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Zéé do Télhado

José Teixeira da Silva foi o seu nome de baptismo, mas em adulto tornou-se conhecido pela alcunha de Zé
do Telhado.
Nasceu no lugarejo de Telhado, na Aldeia de Castelães de Recezinhos (Penafiel), possivelmente a 22 de
Junho de 1818, filho de um capitão de ladrões que o educou no seio da família amiga das actividades de
extorsão.
Atribuiu-se a origem do seu cognome, Zé do Telhado, ao facto de ter nascido numa casa coberta de telha,
contrariamente às da vizinhança que, por dificuldades económicas, usavam ainda a palha para o mesmo
efeito. No entanto, existe uma outra versão, menos romântica, que refere que a alcunha adveio do
lugarejo do seu nascimento, como era usual.
Aos catorze anos pediu para ir residir para a Sobreira (Caíde de Rei – Lousada), para casa de seu tio,
afamado castrador e tratador de animais, para aprender ofício.
É nesta época que José Teixeira, no decorrer das festas da Senhora da Aparecida, é presenteado com o
aceno de um lenço branco por detrás de uma janela da casa de seu tio, pertencente a sua prima Lentina
que faltara ao festim. Afogueado corre para os seus braços, selando uma paixão que juraram duradoura.
Por altura dos seus dezanove anos, com o intuito de oficializar o seu amor furtivo pela prima, resolve pedir
a sua mão em casamento. O tio, que a tinha prometido a um jovem fidalgo, recusou determinante,
escudando a decisão na afirmação que ele não teria como a sustentar.
Com a promessa de voltar com posses, despediu-se da sua amada e partiu a pé para Lisboa em busca de
sustento para a sua futura família. Chegado, assenta praça, como voluntário, no quartel de Cavalaria 2, os
“Lanceiros da Rainha”.
Corria o mês de Julho de 1837, quando rebenta a “Revolta dos Marechais” e os lanceiros alinham com os
revoltosos, tendo sido desbaratados a 18 de Setembro.
O general Schwalback, líder da insurreição, conseguiu fugiu para territórios de Espanha e com ele leva
José Teixeira, militar que se tinha distinguido brilhantemente em combate.
É em plena retirada para o exílio, que recebe a notícia de que o seu tio, perto do leito da morte, decide,
finalmente, abençoar o seu casamento com Ana Lentina.
Cansado mas com folego renovado, conseguiu regressar a Portugal, corria já o ano de 1845, que
abençoou o seu casamento com a sua prima e que, em Novembro, glorificou o fruto do amor partilhado
com o nascimento da sua filha Maria Josefa.
No ano seguinte, estala a 23 de Março a “Revolução da Maria da Fonte”, tendo sido desde logo abafada,
mas o rastilho continuou aceso.
Foram vários os militares que desertaram para o lado dos revoltosos, alimentando a chama da rebelião
que alastra por todo o país e vai ganhando cada vez mais força.
José Teixeira não foi excepção e assumindo a liderança militar de uma das partes dos insurrectos,
continuou a demonstrar a sua bravura e qualidades militares.
Colocando-se sob as ordens do General Sá da Bandeira distingue-se uma vez mais em combate e é
promovido a Sargento.
Como reconhecimento, pela sua lealdade, coragem e desempenho, a 27 de novembro de 1846, o Sargento
José Teixeira da Silva, é agraciado com a maior condecoração portuguesa, o grau de Cavaleiro da Ordem
Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, em cerimónia militar presidida pelo recém-
nomeado Ministro da Guerra, o General Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, Marquês de Sá da
Bandeira, seu antigo comandante e a quem tinha salvado a viva em diversas ocasiões.
Prolongou o apoio ao partido que tinha ajudado a granjear espaço na nova ordenação social do país, mas
a inexperiência dos dirigentes levaram a organização ao declínio. O que outrora fora um sonho partilhado
por muitos e sustentado por poucos, amontou dívidas de impostos, encargos por pagar e calotes por
normalizar.
Não deixando de acreditar, o Sargento Teixeira da Silva sempre fiel à causa que servia, apoiou com todos
os seus bens e posses a nobre demanda, mas os seus esforços não tiveram êxito, antes arrastaram o
militar para dívidas que não conseguiu honrar e por isso é expulso das forças armadas.
