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PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2000, 20 (2), 12 - 19

Testes Psicológicos e
Técnicas Projetivas:
Uma Integração para um Desenvolvimento da
Interação Interpretativa Indivíduo-Psicólogo. *

Este artigo analisa a relação do desenvolvimento científico na história, o interes-


se e a força que tiveram influenciando a criação e discussão sobre os testes psi-
cológicos, sua utilidade e validade, abordando as concepções da mudança
conjuntural tanto do conhecimento humano quanto sua influência no desen-
volvimento dos próprios testes. Destacam-se dois importantes pólos da evolu-
ção do pensamento humano como a concepção mecanicista (objetiva) e a con-
cepção total (subjetiva, holística), mostrando a nova dimensão que têm hoje os
testes psicológicos, seguindo nada mais nada menos, o curso da história e do
homem, integrando seu pensamento e prática.

Miró

Nilton Soares Ao discutir sobre a importância dos testes em Freud, 1924, p. 34) pensar em figuras é ape-
Formiga psicologia, sempre tendemos a cair no imen- nas uma forma muito incompleta de tornar-se
so e quase inacabável debate no que diz res- consciente, mas de certo modo, ela se situa,
Aluno do curso de peito a objetividade e subjetividade. Por um
Psicologia do Centro tanto ontogênico quanto filogeneticamente
Universitário de João lado, considera-se que os testes psicológicos mais perto do processo inconsciente do que
Pessoa - Unipê (a psicometria) são objetivos, facilita uma pensar que palavras, sendo inquestio-
melhor compreensão do que se deseja obser- navelmente mais antigo que o último, tanto
Ivana Mello var, além do que tem um caráter científico; ontogenético quanto filogeneticamente.
Professora especialista por outro, as técnicas projetivas proporcionam Contudo, sua ampla aplicação na formulação
da Disciplina Técnica um amplo campo de interpretação no que trata
de Exame Psicológico
dos diagnósticos é considerado essencialmente
na Unipê. do resgate do inconsciente do indivíduo, em- científico, pois, nos permite resultados seme-
bora seja questionado sua cientificidade, por lhantes e práticos, tais como: levantamento
12 não demonstrar dados quantitativos (provas do problema, formulação de hipóteses, estu-
empíricas). Para Varendock (1972, citado em dos das variáveis e comprovação ou refutação
Testes Psicológicos e Técnicas Projetivas:
Uma Integração para um Desenvolvimento da Interação Interpretativa Indivíduo-Psicólogo.

das mesmas. Contudo, atualmente são pou- crianças especiais. Na clínica, os testes são
cos os psicólogos clínicos que têm utilizado utilizados para o diagnóstico do sujeito, asso-
com maior intensidade estas técnicas que, ciado a problemas de aprendizagem, confli-
destacando-se pela forma flexível e livre de tos, comportamentos, atitudes; os testes na
trabalho complementam, reforçam ou funda- clínica não se interessam em apenas dar um
mentam clinicamente um diagnóstico, permi- resultado estanque, ele faz parte de um pro-
tindo assim, uma valorização da subjetivida- cesso onde são mais um instrumento para fa-
de, que segundo Abib (1996) e Mariguela cilitar o conhecimento mais completo do pa-
(1995), no início da psicologia fora valorizada ciente para daí poder ajudá-lo. Nas organiza-
por Wundt em 1879. ções, na indústria podem auxiliar a seleção e
classificação de pessoal para as funções seja
Diante dos novos acontecimentos na ciência, das mais ou menos especializadas favorecen-
qualquer posição extremista em relação aos do um melhor ajustamento do homem ao seu
testes psicológicos mostrará a falta de infor- trabalho. (Freeman,1962)
mação do momento histórico, filosófico e so-
cial que influenciaram a psicologia. Os testes Com o surgimento destes testes - inteligência
psicológicos têm um importante e longo ca- e aptidão - a psicologia segue um novo cami-
minho percorrido, no que se refere ao con- nho na primeira parte do século XIX, superan-
texto da psicologia como ciência. Foram cria- do o Associacionismo Inglês. Neste período,
dos, e utilizados para determinar e analisar encontramos no pensamento de James Mill
diferenças individuais em relação a inteligên- e William Hamilton uma reformulação mais
cia, aptidões específicas, conhecimentos es- completa e rigorosa da teoria clássica da asso-
colares, adaptabilidade vocacional e dimen- ciação, o primeiro enfatiza uma espécie de
sões não intelectuais da personalidade. Sua “mecânica mental”1; o segundo, considera
utilização é de uma gama extraordinária e que que toda a experiência do indivíduo se dá em
vai, desde o ponto de vista psicológico, edu- uma reintegração, ao contrário do que se acei-
cacional, sociológico e até o cultural;. o seu tava, em que encontrava-se na mente uma
uso freqüente inclui: desde a natureza e se- seqüência de átomos psíquicos, supondo que
qüência do desenvolvimento mental, à aspec- na mente só se encontraria uma idéia de cada
tos intelectuais, de personalidade e de gru- vez. O que Hamilton vai defender é que “a
pos menos típicos como os superdotados, re- impressão tende a trazer a consciência toda a
tardados mentais, neuróticos e psicóticos. situação da qual foi, alguma vez, elemen-
(Freeman, 1962; Lopes, 1998) to”(p.85) (Rosenfeld,1988), desta forma, o
processo de percepção de qualquer elemen-
A Objetividade e os Testes to é capaz de evocar uma experiência total.
Psicológicos (Freeman, 1962)

