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As Ordenações

Afonsinas
Três Séculos de Direito Medieval
[1211-1512]
José Domingues

As Ordenações
Afonsinas
Três Séculos de Direito Medieval
[1211-1512]

Tese de Doutoramento
Universidade de Santiago de Compostela, 2007
Orientador Científico: Prof. Doutor Pedro Ortego Gil
Esta obra não pode ser reproduzida ou transmitida por
qualquer processo à excepção de excertos para divulgação.
Reservados todos os direitos, de acordo com a legislação em vigor.

Título: As Ordenações Afonsinas


Autor: José Domingues (josedomingues@zefiro.pt)
Concepção Gráfica: Sofia Vaz Ribeiro
Editor: Alexandre Gabriel
Impressão: Rolo & Filhos II, S.A.
1ª Edição: Novembro de 2008
ISBN: 978-972-8958-66-4
Depósito Legal:

© 2008, José Domingues & Zéfiro

Zéfiro — Edições e Actividades Culturais, Unipessoal Lda.


Apartado 21 — 2711-953 Sintra — Portugal — Tel.: (+351) 914848900
www.zefiro.pt — zefiro@zefiro.pt
Índice

Introdução................................................................................................................................11

I – Parte
O Movimento Compilatório

Capítulo I
Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

1. As “Ordenações Afonsinas” e as suas Múltiplas Denominações.................................15


2. Anais Bibliográficos da “Mais Antiga Compilação” de Leis do Reino de Portugal...26
3. Resenha Cronológica de Legislação Medieval Portuguesa...........................................38
4. Communis Opinio Actual.....................................................................................................55

Capítulo II
Compilação e Compiladores

1. As Condições da Época......................................................................................................57
2. Colectâneas Anteriores.......................................................................................................64
O Livro das Leis e Posturas........................................................................................67
As Ordenações de D. Duarte......................................................................................78
Os Livros de Ordenações............................................................................................81
3. Os Estilos Redactoriais nas Afonsinas...............................................................................93
4. Os Compiladores.................................................................................................................102
5. O Regimento da Guerra......................................................................................................118

Capítulo III
Conclusão e Divulgação

1. Conclusão e Revisão...........................................................................................................126
2 Difusão das Leis....................................................................................................................129
Publicação na Corte.....................................................................................................131
Publicação pelo Reino..................................................................................................140
Vacatio Legis.................................................................................................................162
3. Sanção ou Promulgação das Afonsinas............................................................................163
4. Divulgação e Vigência das Ordenações..............................................................................168
5. O Abreviamento de D. João II...........................................................................................186

II – Parte
A “Reforma” de Rui Fernandes

1. Sistematização Externa.......................................................................................................198
A Divisão em Cinco Livros.........................................................................................198
As Fontes Jurídicas Relevantes...................................................................................200
Critérios Estruturantes................................................................................................226
2. Sistematização Interna........................................................................................................242
Livro I.............................................................................................................................243
Livro II...........................................................................................................................312
Livro III..........................................................................................................................351
Livro IV..........................................................................................................................392
Livro V...........................................................................................................................421

Conclusão.................................................................................................................................445
Bibliografia...............................................................................................................................451

Anexos

1. Sinopse Cronológica de Legislação Medieval (1211-1512)............................................469


2. Os Capítulos de Cortes nas Afonsinas (1331-1433).........................................................597
à Martine
Índice de Abreviaturas

a. – antes.
art.º – artigo.
Braga, AD – Arquivo Distrital de Braga.
c. – Cerca.
circa – Cerca.
Cap. – capítulo.
Cfr. – Conferir.
Cód. – códice.
Coimbra, AGU – Arquivo Geral da Universidade de Coimbra.
Coimbra, BGU –Biblioteca Geral de Coimbra.
cx. – caixa.
doc. – documento.
Elvas, AM – Arquivo Municipal de Elvas.
Fac-sim. – facsímile.
fl. – fólio.
i.e. – id est (isto é).
IAN/TT – Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo.
Lisboa, BN – Biblioteca Nacional de Lisboa.
LLP – Livro das Leis e Posturas. A edição utilizada é a da Universidade de Lisboa Faculdade de Direito,
Lisboa, 1971, com prefácio de Nuno Espinosa Gomes da Silva e leitura paleográfica e transcrição de
Maria Teresa Campos Rodrigues.
Lousã, AM – Arquivo Municipal da Lousã.
mç. – maço.
ms. – manuscrito.
OA – Ordenações Afonsinas. A edição utilizada, salvo indicação em contrário para algum dos manus-
critos, é a da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1984.
ODD – Ordenações Del-Rei Dom Duarte. A edição utilizada é a preparada por Martim de Albuquerque
e Eduardo Borges Nunes, para a Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1988.
p. – página.
pp. - páginas
Ponte de Lima, AM – Arquivo Municipal de Ponte de Lima.
Porto, AD – Arquivo Distrital do Porto.
Porto, AHM – Arquivo Histórico Municipal do Porto (Casa do Infante).
Porto, BPM – Biblioteca Pública Municipal do Porto.
s.d. – sem data.
s.l. – Sem Lugar.
Séc. – século.
v.g. – verbi gratia (por exemplo)
vide – veja-se.
vol. – volume.
Introdução

A compilação de leis, hodiernamente conhecida e designada por Ordenações Afonsi-


nas, para além do fascínio que provoca a qualquer investigador ou simples curioso
que se interesse pelo quotidiano desse período longínquo e obscuro da Idade Média,
sintetiza um longo excurso pela legislação medieva portuguesa: desde as leis promul-
gadas por D. Afonso II nas Cortes de Coimbra de 1211, até ao início da impressão das
Ordenações Manuelinas, em 1512. São trezentos anos bem contados, e foi este entendi-
mento que deu aval ao título: As Ordenações Afonsinas – Três Séculos de Direito Mediévico
[1211-1512]. Claro que se trata de um título demasiado ambicioso, mesmo para uma
dissertação académica, ficando por abordar uma infinidade de questões e problemas
atinentes. Mas qualquer título corre o risco de ser demasiado dilatado ou, ao invés,
demasiado redutor.
O repto de devassar os meandros viscerais da mais vetusta colectânea de orde-
nações portuguesa, terminada em 1446, na menoridade de D. Afonso V, foi-me incul-
cado pelo Professor Doutor Pedro Ortego Gil, logo na primeira vez que nos encontra-
mos, no seu gabinete na Universidade de Santiago de Compostela. Esse Homem, que
eu conhecia há dez minutos, perguntava-me se queria sondar as Ordenações Afonsinas
para tese de Doutoramento. Aceitei o desafio – mesmo sem saber por onde iniciar – e,
nesse ápice, ficou sancionado o tema e eu tinha encontrado o orientador científico que
procurava. Foi, sobretudo, o início de uma amizade autêntica e a esse grande Ami-
go, pelo cordial acolhimento e constante atendimento que me dispensou ao longo de
todos estes anos e, sobretudo, pela confiança e incentivo que sempre me dispensou,
consigno os mais elevados e reconhecidos votos de respeito e sincera gratidão.
Paulatinamente, íamos traçando um esboço do caminho a percorrer: tratava-se
de (com o rigor que o engenho, a arte e os meios disponíveis nos permitissem) palmi-
lhar o trilho já andado, há mais de seiscentos anos, pelos compiladores das Ordenações
Afonsinas. Por isso, o primeiro passo seria averiguar o processo de formação desde a
sua génese até à conclusão. Será que, como se tem dito, as Afonsinas foram iniciadas no
reinado de D. João I e apenas terminadas no de D. Afonso V? Se assim for, parece que
a designação Ordenações Afonsinas é mais uma iniquidade legada pela História. Por
outro lado, sabemos de sobejo a data de conclusão – 28 de Julho de 1446 – mas muito
pouco, ou mesmo nada, se sabe ao certo da data de início dos trabalhos.
O passo seguinte seria o de tentar conhecer quem foram os compiladores e, na
medida do possível, qual o trabalho desenvolvido por cada um. Isto leva-nos à eterna
questão da diferença de estilo de redacção entre o livro I e os restantes quatro. Mas será
que esta diferenciação de estilo redactorial tem a ver com punho compilador? Se assim
for, qual o compilador que elaborou o livro I e qual o que elaborou os restantes livros
II, III, IV e V? Será que a explicação se prende, antes, com a matéria ex novo tratada no
livro I? Ou existirá outra plausível explicação para este arcano?

11
As Ordenações Afonsinas Introdução

Concluída a colectânea, há quem defenda, persistentemente, a sua minguada


divulgação e escassa vigência. Mas, ao contrário, também há quem advogue uma
vigência efectiva e uma assaz difusão por todo o reino. Ambas as facções recrutam
autores de vulto para a sua causa. Por isso, o que pensar deste dilema? Qual a decisão
mais acertada? Uma análise crítica ao manancial de sedimentos documentais coligido
pode incutir uma resposta minimamente satisfatória.
Finalmente, importa averiguar o tratamento que os compiladores deram às fontes
que usaram. Dessa forma, poderemos ter uma vaga ideia do seu trabalho e da evolu-
ção desde o tempo das leis compiladas (algumas com séculos de existência) até ao coe-
vo da compilação. Para isso, compulsaram-se e cotejaram-se, com os parágrafos das
Ordenações Afonsinas, as cópias de alguns diplomas legislativos, arquivadas a esmo em
documentos avulsos, registadas nos livros da Chancelaria ou reunidas noutras colec-
tâneas de leis antecedentes (nomeadamente, o Livro de Leis e Posturas Antigas e as Orde-
nações de D. Duarte) tentando, sempre que possível, chegar aos originais, ou muito
próximo, que teriam servido de plataforma da ingente tarefa compiladora dos núncios
régios. Dessa forma podem sobressair as alterações introduzidas pelos compiladores.
A jornada, para além de árdua, apresenta-se impraticável em certas conjunturas,
pois a matéria prima documental à nossa disposição, que conseguiu resistir à sanha
devastadora do tempo e à incúria do homem, não se pode equiparar à de seis sécu-
los atrás. Assim, este cometimento, talvez demasiado ambicioso e sem dúvida muito
incompleto, trata de abarcar a maioria (já que o todo é impossível) do direito medieval
geral que vigorou no interior do espaço territorial do reino de Portugal, desde a sua
fundação até à compilação das Afonsinas e posterior edição das Manuelinas, dando-nos
uma singela ideia do Direito neste espaço temporal de três séculos.

12
I – Parte
O Movimento Compilatório
Capítulo I

Os Antecedentes Históricos e Bibliográficos


Estado Actual da Questão

“Sobre todallas obras, e condiçõees do Rey a principal virtude,


e louvor he someter a sua Real Magestade, e o seu Regno aa Ley
Santa, e Natural, que he fundada sobre pura verdade, segundo a
insinamça dos Sabedores; e aquelle, que esto fezer, e o Povo do
seu Regno reger segundo a Ley de Deos, nom per fingida apa-
rença, mas per ividencia do Feito verdadeiro, esse regnará com
honra, e durará seu Senhorio perlonguadamente”
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 64, § 1]

1. As “Ordenações Afonsinas” e as suas Múltiplas Denominações


Talvez não seja tão escusado, como à partida possa parecer em trabalho desta índole,
apurar as variadas formas de identificação que esta colectânea medieva de legislação
assumiu na árdua travessia de mais de meio milénio, resistindo à voracidade das traças,
à desídia do Homem, a uma sorte de calamidades e à depredação secular. São vários
os motivos que me impelem a começar este trabalho pela multíplice designação desta
colecção. Antes de mais, por um lado, servirá como tentativa inaugural de desbravar
o caminho para um melhor entendimento de todo o processo de recompilação, que
tratarei no segundo capítulo deste trabalho; por outro lado, uma vez que a designação
hodierna – Ordenações Afonsinas – está na eminência de se converter numa intrincada
controvérsia, havendo quem já defenda tratar-se de mais “uma daquelas ‘injustiças’
em que a história é mestra”[1], pode servir de proposição elucidativa para essa e outras
contendas correlativas.
A primitiva e mais recuada designação, com certeza a primordial, para a identi-
ficação de qualquer um dos cinco livros desta compilação é a de “Livro ‘x’ da Refor-
mação das Ordenações”. Esta é a designação mais usual, mas, evidentemente, podem
surgir outras com singelas cambiantes, por defeito (por exemplo, retirando a palavra
“reformação”) ou acréscimo (nomeadamente, “que anda(m) na nossa Chancelaria” ou
“na Casa do Cível”), peculiares da linguagem documental medieva.

1
Luís Miguel DUARTE, Justiça e Criminalidade no Portugal Medievo (1459-1481), Fundação Calouste Gul-
benkian Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Coimbra, [1999], p. 93: Os cinco livros “da reformação das
nossas ordenações” chegaram até hoje com essa designação por mais uma daquelas ‘injustiças’ em que a história é
mestra – como as muralhas fernandinas do Porto, ordenadas e iniciadas com Afonso IV, continuadas com D. Pedro e
concluídas (apenas isso) no reinado do “Formoso”.

15
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

Nuno Espinosa Gomes da Silva, ao deparar com a expressividade desta singu-


lar asserção, na certidão de 27 de Agosto de 1447, alvitrou mais um argumento para
a tradicional distinção que tem, literalmente, torturado o discernimento de todos os
investigadores afectos ao estudo desta colectânea de leis: a diferença de estilo redac-
torial entre o livro primeiro e os restantes quatro. Segundo este autor, nessa certidão,
dirigida ao alcaide-mor de Santarém, Rui Borges de Sousa, falar-se-ia do primeiro Livro
das Ordenações e do terceiro da Reformação das Ordenações. Essa diferenciação interpretou
o autor da seguinte forma:

“Relembre-se, até, o dizer da atrás referida certidão de 27 de Agosto de 1447, onde


se fala «do primeiro Livro das Ordenaçoens e do 3.º das Reformaçõens das Ordenaçoens».
O livro 1.º, porque é novo, seria um Livro de Ordenações; o livro 3.º, porque trata
de «matéria objecto de anteriores ordenações», seria um Livro de «Reformaçoens das
Ordenaçoens». Posteriormente, porém, deixará de fazer-se esta distinção”[1]

Esta dedução acaba por ser impugnada por Luís Miguel Duarte, que lhe contra-
põe o argumento documental do códice da Biblioteca da Ajuda, segundo o qual, em
1455, também se chamava ao livro I Livro da Reformação das Ordenações:

“O raciocínio é sedutor, mas não é isento de problemas com as fontes; no códice


cartáceo da Biblioteca da Ajuda, descrito por Borges Nunes (Os Manuscritos das
Ordenações Afonsinas…, p. 15) podemos ler o seguinte incipit: “Aquy se começa
o primeiro Liuro da rreformaçom ffeyto per El rrey dom affonso o vº de purtugall
E do algarue E Senhor de çepta que foy feyto E scripto na era de mjll iiijc Lta b
annos”. Em 1455 também se chamava ao Livro 1º “livro da reformaçom”.”[2]

Este fundamento, ao colocar também o livro I no âmbito da reformação das


ordenações, derruba a ideia antecedente de Espinosa Gomes da Silva. Mas, para além
deste, existem outros subsídios documentais onde o livro I das Ordenações Afonsinas
é referido como livro da reformação das ordenações: o primeiro, antecedente ao supra de
1455, consta das próprias Ordenações Afonsinas, quando, em outorgamento ao título da
legislação sobre os que encobrem malfeitores, remete para o título dos corregedores das
comarcas, que consta no “primeiro Livro da reformaçom das Hordenaçoões”[3] e nas Cortes
de Coimbra-Évora, de 1472/73, no capítulo 48º, o povo requer a el-rei que obrigue os
corregedores a estudarem e cumprirem o regimento que lhe é dado no “livro primeiro
das vossas reformações” e, no capítulo 52º, solicitam que se cumpra o “livro primeiro da
reformação de vossas ordenações”, relativa ao título das carceragens que se devem levar
nas cidades, vilas e lugares[4].
Para o livro III das Ordenações Afonsinas existem também outras referências
documentais idênticas, para além da supracitada, nomeadamente, no livro V das
Ordenações Afonsinas: em emenda a uma lei de D. Afonso IV, remete para o título 90,

1
Nuno Espinosa Gomes da SILVA, História do Direito Português. Fontes de Direito, [Lisboa], Fundação Ca-
louste Gulbenkian, [1985], p. 193, nota 3 (p. 274, nota 3, na 3.ª edição revista e actualizada, 2002).
2
DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 119-120, nota 369.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 100, § 6, p. 358. (A edição utilizada, salvo indicação em contrário para
algum dos manuscritos, é a da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1984).
4
Henrique da Gama BARROS, História da Administração Pública em Portugal nos séculos XII a XV (2.ª edição,
dirigida e anotada por Torquato de Sousa SOARES), Lisboa, 1945, p. 136.

16
José Domingues

“que he no terceiro Livro desta nossa reformaçom”[1]; sobre as apelações de feitos crimes de
todo o reino, que deviam ir aos ouvidores da corte, remete novamente para o título 90,
“que he no terceiro Livro desta nossa reformaçom”[2]; e no título 108, para que não prendam
por dívida, remete-se para o título 121, “que he no terceiro Livro das reformaçõoes”[3].
Em dois documentos avulsos, o primeiro de 20 de Agosto de 1486[4] e o segundo
de 27 de Novembro de 1501[5], diz-se, expressamente, que os privilégios dos
desembargadores, concedidos por alvará de 12 de Novembro de 1450, estão no fim
do “liuro terçeiro da Reformaçom das nossas hordenaçõees que anda em nossa Chancelaria”.
Curiosamente, em nenhum dos exemplares do livro III das Ordenações Afonsinas, que
chegaram aos nossos dias, consta o dito alvará[6].
Além do mais, os livros I e III não são os únicos a merecerem o epíteto de livros da
reformação das ordenações, uma vez que também são bastante assíduas referências aná-
logas para os outros livros das Ordenações Afonsinas.
Para o livro II encontram-se, no livro V das Ordenações Afonsinas, pelo menos,
três remissões confirmativas: a primeira remete para uma lei de D. João I, transcrita
no título 17 do “segundo Livro da reformaçom das Hordenaçõoes”[7]; outra remete para o
título 24, dos Direitos Reais, “que he no segundo Livro da nossa reformaçom”[8]; finalmente,
na extravagante de 1448, faz-se uma remissão expressa para o título 8, “Dos que se
coutam aa Igreja, em que casos gouvirom da imunidade della, e em quaaes nom; que
he no segundo livro da dita reformaçom”[9].
Em diploma de 1 de Dezembro de 1453, outorgado no Sardoal, D. Afonso V, a
pedido do arcebispo de Braga, D. Fernando da Guerra, mandou passar traslado de uma
ordenação de D. Dinis, sobre a inquirição das honras e coutos que os fidalgos faziam
indevidamente, que constava no “segundo liuro da Reformaçam das nossas hordenaçooes
que andam em a nossa Chancelaria”[10]. Esta ordenação consta, efectivamente, no título 65
do livro II das Ordenações Afonsinas[11]. Noutro diploma régio, de 7 de Agosto de 1476,
o mesmo monarca outorga carta de privilégio a um judeu que se tornou cristão, na
forma do “segundo livro da reformaçom das minhas ordenações”[12].
No livro V das Ordenações Afonsinas, encontra-se uma ressalva à pena imposta
aos forçadores, por lei de D. Dinis, no título 65, “que he no Quarto Livro da nossa
reformaçom”[13]. Por carta régia, de 3 de Julho de 1459, D. Afonso V manda que seja
cumprida a lei de D. João I, de 12 de Maio de 1393, contra os que se valiam de cartas

1
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 59, § 18, p. 236.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 98, § 2, p. 353.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 108, § 4, p. 369.
4
IAN/TT – Gaveta 14, maço 8, n.º23.
5
IAN/TT – Corpo Cronológico, Parte 1, maço 3, n.º74.
6
João Pedro RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”. in António CRUZ,
Breve Estudo dos Manuscritos de João Pedro Ribeiro, com Apêndices de estudos sôbre as Ordenações Afonsinas e
de documentos do cartório do Mosteiro de Santo Tirso de Riba d’Ave, Coimbra, 1938, p. 129. Que, ao segundo
documento, atribui a data errada de 1521.
7
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 45, § 14, p. 163.
8
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 79, § 2, p. 295.
9
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 118, § 10, p. 390.
10
Braga, AD – Colecção Cronológica n.º 1260.
11
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 65, pp. 407-420.
12
IAN/TT – Chancelaria de D. Afonso V, Livro 6, fl. 122.
Publ. DUARTE, Justiça e Criminalidade, doc. 78, p. 627.
13
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 27, § 15, p. 107.

17
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

ardilosamente assinadas e autenticadas sem passar pelas câmaras dos concelhos,


com a imposição de que em todos os concelhos os escrivães copiem num livro de
pergaminho todas as escrituras pertencentes aos concelhos – o traslado, dessa lei, para
o concelho de Ponte de Lima, foi tirado do “quarto lyuro da rreformacom das hordenaçons
que hamda em a nosa chamcilaria”[1].
No que concerne ao livro V das Ordenações Afonsinas, uma passagem do livro II
refere-o como o “quinto Livro da Nossa Compillaçom”[2] e o índice dos títulos, no manuscrito
da Câmara de Santarém, aparece como “Tauoa dos titollos do quinto liuro da reformaçom
noua das ordenaçõoes”[3]. Não duvido que fosse esta a identificação costumada dos cinco
livros, pelo menos até ao aparecimento das Ordenações Manuelinas. Assim o certifica
a anotação feita, em 21 de Junho de 1508, quando, por determinação de Domingos
Dias, escrivão da Câmara de Santarém, se procedeu à encadernação dos livros das
ordenações, à custa do concelho, por andarem de todo desmanchados:

“Estes cimqo liuros das reformaçõees primeiro 2º 3 4 V som da Camara desta muy
nobre e sempre leall villa de Samtarem e os mandou emcadernar por andarem de
todo desmanchados Domingos Dyaz estpriuam da camara a xxj dias de Junho de
mill bc e biij anos aa custa do Concelho”[4]

Fica assim definitivamente assente que, não faz qualquer sentido, utilizar a
distinção entre livro I das ordenações e livro III da reforma das ordenações, para alicerçar
a diferença de estilo do livro I das Ordenações Afonsinas em relação aos restantes.
Até porque, no Livro das Posturas Antigas da Câmara de Lisboa também se refere
um “capitulo da hordenaçom que he no terçeiro liuro das ordeações(sic) no tytollo dos
que podem trazer seus contentores aa corte per rrezam de seus depriujlegeos o quall
capitulo he este que se ssegue”[5] – transcrevem-se os parágrafos 5 e 6, do título 4, do
livro III das Ordenações Afonsinas.
Mas, o que é surpreendente, todo este discurso não tem qualquer razão de ser,
uma vez que a conjectura de Espinosa peca logo na génese, isto é, no documento por ele
invocado, imediatamente no primeiro fólio, onde se começa a transcrição do regimento
dos alcaides-mores dos castelos, se refere expressamente o “primeiro liuro da reformaçõ
das hordenaçooees que andam em a nosa chamcelaria” e ao terminar diz que mandou dar
o traslado em pública forma, “aasy e pella guysa que em os dittos liuros da reformaçom
he escripto e contheudo”[6]. Sobre o livro III, diz que “no terceyro liuro da reformaçom das
hordenaçooees que anda em a nossa chamcelaria he contheuda huã hordenaçom da quall
o teor he este que se segue…”[7]. Esta certidão régia transcreve quatro títulos do livro
I das Ordenações Afonsinas (título 62, de fls. 1-6v / título 30, de fls. 7-11v / título 28, de
fls. 11v-15v / título 31, de fls. 15v-19) e um do livro III (título 53, de fls. 24-25), mas
transcreve também o título 63 do livro II (de fls. 19-23v), sem no entanto fazer qualquer
referência expressa a este livro[8].

1
Ponte de Lima, AM – Pergaminho n.º 28.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 54.
3
IAN/TT – Núcleo Antigo, n.º14.
4
IAN/TT – Núcleo Antigo n.º14, Livro V das Ordenações Afonsinas, da Câmara de Santarém, fl. 131v.
5
Livro das Posturas Antigas. Leitura paleográfica e transcrição de Maria Teresa Campos Rodrigues. Câmara
Municipal de Lisboa, Lisboa, 1974, pp. 132-133.
6
IAN/TT – Maço I de Leis, n.º 172, fls. 1 e 22, respectivamente.
7
IAN/TT – Maço I de Leis, n.º 172, fl. 24.
8
IAN/TT – Maço I de Leis, n.º172. José Anastácio de Figueiredo, que também compulsou esta certidão,

18
José Domingues

A única conclusão que me é possível é a de que nenhum dos dois autores acima
identificados tenha consultado o documento no original, ressalve-se, no entanto, que
na capa do documento, em letra de época diferente, se refere o “Liuro primeiro das
ordenações del Rei D. Afonso”. De qualquer forma, penso que todo o equívoco terá sido,
inadvertidamente, provocado por João Pedro Ribeiro – que serviu de apoio a Espinosa
Gomes da Silva[1] – quando na sua memória sobre as Ordenações Afonsinas divulgou:

“No Real Archivo / Maço 1.º de Leys N. 172 / se acha huma Certidão passada em
nome do Senhor D. Affonso 5.º a 27 de Agosto do anno de 1447 a Ruy Borges de
Souza Alcaide Môr de Santarem de alguns regimentos extraida do primeiro Livro das
Ordenaçoens e do 3.º das reformaçoens das Ordenaçoens que anda na nossa Chancellaria:
cujo theor confere com o das Ordenaçoens do Senhor D. Affonso 5.º nos Titulos ahi
citados dos Alcaides mores, do pequeno, Almotacee, das armas &ª.”[2]

Assim, tomando o fio à meada, numa primeira fase, desde a elaboração da


colectânea e da sua anunciada data de conclusão – 28 de Julho de 1446, na vila de
Arruda, actual Arruda dos Vinhos[3] – até ao surgimento das Ordenações Manuelinas, os
cinco livros das Ordenações Afonsinas eram vulgarmente identificados como livros da
reformação das ordenações.
No ano de 1512/13, remate de uma árdua tarefa, surge a primeira edição impres-
sa das Ordenações do Venturoso. É natural que, a partir desse momento, as Ordenações
Afonsinas passem a ser identificadas de uma maneira distinta. Infelizmente, entre esta
e a edição definitiva de 1521, não abundam as referências documentais. De qualquer
forma, uma referência exacta à colectânea afonsina é a do cronista-mor, Damião de
Góis, que a identifica com as Leis e Ordenações Antigas do Reino:

“El-rei D. Emanuel foi naturalmente amador de honra e desejoso de deixar de sim


memoria e boas leis e foros a seus sugeitos e vassalos, do que movido começou
neste anno de mil e quinhentos e cinco hum negocio de muito trabalho que foi
mandar reformar as Leis e ordenações antigas do regno e acrescentar nellas algumas
cousas que lhe pareceram necessarias…” [4]

Elaborado e editado o novo compêndio legislativo, parece evidente que o


antecedente passe a ser considerado o antigo. Num assento da Relação, de 6 de Maio de
1512, refere-se expressamente a Ordenação antiga, a qual só pode ser a das Ordenações
Afonsinas, no seu livro 5, título 7, § 5. Pelo menos, assim o entenderam José Anastácio

refere que os regimentos e títulos (que identifica) foram “extraídos dos livros 1, 2 e 3 da Reformação das Orde-
nações”, que andavam na Chancelaria, no entanto, o livro 2, no documento, não é expressamente referido
como tal. [Cfr. José Anastácio de FIGUEIREDO, Synopsis Chronologica de subsídios ainda os mais raros para a
historia e estudo critico da legislação portugueza, Mandada publicar pela Academia das Sciencias de Lisboa,
Tomo I, Lisboa, na Officina da mesma Academia, 1790, p. 43].
Vide também, João José Alves DIAS, Introdução às Ordenações Manuelinas. Reprodução fac-símile da edi-
ção de Valentim Fernandes (Lisboa, 1512-1513). Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de
Lisboa, Lisboa, 2002, p. IX, que a propósito da ordenação do livro II refere: “encontra-se transcrita outra
ordenação, como se, aparentemente, pertencesse ao “primeiro livro”, mas que correspondia, no actual sistema, ao tít.
º 63 do livro segundo”.
1
SILVA, História do Direito, p. 191, nota 2.
2
RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”, op. cit., pp. 122-123. Note-se a se-
melhança da escrita deste autor e dos referidos.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 119, § 31, p. 404.
4
Damião de GÓIS, Chronica do Serenissimo Senhor Rei D. Manoel, Lisboa, 1749, 1ª parte, capítulo 94, p. 127.

19
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

de Figueiredo[1] e o prefaciador das Ordenações Manuelinas, Francisco Xavier de Oliveira


Matos[2], na edição do ano de 1797, levada a efeito em Coimbra, pela Real Imprensa
da Universidade[3]. Esta referência é perfeitamente compatível com o término da
impressão do livro V – o primeiro a ser impresso – em 30 de Março de 1512[4]. Mas não
deixa de ser curioso que, mesmo antes da impressão dos restantes quatro livros[5], já se
refira a ordenação antiga, pressupondo a existência de uma nova (em vigor?).
Se existe arcano que tem, expressamente, atarefado todos os investigadores da
imprensa quinhentista e, sobretudo, da impressão das ordenações do reino, é o das
várias impressões das Ordenações Manuelinas.
Durante muito tempo, embora não havendo total consenso entre os autores, uma
grande maioria inclinava-se para a não existência de qualquer edição anterior ao ano
de 1514, considerando, por isso, esta a primeira impressão das ordenações do reino[6].
No entanto, o aparecimento de um livro I, datado de 1512, e um livro II, datado de
1513, veio alterar completamente a forma de entendimento da questão, mas não a
resolveu definitivamente. Após esta descoberta, a discussão passou a girar em torno
de uma edição completa ou parcial e igual ou diferente, da de 1514. Tito de Noronha,
primacial interessado oitocentista no tema – e um dos que se retrataram do engano
cometido de refutar qualquer impressão antecedente a 1514 – acabou por aventar a
tese de se tratar de uma impressão parcial, completada pela de 1514. Segundo este
autor Valentim Fernandes terminou a impressão do livro I em 17 de Dezembro de 1512
e a do livro II em 19 de Novembro de 1513, Bonhomini a do livro III em 11 de Março
de 1514, a do livro IV em 14 de Março de 1514 e a do livro V em 18 de Maio de 1514; e
só passados cinco meses é que este último reimprimiu o livro I, em 30 de Outubro de
1514, e o livro II, em 15 de Dezembro de 1514[7], concluindo:

“Temos pois como certo, salvo o apparecimento de exemplar que testefique o


contrario, que Valentim Fernandes apenas imprimio os dois primeiros livros das
Ordenações, tendo a edição sido completada por Bonhomini, o que aliás justifica
a sem-rasão d’este último ter impresso os livros 1º e 2º muito posteriormente aos
tres últimos.”[8]

Esta tese de que a edição de Valentim Fernandes ficara truncada generalizou-se e, ao


longo de quase um século, angariou diversos seguidores, até que Marcello Caetano, no
prefácio à edição do Regimento dos Oficiais, destaca a “terminante e repetida declaração
de que os três últimos livros eram de 1514 impressos pela segunda vez” e argumenta com
o regimento que D. Manuel deu a Simão da Silva, em 1512, “indício importante de que

1
FIGUEIREDO, Synopsis Chronologic, p. 171.
2
Diccionario Bibliographico Portuguez, estudos de Innocencio Francisco SILVA applicaveis a Portugal e ao
Brasil. Tomo III, Lisboa, na Imprensa Nacional, 1859, p. 93 (reedição).
3
Francisco Xavier de Oliveira MATOS, Prefação às Ordenaçoens do Senhor Rey D. Manuel, Coimbra, Real Im-
prensa da Universidade, 1797 (Fac-simile com o título Ordenações Manuelinas, Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian, 1984 – salvo indicação em contrário, será esta a edição citada à frente), Livro I, p. VIIII e nota c).
4
DIAS, Introdução às Ordenações Manuelinas, p. XIX.
5
A impressão do livro IV acabou-se a 19 de Junho de 1512, a do livro III a 30 de Agosto de 1512, a do livro
I a 17 de Dezembro de 1512 e a do livro II a 19 de Novembro de 1513. Cfr. DIAS, Introdução às Ordenações
Manuelinas, pp. XIX-XX e XXIX (nesta página, para o livro IV indica-se, por lapso, o dia 29).
6
Nomeadamente, João Pedro Ribeiro, no vol. IV, pp. 332-336, nota a), do seu Indice Chronologico.
7
Tito de NORONHA, “Ordenações do Reino – Edições do Século XVI”, in Archeologia Artística, publ. Por
Joaquim de Vasconcelos, ano 1.º, vol. I, fasc. II, Porto, 1873, pp. 22-23.
8
NORONHA, “Ordenações do Reino – Edições do Século XVI”, p. 24.

20
José Domingues

foram impressas totalmente as Ordenações nesse ano, visto como o regimento se refere às
penas criminais que constam do livro 5.º”[1].
Braga da Cruz envereda pela mesma cartilha e argumenta a existência dessa edição
completa, mas diferente da de 1514[2]. Imediatamente a seguir, Espinosa Gomes da Silva,
concordando com a existência de uma edição completa anterior à de 1514, aventa
tratar-se da “impressão de um mesmo texto, confiado a dois diferentes impressores”[3]. No
sentido de vincar o seu parecer, Martim de Albuquerque dá uma exegese complementar
desta conjuntura nos últimos 40 anos, desde 1955 até 1996[4], com o aparecimento dos
primeiros préstimos à questão de João José Alves Dias. As derradeiras devassas, deste
último autor, revelaram o aparecimento dos exemplares que Noronha reivindicou
para testemunhar o contrário, Caetano pressagiou e ficou à espera, mas talvez eternamente,
acrescentou Braga da Cruz. Nenhum deles a pode tactear, mas quem espera sempre
alcança, e eis que a colecção completa de Valentim Fernandes surge esconsa em
biblioteca italiana[5]. Para Alves Dias as impressões de 1512/13 e 1514 são duas edições
do “primeiro sistema” e a impressão de 1521 (acabada em 11 de Março) é a edição do
“segundo sistema” das Ordenações Manuelinas.
Após a publicação definitiva das Ordenações Manuelinas, em letra de imprensa,
são bastante minguadas as referências documentais e escassos os autores que dedicam
algum cuidado às Ordenações Afonsinas – o que não admira, pois perderam qualquer
relevância prático-jurídica. Começando pela própria colectânea manuelina, vislum-
bra-se, imediatamente, um propósito de demérito sobre a antecedente, evitando-se
qualquer referência expressa, a não ser a necessidade da sua reforma e actualização,
expressa no seu prólogo:

“Pelo qual vendo Nós, como nas Ordenações pelos Reys Nossos Antecessores,
e per Nós ategora feitas, a muitos casos nom era prouido, e em alguãs hauia
diuersos entendimentos; e assi per andarem espalhadas, donde aos Julguadores
recresciam muitas duuidas, e aas partes grande perda: E querendo nisso prouer,
Determinados com os do Nosso Conselho, e Letrados, reformar estas Ordenações,
e fazer noua Copilaçam, de maneira que assi dos Letrados, como dos outros se
possam bem entender”[6]

Repare-se que, mesmo assim, parece querer evitar-se qualquer referência expressa
à colecção anterior do reinado de Afonso V, referindo-se apenas, ambiguamente, as
ordenações dos reis antecessores e a nova compilação. No entanto, a influência das Afonsinas
sobre esta nova compilação é incontestável. Quanto à organização formal, manteve‑se

1
Marcello CAETANO, Regimento dos oficiais das cidades, vilas e lugares destes reinos, (publicação e prefácio da
primeira lei impressa em Portugal), 1955, p. 38 e nota 1.
2
Braga da CRUZ, “O direito subsidiário na história do direito português”, sep. da Revista Portuguesa de
História, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Tomo XIV, vol. III em homenagem ao Doutor
Paulo Merêa, Coimbra, 1975, p. 234, VIII, nota 59.
3
Nuno Espinosa Gomes da SILVA, “Algumas notas sobre a edição das Ordenações de 1512-1513”, in Scien-
tia Iuridica, tomo XXVI, n.os 148-149, Setembro-Dezembro, Braga, 1977, pp. 575-593.
SILVA, História do Direito, p. 208, nota 1. Com referência de bibliografia, para as diversas teses.
4
Martim de ALBUQUERQUE, “A Edição «Definitiva» da História do Direito Português de Marcello Cae-
tano”, in Estudos de Cultura Portuguesa, 3.º vol., Lisboa, 2002, pp. 223-236. (pela 1.º vez publicado em Revista
da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, vol. 41, n.º2, Coimbra, 2000).
5
Vide, por todos, a Introdução e extensa bibliografia apresentada por Alves DIAS às Ordenações Manuelinas,
Lisboa, 2002.
6
Ordenações Manuelinas, Liv. I, Prólogo.

21
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

a divisão em cinco livros, mantendo-se também o objecto em geral de cada um –


com o evidente afastamento dos títulos que, sobretudo no livro II, se referiam aos
judeus, expulsos em 1496, e das leis da fazenda real, que passaram a fazer parte das
Ordenações da Fazenda, de 1516[1]. Quanto à organização material, uma breve sondagem
às “Fontes Internas do Código Manuelino de 1521”, da autoria de Francisco Xavier de
Oliveira Matos, salienta uma indiscutível correspondência com muitos dos títulos das
Ordenações Afonsinas, mas com nova redacção e incorporando a respectiva legislação
extravagante[2]. Veja-se também a correspondência temática entre o livro I das Afonsinas
e o livro I das Manuelinas, em Carvalho Homem[3].
Sem desviar qualquer mérito à reforma manuelina, escudada nos abonados
préstimos da imprensa quinhentista, seria uma iniquidade não reconhecer o trabalho
inovador e subversivo dos compiladores afonsinos. Os reformadores manuelinos
retiram a legislação revogada, acrescentam a extravagante, adoptam integralmente
o estilo legislatório (salvo o título da lei mental – título 17 do livro II) e cuidam
particularmente da linguagem, desvinculando-se da rigidez de um sistema medieval
espartilhado por uma transcrição integral dos diplomas, das suas datas e dos nomes
dos seus autores e subscritores. Mas, na sua génese, a maioria dos diplomas coligidos
nas Ordenações Afonsinas, mantêm-se nas Ordenações Manuelinas[4]. Até mesmo quanto
ao prólogo, as Ordenações Manuelinas não se conseguiram libertar completamente das
suas antecessoras. A título de exemplo, confronte-se a passagem seguinte:

Ordenações Afonsinas:
“Todo o poderio, e conservaçom da Republica procede principalmente da raiz,
e virtude de duas cousas, a saber, Armas, e Leyx; e per vigor dellas ambas
juntamente o Imperio Romaano foi nos tempos passados antre todalas Naçoões
triunfante, e será com a graça de Deos ao diante sempre anteposto; e pero que
estas cousas ambas juntamente sejam em si muito virtuosas, e de grande valor,
seendo porem ambas apartadas huã da outra, nom podem autoalmente durar per
longo tempo, pola grande, e casi individua afeiçom, que antre ellas he; a qual per
necessidade de grande indigencia he tão conjunta antre ellas, que necessariamente
faz huma conseguir a outra, e esto se vee claramente per evidente esperiencia: ca o
estado Militar per bem da justiça he collocado em boom assessego, e a justiça per
defendimento das Armas he conservada em seu verdadeiro seer, e trazida a fim
de boa eixecuçom”[5]

Ordenações Manuelinas:
“E como quer que este Estado e Republica consista principalmente, e se sustenha
em duas cousas, em Armas, e em Leys, e huã haja mester a outra; porque assi
como as Leys com a força das Armas se mantem, assi a Arte Militar com a ajuda
das Leys he segura, e com estas duas cousas os Romanos grande parte do mundo
sujuguaram”[6]

1
SILVA, História do Direito, p. 209.
2
Ordenações Manuelinas, Liv. I, Fontes Internas do Código Manuelino de 1521, pp. XXXI-LXXVI..
3
Armando Luís de Carvalho HOMEM, “Ofício régio e serviço ao Rei em finais do século XV: Norma legal
e prática institucional”, Revista da Faculdade de Letras – História, série II, vol. 14, Porto, 1997, p. 137.
4
Já Alvares da Silva tinha notado que “Algumas vezes os Compiladores do Codigo Manuelino transcrevem
por formaes palavras a Legislação do Senhor D. Affonso V como he no L. 4 o T. 2 que he o § 5 do L. 4 dos
Artigos das Sizas do mesmo Senhor D. Affonso V”. [José Virissimo Alvares da SILVA, Introducção ao Novo
Codigo ou dissertação crítica sobre a principal causa da obscuridade do nosso codigo authentico, Lisboa, Na Regia
Officina Typografica, 1780, p. 12].
No mesmo sentido, SILVA, História do Direito, p. 209.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. I, pp. 3-4.
6
Ordenações Manuelinas, Liv. I, prólogo, p. II.

22
José Domingues

Flagrante é o caso da lei de D. Manuel, de 07 de Abril de 1506, “dos que fazem


moeda falsa ou a despendem ou cerceiam e do ourives que faz alguma falsidade em sua obra”,
transcrita nas Manuelinas[1], que é, no fundo, uma cópia latente do aclaramento do
compilador das Afonsinas à lei “dos que fazem moeda falsa”[2]. Dependendo do ponto de
vista, também se pode entender que “a remodelação foi efectivamente profunda”[3].
Este evidente desígnio de, por um lado, dissimular qualquer semelhança e, por
outro lado, sepultar no esquecimento a colecção anterior[4], permite, à falta de provas
concretas, pressagiar que o monarca tenha também providenciado a sua destruição[5], tal
como fez, por carta de 15 de Março de 1521, com as suas anteriores edições impressas:

“E assim que, dentro de três meses, qualquer pessoa que tiver as Ordenações da impressão
velha a rompa e desfaça de maneira que não se possa ler, sob pena de pagar qualquer pessoa
a quem forem achadas, passado o dito tempo e as tiver, 100 cruzados, a metade para quem os
acusar e a outra metade para os cativos, e mais ser degradado por dois anos para além”[6]

As sequelas deste propósito, aliadas a um total desinteresse pelos estudos de


História do Direito pátrio, levaram à escassez de autores e documentos que, até ao
final do século XVIII, se debruçassem sobre as Ordenações Afonsinas. De qualquer
forma, seguindo de perto as indispensáveis advertências de João Pedro Ribeiro[7] e
acrescentando-lhe outras, a conclusão sobre os autores que, posteriormente a 1521, se
referem às Ordenações Afonsinas, só pode ser a de que todos estão em perfeito consenso,
adjudicando esta obra ao rei Africano. Senão vejamos.
Ainda não consegui localizar a obra manuscrita de Francisco Coelho, composta
no século XVI, por ordem de D. João III, sobre as ordenações, mas, pelos excertos de
João Pedro Ribeiro, nela se alude várias vezes às Afonsinas[8]. Uma lei desse reinado
refere a compilação afonsina por “Ordenações antigas feitas pelos Reis meus antecessores”[9].

1
Ordenações Manuelinas, Liv. V, Tít. 6.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 5.
3
DIAS, Introdução às Ordenações Manuelinas, pp. XVI-XVII.
4
Repare-se, penso que não se deve interpretar este acometimento contra as colecções anteriores como um
mero plagiato mal intencionado, mas antes como indispensabilidade de definir com clareza o que estava em
vigor e o que ficava revogado, tão importante no âmbito do direito positivo e, sobretudo, numa época em
que a difusão do direito novo é bastante problemática.
5
Só um desbarato premeditado pode explicar que tenham sumido, do arquivo nacional, todos os originais
das Ordenações Afonsinas e o Abreviamento feito no tempo de D. João II.
6
DIAS, Introdução às Ordenações Manuelinas, p. XXXII.
NORONHA, “Ordenações do Reino – Edições do Século XVI”, op. cit., pp. 16-17.
CAETANO, História do Direito, p. 625.
7
RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”, p. 123: “Entre os poucos Escritores
Portuguezes que se lembrão deste Codigo acho os seguintes – Damião de Goes Chronica de D. Manuel P. 4
Cap. 86 – Ruy de Pina Chron. Do Senhor D. Duarte Cap. 7 – Reynozo Observaçoins na 61. N. 61 – Barboza
nas Remissoins ao Titulo 47 do Livro 5.º - Pereira de Manu Regia no Preambulo à Concord’ de D. Diniz – D.
Thomaz H. Ecl. Lus. T. 1 Proleg. Cap. 4.º; pag. 66 – Hist. Genealogica nas Provas T. 3.º pag. 361 e em outras
partes – Monarchia Lusitan. T. 8 L. 22 Cap. 30 e T. 6º L. 18 Cap. 4 folhas 11 – O Shor D. Jozê na L. de 12 de
Mayo de 1769 – Os Novos Estatutos da Universidade L. 2.º T. 3º Cap. 9 § 4 – Introducção ao Novo Codigo
pag. 8 nota e)”.
8
João Pedro RIBEIRO, “Memoria Sobre a Obra imcumbida pelo Senhor Rei D. João III ao Desembargador
Francisco Coelho, acerca das Ordenações do Reino”, Indice Chronologico Remissivo da Legislação Portugueza
posterior à publicação do Codigo Filippino, Parte IV, Academia Real das Sciencias de Lisboa, Lisboa, na Typo-
grafia da mesma Academia, 1807, pp. 325-347.
9
RIBEIRO, Indice Chronologico, vol. IV, p. 332.
NORONHA “Ordenações do Reino – Edições do Século XVI”, p. 4.

23
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

Uma das mais vetustas referências que, expressamente, adjudica a colectânea das
Ordenações ao rei D. Afonso V, parece ser a da Crónica de D. Manuel, da autoria de
Damião de Góis [1502-1574], que segue aspada:

“Mandou per homens doctos de seu conselho visitar, e rever os cinco liuros das
ordenações, que el Rei dom Afonso quinto, seu tio fez reformar, sendo regente o Infante
dom Pedro seu tio, por elle ser de menor idade, nas quaes mandou diminuir, e
acrescentar aquillo que pareceo necessario pera bom regimento do regno, e ordem
de justiça no que se trabalhou muito, e tanto tempo que foi a mor parte de todo o
que elle regnou.”[1]

No princípio do século XVII também se identifica claramente esta obra com D.


Afonso V. No Inventário da Livraria antiga da Sé de Braga, de 4 de Novembro de
1612, se refere “Hum livro de letra de mão antiga, das Ordenações del Rey Dom Afonso”[2].
Gabriel Pereira, na sua obra De manu regia, refere várias vezes o livro segundo del Rey
Dom Afonso V, a propósito das concordatas de D. Dinis, D. Pedro e D. João I[3]. Numa
certidão, datada de 10 de Setembro de 1639, onde Tomé Pinheiro da Veiga testemunha
o que sabia sobre o Livro das Leis de D. Afonso II, a propósito das concordatas de D.
Dinis, se refere o “liuro das ordenações 2º delRey D. Afonso 5º”[4]. E num inventário da
Casa da Coroa (Torre do Tombo), rente ao ano de 1656, arrolaram-se “Três livros das
ordenaçoes d’el Rey D. Affonso 5.º”[5].
Pelo menos dois dos derradeiros progenitores da Monarquia Lusitana compulsaram
os pesados volumes manuscritos das Ordenações Afonsinas. Frei Francisco Brandão,
em 1650, refere “As Ordenações que agora temos mandadas copiar primeiro por elRey
D. Afonso Quinto, & aperfeiçoadas pelos Reys subsequentes”[6]. Em 1672, o mesmo
autor – na parte sexta, livro 18, capítulo 4 – ao referir a legislação sobre judeus, refere
as “Ordenações d’el Rey Dom Afonso V”[7]. Frei Manuel dos Santos, na parte oitava,
publicada no ano de 1727, a partir do título 62 do livro II, das “Ordenações antiguas, que
publicou ElRey D. Affonso V”, transcreve a Ordenação de D. Fernando sobre a jurisdição
dos donatários, publicada em Atouguia, aos 13 de Setembro de 1375[8].
A reabilitação do estudo do direito pátrio, pelos Estatutos Pombalinos da
Universidade de Coimbra de 1772, impõe o estudo da “Compilação do Senhor Rei Dom
Affonso V organizada por ordem synthetica”[9], que, passada uma década, a Real Imprensa

1
Damião de GÓIS, Crónica de D. Manuel. 4ª parte, capítulo 86, p. 603.
2
Avelino Jesus da COSTA, A Biblioteca e o Tesouro da Sé de Braga nos séculos XV a XVIII, Braga, 1985, p. 100.
3
Gabriel Pereira de CASTRO, De manu regia tractatus prima [secunda] pars, Ulyssipone, apud Petrum Craes-
beeck, 1622-1625. (2.ª edição 1673), pp. 350,356,400.
4
Livro das Leis e Posturas, Lisboa, 1971, p. 4.
5
Fernanda RIBEIRO, “Como seria a estrutura primitiva do Arquivo da Casa da Coroa (Torre do Tombo)?”.
Os Reinos Ibéricos na Idade Média. Livro de Homenagem ao Professor Doutor Humberto Carlos Baquero
Moreno. Coordenação Luís Adão da Fonseca, Luís Carlos Amaral e Maria Fernanda Ferreira Santos. Facul-
dade de Letras da Universidade do Porto e Livraria Civilização, 2003, p. 1412.
6
Frei Francisco BRANDÃO, Monarquia Lusitana, Parte V, Lisboa, 1650, Liv. I, p. 170 (edição fac-similada,
Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1988).
7
BRANDÃO, Monarquia Lusitana, Parte VI, Lisboa, 1672, Liv. XVIII, Cap. IV, pp. 13,14 e 17.
8
Frei Manuel dos SANTOS, Monarquia Lusitana, Parte VIII. Lisboa, 1727, Liv. XXII, Cap. XXX, p. 212 (edição
fac-similada, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1988).
9
Estatutos da Universidade de Coimbra do Anno de MDCCLXXII. Lisboa, na Regia Officina typographica, 1773,
Livro II (que contém os cursos Juridicos das Faculdades de Canones e de Leis), Título 3, Cap. 9, § 4, pp.
160 e 161.

24
José Domingues

da Universidade de Coimbra, deu pela primeira vez à estampa com o título de


“Ordenaçoens do Senhor Rey D. Affonso V”[1]. O Demétrio Moderno refere “As compilações
de todas as Leis, que fizerão os Senhores Reys D. Duarte, e D. Affonso V”[2]. Melo Freire,
nas suas lições chama-lhe, sobretudo, “Código Afonsino”. José Anastácio de Figueiredo
refere-a como “Compilação, Ordenações ou Codigo Affonsino e Codigo ou ordenação do Senhor
Rei D. Affonso V”[3]. João Pedro Ribeiro [1758-1839] deixou manuscrita uma “Memoria
sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”, publicada por António Cruz[4]. Francisco
Sampaio, nas suas Prelecções de Direito Pátrio Público, aventa expressamente que “O
Primeiro Codigo he o Affonsino”[5] e assim, sucessivamente, outros autores.
Pelo que consegui apurar, dos primeiros autores a adoptar a identificação
sistemática de “Ordenações Affonsinas”, parece ter sido Coelho da Rocha[6], no que foi
seguido pelos seus sucessores, nomeadamente Alexandre Herculano, generalizando‑se
e conquistando autoridade esta designação, até à actualidade.
Resumindo, há muitos séculos enterrada na tumba do esquecimento a designação
originária de livros da reformação das ordenações que andam na Chancelaria, todos os
autores e documentos, sem qualquer excepção, atribuem esta obra compilatória, de
uma forma ou de outra, a el-rei D. Afonso V. No entanto, como ficou referido no início
deste capítulo, veio, recentemente, pôr-se em causa esta terminologia secular. Segundo
Luís Miguel Duarte, o único mérito deste reinado foi o da conclusão da obra – e mesmo
assim durante a menoridade do monarca, sob a regência do infante D. Pedro –, que
teria sido iniciada muitos anos antes do nascimento de D. Afonso V, ainda durante
o reinado do Mestre de Avis, e atravessado todo o de seu pai, D. Duarte[7]. No mesmo
sentido, Carvalho Homem, escreve: “tendo sido o regente D. Pedro responsável por apenas
uma fase final de cerca de 7 anos (1439-1446) do processo de compilação, o facto é que as OA
passaram à História como obra sua”[8].
Mas será que, afinal, estamos perante mais um daqueles erros grosseiros da
História?
Penso que não, mas uma tentativa de resposta satisfatória implica uma análise
de todo o processo de compilação das Ordenações Afonsinas, com a minúcia que a
documentação relutante ainda permite, tarefa reservada para o segundo capítulo desta
investigação, ficando também para lá adiada essa tentativa de resposta.

1
Esta primeira edição das Ordenações Afonsinas integrava o plano de maior âmbito designado por “Collec-
ção da Legislação Antiga e Moderna do Reino de Portugal. Parte I. Da Legislação Antiga”. Na parte da Legislação
Antiga foram também incluídas as Ordenaçoens do Senhor Rey D. Manuel (3 vol.), Leis e Provisões que El-Rey
D. Sebastião fez... (2 vol.) e o Repertório dos cinco livros das Ordenações do Senhor Rei D. Manuel com adições das
leis extravagantes, de Duarte Nunes de LEÃO. Esta primeira edição das Ordenações Afonsinas irá servir para
a edição “fac-simile” de 1984, da Fundação Calouste Gulbenkian, enriquecida com Nota de Apresentação
de Mário Júlio de Almeida COSTA e Nota Textológica de Eduardo Borges NUNES.
2
António Barnabé de Elescano Barreto ARAGÃO e Lino da Silva GODINHO, Demétrio Moderno, ou o Bi-
bliografo Jurídico Portuguez, na Officina de Lino da Silva Godinho, Lisboa, 1781, pp. 39-42.
3
FIGUEIREDO, Synopsis Chronologica, pp. 32-43.
4
RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”.
5
Francisco Coelho de Souza e SAMPAIO, Prelecções de Direito Patrio Publico e Particular, Coimbra, na Real
Imprensa da Universidade, 1793, p. 4.
6
M. A. Coelho da ROCHA, Ensaio sobre a Historia do Governo e da Legislação de Portugal para servir de introduc-
ção ao estudo do direito pátrio, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1843, pp. 119 e ss.
Nas Lições de Direito Pátrio de Ricardo Raymundo Nogueira já consta Ordenações Afonsinas. Embora se trate
de lições proferidas ao ano de 1795/96 a sua publicação é de 1866.
7
DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 93-94.
8
HOMEM, “Ofício régio e serviço ao Rei em finais do século XV”, p. 127.

25
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

2. Anais Bibliográficos da “Mais Antiga” Compilação de Leis do Reino de Portugal


O título supra, que apadrinha este segundo ponto, dá-nos uma curta ideia da
rusticidade e importância do tema tratado. No entanto, coloca-se entre aspas as
palavras “mais antiga”, pela contingência, sempre sujeita a eventual correcção, de se
poder qualificar como a mais antiga[1].
No título anterior ficou razoavelmente assinalado o empenho dos jurisconsultos
manuelinos e subsequentes em deixar no olvido álgido dos séculos esta abalizada
compilação de meados de quatrocentos. No entanto, a partir da segunda metade
do século XVIII, a sua importância e elevado interesse criados no seio da coeva
comunidade científica lançaram uma busca aturada aos pergaminhos avelhentados
e produziram uma copiosa bibliografia, manuscrita e impressa, disseminada pelas
estantes contorcidas das bastas bibliotecas públicas e privadas. Ao injusto silêncio dos
séculos XVI e XVII, e primeira metade do XVIII, seguiu-se um entusiasmo incontrolado
até aos nossos dias, de forma que se torna bastante difícil, ou mesmo impossível,
elaborar uma moldura exacta de todas as obras e autores que, desde o recuo do século
XV até ontem à tarde, sobre ela se tenham debruçado[2]. Apesar de tudo, nas linhas que
se seguem, fica uma tentativa dessa moldura bibliográfica hodierna.
Recuando à época das Ordenações Afonsinas, a base de uma pesquisa bibliográfica
teria que começar pelas crónicas do acreditado Fernão Lopes. Tendo em atenção a
absoluta coetaneidade[3] destas crónicas e a formação tabeliónica (por isso, também
jurídica) do seu autor, esta seria a primordial fonte orientadora, surgindo o guarda‑mor
da Torre do Tombo em condições de, melhor do que ninguém, avaliar e apreender a
elevada importância desta reforma jurídica. No entanto, por mais que folheasse as
duas partes da Crónica de D. João I, não encontrei qualquer indício relativo ao começo
e faina de compilação das ordenações do reino e a correlativa penúria de notícias sobre
o afamado jurista e um dos pretensos compiladores do direito pátrio – o Doutor João
das Regras – já foi antecipada por Espinosa Gomes da Silva[4]. Ou seja, este mutismo

1
No entanto, até hoje não se lhe conhece precedente e assim tem sido qualificado em vários estudos. Por
exemplo, FIGUEIREDO, Synopsis Chronologica, p. 32: “Codigo das nossas Leis Patrias, certamente o primeiro, que
dellas se fez na nossa Monarchia”.
Francisco Coelho de Souza e SAMPAIO, Prelecções de Direito Patrio Publico e Particular, Coimbra, na Real
Imprensa da Universidade, 1793, p. 4: “O Primeiro Codigo he o Affonsino”.
Armando Luís de Carvalho HOMEM, Rei e «Estado Real» nos textos legislativos da Idade Média Por-
tuguesa, sep. Carlos Alberto Ferreira de Almeida in memoriam, Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, p. 392: “O concretizar de uma primeira compilação de leis com as OA”.
Maria do Rosário de Sampaio THEMUDO, “A Propósito de Medievalidade e de Modernidade nas Primei-
ras Ordenações Portuguesas”, Pensamiento Medieval Hispano, Homenaje a Horacio Santiago-Otero, Madrid,
1998, vol. 1, pp. 465-472.
2
Uma lista bibliográfica, assaz preenchida, sobre as Ordenações Afonsinas pode ser consultada no artigo
Ordenações, da autoria de Almeida Costa, no Dicionário de História de Portugal e reproduzida na colectânea
“Temas de história do direito”, no Boletim da Faculdade de Direito, vol. XLIV, Coimbra, 1968, pp. 259-270. No
entanto, desde a data desta publicação, já lá vão quase quatro décadas, muita bibliografia foi editada.
3
“É provável que tenha nascido em Lisboa ou arredores, entre 1380 e 1390, e que tenha morrido na mesma
cidade, pouco depois de 1459. (...) Em 19 de Maio de 1434, o rei D. Duarte faz saber que tinha dado cargo
a Fernão Lopes, seu escrivão, de “poer em caronyca as estorias dos Reys que antygamente em portugal
forom Esso meesmo os grandes feitos e altos do muy uertuosso E de grandes uertudes Elrey meu Senhor e
padre”. Cfr. Maria Ângela BEIRANTE, “Introdução à 1.ª parte da Crónica de D. João I de Fernão Lopes”, in
Fernão LOPES – Crónica de D. João I, primeira parte, Códice iluminado da Biblioteca Nacional de Madrid,
Ediclube – Edição e Promoção de Livro, Lda., p. 37.
4
“(...) a figura do chanceler, dum modo geral, pouco mais é que um nome isolado e sem ligações no meio
da narrativa, retratado com os habituais e incaracterísticos panejamentos de ocasião: [transcreve algumas
passagens da Crónica de D. João I] Termos estes que dada a sua fungibilidade, podiam bem pertencer a

26
José Domingues

revelou-se, imediatamente, uma notável lacuna – que não podia deixar de evidenciar,
por motivos que expressarei à frente – na bibliografia diligenciada[1].
Em 1454, por ser “velho e flaco”[2], Fernão Lopes é substituído, nos cargos de
guarda das escrituras do Tombo e de cronista-mor do reino, por Gomes Eanes de
Zurara, que parece ter lido pelo mesmo breviário, pois também não contempla as
Ordenações Afonsinas. Este descuido dos cronistas já ficou bem declarado por Espinosa
Gomes da Silva:

“os cronistas nunca dedicaram grande atenção à feitura das várias Ordenações. No que
toca às próprias Ordenações Afonsinas, a sua história não é feita a partir das Crónicas de
D. João I, de D. Duarte, do Infante D. Pedro ou de D. Afonso V: o que se sabe é o que consta
do proémio inicial do Livro I.”[3]

O primeiro cronista-mor a tecer uma referência, embora demasiado lacónica e


já depois de publicadas as Manuelinas, parece ter sido Rui de Pina, que na crónica de
el‑rei D. Duarte diz que este monarca mandou correger e abreviar as Ordenações do Reino,
que em seus dias se não terminaram, e seu filho, D. Afonso V, mandou reformar[4].
Estou crente ter sido esta passagem que subsidiou a crónica do mesmo monarca, da
autoria do reputado jurista quinhentista, Duarte Nunes de Leão[5].
Alguns autores que, posteriormente, conheceram esta colecção já ficaram
referenciados no título anterior: desde Gabriel Pereira, pelo menos, até aos impressores
da última década da XVIII centúria.
O laconismo dos monges alcobacenses, que compuseram a sexta e oitava partes da
Monarquia Lusitana, apenas garante a consulta do livro II, que, efectivamente, sabemos
que fez parte do cartório desse cenóbio[6]: Frei Francisco Brandão refere a legislação
dos judeus a partir da II parte das Ordenações de el-rei D. Afonso V; Frei Manuel dos
Santos refere a lei de D. Duarte porque mandou que nenhum judeu ou mouro pudesse
ser oficial de el-rei, confirmada por D. Afonso V e que anda nas suas Ordenações (Livro
II, título 85, § 3 e 4)[7]; refere também uma lei de D. Afonso IV, estando nos paços de
Valada, sobre como as comunas dos judeus hão de pagar o serviço régio, que anda
nas Ordenações de Afonso V (livro II, título 74)[8]; e transcreveu a ordenação de D.
Fernando sobre a jurisdição dos donatários, publicada em Atouguia, a 13 de Setembro
de 1375 (Livro II, título 62)[9]. É praticamente certo que este autor desconhece o livro

elogio fúnebre de jurista de segunda ordem”. Cfr. Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, “João das Regras e
outros juristas portugueses da Universidade de Bolonha (1378-1421)”, in Revista da Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa, vol. XII, Lisboa, 1960, pp. 223 e ss.
1
Apesar da advertência de Guilherme Braga da Cruz: “A história das Ordenações Afonsinas, é-nos dada
a conhecer dum preâmbulo das próprias Ordenações e de certas referências das crónicas de Fernão Lopes.”
[CRUZ, História do Direito, p. 380]
2
BEIRANTE, Introdução à 1.ª parte da Crónica de D. João I de Fernão Lopes, p. 38.
3
Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, Sobre o Abreviamento dos Cinco Livros das Ordenações ao Tempo
de D. João II, Sep. do Boletim do Ministério da Justiça, n.º 309, Lisboa, 1981, p. 11.
4
Rui de PINA, Chronica do Senhor Rey D. Duarte, cap. VII.
5
Duarte Nunes de LEÃO, Crónicas, tomo 3, pp.18 e ss.
6
Cfr. Eduardo Borges NUNES, “Os manuscritos das Ordenações Afonsinas e a edição de 1792”, in Ordena-
ções Afonsinas, Livro I, Fundação Calouste Gulbenkian, Coimbra, 1998, p. 17.
7
SANTOS, Monarquia Lusitana, Parte VIII. Lisboa, 1727, Liv. XXII, p. 13. (edição fac-similada, Imprensa
Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1988).
8
Idem, p. 14. Este autor atribui-lhe a data de 10 de Novembro de 1340, mas nas Ordenações Afonsinas im-
pressas a data é de 15, com variante 16, de 1352.
9
Idem, Liv. XXII, Cap. XXX, pp. 212-216.

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As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

I das Ordenações Afonsinas, uma vez que ao transcrever os regimentos do condestável


e do marechal, a partir do “Regimento Antigo da Milícia”[1], nunca refere este livro I
das Ordenações Afonsinas, onde também constam estes regimentos. O dito Regimento
Antigo da Milícia só pode ser o códice que se guardava no cartório do mesmo mosteiro
– Regimentos de El-Rei D. Dinis para os oficiais da guerra e da casa – hoje sob a custódia da
Biblioteca Nacional[2].
Como já ficou supradito, na segunda metade do século XVIII, chegamos ao
momento da deflagração dos estudos históricos de Direito pátrio e, em simultâneo,
das Ordenações Afonsinas, com os Estatutos Pombalinos da Universidade de Coimbra de
1772, que prevêem, no Curso Jurídico, a docência de lições públicas da História Civil de
Portugal e das Leis Portuguesas, abrangendo a notícia da compilação de D. Afonso V.
Vale a pena transcrever essa passagem:

“Mostradas que sejam as Fontes assim originaes, e primarias, como derivativas,


e secundarias das Leis destes Reinos; dará o mesmo Professor noticia das
Collecções, e Compilações das Leis Patrias. Principiará pelas que foram anteriores
à fundação da Monarquia destes Reinos, e tiveram nella observancia: E proseguirá,
dando tambem a conhecer as posteriores à dita fundação, por serem muito mais
interessantes. Ensinará o que mais se ajustar à verdade sobre a Ordenação, que
se attribuio ao Senhor Rei Dom João o I, de que se dá por Author o Doutor
João das Regras. Tratará da Compilação do Senhor Rei Dom Duarte por ordem
Chronologica: Da Compilação do Senhor Rei Dom Affonso V organizada por ordem
synthetica: Da Compilação systematica do Senhor Rei Dom Manoel, da qual se
publicàram os primeiros dous Livros no anno de 1513, e os ultimos tres no de
1521: Da Collecção das Leis, e Provisões do Senhor Rei Dom Sebastião impressa
no anno de 1570: E da outra Collecção, em que Duarte Nunes de Leão ajuntou, e
substanciou as Leis Extravagantes posteriores á sobredita Compilação do Senhor
Rei Dom Manoel; tendo sido authorizado para esta obra por Alvará do mesmo
Senhor Rei Dom Sebastião”[3].

A execução pontual desses Estatutos levou a Universidade de Coimbra, depois


de ter obtido aprovação régia por resolução de 2 de Setembro de 1786, a sacudir o pó
dos alfarrábios avelhentados das Ordenações Afonsinas e a preparar a sua publicação. A
edição definitiva saiu a lume no ano de 1792 – passados 346 anos após a sua conclusão em
Arruda – da Real Imprensa da Universidade de Coimbra, com o título de “Ordenaçoens
do Senhor Rey D. Affonso V”[4]. A omissão dos impulsionadores nesta primeira edição é
colmatada pelas pesquisas de Inocêncio, que informa que o mandado e diligência se
ficou a dever a D. Francisco Rafael de Castro, principal da igreja patriarcal de Lisboa
e reitor e reformador da Universidade, nessa época. A impressão e estudo do texto foi

1
Idem, Liv. XXII, Cap. XLVIII, pp. 375-379 e 380-382, respectivamente.
2
Lisboa, BN – Alcobacenses, códice n.º293.
3
Estatutos da Universidade de Coimbra do Anno de MDCCLXXII. Lisboa, na Regia Officina typographica,
1773, Livro II (que contém os cursos Juridicos das Faculdades de Canones e de Leis), Título 3, Cap. 9, § 4, pp.
160 e 161. Com estes estatutos as leis pátrias são tiradas do vergonhoso e profundo silêncio em que jaziam.
4
Esta primeira edição das Ordenações Afonsinas integrava o plano de maior âmbito designado por “Collec-
ção da Legislação Antiga e Moderna do Reino de Portugal. Parte I. Da Legislação Antiga”. Na parte da Legislação
Antiga foram também incluídas as Ordenaçoens do Senhor Rey D. Manuel (5 vol.), Leis e Provisões que El-Rey
D. Sebastião fez... (2 vol.) e o Repertório dos cinco livros das Ordenações do Senhor Rei D. Manuel com adições das
leis extravagantes, de Duarte Nunes de LEÃO. Esta primeira edição das OA irá servir para a edicção “fac-
simile” de 1984, da Fundação Calouste Gulbenkian, enriquecida com Nota de Apresentação de Mário Júlio
de Almeida COSTA e Nota Textológica de Eduardo Borges NUNES.

28
José Domingues

entregue ao cuidado do lente substituto da Faculdade de Leis da Universidade, Dr.


Luís Joaquim Correia da Silva, que, na prefação inserida no início do livro I, faz cuidada
história da compilação e dos manuscritos conhecidos nessa era de setecentos[1].
Esta tarefa de oferecer aos interessados, bem como a todo público em geral, as
Ordenações Afonsinas em letra de imprensa, desencadeou uma busca aturada dos
manuscritos dispersos pelos cartórios e arquivos do país. Esta procura localizou o livro
II do mosteiro de Alcobaça e juntou na Torre do Tombo – onde estavam guardados os
livros II, III e IV – a invejável colecção de manuscritos do século XV das câmaras de
Santarém e do Porto e do convento de Santo António da Merceana. Pelas palavras de
um coetâneo entendido na matéria:

“No anno de 1731[2] ja se conhecião no Archivo Real da Torre do Tombo os Livros


2.º, 3.º e 4.º deste Codigo (...) Em 1777 Se recolherão ao mesmo Real Archivo
os Livros 1.º e 3.º que existião no Convento dos Capuchos de Merciana (...) Em
1776 passarão para o mesmo Archivo os Livros 1.º, 2.º, 4.º e 5.º deste Codigo, que
existião no Cartorio da Camera de Santarem (....) No anno de 1784 se recolherão
ao mesmo Real Archivo os Livros 1.º, 2.º, 4.º e 5.º da Camara do Porto (...) Em o
Real Mosteiro de Alcobaça ha hum Livro 2.º”[3]

Mas, apesar dos méritos dos empenhados e de todas as teimosas diligências


efectuadas, nunca foram encontrados os originais, inicialmente, depositados na
Chancelaria Régia – provavelmente destruídos por resolução régia, quando foram
elaboradas as Manuelinas. Os primeiros proveitos dessa busca persistente foram
colhidos no arquivo da Câmara de Santarém, que, em conjunto com os existentes na
Torre do Tombo, já permitia completar a colecção dos 5 livros.
A diligência continuou e, no ano seguinte, do convento de Santo António de
Merceana foram carreados os livros I e III, sendo este último, pela sua antiguidade,
preferível ao da Torre do Tombo[4]. Mas o editor setecentista não o entendeu assim,
baseando-se no da Leitura Nova e registando, em nota, as variantes do de Merceana.
Havendo rumores de que, no cartório da Câmara do Porto, existia uma reputada
colecção mais cuidada e completa – que, por isso, irá servir de base à edição dos livros I,
II, IV e V[5] – mandou-se que fosse remetida à Torre do Tombo, para se confrontar com os
restantes códices. O requerimento, rubricado pelo visconde de Vila Nova de Cerveira[6],
é dirigido ao juiz de fora e presidente da Câmara dessa cidade, nestes termos:

1
“Veio em fim a publicar-se pela imprensa a primeira vez em Coimbra, na data sobredita, por mandado e a diligencia de
D. Francisco Raphael de Castro, principal da sancta egreja de Lisboa, e então reitor e reformador da Universidade.
A direcção e cuidado da impressão foram commetidos ao lente substituto da faculdade de Leis, Luis Joaquim Corrêa da
Silva, cuja é a prefação posta no começo do tomo I”. [Diccionario Bibliographico Portuguez, estudos de Innocencio
Francisco SILVA applicaveis a Portugal e ao Brasil, Tomo VI, Lisboa, na Imprensa Nacional, 1862, pp.
324‑325, artigo Ordenações d’El-Rei D. Affonso V. (reedição)]
2
Em alguns aspectos, ainda se pode recuar esta data do ano de 1731. A propósito do Alcobacense já vimos
que ele é utilizado, a partir de meados do século XVII, pelos autores da Monarquia Lusitana. Um livro II foi
achado na Torre do Tombo, pelo escrivão Jorge da Cunha, a 10 de Janeiro de 1631. O inventário de meados
da XVII centúria (circa 1656), refere três livros das Ordenações de D. Afonso V no arquivo da Casa da Coroa,
mas sem qualquer identificação.
3
RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”, pp. 121-122.
4
Eduardo Borges NUNES, “Os manuscritos das Ordenações Afonsinas e a edição de 1792”, in Ordenações
Afonsinas, Livro I, Fundação Calouste Gulbenkian, Coimbra, 1998, p. 22.
5
Luís Joaquim Correia da SILVA, Prefacção às Ordenações Afonsinas, Liv. I, p. XX.
6
O visconde de Vila Nova de Cerveira foi nomeado Secretário de Estado dos Negócios do Reino por De-
creto de 14 de Março de 1777.

29
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

“Sendo prezente a sua Magestade, que na Camara dessa Cidade do Porto se acha
hum Exemplar correcto, e na sua perfeita integridade, das Ordenaçoens do Senhor Rey
Dom Affonso V, da qual se diz que contêm mayor numero de Titulos do que se
acham em outros Exemplares, e ainda na(sic) que existe na Torre do Tombo He
a mesma Senhora servida que a sobredita Camara me remetta por esta Secretaria
de Estado dos Negócios do Reyno com toda a segurança e resguardo, para se
combinar com os outros exemplares, e pela mesma combinação se tirar de hum, e
dos outros o necessário uso, que se deve fazer delles para o Novo Codigo; ficando
a Camara na intelligencia de que o seu exemplar lhe será restituído, ou em seu
lugar huma Copia authentica, e em tudo igual ao referido Exemplar. O que Vmce
fará prezente na Camara dessa Cidade do Porto para que assim se execute.
Deos guarde a Vmce. Palacio de Nossa Senhora da Ajuda em 6 de Mayo de 1784.”[1]

Conclusa a tarefa de investigação, reuniram-se no Arquivo da Torre do Tombo


vários exemplares de cada um dos cinco livros, tendo agora que proceder-se à leitura
e escolha dos mais adequados para servir de esteio à sua conversão em letra de
imprensa, mas para isso tornava-se indispensável um breve conhecimento da sua
tradição manuscrita, a começar pelo inventário dos vários livros.
A inventariação desses códices antigos, resultado final de uma investigação de
mais de uma década, foi empreendida pelo prefaciador da edição de 1792[2], seguido
por João Pedro Ribeiro – acima transcrito – que não lhe acrescenta qualquer exemplar
novo, mas faz uma descrição cuidada de cada um[3]. Na Nota Textológica da edição
de 1984, Eduardo Borges Nunes, completa e aprofunda essa descrição codicológica
dos exemplares do Arquivo Nacional e do códice alcobacense, que, entretanto já tinha
passado para a Biblioteca Nacional[4]. Para além disso, ao catálogo de códices do século
XV, acrescenta o da Biblioteca da Ajuda, iniciado no ano de 1455, e o do Arquivo
Municipal de Lisboa. Faz também um inventário dos códices manuscritos, todos do
século XVIII, três nos reservados da Biblioteca Nacional, um na Biblioteca da Ajuda e
treze na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, acabando por concluir que a
“pesquisa de códices das Ordenações Afonsinas nas Bibliotecas Públicas de Évora, Porto
e Braga deram resultado negativo”[5]. A este preenchido arrolamento ficou a faltar o
subsídio prestado por Marcello Caetano, apesar de a sua obra ter sido editada em 1981,
das cópias dos livros II e V, feitas também no século XVIII, depositadas no Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro[6]. No arquivo da Torre do Tombo, para além das
cópias directas, existem também 3 colecções de cópias indirectas, feitas no século XVIII.
Uma dessas colecções (NA 82 a NA 86) foi feita “em cumprimento de uma provisão de D.
Maria I, datada de 23 de Junho de 1781, na sequência de uma petição do desembargador Luís
Rebelo Quintela, e mandados copiar pelo guarda-mor João Pereira Ramos de Azeredo Coutinho,
entre 1776 e 1782”[7].

1
Porto, AHM – Livro 16º de Próprias, fl. 340. Francisco Sampaio refere que terá sido no decurso do ano
de 1783 que se descobriram os exemplares da Câmara da cidade do Porto [SAMPAIO, Prelecções de Direito
Patrio Publico e Particular, p. 7, nota g)].
2
SILVA, Prefacção às Ordenações Afonsinas, Liv. I, p. XIII.
3
RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”, pp. 121-122.
4
Lisboa, BN – Alcobacenses, códice n.º 222.
5
NUNES, “Os manuscritos das Ordenações Afonsinas e a edição de 1792”, pp. 13-19.
6
CAETANO, História do Direito, p. 531, nota 2.
7
Maria do Carmo Jasmins Dias FARINHA e Maria de Fátima Dentinho Ó RAMOS, Núcleo Antigo: Inventá-
rio, Lisboa, 1996, pp. 185-186.

30
José Domingues

Voltemos ao século XVIII, o achado e estampagem dos preciosos cimélios


afonsinos, para além de agrupar o conjunto completo dos cinco livros, prestou um
inestimável contributo ao conhecimento do seu conteúdo e índole, mas a descoberta
do livro I trouxe um valiosíssimo complemento, até então inédito e esquecido, quanto
à origem, preparação, conclusão e compiladores das Ordenações Afonsinas.
O autor setecentista da Biblioteca Lusitana, Diogo Barbosa de Machado, divulgou
que o chanceler João das Regras reunira num volume as leis do reino, que andavam
dispersas e – na senda de Nunes de Leão – tinha feito a tradução para português das
leis do Código de Justiniano, bem como da respectiva Glosa de Acúrcio e dos Comentários
de Bártolo. Mas o aparecimento do livro I e do livro V das Ordenações Afonsinas, onde
não se vislumbra qualquer referência ao Doutor João das Regras, avivam os nomes
efectivo dos seus compiladores – João Mendes e Rui Fernandes – e estabelecem o início
dos trabalhos no reinado de D. João I e a conclusão no dia 28 de Julho do ano de 1446,
na vila de Arruda. Desta forma, se o aparecimento do livro I das Ordenações Afonsinas
trouxe incalculável contributo para o entendimento do processo de compilação das
Ordenações Afonsinas, em contrapartida levou à completa renúncia da tradição aventada
por Duarte Nunes de Leão e Diogo Barbosa Machado.
Por isso, as críticas ferozes, contra Nunes de Leão, não se fizeram esperar, logo
no ano de 1792, José Anastácio de Figueiredo, numa Memoria sobre qual foi a época certa
da introdução do Direito de Justiniano em Portugal, o modo da sua introducção, e os grãos
de authoridade, que entre nós adquirio. Por cuja occasião se trata toda a importante materia
da Ord. liv. 3 tit. 64, contesta todo o arrazoado deste jurisconsulto e dos seus servis
seguidores[1]. No entanto, apesar da meticulosa e robusta argumentação de Figueiredo,
o tempo encarregou-se de demonstrar que a tradição, no essencial, era fundada, surgindo
documentação comprovativa das transcrições em linguagem desse códice latino[2].
Os imprescritíveis dados históricos constantes do início do livro I, antes de passar
ao título primeiro do Regedor e Governador da Casa da Justiça na Corte de El-Rei, foram
aproveitados por José Anastácio de Figueiredo, na sua Synopse Chronologica, saída a
lume em 1790[3]. Luís Joaquim Correia da Silva, na prefação, à publicação de setecentos
[1792] das Ordenações Afonsinas também desenvolve toda essa argumentação. Por isso,
João Pedro Ribeiro, nos Additamentos à Synopse Chronologica, aconselha que ao estudo
de Figueiredo se deve juntar este prólogo da edição das Ordenações Afonsinas, “ficando
com tudo ainda muito que desejar sobre este objecto”[4].
No entanto, a primeira pessoa a aproveitar e publicar na íntegra o primeiro
parágrafo do livro I das Ordenações Afonsinas parece ter sido Pascoal José de Melo
Freire. A este conceituado jurisconsulto foi confiada, em 1774, o ensino académico da
História do Direito Pátrio. Para a docência dessa nova cadeira era o professor “obrigado
a formar hum Compendio Elementar da dita Historia do Direito, e de todas as suas partes”[5].

1
José Anastácio de FIGUEIREDO, “Memoria sobre qual foi a época certa da introdução do Direito de Jus-
tiniano em Portugal, o modo da sua introducção, e os grãos de authoridade, que entre nós adquirio. Por
cuja occasião se trata toda a importante materia da Ord. liv. 3 tit. 64”, in Memorias de Litteratura Portugueza,
publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa. Tomo I, Lisboa, 1792, pp. 291-301.
2
Para o desenvolvimento desta intrincada questão, em torno das traduções de João das Regras, veja-se
o admirável estudo e síntese, com uma referência exaustiva das fontes e bibliografia correspondente, de
Guilherme Braga da CRUZ, “O direito subsidiário na história do direito português”, sep. da Revista Portu-
guesa de História, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Tomo XIV, vol. III em homenagem ao
Doutor Paulo Merêa, Coimbra, 1975, pp. 207-212, nota 44.
3
FIGUEIREDO, Synopsis Chronologica, pp. 32-43.
4
João Pedro RIBEIRO, Additamentos e Retoques à Synopse Chronologica, Lisboa, typografia da Academia Real
das Sciencias de Lisboa, 1829, p. 293.
5
Estatutos da Universidade de Coimbra do Anno de MDCCLXXII. Lisboa, na Regia Officina typographica, 1773,

31
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

O manual, sob o título Historiae Juris Civilis Lusitani, ficou redigido em 1777, muito
embora só viesse a ser impresso passados 11 anos, em 1788[1]. É natural, e bastante
provável, que o autor em 1777 já tivesse conhecimento desse exórdio – já que o livro I
da Câmara de Santarém tinha dado entrada no Arquivo Nacional no ano anterior – mas
mesmo a data da publicação da sua obra é antecedente aos dois autores supracitados –
Figueiredo e Silva. Para além de uma integração destes dados novos (§ LXX – Código
Afonsino) Melo Freire publica em Appendix N.º I – Copia do primeiro paragrafo do Livro I
das Ordenações do Senhor Rey D. Affonso V[2].
Apesar de assimilar os informes novos do livro I, Melo Freire, em oposição aos
seus conterrâneos, continua a acreditar no Código de João d’Aregas, sem deixar de
confessar que “Ainda não pude satisfazer a curiosidade de ver a tradução em linguagem do
Código Justiniano feita por tão subido e categorizado varão, com as interpretações de Acúrsio e
Bártolo que ele aprovou”[3].
A partir da 1.ª edição das Ordenações Afonsinas, consumada no final do século XVIII
pela Real Imprensa da Universidade de Coimbra, a Fundação Calouste Gulbenkian
preparou duas edições fac-simile – a 1.ª no ano de 1984 e a 2.ª no ano de 1998 – com
Nota de Apresentação de Mário Júlio de Almeida Costa e Nota Textológica de Eduardo
Borges Nunes. Para a edição de 1984, decorridos quase dois séculos, inventariaram-se
os códices conhecidos e procuraram-se outros, mas como essa pesquisa não trouxe
novidades relevantes, optou-se por uma “edição anastática, por ser a mais rápida, exequível
e económica, e por se inserir num plano geral de reedições análogas dos grandes textos jurídicos
portugueses”, ficando adiada a solução óptima da edição crítica[4], reclamada pelo abalizado
Marcello Caetano: “A partir de 1792 ninguém mais, que nos conste, trabalhou sobre os
manuscritos existentes na Torre do Tombo. E bom seria que alguém, com as possibilidades do
nosso tempo, se abalançasse a nova edição crítica do importante código afonsino”[5]. Embora
ainda não concretizada, já começaram a aparecer os indispensáveis contributos para a
almejada edição crítica[6].
Desde a impressão de 1792, esta colectânea de leis medievais tem suscitado a
curiosidade e proveito de uma quantidade oceânica de autores, tanto da área da História
do Direito como de qualquer outro sector da História Medieval pátria. A começar pelo
patriarca da Diplomática Portuguesa, João Pedro Ribeiro, que constantemente lhe faz
referência ao longo das suas obras, deixando manuscrita uma idónea Memoria sobre as
Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º, postumamente dada à estampa por António Cruz,
num estudo dedicado aos seus manuscritos[7].

Livro II (que contém os cursos Juridicos das Faculdades de Canones e de Leis), Título 3, Cap. 9, § 14, p 167.
1
CAETANO, História do Direito, p. 37.
2
Pascoal José de Melo FREIRE, Historiae Juris Civilis Lusitani, Lisboa, 1788, pp. 161-163.
3
Pascoal José de Melo FREIRE, História do Direito Civil Português, Tradução de Miguel Pinto de Meneses,
sep. do Boletim do Ministério da Justiça, n.º173-175, Lisboa, 1968, p. 103.
4
NUNES, “Os manuscritos das Ordenações Afonsinas e a edição de 1792”, pp. 22-23.
5
CAETANO, História do Direito, p. 531.
6
Maria Madalena Marques dos SANTOS, Tábua de correspondência entre as Ordenações Afonsinas, Manuelinas
de 1521 e Filipinas: contribuição para uma edição crítica das Ordenações do Reino. Lisboa, 1993. (Dissertação de
Mestrado em História do Direito).
Paulo Alexandre da Costa Dias da SILVA, Quadros comparativos das Ordenações Afonsinas das Ordenações de
D. Duarte e do Livro de Leis e Posturas: contributo para uma edição crítica dos três monumentos legislativos. Lisboa,
1993. (Dissertação de Mestrado em História do Direito).
Ana Maria Rodrigues de Almeida FERNANDES, Proposta de edição crítica das Ordenações Afonsinas. Lisboa,
1995. (Dissertação de Mestrado em Paleografia e Diplomática, Universidade de Lisboa).
7
António CRUZ, Breve Estudo dos Manuscritos de João Pedro Ribeiro, com Apêndices de estudos sôbre as Or-

32
José Domingues

As Prelecções de Direito Pátrio do Desembargador da Relação do Porto e Lente


Proprietário de História de Direito Romano e Pátrio na Universidade de Coimbra,
Francisco Coelho de Sousa e Sampaio, empregam o capítulo II ao “primeiro Código
Portuguez”[1]. O Lente na Faculdade de Direito na Universidade de Coimbra, Manuel
António Coelho da Rocha, no seu Ensaio sobre a Historia do Governo e da Legislação de
Portugal, para servir de introducção ao estudo do Direito Patrio, de que são feitas várias
edições, dedica o § 150 à “Historia, e Auctores das Ordenações Affonsinas”[2]. As Prelecções
de Direito Pátrio feitas por Ricardo Raymundo Nogueira para o quinto ano jurídico de
1795/96, publicadas em 1866, dedica título às Ordenações de D. Affonso V[3]. Inocêncio
da Silva disponibiliza uma entrada, do seu ingente Dicionário Bibliográfico, para
“Ordenações d’El-Rei D. Affonso V”, prestando contributo indispensável da tarefa da
sua edição no século XVIII[4].
Grande parte da bibliografia supra referida já consta sob o verbo “Ordenações”,
da autoria de Almeida Costa, no Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel
Serrão. Apesar dos créditos do seu autor, ficaram por referir dois penhorados nomes
da historiografia jurídica nacional: António Caetano do Amaral, que na sua Memória
V faz constantes apelos às leis das Ordenações Afonsinas; e Alexandre Herculano, que,
para a promulgação dos diplomas gerais até ao final do reinado de D. Afonso III,
teve que cotejar esta colectânea, de cabo a rabo. Mas desde a elaboração do artigo
de Almeida Costa, no ano de 1968, muitos outros autores se curvaram sobre esta
colectânea, na impossibilidade de os referenciar a todos, ficam apenas os de maior
saliência para o tema.
O primeiro, pela sua dedicação fiel às questiúnculas da História do Direito,
é Marcello Caetano, com vastos trabalhos monográficos e, sobretudo, sucessivas
Histórias do Direito Português, desde as Lições de 1941, as de 1962, a póstuma História
do Direito Português (1140-1495), de 1981, e, finalmente, a História do Direito Português
(sécs. XII-XVI) seguida de Subsídios para a História das Fontes do Direito em Portugal
no séc. XVI, com textos introdutórios e notas de Nuno Espinosa Gomes da Silva. Este
último, também reputado investigador da História do Direito, traça-lhe o majestoso
perfil de Historiador do Direito Português e, sobre uma determinada matéria, refere
mesmo que “Marcello Caetano – saindo fora dos caminhos batidos – faz uma exegese
e síntese, rigorosa e ponderada da matéria, embrenhando-se nas prolixas, e nem sempre
claras, Ordenações Afonsinas”[5].
Espinosa Gomes da Silva – discípulo, secretário, assistente e amigo de Marcello
Caetano[6] – é outro nome indissociável desta plêiade. Entre a sua dilatada literatura,
para além de uma Historia do Direito Português[7], destacam-se trabalhos como Bártolo

denações Afonsinas e de documentos do cartório do Mosteiro de Santo Tirso de Riba d’Ave, Coimbra, 1938, pp.
121-132.
1
SAMPAIO, Prelecções de Direito Patrio Publico e Particular, pp. 4-7.
2
Manuel António Coelho da ROCHA, Ensaio sobre a Historia do Governo e da Legislação de Portugal, para ser-
vir de introducção ao estudo do Direito Pátrio, Coimbra, na Imprensa da Universidade, 1843, pp. 119-120
[foi esta a edição consultada, mas a primeira edição é de 1841].
3
Ricardo Raymundo NOGUEIRA, Prelecções sobre a Historia de Direito Patrio feitas ao curso do quinto anno
juridico da Universidade de Coimbra no anno de 1795 a 1796, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1866.
4
Inocêncio Francisco da SILVA, Diccionario Bibliographico Portuguez, Tomo VI, Lisboa, na Imprensa Nacio-
nal, 1862, pp. 324-325.
5
Nuno Espinosa Gomes da SILVA, “Marcello Caetano, Historiador do Direito Português”, in Marcello
CAETANO, História do Direito, pp. III-XXVI.
6
SILVA, “Marcello Caetano, Historiador do Direito Português”, p. III.
7
SILVA, História do Direito. (1.ª edição, 1985; 2.ª edição 1991; 3.ª edição, 2000).

33
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

na História do Direito Português[1] e João das Regras e outros juristas portugueses da


Universidade de Bolonha (1378-1421)[2]. Sobre as Ordenações Afonsinas, importa referir os
dois peculiares e imprescindíveis estudos: O Sistema de fontes das Ordenações Afonsinas[3]
e Sobre o Abreviamento dos Cinco Livros das Ordenações ao Tempo de D. João II[4].
A propósito da primeira lei das Cortes de 1211, que determina a relação entre as
leis do reino e o direito canónico, publicou este autor um trabalho, que, posteriormente,
ateou uma valorosa e erudita controvérsia com José Mattoso[5]. O elevado rigor científico
dessa contenda, apesar de não ter uma relação directa com as Ordenações Afonsinas,
merece uma breve pausa. A questão contínua em aberto e, apesar do elevado estalão
dos opositores não permitir entremetimento de despretensioso entusiasta, aqui fica
glosada com singelo parecer.
A contenda desenvolve-se em torno da relação entre o direito do reino e o direito
canónico, suscitada pela primeira lei da Cúria de Coimbra de 1211, de que não existe
qualquer texto original, com toda a probabilidade, em latim. As versões conhecidas
– Foros de Santarém, Livro das Leis e Posturas e Ordenações de D. Duarte[6] – são todas
resumos em português e bastante tardios em relação ao original. Até aqui nada de
mais, a divergência começa com a eleição da fonte meritória de maior crédito: José
Mattoso prefere a versão do Livro das Leis e Posturas, por considerar que “embora não
seja a mais antiga, é, certamente das três existentes, a mais fiel”[7]; Espinosa da Silva defende
uma utilização conjunta das três versões, mas, a ter que escolher, optaria antes pelo
texto mais antigo dos Foros de Santarém, como “a versão mais fiel”[8].
Mas, para além da divergência metódica, interessa particularmente a discrepância
interpretativa do dito preceito normativo, que, há distância de quase 800 anos,
pretende regulamentar o regime das relações entre o direito canónico e o principiante
direito régio lusitano. Espinosa da Silva concluiu “poder afirmar-se que a exegese,
individual e comparada, dos textos dos Foros de Santarém, do Livro das Leis e Posturas
e das Ordenações de D. Duarte fundamenta, por si só, a conclusão atingida de que uma
das leis da Cúria de 1211 estabelece a supremacia do direito canónico, relativamente ao
direito régio, quando em conflito” ou então que “parece ter existido uma lei, publicada
na Cúria de Coimbra, de 1211, estabelecendo que o direito régio não valeria quando
em contradição com o direito canónico ou com os direitos ou privilégios da Igreja”[9].

1
Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, “Bártolo na História do Direito Português”, in Revista da faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa, vol. XII, Lisboa, 1960, pp. 177-221.
2
Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, “João das Regras e outros juristas portugueses da Universidade de Bolo-
nha (1378-1421)”, in Revista da faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, vol. XII, Lisboa, 1960, pp. 223-253.
3
Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, O Sistema de fontes das Ordenações Afonsinas, «Colecção Scientia
Ivridica», Livraria Cruz – Braga, 1980, Sep. da Revista Scientia Ivridica, tomo XXIX, n.º 166-168, Julho-De-
zembro de 1980.
4
Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, Sobre o Abreviamento dos Cinco Livros das Ordenações ao Tempo
de D. João II, sep. do Boletim do Ministério da Justiça, n.º 309, Lisboa, 1981.
5
Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, “Ainda sobre a lei da Cúria de 1211, respeitante às relações entre as
leis do Reino e o Direito canónico”, in Direito e Justiça Revista da Faculdade de Direito da Universidade Católica
Portuguesa, [s. l.], 1998, Vol. XII, tomo 1, pp. 3-36.
José MATTOSO, “A Cúria Régia de 1211 e o direito canónico”, in Naquele Tempo Ensaios de História Medieval,
Círculo de Leitores, 2000, pp. 519-528.
6
Aproveitadas por Herculano, Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 163.
7
MATTOSO, “A Cúria régia de 1211”, p. 521.
8
SILVA, “Ainda sobre a lei da Cúria de 1211”, pp. 14-15.
9
SILVA, “Ainda sobre a lei da Cúria de 1211”, p. 21 e 36, respectivamente.

34
José Domingues

José Mattoso, por sua vez, esclarece que a sua posição é a da autonomia dos
poderes, cada qual na sua esfera, nunca insinuando a superioridade do direito régio
sobre o direito canónico, como pretendia o seu adversário, rematando: “Não disse em
parte alguma que a lei de 1211 consagra a supremacia do direito régio sobre o direito
canónico: uma coisa é a dualidade de poderes, outra, muito diferente, é a superioridade
do poder régio em relação ao poder espiritual”[1].
A exposição argumentativa, como não poderia deixar de ser, é robusta e demasia-
do prolixa, por isso, para ela se remetem os eventuais interessados. Quanto à posição
definitiva de ambos, parece não existir tanta divergência como efectivamente quise-
ram transparecer. Acima de tudo, parece-me que ambos aceitam a teoria dos dois glá-
dios ou da autonomia dos poderes, cada um na sua área específica. Só que Espinosa
da Silva vai mais além, aventando a hipótese da existência de áreas de conflito entre
ambos, solucionados pela norma de Afonso II, que determinava a supremacia do direi-
to canónico. José Mattoso fica-se apenas pela teoria dos dois gládios, sem, no entanto,
defender a supremacia do direito régio em relação ao direito canónico.
Após a leitura dos textos dos dois autores é, com certeza, demasiado audacioso
tomar qualquer deliberação. No entanto, pegando nas palavras de Mattoso – “Parece-
me estranho que o rei admitisse, em princípio, a eventualidade da contradição, e a resolvesse,
contra si próprio, em favor do direito canónico” – inclino-me antes para a tese defendida
por este, de que o espírito da lei de 1211 era apenas o da consagração da autonomia e
separação dos dois poderes, obrigando-se o poder temporal a respeitar as liberdades
da Igreja.
Antes de mais, porque, a não ser assim, inviabilizava imediatamente a lei que
proíbe aos mosteiros e igrejas a aquisição de possessões, salvo para aniversário[2].
Por outras palavras, prescrever na 1.ª lei que o direito régio não valeria quando em
contradição com o direito canónico ou com os direitos ou privilégios da Igreja, seria
praticamente o mesmo que vetar a 10ª lei, do mesmo conjunto das leis da cúria coimbrã.
O que, de alguma forma, parece um contra-senso.
Aliás, as desinteligências jurisdicionais entre o clero e o monarca já vinham do
reinado de seu pai. D Sancho I intervinha nos assuntos eclesiásticos, sujeitando os
clérigos às justiças régias e reivindicando-lhe os seus bens [3]. Por isso, o Papa, na
Bula de 23 de Fevereiro de 1211, aconselha o rei a dar liberdade ao bispo de Coimbra,
restituindo-lhe os bens e a não usurpar os direitos eclesiásticos nem julgar os clérigos.
Sobre a separação de poderes jurisdicionais escreve Inocêncio III no citado documento:
“...per misericordiam Jesu Christi quatinus illa mensura contentus quam Deus tibi donavit ad
ecclesiastica jura non extendas aliquatenus manus tuas sicut nec nos ad regalia jura manus
nostras extendimus reliquens nobis judicium clericorum sicut et nos laicorum judicium tibi
relinquimus...”[4].
Estas solicitações parecem ter servido de princípios norteadores às leis promulgadas
por D. Afonso II na Cúria de 1211. Mas repare-se que o documento pontifício apenas
reclama a teoria Gelasiana dos dois gládios[5]. Por isso, mais uma vez, apresenta-se

1
MATTOSO, “A Cúria régia de 1211”, p. 527.
2
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 169
3
Maria Helena da Cruz COELHO e Armando Luís de Carvalho HOMEM, “Portugal em Definição de
Fronteiras – do Condado Portucalense à crise do século XIV”, in Nova História de Portugal, dirigida por Joel
Serrão e A. H. de Oliveira Marques, Editorial Presença, Lisboa, 1996, p. 89.
4
P.e Avelino Jesus da COSTA e Maria Alegria Fernandes MARQUES, Bulário Português. Inocêncio III (1198-
1216), Lisboa, INIC, 1988, doc. 154, pp. 295-297.
5
Maria Teresa Nobre VELOSO, D. Afonso II. Relações de Portugal com a Santa Sé durante o seu reinado, Arquivo

35
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

demasiado excessivo que Afonso II tenha decretado a supremacia do direito canónico,


quando ela nem sequer era reivindicada pelo próprio Sumo Pontífice. Posteriormente,
na concórdia de D. Sancho II de 1223, também o monarca prometeu não se intrometer
no campo de jurisdição clerical, a não ser que os juízes eclesiásticos não cumprissem
cabalmente os seus deveres[1]. Este litígio arrastou-se durante toda a baixa Idade Média,
sendo tratado em diversos capítulos das concórdias e concordatas, dando origem ao
título 15 do livro III das Afonsinas – “Em que casos os clérigos devem ser citados para a corte
e aí responder”.
Resumindo, a documentação coetânea deixa transparecer a ideia de que os monarcas
lusitanos excediam os limites jurisdicionais do seu poder temporal imiscuindo-se no
espaço jurisdicional do poder espiritual. Afonso II, no início do seu reinado, tentando
apaziguar esse descontentamento generalizado do clero, teria legislado para que essa
autonomia fosse respeitada, mas daí a reconhecer a supremacia do poder espiritual
parece um pouco exagerado.
Voltando ao nosso tema, Guilherme Braga da Cruz é pai de mais uma História
do Direito Português, que contínua inédita[2]. Mas o seu trabalho de destaque vai para
O direito subsidiário na história do direito português[3], onde, sobretudo, faz uma análise
meticulosa do título 9 do livro II das Ordenações Afonsinas e toda a matéria circundante.
Nesta matéria foi complementado com achegas de Espinosa da Silva[4] e Algumas
reflexões sobre o direito subsidiário nas Ordenações Afonsinas, da autoria de José Artur
Duarte Nogueira[5].
Martim de Albuquerque[6] é outro acreditado investigador moderno que conta
com uma extensa literatura histórico-jurídica publicada, que iremos referindo ao longo
desta dissertação. Para já importa referir que, no âmbito das Ordenações Afonsinas,
divulgou um influente trabalho intitulado O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas[7].
Neste trabalho, contesta-se, abertamente, as “asserções de Marcello Caetano sobre o
compilador [Rui Fernandes] e os revisores das Ordenações” e “as dúvidas cronológicas pelo
falecido Mestre formuladas quanto à feitura / conclusão / vigência das mesmas”[8]. Além disso,
pela primeira vez, se questiona a visão tradicional da historiografia jurídica que atribui a
João Mendes a elaboração do livro I e a Rui Fernandes os restantes quatro, propondo
uma inversão de papéis e outorgando a Rui Fernandes o livro I e a João Mendes os
livros II a V. No entanto, apesar dos incontornáveis argumentos aduzidos, o autor não
chega a conclusões definitivas, reivindicando antes que:

da Universidade de Coimbra, 2000, pp.194 e 266.


Idem, p. 270, nota 9: “O texto desta bula parece inspirado na teoria Gelasiana dos dois gládios. No entanto
a separação de funções era ilusória, porque mesmo S. Bernardo defende que a autoridade civil está sub-
metida à pontifícia, isto é, aquela possui a força coerciva das armas, mas sob a ‘direcção’ da Santa Sé. Cfr.
Cardeal Yves CONGAR – La trop fameuse théorie des deux glaives. In Sainte Église. Etudes et approches
ecclésiologiques. Paris, 1963, p. 411-416”.
1
COELHO e HOMEM, Nova História de Portugal, p. 94.
2
Guilherme Braga da CRUZ, História do Direito Português, Coimbra, 1955 (dactilografada).
3
Guilherme Braga da CRUZ, “O direito subsidiário na história do direito português”, sep. da Revista Por-
tuguesa de História, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Tomo XIV, vol. III em homenagem
ao Doutor Paulo Merêa, Coimbra, 1975, pp. 177-316.
4
SILVA, História do Direito, pp. 193-206.
5
José Artur A. Duarte NOGUEIRA, Algumas reflexões sobre o direito subsidiário nas Ordenações Afonsi-
nas, sep. da Revista de Direito e de Estudos Sociais, ano XXIV, n.º 4, Coimbra, 1980.
6
Autor de uma História do Direito, em parceria com o seu irmão Rui de Albuquerque.
7
Martim de ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, in Biblos, vol. LXIX, fl. 157-
171. (reeditado em Estudos de Cultura Portuguesa, vol. 3, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2002, pp. 43-63).
8
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 167.

36
José Domingues

“Somente um exame comparativo, de fundo, substancial, das Ordenações de


D. Duarte com as Ordenações Afonsinas poderá, acaso, e na falta de documento
esclarecedor, desvendar a aportação em concreto dos compiladores. Até que seja
efectuado semelhante exame – necessariamente moroso e penoso – nada de definitivo ou de
seguro se poderá adiantar e permanecerá por resolver um largo feixe de dúvidas”[1]

Mais recentemente, a dissertação de Doutoramento de Luís Miguel Duarte,


Justiça e Criminalidade no Portugal Medievo (1459-1481), publicada pela Fundação
Calouste Gulbenkian, contempla em muitas passagens esta compilação afonsina, já
que a sua investigação abrange grande parte do seu período de vigência[2]. Entre uma
multiplicidade de informações sobre esta compilação afonsina, o autor questiona a
designação secular de Ordenações Afonsinas.
Maria do Rosário de Sampaio Themudo fez um trabalho em torno de “Medievalidade
e de Modernidade nas Primeiras Ordenações Portuguesas”[3].
Um dos mais recentes autores, com vários trabalhos dedicados às Ordenações
Afonsinas, é Armando Luís de Carvalho Homem. Do seu punho saiu um dos últimos
trabalhos exclusivos das Afonsinas, publicado em Francês, sob o título Législation et
compilation législative au Portugal du début du XVe siécle: la genése des «Ordonnaces
d’Alphonse V»[4]. Neste trabalho faz-se um apanhado genérico das teses recentemente
defendidas, nomeadamente a de Luís Miguel Duarte e a de Martim de Albuquerque,
mas, ao invés do último, que defende a preponderância de D. Pedro, reivindica todo o
mérito da compilação para o seu irmão, el-rei D. Duarte[5]. Em outros trabalhos deste
autor se podem colher informações inerentes[6], que serão analisadas oportunamente.
Algumas destas últimas teses e outros elementos relevantes podem também ser
coligidos nos trabalhos de João Alves Dias, nomeadamente a sua introdução à recente
edição fac-simile das Manuelinas[7].
Por estar, de alguma forma, relacionada com as Ordenações Afonsinas, as biografias
dos seus compiladores é de uma importância extrema, por isso aqui fica mencionada,
senão toda, pelo menos a mais recente e de maior relevância. A biografia documentada
de João Mendes está traçada no Desembargo Régio de Armando Luís de Carvalho
Homem[8] e complementada por Judite Gonçalves de Freitas[9]. A biografia de Rui

1
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, pp. 170-171.
2
DUARTE, Justiça e Criminalidade no Portugal Medievo (1459-1481), Fundação Calouste Gulbenkian – Funda-
ção para a Ciência e a Tecnologia, Textos Universitários de Ciências Sociais e Humanas, Coimbra, [1999].
3
Maria do Rosário de Sampaio THEMUDO, “A Propósito de Medievalidade e de Modernidade nas Primei-
ras Ordenações Portuguesas”. Pensamiento Medieval Hispano. Homenaje a Horacio Santiago-Otero. Madrid,
1998, vol. 1, pp. 465-472.
4
Armando Luís de Carvalho HOMEM, “Législation et compilation législative au Portugal du début du
XVe siécle: la genése des «Ordonnaces d’Alphonse V». in Saint-Denis et la Royauté. Études offertes à Bernard
Guenée, membre de l’Istitut, ed. Françoise AUTRAND, Claude GAUVARD et Jean-Marie MOEGLIN, Pa-
ris, Publication de la Sorbonne, 1999.
5
HOMEM, “Législation et compilation législative, p. 680.
6
HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, 1994.
Idem, “Ofício régio e serviço ao Rei em finais do século XV”, 1997.
Idem, “Rei e «Estado Real» nos textos legislativos da Idade Média portuguesa”, 1999.
Idem, “Estado Moderno e Legislação régia: Produção e Compilação Legislativa em Portugal (séculos
XIII‑XV)”, 1999.
7
DIAS, Introdução às Ordenações Manuelinas, Lisboa, 2002.
8
Armando Luís Carvalho HOMEM, O Desembargo Régio (1320-1433), História Medieval – 5, Instituto Na-
cional de Investigação Científica, Centro de História da Universidade do Porto, Porto, 1990, p. 346.
9
Judite Antonieta Gonçalves de FREITAS, A Burocracia do “Eloquente” (1433-1438), Porto, 1991, vol. II, pp.
85-89. (Dissertação de Mestrado em História Medieval, pub. em Os textos, as normas, as gentes, Cascais,
Patrimonia, 1996.)

37
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

Fernandes foi exaustivamente levantada por Humberto Baquero Moreno, a propósito


da sua dissertação de Doutoramento, sobre a Batalha de Alfarrobeira[1], por Espinosa da
Silva no Dicionário de História de Portugal[2] e complementada por Carvalho Homem[3] e
Judite Gonçalves de Freitas[4].

3. Resenha Cronológica de Legislação Medieval Portuguesa


Um pouco diferente de toda a bibliografia acima referenciada, mas não de some-
nos importância, é a de arrolar, em súmulas organizadas por ordem cronológica, a
legislação régia portuguesa. Por ser de uma relevância crucial para esta dissertação,
o conhecimento minucioso, na medida do possível, do mundo da legislação genérica
medieval e das suas fontes, reservei para o final, em anexo, um elenco para o período
estudado, desde a Cúria de Coimbra [1211] até à publicação das primeiras Ordenações
Manuelinas [1512].
Mas esta tentativa de apresentar, cronologicamente, os sumários das leis gerais
do reino de Portugal medievo, enunciando as respectivas fontes, não é tarefa inédita,
antes pelo contrário, foi empreendida pelos mais acreditados investigadores na área
do conhecimento histórico-jurídico, para períodos mais ou menos alargados. Para o
período mediévico que nos interessa contam-se nomes como José Anastácio de Figuei-
redo, João Pedro Ribeiro, Alexandre Herculano e, mais recentemente, Armando Luís
Carvalho Homem.
A primeira obra do género, publicada no ano de 1783, parece ter sido o Repertorio
chronologico das leis, pragmáticas, alvarás… extrahido de muitas collecções, e diversos authores,
que se revela demasiado rudimentar, ultrapassada e isenta de qualquer interesse para
o arrolamento dos diplomas da época que nos interessa – pondere-se, sobretudo, a
total ausência das fontes primordiais do Livro das Leis e Posturas, das Ordenações de D.
Duarte e das Ordenações Afonsinas[5]. Ainda no século XVIII, na última década, saiu a
lume outra obra do género, da acreditada lavra de José Anastácio de Figueiredo, que
lhe deu o sugestivo título de Synopsis Chronologica de subsidios ainda os mais raros para a
historia e estudo critico da legislação portugueza.
Posteriormente, o sócio efectivo da Academia Real das Ciências de Lisboa, João
Pedro Ribeiro, num manifesto complemento da obra de Figueiredo, publicou, no ano
de 1829, os Additamentos e Retoques à Synopse Chronologica – iniciada com um diploma
de Março do ano de 1170 e terminada em diploma de 27 de Dezembro de 1602. Sem
autor e sem data, com um último diploma datado de 1816, foi publicado o Reperto-
rio dos lugares das leis extravagantes, Regimentos, Alvarás, Decretos, Assentos, e Resoluções
Regias, Promulgadas sobre materias Criminaes antes, e depois das Compilações das Ordenações
por Ordem Chronologica.

1
Humberto Baquero MORENO, A Batalha de Alfarrobeira, antecedentes e significado histórico, Biblioteca Geral
da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1980, vol. II, pp. 804-808.
2
Nuno Espinosa Gomes da SILVA, “Fernandes, Rui”, in Dicionário de História de Portugal, vol. II, pp. 203-204.
3
HOMEM, O Desembargo Régio, pp. 380-382.
4
FREITAS, A Burocracia do “Eloquente”, pp. 210-212.
A propósito das Afonsinas, também desta autora, “Tradição legal, codificação e práticas institucionais: um
relance pelo Poder Régio no Portugal de Quatrocentos”, Revista da Faculdade de Letras História, Porto, III
Série, vol. 7, 2006.
5
Repertorio chronologico das leis, pragmáticas, alvarás… extrahido de muitas collecções, e diversos authores por J. P.
D. R. X. D. S. Lisboa, Francisco Luiz Ameno, 1783.

38
José Domingues

Também este último trabalho é de somenos importância. No entanto, entregue o


levantamento e inventário da legislação do reino a dois dos mais afamados investiga-
dores do ramo – Figueiredo e Ribeiro –, poderia parecer azáfama concluída. No entan-
to, as glosas não se fizeram esperar. Alexandre Herculano, no prefácio ao arrolamento
e publicação integral da legislação desde o princípio da monarquia até ao final do
reinado de D. Afonso III, publicado na ingente colectânea dos Portugaliae Monumenta
Historica, é severo e terminante. Não só pelo seu elevado rigor crítico e científico, mas,
sobretudo, porque define os critérios de definição do diploma normativo geral, vale a
pena transcrever toda esta passagem de Herculano:

“Os dous académicos, Figueiredo e Ribeiro, um na Synopsis Chronologica, outro


nos Additamentos e Retoques à mesma Synopsis, teceram o catalogo dos pri-
meiros monumentos legislativos da monarchia; mas as suas opiniões acerca dos
caractéres que distinguem esses actos de outors actos publicos parece terem sido
fluctuantes e inexactas. A justiça, porém, pede que se diga que elles abriram as
fontes legitimas da historia da nossa legislação geral primitiva até então, a bem
dizer, conhecida apenas pelas Ordenações Affonsinas.
O auctor da Synopsis incluiu no seu catalogo de leis as concordias ou concordatas
celebradas pelos monarchas com o corpo ecclesiastico ou com uma parte delle.
Estas concordatas não eram as mais das vezes actos que estabelecessem direito
novo, ou interpretassem as anteriores leis do reino: eram de ordinario o reconheci-
mento de que o direito do clero em relação à sociedade civil tinha sido offendido,
obrigando-se o rei por esses accordos a respeitar as chamadas immunidades eccle-
siasticas fundadas na jurisprudencia canonica, e reconhecendo tambem o clero
pela sua parte certos direitos do rei em relação ao corpo ecclesiastico. A natureza
das concordatas estava longe de ser a mesma de uma lei civil, aliás muitos actos,
semelhantes na sua indole, deveriam ser incluidos entre os monumentos legisla-
tivos. É unicamente quando consta que as chamadas concordias foram resolvidas
em côrtes, ou derivaram de resoluções ahi tomadas, que ellas teem de entrar nesta
parte do nosso trabalho, conforme ao que adiante havemos de advertir.
O que sobretudo parece estranho é o haver o auctor da Synopsis incluido no seu
indice diplomas regios, onde não é possível encontrar o menor vestigio da indole
legislativa, achando-se nos nossos archivos milhares delles inteiramente seme-
lhantes aos que ahi se mencionam, e que ninguem se lembraria de classificar como
leis. Taes são os privilegios concedidos ao mosteiro de S. Cruz de Coimbra em
1184 e a doação de Aviz à ordem de Calatrava em 1211. Estes documentos, e mui-
tos analogos a elles, são importantes para a historia, mas só poderão ter cabida
n’outro logar desta compilação.
Ribeiro considerou como lei geral a carta a favor dos mouros livres concedida por
Affonso I. Até certo ponto as Ordenações Affonsinas legitimavam a qualificação,
porque não só naquele codigo, como tambem nos antigos exemplares donde foi
tirada, essa carta se refere aos sarracenos de varias povoações; mas o diploma é
um verdadeiro foral, que deve ser incluido na secção relativa às leis especiais dos
municípios. Por mais que os direitos e deveres dos mouros forros se generalisassem,
esses direitos e deveres foram em regra, como veremos, estabelecidos por acto
especial, embora abrangessem as communas de mais de uma povoação. Seguindo
o systema de Figueiredo, Ribeiro considerou tambem as concordias dos prelados
com Sancho II como leis, e bem assim muitos documentos de Affonso II e de Affonso
III que mais nada são do que actos especialissimos puramente administrativos e
transitorios. Tal é a carta de 1222 sobre a cultura das Lesiras do Tejo; e varios
outros diplomas, indicados nos Additamentos e Retoques, relativos a epochas
posteriores áquella a que actualmente nos limitâmos. O caracter essencial da lei,

39
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

manifestação authentica da soberania, seja qual for o individuo ou corpo que


exercite esta, e que sempre se refere a um objecto de interesse commum, consiste
em ser a mesma lei de applicação não só permanente e obrigativa mas tambem
geral. Póde ella abranger todos os individuos ou restringir-se a certo grupo, como
por exemplo aos officiaes publicos, regulando os deveres de seus cargos, aos
menores, que carecem de maior protecção da sociedade, à nobreza, ampliando
ou limitando os seus privilegios, a um gremio municipal, que nas materias de
exclusivo interesse do municipio é regido por leis particulares; posto que assim
restricto, o acto legislativo continua a conservar o caracter que lhe é proprio; nas
leis, todavia, que se referem a um determinado grupo ha uma distincção, que nos
serviu de norma na disposição do presente trabalho. Umas respeitam a todo o
paiz ou às funcções do governo geral, embora tractem dos direitos e deveres de
certa classe de pessoas e regulem as relações desses individuos, como taes, com
o resto da sociedade: as outras dizem exclusivamente respeito aos habitantes de
uma circumscrição territorial, de um municipio. Estas sem perderem o caracter de
generalidade, e por consequencia de leis, em relação a esse territorio, perdem-na
em relação ao paiz e ficam constituindo uma legislação especial.”[1]

Nesta colectânea, Herculano, não se confina aos sumários e às fontes, fazendo


mesmo uma edição integral dos diplomas e anotando as diversas variantes para
cada um, acompanhados de uma crítica polida e de um prefácio perspicaz. Estas
particularidades fazem com que, passado mais de um século da sua promulgação,
esta obra continue impar, perfeitamente actualizada e imprescindível para qualquer
que pretenda estudar os primeiros séculos da monarquia portuguesa e dos seus
monumentos legislativos.
De qualquer forma, se não há bela sem senão, também não há obras cientificas
absolutas, por isso, Paulo Merêa descobriu Um erro importante dos Portugaliae Monumenta
Historica[2]. Existem gralhas de impressão em, pelo menos, dois diplomas do reinado
de Afonso III: o diploma n.º XII saiu com a data errada de 1263, quando devia ser 1265,
como, facilmente, se depreende da ordem cronológica dos diplomas anteriores[3]; e
no diploma n.º XXI, aparece em epígrafe o dia 31 em vez de 13, que consta no texto
e na fonte[4]. Por outro lado, o diploma de 27 de Janeiro de 1274 (n.º XXV) é apenas a
confirmação da provisão de 28 de Julho de 1265 (n.º XII), sobre anúduvas, e não um
verdadeiro diploma normativo. Ou seja, destes dois só o diploma n.º XII pode ser
considerado como lei geral, sendo o outro uma mera confirmação ou traslado. No
entanto, o inexplicável erro de Herculano, já que é premeditado, foi o de, ao contrário
dos seus antecessores – Figueiredo e Ribeiro – fazer tábua rasa das fontes impressas
anteriores, onde já tinham sido publicados alguns destes monumentos – Terá que
exceptuar-se o diploma XIII de Afonso III, de 4 de Maio de 1266[5]. Por outro lado,
apresenta alvitres dos seus antecessores sem a devida menção, o que fez com que, por
vezes, lhe sejam atribuídos pareceres de lavra alheia.

1
Portugaliae Monumenta Historica, Leges et Consuetudines, pp. 145-146.
2
M. Paulo MERÊA, “Um erro importante dos Portugaliae Monumenta Historica”, in Boletim da Faculdade
de Direito, Coimbra, vol. 33, 1957, pp. 335-336.
3
Portugaliae Monumenta Historica, Leges et Consuetudines, p. 216.
Cfr. BARROS, Historia da Administração Pública em Portugal nos Séculos XII a XV. 2.ª edição dirigida por
Torquato de Sousa Soares, Tomo I, Lisboa, 1945, p. 138, nota 7.
4
Portugaliae Monumenta Historica, Leges et Consuetudines, p. 226.
5
Portugaliae Monumenta Historica, Leges et Consuetudines, p. 217: “Fr. F. Brandão publicou-o no Appendice
da V Parte da Monarchia Lusitana copiado do archivo municipal de Coimbra, onde já não o encontramos. Publicou-o
tambem Barbosa no Catalogo das Rainhas de Portugal, p. 66”.

40
José Domingues

Quanto às fontes, o primeiro lapso desta grandiosa obra é a não referência das
Ordenações Afonsinas, livro 3, título 6, § 1, para o diploma n.º CXCVI, do reinado de
Afonso III[1]. Herculano cotejou cuidadosamente as Ordenações Afonsinas, para a
consecução da sua obra, mas, neste ponto, escapou-lhe a vertente desta lei afonsina. Por
outro lado, existem outras importantes fontes documentais, que Herculano não teve
oportunidade de consultar. Nomeadamente, um original da lei de 11 de Abril de 1261,
sobre a quebra da moeda na Colecção Cronológica do Arquivo Distrital de Braga[2] e
um apógrafo, da mesma lei, no Livro das Cadeias, do mesmo arquivo[3]. Também da
lei de Março de 1261 consta um apógrafo, no Livro A do Arquivo Histórico do Porto,
transcrito a partir de um alvará de 1 de Outubro de 1526[4]. E a lei das anúduvas, de
28 de Julho de 1265, dirigida às justiças da terra de Celorico de Bastos, consta também
no Arquivo Distrital de Braga, em traslado régio de 10 de Junho de 1285[5]. Mas a
confirmação dessa lei já tinha sido feita à Sé de Braga, em Santarém, por diploma de 5
de Fevereiro de 1274[6], saído dessas Cortes, à semelhança dos referidos nos Portugaliae
Monumenta Historica[7].
Fátima Regina Fernandes dedicou uma obra aos Comentários à Legislação
Medieval Portuguesa de Afonso III, Direito Material e Direito Processual, desbravando as
dificuldades de interpretação do latim e português medieval, do século XIII[8]. De suma
importância o trabalho de tese de Maria Teresa da Silva Morais intitulado Leis gerais
desde o início da monarquia até ao fim do reinado de D. Afonso III: levantamento comparativo
entre os Portugaliae Monumenta Historica, o Livro das Leis e Posturas e as Ordenações de D.
Duarte[9], com um título específico dedicado a “Algumas observações sobre os «Portugaliae
Monumenta Historica»”, onde põe a descoberto e faz uma análise crítica dos critérios
estruturantes e orientadores de Herculano.
De superior peso é, também, a douta contestação que Marcello Caetano move
à data crítica do regimento oficial do meirinho-mor, outorgado por Afonso III. Este
autor, no seu estudo exaustivo sobre as Cortes de Leiria de 1254, ao redigir a Nota sobre
a data provável dos agravamentos de Coimbra e Montemor-o-Velho, chega à conclusão de
que “D. Afonso III deve ter enviado meirinhos por todo o Reino logo no começo do seu reinado,
sendo de admitir que lhes tivesse dado regimento quando os instituiu (1248?) ou tratasse de
definir com mais precisão as atribuições deles em face das reclamações episcopais (1250)”[10].
Vale a pena transcrever as derradeiras conclusões deste douto investigador, sobre
os agravamentos de Coimbra e Montemor-o-Velho e, consequentemente, do anexo
regimento do meirinho-mor:

1
Portugaliae Monumenta Historica, Leges et Consuetudines, p. 302.
2
Braga, AD – Colecção Cronológica, doc.º65.
3
Braga, AD – Livro das cadeias, doc. 56, fls. 36v-38v.
4
Porto, AHM – Livro A, fl. 151-154.
5
Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. 115.
6
Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. 89.
7
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 231.
8
Fátima Regina FERNANDES, Comentários à Legislação Medieval Portuguesa de Afonso III. Direito Material e
Direito Processual, Juruá Editora, Curitiba, 2000.
9
Maria Teresa da Silva MORAIS, Leis gerais desde o início da monarquia até ao fim do reinado de D. Afonso III:
levantamento comparativo entre os Portugaliae Monumenta Historica, o Livro das Leis e Posturas e as Ordenações
de D. Duarte, Lisboa, 1984. (Relatório de Mestrado em História do Direito). in Estudos em homenagem ao Prof.
Doutor Manuel Gomes da Silva, Lisboa, 2001, pp. 799-882.
10
Marcello CAETANO, As Cortes de Leiria de 1254, memória comemorativa do VII centenário, Lisboa, 1954, p. 52.

41
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

a) “Os agravamentos de Coimbra e de Montemor-o-Velho não devem ter sido apresentados


às Cortes de 1254.
b) São despachados em nome do Rei e não pelo próprio Soberano.
c) O facto de estarem juntos com o regimento dos meirinhos, leva a crer que hajam sido
antecedente ou resultado da visita de um meirinho aos concelhos respectivos.
d) Parece mais provável que datem de 1250, em virtude da referência à presença de gente
de Montemor no castelo de Marvão.
e) Caso se não aceite que foram despachados por um meirinho, há muita probabilidade de
pertencerem às Cortes de Guimarães de 1250.”[1]

O interesse e importância vital da datação crítica deste diploma prende-se com


a questão hodierna da origem dos meirinhos-mores de comarca, que continua em
aberto. Já Gama Barros tinha por indubitável que a instituição dos meirinhos-mores
com alçada numa determinada região (comarca ou província) datava do reinado do
Conde de Bolonha, mas desconhecendo o ano do seu início[2]. Para Caetano, como ficou
dito, o regimento dos meirinhos-mores de comarca (bem como os artigos de Coimbra
e Montemor-o-Velho) não pertence às Cortes de Leiria de 1254 e teria sido firmado por
volta dos anos de 1248-1250.
Recentemente, Leontina Ventura, aventa como mais provável a data de 1261,
apoiando-se numa das hipotéticas datas de Herculano, sem contraditar, nem sequer
referir, a argumentação de Marcello Caetano. Para esta conspícua conhecedora do rei-
nado de Afonso III parece patente que até meados de 1260 o rei se dirige aos seus
vários meirinhos, mas em documento de 22 de Novembro de 1263 já se dirige ao mei-
rinho-mor de Entre-Douro-e-Tâmega, Nuno Martins de Chacim, e em 25 de Agosto de
1265 se dirige ao meirinho de Entre-Douro-e-Mondego:

“É possível que tenham sido criados em 1261, uma das datas atribuídas à lei 57 de Afonso
III, que constitui praticamente um regimento das funções do meirinho (cf. Leges, pp.
252-253; J. Mattoso, Identificação de um País…, II, pp. 129-130). Com efeito até
meados de 1260, o Rei, através de seu sobrejuiz, dirige-se aos seus vários meirinhos
– Gonçalo Mendes, Martim Anes e Domingos Soares – informando-os de diversas
queixas de mosteiros e Sés contra eles. A 22 de Novembro de 1263, Afonso III
dirige-se a Nuno Martins de Chacim meo meirino maiori et universius meyrinis qui
pro tempore fuerint inter Dorium et Tamegam. A 25 de Agosto de 1265 o Rei dirige-se
ao meirinho de Entre Douro e Mondego, ordenando-lhe que lance seus encoutos
sobre aqueles que, contra as suas cartas, pousarem nos coutos e herdades do
cabido da Sé de Coimbra”[3]

Muito antes da data apontada pela autora (1263), D. Afonso III dirige a carta de 6
de Setembro de 1255 a Martim Rial, seu meirinho ou aquele que em seu lugar for, e aos
porteiros de Entre-Douro-e-Minho.

1
CAETANO, As Cortes de Leiria de 1254, pp. 52-53.
É a segunda hipótese – “probabilidade de pertencerem às Cortes de Guimarães de 1250” – que perfilha Torqua-
to de Sousa Soares [Torquato de Sousa SOARES, “Antecedentes das Cortes reunidas em Guimarães em
1250”, Revista Portuguesa de História, tomo XX, Coimbra, 1983, p. 147, nota 19].
2
BARROS, História da Administração Pública em Portugal nos séculos XII a XV, 2.ª edição dirigida por
Torquato de Sousa Soares, tomo XI (edição póstuma), Lisboa, 1954, pp. 140-141.
3
Leontina VENTURA, A Nobreza da Corte de Afonso III, Dissertação de Doutoramento apresentada à Uni-
versidade de Coimbra, Coimbra, 1992, vol. I, p. 97, nota 4.

42
José Domingues

Por outro lado, não se podendo isentar das referências documentais aos meirinhos
régios antecedentes ao ano de 1261, a autora, na esteira de Gama Barros[1], argumenta
tratarem-se de comissões extraordinárias, sem circunscrição fixa[2]. Não me parece
procedente, se tivermos em conta que, só no meirinhado de Entre-Douro-e-Minho,
nos surge João Afonso (1250-1255) em quatro actuações documentadas e João Mendes
(1256-1258) em três situações. Analisemos este meirinhado mais de perto.
João Afonso, o primeiro meirinho de que há conhecimento, aparece a actuar no
Porto no ano de 1250, fazendo inquirição de como costumavam andar as vendas entre
a vila do burgo (Vila Nova de Gaia) e a vila do bispo (Porto)[3]. Por carta de 2 de Julho
de 1253, em Guimarães, o monarca manda ao seu meirinho João Afonso que amparasse
e defendesse a igreja de Vila do Conde e o seu prior Estêvão Pedro[4]. A sua actuação
continuou a sentir-se em Entre-Douro-e-Minho, ordenando-lhe o monarca, por carta
de 17 de Junho de 1255, que não obrigue, à força, os moradores do Porto a servir
nas barcas e galés régias, mas que deixe servir os que vierem de livre vontade[5]. Nas
inquirições de 1258, ao perguntar-se pelo padroado da igreja de S. Julião de Azurara
(Vila do Conde), uma testemunha ajuramentada recorda a inquirição feita por este
meirinho, a propósito da devolução do padroado a Fernando Rodrigues[6]. Trata-se
de um facto passado, já que há data destas inquirições este meirinho já tinha sido
transferido para o meirinhado de Aquém-Douro, sendo referido em Eiriz, terra de
Parada e em Avarrazaes[7]. Ainda nestas inquirições, no julgado de Barroso, se faz
referência a “Johanne Alfonsi meirino”[8].
Essa mudança de meirinhado efectuou-se ainda no ano de 1255, uma vez que
em 6 de Setembro de 1255 já era meirinho nesta circunscrição Martim Rial[9]. Pouco
tempo deve ter exercido a função, pois é o único documento escrito que o refere como
meirinho, aparecendo sobretudo como almoxarife de Guimarães entre os anos de 1258
e 1263[10].
João Mendes deve ter sido o seu legitimo sucessor, que já aparece em provisão
de 1256, para não encoutar as pessoas e moradores do Porto[11]. Em Santarém, a 26 de
Fevereiro de 1257, Afonso III dita uma sentença régia, que dirige a “Johanni Menedi
meo Meyrino”, contra D. Teresa Eanes e seu filho Gonçalo Mendes e a favor de D.
Constança Sanches e seus sobrinhos, D. Afonso Teles e D. Martim Afonso, mandando
restituir a posse dos bens de D. Maria Pais, situados em Vila do Conde, Pousadela e
Parada, de que tinham sido esbulhados[12]. O privilégio do couto de Barbeita, actual
concelho de Monção, é mandado observar por carta de 19 de Dezembro de 1257,
dirigida a este meirinho[13]. Em 1258, na freguesia de S. Tiago de Rande, julgado de

1
BARROS, História da Administração Pública, tomo XI, pp. 153-154. Que Leontina Ventura não cita.
2
VENTURA, A Nobreza da Corte de Afonso III, vol. I, p. 501.
3
Corpus Codicum, vol. II, pp. 47-48.
4
IAN/TT – Colegiada de Guimarães, Documentos Reais, maço 1, doc. 10.
5
Corpus Codicum, vol. II, p. 48.
6
João Pedro RIBEIRO, Memoria para a historia das inquirições dos primeiros reinados de Portugal colligidas pelos
discípulos da aula de Diplomática no anno de 1814 para 1815, Lisboa, na Impressão Regia, 1815, p. 68.
7
Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, pp. 944 e 1032.
8
Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p.1513.
9
Braga, AD – Gaveta 2 de Igrejas, n.º135.
10
João Pedro RIBEIRO, Dissertações Chronologicas e Criticas, Tomo III, Lisboa, 1857, doc. 29, pp. 82-85.
11
Corpus Codicum, vol. II, p. 48.
12
IAN/TT – Chancelaria de D. Afonso III, Liv. 1, fl. 19.
13
IAN/TT – Chancelaria de D. João I, Liv. 2, fls. 197v-198.

43
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

Felgueiras, já as suas funções de meirinho régio são referidas ao passado – João Mendes
“qui fuit merinus”[1].
Estas referências documentais, todas anteriores a 1261 e em diversos locais de
Entre-Douro-e-Minho, aliadas à douta argumentação de Marcello Caetano, não me
parecem compatíveis com a tese de Leontina Ventura. Antes pelo contrário, os vários
meirinhos, a multiplicidade de situações em que o mesmo meirinho actua Entre-Dou-
ro-e-Minho e a transferência para outro meirinhado (ex. João Afonso), parecem-me
indícios suficientes da sua existência desde 1250, pelo menos, com carácter de certa
permanência e num espaço territorial delimitado.
Voltamos à ingente obra de Herculano – à qual o próprio tencionava dar
continuidade[2] – que ainda não encontrou repercussão até aos nossos dias[3], continuando
a faltar uma edição crítica, exaustiva e sistemática da legislação para os reinados seguintes
a Afonso III[4]. No entanto, recentemente, Armando Luís de Carvalho Homem, para as
suas provas de habilitação a professor agregado à Faculdade de Letras da Universidade
do Porto (23 de Fevereiro de 1994), debruçou-se sobre o poder normativo da realeza ao
longo dos reinados de D. Dinis e D. Afonso IV – “Dionisius et Alfonsus, Dei Gratia Reges et
Communis Utilitatis Gratia Legiferi”[5]. Embora acrescentando outras verbas à sua matriz
– nomeadamente o dispositivo, matéria e observações – este trabalho pode inserir-se no
âmbito da bibliografia de inventariação cronológica da legislação medieval (data, local,
resumo e fontes)[6], que, neste título, vimos seguindo desde o século XVIII.
D. Dinis e D. Afonso IV são apresentados como dois dos reis legisladores por excelência
da nossa Idade Média pré-seculo XV, com um corpus legislativo de 249 leis (129 de D. Dinis,

1
Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, vol. I, p. 557.
2
Veja-se, por exemplo, o que ficou exarado a propósito das declarações de D. Dinis aos decretos de seu pai de
1261: “Os degredos de D. Dinis appensos a esta lei (…) reservâmo-los para serem publicados com os actos legislativos
daquelle principe” [Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 201].
3
A. H. de Oliveira MARQUES, Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa, 3.ª edição, Editorial Es-
tampa, Lisboa, 1988, p. 167: “Posteriormente aos Portugaliae Monumenta Historica poucas têm sido as colecções
sistemáticas de documentos publicados em terra portuguesa, para vergonha das autoridades culturais e não menos dos
eruditos amadores. Por isso, a continuação daqueles vários títulos só de forma escassa pode ser referida”.
4
Vide, a propósito, António Manuel Hespanha : “Apesar de muita da historiografia portuguesa do direito
se ocupar da história das fontes, há muitas questões em aberto na história da legislação portuguesa.
Para a Idade Média, começa-se por não se dispor de uma edição sistemática e crítica dos textos relevan-
tes: os P. M. H. recolhem os anteriores a 1279 (deixando por resolver muitos problemas de datação e de
reconstituição da tradição textual); a partir daí, apenas conhecemos, fundamentalmente, as leis inseridas
em colecções tardo-medievais («Livro das Leis e Posturas», publicado em 1971, e «Ordenações de D. Duar-
te»,…). Nomeadamente, as chancelarias de D. Dinis e dos reis seguintes (…) contêm muitas «leis» inéditas
ou já conhecidas, mas de datação incerta.” [António Manuel HESPANHA, “Nota do Tradutor”, in Intro-
dução Histórica ao Direito, John GILISSEN, Tradução de A. M. HESPANHA e L. M. Macaísta MALHEIROS,
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 4.ª edição, 2003, p. 318]
5
Armando Luís de Carvalho HOMEM, “Dionisius et Alfonsus, Dei Gratia Reges et Communis Utilitatis
Gratia Legiferi”, in Revista da Faculdade de Letras – História, II série, vol. IX, Porto, 1994, pp. 10-11. Esta obra
veio colmatar uma lacuna importante, conforme escreve o próprio autor ao elaborar o volume III da Nova
História de Portugal: “«A ausência de um estudo crítico sobre a legislação de D. Dinis impede de apreciar devidamen-
te a sua obra administrativa»: dada à estampa há apenas dois anos [refere-se à História de Portugal dirigida por
José Matoso], esta frase carece de actualização plena.” [Armando Luís de Carvalho HOMEM e Maria Helena
da Cruz COELHO, “Portugal em Definição de Fronteiras – do Condado Portucalense à crise do século
XIV”. in Nova História de Portugal, dirigida por Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, Editorial Presença,
Lisboa, 1996, p. 148]
6
“Para cada ordenação elaborei uma ficha-tipo, onde registei, para lá, obviamente, da data, do resumo do
conteúdo e das fontes, os seguintes items…” HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, p. 18.

44
José Domingues

120 de D. Afonso IV)[1]. As patentes discrepâncias com o que se apresenta no anexo I do


final deste trabalho – com uma cifra de 130 leis para D. Dinis e 143 para D. Afonso IV,
num total de 273 diplomas – são um inconcusso testemunho de que o arrolamento da
legislação medieval ainda está longe de definitivo remate e, apesar de todos os avanços
científicos, continua a não ser tarefa fácil. Com o devido respeito pelos avultados
conhecimentos deste último, bem como de todos os insignes investigadores que, até
à data, se dedicaram a esta ingrata faina, e sem quaisquer pretensões de reputado
ou terminante trabalho, permitam-me que exponha os passos que me conduziram às
cifras supra-aventadas.
Antes de mais, a disparidade de datas com que, não raro, nos aparece o mesmo
diploma normativo, em fontes diferentes ou mesmo na mesma fonte documental,
podem levar a que, a mesma lei, seja catalogada duas vezes. Carvalho Homem foi
várias vezes induzido em erro por esta divergência de data, ou falta da mesma, em
diplomas com o mesmo conteúdo.

Para o reinado de D. Dinis:


• A lei para que cavaleiros e donas não comprem bens em Arouca, que
aparece nas Ordenações de D. Duarte com a data de 1282/Outubro/21
e no Livro de Leis e Posturas com a data de 1286/Outubro/21, foi
registada com os n.º6 e 15, respectivamente[2].
• A lei sobre o juramento e os honorários dos advogados, com a data
de 1283/Fevereiro/26 no Livro das Leis e Posturas e com data de 1286/
Fevereiro/26 nas Ordenações de D. Duarte, foi registada com os n.º8 e
12.
• A lei para que não valha testemunho de cristão contra judeu sem
testemunho de judeu, que aparece com data de 1286/Janeiro/01 nas
Ordenações de D. Duarte e no Livro de Leis e Posturas, tem data de 1294/
Janeiro/01 nas Ordenações Afonsinas, o que lhe mereceu o registo n.º 11
e n.º 20, respectivamente[3]. Por maioria de razão, o ano correcto devia
ser o de 1286, que surge nos dois códices mais antigos (Livro de Leis e
Posturas e Ordenações de D. Duarte), mas esta lei repete-se, com a data
das Afonsinas, nos Foros de Beja[4] e, por outro lado, o itinerário régio
confirma este monarca em Coimbra no dia 1 de Janeiro de 1294.

1
HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, pp. 13 e 17. O número de 129 leis, paro reinado de D. Dinis, repete-se
em Armando Luís de Carvalho HOMEM e Maria Helena da Cruz COELHO, “Portugal em Definição de
Fronteiras – do Condado Portucalense à crise do século XIV”, p. 148.
Armando Luís de Carvalho HOMEM, “Estado Moderno e Legislação Régia: Produção e Compilação Le-
gislativa em Portugal (séculos XIII-XV)”, in A Génese do Estado Moderno no Portugal tardo-medievo, Lisboa,
Universidade Autónoma, 1999, p. 114: “D. Dinis e D. Afonso IV emitiram, os dois em conjunto, praticamente o
mesmo número de leis que Afonso III: 249 (=129 + 120)”.
Os mesmos totais – “Denis et Alphonse IV ont produit, à eux deux, à peu près le même nombre de lois
qu’Alphonse III: 249 (= 129+120)” – perseveram em Maria Helena da Cruz COELHO, e Armando Luís
de Carvalho HOMEM, “Les actes judiciaires de Pierre Ier du Portugal (1357-1366)”, Os Reinos Ibéricos na
Idade Média, Livro de Homenagem ao Professor Doutor Humberto Carlos Baquero Moreno. Coordenação
de Luís Adão da Fonseca, Luís Carlos Amaral e Maria Fernanda Ferreira Santos. Faculdade de Letras da
Universidade do Porto e Livraria Civilização, 2003, p. 1076. (communication présentée au X Congresso In-
ternazionale de la Commission Internacionale de Diplomatique: La Diplomática dei documenti giudiziari (dai placiti
agli acta – secc. XII-XV). [Bologne, le 13 septembre 2001]).
2
HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, pp. 43 e 45.
3
HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, pp. 44 e 46-47.
4
IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 71-71v – Foros de Beja.

45
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

• A resposta de D. Dinis aos agravamentos que os bispos do Porto,


da Guarda, de Lamego e de Viseu diziam lhe serem feitos no reino,
aparece datada de 1292/Agosto/23 no Livro de Leis e Posturas e de
1295/Agosto/23 nas Ordenações de D. Duarte, sendo-lhe atribuídos os
n.º 19 e 23. Neste caso, a data do Livro de Leis e Posturas é confirmada
pelas Ordenações Afonsinas[1]. Mas existem outras fontes documentais[2]
e impressas[3], que vem dar consistência à data de 1292.
• A lei das taxas a cobrar por escrivães, procuradores, advogados e
porteiros da audiência, consta com data de 1282/Janeiro/10 nas
Ordenações de D. Duarte e com duas datas distintas no Livro das Leis
e Posturas 1302/Junho/12 e 1303/Junho/10, sendo registada sob o
n.º2, 29 e 36. A data correcta só pode ser a de Junho de 1302, uma vez
que em Junho de 1282 estava D. Dinis em Trancoso[4] e em Janeiro de
1303 em Lisboa.
• A lei sobre as custas a levar pelos moradores do rei e da rainha
em processos, com data de 1303/Novembro/15 no Livro das Leis e
Posturas, aparece com a mesma data nas Ordenações de D. Duarte, mas
também surge datada de 1305/Novembro/15, sendo registada sob o
n.º39 e 48. A data que se repete nos dois códices é a mais provável.
• A lei para que ninguém vá contra o que foi absolvido por sentença do
rei ou seus ouvidores, datada de 1284/Fevereiro/21 nas Ordenações
Afonsinas, surge com data de 1304/Fevereiro/21 nas Ordenações de
D. Duarte e no Livro das Leis e Posturas em dois locais distintos, sendo
registada sob o n.º10 e 40.
• A lei da jurisdição régia sobre clérigos casados, consta com data de
1280/Agosto/08 nas Ordenações de D. Duarte e com data de 1305/
Agosto/09 no Livro das Leis e Posturas, sendo registada sob o n.º1 e
47. Nas Afonsinas aparece com a era de mil trezentos e treze anos
(1275), data errada incomportável com este reinado. A data correcta
parece ser a das Ordenações de D. Duarte, e a confusão deve ter sido
gerada pelo “X” aspado: devia constar M CCC X VIII, correcto nas
Ordenações de D. Duarte; M CCC XL III, no Livro das Leis e Posturas; e M
CCC X III nas Ordenações Afonsinas.
• A declaração da lei sobre os que vão contra outrem, mandando que
ela se entenda também no corregimento das chagas e feridas, aparece
com data de 1305/Maio/15 nas Ordenações de D. Duarte e com data
de 1310/Maio/25 no Livro das Leis e Posturas, sendo registada sob o
n.º44 e 58.
• A lei para que cavaleiros, fidalgos ou qualquer poderoso não tomem
ou mandem filhar bestas de sela nem de albarda sem grado dos
donos ou mandado de justiça, aparece datada de 1311/Fevereiro/03
nas Ordenações de D. Duarte e no Livro das Leis e Posturas e aparece sem
data nas Ordenações Afonsinas, sendo registada sob o n.º61 e 128.

1
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 3.
2
Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. n.º144.
Braga, AD – Livro das Cadeias, doc. 95, fls. 57-57v.
3
Monarquia Lusitana, Parte V, p. 209v
Gabriel PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora, 2.ª ed., INCM, 1998, pp. 34-35
4
Itinerário dÉl-Rei D. Dinis 1279-1325, p. 61.

46
José Domingues

• O conjunto de medidas para evitar as delongas maliciosas nos processos


aparecem datas de 1313/Setembro/15 nas Ordenações de D. Duarte[1] e
no Livro das Leis e Posturas, mas aparecem neste último também com
data de 1314/Setembro/15, sendo registada sob o n.º69 e 76.
• A lei das apelações está datada de 1317/Março/18 nas Ordenações
Afonsinas e de 1317/Agosto/18 no Livro de Leis e Posturas e nas
Ordenações de D. Duarte, variando o mês de outorga, e foi catalogada
por Carvalho Homem com os n.º83[2] e 84. Outra vez os dois códices
mais antigos em sintonia, mas um traslado do Livro de Extras e o
pergaminho avulso do Maço 1 de Leis, publicado por Ribeiro[3], vem
dar consistência ao mês apontado pelas Afonsinas, embora refiram o
dia 19.
• Por último, a lei sobre os crimes de bigamia e dos que casam ou
dormem com parentas ou criadas de seus senhores sem sua licença,
é uma só lei, datada de 1302/Agosto/11, mas que nas Ordenações
de D. Duarte foi dividida em duas partes, faltando, por isso, a data
na primeira parte[4]. Isto leva Carvalho Homem a inventariar esta
primeira parte, como lei autónoma e sem data, sob o n.º 99, quando
pertence ao diploma com o n.º 31.
• A lei que Carvalho Homem arrola sob o n.º72 não é nenhuma lei.
Trata-se da publicação da lei de 1314/Agosto/23. O autor confunde
o dia 28 com o dia 08 e, inexplicavelmente, diz ser “Revogação da lei
mandando vender por dívidas”, quando, a ser assim, a lei revogada
seria de data posterior.

Para além destas injustificadas duplicidades dos diplomas normativos dionisinos,


saliente-se que, para a lei da amortização de 1311, Carvalho Homem prefere o mês
e dia das Ordenações de D. Duarte (20 de Julho), apesar da incontestada maioria das
Ordenações Afonsinas e do Livro das Leis e Posturas (15 de Junho)[5]. Para além desta
maioria, a data de 15 de Junho conta ainda com o apoio do original das Gavetas[6] e do
apógrafo da Chancelaria[7].

Passando ao reinado de D. Afonso IV:


• O regimento dos porteiros e sacadores das dívidas surge nas Afonsi-
nas sem data, por isso foi colocado por Carvalho Homem entre esses
diplomas com o n.º 241, mas nas Ordenações de D. Duarte está datado
de 1345/Abril/08 (n.º178)
• A conjuntura da lei sobre contratos onzeneiros é análoga – não está
datada nas Afonsinas (n.º242), mas aparece com data de 1340/Abril/01
(n.º158) no Livro de Leis e Posturas e nas Ordenações de D. Duarte. Nas

1
Carvalho Homem omite esta fonte.
2
O título nas Afonsinas é o LXXIIII (74) e não o LXIIII (64).
3
RIBEIRO, Memorias para a Historia das Inquirições, doc. 34, pp. 105-106.
4
Ordenações de D. Duarte, p. 308.
5
HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, p. 57.
6
IAN/TT – Gaveta XV, maço 9, n.º17.
7
IAN/TT – Chancelaria de D. Dinis, Liv. 3, fl. 76.

47
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

Cortes deste reinado, impressas por Oliveira Marques, está datada de


1340, Julho, 01 (data da publicação)[1].
• O mesmo se diga da lei que prescreve a correição dos erros dos
porteiros – sem data no Livro de Leis e Posturas e nas Afonsinas (n.º249)
[2]
e com data de 1340/Julho/01 nas Ordenações de D. Duarte (n.º162),
também publicada por Oliveira Marques, a partir de outra fonte, com
esta data (data de publicação)[3].

Concluindo, ao corpus legislativo proposto por Carvalho Homem, para os reina-


dos de D. Dinis e D. Afonso IV, devem subtrair-se, pelo menos, dezoito diplomas, que
se encontram repetidos – n.º 6 ou n.º15, n.º 8 ou n.º 12, n.º11, n.º23, n.º 2 e n.º 36, n.º 48,
n.º 10, n.º 47, n.º 44 ou n.º 58, n.º 128, n.º 76, n.º84, n.º99, n.º 72, n.º241, n.º242 e n.º249.
Esta dedução alonga ainda mais a disparidade em relação ao cômputo geral do fundo
que apresento em anexo.
Para além do supra, das quatro concórdias ou concordatas dionisinas, que Hercu-
lano aconselha a excluir do elenco das leis gerais, Carvalho Homem afastou as de 1289
e a de 1309, mas, incompreensivelmente, arrolou a de 1292 e a outra sem data. Embora
se trate de direito próprio do reino, com a participação imediata do monarca, dada a
especificidade, será preferível arrolá-las em anexo apartado. O seja, mais dois diplo-
mas que não constam no nosso anexo I.
Mas a diferença prende-se, também, com a caracterização da lei geral medieval e,
consequentemente, com as fontes documentais utilizadas.
Herculano, como acima ficou transcrito, reprova os critérios de distinção, das leis
gerais da monarquia em relação a outros actos públicos, adoptados pelos seus doutos
antecessores – Figueiredo e Ribeiro. Antes de mais, exclui do elenco as concórdias ou
concordatas celebradas com o clero, mas, sobretudo, estranha os diplomas, “onde não é
possível encontrar o menor vestigio da indole legislativa”, tais como os privilégios concedidos
a um determinado mosteiro ou a doação de uma terra a uma ordem religioso‑militar.
Em relação à carta de foro a favor dos mouros livres, concedida por Afonso I, é mais
condescendente já que as Afonsinas poderiam legitimar a sua qualificação e se refere
aos sarracenos de várias localidades, mas, mesmo assim, reportou-a ás leis especiais
dos municípios – os forais. Para este autor os caracteres essências da lei resumem-
se aos da sua actualidade – “O caracter essencial da lei, manifestação authentica da
soberania, seja qual for o individuo ou corpo que exercite esta, e que sempre se refere
a um objecto de interesse commum, consiste em ser a mesma lei de applicação não só
permanente e obrigativa mas tambem geral” – em contraposição com quaisquer actos
especiais, puramente administrativos e transitórios.
Esta projecção, sobre o passado, dos elementos do conceito oitocentista de generalidade,
origem parlamentar, permanência e emanação da soberania, mereceu severa crítica de Manuel
Hespanha, que culpa Herculano de abordar o conceito de lei em termos historicamente
errados[4]. Para este autor – embora reconhecendo que não é este o rumo das fontes
documentais[5] – “se o interesse do historiador é o de detectar a medida de intervenção do poder

1
A. H. Oliveira MARQUES, Cortes D. Afonso IV, pp. 113-115.
2
O título nas Afonsinas é o CI (101) e não o CL (150).
3
MARQUES, Cortes D. Afonso IV, pp. 117-118.
4
HESPANHA, “Nota do Tradutor”, in Introdução Histórica ao Direito, John GILISSEN, p. 318.
5
Considerando o Livro de Leis e Posturas e as Ordenações de D. Duarte actividade de juízes da corte e os Foros
da Guarda, actividade de juízes locais.

48
José Domingues

eminente na constituição da ordem jurídica, então carece de adoptar um conceito que realce o
papel ‘constitutivo’ da vontade do titular desse poder (n)a intenção genérica de regulamentar
as relações sociais”[1]. Concluindo que 2/3 das leis contidas nos PMH são normas de
julgamento do tribunal da corte e apenas em 1/7 se distingue claramente a intenção
real de estabelecer direito novo; pelo que “só um estudo detalhado da tradição textual,
da cronologia e das fontes inspiradoras, tudo em ligação com a conjuntura política permitirá
avançar num diagnóstico claro da função legislativa dos reis portugueses da Idade Média”[2].
Carvalho Homem – preconizando o melindre de uma delimitação conceptual de lei para
a Idade Média tardia[3] – acaba por se apoiar em Léopold Génicot e Albert Rigaudière
- «acto promulgador de uma regra imperativa, para ordenamento das relações entre todos os
membros de uma comunidade» e «todo o acto que, emanado do rei ou de uma autoridade na
qual este delegou o seu poder, é inspirado pelo bem comum do reino e apresenta um certo
grau de permanência e de generalidade», respectivamente. Coloca alguns considerandos aos
diplomas que assumem a forma da carta. E assume a “não-contraponibilidade absoluta
da lei em relação ao privilégio”, arrolando 7 casos em que o acto legislativo apresenta
características de singularidade[4]. Mas será que todos estes casos enfermam de
singularidade?
Antes de qualquer resposta, passemos em revista o conceito de generalidade. Com
as devidas adaptações, parece que se não anda muito longe do percurso traçado por
Herculano e que, em última instância, se pode circunscrever às características actuais
da lei – imperatividade (aplicação permanente e obrigativa), generalidade e abstracção[5]. Ou
seja, sem descurar o contexto e as especificidades de cada época, a lei mantém, com as
devidas adaptações, as suas características de génese ao longo dos quase oito séculos
da monarquia lusitana.
Para traçar um conceito medieval de lei podemos acrescentar o erudito e bem
documentado trabalho de Martínez Martínez[6], que traça um percurso desde o ideal
romano – “fuertemente abocado al casuismo” – passando pela primeira concepção da
lei secular humana, nas Etimologias de São Isidoro, complementada por São Tomás
e transmitida às colectâneas de Afonso X. Desde São Tomás que a lei procura o bem
comum, considerando-se a lei como um mandato geral, excluindo-se as disposições de
carácter particular e os privilégios, como regra geral[7].
Do mesmo autor aspamos a passagem do Foro Real (c. 1255) que consigna a
característica de generalidade da norma legal:

1
HESPANHA, “Nota do Tradutor”, p. 318.
2
Idem, p. 319.
3
HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, p. 14.
4
Idem, pp. 34-35.
5
A coercibilidade, outra característica da norma legal actual, não é uma característica intrínseca à norma
jurídica.
6
Faustino MARTÍNEZ MARTÍNEZ, San Isidoro, Santo Tomás y Alfonso X: tres aproximaciones paralelas
al concepto de Ley.
7
MARTÍNEZ MARTÍNEZ, nota 30 e 31:
TOMÁS DE AQUINO, Tratado de la Ley, ed. cit. Capítulo I, Artículo 3: “La ley ante todo y principalmente,
mira al bien común. Y el ordenar todo al bien común es propio o de todo el pueblo o de quien toma la
representación del pueblo. Y por tanto el hacer la ley es propio o de todo el pueblo o de la persona pública
que tiene a su cuidado la dirección de toda la comunidad. Porque en todas las cosas quien debe ordenarlas
a un fin es aquel a quien pertenece dicho fin”.
TOMÁS DE AQUINO, Tratado de la Ley, ed. cit. Capítulo I, Artículo 4: “Y así, de los cuatro artículos prece-
dentes puede ya colegirse la definición de la ley que no es otra cosa sino cierta ordenación al bien común
promulgada por aquel que tiene a su cargo una comunidad”.

49
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

“La ley ama e enseña las cosas que son de Dios, e es fuente de enseñamiento,
e maestra de derecho, e de justicia, e ordenamiento de buenas costumbres, e
guiamiento del pueblo e de su vida, e es tan bien para las mugeres como para los
varones, tambien para los mancebos como para los viejos, tan bien para los sabios
como para los non sabios, asi para los de la cibdat como para los de fuera, e es
guarda del rey e de los pueblos”[1].

Mesmo assim admitem-se algumas excepções, nomeadamente, as especiais


circunstâncias de desconhecimento ou conhecimento deficiente da norma[2]. Para
rematar, refere o autor, “cuestión diferente sería la dispensa de la ley o la creación de
privilegios[3], derivada de ese esfuerzo superior encaminado a garantizar la perfecta adaptación
de la norma a la realidad concreta, con concordancia nuevamente con el pensamiento de Santo
Tomás[4]”.
Efectivamente, as dificuldades despertam quando os compiladores dos séculos
XIV e XV, ao lado de diplomas normativos, arrumam diplomas singulares – autênticos
privilégios. Mas, antes de qualquer tentativa de entendimento, analisemos esses casos
singulares, voltando ao trabalho de Carvalho Homem.
Dos enunciados por Carvalho Homem (7 casos), para os dois reinados que
analisou, penso que só a sentença contra João Afonso, a inquirição sobre rendas e inquiridores
na Estremadura nos últimos 10 anos e as declarações às leis da desamortização para o mosteiro
de Arouca, foram coligidos nas ditas colectâneas e apresentam características de
singularidade[5]. Porque os restantes diplomas – nomeadamente, dos 20 casos em que os
clérigos são da jurisdição régia e devem responder perante juiz leigo, os 11 casos em que a igreja
não dá asilo aos que nela se acolham, a dispensa do pagamento dos 3 soldos de Chancelaria para
as vilas ou lugares onde o rei ou a sua casa se encontrem, e as declarações de Afonso IV no
domínio dos coutos e honras – são genéricos e abstractos, nada obstando à sua qualificação
como leis gerais. O mesmo se não pode dizer da ordenação e regimento das capelas do Rei
e da Rainha na Sé de Lisboa e do regimento dos aniversários que os cónegos da Sé de Lisboa
devem cantar mensalmente nas capelas do rei, que constam do livro 11 da Estremadura,
mas, advirta-se, estes diplomas nem sequer foram compilados nos séculos XIV-XV.
Aliás, torna-se anacrónico, considerar como lei geral estes dois diplomas do
livro 11 da Estremadura e rejeitar, expressamente, os diplomas sobre exportação de
ouro e prata e sobre os direitos dos padroeiros, que também não foram coligidos nas
colectâneas legislativas:

1
Idem, nota 41 (Fuero Real 1, 6, 1.)
2
Na documentação portuguesa, não são escassos os pedidos de perdão ao monarca, baseados no desco-
nhecimento das suas ordenações.
3
Partida 3, 18, 1: “Previllejo tanto quiere decir como ley que es dada et otorgada del rey apartadamente á
algunt lugar ó á algunt home por le facer bien et merced”.
4
TOMÁS DE AQUINO, Tratado de la Ley, ed. cit. Capítulo VIII, Artículo 4: “La dispensa propiamente se
refiere a la adaptación de lo común a los sujetos particulares (...) Pues sucede algunas veces que algún pre-
cepto conveniente para el bien de la comunidad hablando en general, no lo sea para el de algún particular,
o no lo sea en un caso concreto; sea porque mediante el cumplimiento en tal caso se impediría un bien
mejor, sea porque se acarrearía algún mal, como ya antes de ha dicho. Mas sería peligroso que tal juicio
quedara en manos de cualquiera, a no ser en caso de una evidente emergencia, como ya antes se explicó.
Y por tanto quien tiene a su cargo el dirigir la comunidad tiene potestad para dispensar de la ley humana
que está bajo su cargo, en todos aquellos casos en que la ley sería perjudicial según las personas y los casos,
de modo que sea lícito el que no se observe algún precepto de la ley”.
5
HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, pp. 34-37.

50
José Domingues

“Não considero como leis os diplomas sobre exportação de ouro e prata e sobre os direitos
dos padroeiros, de 13 de Março de 1327 e 22 de Abril de 1328, respectivamente (…):
nada há no texto que os permita classificar como tal”[1]

Trata-se de dois monumentos que vem dar cumprimento a ordenações gerais,


que transitam do reinado de Afonso III, e o simples facto de terem chegado aos nossos
dias em forma de carta em nada lhe retira o carácter de lei. Assim como os diplomas
do livro 11 da Estremadura, apesar de serem referidos como regimento e ordenação, em
nada se assemelham a leis gerais. A terminologia utilizada pode ser enganosa e uma
carta encobrir uma verdadeira lei geral e uma ordenação ou regimento não se enqua-
drar no cômputo geral das leis do reino – tenha-se em conta a multiplicidade de orde-
nações e regimentos de carácter municipal, existentes à época. Até porque muitas leis
medievais chegaram ao nosso conhecimento através de cartas enviadas às justiças ou
outras instituições sob a forma de carta.
No mesmo seguimento, não suscita qualquer problema o classificar como lei
geral as declarações ou revogações, desde que também sejam gerais e abstractas[2], a um
diploma normativo antecedente – ninguém, actualmente, hesita perante as actuais leis
interpretativas, nem duvida da revogação expressa em próprio diploma normativo.
Sintetizando, para este trabalho e arrolamento anexo, considera-se como lei geral
do reino todo o diploma com características de imperatividade, generalidade e abstracção;
ou aqueles que, mesmo sendo singulares, tenham sido coligidos nas colectâneas dos
séculos XIV-XVI; e aqueles que não sejam uma mera confirmação, mas antes declaração
ou revogação de lei anterior. Assim sendo, das conjunturas apreendidas por Carvalho
Homem, apenas se rejeitam as do livro 11 da Estremadura e acrescentam-se as da
exportação de metais preciosos e a dos padroeiros, mantendo-se, também, os diplo-
mas considerados singulares que constem do Livro das Leis e Posturas, Ordenações de D.
Duarte, Ordenações Afonsinas, Ordenações Manuelinas e Extravagantes de Duarte Nunes
de Leão.
Mas a disparidade do inventário anexo com o de Carvalho Homem, prende-se
mais com uma série de diplomas normativos que ficaram por inventariar. Para além
de escassos exemplos – como o da lei sobre amâdigo[3]; as declarações dionisinas à
lei de seu pai sobre as comitivas e direitos dos padroeiros[4]; a ordenação para que
não paguem portagem os concelhos que para isso tiverem privilégio[5]; a revogação
de uma lei anterior que concedia ao rei o terço de todos os achados nas propriedades
particulares[6];ou a provisão para que, não obstante a defesa de que qualquer judeu
possuidor de quinhentas libras, ou mais, saia do reino sem autorização régia[7], o
possam fazer sem ela, dando fiador abonado a voltar[8] – a maioria desses diplomas
consta de duas fontes documentais, as Ordenações Afonsinas e os Foros de Beja – esta

1
HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, p. 29, nota 88.
2
As declarações ou revogações singulares, que preenchem o conceito de privilégio, consubstanciam a
plenitude do poder do rei, mas não são verdadeiras leis gerais. Vide, HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”,
pp. 37 e 39.
3
Lei de D. Dinis de 8 de Abril de 1290.
4
IAN/TT – Maço I de Leis, n.º15.
5
IAN/TT – Maço 1 de Leis, n.º89.
6
Cortes D. Afonso IV, p. 116-117.
7
A defesa de que qualquer judeu possuidor de quinhentas libras, ou mais, não saia do reino sem autoriza-
ção régia, consta na lei deste monarca de 1352, Novembro, 15 [Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 74, § 14].
8
Corpus Codicum, Porto, 1899, vol. I, p. 96-97

51
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

última não chegou a ser publicada na íntegra. Seguem os comandos normativos que
constam nesses dois cimélios e foram afastados do corpus do Dionisius et Alfonsus.

Das Afonsinas:
• 1294, Janeiro, 05 [Coimbra] – Dos que forçosamente filham posse da
coisa que outrem possui.
• 1301, Fev./Set., 01 [Santarém] – Da filha que se casa sem autoridade
de seu pai antes que aja vinte e cinco anos.
• 1279-1325 – Dos burlões e “inlizadores”.
• 1279-1325 – De como herda o filho do peão a herança de seu pai.
• [-----] – Que aquele que chamar tornadiço ou cão ao infiel que se
converteu cristão seja demandado perante os juizes seculares.
• 1340, Fevereiro, 11 [Estremoz] – Que pena deve haver aquele que
“jouuer” com mulher virgem ou viúva que vive honestamente.
• 1340, Fevereiro, 11 [Estremoz] – Que pena devem haver os alcaiotes
ou as alcaiotas que alcouvetarem mulheres virgens ou viúvas que
vivem honestamente.
• 1340, Fevereiro, 11 [Estremoz] – Que pena devem ter aqueles que
casarem com mulheres que viverem em poder de seus pais ou de
outrem.
• 1340, Fevereiro, 16/17 – Carta para que os alcaides dos mouros
guardem nos seus julgados entre si os seus direitos, usos e
costumes.
• 1340, Julho, 01 [Lisboa] – Lei contra o jogo a dinheiro, tavolagem.
• 1350(?), Maio, 20/30 [Santarém] – Que não possam demandar soldada
senão até três anos.
• 1354(?) – Do que levanta volta em concelho ou perante justiça.
• 1355, Agosto, 06 [Porto] – Lei acerca do fretamento dos navios.
• 1325-1357 – Das execuções que se fazem geralmente pelas sentenças.
• 1325-1357 – Do que matou sua mulher por a achar em adultério.

Dos Foros de Beja:


• 1315, Maio, 11 [Lisboa] – Lei que nenhum não acolha em sua casa
nenhum malfeitor e que cada justiça guarde a sua terra.
• 1325, Abril, 26 [Évora] – Como devem usar na almotaçaria e nas
cousas do concelho.
• 1338, Julho [Santarém] – Estas são as cousas que mandou el-rei fazer
ao corregedor pelas terras por onde andasse.
• 1340, Fevereiro, 11 [Estremoz] – Da pena que deve ter todo o homem
que fizer pecado de luxúria com mulher de Ordem.
• [-----] – Ordenação que manda que metam tantos homens bons e tais
que sejam para prol e bom vereamento.
• [-----] – Dos que ganham as cartas de segurança, como devem fazer
no tempo da segurança.

52
José Domingues

• [-----] – Dos clérigos casados e dos outros que trazem cuitelos grandes
e outras armas e andam de noite.
• [-----] – Como os que forem presos de crime não devem ser fiadores,
nem carcereiros.
• [-----] – Como devem logo desembargar as apelações do crime.
• [-----] – Dos advogados e dos procuradores, o que devem de fazer em
seu ofício e que não devem fazer volta no concelho.
• [-----] – Dos tabeliães que não devem vogar por nenhum e como
devem dar e fazer escrituras.
• [-----] – Que os mestres de cavalaria ou outros prelados que tiverem
lugar de justiça não dêem cartas de segurança.

Que não se arrolem as leis dos Foros de Beja ainda é compreensível, mas o texto
acessível das Afonsinas merecia melhor atenção e outro cuidado. Ainda sobre estas,
carvalho Homem, aventa que “um grupo de 33 (13+20) encontra-se exclusivamente nas
Ordenações Afonsinas, não ostentando data nas mais das vezes”[1]. Na realidade, no seu
estudo, constam 32 (13+19). No entanto, dessas 32, só 25 são inéditas das Afonsinas. Os
n.º 20, 83, 146, 239, 241, 242 e 249 encontram paralelo nas outras colectâneas.

• (n.º20) 1294, Janeiro, 01 [Coimbra] – Livro das Leis e Posturas, pp. 193-
194 / Ordenações de D. Duarte, pp. 174-175.
• (n.º83) 1317, Março, 18 [Santarém] – Livro das Leis e Posturas, 187-188
/ Ordenações de D. Duarte, 301-303. (o título correcto nas Afonsinas é o
74 e não o LXIIII).
• (n.º146) 1332, Junho, 20 – Ordenações de D. Duarte, 381.
• (n.º239) (É considerada lei de D. Afonso II)[2]. Livro das Leis e Posturas,
18 / Ordenações de D. Duarte, 52.
• (n.º241) 1345, Abril, 01 [Santarém] – Ordenações de D. Duarte, 481-489.
Repetida em Ordenações Afonsinas, III, 59.
• (n.º242) 1340, Abril, 01 [Lisboa] – Livro das Leis e Posturas, 322-324,
398-400 e 417-419 / Ordenações de D. Duarte, 444-445. (o título correcto
é 96 e não LXXXVI. Repete-se em Ordenações Afonsinas, IV, 19)
• (n.º249) 1340, Julho, 01 [Lisboa] – Livro das Leis e Posturas, 327-328 /
Ordenações de D. Duarte, 447-448. (o título correcto é 101 e não CL)

Para finalizar, o diploma que Carvalho Homem arrola sob o n.º166, a partir do
Livro das Leis e Posturas, identificando-o como um “conjunto de leis sobre citação de juízes e
corregedores, revelias, querelas indevidas e execuções por sacadores e porteiros”, na realidade
trata-se de um conjunto de 4 leis publicadas, em simultâneo, no dia 16 de Janeiro de
1342, em Coimbra. Todas essas leis constam em título apartado das Afonsinas (embora
uma apareça, de forma indirecta, condensada em lei de D. Fernando), que não aparecem
no Dionisisus et Alfonsus de Carvalho Homem.

1
HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, p. 17.
2
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 177.

53
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

“E será finalmente de assinalar que 24% das leis de D. Dinis virão ainda a conhecer
a consagração das Ordenações Afonsinas”[1]. Esta é a percentagem que consta na Nova
História de Portugal, dirigida por Joel Serrão e Oliveira Marques. Supondo que esta
percentagem de leis de D. Dinis nas Afonsinas foi calculada a partir do trabalho de
Carvalho Homem, terá forçosamente que ser rectificada, pelas minhas contas, para
valores próximos dos 38-39%.
Noutros trabalhos, embora em moldes diferentes e muito mais sintetizadores
(referindo apenas totais e percentagens), Carvalho Homem avança também com o
arrolamento da laboração legislativa dos monarcas seguintes: D. Pedro I, D. Fernando,
D. João I, D. Duarte e D. Afonso V[2].
Sobre o primeiro, D. Pedro, refere: “De 1359 a 1366 (mas sobretudo durante o ano de
1361), este monarca produz 12 actos sobre Justiça e burocracia de Corte”[3]. D. Fernando, de
1367 a 1380 terá “promulgado um total de cerca de 20 actos normativos”[4]. Apresenta D.
João I como “um assíduo produtor de ordenações – 113”, mas alertando para o facto de que
“a copiosa legislação que ostenta o nome de D. João I terá provavelmente uma bem fraca marca
pessoal do soberano e uma forte marca de seu filho e sucessor”[5]. Analogamente, a maioria
das 403 leis para o reinado de D. Afonso V, teriam sido promulgadas em nome do
infante regente, D. Pedro[6].
A produção legislativa de D. Pedro, segundo o cômputo que apresento em anexo,
aproxima-se das três dezenas, mesmo não incluindo os privilégios dos moedeiros[7] e dos
reguengueiros[8], bem como os diplomas dirigidos à judiaria de Lisboa[9], que me parecem
susceptíveis de classificação de leis gerais, mas merecem uma apreciação mais cuidada.
Nas Afonsinas identifico 8 diplomas deste reinado, contra os 6 de Carvalho Homem.
Para o reinado seguinte de D. Fernando, os dois totais aproximam-se, com 15
diplomas nas Afonsinas para o meu cômputo e 12 para o de Carvalho Homem.
D. João I (ou o seu reinado, como bem refere e justifica Carvalho Homem) pode
efectivamente ser classificado de assíduo produtor de ordenações, mas em maior escala do
que a inventariada pelo autor. O alcance deste reinado ultrapassa a centena e meia de
diplomas, dos quais 121 foram consagrados na colectânea afonsina.
Para o reinado do Elouquente conto 49 diplomas nas Afonsinas, contra os 30 do
autor que estamos a seguir.
Finalmente, o global astronómico das 403 leis para o reinado de Afonso V, só na
fonte afonsina – o que implica um lapso temporal de apenas 8 anos (1438-1446), salvo
as ordenações apensas –, só será justificável se incluirmos os comentários finais aos
títulos da compilação. Mas essas notas poderão ser inventariadas como verdadeiras
leis gerais?
Claro que não. Apesar de constarem na compilação e de até o seu conteúdo material
o justificar, faltam-lhe os verdadeiros condicionalismos formais, para se poderem
classificar como leis gerais.

1
HOMEM e COELHO, Nova História de Portugal, pp. 148-150
2
HOMEM, “Estado Moderno e Legislação régia”, pp. 129-130.
Idem, “Législation et compilation législative”, pp. 685-686.
3
HOMEM, “Estado Moderno e Legislação régia”, p. 115.
4
Idem, p. 116.
5
Idem, pp. 117 e 118.
6
Idem, p. 129, nota IV.
7
Chancelaria D. Pedro I, doc. 521.
8
Chancelaria D. Pedro I, doc. 812 e doc. 830.
9
Chancelaria D. Pedro I, doc. 1131 e doc. 1147.

54
José Domingues

4. Communis Opinio Actual


Arrepanhando os pontos soltos que foram ficando ao longo deste capítulo, num
sucinto genérico, podemos concluir que, apesar do esforço faraónico desenvolvido
pelos inúmeros e doutos investigadores – tanto da História tout court como da História
do Direito – e das múltiplas perspectivas que tem sido encarada – histórica, jurídica,
genealógica, económica, politica, social… – a esfinge desta colectânea medieval de
leis pátrias continua vigilante e atenta aos segredos de uma legislação multisecular,
compilada há mais de cinco centúrias, desafiando os afoitos que os pretendam
desvendar. Só este constante estímulo intelectual de enigma e risco – que se manterá
eternamente digamos o que dissermos, cheguemos onde chegarmos – serve de
justificativo para, passados muitos séculos e gerações, gastas rimas de papel e corridos
rios de tinta, alguém se continuar a debruçar sobre as Ordenações Afonsinas.
Analisando a bibliografia acima referida, o plano que se nos oferece como mais
plausível, no seio da comunidade científica hodierna, penso não andar muito longe deste:

1. O prólogo do livro I das Ordenações Afonsinas continua a ser o esteio


fundamental para o estudo da preparação desta colectânea.
2. Os seus compiladores, aparentemente, parecem ter sido o corregedor
da corte, João Mendes, e o Doutor Rui Fernandes.
3. O Doutor João das Regras está hoje completamente dissociado desta
tarefa compilatória.
4. Entre o livro I e os restantes quatro existe uma incontestada diferença
de estilo de redacção.
5. A consequência imediata dessa diferença redactória foi a da atribuição
do livro I ao compilador mais antigo, João Mendes, e os restantes ao
mais recente, Rui Fernandes.
6. No entanto, Martim de Albuquerque, vem lançar sérias dúvidas a
esta interpretação.
7. Outros vão mais longe ao contestar a designação generalizada, que,
praticamente desde o século XVI, adjudica este compilação a D.
Afonso V.
8. Retirado o merecimento ao Afonso V, as opiniões divergem: uns
adjudicam-no a D. Duarte e outros ao seu irmão, D. Pedro.

Ou seja, sem dúvida, actualmente temos uma superior abundância de pensamentos


elevados e teorias fundamentadas, mas as certezas parecem ser menores do que se nos
reportarmos ao final do século XVIII, quando verdadeiramente se iniciaram os estudos
em volta desta colectânea. Continuamos sem saber, ao certo, quando se iniciaram os
trabalhos, qual a faina desenvolvida por cada um dos compiladores, qual o âmbito de
vigência e aplicação, etc. Não admira, por isso, que continue a faltar:

9. A cobiçada edição crítica reivindicada por Marcello Caetano, há mais


de vinte anos.
10. O exame comparativo, de fundo, substancial, com as Ordenações de D.
Duarte, reclamado por Martim de Albuquerque.
11. Mas também com o Livro das Leis e Posturas e com os originais e
apógrafos disseminados pelos mais variados arquivos.

55
As Ordenações Afonsinas Capítulo I: Antecedentes Históricos e Bibliográficos – Estado Actual da Questão

12. O revisar, a partir de novas concepções metodológicas, de todo o


processo formativo.

Prestar mais alguns contributos para uma edição crítica, um exame comparativo
com algumas das fontes inventariadas, despetrificar subsídios retrógrados e fossiliza-
dos, carreando outros exequíveis para um melhor entendimento de todo o processo de
compilação, que inquietou os primeiros monarcas da Dinastia de Avis, são os propósi-
tos cabais da primeira parte deste trabalho.
Enumerados os objectivos almejados, explicitado o título escolhido, referenciadas
algumas diligência de busca setecentistas, e feita uma descrição sumária da bibliogra-
fia dispensada a esta parte da historiografia das Ordenações Afonsinas, recuemos então
ao tempo em que surge a necessidade de dotar o reino de Portugal de uma compilação
de leis própria. Nunca será demais salientar que este período é fortemente marcado
por uma vivência de repúdio permanente de tudo o que era castelhano, legado pela
crise da sucessão após a morte de D. Fernando, não lhe escapando, com certeza, as
colecções legislativas do país vizinho, que, desde há muito tempo, tinham assumido
papel de preponderância nos foros e no seio dos nossos jurisconsultos.

56
Capítulo II

Compilação & Compiladores

“Como o uso das leis he tão necessario aa vida politica, que tam
pouco se poderia conservar a republica sem ellas, como o mundo
sem Sol, porque dellas depende a conservação e prosperidade
della, todo o trabalho que se toma, não somente por as instituir
e ordenar, mas por as declarar, ou poer em alguma ordem, para
que melhor se compreendão, se teve sempre em muito.”
Duarte Nunes de [LEÃO, Compilação de Leis Extravagantes. IAN/
TT – Casa Forte, códice 26]

“E por eles, de tudo, enfim, senhores,


serão dadas na Terra leis milhores”
[Luís Vaz de CAMÕES, Lusíadas. Canto II, Estrofe 46]

1. As Condições da Época
A necessidade que o Homem tem de publicitar, declarar e sistematizar as
normas que regem a sociedade em que se insere, de forma a poderem ser conhecidas,
compreendidas e respeitadas por todos os seus membros é um ideal já muito antigo.
E, de alguma forma, parece completar o idealismo peripatético do antigo filósofo de
Estagira – “ubi homo ibi societas”, “ubi societas ibi ius”. O Homem é por natureza um
animal social e para garantir a sua convivência pacífica em sociedade não dispensa
a existência de regras, sendo, consequentemente, um animal político. De seguida, o
desenvolvimento de uma determinada sociedade e a consequente multiplicação
das suas normativas tornam indispensável a elaboração de um repositório jurídico
sistematizado – “onde há direito terá que haver códigos ou compilações”.
Se é certo que a compilação de um significativo acervo de leis gerais vigentes
(transcrevendo umas, alterando outras e revogando as desactualizadas) espelham os
costumes e ideais de um povo, num determinado momento histórico da sua evolução[1],
não é menos exacto que essa compilação seja ditada pelas conjunturas sociais,
económicas, culturais, militares, políticas, religiosas… vividas nesse mesmo período.

1
“A codificação da Legislação de qualquer Estado, como já notamos, representa de ordinario uma épocha,
em que se tem realizado uma revolução nos costumes e ideas de um Povo” [Cândido Mendes de ALMEI-
DA, “Historico da Legislação Portugueza, e de seus Codigos até a épocha da Independencia. O Direito
Romano”, in Ordenações Filipinas, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985, livro I, p. VII (edição fac-simile da
edição feita por Candido Mendes de Almeida, Rio de Janeiro, 1870).

57
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Sabendo de antemão que, segundo o prólogo das Ordenações Afonsinas, o advento


da dinastia de Avis traz consigo uma autêntica lida codificadora de todo o direito coevo
– “no tempo que o mui alto e Mui Eixcellente Princepy ElRey Dom Joham da Gloriosa
memoria pela graça de Deos regnou em estes Regnos, foi requerido algumas vezes
em Cortes pelos Fidalgos, e Povoos dos ditos Regnos, que por boõ regimento delles
mandase prover as Leyx, e Hordenaçoões feitas pelos Reyx, que ante elle forom”[1] –
teremos que tentar perscrutar as mais relevantes contingências desse reinado de D.
João I, para cuidar do alcance, urgência e significado dessa tarefa compilatória.
Este reinado marca, antes de mais, o termo da primeira dinastia do reino de
Portugal, dinastia Afonsina, e o princípio de uma outra, a dinastia de Avis. Esta mudança
de linhagem real resultou da grave crise de sucessão a que a morte de el-rei D. Fernando
tinha votado o país. Com o falecimento deste soberano, a 22 de Outubro de 1383[2], sem
qualquer descendência masculina, a legítima sucessora da coroa portuguesa passou a
ser a sua filha, infanta D. Beatriz, casada com o monarca de Castela, D. João. Aliada
a uma sucessão legítima a infanta contava ainda com o juramento de fidelidade,
prestado à data do seu casamento, pela grande maioria da nobreza portuguesa. Mas o
senão deste sucedimento era, sem dúvida, o da perda da independência do reino para
Castela. Esta eminência da perda da autonomia levantou um partido contestatário que
acabou por apoiar o ascenso de D. João, coevo mestre da Ordem de Avis e irmão do
falecido monarca, a rei de Portugal.
Esta insurreição ao jugo estrangeiro lançou o reino de Portugal em cruentas
guerras com o seu opositor e intestinas batalhas contra as fortalezas que tinham tomado
partido por Castela. Dessa necessidade premente de independência irá despertar
um robusto sentimento patriótico, acessório de uma vincada aversão contra o reino
vizinho, que se prolongará ao longo de todo o reinado joanino e imediatos. Para além
da dianteira militar, sobejamente esmiuçada pela historiografia contemporânea, outras
frentes parecem ter sido digladiadas, nomeadamente a jurídico-legislativa e até a do
misticismo religioso[3]. Seguindo de perto Paulo Loução, “tudo indica que a aparição
de Cristo em Ourique, foi um ‘acontecimento’ forjado no início da segunda dinastia por
razões politicas”[4], considerando-o “um autêntico golpe de mestre político para defesa
da independência do reino português”[5].
Não admira, por isso, que o mister da independência das fontes jurídico-legislativas
castelhanas tenha sido veementemente experimentado no início desta dinastia de
Avis, revelando-se o grande impulsor para a organização de uma colectânea de leis
pátrias, que garantisse a autonomia futura do ordenamento jurídico português. Assim
o entendeu – penso que sem qualquer eco na posteridade – o prefaciador oitocentista
das Ordenações Filipinas, Cândido Mendes de Almeida:

“A independencia de Portugal dos Reinos visinhos de Leão e de Castella ainda


se não reputava completa, se a Legislação desses Paizes não fosse inteiramente

1
Ordenações Afonsinas, Livro I, prólogo, p. 1.
2
António Caetano de SOUSA, Provas da História Genealógica, Lisboa, 1739, Tomo I, Livro II, doc. 37, p. 425
(Coimbra, 1946): “Era 1421 annos quinta feira 22 dias de Outubro ao serão antre as sete e outo horas, se finou este
nobre Rey D. Fernando a que Deos perdoe e foi enterrado a sesta feira no Mosteiro de São Francisco de Lisboa. He
anno de Xpº. 1383”.
3
Margarida Garcez VENTURA, O Messias de Lisboa. Um Estudo de Mitologia Política (1383-1415), Edições
Cosmos, Lisboa, 1992.
4
Paulo Alexandre LOUÇÃO, Portugal – Terra de Mistérios, Ésquilo, Lisboa, 2001, p. 116.
5
Paulo Alexandre LOUÇÃO, Dos Templários à Nova Demanda do Graal, Ésquilo, Lisboa, 2003, p. 165.

58
José Domingues

abandonada, proscripta; organisando-se um Codigo Nacional, puramente Portuguez, o


ideal dos Juristas patriotas ou revolucionários”[1]

Muito antes, Anastácio de Figueiredo tinha formulado um juízo similar, mas ape-
nas em relação à primazia das Leis Imperiais e do Código Justinianeu, constatando e
argumentando com a ausência das Partidas no elenco exaustivo das fontes de direito
subsidiário, previstas no título 9 do livro II das Afonsinas:

“foi muito natural acabar a autoridade, que até então tinhão tido as Leis das Partidas,
proprias de Castella, ainda por nenhum illustradas; e preferirem-se, ou ficarem sós
outra vez as Imperiaes, e o Corpo de Direito Justinianeo, como primeira fonte, e mais
copiosa das ditas Leis, e de todo o Direito, onde melhor se podia beber (…) E he por
esta razão, que as ditas Leis das Partidas se não vêm mais attendidas, ou mandadas seguir
como subsidiarias, mas antes depois das Imperiaes, e Santos Cânones se mandão
guardar as Glosas de Acursio, e Opiniões de Bartholo etc.”[2]

Se este raciocínio é válido para as fontes subsidiárias, mais o será para a fonte
primária – o Direito do Reino. A subordinação portuguesa às fontes jurídicas dos reinos
de Leão e Castela remontava ao desmembramento de Portugal do reino de Leão, no
recuo do século XII. Nos conturbados séculos do incipiente reino, quando se tornava
impreterível definir fronteiras com os circunvizinhos reinos cristãos e avassalar o
maior número de terras ao Alcorão, aos monarcas lusitanos não sobejou o tempo para
legislar[3], sendo-lhe, por isso, mais prudente e adequado recorrer ao saber acumulado,
por séculos de experiência e reflexão, nas fontes jurídicas do reino mater[4].
De entre as fontes herdadas de Leão avulta logo o Código Visigótico, citado em
documentos portugueses do século XII, sob a designação de Lex Gothorum, Liber
Judicialis, Forum Judicum, etc[5]. Mas, desde os princípios do século XIII essas citações,
praticamente, desaparecem e o fenómeno do renascimento do Código Visigótico

1
Cândido Mendes de ALMEIDA, “Os Codigos Portuguezes – Affonsino, Manoelino, Sebastianico e Phili-
ppino”, in Ordenações Filipinas, livro I, p. XIX.
2
José Anastácio de FIGUEIREDO, “Memoria sobre qual foi a época certa da introdução do Direito de Jus-
tiniano em Portugal, o modo da sua introducção, e os grãos de authoridade, que entre nós adquirio. Por
cuja occasião se trata toda a importante materia da Ord. liv. 3 tit. 64”, Memorias de Litteratura Portugueza,
publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa, Tomo I, Lisboa, 1792, p. 290.
3
Há excepção da tentativa das Cortes de Coimbra de 1211, no reinado de Afonso II, só no reinado de
Afonso III se desencadeou a função legislativa dos monarcas portugueses, a que, com certeza, não foram
estranhas as influências trazidas da corte francesa. De Afonso Henriques há notícia de uma lei, cujo texto se
desconhece, sobre as barregãs dos clérigos; do reinado de Sancho I conhece-se apenas a provisão dirigida
ao clero do reino; e do reinado de Sancho II não se conhecem leis gerais. [Portugaliae Monumenta Histórica,
Leges, pp. 161-182 e cfr., por todos, CAETANO, História do Direito, pp. 240-241.]
4
De entre a multiplicidade de autores, aspamos as palavras de Gama Barros: “A historia das instituições
administrativas de Portugal, nos primeiros tempos da sua independencia, ha de ir necessariamente buscar
as fontes mais proximas á historia social de Leão e Castella, porque os elementos predominantes então
na sociedade portugueza não podiam deixar de ser os mesmos, que prevaleciam tambem nos Estados de
que o novo reino procedia. E ainda seculos depois, da jurisprudencia e dos usos de Castella traziamos
principios e costumes, que sanccionavamos na legislação ou introduziamos no nosso viver;” [BARROS,
Administração Pública em Portugal, p. 1]
5
Para referências documentais concretas vide: José Anastácio de FIGUEIREDO, Nova Malta, parte 1.ª, p. 16,
nota 6; p. 40, notas 21 e 22; e p. 281, nota.
António Caetano do AMARAL, Memórias da Literatura Portuguesa, vol. VII, p. 156, nota 181; p. 158, nota
182; e p. 162, nota 184.
BARROS, História da Administração Pública, pp. 1-3, nota 2.

59
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

operado em Castela através da sua tradução para romance (Fuero Juzgo) já não tem
repercussões em Portugal[1]. No entanto, não deixa de ser curioso que no inventário de
21 de Junho de 1296, elaborado quando da tomada de posse da diocese do Porto pelo
bispo D. Sancho Pires, se arrole “huun liuro do iulgo de Leon”[2].
Questão controversa tem sido a de mestre Vicente se não ter servido das leis
propícias deste Código na questão, ventilada na Corte Romana, entre D. Afonso II e
as suas irmãs. Herculano estranha esta lacuna, já que as pretensões do rei estavam
espelhadas no dito Código, que previa a passagem integral do património real do
rei falecido para o sucessor, não podendo reverter em favor dos filhos senão os
bens adquiridos antes de ele obter a coroa[3]. José Mattoso, em comentário à obra de
Herculano, justifica essa omissão com o pretenso esquecimento da tradição visigótica e
a pretendida influência crescente do Direito Navarro[4], no que é seguido de perto por
Maria Teresa Nobre Veloso[5].
É incontroversa a continuidade do costume e dos foros leoneso-castelhanos, tanto
os restritos (forais) como os extensos (foros ou costumes), que são o grande repositório
de normas escritas de maior aplicabilidade no incipiente reino. “Forais e costumes por-
tugueses integram dum modo geral verdadeiras famílias de diplomas que, não raro, tinham as
suas raízes em terras leonesas”, assegura Ângela Beirante, aclarando as analogias:

• “Costumes da Guarda, que são uma cópia dos de Salamanca e seguem


de perto os fueros leoneses de Zamora, Ledesma e Alba de Tormes e
devem datar do tempo de Sancho I, início do séc. XIII.
• Foros de Riba-Coa ou Cima-Coa: Alfaiates, Castelo Bom, Castelo
Rodrigo e Castelo Melhor, que fazem parte duma família de foros de
Estremadura leonesa (que parece ter irradiado de Ciudad Rodrigo) e
têm os seus correspondentes leoneses em Cória, Cáceres e Usagre.
Foram concedidos àquelas localidades pelo rei Afonso IX, quando a
região entre Côa e Águeda fazia ainda parte do reino de Leão. Datam da
primeira metade do séc. XIII.”[6]

Existem também provas documentais da aplicação das leis gerais das cúrias
leonesas, nomeadamente as saídas da Cúria de Leão [1017/20] da Cúria de Coiança
[1055] e de Oviedo [1115][7]. Resumindo, Guilherme Braga da Cruz não andaria muito
longe da verdade quando afirma que “o direito português inicialmente não é mais que
um ramo do direito leonês, pois que Portugal se formou de um desmembramento do reino de
Leão”[8].

1
Guilherme Braga da CRUZ, “O direito subsidiário na história do direito português”, sep. da Revista Por-
tuguesa de História, tomo 14, Coimbra, 1975, p. 180 (com indicação de vasta bibliografia).
2
Mário Júlio de Almeida COSTA, “Para a história da cultura jurídica medieva em Portugal”, Boletim da
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, vol. 35, Coimbra, 1959, p. 271
3
Alexandre HERCULANO, História de Portugal, vol. II, Livro IV, p. 201.
4
Idem, p. 334, nota 9 de José Mattoso.
5
Maria Teresa Nobre VELOSO, D. Afonso II. Relações de Portugal com a Santa Sé durante o seu reinado, Arquivo
da Universidade de Coimbra, 2000, p. 77.
6
Maria Ângela Rocha BEIRANTE, “Traição, aleive e falsidade nos foros medievais portugueses”, Actas das
Jornadas Sobre o Município na Península Ibérica (Sécs. XII a XIX), Santo Tirso, 1988, pp. 134-135.
7
CRUZ, “O direito subsidiário na história do direito português”, pp. 179-180, nota 1, que remete para a
vasta bibliografia atinente.
8
CRUZ, História do Direito, p. 35 (Dactilografado).

60
José Domingues

Mas essa subordinação portuguesa às fontes jurídicas do reino limítrofe


acentuar‑se‑á ainda mais com as obras legislativas elaboradas, sobretudo, no reinado
de Afonso X, o Sábio[1]. Sendo até de estranhar que, nessa época, não tenham surgido
idênticas colectâneas com o cunho dos legisperitos portugueses. São quatro as obras
de origem castelhana que aparecem entre a documentação portuguesa medieval:

• Flores de Direito;
• Nove Tempos dos Pleitos;
• Foro Real;
• Sete Partidas.

O autor das duas primeiras terá sido mestre Jácome Ruiz ou mestre Jácome das
Leis. Estas duas obras e o Foro Real aparecem em tradução portuguesa no sobejamente
esfalfado códice dos Foros da Guarda[2].
Da tradução portuguesa completa dos sete livros das Partidas chegaram aos
nossos dias apenas o primeiro e o terceiro e fragmentos da 1.ª, 2.ª, 3.ª e 7.ª Partidas,
sendo possível que existam fragmentos das restantes Partidas (4.ª, 5.ª e 6.ª) que ainda
não foram identificados. A profusão dos fragmentos das Partidas – continua Azevedo
Ferreira – “por vezes, de tal modo numerosos, como no caso da Terceira Partida, que nos
levam a admitir a probabilidade de se terem realizado diversas versões, parece‑nos ser
um facto muito significativo da difusão que a obra legislativa afonsina deve ter tido no território
português”[3].
Desde o século XVIII que estes textos merecem repetida atenção dos investigadores
e já todos saíram à luz da imprensa, à excepção da Terceira Partida, que a morte
prematura de Azevedo Ferreira surpreendeu em fase de remate[4], pois em artigo
publicado um ano antes, este autor, afirma que a “edição se encontra em fase de conclusão”[5].
Para as múltiplas edições e bibliografia relativa à obra legislativa de Afonso Sábio em
Portugal remeto, entre outros, para Braga da Cruz[6], José Mattoso[7] e, sobretudo, para
o labor de José de Azevedo Ferreira, que lhe sacrificou, praticamente, todo o tributo
científico da sua atestada vida de pesquisador[8].

