DL


3.365/41 prevê possibilidade de delegação no artigo 3º (“Art. 3º. Os concessionários de
serviços públicos e os estabelecimentos de caráter público ou que exerçam funções delegadas
de poder público poderão promover desapropriação mediante autorização expressa, constante
de lei ou contrato”).

28.1.1. Ação de Desapropriação no Decreto-Lei nº 3.365/41


Competência: nos termos do artigo 11 do DL, quando a União é a autora, a ação é proposta no
DF ou na capital do Estado em que domiciliado o réu. No caso de quaisquer outros autores, a
competência é do foro da situação do bem. Sendo a União ou suas autarquias o expropriante,
a competência é da Justiça Federal, mesmo que o bem esteja situado em comarca que não
seja sede de Vara Federal.A intervenção da União leva ao deslocamento da competência para
a Justiça Federal; de outro modo, manifestado o desinteresse da União, é competente a Justiça
Estadual.

Cognição Limitada: a lei impede o Judiciário de analisar no processo de desapropriação se é ou


não caso de utilidade pública (art. 9o).

Requisitos da Inicial: além dos previstos no art. 282 CPC, acompanhará a inicial a oferta do
preço, a publicação do decreto, bem como a correta descrição do bem. Ao despachar a inicial o
juiz designará perito de sua livre escolha para avaliar os bens a serem desapropriados.

Citação: é feita por mandado na pessoa do proprietário, dispensada a do seu cônjuge; no caso
de sócios basta citar a um deles; na coisa em condomínio cita-se o administrador, salvo
condomínio de apartamentos onde cada unidade é autônoma para fim de desapropriação.
Cabe inclusive citação por hora certa.

A citação por edital terá lugar se o proprietário encontra-se em local incerto e não sabido ou
ainda se ignorado quem seja o dono.

Procedimento: feita a citação o procedimento segue o rito ordinário.

Limitação da matéria objeto de contestação – uma das peculiaridades do rito especial é


limitar o conteúdo da defesa, que só pode versar sobre impugnação do preço ou vícios
processuais. Nos termos do artigo 20, “qualquer outra questão deverá ser decidida por ação
direta”.

É inconstitucional esta limitação do conteúdo da defesa?

De acordo com Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart (Manual do processo de
conhecimento. 3. ed. São Paulo : RT, 2004, p. 138), não, porque “tais situações [limitativas do
espectro da defesa que o réu pode apresentar] ocorrem em benefício da celeridade do
processo, da simplicidade que se pretende emprestar ao procedimento e, por via reflexa, da

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busca de adequada tutela jurisdicional para certos tipos de direitos. Precisamente por conta
disso, e desde que essas restrições não extrapolem os limites da razoabilidade, não se lhes há
de impor a pecha da inconstitucionalidade, já que tais providências são colocadas
precisamente no conflito de princípios fundamentais, com o objetivo de conformar uns com os
outros. Em todos estes casos, porém, o que não se pode admitir é a privação ao requerido de
discutir aquele tema que lhe foi vedado; será, portanto, sempre possível, diante de certas
limitações ao exercício do direito de defesa, que o réu venha a propor alguma demanda
própria, em que, então, veiculará a matéria (ou a arguição) cuja discussão lhe foi negada no
processo”.

Concordância com o preço oferecido: juiz homologa e profere sentença.

Discordância do preço: perito apresenta o laudo e segue Audiência de Instrução e Julgamento,


com o mesmo rito do CPC. O juiz profere sentença ao final fixando o preço. Dessa sentença
cabe apelação apenas com efeito devolutivo.

Conclusão: à exceção das matérias mencionadas (preço ou vício processual, o controle pelo
Judiciário se dará por via autônoma, que a lei denomina “ação direta”.

O decreto de utilidade pública ou de interesse social, embora, na sua forma, não apresente
defeitos, poderá, quanto à substância, estar nulo. É o caso da inexistência de motivos, onde
não haja, por exemplo, nenhuma calamidade que a desapropriação vai socorrer (art. 5º, "c",
Dec. Lei n.º 3.365/41), ou do desvio de finalidade, abertura de estrada de exclusivo interesse
particular. Em casos tais, o processo não comporta a matéria onde se discute a
desapropriação, podendo o interessado, se assim o entender, socorrer-se das vias ordinárias
para cassar o ato viciado. Caso já tenha ocorrido a incorporação do imóvel à Fazenda Pública,
seja municipal, estadual ou federal, com o registro do mandado de transcrição no cartório de
imóveis competente, só será possível ao expropriado buscar perdas e danos, estando frustadas
quaisquer outras medidas de cunho reivindicatório. Para se precaver contra esse
inconveniente, passou-se a admitir a proposição de medida cautelar, com vistas a sustar o
andamento da desapropriação enquanto não decidido definitivamente o feito onde sua
nulidade é questionada.

O STF e o STJ já aceitaram a possibilidade de se atacar o decreto expropriatório mediante


ações autônomas:

"Se a desapropriação for ilegal, cabe mandado de segurança, ou com efeito


restaurador, depois de iniciada a execução, ou com efeito preventivo, antes dela.
Por outro lado, a ‘ação direta’ a que se refere o art. 20 da lei das desapropriações
não exclui o mandado de segurança, pois o que caracteriza este remédio
processual é o direito líquido e certo violado ou ameaçado por ato de autoridade."
(STF – RDA 84/165)

"Administrativo. Ato administrativo. Moralidade. Exame pelo judiciário. – art. 37 da


Constituição da República. Desapropriação. Art. 20 do dl 3.365/41. É lícito ao poder
judiciário examinar o ato administrativo sob o aspecto da moralidade e do desvio
de poder. Com o princípio inscrito no art. 37, a Constituição da República cobra do

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administrador, além de uma conduta legal, comportamento ético. O art. 20 do dl


3.365 permite que, em ação direta, o poder judiciário examine qualquer questão
relativa à desapropriação." (1ª Turma do STJ, REsp 21.923-5-MG, Rel. Min.
Humberto Gomes de Barros.)

Revelia do expropriado: o fato de não haver contestação não leva a aceitação do valor
oferecido pelo Poder Público, uma vez CR/88 exige que a indenização seja justa. Nesse
sentido RESP 35520/SP.

Intervenção do Ministério Público – divergência. Ao contrário da LC76/93 (procedimento de


desapropriação de imóvel rural para fins de reforma agrária), em que há exigência de
intervenção obrigatória do MP, antes de cada decisão no processo em qualquer instância
(art.18, § 2o), não há previsão semelhante nos DL 3365/41 e na Lei 3365/41.

A favor: José dos Santos Carvalho Filho afirma que, se na desapropriação para reforma agrária
é expressa a exigência, não há razão para não se exigir nas demais, “pelas mesmas razões a
mesma regra”. Ademais diz o autor que a propriedade que atende a função social é direito
constitucional e como tal cabe ao Ministério Público velar pela mesma. Ademais, a CR exige,
ainda, que a desapropriação só se considere legítima quando fundada em razões de utilidade
pública ou interesse social. Todos esses elementos qualificam a ação de desapropriação como
tendo interesse público em virtude da natureza da lide, o que provoca a necessidade de
intervenção do MP.

Contra: STJ tem entendimento que só se exige a intervenção na desapropriação para fins de
reforma agrária, alegando a ausência de previsão legal, bem como que a discussão é
meramente patrimonial, não vislumbrando ali nenhum interesse público (REsp 130.420/PR).
Na ementa do REsp 258743 / RJ (DJ 22.03.2004 p. 267) destacou-se ainda que: “Esta Corte
Superior de Justiça pacificou o entendimento segundo o qual, ‘nas ações expropriatórias -
também denominadas ações de desapropriação direta - ajuizadas por Estado-membro com
fulcro no Decreto-lei nº 3.365/41, não é necessária a intervenção do Ministério Público’ (REsp
162.457/ES, Rel. Min. Adhemar Maciel, DJ de 01.02.99)”. Além disso, a opinião dos que
entendem não ser obrigatória a intervenção fundamenta-se no fato de que a causa encerra
apenas discussão sobre a fixação do valor indenizatório, não ensejando o interesse público
que pudesse justificar a presença dos órgãos do MP. Nos termos do artigo 82, III do CPC.

Sentença: na sentença, o juiz fixará o valor do bem e demais parcelas incluídas na indenização,
indicando as razões motivadoras de seu convencimento. Da sentença cabe apelação, com
efeito devolutivo, se interposta pelo expropriado, e com efeitos devolutivo e suspensivo, se
interposta pelo expropriante. Há duplo grau obrigatório quando a sentença condenar a
Fazenda Pública em quantia superior ao dobro da oferecida (art. 28, § 1o, do DL n. 3.365/41).

A sentença na desapropriação autoriza a imissão definitiva na posse do bem em favor do


expropriante, bem como consubstancia título idôneo para a transcrição da propriedade no
registro imobiliário.

Imissão Provisória – é cabível quando o poder público alegue urgência (no decreto ou em ato
posterior) depositando o valor arbitrado nos termos do artigo 826 CPC (“Art. 826. A caução
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pode ser real ou fidejussória”), bem assim observado o artigo 15, § 1o, do DL 3365/41, que
estabelece parâmetros para o valor.

Quando a este artigo há uma discussão entendendo o STF que o mesmo se encontra
integralmente em vigor e o STJ que apenas o caput por força da necessidade de ser justa e
prévia a indenização (vide nota 33 no resumo de Direito Administrativo, item 6 “c”). De todo
modo, cabe destacar a Súmula 652, do STF: “Não contraria a Constituição o art. 15, § 1º, do
Decreto-lei 3365/1941 (lei da desapropriação por utilidade pública)”.

Havendo imissão provisória na posse terão cabimento juros compensatórios por esta utilização
antecipada do bem, independentemente de se tratar ou não de bem produtivo. Seu cálculo é
feito sobre a diferença entre o valor oferecido pelo poder público e o valor real fixado. Nesse
sentido, Súmula 164 do STF: : “no processo de desapropriação, são devidos juros
compensatórios desde a antecipada imissão de posse, ordenada pelo juiz, por motivo de
urgência”. A Súmula 69 do STJ segue o mesmo entendimento: “Na desapropriação direta, os
juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação
indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel”.

Feito o depósito provisório, o expropriado poderá levantar até 80% do seu montante, ainda
que discorde do preço ofertado ou arbitrado, atendidas as exigências do art. 34 da mesmo
Dec. -lei 3365-41 (prova de propriedade , de quitação de dívidas fiscais que recaiam sobre o
bem expropriado, e publicação de editais). Prazo para impugnar o preço (5 dias). Se concordar
com o preço pode levantar a integralidade. A alegação de urgência poderá ser feita no ato
expropriatório ou após, mas a imissão deve ser requerida dentro de 120 dias da alegação sob
pena de caducidade, com impossibilidade de renovação ( 15, § 2º). Não pode renovar nem
interromper. Excedido o prazo não se concede imissão provisória.

Impugnado o valor, o juiz fixará valor provisório. Se for maior que o dobro do oferecido o
expropriante deve complementar o depósito até atingir a metade do valor provisório. O
expropriado poderá levantar 50% do valor provisório. Se for menor ou igual ao dobro, o
expropriado poderá levantar 80% do valor oferecido ou metade do arbitrado.

A imissão definitiva na posse só se dará após o pagamento integral do preço, conforme


fixado no acordo ou decisão judicial.

Juros moratórios e compensatórios

Em matéria de desapropriação, os Tribunais Superiores definiram o regime de incidência de


juros moratórios e compensatórios da seguinte forma:

a) como regra, juros compensatórios de 12% ao ano, incidentes sobre o valor total da
indenização, a partir da imissão provisória na posse (Súmulas 164 e 618 do STF e 69 e
113 do STJ), independentemente de o imóvel produzir renda. Apenas no período de
11.06.97 (MP) a 14.09.01 (ADIn) os juros serão de 6%.
b) juros moratórios de até 6% ao ano, incidentes sobre o valor total da indenização, a
partir de 1o de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser
feito, nos termos do art. 100 da CR/88 (artigo 15-B, Medida Provisória nº 2.183-
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56/01). A nova redação, a qual reduziu os juros de mora de 12% a 6%, está em vigor.
O início da fluência também está de acordo com o entendimento do STF sobre os
juros de mora, o qual os afasta no período regular de pagamento do precatório. No
entanto, como destaca a nota 42 do resumo de Administrativo (6 “c”), há
precedentes do STJ (posição minoritária, AgRg 844347, j. 22.03.07) aplicando ainda a
antiga súmula n.70 (“os juros moratórios, na desapropriação direta ou indireta,
contam-se desde o trânsito em julgado da sentença”), a fim de computar o marco
inicial após o trânsito em julgado.Nesse aspecto, a posição que tem prevalecido é
pela aplicação da MP inclusive às ações em curso. No entanto, alguns entendem que,
partindo da sucessão das leis no tempo: em caso de não pagamento da indenização
até 06.11.97, percentual de 6% ao ano fixo ( art.1062 do CC. De 1916 e súmula 70 do
STJ) e o termo “a quo” é a partir do trânsito em julgado. De outro lado, nos termos
da MP 2.183/01, para atrasos posteriores a 11/06/97, percentual até 6% (art. 15-B) e
termo “a quo” é a partir de 01 de janeiro do exercício seguinte em que o pagamento
deveria ser feito.
c) Entende-se que os juros compensatórios e moratórios são cumuláveis (Súmulas 12 e
102 do STJ), a despeito do artigo 15-A vedar “o cálculo de juros compostos”. Isso
porque esses juros se destinam a indenizações diferentes: os compensatórios
cobrem os lucros cessantes prela ocupação do bem, ao passo que os moratórios
destinam-se a cobrir a renda do dinheiro não pago no tempo devido. Conforme
Súmula 102 do STJ: "A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, nas
ações expropriatórias, não constitui anatocismo vedado em lei". No mesmo sentido
José dos Santos Carvalho Filho entende que a cumulação de juros compensatórios e
moratórios não configura juros compostos, permanecendo aplicáveis as Súmulas 12 e
102 do STJ.
Observações:

- O art. 15-A no DL n. 3.365/41, introduzido por MP, determinou a incidência de juros


compensatórios de até 6% ao ano, incidentes sobre o valor da diferença entre o que foi
estabelecido na sentença e o que foi oferecido inicialmente, a partir da imissão provisória na
posse, e somente para compensar a perda de renda comprovadamente sofrida pelo
proprietário, ou seja, não são devidos juros compensatórios quando o imóvel possuir graus de
utilização e de eficiência na exploração iguais a zero. No entanto, foi suspensa por ADIN a
parte de 6% ao ano, prevalecendo o entendimento de que os juros são de 12% ao ano, além
de ter sido dada interpretação conforme a CR para determinar que a base de cálculo dos juros
compensatórios será a diferença entre os 80% do valor ofertado em juízo e o valor do bem
fixado na sentença; o argumento invocado na decisão liminar foi, basicamente, a possibilidade
da redução dos juros compensatórios não atender ao reclamo constitucional da justa
indenização. Como bem salientado no resumo de Administrativo (nota 37), o STJ, em
reiterados e recentes precedentes (REp. 884814, j. 29.03.07; REsp. 834551, j. 06.03.07; entre
outros), tem dito que, em nome do princípio do tempus regit actum, às imissões ocorridas
antes da MP 1577/97 (11.06.97) os juros são de 12%; após, eles devem ser reduzidos para 6%
até a publicação da ADIn 2332-2 (julgamento liminar sem efeito retroativo), quando, então,
retomam o percentual de 12%. Dito de outra forma: apenas no período de 11.06.97 (MP) a
14.09.01 (ADIn) os juros serão de 6%.

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- STJ: AGA 417930 / MA - Ocorrida a imissão na posse de área desapropriada antes da vigência
da Medida Provisória n. 1.577/97, incidem juros compensatórios no percentual de 12% ao ano.
Nos casos em que a imissão na posse se deu antes da vigência da Medida Provisória n.
1.577/97, a base de cálculo para a incidência dos juros compensatórios é o valor total da
indenização, e não a diferença entre o valor ofertado e o valor total da indenização.

- RESP 606.562 / SE – O STF decidiu suspender a expressão "de até seis por cento" constante
do artigo 1º da Medida Provisória n. 1.577/97. Resta, portanto, prejudicada a aplicação dessa
norma, razão pela qual merece ser mantido o entendimento já pacificado pelo Supremo
Tribunal Federal, no sentido de que "na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos juros
compensatórios é de 12% (doze por cento) ao ano" (Súmula n. 618/STF). Por outro lado, "é
irrelevante o fato de o imóvel ser ou não produtivo para a fixação dos juros compensatórios
na desapropriação, vez que estes são devidos tendo em vista a perda antecipada da posse que
implica na diminuição da garantia da prévia indenização constitucionalmente assegurada".

Desistência da ação: o STF vem reconhecendo ao expropriante o direito de desistir de sua


pretensão antes de findo o processo expropriatório com o recebimento do preço. A
desistência unilateral independe de consentimento do expropriado. Algumas condições são
exigidas:

- o bem a ser devolvido é o mesmo bem objeto da expropriação; assim, tratando-


se de bem edificado, será devolvido bem edificado; tratando-se de terreno livre,
não ocupado, será devolvido terreno livre, sem invasão ou ocupação (existem
decisões de que se houve alteração do bem é impossível haver a desistência);

- o expropriado tem direito de receber do expropriante reparação dos danos


sofridos desde a imissão deste na posse do bem até a reintegração do expropriado
na posse do bem;

- se o expropriado recebeu alguma importância, por exemplo, por imissão


provisória na posse, deverá devolvê-la, mediante cálculo atualizado;

- homologação judicial.

Honorários advocatícios: entre 0,5 e 5% sobre a diferença entre o valor oferecido e o fixado na
sentença como devido, corrigido. Na ADIN 23322 foi suspensa a expressão “não podendo
ultrapassar R$ 151.000,00”, sob o argumento de poder prejudicar a justa indenização da
propriedade. Incluem-se no cálculo as parcelas dos juros moratórios e compensatórios. A base
de cálculo é a diferença entre o valor oferecido e aquele apurado como justo (STF 617).

Correção monetária: defende-se a inconstitucionalidade do artigo 26, § 2º, do DL: exigência do


prazo de um ano para a incidência da correção monetária importa na limitação da justa
indenização prevista na Constituição.

28.1.2. Ação de Desapropriação na LC nº 76/93


A LC 76/93 trata do procedimento judicial da desapropriação de imóvel rural, por interesse
social, para fins de reforma agrária, prevendo rito sumário e contraditório especial.
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Apenas a União pode desapropriar para fins de reforma agrária (art. 2o.), havendo aqui a
peculiaridade de que o pagamento não precisa ser em dinheiro, mas por meio de títulos da
dívida agrária.

Decreto e vistoria: elaborado o decreto fixando o interesse social da desapropriação do imóvel


rural para fins de reforma agrária fica o expropriante autorizado a promover vistoria no imóvel
visando avaliá-lo.

Entende-se que para a vistoria deve haver uma prévia notificação, sob pena de afronta aos
princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.

Pequena e média propriedade rural: insuscetível de desapropriação para reforma agrária (art.
185 CR). Há que se considerar ainda a questão da divisão do imóvel para fins de excluí-lo da
reforma agrária:

“Deferido mandado de segurança para anular o decreto que declarou de interesse


social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural dos impetrantes. Alegava-se, na
espécie, tratar-se de imóvel insuscetível de desapropriação, tendo em vista que,
antes do decreto expropriatório, fora dividido em partes autônomas e individuais,
formando cada uma delas pequena propriedade rural. Afastou-se a alegação do
INCRA de que, como o desmembramento se dera após o recebimento da
notificação da realização da vistoria, estaria caracterizada a ofensa ao § 4º do art.
2º do MP 1.577/97, uma vez que o referido desmembramento ocorreu antes da
edição da mencionada Medida Provisória ("Não será considerada, para os fins
desta Lei, qualquer modificação, quanto ao domínio, à dimensão e às condições de
uso do imóvel, introduzida ou ocorrida até seis meses após a data da comunicação
para levantamento de dados e informações de trata o § 2º). MS 23.194-PR, rel.
Min. Marco Aurélio, 8.11.2000.(MS-23194)”.

Petição Inicial: além dos requisitos do art. 282 CPC, deve observar o artigo 5o da LC 76/93:

“Art. 5º A petição inicial, além dos requisitos previstos no Código de Processo Civil,
conterá a oferta do preço e será instruída com os seguintes documentos:

I - texto do decreto declaratório de interesse social para fins de reforma agrária,


publicado no Diário Oficial da União;

II - certidões atualizadas de domínio e de ônus real do imóvel;

III - documento cadastral do imóvel;

IV - laudo de vistoria e avaliação administrativa, que conterá, necessariamente:

a) descrição do imóvel, por meio de suas plantas geral e de situação, e memorial


descritivo da área objeto da ação;

b) relação das benfeitorias úteis, necessárias e voluptuárias, das culturas e pastos


naturais e artificiais, da cobertura florestal, seja natural ou decorrente de
florestamento ou reflorestamento, e dos semoventes;

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c) discriminadamente, os valores de avaliação da terra nua e das benfeitorias


indenizáveis.

V - comprovante de lançamento dos Títulos da Dívida Agrária correspondente ao


valor ofertado para pagamento de terra nua; (Incluído pela Lei Complementar nº
88, de 1996).

VI - comprovante de depósito em banco oficial, ou outro estabelecimento no caso


de inexistência de agência na localidade, à disposição do juízo, correspondente ao
valor ofertado para pagamento das benfeitorias úteis e necessárias. (Incluído pela
Lei Complementar nº 88, de 1996).”

Nos termos do artigo 6º, ao despachar a inicial, o juiz ordena a imissão provisória do autor na
posse,determina a citação do expropriando para contestar o pedido e indicar assistente
técnico, se quiser; e expede mandado ordenando a averbação do ajuizamento da ação no
registro do imóvel expropriando, para conhecimento de terceiros.

Imissão provisória: não havendo conflito ou dúvida sobre o titular do imóvel pode o mesmo
levantar 80% do valor depositado pelo poder público.

Audiência de conciliação: o rito prevê com o objetivo de fixar a justa indenização devendo
comparecer autor, réu e o Ministério Público. Havendo acordo, esse é homologado e uma vez
integralizado o valor é feita a transcrição no RGI da alteração de propriedade do bem.

Citação: é feita na pessoa do proprietário ou de seu representante legal. Na enfiteuse citam-se


o titular do domínio útil e do domínio direto. Intimados os titulares de direitos reais sobre o
imóvel.

Contestação: versa sobre toda matéria de interesse da defesa, exceto a existência do


interesse social (“Art. 9º A contestação deve ser oferecida no prazo de quinze dias e versar
matéria de interesse da defesa, excluída a apreciação quanto ao interesse social declarado”).

O juiz pode nomear perito para aferir a vistoria administrativa naquilo em que foi impugnada.
De se atentar ainda ao artigo. 4º da LC 76/03, que prevê a possibilidade de, intentada a
desapropriação parcial, o proprietário requerer, na contestação, a desapropriação de todo o
imóvel, quando a área remanescente ficar: “I - reduzida a superfície inferior à da pequena
propriedade rural; ou II - prejudicada substancialmente em suas condições de exploração
econômica, caso seja o seu valor inferior ao da parte desapropriada”.

Audiência de Instrução e Julgamento: ocorre em um prazo não superior a 15 dias da


conclusão da perícia proferindo o juiz sentença ao final da mesma, ou em 30 dias. Desta cabe
apelação apenas no efeito devolutivo. Se a condenação for a valor superior a 50% do oferecido
na inicial exige-se o duplo grau de jurisdição.

Intervenção do MPF – é obrigatória sob pena de nulidade, após a manifestação das partes,
antes de cada decisão manifestada no processo, em qualquer instância. (Art. 18 p. 2o.)

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28.2. Ação Monitória

28.2.1. Conceito
Aquele que possui prova documental de um crédito, desprovida de eficácia executiva (judicial
ou extrajudicial), pode ingressar com a demanda monitória e, se verificada a ausência de
manifestação defensiva por parte do réu – embargos ao mandado monitório -, obterá seu
título executivo em menor lapso temporal do que o exigido pelo processo/fase procedimental
de conhecimento.

“Processo monitório é um processo destinado a oferecer a satisfação de direitos não


amparados por título executivo judicial ou extrajudicial, sem necessário julgamento do mérito”
(Cândido Rangel Dinamarco), portanto, ação monitória é o instrumento processual colocado à
disposição do credor de quantia certa, de coisa fungível ou de bem móvel, que esteja munido
de documento escrito sem força executiva, e que queira receber o que lhe é devido.

Assim, não existe título, mas existe uma prova literal e suficiente para convencer o juiz da
probabilidade do direito.

A vantagem da ação monitória é que, se o réu não opuser resistência, chega-se mais
rapidamente à formação do título executivo.

28.2.2. Natureza Jurídica


A ação monitória tem caráter facultativo, já que o autor poderá ingressar com ação de
conhecimento para obter a mesma tutela.

Não há uniformidade quanto à sua natureza jurídica, sendo que parte da doutrina defende
tratar-se de um processo diferenciado (do cautelar, executivo e de conhecimento).

28.2.3. Admissibilidade
Ela está condicionada à existência de uma prova escrita sem eficácia de título executivo e
limitada às obrigações de pagamento em soma de dinheiro, entrega de coisa fungível ou de
determinado bem móvel.

Nosso procedimento monitório é documental, já que exige do autor a apresentação de uma


prova literal; seguimos a doutrina italiana, e não o procedimento monitório puro, onde basta a
alegação da parte acerca da existência do crédito.

Por se exigir prova escrita, não serve para embasar a monitória fotografia, filmagem etc.

Entretanto, aceita-se qualquer prova documentada, como provas periciais escritas etc.

Parte da doutrina não admite, também, que a prova tenha sido produzida unilateralmente
pelo autor, exigindo-se alguma participação do réu na sua formação. Também é necessário
que a prova literal indique o quantum debeatur nas obrigações de pagar.

As obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa imóvel não podem ser objeto de demanda
monitória, pois ESTA É LIMITADA ÀS OBRIGAÇÕES DE PAGAR E ENTREGAR COISAS MÓVEIS.

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Súmula 247, STJ: “O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do


demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória”.

Súmula 299, STJ: “É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito”.

IMPORTANTE: o STJ admite ação monitória mesmo que o documento representativo da


obrigação tenha eficácia de título executivo extrajudicial. Nesse sentido:

AÇÃO MONITÓRIA. ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.

Na espécie, o tribunal de origem entendeu que o autor era carecedor de


interesse de agir por inadequação da via eleita, uma vez que, sendo possível
o procedimento executório de títulos extrajudiciais (notas promissórias),
descaberia a via da ação monitória. No entanto, assim como a
jurisprudência do STJ é firme quanto à possibilidade de propositura de
ação de conhecimento pelo detentor de título executivo – não havendo
prejuízo ao réu em procedimento que lhe faculta diversos meios de defesa
–, por iguais fundamentos o detentor de título executivo extrajudicial
poderá ajuizar ação monitória para perseguir seus créditos, ainda que
também o pudesse fazer pela via do processo de execução. Precedentes
citados: REsp 532.377-RJ, DJ 13/10/2003; REsp 207.173-SP, DJ 5/8/2002;
REsp 435.319-PR, DJ 24/3/2003, e REsp 210.030-RJ, DJ 4/9/2000. REsp
981.440-SP, 4T, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/4/2012.

28.2.4. Fazenda Pública e Ação Monitória


A FP pode ingressar com ação monitória sempre que não puder constituir o título executivo
diretamente por CDA, o que ocorre quando quiser reaver um móvel ou para créditos
pecuniários não fiscais.

E contra a FP, cabe monitória? Para o STJ é pacífico que sim:

Súmula 339, STJ: “É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública”.

A doutrina é dividida, parte entendendo que não e que sim. O que importa é que ela é cabível,
já que somente formará a monitória o título hábil a ensejar a execução contra a FP.

Já em âmbito doutrinário, embora majoritariamente prevaleça o mesmo entendimento


jurisprudencial, há corrente no sentido contrário, não admitindo a monitória pelos seguintes
fundamentos:

- as especialidades da execução contra a Fazenda Pública (art. 730 do CPC) impedem a adoção
da monitória;

- a impossibilidade de a Fazenda Pública cumprir a ordem de pagamento em razão da


indisponibilidade do direito que defende em juízo;

- a necessidade de reexame necessário, que não seria observado com a ausência de embargos
ao mandado minoritário e a conseqüente constituição imediata de título executivo;

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- não sendo gerado o efeito da revelia da presunção da veracidade dos fatos alegados pelo
autor em caso de omissão defensiva da Fazenda Pública, com maior razão não se pode
concordar que a revelia no procedimento monitório que gere automaticamente a formação de
título executivo judicial contra ela.

NÃO É CABÍVEL AÇÃO MONITÓRIA CONTRA INCAPAZ, havendo carência de ação por falta de
interesse de agir (e não em função da ilegitimidade da parte, pois o incapaz pode realmente
ser o devedor, mas não pode ser cobrado).

28.2.5. Ingresso da Monitória


Inicia-se com uma petição inicial nos termos dos arts. 282 e 283. No tocante à causa de pedir,
deve o autor, além de se referir à prova literal, descrever os fatos referentes ao surgimento da
dívida.

Estando a inicial devidamente instruída, caberá ao juiz o deferimento de plano da expedição


do mandado monitório, mediante um juízo de cognição sumário, e desde que convencido da
verossimilhança.

Expedido o mandado monitório, o réu será citado para integrar o processo e para, querendo,
interpor embargos ao mandado monitório no prazo de 15 dias.

28.2.6. Posturas do Réu


Após citado, ele poderá, no prazo de 15 dias:

a) Pagar ou entregar a coisa: nesse caso, o réu ficara isento de pagamento de custas
processuais e honorários advocatícios, se feito dentro do prazo legal. Trata-se de uma
sanção premial que o legislador a ele oferece;

b) Não reagir: não há se falar em revelia na monitória, já que não há resposta (os
embargos são uma ação). Se o réu for omisso ou intempestivo na apresentação dos
embargos monitórios, HAVERÁ A CONVERSÃO DE PLENO DIREITO DO MANDADO
MONITÓRIO EM TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL;

c) Ingressar com embargos ao mandado monitório: não há prazo em quádruplo para a


FP, já que os embargos têm natureza de ação. Também não haverá prazo em dobro
para litisconsortes com patronos diferentes.

28.2.7. O Mérito no Processo Monitório e seu Julgamento


A pretensão do autor na ação monitória é obter o pagamento de soma em dinheiro, a entrega
da coisa fungível ou de determinado bem móvel. Ele não busca, como ocorre nas ações de
conhecimento, o simples reconhecimento de um direito.

Mesmo quando o autor não obtém o que pretende, a satisfação de seu direito, caso o réu não
cumpra sua obrigação no prazo legal, haverá a conversão do mandado inicial em título
executivo.

O fenômeno da coisa julgada material está presente no processo monitório. Não está
relacionado ao direito afirmado pelo autor, mas ao mérito do próprio processo monitório,
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1031

consistente na pretensão do autor de ver satisfeito seu crédito ou, subsidiariamente, obter
título executivo judicial.

A principal consequência desse entendimento é a possibilidade do réu, em caso de não ter


oferecido embargos, e mesmo depois de consolidado o título executivo, ingressar com ação
autônoma para discutir o direito material alegado pelo autor da monitória.

MONITÓRIA. DECISÃO. CONVERSÃO.

A decisão que converte o mandado monitório em título executivo judicial


tem a natureza de sentença (art. 1.102-C do CPC), pois pressupõe uma
decisão com resolução de mérito (art. 269 do mesmo codice). Por outro
lado, essa decisão não confere executividade ao documento que
acompanha a inicial da monitória. Ela reconhece, sim, que é devida a
obrigação nele subscrita, na forma em que foi apresentado na inicial da
monitória (quantum), constituindo, dessa forma, o título executivo judicial.
Assim, não há como dar contornos de cobrança à ação monitória.
Precedente citado: REsp 712.575-DF, DJe 2/5/2006. REsp 1.120.051-PA, Rel.
Min. Massami Uyeda, julgado em 24/8/2010.

28.2.8. Natureza Jurídica dos Embargos ao Mandado Monitório


Eles possuem natureza jurídica de ação, não de contestação. Daniel Assumpção critica a
postura dos juízes e do STJ pois, para ele, a decisão inicial do juiz determinando o
cumprimento da obrigação, com a expedição do mandado monitório, é apenas suspensa com
os embargos, constituindo-se de pleno direito o título judicial se rejeitados os embargos ou se
não interposto, independentemente de nova decisão.

