A sociedade é uma reunião de pessoas, porém não é só uma reunião, é
a reunião de pessoas com a finalidade de preservar a vida de cada indivíduo que a compõe. A finalidade do fenômeno social é sua própria condição de existência. Para alcançar esse fim, a sociedade se organiza como um corpo em que cada um exerce uma função através do trabalho. O trabalho, por sua vez, identifica-se como a atividade pela qual o homem se relaciona com a natureza. Ele é o ato pelo qual se produz um bem, tangível ou não, que pode ser objeto de troca. É evidente a dificuldade de se estabelecer uma fronteira conceitual entre o que vem a ser o trabalho e o que é apenas um ato humano, uma vez que toda ação provoca uma reação a qual pode ser considerada como o produto ou bem.
As relações de trabalho são as formas pelas quais as pessoas se
organizam para produzir. Ao longo da história da sociedade, os indivíduos transitaram por diversas formas de produção, ou seja, diversas configuração de relações de trabalhos, cada qual se dava sob condições específicas determinadas por fatores históricos, políticos e geográficos.
Da antiguidade à idade moderna, o trabalho caracterizava-se
como uma atividade agrícola e os trabalhadores concentravam-se majoritariamente nas propriedades rurais. O camponês trabalhava a terra para obter dela sua subsistência e a do proprietário. Depois da Revolução industrial, no século XVIII, com o incremento das técnicas de produção, surgiram outras relações laborais. Os trabalhadores rurais deslocavam-se para áreas urbanas a procura de melhores condições de trabalho, o que não se consumou com a chegada dos contingentes populacionais. Esse movimento populacional, chamado êxodo rural, repete-se ao longo da historia demográfica das sociedades.
A esse processo econômico seguiu-se mudanças políticas importantes.
O sistema de poder anteriormente nas mãos dos senhores feudais, os danos de terra, foi sendo gradualmente transferido para as mãos das classes burguesas industriais. As cidades onde se concentrava uma grande massa operaria que vivia em condições precárias ressurgiram, então, como centros fabris no curso da idade moderna. A essa época, praticamentente, todos os direitos sociais não eram reconhecidos e, por conseguinte, não havia por parte do poder estado regulamentação das relações de trabalho, as quais se davam em jornadas extremamente longas (de 16 à 18 horas por dia) e sob péssimas condições higiênicas. Devido a essas e outras péssimas condições de trabalho, os operários fabris revoltaram-se contra as classes detentoras das maquinas e capitais, em uma série de movimentos sociais, a fim de obter melhores condições de trabalho. E com isso, depois de muitas lutas e conquistas, foram sendo paulatinamente reconhecidos e incorporados às legislações dos estados alguns dos direitos sociais referentes ao trabalho.
No século XXI, a maioria dos estados nacionais democráticos detém
garantidos em suas legislações os direitos sociais conquistados ao longo da história das lutas trabalhista, com sutis diferenças variáveis de estado para estado. No entanto, observa-se que estes direitos sociais, prescritos nas legislações, sobretudo os que se referem às relações de trabalho, vêm sofrendo mudanças. Segundo o sociólogo Ulrich Beck, “estamos convivendo com dois modelos de pleno emprego; um é o Estado de bem-estar-social, modelo que previa, além do pleno emprego, seguridade social, plano carreira para a classe média e estabilidade no emprego. O outro modelo é o que chamamos de emprego fácil e flexível, que implica carga horária variável, atividades de meio turno e contratos temporários, nos quais as pessoas desempenham vários tipos ao mesmo tempo.” (GALISE, FILHO apud CARDOSO, 2016, p.20). Este segundo modelo é comum nos países de economias dos recém-industrializados, dos chamados países subdesenvolvidos.
Nestes países, processam-se dinâmicas de flexibilização das relações
de trabalho, assunto que há pouco tempo vem ganhando relevância nos debates sobre política econômica. As questões em pauta nas discursões referem-se às reformas de ordem jurídica. De um lado estão aqueles que defendem mudanças nos direitos sociais garantidos; do outro lado, estão aqueles que refutam as teses reformadoras. No Brasil, vê-se que as reformas constituem um retrocesso para os direitos sociais, sobretudo as que se referem às condições dignas de trabalho. É patente que as mudanças feitas a CLT (Consolidação das leis do trabalho) ,sancionadas em julho do ano de 2017, preconizaram as relações do trabalho e contribuem para desigualdade social. Entre supracitadas mudanças, a mais evidente, em termos de precarização das relações de trabalho, é a mudança que estabelece que acordos entre patrões e empregados tenham força de lei, o que possibilita ao contratante estabelecer condições de contrato em posição de poder de embargo superior ao contratado, dando legitimação à consecução de acordos desvantajosos ao trabalhador.
Somado à isso, não há nenhuma prova de que a reforma atenderá a
principal motivação do governo, a saber: a geração de empregos. O governo não apresentou provas que demonstrem que flexibilizar o trabalho reduz a taxa de desemprego. Como já afirmado, a medida leva apenas a precarização do emprego, que contribui infelizmente para o retrocesso dos direitos sociais, como aconteceu há pouco tempo na Espanha. Esta aprovou uma série de reformas cujos defensores, à época, prometiam aumento no numero de empregos e, por conseguinte, a saída da crise que o país vem tentando combater.
Entretanto, após as reformas, o quadro de crise econômica não mudou.
Embora a atividade econômica tenha aumentado o que pode ser comprovado com significativo alta do PIB, houve apenas o aumento dos lucros embolsados pelos empresários, em detrimento do salário dos trabalhadores. Dentre estes, segundo dados do Gestha, órgão governamental espanhol, 34,4% ganha menos de um salário mínimo. Enquanto isso, o número de diretores de corporações ganhando salários acima de 300 mil euros ao ano subiu para 136.502 pessoas. Essas 136.502 pessoas ganham mais que os 5,7 milhões de trabalhadores com salários mais baixos juntos. A reforma trabalhista, que fez a Inglaterra ver miséria e salários baixos pela primeira vez em sua história nos tempos de Thatcher, agora faz a Espanha ver a desigualdade social disparar. Portanto, não há como defender as reformulações à CLT, instrumento de força e proteção aos trabalhadores, que está longe de ser uma ferramenta atrasada, sob a justificativa de que as mudanças não são um retrocesso para os direitos sociais dos trabalhadores.