1
Cfr. CRUZ, “O direito subsidiário na história do direito português, pp. 195-204
CAETANO, História do Direito, pp. 339-343.
2
IAN/TT – Núcleo Antigo, Maço 6º de Forais Antigos, n.º4.
3
José de Azevedo FERREIRA, “A obra legislativa de Afonso X em Portugal”. Estudos de História da Língua
Portuguesa: Obra dispersa. Colecção Poliedro 7, Universidade do Minho, Centro de Estudos Humanísticos,
2001, pp. 79-80.
4
Vide, sobretudo, José de Azevedo FERREIRA, “Subsídios para uma edição da Terceira Partida de Afonso
X” e “Terceira Partida de Afonso X: subsídios para a sua edição e estudo linguístico”. Estudos de História da
Língua Portuguesa: Obra dispersa. Colecção Poliedro 7, Universidade do Minho, Centro de Estudos Huma-
nísticos, 2001, pp. 91-106 e 231-247.
5
José de Azevedo FERREIRA, “Terceira Partida de Afonso X: subsídios para a sua edição e estudo linguís-
tico”. Estudos de História da Língua Portuguesa: Obra dispersa. Colecção Poliedro 7, Universidade do Minho,
Centro de Estudos Humanísticos, 2001, p. 245. (Publicado em Actas do XIX Congresso Internacional de Lin-
guística e Filoloxía Românicas (Universidade de Santiago, 1989), vol. VII, A Coruña, Fundación «Pedro Barrié
de la Maza. Conde de Fenosa», 1994, pp. 187-204).
6
CRUZ, “O direito subsidiário na história do direito português”, pp. 195-204.
7
José MATTOSO, “As relações de Portugal com Castela no reinado de Afonso X, o Sábio”. Fragmentos de
uma Composição Medieval, Obras Completas, vol. 6, Círculo de Leitores, 2001, pp. 59-77.
8
Nomeadamente a colectânea póstuma de artigos: José de Azevedo FERREIRA, Estudos de História da
Língua Portuguesa: Obra dispersa, Colecção Poliedro 7, Universidade do Minho, Centro de Estudos Hu-

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As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Muitas questões ficaram ainda por desvendar, designadamente, a da data da


tradução e entrada em Portugal. Paulo Mêrea aventou que, os textos de Jácome das
Leis[1] e do Foro Real[2], todos nos Foros da Guarda, teriam sido escritos entre 1273 e
1282[3]. Azevedo Ferreira adianta, ser possível, que a tradução do Fuero Real se tenha
verificado pouco tempo depois de 1267[4].
Outra questão que se coloca é a da sua vigência efectiva no reino de Portugal.
Braga da Cruz inclina-se para a sua utilização, logo desde o século XIII, como fontes
subsidiárias de direito[5]. Mas Rui de Albuquerque e Martim de Albuquerque inclinam-se
mais para “uma tradução meramente esporádica feita por algum jurista local”[6].
De todas, a obra que atingiu maior proeminência e divulgação no reino de
Portugal foi, sem dúvida, a das Sete Partidas. Transpondo o teste do tempo, aos nossos
dias chegaram traduções portuguesas completas da Partida 1.ª e 3.ª, actualmente na
Torre do Tombo, e numerosos fragmentos disseminados por diversos arquivos[7]. A
longínqua e fecunda tradição – com raízes em Brandão, nos meados do século XVII
– que tributa a D. Dinis a iniciativa da tradução das Partidas de seu avô, ainda não
está, de modo terminante, documentalmente validada. Mas a sua utilização pelos
juristas portugueses do século XIV está demonstrada – aventa Beceiro Pita – “a través
de las adiciones y comentarios realizados en las márgenes del texto, al final de la obra o en las
guardas”[8]. A propósito de notas marginais, Anastácio de Figueiredo registou que “em

manísticos, 2001.
E as publicações em livro: José de Azevedo FERREIRA, Alphonse X. Primeyra Partida, Édition et étude.
Textos de linguística 3, INIC, Braga, 1980.
José de Azevedo FERREIRA, Afonso X: Fuero Real, Universidade do Minho, Centro de Estudos Portugue-
ses, Braga, 1982.
José de Azevedo FERREIRA, Afonso X: Foro Real. Edição e estudo linguístico, Instituto Nacional de Inves-
tigação Científica, Lisboa, 1987.
1
Paulo MÊREA, “A versão portuguesa das ‘Flores de las leyes’ de Jácome Ruiz”, Revista da Universidade de
Coimbra, vol. V, Coimbra, 1916, pp. 444-457 e vol. VI, Coimbra, 1917, pp. 341-371.
José de Azevedo FERREIRA, Flores de Dereito. Edição, estudo e glossário, Braga, Universidade do Minho,
1989. (reeditado em Estudos de História da Língua Portuguesa: Obra dispersa. Colecção Poliedro 7, Universida-
de do Minho, Centro de Estudos Humanísticos, 2001, pp. 415-464).
José de Azevedo FERREIRA, “Edição e estudo linguístico dos Tempos dos Preitos”, Estudos de História da
Língua Portuguesa: Obra dispersa, Colecção Poliedro 7, Universidade do Minho, Centro de Estudos Huma-
nísticos, 2001, pp. 339-375.
2
Publicado pela primeira vez por Alfredo PIMENTA, Fuero Real de Afonso X, o Sábio. Versão portuguesa do
século XIII, Instituto para a Alta Cultura, Lisboa, 1946.
3
Manuel Paulo MERÊA, Estudos de História do Direito, Coimbra, 1923, pp. 45-65.
4
José de Azevedo FERREIRA, “A obra legislativa de Afonso X em Portugal”, Estudos de História da Língua
Portuguesa: Obra dispersa, Colecção Poliedro 7, Universidade do Minho, Centro de Estudos Humanísticos,
2001, p. 87.
5
Vide a exegese do percurso e bibliografia traçado em Guilherme Braga da CRUZ, “O direito subsidiário
na história do direito português”, pp. 195-204.
6
Ruy de ALBUQUERQUE e Martim de ALBUQUERQUE, História do Direito Português, Lisboa, 1993 (8.ª
edição), p. 146.
7
Por todos, cfr. os trabalhos de José de Azevedo Ferreira, onde se pode coligir vasta bibliografia, nomea-
damente:
“Dois fragmentos da Segunda Partida de Afonso X”, pp. 291-317.
“Un nouveau fragment de la Terceira Partida de Alphonse X”, pp. 319-338.
“Dois fragmentos da Terceira Partida de Afonso X”, pp. 377-416.
“Fragmentos das Partidas de Afonso X reencontrados em Braga”, pp. 465-496.
8
Isabel BECEIRO PITA, “Notas sobre la influnecia de “Las Siete Partidas” en el reino Portugués”. Os Reinos
Ibéricos na Idade Média, Livro de Homenagem ao Professor Doutor Humberto Carlos Baquero Moreno, Coorde-
nação de Luís Adão da Fonseca, Luís Carlos Amaral e Maria Fernanda Ferreira Santos, Porto, 2003, pp. 489.

62
José Domingues

varias marginaes (...), como em algumas, que tambem se encontrão no já tantas vezes lembrado de
Leis e Posturas antigas, tambem do mesmo Seculo XIV, se vê existir então igualmente a Partida
4. 5. 6. e 7. partes daquelle Livro da Partida, ou por outros tantos Livros da Partida”[1].
A investigadora Beceiro Pita acaba por estender a influência desta colectânea
para além da promulgação das Afonsinas, aduzindo referência documental avalista
retirada da quitação de el-rei, de 25 de Outubro de 1475, à mulher e herdeiros do
mercador João Afonso de Bazán, quando este foi a Bristol[2]. Outro documento mais
recuado, a quitação ao recebedor das sisas dos panos de Lisboa, João Afonso, de 6
de Março de 1456, também compreende as Partidas entre a pluralidade de coetâneas
fontes de Direito[3]. Mas mesmo antes da conclusão das Afonsinas se usava esta fórmula
documental estereotipada, como consta na carta de quitação ao tesoureiro-mor do rei,
João Gonçalves, em 15 de Dezembro de 1430[4]. Espinosa da Silva salienta a conexão
entre a referência, neste último documento, aos “liuros de bartollos E grossas per nos
sobrello fectas” com a situação retratada pela carta de 18 de Abril de 1426[5]. Repare‑se
que esta fórmula aparece sempre em cartas de quitação. Por outro lado, no final do
reinado de D. João I – num período de longas tréguas entre os reinos ibéricos – já
estaria afastada a antipatia às Partidas, que acabam por influir na organização das
Afonsinas.
Este aspecto é particularmente interessante para este trabalho. O delicado vínculo
da compilação afonsina às Partidas de Castela já ficou realçado por José Veríssimo
Alvares da Silva no século XVIII[6], mas foi o infatigável Gama Barros que se deu ao
labor de identificar exemplos concretos de transcrições das Partidas para as Afonsinas[7].
Escreve este autor:

1
José Anastácio de FIGUEIREDO, “Memoria sobre qual foi a época da introducção do Direito de Justinia-
no em Portugal, o modo da sua introducção, e os gráos de authoridade, que entre nós adquirio. Por cuja
occasião se trata toda a importante materia da Ord. liv. 3. tit. 64”. in Memorias de Litteratura Portugueza,
publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa, tomo I, Lisboa, na officina da mesma Academia,
1792, p. 284.
2
“e posto que en ella non feiçamos expressa memçam dallgûnas sollenidades que em ella per dereito deu-
em se escriptas asi aquellas que perteençem a custumes e hordenamientos … como de todollos dereitos
ciuees e canónicos façanhas e opinioõees de doutores e liuros do bartollo e grosas sobre elle feitas e de
todollos liuros da partida e leis do regno e de todallas outras cousas ou dereitos…” [BECEIRO PITA, “Notas
sobre la influnecia de “Las Siete Partidas” en el reino Portugués”, pp. 491-492].
3
“E porem lhe mandamos dar esta nossa carta de quitaçõ sijgnada per nos e asseellada do nosso sseello
pendente e posto que em ella nõ façamos espresa meençom de alguãs ssolenidades que em ella per direito
deuessem seer escriptas assy aquellas que perteemcem a custumes e hordenamentos de contos como de
todollos direitos çijuees e canonjcos façanhas e opiniõoes de doutores e liuros de Bartollo e grosa sobre
elle feitas e de todollos liuros de partida e leix do regno e de todallas outras cousas ou direitos per quallquer
guissa que seja que o em elle deuessem seer…” [Documentos das Chancelarias Reais anteriores a 1531 relativos
a Marrocos, vol. II, doc. 313, p. 331].
4
“posto que (…) nos nom façamos expressa mençom de alguas de Solenidades que em Ella deuessem sseer
escriptas, assy aquellas que pertencem a Custumes e hordenamento de contas; Como a todollos djreitos
Ciujes E Canonjcos façanhas E openjõoes, E grossas <de> douctores; liuros de bartollos E grossas per nos
sobrello fectos; E todos liuros de partida E lexs do Reyno E todalasOutras Coussas Ou djreitos per qualquer
guissa que seja (…)”
[Chancelaria de D. Duarte, vol. II. Livro da Casa dos Contos, Lisboa, 1999, doc. 41, p. 74]
5
SILVA, História do Direito, Lisboa, 2001, 3.ª edição, p. 269, nota 2
6
José Virissimo ALVARES da SILVA, Introducção ao Novo Codigo ou dissertação crítica sobre a principal causa
da obscuridade do nosso codigo authentico, Lisboa, Na Regia Officina Typografica, 1780, p. 18, nota (l).
Também deste século, Luís Joaquim Correia da SILVA, Prefação ao Liv. I das Ordenações Afonsinas, Coim-
bra, 1792, p. XXII.
7
CRUZ, “O direito subsidiário na história do direito português”, p. 202, nota 36.

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As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

“em prova da auctoridade que teve em Portugal essa compilação de Affonso X,


basta dizer que, não falando já dos regimentos d’ella copiados, que se encontram nas Ord.
Aff., desde o tit. 51 do livro I, e serão referidos quando tratarmos da administração
militar, os redactores do nosso codigo affonsino trasladaram quasi litteralmente leis
inteiras das Partidas”[1]

Em nota de rodapé, cita os quatro exemplos: livro I, tít. 2 pr. Partida II, tít. 9, Lei
4; livro V, tít. 2 § 3 Partida VII, tít. 2; livro V, tít. 2 § 4 Partida VII, tít. 2, lei 1 pr.; e livro
V, tít. 3 Partida VII, tít. 2, lei 6.
Antes de mais saliente-se que os compiladores – talvez propositadamente –
omitem qualquer referência expressa à obra suporte destes preceitos, denunciando as
réstias de uma aversão, mesmo depois de um longo período de paz. Mas a influência
desta colectânea estrangeira, como salienta Gama Barros, manifesta-se, mormente, nos
preceitos do regimento da guerra, a partir do título 51 do livro I.
Sintetizando, em jeito de encerramento, a aplicabilidade e influência das Partidas
em Portugal, no decurso da Idade Média, ficam condensadas e traduzidas, de forma
modelar, nesta passagem de Beceiro Pita:

“La influencia de las Siete Partidas en Portugal resulta explicable por la importancia
de los contactos entre los reinos castellanos y lusos a lo largo de toda la Edad Media,
pero, sobre todo, por las características de esta recopilación jurídica. El objectivo
con la que fue concedida, de regulación de las pautas de comportamiento del
conjunto social, y el conjunto de consideraciones generales y de casuísticas muy
concretas y precisas, posibilitan el uso por instituciones eclesiásticas y monarcas de
la Primera Partida como compendio de la doctrina cristiana, el empleo de la Tercera
Partida como instrumento legal para la construcción del Estado portugués y, ya a
finales del siglo XV, del conjunto de la obra como gran repertorio que fija las líneas
maestras que debían regir la correcta actuación del soberano, que había de estar
presidida por el respecto a la justicia y a la ley. Así lo indican los manuscritos y
referencias documentales del Arquivo Nacional do(sic) Torre do Tombo”[2]

2. Colectâneas Anteriores
Parece que o gravame das colectâneas legislativas castelhanas já se fazia sentir
nos reinados antecedentes ao de D. João I, nomeadamente no do Justiceiro Pedro I[3].
Nas Cortes de Elvas, de 1361 – as únicas deste reinado – os representantes do clero
queixam-se que os juízes régios não querem guardar o Direito Canónico, sendo certo
que seguiam o código das Sete Partidas feitas por el-rei de Castela, a quem o reino de
Portugal não devia qualquer submissão[4]:

“Outro sy muitas vezes nom querem guardar o Direito Canonico, o que todo
Chrisptaão devia guardar, porque era feito polo Padre Santo, que tinha as vezes
de Jesu Chrispto, e era mais razom de o guardarem em todo o nosso Senhorio pola dita
razom, que as Sete Partidas feitas per ElRey de Castella, ao qual Regno de Portugal
nom era sobjeito, mas bem livre, e izento de todo.”[5]

1
BARROS, História da Administração Pública em Portugal, tomo I, p. 127.
2
BECEIRO PITA, “Notas sobre la influnecia de “Las Siete Partidas” en el reino Portugués”, p. 492.
3
CAETANO, História do Direito, pp. 342-343.
4
CRUZ, “O direito subsidiário na história do direito português”, p. 204, nota 38. (refere a lista dos autores
que invocaram este artigo, como testemunho da aplicação das Partidas em Portugal).
5
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 5, artigo 24.
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 27, §1. (erradamente atribuído como capítulo geral do povo).

64
José Domingues

Na mesma altura – provisão régia de 13 de Abril de 1361 – se queixam os estudantes


da Universidade de Coimbra de que o respectivo conservador julgava pelas Partidas as
questões que lhe eram submetidas, em vez de aplicar os “seus livros”.

“outrossy me enujarom dizer que quando acontece que elles allegam em alguuns
fectos perante uos seus djreitos per seus liuros que lhes nom queredes delles conhecer
saluo se uos mostrarem esses djreitos em liuros de partida sobre esto tenho por bem
e mandouos que quando uos elles alguuns djreitos mostrarem per seus liuros nos
dictos fectos que lhos aguardedes auendo ante conselho com letrados que delo
saybham de guisa que as partes nom recebam agrauamento sem razam”[1]

Nestes parágrafos, a insubordinação à colectânea castelhana prende-se mais


com os coetâneos sistemas normativos do direito canónico e romano[2] – no âmbito das
fontes subsidiárias – não subentendendo ainda qualquer percepção de patriotismo. E
não será ainda neste reinado, nem no próximo de D. Fernando, que o reino lusitano
se irá lançar na prossecução de uma colectânea legislativa própria, que apazigúe os
descontentamentos e garanta uma certa autonomização legislativa. Mas a verdade
é que se continua a ignorar a data precisa da iniciação dessa tarefa compilatória. O
único esteio documental, que ainda pode fornecer ténue indício, é o trecho do prólogo
das Ordenações Afonsinas, transcrito no princípio deste capítulo. De acordo com esta
lacónica apostila foi no tempo do muito alto e excelente “Princepy ElRey Dom Joham”,
da gloriosa memória, que se requereu, em Cortes, a colecção das leis e ordenações dos
seus antecessores[3].
O motivo alegado tinha a ver com o amontoado de leis que “se recrecião
continuadamente muitas duvidas, e contendas em tal guisa, que os Julgadores dos feitos erão
postos em tão grande trabalho, que gravemente, e com gram dificuldade os podião direitamente
desembargar, e que as mandasse reformar em tal maneira, que cessassem as ditas duvidas, e
contrariedades, e os Desembargadores da Justiça pudessem per ellas livremente fazer direito aas
partes”[4]. Disseminados pelos concelhos do Portugal jurídico do início de quatrocentos,
surgem antigos forais redigidos em latim bárbaro e vetustos usos e costumes, que, por
vezes, se transmitem aos concelhos vizinhos; o direito romano e canónico ganham
cada vez mais vigor; nas actas das Cortes multiplicam-se os agravamentos, artigos
ou capítulos gerais, com valor de lei; e as leis gerais e ordenações régias, desde D.
Afonso II, amontoam-se nos copiosos livros da Chancelaria Mor. Tudo somado à
referida preponderância das colectâneas castelhanas, estava mais do que justificada a
necessidade de organização do ius regni em colecção própria.
D. João I reinou quase cinquenta anos e reuniu cerca de dezanove Cortes e, de
entre o extenso arrolamento de capítulos gerais inventariados e conhecidos (cerca

1
CRUZ, “O direito subsidiário na história do direito português”, pp. 202-204, nota 37. (refere bibliografia
correlativa).
2
Assim tem sido entendido. No entanto, se a queixa do clero parece não suscitar quaisquer dúvidas, já a
referência aos livros dos estudantes da Universidade deixou alguma indecisão e pode não ter a ver pro-
priamente com o direito romano estudado, mas antes com livros próprios onde constassem os preceitos
normativos aplicáveis nos seus autos extrajudiciais. Conforme ficou expresso no título quando poderão apelar
dos autos que se fazem fora de juízo – “as universidades (…) fazem alguuns autos, que per suas Hordenações
antiguas, e Sentenças lhe pertencem fazer” [Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 80, § 1, pp. 306-307] – tudo
leva a crer que os estudantes se queixassem antes que as suas ordenações e sentenças eram preteridas pelas
Partidas.
3
Ordenações Afonsinas, Livro I, prólogo, p. 1.
4
Ordenações Afonsinas, Prólogo ao Liv. I, p. 1.

65
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

de 502)[1], nenhum é terminante, ao ponto de nos permitir fixar uma data concreta[2].
No mesmo sentido, Carvalho Homem, que aventa como provável as Cortes de
Santarém de 1418[3], mas sem qualquer suporte documental avalista ou argumentação
concludente. Assim, por uma questão de rigor científico e no âmbito de alegações
infra, um terminus a quo desta tarefa compilatória terá que ser fixado nas Cortes de
Coimbra de 1385, as primeiras deste reinado. O terminus ad quem, mais acessível, mas
não isento de controvérsia[4], consta no final do livro V das Ordenações Afonsinas – 28
de Julho de 1446. Por ora é o máximo que a esfinge do tempo nos permite recuar
no seu fio cronológico. Tudo leva a crer que, só após o abalo provocado pelo apuro
da sucessão e a consequente aclamação de D. João I nas Cortes de Coimbra de 1385,
estariam preenchidos os requisitos indispensáveis para a ingente tarefa compilatória
lusitana – reivindicada pelos juristas patriotas ou revolucionários[5] – culminada na vila
de Arruda, a 28 de Julho de 1446.
Estabelecidos os pretensos limites temporais da selecta lusa de leis gerais, sendo a
última data (28 de Julho de 1446) atinente à conclusão das Ordenações Afonsinas, neste
momento, há uma questão inescusável: será que – conforme se tem divulgado – estas
Ordenações são a mais vetusta colectânea de leis portuguesa? Ou seja, não existiram
outras colecções de leis a vigorar, anteriormente, no reino de Portugal?
Apesar de o Livro das Leis e Posturas e as Ordenações de D. Duarte – duas colectâneas
medievas de leis gerais – serem conhecidos em concomitância com as Ordenações
Afonsinas, continua-se, genérica e reiteradamente, a classificar as Ordenações Afonsinas
como a primordial compilação legislativa lusa[6]. E, no entanto, tudo leva a crer que
ambas sejam antecedentes às Afonsinas – até porque numa delas consta um índice do
punho de el-rei D. Duarte. Mas nenhuma está datada, nem autografada pelo autor e

1
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 93, nota 285.
2
O facto de não aparecer o capítulo de Cortes em que se reivindica a compilação das leis e ordenações do
reino, deu azo a suspeitas contra o jurista do proémio. Luís Miguel Duarte diz que “tem sido dado por provado
algo cuja prova não enxergo”. E se aceita, com reservas, que se tenha perdido o capítulo de Cortes do povo,
redunda que é totalmente inaceitável que tenha sido subscrito por fidalgos [pp. 93-94, nota 285]. As suspei-
tas sobre o pedido reiterado em Cortes pelo povo, pelo menos, são gratuitas. Se nos virarmos para o reino
vizinho de Castela deparamos com a conhecida petição às Cortes de Madrid, em 1433, e com a referência
a outra às Cortes de Madrid de 1458. Se bem que se desconhece o plausível capítulo das Cortes de Toledo
de 1480, que deu fruto e originou a primeira compilação castelhana [Cfr. María José MARÍA e IZQUIER-
DO, Las fuentes del Ordenamiento de Montalvo, Dykinson, Madrid, 2004]. Quanto à subscrição por fidalgos,
talvez não seja tão ignóbil se recuarmos aos primórdios do reinado de D. João I e à premente necessidade
de substituir as colecções castelhanas.
3
HOMEM, “Estado Moderno e Legislação régia”, p. 116: “No estado actual da nossa Historiografia, conhe-
cemos globalmente o conteúdo dos capítulos gerais apresentados pelos municípios às 18 reuniões de Cortes
do tempo de D. João I (entre 1385 e 1430); e não encontramos aí traço explícito desta matéria. Tratar-se-á provavel-
mente das Cortes de Santarém/1418, assembleia ocorrida num momento em que o protagonismo do Infante D.
Duarte é já nítido, e da qual saíram abundantes decisões em matérias jurídicas e administrativa”.
4
Como veremos no próximo capítulo.
5
ALMEIDA, “Os Codigos Portuguezes – Affonsino, Manoelino, Sebastianico e Philippino”, Ordenações
Filipinas, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985, livro I, p. XIX.
6
Assim tem sido desde há muitas décadas até à actualidade: FIGUEIREDO, Synopsis Chronologica, p. 32:
“Codigo das nossas Leis Patrias, certamente o primeiro, que dellas se fez na nossa Monarchia”.
SAMPAIO, Prelecções de Direito Patrio, 1793, p. 4: “O Primeiro Codigo he o Affonsino”.
Armando Luís de Carvalho HOMEM, Rei e «Estado Real» nos textos legislativos da Idade Média Por-
tuguesa, sep. Carlos Alberto Ferreira de Almeida in memoriam, Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, p. 392: “O concretizar de uma primeira compilação de leis com as OA”.
Dando origem a títulos como este: Maria do Rosário de Sampaio THEMUDO, “A Propósito de Medievali-
dade e de Modernidade nas Primeiras Ordenações Portuguesas”, Pensamiento Medieval Hispano, Homenaje a
Horacio Santiago-Otero, Madrid, 1998, vol. 1, pp. 465-472.

66
José Domingues

tudo o que adiantarmos sobre o fundamento da sua elaboração e efectiva vigência,


não passam de conjecturas pouco fundamentadas. Daí, talvez, a relutância, que se tem
sentido, em as considerar compilações de carácter oficial.
Passemos a uma análise individual, sobre aquilo que de mais relevante se tem
escrito, de cada uma dessas obras, sendo certo que o estudo de ambas, em conjunto
com o das Ordenações Afonsinas, já era recomendado pelos Estatutos Pombalinos da
Universidade de Coimbra, de 1772:

“Ensinará o que mais se ajustar à verdade sobre a Ordenação, que se attribuio ao


Senhor Rei Dom João o I, de que se dá por Author o Doutor João das Regras. Tratará da
Compilação do Senhor Rei Dom Duarte por ordem Chronologica: Da Compilação do
Senhor Rei Dom Affonso V organizada por ordem synthetica”[1].

O Livro das Leis e Posturas


Antes de mais, apenso a este Livro anda a incontornável controvérsia seiscentista
do seu achamento e imediato desaparecimento. A tradição documental destes suces-
sivos acontecimentos tem inveteradas raízes em João Pedro Ribeiro, posteriormente,
desenvolvida e comentada por Nuno Espinosa Gomes da Silva, no proémio à publica-
ção do Livro das Leis e Posturas.
Para além de muito escassos, esses subsídios documentais são bastante
contraditórios e de problemática harmonização. Antes de mais, embora de somenos
importância, avulta a incoerência entre a data do achamento no lixo da Torre do Tombo
(12 de Agosto de 1633) e a data do seu concerto (23 de Julho de 1633), pelo escrivão do
arquivo Jorge da Cunha. Espinosa da Silva concluiu que “12 de Agosto é a data em que se
lança a nota e não a do achamento”[2].
Seguindo a indicação fiel de João Pedro Ribeiro[3] no final da Introdução do Livro das
Leis e Posturas, publica-se o “Auto que mandou fazer o Douctor Gregorio Mascarenhas
Homem que serue de Guarda Mor da Torre do tombo, sobre o Liuro Antigo das Leys de
ElRey Dom Afonso o segundo que não se acha nella”[4]. De acordo com esse documento,
o “Livro Antigo das Leys de ElRey Dom Afonso o segundo” estava no Real Arquivo nos
anos de 1617 e 1618, tendo sido utilizado por Gabriel Pereira na primeira parte do De
Manu Regia Tractatus, publicado em 1622[5]. Mas já lá não se encontrou, no tempo de
Manuel Jácome Bravo, guarda-mor da Torre do Tombo, para elaboração do inventário
de 1625[6]. Em 1634, altura em que o desembargador Gregório Mascarenhas Homem

1
Estatutos da Universidade de Coimbra do Anno de MDCCLXXII. Lisboa, na Regia Officina typographica,
1773, Livro II (que contém os cursos Juridicos das Faculdades de Canones e de Leis), Título 3, Cap. 9, § 4,
pp. 160 e 161.
2
Nuno Espinosa Gomes da SILVA, Prefácio ao Livro das Leis e Posturas, Lisboa, 1971. pp. VI-VII.
3
Real Arquivo, Gaveta 10, Maço 5, n.º35.
4
SILVA, Prefácio ao Livro das Leis e Posturas, pp. 1-6.
5
Idem, pp.VII-VIII e pp. 1-5.
6
Idem, p. VIII e pp. 1-5.
“Uns autores atribuem a este auto a data de 1622 [João Pedro RIBEIRO, Memorias para a historia do Real
Archivo, Lisboa, Imprensa Régia, 1819, p. 37; Pedro de AZEVEDO e António BAIÃO, O Arquivo da Torre do
Tombo: sua história, corpos que o compõem e organização, ed. Fac-similada, Lisboa, 1989, p. 43] e outros a
data de 1625 [António BAIÃO, “O Guarda-mór Damião de Góis e alguns serviços da Torre do Tombo no
seu tempo”, Anais das Bibliotecas e Arquivos, Lisboa, 2.ª série. 9 (1931) 16, p. 17]” [Fernanda RIBEIRO, “Como
seria a estrutura primitiva do Arquivo da Casa da Coroa (Torre do Tombo)?”, Os Reinos Ibéricos na Idade

67
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

toma posse do lugar de guarda-mor da Torre do Tombo, também lá se não encontrava


o dito Livro[1]. Mantendo-se a situação no ano de 1639, quando se decidiu levantar o
referido Auto[2].
São estas a datas mais relevantes que Espinosa da Silva retira e, efectivamente,
constam do documento, que, à partida, não apresentariam qualquer desordem, se
não fossem cruzadas com auxílios documentais acessórios: o do achamento de Jorge
da Cunha (1633) e o da utilização de António Brandão (a sua Monarquia Lusitana foi
editada em 1632). Para aquele autor, “um aspecto muito interessante a salientar neste
Auto” é o da ausência total de qualquer referência ao achamento de Jorge da Cunha.
Por outro lado, efectuaram-se diligências no sentido de procurar o livro em casa de
Gabriel Pereira, sendo certo que este faleceu a 18 de Outubro de 1632, muito antes do
achamento de Jorge da Cunha[3]. Resumindo, o percurso cronológico do Livro das Leis e
Posturas, em pouco mais de vinte anos, segundo Espinosa da Silva, seria:

1617/18 – Estava no Real Arquivo, tendo sido utilizado por Gabriel Pereira.
1622 – Gabriel Pereira, na sua obra De Manu Regia, refere várias vezes o
“liuro antiguo das leis de Dom Afonso Segundo”.
1625 – Inventário ordenado pelo desembargador Manuel Jácome Bravo,
que já não o inclui.
1632 – Publicada a quarta parte da Monarquia Lusitana, de frei António
Brandão, que faz referência ao livro de leitura antiga da Torre do
Tombo e ao traslado das leis de D. Afonso II.
1633, Julho, 23 – Nota de Jorge da Cunha sobre o concerto do livro das
Leis e Posturas.
1633, Agosto, 12 – Nota de Jorge da Cunha do achamento do Livro das
Leis e Posturas.
1634, Novembro – Quando o desembargador Gregório Mascarenhas
Homem toma posse do lugar de guarda-mor da Torre do Tombo, o
códice já voltara a desaparecer.
1639, Maio, 12/Outubro, 16 – “Auto que mandou fazer o Douctor Gregorio
Mascarenhas Homem que serue de Guarda Mor da Torre do tombo,
sobre o Liuro Antigo das Leys de ElRey Dom Afonso o segundo que
não se acha nella”:

Com base nestes dados, às incongruências levantadas por Espinosa da Silva


pode‑se acrescentar outra: no auto também não há qualquer menção a frei António
Brandão, nem à sua obra, que sabemos consultou o dito Livro e ainda era vivo quan-
do o desembargador Gregório Mascarenhas tomou posse de guarda-mor da Torre do
Tombo – vindo a falecer em 1637. Antes de prosseguir, permitam-me duvidar da iden-
tificação do Livro das Leis e Posturas com o Livro Antigo das Leis de D. Afonso II, citado,
sempre com esta designação, no auto de 1639 e na obra de Gabriel Pereira. Parece-me
um absurdo que todos os coetâneos frequentadores e oficiais da Torre do Tombo igno-

Média, Livro de Homengame ao Professor Doutor Humberto Carlos Baquero Moreno].


1
SILVA, Prefácio ao Livro das Leis e Posturas, p. IX e p. 1-5.
2
Idem, p. IX e pp. 1-5.
3
Idem, p. IX.

68
José Domingues

rassem as duas informações (o achamento de Jorge da Cunha e a consulta de António


Brandão, apuradas quase quatro séculos depois), as únicas que não encaixam na cro-
nologia documental do auto de Gregório Mascarenhas. Já agora, porque é que Jorge da
Cunha, o achador, não foi interrogado? Já teria falecido?
O impulsionador desta investigação foi Tomé Pinheiro da Veiga, do Conselho de
el-rei, desembargador do Paço e procurador da Coroa. O seu testemunho, aliado ao
do seu criado, é bastante conclusivo. Ele ainda viu o códice, com Gabriel Pereira, nos
anos de 1617 e 1618; após a publicação da obra de Gabriel Pereira (1622), procurou-o
novamente, mas não o descobriu; como também o não descobriu no tempo do Doutor
Manuel Jácome Bravo, nem o Doutor Gabriel Pereira de Castro e Luís Pereira de Cas-
tro lhe souberam dar razão do seu paradeiro:

“em tempo do Doutor Manoel Jacome brauo ja não pude descobrir lo nem os
guardas da torre nem o Doutor Gabriel pereira de castro e luis pereira de Castro
souberão dar resão de quem o teria ou poderia leuar”[1]

Quer isto dizer que Tomé Pinheiro da Veiga já procurava o Livro Antigo das Leis de
D. Afonso II no tempo do inventário de Manuel Jácome Bravo (1622/25) e muito antes
de Gabriel Pereira de Castro ter falecido (1632). Assim sendo torna-se incompreensível
que ele não tivesse tido conhecimento do achado em 1633 e continuasse a procurá-lo,
insistentemente, em 1634 e 1639. E já agora, porque é que não indagou junto de Antó-
nio Brandão?
As incertezas levantadas pelos dados cronológicos podem ser firmadas pelo mui-
to pouco que podemos averiguar sobre o conteúdo do Livro Antigo das Leis de D. Afonso
II. Antes de mais, continuando com o testemunho de Tomé Pinheiro da Veiga – que
consultou o Livro Antigo das Leis de D. Afonso II e pretendia “apurar alguas cousas das
ditas concordias e bullas a que se referia o dito liuro de manu Regia vendo se auia mais algua
cousa tocante aas cartas e procuracois dos ministros de Elrej D. Dinis” – no Livro de Leis e
Posturas não existe qualquer carta ou procuração dos ministros dionisinos. Mas o mes-
mo Tomé Pinheiro refere que, para além das concordatas de D. Dinis, o desaparecido
códice continha também as concordatas de D. Pedro I, D. Afonso II e D. Sancho II, que,
de todo, faltam no Livro de Leis e Posturas:

“As concordias e capitulos de Cortes acordados com prazimento dos prelados do


Reino e as confirmadas e ratificadas que Recopilou o Doctor Grauiel pereira de
Castro no primeiro liuro de manu Regia no fim assi de Elrej D. Dinis como D. Pedro
forão tiradas do liuro antigo de Elrej Dom Afonso 2º (…) e ainda que no d(ito) liuro
das Ordenações D. Afonso 5º andem as ditas concordias he per recopilacão sem
alguns problemas e bullas que se não achão em outra parte e assi as do dito Rej D.
Afonso 2º que nelle andauão e D. Sancho”[2]

Volvidos mais de cem anos, sub-repticiamente, conforme assinala Espinosa Gomes


da Silva[3], o famigerado códice voltou à Torre do Tombo, pois alguém se lembrou de

1
Idem, pp. 4-5.
2
Idem, pp. 4-5.
3
SILVA, Prefácio ao Livro das Leis e Posturas, p. X.: “Quando, e como, regressou o códice à Torre do Tombo?
Nada se sabe. Dizia Pinheiro da Veiga que se «fizesse diligencias com o menos estrondo possível»; pois o
códice também assim regressou – sem «estrondo». Mais de cem anos depois, em 7 de Abril de 1769, anota-
se, com toda a tranquilidade, que - «Este Livro de que se trata no Auto antecedente se acha prezentemente

69
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

lançar no final do auto de 1639, que “Este Livro de que se trata no Auto antecedente se acha
prezentemente no Armario 11 da Caza da Coroa Lisboa 7 de Abril de 1769”[1]. No entanto ele
tinha regressado muito antes – ou melhor, parece que nunca chegou a sair – porque
Gerardo Ernesto de Frankenau, para a De Lusitanorum Legibus, editada em 1703, o
consultou no Arquivo Real da Torre do Tombo[2]. Neste lapso temporal de sete décadas
[1633-1703], um documento intermédio continua a asseverar o paradeiro do Livro
das Leis e Posturas na Torre do Tombo. Trata-se de um inventário da Casa da Coroa,
reportado ao final do reinado de D. João IV (1656), que coloca as “Leis antigas” no
armário 14 do primitivo arquivo da Casa da Coroa[3]. E, ainda, muito antes de 1769 se
publicou o tomo I das Provas da História Genealógica, da autoria de D. António Caetano
de Sousa, onde consta que a lei de D. Dinis que proíbe os eclesiásticos de herdarem os
bens dos seus professos “Está na Torre do Tombo (…) no Liv. Antigo das Leys”[4].
Posto isto, o que seria mais adequado é que, desde o seu achamento, o Livro das Leis
e Posturas esteve sempre no arquivo da Casa da Coroa, onde persevera actualmente[5].
Mas, com o tempo, outros aditamentos surgirão e com um cotejo mais profundo dos
dados escritos disponíveis e a inventariação de outros, mais incoerências se poderão
ainda reclamar. Por isso, o que neste momento me parece mais seguro é, pelo menos,
duvidar da identificação do Livro Antigo das Leis de D. Afonso II, referido no auto de
1639, com o actual Livro das Leis e Posturas.
Concluindo, é plausível que o Livro Antigo das Leis de D. Afonso II se tenha perdido,
definitivamente, na escuridão da História, entre os longínquos anos de 1618 e 1625[6],
não devendo ser confundido com o actual Livro das Leis e Posturas, achado por Jorge
da Cunha em 1633. Agora, que preciosidade seria para a nossa jurisprudência esse
códice, que, apesar de efémera probabilidade, poderia ter versões completas dos
diplomas gerais de Afonso II, actualmente apenas conhecidos por lacónicos resumos
em vernáculo do Livro das Leis e Posturas, das Ordenações de D. Duarte e dos Foros de
Santarém[7]. Os Foros de Santarém, segundo o auto que temos vindo a seguir, teria sido
achado a 23 de Julho de 1640[8]. A propósito, também o livro II das Afonsinas, em letra

no Armario 11 da Caza da Coroa».”


1
Idem, p. 6. Esta nota pode ter surgido por causa da reorganização do Arquivo, após o terramoto de 1755.
2
Martim de ALBUQUERQUE, “A Primeira História do Direito português – O De Lusitanorum Legibus de
Frankenau (1703)”, Estudos de Cultura Portuguesa, vol. 3, Lisboa, 2002, p. 149.
3
Fernanda RIBEIRO, “Como seria a estrutura primitiva do Arquivo da Casa da Coroa (Torre do Tombo)?”.
Os Reinos Ibéricos na Idade Média. Livro de Homengame ao Professor Doutor Humberto Carlos Baquero
Moreno. Coordenação Luís Adão da Fonseca, Luís Carlos Amaral e Maria Fernanda Ferreira Santos. Facul-
dade de Letras da Universidade do Porto e Livraria Civilização, 2003, p. 1414.
4
SOUSA, Provas da História Genealógica, Tomo I, Livro II, doc. 1, pp. 83-84.
5
Núcleo Antigo, n.º1.
6
Nesta época desapareceram muitos outros livros do Arquivo. Por exemplo, os oitenta volumes de registos
reformados por Gomes Eanes de Azurara “ainda existiam em 2-3-1526, mas já se não mencionam a 20-12-1532,
segundo consta de documentos de Tomé Lopes, presumível responsável pelo seu desaparecimento, como escrivão da
Torre do Tombo e guarda-mor interino do mesmo Arquivo” [Avelino Jesus da COSTA, “A chancelaria real por-
tuguesa e os seus registos, de 1217 a 1438”, Revista da Faculdade de Letras – História, II série, vol. 33, Porto,
1996, p. 97].
7
Publ. Colecção de Livros Inéditos da História Portuguesa. Academia Real das Ciências, Lisboa. 1816, pp. 531-
578. Mas omitindo a legislação de D. Afonso II, D. Afonso III [Publ. HERCULANO, Portugaliae Monumenta
Historica, Leges], D. Dinis e D. Afonso IV.
8
“Aos vinta(sic) tres dias do mes de Julho de anno de 640 se achou hum Livro pequeno emcadernado em
pasta vermelha que tem por tittulo. Fora L antiguo da villa de Santarem no qual as fol 25 estão tresladadas
parte das Leys que ElRey Dom Affonso 2.º fez no primeiro anno de seu Reinado entre as quaes esta [proi]
bicão (sic) aos Mosteiros para que não [com]prem bens de Raiz, e outras ordenacois, (sic) O qual livro man-

70
José Domingues

cursiva comum do 3.º quartel do século XV, foi salvo por Jorge da Cunha (o do Livro
das Leis e Posturas), a 10 de Janeiro de 1631, “debaixo de lixo nas casas de baixo” da Torre
do Tombo[1]. A descoberta destes três preciosos códices de leis medievais, entre os
escombros da Torre do Tombo, em tão curto espaço de tempo – em 1631 o livro II
das Ordenações Afonsinas, em 1633 o Livro das Leis e Posturas e em 1640 os Foros de
Santarém – são o provável corolário da aturada busca do Livro Antigo das Leis de D.
Afonso II, que se esfumou para sempre.
A ser assim, Gabriel Pereira teria sido dos últimos autores que teve o apanágio de
compulsar este cimélio – que nos poderão revelar as suas lacónicas anotações?
A primeira menção surge a propósito das duas concórdias de D. Afonso II, que
estariam no Livro Antigo das Leis de D. Afonso II:

“As primeiras concordias de que achei noticia na Torre do Tombo (…) forão
celebradas com elRey Dom Afonso II nas quaes não ha outra forma mais, que
precedendo as queixas dos Prelados, nas cousas em que contendião dar el Rey
sua resposta, desfazendo os aggravos, e pondo emenda no futuro, para que se
não continuassem, destas houve duas, de que consta do livro antiguo das leis do mesmo
Dom Afonso II fl. 45 e 48, aonde não ha cousas notaveis, e por isso não faço aqui
menção dellas” [2]

Anastácio Figueiredo, que já identifica o Livro Antigo das Leis de D. Afonso II com
o Livro de Leis e Post12
uras, regista como primeira concórdia, na sua Synopsis Chronologica, a de Sancho
II de 25 de Junho de 1223, lançando o descrédito sobre as de Afonso II. No entender
deste, Gabriel Pereira, ao referir os fólios 45 e 48 do Livro Antigo das Leis de D. Afonso
II, “se engana nessa proposição, sendo certo, que o que no dito Livro a fol. 45 47 e 48 se acha
he huma Lei do Senhor Rei D. Affonso III, Conde de Bolonha, em que regula as aposentadorias
dos Infanções, Ricos-homens, Cavalleiros, e Padroeiros, seus filhos, ou netos, em as Igrejas e
Mosteiros”[3].
Parece bastante remota a hipótese de que Gabriel Pereira tenha confundido a lei de
Afonso III e reforma de seu filho, no Livro das Leis e Posturas, com as duas concordatas
de Afonso II. Em seguida transcreve as concórdias de D. Sancho II, mas sem identificar
a fonte utilizada.
A autenticidade da concórdia de Sancho II, de 1223, foi ventilada por Alexandre
Herculano, que argumenta que ela teria sido comunicada a Brandão e a Pereira pelo
“assaz conhecido Lousada” – mais uma acha para a fogueira da ignomínia deste escrivão
da Torre do Tombo[4]. Herculano conjectura, em seguida, que António Brandão,

dou … [Gre]gorio Mascarenhas homem [meter] na gauetta das Extra de que fiz aquy este assento em lixª no
dito dia mes e anno Vicente de Sottomayor o escreuj. Gregorio Mascarenhas Homem” [SILVA, Prefácio ao
Livro das Leis e Posturas, pp. 5-6]. Cfr. também Maria do Carmo Jasmins Dias FARINHA e Maria de Fátima
Dentinho Ó RAMOS, Núcleo Antigo: Inventário, Lisboa, 1996, p. 33, nota 2.
No inventário de 1656 aparece no armário 9 da Casa da Coroa [RIBEIRO, “Como seria a estrutura primitiva
do Arquivo da Casa da Coroa (Torre do Tombo)?”, p. 1412]
1
Eduardo Borges NUNES, Nota Textológica, Livro I das Ordenações Afonsinas, Fundação Calouste Gul-
benkian, 1984, p. 14.
2
Gabriel Pereira de CASTRO, De Manu Regia, 2.ª edição, 1673, p. 313.
3
FIGUEIREDO, Synopsis Chronologica, pp. 3-4, nota a).
4
Não é este o espaço nem a circunstância mais apropriada para sequer tentar uma defesa ou acusação de
Gaspar Álvares de Lousada Machado, que exigiria, desde logo, a inventariação e cotejo de todo o seu labor
de transcrição documental que chegou até nós.

71
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

contrariando o prometido no capítulo 2 do livro 14 da Monarquia Lusitana, a não


publicou em apêndice, podendo produzir “suspeitas de que ele hesitara acerca da sua
genuinidade”. D. Rodrigo da Cunha, apesar de afirmar existir um original no Arquivo
Capitular de Braga, também parece ter seguido a cópia de Lousada[1]. O diploma do
Arquivo de Braga acabou por ser publicada por Sousa Costa[2], mas a cópia de que se
serviram os autores seiscentistas, revelada por Lousada, bem pode ter sido a do Livro
Antigo das Leis de D. Afonso II, impossibilitando o seu descaminho a publicação na
íntegra do diploma.

De entre os autores que o incriminaram, o primordial e feroz agressor foi, sem dúvida, João Pedro Ribeiro.
Sentenciada a probidade deste amanuense, pela voz autorizada do patriarca da diplomática portuguesa,
os autores ulteriores só lhe vieram dar cumprimento, sem sequer questionar da sua justiça ou equidade.
Mas, ultimamente, tem-se levantado vozes em defesa de Lousada, desde Anselmo Braamcamp Freire, que
confia cegamente nos seus extractos das chancelarias [Archivo Historico Portuguez, vol. II, p. 485], António
Machado de Faria, que manuseou os seus manuscritos arrecadados na Biblioteca Nacional e carreou docu-
mentos autênticos da sua confiança régia [“Os manuscritos de Lousada na Biblioteca Nacional”. in Arquivo
Histórico de Portugal, vol. I, Lisboa, 1932-1934, pp. 366-398], e Eugénio de Andrea da Cunha e Freitas, que
reivindica uma justa apreciação da sua memória [“Um inédito de Gaspar Álvares de Lousada: o mosteiro
de Fonte Arcada e os seus fundadores”. in A Historiografia Portuguesa Anterior a Herculano (Actas do coló-
quio), Academia Portuguesa da História, Lisboa, 1977, pp. 105-117].
Muito antes destes, em coetânea antinomia com João Pedro Ribeiro, ergueu-se a voz de Frei António da
Assunção Meireles. Mas o clamor manuscrito do colector beneditino das Memórias do Mosteiro de Pombeiro,
jubilado em Filosofia e Matemática, ficou silenciado no exílio austero do cenóbio de Pombeiro. Para análise
vindoura, aqui fica esse parecer, ditado pela análise do documento da fundação do referido mosteiro, nas
suas certezas e incoerências, que apenas conhece pelo traslado de Álvares Lousada:

“Apezar destas incoherencias, a pezar dos clamores com que tenho ouvido abocanhar a reputasão
de Louzada pelos homens de letras ha poucos tempos a esta parte, quando me lembro de que os
Livros da Torre do Tombo foram escritos em tempo, que a Diplomatica jazia nas trevas as mais
espesas; de que aqueles Compiladores não tinhão mais subsidios que a sua louvavel curiozidade;
quando me lembro de que a Historia Geral, e particular da Nasão hoje mesmo, n’um Século, em que
a ignorancia deve envergonhar, está semeada d’erros, e anacronismos groseiros; quando observo a
diferente Leitura nas Confirmasoins, nomes, e Sés dos Bispos, que se encontra não só nas diversas
Edisoins, dos Concilios impresos, e d’outros Documentos mas ainda em Treslados manuscritos, po-
rem autenticos, e pasádos por Tabaliains publicos; quando noto quotidianamente a afouteza com
que alguns destes Leitores substituem sem pavor o que se lhe antoja ao que não sabem, até muitas
vezes ao que nem podem ler, ou pelo deterioramento do pergaminho, ou por estarem as letras mui
apagadas; quando finalmente advirto que nem todos os Antiquarios tem a vista igualmente bem
organizada para traduzir huma Data, ler hum nome proprio, e decifrar as abreviaturas, crimino
com severidade os Compiladores da Torre do Tombo por terem dado cabo dos Originais, lamento
a perda irreparavel de tantos autografos preciozos, desejo anciozamente a resureisão deses mortos,
que podião ser de novo examinados, e instruir a Republica Literaria, cuja sorte foi confiada á sua
ignorancia, e incapacidade, e não me admiro de que se lese Berta por Sancha, Pater por Socer, etc
e como não temos bastante cabedal de Escrituras, que justifiquem sem escrupulos, e provem com
evidencia que não existirão Bispos Titulares das Diocezes dezertas, e despovoadas, suspendo o
meu juizo em lugar de latir importuna, e temerariamente á memoria, e reputasão de Louzada, cujos
crimes devem recahir sobre os Compiladores, e Copiadores da Torre do Tombo, que destruirão em
vês de conservar o Tezouro inestimavel, que lhe foi confiado, e no em tanto reputo meros erros de
leitura as incoherencias apontadas, sem pertender despojar o Leitor da liberdade de pensar, que lhe
compete por tantos, e tam sagrados titulos. Provem-me com evidencia que nunca existirão no Real
arquivo aquelas Colesoins, nem os seus Autografos, então reputarei Louzada como hum impostor,
e Confrade de Higuera.” [Frei António da Assunção MEIRELES, Memórias do Mosteiro de Pombeiro,
Academia Portuguesa de História, publicadas e prefaciadas pelo Académico Fundador António
Baião, Lisboa, 1942, p. 9]
1
HERCULANO, História de Portugal, Vol. II, nota XV de fim de volume.
2
António Domingues de Sousa COSTA, Mestre Silvestre e Mestre Vicente, juristas da contenda entre D. Afonso
II e suas irmãs, Estudos e textos da Idade Média e Renascimento, Braga, 1963, pp. 123-128, nota 222-223.

72
José Domingues

A segunda referência prende-se com a transcrição de uns capítulos sobre matéria


eclesiástica, sem data, que Gabriel Pereira classificou como segunda concórdia de D.
Afonso III[1]:

“Antre as cousas mães antigas achei, no livro del Rey Dom Afonso, huns artigos
sobre materias Ecclesiasticas, que dizem assi”[2]

Os artigos transcritos por Pereira de Castro também constam no Livro das Leis e
Posturas[3].
A propósito da concórdia dos 40 artigos do reinado de D. Dinis, Gabriel Pereira,
escreve o seguinte:

“Consta do dito livro del Rey Dom Afonso II fol. 96” (…) “E para mais clareza desta
materia, quis por aqui huã Bulla do Papa Nicolao IV que anda no livro de Dom
Afonso II das fol. 96 por diante, traduzida em lingoagem, por a não achar em
Latim: diz assi” [4]

A bula que Pereira de Castro transcreve a seguir a esta anotação consta no Livro
das Leis e Posturas de fls. 129 a 130v[5]. A finalizar a transcrição integral da bula, Castro
escreve outra nota elucidativa:

“Logo junto a esta Bulla está outra do mesmo Nicolao IV fol. 98 em que estão
insertos os quarenta artigos, de que esta acima faz menção, que forão dados em
Roma, em tempo de Clemente IV em Latim, como neste mesmo livro estão em outro
lugar, posto que nesta bulla estão em lingoagem”

A dita bula onde constam os quarenta artigos aparece no Livro das Leis e Posturas a
partir do fólio 130v[6]. Repare-se que, para além da disparidade entre os fólios referidos
por Pereira de Castro e os do Livro das Leis e Posturas, neste último não há qualquer
versão em latim da concórdia de D. Dinis, conforme refere Castro.
A encabeçar a segunda concórdia de D. Dinis aparece outra referência ao Livro das
Ordenações de D. Afonso II:

“Estando os Prelados em Roma, seguindo a composição dos 40 artigos, recrecerão novas


duvidas sobre que formarão onze artigos de novo, de que consta no livro das Ordenações
del Rey Dom Afonso II fol. 101 vers. aonde está hum instrumento, que aqui tresladei,
porque não se duvide que estes onze artigos forão concordados em Roma”[7]

A concórdia dos onze artigos consta no Livro das Leis e Posturas dos fólios 136v até
138[8].

1
Estes capítulos não podem ser deste reinado por referirem o Livro Sexto.
2
CASTRO, De Manu Regia, p. 321
3
Livro das Leis e Posturas, pp. 57-60.
4
CASTRO, De Manu Regia, p. 325.
5
Livro das Leis e Posturas, pp. 332-340.
6
Livro das Leis e Posturas, p. 340.
7
CASTRO, De Manu Regia, p. 343.
8
Livro das Leis e Posturas, pp. 363-370.

73
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

A terceira concórdia com el-rei D. Dinis, de 1292 Agosto 23 (Porto), que se resume à
resposta de monarca aos agravamentos que os bispos do Porto, da Guarda, de Lamego
e de Viseu diziam lhe serem feitos no reino, diz Pereira de Castro:

“Está na torre do Tombo, no livro del Rey Dom Afonso II fol. 505(sic)”[1]

Esta concórdia consta no Livro das Leis e Posturas nos fólios 39v-40[2] e repetida a
fólios 138-138v[3].
Por fim, sobre a quarta concórdia de D. Dinis, Gabriel Pereira refere:

“No livro antigo das leys del Rey Dom Afonso Segundo às folhas 49 verso, estão
insertos outros capitulos com el Rey Dom Dinis, e os Prelados, que não andão bem
compilladas no livro segundo del Rey Dom Afonso Quinto, e no original se podem
ver, no lugar citado, e nas folhas 106 dizem assi.”[4]

Esta concórdia consta no Livro das Leis e Posturas nos seguinte fólios 16v-17; 49v-
51v; e 138v-140[5]. O que quer dizer que, pelo menos a folha 49v coincide em Castro e
no Livro das Leis e Posturas.
A última referência de Gabriel Pereira, sobre o livro das leis de D. Afonso II, cons-
ta na parte das ordenações concordadas (Ord. Lib. 2 tit. 4):

“Que os Clérigos da casa del Rey respondão perante elle. He tirado de huã lei de
el Rey Dom Dinis, que anda nas suas leis, no livro de Dom Affonso II, fol. 42”[6]

No Livro das Leis e Posturas no fol. 42 consta um artigo de D. Dinis que pode ser
(mas sem qualquer convicção) o fundamento último deste título.
O cotejo com a obra de Gabriel Pereira de Castro evidencia tantas contradições
que não deixaria margem para dúvidas estarmos a falar de dois livros totalmente
diferentes. Mas a verdade é que o Livro das Leis e Posturas, desde os fólios 77 até ao 109,
foi completado, no século XVIII, a partir das Ordenações de D. Duarte[7]. Como grande
parte das folhas referidas por Castro se inserem neste espaço as dúvidas, em vez de se
dissiparem, adensam-se. Será que o acrescento do século XVIII e a paginação do Livro
das Leis e Posturas podem justificar todas as discrepância supra referidas?[8]
Deixemos esta intrincada controvérsia e voltemos a algo de mais concreto.
Desde muito cedo que este códice preocupou, e tem preocupado, os mais insignes
investigadores do âmbito[9]. Uma desenvolvida resenha histórica e bibliográfica deste

1
CASTRO, De Manu Regia, p. 349. O fol. correcto poderia ser 105, no seguimento do documento antecedente.
2
Livro das Leis e Posturas, pp. 128-129.
3
Livro das Leis e Posturas, pp. 371-372.
4
CASTRO, De Manu Regia, p. 350.
5
Livro de Leis e Posturas, pp. 60-63, 155-162 e 372-379.
6
CASTRO, De Manu Regia, p. 443.
7
Cfr. Livro das Leis e Posturas, p. 283, nota 285.
8
Para avançar com qualquer convicção torna-se indispensável a análise codicológica do original do Livro
das Leis e Posturas, que neste momento está fora dos nossos propósitos.
9
RIBEIRO, Dissertações Cronológicas e Críticas, Vol. IV, 2.ª Parte, Dissertação XVII.

74
José Domingues

Livro das Leis e Posturas, também referido como Livro de Leis Antigas, consta do prefácio
à sua publicação, da autoria de Nuno Espinosa Gomes da Silva[1]. Este preâmbulo
inicia‑se com a citação do incansável João Pedro Ribeiro – um dos primeiros autores que
lhe prestou alguma atenção, mesmo para além do seu conteúdo intrínseco – clamando
pela sua publicação efectiva. Este autor, sobre este valorizado códice mediévico,
aventou duas teses fundamentais, que marcam todo o seu entendimento vindouro.
Antes de mais, quanto às razões que levaram à sua prossecução, partindo
da premissa de que no reinado de D. João I se procurou sistematizar um corpo de
legislação pátria, alvitrou:

“apenas me abalanço a conjecturar, que por occasião do Codigo Systematico de


Leis, projectado, e principiado no Reinado do Snr. D. João I, se tratou de juntar as
leis anteriores em hum Corpo, procurando-se mesmo do Registo dos Concelhos:
e que esta seja a causa de neste Codice se acharem tantas Leis repetidas mais de
huma vez, humas inteiras, outras truncadas, humas sem datas, outras com ellas, e
algumas manifestamente erradas nas mesmas datas” [2]

É esta a justificação encontrada, por este exímio estudioso e analista exacerbado,


para as constantes repetições de diplomas e assíduos erros do códice das Leis Antigas.
Esta ideia colhe repetido patrono em Alexandre Herculano, que, na mesma senda, lhe
acrescenta novos argumentos, nomeadamente, uma paternidade conjectural:

“porventura era trabalho preliminar para a codificação das leis (...) Naturalmente
o Livro das Leis e Posturas não é senão o primeiro ou um dos primeiros trabalhos de
Joanne Mendes. Persuadem-no não só a circumstancia de se haver conservado no
archivo publico, a desordem com que está colligido, as repetições das mesmas leis
em diversos logares com variantes notaveis, o que indica serem copias havidas
de diversas fontes, mas tambem e principalmente o não conter leis posteriores ao
reinado de Affonso IV.”[3]

Herculano começa por aceitar que se trata de um trabalho de recolha de velhos


diplomas normativos disseminados pelo Arquivo Real e pelos registos dos concelhos
– como tinha divulgado Ribeiro. Daí à ilação de se tratar de um primeiro trabalho
do compilador das Ordenações Afonsinas, João Mendes, vai um passo muito curto. No
entanto, aquele inaudito historiador oitocentista ventila outra conjectura secundária,
“Porventura era apenas o peculio de algum magistrado ou advogado da corte…” [4]. E será esta,
em parte, a hipótese apadrinhada por Marcello Caetano[5], refutando, tacitamente, a
tese de se tratar de um trabalho preliminar de João Mendes, para a compilação das
Ordenações do reino:

HERCULANO, Portugaliae Monumenta Historica, Leges, pp. 148-149.


SILVA, Prefácio ao Livro das Leis e Posturas, pp. V-XIV.
CAETANO, História do Direito, pp. 346-347.
DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 109-110.
1
SILVA, Prefácio ao Livro das Leis e Posturas, pp. V-XIV.
2
RIBEIRO, Dissertações Cronológicas e Críticas, Vol. IV, 2.ª Parte, Dissertação XVII, p. 29.
3
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, pp. 148-149.
4
Idem, p. 148.
5
No mesmo sentido, António Manuel HESPANHA, Nota à tradução de John GILISSEN, Introdução His-
tórica ao Direito, 4.ª Edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2003, p. 319: “As principais fontes
utilizadas pela nossa historiografia para reconstruir a legislação medieval são produto da actividade de
juízes (da corte: Livro de Leis e Posturas, Ordenações de D. Duarte)”

75
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

“O facto de se encontrar no arquivo da coroa e certas formas de redacção de textos


fazem pensar que se trate de uma colectânea mandada organizar no Tribunal de Justiça
da Corte, a fim de preservar textos avulsos que por lá se encontrariam e de que
frequentemente seria preciso lançar mão. (...) Não é natural, dado o alto custo em que
importaria e o local onde foi encontrada, que se tratasse de colecção particular.”[1]

Quanto ao resto, este medievista, afirma, categoricamente, que “não se sabe em


que condições foi escrito e para quê”[2]. Esta asseveração parece ter sido induzida pelas
hesitações legadas por Espinosa da Silva no final do seu proémio:

“A coincidência que possa existir entre textos das Leis e Posturas, Ordenações
de D. Duarte e Ordenações Afonsinas, não prova, só por si, como é evidente, que
aquelas duas primeiras colecções tenham constituído trabalhos preparatórios; do
mesmo modo, possíveis diferenças que se apontem, também não provam, em si
mesmas, que as mencionadas colecções não tenham sido trabalhos preparatórios:
poderão, sim, provar que os compiladores das Afonsinas utilizaram, igualmente,
outras fontes.”[3]

A outra tese aventada por Ribeiro e, posteriormente, repisada pelo póstero


Herculano, tem a ver com a identificação deste corpo de leis com outro(s) que encontrou
em diplomas do reinado de D. João I. Em nota manuscrita – nomeadamente, ao códice
das Leys antigas copiadas do Real Archivo da Torre do Tombo[4] – parece não ter dúvida
quanto a essa correspondência:

“Deste Livro faz menção a L. de D. João 1º referida no L.º 3º Aff.º tt.º 6º §1º chamando-
lhe Livro das Ordenaçoins do Reyno. E talvez delle tãobem se entende o que se diz no
mesmo L.º 3º tt.º 15 §29. in fin. onde se faz menção do L.º das Leys da Caza do Civel.
(...) Parece que este Livro se intitulava das Ordenaçoens no Reinado do Senhor D.
João 1º pois que a 22 de Abril da Er. 1459 se passou pelo Chanceler mor em nome
do mesmo Senhor Certidão da Ley sobre a liberdade de acrescentar athe o meio
dos Rios os que tem herdades nas suas margens, pelas mesmas palavras com que
se acha aquella Ley a pág. 314 deste Tomo, dizendo-se que em o Livro de nossas
hordenaçoens, que andam em nossa Chancellaria he hua hordenaçom feita por ElRey
D. Affonso o terceiro que tal he = Estabelecido he que todos aquelles que ham
testados &º”[5]

Mas, ao tratar-se de formalizar as suas impressões em letra de imprensa, mostra‑se


bastante mais cauteloso:

“Não me atrevo a affirmar se este Codice se deva entender a citação do Livro das
Ordenações do Reino em huma Lei do Senhor D. João I no Liv. III Aff. T.6 § 1, ou o
que se diz no mesmo Liv. T. 15, § 29 in fine do Livro de Leis que anda na Casa do Civel.
Huma certidão expedida ao Mosteiro de S. João de Tarouca (Cartor. do mesmo
Mosteiro Gav. 2 Maç. N.13) pelo Chanceller mór a 22 d’Abril Era 1459 do Livro das
Ordenações que anda na Chancellaria de huma Lei do Senhor D. Affonso III produz
a Lei pelo mesmo theor, com que se acha nas Leis antigas.”[6].

1
CAETANO, História do Direito, p. 346.
2
CAETANO, História do Direito, p. 346.
3
SILVA, Prefácio ao Livro das Leis e Posturas, pp. XI-XII.
4
Coimbra, BGU – Códice n.º692.
5
CRUZ, Breve Estudo dos Manuscritos de João Pedro Ribeiro, pp.43-44.
6
RIBEIRO, Dissertações Cronológicas e Críticas, Vol. IV, 2.ª Parte, Dissertação XVII, p. 29.

76
José Domingues

Esta diferença de proposição torna injustificável a crítica exagerada que lhe move
Herculano, afirmando que “Ribeiro pretende que o livro, a que se referem as passagens
que cita, seja este a que se deu depois o nome de Livro das Leis e Posturas. A razão
que para isso teve é acharem-se effectivamente transcriptas nelle as leis a que essas
passagens se referem. É facil de alcançar a fraqueza do argumento”[1]. Ribeiro coloca
apenas uma hipótese, que como tal deve ser equacionada, realçando o facto de que a
lei de D. Afonso III trasladada do cartório do mosteiro de S. João de Tarouca era de teor
idêntico ao coligido nas Leis Antigas.
Herculano, com o seu aguçado sentido crítico e singular perspicácia, contestando
esta conjectura de Ribeiro, defende a existência, nos princípios do século XV, de
diversas colecções oficiais de leis – “O que evidentemente resulta das passagens que
Ribeiro cita, e de outras que lhe escaparam, é, pelo contrario, que nos principios do
século XV havia diversas collecções officiaes de leis, sem que todavia possamos affirmar
que o Livro das Leis e Posturas entrava no numero dellas” – argumentando com mais
algumas referências coligidas do próprio Livro das Leis e Posturas e das Ordenações
Afonsinas e, sobretudo, a do Livro Grande das Leis, constante no título 15, §13, do livro III
desta colectânea[2]. Relata ainda, a propósito deste último Livro Grande, que já continha
leis do tempo de Afonso V, anteriores à redacção das Afonsinas, citando-se aí desse
livro um artigo de Cortes na regência do infante D. Pedro. Mas esse artigo, conforme
lá consta, é o artigo 16º do clero, das Cortes de Elvas, do reinado de D. Pedro I (1361)[3],
e não da regência do infante D. Pedro (1439-1448). Apesar deste desacerto (entre o rei
D. Pedro e o infante regente, D. Pedro), a ilação definitiva de Herculano continua a ser
válida, “o Livro Grande não podia ser o das Leis e Posturas, visto este não conter actos
legislativos posteriores ao reinado de Affonso IV”[4].
Martim de Albuquerque, ao elaborar a introdução para a publicação das
Ordenações Del-Rei D. Duarte, depois de transcrever toda a crítica de Herculano
às asserções de Ribeiro, remata que as palavras de Herculano não lhe obstam em
definitivo[5]. No entanto não argumenta, e parece querer reivindicar essa identificação
para as Ordenações de D. Duarte: “Pertenceu, talvez à biblioteca do rei D. Duarte e vem,
frequentemente, identificado com o ‘Livro das Ordenações dos Reys’ que figurava entre
os manuscritos da livraria deste monarca. João Pedro Ribeiro, todavia, questionou
semelhante identificação ao…”[6].
O códice das Ordenações de D. Duarte não é menos polémico que o das Leis e
Posturas, vejamos também o que de mais relevante se tem escrito sobre ele.

1
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 149. Martim de Albuquerque também notou que “J. P. Ribeiro
não foi tão conclusivo” [Martim de ALBUQUERQUE, Introdução às Ordenações de D. Duarte. Lisboa, 1988,
p. VIII, nota 1].
2
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 149.
3
Cfr. Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 5, art.º 16º. Em relação a outra lei, feita em nome do infante D. Pedro,
que consta no Livro de Leis e Posturas, também Herculano a reputa ao infante regente, apesar de Ribeiro a ter
reputado ao infante D. Pedro, futuro rei D. Pedro I – “…D. Affonso IV, a quem se deve reduzir huma, que, sem
data, se diz feita pelo Infante D. Pedro, e que do Liv. Da Chancellaria sem declarar Author se transcreveo na Aff. Liv.
4 T. 32” [RIBEIRO, Dissertações Cronológicas e Críticas, Tomo 4, Parte II, Dissertação XVII, pp. 29-30]. Cfr. no
mesmo sentido deste último Nuno Espinosa Gomes da SILVA, Prefácio ao Livro das Leis e Posturas, p. XI,
nota 11 e Marcello CAETANO, História do Direito, p. 301, nota 1.
4
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 149.
5
Martim de ALBUQUERQUE, Introdução às Ordenações de D. Duarte. Lisboa, 1988, pp. VII-IX.
6
ALBUQUERQUE, Introdução às Ordenações de D. Duarte, p. VII.

77
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

As Ordenações de D. Duarte
Outro, não menos importante, códice de leis antigas, que chegou aos nossos dias,
é o das Ordenações de D. Duarte, designação que lhe advém do facto de, supostamente,
ter pertencido à biblioteca pessoal eduardina, já que o punho deste monarca lhe
teria acrescentado uma tavoa ou índice e uma parte de um dos capítulos do seu Leal
Conselheiro – “Das virtudes que se requerem a um bom julgador”. “Tal interpolação
textual não nos parece fornecer elementos conclusivos importantes para demonstrar seja o
que for”, infere Luís Miguel Duarte[1], mas sem acrescentar qualquer argumento, nem
mesmo o de o referido capítulo do Leal Conselheiro se achar também transcrito no
Livrinho da Supplicação, impresso no tomo terceiro dos Inéditos da Academia[2].
Actualmente, a melhor fonte de estudo desta colecção será a Introdução e a Nota
Prévia de Codicologia e Textologia, que abrem a sua publicação, da lavra de Martim de
Albuquerque e Eduardo Borges Nunes, respectivamente. Acrescidas dos consideráveis
comentários tecidos, a propósito, por Luís Miguel Duarte[3]. No entanto, um dos
primordiais interessados parece ter sido João Pedro Ribeiro – sempre ele – que, tal
como tinha feito para o Livro das Leis e Posturas, salienta a importância e o elevado
interesse da publicação deste códice, para o estudo da nossa jurisprudência[4].
Por ele vamos começar a tratar os aspectos que realmente nos preocupam, ao
directamente se relacionarem com o tema desta tese: o de apurar o móbil da sua
consumação, a sua paternidade e a inserção nas compilações de ordenações da primeira
metade do século XV, tal como ficou explanado para o Livro de Leis e Posturas. Ou seja,
trata-se, no fundo, de responder a três questões simples, mas elementares: quando,
quem e para quê?
Ribeiro, já que tinha presumido que o Livro das Leis e Posturas fosse uma das
colectâneas de ordenações citadas em documentos no início do século XV, considera
as Ordenações de D. Duarte obra de João Mendes, um dos compiladores sabidos das
Afonsinas.
Por sua vez, Herculano, ao discordar da presumível identificação de Ribeiro, vê‑se
compelido a reputar a João Mendes a execução de ambos os códices, preliminares
das Afonsinas – “As chamadas Ordenações de D. Duarte parece-nos serem um segundo
trabalho de Joanne Mendes, para organisar o codigo que lhe fora cometido”[5].
Alberto Girard, e o impressor da sua nótula descritiva, supõem que tenham sido
obra de Rui Fernandes. Mas não avançam com qualquer argumentação e penso que o
seu único intento era dar conhecimento do achado do precioso cimélio, denotando pouco

1
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 111.
2
José Correia da SERRA, Fragmentos de Legislação Escritos no Livro Chamado das Posses da Casa da Supplicação,
Publ. na Collecção de Livros Ineditos de Historia Portugueza, dos reinados de D. João I, D. Duarte, D. Affonso V, e
D. João II, publicados por ordem da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Lisboa, na officina da mesma acade-
mia, 1793, Tomo III, p. 563, n.º19.
3
ALBUQUERQUE, Introdução às Ordenações de D. Duarte, pp. V-XXVI.
Eduardo Borges NUNES, Nota Prévia de Codicologia e Textologia às Ordenações de D. Duarte, Lisboa, 1988,
pp. XXVII-XXXIII.
DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 110-114. Este autor na nota 334 refere a bibliografia de maior interesse
para estas Ordenações.
4
RIBEIRO, Dissertações Cronológicas e Críticas, vol. IV, 2.ª Parte, dissertação XVII, p. 29: “Da breve descripção
que tenho feito destas duas Collecções se vê o interesse que há em que as mesmas se publicassem pelo Prelo, para fa-
cilitar aos Juristas Portuguezes as suas indagações sobre a Historia da nossa Jurisprudencia, ainda mais atrazada do
que era conveniente”.
5
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 151.

78
José Domingues

conhecimento histórico-jurídico do tema tratado[1]. Por isso, aqui fica referida apenas
como mais uma conjectura, para a qual não encontro qualquer fundamento válido.
Martim de Albuquerque refere que “a ambas as opiniões, entre si contrárias, falece
apoio documental”[2], mas também não avança com qualquer desenlace ou apreciação
fundamentada.
Para Luís Miguel Duarte, que escreve posterior a todos, “não é indiscutível a
sustentação lógica. Mais do que material de trabalho para as O.A., julgo estarmos perante
o ‘pecúlio de algum magistrado ou advogado da corte’, para retomar Herculano (ou
de algum tribunal superior, acrescentaria)”[3]. Acrescenta ainda que as considerações
tecidas em torno da paternidade destas Ordenações, são antes o resultado de uma
“abordagem anacrónica” das Afonsinas. Declinando os “esforços de erudição no sentido
de reconstruir a genealogia desta obra [Ordenações Afonsinas] através do Livro de Leis
e Posturas e das Ordenações de D. Duarte”, que reputa reminiscências das numerosas
“cópias, traslados, recolhas, colecções de leis e jurisprudência”, que não faltariam nos
“tribunais superiores, na Chancelaria régia, nos arquivos das principais câmaras e instituições
religiosas, nas pequenas bibliotecas pessoais dos mais altos magistrados, no acervo dos mais
destacados escrivães e tabeliães” [4].
Para este autor é “pouco seguro estabelecer genealogias de colecções pelo facto de
encontrarmos, na mais tardia, muitas leis incluídas na mais antiga”[5] – note-se que já
Herculano, com mestria, tinha afastado a ideia de Ribeiro de que as Ordenações de D.
Duarte fossem uma cópia do Livro de Leis e Posturas.
O percurso histórico deste cimélio (bem como das suas cópias), ao longo dos
séculos, está bem patente e desenvolvido na Introdução de Martim de Albuquerque,
que o localiza na segunda metade do século XVI, na posse de Mateus Pereira de Sá,
perdendo-se-lhe então o rasto até ao século XVIII, pertença de José Seabra da Silva, e
desaparecido no início do século XIX[6]. Como já acima ficou referido o estudo deste
código é abonado pelos Estatutos Pombalinos da Universidade de Coimbra, de 1772 –
“Tratará da Compilação do Senhor Rei Dom Duarte por ordem Chronologica”[7]. E a Memoria
para a Historia das Inquirições, coligidas pelos discípulos da Aula de Diplomática, no
ano de 1814 para 1815, ainda refere o códice de José Seabra da Silva[8]. Não sei se terão
consultado esse original, mas referem uma lei de D. Afonso IV, datada em Santarém,
a 2 de Janeiro da era de 1382, no fólio 341. Pela numeração que consta na impressão
da Fundação Calouste Gulbenkian, esse diploma de Afonso IV começa no fólio 340 e
termina no 340v. Só um cotejo com as cópias existentes poderá certificar se, realmente,
a consulta destes discípulos foi a deste códice de quatrocentos.

1
Alberto e J. D. GIRARD, As “Ordenações de D. Duarte”, in Anais das Bibliotecas e Arquivos, Vol. XII, n.º45 e
46, Lisboa, 1936, pp. 18-22. Esta paternidade, ao contrário do que possa dar a entender a explanação de Luís
Miguel Duarte (p. 111), nunca foi sequer suposta por Ribeiro, nem por Herculano.
2
ALBUQUERQUE, Introdução às Ordenações de D. Duarte, p. XV.
3
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 112. No fundo, o acrescento deste autor é o raciocínio seguido por
Marcello Caetano para o Livro das Leis e Posturas [Cfr. CAETANO, História do Direito, p. 346.]
4
DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 114, 117 e 118.
5
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 112.
6
ALBUQUERQUE, Introdução às Ordenações de D. Duarte, pp. IX-XII.
7
Estatutos da Universidade de Coimbra do Anno de MDCCLXXII. Lisboa, na Regia Officina typographica,
1773, Livro II (que contém os cursos Juridicos das Faculdades de Canones e de Leis), Título 3, Cap. 9, § 4,
pp. 160 e 161.
8
Memoria para a Historia das Inquirições, coligidas pelos discípulos da Aula de Diplomática, no ano de 1814
para 1815. Lisboa, na Impressão Regia, 1815, pp. 134-135: “No exemplar das Leis antigas, mais amplo que
o do Real Archivo, que possuia o Excellentissimo José Seabra da Silva…”.

79
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Um ponto em que, praticamente, todos os autores parecem estar em concordância,


é o da identificação das Ordenações de D. Duarte com o “Livro das Ordenações dos Reys”,
que figurava entre os livros manuscritos da livraria de D. Duarte[1]. Embora não
refutando completamente esta identidade, Borges Nunes, defende que as Ordenações
de D. Duarte seriam antes uma cópia coetânea do Livro das Ordenações dos Reis[2]. Na
verdade, quer se opte por uma quer pela outra tese, o facto de na livraria pessoal de
D. Duarte ter existido um manuscrito com tal título e o facto de a “tábua” que consta
no início deste volume de leis ser da lavra do mesmo soberano, é uma coincidência de
difícil transposição, sem outros apoios documentais.
No Arquivo da Câmara do Porto, embora em apógrafo, existe um precioso
monumento que pode prestar contributo indispensável para clarificar a questão.
Trata‑se de uma carta régia da lavra do Eloquente, datada de 16 de Fevereiro de 1438,
com o teor da concordata de 1427, assinada entre D. João I e a clerezia do reino,
trasladada do Livro das Ordenações da sua Câmara[3]. Esta singela menção ao Livro
das Ordenações da Câmara régia vem, imediatamente, consolidar a existência de uma
colectânea de leis utilizada por D. Duarte, na sua puridade.
Por outro lado, faltando esta concordata de 1427 na compilação que chegou aos
nossos dias, este documento vem refutar a apregoada identificação com o Livro das
Ordenações dos Reis e, de alguma forma, dar consistência à teoria de Eduardo Borges
Nunes. É que, em termos de concordatas, só as de D. Dinis constam nas Ordenações
de D. Duarte. O que quer dizer que, na melhor das hipóteses, a colecção publicada
seria uma cópia coetânea incompleta do códice matriz ou então existia outro livro
de ordenações.
Mas, mais importante ainda, este documento pode contestar a tese que pretende
tirar qualquer vigência prática à colectânea, reputando-a mera tarefa preparatória das
Afonsinas, da responsabilidade de João Mendes. O primordial defensor desta tese,
Alexandre Herculano, escreveu:

“Nada mais natural do que ter aquele tão illustrado como infeliz principe guardado para
seu estudo a ultima recopilação de Joanne Mendes, talvez depois de utilisada pelo principal
redactor do código affonsino, o jurisconsulto Rui Fernandes”[4]

Luís Miguel Duarte, embora discorde desta paternidade, também a insere entre as
colecções privadas de uma qualquer instituição, como já referi. Pois bem, agora parece
óbvio que o soberano não guardava as Ordenações apenas para seu estudo, mas, antes,

1
HERCULANO, Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 151.
NORONHA, “Ordenações do Reino – Edições do Século XVI”, p. 2 e p. 14.
Teófilo BRAGA, História da Universidade Coimbra, Tomo I, Lisboa, 1892, p. 221.
GIRARD, As “Ordenações de D. Duarte”, p. 18.
ALBUQUERQUE, Introdução às Ordenações de D. Duarte, p. VII.
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 114, nota 346.
2
NUNES, Nota Prévia de Codicologia e Textologia às Ordenações de D. Duarte, p. XXXI. A sua tese não é
compartilhada pelo outro prefaciador, Martim de Albuquerque, nem por Luís Miguel Duarte. Mas João
Pedro Ribeiro parece querer transmitir uma ideia muito próxima da de Borges Nunes: “O Indice mostra
bem que o Original desta Collecção era do uso d’ElRei D. Duarte, e daqui lhe veio o nome; mas se deve tambem
suppôr, que o que nella se adianta áquelle Indice foi posteriormente acrescentado, e que tambem se inter-
calarão em folhas em branco algumas Leis” [RIBEIRO, Dissertações Cronológicas e Críticas, Vol. IV, 2.ª Parte,
dissertação XVII, pp. 30-31].
3
Porto, AHM – Livro B, fls. 318v-324v.
4
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 151.

80
José Domingues

como básico instrumento governativo de administração pública e aplicação da justiça.


Só estranho que, em reputado período de compilação, como o do reinado de D. Duarte,
se considere simples “ludo realengo” um Livro de Ordenações dos Reis, sobretudo,
quando um desses autores preconiza a existência de compilações mais ou menos amplas,
mas separadas dos livros da Chancelaria, na época em que se redigiam as Afonsinas[1].
Indo mais longe, penso que, Alexandre Herculano, ao reputar, tanto o Livro das Leis
e Posturas como o das Ordenações de D. Duarte, trabalhos preparatórios de João Mendes,
irá, de alguma forma, embaraçar a sua conclusão definitiva de que “as referencias
ao Livro das Ordenações que andava na Chancellaria, e ao Livro das Leis, ou das
Leis do Reino, que estava na Casa do Civel, e vagamente ao Livro das Ordenações
do Reino, e ao Livro Grande das Leis, provam de um modo indubitavel a existencia de
compilações mais ou menos amplas, mas separadas dos livros da Chancellaria, na epocha
em que se redigiam as Affonsinas”[2]. Esta ideia, que me conste, não se repercutiu nos
autores posteriores, ninguém mais se preocupando com estas memoráveis referências
documentais desenterradas por dois dos mais conceituados investigadores da história
da jurisprudência pátria, Ribeiro e Herculano.

Outros Livros de Ordenações


Recapitulando, feita a exegese sobre o que de mais valioso se tem escrito sobre
ambas as colectâneas de leis – o Livro de Leis e Posturas e as Ordenações de D. Duarte
–, penso poder concluir que, desde o recuo do século XVIII até à actualidade, se
arreigou a ideia de que seriam apenas obras de carácter ‘particular’, não oficial, que
não tiveram qualquer influência prática no quotidiano jurídico do reino – uma vez
que se estava a preparar as Afonsinas, a autêntica e única colectânea oficial. Para uns,
seriam apenas esboços ou trabalhos preparatórios para as Afonsinas, notas itinerantes
do compilador João Mendes, até convertidas em singelo espólio da livraria régia[3].
Para outros, apontamentos de algum jurisperito mais diligente ou repositório de um
qualquer tribunal superior[4].
Levando esta última suposição ao extremo, Luís Miguel Duarte, conjectura ambas
as colecções como restos, que conseguiram chegar aos nossos dias, dos traslados
disseminados pelos “tribunais superiores, na Chancelaria régia, nos arquivos das principais
câmaras e instituições religiosas, nas pequenas bibliotecas pessoais dos mais altos magistrados,
no acervo dos mais destacados escrivães e tabeliães” [5]. É uma conclusão sedutora, mas
demasiado audaciosa, já que não invoca qualquer argumento creditório ou suporte
documental válido. De todas as instituições invocadas, as únicas que, documentalmente,
se sabe terem possuído livros de ordenações, são a Casa do Cível e a Chancelaria
Régia e, agora, também a Câmara de El-rei. Quanto às câmaras municipais, das actas
de vereações conhecidas para a época[6], a conclusão que nos é possível é que as leis

1
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 150.
2
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 150.
3
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, pp. 147-151.
4
CAETANO, História do Direito, pp. 346-347.
5
DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 114, 117 e 118.
6
Vide o inventário dos livros de actas de vereações medievais conhecidos em «Vereações» 1431-1432, Livro
I. Leitura, Índice e Notas de João Alberto MACHADO e Luís Miguel DUARTE, Documentos e Memórias
para a História do Porto – XLIV, Arquivo Histórico / Câmara Municipal do Porto, Porto, 1985, Introdução,
pp. 9-10.

81
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

eram trasladadas em pergaminhos avulsos[1] ou nos próprios livros das vereações,


incorporadas com as vereações e outra documentação avulsa e não em livros próprios
e apartados[2]. Por outro lado, a existência de um exemplar das Afonsinas na câmara
dos concelhos, para serem entregues aos juízes eleitos, é reivindicada nas Cortes de
1498 (passado mais de meio século da sua conclusão)[3]. Nos atulhados cartórios e
livrarias das instituições religiosas não consta nenhuma referência documental coeva a
este tipo de obras, embora também não faltassem pergaminhos avulsos com traslados
de ordenações – alguns a partir de Livros de ordenações. Ressalvem-se os mosteiros de
Alcobaça e de Santo António da Merceana, onde apareceram exemplares das Afonsinas,
e até das Partidas de Castela, mas que não avalizam a sua posse durante o período de
vigência (1446-1512). Até porque é sabido que os dois livros de Merceana, encadernados
num só tomo, mas em caligrafia distinta, tinham pertencido a F. Rollim; e o de
Alcobaça foi adquirido em Lisboa, em 1566, por António Rodrigues da Mata, morador
em Lamego. Para os escrivães e tabeliães, eles só foram os principais destinatários de
diplomas normativos régios até à instituição definitiva dos corregedores das comarcas,
no reinado de D. Afonso IV – muito antes da era que nos emprega – e não sabemos que
tivessem livros apartados para registo das leis gerais. Finalmente, as pequenas bibliotecas
pessoais de altos magistrados, torna-se, de alguma forma, incompatível atribuir-lhe tais
colectâneas de leis, quando é sobejamente sabido que, nessa época, se preparavam a
nível do reino, isto é, que eram preocupação acesa do suserano e do reino.
Na extensa asserção de Miguel Duarte ficaram de fora as Chancelarias das
correições, que, essas sim, podemos aventar que tinham livros de ordenações, conforme
ficou expresso em lei de D. João I:

“E outro sy Mandamos ao Escripvão da Chancellaria de cada huã Comarca, que


a registe em o livro da dita Chancellaria, honde andão as outras Nossas Hordenaçoões
registadas, pera hy andar escripta, e os Corregedores, que hy forem, a fazerem
comprir, e guardar em todo como aqui suso dito he”[4]

De qualquer forma, desde já fica assente que não contesto inteiramente, nem a
propriedade nem a paternidade (João Mendes), preceituadas pelas teses antecedentes.
A pretensa paternidade de João Mendes fica adiada para o momento que falar deste
famigerado corregedor da corte. Quanto à pertença, quer do Livro de Leis e Posturas,
quer das Ordenações de D. Duarte, pode ser adjudicada a qualquer um, até mesmo a um
qualquer letrado ou iletrado curioso, com cabedais suficientes para pagar um copista.
Mas essa adjudicação é irrelevante, o que verdadeiramente importa é que justifiquemos
devidamente a sua originária procedência.
Por outras palavras, sabendo que as Ordenações de D. Duarte, e muito provavel-
mente também o Livro das Leis e Posturas, não são trabalhos originais, mas antes cópias

1
Vide os exemplos inventariados no anexo I. Aqui pode estar uma justificação plausível para as ordenações
gerais que aparecem nos foros e costumes medievais de alguns concelhos, isto é, ao organizar o direito
local vigente, a começar pelo foral do concelho, transcrevem-se também as ordenações régias que estavam
dispersas no arquivo municipal.
2
Por exemplo, a Ordenação dos Pelouros, no Livro das Vereações da cidade do Porto [Documentos e Memó-
rias para a História do Porto – II. “Vereações” Anos de 1390-1395 O mais antigo dos Livros de Vereações do Mu-
nicípio do Porto existentes no seu Arquivo, com comentários e notas de A. de Magalhães BASTO, Publicações
da Câmara Municipal do Porto, pp. 235-236]
3
Cortes Portuguesas, Reinado de D. Manuel I (Cortes de 1498). Organização e revisão geral de João José Alves
DIAS, Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2002, pp. 75-76.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 34, §7, p. 280.

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José Domingues

destes, podemos conjecturar-lhe qualquer destinatário – procurando sempre o mais


fundamentado. Mas o cerne da questão gira sempre em volta da sua origem primor-
dial – importa o nome do autor e não o do copista. Ou seja, da mesma forma, também
nenhum dos livros das Ordenações Afonsinas é o original da Chancelaria Régia, mas
nem por isso deixam de ser entendidos e estudados como obra oficial de João Mendes
e de Rui Fernandes, por expressa incumbência régia.
Não contestando a paternidade nem a propriedade estabelecida para estas colec-
tâneas, não posso deixar de contrariar – como ficou feito a propósito das Ordenações
de D. Duarte – a ideia de que, na sua génese, seriam apenas obras de carácter particular,
não oficial, que não tiveram qualquer influência prática no quotidiano jurídico do reino, apesar
de recolherem leis originais. Quer isto dizer que a minha ideia se aparta das antece-
dentes na medida em que estas, mesmo partindo do princípio de que, tanto o Livro
das Leis e Posturas como as Ordenações de D. Duarte, são códices mais antigos do que as
Ordenações Afonsinas, continuam a preconizar a primazia destas últimas, insistindo em
aquilatá-las como a primeira compilação lusíada de direito medieval a vigorar. Deste
cânone terá que exceptuar-se João Pedro Ribeiro, que, embora de forma muito ténue,
tentou identificar o Livro das Leis e Posturas com o Livro das Ordenações referidos em
documentos dos finais do século XIV e inícios do século XV, reconhecendo-lhe, dessa
forma, alguma vigência prática no início dessa centúria.
Das referências documentais carreadas por Ribeiro, a mais vetusta é a que consta
na lei de D. João I, de 18 de Novembro de 1396, que refere certas dúvidas entre duas
leis, uma de D. Afonso III e outra de D. Afonso IV, “contheudas em este nosso Livro
das Ordenações do Regno”[1]. Retrocedendo cinco anos, no dia 29 de Agosto de 1391, D.
João I passa carta de certidão ao concelho de Lisboa de uma lei, de como os mercadores
estrangeiros devem comprar e vender as suas mercadorias, tirada de “hum livro da
nosa Chancelaria da Cassa Ciivell em no qual eram escriptas as hordenaçoens dos nossos
Reignos”[2].
Esta mesma lei fernandina, de como os mercadores estrangeiros devem comprar
e vender as suas mercadorias, será trasladada ao concelho do Porto em pública forma,
passada em Lisboa, a 6 de Dezembro de 1448, conforme constava no “quarto liuro da
reformaçõ das ordenações”, que andava na Chancelaria Régia[3]. Trata-se do título 4, do livro
IV das Ordenações Afonsinas, sendo este um dos primordiais diplomas comprovativos
da sua vigência efectiva[4]. Logo, se este de 1448 serve para comprovar a vigência das
Ordenações Afonsinas, também o de 1391, forçosamente, ratifica a vigência de um Livro
de Ordenações, nesse ano de finais de trezentos.
Esse livro, onde eram escritas as ordenações do reino, diz-se depositado na “nosa
Chancelaria da Cassa Ciivell”. Uma segunda menção, que Ribeiro aspou do § 29, título
15 do III livro das Ordenações Afonsinas, também refere o “Livro das Leys, que está na
Casa do Cível”[5]. A estas, Herculano acrescenta a do parágrafo 27, também do título
15 do livro III das Afonsinas – “Livro das Leys do Reino, que está na Caza do Cível”. Pelo

1
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 6, § 1, p.
2
Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa – Livros de Reis, vol. II, Lisboa, 1958, p. 53.
Para Carvalho Homem é “facto pois de salientar, que nos livros da chancelaria de um tribunal superior es-
tejam registados diplomas legislativos” [Armando Luís de Carvalho HOMEM, “Em torno de Álvaro Pais”,
sep. de Estudos Medievais, n.º3/4, Porto, 1984, p. 13].
3
Porto, AHM – Livro A, fl. 115-116v.
4
RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”, p. 123, nota 3.
CAETANO, História do Direito, p. 533.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 15, § 29, p. 57.

83
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

menos mais uma referência documentada ao livro das ordenações da Casa do Cível
– “livro das hordenações da nossa Cassa do Çivil” – encontra-se numa carta régia contra a
mendicidade e o abandono das terras de lavoura, passada em Lisboa, a 13 de Janeiro
de 1435[1].
Este será um dos argumentos de Herculano contra a pretensa identificação, de
João Pedro Ribeiro, do Livro das Leis e Posturas com o Livro de Ordenações. Porque, no
seu entender, “Estas referencias indicam claramente dous codices distinctos existentes em
duas estações diversas, a Chancellaria e a Casa do Cível”[2]. Antes de mais, na eventualidade
de se tratar de dois códices, não existe qualquer motivo para os considerar distintos,
antes pelo contrário, parece-me perfeitamente plausível que um fosse cópia de outro.
E nada mais natural do que, coligidas as Ordenações (estamos no reinado de D. João
I – acentue-se), se depositasse um exemplar na Chancelaria e outro num dos mais
importantes tribunais da época – a Casa do Cível.
Antes de prosseguir, vejamos as insinuações à Chancelaria Régia. Ribeiro anuncia
a existência do “Livro das Ordenações que anda na Chancellaria”, a partir de uma certidão
de 1421, no cartório de S. João de Tarouca, do qual teria sido transcrita uma lei de
Afonso III, sobre os acrescidos dos rios. Bastante anterior a essa, por documento de 12
de Novembro de 1406 foi certificada ao mestre da Ordem de Avis, Fernão Rodrigues,
a lei dos coutos de homiziados de 30 de Agosto de 1406, a partir de “huum dos liuros
da lley e hordenações que andam em a nossa chançallarya”[3]. Em documento de Maio de
1409 (Montemor-o-Novo), a lei de 09 de Fevereiro de 1402, para que não aforrem nem
arrendem por ouro nem prata senão pela moeda geral corrente no reino, também foi
trasladada a partir do livro das ordenações da Chancelaria[4].
De seguida, em documentos outorgados em Lisboa, a 14 de Novembro de 1410,
transcrevem-se três capítulos das Cortes de Lisboa, desse ano, a partir do Livro das
Ordenações que andava na Chancelaria: para que se castrem somente os rocins que
andarem a pastar (cap. 10º)[5]; sobre a forma de pagarem carceragem aqueles que
incorrem em sentença de excomunhão (cap. 19º)[6]; e que às audiências eclesiásticas
assista um procurador régio (cap. 24º)[7].
Posteriormente, já em finais do reinado de D. João I, na década de trinta (26 de
Julho de 1430) o monarca passou carta, a requerimento de Diogo Lourenço, tabelião
em Ponte de Lima, com o traslado de três capítulos de Cortes, que estavam no “Livro
das Ordenações da Chancelaria do Reino”, sobre os abusos dos procuradores do reino que
exorbitavam nas taxas pela verificação das contas de execução dos testamentos[8].
Já no reinado de D. Duarte, um monumento de 2 de Novembro de 1435, em
Santarém, traslada, do “Liuro das hordenaçoees da nossa chanceleria”, a lei (de 02 de Junho
de 1435) para que o dinheiro dos órfãos se empregue em propriedades e se não dê à
usura, proibida pela lei de Deus[9]. Noutro diploma, do mesmo monarca, outorgado

1
Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa – Livros de Reis, vol. II, p. 258.
2
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 149.
3
Humberto Baquero MORENO, “Elementos para o Estudo dos Coutos de Homiziados Instituídos pela
Coroa”, in Os Municípios Portugueses nos Séculos XIII a XVI – Estudos de História, Editorial Presença, Lisboa,
1986, p. 134.
4
IAN/TT – Suplemento de Cortes, maço 4, n.º 31.
5
Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa – Livros de Reis, vol. II, doc. 27, p. 117.
6
Idem, doc. 22, p. 112.
7
Idem, doc. 25, p. 115.
8
Ponte de Lima, AM – Pergaminho n.º16.
9
Porto, AHM – Livro 4º de Pergaminhos, doc. n.º20.

84
José Domingues

em Estremoz com data de 13 de Abril de 1436, foi apresentado por frei Fernando, aos
18 dias de Abril de 1436, nos paços do concelho de Évora, perante o Juiz e oficiais – se
diz “em o livro das hordenações da nossa chancellaria he contheuda hua hordenaçom que
ora novamente fezemos”. Trata-se de uma ordenação – em Estremoz, 10 de Abril de
1436[1] – proibindo as vigílias e dormidas em igrejas, mosteiros, ermidas e oratórios,
para obstar aos jogos, tangeres e cantares que neles se faziam, dificultando o ofício
divino e as orações dos bons cristãos. Para os prevaricadores foi estabelecida uma
coima de 300 reis, ficando 200 para os cativos e 100 para os delatores[2].
Finalmente, já no reinado do Africano, um diploma, outorgado em Torres Novas,
a 15 de Novembro de 1438, transcreve um capítulo geral de Cortes, extraído do “lliuro
das hordenaçooens da nossa chançellaria”[3]. Trata-se do artigo 19º das Cortes de Leiria/
Santarém de 1433, sobre o arrendamento das Chancelarias.
Note-se que, ao referir o facto de Herculano considerar que estamos perante dois
códices distintos existentes em duas estações diversas, propositadamente, escrevi, na
eventualidade de se tratar de dois códices. Porque, para além de nada nos permitir inferir
que o seu conteúdo seria distinto, também não tenho total certeza que se estivesse a
falar de dois livros – um na Casa do Cível e outro na Chancelaria Régia. Ou seja, o Livro
das Ordenações da Casa do Cível e o da Chancelaria podiam muito bem ser o mesmo e
um só, senão vejamos.
Desde Afonso III que a Chancelaria se fixa em Lisboa, sendo certo que também a
partir de 1434 esta cidade passou a ser sede fixa e definitiva da Casa do Cível[4]. Esta
proximidade geográfica não teria qualquer relevância se não existissem documentos
que, praticamente, confundem a Chancelaria da Casa do Cível com a Chancelaria
Régia. Carvalho Homem, apoiando-se em dois diplomas de 1366, apercebe-se desta
“interpenetração da Chancelaria régia com a Chancelaria da Casa do Cível, ou numa palavra
e mais uma vez, o imbricamento da Justiça com a Administração propriamente dita”[5].
Nesses dois documentos, Álvaro Pais é, ambiguamente, identificado como vedor da
Chancelaria Régia e da Chancelaria da Casa do Cível[6]. Mas a concluir o seu trabalho,
este autor, deixa esclarecido em nota:

“De salientar que, nesta segunda metade do século XIV, outros casos existem de
acoplagem entre a Chancelaria régia e a Casa do Cível que vimos a propósito de Álvaro
Pais. É o que acontece, por exemplo, com o cargo de Escrivão da Chancelaria,
desempenhado por Gonçalo Peres de 1375 a 1397. Ora em 1394 o monarca doa-
lhe, a título de privilégio, o morgado outrora instituído por Aires Vasques e Maria
Anes, e embora no último registo da carta seja apenas designado por «Escrivão
da Chancelaria», o texto da mesma refere-o como «Escrivão da nossa Chancelaria
da Casa do Cível». Por outro lado, a 16 de Novembro de 1390 uma carta régia de
privilégios concedidos aos membros do desembargo e aos magistrados da Casa
do Cível refere o Escrivão da Chancelaria de um modo que pode levar a crer na

Porto, AHM – Livro A, fl. 6-6v.


1
Parece que o registo no Livro das Ordenações era feito de imediato, uma vez que, passados oito dias, já é
apresentada a ordenação em traslado desse livro.
2
Gabriel PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora, Vol. II, Évora, 1887, p. 54 (Edição fac-similada
da INCM, 1998).
3
Viseu, AD – Maço 27, col. 50.
4
Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel SERRÃO, vol. II, s. v. “Cível, Casa do”.
5
HOMEM, Em torno de Álvaro Pais, p. 14.
6
Cfr. sobretudo os docs. 4 e 6 publicados por Carvalho HOMEM, Em torno de Álvaro Pais, pp. 29-31 e 33-38.

85
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

sua inclusão entre os segundos: «nos, queremdo fazer graça e merçee aos do nosso
desembarguo e sobrejuizes e ouvidores e procurador e escripvam dos nossos
fectos e escripvam da nossa chamçellaria, e aos outros ofiçiaaes da nossa casa do
Çivel» (IAN/TT – Estremadura, liv. 9, fl. 185v-186; cit por Braamcamp FREIRE, Os
Brasões da Sala de Sintra, liv. II, p. 168)”[1]

Fundamentada a agregação entre a Chancelaria Régia e a Chancelaria da Casa


do Cível, na segunda metade do século XIV, mais facilmente se pode compreender a
dupla referência ao mesmo livro de ordenações, como vimos insinuando. De qualquer
forma, fosse o mesmo livro, ou dois livros com idêntico conteúdo, ou (hipótese remo-
ta) até mesmo de conteúdo distinto, a verdade é que não restam dúvidas de que, pelo
menos desde o ano de 1391, existem livros de ordenações em vigor no reino de Portu-
gal, utilizados pelas instituições régias (oficiais).
Mas, para ensarilhar mais a questão, aparecem referências documentais a livros
de ordenações na Casa dos Contos. No alvará de 20 de Abril de 1442, outorgado em
Santarém, para que se não pagasse uma escarlata de vestir ao juiz da alfândega de
Lisboa, ordena-se: “E uos fazee Registar este nosso aluara no liuro das hordenaçoees
dessees contos”[2]. Noutro alvará régio, do primeiro de Janeiro de 1445, para que se não
pague sisa dos vinhos da Arruda e de outros lugares em Lisboa, consta também: “E
fazee Registar este aluara nos liuros das hordenaçoões dos nossos contos dessa cidade”[3].
Em documento de 18 de Junho de 1445 – imediatamente anterior à conclusão das
Ordenações Afonsinas – as determinações do regente, o infante D. Pedro, às dúvidas que
lhe foram apresentadas pelo contador João Martins, sobre o lançamento e cobrança
do pedido desse ano, terminam com a seguinte recomendação “E fazee llogo rregistar
estas determjnações no lljuro das ordenações dos nossos contos dessa çidade”[4]. A carta
de confirmação (de 23 de Outubro de 1459) da ordenação de 21 de Agosto de 1459 é
mandada “traladar no Líuro das hordenaações que andam nos nosos Contos”[5]. Portanto,
existia também um Livro de Ordenações na Casa dos Contos.
Maior dificuldade pode suscitar a identificação deste Livro de Ordenações da Casa
dos Contos: tratar-se-á de uma colectânea idêntica ou, pelo contrário, de contornos
diferentes à da Chancelaria Régia? Estas quatro singelas referências documentais
isoladas tornam precária qualquer inferência. De qualquer forma, da leitura atenta do
capítulo sobre a Origem da Casa dos Contos, de Virgínia Rau, ressalta a sua ligação com a
Chancelaria Régia, ou seja, agora o imbricamento da fazenda pública com a Administração.
Por exemplo, em 18 de Fevereiro de 1344 refere-se a Chancelaria Real que «anda
com a cassa»[6]; O cargo de vedor da fazenda e guarda da Torre do Tombo surge, por
vezes, ligado à mesma pessoa[7]; As ordenações eram registadas nos Contos a partir

1
HOMEM, Em torno de Álvaro Pais, p. 22, nota 101.
2
Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova de Lisboa. Lisboa,
1999, vol. II (Livro da Casa dos Contos), doc. 91, p. 132
3
Idem, doc. 105, p. 147.
4
Idem, doc. 113, p. 165.
Iria GONÇALVES, Pedidos e Empréstimos Públicos em Portugal Durante a Idade Média, Lisboa, 1964, pp. 235-239.
5
J. M. da Silva MARQUES, Descobrimentos Portugueses, vol. I, p. 567.
6
Se bem que aqui tanto pode ser a Casa dos Contos como a do Cível ou, mesmo, a Casa Real.
7
“Apesar da autonomia da Casa dos Contos em relação à Chancelaria, houve certa confusão entre os do-
cumentos das duas repartições até meados do séc. XV, por serem contadores os funcionários encarregados
de buscar e transcrever as escrituras da Torre do Tombo, onde se guardava o arquivo da Chancelaria”
[Avelino Jesus da COSTA, “A chancelaria real portuguesa e os seus registos, de 1217 a 1438”, Revista da
Faculdade de Letras – História, II série, vol. 33, Porto, 1996, pp. 74-75].

86
José Domingues

dos assentos da Chancelaria; o selo dos Contos também servia para selar certidões
expedidas pelo guarda-mor da Torre do Tombo, durante os reinados de D. João I, D.
Duarte, D. Afonso V e mesmo posteriormente…[1]
Apesar de tudo, se para a Casa do Cível não vejo inconveniente na analogia
com o livro das ordenações da Chancelaria, o paralelo com a Casa dos Contos
deixa-me mais incertezas. Tendo em atenção a matéria versada nos diplomas acima
e sabendo, de antemão, que esta instituição é particularmente vocacionada para
matérias jurídico‑tributárias ou da fazenda pública, pode muito bem tratar-se de uma
compilação de contornos diferentes. O que assim me aconselha é a referência expressa,
nas Ordenações da Fazenda, publicadas em 1516, a uma anterior colectânea e o facto de
as matérias de âmbito fiscal escassearem nas Afonsinas[2].
Para além da referência ao Livro das Ordenações da Casa do Cível, da Chancelaria
e da Casa dos Contos, existem outras que, apesar de lhe não acusarem a localização
precisa, são incontestadas menções a livros de ordenações. Em três documentos,
todos datados de 14 de Novembro de 1410, em Lisboa, referem-se expressamente
capítulos transcritos do “livro das nossas ordenaçoões”[3]. Embora estes documentos não
identifiquem a localização desse livro de ordenações, não me parece nenhum exagero
conjecturar-lhe a Chancelaria, uma vez que já acima ficaram citados outros três
diplomas, exactamente da mesma data e local, que assim o permitem. Sintetizando, se
o monarca, no mesmo dia, para transcrever três capítulos de Cortes utiliza o livro das
ordenações da sua Chancelaria, é muito plausível que também use o mesmo livro de
ordenações para os outros, que trasladam capítulos das mesmas Cortes. Nesta data,
não me parece excessivo até que muitas das referências a leis do Livro da Chancelaria se
reportem, especificamente, ao Livro de Ordenações, mas a ambiguidade de significado
aconselha uma utilização cuidadosa, não permitindo a sua catalogação genérica.
Antes de qualquer conjectura, vejamos em tabela sinóptica a correspondência, dos
diplomas normativos identificados, com o Livro de Leis e Posturas (LLP), Ordenações
de D. Duarte (ODD), Livro de Ordenações da Casa do Cível (LCC), Livro de Ordena-
ções da Chancelaria (LCh.), Livro de Ordenações da Casa dos Contos (LCt.), Livro de
Ordenações da Câmara Régia (LCR), com o Livro Grande das Leis (LG) e com o, sim-
plesmente, Livro de Ordenações (LO).

1
Virgínia RAU, A Casa dos Contos, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Instituto de Estudos
Históricos Dr. António de Vasconcelos, Coimbra, 1951, pp. 3-29 e 51, nota 2.
2
“a legislação afonsina, tão fecunda nalguns outros aspectos, pouco nos deixou relativo à arrecadação e
fiscalização das contas públicas” [RAU, A Casa dos Contos, p. 55].
3
Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa – Livros de Reis, vol. II, Lisboa, 1958, pp.
114, 116 e 118.

87
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Doc. Lei LLP ODD LCC LCh. LCt. LO LG LCR

1391[1] 1375 *****

Af.º III ***** ***** *****


1396[2]
1329 ***** *****

1406[3] 1406 *****

1409[4] 1402 *****

1410[5] 1410(cc) *****

1410[6] 1410(cc) [*****] *****

1410[7] 1410(cc) *****

1410[8] 1410(cc) [*****] *****

1410[9] 1410(cc) *****

1410[10] 1410(cc) [*****] *****

1421[11] Af.º III ***** *****

1427[12] 1427 *****

1430[13] 1430(cc) *****

1435[14] *****

1435[15] 1435 *****

1436[16] 1436 *****

1438[17] 1427 ****

1438[18] 1433(cc) *****

1442[19] 1442 *****

1445[20] 1445 *****

1445[21] 1445 *****

a.1446[22] 1361(cc) *****

a.1446[23] *****

a.1446[24] *****

a.1446[25] *****

88
José Domingues

Legenda:
Doc. = Data do diploma que transcreve essa lei
Lei = Data do diploma normativo
C.C. = Capítulo Geral de Cortes
LLP = Livro de Leis e Posturas
ODD = Ordenações de D. Duarte
LCC = Livro de Ordenações da Casa do Cível
LCh. = Livro de Ordenações da Chancelaria
LCt. = Livro de Ordenações da Casa dos Contos
LO = Livro de Ordenações/Livro de Ordenações do Reino
LG = Livro Grande das Leis
LCR = Livro de Ordenações da Câmara do Rei

1
Idem, p. 53.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 6, § 1.
3
Humberto Baquero MORENO, “Elementos para o Estudo dos Coutos de Homiziados Instituídos pela
Coroa”, in Os Municípios Portugueses nos Séculos XIII a XVI – Estudos de História, Editorial Presença, Lisboa,
1986, pp. 134-138
4
IAN/TT – Suplemento de Cortes, maço 4, n.º 31.
5
Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa – Livros de Reis, vol. II, p. 112.
6
Idem, p. 114.
7
Idem, p. 115.
8
Idem, p. 116.
9
Idem, p. 117.
10
Idem, p. 118.
11
RIBEIRO, Dissertações Cronológicas, vol. IV, parte 2.ª, pp. 26-27.
12
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 7, pp. 147-148.
13
Ponte de Lima, AM – Pergaminho n.º16.
14
Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa – Livros de Reis, vol. II, p. 258.
15
Porto, AHM – Livro 4º de Pergaminhos, doc. n.º20.
16
PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora, vol. II, p. 54.
17
Porto, AHM – Livro B, fl. 318v.
18
Viseu, AD – Maço 27, col. 50.
19
Chancelaria de D. Duarte, doc. 91, p. 132.
20
Idem, doc. 105, p. 147.
21
Idem, doc. 113, p. 165.
22
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 15, § 13.
23
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 15, § 27.
24
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 15, § 29.
25
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 15, § 30.

89
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Sendo certo que desde 1391, pelo menos, vigoram livros de ordenações no reino
de Portugal, distribuídos pelas superiores instituições jurídico-administrativas, a
dificuldade que agora se coloca é a da identificação desses livros. Já vimos que, na
eventualidade de não se tratar do mesmo códice, nada obsta a que cópias do mesmo
fossem depositadas na Chancelaria, na Casa do Cível e na Casa dos Contos. Por outro
lado, a facilidade com que os textos manuscritos podiam ser adulterados, levaria o
monarca a depositar um exemplar na sua própria Câmara.
Embora não se conheça qualquer comparativo para o nosso reino, é extremamente
significativo que uma lei do Ordenamiento de Alcalá, de 1348, prescreva a elaboração de
um manuscrito, com o selo de ouro, para a Câmara Real e outros manuscritos, com o
selo de chumbo, para as cidades, vilas e lugares do senhorio[1].
Mas deixemos esta vaga conjectura para continuar com a pretensa identificação
e/ou relação dos outros Livros de Ordenações com os, sobejamente conhecidos, Livro
de Leis e Posturas e Ordenações de D. Duarte. Antes de mais, as leis até ao reinado de
Afonso IV constam, praticamente todas, do Livro de Leis e Posturas[2] e das Ordenações de
D. Duarte, permitindo a analogia. No entanto, uma breve sondagem à tabela sinóptica
patenteia que nos Livros de Ordenações constavam também leis dos reinados de D.
Pedro I a D. Duarte (1361-1438), que foram degredadas do Livro das Leis e Posturas e das
Ordenações de D. Duarte – salvo as posteriores interpolações esporádicas, perfeitamente
identificáveis[3]. Esta ausência intrigou Herculano – que classificou, os dois códices,
trabalhos preliminares de João Mendes – sendo o único a arriscar uma alegação:

“Efectivamente as de Pedro I e de Fernando I eram mui recentes e deviam ser assas


conhecidas para não se tornar necessário compilá-las pelos cartórios do reino”[4].

Sabendo, previamente, que a compilação das ordenações foi ditada “pela


multiplicaçom dellas”[5], não me parece uma explicação suficientemente plausível, se
tivermos em conta que a maioria desses diplomas de D. Pedro I e D. Fernando já
ultrapassava o meio século de existência e estavam disseminados a esmo por muitos
mais livros do que os que chegaram aos nossos dias. A redução do número de volumes
dos registos da Chancelaria deve-se à reforma feita pelo guarda-mor da Torre do
Tombo, Gomes Eanes de Azurara, em cumprimento de uma resolução das Cortes de
Lisboa de 1459. Na Chancelaria de D. Pedro I terá havido 10 livros, na de D. Fernando
17, na de D. João I 48 e na de D. Duarte 5, “num total de 80, o que corresponderia a uma
média de um livro por ano”[6]. Na carta escrita pelo guarda-mor Tomé Lopes, em 2 de

1
“Destas nuestras Leys mandamos facer un libro seellado com nuestro seello de oro para tener en la nues-
tra Camara, e otros seellados con nuestros seellos de plomo que embiamos á las cibdades, e villas, e logares
del nuestro Sennorio, de los quales es este uno”, em El Ordenamiento de Leyes, que D. Alfonso XI hizo en las
Cortes de Alcala de Henares el año de mil trescientos y quarenta y ocho, Madrid, 1847, p. 123.
2
O facto de no Livro das Leis e Posturas se compreenderem apenas ordenações até ao reinado de D. Afonso
IV levou Oliveira Marques a conjecturar, sem qualquer fundamento, que tenha sido “provavelmente orga-
nizado nos começos do reinado de D. Pedro I” [A. H. Oliveira MARQUES, Portugal na Crise dos Séculos XIV e
XV, Nova História de Portugal, Editorial Presença, p. 281].
3
A lei do infante D. Pedro [Livro de Leis e Posturas, p. 331] “é uma interpolação, por letra cursiva muito
mais moderna, para o que se aproveitou uma pagina em branco” [Portugaliae Monumenta Historica, Leges,
p. 149]. Os acrescentos nas Ordenações de D. Duarte estão perfeitamente assinalados e destacados na sua
recente edição.
4
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 149.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Introdução, p. 1.
6
MARQUES, Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV, Nova História de Portugal, p. 285.

90
José Domingues

Maio de 1526, a D. João III, ainda se referem 48 volumes. Pelo que, a existência de, pelo
menos, um segundo livro com leis posteriores a D. Afonso IV, como ficou expresso ao
tratar o título das Ordenações de D. Duarte[1], destila como a explicação cada vez mais
provável. Aliás, só neste sentido se pode entender e interpretar a referência, supra
identificada, a “huum dos liuros da lley e hordenações que andam em a nossa chançallarya”[2].
Referindo-se um dos livros, é porque existiam mais do que um, pelo menos dois.
Deste(s) segundo(s) livro(s) de ordenações não chegou aos nossos dias nenhum
resquício, salvo estas singelas inferências documentais. Em contrapartida, temos dois
supostos primeiros livros, que, praticamente, abarcam o mesmo friso cronológico, des-
de Afonso II até Afonso IV – o Livro das Leis e Posturas e as Ordenações de D. Duarte. No
entanto, apesar desta semelhança de conteúdo, é bem patente a diferença de estilo e de
disposição das matérias, estando afastada qualquer remota ideia de serem cópia um
do outro ou de um códice matriz comum. Assim, a conclusão só pode ser a de corres-
ponderem a fases distintas desta ingente tarefa compilatória. Saliente-se que se trata
de uma época conturbada, de uma empresa complicada e inédita, mesmo ao nível dos
reinos europeus, e de um espaço temporal de cerca de cinquenta e cinco anos (1391-
1446), que justificam a sua execução por mais do que uma fase.
Se não repugna aceitar que esta empresa se processou em mais do que uma etapa,
a dificuldade é, sem dúvida, documentar o seu número e saber quando principia uma
e acaba a outra. O ano de 1418, por sugestão de Armindo de Sousa, chamou particular
atenção a Carvalho Homem, que o proclama como ano de início dos trabalhos das
Ordenações Afonsinas[3]. A reconhecer-se relevância a esta data de 1418 – para a qual
não encontro argumento terminante, mas também não oponho qualquer objecção –
estou convicto que tenha sido mais o começo de uma etapa, do que propriamente o
início dos trabalhos de compilação, já que, como acima ficou sublinhado, os livros de
ordenações vinham de datas bastante anteriores.
Acima de tudo, parece incontroverso que, volvidos poucos anos (cerca 1425),
quando o infante D. Pedro escreve de Bruges ao seu irmão, se estava a cuidar do “jus
regni”, sob o patrocínio do infante D. Duarte[4]:

“E yso mesmo de as leys e ordenações do reyno serem proujdas e atituladas cada huã
daquelo a que pertençe. E se entre elas fosem açhadas alguãs que ja fosem reuogadas, que
as tyrem, pois que delas não hão dusar; e as boas ordenações se gardasem nas cousas sobre
que são feytas”[5]

Não sabemos ao certo quando terminou essa tarefa, provavelmente iniciada em


1418, mas tudo leva a crer que em 1427, pelo menos, já estivesse concluída. Nas Cortes

Cfr. a bibliografia anotada em Amélia Aguiar ANDRADE, “Estado, territórios e ‘administração régia pe-
riférica’”, A Génese do Estado Moderno no Portugal Tardo-Medievo (séculos XIII-XV), Universidade Autónoma
de Lisboa, Lisboa, 1999, p. 155, nota 11.
1
Cfr. p. 72.
2
MORENO, “Elementos para o Estudo dos Coutos de Homiziados”, p. 134.
3
HOMEM, “Rei e «Estado Real» nos textos legislativos da Idade Média Portuguesa”, pp. 391-392.
HOMEM, “Estado Moderno e Legislação régia”, pp. 116 e 121 (vide nota 52 deste capítulo).
4
“Desde 1411 que o infante tem responsabilidades governativas e oficiais próprios e desde 1413 que ocupa
o cargo de acessor para os assuntos do conselho, justiça e fazenda; a partir de 1418 é bem visível a sua acção
como legislador” [VENTURA, Igreja e Poder no Séc. XV: Dinastia de Avis e Liberdades Eclesiásticas (1383-1450),
Colibri História, 16, Edições Colibri, Lisboa, 1997]
5
Artur Moreira de SÁ, A “Carta de Bruges” do Infante D. Pedro, sep. de Biblos, XXVIII, Coimbra, 1952, p. 18.

91
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

de Lisboa desse ano, os procuradores do povo solicitaram o cumprimento da ordenação


antiga, segundo a qual os corregedores não podiam constranger os moradores dum
julgado a transportar os presos mais longe que o julgado seguinte[1]. Se esta referência
à ordenação antiga não é completamente concludente, a menção de um “livro
das Hordenaçoões antiguas” no artigo 86º da concordata assinada entre D. João I e a
clerezia, a 30 de Agosto desse ano de 1427[2], parece não deixar margem para dúvidas.
Posteriormente, também no artigo 22º das Cortes de Santarém de 1430, a propósito
dos servidores por soldadas, se manda guardar a ordenação antiga[3]. Quer dizer que em
1427 já estariam concluídas, pelo menos, duas fases da compilação.
Neste momento não será despropositado afirmar que a primeira fase compilatória
do direito geral do reino já estaria completa antes de 1391, que nas Cortes de 1418
se inicio uma nova fase[4] e que cerca do ano de 1427 já estaria concluída esta última
fase, com novo(s) livro(s) de ordenações em vigor. Embora sejam bastante parcos os
amparos documentais e precárias as ilações, tudo parece encaixar na perfeição. Mas
os mais solícitos vão chamar logo à colação o texto do prólogo das Afonsinas, onde
se refere, terminantemente, que D. João I cometeu as Ordenações a João Mendes, mas
“nom forõ acabadas em seus dias por alguuns empachos que se seguirom” e depois do seu
falecimento o seu filho, El-Rei D. Duarte, mandou o dito corregedor continuar a obra
“assi como fazia em tempo d’ElRey seu Padre”[5].
Convenhamos que seria um perfeito contra-senso afirmar que a obra se não con-
cluiu no reinado de D. João I por algumas impugnações incidentais (que desconhece-
mos), quando sabemos que existem livros de ordenações a vigorar desde 1391 e tudo
aponta para que, neste reinado, se tenham concluído duas fases da compilação. Será
que o redactor do prólogo cometeu mais um erro grosseiro?
Não acredito. Estou convicto que o autor do prólogo se refere apenas aos traba-
lhos (e aos compiladores) da última fase, que chegou aos nossos dias sob a forma dos
cinco livros das Ordenações Afonsinas. Então, esta derradeira fase deve ter tido o seu
início a partir de 1427, nas cortes de Lisboa desse mesmo ano ou nas de Santarém de
1430, e antes de 1433. Nesse lapso temporal de seis anos, surge o resquício de uma
compilação desconhecida, que foi aproveitado para compor o título 15 do livro III das
Ordenações Afonsinas. Trata-se de alguns casos em que os clérigos devem responder
perante a justiça secular e que foram extractados – alterando-se na sua redacção ori-
ginal – da concordata assinada com a clerezia do reino, em 1427. Tudo leva a crer que
essa alteração ainda foi feita durante o reinado de D. João I, como a seu tempo veremos
ao cotejar este título com a dita concordata.
Por outro lado, uma análise meticulosa das palavras do prólogo pode atestar
ainda mais a probidade e rigor do seu autor. Quando ele refere uma fase inconclusa no
reinado de D. João I, permite-nos, de alguma forma, entender o silêncio dos coetâneos
cronistas. Só Rui de Pina se deu ao labor de referir o início da tarefa no reinado de D.

1
Armindo de SOUSA, As Cortes Medievais Portuguesas (1385-1490), Porto, 1990, vol. II, p. 278.
Há quem entenda que as queixas do povo, para a sistematização do direito vigente, foram formuladas
nestas Cortes de 1427 [História de Portugal Medievo, político e institucional (coordenador Humberto Baque-
ro MORENO, colaboradores Maria Conceição Falcão FERREIRA, Luís C. C. Ferreira do AMARAL e Luís
Miguel DUARTE), Universidade Aberta, Lisboa, 1995, p. 313].
2
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 7, pp. 147-148.
3
SOUSA, As Cortes Medievais Portuguesas, vol. II, p. 288.
4
Esta asserção fica por conta do respectivo autor, já que não encontro qualquer fundamento documental
que a avalize.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Início, pp. 1-2.

92
José Domingues

Duarte: “e com tudo ElRey pôz muito seu cuidado nas cousas da Justiça que em seus
dias mandou iteiramente guardar, e entendeo em mandar correger e abreviar as Ordenaçoões
do Regno, e em seus dias nom se acabaram”[1]. Por outras palavras, quando Fernão Lopes
ou Gomes Eanes de Zurara escrevem a Crónica de D. João I a compilação em vigor é
a das Afonsinas, por isso, torna-se desnecessário referir as compilações antecedentes e
muito menos a incompleta. Pela mesma ordem de factores, é compreensível que Rui
de Pina situe o início das Afonsinas no começo do reinado de D. Duarte.
Penso, no entanto, que ainda é demasiado prematuro associar o Livro de Leis e
Posturas ou as Ordenações de D. Duarte a qualquer fase – até porque não sabemos ao certo
quantas fases existiram e os terminus rigorosos de cada uma. O que me parece inconcusso
é que as Afonsinas são apenas uma etapa do processo compilatório de finais do século
XIV e primeira metade do XV. Só assim se entende que, por exemplo, no início do livro
V conste “Tauoa dos titollos do quinto liuro da reformaçom noua das ordenaçõoes”[2]. Se a
afonsina é a reformação nova é porque existiu, pelo menos, outra antecedente.
Repisando a pergunta que ficou formulada no início deste ponto 2: será que as
Ordenações Afonsinas são a mais vetusta colectânea de leis? Penso que não, antes das Afon-
sinas teriam existido outras colecções de leis, que são referidas na documentação coetâ-
nea – pelo menos assim me induz a argumentação supra explanada – sendo o Livro de
Leis e Posturas e as Ordenações de D. Duarte vestígios concretos dessas colecções antece-
dentes. Mas uma apreciação cuidada das Ordenações Afonsinas pode, certamente, con-
tribuir para um melhor entendimento desta singela exegese.

3. Os Estilos Redactoriais nas Afonsinas


Comprovada a existência de colecções de leis anteriores às Ordenações Afonsinas,
vejamos agora o decurso de preparação destas. Afortunadamente, aos nossos dias
chegaram os cinco livros, embora não tenhamos nenhuma colecção completa[3]. A data
da sua conclusão ficou registada no final do livro V – 28 de Julho de 1446 – sendo
extravagantes os diplomas que, posteriormente, se lhe apensaram. Mas, o contributo
indispensável para o entendimento da sua elaboração continua a ser o lacónico
preâmbulo do livro I.
A descoberta deste códice I, como já se disse, veio revelar o início da empreitada
e o nome dos seus tarefeiros, mas estigmatizou uma diferença redactorial susceptível
de subida controvérsia. Forjado em estilo de redacção completamente diferente dos
restantes quatro livros, o livro I das Afonsinas inculca, imediatamente, regimentos novos
de D. Afonso V ou punho de compilador distinto dos restantes livros[4].

1
PINA, Chronica do Senhor Rey D. Duarte, cap. VII.
2
IAN/TT – Núcleo Antigo, n.º14 (Ms. de Santarém).
3
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 122;
SILVA, História do Direito, 3.ª edição, p. 272, nota 2.
O facto de aos nossos dias não terem chegado colecções completas não quer dizer que não tenham existido.
Pelo menos a colecção da Câmara de Santarém deve ter sido completa uma vez que, quando foi feita a sua
encadernação, a 21 de Junho de 1508, se referem “Estes cimqo liuros das reformaçõees primeiro 2º 3 4 V” [IAN/
TT – Núcleo Antigo n.º14 (Livro V das Ordenações Afonsinas da Câmara de Santarém) fl. 131v].
4
SILVA, Prefação ao Liv. I das Ordenações Afonsinas, p. VIIII, aventa as duas hipóteses.
Em prol da 1.ª hipótese, que diz tratar-se de regimentos novos de Afonso V, cfr. SILVA, História do Direito,
vol. I, Lisboa, 1985, p. 192 e 3.ª edição, revista e actualizada, p. 274. (este autor faz também um apanhado
de autores para cada uma das hipóteses).
Em prol da 2.ª hipótese, que atribui o livro I a João Mendes, cfr. FIGUEIREDO, Synopsis Chronologica, Tomo

93
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Mas este realce, à partida, parece não constituir qualquer problema, uma vez que
são também dois os compiladores identificados no prólogo do livro I das Afonsinas –
João Mendes e Rui Fernandes. Se são dois os estilos redactoriais e dois os compiladores
da colecção, tudo leva a crer que um tenha elaborado o livro I e o outro os restantes
quatro, ou seja, a diferença de estilo redactorial do livro I teria sido ditada pelo simples
facto de ter sido redigido por um executor diferente. O problema que se coloca é o
de saber qual a parte que efectuou cada um dos núncios régios: foi João Mendes que
redigiu o livro I e Rui Fernandes os livros II, III IV e V? Ou, pelo contrário, teria João
Mendes redigido os livros II, III, IV e V e Rui Fernandes o livro I?
Desde os primeiros autores setecentistas que, seguindo o critério mais lógico da
sucessão cronológica, se tem atribuído o livro I ao copista mais antigo – João Mendes
– e os restantes ao seu sucessor – Rui Fernandes[1]. Esta parece ser a disposição mais
coerente, mas nada obsta a que tenha sido de forma diferente ou até mesmo o contrário.
Aliás, o acreditado Martim de Albuquerque encarregou-se de aduzir argumentos
suficientes que vieram contrariar a visão tradicional da historiografia jurídica[2]. Para este, é
mais provável que o feitor do livro I das Ordenações Afonsinas tenha sido Rui Fernandes
e não João Mendes.
Antes de mais, porque o estilo legislatório ou decretório do livro I se coadunaria
melhor com a mão de um legisperito, Doutor em Direito, como Rui Fernandes; e o
estilo compilatório dos livros II, III, IV e V se harmonizaria antes a um simples prático,
corregedor da corte, como João Mendes:

“Mal se compreende, de facto, que o livro I, redigido essencialmente em estilo legislatório


ou decretório, estilo imperativo, provenha da mão de um simples prático, enquanto os
restantes livros, de teor basicamente traslatício das leis anteriores, de estilo compilatório se
deveriam atribuir ao Doutor em Direito”[3]

Por outro lado, quanto ao tempo que cada um dos comitentes terá expendido
nas Ordenações, “em termos de duração, pelo menos, não será legítimo, sem mais, empolar
excessivamente o papel do Doutor”. Para Albuquerque “João Mendes trabalhou no mínimo
cerca de sete a oito anos nas ordenações e Rui Fernandes no máximo 12 a 13 anos”[4]. Louvando
a cautela científica deste investigador, este argumento pode ganhar mais consistência
se, de acordo com investigações posteriores, avançarmos a morte de João Mendes

I, p. 37; Manuel Paulo MERÊA, Lições, 1925, p. 133; COSTA, “Ordenações”, in Dicionário de História de
Portugal, vol. IV, pp. 442.
Os que não tomam posição definitiva, cfr. CRUZ, História do Direito, p. 383; DUARTE, Justiça e Criminali-
dade, p. 119.
1
Vide a bibliografia mencionada por ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”,
Biblos, vol. LXIX, Coimbra, 1993, p. 167, nota 34. Também Ordenações Afonsinas, Prefacção, p. VIIII; BAR-
ROS, História da Administração Pública, vol. I, p. 133; e, mais recentemente, HOMEM, O Desembargo Régio,
pp. 346 e 380-382; FREITAS, A Burocracia do “Eloquente”, vol. II, pp. 86 e 137.
2
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, pp. 157-171.
3
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 168. No mesmo sentido, DUARTE,
Justiça e Criminalidade, p. 119, nota 369: “sendo compreensivelmente o estilo legislativo considerado uma
técnica mais evoluída do que o estilo compilatório, entende-se mal que o primeiro tenha sido praticado pelo
magistrado mais antigo, desaparecido por volta de 1434, e ao qual não são conhecidas qualificações acadé-
micas, e o segundo por gente que lhe sucedeu no tempo e onde se incluíam, pelo menos, dois doutores”.
4
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 170. Na reedição em Estudos de
Cultura Portuguesa, vol. 3, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2002, p. 60: “De acordo com os elementos
trazidos à colação pelo Prof. Carvalho Homem, o período de cometimento das Ordenações Afonsinas a
João Mendes aumentaria ainda vários anos”, ajudando a solidificar a sua tese.

94
José Domingues

para uma data muito posterior à de 1433 – “pouco depois de D. Duarte entrar a reinar”[1]
– conforme veremos ao tratar da sua biografia (e, em parte, o próprio Albuquerque
reconhece na reedição do seu trabalho).
Em última observação o autor contrapõe que “o sistema compilatório dos livros II, III, IV
e V das Ordenações Afonsinas, encontra-se em conflito com o método propugnado pelo Infante D.
Pedro”[2]. Por outro lado, o mais lógico parece ser o de primeiro se compilar os diplomas
normativos de reinados anteriores e só, posteriormente, se passar ao estilo imperativo –
seria esta a evolução paradigmática dos acontecimentos e assim o comprova o sistema
redactorial adoptado pelas sucessoras Manuelinas. De qualquer forma, o próprio autor
não reivindica qualquer irrevogabilidade às suas conclusões, prescrevendo um cotejo
profundo das Ordenações de D. Duarte com as Ordenações Afonsinas, mas “Até que seja
efectuado semelhante exame – necessariamente moroso e penoso – nada de definitivo ou de seguro
se poderá adiantar e permanecerá por resolver um largo feixe de dúvidas”[3].
Neste ponto, de forma mais ampla e desenvolvida, Martim de Albuquerque está
em sintonia com Marcello Caetano, que já tinha advogado a Rui Fernandes a autoria do
livro I, onde se traduzem situações posteriores à morte de João Mendes, enquadradas
no reinado de D. Afonso V. Por outro lado, aventa Marcello, o recurso frequente ao
Direito Justinianeu e ao Direito Canónico parece inculcar mão de Doutor[4].
Uma sondagem ao conteúdo desse livro I vem dar firmeza às suspeitas de Caetano
e confirmar as alegações de Albuquerque, que colocam Rui Fernandes como reputado
autor desse livro. Antes de mais referem-se, constantemente, os reis antecessores D.
Pedro, como bisavô, D. João, como avô e D. Duarte, como pai[5] – o que, de pronto,
situa a sua cronologia no reinado de D. Afonso V. Além disso, nesse livro constam três
leis, sem data, mas da autoria do regente na menoridade de D. Afonso V, o infante D.
Pedro[6]; outra do mesmo, feita, na cidade de Coimbra, a 30 de Setembro de 1442[7]; por
sua vez, o regimento do chanceler, meirinho e porteiro das correições das comarcas
foi “feito na nossa mui nobre, e mui leal Cidade de Lixboa a tres dias de Março per
authoridade do Senhor Ifante Dom Pedro Tetor, e Curador do dito Senhor Rei, Regedor, e com
a ajuda de Deos Defensor por el de seus Regnos, e Senhorio. Affonso Vaasques o fez. Anno do
Nacimento de nosso Senhor Jezu Christo de mil e quatrocentos e quarenta e tres annos”[8].
Assim sendo, o livro I – a não ser a eventualidade de as actualizações dos seus
regimentos terem sido feitas por Rui Fernandes sobre os textos do seu antecessor[9] –
nunca poderia ser obra de João Mendes. Comprovada, minimamente, a paternidade de
Rui Fernandes para o livro I torna-se imprescindível apurar, “em que medida o paralelismo
metodológico acabado de registar é susceptível de favorecer uma interpretação da autoria dos
livros II a V das Ordenações por João Mendes?”[10]. Ou seja, será que a coincidência entre os
dois compiladores e os dois estilos redactoriais diferentes – aliada a uma intensa penúria

1
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 168.
2
Idem, p. 170.
3
Idem, pp. 170-171.
4
CAETANO, História do Direito, p. 541.
5
Cfr. Ordenações Afonsinas, Liv. I, tít, 13; tít. 25; tít. 31, § 2; tít. 48; tít. 49; tít. 54, §20.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 4, §§ 2-5 e 6-17; tít. 31, §§ 1 e 2. O § 3 deste último título insere-se, também,
no período de regência do infante D. Pedro: “E porque poderá acontecer, que despois que com a graça de Deos
viermos a tal hidade, que bem possamos aver o Regimento de Nossos Regnos…”.
7
Ordenações Afonsinas, Liv. I, tít. 50.
8
Ordenações Afonsinas, Liv. I, tít. 72.
9
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 168.
10
Idem, p. 170.

95
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

documental (o proémio do livro I contínua a ser o único subsídio documental imediato


sobre a tarefa compilatória das Afonsinas) –, que tem induzido todos os investigadores
a dividir esta colectânea legislativa em duas fases, permitirá adjudicar a João Mendes os
livros II a V das Afonsinas, tal como ficou adjudicado o livro I a Rui Fernandes?
Esta é a pergunta que Martim de Albuquerque, ao encerrar o seu trabalho, deixa
em aberto[1]; ao contrário de Marcello Caetano, que confina o trabalho de João Mendes à
mera recolha de materiais[2]. A ideia que acaba por prevalecer é a de que Rui Fernandes
tenha elaborado o livro I e João Mendes os restantes quatro[3]. Até o próprio Martim de
Albuquerque, no apenso à reedição do seu estudo, ao contestar a crítica de Espinosa,
parece enveredar por este parecer – pelo menos não contesta os seus seguidores[4]. A
crítica subsequente (ao trabalho de 1993) de Espinosa, por sua vez, continua agarrada
à opinião tradicional:

“Começa, agora, a formar-se uma opinião – contra a tradicional – no sentido de


que há que dar um papel maior a D. Duarte e a João Mendes na feitura das Orde-
nações e, consequentemente, diminuir o do Infante D. Pedro e de Rui Fernandes.
Caminho que, também, já fora ensaiado por M. de Albuquerque.
Temos alguma dúvida quanto à nova tendência. Em primeiro lugar, o facto de –
segundo parece – João Mendes ter trabalhado muitos anos, nas Ordenações, não é prova
de que tenha produzido muito. Diríamos que, um encargo, durante muito tempo, sem
completar a obra cometida, é, antes, presunção de falta de ritmo contínuo, no trabalho
encomendado. E isso mais parece confirmar-se com o próprio contributo de Judite
Gonçalves de Freitas (referido por Carvalho Homem, nota 38) de que João Mendes
foi substituído, ainda em vida, e não por sua morte, como, comummente, se dizia.
Além do mais, o proémio das Ordenações, a respeito do papel decisivo de D. Pedro e de
Rui Fernandes, na feitura e completamento da obra – a não ser verdadeiro – corria o risco
de ser uma inverdade, demasiado vistosa. Cremos, pois, que a anterior e tradicional
opinião se não pode, ainda, considerar ultrapassada.”[5]

Sem tomar posição, já que, neste aspecto, não concordo completamente com nenhum
dos autores supra, terá que reconhecer-se que Martim de Albuquerque (sem esquecer a
incipiente iniciativa de Caetano) divisou, de forma arrazoada e deveras sapiente, uma
alternativa de investigação científica que não pode ser controvertida liminarmente, sem
a apresentação de argumentos sólidos e eficazes. Se me permitem, com toda a reverência
e respeito devido ao conceituado autor, o único “senão” do trabalho de Albuquerque

1
Idem, p. 170.
2
CAETANO, História do Direito, p. 532.
3
Neste sentido, Armando Luís de Carvalho HOMEM, “Législation et compilation législative au Portugal
du début du XVe siécle: la genése des «Ordonnaces d’Alphonse V». in Saint-Denis et la Royauté. Études
offertes à Bernard Guenée, membre de l’Istitut, ed. Françoise AUTRAND, Claude GAUVARD et Jean-Ma-
rie MOEGLIN, Paris, Publication de la Sorbonne, 1999;
Idem, “Estado Moderno e Legislação Régia: Produção e Compilação Legislativa em Portugal (séculos
XIII‑XV)”. A Génese do Estado Moderno no Portugal Tardo-Medievo, Lisboa, 1999, p 120;
FREITAS, A Burocracia do “Eloquente”, 1996.
Alves Dias partilha da mesma convicção, mas coloca a segunda parte do livro I (a partir do título 47º) com
os restantes quatro livros [Cfr. DIAS, Introdução às Ordenações Manuelina, pp. IX e X].
4
Aliás, o seu argumento capital do tempo de trabalho de cada compilador – “em termos cronológico o cor-
regedor haveria trabalhado num espaço temporal mais alargado que o doutor Rui Fernandes ou, à la limite, muito
aproximado” – só faz sentido se adjudicarmos uma parte da obra a cada um deles. [ALBUQUERQUE, “O
Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, Estudos de Cultura Portuguesa, vol. 3, 2002, pp. 58-63)]
5
SILVA, História do Direito, p. 271, nota 1.

96
José Domingues

penso ter sido a adjudicação do livro II a V a João Mendes – talvez por influência
dos autores que deram continuidade ao seu pensamento – sem ter seguido a douta
recomendação com que, ele próprio, tinha terminado o trabalho primitivo[1].
Se o estilo de compilar as ordenações dos reinados anteriores se coaduna com a
tarefa de um prático corregedor da corte, como João Mendes, já as declarações finais
(confirmativas, interpretativas, constitutivas ou modificativas) que encerram cada um
dos títulos, feitas sobretudo em nome de D. Afonso V, não lhe podem ser atribuídas. Os
monarcas antecessores D. Pedro, D. João, e D. Duarte são identificados, respectivamente
como bisavô, avô e pai do monarca coetâneo. Para além disso, também nestes 4 volumes
se disseminaram ordenações dos princípios do reinado de D. Afonso V. No livro II
constam, pelo menos, três ordenações, sem data, deste reinado[2]. No livro III, outra
ordenação sem data[3]. No livro IV, mais duas, também sem data, mas em nome do
Africano[4]. Finalmente, no livro V é onde se concentra o maior número de ordenações
afonsinas, cerca de 14. Doze não estão datadas[5]; a lei sobre os carcereiros a que fogem
os presos por sua culpa e má guarda ou malícia, também não está datada no códice, mas,
através de uma cópia no livro das vereações da Câmara do Porto, é possível apurar a
data de 31 de Janeiro de 1443[6]; e a ordenação com a data mais próxima da conclusão
das Afonsinas (28 de Julho de 1446) está datada de 11 de Janeiro de 1445[7].
Por outro lado – a não enveredarmos por mais interpolações – as remissões para
o livro I não se coadunam com a adjudicação da autoria desse livro a Rui Fernandes
e os restantes a João Mendes. Efectivamente, de qualquer um dos outros livros consta
remissão para o livro I. Logo no livro II se remete para o regimento do corregedor da
corte, no título 5 do livro I[8]; em seguida, do livro III remete-se para dois títulos do
livro I (títulos 35 e 42)[9]; no livro IV consta uma remissão expressa para o título 39 do
livro I[10]; e no livro V remete-se para o título “Dos Alquaides”[11], que é o título 62 do livro
I; ao tratar da proibição de se fazerem coutadas, remete para o regimento do Monteiro
mor[12], que é o título 67 do livro I; o mesmo livro V, remete duas vezes para o regimento
do corregedor da corte[13], que é o título 5 do livro I; e ainda no livro V, remete‑se para

1
“…em que medida o paralelismo metodológico acabado de registar é susceptível de favorecer uma interpretação da
autoria dos livros II a V das Ordenações por João Mendes?”.
2
Ordenações Afonsinas, Livro II, tít.s 37,38 e 40.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. III, tít. 30, §§ 2 e 3.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít.s 28 e 51.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. V, tít.s 22, 23, 25, 26, 38, 39 (repetida no 82), 55, 60, 64, 67, 90, 92 (Estas leis não
estão datas e só a do tít. 67 refere expressamente D. Afonso V, mas penso serem todas leis da regência do
infante D. Pedro)
6
Ordenações Afonsinas, Liv. V, tít. 93, § 2.
7
Ordenações Afonsinas, Liv. V, tít. 63, §§ 3-5.
8
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 40, § 7, p. 298: “segundo todo esto mais compridamente he contheudo no
Regimento dado ao Corregedor da Corte: o qual Mandamos em todo guardar, assy como em elle he contheudo”.
9
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 95, § 14, p. 361: “assy como per Nós he ordenado no primeiro Livro no
Titulo, Dos Tabaliaens, e Escripvaens, do que hão de levar de seu solairo, e no Titulo, Do que hão de levar os Tabalia-
ens, e Escripvaens, e Enqueredores por seu trabalho, quando forem fora do Luguar”
10
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, tít. 90, § 5, p. 339: “mandamos que se guarde o que já avemos sobre ello hordenado no
Titulo, Do que ham de levar os Tabelliaaens, e Escripvaaens das buscas dos feitos, e escripturas, em o livro primeiro”.
11
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 19, § 18, p. 66: “segundo he conthéudo no Titulo Dos Alquaides”.
12
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 46, § 4, p. 166.
13
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 56, § 12, p. 208.
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 88, § 2, p. 331.

97
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

o título dos corregedores das comarcas[1], especificando-se, noutra remissão, que consta
no “primeiro Livro da reformaçom das Hordenaçoões”[2], precisamente no título 23. Se
considerarmos João Mendes o autor destes livros (Liv.s II-V), é óbvio que ele nunca
poderia remeter para um livro inexistente (Liv. I), redigido após a sua morte.
Assim sendo, também nestes 4 volumes lateja a potestade de Rui Fernandes,
ficando cada vez mais justificada a sua auto-intimação como principal autor da
compilação, chamando a si a responsabilidade dos defeitos e, tacitamente, os louros
dos acertos[3], conforme deixou expresso antes do LAUS TIBI SIT CHRISTE, QUUM
LIBER EXPLICIT ISTE:

“Foi acabada esta obra em a Villa da Arruda aos vinte outo dias do mez de Julho,
Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil e quatrocentos e
quarenta e seis annos, per o Doutor Ruy Fernandes … E se aos Sabedores a dita obra
nom parecer assy bem e estudiosamente pensada e composta, como a tam alto
feito e de tam grande substancia requeria, culpem e reprendam o dito Doutor, que
della foi compilador e principal obrador”[4]

Se concluirmos que o Doutor Rui Fernandes preparou ou, pelo menos, ultimou os
5 livros das Ordenações Afonsinas, continuamos sem uma fundamentação satisfatória
para a diferença de estilo redactorial do livro I. Se bem que menos difundida, a outra
conjectura aduzida de se tratarem de regimentos novos, preparados por D. Afonso V,
angariou alguns simpatizantes[5].
A maioria desses regimentos não se encontra datada, de qualquer forma, uma
exegese perspicaz permite retroceder alguns a reinados anteriores a D. Afonso V –
para não falar do regimento da guerra, que analisaremos em título apartado. Já Gama
Barros salientou que os títulos 25, 31, 48 e 49 eram de reinados precedentes[6]. Para além
desses, também o regimento do meirinho, que anda na corte em logo do meirinho mor[7],
foi elaborado em Évora, a 26 de Maio de 1421 – é essa a data que consta no traslado

1
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 76, § 3, p. 291.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 100, § 6, p. 358.
3
Cfr. CAETANO, História do Direito, p. 532.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 119, § 31.
5
SILVA, História do Direito, Vol. I, p. 192. (3.ª edição, 2001, p. 274): “Para explicar este facto, tem-se sugerido
que o Livro I seria, ainda, da autoria de João Mendes, enquanto os restantes seriam devidos a Rui Fernandes; ou que
a diferença de estilo se justificaria pela razão de o Livro I versar matéria, antes não contemplada em fontes nacionais,
contrariamente ao que sucede com os livros seguintes. Julgamos ser esta última razão, por si só, suficiente para ex-
plicar a diferença de estilo, o que não quer dizer que a conjectura de João Mendes ser o autor do Livro I se não possa,
igualmente, ter verificado. Mas, de momento, é simples conjectura.”
Torna-se problemático o entendimento cabal da tese deste autor. Ao tratar das Afonsinas não pode alhear-
se à controvérsia de que um compilador tenha organizado o livro I e o outro os restantes quatro, mas acaba
por não tomar uma posição decisiva e manifesta. Por um lado [p. 271, n. 1], contesta a opinião de Martim
de Albuquerque (seguida por Carvalho Homem), que atribui a feitura do livro I a Rui Fernandes e o livro II
a V a João Mendes, acreditando “que a anterior e tradicional opinião se não pode, ainda, considerar ultrapassada”.
Por outro lado, ao defender que o livro I versa matéria não contemplada nas fontes nacionais (por isso inédita
do reinado de D. Afonso V, ao tempo em que o corregedor já estava morto ou, pelo menos, revezado) é for-
çado a colocar a conjectura de João Mendes ser o autor do livro I como simples conjectura. Afinal, para contestar
Albuquerque, o autor do livro I é João Mendes e não Rui Fernandes, mas para explicar a diferença redacto-
rial desse mesmo livro a autoria de João Mendes é simples conjectura. Então, se não é Rui Fernandes nem
João Mendes, quem é o autor do livro I?
6
BARROS, História da Administração Pública, vol. I, p. 71 (1.ª edição):
7
Ordenações Afonsinas, Livro I, Tít. 11.

98
José Domingues

das Ordenações de D. Duarte[1]; no regimento dos procuradores, refere-se expressamente


que “Mandámos perante Nós vir as Ordenaçoões sobre esto feitas pelos Reyx Dom Doniz, e
Dom Affonso, e Dom Pedro meos Visavoos, e Dom Joaõ meu Avoo, e d’El Rey meu Senhor, e
Padre”[2]; no regimento do corregedor da corte alude-se a uma “Ordenaçom antigua”,
que impele a um regimento antecedente; e, disseminados no meio desses regimentos,
encontram-se traslados de capítulos de Cortes de reinados antecedentes[3].
O regimento dos tabeliães (título 47) parece ser anterior a 1422, uma vez que no
parágrafo quarto (§ 4) ficou consignado que “os ditos taballiaães nas ditas escripturas,
que assy fezerem, ponhaõ sempre o dia, e mez, e era, e a Cidade, ou Villa, ou Luguar,
honde as houverem de fazer”. Como é sobejamente sabido, a ordenação joanina de
14 de Agosto de 1422 manda “a todolos Taballiãaes e Escripvãaes do seu Regno e
Senhorio, que daqui em diante em todolos contrautos e escripturas, que fezerem,
ponham Anno do Nacimento de Nosso Senhor Jesu Christo, assi como ante soyam a poer Era de
Cesar”[4]. Advirta-se que este argumento não é conclusivo, pois a palavra era continuou
a ser utilizada, mesmo para o ano do nascimento.
Mas o caso mais paradigmático é, sem dúvida, o do regimento dos corregedores
das comarcas. Afortunadamente, chegaram aos nossos dias quatro regimentos avulsos
destes magistrados régios itinerantes: dois do reinado de D. Afonso IV (1332 e 1340)
[5]
, outro do reinado de D. Pedro I (c. 1361)[6] e outro do reinado de D. João I, mas
outorgado pelo infante D. Duarte[7] (1418). Para além disso, nas Ordenações de D. Duarte
ficou registado o regimento de 1340[8].
Um cotejo deste regimento das Afonsinas com os outros regimentos, revela que,
salvo alguma correcção ortográfica ou alteração de menor importância – como por
exemplo a substituição de um moço de sete anos pelo homem simples, que devia tirar os
pelouros no dia de eleições concelhias –, a reforma operada pelos compiladores qua-
trocentistas traduz-se na junção do regimento de 1361 (que englobava os de 1332 e o
de 1340) com o de 1418, excluindo alguns parágrafos deste último – os relativos aos
coudéis, juízes dos órfãos, escrivães da Câmara, procuradores do número, tabeliães e
inquiridores – transitando outros para os títulos respectivos – os dos juízes, vereadores
e almotacés – e acrescentando muito pouco, ou mesmo nada.
Posto isto, tudo leva a crer que a diferença redactorial do livro I, em relação aos
restantes quatro, não é tão cavada como à partida poderia parecer: em todos existem
leis do reinado de D. Afonso V e também no livro I foram compiladas leis de reinados
anteriores, apenas omitindo os monarcas e as datas da sua feitura. De qualquer forma, os
regimentos do livro I são concertados de forma distinta, mas parece que essa diferença tem
mais a ver com a matéria tratada do que, propriamente, com a diferença de punho compilador ou
a originalidade de Afonso V. Repare-se que o livro I é dos mais volumosos e, por outro lado,
só tinha interesse coligir-se o que estava em vigor, por isso, evitam-se os emaranhados e
as repetições fastidiosas, consequentemente, também os monarcas e as datas.

1
Ordenações de D. Duarte, pp. 640-642.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 13, princípio.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 23, §§ 6 e 7 (Cortes de Elvas 1361); Tít. 30, § 17 (Cortes de Santarém 1331).
4
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 66, § 1, pp. 233-234.
5
Marcello CAETANO, A Administração municipal de Lisboa durante a 1.ª dinastia (1179-1383), Lisboa, Acade-
mia Portuguesa de História, Lisboa, 2.ª edição, 1981, doc. 12 e 13, pp. 151-174.
6
RIBEIRO, Dissertações Chronologicas e Criticas, Tomo III, Parte 2, pp. 97-117.
7
Eduardo Freire de OLIVEIRA, Elementos para a Historia do Município de Lisboa, 1.ª Parte, tomo II, Lisboa,
Typographia Universal, 1855, pp. 29-38.
8
Ordenações de D. Duarte, pp. 502-518.

99
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Continuando com o exemplo do regimento dos corregedores das comarcas, uma


compilação integral por reinados obrigaria a acrescentar, aos seus longos setenta e um
parágrafos, pelo menos, dezanove parágrafos do regimento de 1332 e vinte e oito do de
1340, o que daria um acrescento de cerca de quarenta e sete parágrafos, ou seja, cerca
de 66% (dois terços). Isto só para referir os que efectivamente se repetem, tornando a
obra demasiado volumosa, mas, sobretudo, repetitiva em excesso, dificultando o seu
manuseamento.
Uma conjuntura confirmativa, embora nos faltem os substratos documentais, é a
do certificado costume de recensear os besteiros do conto, que já vinha do reinado de
D. Dinis. No privilégio aos besteiros de Guimarães, de 12 de Junho de 1322, o monarca
mandava aos “que quiserem seer do conto” que fossem “scriptos per huu tabaliom da
dicta villa e perante o seu anadal”[1], o que leva a acreditar numa ordenação instituidora
dos besteiros do conto, mesmo antes desta data[2]. A actualização destes efectivos,
sobretudo em épocas conturbadas de guerra, permite prever sucessivas contagens,
que entretanto se perderam no tempo. Mas de algumas ficaram breves referências
documentais: nas Cortes do Porto, de 1372, perante as queixas do povo, o monarca
mandou ao anadel dos besteiros que visse a ordenação que por ele tinha sido feita e
a guardasse como em ela era conteúdo[3]; Fernão Lopes também refere o apuramento
deste monarca – “mandou por todo seu rreino fazer apuraçoões de todollos moradores em
elle e mudar as armas que d’ante tinham per outra nova maneira”[4]. Mas para as Afonsinas
só transitou o apuramento mais recente, que D. João I tinha mandado fazer a Vasco
Fernandes e João de Basto, datado de 12 de Agosto de 1422[5], deixando no olvido o de
monarcas anteriores, nomeadamente o de D. Dinis e D. Fernando.
Outro caso paradigmático é, sem dúvida, o das taxas a cobrar pelos tabeliães e
escrivães[6]. Aos nossos dias chegaram tabelas de emolumentos do recuado ano de
1305. Nas Cortes de Lisboa de 1371 faz-se referência à ordenação de D. Fernando que
estabelece o preço que os escrivães deviam levar das cartas que fazem[7]. É também
conhecida a que saiu das Cortes de 1433 e outra, sem data, mas, provavelmente, do
ano de 1440[8]. No entanto, a das Afonsinas é diferente de qualquer uma delas. Não
seria de admirar que se aproveitasse a sistematização desta colectânea para reformar
os valores cobrados pelos tabeliães e escrivães, mas, acima de tudo, seria um completo
absurdo coligir todas as tábuas, desde o início do século XIV.
Só para terminar, o título 13 do livro I, conforme ficou exarado no seu início, é,
categoricamente, o resultado da análise e conciliação das diversas ordenações dos rei-
nados antecedentes, sobre procuradores:

1
Maria da Conceição Falcão FERREIRA, “Os besteiros do conto de Guimarães na centúria de trezentos”,
sep. do vol. III da Revista de Ciências Históricas, Universidade Portucalense, Porto, 1988, p. 204.
2
Mário Jorge BARROCA, “Da Reconquista a D. Dinis”, Nova História Militar de Portugal, Direcção de Ma-
nuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira, Círculo de Leitores, 2003, p. 93.
3
Cortes Portuguesas. Reinado de D. Fernando I (1367-1383), INIC, Centro de Estudos Históricos da Universi-
dade Nova de Lisboa, Lisboa, 1990, vol. I (1367-1380), p. 89, art.º 8º.
4
Fernão LOPES, Crónica de D. Fernando, cap. LXXXVII, p. 303.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 69.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít.s 35 e 36.
7
Cortes Portuguesas. Reinado de D. Fernando I, p. 61, art.º 96º.
8
IAN/TT – Chancelaria de D. Duarte, Livro 2, fls. 26 e 26v. (o documento não tem data, mas deve ser de
1440, pois o documento anterior está datado de 30 de Março de 1440 e o documento que se segue está da-
tado de 12 de Dezembro de 1440)
Isaias da Rosa PEREIRA, “O tabelionado em Portugal”, in Actas de VII Congreso Internacional de Diplomática
– Notariado público y documento privado: de los orígines al siglo XIV –, Valencia, 1986, pp. 663-664.

100
José Domingues

“Primeiro que acerca dos Procuradores ouvessemos hordenado, Mandámos


perante Nós vir as Ordenaçoões sobre esto feitas pelos Reyx Dom Doniz, e Dom Affonso,
e Dom Pedro meos Visavoos, e Dom Joaõ meu Avoo, e d’ElRey meu Senhor, e Padre, cuja
alma Deos aja em a sua Santa Gloria; e pero que nos parecessem antre sy em alguã
parte diversas, e contrarias, Acordámos de as trazer a boa concordia de curta, e
breve conclusom em esta forma, que se segue”[1]

Este começo é ilustrativo de parte do método compilatório adoptado neste livro


I: coligem-se as ordenações dos monarcas passados, sobre um determinado tema, e,
perante a futilidade da transcrição literal, opta-se por uma nova ordenação, excluindo
tudo o que está desactualizado e acrescentando-lhe o que for pertinente. Mas a base de
partida continuam a ser as ordenações antigas (tal como nos restantes livros), ficando
bem claro que não se trata de punho compilador diferente ou de regimento totalmente novo
– apesar de este título resultar numa ordenação nova ou renovada – apenas de um
método diferente, face à especificidade da matéria e à prolixidade das ordenações[2].
São exemplos concretos do âmbito de Direito Público, onde se transcreve apenas o
mais recente que está em vigor – reformando-o se necessário – que tornam esclarece-
dor e vêm dar ênfase ao que acima ficou justado quanto ao estilo redactorial do livro
I das Afonsinas, que pretende evitar repetições fastidiosas e volumosas. Infelizmente,
o desconhecimento das datas ou da existência de regimentos idênticos para outros
ofícios regulamentados não permite alargar esta metodologia, por isso aqui fica mais
uma proposta alicerçada no pantanoso século de quatrocentos, aguardando novos
subsídios documentais.
Antes de prosseguir, o próprio Fernandes, de forma imperceptível, parece admitir
e justificar esta divergência de estilo redactorial ao referir que:

“No primeiro livro fallamos dos Officiaaes da nossa Corte, que per Nos teem carrego
de ministrar direito, e justiça, e d’alguus outros, que aa governança do Regno
perteencem. Agora no segundo livro, e d’hi en diante entendemos fallar, e trauctar das
Leyx, e Hordenaçõoes, per que se os Regnos governem, e os ditos Officiaaes ajam de
reger por boa eixecuçom dellas.”[3]

Ou seja, o próprio compilador reconhece a diferença de matéria tratada no livro


I em relação aos restantes quatro: o livro I é dedicado aos regimentos dos oficiais de
justiça e governança do reino e os restantes quatro às leis e ordenações a aplicar, pelos
ditos oficiais, no reino.
Atribuída a feitura dos cinco livros a Rui Fernandes[4], justificada e esbatida a
diferença de estilo redactorial, uma pergunta lateja, cada vez mais, no espírito mais

1
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 13, p. 84.
2
Mas os regimentos do livro I não são singulares, repare-se no título 128 do livro III, que, se não é um caso
análogo, é muito similar: “E por tanto querendo Nos a esto prover com Justiça, como cabe a todo bõo Rey,
que direitamente quer manter, e consirando como os Reys, que ante Nós forão, especialmente os Rex Dom
Diniz, e Dom Affonso, e Dom Pedro, e Dom Fernando fezerão acerqua deste passo muitas Leys, e Artigos
jeraees confirmados em Cortes, os quaees sendo aqui emcorporados, seria grande proluxidade, e ainda
sem muito proveito, por serem em sy desvairos, e contrarios huns aos outros; e por esto Ordenamos de
fazer huuma nova Ley” [Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 128, § 1, p. 460].
3
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Início, p. 1.
4
Aliás, corroborada pelas palavras do coetâneo Rui de Pina, “ElRey Dom Affonso seu filho as mandou depois
reformar em cinco Livros” [PINA, Chronica do Senhor Rey D. Duarte, cap. VII]. Ou seja, a divisão em 5 livros
só surge no reinado de D. Afonso V.

101
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

solícito: então, e o distinto corregedor da corte? O que sobeja para o trabalho de João
Mendes? Será que, tal como asseverou Marcello Caetano, se limitou a “coligir materiais
(nas Ordenações de D. Duarte?), cabendo a Rui Fernandes o trabalho de os sistematizar em
livros e títulos, completando a compilação e preenchendo os vazios dela”[1]? Talvez, mas antes
vejamos a sua biografia e dos outros compiladores das Afonsinas.

4. Os Compiladores
Começaria este apartado por dois pretensos compiladores das Afonsinas. O
primeiro, Diogo Afonso Mangacha, que só encontro referido no artigo As “Ordenações
de D. Duarte”[2] e não encontro qualquer justificativo para entrar nesta plêiade, ficando,
por isso, liminarmente arredado deste título. O outro suposto compilador do direito
pátrio, que já foi afastado desta plêiade no fecho do século XVIII[3], é o Doutor João
das Regras. Mas este merece uma análise mais séria e meticulosa, uma vez que a
historiografia recente tem vindo, cada vez mais, a dar crédito ao mito erigido por
Duarte Nunes de Leão.
A síntese deste mito, quase pentasecular, em torno da tradução em língua vulgar
do Código de Justiniano, com as glosas de Acúrcio e Bartolo, da lavra do Doutor João das
Regras, está irrepreensivelmente traçada por Guilherme Braga da Cruz, que dá conta
da bibliografia de Duarte Nunes de Leão, dos seus seguidores e do seu primordial con-
testatário, José Anastácio de Figueiredo. Para lá se remete os interessados.
Apenso ao mito de Duarte Nunes de Leão, surge outro, menos badalado –
praticamente esquecido –, mas de maior relevância para este estudo, que imputa ao
Doutor João das Regras o primeiro código de leis pátrias. O primeiro autor a alvitrar
esta hipótese parece ter sido Barbosa Machado, que na sua Biblioteca Lusitana, na
entrada de Ioão d’Aregas, deixou expresso:

“ordenou em hum volume as Leis deste Reino que andavão dispersas, e lhes juntou as Leis
do Codigo do Emperador Justiniano com interpretações de Bartolo, e Acursio”[4]

Na senda deste testemunho, os Estatutos Pombalinos da Universidade de Coimbra,


de 1772, ordenam o estudo da colectânea do tempo de D. João I, da autoria do Doutor
João das Regras:

“Ensinará o que mais se ajustar à verdade sobre a Ordenação, que se attribuio ao


Senhor Rei Dom João o I, de que se dá por Author o Doutor João das Regras”[5].

1
CAETANO, História do Direito, p. 532.
2
GIRARD, “As Ordenações de D. Duarte”, p.18.
3
José Anastácio de FIGUEIREDO, “Memoria sobre qual foi a época certa da introdução do Direito de Jus-
tiniano em Portugal, o modo da sua introducção, e os grãos de authoridade, que entre nós adquirio. Por
cuja occasião se trata toda a importante materia da Ord. liv. 3 tit. 64”, in Memorias de Litteratura Portugueza,
publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa, Tomo I, Lisboa, 1792, pp. 291 e ss..
4
Diogo Barbosa MACHADO, Biblioteca Lusitana, na Officina de António Gomes, Lisboa, vol. II, 1747, s. v.
“Ioão d’Aregas”.
5
Estatutos da Universidade de Coimbra do Anno de MDCCLXXII. Lisboa, na Regia Officina typographica,
1773, Livro II (que contém os cursos Juridicos das Faculdades de Canones e de Leis), Título 3, Cap. 9, § 4,
pp. 160 e 161.

102
José Domingues

Também os autores do Demétrio Moderno ou Bibliógrafo Jurídico Português o


enunciam entre os monumentos antigos de legislação portuguesa:

“Todas as Leis, Alvarás, Edictos, Decretos, e Cartas Regias de todos os Senhores


Reys, que succederão ao Senhor D. Affonso II até o Senhor D. João I, no Reynado
do qual no anno de 1425 compoz, e ordenou o Doutor João das Regras em hum volume
todas as Leis deste Reyno, que andavão dispersas, e disseminadas”[1]

Era esta a tradição arreigada no século XVIII, antes do imediato aparecimento do


livro I das Afonsinas, porque a partir de então os únicos compiladores das leis pátrias
passam a ser, inevitavelmente, João Mendes e Rui Fernandes, ficando afastado, em
definitivo, João das Regras. Imediatamente e em simultâneo com a conjectura da tra-
dução, também esta ficou exposta no pelourinho da censura afilada de Anastácio de
Figueiredo, que acusa o abade Diogo Barbosa Machado e seus seguidores de, para
além do apoio na proposta errónea de Leão, dela se terem apartado em manifesto erro,
tirando conclusões precipitadas, que se não podiam deduzir das palavras do dito juris-
consulto quinhentista:

“não merecem attenção alguma, e até com manifesto erro se apartarão do unico apoio,
que podião ter, quando o podesse ser: pois dizem, que João das Regras ordenara e
fizera os Códigos, quando Duarte Nunes tal não chegou a dizer, nem do que dice se podia
deduzir. De hum e outro lugar, acima copiados no § antecedente, se mostra, que
elle não diz senão, que o dito Senhor Rei, além de muitas Leis que fizera, ordenou
e instituio hum Livro em Lingua Portuguesa, em que se ajuntassem as Leis do
Codigo de Justiniano mais practicaveis neste Reino, com algumas declarações, ou
interpretações de Acursio, e Bartholo sobre ellas”[2]

Desde sentença tão convicta, aliada ao evidente testemunho do proémio do livro


I, ninguém mais se atreveu sequer a recordar as palavras de Barbosa Machado[3], a
não ser para repisar o raciocínio de Anastácio de Figueiredo[4]. Estará esta pendência
definitivamente encerrada? Se o mito da tradução acabou por ser certificado, não
merecerá o mito da compilação outro cuidado? Será que a conjectura do abade Barbosa

1
António Barnabé de Elescano Barreto ARAGÃO e Lino da Silva GODINHO, Demétrio Moderno, ou o Biblio-
grafo Jurídico Portuguez, na Officina de Lino da Silva Godinho, Lisboa, 1781, p. 41.
2
FIGUEIREDO, “Memoria sobre qual foi a época certa da introdução do Direito de Justiniano em Portu-
gal”, p. 297.
3
Excepto o articulista da Enciclopédia Luso Brasileira: “Graças a João das Regras começou o nosso direito
a estabilizar-se pela compilação das leis dos anteriores reinados, coordenadas e emendadas sob inspiração
do direito romano”.
4
Candido Mendes de ALMEIDA, Codigo Philippino ou Ordenações de Leis do Reino de Portugal recopi-
ladas por mandado d’el-rey D. Philippe I, Rio de Janeiro, 1870, p. XX. [edição «fac-simile» feita pela Fun-
dação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1985, com Nota de Apresentação de Mário Júlio de Almeida COSTA]:
“Diz-se que a lembrança desse Codigo foi toda de João das Regras, então Chanceller-mór do Reino, com
extrema preponderancia nos Conselhos do Rey. Com esse proposito, assegura-se, que o eminente Juriscon-
sulto publicára uma traducção em lingua vulgar do Corpus Iuris com as glossas de Accursio e de Bartholo,
o qual, com o Direito Canonico, foi preferido ao do Codigo ou Leis das Partidas.
Essa traducção, cuja existencia aliás alguns contestão, e outras obras que já havião, forão preparos para a
organisação do Codigo denominado Affonsino, por haver sido publicado no reinado de D. Affonso V.
Diz-se que a Nobresa e a Burguesia reunidas em Côrtes o reclamárão com instancia, maxime o terceiro
Estado, onde os Juristas abundavão. Infelismente João das Regras, fallecendo em 1404, não pôde levar a
effeito o intento, que outros executarão com mais fortuna...”

103
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Machado foi totalmente gratuita, conforme aventou Anastácio de Figueiredo? Ou será


que, à semelhança do aventado por Duarte Nunes de Leão, existiria algum substrato
documental que desconhecemos?
São perguntas para as quais não consigo resposta satisfatória, uma vez que, entre
a vasta documentação consultada, não encontrei a ínfima alusão escrita que, directa ou
indirectamente, pudesse ligar o acreditado jurisperito, João das Regras, à compilação
das ordenações. Mas será motivo suficiente para o desacreditar? Bastará a ausência no
proémio do livro I para o refutar?
Talvez sejam demasiadas perguntas para quem possui tão poucas respostas, mas,
por outro lado, o avanço científico depende tanto das primeiras como das segundas.
Por isso, ao contrário do que seria de esperar, escusando-me de uma resposta estribada
em sólidos argumentos escritos, fica aqui, de novo, lançada a justa. Tudo porque não
deixa de ser demasiado intrigante e assaz significativo que no ano de 1391, pelo menos,
já existissem Livros de Ordenações, como ficou exarado no título supra. Concluindo,
apesar de não restar qualquer dúvida que no ano de 1425 João das Regras já tinha
morrido, tudo leva a crer que a tradução do Código de Justiniano, com as glosas de
Acúrcio e Bartolo, foi feita sob a sua chancela. Mas ainda mais relevante para o nosso
caso parece ser que muito antes da sua morte [1404] e, sobretudo, ainda antes de João
Mendes chegar à corregedoria da corte [1402], já existissem Livros de Ordenações a
vigorar no reino de Portugal.
Por outras palavras, se em 1391, no apogeu da carreira do Doutor João das Regras
e muito antes de João Mendes ter chegado à correição da corte, o monarca se serve de
um determinado “livro da nosa Chancelaria da Cassa Ciivell em no qual eram escriptas as
hordenaçoens dos nossos Reignos”[1], parece que, neste aspecto, a tradição e os autores
setecentistas, há muito tempo impugnados, terão que ser reconsiderados e levados mais
a sério. No âmbito da compilação das ordenações muito pouco ficou, manifestamente,
registado nas fontes documentais – se, hipoteticamente, omitíssemos o proémio do livro
I ter-se-ia perdido, também, o rasto total do compilador João Mendes. Pensando bem,
até é compreensível que o proémio do livro I refira apenas o nome dos delegados para
o processo compilatório das Afonsinas.
Um juízo plausível que ainda não vi proposto é o de o ano de 1425 estar pela
era de César, como tantas e tantas vezes tem acontecido, até porque Duarte Nunes
de Leão, segundo José Anastácio de Figueiredo, usou sempre do ano do nascimento
de Jesus Cristo[2]. Ou seja, se Duarte Nunes de Leão utilizou documentação da era
de César sem a respectiva conversão para o ano de Cristo, então a data de 1425, que
refere, corresponde ao ano de 1387. Desta forma, evaporam-se quaisquer dúvidas que
tenha sido João das Regras, falecido em 1404, o tradutor do Código de Justiniano. Por
outro lado, sabendo de antemão que a compilação das ordenações foi requerida, em
Cortes, a D. João I, parece bem provável que João das Regras tenha o seu quinhão
nessa obra, aceitavelmente reclamada nas Cortes de Coimbra de 1385 (sob a égide da
aversão a Castela e às suas compilações legislativas) e pronta a utilizar, senão antes,
pelo menos no ano de 1391.
Desde o afastamento de João das Regras que o corregedor da corte, João Mendes,
se notabilizou, até à hodiernidade, como o primeiro compilador das Ordenações

1
Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa – Livros de Reis, vol. II, Lisboa, 1958, p. 53.
2
FIGUEIREDO, “Memoria sobre qual foi a época certa da introdução do Direito de Justiniano em Portu-
gal”, p. 293.

104
José Domingues

Afonsinas. O seu nome ficou, documentalmente, indissociável da tarefa compilatória


da colectânea de legislação pátria, a partir do proémio do livro I das Afonsinas:

“… ElRey Dom Joham … cometteo a reformaçom, e compilaçom dellas a Johãne


Mendes Cavalleiro, e Corregedor em a sua Corte, e nom forõ acabadas em seus dias
por alguuns empachos, que se seguirom.
E depois de seu falecimento regnou o Mui Alto, e Mui Virtuoso Princepy ElRey
Dom Eduarte seu filho de semelhante memoria, o qual encomendou a dita Obra
ao dito Corregedor, que continuasse em ella, assi como fazia em tempo d’ElRey
seu Padre, sentindo-o por serviço de Deos, e seu, e bem de seus Regnos; e porque
se o dito Corregedor logo finou a poucos dias, nom as pôde acabar, e por tanto o
dito Senhor Rey as encomendou ao Doutor Ruy Fernandes”[1]

Se, por um lado, não deixa qualquer dúvida quanto à sua participação, por outro
lado, a laconicidade desta isolada referência documental não clarifica em nada o
desempenho deste jurisperito de quatrocentos. Por isso, tudo o que se avançou ou
se venha a avançar, nesse sentido, não passam de meras suposições, susceptíveis
de ulterior confirmação ou revogação. Se para uns, João Mendes se limitou a coligir
informações disseminadas para as Afonsinas[2], nomeadamente nas Ordenações de D.
Duarte[3] ou nestas e no Livro de Leis e Posturas[4]; outros, por unanimidade, adjudicam-lhe
a execução do livro I das Afonsinas[5]; havendo ainda quem tenha aventado que deixou
acabado o livro I e parte do II, “sendo tambem natural, e provavel, que o mais dos primeiros
annos gastaria em juntar os materiaes, e doutrinas, que depois passasse a ordenar conforme
os titulos, e materias, a que pertencessem, como quasi sempre, e ajustadamente costuma ou
deve acontecer”[6]; e até quem exagere, considerando que o Doutor Rui Fernandes, com
Lopo Vasques, corregedor de Lisboa, e os desembargadores Luís Martins e Fernão
Rodrigues se limitaram à revisão do trabalho de João Mendes[7].
João Mendes de Góis (assim aparece em alguns documentos e genealogias) “é um
dos funcionários de carreira mais duradoura”, assevera Carvalho Homem, com um total de
73 cartas inventariadas e um múnus de mais de 30 anos (1402-1433)[8]. Não há qualquer
dúvida que já era corregedor da corte no ano de 1402[9]. A 9 de Fevereiro, desse ano,
em Montemor-o-Novo, publica uma lei de D. João I para que os aforamentos se não
façam por ouro, nem prata, mas pela moeda geral corrente no reino[10]. No início do

1
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Início, pp. 1-2.
2
Marcello Caetano.
3
João Pedro Ribeiro.
4
Alexandre Herculano.
5
Cfr. ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, Estudos de Cultura Portuguesa,
2002, p. 54, nota 34.
6
FIGUEIREDO, “Memoria sobre qual foi a época certa da introdução do Direito de Justiniano em Portu-
gal”, p. 299.
7
Relação dos Jurisconsultos Portuguezes que florescerão em Portugal desde quando começou a codificar-
se a legislação patria até a epocha da independencia do Brazil, in Auxiliar Jurídico apêndice às Ordenações
Filipinas, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1985, vol. II, p. 771 («fac-simile» da edição feita por Can-
dido Mendes de Almeida, Rio de Janeiro, 1870).
8
HOMEM, O Desembargo Régio, p. 346 e notas de pp. 442 e 443.
9
CAETANO, História do Direito, p. 531, nota 3.
HOMEM, O Desembargo Régio, p. 346.
10
Ordenações Afonsinas, Livro IV, Título 2, § 11, p. 37.

105
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

mês seguinte (dia 6), em Évora, promulga a ordenação sobre as armas dos judeus[1]. No
dia 3 de Maio, em Lisboa, El-rei mandou-lhe publicar a lei de como o arrabi mor dos
judeus e os outros arrabis devem de usar de suas jurisdições[2].
Maior controvérsia pode suscitar a data apontada para a cessação de funções
ou para a sua morte – que é da máxima conveniência para entender o processo de
compilação das Afonsinas. Guiados pela afirmativa do proémio do livro I das Afonsinas –
“e porque se o dito Corregedor logo finou a poucos dias, nom as pode acabar” – durante muito
tempo pensou-se que João Mendes teria morrido no início do reinado de D. Duarte,
muito provavelmente, ainda no ano de 1433[3]. O primeiro investigador a deparar-se
com um documento posterior (de 2 de Maio de 1434)[4] deve ter sido Carvalho Homem,
no entanto, manteve que “transitando de reinado (…) pouco mais, contudo, terá vivido”,
continuando a apontar a data de 1433 como o fim da sua carreira[5]. Luís Miguel Duarte
chega a alvitrar que a anotação no fólio 251v das Ordenações de D. Duarte – “deus ssit
beneditus. a 24 de setenbro 1436” – fosse a data do falecimento de João Mendes[6], mas
sem qualquer comprovativo e até parece pouco seguro ao afirmar, na página seguinte,
que tinha morrido pouco depois da subida ao trono de D. Duarte (na pág. 94 deixara
consignado que João Mendes morreu em 1433) e mais à frente, desaparecido por volta de
1434[7]. Por sua vez, Judite de Freitas, não hesita e vai mais longe, colocando a carreira
deste magistrado entre os anos de 1402 e 1437[8] e a sua morte em 1440. Neste ano de 37,
a 15 de Dezembro, João Mendes teria promovido ao ofício de escrivão de corregedor da
corte o seu sobrinho Martins Afonso. Para além de que, bastante longe da suposta data
apontada para a sua morte (1433), segundo apurou a autora, teria subscrito dezoito
cartas em 1434, doze em 1435 e duas em 1437[9].
Perante tão avultados dados, carreados por Judite de Freitas, ficou liminarmente
revogada a tese de que João Mendes teria falecido nos primeiros anos do reinado de D.
Duarte. O eco, em trabalhos do âmbito, não se fez esperar. Carvalho Homem apadrinha,
cabalmente, as achegas de Judite de Freitas, concluindo que a sua substituição por Rui
Fernandes se não deveu à sua morte, mas antes à velhice e reforma (parcial?)[10]. É
óbvio que o conselheiro desta derradeira cautela foram o proémio das Afonsinas[11] e o

1
Ordenações Afonsinas, Livro II, Título 75, § 3, p. 453. (Nesta ordenação parece o seu nome completo, João
Mendes de Góis)
2
Ordenações Afonsinas, Livro II, Título 81, § 37, p. 491.
3
CAETANO, História do Direito, p. 541.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 39, pp. 290-292.
5
HOMEM, O Desembargo Régio, p. 346.
6
Eduardo Borges Nunes, na “Nota Prévia de Codicologia e Textologia” às Ordenações de D. Duarte, p. XXIX,
entende antes que a anotação foi lançada por “um dos copistas, em fim de tarefa, cansado, grato a Deus e um
pouco orgulhoso”.
7
DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 113, 114 e 119, respectivamente.
8
A sua dissertação é a continuidade “para o período cronologicamente precedente”, estudado por Carvalho
Homem, daí o avanço no terminus ad quem.
9
FREITAS, A Burocracia do “Eloquente”, p. 120.
10
HOMEM, “Législation et compilation législative”, p. 678, nota 39: “En réalité, João Mendes a survécu à
Edouard: sa mort n’est attestée que dans les années 1440, e il participe encore ao gouvernement juste après 1438
(renseignements donnés par Judite GONÇALVES DE FREITAS)”
Idem, “Estado Moderno e Legislação régia”, p. 120, n. 40: “Na realidade, João Mendes terá sobrevivido a D.
Duarte: a sua morte só se verifica nos alvores da década de 1440, e terá ainda alguma participação nas tarefas da buro-
cracia nos primeiros tempos post-1438 (informações de Judite Gonçalves de Freitas). A sua substituição nos trabalhos
da recolha não é portanto consequência de óbito, mas de velhice, retirada (parcial) ou eventual ‘ultrapassagem’ no seio
da sociedade política”.
11
“e portanto o dito Senhor Rey [D. Duarte] as encomendou ao Doutor Ruy Fernandes do seu Conselho, teendo

106
José Domingues

final (§ 31) do título 119 do livro V[1], que proclamam a muda de compilador ainda no
reinado do Eloquente. Ou seja, sabendo de antemão que Rui Fernandes foi investido
ainda durante o reinado de D. Duarte, ao concluir que João Mendes sobreviveu a este
monarca, Carvalho Homem é forçado a arranjar uma solução alternativa (o proémio
das Afonsinas consigna, terminantemente, o falecimento de João Mendes) para a
substituição do compilador das Ordenações – a aposentação de João Mendes.
Martim de Albuquerque aproveita a reedição do seu artigo sobre as Afonsinas e o
Infante D. Pedro para solidificar a sua tese com base nos novos elementos – início dos
trabalhos em 1418 – trazidos à colação por Carvalho Homem:

“De acordo com os elementos trazidos à colação pelo Prof. Carvalho Homem,
o período de cometimento das Ordenações Afonsinas a João Mendes aumentaria
ainda vários anos. Ou seja, em termos cronológicos o corregedor haveria trabalhado
num espaço temporal mais alargado que o doutor Rui Fernandes ou, à la limite, muito
aproximado”[2]

Mas, por outro lado, levanta uma séria interrogação à ideia, em risco de alastrar,
de que João Mendes teria morrido depois do rei D. Duarte: “Sobreviveu, todavia, o
Corregedor João Mendes a D. Duarte? Apesar dos dados apurados por Judite de Freitas (…)
permitimo-nos uma resposta dubitativa, senão mesmo negativa”[3]. Começa por salientar
que a autora não é decisiva quanto ao ano do falecimento (1440) de João Mendes. O
que estaria, antes de mais, em contra-senso com o documento que a própria autora
regista como “uma carta subscrita por João Afonso, corregedor da Corte, provido ao ofício
no final do ano de 1437 por morte de João Mendes, seu antecessor”, mas também com os
documentos mais antigos da sua biografia – três do ano de 1435 e um, interrogado, de
15 de Dezembro de 1437[4].
Efectivamente, Judite de Freitas, na biografia de João Mendes, em nota de rodapé
deixou consignado: “a sua morte terá ocorrido por volta de 1440” e em nota que remete
para a sua biografia “(João Mendes, m. por volta de 1440)”[5]. No entanto, em nota anterior
ao quadro das cartas subscritas pelo Corregedor da Corte ou seu “logo teente”, refere
uma subscrita por “João Afonso, Corregedor da Corte, provido ao ofício no final do ano
de 1437 por morte de João Mendes, seu antecessor” e ao tratar a biografia deste corregedor
da corte repete, “é o único oficial integrado tão tardiamente no Desembargo eduardino.
Pensámos que tal ocorrera devido à morte de João Mendes em finais do ano de 1437”[6].
Para além disso, a nota que, na sua dissertação de mestrado em História Medieval

gram desejo, que em seus dias fossem acabadas; e porque a Deos prouve regnar pouco, o mui Eixcellen-
te, e Poderoso Princepy ElRey Dom Affonso seu filho seendo ao tempo, que começou a regnar, moço de
idade de sete annos, o Reigno todo juntamente em Cortes Geraes enlegeo, e confirmou por seu Tetor, e
Curador, Regedor, e Defensor por elle em seus Regnos o Famoso, e Virtuoso Princepy Ifante Dom Pedro
Duque de Coimbra, e Senhor de Montemoor seu muito amado, e prezado Tio, o qual logo em começo de
seu Regimento mandou ao dito Doutor, que proseguisse a dita obra quanto bem podesse, e nom alçasse della mãao
por nenhuum caso, ataa que com a graça de Deos a posesse em boa perfeiçom”.
1
“Foi acabada esta obra (…) per o Doutor Ruy Fernandes (…) ao qual foi primeiramente encommendada pelo
muito Alto Princepy, e muito excellente Senhor Rey Dom Eduarte seu padre, de louvada e famosa memoria, e despois
de seu falicimento pelo muito famoso Princepy, e magnifico Senhor Ifante Dom Pedro (…) em nome do dito Senhor
Rey Dom Affonso nosso Senhor”.
2
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 60.
3
Idem, p. 61.
4
Idem, p. 61-62.
5
FREITAS, A Burocracia do “Eloquente”, p. 191, nota 174 e p. 99, nota 89.
6
Idem, p. 122, nota 5 e p. 188, nota 149.

107
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 1991, correspondente


à nota 174, da edição de 1996, refere os finais do ano de 1437 para a morte de João
Mendes[1]. Por isso, ou se trata de um lapso ou então, entre 1991 e 1996, surgiram-lhe
novos dados, que se esqueceu de adicionar. Pode tratar-se de mero lapso, no entanto,
não deixa de ser curioso que Carvalho Homem, orientador científico da investigação
e prefaciador da obra, tenha, logo a seguir, assentido no ano de 1440[2]. Mero lapso ou
informação inédita posterior? Os intervenientes ainda o podem deliberar[3].
Por outro lado, para Martim de Albuquerque, parece que os números nem sempre
falam por si, tornando-se indispensável interpretá-los para adquirirem sentido e
significado. Para tanto, destaca a falta de coincidência destes dados documentais com
o proémio das Afonsinas, que transcreve, acabando por concluir:

“Sabido que D. Duarte entrou a reinar em 14 de Agosto de 1433, a ser verdadei-


ro o quanto consta do passo transcrito, parece difícil aceitar que ao Corregedor João
Mendes se refiram documentos passados dois ou mais anos depois e menos ainda que ele
haja sobrevivido a D. Duarte. Aliás, no documento de 17 de Agosto de 1435, referido por
Judite Gonçalves de Freitas, João Mendes vem como «escolar em leis, vassalo e corregedor
por El Rei na correição da Estremadura e pela rainha em suas terras», o que parece pou-
co consentâneo com a qualidade que já há muito tinha de corregedor na corte e de
compilador das Ordenações.
Todos os documentos sobre João Mendes colacionados pela autora referir-se-ão a
uma só pessoa?”[4]

Quer dizer, tendo em conta a informação das Afonsinas, para Martim de


Albuquerque ainda são aceitáveis os documentos do ano de 1434 (e, contas bem feitas,
os do ano de 1435 até 14 de Agosto), mas os subsequentes é que não. Passemos então
a uma análise mais detalhada.
Nos finais do ano de 1434 (21 de Dezembro), na carta de perdão a Fernão Martins,
consta “El Rei o mandou per Johane Meendez corregedor da sua corte”[5]. Para o ano
imediato de 1435, Judite de Freitas, refere 12 documentos subscritos por João Mendes,
mas ao tratar a sua biografia só menciona três, dando jus à pergunta de Albuquerque.
Dos três, os que identificam João Mendes como corregedor da Estremadura referem‑se,
de certeza, a outra personalidade homónima do compilador afonsino. Não parece
praticável, e seria no mínimo insólito, que a mesma pessoa ocupe, em simultâneo, as
duas corregedorias (da corte e de comarca). No documento do dia 8 de Janeiro, que
confirma as coutadas de umas herdades em Évora, em Vale de Maria e Santa Margarida,
refere-se expressamente “Johane meendez corregedor que ora he na estremadura”[6]; Por sua
vez, o documento de 17 de Agosto é uma confirmação que “Johane meendez escolar
Em lex bassalo del Rey E corregedor por ell Em a correiçom da Estremadura e por a Raynha
nas suas terras” fez, em Coimbra, da carta de D. Duarte (outorgada em Évora, no dia

1
FREITAS, A Burocracia do “Eloquente”, Porto, 1991, p. 86, nota 7 (Dactilografado).
2
Cfr. nota supra n.º 234.
3
Após a conclusão deste capítulo de tese, Judite de Freitas publica mais um trabalho onde, sem qualquer
resposta à análise crítica de Albuquerque, reitera a data – “João Mendes (1402-1440)” [Judite A. Gonçalves
de FREITAS, “Tradição legal, codificação e práticas institucionais: um relance pelo Poder Régio no Portu-
gal de Quatrocentos”, Revista da Faculdade de Letras História, Porto, III Série, vol. 7, 2006, p. 51, nota 2].
4
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 61-63.
5
Documentos das Chancelarias Reais anteriores a 1531, relativos a Marrocos, Doc. 28.
6
Chancelarias Portuguesas. D. Duarte, vol. I, Tomo 2, doc. 719, pp. 11-12.

108
José Domingues

03 de Maio de 1435) sobre o privilégio de isenção de aposentadoria ao mosteiro de


Santa Cruz de Coimbra, apresentada pelo prior do mosteiro, Vasco Gil[1].
Mas existem outros testemunhos para este homónimo: em documento, de 1435,
refere-se João Mendes como corregedor de Comarca[2]; a carta de 27 de Novembro de
1437, que integrou o concelho de Gaia na comarca e correição de Entre-Douro-e-Minho,
desmembrando-o da Estremadura, é dirigida ao corregedor da Estremadura, João
Mendes[3]; em alvará de 1 de Maio de 1439 (Almada), que dá licença a Gil Fernandes,
escudeiro do infante D. Henrique, para, durante dois anos, pôr substituto em seu ofício
de chanceler da correição, o corregedor de Entre-Tejo-e-Guadiana é também um João
Mendes[4]; e em documento do início de 1444 (26 de Janeiro), aparece, outra vez, João
Mendes como corregedor da comarca de Entre-Tejo-e-Guadiana[5]. Desta forma, a
única hipótese que me parece plausível é que este João Mendes, que surge na comarca
da Estremadura e depois transita para a de Entre-Tejo-e-Guadiana, seja um corregedor
de comarca e uma personagem distinta do nosso corregedor da corte. Neste aspecto,
fica autorizada a dubitativa ou negativa de Albuquerque, caso contrário, começar-se-ia a
correr o risco de cair num completo exagero e estender a actividade burocrática de João
Mendes até ao ano de 1444, com mais de quarenta anos de carreira.
Assim sendo, dos três documentos referidos por Judite de Freitas para o ano
de 1435, só um se pode consignar ao corregedor da corte, João Mendes. Trata-se do
documento do dia 9 (melhor, dia 20 – é este o dia registado na publicação da Chancelaria
de D. Duarte) de Março, pelo qual é legitimada Inês Mendes filha de “Johane Meendez
Corregedor da nossa corte”[6]. Esta legitimação pode ter sido ditada pela enfermidade e,
consequente, presságio de aproximação da sua morte.
Que o corregedor estava doente no início deste ano ficou explicitamente consignado
em diploma de 19 de Janeiro de 1435: “E porquanto ha dada desta carta ho corregedor era
doente pasou per lujs martjnz se(sic) vasallo E do seu desenbargo”[7]. Daí que, ao longo deste
ano de 35, nos surja substituído pelos seus “logo teentes”. Para além do documento
supra, surge um Luís Afonso como “logo teente” do corregedor da corte em documento
de 29 de Junho de 1435[8].Outro substituto, Gil Ferreira, aparece como “logo teente” em
documento de 28 de Junho de 1435 e em documento do dia 10 de Julho de 1435[9].
Mesmo assim, a sua actividade como corregedor da corte está documentada para
este ano de 1435. No dia 28 de Abril subscreve a carta de confirmação do escolar João
Afonso para procurador do número da vila de Ponte de Lima[10]. Outros diplomas se
poderão coligir, mas os objectivos deste trabalho não passam pela sua inventariação
exaustiva, apenas nos importa aferir e registar que em 1435 João Mendes ainda estava
vivo e em exercício de funções.

1
Saúl António GOMES, Documentos Medievais de Santa Cruz de Coimbra. I – Arquivo Nacional da Torre
do Tombo, sep. de Estudos Medievais, Porto, 1988, doc. 91, pp. 180-182.
Nesta confirmação ainda consta o selo de chapa da correição da Estremadura no verso [GOMES, idem, p.
182] e nessa data a corte estava bastante afastada de Coimbra. Em 17 de Agosto de 1435 a corte estava no
mosteiro de Alcobaça [Humberto Baquero MORENO, Itinerários de El-Rei D. Duarte (1433-1438), Academia
Portuguesa de História, Lisboa, 1976, p. 78].
2
Chancelarias Portuguesas. D. Duarte, vol. III, doc. 271, p. 175.
3
Corpus Codicum, vol. I, p. 141.
Corpus Codicum, vol. IV, pp. 15-16.
4
Monumenta Henriquina, Coimbra, 1964, vol. 6, doc. 123, p. 307.
5
DUARTE, Justiça e Criminalidade, doc. 12, p. 576.
6
Chancelarias Portuguesas. D. Duarte, vol. III, doc. 677, p. 504.
7
Idem, doc. 269, p. 173
8
FREITAS, A Burocracia do “Eloquente”, p. 194.
9
Chancelarias Portuguesas. D. Duarte, vol. III, doc. 539, p. 389; e doc. 614, p. 448.
10
Chartularium Universitatis Portugalensis, vol. IV, p. 83.

109
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

De qualquer forma, para que não faça confusão, alerte-se que o documento
outorgado em Évora aos “xxx dias de dezenbro el rrej o mandou per Johane meendez
Corregedor da sua corte Rodrigo annes scpriuam por filipe afomso a fez Era iiijc xxxb”, é
do ano de 1434. Trata-se de uma prática confirmada, por Braamcamp Freire, para a
Chancelaria de D. Afonso V: “é certo que os escrivães da Cancellaria de D. Afonso V datavam
quasi sempre os documentos pelo anno do Nascimento, à risca, começando por tanto o novo anno
a 25 de Dezembro”[1]. Anastácio de Figueiredo, muito antes, também se apercebeu deste
pormenor – “os nossos Taballiães e Escrivães antigamente (…) principiavão a contar o
Anno do Nacimento de Nosso Senhor Jesu Christo (…) do dia 25 de Dezembro”[2]. No
seguimento desta prática, o documento de 30 de Dezembro foi registado sob a era de
1435, mas terá que reportar-se ao ano de 1434.
Para o ano subsequente de 1436 a investigadora não assinala qualquer documento
subscrito por João Mendes[3], sem ensaiar qualquer justificação para tal lapso, apesar de
ter colocado o terminus da sua carreira em 1437. A resposta a esta irregularidade consta
da carta que João Mendes dirige ao rei D. Duarte, dando-lhe conta dos dinheiros que os
meirinhos hão de cobrar, em que lugares e de que pessoas, escrita em Santarém, aos 26
dias de Dezembro de 1435[4]. Neste documento, o próprio refere que está fora da corte.
Este facto, por si só, permite supor tratar-se do nosso personagem – apesar de não lhe
identificar o ofício – também confirmado pelo âmbito legislativo da matéria tratada.
Neste ponto, fazendo um sucinto apanhado, estou convicto que João Mendes durante
o ano de 1435, apesar de idade avançada e adoentado, ainda desempenha as funções de
corregedor, estando afastado da corte no final desse ano e no seguinte, mas ainda vivo.
Há falta de documentos para o ano de 1436, passemos à análise dos documentos de 1437,
continuando a seguir as indicações de Judite de Freitas e o raciocínio de Albuquerque,
que, apesar de tudo, começa a ficar deslocado da conjuntura documental.
Na biografia de João Mendes, Judite Antonieta, apenas assenta o documento de 15
de Dezembro de 1437 e, sublinha Albuquerque, interrogado. Trata-se do documento
que promove ao ofício de escrivão do corregedor da corte, um seu sobrinho, Martim
Afonso[5]. Tratando-se do ano limite do exercício de funções seria aconselhável arrolar os
dois monumentos subscritos por João Mendes, sobretudo, quando se suscitam dúvidas
de datação. Ou será que o outro documento é o – previamente assentado pela autora
– que a 12 de Dezembro de 1437 já o dá como morto?[6] Mas se o refere como morto
não podia, seguramente, subscrever o documento. Quais são então os dois documentos
subscritos por João Mendes em 1437? Outro dilema que fica por conta da autora[7].
Posto isto, os dois supostos documentos subscritos por João Mendes parecem ser
– julgo eu – os acima identificados, o que, por outro lado, vem justificar a interrogação,
interposta por Judite de Freitas, ao documento do dia 15 – é que este documento,
para além de ter uma letra da data riscada, aparece três dias depois daquele que,
peremptoriamente, declara João Mendes como morto[8]. Por outras palavras, se no

1
Braamcamp FREIRE, “A Chancellaria de D. Afonso V”, Archivo Historico Portuguez, Lisboa, 1904, vol. II, p. 486.
2
FIGUEIREDO, Synopsis Chronologica, p. 135, nota a).
3
Cfr. o quadro V em FREITAS, A Burocracia do “Eloquente”, p. 120.
4
Ordenações de D. Duarte, pp. 639-640
5
FREITAS, A Burocracia do “Eloquente”, p. 191.
6
Idem, p. 188.
7
Outra chamada de atenção, feita por Martim de Albuquerque, e com razão, é que no quadro de subscrito-
res de cartas o total de João Mendes é de 33 e não 34. No entanto, na actividade como redactor de diplomas,
aparece, novamente 34, mas agora a conta está certa [cfr. FREITAS, A Burocracia do “Eloquente”, p.192]. Ou-
tro descuido, neste trabalho, susceptível de originar algum equívoco, é o que responsabiliza Rui Fernandes
na elaboração “dos livros II e V”, em vez de “dos livros II a V” [idem, p. 211].
8
Mais um motivo para acreditar que a autora pretendeu estabelecer como ano da morte de João Mendes o

110
José Domingues

documento do dia 12 ele é dado como morto, nunca poderia subscrever um documento
redigido três dias depois – a não ser que exista algum lapso, nomeadamente de datação.
Partindo deste último pressuposto, nota-se que o documento está datado, em Évora[1],
aos “xb dias de dezenbro pello dicto Corregedor (…) Era de mjll E iiijc e xxxiiijº [riscado: «b»]
annos”. O que quer dizer que este documento é, efectivamente, do ano de 1434[2] e não
de 1437[3]; e os dois documentos arrolados não servem para estabelecer o terminus ad
quem da carreira de João Mendes, mas apenas um pode testificar que, em finais de
1437, já era falecido.
Mesmo considerando lapso tipográfico o ano de 1440[4], Judite de Freitas não
apresenta qualquer documento seguro para colocar o múnus de João Mendes até ao
final de 1437; Martim de Albuquerque, por sua vez, sobeja-lhe a razão ao contestar a
sobrevivência de João Mendes ao monarca D. Duarte, no entanto, também se equivoca
ao estabelecer o limite de dois anos, a contar a partir do início do reinado de D. Duarte,
para a morte de João Mendes. Definitivamente, há um documento que, mesmo assim,
refere João Mendes em 1437. Trata-se da confirmação de 18 de Fevereiro de 1437, que
fez o concelho de Elvas, de um aforamento de um chão a mestre João – “el rrey o
mandou per Johane meendez Corregedor da sua corte”[5]. Quer isto dizer que nesta data
João Mendes ainda era vivo e corregedor da corte de D. Duarte.
No entanto, outro documento credor de toda a fiabilidade, ainda se não enquadra
nos terminus apurados para a morte e cessação de funções de João Mendes. A asser-
ção do proémio das Afonsinas – “e porque se o dito Corregedor logo finou a poucos dias”
– não é consentânea, a meu ver, sequer com os dois anos propostos por Martim de
Albuquerque. Será que o autor do proémio nos pretendeu induzir em erro? Não o creio,
falta-lhe o móbil.
Não há dúvida que se trata de um pequeno texto, da autoria de Rui Fernandes,
demasiado lacónico para traduzir, com rigor, a faraónica tarefa de compilação das leis
do reino. Sendo, por isso, passível do levantamento das arquiquestões que se arrastam
há séculos, persistindo às inclemências da investigação aguçada, até à actualidade. O
escopo final será, sempre, o de decifrar a mensagem que o seu autor nos pretendeu
transmitir, ou seja, o de interpretar a letra de acordo com a vontade e o espírito do seu
autor – que nos leva à, em direito, chamada interpretação extensiva[6]. O cruzamento
das palavras escritas no proémio revelam um álgido desacerto com o testemunho da
documentação coetânea[7]. Então, será que estamos a fazer a interpretação correcta da
mensagem de Rui Fernandes?

de 1437 e não o de 1440.