Os testes de inteligência geral e aptidões es- Na segunda metade do século XIX, a psicolo-
pecífica foram utilizados na classificação, se- gia sai da tradição filosófica sendo fortemente
leção e planejamento escolar, tanto nas esco- influenciado pela anatomia, fisiologia e biolo-
las de primeira classe quanto em Universida- gia. Os progressos da anatomia aprofundam a
psicologia moderna e com o estudo do cére- * Gostaria de agradecer a Pro-
des. Contudo, a partir da primeira Grande fessora Clênia Maria T. de S.
Guerra Mundial foram destinados a todas as bro adquiriu-se uma melhor qualidade sobre Gonçalves - Psicóloga Clinica e

áreas do serviço militar, sendo aplicados em como funciona, relacionando as funções psí- especialista em psicodia-
gnóstico na UFPB - pela sua
ambos os sexos. Vale destacar que, os resul- quicas correspondentes. Graças a histologia e paciência em ler e criticar este
tados obtidos nos testes eram, e são, apenas o estudo experimental das funções sensoriais artigo.

uma fonte de informação importante e em conexão com o desenvolvimento da físi- 1 - a vida psíquica tratava-se
ca, um grande passo é dado para o estudo do de um complexo de partículas
facilitadora, por exemplo: para determinar e sensoriais associadas, sendo
analisar às aptidões ou dimensões intelectu- sistema nervoso e seu progresso com a pato- um produto de contiguidade,
ais de um indivíduo, com objetivo de auxiliar logia mental. (Rosenfeld, 1984; Schultz e admitindo assim, uma
interação entre os estados
a orientação vocacional e educacional no que Schultz, 1992) mentais e orgânico.
se refere às habilidades intelectivas ou não
de alunos que se destacam como superdo- A partir da concepção de Charles Bell, em 13
tados, ou, como diagnóstico diferencial de 1811, verificou experimentalmente o caráter
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duplo do sistema nervoso - o sensorial e o ta na medida em que precede a intervenção