Entretanto, para o STJ, com a apresentação dos embargos o mandado monitório inicial perde
a eficácia, somente sendo constituído o título judicial se condenado o embargante ou se não
apresentados embargos.

Assim, o STJ entende que os embargos são uma contestação, já que se admite reconvenção a
ser proposta pelo réu da demanda monitória.

28.2.9. Procedimento dos Embargos à Monitória


Inicia-se com uma petição inicial, com todos os requisitos dos arts. 282 e 283, seguindo-se o
procedimento ordinário. Eles serão autuados nos próprios autos da monitória e independem
de previa segurança do juízo.

Os embargos monitórios suspendem a eficácia do mandado inicial de pagamento (faz cessar,


segundo o STJ); se forem eles parciais, a parte não embargada converte-se de pleno direito em
título executivo, permitindo, quanto a ela, o ingresso na fase de cumprimento de sentença.

Se houver litisconsórcio unitário, a suspensão do mandado inicial favorece a todos os réus,


inclusive os que não embargaram.

Recebendo a inicial, o juiz determinará a intimação do réu na pessoa de seu advogado.

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1032

Os embargos à monitória são decididos por sentença recorrível por apelação, a qual será
recebida no duplo efeito. A sentença deve obrigatoriamente ser líquida, para que possa ser
realizada a execução.

28.2.10. Cumprimento de Sentença


Após constituído o título executivo judicial, inicia-se a fase de cumprimento de sentença, cujo
rito variará de acordo com o objeto executado. Perfeitamente possível será, na execução, nova
defesa do executado, mediante impugnação.

Porém, havendo interposição dos embargos à monitória, a matéria a ser discutida em


impugnação estará limitada àquelas do art. 475-L, pois o impugnante não poderá mais discutir
o direito material já decidido nos embargos e protegido pela coisa julgada. O mesmo vale caso
o réu não tenha oferecido embargos.

28.2.11. Impossibilidade de Conversão de Ação Executiva em Ação Monitória


É vedada tal conversão após a citação do réu, em função do princípio da estabilização da
demanda. Nesse sentido:

Trata-se de REsp sob o regime do art. 543-C do CPC e Res. n. 8/2008-STJ, no


ENTENDEU-SE INADMISSÍVEL A CONVERSÃO DA AÇÃO DE
qual
EXECUÇÃO EM AÇÃO MONITÓRIA, DE OFÍCIO OU A
REQUERIMENTO DAS PARTES, APÓS OCORRIDA A CITAÇÃO,
EM RAZÃO DA ESTABILIZAÇÃO DA RELAÇÃO PROCESSUAL A
PARTIR DO REFERIDO ATO. Precedentes citados: EREsp 575.855-ES, DJ
19/12/2006; AgRg no REsp 826.208-RS, DJ 15/10/2007, e AgRg no REsp
656.670-DF, DJe 15/12/2008. REsp 1.129.938-PE, Rel. Min. Massami Uyeda,
julgado em 28/9/2011.

28.2.12. Súmulas Aplicáveis


Súmula 384, STJ: “Cabe ação monitória para haver saldo remanescente oriundo de venda
extrajudicial de bem alienado fiduciariamente em garantia”. Isso porque o contrato de
alienação fiduciária é um título executivo extrajudicial. Com a alienação do bem, ele perderá
essa natureza, já que o valor da dívida nele indicado não mais representará a realidade. Assim,
a monitória será cabível para dar força executiva ao remanescente.

Súmula 339, STJ: “É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública”.

Súmula 299, STJ: “É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito”.

Súmula 292, STJ: “A reconvenção é cabível na ação monitória, após a conversão do


procedimento em ordinário”. Isso porque, para a Corte, os embargos têm natureza de
contestação. Logo, ao embargante será dada a oportunidade de se defender por todos os
meios, inclusive a reconvenção, desde que conexa com a ação principal ou com o fundamento
da defesa.

Súmula 282, STJ: “Cabe a citação por edital em ação monitória”. No caso de revelia, deverá ser
nomeado curador especial para opor embargos.
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1033

Súmula 247, STJ: “O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do


demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória”.
Isso porque esses documentos permitirão dar liquidez ao mandado monitório.

28.3. Ação de Consignação em Pagamento (arts. 890 a 900)


O procedimento especial da “ação de consignação em pagamento” é semelhante ao de um
processo de conhecimento comum. A prática de um ato executivo, o depósito, não desnatura
o procedimento da ação, visto que a pretensão manifestada na demanda é a declaração, pelo
depósito, da extinção da obrigação (atividade preponderantemente cognitiva). Tanto é ação
cognitiva – e não executiva – que se pode discutir amplamente em seu bojo a existência e
liquidez da dívida (RESP 66.576/RJ).

Ela terá como objeto prestacional necessariamente a entrega em dinheiro ou a entrega de


bem móvel ou imóvel, não restando admitida a consignação na forma de obrigação de fazer
ou de não fazer, por questões lógicas.

Inobstante a ampla possibilidade de discussão acerca do débito, destaque-se que o objeto da


demanda é a declaração da extinção da obrigação pelo depósito. Assim, todas as demais
questões discutidas serão resolvidas na fundamentação da sentença e, portanto, não são
alcançadas pela autoridade da coisa julgada substancial. O juiz não as decide, mas delas
apenas conhece como questões necessárias à formação do seu convencimento sobre a
extinção, ou não, da obrigação pelo depósito

A consignação em pagamento deverá ser pleiteada no lugar onde deve ser cumprida a
obrigação231 (que será o foro do domicílio do devedor se quesível a obrigação, ou do domicílio
do credor, se portável). Havendo foro de eleição, este deverá ser respeitado. A petição inicial,
além dos requisitos dos arts. 39, I, e 282, CPC, deverá conter o requerimento do depósito da
quantia ou da coisa devida. Este requerimento só será dispensado no caso em que se tenha
previamente realizado o depósito extrajudicial, quando deve a inicial vir acompanhada da
prova do depósito e da recusa do credor.

Estando em termos a petição inicial, o juiz determinará o depósito, o qual deverá ser feito no
prazo de 5 dias, a contar da intimação do demandante do provimento judicial. Não sendo
efetuado o depósito no prazo, deve-se extinguir o processo, sem resolução do mérito.

Após o depósito, será intimado o réu, que poderá: oferecer resposta no prazo de 15 dias,
permanecer revel ou requerer o levantamento do depósito (ou exercer o direito de opção,
caso de trate de obrigação de dar coisa indeterminada com opção do credor). Todas as formas
de resposta são admitidas: contestação, reconvenção e exceções. Entretanto, não se admite
reconvenção pretendendo a condenação do demandante a pagar eventual diferença quando o
demandado contestar alegando insuficiência de depósito, pois, como o procedimento especial
sub examine tem, nesse ponto, natureza dúplice, dito pedido deve ser feito na própria
contestação.

231
Regra especial que afasta a incidência da regra geral de competência do foro do domicílio do
devedor.
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A contestação apenas poderá versar sobre as matérias elencadas no art. 896, CPC: I - não
houve recusa ou mora em receber a quantia ou coisa devida; II - foi justa a recusa; III - o
depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; IV - o depósito não é integral. No
caso do inciso IV, a alegação apenas será admissível se o réu indicar o montante que entende
devido.

Obviamente, pode também o demandado alegar defesas processuais, prescrição, decadência e


fatos impeditivos, modificativos e extintivos do direito do autor (Navarro).

Alegando o credor a insuficiência do valor depositado não haverá controvérsias quanto a ser
devido o valor já depositado. Toda a controvérsia cingir-se-á a se tal valor é integral ou se
insuficiente. Assim, faculta a lei ao credor o levantamento do depósito, persistindo a demanda
quando a existência de eventual diferença.

No caso de alegação de insuficiência do depósito, deve, ainda, o demandante ser intimado


para complementá-lo. Havendo o complemento, deve o pedido ser julgado procedente, e
condenado o demandante ao ônus da sucumbência, eis que deu causa à demanda (tivesse
desde logo ofertado o valor correto, não teria havido a recusa do credor/demandado).

Não havendo complementação do depósito, prossegue o feito pelo procedimento ordinário.

Legitimado passivo para a demanda é aquele que o demandante indica como sendo o credor
da obrigação cuja prestação se quer consignar. No caso de consignação fundada em dúvida
quanto a quem seja o credor, haverá litisconsórcio passivo necessário.

O legitimado ativo é o devedor ou qualquer outro interessado. Porém parte da doutrina


(Furtado Fabrício) entende que o terceiro juridicamente desinteressado não tem legitimidade
ativa para a demanda, pois argumentam que o Código Civil (art. 304) só atribui aos terceiros
interessados os meios de efetivar o pagamento que são criados em benefício do devedor.
Todavia, outra corrente (Theodoro Jr., Fidélis dos Santos, Freitas Câmara) defende tal
possibilidade, na medida em que onde o legislador não restringiu não cabe ao intérprete fazê-
lo232.

Com relação às prestações periódicas, uma vez consignada a primeira, pode (faculdade) o
devedor continuar a consignar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem
vencendo, desde que os depósitos sejam efetuados até 5 (cinco) dias, contados da data do
vencimento (art. 892, CPC). Não efetuados no prazo, não mais poderão sê-lo, ao menos não no
mesmo processo, sem prejuízo dos já efetuados no momento oportuno. Em sendo decorrência
de autorização legal, não é necessário que conste expressamente do pedido a autorização para
o depósito das prestações periódicas.

232
No tocante à distinção entre terceiro interessado e terceiro não interessado, define-se o primeiro
como a pessoa que, mesmo não sendo parte, vincula-se à obrigação e pode ter o seu patrimônio
atingido caso a dívida, pela qual também se obrigou, não seja paga pelo devedor principal. É o caso, por
exemplo, do fiador e do avalista. Já o terceiro não interessado, ao reverso, é aquele que não se vincula à
obrigação, possuindo interesse apenas metajurídico. É a figura a que se refere o art. 305 do CC/2002,
que assim dispõe: “Art. 305. O terceiro não interessado que paga a dívida em seu próprio nome tem
direito a reembolsar o que pagar, mas não s sub-roga nos direitos do credor”.
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Discute-se até que momento poderiam ser realizados os depósitos das prestações periódicas.
Parte da doutrina (Figueiredo Teixeira, Fidélis dos Santos), com o respaldo da jurisprudência
dominante no STJ, entende que os mesmos podem ser realizados até o trânsito em julgado da
sentença. A doutrina dominante (Freitas Câmara, Greco Filho, Marcato, Baptista da Silva),
contudo, entende que os depósitos das prestações periódicas apenas podem ocorrer até a
prolação da sentença. Isso porque a sentença tem natureza meramente declaratória da
eficácia liberatória do depósito, e não se poderia permitir declaração com eficácia para o
futuro. Ademais, quem iria conferir a regularidade dos depósitos posteriores à sentença?

A sentença de procedência do pedido consignatório tem natureza meramente declaratória,


visto que é o depósito, e não a sentença, quem extingue o vínculo obrigacional. O provimento
jurisdicional se limita a tornar certo que, pelo depósito, extinguiu-se a obrigação.

Porém, deve-se ter em mente que o procedimento analisado tem natureza dúplice, e sendo
feito pelo réu, pedido contraposto, pode ocorrer a modificação da natureza da sentença, que
será objetivamente complexa se a pretensão do réu for acolhida. No primeiro capítulo será
meramente declaratória (da liberação parcial); no segundo capítulo, tratar-se-á de sentença
condenatória, servindo como título executivo judicial.

CONSIGNAÇÃO. PAGAMENTO. CUMULAÇÃO. PEDIDOS. INSUFICIÊNCIA.


DEPÓSITO.

A Turma reiterou o entendimento de que, em ação consignatória, é possível


a ampla discussão sobre o débito, inclusive com o exame de validade de
cláusulas contratuais. Assim, admite-se a cumulação de pedidos de revisão
de cláusulas de contrato e de consignação em pagamento das parcelas tidas
como devidas por força do mesmo negócio jurídico. [...] Precedentes
citados: REsp 448.602-SC, DJ 17/2/2003; AgRg no REsp 41.953-SP, DJ
6/10/2003; REsp 194.530-SC, DJ 17/12/1999; REsp 616.357-PE, DJ
22/8/2005, e REsp 275.979-SE, DJ 9/12/2002. REsp 645.756-RJ, Rel. Min.
Aldir Passarinho Junior, julgado em 7/12/2010.

Direito civil e processual civil. Recurso especial. Embargos do devedor à


execução. Cédula de crédito comercial. Propositura de ação de consignação
em pagamento. Causa interruptiva de prescrição.

Embargos de declaração. Ausência de omissão, contradição e obscuridade.

- Inadmissível o recurso especial quanto à questão que, a despeito da


interposição de embargos de declaração, não foi apreciada pelo Tribunal
estadual, que decidiu fundamentadamente a controvérsia, sem omissões,
contradições, ou obscuridades.

- O ajuizamento da ação de consignação em pagamento consiste em


CAUSA QUE INTERROMPE A PRESCRIÇÃO, pois o devedor, por meio desta
ação, pretende consignar em juízo o valor que entende devido,
importando, por conseguinte, em ato inequívoco de reconhecimento do
direito do credor, nos termos do art. 172, inc. V, do CC/16
(correspondência: art. 202, inc. VI, do CC/02).

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Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.

(STJ, REsp 648.989/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 25/09/2006, DJ 09/10/2006, p. 285)

28.3.1. Consignação por Dúvida quanto à Titularidade do Crédito


Nesse caso não será cabível o depósito extrajudicial.

Assim, proposta a ação tendo por objeto a consignação em caso com o tal e citados todos
aqueles que se dizem credores, permanecendo todos revéis, determina o art. 898, CPC, que o
depósito se converta em arrecadação de bens de ausentes. Será, portanto, declarada extinta a
obrigação e nomeado curador, a quem se confiará a coisa ou quantia depositada, e que
permanecerá dela cuidando indefinidamente, até que apareça algum interessado para
reclamá-la.

Acaso um dos réus compareça, o juiz decidirá a lide de plano (pela improcedência ou
procedência do pedido). Pode acontecer de se descobrir que o único réu que compareça não
seja o credor. Assim, afirma-se que seria o caso dar a mesma solução de todos os réus terem
permanecido revéis. Comparecendo dois ou mais réus, e se nenhum deles alegar a
insuficiência do depósito, inexistência de dúvida razoável ou qualquer outra questão que
levasse o juiz a reconhecer a extinção da obrigação, será declarada extinta esta e prosseguirá o
processo entre eles para que se decida quem é o titular do crédito.

28.3.2. Resgate da Enfiteuse


Aplica-se o procedimento da consignação em pagamento por expressa disposição do art. 900,
CPC.

Entende-se por enfiteuse (aforamento ou emprazamento) o direito real de posse, uso e gozo
de imóvel alheio, inalienável e transmissível por herança, conferido perpetuamente ao
enfiteuta, obrigado a pagar uma pensão anual invariável (foro) ao senhorio direto (Clóvis
Beviláqua). Nos termos do CC/02, não é mais possível a constituição de novas enfiteuses, mas
permanecem em vigor as existentes antes da entrada em vigor do novo CC, e regidas pelos
dispositivos pertinentes do CC/16.

O resgate da enfiteuse é regulado pelo art. 693, CC/16, de cujos termos se afere que o
enfiteuta tem direito potestativo ao resgate, tornando-se proprietário do bem. Pretendendo o
enfiteuta resgatar a enfiteuse, deverá dirigir-se ao nu-proprietário para lhe oferecer o valor
correspondente a um laudêmio e dez foros (preço do resgate, conforme art. 693, CC/16).
Recusado o recebimento, ou ocorrendo uma das outras hipóteses que autoriza a extinção da
obrigação através de pagamento por consignação, poderá o enfiteuta utilizar-se do
procedimento da consignação em pagamento.

A sentença que julgue procedente o pedido, declarando extinta a enfiteuse pelo depósito do
valor necessário para o seu resgate, servirá como título de remição do aforamento, hábil a
permitir o seu cancelamento junto ao Ofício do Registro de Imóveis.

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28.3.3. Consignação de Aluguéis e Acessórios da Locação


A Lei de Locações de Imóveis Urbanos, Lei n.º 8.245/91, regula procedimento específico para a
consignação de aluguéis e acessórios da locação, que é um pouco diverso do previsto no CPC.
Abordar-se-ão aqui apenas as diferenças.

Para esse caso, salvo se houver foro de eleição, será competente o foro da situação do imóvel
(art. 58, II, Lei de Locações). É critério relativo de fixação de competência.

Também é cabível o depósito dos aluguéis e acessórios vencidos no curso do processo, desde
que efetuados até o vencimento, sob pena de ocorrer a mora intercorrente (art. 67, III). Serão
cabíveis os depósitos das parcelas a vencer, no mesmo processo, até a prolação da sentença.

Estando em termos a petição inicial, o juiz determinará ao demandante que efetue o depósito
no prazo de 24h, sob pena de extinção do feito sem resolução do mérito. Realizado
tempestivamente o depósito, será citado o demandado.

No caso do demandado contestar alegando a insuficiência do depósito, poderá o demandante


depositar a diferença, acrescida de multa de 10%, no prazo de 5 dias.

Poderá o demandado, também, reconvir, pleiteando o despejo por falta de pagamento e a


condenação do demandado a pagar a diferença entre o que foi depositado e o que entende
devido (art. 67, VI). Esse dispositivo afasta a incidência do art. 899, § 2º, CPC, que confere
estrutura dúplice ao procedimento da consignação em pagamento.

28.4. Ação Possessória (arts. 920 a 933)

28.4.1. Introdução
As ações possessórias são conhecidas como interditos possessórios. A denominação remonta
ao Direito Romano, onde a posse era protegida através dos interdicta. As possessórias
caracterizam-se por pedirem a posse com fundamento no fato jurídico posse. O que determina
o caráter possessório de uma ação não é só o pedido, como à primeira vista poderia parecer,
mas sim a causa de pedir, os fundamentos do pedido do autor. São ações onde é reclamada a
posse somente com fundamento em seu exercício, ou seja, a posse com base nela mesma.

A ação é considerada possessória, pois, visa a tutelar o direito de posse (jus possessionis),
posse com fundamento tão somente no seu exercício, com fulcro na própria posse anterior ou
atual que foi turbada ou esbulhada, ou está ameaçada de o ser.

Não são possessórias aquelas demandas que têm por objeto a posse se a causa de pedir disser
respeito ao direito à posse (jus possidendi), o direito que alguém tem à posse em decorrência
de domínio ou alguma outra relação jurídica de vantagem.

Assim, é possessória a demanda do invasor contra o proprietário de determinado imóvel se


este usou de força própria (exceto nos casos em que se permite o desforço próprio imediato 233
– enquanto ainda não consolidada a posse em favor de outrem –,) para de lá retirá-lo. O

233
Observe-se que apenas é lícita a defesa da posse por desforço próprio se esse for imediato (art.
1.210, § 1º, CC/02).
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invasor teria, no caso, a sua posse esbulhada, já que o proprietário, usando de força própria,
praticaria ato ilícito (teria que recorrer ao Poder Judiciário para retirá-lo do seu imóvel,
mediante demanda de natureza possessória, já que sua posse houvera sido esbulhada pelo
invasor).

Já o processo proposto por aquele que tem direito à posse por ter adquirido um imóvel contra
quem o ocupa indevidamente (imissão de posse) não é possessório, eis que não se funda na
própria posse, mas no direito de propriedade. Por isso, é imprescindível identificar qual a
relação jurídica que o sujeito mantém com a coisa.

Não basta, assim, que a causa de pedir envolva direitos possessórios; a ação de nunciação de
obra nova e os embargos de terceiro não se encaixam no rol das ações possessórias. O que
conduz à ação de reintegração de posse é o esbulho; no caso de manutenção, deve haver a
turbação; e, no interdito proibitório, deve existir grave ameaça de esbulho à posse.

São consideradas ações possessórias (interditos possessórios) aquelas elencadas no CPC com
essa qualificação, a saber: manutenção e reintegração de posse e interdito proibitório (art. 926
a 932 do CPC).

a) Ação de manutenção da posse: Requisitos: - turbação (molestamento sem privação da


posse) atual; e - prova de que a turbação seja de menos de ano e dia (para que siga o
rito especial). Pode haver concessão de medida liminar, ordenando que cesse a
turbação. Após a citação e caso não tenha sido concedida medida liminar nem tenha
sido convencido o juízo com justificação judicial, toma o feito o rito ordinário. É ação
dúplice, podendo o demandado requerer sua reintegração, caso tenha sido esbulhado
por posse violenta e não convalidada por ano e dia.

b) Ação de reintegração de posse: é conferida ao possuidor que foi esbulhado, ou seja,


privado de sua posse de forma injusta. Requisitos: que tenha havido esbulho e que o
mesmo date de menos de ano e dia (para que siga o rito especial). Com prova pré-
constituída ou extraída de justificação pode o juiz conceder medida liminar de
reintegração. Caso contrário, ordenada a citação e contestado o feito, toma o rito
ordinário. A sentença é cumprida mediante a expedição, de plano, de mandado. O juiz
emite uma ordem para que o oficial de justiça expulse imediatamente o esbulhador e
reintegre a posse do esbulhado.

c) Interdito proibitório: conferido ao possuidor com justo receio de ser molestado


(turbado) ou esbulhado de sua posse. Busca proteção contra violência iminente. Pede
para ser cominada pena pecuniária no caso de transgressão ao preceito. Requisitos:
posse do autor; ameaça de turbação ou esbulho; e justo receio. Se após proposta a
ação e antes da sentença houver turbação ou esbulho, expede-se mandado de
reintegração ou manutenção. Caso se verifique tal incidente após a sentença que
cominou a pena, o réu responde por ela sem prejuízo de outras medidas possessórias
cabíveis. O estatuto processual (art. 933) permitiu também que se concedesse liminar
no interdito proibitório.

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d) Outras ações cujo caráter possessório enseja controvérsias (mas na verdade


possessórias não são):

i. Imissão de posse (art. 621, CPC). Antes era ação própria. Hoje segue o rito ordinário. A
execução segue pelo art. 621, albergando o mesmo, também, o possuidor de título
judicial ou extrajudicial que confira ao titular direito (possuidor indireto) de entrega da
coisa. Ocorre para quem nunca teve posse, mas só o domínio. Não se confunde com as
possessórias típicas, porque tem fundamento no domínio, razão pela qual não se lhe
aplica o princípio da fungibilidade (é ação petitória).

ii. Nunciação de obra nova (art. 934, CPC): consiste no pedido de impedimento por parte
do proprietário ou possuidor de obra nova (que está sendo feita) em imóvel vizinho;
por parte do condômino, em relação a obra que está sendo feita por co-proprietário;
pelo Município em relação a obra que está sendo feita em confronto com norma
municipal vigente. Obra é toda e qualquer alteração física da coisa.

É requisito essencial da ação de nunciação de obra nova que a obra seja nova, que não
se encontre em fase de acabamento e que os prédios sejam vizinhos. Os artigos 572 e
573 do Código Civil são fundamentos materiais que possibilitam o embargo de obra de
outro.

Cumpre observar a diferença entre ação de dano infecto e ação de nunciação de obra
nova. Com efeito, A ação de dano infecto pode ser exercida quando o prédio do
vizinho ameaça ruir. Vizinho é todo aquele que mora suficientemente perto, para que
a obra feita em um dos imóveis repercuta no outro. Ação de nunciação de obra nova é
remédio processual que visa solucionar conflitos no confronto do direito de construir
com o direito de vizinhança.

O Supremo Tribunal Federal autoriza a conversão da nunciação de obra nova em


perdas e danos, para não ofender o princípio constitucional da função social da
propriedade. Deve ser aplicada com cuidado e em casos especiais.

O art. 934, inc. II, do CPC dispõe que cabe nunciação de obra nova ao condômino, para
impedir a alteração da coisa comum. A alteração de substância exige o consentimento
de todos os condôminos.

Conforme art. 934, inc.III, do CPC, compete ao Município a ação de nunciação de obra
nova para evitar o desrespeito às leis, aos regulamentos e às posturas municipais.

É pacífico o entendimento de que a legitimidade conferida ao Município estende-se a


qualquer pessoa jurídica de direito público.

iii. Embargos de retenção: – por ter força executiva, não necessitando de fase de
execução, nos moldes do CPC, é predominante o entendimento de que não cabe
embargos do executado em ação possessória, mas os tribunais já acolheram os
embargos de retenção por benfeitorias em possessória. Os embargos de retenção só

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são cabíveis, entretanto, nos casos em que não houve discussão anterior sobre o jus
retentionis. Abrangem tanto as benfeitorias, como as acessões.

CONCLUSÃO 81 CJF: ART. 1219: O direito de retenção previsto art. 1219 do CC, decorrente da
realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e
plantações) nas mesmas circunstâncias.

iv. Embargos de terceiro senhor e possuidor (art. 1046, CPC): a legislação confere a quem,
não sendo parte do feito judicial, sobre turbação ou esbulho em sua posse por efeito
de penhora, depósito, arresto, sequestro, venda judicial, arrecadação, partilha ou
outra apreensão judicial, a fim de que sejam defendidos os bens possuídos. Basta a
condição de possuidor, mas pode ser invocado tanto o domínio quanto a posse. O STF
admite embargos de terceiro em ação possessória, mesmo depois do trânsito em
julgado da sentença do processo de conhecimento. O quinquídeo para a oposição
conta-se do ato que exaure a execução (CPC, art. 1046). Isto porque quem não foi
parte no processo,mas veio a sofrer turbação ou esbulho na posse da coisa, por
apreensão judicial, está legitimado a opor tais embargos para fazer cessar a
perturbação.

28.4.2. Hipóteses de Cabimento e Competência


Cabe ação de manutenção de posse quando o possuidor tiver a sua posse turbada por outrem;
a reintegração será a ação apropriada no caso de o possuidor haver sofrido esbulho na sua
posse; o interdito proibitório poderá ser requerido quando houver fundado receio de que o
possuidor seja molestado em sua posse.

Sobre o interdito proibitório e seu conteúdo cominatório, assim dispõe o art. 932 do CPC: “O
possuidor direto ou indireto, que tenha justo receito de ser molestado na posse, poderá
impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado
proibitório, em que se comine ao réu determinada pena pecuniária, caso transgrida o
preceito”.

SE O PODER PÚBLICO JÁ DEU AO IMÓVEL UMA DESTINAÇÃO PÚBLICA, NÃO É POSSÍVEL A


AÇÃO POSSESSÓRIA. NESSE CASO, CABE AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA PARA PLEITEAR
PERDAS E DANOS.

Súmula 415, STF: “Servidão de trânsito não titulada, mas tornada permanente, sobretudo pela
natureza das obras realizadas, considera-se aparente, conferindo direito à proteção
possessória”.

Competente para a propositura da ação possessória, seja qual for o procedimento adotado, é
o foro da situação da coisa (forum rei sitae – art. 95 do CPC). Trata-se de competência
absoluta, não podendo ser derrogada ou modificada. Serão propostas, as ações possessórias,
no foro onde o imóvel violado estiver localizado ou, em se tratando de bem móvel, no foro do
domicílio do réu.

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28.4.3. Legitimidade Ativa e Passiva


Legitimidade ativa: pode promover a ação possessória aquele que tem posse, direta ou
indireta, ou foi privado dela. Cada compossuidor tem legitimidade para, sozinho, defender a
sua posse e a dos demais compossuidores contra terceiros (arts. 623, II, e 634 do Código Civil).
O compossuidor somente poderá dirigir a ação possessória contra outro compossuidor se
estiver exercendo a posse pro diviso, em determinada parte do bem. Havendo indivisão na
composse, a lei lhe veda o exercício da ação possessória contra o compossuidor, seja porque
não pode excluir a posse do compossuidor, seja porque pretende mudar a destinação da coisa
possuída em detrimento do direito do compossuidor (art. 488 do CC).

O detentor não tem a faculdade de propor ação possessória, por não ter a posse. Nas
possessórias, excetua-se a regra geral de que o cônjuge necessitará de consentimento do
outro para propor a ação – não há a necessidade da participação de ambos, exceto nos casos
de composse e de ato por ambos praticado (art. 10, § 2.º, do CPC).

Possuidores diretos e indiretos têm ação possessória contra terceiros – legitimação


concorrente – e também um contra o outro. Havendo posse escalonada em níveis (locador,
locatário, sublocatário), em que há um possuidor direto e também um possuidor indireto, é
preciso verificar qual das posses foi ofendida na ação movida entre eles. Entretanto, contra
terceiros, há legitimação concorrente dos possuidores de diferentes níveis, podendo instaurar-
se litisconsórcio não obrigatório.

A LEGITIMIDADE PASSIVA nas ações possessórias é do autor da ameaça, turbação ou esbulho


(CPC, art. 927, II e 932), assim como do terceiro que recebeu a coisa esbulhada, sabendo que o
era, isto é, de má-fé (CC, 1212). Contra terceiro que recebeu a coisa de boa-fé não cabe a ação
de reintegração de posse, pela interpretação a contrario sensu do referido art. 1212. Nesse
caso, caberá ao esbulhado a ação PETITÓRIA contra o terceiro de boa-fé.

CONCLUSÃO 80 Estudos sobre o NCC realizado pelo CJF: Art. 1212: é inadmissível o
direcionamento de demanda possessória ou ressarcitória contra terceiro possuidor de boa-fé,
por ser parte passiva ilegítima, diante do disposto no art. 1212 do NCC. Contra terceiro de boa-
fé cabe tão- somente a propositura de demanda de natureza real.

Quando a turbação ou o esbulho for causado por menor púbere, será possível ajuizar ação
contra ele; porém, o menor deverá estar assistido por seus pais ou responsáveis. No caso de
menor impúbere, a ação deverá ser ajuizada em face do responsável pelo incapaz. A pessoa
jurídica, de direito privado ou público, poderá ocupar o polo passivo das ações possessórias,
pois a ninguém é dado o direito de desapossar outrem sem o devido processo legal. Pode,
ainda, figurar no polo passivo de ação possessória aquele que também seja possuidor da
coisa. Então, se o locador esbulha a posse do locatário, este promoverá, em face daquele, a
ação de reintegração.

Pode suceder, contudo, que o causador da ofensa à posse seja simples preposto de terceiro.
Como ele se posiciona, em relação à posse ofendida, como mero detentor, legitimado passivo
será o preponente, isto é, aquele que determinou a prática do ato ofensivo. Exemplificando:
poderá o patrão determinar a seu empregado que altere as cercas divisórias de propriedade,
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afetando assim a posse do vizinho. Réu será o patrão, mas, acionado que seja o empregado,
este nomeará à autoria o primeiro, corrigindo, assim, o polo passivo da relação processual (art.
62 do CPC).

Se o autor menciona que houve esbulho de sua posse por uma pessoa, ou pessoas,
determináveis, ainda que não se dê a qualificação e o nome completo, a inicial não deve ser
indeferida, devendo, entretanto, ser preservada a ampla publicidade do processo, em prestígio
ao contraditório.

28.4.4. Pedidos
Podem ser quatro os pedidos feitos pelo autor na inicial:

a) Proteção possessória;

b) Indenização por perdas e danos;

c) Cominação de pena para caso de nova turbação ou esbulho;

d) Desfazimento de plantação ou construção feita em detrimento de sua posse.

Os pedidos devem ser claros e constar expressamente da exordial, não podendo o juiz
conceder qualquer um deles sem que o autor haja requerido explicitamente.

Dispõe o art. 922 do CPC que “é lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em
sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da
turbação ou do esbulho cometido pelo autor”. Tal dispositivo revela o caráter dúplice das
ações possessória.

Em razão disso, em princípio, não cabe reconvenção em ação possessória. Porém, em tese, se
o réu pretender outra coisa que não a proteção possessória ou a indenização pelos danos
oriundos do esbulho ou turbação (p. ex., cominação de multa ou o desfazimento de
construção), deverá fazê-lo pela via reconvencional.

No entanto, não será permitido ao réu requerer a concessão de liminar na contestação. Isso
porque, no caso de haver sido negada a liminar, a situação que lhe é favorável permanecerá a
mesma; no caso de ser concedida, caberá recurso e o conhecimento da matéria será devolvido
ao tribunal competente.

Fungibilidade: aplica-se o princípio da fungibilidade às possessórias, concedendo o juiz a tutela


mais adequada ao caso concreto, independentemente do tipo de ação que foi proposta pelo
autor (exemplo: se o autor ingressa com ação de manutenção de posse alegando turbação e, à
época da concessão, ocorrem mudanças nos fatos, tornando-se caso de esbulho, o juiz irá
conceder a reintegração da posse).

