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SOBRE AS LUTAS FEMINISTAS POR MEDIDAS DISTRIBUTIVAS NA


ETAPA IDEOLÓGICA DO DESENVOLVIMENTO POLÍTICO
BRASILEIRO: algumas notas metodológicas

Breno Cypriano
brenocypriano@yahoo.com.br
Departamento de Ciência Política
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Session: Feminists, Women, and Brazil

"Preparado para apresentação no Congresso de 2009 da LASA (Associação de Estudos Latino-


Americanos), no Rio de Janeiro, Brasil, de 11 a 14 de junho de 2009."
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1.Introdução1

O presente paper tem como premissa fundamental a necessidade, nos estudos da ciência
política e da justiça social, de uma visão inclusiva que focalize a presença de mulheres na esfera
política brasileira, seja ela considerada como formal ou informal, para tratar com a devida importância
a constituição e as demandas desse coletivo como um legítimo ator político. Para assim procedermos,
vamos aqui abordar o processo de desenvolvimento político (MOORE, 1963; E. REIS, 1982; F. W.
REIS, 2000), a etapa ideológica (F. W. REIS, 2000) e a constituição de esferas públicas comunicativas
(HABERMAS, 2003), sobretudo sob o viés crítico de gênero, para enfim desenvolver novas propostas
metodológicas que possam contribuir para a verificação dos principais pontos de reivindicação das
agendas contemporâneas do(s) movimento(s) feminista(s) e de mulheres2. Estas agendas terão foco
nos referenciais teórico-analíticos que se encontram em constante debate na teoria política feminista
mais recente, além de inferir os principais tipos de medidas requeridas para o favorecimento do grupo.
Isto é, através da propositura via políticas públicas (ou outras formas de ação política) de remédios
afirmativos e transformativos (FRASER, 2001), investigar-se-á as preferências estratégicas dos
movimentos quanto à forma de inclusão de medidas em benesse à questão das mulheres pela ótica da
busca por mais justiça social em termos de gênero. Portanto, “mapeando o imaginário
feminista”(FRASER, 2005a) indicaremos o “horizonte do desejo”(SANTOS, 2006)3 deste(s)
movimento(s) para a formatação de uma política emancipatória que se destina ao caso das mulheres
brasileiras.
Importa apontar que levaremos em consideração o paradigma distributivo, incluindo tanto as
demandas por bens materiais e por bens não-materiais (YOUNG, 1990). Segundo Michael Walzer
(2001) “a idéia de justiça distributiva possui uma relação tanto como o ser, como com o fazer, como

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Gostaria de agradecer o apoio e a orientação da Profa. Marlise Matos. Extendo os agradecimento às colegas que
contribuiram de diversas formas, em diversas parcerias: Mariana Prandini Assis, Marina Brito, Danusa Marques, Ana
Carolina Ogando, Daniela Leandro Rezende e Ana Paula Šalej.
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O feminismo aqui deve ser tratado como uma ideologia maior que “orienta um movimento plural, sem hierarquia,
dogmas, controle ou estruturas centralizadas, que não defende uma verdade, mas está em permanente processo de
construção de uma agenda que evolui e se modifica”(RODRIGUES, 2005:s/n). Diante desta concepção, em todo o texto
deste pré-projeto, uma vez orientados por essa ideologia, trataremos os movimentos feministas e de mulheres como
movimento(s), no plural.
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Wanderley Guilherme dos Santos (2006) no livro Horizonte do Desejo: Instabilidade, fracasso coletivo e inércia social
discute os limites dos movimentos sociais quanto à reforma na vida social, que mantém inerte as desigualdades sociais
mesmo com a expansão econômica. Para Santos, sob a mudança num horizonte temporal percebe-se que, “se os objetos
de desejo eram antes poucos, ornamentais e oligárquicos, agora são múltiplos, diversificados, replicáveis e de considerável
impacto no padrão da vida cotidiana” (SANTOS, 2006, p. 148) e que, assim, “o horizonte do desejo é algo móvel” (Ibid.,
p. 176). Diante disto, através de uma análise sobre a questão das redistribuições e desigualdades econômicas, Santos
coloca que no Brasil “o horizonte do desejo ainda é puro desejo, sem horizonte” (Idem) já que a fim de evitar o fracasso
coletivo, um cenário favorável à manutenção do status quo é percebido neste país. Cabe-nos, a partir desta perspectiva,
perceber se a atuação do coletivo feminista e de mulheres pode ser enquadrada sob este prisma.
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com o ter, com a produção tanto como o consumo, com a identidade e o status tanto com o país, o
capital ou as possessões pessoais” (WALZER, 2001, p. 17, tradução nossa). Imbuídos nessa idéia
ampliada dos aspectos concernentes à distribuição, deve-se atentar para a inclusão, tanto em idéias
como em presença (cf. PHILLIPS, 1995), das mulheres nas esferas políticas já que:

“ideologias e configurações políticas distintas justificam e fazem valer distintas formas de


distribuir a propriedade, o poder, a honra, a eminência ritual, a graça divina, a afinidade e o
amor, o conhecimento, a riqueza, a seguridade física, o trabalho e o descanso, as
recompensas e os castigos, e uma série de bens mais estreitamente e materialmente
concebidos” (WALZER, 2001, p. 17, tradução nossa).

É a respeito da (re)distribuição que está um dos cernes do conflito social atual, e que nesse
caso nos diz sobre o aspecto inter-gênero (entre homens e mulheres, portanto). Como “a justiça é uma
construção humana” (Ibid., p. 19, tradução nossa), a busca das mulheres por (re)distribuição foi uma
das formas legítimas de reivindicar posições igualitárias em relação aos homens. Ademais, deve-se ter
consciência que, como Nancy Fraser (2001) retrata, há um recente deslocamento dentre os eixos de
reivindicações e lutas por justiça, vivenciado pelos movimentos feministas contemporâneos: diante da
diluição das discussões e reclamações sob o viés das lutas de classes, referentes à redistribuição,
houve um centralismo nas três últimas décadas das lutas por reconhecimentos dentro dos movimentos
feministas e de mulheres (como também nos outros “novos movimentos sociais”), o que acabou por
se refletir na aproximação destes à política muito localizada. Com isso, o feminismo teria deixado de
lado as grandes questões das lutas de classes, presentes nos conflitos políticos nos meados do século
XX. Como possível saída, Fraser se propõe pensar no paradigma da simultaneidade redistribuição-
reconhecimento. Com tanto, analisaremos aqui, sob a abordagem de Iris Marion Young, em seu
debate com Nancy Fraser (YOUNG, 1997) e também entre Axel Honneth e Fraser (FRASER &
HONNETH, 2001), os aspectos centrais em algumas das formulações teóricas sobre a justiça social,
além do que já é bem conhecido pelo foco analítico do liberalismo igualitário (RAWLS, 2002;
BARRY, 1993, 2001; DWORKIN, 2001; WALZER, 2001).
Percebido que a base para a interação humana é o conflito4 como fator quase pré-teórico, nesse
nosso caso, deve-se dar expressão aos sentimentos e experiências de injustiça social vivenciados pelas
mulheres e, conseqüentemente, dar visibilidade às lutas por reconhecimento e redistribuição dentro de
um determinado período analisado da política brasileira (a “etapa ideológica”). Especificamente, para