motor, cabendo a Johannes Mueller, interes- da reflexão, desta forma chamando-se expe-
sado pela fisiologia dos sentidos e pelo o arco riência a totalidade das emoções, representa-
reflexo, formular que cada nervo sensorial tem ções e volições, independente de que elas
sua qualidade ou energia própria, destacando sejam, internas ou externas. Recorre-se as-
assim, que as experiências humanas resultam sim, à introspecção, às várias formas de ex-
antes da natureza dos nervos do que da natu- pressão e ao ajustamento do organismo, tra-
reza dos objetos. Assim, Mueller evidencia tando-se de uma reação acessível do lado fisi-
que a organização física determina a ológico e psicológico considerando o estudo
especificidade, os modos e estruturas da nos- de ambos os lados, a partir do estímulo e da
sa experiência, golpeando o dualismo de Des- transmissão neural paralelo aos fenômenos
cartes. Ernest H. Weber pesquisou sobre as mentais. (Penna, 1982; Graumann, 1990;
sensações cutâneas e musculares, consideran- Mariguella, 1995; Abib, 1996)
do um novo campo para a psicologia, pois as
pesquisas anteriores se limitaram aos sentidos James McKean Cattel fundiu suas concep-
superiores da visão e audição. G. T. Fechner ções nas tendências evolucionistas junto com
funda a psicofísica, preocupando-se com a a psicologia diferencial e a experimentalista,
aplicação dos métodos exatos das ciências procurando reduzir tudo em mensurações
naturais ao estudo do mundo interior do ho- quantitativas investigando o tempo das rea-
mem - uma psicofísica interior que incluía as ções mentais, a exatidão da percepção e do
relações entre os processo do sistema nervoso movimento, os limites da consciência, a fadi-
(fenômenos físicos) e os processos mentais, ga e o treino. Nas investigações sobre associ-
numa relação matemática, quantitativa. ação (introspectiva), introduz a associação con-
(Freeman, 1962; Rosenfeld, 1984; Freire, 1998). trolada, pois a livre associação (de Freud) é
mais demorada do que a controlada, quando
Na França durante a metade do século XIX, solicita-se antônimos. (Rosenfeld, 1988;
vários são os cientistas que se interessaram Schultz e Schultz, 1992)
por diferenciar precisamente as aptidões men-
tais dos indivíduos, dentre estes, os que mais É a partir de 1900, que Alfred Binet, psicólo-
se destacaram foram Jean Esquirol2 e Edouard go francês, influencia os estudos de
Séguin3, por se preocuparem com a deficiên- mensuração das diferenças individuais, até
cia e perturbação mental. O desenvolvimen- então influenciado por Galton. Seus trabalhos
to das ciências biológicas - da genética, da são bastante procurados, principalmente nos
eugenia e especialmente da teoria da evolu- Estado Unidos e na Inglaterra. Dedicou-se à
2 - Esquirol esclareceu a dife-
ção da seleção das espécies - influenciaram F. psicopatologia e superou o associacionismo,
rença entre deficiência e a do- Galton na investigação das diferenciações in- pois não conseguia explicar as personalidades
ença mental; destacou níveis dividuais, por razões mais biológicas que psi- dissociadas, e por verificar que na criança há
de deficiência mental, dos dé-
beis de espírito ( atualmente cológicas. Este preocupou-se com o papel da uma percepção anterior às partes, desta ma-
parvos), de idiotia (abrangen- hereditariedade e do meio na natureza da in- neira tantos os estudos qualitativos, quanto os
do os imbecis e idiotas).
Esquirol distinguiu e classifi- teligência, necessitando para tal estudo testes estudos quantitativos das diferenças individu-
cou os deficientes mentais pela objetivos. Suas técnicas estatísticas foram uti- ais, deve interessar-se não pelos processos
dimensão e conformação do crâ-
nio.
lizadas por Pearson e Spearman, para um mentais, mas pelos processos mais comple-
aperfeiçoamento da análise dos dados. Entre xos4, isto é, estabelecer a extensão e a natu-
3 - Séguin elaborou uma obra e os testes mais famosos de Galton destaca-se reza das variações interindividuais dos proces-
métodos pioneiros de treino de
deficientes mentais. Após diri- o que estuda o tempo de reação nas associa- sos mentais na determinação da interrelação
gir escolas destinada aos defi- ções, mais tarde aperfeiçoado por Wundt. intraindividuais dos processos mentais.
cientes se convenceu que só ocor-
reriam progressos a nível do (Freeman, 1962; Rosenfeld, 1988) (Freeman, 1962; Rosenfeld, 1988; Schultz e
comportamento se tivessem aju-
da adequada.
Schultz, 1995)
Wundt (citado em Heidbreder, 1977;
4 - Raciocínio, julgamento, me- Henneman, 1994; Farr, 1996; ) fundou em Em todo desenvolvimento dos testes psicoló-
mória, imaginação e etc.
1879, na cidade de Leipzig na Alemanha, o gicos observa-se uma grande influência das
primeiro Instituto de Psicologia Experimental. concepções mecânicas e empíricas pois, nes-
14 A Psicologia torna-se então, uma ciência au- te período - metade do século XIX - o pensa-
tônoma. Para Wundt, a experiência é imedia- mento europeu foi fortemente influenciado
Testes Psicológicos e Técnicas Projetivas:
Uma Integração para um Desenvolvimento da Interação Interpretativa Indivíduo-Psicólogo.