O princípio da fungibilidade está disposto no art. 920 do Código de Processo Civil, assim
regulamentado: “A propositura de uma ação possessória, em vez de outra, não obstará a que o
juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos requisitos
estejam provados”.
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A fungibilidade aplica-se às possessórias, justificando-se tal fato por ser de difícil identificação
a espécie de agressão à posse e por existir a possibilidade de que a agressão inicial venha a
alterar-se no curso da demanda.

Inexiste, porém, a fungibilidade entre um interdito possessório e um instituto que não o seja.
Por exemplo: não pode o juiz valer-se da fungibilidade para julgar ação possessória como se
fosse petitória e vice-versa.

28.4.5. Procedimento
Deve-se esclarecer, inicialmente, que o procedimento especial previsto nos arts. 923 a 933,
CPC, apenas se aplica às demandas possessórias propostas dentro de ano e dia234,
denominadas de demandas de posse nova. Os processos propostos após esse prazo,
denominados de posse velha, inobstante não perderem o caráter possessório, seguem, nos
termos do art. 924, CPC, o procedimento ordinário.

Discute-se, contudo, se a menção do art. 924, CPC, ao procedimento ordinário significaria


procedimento comum, ordinário ou sumário, ou o procedimento ordinário propriamente dito,
sem se cogitar da aplicação do sumário às “ações possessórias de força velha”. Athos Gusmão
Carneiro e Freitas Câmara, dentre outros, sustentam que, não excedendo o valor da causa a
sessenta salários mínimos, o procedimento a ser observado seria o sumário. Até porque, nos
termos do art. 3º, IV, Lei n.º 9.099/95, são competentes os Juizados Especiais Cíveis para as
“ações possessórias” referentes a imóveis cujo valor não exceda a 40 salários mínimos. Assim,
admitindo o ordenamento jurídico a competência dos JEC para as demandas possessórias, não
haveria razões para excluir a aplicação do rito sumário àquelas cujo valor da causa não exceda
60 salários mínimos.

Dessa forma, caso o esbulho ou turbação tenha ocorrido há mais de ano e dia (posse velha), a
ação possessória (que não perde esse caráter) não seguirá o rito especial, que prevê a
possibilidade de concessão de liminar, com ou sem prévia justificação, mas o rito comum
(ordinário ou sumário), INCLUSIVE COM POSSIBILIDADE DE DEFERIMENTO DE TUTELA
ANTECIPADA, se presentes os requisitos do art. 273 do CPC. Destaque-se apenas que tal
posição (de antecipação de tutela nas ações possessórias de força velha), inobstante
majoritária (Dinamarco, Freitas Câmara, STJ - REsp 201219/ES) não é unânime. Há
doutrinadores que defendem a impossibilidade de antecipação de tutela nesses casos, eis que
se trata de procedimento especial que apenas a previu para os casos de força nova.

Freitas Câmara afirma não haver maiores divergências quanto à possibilidade de antecipação
de tutela nas hipóteses do art. 273, II, CPC (abuso do direito de defesa). Entende, contudo, que
a princípio não é possível a antecipação da tutela com base no art. 273, I, CPC (periculum in
mora), eis que seria insustentável defender a urgência do provimento se o próprio
demandante esperou mais de ano e dia para demanda-lo. Haveria, contudo, situações
excepcionais em que se configuraria o periculum in mora, que seria o caso do mesmo se

234
Segundo Freitas Câmara “dentro de ano e dia” significa até um ano e um dia (não antes de um ano e
um dia). Só seria considerado de força velha o processo proposto a partir de um ano e dois dias,
inclusive.
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manifestar após a turbação ou o esbulho (ex: ocorrida a moléstia à posse, não houve qualquer
ameaça de destruição do bem cuja posse do autor foi turbada/esbulhada. Inobstante, após
ano e dia o causador da lesão à posse passa a praticar atos que ameaçam destruir o bem).

Passemos, então, à análise do procedimento especial:

Petição inicial: a petição inicial deve conter os requisitos dos arts. 282 e 283 do CPC. O autor,
na petição inicial, deve qualificar o réu, exceto quando impossibilitado de fazê-lo (por
exemplo, em grandes invasões, quando não é possível identificar todas as pessoas). Deve,
ainda, especificar a existência da posse, a duração desta, a natureza do ato violador e a data
em que esse ato ocorreu e, a continuação ou perda da posse, respectivamente para nos casos
de turbação e esbulho. Não basta que o autor afirme o seu direito possessório; o autor deve
demonstrar o esbulho ou a turbação de sua posse.

Segundo o art. 928 do CPC, “estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá,
sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração; no caso
contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para
comparecer à audiência que for designada”.

O juiz pode conceder, ou não, a liminar possessória, que constitui uma antecipação de tutela
com requisitos próprios: entre eles encontra-se a violação do direito possessório a menos de
ano e dia (e não o periculum in mora). A liminar, na ação possessória, limita-se à proteção
possessória, não atingindo, por exemplo, a execução por perdas e danos. Pode ocorrer uma
antecipação de tutela da execução por perdas e danos; entretanto, deve-se seguir as regras do
art. 273 do CPC.

A audiência de justificação tem a única finalidade de dar elementos de cognição sumária ao


juiz, a fim de que examine a possibilidade de conceder ou não a liminar. A prova, portanto, é
exclusiva do autor. O réu, comparecendo à audiência, poderá reperguntar e oferecer
contradita às testemunhas do autor, no caso de suspeição ou impedimento. Não lhe é
permitido, entretanto, arrolar testemunhas, requerer depoimento pessoal do autor ou
produzir qualquer prova.

Dispõe o § único do art. 928 do CPC que “contra as pessoas jurídicas de direito público não
será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos
representantes”.

Caução: o art. 925 do CPC estabelece: “Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor
provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no
caso de decair da ação, responder por perdas, o juiz assinar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para
requerer caução sob pena de ser depositada a coisa litigiosa”.

O juiz, portanto, ao conceder a liminar, em princípio não pode exigir do autor que ele preste
uma caução real ou fidejussória. O que o sistema prevê é que o réu, na sua defesa, possa
requerer que o autor preste caução, sob o argumento de que este não teria idoneidade
financeira para arcar com os prejuízos caso não tenha a tutela jurisdicional a seu favor. Nesse
caso, o juiz pode fixar a caução, sob pena de o bem, objeto da ação possessória, ser
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depositado. Essa regra do Código de Processo Civil deve ser interpretada sistematicamente, ou
seja, o réu deve demonstrar o risco pela falta de idoneidade financeira e, ainda, deve colocar
em dúvida a cautelar concedida. Contra decisão que defere ou indefere a liminar cabe agravo
de instrumento, inclusive com possibilidade de requerimento, ao relator, de efeito suspensivo.

Sustenta a doutrina que, concedida a liminar, não pode o juiz revogá-la, exceto em juízo de
retratação, na hipótese de interposição de agravo, ou se houver modificação no estado fático.

O prazo para contestar (15 dias) começa a correr a partir da intimação do réu da decisão que
concede ou denega a medida liminar, mesmo tendo havido audiência de justificação.

Respondida a demanda, os atos serão praticados em respeito ao procedimento comum


ordinário, até a sentença.

As ações possessórias podem ser classificadas como ações executivas lato sensu, pois sua
execução se dá sem solução de continuidade, ou seja, sem que seja necessário pedido do
autor para que tenha início a fase de cumprimento da sentença. Assim, a tutela da posse
ocorre mediante simples expedição de mandado de manutenção ou reintegração.

Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento ordinário, segundo o art. 931 do CPC.

Disposições gerais: os embargos de terceiro são admitidos, embora haja pequena divergência
jurisprudencial. É entendimento do Professor Humberto Theodoro Júnior1: “Assim, embora
haja pequena divergência jurisprudencial, o certo, porém, é que o melhor entendimento, aliás
dominante nos Tribunais, é, a exemplo da doutrina, no sentido de que ‘podem ser oferecidos
embargos de terceiro na fase de execução de mandado de reintegração de posse'”.

Quanto ao embargo de retenção por benfeitorias, é entendimento do Professor Humberto


Theodoro Júnior que, “se o demandado tem benfeitorias a indenizar, e pretende exercer, se
cabível, o direito de retenção, há de fazê-lo no curso da ação por meio da contestação e nunca
por via de ‘embargos de retenção’, após a sentença, porque tais embargos pressupõem,
logicamente, a existência de uma execução de sentença, nos moldes da condenação à entrega
de coisa certa (art. 744 do CPC)”.

28.4.6. Confronto entre Ações Possessórias e Petitórias


Impende ser ressaltada a diferença entre o juízo possessório e o juízo petitório. No juízo
possessório discute-se a posse com base na própria posse, no direito de posse (jus
possessionis). Dispensa-se prova ou discussão acerca do domínio ou qualquer situação jurídica
de vantagem, ainda que dela não decorra o domínio (tal como um contrato de locação, de
comodato). Basta se provar a posse esbulhada ou turbada.

Já no juízo petitório os litigantes alegam o domínio ou alguma situação jurídica de vantagem. A


causa de pedir é o direito à posse (jus possidendi), a qual não se tem nem se teve.

Dessa forma, o possuidor pode receber a proteção possessória inclusive contra o proprietário
que, embora vencido no juízo possessório (já que, por exemplo, havendo adquirido imóvel e
constatando estar o mesmo ocupado por quem não de direito, utiliza de força própria para

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retirar da posse o invasor235) pode reclamar a coisa com base em seu domínio, no juízo
petitório236 (ação de reivindicação).

Dispõe o art. 923 do CPC, em sua redação atual, que “na pendência do processo possessório é
defeso, assim ao autor como ao réu, intentar ação de reconhecimento do domínio”. O STF já
se manifestou pela constitucionalidade dessa norma. Portanto, primeiro resolve-se o problema
da posse, para em seguida resolver a questão do domínio.

Excepcionalmente, porém, podia a questão do domínio ser versada no juízo possessório,


tendo em vista as partes finais do art. 505237 do CC de 1916 e do art. 923238, CPC (redação
original), que determinavam ao juiz que não deferisse a posse à quem não pertencesse a
propriedade. A fim de conciliar a contradição existente em face das duas partes das referidas
disposições, a JURISPRUDÊNCIA vinha limitando a 2 (duas) hipóteses a permissão para exame,
pelo juiz e dentro da esfera possessória, da questão da propriedade. Eram elas (EXCEPTIO
DOMINIS, EXCEPTIO PROPRIETATIS OU QUERELLA PROPRIETATIS):

- quando ambos os litigantes disputavam a posse com fundamento em prova de domínio;

- quando o exame da prova não tinha sido capaz de dissipar a dúvida no que respeita ao
verdadeiro possuidor.

Havia julgados do STF no sentido admitirem uma das duas hipóteses ou as duas e a Súmula
487 (STF), atualmente revogada pelo art. 1210, § 2º do CC2002239, dispunha: "será deferida a
posse a quem, evidentemente, tiver o domínio; se com base neste ela for disputada".

A Lei 6820/80 suprimiu a segunda parte do artigo 923 do CPC, razão pela qual parte da
jurisprudência se posicionou no sentido da revogação do art. 505, CC/16 e da Súmula 487 STF
e, em consequência, estaria extinta a exceção de domínio em nosso ordenamento. Dito
entendimento foi ratificado pelo art. 1210, § 2º do CC 2002, que não mencionou o referido
instituto. Portanto, enquanto estiver tramitando a ação possessória, nem o autor nem o réu
podem ajuizar, paralelamente, a ação petitória para obter a declaração de seu direito à

235
Nesse caso, o proprietário, embora tenha direito à proteção possessória, pratica ato ilícito, pois não
poderia retirar o ocupante da posse do bem seu por conta própria, mas apenas mediante ordem
judicial.
236
No exemplo o proprietário deveria buscar a posse mediante “ação petitória”, eis que nunca teve
posse anterior. Há situações, todavia, em que a demanda do proprietário contra o possuidor tem
natureza possessória, como no caso de demanda proposta contra alguém que invade imóvel que estava
na posse do proprietário.
237
Não obsta à manutenção, ou reintegração na posse, a alegação de domínio, ou de outro direito sobre
a coisa. Não se deve, entretanto, julgar a posse em favor daquele a quem evidentemente não pertencer
o domínio.
238
Art. 923. Na pendência do processo possessório é defeso assim ao autor como ao réu intentar a ação
de reconhecimento do domínio. Não obsta, porém, à manutenção ou à reintegração na posse a
alegação de domínio ou de outro direito sobre a coisa; caso em que a posse será julgada em favor
daquele a quem evidentemente pertencer o domínio. (Redação original).
239
Nem todos entendem assim. Theodoro Jr. e Freitas Câmara, por exemplo, sustentam que a S 487,
STF, tem aplicação às “ações petitórias”, eis que nas possessórias não se pode discutir a posse com base
no domínio (se esta for a causa de pedir, estar-se-á diante de “ação petitória”).
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posse. Tramita normalmente a ação petitória, contudo, se esta tiver sido ajuizada
anteriormente à possessória (REsp 139.916/DF).

CONCLUSÃO 78 CJF: Art. 1210: Tendo em vista a não recepção, pelo novo Código Civil, da
exceptio proprietatis (art. 1210, § 2º) em caso de ausência de prova suficiente para embasar
decisão liminar ou sentença final ancorada exclusivamente ius possessionis, deverá o pedido
ser indeferido e julgado improcedente, não obstante eventual alegação e demonstração de
direito real sobre o bem litigioso.

CONCLUSÃO 79 CJF: Art. 1210: a exceptio proprietatis, como defesa oponível às ações
possessórias típicas, foi abolida pelo CC 2002, que estabeleceu a absoluta separação entre os
juízos possessório e petitório.

28.5. Ação de Demarcação de Terras Particulares


Usucapião é um modo originário de aquisição da propriedade. A pessoa torna-se proprietária
por usucapião, se preenchidos todos os requisitos previstos em lei.

A “ação de usucapião” é demanda de conhecimento. Antes da reforma do CPC de 1994, era


verdadeiro procedimento especial, eis que havia a audiência de justificação da posse.
Atualmente em nada difere do procedimento comum ordinário. As normas do CPC não são
normas de procedimento; tratam apenas de matéria eminentemente processual, tais como
legitimidade e requisitos formais (Freitas Câmara, Dinamarco, Navarro).

28.5.1. Legitimidade Ativa


Compete promover a ação de usucapião àquele que afirma ter adquirido a propriedade de
bem imóvel por usucapião ordinária ou extraordinária. Sendo o demandante casado (ou
vivendo em união estável), deve ter a sua legitimidade integrada pelo consentimento do
cônjuge (companheiro). É de se destacar que as normas dos arts. 941 a 945, CPC, apenas se
aplicam à usucapião de bens imóveis adquiridos por usucapião ordinária ou extraordinária. A
usucapião especial segue o procedimento comum sumário, com peculiaridades processuais
(mas não procedimentais) conforme previsto nas Leis n.º 6.969/81 (rural) e n.º 10.257/01
(Estatuto da Cidade – urbano). Para a de bens imóveis observar-se-á o procedimento comum,
ordinário ou sumário, a depender do valor da causa.

O demandante, para ter legitimidade, não precisa ser o possuidor do imóvel. Basta que já
tenha ele tido a posse e preenchido os requisitos legais para a aquisição da propriedade
através da usucapião. Nada obsta que se reconheça a aquisição da propriedade através da
usucapião em favor de quem, depois de adquirir o domínio, perdeu a posse.

Nelson Luiz Pinto entende que a ação de usucapião promovida por possuidor direto
(ex:locatário) ou por mero detentor deve ser extinta sem julgamento do mérito por
ilegitimidade ativa ad causam. Humberto Theodoro Junior discorda, pois a análise da presença
da posse ad usucapionem é matéria de mérito, e assim deve ser a decisão. Entretanto, se o
Autor invoca como fundamento do pedido uma posse direta ou simples detençào, o que
ocorrerá será a inépcia da petição inicial, por impossibilidade jurídica do pedido, na forma do
art. 295, P.U., II, do CPC.

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28.5.2. Legitimação Passiva


I – Réus certos – os réus certos, que devem ser citados por mandado, são as pessoas em cujo
nome o imóvel está transcrito no Registro Geral de Imóveis (RGI), bem como os confinantes
do prédio usucapiendo. Por se tratar de ação real imobiliária, indispensável será a citação do
cônjuge, sempre que os réus (em nome de quem está registrado o imóvel e os confinantes)
forem casados.

A falta de citação do réu acarretará a ineficácia absoluta da sentença de mérito, com a


possibilidade de rejeição da mesma via Embargos à Execução, ação rescisória ou ação
declaratória (querella nullitatis).

A falta de citação do confinante não vicia o processo, afetando apenas a ação de delimitação
(há entendimento doutrinário de que há uma “ação de demarcação” embutida na “ação de
usucapião”, para bem delimitar a área do imóvel usucapiendo).

Sendo a citação dos confinantes destinada a delimitar a área do imóvel usucapiendo, será esta
desnecessária quando de tratar de uma unidade autônoma em condomínio em edifício, já
precisamente delimitada.

II –Réus Ausentes (certos) ou Incertos e Desconhecidos -Haverá citação por edital (art. 231, II)

Réus Ausentes – são as pessoas conhecidas, com interesse certo na causa, cujo paradeiro se
ignora, tornando inviável a citação pessoal por mandado;

Réus Incertos e Desconhecidos – são aqueles cuja existência é possível mas não conhecida,
ainda, do autor. Para Navarro e Dinamarco não são verdadeiros réus, mas opoentes, razão
pela qual não deveriam ser citados, mas intimados.

Se um dos dois primeiros for citado por edital e não aparecer, o juiz deve nomear curador
especial, tendo incidência o disposto no art. 9.º, inc. II, do CPC. Não haverá, contudo, a
nomeação de curador especial para os réus incertos citados por edital se por acaso ninguém
responder à citação. Presume-se, nesse caso, que não há interessados no feito, e não que
houve revelia.

Além dos réus certos e incertos, nos casos em que o demandante perdeu a posse, é necessária
a citação do atual possuidor, para que figure como réu, sendo litisconsorte passivo necessário
dos demais demandados.

Além de citação dos réus certos e incertos, há necessidade de intimação:

a) do Ministério Público (art. 944 do CPC);

b) da Fazenda da União, do Estado, do DF, do Município onde se localiza o imóvel (art. 943 do
CPC).

28.5.3. Competência
Conforme o art. 95 do CPC, competente é o foro da situação do bem usucapiendo. Ver ao final
súmulas a respeito da competência da Justiça Federal.
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28.5.4. Conexão e Litispendência


A propositura de mais de uma ação de usucapião por pretendentes diversos sobre o mesmo
imóvel não é razão para trancar a segunda demanda a pretexto de litispendência, pois o que
ocorre é conexão, que impõe a união dos feitos para evitar decisões contraditórias.

28.5.5. Petição Inicial


Além dos requisitos elencados no art. 282 do CPC, deve conter também:

a) Fundamento do Pedido: explicitação da origem e características da posse, de sua


duração e do tipo de usucapião que se pretende configurar;

b) Individuação do Imóvel: deve a petição inicial ser instruída com a planta do imóvel
usucapiendo. Entretanto, caso o imóvel seja registrado no RGI, bastam as descrições
do mencionado registro;

c) Objeto do Pedido: pedido de declaração do domínio do imóvel ou de servidão


predial;

Tem-se exigido, ainda, certidão de ônus reais, para que se possa aferir em nome de
quem está registrado o imóvel, além de certidão negativa da existência de “ações
possessórias” entre as partes, em razão da regra do art. 923, CPC.

28.5.6. Revelia
Os efeitos da revelia devem ser examinados em face do tipo do réu e do tipo de citação:

i. Se o Réu for certo e for citado por mandado ou edital, ocorrerá a revelia se a
ação não for contestada no prazo de 15 dias.

ii. Se o réu, embora certo, seja ausente, após sua citação por edital deverá ser
nomeado curador especial (art.9º , II, do CPC);

iii. Sendo réu incerto e desconhecido, não há revelia pois não chegou a compor a
lide como parte. Também não é exigível a nomeação de curador especial.

28.5.7. Pendência de Ação Possessória


Sendo a ação de usucapião uma ação real declaratória de domínio, a ela se aplica o disposto
no art. 923, do CPC.

28.5.8. Coisa Julgada


A sentença de usucapião tem efeito erga omnes, mas a autoridade da coisa julgada só se dá
em relação aos réus necessários que efetivamente tenham se vinculado ao processo através
da citação válida. Não basta a citação dos interessados incertos para suprir a falta de citação
dos interessados certos.

O demandante derrotado pode intentar novamente “ação de usucapião”. Isso porque haverá
modificação na causa de pedir, já que nesta nova demanda o autor terá de alegar suporte
fático ao menos parcialmente diverso do apresentado na primeira demanda (ex: prazo mais
longo).
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A sentença na ação de usucapião é meramente declaratória e, portanto, tem eficácia ex tunc.


Seus efeitos retroagem, segundo doutrina amplamente majoritária à data em que se
completou o tempo necessário à aquisição do domínio.

28.5.9. Registro de Imóveis


A sentença que julgar procedente o pedido de usucapião será transcrita, mediante mandado,
no RGI, satisfeitas as obrigações fiscais. Esse registro não pode ser considerado tecnicamente
como execução forçada, pois seu objetivo é apenas dar publicidade ao título dominial do autor
e facilitar-lhe a disponibilidade do respectivo direito dominial. Daí a Jurisprudência inadmitir a
propositura de Embargos a Execução de sentença em ação de usucapião.

O registro da sentença no RGI é efeito natural da mesma, não havendo necessidade desse
comando na mesma. Independe até mesmo de pedido expresso do autor na petição inicial.

É também dispensável qualquer referência ao registro anterior do imóvel, para efeito de


abertura de matrícula do imóvel usucapido, uma vez que a aquisição do domínio por
usucapião é de forma originária e não derivada.

Com relação às obrigações fiscais (art.945, in fine, do CPC), analisando-se o Sistema Tributário
Nacional, conclui-se que o único tributo devido, em tese, seria o Imposto de Transmissão inter
vivos de bens imóveis (ITBI). Entretanto, o STF entende que não cabe a incidência do ITBI pois
a sentença de usucapião é forma originária de aquisição da propriedade, e o ITBI só incidiria
em casos de aquisição derivada.

28.5.10. O Usucapião como Matéria de Defesa (Exceção de Usucapião)


O usucapião, como forma de aquisição da propriedade, aperfeiçoa-se independentemente da
ação destinada a declará-lo. Assim, o possuidor se torna proprietário desde o momento em
que se consegue reunir todos os requisitos legais da prescrição aquisitiva. E, por isso,
demandado pelo antigo dono para restituir o imóvel, pode o possuidor se defender com
invocação do direito que lhe adveio do usucapião, mesmo que ainda não tenha obtido
sentença para matriculá-lo em seu nome no RGI. Deve ser arguido na contestação, sob pena
de preclusão.

Entretanto, a acolhida da exceção (defesa) de usucapião acarretará a improcedência da


reivindicação do antigo dono, mas não gerará sentença hábil à matrícula do imóvel em nome
do excipiente (eis que a contestação não pode ampliar o objeto do processo, fazendo pedido
no sentido do reconhecimento da aquisição do domínio. Assim, não se opera a coisa julgada
em favor do réu; toda a matéria pode ser discutida novamente em ação de usucapião por ele
proposta).

Também não pode o réu oferecer reconvenção com o objetivo de ser reconhecida a aquisição
do domínio, eis que implicaria em que fossem trazidos ao processo diversas outras pessoas
que dele não participariam, como o MP, as FP’s, réus incertos, confinantes.

28.5.11. Súmulas Aplicáveis


Súmula 391, STF: “O confinante deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usucapião”.

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Súmula 263, STF: “O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usucapião”.

Súmula 237, STF: “O usucapião pode ser arguido em defesa”.

Súmula 193, STJ: “O direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por usucapião”.

28.6. Embargos de Terceiros


Trata-se o instituto de ação de conhecimento, constitutiva negativa, de procedimento especial
sumário, cuja finalidade é livrar o bem ou direito de posse ou propriedade de terceiro da
constrição judicial que lhe foi injustamente imposta em processo de que não faz parte. O
embargante pretende ou obter a liberação (manutenção ou reintegração na posse), ou evitar a
alienação de bem ou direito indevidamente constrito ou ameaçado de o ser em processo de
que não fez parte.

É terceiro, portanto, quem não é parte na relação jurídica processual

Assim, os requisitos dessa medida, são o direito ou a posse do terceiro a justificar a exclusão
dos bens da medida executiva que se processa entre estranhos ao embargante.

A premissa que se há de partir é a de que os embargos de terceiro, como o nome já o diz,


servem a proteger a posse de bens de quem não seja parte do feito. Basta conferir a redação
do art. 1.046 do Código de Processo Civil:

Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho
na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de
penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação,
arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer Ihe sejam manutenidos ou
restituídos por meio de embargos.

§ 1o Os embargos podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou apenas


possuidor.

§ 2o Equipara-se a terceiro a parte que, posto figure no processo, defende


bens que, pelo título de sua aquisição ou pela qualidade em que os possuir,
não podem ser atingidos pela apreensão judicial.

§ 3o Considera-se também terceiro o cônjuge quando defende a posse de


bens dotais, próprios, reservados ou de sua meação.

Art. 1.047. Admitem-se ainda embargos de terceiro:

I - para a defesa da posse, quando, nas ações de divisão ou de demarcação,


for o imóvel sujeito a atos materiais, preparatórios ou definitivos, da partilha
ou da fixação de rumos;

II - para o credor com garantia real obstar alienação judicial do objeto da


hipoteca, penhor ou anticrese.

Art. 1.048. Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo


de conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença, e, no

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processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da arrematação, adjudicação


ou remição, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta.

Art. 1.049. Os embargos serão distribuídos por dependência e correrão em


autos distintos perante o mesmo juiz que ordenou a apreensão.

Art. 1.050. O embargante, em petição elaborada com observância do disposto


no art. 282, fará a prova sumária de sua posse e a qualidade de terceiro,
oferecendo documentos e rol de testemunhas.

§ 1o É facultada a prova da posse em audiência preliminar designada pelo juiz.

§ 2o O possuidor direto pode alegar, com a sua posse, domínio alheio.

§ 3o A citação será pessoal, se o embargado não tiver procurador


constituído nos autos da ação principal. (Incluído pela Lei nº 12.125, de 2009)

Art. 1.051. Julgando suficientemente provada a posse, o juiz deferirá


liminarmente os embargos e ordenará a expedição de mandado de
manutenção ou de restituição em favor do embargante, que só receberá os
bens depois de prestar caução de os devolver com seus rendimentos, caso
sejam afinal declarados improcedentes.

Art. 1.052. Quando os embargos versarem sobre todos os bens, determinará


o juiz a SUSPENSÃO DO CURSO DO PROCESSO PRINCIPAL; versando sobre
alguns deles, prosseguirá o processo principal somente quanto aos bens não
embargados.

Art. 1.053. Os embargos poderão ser contestados no prazo de 10 (dez) dias,


findo o qual proceder-se-á de acordo com o disposto no art. 803.

Art. 1.054. Contra os embargos do credor com garantia real, somente poderá
o embargado alegar que:

I - o devedor comum é insolvente;

II - o título é nulo ou não obriga a terceiro;

III - outra é a coisa dada em garantia.

Pois bem.

Sobre o instituto, os seguintes entendimentos:

Súmula 195, STJ: “Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico por fraude contra
credores”. Isso porque a fraude contra credores deve ser combatida via ação pauliana. Nos
embargos de terceiros, conforme caput do art. 1.046, a oposição deve ser feita contra ato
judicial. Não é o caso do que ocorre em fraudes contra credores, onde o vício social deverá ser
desconstituído.

Súmula 303, STJ: “Em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar
com os honorários”. Decorrência direta do princípio da causalidade. Se os embargos de
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terceiros forem providos, verificando que a constrição foi indevida, quem deu causa à ela deve
arcar com os honorários do embargante.

Súmula 134, STJ: “Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado
pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação”. Isso porque o cônjuge,
relativamente à sua parte, é um estranho à relação processual. Por isso tem legitimidade para
propor os embargos de terceiros. Ademais, também poderá ingressar com embargos do
executado, para desconstituir a execução sobre o patrimônio do cônjuge. É a chamada dupla
legitimidade.

Súmula 84, STJ: “É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de


posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do
registro”. Essa súmula, que dispensa a ausência de registro para propositura de embargos de
terceiro para proteção da posse, supera entendimento antigo do STF (súmula 621) acerca da
necessidade do registro. O próprio CPC não exige o registro, determinando ser cabível
embargos de terceiros pelo simples fato da posse.

Os embargos de terceiros não podem ser utilizados como meio de oposição a decisões
proferidas em ação de imissão de posse em que a parte embargante seja ré. O réu é parte no
feito, e não terceiro. Daí não caber a ele se utilizar de embargos de terceiro, mas sim de um
recurso, quando proferida decisão que lhe tenha sido desfavorável.

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE


PREQUESTIONAMENTO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 282 E 356 DO STF.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. EMBARGOS DE TERCEIRO.
ALEGAÇÃO DE POSSE ADVINDA DE ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E
VENDA DE IMÓVEL. EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA CONSTITUTI. AQUISIÇÃO DA
POSSE COMPROVADA. QUALIDADE DE POSSUIDOR INDIRETO QUE NÃO
RETIRA A LEGITIMIDADE PARA O MANEJO DA AÇÃO POSSESSÓRIA EM
ESPÉCIE. IMÓVEL ALIENADO EM PERÍODO ANTERIOR À CITAÇÃO DO
EXECUTADO. NÃO CORRÊNCIA DE FRAUDE À EXECUÇÃO. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 375/STJ.

1. Inexistência de prequestionamento dos arts. 264 e 515, § 1º, do CPC,


acarretando o não conhecimento do recurso no ponto. Incidência das
Súmulas 282 e 356 do STF.

2. A violação ao art. 535 do CPC não ficou configurada, uma vez que o
Tribunal de origem pronunciou-se de forma clara e suficiente sobre a
questão posta nos autos.

3. A aquisição da posse ocorre também pela cláusula constituti, inserida


em escritura pública de compra e venda de imóvel, o que autoriza o
manejo dos embargos de terceiro pelo adquirente, quando penhorado o
imóvel no âmbito da execução.

4. Não se configura fraude à execução a alienação de bens ocorrida antes da


citação do devedor. Incidência da Súmula 375/STJ.

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5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.

(STJ, REsp 860.044/SC, Rel. MIN. LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 14/06/2011, DJe 01/07/2011)

COMERCIAL. FALÊNCIA. AÇÃO REVOCATÓRIA. EMBARGOS DE TERCEIROS


ADQUIRENTES DE IMÓVEL ANTES DA DECLARAÇÃO DA QUEBRA. BOA-FÉ.
EFEITOS. SÚMULA N. 84-STJ.

I. Não se submetem aos efeitos da ação revocatória movida pela massa


falida exclusivamente contra a empresa compradora de prédio
arrecadado, os terceiros de boa-fé que adquiriram os apartamentos antes
da declaração da quebra da vendedora originária.

II. "É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação


de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que
desprovido do registro." - Súmula n. 84 do STJ.

III. Recurso especial não conhecido.

(STJ, REsp 533.656/RJ, Rel. MIN. ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA


TURMA, julgado em 06/04/2010, DJe 01/02/2011)

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIROS. DENUNCIAÇÃO À LIDE.


CABIMENTO.

I - Os embargos de terceiro, por constituírem ação autônoma que visa


eliminar a eficácia de ato jurídico emanado de outra ação, COMPORTAM
DENUNCIAÇÃO À LIDE PARA RESGUARDO DE POSSÍVEL RISCO DE EVICÇÃO.

II - Recurso especial conhecido e provido. (REsp 161.759/MG, Rel. Ministro


ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/05/2005, DJ
13/06/2005, p. 287)

Quando os embargante for sócio e tiver bem seu indevidamente constrito, ele deve apresentar
embargos de terceiros. Porém, se for sócio-gerente, tem entendido o STJ que deve apresentar
embargos à execução. Nesse sentido:

PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS DE TERCEIRO


CONVERTIDO EM EMBARGOS DO DEVEDOR NA SENTENÇA. GARANTIA DO
JUÍZO. ART. 16, § 1º, DA LEI 6.830/80. RECURSO NÃO PROVIDO.