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Na teoria da ação comunicativa habermasiana o fundamento social da teoria crítica, que é o conflito social, foi ignorado.
Para Honneth “a base da interação seria antes o conflito e a gramática moral desse conflito consistiria, como veremos, na
luta por reconhecimento”(WERLE & MELO, 2007, p. 12). Axel Honneth, portanto, propõe “desenvolver o paradigma da
comunicação em direção aos pressupostos sociológicos ligados à teoria da intersubjetividade, no sentido de explicitar as
expectativas morais do reconhecimento inseridas nos processos cotidianos de socialização, de construção da identidade, de
integração social e reprodução cultural”(Ibid, p.12-13).
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este trabalho, é de caráter único o estabelecimento dos movimentos feministas e de mulheres, como
um dos atores políticos – reivindicante de políticas distributivas em conflitos da “etapa ideológica
brasileira”5 – que teria colocado em questão a participação e configuração de agendas nesta etapa do
desenvolvimento político brasileiro, buscando a paridade participativa (participatory parity) 6
na
esfera pública sob a égide de “contra-públicos alternativos”, compondo um dos grupos que competem
por interesses (FRASER, 1999). Desse modo, contrariando uma das premissas básicas da análise
política, onde não se deveria, a priori, levar em consideração as diferenças de gênero – esta tida como
parte constitutiva das identidades primárias –, atentamos para a relevante organização política e a
consciência coletiva feminista, que teria induzido uma dimensão da identidade de grupo político e
social a superar a sua própria identidade sexual e de gênero, tal como expresso por Simone de
Beauvoir (1947): não se nasce mulher, torna-se mulher7. Por razão desta premissa, a posição dos
estudos políticos e da Ciência Política quando se constituíram como disciplinas acadêmicas (fundadas
como campo acadêmico originariamente na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, em
1880) eram de indiferença à temática sobre as mulheres e, da mesma forma, foi uma parte dos
movimentos feministas, alegando que estudos sobre as mulheres sob a ótica de uma “teoria feminista”
poderiam implicar na exploração e na desradicalização do feminismo que este, até a década de 70,
somente era tratado como um “novo movimento social”. A natural vinculação da mulher ao lar, a
baixa representatividade nos cargos eletivos e o comportamento político apático feminino eram
aquelas características enfatizadas, inicialmente, nos estudos realizados por esta disciplina, as quais
5
Klaus Eder (2002) apontou que uma possível explicação para o desenvolvimento dos “novos movimentos sociais”, a
partir da experiência dos movimentos operários na Europa, é que “a ênfase principal mudou da emancipação política para
a justiça distributiva” (EDER, 2002, p. 181). Nos movimentos feministas brasileiros esse processo desenvolvimentista foi
também observado através de duas “ondas”: numa primeira “onda” o feminismo sufragista “bem comportado” e,
posteriormente, numa segunda “onda”, nos meados da década de 70, o feminismo radical. De vez por toda, mesmo que no
primeiro momento os esforços feministas questionassem a legislação vigente e buscassem a inserção da mulher na política
e assim, a efetivação de sua cidadania, ele não desafiou os papéis privados das mulheres, muitas vezes aceitando (ou não
se opondo à) domesticidade, o lugar da mulher na família e até mesmo as formas estereotipadas de feminilidade (BESSE,
1995). E, nessa segunda onda, pode-se agora apontar que tais inquietações colocadas por Besse foram incorporadas ao
discurso do movimento e as reivindicações por medidas distributivas hoje são pontos centrais nas agendas.
6
Mariana Prandini Assis (2006) expõe que a norma da paridade participativa foi utilizada por Fraser (2001) para julgar as
situações em que uma política de reconhecimento é necessária para se alcançar justiça social e que “duas condições são
imprescindíveis para que haja paridade participativa: i) uma condição objetiva – ‘a distribuição dos recursos materiais
deve se dar de modo que assegure aos participantes [da interação social] independência e voz’; e ii) uma condição
intersubjetiva – ‘os padrões institucionalizados de valoração cultural devem expressar igual respeito a todos os
participantes e assegurar igual oportunidade para alcançar estima social’ (FRASER, 2001:29)” (ASSIS, 2006, pp. 11-12).
7
Para Fábio Wanderley Reis (2000) as características adscritivas do indivíduo não deveriam, a priori, condicionar a
inclusão de qualquer grupo em questão. Mas, quando há a inferiorização de algum grupo em torno dos fatores
adscritícios, contempla-se uma situação alternativa em que estes, “através de um processo de mobilização e luta, se
afirmam como tal (ou seja, como grupos caracterizados por atributos adscritícios) nas relações mantidas com os
grupos dominantes, estabelecendo entre eles relações caracterizadas por paridade ou igualdade entre as próprias
coletividades envolvidas. E teríamos como resultado certa condição que se poderia talvez pretender associar com a
idéia de ‘pluralismo’”(F. W. REIS, 2000, p. 215. Italicos do autor). Mas, para Reis, para a realização plena dos ideais
da liberdade e da democracia a confrontação das coletividades envolvidas não deve estar construída em torno dos
critério adscritícios e “[o] que caberia esperar é antes a eliminação da relevância social de todo e qualquer critério
desse tipo enquanto fator capaz de condicionar seja lá como for o intercurso social” (Ibid., p. 216).
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acabavam por distinguir a política como um campo majoritariamente masculino (SQUIRES, 1999).
Mesmo que tomemos como base teórica os debates e discussões feministas produzidas por
pesquisadores/as e teóricos/as estrangeiros/as, o objetivo maior desse projeto de investigação é
problematizar, como seu ponto fundamental, a incorporação da temática das mulheres e as esferas
políticas (ou de poder) no pensamento social e político brasileiro, portanto, tomar tais discussões
externas como pontos de partida, mas sustentar a análise seqüente pelas peculiaridades e
especificidades observadas e incorporadas através das leituras de textos nacionais e dos dados obtidos
na parte empírica da pesquisa. Partindo de uma idéia compartilhada com Wanderley Guilherme dos
Santos (1994), do mesmo modo que “[u]ma boa teoria, se é uma teoria do desenvolvimento, por
exemplo, deve ser compreensiva o suficiente para esclarecer o desenvolvimento tanto quanto o não-
desenvolvimento” (SANTOS, 1994, p. 9), as teorias que se debruçam sobre a justiça social e a esfera
política devem dar conta de explicar desde o feminismo norte-americano até o feminismo brasileiro,
da mesma forma como devem explicar as formas arquitetadas dos e dentre os distintos movimento
sociais. Isto vai contra a prática convencional de brasilianistas (norte-americanos, europeus e até
mesmo brasileiros) de procurar explicações e respostas distintas para o caso brasileiro daquelas
utilizadas para os países ricos (ou desenvolvidos), “[c]ontrariando boa e antiqüíssima norma de
investigação científica” (Ibid, Idem).
Como já expresso, uma das iniciativas será superar a mera “tradução”, como até aqui
desenvolvido, do debate acerca da justiça social que é trabalhado pelos acadêmicos fora do Brasil e
tentar fixar uma discussão especificamente brasileira que dê conta da temática. Por isso, a fim de
amparar as demandas no Brasil pelas questões específicas concernentes às mulheres, nos propomos a
elaborar uma visão expandida da discussão dos movimentos feministas e de mulheres. Acreditamos
que desta forma, possivelmente, iremos compor um trabalho menos fragmentado sobre a questão
temática referida à mulher na esfera pública-política, por incluirmos este como um espaço da busca de
concretização de justiça social sob o referencial dos estudos feministas. Dos diversos trabalhos na
área, ainda como Neuma Aguiar (1997) coloca haveria “a falta de diálogo entre feminismo e a
Sociologia brasileira [principalmente o pensamento sócio-político brasileiro]” (AGUIAR, 1997, p.
188), como também, e fundamentalmente, com a própria ciência política brasileira. Como se
desamparados, por isso, os ainda poucos artigos e livros sobre a questão feminina fogem do
pensamento sócio-político brasileiro para se alojar na “tradução livre” recorrente da literatura
estrangeira, e se resguardar do debate com a produção nacional. É certo que pouca atenção foi dada ao
papel da mulher na constituição e construção da sociedade brasileira pelos autores mais clássicos, mas
ainda que seja nas entrelinhas, já percebemos entre os contemporâneos maior sensibilização para esta
necessidade de se pensar na questão da mulher na sociedade e política brasileira. Enfim, como os
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militares, o empresariado, os movimentos sindicais, os intelectuais, a Igreja, entre outros atores