Encetou todos os esforços para conseguir sustentação, mas apesar do seu valor, o insucesso teimava em o
acompanhar. Sem conseguir ocupação, continuava a atolar-se em dividas e não havia quem lhe desse
oficio. Os seus únicos confortos eram os braços da sua esposa e amor dos seus cinco filhos, os quais tinha
dificuldades em alimentar.
Desesperado, um dia é interpelado por seu tio Custódio, conhecido por “Boca Negra” que capitaneava a
maior quadrilha de bandoleiros, para integrar a sua trupe, mas a verticalidade de José impediu-o de
aceitar, apesar de todas as vicissitudes.
Quis o destino que se voltassem a encontrar e certo dia deparando-se com o seu tio bandoleiro, que se
encontrava ferido, conduziu-o de imediato ao covil onde se acoitava o bando.
Foi apresentado, à luz da vela, ao “Tira-Vidas”, ao “Girafa”, ao “Sancho Pacato”, ao “Veterano” e ao “Zé
Pequeno”.
Foi desta forma que adoptado pelo grupo de rufias e sem outras maneiras de sustentar a família, assentiu
a dedicar-se às artes da usurpação aos mais abastados.
As suas ideias de ajudar os mais necessitados, aliada à educação adquirida nas experiencias em Lisboa,
foram aceites e ajudaram a prosperar a fama do bando. Parte do dote começou a ser distribuído por
aqueles que passavam as maiores carências, fazendo com que o bando fosse protegido pela população,
iniciando uma veneração por aquela trupe.
Num dos assaltos, seu tio e líder “Boca-Negra” fica gravemente ferido, pelo que se tornou premente
nomear sucessor e, sem quaisquer tipos de dúvidas em pleno leito da morte, informa que o Zé do Telhado
passa a assumir o comando daquela “família” e, como tal, todos devem prestar honras e assegurar
obediência ao novo capitão.
As primeiras decisões do novo comandante prenderam-se com, a implementação da obrigatoriedade de
as senhoras não serem molestadas, a usurpação ser apenas e só dos mais abastados e a distribuição de
dez por cento de todos os dotes pelos mais pobres.
Alastra a fama do Zé do Telhado, não só por ser generoso, mas também por se apresentar audaz na
escolha criteriosa das vítimas que escolhe e, principalmente, pelo destino do saque que efectua. Sempre, e
cada vez mais, com as autoridades no seu encalço, mil vezes o cercaram …outras tantas ele escapou.
Os anos foram passando, a quadrilha aumentava e contava agora com alguns padres, morgados,
administradores, empresários e alfaiates, que continuavam a levar a cabo um grande número de assaltos.
As subtracções continuavam, sempre com o critério de serem feitas aos mais ricos, mas o auxiliar os mais
necessitados continuava a ser um dos seus lemas, tendo mesmo dando origem à frase popular, de
“Roubar aos ricos para dar aos pobres”.
As autoridades intensificavam as acções na tentativa de por cobro a esta quadrilha e, na noite de 16 para
17 de Março de 1857, Zé do Telhado é alvo de uma caça ao homem, num episódio, até ai, sem
precedentes.
Ao pernoitar em Amarante, foi visto por uma das autoridades locais que correu a informar, de imediato, o
administrador. Este, tendo já sentido na própria pele as acções do meliante e querendo vingança,
organizou tropas de caçadores e regedores de todas as freguesias limítrofes, mobilizando todo o gentio
para a detenção do salteador mais procurado.
Avançou a noite e a casa, indicada, foi ficando totalmente cercada.
Quando no horizonte irromperam os primeiros raios de sol, a mulher do dono da casa apercebendo-se do
cerco, alertou o Zé do Telhado.
Este encontrava-se ocupado a cuidar do seu visual. A sua coragem era impar, mesmo nesta situação
lancinante, ele confiou a barba, ajeitou o paletó e empertigou o peito na frente do espelho.
Foi com grande surpresa que os perseguidores o viram sair pela porta principal da casa, com um ar
perfeitamente natural e aparentemente desarmado.