1. O sócio-gerente de sociedade empresária interpôs embargos de


terceiro, em razão de ter havido a penhora sobre seus bens no transcorrer
da execução. Ao proferir a sentença, o magistrado converteu esse recurso
em embargos do devedor e julgou procedente o pedido. No apelo nobre, a
Fazenda Nacional aponta violação do art. 16, § 1º, da Lei 6.830/80, ao
argumento de que não é possível admitir os embargos sem a garantia
integral da execução.

2. A insuficiência da penhora não impede o recebimento de embargos do


devedor na execução fiscal, uma vez que o art. 15, II, da Lei 6.830/90
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permite o reforço dessa garantia em qualquer momento. Esse


entendimento está pacificado na jurisprudência do STJ.

3. No caso, a complementação da penhora não se faz necessária. Com


efeito, não existe qualquer utilidade na discussão acerca da garantia da
execução fiscal, quando a própria responsabilidade pelo débito já foi
excluída pelo Tribunal a quo, com base nos elementos probatórios da
demanda. Essa conclusão tecida pela Corte de origem não pode ser revista
no âmbito do recurso especial, ante o óbice da Súmula 07/STJ.

4. Recurso especial não provido.

(REsp 1215579/AL, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado


em 17/02/2011, DJe 28/02/2011)

PROCESSUAL - EXECUÇÃO FISCAL - SOCIEDADE LIMITADA - EXECUÇÃO


CONTRA SÓCIO SEM PODER DE GERÊNCIA - EMBARGOS DE TERCEIRO.

- Admite-se que o sócio não gerente, citado em execução fiscal - como


litisconsorte passivo da sociedade limitada - ofereça embargos de
terceiros, para desconstituir penhora incidente sobre seus bens particulares.
Precedentes do STJ.

(REsp 139199/MG, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 15/09/1998, DJ 03/11/1998, p. 22)

Quanto à legitimidade do cônjuge e do espólio, esclarecedor o seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL - EXECUÇÃO FISCAL - PENHORA DE BEM IMÓVEL -


LEGITIMIDADE DO ESPÓLIO PARA INTERPOR EMBARGOS À EXECUÇÃO OU
DE TERCEIRO.

1. A intimação do cônjuge é imprescindível, tratando-se de constrição que


recaia sobre bem pertencente ao casal, constituindo sua ausência causa de
nulidade dos atos posteriores à penhora.

2. É cediço nesta Corte que: A intimação do cônjuge enseja-lhe a via dos


embargos à execução, nos quais poderá discutir a própria causa debendi e
defender o patrimônio como um todo, na qualidade de litisconsorte passivo
do(a) executado(a) e a via dos embargos de terceiro, com vista à defesa da
meação a que entende fazer jus.( REsp 252854 / RJ, Ministro SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ 11.09.2000).

3. Falecendo o cônjuge, a intimação deve operar-se na pessoa do


representante do espólio da mesma, porquanto a constrição influi no
regime jurídico do bem do acervo. Deveras, por força dos arts. 12 da Lei nº
6.830/80 e 669 do CPC, o cônjuge e a fortiori o seu espólio, são partes
legitimadas para oferecerem embargos à execução e, nessa qualidade
deveriam ter sido intimados.

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3. In casu, o cônjuge foi intimado em 12.11.2001 no lugar de sua esposa


falecida, sendo certo que o recorrente e demais partes interessadas
protocolaram no dia 04.12.2001 os embargos à execução.

4. Dessarte, nesse incidente o cônjuge é parte, aplicando-se,


analogicamente o artigo 43 do CPC, verbis: Art. 43. Ocorrendo a morte de
qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos seus
sucessores, observado o disposto no art. 265.

5. O espólio não se limita à interposição dos embargos de terceiro, podendo


suceder o de cujos, ajuizando, inclusive, embargos à execução, a fim de
proteger a fração ideal que lhe pertence, da penhora realizada.

6. Recurso especial provido, para determinar o recebimento dos embargos


do espólio, ora recorrente, a fim de processá-lo.

(REsp 740.331/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em


14/11/2006, DJ 18/12/2006, p. 318)

28.7. Ação de Depósito (arts. 901 a 906)


A ação de depósito requer condições específicas. O art. 902 do CPC prevê dois requisitos
específicos da petição inicial da ação de depósito, a saber:

- prova literal do depósito, que segundo ensina a melhor doutrina não precisa
necessariamente ser o contrato de depósito, bastando que seja uma prova escrita que
demonstra a relação jurídica material de depósito (exigência de início de prova escrita);

- estimativa do valor do bem, caso tal valor não conste do contrato de depósito, exigência que
se presta tanto para a fixação do valor da causa como para possibilitar ao réu a consignação do
valor do bem em dinheiro.

28.8. Ação de Prestação de Contas (arts. 914 a 919)


A ação de prestação de contas tem como objetivo trazer luz ao credor das contas, quando este
não possui informações sobre os seus bens e tenha buscado, sem sucesso, por formas
extrajudiciais, as informações sobre créditos e débitos líquidos de seus bens que ficaram sob a
administração de outrem, seja por força de mandato ou de outra forma de contrato firmado,
mesmo que de forma verbal, isto é, sem formalidades.

O objetivo primário é, portanto, obrigar o devedor a prestar contas. Havendo saldo residual, a
ação poderá ter por objeto também a condenação do devedor ao referido pagamento, mas
este já e um objetivo secundário.

Ela segue o modelo sincrético. A ação de prestação de contas tem natureza condenatória
(obrigação de fazer – de prestar contas), de modo que, prestadas as contas, condena-se o
devedor ao pagamento do SALDO APURADO (obrigação de pagar). Tal pagamento deverá
ocorrer na forma de execução, não uma execução autônoma, mas sim de uma fase
executiva, a ser instaurada nos próprios autos do procedimento especial, em continuidade a
este.

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Na realidade, após as alterações realizadas no CPC em 2006, a regra é o sincretismo


processual, devendo as execuções autônomas ter previsão expressa para tanto, como, por
exemplo, no caso das condenações contra a Fazenda Pública. Não se tratando de exceção
legal, a ação de prestação de contas entra na regra do sincretismo, devendo ser processada a
execução como fase, logo após o término da primeira relação jurídica-processual instaurada.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO CONTAS .FGTS. SEGUNDA


FASE. PRECLUSÃO.

1. Na ação de prestação de contas o trâmite a ser seguido é o contido no


artigo 915 do estatuto processual, que divide o procedimento em duas
fases: na primeira, discute-se acerca do dever de prestar contas; decidindo-
se pela obrigatoriedade de apresentá-las, inicia-se a segunda fase, na qual o
réu é intimado para prestar as contas no prazo de 48 (quarenta e oito)
horas, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar.

2. A segunda fase só pode ter início após o trânsito em julgado da sentença


que decide pela obrigação de apresentar contas.

3. Não se manifestando o recorrente no momento oportuno, é impossível a


rediscussão da matéria em face do óbice da preclusão.

4. Agravo de instrumento do Sindicato dos Servidores da Prefeitura do


Salvador - SINDSEPS improvido (AG 0064849-30.2011.4.01.0000/BA, Relator
DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA, QUINTA TURMA,
Publicação 29/06/2012 e-DJF1 P. 209, Data Decisão 18/06/2012).

28.8.1. Ação de Prestação de Contas em Contratos de Conta Corrente


Nos termos da jurisprudência do STJ, o correntista tem interesse processual para ajuizar ação
de prestação de contas, independentemente de prévio pedido de esclarecimento ao banco ou
do fornecimento de extratos de movimentação financeira, objetivando esclarecer os
lançamentos efetuados em sua conta corrente. Há, inclusive, entendimento sumulado sobre o
assunto (s. 259, STJ).

O fundamento básico utilizado pelo STJ é o de que o correntista tem mais que o direito de
conhecer os lançamentos realizados em sua conta. O correntista tem o direito de entender tais
lançamentos, objetivo que nem sempre se alcança apenas com a mera apresentação os
extratos.

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE


CONTAS. INOVAÇÃO RECURSAL. INADMISSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE
OMISSÃO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. PEDIDO GENÉRICO. INOCORRÊNCIA.
DECADÊNCIA/PRESCRIÇÃO.

1.- É vedado, em sede de agravo regimental, apreciar questões que não


foram objeto de impugnação no recurso especial.

2.- Os Embargos de Declaração são corretamente rejeitados se não há


omissão, contradição ou obscuridade no acórdão embargado, tendo a lide

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sido dirimida com a devida e suficiente fundamentação; apenas não se


adotando a tese do recorrente.

3.- É assente o entendimento desta Corte no sentido de que "não há se falar


em pedido genérico de prestação de contas, quando o autor aponta o
vínculo jurídico existente com o réu e especifica o período digno de
esclarecimentos" (REsp 1.060.217/PR, Rel. Min. MASSAMI UYEDA, DJe
20.11.2008).

4.- O artigo 26, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor não se aplica às
ações que versam sobre a decadência/prescrição do direito do correntista
de revisar ou questionar os lançamentos efetuados em sua conta-corrente.
Isso porque o dispositivo em comento refere-se à decadência do direito de
reclamar pelos vícios aparentes, ou de fácil constatação, e vícios ocultos, o
que não se amolda à hipótese em tela.

5.- Agravo Regimental improvido.

(AgRg no REsp 1114586/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,


julgado em 26/06/2012, DJe 29/06/2012)

Trata-se de REsp sob o regime do art. 543-C do CPC c/c art. 5º da Resolução
n. 8/2008 do STJ em que a controvérsia cinge-se à verificação da incidência
da regra estabelecida no art. 26, II, do CDC à ação de prestação de contas
ajuizada pelo ora recorrente, cliente da instituição financeira ora recorrida,
com o fim de obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e/ou
encargos, os quais reputa indevidos, em conta-corrente de sua titularidade.
A Seção, ao prosseguir o julgamento, por maioria, proveu o recurso ao
entendimento de que, tendo o consumidor dúvidas quanto à lisura dos
lançamentos efetuados pelo banco, é cabível a ação de prestação de
contas sujeita ao prazo de prescrição regulado pelo CC/2002. Assim, o
prazo decadencial estabelecido no art. 26 do CDC não é aplicável a tal ação
ajuizada com o escopo de obter esclarecimentos acerca da cobrança de
taxas, tarifas e/ou encargos bancários, uma vez que essa não se confunde
com a reclamação por vício do produto ou do serviço prevista no
mencionado dispositivo legal. Precedentes citados: AgRg no REsp
1.021.221-PR, DJe 12/8/2010; AgRg no REsp 1.045.528-PR, DJe 5/9/2008, e
REsp 1.094.270-PR, DJe 19/12/2008. REsp 1.117.614-PR, Rel. Min. Maria
Isabel Gallotti, julgado em 10/8/2011

Do julgado acima, inclusive, adveio súmula:

Súmula 477, STJ: “A decadência do artigo 26 do CDC não é aplicável à prestação de contas para
obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários”. A súmula teve
origem no julgamento do REsp 1.117.614/PR/RS, sob o rito do art. 543-C, CPC. O STJ
esclareceu que se há dúvidas por parte do consumidor acerca dos encargos que lhe são
cobrados, tem ele direito de se valer da ação de prestação de contas, sujeita ao prazo
prescricional previsto no CC/02 (10 anos, art. 205, CC/02). Isso porque não se está a reclamar
sobre vício no produto ou serviço, apto a fazer incidir os prazos decadenciais do CDC. O débito

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em conta corrente de tarifas bancárias não se enquadra no conceito legal de vício de


quantidade ou qualidade ou defeito do serviço bancário, este ligado à falta de segurança que
dele legitimamente se espera, tratando-se de custo contratual dos serviços bancários, não
dizendo respeito à qualidade, confiabilidade ou idoneidade dos serviços prestados. Aplica-se o
prazo prescricional previsto no Código Civil na hipótese de ação de prestação de contas
ajuizada pelo correntista com o escopo de obter esclarecimentos acerca da cobrança de
encargos bancários, porque a explicitação das tarifas debitadas em conta corrente do
consumidor, por meio de prestação de contas, destina-se à verificação da legalidade da
cobrança, direito pessoal que tem como prazo de prescrição o mesmo da ação de cobrança
correspondente.

28.9. Observações de Provas


1. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 47. AQUELE QUE PRETENDE A ENTREGA DE COISA
INFUNGÍVEL NÃO PODE UTILIZAR O PROCEDIMENTO MONITÓRIO, ainda que tenha
prova escrita.

2. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 47. Sócio cujo patrimônio seja atingido em execução
contra a sociedade poderá proteger seus bens por meio de embargos de terceiro240.

3. TRF2 – XIII – CESPE – QUESTÃO 47. Os embargos de terceiros não podem ser utilizados
como meio de oposição a decisões proferidas em ação de imissão de posse em que a
parte embargante seja ré241.

4. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 50. A competência para a ação de consignação em


pagamento é do foro do local do pagamento, em detrimento mesmo do foro de
eleição.

240
PROCESSUAL CIVIL. ART. 535 DO CPC. ARGÜIÇÃO GENÉRICA. SÚMULA 284/STF.
[...]
3. O sócio-gerente que não foi regularmente citado na execução fiscal detém legitimidade para a propositura de
embargos de terceiro, não sendo válida a penhora que recai sobre bem de sua esfera patrimonial. Precedentes.4.
O pedido de carga dos autos formulado pelo sócio-gerente para providenciar o aviamento de embargos de terceiro
não tem o condão de, por força do art. 214, § 1º, do CPC, retirar-lhe a legitimidade para apresentar esse remédio
processual, o qual se destina a impugnar ato constritivo ocorrido anteriormente ao seu comparecimento
espontâneo aos autos.5. Recurso especial conhecido em parte e não provido.(REsp 1014546/SC, Rel. Ministro
CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/08/2008, DJe 19/08/2008)
241
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. IMISSÃO DE POSSE. CONTESTAÇÃO. MATÉRIA
ARGÜÍVEL. PRINCÍPIOS DA CELERIDADE E EFICIÊNCIA PROCESSUAL. TERCEIRO POSSUIDOR. EMBARGOS DE
TERCEIROS. INADEQUAÇÃO DA VIA.
[...]
4. Em sede de ação desapropriatória, é descabida a utilização da via dos embargos de terceiro pelo possuidor do
bem imóvel, seja em razão da absoluta incompatibilidade da medida com o procedimento expropriatório, cuja
essência pressupõe naturalmente a perda da posse do imóvel expropriado, seja em face da impertinência da
argumentação que, in casu, ampara o pleito da parte, voltada para o não-enquadramento da ação nas hipóteses
que configuram o interesse social.
5. Recurso especial provido.
(REsp 353.382/PB, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/03/2006, DJ
26/05/2006, p. 236)
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5. TRF4 – XII – QUESTÃO 69. Nas ações possessórias, a concessão de medida liminar para
as chamadas “ações de força nova” nada mais representa do que antecipação da
tutela, com o diferencial da dispensa da demonstração do periculum in mora.

6. TRF4 – XII – QUESTÃO 69. Conforme precedentes do STJ, em uma ação de


desapropriação de imóvel rural por interesse social, o juiz não poderá, ao despachar a
inicial, imitir a expropriante na posse do imóvel, sem o comprovante do depósito do
valor da indenização.

7. TRF4 – XII – QUESTÃO 29. Em ação consignatória, reconhecida a insuficiência do


depósito, o credor, embora réu na ação de conhecimento, pode valer-se da sentença
judicial como título executivo em relação à diferença nela reconhecida.

8. TRF5 – IX – CESPE – QUESTÃO 80. A sentença proferida nos procedimentos de


jurisdição voluntária não faz coisa julgada material. Surgindo circunstância nova que
torne possível ou conveniente a alteração da situação por ela estabelecida, admite-se
a sua modificação, sem prejuízo dos efeitos já produzidos.

9. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 35. Se no curso da ação de reintegração de posse,


deferida liminar ao autor, o réu possuir prova de que o autor não detém idoneidade
financeira para suportar perdas e danos diante de eventual sucumbência, ele poderá
requerer do juiz, até mesmo antes da sentença, independentemente de ação cautelar,
que exija caução, sob pena de depósito do bem.

10. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 34. Estão à disposição do credor, na ação de
consignação em pagamento, todas as respostas previstas na lei processual, inclusive a
reconvenção.

11. DPU – 2010 – CESPE – QUESTÃO 33. Se, citado para apresentar resposta em ação de
consignação em pagamento, o credor alegar que não há litígio a respeito da coisa
devida e que o depósito não foi integral, o juiz condutor do feito poderá conhecer do
segundo fundamento, visto que as teses de defesa enumeradas na lei não são
taxativas.

12. EMAGIS – 2011/46 – QUESTÃO 11. Como as ações de usucapião e reintegração de


posse têm objetos diversos (posse em diferentes acepções), se dois feitos disserem
respeito às mesmas partes e se referirem ao mesmo bem imóvel, há se falar em
reunião de processos, a possibilitar julgamento conjunto.242

242
A Turma entendeu que, sendo a usucapião forma de aquisição de propriedade pela posse prolongada no tempo,
a sentença proferida no respectivo processo deve guardar a necessária coerência com aquela prolatada na ação
possessória relativa ao mesmo bem imóvel ajuizada posteriormente, sob pena de emissão de decisões judiciais
conflitantes relativa ao fundamento que constitui a mesma causa (remota) de pedir. Consignou-se que deve ser
reconhecida a existência de conexão entre ações mesmo quando verificada a comunhão somente entre a causa de
pedir remota. Assim, deu-se provimento ao recurso para reconhecer a conexão suscitada na hipótese e determinar
a reunião dos feitos no juízo que recebeu a primeira ação, ou seja, a de usucapião. Precedente citado: CC 49.434-SP,
DJ 20/2/2006. REsp 967.815-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 4/8/2011
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13. EMAGIS – 2011/45 – QUESTÃO 19. Nas ações possessórias a participação do cônjuge
do autor ou do réu somente é indispensável nos casos de composse ou de ato por
ambos praticado.

14. EMAGIS – 2011/42 – QUESTÃO 12. A ação monitória compete a quem pretender,
com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma em
dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel.

15. EMAGIS – 2011/42 – QUESTÃO 12. Cabe ação monitória para haver saldo
remanescente oriundo de venda extrajudicial de bem alienado fiduciariamente em
garantia243.

16. EMAGIS – 2011/42 – QUESTÃO 12. É inadmissível a conversão da ação de execução


em ação monitória, de ofício ou a requerimento das partes, após ocorrida a citação.

17. GEMAF – 2010/03 – QUESTÃO 12. O STJ pacificou entendimento de que apenas na
desapropriação para reforma agrária a presença do MP é obrigatória e indisponível,
por existir interesse público; tratando-se de desapropriação por utilidade pública sua
intimação é dispensável, pois envolve tão-somente interesses exclusivamente
econômicos.

30. Tutelas de Urgência


TUTELA JURÍDICA: “a proteção que o estado confere ao homem para consecução de situações
consideradas eticamente desejáveis segundo os valores vigentes na sociedade – seja em
relação aos bens, seja em relação aos outros membros do convívio” (Dinamarco). Ou, ainda: a
PROTEÇÃO a DIREITOS proporcionada pelo Estado em DOIS PLANOS: mediante a definição de
NORMAS disciplinadoras da convivência social e através das atividades dedicadas a assegurar
a EFETIVIDADE de tais normas. Tal proteção abrange, destarte, tanto o sistema normativo
abstrato, como os meios de concretização dos direitos materiais assegurados naquele.244
Como a atividade jurisdicional do Estado constitui um desses meios pelos quais se concretiza a
atuação do direito material abstratamente fixado nas normas do ordenamento jurídico,
constata-se a existência no âmbito da tutela jurídica de uma “TUTELA JURISDICIONAL” ao
lado de uma “TUTELA MATERIAL”, sendo esta proporcionada por aquela através do processo
jurisdicional, quando devidamente provocada a intervenção do Judiciário.245

243
Súmula 384, STJ.
244
A tutela jurídica, segundo Rogério Aguiar Munhoz Soares (Tutela jurisdicional diferenciada:
tutelas de urgência e medidas liminares em geral. São Paulo: Malheiros, 2000, p.119), “inclui, portanto,
o complexo abstrato de normas jurídicas composta pela totalidade do chamado direito objetivo e pela
parcela deste que autoriza o particular, ou quem se coloque diante do ordenamento, a postular
alegações fundadas naquelas normas, bem como prevê os meios de atuação das normas e sanções
previstas, o que se faz por intermédio das tutelas administrativa e jurisdicional”.
245
Leciona Luiz Guilherme Marinoni (Tutela inibitória: individual e coletiva. São Paulo: Revistas
dos Tribunais, 1998, p. 400) que “a ação processual, portanto, ao desembocar em uma tutela
jurisdicional, deve permitir a realização da tutela inerente ao direito material, tutela essa que visa a
garantir a situação de utilidade ínsita na relação sujeito/bem. É possível falar, assim, em tutela
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Nos casos em que tal amparo objetivo não é respeitado por outrem, no caso concreto, surge o
direito à tutela jurisdicional.

Tutela jurisdicional: “a tutela jurisdicional é uma MODALIDADE de tutela jurídica, ou seja,


uma das formas pelas quais o Estado assegura proteção a quem seja titular de um DIREITO
SUBJETIVO ou outra POSIÇÃO JURÍDICA de vantagem. Assim sendo, só tem direito à tutela
jurisdicional (como de resto, à tutela jurídica) aquele que seja titular de uma posição jurídica
de vantagem”. Continua o Autor definindo a tutela jurisdicional “como o amparo que, por obra
dos juízes, o Estado ministra a quem tem razão num processo” ou como “tutela efetiva de
direitos ou de situações pelo processo. Constitui visão do Direito Processual que põe em
relevo o resultado do processo como fator de garantia do direito material. A técnica
processual a serviço de seu resultado”.

TUTELA JURISDICIONAL E TUTELA JURISDICIONAL DE DIREITOS: “A tutela jurisdicional consiste


na predisposição a todos de um processo justo, adequado e efetivo, com todos os meios
necessários à obtenção do melhor resultado possível para a situação levada a juízo. É a
resposta da jurisdição ao direito de participação em juízo das partes. A tutela jurisdicional
pode ou não conduzir à tutela jurisdicional do direito do demandante, o que só ocorre com a
prolação da decisão de procedência e seu eventual cumprimento. Todavia, de modo nenhum
se pode pensar que só há tutela jurisdicional com uma decisão de procedência ao
demandante: a decisão de IMPROCEDÊNCIA viabiliza igualmente tutela jurisdicional, mas já
aí TUTELA JURISDICIONAL CERTIFICADORA NEGATIVA. Tutela jurisdicional e tutela
jurisdicional do direito são dois conceitos que não se confundem” [MARINONI].

“A jurisdição promove a tutela jurisdicional do direito no plano do direito material, alçando


mão para tanto do processo” [MARINONI]

PRESTAÇÃO JURISDICIONAL: atividade estatal de solucionar o litígio apresentado pelas partes.


O direito à prestação jurisdicional se insere no conceito de direito de ação em sentido
amplo246. Tanto o vencedor quanto o vencido tem direito à prestação jurisdicional, pois a
composição do conflito se dirige a ambos.

Neste ponto, a prestação jurisdicional se diferencia da tutela jurisdicional, pois, enquanto toda
parte processual faz jus à prestação jurisdicional, a tutela jurisdicional é proporcionada apenas
ao litigante cujo direito substantivo foi reconhecido pelo magistrado como merecedor da
proteção do Estado-juiz. Atentar para a nomenclatura adotada por MARINONI que foi exposta
acima.

jurisdicional e tutela material. A tutela jurisdicional é aquela que, no plano do processo, tem o
compromisso de realizar plenamente a tutela que decorre do direito material, ou seja, a própria tutela
material”.

246
Em sentido amplo, o direito de ação abrange todas as formas de postulação em juízo,
inclusive, por exemplo, as exercidas pelo réu na fase contestatória.
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TUTELA PROCESSUAL: é a tutela CAUTELAR, que se limita a ASSEGURAR a EFETIVIDADE de


um provimento destinado a outro tipo de tutela jurisdicional.

TUTELA SATISFATIVA: no dizer de Alexandre Freitas Câmara, entende-se a que permite a


atuação prática do direito material, tais como as de conhecimento e de execução. Wambier,
Almeida e Talamini, contudo, observam que, relativamente à tutela jurisdicional, o vocábulo
satisfatividade comporta vários sentidos: um deles é conceder ao autor liminarmente o que se
concederia ao final (exposto por Câmara); outro diz respeito à irreversibilidade da medida
concedida no plano empírico; o último diz respeito à prescindibilidade da ação principal ou de
outra decisão, posterior, que confirme ou infirme a medida concedida.

Quanto à tutela inicial e tutela final, é certo que dita classificação diz respeito apenas ao
momento em que assegurada no processo.

30.1. Tutela Antecipada e Cautelar: Semelhanças e Diferenças

30.1.1. Tutela Definitiva: Satisfativa (Padrão) e Cautelar


A tutela definitiva é aquela obtida com base em cognição exauriente, com profundo debate
acerca do objeto do processo, garantindo-se o devido processo legal, o contraditório e a ampla
defesa. Ela pode ser satisfativa ou não. Tutela definitiva satisfativa é aquela que visa certificar
e/ou efetivar do direito material discutido. É a chamada tutela-padrão.

A tutela definitiva não satisfativa tem cunho assecuratório. É a chamada tutela cautelar. A
tutela cautelar não visa à satisfação de um direito, e sim a assegurar a sua futura satisfação,
protegendo-o. Ela é essencialmente instrumental e temporária. Instrumental por ser meio de
preservação do direito material e do resultado útil e eficaz da tutela definitiva satisfativa.
Temporária por ter sua eficácia limitada no tempo.

A temporariedade não exclui a definitividade da tutela cautelar. A decisão cautelar concede


uma tutela definitiva, dada com cognição exauriente de seu objeto e apta a tornar-se imutável.
Temporário é diferente de provisório, já que o provisório será trocado pelo definitivo,
enquanto o temporário não será trocado por nada.

Uma vez proferida, a decisão cautelar não é suscetível de ser modificada ou revogada a
qualquer tempo. Ela fica acobertada, segundo Didier, pela coisa julgada material
(entendimento minoritário).

Na cautelar, há cognição exauriente do seu mérito, do seu objeto, repita-se. A cognição do


direito material acautelado é que é sumária, bastando que se revele plausível ao julgador.

30.1.2. A Tutela Provisória (Sumária e Precária): Tutela Antecipada. Antecipação dos Efeitos
da Tutela Definitiva
Tutela provisória é aquela que dá eficácia imediata à tutela definitiva, permitindo sua pronta
fruição antes do definitivo julgamento do mérito. Por ser provisória, será necessariamente
substituída por uma tutela definitiva – que a confirme, revogue ou modifique.

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Identifica-se por ser fundada em uma cognição sumária, em uma análise superficial do objeto
da causa, que conduz o magistrado a um juízo de probabilidade. É ainda precária, já que pode
ser revogada ou modificada a qualquer tempo. Logo, não se sujeita à coisa julgada material.

A tutela provisória por excelência é a antecipada, que poderá ser tanto satisfativa quanto
cautelar.

30.1.3. Tutela Cautelar e Tutela Antecipada: Distinções


A tutela cautelar preserva os efeitos úteis da tutela definitiva satisfativa. A tutela antecipada
antecipa os efeitos próprios da tutela definitiva satisfativa ou da não satisfativa (da própria
cautelar). Ambas se identificam por ter uma mesma finalidade, que é abrandar os males do
tempo e garantir a efetividade da jurisdição.

A tutela antecipada é provisória.

Nota distintiva entre as duas é a temporariedade ou não de seus efeitos. A cautelar é


definitiva, mas seus efeitos são temporários. A antecipada, embora provisória, poderá ter seus
efeitos perenizados se satisfativa e confirmada por tutela definitiva.

A tutela antecipada dá eficácia imediata à tutela definitiva (satisfativa ou não) – por isso, há
antecipada-satisfativa e antecipada-cautelar; a cautelar assegura a futura eficácia da tutela
definitiva satisfativa. Vê-se, pois, que a tutela cautelar é sempre não satisfativa (embora
existam cautelares satisfativas...).

A tutela cautelar tem por fim assegurar a viabilidade da realização de um direito, não podendo
realizá-lo.

Enquanto para a tutela cautelar exige-se simples aparência do direito acautelado, para a tutela
antecipada reclama-se a verossimilhança, fundada em prova inequívoca do direito a ser
satisfeito antecipadamente.

A cautelar não acrescenta ao autor nada de imediato ao ativo jurídico, salvo a segurança. O
provimento antecipatório outorga-lhe o desfrute imediato do bem ou direito.

É equivocado dizer que a tutela antecipada é sempre satisfativa, já que é cabível pedido de
antecipação de tutela em medida cautelar, que é não satisfativa (segundo Didier).

TUTELA ANTECIPADA TUTELA CAUTELAR


É uma tutela conservativa. Ela conserva o mesmo
É uma tutela satisfativa, assegura o direito
estado inicial de COISAS, PESSOAS ou PROVAS,
satisfazendo-o, mesmo que parcialmente. Efetiva
assegurando o resultado útil de outra tutela de
o direito perseguido, mesmo que provisoriamente.
conhecimento ou de execução.
SATISFAZ PARA ASSEGURAR ASSEGURA PARA SATISFAZER
Antecipa/adianta os efeitos práticos da sentença
de mérito. O que se concede ao autor Não há antecipação ou adiantamento da sentença.
liminarmente coincide, em termos práticos e no Não há coincidência entre o que foi decidido
plano dos fatos (embora reversível e provisório), cautelarmente e o que é pleiteado afinal.
com o que está sendo pleiteado principaliter.
Concedida por meio de uma liminar ou seja de Concedida em processo autônomo.

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uma decisão interlocutória na própria ação


principal.
CRÍTICA: NÃO é o critério acima que distingue as duas tutelas, a diferença realmente está no primeiro
item. Há casos de TUTELA ANTECIPADA que é concedida em processo autônomo e casos de cautelares
que não são concedidas em processo autônomo.
ALIMENTOS PROVISIONAIS: tutela antecipada, todos os alimentos são satisfativos.
SEPARAÇÃO DE CORPOS: tutela antecipada.
AÇÃO CAUTELAR DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO: Para BEDAQUE e Dinamarco é uma antecipação de tutela
em um processo autônomo.
LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA: pode ter natureza jurídica de tutela antecipada ou de tutela
cautelar, dependendo do requerimento que está sendo feito. EXEMPLO: uma empresa foi excluída da
licitação, impetra o MS e pede uma liminar para voltar a participar da licitação até que se julgue o
mérito (TUTELA ANTECIPADA), mas se pedir a suspensão do processo de licitação, paralisando a licitação
(TUTELA CAUTELAR).
LIMINAR DA AÇÃO CAUTELAR: tem natureza jurídica antecipatória (em relação à própria tutela
cautelar) e cautelar.
Pode ser concedida de ofício, já que visa a garantir
Só pode ser concedida a requerimento da parte,
a efetividade do processo, da decisão a ser
eis que visa a resguardar precipuamente direito
posteriormente proferida, e, consequentemente,
seu.
da própria jurisdição.
EXEMPLO: uma pessoa com 80 anos de idade
promove uma ação de dissolução parcial de
EXEMPLO: arresto. A deve a B e começa a se
sociedade mercantil e quer receber os seus
desfazer de seus bens, o arresto será ajuizado para
haveres. Pede uma tutela antecipada para receber
manter o estado de coisas.
mensalmente uma parcela dos valores que tenha a
receber
A tutela é antecipada, a decisão é que é
antecipatória

30.1.4. A Fungibilidade entre Tutela Cautelar e Antecipada Satisfativa (art. 273, § 7º, CPC)
O legislador admitiu no dispositivo citado a fungibilidade de pedidos, no sentido de que
nominalmente postulada uma daquelas medidas, ao juiz é lícito conceder a tutela a outro
título. Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar,
poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em
caráter incidental do processo ajuizado.

Para que a cautelar seja deferida quando pedida tutela antecipada, necessário é, além do
fumus boni iuris e do periculum in mora, que haja dúvida fundada e razoável quanto à sua
natureza, ficando excluído o erro grosseiro. Para Didier, esse último requisito não é necessário.
Para Marinoni é.

30.1.4.1. Não Há Fungibilidade de Mão Dupla


Não foi autorizada a utilização de procedimento cautelar para se obter provimento
satisfativo. Isso porque os requisitos da antecipação de tutela são mais rígidos. Assim, se a
pessoa ajuíza medida cautelar com caráter nítido de antecipação de tutela, o juiz deve
indeferir. Somente o contrário que é possível.