políticos hoje amplamente discutidos e debatidos pela ciência política brasileira, as mulheres, através
das suas continuadas lutas nos movimentos feministas e de mulheres, demandam o suprimento desta
lacuna da disciplina.
Mas, não podemos deixar de destacar o trabalho na ciência política brasileira que tem sido
feito por algumas autoras e que contribuem imensamente para a consolidação do campo feminista nos
departamentos de ciência política: Céli Pinto (UFRGS)8, Lúcia Avelar (UnB)9, Ana Alice Costa
(UFBA)10, Maria Luzia Álvares (UFPA)11, Marlise Matos (UFMG)12, Jussara Prá (UFRGS)13, Flávia
Biroli (UnB)14, além da presença masculina do professor Luís Felipe Miguel (UnB)15.
Enfim, dada a existência de um sujeito mulher(es) (cf. PINTO, 1994) e que, de forma
analítica, está vinculado aos movimentos feministas e de mulheres, este se constitui com um ator
político importante nas análises políticas referentes à “etapa ideológica” do desenvolvimento político
brasileiro. A heterogeneidade será uma das normativas desta discussão, já que estamos diante de uma
presença diversificada, tanto em órgãos executivos, como legislativos e judiciários, quanto em
organizações não-governamentais, movimentos sociais diferenciados, partidos políticos e organismos
internacionais, compostos por mulheres dos mais diversas raças, etnias, gerações. É por meio desta
idéia que com algum esforço metodológico categorizaremos estas mulheres como componentes dos
movimentos feministas e de mulheres, a fim de apontar para uma heterogeneidade de idéias, crenças e
valores, que perpassam as agendas desses movimentos. Estas agendas demonstram uma visão mais
ampla e holística de tais demandas, percebendo se, por vezes, podem aparecer questões preocupadas

8
Cf. Céli Pinto,"Mulher e Política no Brasil: Os Impasses do Feminismo enquanto Movimento Social, face às Regras
do Jogo da Democracia Representativa". Revista Estudos Feministas, número especial, pp. 256-270, 1994; Céli
Pinto, “Donas de Casa, Mães, Feministas, Batalhadoras: mulheres nas eleições de 1994 no Brasil”. Revista Estudos
Feministas, vol. 2, no. 2., 1994.
9
Cf. Lúcia Avelar, O segundo eleitorado: tendências do voto feminino no Brasil, Campinas. Editora da Unicamp,
1989. Lúcia Avelar, Mulheres na Elite Política Brasileira. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP/Editora Konrad-
Adenauer, 2002. v. 2000. 188 p.
10
Cf. Ana Alice Costa, As donas no poder: mulher e política na Bahia., 1. ed., Salvador, Assembléia Legislativa da
Bahia/NEIM-UFBA, 1998. v. 1.
11
Cf. Maria Luzia Álvares, Saias, laços e ligas: construindo imagens e lutas. Um estudo sobre a participação política
e partidária das mulheres paraenses –1912-1937. Belém, NAEA, 1990; Maria Luzia Álvares, “Mulheres Brasileiras
em Tempo de Competição Eleitoral: Seleção de Candidaturas e Degraus de Acesso aos Cargos Parlamentares”.
Dados (Rio de Janeiro), v. 51, p. 895-939, 2008.
12
Cf. Marlise Matos, “Políticas Públicas para as Mulheres: um desafio à nossa institucionalidade de estado. Pensar
BH. Política Social, v. 20, p. 15-17, 2008”; Marlise Matos, “Objetivos do Milênio e Exclusões Milenares: políticas
sociais, minorias, desigualdades e teoria política feminista”. Revista do Observatório do Milênio de Belo Horizonte,
v. vol 1, p. 53-67, 2008.
13
Cf. Jussara Reis Pra, “Representação política da mulher no Brasil, 1982-1990 : a articulação de gênero no sul do
pais e a questão institucional, Tese de Doutorado, São Paulo, USP, 1992.
14
Cf. Flávia Biroli & Luís Felipe Miguel, “Gênero e política no jornalismo brasileiro”. Revista FAMECOS, v. 36, p.
24-39, 2008.
15
Cf. Luís Felipe Miguel, “Teoria política feminista e liberalismo: o caso das cotas de representação”, Revista
Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 15, n. 44, p. 91-102, 2000.
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com aspectos especificamente financeiros/redistributivos através de preocupações com a


internalização do capitalismo, eixo central na etapa ideológica brasileira (lutas por redistribuição).

2.Questões teóricas

Como já indicado, a investigação prevê três eixos norteadores do trabalho que discutirão
questões relativas a determinado período da história política brasileira. São eles: (i) a discussão sobre
o desenvolvimento político; (ii) a etapa ideológica e os conflitos distributivos deste período; e (iii) a
emergência de esferas públicas no Brasil. Para cada ponto, recorreremos à literatura pertinente e
desenvolveremos os principais recursos das críticas feministas ao discuti-los.

2.1. Desenvolvimento político

Sabemos que o processo nacional de desenvolvimento político pode ser traduzido, segundo
Barrington Moore (1963), por três vias básicas, a ver: (a) revoluções liberais-burguesas; (b)
revoluções conservadoras; e (c) revoluções camponesas/socialistas (E. REIS, 1982). A partir dessas
variáveis, o Brasil se encaixaria na segunda via, em um processo de “modernização conservadora” ou
de “revolução de cima para baixo”, que se refere aos andamentos de transformação modernizadora
das estruturas econômica, social e política, sem que a ordem anterior fosse subvertida. A natureza das
soluções para as transformações das esferas indicadas foi conservadora, baseada invariavelmente no
princípio do reformismo conciliador. O pertencimento do país a esse enquadramento heurístico
recupera o fato de que as mudanças estruturais foram marcantes, como a internalização do
capitalismo, a crescente urbanização, a intensificação da mobilidade social, o re-ordenamento da
estratificação e aquelas relativas à ordem econômica e à competição política – só para citar alguns dos
pontos relevantes – mas, ao mesmo tempo, as elites foram as condutoras desse processo, já que
temiam que as mudanças culminassem em revoluções de padrões burgueses ou mesmo socialistas.
Isto é, trata-se de um processo de mudança irreversível cuja característica peculiar foi a manutenção
parcial do passado. É certo constatar, então, que a modernização conservadora brasileira manteve
inalterados os privilégios e a permanência daqueles que eram considerados “os donos do poder” (cf.
FAORO, 1958). A manobra principal desta ação foi conseguir conciliar os aspectos de mudança dos
outros dois padrões de revoluções citados por defender conjuntamente os interesses liberais e
burgueses de proteção à propriedade privada e instaurar políticas intervencionistas na esfera
econômica, como ressaltado pelo padrão socialista.
Estrategicamente foi essa forma de desenvolvimento que beneficiou a manutenção das nossas
8