pelo Positivismo Lógico de Comte, o qual se jeito, enfatizando o contexto global no qual
refere a um sistema em busca de fatos obser- ocorre o comportamento. Desta forma, é pos-
váveis e indiscutíveis. Outra força para os sível detectar informações projetivas tanto
testes psicológicos foi o materialismo, defen- quando se tratar de fatores sócio-culturais
dendo que todas as coisas podiam ser descri- quanto de fatores de variáveis internas, so-
tas em termos de propriedades físicas da ma- mente assim, entender-se-á a constituição das
téria e da energia, destacando assim, as es- características psicológicas como um proces-
truturas anatômicas e fisiológicas do cérebro. so histórico-cultural. O método projetivo não
Na concepção empirista, destaca-se o se propõe apenas em se deter em medidas
acúmulo progressivo das experiências senso- dos traços ou a quantificação, mas em com-
riais, estas responsáveis pelo desenvolvimen- preender o sujeito - o que faz e não faz, a for-
to da mente. Aprontava-se então, uma abor- ma como faz, quando e porquê.
dagem experimental para os problemas da
mente. (Freeman, 1962; Schultz e Schultz, Surge assim, com os testes projetivos uma
1995; Penna, 1990; Lopes, 1998) valorização do simbólico, concedendo ao in-
divíduo à realidade imediata um caráter de
Por mais que seja valorizada uma exatidão atri- ausência, mas integrando esta realidade den-
buída a medida dos testes, haverá sempre uma tro do indivíduo. Freud foi um dos primeiros a
limitação ao desejar ampliar a compreensão trabalhar com essa elaboração simbólica atra-
dos fatos testados. Portanto quando se quer vés da associação livre, em 1895, e da inter-
medir constructos hipotéticos não se mede pretação dos sonhos, em 1899, formando as-
objetos mas abstrações de relações, pois quan- sim um sistema interpretativo (uma análise
do medimos teoricamente um atributo mediante a interpretação do simbolismo das
empírico -comportamento - implicitamente
medimos a estrutura da psíquica humana.
(Pasquali, 1996, Biaggio, 1997 citado em
Lopes, 1998)

O Subjetivo e as Técnicas
Projetivas
Em 1939, Frank lança o termo “método
projetivo”, para designar o estudo da perso-
nalidade baseando-se no teste de associação
de palavras de Jung (1904), testes de man-
chas de tinta de Rorschach em 1920 e T.A.T.
(Teste de Apercepção Temática) de Murray
em 1935. Frank aborda nesses testes uma di-
nâmica holística da personalidade, uma estru-
tura evolutiva onde os elementos se interagem
e a pessoa expressa em uma atividade cons-
trutiva e interpretativa a fantasia interior. Na
medida em que os estímulos pouco ou nada
estruturados são apresentados diante do su- condutas do paciente), destacando que o que
jeito sua resposta é sempre projetiva, se encontra no indivíduo não se encontra por
reveladora de sua maneira particular de ver a acaso, pois ‘tudo’ teria um significado, “o que
situação, de sentir e interpretar. Tais estímu- poderia parecer tão insignificante, apresenta-
los provocam projeções em condições ótimas, do no contexto vivido, estaria coberto de sig-
economizando tempo e esforço, que situa- nificados e poderia trazer a chave para a inter-
ções menos ambíguas e indefinidas. (Van pretação desse contexto”. (Augras, 1998).
Kolck, 1975; Anzieu, 1981; Alves, 1998)
Jung (1986) surge contrapondo o pensamen-
De acordo com Lopes (1998), as mudanças to freudiano interpretativo, em Símbolos da
que acontecem só serão evidentes quando as Transformação, deixa de lado a concepção do 15
técnicas tradicionais permitem centrar no su- simbolismo individual e analisa o simbolismo
Nilton Soares Formiga & Ivana Mello