Simulando que se ia entregar, desceu os degraus com uma tranquilidade avassaladora. Aproveitando a
ocasião da aparente fraqueza, todos os que cercavam a casa lançaram-se sobre ele e, naquela imensa
desorganização e confusão, com num gesto fulgurante ele recuou e voltou a entrar em casa, da qual
acabou por fugiu pelas traseiras, junto às posições agora abandonadas pelos perseguidores. Galgou
montes em fuga, sempre com os outros no seu encalço. A frustração e o engano alimentavam a vontade
de o capturar.
Percebendo que não iriam desistir da perseguição, resolveu desanimar os acossadores, escolhendo um
local propício e com apenas um tiro certeiro, o comandante do pelotão e o regedor foram mortos.
Resultou o intento e a vindicta a Zé do Telhado desencorajou permitindo, uma vez mais, que este se
refugiasse em local desconhecido, fugindo daqueles que defendiam a lei.
Não tardou que as buscas se tornassem, ainda, mais alargadas, insistentes e minuciosas, obrigando o Zé
do Telhado a refugiar-se fora do país.
Decide então fugir para o Brasil e para atravessar o oceano comprou o silêncio do comandante da barca
“Oliveira” que se encontrava acostada no Porto e partiria muito em breve.
Numa cidade onde era sobejamente conhecido, conseguiu guarida de Ana Vitória. Uma nobre senhora
que antes tinha sido uma das suas vítimas, mas que aprendera a idolatrar aquele gentil e educado
cavalheiro.
Foi esta mesma senhora que, anos mais tarde, proferiu publicamente a seguinte frase: “ … de bem que
nunca deram às classes humildes, um centésimo do que lhes deu Zé do Telhado…”.
A hospitalidade durava há três dias, quando chegou a hora de zarpar. Quando se preparava para
embarcar, Zé do Telhado foi desarmado e preso, corria a manhã do dia 5 de Abril de 1861.
Às dez da manhã, do dia 25 de Abril, começou, no tribunal de Marco de Canaveses, o julgamento de José
Teixeira da Silva.
No dia 27, às duas da madrugada, o júri, considerou Zé do Telhado culpado da prática de doze crimes de
roubos, um de homicídio, de organização de quadrilha de assaltantes e a de tentativa de evasão sem
passaporte.
Mesmo com historial de prevaricação extenso, o povo na sua grande maioria apoiava e defendia o
meliante pelo que as autoridades tiveram de subtrair testemunhos e testemunhas indispensáveis,
promover declarações falsas e adulterar os critérios de escolha dos jurados. Em vez do sorteio, foram
escolhidos, a dedo, conhecidos inimigos de Zé do Telhado. Só desta forma, foi possível sentenciar José
Teixeira da Silva.
Condenado, por veredicto do juiz António Pereira Ferraz, na pena de trabalhos públicos por toda a vida, na
costa ocidental de África e no pagamento das custas.
O ministério público recorreu da sentença e pelo primeiro acórdão da relação do Porto foi mantida a pena,
mas um segundo acórdão, de 11 de Setembro de 1865, a pena foi fixada em quinze anos de degredo em
África.
E assim, José Teixeira da Silva, desembarca em Luanda e segue depois para Malange, onde viveu cerca de
um ano.
Por aquelas imensas terras palmilhou muitos quilómetros e acabou fazendo-se negociante de borracha,
cera e marfim.
Tornou a casar, desta feita com uma angolana, de seu nome Conceição e de quem teve três filhos.
Deixou crescer a barba, até ao umbigo o que lhe valeu novo cognome, o “quimuêzo” – homem de barbas
grandes.
Viveu desafogado, financeiramente, mas as saudades da sua amada mulher e dos cinco filhos que por
imposição tinham ficado em Portugal, levaram-no mais cedo. Morreu em 1875, com 57 anos na aldeia de
Xissa, a meia centena de quilómetros de Malange, onde os habitantes lhe ergueram um mausoléu e ainda
hoje, se fazem romagens à campa do mito.
Os anciãos de Malange afirmam que, embora fosse um homem austero, tinha um grande coração e em
nenhuma ocasião deixava cair um pobre.
Este ladrão benfeitor foi imortalizado pelo escritor Camilo Castelo Branco, que com ele esteve preso e a
quem ele contou a sua história, a qual veio a ser integrada no seu livro de 1862 “ Memórias de Cárcere “.

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