elites no poder. Vinculado a tal lógica, paralelamente, a chegada de poucas mulheres que
conquistavam vagas em postos eletivos ocorria, justamente, através dessas mesmas elites, como
observado entre as 36a e 47a legislaturas na Câmara dos Deputados por Fanny Tabak16 (1989) e, nas
legislaturas mais recentes por Lúcia Avelar (2001). Muitas características do passado agrário se
mantêm, perpetuando o coronelismo, o voto comprado, as famílias tradicionais. É por esse meio que
grande parte das mulheres que ascendem a cargos eletivos também mantém um eleitorado “fiel” ou o
conquistam através da transferência dos votos dos eleitores de seus maridos, pais ou parentes. Aqui se
trata de recuperar as duas principais rotas de acesso das mulheres à política institucionalizada
discutidas pela literatura: (i) pela militância em movimentos e partidos; ou (ii) pelas famílias políticas.
Segundo Luis Felipe Miguel (2003) “familiares de líderes políticos costumam herdar não apenas o
savoir-faire da política como uma rede de vínculos, compromissos e lealdades; isto é, possuem uma
espécie particular, especialmente propícia à conversão em capital político, de capital social”
(MIGUEL, 2003). Por essa discussão constata-se uma disjunção entre as rotas de acesso à
participação, sugerindo um novo ponto para discussão dentro deste projeto: as desigualdades internas
aos movimentos feministas e de mulheres. Cabe observar se o acesso é igual a todos os diferentes
tipos de mulheres que participam politicamente.

2.2. Etapa ideológica do desenvolvimento político

Diante desta lógica do desenvolvimento político, Fábio Wanderley Reis (2000) introduz uma
abordagem sobre o Estado e a sociedade no Brasil, vista a partir da desconcentração do poder político
como outra normativa deste processo que implicaria, desta vez, numa crescente complexificação das
relações políticas, além de que, percebido este como um processo histórico, deveria ser identificado
pelas etapas que o constituem. Logo, as etapas do desenvolvimento seriam: (i) a pré-ideológica (ou
“tradicional”); (ii) a ideológica; e (iii) a pós-ideológica. É importante citar que a idéia de “ideologia”,
para o autor, faz referência a doutrinas que limitam o compartilhamento de solidariedade entre os
indivíduos com base em distinções histórias, étnicas, entre outras. Isto é, a ideologia diz respeito a
objetivos de separação e de distinção que estão em tensão com os objetivos solidários de
compartilhamento de interesses, ou segundo Walzer (2001), “a pretensão de monopolizar um bem
dominante, de ser desenvolvido com fins públicos (...) envolver a possessão legítima com algum
conjunto de qualidades pessoais mediante a um princípio filosófico”(WALZER, 2001, p. 25). E a
questão relacionada à ideologia aqui diz também sobre a “questão da institucionalização da
16
Uma questão curiosa que Fanny Tabak (1989) descreve, através de uma análise das trajetórias individuais das
parlamentares, é que na época da ditadura militar algumas esposas se tornaram deputadas por assumirem as vagas dos
maridos cassados durante o período.
9

autoridade” (F. W. REIS, 2000, p. 240). É nesta segunda etapa do desenvolvimento político brasileiro,
na qual o país se encontra: existem ainda atores políticos em conflitos distributivos que foram
ativados quando as mudanças no país os atingem/atingiram, em nosso caso as mulheres brasileiras.
Desse modo, compondo uma explicação plausível à incorporação dos movimentos feministas
e de mulheres aos conflitos ideológicos, devemos nos ater a uma reflexão que focalize o momento
definidor para a real formação de uma identidade coletiva através dos processos históricos pelos quais
passam este movimento (numa primeira “onda” o feminismo sufragista “bem comportado” e o re-
surgimento, numa segunda “onda”, nos meados da década de 70). A primeira onda é complexa: a luta
pela cidadania foi esvaziada de questionamentos que desafiassem os papéis naturalizados de gênero;
mas, nesse período, as demandas prioritárias foram incorporadas por uma política populista, que teve
como aspecto relevante “engendra[r] a gradual mobilização política [conjuntamente ao] ingrediente
de manipulação” coexistindo com o corporativismo, sendo este um “instrumento de assimilação
‘domesticada’ de novas formas sociais ao processo político” (F. W. REIS, 2000, p. 255). Com a
sensação de conquistas já realizadas e de “missão cumprida”, os movimentos feministas e de
mulheres se assentaram num período de marasmo. É somente no período da ditadura militar que o
crescente ativamento das forças contestadoras contra as forças repressoras do governo burocrático-
autoritário instaurado implicaram na ascensão dos “novos movimentos sociais”, muitas vezes
organizados conjuntamente a favor da Anistia. São estes movimentos que, por produzirem uma
“pluralidade de centros”, deslocaram os processos de identidades sociais do determinismo classista
para novas “bandeiras” relacionadas com questões de gênero, raça, ambientalistas, questões enfim
relegadas a um segundo plano, ou não significativas politicamente, que de vez asseguraram um
espaço no cenário político nacional (DOIMO, 1995). Foi ainda nesta conjuntura político-autoritária
que houve um “gradual desdobramento, no país, da política ideológica, envolvendo a reação de
determinados focos de interesses ao risco que, a despeito de corporativismo e populismo e através
deles, a continuidade do processo de mobilização sócio-política passa crescentemente a representar”
(REIS, 2000, p. 256).

2.3. Esferas públicas no Brasil

Por último, nesse levantamento da conjuntura política relevante para este paper, devemos
destacar a contribuição de Jürgen Habermas (2003) sobre a emergência da esfera pública
comunicativa no mundo ocidental17. Tal como afirmado pelo autor, destacamos a emergência da esfera
17
Fábio Wanderley Reis (1999) ao comentar sobre Habermas coloca que há “nele uma visão ‘unilateralmente
racionalista’, com ‘assimilação excessiva’ da razão prática a uma razão comunicativa de natureza teórica e
discursiva” (F. W. REIS, 1999, p. 177). Conferir F. W. Reis (1984) para uma discussão mais aprofundada sobre a
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pública contra-hegemônica na história política e que teria sido intrinsecamente burguesa, direcionada
pela luta contra a ordem hegemônica absolutista do Estado no Antigo Regime. Como Habermas
coloca: “Na esfera pública burguesa, desenvolve-se uma consciência política que articula, contra a
monarquia absoluta, a concepção e a exigência de leis genéricas e abstratas e que, por fim, aprende a
se auto-afirmar, ou seja, afirmar a opinião pública como única fonte legítima das leis” (HABERMAS,
2003, p. 71). Nesse sentido, como Habermas descreve, a esfera pública deve ser encaixada em quatro
premissas centrais: (i) “que os interlocutores (...) deixem de lado suas diferenças de status para
deliberarem como se fossem iguais na sociedade (...) a igualdade social não é uma condição
necessária para a democracia política”; (ii) “uma esfera pública única ou compreensiva será preferível
a um conjunto de públicos múltiplos”; (iii) “o discurso nas esferas públicas deve restringir-se sempre
à deliberação do bem comum e que a presença de interesses e questões privadas é sempre
indesejável”; e (iv) “o funcionamento de uma esfera pública democrática requer uma clara separação
entre a sociedade civil e o estado” (FRASER, 1999, s/n, tradução nossa). A partir dessa concepção
habermasiana de esfera pública burguesa, cabe notar como a mesma foi traduzida para o ordenamento
político brasileiro que, como já mencionado, é marcado por uma “modernização conservadora”. O
país incorporou tanto elementos liberal-burgueses quanto práticas estatais de intervencionismo no
mercado. Foi de forma “mimética”, mas traduzida às especificidades da conjuntura e traços
característicos brasileiros, que a esfera pública se constituiu no país sob a liderança dos já citados
“donos do poder”.
Para a crítica feminista, será um ponto crucial desta investigação tratar a esfera pública
comunicativa, como o faz Nancy Fraser (1999), não exclusivamente com o teor burguês e monístico
de Habermas. Trata-se aqui de pensá-la nos termos do Brasil, sob a condução dos “donos do poder” e
que poderá ser melhor tratada a partir de um levantamento bibliográfico de fontes do pensamento
político-social brasileiro, como Raymundo Faoro, Oliveira Vianna e Gilberto Freyre, entre outros,
mas partindo da hipótese inicial da co-presença de “contra-públicos alternativos” à “esfera pública
burguesa hegemônica” (Ibid., s/n, tradução nossa). Além dos espaços formais de poder, como são os