Didier defende que, requerida tutela antecipada travestida de medida cautelar, deve o
magistrado intimar o autor para que proceda às adaptações necessárias na inicial, antes de
citar o réu, nunca indeferir de imediato a inicial.

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30.1.5. Tutela de Urgência X Tutela de Evidência


A tutela de urgência foi criada para preservar o bem da vida quando a demora na prestação
jurisdicional cria o risco de sua inutilidade prática. Já a tutela de evidência prestigia as
situações em que há uma grande probabilidade de o autor ter razão, bem como o bem da
vida tutelado tem grande relevância social e, por eleição do legislador, confere-se-lhe a
possibilidade de fruição imediata e provisória do bem ou que o mesmo seja desde logo
resguardado. O enfrentamento desta questão é importante porque repercute, ainda que
indiretamente, no princípio do contraditório, já que, sendo uma tutela de urgência, o âmbito
de reação do réu volta-se para a negação do fumus boni juris e/ou do periculum in mora, ao
passo que, diante de uma tutela de evidência, a sua contrariedade restringe-se aos fatos
apontados pelo autor e que a lei considera suficientes para demonstrar a plausibilidade do
direito.

Adroaldo Furtado Fabrício traz exemplos de tutela de urgência e de tutela de evidência. Para o
renomado autor,

“... quando o juiz concede uma produção antecipada de provas, está


privilegiando o critério urgência em detrimento de qualquer outro interesse,
sem se precisar cogitar da maior ou menor probabilidade de ter razão o
requerente. Já a tutela de evidência pode ser visualizada no deferimento de
uma liminar possessória, para a qual basta uma presunção de veracidade do
alegado baseada em um dado objetivo, independente de qualquer urgência.
Outro exemplo é o caso de tutela antecipada em razão do abuso do direito
de defesa (CPC, art. 273, II)

30.2. Tutela Antecipada


Por que antecipar a tutela jurisdicional?

À luz do direito fundamental à razoável duração do processo, Luiz Guilherme Marinoni afirma
que a antecipação de tutela é uma forma de distribuir o ônus do tempo do processo entre as
partes. Diz o autor:

“O tempo do processo não pode prejudicar o autor e beneficiar o réu, já que


o Estado, quando proibiu a justiça de mão própria, assumiu o compromisso
de, além de tutelar de forma pronta e efetiva os direitos, tratar os litigantes
de forma isonômica. É possível distribuir o tempo do processo através dos
procedimentos especiais, elaborados a partir das técnicas da cognição. Os
procedimentos que impedem a discussão de determinadas questões
(cognição parcial), que restringem o uso das provas (por exemplo, mandado
de segurança, cognição exauriente secundum eventum probationis) ou
mesmo que são de cognição plena e exauriente, mas dotados de tutela
antecipatória permitem, através de formas diversas, uma melhor
distribuição do tempo da justiça”.

30.2.1. Diferença entre Liminar e Tutela Antecipada


Medida liminar é a concedida in limine litis, no início da lide, sem que tenha havido ainda a
oitiva da parte contrária. Liminar é a qualidade daquilo que foi feito no início. Trata-se do

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provimento que se emite inaudita altera parte, antes de qualquer manifestação do


demandado e até mesmo antes de sua citação.

Já a antecipação dos efeitos da tutela pode ocorrer tanto in limine litis quanto em qualquer
outro momento ulterior do procedimento, até mesmo na sentença.

Não há violação à garantia do contraditório na concessão de medida liminar, o qual será


apenas diferido.

30.2.2. Tutela Antecipada e Julgamento Antecipado da Lide


Enquanto a tutela antecipada satisfaz/realiza o direito provisoriamente, e com base em uma
cognição sumária, sendo insuscetível de imunizar-se pela coisa julgada material, o julgamento
antecipado da lide é decisão que certifica, com base em cognição exauriente, o direito
discutido, estando predisposta a acobertar-se pelo manto da coisa julgada.

A diferença do julgamento antecipado é que a atividade cognitiva necessária é mais restrita,


dispensando fase de instrução ante a maturidade da causa.

30.2.3. Análise do Art. 273 do CPC

30.2.3.1. Efeitos Antecipáveis

30.2.3.1.1. Antecipação da Eficácia Social da Tutela


A antecipação dos efeitos da tutela só contribuirá para o alcance dessa finalidade quando
adiantar no tempo efeitos que provoquem ou impeçam mudanças no plano fático: os
chamados efeitos fáticos ou sociais da tutela, que são aqueles que, para se efetivarem,
dependem da prática de atos materiais – espontâneos por parte do obrigado ou forçados
através de atividade executiva.

30.2.3.1.2. A Antecipação nas Ações Constitutivas e Declaratórias


Segundo Didier, admite-se tutela antecipada em tais processos. Não ocorrerá a antecipação da
declaração ou da constituição, mas sim dos efeitos práticos, palpáveis, da tutela declaratória
ou constitutiva.

V.g., na ADIN, ação declaratória, em que se pede, a título de antecipação de seus efeitos, a
suspensão da aplicação da norma que se quer ver declarada inconstitucional.

Entretanto, Daniel Assumpção considera absurda a ideia de se antecipar a tutela numa


pretensão constitutiva, pois ela somente poderia ser concedida de forma definitiva, em razão
de sua irreversibilidade. Como exemplo ele cita a impossibilidade de se conceder
provisoriamente um divórcio, já que poderia ocorrer o fato de os divorciados já estarem
novamente casados após a prolação de sentença que não julga procedente o divórcio.

Ele também defende ser incabível a tutela antecipada na tutela declaratória, já que a própria
concepção de certeza jurídica torna incompatível a existência de uma certeza provisória.

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No entanto, ele frisa que nessas tutelas é possível antecipar os efeitos executivos que delas
advêm: cita exemplo da ação declaratória de inexistência de débito, quando o autor requer a
imediata retirada de seu nome do SERASA.

Não seria, entretanto, correta a própria antecipação da declaração ou da constituição da nova


situação jurídica (Marinoni pensa que seria possível, embora tais situações não gerem
quaisquer efeitos práticos).

A tutela antecipada é cabível em toda ação de conhecimento, seja a ação


declaratória, constitutiva (negativa ou positiva), condenatória ou
mandamental, desde que presentes os requisitos do art. 273, CPC. De fato,
pode ser que os efeitos de uma sentença declaratória comportem execução,
tendo cabimento, pois, o adiantamento desses efeitos. Sobre o tema,
cumpre atentar, primeiramente, para a distinção entre eficácia declaratória
e a respectiva ação, assim caracterizada pela preponderância dessa eficácia.
Isso porque somente as eficácias executivas e mandamentais
eventualmente presentes nas ações declaratórias podem ser antecipadas,
pois tais ações assim se caracterizam porque a sentença que lhes acolher
terá eficácia preponderante declaratória, o que não inviabiliza que outras
eficácias (antecipáveis) estejam presentes. Dessa forma, não há
impossibilidade de antecipação nas ações declaratórias, desde que a eficácia
correspondente à antecipação não seja declaratória ou constitutiva, mas sim
executiva ou mandamental. Em outros termos, há incompatibilidade na
certeza jurídica requerida pelas eficácias declaratórias e constitutivas com a
provisoriedade imanente à antecipação. Isso, contudo, não inviabiliza a
antecipação de outras eficácias presentes nas ações dessa natureza,
contanto que se observem as limitações lógicas decorrentes de sua natureza
e da necessidade de certeza jurídica. Por fim, note-se que podem,
igualmente, ser antecipados efeitos que representem irradiação da
denominada 'eficácia negativa' presente nas ações declaratórias.

30.2.3.2. Cabimento
A antecipação da tutela genérica, prevista no art. 273, é cabível nos procedimentos comuns
(ordinário, sumário e sumaríssimo), assim como nos procedimentos especiais que sejam
compatíveis com providências dessa natureza.

Para a concessão da tutela antecipada em ritos especiais, a lei geralmente exige o


preenchimento de outros pressupostos. Porém, se não houver previsão própria, não há óbice
para que se aplique as regras sobre o poder geral de antecipação.

30.2.3.3. Hipóteses de Antecipação: Assecuratória e Punitiva


O art. 273 prevê duas hipóteses em que se admite a tutela antecipada:

a) Antecipação assecuratória: prevista no inciso I, cabível quando houver fundado receio


de dano irreparável ou de difícil reparação;

b) Antecipação punitiva: cabível quando fique caracterizado o abuso do direito de defesa


ou o manifesto propósito protelatório do réu.

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Na tutela antecipada punitiva, antecipa-se por sanção. A conduta temerária da parte é


comportamento ilícito que autoriza a antecipação.

Preenchidos os pressupostos legais, a tutela antecipada se torna direito subjetivo da parte,


não restando ao magistrado espaço para discricionariedade. Ele deverá apenas examinar o
preenchimento do suporte fático.

30.2.3.4. Pressupostos Gerais

30.2.3.4.1. Prova Inequívoca e Verossimilhança das Alegações


Prova inequívoca não é prova plena, absoluta, real. TRATA-SE DE PROVA ROBUSTA,
CONSISTENTE, QUE CONDUZ O MAGISTRADO A UM JUÍZO DE PROBABILIDADE . Não se
trata apenas da prova documental, pois, além de não existir em nosso sistema uma
prevalência desse meio probatório, é perfeitamente possível que a tutela antecipada seja
concedida depois da fase de instrução do processo ou depois de uma audiência de justificação
prévia.

Juízo de verossimilhança é aquele que permite chegar a uma verdade provável sobre os fatos,
a um “elevado grau de probabilidade da versão apresentado pelo autor”. Ele se refere não só à
matéria de fato, como também à plausibilidade da subsunção dos fatos à norma invocada,
conduzindo aos efeitos pretendidos.

Nem sempre a prova inequívoca conduzirá ao juízo de verossimilhança, pois ela pode ser
robusta, mas não se subsumir ao diploma legal invocado. Do mesmo modo, nem sempre a
verossimilhança decorrerá de prova inequívoca, já que pode se basear em fatos incontroversos
ou notórios.

30.2.3.4.2. Reversibilidade dos Efeitos do Provimento e Caução


Determina o § 2º do art. 273 que não se concederá a tutela antecipada quando houver perigo
de irreversibilidade do provimento antecipado. Trata-se de um meio de preservar o adversário
contra excessos no emprego da medida, exigindo-se que seja possível retornar-se ao status
quo ante.

Entretanto, também poderá ocorrer o perigo da irreversibilidade à parte que pede, caso não
seja concedida a medida, como no caso de alguém que requer, a título de antecipação, uma
cirurgia vital ou medicamentos.

Como nesse caso haverá colidência entre direitos fundamentais – efetividade VS segurança – o
juiz deve decidir com base no princípio da proporcionalidade.

Registre-se que, de qualquer forma, poderá o juiz abrandar os prejuízos da tutela antecipada
exigindo do beneficiário uma caução. Não existe regramento específico para a caução na
tutela antecipada, aplicando-se o art. 804 à hipótese (referente às cautelares). A caução
funcionará como uma contracautela para garantir o ressarcimento dos eventuais danos a
serem suportados pela parte contrária, na hipótese de revogação da antecipação.

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30.2.3.5. Pressupostos Alternativos

30.2.3.5.1. Noções Iniciais


Preenchidos os pressupostos genéricos cumulativos já vistos, o magistrado deve verificar o
preenchimento de ao menos um dos seguintes pressupostos:

a) Receio de dano irreparável ou de difícil reparação;

b) Abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório do réu.

30.2.3.5.2. Perigo da Demora


O receio de dano irreparável ou de difícil reparação é aquele risco de dano concreto (não
hipotético ou eventual); atual (na iminência de ocorrer); grave (tem aptidão para prejudicar ou
impedir a fruição do direito).

Dano irreparável é aquele cujos efeitos são irreversíveis, enquanto dano de difícil reparação é
aquele que provavelmente não será revertido, seja por sua própria natureza ou pelas
condições financeiras da parte beneficiada pela antecipação.

Porém, o receio que justifica a tutela antecipada nem sempre se refere a um dano. O temor
pode dizer respeito a um ato contrário ao direito. Dependerá, pois, do tipo de tutela definitiva
que se quer antecipar: inibitória, reintegratória ou ressarcitória.

Tutela inibitória é aquela que tem por fim evitar a ocorrência de um ato contrário ao direito
ou impedir sua confirmação.

Tutela reintegratória é aquela predisposta à remoção de um ilícito já praticado, visando


impedir sua repetição ou continuação.

Tutela ressarcitória pressupõe um dano já consumado.

30.2.3.5.3. Atos Protelatórios e Abusivos da Parte


O abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu dão ensejo à tutela
antecipada, ainda que não haja risco de dano.

Apesar do art. 273, II, se referir apenas ao réu, o comportamento temerário que autoriza a
concessão da tutela antecipada pode ser de qualquer das partes.

O ato, mesmo abusivo, que não impede nem retarda os atos processuais subsequentes, não
legitima a medida antecipatória. O QUE JUSTIFICA A TUTELA ANTECIPADA É A EFETIVA
PRÁTICA DE ATOS OU OMISSÕES DESTINADOS A RETARDAR O PROCESSO.

O abuso do direito de defesa somente abrange os atos praticados dentro do processo;


manifesto propósito protelatório se refere aos comportamentos protelatórios praticados fora
do processo.

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Na prática, são raras as hipóteses de tutela antecipada punitiva, já que o juiz possui outros
instrumentos eficazes para combater a deslealdade processual ou reprimir comportamentos
ardilosos (arts. 14, 15, 16, 18, 125, 130, 600, 601 do CPC, entre outros).

No que tange ao litisconsórcio passivo, caso ele seja simples, poderá ser concedida a tutela
antecipada sancionatória ao litisconsorte autor do ato guerreado; no unitário, não poderá, já
que se estaria prejudicando, também, o litisconsorte de boa fé.

30.2.3.6. Legitimidade

30.2.3.6.1. Autor, Réu e Terceiro Interveniente


Todo aquele que alegar ter direito à tutela jurisdicional está legitimado a requerer a
antecipação de seus efeitos; essa regra não comporta exceções, segundo Didier.

Assim, autor, réu, terceiros intervenientes podem requerer tutela antecipada, pois todos têm
o direito à tutela jurisdicional e, uma vez preenchidos os pressupostos do art. 273, também à
antecipação dos seus efeitos.

Até mesmo o assistente simples pode fazê-lo, condicionando-se, entretanto, à vontade do


assistido.

O RÉU PODE REQUERER A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA QUANDO FOR


RECONVINTE E DENUNCIANTE; QUANDO FORMULAR PEDIDO CONTRAPOSTO OU AÇÃO
DECLARATÓRIA INCIDENTAL; OU QUANDO A AÇÃO FOR DÚPLICE, HIPÓTESE EM QUE A SUA
SIMPLES DEFESA JÁ CONSTITUI O EXERCÍCIO DE SUA PRETENSÃO.

30.2.3.6.2. Antecipação de Tutela Negativa


Trata-se de tutela antecipada prolatada em favor do réu declarando que o autor não tem o
direito que pretende na exordial, fora dos casos em que a ação seja dúplice ou que o réu faça
algum tipo de pedido.

Didier defende que até mesmo na contestação de ação não dúplice pode o réu, preenchidos os
requisitos legais, requerer a tutela antecipada declaratória negativa (improcedência do pedido
do autor), em homenagem ao princípio da isonomia.

Essa hipótese não encontra previsão no ordenamento jurídico. Porém, de certa forma, o
julgamento antecipado da lide nas hipóteses de improcedência prima facie incorpora essa
ideia.

30.2.3.6.32. Ministério Público


Poderá requerer a tutela antecipada se for parte e se for assistente diferenciado de incapazes.
Se for custos legis, não poderá requerer em pedido autônomo, apenas poderá sugerir o pleito
antecipatório.

30.2.3.6.4. Concessão Ex Officio

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É VEDADA A TUTELA ANTECIPADA CONCEDIDA DE OFÍCIO, salvo se expressamente permitido


em algumas hipóteses. Isso porque seu pedido é um ônus do requerente, que deverá arcar
com os prejuízos causados ao adversário, e for reformada a decisão.

Um caso jurisprudencialmente permitido é nas ações previdenciárias, conforme se vê abaixo:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE. ART. 143 DA LEI


8.213/91. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE NATUREZA RURAL, EM CARÁTER
EVENTUAL (ART. 11, V, G). PROVA DOCUMENTAL CORROBORADA POR
TESTEMUNHAS. REQUISITOS LEGAIS. CONCESSÃO DEVIDA. I. É possível a
concessão de tutela antecipada, ainda que de ofício, em ações de natureza
previdenciária, tendo em vista a natureza alimentar do benefício
previdenciário e por se encontrarem presentes os requisitos específicos do
art. 273 do CPC. Precedentes.[...]

(TRF1, AC , DESEMBARGADOR FEDERAL KASSIO NUNES MARQUES, TRF1 -


PRIMEIRA TURMA, e-DJF1 DATA:28/10/2011 PAGINA:386.)

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. RURAL E


URBANA. INÍCIO RAZOÁVEL. PROVA MATERIAL CORROBORADA POR PROVA
TESTEMUNHAL. RECONHECIMENTO DE PARTE DO PERÍODO. ATIVIDADE
ESPECIAL. RECONHECIMENTO. REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS.
PROCEDÊNCIA. [...] XV. EM MATÉRIA DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO,
PRESENTES OS REQUISITOS LEGAIS À CONCESSÃO DO BENEFÍCIO, MEROS
FORMALISMOS DA LEGISLAÇÃO PROCESSUAL VIGENTE NÃO PODEM
OBSTAR A CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA EX-OFFICIO, PARA
DETERMINAR AO INSS A IMEDIATA IMPLANTAÇÃO DO BENEFÍCIO, QUE É
DE CARÁTER ALIMENTAR, SOB PENA DE SE SOBREPOR A NORMA DO
ARTIGO 273 DO CPC AOS FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL, COMO A "DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA" (CF, ART. 1º, III),
IMPEDINDO QUE O PODER JUDICIÁRIO CONTRIBUA NO SENTIDO DA
CONCRETIZAÇÃO DOS OBJETIVOS DA MESMA REPÚBLICA, QUE SÃO
"CONSTRUIR UMA SOCIEDADE LIVRE, JUSTA E SOLIDÁRIA", BEM COMO
"ERRADICAR A POBREZA E A MARGINALIZAÇÃO E REDUZIR AS
DESIGUALDADES SOCIAIS E REGIONAIS" (CF, ART. 3º, I E III). XVI. Remessa
oficial não conhecida. Apelação do INSS conhecida em parte e parcialmente
provida.
(TRF3, APELREE 200003990673775, DESEMBARGADOR FEDERAL WALTER
DO AMARAL, TRF3 - SÉTIMA TURMA, DJF3 CJ1 DATA:28/07/2010 PÁGINA:
373.)

30.2.3.7. Forma de Requerimento


O requerimento deve ser formulado no mesmo processo em que se pleiteia a tutela definitiva
cujos efeitos se quer antecipar, seja na petição inicial (ou contestação), seja em petição
simples formulada ulteriormente.

Pode ser feito ainda durante a sessão de julgamento no tribunal – reduzido a termo, ou no
bojo da petição recursal.

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O importante é que o pleito antecipatório seja devidamente fundamentado e que a inicial seja
instruída com prova inequívoca e pré-constituída do quanto alegado.

30.2.3.7.1. Concessão de Tutela Antecipada Diversa da Pedida pela Parte


Pode o magistrado deferir antecipação de tutela, de caráter satisfativo, de forma diversa da
pedida pela parte? Sim, pois, nos termos do artigo 461 do Código de Processo Civil, “o juiz
concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.” Deferida a
tutela antecipada na forma do pedido da parte, tem-se tutela específica; deferida em prol de
resultado prático equivalente, o juiz o faz de forma diversa da pedida pela parte.

30.2.3.8. Momento

30.2.3.8.1. Considerações Iniciais


A princípio, a tutela antecipada pode ser requerida e concedida a qualquer tempo dentro do
processo.

30.2.3.8.2. Liminarmente
Ela só é possível quando se trata de antecipação assecuratória. Acaso não haja risco de
ocorrência do dano antes da citação do réu, não há que se concedê-la em caráter liminar.

No caso da antecipação da tutela punitiva, pressupõe-se que tenham sido praticados pelo réu
embaraços ao andamento do processo. Logo, é difícil de imaginar sua ocorrência antes de sua
efetiva participação na causa.

Entretanto, muitas vezes o juízo difere a concessão da tutela antecipada para após a resposta
do réu, a fim de melhor formar sua convicção, o que é postura prudente, não revelando o caso
urgência demasiada.

30.2.3.8.3. Na Sentença
A antecipação de tutela assecuratória ou punitiva pode ter seus pressupostos preenchidos no
momento da prolação da sentença. Nesse caso, poderá ter os seguintes efeitos:

a) Em sendo caso de reexame necessário ou de apelação com efeito suspensivo – que,


em regra, impedem execução provisória – a concessão de tutela antecipada terá por
efeito autorizar a execução provisória;

b) Em sendo caso de apelação sem efeito suspensivo, a execução provisória já está


automaticamente autorizada, sendo pouco útil a concessão da tutela antecipada.

Logo, vê-se que a concessão da tutela antecipada no bojo da sentença tem como grande
utilidade conferir eficácia imediata à decisão, evitando o efeito suspensivo do recurso.

30.2.3.8.4. Em Grau Recursal


Se a sentença já foi proferida e o processo já está no tribunal, em grau de recurso, deve-se
formular o requerimento de antecipação de tutela ao próprio tribunal. O mesmo ocorre se a
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sentença já foi proferida mas o processo está na primeira instância, já que o ofício
jurisdicional do juiz de primeiro grau já se encerrou.

30.2.3.9. Instrução e Audiência de Justificação Prévia


Se o pedido de tutela antecipada foi liminar, em regra, estando tudo correto, não haverá
instrução. Poderá, no entanto, para a concessão da liminar ser necessária a produção de prova
incidental, podendo o magistrado designar audiência de justificação prévia.

Essa audiência não está prevista especificamente para a tutela antecipada, e sim para as
medidas cautelares, no art. 804. Entretanto, é inequívoco que se aplica à espécie.

30.2.3.10. Manifestação do Requerido


Após formulada o pedido de tutela antecipada, deve o magistrado determinar a manifestação
da contraparte, garantindo o contraditório. Este será diferido se requerida a concessão de
liminar.

Em relação ao prazo, não há disposição específica da lei. Deve ser fixado pelo juiz ou aplicado o
prazo supletivo de cinco dias.

30.2.3.11. Decisão
Em regra, a concessão de tutela antecipada será feita via decisão interlocutória. Poderá, ainda,
ser um capítulo de uma sentença, concedida por decisão monocrática de relator ou por
acórdão de tribunal.

30.2.3.12. Efetivação
Para a efetivação, aplica-se todo o regime legal da execução provisória (arts. 588, 461, § § 4º e
5º, e 461-A, além do art. 475-O).

As principais consequências jurídicas da aplicação desse regramento são:

a) Imposição do regime de responsabilidade civil objetiva àquele que se valeu da tutela


antecipada, mas restou vencido e causou danos à outra parte;

b) Não obrigatoriedade da imposição da caução, como regra, pelo magistrado.

Para a efetivação, poderá ainda o juiz se valer de medidas de coerção diretas e indiretas,
mesmo de ofício, como multas, busca e apreensão, desfazimento de obras etc.

30.2.3.13. Possibilidade de Revogação/Modificação


Como se trata de medida provisória, a tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a
qualquer tempo, por decisão motivada do juiz (art. 273, § 4º).

Porém, para tal, exige-se que tenha ocorrido alguma alteração posterior no estado de fato –
rebus sic stantibus – ou o advento de novo elemento probatório, que tenha tornado
inexistente algum dos requisitos outrora presentes. Assim, a possibilidade de
revogação/modificação pode advir tanto de mudança fática quanto circunstanciais
(surgimento de outra evidência sobre uma situação fática inalterada).

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A revogação é imediata e possui eficácia ex tunc, impondo-se o restabelecimento do estado


anterior, que se dará nos próprios autos.

A maioria da doutrina entende que o juiz não poderá revogar de ofício, entendendo ser
imprescindível a manifestação da parte contrária para que a decisão possa ser revista.

30.2.3.14. Eficácia Temporal da Tutela Antecipada


A tutela antecipada concedida no trâmite do processo deverá ser confirmada ou rejeitada por
sentença, desde que não haja decisão anterior que a tenha revogado. O mesmo ocorre no
Tribunal se a antecipada for lá concedida, devendo o acórdão sobre ela se manifestar.

Entretanto, não havendo manifestação expressa, considera-se a tutela confirmada se der a


sentença procedência ao pedido do autor; havendo improcedência ou extinção sem
resolução do mérito, ela restará implicitamente revogada.

Há, ainda casos em que o pedido do autor é julgado improcedente e o juiz mantém a tutela
antecipada. Estranho, mas existem: Daniel Assumpção cita o caso do juiz que, reconhecendo
ser seu entendimento desfavorável ao autor minoritário, e que será fatalmente revertido no
Tribunal, mantém a tutela antecipada anteriormente concedida a fim de não causar ao mesmo
gravames irreversíveis.

Porém, nesses casos, o normal é acontecer o seguinte: se a sentença for de improcedência de


mérito, e caso tenha sido concedida tutela antecipada initio litis ou em algum outro momento
após o recebimento da inicial, ela restará revogada. E se o recurso em face da sentença de
improcedência for recebido no duplo efeito, restará a tutela antecipada restaurada? Com a
palavra, o STJ:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ANTECIPAÇÃO DOS


EFEITOS DA TUTELA. REVOGAÇÃO. SENTENÇA DE MÉRITO. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA.
SÚMULA 182/STJ.

1. A agravante não impugnou, como seria de rigor, todos os fundamentos da


decisão ora agravada, circunstância que obsta, por si só, a pretensão
recursal, porquanto aplicável o entendimento exarado na Súmula 182 do
STJ, que dispõe: "É inviável o agravo do art. 545 do Código de Processo Civil
que deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão agravada."
2. A antecipação da tutela possui conteúdo precário em virtude de seu
juízo preliminar e perfunctório, contemplando apenas a verossimilhança
das alegações. Uma vez proferida a sentença de mérito e refutada a
verossimilhança antes contemplada, não podem subsistir os efeitos da
antecipação, importando no retorno imediato ao status quo anterior à sua
concessão, devido a expresso comando legal.

3. O RECEBIMENTO DA APELAÇÃO, NO SEU DUPLO EFEITO,


NÃO TEM O CONDÃO DE RESTABELECER OS EFEITOS DA
TUTELA ANTECIPADA.

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4. Agravo regimental não provido.

(STJ, AgRg no Ag 1223767/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA


TURMA, julgado em 16/08/2011, DJe 22/08/2011)

30.2.3.14.1. Eficácia da Tutela Antecipada e Julgamento de Agravo de Instrumento


Questão interessante é a relativa ao deferimento ou indeferimento de agravo de instrumento
no Tribunal, relativamente à decisão que concedeu ou não a antecipação da tutela.

O STJ tem entendimento dominante de que, estando pendente de julgamento o agravo de


instrumento, mesmo que em sede recursal, esse recurso perderá o objeto com o advento da
sentença (convém ao juiz determinar que o Tribunal seja oficiado sobre a sentença). Mesmo
que de forma inadvertida se tenha o julgamento do agravo de instrumento depois de já existir
a sentença, esta prevalece, pois o julgamento do agravo será juridicamente inexistente.

Verdade é que há um julgado da Corte Especial que fala o contrário:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE


INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO QUE CONCEDE TUTELA ANTECIPADA.
SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA DE MÉRITO CONFIRMANDO A TUTELA.
PERDA DO OBJETO. INOCORRÊNCIA.

1. A superveniência da sentença de procedência do pedido não prejudica o


recurso interposto contra a decisão que deferiu o pedido de antecipação de
tutela.

2. Embargos de divergência rejeitados. (STJ, Corte Especial, EREsp 765105,


Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe de 25/08/2010)

Entretanto, mesmo assim o STJ tem proferido uma série de decisões em favor da perda do
objeto:

PROCESSUAL CIVIL. TUTELA ANTECIPADA. RECURSO ESPECIAL. SENTENÇA DE


MÉRITO SUPERVENIENTE. PERDA DO OBJETO.

1. A superveniência de sentença de mérito acarreta a perda do objeto de


recurso especial interposto contra decisão que apreciou tutela antecipada.

2. Precedentes: REsp 529.342/PR, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma,


julgado em 24.11.2009, DJe 26.2.2010; AgRg no REsp 675.537/SC, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 25.8.2009, DJe
16.9.2009.

Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, para julgar


prejudicado o recurso especial.

(EDcl no REsp 1162239/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA


TURMA, julgado em 26/10/2010, DJe 09/11/2010)

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO


DE INSTRUMENTO. CONCURSO PÚBLICO. AGRAVO INTERPOSTO NA ORIGEM
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CONTRA DECISÃO CONCESSIVA DE TUTELA ANTECIPADA. SENTENÇA DE


MÉRITO.

SUPERVENIÊNCIA. RECURSO ESPECIAL EM QUE SE DEBATE EVENTUAL


AFRONTA AO ART. 535, II, DO CPC. PERDA DO OBJETO. MULTA APLICADA
PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. MANUTENÇÃO. AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. Consoante reiterada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, "com


a superveniência de sentença de mérito, resta prejudicado o recurso
especial interposto contra acórdão que apreciou, no julgamento de agravo
de instrumento, pedido de tutela antecipada" (AgRg no Ag 699.687/DF, Rel.
Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, DJe 23/6/08).

2. Hipótese em que a tese de afronta ao art. 535, II, do CPC, deduzida no


recurso especial, vincula-se à suposta omissão do Tribunal de origem na
apreciação de questões vinculadas ao próprio mérito da controvérsia, que
serão apreciadas oportunamente no recurso de apelação.

3. "Em inexistindo qualquer vício no decisum e apresentando-se os


embargos declaratórios com caráter manifestamente protelatório, é de se
preservar a fixação da pena de multa, nos termos do parágrafo único do
artigo 538 do Código de Processo Civil" (AgRg nos EDcl no Ag 1.241.412/SP,
Rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO, Primeira Turma, DJe 10/12/10).

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg no Ag 1385515/RJ, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 27/04/2011)

E se o juiz indefere a tutela antecipada, o Tribunal dá provimento ao agravo de instrumento e


posteriormente o juiz indefere o pedido em sentença? O que deve prevalecer? A decisão
recursal sumária e hierarquicamente superior ou a decisão inferior fundada em cognição
exauriente?

Depende. O STJ já adotou tanto o critério hierárquico, mediante o qual deve prevalecer a
determinação do tribunal, sobrepondo-se à sentença no que lhe for contrário, quanto o
critério cognitivo, mediante o qual prevalece a sentença, por ter se aprofundado melhor nos
fatos.

Porém, o caso concreto é que dirá. Certo é que, se a sentença se fundar em outros fatos que
não aqueles conhecidos quando do julgamento do agravo de instrumento pelo Tribunal, pode
a sentença prevalecer, já que o contexto fático se modifica.

30.2.3.15. Recursos
Como em regra a decisão que concede a tutela antecipada é interlocutória, em regra caberá
agravo de instrumento. Se concedida na sentença, caberá apelação com efeito suspensivo. Se,
porém, havia sido concedida por interlocutória e foi confirmada na sentença, cabe apelação
sem efeito suspensivo, relativamente ao capítulo que concedeu a antecipação (art. 520, VII).

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SE POR DECISÃO MONOCRÁTICA, CABERÁ AGRAVO INTERNO; SE POR ACÓRDÃO,


RESP. ALIÁS, IMPORTANTE RESSALTAR QUE NÃO CABERÁ RECURSO
EXTRAORDINÁRIO DO ACÓRDÃO QUE CONCEDER A TUTELA ANTECIPADA:

Súmula 735, STF: “Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar”.

ANTECIPAÇÃO. TUTELA. AG. CONVERSÃO. AGRAVO RETIDO.

A Turma reafirmou que, em se tratando de decisões liminares ou


antecipatórias da tutela, o agravo contra elas interposto deve ser,
obrigatoriamente, de instrumento. Ressaltou-se que esse entendimento se
sustenta no fato de que, dada a urgência dessas medidas e os sensíveis
efeitos produzidos na esfera de direitos e interesses das partes, não haveria
interesse em aguardar o julgamento da apelação. Ademais, salientou-se
que, consoante nova sistemática imposta pela Lei n. 11.187/2005, os
agravos contra decisões interlocutórias serão interpostos na forma retida,
salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e
de difícil reparação, bem como quando houver casos de inadmissão da
apelação e naqueles relativos aos efeitos em que a apelação é recebida,
quando será admitida a sua interposição por instrumento. RMS 31.445-AL,
3T, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/12/2001.