1
Sendo certo que desde 12 a 23 de Dezembro, desse ano, a corte estanciou em Torres Novas [MORENO,
Itinerários de El-Rei D. Duarte, p. 102].
2
Efectivamente, neste ano, a corte esteve em Évora praticamente durante todo o mês de Dezembro [MO-
RENO, Itinerários de El-Rei D. Duarte, pp. 64-66].
3
Chancelarias Portuguesas. D. Duarte, vol. III, doc. 602, p. 434. Para o facto de primeiro se ter escrito «b» e
depois se ter corrigido para «iiij», veja-se o que ficou dito a propósito de se iniciar a contagem do ano a
partir do dia 25 de Dezembro.
4
Seria este lapso impulsionado pela datação do documento de 15 de Dezembro – “xb dias de dezenbro pello
dicto Corregedor (…) Era de mjll E iiijc e xxxiiijº [riscado: «b»] annos”? Se não for subtraído o “b” o documento
passa a ser data de finais de 1439.
5
Chancelarias Portuguesas. D. Duarte, vol. I, Tomo 2, doc. 1216, pp. 425-426.
6
Quando a letra da lei está aquém do espírito do legislador.
7
Teremos, então, que partir para uma interpretação sistemática. A interpretação deve ser feita de acordo
com todo o sistema jurídico em que a norma se insere. O mesmo acontece na interpretação de um parágrafo
de um livro, cujo verdadeiro sentido só poderá retirar-se quando se considere a obra na sua totalidade.

111
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Para começar, tem-se utilizado o texto das Afonsinas impresso – pela primeira
vez, pela Universidade de Coimbra em 1792 e, em fac-simile, pela Fundação
Calouste Gulbenkian. Como é sobejamente sabido, os impressores setecentistas
pontuaram o texto de acordo com a normativa da sua época[1] – ora, “pontuar um texto
é já interpretá‑lo”[2]. Não podemos esquecer que estamos perante um texto do século
XV, ficando, por isso, legitimadas as incertezas que a prova dos documentos desta
centúria vem, agora, levantar.
No original não há qualquer pontuação da frase que nos interessa, mas, pelo
entendimento do século XVIII, o texto deveria ser pontuado da seguinte forma:

“E depois de seu [D. João I] falecimento regnou o Mui Alto, e Mui Virtuoso Princepy
ElRey Dom Eduarte (…) o qual encomendou a dita Obra ao dito Corregedor (…) e
porque se o dito Corregedor logo finou a poucos dias, nom as pôde acabar”[3]

Esta pontuação induz, em contra-senso com o gizado pela análise da documenta-


ção coeva remanescente, que João Mendes teria morrido poucos dias depois do início
do reinado de D. Duarte (14 de Agosto de 1433). Mas se alterarmos a localização da
vírgula na frase sublinhada o sentido pode ser outro, bem diferente:

“E depois de seu [D. João I] falecimento regnou o Mui Alto e Mui Virtuoso Princepy
ElRey Dom Eduarte (…) o qual encomendou a dita Obra ao dito Corregedor (…) e
porque se o dito Corregedor logo finou, a poucos dias nom as pôde acabar”[4]

Com esta pontuação, parece claro que o que Rui Fernandes nos pretendeu trans-
mitir é que o seu antecessor, João Mendes, faleceu poucos dias antes de ter terminado
a sua obra e não pouco dias depois de o Elouquente ter começado a governar. Aliás,
levando em conta a morosidade desta empreitada, penso que seria uma redundância
dizer que o comissário faleceu poucos dias depois da incumbência e, em simultâneo,
que a não pode terminar. Quando muito, poder-se-ia dizer que a tinha iniciado.
Não há dúvida que em 1437 João Mendes ainda era o corregedor da corte, mas
para o ano seguinte de 1438 a documentação refere como seu substituto o dito João
Afonso, escolar em leis. O documento de 29 de Novembro de 1438, em Torres Novas,
“ElRey o mandou per Joham afomso escolar em leis e corregedor na sua corte”[5]. Outro
documento, da mesma data e local, confirmando os foros e privilégios do Porto, “Joham
afomso escollar em leis seu uasallo e Corregedor na sua corte”[6].
Outra questão diferente, mas de extrema relevância, é a da sua substituição por
Rui Fernandes. O enunciado do proémio do livro I, pela sua laconicidade, tem que

1
“a pontuação é variada, lógica e numerosa, numa obediência quase total à gramática dos finais de Setecentos e em
pleno contraste com a volúvel ortografia quatrocentista” [NUNES, “Os Manuscritos das Ordenações Afonsinas
e a Edição de 1792”, Ordenações Afonsinas, Liv. I, p. 20].
2
José de Azevedo FERREIRA, “Uma edição do Fuero Real de Afonso X”, Estudos de História da Língua
Portuguesa, Obra Dispersa, Colecção Poliedro 7, Universidade do Minho, Centro de Estudos Humanísticos,
2001, p. 45. Cfr. também José de Azevedo FERREIRA, “La ponctuation dans les textes médievaux”, Estudos
de História da Língua Portuguesa, Obra Dispersa, Colecção Poliedro 7, Universidade do Minho, Centro de
Estudos Humanísticos, 2001, pp. 255-287.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Início, pp. 1-2.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Início, pp. 1-2.
5
Viseu, AD – Perg. 58.
6
Chartularium Universitatis Portugalensis, vol. IV, p. 209.

112
José Domingues

ser utilizado com muita cautela, mas, desafortunadamente, continua a ser o único
substrato documental de recurso, uma vez que nenhum dos outros copiosos diplomas
inventariados, até à data, nos permite sequer supor – à semelhança do que acontece com
João das Regras – a ligação de João Mendes à compilação pátria e a sua substituição por
Rui Fernandes. Não há dúvida que essa substituição foi feita dentro dos cinco anos do
reinado de D. Duarte, conforme aventa Martim de Albuquerque, e o aconselha toda a
documentação, inclusive o proémio das Afonsinas e o final do seu livro V. Mas entendo
que se pode estreitar esse espaço temporal. Vejamos, primeiro, o que diz o documento:

“e porque se o dito Corregedor logo finou, a poucos dias nom as pôde acabar, e por
tanto o dito Senhor Rey as encomendou ao Doutor Ruy Fernandes”[1]

A letra do documento refere expressamente a morte de João Mendes para motivo


da substituição e se, realmente, esse passamento se deu ainda no reinado de D. Duarte,
não vejo razão para se alvitrar outra hipótese. No entanto, ao fim de tantos anos de
carreira, a aposentação de João Mendes não é ocorrência descabida de todo. Só que,
como qualquer facto histórico, necessita de algum suporte documental e não pode ser
gratuitamente conjecturado para servir de fundamento a outro facto, que, ainda por
cima, acabou por se revelar inexacto (a morte de João Mendes em 1440). No documento
de 26 de Dezembro de 1435 é o próprio João Mendes que refere, “alguuns que como
Eu ssom fora da corte”[2], dando azo a uma plausível reforma. Mas este afastamento
da burocracia da corte também pode ter sido ditado pela premência de terminar a
compilação das leis – tal como irá acontecer com o seu sucessor, Rui Fernandes. Por
isso, se está documentado que o motivo da substituição foi a morte de João Mendes só
temos, até prova em contrário, que o aceitar.
Até porque, nos termo do documento de 26 de Dezembro de 1435, o monarca
escreve a João Mendes, solicitando-lhe informações em matéria legislativa – em concreto
sobre “os dinheiros que o meirinho ha d’auer E de que lugares E de que pesoas”. João Mendes
estava em Santarém e tem acesso privilegiado a normativos jurídicos – nomeadamente
ao regimento do meirinho-mor, de 1421, transcrito a seguir à sua missiva[3]. Podem
conjecturar-se múltiplas razões para este pedido régio a João Mendes, nomeadamente
o ser um prático do Direito, mas será que, mesmo depois de afastado da corte, não
continuou a trabalhar nas Ordenações do Reino? É certo que estava velho e cansado,
vindo a morrer em breve, mas continuava a ser dos letrados do reino com melhor
conhecimento das Ordenações, em que trabalhava há quase 20 anos, pelo menos[4].
Em definitivo, não vejo razão para que a troca de compilador (e também de
corregedor da corte) se tenha dado antes da morte de João Mendes[5], antes pelo
contrário, o facto de no proémio (e no documento arrolado por Judite de Freitas) estar
assim consignado não deixa alternativa. Se o motivo da substituição foi a morte de
João Mendes, se esta substituição foi no reinado de D. Duarte, então essa morte teve
que ocorrer ainda no decurso deste reinado. Como acima ficou demonstrado, a morte

1
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Início, pp. 1-2.
2
Ordenações de D. Duarte, p. 640.
3
Ordenações de D. Duarte, pp. 640-642
4
Partindo da sugestão do início dos trabalhos no ano de 1418, avançada por Carvalho Homem.
5
Para Judite de Freitas “Designado por D. João I para a responsável tarefa de compilação e organização
das leis do Reino, o corregedor, João Mendes, manteve-se ligado a essas actividades até à sua morte” [FREITAS,
A Burocracia do “Eloquente”, p. 71, nota 22]. Mais um indício de que o ano de 1440, para a morte de João
Mendes, não tem qualquer cabimento.

113
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

terá ocorrido durante o ano de 1437, por isso, acredito que tenha sido nesse mesmo
ano que D. Duarte encomendou a continuidade da obra a Rui Fernandes e nomeou
João Afonso para corregedor da corte. Desta forma também fica infirmada a tese que
adjudica a inscrição fúnebre das Ordenações de D. Duarte ao compilador João Mendes
e, sobretudo, não se deve confundir este corregedor da corte com o seu homónimo
corregedor de comarca.
Chegou o momento de responder à pergunta com que terminei o título anterior:
o que sobeja para o trabalho de João Mendes? Ou seja, se adjudicarmos os cinco livros das
Ordenações Afonsinas a Rui Fernandes, qual a parte feita por João Mendes?
Em face da falta de elementos documentais concretos, qualquer resposta peremp-
tória seria precipitada. Ao certo pode-se aventar que este corregedor trabalhou na
compilação das ordenações no reinado de D. João I (provavelmente entre 1418 e 1427)
e durante o reinado de D. Duarte até à sua morte (desde cerca de 1433/34 até 1437)
Posto isto, será lícito adjudicar-lhe a paternidade de algum ou alguns dos Livros
de Ordenações assiduamente referidos na documentação da primeira metade do
século XV (até 1446, que são concluídas as Afonsinas). Ou seja, João Mendes, não só
coligiu materiais, como os deve ter organizado (cronologicamente, por reinados)
em colectâneas próprias que, em seu tempo, vigoraram[1], e, posteriormente, foram
utilizadas por Rui Fernandes para sistematizar os cinco livros das Afonsinas. De
qualquer forma a morte surpreendeu-o antes de concluir o seu trabalho final, que nunca
chegou a vigorar – deste não temos qualquer indício. Ou seja, partindo do pressuposto
que existiram várias fases de compilação, é natural que João Mendes tenha concluído
algun(s) livro(s) de ordenações, mas o seu contributo preciso para as Afonsinas é, neste
momento, demasiado obscuro.
No espaço temporal de cerca de 4 anos (1433-1437) é natural que João Mendes
tenha avançado bastante na prossecução das Ordenações – é o próprio sucessor que
confessa que “a poucos dias nom as pôde acabar”[2] – mas é praticamente impossível
destrinçar o seu labor. Existe ainda a possibilidade (que não me parece remota) de
Fernandes, ao ser incumbido da tarefa, ter mudado completamente o rumo da obra.
Desta forma, a obra de João Mendes ficaria destituída, mesmo antes de entrar em vigor,
desaparecendo nas agruras do tempo.
Para além da colectânea oficial do reino, este corregedor da corte, em tempo de
D. João I, trabalhou na organização do direito local, elaborando regimentos específicos
para algumas cidades e vilas. Aos nossos dias chegou apenas o de Évora[3], que teria
sido comunicado a outras localidades vizinhas, como Arraiolos[4]. Um capítulo especial
apresentado pelo concelho de Coimbra, às Cortes de Évora de 1460, refere “o livro das
hordenaçõoes e posturas da cidade em que está todo o regimento da terra o qual comtem
em si muitas boas cousas e foy fecto per el rey dom Joham meu avoo per o corregedor Johane
Mendez e per todos os antiiguos e cidadãaos daquelle tempo”[5]. Qualquer tentativa
de ligação entre as duas tarefas é demasiado presumível, mas a verdade é que alguns
preceitos das Afonsinas, com poucas variantes, se encontram no regimento de Évora –

1
Neste âmbito não parece descabido (mas, mesmo assim, muito conjectural) conferir-lhe, tal como Caeta-
no, a feitura das Ordenações de D. Duarte.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Início, pp. 1-2.
3
PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora, 1ª Parte, Doc. LXXX, pp. 155-193.
4
Maria Ângela Rocha BEIRANTE, Évora na Idade Média, Fundação Calouste Gulbenkian, Junta Nacional de
Investigação Científica e Tecnológica, [1995], p. 665.
5
Maria Alegria Fernandes Marques MARQUES, “O poder concelhio em Portugal na baixa Idade Média”,
Revista Portuguesa de História, tomo 32, Coimbra, 1997-1998, pp. 27-32.

114
José Domingues

os títulos II a VII (excepto o título IV) do regimento têm correspondência com os títulos
26 a 30 do livro I das Ordenações Afonsinas.
A época aproximada desses regulamentos (sem data nas Afonsinas) poderá ser
matizada pela data crítica do regimento de Évora. Gabriel Pereira, na introdução à sua
publicação, teceu critérios e chegou à seguinte conclusão:

“Em resultado parece-nos poder affirmar que o regimento da cidade foi elaborado
por 1392; o que se encontra no liv. peq. de perg. é uma copia d’esse regimento,
com algumas interpolações, lavrada nos primeiros annos do sec. XV”[1]

Ângela Beirante persevera a inferência e a data de 1392 – “Redigido provavelmente


em 1392, conhecemo-lo através de uma cópia do início do século XV”[2]. No entanto,
nem todos os critérios de Gabriel Pereira são seguros[3]. Se, para o limite ad quem,
não há qualquer inconveniente em aceitar o ano de 1420 (em que o regimento foi
transmitido a Arraiolos) ou de 1415 (conquista de Ceuta), a partir do qual D. João I
agregou ao seu título de rei de Portugal e do Algarve o de Ceuta, o mesmo se não
pode dizer do limite a quo.
Antes de mais, João Mendes só é corregedor da corte a partir do ano de 1402,
estando o seu antecessor, Gil Eanes, documentado até 1401[4]. O Item, no regimento do
alcaide, para que “o alcaide ou carcereiro nom leve nem tome as roupas dos presos
que fogirem salvo se levarem ferramentas ou britarem alguas prisões paguemse per
esta roupa se as elles nom quiserem pagar”[5], foi reproduzido a partir de um capítulo
geral do povo das Cortes de Guimarães de 1401[6]. Por outro lado, em 1392 a corte
nunca esteve em Évora[7].Além do mais cita-se diversas vezes o Infante, que só pode
ser D. Duarte, infante D. Duarte, que “desde 1411 tem responsabilidades governativas e
oficiais próprios e desde 1413 ocupa o cargo de acessor para os assuntos do conselho, justiça
e fazenda”[8]. Assim sendo, o regimento da cidade de Évora parece ter sido elaborado
depois do ano de 1402, entre o ano de 1411 e o de 1420[9].
Do que não há qualquer dúvida é de que o regimento da cidade de Évora – com os
seus títulos do procurador do concelho, dos vereadores, dos almotacés, dos juízes e do alcaide
– é bastante anterior às Afonsinas e do punho de João Mendes. Esta circunstância vem
confirmar – alargando o número de exemplos – a ideia supra de que os regimentos do
livro I não foram feitos ex novo no reinado de D. Afonso V, contribuindo para esbater
a diferença de estilo redactorial entre o livro I e os restantes. Mas, por outro lado, põe
em causa a outra ideia clarificada de que o livro I é obra de Rui Fernandes e não de
João Mendes.

1
PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora, 1ª Parte, p. 157.
2
BEIRANTE, Évora na Idade Média, p. 665.
3
Embora não venha ao caso para apuramento da data do regimento, a figura do infante que Pereira iden-
tifica com D. Pedro, é, com certeza, a do infante D. Duarte.
4
HOMEM, O Desembargo Régio, p. 470.
5
PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora, 1ª Parte, Doc. LXXX, p.172.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 106.
7
Cfr. Humberto Baquero MORENO, Os Itinerários de el-rei Dom João I (1384-1433), Instituto de Cultura e
Língua Portuguesa, 1988.
8
Margarida Garcez VENTURA, Igreja e Poder no Séc. XV: Dinastia de Avis e Liberdades Eclesiásticas (1383‑1450),
Colibri História, 16, Edições Colibri, Lisboa, 1997.
9
Uma análise pormenorizada do tempo de ofício desempenhado por cada uma das individualidades refe-
ridas no título do regedor poderá aportar informações relevantes.

115
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Perante a viabilidade de João Mendes ter redigido estes títulos, torna-se plausível
que também tenha composto o livro I, uma vez que estava familiarizado com o estilo
legislatório. Desta forma, perde relevância o argumento de Martim de Albuquerque de
que “mal se compreende, de facto, que o livro I, redigido essencialmente em estilo legislatório
ou decretório, estilo imperativo, provenha da mão de um simples prático, enquanto o restantes
livros, de teor basicamente translatício das leis anteriores, de estilo compilatório se deveriam
atribuir ao Doutor em Direito”[1].
Apesar de enfraquecido este argumento[2], nada obsta aos restantes, por isso
continuo convencido que os cinco livros sejam obra de Rui Fernandes. Aliás, a falta de
registo no arquivo real e tendo em atenção que a propagação do regimento se faz de
localidade para localidade e não a partir da Chancelaria Régia, o que neste momento
me parece mais aceitável é que sendo produzidos como legislação municipal, estes
títulos foram, na reforma de Rui Fernandes, aproveitados e convertidos em legislação
geral[3]. Acima de tudo, parece estarmos perante uma situação concreta e documentada
do trabalho de João Mendes, aproveitado pelo seu sucessor para a obra final. Ou seja,
aos nossos dias chegaram poucas provas concretas do trabalho de João Mendes, mas
não há dúvida que ele foi proeminente, ao ponto de, pelo menos, ser bem conhecido e
respeitado por Rui Fernandes.
Rui Fernandes é outro funcionário régio de longa carreira (quase 40 anos e três
reinados – D. João I, D. Duarte e D. Afonso V), referido como Escolar em Leis entre os
anos de 1416 e 1425 e como Doutor a partir de 1428[4], a sua actuação está documentada
até 25 de Junho de 1455[5]. Este jurisperito é, sem dúvida, o derradeiro e capital
compilador das Afonsinas. Para além do proémio do livro I, que o coloca como sucessor
de João Mendes, o seu desempenho na compilação de direito pátrio está assegurado
pelo final do livro V:

“Foi acabada esta obra (…) per o Doutor Ruy Fernandes (…) ao qual foi
primeiramente encommendada pelo muito Alto Princepy, e muito excellente Senhor Rey
Dom Eduarte seu Padre, de louvada e famosa memoria, e depois de seu falicimento
pelo muito famoso Princepy, e magnifico Senhor Ifante Dom Pedro, Duque de Coimbra,
e Senhor de Monte Mor o Velho, em nome do dito Senhor Rey Dom Affonso nosso
Senhor, como seu Curador, e Regedor por elle de seus Regnos, e Senhorio”[6]

Apesar de estar documentado que o corregedor João Mendes não faleceu em 1433,
antes atingiu os finais do reinado de D. Duarte, parece incontroverso que nos cinco
livros das Afonsinas lateja a potestade do Doutor Rui Fernandes, ficando desarreigada a
crença de que um tenha composto o livro I e o outro os restantes quatro.
Sendo também certo que a contestação da designação das Afonsinas só terá sentido se
for colocada nos termos amenos do autorizado Herculano: “foi adoptado como codigo do
paiz pelo illustre regente, a quem verdadeiramente pertence a gloria de ter sido o Justiniano

1
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, pp. 54-55.
2
Não é uma evidência que tenha sido João Mendes o redactor desses títulos, há sempre a possibilidade de
se tratar de cópias para o regimento ou de ter apoio dos legistas da corte.
3
Não se trata de caso único: por exemplo, a ordenação, de 18 de Março de 1435, para que as bestas ven-
didas em Évora se não possam engeitar depois que a venda for feita e a besta entregue ao comprador, foi
compilada no título 22 do livro IV.
4
HOMEM, O Desembargo Régio, p. 381.
5
MORENO, A Batalha de Alfarrobeira, vol. II, p. 808.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 119, § 31, pp. 404-405.

116
José Domingues

portuguez, embora ao nome do seu tutelado, Affonso V, ainda então na puericia, se ligue
o facto da promulgação do primeiro codigo nacional”[1]. Nesta linha de pensamento,
penso que Albuquerque, embora ocasionalmente, acerta em cheio ao tributar a obra das
Afonsinas ao infante D. Pedro, ao invés de Carvalho Homem que prefere D. Duarte[2]. A
verdade é que ambos os irmãos tiveram a sua preponderância no processo de dotar o reino
de uma colectânea de leis gerais, sendo ilegítimo discriminar qualquer um deles. Se os
Livros da Reforma das Ordenações se integram na regência de D. Pedro, os anteriores Livros
de Ordenações levam a chancela do infante e monarca D. Duarte.
A já citada passagem do cronista Rui de Pina, pode ajudar a compreender este labor:

“e com tudo ElRey pôz muito seu cuidado nas cousas da Justiça que em seus dias
mandou iteiramente guardar, e entendeo em mandar correger e abreviar as Ordenaçoões
do Regno, e em seus dias nom se acabáram. ElRey Dom Affonso seu filho as mandou depois
reformar em cinco Livros, que por serem confusas, em alguã parte mingoadas, ElRey
Dom Manoel nosso Senhor as mandou abreviar e declarar, em singular ordenança
e perfeição” [3]

Note-se que este coetâneo cronista-mor, para além de não referir os núncios da
incumbência, também não faz qualquer referência ao reinado de D. João I. Até parece
querer incluir as Afonsinas numa mera etapa das Manuelinas – no capítulo antecedente
já ficou vincado a conveniência manuelina de ofuscar a colectânea afonsina. Será que
Rui Fernandes e a comissão revisora das Afonsinas leram pela mesma cartilha? É muito
verosímil. Águas passadas não movem moinhos – apenas tem interesse a última reforma das
ordenações, por isso, João das Regras ficou excluído da plêiade de compiladores.
De qualquer forma, são apenas estas as três passagens documentais (o proémio
do livro I, o final do livro V e a passagem da crónica de Rui de Pina) que directamente
referem e, conjugadas com outros escritos, podem ajudar a compreender o processo
das Afonsinas. Por isso, enquanto não surjam outros subsídios documentais, podemos
resumir esse processo aos seguintes pontos:
• João das Regras foi o instigador de todo este movimento compilatório da
legislação pátria, ficando assente que desde 1391, pelo menos, existem
Livros de Ordenações a vigorar no reino de Portugal.
• Em 1427 estava concluída outra fase de reestruturação do Direito pátrio,
que pode ter sido da autoria de João Mendes, iniciada, plausivelmente,
em 1418.
• No final do reinado de D. João I (1427-1433) detecta-se uma fase truncada.
• D. Duarte, no início do seu reinado, mandou corrigir e abreviar as
Ordenações do reino ao corregedor João Mendes.
• Parece incontroverso que a sucessão de João Mendes por Rui Fernandes
se terá dado no ano de 1437.
• Será este último o mentor das Ordenações Afonsinas, divididas, pela
primeira vez, em cinco livros e concluídas, na vila da Arruda, a 28 de
Julho de 1446.

1
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 150.
2
“le fait est que la «gloire» du régent réside surtout dans la porsuite et dans la conclusion d’une entreprise
dont le «grand auteur» a été son frère” [HOMEM, “Législation et compilation législative”, p. 680]
3
PINA, Chronica do Senhor Rey D. Duarte, cap. VII.

117
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Acima de tudo, estou persuadido que se desfossilizou a doutrina de que


as Ordenações Afonsinas são uma redacção única iniciada no reinado de D. João
I e terminada no de D. Afonso V, ficando demonstrado que são o resultado de um
processo de redacções sucessivas ao longo dos reinados de D. João I, D. Duarte e D.
Afonso V. Foi este parecer que me levou a encetar um apartado anterior do capítulo
primeiro com o título As “Ordenações Afonsinas” e as suas Múltiplas Denominações,
ficando assaz demonstrado que não se trata de “uma daquelas ‘injustiças’ em que a
história é mestra”[1]. Uma designação alternativa seria uma injúria para toda a comissão
revisora do código afonsino e uma “iniquidade” para o distinto jurista, Doutor Rui
Fernandes. As Ordenações Afonsinas, ou melhor a reforma das ordenações em cinco livros é,
sem qualquer demérito para todo o trabalho antecedente, empreitada do Doutor Rui
Fernandes realizada, praticamente toda, durante o reinado de D. Afonso V (apesar da
sua menoridade e de o reino estar confiado à regência do infante D. Pedro). Por isso,
não admira que a documentação coeva, até à conclusão das Afonsinas, refira sempre
o “Livro das Ordenações” e, após a conclusão das Afonsinas, refira o “Livro da Reforma
das Ordenações”, conforme os subsídios documentais suso ilustrados. Também Rui de
Pina, na passagem acima transcrita, faz bem essa discriminação.

5. O Regimento da Guerra
Uma diferença entre os vários manuscritos do livro I, por quão notavel he, chamou
particular atenção ao prefaciador da edição setecentista, Luís Joaquim Correia da Silva.
Ao deparar com a ausência do regimento da guerra – desde o titulo 51 até ao 72 – nos
códices de Santarém e Merceana, constando apenas no do Porto, depreendeu que “esta
Collecção de titulos he provavel não fosse obra dos Compiladores do Codigo, para ter ahi lugar
como parte delle”[2]. Em defesa da sua tese argumentou:
1. “porque sendo a sua incumbencia fazer um Codigo Civil, he
incomprehensivel como tão fora de proposito fizessem nelle entrar
regulamentos de guerra, e outros que não tem relação alguma com a
administração da justiça.
2. porque a legislação, que houvesse de entrar no Codigo nos termos da
sua Commissão, e para se verificar o fim proposto, devia ser certa e
determinada, e não da natureza de muitos destes títulos, cuja observan-
cia fica incerta, pois no fim do titulo 70 do mesmo livro declara o Senhor
D. Affonso V, que os não ha de todo por approvados.
3. porque estes Regimentos consta que andavão juntos em livro distinto com
o titulo Dos Regimentos d’ElRey D. Diniz para os Officiaes de Guerra, e Caza;”

1
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 93: Os cinco livros “da reformação das nossas ordenações” chegaram até hoje
com essa designação por mais uma daquelas ‘injustiças’ em que a história é mestra – como as muralhas fernandinas
do Porto, ordenadas e iniciadas com Afonso IV, continuadas com D. Pedro e concluídas (apenas isso) no reinado do
“Formoso”.
2
SILVA, Prefação ao Liv. I das Ordenações Afonsinas, p. XV.
Vide também a Prefacção às Ordenações Manuelinas, da autoria de Francisco Xavier de Oliveira Matos: “Em
nenhum destes dous Codigos do Senhor D. Manoel que comparamos, se encontrão vestígios do Regimento da Guerra,
nem dos Officiais Mors da Casa Real, que formão os ultimos Tit. do Liv. I do Codigo Affonsino. E como não consta,
que os ditos Regimentos tivessem sido revogados, esta falta faz mui provavel a conjectura, de que elles não fazião parte
do referido Codigo, e que forão accrescentados por algum Copista ao MS. da Camara do Porto, unico exemplar, em
que tem apparecido”.

118
José Domingues

Do que não teve dúvida é que estes títulos tivessem sido coligidos por D.
Afonso V, por isso, aventa como mais verosímil, “que tratando-se no livro I do Codigo
de Regimentos, se lhe viesse depois a ajuntar o outro livro, sem outra razão mais que a de
ser tambem de Regimentos, a fim de que estivessem juntos, ainda que depois se tornassem a
separar”[1]. Concluindo que

“o Copista do MS. do Porto trasladou tudo o que achou no exemplar; o da


Merceana começou a trasladar, mas conhecendo logo que aquellas materias são
pertencião ao Codigo não continuou; o de Santarém ou desde o principio as houve
por estranhas, e como taes as deixou, ou tirou a sua copia quando ainda não erão
juntos, ou depois que deixarão de o ser”[2]

O mesmo Correia da Silva dá conta de dois predecessores – Jorge de Cabedo e


António Caetano de Sousa – e refere a existência de uma cópia manuscrita, na biblioteca
do mosteiro de Alcobaça, com o título O Regimento d’ElRey D. Diniz dos Soldados e
Familiares de sua Caza[3].
D. António Caetano de Sousa serve-se de uma cópia[4], considerada perdida[5],
extractada por Pedro de Mariz, escrivão e reformador da Torre do Tombo. Pedro de
Mariz foi nomeado escrivão da Torre do Tombo no dia 20 de Setembro de 1605 e o seu
imediato sucessor, Gaspar Álvares Lousada, foi nomeado para o mesmo cargo a 10 de
Outubro de 1618[6]. Mariz não refere expressamente a fonte do seu transcrito, mas tudo
leva a crer que tenha sido um regimento avulso que, no primeiro quartel do século
XVII, estaria no Arquivo Real.
Do manuscrito do mosteiro de Alcobaça, apelidando-o de “Regimento Antigo
da Milícia”, transcreveu Frei Manuel dos Santos os regimentos do condestável e do
marechal[7]. Consta no Index dos Códices da Biblioteca do Mosteiro de Alcobaça,
impresso em Lisboa, em 1755. Este monumento acabou por transitar do cartório
alcobacense para a Biblioteca Nacional de Lisboa, onde hoje se conserva[8].
João Pedro Ribeiro vem acumular, aos suportes documentais de Figueiredo e Cor-
reia da Silva, a existência de uma declaração ao título do almirante, no Real Arquivo:

“Accresce que no R. Archivo Maço I de Leis n. 177, se acha huma declaração de 13


d’Agosto do anno 1471 no titulo do Almirante, que se manda escrever no Livro das
suas Ordenações: e com effeito se achava lançada no fim do titulo do Almirante,
como se póde ver a f. 323 do Tomo 3 das Provas da Historia Genealogica; e não
póde fazer duvida faltar ella no exemplar da camara do Porto, antes mostra ser tirada a
copia antes daquelle anno”[9]

1
Idem, p. xvi.
2
Idem, pp. xvi-xvii.
3
Este autores e o manuscrito de Alcobaça já tinham sido inventariados por FIGUEIREDO, Synopsis Chro-
nologica, Tomo I, Lisboa, 1790, p. 41.
4
SOUSA, Provas da História Genealógica, tomo III, pp. 382-502.
5
MARQUES, Descobrimentos Portugueses, vol. III, doc. 71 e 72, pp. 96-101. Ribeiro a consultou no Real Arqui-
vo Maço I de Leis, n.º 148 (RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”, p. 130).
6
BAIÃO e AZEVEDO, O Arquivo da Torre do Tombo Sua história, p. 215.
7
SANTOS, Monarquia Lusitana, Parte VIII, Liv. XXII, Cap. XLVIII, pp. 375-379 e 380-382, respectivamente.
8
Lisboa, BN – Alcobacenses, códice n.º293.
9
RIBEIRO, Dissertações Cronológicas, vol IV, 2.ª Parte, p. 65.

119
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Trata-se de uma prova iniludível de que, nessa data de 13 de Agosto de 1471, o


regimento do almirante constava “no liuro primeiro das hordenaçõees que anda em a nosa
chamçelaria”[1]. Este testemunho está hoje publicado[2], mas a data nele referida tem
suscitado controvérsia: “o ditado régio e o ano são inconciliáveis entre si, e um deles está
evidentemente deturpado. Nem supondo a falta de um x no ano, se poderia sanar a contradição”[3].
Efectivamente, o ditado régio “Dom Joham por graça de deus Rey de Portugall E…” – que
só pode ser de D. João II [1481-1495] – não se coaduna com a data de 13 de Agosto de
1471, em pleno reinado de D. Afonso V.
No entanto, essa contradição é apenas aparente, porque estamos perante um
documento truncado[4] – “Parece ser uma folha destacada de um antigo livro de registo”[5]
– da lavra de D. João II[6]. Isto é, o documento é de D. João II, que, do livro I das
Ordenações Afonsinas, transcreve o regimento do almirante do reino, onde já constava
a declaração mandada acrescentar no dito livro I, em 1471, por seu pai. Segue-se uma
breve frase – “Este Allmirante deue ser Como dicto he da Linha djreita e lidema de
mica Manuell peçanha” – prova de que o documento continuaria a transcrever o dito
regimento, ficando, por isso, incompleto. Este aditamento consta também no apógrafo
publicado por D. Caetano de Sousa[7], confirmando, com Ribeiro, que o manuscrito do
Porto foi feito antes desta data.
Não é caso único de interpolação, também no título 114 do livro quinto consta
um acrescento – que falta no manuscrito de Santarém – de D. Afonso V, depois de
concluída a compilação:

“E despois desta Hordenaçom acabada fez ElRey esta adiçom.


Hordenou ElRey Nosso Senhor, que em quanto em esta Ley se contem, que os
degredos da terra sejam mudados pera Cepta por meio tempo, e os açoutes sejam
mudados em degredo de dous annos, e isso meesmo as dividas dos que forem
presos sejam pagadas pelo soldo de Cepta, e os presos lá levados, &c. visto em
como ora nam he necessario la enviar mais gente da que he ordenada, o que era
ao tempo da feitura da dita Ley, que esta Ley se nom guarde por ora. Escripta a
vinte dias de Novembro de mil quatrocentos e cincoenta.”[8]

Daqui só podemos concluir que, para além de ordenações avulsas no fim dos
códices[9], se iam também acrescentando adições aos títulos originais das Afonsinas. A
propósito das ordenações avulsas: no livro II constam duas, uma datada entre 1451-
1461 (título 122), e outra de 5 de Março de 1450 (título 123); no livro IV constam quatro,
uma de 1 de Dezembro de 1451 (título 109), outra de 30 de Agosto de 1448 (título 110),
outra de 26 de Fevereiro de 1452 (título 111) e outra de 3 de Junho de 1452 (título 112);

1
IAN/TT – Maço 1 de Leis, n.º 177.
2
As Gavetas da Torre do Tombo, Centro de Estudos históricos Ultramarinos, Lisboa, 1962, vol. II, pp. 41-44.
MARQUES, Descobrimentos Portugueses, vol. III, doc. 71 e 72, pp. 96-101.
3
Idem, vol. III, p. 98.
4
Um fragmento, cfr. DIAS, Introdução às Ordenações Manuelinas, p. XII.
5
MARQUES, Descobrimentos Portugueses, vol. III, p. 97.
6
“posterior a 1483, dado que o rei se intitulava ‘Senhor de Guiné’” (DIAS, Introdução às Ordenações Ma-
nuelinas, p. XII).
7
SOUSA, Provas da História Genealógica, tomo III, pp. 405-406. A declaração neste caso aparece no final do título.
8
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 114, §§ 8 e 9, p. 379.
9
No prólogo das Ordenações Manuelinas ficaram referidas as “ordenações por Reis nossos antecessores
feitas, assi das que estavam encorporadas como das extravagantes”.

120
José Domingues

no livro V constam duas, uma de 27 de Junho de 1449 (título 120) e outra de 27 de Maio
de 1454 (título 121)[1].
Mas este elenco não pode ser considerado exaustivo porque, antes de mais, faltam
as leis apensas depois de acabadas as cópias. Infelizmente nada sabemos de concreto
a este propósito, mas parece que a cópia do Porto teria sido feita entre o ano de 1454 e
1471[2]; na de Santarém, Merceana e Torre do Tombo faltam leis avulsas ou adições que
permitam qualquer tentativa de presunção.
Uma carta de 8 de Outubro de 1470, que impunha aos mercadores portugueses
de carregar em naus e navios estrangeiros haver-de-peso, açúcar, fruta e outras
mercadorias, excepto sal e cortiça, enquanto houver nos portos do reino naus e navios
portugueses que lhes exijam fretes iguais, é mandada “ao nosso chançarell moor
que faça proujcar esta carta na nossa chançalaria e faça rregistar no liuro das nosas
ordenações”[3]. E a lei de 31 de Agosto de 1474, pela qual se ordenava que ninguém
armasse navios para a Guiné nem levasse mercadorias proibidas, foi “Registada no livro
quinto”, conforme nota lançada no verso[4]. Deve ser o livro V das Ordenações, já que se
trata de uma lei de âmbito criminal. São duas conjunturas muito plausíveis de registo
posterior nos livros das Ordenações Afonsinas.
Nas datas supra-ditas as cópias conhecidas das Afonsinas já estariam concluídas.
Mas o que pensar do alvará com os privilégios dos desembargadores, datado de 12
de Novembro de 1450, e que de acordo com duas cartas régias – uma de 20 de Agosto
de 1486[5] e outra de 27 de Novembro de 1501[6] – devia estar no fim do “Livro 3.º, da
Reformaçam das nossas Ordenaçoens, que anda na nossa Chancellaria”. Faltando este alvará
nos exemplares do livro III da Merceana e da Torre do Tombo, os únicos que nos
restam, pode-se pensar que as cópias foram feitas antes de ser registado o alvará[7].
Mais enigmática ainda é a lei de D. Afonso V, de 20 de Setembro de 1447, que
atesta a observância das leis da amortização, exceptuando apenas os bens possuídos
antes da morte de D. João I. Esta lei é expressamente mandada registar no livro II – “E
Mandamos outro sy q Esta nossa Carta seJa Registada em fim do segundo liuro das nossas
hordenações”[8] – e foi aproveitada pelos redactores das Manuelinas[9]. No entanto,
também não consta em nenhuma das cópias conhecidas do livro II, sendo certo que
nesta data a cópia do Porto, pelo menos, ainda não estava conclusa.
Retomando o fio do regimento da guerra, ao tratar da reedição de 1984, Eduardo
Borges Nunes, ampliou os esteios documentais ao arrolar um códice cartáceo do livro
I, na Biblioteca da Ajuda, datado de 1455, com o regimento da guerra completo[10], “que
oferece o interesse de trazer algum eventual reforço à inclusão do Regimento da Guerra no livro
I das Ordenações”[11].

1
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 95, nota 290.
2
Ano da última lei avulsa (1454) e da adição ao regimento do almirante (1471) que, como acima se disse,
não consta nesta cópia.
3
MARQUES, Descobrimentos Portugueses, vol. III, doc. 58, p. 84.
4
IAN/TT – Maço 1 de Leis, n.º 178.
5
IAN/TT – Gaveta 14, maço 8, n.º23
6
IAN/TT – Corpo Cronológico, P. 1, maço 3, n.º74.
7
Cfr. RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”, p. 129. Que atribui o ano de
1521 ao documento de 1501.
8
Abel VIANA, “Livro do Tombo da Igreja de São João (pergamináceo quinhentista)”, Arquivo de Beja, Beja,
1945, vol. II, p. 150.
9
Ordenações Manuelinas, Liv. II, tít. 8, § 6.
10
NUNES, “Nota Textológica”, pp. 15-16.
11
COSTA, “Nota de Apresentação”, p. 10, nota 9.

121
As Ordenações Afonsinas Capítulo II: Compilação e Compiladores

Temos assim duas datas – 1455 e 1471 – em que o regimento da guerra fazia
parte do livro I. Ao certo sabemos também que foi excluído pelos primeiros autores
das Manuelinas, de 1512/13, e pelos sucessivos de 1514 e 1521. Mas será que Correia
da Silva tinha alguma razão ao supor que o regimento da guerra “não fosse obra dos
Compiladores do Codigo, para ter ahi lugar como parte delle”[1], antes se lhe viesse depois
a ajuntar?
Essa junção teria que ser anterior a 1455, mas estou convicto que o regimento
da guerra sempre fez parte do livro I. A tese de Correia da Silva já foi impugnada
por João Pedro Ribeiro, que na memória sobre as Ordenações Afonsinas, que deixou
manuscrita, alega:

“Na Prefacção deste Codigo na Impressão da Universidade se afirma que o Título


do Regimento da Guerra e os mais do Livro 1º não erão parte do mesmo Codigo;
mas o contrario se mostra da Hist. Genealog. Tomo 3º das Provas f. 323 aonde
no fim do Titulo do Almirante se acha huma declaração do Senhor D. Affonso 5º
de 13 de Agosto de 1471 mandada escrever no Livro de suas Ordenaçoens, e se
lançou portanto no fim daquele Titulo. Cuja declaração não vem nos Codigos que
existem, por serem anteriores as suas copias. O Original da mesma Declaração
de 13 de Agosto Ano 1471 se conserva no Real Archivo Maço 1º de Leys n.º 148.
Alem disso tenho encontrado Certidoens passadas dos mesmos Títulos, com o
preambulo de serem tirados do Livro 1º da Reformação das Ordenaçoens: tal a
de 27 de Agosto Ano 1447 do Titulo dos Alcaides mores / No mesmo Maço 1º de
Leys n.º 152/ atraz referida”[2]

Na certidão passada ao alcaide-mor de Santarém, Rui Borges de Sousa, datada de


27 de Agosto de 1447 – muito próxima da conclusão referida por Rui Fernandes, 28 de
Julho de 1446 – constam nada menos que quatro títulos transcritos do “primeiro liuro da
reformaçõ das hordenaçooees que andam em a nosa chamcelaria”, sendo o primeiro o título
dos alcaides-mores dos castelos[3] – título 62 – que se insere no cerne do regimento da
guerra. Quer isto dizer que nessa data, 27 de Agosto de 1447, o regimento da guerra
constava no livro I, não fazendo sentido a tese de que não foi trabalho dos compiladores
das Afonsinas.
Mas – a questão persiste – então, porque é que não foi incluído nos exemplares de
Santarém e Merceana? O facto de existirem dois códices do século XV truncados afasta
qualquer suposição de mera coincidência ou sequer de trabalho abandonado[4]. Terá
que existir uma explicação válida para esta incisão, mas, à distância de tantos séculos
e sem um apoio escrito avalizador, a sua demanda converte-se em tarefa conjectural
muito melindrosa e pouco gratificante.
De qualquer forma, à falta de melhor esclarecimento, a consideração que me
parece acusar a adição do compilador, no final do título 70, é a de que a maioria destes
regimentos se consideravam provisórios (à data da reforma das ordenações) e que, por
isso, em breve seriam revistos, actualizados e promulgados. Assim sendo, no momento
de efectuar cópias, o mais ponderado seria protelar essa tarefa para depois da sua
edição definitiva – talvez assim se compreenda melhor a intenção do compilador do

1
SILVA, “Prefação”, p. XV.
2
RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”, p. 130.
3
IAN/TT – Maço I de Leis, n.º 172, fls. 1-6v.
4
SILVA, Prefação, pp. xvi-xvii.

122
José Domingues

códice da Merceana ao colocar apenas o título “regimento da guerra”. Para apreciações


vindouras aqui fica aspada a adição do compilador afonsino do livro I:

“Os regimentos, que em este Livro som escriptos da Guerra, do Conde-stabre,


e do Marechal, e do Almirante, e do Capitam da Frota, e do Alferes, e do
Moordomo Moor, e dos Conselheiros, e do Meirinho, e do Apousentador Moor,
e dos Cavalleiros e dos Retos, Nós, por aqui serem scriptos, nom avemos de todo
por aprovados, nem lhe damos por ello maior autoridade daquello, que teem per
Cartas dos Reix, que ante Nós forom, ou por custumes, que continuadamente ata
ora usassem: e prazendo a Deos Nos entendemos ainda mandar poer os ditos
Regimentos na forma, que devem seer”[1]

Por outro lado, este acrescentamento parece creditar a ideia supra de que
os restantes regimentos do livro I foram actualizados com base em ordenações e
regimentos mais antigos.
Também não deixa de ser significativo que surjam tantos avulsos destes regimentos.
Para além dos já citados alcobacense e códice da Biblioteca da Ajuda e da certidão
publicada por Caetano de Sousa, localizam-se na Biblioteca Pública de Évora mais
dois exemplares. Um desses exemplares corresponde à cópia feita por Pedro Mariz no
início do século XVII. No outro consta a nota “Fr. António Soares Albergaria 300 Rs.”,
que inculca ter sido adquirido por este estudioso que viveu entre 1581 e 1639. Um
desses exemplares de Évora terá sido utilizado por Severim de Faria para transcrever
alguns trechos para a sua obra, editada em 1655[2].

1
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 70, p. 472.
2
Manuel Severim de FARIA, Notícias de Portugal, Lisboa, Na Officina Craesbeckiana, 1655. (2.ª Edição, com
introdução, actualização e notas de Francisco António Lourenço Vaz, Lisboa, 2003).

123
CAPÍTULO III

Conclusão e Divulgação

“E porque a principal virtude das Leys está na execução dellas, a qual sem
pratica de hordenado Juízo, não pode ser trazida à boa perfeição…”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Início]

“as Leyx, e Posturas dos Reyx, e Príncipes em vãao som postas, e feitas,
senom forem guardadas, e usadas, e aquelles, a que he cometido que as
façam guardar, e comprir segundo a letra, mudando ho entedimento, e
effeito dellas em engano, merecem aver pena;”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, tít. 22, § 16]
[Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 19, § 20]

A ssente, no capítulo anterior, que o processo compilatório das Afonsinas, ao contrá-


rio do que sempre se considerou e disse, não obedeceu a um único esboço pré-de-
finido, iniciado no reinado de D. João I e terminado na regência do infante D. Pedro[1],
mas antes a várias etapas progressivas, executadas por legisperitos da mais estreita
confiança do monarca, importa agora apurar, na medida do possível, a data definitiva
da conclusão dos trabalhos, da sua entrada em vigor e efectiva repercussão nas poste-
riores seis décadas e meia, até à primeira impressão das Manuelinas.
Esta questão, na opinião de Luís Miguel Duarte, “não tem merecido suficiente atenção
aos historiadores do direito, como se, terminada a compilação, o essencial fosse esclarecer a
respectiva génese e autoria, as autoridades citadas, a hierarquia das fontes subsidiárias
propostas, etc., postergando, por menos importantes, perguntas como estas: quantos exemplares
das Ordenações Afonsinas foram copiados? Por quem? Na totalidade ou em parte? A que ritmo
se fez a respectiva divulgação? Foram as O.A. efectivamente aplicadas? Tiveram vigência?
Durante quanto tempo?”[2]. Talvez daí a existência de resultados e respostas tão díspares,
como veremos.

1
Vide, por todos, o resumo em Armando Luís de Carvalho HOMEM, “Rei e «Estado Real» nos textos legis-
lativos da Idade Média portuguesa”, in Carlos Alberto Ferreira de Almeida in memoriam, Faculdade de Letras
da Universidade do Porto, Porto, 1999, vol. I, p. 392: “O concretizar de uma primeira compilação de leis com
as OA, preparada ao longo de quase 30 anos (desde ca. 1418) concluídas em 1446 (…) Elaboradas, repito, ao
longo de quase três décadas, tendo apanhado pelo meio com duas sucessões régias (1433 e 1438)…”.
Idem, “Estado Moderno e Legislação régia”, p. 122: “A obra que o Dr. Rui Fernandes termina no mês de Julho de
1446 é pois o resultado de um longo processo de quase 30 anos, e de várias ‘mãos’ de organizadores”.
2
DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 120-121.

125
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

Apesar de ser a questão que mais interessa a este investigador, os avanços são
parcos, continuando a palmilhar o trilho dos que atenuam a divulgação e vigência
das Afonsinas, nomeadamente Marcello Caetano[1], Espinosa da Silva[2] e Carvalho
Homem[3] deixando no olvido opiniões como as de Oliveira Martins[4] e Mário Júlio de
Almeida e Costa[5], relevantes argumentos como os de Gama Barros[6], ou judiciosas
conclusões como as de Martim de Albuquerque[7] e perdendo-se em ilações pouco
fundamentadas documentalmente, por falta de consulta dos originais, baseando-se
apenas nos resumos de alguns capítulos de Cortes, cotejados no trabalho de tese de
Armindo de Sousa, conforme o próprio confessa[8].
De qualquer forma, uma resposta cabal a estas questões implicaria uma empresa
faraónica, investigando exaustivamente toda a documentação da época [1446-1512],
nomeadamente, todos os pesados volumes das Chancelarias de D. Afonso V, D. João II
e D. Manuel, os múltiplos capítulos de Cortes, bem como toda a documentação avulsa,
sobretudo jurídica, disseminada pelo Arquivo Nacional e pelos múltiplos arquivos do
país[9]. Por isso, também os documentos e resultados que aqui se apresentam não têm
qualquer pretensão de categóricos, sendo apenas a plausível incipiência do iceberg,
sempre susceptíveis a ulteriores achegas e mutações.

1. Conclusão e Revisão
A conclusão da reforma das ordenações está bem explícita no fim do seu último livro:

“Foi acabada esta obra em a Villa da Arruda aos vinte outo dias do mez de Julho,
Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil e quatrocentos e quarenta

1
CAETANO, História do Direito, pp. 534-535.
2
Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, Sobre o Abreviamento dos Cinco Livros das Ordenações ao Tempo
de D. João II, Lisboa, 1981. Sep. do Boletim do Ministério da Justiça, n.º 309, p. 17.
Idem, História do Direito, 3.ª edição, p. 290.
3
Armando Luís de Carvalho HOMEM, “Ofício régio e serviço ao Rei em finais do século XV: Norma legal
e prática institucional”, Revista da Faculdade de Letras – História, série II, vol. 14, Porto, 1997, p. 127.
Idem, “Estado Moderno e Legislação régia”, p.123: “o facto de a obra, porque terminada no tempo da regência, ter
ficado porventura conotada com um governante militar e politicamente vencido e com os seus homens (por inexacto
que isto possa ser, tendo em conta o que atrás ficou escrito). Teríamos pois – repito – a novidade da recolha associada à
tradição do conteúdo e à ‘maldição’ de Alfarrobeira. Resultado: a vigência acabará por não ser longa nem plena”.
4
“As Ordenações foram a bíblia, o livro por excelência, da nova religião civil da monarquia.” [J. P. Oliveira
MARTINS, Os Filhos de D. João I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1891, pp. 307-308, citado por ALBUQUER-
QUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 43]
5
“De qualquer modo, cremos inexacta a tese esporádica que põe em causa a própria vigência das Ordena-
ções Afonsinas. A ampla difusão que alcançaram encontra-se indiciada pelos exemplares, embora truncados
ou parciais, que chegaram a nossos dias. Significaram as Ordenações Afonsinas um passo valioso na evo-
lução do direito português. Vistas em seu tempo, são uma obra que sustenta vitorioso confronto com as
codificações semelhantes de outros países. (…) Além disso, as Ordenações Afonsinas representam o suporte
da subsequente evolução do direito português” [Mário Júlio de Almeida COSTA, Nota de Apresentação,
Livro I das Ordenações Afonsinas, Fundação Calouste Gulbenkian, 1984, pp. 7-8].
6
BARROS, História da Administração Pública, vol. I, p. 135: “Não foi de longa duração a observancia d’este codigo
(…) mas existem provas incontestaveis de que elle esteve em vigor”.
7
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, Estudos de Cultura Portuguesa, Imprensa
Nacional Casa da Moeda, 2002, vol. III, pp. 43-63. [1.º edição in Biblos, vol. 69, 1993].
8
Vide, por exemplo, a nota 393, da pág. 129: “Seria interessante aqui conhecer integralmente a resposta;
não tive acesso às fontes, pelo que me limitei a trabalhar com a síntese de Armindo de Sousa”.
9
A maioria desta documentação ainda está inédita.

126
José Domingues

e seis annos, per o Doutor Ruy Fernandes, do Conselho do muito Alto, e muito
Excellente Princepy, e muito Poderoso Rey Dom Affonso o Quinto nosso Senhor,
ao qual foi primeiramente encommendada pelo muito Alto Princepy, e muito
excellente Senhor Rey Dom Eduarte seu Padre, de louvada e famosa memoria, e
depois de seu falicimento pelo muito famoso Princepy, e magnifico Senhor Infante
Dom Pedro, Duque de Coimbra, e Senhor de Monte Mor o Velho, em nome do
dito Senhor Rey Dom Affonso nosso Senhor, como seu Curador, e Regedor por
elle de seus Regnos, e Senhorio.”[1]

A data de 28 de Julho de 1446, exarada no final do livro V (tít. 119, § 31) não deixaria
réstia de dúvidas quanto à conclusão dos trabalhos, não fosse a concomitante referência
(no “proémio” do livro I) a uma revisão efectuada a expensas duma comissão composta
pelo próprio Doutor Rui Fernandes, pelo Doutor Lopo Vasques, corregedor da cidade
de Lisboa, e pelos desembargadores do Paço, Luís Martins e Fernão Rodrigues:

“e despois que polo dito Doutor foi compilada, ordenou o dito Senhor Regente, que
as ditas Hordenaçõoes, e Compilaçom fossem revistas, e examinadas per elle dito Doutor,
e per o Doutor Lopo Vaasques Corregedor da Cidade de Lixboa, e per Luiz Martins, e
Fernão Rodrigues do Desembargo do dito Senhor Rey, as quaees per elles forom vistas,
e examinadas, e em algumas partes reformadas pelo modo, que se segue”[2]

Desde os finais do século XVIII[3], na senda de Gama Barros[4], até Marcello Caetano,
se tem entendido que a data supra referida (28 de Julho de 1446) seria a da conclusão
do trabalho pessoal de Rui Fernandes, colocando em seguida o trabalho de averiguação
e aperfeiçoamento da comissão revisora[5]. O trabalho desta junta, continua Caetano,
teria sido feito até ao ano de 1447, argumentando com João Pedro Ribeiro e as certidões
passadas em 27 de Agosto de 1447 ao alcaide-mor de Santarém, Rui Borges de Sousa, e
em 6 de Dezembro de 1448 à Câmara do Porto, respectivamente. Mesmo assim parece
não estar completamente convicto da do começo da sua utilização em 1447 e faz notar que
alguns desses textos eram antigos e meramente compilados, acabando por concluir:

“Em resumo: sabemos quando Rui Fernandes terminou o seu trabalho pessoal de
compilação das Ordenações Afonsinas, podemos calcular a época em que se concluiu
a revisão pela comissão de jurisconsultos dela encarregada, mas é impossível com
os elementos existentes afirmar com segurança em que ano começou a ser utilizada
como compilação autêntica e, mais, em que época se tornou conhecida no país pelos
magistrados que haviam de aplicá-la, se é que chegou a sê-lo. (…) não haveria em
circulação outros exemplares ainda no último desses anos (1454)”[6]

1
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 119, § 31, pp. 404-405. O itálico é nosso.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Prólogo, § 2, p. 3. O itálico é nosso.
3
Francisco Coelho de Souza e SAMPAIO, Prelecções de Direito Patrio Publico e Particular, Coimbra, na Real
Imprensa da Universidade, 1793, p. 5. Este autor cita a data de 17 de Julho de 1446.
4
BARROS, História da Administração Pública, vol. I, p. 132: “”D. Pedro, regente na menoridade de Affonso V,
incitou o compilador a activar a conclusão da obra, que finalmente acabou na villa de Arruda a 28 de Julho
de 1446. Foi então submettida ao exame de uma junta…”.
5
Marcello CAETANO, Regimento dos oficiais das cidades, vilas e lugares destes reinos, (publicação e prefácio
da primeira lei impressa em Portugal). 1955: “a data de 1446 é, muito provavelmente, a da entrega do trabalho
de Rui Fernandes”.
CAETANO, História do Direito, p. 532: “Concluído o trabalho de Rui Fernandes e entregue em 1446”.
6
CAETANO, História do Direito, pp. 534-535.

127
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

Este entendimento acabou por sedimentar, sendo acolhido por versados


investigadores subsequentes, nomeadamente, Mário Júlio de Almeida Costa[1], Nuno
Espinosa Gomes da Silva[2], Carvalho Homem[3] ou Luís Miguel Duarte[4].
Martim de Albuquerque vem contrariar esse parecer, entendendo que “o que o
Dr. Rui Fernandes claramente afirma, à distância de cinco livros, é que concluído o seu trabalho
de compilação, foi ele mandado rever («Proémio» do livro I) e que a obra ficou concluída em
Arruda aos 28 de Julho 1446 (fim do V livro, a que depois foram adicionados dois novos
títulos). Portanto, a ordenação sistemática impõe cronologia sequencial oposta à que Marcello
Caetano perfilhou”[5].
Enquanto não surja nova ajuda documental, ambas as teses, esteadas em meros
argumentos interpretativos, são sustentáveis. De qualquer forma, temos de convir
que, neste ponto, a de Martim de Albuquerque é bem mais coerente: se no “proémio”
do livro I se menciona o aperfeiçoamento por uma comissão revisora, o mais plausível
é que a data no final do livro V se refira à conclusão definitiva e não às “provas” de Rui
Fernandes. Com o que chegou aos nossos dias é completamente impossível apartar o
labor da comissão revisora, mas, nem que essa comissão se tenha limitado a certificar
o trabalho de Rui Fernandes, a data fundamental, para efeitos futuros, seria sempre a
da revisão e nunca a da compilação. Por isso, parece ciente que em 28 de Julho de 1446
a reforma das ordenações estaria, definitivamente, concluída, revista e pronta a usar.
O facto de sabermos o nome dos que fizeram parte dessa comissão é de muito
pouco préstimo, ou mesmo nenhum, para apuramento da data da revista. Luís
Martins surge, ligado ao desembargo régio, em ordenação do infante D. Duarte, sobre
tabeliães, publicada em Sintra a 23 de Julho de 1433[6], e em 28 de Junho de 1459 tinha
a sua residência fixa em Borba[7]. A actividade do seu homólogo, Fernão Rodrigues,
também de nada nos serve. Judite de Freitas adverte que “existem várias possibilidades
de homonímia”, admitindo que o revisor do texto afonsino seja o desembargador
aposentado em 1451, que aparece como lente na Universidade de Salamanca, em 1433,
Doutor em leis e titular do ofício de desembargador do paço e das petições, durante
a regência do infante D. Pedro[8]. Finalmente, o Doutor Lopo Vasques de Serpa, surge

1
Mário Júlio de Almeida COSTA, “Ordenações”, in Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Ser-
rão, vol. IV, p. 442: “Rui Fernandes, que só viria a concluir o seu trabalho aos 28 de Julho de 1446, na vila de Arruda.
(…) O projecto elaborado por João Mendes e Rui Fernandes foi seguidamente submetido a uma comissão revisora (…)
Desconhece-se o ano exacto em que a revisão ficou concluída”
Mário Júlio de Almeida COSTA, Temas de História do Direito, Coimbra, 1970, p. 61.
Mário Júlio de Almeida COSTA, Nota de Apresentação, Livro I das Ordenações Afonsinas, p. 6: “Também não
se ignora que o último [Rui Fernandes] concluiu o projecto em 28 de Julho de 1446, na «Villa da Arruda», depois do
que foi revisto por uma comissão de juristas cujos nomes igualmente se conhecem”.
2
SILVA, História do Direito, 3.ª edição, p. 271: “Efectivamente, Rui Fernandes veio a terminar a empresa, em Julho de
14446, após o que D. Pedro determinou que «as ditas Hordenaçõoes e Compilaçom fossem revistas, e examinadas per…»”.
3
HOMEM, “Rei e Estado Real nos Textos Legislativos da Idade Média Potuguesa”, p. 392: “concluídas em
1446 e presumidamente vigorando a partir de 1448”.
4
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 118: “Rui Fernandes dá o seu esforço por concluído a 28 de Julho de 1446. O
trabalho de revisão não pode ser datado de forma precisa”.
5
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 53. (1.º edição in Biblos, vol. LXIX,
1993, pp. 157-171).
6
Esta lei consta nas Ordenações de D. Duarte (pp. 645-646) com o ano de 1432, e nas Ordenações Afonsinas,
Livro I, Tít. 49, §§ 1-4, com o ano de 1433. A data correcta é a das Afonsinas, pois só nessa data a corte estava
em Sintra. [Cfr. MORENO, Os Itinerários de el-rei Dom João I, p. 379].
7
FREITAS, A Burocracia do “Eloquente”, p. 195. Esta autora situa a carreira desta personagem entre 1432-1445.
8
Judite Antonieta Gonçalves de FREITAS, Temos por bem e mandamos: a burocracia régia e os seus oficiais em
meados de quatrocentos (1439-1460), Porto, 1999, vol. II, p. 82 (Dissertação de Doutoramento em História da

128
José Domingues

como corregedor de Lisboa no ano de 1443, em documento de 29 de Maio, onde o


infante lhe pede para averiguar se no tempo de D. João I e D. Fernando os moedeiros
de Lisboa tinham privilégio de não serem constrangidos a servir em obras de pontes,
fontes, calçadas e muros[1]. No início do ano de 1448 (8 de Janeiro), ainda como
corregedor de Lisboa, manda trasladar o testamento de Diogo Afonso Mangacha, a
requerimento da viúva Maria Dias[2].

2. Difusão das Leis


Concluída e revista a obra, ainda em 1446, o monarca tinha à mão um imponente
instrumento centralizador, que reunia a maioria das leis gerais, revistas e actualiza-
das, desde as recuadas Cortes coimbrãs de 1211 até essa actualidade. Mas a dita obra
legislativa, como qualquer outra, por mais relevante e colossal que seja para a época
em que se insere, torna-se vã e praticamente escusada se não preencher o derradeiro
escopo para que foi preparada – a publicitação e efectiva aplicação nos diversos foros
judiciais do reino. Ou seja, tornava-se fundamental difundir o conhecimento da colec-
tânea por todo o reino, sobretudo perante os oficiais da justiça, que tinham a obriga-
ção de zelar pelo cumprimento da lei régia. Mas essa difusão não se apresenta tarefa
branda: os préstimos da imprensa ainda estavam longínquos, as cópias manuscritas
eram demasiado expensivas e morosas, as comunicações viárias fatigantes, o analfabe-
tismo grassava nas magistraturas locais, a preponderância dos usos e costumes, forais
antigos, e privilégios locais era um obstáculo de peso, etc… Por isso, grandes mestres
investigadores, como Marcello Caetano, Nuno Espinosa Gomes da Silva e Luís Miguel
Duarte, entre outros, pleiteiam uma lenta difusão da colectânea afonsina.
A falta, até à data, de qualquer referência documental expressa a um acto oficial e
solene de promulgação das Ordenações Afonsinas[3] impõe, com as devidas precauções,
o recurso ao processo analógico da publicação para as leis gerais. Como seriam, então,
publicadas as leis em Portugal, durante o período tardo-medieval?
Conforme pleiteia Gama Barros [4], secundado por Marcelo Caetano[5], nestas eras
ainda não existe um processo certo e determinado quanto à publicação das leis gerais.
Por exemplo, os traslados das respostas aos artigos gerais dos concelhos, apresentados
em Cortes, deviam ser solicitados, na Chancelaria, pelos próprios interessados, pagando
o respectivo custo[6]. Do mesmo modo, existem casos concretos de concelhos, e até
individualidades, a pedir cópias de ordenações. As cópias solicitadas pelos concelhos

Idade Média apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto).


1
Damião PERES, História dos Moedeiros de Lisboa como Classe Privilegiada, Academia Portuguesa de História,
Lisboa, 1954, tomo I, Privilégios, doc. 27, p. 144.
Vide a sua biografia em FREITAS, Temos por bem e mandamos, vol. II, pp. 170-174. Que o refere como Doutor
em documento de 26 de Janeiro de 1446 e como corregedor de Lisboa em documento de 3 de Agosto de 1444.
Segundo esta investigadora, em 1449 já estaria a desempenhar as funções de desembargador das petições.
2
RIBEIRO, Dissertações Cronológicas, Tomo II, doc. 16, p. 257.
3
Essa formalidade surge, pela primeira vez, nas Manuelinas de 1514.
4
BARROS, História da Administração Pública, vol. I, p. 137: “Não havia sobre a publicação uma regra invariável”.
5
CAETANO, História do Direito, p. 534: “não existia ao tempo regra definida ou prática certa sobre o modo de
tornar conhecidas as leis e de dar solene início à sua vigência”.
6
BARROS, História da Administração Pública, vol. I, p. 137: “Os procuradores dos concelhos em cortes costuma-
vam pedir copia, que pagavam, d’aquellas resoluções em que tinham algum interesse”.
CAETANO, História do Direito, pp. 345-346.
SOUSA, Cortes Medievais, vol. I, pp. 480-481.

129
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

estão bem patentes nos exemplares que, ainda hoje, perseveram nos seus arquivos.
A título de exemplo, o concelho de Ponte de Lima por “seus procuradores nos pidio por
mercee que lhe mandasemos dar o trellado della” – refere-se à lei de D. João I, que estava
no livro IV das Afonsinas, contra os que se valiam de cartas ardilosamente assinadas e
autenticadas sem passar pelas câmaras dos concelhos[1].
Caso invulgar de publicação aparece nas costas do pergaminho com uma ordenação,
dos alvores do reinado de D. João I, sobre os leigos que tomam posse dos benefícios quando
vagam. Trata-se das determinações das Cortes de Évora de 1391, em documento de 7 de
Julho de 1423, para lindar as violências dos leigos contra as instituições eclesiásticas[2].
Quem se encarrega da publicação da ordenação régia, no espaço territorial da sua
arquidiocese, é o próprio arcebispo de Braga – D. Fernando da Guerra. Para tal, munido
da ordenação, devidamente selada[3], vai ao encontro dos representantes directos da
justiça real nas comarcas de Trás-os-Montes e Entre‑Douro‑e‑Minho, que integravam
a sua arquidiocese. No dia 3 de Dezembro de 1430, reúne, entre outras testemunhas,
com o regedor da justiça de Entre-Douro-e-Minho, Aires Gomes da Silva, no mosteiro
de Travanca, em Santa Cruz de Riba Tâmega, e no dia seguinte, 4 de Dezembro, em
Amarante, com o corregedor de Trás-os-Montes, Diogo Afonso[4]. Ambos lavram um
assento de publicação, garantindo cumprir e mandar cumprir a ordenação na respectiva
correição, nas costas do pergaminho bracarense[5]. Esta ordenação, com data de 14 de
Fevereiro de 1391, foi, posteriormente, transcrita nas Ordenações Afonsinas[6].
E não se trata de caso isolado. A ordenação, de 10 de Abril de 1436, proibindo
as vigílias e dormidas em igrejas, mosteiros, ermidas e oratórios, para obstar aos
jogos, tangeres e cantares que neles se faziam, dificultando o ofício divino e as orações
dos bons cristãos, foi passada a pedido de frei Fernando (confessor do rei), que a
apresentou, no dia 18 de Abril de 1436, nos paços do concelho de Évora[7]. Também
a resposta de D. Dinis aos agravamentos que os bispos do Porto, Guarda, Lamego
e Viseu diziam lhe serem feitos no reino, foi publicada no claustro de Braga, pelo
cónego Estêvão Miguel, a 16 de Setembro de 1294, perante Lourenço Eanes, público
tabelião de Braga[8]. O monarca dirige a carta – 23 de Agosto de 1292, Porto – à Igreja
de Braga e a sua publicação, passados dois anos, parece ter sido ditada pela sucessão
arquiepiscopal de D. Fr. Telo por D. Martinho Pires de Oliveira.
Confirma-se, desta forma, uma tentativa de divulgação da lei por particulares
interessados no seu cumprimento – as instituições (nas conjunturas supra, eclesiásticas)
que podem obter vantagens com a aplicação, preocupam-se também com a efectiva
divulgação da lei. Neste sentido se poderá inserir a notificação ex oficio do próprio
monarca apenas aos respectivos interessados: “mas quando a lei não interessava a
todos, bastaria o registo no cartório da entidade que devia aplicá-la ou a entrega de cópias aos
interessados feita oficiosamente”[9].

1
Ponte de Lima, AM – Pergaminho n.º28.
2
Para a “acção defensiva dos mosteiros e igrejas, conduzida pelos arcebispos de Braga” vide José MARQUES, A Ar-
quidiocese de Braga no Séc. XV, Temas portugueses, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1988, pp. 635-640.
3
Ainda consta o selo pendente de cera, com as armas régias.
4
José MARQUES, Os itinerários do Arcebispo de Braga D. Fernando da Guerra: 1417-1467, sep. da Revista de
História, Centro de História da Universidade do Porto, Porto, 1978.
5
Braga, AD – Colecção Cronológica, n.º1042.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 16.
7
PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora, Vol. II, p. 54 (Edição fac-similada da INCM, 1998).
8
Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. n.º144.
Braga, AD – Livro das Cadeias, doc. 95, fls. 57-57v.
9
CAETANO, História do Direito, p. 345.

130
José Domingues

Quer isto dizer que, numa época conturbada em que ainda não existe a imprensa,
não admira que todos os meios de divulgação sejam válidos e até se convertam numa
receita válida para o erário régio. Por outro lado, é natural que se aproveite a reunião
de Cortes – com a presença de múltiplos jurisperitos e dos representantes do clero,
da nobreza e dos concelhos – para a publicação de preceitos normativos[1]. Mas a
prodigalidade das excepções não impede que, paralelamente, exista um processamento
genérico de publicação, preceituado pelo próprio monarca. Caso contrário, se as leis
dependessem apenas daqueles que as solicitassem, podendo cada um escolher as que
mais lhe conviessem, ou da notificação do soberano, deixaria de fazer qualquer sentido
a própria feitura de leis gerais, dirigidas a todos os membros da ordem jurídica e com
o propósito de, em abstracto, disciplinar um número indeterminado de situações.
O entendimento deste processo tem sido relatado de uma forma bastante
lacónica[2], por isso, convém esclarecer alguns critérios orientadores. Na Idade Média,
a publicação ou primeiro instante da vida de uma lei é feita de duas formas – oral
e escrita – e em dois espaços territoriais distintos – na corte e no resto do reino. Por
outras palavras, a primeira formalidade era a publicação, oral e escrita, no âmbito da
corte e, em seguida, a publicação, também oral e escrita, pelos diversos lugares do
reino. A publicitação oral, de uma relevância extrema, levando em conta o coetâneo
analfabetismo e a distância de décadas da imprensa, tem sido assaz esquecida pela
nossa historiografia medieva.

Publicação na Corte
Antes da difusão pelos diversos cantos do reino, qualquer lei medieva impunha
a sua publicação no âmbito restrito da corte, ou local onde esta se encontrasse. Em
princípio, o primeiro momento de vida da ordenação régia parece ser a sua publicação
em audiência de algum alto magistrado da Corte[3].
Desde o reinado de D. Dinis, pelo menos, que as leis eram lidas em audiência,
para que depois se não alegasse ignorância. A lei de 19 de Março de 1317, sobre as
apelações que saem das terras dos fidalgos, foi “leúda, e pubricada na Corte d’ElRey nas
suas Audiencias perante os Sobre-Juizes, e Ouvidores”[4]. Em carta régia, de 28 de Maio de
1322, sobre jurisdição nas terras das ordens, determinou aos tabeliães que a registassem
nos seus livros e a lessem perante as justiças das terras uma vez no mês até um ano e
“en testemunyo desto mandei ende fazer esta Carta; e figia leer pelas mhas Audiencias”[5].
Ainda no tempo dionisino regista-se o caso inusitado da carta régia de 1 de Janeiro
de 1294, sobre o testemunho de cristão contra judeu, que, apesar de ser guardada em
todo o senhorio, não se guardava nas audiências da corte. Provendo o monarca nesse
sentido, foi lida e publicada na audiência da corte, em Santarém, a 22 de Julho de 1324,
quase 30 anos depois da sua génese: “e disserom-me, que esta carta que lha aguardavão
em todo meu Senhorio, e que lha nom queriam guardar nas minhas audiencias: porque tenho

1
Por exemplo, o acervo de leis publicado em 1340, durante as cortes de Santarém.
2
Embora para uma época e espaço territorial distinto, registe-se a excepção de Martim de ALBUQUERQUE,
“A Aplicação das Leis no Ultramar Durante o Antigo Regime”, Estudos de Cultura Portuguesa, vol. 3, Lisboa,
2002, pp. 95-108, que, apesar de tudo, apresenta flagrantes similitudes com o processamento medieval.
3
DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 124-125.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 74, § 5, pp. 292-293.
5
João Pedro RIBEIRO, Memorias para a historia das inquirições dos primeiros reinados de Portugal, colligidas
pelos discipulos da aula de Diplomatica no ano de 1814 para 1815, debaixo da direcção dos lentes proprietario, e
substituto da mesma aula, Lisboa, na Impressão Regia, 1815, doc. 40, p. 117.

131
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

por bem, e mando, que a dita minha carta seja guardada tambem nas audiencias, como
em todo meu Senhorio, assy como em ella he contheudo; a qual carta logo foi leúda, e
publicada em Santarem nas minhas audiencias aos vinte e dois dias de Julho Era de mil e
trezentos e sessenta e dois annos perante o meu Sobre-Juiz, e perante os meus Ouvidores
da minha Corte”[1]. Fica, de certo modo, debilitada a ideia supra de que a publicação
começava pela corte, estendendo-se depois ao senhorio. Mas o que parece mais lógico
é que já tivesse sido publicada, só que não se cumpria, por isso, se tornou necessário
insistir na sua leitura em audiência.
No reinado do seu filho sucessor, Afonso IV, intensifica-se a leitura em audiências
da corte, mas agora presidida pelo seu chanceler, ou o Vezes Tenente de Chanceller, ou
pelo escrivão da Chancelaria, com a presença assídua de dois conceituados jurisperitos,
mestre Pedro e mestre Gonçalo das Leis[2]. Um conjunto de leis foram publicadas no
dia 1 de Julho de 1340, sábado, em Lisboa, “per Pedro do sem chanceller delRey presentes
Meestre pedro e Meestre gonçalo das leys e outros muytos da mercee delRey e gram peça de poboo
do seu senhorio”[3]. Repete-se a publicação (pelo menos para algumas) na “Era de mil e
trezentos e Outeenta anos dez e sex diax de Janeyro em Coymbra forom pobricadas estas lex pelas
audiençias da Corte as quaes publicou afonsse anes escriuam da Chancelaria per mandado del
Rey”[4]. As medidas para obviar a situação das mulheres que desbaratam os seus bens
após a morte dos maridos, de 14 de Julho de 1343: “publicada foi esta Ley em Santarem
per Meestre Gonçalo, e Joham Durãaes Vezes Tenente de Chanceller, Vassallos, e privados
do dito Senhor Rey”[5]. Outra lei de 1343, sobre as querelas dos clérigos contra os leigos,
foi “pubricada em lixboa nas audiançias per meestre Pedro E per meestre gonçallo das leJs
uasallos del Rey na Era de Lxxxj anos”[6]. Um conjunto de disposições sobre porteiros e
sacadores das dívidas “forom pobricadas em santarem so o alpender de sam domjngos
hu fazem a feira biij dias d’abrill Era de mjll E iijc Lxxxiij annos presentes dom aluaro prioll
do espritall E meestre Pedro E meestre gonçallo das leijs uasallos del rrej E Joham durãeez teente
uezes de chançeller E todos os ouujdores E sobreJuizes E homens boons E outros mujtos”[7]. No
mesmo sentido, em lei de 13 de Dezembro de 1347 – dos que levam cousas defesas para
fora do reino – D. Afonso IV, em Coimbra, ordena “E por nom averem razom de dizer, que
esta minha Carta e defeza nom sabiam, ha mandei pubricar nas Audiencias”[8].
Para o imediato reinado do Justiceiro, só me foi possível situar a publicação de
uma lei, feita em Évora a 7 de Fevereiro de 1359, perante um incipiente magistrado,
o corregedor da corte, e seu ouvidor – “perante Lourenço Gonçalves Corregedor da
Caza d’ElRey[9], e Affonso Annes d’Alemquer, seu Ouvidor, sendo em Audiencia
com muitas outras companhias, foi pubricada esta Ordenaçam. E eu Joam Martins
esto escrepvi”[10]. A magistratura palaciana, do corregedor da corte, aparece referida
pela primeira vez, neste reinado, em documento de 1357. Esta singularidade não
permite uma generalização a todo o reinado de D. Pedro I, mas, como veremos, será

1
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 88, § 6, pp. 504-505
2
Estes dois letrados também se destacam na feitura de leis [HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, p. 27].
3
Livro das Leis e Posturas, p. 328.
4
Livro das Leis e Posturas, p. 405.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 15, § 1, p. 85.
6
Ordenações de D. Duarte, p. 348.
7
Ordenações de D. Duarte, pp. 481-489. Esta publicação falta nas Ordenações Afonsinas (Liv. II, Tít. 53).
8
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 47, p. 173.
9
Lourenço Gonçalves desempenhou esta magistratura de 1357 a 1369 [Cfr. HOMEM, O Desembargo Régio,
p. 470].
10
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 109, § 2, p. 394.

132
José Domingues

maioritariamente nas audiências destes magistrados que se fará a publicação de leis


no reinado de D. João I.
A corregedoria vai sentir um acentuado declínio no reinado de D. Fernando, que,
logo no começo, implantou novamente a magistratura dos meirinhos-mores[1]. Por
carta de 6 de Março de 1367, passada em Santarém, nomeou João Lourenço do Buval,
seu vassalo, para “meyrjnho moor por ElRey Antre doiro e minho”, em lugar do corregedor
Gonçalo Peres, com faculdade de pôr ouvidor em seu lugar para desembargar os feitos
da correição[2].
Embora não saiba de nenhum bulício contra esta nomeação do Formoso, não deve
ter sido pacificamente aceite, sentindo-se, por isso, o monarca compelido a nomear
Domingos Peres, no final do ano de 1369, corregedor para os julgados do termo do
Porto[3]. As queixas agudizam-se e atestam-se nas Cortes de Lisboa de 1371: queixam-se
os procuradores dos concelhos de que D. Fernando punha pelas comarcas meirinhos,
que eram grandes fidalgos e traziam consigo grande comitiva de gente, e não aplicavam
direito como deviam – “os quaes mjlhor sseeria dicto estragadores que nom corregedores”.
Pelo que pedem ao rei que os extinga e ponha corregedores como dantes[4]. O monarca
não acede, achando que os meirinhos eram indispensáveis[5], mas, em contrapartida,
continua a nomear corregedores, acomodando as duas magistraturas no espaço
territorial da mesma comarca[6] e referindo-as, em simultâneo, nos seus diplomas[7].
Este detrimento da corregedoria das comarcas, verosimilmente, fez-se sentir
também na da corte, por isso, a publicação das ordenações é feita perante outras
individualidades, nomeadamente, o chanceler Lourenço Eanes Fogaça e Afonso

1
Marcello CAETANO, A Administração municipal de Lisboa durante a 1.ª dinastia (1179-1383), Academia Por-
tuguesa de História, Lisboa, 2.ª edição, 1981, p. 104: “D. Fernando de resto reforçou em todo o País o prestí-
gio e a autoridade dos seus representantes regionais, enviando meirinhos fidalgos quando lhe parecia que
os corregedores letrados não se impunham suficientemente”.
2
Porto, AHM – Livro 2º de Pergaminhos, doc. 21.
3
Porto, AHM – Livro 2.º de Pergaminhos, doc. 32.
Porto, AHM – Livro A, fls. 47v-48v.
4
Cortes Reinado de D. Fernando (1367-1383), Lisboa, 1990, p. 45.
5
“A este arrtigo rrespondemos e djzemos que per rrazom desta guerra que ouuemos muijtos do noso Se-
nhorio ffezerom mujtos malefiçios e outros maaes os quaes nom eram correjudos porque alguus daqueles
que os ffezerom eram taaes pessoas que os Jujzes das vilas e logares nom poderom nem sse atreuerom
de fazer direito nem outrosij os corregedores ssegundo fomos çertos E porem nos por bem da nosa terra
posemos em alguus logares meirinhos fidalgos que teem mjlhor postudo cõmo esto posam correger e rre-
frear ao adeante que se nom faça E depois que a terra ffor assesegada cõmo compre nos faremos aquelo
que entendermos por mais noso seruiço e prol dos nosos naturaaes E quando ese meirinho fezer em seu
ofiçio o que nom deue ou oijdor ou os seus homens fica a nos logar de o correger e estranhar pela guisa que
deuemos E no ffeijto Couber” [Cortes Reinado de D. Fernando, p. 45].
6
Na comarca de Entre-Douro-e-Minho são meirinhos-mores João Lourenço Buval [1367-1369] e Lopo Go-
mes de Lira [1372-1382] e corregedores Gonçalo Peres [1366-1369], Domingos Peres [1369-1371] e Gil Eanes
[1373-1374]
Na comarca da Beira aparece como meirinho Vasco Fernandes Coutinho [1375-1383] e como corregedores
Gonçalo Eanes [1375] e Diogo Gil [1383].
Na comarca de Entre-Tejo-e-Guadiana só consegui identificar o meirinho-mor Álvaro Gonçalves de Moura
[1376].
Na comarca do Algarve é meirinho-mor Vasco Martins de Melo [1377-1382] e corregedores Lourenço Gil
[1372] e Vasco Gil [1383].
Na comarca da Estremadura, aparece como corregedor Geraldo Eanes [1371 e 1383].
Na comarca de Trás-os-Montes, o meirinho-mor é João Rodrigues de Portocarreiro [1376-1377].
7
Nomeadamente, a lei sobre jurisdições, publicada em Atouguia, em Setembro de 1375 [Ordenações Afonsi-
nas, Liv. II, Tít. 63, §§ 11-12]; a lei, sem data, contra as malfeitorias dos fidalgos nas terras por onde transi-
tavam [Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 60, §§ 9 e 16-19].

133
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

Domingues, do seu conselho, ou Gil Eanes, sobrejuiz na Casa do Civil[1]. A lei do


que vive com senhor a bem fazer e se parte dele sem sua vontade foi publicada em
Salvaterra de Magos, no dia 24 de Abril de 1374, “a soo alpendere dos Paços d’ElRey,
aa porta dos ditos Paaços, que estão contra o Levante, Affonso Domingues do Conselho
do dito Senhor Rey, e Lourenço Annes Fogaça seu Chanceller provicarom em presença
de mim dito Tabelliom estas Hordenaçõoes, escriptas em papel per mãao do dito
Affonso Domingues; as quaees Hordenaçõoes, que assy provicarom, dizião, que era
per mandado do dito Senhor Rey”[2]. A lei de como os mercadores estrangeiros devem
comprar e vender as suas mercadorias foi publicada em Santarém, a 26 de Maio de 1375
“presente Affonso Domingues, e Vaasquo Gonçalves Vassallos d’ElRey, e do seu Concelho, e
de Gil Eannes Vassallo, e Sobre Juiz d’ElRey na Casa do Civil, que entom tinha o seello da
dita Casa, e Joham Lourenço Vassallo d’ElRey, e Juiz por elle na dita Villa, e Gonçalo
Domingues, Procurador do dito Concelho, e presentes outros muitos homeens boons,
que pera esto forom chamados, e juntos no alpendere do Moeesteirode São Domingos,
forom poblicadas, e leudas per mim Gonçalo Pires Escripvão da Chancellaria estas
Hordenaçõoes suso escriptas. E logo polo dito Affonso Domingues foi mandado da
parte do dito Senhor com acordo dos Vereadores, e homeens boons da dita Villa, que
pozessem homeens boons, e eixecutores certos para fazerem cumprir estas cousas, que
nas ditas Hordenaçõoes som contheudas, e pelo dito Senhor he mandado; e que esse
Juiz as fezesse cumprir e guardar em todo sob as penas em ellas contheudas”[3]. A lei
das provas que se devem fazer por escritura, foi publicada em Lisboa, na alcáçova,
nos paços de el-rei, onde faziam a audiência do crime, a 12 de Setembro de 1379,
estando presentes “Lourenço Annes Foguaça Chanceller, e Gonçalo Martins, e Gomes Annes
Ouvidores do Crime, e Gonçalo Annes, e Lourenço Esteves, Sobre-Juizes em a Corte do dito
Senhor, e outros muitos homeens da Corte, e da dita Cidade, e doutras partes do Regno”[4].
Esta lei das provas, com uma adição de D. João I, foi novamente publicada, em
simultâneo com outra lei de D. Fernando, sem data, sobre as arrematações[5], no dia 22 de
Maio de 1406, em Santarém “honde pousava ElRey nos Paços do Arcebispo de Lisboa,
que estam fora da Villa. Alvaro Gonçalves Chanceller Moor do dito Senhor a fez, e mandou
pubricar estas Hordenaçoeens aqui escriptas, as quaees logo forão pubricadas, e leudas
perante elle, e perante Fernam Rodrigues Mestre da Cavallaria d’Aviz, e os Doutores
Gomes Martins Juiz dos Feitos d’ElRey, e Lançarote Esteves, isso mesmo Doutor, e
presente os Licenciados Fernam Gonçalves, e Vasquo Gil de Pedroso do Desembarguo
do dito Senhor, e Rodriguo Annes Ouvidor da Raynha, e outros muitos boõs homeens,
que hi presentes estavam. A qual publicaçam o dito Chamceller mandou a mim Joham
Fernandes Escripvam do dito Senhor, que o escrepvesse”[6]. A adição de D. Duarte à lei
das provas foi publicada em Estremoz, a 20 de Janeiro de 1436/37[7].
O caso supra é uma excepção, porque no reinado de D. João I, a publicação de
ordenações que consegui inventariar são, maioritariamente, feitas, como ficou dito,

1
Gil Eanes será corregedor da corte entre 1377-1383 e 1391-1401 [HOMEM, O Desembargo Régio, p. 470] e
perante ele será publicada uma ordenação, mas já no reinado de D. João I.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 26, § 9, p. 122.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 4, § 8, pp. 49-50.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 64, § 23, pp. 231-232.
5
Esta lei fernandina faz referência expressa à publicação na corte.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 64, § 19, pp. 229-230.
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 106, § 5, p. 387. Esta lei é de D. Fernando, mas a publicação é do reinado
de D. João I, que, aos menos prevenidos, poderia parecer erro de data.
7
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 64, § 28, p. 234.

134
José Domingues

nas audiências do corregedor da corte. Por exemplo, a lei que proíbe certas pessoas de
andarem em bestas muares, foi publicada em Tentúgal, no alpendre da albergaria de S.
Domingos, a 29 de Março de 1395, “em audiencia perante Gil Annes Corregedor da Corte
d’ElRey”[1]. Outra, para que não aforrem nem arrendem por ouro nem prata senão pela
moeda geral corrente no reino, foi publicada, a 9 de Fevereiro de 1402, “per Johane
Meendes Corregedor em a Corte d’ElRey, que sya em audiencia ouvindo os feitos, em
Monte Mor o Novo”[2]. A 8 de Fevereiro de 1409, sobre a valia das moedas, é feita em
Lisboa, “seendo hy Johane Meendes Corregedor na Corte d’ElRey em audiencia ouvindo
os feitos”[3]. Finalmente, a ordenação sobre os foros e arrendamentos que foram feitos
por moeda antiga, foi publicada em Óbidos “per Johane Meendes Corregedor da Corte
d’ElRey a quatorze dias d’Agosto anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo
de mil e quatrocentos e vinte e dous annos”[4].
Saliente-se que esta última ordenação já está datada pelo ano do Nascimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo, quando é sabido que a ordenação da mudança da era de
César, para o ano de Cristo, foi publicada – “na Cidade de Lixboa per mim Filippe
Affonso nos Paaços d’ElRey, perante Diego Affonso Ouvidor em sua Corte, que sya em
audiencia” – passado oito dias, no dia 22 de Agosto desse ano de 1422[5]. Assim sendo,
o mais plausível é que, esta do dia 22, seja uma segunda publicação e que já tivesse
sido publicada ou, pelo menos, elaborada em Óbidos, no dia 14, a ordenação da era
nova[6]. Só os documentos feitos no espaço temporal destes oito dias [14 a 22 de Agosto]
o poderão confirmar ou infirmar.
A ordenação sobre as vestimentas dos tabeliães régios foi publicada em Sintra,
presente o chanceler-mor Doutor Rui Fernandes, a 23 de Julho de 1433: “foy pobricada
a hordenaçam Suso esprita em syntra em a praça da dita villa presente o doutor Ruy fernandez
çhançeler moor deL Rey E presente luís martijnz do desenbargo do dito Senhor E presente os
Juízes E ofiçiaes da dita villa de syntra E presente outras muitas gentes que hy estauam aos
xxiij dias do mes de Julho E logo o Juiz da dita villa pedyo o trelado pera o teer por rregimento
do dito concelho E o dito chanceler lho mandou dar E Eu Joham esteuez esto espriuy Era do
naçimento de noso Senhor Jesu Cristo de mjll E iiijc xxxij anos”[7]. Apesar de nas Ordenações
de D. Duarte constar o ano de 1432, correcto é o ano de 1433, conforme consta nas
Afonsinas[8]. Só em 23 de Julho desse ano (1433) a corte estava em Sintra; em Julho de
1432 estanciava em Santarém[9].
De qualquer forma, parece que a tradição de publicar as leis nas audiências do
corregedor da corte se prolonga pelos reinados sucessivos. A ordenação, dos que foram
à batalha de Alfarrobeira, foi publicada duas vezes, no espaço de três dias: primeiro no
final da audiência do juiz dos feitos de el-rei, pelo escrivão Afonso Eanes[10]; e depois,

1
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 119, § 16, p. 399.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 2, §§ 10-11, p. 37.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 1, § 27, p. 15.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 1, § 57, p. 27.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 1, § 59, pp. 27-28.
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 66, § 2, p. 234.
6
Palavras do tabelião da terra da Feira, Gonçalo Eanes, em instrumento de 15 de Setembro de 1423 [Braga,
AD – Colecção Cronológica, doc. 1059].
7
Ordenações de D. Duarte, pp. 645-646.
8
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 49, §§ 1-4.
9
MORENO, Os Itinerários de el-rei Dom João I, pp. 381 e 379.
10
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 120, § 3, pp. 408-409.

135
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

“aa entrada da audiencia do Corregedor da Corte d’ElRey”[1]. Outra ordenação de D.


Afonso V, sobre a paga de ouro e prata que é emprestada, foi publicada na “Cidade de
Lisboa, no Alpendre da feira da dita Cidade, aos quatro dias do mez de Fevereiro, Era
de mil e quatro centos e cincoenta e dous annos, perante Pero Carreiro Ouvidor d’ElRey,
e loguo Teente do Corregedor de sua Corte, fazendo audiencia, e perante Diego da Silva
Fidalgo da Casa do dito senhor, e perante Pero Migues, e perante Joham d’Olivença, e
Gil Rodrigues, e Lopo Rodrigues, e todolos outros Escripvãaes”[2]. Nesse ano de 1452,
no dia 3 de Junho, foi publicada outra lei em Évora “em Audiencia per Alvaro Peres
Vieira Corregedor da Corte do dito Senhor”[3].
Posto isto, passemos ao outro momento da publicação na corte, que é o registo
escrito nos respectivos livros da Chancelaria, que, para Marcello Caetano constitui a
primeira formalidade de publicação[4]. Apesar de aqui tratado em segundo lugar, não quer
dizer que, obrigatoriamente, este momento tenha que ser posterior ao da publicação
oral. Na verdade, não encontro qualquer indício que, com segurança, me permita uma
conclusão segura, por isso, a ordem que sigo é meramente de arrumação da matéria –
parece a mais lógica e também a seguida por Martim de Albuquerque[5].
Em Portugal, a prática de registar os mais importantes diplomas régios nos livros
da Chancelaria, inicia-se já com D. Afonso II, no final do primeiro quartel do século
XIII[6], consolidando-se a partir de Afonso III[7]. Pelo que não me parece demasiado
arriscado preconizar, também para essas eras, os primórdios do registo das leis
emitidas pelo monarca[8]. A presente falta de muitas leis na Chancelaria é facilmente
explicável com o copioso desaparecimento dos seus livros, ou fólios de alguns, e com
a reforma da Leitura Nova.
A lei mental é um caso deveras curioso e intrigante que, apesar de documentada
a sua vigência desde os princípios do reinado de D. João I[9], só foi registada em livro
da Chancelaria no reinado de D. Duarte – “Dom Eduarte pella graça de Deus Rey de
portugall e do Algarue e Senhor de Cepta a quantos esto uirem fazemos saber que
conssyrando nos em como ElRey meu Senhor e padre cuja alma Deus aja auia feta
huã ley em sua uoontade sobre as terras da coroa do Regno A quall ataa gora nunca
fora pobricada nem scripta E por esta rrazom sse mettiam sobre ella mujtas duujdas
e contendas em nossa corte”[10]. Antes de mais saliente-se que, ao que tudo indica,

1
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 120, § 4, p. 409.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 109, § 7, p. 402.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 112, § 9, p. 409.
4
CAETANO, História do Direito, p. 345. Note-se, no entanto, que este autor não faz qualquer alusão à pu-
blicação oral nas audiências da corte.
5
Martim de ALBUQUERQUE, “A Aplicação das Leis no Ultramar Durante o Antigo Regime”, Estudos de
Cultura Portuguesa, vol. 3, Lisboa, 2002, pp. 102-103
6
Rui Pinto de AZEVEDO, “O Livro de Registo da Chancelaria de D. Afonso II de Portugal (1217-1221)”,
Anuario de Estudios Medievales, n.º4, Barcelona, 1967, pp. 35-73.
7
CAETANO, História do Direito, p. 357.
8
Nos registos de Afonso II não consta nenhum dos diplomas emitidos no seu reinado. De Sancho II não se
conhece nenhuma lei, mas nos livros da Chancelaria de Afonso III já aparecem registados alguns dos seus
diplomas normativos.
9
Uma das aplicações mais antigas dos princípios da lei mental é de 15 de Maio de 1393, na confirmação
das doações de Diogo Lopes Pacheco. Vide Paulo MEREA, Novos Estudos de História do Direito, Barcelos,
1937, pp. 61-74.
10
IAN/TT – Maço 1 de Leis, n.º158.
Curioso, no final do foral de Tavares (c. Mangualde) de 1112/Feveriro/27, consta: “Eu conde Henrique e
infante Teresa mandamos fazer esta carta que roboramos de mente e nossa mão”.

136
José Domingues

o registo dos diplomas na Chancelaria régia “assumia mais o sentido de mecanismo de


fiscalização da autenticidade das leis e elementos de prova do direito em vigor”[1].
A primeira, de uma série de questões inescusáveis, é: como foi possível, durante
mais de quatro décadas (quase todo o reinado de D. João I), implementar e aplicar,
contra a classe mais poderosa da época, uma lei desta envergadura, sem sequer estar
reduzida a escrito? Parece uma completa heresia judiciária que, mesmo em finais do
século XIV e inícios do XV, se aplique uma lei só porque um talentoso legisperito como
o Doutor João das Regras assim o tenha preconizado, embora com o consentimento
régio. Sobretudo, se pensarmos que estavam em causa destinatários poderosos como
Diogo Lopes Pacheco, Martim Vaz de Melo, Álvaro Rodrigues de Lima, entre outros.
Isto conduz a uma segunda questão: será que a lei mental nunca foi escrita antes
do ano de 1434? Não o creio. Que ela não tenha sido publicada em audiência da corte é
aceitável, mas, pelo menos em diploma avulso, a comunicar aos mais altos magistrados
régios (da Casa da Suplicação, da Casa do Cível e das Comarcas), ela tinha que ser
escrita[2]. Não vejo qualquer motivo para que esta lei, da maior importância para a
salvaguarda do património territorial da coroa, não tenha seguido, via escrita, os
trâmites de propagação das restantes leis gerais. Uma terceira questão: partindo do
princípio que tenha sido idealizada por conselho do Doutor João das Regras[3], como
se podia memorizar o seu peremptório conteúdo, sabendo que este excepcional jurista
morreu em 1404?
Outra questão: não se estará a fazer uma interpretação demasiado literal dos
documentos eduardinos? Provavelmente o que o monarca disse, ou pretendia dizer,
é que a lei nunca tinha sido publicada em audiência e escrita no livro da Chancelaria
Mor, mas isso nada impede que tivesse sido escrita em diploma avulso ou mesmo
noutro livro distinto. Recorde-se, a propósito desta segunda alternativa, que no ano
de 1391 já existia Livro de Ordenações do Reino. Sendo aceitável a paternidade do Dr.
João das Regras, tanto para esta lei como para o coetâneo livro de ordenações, não seria
descabido de todo que ela constasse e fosse pela primeira vez escrita nesse livro de
ordenações. Ou seja, a Lei Mental pode ser o corolário do primeiro passo para dotar o
reino de um corpo jurídico normativo, levado a cabo pelo Doutor João das Regras, até
porque os princípios da Lei Mental se fundamentam em textos de Direito Romano,
que o tradutor do Código tão bem conhecia.
Embora a lei mental seja a mais marcante e emblemática e a que, até à data,
suscitou a curiosidade dos investigadores, não é caso único. Os compiladores das
Afonsinas, acerca de uma Lei do infante D. Duarte, que obrigava a que os criminosos
que pretendessem refugiar-se nos coutos de homiziados do reino tivessem cometido
o crime a uma distância de, pelo menos, dez léguas, em relação ao lugar do couto,
dizem expressamente “e pero que essa Ley nom fosse escripta no Livro da Chancellaria,
passarom porem Cartas na forma della a algumas Villas de seus Regnos, que lhe por
ello enviarom supricar, e bem assy a alguns lugares dos ditos coutos”[4]. A laconicidade

1
COSTA, História do Direito, p. 256.
2
Repare-se na resposta de D. Afonso V a um capítulo das cortes de 1472-73, reunidas em Coimbra e Évora:
“Respomde ElRey que a Ley memtall ouue primçipio e fundamento em elRey Dom Joam seu avoo e foy depois por
elRey dom Duarte seu pay de todo autorizada e pobricada” [IAN/TT – Cortes, Maço 2, n.º14, fl. 64]. Parece que
D. Duarte se limitou a confirmar e publicar a dita lei.
3
Cfr. M. A. Coelho da ROCHA, Ensaio sobre a Historia do Governo e da Legislação de Portugal, Coimbra, na
Imprensa da Universidade, 1843, p. 115.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 118, §2, p. 387. Sobre esta lei também se “recreciam continuadamente
muitas duvidas na nossa Corte das Villas coutadas” [§ 3].

137
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

deste apontamento deixa transparecer que se trata de uma lei escrita, da qual se tinham
passado traslados a algumas vilas, mas que, tal como a lei mental, não estava registada
no livro da Chancelaria.
Outro exemplo claro de que uma Lei poderia estar em vigor, em diploma avulso,
sem o respectivo registo no livro da Chancelaria, consta da lei de D. Duarte, de 2 de
Maio de 1434, dirigida aos corregedores das comarcas, para que as rainhas e os infantes
não dessem cartas de privilégios a nenhumas pessoas: “E nom embargante, que estas
Cartas assy passem pelos Corregedores, Mandamos-vos que façaaes registar, e assentar
esta Carta toda de verbo a verbo em o Nosso Livro da Chancellaria pera mais seer devulgado, e
poblicado esto, que assy hordenamos, e Mandamos, como dito he”[1].
Assim sendo, o que, presumivelmente, o diploma régio de 8 de Abril de 1434
pretendia dizer era que a lei mental nunca tinha sido escrita no livro da Chancelaria.
É que, de outra maneira, não se entende que este diploma normativo não escrito
tivesse a coercibilidade necessária para ser aplicado, durante mais de 40 anos, contra
a poderosa classe da nobreza. Por outro lado, a necessidade de registo no livro da
Chancelaria parece assomar no reinado de D. Duarte, período álgido de abreviamento e
correcção das ordenações[2]. Ou seja, os antigos livros de ordenações estão em eminência de
serem revogados e tornados inúteis, por isso, é necessário transferir para os vulgares
livros da Chancelaria as ordenações que apenas estavam nesses livros de ordenações,
de modo a que sobre elas não subsistam quaisquer dúvidas – mormente, a lei mental.
Será que a partir do momento em que surgem livros específicos de ordenações na
Chancelaria Mor, o duplicado em outro livro (o livro da Chancelaria) passou a ser
dispensável? Para quê um registo duplo no mesmo arquivo?
Mas as alhadas da lei mental não se ficam por aqui. Depois de aplicada durante
quatro décadas sem o registo no livro da Chancelaria (para não dizer, sem ser escrita), por
mais estranho que possa parecer, esta lei não foi compilada na subsequente reformação
afonsina. E, no entanto, não há dúvidas de que continuou vigente[3], que foi aclarada por
D. Afonso V[4] e foi escusada por D. Manuel, em 1496, ao duque de Bragança[5], vindo a

1
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 39, § 6, p. 292.
2
Cfr. o que a este propósito se disse no capítulo anterior.
3
Vide os documentos publicados por Silva Marques, em Descobrimentos Portugueses, vol. III:
1462, Setembro, 19 – Doação régia de várias ilhas “sem enbarguo da ley mentall” [doc. 22, p. 34]
1467, Junho, 30 – Doação da saboaria preta na ilha da Madeira, onde se referem as regras da lei mental
[doc. 39, pp. 58-60]
1472, Julho, 03 – Carta de doação da cidade de Anafé, em África, com toda a sua jurisdição civil e criminal
e sem reserva de alçada para o rei, “sem embargo da lej mentall” [doc. 85, p. 115]
1474, Março, 10 – Carta de confirmação, a Rui Gonçalves da Câmara, da compra por ele feita a João Soares
e sua mulher, da capitania da ilha de S. Miguel, e doação da mesma capitania “fora da llei mental” [doc. 108,
p. 145]
1481, Agosto, 10 – Carta de doação régia a D. Diogo, duque de Viseu, de Beja e da ilha da Madeira, tudo
como tinha o infante D. Henrique, “Segumdo forma da ley memtall” [doc. 156, p. 241]
1489, Maio, 30 – Carta de doação das ilhas de Cabo Verde, “sem embargo da lley memtall” [doc. 235, p. 352]
1499, Dezembro, 11 – Doação da capitania da ilha de S. Tomé, “sem embarguo da lley ememtall” [doc. 345, p.
554]
Um capítulo geral das cortes de 1472-1473, de Coimbra-Évora, faz referência expressa à “ordenação mental”
[Cfr. SOUSA, As Cortes Medievais, vol. II, p. 389]; E ainda, a revogação no testamento de D. João II, de 29 de
Setembro de 1495, “ey por revogada a Ley Mental” [As Gavetas da Torre do Tombo, CEHU, Lisboa, 1967, vol.
VI, p. 95].
4
Ordenações Manuelinas, Liv. II, Tít. 17, § 25, pp. 89-90.
5
António Caetano de SOUSA, Provas da História Genealógica, Tomo III, 2.ª Parte, doc. 14, pp. 54-61.

138
José Domingues

ser aproveitada nas três edições das Ordenações Manuelinas 1512-13/1514/1521[1]. Parece
que o registo escrito da lei mental estava condenado a converter-se num verdadeiro
tormento para o discernimento contemporâneo. Neste momento, só me ocorre mais
uma pergunta: porque é que a lei mental não foi compilada nas Afonsinas?
Limito-me à transcrição das palavras de Caetano: “É um mistério a sua omissão
nas Ordenações Afonsinas, fruto porventura da oposição dos fidalgos, que ainda nas Cortes de
1472 consideravam a lei como feita «contra direito e justiça»”[2].
Deixando este arcano, é incontestável que, desde tempos remotos, se torna
primordial o registo escrito das leis nos livros da Chancelaria. Desde D. Afonso III,
pelo menos, como divulgou Alexandre Herculano[3], que se realizam esses assentos,
conforme ficou expresso no livro IV, no título 33 – “Em a nossa Chancellaria foi achado
hum custume escripto em tempo d’ElRey Dom Affonso o Terceiro”[4] – e no título 108 – “ElRey
Dom Affonso o Terceiro, de louvada memoria, madou escrepver no Livro da sua Chancellaria
huum custume”[5]. Aos nossos dias, chegaram alguns desses registos e ainda no reinado
de D. Duarte, a declaração sobre os direitos reais, foi mandada “assentar no Livro da
nossa Chancellaria, por tal que Nós, e nossos sucessores, e nossos Officiaaes possamos
por ella aver comprida enformaçom do que a nosso serviço comprir, e a bem do nosso
Povoo em todo tempo, que o caso requerer, honde as Leyx do Regno, e Costume
antigoo d’outra guisa nom determinaarom” – mais uma vez a época de D. Duarte [6].
Duas ordenações sobre o apuramento dos besteiros do conto e dos homens da vintena
do mar – uma do dia 1 e outra do dia 8 de Novembro de 1410, outorgadas em Aldeia
Galega[7] – são enviadas a Pedro Eanes, escrivão da Chancelaria, para que as registe
“nos livros da nossa Chancellaria”[8]. A lei do privilégio dado ao judeu que se torna
cristão, feita em Tentúgal no dia 1 de Novembro de 1422, foi mandada “escrepver no
nosso Livro da Chancellaria, e que dello vãao logo Cartas testemunhavees a todalas Cidades,
e Villas dos nossos Regnos, pera seer sabudo este nosso estabelecimento”[9].
A Ordenação sobre o regimento dos juízes e título das medidas e pesos (em
Montemor-o-Novo, a 08 de Janeiro de 1496) é bem explícita ao asseverar o seguinte:
“e por que a todos venha em noticia e non posa alegar jnorancia mandamos ao nosso Chanceler
moor que faça pobllicar esta Ordenaçam e registar em os livrros da nosa Chancelaria e tanto que
registada poblicada for emviie della o trelado aos Correjedores das Comarquas pera a fazerem
publicar e notificar em todos os lugares de suas Correyçoõees e os juizes mandamos que o façam
trreladar nos livros das Camaras de seus jullgados”[10].
Não restam dúvidas que as leis são registadas nos livros da Chancelaria desde,
pelo menos, D. Afonso III[11], mas não deixa de ser curioso que só a partir do reinado de
D. João I surja documentada essa imposição de registo, por parte do próprio monarca.

1
Ordenações Manuelinas, Liv. II, Tít. 17.
2
CAETANO, História do Direito, p. 515.
3
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, pp. 149-150.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 33, Início, p. 140.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 108, Início, p. 395.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 24, § 37, p. 218.
7
No diploma, com as duas ordenações, consta “Feito em Aldea guallegua a vinte seis dias de Novembro.
ElRey o mandou Era de mil e quatrocentos quarenta e tres annos” [Ordenações Afonsinas, Liv. I, p. 405], mas
é óbvio que só pode ser era de 1448 anos (ano de 1410).
8
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 68, § 1, p. 405.
9
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 83, § 3, p. 496.
10
RIBEIRO, Dissertações Cronológicas, tomo IV, Parte I, doc. 7, pp. 192-199.
11
Conferir no anexo I final as que, ainda hoje, constam nos livros da Chancelaria.

139
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

O acentuar e oficializar desta obrigação pode, de alguma forma, estar relacionado com
o aparecimento dos livros de ordenações. Se antes se registavam as leis como qualquer
outro documento de interesse para a coroa e para o reino, a partir de então passam a
existir livros de registo próprio, sendo coerente que se preconize o registo escrito das
respectivas ordenações.
De qualquer forma, não é inteiramente seguro – simbólico da Idade Média – que
a prática de registar as leis na Chancelaria da corte se observasse, ininterruptamente,
com todo o zelo e rigor, até por algumas conjunturas supra referidas. Nas Afonsinas,
este dever ainda se não encontra entre os do chanceler mor[1], constando expresso, pela
primeira vez, no regimento homólogo das Ordenações Manuelinas de 1521[2]. Passados
três meses da sua publicação na Chancelaria, as ordenações passam a ter efeito e
vigorar em todo o reino[3] e, na corte, passados apenas oito dias[4].

Publicação no Reino
Transcorrido este primeiro momento de publicação nos meandros da corte, e
início de vigência, passemos agora para a divulgação pelos recantos do reino. Para
a Época Medieval, infelizmente, não localizei nenhum documento que nos permita
cursar, de forma cabal e elucidativa, o processo de publicação de uma lei régia, por
isso teremos que nos bastar com os parcos subsídios documentais que vão surgindo.
De qualquer forma, já na longínqua lei da almotaçaria (datada de 26 de Dezembro de
1253) se prescreve o conhecimento e publicação e que “em qualquer vila e em qualquer
julgado seja lida esta minha carta pública de decreto estabelecida na minha cúria”[5].
Gama Barros encarrega-se de aduzir alguns “exemplos relativos à publicação dos
diplomas legislativos”, que lhe permitem suportar que “geralmente a publicação das leis e
de quaesquer ordens do soberano estava a cargo dos tabelliães, que, depois de as registrarem nos
seus livros, as deviam ler no tribunal do concelho, ordinariamente uma vez em cada semana,
durante um certo período que chegava não raro até um anno”[6]. No que é seguido de perto
por Marcello Caetano, que não refere todos os exemplos aduzidos por Gama Barros e
lhe acrescenta apenas o caso da lei de 1314[7].
Longe de mim de querer contestar, ou seque atenuar, o papel basilar que os
tabeliães desempenham na publicitação das leis durante todo o período mediévico, no
entanto, estou convicto que esta função tem sido demasiado exaltada, em detrimento de
outros eminentes intervenientes. Mas antes, vejamos os esteios documentais carreados
por Gama Barros e Marcello Caetano, com actualização das fontes impressas[8]:

1
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 2, pp. 15-23.
2
Ordenações Manuelinas, Liv. I, Tít. 2, § 9, pp. 38-39.
Cfr. BARROS, História da Administração Pública, vol. I, p. 143.
3
Alvará de 10 de Dezembro de 1518, pub. RIBEIRO, Dissertações Cronológicas, Tomo IV, Parte 1.ª, doc. 10,
pp. 202-204.
4
Ordenações Manuelinas, Liv. I, Tít. 2, § 9, pp. 38-39.
5
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, pp. 191-196.
6
BARROS, História da Administração Pública, vol. I, p. 137.
7
CAETANO, História do Direito, p. 345: “Onde havia um tabelião, existia uma pessoa alfabetizada, sabendo
ler e escrever. O rei passa pois a utilizar os tabeliães para dar publicidade às suas leis, tornando-se frequente,
a partir do reinado de D. Dinis, que no texto de cada uma se contenha a ordem e o modo de publicação”.
8
Nomeadamente, ao tempo da História da Administração de Gama Barros ainda não estava publicado o
Livro das Leis e Posturas e, ao tempo da edição da História do Direito de Marcello Caetano, ainda não estavam
impressas as Ordenações de D. Duarte.

140
José Domingues

• 1265, Julho, 28 [Coimbra] – lei das anúduvas: “Et mando quod tabellio de
uestra uilla registret istam cartam in suo registro.”.
[Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 217]

• 1270, Março, 06 – Na lei sobre o acrescentamento da moeda determina que


“todo-los Taballioens de meu Regno, que screvam esta Minha Carta em
seus Registros”
[Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 219]

• 1272, Junho, 22 – Postura sobre as revelias: “E mando que cada huum de vós
en vossas vilas que façades escrever todas estas cousas compridamente. E
vós tabellioens escrevede esta postura en vossos rregistros”.
[Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 226]

• 1281, Agosto, 01 [Beja] – “E mando a este meu homem, portador desta


carta, que a faça leer en cada una Villa, e en cada logar, e no Concelho
apregoado. E mando aos Taballioens que registem esta Carta, per tal que
sea pera sempre, e que a lêam cada doma huma vez en o Concelho”.
[Eluciário, vb. “Pontaria”]

• 1282, Julho, 31 – Lei sobre as apelações “E mando a todo-los tabaliãaes


dos meus rreignos que rregistem esta minha carta E a leam nos concelhos
ameude”.
[Ordenações de D. Duarte, p. 166]

• 1303, Junho, 01 [Lisboa] – Lei de D. Dinis, “E Mando a todollos Taballiaães


que a registem em seus Livros, e que a leam cada domaa huma vez em
Concelho ataa huum anno conprido”
[Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 73, p. 285]

• 1311, Fevereiro, 03 [Lisboa] – A lei para que ninguém se servisse de besta


alheia contra vontade do dono, foi mandada publicar do seguinte modo:
os tabeliães haviam de ler a lei em concelho uma vez em cada semana por
espaço de um ano, além de a registarem nos seus livros.
[Livro das Leis e Posturas, 76-78]
[Ordenações de D. Duarte, 280-281]

• 1311, Fevereiro, 18 [Lisboa] – Da carceragem a levar dos presos: “E mando


a todo-llos tabaliãaes que lhes leam esta carta em concelho cada domaa huã
vez huum dia E ho dia seja a sesta feira E que a rregistem em seus livros”.
[Livro de Leis e Posturas, 78-79]
[Ordenações de D. Duarte, 281-282]

• 1311, Julho, 20 [Coimbra] – Lei que proíbe aos clérigos, ordens, mosteiros,
fidalgos e cavaleiros, que não possam comprar ou adquirir bens nos
reguengos de el-rei: “E por nom poderem dizer, que o nom sabem, mando
aos Taballiães, que registem esta carta em seus livros, e a leam cada Domingo
em Concelho ataa huum anno sob pena dos corpos, e dos averes”
[IAN/TT – Gaveta XV, maço 9, n.º17]
[IAN/TT – Chancelaria de D. Dinis, Liv. 3, fl. 76]
[Livro das Leis e Posturas, 381-382 (com data de Junho, 15 – seguida por Gama Barros)]
[Ordenações de D. Duarte, 208-210]
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 13]
[RIBEIRO, Memorias para a historia das inquirições, doc. 32, pp. 99-102]

141
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

• 1314, Maio, 18 [Lisboa] – Dos contratos e prometimentos por razão de


dívidas: “E mando a todolos Tabelliãaes dos meus Regnos, que registem
esta minha Carta, e a leam huma vez na domãa em Concelho nas Villas, e
Lugares do meu Senhorio.”
[Livro das Leis e Posturas, 183-184 (com data de Maio, 02)]
[Ordenações de D. Duarte, 293-294 (com data de Maio, 11)]
[Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 6, § 4, p. 65]

• 1317, Março, 19 [Santarém] – “E mando a todollos Tabaliães de Meus


Regnos, hu esta carta for mostrada, que a registem em seus Livros, e
que a leam em Conselho no mez huma vez. E por nam poderdes depois
dizer que nam sabedees esto, Mando pobricar esta Carta nas Minhas
Audiencias. Dada em Santarem a 19 dias de Março. ElRey com sua Corte
o mandou. Lourenço Annes a fez Era de 1355 annos. Esta carta foi leúda, e
pubricada na Corte d’ElRey nas suas Audiencias perante os Sobre-Juizes,
e Ouvidores 19 dias de Março Era de 1355 annos”
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 74, § 5, pp. 292-293]

• 1322, Maio, 28 – A carta régia sobre jurisdição nas terras das ordens,
determinou aos tabeliães que a registassem nos seus livros e a lessem
perante as justiças das terras uma vez no mês até um ano.
[RIBEIRO, Memoria das Inquirições, doc. 40]

• 1327, Março, 13 [Vimieiro] – Lei pela qual se proibia a exportação de ouro


e prata, ordena que a proibição seja apregoada e que o tabelião do lugar
onde a lei for apresentada a registe no seu livro.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fl. 73 – Foros de Beja]
[Coimbra, FLU – Sala Gama Barros, «Colecção de Cortes», vol. I, fl. 99-99v
(cópia do século XVIII)]
[Cortes Portuguesas: Reinado de D. Afonso IV, pp. 19-20]

• 1349, Maio, 21 [Alenquer] – Que os testamentos sejam publicados perante


juizes leigos, e que não valham as publicações dos vigários da Igreja:
“E fazee que se lea esta carta em cada huã domaa huã vez em cada huã
desas villas E termos E que os Tabaliãees de cada huum deses logares a
rregistem em seus liuros. E que a leam em concelho muyto amehudo em
guisa que se cunpra E que se nom perca minha Jordiçom. E estpreuam em
seus liuros o dia que a pobricarem so pena dos corpos E dos averes”.
[Livro das Leis e Posturas, 440-442]
[Ordenações de D. Duarte, 524-526]

• 1349, Julho, 13 [Leiria] – Que os homens usem dos mesteres que tinham antes
da Peste Negra, e que os que moravam por soldada sejam constrangidos
a morar com amos: “E mando aos corregedores desas comarcas que
cheguem a eses logares E uejam como guardades as sobreditas cousas E
que uo-llo estranhem se em alguã cousa delas negrijentes fordes E fazede
apregoar no uoso concelho pera pobricardes esta carta E depoys que for
pobricada mandaee aos tabaliaees que a rregistem em seus liuros E que a
pobriquem no concelho o primeiro dia de cada huum mes de todo o anno
so pena de perderem seus ofiçios”.
[Livro das Leis e Posturas, 448-452 (sem data)]
[Ordenações de D. Duarte, 526-529]

142
José Domingues

• 1413, Agosto, 17 – Provisão derrogando as providências sobre coudelarias,


castração de Carneiros e matança de lobos e coutamento de porcos: foi
publicada por um tabelião em Santarém, cinco dias depois de ser dada
em Lisboa, na presença de F., sobrejuiz de el-rei e corregedor na sua Casa
do Cível, e de muitos homens bons, chamados com pregão para ouvirem
a publicação da lei. E em seguida o juiz, os vereadores e homens bons
requereram ao corregedor que a fizesse cumprir e guardar, e ele assim o
ordenou; e o escrivão do concelho pediu um instrumento da publicação,
que o corregedor lhe mandou passar.
[BARROS, História da Administração Pública, vol. I, p. 137.]

A estes exemplos, que realçam a subida utilidade dos tabeliães, podemos acres-
centar outros, respigados, sobretudo, das Ordenações Afonsinas:

• 1286, Julho, 10 [Lisboa] – O rei ordena aos tabeliães: “Esta Carta regista-
de-a em vossos livros”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 13, § 2, p. 175]

• 1288, Novembro, 09 [Montemor-o-Novo] – Lei de D. Dinis, sobre os que


furtam aves: “E mando a todollos meus Taballiaães dos meus Regnos,
que registem esta minha Carta”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 54, p. 199]

• 1291, Março, 21 [Coimbra] – Lei para que as igrejas e mosteiros não


hajam herdamentos por morte de seus professos: “E mando a todolos
Taballiãaes do meu Regno, que cada huum registe esta minha Carta em
seus livros”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 15, § 4, p. 179]

• 1294, Janeiro, 01 [Coimbra] – Na lei para que não valha testemunho de


cristão contra judeu sem testemunho de judeu: “e mando aos Tabelliães,
que registem esta carta, e que a leam em concelho huma vez cada
domaa”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 88, § 5, p. 504]

• 1294, Janeiro, 05 [Coimbra] – Dos que forçosamente filham posse da


coisa que outrem possui: “ E Mando a todolos Taballiãaes, que esta
Carta virem, que a registem”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 65, § 3, p. 229]

• 1302, Janeiro, 11 [Coimbra] – Lei sobre o falso testemunho: “E mando


aos Taballiaães dessas Villas, que registem esta Carta em seos livros, e a
leam cada mez em Concelho huã vez”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 37, p. 143]

• 1302, Agosto, 11 [Lisboa] – Na lei da bigamia manda-se que os tabeliães


a registem e leiam no concelho uma vez por semana, até um ano.
Manda‑se também que “meu homem que tenha esta mha carta e que a
faça leer e pobricar en conçelho cada ujla e cada Julgado Vnde al nom
façades senom a uos e a el me tornaria eu poren”.
[Livro das Leis e Posturas, 200-201]
[Ordenações de D. Duarte, 308 e 187)]

143
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

• 1302, Agosto, 14 [Lisboa] – Lei sobre o que matou a sua mulher em


adultério, “E mando a vos Taballiaães, que registedes esta Carta em
vossos Livros”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 18, p. 55]

• 1302, Setembro, 11 [Lisboa] – Lei da mulher casada que saiu de casa


para fazer adultério, “E mando a cada huum de vós em vossas Villas e
termos, que façaaes comprir e guardar esto. E mando a cada huum dos
Taballiaães da Villa, que registe esta Carta, e que a leam cada mes hua
vez em Concelho ataa huum anno”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 12, p. 45]

• 1303, Junho, 04 [Lisboa] – Na lei de D. Dinis, sobre os feitos e presos que


devem ser trazidos à corte: “E mando a todollos Taballiaães, que cada
hum em seus lugares escrepvam as malfeitorias, que se em esses lugares
fezerem (…) E mando, que vos leam esta Carta no Concelho ataa hum
anno conprido, pera veer como sobre esto fazedes meu mandado”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 56, p. 204]

• 1311, Junho, 15 [Coimbra] – Na lei para que os clérigos, ordens, mosteiros,


fidalgos e cavaleiros não possam ganhar bens nos reguengos: “E por
nom poderem dizer, que o nom sabem, mando aos Taballiãaes, que
registem esta Carta em seus livros, e a leam cada Domingo em Concelho
ataa huum anno sob pena dos corpos, e dos averes”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 13, § 8, p. 173]

• 1313, Agosto, 09 [Lisboa] – Das penas para os que encobrem malfeitores


ou os acolhem em suas casas: “E por ueer em como sobresto comprides meu
mandado mando a uos tablliões desses logares que registrem esta carta em seos
liuros e que uola leam de xv em xv dias em nos Concelhos”.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 71v-72 – Foros de Beja)]

• 1315, Maio, 11 [Lisboa] – Para que não acolham malfeitores (lei de 1313,
Agosto, 09): “E por ueer em como sobresto comprides meu mandado,
mando a uos tablliões desses logares que registrem esta carta em seos
liuros e que uola leam de xv em xv dias em nos conçelhos. E de como hy
comprides meu mandado que mho enuyem dizer so pea dos corpos”.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 71v-72 – Foros de Beja]

• Na ordenação de D. Dinis, sem data, para que os cavaleiros e fidalgos


e outros poderosos não filhem bestas de sela nem de albarda sem
consentimento de seus donos: “mandando aos Tabelliãaes dos Lugares,
que leessem a dita Ordenaçom aos Juízes das Terras, em cada domãa
huã vez ataa huum anno comprido, e a registassem em seus livros por
tal, que ao depois cada huum delles com razam nom podesse allegar
ignorancia”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 62, § 3, p. 394]

• 1361, Outubro, 05 [Évora] – De como devem ser feitos os contratos entre


os cristãos e os judeus: “E mando todallas Justiças dos meus regnos que
façam comprir e guardar estas cousas e cada huma dellas pella guisa
que em esta mjnha carta he contheudo e que a façam registar aos tabaliaães
em seus liuros e a façam leer e pubricar nos concelhos na primeira domaa de

144
José Domingues

cada huum mes pera seerem os dictos christaãos bem certos de como os
dictos contractos ham de fazer de guisa que nom ache eu hi al despois”
[Chancelarias Portuguesas: D. Pedro I, Doc. 569, pp. 255-258]

• 1392, Julho, 17 [Coimbra] – A propósito de uma letra do Papa, D. João I


ordena: “E nos vistas a dita letera, como era sãa, e sem antrelinha, nem
outro vicio, nem rasura nenhuã, e por seer milhor, e mais especificada,
e declarada de pobricar a alguuns Taballiãaes, que latim nom sabem:
Teemos por bem, e mandamos a qualquer Taballiam de nossos Regnos, a
que a dita letera, ou esta nossa Carta for mostrada, que a pobliquem
nas audiencias, e praças, e em outros lugares quaeesquer, perante
quaesquer Juízes, e Justiças, assy Ecclesiasticas, como Sagraaes, que lhes
for requerido, e dem testemunhos destas publicaçõoes, se lhes forem
pedidos, e demandados da parte das ditas Cumunas, e Judeos, sob seus
signaaes, sem embargo das nossas defesas, e Ordenaçõoes, que sobre tal
razom som feitas”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 94, § 13, p. 519]

• 1433, Abril, 13 [Torres Vedras] – A lei das barregãs dos clérigos, manda
“E por os ditos Corregedores, e Juízes nom allegarem ignorancia,
mandamos que esta Hordenaçom seja poblicada, e os Taballiaães a
registem em seus livros, e pobliquem nas Audiencias nos lugares, honde
viverem”.
[Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 19, p. 71]
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 22, § 22, p. 204]

São demasiadas reportações documentais para se subestimar o múnus dos tabe-


liães, mas, ao contrário do que quiseram acreditar Barros e Caetano, não esgotam o
processamento medieval de publicação. Antes de mais, algumas das conjunturas refe-
ridas por Gama Barros enquadram-se no apartado anterior – publicação nas audiên-
cias da corte – por isso as omiti neste rol (01 de Julho de 1340 e 16 de Janeiro de 1342;
1343; e 12 de Setembro de 1379). Mas, sobretudo, porque não deixa de ser curioso que
a maioria dos diplomas seja do reinado de D. Dinis (23), D. Afonso III (3) e D. Afonso
IV (3) e só um do reinado de D. Pedro I, dois do reinado de D. João I (e a publicação de
um diploma pontifício) e um do reinado de D. Duarte.
Não deixa de ser sintomático que a partir de Afonso IV quase que se evaporem,
do final das leis, as imposições de registo e leitura aos tabeliães. Penso que não se trata
de um mero acaso, talvez antes se possa explicar com a instituição da magistratura
dos corregedores por todo o reino. Se, para os dois reinados de Afonso III e D. Dinis,
pode ter pleno cabimento a asserção de Caetano de que “onde havia um tabelião, existia
uma pessoa alfabetizada, sabendo ler e escrever”[1], o mesmo se não aplica para os reinados
seguintes. Porque se até aí os imediatos oficiais de justiça régia, que calcorreiam o reino,
pertencem à estirpe dos fidalgos iletrados – os meirinhos-mores – os corregedores de
comarca vem inverter essa conjuntura.
Saliento, a magistratura dos corregedores pode ter atenuado, mas não extinguiu
a função dos tabeliães [2], pois ainda no tempo de D. João I se estabelece: “e por nom
averem razom de dizer, que esta minha Carta e defeza nom sabiam, ha mandei pubricar nas

1
CAETANO, História do Direito, p. 345.
2
vide o que diz a ordenação supra das barregãs dos clérigos de 1433.

145
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

Audiencias; e mando aos Taballiaae[n]s das Comarcas, hu esta minha carta for mostrada, que
a registem nos seus livros, e a leam em cada huu[m] anno no Concelho no dia em que fezerem
Juizis”[1]. Ou seja, se os tabeliães são destinatários das ordenações desde o incipiente
poder legiferante do monarca, nada impede a sua adaptação à realidade jurídica dos
séculos seguintes e, mormente, à existência de outros intermediários.
Meirinhos e corregedores “per el-rei”, eis duas eminentes personalidades do Jus
medieval português que, reiteradamente, tem vindo a ser excluídas do processamento
de publicação das leis régias. Mas, antes de qualquer avanço, impõe-se o desarreigar
da crendice, caluniadora e pouco verídica, que coloca os itinerantes corregedores no
universo dos analfabetos, caso contrário, teria pouco mérito a proposta acima que, a
partir da sua génese, se atenua o papel dos tabeliães.
Desde os primordiais estudos da Academia das Ciências de Lisboa ficou vincado
que os corregedores nem sempre eram escolhidos entre os oficiais letrados:

“He porém certo, que algumas vezes forão feitos sem serem Letrados; porque no
Cap. Iº das Cortes, que o Senhor Rei D. João I fez em Lisboa em 1427, se queixão
os Povos do dito Senhor fazer Corregedores simplices Escudeiros, sem sciencia,
que por tanto obravão muitas couzas contra Direito”[2].

Gama Barros afirma categoricamente que “ordinariamente os corregedores não


eram letrados, até porque os não havia em numero que chegasse para se proverem n’elles
estes cargos”. Em defesa da sua alegação convoca, novamente, as queixas do povo,
apresentadas nas Cortes de Lisboa de 1427, contra a nomeação régia de corregedores
iletrados, que mal sabem escrever, e que por ignorância cometem muitas injustiças.
Acrescenta-lhe também as queixas, contra esses corregedores ignorantes e iletrados,
formuladas nas Cortes de Évora de 1481/82 e de 1490[3].
Mas já nas Cortes de Coimbra de 1385 o povo pedia corregedores “boos e Entendjdos”,
prometendo o monarca que “pora hi taaes corregedores que seJam pertençentes pera
Ello E que guardem ao poboo sseu dereito E Justiça”[4]. Também nas Cortes de 1433 pedem
os povos a el-rei que cometa o ofício das correições a homens letrados, discretos e
entendidos que conheçam e entendam o direito, que não sejam naturais das comarcas
para onde são enviados e não estejam no ofício mais de três anos[5].
É esta a ideia que impera e se encontra, de um modo geral, disseminada na
bibliografia hodierna, pelos manuais e compêndios de História do Direito pátrio[6] ou,
mesmo, por trabalhos de investigação mais específicos.
Contra esta declarada ignorância dos corregedores, antes de mais, pode e deve
alegar-se que para alguns deles é possível conhecer o grau académico-jurídico alcan-
çado. Gonçalo Dias parece ser o mestre Gonçalo das Decretais. Álvaro Pais, corregedor

1
ALBUQUERQUE, “A Aplicação das Leis no Ultramar Durante o Antigo Regime”, p. 98.
2
José António de SÁ, “Memoria sobre a origem e Jurisdicção dos Corregedores das Comarcas”, Memorias
de Litteratura Portugueza publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa, Tomo VII, Lisboa, 1806,
p. 305.
3
BARROS, História da Administração Pública, pp. 187-189.
4
Ordenações de D. Duarte, p. 629.
5
Armindo de SOUSA, As cortes de Leiria-Santarém de 1433, Porto, 1982, p. 107.
6
Por exemplo, António Manuel HESPANHA, História das Instituições, Épocas medieval e moderna, Livraria
Almedina, Coimbra, 1982, p. 430: “A sua reduzida intervenção directa em tarefas judiciais explica que,
até muito tarde, o lugar de corregedor pudesse ter sido desempenhado por pessoas sem formação jurídica
especializada”.

146
José Domingues

Entre-Douro-e-Minho nos anos de 1358 a 1360, já aparece como escolar em documento


de 7 de Junho de 1355, e desempenhou a função de vedor da Chancelaria da Casa do
Cível. Pedro Afonso da Costa, corregedor na mesma comarca entre 1403 e 1405, era
escolar em Direito canónico. Filipe Eanes também era escolar em Direito e foi corre-
gedor na dita comarca entre 1448 e 1449. Ainda na comarca de Entre-Douro-e-Minho,
aparecem dois corregedores bacharéis, Pêro de Aguiar, entre 1508 e 1512, e Pêro Vaz,
entre 1512 e 1518. Os últimos corregedores desta comarca, António Correia e Sebastião
Álvares, eram licenciados em Direito. Na comarca de Trás-os-Montes, o seu corregedor
entre 1527 e 1538, era Doutor.
Aparício Domingues, o primeiro corregedor conhecido de Entre-Douro-e-Minho,
antes de ser designado para o cargo, aparece na documentação como sobrejuiz.
Afonso Rodrigues é designado como ouvidor do crime e sobrejuiz. João Eanes
Marvão foi ouvidor do crime de Afonso IV. Afonso Domingues foi ouvidor, sobrejuiz,
desembargador e conselheiro régio. Vasco Eanes foi ouvidor de el-rei. Pedro Afonso
surge como desembargador e vedor da fazenda. Fernão Martins surge como ouvidor dos
feitos e desembargador. Pero Esteves foi desembargador de Afonso IV. João Peres foi
sobrejuiz. Gonçalo Peres foi escrivão da Chancelaria, conselheiro de el-rei e “regedor”
da Casa do Cível. Gil Eanes foi ouvidor da rainha D. Leonor, corregedor da corte e
sobrejuiz da Casa do Cível. Álvaro Gonçalves passa pelos três principais cargos do
Desembargo do seu tempo, ouvidor dos feitos, corregedor da corte, vedor da fazenda
e chanceler-mor. Afonso Martins Alvernaz foi juiz de Coimbra, conservador do Estudo
Geral e ouvidor régio. Diogo Gil foi corregedor da corte. Pedro Afonso da Costa foi
ouvidor e “logoteente do Corregedor da Corte”. João Fernandes foi também ouvidor e
“logoteente do Corregedor da Corte” e ainda sobrejuiz.[1]. Por sua vez, o sobrejuiz da
Casa do Cível, Gonçalo Anes, serviu de corregedor na comarca da Beira[2].
Armando Luís Carvalho Homem, na sua dissertação de doutoramento em
História da Idade Média, O Desembargo Régio (1320-1433), notificou o surgimento
dos corregedores de comarcas entre os subscritores das cartas régias, embora a título
excepcional. De entre os corregedores da comarca de Entre-Douro-e-Minho, o autor,
refere apenas Afonso Martins Alvernaz e o ouvidor do então meirinho-mor, Álvaro
Fernandes do Rego[3]. Levantou apenas a extremidade do véu, porque o arrolamento
dos corregedores de comarca fica muito aquém, na realidade, para o período estudado
por Carvalho Homem (1320-1433), só da comarca de Entre-Douro-e-Minho, passaram
pelo Desembargo Régio os seguintes corregedores:

• Aparício Domingues [1323]


• Afonso Rodrigues [1325]
• Gomes Martins [a. 1328]
• João Eanes de Marvão [1328-1330]
• Afonso Domingues
• Vasco Eanes [1343-1344]
• Gonçalo Dias [1349] (mestre Gonçalo das Decretais?)
• Pedro Afonso [1352-1353]
• Fernão Martins [1356-1357]

1
Veja-se o trabalho de Carvalho HOMEM, O Desembargo Régio.
2
BARROS, História da Administração Pública, tomo XI, Lisboa, 1954, p. 159.
3
HOMEM, O Desembargo Régio, pp. 144-145.

147
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

• Álvaro Pais [1358-1360]


• Pero Esteves [1362]
• João Peres [1364]
• Gonçalo Peres [1366-1369]
• Gil Eanes [1373-1374]
• Álvaro Gonçalves []
• Afonso Martins Alvernaz [1383]
• Gonçalo Peres [1384]
• Diogo Gil [1388]
• Pedro Afonso da Costa [1416]
• João Fernandes [1420]

Escolhi a comarca de Entre-Douro-e-Minho, a título exemplificativo, por ser a que


melhor conheço, já que serviu de base ao trabalho tutelado – intitulado O Braço da Jus-
tiça Régia Entre-Douro-e-Minho Medievo: os corregedores “per el-rey” – apresentado à USC
em Setembro de 2003, para reconhecimento de suficiência investigadora. A extensão
às restantes comarcas pode alargar o rol acima, revelando-se suficientemente demons-
trativo do preponderante papel dos corregedores no desembargo régio e, também, da
falta de estudos em Portugal dedicados a esta importante magistratura medieval. Em
definitivo, são cargos da maior importância na Corte e no Desembargo Régio, próxi-
mos do monarca e da sua confiança absoluta, que não se compadecem com o analfa-
betismo imputado aos corregedores das comarcas, confirmando, mais uma vez, que
desde cedo os juristas ocuparam posição de destaque junto dos soberanos.
Por outro lado, são frequentes as interferências destes magistrados no direito
local, aprovando posturas e ordenações, criando ou modificando outras, compilando
costumes municipais, estatuindo regimentos, etc[1].
Neste âmbito, assume especial destaque o papel do corregedor Afonso Anes, que
no ano de 1339 elaborou algumas ordenações para o concelho de Beja[2], mas já um seu
antecessor, Estêvão Peres, antes do ano de 1332, tinha deixado marca da sua passagem
no direito local desta cidade alentejana[3]. A propósito do primeiro, em 5 de Agosto
de 1336, D. Afonso IV nomeia Estevão Gonçalves, tabelião de Faro, para o ofício de
tabelião geral do corregedor Afonso Anes “meu corregedor no Rejno do Algarue e nos
outros logares que lhj per mjm ssom deuisados”[4]. Mas em 1342 já era corregedor na Beira,
por isso, no dia 11 de Junho desse ano, presidiu à comitiva que se reuniu na igreja de
S. Martinho de Mouros, para a elaboração dos foros desse concelho, em cumprimento
de um mandato de el-rei[5].
Nas Cortes de Elvas de 1361, no artigo 21º dos gerais, o povo queixa-se ao monar-
ca de que os corregedores revogam as Ordenações e Posturas feitas “per Concelho apre-

1
Neste sentido, CAETANO, A administração municipal de Lisboa, p. 70: “Os magistrados agiam com ampla
autoridade, decidindo quantas dúvidas lhes eram apresentadas, revendo e alterando foros e até estatuindo
de novo, como se fossem legisladores, quando surgia alguma matéria carecida de regra”.
2
IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 49v-58v (Foros de Beja).
3
IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 34v-35 (Foros de Beja).
4
Chancelarias Portuguesas: D. Afonso IV, Instituto Nacional de Investigação Científica, organizador A. H. de
Oliveira MARQUES, vol. II, 1.ª edição, Lisboa, 1992, doc. 50, pp. 107-108.
5
Collecção de livros inéditos de historia portugueza, Academia Real das Sciencias de Lisboa, tomo IV, pp. 579 e ss.

148
José Domingues

goado”, provocando graves prejuízos aos seus moradores, e solicitam que se proíba os
corregedores para o não fazerem e, em caso de incumprimento, se estabeleça pena de
“scarmento”. Responde-lhe o monarca:

“A este Artigoo Respondemos que nos plaz de se fazer como per elles he pedido
com entendjmento que as façam pella guisa que foj mandado per nosso Padre nas Cortes
que fez em lixboa E per esto nom se entenda que possam fazer nem ordinhar contra aquelles
que per nos he desenbargado em estas Cortes nem contra aquelo que per nosso Padre foj
ordinhado em Cortes Mays façam todo comprir e aguardar so pea dos corpos nom
enbargando cartas nossas nem dos corregedores que contra esto seiam dadas”[1]

Efectivamente, no artigo 19º das Cortes de 1352, queixando-se o povo de que


os vereadores se apartam em lugares onde fazem posturas e outras coisas, em dano
do concelho, manda el-rei que esses vereadores façam chamar o concelho e façam
as posturas com consentimento do concelho ou da maioria dele[2]. A ideia de que
as Ordenações e Posturas concelhias devem acatar os preceitos normativos régios,
transitou, posteriormente, para as Ordenações Afonsinas[3].
Ainda nas ditas Cortes de Elvas de 1361, em capítulo especial do Porto (art.º
6º), os procuradores desta cidade se queixam que os alcaides tomam as armas aos
mercadores que vêm das aldeias e montes comprar vinhos e fruta, porque assim o
mandava uma Ordenação do corregedor. O monarca acedeu ao pedido, mandando que a
nenhum mercador, enquanto for de caminho, não lhe tomem a sua espada ou cuitelo
que leve embainhado, não fazendo com eles dano[4].
No reinado do Mestre de Avis, o corregedor da Beira embargava as posturas e
ordenações antigas do concelho da Lousã, pelo que, por carta de 16 de Março de
1401, expelida de Leiria, ordenou el-rei ao corregedor da dita comarca que, na Lousã,
deixasse usar e usassem das posturas e ordenações antigas (regimento de pães, vinhos
e frutos) que sempre usaram “non enbargando nossas posturas e hordenaçoes que asy no
dicto logar por nós forom fectas”[5].
Durante a primeira quinzena de Outubro do ano de 1412, o corregedor da comarca
e correição de Entre-Douro-e-Minho, Gonçalo Vasques, elaborou um Regimento para
governo da cidade do Porto[6].Com base neste Regimento foram aprovadas novas
Posturas municipais[7].
Caso modelar é o dos procuradores dos mesteres da vila de Santarém, Rodrigo
Álvares e Pedro Afonso, que, nas Cortes de Lisboa de 1459, afirmam que o corregedor
da comarca é indispensável na vila, porque executa as ordenações e posturas do

1
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Pedro I (1357-1367), Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa,
1986, p. 42. O itálico é nosso.
2
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Afonso IV (1325-1357), Instituto Nacional de Investigação Cientifica. Lis-
boa, 1982.
3
Ao estabelecer as funções dos juizes ordinários referem-se primeiro as leis e ordenações do reino e só
depois as posturas e ordenações do concelho [Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 26, §20]
4
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Pedro I, p. 114.
5
Maria do Rosário Castiço de CAMPOS, Lousã (1376-1428) elementos para a sua história, Edição da Câmara
Municipal da Lousã, Lousã, 1987, doc. 11, pp. 112-114.
6
Porto, AHM – Livro das Vereações de 1450 (Liv. 3), fls. 38v-47v. Cfr. A. de Magalhães BASTO, “Notas e
Comentário: Um «Regimento» para governo do Porto”, in Documentos e Memórias para a História do Porto II,
Vereações anos de 1390-1395, Porto, p. 360.
7
Porto, AHM – Livro das Vereações de 1450, fl. 75.

149
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

concelho melhor que os oficiais dela[1]. Para além de tudo, o corregedor de Lisboa,
Lopo Vasques, fez parte da comitiva de revisão da primeira colectânea oficial de leis
do reino[2] e o nome do corregedor da corte, João Mendes, está estreitamente ligado à
compilação e organização desta colectânea de leis pátrias. Foi também este corregedor
da corte que elaborou o Regimento da cidade de Évora[3].
Em jeito de conclusão, desde os graus académicos que se podem apurar, aos
relevantes cargos públicos que sabemos terem ocupado e aos testemunhos da sua
iminente actividade, tanto no âmbito do direito local como no âmbito do direito geral, são
pressupostos iniludíveis para que, de ânimo leve, possamos concluir que os corregedores
medievais eram oficiais iletrados e pouco cientes do direito vigente e a aplicar.
De qualquer forma, apesar dos argumentos supra, ainda restam por explicar as
queixas do povo apresentadas em Cortes. Seria demasiado atrevimento tentar impor
a minha ideia deixando no olvido argumentos que são válidos e constantes desde há
quase dois séculos. Antes de mais, repare-se que, em simultâneo, com o pedido que
esses magistrados não sejam fidalgos iletrados, pedem também a limitação temporal do
seu mandato.
As primeiras queixas contra a sapiência dos corregedores das comarcas surgem nas
Cortes de Coimbra de 1385, implantados que estavam nessa data os meirinhos-mores
de comarca. Nas Cortes de Lisboa de 1427, já no final do reinado de D. João I, repetem-
se essas queixas. Na realidade não consegui apurar se nessa data preponderavam os
magistrados fidalgos. Mas do que não há dúvida é que em 1430 já era regedor da justiça
nesta comarca Aires Gomes da Silva, um fidalgo. Ou seja, nesta data, muito próxima de
1427, já os corregedores tinham sido substituídos pelos regedores da justiça. A hipótese
que proponho – e, para já, é uma mera hipótese – é a de que as queixas do povo se diri-
gissem exactamente contra o insurgimento, de novo, dos fidalgos iletrados.
Por isso, se em 1427 ainda não há qualquer certeza, o mesmo se não pode dizer
das queixas apresentadas nas Cortes de 1433, nessa data era regedor das justiças
de Entre-Douro-e-Minho o fidalgo Aires Gomes da Silva. As queixas das Cortes de
1481/82 são, sem dúvida contra os adiantados, regedores e governadores, que, apesar
das promessas de Afonso V, nas Cortes de Coimbra de 1472, continuavam a existir[4].
E então que pensar do pedido feito pela Câmara do Porto, a 17 de Julho de 1475,
para que, acabando os três anos no Janeiro seguinte o corregedor Lourenço Vaz
Margalho, se reconduzisse novamente para o cargo, dispensando a ordenação, por ser
oficial letrado e recto, bem diferente no seu ofício de seus antecessores, sabendo nós
que o seu antecessor tinha sido o regedor (fidalgo) Vasco Martins de Resende?[5]
Resumindo, as queixas do povo contra os magistrados iletrados, que ocupam o
ofício por períodos de tempo indeterminados, parecem-me ser, antes, encaminhadas
para os meirinhos-mores, regedores ou adiantados – fidalgos iletrados – do que,
propriamente, para os corregedores instituídos na primeira metade do século XIV.
Estou, por isso, convicto da exagerada e infundada asseveração generalizadora que
reputa iletrados todos ou a maioria dos corregedores medievais.
Contestada, minimamente, a tese infundada do analfabetismo dos corregedores,
falta comprovar, como acima disse, que são os destinatários preferenciais das ordenações

1
BARROS, História da Administração Pública, p. 206.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. 1, p. 3.
3
Vide capítulo anterior.
4
BARROS, História da Administração Pública, pp. 216-217.
5
Porto, AHM – Livro das Vereações de 1475, fls. 7-7v.

150
José Domingues

régias e os mais assíduos zeladores do seu cumprimento. Mas a tradição de envio


das ordenações aos imediatos representantes do braço da justiça régia já vinha dos
antecedentes meirinhos-mores. Essa prática surge bem documentada no reinado de D.
Dinis, que dirige a carta de 16 de Junho de 1297, para que os que não forem “lídimos”
não comam nas igrejas, nem lhes sejam dados “cavalarias” ou “casamentos”, a Pero
Esteves e a Fernando Esteves, meirinhos de Além e Aquém Douro, respectivamente[1].
A lei, de 23 de Agosto de 1303, que proíbe aos advogados e procuradores receberem
salários dos seus constituintes antes de acabado o pleito, por sentença ou acordo das
partes, é dirigida a Pero Esteves, meirinho-mor de Além Douro, mandando-lhe que
“façades esta carta leer em todo vosso meirinhado”[2].
Apesar da escassez documental para tempos anteriores, essa praxe deve remontar
ao início do reinado antecedente de Afonso III – o fundador dos meirinhos-mores. Por
carta de 6 de Setembro de 1255, outorgada em Coimbra, este monarca dá conta da lei
que taxava as aposentadorias e comedorias dos fidalgos nos mosteiros e igrejas ao seu
meirinho, Martim Real, e aos porteiros de Entre-Douro-e-Minho[3]. No entanto, a esta
lei afonsina dos padroeiros tem sido imputado o mês de Março de 1261 e, na versão do
Livro de Leis e Posturas, é mandada cumprir através do coetâneo meirinho, Nuno Martins
de Chacim[4]. A manifesta discordância entre datas levou-me a reatar a polémica em
torno da datação crítica deste diploma normativo de meados de trezentos[5].
A data de Março de 1261 foi difundida, vai para 160 anos, por Alexandre Herculano,
que cotejou as versões que conhecia do Livro de Leis e Posturas, das Ordenações de D.
Duarte, do n.º 15 do Maço 1 de Leis e do cartório da Universidade de Coimbra. Vale
sempre a pena transcrever umas ilações que atravessaram, praticamente incólumes,
mais de século e meio:

“Lei expedida a par de Guimarães, em Março de 1261, no Maço 1 de Leis, n.º 15,
no Arquivo Nacional. Esta lei, cheia de erros de cópia, acha-se confundida com
fragmentos de outra ou de outras no Livro de Leis e Posturas, fs. 43 e 44, com
referência a duas eras diversas, a de 1366, que cai no reinado de Afonso IV, e a de
1279, que cai no de Sancho II, e por isso inadmissíveis ambas. Posto que no original,
o documento n.º15 do Maço 1 de Leis é muito mais antigo que o Livro de Leis e
Posturas, o qual parece do tempo de D. João I. A circunstância de ser expedido o
diploma «de a par de Guimarães» torna probabilíssima a data de Março de 1261
(1299), porque Afonso III, que residia em Guimarães desde Fevereiro (Livro de
Afonso III, L. 2, f. 47 e ss.), ainda aí se achava em 12 de Março (L. 1 do dito, f. 14),
mas estava já a 25 no Porto (L. 2 do dito, f. 52), chegava no mesmo dia à Feira
(pergaminho do Mosteiro de São Bento de Ave-Maria do Porto, n.º1, nos Extractos
da Academia) e estava em Coimbra nos princípios de Abril (Livro de Afonso III, L.
2, fs. 53v e 54; cartório da fazenda da Universidade, nos Extractos da Academia).
Veja-se também Figueiredo, Sinopse Cronológica, T. 1, pp. 3 e 4, nota”[6]

1
Livro de Leis e Posturas, p. 196.
Ordenações de D. Duarte, pp. 166-167 (com data de 1301, Janeiro, 07).
2
Livro de Leis e Posturas, pp. 83-84.
Ordenações de D. Duarte, p. 191.
3
Braga, AD – Gaveta 2.ª das Igrejas, n.º 135.
4
Portugaliae Monumenta Historica, pp. 201-210.
5
José DOMINGUES, “Padroado Medieval Melgacense (S.ta Mª da Porta, S.ta Mª do Campo e S. Fagundo)”,
Boletim Cultural de Melgaço, n.º3, edição Câmara Municipal de Melgaço, 2004, pp. 68-70.
6
Alexandre HERCULANO, História de Portugal, Livraria Bertrand, 1982, tomo III, liv. VI, p. 123, nota 154.

151
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

Nada a objectar à esclarecida data – Março de 1261 – a que chega o criterioso


Herculano, que, como o próprio refere, se enquadra no itinerário de Afonso III e
conta com o reforço documental do apógrafo avulso da Torre do Tombo. Antes pelo
contrário, pode-se acrescentar que a corte ainda se encontrava em Guimarães a 16 de
Março desse ano[1] e – embora de pouco mérito, por ser cópia do da Torre do Tombo – a
existência de outro apógrafo tardio no mesmo sentido[2].
A robustez dos argumentos não dissipam, pelo menos totalmente, as incertezas
sobre a datação dos decretos afonsinos que tentaram pôr cobro à desmesura laica dos
padroeiros nos mosteiros e igrejas, sendo bem perceptíveis as reservas do Solitário de
Vale de Lobos. Apesar da data fundamentada a que chega, entende, em mais do que
uma passagem, que o monumento de 1261 se refere a um degredo feito em Guimarães
em época anterior[3] e, quanto à reunião das Cortes de Guimarães de 1261, debate:

“A Commissão de Côrtes da Academia considerou esta lei como resultado de um


parlamento reunido então em Guimarães. É altamente improvavel que houvesse uma
assembléa dessas em Guimarães no mez de março e logo no mez seguinte outra semelhante
em Coimbra. Posto que no contexto da lei se alluda a um degredo de Guimarães,
allude-se a um acto anterior, e não deste anno.”[4]

Destas palavras ressumbra que, apesar de o documento estar datado de 1261, os


decretos são de uma cúria de Guimarães antecedente. Nesta linha de pensamento,
Herculano chega mesmo a atribui-los às Cortes de Guimarães de 1250[5], mas sem
outro fundamento que não seja o da anterioridade a 1261. Dando continuidade, mas
não consonância, a esta ideia oitocentista, o documento da mitra bracarense, vem dar
conta de uma cúria de Guimarães incógnita, reunida no mês de Julho de 1255, portanto
antes de 1261, onde se decretaram providências sobre o jantar e pousada dos fidalgos nas
igrejas e mosteiros, nomeadamente, quanto à comitiva e periodicidade das visitas[6].
Este último monumento, infelizmente, não transcreve, na íntegra, os preceitos
normativos das Cortes de Guimarães, mas a coincidência entre o local de reunião e a
matéria versada é suficiente para, pelo menos, reimplantar a controvérsia da datação
crítica dos decretos de D. Afonso III sobre as comedorias e pousadias dos fidalgos nos mosteiros
e igrejas. Por outro lado, lançando mão, mais uma vez, do itinerário deste monarca,
não restam dúvidas de que em 6 de Setembro de 1255, data do documento bracarense,
a corte estava em Coimbra[7]. O mesmo se não poderá dizer da outra data, Julho de
1255, que o mesmo documento confere às Cortes de Guimarães. Pelo mesmo itinerário,
desse ano de 1255, desde 6 a 12 de Julho o monarca esteve em Lisboa, só aparecendo
a 23 de Agosto em Paço de Sousa[8]. É um espaço temporal de 42 dias, que conjugado
com a proximidade geográfica de Paço de Sousa a Guimarães, bem permite prever
uma deslocação directa de Lisboa a Guimarães e a reunião da cúria para os finais do
mês de Julho desse ano.

1
João José Alves DIAS, “Itinerários de D. Afonso III (1245-1279)”, Arquivos do Centro Cultural Português,
Fundação Calouste Gulbenkian, vol. XV, Paris, 1980, p. 495.
2
Porto, AHM – Livro A, fl. 151-154.
3
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, pp. 184-185 e 201-202.
4
Portugaliae Monumenta Historica, p. 201.
5
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, pp. 184-185.
6
Braga, AD – Gaveta 2 de igrejas, n.º135.
7
DIAS, “Itinerários de D. Afonso III”, p. 482.
8
Idem, p. 482.

152
José Domingues

Recapitulando, aquilo que, neste momento, me parece mais plausível é que os


degredos de Afonso III tivessem sido promulgados no final do mês de Julho de 1255,
na cúria de Guimarães; sendo confirmados, também em Guimarães, em Março de
1261. Consequentemente, terá que acrescentar-se, ao itinerário de 1255 do Bolonhês, a
passagem por Guimarães em finais de Julho e, ao arrolamento das suas Cortes, estas
de Guimarães de 1255.
Em provisão de 31 de Agosto de 1269, o soberano, no seguimento das queixas
apresentadas pela abadessa e convento de Rio Tinto contra a fidalguia, manda cumprir
os mesmos decretos ao meirinho-mor Nuno Martins de Chacim[1]. Posto isto, tudo leva a
crer que, tanto D. Afonso III como D. Dinis, enviam as Ordenações aos seus meirinhos,
que, com toda a probabilidade, as difundem pelos respectivos meirinhados, advertindo
os tabeliães para as suas obrigações de registo e leitura nas audiências concelhias.
A instituição dos corregedores, no reinado de Afonso IV, ao contrário do que se
pensa, não acabou, imediatamente, com os meirinhos-mores, sendo por isso vulgar a
referência simultânea às duas magistraturas. Por exemplo, na lei declaratória sobre as
vindictas, refere-se o meirinho ou corregedor que na terra andar[2]. Desaparecidos no
reinado de D. Pedro I, os meirinhos-mores, como já disse, foram reimplantados por
D. Fernando – a ordenação de como são defesas as bestas muares é mandada publicar
aos meirinhos, cada um em suas comarcas[3] – e só se eclipsam, definitivamente, na
primeira ou segunda década do século XV[4]. Mas passemos então aos corregedores,
vigentes ao tempo das Afonsinas, que o excurso em torno dos meirinhos do rei já foi
longo e merece tratamento mais dedicado e detalhado em trabalho independente.
O predominante papel publicista dos corregedores está bem visível e explanado
quando Afonso IV, na ordenação de 13 de Julho de 1349, outorgada em Leiria, manda
a todos os corregedores das comarcas que zelem pelo cumprimento dessa ordenação,
mas, também, que apregoem nos concelhos a sua publicação e, depois de publicada,
ordenem aos tabeliães que a registem em seus livros e a leiam no concelho o primeiro
dia de cada mês, durante um ano. O incumprimento é cominado com a perda do ofício
do tabelionado, palavras do monarca:

“E mando aos corregedores desas comarcas que cheguem a eses logares E uejam
como guardades as sobreditas cousas E que uo-llo estranhem se em alguã cousa
delas negrijentes fordes E fazede apregoar no uoso concelho pera pobricardes esta
carta E depoys que for pobricada mandaee aos tabaliaees que a rregistem em seus
liuros E que a pobriquem no concelho o primeiro dia de cada huum mes de todo o
anno so pena de perderem seus ofiçios”[5].

É por demais evidente que, antes de chegarem aos tabeliães, as ordenações


passam pelos corregedores de comarca. Já na Ordenação sobre a tomada de aves, de

1
António CRUZ, “Alguns documentos medievais do cartório de São Bento da Ave-Maria”, Boletim Cultural
da Câmara Municipal do Porto, Porto, 1945, vol. VIII, Fasc. 1-2, pp. 142-143.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 53, §§ 13-24.
Ordenações de D. Duarte, pp. 388-392.
Livro de Leis e Posturas, pp. 414-417.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 119, p. 397.
4
A última referência documental que, por ora, consegui é a do meirinho-mor de Entre-Douro-e-Minho e
Trás-os-Montes, D. Fr. Álvaro Gonçalves Camelo, de 12 de Setembro de 1407 [IAN/TT – Livro I de Além
Douro, fl. 253].
5
Ordenações de D. Duarte, pp. 526-529. O itálico é nosso.

153
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

29 de Março de 1359, D. Pedro I “mandou aos corregedores que publicasem esta ley per
todas suas correyçõoes E assy a fizesem apregoar e guardar como em ella he contheudo”[1]. A
lei de 12 de Maio de 1393, para que as cartas enviadas pelos concelhos sejam assinadas
nas Câmaras, é dirigida ao corregedor da corte, ao corregedor de Lisboa e a todos os
corregedores das comarcas do reino, para que a façam publicar em “cada huma Cidade,
Villa, ou Lugar, e Concelho” e a mandem registar na Câmara de cada uma cidade, vila
ou lugar[2]. A lei dos barregueiros casados, de 22 de Setembro de 1400, é dirigida “a
todolllos Corregedores, Juízes e Justiças dos nossos Regnos”, e mandada “que cada huum de
vós em suas Correiçoões, e Julgados façades logo esto pregoar”[3]. A Lei que proíbe as bestas
muares, de 26 de Fevereiro de 1405, é dirigida aos corregedores do reino, que a deviam
publicar por todas as vilas e lugares “em tal guisa, que nenhum Juiz, nem Justiça nom aja
escusaçom, que o nom saiba”[4]. No Regimento dos juízes de 1496 prevê-se o envio de
um treslado, a partir do livro da Chancelaria, aos corregedores das comarcas para o
fazerem publicar e notificar em todos os lugares de suas correições[5].
Concludente é o facto de algumas ordenações se conhecerem pela versão enviada
a um corregedor em concreto. Por exemplo, o compilador das Ordenações serve-se do
duplicado da lei de D. João I, sobre a forma da doação régia dos bens de algum judeu
confiscados por compra ilícita de ouro, prata ou moedas, dirigida ao corregedor da
comarca de Entre-Tejo-e-Guadiana, Afonso Vasques[6]. Esta ordenação aparece com
duas datas distintas nos diversos códices, mas a data correcta é a do ano de 1417 (era
de mil quatrocentos e cinquenta e cinco), porque é próximo desta data que Afonso
Vasques aparece no desempenho da corregedoria de Entre-Tejo-e-Guadiana[7].
Alguns desses transcritos são conhecidos na sua forma avulsa enviada ao respectivo
corregedor. A Lei joanina dos coutos de homiziados, foi enviada ao corregedor da Beira,
Vasco Peres, em carta régia selada com o selo redondo e assinada pelo corregedor da
corte, João Mendes[8]. Este acaso impar permite-nos acompanhar uma fracção ínfima
do moroso excurso temporal de uma ordenação medieval, até chegar aos derradeiros
destinatários. A ordenação foi dada a 30 de Agosto de 1406[9], nas Cortes de Santarém[10],
e a carta para o corregedor da Beira foi assinada no dia 27 de Setembro (passados 28
dias), que a apresentou na Lousã no dia 5 de Novembro desse ano (passados mais
39 dias), onde será publicada no dia 14 desse mês de Novembro (mais 9 dias). Ou
seja, desde a feitura em Santarém até à publicação na Lousã consumiram-se 76 dias. A
distância que medeia entre estas duas localidades nunca será superior a 150 Kms, mas
as inferências são ainda muito precárias, porque, para além de se tratar de um caso
isolado, nos faltam imensos dados, nomeadamente, em que data o corregedor recebeu
o diploma e a sua distribuição pelas outras localidades da comarca[11].

1
Chancelarias Portuguesas: D. Pedro I, doc. 369, p. 148.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 24, §§ 1 e 5, pp. 111 e 113-114. Desta vez o registo é nos próprios livros
da Câmara e não nos dos tabeliães.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 20, pp. 80-81.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 119, p. 403.
5
RIBEIRO, Dissertações Cronológicas, tomo IV, Parte I, doc. 7, pp. 192-199
6
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 78, §1.
7
PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora, p. 239.
8
Lousã, AM – Doc. 105.
Publ. CAMPOS, Lousã (1376-1428), Elementos para a sua história, pp. 117-130
9
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 61, § 24, p. 252.
10
Sobre a duração destas cortes, Armindo de Sousa concluiu que “as cortes de 1406/Santarém reuniram em
Setembro, tendo sido iniciadas, quando muito, em Agosto”.
11
O processo pode não ser tão moroso como, este caso, quer parecer: por exemplo, a ordenação proibindo

154
José Domingues

Este diploma tem ainda a particularidade de certificar a tese que venho expondo
de que os tabeliães, ao contrário do que se pensava, são dos derradeiros destinatários
das ordenações medievais. O termo de publicação, bem como o traslado de todo o
documento, foi feito pelo tabelião da vila, Pedro Afonso, que o leu e publicou, sob
o alpendre dos paços do concelho, por ordem dos juízes da Lousã, Afonso Eanes
e Pedro Fernandes, no dia 14 de Novembro de 1406[1]. Na mesma data, o mesmo
tabelião, publicou a outra ordenação deixada pelo dito corregedor, sobre a castração
de carneiros, que lhe tinha sido enviada por carta régia de 6 de Outubro de 1406[2],
portanto, com diferença de 9 dias, em relação à anterior.
A lei para que não consintam aos moradores de Castela que venham em assuada
a estes reinos para mal fazer, de 17 de Setembro de 1434, é dirigida a Aires Gomes
da Silva, regedor das justiças de Entre-Douro-e-Minho [3], e ao corregedor de Trás-
os-Montes, ordenando-lhe que a fizessem apregoar por todos as vilas e lugares do
estremo, “e dados assy os ditos pregõoes, fazee em cada hum desses Lugares registar esta
Carta, e poer nos livros das Camaras dos Concelhos”[4]. Por carta de 20 de Abril de 1428,
em Évora, o corregedor da comarca, Estêvão Fernandes, assegura ao procurador da
cidade que o perdão prometido por D. João I aos homiziados que participassem na
expedição a Ceuta fora devidamente publicitado, e muitos resolveram, graças a ele, os
seus problemas com a Justiça[5].
Pode ainda dar-se o caso de o transcrito enviado a um corregedor ser a única
forma de conhecimento de algumas leis medievais, que não foram aproveitadas nas
posteriores compilações. É o caso da carta régia, de 14 de Março de 1410, enviada ao
corregedor de Entre-Tejo-e-Guadiana, Gonçalo Mendes, para que fizesse apregoar por
todos os lugares da sua correição, a decisão tomada com o conselho da corte, para que
todas as cidades, vilas e julgados do reino, com trinta ou mais homens, dessem um lobo
morto por ano. Os julgados que não cumprissem teriam que pagar uma dobra de ouro.
Estipula também um prémio de 100 reais de três libras e meia, pagos pelo concelho,
para quem matar lobo grande ou pequeno[6]. Termina impondo ao dito corregedor que
“logo vistas esta carta façaes esto apregoar por todos esses lugares dessa correiçom”[7].
Apesar de só se conhecer o traslado enviado ao corregedor de Entre‑Tejo‑e‑Guadiana,
é bem latente que a decisão devia ser aplicada por todo o reino[8], tendo sido enviadas
cartas aos corregedores das restantes comarcas. A cinegética destaca-se, desde cedo,
no quotidiano do Homem medieval, carecendo, com certeza, de regulamentação
jurídica específica. A sua importância como passatempo da aristocracia e, em simultâneo,
como actividade propedêutica da guerra, está bem vincada em Leontina Ventura, desde
os primeiros reinados[9]. No entanto, este âmbito é um dos grandes vácuos legislativos

as vigílias e dormidas em locais sagrados foi feita a 10 de Abril de 1436, em Estremoz, passado um traslado
a 13 de Abril, que foi apresentado a 18 desse mês, em Évora (oito dias de diferença, apenas).
1
CAMPOS, Lousã (1376-1428), Elementos para a sua história, pp. 130-131.
2
Lousã, AM – Doc. 105.
Publ. CAMPOS, Lousã (1376-1428), Elementos para a sua história, pp. 131-132.
3
Aires Gomes da Silva é regedor desta comarca desde 1430 até 1441.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 116.
5
DUARTE, Justiça e Criminalidade, doc. 10.
6
Sobre os prémios a pagar aos caçadores de lobos, José DOMINGUES, “Caça ao Lobo – Legislação Arcai-
ca”, Agália, n.º 83/84, 2005, pp. 265-269.
7
Sesimbra, AM – Livro do Tombo da Vila de Sesimbra renovado em 1728, fl. 43.
8
O mesmo realçou Herculano, e bem, para a lei da almotaçaria de 1253.
9
Leontina VENTURA, A Nobreza da Corte de Afonso III, Dissertação de Doutoramento apresentada à Uni-

155
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

das Afonsinas, que, salvo a excepção do Regimento do monteiro-mor, só consigna,


indirectamente, esporádica referência a alguma lei desaparecida – por exemplo, a de
D. Duarte que impunha uma coima de mil libras de boa moeda a quem matasse urso,
por todo o reino, sem autorização de el-rei[1].
A matéria da provisão enviada ao corregedor de Entre-Tejo-e-Guadiana tinha
sido tratada nas Cortes de Lisboa de 1410. No capitulo 23º a petição para que os
concelhos não sejam obrigados a pagar aos caçadores dos lobos senão cem reais por
animal adulto e outros cem por ninhada, independentemente do número de cachorros
existentes em cada uma, foi indeferida[2]. Por sua vez, nas Cortes de Santarém de 1430,
ficou consignado que os procuradores dos concelhos fossem obrigados pelos juízes a
pagar aos caçadores de lobos no prazo de oito dias os prémios da lei; caso contrário,
pagariam da sua bolsa, sem que tal despesa lhes pudesse ser levada em conta[3].
Para além dos indispensáveis subsídios documentais, o mais coerente não pode
deixar de ser que, na propagação das ordenações, se siga a hierarquia judiciária
da época, em função do território, importa por isso dedicar umas breves linhas à
fragmentação judicial do reino em comarcas. Não será por acaso que, por exemplo, a
carta de D. João I para que os tabeliães do reino paguem uma pensão de mil libras por
ano, para além de impor aos corregedores “que o trellado desta Nossa Hordenaçom com o
nosso seello for mostrada, que mandem apregoar per todallas Cidades, Villas, e Lugares”, faz
referência expressa às seis comarcas do reino: Entre-Douro-e-Minho, Trás-os-Montes,
Beira, Estremadura, Entre-Tejo-e-Guadiana e Algarve[4].
A divisão em seis comarcas foi asseverada por João Pedro Ribeiro, há quase
dezassete décadas atrás, nestes termos:

“achei quasi constantemente desde o Senhor Dom Affonso III, ao menos, dividido
o Reino, comprehendendo o do Algarve, em seis Correições, e encarregadas a seis
diversos individuos” [5]

E, apesar de toda a conveniência e pragmatismo, tem sido dispensado muito pouco


esmero a esta causa e quase nada se adiantou a este pioneiro e indefesso investigador,
falecido há centenares de anos (†1839). A tarefa afigura-se árdua e bastante ingrata,
não só pelas palavras do calejado Ribeiro[6], mas também, na actualidade, segundo
versados autores medievalistas:

“Não é fácil desenhar um mapa das comarcas medievais portuguesas. Dispomos


de uma boa proposta de Oliveira Marques; as maiores dúvidas surgem, naturalmente,

versidade de Coimbra, Coimbra, 1992, vol. I, p. 135. Onde se referem os falcoeiros de Sancho I (Petrelino
e Mem Gonçalves) de Afonso II (Gonçalo Peres e Mem Gomes) e os açoreiros de Afonso III (Martim Fer-
nandes e João Pais).
1
Ordenações Afonsinas, Livro I, Tít. 67, § 17, p. 404.
2
SOUSA, As Cortes Medievais Portuguesas, vol. II, p. 266.
3
Idem, p. 287.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 34, §§ 1 e 2, pp. 278-279.
5
João Pedro RIBEIRO, “Memoria sobre A subdivisão das Correições no Reinado do Senhor D. João III e
Cadastro das Provincias que se procedeo no mesmo Reinado”, Reflexões Historicas, Parte II, Coimbra, Im-
prensa da Universidade, 1836, p. 2.
6
“Tendo eu mesmo examinado diversos Cartórios, e levando muito em vista a historia dos nossos antigos
Magistrados e suas origens, pouco pude liquidar á cerca das Correições nas duas epochas, a saber, anterior
á subdivisão que tenho em vista, e próxima posteriormente á mesma desmembração das Comarcas” [RI-
BEIRO, “Memoria sobre a subdivisão das Correições”, p. 2].

156
José Domingues

nas delimitações entre elas. Como nota Armindo


de Sousa, tais delimitações ‘oscilam com os
tempos e não é muito fácil estabelecê-las até ao
pormenor. (…) Um mapa minucioso há-de ter
em consideração que os corregedores visitavam
cidades, vilas e julgados, que procuravam
pessoas, de modo que os limites comarcãos teriam
sido mais as montanhas e ermos do que os rios: mais
o que separava e afastava comunidades do que
aquilo que servia para as pôr em contacto, como
eram os cursos de água”[1]

Penso que não se trata apenas de uma questão


de delimitação entre comarcas, mas de, antes de
mais, apurar o seu número exacto ao longo dos
séculos. Para se poder circunscrever a uma mera
questão de limites, a oscilarem com os tempos,
teríamos que partir da premissa, aventada por
João Pedro Ribeiro, de que o reino esteve sempre
dividido em seis comarcas, desde, pelo menos, a
criação dos meirinhos-mores (no tempo de Afonso
III), até à subdivisão das correições no reinado de
D. João III. A constante divisão em seis comarcas,
salvo as mutações limítrofes, ao longo de mais
de dois séculos e meio, desde meados do século
XIII até à década de 30 do século XVI, parece ser o
entendimento dos autores supra, provavelmente
na esteira de Ribeiro. Não me parece. Por isso,
considero que a proposta de Oliveira Marques pode ser boa para os séculos XIV-XV[2],
mas estar completamente desajustada para o século XIII.
Por outro lado, também não posso concordar com a ideia de que “os limites comarcãos
teriam sido mais as montanhas e ermos do que os rios”, inculcando uma indefinição dos limites
das comarcas medievais, quando é suficientemente sabido que os rios são os acidentes
geográficos que, maioritariamente, servem de linha limítrofe às comarcas medievais,
que não raro com eles se identificam: Entre-Douro-e-Minho, Entre-Douro‑e‑Mondego,
Entre-Douro-e-Tejo, Entre-Tejo-e-Guadiana, etc… O que, obviamente, não quer dizer
que, por uma questão de pragmatismo, em algum momento se tenha associado um
determinado território à comarca da outra margem[3], mas esta seria a excepção e não
a regra. Além do mais, parece um contra-senso condicionar os limites territoriais às
visitas dos magistrados, quando é certo que a deslocação destes é que está subordinada
aos prévios limites territoriais estabelecidos.
Antes de mais, convém explicitar dois aspectos quanto à nomenclatura adoptada
para cada uma das comarcas. Em primeiro, não é criada toponímia nova, antes se
adaptou a nova divisão às designações territoriais pré-existentes. Não surpreende,

1
DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 225-226. O itálico é nosso.
2
Oliveira MARQUES, Portugal na crise dos séculos XIV-XV, Nova História de Portugal, dirigida por Joel
SERRÃO e A. H. de Oliveira MARQUES, Lisboa, 1987.
3
Por exemplo, em 27 de Novembro de 1437, o concelho de Vila Nova de Gaia foi desmembrado da comarca
da Estremadura e integrado na de Entre-Douro-e-Minho [Corpus Codicum Latinorum et Portugalensium, vol.
IV, pp. 15-16].

157
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

por isso, que a Beira já venha referida no foral de Arego de 1201[1] e que lhe sejam
nomeados tenentes desde 1211[2]; e a Estremadura em documentos de 1112 e de [1129-
1130][3] e numa lei de Afonso II, de 1211[4].
Quer isto dizer que se aproveitaram delimitações antigas, sujeitas depois à paulatina
evolução das incipientes magistraturas que passam a servir. Em segundo lugar, parece
unânime que primeiro tenha surgido a instituição jurídica, a actuar num determinado
espaço territorial definido, e só posteriormente esse território adopte a designação
correlactiva. Assim sendo, não será correcto falarmos, de forma constante e indistinta, na
divisão administrativa em comarcas ou correições, que só aparecem com os corregedores.
Uma vez que os meirinhos-mores são considerados os seus antecessores próximos, o
mais correcto será primeiro falarmos da divisão administrativa em meirinhados.
Independentemente da terminologia adoptada, a primeira dúvida é a de apurar
se, efectivamente, desde Afonso III, o reinado estava dividido em seis meirinhados.
De toda a documentação que me foi possível compulsar, desde Afonso III até Afonso
IV, só encontro meirinhos-mores para Além-Douro e Aquém-Douro, ou então para
Entre‑Douro-e-Minho e Beira, e não encontro um único meirinho-mor de Trás-os-Montes,
Estremadura, Entre-Tejo-e-Guadiana e Algarve[5]. É demasiado proeminente e, há
falta de outra documentação comprobatória, neste momento, penso que, na segunda
metade da centúria de duzentos e primeira de trezentos, tenham existido apenas dois
meirinhados: um abarcando o espaço territorial a norte do Douro (Além-Douro) e outro
o espaço territorial a sul desse mesmo rio (Aquém-Douro). Entre-Douro‑e‑Minho e
Beira são apenas designações diferentes para cada um desses respectivos meirinhados.
Saliente-se que a terminologia de meirinhados se prolongou para além da instituição
dos corregedores: em documento de 8 de Fevereiro de 1340 se refere “valasco iohannis
correctori pro Rege in Maiorinatu seu correctoria de inter dorium et Minium”[6]; em
1337 refere-se João Gil do Avelal, corregedor e vedor da justiça por el-rei no meirinhado
da Beira[7]; nos foros de S. Martinho de Mouros de 11 de Junho de 1342, também Afonso
Anes é referido como corregedor por el-rei no meirinhado da Beira[8]; e é o próprio Afonso
Eanes que, no documento de 27 de Junho de 1344, sobre a jurisdição do mosteiro de
Baltar, se auto-intitula “Corregedor por el rrey no meirinhado da beira e na beira e nos outros
lugares que me per el he mandado”[9].
Talvez agora se entenda melhor o porquê de D. Dinis, no codicilo ao seu testamento
de 18 de Abril de 1299, mandar à rainha, a quem comete a regência do reino durante a

1
José Pedro MACHADO, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, Editorial Confluência,
vol. I, p. 232, s. v. Beira. Que diz: “A noção da unidade regional do que se entende genericamente por Beira
talvez tenha aparecido nos fins do séc. XII”.
2
Leontina VENTURA, A Nobreza da Corte de Afonso III, Coimbra, 1992.
3
José Pedro MACHADO, Dicionário Onomástico Etimológico, vol. II, p. 599, s. v. Estremadura.
4
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 164.
5
Cfr. Leontina VENTURA, A Nobreza da Corte de Afonso III.
João Pedro RIBEIRO, “Lista dos Magistrados de segunda instancia, que nos primeiros Seculos da Mo-
narquia exercitarão o Officio de Correição com diversos Titulos”, Reflexões Historicas, Parte. II, Coimbra,
Imprensa da Universidade, 1836.
6
Corpus Codicum, vol. II, p. 172.
7
António Caetano do AMARAL, Memória V para a história da legislação e costumes de Portugal, Livraria
Civilização-Editora, Porto, 1945, p. 173.
8
Nos Foros de S. Martinho de Mouros, na Colecção de Livros Inéditos de História Portuguesa, publicados pela
Academia Real das Ciências, Tomo IV, Lisboa, 1816, p. 579.
9
Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I (1357-1367), Instituto Nacional de Investigação Cientifica, organizador
A. H. de Oliveira MARQUES, Lisboa, 1984, doc. 234, pp. 79-84.

158
José Domingues

menoridade do sucessor da coroa, nomear apenas para Entre-Douro-e-Minho e para a


Beira[1] meirinho ou meirinhos, quais tiver por bem. Este codicilo dionisino foi um dos
esteios que me induziram à ilação de, inicialmente, existirem apenas dois meirinhados
e respectivos servidores. Seriam coincidências e lapsos em excesso que documentos
como o que é passado em Frielas a 2 de Outubro de 1307, sobre as marcantes inquirições
gerais[2], ou a lei geral para que os que não forem lídimos não comam nas igrejas, nem
lhes sejam dados cavalarias ou casamentos[3], sejam dirigidas apenas aos meirinhos‑mores
de Além e Aquém Douro.
Restringidas para duas as divisões administrativo-judiciais do reino, a questão
imediata é, certamente, a dos seus limites territoriais, até porque Entre-Douro-e-
Minho e Beira irão subsistir como comarcas. Não é o momento adequado para uma
exposição alargada[4], mas pelos documentos que compulsei estou convicto que, até
finais do reinado de D. Dinis, pelo menos, o meirinhado de Além-Douro abrangia todo
o espaço territorial a norte do rio Douro (circundado pelo oceano, pelo rio Minho e pela
fronteira com Castela). Por sua vez, os limites territoriais do meirinhado de Aquém-
Douro compreendem a zona de entre o rio Douro e o Mondego e do espaço territorial
que viria a ser a comarca da Beira (entre o rio Douro e o Tejo). Quanto me foi dado
averiguar, no início do século XV ainda a comarca da Beira integrava o espaço territorial
de Entre‑Douro-e-Mondego, reminiscências do antecedente meirinhado de Aquém-
Douro. Mas em 1421, no arrolamento dos besteiros do conto, já este território pertence
à Estremadura e, por documento de 27 de Novembro de 1437, o actual concelho de Vila
Nova de Gaia será desmembrado desta última comarca e integrado na de Entre Douro
e Minho[5].
Após este breve atalho pela divisão administrativa do reino em meirinhados e
comarcas, penso que, neste momento, estão angariados elementos suficientes que per-
mitam, de forma resumida, compreender o processo genérico de publicação de uma
ordenação quatrocentista, conforme o divulga Oliveira Marques:

“Desde a sua promulgação em Lisboa – ou onde quer que o autor se encontrasse


– até atingir a mais remota sede de concelho, a lei demorava muitos dias,
passando por sucessivas mãos distribuidoras ao nível regional e ao nível local. Da
Chancelaria régia seguia para os vários corregedores das comarcas e de cada um
destes para diversos emissários, que a levavam depois, dentro de cada comarca,
de lugar em lugar”[6]

Ultrapassados os meandros da corte, com leitura nas audiências e o registo


nos livros da Chancelaria, enviam-se os respectivos traslados para os corregedores
das comarcas. Em sua comarca, o corregedor deve mandá-la apregoar em todas as
vilas, para que todos tenham conhecimento do seu conteúdo e não possam alegar
ignorância, conforme previsto no final da lei do que é obrigado a pagar maravedi de

1
Esta Beira só pode ser identificada com o meirinhado de Aquém-Douro, uma vez que não se conhece
nenhum meirinho-mor, antecedente ou subsequente a esse monumento, expressamente identificado para
a Beira. [Cfr. João Pedro RIBEIRO, “Lista dos Magistrados de segunda instancia”, pp. 39-43].
2
João Pedro RIBEIRO, Memorias para a historia das inquirições, doc. 23, pp. 61-62.
Corpus Codicum, vol. I, pp. 145-146.
3
Livro de Leis e Posturas, p. 196. (refere ambos como meirinhos-mores).
Ordenações de D. Duarte, pp. 166-167.
4
O desenvolver desta matéria fica adiado para trabalho específico ao tema.
5
Corpus Codicum, vol. IV, pp. 15-16.
6
MARQUES, Portugal na crise dos séculos XIV-XV, p. 285-286.

159
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

Castela quanto pagará por ele em Portugal: “e porem vos mandamos, que vista esta nossa
Carta, mandees logo esto todo assy apregoar em todalas Villas do estremo dessa Comarca, de
que teendes carrego, em tal guisa que a todos geeralmente venha em conhecimento, e nom possa
nenhum dello allegar ignorancia”[1].
O pregão pelas diversas vilas da correição ficava a expensas do próprio corregedor
e seus núncios. Os limites comarcãos eram dilatados, a rede viária bastante impraticável
e o gládio da justiça muito pesado, por isso, é natural que os corregedores medievais
se acautelem com numerosa comitiva de oficiais: desde o chanceler da correição[2], o
meirinho da correição[3], escrivães[4], tabeliães[5], caminheiros, porteiros[6] e até carrasco
próprio[7]. Consequentemente, são assíduos, em Cortes, os queixumes contra estas
extensas comitivas[8], mas, por outro lado, os oficiais letrados – nomeadamente os
tabeliães, escrivães e chanceleres – seriam um apoio incondicional na tarefa de publicar
as ordenações pelas vilas e lugares da comarca. Para tal, teriam que ser feitos tantos
traslados quantos os núncios eleitos e, em simultâneo, o registo no livro das ordenações
da Chancelaria da correição, conforme consta em diploma do Mestre de Avis:

“E outro sy Mandamos ao Escripvão da Chancellaria de cada huã Comarca, que


a registe em o livro da dita Chancellaria, honde andão as outras Nossas Hordenaçõoes
registadas, pera hy andar escripta, e os Corregedores, que hy forem, a fazerem
comprir, e guardar em todo como aqui usso dito he”[9]

Eis mais um Livro de Ordenações, mas agora numa instituição totalmente diferente
e muito pouco estudada, a Chancelaria das correições do reino. Qual a relação deste
Livro de Ordenações com os que tratamos no capítulo antecedente? Será um livro de
registo específico das ordenações enviadas à correição? Ou será o Livro das Ordenações
mandado elaborar pelo soberano? Ou seja, este livro será originário da Chancelaria
da correição ou viria antes da Chancelaria-mor do reino com as ordenações do reino?
Poderá ser identificado com os vulgares Livros de Ordenações ou será um livro específico
de registo das correições?
Qualquer resposta terminante, à falta de outros apoios documentais, será
demasiado arriscada. No entanto, não deixa de ser notória a eventualidade de este
assento constar no final de uma ordenação de D. João I, quando já estão vigentes os

1
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 20, §§ 1-3.
2
Por exemplo, em documento de 10 de Julho de 1465 surge João Afonso como chanceler da correição de
Entre-Douro-e-Minho [Porto, AHM – Livro B, fls. 63v-70v].
3
Por carta de 15 de Setembro de 1445 é nomeado meirinho da correição de Entre-Douro-e-Minho Fernão
Velho, em substituição de Gonçalo Cerveira, que se encontrava “aleixado”. [MORENO, A Batalha de Alfar-
robeira, vol. II, pp. 1079-1080]
4
D. Afonso IV, por carta de 5 de Agosto de 1336, nomeia Estêvão Gonçalves, tabelião de Faro, para escrivão
do corregedor do reino do Algarve, Afonso Eanes, descriminando as funções do seu ofício. [Chancelarias
Portuguesas: D. Afonso IV, Vol. II, doc. 50, pp. 107-108]
5
D. João I isentou o tabelião geral de cada comarca de pagar as mil libras de pensão anual, estabelecida por
lei [Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 34, §§ 5 e 6]. Em 26 de Março de 1331 eram tabeliães da comarca de
Entre-Douro-e-Minho João Domingues e João Martins [Corpus Codicum, vol. II, p. 180].
6
Referido em carta régia de 6 de Junho de 1399 [Corpus Codicum, vol. IV, p. 10].
7
Uma provisão régia, de 8 de Dezembro de 1491, manda que dois presos por furto ao D. abade de Santo
Tirso fiquem, um para executor da justiça do Porto e outro na correição de Entre-Douro-e-Minho, em lugar
dos que tinham falecido [Porto, AHM – Livro Antigo de Provisões, fls. 89v-90v].
8
Nas cortes de Leiria de 1372 [Cortes Portuguesas: reinado de D. Fernando, p. 131], nas cortes de Leiria-Santarém
de 1433 [Armindo de SOUSA, “As cortes de Leiria-Santarém de 1433”, Sep. de Estudos Medievais, n.º2, Porto,
1982, p. 108], nas cortes de Évora de 1481/83 [BARROS, História da Administração Pública, tomo XI, p. 202].
9
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 34, § 7.

160
José Domingues

Livros de Ordenações do Reino, mandados coligir por este monarca. Além do mais, o
registo de ordenações avulsas no final das colectâneas oficiais está inteiramente
certificado, não só nas Ordenações de D. Afonso V como também nas de D. Duarte.
Devidamente autenticada[1], a Ordenação saía do âmbito da correição para
as diversas vilas do reino. Á chegada do corregedor, ou seu representante, reunia-
se a vereação, que mandava proclamar a ordenação por toda a vila ao pregoeiro do
concelho. Para além da divulgação oral, a ordenação devia ficar assente no respectivo
cartório do concelho. Esta obrigação de registo ficou explícita na lei de 12 de Maio de
1393, “e mandees a dita nossa Carta seer registada em a Camara de cada huma Cidade,
Villa, ou Lugar”[2], e na de 17 de Setembro de 1434, “fazee em cada hum desses Lugares
registar esta Carta, e poer nos livros das Camaras dos Concelhos”[3]. Neste sentido, os livros
de vereações medievais poderiam ser um importante repositório do direito vigente,
mas, anteriores à conclusão das Afonsinas, são escassos os que chegaram aos nossos
dias[4]. De qualquer forma, a ordenação dos pelouros consta num dos livros de actas
da cidade do Porto[5] e em outro ficou registada a ordenação dos vereadores, que tinha
sido anexada ao regimento dos corregedores de 1340[6].
Em seguida, os oficiais concelhios providenciariam a sua publicação e registo
pelo tabelião local, que ficava com a obrigação de a ler em público amiúdo, variando
conforme a importância do motivo tratado. Marcello Caetano entende que, “embora o
mais frequente fosse a leitura em público uma vez por semana durante um ano, esta regra não
era invariável, pois, conforme a importância do assunto, havia leis que bastava ler uma vez por
mês e outras até uma vez por ano”[7].
No regimento dos corregedores, numa das cláusulas de 1418, ficou assim
consignada a obrigação de os corregedores publicitarem as ordenações:

“E façam pobricar estas Hordenaçõoes em as Cidades, e Villas, e Luguares maiores,


honde forem Corregedores; e o Escripvão, que for da Camara nos Lugares, honde
assy pobricarem, trelade-as no livro do Concelho, e lea-as cada mez aos Juízes, e
Vereadores na Camara, e quando esteverem na Audiencia, sob pena de pagar por cada
vez que as nom poblicar, mil reis pera as obras do Concelho; e estas Hordenaçõoes
assy poblicadas ponhão-nas na Arca da Chancellaria de cada huã Correiçom.”[8]

Para encerrar este ponto, nada melhor que acompanhar a publicação da ordenação
de 14 de Junho de 1532, para que os cristãos novos não abandonem o reino. Apesar de
estar fora do âmbito cronológico deste trabalho, penso que espelha fielmente o processo
de publicação medieval, de acordo com o que acima ficou explanado. A “radiografia”
dessa divulgação pelo reino está exemplarmente tratada em trabalho dedicado de João
Alves Dias – para ele se remete os interessados – onde se conclui que a lei demorou, em
média, uma semana a chegar a todos os pontos do País[9]. Não foi demasiado tempo se
tivermos em conta os entraves coevos:

1
A versão original com o selo da Chancelaria-mor e os traslados com o selo da correição.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 24, § 5, p. 114.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 116, p. 384.
4
Podem inscrever-se nesta excepção as actas de Vila do Conde, Loulé e do Porto, já publicadas.
5
Documentos e Memórias para a História do Porto – II. “Vereações” Anos de 1390-1395, pp. 235-236.
6
Documentos e Memórias para a História do Porto – XL. “Vereações”, Anos de 1401-1449, pp. 159-160.
7
CAETANO, História do Direito, p. 345.
8
Ordenações Afonsinas, Tít. 23, § 68, p. 149.
9
João Alves DIAS, “A Comunicação entre o Poder Central e o Poder Local – A difusão de uma lei no século
XVI”, Actas das Jornadas sobre o Município na Península Ibérica (Sécs. XII a XIX), Santo Tirso, 1988, vol. I, pp. 1-17.

161
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

“Vários eram os entraves à difusão das leis. Tornava-se dispendiosa a sua


expedição para todos os concelhos, já para não dizer para todos os lugares do país.
As comunicações eram dificieis e as estradas – quando as havia – de má qualidade.
O correio terreste organizado nascera pouco antes de 1520 e estava confiado a
particulares. Quando uma lei chegava às vereações locais, era ainda necessário
mandar pregoeiros por toda a localidade convocando o povo para a ouvir ler.
Além disso, a mesma era fixada nas portas do Paço do Concelho, nas portas da
cidade, e noutros lugares habituais. Como havia terras onde os funcionários régios
não podiam entrar (as honras, ou coutos e as terras dos mestrados, por exemplo),
tornava-se aí necessária a presença de representantes seus.”[1]

Vacatio Legis
Na própria lei se estabelece o período de tempo que decorre entre a data da publi-
cação e a data da entrada em vigor da lei – vacatio legis:

“Ey por bem que esta hordenação aja vigor e efeito e se cumpra e guarde – a saber
– em minha corte e em todos os lugares de meus reinos e senhorios em que for
publicada do dia da publicação dela a dois dias primeiros seguintes e em cada
uma das comarcas dos meus reinos em que assim for publicada pelo corregedor
della ou per quem meu cargo tiver do dia da publicação a oito dias primeiros
seguintes”[2]

Este período de tempo, entre a data da publicação e a data da entrada em vigor,


serve para que os destinatários da lei tomem conhecimento da sua existência e das
condições da sua aplicação. Como ficou acima vincado, a data de publicação da lei,
adstrita aos meios rudimentares da época, variava de terra para terra e, mesmo na
corte, tanto podia ser feita no mesmo dia em que a lei é escrita[3], como passados mais
de dois meses[4].
A verdade é que, depois de publicada, a ignorância da lei não justifica a falta do
seu cumprimento nem isenta as pessoas das sanções nela estabelecidas. Indícios claros
do princípio de irrelevância da ignorantia iuris ficaram disseminados por múltiplos
diplomas medievais e, de forma genérica, no Fuero Real, que teve vigência obrigatória
no nosso país[5]. De qualquer forma, o preceito não impede que, perante o monarca, se
alegue, como atenuante, o desconhecimento da lei. É o caso dos moradores de Caminha
que, nos capítulos às Cortes de 1459, solicitam ao rei a amnistia colectiva pelos crimes
cometidos na comercialização das mercadorias vedadas, invocando a ignorância das
ordenações[6]. Até o juiz de Alvalade do Campo de Ourique, Miguel Martins, alegou

1
Idem, p. 5.
2
Idem, p. 5.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 47, p. 173.
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 110, § 1, p. 403.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 109, p. 402.
5
Cfr. ALBUQUERQUE, “A aplicação das leis no ultramar durante o Antigo Regime”, p. 98.
6
“Senhor por nom sabermos parte das nosas hordenaçõoes quejandas eram açerca destas pasageens das cousas vedadas
poderija seer que cayriamos com ellas ou em cada hua dellas. Pidimos a uosa merçee nos perdoar aatee o presente dia
alguu erro se o em ello cometermos ou culpados formos em ello nos farees merçee. A esto respondemos que os praz
quitar as dictas penas atee o presente e sejam avisados de em outra cayrem se nom e etc.”
Humberto Baquero MORENO, A representação do concelho de Caminha junto do poder central em mea-

162
José Domingues

que “elle como homem cimprez que nom sabia nossas hordenações” tinha adquirido certos
bens durante o seu mandato[1].
No entanto, a aplicação efectiva não é imediata à publicação, até porque alguns dos
condicionalismos previstos necessitavam de um certo lapso de tempo para execução
ou adaptação. Embora escassos, alguns desses lapsos de tempo, ou vacatio legis,
chegaram até nós. A título de exemplo, na lei das sesmaria de 1375 ficou consignado
o prazo de três meses, desde o dia da publicação da ordenação, para, os que tinham
gado, lavrarem e semearem herdades[2]. Noutra lei de D. Fernando, das arrematações,
aparece novamente o prazo de três meses após a publicação na Corte: “e queremos,
e Mandamos, que esta Ley aja luguar, e se guarde em todo e por todo, nos feitos,
e neguocios, e couzas, que se fezerem, e acontecerem, per a guisa que em ella he
contheudo, des o dia, que for pubricada na nossa Corte, até tres mezes”[3].
Uma lei do reinado seguinte de D. João I, que proíbe o uso de escudo, impõe apenas
um período de 15 dias, mas contado desde o dia da publicação em cada correição e
comarca: “qualquer que for achado que o traz [o escudo] contra este nosso mandado,
e Hordenaçom, passados quinze dias, do dia que for pobricada em cada huma Correiçom, e
Comarca, que moira porem”[4].
Já no reinado de D. Duarte, a lei de 5 de Maio de 1435(6), parece ordenar uma
aplicação imediata, depois de apregoada: “e porem vos mandamos, que vista esta
nossa Carta, mandees logo esto todo assy apregoar em todalas Villas do estremo dessa
Comarca, de que teendes carrego, em tal guisa que a todos geeralmente venha em
conhecimento, e nom possa nenhum dello allegar ignorancia; e tanto que apregoado for,
fazeea compridamente guardar por Ley, comprindo-a em qualquer, que contra ella for”[5]. Mas
outra, também deste reinado, estabelece o prazo de um mês para os tabeliães de el-rei
se proverem das roupas necessárias, especificando que, para os que já eram tabeliães,
se devia começar a contar desde o dia em que fosse publicada na correição onde eram
moradores e, para os que ainda não o eram, desde o dia que fossem nomeados. Especifica
ainda que um mês são trinta dias compridos: “Declarou mais o dito Senhor, que assy
os Tabaliaães, que ja som feitos, como aquelles, que daqui en diante forem, hajam huum
mez d’espaço pera comprirem esta condiçom; o qual termo se conte aos que ja som feitos
do dia, que for publicada na correiçom, honde forem moradores, e aos que ainda nom
som feitos, do dia, que o forem a huum mez, que som trinta dias compridos”[6].