racionalidade em Habermas, já que para ele a racionalidade é eminentemente de caráter instrumental. Como a ação
racional é para Fábio W. Reis uma premissa para a discussão acerca do desenvolvimento político e para a expansão
do mercado político, questões relativas à esfera pública comunicativa não se encaixariam a este modelo de
“mercado”. Em nenhum momento Fábio afirma a existência de uma esfera pública, até parece contrário a este
quando diz que há a necessidade da “sociedade civil’ estar vinculada ao aparato do estado e do mercado,
impossibilitando essas esferas “intermediárias” da política (F. W. REIS, 2000). Acreditamos ser necessário espaços
de discussões e deliberações prévias àquelas que se dão no “mercado político”, por isso, nesse projeto incluímos as
noções de “esfera pública” revisitadas, partindo do conceito habermasiano, como a dos “contra-públicos
alternativos” (FRASER, 1999), já que a “fundamentação originária na esfera pública [é] que, através de sua ligação
com os canais de comunicação da intersubjetividade privada, alça o processo ao nível público, lugar onde a atuação
parlamentar institucionalizada converterá a problematização de temas importantes para o todo social em ações
administrativas (AVRITZER, 1996, p. 21), de outra forma, ‘a opinião pública reina, mas não
governa’(HABERMAS, 2003b, p. 277)” (AZEVEDO, 2007, p. 78).
11

cargos representativos legislativos nos quais as mulheres ainda se encontram sub-representadas, Céli
Pinto (1994) ressalta que o sujeito mulher(es) no Brasil está, em peso, ativamente participativo na
política informal. Parece-nos claro que há linhas abissais que separam a esfera política e a informal,
porém visto as colocações de Fraser, podemos analisar sob a ótica da co-presença a atuação política
em ambas as esferas já citadas.
Será necessário ter consciência que a esfera estigmatizada como “artificial”, “efeminada” e
“aristocrática”, promovendo um “estilo mais austero de discurso e comportamento público: um estilo
considerado como ‘racional’, ‘virtuoso’ e ‘varonil’” (FRASER, 1999, s/n, tradução nossa) coube por
promover uma exclusão formal da mulher da vida pública e naturalizar, dicotomizando, espaços ideais
para as mulheres, como a vida privada/doméstica, e em contrapartida, reificando a esfera pública
como um espaço masculino18. Porém, é nessa mesma contingência histórica que os movimentos
feministas e de mulheres começam a lutar e disputar pela presença na esfera política, onde as
mulheres estavam “forja[das] nas militantes de movimentos clandestinos torturadas sexualmente nas
prisões da ditadura; na luta pela anistia; nos movimentos contra a violência do estado contra o corpo
da mulher, principalmente da mulher pobre esterilizada pela democracia; contra a pobreza; a favor da
mulher sem terra” (PINTO, 1994, p. 196). É através dessa luta, principalmente na composição dos
movimentos sociais, que a disputa pela representação, pela ascensão à esfera política formal, torna-se
também um tópico nessas agendas que iremos analisar.

3. Proposta metodológica

A proposta metodológica deve guiar-se por meio das agendas formuladas pelos movimentos
feministas e de mulheres no Brasil, através das características predominantes relativas aos conflitos da
etapa ideológica do desenvolvimento político brasileiro. Referimo-nos aqui, principalmente, às
medidas distributivas, que por sua vez podem conter elementos que perpassam lutas por
reconhecimento, redistribuição ou representação19 – para a tentativa de garantia da paridade
participativa destes/as atores/as – (FRASER, 2005a; 2005b; 2007) e, também, aquelas que

18
Nancy Fraser (1987) faz duras críticas à teoria habermasiana, onde aponta os traços conservadores da teoria crítica de
Habermas, que ainda permaneceria androcêntrica e insensível às questões de gênero. Ele se coloca contrária à dicotomia
entre “sistema” e “mundo da vida” e sua crítica perpassa o engendramento da oposição entre público e privado, i.e., são
marcados os papéis entre os sexos em espaços diferenciados, sendo central na argumentação da autora que o próprio
trabalho doméstico das mulheres, não-reconhecido, contribui para a reprodução dos sistemas estatal e econômico.
19
Fraser (2005a, 2005b, 2007) passou a utilizar uma nova categoria, a qual deve ser trabalhada conjuntamente com
redistribuição e reconhecimento, correlatos às lutas das coletividades: a representação, que permite problematizar
estruturas do governo e processos de tomada de decisão, “que pelas lentes das disputas por democratização, a justiça
inclui uma dimensão política, enraizada na constituição política da sociedade e que a injustiça correlata é a representação
mal-enquadrada ou a afonia política” (FRASER, 2007, pp. 128-129, tradução nossa).
12