30.2.4. Resolução Parcial do Mérito da Causa (art. 273, § 6º)

30.2.4.1. Introdução
De acordo com referido dispositivo, a tutela antecipada também poderá ser concedida quando
um ou mais pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso.

Trata-se de regra da TUTELA ANTECIPADA IMPRÓPRIA, já que o que se permite é a decisão


definitiva sobre a parcela do mérito da causa, ao invés de provisória, como seria na tutela
antecipada.

30.2.4.2. Natureza Jurídica


Como visto, o diploma trata de resolução parcial da lide, definitiva, fundada em cognição
exauriente e apta a ficar imune pela coisa julgada material.

Por não se tratar de tutela antecipada, não se aplicam seus pressupostos. Seus únicos
requisitos são:

a) Incontrovérsia de um pedido formulado, ou de parcela deles;

b) Desnecessidade de realização de prova em audiência para determinado pedido, ou de


parcela dele.

A decisão aqui, embora definitiva e de mérito, será interlocutória.

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30.2.4.3. Execução
Como a execução será definitiva, não se lhe aplica o regramento da execução provisória.
Porém, para executar a decisão que resolve parcialmente o mérito da causa, não existe
qualquer tratamento normativo específico.

O credor exequente deverá formular seu requerimento por meio de petição escrita,
devidamente instruída com documentos e cópias de peças dos autos principais, que sejam
necessários para o desenvolvimento da execução.

20.2.4.4. Tutela Antecipada nas Obrigações de Entrega de Coisa


Art. 273

[...]

§ 3o A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme


sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, § § 4o e 5o, e 461-A.
(Redação dada pela Lei nº 10.444, de 2002)

30.2.5. Tutela Antecipada contra a Fazenda Pública

30.2.5.1. Generalidades
É absolutamente certo que a tutela antecipada cabe contra a Fazenda Pública, em vista da Lei
nº 9.494/97. A discussão que ocorre é sobre quando e em quais casos, e sobre a
constitucionalidade e os limites das normas que impedem determinadas matérias de serem
antecipadas.

Essas limitações se reduzem, no entanto, às obrigações de pagar, não alcançando as de dar,


fazer ou não fazer. Alguns autores justificavam a impossibilidade de tutela antecipada com
base no reexame necessário das decisões proferidas contra o Poder Público. Ocorre, porém,
que o duplo grau necessário só se refere a sentenças, enquanto a tutela antecipada é
concedida, geralmente, por decisão interlocutória, o que afasta o argumento.

Outros autores alegavam que ela é incompatível com o regime de precatórios, o que não é
verdade.

30.2.5.2. Leis Fundamentais de Limitação da Tutela Antecipada e sua Constitucionalidade


A Lei nº 9.494/97 vetou a tutela antecipada contra a Fazenda Pública nos seguintes casos (art.
2º-B):

a) Quando tiver por fito a reclassificação ou equiparação de servidores públicos, ou a


concessão de aumento ou extensão de vantagens. Nesse caso, além de vedada a
antecipação da tutela, a sentença final somente poderá ser executada após o trânsito
em julgado (Lei n° 4.348/1964, art. 3°; parágrafo único), exatamente porque o recurso
de apelação e o reexame necessário têm efeito suspensivo.

b) Para pagamento de vencimentos e vantagens de servidor público que tenham tido


vencimento anterior à data do ajuizamento da demanda (Lei n° 5.021/1966, art. 1°);

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c) Toda vez que providência semelhante não puder ser concedida em ações de mandado
de segurança, em virtude de vedação legal (Lei n° 8.437/1992, art. 1°);

d) Quando impugnado, na primeira instância, ato de autoridade sujeita, na via do


mandado de segurança, à competência originária do tribunal (Lei n° 8.437/1992, art.
1°, parágrafo 1°).

e) Quando a medida esgotar, no todo ou em parte, o objeto da ação (Lei n° 8.437/1992,


art. 1°, parágrafo 3°). Assim; se a antecipação da tutela contra a Fazenda Pública
determinar a liberação de uma mercadoria apreendida, não se poderá antecipar a
tutela, em razão da irreversibilidade da medida.

Atualmente, qualquer decisão a título de tutela antecipada que conceda tais benefícios a
servidores pode ser cassada por reclamação perante o STF, face a decisão provisória prolatada
na ADC-4.

Essas vedações, de acordo com o STF, devem ser interpretadas restritivamente, não atingindo
as verbas previdenciárias e as verbas ilegitimamente tomadas do jurisdicionado.

Porém, para o próprio STF, o juiz poderá deferir a tutela antecipada contra a Fazenda Pública
nos casos vedados em lei, já que a ele é dado exercer o controle difuso de constitucionalidade
perante o caso concreto, afastando a incidência das normas restritivas por agressão ao art. 5º,
XXXV, da CR/88. Em suma, o afastamento das restrições justifica-se pela aplicação do
princípio da proporcionalidade.

30.2.5.3. Exigência do Trânsito em Julgado para a Expedição de Precatório (EC nº 62/09)


De acordo com a redação dada pela EC nº 62/09 ao art. 100, § 1º, da CR/88:

§ 1º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público,


de verba necessária ao pagamento de seus débitos oriundos de sentenças
transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários, apresentados
até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte,
quando terão seus valores atualizados monetariamente.

Didier alega que tal emenda é inconstitucional; que, ao exigir o trânsito em julgado, faz-se
referência à coisa julgada formal, endoprocessual; que os débitos da tutela antecipada não são
originados de sentenças; assim, não haveria qualquer óbice para a expedição de precatório.

Entretanto, o dispositivo tem sido aplicado literalmente.

Didier afirma que o STJ tem admitido o cumprimento de tutela antecipada contra a Fazenda
Pública para o pagamento de quantia, independentemente de precatório, por ser ele
incompatível com a tutela de urgência. Entretanto, isso não é pacífico.

30.2.5.4. Tutela Antecipada da Obrigação de Fazer, Não Fazer e Dar Coisa


Não há, em princípio, maiores restrições, até mesmo porque tais tutelas não se submetem à
tutela constitucional dos precatórios.

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Não é possível a concessão de tutela antecipada em ação possessória contra a Fazenda Pública
sem sua prévia oitiva; não é possível a concessão de tutela antecipada nas ações que se
referem à liberação de mercadorias, bens ou coisas de procedência estrangeira, conforme Lei
nº 2.770/56 (proibição mitigada no caso do bem ser perecível).

Não é possível a concessão de tutela antecipada para compensar ou extinguir o débito


tributário. Porém, é possível a concessão de liminar ou tutela antecipada como forma de
suspensão da exigibilidade do crédito tributário (art. 151, V, CTN).

30.2.5.5. Meios de Impugnação da Concessão de Tutela Antecipada contra a Fazenda Pública


Concedida uma tutela antecipada por um juízo de primeira instância, cabe, normalmente, um
agravo de instrumento; no qual poderá ser requerido o efeito suspensivo, com fundamento no
art. 558 do CPC.

Afora o agravo de instrumento, é igualmente possível o ajuizamento do pedido de suspensão


para o presidente do respectivo tribunal.

A par deles pode a fazenda intentar, ainda, uma reclamação constitucional perante o STF,
caso tenha sido concedida a tutela antecipada em uma das hipóteses vedadas pela Lei n°
9.494/1997, pois a decisão estaria em confronto com o decidido na ADC 4. A propósito,
cumpre verificar que o STF vem acolhendo várias reclamações com esse objeto, em situações
da espécie (Rcl. 846/SP).

Todas essas medidas são concorrentes: Pode a Fazenda Pública valer-se, a um só tempo, de
todas elas. De acordo com o princípio da singularidade, é proibida a interposição simultânea
de mais de um recurso contra a mesma decisão, excepcionado apenas o ajuizamento conjunto
de recurso especial e extraordinário.

Acontece, porém, que o pedido de suspensão não é um recurso, ostentando a natureza de


incidente processual. De igual modo, a reclamação constitucional é uma ação, ajuizada
originariamente no Tribunal Superior, com vistas a obter a preservação de sua competência ou
a garantir a autoridade de seus julgados.

30.3. Observações de Provas


1. TRF4 – XII – QUESTÃO 69. Sendo parcialmente antecipada a tutela, a apelação da
sentença que acolhe integralmente o pedido será recebida no efeito meramente
devolutivo apenas no que concerne ao objeto da tutela antecipada e no duplo efeito
quanto ao mais.

2. TRF4 – XII – QUESTÃO 69. Para a efetivação da antecipação da tutela que implique
levantamento de dinheiro, de regra, será exigida caução, ficando assim assegurado o
interesse do réu em caso de reversão da medida.

3. TRF4 – XII – QUESTÃO 69. Nas ações possessórias, a concessão de medida liminar para
as chamadas “ações de força nova” nada mais representa do que antecipação da
tutela, com o diferencial da dispensa da demonstração do periculum in mora.

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4. EMAGIS 2012/17 – QUESTÃO 11. Pode ser deferida a tutela antecipada quando
caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do
réu.

5. EMAGIS 2012/17 – QUESTÃO 11. A tutela antecipada poderá ser revogada ou


modificada a qualquer tempo, em decisão fundamentada.

6. EMAGIS 2012/17 – QUESTÃO 11. A tutela antecipada também poderá ser concedida
quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se
incontroverso.

7. EMAGIS 2012/17 – QUESTÃO 11. Se o autor, a título de antecipação de tutela,


requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os
respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo
ajuizado.

8. EMAGIS 2012/17 – QUESTÃO 11. O CPC expressamente prevê a possibilidade de


concessão da tutela antecipada em ação rescisória para o fim de suspender a execução
do acórdão rescindendo atacado nessa espécie de demanda (art. 489).

9. EMAGIS – 2011/43 – QUESTÃO 09. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar,


total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,
existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e fique
caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do
réu, ainda que não haja, neste caso, fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação247.

10. EMAGIS – 2011/43 – QUESTÃO 09. A tutela antecipada também poderá ser concedida
quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se
incontroverso (tutela antecipada imprópria).

11. EMAGIS – 2011/43 – QUESTÃO 09. Segundo posicionamento da Corte Especial do


Superior Tribunal de Justiça, a superveniência da sentença de procedência do pedido
NÃO PREJUDICA o recurso interposto contra a decisão que deferiu o pedido de
antecipação de tutela248.

247
A teor do caput do art. 273 do CPC, o juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca,
se convença da verossimilhança da alegação. Somado a isso, deve estar presente uma das situações
trazidas nos seus incisos I e II, as quais, portanto, não são cumulativas, mas sim alternativas: a) exista
fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou b) fique caracterizado o abuso de direito
de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu.
248
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO QUE
CONCEDE TUTELA ANTECIPADA. SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA DE MÉRITO CONFIRMANDO A TUTELA. PERDA DO
OBJETO. INOCORRÊNCIA.
1. A superveniência da sentença de procedência do pedido não prejudica o recurso interposto contra a decisão que
deferiu o pedido de antecipação de tutela.
2. Embargos de divergência rejeitados. (STJ, Corte Especial, EREsp 765105, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe de
25/08/2010)
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12. EMAGIS – 2011/42 – QUESTÃO 11. Após a aquisição de determinado imóvel, o


comprador ajuizou contra o vendedor ação de imissão na posse. Realizada a citação,
mas ainda antes de a resposta ser apresentada, o comprador soube que a situação
financeira do vendedor sofrera rápida e severa deterioração, o que tornava improvável
que este pudesse reparar qualquer dano causado ao imóvel no curso da ação. Dada a
situação econômica do réu, o autor poderá requerer a antecipação da tutela
jurisdicional mediante petição fundada no receio de dano de difícil reparação.

13. EMAGIS – 2011/31 – QUESTÃO 10. Quando restar caracterizado o abuso do direito de
defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu, a tutela antecipada pode ser
concedida, desde que exista prova inequívoca da verossimilhança da alegação.

14. EMAGIS – 2011/30 – QUESTÃO 01. O juízo da Vara da Fazenda Pública, em Belo
Horizonte, determinou ao Estado de Minas Gerais, em sede de antecipação dos efeitos
da tutela pleiteada em ação civil pública movida pelo Ministério Público, que promova
o pagamento dos respectivos servidores públicos estaduais, a partir do mês seguinte,
atualizando os vencimentos e subsídios de acordo com o INPC apurado em relação ao
ano de 2010. Contra essa decisão, é correto afirmar que se revela cabível sua
impugnação diretamente no Supremo Tribunal Federal249.

31. Medidas Cautelares – Teoria Geral (arts. 796 a 812)


As medidas cautelares também fazem parte dos procedimentos de urgência, mas por motivos
didáticos resolvi fazer resumo em separado.

31.1. Características

31.1.1. Sumariedade
O procedimento cautelar não se confunde com o procedimento comum. É uma tutela
diferenciada com regulamentação própria, já que se trata de uma tutela de urgência.

249
Consequência da ADC 4. Por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar
Peluso, está suspensa a decisão do juiz da 6ª Vara Cível e de Fazenda Pública da Comarca de Macapá
(AP) que ordenou ao Estado do Amapá o pagamento imediato de reajuste a servidores do Poder
Judiciário. A decisão atende a uma Reclamação (Rcl 11961) ajuizada na Corte pelo Estado do Amapá
contra a decisão que assegurou aos servidores revisão geral anual de 3% a ser pago imediatamente e
com efeito retroativo a partir de 1º de abril de 2011.
Para o Estado do Amapá, a determinação de pagamento desrespeita o entendimento do Supremo no
julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 4, em que o Tribunal confirmou a
aplicação do artigo 1º, da Lei 9.494/97 que impede a concessão de tutela antecipada contra a Fazenda
Pública. Com a decisão, a Corte proibiu toda decisão cautelar que reclassifique ou equipare servidores
públicos, conceda aumento, estenda vantagens ou ordene o pagamento de vencimentos.
Ao analisar o pedido, o ministro Peluso destacou que existem motivos suficientes para suspender
liminarmente a determinação, considerando que o juiz também impôs multa diária de R$ 20 mil em caso
de descumprimento. Além disso, há o risco da impossibilidade de restituição ao Estado dos valores pagos
caso o colegiado venha a ter um entendimento diferente do juiz.
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Ela é concedida mediante a mera probabilidade de existência do direito material. Trata-se do


requisitos do fumus boni iuris, que para parcela significativa da doutrina deve ser concedida
com base na simples verossimilhança.

A cognição sumária pode ser consequência tanto de um contraditório postergado, hipótese na


qual o juiz decidirá tendo conhecimento somente da versão apresentada pelo demandante,
como de um conhecimento superficial diante do contraditório tradicional, hipótese na qual,
mesmo recebendo informações de ambas as partes, o juiz decide por meio de atividade
cognitiva superficial.

31.1.2. Provisoriedade ou Temporariedade?


Didier, Alexandre Câmara e outros defendem, como visto, que as cautelares são temporárias,
já que não serão substituídas por nada. Findo o processo cautelar, há o trânsito em julgado
relativamente à própria pretensão cautelar. Sua temporariedade decorre exatamente do fato
de ter tempo de vida, morrendo sem ser por nada substituída.

Já Daniel Assumpção e a teoria tradicional entendem que é provisória, já que podem, a


qualquer tempo, ser revogadas ou modificadas (art. 807), não sendo projetadas para durar
para sempre. A tutela de urgência somente existirá enquanto não concedida ou denegada a
tutela definitiva.

A tutela cautelar sobrevive enquanto as condições para a sua concessão não forem
modificadas e a situação de perigo continuar a exigir sua existência.

Para Daniel Assumpção, a cautelar é provisória pois será substituída pela tutela definitiva. Não
se confundiria, para ele, com temporariedade, que apesar de ter tempo de duração
determinado, não será substituída pelo decurso do prazo por simplesmente deixar de existir.

Penso que a razão está com Didier e sua turma. A cautelar não é substituída pela tutela
definitiva; os objetos de ambos são diferentes. A pretensão da cautelar é tão-somente
resguardar o objeto da lide principal. Finda sua função, a cautelar, cuja decisão transitou em
julgado, morrerá por não ter mais utilidade. Entretanto, por nada terá sido substituída. A
procedência do pedido definitivo se afasta do provimento cautelar, tendo sido apenas
amparado por este.

31.1.3. Instrumentalidade
O processo cautelar tem sua função ligada a outro processo, chamado principal, cuja utilidade
prática do resultado procurará resguardar. Se o processo principal é o instrumento para a
composição da lide ou para a satisfação do direito, o processo cautelar é o instrumento para
que essa composição ou satisfação seja praticamente viável no mundo dos fatos.

É por isso que a cautelar é chamada de instrumento do instrumento ou instrumento ao


quadrado.

A instrumentalidade é hipotética, pois é impossível prever se uma tutela cautelar será,


efetivamente, apta a garantir um resultado eficaz do processo principal. Isso porque o autor da

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cautelar poderá não propor o processo principal, poderá nele sucumbir ou poderá o réu
satisfazer o direito do autor sem necessidade da ação principal.

31.1.4. Revogabilidade
A revogabilidade deve ser analisada sob dois aspectos, quando a cautelar é concedida
mediante liminar ou mediante sentença.

Liminarmente, a cautelar poderá ser revogada a pedido das partes ou de ofício, visto que a
preocupação de preservar a utilidade do provimento não fica adstrita ao interesse das partes.
Poderá ocorrer pelos seguintes motivos a revogação da liminar:

f) Interposição de agravo de instrumento;

g) Prolação de sentença;

h) Mudança da situação fática;

i) Mudança do quadro probatório.

Quanto a tutela cautelar é concedida mediante sentença, duas situações diversas podem se
verificar, dado que a sentença cautelar, como qualquer outra, é impugnável por apelação.
Tanto pode contra a sentença ter sido interposto recurso de apelação como pode ela não ter
sofrido qualquer impugnação após o lapso temporal determinado em lei.

A consequência mais importante da ausência de impugnação da sentença cautelar é a


ocorrência da coisa julgada formal. Significa dizer que o processo cautelar terá chegado a seu
final.

Quando produzir a coisa julgada formal, o juiz não poderá rever de ofício o seu entendimento.
Como não se poderá discutir novamente a mesma matéria no processo, será indispensável o
ingresso de nova demanda de procedimento cautelar para pedir a revogação ou modificação
da tutela cautelar já concedida em sentença.

Sumariedade
Assim, são características das cautelares: Provisoriedade
Instrumentalidade
Revogabilidade

31.2. Competência (art. 800)

31.2.1. Críticas ao Art. 800 do CPC


Dispõe o art. 800 do CPC que as medidas cautelares serão requeridas ao juiz da causa; e,
quando preparatórias, ao juiz competente para conhecer da ação principal.

Na verdade, a regra é a mesma tanto para a cautelar preparatória como para a principal: será
competente para julgar a ação cautelar o juízo competente para julgar a ação principal,
independentemente desta já existir ou estiver por vir.

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A prevenção será determinada pela ação que vier em primeiro lugar, seja a principal, seja a
cautelar, mas sempre no foro competente para conhecer a ação principal.

31.2.2. Ações Cautelares Probatórias


São cautelares probatórias a produção antecipada de provas, a exibição de coisa ou
documento, justificação, notificação e interpelação, sendo os últimos três procedimentos de
jurisdição voluntária. Nessas cautelares, especialmente, não se justifica a proposição da ação
em local diferente da comarca em que será produzida a prova, caso a ação principal deva ser
proposta em foro diferente.

Nessas ações, a proposição deverá ser feita, em função do princípio da eficácia da medida
cautelar, no local onde deverá a mesma ser efetivamente produzida, independentemente da
regra para o processo principal, evitando-se a desnecessária utilização de precatórias.

31.2.3. Competência e Prevenção do Juízo

31.2.3.1. Juiz Competente e Prevenção


A doutrina é pacífica ao afirmar que a cautelar antecedente previne a competência do juízo
para a ação principal, fixando num determinado juízo, entre vários que seriam em tese
competentes, a competência para conhecer da ação principal que estará por vir. O mesmo
ocorre se o inverso for feito. Poder-se-á falar, portanto, em prevenção recíproca,
independentemente de qual demanda foi proposta anteriormente (cautelar ou principal).

Cria-se, na verdade, uma competência funcional que determina que o mesmo juízo será
competente para conhecer e julgar ambas as demandas. Lembrar que a competência funcional
é absoluta.

31.2.3.2. Juízo Incompetente e Prevenção


A prevenção somente ocorre entre juízos competentes. Caso a cautelar seja proposta em juízo
incompetente e o réu não excepcione, não se poderá falar em prevenção entre o juiz da ação
cautelar e o da principal. Nesse caso, a ação principal deverá ser proposta em foro diferente,
no competente.

31.2.3.3. Prevenção do Juízo e Cautelares Probatórias


No caso da prevenção das cautelares probatórias para o processo principal, existe divergência
doutrinária e jurisprudencial.

Para o STJ não haverá prevenção, devendo a ação ser proposta no juízo competente.

31.2.3.4. Competência Cautelar em Grau Recursal (art. 800, p. único)


Dispõe o artigo que interposto o recurso, a medida cautelar será requerida diretamente ao
tribunal. Durante o tempo que mediar entre a publicação da sentença e o ingresso da
apelação, o órgão competente será o juízo de primeiro grau.

Essa regra, entretanto, possui duas exceções expressamente previstas em lei, que determinam
a competência do juízo de primeiro grau, independentemente do processo principal já se

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encontrar em fase recursal: trata-se da cautelar de alimentos provisionais (art. 853, CPC) e o
atentado (art. 880, p. único).

31.3. Mérito Cautelar


São elementos que compõem o mérito da cautelar o fumus boni iuris e o periculum in mora,
quando concretamente considerados.

Fumus boni iuris é o convencimento parcial do juiz, fundado num juízo de mera probabilidade
em razão da cognição sumária que faz para conceder a tutela cautelar – de que o direito
material corre perigo provavelmente existente. Não é necessária certeza, apenas uma análise
perfunctória, superficial.

Periculum in mora representa a situação de urgência derivada do perigo que o tempo


necessário para a concessão da tutela definitiva no caso concreto representa para a
efetividade da proteção jurisdicional. Sempre que o demandante comprovar que, não sendo
tutelado imediatamente seu direito material, correrá sério risco de perecer, haverá justificava
para a concessão da tutela cautelar. O perigo de dano deve ser fundado em critérios objetivos,
não em mero sentimento pessoal do autor.

31.4. Procedimento

31.4.1. Petição Inicial


Necessária a inicial quando a cautelar for preparatória, admitindo-se, quando incidental, uma
mera petição no bojo dos autos.

Os requisitos da inicial estão previstos no art. 801, CPC, aplicando-se subsidiariamente o art.
282. São requisitos especiais:

a) A lide e seus fundamentos (art. 801, III): trata-se da indicação do objeto da ação
principal, o que se exige em razão da instrumentalidade da ação cautelar. Cabe ao
requerente indicar do que tratará a futura ação principal, o que permitirá ao juiz
analisar se a cautelar efetivamente cumpre sua missão de acautelamento. Só se aplica
nas cautelares antecedentes;

b) Exposição sumária do direito ameaçado e o receio de lesão (art. 801, IV): trata-se do
fumus bonu iuris e do periculum in mora;

c) Valor da causa: não existe uma vinculação necessária entre o valor da causa na ação
cautelar e na ação principal. O bem de vida que se pretende obter com a tutela
cautelar é a garantia de eficácia do resultado final do processo, não se confundindo
com eventual bem de vida que será objeto da pretensão na ação principal. Isso é
reconhecido, inclusive, pelo STJ (REsp 860.877/CE, REsp 976.440/RJ).

31.4.2. Contraditório na Demanda Cautelar (art. 802)


O requerido será citado para, no prazo de 05 dias, contestar o pedido, indicando as provas que
pretende produzir. A esse prazo aplicam-se os prazos diferenciados em quádruplo, quando o

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requerido for a Fazenda Pública ou o MP (art. 188, CPC) e em dobro quando for a Defensoria
Pública e litisconsorte com procuradores diferentes (art. 191, CPC).

Além da contestação, são cabíveis as exceções instrumentais e a impugnação ao valor da


causa.

Não são cabíveis no processo cautelar a nomeação à autoria, chamamento ao processo,


denunciação à lide, oposição, reconvenção e ação declaratória incidental. Cabem, entretanto,
assistência simples e litisconsorcial.

O prazo de 05 dias é contado da seguinte forma (art. 802, I e II):

a) Não havendo concessão de cautelar liminarmente, o prazo tem início da juntada aos
autos do mandado de citação devidamente cumprido;

b) Havendo concessão de liminar, o dispositivo prevê que o termo inicial é o da execução


da medida cautelar, mas a melhor interpretação aponta para a necessidade de o
requerido ser intimado dessa execução da medida, tendo início a contagem do prazo a
partir da juntada da prova da intimação desse ato.

31.4.3. Revelia (art. 803, caput)


Seu principal efeito é a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor, presunção esta
relativa, sendo afastada nas seguintes hipóteses:

a) Fatos inverossímeis;

b) Fatos tenham sido impugnados fora da contestação;

c) Quando houver litisconsórcio passivo unitário, um dos réus contestar (art. 320, I);

d) Quando se tratar de direito indisponíveis (art. 320, II);

e) Quando a inicial não estiver acompanhada de instrumento público que a lei considere
indispensável à prova do art. (art. 320, III).

A presunção de veracidade limitar-se-á ao processo cautelar, não afetando o principal.

Havendo revelia e sendo gerada a presunção, deve ser feito julgamento antecipado da lide
(art. 330, II).

31.4.4. Instrução Probatória


A produção de provas não deve ser de tal intensidade que crie um juízo de certeza estranho à
cautelar. Haverá a designação de AIJ se for necessária (art. 803, p. único), entendendo-se
tratar de prova oral. Apesar da omissão legal, não se descarta a realização de perícia.

Todos os meios de prova legalmente admitidos são permitidos na cautelar. Além disso, todas
as provas produzidas no processo cautelar podem ser utilizadas no processo principal, já que
inegavelmente presentes os requisitos da prova emprestada.

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31.4.5. Sentença
O processo cautelar será encerrado por uma sentença, ainda que a cautelar já tenha sido
concedida em sede liminar. A sentença que acolhe ou rejeita o pedido do autor é uma
sentença de mérito (art. 269, I).

O juiz da cautelar poderá, atipicamente, reconhecer a prescrição ou a decadência e julgar


desde logo a ação principal ainda não proposta.

A satisfação da sentença independe de processo autônomo de execução, ocorrendo no bojo


dos autos. Na prática, o julgamento da cautelar tem ocorrido como um mero capítulo da ação
principal, de tal forma que, havendo somente uma sentença, a apelação terá duplo efeito em
relação ao capítulo que decidiu o processo principal e apenas efeito devolutivo quanto ao
capítulo que decidiu o pedido cautelar.

O derrotado no processo cautelar será condenado ao pagamento de verbas sucumbenciais, já


que presente a litigiosidade.

31.5. Liminar (art. 804)


Muitas vezes o trâmite do processo cautelar, apesar de ter um rito sumário, não pode esperar
o regular trâmite processual para produzir seus efeitos, sob pena de perecimento do interesse
que se busca proteger. Daí que surge a necessidade das liminares, concedidas inaudita altera
parte, para proteger de forma mais urgente ainda o que já era urgente.

De acordo com o art. 804, é cabível a concessão da liminar sempre que o réu, sendo citado,
puder tornar a medida cautelar ineficaz. O prejuízo advindo da citação do réu pode tanto ser
um ato seu positivo quanto em razão de meras circunstâncias de fato, como o decurso do
tempo.

Porém, na prática, os juízes não têm aferido ou exigido a demonstração desse perigo, exigindo
tão-somente a prestação de caução real ou fidejussória, o que para Daniel é errado.

31.6. Coisa Julgada Material


Tanto a doutrina majoritária quanto o STJ tem entendido que não faz coisa julgada material a
tutela concedida em processo cautelar, embora inegavelmente exista mérito.

Porém, o entendimento mais correto é de que existe sim a coisa julgada material. Isso porque,
após a preclusão definitiva da decisão final, não poderá haver modificação do que foi
concedido, salvo se sobrevier modificação nas questões de fato, como ocorre em todas as
sentenças. A autoridade da coisa julgada somente se verifica quando todos os elementos da
demanda (partes, pedido e causa de pedir) são iguais (teoria da tríplice identidade).

A existência de coisa julgada na sentença cautelar viria confirmada pela regra do art. 808 do
CPC, que impede a parte de repetir o pedido, salvo se por novo fundamento, se por qualquer
motivo cessar a medida cautelar (porém, destaca-se, essa é a posição da doutrina
minoritária).

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Registre-se, por fim, que na hipótese do art. 810, ou seja, na sentença que reconhece a
prescrição ou decadência na própria cautelar e julga extinto o processo com esse fundamento,
a sentença será de mérito e produzirá coisa julgada material.

31.7. Poder Geral de Cautela


O PGC tem duas óticas de análise: pelo poder jurisdicional, a tutela cautelar deve ser
entendida como a proteção jurisdicional prestada pelo Estado para afastar o perigo de
ineficácia do resultado final da pretensão definitiva da parte.

O PGC existe pois é impossível ao legislador prever todas as situações possíveis em que caiba
cautelar; porém, nem por isso poderia deixar de tutelá-las.

Como atividade do juiz no caso concreto, trata-se da necessidade do juiz de dispor de


instrumentos que efetivamente possam acautelar a parte necessitada, não se admitindo que
diante do fumus boni iuris e do periculum in mora o juiz fique inerte pela ausência de previsão
legal específica.

PODE O JUIZ CONCEDER CAUTELARES DE OFÍCIO, LIMINARMENTE, NOS CASOS E SOMENTE


NOS CASOS EXCEPCIONAIS, EXPRESSAMENTE PREVISTOS EM LEI (ART. 797).

O PGC, entendido como a concessão de ofício de uma medida cautelar pelo juiz, afasta o
princípio dispositivo.

Não se permite o exercício do PGC como medida preparatória, ou seja, somente pode o juiz
exercer esse poder quando houver um processo instaurado, de qualquer natureza.

31.8. Prazo de Eficácia da Medida Cautelar


Se a cautelar foi concedida em processo antecedente, a parte é obrigada a propor a ação
principal em 30 dias, contados da efetivação da medida. Isso visa evitar que uma medida de
natureza provisória se eternize (art. 806).

Logo, para fins do prazo de 30 dias, é irrelevante o momento da propositura do processo ou


mesmo da concessão da tutela; importa é o seu efetivo cumprimento.

O objetivo de se limitar a cautelar no tempo é minimizar o prejuízo para o réu, já que, após
concedida, ele estará numa situação de prejuízo material.

Essa obrigação de 30 dias não se aplica às cautelares meramente conservativas (protestos,


interpelações, notificações) e nas cautelares probatórias. Nesses casos, o tempo a maior não
prejudica o valor da prova cautelarmente produzida.

O prazo de 30 dias, segundo o STJ, é decadencial, não se interrompendo e nem se


prorrogando.

Há súmula sobre o assunto:

Súmula 482, STJ: “A falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do CPC
acarreta a perda da eficácia da liminar deferida e a extinção do processo cautelar”. Esse

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primeiro efeito (perda da eficácia da liminar) é expresso no CPC. Havia, no entanto,


controvérsia em relação ao segundo, ou seja, se deveria ocorrer ou não a extinção do processo
cautelar. O STJ, com a súmula, pacificou o entendimento em nível infraconstitucional.

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CAUTELAR PREPARATÓRIA.


NÃO-AJUIZAMENTO DA AÇÃO PRINCIPAL NO PRAZO DO ART. 806 DO CPC.
EXTINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO.

1. O não-ajuizamento da ação principal no prazo de 30 (trinta) dias do


deferimento da medida acautelatória acarreta a extinção do feito sem
julgamento do mérito.

2. Recurso especial não-conhecido.

(REsp 704538/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA


TURMA, julgado em 15/04/2008, DJe 05/05/2008)

31.9. Cessação da Eficácia da Tutela Cautelar (art. 808)

31.9.1. Não Propositura da Ação Principal em 30 Dias (art. 808, I)


É aplicável somente às cautelares antecedentes, ocorrendo a perda da eficácia de pleno direito
com o simples escoamento do decurso legal. A cessação da eficácia não significa a extinção do
processo cautelar, o qual terá seu mérito julgado.