coletivo, levando os temas míticos à uma ten- isto é, o feiticeiro seria uma espécie de força
tativa de interpretação dos significados sagrada e profana, de duplo sentido.
projetivos ocorrido nos indivíduos, destacan- Intensionava explicar que entre os povos ha-
do que o equilíbrio psíquico, nas projeções, viam diferenças, diz Roheim :
deve-se ao fato de fazer com que todo indiví-
duo se encontre com seu Eu Obscuro (a sua “os povos liquidam os seus complexos por
sombra). Segundo Von Franz (1977) a força mecanismos de defesa comparáveis, justifican-
do inconsciente não se manifesta apenas no do a unidade da libido e a variedade das civili-
material clínico, mas, no mitológico, no religi- zações. As culturas são diversas, mas o siste-
oso, no artístico e em diversas atividades cul- ma simbólico é mesmo” (Augras, 1998, p.
turais expressadas pelo homem. Rank, em 102).
1909, representa a transição entre Freud e
Jung, defende um sistema de interpretação Reik, em 1931, com os Estudos Psicanalíticos
mais completo, mito e sonho refletem em lin- dos Rituais, considerando que os diversos ri-
guagem semelhante os acontecimentos que tuais seriam a superação do apego libidinal
marcam o homem e a humanidade em sua que fixa a mulher ao pai, mas, contribuiu muito
vida.(Jung, 1986; Roazen, 1974; Fadiman, mais a respeito da interpretação da origem da
1986; Augras, 1998) música como uma reconstituição da voz do
pai através do grito do animal totêmico, as-
Logo após a primeira Grande Guerra, surgem sim, música e instrumentos corresponderiam
os culturalistas que ligam os conceitos da psi- aos diversos animais totêmicos; Pfister, em
canálise com a cultura e destacam duas ver- 1923, com Algumas Aplicações da Psicanáli-
tentes: a primeira geração, explicava os fenô- se, segue a orientação de Roheim, interes-
sando-se pela classificação da cultura entre as
diferenças das religiões em introversão e
extratensão, concepção esta, influenciada pela
tipologia de Jung. Lasswell recorre ao modelo
individual para explicação do fenômeno soci-
al, diferenciando-se dos primeiros, por estu-
dar o comportamento social e das instituições
etc., na tentativa de realizar uma psicanálise
dos homens políticos. Assim, dá mais atenção
aos mecanismos de defesa do ego, pois o
exibicionismo, narcisismo, sentimento de cul-
pa etc, origina-se da participação política do
indivíduo, esta exprimiria, em maior ou me-
nor grau, de acordo com o interesse político
do indivíduo.