transcorrem além das questões propriamente distributivas, analisando a dominação e opressão20 sob as
suas formas institucionalizadas (YOUNG, 1990). Desta forma, acreditamos poder dar conta de uma
visão mais ampliada das questões concernentes à justiça social num período específico e recente da
história brasileira. É preciso antever que o debate Fraser-Young foi decisivo para a produção desta
proposta, já que, diante das discussões sobre as ontologias nesse novo campo do saber feminista, as
autoras procuram evitar as dicotomizações e binarismos21, e desse modo, avançou-se
significativamente principalmente no que tange à construção de uma teoria dos sistemas duais de
Fraser (1997a; 1997b; 2001), tendo este sido alvo, provocativamente, de muitas críticas de Young (cf.
YOUNG, 1997; 2007).
A metodologia deve-se concentrar em um dos atores políticos relevantes nesse processo e que
veio a participar tardiamente das deliberações políticas. É por isso que a atuação do(s) feminismo(s)
nos é cara: por seu papel atuante no processo de redemocratização do Brasil. Estes movimentos
emergem em momento político-autoritário, num cenário adverso, onde o Estado deslegitimou e
despolitizou praticamente todos os movimentos sociais. Logo, como um dos “novos movimentos
sociais”, o feminismo re-surge na clandestinidade e é um dos braços do movimento brasileiro pela
anistia e pela redemocratização. Ele também foi decisivo no processo da Constituinte na Câmara dos
Deputados em 1988, acabando por incluir formal e legalmente, o reconhecimento e a legitimação de
um conjunto amplo de direitos para a população feminina brasileira. Porém, diante das dificuldades de
implementação dos direitos conquistados, principalmente pela falta de recursos orçamentários,
colocam-se como uma das necessárias atitudes a serem retomadas: como efetivar tais direitos? Cabe-
nos investigar sobre as saídas e soluções encontradas pelas mulheres para tal disjunção.
Ainda sob o extenso referencial teórico que aqui recorremos, cabe delimitar e mapear alguns
dos principais pontos a serem trabalhados: tendo apontado para o fato da teoria de Fraser ter sido
motivadora e desafiadora para este paper, por discutir os principais pontos que se “encaixam” na
realidade social e política brasileira. Os debates em que Nancy Fraser participou (parte deles aqui
descritos) motivaram re-estruturações na sua teoria, principalmente no que diz respeito ao paradigma,
20
Segundo Young (1990) as cinco diferentes faces da opressão poderiam ser retratadas como cinco diferentes formas de
inibição de capacidades, que podem ajustar aos grupos na forma pura ou em diversas combinações e permutas. São elas:
exploração, marginalização, desempoderamento, imperialismo cultural e violência. Para Fraser (1997a) estas poderiam
operar sobre o paradigma redistribuição e reconhecimento, podendo ser classificadas em dois grupos: (i) exploração,
marginalização e desempoderamento, que teriam como eixo principal a economia política, já que envolvem a inibição de
vários aspectos do desenvolvimento pessoal que vem da significância, do trabalho socialmente valorado; e (ii)
imperialismo cultural e violência estão centrados na cultura, por envolverem inibição da expressão e da comunicação.
Nesse esquema, teríamos então, segundo Fraser, um esquema bipartite.
21
Uma das questões que é incorporada por algumas produções acadêmicas nacionais, como é o caso de Wanderley
Guilherme dos Santos (2006), é que “dicotomias dificilmente ultrapassam o nível elementar do apuro conceitual (...)
Sociedades são histórias físicas de conjuntos nebulosos (fuzzy sets), capazes de absorver sombras, símbolos e espectros”
(SANTOS, 2006, p. 18). Mais adiante, tanto para a discussão teórica quanto a empírica deste projeto, discutiremos a
importância de análises que contemplem a heterogeneidade de posicionamentos ideológicos e pragmáticos pela lógica
fuzzy.
13

antes bi-dimensional, que agora opera tridimensionalmente. É por ele que partiremos para o trabalho
empírico neste projeto: como Matos (2000) em uma análise sobre as identidades de gênero e as
relações conjugais contemporâneas propôs, e pelo pouco desenvolvimento sobre a dimensão da
representação na teoria de Fraser, aqui indicamos pensar como “territórios” os espaços da
representação e a normativa da paridade participativa como as “fronteiras” desse território, para aí,
como Fraser (2005a) expõe, explicar as inoperâncias da representação pelo desenquadramento
(misframing) dos movimentos/coletividades nas esferas relativas a tal dimensão. Os pontos frágeis
desta teoria, principalmente relativos à dimensão do reconhecimento22, deverão ser antevistos e
problematizados, assim como a adoção da categorização dos remédios afirmativos e transformativos 23
como tentativas de solução para os dilemas da justiça social.
Para dar início à discussão sobre a nova cartografia e geometria na teoria política feminista é
primordial antes demonstrar o que Marlise Matos (2009a, 2009b) aponta-nos: há uma complexidade
e simultaneidade dos processos corrente à teoria feminista de uma forma sistemática, perceptível
por deslocamentos de modelos, norteados por processos de destradicionalização e da passagem do
nível micro ao macro (quadro 1). Para esta proposta metodológica, devemos atentar para os
princípios referentes à justiça social e aos direitos, de forma que discutiremos os relativos
deslocamentos dos modelos 1 ao 3. A aliança ao feminismo, como um modelo de teoria crítico-
emancipatória e no projeto de um campo epistemológico de gênero aponta-nos para a “urgente
necessidade de repor constantemente o lugar de uma nova forma de apreensão e abordagem do
universal/universalismo, desta vez, em um modo inexoravelmente histórico, multicultural,
emancipatório e contingente” (MATOS & CYPRIANO, 2008, p. 8). Além do mais, como
acreditamos que um dos desafios que o deslocamento, do paradigma bidimensional para uma visão

22
“Nancy Fraser (2001) procura formular um conceito de reconhecimento que seja compatível com a idéia de justiça social.
Para tanto, ela se distancia daquele a que chamou modelo de reconhecimento identitário, cujos principais expoentes são,
hoje, Axel Honneth e Charles Taylor. Para tais autores, o reconhecimento é entendido como uma necessidade básica do ser
humano, indispensável à sua completa formação como sujeito. Assim, o que requer reconhecimento é uma identidade de
grupo específica, que detém um valor em si, assim como todas as demais. O fundamento de tais reivindicações é, nesse
sentido, ético e está ligado a tudo o que aquela determinada coletividade entende por ‘boa vida’. Para Fraser, esse modelo
tem sérios problemas, pois reifica a cultura, entendendo-a como algo exacerbadamente delimitado, que contém uma
essência que é a sua marca. Além disso, esse modelo ignora as disputas, por poder e posições sociais, que acontecem no
interior do próprio grupo e acaba negando a autonomia do indivíduo, uma vez que impõe aos sujeitos sua conformação ao
padrão do grupo. A promoção dos valores comunitários, de forma indiscriminada, pode encobrir formas de dominação e
opressão que imperam no interior do próprio grupo. Levado às suas últimas conseqüências, esse modelo pode redundar
num separatismo e conseqüente isolamento das coletividades, impedindo, assim, o tão frutífero e necessário intercâmbio
entre culturas. Como contraponto a esse modelo, Nancy Fraser (1998, 2001) propõe o que ela chama de ‘modelo de
status’” (ASSIS, 2006, pp. 10-11). Há também o debate com Judith Butler, que contrapõe Fraser quanto à ênfase
“meramente cultural” que ela dá às reivindicações por reconhecimento (BUTLER, 2000).
23
Por remédios afirmativos Fraser (2001) entende que são aqueles “voltados para a correção de resultados indesejáveis de
arranjos sociais sem perturbar o arcabouço que o gera” (FRASER, 2001:266). De outra forma, os remédios
transformativos, em contraste, são “orientados para a correção de resultados indesejáveis precisamente pela reestruturação
do arcabouço genérico que os produz” (Idem). Em certo ponto de sua análise, Fraser desvaloriza o papel das ações
afirmativas, nesse caso, das cotas para as mulheres (Cf. CYPRIANO, 2007).
14

escalar tri-dimensional da justiça social, nos coloca é que, caberia à teoria política contemporânea,
sob as conjunturas atuais, “explicitar dimensões que estão na sombra, subentendidos, não
explicitados e não tratados justamente por força de uma organização epistemológica reducionista
que não os visibiliza ou valoriza” (Ibid., p. 24). As mudanças cartográficas podem ser observadas na
composição e construção no “campo de gênero”, que segundo Matos se definiria como:

“uma reposição e reinvenção destradicionalizante do universal/universalismo, contingenciando-o,


historicizando-o, na busca de um projeto emancipatório que precisa ser ao um só tempo,
individual/particular, coletivo/geral, ocidental/oriental. Esse universalismo contingente reporta-
nos a uma perspectiva civilizatória emancipada, naquilo que for possível emancipar criticamente
agora, hoje, neste momento, deixando sempre em aberto o que poderá vir a ser tal emancipação
no amanhã. Ainda que sem um ponto de chegada definitivo, ressalto a necessidade do mesmo
ponto de partida: a clarificação normativa e crítico-reflexiva em relação aos próprios pressupostos
históricos, aqueles da cultura da qual se fala, da qual se enuncia e se interpela. Assim todas as
regras passam a estar constantemente em estado de suspeição e questionamento com vistas à
produção da justiça e da emancipação social, já que neste mundo interconectado globalmente,
visceralmente habitado por multiculturas que já perderam em definitivo a condição de inocência
antevista na possibilidade de isolamento, tudo aquilo que concernir ao direito, por exemplo, das
mulheres e dos gêneros, estará permanentemente aberto ao debate público e internacional (e, desta
forma, contra a todos os pressupostos e justificações fundamentalistas, sejam estes de quais
estatutos forem) (MATOS, 2009, p. 350).