31.9.2. Ausência de Execução da Tutela Cautelar no Prazo de 30 Dias (art. 808, II)
O que cessa aqui não é o efeito da tutela cautelar, e sim a eficácia da decisão que concedeu a
tutelar cautelar. Isso porque a desídia da parte pode significar ou uma perda superveniente de
interesse do favorecido pela concessão da tutela cautelar (tipo de renúncia tácita), ou uma
ausência de urgência para sua efetivação, demonstrada pelo desinteresse em executá-la.

Súmula 482, STJ: “A falta de ajuizamento da ação principal no prazo do art. 806 do CPC
acarreta a perda da eficácia da liminar deferida e a extinção do processo cautelar”.

31.9.3. Extinção do Processo Principal com ou sem Resolução de Mérito


Ambos geram a derrota do autor, com a consequente perda da eficácia da cautelar que o
favorecia. Para Daniel Assumpção, essa perda de eficácia ocorre ainda que a sentença do
processo principal seja recorrida.

Se procedente a sentença principal, também cessa a eficácia da cautelar, a qual será


substituída por uma decisão definitiva.

31.10. Responsabilidade Objetiva (art. 811)

31.10.1. Introdução
O beneficiado pela concessão e efetivação da tutela cautelar poderá ser responsabilizado pelos
danos suportados pela parte contrária caso se verifique uma das hipóteses do artigo. Trata-se
da teoria do risco proveito, pela qual a parte deve arcar com o ônus e bônus da cautelar.

Logo, o elemento culpa é totalmente estranho e irrelevante.


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31.10.2. Hipóteses de Responsabilidade Objetiva


a) Sentença no processo principal desfavorável (art. 811, I): aqui, incluem-se tanto a
sentença terminativa como a definitiva. Não há, Para Daniel Assumpção, necessidade
do trânsito em julgado;

b) Obtenção de cautelar liminarmente e não promoção de citação do requerido em cinco


dias (art. 811, II):

c) Cessação da eficácia nos casos do art. 808 do CPC: trata-se da hipótese de não
interposição da ação principal em 30 dias da efetivação da cautelar, entre outras;

d) Se o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição do direito do autor: o


requerente será derrotado no plano do direito material, ainda que nem mesmo exista
a demanda principal.

31.10.3. Liquidação e Execução


Ocorrida uma das hipóteses do art. 811, o requerido poderá cobrar do requerente da cautelar
todos os danos causados em razão da sua efetivação. A liquidação, que deverá ser por artigos,
já que haverá a necessidade de alegação e prova de fato novo alheio ao processo, ocorrerá nos
próprios autos da cautelar.

Após, a execução continua nos termos do art. 475 e seguintes do CPC.

31.11. Cautelares Inominadas


Além dos requisitos formais de toda petição inicial, a petição inicial do processo cautelar
preparatório deve indicar a lide principal e seus fundamentos, assim entendidos como os
elementos da demanda principal, cuja efetividade se pretende assegurar. Não basta, ressalte-
se, a indicação do nome da ação que será ajuizada, mas é preciso identificá-la através dos seus
elementos, tudo para que se possa examinar a adequação da medida cautelar pretendida;

Deve-se demonstrar na petição inicial, também, em que consiste o fumus boni iuris e o
periculum in mora;

Na primeira análise, pode o juiz determinar seja sanado algum vício, indeferir a petição inicial,
ou determinar a citação do demandado;

Estando em ordem o processo, será o demandado citado para contestar, no prazo de 5 dias,
contados da juntada aos autos do mandado de citação (ou do AR, se a citação se der pela via
postal) ou da efetivação da medida cautelar, quando concedida inaudita altera parte ou após
justificação prévia e desde que dela tome conhecimento o demandado, assim como que o
mandado de intimação preencha todos os requisitos formais do mandado de citação;

Pode o juiz, sem ouvir o réu, quando verificar que este, sendo citado, poderá torná-la ineficaz,
conceder, liminarmente ou após justificação prévia, a medida cautelar pleiteada;

Audiência de justificação prévia: aquela na qual se ouve o demandante e se colhe provas por
ele produzidas, sem a oitiva do demandado;

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Pode o juiz, no caso de concessão liminar de cautelar inaudita altera parte, determinar que o
demandante preste caução, real ou fidejussória. Trata-se da chamada contracautela;

Segundo entendimento doutrinário pacífico, inobstante o art. 802, CPC, fazer menção apenas à
contestação, é cabível o oferecimento também de outro tipo de resposta, no caso, as
exceções. A reconvenção, todavia, segundo entendimento dominante (Calmon de Passos tem
posição contrária, mas isolada), não é admitida;

A falta de resposta acarreta a decretação da revelia do demandado, que produz os mesmos


efeitos e ocorre nas mesmas situações que no processo de conhecimento (assim, não produz o
efeito material se este não seria produzido na mesma situação no processo de conhecimento).
Destaque-se que o efeito material da revelia no processo cautelar não tem o mesmo alcance
do processo de cognição, pois apenas leva o juiz a um juízo de probabilidade, mas não a um
juízo de certeza quanto à existência da posição jurídica de vantagem por ele afirmada;

A fase instrutória ocorre tal como no processo de conhecimento. Destaque-se, apenas, que
descabe a demanda declaratória incidental, eis que no processo cautelar não se exerce
cognição em profundidade suficiente para que se possa declarar, com força de coisa julgada
material, a existência ou inexistência de qualquer relação jurídica, ainda que prejudicial. Da
mesma forma, no procedimento cautelar não se realiza a audiência preliminar do art. 331,
CPC;

A sentença se limita a afirmar a presença ou ausência do fumus boni iuris e do periculum in


mora. Para parte da doutrina tem natureza mandamental. Alcança apenas a coisa julgada
formal (portanto, transita em julgado), não a material (até mesmo ante a característica da
revogabilidade inerente às medidas cautelares), exceto quando o juiz reconhecer ou afastar a
prescrição ou a decadência do direito substancial de que se diz titular (art. 810, CPC);

Efetiva-se nos próprios autos, por ordem do juiz, independentemente da fase do cumprimento
de sentença;

A apelação é recebida apenas no efeito devolutivo (art. 520, IV, CPC), mas a ela pode
excepcionalmente ser atribuído efeito suspensivo 9art. 558, CPC);

A efetivação da medida cautelar se faz por conta e risco do demandante, que responde pelos
prejuízos causados, independentemente de dolo ou culpa, nos casos do art. 811, CPC. Dita
espécie de responsabilidade processual civil não se confunde com o dever de reparar prejuízos
decorrentes da litigância de má-fé, que, obviamente, é de índole subjetiva (pressupõe a má-
fé). O prejuízo será apurado e ressarcido nos próprios autos.

31.12. Cautelares Nominadas

31.12.1. Arresto
Conceito: medida cautelar de apreensão de bens destinada a assegurar a efetividade de um
processo de execução por quantia certa;

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Dá-se quando houver fundado receio de diminuição patrimonial daquele que será executado
de modo a não restar patrimônio suficiente para satisfazer a alegada dívida;

Difere do arresto previsto no art. 653, CPC, eis que este não tem natureza cautelar, não tem
como requisito o fumus boni iuris e o periculum in mora, e é medida provisória que ao final de
conserte em penhora. É uma “antecipação de penhora” ou uma “pré-penhora”;

Sendo medida cautelar de constrição de direitos, tem aplicação o art. 806, CPC (30 d para o
ajuizamento da ação principal);

Só podem ser arrestados bens passíveis de penhora.

31.12.1.1. Hipóteses de Cabimento


As causae arresti estão previstas no art. 813250, CPC. São hipóteses em que o legislador
presumiu o periculum in mora, mas a sua comprovação não está dispensada no caso concreto;

Segundo doutrina majoritária, trata-se de rol meramente exemplificativo.

31.12.1.2. Pressupostos de Concessão


Exige-se, nos termos do art. 814, CPC:

I - prova literal da dívida líquida e certa:

Nos termos do parágrafo único, “equipara-se à prova literal da dívida líquida e certa, para
efeito de concessão de arresto, a sentença, líquida ou ilíquida, pendente de recurso,
condenando o devedor ao pagamento de dinheiro ou de prestação que em dinheiro possa
converter-se”.

Dívida líquida e certa é aquela representada por título executivo; mas dito dispositivo é
atenuado pelo parágrafo único, que equipara à dívida líquida e certa as obrigações de pagar
quantia certa decorrentes de sentença, ainda que ilíquidas e não definitivas;

Não se exige a certeza da obrigação, inobstante a expressão ‘dívida líquida e certa’, vez que,
tratando-se de medida cautelar, apenas exige-se a formação de juízo de probabilidade;

Para Freitas Câmara, o requisito exigido nesse inciso nada mais é do que o fumus boni iuris,
que resta presumido se o demandante é titular de título executivo ou de sentença, ainda que
ilíquida e não definitiva. Inobstante, seria possível a concessão de medida cautelar de arresto

250
Art. 813. O arresto tem lugar:
I - quando o devedor sem domicílio certo intenta ausentar-se ou alienar os bens que possui, ou deixa de
pagar a obrigação no prazo estipulado;
II - quando o devedor, que tem domicílio:
a) se ausenta ou tenta ausentar-se furtivamente;
b) caindo em insolvência, aliena ou tenta alienar bens que possui; contrai ou tenta contrair dívidas
extraordinárias; põe ou tenta pôr os seus bens em nome de terceiros; ou comete outro qualquer artifício
fraudulento, a fim de frustrar a execução ou lesar credores;
III - quando o devedor, que possui bens de raiz, intenta aliená-los, hipotecá-los ou dá-los em anticrese,
sem ficar com algum ou alguns, livres e desembargados, equivalentes às dívidas;
IV - nos demais casos expressos em lei.
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mesmo fora das hipóteses expressamente elencadas, desde que se demonstre o fumus boni
iuris. Seria o caso, por exemplo, de título não executivo, mas hábil a lastrear o procedimento
monitório.

II - prova documental ou justificação de algum dos casos mencionados no artigo


antecedente.

A norma deve ser entendida como a existência de periculum in mora, já que o rol do art. 813 é
meramente exemplificativo. Deve, assim, haver prova que gere juízo de probabilidade sobre a
existência de fundado risco de que, com a demora do processo, não se alcance a efetividade
do provimento a ser dado no processo principal.

31.12.1.3. Comprovação dos Pressupostos de Concessão


A interpretação da expressão ‘prova literal’ do art. 814, I (para o fumus boni iuris), comporta
divergência. Para Humberto Theodoro Jr., consiste na prova documental. Já para Freitas
Câmara significa prova suficiente. A segunda posição nos parece mais acertada, já que nos
procedimentos cautelares em geral é admitida a produção de qualquer prova, como também
em razão do inciso II do mesmo artigo fazer referência à prova documental ou aquela obtida
mediante justificação;

Já o inciso II prevê que o periculum in mora pode ser provado através de prova documental e
de justificação, a qual evidentemente só é realizada quando o juiz a entender indispensável.
Da justificação não participa o demandado, até mesmo porque a sua notificação para
comparecer já poderia frustrar a medida (lembre-se que trata de medida urgente em
decretada em razão da dilapidação patrimonial levada a cabo pelo demandante). Destaque-se
que apenas a liminar inaudita altera parte pode ser concedida com base na prova produzida na
audiência de justificação, eis que para a prolação da sentença há de se prestigiar o
contraditório. A audiência de justificação será dispensada se a medida de arresto for requerida
por pessoa jurídica de direito público, assim como se o demandante prestar caução. Nesses
casos não se dispensa, por óbvio, a prova do periculum in mora (senão apenas para a
concessão da liminar), mas apenas se a posterga para a fase instrutória

31.12.1.4. Procedimento
Observa-se o procedimento cautelar comum;

Na falta de norma específica sobre a efetivação do arresto, devem ser aplicadas as normas
atinentes à penhora: mediante auto ou termo de arresto seguido de, no caso de bens móveis,
o depósito dos bens arrestados, e, no caso de imóveis, o registro da medida no cartório de
imóveis respectivo.

31.12.1.5. Efeitos
Afetação do bem apreendido à futura execução;

Demandado perde a posse direta do bem. Não se lhe retira, contudo, o domínio, razão pela
qual é possível a alienação do bem arrestado, que apenas será ineficaz perante o credor;

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Discute-se se o arresto confere direito de preferência ao demandante no caso de concurso de


credores. Há quem entenda que não, dado o seu caráter cautelar. Há quem entenda que sim,
no sentido de que, uma vez realizada a penhora esta retroage seus efeitos à data do arresto.
Há, finalmente, autores que defendem posição intermediária, no sentido de que se já era
possível, à época do arresto, a propositura de demanda executiva, então a futura penhora
retroage seus efeitos à data do arresto; caso contrário, a penhora apenas retroage seus efeitos
à data a partir da qual seria possível o ajuizamento do processo executivo, já que apenas a
partir daí seria possível a prática de atos de execução, dos quais decorre o direito de
preferência.

31.12.1.6. Extinção
Pela extinção da obrigação, do que é exemplo o rol do art. 820, CPC. Nesse ponto destaque-se
que o pagamento apenas extingue o arresto se este já tiver sido efetivado; se não, apenas
suspende a sua efetivação (art. 819, CPC);

Quando exaurido o seu objeto, tendo sido realizada a penhora no processo executivo.
Observe-se que o arresto não se converte em penhora, mas se extingue ante a realização
desta.

31.12.2. Sequestro
Destina-se a resguardar a coisa sobre a qual incide um conflito de interesses, evitando o seu
desaparecimento;

Conceito: medida cautelar de apreensão de bens que se destina a assegurar a efetividade de


futura execução para entrega de coisa certa, de bem determinado (nesse ponto se diferencia
do arresto), tudo para garantir a sua entrega em bom estado ao vencedor da demanda;

31.12.2.1. Cabimento (art. 812)


I - de bens móveis, semoventes ou imóveis, quando lhes for disputada a propriedade
ou a posse, havendo fundado receio de rixas ou danificações:

 Deve-se entender que o sequestro não se limita às demandas fundadas no


direito de propriedade;

 Rixa: não guarda qualquer relação com o conceito do direito penal. Basta que
haja algum desentendimento entre as partes que gero o risco de que alguma
delas chegue à violência;

 Danificações: decorrentes de atos das partes ou não, incluída não só a


deterioração física com também o seu desaparecimento ou desvio.

II - dos frutos e rendimentos do imóvel reivindicando, se o réu, depois de condenado


por sentença ainda sujeita a recurso, os dissipar:

 Também os frutos dos bens móveis podem ser objeto de sequestro, desde que
haja fumus boni iuris e periculum in mora;

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 Também cabe antes da sentença condenatória e após o seu trânsito em


julgado;

 Não se limita às demandas reinvidicatórias.

III - dos bens do casal, nas ações de separação judicial e de anulação de casamento, se
o cônjuge os estiver dilapidando:

 Pode ser anterior ao ajuizamento da demanda destinada a desconstituir o


vínculo conjugal;

 Cabível também nas ações de divórcio;

 Não incide apenas sobre os bens do casal, mas também sobre bens próprios
de um dos cônjuges.

IV - nos demais casos expressos em lei:

 Ex: art. 1.016, § 1º, CPC.

Freitas Câmara, Theodoro Jr. entendem que o rol do art. 822, CPC, é meramente
exemplificativo, podendo ser concedida medida cautelar de sequestro sempre que presentes o
fumus boni iuris e o periculum in mora relativos a um bem específico.

31.12.2.2. Pressupostos de Concessão


 fumus boni iuris: demonstração de que há um direito creditório cujo objeto é a entrega
de coisa certa;

 periculum in mora: demonstração de que há risco efetivo de que ao final a coisa sobre
a qual pende a disputa não mais existirá ou estará deteriorada.

31.12.2.3. Aplicação das Normas Relativas ao Arresto


No que couber, no que com ele não for incompatível. Ex: não pode incidir sobre bens
indeterminados do demandado, mas apenas naquele objeto do litígio, como também não
pode ser substituído por caução;

Para Freitas Câmara, com esteio na lição de Ovídio Baptista da Silva, apenas são aplicáveis ao
sequestro as normas do arresto relativas ao modus operandi da medida, bem como aquelas
que regulam a forma de administração dos bens. No mais, são disposições incompatíveis.

31.12.3. Caução
Nem toda caução prevista no ordenamento jurídico brasileiro é cautelar, inobstante o
significado do termo, que remete à ideia de garantia, possa levar a essa equivocada conclusão.
É que algumas espécies de caução visam a garantir o próprio direito material e não a
efetividade do processo. Dessas cauções de direito material seria exemplo a do art. 1.280,
CC/02;

Classifica-se em três espécies: a) legal, b), negocial e c) judicial (para alguns, processual);

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Segundo Freitas Câmara, Ovídio Baptista da Silva, Humberto Theodoro Jr. a caução que se
presta através do procedimento previsto nos arts. 826 e ss, CPC, não tem natureza cautelar.
Para estes autores, seriam cautelares, por exemplo, as cauções previstas nos arts. 475-O251,
804, 805 e 819, todos do CPC. Ademais, as cauções cautelares (ou processuais) seriam
prestadas como ato do processo cuja efetividade se pretende proteger, e não através de
procedimento autônomo;

A prestada nos termos dos arts. 826 e ss, CPC, é, então, legal ou negocial, e de direito material.
A “ação de caução” é, portanto, ação de conhecimento;

Outra forma de classificar as cauções, prevista no art. 826, é em real ou fidejussória: real é
aquela que consiste em um bem determinado, que fica desde logo afetado a uma futura
execução da obrigação que a caução visava assegurar, tal como ocorre na hipoteca e no
penhor. Fidejussória, por sua vez, é espécie de caução pessoal, em que a garantia não recai
sobre um bem determinado, mas sobre todo o patrimônio de uma pessoa, como a fiança;

O rol das formas através das quais a caução pode ser prestada, art. 827, CPC, é meramente
exemplificativo. Registre-se que a escolha apenas cabe à parte quando a lei ou o negócio
jurídico que a determina não especificar a espécie de caução a ser prestada;

Nos termos do art. 828, CPC, a caução pode ser prestada pelo interessado ou por terceiro. Dito
dispositivo não confere a terceiro legitimidade para ser parte na “ação de caução”, mas apenas
esclarece que, proposta a ação por quem de direito, a caução poder ser prestada por terceiro
estranho à relação processual (aliás, a caução fidejussória é, por natureza, prestada por
terceiro).

31.12.3.1. Procedimento
Pode ser proposta tanto por aquele que está obrigado a prestar caução como por aquele que
tem o direito de exigir a sua prestação. Proposta por quem está obrigado a prestar caução,
deve ser observado o art. 829252, CPC. Ajuizada a demanda por quem tem o direito de a exigir,
aplica-se o art. 830253, CPC;

Em ambos os casos, o demandado será citado para oferecer resposta, no prazo de 5 dias, e
pode, nos temos do art. 831, CPC, aceitar a caução oferecida, prestar a caução demandada ou
contestar o pedido. Nos dois primeiros casos há o reconhecimento jurídico do pedido. Pode,
ainda, permanecer revel ou oferecer exceção de incompetência, de impedimento ou
suspeição. Não é cabível, contudo, a reconvenção, eis que a “ação de caução”, podendo ser
ajuizada por qualquer das partes da relação jurídica de direito material, é considerada de

251
Na edição que estou utilizando, de 2004, na verdade o Autor faz menção ao revogado art. 588.
252
Art. 829. Aquele que for obrigado a dar caução requererá a citação da pessoa a favor de quem tiver de
ser prestada, indicando na petição inicial:
I - o valor a caucionar;
II - o modo pelo qual a caução vai ser prestada;
III - a estimativa dos bens;
IV - a prova da suficiência da caução ou da idoneidade do fiador.
253
Art. 830. Aquele em cujo favor há de ser dada a caução requererá a citação do obrigado para que a
preste, sob pena de incorrer na sanção que a lei ou o contrato cominar para a falta.
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1099

natureza dúplice. Assim, o demandado, querendo manifestar pretensão em seu favor, deve
fazê-lo na própria contestação;

Decorrido o prazo de manifestação do demandado, o juiz proferirá de logo a sentença nos


casos de revelia, de reconhecimento jurídico do pedido, ou, sendo contestado o pedido, se se
tratar de matéria exclusivamente de direito ou, sendo de direito e de fato, não houver
necessidade de outras provas a produzir. Caso haja a necessidade de produção de provas, será
designada audiência de instrução e julgamento, se necessário, ou determinar a produção da
prova de outro modo (ex, pericial), e, após submetê-la ao contraditório, proferir sentença;

No caso de ação proposta por quem tem o direito de exigir caução (art. 830, CPC), a sentença
de procedência do pedido terá natureza condenatória, impondo ao demandado o dever de
prestar a caução, sob pena de incidir na sanção cominada, pela lei ou pelo contrato, para a sua
não prestação;

No caso de ação proposta por quem tem o dever de prestar caução (art. 829, CPC), a sentença
de procedência do pedido terá natureza declaratória, limitando-se a afirmar que a caução está
prestada;

A sentença de procedência deve assinalar prazo ao caucionante para prestar a caução, se esta
ainda não houver sido prestada (art. 830, CPC) e/ou assinalar diligências a serem cumpridas
(ex: proceder ao registro da hipoteca no cartório de imóveis). Caso seja descumprida254, será
considerada não prestada a caução (art. 829, CPC) – será desconstituída a caução que se
houvera declarada prestada; ou será “efetivada a sanção que cominou” (art. 830, CPC). Para
parte da doutrina a norma posta no art. 834, parágrafo único, CPC, é teratológica – pois prevê
provimento jurisdicional posterior à sentença, ato que põe termo ao ofício de julgar do juiz – e
desnecessária, pois que tudo poderia ser resolvido na própria sentença, ou na impossibilidade,
deveria ser objeto de outro processo. Esta corrente, portanto, considera tal provimento
jurisdicional irrecorrível. A posição dominante, contudo, é a de que se trata de outra sentença
dentro do mesmo processo, a qual também pode ser desafiada por recurso de apelação
(Humberto Theodoro Jr., Ovídio Baptista da Silva);

A sentença de improcedência é meramente declaratória. No caso do art. 829, CPC, declara não
prestada a caução. No caso do art. 830, CPC, declara a inexistência do dever jurídico de prestá-
la;

O art. 835255, CPC, regula a chamada cautio iudicatum solvi ou cautio pro expensis, caução das
despesas processuais, exigida para o demandante não residente no Brasil. É norma de
constitucionalidade duvidosa, pois, segundo alguns doutrinadores (Ada Pellegrini Grinover),
ofende a garantia de amplo acesso à jurisdição. Também não é caução cautelar. Não é exigida

254
Art. 834, parágrafo único, CPC.
255
Art. 835. O autor, nacional ou estrangeiro, que residir fora do Brasil ou dele se ausentar na pendência
da demanda, prestará, nas ações que intentar, caução suficiente às custas e honorários de advogado da
parte contrária, se não tiver no Brasil bens imóveis que lhes assegurem o pagamento.
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1100

nos casos do art. 836256, CPC. Prestada a caução e instaurado o processo cujas despesas visa a
garantir, e tornando-se a mesma insuficiente, pode o interessado requerer, em petição inicial
que originará processo incidente, o seu reforço. Julgando procedente o pedido, o juiz assinará
prazo para que o obrigado reforce a caução, sob pena de cessarem os efeitos da caução
prestada, presumindo-se que, com relação ao processo cujas despesas visa a garantir, o autor
tenha desistido da ação ou o recorrente desistido do recurso.

31.12.4. Busca e Apreensão (arts. 839 a 843)


Há inúmeros tipos de busca e apreensão não regulados pelos arts. 839 a 843, CPC, e que não
têm natureza cautelar, tais como a busca e apreensão de coisa sobre a qual incidirá o arresto
ou sequestro; a do art. 625, CPC, que tem natureza executiva; a do art. 3º, DL n.º 911/69,
relativa a bens alienados fiduciariamente etc. Interessa-nos apenas a de natureza cautelar;

É medida de apreensão judicial subsidiária do arresto e do sequestro. Só é cabível quando não


for adequado um dos últimos. Algumas hipóteses de cabimento seriam a busca e apreensão de
pessoas, ou de documentos e provas, ou ainda a de bem objeto de arresto que tenha sido
maliciosamente desviado (caso em que a busca e a apreensão teria por objeto garantir a
efetividade da cautelar de arresto). No caso de bens, só é cabível quanto a bens móveis (jamais
quanto a imóveis), e no caso de pessoas, só é admissível quanto a incapazes;

É medida única, um todo indivisível, embora formada por dois atos, a busca seguida da
apreensão.

31.12.4.1. Procedimento
Observa-se o procedimento cautelar comum, com algumas peculiaridades, especialmente no
que concerne à efetivação da medida;

Além dos requisitos de toda petição inicial de processo cautelar, deve a da busca e apreensão
demonstrar o local onde está o bem ou a pessoa objeto da medida pretendida;

Deferida a medida, liminarmente ou em sentença, será expedido mandado de busca e


apreensão, que conterá os requisitos do art. 841, CPC: a indicação da casa ou do lugar em que
deve efetuar-se a diligência, a descrição da pessoa ou da coisa procurada e o destino a Ihe dar
e a assinatura do juiz, de quem emanar a ordem;

O mandado dever ser cumprido por 2 oficiais de justiça, que, após a sua leitura ao responsável
pela casa/estabelecimento comercial, têm autorização para arrombar portas internas e
externas e quaisquer móveis onde presumam que esteja oculta a pessoa ou a coisa procurada,
caso o mesmo não as abra voluntariamente;

O cumprimento do mandado será sempre acompanhado de 2 testemunhas, sob pena de


nulidade absoluta;

256
Art. 836. Não se exigirá, porém, a caução, de que trata o artigo antecedente: I - na execução
fundada em título extrajudicial; II - na reconvenção.
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1101

O § 3º, art. 842, trata da medida cautelar de busca e apreensão nos casos em que o direito
substancial a ser tutelado no processo principal seja direito autoral ou direito conexo do
artista, intérprete ou executante, produtores de fonogramas e organismos de radiodifusão.
Nesse caso o juiz designará, para acompanharem os oficiais de justiça, dois peritos aos quais
incumbirá confirmar a ocorrência da violação antes de ser efetivada a apreensão;

Finda a diligência, lavrarão os oficiais de justiça auto circunstanciado, assinando-o com as


testemunhas.

31.12.5. Exibição (arts. 844 e 845)


Existe a exibição incidental, regulada nos arts. 355 a 363, e 381 e 382, e a preparatória, objeto
do presente texto;

Tem por objetivo a obtenção de coisa ou documento para conhecer o seu conteúdo (e não
para apreendê-lo);

A “ação de exibição” terá, conforme o caso, natureza cautelar ou satisfativa. Tem natureza
satisfativa quando assegura o direito substancial da parte de examinar o documento ou coisa,
tal como no art. 1.021, CC/02. Já nos casos em que assegura a efetividade de um futuro
processo principal, onde a coisa/documento será utilizado como prova, tem natureza cautelar.
Tanto as demandas de exibição de natureza satisfativa, quanto as de natureza cautelar são
reguladas pelos arts. 844 e 845, CPC;

31.12.5.1. Hipóteses de Cabimento e Natureza


As hipóteses de cabimento estão elencadas no art. 844, CPC:

I - de coisa móvel em poder de outrem e que o requerente repute sua ou tenha interesse em
conhecer

Há autores que consideram não poder ser objeto de exibição coisa imóvel, que apenas poderia
ser objeto de vistoria, obtida através da produção antecipada de provas (Theodoro Jr.). Há
também quem entenda cabível a exibição de imóveis, eis que a produção antecipada de
provas seria espécie, no caso, de prova pericial – vistoria por peritos (Freitas Câmara, Álvaro de
Oliveira, Ovídio Baptista da Silva). Dos que defendem o cabimento, alguns o fundamentam no
poder geral de cautela do juiz (Ovídio Baptista da Silva), outros dão interpretação mais ampla
ao art. 844, I, CPC (Freitas Câmara, Álvaro de Oliveira);

Para Pontes de Miranda, tem natureza cautelar, pois serve para autor de futura demanda
obter informações acerca do bem que será objeto ou meio de prova no processo principal. Já
para Baptista da Silva, trata-se de demanda de natureza satisfativa, eis que assegura ao
demandante o direito material de ter vista da coisa. Freitas Câmara e Álvaro de Oliveira
defendem a tese de que ora terá natureza cautelar ora natureza satisfativa, a depender do
caso concreto.

II - de documento próprio ou comum, em poder de co-interessado, sócio, condômino, credor


ou devedor; ou em poder de terceiro que o tenha em sua guarda, como inventariante,
testamenteiro, depositário ou administrador de bens alheios
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Documento próprio: do demandante, mas em poder do demandado. Documento comum: não


só aqueles subscritos por ambas as partes, como também aquele que diga respeito a relações
jurídicas de algum modo ao objeto do litígio;

Há, também, autores defendendo a natureza satisfativa da demanda (Fidélis dos Santos), e
outros defendendo possuir natureza cautelar (Theodoro Jr.). Freitas Câmara e Álvaro de
Oliveira mais uma vez defendem a tese de que ora terá natureza cautelar ora natureza
satisfativa, a depender do caso concreto.

III - da escrituração comercial por inteiro, balanços e documentos de arquivo, nos casos
expressos em lei

Álvaro de Oliveira mais uma vez defendem a tese de que ora terá natureza cautelar ora
natureza satisfativa, a depender do caso concreto. Greco Filho, por sua vez, entende que
sempre tem natureza cautelar. Já Freitas Câmara, Fidélis dos Santos e Baptista Filho entendem
que sempre terá natureza satisfativa, ao fundamento de que a exibição de tais documentos,
quando visar a garantir efetividade de outro processo, será o caso do II. Para estes últimos
autores, não há como conciliar a cautelaridade e a expressão “nos casos expressos em lei”.

31.12.5.2. Legitimidade
Quanto à legitimidade para as demandas satisfativas não há qualquer dificuldade: terá
legitimidade ativa aquele que se afirma titular do direito de exibição e passiva aquele em
poder de quem se encontra o bem e seja apontado pelo demandante como titular do dever
jurídico de exibir;

Com relação à exibição cautelar, destaque-se que nem sempre a legitimidade para ser parte
passiva na demanda cautelar coincide com a legitimidade passiva para a demanda principal.
Isso porque o bem que se deseja seja exibido pode estar em poder de terceiro, estranho à
causa principal. Assim, esse terceiro será legitimado passivo para a demanda cautelar, eis que
terá o dever de exibir o bem, mas não o será para a demanda principal, eis que não é titular da
relação jurídica de direito material que envolve o bem cuja exibição se pretende.

31.12.5.3. Procedimento

31.12.5.3.1. Exibição Proposta contra a Parte Titular do Dever de Exibir e da Relação Jurídica de
Direito Material
Aplica-se o disposto nos arts. 355 a 359, CPC;

Além dos requisitos essenciais a toda petição inicial de processo cautelar, a do processo em
questão deve conter a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa;
a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento ou a coisa; as
circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que o documento ou a coisa existe e
se acha em poder da parte contrária (art. 356, CPC);

Citado para responder em 5 dias, o demandado pode exibir o bem, oferecer contestação
(alegando que não possui o bem ou recusando o dever de exibir) ou permanecer silente.
Tendo o demandado silenciado, deve o juiz determinar a busca e apreensão da coisa ou
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1103

documento (não se presumem verdadeiros os fatos que por meio do documento se


pretendiam provar – art. 359, I – eis que, sendo demanda cautelar, visa apenas a que o
demandante conheça o bem). Tendo o demandado oferecido contestação, será, se necessário,
instaurada a instrução probatória. A recusa ao dever de exibição só poderá ser aceita nos casos
do art. 363257, CPC, e nunca o será nos casos do art. 358258, CPC;

Julgado procedente o pedido, determinará o juiz a busca e apreensão do bem.

31.12.5.3.2. Exibição Proposta contra o Terceiro, Titular do Dever de Exibir mas não da Relação
Jurídica de Direito Material
Arts. 360 a 362, CPC;

Semelhante ao exposto linhas acima, com as seguintes particularidades:

O demandado será citado para responder em 10 dias;

As razões de escusa de exibir e os casos em que ela nunca será aceita são os mesmos do
procedimento contra a parte;

Se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a efetuar a exibição, o juiz lhe ordenará que
proceda ao respectivo depósito em cartório ou noutro lugar designado, no prazo de 5 (cinco)
dias, impondo ao requerente que o embolse das despesas que tiver; se o terceiro descumprir a
ordem, o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se necessário, força policial, tudo
sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência (art. 362, CPC).