A segunda geração utilizava os conceitos psi-


canalíticos manipulados aos materiais que se
conseguia do ambiente estudado, ligando-os
a Antropologia e Etnologia. (Fine, 1981; Jones,
1989; Augras, 1998). Sabe-se que Freud tinha
menos coletivos através dos modelos da psi- interesse pela Antropologia e a Psicologia so-
cologia individual e de esquemas psicanalíti- cial, prova é que seus discípulos utilizaram os
cos tradicionais. Encontra-se nesta, psicanalis- mitos como justificativas para as teorias psica-
tas como Roheim que, em 1926, escreve so- nalíticas. No campo da Antropologia, vários
bre o Totemismo Australiano e a Interpreta- são teóricos que se inspiraram na psicanálise
ção Psicanalítica da Cultura que seguindo a para fundamentar seus estudos, destacando-
concepção freudiana de Totem e Tabu, tenta- se B. Malinowski, R. Benedict e A. Kardiner.
va “interpretar as práticas mágicas em termos Esses estudaram os costumes indígenas, res-
16 de complexo de Édipo” (p.97), baseando a pectivamente, preocuparam-se com as seguin-
explicação de cultura no simbolismo mágico, tes questões: buscava-se verificar o complexo
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Uma Integração para um Desenvolvimento da Interação Interpretativa Indivíduo-Psicólogo.

de Édipo como universal, mas critica o siste- terminismo não dá lugar a qualquer forma de
ma freudiano e defende que este complexo conhecimento, pois só na presença do acaso
só era válido para a sociedade de Viena, no e da espontaneidade confere-se as condições
período antes da guerra de 1914-1918. necessárias para que estas formas (as diversas
(Augras, 1998; Kardiner, 1964) projeções) tenham lugar. Independente do
grau de avanço e de precisão do conhecimento
Diante das mudanças ocorridas durante o sé- de seu objeto, principalmente quando este
culo XIX, a física favoreceu uma nova com- objeto é o universo - universo psíquico - em
preensão da realidade, tornando-a dialética, sua dimensão metafísica, a representação que
em uma causalidade em rede. Constituindo- se obtém será sempre de caráter conjectural
se uma revolução mais significativa da muta- e sua adequação ao objeto será sempre aproxi-
ção da ciência, impossibilitando uma explica- mada. A razão última desta conclusão se en-
ção do mundo infinitamente pequeno atra- contraria no fato de não só o conhecimento,
vés do método cartesiano. As observações do
mas o próprio objeto, serem essencialmente
mundo subatômico mostraram os diferentes
atravessados pela espontaneidade do acaso
comportamentos do que era comum para o
e estarem em constante e genuína evolução.
ser humano. Os estudiosos da Teoria do caos
(Ruele, 1993; Gleik, 1994; Lewin, 1994) de-
A dialética que se instala entre o agir e o co-
fendem uma ordem implícita na desorganiza-
ção, tornando-a uma questão de construção, nhecer sobre o real, entre este objeto e o
na busca de uma ciência com “rosto huma- universo psíquico, modifica-o, favorecendo
no” comprometido com uma concepção mais uma nova construção do conhecimento inclu-
holística, isto é, uma prática com uma espé- indo uma realidade psíquica mais complexa,
cie de diálogo com a natureza e os seres hu- criando um outro campo de interação que
manos. Assim, valoriza-se a interpretação dos precisa ser levado em conta. Assim, Pellanda
fatos contaminando a Psicologia profundamen- (1996, citado Odgen, 1994) discutindo esta
te, principalmente com a evolução da Gestalt dialética, subjetividade/intersubjetividade, na
na década de 20, afirmando um pensamento identificação projetiva afirma que cria-se um
sistêmico - “o todo é maior do que a soma terceiro subjugador, incluído na relação analí-
das partes” - liderado por Koffka (1922), Köhler tica e modificando-a. Desta forma, segundo o
e Wertheimer (Ismael et al, 1996). Bohr modelo de integração, reforçado pela nova
(1995; citado em Hubbard, 1990) e seu mo- biologia, concebe-se que as informações trans-
delo sobre os níveis atômicos - os orbitais, mitidas na comunicação resultam de uma
destaca a inclusão do indivíduo na observa- construção do processo entre os indivíduos,
ção das experiências virando ao avesso a con- destacando em psicanálise como a relação
cepção da realidade, apresentando o Princí- bipessoal analítica. (Maturana e Varela, 1984
pio da Complementaridade, mais tarde, apud Pellanda, 1996). Para Kastrup (1995),
Heisenberg (1995) com o Princípio da Incer- inspirado na concepção de Organização
teza, torna mais complexo a idéia sobre o áto- Autopoiética, são as relações e não as propri-
mo, que por sua vez, torna mais complexa a edades dos componentes que definem a or-
realidade física, destacando que o observável ganização de um sistema vivo, podendo as-
poderia ser modificado. Entre 1924/27 nasce sim, explicá-lo como organização.
a mecânica quântica e a dualidade indeter-
minística é retomada , a realidade passa ter Conclusão
duas formas de manifestações - onda ou par-
tícula - dependeria da interpretação do obser- As técnicas projetivas não se tratam de um
vador, estas nunca ocorreriam sempre da continuum ontológico ou fenomenológico, isto
mesma forma, isto é, passaria a existir não é, uma espécie de oposição ao signo; escrito
mais uma única verdade, mas muitas verda- “nome de alguém” e a “foto da pessoa do
des, uma espécie de relatividade, desapare- próprio nome, pelo contrário, pois não se esco-
cendo a previsibilidade. (Von Franz, 1977; lhe um signo; ele é sempre motivado de for-
Anzieu, 1981; Hazen e Trefil, 1995; Pellanda, ma intrínseca, a imaginação é um espécie
1996; Capra, 1997; Prigogine e Stengers, 1997) de dinâmica organizadora e homogeneizada 17
Assim, segundo Silveira (1997) o estrito de- na representação (Durand, 1997). Isto é:
Nilton Soares Formiga & Ivana Mello