Assim, holisticamente, pretendemos operar (e, em certa medida, reelaborar criticamente) com
as dicotomias que geralmente nos deparamos na bibliografia trabalhada e que servirão de base para o
entendimento mais ampliado dos problemas que perpassarão a análise. Pode-se, então, entender como
convergir simultânea e paradoxalmente para questões/dilemas problemáticos na literatura recorrida, a
saber: igualdade e diferença (SCOTT, 2002; YOUNG, 1990); individualismo e coletivismo
(VARIKAS, 1994; BARRY, 1993, 2000; DWORKIN, 2001); política “de idéias” e política “da
presença” (PHILLIPS, 1995; FRASER, 1999); universal e particular (MATOS, 2009a); e,
redistribuição e reconhecimento (FRASER, 1997a, 1997b, 2001; BUTLER, 2000; YOUNG, 1997),
no intuito de ir além deles. Cabe-nos ressaltar que a luta e militância dos movimentos feministas é
reflexivamente percebida na prática. Um primeiro esboço destes deslocamentos foi feito em Matos,
Cypriano & Brito (2008) esquematizado na figura 1 (apêndice). O quadro 2 (apêndice) aponta alguns dos
deslocamentos entre algumas teóricas feministas, por isso, apontamos a necessidade de levar-se em conta
a idéia de MODELOS, para uma proposta metodológica minunciosa da ETAPA analisada do
desenvolvimento político brasileiro.
Por tanto, a partir desta delimitação do problemas teóricos, a construção da proposta
metodológica deve procurar verificar as seguintes hipóteses: (i) diferente do que é imaginado sobre as
pautas dos movimentos feministas e de mulheres, como um bloco coerente de questões, estas
reivindicações são diversificadas e produzem diferentes perfis dentre os movimentos; (ii) também
15

dentre eles há desigualdades e benefícios a certas ramificações, em detrimentos de outras, o que gera
na formatação das agendas uma incompatibilidade entre ideologias entre as mulheres participantes e
as lideranças24; (iii) as medidas tomadas na formatação de políticas públicas, ou outros tipos de ações
políticas, na maioria das vezes são transformativas, mas o discurso equivocado de ações afirmativas
está presente para justificá-las; e (iv) deve-se observar que as características adscritivas relativas ao
gênero começam a se deslocarem em alguns tipos de movimentos (sindicalistas e partidários,
prevendo a horizontalização e a verticalização da participação neles, como observado por Macaulay,
2006) ou, somam-se características adscritivas à gênero, como raça e etnia (como os movimentos de
mulheres negras e mulheres indígenas).
A (re)composição das agendas do movimento pela etapa ideológica do desenvolvimento
político brasileiro deve estar delimitada pelo período histórico referente à 5a República (1964-1985),
do re-surgimento de feminismo e seus “primeiros passos” como ator e movimento político sob o
período autoritário da ditadura no país, sendo este período caracterizado pela “crise do populismo” e o
aumento de pressões para o retorno ao regime liberal-democrático; e à 6a República (1985/1988 – até
o presente momento), para discutir os encaixes/desencaixes e os avanços/retrocessos destas fases que
sugerem a dinâmica em que a política se dá num contexto entre duas democracias: a representativa e a
participativa.
O ponto central metodológico deverá lançar mão dos paradigmas discutidos pelos referenciais
teórico-analíticos da teoria política feminista e a partir deles serão operacionalizados com a adoção da
metodologia GoM (Grade of Membership)25, a fim de notarmos se seria possível identificar diferentes
perfis de heterogeneidade relacionados às agendas de atuação dos movimentos feministas e de
mulheres, em especial no que tange ao posicionamento nos continuums (Redistribuição-
Reconhecimento; Igualdade-Diferença; Individualismo-Coletivismo), notando, assim, diversas
posições situadas entre os pólos e, a partir de então, utilizarmos da lógica fuzzy como já desenvolvido
para o paradigma redistribuição-reconhecimento por Šalej (2007). É nesta etapa da análise que
procuraremos mapear as principais temáticas relevantes nas agendas dos movimentos sociais, órgãos
governamentais, organismos transnacionais, ONGs e partidos políticos brasileiros, além das
24
Deve-se ressaltar que, como Evelina Dagnino (2002) demonstra, há uma oligarquização e hierarquização da
participação da “sociedade civil”, e que, o ponto máximo dessa hierarquização levaria à representação (GURZA
LAVALLE et al., 2006).
25
“Nos conjuntos nebulosos, um elemento ou objeto pode pertencer parcialmente – ou seja, apresentar ‘graus’ de
pertinência ou pertencimento – a múltiplos conjuntos. Estes conjuntos nebulosos generalizam os modelos estatísticos
baseados na lógica discreta, visando aperfeiçoar a abordagem da heterogeneidade inerente aos elementos ou objetos a
serem classificados (...) o método Grade of Membership (GoM) (MANTON, 1994) lida como dois dos maiores problemas
na determinação de uma classificação ou tipologia, que são: a identificação de grupos; e a descrição de diferenças entre os
mesmos (...) O método tem propriedades importantes para as análises em Ciências Sociais: (a) permite que os objetos em
estudo possam pertencer a mais de um grupo ou perfil, possibilitando que a heterogeneidade entre os mesmos possa ser
expressa como um componente do modelo, o que leva a descrições mais naturais dos grupos a serem gerados; e (b)
possibilita lidar com grande número de casos e variáveis” (MOURA & ŠALEJ, 2007 apud ŠALEJ, 2007, p. 223).
16

preferências quanto ao tipo de medidas adotadas que tais atores julgam que deva ser adotada para a
“correção” das injustiças sociais que afetam as mulheres brasileiras: afirmativas e transformativas.
Destarte, as variáveis referidas para a análise poderão utilizar dados coletados por
questionários (surveys) aaplicados às representantes e/ou militantes representantes no Conselho
Nacional dos Direitos da Mulher (Brasília)26, representantes dos organismos governamentais e
internacionais27 no Brasil e representantes de pastas/diretórios sobre a mulher nas instâncias
partidárias. Esta é uma opção limitada, podendo se expandir para a obtenção de dados em um Survey
de larga amplitude com diversos movimentos feministas e outros movimentos sociais. Uma outra
proposta metodológica, apresentada por Maria Luzia Álvares (2008), aponta dados obtidos através de
lideranças feministas visando garantir os compromissos assumidos na Carta de Beijing, além de uma
análise da autora de documentos e seminários que discutiam a representação política feminina e as
questões relativas à conquista de espaços de poder. Esta possibilidade e flexibilidade metodológica
amplia-se com observações à plataforma nacional de ações e deliberações sobre as políticas públicas
para as mulheres, que se referem à formulação dos dois planos nas conferências nacionais (dados
secundários), em 2004 e em 2007.