31.12.6. Produção Antecipada de Provas (arts. 846 a 851)


Segundo entendimento doutrinário, a produção da prova se dá em três momentos: a
proposição (quando a parte a requer), a admissão (pelo juiz, quando a julga pertinente) e a
produção (momento em que é efetivamente produzida, que engloba não só a colheita, mas
também a sua valoração);

A cautelar de produção antecipada de provas, assim, apenas assegura futura a produção da


prova no processo principal, onde se dará a sua proposição, admissão e produção. Garante,

257
Art. 363. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o documento ou a coisa:
I - se concernente a negócios da própria vida da família;
II - se a sua apresentação puder violar dever de honra;
III - se a publicidade do documento redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem como a seus parentes
consanguíneos ou afins até o terceiro grau; ou lhes representar perigo de ação penal;
IV - se a exibição acarretar a divulgação de fatos, a cujo respeito, por estado ou profissão, devam guardar
segredo;
V - se subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz, justifiquem a recusa da
exibição.
Parágrafo único. Se os motivos de que tratam os ns. I a V disserem respeito só a uma parte do conteúdo
do documento, da outra se extrairá uma suma para ser apresentada em juízo.
258
Art. 358. O juiz não admitirá a recusa:
I - se o requerido tiver obrigação legal de exibir;
II - se o requerido aludiu ao documento ou à coisa, no processo, com o intuito de constituir prova;
III - se o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.
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1104

apenas, que a fonte da prova estará preservada. Trata-se, portanto, de medida de natureza
cautelar;

A medida de natureza cautelar apenas cabe de forma preparatória. Se já estiver em curso a


demanda cabe a antecipação da prova propriamente dita, de natureza satisfativa, eis que já se
poderão verificar as três fases de sua produção;

É, inobstante, medida cautelar um pouco diferente das demais, eis que não visa a assegurar a
efetividade do processo e, por consequência, prestar tutela jurisdicional mediata a um direito
substancial. Presta, sim, tutela jurisdicional mediata a um direito de índole processual: o
direito de prova.

31.12.6.1. Hipóteses de Cabimento


É cabível para assegurar a produção posterior de interrogatório da parte, inquirição de
testemunha e exame pericial;

Interrogatório da parte não se confunde com depoimento pessoal: enquanto este só pode se
dar na audiência de instrução e julgamento, aquele pode ocorrer em qualquer fase do
processo. Além disso o interrogatório tem por finalidade apenas esclarecer o juiz sobre fatos
da causa, enquanto o depoimento pessoal, além dessa finalidade, visa também a provocar
confissão;

Com relação ao depoimento de testemunhas, como a prova não está sendo produzida, mas
apenas assegurada, descabe a contradita do depoente. Ficará a cargo do juiz do processo
principal valorar o depoimento de acordo com princípio da persuasão racional, verificando,
inclusive, a existência de incapacidade, impedimento ou suspeição da testemunha;

A produção da prova oral (interrogatório da parte ou inquirição de testemunha) é assegurada


sempre que a pessoa que vai depor tiver de se ausentar ou se, por motivo de idade ou de
moléstia grave, houver justo receio de que ao tempo da prova já não exista, ou esteja
impossibilitada de depor (art. 847). Tais hipóteses, contudo, não são taxativas, permitindo-se a
medida sempre que houver fumus boni iuris e periculum in mora;

A necessidade de ausentar-se da pessoa a ser ouvida deve ser prolongada e para local distante
ou de difícil acesso;

No que pertine ao exame pericial, tem predominado a tese (Freitas Câmara, Baptista da Silva,
Álvaro de Oliveira) de que apenas se assegura o exame stricto sensu (inspeção realizada por
perito em pessoas, coisas móveis e semoventes) e a vistoria (inspeção pericial sobre imóveis),
e não a avaliação e nem o arbitramento (as outras espécies de prova pericial). Isso porque
tanto a avaliação e quanto o arbitramento levam a um resultado valorativo, inadmissível em
sede cautelar que tem por objetivo apenas assegurar a produção da prova;

A antecipação do exame pericial cabe não só nos casos em que haja fundado receio de que
venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da
ação, mas também nas hipóteses em tal verificação se tornaria muito onerosa;

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1105

Além do interrogatório da parte, inquirição de testemunha e exame pericial, há quem admita


também a inspeção judicial (Freitas Câmara, Theodoro Jr., Álvaro de Oliveira).

31.12.6.2. Procedimento
Varia de acordo com a prova a ser assegurada;

Há divergências com relação ao exercício do contraditório na demanda de produção


antecipada de prova testemunhal. Para alguns a citação apenas ocorre com o objetivo de dar
ciência a outra parte do ato de colheita da prova (Marcos Afonso Borges). Para outros a
contestação deve se restringir às condições da ação e pressupostos processuais (Theodoro Jr.).
Finalmente, há quem entenda que o contraditório é exercido de forma plena (Álvaro de
Oliveira, Freitas Câmara). Ultrapassadas as alegações do demandado, será colhida a prova com
aplicação, no que couber, dos arts. 413/419, e, ao final, homologada por sentença (sem que
haja qualquer juízo de valor acerca da prova colhida);

No procedimento para assegurar a produção de prova material (perícia e inspeção judicial), na


petição inicial, além de todos os requisitos de uma petição inicial de processo cautelar, a parte
deve logo indicar o assistente técnico e formular os quesitos que pretende sejam respondidos
pelos peritos. O demandado também deverá indicar assistente técnico e quesitos, seja na
contestação, seja em petição autônoma (desde que no prazo para resposta). Apresentado o
laudo pericial e, ser for o caso, dos assistentes técnicos, deve-se dar vista às partes para que
digam se pretendem algum esclarecimento por parte dos especialistas (não para tecer juízo de
valor acerca da prova colhida). Ao final, deve ser homologada por sentença (na qual também
não se emite juízo de valor);

Encerrado o processo cautelar em questão, os autos permanecerão em cartório, sendo lícito


aos interessados solicitar as certidões que quiserem. Ficará prevento o juízo perante o qual
tramitou a cautelar.

31.12.7. Protestos, Notificações e Interpelações (arts. 867 a 873)


Trata-se, na verdade, de medidas de jurisdição voluntária;

As três medidas “têm a genérica função de meramente possibilitar à parte manifestar, por
meio delas, qualquer intenção (como a de prevenir responsabilidades, a de ressalvar direitos,
impedir futura alegação de ignorância)”259;

31.12.7.1. Protesto
Segundo Theodoro Jr., é o ato judicial de comprovação ou de documentação de intenção do
promovente. Tem três finalidades: prevenir responsabilidades (ex: engenheiro que elaborou
um projeto e protesta para informar que o construtor não está seguindo), prover a
conservação (ex: interromper a prescrição) ou a ressalva (ex: credor que protesta contra ato
do devedor – e que também atinge os interessados na aquisição – de alienação do seu
patrimônio de modo a tornar-se insolvente) de direito (art. 867, CPC);

259
Wambier et alii, Curso avançado de processo civil, vol. 3, p. 112, apud Freitas Câmara.
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1106

A petição inicial deverá expor a conveniência e utilidade da medida, assim como o legítimo
interesse do requerente. Descabe, pois, o protesto genérico, em que não haja descrição dos
fatos e fundamentos da manifestação da vontade;

“Art. 869. O juiz indeferirá o pedido, quando o requerente não houver demonstrado legítimo
interesse e o protesto, dando causa a dúvidas e incertezas, possa impedir a formação de
contrato ou a realização de negócio lícito”. Por protesto que dá causa a dúvidas e incertezas
deve-se entender o protesto nocivo. A falta de interesse e a nocividade são requisitos
alternativos. Inobstante o dispositivo, o protesto não será capaz de criar obstáculo jurídico a
celebração de qualquer negócio jurídico;

O provimento judicial que indefere o protesto é sentença, passível de ser desafiada por
recurso de apelação;

Deferido o protesto, o juiz determinará que se leve a vontade do requerente ao requerido. A


doutrina dominante entende que tal ato é uma intimação, e não citação, eis que o demandado
não é chamado para oferecer defesa;

A intimação será feita como no processo de conhecimento. Será, contudo, feita por editais nos
casos do art. 870, CPC: I - se o protesto for para conhecimento do público em geral, nos casos
previstos em lei, ou quando a publicidade seja essencial para que o protesto, notificação ou
interpelação atinja seus fins; II - se o citando for desconhecido, incerto ou estiver em lugar
ignorado ou de difícil acesso; III - se a demora da intimação pessoal puder prejudicar os efeitos
da interpelação ou do protesto;

Quando se tratar de protesto contra a alienação de bens, pode o juiz ouvir, em 3 dias, o
requerido, desde que Ihe pareça haver no pedido ato emulativo, tentativa de extorsão, ou
qualquer outro fim ilícito, decidindo em seguida sobre o pedido de publicação de editais.
Nesse caso o que se suspende não é o protesto, mas a publicação de editais;

Não admite a apresentação de defesa nem de contraprotesto, exceto, neste último caso, se
em processo distinto (que na verdade não será contraprotesto, mas sim um protesto dirigido
pelo requerente ao requerido);

Após a comunicação do protesto, os autos permaneceram em cartório por 48h, para que as
partes possam requerer as certidões que lhe interessem, após o qual serão os autos entregues
ao requerente independentemente de traslado;

No protesto não há sentença final, nem mesmo homologatória, por se tratar de mera
comunicação de uma manifestação de vontade;

Diverge a doutrina sobre a possibilidade de se levar a registro o protesto contra a alienação de


bens. Prevalece a corrente contrária, ante a falta de previsão legal.

Súmula 270, STJ: “O protesto pela preferência de crédito, apresentado por ente federal em
execução que tramita na Justiça Estadual, não desloca a competência para a Justiça Federal”.

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1107

Na ação cautelar de sustação de protesto, não tem o valor da causa


necessariamente correspondência com o valor da ação principal, pois as
tutelas jurisdicionais almejadas nessas ações não se assemelham. Assim, é
razoável considerar o valor da causa por estimativa na referida ação
cautelar. Precedentes citados: REsp 162.334-SP, DJ 21/2/2000; AgRg no
REsp 593.149-MA, DJe 3/11/2008, e REsp 1.065.027-MT, DJe
6/10/2008. REsp 865.446-MT, 4T, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado
em 14/12/2010.

31.12.7.2. Notificação
Consiste na cientificação que se faz a outrem conclamando-o a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa, sob cominação de pena. Não é capaz por si só de levar à efetivação prática da intenção
do requerente;

Seria exemplo a notificação feita pelo locador ao locatário, quando a locação estiver
prorrogada por prazo indeterminado, informando não ter mais interesse na continuação da
locação.

Segue o mesmo procedimento do protesto.

Ela pode ser feita extrajudicialmente, em tabelionato de títulos e protestos. Sobre essa
hipótese:

RECURSO REPETITIVO. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL. CARTÓRIO DE


COMARCA DIVERSA.

A Seção, ao apreciar o REsp submetido ao regime do art. 543-C do CPC e


Res. n. 8/2008-STJ, firmou o entendimento de que é válida a notificação
extrajudicial realizada por via postal, com aviso de recebimento, no
endereço do devedor, ainda que o título tenha sido apresentado em
cartório de títulos e documentos situado em comarca diversa do domicílio
daquele. Precedentes citados: REsp 1.283.834-BA, DJe 9/3/2012, e REsp
1.237.699-SC, DJe 18/5/2011. REsp 1.184.570-MG, 2S, Rel. Min. Maria
Isabel Gallotti, julgado em 9/5/2012.

31.12.7.3. Interpelação
Tem o fim específico de fazer conhecer ao devedor a exigência de cumprimento de obrigação,
sob pena de ficar constituído em mora. Assim, só o credor pode interpelar;

Segue o mesmo procedimento do protesto.

31.12.8. Atentado (arts. 879 a 881)


Comete atentado a parte que, no curso do processo, viola penhora260, arresto (tanto o cautelar
quanto o “pré-penhora” – art. 653, CPC), sequestro ou imissão na posse; prossegue (sem
autorização) em obra embargada; pratica qualquer inovação ilegal no estado de fato (art. 879,
CPC). Inovação ilegal no estado de fato abrange qualquer inovação que a parte pratique, de

260
Segundo Freitas Câmara a alienação de bem penhorado não é atentado, eis que é inoponível ao
exequente.
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1108

forma ilícita, alterando a estrutura física ou orgânica do bem litigioso, desviando-o, ocultando-
o, destruindo-o ou inutilizando-o (Theodoro Jr.). São exemplos: demandante que, após
cumprimento de liminar de reintegração de posse, dá início à demolição de benfeitoria
executada pelo demandado; nova turbação praticada pelo demandado após cumprimento de
liminar de manutenção de posse.

A “ação de atentado” é a via capaz de, cometido atentado, permitir o retorno ao estado
anterior, além de permitir a condenação do atentante a indenizar os prejuízos causados pelo
atentado;

Há quem considere que a “ação de atentado” não pode prosperar se a inovação for irreversível
(Baptista da Silva). Para Galeno Lacerda, Freitas Câmara não é a melhor posição, eis que a
tutela jurisdicional de atentado não se esgota com a reposição ao estado anterior, eis que a
sentença de procedência não só ordenará o restabelecimento do estado anterior, a suspensão
da causa principal e a proibição de o réu falar nos autos até a purgação do atentado, com
também poderá condenar o réu a ressarcir à parte lesada as perdas e danos que sofreu em
consequência do atentado;

Para Baptista da Silva, Freitas Câmara não é possível o atentado por omissão, eis que inovar no
estado de fato pressupõe conduta positiva. Contra: Galeno Lacerda;

Freitas Câmara também destaca não se tratar de atentado o ato da parte de mera continuação
de atos iniciados antes da pendência do processo;

Natureza jurídica: para Fidélis dos Santos é ação cautelar, eis que tem por finalidade assegurar
o desenvolvimento do processo já instaurado e no qual ocorreu a inovação. Para Baptista da
Silva, Freitas Câmara é ação de conhecimento, eis que o provimento jurisdicional nela
proferido tem conteúdo declaratório e condenatório, sujeito à formação da coisa julgada
material. Para Galeno Lacerda tem natureza mista, eis que cumula demanda cautelar – de
restituição dos fatos ao estado quo ante – e cognitiva – pretensão de natureza
condenatória/declaratória – de ressarcimento de dano causado;

É cabível apenas em caráter incidental, eis que pressupõe alteração ilícita de fatos em
processo principal já em tramitação;

Pode haver atentado no curso de demanda de qualquer natureza, desde que o processo
principal ainda esteja em curso e que dele já tenha conhecimento o demandado.

31.12.8.1. Pressupostos
Os requisitos do atentado são os seguintes: pendência do processo principal, inovação do
estado de fato inicial, ilegalidade da inovação e prejuízo para o interesse da outra parte;

Segundo Silva Pacheco, por alteração ilegal no estado de fato inicial se compreende tudo
aquilo que “atinja o objeto da ação ou tudo que lhe seja decorrente. Assim, constitui atentado:
(a) a modificação da matéria de fato ou de direito exposta na petição inicial; (b) a alteração na
posição das partes em relação a essa matéria exposta, objeto da ação; (c) a modificação de

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1109

tudo que seja decorrência desse objeto da ação, inclusive daquilo que lhe constitua meio de
prova e de tudo que decorra da relação processual criada”261;

Com relação à verificação da ilicitude da alteração, há quem defenda ser desnecessária a


ocorrência de dolo/culpa (Theodoro Jr.), assim como quem entenda ser imprescindível a
verificação dos elementos subjetivos (Galeno Lacerda, ao fundamento de que, se a verificação
do requisito prescindisse de dolo/culpa, haveria atentado mesmo nos casos de inovação
decorrente de caso fortuito/força maior). Freitas Câmara entende que para que haja atentado
é desnecessário o elemento subjetivo (refuta o argumento de Galeno Lacerda com a tese já
consagrada no âmbito da responsabilidade civil de que caso fortuito/força maior excluem a
conduta, cuja verificação seria imprescindível para que houvesse atentado), mas defende que
a responsabilização pelos danos apenas ocorrerá se estiver presente o elemento subjetivo;

No que pertine ao prejuízo à outra parte, não exige prejuízo material (que pode, ou não
ocorrer), mas apenas prejuízo à expectativa que tem a outra parte (adversária do atentante)
de obter resultado favorável, de obter em seu favor tutela jurisdicional.

31.12.8.2. Legitimidade
Apenas é legitimado para a “ação de atentado” quem for parte no processo principal. Parte em
sentido de “parte do processo”, todos aqueles que no processo principal participam do
contraditório: demandante, demandado e terceiros intervenientes. Assim, não são parte
legítima o MP (fiscal da lei) e os auxiliares da justiça;

Observe-se, contudo, que ocorre atentado quando o ato é praticado por terceiro, mas a
mando ou por instrução da parte.

31.12.8.3. Procedimento
A petição inicial deve observar os requisitos genéricos (art. 282, CPC), além daqueles previstos
no art. 801, CPC (inobstante não seja medida cautelar, mas por força do art. 812, CPC). Será
autuada em apartado e observará, quanto ao procedimento, o disposto nos arts. 802 e 803;

Será distribuída a inicial ao juiz do processo principal. Estando este pendente de apreciação de
recurso, mantém-se a competência do juiz que apreciou, em 1° grau, a “ação de atentado”, o
qual, contudo, deve informar o relator do recurso do seu oferecimento e do teor da sentença
proferida nos autos do processo respectivo;

Corrente majoritária sustenta a impossibilidade de concessão de liminar no processo da “ação


de atentado”, por inaplicabilidade do art. 804, CPC. Freitas Câmara, Galeno Lacerda, contudo,
entendem pela possibilidade, por aplicação do art. 273, CPC (já que sustentam se tratar de
demanda de natureza de cognição, e não cautelar), mas apenas no que pertine à proibição de
se continuar com a prática de atos que configurem atentado (os demais efeitos, segundo
sustentam, por serem drásticos e importarem em redução de contraditório, apenas poderiam
ser objeto de cognição exauriente).

261
Silva Pacheco. O atentado no processo civil. P. 174-175. Apud Freitas Câmara, v. 3.
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31.12.8.4. Sentença: Efeitos e Execução


A sentença de procedência produz os seguintes efeitos: reconhecimento de inovação ilícita do
estado de fato, cometida pelo demandado em detrimento do demandante; ordem de
restabelecimento do estado anterior (se for possível); a suspensão da causa principal; a
proibição do demandado falar nos autos (da causa principal) até a purgação do atentado; a
imposição dos ônus da sucumbência; a condenação do demandado a indenizar os danos
sofridos pelo demandante em razão do atentado (se for o caso);

Para os que defendem a natureza cognitiva da “ação de atentado”, há quem entenda ter a
sentença caráter mandamental (Baptista da Silva), e aqueles que sustentam o seu caráter
condenatório (Freitas Câmara, que, aliás, discorda da classificação quinária das ações);

A suspensão da causa principal é efeito que nem sempre deverá ser produzido, já que muitas
vezes apenas beneficia o atentador;

Sendo a sentença de condenação de obrigação de fazer (ou mandamental), nada impede a


imposição de medidas coercitivas ao seu cumprimento. É, portanto, coerente a previsão legal
de proibir o atentador de se manifestar no processo principal (não no do atentado, em cujos
autos pode, inclusive, oferecer recurso), seja produzindo provas, seja recorrendo etc,
enquanto não restituir as coisas retornem ao estado anterior. É de se destacar, contudo, que,
uma vez reformada a sentença de procedência do pedido da “ação de atentado”, deverão ser
restituídas ao demandado todas as oportunidades que lhe foram suprimidas no processo
principal, inclusive com a devolução de prazos;

Sendo purgado o atentado, volta o demandado a poder falar no processo principal, que
retoma do ponto onde o mesmo estiver, não se afastando nenhuma das preclusões que se
tiverem operado enquanto perdurou a proibição de manifestação;

Quanto ao ressarcimento dos danos eventualmente provocados ao demandante, é certo que


depende de pedido expresso na petição inicial e só ocorrerá se estiverem presentes os
requisitos da responsabilidade civil, que, no caso, é de índole subjetiva. É de se notar que a
condenação do atentante a reparar os danos causados é independente do resultado do
processo principal, no qual o mesmo pode até sair vencedor;

A sentença de procedência do pedido na “ação de atentado”, e que, cumulativamente


condena o atentante a ressarcir prejuízos causados ao demandante, deve ser cumprida por
capítulos: primeiro o capítulo concernente a obrigação de fazer (restituir a situação ao estado
anterior), ao qual se aplicam as regras constantes do art. 461, CPC, inclusive com a
possibilidade de prestação de tutela equivalente, se impossível a tutela específica. Em seguida
executar-se-á a obrigação de pagar quantia certa, através do novel procedimento de
cumprimento de sentença.

31.13. Observações de Provas


1. TRF1 – XIV – CESPE – QUESTÃO 51. Indeferida a medida requerida liminarmente, é
indiferente ao processo cautelar o fato de o requerente não propor a ação principal
no prazo de trinta dias do ajuizamento do primeiro.

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2. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 51. Acerca da legitimidade ativa para a propositura da
ação cautelar de arresto, o MP será parte ativa legítima, ainda que atue como custos
legis.

3. TRF2 – XII – CESPE – QUESTÃO 50. Na busca e apreensão de bens, com exceção de
situações abarcadas por lei especial, a adoção do rito específico previsto pelo CPC
independe de se tratar de medida de cunho tipicamente cautelar.

4. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 54. Antes de encerrado o processo cautelar de arresto
no qual foi deferida medida liminar, o requerido pediu ao juiz que a medida constritiva
cautelar fosse substituída por caução. Considerando essa situação, dado o pedido e
considerado o motivo de substituição da medida por outra menos gravosa, aplica-se a
fungibilidade.

5. TRF4 – XII – QUESTÃO 70. Não são cabíveis no processo cautelar, segundo a doutrina
majoritária, a denunciação da lide, o chamamento ao processo e a oposição, mas
admite-se a assistência e a nomeação à autoria.

6. TRF4 – XII – QUESTÃO 70. A competência para o processo cautelar é do juiz da causa
principal, mas, em caso de urgência, mostrando-se inviável o requerimento perante
este, a medida cautelar pode ser requerida ao juiz do local dos bens em risco de
lesão, que, em seguida, remeterá os autos ao juiz competente, que poderá manter ou
não a liminar.

7. TRF5 – XI – CESPE – QUESTÃO 49. Com relação à possibilidade de o juiz conceder, de


ofício, medida cautelar, em princípio, É IMPOSSÍVEL A MEDIDA SE O FATO QUE A
JUSTIFICAR FOR DO CONHECIMENTO DA PARTE INTERESSADA.

8. TRF5 – IX – CESPE – QUESTÃO 96. Concedida a liminar na ação cautelar preparatória, a


contagem do prazo para o ajuizamento da ação principal deve ser feita a partir da
efetivação da medida cautelar, ou seja, a partir do cumprimento do mandado judicial
em que se concedeu a liminar de caráter restritivo de direitos ou de constrição de
bens. Findo o prazo sem que o autor tenha proposto a ação, a liminar concedida perde
a sua eficácia.

9. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 11. Quando se cuidar de medida cautelar preparatória,


deve ser ajuizada no juízo competente para conhecer da ação principal (art. 800, CPC).

10. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 11. O requerido será citado, qualquer que seja o
procedimento cautelar, para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o pedido, indicando
as provas que pretende produzir (art. 802, CPC).

11. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 11. Cessa a eficácia da medida cautelar preparatória se
o juiz declarar extinto o processo principal, com ou sem julgamento do mérito (art.
808, III, CPC).

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12. EMAGIS – 2012/27 – QUESTÃO 11. O indeferimento da medida cautelar não obsta a
que a parte intente a ação, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no
procedimento cautelar, acolher a alegação de decadência ou de prescrição do direito
do autor (art. 810, CPC).

13. EMAGIS – 2012/13 – QUESTÃO 11. A "instrumentalidade ao quadrado" é uma


característica do processo cautelar. É que, se o processo é um instrumento para a
realização do direito material, o processo cautelar é um instrumento para assegurar a
utilidade do provimento jurisdicional a ser exarado no processo principal, ou seja, é
"instrumento do instrumento". Daí essa expressão, creditada a Calamandrei e
consagrada em nossa doutrina.

14. EMAGIS – 2012/13 – QUESTÃO 11. Segundo pacífica jurisprudência do STJ, O PRAZO
DE TRINTA DIAS PARA O AJUIZAMENTO DA AÇÃO PRINCIPAL É CONTADO A
PARTIR DA DATA DA EFETIVAÇÃO DA MEDIDA LIMINAR E NÃO DA SUA
CIÊNCIA AO AUTOR DA AÇÃO CAUTELAR. Inobservado esse prazo, será o caso de
extinção do processo sem julgamento do mérito.

15. EMAGIS – 2012/13 – QUESTÃO 11. Se já ajuizada a execução fiscal, não se admite que
o devedor ajuíze ação cautelar buscando caucionar a dívida a fim de obter certidão de
regularidade fiscal262.

16. EMAGIS – 2012/04 – QUESTÃO 11. Falta ao autor interesse de agir para a ação em que
postula a obtenção de documentos com dados societários, se não logra demonstrar,
cumulativamente, a) haver apresentado requerimento formal à ré nesse sentido e b) o
pagamento pelo custo do serviço respectivo, quando a empresa lho exigir263.

262
É certo que a jurisprudência do STJ sedimentou-se em reconhecer o cabimento de ação cautelar para
antecipar a futura penhora e autorizar a expedição de CPDEN (CTN, art. 206), sob pena de o contribuinte
ficar de mãos atadas enquanto o Fisco não aforar a competente execução fiscal. Pressuposto básico
para a aplicação desse entendimento, contudo, é a inexistência de execução fiscal ajuizada, pois, do
contrário, a penhora há de ser demandada na via própria, e não mediante ação cautelar que nem
mesmo interesse processual reuniria. Nesse sentido, veja-se o seguinte precedente do STJ:
TRIBUTÁRIO - PROCESSO CIVIL - AÇÃO CAUTELAR - EXECUÇÃO FISCAL - CERTIDÃO DE REGULARIDADE
FISCAL - SUFICIÊNCIA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - MANUTENÇÃO DE VÍCIOS JÁ APONTADOS PELO
STJ - NULIDADE - ART. 249, § 2º DO CPC - INSTRUMENTALIDADE – MULTA PROCESSUAL - PRETENSÃO
PREQUESTIONATÓRIA - SÚMULA 98/STJ. 1. (...) 2. É vedada a utilização de ação cautelar para a
prestação de caução ou fiança bancária se já ajuizada a execução fiscal. 3. Condicionada a vigência da
liminar em ação cautelar ao ajuizamento da execução, e movida esta, perde o objeto o provimento de
urgência. (...) (STJ, Segunda Turma, REsp 1176913, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe de 01/07/2010)
263
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE
PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. FORNECIMENTO DE DOCUMENTOS COM DADOS SOCIETÁRIOS. RECUSA. RECURSO À
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. LEI N. 6.404/1976, ART. 100, § 1º. AUSÊNCIA DO COMPROVANTE DE
RECOLHIMENTO DA "TAXA DE SERVIÇO". RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. LEI N. 11.672/2008. RESOLUÇÃO/STJ N. 8,
DE 07.08.2008. APLICAÇÃO.
I. Falta ao autor interesse de agir para a ação em que postula a obtenção de documentos com dados societários, se
não logra demonstrar: a) haver apresentado requerimento formal à ré nesse sentido; b) o pagamento pelo custo do
serviço respectivo, quando a empresa lhe exigir, legitimamente respaldada no art. 100, parágrafo, 1º da Lei
6.404/1976. [...] (REsp 982133/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
10/09/2008, DJe 22/09/2008)
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17. EMAGIS – 2012/04 – QUESTÃO 11. A presunção de veracidade contida no art. 359264
do Código de Processo Civil não se aplica às ações cautelares de exibição de
documentos265.

18. EMAGIS – 2012/04 – QUESTÃO 11. Em se tratando de contratos celebrados no âmbito


do Sistema Financeiro da Habitação, a execução extrajudicial de que trata o Decreto-
lei nº 70/66, enquanto perdurar a demanda, poderá ser suspensa, uma vez
preenchidos os requisitos para a concessão da tutela cautelar, independentemente de
caução ou do depósito de valores incontroversos, desde que: a) exista discussão
judicial contestando a existência integral ou parcial do débito; b) essa discussão esteja
fundamentada em jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo
Tribunal Federal (fumus boni iuris).

32. Procedimentos Especiais de Jurisdição Voluntária

33. Procedimento Sumário

33.1. Observações de Provas


1. TRF1 – XII – QUESTÃO 78. Sendo expressamente vedada a utilização da ação declaratória
incidental no procedimento sumário, poderá o réu na contestação arguir a questão
prejudicial de que dependa o julgamento de mérito, mas a sua resolução pelo
magistrado não será acobertada pela coisa julgada material.

2. TRF3 – XVI – CESPE – QUESTÃO 51. A ausência do réu à audiência de conciliação não
gera revelia, ainda que seu advogado, presente ao ato, não tenha poderes para transigir.

3. EMAGIS – 2012/30 – QUESTÃO 12. É previsto o rito sumário em relação às causas,


qualquer que seja o valor, que versem sobre revogação de doação

4. EMAGIS – 2012/30 – QUESTÃO 12. Não será observado o rito sumário nas ações
relativas ao estado e à capacidade das pessoas.

264
Trata-se da presunção existente no procedimento probatório de exibição de documento ou coisa: Art.
359. Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que, por meio do documento ou da coisa, a
parte pretendia provar:
I - se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qualquer declaração no prazo do art. 357;
II - se a recusa for havida por ilegítima.
265
AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. ART. 359 DO CPC. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. NÃO
APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. LEI N. 11.672/2008. RESOLUÇÃO/STJ N. 8, DE 07.08.2008.
APLICAÇÃO.
1. A presunção de veracidade contida no art. 359 do Código de Processo Civil não se aplica às ações cautelares de
exibição de documentos. Precedentes.
2. Na ação cautelar de exibição, não cabe aplicar a cominação prevista no art. 359 do CPC, respeitante à confissão
ficta quanto aos fatos afirmados, uma vez que ainda não há ação principal em curso e não se revela admissível,
nesta hipótese, vincular o respectivo órgão judiciário, a quem compete a avaliação da prova, com o presumido
teor do documento. [...] (REsp 1094846/MS, Rel. Ministro CARLOS FERNANDO MATHIAS (JUIZ FEDERAL
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/03/2009, DJe 03/06/2009)
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5. EMAGIS – 2012/30 – QUESTÃO 12. É prevista a observância do rito sumário em relação


às causas, qualquer que seja o valor, de cobrança de seguro, relativamente aos danos
causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução.

6. EMAGIS – 2012/30 – QUESTÃO 12. Se, na primeira audiência do rito sumário, o réu
comparece desacompanhado de advogado e sem apresentar contestação, está
caracterizada a revelia266.

7. EMAGIS – 2011/52 – QUESTÃO 11. Marta ajuizou ação, pelo procedimento sumário,
pedindo indenização no valor de R$ 60 mil por danos materiais que teria suportado após
ter sido atropelada por um motorista de veículo de passeio que realizara manobra
abrupta. A autora requereu perícia e oitiva de testemunhas. Nessa situação hipotética,
de acordo com o direito processual civil, a falta de contestação e a ausência do réu à
audiência de conciliação poderão ensejar a revelia.

8. Na intervenção baseada no contrato de seguro, cabe a denunciação da lide e o


chamamento ao processo.

266
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUDIÊNCIA DE QUE
TRATA O ART. 277 DO CPC. COMPARECIMENTO DO RÉU DESACOMPANHADO DE ADVOGADO E SEM
APRESENTAR CONTESTAÇÃO. REVELIA. SÚMULA N. 83/STJ. ALEGAÇÃO DE IRREGULARIDADE NA
CITAÇÃO. SÚMULA N. 7/STJ.
1. Considera-se caracterizada a revelia nas causas de procedimento sumário quando o réu comparece
ao ato sem, no entanto, apresentar contestação. Precedentes. 2. "Não se conhece do recurso especial
pela divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida" -
Súmula n. 83/STJ. 3. O recurso especial não é sede própria para rever questão referente à regularidade
do ato citatório se, para tanto, faz-se necessário reexaminar elementos fáticos. Aplicação da Súmula n.
7/STJ. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 1331798/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 05/05/2011, DJe 12/05/2011)
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