3. Sanção ou Promulgação das Afonsinas


Transpondo agora todo este processo para as Ordenações Afonsinas, torna-se claro
que a publicação de um compêndio de leis com o tamanho de cinco pesados volumes
não é exactamente a mesma coisa que publicar uma Ordenação avulsa[7]. Antes de
mais, em nenhum dos exemplares conhecidos das Afonsinas se encontra a declaração

dos do século XV, Revista da Faculdade de Letras – História, Porto, pp. 103-104.
1
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 355.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 81, § 19, p. 294.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 106, § 4, p. 387.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 97, p. 350.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 20, § 3.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 49, § 6, p. 282.
7
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 126.

163
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

expressa da sua promulgação[1] e, até à data, ainda não apareceu nenhum documento
nesse sentido. Ou seja, preparada para vigorar, falta-nos a promulgação oficial ou
solene, quer numa audiência da corte quer registada na Chancelaria, que lhe confira
obrigatoriedade como lei geral do reino.
Mas será que esta obra carecia mesmo de uma promulgação formal? Por outras
palavras, não conhecemos um acto público ou oficial, em que o rei aluda a elas, porque
se perdeu definitivamente com os originais ou em diploma avulso, como tantos
outros, ou antes porque nunca foi realizado? Arriscar uma resposta peremptória seria
demasiado imprudente, de qualquer forma há um dado adquirido da maior relevância
para a compreensão de todo este processo de promulgação, publicação e vigência das
Afonsinas: estamos perante a compilação de ordenações já existentes e em vigor, não
sendo por isso direito ex novo, que não pudesse prescindir da publicação oficial. Por
outras palavras, as Ordenações Afonsinas são apenas um importante instrumento de
ajuntamento e actualização do direito vigente, por isso a questão da sua publicação
terá que ser formulada em termos distintos aos de uma nova Lei avulsa. Quero com
isto dizer que, apesar do incremento dado pela nova colecção, o direito vigente se
mantém antes e depois da sua conclusão, o que equivale a dizer, com Miguel Duarte,
que “a questão da efectiva vigência das O. A. deve ser integrada na problemática mais vasta da
eficácia e alcance das leis medievais”[2].
Mas será que as Ordenações Afonsinas não obtiveram sanção por se limitarem a
recompilar leis já sancionadas e em vigor? Ou porque se introduziam constanstes
modificações? O recurso a estudos de direito comparado, para o reino vizinho, pode
fornecer pistas influentes. A primeira recompilação oficial castelhana de 1484 (as
Ordenanzas Reales de Castilla ou vulgo Ordenamiento ou Libro de Montalvo), que também
recompila leis já sancionadas, não obteve sanção oficial régia[3]. Mas já o Libro de Bulas
y Pragmáticas, que usa a mesma técnica compilatória, obteve sanção oficial por real
provisão de 10 de Novembro de 1503. Por isso, a inexistência de promulgação pode
ter outro motivo.
Uma das provas mais acostumadas para fundamentar a falta de oficialidade da
colectânea castelhana é o codicilo da rainha D. Isabel a Católica, que não só ignora o
Livro de Montalvo, como expressa o seu antigo desejo de reduzir as leis castelhanas a
um só corpo[4]. Tudo leva a crer que, face às contestações da Igreja e fidalguia, se não
conseguiu a promulgação oficial, passando a projectar-se outra obra. Para as Afonsinas
é o próprio compilador que atesta o carácter transitório de parte da obra ao referir que
os títulos dos regimentos da guerra até ao dos reptos “prazendo a Deos Nos entendemos
ainda mandar poer os ditos Regimentos na forma, que devem seer”[5]. De qualquer forma,
apesar de não terem tido sanção oficial ambas as colectâneas tiveram aprovação tácita
ou indirecta ao serem observadas cada uma no espaço territorial do seu reino.
Este lapso da publicação formal é, sem dúvida, o primeiro empecilho para
sabermos ao certo em que data começou a ser utilizada como compilação autêntica.
Recapitulando, depois de terminado o imenso trabalho de compilação, sistematização
e actualização do Direito geral decretado ao longo de mais de dois séculos, começava

1
Nunca é demais lembrar, que se trata de cópias e os originais da Chancelaria desapareceram todos.
2
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 130, nota 397.
3
María José MARÍA e IZQUIERDO, Las fuentes del Ordenamiento de Montalvo, Dykinson, Madrid, 2004, p.
XLIV.
4
Idem, pp. XXXV-XXXVI.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 70, p. 473.

164
José Domingues

agora a, não menos árdua, lide de divulgação e vigência oficial desse trabalho
preparado durante anos. Para o entendimento desse processo de propagação, antes
de mais, é indispensável um retrocesso às conjunturas inerentes aos meados do século
XV, sem nunca nos deixarmos “iludir pelas ideias actuais sobre publicação e vigência
das leis”[1]. Na esteira de Caetano e Gama Barros, o entendimento hodierno de Miguel
Duarte está resumido nos dois pontos infra:

“1. A obra era enorme. Fazer cópias manuscritas ficava caríssimo e demorava uma
eternidade. É natural que o original ficasse depositado na Chancelaria régia, que
as primeiras cópias fossem para os dois Tribunais Superiores, a Casa do Cível e a
Casa da Suplicação e que, só depois, muito lentamente, as câmaras e os mosteiros
mais ricos começassem, por sua vez, a garantir os seus exemplares.
2. As Ordenações não funcionavam como hoje os Códigos, ou seja, como repositórios
de leis a aplicar obrigatoriamente segundo critérios claros e definidos. Elas
constituíam sobretudo uma orientação, uma referência, que o Rei ignorava ou
ultrapassava com facilidade, o mesmo fazendo por vezes os tribunais superiores.
No resto do reino, a esmagadora maioria dos juízes nem as conhecia (até porque muitos
não sabiam ler!); julgava de acordo com as tradições, o seu bom senso, a sua
experiência humana.”[2]

Chegou o momento de interpor as judiciosas conclusões de Martim de Albuquerque


que este autor deixou no olvido, como adverti no início deste título. Segundo
Albuquerque “o número de exemplares que até nós chegaram não é tão pouco significativo
como isso”, no entanto, erra o número de exemplares diversos, que são sete (Porto,
Santarém, Lisboa, Merceana, Alcobaça, Torre do Tombo e Ajuda) e não seis. Dá como
exemplo comparativo a obra de Bártolo, bem expressiva na Idade Média portuguesa,
e da qual não resistiu nenhum exemplar nas nossas bibliotecas e arquivos. E certifica,
estribado em bibliografia adequada[3], que o labor dos scriptoria da Idade Média não
era tão lento e exíguo como poderia julgar o leitor menos versado no tema. O que lhe
permite concluir que, “num período de dois ou três anos se podiam obter algumas dezenas
de cópias do texto das Ordenações Afonsinas”[4]. Poder-se-ia acrescentar o caso pátrio bem
concreto da Terceira Partida de Afonso X – um códice de 136 fólios a duas colunas, em
letra “gótica com as iniciais alternadamente a vermelho e a azul e muito raramente a verde,
ricamente desenhadas e iluminadas, ocupando a inicial de cada título, por vezes, a faixa vertical
de alto a baixo do fólio”[5] – que levou 3 meses e 3 dias a ser concretizado, segundo o
próprio copista, Vasco Lourenço, o Çoudo.
Na sua tese, Miguel Duarte, chamou à atenção que “não chegou até nós nenhuma
colecção completa”[6] e em trabalho recente aventa: “Os historiadores portugueses não têm

1
CAETANO, História do Direito, p. 534.
2
Luís Miguel DUARTE, “O Direito e as Instituições”, História de Portugal Medievo, político e institucional
(coordenador Humberto Baquero Moreno), Universidade Aberta, n.º. 67, Lisboa, 1995, pp. 314-315.
Cfr. DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 120 e ss.
3
Nomeadamente, Hughes V. Shooner: “Um só copista (…) podia levar a cabo a passagem de in folio de mais de
360 páginas e em latim no prazo de um ano” e Douglas C. McMutrie: “as Decretales glosadas por Bernardo de
Parma levavam 10 a 15 meses a copiar e o Digestum Vetus 6 meses”.
4
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, pp. 50-51.
5
José de Azevedo FERREIRA, “Terceira Partida de Afonso X: subsídios para a sua edição e estudo”, Estu-
dos de História da Língua Portuguesa, Obra Dispersa, Colecção poliedro 7, Universidade do Minho, Centro de
Estudos Humanísticos, 2001, p. 235.
6
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 122.

165
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

uma posição consensual sobre a real divulgação e circulação das ordenações do reino.
Pessoalmente penso que essa divulgação era muito pequena; nenhuma instituição (religiosa,
municipal ou outra) conservou uma cópia dos 5 volumes originais”[1]. O facto de, passados
mais de cinco séculos e meio, não ter chegado aos nossos dias nenhuma colecção
completa não me parece fundamento suficiente para duvidar da sua divulgação ou
de que tenham sido feitas cópias integrais dos 5 volumes. Que se perderam livros,
não há qualquer hesitação. Mas, pelo menos uma colecção, temos a certeza que
estava completa – a de Santarém – uma vez que, no momento de se proceder à sua
encadernação, nos alvores do século XVI, se referem os “cimqo liuros”[2]. Com o aval
desta singela anotação, datada de 21 de Junho de 1508, a afirmação de que nenhuma
instituição conservou uma cópia integral torna-se gratuita e improvável em termos da
fraca divulgação das Ordenações pelo reino.
A propósito dos exemplares coetâneos, parece-me desmesurada e inconsequente
a tentativa de apregoar uma cópia para cada uma das vilas medievais[3], à semelhança
de diplomas avulsos. Seria uma tarefa ingente da qual, plausivelmente, se teriam
conservado maior número de vestígios. Mas, se aceitarmos a analogia supra entre o Livro
das Ordenações do Reino e o Livro de Ordenações das Chancelarias das correições, tudo leva a
acreditar que, pelo menos, tivessem sido feitas cópias para os coetâneos corregedores,
que eram os magistrados superiores da época e os mais directos representantes do
braço da justiça régia, responsáveis pela publicação e divulgação do ius regni. Assim
sendo, quem pode garantir que os livros da Câmara do Porto não fossem os da comarca
de Entre-Douro-e-Minho, os da Câmara de Santarém[4] os da comarca da Estremadura
e os da Câmara de Lisboa do corregedor dessa mesma cidade? Ficam a faltar os das
comarcas de Trás-os-Montes, Beira, Entre-Tejo-e-Guadiana e Algarve, que até podem
ser alguns dos que, posteriormente, aparecem nos mosteiros[5], na Torre do Tombo
ou na Biblioteca da Ajuda. Outros indícios poderão surgir para confirmar ou infirmar
esta ideia, de qualquer forma, penso que este seria o processo mais económico e o mais
adequado à rápida divulgação das Ordenações Afonsinas. Desta forma, conseguir sete
colecções completas (num total de 35 livros) seria perfeitamente comportável para os
meios técnicos, humanos e económicos da época e, mais uma vez, estaria fundamentado
o método oficial de publicação das leis através dos corregedores.
Este entendimento pode até servir de justificativo para a ausência de alguns
títulos em determinados volumes. Repare-se que no códice de Santarém não consta
o título 116 do livro V, que é uma carta de D. Duarte dirigida ao regedor da justiça de
Entre-Douro-e-Minho, Aires Gomes da Silva, e ao corregedor de Trás-os-Montes, para
que não consintam aos moradores de Castela que venham em assuadas aos reinos

1
Luís Miguel DUARTE, “A Justiça Medieval Portuguesa (Inventário de dúvidas)”, Cuadernos de Historia
del Derecho, 2004, 11, p. 91.
2
IAN/TT – Núcleo Antigo n.º14, Livro V das Ordenações Afonsinas, da Câmara de Santarém, fl. 131v.
3
Ficando desvirtuadas, pelo menos em parte, as dúvidas: “Não sei quantas destas câmaras disporiam de cópias
das ordenações, quantas as queriam usar, quantas as saberiam usar – e que partes ou volumes dessas ordenações”
[DUARTE, “A Justiça Medieval Portuguesa (Inventário de dúvidas)”, p. 95].
4
Apesar de, sobre esta colecção, constar escrito que “Estes cimqo liuros das reformaçõees (…) som da Camara
desta muy nobre e sempre leall villa de Samtarem”. Os corregedores, em princípio, exerciam mandatos
de três anos, por isso, é provável que o monarca, em vez do envio pessoal, envie a cópia para a sede da
comarca (localização da Chancelaria da correição?).
5
Até porque, em relação aos códices do convento dos Capuchos da Merceana, sabemos que foram deixa-
dos por um benfeitor, isto é, não foram, originariamente, requeridos pelo próprio mosteiro. [cfr. CAETA-
NO, História do Direito, p. 529]. E o de Alcobaça foi adquirido em Lisboa, em 1566, por António Rodrigues
da Mata, morador em Lamego.

166
José Domingues

de Portugal, para mal fazer[1]. Esta lei deixa de ter qualquer aplicabilidade prática na
comarca da Estremadura, que não limita com Castela, por isso mesmo é perfeitamente
compreensível o afastamento dessa colecção.
Se trouxermos à colação os capítulos apresentados pelos procuradores de
Santarém às Cortes de 1436, parece que nessa data – ainda antes da conclusão das
Afonsinas – já nessa cidade estavam depositadas as Ordenações do reino. Senão vejamos,
o monarca estava em Estremoz e ao responder ao décimo capítulo apresentado, sobre
as inquirições que tiram os tabeliães, respondeu “que quando a Deos prazendo formos em
Santarem faremos ueer as ordenaçõoes e aueremos emformaçom sobre esto dos tabeliãaes
e visto todo daremos aquel liuramanto que acharmos que he direito”[2]. Santarém foi
sede da Casa do Cível, mas desde 1434 que este tribunal estava sediado em Lisboa[3],
por isso o mais provável é que as Ordenações que o monarca pretendia consultar em
Santarém fossem o(s) Livro(s) de Ordenações daquela comarca da Estremadura.
Esta tese parece-me mais consistente do que a que defende que tenham sido os
concelhos (e mosteiros) mais ricos que solicitaram cópias à Chancelaria régia. Essa
arbitrariedade concedida aos concelhos, em muito pouco ou nada contribuiria para
a propagação das Ordenações por todo o espaço geográfico do reino e os documentos
conhecidos dão conta de que os concelhos, mesmo os mais ricos, pediam apenas o
título ou parte de que pretendiam ajudar-se[4].
Por exemplo, o teor da Ordenação sobre as mercadorias que podem comprar os
estrangeiros, que estava no título 4 do livro IV, foi passado à Câmara da cidade do
Porto por certidão de 6 de Dezembro de 1448: “da qual ordenaçom a cidade do porto nos
enuiou pedir por merçe que lhe mandassemos dar o treslado em publica forma porquanto se della
entendião dajudar”[5]. Esta carta régia, escrita em pergaminho e selada de selo pendente,
foi apresentada em sessão da Câmara desta cidade de 30 de Dezembro de 1448[6], a
qual o corregedor presente mandou que se cumprisse, citando-se um caso concreto,
e mandou que se enviasse pela correição, para se registar nos respectivos livros das
Câmaras[7]. Mais uma vez um corregedor a providenciar a publicação de uma lei na sua
correição, só que desta vez o diploma tinha sido conseguido a expensas do concelho
do Porto, através do seu escrivão da Câmara, Afonso Vasques. Ao qual, na mesma
sessão de 30 de Dezembro de 1448, foi deliberado o pagamento de uma coroa, que a
dita carta lhe custara, mais 500 reais brancos para ajuda das despesas que fizera[8].
A ordenação contra os que se valiam de cartas ardilosamente assinadas e
autenticadas sem passar pelas câmaras dos concelhos, de 12 de Maio de 1393, foi
transcrita do livro IV da Reformação das Ordenações, em 3 de Julho de 1459, a pedido
dos procuradores do concelho de Ponte de Lima – “o comçelho de Ponte de Lyma por Dº
Lopez E D. Pero Malheiro seus procuradores nos pidio por mercee que lhe mandasemos dar o
trellado della”[9].

1
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 116.
2
Maria Antonieta Flores GONÇALVES, “Capítulos especiais de Santarém nas Cortes de 1436”, Revista
Portuguesa de História, tomo VIII, Coimbra, 1959, p. 317-318.
3
Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel SERRÃO, Vol. II, s. v. “Cível, casa do”.
4
O mesmo se passava com os capítulos de cortes.
5
Porto, AHM – Livro A, fl. 118-118v.
6
No livro das vereações vem era de 1449, mas a data correcta é era de 1448, como o demonstra a sequência
das sessões e a lógica dos acontecimentos, uma vez que foi para este facto que foi solicitada esta certidão.
7
“Vereações” Anos de 1401-1449, pp. 388-390.
8
Idem, ibidem, pp. 388-390.
9
Ponte de Lima, AM – Pergaminho n.º 28.

167
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

Outro aspecto, relacionado com a publicação e o número de exemplares efectuados,


é, sem dúvida, o da sua difusão e aplicação prática. Para uns “as Ordenações foram
a bíblia (…) da nova religião civil da monarquia”, para outros nem sequer chegaram a
vigorar. Martim de Albuquerque entende que “no plano da influência, as Ordenações
Afonsinas, mesmo para quem aceite vigência efectiva, não foram de índole a produzir marcas
profundas. Valeram mais como precedente codificatório de que como factor real, dinâmico”[1],
mas advertindo que “se devam, talvez, adoçar as tintas do quadro”[2]. Passemos então à
análise deste ponto.

4. Divulgação e Vigência das Ordenações


A populista intromissão de Caetano contra a divulgação efectiva das Afonsinas
ficou anunciada no Prefácio, da sua lavra, à edição fac-similada do Regimento dos
Oficiais, de 1504[3], e, posteriormente, consumada na sua História do Direito Português[4].
Adoptando a data circa 1454 para o início da divulgação das Afonsinas pelo reino[5],
este autor vacila mesmo quanto ao ano de início de utilização – “é impossível com os
elementos existentes afirmar com segurança em que ano começou a ser utilizada como compilação
autêntica e, mais, em que época se tornou conhecida no País pelos magistrados que haviam de
aplicá-la, se é que chegou a sê-lo”[6]. Não podendo ignorar a certidão de 27 de Agosto
de 1447 e a de 6 de Dezembro de 1448, com matéria correspondente aos títulos das
Afonsinas que citam expressamente, concluiu que “em Agosto de 1447 já se consideravam
em vigor textos recolhidos na compilação, mas é de notar que alguns deles eram antigos e
meramente compilados”[7]. A adversativa é um facto, no entanto, incontroverso é também
que a fonte documental dessas certidões foi a Colectânea Afonsina, por isso, mais do
que comprovativo do seu uso e aplicabilidade prática. Ou seja, é certo que alguns dos
textos dessa certidão eram anteriores à conclusão das Afonsinas, mas foi a partir dos
livros das Afonsinas que foram trasladados, pois estes são expressamente citados, à
excepção do livro segundo[8].
Carvalho Homem inclina-se antes para o ano de 1448, apoiando-se, plausivelmente,
na certidão de 6 de Dezembro de 1448 – “O concretizar de uma primeira compilação
de leis como as OA, preparadas ao longo de quase 30 anos (desde ca. 1418) concluídas
em 1446 e presumidamente vigorando a partir de 1448”[9]. Não se entende muito bem os
escrúpulos quanto à falada certidão de 27 de Agosto de 1447, dirigida ao alcaide-mor
de Santarém, Rui Borges de Sousa[10].

1
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 49.
2
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 50.
3
CAETANO, Regimento dos Oficiais, pp. 14-15.
4
CAETANO, História do Direito, pp. 534-535.
5
Idem, pp. 346, 413…
6
Idem, p. 535.
É esta a frase e o autor que Judite de Freitas invoca no recente estudo “Tradição legal, codificação e práticas
institucionais: um relance pelo Poder Régio no Portugal de Quatrocentos”, Revista da Faculdade de Letras
História, Porto, III Série, vol. 7, 2006, p. 52.
7
Idem, p. 533.
8
cfr. Capítulo I, p. 5.
9
Armando Luís de Carvalho HOMEM, “Rei e «Estado Real» nos textos legislativos da Idade Média Por-
tuguesa”, Carlos Alberto Ferreira de Almeida in memoriam, Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
Porto, 1999, p. 391-392.
10
IAN/TT – Maço I de Leis, n.º172.

168
José Domingues

Antes de mais, o desígnio final desta colectânea foi sempre, desde o momento
da concepção, compilador e interpretativo da legislação anterior e não propriamente
legislatório, ou seja, pretendia coligir num só corpo sistematizado as leis antigas e não
promulgar leis novas. Por isso, assim terá que ser entendido e estudado e, à falta de
uma publicação oficial, o atestado de 1447, carreado por Ribeiro, continua a ser o mais
recuado testemunho consistente da efectiva utilização desta colectânea de leis. Por
outras palavras, se em 1447 se passa certidão de leis a partir dos livros das Afonsinas,
citando expressamente os livros respectivos, não resta dúvida que a colectânea estava
concluída, revista e em uso para o fim que tinha sido projectada: “prover as Leyx, e
Hordenaçoões feitas pelos Reyx” anteriores[1].
Que em 1447 já se passavam traslados – e, concomitantemente, se divulgava – a
partir dos exemplares da Chancelaria-mor é ponto assente; outra questão é o número
de cópias definitivas espalhadas pelo reino, que, como ficou dito, não seriam necessá-
rias tantas, nem o processo tão moroso, como alguns autores querem fazer acreditar.
Mas mais relevante, neste momento, é tentar apurar se entre a data da conclusão (28 de
Julho de 1446) e a da primeira certidão conhecida (27 de Agosto de 1447) não existem
outros apoios documentais que comprovem a sua utilização.
Desde os finais do século XVIII que não se avança neste aspecto, no entanto, existe
um outro monumento que, embora não seja completamente decisivo, penso que, de
alguma forma, pode recuar o uso régio da compilação. Trata-se de uma carta de D.
Afonso V, outorgado em Estremoz, a 30 de Julho de 1446, que, em cumprimento da
nossa ordenação feita, confisca os bens que, sem a respectiva autorização régia, o cónego
do mosteiro de Refoios de Lima tinha comprado[2]. A ordenação que proíbe a clerezia
do reino de adquirir bens de raiz, sem autorização régia, é da lavra do rei D. Dinis,
datada de 10 de Julho de 1286, e foi compilada no título 14 do livro II. Por isso, muito
embora o documento não faça qualquer referência expressa ao Livro II da Reformação
das Ordenações, a referência à ordenação feita, sem referir quando nem quem, parece
ser antes alusiva à recente compilação do que à própria ordenação, que tinha mais
de século e meio. Se assim for entendido, não há dúvida que a data referida no final
do livro V é a da revisão definitiva da obra, que, passados dois dias, já estava a ser
utilizada pelo monarca para reivindicar bens para a coroa. Por outro lado, esse título
contém um acrescento que, na realidade, pode dar a entender tratar-se de uma lei
nova.
A este propósito, “as relações com a Igreja (…) voltaram a ser perturbadas com a
publicação das Ordenações Afonsinas, em 1446, provocando forte movimentação entre a
clerezia portuguesa, que, em 1 de Agosto de 1447, chegou a reunir-se, em Lisboa, com o Infante
D. Pedro”[3]. O diferendo ficou solucionado pela lei de 20 de Setembro de 1447, que
exceptua das leis da amortização os bens possuídos antes da morte de D. João I. Este
fleuma só poderia ser provocado por uma colectânea em vigor. Até porque a dita lei
apasiguadora foi mandanda trasladar “em fim do segundo liuro das nossas hordenações pera
que da nossa Chamçalaria se possa dar o trellado della em publica forma segundo se acustumam
de dar as outras hordenações”[4]. Se, em 1447, o monarca manda acrescentar esta lei no

1
Ordenações Afonsinas, Livro I, prólogo, p. 1.
2
Valdevez Medieval: Documentos II (1300-1479), Coordenação de Amélia Aguiar ANDRADE e Luís KRUS,
transcrições de Filipa SILVA e João Luís FONTES, Edição da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez,
2001, doc. 124, pp. 178-179.
3
José MARQUES, “Igreja e Poder Régio”, A Génese do Estado Moderno no Portugal Tardo-Medievo (séculos
XIII-XV), Universidade Autónoma Editora, 1999, p. 237.
4
Abel VIANA, “Livro do Tombo da Igreja de São João (pergamináceo quinhentista)”, Arquivo de Beja, Beja,

169
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

final do livro II, torna-se evidente que a colecção já estava definitivamente concluída,
caso contrário o seu lugar seria antes no final do título 14 desse livro II, que versa sobre
a matéria. Por outro lado, a asserção confirma o método de transcrição, a qualquer
interessado, pela Chancelaria mor – como já disse – dando também aval às certidões
suso referidas e dissipando as dúvidas de Caetano.
Passemos a outros vestígios deixados por esta colectânea ao longo das seis
décadas e meia da sua existência efectiva. João Pedro Ribeiro começou por dar conta
da certidão de 27 de Agosto de 1447 e, em nota de rodapé, da de 6 de Dezembro
de 1448, “sinal de que ja valião e erão publicadas por Ley naquelle tempo”[1]. Gama Barros
confirma que “existem provas incontestáveis de que esteve em vigor”, referindo em seguida
as Cortes iniciadas em Coimbra em 1472, as começadas em Évora em 1481 e as Cortes
de Évora de 1490[2]. Marcello Caetano refere, basicamente, os dois documentos de
Ribeiro[3]. Luís Miguel Duarte arremata que, “em relação à divulgação, os dados que temos,
de facto, são” as sete cópias do século XV e as certidões do alcaide-mor de Santarém e
da Câmara do Porto[4], mas, imediatamente a seguir, acrescenta-lhe três referências em
sede parlamentar, nas Cortes de Santarém de 1451, nas Cortes de Coimbra-Évora de
1472-1473 e nas Cortes de Évora-Viana de 1481-1482[5].
No ano de 1448, na vereação da cidade do Porto de 4 de Outubro – anterior à
certidão acima referida – o corregedor de Entre-Douro-e-Minho, Filipe Eanes, “alem
das cousas contjuadas nas ordenações do Reyno feictas sobre o Regimento dado aos
Coregedores das comarcas que cando nouamente a ellas vaao”, apresentou um
capítulo da sua carta, em que lhe mandava correr extraordinariamente os lugares e
romper os pelouros, fazendo outros por três anos, na forma da ordenação[6]. É uma
referência expressa ao regimento dos corregedores de comarca, no título 23 do livro I,
e as Ordenações do Reino feitas só podem ser, penso eu, as Afonsinas.
Outra referência incontestável às Afonsinas consta no próprio livro V: trata-se de
um apenso, de 20 de Novembro de 1450, que ordena que não se guarde a ordenação
que manda comutar o degredo para Ceuta em menos de metade do que se dava para
dentro do reino, visto agora não ser necessário enviar para lá gente, e afirma que foi
feito “despois desta Hordenaçom acabada”[7]. Este anexo não consta do códice de Santarém,
que, plausivelmente, terá sido trasladado em data antecedente, objectando à ideia de
Marcello Caetano de que não haveria em circulação exemplares das Afonsinas ainda no
ano de 1454, data da mais recente lei avulsa, aditada ao original do livro V[8].
No ano seguinte de 1451, nas Cortes de Santarém, é debatida a aplicabilidade da
colectânea em Cortes[9]. O pedido para que os oficiais julgadores respeitem as novas

1945, vol. II, pp. 147-150.


IAN/TT – Sé de Lamego, Cx. 4, maço único de concordatas, n.º14.
1
RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”, pp. 122-123.
2
BARROS, História da Administração Pública, vol. I, pp. 135-136
3
CAETANO, História do Direito, pp. 532-533.
4
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 122.
5
Idem, pp. 127-129. Mais uma vez este autor serve-se do trabalho de Armindo de Sousa, sendo aqui pre-
ferível a obra de Gama Barros, que foca particularmente este aspecto, ou a publicação do Visconde de
Santarém para as cortes de Évora-Viana de 1481-1482. Desta forma, facilmente poderia constatar que nas
cortes de 1472-1473 se fazem seis e nas cortes de 1481-1482 quatro referências expressas, pelo menos, aos
livros das Afonsinas, respectivamente, e não apenas uma em cada.
6
«Vereações» Anos de 1401-1449, pp. 350-352
7
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 114, § 8-9.
8
CAETANO, História do Direito, p. 535.
9
Hoje, é esta a primeira referência em cortes às Afonsinas. No tempo de Marcello Caetano essa prerrogativa

170
José Domingues

ordenações feitas, “E nom guardem as antygas que som rreprouadas per estas”, é formulado
em capítulo geral do povo (capítulo 12º). Este facto, de ser o próprio povo a requerer
a observância das novas ordenações, parece-me comprovativo da difusão da colectânea
pelo reino, isto é, são os próprios concelhos que, em 1451, não só sabem da existência
do novo código, como reivindicam o seu acatamento. Por outro lado, a revogação das
ordenações antigas pode inculcar a existência de outras colectâneas anteriores – como
defendi em capítulo antecedente[1]. Mas, o mais curioso, é que o achado deste capítulo
tem servido, absurdamente, para fundamentar a tese da singela difusão das Ordenações.
Tudo porque Armindo de Sousa, a este pedido do povo para que fossem respeitadas
as Afonsinas, imputa um “diferimento parcial” do monarca[2]. Luís Miguel Duarte, que,
como disse no início, se baseou nos resumos deste autor, dispensando a consulta do
original, persevera o deferimento parcial, questionando, em nota de rodapé, “Será que o
monarca encara as Ordenações como obra da regência, e desconfia delas?”[3]. A desconfiança
como obra da regência, preliminarmente divulgada por Caetano no prefácio ao
Regimento dos Oficiais e consumada na sua História do Direito[4], já tinha sido declarada
sem fundamento por Martim de Albuquerque[5]. Mais relevante ainda é que o monarca
atende, na íntegra, o pedido formulado, mandando que os oficiais julgadores guardem
as ordenações novas e as velhas que não fossem revogadas. As palavras da resposta
régia consignada nesse documento são as seguintes: “respondemos que nos praz. E que
se guardem as nouas e uelhas que non ssam rreuogadas”[6]. Assim, o deferimento é total,
muito embora o pedido, quanto às ordenações velhas, seja formalmente negativo –
que não guardem as ordenações velhas que são revogadas pelas novas – e a resposta
do monarca seja positiva – que guardem as velhas que não são revogadas. O teor
intrínseco, do pedido e da resposta, é convergente, por isso, o diferimento só pode ser
total. Como, aliás, ficou consignado na própria colectânea:

“As quaes Lex vistas per Nos, mandamos que se guardem assy como em ellas he
contheudo, em quanto nom forem achadas contrairas, ou corregidas em alguuma
parte pelas Lex, e Ordenaçõoes em esta nossa reformaçom declaradas per husança,
e estilo geral, ou especial da nossa Corte; porque queremos, e mandamos que esta nossa
reformaçom em todo seja guardada, assy como em ella for contheudo”[7]

Mas, como já ficou referido, esta não é a única situação em que as Afonsinas são
altercadas em Cortes, a pedidos do povo. Nas Cortes de 1472-73, reunidas em Coimbra
e Évora, refere-se algum dos livros das Afonsinas seis vezes, pelo menos, nos capítulos
da justiça. No capítulo 8º alude-se “a ordenação delRey dom fernnamdo voso anteçesor
da louuada memoria que he no segumdo liuro das vosas Reformaçõees no título como deuem
usar das jurdiçõees os fidalgos etc”[8]; Trata-se do título 63 do livro II. No capítulo 48º
requer-se que os corregedores vejam o “Regimento que lhe he dado no liuro primeiro das

ainda pertencia às cortes de 1472/73. Este acrescento reforça, mais uma vez, a ideia da divulgação antes do
ano de 1454, defendida por Caetano.
1
Por ora, parece-me que a identificação das ordenações velhas com as colectâneas antecedentes é a mais
aceitável.
2
SOUSA, As Cortes Medievais, vol. II, p. 347.
3
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 127.
4
CAETANO, História do Direito, p. 535.
5
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, pp. 51-53.
6
Elvas, AM – Pergaminho, n.º 55. Vid. p. 231.
7
Ordenações Afonsinas, Liv. III, tít. 71, § 39, p. 278. O itálico é nosso.
8
IAN/TT – Cortes, Maço 2, n.º 14, fl. 72.

171
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

vosas Reformaçõees e o cumprão como em ele he comteudo”[1]; Esse regimento consta no


título 23 do livro I e a resposta do monarca foi “que ha por muy bem de seus correjedores
muy ameude e com muyta deligencia verem e estudarem seus Regimentos e asy lhes manda
que o façam”[2]. No capítulo 52º pede-se ao rei para por termo aos abusos contra “vosa
ordenaçam he no liuro primeiro da Reformação de vosas ordenaçõees titolo das caçerajeens que
se deuem leuar nas cidades vilas e luguares”[3], numa clara alusão ao título 34 desse livro I;
a resposta do monarca: “que ordenaçam ha hy que acerca desto prouee a quall manda que se
guarde nem se leue por carçerageem mais do que Em ella he comteudo E se alguem comtra elo
for o que se agrauado semtir tragua estromento com Resposta E ser lhe ha dada prouisam quall
Rezão em dereito seja”[4]. A seguir, no capítulo 57º, apelam ao comprimento de uma Lei
da amortização e “ajmda se mande vosa merçe prouer vosa ordenação no 4º liuro no titulo
dos creligos que compram beens por liçemça delRey achares senhor que taees licenças deuiam
de ser registadas em huum liuro e voso almoxarife estar aa compra de taees beens e
nam o fazemdo que os comtratos sejam nhuuns E eles deuem perder taees beens”[5]; a
ordenação supra consta no título 48 do livro IV e a resposta do monarca a este capítulo
é “que com Rezam nem per dereito não deue nem pode semelhante comta tomar aas igrejas nem
pesoas ecresiasticas em especiall por causa da hordenação feita em tempo que o Ifante dom Pedro
seu tio que deus ajaa por ele guouernaua estes seus Reinnos por a quall estabeleçeo e ordenou
que por beens que as jgreijas teuesem de que ouuesem estado em pose pacifiqua ate o falecimento
delRey dom Joham seu avoo nam podesem ser as ditas jgreijas por causa deles jmquietadas nem
demamdadas nem outro titolo dos ditos beens lhe fose requerido nem eles theudos de o mostrar
E quamto ha ordenação que em este capitolo se apomta de como as liçemças que se dam aos
creligos pera comprarem beens am de ser registadas em huum liuro e que o almoxarife del Rey
ha de ser presemte aa compra dos ditos beens e doutra guisa que os comtratos sejam nhuuns E
tãees beens se percão ha o dito senhor por bem que se guarde a dita ordenação”[6]. O capítulo
67º destes Cortes é dedicado aos capítulos das sesmarias, referindo que “no titolo das
sesmarias no liuro quarto das vosas Reformações se trauta no oficio de sesmeiro”[7]; trata-se do
título 81 do livro IV, e “Responde ElRey a estes capitolos das sesmarias Juntamente que ele
mandou com muita deligençia ver todalas ordenaçõees amtiguas e asy suas Reformaçõees que
falam das ditas sesmarias E per modo de ley e ordenação mandou dar prouisam a todo o que
lhe pareçeo que requeria corregimento adiçam ou lemitaçam alguuma E manda asemtar a dita
ordenação nos liuros das outras lex e ordenaçõees suas domde seus pouos poderão aver copia
quamdo lhes prouuer e for compridoiro quer porem E asy o manda ao bispo de cojmbra
que a dita ordenação a seus pouos pobrique quamdo lhe pobricar as respostas dos
outros capitolos Jeraees que per os ditos pouos lhes dados foram”[8]. Finalmente, no
capítulo 86º, insurgindo-se contra os tabeliães que excediam o seu ofício procurando,
salienta-se que “o temdes defeso por ordenação vosa no primeiro liuro no titollo dos
que podesem ser procuradores”[9]; alude-se ao título 13 do livro I e “respomde ElRey
que ha por bem que os tabaliaaes nam procurem segumdo he ordenado jaa E manda que asy se
guarde sem embarguo de cartas nem aluaraees que em comtrairo sejam pasados”[10].

1
Idem, fl. 93.
2
Idem, fl. 93v.
3
Idem, fl. 94v.
4
Idem, fl. 94v.
5
Idem, fl. 96.
6
Idem, fl. 96-96v.
7
Idem, fl. 99.
8
Idem, fl. 101.
9
Idem, fl. 107v.
10
Idem, fl.107v.

172
José Domingues

Passemos agora às Cortes de Évora-Viana, reunidas durante os anos de 1481 e 1482.


Existem quatro referências inequívocas aos livros das Afonsinas. A primeira consta no
Capitollo das Imquiriçoees que se vejam invocando a “determinaçom da ley dellrei dom
fernamdo posta no segumdo liuro no titolo de como deuem husar das Jurdiçoees os fidallgos
comfirmada e aprouada per elRey voso padre que deus tem”[1]. O monarca assente
e manda que se faça “segundo dereito e a ordenaçom delRei dom fernamdo que allegam”.
Trata-se, outra vez, do título 63 do livro II. A seguir no capítulo dos tabeliães, que estejam
nos lugares deputados, alega-se que “per vosa ordenaçom no terceiro livro he mamdado
aos taballiaees das notas que estem nos lugares deputados a elles pera fazerem as
escripturas aas partes”[2]. Efectivamente, diz assim um preceito do livro III:

“E pera as partes comtratamtees poderem aver boõ desembarguo, e nam serem


deteudas por a feitura das Escripturas por minguoa dos Tabaliãees, e Escripvãees,
que as ham de fazer, temos por bem, e Mandamos de conselho dos sobreditos,
que em cada huuã Cidade, Villa, e Julguado dos nossos Regnos, aja lugar certo e
assinado, em que os Tabaliãees, e Escripvãees sejam, e estem residentes per todo
o dia continuadamente, e prestes pera fazerem, e escrepverem os Estormentos, e
Escripturas, que lhes as partees mandarem fazer e escrever”[3]

O monarca responde que se guardem, inteiramente, as ordenações e regimentos feitos.


A seguir, no capítulo dos trajes e dourados, pedem que “quamto ao dourado que
se goarde a ordenaçom do quimto livro acerqua dello fecta”[4]. Trata-se da lei de D. João
I, de 8 de Fevereiro de 1391, e respectiva declaração afonsina, que regulamentam o
uso de ouro e cousas douradas[5]. Finalmente, na resposta ao capítulo das sisas, refere-
se, expressamente, o “segumdo liuro das ordenaçoees no titollo dos artiigos que foram
requeridos por parte dos fidallgos a elRey dom Joham.”[6]. Que corresponde ao título
59 desse livro, intitulado “Dos Artigos, que foram requeridos por parte dos Fidalgos a ElRey
Dom Joham na Cidade de Coimbra”[7].
Invocando as Cortes de Évora de 1490, Gama Barros acrescenta a referência ao
“livro segumdo das ordenaçoees, no titollo dos direitos reaaes, omde estam apomtados
os direitos que ao rey pertemcem – é o título 24 do livro II. E parece aludir ao livro
II, tit. 92, a resposta ao cap. 29, quando trata das contendas entre cristãos e judeus ou
mouros”[8].
Estas menções parlamentares aos livros das Afonsinas, salvo a de 1451 (Cortes
de Santarém), já foram desempoeiradas pelo infatigável Gama Barros[9] e outras
referências surgirão, seguramente, com a publicação dos ainda inéditos capítulos, gerais
e particulares, do povo, clero ou nobreza, apresentados e discutidos em assembleias
de Cortes celebradas entre 1446 e 1512. Por exemplo, nas Cortes de Lisboa de 1455,
em capítulo particular da vila de Tavira (Algarve), o procurador agrava-se que, em

1
Visconde de SANTARÉM, Memorias para a Historia, e Theoria das Cortes Geraes, que em Portugal se Celebrarão
pelos Tres Estados do Reino, Parte 2.ª, Lisboa, na Impressão Regia, 1828, p. 81.
2
Idem, p. 99.
3
No § 20 do título 64.
4
Idem, p. 182.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 43.
6
SANTARÉM, Memorias para a Historia e Theoria das Cortes Geraes, p. 215.
7
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 59.
8
BARROS, História da Administração Pública, tomo I, p. 136.
9
Idem, p. 136.

173
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

determinados casos de rixa, os oficiais da vila (o alcaide-mor, o alcaide pequeno e


o juiz) se servem e julgam por uma ordenação da qual se ignora o rei autor e a data
em que foi feita. Solicita-se, por isso, ao monarca que “sob certa pena que nenhuum juiz
nom julgue pena nem arma por outra hordenaçom sse nom por aquellas que sejam achadas em
os liuros das Reformaçoes que estam na nossa chancelaria”. Ao que o monarca responde,
terminantemente: “a esto respondemos e mandamos que daqui em diamte os juizes nom
julguem nem hussem por alguuas hordenações saluo por aquelas que por nos forem aprouadas e
asselladas do nosso sello por aquellas pessoas a que pertence e por outras nenhuuas nom”[1].
Com a recente edição de Cortes do reinado de D. Manuel I surgem mais algumas
referências, entre os capítulos gerais das Cortes de Lisboa de 1498. No capítulo 16º
reclama-se a entrega de “senhos livros de Ordenações” aos corregedores e juízes, para
eles não alegarem ignorância e, por esses livros, saberem o que a seu ofício pertence[2].
No capítulo 37º referem-se os artigos entre o povo e a clerezia determinados “per vossas
ordenações No segumdo liuro e terceiro”[3]. No capítulo 145º, mais uma vez, discute-se a
jurisdição dos fidalgos, clamando-se pelo cumprimento da “lley d el Rey dom fernando
asentada no segundo no liuro [sic]”[4], no título 63. Finalmente, refere-se a “ordenaçom
vosa no terceiro liuro nenhuum Concelho nom seJa citado Saluo per uoso espyciall
mandado”[5]. Trata-se do título 7 do livro III.
Apôs o elenco das referências irrefutáveis à colectânea afonsina – que me foi possível
coligir, convicto de que outras surgirão no futuro – será justificável a perseverança
numa tão débil e insignificante divulgação das Afonsinas? Se nos centrarmos nas
palavras de Miguel Duarte – um dos mais recentes investigadores a inflamar a tese
da escassa difusão – constatamos, de imediato e como já ficou sublinhado em nota de
rodapé suso para as referências em reuniões parlamentares, o seu distanciamento em
relação à realidade documental. Para este autor:

“Entre 1447 e 1490 as Cortes reúnem 21 vezes, produzindo largas centenas de


capítulos gerais. Dos quais as O.A., a compilação legislativa que se suporia
conter quase toda a legislação do reino e ser a bíblia dos julgadores, estão pura
e simplesmente ausentes. Com três excepções, que na prática são duas só: um
primeiro pedido de aplicação, só parcialmente deferido pelo rei, e a norma
fernandina sobre as jurisdições dos fidalgos”[6]

Mas o seu golpe de misericórdia na divulgação das Afonsinas, leva-o mais longe,
norteando-o para uma crítica exacerbada ao capítulo 22º[7] das Cortes de 1472-1473
de Coimbra-Évora, sem conhecer integralmente o texto das fontes – é o próprio que o
confessa[8]:

1
IAN/TT – Chancelaria de D. Afonso V, Livro 15, fl. 144.
2
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Manuel I (Cortes de 1498), Organização e revisão geral de João José Alves
DIAS, Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2002, p. 75.
3
Idem, p. 86.
4
Idem, p. 135.
5
Idem, p. 140.
6
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 128.
7
Segundo numeração de Armindo de Sousa. No documento que utilizamos é o cap.º 8º da Justiça.
8
“Seria interessante aqui conhecer integralmente a resposta; não tive acesso às fontes, pelo que me limitei
a trabalhar com a síntese de Armindo de Sousa”, p. 129, nota 393.

174
José Domingues

“Em 1472-73, isto é, 25 anos depois de as ordenações estarem concluídas, os


procuradores dos concelhos pedem a aplicação de uma lei de D. Fernando, velha de
um século (uma vez que fora promulgada em 13 de Setembro de 1375). Conhecem-
na pelo monarca que a fez publicar, evocam-na assim, e não é certamente por
amor ao soberano: na sucessão de ‘heróis’ e ‘vilões’ em que a experiente retórica
dos procuradores encaixava os sucessivos reis, “O Formoso” figurava habitualmente
entre os segundos (joguete nas mãos de uma mulher que roubou ao legítimo marido,
responsável por conflitos desastrosos com Castela, referência negativa necessária
para fazer ressaltar, por contraste D. João I). E repetem os longos quinze parágrafos do
articulado, porque o entendem necessário, o que não aconteceria se a compilação estivesse
já suficientemente divulgada e fosse correntemente aplicada: eles dirigem-se ao rei e
ao Desembargo, a legistas e magistrados superiores. Mais: no parágrafo 13 da lei
original, D. Fernando acabava com o privilégio senhorial de nomear tabeliães nas
suas terras (com as habituais excepções). Ao recolher a norma nas O.A., Afonso V
recua nesse ponto, restabelecendo tal previlégio. O que os procuradores pura e simplesmente
ignoram: eles exigem o cumprimento da “ordenação de El Rei D. Fernando” com o seu
articulado original, lembrando, para facilitar, que ela passou a ser o Título LXIII do Livro
2º das O.A., e ‘esquecendo’ o parágrafo 17 (a única contribuição do seu rei). Porquê?
Porque apesar dos seus cem anos, a ordenação em apreço “é justa, santa e boa e faz
ora muito ao caso presente”. Naturalmente que, em 1472-73, uma lei a cercear e a
vigiar a jurisdição dos fidalgos ‘faria muitíssimo ao caso’. Mas atente-se em dois
pontos cruciais: pedem os procuradores que o monarca a faça “suscitar e espertar,
aprovar e mandar guardar”, como se acabasse de ser feita. “Suscitar e espertar”,
compreende-se, se a lei não era cumprida; mas “aprovar” uma lei devidamente
promulgada por D. Fernando, no adro da igreja da Atouguia da Baleia, perante
alguns notáveis do Desembargo do tempo (Afonso Domingues, Lourenço Eanes
Fogaça, Gomes Martins, Álvaro Gonçalves) e os homens bons da vila e de
Santarém, e que reforçara a sua legitimidade, se legitimidade alguma vez lhe faltou, com
a integração na compilação afonsina… O que valia afinal esta compilação? Voltamos
sempre ao mesmo: o que valiam as leis? Segundo ponto, mais surpreendente ainda – a
resposta do soberano: deferimento parcial. Quer dizer: os concelhos pedem ao rei para fazer
cumprir a lei do seu antecessor, que ele próprio consagrara; e o rei – a figura/instituição que
tradicionalmente veríamos encarniçar-se contra os povos que resistiam ao cumprimento das
suas ordenações – responde que aceita que se cumpram alguns parágrafos, outros não. E
provavelmente não mandou respeitar nenhuns.”[1]

O transcrito é extenso, no entanto, indispensável, uma vez que comporta o risco


de difusão de mais uma iniquidade contra a colectânea de regimentos e ordenações da
lavra de Rui Fernandes, dando uma ideia errada da sua veradeira importância em sede
parlamentar, na segunda metade do século XV. Mas, para que qualquer um possa arbi-
trar do peso do discurso de Miguel Duarte e formar o seu próprio juízo de valor sobre o
tema, é também necessário transcrever todo o amplo capítulo de Cortes em causa:

“Sennhor por que a Jurdição he a per que he mais demostrado he o poderio e


alteza do voso principado que per deos e per ley deuinna e umana he cometida
aos Reys em sinall de mais alto e mayor sennhorio E como quer que vos jaa
apomtamos que vosa alteza deuese Reuoguar as doaçõees[2] e comçesõees de
taaes dereitos e jurdiçõees porque tememos em alguã maneira fiquarem alguuãs
e a justiça que per Deus dos çeeos vos he emuiada e oficio voso he per deuinall
ordenamça e deuedes(?) a cada huum menistrar todo este tempo brada por as

1
DUARTE, Justiça e Criminalidade, pp. 128-129. O itálico é nosso.
2
Entrelinhado.

175
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

praças que não acha quem (…) falhar vos sennhor as vosas jurdiçõees que eram
casa de vosa morada lamçastes(?) de uos e mercado delas fizestes como deverças
e os comisairos nam a tomam como pastores mas como merceeiros dela husam
os herros dos quaees he per que maneiras cada dia em vosas orelhas soam vosos
pouos sennhor nam curam do mais esmeuçar e decrarar os danos e males que se
delo seguem pedem a vosa alteza por merçe que queiraees per a ordenação delRey
dom fernnamdo voso amteçesor da louuada memoria que he no segumdo liuro das
vosas Reformaçõees no titolo como deuem usar das jurdiçõees os fidalgos e a queirãees
suçitar e espertar e aprouar e mandar guardar como se a ora fizeseis de nouo mandando
que eses que tãees jurdiçõees tem nem seus ouuidores nam tomem conhecimento
de feitos crimees nem ciueys per aução noua nem per çimples querella nem
denumciação nem de correição nem per oficio de justiça nem per outra maneira
nem sob outra quallquer color somente conheção dos feitos çiueys e crimees que
damte os Juízes desas terras a eles deuem vir per apelação e deles casy como per
canall e como deuem hir esas apelaçõees dos feitos ciueys aqueles que deles apelar
quiserem aa vosa casa do çiuel ou omde per vosa alteza for ordenado e os ditos
feitos crimes hiram esas apelaçõees aa casa da vosa sopricação se as partes apelar
quiserem e que nam queirão se o caso for de tall calidade que se deua apelar por
a justiça deuem eses que taees jurdiçõees teuerem ou seus ouuidores apelar por
bem da justiça e esas apelaçõees emuiarão a vosa casa da sopricação e não podem
dar carta de seguramça nem de perdão sem embargo de quallquer doaçam graça
nem preuilegio sob quallquer titolo ou liberdade per que a esas pesoas fosem
outorguadas nem dadas nem outro sy huso nem costume de quallquer nem de
quamto quer tempo que o comtrairo usasem nem outro sy carta nem rescrito
nem semtença que de vos nem de vosos amteçesores sobre esto ouuesem ou que
emtão no tempo desas doaçõees ou depois ssobre esto guanhasem como sennhor
mais compridamente em a dita ordenação esto e outras cousas sam comteudas
A quall he justa samta e boa e faaz ora muyto ao caso presemte per a reformação
das cousas que depois da dita ordenação se deuasarão em gramde dano de vosa
jurdição e faleçimento de justyça e perda de vosos pouos e porem pedem a vosa
alteza que a dita ordenação asy estreitamente e compridamente como he escrita e
asemtada em vosos liuros feita per ho dito Rey dom Fernamdo sem embarguo doutra
vosa decraração nem ordenação feita em comtrairo em parte ou em todo e sem embargo
de quallquer graça e merce ou priuilegio que per vos em comtrairo sejam dados e
asy sennhor mandeys guardar esa ordenação nos tabaliãees que nam sejam feytos
saluo per vos ou per vos confirmados como a dita ordenação fala ne se chamem
de outrem nem por outrem saluo uosos sem embarguo doutros priuilejios nem
graças que em comtrairo tenham nem eses sennhores nem seus ouuidores dem
cartas de graça nem de restetuição da fama nem priuilegios perque escusem os
homees de seruemtia do comselho nem outras tãees nem conheçam dos feitos
que lhe per a dita ordenaçãao he defeso e mandeys aos Corregedores das vosas
comarquas que emtrem nas ditas terras e fação em elas jerall correição tomando
connheçimento dos feitos crimes e çiueis per auçam noua e per çimpres querela
denumçiação e correição asy e pela guisa que o faaz e fazer pode nas terras vosas
em que a jurdiçam he em todo vosa mandamdo aos juizes das terras que se deles
agrauarem allguus pera ele corregedor que lhe dem estormentos dagrauo porque
a eles pertemçe o conhecimento no caso que se agrauar pode ficamdo que as
apelaçõees vãao os sennhores desas jurdiçõees e seus ouuidores como dito he.
Respomde ElRey que ha por bem daquy em diamte nam pasar carta nem priuile-
gio alguum gerall nem especiall per que os seus corregedores nam ajaam demtrar
nas terras e luguares dos fidalgos e grandes de seus Regnos a fazerem em eles
correição e manistrarem justiça em casos que cumprir segumdo a seus ofiçios per-
temcem E quamto aos que ora priuilegios seus tem perque os ditos corregedores
não Emtrem em suas terras a fazer em elas correição aa por bem que com dom
Fernamdo Duque de barguamça seu muyto amado e prezado primo se nam faça

176
José Domingues

jnouação nem mudamça do que se atee quy fez asy por a ordenação loguo nomea-
damente o em este caso reseruar como por ele semposar da justiça em suas terras
a muito seruiço seu e gramde descarguo de sua comçiemçia E quamto a alguãs
outras que açerqua desto tem priuilegios cartas ou aluarãees manda o dyto senhor
que os priuilegios cartas ou aluarãees seus que sam dados emquamto sua merçe
for expirem e cesem loguo aguora e nas terras daqueles a que asy eram dados os
Corregedores emtrem daquy em diamtea fazer correição e as outras cousas que a
seus ofiçios pertemçem e os outros priuilegios por ele dados em vida dos que os
tem ou a tempo certo durem e se guardem segumdo em elles for comteudo em
pero comtudo sem Embargo de priuilegios cartas e aluarães que hy aja quamdo
quer que ele semtir que alguns usam em suas terras em comtrairo daquelo que
deuem ou que per alguum outro respeito e seruiço seu e bem de justiça quem
mamdar emtrar em elas a fazer ou prouer em alguas cousas o fará por os ditos
seus correjedores ou per outras alguas pesoas como lhe melhor parecer.
E ordena e manda que os ouuidores daqueles que os ditos priuilegios cartas ou
aluaraees tinnhão pera emquamto sua merçe fose em cujas terras ora mamda que
seus correjedores emtrem como dito he nam usem daquy em diamte do carreguo
de corregedores nem de cousas alguaas que a propio oficio de correjedor pertem-
ção e conheçam somente como ouuidores nas apelaçõees e outras cousas que a ele
(sic) como simplezes ouuidores pertemçerem.
E quamto aos tabaliãees ordena e mamda que se chamem segumdo for comtehudo
nas doaçõees ou priuilegios que alguns em espeçiall sobre elo tem Empero se
alguum poser defesa a tabaliam seu ou der mandado per que em alguuma parte
embargue ele usar como a seu ofiçio pertemçe a nam dar escrituras que lhe
requererem em pena delo perqua de todo o priuilegio que tiuer pera poder fazer
ou apresemtar os ditos tabaliãees e lhe apraaz que daquy em diamte se nam faça
doaçam nem merçe em cousa que pertemça ao fazer dos tabaliãees se nã segumdo
a ordenação delRey dom Fernamdo.[1]

Agora sim, pode-se efectuar um cotejo directo entre o que, na realidade, consta
no documento e o discurso do autor supra. Antes de mais, não faz qualquer sentido
acentuar que os procuradores dos concelhos pedem a aplicação de uma lei de D.
Fernando, velha de um século, ou que a conhecem pelo monarca que a fez publicar. Para
os procuradores, conforme supra transcrito, a fonte da ordenação de D. Fernando é
o segundo livro das reformações, no título como devem usar das jurisdições os fidalgos. Não
há dúvida, trata-se do actual título 63 do livro II das Ordenações Afonsinas. O facto de
se pedir a aplicação de uma lei de D. Fernando, não é de pasmar nem destila qualquer
antipatia à colectânea. A vulgar forma de identificar uma lei na compilação era pelo
seu título, conteúdo ou então pelo nome do monarca outorgante, uma vez que nem os
títulos nem os parágrafos estavam numerados. Essa numeração só foi feita na Torre
do Tombo, em 1788, pelo desembargador Salter de Mendonça[2]. Também não faz
qualquer sentido a retórica contra D. Fernando em favor de D. João I, que, de forma
alguma, se não depreende deste documento.
Mas o que, de todo, não consta no documento é a pretensa repetição dos longos
quinze parágrafos do articulado fernandino, com um propositado esquecimento do parágrafo
17 (a única contribuição afonsina), sendo, por isso, vãs e totalmente precepitadas, tanto

1
IAN/TT – Cortes, Maço 2, n.º14, fls. 72-73. O itálico é nosso.
2
“neste anno de 1788 se lhe numerarão no mesmo Real Archivo os Títulos e §§, quando forão conferidos
entre si pelo laboriozo e exacto Magistrado o Dezembargador João Antonio Salter de Mendonça”, cfr.
RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins do Senhor D. Affonso 5.º”, p. 122. É muito provável que esta
numeração tenha sido aproveitada pelo editor setecentista, que alerta para esse lapso, mas sem reivindicar
a sua autoria, como refere Caetano [Cfr. CAETANO, História do Direito, p. 547].

177
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

a conjectura de que os procuradores exigem o cumprimento da “ordenação de El Rei


D. Fernando” com o seu articulado original, como a conclusão de que a compilação não
estava suficientemente divulgada nem era correctamente aplicada. O que os procuradores
pedem é que seja coactada a jurisdição dos senhores e seus ouvidores, tal como previa
a ordenação de D. Fernando “asy estreitamente e compridamente como he escrita e
asemtada em vosos liuros (…) sem embarguo doutra vosa decraração nem ordenação feita em
comtrairo em parte ou em todo”. Mais uma vez confirmando a fonte de tal ordenação – os
livros de Afonso V – e salvaguardando eventuais declarações (por exemplo, o § 17) ou
ordenações do monarca feitas em contrário.
É certo que transcreve breves trechos da lei de D. Fernando, no intuito de enfatizar
o seu pedido, por exemplo: que os senhores que tinham as jurisdições e seus ouvidores
não tomem conhecimento de feitos crimes nem civeis por acção nova nem por simples querela,
nem denunciação, nem correição, nem por ofício de justiça, nem por outra maneira, nem sob
outra qualquer color (§ 5); e que somente conheçam dos feitos cíveis e crimes que dos juízes
dessas terras a eles devem vir por apelação (§ 4). Em seguida, neste ponto, os procuradores
desviam-se do conteúdo da lei de D. Fernando, enfatizando que a apelação dos feitos
cíveis deviam ir à Casa do Cível e a dos feitos crimes à Casa da Suplicação. Esta viragem
é, com certeza, ditada pelo título 90 do livro III e pelo título 97 do livro V das Afonsinas,
que glosam este tema. O que, contrariando o que nos quer fazer acreditar Miguel
Duarte, denota um bom conhecimento da compilação, que estava a ser correctamente
aplicada como um todo. Segue-se a transcrição do § 5 até final, o único que se pode
considerar transcrito neste capítulo.
Continua a petição do povo para que os tabeliães apenas fossem feitos por el-rei
ou por ele confirmados e não se chamem de outrem (§13)[1]; que os senhores e seus
ouvidores não dêem cartas de graça nem de restituição de fama (§ 7) nem privilégio
porque escusem os homens da serventia do concelho (?)[2]; acabam solicitando que os
corregedores das comarcas entrem nas ditas terras e façam nelas geral correição, como
nas outras terras da jurisdição régia (§ 12), reservando a estes o recurso de agravo e aos
senhores e seus ouvidores o de apelação.
Por sua vez, a resposta do soberano não é surpreendente, e dela não destila qualquer
incentivo ao cumprimento parcial das suas Ordenações, aceitando que se cumpram
alguns parágrafos, outros não, e provavelmente não mandando respeitar nenhuns. Antes pelo
contrário, promete de futuro não passar mais cartas ou privilégios que proíbam os
corregedores de entrar nas terras dos fidalgos e grandes do reino a fazer correição e
administrar a justiça, salvaguardando o caso, previsto por Ordenação, do Duque de
Bragança. Pretende acabar com as cartas e alvarás, nesse sentido concedidos, enquanto
sua mercê fosse. Os ouvidores dos senhores são destituídos das eventuais funções
de corregedores, ficando limitados aos recursos de apelação, tal como solicitado no
capítulo e previsto no título das Ordenações. Sobre os tabeliães não pretende alterar o
anteriormente outorgado, mas desde que os senhorios não importunem esses tabeliães
de zelosamente exercer o seu ofício, sob pena de perderem o privilégio que tinham de
fazer ou apresentar tabelião. Terminando, categoricamente, que “lhe apraaz que daquy
em diamte se nam faça doaçam nem merçe em cousa que pertemça ao fazer dos tabaliãees se não
segumdo a ordenação delRey dom Fernamdo”.
Final terminante! Agora, que se concidere esta resposta como um diferimento parcial
ainda é admissível, se tivermos em linha de conta a salvaguarda da posição do Duque

1
Os compiladores afonsinos reservam que se faça como no tempo de D. João I. Portanto não podemos, limiar-
mente, qualificar esse parágrafo como um recuo de Afonso V e, mais uma vez, desacreditar as Afonsinas.
2
Neste sentido, nada consta no título, pelo que deve ter sido acrescento dos procuradores.

178
José Domingues

de Bragança e o facto de o monarca manter a sua posição sobre alguns privilégios


outorgados. O que não me parece crível é que desta resposta se possa inferir qualquer
desapego – para não dizer desprezo – ao cumprimento das Afonsinas, por parte do
poder régio (o principal interessado). Ou seja, diferimento parcial em relação ao pedido
concreto dos procuradores, mas nunca diferimento parcial à vigência da colectânea.
A manifesta tentativa de descrédito das Afonsinas enraíza-se em tempos bastante mais
recuados, desde, sobretudo, as rijas críticas movidas pelo investigador de Vale de Lobos:

“Se houvessemos de acceitar sem reparo o preambulo historico das Ordenações


Affonsinas, esse codigo, que vigorou pouco mais de sessenta annos, seria hoje um
guia seguro para conhecermos a maior parte da legislação anterior, e o systema
adoptado na sua redacção indicar-nos-hia com certeza a epocha ou reinado em
que cada lei fora promulgada, cada regra juridica estabelecida.
Entretanto a comparação desse codigo com o corpo de leis antigas que nos restam,
e ainda so com as do século XIII que publicâmos agora, basta para nos desenganar
que as Ordenações de Affonso V estão longe de resumir e representar as leis gerais
da monarchia nas epochas que precederam a sua redacção. Nessas mesmas que
ahi foram ou extractadas ou transcriptas, os erros ácerca de seus auctores, da sua data,
e até do seu contexto são taes e tão frequentes, que tornam muitas vezes aquella compilação
a fonte menos segura para a historia da nossa legislação primitiva”[1]

Parece que ninguém mais se preocupou em dissecar tais reparos, não se


apercebendo, tão-pouco, que este conspícuo investigador acaba por cair em
contradição, atribuindo maior fiabilidade e preferindo, como base da sua publicação,
o que ele considera um dos trabalhos preparatórios de João Mendes (Livro das Leis e
Posturas) ao trabalho definitivo e oficial (Ordenações Afonsinas): “naturalmente o Livro das
Leis e Posturas não é senão o primeiro ou um dos primeiros trabalhos de Joanne Mendes”[2].
Caetano insiste que as Ordenações devem ser lidas e apreciadas com as maiores cautelas,
tendo em conta os defeitos da compilação, desde os erros de datas, de cópia ou omissões de
palavras e frases e as interpolações. Mas como exemplos, em concreto, apenas refere:

“Rubricas dos títulos que não correspondem às matérias tratadas (por exemplo,
o título 102 do livro V). Leis repetidas em locais diversos (por exemplo, sobre
barregãs dos clérigos, no título 22 do livro II e no título 19 do livro V) ou a que vem
nos títulos 11 e § 2 do título 14 do livro I” [3]

Sentenciada a probidade das Afonsinas, por duas das mais arrazoadas vozes da
historiografia do Direito nos últimos tempos, tornam-se constantes alegações adeptas
como: “prolixas, e nem sempre claras, Ordenações Afonsinas”[4].
A mim parecem-me excessivas as censuras e demasiado elevadas as suspeitas
criadas em torno das Afonsinas, sem, no entanto, dispensar as vulgares cautelas –
basta atentar nas contradições entre exemplares do mesmo livro – perante quaisquer
apógrafos de códices medievais. Esse descrédito exacerbado pode levar a investigação
científica por caminhos tortuosos e inseguros. Um exemplo álgido pode colher-se

1
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 156. O itálico é nosso.
2
Portugaliae Monumenta Histórica, Leges, p. 149.
3
CAETANO, História do Direito, p. 547.
4
Nuno Espinosa Gomes da SILVA, “Marcello Caetano, Historiador do Direito Português”, in Marcello
Cetano, História do Direito, pp. III-XXVI.

179
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

no pouco cuidado com que Carvalho Homem, no momento de arrolar os diplomas


normativos emitidos nos reinados de D. Dinis e D. Afonso IV, tratou esta obra, como
ficou demonstrado no capítulo I.
A propósito das compilações iniciadas na época de D. João I, refere expressamente:

“210 leis encontram-se no Livro das Leis e Posturas e/ou nas Ordenações del-Rei D.
Duarte (com eventuais cópias nas Ordenações Afonsinas)”[1]

É óbvio o intento de que as fontes primordiais seriam o Livro das Leis e Posturas e as
Ordenações de D. Duarte, delegando as Ordenações Afonsinas para um plano secundário
– colocadas entre parêntesis. Antes de passarmos aos meros quantitativos de cada uma
das colectâneas, saliente-se que, no arrolamento de Carvalho Homem, existem, pelo
menos, 31 (10+21) diplomas que ficaram por referir na fonte das Afonsinas. Seguem os
diplomas (o número entre parêntesis corresponde ao do corpus de Carvalho Homem)
e respectiva colocação nas Afonsinas:

D. Dinis:
• (n.º1) 1280, Agosto, 08 [Lisboa] – OA, III, 15, §§ 52-57.
• (n.º4) 1282, Agosto, 24 [Guarda] – OA, III, 102.
• (n.º19) 1292, Agosto, 23 [Porto] – OA, II, 3.
• (n.º22) 1295, Março, 04 [Lisboa] – OA, IV, 99.
• (n.º28) 1302,Junho, 07 [Santarém] – OA, III, 108, § 5.
• (n.º51) 1302, Abril, 24 [Santarém] – AO, III, 108, § 3.
• (n.º56) 1309, Julho, 01 [Lisboa] – OA, II, 15.
• (n.º99) 1302, Agosto, 11 [Lisboa] – OA, V, 14.
• (n.º103) 1279-1325 – OA, III, 15.
• (n.º112) 1279-1325 – OA, V, 109, §§ 1-3.
• (n.º113) 1297-1325 – OA, V, 40.

D. Afonso IV:
• (n.º141) 1329, Abril, 19 [Beja] – OA, III, 6, § 1 (sumariada).
• (n.º147) 1332 – OA, I, 23.
• (n.º151) 1335, Outubro, 14 [Coimbra] – OA, V, 53, §§ 13-24.
• (n.º155) 1340, Janeiro, 15 – OA, I, 23.
• (n.º158) 1340, Abril, 01 [Lisboa] – OA, II, 96 / OA, IV, 19.
• (n.º161) 1340, Julho, 01 [Lisboa] – OA, III, 43.
• (n.º162) 1340, Julho, 01 [Lisboa] – OA, III, 101.
• (n.º168) 1342, Janeiro, 26 [Coimbra] – OA, V, 29, §§ 1-3 / OA, V, 30.
• (n.º172) 1343, Julho, 14 [Santarém] – OA, IV, 15.
• (n.º180) 1345, Julho, 06 [Santarém] – OA, V, 52.
• (n.º181) 1345, Julho, 14 [Santarém] – OA, V, 31, §§ 6-12.
• (n.º183) 1347, Dezembro, 13 [Coimbra] – OA, V, 47, §§ 3-15.
• (n.º200) 1325-1357 – OA, III, 100, §§ 1-2.
• (n.º207) 1325-1357 – OA, II, 53 / OA, III, 95.

1
HOMEM, “Dionisius et Alfonsus”, p. 17.

180
José Domingues

• (n.º210) 1325-1357 – OA, II, 44.


• (n.º211) 1325-1357 – OA, II, 49.
• (n.º215) 1325-1357 – OA, V, 41, §§ 1-6.
• (n.º219) 1325-1357 – OA, V, 29, § 3.

São, ao todo, 31 títulos e 28 diplomas (já que o n.º158, 168 e 207 se encontram repetidos
em dois títulos distintos)[1]. Agora, se a este significativo número acrescentarmos os 16
diplomas, do capítulo I, que ficaram por inventariar das Afonsinas, chegamos a um
número muito próximo da meia centena (47) de títulos que foram deixados na tumba
do esquecimento. Confrontando este valor com o total dos 58 títulos (34+24) que
realmente constam no inventário de Carvalho Homem, correspondentes a um total
de 56 leis (32+24)[2], parece que o levantamento a partir das Afonsinas se ficou, quase,
pela metade. Um derradeiro reparo: não há certeza de que o n.º 239 seja um diploma
de Afonso IV, antes se tem atribuído a Afonso II[3].
Posto isto, será que as Ordenações de Afonso V continuam a justificar a depreciação
que lhe tem sido imposta?
Se a nível quantitativo, apesar deste ajuste, não surpreende que as colectâneas
antecedentes a excedam em diplomas de D. Afonso II até Afonso IV, uma vez que
as Afonsinas prosseguem uma reforma das ordenações, “tirando algumas, que nos pareceo
sobejas, e sem proveito”[4]. Mesmo assim, existe um corpus significativo que só pelas
Afonsinas se conhece. Por outro lado, já vimos no capítulo I que, na maior parte dos
casos, a data apontada pelas Afonsinas acaba por se revelar como a mais correcta.
Tomando de novo o fio à meada, em capítulos de Cortes, parece-me demasiado
restritivo resumir as referências às que, de forma expressa e inequívoca, referem algum
dos livros das Afonsinas. Existem outras menções que, embora tacitamente, se referem
a leis nas Afonsinas. Agora, se é o soberano que, assiduamente, identifica a colectânea
como “nossas ordenações”, “livro das nossas ordenações”, “ordenações do reino”… isso só pode
ser entendido como um reconhecimento tácito, do próprio rei, de que nessa colectânea
legislativa constava, praticamente, todo o Direito do reino. Assim sendo, porque
motivo se não devem considerar referências às Afonsinas as que incluem ordenações
aí compiladas? Por outras palavras, a mero título exemplificativo, se a referência ao
regimento dos corregedores, no capítulo 48º das Cortes de 1472/73, não deixa dúvida
tratar-se do título 23 das Afonsinas, porque é que não podem ser consideradas como
referências ao mesmo título e livro as múltiplas que, em outros capítulos de Cortes,

1
Cfr. também o que ficou exarado no capítulo I a propósito das leis dos reinados seguintes (D. Pedro I, D.
Fernando, D. João I, D. Duarte e D. Afonso V) nas Afonsinas.
2
Em trabalho recente persevera os mesmos valores, com menos um para Afonso IV: 32 para D. Dinis e 23
para D. Afonso IV (32+23=55). [Cfr. HOMEM, “Législation et compilation législative”, Anexo 2, p. 686].
3
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 177: “No Livro das Leis e Posturas esta lei está unida à XXIII
como uma continuação della, e sem rubrica alguma. Acha-se porém distincta e rubricada nas Ordenações
de D. Duarte. Foi inserida na Affonsina, mas attribuida erradamente a Affonso IV. Ribeiro (Additam. à Synopse
p. 4) considerou a lei sobre o mesmo assumpto, que se acha a fol. 36 do Livro das Leis e Posturas entre
outras de Affonso III, apenas como repetição ou variante da de Affonso II. Parece-nos pouco exacta essa
classificação. Aquella lei modifica a sanção penal desta, e amplia a sua sentença aos conniventes. Não é
provável que nas mesmas cortes de 1211 se tomassem duas providencias diversas na substancia sobre
a materia, não se devendo, portanto, suppor que uma e outra sejam apenas versões diversas do mesmo
texto latino-barbaro”.
Esta conjuntura não é singular: também a lei (de 1211) para que não penhore alguém seu devedor, nem
filhe posse de sua cousa, sem autoridade da justiça é adjudicada a D. Afonso IV, no título 9 do livro IV
das Afonsinas.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Introdução, p. 7.

181
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

mencionam o regimento dos corregedores das comarcas? Só porque nesse capítulo


48º se refere, expressamente, o livro primeiro das ordenações? Não me parece. Seria um
contra-senso que para uma dada conjuntura servisse o regimento coligido no título 23
do livro I e para outras conjunturas se preferisse o mesmo regimento, mas em outra
fonte. E, afinal, qual seria essa fonte? O Livro das Leis e Posturas ou as Ordenações de D.
Duarte (já revogados)? O diploma avulso de 1418, 1361, 1340 ou 1332?
Vejamos então algumas menções ao regimento dos corregedores das comarcas,
disseminadas a esmo pela documentação das Cortes. Logo nas Cortes de Santarém,
de 1451, a propósito das penas das barregãs dos clérigos e casados, o monarca manda
“que se guardem as ordenações”[1]. Nas cortes de Santarém, de 1468, solicita-se que os
corregedores cumpram o seu regimento e façam as inquirições sobre a prática dos
seus antecessores[2]. Nas Cortes de Coimbra-Évora, de 1472/73, em reposta ao pedido
(capítulo n.º 72 em Armindo de Sousa e n.º31 no documento) para que os corregedores
não fizessem posturas e ordenações por si só, mas com os juízes e oficiais dos cocelhos,
el-rei “manda que se guarde o que he hordenado e prouido per o Regimento dos corregedores”[3];
no capítulo seguinte, sobre aposentadorias, “Responde ElRey que per o Regimento dos
Corregedores e ordenação he prouido açerca desto que apontam e que manda que aquelo se
guarde”[4]. Nas Cortes de Évora-Viana, de 1481/82: o monarca ordena que se cumpra o
regimento dos corregedores no capítulo dos que testemunham para fazer mal a outros[5],
no capítulo das más mulheres que não vivam entre as boas[6], no capítulo para que se
tirem inquirições sobre os juízes[7], no capítulo dos corregedores que deixam ouvidores
[8]
sobre feitos novos e tempo de estadia[9]e quando altera o tempo de estadia[10].
Seguindo esta linha analógica de raciocínio, podem-se estender muitas outras
referências aos correspondentes títulos das Afonsinas.
Penso que este seja o melhor entendimento, não sendo plausível que para um
capítulo sirva um dos livros das Afonsinas, imediatamente postergados e substituídos
por outras fontes em qualquer capítulo próximo das mesmas Cortes. Quando o tema
fosse as leis do reino, penso que seria bem mais conveniente o recurso à compilação
legislativa – recente, actualizada e em vernáculo – do que uma busca aturada pelos
imensos volumes e vastos diplomas avulsos arrecadados na Chancelaria-mor. Isso só
seria justificável se a ordenação ou regimento, em causa, não constasse em nenhum
dos práticos cinco livros.

“Sabe-se que as Ordenações – mormente no pequeno código de direito privado


que constitui o seu livro IV – estão muito longe de representar uma expressão
completa do direito vigente”[11]

1
Julieta Maria Aires de Almeida ARAÚJO, Portugal e Castela (1431-1475) Ritmos de uma Paz Vigilante, Dis-
sertação de Doutoramento em História Medieval apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa, 2003, doc. 46, p. 130.
2
ARAÚJO, Portugal e Castela (1431-1475) Ritmos de uma Paz Vigilante, doc. 46, p. 155.
3
IAN/TT – Cortes, Maço 2, n.º14, fl. 89.
4
IAN/TT – Cortes, Maço 2, n.º14, fl. 89.
5
SANTARÉM, Memorias para a Historia e Theoria das Cortes Geraes, p. 92.
6
Idem, p. 108.
7
Idem, p. 114.
8
Idem, p. 121.
9
Idem, pp. 254-255.
10
Idem, p. 105.
11
Mário Júlio de Almeida COSTA, “A Adopção na História do Direito Português”, Revista Portuguesa de

182
José Domingues

Penso que está alicerçada, não só a divulgação no âmbito da corte e da Chancelaria


régia, mas também em todo o reino – a altercação em assembleia de Cortes e a chamada
à colação pelos procuradores dos concelhos é bem sintomático – mesmo que se tenham
presentes todas as limitações inerentes à época. Resta-me, ainda, agregar outros parcos
indícios que, em diploma solto, conseguiram perdurar até à data. Por exemplo, a
pedido do arcebispo de Braga, D. Fernando da Guerra, no dia 1 de Dezembro de 1453,
é trasladada a ordenação de D. Dinis, sobre a inquirição das honras e coutos que os
fidalgos faziam indevidamente, que constava do título 65 do livro II da Reformação
das Ordenações[1].
Para o concelho de Ponte de Lima foi enviada a lei de D. João I, de 12 de Maio de
1393, contra os que se valiam de cartas ardilosamente assinadas e autenticadas sem
passar pelas câmaras dos concelhos, e para que em todos os concelhos os escrivães
copiassem num livro de pergaminho todas as escrituras pertencentes aos concelhos.
O diploma, datado de 3 de Julho de 1459, começa assim: “Dom affomso per graça de
Deus Rey de Portugall E do algarue E Senhor de çepta E dalcacer Em africa A quamtos
esta carta virem fazemos saber que no quarto lyuro da rreformacom das hordenaçons que
hamda em a nosa chamcilaria he escripta huma hordenacom do quall o teor tall he que se
ao diamte segue”, transcreve a dita lei do Mestre de Avis[2].
No dia 7 de Agosto de 1476, D. Afonso V outorga carta de privilégio ao judeu João
Pires, pescador de Matosinhos, por se ter convertido cristão, na forma do “segundo
livro da reformaçom das minhas ordenações”[3]. Refere-se ao título “Do privilegio dado ao
Judeo, que se torna Chrisptãao”[4]. Estando el-rei em relação na Casa do Cível de Lisboa,
aos 15 de Março de 1502, esclareceu algumas dúvidas sobre a ordenação “do segundo
liuro no titolo De como o Judeu comverso aa fe de Ihu Xpº deue herdar a seu padre e madre”[5].
Esse título consta, efectivamente, no livro II[6] e a questão ventilada prende-se com a
aplicação deste preceito à sucessão dos cristãos novos, uma vez que, segundo a lei de
1497 todos os judeus e mouros forros deviam abandonar o reino, sob pena de morte
natural e perda das fazendas[7].
Outro assento da relação de Lisboa, de 30 de Agosto de 1473, interpreta uma
ordenação de D. Dinis, de 11 de Setembro de 1302, em Lisboa – “Da molher casada que
se sayo de casa de seu marido para fazer adultério”[8]. Contrariamente a todas as outras
referências às Afonsinas, neste caso trata-se de fixar o sentido ou alcance do preceito
normativo, fixando-lhe o conteúdo mais correcto, a partir de um caso concreto. Ou seja,
aqui as dificuldades de interpretação surgem a partir do momento em que se aplica
o preceito geral e abstracto a um caso concreto. Por outras palavras, ultrapassamos o
âmbito da discussão em Cortes ou da referência genérica em diplomas régios, para
ingressarmos no âmbito da aplicação concreta das penas.

História, tomo XII, Coimbra, 1969, p. 114.


1
Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. 1260.
2
Ponte de Lima, AM – Pergaminho n.º 28.
3
DUARTE, Justiça e Criminalidade, doc. 78, p. 627.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 83.
5
Collecção de Livros Inéditos. Academia Real das Ciências, Lisboa, na oficina da mesma Academia, 1793, vol.
III, pp. 582-583.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 79, pp. 465-471.
7
Ordenações Manuelinas, Liv. II, Tít. 41.
8
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 12, pp. 44-45. Embora se não faça referência expressa à colectânea, não
vejo razão para que a lei interpretada não seja a que lá consta.

183
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

O assento relata o caso de uma mulher “que fogira a seu marido, pecando-lhe na Ley do
casamento, se absentou de tal guisa, que se nam podia achar, nem saber onde era”. Acusando-a
o marido, foi citada “na forma da Ordenaçam, e dos Regimentos dos Corregedores das
Comarquas”, acabando por ser banida e condenada à morte – pena prevista na lei das
Afonsinas referida. A dúvida que se gerou, na aplicação da lei a este caso concreto,
foi a de saber se, depois de banida da comunidade, qualquer pessoa do povo a podia
matar, é que a lei prevê a pena de morte, mas não quem a podia executar. Vale a pena
transcrever a conclusão deste assento:

“e foy loguo hy duvidado se averia em ela logar em todo a dita ley; a saber, que
cada huu do povo que a achase a podese matar sem pena: e depois de muytas
rezões de pró, e de contra com acordo dos Letrados acordamos, decraramos, e
mandamos que a dita Ley naquela parte soomente nom aja luguar na molher
casada, e banida, por fazer soomente adulterio a seu marido, que nenhuu do povo
a nom posa matar asy banida, se nam o marido soomente, e a Justiça dos luguares
onde for tomada, e outro nenhuu do povo nam; e mais mandamos que em todo
o tempo, e luguar onde a o marido quiser tomar depois que asy for banida, que
a posa tomar, e reconciliar asy, sem a Justiça mais comtra ela proceder, nem
entender; e qualquer outro que a matar que moura por elo, salvo se for seu pay
dela natural.”[1]

São inconcussas referências à Colectânea Afonsina, mas muitas outras se podem


coligir na documentação remanescente, que, com toda a probabilidade, lhe dizem
respeito. Por exemplo, sempre que o monarca autoriza alguém a andar em besta muar
de sela e freio, ressalva – sem embargo da ordenação geral em contrário – o título 119 do livro
V. Esta autorização de andar em besta muar de sela e freio, com a devida salvaguarda,
foi concedida aos cidadãos de Lisboa que andassem nos pelouros, a 31 de Março de
1449 e confirmada em 25 de Fevereiro de 1461[2]. Por provisão de 6 de Fevereiro de 1453
concede a licença para 30 mulas ao arcebispo de Braga – sem embargo da nossa defesa e
ordenação sobre elo feita[3].
Ou, então, quando permite o uso de armas, ressalvando o título “Das Armas como
se ham de filhar”[4]. Por exemplo, a nomeação régia, de 14 de Abril de 1452, para o cargo
de monteiro-mor de Soajo, a Vasco Gonçalves, concedendo-lhe o privilégio de usar
armas “sem embargo da nossa hordenaçom”[5]. Ou a prerrogativa de 21 de Abril de 1454,
para que os vassalos de el-rei no Porto gozem do privilégio de poderem, por todo o
reino, trazer armas, sem embargo da ordenação, sendo acontiados em dois arneses[6]. No
entanto, atendendo uma queixa do concelho do Porto contra João Rodrigues de Sá,
sobre a posse de armas, o monarca manda que “estreitamente se guarde nosa ordenaçom
sobrellas feicta”[7].
São múltiplas também as referências à ordenação que proíbe a passagem de
determinadas mercadorias para o reino vizinho de Castela, nomeadamente a passagem

1
Livro Vermelho de D. Afonso V, n.º28. Collecção de Livros Ineditos de Historia Portugueza, Tomo III, pp.
470-471.
2
OLIVEIRA, Elementos para a História do Município de Lisboa, tomo I, p. 331 e 334.
3
Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. 1255.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 31.
5
Valdevez Medieval: Documentos II (1300-1479), doc. 136, pp. 191-193.
6
Porto, AHM – Livro A, fls. 118v-119.
7
Documentos para a História do Porto – V: Livro Antigo de Cartas e Provisões, pp. 3-4.

184
José Domingues

de gados[1]. Por exemplo, a 7 de Maio de 1459, concede privilégio aos monteiros de


Soajo de poderem passar e comerciar os seus gados com a Galiza “sem enbargo de nossa
hordenaçom”[2]. O rei determinou que os alcaides das sacas de Caminha não importunem
os galegos que vem à feira mesmo que estes transportem “cousas defesas” pelas
ordenações do reino[3]. Luís Miguel Duarte publica dois documentos concernentes: um é
o perdão parcial para os habitantes da fronteira da comarca de Entre-Tejo-e-Guadiana
envolvidos na passagem de bens proibidos de Portugal para Castela; o outro é uma
autorização a Pedro Eanes, escudeiro do doutor João Fernandes da Silveira, regedor
da Casa da Suplicação, morador em Castelo de Vide, a prender pessoas procuradas
pela justiça na região do Alto Alentejo, bem como as pessoas que passem para Castela
gados e cousas defesas “contra nossas hordenanças”[4].
Em 1463, o monarca confisca os bens que Pedro Alonso tinha na aldeia de
Monsanto, e doa-os a um escudeiro do Conde de Monsanto, por o primeiro ter ido
viver para Castela há mais de “ano e dia”, violando a ordenação de D. Duarte[5]. Apesar
da referência expressa à ordenação de D. Duarte, penso tratar-se de uma referência
tácita ao título das Afonsinas, onde estava recompilada e confirmada[6]. Por seu turno,
em Évora, nenhuma servidora ousava servir o correeiro Martim Eanes, “com temor
e receo que avyam de nossas hordenaçõoes e defesas em contrairo dello fectas e de
levarem delles penas como de barregueiros”[7]. Reportando-se claramente à ordenação
dos barregueiros[8]. Ainda no âmbito desta ordenação, o monarca, a 24 de Setembro de
1475, ordena às justiças que, durante 12 anos, não procedam contra qualquer manceba
de Lourenço Afonso de Andrade, mestre-escola de Guimarães e capelão do duque
da vila, deixando o caso ao respectivo superior hierárquico, “sem embarguo da nosa
hordenaçom ser em contrario”[9].
Fora do âmbito da documentação régia, na vereação da Câmara da cidade do Porto
foi mandado que se nomeassem quadrilheiros que “tenham suas armas aas portas pera
se allguuns arroydos sobreviverem. E se chamar o apellydo dellrrey que sayam a elle so
a pena contheuda na hordenaçom”[10]. A ordenação que manda acudir ao apelido de el-rei
consta no livro V[11] e a pena para os quadrilheiros que não cumpram o seu ofício está
prevista no regimento do alcaide pequeno[12].
Neste âmbito penso que se poderiam recolher centenas de exemplos práticos,
sobretudo nas Chancelarias de Afonso V, João II e D. Manuel, mas parece-me
suficientemente documentado que, apesar de tudo, as Afonsinas foram suficientemente
divulgadas pelo reino, para que pudesse ser exigido o seu cumprimento em múltiplas
situações do quotidiano de quatrocentos.

1
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 47, § 16, pp. 173-174.
2
Valdevez Medieval: Documentos II (1300-1479), doc. 153, p. 210.
3
IAN/TT – Leirura Nova, Além Douro, Liv. 3, fls. 275v-276.
4
DUARTE, Justiça e Criminalidade, doc. 22, pp.584-585 e doc. 40, pp. 597-598.
5
Idem, doc. 21, pp.583-584.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 44, §§ 1-2.
7
DUARTE, Justiça e Criminalidade, doc. 62, pp.614-615
8
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 20.
9
DUARTE, Justiça e Criminalidade, doc. 71, p.621
10
Humberto Baquero MORENO, “A manutenção da ordem pública no Porto quatrocentista”, sep. Revista de
História, Centro de História da Universidade do Porto, vol. II, Porto, 1979, p. 31.
11
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 71.
12
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 30, § 1.

185
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

5. O Abreviamento de D. João II
A terminar, torna-se impreterível uma referência ao abreviamento feito no tempo
de D. João II, exaustivamente estudado por Espinosa da Silva[1]. Apesar de cedo perdido
na poeira da História, este autor, acumula uma série de referências escritas, sobretudo
do século XVIII, que lhe permitem supor “que não existem razões sérias para duvidar deste
testemunho”[2]. Acabando por concluir:

• “Que, de acordo com o testemunho de genealogistas e bibliógrafos,


Lourenço da Fonseca, corregedor da Corte e, depois desembargador, ao
tempo de D. João II, abreviou, por mandado do monarca, os cinco Livros
das Ordenações Afonsinas em um só tomo;
• Que o abreviamento de que foi encarregado Lourenço da Fonseca deve
ter consistido na elaboração de um repertório ou índice alfabético das
Ordenações.”[3]

Nas prévias Lições de História do Direito, este autor, já refere o abreviamento para
fundamentar a escassa difusão das Ordenações, transcreve esse parágrafo em nota de
rodapé no trabalho Sobre o Abreviamento[4] e passa a inclui-lo nas várias edições da sua
História do Direito[5]. Luís Miguel Duarte comunga da mesma suposição, reproduzindo
o parágrafo e remetendo para o trabalho de fundo de Espinosa[6]. Alves Dias, mais
cauteloso, enquanto não surgir a obra realizada, coloca em dúvida se seria uma nova
compilação e sistematização ou um repertório ou índice alfabético[7].
A robusta plausibilidade de que Lourenço da Fonseca, por ordem de D. João II,
tenha elaborado o abreviamento dos cinco livros das Afonsinas mantém-se hirsuta e
firme, dando alguma consistência à minha ideia de que João das Regras teria coligido
em livro(s) as Ordenações do Reino. Quero dizer, investigadores anteriores a meados
do século XVIII tiveram acesso a fontes jurídicas manuscritas, irremediavelmente, per-
didas (para sempre? O tempo o dirá!). Enquanto não surgir fragmento inconcusso da
obra de Lourenço da Fonseca o mais recomendável será, como faz Alves Dias, duvidar
da sua feição. No entanto, no âmbito das alegações, podemos refutar o que considera-
mos mais erróneo e optar pela tese melhor fundamentada e, nesse sentido, não parti-
lho da crença, de Espinosa e Duarte, que identifica o abreviamento com um repertório
ou índice alfabético, situando-o no reatamento da escassa difusão das Ordenações. Antes
pelo contrário.

1
Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, “Sobre o Abreviamento dos Cinco Livros das Ordenações ao Tempo
de D. João II”, Lisboa, 1981. Sep. do Boletim do Ministério da Justiça, n.º 309.
2
O testemunho primordial, que abre a investigação de Espinosa, é o papel intitulado «O que escreveu El Rei
Dom Duarte», que D. Caetano de Sousa publicou, em 1739, nas suas Provas, onde se lê: “Mandou também or-
denar e abreviar as Ordenações do Reino que em seus dias não acabou e veio a acabá-las seus filho D. Afonso V, o qual
as mandou recopilar em cinco volumes [vide a tradição desta informação no capítulo II] e depois el Rei D. João II,
seu filho, tornou a mandar abreviar as Ordenações dos cinco livros em um compromisso. Quem por seu mandado as
abreviou foi o Licenciado Lourenço da Fonseca que foi algum tempo seu Corregedor da Corte”.
3
SILVA, “Sobre o Abreviamento dos Cinco Livros das Ordenações”, pp. 18-19.
4
Idem, p. 7, nota 10.
5
Nuno J. Espinosa Gomes da SILVA, História do Direito Português, Vol. I, Fontes de Direito. Fundação Ca-
louste Gulbenkian, Lisboa, 1.ª edição, 1985, p. 206 / 2.ª edição, 1991, p. 265 / 3.ª edição, 2000, p. 290.
6
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 129. Acrescenta mais um autor setecentista que refere este abrevia-
mento, o prefaciador da edição das Ordenações Afonsinas de 1792.
7
DIAS, Introdução às Ordenações Manuelinas, p. XII.

186
José Domingues

Se a colecção dos cinco livros das ordenações do reino estava sepultada no


esquecimento da Chancelaria há mais de três décadas, como se justifica o labor – não
pouco árduo – de um repertório ou índice? Para quê um repertório ou índice de uma
colecção de leis que se desconhece e se não aplica? Se não se conhecem e não se usam
os cinco livros de ordenações, arrecadados no arquivo da Chancelaria desde 1446, o
que se pode fazer com o seu repertório ou índice, na imediata década de oitenta? A sua
divulgação e manuseamento (do repertório) seria bem mais fácil, mas qual a utilidade
prática, se faltam os textos de apopio das Ordenações? Estou convicto que o abreviamento
não viria, em nada, remediar o inconveniente da escassa difusão das Ordenações pelo reino. No
fundo, seria concluir que o monarca ocupou o precioso tempo do mais alto magistrado
do reino, o corregedor da corte, para nada. Aliás, parece-me um contra-senso apregoar
que o principal intuito do abreviamento era facilitar o manuseamento da colectânea
de leis pátrias e, em simultâneo, negar que se manuseava essa colectânea. Por isso,
despretensiosamente, penso que o abreviamento das Ordenações do reino, ao tempo de
D. João II, seria mais um comprovativo sério da sua relevância prática e da sua efectiva
divulgação pelo reino.
Continuam a faltar as referências documentais coevas do tempo de D. João II,
continuando a ser lícito perguntar se esse abreviamento seria mesmo um repertório
feito num só tomo[1]. Também não tive a fortuna de tropeçar em dados conclusivos. No
entanto, três citações, em capítulos das Cortes de 1481/82, chamaram particularmente
a minha atenção. Trata-se de alusões, em simultâneo, a ordenações velhas e novas.
Claro que se pode sempre alegar que se trata de referência a duas ordenações análogas
distanciadas no tempo. Mas também pode ser uma referência a duas colectâneas, como
acontece sempre que há publicação de uma nova – flagrante caso o das várias edições
das Manuelinas. Passemos a uma análise mais detalhada de cada uma das citações.
Na resposta ao capítulo relativo aos malfeitores acolhidos pelos fidalgos, o monarca
ordena que os criminosos se não refugiem em coutos que não tenham sido ordenados
para esse fim – coutos de homiziados do reino[2] – e que os senhores, leigos ou eclesiásticos,
entreguem esses malfeitos e colaborem com a justiça. Para os transgressores comina: “
E nom o comprindo e fazemdo elles asi mamda a suas Justiças que procedam comtra
elles segumdo theor e forma de suas ordenaçõees velhas e noua que açerqua dos que acolhem
mallfeitores fallam e bem asi aquelles que Jurdiçom nom teem seeram theudos emtregar
os mallfeitores em o modo e forma em as ditas ordenaçoees comtheudo”[3]. Mais à
frente, questionado novamente quanto aos malfeitores amparados pelos fidalgos, não
sendo coutos de homiziados, o soberano rediz a aplicação da ordenação velha e nova:
“E quamto he aos Senhores que em suas terras e Jurdiçoees acolhem os mallfeitores
Ja he determinado a maneira que se sobre ello aja de teer per ordenaçom velha e noua
as quaees mamda que se goardem inteiramente”[4]. Nas Ordenações Afonsinas consta,
efectivamente, o título dos que encobrem os malfeitores[5]. Não me parece que à data – 5 de
Outubro de 1482 – esta fosse a ordenação nova, devia ser a velha (com trinta e seis anos
de existência). Qual seria então a ordenação nova? Credivelmente, pode ser o afamado
abreviamento da lavra de Lourenço da Fonseca.

1
DIAS, Introdução às Ordenações Manuelinas, p. XII: “Sabemos que D. João II mandou ‘abreviar as Ordenações
dos cinco livros em um Compromisso’ ao Licenciado Lourenço da Fonseca (…) Infelizmente, a sua produção não é co-
nhecida nos nossos dias. Não sabemos se efectivamente fez uma nova compilação e sistematização ou se, como defende
Nuno Espinosa Gomes da Silva, a sua obra se limitou à elaboração de um repertório ou índice alfabético”.
2
Cfr. Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 61.
3
SANTARÉM, Memorias para a Historia e Theoria das Cortes Geraes, p. 73.
4
SANTARÉM, Memorias para a Historia e Theoria das Cortes Geraes, p. 129.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 100, pp. 355-359.

187
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

Outra alusão aparece no capítulo contra os arrenegados e tabuleiros, mandando


el‑rei às suas justiças “que mui estreitamente exequtem as ordenaçoees nouas e velhas
sobre este caso fectas”[1]. Todo o conteúdo deste capítulo sugere uma incontestada
analogia com o título das Afonsinas para que não joguem a dinheiro nem haja tabulagem[2].
Não deixa de ser bastante significativo que, no capitulo dos notários apostólicos, se
refira “vossas leis e amtiigas ordenaçoees”[3].
Não se conhecendo nenhumas ordenações que, rente a 1482, tratem dos malfeitores
coutados ou dos tabuleiros blasfemos, só me ocorre atribuir a ordenação nova ao
eclipsado abreviamento e a ordenação velha às Afonsinas. Além do mais, o facto de se
impor, três vezes, a observância simultânea das ordenações novas e velhas, ao mesmo
caso concreto, induz a um conteúdo muito semelhante de ambas, mas sem qualquer
revogação. Isso leva-nos, invariavelmente, às Ordenações e ao seu Abreviamento, caso
contrário, a ordenação nova revogaria, total ou parcialmente, a ordenação velha – seria
este, tal como hoje, o regular processo de aplicação da lei.
Há ainda a hipótese de os conteúdos das duas ordenações, nova e velha, serem
totalmente díspares, complementando-se e não se excluindo. Só assim seria plausível
o uso simultâneo de ambas. Caso existissem, essas supostas ordenações novas seriam,
de certeza, aproveitadas na reforma manuelina. Mas se, por exemplo, confrontarmos o
título 100 das Afonsinas – Dos que encobrem os malfeitores – com o correspondente título
71 das Manuelinas – Dos que encobrem os que querem fazer mal –, dissipa-se logo a ideia de
ter existido alguma lei intermédia, uma vez que o título das Manuelinas é, praticamente,
um resumo do título das Afonsinas. À palavra resumo, propositadamente destacada,
ecoa em qualquer pensamento a do abreviamento: será que se trata de um vestígio do
trabalho de Lourenço da Fonseca, aproveitado pelos redactores manuelinos?[4]
Não arrisco uma resposta definitiva baseada em tão singelo indício, de todas as
maneiras, a estar correcta a identificação que faço com a ordenação nova, não me parece
que fosse apenas um repertório ou índice, que poderia ser de muita utilidade remissiva,
mas sem qualquer conteúdo legal, por isso, nunca seria mandado cumprir ao lado da
ordenação velha. O repertório é apenas um instrumento auxiliar de trabalho e não uma
colectânea legislativa, carecendo, por isso, de conteúdo jurídico e vigência autêntica.
Questionada a pretensa identificação do abreviamento de D. João II com um
repertório ou índice das Ordenações de seu pai, parece-me lícito que também se possa
suspeitar do juízo indutivo que acaba por reduzir esse compromisso a um só tomo.
Espinosa da Silva também teve grandes dúvidas:

“Como quer que seja, o papel de Caetano de Sousa suscita alguma reflexão,
principalmente quando afirma que D. João II «tornou a mandar abreviar as
Ordenações dos cinco livros em um compromisso». É que esta expressão – compromisso
– não a encontrámos em nenhum outro autor que tenha escrito sobre a matéria,
ficando‑nos grande dúvida sobre a sua pertinência. Na verdade, de acordo com
juristas e dicionaristas, compromisso pode significar obrigação de duas ou mais
pessoas, compromisso arbitral, concordata entre devedor e credor, instituição de
Morgado ou Capela e Estatuto de alguma confraria ou irmandade. Nada disto,
porém, se adequa à realidade em estudo.”[5]

1
SANTARÉM, Memorias para a Historia e Theoria das Cortes Geraes, p. 124.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 41, pp. 148-152.
3
SANTARÉM, Memorias para a Historia e Theoria das Cortes Geraes, p.212.
4
Marcello Caetano coloca idêntica interrogação quanto ao seu aproveitamento para a feitura do Regimento
dos Oficiais [Cfr. CAETANO, Introdução ao Regimento dos oficiais, p. 27].
5
SILVA, “Sobre o Abreviamento dos Cinco Livros das Ordenações”, p. 8.

188
José Domingues

Mas – porque se adequava à sua ideia de reportório – acabou por ser arrastado pela
interpretação dos genealogistas seiscentistas e setecentistas. Desconhecemos o paradeiro
do papel de Caetano de Sousa que, apesar de não ser a prova original, pode ter sido a
base de apoio, transmitida de autor para autor. Por isso, descartando as interpretações
pessoais de cada um que, directa ou indirectamente, o leu, torna‑se imprescindível
considerar de novo a palavra compromisso, tentando dar-lhe um significado à luz da sua
semântica e dos escassos elementos documentais da sua coevidade.
Entrando no campo da semântica das palavras e, perante o silêncio do único
auxiliar acreditado – o Elucidário de Viterbo – e a uma distância de mais de meio
milhar de anos, podem aventar-se suposições multíplices e díspares. De qualquer
forma, a palavra compromisso, até prova em contrário, traduz uma ideia de um
comprometimento, de um ajuste ou acordo entre, pelo menos, duas facções. Mas que
facções poderiam ser essas?
Se consideramos a evidência de que, regra geral, em cada título das Afonsinas
se aglomeraram leis de reinados e conteúdos diferentes, não custa acreditar que no
momento da sua transposição para os casos em concreto se tenham suscitado sérios
problemas de aplicação e interpretação. Antes de mais, a dificuldade de apurar a lei
aplicável. Se, acerca de um assunto, foi coligida mais do que uma lei é porque, à partida,
todas têm alguma aplicabilidade a esse tema. Logo, torna-se óbvio que cada uma das
partes em litígio reivindique a mais favorável para si. Pode-se alegar que, para atalhar
a este embaraço, no final de cada título ficou prevista uma declaração elucidativa. Mas
será que essa declaração foi o eficiente bastante? Não me parece.
Um ténue indício desta ineficácia (e, em simultâneo, do problema da revogação
da lei antiga pela lei nova) surge com a discussão levantada, nas Cortes de Santarém
de 1451, em torno das ordenações novas e velhas, a que o monarca manda “que se
guardem as nouas e uelhas que non ssam rreuogadas”[1]. É bem notória a desorientação
quanto às leis a aplicar, legitimando, passados cinco anos da conclusão da reforma das
ordenações, a incerteza da eficiência das declarações finais de cada título.
Esta perspectiva possibilita uma nova interpretação deste capítulo geral de
Cortes. Até à data, tem-se entendido que as ordenações novas seriam as Afonsinas e as
ordenações velhas as que ficaram de fora dessa compilação[2] ou então as colectâneas
antecedentes[3]. A identificação das ordenações novas não suscita qualquer incerteza,
mas a identificação das ordenações velhas com as que ficaram foram da compilação
não me parece conforme, uma vez que nas Afonsinas existem leis mais antigas do
que muitas outras que ficaram de fora. Por sua vez, é plausível, sobretudo tendo
em atenção as dificuldades de divulgação da época, que alguns magistrados se
regulassem pelas colectâneas antecedentes – ou porque ainda não possuíam as novas
ou porque estavam mais familiarizados com as outras. Mas o que não é aceitável é que
o monarca, em resposta, mande guardar as ordenações novas e as velhas que não são
revogadas. Das duas uma, ou a nova colectânea revoga totalmente a anterior ou então
teríamos o próprio monarca (o impulsionador) a considerá-la um trabalho imperfeito
e inacabado.
Na realidade, ao contrário do que se sentenciou, penso que não estamos perante
um pedido do povo para que os oficiais julgadores apliquem as Afonsinas[4], mas antes

1
Elvas, AM – Pergaminho, n.º 55. Vid. p. 206.
2
Embora o não refiram expressamente, só pode ser este o entendimento dos autores (SOUSA e DUARTE) que
sobre este artigo se pronunciaram, já que nem sequer pressupõe a existência de colectâneas oficiais anteriores.
3
Posição que acima segui.
4
Esta seria antes uma preocupação do monarca e dos seus oficiais.

189
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

perante um pedido para que se estabeleça um critério interpretativo dos preceitos legais
coligidos na nova colecção e, sobretudo, se respeite a declaração final de cada título. Em
última instância, o que se pretende é uma certa segurança e certeza jurídica, para que
“o poboo seja direitamente julgado E aja cada huum rregimento como aja de hauer”[1]. Não se
trata apenas da aplicação da lei da colectânea mais recente, mas da aplicação coerente
dessa lei, já que no mesmo título existem leis de tempos e conteúdos diferentes.
Por outras palavras, do que não há dúvida é que os oficiais julgadores aplicavam,
não raro, a lei antiga em detrimento da lei nova. Mas se essa lei antiga fosse uma
colectânea (anterior e revogada) de outro reinado, os magistrados estariam a incorrer
numa insurreição e a resposta do monarca só poderia ser uma e categórica: respeito
pelas suas Ordenações. Não sendo assim, penso que o pedido do povo é feito para que,
“nos casos em que falom”, os julgadores apliquem as leis das Afonsinas e não apliquem
as leis antigas expressamente revogadas na declaração final de cada título. Fala assim
o pergaminho:

“E por que nos fezemos nouas ordenaçoões per as quaes rreprouamos alghuas
antygas E outras declaramos segundo sentimos por direito pedindo nos per merçee
que mandasemos aos nossos ofiçiaaes julgadores por carta pera que taaes
nossas leix guardem nos casos em que falom E nom guardem as antygas que som
rreprouadas”[2]

Saliente-se que o rei diz que fez novas ordenações (as Afonsinas), pelas quais revo-
gou algumas antigas e declarou outras. Essas declarações e revogações são feitas no
final de cada título e, no fundo, o que aqui está em causa é o respeito por essa declara-
ção final, devendo os oficiais julgadores abster-se de aplicar as leis antigas que tenham
sido expressamente revogadas. Sendo agora bem compreensível a resposta do sobe-
rano que manda guardar as novas e as antigas que não tenham sido revogadas – em
derradeira instância, aplicação das suas ordenações, mas respeitando cabalmente o
preceituado na declaração final de cada título.
Este entendimento acaba por dar ainda mais consistência à ideia que venho
divulgando sobre a vigência das Afonsinas. Para além de um deferimento total da
aplicabilidade das Afonsinas, que nem sequer chega a estar em causa, nestas Cortes
discutiram‑se regras de aplicação e coerência entre as leis – no fundo, critérios de
interpretação – que compõem os próprios títulos dessa colectânea.
Em poucas palavras, tudo leva a crer que a compilação sistemática de Rui Fernan-
des, apesar de todo o mérito, não conseguiu suprimir completamente a dificuldade
das outras compilações cronológicas. Por isso, voltando à questão do compromisso, já
todo o leitor solícito está a relacionar a tarefa de Lourenço da Fonseca com um texto
definitivo (um compromisso) que harmonizasse as várias ordenações e a declaração
final de cada título das Afonsinas. Espinosa da Silva, sem lhe dar continuidade nem
satisfatória refutação, chega a pesar esta hipótese:

“É certo que se poderiam abreviar as leis de cada um desses Livros; estando –


como estavam – as Ordenações Afonsinas redigidas em estilo compilatório (à
excepção do primeiro Livro) com a transcrição das anteriores leis sobre a matéria
e a nova tomada de posição do legislador, é evidente que se podiam abreviar as
leis contidas nas Ordenações. Foi, aliás, o que se fez nas posteriores Ordenações

1
Elvas, AM – Pergaminho, n.º 55.
2
Elvas, AM – Pergaminho, n.º 55.

190
José Domingues

Manuelinas, onde se alterou o método de redacção, passando a usar-se o chamado


estilo decretório ou legislativo. Simplesmente, uma coisa é abreviar, resumir
ordenações e outra é abreviar os cinco Livros das Ordenações em um só: reunir
tudo num único livro é que não parece oferecer qualquer utilidade, nem dever
constituir preocupação do legislador.”[1]

Após repetidas leituras atentas do valorizado trabalho de Espinosa, para mim


tenho que o pressuposto basilar de todo o seu entendimento foi o de um só tomo – um
compromisso ser um tomo. Esse entendimento foi buscá-lo a todos os genealogistas
consultados, desde Franco Barreto, Avelar Portocarreiro, Felgueiras Gayo, Macedo e
Albuquerque e Alvarez Pedroza[2]. Entendendo tratar-se de um repertório, um passo
muito curto permite-lhe concluir que “fazer um repertório das Ordenações Afonsinas
era, pois abreviá-las num livro só”[3]. O recurso a estes mesmos genealogistas, mesmo
considerando não serem palavras de evangelista, facilita-lhe outro argumento:

“Se bem que não sejam palavras de evangelista, será oportuno recordar que, aí,
se afirma que Lourenço da Fonseca «foi o primeiro que abreviou os cinco livros das
Ordenações em um só tomo». Não se diz, apenas – como em Franco Barreto – que foi
quem abreviou, mas sim e mais explicitamente, que foi o primeiro que abreviou. Esta
expressão coaduna-se com a hipótese agora apresentada. Lourenço da Fonseca,
de mandado, segundo parece, de D. João II, efectuou o primeiro repertório
das Ordenações do Reino; depois disso, surgiram, obviamente, repertórios das
Ordenações Manuelinas e Filipinas, manuscritos, uns, impressos, outros, como é
o caso das obras, com essas características, de Duarte Nunes do Leão e de Manuel
Mendes de Castro. Por isso, os vários genealogistas citados, ao escreverem na
segunda metade do século XVII e no século XVIII e tendo presente esta realidade,
vêm, correctamente, dizer que Lourenço da Fonseca foi o primeiro que abreviou
os cinco livros das Ordenações em um só tomo. Ele foi o primeiro; outros se
seguiram”[4].

O objectivo dos genealogistas é fazer genealogia, sendo sobejamente afamada a


pouca credibilidade da sua informação histórica, muitas vezes manipulada em prol da
linhagem estudada. Mas há falta de melhor substrato… aqui me aparto, inteiramente,
do entendimento de Espinosa da Silva.
Estou convicto que o melhor substrato ainda é o de Caetano de Sousa, pelo qual
Espinosa começa e, incompreensivelmente, se desliga ao longo do seu trabalho. O
texto de Caetano de Sousa (apesar de não ser um original) é uma prova documental
e, como tal, é publicado na sua obra. Hoje desconhecemos o seu paradeiro e não
podemos aquilatar uma datação crítica nem avalizar o crédito do seu conteúdo, mas,
até prova em contrário, temos de presumir válido o escólio, divulgado por tão elevado
informador. Repare-se mesmo que, como conjectura Espinosa, se o papel publicado
nas Provas fosse uma das “verbas originais” de Gaspar de Faria Severim[5], ainda assim
seria o mais antigo autor – plausivelmente a fonte dos subsequentes genealogistas – e
por isso o que merece maior fiabilidade. Por outras palavras, o facto de ser publicado
entre as Provas de Caetano de Sousa inculca tratar-se de uma prova documental, mas

1
SILVA, “Sobre o Abreviamento dos Cinco Livros das Ordenações”, p. 15.
2
Cfr nota 37.
3
Idem, p. 15.
4
Idem, pp. 16-17.
5
Idem, p. 9.

191
As Ordenações Afonsinas Capítulo III: Conclusão e Divulgação

mesmo que assim não fosse entendido, bastaria o nome deste último, associado ao de
Severim de Faria, para suplantar toda a deturpação inconsciente dos genealogistas
subsequentes. Torna-se obrigatório transcrever, aqui, o que importa ao caso, do que
escreveo ElRey D. Duarte das Provas de D. António Caetano de Sousa:

“Mandou tambem ordenar, e abreviar, as ordenassoens do Reyno, que em seus dias


não acabou, e veyo a acaballas seu filho Dom Affonso Quinto o qual as mandou
recopillar em 5 volumes, e despois El Rey Dom João Segundo, seu filho, tornou a
mandar abreviar, as Ordenassoens dos cinco livros, em hum Compromisso, que(m) por
seu mandado as abreviou, foi o Lecenciado Lourenço da Fonseca, que foi algum
tempo seu Corregedor da Corte”[1]

A frase destacada torna obsoletos alguns dos argumentos sugeridos por Espinosa
da Silva. Antes de mais se o documento, expressamente, diz “tornou a mandar abreviar”
é um contra-senso afirmar que Lourenço da Fonseca “foi o primeiro que abreviou”. Anali-
sando bem este “D. João II (…) tornou a mandar abreviar” – tal como tinha feito D. Duarte
e concluiu D. Afonso V – rejeita-se, liminarmente, a ideia de um repertório ou índice alfa-
bético das Ordenações, inserindo o abreviamento na lida compilatória das Ordenações,
iniciada no recuado reinado de D. João I. Por outro lado, insisto, o documento refere
um compromisso e não, como pretenderam os genealogistas e Espinosa, um tomo.
Embora usando uma terminologia diferente – volumen e libro – as referências à
primeira compilação do direito castelhano falam sempre no singular, sendo certo que
se trata de obra dividia em oito livros. Por exemplo, na petição das Cortes de Madrid
de 1433 “las mande asentar en un libro”; nas Cortes de Madrid de 1458 “que todas las
dichas leyes e ordenanzas fueses ayuntadas en un volumen”; e o próprio compilador –
Alfonso Díaz Montalvo – refere expressamente que “conpuso este libro de leyes”, que
passaria a ser conhecido para a história como o Libro de Montalvo[2]. Por isso, também
um compromisso não significa, obrigatoriamente, um tomo.
Talvez neste momento, por reinados, se possa avançar mais um passo nas fases
medievas de dotar o reino de uma compilação de ordenações:

1.ª e 2.ª Fases – D. João I.


3.ª Fase – D. Duarte.
4.ª Fase – D. Afonso V.
5.ª Fase – D. João II
6.ª Fase – D. Manuel I.

Não deixa de ser curioso que, ininterruptamente, todos os monarcas se tenham


preocupado com esta questão e que cada fase corresponda a um reinado, sem descar-
tar a hipótese de que em alguns reinados tenha existido mais do que uma fase (D. João
I e D. Manuel I) e noutros se não tenha concluído (D. Duarte).
Ficam, por ora, estas suposições, nomeadamente, a de o abreviamento ser um
resumo dos títulos das Afonsinas e não um simples repertório ou índice; a de um
compromisso nada ter a ver com um tomo, mas antes se relacionar com outro abreviar
das ordenações; a de estarmos perante mais uma fase medieva da compilação das

1
SOUSA, Provas da História Genealógica, Tomo I, Livro III, doc. 41, p. 275. O itálico é nosso.
2
MARÍA e IZQUIERDO, Las fuentes del Ordenamiento de Montalvo, pp. XII-XIV.

192
José Domingues

ordenações lusas; e, sobretudo, caminhos para futuras investigações. Um aspecto


de extrema importância, que extravasa este trabalho, seria apurar, não só o lugar de
Lourenço da Fonseca entre os redactores das Manuelinas[1], mas, fundamentalmente, a
influência – que de certeza teve[2] – da sua obra nas subsequentes Manuelinas.
De qualquer forma, quer se trate de um reportório ou resumo, entre as plausíveis
referências documentais dúbias, há duas que me chamaram a atenção. No regimento
de 30 de Dezembro de 1495 (Montemor-o-Novo) ao desembargador da alçada da
comarca da Beira ficou registado o seguinte item: “vos mandamos que levees da nosa
Chancelaria o trelado e artigos de todallas ordenaçõoees que ora novamente fezemos he as
farees logo pobrricar em todollos lugares da dita comarqua e terras e asy farees em
todos poer emxucuçam como em ellas se contem”[3]. A que ordenações recentes se
refere este regimento?
Outra referência assoma num dos capítulos das Cortes de Lisboa de 1498 (cap.º
16º), quando se solicita a entrega aos corregedores e juízes os livros de ordenações com
suas adições[4]. João Alves Dias relaciona estas adições com os acrescentos posteriores à
colectânea[5]. Mas as adições não poderão ser identificadas com o trabalho de Lourenço
da Fonseca?

1
SILVA, “Sobre o Abreviamento dos Cinco Livros das Ordenações”, p. 18: “em vez de se dizer que Lourenço
da Fonseca não trabalhou nas Ordenações Manuelinas, talvez seja mais prudente afirmar-se que não se conhece prova
da sua participação no labor da compilação”.
2
E no entanto o seu nome nunca foi associado às Manuelinas, por isso, não surpreende que também o de
João das Regras o não tenha sido às Afonsinas.
3
DUARTE, Justiça e Criminalidade, doc. 93, pp. 636-646.
4
Cortes Portugueses: Reinado de D. Manuel I, p. 75.
5
DIAS, Introdução às Ordenações Manuelinas, p. XIII.

193
II – Parte
A “Reforma” de Rui Fernandes
A “Reforma” de Rui Fernandes

“Reduzir a arte materias differentissimas, quaes são as Leis, que


em muitos seculos, e em diversas conjuncturas publicarão os
Soberanos de hum Estado, pede hum daquelles genios creado-
res, que apparecem de seculos a seculos”
[José Virissimo ALVARES da SILVA,
Introducção ao Novo Codigo, Lisboa, 1780]

P enso que ficou suficientemente elucidado que o principal artífice da reforma das or-
denações terá sido o Doutor Rui Fernandes, do Desembargo Régio. O cometimento
desta tarefa irá afastá-lo do âmbito burocrático da corte, escasseando o seu nome nos
documentos a partir do ano de 1439[1]. Houve quem suspeitasse desta ausência como
uma tentativa do infante regente eliminar um inimigo político[2], mas este pensamento
está hoje ultrapassado[3]. Convenhamos que seria um tanto desapropriado escolher a
reforma das ordenações do reino – com todas as implicações inerentes, nomeadamente
o acesso a toda a documentação do reino e a faculdade de prescrever quais as norma-
tivas vigentes e as revogadas – para afastar um adversário incómodo. Entre o facto de,
durante e após Alfarrobeira (1448), o jurista se tornar partidário de uma ou outra fac-
ção e o de ter sido confirmado na compilação das ordenações do reino pelo infante D.
Pedro (1438) – no seguimento da nomeação feita por D. Duarte – não me parece existir
qualquer nexo de causalidade. Trata-se de dois acontecimentos desfasados pelo espaço
temporal de uma década e, até prova em contrário, sem qualquer correlação entre si.
O silêncio das fontes escritas ainda menos se estranha ao saber que o mesmo
aconteceu com o homólogo compilador castelhano, Afonso Dias de Montalvo, enquanto
prepara o Ordenamento Real de Castilha, verifica-se um “prolongado silencio de las fuentes
durante el tiempo que duro la realización de la obra”, nas doutas palavras da sua biógrafa[4].
Quer num, quer noutro caso, a tarefa exigia elevada disponibilidade de tempo e inteira
dedicação, por isso, é compreensível que os compiladores tivessem sido dispensados
de outros cargos inerentes.
Quanto à data e local de realização, apesar de no final do livro V constar que foi
terminada a 28 de Julho de 1446 na vila de Arruda, essa data, como vimos, prende-se
antes com a data definitiva da revisão e não propriamente com o fim do trabalho de
Rui Fernandes. Será? Há outra suposição que ainda não vi formulada: a revisão ter
sido em data antecedente e, depois de revista, ter sido ultimada, segundo as emendas

1
HOMEM, Desembargo Régio, 1990, pp. 380-381.
2
ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, 2002, p. 52. (1.ª edição 1993).
3
MORENO, A Batalha de Alfarrobeira, 1973.
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 94, nota 287.
4
María José MARÍA e IZQUIERDO, Las fuentes del Ordenamiento de Montalvo, Dykinson, Madrid, 2004, p. XLV.

197
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

da comissão revisora, por Rui Fernandes. Até porque a revisão faz todo sentido se
tenha efectuado em Lisboa, perante o corregedor dessa cidade e os outros dois
membros do desembargo[1]. Em definitivo, não me parece totalmente descabido que,
desde o início, o jurista se tenha refugiado na pacata vila de Arruda, muito próximo
de Lisboa e do arquivo real, para realizar a tarefa; concluída esta, se tenha deslocado
a Lisboa, apresentando o seu projecto à comissão revisora; regressando em seguida
a Arruda para os retoques finais e redacção definitiva, concluída a 28 de Julho de
1446. Abertamente, é esta a cronologia que me parece mais ajustada, ficando, desta
forma, abolida qualquer incoerência entre as palavras de Rui Fernandes e a conclusão
definitiva e vigência da colectânea.
Resta-nos agora “imaginar” como o jurista de Arruda realizou essa obra, tentando
discernir o material usado, os critérios de sistematização, o método de trabalho, os
motivos que o levam a excluir umas leis e incluir outras, as dificuldades vividas, as
pressões sentidas, os erros cometidos, as emendas e imposições da comissão revisora,
etc… Em definitivo, tudo aquilo que esteja relacionado com a maneira como o
compilador trabalhou a sua obra, “ataa que com a graça de Deos a pos em boa perfeiçom”[2],
tentando redescobrir o trilho palmilhado há mais de 600 anos nos meandros das
Ordenações do reino. A jornada torna-se fragosa e, por vezes, impraticável, em parte
devido ao copioso desaparecimento de documentação, mas também ao demérito
do caminheiro-cicerone. Tentando não ceder à adversidade, seguem as conclusões
fundamentadas que me foi possível alcançar.

1. Sistematização Externa.
A Divisão em Cinco Livros
Nas parcas notícias que a literatura cronística nos legou não sobejam dúvidas
de que a reforma das Ordenações foi levada a cabo no reinado de D. Afonso V. Rui de
Pina, na crónica de D. Duarte, é terminante ao afirmar que este monarca (D. Duarte)
era zeloso “nas cousas da Justiça” e tinha mandado corrigir e abreviar as Ordenações do
reino, mas como em seus dias se não acabaram, “ElRey Dom Affonso seu filho as mandou
depois reformar em cinco Livros”[3]. A utilização das palavras não é casual, sendo claro
que se D. Duarte mandou corrigir e abreviar as Ordenações do reino, D. Afonso V as
mandou reformar.
Deve ter sido esta a primeira fonte do escoliasta que deixou a nota manuscrita
sobre as obras de D. Duarte:

“Mandou tambem ordenar, e abreviar, as ordenassoens do Reyno, que em seus


dias não acabou, e veyo a acaballas seu filho Dom Affonso Quinto o qual as mandou
recopillar em 5 volumes, e despois El Rey Dom João Segundo, seu filho, tornou a
mandar abreviar, as Ordenassoens dos cinco livros, em hum Compromisso, quem
por seu mandado as abreviou, foi o Lecenciado Lourenço da Fonseca, que foi
algum tempo seu Corregedor da Corte; ultimamente, ElRey Dom Manoel, pelas
achar comfuzas, mandou aperfeiçoar de todo, na forma, em que estiverão, tê que
ElRey D. Phellippe Primeiro Rey de Portugal as mandou por na forma em que
estão. Estas obras de ElRey Dom Duarte, tirado o Conselheiro, e o livro da Gineta,
estam todas na Livraria da Cartuxa de Evora”[4]

1
Plausivelmente, aproveitando a reunião das cortes de Lisboa, desse ano.
2
Prólogo do Liv. I, p. 3.
3
Ruy de PINA, Chronica do Senhor Rey D. Duarte, cap. VII.
4
António Caetano de SOUSA, Provas da História Genealógica, Tomo I, Livro III, Coimbra, 1947, doc. 41, p. 275.

198
José Domingues

As doutas palavras de Pina e do escoliasta desconhecido são confirmadas pelo


cronista de D. Manuel I, Damião de Góis, que alicerça a revisão manuelina nos “cinco
liuros das ordenações, que el Rei dom Afonso quinto, seu tio fez reformar, sendo regente o
Infante dom Pedro seu tio, por elle ser de menor idade”[1]. Portanto, mais uma vez, o
termo reforma associada ao reinado do Africano.
Por outro lado, ambos os cronistas são concordantes ao aliar a reforma afonsina
com a sistematização em cinco livros[2]. Ou seja, a divisão em cinco livros foi pensada
e concretizada com a reforma empreendida no reinado de D. Afonso V. Só após as
Afonsinas nos aparecem os livros identificados pelo respectivo número, ou seja, até 1446
os documentos falam apenas no livro das ordenações do reino – se bem que devem ter
sido, pelo menos, dois – e a partir dessa data no livro primeiro, segundo… da reforma das
ordenações[3]. Assim se torna cada vez mais clarividente que Rui Fernandes tenha sido o
mesteiral dos cinco livros, já que é o único compilador sobrevivente nesse reinado.
A divisão em cinco livros sugere uma álgida analogia com as Decretais de Gregório
IX. Apesar de ainda não ter aparecido qualquer comprovação documental definitiva,
não me parece difícil de acreditar que, em pleno século XV, um Doutor em Direito
tenha bebido essa informação na colectânea de Direito Canónico que mais marcou
a Baixa Idade Média, fazia parte das principais bibliotecas portuguesas da época e
estava traduzida em vernáculo[4].
Esta analogia com as Decretais já vem de muito longe. A sugestão parece ter-
se iniciado com José Anastácio de Figueiredo: “Dividirão pois as ditas Ordenações ou
Codigo em sinco Livros, seguindo provavelmente o exemplo de S. Raymundo de Penafort na
Compilação das Decretaes de Gregorio IX, e dos mais Compiladores, que se lhe seguirão, ainda
que não foi assim na disposição das materias”[5]. E aceite por quantos o sucederam, desde o
prefaciador da edição das Ordenações Afonsinas de 1792[6], o coetâneo Ricardo Raimundo
Nogueira[7], até à actualidade[8].
A estar correcta esta inferência secular, as Decretais de Gregório IX são das
primeiras obras a marcar o pensamento do Doutor Rui Fernandes. Muitas outras se lhe
seguiram, com certeza, não só no âmbito do direito canónico como também do direito
romano[9] e comum, e até do direito muçulmano[10]. De qualquer forma, qualquer um

1
Damião de GÓIS, Crónica de D. Manuel, 4ª parte, capítulo 86, p. 603.
2
Até aí existiriam apenas dois livros: um com as leis até ao reinado de D. Afonso IV e o outro desse reinado
em diante.
3
Só a título de exemplo, a certidão de 1447 identifica os livros primeiro e terceiro da reforma das ordenações que
andam na nossa Chancelaria.
4
As Decretais de Gregório IX já em 1359 se achavam traduzidas para Português [João Pedro RIBEIRO, “Qual
seja a Época da introdução do Direito das Decretaes em Portugal, e o influxo que o mesmo teve na Legis-
lação Portugueza”, Memorias de Litteratura Portugueza publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa,
Tomo VI, Lisboa, na Typografia da mesma Academia, 1796, pp. 12-13]. Em 1510, na igreja de Santa Maria
do olival, em Tomar, existiam “Huuas degretaaes em linguagem, de letera de pena, em porgaminho, bem
encadernadas e em grande volume” [Isaias da Rosa PEREIRA, “Achegas para a História da Cultura Jurídica
em Portugal”, Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, vol. 58, Coimbra, 1982, p. 521].
5
José Anastácio de FIGUEIREDO, Synopsis Chronologica de subsidios ainda os mais raros para a historia e estudo
critico da legislação portugueza, Academia Real das Sciencias de Lisboa, Tomo I, Lisboa, 1790, p. 43.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Prefação, p. VI.
7
Ricardo Raymundo NOGUEIRA, Prelecções sobre a Historia de Direito Patrio feitas ao curso do quinto anno juri-
dico da Universidade de Coimbra no anno de 1795 a 1796, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1866, p. 111.
8
Nomeadamente, CAETANO, História do Direito, p. 540; SILVA, História do Direito, p. 273; DUARTE, Justiça
e Criminalidade, p. 118. DIAS, Introdução às Ordenações Manuelinas, Lisboa, 2002, p. VIII.
9
Por exemplo, a divisão em livros, títulos e leis é a habitualmente utilizada nas colecções romanas.
10
Cfr. CAETANO, História do Direito, p. 545.

199
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

desses ramos do direito está arredado da extensão deste trabalho e a influência das
Partidas de Castela já ficou relactivamente consignada na primeira parte[1]. Tentarei
apenas, na medida do possível, apurar a matéria-prima relacionada com o ius proprium
do reino, ou seja, as fontes nacionais sobre as quais trabalhou o compilador. Por
outras palavras, seguindo uma tipologia há muito sugerida[2], este trabalho confina‑se
às principais fontes internas das Afonsinas: as leis gerais, os capítulos de cortes, as
concórdias e concordatas[3]. Porque outras fontes internas, embora em menor escala,
foram compulsadas pelo legislador das Ordenações, como por exemplo, as inquirições
de D. Dinis[4], os forais e costumes[5], o foral dos mouros forros[6], os acordos de paz com
o reino vizinho[7], etc.

As Fontes Jurídicas Relevantes


Nunca será de mais vincar que não se tratava de criar direito novo, nem sequer,
como já ficou demonstrado, compilar pela primeira vez. As Afonsinas – obra de
compilação ou recompilação?[8] – traduzem, para uso da expressão coetânea, a
reforma das ordenações do reino[9]. Não estranha, por isso, que as obras de suporte de
toda a tarefa de Rui Fernandes sejam, antes de mais, os livros das ordenações do
reino, antecipadamente feitos. Já ficaram registadas todas as ocorrências, que me foi
possível desempoeirar, a propósito dos Livros de Ordenações e dos Livros da Reforma das
Ordenações. Importa apenas sublinhar que a designação daqueles desaparece com o
advento destes – o que me parece sintomático da vigência de ambos e, consequente,
revogação de uns pelos outros.
A verdade é que Rui Fernandes se serve, muitas vezes, do “livro da nossa
chancelaria” onde constavam ordenações do reino, mas nada garante que fossem livros
só de ordenações. Poderiam ser meros livros de chancelaria, onde, desde sempre, se
registavam diplomas legais ao lado de outros distintos. Marcello Caetano advoga que
o compilador afonsino “utilizou largamente os acervos do Livro das Leis e Posturas e das
Ordenações de D. Duarte”, mas, por outro lado, entende que as leis posteriores a D.
Afonso IV foram “recolhidas dos livros da Chancelaria Régia, onde era praxe registá-las”[10].

1
Só é estranho que não surja qualquer indício em relação ao Foro Real.
2
José Hilário Brito COREIA, Estudos Histórico-Jurídicos de Montemor-o-Novo, Coimbra, Imprensa Litteraria,
1873, p. 105 (edição fac símile, Coimbra Editora, 2001).
3
Cfr. CAETANO, História do Direito, pp. 542-547.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 65.
5
Cfr. COREIA, Estudos Histórico-Jurídicos de Montemor-o-Novo, p. 105.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 99.
7
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 47, § 16.
8
Para a distinção entre “compilação” e “recompilação” veja-se a síntese e autores citados em MARÍA e IZ-
QUIERDO, Las fuentes del Ordenamiento de Montalvo, p. XLI. Nomeadamente, o parecer de Sánchez-Arcilla,
para o qual as compilações implicam, num primeiro estádio do processo de reunião do direito vigente num território,
o agrupar das normas conservando os textos originários na íntegra, com o critério cronológico como único critério
de compilação. Um segundo passo seria distribuir sistematicamente as normas em títulos e livros, mas conservando,
todavia, o texto íntegro das mesmas e colocando-as cronologicamente dentro de cada título. A recompilação implica um
passo mais além neste processo. Já não se trata de recolher as disposições na íntegra, o recompilador leva a cabo um esfor-
ço maior, eliminando as leis supérfluas ou derrogadas, seleccionando apenas a parte dispositiva dos textos, refundindo
as leis que tratam do mesmo tema e aclarando, se preciso, o conteúdo das mesmas. Perante isto, as Afonsinas seriam,
basicamente, uma obra de compilação no segundo passo, mas o livro I não será antes de recompilação?
9
Por isso, “valeram mais como precedente codificatório de que como factor real, dinâmico”, no dizer de ALBU-
QUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 49.
10
CAETANO, História do Direito, p. 542.

200
José Domingues

Esta bifurcação deixa de ter sentido se recordarmos que, conforme ficou atestado,
também existiram livros de ordenações para os reinados posteriores ao de Afonso IV.
De qualquer forma, o mais seguro e sensato é acreditar que se serviu de ambos,
sobretudo quando faltava o registo em algum deles. Pena é que os registos dos livros
da chancelaria que chegaram aos nossos dias não permitam qualquer ilação segura,
em grande parte, devido à reforma levada a cabo por Gomes Eanes de Zurara. Em
pormenor, são estas algumas das circunstâncias em que o compilador refere os livros
da chancelaria:

• “No Livro da nossa Chancellaria foi achada huã Ley feita per ElRey Dom
Pedro”. [sd/sl] – que os clérigos hajam servidores.
[O A – Liv. II, Tít. 10]

• “forom achadas no nosso Livro da Chancellaria estas Hordenaçõoes


principalmente feitas acerca dello per ElRey Dom Donis”. 1311, Junho, 15
[Coimbra] – proíbe aos clérigos, ordens, mosteiros, fidalgos e cavaleiros,
que não possam comprar ou adquirir bens nos reguengos de el-rei[1].
[O A – Liv. II, Tít. 13]

• “Nos Livros da nossa Chancellaria foi achada huã Hordenaçom”. 1286,


Julho, 10 [Lisboa] – Ordenação de D. Dinis para que os clérigos e ordens
não comprem bens de raiz sem mandado régio.
[O A – Liv. II, Tít. 14]

• “No Livro da nossa Chancellaria foi achada huã Ley feita per ElRey Dom
Joham”. [sd/sl] – Dos fidalgos que apropriam a si os mosteiros e igrejas
dizendo que hão em elas pousadias e comedorias.
[O A – Liv. II, Tít. 17]

• “No Livro da Chancellaria d’ElRey Dom Joham meu Avoo de gloriosa


memoria foi achada huã Ley”. 1401, Dezembro, 28 [Lisboa] – Das
barregãs dos clérigos.
[O A – Liv. II, Tít. 22]

• “No Livro da Nossa Chancellaria foi achada huã Ley, que o muito virtuoso
Rey Dom Eduarte...” 1436/37, Julho, 19/20 [Sintra] – Que os besteiros
paguem jugada em todo lugar onde não forem escusados pelo foral.
[O A – Liv. II, Tít. 35]

• “Achamos no Livro da Nossa Chancellaria, que ElRey Dom Affonso o


Terceiro em seu tempo fez Ley”.
[O A – Liv. II, Tít. 42]

• “Achamos no Livro da Nossa Chancellaria, que fazendo ElRey Dom


Affonso o Quarto Cortes”. 1331 – capítulos das cortes de Santarém.
[O A – Liv. II, Tít. 55]

• “No Livro da Nossa Chancellaria foi achada huã Ley, que ElRey meu Senhor,
e Padre de gloriosa memoria em seendo Iffante fez”. [sd/sl] – Que os
judeus não arrendem igrejas, nem mosteiros, nem as rendas deles
[O A – Liv. II, Tít. 68]

1
IAN/TT – Chancelaria de D. Dinis, Liv. 3, fl. 76.

201
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

• “No Livro de nossa Chancellaria foi achada huã Ley, que ElRey Dom
Joham”. [sd/sl] – Que os judeus não sejam presos por dizerem contra
eles que se tornaram cristãos em Castela, salvo sendo deles querelado.
[O A – Liv. II, Tít. 77]

• “Na Nossa Chancellaria foi achada huã Ley feita per ElRey Dom Joham”.
1412, Fevereiro, 12 [Lisboa/Braga] – Das penas a aplicar aos judeus se
forem achados fora da judiaria depois do sino da oração.
[O A – Liv. II, Tít. 80]

• “No Livro da nossa Chancellaria foi achada huã Ley d’ElRey Dom Joham”.
1417, Maio, 07 [Lisboa] – Que os judeus não sejam presos por dizerem
contra eles que fizeram moeda falsa ou compraram ouro ou prata, salvo
sendo primeiro deles querelado.
[O A – Liv. II, Tít. 82]

• “E achamos no Livro da nossa Chancellaria, que depois ElRey meu Senhor,


e Padre de gloriosa memoria em seendo Iffante fez outra Ley”. [sd/sl]
– Que os judeus não sejam oficiais de el-rei, nem dos infantes, nem de
quaisquer outros senhores.
[O A – Liv. II, Tít. 85, § 2]

• “No Livro da nossa chancelaria foi achada huã ley feita por ElRey Dom Joham”.
1391, Fevereiro, 20 [cortes Évora] – Que os judeus tragam sinais vermelhos.
[O A – Liv. II, Tít. 86]

• “No Livro da nossa Chancellaria foi achada huã Ley d’ElRey Dom Affonso
o Quarto”. [sd/sl] – Que as pagas e entregas feitas pelos cristãos e judeus
se possam fazer sem presença do juiz.
[O A – Liv. II, Tít. 98]

• “No Livro da nossa Chancellaria foi achada huã Ley, per que ElRey Dom
Eduarte … em seendo Iffante”. [sd/sl] – Que os mouros não gozem nem
usem do benefício da lei de avoenga.
[O A – Liv. II, Tít. 109]

• “Nos Livros da Nossa Chancellaria forão achados certos artiguos”.


[O A – Liv. III, Tít. 15]

• “e he Artiguo (...) que he escripto no Livro Grande das Leys”. Cita-se aí um


artigo de cortes realizadas na regência do infante D. Pedro.
[O A – Liv. III, Tít. 15, § 13]

• “Artiguo escripto no Livro das Leys do Reino, que está na Caza do Civel”.
[O A – Liv. III, Tít. 15, § 27]

• “Artiguo escrito no Livro das Leys, que está na Casa do Civel”.


[O A – Liv. III, Tít. 15, § 29]

• “Esto he Artigo escripto no Livro das Lex do Regno, que está na Casa do Cível”.
[O A – Liv. III, Tít. 15, § 30]

• “Achamos no Livro da nossa Chancellaria huuma Ley feita per ElRey Dom
Diniz”. 1280, Agosto, 08 [Lisboa] – Da jurisdição régia sobre clérigos
casados.
[O A – Liv. III, Tít. 15, § 52]

202
José Domingues

• “No Livro da nossa Chancellaria foi achada huuã Ley d’ElRey Dom Affonso
o Quarto”. (cap. dos fidalgos às cortes de Santarém de 1331).
[O A – Liv. III, Tít. 51]

• “Costume … que foi escripto no nosso Livro da Chancellaria em tempo


d’ElRey Dom Affonso Terceiro”.
[O A – Liv. IV, Tít. 13]

• “No Livro da nossa Chancellaria foi achada uma Ley em esta forma que se
segue”. [sd/sl] – D. Afonso IV (?).
[O A – Liv. IV, Tít. 32]

Nos casos supra, a designação “livro da nossa chancelaria” é demasiado ambígua


para qualquer ilação decisiva. E, à excepção das manifestas referências aos livros de
ordenações, que constam no título 15 do livro III, ainda não é possível identificar com
precisão o padrão em causa. Repare-se que mesmo em documento de 20 de Março
de 1461 (muito depois da conclusão das Afonsinas) dirigido ao contador-mor, Paio
Rodrigues de Araújo, sobre a pensão a pagar pelos tabeliães gerais, ficou registado
que “no livro segundo da nosa Chancelaria nos achamos huã ley fecta per El Rey Dom
Joham meu avoo cuja alma Deus aja e confirmada per nos”. Coligido e publicado na
dissertação de Doutoramento de Miguel Duarte[1], este entende que “o rei ‘encontrou’
a velha ordenação de D. João I no 2.º Livro da Chancelaria (e não nas Ordenações)”[2]. Não se
entende muito bem este parecer – a não ser o de, mais uma vez, acanhar a aplicabilidade
das Afonsinas – uma vez que esta normativa de D. João I, confirmada por D. Afonso
V, até à data, apenas é conhecida pelo título 34 do livro II das Ordenações Afonsinas.
Podemos considerar dúbia a referência ao livro da Chancelaria, mas a referência expressa
ao livro segundo não deixa margem para outra identificação.
As várias referências às “Hordenaçõoes antiiguas” ou às “Hordenações antigas do Reg-
no” podem ser mais um sustentáculo da evocação dessas colectâneas anteriores, refor-
çando a sua assídua utilização pelo compilador:

• “e porque na Ordenaçom antigua he conteudo, que…”


[Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 5, § 8, p. 42]

• “como se contem nas Hordenaçõoes antiiguas.”


[Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 39, iníc., p. 228]

• “que lhes eram tausadas nas Hordenações ante feitas…”


[Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 45, iníc., p. 250]

• “Segundo achamos per as Hordenações antigas, e vimos per geral


usança em estes Regnos, as Citações se acostumarão fazer em quatro
modos…”
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 1, p. 2]

• “Segundo achamos per as Hordenações antigas do Regno, e d’antiguamente


feitas…”
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 4, p. 15]

1
DUARTE, Justiça e Criminalidade, doc. 16, pp. 579-580.
2
Idem, p. 188.

203
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

• “…porque segundo as Hordenaçoens antigas, achamos que os feitos das


almotaçarias…”
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 4, § 5, p. 17]

• “…porque achãmos polas Ordenações antiguas, que assy foi dantiguamente


hordenado polos Reyx, que ante Nós forão, e usado até o presente.”
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 4, § 6, pp. 18-19]

• “E esto senão deve entender no Órfão, Viuva, e pessoa miseravel, porque


a estes he polas Ordenaçoens antiguas outorguado Privilegio, que…”
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 5, § 1, p. 20]

• “E estes modos de contestar achamos declarados per as Hordenaçõees


Antiguas.”
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 57, § 1, p. 190]

• “…segundo as Hordenaçõoes do Regno sobre ello feitas…”


[Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 25, § 2, p. 115]

Mas, há falta de outras referências objectivas e consistentes, a fundamentação de


que Fernandes se tenha servido dos antecedentes livros de ordenações do reino, passa,
necessariamente, pelo desbravar de outros indícios comprovativos, nomeadamente o
cotejo com alguns textos do Livro das Leis e Posturas e Ordenações de D. Duarte, reminiscências
desse trabalho anteriormente feito. A este propósito, Espinosa da Silva adianta:

“A matéria é árdua e requer uma análise demorada, que ainda não se fez. Mas,
efectivamente, as dificuldades são grandes. A coincidência que possa existir entre
textos das Leis e Posturas, Ordenações de D. Duarte e Ordenações Afonsinas, não
prova, só por si, como é evidente, que aquelas duas primeiras colecções tenham
constituído trabalhos preparatórios; do mesmo modo, possíveis diferenças que se
apontem, também não provam, em si mesmas, que as mencionadas colecções não
tenham sido trabalhos preparatórios: poderão, sim, provar que os compiladores das
Afonsinas utilizaram, igualmente, outras fontes”[1].

Este investigador comparou a data das duas leis de Afonso IV sobre a vindicta
dos fidalgos – título 53 do livro V das Afonsinas – com as respectivas congéneres das
Leis e Posturas e Ordenações de D. Duarte, chegando à conclusão (apresentada como
simples hipótese, não suficientemente fundamentada) de que “a análise deste caso isolado
sugere hipóteses um tanto ou quanto perturbadoras da comum opinião, já que parece que
nem o redactor das Ordenações de D. Duarte, nem o compilador das Ordenações Afonsinas
conheceram o texto do Livro das Leis e Posturas”[2].
Confrontado com a questão, Miguel Duarte comunga das teses de Espinosa,
perseverando como possível que os redactores/compiladores das Afonsinas tenham
recorrido a esta recolha de textos e advertindo que “é pouco seguro estabelecer genealogias
de colecções pelo facto de encontrarmos, na mais tardia, muitas leis incluídas na mais antiga”,
não deixando de, em nota de rodapé, referir o exercício de Espinosa[3].
Carvalho Homem envereda pelo mesmo trilho, a propósito do Livro das Leis
e Posturas escreve: “no estado actual de conhecimentos, já não se crê – como era ideia de

1
Nuno Espinosa Gomes da SILVA, Prefácio ao Livro das Leis e Posturas, Lisboa, 1971, pp. XI-XII.
2
Idem, p. XIII. O itálico é nosso.
3
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 112.

204
José Domingues

João Pedro Ribeiro (1758-1839) – que se trataria de um trabalho preliminar às Ordenações


Afonsinas; pelo contrário, pensa-se mesmo que esta primeira recolha não chegou a constituir
fonte para os organizadores da codificação quatrocentista”. E, ao tratar as Ordenações de D.
Duarte, completa: “No estado actual de conhecimentos, dir-se-á que é pouco provável que os
organizadores das Ordenações del-Rei D. Duarte tenham utilizado (ou mesmo conhecido) o Livro
das Leis e Posturas. Mas já não se duvida – até pelo próprio protagonismo de D. Duarte – que esta
colecção que ostenta o seu nome se insere claramente no processo que conduziu às Ordenações
Afonsinas, constituindo «testemunho importante e singular» da sua preparação”[1].
Recorde-se que (ao contrário do que penso e ficou explanado ao tratar das
colectâneas anteriores às Afonsinas) se questionava o usual entendimento, à data, de
que estes códices eram meros trabalhos preparatórios das Afonsinas. De qualquer forma,
no aspecto que agora nos ocupa, é indiferente tratarem-se de trabalhos preparatórios
ou trabalhos oficiais que precisavam de ser reformados. O que está em causa é a sua
utilização, ou não, por Fernandes para a reforma que tinha em mãos.
Já agora, a propósito de datas, a lei que proíbe que se tire para fora do reino ouro,
prata, cavalos, armas e outras coisa, sem licença régia, aparece com a mesma data
nas Ordenações Afonsinas e nas Ordenações de D. Duarte (13 de Dezembro de 1347). No
entanto, é radicalmente diferente no registo da chancelaria (16 de Dezembro de 1341),
que deve ser o correcto, uma vez que esta lei se encontra inserida entre os diplomas de
1341, estando nesta data o monarca em Coimbra. No códice do Porto, esta lei é atribuída
a D. João I, com era de 1385 (ano 1347), 13 de Dezembro. No códice de Santarém já vem
atribuída a D. Afonso IV, com a era de 1365 (1327). Não deixa de ser curioso que, no
último códice, o ano e dia coincidam com os de outra lei deste monarca sobre o mesmo
assunto (lei de 13 de Março de 1327).
Antes de mais, será que Miguel Duarte está correcto ao afirmar, categoricamente,
que é com algum cepticismo que encara a possibilidade de se estabelecer filiações directas com
base na crítica textual? E, como resume Carvalho Homem, será que os organizadores
das Ordenações de D. Duarte e das Ordenações Afonsinas não utilizaram nem sequer
conheceram o Livro das Leis e Posturas? Não se trata de estabelecer uma filiação directa,
mas tão só apurar o uso (ou não) que, de alguma forma, o compilador imediato deu à
recolha anterior de textos de leis. Realmente, nada obsta e até é lógico que se repitam
leis em dois ou mais códices espaçados no tempo, sem que daí se possa concluir
qualquer vínculo entre eles. Isto quando se trata de simples transcrições. E quando há
alteração da redacção original? Quando o compilador deixa o seu cunho individual, o
que acontece? A resposta será a mesma?
Não me parece. O meu entendimento é que a síntese de alguns originais, que
podem ser confrontados, não consente tanta imperatividade e certeza, senão vejamos.
Ao cotejar alguns títulos das Ordenações Afonsinas, em que a lei aparece resumida,
com os correspondentes do Livro das Leis e Posturas e das Ordenações de D. Duarte, torna-
se manifesto que existe uma inegável conexão entre eles. Analisemos alguns casos
em concreto, transcrevendo o texto das Afonsinas, com as variantes notórias e dignas
de registo dos outros códices, sem especificar meras actualizações de vocábulos ou
ortografia e pontuação. Entre […] ficam os textos que ficaram omitidos nas Afonsinas
e constam na fonte; entre (…) os acrescentos das Afonsinas, que não constam na fonte;
e entre *…* o texto alterado pela redacção das Afonsinas. Serão estes os critérios que
seguirei sempre que, daqui em diante, se transcreverem e cotejarem textos.

1
HOMEM, “Estado Moderno e Legislação régia”, p. 119.

205
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

1295, Março, 04 [Lisboa] – Que a mulher com menos de 25 anos que


casa, ou faz maldade de seu corpo, sem mandado de seu pai, seja
deserdada.
[Livro das Leis e Posturas, p. 165]
[Ordenações de D. Duarte, p. 185]

“O muito nobre Rey Dom Diniz com conselho da sua Corte estabeleceo
[E pos por ley][1] pera todo o sempre, que se [allguum homem ou molher
teuer][2] *filha alguma*[3] se casar, ou sair *sem*[4] mandado de seu padre,
ou de sua Madre, [fazendo malldade de seu corpo][5] ante que aja *vinte
cinco*[6] annos, que seja exherdada de seus bees: e postoque o Padre, ou
Madre a queiram herdar, nom possam. *Feita em Santarem primeiro dia
de Setembro. Era de mil e trezentos e trinta e nove annos*[7]”.
[OA, Liv. IV, Tít. 99, § 1]

1301[8], Setembro, 01 [Lisboa] - lei para que os porteiros e mordomos não


fossem negligentes na cobrança dos dinheiros e dívidas de el-rei.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 195-196]
[Ordenações de D. Duarte, p. 186]

“Era de mil *trezentos trinta e quatro*[9] annos, primeiro dia de Setembro, em


Lisboa, mandou ElRey dom Deniz, que em todalas Cartas *das Portarias*[10],
tambem de Arcebispos, como de Bispos, e Cabidos, como de Ordens, como
em todalas outras pozessem, que nam perdessem os Mordomos, nem os
Porteiros seu Direito”.
[OA, Liv. III, Tít. 96]

1302, Abril, 24 [Santarém] – Dos que pedem que lhes revejam os feitos e
sentenças régias pague 500 soldos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 136-137 (com data de 1307, Abril, 24)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 211 (com data de 1307, Abril, 23)]

1
Nas ODD.
2
Nas ODD.
3
“E esa filha”, nas ODD.
4
“de”, nas ODD.
5
Nas ODD.
6
“xxb”, nas ODD.
7
“Era de mil trezentos E trinta e tres anos quatro dias de Março na Cidade de lixboa”, nas ODD. Esta data
consta no início do resumo. Para além disso, o desacerto de data (dia, mês e ano) e do local, levam-me a
pensar que a data das Afonsinas seja uma data, bastante posterior, de eventual publicação.
8
“O.A., III, 96. No texto a era é de 1334 (1296), mas em nota indica-se a variante de 1340 (1302), que deve ser
a data certa, porque em 1 de Setembro de 1296 o rei não estava em Lisboa, mas aí se encontrava em 1302”,
infere Marcello CAETANO, História do Direito, p. 339, nota 2. Mas o ano correcto será o de 1301, conforme
consta no LLP e nas ODD. Ou seja, era de mil trezentos e “XXXIX”, que num códice das Afonsinas se errou
para “XXXIV” (1334) e no outro para “XXXX.” (1340).
9
“iijc xxxix”, nas ODD.
10
“dos Porteiros”, nas ODD.

206
José Domingues

“Era de mil trezentos e quarenta annos [e v][1], *vinte e quatro*[2] dias de


Abril, em Santarem. ElRey [dom denis][3] mandou com Conselho da sua
Corte, que todalas Sentenças, que forem dadas per o Sobre-Juiz, ou per
alguum Ouvidor, quer sejam interlucutorias, quer definitivas, e por (os
Ouvidores da sua Corte forem confirmadas; ou as Sentenças, que)[4] os
Ouvidores de sa Corte derem, e forem confirmadas por os Ouvidores da
Sopricaçam; (e das Sentenças, que os Sobre-Juizes, ou Ouvidores derem,)[5]
e dellas nom for per nenhuma das partes apelado; que [aquel ou][6] aquelles,
que contra ellas vierem, e pedirem *Juiz*[7], ou perante algum Juiz vierem
per *querellas*[8] revogar, que peitem a ElRey quinhentos Soldos, e o dano,
e perda [que fezer][9] aa parte, e nom seerem mais ouvidos, e as Sentenças
serem firmes: salvo se as Sentenças forem dadas per [falsas testemunhas
ou per falsos testemunhos ou per][10] falsas Cartas, (ou per outra maneira
que a Sentença seja nenhuma.)[11] E se alguuma das partes tever Voguado,
ou Procurador, e esse Procurador, ou Voguado veer perante o Sobre-Juiz,
ou perante os Ouvidores, pera *querer*[12] revoguar as Sentenças, que
assy forem [dadas e][13] confirmadas, que peite a sobredita pena, *e a parte
nam*[14]: (salvo vendo ElRey primeiramente todo o feito, ou o mandar ver,
e achar, que ha em elle tal erro, que se deva correger, entam mande que se
corregua.)[15] [E eu ffrancisco ffernandez esto screuy e traladei][16]”
[O A – Liv. III, Tít. 108, § 3]

1302, Setembro, 18 [Lisboa] – Das penas para aquele que matar ou ferir
outrem onde o Rei estiver, ou uma légua em redor.
[Livro das Leis e Posturas, p. 81 (sem data)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 186 (com data de Setembro, 17)]

“Era de mil e trezentos e quarenta annos, *dezoito*[17] dias de Setembro,


em Lixboa: o mui nobre Senhor Dom Donis *per graça de Deos Rey de
Purtugal, e do Algarve*[18] com Conselho de sua Corte estabeleceo, e pose
por Ley pera todo sempre, que todo aquel, que homem matar, hu ElRey

1
No LLP.
2
“xxiij”, nas ODD.
3
Nas ODD.
4
Falta nas ODD.
5
Falta no LLP, consta nas ODD.
6
No LLP
7
“en Juyzo”, no LLP
8
“quere-lla”, nas ODD
9
No LLP
10
No LLP. “per fallsos testemunhos ou per fallsos stormentos”, nas ODD.
11
Falta no LLP
12
“querelas” no LLP
13
No LLP
14
“aa parte” no LLP
15
Falta no LLP
16
Falta nas OA, consta no LLP. Nas ODD: “E eu françisco fernandez d’estremoz esto Scpriuy”.
17
“xvij”, nas ODD.
18
“E cetera”, nas ODD.

207
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

*estever*[1], ou huã legoa arredor, ou sacar cuitello, ou espada, ou outra


arma qualquer contra *alguem*[2], e nom ferir com ella, que lhe cortem o
dedo polegar, e deitem-no de (toda)[3] sua terra fora pera todo o sempre: e
se ferir, cortem-lhe a maaõ, e deitem-no fora da terra pera [todo][4]sempre:
e se matar, que moira porem; e que nenhuum dos que estas cousas fezerem
nom se possa escusar de seu inmigo”
[OA, Liv. V, Tít. 33, § 1]

1304,Fevereiro, 21 [Santarém] - Que ninguém vá contra o que foi


absolvido por sentença do rei ou seus ouvidores.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 91 e 207-208]
[Ordenações de D. Duarte, p. 201]

“Porque de razom e direito he, que toda sentença, maiormente a d’ElRey, determine
compridamente aquella demanda, por que he dada a sentença, em qualquer
maneira que o ElRey, ou os Ouvidores [da sua Corte][5] julguem, porende ElRey
Dom Donis avudo Conselho com sa Corte [estabelleçeo E][6] mandou, que se
algum homem d’aqui em diante for per sentença quite e livre da justiça per ElRey,
ou pelos Ouvidores de sa Corte em qualquer caso de morte, que d’ali em diante,
pois per sentença he livre, nenhum outro nom seja theudo de lho acooimar. E per
esta Ley nom som revogados os boõs custumes, que som antre os Filhos d’algo,
nem as Leix e posturas, que antre elles forom postas pelos Reis ante desta Ley; e o
que contra esto passar, morrerá porem. Feita em Santarem a vinte e hum dias de
Fevereiro. Joham Martins a fez. Era de mil e *trezentos vinte e dous annos* [7]”
[OA, Liv. V, Tít. 101]

1302(?) – Pena de morte para quem jogar com dados falsos.


[Ordenações de D. Duarte, p. 177]

“Dom Donis, &c. Estabelleceo e pôse por Ley pera todo sempre, que todo
aquelle, *que armasse*[8], ou fizesse jugar alguum jogo falso, ou em jogo
metesse alguuns dados falsos, ou chumbados, que moira porem. ElRey
ho mandou. Pero de Moõforte a fez. Era de *mil e trezentos e quatro
annos*[9]”
[OA, Liv. V, Tít. 40]

1313, Agosto, 09 [Lisboa] – Das penas para os que encobrem malfeitores


ou os acolhem em suas casas.
[Livro das Leis e Posturas, p. 80 (com data de 1311)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 284]

1
“for”, nas ODD.
2
“outrem”, nas ODD.
3
Falta nas ODD.
4
Nas ODD.
5
Nas ODD.
6
Nas ODD.
7
“iijc xLij” – nas ODD.
8
“iunJairo que outro marcasse”, nas ODD.
9
“13”, nas ODD.

208
José Domingues

“Era de mil e trezentos cinquoenta e hum annos, nove dias d’Agosto, em Lixboa,
o mui nobre e mui alto (Rey)[1] Dom Donis pela graça de Deos Rey de Portugal, e
do Algarve, com Conselho de sua Corte, veendo e consirando o mal, que se nos
seus Regnos (fazia)[2], e nos seo Senhorio seguia e poderia seguir *ao*[3] diante,
por razom que alguuns colhiam, e encobriam alguuns outros, que queriam matar
alguem, ou lhe fazer outro mal; e querendo esquivar o dapno, que se desto *fazia*[4],
estabeleceo e por Ley pos, que d’aqui em diante nom seja nenhuum tam ousado,
que colha, nem encobra em sa casa(, em Villa, nem Aldeã, nem em casa)[5] de
monte, nem em outro lugar, nenhum homem, que queira matar [outro][6], *ou*[7]
fazer mal no seu Senhorio a outro nenhum. E se per ventura alguuns pousarem, ou
(se)[8] acolherem encobertamente [ou][9] a sabendas em alguma casa, ou nos outros
lugares, o senhor da casa, ou o que em ella morar, deite-os hende logo fora, e faça-o
saber aa justiça (da terra)[10] ante que se o mal faça. E os que o assim nom fezerem, se
*dessas*[11] casas saírem pera matar, ou [pera][12] fazer outro mal, ajam tal pena, qual
merecerem aquel ou aquelles, que o mal fezerem. E como quer que os que o mal
fezerem se possam escusar e deffender, que fezerom direito, nom *se possam*[13]
por ende *escusar da*[14] pena os *de cujas casas saírem*[15]: salvo se aquelles, de
cujas casas saírem, ou os encobrirem, forem taaes pessoas, que ajam (direita)[16]
razom de serem nos feitos com elles”.
[OA, Liv. V, Tít. 100, § 1]

Saliente-se que o compilador deste título, na declaração final, refere expressamen-


te a “Ley d’ElRey Dom Joham meu Avoo”, mas na verdade a lei é de D. Dinis e no título
não existe qualquer lei de D. João I. A explicação pode estar no facto de o resumo ter
sido feito no reinado de D. João I, para organização do respectivo Livro das Ordenações.
Mas o mais marcante é que se conhece a versão original da normativa, a partir dos
Foros de Beja (com data de 11 de Maio de 1315), que se transcreve para confirmativo de
ser impossível que três escribas diferentes a pudessem resumir – e até alterar – em ter-
mos tão semelhantes, como acima especificado, sem que tivessem conhecimento uns
dos outros ou, pelo menos, uma matriz em comum:

“Dom Denys etc. a todolos alcaydes e aluazys alcaldes comendadores juizes mey-
rinos e a todalas outras justiças dos meus reynos saude Sabede que a mjm disseram
por certo que ladrões e malfeitores andam em uossas terras assuandos por bandos

1
Falta nas ODD.
2
Falta nas ODD.
3
“daquy”, nas ODD.
4
“seguia”, nas ODD.
5
Falta nas ODD.
6
Nas ODD.
7
“nem”, nas ODD.
8
Falta nas ODD.
9
Nas ODD.
10
Falta nas ODD.
11
“das suas”, nas ODD
12
Nas ODD.
13
“sejam”, nas ODD.
14
“escusados de”, nas ODD
15
“que os colherem e encubrirem como se os que mal fezerem fezessem direito”, nas ODD.
16
Falta nas ODD.

209
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

per alguos logares e que matam e chagam e teem camynhos e fazem outros muy-
tos maaes e maaos fetos. Item que estes ataaes que estes feitos fazem som naturaes
das terras em que o fazem em atreuimento dos parentes e dos amigos que am que
os teem em seos logares e os encobrem. Item esto tenho eu por muyto estranhado
desse taaes encobertas fazerem na mha terra. Item por que eu tenho por bem e
mando a uos so pena dos corpos e de quanto auedes que uos façades guardar cada
huum de uos en uossos logares e termhos em tal guisa que nem huum non reçeba
mal nem dano per tal razom. Item Ca çertos seede que se o assy alguém reçebes-
se que os uossos corpos e aueres o lazeraram. Item E fazede apregoar cada huum
de uos em uossas uilas e logares que nenhuum non colha nem encobra nenhuns
homeens malfeitores por seos parentes que seiam nem por diuido que com eles
aiam. Item Ca çertos seede que os que o fezerem que farey eu dos seos corpos jus-
tiças bem come desses malfeitores. Item E demais desses come que passam man-
dado de rey e de senhor. E os que poderdes saber que daqui adeante os colherem
ou encobrirem recadadeos e teendeos bem presos e bem guardados para o meu
mandado e enuyademho logo dizer. E por ueer em como sobresto comprides meu
mandado mando a uos tablliões desses logares que registrem esta carta em seos
liuros e que uola leam de xv em xv dias em nos Conçelhos. E de como hy compri-
des meu mandado que mho enuyem dizer so pea dos corpos. Dant em lixboa XI
dias de mayo. E.ª M.ª CCC.ª e çincoenta e tres annos.”
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 71v-72]

1316, Agosto, 27 [Lisboa] – Que os sobrejuízes e os ouvidores livrem


sem delonga os feitos das apelações.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 175-176]
[Ordenações de D. Duarte, p. 301]

“ElRey Dom Diniz com Conselho da sua Corte fez tal Ley, e Manda que
se guarde pera [todo][1] sempre, que quando appellarem da Sentença
Interlucutoria, ou de qualquer que o Juiz mande ante da Sentença Definitiva
nos Feitos Cíveis, que o Juiz vá *recontar*[2] as appellaçoens à Corte loguo no
presente, se poder, quando der a Sentença, ou em outro dia a mais tardar: e
os Ouvidores da Corte ouçam-no, e detreminem-no loguo, quando lhe forem
contar a appellaçam, ou em outro dia a mais tardar, como dito he; e não lhe
atendam mais voguado, nem a parte, se hi loguo vir nom quizer, e segundo
as rezoens, que lhe contar o Juiz, elles julguem o que acharem per Direito.
Pero quando o Juiz contar a appellaçam na Corte, se alguuma das partees,
ou ambas disserem, que disseram mais rezoens, que das que se acorda o
Juiz, e disserem que as querem provar, jurem loguo de malícia esses, que o
disserem, e dês que jurarem dem loguo as testemunhas, por que o provem
perante *os ditos Ouvidores*[3]; pero se essa parte disser, que lhe minguam
alguuãs testemunhas das que hy estiverão, nom lhas atendam, e prove loguo
pollas que quiser dar, e nom lhe atendam outras testemunhas. E eu Estevam
*Esteves*[4] esto escrevi por mandado d’ElRey em Lisboa vinte sette dias
d’Agosto Era de mil tresentos cincoenta e quatro annos.”
[OA, Liv. III, Tít. 72]

1
Nas ODD
2
“contar”, nas ODD.
3
“o Juiz”, nas ODD
4
“martijz”, nas ODD

210
José Domingues

1318, Junho, 05 [Torres Vedras] – Que não seja dado por fiador aquele
que estiver preso por feito crime.
[Ordenações de D. Duarte, p. 211 (com data de 1283, Julho, 05)]

“Manda ElRey per Ruy Muniz, que os Meirinhos, e Juízes, e as outras


Justiças nom soltem nenhum por fiadores, que jaca preso por feito crime,
ataa que saya per seu direito: e que assy o jurassem os Meirinhos, e os Juízes
na Chancellaria. Feito foi esto em Torres Vedras cinquo dias de Junho. Era
de mil e trezentos e cincoenta e seis annos”[1]
[OA, Liv. V, Tít. 51]
[O A – Liv. V, Tít. 51]

Concluindo, a álgida semelhança dos resumos de leis repetidos nas três colecções,
salvo meras actualizações ou erros de transcrição e datação, não deixa outras alter-
nativas que não sejam as de uma fonte comum às três colectâneas ou, então, traslado
sucessivo de umas para outras. Por isso (tornando-se evidente que, no global, não
estamos perante meras cópias ou laços genéticos, antes a fases distintas do trabalho de
compilação e reforma das ordenações do reino) não sobejam dúvidas que existe uma
correlação entre estes três códices e, de forma alguma, se pode afastar o contágio entre
eles. E, mesmo que Rui Fernandes o não tenha deixado expressamente exarado na sua
obra, só por estultice não aproveitaria o trabalho feito. Aliás, assim o conota a incum-
bência de reformar, que lhe foi destinada.
Por outro lado, é mais do que evidente que outras fontes, em maior ou menor
escala, foram compulsadas e aproveitadas pelo jurista de Arruda para a sua obra. Para
fundamentar o protótipo das cartas citatórias que passam pelo corregedor da corte ou outros
oficiais dela recorre ao Espéculo: “E estas formas de Cartas são provadas per o Speculo”[2];
ao declarar a lei das coisas defesas, que não deviam ser tiradas do território do reino,
reforça a sua declaração com o tratado de paz feito com el-rei de Castela[3]; o título
sobre o aluguer das casas foi coligido entre os costumes da cidade de Lisboa[4].
No âmbito dos regimentos, não há dúvida de que o núncio afonsino conhece e
aproveita bem os regimentos dos oficiais concelhios, preparados pelo seu antecessor,
o magistrado João Mendes. Tal como notou Gabriel Pereira, “Os primeiros titulos do
reg. d’Evora encontram-se nas ordenações com mui pequenas variantes”[5]. A nível externo,
duas variantes ressaem de imediato: a disposição dos títulos, que foi alterada, e a
ausência do título do regedor nas Afonsinas. As variantes de conteúdo mais relevantes,
dispensando aquelas que em nada alteram o sentido da lei[6], serão registadas na parte
reservada ao cotejo dos textos deste livro I.

1
O resumo nas ODD: “Dom Dinis E cetera em torres vedras .v. dias de Julho da era de mill iijc xxj anos
auendo o dito Rey conselho com sua corte mandou E pos por ley pera senpre E asy o mandou Scpriuer na
sua chançellaria E povicar per rruy meendez seu ouujdor moor que os meyrinhos nem Juízes nom solten
nem dem por fiadores que Jaçam presos por feitos crimes taa que seJam liures per seu dereito E manda que
asy o Jurasem os Meirinhos e os Juízes na chançellaria”.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 10, § 3, p. 38.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 47, § 16.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 73.
5
Gabriel PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora, Primeira parte, Évora, 1885, p. 157.
6
Por exemplo, substituição “de elrey” por “nossos”; troca da posição de palavras, termos no singular ou
plural, tempo dos verbos, etc.

211
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

Outra fonte quotidiana e assídua do nosso legislador foram, com certeza, os


capítulos gerais de cortes, quer em cadernos avulsos ou a partir dos próprios livros
de ordenações. É talvez neste âmbito que se irá verificar a mais acentuada reforma
de Rui Fernandes, quanto à rejeição de preceitos. Comparado com os homólogos
anteriores, Fernandes excluiu imensos capítulos de cortes, que, tudo leva a crer, se
costumavam transcrever na íntegra nos livros de ordenações. Mas esta ilação peca
pela falta dos supostos segundos livros de ordenações, não permitindo um confronto
amplo e directo.
Os capítulos gerais apresentados às cortes de Santarém de 1331 constam no Livro
das Leis e Posturas[1] e também nas Ordenações de D. Duarte[2]; os capítulos gerais das
cortes de Lisboa de 1352 já só aparecem no Livro das Leis e Posturas[3]; e, embora anexadas
posteriormente, os capítulos das cortes de Coimbra de 1385 foram trasladados no final
das Ordenações de D. Duarte[4].
Embora até nós não tenha chegado nenhum sobejo dos livros de ordenações com
a legislação posterior a D. Afonso IV, também nesses códices se coligiram capítulos de
cortes. Algumas referências documentais soltas assim o podem comprovar. Desde logo,
parece que os artigos das cortes de Elvas (1361) constavam no Livro Grande das Leis[5].
A requerimento de Diogo Lourenço, tabelião de Ponte de Lima, foi enviada carta
(26 de Julho de 1430) com três capítulos das Cortes de Santarém de 1430 – sobre os
abusos dos procuradores do reino que exorbitavam nas taxas pela verificação das
contas de execução dos testamentos – trasladados a partir do “Livro das Ordenações da
Chancelaria do Reino”[6]. Um capítulo geral (n.º 19º) das Cortes de Leiria/Santarém de
1433, foi extraído do “lliuro das hordenaçooens da nossa chançellaria”, para a carta de 25 de
Novembro de 1438, passada em Torres Novas. O traslado deste capítulo foi solicitado
pelo procurador da cidade de Viseu, João Gonçalves, porquanto “sse a dita cidade delle
entendia dajudar”[7].
No dia 14 de Novembro de 1410 foram passadas várias cartas, ao concelho
e homens bons da cidade de Lisboa, cada uma com o traslado de um capítulo das
cortes de Lisboa[8], a partir do Livro das Ordenações da Chancelaria. O primeiro capítulo
geral transcrito (cap.º 10º) – seguirei a numeração e ordem cronológica prescrita por
Armindo de Sousa[9] – determina que se castrem somente os rocins que andarem a
pastar[10]; a seguir (cap.º 14º) pretende-se obstar aos abusos dos oficiais das alfândegas[11];
Outro (cap.º 18º) decide sobre o porte de armas[12]; O capítulo 19º regula a forma de
pagamento das multas dos excomungados[13]; no capítulo 20º pedem que o rei faça
cumprir o capítulo das cortes de Évora, de 1408, que isentava do pagamento de lutuosa

1
Livro das Leis e Posturas, pp. 290-319.
2
Ordenações de D. Duarte, pp. 400-433.
3
Livro das Leis e Posturas, pp. 462-478.
4
Ordenações de D. Duarte, pp. 626-639.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 15, § 13, p. 52. Aí se refere o art.º 16º do Clero, dessas cortes.
6
Ponte de Lima, AM – Pergaminho n.º16.
7
Viseu, AD – Maço 27, col. 50.
8
Os trabalhos destas cortes estavam terminados a 16 de Agosto de 1410 [Cfr. SOUSA, Cortes Medievais, vol.
I, p. 333].
9
SOUSA, Cortes Medievais, vol. II, pp. 262-266.
10
Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa – Livros de Reis, vol. II, Lisboa, 1958, doc.
27, p. 117.
11
Idem, doc. 28, p. 118.
12
Idem, doc. 26, p. 116.
13
Idem, doc. 22, p. 112.

212
José Domingues

o vassalo que não recebeu as suas “contias”[1]; finalmente, o capítulo 24º prescreve a
presença de um procurador régio às audiências eclesiásticas[2].
Uma constatação iniludível é que, tanto os compiladores antecedentes como Rui
Fernandes, começam a recolha de capítulos nas cortes de Santarém de 1331. Apesar de
haver cortes muito anteriores (desde 1211) e a participação do povo retroceder ao início
do reinado de D. Afonso III, só nas de 1331 se deliberaram, pela primeira vez, capítulos
gerais apresentados pelos concelhos de comum acordo. Por outras palavras, até 1331
cada concelho apresentava as queixas atinentes aos seus problemas, mas a partir desta
data os procuradores dos concelhos reúnem-se e estabelecem as prioridades comuns,
que, por isso, seriam também de todo o reino, passando a resposta do monarca a ter
valor de lei[3].
Não admira, por isso, que a recolha tenha principiado nas cortes desta data (1331).
No entanto, ao contrário dos seus antecessores, Rui Fernandes não copia todos os
capítulos gerais e altera-lhe completamente a disposição, disseminando-os ao longo
dos cinco livros da sua obra. Esta disposição dos capítulos de cortes, por títulos e livros,
vinca a divergência técnica do compilador afonsino: o critério da compilação cronológica
por reinados estava completamente ultrapassado, dando lugar a uma compilação
sistemática em função das matérias versadas. O critério da ratio materiae permite que
se exclua um grande número de capítulos que estão revogados e/ou desactualizados
e se aproveitem apenas os que são relevantes ao tempo da compilação.
Das cortes de Santarém de 1331 são conhecidos 63 capítulos gerais do povo (em
versões enviadas aos concelhos de Santarém, Lisboa, Coimbra[4] e Silves), publicados
na colecção das Cortes Portuguesas[5]. Outra versão foi, posteriormente, publicada nas
Ordenações de D. Duarte[6]. Segundo o cômputo desta última versão os capítulos gerais
ascenderiam a 69, mas este total é traiçoeiro, porque os últimos capítulos são mera
repetição dos capítulos 3º a 8º – a numeração dos capítulos também não é sempre
coincidente[7].
Destas cortes foram aproveitados 21 capítulos para as Afonsinas. Na maioria
dos casos foram, praticamente, transcritos na íntegra, salvo os artigos 32º e 33º, que
aparecem com redacção alterada. Por outro lado é omitida a primeira parte do art.º 8º,
que, curiosamente, nas Ordenações de D. Duarte aparece também como artigo apartado.
Começamos por esta última conjuntura:

Cortes de 1331 (Santarém)[8]:


8ºCapitulo Geral do Povo:
[Item os alcaydes prendem os homeens e leuam nos a prisom ante que os
leuem perante os juizes e o que peior he muytos nom queren soltar nem tra-
ger perante eles, pero lho mandan eses juizes e Alguus soltan sem seu man-

1
Idem, doc. 24, p. 114.
2
Idem, doc. 25, p. 115.
3
Cfr., neste sentido, o art.º 23º das cortes de Lisboa de 1352 e o art.º 12º das cortes de Elvas de 1361.
4
Versão do Livro das Leis e Posturas.
5
Cortes Portuguesas – Reinado de D. Afonso IV (1325-1357), INIC, Lisboa, 1982.
6
Ordenações de D. Duarte, pp. 400-433.
7
O capítulo 8º é dividido em dois, mas imediatamente a seguir repete-se o artigo 10º, continuando a coinci-
dir a numeração (Ordenações de D. Duarte, pp. 403-404); O mesmo sucede com o artigo 38º, que foi dividido
em dois; já os artigos 39º, 40º e 41º foram condensados num só artigo (Ordenações de D. Duarte, pp. 418-419).
A partir daqui a numeração deixa de coincidir.
8
Cortes Portuguesas, Reinado de D. Afonso IV (1325-1357), Lisboa, 1982, pp. 25-52.

213
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

dado. E esto todo he contra seus foros e contra seus costumes Antigos.
A este Artigoo diz El Rey que ia per el he mandado que os que prenderem
que os leuem logo perante os juizes ou perante Aluazijs ante que os leuem
aa prison se tal hora for que os perante eles possan leuar E manda que per
esta guisa se guarde daqui adeante e se os doutra guisa leuarem aa prjson
nom leuem deles carcerageens.][1] Outrosy se o Alquaide soltar o preso sem
mandado dos juizes, e Algoziis, e se por esto perder justiça, ou corregimento
Alguum; manda, que o Alquaide, ou aquelle que o asi soltar, seja a esto
theudo; e os Alvaziis, ou Juizes da terra o fação logo correger, se for Feito de
corregimento; e se for feito de crime, e nom for Alquaide de Castello, prendam-
no logo, e façam delle Direito e Justiça; e se for Alquaide de Castello, nom o
prendam, mais façam-no logo saber a ElRey, e elle lhes mandará como sobre
esto façam. Outro sy manda, que os Alquaides tragam os presos perante os
Juizes, e os soltem cada que lho elles mandarem; e se o assy nom fezerem, os
Juizes, ou Alvaziis lhes façam correger o mal e perda, que se por esta razom
aos presos seguir, se acharem que o fezerom malliciosamente.
[Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 62, § 1]

A exclusão da primeira parte deste artigo deve prender-se com o regimento do


alcaide pequeno, onde já está regulada a imposição aos alcaides para levarem os presos
perante os juízes[2].

32º e 33º Capitulo Geral do Povo:


Item son agrauados de que lhis uendem polas uosas deuidas o seu a meos
preço, e nom o podem depoys demandar ainda que seiam enganados aalen da
meadade do justo preço nem o podem tirar de tanto por tanto.
Item Agrauam se de que filhades en uos as compras quando mandades uen-
der pelas uosas deuidas e outrosy os uosos ofiziaaes ca por esto lhis uendem a
meos preço o que an por que nom quer nem ousa nenhuu hy a deytar depoys
que saben que uos ou eles as queredes auer.
A estes dous Artigoos diz El Rey que nom manda uender nenhuã cousa a
meos preço Mays que se uendam pubricamente e o milhor que poderem nem
er manda el comprar pera sy nem receber en sa deuida senom quando com-
prador nom acharem. E tem por ben que nas cousas que daqui adeante forem
tomadas pera el en quantia das sas deuidas que enquanto as el teuer se aque-
les cuias forom derem aquel preço porque as el recebeo que lhis seiam dadas
e entregues logo. E se as El Rey ia nom teuer e forem en poder d outrem ou se
as outrem conprou de começo e aqueles cuia (sic) forom quiserem poer que
forom uendudas como nom deuiam porque nom foij hij guardado o que deuia
ou porque forom enganados aalen da mejadade do justo preço manda que
daqui adeante posan esto poer e que lhis Seia aguardado. Outrosy defende
que nenhuu ofizial que esto ouuer de ueer nom conpre taaes cousas pera sij
nem pera outrem e se o fezer que nom ualha.
[Cortes Portuguesas, 1982, pp. 38-39]

ElRey Dom Affonso o Quarto em seu tempo fez Ley, per que hordenou, e man-
dou que quando se alguus bees venderem por divida d’ElRey, nom se vendam
a menos preço, mais venda-se puvricamente o melhor que poderem a quem
por elles mais der: e esto se faça verdadeiramente sem outra alguã malícia, e

1
Omitido nas OA. Considerado artigo separado nas ODD.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 30, § 5.

214
José Domingues

engano: e que os nom comprem pera ElRey, nem os recebam em sua divida,
salvo quando nom acharem Comprador, que os compre.
§ 1 – E se alguus bees forem tomados pera ElRey em preço de suas dividas, se
os quizer aquelle, cujos forom, em quanto os ElRey tever, e der aquelle preço,
porque os ElRey recebeo, sejam-lhe dados, e entregues por esse preço, se o
logo pagar: e se pela ventura os já nom tever ElRey, e forem em poder d’ou-
trem, a que os ElRey deu per alguu titulo, ou os comprou no começo quando
forom rematados, e aquelles, cujos antes forom, quiserem dizer, e allegar, que
forom vendidos, como nom deviam, porque nom foi hi gardada a sollepni-
dade do Direito, que pêra taaes feitos he necessaria, ou que forom enganados
aallem da meetade do justo preço, que o possam fazer, e allegar, e que lhes seja
guardado seu direito.
§ 2 – E defendeo mais, e mandou, que nenhuu Official seu, que esto ouver de
veer, nom compre taaes bees pera sy, nem pera outrem; e se o fezer, que nom
valha, e aallem desto lho estranhará, como achar per direito.
§ 3 – A qual Ley vimos, e louvamos, por nos parecer justa: e adendo, e decla-
rando mais em a dita Ley, hordenamos, e mandamos, que quando se alguus
bees venderem por Nossa divida, ou de cada huu dos Ifantes, se forem bees
movis, andem ante em pregom primeiramente nove dias, e os bees de raiz tres
nove dias, em os quaees sejam apregoados continuadamente pelo Pregoeiro,
ou Porteiro, que dello tever carrego per escripto assy per Taballiam puvri-
co, ou Escripvam Nosso, a que tal officio perteença; e passado o dito tempo,
entom sejam rematados puvricamente sem outra alguã malícia, ou engano,
como dito he, porque achamos, que assy foi d’antigamente hordenado, e sem-
pre usado ataa o presente.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 52]

Os artigos do povo das outras cortes do reinado de D. Afonso IV, as de Lisboa


de 1352, só constam no Livro das Leis e Posturas e, do total de 24 capítulos gerais, para
as Afonsinas transitaram apenas dois. Como a transcrição destes não merece qualquer
comentário, passamos às cortes seguintes, únicas do reinado de D. Pedro I.
Das cortes de Elvas de 1361 foi compilado um total de 18 capítulos gerais do
povo, alterando-se a redacção de dois e acrescentando-se um. Começamos pelo que foi
acrescentado:

Cortes de 1361 (Elvas)[1]:


Ao que dizem no nono Artigo, que foi mandado per ElRey nosso Padre em
cortes, e feita mercê aos Povos de sua terra, que enlegessem seus Juízes e Alga-
zis segundo seus foros, e que esto lhe não era guardado, porque erão pos-
tos em alguumas Villas, e Luguares dos nossos Senhorios Juízes por Nós com
grandes contias, avendo mester esses Concelhos esso, que lhes davão, pera
outros neguocios, e avendo em esses Luguares tam comvinhavees pera esso,
como esses, que lhe hy herão postos: e pediam-nos por merce, que lhes guar-
dássemos a dita Ordenaçam.
A este Artiguo Respondemos, que nossa vontade foy sempre, e he de lhes nom
irmos contra seus foros, e aquello que em esta rezam fezemos, foi porque o
ouvemos assy per nosso serviço, e prol da nossa terra. Pero querendo sobre
esto fazer merce a nosso Povo, Mandamos, que em cada huum *Luguar*[2]

1
Cortes Portuguesas, Reinado de D. Pedro I (1357-1367), Lisboa, 1986, pp. 30-78.
2
“Anno”, na fonte.

215
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

elejão Juízes e Alvazis de seu foro aquelles, que entenderem que guardarão
nosso Serviço e prol de nossa terra, segundo he de seu foro e costume, e fação
Direito e Justiça, de guisa que não ajamos rezão de tornar a ello pera lhe ser
estranhado. (E porque os Officios andavam sempre em alguumas pessoas, e
outros naturaees da terra, que os merecião, os nam aviam, e esto nom era nosso
Serviço, nem prol da nossa terra, porem temos por bem, e Mandamos, que
daqui emdiante aquelle, que for Juiz, Vereador, ou Procurador, ou Tesoureiro
dalguum Concelho huu anno, que desse dia, que sahir de cada huu dos ditos
Officios, a tres annos, nom possa aver em esse Concelho nenhuum dos ditos
Officios, como dito he: e por esto nom seja porem emfamado)[1].

[…capítulo das cortes de 1371 (Lisboa)…]

§ 4 – Os quaees Artiguos com as respostas a elles dadas vistos per Nós, Man-
damos que se guardem e cumprão assy como em elles he contheudo, e per os
ditos Reys ordenado, e estabelecido.
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 125]

24º Capitulo Geral do Povo:


Item ao que diziam no xxiiij.º Artigoo que os nossos Pobõos Reçebem agrauo
dos nosos Almoxarifes e ofiçiãaes dos nossos Almazeens em que dizimam por-
que acaeçe mujtas vezes que alghuus mercadores de fora parte tragem panos
e outras mercadorias pera vender e quando lhas ham de dizimar fecham
as portas desses logos em que dizimam sobre ssj por tal que lhjs nom entre
nenhuu ala a comprar essas cousas e compram nas elles pera ssj ou teem con-
sigo dentro seus amjgos que lhas compram e que ficam por esto scandalizados
os outros que per esto ssõem de viuer e os que as ham mester pera seus abonj-
mentos e nos perdiamos per ello parte da nossa dizima que poderiamos auer
Ca se segue mujtas vezes que por lhjs darem esses mercadores boom mercado
dessas cousas que lhis compram Reçebem delles a mor do que dizimam E que
fosse nossa merçee que lhis defendessemos que per ssj nem per outrem nom
comprassem nenhua dessas cousas dentro nos Almazeens e que nom fechas-
sem as portas sobre ssj e leixassem entrar aquelles que alo quisessem entrar.
A este Artigooo Respondemos que ia esto he defeso Aos Almoxarifes e ofi-
çiãees E mendamos que emquanto dezimarem nom entre outrem em no logo
hu dezimarem essas cousas Saluo os Almoxarifes e scriuaaes e os outros ofi-
çiãaes que hj deuem star e E (sic) os Senhores dos aueres que ham de ser dizi-
mados e outrem nom pera os comprar e depojs que Assj dizimarem abram
as portas e entom comprem aquelles que quiserem sem outr enbargo E s os
Almoxarifes e ofiçiãaes o contrairo fezerem nos lho stranharemos como no
fecto couber.
[Cortes Portuguesas, 1986, p. 43]

ElRey Dom Pedro em seu tempo fez Ley, perque ordenou, e mandou que os
Almuxarifes, e Escripvãaes das suas Alfandegas em quanto ouverem de dizi-
mar os panos, e as outras mercadarias, nom metam comsigo outrem, em quan-
to assy dizimarem, salvo os Officiaaes dessas Alfandegas, e seus donos das
mercadarias em quanto as dizimarem, e mais nom; nem consentam hy outros
mercadores alguuns pera averem de comprar, em quanto se os ditos pãnos, e
mercadarias assy dizimarem; e depois que forem dizimadas, entom abram as

1
Falta na fonte.

216
José Domingues

portas, e compre quem quizer livremente: e se o contrairo fezerem, estranha-


lo-á a esses Almuxarifes, e Escripvãaes como no feito couber
§ 1 – E Mandou mais, e deffendeo que os ditos Almuxarifes, e Escripvãaes,
e outros Officiaaes nom comprem pãnos, nem outras mercadarias nas ditas
Alfandegas, porque achou que pelas ditas compras se faziam enganos, e seus
direitos eram defraudados: e se o contrairo fezessem, que lho estranharia como
fosse sua mercee.
§ 2 – E Nós vimos a dita Ley, e declarando em aquella parte, em que deffendeo,
que os ditos Officiaaes nom comprem, &c. Mandamos que o que fezer o
contrairo, polla primeira vez pague em tresdobro o que assy comprar; a saber,
huã parte pera quem no acusar, e as duas pera Nós; e pella segunda o pague
anoveado; a saber, as tres partes pera quem o acusar, e as seis pera Nós; e aa
terceira seja sospenso do Officio, ou privado, segundo for Nossa mercee; e
quanto aos outros Capítulos[1], Mandamos que se cumprão, como em elles he
contheudo, por nos parecerem justos.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 50]

67º Capitulo Geral do Povo:


Item que diziam no lxvij.º Artigoo que acaeçe em alghuus logares do nosso
Senhorio que ssom agrauados per os nossos Almoxarifes porque se Alghuus
das nossas terras a nos ssom endiuidados e o nosso Almoxarife cobra as her-
dades que ham pera nos por essas diuidas couta as e faz dellas Regueengo e da
lhis priuillegios como aos nossos rreguengos antigos e perdem os Conçelhos
por esto as seruidoes que auyam em essas herdades quando heram dos seus
vezinhos E que fosse nossa merçee que Mandássemos que aquelles que em
tãaes herdades morassem leixassem vezinhar os Conçelhos em essas herdades
como Auezinhauam quando heram dos nossos deuedores.
A este Artigoo querendo nos fazer merçee Ao nosso Pobõo Mandamos que os
nossos Almoxarifes nom façam esto daqui adeante E esto se entenda nas her-
dades que nos cobrarmos e ouuermos por nossas diuidas Ca esto nom auemos
por herdades do nosso Regueengo e que husem em ellas como ante soijam d
husar quando heram de pessoas priuadas.
[Cortes Portuguesas, 1986, p. 65]

Achamos, que ElRey Dom Pedro em seu tempo fez Ley, per que hordenou, e
mandou, que se alguuãs Herdades fossem gaançadas, e cobradas per elle per
dividas, que lhe alguus devessem, os Almuxarifes as nom metessem com as
dos Regueengos; e mandou aas Justiças que lhes nom guardassem privillegios
de Reguengos, e vizinhassem com os Concelhos, usando em ellas de suas ser-
vidõoes, assy como usavam quando eram de seus visinhos, porque taaes Her-
dades nom avia ElRey por Herdades de seus Regueengos.
§ 1 – A qual Ley vista per Nós, Mandamos que se guarda, como em ella he
contheudo.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 46]

Das cortes de Lisboa, 1371, compilaram-se nove capítulos e foi alterada a redacção
de apenas um:

1
Não há outros capítulos, só este de 1361. Pelo que será legitimo questionar se não constariam outros capí-
tulos de cortes, que acabaram por ser preteridos (por imposição da comissão revisora?), sem que se tenha
feito o devido ajuste final.

