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)Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 3 de outubro de 2005

Mais mentiras

Outro assunto no qual a mídia brasileira continua mentindo alucinadamente é o furacão Katrina. “Ex-
diretor da Fema admite erros”, proclama a Folha Online do dia 27. Segundo o jornal, “Michael Brown
reconheceu que foi responsável por ‘erros específicos', mas disse que as autoridades locais e estaduais da
Louisiana também não coordenaram bem suas ações.” O que aconteceu foi exatamente o contrário:
Michael Brown não cedeu um milímetro aos seus atacantes, não concordou com crítica nenhuma, rejeitou
todas com veemência e proclamou, com uma coragem rara nos burocratas americanos, que as equipes da
Fema ( Federal Emergency Management Agency ) fizeram o melhor trabalho possível. Quanto às relações
com as autoridades locais, colocar na boca de Brown a afirmação chocha de que o prefeito Nagin e a
governadora Blanco “não coordenaram bem suas ações” é atenuar artificialmente o sentido do que ele
disse. Ele declarou alto e bom som que a administração da Lousiana é “completamente disfuncional”, que
o prefeito e a governadora retardaram desastrosamente a convocação da Fema enquanto ficavam
discutindo entre si, e que cabe a eles toda a responsabilidade de quaisquer erros porventura cometidos.
Aliás isso é tão óbvio que só a mendacidade crônica de muitos democratas, aliada à covardia de outros
tantos republicanos, explica que ainda haja alguma discussão a respeito. Todos os erros até agora
apontados pela mídia se enquadram numa destas categorias: falha na evacuação das vítimas, fracasso do
policiamento, incoordenação nas comunicações. A Fema não tem nenhum poder de ação nessas áreas.
Brown foi taxativo: “A Fema não evacua comunidades. A Fema não faz policiamento. A Fema não cuida
de comunicações.” Até agora ninguém a acusou de falhar nas suas tarefas próprias: socorro direto às
populações atingidas, operações de salvamento, distribuição de alimentos, administração de cuidados
médicos, localização de desaparecidos, levantamento e reparos imediatos de danos materiais. Ninguém,
até agora, disse uma palavra contra a Fema quanto a esses pontos. Só cobram dela responsabilidades que
não lhe pertencem e nas quais, por lei, ela não poderia se imiscuir. Brown teve até paciência demais com
seus críticos. Se tivesse começado a esbravejar no primeiro dia, talvez a onda de acusações não tivesse
crescido tanto.

Na área de responsabilidade própria da Fema, as operações de socorro na Louisiana não foram só


eficientes: foram um sucesso inacreditável. Basta comparar o número total de mortos – mil pessoas – com
o de vítimas salvas, uma a uma (não estou contando as evacuadas), pelas equipes da Fema (49.800) e pela
Guarda Nacional (mais 33 mil). Em velocidade quase impensável, a Fema entregou socorro financeiro a
637 mil famílias, distribuiu de mão em mão doze milhões de refeições quentes, recuperou 73 por cento do
sistema de águas na Louisiana e 78 por cento no Mississipi. Se Roy Nagin não tivesse deliberadamente
sonegado transporte às vítimas nem insistido em abrigar os refugiados nos estádios em vez de levá-los
para fora da cidade como era de sua obrigação, ou se a polícia tivesse sido capaz de conter a violência
nesses cupinzeiros humanos improvisados pela loucura de um prefeito, é patente que muitas daquelas mil
pessoas ainda estariam vivas. E o mais provável é que não chegasse sequer a haver enchente nenhuma se
a verba enviada pelo governo federal para o conserto das barragens, meses atrás, tivesse sido usada
exatamente nisso em vez de canalizada para projetos secundários e para os bolsos de administradores
venais.

A afetação histriônica de bons sentimentos na gritaria contra a Fema é exatamente aquilo que no Brasil,
durante uma década inteira, foi a tagarelice “ética” do PT: um coral de criminosos apressando-se em subir
à tribuna dos acusadores antes que alguém percebesse que o lugar deles era no banco dos réus.

Disponível em: http://www.olavodecarvalho.org/semana/051003dc.htm. Acessado em: 08, maio de 2017,


às 20h13min.

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