“ A imaginação é potência dinâmica que de- técnicas projetivas implicam em uma solicita-
forma as cópias pragmáticas fornecidas pela ção ao sujeito para que libere sua criatividade,
percepção, e esse dinamismo reformador das sob as condições impostas pelo “teste”, po-
sensações torna-se o fundamento de toda a vida dendo, através destes testes, projetar “o mal
psíquica porque as leis da representação são objeto” 5, obtendo controle sobre a fonte de
homogêneas, metáforas, assim, uma vez que
perigo revelada ficando livre, para atacar ou
ao nível da representação tudo é metafórico
destruí-lo, como também, evitar a separação
toda as metáforas se equivalem.” (p. 30)
do bom objeto, reparando-o. (Fine, 1981)
Assim, a sensibilidade é como um medium
entre o mundo dos objetos e dos sonhos uti- Desta maneira, as técnicas projetivas utilizadas
lizando uma física qualitativa do tipo pelos psicólogos, ou por alguns, ajudariam a
aristotélico, destaca-se então, a bivalência do captar esse mundo simbólico que, a maioria
elemento simbólico na motivação simbólica, das vezes é difícil de ser expressado pelo indi-
convidando a adaptação ou recusa motivando víduo em sua linguagem verbal. Assim, poden-
concentrar-se assimiladoramente sobre si do ser lido quando na sua projeção excitada
mesmo. Mas, vale destacar, que esse campo pela técnica associativa, facilita o psicólogo a
subjetivo que adentrou a Psicologia e suas téc- compreensão do problema e sua solução. Vale
nicas diagnósticas quebrando a explicação li-
destacar na história da arte, que muitos dos
near e demasiada racional da Psicologia Clás-
artistas através de seus quadros expressaram,
sica ou Fenomenológica. (Durand, 1997)
ou melhor revelaram - “falaram” - muito do
De forma generalizada a projeção são tendên- “seu mundo psíquico e da sua realidade huma-
cias inconscientes - de uma pessoa - que são na” (Ostrower, 1998, 26), analogamente as
atribuídas - a outras pessoas ou coisas - após técnicas projetivas favorecem ao indivíduo re-
uma transformação, geralmente no oposto. As velar seu mundo e a sua realidade pessoal.

Nilton Soares Formiga & Ivana Mello


Av. João Machado, 1245 Jaguaribe
CEP 58 000 000 João Pessoa

Recebido em 000000 Aprovado em 23/03/99

5 - o termo bom ou mal objeto é


utilizado por M. Klein.

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Testes Psicológicos e Técnicas Projetivas:
Uma Integração para um Desenvolvimento da Interação Interpretativa Indivíduo-Psicólogo.

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