217
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

Cortes de 1371 (Lisboa)[1]:


32º Capitulo Geral do Povo:
Ao que djzem aos xxx e ij arrtigos que per nosso padre foij outorgado em cortes
que os conçelhos pudesem fazer pousados aqueles que visem que eram pera o
seer presentes o noso almoxarife e escriuam dos logares E que os corregedores
que andam pellas comarcas quando acham alguus que assij som pousados
se nom teem nosas cartas nom os querem auer por pousados E que em esto
rreçebem agrauo
E pedjam nos que fosse nossa merçee de mandarmos que esso se nom fezesse
e que lhjs fose aguardado em ello o que lhj per nosso padre foy outorgado e os
costumes de cada huu logar que em tal rrazom ham
A este arrtigo Mandamos que se guarde o que per nos he Mandado em esta
rrazom ca ouuemos enformaçon que mhijtos eram pousados (per os Conçelhos)
que nom aujam hjdade nem outra rrazom auondosa pera o seer e perdjamos
os nosos direitos que aujamos d auer delles E os que queserem seer pousados
parescam per pesoa perante aqueles que am de ueer o noso dessenbargo se
nom forem de comarca alongada ou ouuerem tal necesedade que nom posam
hjr per dante elles E se virem que per aspeijto do corpo pareçe que pode auer
hjdade de Lxx anos que lhjs dem carta pera se perguntarem em na terra as
testemunhas que apresentar E sseiam pera esto chamados hj o noso almoxarife
e escriuam do logar e o procurador do conçelho pera poerem contradictas ou
contredade se a ouuerem E emvijem a enquiriçom que sobre todo for tomada
perante aqueles que lhj derom a carta pera enquerer E se acharem pelas
testemunhas que proua a hjdade de sateenta Anos ou outra rrazom auondosa
entom aia carta per que Seia pousado E sse per outra guisa forem pousados
daqui en deante mandamos que lhas nom guardem ca se esta Jugada com os
outros direitos do Reyno auemos d auer pera manteer os encargos del e nosa
onrra nom parece aguisado que o Aiamos de perder per engano que nos ssobr
elo queiram fazer E outrosy porque seeriam escusadas dos outros encargos do
conçelho a que ssom teudos.
[Cortes Portuguesas, 1990, pp. 29-30]

ElRey Dom Fernando hordenou em seu tempo, que os Concelhos, nem outro
alguu Fidalgo de qualquer estado, e condiçom, e preminencia que fossem, nom
apousentassem alguu por grande hidade que ouvesse, nem por outra alguã
cousa, ou rasom, que seer podesse; e se alguu quisesse seer apousentado per
hidade, parecesse per pessoa perante ElRey, ou perante os do seu Desembargo,
a que dello perteecia o conhecimento, nom avendo tal necessidade d’alguã
door, ou infirmidade, per que nom podesse pessoalmente hir; e se os
Desembargadores vissem per aspeito, e esguardamento de sua pessoa, que
poderia razoadamente aver hidade de setenta annos, que entom lhe dessem
Carta pêra se tirar inquiriçom de testemunhas na terra sobre a dita hidade, seendo
pera ello chamado Almuxarife, e Escripvão do lugar, e bem assy o Procurador
do Concelho pera veer como se tira a dita inquiriçom, e poer contraditas aas
testemunhas, ou fazer contrariedade, se a ouerem; e acabada a dita inquiriçom,
fosse levada aos ditos Desembargadores pera a veerem; e se per ella achassem
provada a dita hidade de setenta annos, dessen-lhe Carta de pousado, e d’outra
guisa nom lha dessem; e sendo dada em outra guisa, mandava, que lhe nom
fosse guardada, nem elle nom fosse avudo por apousentado.
§ 1 – A qual Ley vista per Nós, Mandamos que se cumpra, e guarde, como em
ella he contheudo, e ainda fomos certamente enformado, que assy foi sempre
usado ataa o presente.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 48]

1
Cortes Portuguesas, Reinado de D. Fernando I (1367-1383), vol. I (1367-1380), Lisboa, 1990, pp. 15-65.

218
José Domingues

Das cortes de Viseu, 1391, compilaram-se quatro capítulos e foi alterada a redacção
de dois para formar o título 57 do livro II, conforme segue:

Cortes de 1391 (Viseu)[1]:


8º Capitulo Geral do Povo:
Outro si nos disserão em outro artigo que alguns mercadores dos nossos Rey-
nos e de fora delles se vem a el com suas mercadorias e dizimam-nas nas nos-
sas alfandegas e almazéis recebem aluaras de saqua pera tirar do Reyno outra
tanta mercadoria e leuão os ditos aluaras alguns portos de mar destes Reynos
e não lhes querem goardar e leuão-lhes outra dizima asi que são duas dizimas
e que fosse nossa merce de mandarmos aos almoxarifes das Comarquas que
goardem os ditos aluaras como se sempre goardarão em tempo dos Reys que
ante nos forão e se o asi não fizerem que seião citados pera a nossa Corte a
mostrar rezão porque os não goardão.
E nos a este capitolo respondemos que nos praz de se goardarem hos aluaras
com tanto que seião escritos per nossos escriuaes e asinados per nossos almo-
xarifes e sellados dos seus sellos saluo em aquellas mercadorias de que se sem-
pre usou leuarem duas dizimas nos quaes queremos que se goarde o que se
soia goardar nos tempos dos nossos antecessores.
[Porto, AHM – Livro B]

10º Capitulo Geral do Povo:


Outro si nos disserão em outro artigo que alguns mercadores dos nossos Rey-
nos e de fora delles compram Vuas e fretão no Reyno do algraue(sic) e man-
dam-nas de hum porto pera o outro em barquas pera dentro dos Ryos pera
carregarem hi os nauios que tem nos ditos portos e quando asi carregam nas
barquas leuão-lhes dizima e outro si lhes leuão outra dizima depoys que são
carregados os ditos nauios, asi que leuão duas dizimas de huma cousa o que
nunqua foy em tempo dos Reys que ante nos forão e que ia sobre esto ouuerão
duas cartas que não pagassem maes que huma dizima e não se garda e que
fosse nossa merce de mandarmos que se goardasse em todo como se goardaua
em tempo dos outros Reys.
E nos a este capitolo respondemos que nos praz que se goarde como se goar-
dou em tempo delRey Dom Pedro nosso padre e de nosso avo
[Porto, AHM – Livro B]

El Rey Dom Joham Meu Avoo de gloriosa memoria em seu tempo fez Ley,
porque hordenou, e mandou, que se alguuns Mercadores destes Regnos, ou de
fora delles vierem a elles com suas mercadarias, e as dizimarem nas Alfande-
gas, ou Almazeens, e ouverem Alvaraaes de saca escriptos pellos Escripvãaes
das ditas Alfandegas, e Almazeens, e synados per seus Almuxarifes, e seella-
dos dos seus seellos, pera tirar do Regno outra tanta mercadaria, quanta a elle
trouxerom, que lhe sejam guardados os ditos Alvaraaes em qualquer porto de
mar dos ditos Regnos; e nom lhes levem outra dizima das ditas mercadarias
que assy levarem, salvo em aquellas mercadarias de que se sempre d’antigua-
mente custumou levar duas dizimas; porque em taaes mercadarias mandou,
que se guardasse a uzança, que se guardou nos tempos de seus antecessores.
1 – E porque alguuns Mercadores assy destes Regnos, como de fora delles,

1
Porto, AHM – Livro B, fls. 315v-318v.

219
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

compram vinhos, e os carregam no Regno do Algarve, e mandam-os d’huum


porto pera outro em barcas, levando-os ao longo dos Rios pera os carregarem
nos Navios, que teem nos ditos portos, taaes como estes, despois que huma
vez pagarem dizima dos ditos vinhos no porto, honde primeiramente forem
embarcados, ainda que despois vãao, e cheguem com elles nas ditas barcas
ao dito porto, honde estiverem os Navios, em que ham de seer carregados,
nom paguem delles outra dizima, segundo o que acerca desto antigamente foi
usado em tempo d’ElRey Dom Pedro seu Padre, e d’ElRey Dom Affonso seu
Avoo.
2 – As quaees Leyx vistas per Nós, Mandamos que se cumpram, com tanto que
se nom faça hy alguum engano, ou malicia, per que nossos direitos sejam min-
guados, ou defraudados; e sentindo os nossos Almuxarifes, e Officiaaes, que
dello teverem alguum carrego, que se faz hy alguma arte, ou conluio em pre-
juizo dos nossos direitos, façam-no-lo logo sabente per suas Cartas, e nós pre-
veeremos hy em tal guisa, que todo seja emmendado com direito, e justiça.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 57]

Das cortes de reunidas em Lisboa em 1427 compilaram-se cinco capítulos e foi


alterada a redacção de apenas um:

Cortes de 1427 (Lisboa)[1]:


31º Capitulo Geral do Povo:
Item senhor os uossos uasallos recebem grande agrauo por que ha gram tem-
po que nom ouuerom contyas E vos daaes(?) as luytossas a quem uossa merçee
he pedimosuos senhor por mercee que taaes luytossas nom (deeis mais poes?)
so as ajam seos filhos e sse filhos nom touerem que as ajam seos netos.
Diz elrey que sse morrer o uassallo e lhe ficar filho lidimo barom que o primei-
ro que assy ouuer aja a luytosa e sse hy nom ouuer filho que a aja o primeiro
neto que ouuer e esto seja enquanto lhes nom pagarem as contyas sse allguum
morrer que nom tenha tall filho ou neto que se de ssa luytossa e sse entenda
dos que morrerem daqui endeante.
[Corpus Codicum, vol. VI, Fasc. VI, doc. 18]

ElRey Dom Joham meu Avoo de gloriosa memoria em seu tempo fez Ley, per
que hordenou, que em quanto os Vassalos de seus Regnos ouvessem delle con-
thias, ouvesse a sua luitosa o seu filho barom primeiro lydemo, que per sua
morte ficasse; e nom avendo hy tal filho barom, que entom ha ouvesse o seu
primeiro neto barom lydemo, que per sua morte fosse achado; e nom avendo
hy tal filho, ou neto, como dito he, entom desse ElRey a luitosa a quem sua
mercee fosse; e que os ditos herdeiros do finado pagassem por luitosa o milhor
cavallo, ou mulla, ou milhor cota, que elle ouvesse ao tempo de sua morte; e
nom ficando per sua morte alguum cavallo, ou mulla, nem cota, em tal caso
os herdeiros nom fossem theudos a pagar luitosa, salvo outro tanto, quanto o
finado ouver d’aver por conthia d’ElRey huum anno.
A qual Ley vista per Nós, avemos-la por boa, e Mandamos que se cumpra, e
guarde, como em ella he contheudo.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 47]

1
Porto, AHM – Livro 3.º de Pergaminhos, doc. 18.

220
José Domingues

As últimas cortes a marcar presença na compilação são as de 1433, com cerca


de 155 capítulos conhecidos (mas há referência documental a 161), sendo alterada a
redacção de dois deles:

Cortes de 1433 (Leiria-Santarém)[1]:


2ºCapitulo Geral do Povo:
Outrossy Senhor uos pedimos por merçee que decrarees de quaees terras e
comarcas as apellaçooens aJam de hir aa uossa corte E quaaes aJam de hir
aa casa do çiuell que esta em lixboa porque muytas uezes sse aconteçe que o
appellante uay a huãs da (sic) casas E a apellaçom uay a outra E huum gaança
gallardom contra o outro.
Item detrimjna o dicto Senhor Rey que todo ffectos (sic) crimes uenham aa casa
da sua rreloçam (sic) E esso meesmo todollos ffectos ciuees que forem a çinquo
legoas daRedor de hu ell esteuer E que todollos ffectos crimes uaaom aa sua
casa de lixboa E mais os crimes da dicta çidade e todo seu termo E posto que
o dicto Senhor Rej este em a dicta cjdade que aa casa da dicta cidade uaaom
todollos ffectos çivees E uaam (…) cidade e seus termos E todollos outros cri-
mes uaam a casa da sua rrolaçom per a guisa suso dicta E mais os çiuees da
dicta cidade (…) E todollos (…) ffectos que perteençem aos (…) delrey (…)
[SOUSA, 1982, p. 104] (Ponte de Lima, AM – Perg. n.º19)

Jtem ao segundo capitollo detrimina o dicto Senhor Rey que todollos ffectos
crimes uenham aa sua rrolaçom E esso meesmo todollos ffectos ciuees que
forem a çinquo legoas de arredor de u ell esteuer E que todollos ffectos ciujis
uaaom a sua casa de ljxboa E mais os crimes da dicta cidade E de todo sseu ter-
mo E posto que o dicto Senhor Rey este em a dicta cidade que aa casa da dicta
cidade uaaom todollos ffectos çiujis e mais os crimes da dicta cidade E sseu ter-
mo E todollos outros ffectos crimes uaaom a casa da sua rrelaçom per a guisa
suso dicta E mais os ciuijs da dicta cidade E sseu termo E todollos agrauos (…)
que custuma E os ffectos que perteençem aos dirreitos delRej venham (…)
[SOUSA, 1982, p. 104] (Porto, AHM – Liv. 4º Perg.s)

El Rey meu senhor e Padre de gloriosa memoria, em começo de seu Real Esta-
do fez Cortes Geraes, em que estabeleceo, e ordenou por Ley Geral, que toda-
las apelaçoens dos feitos Civeis, que saíssem de qualquer parte de seus Regnos,
viessem aos seus Sobre-Juizes da sua Caza do Cível, que está assentada na Cida-
de de Lisboa, e elles as desembarguassem segundo o Regimento, que lhes pera
ello era dado: salvo as que saíssem do Luguar donde elle, ou sua Corte estivesse,
ou a cinquo legoas de redor; porque essas fossem desembarguadas per os Ouvi-
dores que andassem na sua Corte: e que as apelaçoens dos feitos Crimes viessem
de todo o Regno à sua Corte, e fossem hy desembarguadas pólos Ouvidores, que
com elle andassem, salvo as apelaçoens dos Crimes, que sahissem da Cidade de
Lisboa, e seu termo; porque essas mandou que fossem aos seus Ouvidores, que
estam na dita Caza do Civel, e per elles desembarguadas.
§ 1 – E Nós emaddendo, e declarando na dita Ley Mandamos, que quando
Nós formos na dita Cidade de Lisboa, os ditos Ouvidores, que em a dita nossa
Caza andarem, conheçam das apelaçoens dos feitos Crimes, que della sahirem,
em quanto em ella estivermos; e aquelles, que ao tempo da nossa partida não
forem finalmente, remetam-nos aos Ouvidores da dita Casa, que os desembar-

1
Armindo de SOUSA, “As cortes de Leiria-Santarém de 1433”, sep. Estudos Medievais, n.º2, Porto, 1982.

221
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

guem com seu direito. E as appellaçõoes dos feitos Cíveis, sem embarguo de
Nós estarmos em a dita Cidade, vam sempre geralmente aos ditos Sobre-Jui-
zes, que pera ello sam ordenados.
§ 2 – E com esta declaraçom Mandamos que se guarde a dita Ley, como em ella
he contheudo, e per Nós declarado e adido, como dito he.
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 90]

O muito poderoso, e de muito louvada e famosa memoria ElRey meo Senhor


e Padre, que Deos aja em sua Santa Gloria, fez cortes geeraaes na Villa de San-
tarem, em as quaees antre outras cousas estabeleceo e mandou per accordo
do seu Conselho, que todalas appellaçõoes de feitos crimes de seos Regnos
venham aos Ouvidores, que andam com elle em sua Corte, pera desembarga-
rem hy, e per elles em Mesa apartada dos outros Desembargadores do Civil; e
que elle deputaria, e assinaria huu Doutor, que com elles ste por seu Presiden-
te, com que as ajam de desembargar.
§ 1 – Pero mandou, que as appellaçõoes dos feitos crimes, que saíssem da Cida-
de de Lixboa, e seu termo, nom vãao aa dita sua Corte, mais sejam desembar-
gadas em sua Casa do Civil, que em ella sta asseentada. E todalas appellaçõoes
de todolos feitos civis de cada huma parte de seos Regnos vãao aa dita Casa do
Civil, e sejam desembargadas pelos Sobre-Juizes, que em ella estam pera ello
asseentados. E assim foi sempre usado, e guardado depois do dito accordo em
diante ataa o presente.
§ 2 – Porem mandamos que se o dito accordo, como dito he, e mais comprida-
mente he contheudo no Titulo, Que todalas appellaçõoes dos feitos civis venham aa
Casa do Civil, &c., que he no terceiro livro desta nossa reformaçom.
[Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 98]

74º Capitulo Geral do Povo:


Outrossy Senhor bem sabe a uossa merçee como toda vossa terra sse mantem
pello trabalho dos lauradores E como elles som mais sugigados que outros o
que nom deuja de seer E huã das maiores sugeiçooens que assy he fazem seus
palheiros pera seus gaados E uos E a Rainha e vossos ffilhos e uossos Jrmaaons
E os fidalgos e Senhores da terra lhe tomam quanta palha teem e lha leuam
ssem lhe mais pagar nhuã cousa pella quall rrazom lhe morrem seus gaados e
sse perdem praza aa uossa merçee tenperardes esto E em galardom de mujtos
trabalhos que ham que lhes nom tomem palha sem dinheirros os quaees lhe
peru os seJam decrarados.
Jtem Manda ElRej o dicto Senhor que em Lixboa e coJnbra e euora e santarem
quando hy esteuer a corte nom seja nhuum tam ousado que uaa por palha
ssem mandado de seu corregedor da corte E quem for sem seu rrecado pague
a palha que tomar por estado que da terra segundo ualla quando hy chegar o
dicto Senhor Rey e mais pague çem rreaes brancos e meetade pera quem no no
(sic) acusar E a meetade pera o danjficado E os que leuarem aluaraaes do corre-
gedor pague por cada Rede de palha a duas legoas de arredor çinquo brancos
E huum rreall ao escripuam que lhe fezer o aluara E mais nom E esta palha
mandamos assy pagar aos lauradores contanto que elles enpalheirem toda sua
palha E nom leixem perder çientemente.
[SOUSA, 1982, p. 128]

ElRey Dom Eduarte meu Senhor e Padre, da muito louvada e famosa memo-
ria, que Deos aja em sua Santa Gloria, em seu tempo fez ley em esta forma, que
se segue.

222
José Domingues

§ 1 – Mandamos, que se os nossos Moradores, e da Rainha minha molher,


e Ifantes meos Irmãaos filharem palha, donde nós formos ata duas legoas,
paguem por cada carrega cinquo reaes, e huu real do Alvara do Corregedor,
per que lha mandar dar; e se a filharem aalem das duas legoas, nom paguem
por ella nenhuma cousa: e esto se entenda em Lixboa, e em Santarem, e em
Coimbra, e em Estremos.
§ 2 – Outro sy mandamos, que os nossos Corregedores, Escripvãaes, e Por-
teiros, que com elles andarem, nom filhem palha, nem lenha nas Villas hon-
de forem, sem dinheiro, comprando-as aa vontade de seus donos, ou como
estimar a justiça d’hi. E se quizerem mandar por palha fora das Villas honde
seus donos, ou como estimar a justiça d’hi. E se quizerem mandar por palha
fora das Villas, hu forem, digam aos Juízes d’hy, que lhes dem huu Jurado,
que lhes faça dar essa palha por seos dinheiros nos Lugares, que per nós he
mandado que dem dinheiro, e nos outros Lugares, assy como sempre foi de
custume. E mandem talhar a lenha honde os Concelhos custumam de talhar,
e nom em outro lugar, sem grado, e consentimento de seos donos; e se o assy
nom quizerem fazer, que as Justiças lho façam correger; e se os Corregedores
embargarem aas Justiças a dita eixecuçom, façam-nollo sabente, pera lho nós
estranharmos em tal guisa, que outra vez nom sejam ousados de o fazer.
§ 3 – E vista per nós a dita Ley, mandamos que se cumpra e guarde, segundo
em ella he contheudo.
[Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 97]

Estes cotejos revelam, antes de mais, que o compilador, quando altera a redacção
do artigo geral, adopta a designação de lei, em vez da de capítulo geral, que mantém
quando faz transcrições integrais. Talvez pretenda induzir maior força vinculativa aos
preceitos com a designação de lei (promulgados pelo próprio monarca), mas a questão
está em tentar averiguar o que o terá induzido a essa diferenciação. Não sei se é mera
coincidência, mas, salvo os capítulos das cortes de 1433, todos os artigos alterados na
sua redacção original pertencem ao livro II. Mas isto não me ajuda em nada e, confes-
so, não encontro nenhuma justificação mais fundamentada que outra, por isso, não
arrisco nenhuma. Só uma questão: será que se trata de fases distintas de compilação e
punho compilador diferente?
Agora, se nos reportarmos à tabela sinóptica dos capítulos gerais de cortes que
foram compilados nas Afonsinas (publicado em apêndice a este trabalho: Anexo II),
conseguimos apurar alguns erros cometidos. O que é que podemos aprender com
esses erros? Antes de mais, são estes o erros relevantes (excluem-se os meros erros de
numeração) nas Afonsinas:

• O art.º 9º das cortes de Elvas (1361), no Livro V, Tít.º 34, § 6, não


corresponde a esse preceito do povo[1].
• O art.º 24º das cortes de Elvas (1361), no Livro V, Tít.º 27, § 1, não foi
requerido pelo povo, mas sim pelo clero.
• O art.º 18º das cortes de Elvas (1361), no Livro V, Tít.º 80, § 1, não foi
requerido pelo povo, mas pela nobreza[2].

1
Este artigo pode ser mais um da nobreza, destas cortes. Parece o seguimento do, bem conhecido, artigo 8º,
mas não encontro nele referência conclusiva, por isso aqui fica como mera hipótese.
2
Na colecção de Cortes Medievais, relativas a este reinado apenas se arrolaram os capítulos gerais 7º e 8º,
a partir das Afonsinas [Cortes Portuguesas, Reinado de D. Pedro I (1357-1367), pp. 28-29].

223
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

• Os art.os do clero das cortes de Lisboa (1404), no Livro II, Tít. 6 e no Livro
IV, Tít. 96, são atribuídos a cortes de Évora[1].
• O art.º 1º das cortes de Lisboa (1410), no Livro IV, Tít. 34, § 1, é atribuído
a cortes de Évora.
• Quatro art.os das cortes de Lisboa (1427), são atribuídos a cortes de Évora.
• O art.º 7º das cortes de Santarém (1418), no Livro II, Tít. 58, § 1, é atribuído
às cortes de D. Duarte de Santarém (1433).
• O art.º 16º das cortes de Santarém (1433), no livro IV, Tít. 85, § 7, é
atribuído a cortes de D. João I.

Em suma, os erros mais comuns são o de confundir a classe suplicante (povo,


clero e nobreza), o local de reunião (atribuindo, constantemente, a Évora cortes
reunidas em Lisboa) e o monarca (D. João I por D. Duarte e vice-versa). A confusão
da classe suplicante pode ser um mero erro ditado por sucessivas transcrições, mas a
repetida confusão entre Évora e Lisboa terá que ter outra justificação: a mais plausível,
que me surge neste momento, é a de má leitura de abreviaturas. Se pensarmos que
as abreviaturas Lxª = Lisboa e Evª = Évora, em manuscrito, são muito semelhantes,
talvez aí esteja o entendimento do desacerto. Também não deixa de ser curioso que
se troque a ordem de dois capítulos de duas Cortes (ambas reunidas em Santarém)
atribuindo a D. João I o de D. Duarte e vice-versa. Será que, à semelhança de Montalvo,
se seguiu o sistema de pastas por reinados? Acabando por se trocar a ordem de um
capítulo de Santarém de D. João I, que foi para a pasta de D. Duarte, e o capítulo de
Santarém de D. Duarte, que foi parar à pasta de D. João I? Ou seja, o local de reunião
é o mesmo (Santarém), só que um é do reinado de D. João I e o outro de D. Duarte e
foram colocados em pastas trocadas. Fica a dúvida.
Já atrás ficou referido e justificado que o primeiro terminus para os capítulos
gerais foi o das cortes de Santarém de 1331. O outro terminus é o das cortes de Leiria/
Santarém de 1433. Ou seja, são aproveitados capítulos de cortes desde 1331 até 1433.
De permeio foram preteridos muitos artigos gerais e cadernos de cortes inteiros, o
mais provável (dando cumprimento aos propósitos traçados no inicio) por estarem
revogados e desactualizados. No entanto, não se entende muito bem a exclusão das
outras cortes do reinado de D. Duarte e D. Afonso V (até 1446) – as mais actuais. E não
se pode dizer que não estavam em vigor porque, por exemplo, o capítulo das cortes
de 1439 que levantou a proibição do uso de armas obrigou ao comentário alargado
no título “das armas”[2]. Além de tudo, para as cortes de 1433, dos cinco capítulos
seleccionados, só se transcreve na íntegra o capítulo confundido com o reinado de
D. João I; a dois dos outros é-lhe alterada a redacção original e, mais curioso ainda,
os outros dois são aproveitados a partir de diplomas particulares. Concretizando, o
compilador aproveita o artigo 90º transcrevendo a carta remetida para registo, pelo
monarca, ao corregedor e chanceler-mor João Mendes[3] e o artigo 134º transcrevendo
a carta dirigida aos oficiais da cidade de Santarém[4]. É como se o limite imposto para

1
Margarida Garcez VENTURA, Igreja e Poder no Séc. XV: Dinastia de Avis e Liberdades Eclesiásticas (1383‑1450),
Colibri História 16, Edições Colibri, Lisboa, 1997, p. 119, n. 15: “O texto destes art.os é igual ao texto apresentado
nas Ord. Arriscamos, pois, a datação de cortes de Lisboa de 1404 para os primeiros dez art.os, assim como para os
outros dois, cujo treslado não teria sido pedido pelo cabido”.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Tít. 31. Este comentário alargado só pode ser do punho de Rui Fernandes,
uma vez que, a essa data (1439), João Mendes já era falecido. Mais uma achega para a controvérsia da
autoria do livro I.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. II; Tít. 39.
4
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 21.

224
José Domingues

aproveitar artigos gerais de cortes fosse o final do reinado de D. João I[1], ou então, o
início do de D. Duarte e as Cortes de 1433.
Mas, não sendo o povo a única força representada em cortes, é natural que também
os capítulos gerais do clero e nobreza tenham sido manejados e tidos em conta por Rui
Fernandes para a feitura da sua obra.
Antes de mais, no livro III das Afonsinas[2] e nas Ordenações de D. Duarte[3] constam
uns artigos, do tempo de D. Afonso IV, que me parecem ser artigos gerais dos fidalgos,
destas cortes de 1331 – mesmo que neles não haja qualquer referência a cortes, assim me
aconselha o facto de terem valor de lei e serem aproveitados nestas duas compilações
legislativas. Trata-se de um rol de artigos, publicados pelo tabelião geral, Lourenço
Martins, sem data em nenhuma das colectâneas. No entanto, entre as testemunhas,
referidas nas Ordenações de D. Duarte, aparece Lopo Fernandes Pacheco “merinho moor
del Rey”. Sabendo que em 1326 era meirinho-mor do reino Rui Martins[4] e entre 1328 e
1338 o foi Lopo Fernandes Pacheco[5], a serem capítulos de cortes, só podem ser destas
de Santarém de 1331.
Este rol de 10 artigos está incompleto em ambas as colectâneas, desconhecendo-
se o teor dos capítulos 1º, 3º, 9º e parte do 5º. Em nota final à edição das de D. Duarte,
Martim de Albuquerque notifica que “A pág. 341v, fim de caderno, ficou em branco
certamente por lapso do copista, que, ao começar o caderno seguinte, saltou, pelo menos, o fim
do Art.º 5.º e o começo do 6.º ou do 7.º”[6]. Este lapso, em parte, pode ser colmatado com o
texto das Afonsinas, onde constam os artigos 6º e 7º.
Nas cortes de Elvas (1361) foram também decididos capítulos gerais da nobreza. O
único testemunho que temos deste rol de capítulos é o das Ordenações Afonsinas, onde
constam apenas os capítulos 7º[7] e 8º[8], desconhecendo-se o paradeiro dos restantes.
Do reinado de D. João I foram agregados os capítulos da nobreza de duas
cortes, umas reunidas em Coimbra e outras em Évora. As primeiras[9] diz-se que “se
fezerom na Cidade de Coimbra no mez de Janeiro da Era de mil e quatrocentos e trinta e seis
annos”[10], que, segundo a contagem actual, corresponde ao ano de 1398. As outras[11]
diz-se apenas que foram reunidas na cidade de Évora, “passado longo tempo”. Perante

1
Efectivamente, este reinado é marcante no processo de compilação lusa. Também para os capítulos acor-
dados com a clerezia se salientam “especialmente antre ElRei Dom Joham nosso Avoo de gloriosa memoria, e a
Clerizia destes Regnos: os quaees artigos Mandamos todos aqui encorporar por nossa, e sua enformaçom; e se forem
achados alguus contrairos aos outros, Mandamos, que se guardem os que forom acordados em tempo do dito Rey Dom
Joham nosso Avoo, dos quaees artigos o theor he este, que se adiante segue” [Ordenações Afonsinas, Liv. II, Início].
Note-se também que, D. Afonso V ao ser confrontado com o problema de fazer valer as leis de amortização,
compiladas nas Ordenações Afonsinas, por lei de 20 de Setembro de 1447 exceptuou os imóveis adquiridos
até à morte de D. João I.
Será que tudo isto se pode relacionar com o início do processo de correcção e abreviamento das Ordenações,
pelo corregedor João Mendes, no início do reinado de D. Duarte? É provável que sim, sendo mais um indí-
cio da génese das Afonsinas por volta deste ano de 1433.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít.s 51 e 100.
3
Ordenações de D. Duarte, pp. 536-538.
4
Chancelaria D. Afonso IV, vol. I, doc. 42, p. 63 e doc. 35, pp. 56-57.
5
Mário Jorge BARROCA, Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422), vol. II, tomo 2, p. 1708.
6
Ordenações de D. Duarte, p. 703.
7
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 87, § 1.
8
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 94, § 3.
9
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 59, até § 35.
10
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 59, p. 339. Estão erradas as variantes da era de trinta e sete e de vinte e seis.
11
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 59, §§ 36-45.

225
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

esta lacónica asserção, João Pedro Ribeiro não hesita em colocar estes capítulos da
fidalguia nas cortes reunidas em 1408, no que é coadjuvado por Armindo de Sousa,
com a argumentação de que “não se diz se estes capítulos são de 1390-1391 ou de 1408;
apenas que foram requeridos em cortes de Évora. Como, porém, eles aparecem a seguir aos de
1398 e são precedidos da informação de que foram apresentados «passado longo tempo» depois
deles, é claro que são destas cortes de 1408 e não das outras de 1390-1391, as duas únicas que
D. João celebrou em Évora”[1].
A estar correcto o local de reunião (Évora) e a dita asserção, estes capítulos,
efectivamente, só poderiam ser do ano de 1408. Existe um documento que pode
consolidar esta ilação. Trata-se de uma carta dirigida aos juízes da cidade do Porto, sobre
o tempo que os corregedores se deviam demorar nos lugares da sua correição, conforme
“ElRey o mandou nas cortes que ora fez na dita cidade deuora”[2]. Esses limites temporais para
a estadia dos corregedores nos lugares da comarca são, em tudo, semelhantes aos da
resposta que o monarca deu a uma das queixas apresentadas pelos fidalgos[3].
A outra fonte interna preponderante é a das concórdias e concordatas, que tam-
bém já faziam parte dos livros de ordenações. Esses diplomas foram coligidos no livro
II das Afonsinas e deles trataremos a seu devido tempo.

Critérios Estruturantes
Cada livro foi estruturado por títulos não numerados, que foram divididos em
parágrafos, também não numerados[4]. Em cada título são acumuladas as leis que lhe
dizem respeito, com a respectiva declaração final (excepto o livro I, que, como é sabido,
segue uma estrutura diferenciada). A propósito das declarações finais, é singular a
referência a “per bem das uossas hordenaçoões e declaraçoões”, que os procuradores de
Silves fazem num capítulo às cortes de Lisboa de 1459[5]. Trata-se, forçosamente, de
mais uma menção às Afonsinas em cortes, com a peculiaridade de vir de um concelho
do extremo sul do reino, a atestar, mais uma vez, a sua não limitada divulgação.
Por seu turno, parece evidente que a maioria da legislação não compilada por
Fernandes estaria desactualizada, é o próprio compilador que o afirma no prólogo
da sua obra: “os vertuosos Reyx, que foram destes Regnos (…) stabelecerão, e
hordenarom muitas Leyx por bõo Regimento de seu Povoo, as quaees parecem seer muito
desusas”[6]. Por isso, um dos objectivos primordiais desta reforma seria o de purgar o
coevo ordenamento jurídico da imensidade de diplomas normativos em desuso. Este
critério já é preconizado na carta remetida de Bruges pelo infante D. Pedro ao seu
irmão, o infante D. Duarte: “E se entre elas fosem açhadas alguãs que já fosem reuogadas,
que as tyrem, pois que delas não hão dusar; e as boas ordenações se gardasem nas cousas sobre
que são feytas”[7].

1
SOUSA, Cortes Medievais, vol. I, p. 333.
2
Porto, AHM – Livro 3.º de Pergs., doc. 62.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 59, § 41. Armindo de Sousa, baseando-se no doc. 62 do liv.º 3º de Pergs.
do Arquivo Histórico do Porto, coloca este capítulo entre os gerais do povo [SOUSA, Cortes Medievais, vol.
II, p. 260]
4
João Pedro RIBEIRO, “Memoria sobre as Ordenaçoins”.
5
Maria de Fátima BOTÃO, Silves: A Capital de um Reino Medievo, Câmara Municipal de Silves, (1992), doc.
4, p. 137.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Prólogo, pp. 6-7.
7
Artur Moreira de SÁ, A “Carta de Bruges” do Infante D. Pedro, Coimbra, 1952. (sep. de Biblos, XXVIII, p. 18)

226
José Domingues

Nada de anormal que este seja o princípio norteador de toda a tarefa reformatória
de Fernandes. No entanto, não deixa de ser surpreendente que se tenham excluído
diplomas que, posteriormente, surgem nas sucedâneas Manuelinas. Por exemplo, a
ordenação de 4 de Maio de 1305, determinando que só o rei podia fazer cavaleiros,
não podendo gozar das honras de cavaleiros os que não fossem armados ou feitos
por autoridade régia, passou para as Ordenações Manuelinas[1] sem deixar rasto nas
Afonsinas.
A única não inclusão justificada na própria colectânea parece ser a regulamenta-
ção das pousadias e comedorias dos padroeiros, da autoria de Afonso III e comple-
mentada por D. Dinis.

“E quanto tange aa deffesa das pousadias, e comedorias que se fazem nas Igrejas,
e Moesteiros, e penas sobre ello postas, por quanto per lRey Dom Joham meu Avoo de
gloriosa memoria foi feita sobre ello tal Ley, a qual he encorporada no segundo Livro
da reformaçom das Hordenaçõoes [Liv. II, Tít. 17], mandamos que se guarde a
dita Ley segundo em ella he contheudo. E quanto achado for, que alguãs taaes
pousadias, ou comedorias fezerem sem justo titulo, ou razom pera esso fazerem,
mandamos que o paguem atrenado, a saber, três vezes quanto montar em esse
dampno, que assy fezerem, e seja pera o Moesteiro, ou Igreja, a que for feito. E por
quanto no degredo feito primeiramente pello dito Senhor Rey Dom Affonso, de
que faz meençom em a dita sua Ley, he contheudo, que os que taaes pousadias,
e comedorias fezerem sem justa razom e titulo, paguem trezentos marividis,
mandamos que a dita pena se pague, e seja pera nos, e que possamos della fazer
mercee a quem nos prouver.”[2]

Relativamente às fontes compiladas, como veremos de seguida, ao cotejar os


títulos de cada livro, há legislação compilada na íntegra e outra resumida ou apenas
sumariada.
A propósito da propensão hodierna de adjudicar a autoria dos livros II a V ao
corregedor João Mendes, já ficaram supramencionadas as remissões directas para o
livro I, que, de alguma forma, infirmam o alastrar dessa propensão. Da mesma forma
que, a remissão deste livro I para o livro IV[3], inviabiliza a anterior tendência de João
Mendes ter sido o autor do livro I e Rui Fernandes dos restantes. Mas não se esgota
aqui esta técnica legislativa, existem outras e diversas remissões ao longo de toda a
obra, nomeadamente:

Livro I:
• Liv. I, Tít. 11, início, p. 77 – Liv. I, Tít. 60.
“e fazer outras cousas, que som contheudas no Regimento feito das cousas,
que a seu officio perteencem”
• Liv. I, Tít. 21, p. 114 – Liv. I, Tít. 19.
“que perteence fazer ao Porteiro do Corregedor perante o dito Corregedor, e
suas sentenças, segundo he contheudo no titulo de seu Officio”

1
Ordenações Manuelinas, Liv. II, Tít. 38.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. V, tít. 45, § 14.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. I, tít. 23, § 34, p. 132.

227
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

• Liv. I, Tít. 23, § 34, p. 132 – Liv. IV, Tít. 28.


“da qual Hordenaçom deve levar o trelado quando for pera a Correiçom, a
qual he scripta no quarto Livro destas, que ora Mandamos compillar, em
tal Titulo”
• Liv. I, Tít. 27, início, p. 173 – Liv. I, Tít. 23.
“Os vereadores ham de seer feitos, segundo he contheudo no titulo dos
Corregedores das Comarcas”
• Liv. I, Tít. 28, § 7, p. 182 – Liv. I, Tít. 5, §§ 34-40.
“e aalem dello ajam as penas, que som contheudas no titulo de Corregedor
da Corte”
• Liv. I, Tít. 33, § 4, p. 210 – Liv. I, Tít. 12.
“segundo he contheudo no titulo em cima posto do Regimento, que pertence
ao Meirinho das cadeas”
• Liv. I, Tít. 36, § 8, p. 223 – Liv. I, Tít. 16.
“segundo he contheudo no titulo dos Escripvãaes do Desembarguo, e
Corregedor da Corte, e Ouvidores”
• Liv. I, Tít. 43, § 5, p. 238 – Liv. I, Tít. 19.
“aquello, que he hordenado no titulo do Porteiro do Corregedor da Corte”
• Liv. I, Tít. 47, § 10, p. 265 – Liv. I, Tít. 48.
“haja aquella pena, que per Nos he hordenada no titulo da repartiçom dos
Taballiãaes”
• Liv. I, Tít. 60, § 2, p. 347 – Liv. I, Tít. 11.
“e fazer as outras cousas, que som contheudas em o Regimento feito das
cousas, que a seu officio perteencem”

Livro II:
• Liv. II, Tít. 40, § 7, p. 298 – Liv. I, Tít. 5.
“segundo todo esto mais compridamente he contheudo no Regimento dado
ao Corregedor da Corte: o qual Mandamos em todo guardar, assy como em
elle he contheudo”
• Liv. II, Tít. 40, § 10, p. 299 – Liv. II, Tít. 63.
“Mandamos que se guarde acerca dello a Hordenaçom do Regno, em que he
declaradamente hordenado, como se aja de fazer, a qual foi feita per ElRey
Dom Fernando Nosso Tio”
• Liv. II, Tít. 54, § 1, p 331 – Liv. V, Tít 2.
“A qual Ley vista per Nós, achamos que era incerta, e escura; e por tanto
fezemos acerca della algumas declaraçõoes, segundo achamos per direito,
as quaees som contheudas no quinto Livro da Nossa Compillaçom no titulo
dos que cometem treiçom contra ElRey”

228
José Domingues

Livro III:
• Liv. III, Tít. 1, § 10, p. 6 – Liv. III, Tít 20.
“segundo he contheudo, e larguamente declarado no Titulo da Hordem do
Juizo”
• Liv. III, Tít. 15, § 23, p. 56 – Liv. V, Tít. 27, §§ 3-8.
“segundo he contheudo na Ordenação, que ElRey Dom Fernando fez sobre
os escummungados”
• Liv. III, Tít. 15, § 36, p. 59 – ?????
“segundo adiante dizemos no titulo dos que podem ser Vogados, e
Procuradores”
• Liv. III, Tít. 20, § 15, p. 82 – ?????
“assy como dissemos no titulo dos que podem ser Procuradores, ou não, ou
dizer contra a citação”
• Liv. III, Tít. 20, § 18, p. 83 – Liv. III, Tít. 27.
“segundo he contheudo na Ley feita sobre as revelias”
• Liv. III, Tít. 24, p. 89 – Liv. III, Tít. 64.
“segundo forma da Ordenação do Regno feita sobre as Escripturas
pubricas”
• Liv. III, Tít. 29, § 6, p. 107 – Liv. V.
“prazendo a Deos, falaremos dello no Quinto Livro”
• Liv. III, Tít. 42, § 3 – Liv. III, Tít. 27 e Tít. 48.
“nam emtendemos aqui mais tratar, porque já falado, e detreminado sobre
ello avemos no Titulo do Reo, que foi citado, e nam pareceo em Juizo, e no
Titulo do Reo, que se auzeeeou do Juizo depois da Lide comtestada”
• Liv. III, Tít. 43, § 4, p. 151 – Liv. III, Tít. 4.
“segundo jaa mais compridamente avemos dito no Titulo Dos que podem
trazer seus Comtentores à Corte por rezam de seus privilégios, &c”
• Liv. III, Tít. 48, p. 166 – Liv. III, Tít. 27.
“segundo mais cumpridamente he contheudo no Titulo, Do Reo, que foi
citado, e nom pareceo em Juizo”
• Liv. III, Tít. 66, § 4, p. 245 – Liv. V, Tít. 87.
“segundo mais compridamente diremos adiante no Titulo Dos Tormentos”
• Liv. III, Tít. 66, § 5, p. 247 – Liv. III, Tít. 35.
“segundo mais compridamente he contheudo no Titulo: Daquelle, que negua
o que ha rezam de saber, e depois lhe vem provado”
• Liv. III, Tít. 68, § 4, p. 253 – Liv. III, Tít. 45
“segundo já dito avemos no Titulo, Que o marido nom possa meter beens de
raiz o(sic) Juizo sem outorgua de sua molher”
• Liv. III, Tít. 69, § 2, p. 257 – Liv. III, Tít. 72.
“segundo adiante diremos mais compridamente no Titulo Das
Apellaçoens”

229
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

• Liv. III, Tít. 78, § 3, p. 302 – Liv. V.


“segundo ao diante mais compridamente Diremos no quinto Livro, honde
entendemos tratar dos Crimes”
• Liv. III, Tít. 79, § 1, p. 303 – Liv. III, Tít. 89
“segundo diremos no Titulo das Execuçoens”
• Liv. III, Tít. 79, § 1, p. 304 – ?????
“segundo mais larguamente dissemos no Titulo dos Embarguos, que se
aleguam á execuçam”
• Liv. III, Tít. 81, § 4, p. 317 – ?????
“segundo ja em cima Dicemos no Titulo Dos Embargos, que se aleguam a
execuçam”
• Liv. III, Tít. 81, § 5, p. 317 – Liv. V.
“segundo a Ordenaçam sobre ello feita, e compridamente trataremos no
quinto Livro, onde entendemos de falar dos Crimes”
• Liv. III, Tít. 86, p. 326 – Liv. III, Tít. 78.
“segundo que ja mais compridamente avemos dito no Titulo Quando a
Sentença per Direito he nenhuma &c.”
• Liv. III, Tít. 89, § 6, p. 336 – Liv. III, Tít. 55 e Tít. 79.
“poderá emformar-se bem por o que avemos dito e declarado no Titulo, Das
Excepçoens perentorias, e no Titulo, Quando poderám apelar do Executor da
Sentença”
• Liv. III, Tít. 91, § 7, p. 341 – Liv. III, Tít. 106.
“segundo mais compridamente diremos ao diante no Titulo Das
Arremataçoens”
• Liv. III, Tít. 93, § 2, p. 345 – Liv. III, Tít. 104.
“segundo mais compridamente diremos no Titulo, Que nam façam execuçam
em mais beens &c.”
• Liv. III, Tít. 93, § 5, p. 346 – Liv. III, Tít. 106.
“segundo diremos compridamente no Titulo, Das Remataçoens”
• Liv. III, Tít. 95, § 14, p. 361 – Liv. I, Tít. 35 e Tít. 42.
“assy como per Nós he ordenado no primeiro Livro no Titulo, Dos
Tabaliaens, e Escripvaens, do que hão de levar de seu solairo, e no Titulo,
Do que hão de levar os Tabaliaens, e Escripvaens, e Enqueredores por seu
trabalho, quando forem fora do Luguar”
• Liv. III, Tít. 95, § 14, p. 361 – Liv. III, Tít. 64.
“porque de hy a cima requere-se necessariamente Escriptura pubrica,
segundo a Hordenação do Regno feita em tal caso”
• Liv. III, Tít. 104, § 2, p. 381 – Liv. III, Tít. 93.
“e se guarde o que de suso avemos ordenado no Titulo, Como primeiro se ha
de fazer execuçam nos beens movees que nos de raiz”
• Liv. III, Tít. 105, p. 382 – Liv. III, Tít. 55.
“segundo mais compridamente avemos dito no Titulo, Das Excepções
perentorias”

230
José Domingues

• Liv. III, Tít. 106, § 6, p. 388 – Liv. III, Tít. 89.


“segundo mais compridamente he contheudo no Titulo, Das Execuçoens,
que se fazem per as Sentenças”
• Liv. III, Tít. 108, § 6, p. 392 – Liv. III, Tít. 65 e 64.
“segundo mais compridamente he contheudo nas Ordenaçoens sobre ello
feitas, a saber, no Titulo, Da Fee, que se deve dar aos Estormentos publicos,
e no Titulo, Das Provas, que se devem fazer per Escripturas publicas”
• Liv. III, Tít. 109, § 3, p. 395 – Liv. III, Tít. 72.
“segundo mais compridamente he contheudo no Titulo, Das Apelaçoens”
• Liv. III, Tít. 116, § 3, p. 422 – Liv. III, Tít. 15.
“segundo ja mais compridamente avemos dito, e declarado no Titulo, Em
que casos os Cleriguos devem ser citados para a Corte, e hy responder”
• Liv. III, Tít. 117, § 2, p. 424 – Liv. III, Tít. 51.
“segundo avemos dito no Titulo, Que o Cavalleiro, ou Fidalguo nom precure,
nem vogue por outrem em Juizo”
• Liv. III, Tít. 128, § 6, p. 463 – Liv. ?????.
“Mandamos que se guarde aquello, que ja avemos detreminado e declarado
no Titulo, Dos Procuradores”

Livro IV:
• Liv. IV, Tít. 2, § 19, p. 43 – Liv. IV, Tít. 4.
“mandamos que se guarde a nossa Hordenaçom sobre esto declaradamente
feita”
• Liv. IV, Tít. 9, § 4, p. 70 – Liv. IV, Tít. 73.
“segundo mais compridamente he contheudo no Titulo dos Alugueres das
casas”
• Liv. IV, Tít. 11, § 3, p. 74 – Liv. III, Tít. 46.
“segundo he contheudo em outra Ley, que he no Livro Terceiro no Titulo,
Como a molher pode demandar a raiz, que o marido vendeo”
• Liv. IV, Tít. 13, § 4, p. 80 – Liv. V, Tít. 20.
“E per esto, que dito avemos, nom tolhemos as penas, que pelas Hordenaçõoes
do Regno som postas aos barregueiros casados, e bem assy ás suas barregãas;
porque queremos que esta Ley nom embargante as outras fiquem em sua
força e virtude, assy como em ellas he contheudo”
• Liv. IV, Tít. 14, § 5, p. 82 – Liv. IV, Tít. 68.
“segundo diremos no Titulo, Das Doaçõoes, que ham de seer insinuadas e
confirmadas per ElRey”
• Liv. IV, Tít. 18, § 10, p. 93 – Liv. IV, Tít. 54.
“segundo que mais compridamente diremos no Titulo, que se começa, Da
Fiadoria de muitos”
• Liv. IV, Tít. 40, § 1, p. 157 – Liv. IV, Tít. 19.
“segundo que dito avemos no Titulo, Das Usuras”

231
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

• Liv. IV, Tít. 57, § 7, p. 206 – Liv.III, Tít. 64.


“E per esta lei d’ElRei Dom Donis, nem per esta Declaraçom Nossa nom
entendemos ennovar cousa alguma acerca da Hordenaçom d’ElRei Dom
Fernando, que falla das Escripturas pruvicas; a qual Hordenaçom d’ElRey
Dom Fernando ha lugar quando o contrauto nom he confessado em Juizo”
• Liv. IV, Tít. 62, § 4, p. 220 – Liv. IV, Tít. 19.
“salvo soomente naquelles casos, que per Nós som declarados no Titulo,
Das Usuras”
• Liv. IV, Tít. 67, § 2, p. 236 – Liv. III, Tít. 121.
“segundo mais compridamente avemos dito no Titulo, Dos que dam lugar
aos beens”
• Liv. IV, Tít. 85, § 1, p. 311 – Liv. IV, Tít. 84
“segundo já dissemos que se deve fazer no tetor lidimo no dito Titulo do
Tetor, e Curador lidimo &c.”
• Liv. IV, Tít. 86, § 7, p. 320 – Liv. IV, Tít. 84.
“segundo compridamente avemos dito no Titulo Do Tetor, e Curador lidimo”
• Liv. IV, Tít. 86, § 13, p. 323 – Liv. IV, Tít. 85.
“segundo mais compridamente avemos dito no Titulo Do Tetor, e Curador
dativo, &c.”
• Liv. IV, Tít. 90, § 5, p. 339 – Liv. I, Tít. 39.
“que se guarde o que já avemos sobre ello hordenado no Titulo, Do que ham
de levar os Tabelliaaens, e Escripvaaens das buscas dos feitos, e escripturas,
em o livro primeiro”
• Liv. IV, Tít. 96, § 2, p. 356 – Liv. II.
“E o outro jaz no segundo livro, honde som postos os artigos concordados
antre ElRey Dom Joham, e a clerizia”
• Liv. IV, Tít. 106, § 26, p. 392 – Liv. IV, Tít. 45.
“segundo mais compridamente avemos dito no Titulo Do que quer desfazer
alguma venda, por seer enganado aalem da meetade do justo preço, o qual
he neste Livro”
• Liv. IV, Tít. 106, § 27, p. 393 – Liv. III, Tít. 114.
“em tal caso mandamos que se guarde o que avemos dito e determinado no
Titulo Dos Alvidradores, que he no terceiro Livro”

Livro V:
• Liv. V, Tít. 2, § 35, p. 20 – Liv. V, Tít 1.
“que se guarde o que avemos dito no Titulo Dos Ereges, que he no Titulo
precedente”.
• Liv. V, Tít. 5, § 9, p. 28 – Liv. IV, Tít. 2.
“como no Titulo, Dos que fazem treiçom, honde sobre ello avemos fallado
mais largamente”

232
José Domingues

• Liv. V, Tít. 9, § 3, p. 39 – Liv. V, Tít. 10.


“segundo dito avemos no Capitulo proximo precedente”
• Liv. V, Tít. 13, § 3, p. 47 – Liv. IV, Tít. 99.
“que aja a pena contheuda na Ley d’ElRey Dom Donis, feita sobre tal caso,
segundo em ella he contheudo, com a declaraçom que sobre ella avemos
feita pola molher, que passa de vinte e cinco annos”
• Liv. V, Tít. 19, § 18, p. 66 – Liv. I, Tít. 62, §§ 9-10.
“segundo he conthéudo no Titulo Dos Alquaides”
• Liv. V, Tít. 27, § 15, p. 107 – Liv. IV, Tít. 65.
“E per esta Ley nom tolhemos a pena, que he posta per ElRey dom Donis
em sua Ley aos forçadores, a qual he encorporada no Titulo, Dos que
forçosamente filhão posse da cousa, que outrem possue, que he no Quarto Livro da
nossa reformaçom”
• Liv. V, Tít. 30, § 17, p. 118 – Liv. V, Tít. 58.
“E vistas per nós as ditas Leyx, Mandamos que se guardem, segundo em
ellas he contheudo, e per nós mais compridamente he declarado no Titulo,
Em que caso devem prender o malfeitor, e poer contra elle feito polla Justiça,
no qual Titulo he contheuda a Ley d’ElRey Dom Joham meu Avoo feita
compridamente sobre este caso”
• Liv. V, Tít. 34, § 11, p. 137 – Liv. V, Tít. 58.
“mandamos que se guarde o que he contheudo na Ley d’ElRey Dom Joham
meu Avoo, que Deos aja em sua santa Gloria; a qual he encorporada no
Titulo, Em que caso devem prender o malfeitor, &c.”
• Liv. V, Tít. 34, § 12, p. 137 – Liv. II, Tít. 60.
“tirem-se devassas nos casos contheudos na Ley d’ElRey Dom Fernando,
feita sobre as malfeitorias”
• Liv. V, Tít. 42, § 5, p. 154 – Liv. II.
“E quanto he aos que acham os averes, mandamos, que se guarde o que he
contheudo no segundo Livro destas Hordenaçõoes”
• Liv. V, Tít. 45, § 14, p. 163 – Liv. II, Tít. 17.
“E quanto tange aa deffesa das pousadias, e comedorias, que se fazem
nas Igrejas, e Moesteiros, e penas sobre ello postas, por quanto per ElRey
Dom Joham meu Avoo de gloriosa memoria foi feita sobre ello tal Ley, a
qual he encorporada no segundo Livro da reformaçom das Hordenaçõoes,
mandamos que se guarde a dita Ley segundo em ella he contheudo”
• Liv. V, Tít. 46, § 4, p. 166 – Liv. I, Tít. 67.
“segundo largamente he contheudo no Titulo, Do Monteiro Moor”
• Liv. V, Tít. 52, § 5, p. 185 – Liv. V, Tít. 58.
“mandamos que se guarde o que he contheudo no titulo, Em que caso devem
prender o malfeitor, e poer contra elle feito pela Justiça”
• Liv. V, Tít. 54, § 7, p. 200 – Liv. II, Tít. 113 e Liv. III, Tít. 107.
“E se for servo cativo, mandamos que se guarde a Ley d’ElRey meu Senhor
e Padre, assy como avemos dito no segundo Livro, honde trautamos dos

233
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

Mouros que fogem. E se for alguma outra animalia bruta, que seja achada
de vento, mandamos que se guarde a Ley d’ElRey Dom Affonso o Quarto,
segundo o que avemos dito no Livro terveiro”
• Liv. V, Tít. 55, § 1, p. 201 – Liv. II
“segundo avemos fallado no segundo Livro no trautado dos Direitos Reaes”
• Liv. V, Tít. 56, § 12, p. 208 – Liv. I, Tít. 5.
“segundo mais compridamente he contheudo no Regimento, que perteence
ao Officio do Corregedor da Corte”
• Liv. V, Tít. 58, § 23, p. 224 – Liv. V, Tít. 59.
“segundo mais compridamente avemos dito e declarado no Titulo, Das
Injurias, que ham de seer desenbargadas pelos Juizes das Terras, e pelos
Vereadores”
• Liv. V, Tít. 59, § 17, p. 235 – Liv. V, Tít. 58.
“Ley d’ElRey Dom Joham meu Avoo, sobre tal caso feita, que he encorporada
em esta nossa reformaçom, no titulo, Em que caso devem prender o malfeitor,
e poer contra elle feito pela Justiça, &c.”
• Liv. V, Tít. 59, §18, p. 236 – Liv. V, Tít. 98 e Liv. III, Tít. 90.
“e per Nós confirmado no Titulo, Que todallas appellaçooens dos feitos
crimes de todod o Regno venham aos Ouvidores, &c., que he em este Livro;
e outro sy no Titulo, Que todallas appellaçooens dos feitos Civis vãao aa
Casa do Civil, que he no terceiro Livro desta nossa reformaçom”
• Liv. V, Tít. 69, § 3, p. 278 – Liv. V, Tít. 36.
“segundo ja mais conpridamente avemos dito no Titulo, Que em feito de
força nom se guarde hordem, nem figura de Juizo”
• Liv. V, Tít. 75, § 2, p. 288 – Liv. V, Tít. 71.
“segundo já avemos dito no Titulo, Que nos arroidos nom chamem outro
apellido, &c.”
• Liv. V, Tít. 76, § 3, p. 291 – Liv. I, Tít. 23 e Liv. V, Tít. 100.
“que se guarde o que avemos estabelicido no Titulo, Dos Corregedores das
Comarca, e no Titulo, Dos que encobrem os malfeitores, segundo em elles
he contheudo”
• Liv. V, Tít. 79, § 2, p. 295 – Liv. II, Tít. 24.
“segundo mais compridamente avemos dito e declarado no Titulo Dos
Direitos Reaaes, que he no segundo Livro da nossa reformaçom”
• Liv. V, Tít. 82, § 1, p. 299 – Liv. V, Tít. 87.
“segundo mais compridamente avemos dito no Titulo, Dos Tormentos, e em
que caso devem seer dados aos Fidalgos, e Cavalleiros”
• Liv. V, Tít. 88, § 2, p. 331 – Liv. I, Tít. 5.
“e quanto he ao Corregedor da Corte, mandamos que acerca deste passo se
guarde o que he conthéudo no seu Regimento, que lhe per nos he dado”
• Liv. V, Tít. 90, § 4, p. 336 – Liv. V, Tít. 93.
“E quanto tange aos presos, que per sy sem outra forçosa ajuda fogirem, não
falamos aqui, porque entendemos falar delles em outro Titulo apartado”

234
José Domingues

• Liv. V, Tít. 91, § 3, p. 338 – Liv.V, Tít. 31.


“aja aquella pena, que he contheuda na Ley d’ElRey Dom Affonso o Quarto,
a qual he encorporada no Titulo, Dos Officiaaes d’ElRey, que tomam serviço
a algum, e dos que defamam delles, que o filham”
• Liv. V, Tít. 98, § 2, p. 353 – Liv. III, Tít. 90.
“Porem mandamos que se guarde o dito accordo, como dito he, e mais
compridamente he contheudo no Titulo, Que todalas appellaçõoes dos
feitos civis venham aa Casa do Civil, &c., que he no terceiro livro desta
nossa reformaçom”
• Liv. V, Tít. 99, § 5, p. 355 – Liv. V, Tít. 1.
“em tal caso mandamos que se guarde o que he contheudo no Titulo, Dos
Erejes”
• Liv. V, Tít. 100,§ 6, p. 358 – Liv. I, Tít. 23, § 61.
“segundo em todo he contheudo, e per nos he adido e declarado no Titulo,
Dos Corregedores das Comarcas, e cousas, que a seos Officios perteencem,
que he no primeiro Livro da reformaçom das Hordenaçõoes”
• Liv. V, Tít. 101, § 2, p. 360 – Liv. V, Tít. 53.
“segundo he contheudo no Titulo, Que nom faça nenhuum desafiaçom, nem
acooimamento”
• Liv. V, Tít. 108, § 4, p. 369 – Liv. III, Tít. 121 e Liv. V, Tít. 94 e 89
“segundo em todo he contheudo, e per nos he declarado no Titulo, Dos
que dam lugar aos beens, que he no terceiro Livro das reformaçõoes, e em
este Livro no Titulo, Em que caso os Cavalleiros, e Fidalgos, e similhantes
pessoas devem seer prezos, e em no Titulo, Dos Bulrrõoes, e Inliçadores”
• Liv. V, Tít. 118, § 10, p. 390 – Liv. II, Tít. 8.
“segundo mais compridamente he contheudo no Titulo, Dos que se coutam
aa Igreja, em que casos gouvirom da imunidade della, e em quaaes nom; que
he no segundo livro da dita reformaçom”

Quanto à tipologia, tanto se remete para títulos de qualquer um dos livros


(geralmente, identificando o livro em causa), como para títulos do mesmo livro. A
remissão, maioritariamente, faz-se transcrevendo o cabeçalho do título para que se
remete ou, pelo menos, parte dele. No entanto, o compilador também opta – embora
de forma menos assídua – por remeter para uma determinada lei ou ordenação do
reino, sem especificar livro ou título em que consta, ou então remete, genericamente,
para um determinado livro, sem identificar o título.
A remissão para os títulos dos alcaides-mores (tít. 62) e do Monteiro-mor (tít. 67),
no livro I, vem confirmar que o regimento da guerra fez sempre parte desta colectânea,
como atrás ficou consignado.
Não deixa de ser curioso que no livro III se remeta, várias vezes, para dois títulos
que me não foi possível identificar: o título dos procuradores e advogados[1]; e o título dos
embarguos que se aleguam à execuçam[2]. O título dos procuradores e advogados pode

1
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 15, § 36, p. 59 / Tít. 20, § 15, p. 82 / Tít. 128, § 6, p. 463.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 79, § 2, p. 304 / Tít. 81, § 4, p. 317.

235
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

ter sido, posteriormente a 1446, mandado retirar da colectânea. Repare-se que, em


capítulo das cortes feitas em Lisboa no ano de 1459, solicita-se que os procuradores
não tratem das causas para que não foram contratados pelas partes e, caso perdessem
o feito, fossem obrigados a pagar à parte, “como na Ordenaçam antigua he contheudo”. A
resposta categórica do monarca é que “tal Ordenaçam como foy feyta logo leixou ser huzada
por entenderem que se nam podia em nenhum modo manteer”[1]. Do que não há dúvida é que
o título “Dos Procuradores...” aparece no liv. I das Manuelinas de 1512 (tít. 31).
Neste âmbito ainda, Anastácio de Figueiredo deixou bem claro que o título
3 do livro IV apenas existe no códice da Torre do Tombo, faltando nos outros dois
(Porto e Santarém)[2]; João Pedro Ribeiro anotou que o título 116 do livro V faltava no
códice de Santarém[3]. O impressor setecentista não registou este género de variantes
nos diferentes códices – além disso, o próprio confessa ter corregido algumas partes
com o recurso ao Livro das Leis e Posturas – que podem ser de primordial importância,
nomeadamente, para o conhecimento das adições posteriores e até apuramento das
datas de cópia de cada colecção. A propósito, no final do título 114 do livro V consta
uma adição (1450, Novembro, 20), impressa a partir do manuscrito do Porto, mas que
falta no manuscrito de Santarém:

“8 – E despois desta Hordenaçom acabada fez ElRey esta adiçom.


9 – Hordenou ElRey Nosso Senhor, que em quanto em esta Ley se contem, que
que os degredos da terra sejam mudados pera Copta (sic) por meio tempo, e os
açoutes sejam mudados em degredo de dous annos, e isso meesmo as dividas dos
que forem presos sejam pagadas pelo soldo de Cepta, e os presos lá levados, &c.
visto em como ora nam he necessario la enviar mais gente da que he ordenada,
o que era ao tempo da feitura da dita Ley, que esta Ley se nom guarde por ora.
Escripta a vinte dias de Novembro de mil quatrocentos e cincoenta.”[4]

Voltando à técnica das remissões, não é exaustiva e, disseminadas pelos cinco


livros, assomam repetições sem qualquer remitência que as relacione entre si. Por
exemplo, o título das barregãs dos clérigos repete-se no livro II (tít. 22) e no livro V
(tít. 19); a lei dos sacadores, do punho de D. Afonso IV, repete-se no livro II (tít. 53) e
no livro III (tít. 95);a lei de D. João I, no título 26 do livro II, se repete no título 44 do
livro III; a lei de D. Dinis, no título 33 do livro II, é repetida no título 94 do livro V; e
a declaração de D. Duarte, sobre a saca do pão e gados que se levam para fora do rei-
no, no título 36 deste livro II, é repetida no título 48 do livro V, onde é antecedida de
uma lei de D. Afonso III; a lei da mudança da Era de César para a do Nascimento de
Cristo, de 14 de Agosto de 1422, repete-se no livro IV (tít. 66 e tít. 1, § 58). A seu tem-
po se analisarão algumas dessas repetições, mas outras, a título exemplificativo, ficam
registadas de seguida:
Uma lei de D. Dinis, datada de 28 de Janeiro de 1283, sobre os porteiros, repete-se
no livro II (tít. 33) e no liv. III (tít. 94). O cotejo desta lei com os registos do Livro das Leis

1
ARAÚJO, Portugal e Castela (1431-1475) Ritmos de uma Paz Vigilante, doc. 46, p. 148
2
FIGUEIREDO, Synopsis Chronologica, p. 75.
3
Coimbra, BGU – Ms. 693. Este título – Que nom consentam aos Moradores em Castella, que venham em assuadas
a estes Regnos pera mal fazer – é composto por uma lei de D. Duarte (em Óbidos, a 15 de Setembro de 1434),
dirigida ao regedor da justiça de Entre-Douro-e-Minho, Aires Gomes da Silva, e ao corregedor de Trás-os-
Montes. Será que este título foi, propositadamente, excluído do códice de Santarém, sede da Estremadura,
por esta comarca não limitar com Castela?
4
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 114, p. 397.

236
José Domingues

e Posturas e das Ordenações de D. Duarte será feito, à frente, na parte reservada ao livro
II. Por isso, aqui se transcreve apenas a declaração final do compilador, que consta no
livro III e falta de todo no livro II:

(Liv. II) XXXIII – Que nom tenha nenhuum Porteiro,


senom quem ouver Authoridade d’ElRey pera ello.
(Liv. III) LXXXXIIII – Que não dê ElRey Porteiros especiaes,
pera fazerem execuçoens honde ouver Mordomos, senam a certas pessoas.

[2- A qual Ley vista per Nós, declarando acerca della Dizemos, que em todos
aquelles Luguares, honde antiguamente ouve, e ha Mordomos, nom haja hy
outros Porteiros pera fazerem execuçoens, sejam esses Mordomos, que pera ello
sam ordenados, salvo aquelles Porteiros que per nossas Cartas forem dados aas
pessoas na dita Ley contheudas; porque taees como estes poderão fazer execu-
çoens per as Sentenças desses, a que per nossas Cartas forem outorguados, nom
embarguante que em essesLuguares aja Mordomos: e honde Mordomos nom
ouver, os Porteiros das Cidades, Villas, e Luguares possam fazer as ditas execu-
çoens, assy como as fazem esses Mordomos nos Luguares honde os ha, e como
esses Porteiros d’antiguamente costumarão fazer.
3 – E com esta declaraçam Mandamos que se guarde a dita Ley, segundo em ella
he contheudo, e per Nós declarado como dito he][1]

A lei de D. Dinis, de 11 de Agosto de 1302, que estabelece as penas para os que


casam ou dormem com parenta e mancebas de seus senhores, sem licença destes é
repetida em dois títulos muito próximos do livro V. Enquanto que o título 11 é redigi-
do na terceira pessoa, o título 14 é redigido na primeira pessoa.

(Liv. V) XI – Do que casa, ou dorme com parenta, ou manceba daquelle, com que vive.
(Liv. V) XIIII – Do Homem, que casa com duas molheres, ou com criada daquelle, com que vive.

ElRey Dom Donis estabelleceo (per conselho de sua corte)[2], e pôs por Ley pera
todo o sempre, [que todo homem des aqui em diante, seendo casado ou recebudo
com huã molheer, e nom seendo ante della partido per juizo comprido da
Igreja, se com outra casar, ou se a receber por molher, que moira porem: e que
todo o dapno, que as molheres receberem, e o aver delle, que dellas levar sem
razom, correga-se pelo aver delle, como for direito: e que esta meesma pena aja
toda molher, que dous maridos receber, ou com elles casar. E esto se entenda
tamem aos Fidalgos, como aos villãaos][3] que todo homem, que com Senhor
viver, quer por soldada, quer a bem fazer, seendo seu governado, ou andando
por seu, e com sua filha, Irmãa, Prima com Irmãa, segunda Irmãa, ou com sua
Madre, ou com criada de seu Senhor, ou de sua molher, ou que tenha em sua casa,
casar sem mandado do Senhor, com que viver, que moira porem. E esta pena aja
aquel, que jouver com cada huma das sobreditas, ainda que com ella nom case. E
(mandamos, que)[4] esta (meesma)[5] pena aja aquelle, que jouver com manceba,
que viver com seu Senhor por soldada. E esto se entenda *assy*[6] nos Fidalgos,

1
Declaração no Liv. III, Tít. 94.
2
Falta no tít. 14.
3
Falta no tít. 11.
4
Falta no tít. 14.
5
Falta no tít. 14.
6
“tambem”, no tít. 14.

237
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

como nos Villãaos. Dante em Lisboa onze dias d’Agosto. Era de mil e trezentos e
quarenta annos.

Outra conjuntura em que a uma lei se repete no mesmo livro é a da mudança da


Era de César para o ano do Nascimento de Jesus Cristo, no livro IV:

(Liv. IV) LXVI – Da mudança,


que se fez da Era de Cesar aa do Nacimento de Nosso Senhor Jesu Christo.
(Liv. IV) I, § 58 – Da Hordenaçom, e declaraçom, que ElRey Dom Joham fez sobre os foros,
e arrendamentos, que forom feitos per moeda antigua..

ElRey Dom Joham da famosa e excellente memoria em seu tempo fez Ley em esta
forma, que se segue.[1]

1 – [Outro sy][2] Manda ElRey a todolos Taballiãaes e Escripvãaes (do seu Regno
e Senhorio,)[3] que daqui em diante em todolos (contrautos e)[4] escripturas, que
fezerem, ponham *Anno*[5] do Nacimento de Nosso Senhor Jesu Christo, [de mil
e quatrocentos e vinte e dous annos][6] (assi como ante soyam a poer Era de
Cesar: e esto lhes manda que façam assi,)[7] sob pena de privaçom dos Officios.
2 – *Poblicado foi assi o dito Mandado do dito Senhor*[8] na Cidade de Lixboa
per mim Philipe Affonso (Loguo-Teente do Escrivam da Chancellaria)[9] nos
Paaços d’ElRey perante Diego Affonso (do Pãao/Paaço,)[10] Ouvidor na sua Corte,
que sia em audiencia, [as ditas declaraçõoes, e Hordenaçom suso escripta][11] aos
vinte e dous dias *d’Agosto Anno do Nacimento de Nosso Senhor Jesu Christo
de mil e quatrocentos vinte e dous annos*[12].
3 – E vista per nós a dita Ley, mandamos que se guarde, como em ella he contheudo.

O compilador dispensa um título especifico a este decreto da mudança da conta-


gem dos anos. Por isso, parece que a repetição no título primeiro (§ 58) é uma mera
causalidade. Na realidade, o que importava para esse título primeiro era apenas a
ordenação da valia da moeda. O decreto da contagem do tempo está aí descontextua-
lizado e só foi compilado (e, em pricípio, devia ter sido excluído) porque constava no
final daquela ordenação.
O 13º artigo geral do povo, das Cortes de Lisboa de 1427, consta no título 67 do
livro IV e no título 108 do livro V:

1
No tit. 1 § 58, antecede a lei sobre os foros e arrendamentos que foram feitos por moeda antiga, publicada
em Óbidos a 14 de Agosto desse ano de 1422.
2
No tit. 1 § 58.
3
Falta no tit. 1 § 58.
4
Falta no tit. 1 § 58.
5
“Era”, no tit. 1 § 58. É curioso que, neste documento, se mantenha a antiga designação.
6
No tit. 1 § 58.
7
Falta no tit. 1 § 58.
8
“Forom publicadas”, no tit. 1 § 58.
9
Falta no tit. 1 § 58.
10
Falta no tit. 1 § 58.
11
No tit. 1 § 58.
12
“do dito mes, e Era sobredita”, no tit. 1 § 58. Refere-se ao mês de Agosto e ano de 1422, que constavam
na dita ordenação.

238
José Domingues

.(Liv. IV) LXVII – Dos que podem seer presos por dividas civiis, ou criminaaes.
(Liv. V) CVIII – Que nom prendam por divida.

[ElRey Dom Affonso o Terceiro, da muito louvada e esclarecida memoria, em


seu tempo fez Ley em esta forma, que se segue.
1 – Item. Manda o Senhor Rey que nom seja algum preso por divida, se tever
per honde pagar; e entregue-se o creedor da sua divida pelos beens do devedor,
segundo o foro e costume da terra, honde for devedor][1]

[Edespois desto][2] ElRey Dom Joham [meu Avoo][3] de [muito famosa e][4] louvada
memoria em seu tempo fez Cortes geraaes [na Cidade d’Evora][5], em que lhe
forom requeridos certos capitulos por parte *dos Concelhos*[6], entre os quaaes
foi huum, *que se adiante segue com a resposta a elle dada polo dito Senhor, de
que o theor tal he*[7].
1 – Item. *Os Juizes*[8] condapnam algumas pessoas em certas somas de dinheiros
por cousas civiis, e pero elles sejam abastantes pera pagar [bem][9] as ditas somas
per seus bees, fazem-nos reter como presos nas audiencias ataa que paguem, posto
que sejam honrados, e arreiguados (na terra em as ditas somas)[10]: Praza aa Vossa
Mercee de lhes defenderdes sob certa pena, *que tal cousa nom façam*[11].
A este artigo diz ElRey, que por effeitos civiis nom prendam *nenhuum*[12], se tever
per honde pagar, salvo se for por feitos maliciosos, em que per a Hordenaçom do
Regno devam seer presos, *e pagar da Cadea*[13]: e este Corregedor, ou Juiz, que o
contrairo [desto][14] fezer, pague por cada vez mil reaes brancos, (dos quaaes)[15] a
meetade (seja)[16] pera quem ho acusar, e a outra meetade (seja)[17] pera as obras do
Concelho daquelle lugar, *honde esto acontecer*[18].
2 – E visto per Nós o dito artigo com a resposta a elle dada, adendo e declarando
em elle Dizemos, que por a divida privada, que decenda de feito civil, assi como
d’alguum contrauto, ou casi contrauto sem outra alguma malícia, nom deve
alguum homem seer preso, ainda que nom tenha per honde pagar, atee que seja
condapnado per sentença, que passe em cousa julgada; ca entom se deve fazer
eixecuçom em seus beens, e nom lhe achando tantos, que abastem pera a dita
condapnaçom, em tal caso deve seer preso o devedor ataa que pague da cadea:
pero dando lugar aos beens em forma de direito, logo deve seer solto, segundo
mais compridamente avemos dito no Titulo, Dos que dam lugar aos bens[19].

1
No liv. V, falta no liv. IV.
2
No liv. V.
3
No liv. V.
4
No liv. V.
5
No liv. V. Na realidade trata-se das Cortes de Lisboa de 1427.
6
“do Povoo”, no liv. V.
7
“a que elle respondeo com Conselho de sua Corte, do qual com a reposta a elle dada o theor he este, que
se segue”, no liv. V.
8
“As nossas Justiças”, no liv. V.
9
No liv. V.
10
Falta No liv. V.
11
“que nom façam esto”, no liv. V.
12
“ninguem”, no liv. V.
13
“ca em tal caso deve pagar essas dividas da cadea”, no liv. V.
14
No liv. V.
15
Falta no liv. V.
16
Falta no liv. V.
17
Falta no liv. V.
18
“honde se esto fezer”, no liv. V.
19
Remete para o liv. III, Tít. 121. Esta remissão também consta no liv. V.

239
As Ordenações Afonsinas Sistematização Externa

3 – E se alguum devedor prometesse a seu creedor a lhe pagar a divida a tempo


certo, e nom lha pagando, que fosse preso na prisom Nossa ou do Concelho, ataa
que lhe pagasse, se elle nom pagar a dita divida ao tempo que lhe prometeo,
poderá seer preso per mandado da Justiça ata que pague: e a Justiça o deve mandar
prender, seendo pera ello requerida. E acordando-se o devedor, e creedor, que nom
pagando ao tempo certo o devedor a divida ao creedor, elle o podesse prender per
sua propria autoridade, Mandamos que tal conveença nom valha, e nom possa
per poder della o credor prender o seu devedor, mais faça dello requirimento
aa Justiça, e ella o mande prender. Pero se o creedor achar seu devedor fogindo,
por lhe nom pagar a divida, em tal caso mandamos, que se o creedor nom poder
aver a copia da presença do Juiz pera o mandar prender, elle meesmo per si o
poderá prender ou mandar prender em todo o caso, levando-o logo aa prisom do
Concelho, recontando aa Justiça pela guisa que o prendeo, e requerendo-lhe, que
lhe mande poer em elle boa guarda, pera se delle fazer comprimento de direito.
4 – E se a divida fosse Nossa, ainda que decenda de feito civil, assi como contrauto,
ou casi contrauto, em tal caso pode o devedor geeralmente seer preso por essa
divida, ataa que pague da cadea, porque esto he assi outorgado aos Reix per seu
privilegio especial, e nom poderá em tal caso seer solto, por dar lugar aos beens.
5 – E se a divida descender d’alguum maleficio, ou casi maleficio, em tal caso
deve esse devedor geeralmente seer preso, ataa que pague da cadea. E por tanto
Dizemos, que se alguma cousa fosse posta em guarda ou condesilho a alguem, e
elle despois recusasse de a entregar ao Senhorio sem justa, e liidima razom, ou se
usasse della sem voontade expressa do Senhorio, em tal caso deve esse depositario
seer preso, ataa que pague da Cadea, e entregue a dita cousa, e dãpno que em
ella fez, por se della usar sem voontade de seu dono, seendo delle querellado em
forma de direito; porque todo aquelle, que se usa da cousa, que lhe he posta em
guarda e condesilho, sem voontade de seu Senhor, ou nom lha entregando a todo
tempo, que pera ello he requirido, sem justa e liidima excusaçom, tal como este
comete furto, e assi como ladrom deve seer preso, ataa que a entregue da Cadea;
nem deve seer solto, ainda que pera ello dê fiadores abastantes; nem por dar lugar
aos beens, pois que he caso de malefício.
6 – E em todo caso, honde algum for preso justamente, quer seja por cousa civil,
ou criminal, pode despois seer retheudo em essa Cadea por qualquer divida, ainda
que decenda de feito civil, com tanto que esse creedor mostre logo essa divida
per Escriptura pruvica, se chegar á conthia de trezentos reis brancos, segundo
he contheudo na Hordenaçom das Escripturas pruvicas; e nom chegando aa dita
conthia, deve dello fazer certo per testemunhas ataa dous dias peremptoriamente;
e nom mostrando a dita divida per Escriptura pruvica, ou per testemunhas, como
dito he, nom deve esse devedor seer retheudo na Cadea: e em todo caso que possa
seer retheudo, se em Juizo poser penhores abastantes pera a dita divida, por que he
retheudo, ou dando lugar aos beens, deve logo seer solto, se por al nom for preso.
7 – E com esta declaraçom Mandamos que se guarde o dito artigo com a reposta a
elle dada, como em elle he contheudo, e per Nos declarado como dito he.[1]

Para finalizar, a lei de D. Duarte, sobre a saca do pão e gados que se levam para
fora do reino, repete-se no livro II e no V. Mas no livro V consta uma lei de D. Afonso
III, que falta no livro II. É compreensível já que esta lei de Afonso III se insere apenas
no âmbito do direito penal, enquanto que a de D. Duarte, para além do âmbito penal,
tem relevância no âmbito dos direitos reais, tratados no livro II.

1
“4 – E visto per nos a dita Ley, e Artigos, mandamos que se guardem e cumpram, segundo em todo
he contheudo, e per nos he declarado no Titulo, Dos que dam lugar aos beens, que he no terceiro Livro das
reformaçõoes[Liv. III, Tít. 121], e em este Livro no Titulo, Em que caso os Cavalleiros, e Fidalgos, e similhantes
pessoas devem seer prezos[Tít. 94], e em no Titulo, Dos Bulrrõoes, e Inliçadores[Tít. 89]”, no liv. V.

240
José Domingues

(Liv. II) XXXVI – Da declaraçom feita acerca da saca do pam, e guaados,


que se levam pera fora do Regno.
(Liv. V) XXXXVIII (§ 3-5) – Que nom levem Pam,
nem Farinha pera fora do Regno, per Mar nem per Terra.

[Lei de Afonso III, só no livro V]

*ElRey Dom Eduarte meu Senhor, e Padre em seu tempo fez Ley em esta forma,
que se segue.*[1]
1 – Nós ElRey Fazemos saber a vós [Doutor][2] Ruy Borges de Souza Cavalleiro
da Nossa Casa, e Escripvão da nossa Chancellaria, que veendo Nós como
continuadamente eramos requerido dos Nossos Naturaaes, e d’outros
Estrangeiros, que lhes ouvessemos de dar saca de pam, e gaados pera fora dos
Nossos Regnos, e polla darmos, Nossa Terra muitas vezes era minguada do dito
pam, e guaados em tal *guisa*[3], que os moradores, e naturaes della por este aazo
aviam os mantimentos mais caros do que os averião, nom os levando nenhuma
pessoa pera fora dos ditos Regnos.
2 – E porque nossa teençom he a dita saca seer vedada, o mais que podermos, e
que nom sejamos per tantos, nem assy a miude por ella requerido; acordamos
com os Iffantes Dom Pedro, e Dom Hanrique meus Irmãaos, e (com os)[4] outros
do Nosso Conselho, que daqui em diante qualquer pessoa, que nos saca do dito
pam, e guaados requerer, e lha Nós outorguarmos, que nos paguem dizima do
que assy per bem della pera fora dos ditos Nossos Regnos levarem, como ataa
qui pagavam, [a saber][5] de cincoenta huum: e per esta guiza Entendemos, que a
dita saca *poderá seer*[6] refreada, quando os que a requererem virem, que ham
de pagar della dizima.
3 – E porem vos Mandamos, que da feitura deste (nosso)[7] Alvará en diante vós
assy o façaaes pera nos recadar a dita dizima de todallas ditas sacas, que passarem;
e mandees registar este (Nosso)[8] Alvará no Livro da Nossa Chancellaria por
renembrança da [dita][9] dete no Liv. V.rminaçom, que sobre esto demos: und’al
nom façades. Feito em Almeirim a treze dias d’Abril. Ruy Galvom o fez. Era de
mil e quatrocentos e trinta e *seis/sette*[10] annos.

4 – *A qual Ley vista per nós, havemos por boa, e porem mandamos que se guarde,
e compra em todo caso, assy como em ella he contheudo, per o entendermos
assy por serviço de Deos, e nosso, e bem dos nosso Regnos.*[11]

1
“E despois desto o muito alto e poderoso, e da muito louvada e esclarecida memoria, ElRey Dom Eduarte
meu Senhor e Padre, que Deos aja em sua Santa Gloria, em seu tempo fez Ley acerca deste passo em esta
forma, que se segue”, no Liv. V.
2
Consta apenas no Liv. II, no códice do Arquivo.
3
“maneira”, no Liv. V.
4
Falta no Liv. V.
5
No Liv. V.
6
“será”, no Liv. V.
7
Falta no Liv. V.
8
Falta no Liv. V.
9
No Liv. V.
10
“sete”, no Liv. V.
11
“E vistas per Nós as ditas Leyx, Mandamos que as cumpram e guardem, como em todo he contheudo”,
no Liv. V.

241
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

2. Sistematização Interna
Ao tratar, no título anterior, as principais fontes documentais utilizadas pelo
reformador afonsino, já ficaram consignadas algumas directivas básicas que este
adoptou, nomeadamente ao curar dos capítulos de Cortes. Quanto aos motivos que
desencadearam esta reforma, o próprio os deixa bem consignados no início do seu
livro I, na forma que seguem aspados:

“Por tanto Nos Dom Affonso Rey de Portugal, e do Algarve, e Senhor de


Cepta consirando, como os vertuosos Reyx, que foram destes Regnos, de que
Nos descendemos, cujas almas Deos haja em sua santa Gloria, stabelecerão, e
hordenarom muitas Leyx por bõo Regimento de seu Povoo, as quaees parecem seer
muito desusas, em alguã parte duvidozas, e em outra contrairas huãs aas outras e porque
Nossa teençom, e desejo he com a Graça do Mui Alto Senhor Deos, em quanto bem
podermos, tolher sempre todallas duvidas, e occazioões, per que as demandas nom possam
seer perlonguadas, e ainda dar certa forma, e doutrina, per que ligeiramente possam seer
trazidas a boõ juízo, e breve terminaçom o mais sem custa das partes, que rasoadamente seer
possa. Acordamos per acordo dos do Nosso Concelho fazer huma geeral compilaçom
dellas, tirando algumas, que nos pareceo sobejas, e sem proveito, e outras declarando, e
accrescentando, e interpretando, segundo per direito, e bôa razom achamos, que o devião
seer, emmendando, e fazendo outras de novo, segundo nos pareceo, que a uzança da terra,
e pratica das gentes deseja”[1]

Antes de mais, a prolixidade de leis emitidas pelos monarcas antecedentes, fazia


com que, à data, algumas estivessem em desuso, em determinadas partes duvidosas
e até em contradição entre si. Esta verbosidade normativa, aliada às não poucas
dúvidas que a cada passo apareciam, alongava demasiado os processos e suscitava
insegurança jurídica, acabando por onerar e dificultar o recurso à justiça. Por isso,
com o intuito de dar uniformidade ao direito e doutrina, facilitar o trabalho dos juízes
e homogeneizar as sentenças, o monarca, com acordo dos do seu concelho, decide
fazer uma “geeral compilaçom”. Os critérios estruturantes dessa compilação geral
confinam‑507392se, sobretudo, à exclusão das leis em desuso, declaração, acrescento
e interpretação de algumas e, ainda, formação de outras novas. Sobre estes critérios,
traçados no início da obra, nos iremos debruçar em seguida, cotejando alguns títulos
das Afonsinas com outras fontes documentais.
Mas esta análise terá que ser sumária e genérica, centralizada numa análise
pormenorizada de apenas alguns arquétipos mais relevantes, para os quais surgiram
suficientes fontes documentais, capazes de suportar conjecturas minimamente
fundamentadas. Não serão cotejados todos os títulos para os quais se conhecem versões
antecedentes (referidas no anexo final I). No confronto dessas fontes documentais
também não serão levados em conta todas as actualizações de meros vocábulos (que
exigiria um cotejo palavra por palavra), nem corrigido o aspecto paleográfico e de
pontuação seguido pelos impressores de setecentos (que exigiria um aturado cotejo
com os manuscritos existentes, actualmente, na Torre do Tombo e Biblioteca Nacional).
Não quer dizer que estes vectores não sejam prementes e de elevado interesse para uma
edição crítica das Afonsinas, mas, no fundo, o objectivo primordial desta investigação
limita-se a uma despretenciosa tentativa de aproximação ao trabalho de compilação
ou reforma de Rui Fernandes.

1
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Prólogo, pp. 6-7. O itálico é nosso.

242
José Domingues

Livro I
Ao dividir a sua obra em livros, o copista-legislador reserva o primeiro livro para
os regimentos dos cargos públicos – régios e municipais – porque “convinhavel cousa
nos pareceo, que em começo de Nossa obra ajamos primeiramente de formar alguns titulos
apropriados á sua pessoa [do homem], especialmente daquelles, que primeiramente teem
carreguo de reger, e ministrar justiça em Nossa Corte”[1]. Começa com o regimento do
Regedor e Governador da Casa da Justiça na Corte de El-rei, que considera “o maior, e mais
principal Officio da Justiça em a Nossa Corte”.
A diferença de estilo redactório deste livro, em relação aos restantes quatro,
tem suscitado alguma discussão, nomeadamente quanto à sua paternidade e
contemporaneidade. Na síntese dessa controvérsia, na parte antecedente, cheguei à
conclusão de que “essa diferença tem mais a ver com a matéria tratada do que, propriamente,
com a diferença de punho compilador ou a originalidade de Afonso V”[2]. A questão que agora
se pode ventilar (para além das presumíveis alterações de Fernandes aos regimentos) é
a de saber se existiram livros de regimentos anteriores a este livro I das Afonsinas? Por
outras palavras, tudo conduz à prévia existência dos regimentos do livro I, mas será
que a ideia de os agrupar num códice apartado é inédita de Rui Fernandes?
Não surgindo nenhuma obra do género para a testemunhar, a resposta a este
tipo de perguntas será sempre demasiado arrojada. Até porque são muito escassas
as fontes e referências documentais antecedentes para que se possa fazer um cotejo
considerável. De qualquer forma, o anterior critério cronológico de compilação parece
induzir à inexistência de tais antecedentes. Por isso – salvaguardando sempre a singela
excepção dos regimentos locais concedidos a alguns concelhos, de que conhecemos
apenas o de Évora – tudo aconselha a que o agrupar dos regimentos de cargos públicos
num só volume tenha sido inédito do Doutor Rui Fernandes.
As fontes de que se terá servido para este livro são hoje muito escassas, por
isso, o regimento dos corregedores de comarca pode ser considerado o exemplo
paradigmático. Desta magistratura de instância superior conhecem-se monumentos
escritos bastantes para se traçar o percurso normativo desde, praticamente, a sua
génese até à conclusão das Afonsinas. A génese deste ofício anda, desde há longo
tempo e muitos autores, ligado ao reinado de D. Afonso IV e à correlativa substituição
dos meirinhos-mores instituídos por seu avô, D. Afonso III[3]. Importa, desde já,
aclarar que esta substituição não foi imediata, mas obedeceu a um processo temporal
dilatado, onde, durante alguns reinados, se tornou comum a coexistência de ambas as
magistraturas no mesmo espaço territorial. Nomeadamente, no reinado de Afonso IV,
as referências documentais ao meirinho-mor de Entre-Douro-e-Minho estendem‑se
até à década de quarenta[4], mesmo depois da implantação definitiva e generalizada
dos corregedores e a sua incipiente regulamentação em 1332. No reinado seguinte,
de D. Pedro I, desaparecem os meirinhos-mores, para de novo serem implantados no

1
Ordenações Afonsinas, Livro I, Prólogo, p. 7.
2
Cfr. Cap. 2, p. 91.
3
A propósito da origem destes, veja-se o que atrás ficou explanado.
4
A provisãode 20 de Julho de 1340 é dirigida a Vasque Annes, meirinho-mor de Entre Douro e Minho, e pela
infanta D. Branca nas suas terras [Porto, AHM – Livro Grande, fl. 139];
Ainda em 14 de Agosto de 1342 D. Afonso IV faz referência ao corregedor ou meirinho-mor de Entre-Dou-
ro-e-Minho [BARROS, História da Administração Pública, 2.º edição, tomo XI, Lisboa, 1954, p. 158].

243
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

início do reinado de D. Fernando[1], subsistindo até, pelo menos, à primeira década de


quatrocentos[2], em pleno reinado de D. João I.
Embora efectivamente consolidados e espalhados por todo o reino no tempo de
D. Afonso IV, os corregedores de comarca já vinham dos finais do reinado do seu
antecessor, D. Dinis. O seu surgimento parece estar estreitamente relacionado com
o arbítrio e concerto das inimizades e malfeitorias levantadas em Entre-Douro-e-
Minho com a sublevação do infante Afonso, herdeiro da coroa e futuro rei D. Afonso
IV[3]. Esta inferência foi retirada da carta de nomeação de Aparício Domingues, o
primeiro corregedor enviado por D. Dinis – por carta de 16 de Janeiro de 1323 – a
Entre‑Douro‑e‑Minho e Além e Aquém dos Montes[4].
Um outro documento, muito menos divulgado, atesta esta dedução. Passado pouco
tempo da sua nomeação, Aparício Domingues surge em audiência em Guimarães,
onde, a instância do arcebispo e cabido de Braga, foi convocado para “correger e
emendar os mais desaguizados e forças que recebião per mingoa de justiça”, mas sob protesto
de, no futuro, não prejudicar a dita igreja na sua jurisdição. Este documento, no âmbito
das origens dos corregedores, revela um dado ignorado de quantos se tem debruçado
sob o assunto: a existência simultânea de um outro corregedor, Rui Peres, por parte
do infante D. Afonso. Quer isto dizer que, para deliberar as malfeitorias da zona
setentrional do reino, foram nomeados dois corregedores em simultâneo, um para
cada uma das facções antagónicas: um pela facção do monarca instituído, D. Dinis,
e outro pela facção do infante rebelado, D. Afonso[5]. Estava assim aberta a via para a
futura instituição régia dos corregedores de comarca.
Arreigado o novo ofício judicial no seio do grémio medievo, a regulamentação
normativa do seu cargo, corolário imediato das Cortes reunidas em Santarém em
1331[6], começa no ano de 1332. D. Afonso IV irá, novamente, legislar o tema em 1340.
Posteriormente, conhece-se outro regimento, sem data, mas atribuído aos primórdios
do reinado de D. Pedro I (c. 1361)[7]. Ainda antes das Afonsinas, surge o regimento

1
Por carta de 6 de Março de 1367, Santarém, nomeou João Lourenço do Buval, seu vassalo, para “meyrjnho
moor por ElRey Antre doiro e Minho” [Porto, AHM – Livro 2.º de Pergaminhos, doc. 21; Pub. Corpus Codicum,
vol. VI, doc. 21].
2
Estando em Santarém, por carta de 12 de Setembro de 1407, D. João I informa “allvaro gonçalves noso meiri-
nho moor em as comarcas e correyções damtre doiro e minho e trallos montes”, que o concelho e homens bons de
Melgaço se mostravam agravados em virtude de alguns ouvidores que andavam na comarca minhota em
serviço de correição coagirem os residentes do concelho e do termo a guardar os presos que traziam em
suas prisões de dia e de noite [IAN/TT – Livro I de Além Douro, fl. 253].
3
Neste sentido vide BARROS, História da Administração Pública, 2.ª edição, tomo XI, Lisboa, 1954, p. 169;
MORENO, “A presença dos corregedores nos municípios e os conflitos de competências (1332-1459)”, Re-
vista de História, vol. IX, Centro de História da Universidade do Porto, Porto, 1989, p. 77.
4
IAN/TT – Chancelaria D. Dinis, Liv. 3, fl. 148v.
5
Braga, AD – Rerum Memorabilium, vol. II, fls. 33v-34v. Na Colecção Cronológica, deste Arquivo, resta
um fragmento do pergaminho que serviu de base ao traslado seiscentista (doc. 555).
6
Marcello CAETANO, A Administração Municipal de Lisboa durante a 1.ª Dinastia (1179-1383), Lisboa, Acade-
mia Portuguesa de História, Lisboa, 2.ª edição, 1981, p. 67.
7
João Pedro Ribeiro afirma que “Este Regimento não contém Disposições posteriores ao Reinado do Senhor D. Pe-
dro I, ao qual se deve attribuir, ou ao principio do do Senhor D. Fernando, cuja Lei das sesmarias omitte” [RIBEIRO,
Dissertações Chronologicas e Criticas, Tomo III, Parte 2, Lisboa, 1857, p. 97, nota a)].
Marcello Caetano – e posteriores seguidores – adopta a designação de regimento de 1361, por entender “ter
sido elaborado após as Cortes, talvez resolvido ao mesmo tempo que as respostas”, uma vez que, num capítulo das
ditas Cortes, o monarca manda que os corregedores dêem a cada um dos concelhos das suas comarcas o
traslado das ordenações que lhe por ele são dadas e, por outro lado, no regimento se faz referência às deci-
sões tomadas nas Cortes de Elvas [CAETANO, A Administração municipal de Lisboa, p. 102].
Um capítulo geral das Cortes de 1389/Lisboa atesta, definitivamente, a paternidade de D. Pedro I: nesse

244
José Domingues

do reinado de D. João I (1418) da lavra do príncipe regente, D. Duarte. Em suma,


são estes os quatro regimentos (1332/1340/1361/1418) que poderiam servir de fonte
ao título 23 do livro I das Afonsinas: “Dos Corregedores das Comarcas, e cousas que a
seus Officios perteencem”. Como todos eles já viram a luz da imprensa[1], facilitando o
confronto, passemos então à análise da sua interacção na redacção definitiva do título
das Afonsinas[2]:

XXIII – Dos Corregedores das Comarcas, e cousas, que a seus Officios perteencem.
[CAETANO, A Administração Municipal de Lisboa, 1981, doc. 12 e doc. 13]
[RIBEIRO, Dissertações Chronologicas e Criticas,
Tomo III, Parte 2, Lisboa, 1857, pp. 97-117.]
[OLIVEIRA, Elementos para a Historia do Município de Lisboa,
1.ª Parte, Tomo II, Lisboa, 1885, pp. 29-38]

Esto he o que deve fazer o Corregedor (da Comarca)[3] em aquella terra,


1340 em que ha de correger tambem no feito da Justiça, como no vereamento
1332 da terra. Primeiramente desque for em sua correiçom, deve mandar
1361 aos Taballiãaes do luguar, per onde entender d’hir, que lhe enviem
[per huum delles][4] os Stados, e que lhos [dem e][5] enviem per tal
guisa, que per elles possa seer certo tambem dos maaos feitos, que se
hi fezerem, como do [maao][6] vereamento (da terra)[7]. (E esse Corregedor veja

capítulo solicita-se que o corregedor do Algarve não exceda os limites das suas competências estabelecidas
por leis de D. Afonso IV e D. Pedro I e por despachos de Cortes [SOUSA, As Cortes Medievais, vol. II, p. 233].
1
Os regimentos de 1332 e 1340 foram publicados, a partir do n.º10 do Maço 10 de Forais Antigos (Foros de
Beja), em CAETANO, A Administração Municipal de Lisboa durante a 1.ª Dinastia (1179-1383), doc. 12, pp. 151-
157 e doc. 13, pp. 158-174, respectivamente. Do regimento de 1340 conhece-se também um traslado, datado
de 1347, do maço 3 de Forais Antigos, n.º 2 (Foros de Borba) – de que Caetano regista as variantes – e ainda
a cópia que consta nas Ordenações de D. Duarte, pp. 502-518.
O regimento de 1361 foi publicado, a partir de um pergaminho da Câmara de Alvito, por RIBEIRO, Disser-
tações Chronologicas e Criticas, Tomo III, Parte 2, Lisboa, 1857, pp. 97-117.
O regimento de 1418 consta impresso, a partir do Livro dos Pregos do Arquivo da Câmara Municipal de
Lisboa, em Eduardo Freire de OLIVEIRA, Elementos para a Historia do Município de Lisboa, 1.ª Parte, Tomo
II, Lisboa, 1885, pp. 29-38.
Um substracto do regimento de 1418 (correspondente aos §§ 43 a 48 nas Afonsinas) consta em documento
de 13 de Fevereiro de 1439 e foi publicado por Maria Helena da Cruz COELHO, “«Entre Poderes» - Análise
de alguns casos na centúria de quatrocentos”, Revista da Faculdade de Letras – História, série II, vol. 6, Porto,
1989, pp. 126-135.
2
No quadrado ao lado ficam identificadas as fontes documentais (por data de cada um dos regimentos).
Quando se cumulam regimentos – nomeadamente, os de 1332,1340 e 1361 – optamos por cotejar apenas o
último por ser o mais recente e, com certeza, o preferido por Fernandes. Só em caso de dúvida, sobretudo de
transcrição se recorre aos outros. O que quer dizer que, para não tornar o cotejo demasiado prolixo e confu-
so, não se registaram todas as variantes anteriores, nomeadamente, desde o regimento de 1332 ao de 1361.
3
Falta no regimento de 1361.
4
No regimento de 1361.
5
No regimento de 1361.
6
No regimento de 1361.
7
Falta no regimento de 1361.

245
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

loguo esses Stados, e se achar, que alguus merecem de seer presos, mande loguo
sua Carta çarrada ao Alcaide, ou aas Justiças desse lugar, de que lhe forom dados
os Stados, e mande-lhes, que os prendão de guisa, que os ache presos quando por
hi for.)[1] E diga a esses Taballiães, que façam os Stados, per esta guisa; que screpvão
todas as querellas, que forem dadas tambem a elles, como aos Juizes, onde elles
presentes nom esteverem, stando hi sempre testemunhas chamadas pera esto, que
oução em como lhes dão a querella jurada, e testemunhas nomeadas.

1 – E deve mandar o Corregedor aos Juizes, que se lhes alguã querella


1332 de crime for dada honde nom estiver Taballiom, e o poderem loguo
1340 haver, que mandem logo por elle, antes que se delles parta o quereloso,
1361 e fação-lhe screpver a querella assy como a parte a der; e se pola
ventura ao Juiz for dada querella em tal lugar, que nom possa hy logo
aver Taballião, que a screpva, faça-a depois escrepver ao Taballiam,
assy como lhe for dada, e o Taballiam screpva-a ao dito Juiz, e chame hy testemu-
nhas, bem assy como se lha desse a parte.

2 – E tambem os Taballiãaes, como os Juízes, quando lhes querellas


1340 forem dadas, fação loguo jurar o querelloso, que nom da maliciosamente
1332 a querella, mais porque he verdade, e que assy o entende a provar, E
1361 diga lhy que noméé logo as testemunhas per que o entende aprouar e
fação screpver os nomes dellas, e se jurar nom quizer, nom lhe recebão
a querella; e esso mesmo façam, se nom quizer nomear as testemunhas,
salvo se disser per juramento, que lhe nom lembra quaees hi estavão, ou os nomes
dellas, [e quando assy Jurar ponham lhy tempo a que venha dizer os nomes][2] e
entom escrepvão [a querela][3], e *digão*[4], [aos Tabelioens][5] que *leão*[6] huma
vez na domãa aos Juízes as querellas, que teverem escriptas, e digão-lhes se
entendem, que som sem sospeita, e que as façam correger, e emmendar, e as
desembarguem com direito, e justiça; e de como os Juízes o fezerem, screpvão-no
os Taballiãaes no stado, e dem-no ao Corregedor; e se entenderem que os Juízes
som sospeitos, emviem-no dizer ao Corregedor, ou a Nós.

3 – E se o Corregedor achar, que nom prendem alguu malfeitor, ou


1332 nom desembargam esses feitos per sua culpa, ou per sua negrigencia,
1340 ou por (outra má maneira, de-lhes pena nos corpos, ou no aver, qual
1361 o feito demandar, e faça-lhes correger pelos Juízes, pois)[7] que nom
som desembarguados por sua culpa, o dampno, e perda, que se lhes
seguir por a dita razom;[8] [Eesse Corregedor veja logo esses estados
e sse achar que alguuns merescam de sser pressos mande logo ssua Carta
ssarradae sseelada ao Alcaide ou Justiças desse logo de que lhi forem dados
estados e mande lhys que os prendam de guissa que os ache pressos quando hy

1
Falta no regimento de 1361. Cfr. abaixo nota 1291.
2
No regimento de 1361.
3
No regimento de 1361.
4
“mande”, no regimento de 1361.
5
No regimento de 1361.
6
“levem”, no Regimento de 1361.
7
Falta no Regimento de 1361, mas deve ser erro de transcrição, uma vez que consta nos regimentos de 1332
e 1340.
8
Só no regimento de 1332: “Outro ssy aos tabeliões se o nom disserem as justiças que façam correger as querelas
commo dicto he que aiam a pena que escrita adeante e comme aqueles que uam contra mandado de seu senhor e contra
o juramento que fezerom”.

246
José Domingues

for][1] (e se achar, que os Taballiães forom em culpa, porque nom mostrarom as


querellas aos Juízes, ou os Juízes, porque os nom prenderom, stranhe-lho como no
feito couber; e ouça esses feitos desses presos, como por Nós he mandado, e
ordenado no decimo artigo dos geraaes, que fezerom em Lixboa em aquello, que
se aqui adiante segue)[2].

4 – Item. Depois que for em alguum lugar de sa correiçom, deve


1332 mandar apregoar, que venhão perante (elle)[3] todos aquelles, que
1340 ouverem querellas de Alquaides, e de Juízes, (ou Taballiãaes)[4], ou
1361 de poderosos, ou d’outros quaeesquer, e que lhas fará correger; e que
outro sy venhão perante elle todos os que ouverem demandas, e que
lhas fará desembargar; e o pregom assy dado, deve chamar os Juízes
daquelle lugar, e põe-los a par de sy, (e fazer-lhes pergunta, quando veerem as
partes, que feitos teem perante os Juízes, porque os nom despacham,
mandando‑lhes, que loguo desembarguem seos feitos)[5].

5 – E elle nom deve tomar em sy [nenhuum][6] preito criminal, nem


1332 civil, salvo d’Alquaide, ou de Juiz, [ou de homees filhos de algo][7] ou
1340 dos que forem Vogados, ou Procuradores, ou Taballiãaes, ou doutros
1361 quaeesquer poderosos, e os preitos destes (poderosos)[8] filhem em sy
quando os Juízes disserem, que nom podem por alguma direita razom
fazer direito, nem justiça delles, ou forem sospeitos, e entom ouça
esses feitos em quanto hi estever, e desembargue-os, se poder; e se os hi nom
poder desembargar, cometa esses feitos aos Juizes, que forom ante elles, que forem
sem sospeita, ou a alguu homem boom dessa Villa, se esses outros Juízes forem
sospeitos, como por Nós he mandado; e todo-los outros feitos faça ouvir, e desem-
bargar pelos Juizes, também em quanto hy for, como despois; e se despois quando
hi tornar, achar que alguus daquelles feitos nom som desembargados per culpa
daquelles Juizes, ou por outra maneira, como dito he, deve-lho d’estranhar, [assy
como ssuso dito he E sse ffor per malícia dalguum deve lho estranhar][9] assy
como vir, que compre, segundo no feito couber.

6 – E nom deve o Corregedor *tomar*[10] conhecimento per


*apellaçom*[11], nem per simpres querella, [nem per escritura][12] dos
1361 feitos das injurias, nem dos mancebos das soldadas, em que
defendemos, que nom recebam appellaçom, nem aggravo; nem
recebam Estromento de Taballiam de aggravo dos ditos feitos, que
lhes sobre esto seja mostrado, mas brite-o logo, e estranhe-o com pena

1
No Regimento de 1361. Esta parte passou para o § 1 das Afonsinas, cfr. a nota 1283.
2
Falta nos regimentos de 1332 e 1340. Trata-se de um acrescento do Regimento de 1361, ditado por um
artigo geral das Cortes de Lisboa de 1352. João Pedro Ribeiro, em nota, “Remette-se ás Cortes de Lisboa da Era
1390; e pela expressão = ora = mostra ser redactado este Artigo no Reinado do Senhor D. Affonso IV”.
3
Falta no regimento de 1361, mas consta nos regimentos antecedentes.
4
Falta nos regimentos de 1332, 1340 e 1361.
5
Falta no regimento de 1361.
6
No regimento de 1361.
7
Regimento de 1332 e 1340. Falta no regimento de 1361 e nas Afonsinas.
8
Falta no regimento de 1361.
9
No regimento de 1361.
10
“filhar”, no regimento de 1361.
11
“agravo”, no regimento de 1361.
12
No regimento de 1361.

247
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

ao Taballião, que esse Estromento fezer; e faça de guisa, que se guarde o que per
ElRey Dom Pedro foi ordenado, e outorguado nos Artigos Geraes das mercêes,
que fez aos Concelhos de sua terra nas Cortes[1], que fez em Elvas, espicialmente
nos vinte e dous, e *vinte e tres*[2] artigos, que fallam em esta rasom.

7 – Outro sy o Corregedor nom conhecerá de nenhuus feitos, que a


elle, ou perante elle venhão per maneira d’aggravo de quaeesquer
1361 sentenças (definitivas)[3], que pelos Juizes das terras forem dadas,
como he dito, que conhecem, nom avendo poder pera esto; nem dê
Sentenças, nem faça nenhuu desembarguo sobre esses aggravos antre
as partes; nem receba Estormentos, nem Scripturas, que lhe sobre esto
sejam mostradas, mais envie-os logo, e digua aas partes, que as levem
perante os *Desembargadores, ou SobreJuizes*[4], a que he dado poder pera
conhecer delles; e seja certo, que se esto passar, ou *trás*[5] ello for, que Nós lho
stranharemos como aaquelle, que despreza Nosso Mandado. (Pero o Corregedor
deve filhar em sy, e livrar com direito os feitos dos Fidalgos, e dos Abades, e Priores de sua
Correiçom, que antre sy ouverem, ou elles demandarem a outras quaeesquer pessoas, ou
essas pessoas a elles, posto que lhe os Juízes diguã, que farom direito delles)[6]; (e esto nos
cazos, que a Jurdiçom pertence a Nós)[7].

8 – Aquelles, que entender, que devem seer presos per Stados, que lhe
1332 derem, deve-os elle de mandar prender aquelles, que poderem achar;
1340 e todos aquelles, que forem presos, deve-os dar aos Juízes com as
1361 querellas, denunciaçõoes, e enformaçõoes, e diga-lhes, que os
desembargem com seu direito, salvo se forem das pessoas sobreditas,
de que hã d’aver conhecimento, como dito he; e dê-lhos per scripto
quantos, e quaees som, e porque razom, pera saber como os
desembargam, e pera veer se os Juizes som *diligentes*[8]; e os outros, que nom
prender, em quanto hi for, deve-os de dar em scripto aos Juizes daquelle lugar
perante hum ou dous Taballiãaes, e mande-lhes, que os prendam, e ouçam, e
desembarguem com seu direito; e mande aos Taballiãaes, que se os Juizes despois
os nom quizerem prender, ou nom quizerem trabalhar pera os colher aa mãao,
sabendo honde som, que o screpvão em seus livros de guisa, que per elles seja elle,
ou Nós, quando per hy chegarmos, certos da obra, que os Juizes sobre ello fezerom,
pera lho stranharmos, assy como entendemos, que cumpre.

9 – Item. Deve mandar apregoar em cada (huum)[9] lugar de sa


1332 Comarca, que nenhuu nom encobra, nem colha degradado, nem
1340 ladrom, nem outro malfeitor, nem receba furto nenhuu em sua Casa,
1361 ca aquelle, que o fezer, dar-lhe-am pena, *segundo*[10] merecer aquelle
malfeitor; e despois que o assy em cada huu lugar apregoar fezer,
faça-o guardar, como for direito.

1
João Pedro Ribeiro: “Da Era 1399 [1361]. O theor deste Artigo mostra ser redactado posteriormente ao
Reinado do Senhor D. Pedro I”.
2
“vigessimo oitavo”, no regimento de 1361.
3
Falta no regimento de 1361.
4
“ssobre Juízes ou Ouvidores”, no regimento de 1361.
5
“contra”, no regimento de 1361.
6
Consta em outra posição, antes do § 6, no regimento de 1361.
7
Falta no regimento de 1361.
8
“negrigentes”, no regimento de 1361.
9
Falta no regimento de 1361.
10
“qual”, no regimento de 1361.

248
José Domingues

10 – Item. Mandamos aos Juízes das terras, que se alguu homem


1332 matarem, ou for feito alguu grande furto, ou roubo, ou outro maao
1340 feito stranho na Villa, ou no termo, que loguo vão enquerer com huu
1361 Taballião sem sospeita, e que a nom mandem filhar aos Taballiãaes,
mais per sy a filhem, ou cada huu per sy a filhe; e se ambos forem
embargados, que a nom possam filhar per doença, ou por outra razom
semelhavel, scolham huu homem bõo dessa Villa sem sospeita, que a filhe com
huu Taballião; e tanto que a Inquiriçom for tirada, enviem [logo ende][1] a Nós o
trelado çarrado, e seellado dos Seellos dos Concelhos, e com sinal de Taballião [E
ffique orreginal allo na terra ao tabaliom e aos Juizes][2]; (e os Juízes lhes
certifiquem, que se o assy nom fezerem, que haverã a pena, que em este cazo he
ordenada d’averem)[3].

11 – E aja cada huu Concelho huã Arca, em que sejam postas essas
Inquiriçõoes, e aja duas chaves, e huuã tenha huu dos Juizes, e a outra
1361 huu Taballião, qual o Corregedor entender, que he mais convinhavel
pera ello; e mandem logo os nomes destes, que achão que culpados
som, ao Corregedor, pera o Corregedor [emtender e][4] saber quem
som, ca pela ventura pola Comarca, por onde andar, [os][5] poderá
achar, e poer em recado.

12 – Item. Deve mandar aos Juízes, que saibão se os Taballiãaes


1332 guardão os artigos, e tausaçom, que jurarão na Chancellaria, e se
1340 achar que os nom guardam, que lhes dem a pena, que lhes sobre esto
1361 he posta; e se os Juizes em sabendo desto parte forem negrigentes, o
Corregedor o estranhe aos Juizes, e dê-lhes por esso pena qual vir,
que compre. Outro sy dê aos Taballiãaes a pena, em que cahirem. E
por haverem razom os Juizes de saberem o que he contheudo em esses artigos, e
tausaçom, que façam leer esses artigos, e tausaçom *perante*[6] os Taballiãaes, e
[mande que leam][7] ao Povo cada segunda feira primeira de cada mez no lugar,
onde fazem o Concelho, pera saberem todos, o que em elles for contheudo.

13 – Item – Deve de saber se ha hi *bandos*[8] em cada huu daquelles


1332 lugares, em que ha de correger, e quaees som os principaaes delles, e
1340 se se seguem desses bandos pelejas, ou voltas, ou mortes, ou outro
1361 mal, ou dapno; e se os em esses lugares ouver, segundo achar, que
som dapnosos aa terra, assy o deve d’estranhar aos que achar, que hy
som culpados, (a saber)[9], a delles per palavra, e a delles per obra, (ou
a todos por obra)[10]; e se se nom quizerem castiguar, *degrade-os*[11] da terra, se vir
que compre, ou dando-lhes outra pena, segundo o feito demandar; e se achar, que
o Alcaide, ou Juizes, que entom forem, ou outros quaesquer, que ajam de fazer

1
No regimento de 1361.
2
No regimento de 1361.
3
Falta no regimento de 1361.
4
No regimento de 1361.
5
No regimento de 1361.
6
“per”, no regimento de 1361.
7
No regimento de 1361.
8
“rendas” (lapso), no regimento de 1361.
9
Falta no regimento de 1361.
10
Falta no regimento de 1361.
11
“deytandoos”, no regimento de 1361.

249
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

direito, e Justiça, ham parte em esses bandos, e que por esso leixarom de fazer
direito e Justiça, e aquello que devem, devem-lhe dar muito maior pena, que a
cada huu dos outros, ca quando elles som maiores em honra, e em estado,
*quanta*[1] maior pena merecem, consentindo, e havendo parte nos maaos feitos,
e desaseseguo da terra hu elles honra, e stado teverem.

14 – Item. Deve a saber se os daquelle lugar, em que ha de correger,


1332 recebem aggravamentos dos Almoxarifes, e Scripvãaes, ou dos
1340 Porteiros, e Sacadores, ou d’outros quaesquer Officiaaes, que ajam de
1361 tirar, e procurar nossos direitos, aggravando o Povo como nom
devem; e se for per razom de seu Officio desses Officiaaes, diga-lhes,
que o nom façam; e se o fazer nom quizerem, faça-lho correger, e de
como o fezer correger, faça-o saber a Nós; e esto se entenda *quando no lugar
onde esto acontecer, nom for Veedor da Fazenda, ou Contador, a que esto per-
teence correger, ca se hi ouver, deve-lhe de notificar esto, que se assy faz, que
provejam a ello, como seja emmendado*[2].

15 – Outro sy deve de saber se alguus poderozos, ou maliciosos


1361 embargam os Nossos direitos, ou os reteem sem razom, e fazer loguo,
que os cobremos, e ajamos.

16 – Item. Trabalhe por todos os lugares de sa Correiçom, que as


herdades sejam lavradas, e as vinhas adubadas, como achar, que he
1361 prol da terra, fazendo teer boys aaquelles, que os deverem, e poderem
teer, e que morem com amos aquelles, que som pera servir, e que nom
teem tanto de seu, que devam seer dello escusados. E para os
servidores averem razom de servir, e os bees de cada huu lugar serem
aproveitados, e os moradores desses lugares nom andarem com elles em demandas
dapnando o que hão, mande aos Juizes que dem igualmente os mancebos, como
per Nós he mandado; e de como os derem, e costrangerem, e das penas, que lhes
pera ello derem, se nom servirem, como devem, assy o façam escrepver por Tabal-
lião em huu livro stremado pera esto, pera quando Nós, ou Nosso Corregedor hi
chegarmos, veermos como comprirom o que dito he, ou se em ello fezerom o que
nom deviam, pera lhes seer estranhado, e correger aas partes o dapno, que por
ello receberom. [E desto que assy ffezerom posto que as partes ou cada huma
delas apelarem ou agravarem que lhis nom recebam aapelaçom nem agravo. E
que outrossy diga aos Juízes que de taaes ffeitos nom dem apelações nem agra-
vo nem doutra rrazom sobrelo ssopena dos corpos pois todo ha de ser scrito no
dito livro como dito he][3]

1
“ em tanto”, no regimento de 1361.
2
“em aqueles officiaes que ham de ffazer direito pelos Juízes dos ovençaaes ou geeraes das terras. Ca en-
tom sse perantelles ouverem de fazer direito o Corregedor deve de mandar aos Juízes dos ovençaaes ou
geeraaes hu nom ouverem Juízes dos ovençaaes que ffaçam direito daqueles offiçiaes ssobre que Jurdiçom
ham que costrangam esses que esto assy ffezerem ata que aquelles a que ssom theudos ajam o sseu. E sse
achar que ops Juízes fforom negrigentes em ffazer esto correger delhe pena como no ffeito couber”, no
regimento de 1361.
João Pedro Ribeiro: “Em razão dos novos Regulamentos sobre a Real Fazenda, no lugar paralello das
Affonsinas se fala em Vedor da Fazenda e Contador, em lugar de Juízes de Ovençaes ou Geraes”.
3
Falta nas Afonsinas.

250
José Domingues

17 – Item. Deve de saber em cada huu lugar das terras, per onde
1332 andar, dos seus Julguados, porque se despovoram, e per que (guisa)
1340 [1]
se milhor podem povorar, e fazello assy fazer; e se for terra Nossa,
1361 falle esso com o Nosso Almoxarife, e Scripvão *dessa Camara*[2], e se
poderem acordar sobre ello, fação-no assy fazer, se nom fação-no
saber a Nós, pera fazermos sobre ello o que for mais Nosso serviço.

18 – Item. Deve saber quaees som Reguatães, que comprão o pam, e


1332 as outras cousas, per que a terra se ha de manter, e deve de mandar,
1340 que *aaquestes*[3] façam primeiramente vender o pam, e as outras
1361 cousas, que assy comprão, quando mester fezer de se venderem; e
faça-o poer aguisadamente, segundo o pam, que for, dando-lhes
gaanho [aguisado][4]; e deve-lhes de leixar do pam, (e das outras
cousas aguisadamente)[5] para seu mantimento; e esto se deve fazer
tambem aos Fidalgos, e Clerigos, como a outros quaeesquer, que o assy
comprarem.

19 – E se alguus Concelhos ham demandas, ou contendas entre sy,


1332 deve trabalhar quanto poder de os partir, e de os avir; e se o fazer
1340 nom poder, faça-o saber a Nós, e envie-nos contar o feito todo como
1361 he, e a rasom donde nasce, e o dapno, que *em esto*[6] se pode recrecer,
e aquello que entender, que he bem de fazermos, e a razom, ou
razõoes, que o movem a esso entender.

20 – Item – Deve d’entrar em os Castellos, que teem os Alquaides, e


1332 veer como stam *basticidos*[7], tambem d’armas, como d’outras
1340 couzas, que lhes fezerem mester a essas *Torres*[8], ou aos andaimos,
1361 e se hão mester de se corregerem, e adubarem; e de como todo esto
achar, assy o deve fazer saber a Nós; e esso meesmo deve saber das
cercas das Villas, e faça-o loguo correger; e esto deve (fazer)[9] saber,
como dito he, tambem dos Castellos das Ordees, como dos Nossos
Castellos.

21 – Item. Deve mandar, cada (vez)[10] que for no lugar, aos Taballiãaes,
1332 e Juízes, que lhe mostrem as Inquiriçõoes devassas, que hi ouver, e
1340 deve-as de veer logo, e se alguus daquelles, que hi forem contheudos
1361 nas Inquiriçõoes [devassas][11], forem livres pelo Juiz do lugar, deve
saber como hos desembargou; e se achar, que forom livres per
conluyo, ou per alguma outra guisa como nom devião, deve-o logo
fazer correger de guisa, que se faça loguo direito, e que nom despereça
Justiça; e se achar, que os Juizes, ou outros alguus som culpados em este conluio,
perque assy a Sentença foi dada por algo, ou por outra guisa a sabendas, deve-o

1
Falta no regimento de 1361.
2
“d’ElRey dessa Comarca”, no regimento de 1361.
3
“a estes”, no regimento de 1361.
4
No regimento de 1361.
5
Falta no regimento de 1361.
6
“desto”, no regimento de 1361.
7
“bastydos”, no regimento de 1361.
8
“terras”, no regimento de 1361.
9
Falta no regimento de 1361.
10
Falta no regimento de 1361.
11
No regimento de 1361.

251
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

d’estranhar a cada huu, como couber no feito. E diga aos Juizes, que quando os
feitos forem graves, que ainda que alguma das partes nom appelle, que elles
appellem pola Justiça pera a Nossa Corte naquelles feitos, e casos, em que lhes per
Nós he mandado, que appellem pola Justiça; e amostrem-lhes a Nossa Hordenaçom
que he feita em esta razom.

22 – Item. Deve saber as prisõoes de cada huu lugar em que guardam


1332 os prezos, se som *quaees*[1] compre de guisa, que os presos possam
1340 hy seer bem guardados; e se taes nom forem, deve-as de mandar fazer
1361 a aquelles, que as houverem de fazer, tambem aos Nossos Officiaaes,
como a outros quaesquer. E devem fazer, que os homees, que ouverem
de guardar as prisõoes, que sejam bõos, e de boa fama, e arreigados
na terra, e de bõos custumes, e deve-os castigar que guardem *mui*[2] bem os
presos, que lhes derem, e que sejam certos, que se lhes fogirem, que lhes darom
*por ello grave pena*[3]; e os que o assi nom fizerem, dem-lhes a pena, que o
direito manda.

[Item deve ssaber nas vilas e logares quaes ssom melhores para
1332 Juízes e mais ssem bandos e tragelos em escrito em sseu livro o
1340 escrivam sseu que quando emlegerem entre ssy se fforem jurar a el
1361 que ssabha quaes ouver de conffirmar e aqueles que de fforo ou de
costume ham de vyr jurar a mim e aa minha Chançelaria mandelhis
que ao tempo da enliçom enlegam e tomem aqueles que el ssouber
que ssom pera elo e vir que ssom taaes que querem meu serviço e prol da terra
e ssobre esto ffale com elles em ssegredo e delhis juramento que o nom digam
nem descobram e o ffaçam como dito he. E nom lhis leixe em escrito quaes ssom
os que devem enleger como ata aqui alguuns ffezerom][4]

23 – E se alguus quizerem citar o Juiz sobre seu Officio, citem-no


1340 perante o Corregedor, o qual Corregedor hos ouça quando hi for ou
1361 perto d’hi; e assy nom serão os Juizes embarguados de fazer seu
Officio per malicia daquelles, que os mandarem citar.

24 – Outro sy deve seer percebido (o Corregedor)[5] de veer os foros


1340 de cada huu lugar, para ver se filhão a Nos alguu direito, que *a Nos
perteença*[6] d’aver per elles, ou se lhes himos Nós contra seu foro.
1361 Outro sy deve saber o que nos filham dos Nossos direitos, que Nos
havemos d’aver tambem das *Cidades*[7], como das Jurdiçõoes, e
correger o que per sy poder correger, e o al, que correger nom poder,
envie-no-lo dizer; e esso meesmo faça, se lhes Nos filhar-mos alguma cousa do seu
sem razom.

1
“taaes como”, no regimento de 1361.
2
“mais”, no regimento de 1361.
3
“aquela meesma pena que os presos mereceriam”, no regimento de 1361.
4
Falta nas Afonsinas.
João Pedro Ribeiro: “A este § se substituio na Affonsina os §§ 43 e seguintes tirados da Lei de 12 de Junho
da Era 1429, que mandou fazer as eleições por pelouros, com novas modificações dos Collectores”.
Efectivamente, a lei de 12 de Junho de 1391 (ordenação dos pelouros), veio alterar o modo de eleição dos
oficiais concelhios, mas a base de apoio para o colector afonsino foi o regimento de 1418 e não a ordenação
dos pelouros de 1391, como adiante se pode comprovar.
5
Falta no regimento de 1361.
6
“devia”, no regimento de 1361.
7
“herdades”, no regimento de 1361.

252
José Domingues

25 – [1]Outro sy deve dar o Corregedor a aquelles, que lhe pedirem,


todas as Cartas de segurança; salvo em feitos de mortes d’homees, ou
1340
de molheres, (ou d’aleive, ou treiçom, sodomia, moeda falça, ou
1361 eresia)[2]. Pero deve dar as seguranças de guisa, que nom nasça
(dellas)[3] escândalo [dandoas logo sseendo ainda os ffeitos rrezentes
ou graves][4] (e se for feito de ferida, ou paancadas, nom as dê, salvo
passados os trinta dias)[5]; e mande ouvir os feitos delles aos Juizes das terras,
salvo das pessoas suso ditas, de que ha (de tomar)[6] conhecimento esse Corregedor,
ca entom os deve elle ouvir, e nom os Juizes. E pera saber se esses Juizes
desembarguam esses feitos das seguranças como devem, deve cada hum
Corregedor aver huu livro, em que ponha todas as seguranças que der, pera os
Juizes de cada huu lugar; e o dia que ham de parecer perante esses Juízes [pera
veer quando ffor per esses logares sse parecerom perante esses Juizes][7] *os que
as*[8] seguranças gaanharão ao dia, que lhes foi posto; e que obra fizerom esses
Juizes em esses feitos. [E deve mandar ElRey aos sseus Ouvidores que nom dem
cartas de sseguranças. E quando lhas alguem demandar mandemlhis que as
vãao demandar aos Corregedores][9]

26 – Outro sy deve saber os Taballiãaes, que em cada huã Villa, (ou


Cidade)[10] ha, e em cada Julgado, e se achar, que *alguus*[11] nom
1340
sabem seu Officio, ou nom som de boa fama, entom deve de saber se
1361
ha *hi*[12] taaes, que sejam pera ello (perteencentes)[13], e enviar loguo a
Nos aquelles, que entender, que hi som compridouros, e Nos daremos
os que hi comprirem, e ouverem mester em esses lugares; e esto se
faça tambem nas Nossas terras, como nas das Hordees, e d’outros, que ham
Taballiados, e Jurdiçõoes; e digua, ou mande dizer [logo][14] a esses Meestres, e aos
outros, que taees Jurdiçõoes *teverem*[15], que ham d’apresentar os Taballiãaes a
Nós, e Nos confirma-los; que enlegam taaes, que sejão pera esses Officios, e que
Nos os confirmaremos [logo][16].

1
João Pedro Ribeiro: “No § correspondente da Affonsina se comprehendem algumas decisões posterior-
mente dadas”.
2
Falta no regimento de 1361.
3
Falta no regimento de 1361.
4
No regimento de 1361.
5
Falta no regimento de 1361. O prazo de 30 dias para os casos de feridas ou pancadas consta numa lei de
D. João I, nas Ordenações Afonsinas, liv. V, Tít. 44.
6
Flata no regimento de 1361.
7
No regimento de 1361.
8
“as quaes”, no regimento de 1361.
9
No regimento de 1361.
10
Falta no regimento de 1361.
11
“todos”, no regimento de 1361.
12
“em esses logares”, no regimento de 1361.
13
Falta no regimento de 1361.
14
No regimento de 1361.
15
“ouverem”, no regimento de 1361.
16
No regimento de 1361.

253
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

27 – Outro sy o Corregedor nom deve poer *Ouvidor*[1] nenhuu em


1340 seu loguo [salvo aqueles que El Rey outorgar per ssua Carta][2] (sem
forçada necessidade, e se a necessidade for tal, possa-o poer per
1361
espaço ataa huu mez; e seja pessoa perteencente pera ello; e se por
mais for, nom o ponha sem autoridade Nossa)[3].

28 – Item. Nos avemos por bem, que os Nossos Corregedores, e


1340 Meirinhos nom levem Chancellaria pera sy, nem Portaria, nem
Carceragem [porque lhy diserom que a terra reçebia dapno delo e
1361
que leixavam de ffazer aquelo que lhys era mandado na ssua
hordinhaçom por cobyça desto][4]; (e polla primeira vez, que a
levarem, pague o tresdobro, e aa segunda anoveado, e aa terceira
ajão aquella pena, que Nossa mercê for)[5].

29 – Item. O Corregedor nas Villas, e Lugares, honde cheguar, deve


saber [os Vassalos que ElRey hy ha per nomes e de que logar ssom
1361 e sse ssom lydimos e que obra ffazem aly hu vivem e o que ha de
renda cada huum E que guisamentos teem para sseu sserviço e de
todo como o ssouber assy o envye dizer a ElRey Outro ssy][6] dos
Frades, e cõmendadores como som guisados, e que vivenda fazem e
como teem as suas cazas, vinhas, e herdades, e moinhos, e asenhas, e outras cousas
apostadas; (e faça de guisa, que se compra, e guarde aquello, que per Nos he
ordenado no primeiro, e segundo artigo dos artigos geraaes, que foram feitos
nas Cortes, que se fezerom em Elvas)[7].

30 – E para o Corregedro fazer comprir todas estas cousas, e as outras


1332 [cousas][8], que perteecem a seu Officio, e para outro sy saber se os
1340 Juizes, e os outros da terra comprem, e guardam aquello, que lhes he
1361 mandado: primeiramente deve a andar per cada huu lugar de seu
Julgado duas, e tres vezesno anno, ou huã ao menos; e nom deve
fazer morada grande nas Villas boas, nem morar hi, salvo se acontecer
hi *alguma*[9] cousa, que compra de chegar hi, e estar *hi algum tanto tempo,
aalem do que he hordenado, segundo se a juso declarará, e per Nosso especial
mandado*[10].

1
“Juiz”, no regimento de 1361.
2
No regimento de 1361.
3
Falta no regimento de 1361.
4
No regimento de 1361.
5
Falta no regimento de 1361.
6
No regimento de 1361.
7
Falta no regimento de 1361. É estranho que, sendo mais uma referência às Cortes de Elvas de 1361, falte
no regimento e conste nas Afonsinas. A não ser que se trate de lapso do escriba do regimento.
8
No regimento de 1361.
9
“tal”, no regimento de 1361.
10
“quanto tempo vir que compre”, no regimento de 1361. Esta alteração remete para o § 71 deste regimento
nas Afonsinas.

254
José Domingues

31 – Item. Deve fazer screpver *a algum*[1] Taballião, ou Escripvão


1332 todallas Sentenças que der, e todallas outras cousas, que mandar
1340 fazer, tambem (do feito)[2] da Justiça, como do veriamento da terra,
1361 pera dar a Nós recado do que fez, e de como o fez, ou aaquelles, que
Nós hi [de cada anno][3] mandarmos [ca per esta guisa o queira El
Rey ssaber e ser certo do que cada huum dos Corregedores ffezerem]
[4]
; ao qual Taballião, ou Escripvão, que com elle andar, Mandamos que o escrepva,
e que outro sy escrepva quando entrar em cada huma Villa, ou Lugar, e quantos
dias hi estever, e quantos feitos hi desembarguar.

32 – [5]Outro sy deve requerer o que fezerom os Vereadores em cada


1340 hum lugar, e aquello, que hã de fazer, e se achar, que nom fezerom o
que devião, stranhe-lho, como no feito couber; [E pera esto poderem
1361
veer melhor vejam as Hordynhações que fforom dadas da parte
d’ElRey a esses Vereadores][6] e se achar, que em alguu luguar nom
forom postos Vereadores, faça-os [hy][7]poer quaees, e quantos
entender que compre. [e delhis o tralado da Hordinhaçom que vay em este
Caderno. E esto meesmo ffaça a todolos outros vereadores a que ffoy dada a
outra Hordinhaçom assy que em cada huum logar aja o tralado desta
Hordinhaçom pela guisa que em ella he contheudo. E sse achar que o nom
ffazem estranhelho como no ffeito couber. E sse achar que os que ssom postos
nom ssom taaes que pera elo conpram ffazer com acordo dos boons da vila][8]

33 – (Outro sy devem os Corregedores seer bem dilligentes, e


1446 proveer como nas Villas, e Lugares de sua Correição os Juízes,
– Rui Vereadores, e Almotacees, e outros quaeesquer Officiaaes dos
Fernandes Concelhos comprem, e guardam, e dam à eixecuçom o que a cada
hum perteence de fazer, segundo he contheudo no artigo de seus
Officios; e se o assy nom fezerem, dem-lhes pena segundo o caso
requerer; e pera esto bem prover, Mandamos que quando o Corregedor for
pela Correiçom, leve o trelado do que ham de fazer os Vereadores, Juízes, e
Almotacees dos Concelhos.)[9]

1
“ao”, no regimento de 1361.
2
Falta no regimento de 1361.
3
No regimento de 1361.
4
No regimento de 1361.
5
João Pedro Ribeiro: “Este § acha-se alterado na Affonsina, em razão de novas determinações, no § 32 e 33”.
6
No regimento de 1361. Nas Afonsinas dispensa-se esta indicação uma vez que o regimento dos vereado-
res consta no título 27 deste livro I.
7
No regimento de 1361.
8
No regimento de 1361.
9
Falta no regimento de 1361.

255
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

34 – Outro sy deve veer se a Hordenaçom *per Nos feita*[1] [e outrossy


a que o Ifante[2] ffez por sseu mandado][3] em rasom dos Lavradores,
1361 e mancebos (serviçaaes)[4], e outras cousas pera veriamento da terra,
som guardadas na Comarca, honde devem seer guardadas, e se as
nom forem, faça-as guardar, e stranhar a aquelles, que as nom
*guardarom*[5], ou nom guardarem, como no feito couber (de guisa,
que se cumpra, e guarde aquello, que per Nos he mandado; da qual Hordenaçom
deve levar o trelado quando for pera a Correiçom, a qual he scripta no quarto
Livro destas, que ora Mandamos compilar, em tal Titulo.)[6]

35 – Outro sy deve veer se os Juízes, que som postos pelos Concelhos,


e confirmados per Nos, ouvem os feitos civys, e crimes, e os
1361 desembargão sem deteença, como per Nos he mandado; e como os
ouvirom, e desembargarom os Juizes, que per Nos forom postos em
essas Villas, e Lugares [e como os ouvirom e desenbargarom][7]; e se
achar, que nom som (dilligentes)[8], stranhe-o a esses Juizes, e digua-
lhes, e mostre todo como façam de guisa, que se faça como deve.

36 – Outro sy saiba o Corregedor em qual conthia leixarom esses


Juizes, que per Nos foro postos, as rendas dos Concelhos, e quanto
1361
valia ora; e se valem meos, saiba qual he a razom; e se achar que os
Juizes, ou Vereadores som em culpa, stranhe-lho, como no feito
couber.

[Item outrossy vejam todas aquelas cousas que ElRey fez e hordinhou nas
Cortes primeiras e nas outras que ElRey fez em Santarem ffaçaas guardar. E
outro ssy aquelo que ElRey ora fez em Lixboa ca voontade d’ElRey he de serem
guardadas ao sseu povoo as graças e mercees que lhis fez ata aqui][9]

1
“que ElRey fez”, no regimento de 1361. O regimento de 1361 refere-se à lei de D. Afonso IV, enquanto que
a Afonsina se refere a uma lei de D. Afonso V.
2
João Pedro Ribeiro: “Remette-se às Cortes de Lisboa da Era 1390 [1352] artigo 3, e a huma Lei feita por
ElRei D. Pedro, sendo Infante, que se acha nas Leis antigas. O theor deste artigo mostra ser redactado no
Reinado de D. Afonso IV. Veja-se a primeira nota deste documento. No artigo 28 das Cortes d’Elvas da Era
1399 [1361] se cita tambem a Lei do Senhor D. Affonso IV sobre este assumpto. Porém no § 34 da Affonsina
se remette para o Livro 4 aonde no tit. 81 se colligio a parte respectiva a este objecto da Lei das Sesmarias
do Senhor D. Fernando”.
A remissão para o livro IV parece-me ser para o título 28, onde consta uma lei de D. Afonso V, e não para
a lei de D. Fernando, no título 81. Por outro lado, a lei de D. Afonso IV será a de 1349, Julho, 13 (Leiria) nas
Ordenações de D. Duarte, pp. 526-529, e, sem data, no Livro das Leis e Posturas, pp. 448-452. A lei de D. Pedro,
sendo infante, será a do Livro das Leis e Posturas, pp. 331-332.
A propósito, Caetano diz que D. Pedro terá assumido o governo desde 1355, por causa da doença de seu
pai [CAETANO, História do Direito, p. 301, nota 1]. Mas, a estar correcta a data do documento (14 de Setem-
bro de 1351,) referido por Frei António Assunção Meireles, talvez se possa recuar a intervenção do infante
D. Pedro no governo do reino [Cfr. Frei António da Assunção MEIRELES, Memórias do Mosteiro de Paço de
Sousa & Index dos Documentos do Arquivo, Lisboa, 1942, p. 369].
3
No regimento de 1361.
4
Falta no regimento de 1361.
5
“guardam”, no regimento de 1361.
6
Falta no regimento de 1361. Remete para a lei de D. Afonso V, no livro IV, título 28 das Afonsinas.
7
No regimento de 1361.
8
Falta no regimento de 1361.
9
No regimento de 1361.
João Pedro Ribeiro: “Este § falta nas Affonsinas, e mostra ser redactado no Reinado do Senhor D. Affonso IV

256
José Domingues

37 – Outro sy deve trazer o Corregedor taaes homees, que nom façam


1361 dapno, nem espeitamento na terra, e se souber que taaes [nom][1] som,
*deite-os*[2] de sa companhia, e estranhe-lhes, se mal fezerem.

[Item outrossy nom filhem palha nem lenha sse nom como per ElRey he
mandado nos artigos geraes que ora ffez em nas Cortes que ffez em Elvas][3]

[Item[4] outro ssy devem os Corregedores nas vilas e logares de sseus Julgados
e da ssa Correyçom poer çinquo ou sseis homens boons ou mais ou meos como
vir que o loguar he e como merecem pera requerimento das ditas vilas ou
Julgado que estes huma vez na domaa convem a ssaber ao Domingo ssejam
em huum logar pera averem de ffalar e de concordar em todas aquelas cousas
que fforem prol e boom vereamento da dita vila ou Julgado. E assy como ffor
acordado per todos ou per a moor parte deles que assy o digam aos homens
boons e ffaçam pela guisa que ElRey dom Affonso mandou que o ffezessem
nos artigos geeraaes que ora ffez em Lixboa. E outro ssy ssacada que o Concelho
ou Julgado desse logo queyra ffazer ou renda dos sseus direitos ou quitaçom ou
doaçom ou despesa que aja de ser ffeita dos bens do dito Concelho ou Julgado
que o nom possa ffazer sse nom per estes como he contheudo nos ditos artigos
geeraes. E os Juízes que fforem pelos tenpos nos ditos lugares naquelas cousas
que ouverem de ffazer de grandes ffeitos ou em que dovydarem que o acordem
com estes sobreditos e ffaçam conprir as cousas que estes todos ou a moor parte
delles com elles acordarem em prol ou em boom vereamento da dita vila ou
Julgado como he contheudo nos ditos artigos geeraes. E estes todos ssejam
jurados que por temor nem por amor que ajam a nenhum nem por algo que lhis
sseja dado ou promettido nem por rreçeo que ajam nom leixem de veer aquelo
que devem em prol e honra da dita vila ou Julgado e daqueles que moram em
nos sseus termhos e nom o ffazendo assy como dito he que aquelas cousas em
que ffezerem dapno ao aver do dito Concelho ou Julgado que elles o corregam
pelos sseus averes. E nas outras cousas que ssom boom vereamento e honra da
dita villa ou Julgado que pelos corpos lhis sseja estranhado assy como o ffeyto
demanda. E sse alguum destes ffor doente ou ouver outro negocio lydimo que
nom possa vir com estes em estes feitos que todo o poder ffique aos outros
pela guisa ssobredita E sse alguum per negrigencia ou per nom querer vir ser
com estes ao ssuso dito dia que lhis he assignado peyte aos outros vinte soldos
por cada huum dia que hy nom veer. E elles jurem aos Santos avangelhos que
lho nom quitem. E sse o elles nom levarem os Corregedores quando veerem
os levem pera prol dos Concelhos. Outrossy carta nenhumma nom aja de sser
sselada do sseelo do dito Concelho ou Julgado e os que o sseelo teverem nom
lha sseelem ata que estes Vereadores vejam sse deve passar ou nom salvo se ffor
carta em ffeito dapelaçom ou doutras demandas que as nom leyxem de sseelar
pera nom serem as ditas apelações e as outras cartass semelhaveis detheudas
nem as demandas perlongadas.

depois das cortes d’Evora da Era 1363 [1325]; de Santarem da Era 1378 [1340]; de Lisboa da Era 1390 [1352].”
1
Lapso no regimento de 1361.
2
“tire-os”, no regimento de 1361.
3
No regimento de 1361.
João Pedro Ribeiro: “Da Era 1399 [1361]. Foi por tanto este § redactado no Reinado do Senhor D. Pedro I.
(…) Porém semelhante determinação se não acha nas Cortes d’Elvas, mas sim no Artigo 14 das de Lisboa
da era 1390 [1352] do Reinado do Senhor D. Affonso IV”.
4
João Pedro Ribeiro: “Este § e os 11 seguintes faltão na Affonsina no tit. dos Corregedores, tendo os seus
Collectores reduzido o seu assumpto para os títulos dos Juízes, dos Vereadores, e dos Almotacés”.

257
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Item outro ssy sse os Almotacees errarem em sseu Offiçio e nom ffezerem
aquelo que per esses Vereadores lhy ffor mandado que elles lhes mandem dar
pena ssegundo o ffeito demandar.
Item No ffeito da almotaçaria os carniceyros e paadeyros depois que sse
obrigarem ao Concelho pera fazer sseu officio que aquel que sse del quiser
ssayr e nom sservir ata huum anno que o costrangam pello corpo e pello aver
que o ffaça ata que esse ano sseja comprido.
Item outrossy os que caerem na pena da almotaçaria ssejam escritos pelo
Escrivão desse officio de guisa que cada que o outro Almotace veer lhis de a
pena que ssobre esto he posta contando os erros que ffezerom d’huum mes no
outro e escolham os Vereadores com conselho dos homes boons huum Escrivam
que escreva cada huum anno essas coomhas.
Item outrossy ffilhem esses Vereadores conto aaqueles que fforom Procuradores
dos Concelhos das ditas vilas ou Julgado des dez annos aco(sic) e que nenhuma
despessa ssem rrazom nom lha recebam. E que os outros Procuradores que
pello tenpo ffezerem que em cada huum anno lhis ffilhem como que aquelo por
que fficarem logo aja delo entrega e que as rendas que fforem feitas em sseus
tenpos que elles as tirem e ffaçam que ssejam pagadas aos tenpos ssegundo
fforom rendadas. E sse per ssa negrigencia nom fforem tiradas ssejam elles
costrangudos pelos sseus beens. E destes Vereadores ssobreditos os dous mais
ssem ssospeyta ffilhem esta rrecadaçom com huum Tabaliom. E depois que
ffor ffilhada mostre aos outros pera ffazerem tirar aquelo porque fficarom esses
Procuradores e ffaçam vender os beens a esses Procuradores per rrazom dos
dinheiros do Concelho que receberom sse logo os nom derem como por divyda
d’ElRey. E sse taaes Procuradores fforem mortos e hy sseus erees ouver que
estes dinheiros nom receberom mais os sseus amtessessores e elles nom entom
sse devem os sseus beens por que assy ham a pagar como por outra qualquer
divyda vender ssegundo manda a Hordinhaçom d’ElRey.
Item[1] outrossy sse alguuns homens vivem em nos ditos logares que nom
ssom meesteyraaes nem vivem por soldadas nem vivem com alguuns que os
mantenham e ssom taaes que o poderam ffazer manda ElRey que no tempo
do lavrar e do ssegar e do cavar e dos outros lavores que lhy ponham preço
aguisado por sseu jornal. E o que nom quizer servir por el deyteno do logar.
E sse o hy acharem d’hy em deante demlhy vinte açoutes e deyteno da vila ou
do Julgado. E esses Vereadores ponham huum homem que aja de requeri resto
pera sse ffazer o que dito he.
Item outrossy devem poer esses Vereadores a cada huma ffreguesia dous
homens boons pera teerem contados esses da ffreguesia e ssaberem como estam
guissados pera serviço d’ElRey ssegundo he mandado na ssua Hordinhaçom e
teerem huum livro desto.
Item outrossy estes dous homens boons sse ssouberem parte que a essa ffregue-
sia chegou homem estranho e hy morar de dous dias em deante deveno ffazer
ssaber aos Juízes pera ssaber que homem he. E assy devem perceber todalas
rruas dessa ffreguessia pera lho ffazerem ssaber. Estes que ham de guardar as
ruas, e as ffreguesias trabalhem de ssaber sse em essas freguesias ou em essas
ruas ha algumas ffeytiçeiras e ffaçamno ssaber aos Juízes e os Juízes ssabham
logo a verdade sse he assy per enquiriçom devassa. E sse acharem que he pren-
damnas e ponham feito contra ellas, e estranhelo como no feito couber e digam

1
João Pedro Ribeiro: “O assumpto deste § foi objecto da Lei das Sesmarias do Senhor D. Fernando de 26
de Maio da Era 1413 [1375], cuja decisão passou para a Affonsina Liv. 4 tit. 81, e por isso falta no tit. dos
Corregedores, em cujo § 34 para elle se remette”.
Já vimos que o § 34 remete para título diverso.

258
José Domingues

o que ffezerom ao Corregedor quando chegar a essa vila ou Julgado. E esso


meesmo ffaçam dos Alcayotes.
Item outrossy estes Veradores e Juízes quando sse na dita vila ou Julgado ffezer
morte ou ffurto ou outro maleffiçio devendo logo ffazer ssaber aas vilas e loga-
res da provencia da quel Corregedor pêra sse ala acharem estes que tal ffeito
ffezerom que os prendam e ponham em recado.
Item outrossy deve ssenpre rrequerir os muros e as ffontes e as calçadas e as
pontes por que ssom prol do comum e deve catar sse esse Concelho nom ha ren-
da pera esto onde aja dinheiro pera os poer em esses lavores o mais ssem dapno
da terra que sse poder ffazer e acordar ssobrelo com os homens boons da vila ou
logar que ffor mais ssua prol e envialo dizer ao Corregedor o qual Corregedor
sse entender que he bem mandelhis que o ffaçam assy.
Item outrossy devem estar prestes que quando o Corregedor veer pela terra que
lhys dem de todo este recado][1]

38 – Outro sy Mandamos, que os Corregedores em cada huu Julguado


1340 de sa Comarca veja a Hordenaçom[2], que fezemos em razom dos
Beesteiros do Conto, e saiba se se guarda como em ella he contheudo;
1361
e se acharem, que se nom guarda, fação-na guardar, e stranhem-no a
aquelles, por cuja culpa nom he guardada, como entenderem, que o
devem fazer de direito.

39 – Outro sy os Corregedores devem saber se os *apousentados*[3] [que


os Juízes ffazem][4] (per hidade, ou per doença, ou per alleijom)[5] se
1361 som feitos sem mallicia, e sem enguano pela guisa, que *he mandado na
Hordenaçõm ora novamente feita*[6], e se acharem, que nom som feitos,
como devem, fação-no logo correger, como no feito couber.

40 – Outro sy vejam os foros de cada huu luguar pera veerem, que


honra devem d’aver os que forem pousados, e segundo em o foro for
1361
contheudo, assy o façam guardar de guisa, que se faça em todo Nosso
serviço como deve.

41 – Outro sy porque fomos certo, que Clerigos d’Oordees Meores, e


alguus d’Oordees Sagras por esforço, que hão em estas Hordees, fazem
1361 *alguus*[7] maaos feitos, [matando e][8] furtando, e fazendo outros
maaos feitos, e seendo consentidores em elles, e encobridores delles, e
que lhes nom he estranhado per seus maiores, a saber, Arcebispo, e
Bispo, e seus Vigairos, como o direito quer, e como he vontade dos

1
No regimento de 1361.
2
João Pedro Ribeiro: “Parece remetter-se à Providencia dada em consequencia do artigo 34 das Cortes de
Santarem da Era 1369 [1331] no Reinado do Senhor D. Affonso IV”.
3
“pausados”, no regimento de 1361.
4
No regimento de 1361.
5
Falta no regimento de 1361.
6
“lhis per ElRey he outorgado no XVII artigo que he contheudo nos artigoos geeraaes que por el fforom
ffeitos nas Cortes que ora ffez em Elvas”, no regimento de 1361.
João Pedro Ribeiro: “O theor deste § mostra ser redactado no Reinado do Senhor D. Pedro I, em que se
celebrarão as Cortes d’Elvas 1399 [1361]”.
7
“muitos”, no regimento de 1361.
8
No regimento de 1361.

259
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Santos Padres, spicialmente do Papa Cremente o quinto, como he contheudo em


huma sua Degratal *Cremencia*[1], que he no titulo do Officio do Juiz Hordenairo
no Capitulo primeiro, pola qual razom recrece grande escandalo.[2]

42 – Mandamos aos Corregedores, que frontem ao Arcebispo, e


Bispos, e a seus Vigairos, que castiguem esses Clerigos, e lhes dem as
1361 penas contheudas no direito, e que os metão a tormento, quando
ouverem presunçom contra elles, ou fama, ou outro alguu
*aminiculo*[3], assy como o direito manda, assy que saibão delles a
verdade pera haverem de seer stranhados os maaos feitos, e os outros
filharem enxemplo; e que (outro sy)[4] amoestem os Clerigos, que tragão as coroas
(abertas)[5], e Tonsuras, como devem; e que usem dos Officios, que perteencem aos
Clerigos como o direito quer, (porque nom o fazendo assy)[6], os outros Clerigos
som *por ello*[7] menos prezados, e grande dãpno se segue [ende][8] ao Povoo; (e
Mandamos)[9], que sejam amoestados [convem a ssaber][10] per tres amoestaçõoes,
*e*[11] se depois dello forem achados nos ditos malefícios, que as Justiças Sagraaes
fação delles direito; e que sejam certos, que se o elles assy nom fizerem, que Nos,
e Nossas Justiças faremos sobre ello o que entendermos, que he mais serviço de
Deos, e assesseguo da terra; e da fronta, que lhes fezerem, e da resposta, que elles
hi derem, assy filhem [ende][12] estormentos; e se esses Corregedores em essas
Correiçõoes acharem algus Clerigos malfeitores, e eses malleficios lhes não forem
stranhados, como o direito quer, feitas as ditas frontas a seus maiores, enviem-nos
dizer toda a verdade do feito, pera lhes mandarmos como façam.

[Aos quaes Corregedores ElRey manda que vejam estas Hordinhações e as façam
conprir e conpram e guardem em todo pela guisa que em ellas he conteudo e
lhis em ellas per e lhe mandado com sguardamento do sseu sserviço sse nom
que ssejam certos que el lho estranhará como a el cabe. Eu Gonçalo beentriz
Sscrivam jurado dado per ElRey a Gonçalo Anes sseu Chanceler e Escrivam na
Correyçom dantre Tejo e Odiana estas Hordinhações escrevy e com orreginal
conçertey = Gonçalo anes][13]

43 – Outro sy Mandamos, que como os Corregedores cheguarem a


cada huu lugar, fação chamar aa Camara, ou aa Casa do Concelho os
1418
Juízes, Vereadores, Procurador, e Hoomees bõos do luguar, e elles
juntos com acordo delles, se acharem, que faz mester, tomarom seis
homees boos do luguar, e elles juntos, com acordo delles farom

1
“Crementina”, no regimento de 1361.
2
João Pedro Ribeiro: “Este § e o seguinte são redactados da Lei do Senhor D. Affonso IV de 7 de Dezembro
Era 1390 [1352], feita a requerimento dos Povos nas Cortes de Santarém Era 1378 [1340]”.
3
“adenymolo”, no regimento de 1361.
4
Falta no regimento de 1361.
5
Falta no regimento de 1361.
6
Falta no regimento de 1361.
7
“porem”, no regimento de 1361.
8
No regimento de 1361.
9
Falta no regimento de 1361.
10
No regimento de 1361.
11
“ca”, no regimento de 1361.
12
No regimento de 1361.
13
No regimento de 1361.
João Pedro Ribeiro tresladou-o do pergaminho n.º 31 da Câmara de Alvito.

260
José Domingues

apartar dous a cada huma parte, e mandem-lhes, que lhe dem cada huu desses
dous homees em escripto apartado sobre sy quaees lhes parecem, que som
perteencentes pera Juízes, assim Fidalgos, como Cidadãaos; e em outro titulo dem
quaees som perteecentes pera Vereadores, e em outro titulo lhe dem quaees som
perteencentes pera serem Procuradores; [e em outro uos dem todos os que som
perteençentes pera coudees, posto que sejam desses que ssom perteençentes
pêra juízes e uereadores][1] e em outro lhe dem os Tabaliãaes todos, e os Hoomees
bõos todos desse Lugar, que forem perteecentes pera serem Escripvãaes da
Camara, e bees desses Lugares, e assy dos Horfõos; e assy em outro titulo lhe dem
os que som perteecentes pera Juízes *d’Espritaaes*[2] nos Lugares, honde se
acostuma, que o nõ som os Juízes Hordenairos, e he Juiz apartado per sy; e estes
rooles farom, e se apartarom a fazer cada dous Homees bõos desses seis em tal
guisa, que sejam tres rooles.

44 – Loguo tanto que o juramento for dado, sem falando mais huus
com os outros, salvo os dous, que forem apartados huu com ho
1418 outro, nom alçaróm delles mãao, nem se partiróm d’hi ataa que
sejam acabados; e como forem acabados, dem-nos a elle dito
Corregedor, e como lhe forem entregues, veja-os, e concerte huus
com os outros, presente os Officiaaes, que ora som, e que fique bem
declarado quaaes ficão, e som perteecentes pera Juízes, e quaees pera Vereadores,
e quaees pera Procuradores; [e assicoudees e escripuaaes da camara][3] e elles
assy apartados farom escrepver em huu livro do Concelho assinado per sua
mãao, e outro fique em elle dito Corregedor, poendo em esse livro cada huu em
seus titulos pêra qual Officio som; e depois que acabar todollos lugares, envie a
Nós esse livro para nos ficar.

[E em esses ofiçios, e pera eles, e cada huum pera o que perteençer, ffarees poeer
todollos fidalgos e uassallos e çidadãaos e outros bõos que em esses lugares
morarem][4]

45 – E feito tal repartimento, e inliçom assy concordada, farom pelouros


per esta guisa pera Juízes. Se de foro, ou de costume do lugar he que
1418 huu dos Juízes seja Fidalgo, e outro Cidadãao, apartará esses Fidalgos,
que forem perteencentes pera serem Juízes *em outros pelouros, e em
outro* saco apartado sobre sy; e os Cidadãaos, que forem perteencentes
pera serem Juízes em outros pelouros, e em outro saco apartado sobre
sy; e nos lugares huu tal costume, ou foro nom ouver, assy os Fidalgos, como os
Cidadãaos todollos que pera Juízes forem (perteencentes)[5], e escolheitos, sejam
lançados em huu saco; e outro sy os que forem perteencentes pêra Vereadores,
sejam postos em outros pelouros, e em outro saco apartado; e assy os Procuradores
em outro saco; [e os coudees em outro saco; e os que am de seer escripuaaes da
camara e dos horfõos em outro saco, e os juízes dos horfõos em outro ssaco][6] e
em cada huu saco de fora poeram huu escripto [coseito][7], que digua [o titollo][8]

1
No Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
2
“dos horfõos”, no Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
3
No Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
4
No Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
5
Falta no Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
6
No Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
7
No Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
8
No Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.

261
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

pera que som os Pelouros, que dentro jazem; e estes sacos todos farom poer dentro
em huma arca bem fechada de duas fechaduras [desuairadas][], e de duas chaves,
e huma das chaves teerá hum dos Juízes, e a outra teera hum dos Vereadores. E
com estes sacos, e Officiaaes, e pelouros, que dentro jouverem, nom bullam, nem
mudem em elles huus por outros os Officiaaes, que pelo tempo forem, [saluo se
alguuns nouamente cassarem ou aa terra veerem morar, que sejam perteençentes
pera auer os ditos ofiçios, ou cada huum deles, ponhom no liuro que lhe uos assi
leixardes, e ponhom no em pelouro para o ofiçio que perteençente for, lançem no
em esse ssaco em que jazem os outros pera esse ofiçio, e quando por a comarca
fordes faça nollo[1] ssaber][2].

46 – E ao tempo que ouverem de fazer os Officiaaes, segundo seu


foro, ou costume, mandarom apregoar o Concelho, e presente todos,
1418 meterá *huu moço de idade ataa sete annos*[3] a mãao, revolvendo
bem esses pelouros em cada saco, e d’hi tirará de cada huu os pelouros,
que cumprir pera os Officiaaes; e aquelle, que assy saírem nos
pelouros, sejam Officiaaes esse anno, e outros nom.

[E por que em alguuns lugares sam ora juízes de fora, uos logo lhe dizee da
nossa parte que sse uaam pera suas cassas, e nom husem mais do ofiçio, e fazee
logo desses pelouros tirar juízes, e enuiem a nos por a confirmaçõ, segundo sse
custuma; e os outros ofiçiaaes, scilicet, vereadores e procuradores que ora sam,
leixaae ussar de seus ofiçios ataa que acabem seu tenpo][4]

47 – (E os Juízes mandarom requerer as Cartas pera usarem do


Officio do julgado ao Corregedor, ou ao Senhorio, que lhas ouver
1418 de dar, e ataa que hajam as ditas Cartas, nom usarom do dito Officio,
e os que o contrairo fezerem, haverom por ello aquella pena, que
Nossa mercee for de lhes dar.)[5]

48 – E a esses Juízes, que som, ou ora entrarem per os ditos pelouros,


mandem os ditos Corregedores, que tirem logo Inquiriçom sobre os
1418 Juízes, que sairom [fora][6] o anno passado, e comecem logo de tirar a
Inquiriçom, e acabem-na do dia, que [lhe por nos for mandado e][7]
elles entrarem no dito Officio ataa huu mez; e enviem-na a Nós do
dia, que for acabada ataa quinze dias sarrada, e asseellada com o seelo
desse Concelho, honde tirada for; e esto sob pena *de pagarem os das Villas
cercadas mil réis cada huu, e os das terras Chãas trezentos cada huu*[8].

[Item. Por que por nos he hordenado que hi nom aja coudees, saluo de tres em
tres annos, e que entrem por dia de santa Maria dagosto, mandamosuos que
logo per toda essa comarca façaaes tirar do saco, que assi for apartado para os
coudees, huum que seja coudel dês esta santa Maria dagosto, que ora foy, ataa

1
“vo llo” no Doc. de 1439.
2
No Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
3
“huum homem sinpres”, no Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
4
No Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
5
Falta no Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
6
No Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
7
No Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.
8
“dos ofiçios”, no Regimento de 1418 e no Doc. de 1439.

262
José Domingues

tres annos, e a este coudell seja dado juramento aos auangelhos, que bem e
dereitamente sem maliçia husse de seu ofiçio, e guarde e faça o que a serui-
ço delRei perteençe, e por suas hordenaçõoes e rregimento he mandado, e ao
poboo nom faça agrauo e sem razom, como nom deue; e em no tirar do pelouro
do coudel sse tenha aquella maneira que sse tem no tirar dos juízes.
Item. Fecto assi esse coudel, mandaae e costrangee os coudees, que ora sam, que
dem a esse que ora for todollos liuros e hordenaçooes e regimentos, que desto
teem, ou trellado delles, pera sse por eles auer de reger.
E assi lhe dem as mais conpridas emformaçõoes que elles auer poderem, per
que possam bem fazer o que lhe emcomendado por seruiço do dito Senhor e
bem de seu poboo.
E, tanto que estes coudees assi forem feitos, mandade aos juízes, cada huuns em
seu logar, que tirem logo em quiriçom sobre o coudel que ataa quy foy, poendo
em essas emquiriçooes todollos acomtiados, e os que ham caualos e beestas e
armas, e sabendo como os tem, e a rrazom por que os escusarom, sse por rogo ou
por peitas ou seruiços que deles leuassem, ou por outra qual quer coussa; ou sse
costrangerom alguuns, que non iuuessem as contias que os teuessem, por odio
e malquerença, ou por lhe peitarem e os seruirem e apremarem; e façam os juí-
zes em tal guisa, que o coudel ssayr, ataa huum mes, seja enquiriçom acabada,
e ataa quinze dias enviada a nos, çarrada e asseelada, para a nos aveermos em
ello liuramento, como nossa merçee ffor. E esta emquiriçom por esta guissa sera
tirada de tres em tres annos sobre o coudel que entam ssair, e assi mandarees
aos juízes que daquy em diante e a esses tenpos forem, que assi o façam, e as
emuyem a nos como dito he.
Item. Em quanto essas enquiriçooes assi tirarem, os coudees que sairem nom
estaram nas villas e lugares onde as tirarem.
Item. Se, endurando estes tres annos que o ofiçio do coudell ha de durar, os
juízes e homens bõos dos lugares sentirem que ante dos tres annos acabados
os coudees fazem ou teem feitas taaes coussas, que nom deuam de fazer, man-
demnos chamar aa cassa do concelho, e amoestemnos que sse corregam, e assi o
façam escrepuer no liuro do comçelho; e sse sse nom quiser correger, façam no
saber a nos, e enuiadenos dizer a uerdadeira emformaçom das coussas que fez,
pera lho estranharmos como virmos que conprir.
Item. Mandae aos almoxarifes e reçebedores dos direitos delRei meu Senhor,
que sse vyrem que estes coudees escussam alguas pessoas como nom deuem, ou
dam maiores espaços e larguezas do que lhe por as hordenaçõoes he mandado,
que o enuiem dizer a nos, para lhe poermos aquell remedio que virmos que
conpre][1]

49 – E aos Juízes, e Coudees, que ora som, e forem daqui em diante, e


assi aos Meirinhos, e Alquaides defenderom da Nossa parte, que nom
1418 levem peitas, nem serviços, nem teenças de nenhuãs pessoas que
sejam, posto que não hajão feitos perante elles, nem hajam conthias
pera terem cavallos, e Armas, ou mereção ser presos por alguus erros,
salvo se for de seus Padres, e Madres, ou ascendentes, ou filhos, ou
seus descendentes, ou seus Irmãaos [ou irmãas][2], dos quaes possam tomar
quaeesquer cousas, que lhes derem, (ou de seus Senhores, com que viverem)[3]:
outro sy possam tomar serviços de seus parentes aaquem do quarto graao, e de

1
No Regimento de 1418.
2
No Regimento de 1418.
3
Falta no Regimento de 1418.

263
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

seus Caseeiros, e familliares, com tanto que o serviço nom passe [de uallia][1] de
huã marraã, ou d’huum carneiro, e mais nom; e se lhes alguã pessoa quizer fazer
doaçom de bees, ou d’outro serviço qualquer, enviem-no-lo dizer, pera Nós veer-
mos, se he bem de lhes darmos pera ello licença. E estas cousas suso ditas
guardarom em sy os Corregedores, e farom guardar aos outros [que depôs forem]
[2]
; [e conpriuos meesmos; que uos e elles seede çertos][3]e se o contrairo fizerem,
(e vier aa Nossa Vedoria)[4], *dar-lhes-emos por ello grave pena*[5].

[Item. Por que per nos he hordenado que os juízes dos horfõos e escripuaaes
da camara e dos horfõos das çidades e uillas e lugares, onde os ouuer, ssejam
postos em cada huum lugar de tres em tres annos, nos lugares onde juízes ou
escripuaaes desses ofiçios ouuer perpetuos por cartas delRey meu Senhor, ou
dos corregedores ou comçelhos ou doutras quaaes quer pessoas, defendelhe
que nom hussem mais desses ofiçios, e fazee logo tirar dos sacos susso ditos,
por pelouros, os juízes dos horfõos e escripuaaes da camara e dos horfõos; e
esses que assi ssairem por ofiçiaaes, e tenham e ussem dos ditos ofiçios des este
dia de santa Maria dagosto, que ffoy, ataa tres annos, e dhi em deamte, assi por
esse dia façam outros de tres em tres annos; e os juízes, que ora ssam, tirem logo
enquiriçom sobre os juízes dos horfõos e escripuaaes do ofiçio da camara, como
hussarom dos ditos ofiçios, ou sse fezeram em elles o que nom deuiam, e sse
os beens dos horfõos sam danificados ou mal parados; perguntadeo em jeeral,
e deçendendo ao espiçial, ssegundo per essas enquiriçõoes virem que compri;
e feita em tal guissa que essas emquiriçõoes sejam tiradas desse dia, que os
outros ssairem, ataa huum mes, e enuiadas a nos ataa quinze dias, como susso
dito he na emquiriçom dos coudees; e esta maneira de enquirir sse faça daquy
em deante; cada uez que esses ofiçiaaes saírem e entrarem os outros.
E mandamos a esses outros que nom leuem peitas nem seruiço, assi como he
mandado aos outros juízes, e assi aos escripuaaes, como he mandado aos tabal-
liãaes, e sobre aquella pena.
Item. Outro ssi he hordenado per nos que nom aja hi procuradores do numero,
saluo na nossa corte e peramte vos tres, e porem em essa comarca por as çida-
des e uillas e lugares della mandarees apregoar e defender que nem huum nom
seja tam housado, de quall quer estado e condiçom que sseja, que vogem, nem
procurem, nem ussem dese ofiçio em pubrico nem em escondido, sob pena de
perder os beens pera nos, e seer presso ataa nossa merçee; pero sse alguum
fidalgo, ou pessoa poderossa, ou viuua, ou horfoom ou outra misarauil pessoa
ouuer preito e demanda peramte os juízes com outra pessoa, mandamos que em
tal casso possam essas pessoas, ou seus outros e curadores, emuiar a juízo por
seu procurador em seu nome huum seu criado ou familliar, ou outro que nom
seja dos que ssoiam a seer procuradores do numero; e esse que assi for emuiado
possa procurar em juízo por el em aquel feito que assi ouuer, e nom em outro,
nem feito doutro nem huma pessoa, saluo em seu feito proprio, ou de seu padre
e sua madre ou auoos, ou de seus parentes ataa quarto graao.
E quamto perteençe aos tres procuradores, que amte uos em essa correiçom ham
de procurar, serem escolheitos por nos ou per quem nos mandarmos. E aquel-
les que hi assi procuradores forem nom uogarom, nem procurarom, nem faram
razooes pera darem perante outros juízes e justiças, sob a pena susso dita.

1
No Regimento de 1418.
2
No Regimento de 1418.
3
No Regimento de 1418.
4
Falta no Regimento de 1418.
5
“que uos priuaremos dos ofiçios, e uollo estranharemos como nossa merçee for”, no Regimento de 1418.

264
José Domingues

Item. Nom leuarom peita nem seruiço nemhuum das partes, que assi uogarem
ou procurarem, saluo tam solamente o solairo que ouuerem dauer, segundo
manda ha hordenaçom que sobre esto he feita, sob pena de perder o ofiçio e o
corpo, he os beens serem pera a nossa merçee.
Item. Por essa comarca, por onde assi fordes, sabee em cada huum lugar os taba-
liãaes que hi podem auondar, e com acordo dos homens bõos leixaae aquelles
que auondarem, e mais nom; os quaees sejam escolheitos que ssejam de boa
fama, uerdadeiros e de boa condiçom, e aos outros defendee que nom ussem
mais dos ofiçios.
Item. Mandaae e defendee da nossa parte a esses tabaliãaes que nom tenham
escripuãaes, non embargando que pera ello teuessem ou tenham cartas per que
os possam teer, sob pena de seerem priuados dos ofiçios.
Item. Defendemos e mandamos a esses tabaliãaes que non leuem peitas, nem
geiras, nem seruiços das partes a que ouuerem de teer feitos e fazer escripturas,
saluo o que lhe he taixado que ha de leuar, segundo manda a hordenaçom; e o
que o contrairo fezer sseja priuado do ofiçio, e darllo ham a quem o acussar, sse
for pera elo perteençente.
Ourtro ssi mandamos que, quando sse alguum tabeliam morrer, ou permudar
em outro ofiçio, em tal guissa que per neçesidade conpra de poer outro tabeliam
em seu nome, que os homens bõos do dito lugar emlejam antre ssi aquell que
emtenderem, que pera tall emcarrego sseja bõo e de boa famae hidonio e per-
tencente; e esta emliçom seja feita antre elles, sem outra afeiçom, nem peita nem
rogo, senon dereitamente como sse deue fazer; e entom emuiem a nos aquell
que assi emlegerem, com escriptura pubrica da enliçam, pera lhe mandarmos
dar carta por que possa hussar do dito oficio, e assi o outorgamos aos ditos com-
çelhos em [quanto] nossa merçee for, e acharmos que o fazem como deuem.
Item. Em todallas çidades e villas e lugares dessa correiçom, e assi por dante
uos defenderees que nem huum non sseja emqueredor dos que ora eram por
carta ou por outro mandado; e uos e juízes e justiças, cada huum em seu lugar,
quando acomteçer que se aja de tirar alguma emquiriçom, seja tirada por uos
ou por esses juízes que dos feitos conhoçerem, se o poderdes fazer, e sse nom
cometedea a dous escripuãaes ou tabaliãaes, que sejam sem sospeita; e sse os hi
nom ouuer, cometedea a dous homens bõos, que sejam sem sospeita; e o mais
a prazer das partes que o fazer poderdes, saluo as emquiriçõoes, deuassas de
mortes dhomens, e agrauos, e excessos, que defendemos a uos e a esses juízes
que as nom cometaaes a nenhuum, e as tirees por nos, e emuiees logo o trelado
ao Corregedor da corte, como uos sepre foy mandado][1]

50 – E porque por Nós he hordenado que hi nom haja Alquaides


pequenos, salvo de tres em tres annos, nos lugares, honde he foro, ou
1418 costume, que os Alquaides maiores ponhão os Alquaides pequenos,
defenderom os Corregedores a *seus*[2] Alquaides pequenos, que ora
som, que nom uzem mais dos Officios, (que os ditos tres annos, salvo
se teverem os ditos Officios per Nossa Carta especial; e os que tal
graça nom teverem, os tres annos acabados)[3], requeirão aos Alquaides maiores,
que a aprazimento dos Homees bõos dos lugares ponhão Alquaide pequeno; e
como for posto, seja loguo escripto no livro de Concelho, e dem-lhe juramento
sobre os Evangelhos, que bem, e direitamente use do dito Officio: e nos lugares,
honde os Nós avemos de fazer, vejam esses Homees bõos alguu, que pera ello seja

1
No Regimento de 1418.
2
“esses” no Regimento de 1418.
3
Flata no Regimento de 1418.

265
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

pertecente sem outro roguo, nem afeiçom, e emviem-no a Nós com sua Carta,
pera o confirmarmos, ou poermos outro, qual virmos que compre; e nos lugares
honde se de foro, ou costume sempre pôs per os Concelhos, usem de seu foro, ou
costume. E tanto que esse Alquaides sahirem, e os outros forem postos, tirem logo
os Juízes sobre elles Inquiriçom, e seja acabada ataa huu mez, e enveada a Nós
ataa quinze dias, como suso dito he nos outros officiaaes.

51 – E estes Alquaides em durando o tempo de seus Officios, nom


1418 sejam rendeiros de nenhuãs rendas, nem tomem companhia com os
rendeiros, sob pena de serem privados dos Officios.

52 – Outro sy porque os Alquaides nom querem prender as barregãas


dos Clerigos, e por sua negrigencia estão com elles em esse peccado,
1418 Mandamos a esses Corregedores, que se acharem, que ellas assy
vivem, e nom som presas, que compram a *Hordenaçom*[1] nos ditos
Alquaides, e levem delles as penas contheudas na dita Hordenaçom;
e nom o fazendo assim, sejam certos, que lhas faremos paguar em
tresdobro pera a Nossa Chancellaria.

53 – *E porque, posto que pelos Reyx, que ante Nós forom, fosse
defeso, que nom trouxessem armas, se nom certas pessoas, avemos
1418 por certa informaçom, que se nom guardava, nem guarda agora em
aquelles, a que defendemos, que as nom traguam,*[2] e esto por azo
dos Alquaides maiores, que mandavão a todos os seus, que as
trouxessem, e davam licença a outros, que as trouxessem, e o Alquaide
pequeno nom as tomava, nem coutava a aquelles, que as trazião, e por esto nom
lhes era dado escarmento, nem posta pena a eses Alquaides; e porque elles fazem
*todo*[3] contra Nosso mandado, nom avendo tal poder; com acordo dos do Nosso
Conselho poemos por Ley, e Mandamos, que nenhuu Alquaide maior nom dê
licença, nem mande trazer armas nenhuãs a nenhuus, que com elle vivão, nem a
outras nenhuãs pessoas (daquellas, a que per Nós he, ou for defeso)[4].

54 – Outro sy o Alquaide pequeno quando quer que as vir trazer a


alguus, se nom forem das pessoas, que as per Ley, ou por Nossas
1418 Cartas ouverem de trazer, que as tome, e coute, como lhe he mandado;
e nom o fazendo elle assy, e fazendo o contrairo, Mandamos a esse
Alquaide moor por qualquer, que mandar trazer arma, ou der licença,
que a tragua (contra Nossa defesa)[5], que pague dous mil reis
*brancos*[6]; e o Alquaide (pequeno)[7], que nom tomar, ou coutar arma, ou
consentir a alguu, que a tragua, pague mil reis por cada huma vez pera a Nossa
Chancellaria.

1
“condenaçom”, no Regimento de 1418.
2
“E por que a nos foy dito que a lley em que he defesso que nemhuum nom trouxesse armas, saluo caua-
leiro e honrrados çidadãaos de lixboa, sse nom guarda, e que solamente tragiam armas”, no Regimento
de 1418.
3
“muy mal despreçarem com a lley”, no Regimento de 1418.
4
Falta no Regimento de 1418.
5
Falta no Regimento de 1418.
6
“de tres libras e meã”, no Regimento de 1418.
7
Falta no Regimento de 1418.

266
José Domingues

55 – E porque em vãao (som)[1] postas as Leyx, se nom ouver quem


acuse os que as britão, e averem eixecutor, e manteedor dellas,
1418 Mandamos a todollos Taballiãaes, que screpvão em seus Estados
todallas pessoas, que virem, e souberem, que trazem armas (contra
Nossa defeza)[2] per mandado, e consentimento desses Alquaides,
que as vêem, e lhas nom querem tomar, e coutar; e os dem em escripto
ao Corregedor quando a esse luguar, e Comarca vier, pera os penhorarem por
essas penas, e os dinheiros dellas mandarem entregar ao Recebedor da Nossa
Chancellaria, sob pena de as pagar o Corregedor em dobro; e se esses Taballiães
esto assy nom fezerem, e lhes for provado que o sabem, *Mandamos que sejam
por ello presos, e paguem a pena anoveada da Cadêa*[3].

56 – Outro sy Mandamos, e defendemos que os Carcereiros nom


levem peitas, nem serviços dos presos, que teverem em suas Cadêas,
1418 nem doutrem por elles, sob pena de *as pagarem anoveadas da
Cadêa,*[4] e averem pena nos corpos, (qual Nossa mercê for)[5]. Porém
Mandamos aos Corregedores, e aos Juízes, cada huu em sua Comarca,
que saibam em cada huu mez sobre esto a verdade per Inquiriçom,
assy per os presos, como per outros, se as levão; e se acharem alguus culpados,
façam-nos prender, e fazer delles direito.

57 – Outro sy porque alguus malfeitores, que som culpados


notoriamente em muitos graves excessos, andão per partes do Regno,
1418 e porque som *chegados a*[6] alguus poderosos, as Justiças os nom
podem prender, pera se delles fazer cumprimento de direito,
Mandamos, que os ditos Corregedores sejão bem diligentes pera taaes
malfeitores haverem de seer presos; e se acharem pelas Inquiriçõoes,
que sobre elles, ou cada huu forem forem tiradas, que som culpados em graves
(malefícios)[7] e eicessos, assy como serem (treedores, e aleivosos, ereges, e
sodomitas, falsarios de moedas)[8], teedores de caminhos, ou roubadores
d’estradas, ou ladrõoes públicos, ou forçadores de mulheres, ou matadores de
homees sem porque, ou scalladores de casas, ou outros casos semelhantes, [em
estes cassos, ou cada huum deles sejam husseiros e uezeiros de os fazer][9] e por
taes sejam avudos, e defamados em essa Comarca, honde assy fezerem os
malefícios, façam elles, e os Juízes per tal guisa, que os prendão.

58 – E se alguus Fidalgos, ou Bispos, ou Meestres, ou Abbades, ou


outras pessoas poderosas os trouxerem comsigo, [e os uos ou os
1418 juízes virdes, requereeos que uollos entregem logo; e sse os non
virdes][10]e forem os Corregedores certos per testemunhas, que os
trazem comsigo, ou os teem em suas casas, requeirão-nos, que os

1
Falta no Regimento de 1418.
2
Falta no Regimento de 1418.
3
“mandamos que percam o ofiçio, e seja pera aquell que o acussar, sse for perteençente para el”, no Regi-
mento de 1418.
4
“perderem os ofiçios”, no Regimento de 1418.
5
Falta no Regimento de 1418.
6
“achados”, no Regimento de 1418.
7
Falta no Regimento de 1418.
8
Falta no Regimento de 1418.
9
No Regimento de 1418.
10
No Regimento de 1418.

267
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

entreguem, ou lancem fora [de ssi][1]; e nom os querendo entregar, ou lançar fora,
provando-se, que os trazem comsigo, ou os *consentem*[2], depois que o
*negarem*[3], e fora de sua casa, e companhia nom lançarem, *que pareçam per
pessoa perante Nos a certo tempo a se escuzar dello*[4].

59 – (E se pela ventura os malefícios, em que os malfeitores som


culpados, forem leves, em que nom averião de morrer, posto que
1418 lhes provado fosse, e depois que lhes assy for requerido, os nom
deitarem fora, como dito he, paguem por cada vez que os nom
entregarem, ou lançarem fora, cem coroas pera a Nossa Chancellaria;
e Teerão avisamento, que lhes façam os requerimentos tantas vezes,
que a elles convenha de os entreguar, ou lançar fora; e levarom comsigo
Tabaliãaes, ou Tabalião, se hi mais d’huu nom ouver, ao qual farom escrepver
os requerimentos, que lhes assy fezerem, e esso medes aos Escripvãaes, que
perante elles screpverem; e nos enviarom todo o auto, que assy fezerem, pera o
veermos, e com sua desobediencia, pera em seus beens, ou rendas Mandarmos
fazer logo eixecuçom pola dita pena; e aalem dello, procederemos contra elles,
segundo per direito acharmos.)[5] E para seermos certo quaes esses malfeitores
som, Mandamos aos ditos Corregedores, que nos enviem todallas querelas, e
denunciaçõoes, [e enqueriçõoes][6] estados, e informaçõoes, que dos ditos
malfeitores, e cada hum delles teverem, pera as veermos e procedermos contra
elles, e os baniremos [sse tanto contra elles for achado][7].

60 – E contra estes, que assy acharem culpados (nos graves malefícios,)


[8]
farom poer Edictos nas Praças dos lugares, onde são moradores, e
1418 teem seus bees, e parentes, que do dia, que for posto o dito Edito a
dous mezes, se venhão livrar, e mostrar por sem culpa dos ditos
excessos, em que som culpados, perante Nós; do qual termo, como for
posto a cada huu, nos enviarom fazer certo por Escriptura publica,
porque nom viindo, (nem)[9] parecendo ao tempo, que lhes assy for assinado,
procederemos aa sua reveria contra elle, e saberemos a verdade; e se o acharmos
culpado, daremos a Sentença contra elle, e condapnaremo-lo à morte; e Mandamos
aos Corregedores, Juízes, e Justiças, que os hajam por banidos, e que apelidem
sobre elles toda a terra, pera os haverem de prender, e como forem presos, que
sejam (logo)[10] enforcados, e mortos sem mais alçada, seendo certas as Justiças, que
aquelle, que assy for preso, he aquella pessoa, que assy for banida, e nom outra.

1
No Regimento de 1418.
2
“assi teem”, no Regimento de 1418.
3
“nom entregar”, no Regimento de 1418.
4
“pague, por cada uez que nom entregar ou lançar o malfeitor, çem coroas douro para a nossa chançela-
ria”, no Regimento de 1418.
5
Falta no Regimento de 1418. Mas repete a pena, da nota supra, de 100 coroas para a chancelaria, cada vez
que não entregassem ou lançassem fora o malfeitor.
6
No Regimento de 1418.
7
No Regimento de 1418.
8
Falta no Regimento de 1418.
9
Falta no Regimento de 1418.
10
Falta no Regimento de 1418.

268
José Domingues

61 – Outro sy qualquer, que o matar, o possa matar sem pena; e se for


sabudo, que alguã pessoa, de qualquer estado e condiçom que seja, o
1418 encubrio, ou *trouxe*[1] em sua casa, ou trouver comsigo, [ou souber
onde esta][2] e nom o disser aas Justiças despois que assy for julgado,
se for Fidalgo, ou Vassallo, ou pessoa honrada, por cada vez pague
cem Coroas d’ouro para a Nossa Chancellaria; e se for de mais
pequena condiçom, seja açoutado publicamente pola Villa, e seja degradado ataa
Nossa Mercee; e em esses [casos][3] procedam os Corregedores, e esses Juízes assy
contra elles, julgando-os por Sentença, e dem apellaçom pera Nós, teendo-os em
tanto bem presos, epra se em elles poder cumprir direito, e Justiça; (e se as
sobreditas pessoas sabendo honde estavão taaes malfeitores assy julgados os
nom descobrirem aas Justiças, posto que os nom encobrissem em suas casas, ou
comsigo trouxessem, paguem cinquoenta Coroas)[4].

62 – E esto, que suso dito he (na primeira parte, a saber, do que


encobrio, ou trouxe comsigo)[5], nom se entenda nos parentes do
1418 banido ataa o quarto graao, porque estes Mandamos, *que nom
paguem mais de trinta Coroas; e se os nom culparem em outra cousa,
salvo em o nom noteficarem aas Justiças, sabendo osde estavão, que
nom ajam por ello pena alguã*[6].

63 – (Outro sy esto, que suso dito he, de paguar a dita pena, haja lugar
em aquellas pessoas, que encobrirom, ou comsigo trouxerom, e já
1418 nom teem faculdade de o entregar aas Justiças; ca se o ainda tevessem
em sua casa, ou comsigo trouxessem, seendo requeridos, e o nom
entregando, Mandamos que assy dentro em suas casas, como fora per
qualquer via, e modo, que o possam prender, e haver aa mãao, que o
prendão. E se taaes pessoas, ou Senhores forem, os que os assy ocultarem, ou
comsigo trouxerem, que por sua grande potencia os nom possam prender os ditos
malfeitores, que tanto que os requererem, que os entreguem; e nom os querendo
entregar, que o emprazem que venha per pessoa perante Nós responder por ello;
e se se nom escusar de tal culpa, seja suspenso de sua jurdiçom, a qual tomem, e
tenhão em Nosso nome, ataa que sobre ello vejão Nosso mandado.)[7]

64 – Outro sy Mandamos, que saibão *nos Lugares, onde ha


pessoas,*[8] que usem de hir a Moesteiros, ou som emfamados com
1418 alguãs Donas delles, e deffendão a elles, que nom vãao mais a esses
Moesteiros de noute, nem de dia; e os que acharem que a elles mais
vãao depois da dita defesa, [se forem fidalgos][9], sejam logo
degradados dessa Correição ataa Nossa mercee; e se forem outros de
mais pequena condiçom, prendão-nos, e enviem-nos a defesa, que lhes fezerom, e
as Inquiriçõoes, que teverem contra elles, pera lhes dar-mos pena, qual Nossa
mercêe for: e tal recado leixem aos Juízes dos lugares, que assy o façam.

1
“teuer”, no Regimento de 1418.
2
No Regimento de 1418.
3
No Regimento de 1418.
4
Falta no Regimento de 1418.
5
Falta no Regimento de 1418.
6
“os possam teer e encobrir ataa tres dias, e sse for achado que o mais tem ou emcobrem ajam a pena susso
dita”, no Regimento de 1418.
7
Falta no Regimento de 1418.
8
“onde ha moesteiros de donas, e sse ha hi alguuns homens”, no Regimento de 1418.
9
No Regimento de 1418.

269
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

65 – Outro sy Mandamos, que requeirão aos Bispos de sas Correições,


que lhes enviem huu homem [que seja][1] bõo de boa fama, e com esse
1418 homem tirem Inquiriçom, e saibam em cada huu lugar, assi por
testemunhas, como por escriptura, como o melhor poderem saber,
cujo he o Padroado das Igrejas desses lugares, e se os Bispos, ou
outrem assy da Hordem, como Fidalgos, e Leigos se chamarem
Padroeiros dessas Igrejas, ou de cada huma dellas, requeirão-nos, que lhes dêem
as provas, e os façam dello certos por escripturas, ou per testemunhas, e tirem
sobre todo Inquiriçõoes, e acabem-nas sem delongua, e emviem-nas logo a Nós; e
quando assy ouverem de tirar essas Inquiriçõoes, logo requeirão a esses, que som
Padroeiros, (que lhes mostrem)[2] per escripturas, ou provem per testemunhas
ataa tempo certo como o Padroado a elles perteence, pera todo mandarem a Nós;
e que sejam certos, que se o assy nom mostrarem, ou provarem, que nom serom
mais ouvidos.

66 – E porque os Concelhos [dessa comarca][3] se aggravão dos


Corregedores, e dos Officiaaes, que com elles [em essa correiçom][4]
1418 andão, que os costranguam, que lhes tragão os mantimentos aos
lugares, honde stam, e lhos fazem vender a menos preço: Outro sy lhes
tomão palha, e lenha, que tem em suas casas sem dinheiros, o que Nós
avemos por mal feito: Porém Mandamos, e defendemos, que daqui em
diante os nom constrangam que lhes levem d’huu lugar a outro mantimentos
nenhuus, nem lhos tomem, nem mandem tomar por menos preço, do que vallem,
nem lhes seja tomada palha, nem lenha de suas casas contra suas voontades, e o que
ouverem mester, comprem-lhe per os seus dinheiros aa sua voontade.

67 – E assy Mandamos, e defendemos, que nom tomem bestas


d’albarda pera suas carregas, nem desses Officiaes, nem pera outras
1418
nenhuãs pessoas; e os que as mester ouverem, busquem-nas aas
vontades de seos donos por seu aluguer.

[Item. Por que, auendo ora de conprir todas estas cousas, e poendoas en
enxucoçom uos fazia grande deteença nos lugares, mandamosuos que por
ora ponhaaes mãao em fazerdes apressa esses pelouros dos ofiçiaaes, e poer
os coudees e juízes dos horfõos e escripuãaes da camara e orfõos e alcaides
pequenos, e mandaae recado quanto pertence aos procuradores por a comarca,
posto que allo tam çedo non vaades][5]

68 – E façam pobricar estas Hordenaçõoes em as Cidades, e Villas, e


Luguares maiores, honde forem Corregedores; e o Escripvão, que for
1418
da Camara nos Lugares, honde assy pobricarem, trelade-as no livro do
Concelho, e lea-as cada mez aos Juízes, e Vereadores na Camara, e
quando esteverem na Audiencia, sob pena de pagar por cada *vez*[6]
que as nom poblicar, mil reis pera as obras do Concelho; e estas (Hordenaçõoes)[7]
assy poblicadas ponhão-nas na Arca da Chancellaria de cada huã Correiçom.

1
No Regimento de 1418.
2
Falta no Regimento de 1418.
3
No Regimento de 1418.
4
No Regimento de 1418.
5
No Regimento de 1418.
6
“mes”, no Regimento de 1418.
7
Falta no Regimento de 1418.

270
José Domingues

69 – Outro sy tanto que o Corregedor novamente chegar à sua


1446 Correiçom, tirará Inquiriçom sobre o Corregedor, que ante elle foi,
– Rui em cada huu lugar, perguntando segundo modo, e forma contheuda
Fernandes no titulo seguinte, se per outra pessoa nom for primeiramente tirada
per Nosso special mandado.

70 – E tanto que começar a usar do Officio, e tirar Inquiriçom, dirá da


1446 Nossa parte ao que ante elle foi Corregedor, se ainda for na Comarca,
– Rui que se vaa loguo d’hi, e nom ste, nem entre hi mais ataa que as
Fernandes Inquiriçõoes sejam acabadas, e enviadas a Nós, como dito he, salvo se
forem moradores na dita Correiçom; e a este dirom, que nom entre no
lugar, onde se tirar a Inquiriçom.

71 – Outro sy Mandamos, que andem per toda a Correiçom, e usem


1446 do Officio, como lhes he mandado, e façam em tal guisa, que nom
– Rui stem nos lugares grandes, e cercados mais de quinze dias, e nos
Fernandes lugares chãaos ataa oito dias, salvo se pera ello ouverem Nosso
especial mandado; e fazendo o contrairo, sejam certos, que lho
estranharemos gravemente, e os penaremos, segundo for Nossa
mercee, e virmos que o caso requere.

São muito escassos os parágrafos (§§ 33, 69,70,71) inéditos de Rui Fernandes.
O parágrafo 33 é justificado pela transladação da matéria respeitante aos juízes,
vereadores e almotacés para os respectivos títulos. Ou seja, ao passar essas matérias
para os regimentos dos oficiais respectivos, o colector afonsino não desvincula
totalmente o corregedor do desvelo, por isso se acautela com este parágrafo. Os
parágrafos 69 e 70 são, no fundo, uma previsão e remissão para o título seguinte
(tít. 24 – Em que modo hão de enquerer sobre o Corregedor da Comarca, quando acabar ho
tempo de seu Officio). O parágrafo 71, apesar de surgir pela primeira vez integrado no
regimento dos corregedores de comarca[1], não é totalmente novo, é antes o corolário
das decisões das Cortes de Évora de 1408, conforme artigo apresentado pelos fidalgos
do reino[2]. Ainda em Évora, o monarca envia carta, com esta decisão, aos juízes da
cidade do Porto – “Dante em a cidade dEuora XX dias dabril ElRey o mandou nas cortes que
ora fez na dita cidade deuora”[3].
Saliente-se que o regimento que está em vigor, em 1439, no processo da jurisdição
do bispo de Coimbra em terras da Beira, sobre a eleição por pelouros (§§ 43 a 48), é o de
1418, muito diferente do das Afonsinas. O que quer dizer que o regimento do livro I das
Afonsinas ainda não estava em vigor ou, então, nem sequer existia e as alterações que
ele insere são posteriores a esse ano de 1439. Dificilmente poderemos chegar a uma

1
Em nenhum dos regimentos anteriores que chegaram aos nossos dias consta o tempo que os corregedores
deviam passar nos lugares. No entanto, esta normativa deve ter sido acrescentada, após as Cortes de 1408/
Évora, aos regimentos em vigor, uma vez que num capítulo geral das Cortes de 1427/Lisboa consta que os
corregedores guardem o regimento quanto à duração da estada nos lugares e que seja declarado o sentido de
«estar mais tempo quando o entenderem por serviço do rei» [Cfr. SOUSA, As Cortes Medievais, vol. II, p. 275]
2
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 59, § 41, p. 374.
3
Porto, AHM – Livro 3.º de Pergs., doc. 62.
Corpus Codicum, vol. IV, Est. LXVI, Doc. 62.
Armindo de Sousa, baseado neste documento do Porto, coloca o artigo entre os gerais do povo, no entan-
to, estou convicto que esta reivindicação foi feita pela fidalguia, conforme consta no título das Ordenações
Afonsinas, indicado na nota supra.

271
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

certeza, de qualquer forma, é mais um indício a inculcar que essas alterações tenham
sido feitas por Rui Fernandes – uma vez que em 1439 já era falecido o corregedor João
Mendes – e, em suma, a reforçar a ideia de que tenha sido ele o mentor deste livro I.
Em definitivo, tal como ficou dito, Rui Fernandes agrupa os dois regimentos de
1361 (que incluí os de 1332 e 1340) e de 1418, exclui alguns parágrafos deste último – os
relativos aos coudéis, juízes dos órfãos, escrivães da Câmara, procuradores do núme-
ro, tabeliães e inquiridores – e transita outros para os títulos respectivos – os dos juízes,
vereadores e almotacés – e acrescenta muito pouco ou, praticamente, nada.

Vejamos, agora, o procedimento de Fernandes, em relação aos regimentos dos ofi-


ciais municipais, confrontando-os com os do Regimento de Évora.

XXVI – Dos Juízes Hordenairos, e cousas, que a seus Officios perteencem.


[Gabriel PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora, Évora,
Typographia da Casa Pia, 1.ª Parte, 1885, pp. 167-170.
(Ed. Fac-Simile da Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998, pp. 177-180)]

Os Juizes devem seer [mui][1]cuidosos, e trabalhar, que na Cidade, (ou Villa,


honde for Juiz,)[2] e em seos termos se nom façom malleficios, nem malfeitorias, e
se forem feitas, ou outros alguuns dãpnos, tornarem aos que os fazem com grande
diligencia, e sem tardança.
1 – E porem mandamos aos Juízes, que som, e pelo tempo forem, que em cada
huum anno huma vez vaa huum delles por os termos da Cidade, (ou Villa)[3]
saber, e enquerer, e fazer geeral Correiçom sobre estas cousas.
2 – Item. Se acontecerem hi mortes d’homeens, ou de molheres, ou furtos, ou
roubos ou forças de molheres casadas, ou virgeens, solteiras, ou viuvas, e se cada
huma destas cousas acharem, saber quem as fez, e em que tempo, e como, ou por-
que, enquerendo sobre cada huum em geeral, e decendendo ao especial, honde
virem que compre.
3 – Item. Saber se há hi taffuues, e homeens que vivão mal.
4 – Item. [saber][4]Se ha [hi][5] adevinhos, [ou feyticeiras][6] ou feiticeiros, ou
*alcovetas*[7].
5 – Item. Se ha hi algumas molheres, que sejam barregãas de homeens casados, ou
de Clérigos, ou Frades, ou d’outros Relligiosos.[8]
6 – Item. Se ha hi alguuns, que sejam dãpninhos com seos guados, e bestas, e os
lancem assabendas de dia, ou de noute nos agros dos pãaes, vinhas, e hortas, e
pumares, e nos outros lugares, que dam fruito.

1
No Regimento.
2
Falta no Regimento.
3
Falta no Regimento.
4
No Regimento.
5
No Regimento.
6
No Regimento.
7
“alcouveteiras” no Regimento. E “alcouvetas” na outra versão.
8
A lei das barregãs dos clérigos (OA, Liv. II, Tít 22 e Liv. V, Tít. 19) está datada de 1401, Dezembro, 28. Pelo
que o regimento será posterior.

272
José Domingues

7 – Item. Se ha hi alguuns, que furtem, ou cortem as arvores, e olivaaes alheos,


que dem fruito.
8 – Item. Se ha hi alguuns, que tomem, ou forcem, e per alguma guisa embarguem
as jurdiçõoes do Concelho, e lhe vaam contra seus foros, e previlegios.
9 – Item. Se ha hi alguuns, que tomem, ou embarguem os bens, e possissõoes, e
ressios, e caminhos, e servidõoes do Concelho.
10 – Item. Se ha hi fontes, ou chafarizes, ou caminhos, e calçadas do Concelho, que
sejam mal *apostadas/postas*[1].
11 – Item. Se o Alcaide maior, ou meor põem Alquaide de (sob)[2] sua mãao em
alguuns lugares, honde se nom deve de poer.
12 – Item. Se Fazem *pedidas*[3] de pam, e vinho, e guados, e d’outras cousas.
13 – Item. Se prendem, ou soltam alguuns sem mandado da Justiça, ou se os lei-
xam de prender por peitas, que recebam.
14 – Item. Se *allugam*[4] geiras, ou serviços.
15 – Item. Se os Juizes do anno passado usarom de seus Officios como devião, ou
se fezerom aggravos alguuns.
16 – Item se leixarom de fazer direito, e Justiça per medo, ou [por][5] temor, ou por
peita, ou por amor, ou por negrigencia.
17 – Item. Se levarom serviços, ou geiras, e de quem [as levaram][6].
18 – Item. Se ha hi alguuns Saiõoes, ou algumas pessoas poderosas[7], que façam
soberbas, ou costrangimentos na terra, ou que enduzam os homeens a andarem
em arroidos, e contendas, e feitos.
19 – E das cousas, que achar, que elle per sy logo pode correger, prenda, e correga
dando appellaçom, e aggravo nos casos, que deve; e se taaes cousas forem, que
per sy nom poder correger, faça-o saber aaquelles, a que perteence; *a saber*[8],
dos crimes, e malfeitorias a Nós, e ao Corregedor, e das outras, que ao Concelho
perteencem, aos Regedores, e Officiaaes do Concelho.
20 – E outra tal Inquiriçom deve tirar dentro na Cidade, (ou Villa)[9] per as
Freguezias, e fazer sobre todo guardar as Leyx, e Hordenaçõoes do Regno, e as
posturas, e *Hordenaçõoes*[10] do Concelho.
21 – Item. Em todos os feitos de mortes d’homeens, e molheres, e forças, e roubos
deve tomar per sy as Inquirições, nom as cometendo a outro nenhuu, e como
forem acabadas, enviar-nos (os)[11] feitos das mortes (a saber)[12] ho trellado a Nós, e
outro ficar na Arca do Concelho.[13]

1
“postadas”, no Regimento.
2
Falta no Regimento.
3
“pedidos”, no Regimento.
4
“levam”, no Regimento.
5
No Regimento.
6
No Regimento.
7
Consta apenas na outra versão do Regimento.
8
“. S .”, abreviado no Regimento.
9
Falta no Regimento.
10
“vereações” no Regimento.
11
Falta no Regimento.
12
Falta no Regimento.
13
D. João I, em carta de 23 de Agosto de 1401 (Lisboa), ao concelho do Porto, manda que o juiz por ele colo-
cado, que nos feitos de morte, roubos ou enforcamentos, em que se devam tomar inquirições devassas as
tire por si, com tabeliães e não as faça tirar por outros e que guarde essas inquirições na arca do concelho
e lhe envie o traslado delas, “como he conthudo nas hordinhaçoens dos nossos Reynos”. [“Verações” Anos de
1401-1449, vol. II, Porto, 1980, p. 66]

273
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

22 – Item. Trabalhem-se de saber parte dos malfeitores, e os prender; e se na terra


nom forem, saberám honde som, e enviar recado aos Juizes, e Justiças, que os
prendam, e lhos enviem.
23 – Item. Fazer suas Audiencias bem ouvintes, e assessegadas, e *ouvindo/
ouvir*[1] as partes bem, leixando-lhes dizer de seu direito o que quiserem, nom
lhes dizendo maas pallavras, nom os doestando, nem fazendo outro mal por
refertarem o seu direito.
24 – Item. Trabalhem-se, que façam ambos as Audiencias aos tempos, que devem;
e quando algum delles for doente, ou *ausente*[2] de justa causa, nom leixe, nem
ponha por sy Ouvidor; e faça-o saber aos Vereadores, e Regedores, e elles darom
carrego a *alguum*[3] dos Vereadores, qual virem, que mais perteencente for, que
o dito carrego tenha.
25 – Item. Saibam se os Almotacees usam de seus Officios, como devem, e se o
contrairo fezerem do que lhes he mandado, ou forem negrigentes, tornem-se a
elles, e costrangam-nos pera ello, assy por os corpos, como pelos beens, segundo
he contheudo nas cousas, que devem fazer sob as penas hi contheudas.
26 – Item. Nom lhes *consentirom*[4] que dos feitos d’Amotaceria usem *de*[5]
hordenar processos, nem grandes Escripturas, e brevemente os livrem; e assy
livrem os Juizes os aggravos, e appellaçõoes, que perante elles vierem, fazendo-
lhes logo o Almotace por palavras rollaçom ataa conthia de dez mil libras, e d’hi
(pera)[6] cima livrem-nos com os Vereadores na Rollaçom.
27 – Item. Os Juízes fação em tal guisa, que nos feitos das injurias *os Vereadores*[7]
ponhão aguça em serem concluzos, e como ho forem a primeira *quarta*[8] feira
depois da conclusom os levem logo aa Rollaçom, e os desembarguem com
os Vereadores, se sospeitos nom forem; e se alguum for, tomem dos outros
*homeens bõos*[9] da Cidade, (ou Villa,)[10] que sospeitos nom forem, em seu
loguo; *e a Rollaçom seja perante as partes*[11], ou aa sua revellia, se pera ello
forem chamadas ao dia assinado; e o Livramento, que derem, façam-no cumprir,
e dar à enxecuçom, e nom recebão apellaçom, nem aggravo, salvo se esses feitos
forem de Fidalgos, ou Vassalos, ou aconthiados em cavalo, e armas, porque em
estes [feitos][12] dessas pessoas as devem dar.