4. Considerações finais

A cartografia do “estudo da política” e da prática política, revela-nos questões que ainda


merecem maior atenção, notado que as fronteiras, tanto do pensamento quanto dos territórios das
nações, ainda são excludentes. As fronteiras, quer queiram, quer não, existem, mas o desafio da
teoria política contemporânea normativa e da prática política é torna-las mais inclusivas.
Concentrar-se nas discussões sobre a representação política como a terceira escala/dimensão da
justiça, hoje, é uma aposta que amplia o horizonte da lutas por justiça social, do feminismo neste
caso, através de uma noção re-dimensionada de que não há redistribuição ou reconhecimento sem
representação (FRASER, 2005).
Os horizontes feministas devem ser visualizados pela idéia de fluxo, demonstrando-o, a

26
Entre as conselheiras estão representantes dos seguintes órgãos: Secretária Especial de Políticas para as Mulheres;
Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB); Articulação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais (ANMTR);
Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras; Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica; Conselho
Nacional das Mulheres Indígenas (CONAMI); Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT); Central Única dos
Trabalhadores (CUT); Confederação das Mulheres do Brasil (CMB); Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação (CNTE); Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG); Federação das Associações de
Mulheres de Negócios e Profissionais do Brasil – PBW Brasil; Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas
(FENATRAD); Fórum de Mulheres do Mercosul; Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres da Força Sindical;
Secretaria Nacional de Marcha Mundial das Mulheres; União Brasileira de Mulheres; Rede Nacional Feminista de Saúde,
Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos; Movimento Articulando de Mulheres do Amazonas (MAMA).
27
Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM); Marcha Mundial das Mulheres 2000.
17

partir dos eixos estruturadores: a transição do micro ao macro, a passagem do tradicional à


destradicionalização, a transversalidade e a transdisciplinariedade. Por isso, o que caracteriza e
marca o feminismo, ativista e acadêmico, seria a verdadeira condição dimensional do que seria este
recente imaginário feminista (MATOS, CYPRIANO & BRITO, 2008).
As breves notas metodológicas neste paper apresentadas desmonstram a preocupação com
estes deslocamentos e com uma visão holística da prática e atuação política no Brasil dos diversos
feminismos na etapa ideológica do desenvolvimento político brasileiro. Estas colocações apontam
para um caminho, no qual reformulações epistemológicas e metodológicas possam contribuir para
uma teoria política feminista e de gênero crítico-emancipatória.

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22

APÊNDICE

Figura 1: Deslocamentos da Agenda Feminista no Brasil

Fonte: MATOS, CYPRIANO & BRITO, 2008


23

Quadro 1: Conceitual Geral Teoria Crítico-Emancipatória Feminista de Gênero


Eixo 1 - Da Tradição à Destradicionalização
MODELO 1 MODELO 2 MODELO 3
PRINCÍPIOS
Conceito Fronteira Desejo e Pulsão
MODELO DE SEXO ÚNICO E
MODELO DE SEXO DUPLO MODELO DA PLURALIDADE SEXUAL
i
Sexualidade e Corpo (Monismo sexual) x
(BINARISMO SEXUAL) (MULTISEXUALISMO) o

Elementos da 3
subjetivação/ INDIVÍDUO SUJEITO DESLOCAMENTO
estruturação -
E
i identificatória
BINARISMO I: PAPÉIS T
x TEORIA DO PATRIARCADO r
o SEXUAIS CAMPO DE GÊNERO E FEMINISTA
a
Conceitos do campo n
2 de gênero BINARISMO II: ESTUDOS DA TRANSPERFORMATIVOS DE GÊNERO s
DOMINAÇÃO MASCULINA
MULHER v
- e
r
D Conceito Fronteira Ativismo/Participação e Gênero no público/privado s
o a
l
n Cidadania e CLASSE RAÇA/ETNIA E GÊNERO MULTIDIMENSIONAL EMANCIPATÓRIA
i
í ativismo social z
v a
e ç
l Direitos e IGUALDADE DIFERENÇA PARADOXO IGUALDADE/DIFERENÇA
ã
Movimentos o
M
i e
c DO MESMO DO NOVO DA SIMULTANEIDADE/COMPLEXIDADE
Temporalidade
r t
o r
FRONTEIRA AMPLIADA (DO a
TERRITÓRIO FIXO DO ESTADO- DESTERRITORIALIZAÇÃO/RETERRITORIALIZ
a LOCAL AO GLOBAL)/
n
Espaço NAÇÃO TERRITORIAL AÇÃO/TRANSNACIONALIZAÇÃO
o s
globalização d
N i
í REDISTRIBUIÇÃO E REDISTRIBUIÇÃO, RECONHECIMENTO E
REDISTRIBUIÇÃO s
v Justiça Social RECONHECIMENTO REPRESENTAÇÃO
c
e i
l FALSO RECONHECIMENTO OU p
AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO
PRIVAÇÃO, POBREZA, MÁ- NÃO-RECONHECIMENTO, l
M POLÍTICA/EXCLUSÃO, MÁ DELIMITAÇÃO DA
Injustiça DISTRIBUIÇÃO DISCRIMINAÇÃO, i
a REPRESENTAÇÃO, META-POLÍTICA
SUBALTERNIZAÇÃO n
c a
r r
Conceito Fronteira Democracia e Contingência
o i
DEMOCRACIA REPRESENTATIVA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA DEMOCRACIA CRÍTICA OU DO INTERESSE e
Política PÚBLICO d
a
d
e
REFLEXIVIDADE ESTÉTICO-
CONSCIÊNCIA/RAZÃO REFLEXIVIDADE CRÍTICA +INCONSCIENTE
Dimensões ÉTICO-HERMENÊUTICA E
INSTRUMENTAL POLÍTICO(PARADOXO)
Reflexivas COMUNICATIVA

UNIVERSAL PARTICULAR UNIVERSAL CONTINGENTE


Episteme
Eixo 4 - Padrões Normativos = Liberdade e Autonomia, Publicidade e Paridade na Participação, Contestação/Controle
Públicos e Interesse Público

Fonte: MATOS & CYPRIANO, 2008


24

Quadro 2: Categorias para o projeto metodológico


MODELO 1 MODELO 2 MODELO 3

Autores Justiça Social

Iris Young EXPLORAÇÃO, MARGINALIZAÇÃO,


EXPLORAÇÃO, MARGINALIZAÇÃO E IMPERIALISMO CULTURAL E
Cinco Faces da Opressão DESEMPODERAMENTO, IMPERIALISMO
DESEMPODERAMENTO VIOLÊNCIA
segundo Nancy Fraser CULTURAL E VIOLÊNCIA

REDISTRIBUIÇÃO E REDISTRIBUIÇÃO, RECONHECIMENTO E


REDISTRIBUIÇÃO
Nancy Fraser RECONHECIMENTO REPRESENTAÇÃO

IGUALDADE DIFERENÇA PARADOXO IGUALDADE/DIFERENÇA


Joan Scott

UNIVERSAL PARTICULAR UNIVERSAL CONTINGENTE


Marlise Matos

IDÉIAS PRRESENÇA PARADOXO IDÉIAS/PRRESENÇA


Anne Phillips

Fonte: Formatação própria.

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