Em diploma posterior, de 1440 Maio 24 (Santarém), D. Afonso V nomeia João Vasques para juiz de fora de
Coja, recomendando-lhe que “ se em a dicta villa e seu termo acontecer mortes dhomeens ou de molheres
ou forem fectos outros crimes e malleficios em que se deuam tomar enquirições deuassas e por bem de
justiça que elle as tire per ssy com taballiães E as non faça tirar a outrem E que faça poer essas enquiriçõoes
na arca desse Concelho E nos enuje ho trellado dellas como he conteudo nas Ordenaçõoes do Regno”. [José
Anastácio de FIGUEIREDO, “Memoria Sobre a origem dos nossos juízes de Fóra”. in Memorias de Litteratu-
ra Portugueza, publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa. Tomo I, Lisboa, 1792, pp. 54-55]
1
“ouvir”, no Regimento.
2
“absente”, no Regimento.
3
“hum”, no Regimento.
4
“consentam”, no Regimento.
5
“a”, no Regimento.
6
Falta no Regimento.
7
“verbaes”, no Regimento.
8
“quinta”, no Regimento.
9
“regedores”, no Regimento. O regimento dos regedores foi excluído das Afonsinas.
10
Falta no Regimento.
11
“E aa rolaçom sejam presentes as partes”, no Regimento.
12
No Regimento.

274
José Domingues

28 – Item. Feitos de furtos ataa conthia de cinquo livras de moeda antigua, ou


cinquo mil desta, ou honde o ladrom nom for enfamado d’ante [en outro][1], ou
entom, ou em outros furtos, livrem-no com os Vereadores sem appellaçom, salvo
se for feito em Igreja, ou em feira, ou em caminho publico.
29 Item. Porque os Juizes hordenairos com os homeens boons teem o regimento
da Cidade, (ou Villa,)[2] elles ambos quando poderem, ao menos huum, hirão aa
quarta feira, e ao sabado sempre aa Rellaçom da Camara, pera com os outros
hordenarem o que entenderem por prol cummunal, e por direito, e justiça.
30 – Item. Sem delonga farom cada dia Audiencia aos feitos dos presos, e lhes
darom Livramento.
31 – Item. Costrangerom o Alquaide, e seus homeens, que os tragam a Audiencia,
e prendão os que lhes elles mandarem, e soltarom per seu mandado.[3]
32 – Item. Constrangerom o Alquaide, que serva, e guarde a Cidade, (ou Villa)[4]
de noite, e de dia com *os*[5] homeens jurados, que lhe forem dados na Camara
(segundo que lhe he hordenado em cada huma Cidade)[6] e façam-lhe pagar o
que ham d’aver por o Alquaide, e nom os pagando, tomem-lhe tanto das suas
rendas, porque os paguem do que assy ham d’aver.
33 – Item. Porque os beens dos horfõos andam em maa recadaçom, trabalhem-se
os Juízes (a que dello he dado carreguo em especial, ou os hordenairos, honde
Juízes especiaaes desto nom ouver)[7] de saberem logo todos os meores, e horfõos,
que ha na Cidade, e termos; e aos que tetores nom som dados, que lhos dem
logo; e façam fazer partiçõoes de seos beens, e os entregar aos tetores per conto, e
recado, e Inventairo feito per Escripvão *de seu*[8] Officio: e pera se nom poderem
seos beens enalhear, façam logo huum livro, e ponha-se nos almarios *na Arca/
Camara*[9] da Cidade, (ou Villa,)[10] em que escrepvão o tetor, que he dado ao meor,
*e quando he treladado/que treladem*[11], o Inventairo de todollos beens, que aos
meores acontecem.[12]

1
No Regimento.
2
Falta no Regimento.
3
Cfr. o § 5 do regimento do alcaide pequeno.
4
Falta no Regimento.
5
“seis”, no Regimento.
6
Falta no Regimento.
7
Falta no Regimento.
8
“desse”, no Regimento.
9
“da camara”, no Regimento.
10
Falta no Regimento.
11
“E traladado”, no Regimento.
12
A provisão de 1410, Setembro, 18 (Lisboa) extingue em todo o Reino, excepto em Évora e Lisboa, os juizes
e escrivães privativos dos órfãos e resíduos, anexando tudo aos juízes ordinários e aos tabeliães gerais.
[Porto, AHM – Livro 3.º de Pergaminhos, doc. n.º70]
Tanto nas Afonsinas como no Regimento as funções dos juízes dos orfãos aparecem acopladas às dos ordi-
nários. A conclusão aponta para que tenham sido redigidos posteriormente à extinção dos primeiros, nas
Cortes de Lisboa de 1410. O curioso é que essa extinção se devia exceptuar às cidades de Lisboa e Évora,
justificando o acautelamento supra nas Afonsinas, mas levantando a questão: se Évora é uma das cidades
onde se mantiveram os juízes dos órfãos, porque é que o regimento destes aparece junto com o dos juízes
ordinários? A explicação mais plausível que me surge – confirmada pela subsequente inclusão nas Afonsi-
nas – é a de estarmos perante regimentos com um âmbito bastante mais amplo e destinados a todo o reino
e não apenas à cidade de Évora.
A reforçar esta última ilação, saliente-se que num capítulo especial apresentado pelo concelho de Coim-
bra, às Cortes de Évora de 1460, se refere “o livro das hordenaçõoes e posturas da cidade em que está todo o
regimento da terra o qual comtem em si muitas boas cousas e foy fecto per el rey dom Joham meu avoo per o
corregedor Johane Mendez e per todos os antiiguos e cidadãaos daquelle tempo” [Maria Alegria Fernandes

275
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

34 – Item. Saibão logo como os beens desses meores som aproveitados, e se o nom
forem, fação-nos logo aproveitar; e os que dapnificados forem saibão loguo por
cuja culpa o som, e por seus bens lhos[1] façom logo correger, e pagar, e tornar a
seu estado com os fruitos, e rendas, que delles poderão aver, se *aproveitados
foram/seendo aproveitados*[2].
35 – Item. Os que forem pera arrendar fação-nos meter em pregom, e rematem-se
como entenderem por sua prol; e os que forem pera adubar, mandar, e costranger
seos Tutores que os adubem, e aproveitem; e os fruitos, e rendas recebam por con-
to, e recado, e se escrepvão por o dito Escripvão.
36 – Item. *Farom/Façam*[3] logo tomar, e tomem conta, e assi cada (huum)[4] anno
aos Tetores, e Curadores, e aquello, porque ficarem em conta, costrangannos, que
o entreguem logo; e os que acharem sospeitos, removão-nos [logo][5] de tal cura, e
lhe dem loguo outros; e a esto nom ponhão delongua, nem sejão negrigentes, em
tal guisa[6], que seos corpos, e (seos)[7] beens sejam bem *requeridos/recadados*[8],
e aproveitados, e venha todo a boa recadaçom, como compre, sob pena de pagarem
esses Juizes todo por seos beens.
37 – Item. Vejam bem quaees som os horfõos, e de que condiçom, e segundo forem,
assy os façam guardar, e criar, poendo-os a leer, ou a mesteres, ou a soldadas,
segundo seos linhagees, e sustancias de seos beens [e elles][9] devem aver, (e)[10]
vida, que ao diante devem fazer.
38 – Item. Mandamos ao Escripvão, que do dia, que o Inventario dos beens, e
partiçom for feita, e acabada ataa *o dito dia*[11] a mais tardar, ponhão o trellado
do dito Inventario no dito livro, e Armario do Concelho, com o nome do Tetor, e
Curador assinado per sua mãao sob pena do Officio, e per seos beens lhe pagar a
perda, que lhe por ello vier, *e do Officio se faça o que Nós Mandarmos*[12].
39 – E esto, que suso dito he dos meores, e seos beens, aja lugar nas outras pessoas,
que per velhice, ou por doores, ou per mingua de siso devem d’aver Curadores.
40 – Item. Como os juizes sairem, e entrarem outros, esses, que entrarem, saibam
logo per Inquiriçom como usaram de seos Officios (os que forom ante/a saber
os que usarom d’ante,)[13] e se comprirom, e fizerom as cousas suso ditas, e cada
huma dellas, e se fizerom em seos Officios, ou com poderio delles o que nom
deviam; e esta Inquiriçom enviem logo a Nós do dia que começarem a obrar dos
Officios ataa trez mezes.

MARQUES, “O poder concelhio em Portugal na baixa Idade Média”, in Revista Portuguesa de História, tomo
32, Coimbra, 1997-1998, pp. 27-32].
1
Na versão do Regimento.
2
“aproveitados foram”, no Regimento.
3
“façam”, no Regimento.
4
Falta no Regimento.
5
No Regimento.
6
Só na versão ao Regimento.
7
Falta no Regimento.
8
“requeridos”, no Regimento.
9
No Regimento.
10
Falta no Regimento.
11
“oyto dias”, no Regimento. Deve ser o correcto, para que a frase tenha sentido.
12
“e o oficio seja pera aquelle que o acusar se pera ello for pertencente”, no Regimento.
13
Falta no Regimento.

276
José Domingues

41 – E com todas estas cousas sejam [bem][1] avisados, que nom consentam a
Bispo, (nem a Arcebispo,)[2] nem a seus Vigairos, que tomem Nossa jurdiçom,
nem vãao contra Nossos direitos, fazendo os leigos perante si responder nos
casos, que nom devem; que consentindo o contrairo, e nom No-lo fazendo saber
[ao dito Senhor][3], Nós nos tornaremos a elles, e lho stranharemos gravemente
nos corpos, e beens.
42 – Item. Se alguuns vierem perante elles á Audiencia, que sejam Cavalleiros, ou
Escudeiros, ou outras pessoas poderosas, ouçam logo seos feitos, e os enviem logo
d’ante sy, e nom lhes consentam que hi mais stem, e se quizerem levantar pala-
vras, defendam-lhe, que non venhão hi mais.

[Item. Se alguns vogarem ou procurarem por outros sem lecença e mandado


delRey ou do Ifante[4] tomemlhe os beens e prendamnos e nom os soltem ataa
sua mercee][5].

XXVII – Dos Vereadores das Cidades, e Villas, e cousas, que a seu Officio perteencem.
[Gabriel PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora,
Évora, Typographia da Casa Pia, 1.ª Parte, 1885, pp. 160-162.
(Ed. Fac-Simile da Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998, pp. 170-172)]

(Os vereadores ham de seer feitos, segundo he contheudo no titulo dos


Corregedores das Comarcas)[6].
1 – Item. Os Vereadores ham de veer, e saber, e requerer todollos beens do
Concelho, assy propriedades, e herdades, cazas, foros, se som aproveitados, como
devem, e os que acharem mal aproveitados, *fazellos/fação-nos*[7] adubar, e
correger.
2 – Item. [como entrarem][8] Fazer meter todallas rendas do Concelho em
pregom, e as que virem, que he bem de se rematarem, *fazella*[9] rematar, e
fazer os contrautos com os Rendeiros, e receber as fianças; e as que virem, que
nom he prol do Concelho de se rematarem, mandallas correger[10], e colher para o
Concelho, e poer em ellas boons requeredores, e recadadores, e fazellas viir a boa
arrecadação.

1
No Regimento.
2
Falta no Regimento.
3
No Regimento.
4
Trata-se do infante D. Duarte, que “desde 1411 tem responsabilidades governativas e oficiais próprios
e desde 1413 ocupa o cargo de acessor para os assuntos do conselho, justiça e fazenda; a partir de 1418 é
bem visível a sua acção como legislador” [Margarida Garcez VENTURA, Igreja e Poder no Séc. XV: Dinastia
de Avis e Liberdades Eclesiásticas (1383-1450), Colibri História, 16, Edições Colibri, Lisboa, 1997. Que refere
o Leal Conselheiro, cap. 19, p. 273; Armindo de SOUSA, Cortes Medievais, I, p. 159 e Carvalho HOMEM, O
Desembargo, pp. 33, 190 e 250]
5
Falta nas Ordenações.
6
Falta no Regimento de Évora. Este é um acrescento do compilador, uma vez que o regimento dos corre-
gedores das comarcas não fazia parte dos ofícios regulados no Regimento de Évora.
7
“fazellos”, no Regimento.
8
No Regimento.
9
“mandallas”, no Regimento.
10
“correr”, no Regimento.

277
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

3 – Item. Saber se algumas possessõoes, ou caminhos, ou ressios, ou servidõoes do


Concelho andão enalheadas, e tirarlas pera o Concelho.
4 – Item. Saber se tomam, ou trazem algumas jurdições do Concelho, ou as
embargam como nom devem, ou as forçam, ou querem forçar.
5 – Item. Saber se os Nossos Officiaes, e Alquaides, e os outros, que per Foral, ou
custume, ou outro direito ham d’aver alguuns foros, e direitos, os tirão, como
devem, e se lhe fazem de novo o que nom devem; e nom o consentir requerendo-
os, que o nom façam, e se o fezerem, demandallos [per ello][1].
6 – Item. Saber como os caminhos, fontes, e chafarizes, pontes, e calçadas, e
muros, e barreiras som repairados; e os que cumprir de fazer, e adubar, e correger,
mandallas fazer, e repairar; e abrir os caminhos, e testadas em tal guisa, que
possam bem servir per elles, [pero][2] per que Nós tomamos encarrego das obras
dos muros, e barreiras: e (quanto á despeza dos mesteiraaes)[3] honde virem,
que compre adubio, ou repairamento, fação-no-lo saber [aa sua mercee][4] pera
mandarmos como se faça.
7 – Item. Proveer as Hordenaçõoes, e vereaçõoes, e custumes da Cidade, (ou Villa)[5]
antigas, e as que virem que *nom som boas segundo o tempo, fação-nas correger*[6],
e outras fazer de novo, se cumprir á prol, e a boom regimento da terra.
8 – Item. Consirando em todalas cousas, *que cumprem / o que compre*[7] aa
prol cummunal, e despois que assy consirarem, ante que fação as posturas, e
vereaçõoes, e as outras cousas, chamem os homeens boons, que pera a Rolaçom,
e Regimento da Cidade som *apartados*[8], e digam-lhes aquello, que virom, e
consirarão, e o que com elles acordarem, se cousa leve, e boa for, façam-na logo
poer em escrito, e guardar; e em nas cousas grandes, e graves, despois que per todos
for acordado, ou per a maior parte delles, façam chamar o Concelho, e diguam-lhe
as cousas quaees som, e o proveito, ou dãpno, que se lhe pode recrecer, assy como
se *ouvessem demanda*[9] sobre sua jurdiçom, ou se lhes filham, ou lhes vãao
contra seos foros [e privilegios][10], e custumes de guisa, que a nom possão escusar
[demanda ou em outros feitos semelhaves][11]; e o que por todos, ou a maior parte
(delles)[12] for acordado, assy o façam logo poer em escripto no livro da vereaçom
[e acordos][13], e dem seu acordo á execuçom. E as posturas, e vereaçõoes, que assy
forem feitas, e outorguadas, o Corregedor da Comarca nom lhas possa revogar,
ante as faça comprir, e guardar, e saber se dam a boa eixecuçom quando polla
Cidade, (ou Villa)[14] vier.
9 – Item. Como entrarem, tomarom a conta aos Procuradores, e Thesoureiros do
Concelho, que forom o anno passado, e assy dos outros annos, se lhes tomadas
nom forem.

1
No Regimento.
2
No Regimento.
3
Falta no Regimento.
4
No Regimento.
5
Falta no Regimento.
6
“som boas segundo o tempo for façamnas guardar e as outras façamnas guardar e as outras façam corre-
ger”, no Regimento.
7
“o que conpre”, no Regimento.
8
“apontados”, no Regimento.
9
“ouvesse demandar”, no Regimento.
10
No Regimento.
11
No Regimento.
12
Falta no Regimento.
13
No Regimento.
14
Falta no Regimento.

278
José Domingues

10 – Item. Poerom *vereaçõoes/vereação*[1] sobre os mesteiraaes, e jornaleiros, e


mancebos, e mancebas de soldadas, e sobre todalas outras cousas, que se comprão,
e vendem; (e esto nos lugares, honde he hordenado, que aja hi Almotaçaria)[2] a
fora pam, e vinho, e guaaados, que os lavradores ham de sua colheita, e *criança*[3],
que cada hum pode vender aa sua voontade; e em sellas, e frêos, e armas, e çapatos
*esfrolados*[4], ou de pontas, e em tapetes, e embrolamentos, e vidros.
11 – Item. Farom recadar todalas dividas que forem devidas ao Concelho.
12 – Item. Saberam se ha hi armas de corpos d’homeens, ou *trõoes, ou / outros*[5]
engenhos, e *fullame / salleme*[6] delles, e fação-nos todos correger, e guardar, e
poer em boa recadaçom sobre o Procurador; e se acharem, que se alguuns perderom
per culpa dos Officiaes, que ataa ora forom, fação-nos (logo)[7] demandar por ello,
e costranger.
13 – Item. *Esses*[8] Vereadores com os Juizes *julguaram*[9] todollos feitos das
injurias verbaaes, que nom forem antre Vassallos, e Fidalgos, ou homeens de
conthia de cavallo; e do Livramento, que derem, nom darom pera Nós appellaçom,
nem aggravo: e assy livrarom todollos feitos dos furtos, que alguuns fezerem ataa
a conthia de cinquo libras de moeda antigua, ou de cinquo mil[10] desta, que ora
corre (salvo se for nos casos exceptuados na ordenaçom sobre esto feita)[11] e
livrarom com os Juizes os feitos da Almotaceria, que per apellaçom vierem, como
chegarem a conthia de dez mil libras, e os outros, onde for mais pequena conthia,
livrarom os Juizes per sy.
14 – Item. Serão avisados de saber, e enquerer se a terra, e fruitos della som
guardados, como compre, e se se guardam as Hordenaçõoes, e Posturas, e
Vereações do Concelho, e se acharem que se nom guardam, constrangam os
Rendeiros, e os Jurados, e os outros, que dello teverem encarrego, que as façam
guardar [e façam recadar as penas que elles forem theudos pagar][12] segundo lhe
som postas, sob pena de as pagarem elles per seos beens: e per esto nom sejam
escusados para o dãpno, que se desto recrecer.
15 – Item. Seram bem avisados dar aos Rendeiros, ou ao Procurador, em quanto as
rendas nom forem arrendadas, jurados, que avondem, que bem guardem a terra, e
se nom fação em ella nenhuuns dãpnos, sob a pena contheuda na Hordenaçom.
16 – Item. Nom consentirom a nenhuma pessoa, por poderosa que seja, que contra
as Hordenaçõoes, e Posturas faça nenhuma cousa, e se o fizer logo requeirão aos
Juizes, que tornem hi; e se o fazer nom quiserem, ou nom poderem, fação-no saber
ao Corregedor, ou a Nos pera o corregermos.

1
“vereaçom”, no Regimento.
2
Falta no Regimento.
3
“criaçom”, no Regimento. Que é o correcto.
4
“desfrollados”, no Regimento.
5
“troons ou”, no Regimento.
6
“fallame”, no Regimento.
7
Falta no Regimento.
8
“estes”, no Regimento.
9
“livraram”, no Regimento.
10
Que falta no códice do Porto e apenas aparece no de Santarém e é confirmado pelo Regimento.
11
Falta no Regimento.
12
Falta nas Ordenações.
Estamos perante um lapso de Rui Fernandes, já que esta falha se constata nos três exemplares do livro I.
É óbvio que a redacção correcta é a do Regimento, já que a cominação do incumprimento – “sob pena de as
pagarem elles per seos beens” – se refere a penas e não a ordenações.

279
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

17 – Item. Os Vereadores virão todos *tres*[1] aa Rellaçom aa quarta feira, e ao


sabado, e nom se escusarom por nenhuma cousa; e o que hi nom vier, pague pera
as obras do Concelho por dia cem (reis)[2] brancos, os quaees loguo o Escripvam
screpva em recepta sobre o Procurador, sob pena [do oficio e][3] de os pagar
*anoveados*[4]: pero se for doente, ou ouver tal negocio, que nom possa vir, seja
escusado, fazendo-o *sabente/saber*[5] ante a seus parceiros.
18 – Item. Os vereadores se virem, que o Nosso Coudel faz algumas cousas,
*que*[6] nom deve, em dãpno da Cidade, e moradores [della][7], e seos termos
contra Nosso serviço, mandem-no logo chamar, e digam-lhe o que faz, e que se
corregua, e se o fazer nom quizer, fação-no-lo *sabente/saber*[8].
19 – Item. Os Vereadores teem carreguo de todo o regimento da terra, e das obras
do Concelho, e qualquer cousa, que poderem saber, e entender, porque a terra, e
moradores della possam bem viver, e em esto ham de trabalhar; e se souberem,
que se fazem na terra [maleficios ou][9] malfeitorias, ou que nom he guardada per
justiças, como deve, requeirão os Juizes que tornem hi, e se o fazer nom quizerem,
*fazello/fação-no*[10] saber ao Corregedor da Comarca, e a Nós.

20 – [11]Item. Carta nenhuã nom *deve*[12] seer seellada do seello do Concelho, ou


Julguado, e os que o seello teverem, nom as asseellem ataa que *sejam assinadas
pelos Vereadores, e Procurador, e aquelles Officiaaes, que se custuma de sempre
assynarem,*[13] salvo se forem Cartas em feito de apellaçom, ou outras demandas,
que as nom leixem d’asseellar, pera nom serem as ditas apellaçoões, e outras
semelhantes detheudas, nem as demandas perlongadas.

21 – Item. Os Vereadores hão de fazer aveenças polos jornaaes, e empreitadas com


os que fezerem as obras, e as outras cousas, que comprem ao Concelho, e talhar
soldadas com os Porteiros, e com os outros, que ham de servir o Concelho, e por
seus mandados ham de seer pagados, e d’outra guisa nom.
22 – Item. Ham de dar Carniceiros, e *paateiras/paadeiras*[14], e Almocreves, que
dem os mantimentos, e mandar talhar *aos*[15] Carniceiros, e amassar *aas*[16]
paateiras, e lhes dar e talhar guaanhos aguisados, e costranger que servão, e usem
de seus mesteres, e assy os outros mesteiraaes.
23 – Item. Ham de dar os homeens ao Anadel pera Besteiros do Conto, fazendo-os
primeiramente viir perante sy, ouvindo suas escusaçõoes, se as teverem, segundo
he conteudo na Hordenaçom.

1
“quatro” no Regimento. Parece que o número de vereadores, em média, era apenas de três, mas nessa
data havia quatro em Évora.
2
Falta no Regimento.
3
No Regimento.
4
“em dobro” no Regimento. Cfr. “Anóveas”, no Elucidário de Santa Rosa de Viterbo.
5
“saber”, no Regimento.
6
“quaes”, no Regimento.
7
No Regimento.
8
“saber”, no Regimento.
9
No Regimento.
10
“fazello”, no Regimento.
11
Falta no Regimento. Este parágrafo foi retirado do regimento dos corregedores de 1361 para este título,
faltando, por isso, no regimento dos corregedores de comarca que consta nas Afonsinas (tít. 23).
12
“aja”, no regimento de 1361.
13
“estes Vereadores vejam sse deve passar ou nom”, no regimento de 1361.
14
“paadeiras”, no Regimento.
15
“com os”, no Regimento.
16
“com as”, no Regimento.

280
José Domingues

[Item am de dar homens ao alcaide que sejam … jurados e reigados e moradores


da terra e o alcaide lhes pagara seus mantimentos.
Item porque me foi dito que das obras que foram feitas na cidade em outros
tempos ficaram hi muitas ferramentas e cordas mandey aos vereadores e procu-
rador que logo saibam que he dellas e as façam vyr a boa recadaçom sô pena de
as pagarem per seos beens.
Item porque achey que os pesos do concelho nom eram postos onde he
costume de per elles pesarem nem husavam delles como soyam mandey que os
corregessem logo e os posessem e pesassem per elles como se deve faser sô pena
de pagarem cada hum quinhentos brancos pera o concelho][1].

XXVIII – Dos Almotacees, e cousas, que a seus Officios perteencem.


[Gabriel PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora,
Évora, Typographia da Casa Pia, 1.ª Parte, 1885, pp. 164-167.
(Ed. Fac-Simile da Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998, pp. 174-177)]

Item. Os Almotacees se façam logo no começo do anno por esta guisa: (a saber)
[2]
, o primeiro mez [e o segundo][3] ham de seer Almotacees os Juizes do anno
passado.
1 – Item. O *segundo*[4] (mez)[5] dous Vereadores, e o *terceiro hum Vereador, e o
Procurador do anno passado*[6], [e o quinto os procuradores do ano passado][7]e
estes [vereadores][8] sairom per pelouros como ouverem ventura de ser.
2 – Item. Pera os *nove*[9] mezes que ficão, ho Alquaide, (honde de foro ou
costume o Alquaide ha de seer ao fazer dos Almotacees,)[10] e os Officiaaes dos
Concelhos elegerom *nove*[11] pares d’homeens boons, que sejam perteencentes
pera o serem, e serom [postos][12] em pellouros, e como forem feitos, [logo][13] os
tirarom (perante o Alquaide)[14], e scripto no livro da veraçom cada mez dous,
como sairem, sem outra afeiçom; e tanto que o mez vier, costrangan-nos, que
venhão jurar, como esteverem scriptos: e quando lhes ouverem de dar juramento,

1
Falta nas Ordenações Afonsinas.
Estes dois últimos itens, que faltam nas Afonsinas, correspondem a situações pontuais abusivas, que apenas
dizem respeito à cidade de Évora, e que, provavelmente, o corregedor da corte aproveitou para pôr cobro
nesta altura.
2
Falta no Regimento.
3
No Regimento.
4
“terceiro”, no Regimento.
5
Falta no Regimento.
6
“quarto outros dous vereadores”, no Regimento.
7
Falta nas Ordenações.
8
No Regimento.
9
“sete”, no Regimento.
10
Falta no Regimento.
11
“sete”, no Regimento.
12
No Regimento.
13
No Regimento.
14
Falta no Regimento.

281
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

seja chamado o *Alquaide*[1], que venha, ou envie alguum, pera veer como juram;
e se viir ou enviar nom quizer, dem-lhe juramento na Camara. E por esta guisa se
faça quando ouverem d’enleger, e escolher os Almotacees; a saber, chamem *ho
Alquaide*[2] que venha, ou envie pera com os Officiaaes do Concelho os enleger, e
se viir ou enviar nom quizer, enleja-os o Concelho, e estes o sejam, e d’outra guisa
nom os façam sem elle: e se *alguum*[3] destes, que enligidos forem, fallecer[4]
per morte, ou per outra razom, que nom possa servir seu mez, o Concelho, e o
Alquaide [sem elles][5] enlejam outro, que o seja [e sirva][6] em seu loguo. Pero se
filho d’alguum boom casar novamente, ou outro na Cidade, que seja honrado, e
tal que deva d’aver os Officios do Concelho, este seja Almotacee com huum dos
outros, que som scriptos [em esse mes seguinte chamando ambos os que estam
scriptos][7]. *e se alguum quiser leixar de sua vontade per lhe fazer honra, em
seu loguo entre o que assy novamente casar, e se o leixar nom quiser, entom
lancem antrambos sorte, qual ficará, e com elle o seja*[8]
3 – Item. Os Almotacees sejam bem avisados, que o primeiro ataa o segundo
dia, como entrarem, a mais tardar, mandem logo apregoar, que os carniceiros, e
paateiras, e regateiras, e almocreves, alfayates, e çapateiros, e outros Mesteiraaes
todos usem cada huum de seus mesteres, e dem os mantimentos a avondo,
guardando as vereaçõoes, e posturas do Concelho.
4 – Outro sy todollos que teem medidas de pam, e de vinho, e d’azeite, que as
mostrem pera as veerem se som direitas, sob pena, que lhes he posta na postura
do Concelho.
5 – Item. Dado este pregom, enquererom, e saberom assy elles, como o Escripvão,
se esses Mesteriaaes, e Officiaaes guardam as posturas do Concelho; e se as nom
guardam, se as demandam o Rendeiro, e Jurados; e se as nom demandam, digam-
no ao Procurador do Concelho que as demande para o Concelho, e elles julguem as
coimas ao Concelho, pagando-as os que acharem em culpa, e o Rendeiro outro tanto.
6 – Item. Trabalhem-se de saber cada huuns em seu mez, se esses Rendeiros [ou
jurados][9] fazem aveenças com as partes, e com os dapnadores; e se acharem que
as fazem, prendam-nos logo pera se delles fazer direito.
7 – Item. Como entrarem, dem *pesa aas paateiras/ peso aas paadeiras*[10], e aas
*candieiras*[11], e depois saibam se vendem per *essa pesa/esse peso*[12], que lhes

1
“dous regedores”, no Regimento.
2
“os ditos”, no Regimento.
3
“cada hum”, no Regimento.
4
“faltar”, na versão do Regimento.
5
No Regimento.
6
No Regimento.
7
Falta nas Ordenações.
8
“e se o que ouver de ser almotacel for fidalgo delhe logar o fidalgo por lhe fazer honra e em seu logo entre
o que asy novamente casar. E se for cidadão delhe logar o cidadão que o avia de ser”, no Regimento.
Variante no caderno de Arraiolos: “e se algum quiser leixar de sua voontade por lhe fazer honrra em seu
logo entre o que asy novamente casar, e se o leixar nom quiser entom lancem entre ambos sortes qual ficará
e com ell o seja”.
É curioso que o final das Ordenações coincide com a variante, registada por Gabriel Pereira, do caderno de
Arraiolos. O que quer dizer que não se trata de alteração do nosso compilador. Assim sendo, neste ponto,
Fernandes consultou um regimento mais próximo do de Arraiolos do que do de Évora. Mais uma singela
inferência a remeter para um regimento de carácter geral.
9
No Regimento.
10
“pesa aas padeiras”, no Regimento.
11
“tendeeiras”, no Regimento.
12
“essa pesa”, no Regimento.

282
José Domingues

foi *dada/dado*[1], e se acharem menos, pola primeira vez pague *trinta reis*[2], e
pola segunda *cincoenta*[3], e pola terceira seja posta na picota [E se antes quiser
pagar quinhentos brancos por a picota sejalhe relevada a pena da picota][4] e esta
meesma pena aja a candieira, se menos fezer as candeas do peso, que lhe for dado;
e o carniceiro se pesar mal a carne, e a regateira, que nom guardar a Almotaçaria,
que lhe for posta, e os que mal pesarem, ou medirem. E se o carniceiro pesar per
falso pêso, ou a medideira, ou medidor medir por falsa medida, sejam presos, e
faça-se delles direito, e justiça, (e aalem dello ajam as penas, que som contheudas
no titulo de Corregedor da Corte)[5]
[Item nom consintam a carniceiro nem a sua mulher que vendam carne a enxerca
e toda carne que vender seja per peso][6].
8 – Outro sy os çapateiros, alfayates, e ferreiros, e ferradores, e todollos outros
Mesteiraaes, a que he posta taixa sobre seus lavores, e obras, se as posturas nom
guardarem, pola primeira vez paguem trinta *reis*[7] brancos, e pola segunda
cincoenta, e pola terceira cento; e se mais forem achados em culpa, seja-lhes
defeso, que nom use mais desse mester, e se *mais*[8] usar, seja preso, e nom seja
solto ataa Nossa mercee.
9 – Item. Os Almotacees sejam bem avisados, e diligentes em seus Officios, e os
dias, que o pescado vier, cheguem logo aa praça, e ponhão em elle Almotaçaria,
segundo seu costume, poendo o maior, e meãao, e mais pequeno, segundo sua
valia, poendo as mostras em lugar, honde as vejam os que comprarem: e se o
pescado for pouco, estem hi ambos, ou huum delles, que o reparta pelos maiores,
e menores, cada hum como o merecer, e segundo o pescado for, em tal guisa, que
os ricos, e os proves ajam todos mantimentos, e nom se parta d’hi ataa que todo
seja dado, e repartido, como dito he; e nom *vindo*[9] hy, ou se partindo ante d’hy,
pague pera as obras da Cidade, (ou Villa)[10] cem brancos cada vez, e o Escripvão
da Almotaçaria screpva-o logo, e dê o scripto ao Escripvão da Camara, que o
ponha em recepta sobre o Procurador sob pena dos Officios, e de os pagarem em
dobro: e se o pescado for muito, depois que almotaçado for, e postas suas mostras,
nom seja theudo d’hi mais star.
10 – Item. Farom, e costrangerom os carniceiros, que dem carneiros, e vaca, e porco,
e as outras carnes, e assy as enxerqueiras, segundo lhes he mandado na vereaçom
do Concelho: e estarom como for manhãa [dando as carnes][11] no açougue ataa
ora de terça, nom se partindo d’hi, e fazendo dar as carnes, e repartir pelos ricos,
e pobres a avondo, [cada hum][12] como o merecerem; e fazendo o contrairo que
pague o gentar aaquelle, que sem carne ficar, e nom vindo, ou se partindo ante
desse tempo, paguem as penas suso ditas, e os Escripvãaes as escrepvam sob as
penas suso ditas.
11 – Item. Pera saberem se os carniceiros pesam bem a carne, ponha-se a balança,
e pesos do Concelho, em que se pese, e veja se he bem pesada, e os pesos direitos,

1
“dada”, no Regimento.
2
“XXX rs.”, no Regimento.
3
“L”, no Regimento.
4
Falta nas Ordenações.
5
Falta no Regimento. A remissão é para o título 5, deste mesmo livro.
6
No Regimento.
7
“rs.”, no Regimento.
8
“dell”, no Regimento.
9
“indo”, no Regimento.
10
Falta no Regimento.
11
No Regimento.
12
No Regimento.

283
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

e o pesador stê hi sempre residente sob pena de vinte *reis*[1] (brancos)[2] cada dia,
que [hi][3] nom stever.
12 – Item. Para os Almotacees saberem se as paateiras dam o pam por peso, e as
candieiras as candeas, elles per sy o façam algumas vezes; e quando virem, que
compre pesar, (pesem-lho)[4]; e se lho acharem *minguado*[5] do peso costrangam-
nas que paguem a pena ao Concelho, e lancem mãao pollo Rendeiro, e saibam
porque lho consente; e se o acharem em culpa, ou que (o ouvio, e)[6] o leixou assy
passar por malicia, ou por aveença, que tenha feita com ella, *porque em tal caso
deve aver pena corporal d’açoutes, remetam-no aos Juízes que o comdapnem,
dando apellaçom, &c.*[7], e se for por negregencia, pague a cooima em dobro pera
o Concelho, e o Escripvão escrepva-o logo sob a pena suso dita.
13 – Item. Os Almotacees quando nom teverem carniceiros, e paateiras, e regatei-
ras, e eixerqueiras, e candieiras, e mostardeiras, e almocreves que ajam de servir
o Concelho, requeirão aos Vereadores, que lhos dem: e assy requeirão, que lhes
dem jurados quando virem, que os hi nom ha, ou que hão recado, que se a terra
dãpna per mingua de guarda.
14 – Item. Requeiram, (que andem)[8] pela Cidade, (ou Villa)[9] em tal guisa, que se
nom faça em ella sterqueira, nem lancem a redor de muro sterco, nem outro lixo,
nem se atupam os canos da Cidade, (ou Villa)[10], nem as servidõoes das augas.
15 – Item. Cada mez farom alimpar a Cidade, cada huum *ante a sua porta da
rua*[11], dos estercos, e maaos cheiros; e farom em cada Freiguezia tirar cada mez
huma esterqueira, e lançar fora o esterco nos lugares, honde se ha de lançar.
16 – Item. Nom consentirom que lancem bestas [mortas][12], nem cãaes, nem outras
cousas çujas, e fedegosas na Cidade, (ou Villa)[13]; e os que as lançarem, façam-lhas tirar,
poendo-lhes penas se as nom tirarem; e aos negrigentes dallas logo aa eixecuçom.
17 – Item. Mandarom apregoar em cada (huum)[14] mez, que alimpem cada
huum suas testadas de suas vinhas, e herdades sob certa pena, e os que as nom
alimparem, se as os Rendeiros nom tirarem, fação-nas recadar, e poer sobre o
Procurador [pera o concelho][15].
18 – Item. Farom Audiencia nos dias, que he de costume de se fazerem, e na
Audiencia postumeira de seu mez farom ante dar pregam, que todollos que tem
feitas coimas, ou som *penhorados*[16], que vãao livrar seus penhores, e feitos em
aquelle dia, e os que alla nom forem, aa sua reveria julguem as cooimas, e dem
Livramento a todo.
19 – Item. Todollos feitos livrarom bem, e direitamente, e brevemente sem pro-
cessos, e grandes escripturas; e de qualquer Livramento, que derem, se a parte

1
“rs.”, no Regimento.
2
Falta no Regimento.
3
No Regimento.
4
Falta no Regimento.
5
“menos”, no Regimento.
6
Falta no Regimento.
7
“mandemlhe logo dar vinte açoutes na praça”, no Regimento.
8
Falta no Regimento.
9
Falta no Regimento.
10
Falta no Regimento.
11
“as portas das ruas”, no Regimento.
12
No Regimento.
13
Falta no Regimento.
14
Falta no Regimento.
15
No Regimento.
16
“apenados”, no Regimento. “penhorados”, na outra versão do Regimento.

284
José Domingues

apellar, ou agravar, elles lhe dem apellaçom, e agravo pera os Juizes, fazendo-lhe
rolaçom do feito por palavra; e logo hi seja por elles vista a apellaçom, e agravo,
e julguado, segundo entenderem por direito, que forem ataa conthia de dez mil
libras; e de hi acima desembarguem os Juizes esses aggravos, e apellaçõoes com
os Vereadores da Camara.
20 – Item. Se os Almotacees forem negrigentes, e nom fezerem as cousas susos
ditas, e cada huma dellas, per cada huma (vez)[1] paguem as coimas, e penas, que
pagariam os que as ham de fazer, e as nom fazem; e os Juizes costrangam-nos pelos
beens, e pelos corpos, quando, e cada vez que virem, que compre; e se os Juizes a
ello nom *forem bem deligentes/tornarem*[2], paguem-nas elles: e o Escripvão da
Almotaçaria escrepva todo, e o dê ao Escripvão da Camara, que as escrepva sobre
o Procurador, sob as penas suso ditas.

21 – (Item. No feito da Almotaçaria os carniceiros, e paateiras depois que se


obrigarem ao Concelho pera fazer seu Officio, aquelle, que se delle quiser sahir,
e nom servir ataa huum anno, que o costranguam pelo corpo, e pelo haver, que
o faça ataa que esse anno seja comprido)[3].

22 – Item. O Escripvão da Almotaçaria escrepverá todallas (cooimas)[4] achadas,


assy de gaados, e bestas, como dos Mesteiraaes, e carniceiros, [e paadeiras]
[5]
e regateiras, e enxerqueiras [e os outros que nas coimas cairem][6] que pelos
[rendeiro ou][7] Jurados forem acooimados, e os [outros][8] que elle poder saber, que
vãao contra as posturas, e cada mez as mostre aos Almotacees; e se os Almotacees
nom tornarem a esto, mostre-as aos Juizes, e aos homeens boons da Camara,
para saberem quaes som os dapninhos, e fazer em elles cumprir as posturas, e
Hordenaçõoes.
23 – Item. Se trabalhe quanto poder (de saber)[9] se os Rendeiros, ou Jurados nom
costrangem os Cooimeiros, e se teem com elles aveença feita, ou se a fazem despois
das Sentenças, ou porque razão nom levam as cooimas, e assy o digua na Camara;
e fazendo o contrario, seja logo privado desse Officio, e dem-no a outro, que faça
verdade, e ame a prol cummunal.

XXVIIII – Do Procurador do Concelho, e cousas, que a seu Officio perteencem.


[Gabriel PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora,
Évora, Typographia da Casa Pia, 1.ª Parte, 1885, pp. 159-160.
(Ed. Fac-Simile da Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998, pp. 169-170)]

1
Falta no Regimento.
2
“tornarem”, no Regimento.
3
Falta no Regimento de Évora. Este preceito foi retirado do regimento dos corregedores de comarca de
1361, faltando, por isso, no regimento dos corregedores das Afonsinas (tít. 23).
4
Falta no Regimento.
5
No Regimento.
6
Falta nas Ordenações.
7
Falta nas Ordenações.
8
No Regimento.
9
Falta no Regimento.

285
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Item. Tanto que o Procurador entrar no Officio (em aquelles luguares, honde o
Procurador recebe, e despende)[1], fará o Escripvam huum livro da recepta em
titulo apartado sobre sy, poendo, e entitulando cada huma renda sobre sy, e a
quem he arrendada, e por quanto preço, e os tempos, a que lhe ha de seer pagada,
e quaees som fiadores, e assy em outros titulos as rendas outras.
1 – Item. Em outra parte em esse livro [ou em outro][2] fará seu titulo das despezas,
que fezer, as quaees fará por esta guisa.
2 – Item. Todallas despezas, que ouver de fazer por mandado dos Juizes, e
Vereadores, aver seu mandado escripto no livro em esse titulo [da despesa][3]
assinado por elles, e d’outra guisa nom pagará, porque os Alvaraaes de fora se
perdem, e nom podem tambem vir em arrecadaçom.
3 – Item. Todallas [outras][4] despezas meudas, que se fezerem, faça-as *perante*[5]
o Escripvão (da Camara)[6], poendo as despezas como se fazem, e porque, e per
cujo mandado; e *ao*[7] dia da veraçom sejam mostradas aos Vereadores, e as
que virem que som boas, e necessarias, e verdadeiras assinem-as em esse livro
per suas mãaos: e o Escripvão teerá tal hordem em screpver as despezas, que
sempre as screpva (em tal guisa)[8], que possão *em fim*[9] do tempo bem *veer*[10],
e entender quanto he o que despende em cada huma cousa, assy como as soldadas
poerá todas *em*[11] huum titulo, e as obras, [poeerá][12] cada obra, e a despeza, que
sobre ello fezer em seu titulo.
4 – Item. Todolos Mandados, e Acôrdos, perque se ajam de fazer (algumas cousa)
[13]
, screpva no livro da Vereaçom assinado per aquelles, que o acordarem.
5 – Item. Seja bem avisado o dito Procurador, que nom receba, nem despenda
nenhuma cousa, salvo *perante*[14] o Escripvão, que logo screpva em o dito livro, e
fazendo o contrairo, nom lhe seja recebido em despeza (nem assentada)[15].
6 – Item. Este Procurador em quanto as rendas nom forem arrendadas, recade-as
em tal guisa, que se nom percão, sob pena de as pagar com o dãpno, que o Conce-
lho receber, por seos beens.
7 – Item. Despois que arrendadas forem, saberá do Escripvão da Almotaçaria, e
assy dos outros Officiaaes, e Mesteiraaes se cairom alguuns em cooimas, ou penas,
e demandallas-ha pera o Concelho, como lhe em cada huum titulo *forem*[16]
postas, sob pena de as pagarem de seos beens.
8 – Item. Requererá bem todollos adubios, que comprir, nas casas, e bens do Con-
celho, e seus feitos em tal guisa, que se nom percão per sua mingua; e o que mal

1
Falta no Regimento. Esta modificação relaciona-se com o último parágrafo, que também não consta no
Regimento de Évora.
2
No Regimento.
3
No Regimento.
4
No Regimento.
5
“presente”, no Regimento.
6
Falta no Regimento.
7
“cada”, no Regimento.
8
Falta no Regimento.
9
“em todo”, no Regimento.
10
“leer”, no Regimento.
11
“só”, no Regimento.
12
No Regimento.
13
Falta no Regimento.
14
“presente”, no Regimento.
15
Falta no Ms. d Porto e no Regimento de Évora.
16
“som”, no Regimento.

286
José Domingues

apostado for, requeirão aos Vereadores; e o Escripvão ho escreva assy pera se veer
quem foy em culpa, e o pagar.
9 – Item. Quando acabar seu Officio *perante*[1] o Escripvão entregará todallas
cousas, e assy as obras, e beens e esse Escripvão [assy][2] escrepva como as entregua,
e assy em cada huum anno.

10 – (Item. Nas Cidades, e Villas, honde ha Thesoureiro per sy apartado, e


Procurador do Concelho, porque ao Thesoureiro perteence fazer a moor parte
destas cousas, o Procurador tenha espicial carreguo de requerer, e procurar
todos os feitos, e cousas da Cidade, e Villa, honde assy he Procurador, e estar
cada dia prestes, e diligente na Camara, ou luguares, honde se fezer vereaçom,
pera fazer, e requerer todallas cousas, que lhe for mandado pelos Vereadores
da Cidade)[3].

XXX – Do Alquaide Pequeno das Cidades, e Villas, e cousas, que a seu Officio perteencem.
[Gabriel PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora,
Évora, Typographia da Casa Pia, 1.ª Parte, 1885, pp. 170-175.
(Ed. Fac-Simile da Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998, pp. 180-185)]

Item. Porque achamos, que nos tempos passados se fazia muito mal assy de
noite, como de dia, e muitos furtos, e mortes d’homees per aaso de as Cidades, (e
Villas dos Nossos Regnos)[4] nom serem bem guardadas per o Alquaide, e seus
homeens, Mandamos aos Alquaide, que faça em tal guisa, que assy de noute, como
de dia guardem bem as Cidades, (e Villas)[5] com os [seis][6] homeens jurados, que
lhe *forem*[7] dados pelos Officiaaes dos Concelhos naturaes, ou moradores, e
reiguados na terra; e quando de noute andarem, tragam sempre huum Tabellião,
(honde nom ouver scripvam deputado pera esto)[8], o qual dará fe, e testemunho
das cousas, que os Alquaides fezerem, e acharem em tal guisa, que por sua mingua,
ou negrigencia se nom faça mal, nem furto, nem roubo nas Cidades, (e Villas,)[9]
*ca*[10] fazendo-se o contrairo, pagualo-ham por seus beens.
1 – (E especialmente em cada huma noite sejam todos juntos, quando tange-
rem aa oraçoõ, em casa do Alquaide pequeno, e esse Alquaide, e Escripvão lhes
ensinem como ham de guardar a dita Cidade, ou Villa; e esso medes os nos-
sos homeens guardem bem a dita Cidade, segundo for acordado pelo Alquaide
pequeno, e Escripvão; e nom se apartem os nossos homeens a andar de noite,

1
“presente”, no Regimento.
2
No Regimento.
3
Falta no Regimento de Évora. Tudo leva a crer que à data, em Évora, não existia tesoureiro, por isso, no
Regimento não consta este parágrafo. No entanto este oficial existiria em outras cidades ou vilas do país,
já que ele é referido, ao lado do procurador, no título dos vereadores (§ 9), tanto nas Afonsinas como no
Regimento.
4
Falta no Regimento.
5
Falta no Regimento.
6
No Regimento.
7
“seram”, no Regimento.
8
Falta no Regimento.
9
Falta no Regimento.
10
“porque”, no Regimento.

287
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

ataa que cheguem a casa do dito Alquaide, e que lhes per elle, e per o dito
Escripvão seja devisado pela guisa que ajam de fazer; e os presos, que pren-
derem, digão ao Porteiro porque cada huum he prezo, pera o guardar o dito
Porteiro, e saber a quem ho ha d’enviar pera o livrar. E Mandamos, que o que
cada huma das sobreditas cousas nom fezer, e for negrigente por a primeira vez
perca o mantimento de oito dias, e por a segunda de quinze dias, e por a terceira
d’huum mez, e pola quarta seja prezo, e nom seja solto sem Nosso mandado,
salvo mostrando tal razom, porque a esto nom seja theudo, da qual deve conhe-
cer o dito Alquaide, e Scripvão.
2 – E Mandamos, que o dito Alquiade, e os Nossos homeens ajam suas armas,
pera guardarem a Villa, de dous em dous annos no almazem Nosso da dita
Cidade, a saber, senhos canbases, e senhos bacinetes, e as outras velhas
entreguem-nas elles no dito almazem; e outro sy aja armas o dito Escripvão, se
quizer pera o guardar com ellas alguum seu homem: e esto se entenda quando
se a Alquaidaria correr por Nós; e se for rendada, dem os Rendeiros as ditas
armas aos sobreditos, salvo se o enbarguarem as condiçõoes da renda)[1]
3 – Item. A estes homees dará, e pagará o Alquaide (Moor)[2] seos mantimentos
(nos lugares, honde he hordenado que os Alquaides Moores os devam pagar)[3];
e nom o fazendo assy, os Juizes tomem tantas de suas rendas, per que logo sejam
paguados.
4 – Item. Os Alquaides nom poerão em esses Officios, nem trazerom outros
homeens com sigo, salvo estes, que jurados forem, escriptos no livro do Concelho;
e se outros trouxerem, por se delles servirem, ou ajudarem ao dito Officio,
trabalhem-se que nom façam mal, nem dãpno, e se o fezerem, (elles)[4] sejam[5]
theudos a pagar por elles, ou os entreguar a Justiça.
5 – Item. *Todo*[6] Alquaide será deligente per sy, e per seus homeens guardar
as Audiencias, e trazer os prezos perante os Juizes, quando lhe mandarem; e
prenderá per seu mandado, e d’outra guisa nom, salvo em aquelles casos, que
deve; e os que elle per sy prender, leve-os perante o Juiz, ante que vãao ao
Castello: pero se for de noute, ou a taaes oras, que nom possa achar Juiz, ou não
for na Cidade, ou for tal pessoa o preso, que seria cousa prigosa de o trazer pola
Villa, leve-o aa prisom (que tiver em sua casa, ou a alguma outra, que pera ello
seja sinada pelo Alquaide Moor)[7], e venha logo (pola manhãa)[8] ao Juiz, (se o
aa noite prender)[9]; e se merecer seer preso, seja-o, e se o nom merecer, soltem-no
sem carceragem.
6 – Item. Seja ainda bem diligente em guardar os Almotacees, e açougues, e praças
em tal guisa, que nom entrem nos açougues, nem tomem a carne, e pescado, e as
outras cousas, que aa praça vierem, per força, e sem dinheiro, sob pena de as pagar
a seus donos, (e nom aver o que delles ha de levar por o Foral da Cidade)[10].

1
Falta no Regimento.
2
Falta no Regimento.
3
Falta no Regimento.
4
Falta no Regimento.
5
Só na outra versão do Regimento.
6
“o”, no Regimento.
7
Falta no Regimento.
8
Falta no Regimento.
9
Falta no Regimento.
10
Falta no Regimento.

288
José Domingues

7 – Item. O Alquaide nom deve fazer pedida per sy, nem per outrem, de pam,
*nem cevada*[1], nem d’outras cousas na Cidade, e seu Termo, honde he Alquaide,
e se o fezer, e alguma cousa levar, torne-o em dobro aaquelles, a que o levar.
8 – Item. Nom prendera por achaque, nem por *outra cousa aposta a nenhuum*[2],
nem leve por ello delle nenhuuma cousa, e se o levar, torne-o em dobro.
9 – Item. O Alquaide nom penhore, nem costrangua nenhuum per nenhuma divida,
nem por outra cousa, salvo se lhe for mandado per Juizes, ou por Almoxarifes, (ou
por alguum outro, que pera ello aja Nossa authoridade)[3].
10 – Item. O Alquaide nom solte preso sem mandado dos Juizes, e se o soltar, e se
perder justiça, ou corregimento alguum, o Alquaide, ou aquelle que o soltar, seja
theudo (por ello)[4], e lho façam logo os Juizes emmendar, e correger, se for feito de
corregimento; e se for feito de crime, e nom for o Alcaide do Castello, prendão‑no
logo, e façam (logo)[5] delle direito, e justiça; e se for Alquaide do Castello nom o
prendão, e enviem-no-lo dizer pera Mandarmos *o que for Nossa mercee*[6].
11 – Item. Se o Alquaide nom trouxer os presos á Audiencia perante os Juizes, ou
os nom soltar per seu mandado, os Juizes lhe façam todo pagar, e correger pelos
beens desse Alquaide.
12 – Item. O Alquaide Moor, ou pequeno nom poerá por sy outro Alquaide
na Cidade, (ou Villa)[7], e seu termo, (sem Nossa authoridade)[8]: e o Alquaide
pequeno, que o contrairo fezer, por esse feito perca logo ho Officio, e nom
respondam a esses, que assy pozer com nenhuma cousa, nem façam por elles,
nem os ajam por Alquaides; e se alguma cousa levarem, tornem-o em dobro
aaquelles, de que o levarom; e se o Alquaide do Castello o poser, façam-no saber
a Nós, pera lho stranharmos como Nossa mercê for. (Pero se o Alquaide pequeno
tever necessidade de infirmidade, ou outra semelhante, que por sy nom possa
servir, o notefique, ou mande noteficar aos Juizes, e Vereadores, e Officiaaes
daquella Cidade, ou Villa, ou Lugar, honde for, e com seu acordo, e prazimento
ponha outro pera ello perteencente, que seu lugar tenha, ataa que fora seja da
dita necessidade, e mais nom)[].
13 – Item. Os [seis][9] homeens, que forem dados ao Alquaide, sejam apresentados
perante os Juizes, e Officiaes, e dem-lhes juramento na Camara, e scriptos no livro
da Vereaçom pera serem conhecidos, e os temerem como homeens de Justiça.
14 – Item. O Alquaide nom leixe trazer armas [defesas][10] a nenhuum (no tempo,
que forem defesas)[11], e as tome, e as coute aos que as trouxerem, salvo se forem
(Cavalleiros, e Cidadãaos honrados de Lisboa, e)[12] homeens, que vãao, ou
venham de caminho, ou que vãao veer suas herdades, ou aquelles, a que Nós [ou

1
“nem de carne”, no Regimento.
2
“apostilha nenhua”, no Regimento.
3
Falta no Regimento.
4
Falta no Regimento.
5
Falta no Regimento.
6
“como que he sua mercee que se faça”, no Regimento.
7
Falta no Regimento.
8
Falta no Regimento.
9
No Regimento.
10
No Regimento.
11
Falta no Regimento.
12
Falta no Regimento.
A lei para que não trouxessem armas algumas, salvo os cavaleiros ou cidadãos de Lisboa, não está datada
(OA, Liv. I, Tít. 31). No entanto, deve ser anterior a 1408, uma vez que no artigo 1º do povo, das Cortes de
Évora desse ano, se pede que seja cumprida a lei que proíbe o porte de armas a quem não for cavaleiro ou
cidadão de Lisboa; e aos infractores, além da apreensão das armas, seja-lhe aplicada uma pena precisa.

289
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

o Iffante][1] mandarmos, que as tragam per Nossas Cartas, ou Alvaraaes; nem


dem licença, nem lugar a nenhuum, (posto que do Alquaide Moor seja, e viva
com elle)[2]; nem faça com alguum avença por as cooimas, e penas que ham d’aver
*daquelles*[3], a que som defesas, (antes da Sentença; e se despois da Sentença
as quitarem a alguuns, possam-no fazer huma vez, e mais nom; e se a mais
quitarem aaquella pessoa, paguem a pena em dobro)[4]; e se o contrairo fezer, se
for Alquaide Moor, pague (dous)[5] mil brancos (pera a arca das malfeitorias, e se
for Alquaide pequeno, pague mil brancos)[6] por cada huum.[7]
15 – E mandamos aos Taballiãaes sob pena dos Officios, e de serem dados aos
que os accusarem, (se taaes forem, que os mereçam)[8], que screpvam, e dem em
estado aos Juizes quaees som os que as assy trazem por sua licença, ou a sabendas
desse Alquaide, ou *as elle vio*[9], e as nom quis coutar, e tomar[10]; e esses Juízes
façam‑lhe logo pagar a pena suso dita sob pena de a pagarem por seos beens:
e da obra, que os Juizes fezerem, assy o dem ao Corregedor da Comarca, pera
veer como se deu aa eixecuçom, ou a fazer elle eixecutar (sob pena de a pagar
em dobro. E esto todo se entenda no tempo, em que as armas forem defesas;
e acontecendo, que a defesa das armas seja levantada, como he ao presente,
entom as nom filhe a ninguem, salvo trazendo-as de noute aas deshoras, ou
de dia, fazendo com ellas o que nom devem, ca entom as perderom, e serom
demandadas sobre as penas, e clausulas suso ditas)[11].[12]
16 – Item. Se o Alquaide for requerido, que ponha segurança antre alguuns, (que
andarem em alguum arroido, ou lhe for mandado pelo Juiz)[13], logo sem tardança a
ponha, e nom leve por ello, nem peça cousa *alguma*[14], e nom ponha outra delongua,
que logo *allo/a ello*[15] nom vaa, ou envie tal, que a ponha; e se o assy nom fezer, e
se por ello seguir morte, ou outro mal, seja por ello ho Alquaide theudo.
17 – Item. O Alquaide nem seus homeens nom vãao de noite, nem de dia a casa
d’homem boom, nem de boa molher, por dizerem, que lhe buscam hi garçõoes, e
molheres, de que ajam d’aver prol, nem lhe britem suas casas, nem entrem em ellas;
ca nom he de creer, que os boons, nem as boas em suas casas taaes cousas ajam
de consentir; e se o contrairo fezerem, corregam o mal, e dãpno, e defamamento
aaquelle, a que a deshonra fezerem; e se nom tiverem per que o corregam,
prendam-nos, e estranhem-lho, como *o feito demandar/no feito couber*[16].

1
Falta nas Ordenações, compreensível pois se refere ao infante D. Duarte.
2
Falta no Regimento.
3
“aquelles”, no Regimento.
4
Falta no Regimento.
5
Falta no Regimento.
6
Falta no Regimento.
7
No regimento dos corregedores de 1418 faz-se referência expressa à lei, feita com acordo dos do Conselho,
para que “nem huum alquaide maior nom de leçença, nem mande trazer armas a nem huuns que com ell uiuiam, nem
outras nem huãs pessoas” [Eduardo Freire de OLIVEIRA, Elementos para a Historia do Município de Lisboa,
Lisboa, 1885, 1.ª Parte, tomo II, p. 35]. Não sei de outra lei, com tal conteúdo, que não seja este parágrafo do
Regimento. Assim sendo, se a minha depreensão estiver correcta, está apurado o terminus ad quem para este
monumento legislativo e mais um indício de que estamos perante leis gerais.
8
Falta no Regimento.
9
“a quem as vê (traser)”, no Regimento.
10
Só na outra versão do Regimento.
11
Falta no Regimento.
12
Grande parte das alterações destes dois parágrafos pode relacionar-se com o levantamento da proibição
do porte de armas, decretado pelas Cortes de Lisboa de 1439. O título “Das armas como se ham de filhar”,
consta neste mesmo livro no título 31.
13
Falta no Regimento.
14
“nenhua”, no Regimento.
15
“a ello”, no Regimento.
16
“o feito demandar”, no Regimento.

290
José Domingues

18 – E esto se nom entenda nos barregueiros casados, e nos Clerigos, porque


sabendo, e seendo certo o Alquaide per prova certa, que elles teem suas barregãas
em suas casas, podem entrar *em ellas,*[1] e as prender, e se as hi nom acharem,
entom provado, que ellas eram dentro, que fogirom, ou as poserom per outra
parte em salvo, nom seja o Alquaide por ello theudo.
19 – Item. Se trabalhe o Alquaide, e seos homeens, que os barregueiros casados,
e suas barregãas, e as barregãas dos Clérigos, e Frades, e Religiosos sejam presas,
seendo achadas, e se as achar nom poderem, que as citem, e demandem, e façam
comprir as Nossas Hordenaçõoes (sobre esto feitas)[2].
20 – (Item. Faça em tal guisa o Alquaide, que os direitos, que ham d’aver dos
Carniceiros, e d’outras pessoas, que os requeira cada dia, e nom o fazendo assy,
que os nom possa despois demandar, e se os demandar, que os Juízes o nom
recebam a tal demanda)[3].
21 – Item. O Alquaide, e Carcereiros nom levem maior carceragem, que a que
ham de levar, (segundo he contheudo na Hordenaçom sobre ello feita)[4], e o
que mais levar *aja a pena, que he contheudo no titulo das carcerageens*[5]: e
outro sy nom levem carcerageens dos que forem soltos, ante que vãao aa prisom,
ou que levarem aa cadea (sem mandado dos Juizes)[6], ante que os levem perante
*elles*[7], se os Juizes os mandarem soltar, por nom merecerem de ser presos.
[Item o alcaide ou carcereiro nom leve nem tome as roupas dos presos que
fogirem salvo se levarem ferramentas ou britarem alguas prisões paguemse per
esta roupa se as elles nom quiserem pagar][8]
22 – Item. O Alquaide, e seos homeens nom sejão ousados de levar dinheiros,
nem outra cousa d’alguum preso polo levar honde o hã d’ouvir; e qualquer, que o
contrairo fezer, pola primeira vez pague-o em tresdobro, e pola segunda anoveado,
e pola terceira seja logo açoutado pela *Villa*[9], se for homem do Alquaide, e se
for Alquaide, perca o Officio.
23 – Item. Oo Alquaide Moor, e pequeno compre pouco trazer com sigo homeens
dapninhos. E porque (he dito, que seus homeens)[10] soltamente se vãao por os
pumares, e vinhas, e ortas, e tomão as fruitas, e *uvas*[11], e as trazem contra
voontade de seus donos, Mandamos aos Juizes, que se trabalhem, que saibam
(parte)[12] quaees esto fazem, e mandem logo requerer o Alquaide, que corregua o
dãpno, e pague a cooima em dobro *por os seus homeens,*[13] ou lhos entreguem;
e se lhos entregarem, façam delles direito; e nom lhos entregando, pelos beens
desse Alquaide [lhe][14] façam logo pagar o dãpno aa parte, e a cooima ao Concelho,
ou Redendeiro em dobro, sob pena de a pagarem por seos beens.

1
“em suas casas”, no Regimento.
2
Falta no Regimento.
3
Falta no Regimento.
4
Falta no Regimento.
5
“tornem o em dobro aaquelle de que o levarem”, no Regimento.
6
Falta no Regimento.
7
“os Juizes”, no Regimento.
8
Falta nas Ordenações. O compilador exclui este item, porque vai tratado em título apartado (Livro V,
título 106).
9
“cidade”, no Regimento.
10
Falta no Regimento.
11
“verças”, no Regimento.
12
Falta no Regimento.
13
“per o seu”, no Regimento.
14
No Regimento.

291
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

24 – (Item. Porque alguuns Alquaides Moores, segundo he provado, mandão


cortar lenha das oliveiras verdes, ou secas, e quando lhes desto praz, mandam
aos olivais alhêos por os cepos, que hi estam, e dizem que nom som já pera
prestar, Mandamos ao dito Alquaide, que tal cousa nom mande fazer; e fazendo
o contrairo, Mandamos aos Juízes, que por seos beens lhe façam correger o
dapno a seu dono, e pena dos dinheiros pera o Concelho, segundo he contheudo
na Hordenaçom do que talha, ou traz lenha d’oliveira)[1]
25 – Item. Todallas cooimas, ou penas, que o Alquaide ouver d’aver daquelles,
que achar em cooima, assy (como)[2] os que trazem armas, ou fazem forças, ou
lançam de noute augas, ou outras semelhantes cousas, demandem-nas do dia, que
as coutarem, e souberem *a*[3] tres dias, e nom as demandando ataa esse tempo,
que as nom possão mais demandar.

[Item todo homem que for preso por feito crime pague de carcerajem XXV sol-
dos da moeda antiga e hum soldo de malentrada e per este soldo o preso ha
daver candea pera se veerem os presos de noite e agua pera beverem de dia
Item todo homem que for preso por feito que nom seja crime pague de carce-
rajem V soldos da moeda antiga e hum soldo de malendra. E este soldo pagará
posto que no castelo nom estê mais que huma ora. E posto que jaça muito tem-
po nom pagaraa mais que o dicto soldo. E este soldo das entradas nom som dos
alcaides mas dos porteiros e guardadores dos presos.
E porque desto recreciam muitas duvidas que os alcaides levavam de todollos
presos comunalmente os XXV soldos da carcerajem posto que por ligeira cousa
fossem presos. Outrosy fasiam alguns perguntas se queriam paaço ou cadeia,
e se pedyam paaço pagavom XXV soldos. E por se tirarem estas duvidas decla-
rando quaes som os feitos crimes foy determinado e declarado que os feitos
criminaaes se entendam assy
Item se for querellado dalgum de querella perfeita jurada e testemunhas nomea-
das posto que o dito feito seja leve se o juis por essa querella mandar prender
entendesse que he preso por feito crime.
Item se algum oficiall delRey ou do concelho ou da justiça se queixar doutro
que lhe fez ou disse algum mall sobre o oficio posto que nom perfaçam querella
tall se conta com os criminaaes.
Item se algum se queixar doutro que lhe achou bestas ou gaados em seu pam
ou vynhas ou pomares ou ortas ou outros logares aproveytados e ençarrar essas
bestas ou gaados e lhos tirarem do pam ou vynhas ou pomares ou ortas ou
outros logares aproveytados e ençarrar essas bestas ou gaados e lhos tirarem do
curral ou casa em que os tever ou lhos tomarem por força contra sua vontade
ante que os ençarrase se o juis por esto mandar prender alguns pagaram carce-
ragens dos feitos criminaes.
Item se algum feser força com armas ou sem ellas e por esto for preso per man-
dado do juis pagará carcerajem do crime. e esto meesmo se faça em outros casos
semelhavees quando os presos por os crimes nom ham penas nos corpos ou
nom som degradados com pregom ca se ouverem penas nos corpos ou forem
degradados com pregom per a cidade com os baraços nos pescoços nom paga-
ram carcerajeens grandes nem pequenas.
Item os que forem presos por cousas civis ou por escarmentos quando som mal
mandados pagaram carcerajeens pequenas pero se se algum queixar que lhe

1
Falta no Regimento.
2
Falta no Regimento.
3
“ataa”, no Regimento.

292
José Domingues

roubaram ou forçaram de noyte ou de dia alguma casa ou celeiro ou adega ou


outras cousas e o juis de sospeita mandar prender alguns e se mostrarem que
nom som em culpa e os mandar soltar taaes como estes pagaram carcerajeens
pequenas. E porque se nom pode espremer todos os casos criminaaes por tan-
to manda ElRey que quando algum for preso e o alcaide disser que deve levar
carcerajem grande e o preso disser que ha de pagar carcerajem pequena entam
venha perdante o Juis e concelho o feito e esse preso pague aquella carcerajem
que lhe o Juis mandar pagar e o alcaide nom leve desse preso mais que aquello
que lhe o Juis mandar levar e se o contrairo feser o Juis ou Corregedor quando
hi for façam tornar ao alcaide em dobro a conthia que mais levou que aquello
que lhe o Juis mandou levar.
Item se alguns forem achados andar de noyte depois do syno de colher tanjudo
sem candea alumiada este deve ser preso pollo alcaide e seos homens e pagar
carcerajem pequena se em outro malefício nom for achado ou culpado e perderá
as armas que lhe forem achadas e seram do alcalde, pero se algum vier de cami-
nhode fora e for direytamente pera sua casa ou pera outra onde aja de pousar
e for em talho de caminhante nom desviando rua nem outra travessa fora de
caminho direito pera a dita casa hu se ha de colher tal como este nom deve seer
preso nem deve perder as armas. E posto que o prenda o alcaide ou seos homens
o Juis o deve soltar sem carcerajem e entregar-lhe suas armas.
Item no tanger do syno e as oras que se deve tanger e como o alcaide ha usar
com os homens que vivem com os outros na dita cidade e com os outros que
nom som conhecidos que forem achados andar de noyte guardesse a ordenaçom
que ora he dada ao alcaide.
Item se algum faz força a outros com armas ou sem ellas e o forçado se queixar
ao juis do forçador e o Juiz achar que a força he feita deve mandar ao alcaide
que alce essa força. E o alcaide se alçar a dita força deve de levar do forçador
tres libras da boa moeda de cooyma de seu trabalho que tomou em alçar a força.
pero se o juis nom mandar (alçar) a força per o alcaide e a mandar alçar per o seu
porteiro ou per outro alguum ou a ell alçar per sy nom seendo o alcayde sobres-
to requerido o alcaide levará do forçador as ditas tres libras e se o juis mandar
ao alcaide que vaa alçar a dita força e o nom quiser fazer e per negligencia do
alcaide o juis mandar alçar a força per o porteiro ou per outrem o alcaide nom
levará essa cooyma do forçador.
Item se se levantar volta na cidade e hi chegar o alcaide ou seos homens devem
de prender aquelles que andarem na volta pera faserem mal e nom pera estre-
mar ou pera prender. Outrosy devem de tomar e aver as armas que na dita volta
andarem pêra faserem dano. pero se hy andarem jurados ou vyntaneiros ou
quadrilleiros ou outros que tenham oficio de justiça que venham aa volta pera
prender aquelles que a volta fezerom ou pêra estremarem estes taaes nom deve
o alcaide prender nem lhes deve tomar as armas. E posto que lhes sejam toma-
das as armas develhas entregar.
Item outrosy se alguns outros visinhos vierem aa volta pera estremar ou em voz
ou apelido delRey e de justiça pera prender taaes como estes nom devem per-
der as armas.
Item outrosy se alguns tirarom as armas em volta e o fezerom em defendymento
de seos corpos taaes como estes nom perderam as armas.
Item se o alcaide pedyr as armas a alguns e lhas nom quiserem dar e se forem
com ellas e lhas o alcaide ou seus homens encoutarem em certa conthia taaes
como estes se forem demandados pollo alcaide ataa tres dias e se o alcaide pro-
var que elles tirarom as armas e lhes foram asy pedidas e encoutadas taaes como
estes devem dentregar as ditas armas ou a conthia em que lhe foram encoutadas
e se os o alcaide nom demandar ataa os tres dias nom as pode aver.

293
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

E outrosy se o alcaide tomar as ditas armas se aquelles a que foram tomadas


nom citaram nem demandaram o alcaide sobre ellas ataa tres dias dês hi em
diante nom seram mais punidos sobre essas armas e avellasha o alcaide.
Item se o Juis ou jurados ou vyntaneiros ou quadrilheiros ou outros que ajam
officio de justiça chegarem aas voltas como justiça ou lhes tomarem as armas
posto que hi o alcaide e seos homens nom cheguem o alcaide averaa as ditas
armas que per os sobreditos foram tomadas em vez de justiça e as carcerajeens
dos presos se ao castello forem.
Item se alguns vizinhos ou outros que nom ajam oficio de justiça chegarem aas
ditas voltas e tomarem as ditas armas em tall caso o alcaide nom averá as ditas
armas nem as perderam aquelles a que foram tomadas mas sejam lhes entre-
gues. pero pague cada hum daquelles que as armas tirarem per sanha sassenta
soldos do moordomado se nom ferio com ellas, e se com essas armas ferio feri-
das de sangue perderam as ditas armas e seram pera o lacaide.
Item se alguns jogarem os dados a dinheiro ou os olharem (?colharem, collarem)
o alcaide averá as penas e cooymas que pollos reix foram postas em suas orde-
nações por que pertencem aa alcaidaria quando lhas os reix mandarom levar.
Item a pena dos barregueiros pode aver o alcaide quando lhas os reis outorga-
rom e polla guisa que lhas outorgaram.
Item a terça parte (da pena) dos escomungados ha daver o alcaide salvo se a
elRey per sua carta quitar asy como quitou aaquelles que forem escomungados
por pensõoes que davam a moesteiros ou a egreja segundo se contêm nas cartas
que os concelhos dello teem.][1]

Nas Ordenações de D. Duarte[2] consta uma ordenação sobre o desembargo dos


rooles das petições que pertencem ao Ofício do Paço e foi aproveitado para o título 4,
deste livro I, na forma seguinte:

IIII – Dos Desembargadores do Paaço.


[Ordenações de D. Duarte, pp. 642-644]

6 – Nos *El-rei*[3] Mandamos, que esta maneira se tenha em se fazerem, e


desembarguarem os rooles das petiçõoes, que perteencem ao Officio do Paaço.
Primeiramente [Jtem][4] os Escripvãaes, que estes rooles ouverem de fazer, (Teerão
esta maneira)[5]. Viram as partes a elles, e dar-lhes-ham as petiçõoes; e *como a
parte lha der*[6], o Escripvão a veja loguo; e se for de feito, que peção perdom, (a
saber)[7], de feridas, paancadas, roubos, força de molher, o Escripvão pergunte
á parte, que *a ha de dar*[8], quanto hé aas feridas, e paancadas, se forom dadas

1
Excluído das Ordenações.
2
Ordenações de D. Duarte, pp. 642-644.
3
“o Jfante”, nas ODD.
4
Nas ODD.
5
Falta nas ODD.
6
“como lhe a parte der a petyçam”, nas ODD.
7
Falta nas ODD.
8
“que der a petiçam”, nas ODD.

294
José Domingues

em reixa, se de proposito, (e assi o declare na petiçom)[1], e o tempo, em que


forom dadas; e se nom trouver estromento de contentamento da parte querellosa,
(em todo caso)[2] diga-lhe o Escripvão, que vaa por elle, e nom ponha a petiçom
em rool ataa que o tragua; e quando o trouver faça-lhe o Escripvão pergunta, se
deu já outra tal petiçom, como aquella, e quantas vezes, e que desembargo ouve
della cada vez que a deu, e assi o ponha no rool, (e estas perguntas se façam em
todollos casos suso escriptos)[3].
7 – (Item.)[4] Se for [petiçam][5] de morte, o Escripvão a veja, e se em ella nom for
declarado em que tempo foi, e como, se de proposito, se de reixa, o Escripvão a
nom filhe, e digua aa parte, que o declare, como dito he [E como for decrarada O
espriuam lhe faça pregunta sse deu Ja outra tall E quantas uezes a deu E que
liuramento ouue cada huma vez][6].
8 – Item. Se for [petiçam][7] de furtos, o Escripvão a veja, e faça declarar (os furtos)[8]
quaees e *quantos*[9] som, e se a parte nom trouver estromento de contentamento
das partes, a que os furtos foram feitos, nom ponha a petiçom no rool, *e se o
trouver*[10], faça-lhe [o espriuam][11] *as perguntas suso ditas*[12].
9 – Item. Se for petiçom de fogo, que fizesse dapno a alguem, o Escripvam a veja,
e faça declarar, e lhe faça trazer estromento de contentamento, fazendo-lhe as
perguntas, que fazem aos furtos[13] suso ditos, e se o fogo per cajom fezer alguum
mal, em tal caso ponha-se a petiçom no rool, posto que nom traga estromento de
contentamento.
10 – Item. Se for [petiçam][14] de adulterio, veja-a o Escripvão, e faça declarar
em que tempo foi o *mal feito/malefícios*[15] [feito][16], e como, e [o espriuam][17]
faça pergunta ao que traz a petiçom, se lhe perdoa o marido, e se disser, que
si, tragua estromento dello, e se disser, que nom quer perdoar o quereloso, faça
*desto*[18] mençom, (e)[19] o Escripvam (o ponha)[20] no rool pera Nós todo veermos
*direitamente*[21] [E o espriuam lhe faça pregunta quantas uezes deu tall petiçam
E que liuramento ouue cada uez E asy o ponha No Rooll][22].

1
Falta nas ODD.
2
Falta nas ODD.
3
Falta nas ODD.
4
Falta nas ODD.
5
Nas ODD.
6
Nas ODD.
7
Nas ODD.
8
Falta nas ODD.
9
“quegendos”, nas ODD.
10
“ E sse trouuer estormento de contentamento”, nas ODD.
11
Nas ODD.
12
“pregunta quantas uezes deu tall petiçam E que desenbargo ouue cada uez E asy o ponha no rrooll”, nas
ODD.
13
Consta no ms. de Santarém e nas ODD.
14
Nas ODD.
15
“malafiçios”, nas ODD.
16
Nas ODD.
17
Nas ODD.
18
“de todo esto”, nas ODD.
19
Falta nas ODD.
20
Falta nas ODD.
21
“decraradamente”, nas ODD.
22
Nas ODD.

295
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

11 – Item. Se for petiçom de virgindade, declare *em que tempo foi/ como foi,
em que tempo*[1]; e se nom trouver estromento de perdom da parte, (ou partes)[2],
nom a filhe o Escripvão, e se o trouver, faça-lhe as perguntas *suso ditas*[3].
12 – (Item.)[4] Se for [petiçam][5] d’alguuns, a que fugiram [alguuns][6] presos,
declarem quantos eram, e porque maleficios cada hum jazia preso, e [os que
derem a petiçam][7] declarem se som Carcereiros, ou Meirinhos, ou homeens, que
os levavam pera alguuns Lugares, ou se os guardavam per costrangimentos, e
*faça-lhes as perguntas suso ditas*[8].
13 – Item. Se forem outras petiçõoes d’alçamentos de degredos, declare porque
maleficios foi degradado, e quanto ha que mantem o degredo, *fazendo-lhe as
perguntas, como suso dito he*[9].
14 – Item. Se for petiçom de manceba de Clerigo, digua de que idade he, e que
tempo ha que mantem o degredo, fazendo-lhe [o espriuam][10] as perguntas
[geeraees][11].
15 – Item. Se forem outras [petiçõees][12] alguumas, que som d’[alguuns][13] aggravos,
que alguuns fezerom nos Lugares, hu vivem, de que devem fazer requerimento
ao Juiz, ou Corregedor, nom seja posto em rool ataa que tragua estromento de
requerimento com a reposta do Juiz, (ou Corregedor)[14], e quando o trouver, veja
todo o Escripvão, e entom o ponha no rool, se for cousa, que se per direito nom
livre sem Nos seendo presente [fazendo-lhes as preguntas Susoditas geeraees][15].
16 – Item. Os rooles se façam, e livrem per esta guisa. O Escripvão, que os [rooles]
[16]
ouver de fazer, tome huma dobra de papel, e através della [em çima][17] ponha o
dia, e mez, e era, e lugar, em que se livra, e desembargua, e logo a fundo dous dedos
comece de poer as petiçõoes, como suso he declarado, com suas perguntas, e antre
petiçom, e petiçom leixe espaço *de*[18] dous dedos pera poerem hi desembarguo
[della][19] ao pee.
17 – Item. Como estes rooles forem acabados, sejam loguo entregues ao
Desembargador, que tiver carrego de as fazer livrar, e [este][20] leve-as aa

1
“como foy E em que tenpo”, nas ODD.
2
Falta nas ODD.
3
“sse deu outra tall E quantas uezes E que liuramento lhe foy dado cada uez E asy o ponha O espriuam
No Rooll”, nas ODD.
4
Falta nas ODD.
5
Nas ODD.
6
Nas ODD.
7
Nas ODD.
8
“digam quantas uezes derom tall petiçam E que liuramento ouuerom cada uez E asy seJa decrarado em
o Roll”, nas ODD.
9
“E sse deu Ja outra tall petiçam fazendo-lhe as preguntas acustumadas”, nas ODD.
10
Nas ODD.
11
Nas ODD.
12
Nas ODD.
13
Nas ODD.
14
Falta nas ODD.
15
Nas ODD.
16
Nas ODD.
17
Nas ODD.
18
“doutros”, nas ODD.
19
Nas ODD.
20
Nas ODD.

296
José Domingues

Rolaçom [E os apresente][1] *perante*[2] aquelle, que de Nós tiver carreguo de *o


desembargar*[3], ao qual [nos][4] Mandamos, que com o Chanceller, se hi for, e
dous, *ou tres*[5] Desembarguadores, os ouçam, [E ueJam][6] e ponham ao pee de
cada huma petiçom aquelle Livramento, que acordarem; e como os rooles forem
[per elles][7] livres, traguam-nos a Nós, e [nos][8] leão todas as petiçõoes *delles*[9],
cada huma sobre si, pera veermos o Livramento, que em *elles/ellas*[10] he dado; e
quando Nossa mercee for de relevarmos alguma pena, ou minguar [em ella][11], da
que per elles for *acordada*[12], Nós ho escrepveremos per Nossa mãao, e quando a
mandarmos acrescentar [em ella][13], escrepvelo-ha o que assi apresentar os rooles,
e todos vistos, e corregidos per Nós, assinaremos per Nossa Mãao em fundo de
cada rool; e d’hi em diante as partes averão seu Livramento, porque as Cartas se
farom per *elles*[14]; e quando se ouverem de assinar, o Desembarguador as veja, e
o Chanceller as asselle concertando-as com os ditos rooles. E qualquer Escripvão,
que rooles fizer, e nom fizer as pertguntas (suso-ditas)[15], e poser petiçom [em
rrooll][16] sem as fazendo, ou poendo petiçom duas vezes, sem fazendo mençom
do primeiro Livramento, como dito he, por cada huma petiçom Mandamos, que
pague cem reaes brancos pera os presos.

[Esta hordenaçam E Regimento mandamos que sse prouique E sse ponha no


liuro da chancelaria delRey meu Senhor o Jfante o mandou fernand’eanes a fez
Era do naçimento de nosso Senhor Jesu Cristo de mjll iiijc E xxbj anos][17]

A datação, proposta pelas Ordenações de D. Duarte para o ano de 1426, falta de todo
nas Afonsinas. Nada haveria a objectar se este último códice não outorgasse a mesma
lei a D. Afonso V, dando ensejo a uma contradição entre a data e o monarca legislador.
A referência ao Infante, neste caso, não será de grande préstimo, já que em ambos os
reinados, como é sobejamente sabido, está confirmada a sua acção governativa. Assim,
das duas uma, se a data está correcta o monarca só pode ser D. João I e o infante o
futuro rei D. Duarte; se a data está errada e o monarca for D. Afonso V, o infante será
o regente D. Pedro.
A última esperança para deslindar esta pendência reside no redactor do diploma,
Fernando Eanes. Infelizmente, também aqui não consegui elementos informativos
decisivos, muito embora tenha consultado os trabalhos exautivos de Vasco Rodrigues

1
Nas ODD.
2
“per djante”, nas ODD.
3
“reger a rrolaçam”, nas ODD.
4
Nas ODD.
5
“outros”, nas ODD.
6
Nas ODD.
7
Nas ODD.
8
Nas ODD.
9
“dos rrooles”, nas ODD.
10
“ello”, nas ODD.
11
Nas ODD.
12
“hordenado”, nas ODD.
13
Nas ODD.
14
“estes rrooles”, nas ODD.
15
Falta nas ODD.
16
Nas ODD.
17
Nas ODD.

297
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Vaz, relativo ao reinado de D. João I[1], e de Judite de Freitas, para o reinado de D.


Afonso V[2].

XI – Do Meirinho, que anda na Corte em loguo do Meirinho Moor.


[Ordenações de D. Duarte, pp. 640-642]

(O que for Meirinho Moor, per usança antigua deve poer de sua mãao hum
Meirinho, que ande continuadamente na Corte para levantar as forças, e sem-
razõoes, que em ella forem feitas, e prender os malfeitores, e fazer outras cousas,
que som contheudas no Regimento feito das cousas, que a seu officio perteencem;
e este deve seer Escudeiro de boom linhagem, e conhecido por boom, e posto
por Nossa Autoridade, que delle ajamos conhecimentopara o aprovar, que em
tal officio aja de servir; o qual averá em quanto servir todalas próes, e direitos
acustumados, que devem de levar de antiguamenteos Meirinhos da Corte,
segundo he contheudo em o dito Regimento a elle dado das cousas, que lhe
perteencem fazer, e aver com o dito Officio, o qual he este, que se segue.)[3]
1 – *O Meirinho Moor, ou aquelle, que na Corte andar por elle, levará*[4] [Jtem]
[5]
de todos os regatãaes, que na Corte andarem, das pescadas, que áa Corte
trouverem a vender ataa quatro carregas, de cada carrega huma pescada; e se
mais carregas *forem / trouvera*[6] de pescada, ou d’outro pescado, por essa vez
nom levará mais.
2 – Item. Da carregua de congros, e toninhas, e d’outro pescado grande, assi como
evos, e chernas, e outro semelhante, leve huma posta do lombo de huum palmo;
e se nom for carrega assi como de huum, dous, ataa tres, nom levará nenhuma
cousa, e leve seu direito d’outro pescado, se o com elle trouverem ataa quatro car-
regas, como dito he.
3 – Item. Da carrega de vesuguos, ou de mugeens, e de outro pescado qualquer
meudo, se for pequeno, levará ataa quatro carregas, como [susso][7] dito he; (a
saber)[8] huma duzia da [cada][9] carrega, e se for grande, [huma][10] meia duzia.
4 – Item. De carregua dos sabees huum, ataa quatro carregas, como dito he.
5 – Item. *Se trouver huma*[11] carregua de canegas, e arraias, e cações pequenos,

1
Vasco Rodrigues dos Santos Machado VAZ, A Boa Memória do Monarca, Dissertação de Mestrado em His-
tória Medieval apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 1995.
2
Judite Antonieta Gonçalves de FREITAS, «Teemos por bem e mandamos»: A burocracia régia e os seus oficiais
em meados de quatrocentos (1439-1460), Dissertação de Doutoramento em História da Idade Média apresen-
tada à Faculdade de Letras da Universidade. Porto, 1999.
Neste trabalho aparece um escrivão Fernão Eanes, entre os anos de 1451 e 1459.
3
Falta nas ODD.
4
“Estas sem as cousas que o meirinho moor ou aquell que na corte andarpor ell ha de fazer E leuar primei-
ramente”, nas ODD.
5
Nas ODD.
6
“trouxerem”, nas ODD.
7
Nas ODD.
8
Falta nas ODD.
9
Nas ODD.
10
Nas ODD.
11
“de”, nas ODD.

298
José Domingues

[huum][1] e [dos][2] grandes, levará como dos congros, e outros pescados grossos,
atáa quatro carregas, como dito he.
6 – Item. Se trouverem huum solho, e o venderem a postas, huma posta; e se o
levarem junto pera Nós, ou pera outro Senhor, nom leve nenhuma cousa; e posto
que traga mais solhos, nom leve mais *de*[3] huma posta de carregua ataa quatro,
como dito he.
7 – Item. De linguados, e sermonetes, e peixe escolar, e lampreas, nom leve nenhu-
ma cousa.
8 – Item. Da carregua do vinho leve huma canada ataa quatro carreguas, como
[suso][4] dito he.
9 – Item. Da carregua da cevada, levará huma quarta.
10 – Item. De fruitas, ou calçados, ou panos, ou trigo, ou outros quaesquer manti-
mentos, que trouxerem, nom levará nenhuma cousa.
11 – Item. Dos que vierem de fora da Cidade, ou Villa, ou lugar, e termo delle,
donde Nós formos, se per constrangimento vierem, e trouverem cevada, levará de
cada (huma)[5] carregua huma quarta ataa quatro carregas, como suso dito he; e
doutros mantimentos nom leve nenhuma cousa; (e esso meesmo nom leve cousa
alguma dos que vierem de fora per sua vontade, e dos que vierem da Cidade,
ou Villa, ou Termo a dentro, posto que venham per costrangimento nom levará
nada.)[6]
12 – Item. Dos Reguatãaes, e Carniceiros, que na Corte andem, a fora o Carniceiro
Nosso, ou do Ifante[7], levará de cada boy huum lombo.
13 – (Item. Da vaca huum lombo.)[8]
14 – Item. Do porco hum lombo dos pequenos.
15 – Item. Do carneiro as *tuberas*[9].
16 – Item. Dos da Villa, e termo, honde Nós formos, assi de todos os que aa Corte
trouxerem de suas vontades pam a vender, e vinho, carnes, e pescados, e outros
quaesquer mantimentos, nom levem delles nenhuma cousa.
17 – Item. Em quanto Nós estevermos na Cidade de Lixboa, ou em seu termo, o
Meirinho nom levará nenhuma cousa, porque ataa ora nom o levárom, salvo dos
Regatãaes (da Corte,)[10] se hi quiserem estar, e vender.
18 – Item. O Meirinho da Corte levará as penas dos escumungados, e dos
barregueiros, que prender, e acusar, e as cooimas das bestas, que achar em dapno.
E das muas, e sendeiros meores de marca (quando forem defesos,)[11] e todallas
outras penas, que ham de levar, segundo as Ordenaçõoes, em que expressamente
mandão que sejam para o Meirinho, (segundo for na Ordenaçom contheudo;)
[12]
e assy as armas, que o Meirinho da Corte tomar na Corte, e em todo o Regno,

1
Nas ODD.
2
Nas ODD.
3
“que”, nas ODD.
4
Nas ODD.
5
Falta nas ODD.
6
Falta nas ODD.
7
Pela data do regimento, é óbvio que se trata do infante D. Duarte. Por isso, devia ter sido suprimido nas
Afonsinas.
8
Falta nas ODD.
9
“tubaras”, nas ODD.
10
Falta nas ODD.
11
Falta nas ODD.
12
Falta nas ODD.

299
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

por honde andar, as quaees [penas E][1] armas, e cooimas, (e muas)[2] suso ditas se
partirom por esta guisa: o Meirinho levará a meetade, e os seus homeens, que com
elle forem, ou as acharem, a outra meetade [afora das muas E bestas pequenas de
que o Julgador leua o terço][3].
19 – Item. Prenderá os que achar nos malefícios, e arruidos, ou lhe for requerido;
e ante que os leve aa Cadea, levalos-ha perante o Corregedor; e geeralmente
prenderá todos aquelles, que lhe pelo Corregedor for mandado, e por esto se nom
tolha a outro Meirinho das Cadeas de prender, e usar de seu Officio, quando lhe
for mandado, como sempre usarão os que forom ante delle.
20 – Item. Honde quer que Nós formos sejam dadas *pousadas*[4] ao Meirinho
pera elle, e pera seus homeens, e pera os ditos Reguatãaes, e Carniceiros, que na
Corte andarem, e elles lhes dê as pousadas, como vir que compre.
[Jtem trazera consygo as medjdas E afila-las-ha aaquelles que na corte ueerem
vender][5]
21 – Item O Meirinho he theudo de defender os Reguatãaes, e assi todos aquelles,
que á Corte trouverem os mantimentos, que os nom forcem, nem lhes tomem o
seu contra sua vontade; e se os *alguém*[6] (forçar,)[7] fazer-lhes alçar a força, e
nom o fazendo (elle)[8] assi, que o pague per seus beens, salvo se o que a força
fezer for tal pessoa, de que elle nom possa alçar força, e se [ell][9] tal for, digua-o
ao *Corregedor*[10], e faça o que *elle*[11] mandar.
22 – E porem Mandamos, e defendemos ao dito Meirinho, que nom leve mais do
que aqui he contheudo, e faça as cousas como lhe he mandado, sob pena de perder
ho Officio [E o Nos darmos a quem nossa merçee for E mandamos ao nosso
chançeler que faça Registar este Regemento em o liuro da chançelaria feito em a
çidade d’euora xxbj dias de majo o Jfante o mandou Vicente sseu espriuam dos
liuros a fez Era de mjll E iiijc Lix anos][12].

XXXXVIIII – Das roupas, que ham de trazer os Taballiãaes, pera serem da jurdiçom d’ElRey.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 645-646]
Esta Hordenaçom, que se segue, fez ElRey Duarte meu Senhor, e Padre de louvada
memoria, sobre as roupas, que ham de trazer os Taballiãaes, a qual aprovamos, e
havemos por boa, e Mandamos que se guarde, como em ella he contheudo.

1 – *Mandou ElRey em seendo Ifante*[13] com acordo dos Ifantes Dom Anrique;
e Dom Fernando seus Irmãaos, e dos Condes de Arraiolos, e de Viana, e dos

1
Nas ODD.
2
Falta nas ODD.
3
Nas ODD.
4
“bairro”, nas ODD.
5
Nas ODD.
6
“alguum deles”, nas ODD.
7
Falta nas ODD.
8
Falta nas ODD.
9
Nas ODD.
10
“Regedor”, nas ODD.
11
“lhe”, nas ODD.
12
Nas ODD.
13
“Nos Eduarte pella graça de deus Jfante primogenito E herdeiro nos rreinos de portugall E do algarue E
do Senhorio de çepta”, nas ODD.

300
José Domingues

outros do seu Conselho, [hordenamos][1] que todolos Taballiãaes [que sse][2]


daqui en diante [derem][3] em todos seus Regnos se dem com estas clausulas, que
se adiante seguem.
2 – Primeiramente, que o dam por Taballiam em todolos autos assy civis, como
crimes, que se em aquelle julguado, honde o dam por Taballiaam, tratem per
qualquer guisa que seja, e que tanto que apresentar a carta do officio em Juízo,
comece logo d’escrepver nos [ditos][4] feitos crimes (perante os Juízes do crime,
e use continuadamente a escrepver nos ditos feitos crimes, )[5] ao menos por
espaço de hum mez, e d’hi en diante use, segundo que usava aquelle, em cujo
luguar elle socedeo, o dito officio, ou foi ao despois repartido por mandado do
dito Senhor, ou daquelle, que seu loguo tever.
3 – Item. Que elle tragua continuadamente roupas farpadas, e devisadas de
colores desvairadas com deferenças partidas bem devisadas, sem nunca trazendo
em nenhum tempo coroa aberta grande, nem pequena; e nom comprindo elle
dito Taballiam todalas [ditas][6] cousas, e cada huma dellas perfeitamente em
todo tempo, que logo per esse meesmo feito perca de todo o dito [ofiçio de][7]
Taballiado, sem seendo pera ello mais citado, nem chamado: e nom seja escusado
de perder o dito officio, posto que algumas das ditas clausullas compra, se as
[todas][8] perfeitamente nom comprir, como suso dito he.
4 – Item. Quanto tange aos Taballiãaes, que ja agora som, o dito Senhor hordenou,
que aquelles, que [aJnda][9] *nom*[10] usarom d’escrepver em feitos crimes, que
vãao logo escrepver, e usar continuadamente em (os ditos)[11] feitos crimes, como
dito he, e d’hi em diante tornem a servir, assy como antes estavam, trazendo
sempre as ditas roupas leigaaes, e farpadas, e de colores devisadas sem trazendo
nunca coroa, como [todo suso][12] dito he, sob aquella pena, que posta he aos que
novamente vem por Taballiãaes, assy como em cima he declarado. Foi publicada [a
hordenaçam Suso esprita][13] em Sintra [em a praça da dita villa presente o doutor
Ruy fernandez chançeler moor deL Rey E presente luis martijnz do desenbargo
do dito Senhor E presente os Juizes E ofiçiaes da dita villa de syntra E presente
outras muitas gentes que hy estauam][14] *a vinte e três*[15] dias [do mes][16] de Julho
[E logo o Juiz da dita villa pedyo o trelado pera o teer por rregimento do dito
conçelho E o dito chanceler lho mandou dar E Eu Joham esteuez esto espriuy]
[17]
Era [do naçimento de noso Senhor Jesu Cristo][18] de mil *quatrocentos e trinta
e três*[19] annos.

1
Nas ODD.
2
Nas ODD.
3
Nas ODD.
4
Nas ODD.
5
Falta nas ODD.
6
Nas ODD.
7
Nas ODD.
8
Nas ODD.
9
Nas ODD.
10
“nunca”, nas ODD.
11
Falta nas ODD.
12
Nas ODD.
13
Nas ODD.
14
Nas ODD.
15
“aos xxiij”, nas ODD.
16
Nas ODD.
17
Nas ODD.
18
Nas ODD.
19
“iiijc xxxij”, nas ODD.

301
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

O ano correcto desta ordenação é o das Afonsinas, tal como advoga Garcez
Ventura[1]. A confirmar esta ilação, efectivamente, em 23 de Julho de 1433 a corte
estanciava em Sintra, sendo que em 23 de Julho de 1432 estava em Santarém[2].
São estes os regimentos e ordenações do livro I que me foi possível cotejar com
outras versões. Acima de tudo, este cotejo documental vem reforçar a ilação, já
consignada na primeira parte deste trabalho[3], de que o compilador trabalhou sobre
regimentos antecedentes para compor o livro I e, por isso, não estamos perante matéria
totalmente inédita. Assim sendo, parece-me infundada a advertência velada de Alves
Dias ao asseverar que “a reforma que se queria e desejava não ficara completa. Apenas parte do
1.º volume constituía, na verdade, um novo texto, e um verdadeiro volume de Ordenações”[4].
A outra parte a que se refere Alves Dias corresponde aos títulos do regimento
da guerra, que, apesar de só constarem no códice da Câmara do Porto, fizeram
sempre parte do livro I. O facto de estes títulos (51 a 72) só aparecerem na colecção do
Porto causou algum pasmo. Também não deixa de ser estranho que aos nossos dias
tenham chegado tantos avulsos: o do mosteiro de Alcobaça, actualmente na Biblioteca
Nacional[5]; o da Biblioteca da Ajuda[6]; dois na Biblioteca Pública de Évora[7] e a certidão
publicada por Caetano de Sousa[8]. São todos posteriores à conclusão das Afonsinas, por
isso, de pouco préstimo para a compreensão da tarefa compilatória de Fernandes. O
seu interesse está antes nos acréscimos posteriores, nomeadamente, o que D. Afonso
V fez ao regimento do almirante. Passo a cotejar este regimento e o do condestável,
que nos permite confirmar ter sido o códice alcobacense a base para publicação na
Monarquia Lusitana.
Mas sem antes deixar mais uma questão em aberto: será que os títulos do regimento
da guerra não foram uma imposição da comissão revisora, ao trabalho de Fernandes?
Quero dizer, tendo em atenção a nota deixada pelo punho do próprio compilador no
final do título 70[9], parece que estes regimentos – não revistos e, por isso, não aprovados
de todo – foram colocados à pressa no final do livro I. Se este juízo tiver algum aval
futuro, poderemos estar perante mais um resquício de compilação anterior.

LII – Do Conde-estabre, e do que perteence a seu officio.


[Lisboa, BN – Alcobacenses, códice n.º 293]
[Monarquia Lusitana, Parte VIII, Liv. XXII, Cap. XLVIII, pp. 375-379]

1
“As primeiras Ord. [Ordenações de D. Duarte] datam a lei de 1432; mas, fazendo fé na cronologia da
carreira do Doutor Rui Fernandes (A. L. de Carvalho Homem, O Desembargo…, pp. 381-382), que publicita
a lei, a data será 1432(sic).” [Margarida Garcez VENTURA, Igreja e Poder no Séc. XV: Dinastia de Avis e Liber-
dades Eclesiásticas (1383-1450), Colibri História, 16, Edições Colibri, Lisboa, 1997, p. 555, nota 18]
2
Cfr. Humberto Baquero MORENO, Os Itinerários de el-rei Dom João I (1384-1433), Instituto de Cultura e
Língua Portuguesa, 1988.
3
Parte I, Cap. 2.
4
DIAS, Introdução às Ordenações Manuelinas, p. IX.
5
Lisboa, BN – Alcobacenses, códice n.º 293.
6
Lisboa, BA – Cód. 44-XIII-37.
7
Évora, BP – Cód. CIII/2-12, fl. 41 e ss.
Évora, BP – Cód. CXIX/1-6 (1 vol. de 93 fls.). Trata-se da cópia efectuada por Pedro de Mariz e que serviu
de base à certidão publicada por Caetano de Sousa.
8
António Caetano de SOUSA, Provas da História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Lisboa, 1744,
Tomo III, pp. 382-502. (certidão do séc. XVII).
9
Vai acima transcrita a p. 114. Veja-se o que aí ficou dito a propósito.

302
José Domingues

O Conde-estabre he o maior officio, e de maior estado, e honra, que ha na hoste,


tirando (a fora)[1] aquel, que he senhor della, porque segundo geral, e antigua
usança da guerra a elle perteence hir na avanguarda, e teer o Regimento della, se
outro senhor de maior estado hi nom for; e ainda a elle perteence a governança
nas maiores, e mais assinadas cousas, que na hoste hajam de seer feitas.
1 – Item. ElRey, ou qualquer outro senhor da hoste deve continuadamente teer
conselho em cada huma noite com o Conde-estabre, e com o Marichal, e com os
outros de seu Conselho, e com elles hordenar as cousas pezadas, que se em outro
dia houverem de fazer, as quaees devem seer encomendadas ao Condestabre, e
elle deve d’encarregar o Marichal daquellas, que per sy fazer nom poder; e quando
taaes cousas forem, que sejam de pequena sustancia, pode-as encomendar ao seu
Ouvidor: e ao Conde-estabre fica sempre cuidado pera demandar (a cada huum)
[2]
conto, ou recado daquello, que lhe mandar fazer.
2 – Item. O conde-estabre tera principalmente cuidado d’ordenar, e encaminhar
em cada huum dia com conselho do Marichal todalas [outras][3] cousas, que a elle
perteencer de fazer, segundo he contheudo no titulo da governança, e Regimento
da guerra.
3 – Item. O Conde-estabre no começo da guerra deve fazer *Coudees*[4] aquelles,
que [lhe parecer e][5] elle entender, que som pera ello perteencentes, que tenham
encarrego dos beesteiros, e homeens de pee, a saber, antre trinta, huum *coudel*[6];
e este tera carrego de os aguasalhar, e apousentar, e requerer seu soldo, pera
quando o Conde-estabre houver mester alguuns delles pera servir, ou hir a alguma
parte, aos ditos *coudees*[7] os deve de requerer, e elles devem teer cuidado pera
lhos logo dar: e esto se costumou de fazer sempre assy, porque todos hajam razom
de servir igualmente.
4 – Item. O Conde-estabre com acordo d’ElRey, ou do senhor da hoste ha d’assinar
certos quadrilheiros, que sejam pera ello perteencentes, que ao vencimento
d’alguma batalha, ou entramento de Villa repartam todo o esbulho, que hi for
achado, antre todolos senhores, e capitãaes da hoste, segundo sua senhoria, e
capitania, pera elles outro sy repartirem aquello, que lhes acontecer antre aquelles,
que forem de sua capitania, e senhoria; porque dando-se luguar ao esbulho,
seguir-sya (ende)[8] grande prigoo aa hoste, porque, como ja dissemos no titulo
do Regimento da guerra, por aazo do dito esbulho seer permitido receberiam as
hostes grandes perigoos.
5 – Item. A elle perteence cada vez que o arraial partir d’huum lugar pera outro,
mandar certas gentes diante, que pera ello serom assinados, pera descobrir a terra
dos inmigos por segurança da hoste; aos quaees dara huum capitam, que pera
ello seja perteencente, e mandará com elles alguuns almocadeens de cavallo, que
saibam bem a terra, pera os haverem d’encaminhar a serviço d’ElRey.
6 – Item. A elle perteence ordenar as guias, que haveram d’hir na avanguarda pera
encaminhar, segundo he contheudo no titulo da Hordenança da guerra, e bem
assy em quaeesquer cavalguadas, que houverem de fazer.
7 – Item. A elle perteence dar carreguo a *huma*[9] pessoa de bem, que pera ello
seja perteencente, pera assinar o luguar, onde o arraial houver de seer asseentado,

1
Falta no ms. BN e na ML (Monarquia Lusitana).
2
Falta no ms. BN e na ML.
3
No ms. BN e na ML.
4
“comdes”, no ms. BN e na ML.
5
No ms. BN e na ML.
6
“comde”, no ms. BN e na ML.
7
“comdes”, no ms. BN e na ML.
8
Falta na ML.
9
“allgua”, no ms. BN e na ML.

303
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

o qual levará certos pendooens pera balisar, e devizar o dito lugar; e despois
que for assinado, o Marichal dará [ao][1] apousentador, que haja *d’alojar os*[2]
senhores, e fidalgos, e os capitãaes da hoste, segundo no titulo do Marichal mais
compridamente he contheudo.
8 – Item. A elle perteence hordenar as guardas, e escuitas, que hajam de guardar
o arraial despois que for asseentado, segundo elle entender por nosso serviço,
e segurança da hoste, (e mais compridamente he contheudo no titulo do
Regimento da guerra:)[3] e nom seja nenhuum tam ousado, que sem seu mandado
especial saya fora do arraial, segundo for balisado; e aquel, que o contariro fezer,
seja prezo, e *escarmentado*[4], segundo juizo do Conde-estabre.
9 – Item. Acontecendo, que seja necessario de poer palanque no arraial em
qualquer tempo por guarda, e defensom delle, ao Conde-estabre perteence de o
mandar [assim][5] eixecutar.
10 – Item. Quando vier caso, que o arraial seja á vista d’alguma Villa com proposito
de seer cercada, aquel, que da parte do Conde-estabre sooe d’hir diante veer os
lugares, onde o arraial (ha de seer assentado, esse meesmo vaa entom tam a cerca
do arraial,)[6] que ligeiramente possa haver socorro delle, em tal guisa, que nom
*receba*[7] prigo, e tenha tal maneira, que possa devisar a terra em lugar, onde o
arraial seja melhor asseentado, e venha-o fallar com o Conde-estabre, e recontar-
lhe-ha a disposiçom dos luguares, que vio, e achou, pera elle com nosso acordo
hordenar, e assinar o lugar, onde ho arraial haja de seer asseentado.
11 – Item. Ao Conde-estabre perteençe, quando o arraial (abalar)[8] de huum lugar
pera outro, dar carrego a alguum fidalguo, ou cavalleiro pera ello perteencente,
que tenha em cada huum dia prestes ataa vinte escudeiros bem encavalgados,
(com os quaees)[9] em cada huum dia alta manhãa hirá descobrir a terra, ante
que o dito arraial aballe, por segurança delle, (segundo mais compridamente he
contheudo no titulo do Regimento da guerra;)[10] e bem assy fará despois que o
arraial for asseentado em seu lugar.
12 – Item. Ao Conde-estabre perteence haver conto das gentes d’armas, e beesteiros,
e homeens de pee, e bem assy das batalhas, e companhias, que houver em toda a
hoste, pera se dellas poder servir igualmente ao tempo do mester: e elle hordenará
a maneira, que haveram de teer aquelles, que houverem [de leuar diguo de][11] de
velar: e elle per sy as (roldará, ou)[12] mandará roldar per pessoa fiel, e lhes dará o
nome, que hajam de teer, e qualquer outra cousa, que hajam de fazer: e esto fará
em todo o arraial, assy da Villa, e Castello, como do campo.
13 – Item. Ao Conde-estabre perteence ho maior, e mais principal carrego da justiça,
especialmente nos feitos *pesados*[13] de grandes pessoas; e por tanto lhe convem
de levar comsigo *huum*[14] Leterado bem entendido por seu Ouvidor, e outro

1
No ms. BN e na ML.
2
“de dar loguar aos”, no ms. BN e na ML.
3
Falta no ms. BN e na ML.
4
“punido”, no ms. BN e na ML.
5
No ms. BN e na ML.
6
Falta na ML – deve ser lapso do autor.
7
“aja”, no ms. BN e na ML.
8
Falta no ms. BN. “se muda”, na ML – plausivelmente acrescento do autor.
9
Falta no ms. BN. “que”, na ML.
10
Falta e na ML.
11
No ms. BN.
12
Falta no ms. BN e na ML.
13
“pasados”, no ms. BN. Falta na ML.
14
“homem”, na ML.

304
José Domingues

homem de bem por Meirinho; e elle deve a levar cadea, e carcereiro, e homeens
pera fazer justiça, em tal guisa que possa seer bem comprida, e eixecutada pelos
ditos officiaaes della.
14 – Item. O Ouvidor do Conde-estabre poderá tomar conhecimento de quaaesquer
feitos, assy crimes como civis, que a elle vierem, principalmente per auçom nova,
ou per appellaçom, ou aggravo dante o Marichal, ou seu Ouvidor; (e qualquer
desembarguo, que o Conde-estabre, ou seu Ouvidor)[1] com authoridade delle
der em alguum feito, logo poderá mandar compridamente eixecutar; pero se elle
vir que allguum feito he tam pesado per razom da pessoa, ou per bem da cousa
seer em sy muito grave, deve fallar comnosco, e com nosso acordo dar em elle
determinaçom, como for achado per direito: e deve ficar em sua *discripçom*[2] á
cerca do feito seer leve, ou pesado, como dito he.
15 – Item. Se o Marichal per sy, ou per seu Ouvidor desembarguar alguum feito
crime, em que haja pena de sangue, *nom mandará eixecutar seu desembargo a
menos de fallar com o Conde- estabre; salvo se o desembarguo for desembarguado
com acordo, e autoridade do Conde-estabre.*[3]

[outro sy [não][4] mandara executar pena de morte natural ou talhamento


de membro ate o primeiro comnosquo falar e comprir ho que lhe sobre ello
detreminarmos][5]

16 – Item. Todolos feitos *civis*[6], que ao Conde-estabre, ou a seu Ouvidor vierem


per auçom nova, ou appellaçom, ou aggravo, ou qualquer outra maneira, e per
elle, ou per seu Ouvidor com sua autoridade forem desembarguados, farom em
elle fim em tal guisa, que de seu desembarguo nom haverá hi appellaçom, nem
aggravo, nem supricaçom pera outra nenhuma parte.
17 – Item. Todos aquelles, que quiserem mover algumas demandas [ou comtendas]
[7]
em todo caso civil, ou crime, poderom escolher por seu Juiz ho Ouvidor do
(Conde-estabre, ou Ouvidor do)[8] Marichal, e qualquer delles, que primeiramente
tomar conhecimento da cousa, per qualquer guisa que começar d’ouvir as partes,
elle procederá em ella ataa fim.
18 – Item. O Conde-estabre haverá de cada mercador, ou regatam, que vender,
ou comprar na hoste cada somana *doze*[9] reaes (brancos)[10], e de cada huum
seu servidor *três*[11] reaes (brancos)[12]; e haverá de cada huma molher solteira
da macebia em cada somana *doze*[13] reaes (brancos)[14]; e haverá mais as penas

1
Falta no ms. BN e na ML.
2
“resolução”, na ML.
3
“ou de encoutos sera obrigado de receber apellação a parte se apellar e não apellando a parte apelle por
justiça pera o comdestabre ou seu ouuidor”, no ms. BN e na ML.
4
Na ML.
5
No ms. BN e na ML.
6
“crimes”, no ms. BN e na ML.
7
No ms. BN e na ML.
8
Falta no ms. BN e na ML.
9
“vimte”, no ms. BN e na ML.
10
Falta no ms. BN e na ML.
11
“cimquo”, no ms. BN e na ML.
12
Falta no ms. BN e na ML.
13
“vimte”, no ms. BN e na ML.
14
Falta no ms. BN e na ML.

305
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

do dinheiro, ou beens, *ou qualquer outra*[1] cousa, que faça como nom deva;
e haverá mais todas as carcerageens daquelles, que forem presos na prisom do
seu Ouvidor; e bem assy as armas, que lhe forem achadas, se com ellas fez o que
nom devia.
19 – Item. Quando fezerem algumas cavalguadas, devem os capitãaes dellas
requerer ao Conde-estabre, que lhes dê huum cavalleiro, ou escudeiro, que em
seu nome lhes assine o luguar, onde hajam d’asseentar sua gente em cada huum
dia, segundo pelos ditos capitãaes será hordenado.
20 – Item. Quando o Conde-estabre, e Marichal cavalguarem, das presas, que
forem tomadas per elles, haverá o Conde-estabre todas as bestas sem cornos, a
saber, cavallos, e eguoas, (mullos,)[2] e mullas, asnos, e asnas, que andarem pelo
campo em manadas, ou per outra guisa desferradas, e os porcos. E o Marichal
haverá todas as bestas mazelladas, e capadas de pouco valor. E todas as bestas
ferradas som daquelles, que as gaançarem. E quanto he aos bois, e vacas, carneiros,
e ovelhas, cabrooens, e cabras, e as porcas, todas estas animalias ham de seer
repartidas per todos aquelles, que forem na cavalguada; a qual repartiçom farom
o Conde-estabre, e o Marichal ambos juntamente, ou quem elles pera ello em seus
nomes sinarem. E ainda que os ditos Conde-estabre, e Marichal nom *forem*[3] na
cavalguada, se elles esteverem no arraial, haveram sua parte das sobreditas cousas,
que [são pera repartir e bem asy as outras cousas que][4] ham d’haver, em sólido,
assy como se na cavalguada fossem [prezentes][5]; pois que ficam no arraial por
serviço d’ElRey, e por sua hordenança hão de seer feitas as cavalguadas.
21 – Item. Se huum prisoneiro for preso em tempo de guerra, e elle escapar da
guarda daquelle, que o filhou, e for represo pola guarda da *vela*[6], deve seer
levado ao Marichal; e se [elle][7] achar que o dito prisoneiro fogio ante de seer
acabada huma noite, e huum dia, que o tinha aquelle que o prendeo, em tal caso
deve-lho de mandar tornar, sem por ello haver alguma avantagem; e achando
que havia mais de noite, e dia, que o senhor do prisoneiro ho tinha em seu poder,
quando lhe fogio, em tal caso será o prisoneiro daquelle que o achar, e haverá o
Marichal por avantagem a dizima delle.
22 – [Item. Se alguum prisoneiro fogir do arraial, e passar as guardas do arraial,
e ante que chegue aos inmigos desse arraial, seja tomado per outra gente do
arraial, e se assy andar fogindo ante que tomado seja per huum dia, e noite, será
daquelles, que o tomarom, e o Marichal haverá sua avantagem, e se per ventura
for tomado ante que passe dia, e noite, será tornado a seu dono per juízo do
Marichal sem outra avantagem: e esto se entenda quando a nossa hoste for em
terra de nossos inmigos.][8]
23 – Item. Se algumas cousas forem levadas pelos inmigos do arraial, e os ditos
inmigos as teverem sob seu poder dia, e noite, ante que com ellas cheguem em
salvo á sua terra, e forem *recobradas*[9] pelas gentes do arraial, sejam daquelles,
que as tomarem; e se ante do dia, e noite forem *recobradas*[10], sejam tornadas aos

1
“a qual cousa em que algum seja comdenado na oste por”, no ms. BN. “em que algum seja condenado na
hoste por”, na ML:
2
Falta no ms. BN e na ML.
3
“sejão”, no ms. BN e na ML.
4
No ms. BN e na ML.
5
Na ML.
6
“villa”, no ms. BN e na ML.
7
No ms. BN e na ML.
8
Falta na ML.
9
“tomadas”, na ML.
10
“tomadas”, na ML.

306
José Domingues

primeiros senhores; e se per ventura as ditas cousas já eram postas em salvo pelos
inmigos, e despois forom *recobradas*[1], em todo caso seram daquelles, que as
novamente *cobrarem*[2].

LIIII – Do Almirante, e do que perteence a seu officio.


[Lisboa, BN – Alcobacenses, códice n.º 293]

Maravilhosas cousas som os feitos do mar, e assinadamente aquelles, *que fazem


os homeens em*[3] maneira d’andar sobre el per meestria e arte, assy como nas
naaos, e galles, e em todolos outros navios mais pequenos. E porem antiguamente
os Emperadores, e os Reyx, que haviam guerra per o mar, quando armavam naaos
pera guerrearem seos inmigos, poinham Cabdelles sobre ellas, a que chamam
em este tempo Almirante, o qual he assy chamado, porque elle he, e deve seer
*Cabedel*[4], ou guiador de todos aquelles, (que vãao)[5] em guallees, ou navios
por fazerem guerra sobre mar, e ham tam grande poder em na frota, como se
ElRey hi de presente fosse.
1 – E todos aquelles, que sob seu poderio forem, devem-se trabalhar de quatro
cousas: a primeira, que sejam sabedores de conhecer o mar, e os ventos: e a
segunda, que tenham navios tantos, e taaes, e assy guisados, e encaminhados
d’homeens, e armas, e outras cousas, que houverem mester, segundo convem ao
feito, que querem fazer: a terceira he, que se nom dem a tardança, nem a priguiça
aas cousas, que devem; ca bem assy como o mar nom he vaguaroso em seos
feitos, (mas faze-os)[6] aginha, e depressa, bem assy os que em elle querem andar
devem seer aguçosos, e aprestados nas cousas, que houverem de fazer por tal,
que em quanto boo tempo houverem, nom o percam, mais ajudem-se delle em
seu proveito: a quarta he, que sejam muito bem mandados aaquelles, que teverem
carrego de os mandar: ca se os da terra (em sua hoste)[7] assy o devem fazer, que
bem podem vir per seos pees, ou em suas bestas a qual parte lhes aprouver, e
quando quiserem, quanto mais o devem assy fazer os do mar, cujo hir ou estar
nom he em seu poder, ou querer, como aquelles, que teem por cavalguaduras os
navios, que som de madeira, e os ventos por freos, os quaees nom podem mandar,
nem teer cada vez que quiserem, posto que sejam em perigoo de morte. E por
todas estas razõoes deve de seer o aguiamento do Almirante, e seu avisamento
em tal maneira, que cada huum daqueles, que com elle forem, saiba o que ha de
fazer ao tempo do mester, e nom espere, que lho hajam de dizer, ou requerer per
muitas vezes.
2 – Item. O Almirante deve seer em estes Regnos do linhagem decendente de Mice
Manuel, que em elles foi primeiro Almirante, segundo a forma da doaçom (a elle)
[8]
feita per ElRey Dom Donis; e nom seendo achado hi tal do seu linhagem, que
segundo direito, e forma da dita doaçom deva seer Almirante, entom deve elle
seer (per nos)[9] escolheito tal, que haja em sy estas cousas, que se seguem.

1
“vendidas”, no ms. BN e na ML.
2
“receberão”, no ms. BN. “tomarão”, na ML.
3
“que se fazem em ho maar e”, no ms. BN.
4
“caudel”, no ms. BN.
5
Falta no ms. BN.
6
Falta no ms. BN.
7
Falta no ms. BN.
8
Falta no ms. BN.
9
Falta no ms. BN.

307
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

3 – Primeiramente, que seja de bom linhagem pera haver vergonça de fazer o


que nom deve: de sy, que seja sabedor dos feitos do mar, e da terra em tal guisa,
que saiba o que houver de fazer em *cada huma*[1] parte: e ainda lhe convem,
que seja de grande esforço, ca esta cousa lhe he muito necessária pera cometer
os feitos de grande *peso*[2], e fazer dampno a seus inmigos, e apoderar-se da
gente, que trouver; porque ainda que os que forem com elle sejam boos, sempre
haverám mester correiçom [de justiça][3]: outro sy deve ser *muito graado, e*[4]
liberal, porque saiba bem partir o que houver com aquelles, que o houverem
d’ajudar, e servir: e sobre todalas outras cousas lhe convem principalmente seer
leal de guisa, que saiba guardar nosso serviço, e sy meesmo de nom fazer cousa,
que lhe mal este.
4 – E quando elle per nós for escolheito pera seer Almirante, deve de teer vigillia
na Igreja, bem como se houvesse de seer cavalleiro; e em outro dia deve de vir a
nós vestido de ricos panos, e em presença de bõos, e principaes da nossa Corte,
lhe devemos poer huum anel [douro][5] na mãao direita por sinal de honra, que
lhe fazemos, e outro-sy huma espada nua em a dita mãao por o poder, que lhe
damos; e em a mãao seestra hum estendarte das nossa armas em signal de seu
caudilhamento. E estando elle assy em nossa presença, deve-nos prometter com
juramento, que nom temerá morte por (emparar)[6] a fé, e *creença, e*[7] nossa
honra, e serviço, e bem assy por prol cumunal da nossa terra, e que guardará, e
fará bem fiel, leal, e verdadeiramente todas as cousas, que houver de fazer por
seer Almirante. E todo esto acabado d’hi em diante ha poder de seer Almirante, e
fazer todas as cousas, que a seu officio perteencer.
5 – E o seu officio deste he mui grande, *ca*[8] el ha de seer Coudilho de todos os
navios, que som pera guerrear, tambem quando som muitos ajudados em huum,
a que chamam Frota, como quando são mais poucos, a que dizem armada: *e elle
ha poderio na Frota, des que mover ataa que torne ao lugar, donde moveo; e ha
de ouvir as alçadas dos juizes, que os Alquaides houvessem dados*[9], e fazer
justiça *daquelles*[10], que a merecerem, segundo adiante será declarado.
6 – Outro sy a seu officio perteence de fazer recadar todalas cousas, que gaanha-
rem per mar, ou per terra, e fazello escrepver, estando diante todolos Alquaides,
ou a maior parte delles, porque lhas nom possa nenhuum furtar, nem encobrir, e
nos possa dar conta, e recado dellas de maneira, que hajamos nosso direito, e cada
huum dos outros o seu.
7 – E a seu officio perteence ainda quando a frota tornar, que faça dar por escripto
ao nosso Almuxarife todalas armas *da sahida*[11] das naaos [ou nauios][12], *que
houvessem levadas*[13], a fora se acontecesse, que houvesse perdida alguma cousa

1
“qualquer”, no ms. BN.
2
“preço”, no ms. BN.
3
No ms. BN.
4
“grande”, no ms. BN.
5
No ms. BN.
6
Falta no ms. BN.
7
“acresentar”, no ms. BN.
8
“que a”, no ms. BN.
9
“e a elle poderão na frota des que ella começa darmar athe sua tornada e desarmação de ouvir as apella-
ções e agrauos das sentenças que os alcaides ouuesem dadas e este e todos os maleficios cometidos no mar
ou nos portos delle por homens que não forem na dita frota ou armada”, no ms. BN.
10
“de todos”, no ms. BN.
11
“das ditas”, no ms. BN.
12
No ms. BN.
13
“que leuarão ao tempo que partirão as ditas naaos”, no ms. BN.

308
José Domingues

dellas em lidando com os inmigos, ou per tormenta no mar; e deve mandar a


cada huum dos Alquaides das galles que tenham cuidado dellas, des que forem
(na Ribeira)[1] do porto, e as façam guardar de maneira, que se nom percam nem
dapnem per sua culpa.
8 – Outro sy elle ha poder, que em todolos portos façam por el, e obedeeçam a seu
mandado em as cousas, que perteençam a feito do mar, assy como fariam por o
nosso corpo.
9 – Outro sy devem obedecer a seu *mandado*[2] os Alquaides, e todos os outros,
que forem com el na frota, ou na armada, e caudelarem-se per elle assy como
fariam por nós, se presente fossemos. Onde, pois que o officio do Almirante he
tam poderozo, e tam honrado, ha mester que haja elle (em sy)[3] todas aquellas
bondades, que ao homem posto em semelhante estado, e dignidade convem
d’aver em tal maneira, que Nós hajamos razom de fiar delle, e fazer-lhe grande
honra, e mercee; e quando esto nom fezesse, deve seer escarmentado per Nós,
segundo a culpa, em que for. E ainda perteence mais ao officio do Almirantado
em estes Regnos todo o que se adiante segue, per bem da conveença feita antre
ElRey Dom Donis da gloriosa memoria, e Mice Manuel Peçanha, que foi primeiro
Almirante em estes Regnos.
10 – (Este)[4] Almirante deve seer, como dito he, da linha direita lidima de Mice
Manuel Peçanha, que foi primeiro Almirante em estes Regnos, com tanto que seja
leigo, e tal que nos possa servir, segundo mais compridamente he contheudo na
doaçom, e conveença feita antre o dito Rey Dom Donis, e o dito Mice Manuel; o qual
deve jurar quando lhe for outorguado o Almirantado per nós, que nos serva bem,
e lealmente per mar, ou nas nossas guallees, (quando comprir a nosso serviço,
que nom sejam menos de tres guallees;)[5] e que serva contra todolos homeens
do mundo de qualquer estado, e condiçom que sejam, assy *Christãaos*[6] como
Mouros; e que aguarde, e chegue sempre nosso serviço, e prol, e honra nossa, e do
nosso Senhorio per todolos lugares que elle poder e souber e desvie todo nosso
dampno e desserviço em todo tempo a todo seu leal, e verdadeiro poder; e que
nos dê boo conselho cada vez que lho demandar-mos, e guarde nossos segredos,
que lhe dissermos, ou mandarmos dizer; e que nos seja sempre em todalas cousas
leal, e verdadeiro vassallo, e bem assy a todolos nossos socessores, que despos
nós vierem.
11 – Item. Se nós, ou nossos socessores, que despos nós vierem, formos em hoste
per terra, aquel, que for Almirante em estes Regnos, nos *hade*[7] servir em ella,
assy como homem de seu estado, se lhe nós mandarmos, e doutra guisa nom deve
de servir a nós per terra; e se pela ventura o que for Almirante adoecer, ou houver
alguum outro embargo lidimo tal, que nos nom possa servir per seu corpo, em tal
caso elle deve seer escusado do dito serviço, *nem*[8] perderá por ello nada do que
lhe havemos dado.
12 – Item. Deve teer sempre vinte homeens de Genoa sabedores do mar taaes, que
sejam convinhavees pera Alquaides de gualles, e pera arraezes, que saibam bem
servir per mar em as nossas guallees, e sejam prestes pera nos servir quando [nos]

1
Falta no ms. BN.
2
“mandamento”, no ms. BN.
3
Falta no ms. BN.
4
Falta no ms. BN.
5
Falta no ms. BN.
6
“espanhois”, no ms. BN.
7
“deue de”, no ms. BN.
8
“não”, no ms. BN.

309
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

[1]
mester for; e quando nom houvermos mester ho serviço dos ditos homeens,
que elle dito Almirante se possa servir delles em suas merchandias, e enviallos
a Frandes, ou a Genoa, ou a algumas outras partes com ellas; e se per ventura
acontecesse, que mandando [hos][2] o dito Almirante a alguma parte, em tanto
comprisse ho nosso serviço delles, que logo o dito Almirante envie por elles hu
quer que sejam, que venham pera nos servirem.
13 – Item. Quando forem em nosso serviço, lhe havemos de dar de soldada
(ao Alquaide)[3] doze libras e meia polo mez, [que são aguora desta moeda
quatrocemtos e cimquoenta reais][4] e por governo pam, e biscoito, e auga, como
derem aos outros; e ao que for arraes de guallee oito libras por mez de soldada,
[que são dozentos e oitenta e oito reais][5] e esso meesmo pam, e biscoito, e augua,
como dito he.
14 – E se acontecer, que alguuns [dos ditos homes][6] fugirem, ou se amoorarem,
[ou morrerem][7] que o dito Almirante seja theudo de mandar á sua custa por
outros (homeens)[8] sabedores do mar, que nos servam (em guisa,)[9] que sempre
sejam comprimento dos vinte homeens, como dito he; e haja espaço o dito
Almirante pera enviar por aquelles, que minguarem, e pera os trazer aos nossos
Regnos de Purtugual (oito mezes:)[10] pero se alguum dos ditos homeens (adoecer,
ou)[11] envelhecer em nosso serviço, que nom possa servir, que o dito Almirante
nom seja theudo de mandar por outros em lugar delles, em quanto estes homeens
forem vivos, e nom poderem servir; e o dito Almirante (pera sempre)[12] deve de
manteer os ditos vinte homeens de Genoa pera nosso serviço.
15 – Item. Ha d’haver o Almirante de todalas cousas, que gaanhar, e filhar per
mar nas [nosas][13] guallees dos inmigos da fe, ou dos inmigos dos nossos Regnos,
a quinta parte: e esto se nom entenda nos cascos das guallees, nem doutros navios,
nem d’armas, nem aparelhos dellas, nem de Mouro de mercee, porque estas
sobreditas cousas som livremente nossas: pero *quando o*[14] Mouro de mercee
[se ho][15] nós quisermos tomar, *devemollo tomar*[16] polo custo, que he usado no
nosso senhorio, que som cem libras de Portuguezes; [que são ora desta moeda tres
mil e seys çemtos reais][17] e do preço, que nós dermos polo dito Mouro, haverá o
Almirante a quinta parte.
16 – Item. O Almirante tem jurdiçom, e poder sobre todolos homeens, que com
elle forem nas nossas guallees [e naaos e navios e outros quaes quer][18] tambem
em frota, como em armada em todolos lugares, per hu andar per mar; e nos portos

1
No ms. BN.
2
No ms. BN.
3
Falta no ms. BN.
4
No ms. BN.
5
No ms. BN.
6
No ms. BN.
7
No ms. BN.
8
Falta no ms. BN.
9
Falta no ms. BN.
10
Falta no ms. BN.
11
Falta no ms. BN.
12
Falta no ms. BN.
13
No ms. BN.
14
“quanto ao”, no ms. BN.
15
No ms. BN.
16
“deuemnolo comprar”, no ms. BN.
17
No ms. BN.
18
No ms. BN.

310
José Domingues

da terra, onde saírem fora, lhe ham de seer obedientes, e bem mandados, como
a seu Almirante, e assi como fariam *polo nosso corpo meesmo, se hi presente
fossemos*[1]; [e esta jurdição tem quer nos na frota sejamos presemtes quer
não][2] e os que lhe [alguuns crimes em a frota ou armada cometerem ou][3] nom
forem bem mandados, stranhe-lho nos corpos com direito, e justiça, segundo o
merecerem, assi como nós, se hi presente fossemos.
17 – Item. Que todolos que em essas guallees forem, sejam bem obedientes, e
mandados aos Alquaides, que pelo Almirante forem postos em todalas cousas,
como a seus Alquaides, assy como sempre foi uso, e custume; e esto se entenda
do dia, que as guallees forem armadas, ou navios ataa postumeiro dia, que forem
desarmadas. E os nossos Escripvãaes, que forem nas ditas guallees, jurem a nós,
que bem, e *direitamente*[4] escrepvam em seus livros as cousas, que no mar
gaanharem, pera nós compridamente havermos nosso direito, e cada huum o seu.

[Item os preguões que se derem quamdo se allguma justiça ouuer de fazer


deuem de ser daados em nome do almiramte quer nos na frota ou armada
sejamos presemtes quer nnão sejamos em ella em pesoa presemtes][5]

18 – Item. Se per falicimento de cada huum dos Almirantes, que forem em estes
Regnos, e o dito Almirantado herdarem, acontecer nom ficar delle filho barom
lidimo, e leigo, [tal que nos posa bem seruir nem ouuer hy outro herdeiro
barão lidimo e leyguo][6] que decenda do dito Mice Manuel per linha direita
lidimamente nado, entom o dito Almirantado com todalas cousas, e direitos a
elle anexados, deve seer tornado livremente aa Coroa dos nossos Regnos sem
outra nenhuma contenda.
19 – Item. Ao seu officio perteence de teer cadea, e Ouvidores, e Alquaides, e
Meirinhos, Porteiros, e Escripvãaes, e seus officiaaes em todolos (lugares dos
nossos)[7] Regnos, onde houver homeens de Vintenas do mar, que os Ouvidores,
e Alquaides do dito Almirante ouçam, e livrem todos os feitos dos sobreditos, e
que as alçadas [e agrauos][8] venham ao dito Almirante, e do dito Almirante, a Nós
e se os Ouvidores ou Alquaides do dito Almirante ou seus officiaaes houverem
alguuns (feitos)[9], que nom tome delles nenhuum conhicimento, mais sejam
remetidos ao Almirante, que os desembargue com direito &c. segundo em a carta
de mercee do dito Rey Dom Donis, e conveença feita antre elle, e Mice Manuel,
he contheudo.
20 – E este capitulo mandamos, que se guarde em aquella maneira, que se guardou
em vida d’ElRey Dom Joham meu *Avoo*[10], cuja Alma Deos haja, e que por seer
aqui escripto, nom acrecente mais no direito do Almirante.

1
“por nosa propria pesoa”, no ms. BN.
2
No ms. BN.
3
No ms. BN.
4
“verdadeiramente”, no ms. BN.
5
Évora, BP – Cód. CIII/1-12, fl. 52; e no ms. BN. Falta em Évora, BP – Cód. CXIX/1-6, fl. 16.
6
No ms. BN.
7
Falta no ms. BN.
8
No ms. BN.
9
Falta no ms. BN.
10
“visabo”, no ms. BN e no ms. Évora, BP – Cód. CIII/1-12, fl. 52v. A estar correcto, estas cópias teriam que
ser do reinado de D. João II. Mas não deixa de ser contraditório que, em ambos, falte o acrescento final, do
punho de D. Afonso V.

311
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

[Despois desto acorda ElRey nosso senhor com alguns do seu concelho e
letrados do seu desenbargo visto e examinado do officio do Almirante e a carta
da doação e sendo feito primeiramente por ElRey D. Denis a mice Manuel
peçanha de Jenoa que posto que se nelle espreçamente non diga que todos os
poderes e autoridades tenha se nos per pesoa na frota ou armada formos ante
pareça querer ter per algumas pessoas ou entendimento contrario s. que non
se entenda senon em nossa ausência, que o ditto regimento do ditto officio do
Almirantado se entenda en todo quer nos ou nossos socessores sejamos per
pessoa na frota ou armada quer nos sejamos perante per nossa pessoa en ella
outro si detremina o ditto senhor o ditto regimento e poder e jurdiçon do ditto
Almirante, logo começar a ver lugar como se as Gales Naos, ou outros Navios de
frota ou armada começar darmar a toa sua tomada, e desarmação e esto en todos
os malefícios cometidos no mar, ou nos portos per os homens da ditta armada
onde os Navios da frota ou armada chegaren, por quanto asi he contheudo na
primeira carta de doação, e sendo do ditto officio do Almirantado.
E por quanto outro si foi duvida se nos cazos honde a jurdiçon criminal he do
ditto Almirante se fara a justiça com pregon en nome do dito Almirante se no
seu delle dito Senhor, porque o ditto regimento o non declara, detriminou que
en todo cazo en que ao dito Almirante pertença fazer justiça se dê o pregon
delle dito Almirante asi como na hoste e arrayal da terra se pode e deve dar en
nome do Condestabre e Marichal, e esto quer elle dito senhor per pessoa seja na
frota ou armada quer non seja por atnto deão os Reys, e Principes estes carregos
e poderes aos seus Condestabres Almirantes e Marichaes por se desocuparem
en tais tempos de guerras e armadas dos ditos carregos, e se ocuparen en outras
couzas do serviço de Deos e seus e com estas declarações manda o dito senhor
que se guarde o ditto regimento como nelle he contheudo feito em Lisboa xiij
dagosto anno de mil iiijlxxi e manda ao seu chançarel mor que asi o mande
escrever no livro de suas ordenações pera se saber a diante.][1]

A propósito do Regimento da Guerra, fica aqui apalavrado o cotejo futuro com


outros regimentos medievais castelhanos, sugerido pelo meritíssimo Presidente do
Júri de Defesa da Tese, o Prof. Doutor Perez Prendes. Não posso deixar de lhe con-
signar aqui o meu mais sincero respeito e elevada estima. A ele e aos outros membros
que fizeram parte desse Júri agradeço as doutas sugestões que vieram enriquecer este
trabalho de investigação e contribuíram para melhorar a sua edição.

Livro II
“No primeiro livro fallamos dos Officiaaes da nossa Corte, que per Nos teem carrego de
ministrar direito, e justiça, e d’alguuns outros, que aa governança do Regno perteencem.
Agora no segundo livro, e d’hi en diante entendemos fallar, e trauctar das Leyx, e Horde-
naçõoes, per que se os Regnos governem, e os ditos Officiaaes ajam de reger por boa eixecu-
çom dellas. E primeiramente entendemos a trautar das Leix, que fallam acerca das Igrejas,
e Moesteiros, e Clérigos sagraaes, e Religiosos, que som cousas, e pessoas dignas de maior
dignidade, e preminencia antre todalas outras, por serem conservadores, e ministradores
dos Santos Sacramentos, e do Officio Divino, per que o nosso Senhor Deos he principal-
mente louvado, e a nossa Santa Fé perpetuamente conservada.
Sempre foi nossa teençom, e he com a graça do Senhor Deos honrar, e presar grandemente

1
No ms. Évora, BP – Cód. CXIX/1-6, fl. 16v; e em SOUSA; Falta no ms. Évora, BP – Cód. CIII/1-12, fl. 52v;
e no ms. BN.

312
José Domingues

a nossa Santa Madre Igreja, e obedecer compridamente aos seus Mandamentos a todo
nosso poder, assy como seu filho obediente, e Rey Catolico, e fiel Chrisptãao. E porem
estabelecemos por Ley, e Mandamos que todolos privilégios, e liberdades, que forom
outorgadas pelos Santos Padres, e pelos Reix, que ante Nos forom, aas Igrejas, e Moesteiros,
e Lugares piadosos, e aos Clerigos, e Frades, e pessoas Eclesiasticas, e Religiosas, lhes
sejam guardadas tão compridamente, como he contheudo nos artigos, que forom acordados
em Corte de Roma antre os Reix, que ante Nos forom, e a Clerizia, especialmente antre
ElRei Dom Joham nosso Avoo de gloriosa memoria, e a Clerizia destes Regnos: os quaees
artigos Mandamos todos aqui encorporar por nossa, e sua enformaçom; e se forem achados
alguuns contrairos aos outros, Mandamos, que se guardem os que forom acordados em
tempo do dito Rey Dom Joham nosso Avoo, dos quaees artigos o theor he este, que se
adiante segue”[1]

Assim começa o livro II, que é, sem dúvida, o mais misturado de todos. Nas
doutas palavras de Caetano, “é muito heterogéneo, dificilmente se podendo encontrar
nexo lógico entre as matérias nele contidas”[2]. Efectivamente, este livro parece ter sido
pensado, à partida, para as “Leix, que fallam acerca das Igrejas, e Moesteiros, e Clerigos
sagraaes, e Religiosos, que som cousas, e pessoas dignas de maior dignidade, e preminencia
antre todalas outras, por serem conservadores, e ministradores dos Santos Sacramentos, e do
Officio Divino”[3]. Como filho obediente aos mandamentos da Santa Madre Igreja, rei
católico e fiel cristão, o monarca estabelece por lei e manda guardar os privilégios e
liberdades que, pelos papas e reis antecessores, tinham sido outorgados à Igreja. Para
tanto, manda aqui incorporar todos os artigos acordados entre el-rei e a clerezia, “por
nossa, e sua enformaçom; e se forem achados alguuns contrairos aos outros, Mandamos, que
se guardem os que forom acordados em tempo do dito Rey Dom Joham nosso Avoo, dos quaees
artigos o theor he este, que se adiante segue”[4].
Transcreve, de seguida, as concórdias dos reis antecessores com a clerezia. Come-
ça com a transcrição da primeira concórdia de D. Dinis, em quarenta artigos, acordada
na corte de Roma em 1289. Deste reinado são transcritos mais três acordos com o clero.
Passa, em seguida, para os artigos que foram acordados entre D. Pedro I e a clerezia,
em Elvas (1361). Depois as concórdias de D. João I, a primeira nas cortes de Évora
(1390/91) e a outra em Santarém (1427).
Até ao título 23 continua-se matéria relacionada com o clero. No entanto, a partir
do final do título 23 há uma inflexão notória na temática, conforme o próprio compila-
dor deixa expresso em nota intercalar:

“Ataaqui avemos fallado das Igrejas, e Moesteiros, e bem assy dos Clerigos Sagraaes, e
Frades professos, e cousas, que a elles perteencem: agora entendemos a fallar dos direitos
Reaaes, e cousas, que perteencem a Nós, e aos Officiaaes das nossas rendas, e direitos”[5]

A matéria dos direitos reais estende-se desde o título 24 até ao 38 (inclusive).


Começa (título 24) com uma declaração do próprio Doutor Rui Fernandes, requerida
por el-rei D. Duarte, para que “proveesse as Leyx Imperiaaes, e quaeesquer outros Direitos,
assy Canonicos, como Civys, perque podesse seer em verdadeiro conhecimento de todolos

1
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Início.
2
CAETANO, História do Direito, p. 539.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Início.
4
Idem.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 23, final, p. 208. O itálico é nosso.

313
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Direitos Reaaes, que aa Coroa do Regno perteencem”[1]. É compreensível que o compilador


coloque à cabeça o trabalho de sua lavra. Termina-se a matéria dos direitos reais com
duas normativas de D. Afonso V (títulos 37 e 38), plausivelmente de redacção nova
para este livro.
Neste lapso de 14 títulos poder-se-á ventilar a data de uma lei de D. Afonso III
– “Dante em Lixboa a vinte e dous/doze dias d’Abril. ElRey o mandou. Joham Peres a fez Era
de mil e trezentos e quarenta e cinco annos”[2] – que João Pedro Ribeiro notou errada[3] e
Alexandre Herculano, em nota de fim de volume à História de Portugal, ventilou de
1277 ou 1259, inclinando-se para esta última[4]. Mas José Mattoso, em notas críticas à
edição dessa obra de Herculano, inclina-se mais para a data de 1277.
O título 39 e 40, que parecem deslocados desta temática, inserem-se nas “cousas,
que perteencem a Nós”[5] – entre os direitos reais e os oficiais das rendas e direitos,
regulamentados desde o título 41 até ao 58.
A partir do título 59 deste livro II, mesmo faltando nota intercalar idêntica à supra
transcrita, detecta-se nova temática, sobre a jurisdição dos donatários das terras e dos
privilégios da nobreza. Começa-se com os artigos requeridos por parte dos fidalgos a
el-rei D. João I, nas cortes de Coimbra de 1398 e nas cortes de Évora de 1408, e termina
(no tít. 65) com uma carta de D. Dinis sobre as inquirições mandadas tirar por causa
das honras e coutos que se faziam indevidamente.
Finalmente, acaba este livro com as normativas especiais para as minorias étnicas
de judeus e mouros (desde tít. 66 até ao tít. 121). Posteriormente foram-lhe anexadas as
extravagantes sobre o privilégio dado aos rendeiros de el-rei (tít. 122), sem data, mas
para a qual Miguel Duarte aponta como provável o lapso temporal de 1451-1461[6]; e
a ordenação de 5 de Março de 1450, “Da pena, que merecem os que abrem as Cartas
mandadeiras d’ElRey, ou da Rainha, ou d’outros Senhores” (tít. 123).
Que concluir?
A análise detalhada do prólogo e das notas dispersas, aliada ao conteúdo dos
títulos, talvez abra uma brecha para entrever o esquema preliminar de Fernandes
para o conteúdo deste livro II. Se no livro I tratou, basicamente, dos oficiais régios
ou, em última instância, da instituição do próprio monarca, o II livro parece dedicado
ao reino em si. Sendo três as classes do reino – clero, nobreza e povo (incluindo os
judeus e mouros) – a cada uma delas dedica parte do livro II. Primeiro os privilégios
e liberdades da Igreja (tít.s 1 a 23); depois os tributos que, sobretudo, oneram o povo
(tít.s 24 a 58); a seguir a jurisdição dos donatários e privilégios da nobreza (tít.s 59 a 65);
deixando para o final a regulamentação das duas minorias da época, judeus e mouros
(tít.s 66 a 121). Nesta última, ao passar de uns para os outros deixa mais uma nota solta,
que diz:

1
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 24, § 2, p. 210. Este título tem dado aso a dúvidas sobre a probidade
científica de Rui Fernandes ao concluir que “esto, que dito he, se prova todo pela Ley unica do Codego no Titulo
quaes som os Direitos Reaes, e pela Ley primeira no Degesto no Titulo do Direito do Fisco, e pelas declaraçõoes, que
os Direitos sobre ellas fezerom” (§36), quando a fonte terá sido o liv. 2, tit 56 dos Libri Feudorum ou Feudorum
Consuetudines. Cfr. ALBUQUERQUE, “O Infante D. Pedro e as Ordenações Afonsinas”, p. 50, que remete
para Costa Lobo e Marcello Caetano.
2
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 27, p. 222.
3
Coimbra, BGU – Ms. 691.
4
HERCULANO, História de Portugal, vol. III, nota de fim de volume X.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 23, final, p. 208.
6
DUARTE, Justiça e Criminalidade, p. 95, nota 290: “anos em que D. Fernando da Guerra e Pero Vasques de
Melo presidem às Casas da Suplicação e do Cível”.

314
José Domingues

“Avemos em cima fallado dos Judeos conversos aa Fé de Jesus Christo, e bem assy dos
que sempre perseveraarom em sua Ley, e das suas cousas, que a elles perteencem: agora
entendemos a fallar dos Mouros, e das cousas a elles perteencentes”[1]

A maioria destas leis, sobre mouros e judeus, são duplicações. Situação peculiar é
a do foral dos mouros de 1170, outorgado por D. Afonso Henriques, que, nas doutas
palavras de Herculano, não seria uma autêntica lei geral:

“o diploma é um verdadeiro foral, que deve ser incluído na secção relativa às


leis especiais dos municipios. Por mais que os direitos e deveres dos mouros
forros se generalisassem, esses direitos e deveres foram em regra, como veremos,
estabelecidos por acto especial, embora abrangessem as communas de mais de
uma povoação”[2]

Passemos ao cotejo de alguns casos paradigmáticos deste livro, para ilustrar o


método seguido por Fernandes.

IIII – Carta[3] dos Artigos, que som antre ElRey D. Donis, e a Igreja.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 60-63]
[CASTRO, De manu regia, pp. 350-356 (edição de 1673)]

(Em nome de Deos Ámen)[4]. Saibham todos (quantos este estormento virem,
e leer ouvirem)[5], que na era de *mil trezentos e quarenta e sete*[6] [annos][7],
*vinte e sete dias do mez de Julho*[8] na Cidade de Lixboa, [no Paço do mui alto,
e mui nobre D. Dinis, pela graça de Deos, Rey de Portugal, e dos Algarves][9]em
presença de mim Joham Gonçalves pruvico Tabaliam da dita Cidade [de Lisboa]
[10]
, (e das testemunhas, que adiante som escriptas, sobre demandas, que ora eram
antre o muito alto, e muito nobre Senhor Dom Doniz pela graça de Deos Rey de
Purtugal, e do Algarve de huma parte, e o honrado Padre Senhor Dom Joham
Bispo de Lixboa, e o Cabidoo desse lugar da outra, per razom de jurdiçõoes,
das quaaes o dito Senhor Rey dizia que eram suas, e que se deviam d’ouvir, e
determinar em sa Corte, e no seu Senhorio, e o dito Bispo, e Cabidoo diziam, que
se deviam d’ouvir, e determinar pela Igreja;)[11][e feito[12] o seu nome por sua mão,
e sellado do sello dos honrados padres, e senhores Dom Martinho Arcebispo
da Sancta Igreja de Braga, e Dom Estêvão Bispo de Coimbra, e do sello de Dom

1
Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 98, final, pp. 528-529. O itálico é nosso.
2
Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 146.
3
“Titulo” no T. (avulso da Torre do Tombo).
4
Falta no LLP e em Pereira de Castro.
5
Falta no LLP e em Pereira de Castro.
6
“1347”, em Pereira de Castro.
7
No LLP.
8
“primo dia dagosto”, no LLP e “ao primeiro dia de Agosto”, em Pereira de Castro.
9
No LLP e em Pereira de Castro.
10
No LLP e em Pereira de Castro.
11
Falta em Pereira de Castro.
12
“escrito”, no LLP.

315
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Estêvão[1] Deão de Braga, e de Évora, e do sello de frey S.[2] Custodio, e do sello


do Rui Paez[3] Prior de Guimarães, e do sello do Mestre Ioanne das leys, e do
sello de Ioão Marques[4] Chantre de Evora, e de Francisco Domingues Conego
da Sé de Lisboa &c.[e do priol de sacta Maria dalcaçaua de santarem e daffonso
anes Coonigo de Bragaa e abade de uila coua][5] Da qual resposta, o theor de
verbo ad verbum, tal he][6]

Artigo I
O primeiro (artigo) , de que se o Bispo queixa, he este. Diz que manda ElRey,
[7]

que se alguum Clerigo escomunga (alguum Leigo, ou mostra letera, per que o
escommunga)[8] em defensom de seu direito, manda-lhe filhar o que ha, contra o
seu artigo segundo[9], e manda-o degradar, e sobre esto ha (hi feito)[10] sua Carta.
(A este artigo)[11] *diz*[12] ElRey, que *hu*[13] a Igreja *ha*[14] jurdiçom, e escommunga
por seus direitos, guarda-o ElRey (sempre)[15], e manda guardar o segundo[16] artigo,
que foi feito sobre esto na Corte [de Roma][17].
Artigo II
(O segundo[18] artigo he tal.)[19] Diz que vai ElRey contra a *livridõoe*[20] da Igreja,
a qual deve, e prometeo a guardar, nom querendo que usem das leteras do Papa
contra os *usureiros*[21].
(A este artigo)[22] *diz*[23] ElRey, que usem das leteras do Papa, assy como he
(direito, e como he)[24] contheudo no terceiro artigo.

Artigo III
(O terceiro artigo he tal. Diz) que se alguã Sentença he dada pela Igreja, nom
[25]

quer que a mandem aa eixecuçom nos beens dos Leigos contra o seu artigo quarto

1
“Roy soarez” no LLP.
2
“Stevão”, no LLP.
3
“Roy perez”, no LLP.
4
“martijz”, no LLP.
5
No LLP.
6
No LLP e em Pereira de Castro.
7
Falta em Pereira de Castro.
8
Falta em Pereira de Castro. Parece ser erro deste autor, que terá saltado o texto, ao ser traído pela palavra
escomunga.
9
“ijº”, no LLP.
10
Falta em Pereira de Castro.
11
Falta em Pereira de Castro.
12
“dise”, no LLP e “Responde”, em Pereira de Castro.
13
“onde”, em Pereira de Castro.
14
“tem”, em Pereira de Castro.
15
Falta em Pereira de Castro.
16
“ijº”, no LLP.
17
No LLP e em Pereira de Castro.
18
“ijº”, no LLP.
19
Falta em Pereira de Castro.
20
“liberdade”, em Pereira de Castro.
21
“usurarios”, em Pereira de Castro.
22
Falta em Pereira de Castro.
23
“Responde”, em Pereira de Castro.
24
Falta no LLP e em Pereira de Castro.
25
Falta em Pereira de Castro.

316
José Domingues

[que foi feito na Corte, e declaração que foi feita sobre o caso no Porto antre
elRey, e os Prelados][1].
(A este artigo)[2] diz ElRey, que se guarde hi o quarto artigo (feito na Corte, e
declaraçom, que foi feita sobre este caso no Porto antre ElRey, e os Prelados)[3].

Artigo IIII
(O quarto artigo he tal. Diz) que se alguum Leigo he escommunguado, e lhe
[4]

dizem, que nom deve seer ouvido em Juízo, porque he escommungado, manda
que o nom leixem (por ende)[5] d’ouvir contra direito, e contra o seu artiguo
segundo[6].
(A este artigo)[7] (diz ElRey, que)[8] o [seu][9] segundo[10] artigo nom falla desto
nada, e se per ventura alguum artigo desto fallar, [mando][11] que se guarde,
pero semelha/parece direito aaquelles, a que esto ElRey mandou veer, que se o
Prelado escommunga alguem com[12] direito em aquelle caso, em que he Juiz, [e
como deve, e o excommungado ha denunciação, e apparece carta por que he
excommungado][13] que o devem os Juízes [leigos][14] esquivar/evitar, ataa que seja
absolto, salvo se for provado, que apellou [ante que fosse escomungado][15], e que
segue sua apellaçom.

Artigo V
(O quinto artigo he tal. Diz) que se alguum Juiz Hordenairo/Eclesiastico
[16]

escommunga algum da Villa, ou lhe põoe antredito [sofre][17] aa Villa, hu [se][18]


esto faz, que pero defendem as *viandas*[19] aos Clérigos, e as augas, e os fornos/
fogos, nom o *quer*[20] estranhar, nem defender a aquelles, que o fazem.
(A este artigo)[21] diz ElRey, que nunca o fez, e se foi feito no seu senhorio, que o
mandou revogar logo, e *penar*[22] aos que o fezerom [emenda][23]: e manda, que se
guarde o sexto artigo, que foi feito sobre esto na Corte.

1
Em Pereira de Castro.
2
Falta em Pereira de Castro.
3
Falta em Pereira de Castro. Esta frase foi alterada de local, passando da petição para a resposta, cfr. nota 2027.
4
Falta em Pereira de Castro.
5
Falta em Pereira de Castro.
6
“terçesimo primeiro”, no LLP.
7
Falta em Pereira de Castro.
8
Falta no LLP.
9
Em Pereira de Castro.
10
“xxxj”, no LLP.
11
No LLP.
12
“contra”, no LLP.
13
No LLP e em Pereira de Castro.
14
No LLP e em Pereira de Castro.
15
No LLP e em Pereira de Castro.
16
Falta em Pereira de Castro.
17
No LLP e em Pereira de Castro.
18
No LLP e em Pereira de Castro.
19
“uegadas” no LLP e “vendas”, em Pereira de Castro.
20
“querendo”, no LLP e em Pereira de Castro.
21
Falta em Pereira de Castro.
22
“poer”, no LLP e em Pereira de Castro.
23
Em Pereira de Castro.

317
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Artigo VI
(O sexto artigo he tal. Diz) [elRey][3] que quer, que os Clerigos paguem com
[1] [2]

os Leigos em fazimento das feiras, e fontes [e pontes][4] contra a *livridõoe*[5] da


Igreja, a qual deve, *e prometeo*[6] a guardar, assy como *já dito he*[7] (contra)[8]
seu artigo *decimo primeiro*[9].
Outro sy costrange os Lavradores das possissõoes das Igrejas, e dos Moesteiros,
que paguem em esto como os outros contra o seu artigo *decimo segundo*[10].
(A este artigo)[11] *diz ElRey*[12], que *guardará hi o decimo primeiro artigo*[13], que
pera *fazimento*[14] dos muros manda, que nom paguem, assy como em esse artigo
he contheudo. E diz ElRey, que pera aquellas cousas, que som pera defendimento
da terra, e prol do/de (seu)[15] Senhorio, podem seer costrangidos per ElRey, *e*[16]
pagaróm/pagarem [asy][17] como os outros; e pera as [outras][18] cousas, que som
honestas, ao commuum proveitosas, e piadosas, assy como pera fazimento de
pontes, e de fontes, carreiras/estradas, e *ressios*[19], e outras cousas semelhantes a
estas, som theudos a pagar de direito; mais em este caso pera pagarem esto, devem
seer costrangidos per seus Bispos, *e os Bispos*[20] nom devem em esto negar justiça.
E *o al*[21], que diz em *este artigo*[22] meesmo, que costrange ElRey os lavradores
das possissõoes das Igrejas, responde ElRey, que aguardará hi o Direito Cumuum,
assy como he contheudo no artigo *decimo segundo*[23], que foi feito na Corte.

Artigo VII
(O sétimo artigo he tal. Diz) que faz ElRey tirar *aos*[26] Chrisptãaos per Mouros,
[24] [25]

e per Judeus das Igrejas nos casos, em que nom deve, e faze-os hi guardar, e meter
em ferros, e defende, que lhes nom dem de comer contra o seu artigo (treze)[27].

1
“vjº”, no LLP.
2
Falta em Pereira de Castro.
3
No LLP e em Pereira de Castro.
4
Entrelinhado no LLP.
5
“liberdade”, em Pereira de Castro.
6
“prometer”, em Pereira de Castro.
7
“era dito em”, em Pereira de Castro.
8
Falta em Pereira de Castro.
9
“xj” no LLP e “onze”, em Pereira de Castro.
10
“xijº” no LLP e “12”, em Pereira de Castro.
11
Falta em Pereira de Castro.
12
“Responde &c.”, em Pereira de Castro.
13
“aguarda hi os xij artigos” no LLP e “se guarde o artigo 12”, em Pereira de Castro.
14
“refazimento”, no LLP e em Pereira de Castro.
15
Falta em Pereira de Castro.
16
“a”, no LLP e em Pereira de Castro.
17
No LLP e em Pereira de Castro.
18
Em Pereira de Castro.
19
“de Rios”, no LLP e em Pereira de Castro.
20
“e eles” no LLP e “que”, em Pereira de Castro.
21
“aaquelo”, no LLP e em Pereira de Castro.
22
“isso”, em Pereira de Castro.
23
“duodeçimo” no LLP e “12”, em Pereira de Castro.
24
“vjº” no LLP.
25
Falta em Pereira de Castro.
26
“hos” no LLP e “bõos”, em Pereira de Castro.
27
“tercio xº” no LLP. Falta em Pereira de Castro.

318
José Domingues

(A este artigo)[1] diz ElRey, que *aguardará hi*[2] o Direito Comuum, e o [terceiro]
[3]
artigo *decimo terceiro*[4], que foi feito *sobre esto na Corte*[5].

Artigo VIII
(O oitavo artigo he tal.)[6] Diz que os Alquaides, e os Meirinhos, (e Juízes)[7]
d’ElRey prendem os Clerigos sem licença de seus Bispos nos casos, em que nom
devem, e nom lhos querem entregar, contra o seu artigo *decimo quarto*[8], e
levam delles *a carceragem*[9].
A este artigo diz ElRey, que sempre aguardou [e guardara][10] o *decimo quarto*[11]
artigo, que sobre esto foi feito na Corte [de Roma][12].

Artigo VIIII
(O nono artigo he tal. Diz)[13] que mete ElRey *em Officios pruvicos os Judeus*[14],
e leixa-lhes trazer topetes, como a Chrisptãaos, e nom quer (sofrer)[15], que os
costrangam polas dizimas *de suas*[16] possissõoes, contra os seus artigos *vicesimo
setimo, e tricesimo setimo*[17].
(A este artigo)[18] diz ElRey, que os nom mete em Officios pubricos, e que [só][19]
sobre estas cousas guardou sempre, e guardará o *Concelho*[20] geeral que he Extra
*de Judaeis*[21] Cum sit nimis absurdum, e a outra Degratal (em esse meesmo titulo,)
[22]
que se começa Ex speciali [eod. Tit.][23], e os [outros][24] artigos *vicesimo setimo, e
tricesimo sétimo*[25], que forom *feitos*[26] sobre esto na Corte.

1
Falta em Pereira de Castro.
2
“guarda”, em Pereira de Castro.
3
No LLP e em Pereira de Castro.
4
“e terçio xº” no LLP e “e 13”, em Pereira de Castro.
5
“em Cortes”, em Pereira de Castro.
6
Falta em Pereira de Castro.
7
Falta em Pereira de Castro.
8
“quanto(sic) x” no LLP e “15”, em Pereira de Castro.
9
“castelagees” no LLP e em Pereira de Castro.
10
No LLP e em Pereira de Castro.
11
“o quarto x” no LLP e “14”, em Pereira de Castro.
12
Em Pereira de Castro.
13
Falta em Pereira de Castro.
14
“hos Judeus en plbicus (sic)” no LLP.
15
Falta no LLP.
16
“dessas”, em Pereira de Castro.
17
“uisesimus terçio e trezesimo septimo” no LLP e “23 e 37”, em Pereira de Castro.
18
Falta em Pereira de Castro.
19
Em Pereira de Castro.
20
“Concilio”, em Pereira de Castro.
21
“dos Judeus”, no LLP.
22
Falta em Pereira de Castro.
23
Em Pereira de Castro.
24
No LLP.
25
“uissessimus iij.º e trezesimo septimo” no LLP e ”“23 e 37”, em Pereira de Castro.
26
“postos”, no LLP e em Pereira de Castro.

319
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Artigo X
(O decimo artigo he tal.) Diz, que nom quer ElRey, que nos feitos dos testamentos
[1]

os leigos sejam costrangidos pela Igreja, que paguem, e entreguem dos seus
beens, [aquelo][2] que devem aos testamentos/testamenteiros *que paguem os*[3]
testamentos, contra Direito Comuum, (e contra o seu artigo vicesimo nono.
A este artigo responde ElRey que lhe praz de se guardar sobre esto o Direito
Comuum,)[4] segundo (como)[5] he contheudo no *vicesimo nono*[6] artigo, que foi
feito na Corte antre elle, e os Prelados.

Artigo XI
(O decimo primeiro[7] artigo he tal. Diz)[8] que se o Clérigo pede segurança, quer
ElRey que se obrigue [logo][9] que responda perante elle.
A este artigo responde ElRey, e diz que quando he do Clerigo, que (diz que pede
segurança, chamada a parte, se a pede perante Juiz leigo, Dante que)[10] o faz
chamar, e a outra parte pede que lhe faça emmenda perante esse meesmo Juiz per
maneira de reconvimento/reconvenção, o Juiz leigo deve seer Juiz, como se prova
em huum Capitulo do Degredo na terceira *Causa, Questão oitava, Capitulo*[11]
Cujus in agendo, e em na Degratal Extra de Mutuis petitionibus, Capitulo *primo, e
secundo*[12]: e assy o nota o Innocencio, e nota-o o Grosador Extra de Judic. Cap.
At si Clerici.

Artigo XII
O *decimo segundo* artigo he tal. Diz, que ElRey vai contra a livridõoe da Igreja,
[13]

tomando-lhes as suas possissõoes contra voontade dos Cabidoos, e dos Priores,


(e dos Abades)[14], e dos Clerigos; e de mais toma, e usurpa a jurdiçom da Igreja,
costrangendo os Clerigos, e as pessoas Eclesiasticas que respondam perante elle;
as quaaes (cousas)[15] prometeo aguardar em sua livridooem; e de mais prometeo,
que nom tomasse a jurdiçom da Igreja, nem uzasse della; e desto faz o contrairo
contra os seus artigos (tercesimo oitavo)[16], e tercesimo nono, e quadragesimo.
A este artigo responde ElRey, que nenhuma destas cousas nom faz senom em
aquelles casos, que manda o direito assy como he contheudo nos artigos, que
forom *feitos*[17] sobre esto na Corte, a saber, tercesimo oitavo, e tercesimo nono,
e quadragesimo.

1
Falta em Pereira de Castro.
2
No LLP e Em Pereira de Castro.
3
“dos”, no LLP e em Pereira de Castro.
4
Falta em Pereira de Castro. É erro, induzido pelo termo direito commum.
5
Falta no LLP e em Pereira de Castro.
6
“29”, em Pereira de Castro.
7
“xjº”, no LLP.
8
Falta em Pereira de Castro.
9
No LLP e em Pereira de Castro.
10
Falta no LLP.
11
“cousa que esta no oytauo Capitolo” no LLP.
12
“primo ijº” no LLP.
13
“xijº” no LLP.
14
Falta no LLP.
15
Falta no LLP.
16
Falta no LLP.
17
“postos” no LLP.

320
José Domingues

Artigo XIII
O *decimo terceiro* artigo he tal. Diz que ElRey nom tam solamente defende ao
[1]

Bispo, e aas pessoas Eclesiasticas, que nom comprem possissõoes nenhumas, mais
o que pior he, toma-lhes, e faze-lhes tomar aquellas possissõoes, que de longo
tempo teem compradas, ou que agora novamente compram, contra o seu artigo
segundo dos onze, que depois forom tirados, e contra Ley de seu Avoo, a qual
prometeo aguardar.
A este artigo responde ElRey, que guardou, e guardará a avença, que pos com os
Prelados no Porto; e manda, que se enqueira logo todo *o*[2] que foi *comprado*[3]
depois da avença, (e o que se achar que foi comprado contra a avença)[4] suso
dita, e contra a Ley, fique por d’ElRey, assy como he contheudo na aveença.

Artigo XIIII
O *decimo quarto*[5] artigo he tal. Diz que ElRey sofre, (e quer)[6], que os seus
Officiaaes, (e os)[7] de sua Casa, e os outros, que nom som de sua Casa, que pousem
nas casas dos Bispos, e das pessoas Eclesiasticas, e dos Coonegos, e dos outros
Clerigos contra sua vontade, e contra a livridõoe da Igreja, e contra o seu artigo
dos [dictos][8] onze.
A este artigo responde ElRey, (e diz)[9] que se guarde o artigo, que [sobre esto][10]
foi feito na Corte.

Artigo XV
O *decimo quinto*[11] (artigo)[12] he tal. Diz que quer ElRey, que se alguum (Leigo)
tem alguma possissom de Igreja, ou de Moesteiro, ou de Clerigo, ou d’algumas
[13]

pessoas Eclesiasticas, e lhe fazem demanda sobre ella, que responda *perante a
Justiça secular*/sobre a justiça sagral/per as Justiças sagraes, e nom *perante a
Justiça*[14] da Igreja, [que e en Juizo][15] contra os seus artigos tercesimo quinto, e
nono dos ditos onze.
A este artigo responde ElRey, (e diz)[16] que nom costrangeo, nem costrangerá,
senom como he contheudo no tercesimo quinto artigo, e no nono dos onze
apartados.

1
“xiijº” no LLP.
2
“aquelo” no LLP.
3
“conprido” no LLP.
4
Falta no LLP. Erro induzido pela palavra avença.
5
“xiiijº” no LLP.
6
Falta no LLP.
7
Falta no LLP.
8
No LLP.
9
Falta no LLP.
10
No LLP.
11
“x” no LLP.
12
Falta no LLP.
13
Falta no LLP.
14
“pelo Juiz” no LLP.
15
No LLP.
16
Falta no LLP.

321
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Artigo XVI
O *decimo sexto* artigo he tal. Diz ElRey que quer que os Clerigos, que som
[1]

casados com molheres virgeens huma vez, e nom mais, que peitem como Leigos,
e que respondam per ante elle em *todalas cousas*[2], salvo de crime, o que he
contra direito, e contra a livridooem/authoridade da Igreja, e contra o custume
do Bispado de Lixboa.
A este artigo responde ElRey, (e diz)[3] que em *todalas cousas*[4] he Juiz, salvo
em dous (casos)[5], que som contheudos na Degratal do Bonifacio; a saber, se o
acusarem de crime, pera lhe darem alguma pena, ou se o demandarem de crime,
que faça corregimento em aver *hi emmenda*[6]; esta Degratal, que fez Bonifacio,
que a guardem Extra de Clericis conjugatis Cap. uno in Sexto.

Artigo XVII
O *decimo sétimo* artigo he tal. Diz ElRey que quer que paguem os Clerigos
[7]

dizima do pam, e do vinho, (e do linho)[8], que trazem per mar pera seu comer,
e beber; e que paguem outro sy dizima d’algumas cousas (suas)[9], se as per mar
levarem pera sua necessidade, ou pera aquello, que lhes comprir, contra o seu
artigo.
A este artigo *responde*[10] ElRey, (e diz)[11] que he custume, e direito de pagarem
dizima, salvo d’aver amoedado (que seja, ou não seja Portugues, como he
contheudo)[12] no sexto artigo, e no *decimo*[13] dos onze.

Artigo XVIII
O *decimo oitavo*[14] artigo he tal. Diz que ElRey faz levar jugadas dos lavradores,
que lavrom as possissõoes, e os herdamentos das Igrejas, e dos Moesteiros, e *dos
Clerigos*[15] contra o seu artigo.
A este artigo responde ElRey, e diz que se guarde o artigo *decimo primeiro*[16]
dos onze apartados, em que diz, que se guarde Carta, ou Foro, se o ham.

Artigo XVIIII
O *decimo nono*[17] artigo he tal. Diz que quando alguum, que foi Mouro, ou
Judeu, e se tornou Chrisptãao, e alguem lhe chama Mouro, cam, Judeu, e aquelle,

1
“vjº x” no LLP.
2
“todolos cassos” no LLP.
3
Falta no LLP.
4
“todolos cassos” no LLP.
5
Falta no LLP.
6
“E manda que” no LLP.
7
“x vijº” no LLP.
8
Falta no LLP.
9
Falta no LLP.
10
“diz” no LLP.
11
Falta no LLP.
12
Falta no LLP.
13
“xº” no LLP.
14
“xviijº” no LLP.
15
“das deriçias”. Erro de transcrição(?) no LLP.
16
“xjº” no LLP.
17
“x ix” no LLP.

322
José Domingues

que he doestado, quer corregimento, que elle deve seer seu Juiz, ou *seus Juízes
Sagraaes*[1].
A este artigo responde ElRey, (e diz)[2] que quando alguum chamar o que se
tornou de *Mouro, ou de Judeu*[3] Chrisptãao, cam renegado, ou tornadiço, [a
Jurdiçom ][4] he sagral. (E se per ventura o doestado se desto queixar ao Bispo, ou
aos Vigairos, mande-o aa Justiça Sagral)[5], que o faça correger, e que leve [del][6]
a pena, segundo seu custume.

Artigo XX
O *vigésimo* artigo he tal. Diz [elRey][8], que se alguum Clerigo se queixa do
[7]

Leigo, que diz, que o ferio, e pede corregeimento, que o Bispo, ou seus Vigairos
devem onde seer seus Juízes.
A este artigo responde ElRey, (e diz que)[9] se o Clerigo ferido demanda
corregimento do Leigo, (que o ferio)[10], *deve o Clerigo demandar*[11] perante
o Juiz Leigo; e se o Leigo publicamente he scumungado, e faz crela (o Clérigo)
[12]
do Leigo perante seu Bispo, ca he escumungado, entom o Leigo deve pedir
asolvimento ao Bispo, e correger per ante elle.

Artigo XXI
O *vigesimo primeiro* artigo he tal. Diz que se algumas possissõoes da Igreja
[13]

arrendam, ou alugam a alguum Leigo por certa renda, e aquella renda lhe nom da
o Leigo, que elle deve seer seu Juiz, ou seus Vigarios, e conhecer *desse*[14] feito.
A este artigo responde ElRey, (e diz)[15] que em quanto o rendeiro estever na
possissom daquello, que arrendou da Igreja, e o Clerigo o quer demandar pola
renda, que o demande pelo/perante Juiz da Igreja; mais se o ja leixou como devia,
e fica pola renda, ou parte della, como devedor, deve-o chamar perante o Juiz
Leigo, que he Juiz desto.

Artigo XXII
O *vigesimo segundo* artigo he tal. Diz que se alguum Leigo diz algumas
[16]

palavras desaguisadas a alguum Clerigo, e o Clerigo quer demandar emmenda


ao Leigo daquellas palavras, que elle deve seer (seu)[17] Juiz, ou seus Vigarios, e
nom ElRey.

1
“hos seus uigairos” no LLP.
2
Falta no LLP.
3
“christão ou de mouro” no LLP.
4
No LLP.
5
Falta no LLP. Erro induzido pela palavra sagral.
6
No LLP.
7
“xxº” no LLP.
8
No LLP.
9
Falta no LLP.
10
Falta no LLP.
11
“demande-o” no LLP.
12
Falta no LLP.
13
“xxj” no LLP.
14
“deste” no LLP.
15
Falta no LLP.
16
“xxijº” no LLP.
17
Falta no LLP.

323
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

A este artigo (responde)[1] ElRey, e diz que a Justiça Sagral deve seer Juiz *deste
feito*[2], e nom a Igreja, ca nom ha direito nenhuum, que sobre esto diga o contrairo.

A qual resposta assy dada, e leuda, e pobricada per ante os sobreditos Arcebispo,
e Bispos, (e pessoas Eclesiasticas, o dito)[3] Domingos Martins Procurador d’ElRey
(nosso Senhor, e em nome d’ElRey/seu)[4] pedio aos sobreditos Arcebispo, e
Bispos, e pessoas (Ecclesiasticas)[5] que vissem a dita resposta, que o dito Senhor
Rey dava; e se respondia certo, e convinhavel, e com direito aos artigos, que forom
dados pelo dito Bispo, e Cabidoo; e do que lhes semelhasse, que lhe fezessem/
fizesse (ende)[6] dar per mim Tabelliam huum estormento das ditas cousas,
em como ElRey respondia aas ditas querellas, que lhe forom dadas, [en][7] que
cada huum soescrepvesse com suas mãos, e fezesse poer em esse estormento da
resposta, por seer mais certo, seu seelo: e entom os ditos Arcebispo, (e Bispos,)
[8]
e pessoas (Ecclesiasticas)[9] responderom, e disserom, que tinhão, que o dito
Senhor Rey respondera bem segundo direito, e segundo os artigoos, que *forom
dados antre elle, e os Prelados*[10] na Corte de Roma, e aveença, que foi feita no
Porto antre elle, e os Prelados: *e mandaarom a mim sobredito Tabellião, que
das cousas sobreditas desse ende huum estormento a nosso Senhor ElRey; e aa/
pera maior firmidõoe asseellarom o dito estormento de seus seellos pendentes,
e sobescrepverom cada huum seu nome com letera de sãs mãaos. Testemunhas,
que presente forom, Rui Muniz/Nunes, Apariço Domingues, Estevom/Affonso
Esteves, Martim Botelho, Vasco Matheus, Estevom Martins Escripvão d’ElRey,
Lourenço Annes/Affonso Tabelliam de Lixboa, e outros. E eu Joham Gonçalves
Tabellião sobredito aa petiçom do dito Procurador, e per mandado dos sobreditos
Arcebispos, e Bispos, e pessoas sobreditas este estormento com minha mãao
escrepvi, e meu signal hi puge em testemunho de verdade, que tal he.*[11]

Caso curioso, no livro II e no V repete-se o título das barregãs dos clérigos, sem
qualquer remissão, mas com diferenças substanciais. Ambos os títulos começam com
a lei de D. João I de 28 de Dezembro de 1401, Lisboa (§§ 1-14); o título do livro V (§§
16-18) inclui outra lei de D. João I, sem data, que falta no livro II; segue-se uma lei de
D. Duarte, truncada e sem data no livro II (§§ 16-22) e com data de 13 de Abril de 1433,

1
Falta no LLP.
2
“desto” no LLP.
3
Falta no LLP.
4
Falta no LLP.
5
Falta no LLP.
6
Falta no LLP.
7
No LLP.
8
Falta no LLP.
9
Falta no LLP.
10
“que antre hos prelados e elRey forom feytos” no LLP.
11
“das quaes coussas o dicto Domjngos martijz procurador de nosso senhor elRey pidiu a mjm dicto Ta-
belliom que lhj dese huum stormento. Eu sobredicto Tabelliom a pitiçom do dicto procurador de nosso
senhor elRey e per mandado dos dictos arçibispo e pessoas este stormento en tres Roes de purgamjnho com
mha mao propria escreuy e antre Juntuyra dantre Rool e Rool meu signal pugy en testemonyo de uerdade
que tal he Testemonyas que presentes foron Roy nunez apariço dominguez. Stevão steueez Martin Botelho
Vasco matheus. lourenço annes Tabelliom”, no LLP.

324
José Domingues

Torres Vedras, no liv. V (§§ 20-30). Também a declaração final ao título varia de um
para outro livro.

(Liv. V) XVIIII – Das barregãas dos Clerigos.


(Liv. II) XXII – Das barregãas dos Clerigos, e Frades.

(…)

20 – Dom Eduarte per graça de Deos Ifante primogenito herdeiro nos Regnos de
Portugal, e do Algarve, e do Senhorio de Cepta. Consirando que as Leyx e Posturas
dos Reyx e Princepes em vãao som postas e feitas, se nom forem guardadas e
usadas, e aquelles, a que he comettido que as fação comprir e guardar segundo a
letera, mudando ho entendimento, e effeito dellas com engano, merecem d’aver
pena: E por quanto ElRey meu Senhor e Padre, por esquivar, e refrear ho grande
peccado, e desserviço de Deos, que se fazia, e faz em estes Regnos, pelos Clerigos,
e Frades, e Freires teerem pubricamente barregãas, e em como por este peccado
muitas moças virgeens, e molheres honestas viuvas se hiam pêra os ditos Clerigos,
e Frades, e Freires, e nom se trabalhavam de casar, e viver em serviço de Deos, e
em vida conjugal, foi feita Hordenaçom, e Ley pera sempre.
21 – [Qualquer molher, que for barregãa de Clerigo, ou Frade, ou Freire, ou
d’outra pessoa Religiosa, e com elle viver em peccado pubricamente em sua casa
de morada, ou seendo achado certamente sem duvida que está por sua, e ha del
mantimento e vestir pera com elle fazer o dito peccado, que polla primeira vez
que for achada no dito peccado com elle, seja presa, e pague quinhentas libras
de pena, e seja degradada por hum anno da Cidade, ou Villa, ou Aldea, e de
seus termos com pregom honde o dito peccado acontecer: e polla segunda vez
que assy for achada com aquella pessoa, por que foi degradada, ou com outra
pessoa dessa condiçom, ou lhe for provado, seja degradada com pregom por
huum anno de todo o Bispado, ou Arcebispado, em que esto acontecer: e polla
terceira vez, se tornar ao dito peccado, e for achada com o dito Clerigo, Frade,
ou Freire, por que foi degradada, ou com outra pessoa dessa condiçom, que
tal como esta seja açoutada pubricamente com pregom por essa Cidade, Villa,
ou lugar, em que esto acontecer, e degradada do Bispado, ou Arcebispado ataa
sua mercee; e se despois desto tornarem ao dito peccado, Manda que moiram
porem, salvante se em sua vida quizer emendar casando-se, ou entrando em
hordem de Religiom.
22 – E manda, que qualquer do Povoo possa accuzar taaes molheres como estas,
e aver a terça parte das ditas penas, e as duas partes sejam pera o Alquaide
Moor da Villa, ou lugar, honde esto acontecer, se o hi ouver: e nos lugares, hu
Alquaides nom ouver, sejam as duas partes pera os Meirinhos, que ham os outros
direitos dos Meirinhados. E se taaes molheres forem perante o Corregedor da
Corte accusadas na dita Corte pelos Meirinhos, e Officiaaes, Manda, que a terça
parte seja do que as accusar, e as duas partes sejam pera as prisooens, e cadeas,
e presos pobres.
23 – E Manda aos Juizes das Cidades, e Villas, e lugares, que cada mez enqueiram
sobre esto, sob pena da sua mercee; e que se os Alquaides, ou Meirinhos forem
em ello negrigentes, e hi taaes molheres ouver, e nom forem per elles accusadas,
Manda, que os Alquaides, e Meirinhos paguem as penas em tresdobro, e sejam
pera os Corregedores das Comarcas, honde esto acontecer.][1]
24 – E nom embargante, que o dito peccado assi seja estranhado e esquivado pela
dita Hordenaçom, os ditos corregedores, a que taaes molheres perteence punir, e
accusar, e as ditas penas levar, e fazer em ellas comprir a dita Hordenaçom, em

1
Os §§ 21, 22 e 23 faltam no livro II.

325
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

engano e fraude da dita Ley, como dito he de suso, quando chegam aaquelles
lugares, honde taaes molheres vivem, e usam do dito peccado, seendo barregãas de
Clerigos, e Frades, e Freires, ou ainda que elles nom vãao pelos lugares, mandam
seus messegeiros, que recadem as ditas penas, trabalhando-se de costranger os
ditos Juizes, Alquaides, e Meirinhos, que as deveram d’accusar, e punir, que
lhes dem, e paguem as ditas penas em tresdobro; e despois que assy teem o dito
dinheiro, nom curam deixecutar a dita Hordenaçom, ante a britam, e leixam estar
as ditas molheres no dito peccado; e assy donde a Hordenaçom foi feita, por as
ditas molheres viverem em serviço de Deos, e em salvaçom, segue-se outro maior
peccado, por os Corregedores assy seerem negrigentes em comprir e eixecutar a
dita Ordenaçom, e muito diligentes em levarem as penas em tresdobro dos ditos
Alquaides, e Meirinhos.
25 – E o que pior he, fazem os ditos Corregedores aveenças com as ditas molheres,
que assy estam por barregãas dos ditos Clerigos, e Frades, e Freires, e com os ditos
Clerigos, e Pessoas Religiosas, levando em cada huum anno dos ditos Clerigos,
e Pessoas Religiosas, e de suas barregãas certa conthia de dinheiros, leixando-as
estar e perseverar no dito peccado.
26 – E os Alquaides, e Meirinhos quando assy som constrangidos pelos ditos
Corregedores, e lhes fazem pagar as penas em tresdobro, que as ditas barregãas dos
Clerigos, e Frades, e Freires ouverem de pagar, trabalhão-se de tal guisa, que os ditos
Clerigos, e Frades paguem as ditas penas, po que assy som constrangidos, aos ditos
Corregedores, ameaçando-os que se as pagar nom quiserem, que lhes prenderom as
barregãas que teem, fazendo assy todo esto em engano e fraude da Ley.
27 – E porque destas cousas, que assy fazem, somos certo, e leixando-as passar
sem pena e escarmento, seria grande mal e peccado, e a Hordenaçom nom seria
comprida, nem o peccado esquivado; querendo a esto poer remedio, e punir
aquelles, que taaes cousas fazem e consentem, com acordo dos do nosso Conselho
Estabelecemos, e Poemos por Ley, que os Corregedores nom possam levar as
penas suso ditas, salvante quando forem pelos lugares e termos, honde as ditas
molheres viverem no dito peccado.
28 – E Mandamos, que quando assy levarem as penas pecuniarias, que façam logo
eixecutar a dita Hordenaçom, e penas corporaes em ella contheudas, nas molheres,
que assy esteverem por barregãas dos ditos Clerigos, Frades, e Freires. E polla
primeira vez, que esto passarem, levando as penas de praça ou escondidamente,
ou outras peitas, pollas assy leixarem com os ditos Clerigos, e nom comprirem e
eixecutarem as ditas penas corporaes, que logo percam os Officios, e nom possam
mais usar das ditas Correiçooens.
29 – E Mandamos aos Juizes das Cidades, e Villas, e lugares, que esto souberem,
de como os Corregedores, Alquaides, e Meirinhos levam as ditas penas ou peitas,
e nom eixecutam a dita Hordenaçom nas ditas molheres, que façam logo saber
a nós, e aa nossa Corte, do dia que o souberem ataa huum mez. E os Juizes, que
esto nom notificarem aa nossa mercee em o dito tempo, Mandamos que paguem
cincoenta Coroas pera Arca da piedade, por cada vez que o assy leixarem de
notificar e fazer saber a nós. E damos licença a qualquer do Povoo, que possa
accusar os ditos Juizes, e Justiças, que forem negrigentes em ho fazerem saber aa
nossa mercee; e aquelles, que os assy accusarem, ajam a meetade da dita pena, e a
outra meetade seja pera Arca da piedade.
30 – E por os ditos Corregedores, e Juizes nom allegarem ignorancia, Mandamos
que esta Hordenaçom seja poblicada, e os Taballiãaes a registem em seus livros,
e pobliquem nas Audiencias nos lugares, honde viverem. [Feita foi em Torres-
Vedras a treze dias d’Abril anno do Nacimento de Nosso Senhor Jesus Christo
de mil e quatro centos e trinta e tres annos. O Ifante o mandou per Johane
Meendes, Corregedor da Corte do dito Senhor Rey.][1]

1
Falta no livro II.

326
José Domingues

31 – *E vistas per nós as ditas Leyx, Mandamos que se cumpram e guardem,


assy como em ellas he contheudo, porque fomos certos, que assy forom sempre
usadas e guardadas em tempo dos ditos Reyx meu Avoo, e meu Padre, de muito
grandes e famosas memorias.*[1]

Os três parágrafos que foram eclipsados do livro II versam, basicamente, sobre a


aplicação da pena. Por isso, é natural que tenha sido retirada do livro II, mantendo-se
apenas no livro V. Quanto à divergência da declaração final, não encontro qualquer
justificativo.

LXXXVIII – Que nom valha testemunho de Chrisptãao contra Judeo sem testemunho de Judeu,
e o Juiz valha contra elles no que se passar perante elle.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 193-194]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 174-175]

ElRey Dom Donis da famosa memoria em seu tempo fez huma Ley em esta forma,
que se segue

1 – (Dom Donis per graça de Deos Rey de Purtugal, e do Algarve. A quantos


esta Carta virem faço saber, que Guadelha Arraby Moor dos meus Regnos me
mostrou huma minha Carta, de que o theor tal he.)[2]
2 – Dom Donis *per graça de Deos Rey de Purtugal, e do Algarve.*[3] A todalas
Justiças dos meus Regnos saude. Sabede, que os [meus][4] Judeos *dos*[5] meus
Regnos xe me enviarom queixar, que vos, e vossos Concelhos lhes fazedes muitos
*aggravos*[6], e desaforamentos [asy][7] como nom devedes; e que catades contra
elles, e contra seus averes [asy como nom deuedes][8] muitas carreiras em muitas
guisas, per que perdem muitos dos seus direitos; e que outro sy lhes perlongades
seus feitos de guisa, que despendem hi mais do que a *demanda (val)*[9][10]; e que
nom podem aver aquello, que lhes devem, nem fazer a mim o meu serviço, assy
como eu tenho por bem; e que lhes nom guardades suas Cartas, que teem minhas,
e de meu Padre, e de meus Avoos, e que lhes hides contra ellas; e que queredes que
provem contra elles, e contra seus averes per Chrisptãaos sem Judeos. E esto nom
tenho (eu)[11] por bem, se assy he; porque vos mando que vos nom os agravedes,

1
“23 – As quaaes Leyx vistas, e examinadas per nos, mandamos, que se cumpram, e guardem, como em
ellas he contheúdo: salvo que onde era mandado que perdessem os Corregedores os officios, que nos ave-
mos por bem, e mandamos que paguem anoveado todo o que levarem, a meetade pera quem os acusar, e
a outra meetade pera a nossa Chancellaria, porque achamos, que assy forom sempre praticadas em tempo
dos outros Reyx, e ainda o sentimos assy por serviço de Deos, e bem de nossos Regnos” no livro II.
2
Falta no LLP e nas ODD.
3
“E cetera” nas ODD
4
No LLP e nas ODD
5
“desses” no LLP e nas ODD.
6
“agrauamentos” no LLP e nas ODD.
7
No LLP e nas ODD.
8
No LLP e nas ODD.
9
“diujda he” nas ODD.
10
Falta no LLP.
11
Falta no LLP e nas ODD.

327
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

nem desaforedes, (nem vaades contra elles, nem lhes passedes suas Cartas, que
teem minhas, e de meu Padre, e de meus Avoos; e mando que)[1] nom valha
contra elles, nem contra seus averes nenhum testemunho em nenhuma couza,
senom per Chrisptãaos, e Judeos.

[Outrossy uos mando que façades apregõar per uossas uilas e termhos que
nenhuum christãao nom faça enprestido nem malleua a Judeu nem lhi pague
deujda que lhi deua ssenom perdante christãaos e Judeus e que lhis nom
paguem nenhuma Rem nas aldeas hu nom morarem Judeus E mando que
sse alguum Judeu morar en alguum logar hu nom morar outro Judei que as
pagas e as malleuas ou enprestidos que fezerem que lhis os christãaos ou eles
aas christãas fezerem que sseia per scripto dos tabelljões ou seus seelos dos
Concelhos com testemunho domeens boons e assy mando que ualha e doutra
guisa nom][2]
3 – Item. Xe me queixarom que *alguuns*[3] Chrisptãaos querem provar contra
elles, e contra seus averes per Chrisptãaos sem Judeus nas demandas, ou preitos,
que passão com elles em concelho perante vos, ou perante os Tabelliãaes. Sobre esto
tenho por bem, e mando, por hi nom aver burla, nem *delonga*[4], nem engano,
porque os Judeos nom seem/estem em concelho, que os Tabelliãaes escrepvam
todallas demandas, ou feitos, que os Judeos ouverem com Chrisptãaos perante
vos, aquelles que forem em maneira de Juízo, ou de quitaçom/inquiriçom, ou
d’entrega (de pagamentos, ou de corregimento sobre quaeesquer cousas, de
guisa)[5] que se nom possa despois negar, nem vir por razom de *duvida a outra
prova*[6]; e essa Escriptura pague cada huma das partes, assy como fezer a seu
feito; e quando [lhi][7] alguum Judeu em concelho se ver/estever, *mando*[8] que
os Tabelliãaes o ponhão (hi)[9] por testemunha *polos*[10] outros homeens bõos, que
hi se verem/nom estiverem quanto he nos feitos, que forem antre os Chrisptãaos,
e os Judeos.
4 – Pero mando que os Juizes possão seer testemunhas antre elles, em quanto
forem Juizes, em aquellas cousas, que antre elles julgarem, ou se fezerem em
maneira de Juizo.
5 – E assy mando que valha esto antre vós, e elles, e em outra guisa nom, e vós assy
o fazede guardar; e al nom façades, senom a vós me tornarei eu porende: e mando
aos Tabelliãaes, que registem esta carta, e que a leam em concelho huma vez cada
domaa; e mando que os meus Judeos tenham esta carta (em testemunho)[11]. Dante
em Coimbra primeiro dia de Janeiro. ElRey o mandou per sa Corte. *Esteve*[12]
Annes a fez Era de mil e *trezentos e trinta e dois/três*[13] annos.
(6 – E disserom-me, que esta carta que lha aguardavão em todo meu Senhorio,
e que lha nom queriam guardar nas minhas audiencias; e pedirom-me por

1
Falta nas ODD.
2
No LLP e nas ODD.
3
“dalguuns” no LLP e nas ODD.
4
“perlonga” no LLP e nas ODD.
5
Falta no LLP e nas ODD.
6
“deujda ao outro prouo” no LLP e nas ODD.
7
No LLP e nas ODD.
8
“achado” no LLP e nas ODD.
9
Falta no LLP e nas ODD.
10
“com nos” no LLP e nas ODD.
11
Falta no LLP e nas ODD.
12
“Stevão” no LLP e nas ODD.
13
“iijc e xxij” no LLP e nas ODD.

328
José Domingues

mercee, que lha mandasse aguardar nas ditas minhas audiencias: porque tenho
por bem, e mando, que a dita minha carta seja guardada tambem nas audiências,
como em todo meu Senhorio, assy como em ella he contheudo; a qual carta logo
foi leúda, e publicada em Santarem nas minhas audiencias aos vinte e dois dias
de Julho Era de mil e trezentos e sessenta e dois annos perante o meu SobreJuiz,
e perante os meus Ouvidores da minha Corte; e em testemunho desto lhes
mandei dar esta minha carta com o dito theor. Dante em Santarem a vinte e sete
dias de Julho. ElRey o mandou per Joham Lourenço, e per Estevom Ayres seus
Vassallos. Pero de Valença a fez Era de mil e trezentos e sessenta e dois annos.
7 – E nós adendo, e declarando em a dita Ley, hordenamos, e mandamos que aja
lugar, quando for contenda antre Chrisptãao, e Judeo, e o Chrisptão quizer dar
em prova outro Chrisptãao contra judeo; e se em esse caso o Judeo quiser dar por
testemunha alguum Chrisptãao, possa-o fazer, e valha seu testemunho contra o
Chrisptãao sem outro testemunho de Judeo; e querendo esse Judeo dar por teste-
munha outro Judeo contra o dito Chrisptãao, nom o poderá fazer, nem valha seu
testemunho, salvo dando com esse Judeo outro Chrisptãao por testemunha.
8 – E se for contenda antre Judeo, e Judeo, e, tal caso poderá cada hum delles dar
por testemunha Chrisptãao contra Judeo, e vallerá seu testemunho, assy como
se fosse antre Chrisptãao, e Chrisptãao.
9 – E em todo caso, honde for contenda antre Chrisptãao, e Chrisptãao, vallerá
testemunho de Judeo com outro testemunho de Chrisptãao, e o testemunho do
Judeo soo nom vallerá, salvo per consentimento daquelle, contra que for dado
por testemunha: pero seendo alguum feito crime tão grave, que caiba em elle
pena de corpo, e seendo cometido em lugar hermo, ou solitario, ou de noite a tal
tempo, que nom possa seer visto, ou testemunhado per alguum Chrisptãao, em
tal caso mandamos que fique em Juizo dos Julgadores, esguardando a qualida-
de do malleficio, e otempo, e lugar honde foi feito, e a condiçom do Judeo, que
he dado por testemunha, e assy recebam, ou reprovem seu testemunho, segun-
do lhes bem parecer, e acharem per direito.
10 – E com esta declaraçom assy per nos feita mandamos que se guarde a dita
Ley d’ElRey Dom Donis, segundo em ella he contheudo, e per nos adido, e
declarado, como dito he.)[1]

*Era de mil e CCC e xxxij estabeleceu elRey e mandou que nom ualesse contra
Judeus nem contra seus aueres nenhuum testymoyno en nemhuuma coussa
senom per chrischaao(sic) e per Judeu. Outrossy manda que fesessen apregoar
todalas iustiças per sãs uyllas e per seus termhos que nenhuum chrischaao nom
fessesse enpristido nem malleua a Judeu nem lhi pague diuyda que lhy deua
senom perdeante chrischaao e Judeu e que lhys nom paguem nenhuma ren
nas aldeãs hu nom moraren Judeus e mandou que sse alguum Judeu as pagas
ou malleuas ou enprestidos que lhys hos chischaaos ou elles aos chrischaaos
ffezerem que seiam per escriuam dos tabellioes ou sso seellos dos ou com tres
dos homeens assy mandou que ualhesse e en outra guisa nom. Jtem xj my
queyxarom que alguuns chrischaaos queren prouar contra elles e contra seus
aueres per chrischaaos ssem Judeus nas demandas ou preytos que passam
com elles en concelhos perdante as Justiças ou perdeante os tabellioes sobre
esto tenho por bem e mando por nom auer hy bulla nem delonga nem engano
porque hos Judeus nom sseen sempre en concelho que hos tabellioes escreuam
todalas demandas ou feytos que hos Judeus ouueren contra hos chrischaaos
perdeante a Justiça aquellas que forem en maneyra de Juizo ou de quitaçom ou
de entregua ou de pagamento ou de corrigimento sobre quaes coussas quer de

1
Falta no LLP e nas ODD.

329
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

guyssa que sse nom possan poys negar nem uijr per Razon de diuida. E ssel (sic)
escriptura pague cada huma das partes assy como fezer a seu preyto e quando
hy alguum Judeu en concelho seuer mando que esses tabellioes o ponham hy
por testimonyas que hos outros homeens boos que hy seuerem quanto he nos
feytos que foçen ante Judeus e chrischaaos pero mandado (sic) que os Juízes
possam seer testemonyas antre elles enquanto foren Juízes en aquellas coussas
que ante elles Julgarem ou sse fezerem en maneyra de Juyzo e assy mando que
ualha antrelles e en outra guyssa nom*[1]

XXXIII – Que nom tenha nenhuum Porteiro, senom quem ouver Authoridade d’ElRey
pera ello.[2]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 163-164 e 182-183]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 172-173]

ElRey Dom Donis da famosa memoria em seu tempo fez Ley, de que o theor tal he.

1 – Dom Doniz per Graça de Deos Rey de Portugal, e do Algarve. [cetera][3] A


todollos Alquaides, Alvazis, Juizes, e Justiças de meus Regnos, [a][4] que esta
Carta *virdes*[5], saude. Sabede, que os Moordomos xe me queixarom dizendo,
que nom podem aver o seu direito do Moordomado polas Portarias, que fazem
os meus Porteiros, que trazem os Mercadores, e os Judeos, e os outros homeens. E
Eu sobre esto ouve conselho com aquelles, que som do meu Conselho, e achei, que
em tempo de meu Vis-Avoo, [Avoo][6] e de meu Padre, ataa que (hi)[7] meu Padre
filhou em sy a Portaria, nom usaarom *dar Porteiros*[8], se nom ao Arcebispo,
e aos Bispos, e aos Cabidos, e aas Hordeens, e aos Moesteiros, e aos Abades, e
aos Priores dos Moesteiros, (e Abbades,)[9] e a alguumas grandes pessoas, e aos
Juizes, hu nom andam Moordomos pera esses Julgados, e pera as Honras, e
pera os Coutos: e tive por bem com aquelles, que som do meu Conselho, que Eu
guardasse, e fezesse guardar aqueste uso.
2 – Honde vos Eu mando, e quero que assy se faça, e que nenhuum nom haja
Porteiro, [nem portaria][10] senom as sobreditas pessoas, as quaees ouverom
(Porteiros)[11] no tempo de meu Padre, e de meu Avoo, e de meu Vis-Avoo; e
revogo todollos outros Porteiros, que ataaqui forom feitos; e Mando que daqui
em diante nom fação *outras Portarias*[12] sob pena de seus corpos; e Mando, que

1
No LLP pp. 100-101.
2
“Ley dos moordomos que dizen que nom podem auer derecto do sseu moordomado”, no LLP, p. 163.
“Carta dos moordomos”, no LLP, p. 182.
“Ley .xxxiij. Como ell rrey manda que nom aJa hj porteiros nem Sacadores”, nas ODD.
3
Nas ODD.
4
Nas ODD.
5
“ffor mostrada”, nas ODD.
6
No Liv. III, Tít. 94, no LLP e nas ODD.
7
Só neste título, do Liv. II.
8
“andar portarjas”, no LLP e nas ODD.
9
Repetido, só neste título do Liv. II.
10
Nas ODD.
11
Falta nas ODD.
12
“outros porteiros”, nas ODD.

330
José Domingues

lhas nom leixedes fazer, senom a vós me tornarei (Eu)[1] porem, e peitar-medes os
meus encoutos. E os Moordomos tenham esta Carta. Dante em Estremoz *a vinte
e oito*[2] dias de Janeiro. ElRey o mandou per sua Corte. Affonso Martins a fez Era
de mil *trezentos e vinte e hum*[3] annos.
3 – A qual Ley vista per Nós, avemos por boa, e Mandamos que se cumpra, e
guarde, como em ella he contheudo.[4]

(Liv. II) LIII – Da hordenança, que devem teer os Sacadores d’ElRey, e quaeesquer outros,
que per sua graça podem rematar por suas dividas, assy como pelas d’ElRey.[5]
(Liv. III) LXXXXV – Da maneira que ham de ter os Sacadores,
que Elrey dá a alguuns per graça especial, nas Execuçoens.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 481-489]

ElRey D. Affonso o Quarto [da louvada Memoria][6] em seu tempo fez Ley em esta
forma, que se segue.

1 – [Primeiramente][7] Porque he achado, que alguuns Sacadores (das dividas


d’ElRey, e Porteiros de seus Almuxarifados, e outros quaaesquer, que ham razom
de penhorar, ou fazer eixecuçõoes (per graça)[8],)[9] que elle outorga a alguuns
Prelados, Mestres das Hoordeens, e a outras pessoas, pera tirarem as dividas,
que a elles devem, quando chegam a alguuns lugares, e Villas apartão alguuns
Taballiãaes (das ditas Villas, e lugares,)[10] hu chegam, que vãao com elles pelas
Villas, e Termos dellas, e se na Villa costrangem *dez*[11] ou *vinte*[12] devedores,
filham logo a cada huum delles penhor por *dous*[13] soldos pera o Taballiam pola
vinda, que allá fez: Outro sy costrangem o devedor, que pague ao Taballião a
Escriptura, que fez em escrever os penhores, que o Sacador, ou Porteiro filha (ao
devedor,)[14] ou por escrepver no Rool, ou Livro, em que anda por devedor, a paga,
que fez do que devia, e se vão pelos termos da Villa a costranger *alguuns*[15]
devedores, e (ainda que em cada huum dia costrangam muitos devedores,)[16]

1
Falta no LLP.
2
“xxbiijº”, no LLP e nas ODD.
3
“trezentos e xx e huu”, no LLP. “iijc e xxi” no LLP. “iijc xxj”, nas ODD.
4
A declaração final no Liv. III, Tít. 94, ficou atrás transcrita quando tratamos das remissões e repetições,
p. 226-227.
5
“Como el rrej manda que os porteiros nem sacadores nom costrangom os deuidores que pagem os taba-
liães”, nas ODD.
6
no Liv. III.
7
No Liv. III.
8
Falta nas ODD.
9
Falta no Liv. III.
10
Falta nas ODD.
11
“x”, nas ODD.
12
“xx”, nas ODD.
13
“ij”, nas ODD.
14
Falta nas ODD.
15
“xx”, nas ODD.
16
Falta nas ODD.

331
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

costrangem cada huum delles que paguem ao Taballiam polo (aluguer da)[1] besta,
em que vai, cinco soldos, (e huum alqueire de cevada, e *quatro*[2] soldos)[3] por
cada huma legoa, que o Taballiam sair da Villa; e que outro sy pague aquello, que
o Taballiam disser, que merece pola Escriptura, que fez em escrepver os penhores,
que o Sacador, ou Porteiro filham [ao deuidor][4]; porem por arredar o dãpno, que
em se esto fazer recebem os devedores.
Manda ElRey que os seus Sacadores, que por suas dividas ham poder pera
costranger, se trouxerem Escripvães jurados, que penhorem os devedores perante
elles, *e perante testemunhas, que pera esto chamem*[5]; e se Escripvãaes nom
trouxerem, e lhes comprir (de levar)[6] Taballiãaes (publicos,)[7] que os levem
sem *custa*[8] dos devedores: e os Sacadores, ou Porteiros satisfaçam a esses
Taballiãaes, segundo se com elles avierem, (ou segundo)[9] os Juizes dos lugares,
hu essas penhoras fezerem, (acharem)[10] que merecem por satisfaçom do trabalho,
e Escriptura: (e se os devedores quizerem Estromento do que paguam, ou
da conthia dos penhores, que lhes filham, satisfaçom aos Taballiãaes polas
Escripturas, e polos caminhos, se os elles chamarem.)[11] E os Sacadores das
dividas d’ElRey, e Porteiros dados aos Meestres, e Prellados, e a outras pessoas
levem comsigo, se quizerem, Taballiãaes aa sua custa, quando forem penhorar
os devedores, ou façam penhora perante testemunhas, que se nom possa negar
aos devedores os penhores, que lhes filham, e que se possa saber a obra, que em
filhando esses penhores, que esses Porteiros *filharem*[12].
[13]
2 – Outro sy porque he achado, que alguns Sacadores, e Porteiros dos
Almuxarifados quando vãa costranger devedores, que trazem em Rooles
obrigados, que levam pera sy de quantos devedores costrangem, em luguares
dous soldos, e em lugares huum soldo, e que por esto esses Sacadores, e Porteiros
dam espaços a esses devedores, e esses devedores paguam o que nom devem
pagar a esses Sacadores, ou Porteiros.
Porem Manda ElRey, e defende, que esses Sacadores, e Porteiros nom costranguão
por taaes soldos os devedores, nem os levem delles; e aquelles Sacadores, ou
Porteiros, que for achado, que os levam, percão a sua mercee, e tornem em dobro
o que assy levarem dos devedores.
[14]
3 – Outro sy he achado, que alguuns Sacadores, e Porteiros quando fazem
entrega aos Compradores d’alguuns beens de raiz, que acham aos devedores, que
pola entrega, que fazem aos Compradores *dos beens de raiz*[15], que lhes assy
vendem, que levam desses compradores por cada possissom, que lhes vendem,

1
Falta nas ODD.
2
Cinco S.
3
Falta nas ODD.
4
Nas ODD.
5
“E chamem pera esto testemunhas”, nas ODD.
6
Falta nas ODD.
7
Falta nas ODD.
8
“danno”, nas ODD.
9
Falta nas ODD.
10
Falta nas ODD.
11
Falta nas ODD.
12
“fazem”, nas ODD.
13
“ley per que he defesso aos porteiros E sacadores que nom costrangom os diuidores nem leuem delles os
ssoldos que soíam de leuar”, título nas ODD.
14
“ley por que el rrej defende aos porteiros E sacadores que nom leuem nenhua cousa das uendas”, título
nas ODD.
15
“da rraiz”, nas ODD.

332
José Domingues

e entregam, vinte soldos, e que deteem as Cartas das vendas, que dos beens, que
lhes *assy vendem,*[1] fazem, ataa que paguem os ditos vinte soldos, e por esto se
torna em prejuizo do devedor, porque daria o Comprador mais vinte soldos polos
beens, se entendesse, que o Sacador, ou Porteiro (os)[2] delle nom levaria.
Porem Manda ElRey, e defende aos Sacadores, e Porteiros, que nom levem por
fazerem entregua do que vendem, nem por outra razom, dos compradores, nem
vendedores os ditos vinte soldos, nem outra (alguma)[3] cousa; e se o fezerem, que
percam a sua mercee, e tornem em dobro o que assy levarem.
[4]
4 – Outro sy he achado, que (pero)[5] alguuns devedores fazem pagua do que
devem, e pedem aos Sacadores, e Porteiros, que os escrepvão por pagos nos
Rooles, ou livros, em que os trazem por devedores, que o nom querem fazer, sem
pagando esses devedores certos dinheiros [a elles][6], por se escrepver; e pera se
nom fazer esto.
Manda ElRey, que como os devedores pagarem [a contia][7], que os Sacadores, e
Porteiros o façam assy escrepver nos Roolles, e livros, hu andarem escriptos por
devedores sem custa dos devedores; e se por se fazer tal Escriptura for achado, que
levam dos devedores alguma cousa, que percam a sua mercee, e tornem em dobro
aquello, que assy levarem. *E estes Sacadores saibam leer, e escrepver*[8]; e se
ElRey mandar alguuns por Sacadores, que nem saibam leer, e escrever, mandará
com elles Escripvãaes.
[9]
5 – Outro sy he achado, que alguuns, que trazem por devedores nos Roolles, e livros,
quando os querem costranger, mostram Estormentos de como pagarom, ou Cartas
d’espaço, que lhes ElRey deu, que os Sacadores, e Porteiros os costrangem que os
mostrem, e que lhes dem o trellado aa sua custa; e porque parece sem-razom.
Manda ElRey, que *quem*[10] quiser o trellado, que o pague; e defende, que nom
costranguam os que taaes Cartas, e Estormentos mostrarem, que dem aa sua custa
o trellado delles.
[11]
6 – Outro sy he achado, que alguuns devedores, que moram allongados *dos
lugares,*[12] em que ElRey tem Almuxarifes, querem fazer paga do que devem ali,
hu moram, e que os Sacadores, ou Porteiros *dizem,*[13] que lhes he deffeso, que
nom recebam dinheiro dos devedores, e os costragem, que vãao pagar ali, hu
moram os Almuxarifes; e pera nom receberem dãpno, nem fazerem despeza os
devedores em assy virem *pagar aos lugares, honde moram*[14].
Manda ElRey, que se esses devedores (deverem)[15] per razom de Portaria, ou
de Chancellaria, e quiserem pagar ali, hu moram, o que devem, que nom sejam

1
“deuem”, nas ODD.
2
Falta nas ODD.
3
Falta nas ODD.
4
“ley por que el rrej manda aos porteiros E sacadores que façom Espreuer as pagaus”, título nas ODD.
5
Falta nas ODD.
6
Nas ODD.
7
Nas ODD.
8
“E sse estes sacadores sabem leer E espriuer espriuom todo”, nas ODD.
9
“ley por que ell rrej defende aos porteiros E sacadores que nom costrangom por traslados da paguas”,
título nas ODD.
10
“aquell que”, nas ODD.
11
“ley em que el rrej manda que os diuidores de fora da ujlla façom pagua aos sacadores”, título nas ODD.
12
“das ujllas”, nas ODD.
13
“porque”, nas ODD.
14
“fazer pago aos outros lugares alongados du moram”, nas ODD.
15
Falta nas ODD.

333
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

costrangidos pera virem pagar aos Almuxarifes; e quanto he se deverem per razom
d’Officios, ou de rendas, que pertenção a esse Almuxarifado, ou promettem esses,
que devem per razom das Portarias, e Chancellarias, de pagar em certo lugar,
ou per contrautos, que fezessem com esses Almuxarifes, sejam costrangidos pera
virem pagar a esses Almuxarifes.
[1]
7 – Outro sy he achado, que alguuns Porteiros, e Sacadores ham a telha das
casas por movel, e vendem-na por movel em seendo cubertas as casas della, e
vendem‑na passados nove dias, como outro aver movel; e porque em quanto a
telha, sendo nas casas, he contada por parte dos beens de raiz.
Manda ElRey, que em quanto a casa assy estiver cuberta della, que se nom venda
em *sua*[2] parte, como aver movel, mais que se venda a telha com a caza [saluo
de prouuer a parte de sse uender][3].
[4]
8 – Outro sy he achado, que alguuns Sacadores trazem Rooles, e Livros, em que
he contheudo, que ajam dos devedores, contra que som gaançadas as Cartas das
eixecuçõoes, a dizima na conthia da divida, em que manda comprir as Cartas;
e outro sy das penas, a que se obriguarom os devedores, se acharem, que as os
creedores levarom; e quando vãao costranger os devedores polla dizima da divida,
costrangem logo por outro tanto da dizima das penas pero que os devedores
affirmão, que nom levarom delles penas os creedores; e porque se agravão os
devedores, que levam delles a dizima das penas, sem seendo ante *chamados*[5]
se as levarom os creedores.
Manda ElRey, que os Sacadores nom costranguam por dizima de taaes penas sem
seendo ante certos, que os creedores levarom dos devedores as penas; e que em
este caso os Sacadores sejam theudos a [saber e][6] provar quando os devedores
disserem, que as nom levarom delles: salvo quando acharem escripto nos Livros, e
Roolles, que lhes forom dados, que os creedores tirarom as Cartas das eixecuçõoes
pera aver a divida com outro tanto de penas.
[7]
9 – Outro sy he achado, que alguuns, que comprarom beens dos devedores
d’ElRey, ou d’outros, a que os esses devedores derom, ou venderom, som
costrangidos, e penhorados pellos Sacadores, e vendem a elles os ditos beens sem
seendo chamados, nem ouvidos (com seu direito,)[8] nem lhes dam tempo, nem
logo pera se chamar a seus autores; e porque se esses Sacadores costrangessem
os devedores principalmente, *ou*[9] seus hereos, poderiam allegar pagas, e
aos que acham trazer taaes beens, poderião-se chamar aaquelles, de que elles
*comprarom*[10] os ditos beens, que lhos deffendessem.
Porem Manda ElRey, que os Sacadores, e Porteiros primeiramente ajam a sua divida
pelos beens, que acharem em poder dos devedores, ou de seus hereos, ou *dos*[11]
fiadores dos devedores; e que nom vendam aos que acharem que ouverom beens

1
“ley por que el rrej defende aos porteiros E sacadores que nom uendom a telha das cassas por mouell”,
título nas ODD.
2
“Esa”, nas ODD.
3
Nas ODD.
4
“ley por que el rrej manda aos porteiros E sacadores que nom costrangom os deuedores pella dizima das
penas”, título nas ODD.
5
“achado”, nas ODD.
6
Nas ODD.
7
“ley por que el rrey defende aos porteiros E sacadores que nom costrangom os que conprarem os beens
dos seus diujdores”, título nas ODD.
8
Falta nas ODD.
9
“os”, nas ODD.
10
“uenderom”, nas ODD.
11
“doutros”, nas ODD.

334
José Domingues

de seu devedor, que nom sejam hereeos, nem fiadores, sem seendo primeiramente
chamados a Juizo, e ouvidos se quiserem mostrar, que os beens, que elles assy
ouverem, nom som obrigados: e esse Sacador faça-lhe logo mostrar os beens, e se
esses *devedores*[1] disserem, que nom som a ElRey obrigados, o Sacador assyne
dia a esses, que taaes bees assy teverem, que venhão mostrar o seu direito pera
nom seerem esses beens obrigados a ElRey: e (deve)[2] enviar o trellado do Rool, e
enformaçom, que achar, e os nomes das testemunhas, per que se pode provar, que
som obrigados ao Procurador d’ElRey, e de-o todo ao Almuxarife da Comarca, em
que andar, que o envie ao [sseu][3] Procurador d’ElRey ante do dia; e se nom vier
ao dia, os Juizes façam direito. Aos quaaes Almuxarifes Mandamos que enviem
este recado ao nosso Procurador.
[4]
10 – Outro sy se agravão dos Sacadores, e Porteiros, por que acham aas vezes, que
o devedor d’ElRey vendeo a desvairadas pessoas os beens obrigados a ElRey, ou
herdarom os beens do devedor tres, ou quatro hereeos, e leixão de costranger cada
huum por sua parte da divida, segundo ouve dos beens do devedor, e escolhem
qualquer, que a elles apraz, dos compradores, e hereos, e querem aver per elle,
e pelos beens, que ouve do dito devedor d’ElRey, toda a divida, a que todollos
beens som obriguados pera se fazer igualdade.
Manda ElRey, que se os Sacadores poderem em aquella Comarca, em que forem
Sacadores, aver per cada huum dos Compradores, ou hereeos a parte, que a elles
aqueecer de pagar, segundo os beens, que ouverom, que eram a elle obriguados,
que aja per todos, e nom per huum a sa divida; e se nom achar beens a alguum
delles em aquella *Comarca,*[5] torne-se aos outros, que ouverom beens em aquella
Comarca, hu elle andar por Sacador, e costrangua (aquelle, ou)[6] aquelles, *que
ouverom*[7] os beens em aquella Comarca por toda a divida.
[8]
11 – Outro sy he achado, que os Sacadores, e Porteiros quando nom acham beens
aos devedores d’ElRey, que vendem aos devedores dos devedores d’ElRey os seus
beens; (a saber,)[9] o movel ante apregoado per nove dias, e a raiz per tres nove
dias, e sem seendo chamados, nem ouvidos, assy como se principalmente fossem
(obrigados, e)[10] devedores a ElRey; e pera se nom fazer (esto daqui em diante.)[11]
Manda ElRey, que aos devedores dos seus devedores nom vendam (seus bens)
[12]
pola divida, que assy devem aos seus devedores, quando *aos principaes*[13]
devedores nom acharem outros beens, sem seendo ante chamados, e ouvidos
(os ditos devedores dos principaes devedores)[14] perante os Juizes, *que
principalmente dessas dividas devem conhecer,*[15] *salvo per esses devedores

1
“teedores”, nas ODD.
2
Falta nas ODD.
3
Nas ODD.
4
“ley por que el rrej defende que os porteiros E sacadores que nom costrangom huum ssoo que teuer partee
de beens que a ell seiam obrigados”, título nas ODD.
5
“contia”, nas ODD.
6
Falta nas ODD.
7
“a que achar”, nas ODD.
8
“lej que porteiros nem sacadores nom uendom os beens a aquelles que forem obrigados aos seus deujdo-
res”, título nas ODD.
9
Falta nas ODD.
10
Falta nas ODD.
11
Falta nas ODD.
12
Falta nas ODD.
13
“a esses”, nas ODD.
14
Falta nas ODD.
15
“dos feitos del rrej”, nas ODD.

335
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

dos devedores for confessado a sua divida perante o dito Sacador,*[1] e nom
poendo defesa, ou parecendo tal Escriptura, perque elle seja obrigado ao devedor
d’ElRey, e nom poendo contra ello enbargo: e (se esses devedores negarem ser
devedores dos devedores principaes,)[2] os ditos Sacadores lhe assignem dia
certo convinhavel, (a que pareçam perante os ditos Juizes, a que pertencer o
conhecimento da divida principal, como dito he;)[3] [se negar que nom he
diuidor como desusso dito he][4] e quando for achado, que som devedores
dos seus devedores, nom vendam seus beens ataa que tanto tempo andem em
pregom, como andariam, vendendo-se por divida desses devedores seus, a que
eram obrigados. Pero se estes devedores forem devedores do devedor principal
d’ElRey per razom d’aveença, per que esse devedor principal he obrigado a ElRey,
possam seer costrangidos, assy como seer pode o principal devedor.
[5]
12 – Outro sy he achado, que alguuns devedores d’ElRey, *que moram nos
Termos allongados das Villas, e Lugares,*[6] hu ha Almuxarifes, fazem paga aos
Sacadores, e Porteiros d’aquello, que devem, e os Sacadores nom os escrepvem
por pagos nos Roolles, que trazem, e quando vãao outros Sacadores, levam esses
Roolles; e pero fazem certo per testemunhas, ou per Escriptura, que pagaarom aos
Sacadores, que traziam aquelle Rool meesmo, nom os leixam porem de costranger,
por que dizem que nom *he*[7] certo, e que esses, a que pagaarom, (nom)[8] aviam
poder pera receber.
Manda ElRey, que ainda que nom ouvesse o Sacador poder (delle)[9] pera receber,
se o devedor provar per testemunhas, que lhe pagou ataa cinco libras, que nom
seja costrangido [esse diuidor][10], e que *elle*[11] se torne ao Sacador.
[12]
13 – Outro sy se agravam dos Sacadores, que vãao penhorar pelos Termos das
Villas, e que pero lhes frontam os penhorados, que ataa nove dias lhes nom tirem
dali os penhores, e se elles nom pagarem passados os nove dias, que lhos vendam
ali por quanto por elles derem [sem outro pregom E se nom auondar quanto
por elles derem][13], pera ElRey seer pago d’aquello, por que os costrangem por
devedores; e que lhes vendam os beens (de raiz)[14] d’hy em diante; e que pero que
o assy peçam, que lhes nom leixam porem de levar os penhores pera as Villas; e
fazem-lhes pagar os allugueres das bestas, em que os levam; e pagam aas veses
(tanto)[15] por alluguer, quanto he o por que os penhoram; e que pero os querem
aas vezes levar em suas bestas, ou em seus homeens a collo, que lho nom querem
consentir; *porem pera fazer aguisado.*[16]

1
“ou confesando per dante o sacador”, nas ODD.
2
Falta nas ODD.
3
Falta nas ODD.
4
Nas ODD.
5
“ley que aquelles que pagarom as diuidas del rrej aos seus sacadores que nom seiam constrangidos outra
uez por ellas”, título nas ODD.
6
“que nom moram nos termos E lugares das ujllas E lugares”, nas ODD.
7
“fezerom”, nas ODD.
8
Falta nas ODD.
9
Falta nas ODD.
10
Nas ODD.
11
“el rrej”, nas ODD.
12
“Como os porteiros E sacadores deuem tirar os penhores dos diuidores E põe-llos sem sacresto”, título
nas ODD.
13
Nas ODD.
14
Falta nas ODD.
15
Falta nas ODD.
16
“pera sse fazer Jgaldade”, nas ODD.

336
José Domingues

Manda ElRey, que os Sacadores, e Porteiros quando forem penhorar nos Termos,
que tirem os penhores de poder do devedor, e que os ponham per recado em casa
d’huum seu vizinho, qual entenderem que he pera os guardar; e se os devedores
pedirem, que lhos vendam ali, e os derem por apregoados, assy como se andassem
em pregom per nove dias, e pedirem, que lhos vendam, se elles nom pagarem
ataa os ditos nove dias, os Sacadores, se entenderem que podem aver a divida
pello que por *elles*[1] alli derem, ou que esses devedores ham outros beens, per
que podem aver aquello, que ficar por pagar, vendidos aquelles penhores, nom
*tirem d’hy*[2] os ditos penhores, e metam-nos em pregom, e vendam-nos, assy
como lhes he mandado; e se passados os nove dias os devedores nom pagarem,
e outros beens nom ouverem, per que possam aver a divida, e entenderem, que
se venderom milhor nas Villas, que em aquelle lugar, hu moram os devedores,
levem-nos pera as Villas aa custa dos devedores em homeens, ou em bestas,
segundo a *quantidade*[3] dos penhores for: pero se esses devedores quiserem
dar bestas, ou homeens, em que os levem, por escusarem o *alluguer,*[4] que os
levem em ellas per recado.
[5]
14 – Outro sy se agravão alguuns, que gaançam as Cartas das eixecuçõoes, per
que vendam aos seus devedores, ou de Sentenças, per que vendam aaquelles,
que lhes som condapnados em Juizo per razom de dividas, que lhes devam, ou
de corregimento, ou d’outras cousas, que a elles demandam, e pero que fazem
o que podem pera seerem compridas as Cartas, e as eixecuçõoes feitas per ellas,
nom podem achar beens aos seus devedores, ou dos condapnados a elles, em
que se comprir possam as eixecuçõoes em todo, nem em parte; e pero que a
mingua nom he n’aquelles, que taaes Cartas gaançam pera se comprir, ainda que
se nom cumprão em todo, nem em parte, que os costrangem os Sacadores pollas
dizimas contheudas em taaes Cartas, assy como se fossem compridas em todo; e
pero os querem desto fazer certo, que elles fezerom o que poderom pera seerem
compridas, e que nom acharom beens aos devedores, ou aos condapnados, que os
nom leixam porem de costranger polla dizima de toda a conthia nas ditas Cartas
contheuda: e pera se esto nom fazer.
Manda ElRey, que se aquelles, que taees Cartas gaançarom, fezerom o que
poderom pera seerem compridas no tempo, que as Cartas gaançarom, e fezerem
desto certos os Sacadores, e que em aquelle tempo aos devedores, ou condapnados
nom acharom beens, ou a seus hereeos, e os devedores já desfallecem, nem a seus
fiadores, em que se comprir podessem em parte, nem em todo, que os Sacadores
se sofram de os costranger polla dizima da conthia, em que os fezerom certos, que
a divida nom pode seer pagada per razom dos beens, que no tempo das Cartas,
que gaançarom, nem despois nom acharom aos devedores, ou condapnados; e
se acharem, que (forom em culpa, porque)[6] os [deuedores ou][7] condapnados,
ou seus fiadores avião beens, ou ouverom despois, em que se poderam comprir,
costranga-nos polla dizima, pois que forom negrigentes; e esso meesmo se
acharem que a quitaarom, ou forom em culpa, ou negrigencia, ou derom espaços,
per que se leixaarom de comprir. [Estas leijs forom pobricadas em santarem so o
alpender de sam domjngos hu fazem a feira biijº dias d’abril Era de mjll E iijc
Lxxxiij annos presentes dom aluaro prioll do espritall E meestre Pedro E meestre

1
“aquelles penhores”, nas ODD.
2
“querem dar”, nas ODD.
3
“contias”, nas ODD.
4
“alquieer”, nas ODD.
5
“Como deuem seer costrangudos os diuidores pellas dizimas del rrej Julgadas”, título nas ODD.
6
Falta nas ODD.
7
Nas ODD.

337
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

gonçallo das leijs uasallos del rrej E Joham durãeez teente uezes de chançelleer
E todos os ouujdores E sobreJuizes E homens boons E outros mujtos][1]

15 – A qual Ley vista per Nos avemos por boa, e Mandamos que se guarde, como
em ella he contheudo.

XXXVIIII – Que as Raynhas, e os Iffantes nom dem Cartas de Privilegios a nenhumas


pessoas.
[SOUSA, As Cortes de Leiria-Santarém de 1433, p. 132]
[SOUSA, Provas da História Genealógica, Tomo 3, 2.ª Parte, doc. 15]

ElRey meu Senhor, e Padre, a que Deos de o seu Santo Paraiso, em seu tempo fez
huma Hordenaçom, sentindo por serviço de Deos, e seu, e proveito dos seus Reg-
nos, em esta forma, que se segue.

1 – Dom Eduarte, &c. A vós Johãne Meendes Corregedor da Nossa Corte, que ora
teendes o Carrego de Nosso Chanceller, saude. Sabede que nós hordenamos por
Nosso Serviço de mandarmos Cartas aos Nossos Corregedores das Comarcas, as
quaaes passarom em esta forma, que se segue.
2 – A Nós disserom, que assy pela Raynha minha Molher, e pelos Ifantes meus
Irmãaos, como polos Condes, e outras pessoas eram dadas Cartas, e Alvaraaes em
a Nossa Terra, dellas de mando, e dellas d’encomenda, e de rogo, porque escuzam
algumas pessoas dos carregos dos Concelhos, e d’outras cousas; e porque a Nós
pareceo, que nom era razom, fallamos esto em Conselho com a dita Raynha, e com
os ditos Iffantes meus Irmãaos, e com os Condes, e com os outros do Nosso Con-
selho, e foi acordado, que taaes Cartas, nem Alvaraaes se nom guardem, salvo aos
que ouverem Nossas Cartas signadas, e seelladas do Nosso seello, ou Alvaraaes
assynados per Nós: e porem mandamos a cada huum Corregedor, que assy o faça
logo notificar aos Juízes, e Officiaes de todollos lugares da sua Correiçom, que
o façam assy comprir, e nom guardem Cartas, nem Alvaraaes d’alguãs pessoas,
soomente as Nossas, como dito he.
3 – Porem sem embargo desto nos praz, que a dita Senhora Raynha minha Molher,
e meus Irmãaos possão escusar em suas Terras quem lhes aprouver dos encarre-
gos, e servidõoes dos Concelhos, e d’outros nom.
4 – Outro sy porque alguuns teem nossos privillegios, perque antre as outras cou-
sas som escusados d’averem Officios dos Concelhos, Nossa merce he que taaes
privillegios nom se entendam em seerem Juízes, Vereadores, e Procuradores, e
Almotacees Moores dos Concelhos, porque destes quatro Officios, nom quere-
mos, que alguum seja escusado, ante mandamos, que taaes Officios tenham os
milhores do lugar, segundo se ataaqui custumou, salvo se expressamente disser
no privillegio, que destes Officios os escusamos; e porém lhes Mandamos, que
assy o fação logo pobricar, e guardar.
5 – Outro sy que mandem da Nossa parte aos Arrabys dos Judeus, e aos Alquaides
dos Mouros, que ouver nos ditos lugares, que esta meesma maneira tenham com
os Judeos, e Mouros, de que teem carrego, a que acharem alguuns privillegios, e o
façam assy comprir, como dito he.

1
Nas ODD.

338
José Domingues

6 – E nom embargante, que estas Cartas assy passem pelos Corregedores,


Mandamos-vos que façaaes registar, e assentar esta Carta toda de verbo a verbo
em o Nosso Livro da Chancellaria pera mais seer devulgado, e poblicado esto, que
assy hordenamos, e Mandamos, como dito he. Dante no Vimieiro[1] a dous dias de
Mayo. Affonso Cotrim a fez Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo
de mil e quatrocentos e trinta e quatro[2] annos.
7 – A qual Ley vista per Nós, porque nos parece justa mandamos que se guarde
assy como em ella he contheudo.

Este título parece ter a sua remota origem no art.º 90º das cortes de Leiria-Santa-
rém de 1433, que se transcreve:

Outrossy Senhor saiba a uossa merçee que nas villas e cidades buscam alguuns
homeens que som mesteiraaes dalguns pequenos ofiçios pera auerem de sseer
almotaçees pequenos E homeens delRej e beesteiros E passadores dos Conçelhos
ou pera outros alguuns encarregos que aos dictos logares som neçesarios dos
quaaes nos dictos logares ssom escusados por dizerem que som homeens de pee
de cada huum de uossos Jrmaaons e chegados alguuns sseus pella quall Razom
lhes dam sseus aluaraaes per que os escusam de todo ssem os conheçendo nom
auendo delles alguum seruiço e assy ficam os logares faleçidos de seruidores
quando os ham mester no que lhes he ffecto grande agrauo praza aa uossa merçee
que taaes aluaraaes seJam per uos corregidos E taaes pessoas sseJam deuassas aos
Conçelhos pera sse delles seruir em os dictos ofiçios quando lhes conprir.
Jtem manda ElRej que nom seJam nhuuns desto escusados ssenom per suas
cartas e aluaraaes saluo que a Raynha e os Iffantes E o conde de barçellos e d(e)
ourem e d(e) aRayollos em suas terras possam escusar os carregos que a elles e aos
Conçelhos perteençem os que lhe pouuer.
[SOUSA, As Cortes de Leiria-Santarém de 1433, p. 132]

A carta enviada ao conde de Barcelos, informando-o da resolução de Cortes, foi


coligida nas Provas da História Genealógica, com o seguinte conteúdo:

Dom Eduarte polla graça de Deos Rey de Portugal, e do Algarve, e Senhor de


Cepta, a quantos esta Carta virem fazemos saber que o Conde de Barcellos meu
Irmão, e o Conde Dourem e o Conde darrayollos meus sobrinhos, nos disserão
que quando ora nos fizemos Cortes em Santarem, mandamos que nenhuns não
podessem privilegiar alguãs pessoas em suas terras salvo a Rainha, e os Iffantes
meus Irmãos, e elles que lhes era dito, que depois mandáramos que se não
entendesse esto aa dita Senhora Rainha, e aos Iffantes meus Irmãos, e que nos
pedião por merce que sem embargo da Carta do dito mandado se entendesse asi
a elles, como nas ditas Cortes foi detreminado, e nos vendo o que nos assj dizião,
e pedião, e querendolhes fazer graça, e merce, temos por bem, e mandamos, que
lhes seja goardado o dito artigo, asj, e per a guisa, que lhes foi otorguado nas
Cortes que fizemos em Santarem sem embargo da dita Carta, e mandado, e esto
se não entenda no que nos especialmente mandarmos fazer, ou que pertencer a
nosso serviço ca em esto não queremos que outrem aja poder de privilegiar, senão
solamente nos, e em testemunho desto lhe mandamos dar esta Carta assinada per
nos, e sellada do nosso Sello. Dante em Óbidos, seis dias de Setembro Affonso
Cotrim a fés era M. iiij xxx iiij annos, e se esta Carta não for sellada mandamos
que não valha.
[SOUSA, Provas da História Genealógica, Tomo 3, 2.ª Parte, doc. 15]

1
em Obidos A.
2
oito S. e T. Em 1434, Maio, 02 D. Duarte estava no Vimieiro [Humberto Baquero MORENO, Itinerários de
El-Rei D. Duarte (1433-1438). Academia Portuguesa de História, Lisboa, 1976].

339
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Ao cotejarmos os documentos supra, torna-se curioso que a variante do local


(Óbidos) registada no final das Afonsinas seja o local da carta enviada ao conde de
Barcelos. Parece que o nosso compilador manuseou os dois diplomas. Mas o mais
invulgar é que tenha preferido o diploma singular ao capítulo padrão de cortes. Já
referi que as cortes de 1433 seriam o terminus ad quem para os capítulos a aproveitar
na compilação, mas a preterição do capítulo geral pode ter outro fundamento.
Debruçemo-nos sobre a sucessão cronológica das decisões. Em princípio, a isenção de
ofícios concelhios só seria válida por carta ou alvará régio, mas:

1433 – No capítulo geral do povo, apresentado às Cortes de Santarém,


ressalvam-se a rainha, os infantes e os condes de Barcelos, Ourém e Arraiolos,
nas suas terras.
[????] – Em data e diploma desconhecidos, conforme consta nas duas cartas,
a ressalva foi retirada a todos, ficando só prerrogativa régia.
1434, Maio, 02 – Na carta dirigida a João Mendes, ressalvam-se apenas a
rainha e os irmãos do monarca (transcrita nas Ordenações Afonsinas).
1434, Setembro, 06 – Na carta outorgada ao conde de Barcelos repõe-se a
decisão das Cortes de Santarém, passando a incluir-se os condes de Barcelos,
Ourém e Arraiolos.

Perante isto, o compilador recusa o capítulo geral das Cortes e elege o diploma
que lhe permite excluir os condes do apanágio, nomeadamente o de Ourém e o de
Arraiolos que eram sobrinhos do soberano.

Uma lei de D. Pedro I é substancialmente alterada ao passar para as Ordenações,


conforme podemos constatar cotejando-a com o registo que ficou na Chancelaria[1]. Nas
Afonsinas, sobretudo, falta a datação; apenas se referem as aves, excluindo os cabritos
e leitõe; exclui-se a comparação com a custa paga pelo rei, rainha, infante e seus filhos;
e não se transcreve a pena prevista no registo da Chancelaria.

Tít. LXI – Que os Fidalgos, e Cavalleiros nõ filhem na Corte galinhas, nem outras aves
contra vontade de seus donos.
[Chancelaria D. Pedro I, Doc. 369, pp. 147-148]

Antigamente foi ordenado pelos Reyx, que ante nós forom, que nenhuus Fidalgos,
nem Cavalleiros, nem outros alguus Senhores de qualquer Estado, e condiçom,
e priminencia que sejam, nom filhassem na Corte galinhas, nem frangoos, nem
patos, nem adees, nem outras alguãs aves, de qualquer qualidade que sejam, con-
tra voontade de seus donos, salvo avindo-se com elles no preço, o qual lhes logo
pagassem ao tempo, que se com elles aviessem; e se o contrairo fazer quizessem,
que lhes nom fosse consentido

1
Chancelarias Portuguesas: D. Pedro I, Doc. 369, pp. 147-148.

340
José Domingues

A versão registada no livro da Chancelaria é esta:

hordenaçom sobre a tomada das galinhas

Ouujde mandado del rrey nosso senhor que nom Seia nenhuu tam ousado em
todollos seus senhorios que mande filhar galinhas nem capõoes nem patos nem
adeens nem cabritos nem leitõoes pella custa que el rrey e a rainha e o Jffante e seus
filhos filham E alguus outros se as quiserem filhar manda el rrey que as filhem e
as paguem aas uontades de seus donos E todos aquelles que as filharem Manda
el Rey que pella primeira vez lhe dem lxx açoutes E polla outra que lhe cortem as
mãaos. E assy o mandou aos corregedores que publicasem esta ley per todas suas
correyçõoes E assy a fizessem apregoar e guardar como em ella he contheudo,
fecta em lagos na camara del rrey xxix dias de Março era de mjl iijc lRbij annos Eu
steuam sanchez scpreuj esta ley E el rrey a asignou per sua mãao etc.[1]

Tít. LXXIII – De como ham de seer feitos os contrautos antre os Chrisptãos, e os Judeos.
[Chancelaria D. Pedro I, Doc. 569, pp. 255-258]

ElRey Dom Pedro de louvada memoria em seu tempo fez huma Ley em esta
forma, que se segue:

1 – Dom Pedro pela graça de Deos Rey de Purtugal, e do Algarve. A quantos esta
Carta virem faço saber, que os Judeos do meu Senhorio me enviarom dizer, que eu
lhes fezera (graça, e)[2] mercê em lhes outorgar per minhas Cartas, que (fezessem,
e)[3] podessem fazer contrautos com quaeesquer pessoas, de compra, e vendas,
e d’outras cousas pela guisa, que os fazem os Chrisptãos do dito meu Senhorio;
e que elles usavam da dita graça, como era contheudo nas Cartas, que da dita
mercee de mim tinham. E que ora em estas Cortes, que fiz em a Villa d’Elvas, me
foi dito per algumas pessoas, que elles usavam da dita graça como nam deviam,
e que eu a dizer delles mandei, que fezessem os ditos contrautos, como hy nom
ouvesse onzena nenhuma, ca o Judeo, que eu achasse, que fezesse contrautos,
em que ouvesse onzena, ou conluio, que o mandaria matar porem, e lhe tomaria
*os*[4] beens que ouvesse pera a minha Camara, em tal guisa que fosse em elle
comprida huma Ley d’ElRey Dom Affonso meu Padre, a que Deos perdoe, que
foi feita em tal razom. E dizião, que esto lhes era mui grave cousa de guisa, que
antes leixarião de fazer os ditos contrautos, que serem obrigados a tão *grande*[5]
penna, e que eu [nom][6] receberia delles *desserviço*[7], e elles ficariam dapnados
do que aviam. E enviarom-me pedir, que lhes quizesse temperar tão grave penna
como minha mercee fosse em tal maneira, que elles podessem haver mantimento,
e fazer a mim serviço.

1
IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 36-36v.
Chancelarias Portuguesas: D. Pedro I, Doc. 369, pp. 147-148.
2
Falta no registo da Chancelaria.
3
Falta no registo da Chancelaria.
4
“todollos”, no registo da Chancelaria.
5
“graue”, no registo da Chancelaria.
6
No registo da Chancelaria.
7
“serujço”, no registo da Chancelaria.

341
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

2 – E eu veendo o que me enviarom pedir, querendo-lhes fazer graça, e merce,


nom embargando o dito meu *mando*[1], que sobre tal razom foi *feito*[2]; tenho
por bem, e mando, que aquelles Judeos, que minhas Cartas mostrarem, *e*[3] que
ajam de fazer os ditos contrautos, que os façam chãaos, ou desaforados como às
partes aprouver, e quer sejam chãaos, ou desaforados, que nom ponhão em elles
pennas *algumas*[4].
3 – E daqui en diante quando esses Judeos, ou Judias quizerem *contrautar*[5]
com Chrisptãos, *e Chrisptãas*[6], seja a ello presente o Juiz, se a ello (presente)
[7]
poder seer, (ao qual Eu mando que se nom escuse dellos, salvo se ouver
alguum embargo tal, per que nom possa a ello seer presente; ca se eu achar
que se dello escusa maliciosamente, eu lho estranharei mui gravemente)[8]: e
nom podendo a ello seer (presente,)[9] mande a huum Tabellião, que stê a *ello*[10]
presente com outro Tabellião, que o contrauto ouver de escrever aa custa do
Judeo, e tres homeens boos Chrisptãos, que *ao dito contrauto*[11] sejão presentes
(por testemunhas,)[12] ao menos; e entregue logo esse Judeo a cousa, que vender,
(se cousa for, que se possa logo entregar,)[13] ou o preço da cousa, que comprar, ou
qualquer outra cousa, de que quiser fazer o contrauto.
4 – E essa cousa, ou preço *entregada*[14], (ou nom,)[15] seja dado juramento pelo
(Juiz, ou)[16] Tabellião, que o contrauto escrepver aas partes, que esse contrauto
antre sy quiserem fazer, a cada huum em sua Ley (quando esse contrauto
fezerem antre Chrisptão e Judeo,)[17] que digam se o dito contrauto, pela guisa
que o mandaarom fazer, he boom, e verdadeiro, sem onzena, e conluyo nenhuum
(d’onzena;)[18] e se polo dito juramento disserem, que o dito contrauto he boom, e
verdadeiro, e sem onzena, e conluyo d’onzena, como per elles he razoado, entom
o dito Tabellião presente (o dito Juiz, ou outro Tabellião quando o dito Juiz hy
nom poder seer, e)[19] as ditas testemunhas, escrepva o dito contrauto com o dito
juramento, que as ditas partes sobr’ello fezerem; e outro sy como essa cousa, ou
preço [della][20] foi entregue ao devedor, (ou nom, se cousa for, de que se logo
nom possa fazer entrega)[21] e os contrautos, que se em esta guisa fezerem, mando
que valham, e d’outra guisa nom.

1
“mandado”, no registo da Chancelaria.
2
“posto”, no registo da Chancelaria.
3
“per”, no registo da Chancelaria.
4
“nehuas”, no registo da Chancelaria.
5
“fazer contractos”, no registo da Chancelaria.
6
“ou com outras quaaesquer pesoas”, no registo da Chancelaria.
7
Falta no registo da Chancelaria.
8
Falta no registo da Chancelaria.
9
Falta no registo da Chancelaria.
10
“esso”, no registo da Chancelaria.
11
“a ello”, no registo da Chancelaria.
12
Falta no registo da Chancelaria.
13
Falta no registo da Chancelaria.
14
“entregue”, no registo da Chancelaria.
15
Falta no registo da Chancelaria.
16
Falta no registo da Chancelaria.
17
Falta no registo da Chancelaria.
18
“de sisa”, à margem no registo da Chancelaria.
19
Falta no registo da Chancelaria.
20
No registo da Chancelaria.
21
Falta no registo da Chancelaria.

342
José Domingues

5 – E se despois acontecer que esse Chrisptão, com que esse contrauto for feito,
provar per seu juramento, e *per*[1] huma testemunha *Chrisptãa, ou Judia de
creer*[2], (seendo essa parte tal, que o Juiz entenda que em tal caso deva seer
creúda per seu juramento, e quando tal pessoa nom for, e provar per duas
testemunhas Chrisptãaos, ou Judeus, ou per huum Chrisptãao, e per huum
Judeu dignos de fee, e creer,)[3] que esse contrauto foi, e he onzaneiro, e ouve em
elle onzena, ou outro [alguum][4] engano (de usura)[5], mando que o Judeu, cujo
este contrauto for, que o perca; e o Chrisptãao, que em elle for obrigado, seja delle
quite; e a Justiça do Lugar, hu esto acontecer, faça logo entregar esse contrauto ao
(dito)[6] Chrisptão; *e tome dos beens do dito Judeo, cujo o contrauto for, outro
tanto, quanto montar no dito contrauto*[7], (e o entregue pera mim ao Almuxarife
do Lugar, hu esto acontecer, perante o meu Escripvam)[8].
6 – E o Judeo nom aja porem outra penna nenhuma (pola primeira vez, que lhe tal
razom como esta acontecer; e pola segunda vez como pela dita guisa a conthia
dobrada de qualquer contrauto; e pola terceira vez tome pera mim pela guisa
suso dita aquello, que montar no dito contrauto de qualquer cousa, que seja por
huma cousa quatro; e dês as tres vezes en diante aja tal penna, como dito he na
terceira vez)[9].
7 – *E*[10] o Chrisptãao outro sy nom seja theudo a penna *alguma*[11] por esse
juramento, que fez quando o [dicto][12] contrauto foi feito, porque acusou, e
descubrio despois a verdade do dito contrauto. (E em cada huma das ditas
segunda, e terceira vezes, e por todalas outras seja o Chrisptãao livre, e quite do
dito contrauto, e entregue delle pela Justiça da terra pela guisa, que dito he na
primeira vez)[13].
8 – E per esta meesma guisa se faça nos [outros][14] contrautos, que os ditos Judeos
fezerem, ou cada hum delles com *os Chrisptãaos*[15] em razom das compras, e
vendas das herdades.
9 – E quanto he em razom das rendas, e afforamentos, e emprazamentos, e
parçarias delles, mando, que as façam pela guisa, que as fazem os Chrisptãaos
huns com os outros, (salvo que façam juramento em elles pela guisa, que o ham
de fazer nos outros contrautos sobreditos)[16] *em tal maneira*[17], que nom aja hi
onzena, ou conluyo, ou engano (d’onzena)[18].

1
“com”, no registo da Chancelaria.
2
“digna de creer ou per huum judeu”, no registo da Chancelaria.
3
Falta no registo da Chancelaria.
4
No registo da Chancelaria.
5
Falta no registo da Chancelaria.
6
Falta no registo da Chancelaria.
7
“com outro tanto quanto em esse contracto montar dos beens do Judeu cujo esse contracto for”, no registo
da Chancelaria.
8
Falta no registo da Chancelaria.
9
Falta no registo da Chancelaria.
10
“nem”, no registo da Chancelaria.
11
“nehuma”, no registo da Chancelaria.
12
No registo da Chancelaria.
13
Falta no registo da Chancelaria.
14
No registo da Chancelaria.
15
“quaaesquer pesoas”, no registo da Chancelaria.
16
Falta no registo da Chancelaria.
17
“de guisa”, no registo da Chancelaria.
18
Falta no registo da Chancelaria.

343
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

10 – E se despois esses Chrisptãaos provarem pela guisa suso dita, que ouve em
elles onzena, ou conluyo [alguum][1] de onzena, ou outro engano (de usura)[2],
mando que o dito contrauto nom valha, e o Chrisptãao fique dello quite; e as
Justiças dos Lugares, hu esto acontecer, lhe fação logo entregar o dito contrauto, *e
pera mim*[3] outra tanta quantia, quanta montar em cada huum desses contrautos,
pelos beens do Judeo, que esse contrauto fezer, (como dito he, e nom aja porem
outra penna)[4]: e se o Judeo nom tever beens que (per sy, nem per outrem nom)
[5]
[logo][6] possa fazer entrega ao Chrisptãao, (e a mim dos ditos contrautos, e
das penas que lhe per ello mando dar)[7] [do que montar nos dictos contractos]
[8]
pela guisa, que dito he, seja logo preso [esse judeu][9], e nom seja solto ataa que
o entregue, (ou lhe eu mande dar por ello outra penna, qual eu vir que merece,
e no feito couber)[10]. [E se o christaão nom qujser leuar do judeu a conthia dos
dictos contractos ou a qujtar pague a mjm essa conthia per os seus beens][11]
11 – (E mando aos Chrisptãaos, que em os ditos contrautos, que com os ditos
Judeos fezerem, que se nom acusarem, ou demandarem o engano, e onzena,
e usura, que entenderem de provar pela guisa suso dita, que lhes pelos ditos
Judeos foi feita nos ditos contrautos, que com elles fezerom, do dia que os ditos
contrautos forom feitos ataa dez annos, que nom ajam pera esto lugar d’hy em
diante; e posto que os despois dos ditos dez annos queirão demandar, e acusar,
como dito he, que lhes nom valha. E mando, que nos ditos dez annos cada huum
do Povoo possa acusar esso meesmo, que a parte acusaria, se quisesse, e aja pera
sy a quarta parte da pena, que eu desse contrauto pera mim hei d’aver)[12].
12 – E mando aos Tabelliães do meu Senhorio, que pela guisa suso dita façam
[todollos][13] os ditos contrautos, [que os dictos judeus qujserem fazer com
quaaesquer pesoas ][14] e sejão valiosos [E se os doutra guisa fizerem que nom
ualham nem os façam esses tabeliaães doutra guisa sob pena dos corpos E
ante que façam esses contractos ueiam as cartas que esses judeus teuerem de
mjm pera poderem fazer contractos de guisa que nom possam fazer os dictos
contractos se minhas cartas nom tiuerem e mostrarem quando esses contractos
ouuerem de fazer E pera seer certo se maliciosamente e com engano fazem esses
contratos nom teendo sobre ello mjnhas cartas e mostrando outras doutros
judeus que assy ham nome como elles E os judeus que em tal malicia e engano
forem achados Mando que seiam logo presos e as justiças dos lugares hu esto
acontecer mo enujem dizer pera lhes mandar eu como sobre ello façam
E esta graça suso dicta faço aos dictos judeus nom embargando o dicto meu
mandado e penas e defesas que per el rrey meu padre e per mjm forom postas
em razam dos dictos contractos

1
No registo da Chancelaria.
2
Falta no registo da Chancelaria.
3
“com”, no registo da Chancelaria.
4
Falta no registo da Chancelaria.
5
Falta no registo da Chancelaria.
6
No registo da Chancelaria.
7
Falta no registo da Chancelaria.
8
No registo da Chancelaria.
9
No registo da Chancelaria.
10
Falta no registo da Chancelaria.
11
No registo da Chancelaria.
12
Falta no registo da Chancelaria.
13
Falta no registo da Chancelaria.
14
No registo da Chancelaria.

344
José Domingues

E mando todallas Justiças dos meus regnos que façam comprir e guardar estas
cousas e cada huma dellas pella guisa que em esta mjnha carta he contheudo
e que a façam registar aos tabaliaães em seus liuros e a façam leer e pubricar
nos concelhos na primeira domaa de cada huum mes pera seerem os dictos
christaãos bem certos de como os dictos contractos ham de fazer de guisa que
nom ache eu hi al despois
vmde as dictas justiças e tabeliaães al nomm façam senom seiam certos que aos
seus corpos e aueres me tornarey eu porem][1]
*E em testemunho desto lhes mandei dar esta minha Carta*[2]. Dante *na Cidade
d’Evora a cinquo dias de Outubro.*[3] ElRey o mandou per Johanne Esteves seu
Vassalo, (e Veedor da sua Fazenda/Chancellaria.)[4] Gonçalo *Peres*[5] a fez Era
de *mil e trezentos e noventa e nove annos*[6].

13 – E despois desto ElRey Dom Eduarte meu Senhor, e Padre de gloriosa memoria
em seu tempo deu huma carta Patente seellada do seu sello pendente aa Comuna
dos Judeos da Cidade de Lixboa, da qual o theor tal he.

(…)

17 – A qual Ley, e Carta suso ditas vistas per nós, louvamos, e consiramos, e Man-
damos que se guarde, e cumpra como em ella he contheudo.

LXXXVIII – Que nom valha testemunho de Chrisptãao contra Judeo sem testemunho de
Judeu, e o Juiz valha contra elles no que se passar perante elle.[7]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 193-194]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 174-175]
[Foros de Beja, fls. 71-71v]

ElRey Dom Donis da famosa memoria em seu tempo fez huma Ley em esta forma,
que se segue.

1 – (Dom Donis per graça de Deos Rey de Purtugal, e do Algarve. A quantos


esta carta virem faço saber, que Guadelha Arraby Moor dos meus Regnos me
mostrou huma minha Carta, de que o theor tal he.)[8]

1
No registo da Chancelaria.
2
“E os dictos judeus tenham esta carta”, no registo da Chancelaria.
3
“em Portalegre viijª dias de Junho”, no registo da Chancelaria.
4
Falta no registo da Chancelaria.
5
“paaez”, no registo da Chancelaria.
6
“mjl iijc lRix annos”, no registo da Chancelaria.
7
“Carta que nom deue ualer testemunho de christãao contra Judeu sem outros Judeus”, título no LLP.
“Como Ell rrey manda que nenhum cristãoo faça contrauto com Judeu senom perante Judeus E cristãaos”,
título nas ODD.
“ley que os crestãaos non deuem ualer seu testemuyo contra judeo senom com outros judeos”, título nos
Foros de Beja.
8
Falta no LLP e ODD.

345
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

2 – Dom Donis *per graça de Deos Rey de Purtugal, e do Algarve.*[1] A todalas


Justiças dos meus Regnos saude. Sabede, que os Judeos dos meus Regnos xe me
enviarom queixar, que vos, e vossos Concelhos lhes fazedes muitos *aggravos*[2],
e desaforamentos [assy][3] como nom devedes; e que catades contra elles, e contra
seus averes [e assy como nom deuedes][4] muitas carreiras em muitas guisas,
per que perdem muitos dos seus direitos; e que outro sy lhes perlongades seus
feitos de guisa, que despendem hi mais do que a *demanda*[5] (val)[6]; e que nom
podem aver aquello, que lhes devem, nem fazer a mim meu serviço, assy como
eu tenho por bem; e que lhes nom guardades suas Cartas, que teem minhas, e de
meu Padre, e de meus Avoos, e que lhes hides contra ellas; e que queredes que
provem contra elles, e contra seus averes per Chrisptãaos sem Judeos. E esto nom
tenho eu por bem, se assy he; porque vos mando que vos nom os agravedes, nem
desaforedes, (nem vaades contra elles, nem lhes passedes suas Cartas, que teem
minhas, e de meu Padre, e de meus Avoos; e mando que)[7] nom valha contra
elles, nem contra seus averes nenhum testemunho em nehuma couza, senom per
Chrisptãaos, e Judeos.
[Outrossy uos mando que façades apregoar per uossas uilas e termhos que
nenhuum christãao nom faça enprestido nem malleua a Judeu nem lhi pague
deujda que lhi deua ssenom perdante christãaos e Judeus e que lhis nom
paguem nenhuma Rem nas aldeas hu (nom)[8] morarem Judeus E mando que sse
alguum Judeu morar en alguum logar hu nom morar outro Judeu que as pagas
e as malleuas ou enprestidos que fezerem que lhis os christãaos (ou eles aas
christãas)[9] fezerem que sseia per *scripto*[10] dos tabelljões ou *seus*[11] seelos
dos Concelhos com testemunho domeens boons e assy mando que ualha (e
doutra guisa nom)[12].][13]
[14]
3 – Item. Xe me aqueixarom que alguuns Chrisptãaos querem provar contra elles,
e contra seus averes per Chrisptãaos sem Judeus nas demandas, ou preitos, que
passão *com*[15] elles em concelho perante *vos,*[16] ou perante os Tabelliãaes. Sobre
esto tenho por bem, e mando, por hi nom aver burla, nem delonga, nem engano,
porque os Judeos nom *seem*[17] [sempre][18] em concelho, que os Tabelliãaes
escrepvam todallas demandas, ou feitos, que os Judeos ouverem (com Chrisptãaos)

1
“E cetera”, nas ODD.
2
“agrauamentos”, no LLP e ODD.
3
No LLP e ODD.
4
No LLP e ODD.
5
“diujda he”, nas ODD.
6
Falta no LLP.
7
Falta nas ODD.
8
Falta nas ODD.
9
Falta nas ODD.
10
“Scriptura”, nas ODD.
11
“sob”, nas ODD.
12
Falta nas ODD.
13
No LLP.
14
Até aqui, os Foros de Beja resumem os parágrafos anteriores, abaixo transcritos.
15
“contra”, nas ODD.
16
“as justiças”, nos Foros de Beja.
17
estem A. “seem”, no LLP, ODD e Foros de Beja.
18
Nos Foros de Beja.

346
José Domingues

[1]
perante *vos*[2], aquelles que forem em maneira de Juizo, ou de *quitaçom*[3],
ou d’entrega (de pagamentos, (ou de corregimento)[4] sobre quaeesquer cousas,
de guisa)[5] que se nom possa despois negar, nem vir por razom (de duvida)[6]
a outra prova; e essa Escriptura pague cada huma das partes, assy como fezer
a seu feito; e quando alguum Judeu em concelho se *ver*[7], *mando*[8] que os
Tabelliãaes o ponhão hi por testemunha *polos*[9] outros homeens boons, que hi
*se verem*[10] quanto he nos feitos, (que forem)[11] antre Chrisptãaos, e os Judeos.
4 – Pero mando que os Juizes (possão seer testemunhas antre elles, em quanto
forem Juizes,)[12] em aquellas cousas, que antre elles julgarem, ou se fezerem em
maneira de Juizo.
5 – E assy mando que valha esto antre vós, e elles, e em outra guisa nom[13], e vós
assy o fazede guardar; e al nom façades, senom a vós me tornarei eu porende: e
mando aos Tabelliãaes, que registem esta carta, (e que a leam em concelho huma
vez cada domaa; e mando que os meus Judeos tenham esta carta (em testemunho)
.) Dante em Coimbra primeiro dia de Janeiro. *ElRey o mandou per sa Corte.
[14] [15]

Esteve Annes a fez*[16] Era de mil e *trezentos e trinta e dois*[17] annos.


6 – (E disserom-me, que esta carta que lha aguardavão em todo meu Senhorio, e
que lha nom queriam guardar nas minhas audiencias; e pedirom-me por mercee,
que lha mandasse aguardar nas ditas minhas audiencias: porque tenho por bem,
e mando, que a dita minha carta seja guardada nas audiencias, como em todo
meu Senhorio, assy como em ella he contheudo; a qual carta logo foi leúda, e
publicada em Santarem nas minhas audiencias aos vinte e dois dias de Julho Era
de mil e trezentos e sessenta e dois annos perante o meu Sobre-Juiz, e perante os
meus Ouvidores da minha Corte; e em testemunho desto lhes mandei dar esta
minha carta com o dito theor. Dante em Santarem a vinte e sete dias de Julho.
ElRey o mandou per Joham Lourenço, e per Estevom Ayres seus Vassalos. Pero
de Valença a fez Era de mil e trezentos e sessenta e dois annos.)[18]

7 – E nós adendo, e declarando em a dita Ley, hordenamos, e mandamos que


aja lugar, quando for contenda antre Chrisptãao, e Judeo, e o Chrisptão quizer
dar em prova outro Chrisptãao contra Judeo; e se em esse caso o Judeo quiser
dar por testemunha alguum Chrisptãao, possa-o fazer, e valha seu testemunho
contra Chrisptãao sem outro testemunho de Judeo; e querendo esse Judeo dar por
testemunha outro Judeo contra o dito Chrisptãao, nom o poderá fazer, nem valha
seu testemunho, salvo dando com esse Judeo outro Chrisptãao por testemunha.

1
Falta nas ODD.
2
“a justiça”, nos Foros de Beja.
3
inquiriçom S. “quitaçom”, no LLP, ODD e Foros de Beja.
4
Falta nas ODD.
5
Falta no LLP.
6
Falta nas ODD.
7
estever A. e S. “ueer”, no LLP e ODD.
8
“achado”, no LLP.
9
“com nos”, no LLP, ODD e Foros de Beja.
10
nom estiverem A. “sse uerem”, no LLP, ODD e Foros de Beja.
11
Falta nos Foros de Beja.
12
Falta nas ODD.
13
Termina aqui o diploma dos Foros de Beja.
14
Falta no LLP.
15
Falta nas ODD.
16
“pobricada foy pellas audiençias na corte dell Rey Steuam anes a fez” nas ODD.
17
tres A. “iijc e xxij”, no LLP. “1324”, nas ODD.
18
Falta no LLP e ODD.

347
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

8 – E se for contenda antre Judeo, e Judeo, em tal caso poderá cada hum delles dar
por testemunha Chrisptãao contra Judeo, e vallerá seu testemunho, assy como se
fosse antre Chrisptãao, e Chrisptãao.
9 – E em todo caso, honde for contenda antre Chrisptãao, e Chrisptãao, vallerá
testemunho de Judeo com outro testemunho de Chrisptãao, e o testemunho do
Judeo soo nom vallerá, salvo per consentimento daquelle, contra que for dado por
testemunha: pero seendo alguum feito crime tão grave, que caiba em elle pena de
corpo, e seendo cometido em lugar hermo, ou solitario, ou de noite a tal tempo,
que nom possa seer visto, ou testemunhado per alguum Chrisptãao, em tal caso
mandamos que fique em Juizo dos Julgadores, esguardando a qualidade do mal-
leficio, e o tempo, e lugar honde foi feito, e a condiçom do Judeo, que he dado
por testemunha, e assy recebam, ou reprovem seu testemunho, segundo lhes bem
parecer, e acharem per direito.
10 – E com esta declaraçom assy per nos feita mandamos que se guarde a dita Ley
d’ElRey Dom Donis, segundo em ella he contheudo, e per nos adido, e declarado,
como dito he.

A primeira parte dos Foros de Beja, redigida na terceira pessoa, é a seguinte:

Era de mil e trezentos e trinta e doos annos. Estabeleceu elrey dom denys e mandou
que nom ualesse contra judeos nem contra seos aueres nenhuum testemunho
em nenhuma cousa senom per cristãao e judeu. Outrossy mandou que fezessem
apregoar todalas justiças per sãs uilas e per seos termhos que nenhuum cristãao
nom fezesse emprestido nem mãleua a judeu nem lhy pague diuida que lhy
deua se nom per ante cristãaos e judeos. E que lhys nom paguem nenhuma rem
nas aldeyas hu nom morarem judeos. E mandou que se alguum judeu morar
em alguum logar hu nom morar outro judeu que as pagas ou as mãleuas ou os
emprestidos que os cristãaos ou eles aos cristãaos fezerem que Seia per scritura
dos taballiões ou sob seelo dos conçelhos com testemuyo domeens boons.

10º

LXXXXVI – Que nenhum Judeu nom faça contrauto onzaneiro com Chrisptão, nem com
outro Judeu.
[Cortes D. Afonso IV, pp. 113-115
[Ordenações de D. Duarte, pp. 444-445]

ElRey Dom Affonso o Quarto em seu tempo fez huma Ley, de que o theor tal he.

1 – Todolos Reyx, e outros quaeesquer Princepes que Chrisptãaos som, devem


fazer muito, *por serem*[1] guardados os Mandados de Deos, e consirar muito os
caminhos, per que o serviço de Deos per elles seja acrescentado, e os seus sobgeitos
bem regidos nas cousas Temporaaes, e muito mais em aquello, que *tange a*[2]
salvaçom de suas almas. Porem nós Dom Affonso o Quarto pela graça de Deos Rey
de Purtugal, e do Algarve, havendo sempre voontade d’acrescentar o serviço de

1
“en sseerem”, nas Cortes.
2
“trazem”, nas Cortes.

348
José Domingues

Deos, de que todo *bem*[1] recebemos, e querendo aproveitar aos beens temporaaes,
e muito mais aas almas daquelles, que nossos sobjeitos som, e veendo que algumas
cousas, que usaarom em nosso Senhorio em tempo *de nossos*[2] predecessores,
que eram em desserviço de Deos, e em dapno dos beens temporaaes, e das almas
dos nossos sobjeitos: Querendo a esto aver remedio, de Conselho dos da nossa
Corte estabelecemos, e hordenamos as Leys, que se adiante seguem.[3]
2 – Porque onzenar, e fazer contrautos usureiros he contra o mandado de Deos, e
(em dapno)[4] das almas daquelles, que *delles*[5] usam, e estragamento dos bens
daquelles, *contra que se usam de poer*[6]: porem estabelecemos, e *ordenamos*[7]
por Ley, que nenhuum Chrisptãao, [nem mouro][8] *ou*[9] Judeu nom onzene, nem
faça contrauto usureiro per nenhuma guisa que seja.
3 – E porque alguuns mais com receo de perder seus beens, [mays][10] que por
temor de Deos, se cavidarom d’husar desto: Porem mandamos, e (defendemos,
e)[11] estabelecemos, que se provado for pelo devedor contra alguum creedor, que
despois (da poblicaçom)[12] desta Ley onzenou, ou fez contrauto usureiro com el,
aquelle creedor, contra que provado for, nom aja auçom (nenhuma)[13] contra o
devedor assy no principal, como na usura. E se per ventura o devedor ante que
prove, que no emprestido ouve onzena, ou que o contrauto foi usureiro, pagar ao
credor todo, ou parte daquello, em que (parecia, que)[14] era obrigado, mandamos
que se quizer provar, que em aquelle emprestidoo houve onzena, ou que o
contrauto foi usureiro, seja recebido aa prova guardando a hordem do Juizo; e se
o provar, o creedor lhe entregue todo o que delle recebeo assy o principal como
a usura.
4 – E porque aquelles, que *emprestado*[15] tiram, ou fazem outros contrautos, por
muito mesteirosos que som, segundo as vontades dos creedores, porque ajam razom
de lhes *acorrerem*[16] com aquello, que lhes compre, fazem muitas confissõoes do
que nom he, e renunciam os direitos, que os ajudam contra aquellas confissõoes,
que fazem; porem estabelecemos, que se alguum confessar, que recebeo alguum
emprestidoo, *e ataa sassenta dias*[17] queira dizer que o nom recebeo, posto que
o confessasse, mandamos que o possa dizer, e que seja a ello recebido, segundo ja
per nós, e per nosso Padre (esto)[18] foi mandado. E se acontecer, que o devedor a
este mandado dos *sesseenta*[19] dias renunciar, dizendo em tempo do contrauto

1
“aquelo que auemos”, nas Cortes.
2
“dos”, nas Cortes.
3
Este parágrafo falta nas ODD.
4
Falta nas Cortes.
5
“daquelo”, nas Cortes e nas ODD.
6
“que assj usam”, nas Cortes e nas ODD.
7
“poemos”, nas ODD.
8
Nas Cortes e nas ODD.
9
“nem”, nas Cortes e nas ODD.
10
Nas Cortes. “mouijs”, nas ODD.
11
Falta nas Cortes e nas ODD.
12
Falta nas ODD.
13
Falta nas Cortes.
14
Falta nas Cortes e nas ODD.
15
“enprestidos”, nas Cortes e nas ODD.
16
“acreerem (sic)”, nas Cortes e nas ODD.
17
“que aJa Lx dias pero”, nas ODD.
18
Falta nas ODD.
19
“Lx”, nas ODD.

349
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

que renuncia ao direito, que diz, que ante dos *sesseenta*[1] dias possa vir contra a
(sua)[2] confissom, mandamos que tal renunciaçom seja nenhuma.
5 – E pera nom averem os homeens razom de se estragar contendendo, [que]
[3]
se tal renunciaçom como esta, achando-a escripta pelos Tabelliãaes, vallerá
ou nom; (porem)[4] estabelecemos, que os Tabelliãaes a nom escrepvam, nem os
Escripvãaes das nossas audiencias, nem outros quaeesquer, que taaes obrigaçõoes
ajam de fazer: e se contra esto forem, ajam pena de falsarios.
6 – E porque os homeens acham muitos caminhos pera usarem de malicias, e a nós
perteence de *as tolher*[5], consirando que alguuns devedores sob *collor*[6] desta
nossa Ley perlongam as dividas aos creedores dizendo, que os contrautos eram
usureiros, como quer que o nom fossem; porem estabellecemos, que se o tempo, a
que a divida deve seer pagada, for passado, demandando-a o creedor, e o devedor
digua, que o emprestidoo, ou contrauto foi usureiro, nom *embargando*[7]
*esso*[8] que diz, o Juiz, perante que o feito for, filhe aquello, em que achado for
que o devedor he obrigado, se outro direito por sy nom poser, e ponha-o em
mãao de dous homeens boons; e se despois for provado (pelo devedor,)[9] que
o emprestidoo, ou contrauto foi usureiro, o dito Juiz lhe faça entregar o que lhe
tomou; e se o per ventura provar nom poder, entom seja entregue *de sua*[10]
divida o creedor com todalas perdas, [E custas][11] e dapnos, que xe lhe por a dita
razom seguirem.
[E esta lej foy pobricada Em lixbooa por mestre Pedro E mestre gonçallo das leis
uasallos del rrej E per pero do sem ueedor da chançelaria primeiro dia d’abrill
Era de mjll E iijc satenta E oito annos][12]
[Era de mil trezentos Seteenta e ojto annos. Sabado primeyro dias(sic) de Julho
em Lixbõa forom pobricadas estas Leis per Pero do ssem Chanceler d el Rey
presentes Meestre Pedro e Meestre Gonçalo das Leis E outros mujtos da merçee
dEl Rey gram peça de Poboo do sseu senhorio][13]

7 – A qual Ley vista per nós, avemos por boa, e mandamos que se guarde assy
como em ella he contheudo: pero declarando acerca della na segunda parte, em
que falla dos que fazem muitas confissõoes daquello, que nom he, renunciando os
direitos, que os ajudam contra aquellas confissõoes, que assy fazem, dizemos que
aja lugar nos contrautos feitos antre os Chrisptãaos, ou antre Chrisptãao, e Judeu,
em que o Judeu faça alguma confissom daquello, que nom he em favor do Chrisp-
tãao; e quando o contrauto for feito antre Chrisptãao, e Judeu, em que o Chrisp-
tãao faça tal confissom contra si em favor do Judeu, mandamos que se guarde a
Ley, que a diante he escripta, feita pelo dito Rey Dom Affonso em tal caso.

1
“Lx”, nas ODD.
2
Falta nas Cortes e nas ODD.
3
Nas ODD.
4
Falta nas Cortes e nas ODD.
5
“os costrenger”, nas Cortes e nas ODD.
6
“teor”, nas Cortes e nas ODD.
7
“obrigando”, nas ODD.
8
“o”, nas Cortes e nas ODD.
9
Falta nas ODD.
10
“dessa”, nas Cortes.
11
Nas ODD.
12
Nas ODD.
13
No final do documento das Cortes.

350
José Domingues

Livro III
“Ate qui no segundo livro havemos tratado d’alguumas Ordenações do Regno
feitas per os Reys, que ante Nós forão, e per Nós. E porque a principal virtude das
Leys está na execução dellas, a qual sem pratica de hordenado Juizo, não pode
ser trazida à boa perfeição, porem entendemos ao diante em este terceiro Livro tratar
dos Autos judiciaes, e ordem, que acerqua delles se deve ter, e porque o primeiro Auto do
juizo se funda, e começa em citar huuã parte aa outra, entendemos falar primeiramente
das Citaçoens”.[1]

No final da História do Direito de Caetano, ao tratar-se do processo civil, analisa-se,


com o devido rigor, a orgânica interna deste livro III. Para lá se remete, reservando‑nos
burilar apenas alguns aspectos mais curiosos e relevantes, que se prendam com a
Compilação em si.
Começa este livro, conforme apalavrado na nota introdutória, com a regulamentação
da citação. Um pormenor curioso, que continua por averiguar satisfatoriamente, é o
da citação per palha. Teófilo Braga, no último quartel do século XIX, a par deste tipo de
citação, menciona também a estipulação por troca de palha, arrolando alguns documentos
e interessantes expressões populares alusivas[2]. Para a estipulação apoia‑se nos subsídios
documentais dos forais e dos capítulos especiais de Santarém de 1323; para a citação
refere apenas o título 19 do livro I das Afonsinas, a que se pode sempre acrescentar o
título 1 deste livro III.
Mas será que o termo palha, no contexto processual medieval, era utilizado com o
sentido que conhecemos na actualidade, de colmo das plantas gramíneas? Ou teria outro
sentido diferente? Penso que vale a pena transcrever a nota de Caetano:

“A palha é tão frágil, e a representação da justiça por uma vara de madeira ou


fuste (como se lê em lei de D. Afonso II, L.L.P., pág. 12: «se nosso porteiro quer
com fuste, quer com letras, ou per si) parece tão lógica que não é de excluir a
hipótese, formulada no Dicionário de Fr. Domingos Vieira, de a palha aparecer nos textos
por confusão com a abreviatura palba, de palavra, significando a citação oral (por oposição
às letras) de que se deixava sinal do juiz, em vez da carta. Isso explicaria o que se lê nas
O.A., III, 1, quanto ao facto de esse tipo de citação ser no século XV reservado a
certos magistrados superiores, fundado no muito trabalho deles, o que impediria
a utilização do porteiro e as formalidades que ela implicava”[3]

Esta hipótese, deveras aliciante, não me parece de todo procedente. Primeiro,


porque no dizer do título 19 do livro I “se alguma parte quizer citar per palha, e nom per
Porteiro, deve requerer ao Corregedor, e elle lhe dará palha pera citar”. Segundo, porque nos
foros e costumes de Porto de Mós – ratificados por D. Dinis a 27 de Julho de 1305, em
Lisboa – se consigna que “a testaçom que fezer o moordomo faça o testemuynho d homens
poendo huã palha na porta. E aquel que lha britar peite LX.ª soldos se lhy for procurado per

1
Ordenações Afonsinas, Liv. III, Início.
2
Teófilo BRAGA, O Povo Português nos Seus Costumes, Crenças e Tradições, Publicações D. Quixote Portugal
de Perto, 2.ª edição, 1994, vol. I, p. 206 (1.ª edição de 1885): “O símbolo da estipulação, pela troca da palha
(stipula festuca) aparece nos nossos Forais, nos Capítulos especiais de Santarém, de 1323 sob a designação
de Palha de fuste, a qual se dividia entre o credor e o devedor; já se não pratica o acto, mas ainda existe a
expressão abstracta alusiva, como arrematação e entregar o ramo, e nas Ordenações Afonsinas (liv. I, tít. 19)
há a citação per palha. Na linguagem popular encontramos a locução referente à pessoa que se enfurece por
dá cá aquela palha usada por Jorge, e também tirar palha com alguém, significa puxar palavra, inquietar”.
3
CAETANO, História do Direito, p. 391, nota 3.

351
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

homens boons”[1]. A palha era transmissível, posta na porta e podia ser britada, logo,
teria que ser algo de material, não podendo corresponder à efémera citação oral.
Concluindo, se, por um lado, repugna aceitar que a palha da citação fosse um simples
colmo de gramínea, por outro lado, não se pode identificar com algo abstracto como a
palavra. Será palha uma designação, perdida na roda do tempo, para um determinado
documento solene?
Deixemos este detalhe. Caetano apercebe-se que, por exemplo, em matéria de
recursos “a maior parte dos títulos (…) é redigida em estilo legislatório, como se vê do título
75 ao 85”[2]. Mas, para além do âmbito dos recursos, todo o livro III não é escasso em
estilo legislatório. Uma breve sondagem aos seus títulos revela que, num total de 128, só
46 (quase um terço) se podem atribuir ao estilo compilatório. Para talhar os 82 títulos de
estilo legislatório, Fernandes recorre a uma multiplicidade de fontes, desde os ramos de
direito Romano, Canónico e Comum, à opinião dos Doutores, às ordenações antigas ou
ao antigamente ordenado, aos costumes antigos, estilos da corte, etc… Este detalhe, de
alguma forma, vem atenuar a apregoada diferença redactorial em relação ao livro I.
Para o livro III, um dos títulos que me parece merecedor de um cotejo, com os
documentos que me foi possível situar, é o título 15. Aqui se combina uma série de
fontes legislativas, de uma forma muito semelhante ao que se fez no livro I para o regi-
mento dos corregedores. Uma dessas fontes terá sido uma concórdia, que Pereira de
Castro atribuiu a D. Afonso III. No entanto, essa adjudicação foi contestada por João
Pedro Ribeiro – secundado por Herculano – alegando com as referências ao Livro Sex-
to, que só teria sido concluído no reinado de D. Dinis (por isso, identifico esse docu-
mento como D. Dinis (conc.), sem data).

XV – Em que casos os Clerigos devem seer citados pera a Corte, e hi responder.[3]

Nos Livros da Nossa Chancellaria forão achados certos Artiguos, e casos, em que,
segundo custume antigo, os Cleriguos devem responder perante ElRey, e suas
Justiças Sagraes; os quaes são estes, que se ao diante seguem.

1 – *Primeiramente per grandes tempos foi, e he acordado por Nós


D. Dinis com os do nosso Conselho, que se alguum Clerigo à nossa Corte
(Conc.) viesse, ou andando hi, ouvesse alguuma moça de virgindade, ou na
Art.º 5º Villa e Termo, honde Nós formos, ora seja per força, ou per sua
vontade, será citado, e demandado perante as nossas Justiças,
quanto pertence a lhe correger sua injuria, e casamento civelmente;
e quanto ao Crime, entregualo-ão a seu Juiz Ecclesiastico, depois que a parte for
satisfeita*.[4]

1
IAN/TT – Chancelaria D. Dinis, Liv. III, fls. 45-46.
2
CAETANO, História do Direito, p. 585. O itálico é nosso.
3
“aqui sse começam os artigos e ordinhaçom em como os clérigos deuem a Responder e a demandar per-
dante ElRey ou perdante os Jujzes leygos”, título no LLP, p. 57.
4
As fontes deste artigo:
“Se alguum clérigo dordeens meores casa com molher uigem e trage aujto de clerjgo este em todalas cousas
he da Juridiçom dElRey e deue a Responder perdante ElRey ou perdante sseu Juiz leygo ssaluo sse alguem
ferir sseera escomungado ou se for damandado cremjnalmente de fecto de crime entom deue a Responder

352
José Domingues

2 – Item. Arcebispos, Bispos, Abbades, e Priores, e outras pessoas Religiosas,


e Cleriguos, que não ham em nossos Regnos Suprior, per todo feito cível, que
pertença a beens patrimoniaes, que elles hajão, ou devão d’aver, ou elles tenhão,
e lhos outrem quiser demandar, ou por dividas, que devão per razão de suas
pessoas, e beens patrimoniaes, ou que per alguuma guisa tenhão, e lhe pertençam,
que não sejam das Igrejas, nem pertençam a ellas, podem ser citados perante as
nossas Justiças, e Juízes leigos; e assi por alguumas malfeitorias, se as em nossa
Terra fezerem; e assy se usou sempre, porque sem rezam seria nom aver no Regno
quem delles fizesse Justiça, e direito, e por taes feitos os hirem demandar à Corte
de Roma.
3 – Item. Arcebispos, e Bispos, e Creliguos, e Frades de Ordens Sacras, e Meores, que
forem nossos moradores, ou da Rainha, ou dos Infantes, e bem assi os que vivem
com os nossos moradores, e os servirem, e aguardarem continuadamente, ainda
que Cleriguos sejam, podem ser citados, e demandados perante o nosso Corregedor
da Corte: e assi se guardou sempre por costume, o qual nos Confirmamos.
4 – Item. Se alguumas pessoas Ecclesiasticas, ou Igrejas, e Moesteiros ganharem,
ou ouverem daqui em diante alguuns beens em nossos Reguengos, ou outros
contra nossas Leys, e de nossos Antecessores, per qualquer guisa que seja, podem
ser citados perante Nós, e demandados perante as nossas Justiças, a que Nós taes
feitos cometermos: e assi se usou sempre ate ora, e he Artiguo feito em Cortes
antre Nós, e a Igreja, e os Prelados[1].
5 – Item. Se o Cleriguo *cita alguum*[2] Leiguo (perante o Juiz
D. Dinis Secular,)[3] se o Leiguo [que he demandado][4] quizer reconvir esse
(Conc.) Cleriguo [perdante ElRey ou][5] perante esse Juiz leiguo, *assi sobre
Art.º 1º cousa movel, ou raiz, como sobre injuria civelmente demandada, o
Juiz Leiguo pode desto conhecer: e assi foi determinado per Nós
com os do nosso Conselho em Cortes.*[6]
6 – Item. Se o Cleriguo de Ordens Sacras, ou Menores, casado, ou
solteiro, ou outra pessoa Religiosa guanhar Carta de segurança de Nós, ou de
nossos Meirinhos, e Corregedores das Comarquas por rezão de alguum malefício,
que tenha feito, pera estar seguro a direito perante alguum Juiz leiguo, se o esse
leiguo quiser demandar civelmente pollo mal, e semrazão, que lhe he feito, esse
Juiz pode conhecer do feito, quanto pertence ao Civel, e satisfação, e corregimento,
dapno, e custas da parte; e por o Crime seja entregue a seu Juiz Ecclesiastico: assi
o diz o Artigo feito em Cortes antre os Prelados, e ElRey Dom Diniz[7], e assi se
guardou sempre.
7 – Item. O Cleriguo pode ser citado perante o Juiz leiguo por força, que faça em
cousa alguuma movel, ou raiz, do dia, que a força for feita, ate huum anno, e hi
deve responder, e passado o anno, vaa-o citar perante seu Juiz Ecclesiastico, quem
o quiser citar: e esto he custume, e Ley do Regno[8], que sempre se guardou.

perdante seu Bispo assy como he contheudo em huma degretal de Bonifaçio que sse começa clerici no Titu-
lo *clericis conJugatis* (*de Cleric. conjugat. lib. 6* – Castro, p. 323)” [Livro das Leis e Posturas, p. 59, art.º 5º].
“Os clérigos que son casados com molheres uirgees en todalas cousas son da Juridiçom delRey e deuem
responder outrossy perdeante o Juiz leygo en todo saluo se o acusarem de cryme pera lhe darem algua pea
ou se o demandarem de crime que fassa corrigimento em auer” [Livro das Leis e Posturas, p. 131].
1
Trata-se do art.º 30º da concordata de 1427 [OA, II, 7, art.º XXX].
2
“faz demanda ao”, no LLP.
3
Falta no LLP.
4
No LLP.
5
No LLP.
6
“o clerjgo lhi deue a Responder perdante el assy como he contheudo em huma degretal que sse começa
Cuius est agendo. que he em na iijª cousa e na primeira e ijª degretal que som no Titulo denuncians pacian-
dus”, no LLP.
7
Trata-se do art.º 11º da carta sobre as demandas entre D. Dinis e o bispo e cabido de Lisboa, de 27 de Julho
de 1309 [OA, II, 4, art.º XI].
8
Vide o art.º 86º da concordata de 1427, onde se invoca tal costume e se diz que estava escrito no Livro das

353
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

8 – Item. Se o Cleriguo vender alguum herdamento a *Leiguo*[1], e *o


D. Dinis Leiguo he citado, e demandado por esse herdamento*[2] perante
(Conc.) [ElRey ou perdante][3] seu Juiz Leiguo, e o Leiguo [demandado][4]
Art.º 2º *citar* [5]
o Cleriguo, que lhe seja Author, o Creliguo o deve defender
perante [ElRej ou perdante][6] *esse*[7] Juiz leiguo, onde o leiguo he
demandado, [assy como he contheudo na grosa duma degretal que
sse começa C tilgto(?) que he na iijª cousa e na primeira castom que
he contheudo em huma ley do digesto uelho que se começa venditor no Titulo
de iudicijs][8] (se Author quiser ser à dita demanda)[9].
9 – Item. Se o Creliguo tem de Nos [alguuns][10] Herdamento [en][11]
D. Dinis Reguengo, ou [en][12] outros *beens*[13], e *o Nós mandarmos citar, ou
(Conc.) chamar por alguma cousa, que comprir a nosso serviço*[14], (elle deve
Art.º 3º
vir perante Nós, nom embarguante que depois seja citado, ou chamado
per seu Bispo; e esto porque)[15] primeiramente deve obedecer a Nós, e
vir a nosso mandado, ca he por esto de nossa jurdição [assy como he
contheudo na xxma iijª cousa na castom prestumeyra em huum
paragrafo que sse começa comparati que he no Titulo de apellacionibus][16].
10 – Item. Se alguum, sendo Leiguo, foi citado [perdante ElRey ou][17]
D. Dinis perante seu Juiz Leiguo sobre alguuma cousa, e depois foi morar a
(Conc.) outro luguar, que não seja da nossa Jurdição, ou daquelle Juiz Leiguo,
Art.º 4º ou se depois fez Clerigo, (este pode ser citado, e)[18] [deue a][19] responder
[en aquel preyto][20] perante Nós, ou perante aquelle Juiz (Leiguo)[21],
perante que foi citado (primeiro)[22] [assy como he contheudo em
huma degretal que sse começa Posuisti de foro competenti. E he
contheudo em huma ley do digesto uelho que sse começa Vbi cognito est. E en
outra ley desse Titulo que sse começa Siquis postea eam E en outra ley do
digesto que sse começa Cum quaedam puella que he no Titulo de Juridiscione
hominis Judicium. Pero alguuns doutores dizem em no contrayro. En aquel que
foy citado que se depoys faz clerjgo per huma ley do digesto que sse começa Si
ome em no Titulo de Judicijs][23].

Ordenações Antigas [OA, II, 7, art.º LXXXVI]. O itálico é meu.


1
“Clerigo”, em Castro.
2
“alguem demanda faz ao leygo de ssa herdade”, no LLP.
3
No LLP.
4
No LLP.
5
“chame”, LLP.
6
No LLP.
7
“seu”, LLP.
8
No LLP.
9
Falta no LLP.
10
No LLP.
11
No LLP.
12
No LLP.
13
“logares”, no LLP.
14
“ElRey o chama pera seu serujço”, no LLP.
15
Falta no LLP.
16
No LLP.
17
No LLP
18
Falta no LLP.
19
No LLP
20
No LLP
21
Falta no LLP
22
Falta no LLP
23
No LLP

354
José Domingues

11 – Item. Todo Clerigo casado com huma mulher virgem, pode ser citado em
todo o feito Civel perante Juiz Leiguo: e he Artigo feito em cortes, que ElRey Dom
Pedro fez em Elvas.
12 – Item. Se alguum Creliguo comprar, e vender, e *tratar com
D. Dinis alguumas mercadorias como mercador*[1], e reguatam, se tal Creliguo
(Conc.) for amoestado per seu Bispo per trez vezes, e dello se não quiser
Art.º 7º partir, tal Creliguo, em quanto deste Officio *usar*[2], não deve aver
privilegio de Creliguo, mas deve ser *citado perante Nós, e perante
nossos Juizes Leiguos, porque he da nossa Jurdição*[3], e *deve*[4]
ser costrangido per Nós, (e per nossas Justiças)[5] em guardar os nossos costumes,
e posturas da terra, que forem feitas *per Nós, e per os Officiaes dos Concelhos
dos nossos Regnos*[6], sobre taes Reguatães, e Mercadores; *e este costrangimento
lhe deve ser feito*[7] per os seus beens proprios, e não per os beens da Igreja,
(salvo se outros não tever, porque não os tendo proprios podem fazer execução
na Prevenda, e rendas do Beneficio, se o tever)[8] [assy como he contheudo em
huma degretal que se começa exibitis poncinj concijs no Titulo de uita et
honestate clericorum][9].
13 – Item. Nos feitos, e coimas, que pertencem a Almotaçaria, os Creliguos, e as
pessoas Ecclesiasticas podem, e devem ser citados perante os Almotaces, e hi
demandados quanto pertence à pena civel; e assi em feitos de soldadas, e jornaes
de Mancebos, e Mancebas, Jornaleiros, e outros Mesteiraes, que lhe fazem seus
lavores, e trabalhos, podem ser citados, e demandados perante os Juizes leigos:
e assy se usou sempre, e he Artiguo feito em Cortes antre Nós, e a Igreja, e os
Prelados[10], que he escripto no Livro grande das Leys às cento e oitenta e cinco
folhas; e em nos Costumes, o dezasseis Artigo, que foi feito nas Cortes d’Elvas[11]
em esse livro, e outros muitos Artiguos sobre esto.
14 – Item. Se o Creliguo (d’Ordens Sacras)[12] leixa o abito *de
D. Dinis Creliguo*[13], e tras armas, (e panos)[14] de leiguo, e anda *assi*[15] depois
(Conc.) que for amoestado per seu Bispo per tres vezes, e as não leixar, nem
Art.º 8º se castiguar, não deve aver privilegio de Creliguo, e *deve ser
citado*[16] perante Nós, (e nossas Justiças)[17]: (e esto entendemos no
Creliguo de Ordens Sacras, porque o solteiro, e casado, se em tal
trajo andarem, e se por leiguos tratarem, em todo serão da nossa jurdição, quanto
aos malefícios, que fizerem, em quanto assi andarem em abitos de Leiguo: e assi

1
“fezer merchandias com leygo mercador”, no LLP
2
“fezer”, no LLP
3
“da Juridiçom dElRey ou de seu Jujz leygo”, no LLP
4
“pode”, no LLP
5
Falta no LLP
6
“pelos leygos e pelas Justiças”, no LLP
7
“E pera esto deue o clerjgo a seer costrenJudo” no LLP
8
Falta no LLP
9
No LLP
10
Trata-se do art.º 88º da concordata de 1427 [OA, II; 7, art.º LXXXVIII].
11
Trata-se do art.º 16º da concordata de 1361 [OA, II, 5, art.º XVI].
12
Falta no LLP
13
“seu”, no LLP
14
Falta no LLP
15
“armado”, no LLP
16
“mais deue a seer Julgado”, no LLP
17
Falta no LLP

355
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

foi ja determinado per Nós com os do nosso Conselho)[1] [e penado per seu Jujz
leygo asy como he contheudo em huma degretal que se começa Cum audiendo
no Titulo de sententja excomunicacionis][2].
15 – Item. Se o Padre leiguo avia seu filho Creliguo, e este seu Padre
D. Dinis leiguo era devedor a outrem, e o Padre foi *citado*[3] por esta divida,
(Conc.) o filho Creliguo *deve ser citado* depois da morte de seu Padre [e
Art.º 9º deue a Responder][4] perante o Juiz leiguo, *e hi responder honde*[5]
seu Padre responderia, (se vivo fosse)[6] [assy como he contheudo em
huma ley que sse começa Ereens aussens que he no Titulo de
Judicijs][7].
16 – Item. Se os Creliguos fossem Mordomos de [alguum][8] leiguos,
D. Dinis [e for achado que eRou em seu offiçio][9] podem [tal clerigo][10], (e
(Conc.) devem)[11] ser (citados, e)[12] costrangidos per Nós, e per nossos Juizes
Art.º 10º leigos, (e per elles costrangidos)[13], que (dem conta aos leigos, e lhes)
[14]
paguem (o que lhe deverem)[15]; (e se por alguuma malicia, que
fação em seus Officios, forem acusados criminalmente a pena
corporal, sejam entregues a seu Juiz Ecclesiastico)[16] [Mais por esto nom deue
seer filhado per ElRey nem per seus Jujzes leygos assy como he contheudo en
huma degretal ijª do Titulo nec clerici uel monachi se misceant secularibus
negocijs][17].
17 – Item. O Creliguo Carniceiro casado, que publicamente mata guado no curral;
e aquelle, que o leva do curral ao Açougue, honde se haja de cortar; e aquelle, que
o cortar no Açougue; e bem assi o Taverneiro, que pubricamente mede o vinho na
Taverna, ou o escança aos bebedores; e o refião, que pubricamente tem manceba
na mancebia pera a emparar, e defender por o guainho elicito, que della leva; taes
como estes sendo amoestados especialmente tres vezes per seu Prelado, ou Reytor
da Igreja, donde são fregueses, que desemparem, e leixem os ditos Officios, e não
tornem mais a elles usar, nom os leixando, ou leixando-os, e tornando mais a
elles, per esse mesmo feito perdem de todo o privilegio Clerical, assi nas pessoas,
como nas cousas, e são feitos leiguos, e da Jurdição secular em todo o caso; e
o Cleriguo solteiro, a que tal cousa acontecer, perde o privilegio nas cousas, e
retemno acerqua de sy.

1
Falta no LLP. Esta a justificação para, logo no início deste parágrafo, se diferenciar os clérigos de ordens
sacras.
2
No LLP
3
“chamado”, no LLP
4
No LLP
5
“per hu”, no LLP
6
Falta no LLP
7
No LLP
8
No LLP
9
No LLP
10
No LLP
11
Falta no LLP
12
Falta no LLP
13
Falta no LLP
14
Falta no LLP
15
Falta no LLP
16
Falta no LLP
17
No LLP

356
José Domingues

18 – Item. *Todo o Creliguo jogral, que tem por Officio tanger, e per
D. Dinis elle soportar a mayor parte de sua vida, ou publicamente tanger por
(Conc.) preço, que lhe dem em alguumas festas, que não são principalmente
Art.º 11º Ecclesiasticas, e serviço de Deos; e o tregeitador, e qualquer outro,
que por dinheiro por sy faz ajuntamento do Povo; e o goliardo, que
ha em custume almorçar, jantar, merendar, ou beber na Taverna; e
bem assy o bufam, que por as Praças da Villa, ou lugar tras almareo, ou arqueta
ao collo com tenda de marcaria pera vender; taes como estes, e cada huum del-
les, usando dos ditos Officios, ou custumes desordenados, como dito he, per
huum anno acabado, ou sendo amoestados per seus Prelados, Vigairos, e Reito-
res de suas Freguezias per trez amoestaçoens, e não leixando os ditos Officios, e
mãos custumes, passado o termo das tres amoestaçoens, ainda que seja mais
pequeno tempo que o dito anno, per esse mesmo feito perdem de todo o privi-
legio Clerical, assy nas pessoas, como nas cousas, e são feitos em todo caso da
Jurdição secular*[1].
19 – Item. Se o Cleriguo tever de Nós alguuns beens patrimoniaes, assy por esses
beens, como per os fruitos, e rendas, ou foros, ou trebutos, pode ser citado perante
Nós, e perante o Juiz leiguo.
20 – Item. Por as Cisas, Dizimas, e Portages, e Aduanas, e Releguos, por cou-
sas defesas, se as levar fora do Regno, e por outros nossos Direitos, se civelmen-
te forem demandados, podem ser citados os Cleriguos, e pessoas Ecclesiasticas
perante Nós, e perante nossas Justiças: e he quarenta e seis Artiguo feito em Cor-
tes per ElRey Dom Fernando.
21 – Item. Pera cousas, que são pera defendimento da terra, e prol do nosso
Senhorio, podem os Cleriguos ser citados, e costrangidos a pagarem, assi como os
outros; e pera as outras cousas onestas, e proveitosas ao commuum, e piedozas,
assi como pera fazimento de Pontes, Fontes, Caminhos, e Recios, e outros seme-
lhantes a estes, devem elles paguar, e pera esto serem chamados, e costrangidos
per seus beens; e os Bispos não devem ser negrigentes, nem deneguar Justiça; e e
negrigentes forem, nos, e nossas Justiças podemos citar, e costranger os Creliguos,
que per seus beens patrimoniaes paguem.
22 – Item. Se alguum Cleriguo fica per Testamenteiro d’alguum leiguo, em que
aja residoo, pode ser citado por esse Residoo perante Nós, e perante nossos
Juízes leigos, a que Nós taes feitos cometermos: e he Artiguo feito em Cortes[2], e
costume.
23 – Item. Se o Cleriguo per Sentença de seu Juiz he escommunguado,
1368.09.18 e anda denunciado per escomungado, e elle de tal Sentença não
Lei D. appellou, como devia, pode ser citado perante o Juiz leiguo, e per elle
Fernando julguado, preso, e reteudo em prisam ate que pague a pena, em que
encorreo depois que anda escomunguado, e em quanto jouver preso
ate que seja solto, como deve, segundo he contheudo na Ordenação,
que ElRey Dom Fernando fez sobre os escummungados[3].
24 – Item. Se o Cleriguo casado he Juiz em feito Crime, ou Rendeiro, ou Mordomo,
ou Sayão, ou Alcaide, ou Homem do Meirinho, este em quanto nos Officios durar,
e ainda dos feitos, que fez antes, e atá que taes Officios leixar, e resumir o abito,

1
“E sse os clerjgos sse fazem Jograres ou goliardos e en tal offiçio andarem huum ano perdem todo o preu-
ilegio de clerigos os que nom ham ordeens sagras e deuem a Responder perdante ElRey ou perdante seu
Jujz leygo e ante do ano perdem o preujlegio se ante forem amoestados e sse nom quiserom partir deste
offiçio E deuem sseer costreJudos perdante ElRey ou perdante seu Jujz leygo assy como he contheudo em
huma degretal de Bonjfaçio que sse começa Clerjci que he no Titulo de ujta et honestate clerjcorum no
seysto liuro”, no LLP
2
Parce ser o art.º 7º dos acordados com el-rei D. João I em Lisboa, em 1404 [OA, II, 6, art.º VII].
3
Trata-se da lei de D. Ferando, sobre os escomungados, de 18 de Setembro de 1368.

357
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

pode ser citado perante Nós, e nossas Justiças em todo feito Civel, e Crime: e esto
he Ley do Regno, da qual o theor se adiante mostrará.
25 – Item. Se Arcebispos, e Bispos, ou outros Creliguos tomarem
1311.02.03 bestas de carreguas, pera lhe levarem suas carreguas, sem mandado
Lei D. das nossas Justiças, podem ser citados, e costrangidos per nossos
Dinis Juizes leigos, que lhe correguão, e paguem as bestas, e todo o que lhe
tomarão, e embargaram com o dapno, que por esto receberão com
outro tanto, e outro tanto pera Nós: e esto he Ley d’ElRey Dom
Diniz[1], e Artigo feito per ElRey Dom Fernando.
26 – Item. Se o Creliguo tever de Nós terras, ou de nossos Antecessores,
1317.03.18 e deneguar appellação pera Nós, ou a tomar quando viera dante o seu
Lei D. Ouvidor, ou doutro, a que elle cometesse o feito, que o visse, em tal
Dinis guisa que não viesse a appellação perante Nós, pode ser citado
perante Nós, e perante nosso Juiz leiguo, pera perder essa Jurdição,
que não aja mais apelação de vir a elle em esse feito, nem em outros,
e pera lhe fazer per seus beens pagar o dapno, e custas aas partes: e esto he Ley de
ElRey Dom Diniz[2].
27 – Item. Se o Juiz da Igreja for negrigente em fazer direito do Creliguo
estremadamente nas demandas Reaes, Nós, e Nossos Juizes Leiguos podemos
citar o Cleriguo, ou Leiguo, que for da Jurdição da Igreja, e soprir tal negrigencia,
e determinar o feito do Cleriguo, ou Leiguo demandado: e he Artiguo escrito no
Livro das Leys do Reino, que está na Caza do Civel.
28 – Item. Se o Cleriguo he demandado de demanda Real, que seja sua propria, ou
sobre feito d’aver, que seja seu proprio, assi como se fosse elle Fisico, e gainhando
aver per sua sabedoria, pode tal Cleriguo consentir em ElRey, e seus Juizes.
29 – Item. Se os Cleriguos, que andam em a nossa Corte, quiserem citar alguum
outro Cleriguo, que ande assi na nossa Corte, de mais se for sobre contrato, que
for feito na dita Corte, pode ser citado perante Nós, porque avemos Jurdição sobre
todos os da nossa Casa, assy como ha o Pay sobre os filhos: e esto he Artiguo[3]
escripto no Livro das Leys, que está na Casa do Civel.
30 – Item. Se o Cleriguo he escolar decipolo d’alguum Mestre Leiguo, o Juiz Leiguo
poderá costranger, e citar, e ser seu Juiz, porque Nós somos seu Juiz, e avemos em
elle Jurdição por razão de seu Mestre, que he Leiguo. Esto he Artigo escripto no
Livro das Lex do Regno, que está na Casa do Civel.
31 – Item. Se o Cleriguo acusa alguum Leiguo maliciosamente, ou dá testemunhas
falsas, ou dá testemunho falso por outrem perante o Juiz Leiguo, O Juiz Leiguo
o pode loguo costranger, e de seu Officio o pode punir em pena pecuniaria sem
outra acusação, e mandar dar sua Sentença à execução nos beens deste Cleriguo,
que não sejão beens espirituaes.
32 – Item. Se o Cleriguo se fizer nosso Tabalião em feito Crime, he logo da nossa
Jurdição, e em todo caso pode ser citado perante Nós, e nossos Juizes Leiguos,
assy como se fosse casado com mulher corruta.
33 – Item. Se o Cleriguo he Official da Justiça, e ha fazimento com mulher, que
seja preza, ou andar a feito, perca o patrimonio, que ouver, e va-se emfamado da
nossa Corte, e Casa, e perca a nossa mercê, que nunqua a cobre; e se não ouver
patrimonio, seja com este defamamento lançado fora de nosso Senhorio, que
nunqua possa hi mais tornar. E por esta guisa pode ser penado per Nós, posto
que Clérigo seja.

1
Trata-se da lei de D. Dinis para que os cavaleiros, fidalgos ou qualquer poderoso não tomem ou mandem fi-
lhar bestas de sela nem de albarda sem grado dos donos ou mandado de justiça, de 03 de Fevereiro de 1311.
2
Trata-se da lei das apelações, de D. Dinis, datada de 18 de Março de 1317.
3
Cfr. o art.º 51º da concordata de 1427 [OA, II, 7, art.º LI].

358
José Domingues

34 – Item. Se o Cleriguo falsa Bullas do Papa, depois que for degradado de seu
Bispado, seja dado a ElRey.
35 – Item. Se o Cleriguo falsa Letras d’ElRey, depois que for degradado per seu
Bispo, seja dado a ElRey, que lhe ponha carater, per que seja conhecido o mal,
que fez.
36 – Item. Porque por as Ordenaçoens ate ora feitas, e ainda per Direito Canonico,
e Civel, e Artiguos feitos em Cortes, he defezo, que os Cleriguos, e Religiosos não
vão avoguar, nem precurar perante Juizes Leiguos por outras pessoas, e elles como
pessoas poderosas vão hi, e não leixam com suas Voguarias, e poderio ouvir as
partes, e torvão as audiencias, dando-lhe esses, porque assi voguam, e procurão,
alguo, e fazendo-lhes serviço do seu, a saber, de pam, carnes, dinheiros, fazendo
isto contra direito, e boom custume da nossa terra, e em dapno, e escandalo da
nossa terra, e nosso Povo: Mandamos, e defendemos, que nenhuum Cleriguo,
nem Religioso não va a Concelho, nem estê hi pera voguar, nem procurar por
nenhuuma pessoa, salvo por sy, e per seus homeens, ou por aquelles, porque
o de direito deva fazer, segundo adiante dizemos no titulo dos que podem ser
Vogados, e Procuradores[1]; e se hi d’outra guisa forem, Mandamos aos Juizes,
que lhe diguão da nossa parte, que se vão loguo; e se se hir não quiserem, que
os ponhão loguo fora; e se tão poderozos forem, que esto não possão fazer,
não oução mais o preito, porque elles vierem voguar, ou precurar, e citem-nos
assinando‑lhe dia certo, a que pareção perante Nós, assi elles, como as partes; e o
dia do aparecer com essa citação emviem a Nós, e emviem-nos loguo dizer quaaes
são esses poderosos, e quaees são os que am a demanda, e por qual delles vierão
hi, pera lho Nós estranahrmos como for direito.
37 – Item. Se o Cleriguo, ou Religioso for perante Juiz Leiguo a demandar por sy,
ou por seus homeens, mandamos que não levem hi outras companhas, nem façam
hi levantamento, mas asesegadamente demandem, e defendão seu direito; e se o
assy nom fezerem, não lhes oução seus feitos, e lhes diguão da nossa parte, que se
vão, e leixem seus Procuradores; e se o assi fazer não quiserem, ponhão-nos fora;
e se for demandador, e não quiser leixar Procurador, ou for tal, que se não quei-
ra hir, nem o poderem poer fora, Mandamos que este não seja mais ouvido, mas
seja logo ávido por revel, e a outra parte asolta; e se for demandado, fique venci-
do daquello, que lhe demandão, ate que o fação saber a Nós: e citem loguo esses
Cleriguos, ou Religiosos, e assinem dia a elles, e aas partees, aque venhão perante
Nós, pera os Nós livrarmos como for direito, e lho estranharmos.
38 – E assy ha esto luguar nos Ricos Homens, e Ricas Donas, e Arcebispos, e Bis-
pos, e outras pessoas poderosas, que forem voguar, ou procurar perante os Sobre-
Juizes, e Ouvidores nosso, e perante os outros Juízes das terras; pero não defen-
demos a taees pessoas, que não possam hir perante os Sobre-Juizes, e Juizes a
dizer-lhes, que tenham por bem livrar seus feitos; e tanto que os começarem de
ouvir, partam-se logo sob a dita pena. E esto não aja luguar perante o nosso Cor-
regedor da Corte, por que sem embarguo de tal pena podem todas estas pessoas
precurar seus feitos, se quiserem, por que achamos, que sempre se assy perante
elles acustumou.

1
Neste livro falta esse título dos que podem ser vogados e procuradores. No tít. 20, § 15, consta nova referência
a este título – “assy como dissemos no titulo dos que podem ser Procuradores, ou não, ou dizer contra a citação”. A
acreditar nestas duas referências, parece que esse título deveria constar entre os títulos 15 e 20. No título
128, § 6 surge nova referência “Mandamos que se guarde aquello, que ja avemos detreminado e declarado
no Titulo, Dos Procuradores”.

359
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

39 – Item. Se algum Cleriguo he Bigamo, assy como *quando*[1] casa


D. Dinis com alguuma mulher [uirgem][2], a qual morta, casa (depois)[3] com
(Conc.) outra, (ou casa com alguuma)[4] viuva corruta; este Cleriguo (tal)[5]
Art.º 5º perde (logo)[6] todo o privilegio de Cleriguo, e não deve trazer coroa,
nem abito de Cleriguo, e logo he sob a Jurdição, e poder de ElRey, e
de seu Juiz Leiguo: [e perdante el deue Responder e per el deue seer
Julgado][7] assi he contheudo em hua Decretal de Gregório [Xº que se começa
tocois(sic) antiqui][8] no titulo *dos Bigamos*[9] (no Sexto Livro)[10].
40 – Item. Se alguum Cleriguo he malfeitos, e per nenhuma maneira nom se quer
correger per seu Bispo, que o aja ante amoestado, segundo forma de Direito, trez
vezes, o Bispo o deve leixar em poder d’ElRey, ou de suas Justiças, e ElRey ha
emtam Jurdição sobre elle, e pode-o julgar, e pensar, como he contheudo na deci-
ma septima distinc. em huum Degredo, que se começa, Nec licuit; e Extra de Judic.
Cap. Cum nom ab homine; e em no Abbade, e Hostiense.
41 – Item. Se alguum Cleriguo faz parar emseias a seu Bispo, porque moura, ou
o matem, ou lhe fação maao mal, ou maa deshonra, o Bispo o deve privar das
Ordens, e degradar, e leixar tal Cleriguo em poder d’ElRey, ou da Justiça leigal, e
entam ElRey, ou seu juiz leiguo o deve a penar; assi como he contheudo em huum
Degredo, que se começa, Si quis Sacerdotum, que he na undécima Causa q. I.
42 – Item. Se alguuns Cleriguos quiserem abaixar a Fee dos Christãos, e disserem
mal della, estes cleriguos devem ser penados per ElRei, ou per seus Juízes Sagraes,
assi como he contheudo em huum Degredo, que se começa, Circumcelliones, que
he na vigessima terceira Ca. q. 5.
43 – Item. Se alguum Cleriguo faz scisma na Igreja, querendo fazer outro Papa
em tempo daquelle, que he Papa de direito, ou outro Bispo em tempo daquelle,
que h Bispo de direito, ou se faz per alguns emleger por Papa em tempo doutro
Papa, ou por Bispo em tempo doutro Bispo, este Cleriguo tal scismatico deve ser
penado per ElRey, assi como he contheudo em huum Degredo que se começa, De
Liguribus, que he 23 Ca. q. 5.
44 – Item. Se o Bispo daa Sentenças alguumas contra alguuns Cleriguos, e não as
podem aver compridas, se o Bispo chamar ElRey como Braço Sagral, pera alçar
força dello, pode-a alçar tambem dos Creliguos, como dos Leiguos, assy como he
contheudo em huum Degredo, que se começa, Principes, que he na 23 Ca. q. 5.
45 – Item. Se o Papa daa poder a alguum Rey, ou Conde, pera ouvir, e desem-
barguar alguuns preitos Ecclesiasticos, assi como se lhe dá poder, que se alguuns
Clérigos de sua terra são scismaticos, ou publicos concubinarios, que ElRey os
costrangua, que não cantem Missas, nem usem do Officio da Igreja; ou lhe dá
poder que possa confirmar os emleitos em Bispos como os Cleriguos; ou que se
alguum Cleriguo for acusado perante seu Bispo d’alguum Crime, e não lhe for
provado, se deste crime ficar emfamado, que se deve com outros purguar perante
ElRey; ou se lhe dá poder que se alguum Bispo consagrar em sua terra alguuma
Igreja, ou erguer alguum Altar, que ElRey o costrangua, que não filhe maior gen-

1
“sse alguum clerigo”, no LLP.
2
No LLP.
3
Falta no LLP.
4
Falta no LLP.
5
Falta no LLP.
6
Falta no LLP.
7
No LLP.
8
No LLP.
9
“de bigamis”, no LLP.
10
Falta no LLP.

360
José Domingues

tar, ou colheita, que o que for direito, e a Igreja possa sofrer: em estes casos ha
ElRey poder de usar do privilegio, que lhe o Papa der, assy como he contheudo
em huum Degredo, que se começa Verum.
46 – Item. Se alguum Leiguo tem arrendadas alguumas posissões das Igrejas, e
durar ainda o tempo da renda, responderá por essa renda, que tever, perante o
Juiz da Igreja, e se a renda jaa nom durar, não responderá, se não perante seu
Juiz: assi he contheudo no 15 Artiguo dos 22 acordados antre ElRey Dom Diniz,
e a Clerezia[1]; e no 35 dos 40 acordados em Corte de Roma[2]; e no 9 Artiguo dos
11 apartados[3]; e no 45 dos que forão acordados antre ElRey Dom Joham, e a
Clerezia[4].
47 – Item. Se alguum Cleriguo doesta o que foi Mouro, ou Judeu, chamando‑lhe
tornadiço, ou quam, ElRey he seu Juiz, e seu Juiz Leiguo he desto Juiz, se o
demandado he Leiguo: e assi se contem no 19 Artiguo dos 22 acordados em Corte
de Roma[5].
48 – Item. Nos Artiguos feitos, e acordados antre ElRey Dom Pedro, e os Povos
destes Regnos, são contheudos tres Artiguos, que declarão certos casos, em que
os Cleriguos devem ser sugeitos à Jurdição secular; dos quaes Artiguos o theor he
este, que se adiante segue.
1361 49 – Item. Ao que dizem ao 19 Artiguo, que foi mandado por nosso
Cortes
Padre, que nenhum, que fosse ordenado de Ordeens Menores, posto
que fosse casado, não fosse Juiz, [nem vereador][6] nem Procurador do
(Elvas)
Concelho, nem Almotacel, nem Rendeiro das rendas do Concelho, nem
Art.º 19º
nossas, nem (ouvesse)[7] outros Officios, que em esse mandado são
contheudos, por que não podíamos per direito dar-lhe pena polos
erros, que hi faziam; e que esto se não guardava, e (que)[8] taes como estes faziam em
alguuns luguares muito por averem estes Officios, porque se atrevião a não padecer
pena, posto que em elles errassem: e *pediam-nos por merce*[9], que mandassemos
guardar o dito mandado, e Ordenação, e que seria nossa (prol, e)[10] serviço.
A este Artiguo respondemos, que nos praz, que se guarde, como per elles he pedi-
do, pois o ham por sua prol.
1361
50 – Item. Ao que dizem no *19*[11] Artiguo, que alguumas vezes
acontecia, que as nossas Justiças prendião alguuns Cleriguos em
Cortes
casos, em que o devião fazer, e outro-sy por nosso mandado, e de
(Elvas)
nossos Corregedores, e os Arcebispos, e Bispos, hu esto acontece,
Art.º 49º escomunguam essas Justiças; e pero aleguão, que o podem fazer per
direito, e os outros, que o fazem per nosso mandado, e dos nossos
Corregedores, não os querem porem asolver: *e pediam-nos porem

1
Trata-se do art.º 15º da carta sobre as demandas entre D. Dinis e o bispo e cabido de Lisboa, de 27 de Julho
de 1309 [OA, II, 4, art.º XV].
2
Trata-se do art.º 35º da concordata de 12 de Fevereiro de 1289 [OA, II; 1, art.º XXXV].
3
Trata-se do art.º 9º da concordata, sem data, dos onze artigos da corte de Roma entre el-rei D. Dinis e os
prelados [OA, II, 2, art.º VIIII].
4
Trata-se do art.º 46º da concordata de 1427.
5
Trata-se do art.º 19º da carta sobre as demandas entre D. Dinis e o bispo e cabido de Lisboa, de 27 de Julho
de 1309 [OA, II, 4, art.º XVIIII].
6
No capítulo de Cortes.
7
Falta no capítulo de Cortes.
8
Falta no capítulo de Cortes.
9
“que fosse nossa merçee”, no capítulo de Cortes.
10
Falta no capítulo de Cortes.
11
“xlix” no capítulo de Cortes. É o artigo 49 e não 19, provavelmente má leitura do X aspado.

361
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

por merce*[1], que lhe *ouvessemos*[2] a esto remédio, que não padecessem por
nosso serviço.
A este Artiguo respondemos, e Mandamos, que as nossas Justiças prendão esses
Cleriguos malfeitores, se os acharem nos malefícios, e os entreguem a seus Viguai-
ros; e se os não acharem nos malefícios, prendam-nos per mandado de seus Prela-
dos, e em outra guisa não, como nom devem d’aguisado.
1361 51 – Item. Ao que dizem nos 73 Artiguos, que dentro em alguumas
Cortes
Villas se alevanta foguo, ou nos Olivaes, Ortas, ou Lavouras, ou
arredor dellas, (ou em Arroteas, e outras cousas semelhantes)[3], ou
(Elvas)
arroidos, que entram imigos, ou acontecem outras cousas similhantes,
Art.º 73º
a esto os Cleriguos, que hi são [assy][4] casados, como de Ordeens
Menores, e Sacras não querem sahir a apaguar os ditos foguos com
elles, nem ajudar a defender as ditas Villas, e Ribeiras, *peroo*[5] dizem, que
*esses*[6] imiguos vem: *e pediam-nos por merce*[7], que lhe ouvessemos a esto
remedio (com direito)[8].
A este Artiguo respondemos, e Mandamos, que os Cleriguos casados sejão
constrangidos pera *ajudar*[9] a estas cousas como os outros Leiguos; e se o fazer
não quiserem, as (nossas)[10] Justiças os costrangam pera ello: e quanto he aos
outros Cleriguos, guarde-se o que he direito, e aguisado.
52 – Item. Achamos no Livro da nossa Chancellaria huuma Ley feita per ElRey
Dom Diniz da muito louvada, e esclarecida memoria em esta forma, que se
segue.
53 – [11](Dom Diniz &c. A todollos Alcaides, Commendadores,
1280.08.08 Meirinhos, Alguazis, e a todallas outras Justiças, e Concelhos de
Lei D. meus Regnos, a que esta Carta for mostrada, saude. Vós bem sabês
Dinis em como os Cleriguos, que se casam com mulheres virgees, dizem
que não são theudos de responder perante vos, nem husar com
vosco nas cousas, que vos entendedes a fazer vosso proveito,
tambem per razom daquello, que a mim hé mester de vos pera meu serviço,
como daquello, que vos havedes mester pera vosso proveito, e das vossas Terras)
[12]
. E eu *entendendo*[13] fazer direito a vós, e a elles, achei, que de direito vós, e eu
avemos sobre elles jurdição em todallas cousas, e que devem usar comvosquo
como os Leigos, e tambem a responder perante vos como nas outras cousas; salvo
quando elles forem demandados por feito crime, ou de corregimento de dinheiro
por razão do (feito)[14] crime, e feridas, que *derem*[15], em que devem responder
perante seus Bispos, ou [perdante sus][16] Vigarios.

1
“e que fosse nossa merçee”, no capítulo de Cortes.
2
“posessemos”, no capítulo de Cortes.
3
Falta no capítulo de Cortes.
4
No capítulo de Cortes.
5
“per hu”, no capítulo de Cortes.
6
“os”, no capítulo de Cortes.
7
“E que fosse nossa merçee”, no capítulo de Cortes.
8
Falta no capítulo de Cortes.
9
“fazer”, no capítulo de Cortes.
10
Falta no capítulo de Cortes.
11
“Como os clerigos dordeens meores deuem responder perdante os Juyzes leygos”, título no LLP.
12
Falta no LLP.
13
“catando”, no LLP.
14
Falta no LLP.
15
“fezerem”, no LLP.
16
No LLP.

362
José Domingues

54 – Outro sy acho de direito, que aquelles, que os ferirem, sejam


1280.08.08 escommungados, como se ferissem outros Cleriguos; e esto (acho de)
Lei D. [1]
direito, (que)[2] ha lugar naquelles, que erão lidimos, ou ligitimados,
Dinis e ordenados de Ordees Menores, ante que se casem com essas virgees,
e que depois que forem casados, que trouverem sempre coroas, e
cercilhos, e abitos de Cleriguos, e usarão de obras de Cleriguos, e que
depois não casarão com outras molheres.
55 – E se per ventura alguum delles não for lidimo, nem ligitimado,
1280.08.08 nem for ordenado, ante que case, ou depois que casar, não trouver
Lei D. coroa, nem cercilho, nem abito de Cleriguo, ou não fizer obras de
Dinis Cleriguo, a saber, matando alguum, ou sendo Juiz, ou Tabalião em
Feitos Criminaes, (ou ouvindo Feitos Criminaees,)[3] ou for Mordomo
da terra, ou Alcaide, ou Saiam, ou fezer outras cousas, que não
pertenção ao Officio de Cleriguo, ou depois casar com outra molher; não deve
(este tal)[4] aver privilegio (de Cleriguo)[5] de suso dito, que lhe daa o direito, mas
em todallas cousas deve (ser sem nenhuum privilegio, e)[6] responder, e usar
como [cada huum][7] Leiguo.
56 – E porque aquelles Cleriguos, que assi casarem com molheres
1280.08.08 virgees, devem *gouvir*[8] do privilegio dos Cleriguos nas cousas,
Lei D. que o Direito manda, como suso dito he, [pero ueem][9] depois da
Dinis morte dessas molheres esses Cleriguos podem ser ordenados de
Ordees Sacras: Tenho por bem, e Mando, que não vam em oste por
seus Corpos, nem em guerra, que eu faça, ou mande fazer, nem dem
ajuda pera esto, se alguums Cavalleiros dos Concelhos a ello forem
estremadamente, salvo em defendimento de minha terra. E em todalas outras
cousas, (e cada huma dellas,)[10] que esses Concelhos, ou cada huum delles forem
a meu serviço, ou a seu proveito, elles devem usar como cada huum dos outros
(Leiguos)[11] seus vizinhos.
57 – Porque mando a cada huum de vós, que assi usedes com elles, e
1280.08.08 façaes (usar, e)[12] comprir, e guardar as cousas suso ditas, (e cada
Lei D. huuma dellas:)[13] honde al nom façades. Dada em Lisboa a *oito*[14]
Dinis dias d’Agosto [ElRey o mandou con Consselho de ssa corte Joham
martjz a fez][15] Era de mil *trezentos e treze*[16] annos.[17]

1
Falta no LLP.
2
Falta no LLP.
3
Falta no LLP.
4
Falta no LLP.
5
Falta no LLP.
6
Falta no LLP.
7
No LLP.
8
“hussar”, no LLP.
9
No LLP.
10
Falta no LLP.
11
Falta no LLP.
12
Falta no LLP.
13
Falta no LLP.
14
“ix”, no LLP.
15
No LLP.
16
“iijc x’ª iij”, no LLP.
17
O ano correcto é o de 1280 (era de M CCC XVIII), nas Ordenações de D. Duarte. Já Herculano chamou
atenção para a data errada nas Afonsinas [PMH, p. 149]. Penso que o compilador do Livro das Leis e Posturas
entendeu que o V seria a pelica L do X aspado. Por sua vez, nas Afonsinas falta esse V.

363
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

58 – Os quaees Artiguos, e Leys suso escriptos louvamos, e avemos por boons,


e Mandamos, que se guardem como em elles he contheudo, porque fomos
informado que de grande tempo a ca assy forão sempre usados, e guardados
em nossa Corte.

Este título é, entre os cotejados, o mais invulgar e controverso, mas, em contrapartida,


o que nos pode fornecer as mais valorosas informações para o entendimento do
processo de compilação quatrocentista. Não só no que concerne às múltiplas fontes
consultadas e aproveitadas para a sua composição, mas, sobretudo, pelo estilo de
redacção adoptado pelo compilador ao longo dos seus cinquenta e oito parágrafos.
Em alguns segue de muito perto o texto da fonte usada e noutros apenas sintetiza o
seu conteúdo, por palavras próprias. Até aqui, nada de demasiado insólito, uma vez
que Rui Fernandes, nos cinco livros da sua obra, conjuga e domina o estilo compilatório
e o legislatório. Ainda por cima, alguns desses resumos são feitos na primeira pessoa
(em nome do monarca reinante). Partindo deste pressuposto, Alexandre Herculano foi
induzido em erro ao adjudicar um artigo de cortes à regência de D. Pedro, durante a
menoridade de D. Afonso V:

“Outra collecção, sem duvida differente do Livro das Leis e Posturas, se menciona
neste mesmo titulo (§ 13) na qual já se continham leis do tempo de Affonso V,
anteriores á redacção das Affonsinas, mas que provavelmente fora começada a
compilar n’algum dos reinados anteriores, e que se chamava Livro Grande das Leis.
Cita-se ahi desse livro um artigo de côrtes na regencia do infante D. Pedro, artigo que
se achava a fol. 175 ou 185 (variam na citação os codices das Affonsinas); mas o
Livro Grande não podia ser o das Leis e Posturas, visto não conter este actos legislativos
posteriores ao reinado de Affonso IV, e terminar no folio 168, não parecendo, aliás, que
esteja truncado no fim.”[1]

A verdade é que o artigo em causa (§ 13, tít. 15) não é do reinado de D. Afonso V,
mas sim do de D. João I. A base fundamental para a sua sintetização terá sido o arti-
go 88º da concordata de 1427. Desfeito o equívoco, o que realmente nos interessa, por
se poder relacionar com o labor compilatório de Fernandes e o complexo processo de
formação das Afonsinas, é que nem sequer a síntese pode ser avançada para o reinado
de D. Afonso V. Quero dizer, não seria insólito que, a partir da concordata joanina de
1427, Fernandes elaborasse um novo parágrafo para a sua colectânea. Mas a verdade é
que o próprio começa o título (15) afirmando que “nos Livros da Nossa Chancellaria forão
achados certos Artiguos, e casos (…) os quaes são estes, que se ao diante seguem”. O que leva
a crer que ele se limita apenas a copiar (e não inovar) o que encontra nos ditos Livros
da Chancelaria.
Este argumento não é de todo conclusivo, mas repare-se: o autor desse parágrafo
refere expressamente tratar-se de um “Artiguo feito em Cortes antre Nós, e a Igreja, e os
Prelados”, remetendo-nos, terminantemente, para o reinado de D. João I. Assim, penso
não andar muito longe da verdade ao afirmar que, se o artigo é de 1427, o seu resumo terá
sido feito entre 1427 e 1433 (data do falecimento de D. João I). Desta forma, fica arredado
o reinado de D. Afonso V e a autoria de Rui Fernandes. E não se trata de caso único:
outra conjuntura deste título (§ 4) também é referida como “Artiguo feito em Cortes antre
Nós, e a Igreja, e os Prelados”, elaborado com base no artigo 30º da mesma concordata.

1
PMH, Leges, p. 149. O itálico é nosso.

364
José Domingues

A partir do razoamento supra, evidenciam-se outros parágrafos consumados a


partir da concordata joanina de 1427. Nomeadamente, o conteúdo do parágrafo 46
reverte, explicitamente, para vários monumentos do tempo de D. Dinis e para o artigo
45º[1] dos acordados entre el-rei D. João e a Clerezia. O artigo que constava no Livro das Leis
que está na Casa do Cível (§ 29), corresponde ao artigo 51º da concordata de 1427. Esta
referência expressa ao Livro das Leis da Casa do Cível pode, assim, ser recuada ao final do
reinado de D. João I. Note-se, a propósito, que o parágrafo 7 se assemelha ao artigo 86º
da dita concordata de 1427, que remete o costume para o Livro das Ordenações Antigas.
Outros diplomas, além da referida concordata de 1427 e da outra sem data nem
autor, foram compulsados para a composição deste título quinze. Designadamente, as
concordatas de D. Dinis, D. Pedro I e a de 1404 de D. João I; artigos das Cortes do reina-
do de D. Pedro I e D. Fernando; e ordenações dos reinados de D. Dinis e D. Fernando.
Outra raridade deste título: a partir do parágrafo 48 nota-se uma clara diferenciação
no tratamento das fontes. Até aí os artigos das concordatas (à excepção da que vai
cotejada), os artigos de Cortes e as ordenações são abreviados, apartando-se dos textos
padrões e impondo-se o discurso do compilador. A identificação da fonte, quando feita,
só aparece no final de cada caso. Ao invés, o compilador no parágrafo 48 identifica logo
os três artigos das cortes de Elvas de 1361, que a seguir são transcritos na íntegra (§§
49‑51); por sua vez, no parágrafo 52 refere uma lei de D. Dinis, que, embora amputando-
lhe o início, passa a trasladar (§§ 53-57). Esta mudança de estilo não me parece ocasional
e pode ter a ver com a muda de punho compilador. A justificação que, neste momento,
me parece mais plausível é que até ao parágrafo 47, inclusive, Fernandes copiou os
artigos e casos que encontrou no tal Livro da Chancelaria e a partir daí acrescentou-lhe
os que achou convenientes à sua reforma. Esta segunda parte (§§ 48-58) identifica-se
muito bem com o estilo redactorial (compilatório) adoptado para os livros II a V.
Já sabemos que a primeira parte (§§ 1-47) foi produzida no final do reinado de D.
João I, mas quem terá sido o seu autor e a que propósito se deu ao trabalho de coligir
os casos em que os clérigos pertencem à jurisdição secular? Tudo indica que se trata
de um todo e não de várias conjunturas reunidas, por Fernandes, a esmo nos livros da
Chancelaria. Por outro lado, seria demasiado precipitado encará-lo como uma mera
ordenação, lei ou regimento avulsos. Por isso, estou convicto que estamos perante um
lacónico sedimento documental de uma fase de compilação antecedente às Afonsinas
– dando consistência à ideia, consignada no capítulo 2 da parte I, a propósito do pro-
cesso de compilação do ius regni compreender variadas etapas. Se assim for, o seu
autor só pode ter sido o, já muito falado, compilador João Mendes (e os livros da Chan-
celaria, compulsados por Fernandes, seriam livros de Ordenações).
Fica, então, mais uma achega para o trabalho deste corregedor da corte, confir-
mando-se, cada vez mais, que não faz qualquer sentido querer remetê-lo ao estilo com-
pilatório, pelo mero facto de ele ser um prático do direito; como também não faz sen-
tido justificar a diferença entre o livro I e os restantes das Afonsinas com a mudança de
pena compiladora.

1
Na realidade trata-se do art.º 46º, pelo que deve ser erro de transcrição.

365
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Foi-me dado localizar, no Arquivo Municipal da Lousã, um plausível original


(que, até à data, nunca vi arrolado) de um conjunto de três leis, do reinado de D.
Fernando, publicadas em Lisboa no dia 12 de Setembro de 1379[1]. A primeira lei é a
das provas que se devem fazer por escritura pública, seguem-se a da revelia do réu e a
das arrematações dos bens móveis e de raiz. Em algumas partes, a tinta do documento
da Lousã está apagada, não sendo possível um cotejo totalmente perfeito e completo
com os títulos das Afonsinas.
Estas ordenações foram, posteriormente, publicadas, com algumas adições, em
Santarém, no dia 22 de Maio de 1406[2].

LXIIII – Das provas, que se devem fazer per Escripturas pubricas.


[Lousã, AM – Doc. n.º 40, fls. 1-6]

ElRey D. Fernando da Famoza Memoria em seu tempo fez huuma Ley, a qual
depois declarou o virtuoso, e de grande memoria ElRey Dom Joham Meu Avoo
em esta forma, que se segue.
[Dom Fernando pella [graça] de Deus Rey de Portugall e do Algarue a quantos
esta carta uirem fazemos saber que nos hõolhando por noso seruiço(?) e por bõo
ordinhamento dos nosos Reinos mandamos fazer huãs ordinhaçoes por que se
ouuese de reger e minstrar pera uiuerem em uerdade das quaaes ordinhaçoes o
teor he este que se adeante sege][3]
1 – Sobre todallas obras, e condiçõees [do louuor][4] do Rey (a principal virtude, e
louvor)[5] he someter a Sua Real Magestade, e o seu Regno aa Ley Santa, e Natural,
que he fundada sobre pura verdade, segundo a insinamça dos Sabedores; e aquelle
[Rey][6], que esto fezer, e o Povo do seu Tegno reger segundo a Ley de Deos, nom
per fingida aparença, mas per ividencia do feito verdadeiro, esse regnará com
honra, e durará seu Senhorio perlonguadamente.
2 – Honde Nós D. Fernando pela Graça de Deos Rey de Portugal, e do Algarve
esguardando que no Estado, que nos Deos deu (em seu loguo)[7] pera Regimento
*deste*[8] Regno no temporal, (a elle)[9] tam somente devemos conhecer, e gaurdar,
e seguir sua Ley, quanto he em Nós, e a todo nosso poder, e consirando como antre
os povos, e jentes dos Nossos Regnos se movem, e trautam muitas demandas,
preitos e contendas sem conto, e sem mesura; per que andando a Juizo/em
seruiço assy em a nossa corte, como nas Villas, e Cidades, e Julguados do nosso
Senhorio, despemdem nam tam somente [e gastam][10] o que ham, (e tem)[11] pera
seu mantimento, e *serviço de / pera seruir a* Deos, e nosso, quando comprisse

1
Lousã, AM – Doc. n.º 40, fls. 1-6.
2
Cfr. Ordenações Afonsinas, Liv. III, tít. 64, § 19, p. 229 e tít. 106, § 5, p. 387.
3
Falta nas Afonsinas.
4
Falta nas Afonsinas.
5
Falta no doc da Lousã.
6
Falta nas Afonsinas.
7
Falta no doc da Lousã.
8
“do nosso”, no doc da Lousã.
9
Falta no doc da Lousã.
10
No doc. da Lousã.
11
Falta no doc. da Lousã.

366
José Domingues

por defensão, e prol do Regno, mas ainda leixam, e [despendem e][1] desemparam
os Mesteres, e obras proveitozas, em que deviam emtender, e usar, e fazer sua
prol: e mais ainda por azo destes preitos, e demandas levamtam antre sy maas
tençõees, per que recrecem mortes, e omizos, e se matam assi em voltas, como em
pelejas como per emsejas e per outras muitas guisas de maldade, e emguano.
3 – *Emtendemos*Ordinhamos que a rezam, per que estes males/mortes, e
dapnos recreciam, era principalmente per [mingua e] falecimento da verdade,
que antre os homeens nom era guardada, nem conhecida, e per malicia era
emcuberta, e sobneguada por esforço, que ham de lhe nam ser provada a verdade
do Feito, (sobre) que comtemde, ou se se provar, que poderão impunar a prova
per contraditas, ou reprovas, ou contrariadades nom verdadeiras; e catam pera
esto testemunhas, e as comrompem pera dizerem o que nom he verdade, ou
pera encombrirem [esto], e nam dizerem a verdade do que do Feito sabem; e
por azo desto se vem a buscar huuns aos outros muitos (e grandes)[] dapnos e
*estroimentos*[2] dos Corpos, e averes.
4 – Porem Nós, como Rey per natura, a que Deos deu a sobceder este Regno per
lidima, e dereita Jeração, dezejando que os Povos de [ditos] nosso Regno vivam
em paz, e em assesseguo sem estes, e fora destes males, e dapnos, e que emtendão,
e ajam rezam de entender, e fazer sua prol, e usar das obras necessárias, e
proveitosas, que são comendadas pera serviço de Deos, e nosso e prol do nosso
Regno; e por se remover, e tolher aquelle azo, e occazião, per que se os ditos
males, e outros semelhantes tirem, por serem muito usados: E consirando que a
Escriptura foi achada per conhecimento da verdade; e per a Escriptura, havemos
certidoem, e fee dos Feitos, [e cousas][3] que per Nós nom vimos; e della, e per
ella he tirado emtendimento verdadeiro das cousas, que passam, e passaram
antiguamente; e per ella outro-sy he escusado grandes emcarreguos, e [grande][4]
custas a qualquer, que alguum feito hade provar.
5 – Avendo conselho com os da nossa Corte, e com Fidalguos, e Prelados, e outros
homens boons do nosso Senhorio, estabelecemos, hordenamos, e poemos por
Ley, que todallas avenças, comvenças, composiçõees, (preitos)[5], e contrautos,
assy de compra, vendas, e escaibos, ou permudaçõees, dotes, arras, ou doaçoens,
*comdições*[6], *e*[7] quaesquer promissões, stipulaçõees, aforamentos, rendas,
comdições, e *dotaçõoes*[8], como outro sy de emprestimos, cabedaees, ou
commendas, (guardas, comdecilhos,)[9] quaesquer obrigaçõees, (e comvemças,)
[10]
e todollos outros contratos, e firmidõees de qualquer natura, e comdiçam, e
sobre qualquer, e quaesquer cousas, e [sobre qualquer][11] rezam que *seja, asy
perpetuas, como a certo tempo, e per quaqluer nome, ou per qualquer titulo,*[12]
que per Direito, ou custume, ou uso dos nossos Regnos sejam nomeados, que
se amtre as partees ajam de fazer, e afirmar, quer sejam maiores, quer [seiam][13]

1
No doc. da Lousã.
2
“dês truimentos”, no doc. da Lousã.
3
No doc. da Lousã.
4
No doc. da Lousã.
5
Falta no doc. da Lousã.
6
“consençoes”, no doc. da Lousã.
7
“come outro sy”, no doc. da Lousã.
8
“uotaçoes”(?), no doc. da Lousã.
9
Falta no doc. da Lousã.
10
Falta no doc. da Lousã.
11
No doc. da Lousã.
12
“qual quer tabeliom”, no doc. da Lousã.
13
No doc. da Lousã.

367
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

menores, ou de (mayor, ou)[1] menor condiçam, ou de maior força, e vertude, que


estes aqui expressos, e declarados
6 – Outro sy todallas paguas, e soluçõees, quitaçõees, renunciaçõees, transaçõees,
remissõees, devisõees, ou partições de herdades, ou doutros quaesquer beens,
revocaçõees, espaços de dividas, quaeesquer obrigaçõees, assy reaees, como
pessoaees, e preito de nam demandar, e outras quaeesquer emnovaçõees dos ditos
contratos, ou firmidõees, ou doutros de fora delles, de qualquer [e em qual quer]
[2]
natura, e condiçam que sejam, asy per rezam de neguocios, e Feitos criminaes,
como civees, reaes, ou pessoaes, e todallas outras couzas, que quaesquer pessoas
pubricas, ou privadas, Concelhos, Confrarias, Colegios, ou Cõmunidades, homeens,
e molheres dos nossos, (e em nossos)[3] Regnos, de qualquer estado, e condiçam
que sejam, fezerem, ou afirmar quiserem, sejam feitos, ou afirmados per Escriptura
pubrica, feita per Tabaliam, ou *Escripvães*[4], pubrico, ou pubricos dos nossos
Regnos, que pera esto ajam authoridade, ou per Carta, ou Cartas selladas do nosso
sello, ou doutro sello autentico, perante testemunhas, e pessoas conhecidas.
7 – (E nos contratos, que forem fora do Regno feitos, se guarde o Direito
Commuum, e as Hordenaçõees, e Custumes do Regno.)[5]
8 – E esse Estormento, ou Carta [ou escritura][6] seja notada no Livro do Tabaliam
pubrico, ou Escripvãees, que tenham Livros de portacolo; e liuda essa nota
*perante*[7] as partes, e as testemunhas pera esto chamadas, segundo Ordenaçam
dos nossos Regnos, que os Tabaliãees devem guardar nas Escripturas, que ham
de fazer nos Feitos, de que ham de dar fee, cada huuã das partes, que os ditos
contratos, ou firmidõees fezerem, se elles escrepver souberem, sobescrevam seus
nomes no acabamento das ditas notas; e se as partes, ou *cada huuã*[8] dellas
escrepver nam souberem, as testemunhas, que hi forem presentes, se outro sy
escrepver souberem, sobescrepvam *por ellas*[9]; e se (todas)[10] assy as partees,
como as testemunhas escrepver nam souberem, emtam huum dos Taballiãees,
que hi esteverem, a fora aquelle, *que a dita nota fezer,*[11] sobescrepva por estas
partees, fazendo mençam (como)[12] sobscrepve por ellas, porque ellas nom podem
sobescrepver pola dita rezam.
9 – E sejam guardados esses Livros, e portacolos dessas notas, em tal (guisa, e)
[13]
luguar certo, (que em qualquer tempo, que comprir, possam ser achados, se
acontecer que se perqua o Estormento, ou Escriptura, que á parte for dada,)[14]
de guisa que sobre este Estormento, ou Escriptura *nom naça*[15] alguuã duvida,
e que per essa nota possam as partees aver cobro, e terminaçam do Direito, que
lhe pertence, sem erro, e emguano. E se per culpa, ou nigrigencia do Tabaliam,
ou Escripvam pubrico, que a dita nota ha de guardar, essa nota nom for achada,

1
Falta no doc. da Lousã.
2
No doc. da Lousã.
3
Falta no doc. da Lousã.
4
“tabelioes”, no doc. da Lousã.
5
Falta no doc. da Lousã.
6
No doc. da Lousã.
7
“presentes”, no doc. da Lousã.
8
“alguma”, no doc. da Lousã.
9
“por essas [riscado, testemunhas] partes” no doc. da Lousã.
10
Falta no doc. da Lousã.
11
“per que a nota dos ditos comtautos(sic) ou firmidoes for feito”, no doc. da Lousã.
12
Falta no doc. da Lousã.
13
Falta no doc. da Lousã.
14
Falta no doc. da Lousã.
15
“nacer”, no doc. da Lousã.

368
José Domingues

o Tabelliam, ou Escripvam, que era theudo guardalla, loguo per esse feito, e sem
outra perlongua, e sem figura, e solenidade (de Juizo,)[1] seja comdenado á parte
na estimaçam do dapno, que per mingua dessa nota receber: nam tolhemdo por
esto, nem minguando das outras penas, a que os Escripvãees taees, e Tabaliãees
sam theudos em tal caso per Direito, e Ordenaçõees do nosso Regno, ou custumes
dos Luguares, homde (esto)[2] acontecer.
[outrosy non entendemos per esta ley derrogar nem emnouar em parte nem em
todo as lleis e hordinhaçoes de nosso auôo e dos reis que ante no(s) foram por
que he estabelucudo e mandado que alguuns feitos asy come de ricibimentos
dos casamentos e outras quaaees quer cousas e contrautos que seiam fetos per
escrituras pubricas][3]
10 – E mandamos, e defendemos aos nossos Ouvidores, (Corregedores,)[4]
Sobre‑Juizes, e (quaesquer outros)[5] Juizes, e officiaes da nossa Corte, e da Rainha,
e aos *nossos*[6] Meirinhos,Corregedores, e Juizes, e a todallas outras Justiças de
nossos Regnos, de qualquer comdiçam que sejam, que nam recebam nenhuum
homem, *ou*[7] molher, de qualquer estado, e condiçam que sejam, a demandar
em Juizo, nem mandem citar, nem dem poder pera citar per Carta, nem Porteiro,
nem per outro sinal, pera chamar outra pessoa a Juizo per rezam de alguum, ou
alguuns contratos, e casos suso ditos, nem per outro nenhuum Feito, nem contrato
de Feito Civel, de qualquer natura, calidade, e condição que seja, (que fosse)[8]
*firmada*[9] amtre partees, que acontecesse, e se fizesse depois do tempo, que per
Nós he assinado, des o qual se esta nossa Ley deve guardar, (a saber, depois do
mez de Setembro da Era de Cesar de mil quatrocentos e dezesete,)[10] se loguo
primeiramente não mostrar estormento pubrico, ou Carta [pubrica][11], per que
possa firmar sua tençam, que pareça que tem rezam *direita*[12] pera demandar.
11 – Pero se a parte que quer demandar, disser ao Juiz, que quer leixar no jura-
mento do Reo a cousa, que lhe entende demandar, em tal caso somo este aja
lugar de citar a parte per Carta, ou per porteiro, ou per outra maneira, pera vir
perante o Juiz. E se esta parte citada disser per juramento dos Avangelhos, e
neguar o que lhe o Autor diz, e demanda, o Juiz o absolva loguo da demanda, e
condene o Autor nas custas, que o assy citou, e que lhe por tal citaçam fez fazer.
E se o citado nam quiser jurar, e recusar o juramento, e o Autor jurar, que o Reo
lhe he obriguado em aquello, que lhe demanda, o Juiz condene loguo o Reo per
sentença, porque nam quis jurar, a restituir aquello, que lhe foi demandado, em
aquella parte, que nom quis jurar.
12 – E esto aja luguar, quando o Reo for a parte principal, que he demandada, e ha
rezam de saber o que lhe demandam; pero se for herdeiro, que seja demandado
per cousa, que fosse posta em guarda, e comdicilho a seu antecessor, ou a outra
pessoa, que não aja razam de saber o que lhe demandam, entam deve jurar, que
nom tem a cousa, nem sabe que se della fez. E esto que dito he do juramento na

1
Falta no doc. da Lousã.
2
Falta no doc. da Lousã.
3
No doc. da Lousã.
4
Falta no doc. da Lousã.
5
Falta no doc. da Lousã.
6
“outros”, no doc. da Lousã.
7
“nem”, no doc. da Lousã.
8
Falta no doc. da Lousã.
9
“formado”, no doc. da Lousã.
10
Falta no doc. da Lousã.
11
No doc. da Lousã.
12
“de direito”, no doc. da Lousã.

369
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

parte da auçam, e demanda principal, aja luguar nas excepçõees, e repricaçõees,


que dellas decenderem, de que se ao diante fará mençam.)[1]
13 – Outro sy se aquelle, que for demandado, vindo a Juizo poser, *e*[2] aleguar
[por sy][3] alguuã excepção, ou rezam, que seja de Feito, assy como absoluçam,
ou pagua, ou quitação, ou espaço, ou trausaçam, (novaçam, ou deleguaçam,)
[4]
ou preito de não ser demandado, ou comprimisso, ou cousa julguada, ou
qualquer (outra razam similhante de qualquer)[5] natura, e qualidade, que se
haja mester prova, [de feito][6] que fosse, ou acontecesse depois do tempo aqui
devisado, Mandamos, e defendemos, que per esta mesma guisa, que fizemos no
demandador, que lhe nam seja recebida a excepçam, nem defensam della, se sobre
ella nam mostrar Estormento, ou Escriptura pubrica, como sobre dito he. E assy
per essa mesma maneira se faça, e guarde na repricaçam, e trepicaçam, assy da
parte do Autor, como do Reo, e assy (se faça dehy) em diante [sem fim][7] em
quanto o Juizo [pode][8] durar.
14 – Pero porque favor he *devido*[9] ao Reo mais que ao Autor, e esse Reo nam ha
rezam de vir a Juizo tam percebido como o Autor, temos por bem, e Mandamos,
que se o Reo não trouver loguo comsiguo a Juizo a Escriptura, per que emtende
provar, e fazer (certo)[10] a rezão, que alegua de Feito pera sua defeza, e disser per
juramento que a tem em tal luguar, e que a nom pode ao presente loguo mostrar,
que aja tempo comvinhavel, segundo a distancia do luguar, em que a possa aver,
e trazer a Juizo pera se ver, sem outra malicia. E esto, que dito he da excepçam, (e
defensam,)[11] nom se entenda em aquelle, que aleguar perescripçam, porque per
Escriptura do Autor se pode provar, e assy ao Reo nam convem perduzir outra
Escriptura em Juizo.
15 – Outro sy se acontecer que a parte, contra que he mostrado Estormento, ou
Escriptura pubrica, poser, e aleguar contra este Estormento, ou Escriptura pubrica,
que he falsa, o Juiz, que do [dito][12] Feito conhecer, lhe faça fazer declaraçam
da excepçam da falsidade, (em qual parte, e)[13] de qual guisa hé, e como, e em
que maneira emtende de provar essa rezam de falsidade, e todalas (outras)[14]
circumstancias, per que se melhor possa conhecer, e emtender a (excepçam, e)[15]
emtençam [que poser aa eixeiçom][16] se he com verdade, se com malicia: des y
loguo sem outro alguum meyo, faça vir perante sy o Tabaliam, ou Escripvão, que o
Estormento, ou Escriptura fez, e (isso mesmo)[17] alguuã, ou alguuãs das testemunhas
em esse Estormento, ou Escriptura nomeadas, pera serem loguo perguntadas sobre
a verdade do Estormento, ou Escriptura, pera haver emformação se a parte, que

1
Falta no doc. da Lousã.
2
“ou”, no doc. da Lousã.
3
No doc. da Lousã.
4
Falta no doc. da Lousã.
5
Falta no doc. da Lousã.
6
No doc. da Lousã.
7
No doc. da Lousã.
8
No doc. da Lousã.
9
“aauondo”, no doc. da Lousã.
10
Falta no doc. da Lousã.
11
Falta no doc. da Lousã.
12
No doc. da Lousã.
13
Falta no doc. da Lousã.
14
Falta no doc. da Lousã.
15
Falta no doc. da Lousã.
16
No doc. da Lousã.
17
Falta no doc. da Lousã.

370
José Domingues

poz a excepçam de falsidade, se move com tençam verdadeira, se maliciosa: e por


qualquer presumção de falsidade ou malicia, que emtam for achada contra cada
huuã das partes, o Juiz prenda loguo aquelle, contra que a presumçam achar, e
nam seja solto até que o Feito seja determinado por direito. E sobre esto queremos,
e hordenamos, que Carta, nem Privilegio, nem Rescripto, que contra esto, que per
Nós he estabelecido em esta nossa Ley, seja, ou for guanhado, que nom valha, nem
seja recebido aquelle, que a guainhar, nem a mostrar, nem se ponha, nem escrepva
em Auto, nem processo, que se fezer de Juizo.
16 – Esta Ley queremos, e Mandamos que aja luguar, e se guarde em todollos
Feitos, e contrautos, que passarem em vallor, ou contia, ou estimaçom de cinco
(mil)[1] livras acima; e nos outros de menor valor, ou de menor contia, ou de
menor estimaçam, [que nom aja llogo apellaçom seguundo ordinhaçom e
costume dos nosos Reinos][2] posto que não seja feita, ou mostrada Escriptura
(pubrica)[3], nam leixaram porem os Juizes de ouvir as partees, e poer, e rezoar
seus Feitos, e poer seu Direito per palavra, sem fazendo outra Escriptura de
processo, e sem outra solenidade, e [sem outra][4] figura de Juizo; e livrem-se
esses Feitos por a verdade, que por as partees for sabida. E se alguuã das partes
quiser dar prova, ou filhar emcarreguo de provar sua tençam per testemunhas,
ser lhe ham recebidas e perguntadas per a verdade por o Juiz, que *de tal*[5] Feito
conhecer, e simplesmente sem outra Imquiriçam hy ser feita per Escriptura. E se
essa parte, que essa prova de testemunhas quer dar, nom as apresentar loguo em
essa Audiencia, ou per todo esse dia, ou loguo no primeiro dia seguinte, de hi em
diante nom lhe sejam (mais)[6] recebidas, nem elle mais atendido sobre ellas, mas
o Juiz livre, e desembargue esse Feito por a verdade do que se perante elle tratar,
e mostrar (sem outra apellaçam)[7].
17 – Outro sy queremos, e outorgamos que esta nossa Ley nom se emtenda, nem aja
luguar nas compras, e vendas (das viandas)[8] de pam, e vinho, carnes, e pescados,
e outras cousas de mantimento de cada dia, nem dos preitos dos jornaees, e
mesteiraees, e obreiros, que se devem paguar loguo em cada huum dia de serviço,
e de lavor; (nem no emprestido das roupas de vestir, e camas, e alfayas de casa, e
livros, que alguuns Letrados emprestam huuns aos outros a breve uso pera ver
alguuãs duvidas; bestas, e armas, e prata emprestada, pera beberem per ella, ou
comer em ella; porque se nom poderiam os Estormentos de taees emprestidos
tam toste fazer, e em tal tempo, como se fazem, e tornam os emprestidos das
ditas couzas; nem aja luguar nas cizas, e pagua dellas, e nos outros trebutos, e
Direitos nossos; e em esto se guarde o que se até ora guardou, assy por Nos, como
contra Nos; nem outro sy nom aja luguar nas compras, e vendas das mercadorias,
que forem feitas per Corretores antre os Estrãgeiros, e naturaes do Regno, assy
das mercadorias, que os ditos Estrangeiros venderem, como das que comprarem
per Corretores; nem das cousas dadas a Pregoeiros, e Adellas pera venderem,
e Alfaiates, e outros Meesteiraes pera coserem. E adubarem, com os quaes se
guarde o Direito Commum, ou as Hordenaçõees do Regno.
18 – E ordenou mais, que honde o dito Senhor Rey Dom Fernando mandava,
que a dita Ley ouvesse luguar de cinco mil livras acima, que se emtendesse, e

1
Falta no doc. da Lousã.
2
No doc. da Lousã.
3
Falta no doc. da Lousã.
4
No doc. da Lousã.
5
“do”, no doc. da Lousã.
6
Falta no doc. da Lousã.
7
Falta no doc. da Lousã.
8
Falta no doc. da Lousã.

371
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

ouvesse luguar de trezentis reis de tres livras e meya acima, que sam tres mil e
quinhentas livras da moeda corrente a esse tempo.
19 – A qual addição, e declaraçam assy feita, foi pubricada esta Ley em a Era de
mil quatrocentos e quarenta e quatro annos, vinte e dous dias do mez de Mayo em
Santarem, honde pousava ElRey nos Paços do Arcebispo de Lisboa, que estam
fora da Villa. Alvaro Gonçalves Chanceller Moor do dito Senhor a fez, e mandou
pubricar estas Hordenaçoeens aqui escriptas, as quaees logo forão pubricadas,
e leudas perante elle, e perante Fernam Rodrigues Mestre da Cavallaria d’Aviz,
e Doutores Gomes Eannes Juiz dos Feitos d’ElRey, e Lançarote Esteves, isso
mesmo Doutor, e presente os Licenciados Fernam Gonçalves, e Vasquo Gil de
Pedroza do Desembarguo do dito Senhor, e Rodriguo Annes Ouvidor da Raynha,
e outros muitos boõs homeens, que hi presentes estavam. A qual publicaçam o
dito Chamceller mandou a mim Joham Fernandes Escripvam do dito Senhor,
que o escrepvesse. E eu por seu mandado assi o escrepvi.)[1]
[E queremos e mandamos que esta lley em todo e per todo se garde nos feitos e
contrautos e negocios e cousas que se fezerem e acontecerem pella guisa que eem
ella he conteudo dês ho dia que for pubricada na nosa corte a saseenta dias][2]
20 – E pera as partes comtratamtees poderem aver boõ desembarguo, e nam serem
deteudas por a feitura das Escripturas por minguo dos Tabaliãees, e Escripvãees,
que as ham de fazer, temos por bem, e Mandamos [e ordinhamos][3] *de*[4]
conselho dos sobreditos, que em cada huuã Cidade, Villa, e Julguado dos nossos
Regnos, aja lugar certo, e assinado, em que os Tabaliãees, e Escripvãees (sejam,
e)[5] estem residentes per todo o dia continuadamente, e prestes pera fazerem, e
escrepverem os Estormentos, e Escripturas, que lhes as partees mandarem fazer
e escrever.
21 – E para esto sejam escolheitos certos Tabaliães, ou Escripvaens, (onde Tabaliães
nam ouver, dos milhores, e mais descretos,)[6] que ouver na Cidade, Villa, ou
Julguado, pera cada que acontecer ser feito alguum contrato, ou firmidoõ *a
alguuãs*[7] notaveis, ou *nobres*[8] pessoas, ou taees, que por rezam de condiçam,
ou estado, que tem, ou per outro embarguo de suas pessoas nam poderem per sy
cheguar ao loguo, em que os ditos Tabaliães ham de ser residentes, entam cada
huum dos [ditos][9] Tabelliãees possam hir aas Casas e Luguares, hu estas pessoas
esteverem, pera escrepver, e notar os Comtratos, e firmidõees que fazer quizerem,
e as fação, e afirmem per a guisa *sobredita*[10].
22 – E pera outro-sy os Tabaliãees, ou Escripbãees, que sam jurados honde os
Tabaliãees nam escrepverem, ou (Escripvam)[11] jurado dado ao Tabaliam pera
escrepver suas Escripturas, poderem fazer as Escripturas, e dallas ás partes asinha, e
sem *tardamça*[12], queremos, e outorgamos, que esses Tabaliãees ajão Escripvãees,
quaees elles *quiserem escolher*[13], que sejam jurados, e dados per nossas Cartas,

1
Falta no doc. da Lousã. É óbvio que se trata de uma adição feita por D. João I.
2
No doc. da Lousã.
3
No doc. da Lousã.
4
“com”, no doc. da Lousã.
5
Falta no doc. da Lousã.
6
Falta no doc. da Lousã.
7
“os”, no doc. da Lousã.
8
“meores”, no doc. da Lousã.
9
No doc. da Lousã.
10
“que suso dito he”, no doc. da Lousã.
11
Falta no doc. da Lousã.
12
“deteença”, no doc. da Lousã.
13
“escolherem”, no doc. da Lousã.

372
José Domingues

*quaees*[1] entenderem, que lhes compre, e fezerem mester, pera notar, e escrepver,
(e fazer os ditos)[2] Estromentos, e Escripturas dos ditos comtratos, aveças, e
fermidõees, que as partes amtre sy fizerem, e lhes mandarem fazer.
23 – Era de mil quatrocentos e dezasete annos doze dias de Setembro na Cidade
de Lisboa na Alcaçova nos Paços d’ElRey, honde fazem as Audiencias do Crime,
sendo [hi][3] *Vasques*[4] Annes Foguaça Chanceller, e Gonçalo Martins, e Gomes
*Annes*[5] Ouvidores do Crime, e Gonçalo Annes, e Lourenço Esteves, Sobre‑Juizes
em a Corte do dito Senhor, e outros muitos homeens [boons][6] (da dita Corte, e)[7]
da dita Cidade, e doutras partes do Regno, *foi leuda, e publicada esta Ley aqui
contheuda*[8]. E eu Esteve Annes isto escrepvi.[9]

XXVII – Do Reo, que foy citado, e não pareceo em Juízo, como se dará contra elle revelia.
[Lousã, AM – Doc. n.º 40, fls. 6-8]

ElRey Dom Fernando da Louvada Memoria em seu tempo fez Ley, a qual depois
confirmou ElRey Dom Joham meu Avoo de famosa, e escraricida memoria, em
esta forma que se segue.

1 – Segundo *a Doutrina*[10] dos Sabedores, e nos mostra a muy certa esperiencia


*da cousa*[11], (a tardança, e perlongamento daquello)[12], que os homens dezejam
[ou per llongamente ou tardança][13] emduz *continuadamente*[14] ódio, (e
malquerença)[15], e trazem dapno aquelles, que as *demandar esperão*[16] por sua
prol, ou por sua necessidade; e esto ha luguar, muy afincadamente nas obras,
(que se hão de fazer per força de Ley ou Direito, e Juizo Ordinario,)[17] em que
os homens demandão aquello, que lhes he devido por alguuma rezão direita. E
por esta rezão *os Reys, que ante Nós foram*[18], esguardando como o custume
antiguo, e Ordenaçam, que se guardava *sobre as*[19] Sentenças das revelias, que

1
“quantos”, no doc. da Lousã.
2
Falta no doc. da Lousã.
3
No doc. da Lousã.
4
“lourence”, no doc. da Lousã.
5
“martyns”, no doc. da Lousã.
6
No doc. da Lousã.
7
Falta no doc. da Lousã.
8
“foram leudas aquy conteudas”, no doc. da Lousã.
9
Está no final do doc. da Lousã.
10
“auturadade”, no doc. da Lousã.
11
“nas cousas”, no doc. da Lousã.
12
Falta no doc. da Lousã.
13
No doc. da Lousã.
14
“em geeral”, no doc. da Lousã.
15
Falta no doc. da Lousã.
16
“demandam e esperam aauer”, no doc. da Lousã.
17
Falta no doc. da Lousã.
18
“ElRey don Afonso nosso auoo”, no doc. da Lousã.
19
“nas”, no doc. da Lousã.

373
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

erão dadas em Juizo contra as partes revees, porque *esses*[1] revees erão atendidos
*depois dessas Sentenças*[2] anno, e dia, e depois dessas Sentenças, e execuçoens
feitas por ellas são recebydos a purgar essas revelias, eram mui danozas, e davão
azo de muy grande (perda)[3], e perlonguados Juizos, e demandas, e de usarem os
homens de malicia, *por*[4] não darem, e paguarem aquello, que erão theudos, e
obriguados, e per alguuns casos, que acontecião no meyo do dito tempo, perdião
as partes o direito, que podião aver; *peroo temperando, e alvidrando os Reys,
que depois foram,*[5] o dito tempo do dito anno, (e dia)[6] [suso dito][7], tornarão‑no
[este tempo][8] em quatro mezes, segundo (se contem)[9] mais compridamente *nas
Leys, e Ordenaçoens, que sobre ello fezerão*[10].
2 – E depois *dellas*[11] alguuns cuidando, e tendo que o tempo dos (ditos)[12] quatro
mezes lhes fora outroguado per graça, ou per beneficio de direito, ou como por
espaço, (que se daa)[13] em favor daquelles, que devem, e são obriguados, quando
erão chamados a Juizo, nam curavam de hir responder perante o Juiz, e fazer de sy
Direito aas partes, a que erão obriguados; e outros como quer que entendessem o
dito espaço [desse tempo][14] *ser per direito outroguado*[15], *pero assy*[16] huuns,
como outros querendo usar de malicia, por não pagarem, e satisfazerem *aquello,
a que erão obriguados*[17], leixavão-se cair em revelya, *e jazer em ella os ditos
quatro mezes; os quaees passados, quando erão*[18] chamados a Juizo outra vez,
não querião parecer, e leixavão passar outras revelias, e jazer (em ellas)[19] outros
quatro mezes; e assy hião perlongando os feitos, e demandas per as ditas revelias
de guisa, que as partees, que erão Autores, não podiam aver seu direito do que
demandavam; e muitos *hi avia*[20], que em durando [asy][21] o dito tempo[dos ditos
iiijº meses][22], emalheavam, e escondião os beens, que aviam, e catavam [outras][23]
muitas *mentiras*[24] pera embargarem, e fazerem perder aas partees seu direito, [e
lho fazem perder de feito][25] e por esse azo *retinhão*[26] os feitos, e demandas, *as

1
“estes”, no doc. da Lousã.
2
“por”, no doc. da Lousã.
3
Falta no doc. da Lousã.
4
“de”, no doc. da Lousã.
5
“tirando e alluidrando o dito nosso auõo”, no doc. da Lousã.
6
Falta no doc. da Lousã.
7
No doc. da Lousã.
8
No doc. da Lousã.
9
Falta no doc. da Lousã.
10
“na lley e hordinhaçom que o dito nosso auõo sobre esto fez”, no doc. da Lousã.
11
“desa lley he hordinhaçom”, no doc. da Lousã.
12
Falta no doc. da Lousã.
13
Falta no doc. da Lousã.
14
No doc. da Lousã.
15
“obra seguundo dereito”, no doc. da Lousã.
16
“peraa sy”, no doc. da Lousã.
17
“daquello que bem sabem que som teudos e obrygados”, no doc. da Lousã.
18
“e depois pasados eses quatro meses som”, no doc. da Lousã.
19
Falta no doc. da Lousã.
20
“som”, no doc. da Lousã.
21
No doc. da Lousã.
22
No doc. da Lousã.
23
No doc. da Lousã.
24
“maneiras”, no doc. da Lousã.
25
No doc. da Lousã.
26
“recrecem”, no doc. da Lousã.

374
José Domingues

quaees por ello duravam mui*[1] perlonguadamente assy em nossa Corte, como
em outros Luguares de nosso Senhorio.
3 – E porque nossa tenção he abreviar os preitos, e demandas dos Juizos, *porque
das perlonguas*[2] se segue a Deos, e a Nós (grande)[3] desserviço, e aos Povos dos
nossos Regnos *muitas perdas, e dapnos*[4], assy como [ia desemos na ley antes
desta e][5] vemos per certa experiencia: porem [nos em razom das reuelias[6]

Dom Fernando pella graça de Deus Rey de Portugal e do algarue ][7] com
acordo *dos do nosso*[8] Conselho [da nosa corte][9], *avendo assy*[10] por bem,
Ordenamos, e poemos por Ley, que se alguum, sendo citado a Juizo, não parecer
per sy, nem per seu certo Procurador, se o feito tal for, que possa ser tratado per
Procurador, e for revel; se a obrigação, e aução, sobre que for chamado, for pessoal,
mera, ou mista, (seendo o contrauto da obrigaçam feito ante do tempo conteúdo
na nossa Ley, perque Mandamos, que todolos contrautos, e obriguaçoens, e
outras firmidões sejão feitas, e provadas per Escriptura pubrica; ou depois da
dita Ley, e for contia tam pequena, que segundo a dita Ley, se não requeira
Escriptura pubrica,)[11] e *o Author*[12] mostrar, e fezer certo per Escriptura, ou per
testemunhas dinas de crer, e de boa fama, (sua tençam)[13] [seendo ho contrauto de
hobrigaçom feita ante do tempo comteudo na nosa lley, perque mandamos que
todollos contrautos e obrigações e outras firmidoes seiam feitas e prouadas per
escritura][14]; ou em cazo que fosse (feito)[15] depois do tempo da dita nossa Ley, e (a
contia for tão grande, que se requeira em ella Escriptura pubrica, e se o Autor)
[16]
provar, e fezer certo per Escriptura pubrica do direito, e aução, que tem contra
o revel: que loguo em essa (audiência)[17] per essa (primeira)[18] revelia o revel seja
condenado per Sentença naquello, que for provado da parte do Autor, e seja feita
execução daquella contia, em que for condenado, nos beens desse revel; e d’hy em
diante o revel não seja recebido a embarguar a dita Sentença, nem hir contrella,
salvo se mostrar pagua, ou quitação expressa per Escriptura pubrica, se for depois
do tempo, que he assinado na dita Ley, perque he estabelecido, e mandado, que
não sejão recebidas provas em taes feitos, ou contrautos, se nam per Escriptura,
ou per testemunhas de boa fama, que loguo apresente pera provar, e fazer certo
de sua pagua, ou quitação, se foi ante da dita [nosa][19] Ley.

1
“e duram”, no doc. da Lousã.
2
“de que”, no doc. da Lousã.
3
Falta no doc. da Lousã.
4
“muitos e muy grandes danos”, no doc. da Lousã.
5
No doc. da Lousã.
6
A vermelho no doc. da Lousã, correspondendo ao título da lei.
7
No doc. da Lousã.
8
“e”, no doc. da Lousã.
9
No doc. da Lousã.
10
“temos”, no doc. da Lousã.
11
Falta no doc. da Lousã.
12
“outro”, no doc. da Lousã.
13
Falta no doc. da Lousã.
14
No doc. da Lousã. Cfr. a terceira nota antecedente.
15
Falta no doc. da Lousã.
16
Falta no doc. da Lousã.
17
Falta no doc. da Lousã.
18
Falta no doc. da Lousã.
19
No doc. da Lousã.

375
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

4 – E se a auçam foi sobre cousa real, ou que he chamada em Direito in rem scripta,
cível, ou pretoria, util, ou direita, quer seja por rezão da propriedade, ou Senhorio
direito, ou proveitosos, que o Author entende aver na cousa, quer seja por rezão
de uso fruito, ou servidão, ou alguum outro direito corporal, que o Autor entende
de demandar, e aver em alguuma cousa corporal, o Autor seja metido em posse
dos beens, (e cousas)[1], que demandar, ou quazi posse dos direitos não corporaes,
segundo qual for a naturesa da aução, e *aja*[2] logo per essa primeira sentença de
revelia tanto, e tamanho direito, como averia segundo (Direito per o segundo)[3]
Degredo; e em tal caso nam seja o revel d’hi em diante recebido a purgar tal revelia,
salvo se mostrar alguum embarguo (tam)[4] lidimo, que esquivar não podia, e tam
forçado, que não poderia vir per sy, nem enviar Procurador, nem escusador com
rezão direita, e verdadeira do embarguo, que assy houvera, porque vir não podera
per sy, nem fazer Procurador pera defender o feito principal, e fazer certo desse
embarguo per Escriptura; ou se tal lugar fosse *honde*[5] não podesse *fazer*[6]
Escriptura, e fezer certo per testemunhas, que apresente loguo, (ou nomee, se
as loguo apresentar não poder)[7] perante o Juiz, perque a revelia for dada; e em
tanto fazendo-o assy certo, seja recebido a (purgar a dita revelia, e)[8] defender, e
poer seu direito: [ce logar forde restetuyçom(?) segundo dereito][9] e pera fazer
certidam de tal embarguo, o revel nom aja mayor tempo, [nem aia maior espaço]
[10]
que em quanto puder vir, ou emviar seu embarguo, segundo for a distancia do
luguar, honde lhe este embarguo acontecer.
5 – E esto Mandamos que aja luguar, e se *entenda*[11] naquelles, (e contra aquelles)
[12]
[que som][13] maiores de idade, e que por si podem vir, e estar em Juizo, e não
vierem, e forem revees, como dito he; e se forem menores de idade, e forem citados
na pessoa de seus Titores, ou Curadores, e esses Titores, ou Curadores forem
revees, Queremos, e Mandamos, que se a auçam, ou demanda for por rezão de
divida, ou de obrigaçam pessoal, emtão se faça execução da *divida*[14] nos beens
de seus Titores, ou Curadores, e não seja feita nos beens dos *moços*[15] menores,
(pois que a culpa em todofoi dssesTitores, ou Curadores;)[16] e se beens não forem
achados a esses Titores, ou Curadores, faça-se emtão nos beens dos Juizes, que
deram taees Titores, ou Curadores; e se a esses Juizes nam acharem beens, ou a
seus herdeiros, entam façam-na nos beens desses menores com aguardamento
de seu direito, e de averem esses menores emenda, e corregimento do dapno,
que lhes for feito per culpa, ou nigrigencia desses Titores, ou Curadores per seus
beens, ou dos ditos Juizes, e de lhes ser guardado o beneficio da restituição, que
per Direito Commum he outorguado aos (ditos)[17] menores.

1
Falta no doc. da Lousã.
2
“seia”, no doc. da Lousã.
3
Falta no doc. da Lousã.
4
Falta no doc. da Lousã.
5
“que”, no doc. da Lousã.
6
“auer”, no doc. da Lousã.
7
Falta no doc. da Lousã.
8
Falta no doc. da Lousã.
9
No doc. da Lousã.
10
No doc. da Lousã.
11
“guarde”, no doc. da Lousã.
12
Falta no doc. da Lousã.
13
No doc. da Lousã.
14
“reuelia”, no doc. da Lousã.
15
“ditos”, no doc. da Lousã.
16
Falta no doc. da Lousã.
17
Falta no doc. da Lousã.

376
José Domingues

6 – (Item. He costume em a nossa Corte, e em a Casa do Civel, e assy nos outros


Luguares dos nossos Regnos, se alguum he citado per Carta, ou às partes
ambas he assinado dia sobre alguuma cousa, que ajam de parecer perante
algum Julgador, a parte, que não vier, seja attendida por tres dias, e se em esse
tempo nam vier, nam seja attendida mais; e a outra parte, que apareceo, aja
seu galardão, e seja desembarguada com seu direito. Pero se a parte, que foy
revel, parecer ante que a Carta guançada passe pela Chancellaria, seja recebida,
e ouvida, assi como se ao termo viera, paguando à outra parte todallas custas,
que sobre ello ouvesse feitas; e esto fazemos, e Mandamos que se guarde assy
por boom desembarguo pela Chancellaria, quando a parte revel parecer, nom se
faça ja mais outra emnovaçam.)[1]

7 – A qual Ley vista per Nós, louvamos, e havemos por boa, e Mandamos que se
cumpra, e guarde, como em ella he conteudo.

CVI – Das Arremataçoens, como se ham de fazer assy nos beens movees, como de raiz.
[Lousã, AM – Doc. n.º 40, fls. 8-9v]

ElRey Dom Fernando da Louvada Memoria em seu tempo fez Ley em esta forma,
que se segue.

1 – Porque nossa vontade he de abreviar as demandas, e dar fim e acabamento


aas obras, que se seguem por rezam dos Juizos, e pera cada huum aver aquello,
que direitamente demanda e vence per Juizo, sem delongua e sem grande dapno;
e esguardando como por os costumes, que atá qui foram nos nossos Regnos
sobre as execuçoens, que se fazem das Sentenças e Mandados dos (Juizes e)[2]
Officiaes, assy da nossa Corte, como das terras, e Luguares dos nossos Regnos, se
guardou, e guarda, que dos beens de raiz nom se faz venda, nem arremataçam,
nem execuçam cumprida, sem sendo ante passado anno e dia, e mais as partees,
por que sam dadas as Sentenças, por cuja rezam se ham de fazer as execuçoens,
esperando [por][3] todo o dito tempo, e nam podendo cobrar o que tem vencido, e
julguado, e que lhes he *mais*[4] mester, em este mêo recebem grandes dapnos, e
[padecem grandes][5] perdas, e aquelles, contra que se ham de fazer as execuçoens
por o espaço do tempo suso dito, escondem, e amoram os bens movees, de guisa
que se nam pode em elles fazer execuçam, e ainda no cabo do (dito)[6] tempo, que
se ha de comprir a execuçam, catam outras rezoens, e ordenam sobre *essas*[7]
execuçoens (outras demandas novamente, pera embarguar que as execuçoens)[8]
não venham a acabamento, e sobre esto duram as demandas, (e contenda)[9] muito
perlonguadamente.

1
No doc. da Lousã.
2
Falta no doc. da Lousã.
3
No doc. da Lousã.
4
“muy”, no doc. da Lousã.
5
No doc. da Lousã.
6
Falta no doc. da Lousã.
7
“estas”, no doc. da Lousã.
8
Falta no doc. da Lousã.
9
Falta no doc. da Lousã.

377
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

2 – E porem Nós ElRey Dom Fernando [pella graça de Deus Rey de Portugal e
do algarue][1], querendo esquivar, e tirar as malicias que se fazem, e os dapnos
que se seguem por azo (e força do dito costume, e fazer)[2] que os desembarguos,
e Sentenças, e determinaçoens dados per Nós, e per os da nossa Corte, e per
outros quaeesquer Juizes, e Officiaes dos (nossos)[3] Regnos, dados e guainhados
com grande custa e [com grande][4] trabalho, assy dos Juizes, como das partes,
nom passem sem obra, e ajam seu effeito, e cada hum haja comprimento de seu
direito sem delongua: [5] Tolhemos, Revogamos, e (Removemos)[6] o dito costume,
e Ordenaçam, que até qui se guardou nas cousas; e Queremos, e Mandamos, e
*Poemos*[7] por Ley, que nos beens de raiz, em que se ouver de fazer execuçam
por alguma divida, obriguaçam, ou direito qualquer, real, ou pessoal, de qualquer
natura e condiçam que seja, ou per alguma Sentença, ou Mandado nosso, ou
d’outro qualquer Juiz, assy da nossa Corte, como de fora *della*[8], essa execuçam
seja comprida e acabada per venda, ou remataçam, ou doaçam, ou absoluçam, ou
pagua, ou entregua do que a parte tedor ou vencedor ouver d’aver; e estes beens
de razis sejam per essa execução vendidos, e arrematados, ou dados em pagua á
parte, segundo forma e ordem de Direito, do dia que esses beens de raiz forem
filhados, assinados, ou emcoutados por o Porteiro, ou Executor, até tres mezes
compridos; e os beens movees sejam vendidos, e arrematados, ou dados em pagua
á parte, por que se faz a execuçam, do dia que por o Porteiro, ou Executor forem
filhados, ata tres nove dias, como se ataqui *acostumou*[9].
3 – E o Porteiro, ou Executor, que tal execuçam ouver de fazer, ou a que for
mandado que a faça, e a nam fezer ao dito dia, ou *em*[10] a fazer cumprir [e][11] assy
for negligente, Mandamos que aja pena de falsario, e corregua á parte as perdas
e dapnos, que per sua culpa, ou *negligencia*[12] receber, e seja esta parte creuda
dello per seu juramento.
4 – E esto, que assy estabelecemos *do tempo*[13] das ditas execuçoens, queremos
e Mandamos que se nam entenda naquellas pessoas, que de Nós privilegios tem
sobre a dita rezam. (E queremos, e Mandamos, que esta Ley aja luguar, e se
guarde em todo e por todo, nos feitos, e neguocios, e couzas, que se fezerem, e
acontecerem, per a guisa que em ella he contheudo, des o dia, que for pubricada
na nossa Corte, até tres mezes.
5 – Era de mil, e quatrocentos quarenta e quatro annos doze/vinte e dous dias
do mez de Mayo, em Santarem, nos Paços do Arcebispo de Lisboa, que estam
fora da Villa, onde pouzava ElRey. Alvaro Gonçalves Chanceller Mor do dito
Senhor fez, e mandou pubricar esta Ordenaçam aqui escripta, a qual loguo
foi pubricada, e leuda perante elle, e prezente Dom Fernam Rodrigues Mestre
da Cavallaria da Ordem d’Aviz, e os Doutores Gomes Martins Juiz dos Feitos

1
No doc. da Lousã.
2
Falta no doc. da Lousã.
3
Falta no doc. da Lousã.
4
No doc. da Lousã.
5
No doc. da Lousã., a vermelho: “Como os beens de raiz am de seer uendudos a tres meses e os mouiz
tres noue dias e como os porteiros am de fazer as exucaçoes e a pena que mereceem se a nom fezer ao
tempo”.
6
Falta no doc. da Lousã.
7
Estabelecemos”, no doc. da Lousã.
8
“da nosa corte”, no doc. da Lousã.
9
“husou”, no doc. da Lousã.
10
“nom”, no doc. da Lousã.
11
No doc. da Lousã.
12
“minga”, no doc. da Lousã.
13
“depois”, no doc. da Lousã.

378
José Domingues

d’ElRey, e Lançarote Esteves, isso mesmo Doutor, e presente os Licenciados


Fernam Gonçalves, e Vasco Gil de Pedroza do Desembarguo do dito Senhor,
e Rodriguo Annes Ouvidor da Rainha, e outros muitos homens boons, que hy
presentes estavam: da qaul pubricaçam o dito Chanceller mandou a mim Joam
Fernandes Escripvam do dito Senhor, que o escrepvesse assy, o que eu fiz por
seu Mandado.)[1]

[Outrosy, tolhemos e reuogamos quaaes quer lleis e ordinhaçoes dos nosos


antesseçores per que outorgaram de seerem feitas e compridas as exucoçoes nos
beens dalguas pesoas em quallquer caso que Seia per tempo maas pellongado
que este que he per nos estabelecudo em esta nosa lley saluo nas pesoas priui-
ligiados per nos como dito he.
Per esta nosa lley nom entendemos a reuogar nem mudar nas lleis e ordinhaçoes
de nosso auoo e de nosso padre e nossas per que nos beens que desemparam
e leixam as acusações que constam em iuizo ou enduzem molheres uirges ou
uyuuas que uiuem onestamente pera fazerem mal de seus corpos ou cometem
outros malefícios ou fazem alguas malfeitorias ou em outras cousas especiaaes
Seia feita e comprida a exucaçom per tal ou per tamanho ou meor tempo deste
que he comteudo em esta nosa lley que temos e mandamos que as lleis e ordi-
nhaçoes fiquem e estem em sua força pella gisa que en ella he conteudo.
Era de mil e iiijº e xbij anos xij dias de setenbro na cidade de lixboa na alcaçoua
nos paaços delRey hu faziam as audiancias do crime sendo hi lourence anes
fogaça chanceler e gonçallo martins e gomes martyns ouuidores do crime e
gonçalo anes e lourenço esteveez sobre iuizes na corte do dito senhor e outros
muitos homeens boons] da dita cidade e doutras partes do Reino foram leudas
aquy conteudas e eu esteue annes esto escreuy][2]

6 – A qual Ley vista per Nós, declarando acerca della Dizemos, que se por parte do
condenado forem postos alguns embargos á execução, ou arremataçam, e durando
a contenda sobre os ditos embarguos, sayo, e se acabou o tempo dos ditos tres
mezes, ou vinte e sete dias; Dizemos que acabada a dita contenda, os beens de
raiz, em que assy for feita a execuçam, nam andem mais em preguam que nove
dias, e os beens movees tres dias, segundo mais compridamente he contheudo no
Titulo, Das Execuçoens, que se fazem per as Sentenças[3].
7 – E com esta addiçam, e declaraçam Mandamos que se guarde a dita Ley, como
em ella he contheudo, e per Nós declarado, como dito he.

XXXXIII – Dos que tem privilegios pera citarem seus contemtores à Corte, que os nam
possão citar sem mandado especial d’ElRey.
[Ordenações de D. Duarte, p. 446]
[Cortes D. Afonso IV, pp. 118-119]

ElRey Dom Affonso o Quarto da Louvada Memoria em seu tempo fez huma Ley
em esta forma, que se segue.

1
Falta no doc. da Lousã.
2
No doc. da Lousã.
3
Remete para o título 89, deste livro.

379
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

1 – Igual rezam he, [E dereito][1] que se privilegios alguuns sam *outorguados*[2],


e nam usam delles, como devem, *que os percuam.*[3] Porem Nos Dom Affonso
*pela Graça de Deos*[4] Rey de Portugal, e do Algarve comcirando *como*[5] Ley
e custume he *em*[6] nossos Regnos, que algumas pessoas da nossa mercee ajam
privilegio de citarem aa nossa Corte aquelles, contra que demanda emtendem
aver; e porque alguuns (destees,)[7] que tal privilegio ham, maliciosamente, e como
nam devem, uzão delle, chamando muitos aa nossa Corte pera os derramcar;
estabelecemos, e *poemos*[8] por Ley, que nenhuum daquelles, que este privilegio
ham, [nom][9] possa citar aa nossa Corte per vertude *do*[10] privilegio pessoa que
seja, salvo se amte Nós guanhar pera esto graça especial.
2 – E porem defendemos ao nosso Chanceller, e aquelles, que nossa *Portaria*[11]
ham de veer, que taees citações como estas nom passem por elles, salvo per a guisa
que dito he; e se passarem, Mandamos que *os*[12] que per ellas citados forem, nom
sejão theudos de virem parecer, nem responder por as ditas citações, nem se faça
per estas Cartas obra. E esto mesmo Mandamos guardar em todos aquelles, que
querem usar das Cartas das Emcomendas, que de Nos ham, querendo por ellas
citar aquelles, de que dizem que recebem dapno contra a nossa Encomenda. Pero
temos por bem, que os Procuradores, e Escripvães das nossas Audiencias possam
demandar os seus solairos dos *preitos*[13], em que aqui forom Procuradores, ou
Escripvãees, perante aquelles Juizes, que *se os*[14] feitos trautarem [pobricada em
lixboa primeiro dia de Julho Era mjll E iijc Lxxbiijº annos per mestre Pedro E
mestre gonçallo E per pero do sem][15].
[Era de mil trezentos Seteenta e ojto annos. Sabado primeyro dias(sic) de Julho
em Lixbõa forom pobricadas estas Leis per Pero do ssem Chanceler d el Rey
presentes Meestre Pedro e Meestre Gonçalo das Leis E outros mujtos da merçee
dEl Rey gram peça de Poboo do sseu senhorio][16]

3 – A qual Ley vista per Nós, declarando acerqua della Dizemos, que se alguum
dos nossos Officiaes da Justiça, que estam em a nossa Casa do Civel, quiserem
por bem, e vertude de seus privilegios citar seus Contentores fora da Comarqua,
honde estiverem assentados, porque seria a elles trabalho e perlonga, cada vez
que taees citaçõees quiserem fazer, fazello a Nós sabente, porque as vezes sere-
mos muito alonguado a esse tempo do lugar, donde a dita Casa estever assentada;
porem Mandamos, que quando alguum dos ditos Officiaes quiserem demandar
alguum seu Comtentor fora da dita Comarqua, faça dello emformação a aquel-

1
Nas ODD.
2
“ou forem dados”, nas ODD. Mas com dúvida de leitura, assinalada no final.
3
“de os perderem”, nas Cortes e nas ODD.
4
“E cetera”, nas ODD.
5
“que”, nas Cortes e nas ODD.
6
“nos”, nas Cortes e nas ODD.
7
Falta nas ODD.
8
“ordinhamos”, nas Cortes e nas ODD.
9
Nas ODD e nas Cortes..
10
“de tall”, nas ODD.
11
“chançelaria”, nas ODD.
12
“aqueles”, nas Cortes e nas ODD.
13
“espritos”, nas ODD.
14
“seos”, nas ODD.
15
Nas ODD.
16
No final do documento das Cortes.

380
José Domingues

le, que per nós tever a esse tempo Regimento da dita Casa, e elle com o Chan-
celler vejam essa enformaçam; e segundo a cousa, ou cantidade, sobre que for a
demanda, e bem assy a pessoa, que ouver de ser citada, assy lhe dem Carta pera
citar a parte; cá não parece ser cousa resoada, que por pequena cousa tragua seu
Comtentor de longua terra á Corte, maiormente sendo homem pobre, e de muito
pequena condiçam.
4 – E querendo esse Official citar alguum privilegiado fora da dita Comarqua, assy
como Viúva, Orfãao, ou pessoa miseravel; em taees casos Mandamos que lhe nom
seja dada Carta pera citar taees pessoas, a menos de ser notificado a Nós, pêra
vermos a qualidade das pessoas, e bem assy da cousa ou quantidade, que ouver
de ser demandada, pera Nos todo vermos, e darmos em ello desembarguo como
acharmos por Direito, segundo jaa mais compridamente avemos dito no Titulo
Dos que podem trazer seus Comtentores á Corte por rezam de seus privilégios, &c.[1]
5 – E com esta declaraçam Mandamos que se guarde a dita Ley, como em ella he
contheudo, e per Nós declarado, como dito he.

L – Como foi outorguado aos Fidalguos, que ajam suas Terras honradas, e coutadas com
todas suas Jurdições, como as avião antes vinte annos da morte de ElRey Dom Diniz.[2]
[Ordenações de D. Duarte, 532-534]
[Chancelaria D. Afonso IV, vol. III, doc. 410, pp. 313-316]

ElRey Dom Affonso o Quarto, da louvada e famosa memoria, em seu tempo fez
huma Ley em esta forma, que se segue.

1 – Dom Affonso pela Graça de Deos Rey de Portugal, e do Algarve. A quantos


esta Carta virem faço saber, que Gonçalo Anes de Souza, e Vasquo Martins Zote,
Procuradores dos Filhos-dalguo do meu Senhorio vieram a mim, e pediram-me
da parte dos ditos Filhos-dalguo, que tevesse por bem de lhe fazer merce per
esta guisa: que as Honras, que eram contheudas nas Inquirições, que ElRey
meu Padre, que Deos perdoe, mandou fazer per o Prior da Costa, e per Gonçalo
[annes][3]Moreira, e per *Diogo/Domingos*[4] Pães de Bragua, que as ouvessem
os Filhos-dalguo por a maneira, que em essas Imquiriçõees he contheudo, e que
estevessem ao tempo que essas Inquiriçõees foram tomadas; e se per ventura em
essas Inquiriçõees fosse achado, (que traziam)[5] os *Senhorios*[6] dessas Honras
(em ellas)[7] Juiz, ou Vigairo, e nam dicessem qual Jurdiçam aviam, que lhes
mandasse que esse Vigairo, ou Juiz ouvisse todolos Feitos Civees dessas Honras,
em que assy fosse achado, e nam conhcessem dos Feitos Criminaes, salvo se os

1
Remissão para o título 4, deste mesmo livro.
2
“Aos fidalgos do Regnno carta per que he mandado que ajam suas homrras com todolas Jurdições e de-
reitos que foram achadas nas Jmquiricoes(sic) e homrras e devasos etc”, na Chancelaria.
“Como el Rey Manda que os fidalgos aJam suas herdades coutadas E honrras como as auyam ante xx an-
nos que el rej Dom denys seu padre morrese”, nas ODD.
3
Na Chancelaria.
4
“Domjngos”, na Chancelaria e nas ODD.
5
Falta na Chancelaria.
6
“Senhores”, na Chancelaria e nas ODD.
7
Falta na Chancelaria.

381
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

*Senhorios*[1] dessas Honras mostrassem Privilegios, per que de direito devessem


aver Jurdiçam Criminal: Outro sy me pediram *de*[2] merce, que todalas honras,
que foram feitas ate *vinte*[3] annos, ante que meu Padre morresse, como quer
que nam fossem contheudas nas Inquiriçõees suso ditas, que fossem honradas
tambem ellas como as outras, que nas ditas Inquiriçõees sam contheudas, em
que se nam provasse nenhuuma Jurdiçam, que lhes nam entrassem hi Mordomo,
nem Sayam, e que nam curavam de serem honradas, *ou*[4] [As outras honrras]
[5]
que fossem feitas de *vinte*[6] annos ante que meu Padre morresse *acá*[7]; e
que os Senhores dessas Honras podessem conhecer dos Feitos, que os moradores
dellas ouvessem, em rezam dos dapnos, que os guados fezessem nos pãaes, e nos
tapamentos, e nas Coimas dos britmentos das aguaas, que se huuns *e*[8] outros
fezessem; e que nos outros Feitos os seus homeens, que por elles em essas Honras
estevessem, podessem emprazar os moradores dessas Honras, quando lhes fosse
demandado, pera hirem fazer direito a esses, que os fizessem emprazar, perante o
meu Juiz dessa terra, em que as ditas Honras sam feitas.
2 – E eu vendo o que me pediam, e querendo-lhe fazer Merce e Graça, tenho por
bem, e Mando que os Filhos-dalguo de meu Senhorio ajam as Honras, que som
contheudas nas ditas Inquiriçõees, com todalas Jurdiçõees, e Direitos, que forem
achados nas Inquiriçõees suso ditas, e que aviam ao tempo, que as [dictas][9]
Inquiriçõees foram filhadas; e que lhes nom entre hi Mordomo, nem Sayam, nem
nas outras, que foram feitas atee *vinte*[10] annos, ante que meu Padre morresse.
3 – E se na Inquiriçõees suso ditas for achado, que alguuns traziam em *suas*[11]
Honras Juiz, e não disserem as testemunhas qual Jurdiçam aviam, que esse Juiz
possa ouvir todolos Feitos Civees dos moradores dessas Honras; e se for achado,
*que em essas Honras*[12] traziam Vigairo, e não falam de Juiz, que esse Vigairo
possa ouvir os Feitos dos dapnos, que os guados fezerem nos pãaes, e nos
tapamentos, e das Coimas, em que *quaissem*[13] os moradores dessas Honras
huuns a os outros per rezam dos britamentos das aguoas; e nam possa conhecer
de posse, nem de propriedade dessas agoas, se as alguuns demandarem, ou por
sy aleguarem, mais possa esse Vigairo *citar*[14] esses moradores, assy por rezam
de possissam, e propriedade dessas aguoas, como por todolos outros Feitos, de
que elle nam ha de conhecer, que vam fazer direito perante o meu Juiz, em cujo
Julgado essa Honra estever.
4 – Pero tenho por bem, (e Mando,)[15] que se alguum mostrar privilegio, per que
de Direito deve aver maior Jurdiçom, que esta suso dita, tambem em Feito (de
Juizes,)[16] como de Vigairo, que lhe seja guardado o dito privilegio.

1
“Senhores”, na Chancelaria e nas ODD.
2
“por”, nas ODD.
3
“xx”, nas ODD.
4
“os”, nas ODD.
5
Na Chancelaria.
6
“xx”, nas ODD.
7
“Ata”, na Chancelaria.
8
“Aos”, na Chancelaria e nas ODD.
9
Na Chancelaria.
10
“xx”, na Chancelaria e nas ODD.
11
“esas”, nas ODD.
12
“en essas Enquerições que”, na Chancelaria.
13
“queerem”, na Chancelaria e nas ODD.
14
“curar”, nas ODD.
15
Falta na Chancelaria e nas ODD.
16
Falta na Chancelaria.

382
José Domingues

5 – Outro sy tenho por bem, e Mando, que tambem nas Honras, que sam contheudas
nas *ditas*[1] Inquiriçõees, em que nam for achado que tragiam Juiz, nem Vigário,
como nas outras Honras, que não sam contheudas nas ditas Inquirições, que forão
feitas ante [xx Anos][2] que meu Padre morresse, que os Senhores dessas Honras
por sy, ou per outrem possam ouvir os Feitos dos moradores dessas Honras, em
rezam dos dapnos, que os guados fezerem nos pãaes, e nos tapamentos, e das
Coimas, *e*[3] britamento das aguas, como dito he.
6 – Outro sy seus homeens, que por elles em *suas*[4] Honras esteverem, possam
citar os moradores dessas Honras, quando lhes for pedido, que vam fazer direito
[en nos outros ffectos][5] perante o meu Juiz, de cujo Julguado essa Honra for.
7 – Outro sy Mando, que se alguuns se *colherem*[6] a essas Honras, que dellas
nom sejam moradores, que o meu Porteiro entre em ellas, e os cite per-ante o
(meu)[7] Juiz, que de direito deve conhecer de tal Feito.
8 – E se perventura nas Inquiriçõees suso ditas for achado, que alguuns traziam
em essas Honras Juiz, e Vigario, e as testemunhas nam disserem qual Jurdiçam
aviam cada huum delles, que o Juiz ouça todolos Feitos Civees, e o Vigario possa
citar perante elle (*todolos*[8] moradores)[9] *dessas*[10] Honras, e nam ajam outra
Jurdiçam.
9 – E esta Merce lhe faço com esta condiçam, que elles nam acrecentem as Honras,
que foram feitas até o dito tempo, nem façam outras de novo, nem filhem maior
Jurdiçam, que aquella, que per mim lhe he dada, nem embarguem aas minhas Jus-
tiças a Jurdiçam, que nos outros Feitos ham daver, de que elles nom devem conhe-
cer. E se contra esto forem em todo, ou em alguuma parte, que essas Honras, em
que for feito, sejam loguo devassas, e de mais averom elles pena per qual o Feito
for. E por esta Graça, que lhes faço, nom entendo fazer prejuizo áquelles, que nas
ditas Honras, ou Jurdiçõees dellas ham alguum direito.
10 – Outro sy tenho por bem, e Mando, que todalas Honras, que foram feitas
dês *vinte*[11] annos, [ante][12] que meu Padre morreo, *acá*[13], que sejam devassas.
Damte em Santarem tres dias de Janeiro. ElRey o mandou. Joham Duraaez a fez
Era de mil e trezentos e oitenta e *huum / dous*[14] annos [El Rey A uyu][15].

11 – A qual Ley vista per Nós, Mandamos que se guarde assy como em ella he
contheudo, e como foi usado, e custumado até o falecimento do Famaso Rey meu
Senhor, e Padre da gloriosa memoria, que Deos aja no seu Santo Paraizo.

1
“ssobredictas”, na Chancelaria e nas ODD.
2
Na Chancelaria.
3
“dos”, nas ODD.
4
“essas”, na Chancelaria e nas ODD.
5
Na Chancelaria.
6
“chamarem”, na Chancelaria.
7
Falta na Chancelaria e nas ODD.
8
“os”, nas ODD.
9
Falta na Chancelaria.
10
“da dicta”, na Chancelaria.
11
“xx”, na Chancelaria e nas ODD.
12
Na Chancelaria e nas ODD.
13
“Ata”, na Chancelaria.
14
“dous”, na Chancelaria e nas ODD.
15
Na Chancelaria e nas ODD.

383
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

LXXXVIIII – Das Execuçoens, que se fazem geralmente polas sentenças.[1]


[Livro das Leis e Posturas, pp. 407-408]

ElRey Dom Affonso o Quarto de louvada memoria em seu tempo fez Ley em esta
forma que se segue.

1 – Outro sy he mandado per ElRey nos feitos das Execuçoens, que fazem pelos
seus Sacadores por razam das suas dividas, e nas outras [Eixecuções][2], que
se fazem per seus Porteiros por rezam das dividas, que devem alguuns de seu
Senhorio, ou de fora delle, se aquelle, contra que se faz execuçam, dicer perante
o Juiz da terra, hu esta execuçam fezerem, que se não deve fazer esta execuçam
por alguumas rezoeens, que digua loguo perante o Juiz essas razoens por que
embargua a [dicta][3] execuçam; e que se o Juiz vir que essas rezoeens são boas, ou
cada huma dellas, que mande logo a esse Sacador, ou Porteiro, que nam faça a dita
execuçam; e que assine dia a esse Sacador, ou Porteiro, e aa parte que o embargua,
a que vam perante os Ouvidores da Portaria, ou perante aquelles, que ham de
veer o haver d’ElRey, quando for a execuçam sobre divida d’ElRey, pera (todo)
[4]
verem esses, que ham de livrar os feitos, e as rezoeens, por que embarguam as
execuçoeens, e fazerem o que for direito. E dizem que alguns, porque lhes não
*pedem*[5] juramento, quando põem as ditas rezoeens perante o Juiz da terra,
pera embarguar as ditas execuçoens, se as dizem bem e direitamente, porque
entendem que som verdadeiras, e as podem provar, que põem essas rezoeens
maliciozamente, por darem delongua *a*[6] se nam fazerem as ditas execuçoeens
mais, que por outro Direito que (hy)[7] hajam: e de mais, que põem a ello perante o
Juiz da terra huumas rezoeens, e quando vem perante aquelles Juízes, que os ham
de desembargar, leixam as (primeiras)[8] rezoeens, que disseram perante o Juiz da
terra, e dizem outras pera darem mayor delongua a esses feitos.
2 – Tem ElRey por bem, pera se não fazerem essas malicias, que quando alguum
quizer embarguar a execução, que contra elle querem fazer, que digua loguo
perante o Juiz da terra todalas rezoeens, que pera *ello*[9] ouver, e nom lhe sejam
depois recebidas outras [rrazões][10] perante os Juizes, que o feito ouverem de livrar:
e jurem aos (Santos)[11] Avanjelhos, que as põem bem, e direitamente, e que as
entendem de provar. E se o Juiz entender, que as rezoeens, ou cada huuma dellas
sam boas, assine-lhes termo assy como per ElRey he mandado, (a que pareçam
ambos perante aquelles, que a dita Sentença deram, pera os dezembarguar com

1
“Eixecuções que se fazem pelos sacadores e portejros”, no LLP.
“Como el Rey Manda que os fidalgos aJam suas herdades coutadas E honrras como as auyam ante xx an-
nos que el rej Dom denys seu padre morrese”, nas ODD.
2
No LLP.
3
No LLP.
4
Falta no LLP.
5
“podem dar”, no LLP.
6
“pera”, no LLP.
7
Falta no LLP.
8
Falta no LLP.
9
“esto”, no LLP.
10
No LLP.
11
Falta no LLP.

384
José Domingues

seu Direito:)[1] e meta loguo o Credor em posse de tantos beens desse devedor, que
embargua a execuçam, que valham essa divida que he contheuda na execuçam, e
as custas, perdas, e dapnos, que o Credor per rezam desse embarguo receber. Pero
se esse devedor der boons fiadores, per que o Credor possa aver a dita divida com
as custas, e dapnos, que receber por rezam do dito embarguo, nom seja o devedor
esbulhado de seus bens. E se o devedor nom poder aver os ditos fiadores, emtam
os juizes da terra metam o Credor em posse dos beens do devedor, como dito he,
dando esse Credor ante boos fiadores, per que esse devedor aja todos seus beens,
e corregudo alguum dapno se em elles receber, quando achado for que embargou
a dita enxecuçom como devia. E se per ventura o Credor, nem o devedor nam
poderem haver os fiadores como dito he, entam o dito Juiz ponha os ditos beens
em socresto em taaes pessoas, per que cada huuma das partees possa aver o seu
direito, quando for desembarguado o [seu][2] feito.
3 – Outro sy tem (ElRey)[3] por bem que se achado for que o dito devedor embargou
a dita execuçam como nam devia, que seja contado o tempo do dito embarguo
naquelle tempo, que os beens do devedor aviam de andar em preguam; e se o
embarguo durar tanto tempo, ou mais, como aquelle, que os beens aviam de andar
em pregam, se os beens que se [asij][4] ham de vender forem raiz, andem de mais
nove dias em preguam, e se forem movees, andem de mais tres dias em preguam.
4 – A qual Ley vista per Nós, porque se nella mostra fallar somente na auçam pes-
soal; emadendo, e declarando em ella, Dizemos que aja luguar assy na auçam real,
como pessoal, tendo esse Juiz da execuçam ácerqua da couza, que he julguada, e
fruitos della, toda aquella maneira, que a dita Ley manda ter acerqua da penhora,
que se faz pela divida na pessoal; e se esse Juiz da execuçam nam quizer remeter
esses embarguos aos Juizes d’alçada, poderá conhecer delles, e dar hy desem-
barguo, como achar per Direito, dando apelaçam, e aggravo nos casos, que deve
segundo Direito, e Ordenaçõoes sobre ello feitas.
5 – E deve esse Juiz ser bem avizado, que em todo o caso, que do seu julguamento
e terminaçom der appellaçam, ou aggravo, sempre o dê pera aquelles Desembar-
guadores, e Officiaees, que a dita Sentença deram: e bem assy faça, quando fizer
remiçam desses embarguos allegados contra a dita execuçam, em tal guisa que
sempre os remetta áquelles Desembarguadores, e Officiaees, que a dita Senten-
ça principal finalmente deram; ca pois elles deram a Sentença principal, rezoada
cousa parece ser que elles conheçam dos embarguos postos, e aleguados contra a
execuçam della, e outrem nom.
6 – E porque o Juiz da execuçam poderá duvidar quaees sam embarguos, e
resoeens, que embarguam a execuçam, e se podem poer e aleguar contrella, e
bem assy sobre quaees embarguos deve dar apelaçam, ou aggravo, ou fazer a
dita remissam, poderá emformar-se bem por o que avemos dito e declarado no
Titulo, Das Excepçoens perentorias[5], e no Titulo, Quando poderám apelar do Executor
da Sentença[6].
7 – E com esta declaraçam, e adiçam Mandamos que se guarde a dita Ley, como
em ella he contheudo, e per Nós emadido, e declarado.

Esta ordenação faz parte do conjunto de quatro leis publicadas em Coimbra a 16


de Janeiro de 1342.

1
Falta no LLP.
2
No LLP.
3
Falta no LLP.
4
No LLP.
5
Remete para o título 55, deste livro.
6
Remete para o título 79, deste livro.

385
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

CI – Se alguns guanharem d’ElRey Porteiros, ou Sacadores, que paguem o dapno, que


elles sem rezam fezerem aas partes.[1]
[Ordenações de D. Duarte, 447-448]
[Cortes D. Afonso IV, pp. 117-118]

ElRey Dom Affonso o Quarto da Louvada Memoria em seu tempo fez Ley em esta
forma, que se segue.

1 – Porque a todos aquelles, que *d’alguumas*[2] (couzas)[3] se entendem de


aproveitar, natural rezam he de se *haverem*[4] (de emparar)[5] aos emcarreguos,
que per elles *recebem, porem*[6] consirando Nós Dom Affonso *&c.*[7] que os
do nosso Senhorio recebem muitos dapnos por os nossos Porteiros das nossas
Audiencias, e pelos nossos Sacadores, que fazem as *execuçoens*[8], e per aquelles,
que alguuns guanham de Nós, [por porteiros][9] tambem Sanhoaneiros, como
pera fazer as *execuçoens*[10], errando esses Porteiros em seus Officios, e fazendo
o que nam devem; e por esta rezam são chamados a Juizo per aquelles, a que o
dapno fazem, e achando em Juízo que errão em seus Officios, e assy sam theudos
áquelle dapno, que fezeram, e (nom)[11] lhes podem achar tantos de seus bens, per
que aquelles, que o dapno recebem, possam aver emmenda. Porem Ordenamos,
e estabelecemos por Ley, que se daqui endiante alguum dapno recrecer por os
erros, que os ditos Porteiros, ou (nossos)[12] Sacadores fezerem em seus Officios, e
per os seus beens não possa ser satisfeito a esses, que o dapno recebem, Mandamos
que per os nossos beens seja feita emmenda áquelles, que per os Porteiros das
nossas Audiencias dano receberem: e esta medês emmenda seja feita per os beens
daquelles, que de Nós Porteiros ganharem Sanhoaneiros, ou pera fazerem as
*execuçoens*[13], se em esses Officios errarem, e per os seus beens aas partees, *a
que o dapno fezerem,*[14] nom possa ser corregido.
2 – E mandamos, que se alguns de Nós quizerem guainhar (os ditos Porteiros,)
[15]
nom lhe sejam dadas Cartas, ata que se obriguem a satisfazer as couzas
sobreditas.
3 – E pera averem aquelles, que dapnos dos Porteiros receberem, emmenda mais
cedo, Mandamos que seja em *sua*[16] escolheita de demandar os sobreditos, que
de Nós Porteiros guanharem, ou esses Porteiros, perante o Corregedor daquella

1
“Como el rrej manda que aquelles que pidirem parçeiros corregam per ellees os dapno”, nas ODD.
“Dos porteyros”, no LLP.
2
“d alguuns”, nas Cortes.
3
Falta nas Cortes.
4
“auijrem”, nas Cortes.
5
Falta nas Cortes e nas ODD.
6
“Recreçem Porem”, nas Cortes. “rrequeeçem parar”, nas ODD.
7
“pella graça de deus rrej de portugall E do algarue”, nas ODD e nas Cortes..
8
“enxugaçõees”, nas ODD.
9
Nas Cortes e nas ODD.
10
“enxugaçõees”, nas ODD.
11
Falta nas ODD.
12
Falta nas ODD.
13
“enxugações”, nas ODD.
14
“o que errarom”, nas ODD.
15
Falta nas ODD.
16
“essa”, nas Cortes.

386
José Domingues

Comarqua, hu o dapno for feito, ou perante os Ouvidores da nossa Portaria; e se


escolher o Corregedor, Mandamos que delle nam possa ser apelado de nenhuuma
das partes. E o que do Porteiro da nossa Audiencia dapno receber, demande elle,
ou Nós, quando (elle)[1] nam ouver por *onde*[2] satisfazer, perante os Ouvidores
da nossa Portaria. E esto mesmo seja guardado, quando o devedor quiser poer
contra o Credor, e contra seu Porteiro, que não deve ser feita execuçam (contrelle,)
[3]
que possa escolher Juiz, como dito he [pobricada em lixboa primeiro dia de
Julho Era de mjll iijc Lxxxbiijº annos per mestre Pedro E per mestre gonçallo E
per pero do sem chançeleer][4].
[Era de mil trezentos Seteenta e ojto annos. Sabado primeyro dias(sic) de Julho
em Lixbõa forom pobricadas estas Leis per Pero do ssem Chanceler d el Rey
presentes Meestre Pedro e Meestre Gonçalo das Leis E outros mujtos da merçee
dEl Rey gram peça de Poboo do sseu senhorio][5]

4 – A qual Ley vista per Nós, declarando acerca do que dito he na(sic) fim della,
Dizemos, que se o condenado quiser poer contra execuçam, e aleguar alguumas
razoens, per que se nam deva fazer, alegue-as perante esse Juiz, que deo a Senten-
ça contra elle, ou a quem per Nós for cometida a execuçam della; e se lhe ouver
alguuma sospeiçam, per que o queira recuzar por sospeito, ponha a suspeiçam em
forma, e esse Juiz da execuçam cometa a dita recusaçam a hum homem boom, em
que se as partes louvem, pera desembarguar, como achar que he Direito; e quan-
do as partes se nam quiserem louvar em o dito homem bom, o Juiz recusado de
seu Officio escolha esse homem bom, a que a cometa sem malicia, o mais a prazer
das partes que o bem fazer possa. E esse, que per elle assy for enlegido, veja a dita
recusaçam, e se achar per ella, que procede, e for provada, remeta essa execuçam
aos Juizes Ordinarios do Luguar; e se elles forem sospeitos, ou embarguados em
tal guisa, que a fazer nom possam, façam-na os outros Juizes, que forom o anno
passado, ou a remetam a alguuma pessoa sem sospeita, que a faça justamente, e
como deve; e no caso, que o dito principal Juiz da execuçam for achado por nam
sospeito, mande fazer essa execuçam, e proceda por ella em diante como achar
per direito.
5 – E com esta declaraçam Mandamos que se guarde a dita Ley, segundo em ella
he contheudo, e per Nós declarado, como dito he.

LXXIIII – Das Appellações, que saem das terras dos Fidalguos.[6]


[Ordenações de D. Duarte, 301-302]
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 221-221v]

ElRey D. Diniz de Gloriosa Memoria em seu tempo fez huuma Ley em esta forma
que se segue.

1
Falta nas ODD.
2
“que”, nas Cortes e nas ODD.
3
Falta nas Cortes e nas ODD.
4
Nas ODD.
5
No final do documento das Cortes.
6
Ley Jeerall per que he mandado que quaaesquer pesoas que teuerem Jurdiçom em estes rregnos que
dem apelaçõees as partes que apellar quiserem com penna aos que do contrairo fezerem etc.”, no Livro de
Extras.

387
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

1 – Dom Diniz *per Graça de Deos Rey de Portugual, e do Alguarve.*[1] A todollos


Ricos Homeens, e Ricas Donas, e Mestres, e Priores das Ordens, e Cavalleiros,
e Donas, (e a todollos outros quaesquer)[2] de *Nossos*[3] Regnos, que avees
Jurdiçam em Villas, e em Castellos, e Herdades, de qualquer estado, e comdiçam
que sejaes, saude. Sabede, que (a Mim)[4] *disseram, que alguuns nom appellão*[5]
de vós pera Mim com medo, e receo, (que ham)[6] de vós, e d’outros, que tendees
em vossos loguos; e que (a)[7] outros, que appellam, que lhes nom daees, nem
querees dar as appellações: Outro-sy me disseram, que quando pera vós appellam
dos Juizes, ou Alcaides das vossas terras, ou ham perante vos alguum preito,
que daees a ouvir essas appellações, e esses preitos a *outros*[8] em vosso loguo
enguanosamente contra a Minha Jurdição, pera appellarem a vós, e não a Mim; e
*em*[9] esto se perlongua tanto os preitos, que as partees ficam estraguadas, e nam
vem as appellações a Mim, como deviam.
2 – E esto [me][10] semelha a Mim (mui)[11] desaguisado, ca em se fazer assy,
seria (muy)[12] gram dapno da Minha terra, e grande mingua de Justiça, e gram
delonguamento, e dano dos que os preitos ham. E vós devees saber, que he Direito,
e uso, e custume jeral dos meus Regnos, que em todalas Doações, que os Reys
fazem a alguuns, sempre fica esguardado *a*[13] os Reys as appellações, e Justiça
maior, e outras cousas muitas que ficam *aos*[14] Reys, em sinal, e conhecimento de
maior Senhorio: e estas cousas sempre se assy fezeram, e *trautaram*[15] em tempo
dos Reys, que ante Mim foram, e no Meu.
3 – Porque vos Mando (a todos,)[16] e a cada huum de vós, que cada que alguum,
ou alguuns nos Luguares, *honde*[17] vós *tenhades*[18] Jurdiçam, appellarem de
vós para Mim, que lhe dees as appellações, assy como (manda a Ley, e)[19] custume
de Meus Regnos, que tal he. Convem a saber, [que][20] quando *alguum*[21] appellar
na Villa hu Eu nam for, que peça a appellaçam a os nove dias; e se lha o Juiz nam
der, deve-se vir querelar a Mim ate os *trinta*[22] dias, *contados*[23] hy estes nove
(dias)[24]: (e se appellar hu Eu for, deve-a pedir aos tres dias; e se lha nom derem,
querele-se a Mim até os nove dias, contados hy estes tres dias)[25].

1
“E cetera”, nas ODD.
2
Falta nas ODD.
3
“meus”, nas ODD e no Livro de Extras.
4
Falta nas ODD.
5
“alguuns me diserom que nom apellam”, nas ODD.
6
Falta nas ODD e no Livro de Extras.
7
Falta nas ODD e no Livro de Extras.
8
“outrem”, nas ODD.
9
“por”, nas ODD.
10
Nas ODD.
11
Falta nas ODD.
12
Falta nas ODD e no Livro de Extras.
13
“pera”, nas ODD e no Livro de Extras.
14
“dos”, nas ODD.
15
“teuerom”, nas ODD e “trouuerom”, no Livro de Extras.
16
Falta nas ODD.
17
“em que”, nas ODD e no Livro de Extras.
18
“aJades”, nas ODD e no Livro de Extras.
19
Falta nas ODD.
20
Nas ODD.
21
“alguem”, nas ODD e no Livro de Extras.
22
“xxx”, nas ODD.
23
“conthudos”, nas ODD.
24
Falta no Livro de Extras.
25
Falta nas ODD.

388
José Domingues

4 – Outro sy Mando, que quando *pera vós*[1] appellarem, que se as appellações


*derdes a ouvir a outrem*[2] em vosso loguo, (como)[3] dito he, que se dellas [como]
[4]
appellarem, que appellem pera Mim, e nam pera vós: e que lhe nam façaes
ameaça, nem mal, nem *nos*[5] achaquedes por *essa*[6] rezão; *que aquelle,
ou aquelles,*[7] que o fizerdes, ou mandar-des fazer, Tenho por bem, e Mando,
avendo Conselho com minha Corte, que perquaees todo direito, e Jurdição, que
*tiverdes*[8] em virem a *vós*[9] as appellações tãobem desse preito, como de
todollos outros, em aquelles Lugares, hu esto for feito; e que *dahi*[10] endiante,
tanto que appellarem dos Juizes, ou Alcaides, que venham a Mim pera sempre, e
*nunqua*[11] a vós; e de mais farvos-ey paguar todollos dapnos e perdas, que por
esta rezam as partees receberem.
5 – E maando a todollos Tabaliães de Meus Regnos, hu esta Carta for mostrada,
(que a registem em seus Livros, e)[12] que a leam em Conselho no mez huma vez.
E por nam poderdes depois dizer que nam sabedees esto, Mando pobricar esta
Carta nas Minhas Audiencias. Dada em Santarem a *dezoito*[13] dias de *Março*[14].
ElRey com sua Corte o mandou. Lourence Annes a fez Era de *1355*[15] annos. Esta
Carta foi leúda, e pubricada na Corte d’ElRey nas suas Audiencias perante os
Sobre-Juizes, e Ouvidores *19*[16] dias de *Março*[17] (Era de 1355 annos)[18] [prioll
d’alcaceua vidit Ego aparicius domini uidi petrus uidit magister antonius uidit
Rodericus gonçaluiz uidit Ruy nunez][19].

6 – A qual Ley vista per Nós, adendo, e declarando em ella, Dizemos, que per
quanto alguumas pessoas dos nossos Regnos alleguaram, que os Reys, que ante
Nós foram, outorguaram Privilegios aos Infantes, e a alguuns outros Fidalguos
dos Nossos Regnos, per que os Feitos Civeis fizessem fim em elles, sem outra
appellaçam, nem aggravo, porem Mandamos, que se taaes privilegios mostrarem,
se guardem como em elles for contheudo, e de que esteverem em posse continua-
damente ate o falecimento de ElRey Meu Senhor, e Padre, a que Deos dê sua Santa
Gloria, em quanto das ditas Jurdiçõees uzarem bem e como devem, sem dapno
do povo; ca em outra guisa ficará a Nós proceder contrelles, como acharmos per
Dereito, assy como aquelles, que nam usam como devem de sua Jurdiçam, que
lhe per Nós he dada.
7 – E com esta addiçam, e declaraçam Mandamos que se guarde a dita Ley, como
em ella he contheudo, e per Nós adido, e declarado, como dito he.

1
“a nos”, nas ODD e “a uos”, no Livro de Extras.
2
“as outrem ouujr”, nas ODD.
3
Falta nas ODD.
4
Nas ODD.
5
“uos”, nas ODD.
6
“esta”, nas ODD e no Livro de Extras.
7
“Daquelles”, nas ODD.
8
“auedes”, nas ODD e no Livro de Extras.
9
“nos”, nas ODD.
10
“daquy”, nas ODD.
11
“nom”, nas ODD.
12
Falta nas ODD.
13
“xxbiij”, nas ODD.
14
“agosto”, nas ODD.
15
“mjl iijc Lb”, nas ODD.
16
“xix”, nas ODD.
17
“agosto”, nas ODD.
18
Falta nas ODD.
19
Nas ODD.

389
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

10º

CII – Do Devedor, que emalhea os beens movees depois que he condenado, por se nom fazer
execuçom em elles.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 126 e 182]
[Ordenações de D. Duarte, p. 164]

ElRey Dom Diniz da Famosa Memoria em seu tempo estabelleceo, e poz por Ley,
que se alguum fosse condenado a outro per Sentença em certa quantidade de
dinheiro, pam, vinho &c., e nam pagasse ao tempo que lhe fosse assinado, fizes-
sem execução em seus beens movees, e des y nos de raiz á mingua dos movees,
que avondassem pera a dita condenação; e se esse condenado fosse casado, e ema-
lheasse os beens movees maliciozamente em dapno, e prejuízo da molher, por tal
que se vendessem ende os de raiz, e ficasse por ello a molher danificada, em tal
caso mandou que fosse o condenado prezo, e não solto, ate que trouvesse esses
beens movees, que assy emlheara, em tal guisa que a molher não recebesse dapno
por a enlheaçam assy feita por o dito marido como nom devia.

Dom denys pela graça de deus etc. Nos querentes esquyuar as maliçias dos
homeens e por proueyto e boo paramento dos nossos Reynos stabeleçemos que
por diuyda çerta uendam o mouyl E sse o mouyl nom auondar uendan a Raiz
daqual(sic) dia que o Juiz mandou uender o mouyl a huum anno. E sse alguum
filhar alguma cousa de que outrem sta en posse per sa auctorydade perca o dreyto
que en ela ha. E se achado for que en ela nom ha dreito aquelo que filhar entregue
o ao que o filhou e pela enJuria de lhj outro tanto quanto ualhya aquela cousa que
lhi filhou per sa auctoridade saluante aquel caso en que he dicto . vinuy repellere
licet . Jtem se alguum he tehudo a alguem por çerta soma de djnheiros de pam
ou de ujnho ou doutra cousa. E o hos tempos que ouuera de pagar nom pagou
uenda lhj a Raiz pera pagar a dicta diuida en tal guyssa que non seia feyto mali-
çiosamente. Jtem o uençudo seia condanado nas despessas ao uençedor as quaes
temperamos assy como na demanda das appellaçoes. Jtem outorgamos e Reuo-
ramos aquela ley e dicta pelo mujto honrrado don alffonso nosso padre Conuem
a saber que nenhuum que aia uossa Razom nom seia procurador na uossa Corte
doutro Esto foy feyto na guarda vjnte e quatro dias do mes dagosto Era de myl e
trezentos e xx annos
[Livro das Leis e Posturas, p. 126]

Carta destabeljçimento das djujdas como ham uender por elas.

Dom Denis pela graça de deus Rej de Portugal e do algarue Querendo tolher as
maliçias dos homeens e pera liurar os preytos por prol e por boom paramento dos
nossos Reynos daqui adeante estabelecemos que por deujda e por contrauto e por
condesilho conhoçudo en Jujzo seiam uendudos os beens mouijs E sse esses beens
mouijs nom auondarem sseia uenduda a Rajz daquel dia que os Jujzes mandarem
uender os beens mouijs ata huum ano. Jtem stabeleçemos que se alguum filhar per
ssa outoridade alguma cousa aaquel que a tem en ssa posse perca o dereyto que
en ela ha E sse en ela dereyto nom ha entegue lhi o que lhi filhou e pague lhi outro
tanto quanto lhi filhou per sa outoridade ssaluo en aquel caso en que diz o dereyto
força por força sse tolhe. Jtem sse deue alguem a outrem soma dauer de pam de
vjnho ou doutra cousa qualquer e nom pagar ao tenpo que lhi pom uendam lhi os
beens mouijs os Jujzes dos logares E sse nom auondarem uendam lhi a Rajz pera

390
José Domingues

pagar a dicta deujda en guisa que sse nom faça maliciosamente en dano da molher
E se o mouil nem a Rajz nom auondar e o deujdor enganosamente andar prendan
o e nom no ssoltem ata que a deujda sseia pagada ssenom for uoontade daquel a
que deuem a deujda. Jtem o uençudo pague ao uençedor as despesas lijdimas as
quaaes assy tenperamos commo no fecto das apelações. Jtem outorgamos e con-
firmamos a Ley que he fecta pelo muj nobre Dom Afonso nosso padre Conuem
a ssaber que nenhuum que aia nossa Razom sseia procurador en nossa corte sse-
nom doutro doutro que nossa Razom aia fecto foy esto na Guarda feira ijª xxiiijº
dias dagosto Era de mil e iijc e xx anos.
[Livro das Leis e Posturas, p. 182]

Ley terçeira a que tenpo sse deuem uender os beens mouijs

Dom denys E cetera Se alguum deue a outro ssoma d’auer de pam ou de uinho
ou outra coussa quallquer E nom paguar ao tenpo que lhe põem uenda-lhe a rraiz
pera pagar a dita deujda em guissa que se nom façom maliçiossamente em dano
da molher Conuem a saber o moujll a ix dias E a rraiz ao anno E dia E sse o
demandado com burla ou enganosamente andar prenda’-no E nom o soltem ataa
que nom Seia toda a deujda pagada se nom for uontade daquelle a que deuem a
deujda.
[Ordenações de D. Duarte, p. 164]

1 – A qual Ley vista per Nós, declarando acerca della, Mandamos que não somente
aja luguar no casado, que emalheou os beens movees, por se fazer a execuçam nos
de raiz em dapno e prejuizo da molher, mas haja ainda lugar em qualquer solteiro,
que depois da condenação feita contra elle emalheou os bens, por se não fazer exe-
cução em elles em prejuizo do vencedor; porque em tal caso Mandamos que seja
prezo e não solto, ata que compridamente pague, e satisfaça ao dito vencedor.
2 – E com esta declaração Mandamos que se guarde a dita Ley, como em ella he
contheudo, e per Nós declarado, como dito he.

11º

CVIII – Dos que pedem que lhes revejam os feitos, e Sentenças desembarguadas per os
Juizes da Suplicaçam.[1]
[Ordenações de D. Duarte, p. 186]
[Livro das Leis e Posturas, p. 207]

5 – Era de mil *trezentos e quarenta*[2] annos *sete de Junho / dias de Julho*[3]


em Santarem *per / perante*[4] Vasquo Pires *Troyas*[5], e perante Ruy *Mendes
/ Nunes*[6], e *Ruy*[7] Pães Bugualho, disse da parte de ElRey aos suso ditos, que

1
“Como os ovidores nom deuem curar do feito dês que pasar per sobpricaçam”, nas ODD.
2
“trezentos e x’ª”, no LLP. “iijc Rta”, nas ODD.
3
“vij dias Julho”, no LLP. “vij dias de Junho”, nas ODD.
4
“perdante”, no LLP. “perante”, nas ODD.
5
“froyas”, no LLP e nas ODD.
6
“nunjz”, no LLP e nas ODD.
7
“Lourenço”, no LLP.

391
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

depois que o feito passasse per Supricaçam, que nom parassem em elle mais
mentes, ainda que lho dissessem da sua parte, que o *ouvissem / houvessem*[1]
de certa ciência: (salvo nos casos contheudos na Ley sobre dita, ou se lho ElRey
dissesse de certa ciencia, vendo ante o feito, como dito he na dita Ley.)[2]

Esta transcrição é mais um comprovativo da afinidade entre o Livro das Leis e Pos-
turas, Ordenações de D. Duarte e as Afonsinas. Até a referência “salvo nos casos contheudos
na Ley sobre dita” consta nas Afonsinas e nas Ordenações de D. Duarte, apesar de a lei
antecedente ser diferente em ambos os códices.

Livro IV
“No terceiro livro avemos trautado dos juizos, e autos judiciaaes necessarios, e
perteencentes pera a sustancia, e boa hordenança delles; e porque a maior parte
dos juizos nascem dos coutrautos(sic), e casi contrautos feitos antre as partes, por
tanto entendemos ao diante em este quarto Livro trautar delles, começando primeiro nos
contrautos feitos per moeda antigua, e des y pelas outras moedas, que polos tempos
forom feitas”.[3]

O livro IV é, basicamente, dedicado ao direito substantivo e ao direito sucessório.

“Livro IV (...) As matérias seguem-se sem ordem aparente e pelo meio surgem
títulos versando assuntos estranhos ao objecto principal do livro, como, por
exemplo, o 22 (de como se pode renunciar o ofício de el-rei e em que forma se há-
de fazer a carta para tal renunciação), o 23 (que as cartas enviadas pelos concelhos
sejam assinadas na câmara do concelho e não em outro lugar), o 66 (da mudança
que se fez da era de César à do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo)...”[4]

Bastante curioso é, sem dúvida, o título 22, relativo às bestas de Évora, que, sobre
qualquer pretexto, não poderiam ser devolvidas depois do contrato feito e a besta
entregue ao respectivo comprador. Não estamos perante uma verdadeira Ordenação
geral, mas antes uma Postura aplicável apenas ao termo da cidade de Évora. E nestes
precisos termos foi mantida pelo compilador, conforme exarado na declaração final:

“A qual Ley vista per nós, mandamos que se guarde em a dita Cidade de Evora
soomente, segundo em ella he contheudo, porque polos moradores della foi
soomente assy requerido; e quanto he aas outras Cidades, e Villas do Regno,
mandamos que se guarde o Direito Commum”[5]

Ou seja, este preceito não vê a sua vigência territorial alargada pelo facto de ser
integrado na compilação geral do reino, antes pelo contrário, é o próprio compilador
que limita a sua aplicabilidade apenas à cidade de Évora. No entanto, contrariando
as próprias palavras do compilador, sabemos que a cidade de Santarém, pelo menos,
requereu nas cortes de Évora de 1436 (cap.º 26º) o alargamento desta prerrogativa

1
“ouuissem”, no LLP. “ouesem”, nas ODD.
2
Falta no LLP.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Início.
4
CAETANO, História do Direito, p. 540.
5
Ordenações Afonsinas, Liv. IV, Tít. 22, pp. 106-109.

392
José Domingues

ao seu termo[1]. Será que Fernandes desconhece este facto ou, então, o ignora
prepositadamente com o único propósito de, ao incluir este preceito na compilação, o
cercear às origens – a cidade de Évora – e obstar o seu alastramento e eventuais abusos
em outras localidades?
Neste livro IV (tít. 66 e tít. 1, § 58) ficou registada a lei da mudança que se fez da
era de César para a do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. A data, nas Afonsinas,
de 22 de Agosto é a da data da publicação em Lisboa, porque a lei é, com certeza, de
14 de Agosto e foi feita nas cortes de Óbidos. Não só porque a data de 14 de Agosto é
uma data com elevado significado místico para a incipiente dinastia de Avis[2], mas,
sobretudo, porque a ordenação sobre os foros e arrendamentos que foram feitos em
moeda antiga já aparece datada de 14 de Agosto, em Óbidos, pelo ano de nascimento
de Cristo.

I – Da Hordenaçom, e declaraçom, que ElRey Dom Joham fez sobre os foros, e arrendamen-
tos, que forom feitos per moeda antigua.
[Chancelaria D. Duarte, vol. II (Livro da Casa dos Contos), doc. 28, pp. 46-47]

[Era do naçimento de nosso Senhor Jesu christo de mjl e iiijc xxxbj annos vj dias
do mês de feuereiro nos contos d el Rey da çidade de lixboa
Estando de pressente Gonçallo caldeira contador moor do dicto Senhor E os
outros contadores estantes em os dictos contos pareçeo o bertollameu gomez E
apressentou duas cartas do dicto Senhor escriptas em papel e sijnadas per ell E
sseelladas das quaees o theor tal lhe como sse adiante seguem][3]

60 – E depois desto ElRey Duarte meu Senhor e Padre em seu tempo acerca deste
passo fez huma Ley, na qual antre as outras cousas he contheudo huum Capitulo,
que tal he.

61 – *Outro sy porque nós fomos requerido da parte dos Ifantes meus Irmãaos,
e Condes meu Irmãao, e meus Sobrinhos, e outros Fidalgos, e Prelados, e Moes-
teiros, e Igrejas, e outras pessoas de nossos Regnos, que ham d’aver foros de
herdades, casas, e possissões, que alguuns trazem emprazadas e delles affora-
das per moeda antigua, que recebião muito grande perda em lhes averem de dar
quinhentas libras por huma, que he acerca menos a meetade, ou as duas partes
do seu direito valor; pedindo-nos, que o corregessemos com direito.
62 – E nós veendo esto, e querendo-o correger com boa e razoada igualança, em
tal guisa que elles nom recebessem tamanha perda, e o nosso povoo o podesse

1
Gama Barros, vol. I, 1885, p. 70.
2
Vide VENTURA, Margarida Garcez, O Messias de Lisboa. Um Estudo de Mitologia Política (1383-1415), Edi-
ções Cosmos, Lisboa, 1992, p. 109: “E, assim, inúmeros acontecimentos coincidiam nesse dia faustoso: nas-
cimento do fundador da dinastia, vitória de Aljubarrota, partida para Ceuta (ou tomada, no Oitavário),
entrada de D. Nuno para o convento, mudança da era de César para de Cristo, morte do rei, lançamento da
primeira pedra da ermida de S. Jorge, o Milagre da Cera (Joseph Soares da Sylva, Memorias para a Historia
de Portugal que comprehendem o Governo del Rey D. João o I…, Liv. IV (Documentos). Lisboa, 1734, Doc. 20,
pp. 142-147)”.
3
Na Chancelaria.

393
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

bem sopportar com seu razoado proveito,*[1] determinamos, e poemos por Ley, e
mandamos que todolos contrautos d’afforamentos, e emprazamentos feitos [per
carta nossa, ou daquelles cujas as cousas eram ou som ou forem][2], e enovados,
e reformados em pessoas, ou em *espaço*[3] dês quarenta annos *atee aqui*[4],
que he da Era [do naçimento][5] de Nosso Senhor Jesus Christo de mil e trezentos
e noventa e cinco annos atee agora, (que som os mais, e principaaes de todo o
Regno,)[6] paguem quinhentas [lliuras][7] desta nossa moeda por huma [liura da
moeda][8] antigua, como ora pagam, sem fazendo [sobre ello][9] outra mudança;
(consirando como desta nossa moeda aa de tres libras e meia ha muy pequena
differença)[10].
63 – E os contrautos dos ditos afforamentos, ou emprazamentos, ou d’outros
quaeesquer foros, ou rendas, per que fazem pagas a respeito da moeda antiga, que
forom feitos ante da dita Era de (mil e)[11] trezentos e noventa e cinco annos (atras)
[12]
, [ou de que nom teem as dictas cartas][13] paguem settecentas [lliuras][14] por
huma dês este primeiro dia de Janeiro, que ora vem da Era de mil e quatrocentos e
trinta e seis annos em diante. E vem esta paga em *hordenada*[15] maneira, a saber,
vinte brancos por huma (libra)[16], e huum branco por (huum)[17] soldo, e huum
preto por (huum)[18] dinheiro, valendo dez pretos huum (real)[19] branco, como ora
valem.
64 – E esto se entenda nos nossos foros, e rendas, e direitos, [de portaJeens E
chançellarias E todollos outros, que se pagam per moeda antijga][20] e da Raynha
minha molher, e dos Ifantes meus filhos, e Irmãaos, e Condes, e de Igrejas,
e moesteiros, e outras quaeesquer pessoas, [fficando Resaluado aos nossos
Regeengeiros ou outras pesoas][21] que moram em Regueengos, e Lugares, e
Villas, ou herdades, que no seu foral he contheudo, que paguem mediçom de
pam, e vinho, e legumes, e outras [cousas][22] que ora pagam a dinheiro a respeito
da moeda antigua per alguuns arrendamentos, que lhes os Reyx fezerom; ca estes
ajam lugar, se quiserem ante pagar a dita mediçom, *possam-no fazer*[23], e se em

1
“Bertolameu gomez Nos El Rey uos fazemos saber que nas cortes que ora fezemos em sanctarem”, na
Chancelaria.
2
Na Chancelaria.
3
“preços”, na Chancelaria.
4
“aca”, na Chancelaria.
5
Na Chancelaria.
6
Falta na Chancelaria.
7
Na Chancelaria.
8
Na Chancelaria.
9
Na Chancelaria.
10
Falta na Chancelaria.
11
Falta na Chancelaria.
12
Falta na Chancelaria.
13
Na Chancelaria.
14
Na Chancelaria.
15
“Razoada”, na Chancelaria.
16
Falta na Chancelaria.
17
Falta na Chancelaria.
18
Falta na Chancelaria.
19
Falta na Chancelaria.
20
Na Chancelaria.
21
Na Chancelaria.
22
Na Chancelaria.
23
“ou a djnheiro”, na Chancelaria.

394
José Domingues

dinheiros pagar quiserem, paguem settecentas [lliuras][1] por huma, como suso
dito he.
65 – E em aquesto se nom entendam alguuns, contra que se faz demanda que taaes
aveenças nom devem seer guardadas, por se nom fazerem como [nom][2] deviam; ca
esto fique pera se livrar per direito, nom fazendo esta nossa Hordenaçom prejuizo
a alguma das partes, salvo se for achado, que deve de pagar a dinheiro, pague
settecentas por huma, como dito he: (e al nom façades. Feita em Santarem a vinte
cinco dias d’Outubro Era de mil e quatrocentos e trinta e cinco annos.)[3]

[Porem uos mandamos que assy a façaaes rrecadar em essa comarca de que teen-
des cargo; E mandees, aos Nosos almoxariffes, della que assy arrecadem pêra
uos, de quaesquer pessoas que uos per alguma das dictas maneiras forem obri-
gados:
Outrossy uos mandamos que todollos emprazamentos E aforamentos que se
ffezerem daquj em diante seJam todos fectos a sseteçentas lliuras por huma][4]

66 – E vistas per nós as ditas Leyx, mandamos que se guarde a Ley sobre esto feita
per ElRey meu Senhor e Padre, cuja alma Deos aja.

No livro da Chancelaria falta a data da feitura desta lei, que consta nas Afonsinas,
mas em nota marginal do dito livro ficou consignado que “foy fecta em Outubro de xxxb
e pubricada em Janeiro de xxxbj da Era de Jesus christo”[5]. Ou seja, entre a data de feitura e
a de publicação medeia um espaço temporal de mais de dois meses.
Mas o verdadeiro proveito deste título, para este trabalho, pode estar na
interpretação final (§ 66) da lavra do compilador afonsino. Depois de transcrever
várias leis do reinado de D. João I (não será por acaso que, mais uma vez, este reinado
marca o terminus) e uma do de D. Duarte, manda que se guarde a de el-rei D. Duarte, a
última em cronologia e também a ser compilada. Tendo em atenção a matéria versada,
não surpreende nada a decisão do compilador: a lei nova revoga as leis anteriores. No
entanto, a ser assim, porque é que não seguiu o critério anunciado no início da sua
obra de excluir as leis “que nos pareceo sobejas, e sem proveito” [6]?
Algum proveito teria o conhecimento dessas leis antigas (mesmo depois de
revogadas), mas este género de “inadvertência” do compilador poderá suscitar sérios
entraves no momento da aplicação a casos concretos. Ou seja, ao agrupar diversas leis
no mesmo título da colectânea, o compilador acaba por conferir valor legal a todas,
suscitando dúvidas de interpretação e aplicação, em caso de contradição. Aqui se
equaciona tudo o que ficou dito a propósito do 12º capítulo geral do povo, discutido
nas Cortes de Santarém de 1451[7]. Se nos centrarmos neste extenso título e nas leis que
o compõe, no fundo, parece legítimo que se questione a sua aplicabilidade concreta,
bem como o valor da sua declaração final (que só tacitamente revoga as leis antigas).
Por outras palavras, parece legítimo que, em 1451, os procuradores do povo peçam ao
monarca para que os julgadores guardem apenas as ordenações novas e não as antigas

1
Na Chancelaria.
2
Na Chancelaria.
3
Falta na Chancelaria.
4
Na Chancelaria.
5
Chancelaria D. Duarte, vol. II (Livro da Casa dos Contos), doc. 28, p. 47.
6
Ordenações Afonsinas, Liv. I, Prólogo, p. 7.
7
Vid. pp. 180-181.

395
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

que são revogadas e, mais legítimo ainda, que o monarca mande que se guardem as
ordenações novas e as antigas que não são revogadas.
Se quisermos transpor este raciocínio para um eventual caso concreto, ao aplicar
qualquer uma das leis deste título, o compilador não poderia ser acusado de desrespei-
to pela compilação oficial. A declaração final nem sequer faz uma revogação expressa
das leis antigas. Não admira, por isso, que após a conclusão das Afonsinas se discuta
em Cortes o critério interpretativo dos preceitos legais coligidos na nova colecção e,
sobretudo, o monarca se escude no respeito pela declaração final de cada título.

II – Que nom afforem, nem arrendem per ouro, nem prata, senom per moeda geeral
corrente no Regno.[1]
[Chancelaria D. Duarte, vol. II (Livro da Casa dos Contos),
doc. 68, pp. 108-110 (atribuída a D. Afonso V)]

12 – E depois desto ElRey Dom Eduarte meu Senhor e Padre de gloriosa memoria
em seu tempo fez outra Ley sobre esto em esta forma que se segue.

13 – Dom *Eduarte*[2] pela graça de Deos Rey de Portugal, e do Algarve, e Senhor


de Cepta. A quantos esta Carta virem fazemos saber, que consirando nós como
o Rey he theúdo de fazer direito a todos, e aas cousas, que a elle perteencem,
manteer em *direito e*[3] justiça, em guisa que seu estado seja guardado, e todos
ajam *direitamente*[4] igualança; porem veendo nós em nossa Corte muitos feitos,
que se demandavam de pagamento de foros d’ouro, e prata, e casamentos, e
obrigaçõoes, que som feitos per ouro, ou per prata, e eram julgados que se pagasse
por ello desta nossa moeda muito mais de seu intrinsico e direito valor, segundo a
bondade e riqueza da dita nossa moeda, a qual he conhecida a todos aquelles, que
lhes praz de a conhecerem; e esguardando em como huum real destes brancos he
acerca tam boo em bondade e riqueza, como huum real de tres libras e meia, que
nom ha hy huum preto d’avantagem; e como em aquelle tempo o marco da prata
chãa valia seiscentos, ataa seiscentos e *quarenta / e cincoenta / ataa settecentos*[5]
reaes; e a dobra cruzada valia de cento e trinta, ataa cento e quarenta; e a dobra
valedia, e coroa velha (valia)[6] de cento ataa cento e dez; [E a dobra cruzada ualja
de çento e trinta ataa çento e quareenda [sic]][7] e veendo como a dita prata, e ouro
andam agora muito mais altos de seu direito valor, igualando (esto)[8] em cousa
razoada, nom tam baixa, como *era*[9] nos reaaes de tres libras e meia, nem tam
alta como ora anda: mandamos, que da feitura desta (nossa)[10] Carta em diente

1
“Trelado da hordenacam da vallia das moedas e da declacam [sic] de suas vallias”, título na Chancelaria.
2
“afomso”, na Chancelaria. Efectivamente, D. Afonso V reformou esta lei sobre a paga do ouro e prata por
uma ordenação de 01 de Dezembro de 1451, que consta no final deste livro IV, no título 109.
3
“direita”, na Chancelaria.
4
“direita”, na Chancelaria.
5
“çjncoenta”, na Chancelaria.
6
Falta na Chancelaria.
7
Na Chancelaria.
8
Falta na Chancelaria.
9
“ora”, na Chancelaria.
10
Falta na Chancelaria.

396
José Domingues

todolos devedores, (que forem obrigados)[1] a pagar ouro ou prata de foros, ou


prazos, que tenham feito de herdades, casas, possissõoes, assy em vida de pessoas,
como per annos sabudos, ou infatiota, ou sejam obrigados per casamentos, ou per
vendas, ou per contrautos, ou casi contrautos feitos ataa ora, ou se fezerem daqui
em diante, per qualquer (guisa)[2] que seja, que prata ou ouro devam, paguem polo
marco de prata settecentos (e vinte)[3] reaes brancos; e por coroa velha (d’ouro)[4],
e dobra valedia, e dobra de banda cento e vinte reaes; e por dobra cruzada cento e
cincoenta [Reaes][5]; e por florim d’Aragom settenta reaes (brancos)[6].
14 – E mandamos a todolos Corregedores, Juizes, e Justiças que assy o julguem,
e d’outra guisa nom, posto que esses contrautos, obrigaçõoes, prazos, foros, e
*arrendamentos*[7] sejam feitos a nós, ou aa Raynha minha molher, e a nossos
filhos, e Irmãaos, ou a Igrejas, e Moesteiros, ou outras quaaesquer pessoas: nom
embargando que esses contrautos sejam desafforados, e se obriguem a pagar
ouro, ou prata, ou seu direito, e intrinsico valor, ou como valessem aos tempos
das pagas, ou que logo se obriguem a dar certo dinheiro por marco de prata, ou
moeda d’ouro; porque soomos certo que esto he mais que o seu direito valor.
15 E nom embargamos, que quem quiser comprar prata, ou ouro, que a possa
comprar aa voontade de seu dono, pagando-lha logo; e se ficar por divida (alguma)
[8]
de a pagar a certo tempo, que seja theúdo de pagar por ella os ditos preços per
nós hordenados; nom poendo porem pena, nem defesa, se os devedores de seu
grado mais quiserem pagar por prata, ou ouro em dinheiro quanto lhes prouver
dar, nem aos recebedores de receberem o que lhes os devedores de seu grado
(derem)[9]; porque nossa teençom he de esto assy seer hordenado em favor dos
devedores. E mandamos aos Julgadores que assy o julguem, e façam cumprir, (e
guardar)[10]; porque o mais será aalem do seu direito valor: e nom he razom por
*sua*[11] paga, ou juizo nossa moeda seer abatida, e desprezada, do que a nós se
recrece desserviço, e a todolos do Regno em geeral grande perda.
16 – E esto se nom entenda em ouro, ou em prata, que se põem em guarda, e
condecilhos; ou for recebida per alguum Tetor, ou Curador, ou Feitor, Procurador,
ou Moordomo, ou qualquer (outro)[12], que per outrem receber; nem quando
for apenhado, ou emprestado em tal guisa, que se torne realmente a quem no
emprestou na forma, em que foi emprestado, assy como se era obra feita, ou em
joyas, e nom moedas, nem ouro, nem prata quebrada, ca esto se pagará segundo
a Hordenaçom; nem aja lugar no caso, onde se *deo*[13] ouro, ou prata per alguum
contrauto, que depois por alguma razom de direito seja desfeito, ou achado por
nenhuum; ca em cada huum destes casos nom averá lugar esta Ley, mais será
tornada, e restituída aquella meesma prata, ou ouro, que foi entregue, ou outra
tam boa assy em bondade de forma, como de materia.

1
Falta na Chancelaria.
2
Falta na Chancelaria.
3
Falta na Chancelaria.
4
Falta na Chancelaria.
5
Na Chancelaria.
6
Falta na Chancelaria.
7
“rendas”, na Chancelaria.
8
Falta na Chancelaria.
9
Falta na Chancelaria.
10
Falta na Chancelaria.
11
“nosa”, na Chancelaria.
12
Falta na Chancelaria.
13
“deue”, na Chancelaria.

397
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

17 – E mandamos que nenhuum nom compre, nem venda ouro, nem prata pera
revender como cambador, pera sy, nem pera outrem, porque os caimbos som
nosso, e forom sempre dos Reyx nossos antecessores; e qualquer que o fezer, e
lhe provado for, pague anoveado pera nós o que assy *comprar*[1], ou revender:
e *mandamos*[2] porem lugar a todos, que possam comprar ouro, ou prata pera
seus usos, e despesas, e guardas, e aos ourivizes pera haverem de lavrar, e (vender
as cousas lavradas)[3] que lavrarem.

18 – As quaees Leyx vistas per nós, consirando acerca dellas como ElRey Dom
Joham meu Avoo de gloriosa memoria em a dita sua Ley hordenou, e mandou,
que os contrautos dos afforamentos, e arrendamentos non fossem feitos per ouro,
nem per prata, sob certa pena em ella contheuda, e ElRey meu Senhor, e Padre
na dita sua Ley estabeleceo, e mandou como se ouvesse de pagar ouro, e prata
prometida, e devuda per alguum contrauto d’afforamento, ou d’arrendamento; e
assy parece aver revogada a dita Ley feita pelo dito Senhor Rey Dom Joham meu
Avoo, e permittido que taaes contrautos se possam licitamente fazer per ouro
e prata, pois que hordenou certa valia aa paga do ouro, e prata em similhantes
contrautos permittida: E por tolhermos tal duvida, declaramos que pela dita Ley
de meu Avoo se mostra o fundamento, e teençom sua seer por tolher aazo, que o
ouro e prata nom fosse levantada em mais alta valia do que razoadamente devia
seer; e pois que pela dita Ley d’ElRey meu Senhor, e Padre a valia do ouro e prata
foi taixada, e limitada em certo preço, segundo pela dita Ley ligeiramente se pode
veer, justamente se pode dizer, que ainda que os contrautos dos afforamentos, e
arrendamentos sejam feitos per ouro e prata, nom se levantará por tanto a valia
della, pois ja he taixada em certo preço, como dito he. E por tanto declarando nós
acerca do que dito he, dizemos, e hordenamos, que todolos contrautos d’affora-
mentos, e arrendamentos, que forom feitos per ouro, ou prata depois da dita Ley
d’ElRey Dom Joham meu Avoo ataa o prezente, ou forem daqui em diante, que
per vigor e virtude della nom forom desfeitos ou anullados, fiquem em sua força
e vigor, e em sua virtude; e os devedores, que per elles forem obrigados, sejam
theudos a pagar polo ouro, ou prata em elles contheuda, a valia, que pelo dito
Senhor Rey meu Padre foi taixada, e limitada na dita sua Ley, segundo em ella
he contheudo; porque nos parece que tal foi sua teençom, segundo pela dita Ley
ligeiramente se pode congeiturar, e entender.
19 – E porque outro sy na dita Ley feita pelo dito meu Senhor e Padre he contheudo,
que quem quizer comprar ouro ou prata, que a possa comprar aa voontade de seu
dono, pagando logo, &c.; e por outra Ley depois per elle feita he geeralmente
defeso, que ouro ou prata se nom possa comprar, nem vender, salvo no seu caimbo
sob certa pena: porem declarando em esta parte, mandamos que se guarde a nossa
Hordenaçom sobre esto declaradamente feita[4].
20 – E com estas declaraçõoes mandamos que se cumpram e guardem as ditas
Leyx pelos ditos Senhores Reyx meu Avoo e Padre assy feitas, e por nós declara-
das como dito he.

1
“mercar”, na Chancelaria.
2
“damos”, na Chancelaria.
3
Fata na Chancelaria.
4
Remete para a ordenação de D. Afonso V, em título avulso (109), no final deste livro: “Da ennovaçom, que
ElRey Dom Affonso o Quinto fez sobre a Ley feita per ElRey seu Padre sobre a paga do ouro, e prata, que he empres-
tada”. Esta lei foi feita no dia 01 de Dezembro de 1451. O que quer dizer que este parágrafo dezanove será
uma adição posterior à conclusão da compilação.

398
José Domingues

O próximo título é curioso, uma vez que a partir de um certo ponto a redacção é
completamente distinta das restantes versões conhecidas, plausivelmente, excerto de
uma lei distinta.

XVIIII – Das Usuras, como som defesas, e em que caso se podem levar segundo Direito
Canonico.
[Cortes D. Afonso IV, pp. 113-115]

ElRey Dom Affonso o Quarto da louvada memoria em seu tempo fez Ley, por que
defendeo as ususras em esta forma, que se segue.

Todolos Reyx, e outros [quaaesquer][1] Príncipes [que][2] Chrisptãaos [ssom][3]


devem fazer muito, (e trabalhar como a todo seu poder sempre em todos seus
Senhorios)[4] *sejão*[5] guardados os Mandados de Deos, (e da Santa Igreja,)[6] e
*buscar todolos*[7] caminhos, per que o serviço de Deos seja per elles accrecentado,
e os seus sobgeitos bem regidos *em*[8] as cousas temporaes, e muito mais em
aquello, que *tange á*[9] salvaçom de suas almas. Porem nós Dom Affonso
o Quarto pela graça de Deos Rey de Purtugal, e do Algarve, avendo sempre
voontade de accrecentar o serviço de Deos, de que todo *o bem*[10] recebemos,
e querendo aproveitar aos beens temporaaes, e muito mais aas almas daquelles,
que nossos *sobditos*[11] som, veendo que algumas cousas, que se usavão no
nosso (Regno, e)[12] Senhorio em tempo *de nossos*[13] Predecessores, que erão em
desserviço de Deos, e em dapno dos beens temporaaes, e das almas dos nossos
*sobditos*[14]; querendo a esto aver remedio, *com*[15] Conselho dos da nossa Corte,
(consirando como segundo a Hordenaçom, e Mandamento da Santa Igreja as
usuras som reprovadas, e defesas a toda a pessoa, e em todo caso, salvo em
certos casos especiaaes, que por Direito Canonico, e Civil som exceptos, e porem
querendo nós evitar este peccado assy reprovado pela Santa Ley: Hordenamos, e
mandamos, e poemos por Ley, que nom seja nenhuum tam ousado, de qualquer
estado e condiçom que seja, que dê ou receba dinheiro, prata, ouro, ou qualquer
outra quantidade pesada, medida, ou contada a usura, per que possa aver, ou
dar alguma avantagem, assy per via d’emprestido, como de qualquer outro
contrauto, de qualquer qualidade natura e condiçom que seja, e de qualquer
nome que possa seer chamado. E aquelle, que o contrairo fizer, e ouver de receber

1
Nas Cortes.
2
Nas Cortes.
3
Nas Cortes.
4
Falta nas Cortes.
5
“en sseerem”, nas Cortes.
6
Falta nas Cortes.
7
“consijrar mujtos”, nas Cortes.
8
“que”, nas Cortes.
9
“trazem”, nas Cortes.
10
“aquelo que auemos”, nas Cortes.
11
“soiectos”, nas Cortes.
12
Falta nas Cortes.
13
“dos”, nas Cortes.
14
“soiectos”, nas Cortes.
15
“de”, nas Cortes.

399
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

gaança alguma do dito contrauto, perca todo o principal, que deu, por aver a
dita gaança; e aquelle, que ouver de dar a dita gaança, perca outro tanto, como
for o principal que recebeo, e seja todo pera a Coroa dos nossos Regnos: e per
aqui entendemos, que poderá o contrauto usureiro tam inlicito da nossa terra,
e Senhorio seer esquivado. E se acontecesse, que o devedor ouvesse pagada a
divida ao creedor com a crecença, ante que nós delles ouvessemos sabedoria, ou
ante que fosse feita por nossa parte a demanda ao dito devedor, e creedor sobre
a dita razom, em tal caso deve o dito creedor perder e pagar a nós todo aquello,
que houver, a saber o principal, e crecença, que ouve do dito devedor; e a dita
crecença deve seer descontada ao devedor do que ha de pagar, a saber, d’outro
tanto como he o principal, que ja pagou ao credor.)[1]

2 – A qual Ley vista per nós, declarando em ella dizemos, que per Direito, assy
Canonico, como Civil, he licita, e permissa em alguuns casos a usura, a saber,
se fosse per alguum promettido algo em casamento com alguma molher, e lhe
nom fosse logo pago aquello, que lhe assy fosse promettido, seendo-lhe apenhada
por ello alguuma cousa, em tal guisa que o que casasse podesse aver todolos
fruitos, e novos daquella cousa apenhada, atee lhe seer compridamente pago todo
o principal: em tal caso poderá elle aver os ditos fruitos, e novos da dita cousa
apenhada em salvo, atee que seja pagado do principal, que lhe foi promettido
em casamento, sem descontar alguma cousa do principal. E esto averá lugar em
quanto durar o dito casamento, e o marido mantiver sua molher, egundo seu
estado, e usança da terra; ca seendo apartado, e separado o dito matrimonio per
morte de cada huum delles, ou per outra qualquer maneira, d’hy em diante nom
poderá mais aver a renda da dita cousa apenhada em salvo, sem descontando do
principal, mais deve-se descontar do principal, e em outra guisa todo o gaanço,
que se d’hy levasse sem desconto, seria usura.
3 – E dizemos, que se fosse vendida alguma cousa de raiz por certo preço, e no
contrauto da venda fosse aveença feita, que tornando o dito vendedor o dito preço
ao comprador ataa tempo certo, fosse a dita venda desfeita, e tornada a dita cousa
ao dito vendedor, em tal caso poderá o dito comprador aver licitamente os fruitos,
e rendas da dita raiz assy vendida, que houvesse depois que ouve a posse della
per virtude da dita venda, ataa que foi desfeita, como dito he. E esto averá lugar
quando a dita raiz fosse vendida por preço razoado, a saber, que fosse pouco
mais, ou menos do justo preço; ca se o preço fosse muito pequeno, a pouquidade
do dito preço co a dita aveença farião o dito contrauto seer usureiro.
4 – E se alguem comprasse alguma raiz por certo preço, o qual logo pagasse, e nom
fosse entregue da raiz comprada, esperando de a logo receber, a todo o tempo
poderá demandar ao vendedor todolos fruitos, novos, e rendas, que ouve, ou per
sua culpa leixou de receber, da dita raiz que assy vendeo, e a nom entregou ao
dito comprador, de que recebeo o dito preço: e bem assy dizemos no comprador,
que recebeo a cousa comprada, e nom pagou o preço, por que a comprou; ca em
todo o tempo lhe poderá o vendedor demandar o preço principal, e mais o justo
valor dos fruitos, que recebeo da dita raiz, ou podera receber, depois que lhe assy
foi comprada, sem pagar o dito preço.
5 – Item. Se aquelle, que trouxer alguma posissom por certo foro, ou prazo
d’algum Senhorio, a qual apenhasse ao dito Senhorio por alguma divida sob tal
preito e condiçom, que o dito Senhorio ouvesse em salvo os fruitos e rendas da
dita possissom, ataa que fosse pagado da dita divida, em tal caso poderá aver o
dito Senhorio as ditas rendas e novos em salvo, ataa seer pago da dita divida, sem
descontar della nenhuma cousa; porque em quanto assy ouver os ditos fruitos, e
rendas do dito foro, ou prazo, nom averá a pensom, que lhe he devuda em cada
hum anno por virtudedo dito contrauto do afforamento, ou emprazamento. E se

1
Falta nas Cortes. Esta parte é diferente de todas as outras versões conhecidas. Cfr. o tít. 96 do liv. II.

400
José Domingues

fosse feito similhante apenhamento antre outras pessoas, que nom fosse antre o
foreiro da cousa afforada e o Senhorio, tal contrauto d’apenhamento assy feito, a
saber, que o credor ouvesse as rendas e fruitos da cousa apenhada em salvo, ataa
seer pago de sua divida, seria usureiro, e assy o principal, como os ditos fruitos
seerom perdidos pera nós, assy como usura.
6 – E achamos que licita gaança de dinheiro, ou quantidade he em todo caso de
cambo d’hum Regno, ou Lugar pera outro; e declaramos seer licito, e verdadeiro
o caimbo, quando se logo dá maior quantidade em hum Lugar, por lhe darem
em outro Lugar, e pagarem mais pequena: e esto he assy promisso, e outorgado
per Direito pelas grandes despesas, que os mercadores estantes, que o maior
preço recebem, fazem em manteerem seus caimbos nas Cidades, e Villas, honde
continuadamente estão, e polo trabalho, de que som relevados os que dão seus
dinheiros em huma parte, pelos receberem em outra.
7 – E dando-se primeiramente alguma quantidade mais pequena por receber ao
depois maior, ainda que esse, que dá a mais pequena quantidade, receba em sy
todo perigoo, que possa acontecer de qualquer guisa d’hum Regno, ou Lugar pera
outro, nom leixaria por tanto esse contrauto seer usureiro; e por tanto mandamos,
e defendemos que daqui em diante taaes contrautos se nom fação; e fazendo
alguem o contrairo, mandamos que incorra nas penas d’onzaneiro.
8 – E acontecendo alguns casos aalem dos suso ditos, em que possa cahir duvida se
he usurário, ou se se pode levar ususra de direito, mandamos que se guarde sobre
ello o que achado for per Direito Canonico, ca pois he cousa, que tras peccado, e
carrego de consciencia, convem que á cerca dello ajamos de seguir, e esguardar os
Direitos Canonicos, e Mandamento da Santa Igreja, assy como nossa Madre Santa,
a que devemos per necessidade em todo caso seer obedientes.

O título seguinte foi criado a partir do art.º 134º das cortes de 1433 de
Leiria‑Santarém. Só que, à semelhança do tít. 39 do livro II, se transcreve um
diploma singular bastante posterior – carta régia de 1436, dirigida aos oficiais da
vila de Santarém. Mas não foi só a esta vila que foi enviado o novo regimento. Por
exemplo, no artigo 3.º que a cidade de Évora enviou às cortes de Lisboa de 1449 ficou
consignado: “Item, Senhor saberá vossa mercee que em esta cidade foy hordenada e he hum
regimento feito por elrey dom Eduarte cuja alma Deos aja em que mandou que se fezesse hua
bolsa pera levar presos e dinheiros....”[1].

XXI – Da Hordenaçom, que ElRey fez acerca da bolsa, que se ha de fazer pera despesa dos
dinheiros, e presos, que se levão d’hum Lugar pera outro.
[SOUSA, As Cortes de Leiria-Santarém de 1433, p. 148]

ElRey Dom Eduarte meu Senhor, e Padre de gloriosa memoria em seu tempo fez
Ley em esta forma, que se segue.

1 – Nos ElRey fazemos saber a vos Juizes, Vereadores, Procurador, e homeens


boons da nossa Villa de Santarem, que este mez de Junho, que ora foi, quando
per hy viemos, algumas pessoas se nos agravarom por razom dos dinheiros,
que mandaaes/mandámos arrecadar pera a bolsa dos presos, assy alguns que

1
Gabriel PEREIRA, Documentos Históricos da Cidade de Évora, 2.ª Parte, Évora, 1887, p. 62.

401
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

tem nossos privilégios, por razom dos quaaes dizião, que erão escusados de
pagar, como os outros que privilegios nom tenhão, e dizião que pagavão aalem
do hordenado; e que estes, que pagavão aalem do hordenado; e que estes, que
pagavão, erão tão poucos, tirando os privilegiados, e as outras pessoas escusadas
per nós, que nom podiam supprir o dito carrego; pedindo-nos, que proveessemos
sobre ello.
2 – E nós, visto seu requerimento, pera sobre todo avermos comprida informaçom,
e corregermos com remedio proveitoso a nosso serviço, e bem dos moradores
dessa terra, démos carrego a Gil Peres Procurador/Provedor dos nossos feitos, e
direitos em essa Comarca, que tomasse conta das despesas, que se fizerom hum
anno comprido, que se acabou primeiro dia d’Abril, que ora foi desta Era, na
levada dos presos, e dinheiros, que d’hy forom; e esso meesmo que pessoas hy
averia pera em esto pagarem, e quantos erão escusados per privilegios, segundo
mais compridamente com elle fallamos. E ora o dito Gil Peres veeo a nós, e
mostrou-nos o caderno das freiguesias, que sobre esto foi feito, e a conta, que
dello tomou, pelo qual se mostra, que o dito anno passado no que dito he forom
despesos mil e quinhentos e concoenta e quatro/tres reaes brancos; e segundo as
pessoas hy moradores, e despesa suso dita, a nós parece, que os vinte reaes, que
a cada huma pessoa mandavees pagar, era em tamanha multiplicaçom, que bem
se mostra esses que pagavão serem aggravados; e querendo nós a esto proveer
com justa razam e remédio, em tal guisa que nós possamos seer servido sem outro
escandalo, hordenamos de se teer em ello esta maneira, que se segue.
3 – Primeiramente em cada huma freiguesia será feito huum Sacador, ao qual
serom dadas as pessoas em rool moradores na dita freiguesia, que com razom
devem pagar; e este Sacador receberá de cada huum os dinheiros adiante
escriptos, hordenados per nós, assinando-lhes aguisado tempo a que os dê todos
tirados; e tanto que tirados forem, entrega-los-ha a huum Recebedor, que pera
esto hordenardes, abonado, e de prazimento destes que assy paguam, presente
o Escripvão da Camara, a que mandamos que esto escrepva, e faça huum livro
apartado, em que escrepva a recepta, e a despesa destes dinheiros, que assy
tirarem, seram pêra huum anno, que se começou primeiro dia d’Abril desta Era, e
assy d’hy em diante, por andarem annaes com os Juízes, a que esto perteence.
4 – E porque segundo as pessoas hy moradores, e os que privilegiados som, a
nós parece que ficaram poucos pera em esto pagarem, e pagando os vinte reaes,
que lhes mandamos pagar, serám aggravados; porem nós hordenamos, que pera
esto nom sejão escusados, salvo os nossos Vassallos, e Beesteiros de Cavallo, e da
nossa Camara, e Beesteiros do Conto, por quanto pera esto teem bolsa apartada,
e aquelles, que nossos privilegios tiverem, em que expressamente seja declarado,
que nom paguem em estes dinheiros da bolsa; e se tal declaraçom nom tiver, posto
que diga que non serva com presos, nem com dinheiros, toda via pague: e outro
sy nom pagarom os rendeiros das nossas rendas, e direitos, e os requeredores das
nossas sizas, e portageens, que per Hordenaçom nossa som escusados desto, e
algumas pessoas que tam pobres forem, que principalmente vivão por esmola.
5 – E porque pagando assy geeralmente os outros, aalem dos suso declarados per
nós, segundo a despesa deste anno passado, hordenamos, e mandamos que cada
huum desses, que ouverem de pagar, paguem por anno quatro reaes brancos,
e mais nom, que nos parece assás; e porque alguns tem pagados vinte reaes,
mandamos que o mais lhes seja tornado per esses Sacadores, que os receberom,
por todos virem em justa igualdança, de guisa que huuns nom recebão mais
aggravo que outros.
6 – E se per ventura acontecer, que d’hy aja de partir Cadea real, porque os piãaes
do termo nom pagão em a dita bolsa, e com essa Cadea real he necessario d’hir
peça d’homeens, o que nom poderóm seer contentes pelos dinheiros da dita bolsa;
porem mandamos que se Cadea real ouver de partir dessa Villa, que das vintenas
do Termo façaaes vir os piãaes, que pera ello forem compridoiros, tomando

402
José Domingues

d’humas vintenas e das outras, em tal guisa que sejão igualados sem outro
nenhuum embargo; e em esto nom serviróm os lavradores do nosso Regueengo de
Cajosa/Tojosa, e d’Alcanhãaes, por quanto som dello escusados per privilegios,
que tem dos Reyx que ante nós forom, confirmados per nós; e os moradores da
Villa nom servão em ello, ca nos praz serem dello escusados por esta paga, que
assy hão de fazer.
7 – E mandamos ao dito Gil Peres, que faça os ditos rooles, e os entregue aaquel-
les Sacadores, que pera esto forem hordenados, e sejão concertados com os Offi-
ciaaes na Camara desse Concelho; e acabado o anno tome dello conta, pera nos
fazer saber o que recebeo e despendeo, pera todo veermos, e corregermos pera o
anno seguinte, se comprir: e al nom façades. Feito em Sintra a vinte e cinco dias de
Junho/Julho. Gil Peres a fez. Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo
de mil e quatrocentos e trinta e seis annos.

8 – A qual Ley vista per nós, mandamos que se guarde naquelles Lugares, que
Cartas de nós ouverom, ou ouverem ao diante, assy como em ella he contheudo.

A versão do capítulo de Cortes de 1433 é a seguinte:

Senhor mjlhor he o pequeno custo do dinheirro que o gram seruiço e afadiga do


corpo que ueemos que mujtos som afadigados que siruam com presos e dinheir-
ros e outros encarregos dos conçelhos os quaaes escusarom taaes trabalhos teen-
do bolsa de dinheiro seja vossa merçee que nos dees leçença que possamos pooer
talha antre nos e pooer bolsa pera elles e poremos çertos homeens pera taaes
encarregos os quaees posamos escusar dos outros encarregos.
Jtem Responde o dicto Senhor que os de santarem comecem logo hordenar esta
bolsa e ponham hordenaçam asy no serujr dos homeens e de quaees ham de pagar
como nas outras cousas que esto conuem de sse fazer e que sse lhes pareçer boa
que lha outorga que lho possam asy praticar.
[SOUSA, As Cortes de Leiria-Santarém de 1433, p. 148]

Segundo apurou Ângela Beirante, “o ofício de levador de presos foi criado por uma
postura camarária confirmada por D. João I, em 1412. Ficou estipulado que, em vez de
sobrecarregar alguns braceiros e mesteirais que não estavam acostados aos nobres,
todos deviam contribuir com 20 reais de três libras e meia por ano, para pagarem a
uns 15 ou 20 homens mancebos que ficavam com a obrigação de levar os presos e os
dinheiros. As cotas seriam guardadas numa arca, na casa de um homem-bom por eles
escolhido e as duas chaves da arca eram confiadas a outros dois homens-bons que,
afinal de contas, eram também mesteirais”[1].

LXXXI – Das Sesmarias.


[ALMEIDA, História das Instituições, 1994, pp. 633-638]

ElRey Dom Fernando, de louvada e esclarecida memoria, em seu tempo fez Ley
em esta forma, que se segue.

1
Maria Ângela Rocha BEIRANTE, Santarém Quinhentista, p. 163, nota 3.

403
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

[Em nome de Deus que todallas cousas criou e hordenou cada huma em seu
stado qual lhe convynha. Porque segundo disserom os antigos sabedores amtre
todalas artes e obras da policia e regimento do mundo nom foy achada nem
huma melhor que a agricultura e per feito e per rrazom natural se mostra que
ella he mais profeitosa e necessaria pera a vida e mantimento dos homeens e
das aljmaljas que Deus criou pera serviço do homem e ajnda pera ganhar e
auer algo sem pecado e com homra e em bem e em boa fama oolhando em esta
razom][1]
1 – [Nos][2] Dom Fernando pela graça de Deos Rei de Portugal, e do Algarve.
Consirando como por todas as partes de nossos Regnos ha desfalicimento de
mantimentos de *trigo*[3], e de cevada, de que antre todalas Terras, e Provincias
do Mundo *soyam seer muy abastadas*[4], e estas cousas som postas em tamanha
carestia, que aquelles, que ham de manteer fazenda ou estado de qualquer graao
de honra, nom podem chegar a aver essas cousas, sem mui grande desbarato do
que ham; e esguardando como antre todalas razõoes, per que este desfalicimento e
carestia vem, [a][5]mais certa e especial he per mingua das lavras, que os homeens
leixam, e se partem dellas, entendendo em outras obras, e em outros mesteres, que
nom som tam proveitosos pera o bem comuum; e as terras e herdades, que soyam
a seer lavradas e *semeadas*[6], e que som convinhavees pera dar pam, e outros
fruitos, per que se [os homens e][7] os Povoos ham de manter, som desamparadas,
e deitadas em ressios, sem prol, e com grande dapno do Povo.
2 – Porem avendo sobre esto nosso acordo, e conselho com o Ifante Dom Joham
nosso Irmãao, e com o Conde Dom Joham Affonso, e com os Prelados, e Priol do
Espital, e Meestres da Cavallaria, e com os outros Fidalgos, Cidadãaos, e homeens
boons dos nossos Regnos, que pera esto, e pera outras cousas de nosso servisso, e
prol dos ditos nossos Regnos, mandamos chamar, pera se poer em esto remedio
qual pertencia, pera aver na terra avondamento das ditas cousas: Estabelecemos,
hordenamos, e mandamos, que todos os que ham herdades suas proprias, ou
teverem emprazadas, ou afforadas, ou per qualquer outra guisa ou titulo, per que
ajam direito em essas herdades, sejam costrangidos pera as lavrar, e semear; e se
o Senhorio das ditas herdades nom poder per sy lavrar todallas ditas herdades
que ouver, por serem muitas, ou em [mujtas][8] desvairadas Comarcas, ou elle for
embargado por alguma lidima razom, por que as nom possa per sy lavrar todas,
lavre parte dellas per sy, e per hu elle quiser, e lhe mais aprouver, e quanta lavrar
poder sem grande seu dapno, e com meor seu encarrego, a bem vistas e [ordinhaçõ]
[9]
determinaçom daquelles, a que desto for dado poder; e as mais faça lavrar per
outrem, ou as dê a lavrador, que as lavre e semee por sua parte, ou a pensom certa,
ou a foro, assy como se melhor poder fazer; de guisa que as herdades, que som pera
dar pam, sejam todas lavradas, e aproveitadas, e *semeadas*[10] compridamente,
como for mester, de trigo, ou cevada, ou de milho, pera qual for, e que mais fruitos
e melhor possa dar em seus tempos e sazõoes *convinhavees*[11].

1
Na História das Instituições.
2
Na História das Instituições.
3
“pam”, na História das Instituições.
4
“soya seer muj abastado”, na História das Instituições.
5
Na História das Instituições.
6
“asementadas”, na História das Instituições.
7
Na História das Instituições.
8
Na História das Instituições.
9
Na História das Instituições.
10
“asementadas”, na História das Instituições.
11
“aguisados”, na História das Instituições.

404
José Domingues

3 – Outro sy sejam costrangidos pera averem e teerem cada huum tantos bois pera
lavrar, quantos forem mester pera a lavoira, segundo a conthia das herdades que
ouverem, com as outras cousas que aa lavoira perteencem. E porque póde acontecer
que aquelles, que ham de seer costrangidos pera lavrarem, e teerem bois pera a
lavoira, nom os poderám achar pera os comprar, senom por muy grandes preços,
mais do que valem aguisadamente: Teemos por bem e mandamos, que sejam
costrangidos aquelles, que os teverem pera vender, pera os darem aquelles, que os
mester ouverem, e os ham de teer, por preços aguisados, segundo for taixado polas
Justiças dos lugares, ou per aquelles, que forem postos por Veedores pera esto.
4 – E mandamos, que pera comprar os bois, e as outras cousas, que som perteencentes
pera as lavoiras, outro sy pera começar de lavrar, e aproveitar as herdades, que
forem pera lavrar, seja assinado tempo certo aos que o de fazer houverem, que o
façam e cumpram sob certa pena, que lhes sobre esto seja posta. E se os Senhores
das herdades por suas negrigencias nom quiserem comprir todo esto, que per
nós he ordenado, nem quiserem lavrar, nem aproveitar suas herdades per sy ou
per outrem, como dito he, as Justiças dos lugares, ou aquelles, a que pera esto for
dado poder, dem essas herdades a quem nas lavre, e semee sob certo tempo, e por
pensom, ou parte certa; e o Senhor da herdade nom a possa filhar despois per sy,
nem [per outrem][1] tolher durando o dito tempo aaquelle, a que assy foi dada;
e essa parte, ou pensom, que o lavrador assy (houver)[2] de dar, seja pera o bem
do comuum, em cujo termo essas herdades jouverem; mais nom seja dada, nem
despeza em nenhuum uso, se nom per nosso mandado especial.
5 – Outro sy porque os que soyam a seer e forom lavradores, e os outros que
ham razom de o seer, e os que teem herdades pera lavrar, se escusam de lavoira,
porque dizem que nom ham, nem podem aver mancebos, que lhes fazem mester
pera esto; ca muitos daquelles, que usavam de lavrar, e servirom no mester da
lavoira, deixaram esse mester da lavoira, e [alcançarom sse a paços e][3] se colhem
delles aos paaços dos Riquos homeens, e Fidalgos, por averem vivenda mais
folgada e mais solta, e por filharem o alheo mais sem receo, e delles por muy
grandes soldadas, que lhes damvam, por servirem em outros autos, e mesteres,
nom tam proveitosos, como he o da lavoira; e outros, que som perteencentes
pera (lavrarem)[4], e servirem no dito mester da lavoira, nom querem servir em
ella, e usam d’outros officios, e mesteres, de que se aa terra nom segue tamanho
*proveito*[5]; e muitos, que andam vaadios pela terra, chamando-se criados, ou
escudeiros, ou moços da estrebeira nossos, ou do Ifante, ou *de cada huum*[6] dos
Condes, ou dos outros poderosos, e honrados, por serem coutados, e defêsos da
Justiça dos males, e forças [e maleficios][7] que fezerem, nom vivendo na nossa
mercee, nem com nenhuum dos sobreditos; e alguuns, que se lançam a pedir
esmollas, nom querendo fazer outro serviço; e catam outras muitas maneiras,
e aazos pera viverem ouciosos, e sem assam, e nom servirem; e alguuns filham
avitos como de Religiam, e vivem apartadamente, e fazendo Congregaçom contra
a defesa do direito, nom entrando, nem seendo professos em nenhumas Hordeens
Religiosas estabelecidas e approvadas pela Santa (Madre)[8] Igreja, nem fazendo,
nem usando de fazer alguma obra proveitosa ao bem comuum, e sob fegura de

1
Na História das Instituições.
2
Falta na História das Instituições.
3
Na História das Instituições.
4
Falta na História das Instituições.
5
“prol”, na História das Instituições.
6
“dalguum”, na História das Instituições.
7
Na História das Instituições.
8
Falta na História das Instituições.

405
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Religiosos, e da santa vida andam pelas terras [e lugares][1] pedindo, e ajuntando


algo, e induzindo muitos, que se ajuntem a elles, e per seu induzimento leixam os
mesteres e obras, de que usam, e vãao estar e andar com elles, nom fazendo outro
serviço, nem outra obra de proveito.
6 – Porem teemos por bem e mandamos, que todolos que forom ou soyam a seer
lavradores, e outro sy os filhos, e netos dos lavradores, e todolos outros moradores,
assy nas Cidades, e Villas, como fora dellas, e ouverem de seu *quantidade*[2] meor
de quinhentas libras, quanto quer que seja menos desta conthia de quinhentas
libras, e que nom aja, nem use de tal, e tam proveitoso mester pera o comuum, per
que de razom e direito deva seer escusado de lavrar, ou servir na lavoira, ou nom
viver continuadamente com tal pessoa, que o mereça, e aja mester pera a obra de
serviço proveitoso; que todos e cada huum destes sobreditos sejam costrangidos
pera lavrar, e usar do dito mester e officio de lavoira; e se nom teverem herdades
suas, que per sy queiram e possam lavrar, sejam costrangidos e apremados pera
viver com aquelles, que os mester ouverem pera as lavoiras; e os servam e ajudem
a fazer essa obra de lavoira por sua soldada e preço aguisado, segundo he taixado
pelas Hordenaçõoes, que sobre esto som feitas, e ou segundo taixarem e alvidrarem
(aquelles)[3], que pera esto forem postos em cada huum lugar.
7 – E qualquer, que der ao mancebo, ou aaquelle, que o ouver de servir, mais que
aquello, que for taixado pelos Regedores dos ditos Lugares, ou per aquelles, a que
pera esto for dado carrego e poder, pague cincoenta libras pola primeira vez; e pola
segunda cento; e dhy em diante pague essa conthia, e de mais seja-lhe estranhado
com pena de Justiça, como áquelle, que quebra a Ley, e vai contra mandado de seu
Rey e Senhor: e estas penas sejam metidas em rendas pera o bem do comuum.
8 – E mandamos, que quaees quer, que acharem andar chamando-se nossos,
ou da Rainha, ou do Ifante, ou de qualquer outro, que nom sejam conhecidos
notoriamente por daquelles, de que se chamam, que sejam logo presos, e recadados
pelas Justiças dos lugares, pera se saber como, e per que *guisa*[4] vivem, e as obras
que fazem, e de que guisa usam. E se certidooem nom amostrarem como vivem
e andam per recado certo, ou por serviço daquelles, cujos disserem que som, que
sejam costrangidos pera servirem; e se servir nom quiserem, sejam açoutados, e
toda via costrangidos pera servirem por suas soldadas taixadas, como dito he.
9 – E porque a vida dos homeens nom deve seer ouciosa, e a esmola nom deve
seer dada, se nom a aquelle, que a per sy nom pode gaançar, nem merecer per
serviço de seu corpo, per que se mantenha, e segundo o dito dos Sabedores, e dos
Santos Doutores, mais justa cousa he castigar o pedinte sem necessidade, e que
pode escusar o pedir fazendo alguma outra obra proveitosa, ca de lhe dar esmola,
que deve seer dada a outros pobres, que nom podem fazer outra obra de serviço:
Porem mandamos, que quaaesquer, que assy forem achados, assy homeens, como
molheres, que andarem alrotando, e pedindo, nom usando d’outro mester, sejam
vistos e catados pelas Justiças de cada huum lugar; e se acharem que som taaes, e
de taaes corpos, e de tal hidade, que possam servir em alguum mester ou obra de
serviço, posto que em alguma parte dos membros corporaaes sejam minguados,
pero com toda essa mingua podem fazer alguum qualquer [obra de][5] serviço, sejam
costrangidos pera servir em aquellas obras, em que as ditas Justiças, ou aquelles,
que pera esto forem postos, virem que podem servir, por seu mantimento, e por
sua soldada, segundo entenderem que a podem merecer; de guisa que nenhuum
no nosso Senhorio nom viva sem mester, ou sem obra de serviço, ou proveito.

1
Na História das Instituições.
2
“contia”, na História das Instituições.
3
Falta na História das Instituições.
4
“maneira”, na História das Instituições.
5
Na História das Instituições.

406
José Domingues

10 – E aquelles que acharem andar ou viver em avitos Religiosos, que nom som
professos em alguma das Hordeens aprovadas, como suso dito he, digam-lhes e
mandem, que vam lavrar, e usar do mester da lavoira, fazendo-se lavradores per
sy, se o fazer poderem e quiserem: ou se nom, que servão aos outros lavradores
no mester da lavoira. E costrangam-nos pera ello sem outro meyo; e os que servir
nom quiserem, nem obrar do mester que lhes mandarem, des que lhes for man-
dado que servam, e obrem do dito mester, quaeesquer que sejam das condiçõoes
suso ditas, sejam açoutados pela primeira vez, e costrangidos em toda guisa pera
servir; e se dhy em diante servir nom quiserem, sejam açoutados com pregom, e
deitados fora de nossos Regnos.
11 – E aquelles, que forem achados tam fracos, e tam velhos, ou doentes per tal
(guisa)[1], que nom possam [seruir nem][2] fazer nenhuma obra de serviço, ou
alguuns envergonhados, que já fossem honrados, e caíssem em mingua, e proveza,
em guisa que nom podem escusar o pedir das esmolas, e nom som pera servirem
a outrem, dem-lhes as Justiças Alvaraaes, per que possam pedir essas esmolas
seguramente. E qualquer homem, ou molher, que acharem andar pedindo sem
recado, ou sem Alvará da Justiça, dem-lhe a pena suso dita.
12 – E pera se comprir, e poer em obra estas cousas, que assy som hordenadas
per nós: Teemos por bem e mandamos, que em cada huma Cidade, ou Villa de
cada huma Comarca, e Província das Correiçooens, sejam postos dous homeens
boons dos melhores Cidadãaos, que em essas Cidades ou Villas ouver, os quaees
*devem*[3] saber e veer todalas herdades, que há em cada huma Comarca, que
som pera dar pam, e no som lavradas e aproveitadas; e façam que sejam lavradas
e aproveitadas pera [dar][4] pam; e ajam poder pera costranger os Senhorios dellas,
que as lavrem, ou façam lavrar e semear pela guisa, que suso dito he escripto e
hordenado.
13 – E porque os Senhores das herdades as nom querem dar a outros, que as
lavrem, senom por grandes peensõoes, ou por muy grandes rendas, e os
lavradores, ou aquelles que as ouverem de lavrar, nom as querem filhar, se
nom por muy pequenos preços, ou muy pequenas conthias, ou per ventura sem
nenhum encarrego de dar pensom, ou parte aos Senhores dessas herdades; porem
por nom averem [ocasiom ou][5] aazo nenhuma das partes de se escusar, e as
herdades nom ficarem por lavrar: Teemos por bem e mandamos, que estes dous
homeens boons, que assy ficarem e forem escolheitos, como dito he, em caso que
se as partes nom possam avyr, taixem, e alvidrem quanta, e *camanha*[6] parte,
ou pensom os Lavradores dem aos Senhorios das herdades; e possam costranger,
[e costrangam][7] assy os Senhores das herdades que as dem, como os lavradores
que as filhem, pela estimaçom e taixaçom que [assy][8] fezerem.
14 – E se per ventura estes dous homeens boons antre sy forem em desvairo sobre
a estimaçom e taixaçom, que ham de fazer, entom seja dado huum homem boom
por terceiro polo Juiz do lugar, pera partir o desvairo, que for antre os dous, e
concordar no mais igual, segundo entender; e cumpra-se, e guarde-se o que polos
ditos dous (homeens boons)[9] for acordado em esta razom. E se os Senhores das

1
Falta na História das Instituições.
2
Na História das Instituições.
3
“ajam de”, na História das Instituições.
4
Na História das Instituições.
5
Na História das Instituições.
6
“tamanha”, na História das Instituições.
7
Na História das Instituições.
8
Na História das Instituições.
9
Falta na História das Instituições.

407
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

herdades esto nom quiserem consentir, e contra ello forem, ou ho embargarem


per qualquer maneira per seu poderio, percam essas herdades, e des entom sejam
apricadas ao comuum pera sempre: e a renda dellas seja filhada, e recebida pera
prol do comuum do lugar, em cujo *terrentorio*[1] essas herdades jouverem.
15 – Outro sy teemos por bem, e mandamos, que os sobreditos (dôs)[2] homeens
boons, que forem postos em cada hum lugar do nosso Senhorio, enqueirão e
saibão logo, e *dhi em*[3] diante pelos tempos, quaees e quantos som os que vivem
e moram em esses lugares, assy naturaaes delles, como outros quaaesquer, que hy
chegarem, ou *viverem*[4] de fora parte, e que nom som mesteiraaes, nem vivem
per certos mesteres necessarios pera prol cumunal, ou viverem com alguuns taaes,
que os mereçam, e ajam mester pera os servirem, &c. outro sy dos mendigantes,
e dos outros suso ditos, que andam em avitos religiosos; e esto meesmo seja
mandado aos vintaneiros, que som postos pera guardadores das Freiguesias e
das ruas e das praças, que dem recado a estes sobreditos dous homeens boons
de todalas pessoas, que acharem e souberem, cada huum em sua freiguesia ou
rua ou praça, da condiçom suso dita, per nomina que façam delles, pera serem
costrangidos pera lavrar e semear pam na terra, que lhes for dada per essas
Justiças. E se nom *puserem*[5], ou nom quiserem per sy manteer lavoira, dem-
nos a quem nos ouver mester pera lavrar e semear pam, e nom pera outro mester,
no(s) lugares e Comarcas, hu ouver herdades e lavoiras de pam, ou pera o lavor
das vinhas, hu ouver vinhas, e a lavoira do pam desfallecer, aa qual nossa teençom
he de acorrer primeiro pola razom suso *escripta*[6], por que nos movemos a fazer
esta hordenaçom, e *taixaçom*[7] a esses mancebos, e servidores em seus preços, e
soldadas aguisadas, que ajam d’aver, segundo suso dissemos.
16 – Pero teemos por bem, que nos Lugares, hu sempre custumou d’aver gaanha-
dinheiros, que se nom podem escusar, que leixem tantos, quantos forem pera
*ello*[8] necessarios, per numero certo; e todolos outros, que perteencentes forem
pera servir, sejam costrangidos pera o mester e officio da lavoira, pela guisa que
dito havemos, &c.
17 – E pera esto, que assy hordenamos e mandamos fazer por serviço de Deos e
prol [de todolos][9] dos nossos *Regnos*[10], nom seer torvado, nem embargado
per nenhuum, estabelecemos e mandamos que qualquer, de qualquer estado e
condiçom que seja, que per seu poderio, sem razom direita, defender ou embargar
per qualquer maneira fora de Juiso alguum daquelles, que mandamos per esta
Hordenaçom costranger, ou que forem costrangidos per aquelles, a que pera esto
for dado poder ou officio, pera nom servirem, ou nom obrarem em aquello, que
lhes for mandado, que paguem a nós, se for fidalgo, quinhentas libras cada vez
que o fezer, ou temptar de o fazer; e sejam logo per esse meesmo feito, sem outra
sentença de Juizo, desterrados do lugar, hu morarem; e saia-se logo d’hy sem
outro mandado donde quer que nós estevermos a seis legoas: e se fidalgo nom
for, que pague trezentas libras, e aja a dita pena do dito degredo; e sejam logo
penhorados, e costrangidos, e vendidos seus beens pela dita conthia, pela guisa

1
“termo”, na História das Instituições.
2
Falta na História das Instituições.
3
“assy ao”, na História das Instituições.
4
“vierem”, na História das Instituições.
5
“poderem”, na História das Instituições.
6
“expressa”, na História das Instituições.
7
“tausem”, na História das Instituições.
8
“esso”, na História das Instituições.
9
Na História das Instituições.
10
“Senhorio”, na História das Instituições.

408
José Domingues

que per nós he mandado, que se vendam pelas outras nossas dividas. E as Justiças
dos lugares, e outro sy aquelles, a que for dado poder pera esto comprir, que a cá
per nós he ordenado, o façam saber ao nosso Sacador, e ao nosso Almuxarife, e
Escripvam dos nosso direitos, pera mandarem costranger polas ditas *penas*[1]; e
se o nom fezerem, ou em ello forem negrigentes, que esses Juizes, e *Vereadores*[2]
as paguem a nós em dobro.
18 – Outro sy porque alguuns dos que eram lavradores, e outros muitos, que
o poderiam ser se quisessem, compram e ganham grandes mandas e somas de
gaados, e os trazem e governam pelas coutadas e herdades alheas, e compram as
hervas e pacigoos dos Senhores das herdades, de que esses Senhores das herdades
ham algo, e esses Senhores dos gaados vendem os estercos de seus gaados, e ham
por elles algo; e por esta razom huuns, e os outros, assy os Senhores das herdades,
como os dos gaados, nom curam de lavrar nem aproveitar as herdades: Porem
defendemos e mandamos, que daqui em diante no sofram nem sonsentam a
nenhuum, que aja nem traga gaados seus nem d’outrem, se nom for lavrador, ou
nom mantever lavoira, ou for mancebo de lavrador, que more com esse lavrador
pera o serviço da lavoira, ou pera guarda de seus gaados, ou pera outras obras
perteencentes a mester da dita lavoira. E os que manteverem lavoira, ou quiserem
seer lavradores, e lavrarem herdade sua ou d’outrem, ou viverem com esses
lavradores, ou que manteverem lavra pera esse mester da lavoira, como dito he,
possam aver e trazer gaados, quantos lhe comprirem, e mester ouverem pera seus
mantimentos, e pera sustentamento de sua lavoira aguisadamente, sem pena e
sem outro embargo.
19 – E qualquer, que do dia da poblicaçom desta nossa Hordenaçom a tres meses
trouver, ou ouver gaados, se nom lavrar, e semar herdades, se tempo e sazam for
de lavoira, e sementeira, ou se tempo nom for de lavrar, e se nom obrigar com
cauçam soficiente pera lavrar, e semar ao tempo e sazom convinhavel pera ello,
filhando logo, ou assinando alguma herdade, que pera o primeiro tempo, que se
seguir da lavoira, aja de lavrar, perca todo o gaado, que d’hy em diante trouver
e ouver, e seja-lhe todo filhado pera o comuum do lugar, hu esto acontecer: e
qualquer, que os acusar, e mostrar, aja pera sy o terço. E esse gaado, que assy for
filhado por do cumuum, nom seja despeso, nem desbaratado sem nosso especial
mandado, se nom *nas barbas-cãas /nos lavoures*[3] e obras das fortelezas, e
repairamento desses lugares.

[Era de mil e iiijº e treze anos, vijnte e seis dias de mayo em Santarem. Presente
Afomso Dominguez e Lourenço Gomçaluez, uassalos delRey e do seu comselho
e de Gill Eanes, uassalo e sobrejuiz dElRey na Casa do Çiujll e que tijnha entom
o sseelo da dicta casa e Joham Lourenço, uassallo dElRey e juiz por elle na dicta
villa e Gonçalo Dominguez, procurador do dicto concelho e presentes outros
mujtos homeens boons que pera esto forom chamados e juntados no alpender
do moesteiro de Ssam Domingos forom pobricadas e leudas per mym Gomçalo
Pirez, scripuam da chancelaria, estas hordinhaçõoes susso scriptas.
E logo pello dicto Afomso Dominguez foy mandado da parte do dicto senhor ao
dicto juiz que com acordo dos vereadores e homeens boons da dicta villa posesse
homeens boons e eixucatores certos pera ffazer comprir estas cousas que nas
dictas hordinhaçõoes he contheudo e pello dicto Senhor he mandado que esse
juiz as fezessem comprir e a guardar en todo suas peas em ellas conthudas.
E eu dicto Gonçalo Pirez esta pubricaçom screpuj per mamdado do dicto Afomso
Dominguez, uassalo e do comsselho do dicto Senhor.

1
“quantias”, na História das Instituições.
2
“veedores”, na História das Instituições.
3
“nos lauores”, na História das Instituições.

409
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

Das quaaes hordinhações uos juízes e concelho e homeens boons da cidade de


Lixboa nos enujastes pedir por merçee que uos mandássemos dar o trelado dellas
em pubrica forma sob o nosso seello. E nos ueendo o que nos assy enujastes
pedyr mandamosuola dar. Porque nos mandamos que as façades comprir e a
guardar en todo pella guisa que em ellas he conthudo e per nos he mandado.
Unde al nom façades.
Dante em Santarem vijnte e seis dias de Jumho ElRej o mandou per Affomso
Dominguez seu uassalo e do seu comsselho. Steuom Dominguez os fez era de
mjll e quatrocentos e treze anos][1]

Uma lei de D. Duarte de 02 de Junho de 1435, dada em Santarém, para que o


dinheiro dos órfãos se empregue em propriedades e se não dê à usura foi trasladada
para o concelho do Porto, a pedido de Diogo Lourenço, a partir do “Liuro das hordena-
çoees da nossa chanceleria”, em documento de 2 de Novembro desse mesmo ano:

LXXXVIIII – Que os dinheiros dos horfõos nom sejam lançados aa onzena.


[Porto, AHM – Livro 4.º de Pergaminhos, doc. 20]

ElRey Dom Eduarte meu Senhor e Padre, de muito louvada e esclarecida memoria,
em seu tempo fez Ley em esta forma, que se segue.

1 – Dom Eduarte *pela graça de Deos Rey de Portugal, e do Algarve, e Senhor


de Cepta*[2]. A todolos Corregedores, e Juizes, e Justiças dos nossos Regnos,
a que esta Carta for mostrada, saude. Sabede, que nós querendo proveer aos
perigoos das almas dos nossos sobditos, em que encorriam, dando os dinheiros
dos horfõos aa usura; porque todo dapno do povoo, cujo regimento per Deos nos
he cometido, quanto em nós for, somos theudos de o estranhar; e tanto somos
theudo correger o dito dapno com maior estudo e diligencia, quanto a alma he
mais nobre que o corpo; porem consirando nós como as usuras, assy per Direito
*Canónico*[3], como per Direito Divino geeralmente som defesas, nom queremos
consentir, que sô color de piedade a Ley de Deos em esta parte [em nossos
reignos][4] seja quebrantada.
2 – E portanto, avuda longa e madura deliberaçom com os do nosso Conselho,
hordenamos e estabelecemos por Ley, que daqui em diante os dinheiros dos
horfõos nom sejam *lançados aa onzena*[5], sob pena de pagarem pera nós os
que os *lançarem*[6] outros tantos dinheiros, quantos derem aa uzura; e os
dinheiros dos horfõos fiquem a elles em salvo: e que os Tetores dos ditos horfõos
demandem soomente do tempo passado o dinheiro do principal, e mais nom; e
daqui em diante comprem dos dinheiros dos ditos horfõos taaes heranças, de que
a elles venha proveito, ou per lícitos contrautos os convertão em honestos usos, e
gaanços, ganhar em tal guisa que os ditos horfõos ajam proveito sem offensa da
Ley de Deos.

1
Na História das Instituições.
2
“etc”, no Livro 4º de Pergaminhos.
3
“Comum”, no Livro 4º de Pergaminhos.
4
No Livro 4º de Pergaminhos.
5
“dados a husuras”, no Livro 4º de Pergaminhos.
6
“derem”, no Livro 4º de Pergaminhos.

410
José Domingues

3 – Porem vos mandamos, que façaaes comprir e guardar esta nossa hordenaçom,
como per nos he mandado, e estabelecido, e hordenado: e al nom façades. Dada
em Santarem a *dous*[1] dias (do mez)[2] de Junho. ElRey o mandou. Gonçalo
*Vaasques/Vaaz*[3] a fez. *Anno*[4] do Nacimento de Nosso Senhor Jesu Christo
de mil e *quatro centos e trinta e cinco*[5] annos.

4 – E vista per nós a dita Ley, achamos que he fundada em Justiça e Direito, assy
Civil, como Canonico, e Divino: porem mandamos que se guarde e cumpra, como
em ella he contheudo.

V – Das Cartas dos fretamentos dos Navios.[6]


[Descobrimentos Portugueses, vol. I, 1988, doc. 50 e 82, pp. 44-46 e 103-105]

ElRey Dom Affonso o Quarto em seu tempo fez Ley acerca dos fretamentos dos
Navios em esta forma, que se segue.

1 – Dom Affonso pela graça de Deos Rey de Portugal, e do Algarve. A quantos


esta Carta virem fazemos saber, que alguuns Mercadores do Porto, e de Bragaa, e
de Guimarãaes, e de Viseu, e de Chavees, e d’outros Lugares se me querellarom,
dizendo que recebiam grande agravamento dos Juizes, e Vereadores, e d’alguuns
homeens boons do dito logo do Porto, per razom de huma postura que fezerom
em razom do fretamento das Naaos; e eu pera saber se era assy, fiz perante mim
vir os ditos Juizes, e Vereadores, e homeens boons do dito logo do Porto, e a dita
postura, e outro sy os *outros*[7] Mercadores, que se della agravavom, como dito
he: a qual postura de verbo a verbo tal he.
2 – Em nome de Deos amem. Saibam todos que Domingo vinte e cinco dias de
Março Era de mil e trezentos *quarenta/sessenta*[8] e dous annos, em presença de
mim Affonso Romãaes Tabelliam publico da Cidade do Porto, e das testemunhas
adiante escriptas, o Concelho da dita Cidade seendo (todos)[9] juntos tras a obra
da See [da dita Cidade][10] per pregom *per*[11] Bertholameu Pregoeiro da dita
Cidade ante *lançado*[12], como eu dito Tabelliam vi, e ouvi, que fossem todos
tras a obra da See, e aderençariam de sua prol; e os que polo dito pregom no
dito lugar [tras a obra][13] forom ajuntados, todos em huum acordo e em huma

1
“ij”, no Livro 4º de Pergaminhos.
2
Falta no Livro 4º de Pergaminhos.
3
“vaasques”, no Livro 4º de Pergaminhos.
4
“Era”, no Livro 4º de Pergaminhos.
5
“iiijc e xxxb”, no Livro 4º de Pergaminhos.
6
“Como quatro homees boos da cidade ham de seer enlegidos para corretores fretadores”, nos Descobri-
mentos.
7
“ditos”, nos Descobrimentos.
8
“sasseenta”, nos Descobrimentos.
9
Falta nos Descobrimentos.
10
Nos Descobrimentos.
11
“que”, nos Descobrimentos.
12
“deytou”, nos Descobrimentos.
13
Nos Descobrimentos.

411
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

voz, nom desacordando nenhum nem contradizendo, louvárom, e outorgárom, e


dérom por firmes, e [por][1] estavees, e [por][2] valiosas as cousas contheudas em
huma cedula, que em esse Concelho foi publicada, e leuda, da qual o theor de
verbo a verbo tal he.
3 – Este he o Estatuto, que os homeens boons com o Concelho (do Porto)[3]
pooem antre sy e fazem, esguardando o serviço de Deos, e o proveito da (dita)
[4]
*Cidade*[5]. E consirando e veendo que alguuns homeens, nom esguardando
Deos nem suas almas nem o proveito da Villa, fretavam Naaos per sy, nom
seendo hy chamados aquelles que as carregavam, e poinham algumas Naaos em
*taaes*[6] conthias, quaaes era sua vontade: o Concelho, e homeens boons da (dita)
[7]
*Cidade*[8] veendo e consirando o dapno, que se lhes ende seguia, e poderia
seguir hindo este feito adiante, ouverom conselho, e teverom por bem, arredando
seu dapno, e chegando seu proveito, que as Naaos (e Navios)[9] que se ouverem
de fretar no Porto pera (averem de)[10] carregar d’aver de peso, e outro sy algumas
Naaos, se as aqui fretarem pera Lixboa os vizinhos da Villa pera aver de peso,
que sejam fretadas per quatro homeens boons da *Cidade*[11], os quaees homeens
boons sejam daquelles, que pera *Frandes*[12] carregarem em as Naaos (e Navios)
[13]
, e [que][14] enlegerem antre sy.
4 – E teem por bem, que aquestes homeens boons, que enlegerem antre sy, jurem
aos Santos Avangelhos, que bem, e direitamente fretem as Naaos per aquella
guisa, que elles entenderem, e virem que he bem, e proveito da *Cidade*[15], e
(bem)[16] dos Mercadores, e razom tambem convinhavel pera os Mercadores, como
pera (os Navios)[17] e Naaos, e cada huma Naao (ou Navio)[18], como se avierem com
os *Mercadores*[19].
5 – E estes [quatro][20] homeens boons, que as Naaos (e Navios)[21] ham de fretar,
devem a fallar com os homeens boons da Villa quantas Naaos fezerem mester
pera fretar, e em que tempo; e quando as Naaos (ou Navios)[22] ouverem fretadas,
devem-no de fazer saber aos Mercadores; e os que em ellas carregar quiserem, e
[quiserem][23] em ellas tomar parte, que vãao aaquelle lugar, onde lhes estes quatro

1
Nos Descobrimentos.
2
Nos Descobrimentos.
3
Falta nos Descobrimentos.
4
Falta nos Descobrimentos.
5
“villa”, nos Descobrimentos.
6
“ellas”, nos Descobrimentos.
7
Falta nos Descobrimentos.
8
“villa”, nos Descobrimentos.
9
Falta nos Descobrimentos.
10
Falta nos Descobrimentos.
11
“vila”, nos Descobrimentos.
12
“frança”, nos Descobrimentos.
13
Falta nos Descobrimentos.
14
Nos Descobrimentos.
15
“villa”, nos Descobrimentos.
16
Falta nos Descobrimentos.
17
Falta nos Descobrimentos.
18
Falta nos Descobrimentos.
19
“Meestres”, nos Descobrimentos.
20
Nos Descobrimentos.
21
Falta nos Descobrimentos.
22
Falta nos Descobrimentos.
23
Nos Descobrimentos.

412
José Domingues

homeens boons mandarem, e dem-lhes parte em tal guisa, que cada huum aja
igualdade assy como virem que lhes compre.
6 – E aquelles, que contra esto forem [em contrayro][1] em parte ou em todo,
peitem quinhentas libras pera o Concelho, e sejam deitados de vizinhos, e o
estabelecimento ficar (firme, e)[2] em sua forteleza.
7 – E estes quatro homeens boons devem d’entrar em cada huum anno pera esto
por Pascoa per Concelho, apregoando aquelles, que pera esto enlegerem.
8 – E estes quatro homeens boons devem tomar conto, e recado dos carregadores,
que aqui as (Naaos)[3] carregarem, e dos descarregadores quando as Nãos vierem
com os pannos; e o que sobejar dem-no aos ditos quatro homeens boons, e
recebam-no pera o Concelho.
9 – E os que forem carregadores, devem aver *quarenta/quinze*[4] soldos de
tornaises por seu affom cada huum, e os descarregadores em Normandia outro
tanto, e nom mais.
10 – E nenhum Mercador, que aja parte no Senhorio da Naao, nom será carregador.
11 – E os quatro homeens boons que pera esto enlegemos este primeiro anno som
estes; (a saber)[5], Rui *Vaasques/Mendes*[6], e Pero Simõoes, e Pascoal Eannes, e
Vicente Pires: e se estes todos quatro hy nom poderem seer, que os doos, que hy
poderem seer, façam nas cousas suso ditas, se cumprir, e mandem fretar as Naaos
pela Costa, se cumprir, aa custa daquelles, que as quiserem carregar.
12 – A qual Cedula perleúda, o dito Concelho pedio a mim dito Tabellião, que
a tornasse em publica forma sob meu signal; e de mais mandarom todos em
huum acordo a Vasco Gil Chanceller do Concelho, que seellasse este Estormento
do Seello pendente do Concelho por maior firmeza das ditas cousas, e esto foi
feito no dito Logo, no (dito)[7] dia, e na Era suso *dita*[8]. Testemunhas, que a esto
presentes forom *Vicente / Lourenço / Vaasquo Esteves*[9], e Francisco Annes,
e Esteve Annes Tabelliães, e Joham Gordo Almoxarife do Ifante, e Martim Pães
Juiz da dita Cidade, e Gonçalo Nogueira Cavalleiro, e Joham Durãaes, e Martim
Pires Alvarinho, e Vasco Gil, Miguel *Pero / Pero Rodrigues*[10], e Joham Vicente
(de Freitas)[11], e Gomes de Freitas, e Estevom de Freitas, e outros muitos. E eu
Affonso Romaes Tabelliam de suso dito, a rogo e a mandado do dito Concelho,
este Estormento com minha mãao propria escrepvi, e meu signal hy puge em
testemunho de verdade, que tal he.
13 – E eu vista a dita postura, e as razõoes ditas e allegadas de huma parte e
d’outra, porque achei que a dita postura se nom guardava pela guisa que devia,
e que porem se seguia a mim grande desserviço, e dapno *aos Mercadores*[12],
porque nom carregavam seus averes, nem era feita antre elles igualdade pela
guisa que devia, (e pera se aver melhor de guardar a dita postura, e se a mim
seguir serviço, e prol aos ditos Mercadores, fazendo-se igualdade entre elles

1
Nos Descobrimentos.
2
Falta nos Descobrimentos.
3
Falta nos Descobrimentos.
4
“quarenta”, nos Descobrimentos.
5
Falta nos Descobrimentos.
6
“meendez”, nos Descobrimentos.
7
Falta nos Descobrimentos.
8
“escripta”, nos Descobrimentos.
9
“lourencestevez”, nos Descobrimentos.
10
“perro”, nos Descobrimentos.
11
Falta nos Descobrimentos.
12
“dos moradores”, nos Descobrimentos.

413
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

pela guisa que deve,)[1] tenho por bem, e mando, que a dita postura se guarde
pela guisa, que se adiante segue, e nom per outra, [Convem][2] a saber: Que os
ditos quatro homeens (boons,)[3] que forem fretadores, quando ouverem de seer
enlegidos, *que*[4] o dito Concelho, e homeens boons [que][5] façam hy chamar o
meu Almoxarife, e Escripvam do dito loguo do Porto; e outro sy o façam saber
geralmente per pregom, pera chegarem hy os (ditos)[6] *Mercadores*[7] do dito
logo do Porto, e dos outros lugares, *que*[8] hy chegar quiserem, pera esses quatro
fretadores serem enlegidos com outorgamento dos mais, que se poder fazer.
14 – E estes fretadores sejam jurados aos (Santos)[9] Avangelhos, que dem parte a
cada huum Mercador tambem do dito logo do Porto, como aos de fora igualmente,
segundo os averes, que cada huum tever pera carregar.
15 – E se depois for achado que alguum Mercador revender a outrem a parte,
que lhe for dada na Naao pelos ditos fretadores, nom avendo razom aguisada
por que nom deva de carregar, que aja a [dita][10] pena das ditas quinhentas libras,
e seja deitado de vizinho; e se for Mercador de fora, pague as ditas quinhentas
libras, e nom lhe dem todo *aquelle*[11] anno carrega em essa *Cidade*[12], *e ficará
a postura firme pera sempre*[13]; e se per ventura leixar de carregar por alguma
razom aguisada, entom possa revender essa sua parte, que lhe assy foi dada, por
toda (aquella)[14] quantia, por quanto lhe foi dada pelos ditos fretadores, e nom por
mais; e se o (contrairo desto)[15] fezer, que aja as ditas penas.
16 – Outro sy se os ditos fretadores nom fezerem igualdade, ou per outra guisa
fezerem o que nom devem, pera se nom guardar a dita postura, como dito he, aja
cada huum as ditas penas pela guisa, que dito he: e desto sejam requeredores,
e accusadores pera demandarem as ditas penas o dito meu Almoxarife, e
Escripvam, (ou Procurador do Concelho, ou outro qualquer do Povoo tambem
da Cidade, como de fora parte. E seja primeiro recebido a demandar as ditas
penas o Procurador do dito Concelho, e leve a pena dos ditos dinheiros pera
o Concelho; e se as demandar nom quiser, entom as demande o dito meu
Almoxarife, e Escripvam,)[16] e levem as ditas quinhentas libras pera mim; e se o
dito meu Almoxarife, e Escripvam nom quiserem demandar a dita pena dos ditos
dinheiros, entom os demande outro qualquer do Povoo, tambem da Cidade, como
de fora. E seja de melhor condiçom aquelle, que primeiro chamar a parte a Juizo
pola dita razom, e leve da dita pena das ditas quinhentas libras as cem libras pera
sy, e as outras partes sejam pera o Concelho.
17 – Outro sy quando os ditos fretadores derem parte a cada huum dos ditos
Mercadores, como dito he, seja hy huum Tabelliam, ou Escripvam jurado, que

1
Falta nos Descobrimentos.
2
Nos Descobrimentos.
3
Falta nos Descobrimentos.
4
“per”, nos Descobrimentos.
5
Nos Descobrimentos.
6
Falta nos Descobrimentos.
7
“moradores”, nos Descobrimentos.
8
“se”, nos Descobrimentos.
9
Falta nos Descobrimentos.
10
Nos Descobrimentos.
11
“esse”, nos Descobrimentos.
12
“villa”, nos Descobrimentos.
13
“e ficar sempre a postura firme”, nos Descobrimentos.
14
Falta nos Descobrimentos.
15
Falta nos Descobrimentos.
16
Falta nos Descobrimentos.

414
José Domingues

escrepva logo a parte, que assy for dada [dante][1] a cada huum, de guisa que cada
huum aja sua parte pela guisa que for escripto, e lhe foi dada; e se for achado, que
esse Tabelliam, ou Escripvam jurado mingua, ou accrecenta alguma parte do que
assy foi dado, escrepvendo menos, ou mais, ou riscando depois o que escrever,
ou em alguma outra guisa fezer em esso, que assy escrepver, o que nom deve, aja
pena de *sallairo*[2].
18 – Outro sy se o Meestre da Naao consentir, que alguum Mercador meta mais
averes, que aquelles que lhe forom assignados pelos ditos fretadores, e o fazer a
sabendas, aja as ditas penas, e sejam-lhe demandadas pela guisa, que dito he. E
em testemunho desto mandei dar esta minha Carta ao dito Concelho do Porto.
Dante no (dito Logo)[3] do Porto a seis dias d’Agosto. ElRey o mandou per Maestre
Lopo das Leyx seu Vassallo, a que esto [feito][4] mandou livrar. Lourenço Martins
de Cambra a fez Era de mil e trezentos e noventa e tres annos.

19 – E vista per nós a dita Ley, mandamos que se guarde, segundo em ella he
contheudo; e se for achado, que depois della algumas Cidades, ou Villas dos
nossos Regnos fezerom outras algumas Hordenaçõoes acerca dos fretamentos
dos Navios, que fossem confirmadas pelos Reyx, que ante nós forom, ou per nós,
mandamos que se guardem assy como em ellas, e nas confirmaçõoes sobre ello
feitas for contheudo.

VI – Dos contrautos firmados per juramento, ou aa boa fe.[5]


[Ordenações de D. Duarte, pp. 293-294]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 183-184]

ElRey Dom Donis de gloriosa memoria em seu tempo fez huma Ley sobre os
contrautos, que se faziam com juramento por desfraudar sua jurdiçom, em esta
forma, que se segue.

1 – Dom Donis pela graça de Deos Rey de Purtugal, e do Algarve. A quantos esta
Carta virem faço saber, como esguardando eu o mal e dapno, que se (segue (em
cada huum dia,)[6] e)[7] poderia seguir ao diante a (todolos dos)[8] meus Regnos,
por razom dos contrautos, e promittimentos, que [os homens prometjam]
[9]
huuns a outros (faziam)[10] tambem das dividas, que ajam de pagar, como
d’outras cousas, que se obrigavam a comprir á boa fe, (e se as nom compriam,
cahiam na pena da minha Ley, que devem aver os que britam a boa fe;)[11] e

1
Nos Descobrimentos.
2
“falssayro”, nos Descobrimentos.
3
Falta nos Descobrimentos.
4
Nos Descobrimentos.
5
“carta geeral dos cantrautos(sic) que fazem en que nom deuem aa põer en eles aa bõa fe”, no LLP.
“ley per que ell Rey manda que nhuum contraito nem promjtimento que os homens facom em a boa ffe
que nom ualha”, nas ODD.
6
Falta nas ODD.
7
Falta no LLP.
8
Falta no LLP.
9
No LLP.
10
Falta no LLP.
11
Falta nas ODD.

415
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

aquelles, que se desto (nom)[1] podiam escusar, ficavam por *ello*[2] enfamados,
em guisa que nom podiam (depois seer Conselheiros *d’alguum*[3] Rey, nem
de nenhuum (outro)[4] Comuum, nem podiam)[5] seer Juizes, nem Aportellados,
nem podiam aver nenhuma honra, nem *algum*[6] officio de Justiça. E (eu)[7] por
esquivar este dapno, e [este][8] defamamento, e vergonça, que se desto seguia a
elles, e *aos*[9] que depos (elles)[10] viessem, e poderia seguir (ao diante)[11] [Mais]
[12]
porem com Concelho da minha Corte mando, que daqui em diante nenhum
em minha terra nom faça contrauto, nem obrigaçom, nem postura, nem aveença,
nem promittimento, nem *alguma*[13] outra (cousa d’)[14]obrigaçom, em que ponha
promittimento de boa fe, nem outro (algum)[15] juramento.
2 – *E*[16] os que contra esto vierem, assy aquelles, *que devem a pagar o contheudo
na obrigaçom*[17], como aquelles, *a que deve seer pagado*[18], como o Tabelliom,
ou aquelle, que ouver seello autentico, que *ao dito*[19] contrauto presentes forem, e
seu signal, ou [seu][20] seello no *Estromento*[21] do contrauto poserem, (o contrauto)
[22]
nom valha, e elles ajam [esta][23] pena em esta maneira, (a saber;)[24] aquelle, que
ouver de receber os dinheiros da venda que fizer, [ou que enprestarem][25] perca
esses dinheiros, e o comprador perca aquello, que (comprar: outro sy o emprestor
perca aquello, que emprestar, e o que receber o emprestido peite aquello, que)
[26]
recebeo, ou entende a receber *com*[27] outro tanto [do seu][28]: e o Tabelliam, ou
aquelle, que seello autentico hy pozer, peite quanto for a conthia do emprestido,
ou da venda, ou *d’outro qualquer*[29] contrauto: e desto aja ElRey as duas partes,
e o accusador *a terça parte*[30].

1
Falta no LLP e nas ODD.
2
“senpre”, nas ODD. Falta no LLP.
3
“de nenhuum”, no LLP.
4
Falta no LLP.
5
Falta nas ODD.
6
“nhuum”, no LLP e nas ODD.
7
Falta nas ODD.
8
No LLP.
9
“aaqueles”, no LLP.
10
Falta no LLP.
11
Falta no LLP.
12
No LLP.
13
“nhuma”, no LLP e nas ODD.
14
Falta no LLP.
15
Falta no LLP e nas ODD.
16
“Ca”, no LLP.
17
“a que deuem pagar os dinheiros da obrigaçom”, nas ODD. Idem no LLP, mas sem o “a” inicial.
18
“que os pagarem”, no LLP e nas ODD.
19
“a estes”, no LLP e nas ODD.
20
Nas ODD.
21
“testemunho”, no LLP.
22
Falta no LLP.
23
No LLP E nas ODD.
24
Falta no LLP e nas ODD.
25
No LLP.
26
Falta nas ODD. “conprou e o que Receber este enprestido perça o que”, no LLP.
27
“e”, no LLP e nas ODD.
28
Nas ODD.
29
“do”, no LLP e nas ODD.
30
“as tres partes”, no LLP.

416
José Domingues

[Como nom deue ualler o contraito][1]

3 – Outro sy se o contrauto, ou promittimento for sem dinheiros, (assy)[2] como nos


emprazamentos, ou nos escaimbos, ou (em)[3] outro qualquer contrauto similhante
*a estes*[4], o contrauto nom valha, e *aquelles*[5], que o fezerem, percam todas
as cousas, que receberom, ou entenderem de receber por esta (guisa, e)[6] razom: e
o Tabelliam, que hy poser seu signal, ou o que *hy*[7] poser seello autentico aja a
pena suso dita: e *desto*[8] aja ElRey as duas partes, e o accusador (aja)[9] *a terça
parte,*[10] assy como suso dito he.
4 – E mando a todolos Tabelliãaes dos meus Regnos, que registem esta (minha)
[11]
Carta, e [que][12] a leam huma vez *na*[13] *domãa*[14] (em Concelho)[15] nas Villas,
e Lugares do meu Senhorio. Dante em Lixboa *dezoito*[16] dias de Mayo. (ElRey
o mandou com (Conselho da)[17] sua Corte.)[18] Domingue Annes a fez Era de mil e
*trezentos e cincoenta e dous*[19] annos.

5 – A qual Ley vista per nós mandamos que se guarde, segundo em ella he
contheudo, porque nos parece seer justa, e sempre assy foi usada, e guardada nos
tempos dos outros Reyx, que ante nos forom ate ao presente.

XV – Das Veuvas, que enalheam, e desbaratam seus beens como nom devem.
[Livro das Leis e Posturas, p. 423]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 468-469]

ElRey Dom Affonso o Quarto em seu tempo fez Ley em esta forma, que se segue.

1 – Outro sy porque as molheres no de mais trabalhão contra aquello, que sua


prol he, veendo nós como algumas depois da morte de seus maridos desbaratão o

1
Como título nas ODD.
2
Falta no LLP e nas ODD.
3
Falta nas ODD.
4
“a eles”, no LLP. “destes”, nas ODD.
5
“os”, no LLP e nas ODD.
6
Falta no LLP e nas ODD.
7
“lhe”, nas ODD.
8
“de todo”, no LLP.
9
Falta nas ODD.
10
“as tres partes”, no LLP.
11
Falta no LLP.
12
No LLP e nas ODD.
13
“cada”, nas ODD.
14
“ano”, no LLP.
15
Falta no LLP.
16
“dous”, no LLP. “xj”, nas ODD.
17
Falta nas ODD.
18
Falta no LLP.
19
“iijc Lij”, no LLP e nas ODD.

417
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

que ham, em guisa que ellas ficão depois pobres e *minguadas*[1], e os que devem
succeder seus beens ficão dapnificados; e porque a nós perteence de curar que
nenhuma nom use mal daquello que ha, e querendo *contrariar*[2] as minguas das
(ditas)[3] molheres, e proveer aos seus successores, mandamos, e estabelecemos,
que se daqui em diante provado for aas ditas molheres, que maliciozamente, ou
sem razom desbaratão ou enalheão seus beens, que logo as Justiças dos Lugares,
hu as ditas molheres beens ouverem, os tomem todos, e [os][4] tenhão per nosso
mandado, dando a ellas seu mantimento, segundo as pessoas que forem, e os
encarregos que ouverem; e devem-no fazer saber a nós, pera mandarmos proveer
a esses beens, em guisa que aquelles, que os ouverem de herdar, nom recebão
dapno. Publicada foi (esta Ley)[5] em Santarem per Meestre Gonçalo, e Joham
Durãaes Vezes Tenente de Chanceller, Vassallos, e privados do dito Senhor Rey, a
*quatorze*[6] dias de Julho Era de mil *trezentos e oitenta e hum*[7] annos.

2 – E vista per nós a dita Ley, declarando em ella dizemos, que acontecendo tal
viuva seer casada com Cavalleiro, ou Fidalgo de Solar, em tal caso por honra do
marido, que assy ouve, e de seu linhagem mandamos, que se as Justiças da terra
ouverem della tal informaçom, fação-no saber a nós, pera nós hy mandarmos o
que acharmos que he bem e direito, sem escandalo de sua geeraçom.
3 – E com esta declaraçom mandamos que se guarde a dita Ley, segundo em ella
he contheudo, e per nós declarado, como dito he.

A versão do Livro das Leis e Posturas é bastante mais sucinta:

Molher uiuua que desbarata o que ha que lhj tomem os beens.

Estabelleçeu que se alguma Molher Veuua desbaratase aquelo que auia que as
Justiças da terra tomasem os beens que asj ouuessem E lhi dem mantijmento
agisado(sic) segundo sa ffazenda E que os ffaçam ssaber a elRej E mandara commo
se façam dos beens.
[Livro das Leis e Posturas, p. 423]

10º

XXVI – Do que vive com Senhor a bem fazer, e se parte delle sem sua vontade.[8]
[Ordenações de D. Duarte, p. 459]
[Cortes D. Afonso IV, 1982, p. 112]

ElRey Dom Affonso o Quarto de louvada memoria em seu tempo fez huma Ley
acerca dos mancebos serviçaaes, que vivem com outrem a bem fazer, e se partem
delles sem sua licença, em esta forma que se segue.

1
“enuergonçadas”, nas ODD.
2
“costrangeer”, nas ODD.
3
Falta nas ODD.
4
Nas ODD.
5
Falta nas ODD.
6
“xiiijº”, nas ODD.
7
“iijc Lxxxj”, nas ODD.
8
“que pena deuem auer aquelles que uiuerem com senhores a bem fazer ou por soldada E sse partem
delles”, nas ODD.

418
José Domingues

1 – Outro sy porque a nós he dito, que aquelles que vivem a bem fazer com
*os*[1] homeens, se partem delles sem suas voontades, e levão-lhes o que lhes
dão, [de uistyr][2] nom o avendo merecido, e que desto se recrecia grande dapno
aaquelles, com que vivião; e pera tolher este dapno, que se nom faça daqui em
diante: teemos por bem, e mandamos que todo homem, que com outro viver
a bem fazer, se for homem de pee, e delle receber de vestir, saya, e (capa, ou)
[3]
*cerame/cerôme*[4], nom se possa delle partir sem seu mandado, atee que o
serva hum anno comprido; e se lhe der saya, ou cerame tam soomente, (nom)[5]
se possa delle partir, atee que o serva *meo anno*[6]; e se for homem, que ande
de besta, e ouver delle o [uestyr][7] contheudo em esta Hordenaçom, ou (cousa)[8]
que tanto valha, nom se possa delle partir, ataa que o serva hum anno comprido;
e se ouver delle a meetade, nom se possa delle partir, ataa que o serva *meo
anno*[9]. E se alguns contra esto forem, teemos por bem que sejão presos hu quer
que forem achados, e nom sejão soltos, ataa que paguem *em dobro*[10] [todo][11] o
que levarem, e as custas que sobre esto fezerem.
2 – (Outro sy teemos por bem, que)[12] *se*[13] alguns se partirem daquelles, com que
assy viverem na nossa mercee, ou da Rainha (minha molher,)[14] ou dos Ifantes,
sejão presos hu quer que os acharem, e tragão-nos aa nossa prisom, e *d’hy*[15]
paguem o que suso dito he; e se per ventura estes, que se assy partirem destes,
com que (assy)[16] viverom, e *se forem pera outros*[17] pera viverem com elles, e
frontado for a esses, que os assy acolherem, per aquelles com que antes vivião, ou
outrem per seu mandado, em como se partirom delles levando-lhes o seu, que os
nom tragam mais comsigo; e se o assy nom fizerem, e achado for depois que esses,
que se assy partirom *desses*[18], com que (assy)[19] viviam, som theudos d’entregar
alguma rem a esses, de que se assy partirom, que outro tanto entreguem a nós do
seu esses, que os *assy*[20] partir nom quiserom quando lhes foi frontado.
3 – E mandamos que os nossos Almoxarifes, cada hum em seu Almoxarifado, ou
outro qualquer, que os possa [desto][21] accusar, e levar a meetade pera sy, e a outra
meetade pera nós, e possão seer accusados, segundo as pessoas que forem, pela
guisa que o devem seer aquelles, que nos outros casos (sobreditos)[22] som theudos.

1
“alguuns”, nas Cortes.
2
Nas Cortes e nas ODD.
3
Falta nas ODD.
4
“Çerame”, nas Cortes. “çeromem”, nas ODD.
5
Falta nas Cortes.
6
“sseis meses”, nas Cortes e nas ODD.
7
Nas Cortes e nas ODD.
8
Falta nas Cortes e nas ODD.
9
“sseys meses”, nas Cortes e nas ODD.
10
“dobrado”, nas Cortes e nas ODD.
11
Nas Cortes e nas ODD.
12
Falta nas Cortes e nas ODD.
13
“E se sse assi”, nas ODD.
14
Falta nas Cortes e nas ODD.
15
“dalj”, nas Cortes e nas ODD.
16
Falta nas Cortes e nas ODD.
17
“sse colherem a outros”, nas Cortes. “segirem a outros”, nas ODD.
18
“dos”, nas Cortes e nas ODD.
19
Falta nas Cortes e nas ODD.
20
“de sy”, nas Cortes e nas ODD.
21
Nas Cortes e as ODD.
22
Falta nas Cortes.

419
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

[Era de mil trezentos Seteenta e ojto annos. Sabado primeyro dias(sic) de Julho
em Lixbõa forom pobricadas estas Leis per Pero do ssem Chanceler d el Rey
presentes Meestre Pedro e Meestre Gonçalo das Leis E outros mujtos da merçee
dEl Rey gram peça de Poboo do sseu senhorio][1]
4 – E depois desto o virtuoso Rey Dom Fernando de famosa memoria em seu
tempo acerca deste passo fez outra Ley em esta forma, que se segue.

[transcreve-se a lei de 24 de Abril de 1374]

10 – As quaaes Leyx vistas per nós, mandamos que se guardem assy como em ellas
he contheudo, com a limitaçom seguinte. E quanto he aa segunda Ley, mudando
a pena por sua aspereza daquelles, que se partem de seus Senhores, hordenamos
que todo aquelle que se assy partir, pague o que assy levar em dobro da cadea, e
seja degradado pera Cepta por dous annos; e o que o tolher, que pague cincoenta
escudos aaquelle, de que se assy partir.

11º

LIII – Do Vassalo d’ElRey, que obriga cavallo, e armas, ou maravedis, que ha do dito
Senhor.[2]
[Ordenações de D. Duarte, p. 440 e 447]
[Cortes D. Afonso IV, p. 113]

ElRey Dom Affonso o Quarto em seu tempo fez Leys na Cidade de Coimbra[3],
antre as quaaes fez huma em esta forma, que se segue.

1 – Outro sy porque a Nós he dito, que tambem os que de Nós ham marividis, como
d’outros, cujos Vassalos, ou companheiros som, tirão aver emprestado, e fazem
outros contrautos, pelos quaaes obrigam os maravidis que ham d’aver, e quando
acontece que Nós, ou aquelles, cujos Vassallos, ou companheiros som, avemos
delles mester (serviço,)[4] nom teem com que nos servir (possam)[5]; e de mais
recrecem muitas vezes per razom de taaes *obrigamentos*[6] muitos *preitos*[7],
e contendas: Porem Mandamos, como quer que *já esto*[8] per Nós *outra vez*[9]
fosse defeso grande tempo ha, que se alguns dos sobreditos obrigarem os [seus][10]
maravidis, que de Nós *ouverem*[11], ou d’outrem, como dito he, que tal obrigaçom
nom valha, nem se faça per ella obra *alguma*[12], salvo se for feita essa obrigaçom
per Nosso consentimento. E esto (mesmo)[13] Mandamos que se guarde, quando

1
No final do documento das Cortes.
2
“Como el rrej mandou que nom penhorem nem-huum fidalgo Em beestas nem pannos”, nas ODD.
3
Estas leis foram feitas nas cortes de Santarém de 1340. No entanto a versão que consta na edição das Cortes
de D. Afonso IV e nas Ordenações de D. Duarte é uma publicação feita em Lisboa.
4
Falta nas ODD.
5
Falta nas ODD.
6
“obrigações”, nas Cortes e nas ODD.
7
“perygos”, nas ODD, p. 447.
8
“seja”, nas Cortes.
9
“esto meesmo”, nas Cortes e nas ODD.
10
Nas Cortes e nas ODD.
11
“teuer”, nas Cortes e nas ODD.
12
“nenhuma”, nas Cortes e nas ODD.
13
Falta nas ODD, p. 447.

420
José Domingues

algum dos sobreditos obrigar cavallo, ou armas [pobricada em lixboa primeiro


dia de Julho Era mjll iijc Lxxbiijº annos per mestre Pedro E per mestre gonçallo
E per pero do ssem][1].
[Era de mil trezentos Seteenta e ojto annos. Sabado primeyro dias(sic) de Julho
em Lixbõa forom pobricadas estas Leis per Pero do ssem Chanceler d el Rey
presentes Meestre Pedro e Meestre Gonçalo das Leis E outros mujtos da merçee
dEl Rey gram peça de Poboo do sseu senhorio][2]

2 – E vista per Nós a dita Lei, declarando em ella Dizemos, que pelos ditos maravi-
dis se entenda a conthia, que os ditos Vassallos de Nós ham, por nos servirem no
tempo da guerra, ou em alguns outros mesteres, em que nos compre d’aver del-
les serviço: e bem assi nas terras da Coroa do Regno, que alguns de Nós teem de
juro, e de herdade: ou em mercee, ou em asseentamentos, que de Nós tenham por
razom de seus casamentos, ou per alguma outra qualquer razom; porque nenhu-
ma das ditas cousas nom queremos que possam seer enalheadas, ou apenhadas
sem nosso especial mandado, e d’outra guisa mandamos que nom valha quanto
hy for feito. E dizemos que ainda que as ditas cousas nam possam pollos suso
ditos ser obrigadas, pero ficarom esses devedores obrigados a pagar as dividas,
por que essas cousas forem apenhadas, e poderôm por ellas seer demandados;
e quando forem condapnados, far-se-à a eixecuçom nos outros seus beens, assi
como nos beens de qualquer outro do povoo condapnado.
3 – E com esta declaraçom Mandamos que se guarde a dita Lei, como em ella he
contheudo, e per Nós declarado, como dito he.

Livro V
“Ata aqui no quarto livro avemos fallado dos Contrautos, e Testamentos: agora
entendemos trautar em este quinto Livro dos Crimes, e Penas, que por elles
ham d’haver aquelles, que os cometerem. E porque antre todollos outros crimes
he achado por mais grave o crime de Heresia, por seer cometida contra Nosso
Senhor Deos, a que per ley santa e natural todos geralmente devemos fé e crença
verdadeira, por tanto entendemos primeiramente fallar della”.[3]

O livro quinto é, de todos, o que menos problemas apresenta, quanto ao seu


conteúdo. Os seus títulos versam matéria criminal, substantiva e processual[4], fazendo
jus à tradição das compilações legislativas medievais que deixam sempre o crimen para
o final. Passamos, por isso, ao cotejo de alguns títulos.

XII – Da Molher casada, que se sayo de casa de seu marido para fazer adulterio.
[Ordenações de D. Duarte, p. 188]

1
Nas ODD.
2
No final do documento das Cortes.
3
Ordenações Afonsinas, Liv. V, Início.
4
Para uma análise pormenorizada do Direito Criminal e do Processo Crime, neste período, vide CAETA-
NO, História do Direito, pp. 553-580.

421
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

ElRey Dom Donis de muito louvada, e famosa memoria em seu tempo fez Ley em
esta forma, que se segue.

1 – Dom Donis *pela Graça de Deos Rey de Portugal, e do Algarve*[1]. A (todollos


Meirinhos, Alquaides, Corregedores, Juizes, Alvaziis, e a)[2] todallas (outras)[3]
Justiças, (e Concelhos)[4] de meus Regnos, saude. Sabede que eu entendi, que por
razom de tortos, que as molheres (casadas)[5] fazem a seus maridos com outrem,
se faziam muitos (males, e)[6] omizios nos meus Regnos. E por mais esses omizios
nom crecerem, eu avudo conselho com os de minha Corte estabelleço por Ley e
ponho pera [todo][7] sempre, que toda molher [casada][8], que daqui em diante pera
fazer (fornizio ou)[9] adultério, [com outrem a seu marido][10] se for com alguem
per seu grado de casa de seu marido, ou d’alhur, hu a seu marido tever, que ella,
e aquelle, com que se for, ambos moiram porende. E se a levarem per força, e ella
sinaaes certos fezer, que per força a levam, que moira aquelle, que a levar, e nom
ella. E que esto se entenda tambem nos Filhos dalgo, como *nas outras gentes*[11].
E se alguum dapno o marido per esta *hida*[12] receber, seja-lhe corregido pelos
beens desse, que lhe assy levou a molher.
2 – (E mando a cada huum de vós em vossas Villas e termos, que façaaes comprir
e guardar esto. E mando a cada huum dos Taballiãaes da Villa, que registe esta
Carta, e que a leam cada mes hua vez em Concelho ataa huum anno: unde al nom
façades. E este portador tenha esta Carta.)[13] Dante em Lisboa a *onze/nove*[14]
dias de Setembro. ElRey o mandou com conselho de sua Corte. Pero Beentes de
Monsanto a fez. Era de mil e *trezentos e quarenta annos*[15].

3 – E vista per nós a dita Ley, mandamos que se guarde, como em ella he contheudo.

Resumo nos Foros de Beja:

Dom Denys etc. Estabeleceu com conselho de ssa corte e pos ley para todo sempre
que toda molher casada que com alguem para fazer adulterio ou fornizio se for per
seu grado da casa de seu marido ou doutro qualquer logar em que per uoontade
de seu marido esteuer que ela e aquel com que se for que ambos moyram porem
E sse a leuarem per força e ela synaaes çertos que fezer que per força a leuam que
moyra aaquel que a leuar e ela non. E todo esto se entenda tambem nos filhos
dalgo como nas outras gentes.[16]

1
“etc.”, nas ODD.
2
Falta nas ODD.
3
Falta nas ODD.
4
Falta nas ODD.
5
Falta nas ODD.
6
Falta nas ODD.
7
Nas ODD.
8
Nas ODD.
9
Falta nas ODD.
10
Nas ODD.
11
“nos vilãaos”, nas ODD.
12
“rrazam”, nas ODD.
13
Falta nas ODD.
14
“xix”, nas ODD.
15
“iijc xl”, nas ODD.
16
Foros de Beja, fl. 70v-71.

422
José Domingues

XIIII – Do Homem, que casa com duas molheres, ou com criada daquelle, com que vive
[Livro das Leis e Posturas, pp. 200-201]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 308 e 187]

El Rey Dom Donis de glorioza memoria em seu tempo fez Ley em esta forma, que
se segue.

1 – Dom Donis, *&c*[1]. [A *toda-llas Justiças*[2] dos meus Regnos que esta
carta uirdes (saúde)[3] sabede que porque eu entendi que se faziam mujtos
casamentos nos meus rregnos em desserujço de deus E a gram dapno das nosas
Jentes Porem com conselho [que ouuj com homeens boons][4] de mjnha corte][5]
Estabelleço, e por Ley ponho pera sempre, que todo homem dês aqui em diante,
seendo casado ou recebudo com huma molheer, e nom seendo ante della partido
per juizo (comprido)[6] da Igreja, se com outra casar, ou se a receber por molher,
que moira porem: e que todo o dapno, que as molheres receberem, *e o*[7] aver,
que dellas levar (sem razom)[8], correga-se pelo aver delle, como for direito: e que
esta meesma pena aja toda molher, que dous maridos receber, ou com elles casar.
E esto se entenda tambem aos Fidalgos, como aos villãaos.
2 – Item. Estabelleço, e por Ley ponho pera sempre, que todo homem, que com
Senhor viver, quer por soldada, quer a bem fazer, seendo seu governado, ou
*andando*[9] por seu, e casar, (ou dormir)[10] com sua filha, ou Irmãa, ou Prima
comirmãa, [ou com filha dalguum][11] ou segunda comirmãa, (ou com Madre, ou
com *criada*[12])[13]de seu Senhor, ou de sua molher, ou que tenha em sua casa, [ou
com criada ou com mançeba que more por solldada ou sem solldada casar com
ella][14] sem *mandado*[15] do Senhor, (com que viver)[16], que moira porem: (e esta
[meesma][17] pena aja aquelle, que jouver com cada hua das sobreditas, ainda que
com ella nom case)[18]: (e esta pena aja aquelle, que jouver com a manceba, que
viver com seu Senhor por soldada)[19]. E que esto se entenda tambem nos Fidalgos,

1
“pela graça de deus Rey de Portugal e do algarue”, no LLP.
2
“todolos alcaydes comendadores meyrinhos jujzes alcaldes aluazijs e a todas as outras Justiças e Conçe-
lhos”, no LLP.
3
Falta no LLP.
4
No LLP.
5
Nas ODD, p. 308 e no LLP.
6
Falta nas ODD, p. 308 e no LLP.
7
“ao”, nas ODD, p. 308.
8
Falta nas ODD, p. 308.
9
“seu manteudo”, nas ODD, p. 187.
10
Falta nas ODD, p. 187 e no LLP.
11
No LLP.
12
“filha de cada huum destes ou com segunda com-yrmaam”, nas ODD, p. 187.
13
Falta no LLP.
14
Nas ODD, p. 187, mas falta no LLP.
15
“grado”, nas ODD, p. 187.
16
Falta nas ODD, p. 187.
17
Nas ODD, p. 187.
18
Falta no LLP.
19
Falta nas ODD, p. 187 e no LLP.

423
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

como nos villãaos. [Por que mando a *toda-llas Justiças*[1] que façam teer e
guardar a todos esto que eu mando. E mando A todo-llos tabaliaaes dos meus
Reinos que rregistem esta minha carta. E a leam (E prouicem)[2] nos conçelhos
taa huum ano huma uez cada domaa][3] [E por ueer em como en esto fazedes meu
mandado mando a este meu homem que tenha esta mha carta e que a faça leer e
pobricar en conçelho cada ujla e cada Julgado Vnde al nom façades senom a uos
e a el me tornaria eu poren][4] Dante em Lisboa a *onze*[5] dias d’Agosto. [Ell Rey o
mandou com conselho da sa corte pero bentez [de monçom][6]a fez][7] Era de mil e
*trezentos e quarenta*[8] annos.

3 – E porque achamos que ElRey Duarte meu Senhor e Padre mandou, que
quando alguem fosse condapnado na Corte, ou na casa do Civel, por semelhantes
maleficios, ou cada hum delles, nom fosse feita eixecuçom em elle, a menos de o
fazerem sabente aa sua mercee, pera elle veer o caso, e a culpa, em que o accusado
fosse, e mandar hy como lhe bem parecesse; porem mandamos, que assy se
guarde, e cumpra daqui em diante.

É curioso que esta lei tenha sido seccionada em duas partes nas Ordenações de D.
Duarte. Esta divisão em duas (em forma de resumo) constata-se também nos Foros de
Beja, assim:

Era de mil e trezentos e quareenta annos. Estabeleçeu o dito rey e senhor por prol de
todo o reyno que se alguum homem for casado e non for partido compridamente e
per dereito pela egreia e for receber outra qualquer por molher lydima que moyra
porem. E outrossy a molher que receber doos moyra porem. E paguemsse todolos
danos e perdas aaqueles que esta maldade for feita dos beens daqueles que esta
burla e esto engano fezerom como acharem as justiças que for dereito.

Dom Denis etc estabeleceu que se alguum homem qualquer quer filho dalgo quer
uilãao guarecer com outra qualquer pessoa por soldada ou bem fazer e lhy casar
com sa filha ou com sa sobriã ou com sa segunda coyrmãa ou filha de sa irmãa
ou de seu irmãao ou de seu primo coirmãao que tenha consigo na casa sem seu
mandado dele que moyra porem. E outrossy moyra se casar com algua que tal
diuido ouuer com sa molher da qual com que guarecer.
[Foros de Beja, fl. 70v]

Por isso, não deixa de ser intrigante que Fernandes já tivesse transcrito a segunda
parte desta lei no anterior título 11, deste livro V, com os seguintes aditamentos:

XI – Do que casa, ou dorme com parenta, ou manceba daquelle, com que vive.

ElRey Dom Donis estabelleceo per conselho de sua Corte, e pôs por Ley pera todo
o sempre, que todo homem, que com Senhor viver, quer por soldada, quer a bem

1
“a cada huum de uos em nos logares”, no LLP.
2
Falta no LLP.
3
Nas ODD, p. 187 e no LLP.
4
No LLP.
5
“ix”, nas ODD, p. 187 e “xi”, no LLP.
6
No LLP.
7
Nas ODD, p. 187 e no LLP.
8
“iijc xl”, nas ODD, p. 187 e “iijc e x’i”, no LLP.

424
José Domingues

fazer, seendo seu governado, ou andando por seu, e com sua filha, Irmãa, Prima
com Irmãa, segunda Irmãa, ou com sua Madre, ou com criada de seu senhor, ou
de sua molher, ou que tenha em sua casa, casar sem mandado do Senhor, com
que viver, que moira porem. E esta pena aja aquel, que jouver com cada huma
das sobreditas, ainda que com ella nom case. E mandamos, que esta meesma pena
aja aquelle, que jouver com manceba, que viver com seu Senhor por soldada. E
esto se entenda assy nos Fidalgos, como nos villãaos. Dante em Lisboa onze dias
d’Agosto. Era de mil e trezentos e quarenta annos.

1 – E vista per nós a dita Ley, mandamos que se guarde, segundo em ella he
contheudo: pero que naquella parte, honde a dita Ley falla daquelle, que
jouver com manceba, que viva com seu Senhor por soldada, esto entendemos, e
declaramos aver lugar na manceba de soldada, que for virgem, e seu Senhor, ou
Senhora a tenham de guarda para casamento.
2 – E dizemos, que seendo alguum condapnado por tal crime, nom se faça em
elle eixecuçom, a menos de no-lo fazerem saber, pera nós veermos o caso qual he
com suas qualidades, e circunstancias, e assy mandarmos como for nossa mercee;
porque assy foi mandado, e usado em tempo d’ElRey meu Senhor e Padre de
gloriosa memoria per algumas vezes.

Saliente-se que o último aditamento (§ 2) está em consonância com o aditamen-


to (§ 3) feito ao título 14. Curioso é o outro aditamento (§ 1), uma vez que interpreta
uma passagem que apenas consta nas Ordenações de D. Duarte e falta no Livro das Leis
e Posturas.

XXII – Dos refiãaes, que teem mancebas na mancebia pubrica pollas defenderem, e averem
dellas o que ganham no peccado da mancebia.
[Ordenações de D. Duarte, p. 306]

A miude veemos em nossos Regnos, que muitos homeens mancebos usando de


suas mancebias, em que trazem principalmente o cuidado, per afaagos, artes, e
induzimentos tiram algumas mancebas de poder de seus Padres, e parentes, ou
d’alguuns Senhores, com que vivem por suas soldadas, ou a bem-fazer, e despois
que as teem em seu poder, levam-nas a outras partes dali arredadas por escaparem
da prisom, e d’alguum outro dapno que receberiam, se presos fossem com as ditas
moças; e tanto que lhes fallecem as cousas necessarias pera governança de sua
vida, lançam-nas aa mancebia, poendo-as nas estallageens, pera pubricamente
dormirem com os homeens passageiros, avendo elles em sy todo o que ellas assy
gaanham em o dito peccado; e tanto que se dali enfadam, ou nom acham gaanho,
de que se contentem, levam-nas aas Villas, e Cidades, de que ouvem moor fama,
por hi mais ganharem, e ali as pooem nas mancebias pubricas, pera averem,
como de feito ham, todo seu torpe ganho, per que se manteem deshonestamente,
nomeando-se por seus refiãaes, mostrando ao mundo que as ham de defender de
quem quer, que lhes queira fazer desaguisado; e ainda ellas no atrevimento dos
ditos refiãaes, levantam ousadamente voltas, e arroidos com suas vizinhas, e com
aquelles, com que fazem suas mancebias, porque sabem, que ham por ellas de
sair em todo caso, do que se segue muitas vezes mortes, e feridas, e outros muitos
males, que som em gram desserviço de Deos, e assy nosso, e dapno do nosso
Povoo: e o pior que he, que algumas vezes acontece seer esto feito a algumas

425
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

molheres de boom estado e linhagem, o que he grande mal, e deve seer muito
estranhado, por seer tanto em desserviço de Deos, e contra toda honestidade.
1 – E porem querendo nós a esto tornar e proveer, como a nós cabe, pollo estado
e lugar que teemos: Poemos por Ley geeral em todos nossos Regnos, que nom
seja nenhuum tam ousado, de qualquer estado e condiçom que seja, que tenha
manceba pubrica na mancebia por sua, de que aja bemfazer polla defender como
sua. E qualquer que o contrairo fezer, em tal guisa que na dita mancebia seja
avudo por seu reffiam, como dito he, refertando-se ella por sua as suas vizinhas,
ou que ouverem com ella alguma afeiçom, veendo-o ellas usar, e conversar
com ella, assi como refiam: Mandamos que assy elle, como ella, ambos sejam
açoutados pubricamente pela Cidade, ou Villa, honde esto acontecer, e mais
sejam degradados pera sempre dos nossos Regnos. Pero seendo elle escudeiro, ou
andando em trajo e habito d’escudeiro, em tal caso mandamos que elle soomente
seja degradado com pregom na audiencia, como dito he, e ella aja a pena suso dita
em todo caso.
2 – E porque esta nossa Ley seja milhor guardada, e dada á eixecuçom, mandamos,
que os Alquaides de cada huma Cidade, ou Villa de nossos Regnos, e assy o
Meirinho da nossa Corte, nos lugares honde nós formos, tenham cuidado de esto
enquerer e saber, e assy o notificar ao nosso Corregedor da Corte, e Juízes de cada
huma Cidade, ou Villa, requerendo-lhes da nossa parte, que façam eixecutar esta
nossa Ley, assy como em ella he contheudo, em aquelles que lhes mostrarem seer
culpados. E seendo o dito nosso Corregedor, e Juizes acerca desto negrigentes,
mandamos ao dito nosso Meirinho, e assy aos ditos nossos Alquaides, que nolo
façam assy sabente, pera nos tornarmos a ello com escarmento, como aaquelles,
que nom comprem nossa Ley, e mandado.
3 – E porque o dito Meirinho, e Alquaides ajam razom de com maior diligencia
esto enquererem, e dês y ho noteficar ao dito Corregedor, e Juizes, como dito he;
mandamos, que aquel, que lhes primeiramente esto noteficar, aja em gallardom de
seu trabalho e boa diligencia mil reaes, a saber, quinhentos reaes do dito reffiam, e
outros quinhentos da dita manceba solteira; os quaees dinheiros mandamos que lhos
paguem da cadea, nom seendo soltos ataa que lhos realmente paguem: e por tanto
nom se leixe de fazer em elles a dita eixecuçom dos açoutes e degredo, como dito he.

A versão muito resumida das Ordenações de D. Duarte:

Como el Rey manda que nom leuem ssoldo das putas

Jtem diserom no dito dia he era que el Rey mandaua E punha por lley que daquy
em diante nom lleuasem o soldo das putas asy como se husou de o leuarem dellas
daquy adeante.

XXXIII – Do que mata, ou fere na Corte, ou arredor della.[1]


[Livro das Leis e Posturas, p. 81]
[Ordenações de D. Duarte, p. 186]
El Rey Dom Donis, de muito louvada e muito esclarecida memoria, em seu tempo
fez Ley em esta forma, que se segue.

1
“que pena deve d’aver aquell que matar ou firir outro hu Ell rej for”, nas ODD.
“Ley que pena mereçem aqueles que tiram cuytelo hu elRey he e a huma legoa”, no LLP.

426
José Domingues

1 – (Era de mil e *trezentos e quarenta*[1] annos, *dezoito*[2] dias de *Setembro*[3],


em Lixboa: o mui nobre Senhor)[4] Dom Donis *per graça de Deos Rey de
Purtugal, e do Algarve*[5] com Conselho de sua Corte estabeleceo, e pose por
Ley pera todo sempre, que todo aquel, que homem matar, hu [quer que][6] ElRey
*estever*[7], ou huma legoa arredor, ou sacar cuitello, ou espada, ou outra arma
(qualquer)[8] contra *alguém*[9], e nom ferir com ella, que lhe cortem o (dedo)[10]
polegar, e deitem-no de (toda)[11] sua terra (fora)[12] pera todo o sempre: e se ferir,
cortem-lhe a mãao, e *deitem-no fora da terra pera [todo][13] sempre*[14]: e se matar,
que moira porem; e que nenhuum dos que estas cousas fezerem nom se possa
escusar de seu inmigo [o que o fezesse][15].

2 – E despois desto ElRey Dom Joham, da muito louvada e famosa memoria, em


seu tempo acerca deste passo fez huma Ley em esta forma, que se segue.

[transcreve-se uma lei de D. João I, sem data]

9 – E vistas per Nós as dictas Leyx, Mandamos que se guardem, segundo em ellas
he contheudo; e se em alguma parte for achada huma contra a outra, Mandamos
que se guarde a que foi postumeiramente feita.

XXXXVII – Dos que levam pera fora do Regno Ouro, ou Prata, Dinheiros, Bestas, ou as
outras cousas, que som defesas.[16]
[Chancelaria de D. Afonso IV, vol. III, doc. 344, pp. 198-201]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 498-501]

2 – E despois desto *ElRey Dom Joham meu Avoo de gloriosa / o dito muito alto
Príncipe e Senhor, da muito famosa* memoria, em seu tempo ácerqua deste passo
fez Ley em esta forma, que se segue.

1
“iijc Rta”, nas ODD.
2
“xvij”, nas ODD.
3
“Junho”, nas ODD.
4
Falta no LLP.
5
“E cetera”, nas ODD.
6
No LLP.
7
“for”, no LLP e nas ODD.
8
Falta no LLP.
9
“outrem”, no LLP e nas ODD.
10
Falta no LLP.
11
Falta nas ODD.
12
Falta no LLP.
13
Nas ODD.
14
“sseia deytado outrossy”, no LLP.
15
No LLP.
16
“Ley Jeral per que he defesso que se nom tire pera fora do reignno sem Licença nenhuum ouro prata
caualos armas e outras cousas etc”, na Chancelaria.
“ley per que el Rej defende que nenhuum nom leue nem tire ouro nem prata nem bestas pera fora de sua
terra”, nas ODD.

427
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

3 – Dom *Joham/Affonso*[1] pella graça de Deos Rey de Purtugal, e do Algarve.


*A todollos Alquaides, Juizes, e Justiças do meu Senhorio,*[2] que esta minha
Carta virdes, saude. Sabede, que consirando Eu o que me per muitas *vezes*[3] foi
dito, como [As gentes do][4] meu Senhorio recebia gram dapno e gram mingua,
por razom que algumas pessoas tiravam pera fora *del*[5] ouro, prata, *dinheiros
da minha moeda*[6], outro sy cavallos, rocyns, (eguaas,)[7] e armas; e que por esta
razom os meus Vassallos, nem outros *meus naturaaes*[8] nom podiam hir tam
bem guisados ao serviço de Deos, e meu, quando a mim delles conpria serviço,
como devem: e Eu por tolher, e refrear tamanho dapno como este, e (tamanha
mingua,)[9] avudo acordo com os do meu Concelho, Tenho por bem, e mando,
e deffendo, que daqui en diante nom seja nenhuum tam ousado, de qualquer
estado e condiçom que seja, que tire, (nem mande tirar, nem dê ajuda, nem
consentimento para se tirar)[10] de meu Senhorio, sem meu mandado, e sem minha
Carta, ouro, nem prata *em pasta, nem em moeda, nem dinheiros da minha
moeda,*[11] nem cavallos, nem rocins, (nem eguaas,)[12] nem armas.
4 – E qualquer, que daqui em diante este meu mandado e defesa trespassar, e
as ditas cousas e cada huma dellas pera fora de meu Senhorio tirar, *ou quizer
tirar*[13], (ou mandar tirar per outra pessoa,)[14] mando que perca todallas cousas,
que assy levar, ou levar quizer, (ou mandar levar per outrem,)[15] se suas forem;
e se suas nom forem, perca-as aquelle, *cujas forem*[16], (que as tirar, ou tirar
quizer, hindo ja de caminho com ellas, ou que as mande tirar per outrem: outro
sy aquelle, que as tirar, ou tirar quizer per mandado d’outrem, pague outra tanta
contia, quanto essas cousas vallerem, pellos seus beens.
5 – Pero mando, que se alguma molher for pera fora de meu Senhorio, e levar
botõoes em seu pellote, ou vincos nas orelhas, (mando)[17] que lhos nom tome
nenhuum, nem lhos embargue.
6 – Outro sy mando, que se alguum homem do meu Senhorio for pera fora, e
levar na cinta alguum cuitello [pequeno][18], que seja maior que de marca, e levar
(em elle)[19] conteira de prata, ou levar alguum canivete, e esse canivete *levar*[20]
prata alguma, mando que lhe nom sejam tomados esse canivete, ou cuitello que
assy levar, nem prata del, quando he por esta defesa.

1
“Affonsso”, na Chancelaria e nas ODD.
2
“A uos Alcaide e Juizes d Eluas E a uos Almoxe(sic) e scriuam desse logo e a todalas outras mhas Justiças
d antre Teio e odiana e daalem de Odiana e do Reyno do Algarue”, na Chancelaria.
3
“uozes”, na Chancelaria.
4
Na Chancelaria.
5
“do meu senhoryo”, na Chancelaria.
6
“e outro Auer moedado”, na Chancelaria; “E dinheiros”, nas ODD.
7
Falta na Chancelaria.
8
“do meu senhoryo”, na Chancelaria.
9
Falta na Chancelaria.
10
Falta na Chancelaria.
11
“nem outro auer moedado”, na Chancelaria.
12
Falta na Chancelaria.
13
“ou tirar quiserem”, risc. nas ODD.
14
Falta na Chancelaria.
15
Falta na Chancelaria.
16
“per cuio mandado as leuar”, na Chancelaria.
17
Falta nas ODD.
18
Nas ODD.
19
Falta nas ODD.
20
“teuer”, nas ODD.

428
José Domingues

7 – Outro sy mando, que se alguem levar pera fora do meu Senhorio dinheiros
brancos de moeda de Castella, que lhe nom sejam tomados nem embargados,
quanto he por razom desta minha defesa.)[1]
8 – E pera este (meu)[2] mandado e defeza seer milhor guardado, porque já pelos
Reix, que ante mim forom, e per mim foi posta esta defesa, e alguus tomarom
atrivimento de a nom guardar: *Tenho por bem e mando,*[3] (que se ponham
guardadores em todollos portos do meu Senhorio, tambem nos do mar, como nos
da terra: e mando a todos esses guardadores, que por mim esses portos ouverem
de guardar,)[4] [a uos Gomez eannes meu Alcaide do dicto logo d Eluas][5] que
todallas cousas, (das que ditas som,)[6] que acharem levar a qualquer pessoas, de
qualquer (estado e)[7] condiçom que seja, (pera fora de meu Senhorio, ou souberem
que alguuns pera fora delle levar querem,)[8] [pelos dictos logares][9] que tomem
pera mim todas essas cousas, que lhe [assy][10] acharem levar; e quando lhes essas
cousas assy tomarem, (tomem-nas perante huum Taballiam, e)[11] façam-nas
escrepver per *elle*[12], quantas e quaees forem, se for lugar em que aja Taballiam [e
o logar en que as tomastes][13]; e se o lugar for tal em que Taballiam nom aja, façam
todo escrepver perante testemunhas, pera eu de todo seer certo.
[E pera esto milhor poderdes fazer Tenho por bem e mando uos que ponhades
grdadores[sic] en todolos portos das dictas comarcas E uos auede pera a terça
parte de todalas cousas que assy tomardes.][14]
9 – *E pera esto seer milhor guardado, e [pera][15] aver razom qualquer, que souber
que *alguma cousa*[16] leva de meu Senhorio, ou quer levar as sobre-ditas cousas,
de o acusar, ou *demandar*[17], Tenho por bem e mando, que aquel, que per meu
mandado esses portos aja de guardar, aja pera sy a terça parte de todallas cousas,
que assy tomar; e aquelles que os acusarem, ou denunciarem, ajam a dizima de
todallas cousas, que assy forem achadas aaquellas pessoas, de que elles (assy)
[18]
denunciarem, ou que acusarem; e tirada essa dizima, he mandado, que o
guardador aja a terça parte, como dito he, e o al seja todo pera mim.*[19]

1
Falta na Chancelaria.
2
Falta na Chancelaria.
3
“Porem mando”, na Chancelaria.
4
Falta na Chancelaria.
5
Na Chancelaria.
6
Falta na Chancelaria.
7
Falta na Chancelaria.
8
Falta na Chancelaria.
9
Na Chancelaria.
10
Na Chancelaria e nas ODD.
11
Falta na Chancelaria.
12
“huum Tabaliom”, na Chancelaria.
13
Na Chancelaria.
14
Na Chancelaria.
15
Nas ODD.
16
“alguum”, nas ODD.
17
“denunçiar”, nas ODD.
18
Falta nas ODD.
19
“E pera auerem os Outros Razom d acusarem e demandarem aqueles que este meu mandado e defessa
passarem ou passar quiserem Tenho por bem que aiam aqueles que os acusaren ou denunciarem a dizima
de todalas cousas que acharem leuar aaquelas pessoas que eles denunçiarem ou acusarem. E tirada a dizi-
ma uos auede a terça parte como dicto he e o Al todo seia pera mjm.”, na Chancelaria.

429
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

10 – E *mando*[1] a esses guardadores [que poserdes en][2] dos portos, que


*se*[3] acharem [a algumas pessoas][4] levar algumas das ditas cousas sem meu
mandado, ou sem minha Carta, como dito he, que tanto que lhas tomarem, que
tragam logo todas essas cousas, que assy tomarem, *ao meu Almuxarife da
Comarca*[5], (hu essas cousas forem tomadas, e entreguem-lhas perante os meus
Escripvãaes desses Almuxarifados. E mando a esses Almuxarifes, e Escripvãaes,
que recebam essas cousas, e dem logo ao guardador, que per meu mandado
esses portos guardar, a dita (terça)[6] parte, como dito he,)[7] e [uos dade logo]
[8]
aos acusadores, ou denunciadores, se os hy ouver, a dizima, *como*[9] dito he.
[E esto fazede perante os meus Almoxarifes e scriuãaes dos logares. E tomade
outrossy pera uos perante esses Almoxarifes e escriuãaes a terça parte como
dicto he E o Al que fficar entregade o aos meus Almoxarifes dessas comarcas
perante os meus scriuãaes][10] E mando [a esses Almoxarifes que recebam todas
essas cousas que lhis uos entregardes e][11] aos [meus][12] Escripvãaes (dos meus
Almuxarifados,)[13] que escrepvam em seus Livros (todas)[14] essas cousas; [que
assy a esses Almoxarifes entregardes][15] e as pessoas, a que forom tomadas; [e en
qual logar][16] *e o que derem aos guardadores, *ou denunciadores*[17], se os hy
ouver, e os nomes delles*[18].
11 – E mando, e defendo outro sy *a todos esses guardadores*[19] sob pena dos
corpos, e dos averes, que nom tomem algo de nenhuma pessoa, pera lhe leixarem
tirar nenhuma das ditas cousas pera fora de meu Senhorio (sem minha Carta,
ou sem meu mandado,)[20] nem façam com elles aveença (nenhuma)[21]; [E assy o
deffendede da mha parte a todos aquelos que esses portos ouuerem de guardar]
[22]
*e mando que assy o jurem esses guardadores*[23] aos Avangelhos; (e que outro
sy jurem,)[24] que bem e direitamente guardem esses portos, e [uos][25] diguam (aos

1
“dizede”, na Chancelaria.
2
Na Chancelaria.
3
“quando”, na Chancelaria.
4
Na Chancelaria e nas ODD.
5
“a uos”, na Chancelaria.
6
Falta nas ODD.
7
Falta na Chancelaria.
8
Na Chancelaria.
9
“pela guisa que”, na Chancelaria.
10
Na Chancelaria.
11
Na Chancelaria.
12
Na Chancelaria.
13
Falta na Chancelaria.
14
Falta na Chancelaria.
15
Na Chancelaria.
16
Na Chancelaria.
17
“E acusadores”, nas ODD.
18
“E outrossy o que pera uos tomardes e o que derdes aos acusadores ou denunçiadores se os hy ouuer e
os nomes deles”, na Chancelaria.
19
“a uos Gomez eannes”, na Chancelaria.
20
Falta na Chancelaria.
21
Falta na Chancelaria.
22
Na Chancelaria.
23
“E fazede os outrossy Jurar”, na Chancelaria.
24
Falta na Chancelaria.
25
Na Chancelaria.

430
José Domingues

meus Almuxarifes das Comarcas)[1] todallas cousas, que assy *tomarem*[2] a


qualquer pessoa*[3].
12 – Outro sy tenho por bem, e mando a todollos Juizes, (e Justiças)[4] dos ditos
lugares, que se [uos ou][5] alguum dos guardadores desses portos lhes disser, que
furtivelmente alguum tirou de meu Senhorio alguma das ditas cousas sem minha
Carta, ou sem meu mandado, como dito he, que façam [logo hy enquiriçom]
[6]
*per diante [sy][7] jurar*[8] aquelle, ou aquelles, que estas cousas tirarom, [ou
Aqueles][9] per cujo mandado as tirarom, (ou que forom consentidores, ou
ajudadores pera as tirarem)[10]; e saibam hi a verdade pelas testemunhas, que [lhys
uos][11] cada huum desses guardadores, (ou cada huum dos meus Almuxarifes, e
Escripvãaes)[12] sobre esto apresentarem, e per hu milhor poderem, presentes as
partes, como dito he; e se provado acharem que (alguma pessoa)[13] tirou alguma
das ditas cousas do meu Senhorio, (ou quis tirar, hindo per caminho, ou fez
quanto pode pera as tirar, ou ajudou, ou consentio pera se tirarem)[14] sem minha
Carta, ou sem meu mandado, como dito he, que tomem logo tantos dos beens
desses, que assy tirarom, ou mandarom tirar, (ou ajudarom, ou consentirom pera
se tirar,)[15] que valham a conthia desso, que assy tirarom, ou *quizerom*[16] tirar
(do meu Senhorio)[17].
13 – (E de mais mando a essas Justiças, que qualquer pessoa, que acharem
levar pera fora do (dito meu)[18] Senhorio alguma das sobreditas cousas sem
meu mandado, que os prendam (logo)[19], e os tenham bem presos, e bem
*recadados*[20] per meu mandado; e me enviem dizer logo per suas Cartas,
que pessoas som essas, que por essa razom prenderom, e a razom por que,
pera lhes eu mandar dar pena, qual minha mercee for, e no feito couber, como
áquelles, que passam mandado de seu Rey, e Senhor.)[21] E pera se comprirem,
e guardarem estas cousas e cada huma dellas, se comprir *aos guardadores*[22]
ajuda das minhas Justiças, [das dictas comarcas][23]mando-lhes que lha façam
(dar)[24], sob pena dos corpos e averes.

1
Falta na Chancelaria.
2
“filharem”, nas ODD.
3
“filharem dessas pessoas”, na Chancelaria.
4
Falta na Chancelaria.
5
Na Chancelaria.
6
Na Chancelaria.
7
Nas ODD.
8
“E ffaçam logo perante ssy vijr”, na Chancelaria.
9
Na Chancelaria e nas ODD.
10
Falta na Chancelaria.
11
Na Chancelaria.
12
Falta na Chancelaria.
13
Falta na Chancelaria.
14
Falta na Chancelaria.
15
Falta na Chancelaria.
16
“mandarom”, na Chancelaria.
17
Falta na Chancelaria.
18
Falta nas ODD.
19
Falta nas ODD.
20
“guardados”, nas ODD.
21
Falta na Chancelaria.
22
“uos”, na Chancelaria.
23
Na Chancelaria.
24
Falta nas ODD.

431
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

14 – (E por nom averem razom de dizer, que esta minha (Carta e)[1] defeza
nom sabiam, ha mandei pubricar nas [minhas][2] Audiencias;)[3] e mando aos
Taballiãaes *das Comarcas,*[4] hue esta minha Carta for mostrada, que a registem
em seus Livros, e a leam em cada huum anno no Concelho, ao dia que fezerem
Algozis, ou Juizes. [vnde Al nom façam so pena dos corpos e dos Aueres][5]
15 – (E per esta defesa nom entendo de revogar as outras defesas, que per mim
som postas por razom das outras cousas, que mandei que nom tirassem de meu
Senhorio pera fora delle; mais mando que se guardem em todo, pela guisa que
per mim forom postas.)[6] Dante em Coimbra *a treze*[7] dias de Dezembro. ElRey
o mandou [per Meestre gonçalo das leis seu vasalo][8]. *Estevom Vicente*[9]
a fez Era *de mil e trezentos e *oitenta/settenta*[10] e cinco*[11] annos. [El Rej a
uyo pubricada em Cojnbra nas audiançias del Rej per lourenço esteuez seu
procurador xv dias do dito mes Era sobredita][12]

16 – E vista per nós a dita Ley, adendo e declarando em ella defendemos e man-
damos, que nom seja alguum tam ousado, que leve fora do Regno, per mar ou
per terra, armas, nem servos, nem goados; e qualquer que o contrairo fezer, perca
todo pera a Coroa do Regno, assy como suso he estabellicido nos cavallos, ouro,
prata, e moeda; porque soomos certos, que assy he per nós acordado e afirmado
no trauto de pazes, feito antre nós e ElRey de Castella.
17 – E com esta declaraçom mandamos que se guarde a dita Ley, segundo em ella
he contheudo, e per nós adido e declarado, como dito he.

LIIII – Dos que furtam as Aves, que ajam pena assy como de qualquer outro furto.
[Foros de Beja, fls. 69v]

El Rey Dom Doniz da muito esclarecida memoria em seu tempo fez Ley em esta
forma, que se segue.

1 – Dom Doniz *pela graça de Deos Rey de Purtugal, e do Algarve.*[13] A todollos


[alcaydes aluazys comendadores meyrinhos][14] Juízes, e [conçelhos e a todallas

1
Falta nas ODD.
2
Nas ODD.
3
Falta na Chancelaria.
4
“dos logares”, na Chancelaria.
5
Na Chancelaria.
6
Falta na Chancelaria.
7
“dezesex”, na Chancelaria; “xiij”, nas ODD..
8
Na Chancelaria.
9
Affonsso miguez”, na Chancelaria.
10
“oytenta”, nas ODD.
11
“Mª. CCCª. Lxxix”, na Chancelaria. Ano de 1341.
12
Nas ODD.
13
“etc”, nos Foros de Beja.
14
Nos Foros de Beja.

432
José Domingues

outras][1] Justiças dos nossos Regnos, *&c.*[2] Sabede, que alguuns de meu Regno
xe me queixarom, que perdem suas aves, e aquelles que as acham amooram-nas, e
escondem-nas, e alguuns as furtam, de guisa que as nom podem aver seus donos.
2 – E Eu sobre esto *ouve*[3] Conselho com minha Corte, e ponho tal Ley (e Pustura)
[4]
em meus Regnos, que todo homem, que achar (alguuma)[5] ave alhea, que a faça
logo apregoar no Concelho, ou Villa; e se vier seu dono, de-lhe por achadego do
açor prima (huum maravidi de)[6] *quinze soldos e meio*[7]; e polo (açor)[8] terçoo,
e polo falcom prima *cinquo soldos e meio*[9]; [e polo torçoo v st.][10] e por gaviom
prima *tres/dous soldos*[11]. E todos aquelles, que as aves alheas teverem, e as assy
nom fezerem apregoar, [assy][12] como de suso dito he, (vós)[13] fazee *em elles*[14]
justiça, como d’outro furto qualquer.
3 – E mando a todollos (meus)[15] Taballiãaes dos (meus)[16] Regnos, que registem
esta (minha)[17] Carta. Dante em Monte-mor o Novo *nove*[18] dias de Novembro.
ElRey o mandou per sua Corte. Lourenço Martins a fez *Era de mil e trezentos
vinte e seis*[19] annos.
4 – A qual Ley vista per Nós, declarando e adendo acerca della dizemos, que todo
aquel, que achar ave alhea, ou outra cousa qualquer, tanto que souber cuja he, deve-
lha logo d’entregar, posto que requerido nom seja; e nom lha entregando, e usando-
se della sem voontade daquelle cuja he, comete furto, e deve seer costrangido, que
torne a sue dono essa cousa que achou, com duas vezes tanto quanto val.
5 – E nom sabendo cuja he essa cousa, que assy achou, deve-a mandar apregoar
em Concelho ante de trinta dias passados; e nom ha mandando assy apregoar,
usando-se della despois do dito tempo, seu dono lha poderá demandar com
dobro, como dito he; ca bem se mostra, que vontade teve de contrautar o alheo,
pois que calladamente se usava delle, sabendo que nom era seu, e nom o queren-
do denunciar per tanto tempo.
6 – E vindo seu dono demandar essa cousa achada, no caso honde o achador furto
nom cometeo, deve primeiramente pagar ao achador todallas custas e despezas
que fez, por achar e conservar essa cousa que assy achou, e mais se for Caçador,
deve-lhe pagar achadego, como na Hordenaçom he declarado.

1
Nos Foros de Beja.
2
“que esta carta uirem saude”, nos Foros de Beja.
3
“ouuy”, nos Foros de Beja.
4
Falta nos Foros de Beja.
5
Falta nos Foros de Beja.
6
Falta nos Foros de Beja.
7
“xv st.”, nos Foros de Beja.
8
Falta nos Foros de Beja.
9
“vij st. E meyo”, nos Foros de Beja.
10
Nos Foros de Beja. Deve ser o falcão terçoo.
11
“iij st.”, nos Foros de Beja.
12
Nos Foros de Beja.
13
Falta nos Foros de Beja.
14
“hy uossa”, nos Foros de Beja.
15
Falta nos Foros de Beja.
16
Falta nos Foros de Beja.
17
Falta nos Foros de Beja.
18
“x”, nos Foros de Beja.
19
“E.ª M.ª CCC.ª xxvij”, nos Foros de Beja. Que corresponde ao ano de 1289.

433
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

7 – E se for servo cativo, mandamos que se guarde a Ley d’ElRey meu Senhor e
Padre, assy como avemos dito no segundo Livro, honde trautamos dos Mouros
que fogem[1]. E se for alguma outra animalia bruta, que seja achada de vento,
mandamos que se guarde a Ley d’ElRey Dom Affonso o Quarto, segundo o
que avemos dito no Livro terceiro[2]. E nos outros casos o achador seja theudo
geeralmente a todo tempo entregar esso que achou, sem poder demandar
achadego, salvo se lhe for prometido.
8 – E se alguum achar lobo, ou ave caçador, que leve preso alguum cordeiro, ou
outra alguma cousa, e lha tolher com seus cãaes, ou per qualquer modo que seja,
mandamos que a torne a seu dono sem outro alguum achadego; e devem-lhe seer
pagadas as despezas, que fez por tolher essa cousa; e nom querendo tornar esso
que assy tolheo, retendo-o forçosamente contra vontade de seu dono, cometerá
furto, e deverá seer punido em dobro, como em cima he declarado.
9 – Outro sy achando alguum ave, ou allimaria fera em laço, ou cepo, que outro
armasse em lugar, em que segundo direito e custume se deva d’armar, dizemos,
que deve entregar esso que assy achou no laço alheo, sem outro achadego: e esto
mandamos que se guarde assy, por evitar escandallo, que se poderia seguir, se o
contrairo se fezesse.
10 – E com esta declaraçom e enadimento mandamos que se guarde a dita Ley,
como em ella he contheudo, e per Nós declarado e enadido, como dito he.

LXI – Dos Coutos, que som dados aas Villas de Marvom, Noudal, Sabugal, Caminha, e de
Miranda, e de Freixo d’Espasa cinta pera os omisiados estarem em elles.
[CAMPOS, Lousã (1376-1428) Elementos para a sua História, pp. 115-130]

O muito alto e poderoso Senhor, da muito louvada e esclarecida e famosa memo-


ria, ElRey Dom Joham meu Avoo, que Deos aja em sua Santa Gloria, em seu tem-
po fez Ley em esta forma, que se segue.

[Era de mil IIII XL e IIII annos cinquo (?) dias do mes de Novenbro, em na
Lousaa, Dante Vasco Perez corregedor por nosso senhor el rey [em parte] da
casa da Beira, que em a dicta vila estava (…) ordenhaçooes do dicto reii escriptas
em papel (…) e seeladas nas costas com o seello do dicto senhor e assinada
por mãao de Joham Meendez, corregedor por o dicto senhor na sua corte, das
quaaes o theor delas tal he][3]

1 – Dom Joham *&c.*[4] *A quantos esta Carta, ou o Trellado della em pubrica


forma, dada per authoridade de Justiça virem*[5], fazemos saber, que Nós veendo
como as nossas Villas, e Castellos de Noudar, e de Marvom, e do Sabugal, e de
Miranda, e de Caminha, que som nos estremos dos nossos Regnos, pollos [obras]
[6]
grandes encarregos, que soportarom nas guerras, a maior parte delles se

1
Remete para o liv. II, Tít. 113.
2
Remete para o liv. III, tít. 107.
3
No doc. da Lousã.
4
“pella graça de Deus reii de Portugal e do Algarve”, no doc. da Lousã.
5
“a vós Vasco Perez nosso vassalo e corregedor por nós em parte da Beiira, saude”, no doc. da Lousã.
6
No doc. da Lousã.

434
José Domingues

despovorarom em tal guisa, que pellos que hi ora moram se nam podem manteer,
e se mester de guerra lhes aviesse, nom se poderiam deffender; e porque muitos
dos moradores, e naturaaes dos nossos Regnos, por alguuns omizios que lhes
ataa ora acontecerom, andam omiziados fora da nossa terra, e delles per nossos
Regnos, nom se vindo livrar dos seus feitos aos tempos, que se per Direito
(Commum)[1] deviam livrar; e o que pior era, se em alguuns tempos acontecia
guerra antre nossos Regnos, e aquelles, honde elles andavam omisiados, era a
elles aazo por seus mesteres, e por os leixarem allá viver, virem fazer (guerra)
[2]
, e mal á terra, donde som naturaaes, a qual som theudos de defender: outro sy
per elles eram descubertos muitos segredos, que vinham saber nas terras, honde
haviam conhecimento; e por tolhermos taaes aazos, e grandes dampnos, que se
a elles, e aa nossa terra podem seguir, segundo ja per experiencia vimos em nos
tempos passados; porem por fazermos assy mercee a esses omisiados, como per
povoar os ditos lugares, que assy som fronteiros, e por prol cumunal dos nossos
Regnos, fundando-nos ainda nos direitos, que dizem, que por certos heditos esses
homiziados podem seer chamados, e constrangidos que se venham livrar, sob
pena de perderem os beens que ham; querendo Nos a todo esto (proveer e)[3]
poer alguum remedio, em tal guisa que elles ajam Livramento, e nam percam
seus beens, fazendo elles o que devem, e por se os ditos lugares povoarem, com
conselho da nossa Corte fazemos Coutos dos lugares suso ditos, e os Coutamos e
Privilligiamos, e com vontade de os coutar e privilligiar fazemos e estabellecemos
e hordenamos Ley valledoira pera sempre, per esta guisa que se adiante segue.
2 – Primeiramente estabellecemos e mandamos, que todollos que ora som
omiziados por quaesquer malleficios que sejão, per qualquer guisa que fossem
feitos e cometidos ataa o dia da *feitura*[4] desta nossa Ley, fora aleive, ou treiçom,
vãao seguramente, e sem temor das nossas Justiças, morar e povoar os lugares
suso ditos; a saber, os omiziados da Comarca d’Antre Tejo e Odiana, e aaalem
d’Odiana, e do Regno do Algarve vãao morar e povoar em Noudal; e os omiziados
da Comarca da Estremadura, como parte de Lisboa inclusive, e pollo Rio do Tejo
ata o mar, e ataa Coimbra inclusive, como ora anda a correiçom, que traz Martim
de Santarem, Corregedor por Nós na dita Comarca, vãao povoar e morar aa nossa
Villa de Marvom; e os omiziados da (Comarca da)[5] Beira, como parte per essa
Correiçom, e Antre o Tejo e o mar atee o Rio do Doiro, e como parte com Castella,
vãao morar e povoar ao Sabugal; e os omiziados das Comarcas d’Antre Doiro e
Minho, e de Tra-los-Montes vãao morar e povoar aa nossa Villa de Miranda.
3 – E aquelles omiziados, que *aas ditas Villas*[6] nom vierem (morar)[7], como dito
he, do dia da poblicaçom desta nossa Ley e Privilegio ataa huum anno, per esse
meesmo feito, e passado o dito tempo, se esses omiziados, ou cada huum delles
assy nom vierem aos ditos lugares morar ou povoar, (sem)[8] serem mais chamados
*e*[9] ouvidos, seus beens sejam tomados (pera Nós,)[10] e assy confiscados, e
encorporados pera a Coroa dos nossos Regnos, em tal guisa que Nós, nem nossos
Socessores os nom devamos nem possamos dar a outro nenhum.

1
Falta no doc. da Lousã.
2
Falta no doc. da Lousã.
3
Falta no doc. da Lousã.
4
“pobricaçom”, no doc. da Lousã.
5
Falta no doc. da Lousã.
6
“aos dictos lugares”, no doc. da Lousã.
7
Falta no doc. da Lousã.
8
Falta no doc. da Lousã.
9
“nem”, no doc. da Lousã.
10
Falta no doc. da Lousã.

435
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

4 – E deste chamamento e constrangimento nom queremos que sejam escusados,


salvo Cavalleiros, ou Escudeiros de linhagem, ou de bemfeitoria, ou nossos
Vassallos solteiros, e casados, que nom ham outra vida, salvo per seus corpos,
e por suas armas; porque a esses damos licença, que possam viver honde lhes
aprouver, e honde mais entenderem por sua prol, fora de nossos Regnos, e sejam
escusados de perderem seus beens. Pero se estas pessoas quiserem vir [vever ou]
[1]
morar e povoar aos ditos lugares e a cada hum delles, possam-no fazer, e sejam
hy coutados, e ajam os privillegios, e segurança, ou perdom, assy e pella guisa
que os ham d’aver os outros omiziados, que per constrangimento desta nossa Ley
ham de vir morar e povoar os ditos lugares.
5 – E porque nas Comarcas da Estremadura, e de Antre Douro e Minho, e do
Regno do Algarve, e assy dos outros lugares dos nossos Regnos avia alguuns
marinheiros, e pescadores, e mercadores, que per mar usam, e trautam, e carregam
suas mercadarias, e ham seus mantimentos, e andam omiziados por alguuns
malleficios, que ataa ora fizerom, e estes nom poderiam [al soportar e][2] trautar
suas vidas nos Coutos, e lugares suso ditos; e porque a nossa Villa de Caminha
he muito despovorada e minguada de gentes, a qual he porto de mar, e estam
em *ella*[3], assy per mar, como per terra; por ella seer milhor povorada, e esses
omiziados hy melhor poderem aver, e trautar suas vidas, coutamos pera essas
pessoas essa Villa, e mandamos que elles possam hy morar e povorar seguramente,
e sem temor das nossas Justiças; e sejam hy coutados de todollos malleficios, que
assy ham cometidos ataa ora, per qualquer guisa que fossem feitos e cometidos,
a fora aleive, ou treiçom; e esses marinheiros, ou mercadores, e pescadores vaam
morar, e povorar aa dita Villa de Caminha, como dito he, ataa huum anno, sob a
dita pena.
6 – Outro sy queremos e mandamos, que estes omiziados, que assy vierem morar
e povorar aos ditos lugares e a cada huum delles, como dito he, nom ajam lugar
de vir ao Regno, nem aas Comarcas delle, salvo por doos mezes no anno, que
mandamos aos Juizes dos lugares, que lhes dem licença per suas Cartas, em que
possam hir, e andar seguros pellos nossos Regnos, pera recadarem seus beens, e
as outras cousas que lhe comprirem. E mandamos aos Juizes, e Justiças dos nossos
Regnos, que os leixem o dito tempo andar seguros, e os nom prendam, nem lhes
façam outra nenhuma sem-razom: com tanto que durando esse tempo elles nom
entrem no lugares, nem em seus termos, honde forom feitos os malleficios; e que
a Castella, ou a outros Regnos possam hir *licitamente*[4] cada que quiserem, per
mar ou per terra: com tanto que tenham hy suas casas de morada, e morem [hi]
[5]
aldemenos seis mezes per todo o anno no lugar, honde assi ouverem de morar;
e que os pescadores possam hir pescar pella costa do mar nos nossos Regnos, e
tornem com os ditos pescados aa dita Villa de Caminha, em tal guisa que nom
aportem em outra terra, nem ponham costeira em [nenhuum][6] outro lugar dos
nossos Reggnos. Pero se os pescadores, ou marinheiros, ou mercadores, andando
no mar, per fortuna de tempo forem a alguum porto da costa dos nossos Regnos,
seiam hy seguros, e nom os prendam. com tanto que elles nom sayam fora desses
navios em quanto hy jouverem, e como ouverem tempo, que se vãao logo fazer
sua viagem, ou tornem pera o dito logo de Caminha.

1
No doc. da Lousã.
2
No doc. da Lousã.
3
“frontaria”, no doc. da Lousã.
4
“livremente”, no doc. da Lousã.
5
No doc. da Lousã.
6
No doc. da Lousã.

436
José Domingues

7 – E porque o dito lugar de Noudal he muito despovorado, e he dentro nos


Regnos de Castella, e hy nom podem aver os mantimentos tam bem, como lhes
conpre; querendo-lhes fazer graça e mercee a esses omiziados que hy morarem,
por se milhor povorar, acrescentamos-lhe mais no dito Privillegio, que possam
livremente, e cada vez que quiserem, hir a [Moira e a][1] Moram, e a Monsarás, e
a Serpa, e a seus Termos ao que lhes conprir: com tanto que os malleficios nom
sejam hy feitos, e que tenham suas casas de morada no dito lugar de Noudal, e
morem hy per todo o anno aldemenos seis mezes, como dito he.
8 – Outro sy querendo fazer graça e mercee aos omiziados, que assy vierem morar
aos lugares suso ditos e a cada huum delles, como dito he, com conselho da nossa
Corte mandamos, que aquelles que omiziados andam ataa ora por mortes, que
fossem feitas e cometidas per infidias, ou per industria, ou de proposito, de que,
ou porque sejam esses omiziados theudos a pena de morte, que morando nos
ditos lugares e cada huum delles, como [susso][2] dito he, per espaço de vinte
annos acabados, sejam perdoados, e livres da dita pena [de morte][3].
9 – E os outros que som theudos, e merecem pena de morte por mortes, que fossem
per outra guisa, ou per adulterio, e hy morarem per espaço de *vinte*[4] annos
acabados, sejam perdoados.
10 – E nos outros casos, em que alguuns mereciam pena de morte, assy como por
furtos, ou roubos, ou forças, ou outros semelhantes, morando hy per espaço de
doze annos, sejam perdoados. [5]
11 – E se nos outros casos, honde nom mereciam pena de morte, lhes podia
ser dada (pena)[6] d’açoutes, ou de dinheiros, ou de degredo perpetuu, ou per
tempo, ou outra pena *parecente*[7], morando nos ditos lugares e cada huum
delles, como dito he, per cinquo annos, sejam perdoados.[8]
12 – E em tal guisa sejam perdoados os ditos omiziados, que passados os ditos
tempos, (elles)[9] e cada huum delles livremente, e sem temor das nossas Justiças,
possam viver e morar nos nossos Regnos em quaeesquer lugares, que elles por
bem teverem, e nom sejam mais por ello presos, nem acusados; ca nossa mercee
he serem dello quites, e perdoados, como dito he.
13 – E porque poderia seer que alguuns destes omiziados, ante que assy vaam
morar aos ditos Coutos, en durando o dito tempo que lhes assy he posto, (ou
despois)[10] morando já em cada huum desses lugares, como lhes he mandado,
nom queiram hy morar, e queiram ante vir poer seu feito a direito perante Nós,
ou perante as nossas Justiças, poendo-se na Cadea, ou gaanhando segurança,
como se acostuma fazer; mandamos que o possam fazer; e satisfazendo, e
livrando-se com seu direito, nom sejam constrangidos d’hir morar aos ditos
Coutos *contra*[11] suas vontades: salvo se em esses livramentos lhes for posta
pena, que vãao alla estar.

1
No doc. da Lousã.
2
No doc. da Lousã.
3
No doc. da Lousã.
4
“XV”, no doc. da Lousã.
5
Falta este § no códice de Santarém.
6
Falta no doc. da Lousã.
7
“por tormento”, no doc. da Lousã.
8
Falta este § no códice de Santarém. Provavelmente, o copista do ms. de Santarém confundiu-se e saltou
da palavra “perdoados”, para a seguinte.
9
Falta no doc. da Lousã.
10
Falta no doc. da Lousã.
11
“por”, no doc. da Lousã.

437
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

14 – Outro sy se alguuns dos que agora andam omiziados fora do nosso Regno,
ou em elle, ante quiserem jazer coutados em alguumas Igrejas, ou Moesteiros dos
nossos Regnos, por gouvirem [hi][1] da inmunidade delles, e nom quiserem hir
morar aos ditos Coutos; mandamos que o possam fazer, e nom percam por ello
seus bens: e sejam hy coutados nos casos, em que os de direito devem coutar.
15 – E porque alguuns por nom perderem seus beens, com voontade de fazerem
engano contra esta nossa Ley, poderia seer que se veriam aos ditos Coutos ou
Igrejas, pera venderem ou emalhearem per outra guisa, em quanto hy esteverem, os
beens que ham, e despois hirem-se fora do Regno pera outras partes; hordenamos
e [estabellecemos e][2] mandamos, que nenhuum nom seja tam ousado, que
a esses, que ora assy andam omiziados, conprem, nem ajam per alguum outro
titulo, *lucrativo*[3] ou honeroso, beens *alguuns*[4] de raiz que ajam em nossos
Regnos, dês o dia da pubricaçom desta nossa Ley em diante, ataa o tempo que
elles acabem de estar nos ditos Coutos; e aquelles, que contra esta [nossa][5] defesa
comprarem, ou ouverem per outro titulo os ditos bens, que os percam, e lhes
sejam tomados pera Nos: salvo se os comprarem per nossa licença, que per Nos
seja dada a alguuns omiziados, que nolla pedirem, pera se manteerem, ou por
outras razoens, que Nos a ello com razom movam por suas necessidades.
16 – Outro sy queremos e mandamos, que se alguuns dos que ataa ora andam
omiziados da Comarca, e Correiçooens d’Antre Douro e Minho, e Tras-os-Mon-
tes, nom quiserem hir pera o dito lugar de Miranda, e quiserem hir a Freixo d’Es-
pada-cinta, que he Couto antiguo, possam-no fazer: com tanto que estando hy
possam aver privilegio, e serem hy coutados, polla guisa que o ham ataa ora os
que hy estam, e nom ajam outro perdom; e se morar nom quizerem, sejam cons-
trangidos, sob a pena suso dita, que vãao morar e povoar a dita Villa de Miranda,
como suso dito he.
17 – (E esto que suso dito he)[6] aja lugar nos (ditos)[7] malleficios, que som feitos,
como dito he, ataa o dia da pobricaçom desta nossa Ley; e aquelles que alguum
malleficio fezerem ou cometerem dês esse dia en diante, per qualquer guisa que
seja, a fora aleive, ou treiçom, estabellecemos e mandamos, que cada huum,
segundo as Comarcas em que viverem, e segundo as pessoas forem, pella guisa
que suso dito e declarado he, vãao viver e morar aos ditos Coutos, como aos
outros omiziados suso ditos he devisado. E estes, que hy assy forem morar, sejam
seguros e defesos, que os nom prendam por nenhuum crime que cometam, a fora
aleive, ou treiçom; e estes nom ajam, por tempo que hy estem, outro perdom, nem
ajam licença pera andarem fora desses lugares per nenhuãs partes dos nossos
Regnos: salvo os de Noudal, que possam hir buscar seus mantimentos a [Moura]
[8]
Morom, e a Monsarás, e a Serpa, e a seus Termos, e se tornem logo pera o dito
lugar, com tanto que os ditos malleficios, por que som omiziados, nom sejam feitos
em esses lugares; e que assy estes de Noudal, e dos outros lugares, e Coutos suso
ditos possam hir pera Castella livremente recadar o que lhes conprir, e tornem aos
ditos lugares, e tenham hy continuadamente suas casas (de morada)[9], e morem
hy aldemenos seis mezes no anno; e em cada huum anno ajam licença doos mezes,

1
No doc. da Lousã.
2
No doc. da Lousã.
3
“livremente”, no doc. da Lousã.
4
“nenhuuns”, no doc. da Lousã.
5
No doc. da Lousã.
6
Falta no doc. da Lousã.
7
Falta no doc. da Lousã.
8
No doc. da Lousã.
9
Falta no doc. da Lousã.

438
José Domingues

como suso dito he dos outros omiziados, em que possam hir per nossos Regnos
procurar seus beens, e recadar alguumas cousas, que lhes conprirem: com tanto
que no dito tempo nom entrem nos lugares, e Termos, honde esses malleficios
forom feitos. E aquelles omiziados, que se assy nom forem aos ditos Coutos, (e
lugares)[1], e se leixarem andar pelo Regno, ou se forem fora delle pera outros
Regnos, e aos ditos Coutos nom tornarem, tanto que o com razom fazer poderem,
per esse meesmo feito, sem (seerem)[2] mais chamados nem ouvidos, percam seus
beens, e sejam confiscados e encorporados aa Coroa dos nossos Regnos, como
[susso][3] dito he.
18 – E por nom fazerem alguum engano esses omiziados, defendemos, que do dia
que os omizios forem feitos en diante, nom possam esses omiziados vender nem
enalhear seus beens, sob a pena suso dita, que he posta nos outros omiziados: sal-
vo per nossa licença, como dito he.
19 – Pero se alguuns [desses][4] omiziados ante quiserem hir pera o Couto de Freixo
d’Espada-cinta, possam-no fazer sem a dita pena, a saber, de perder os bens, assy
como devem de perder os que se vãao fora do Regno; e ajam os privillegios, que
ham os que se ataa ora hy *coutam*[5]. E assy queremos que aja lugar em aquelles,
que em nossos Regnos quiserem jazer ante em Igrejas, ou Moesteiros, que o
possam fazer, e ajam os privilegios, que lhe som outorgados per direito, e nam
cayam porem na dita pena de perderem seus beens.
20 – Outro sy per esto nom tolhemos a nenhuum que omiziado for, que jazendo
nos ditos Coutos, ou Igrejas, ou Moesteiros, ou ante que a esses lugares vãao,
se quiserem livrar per direito perante Nós, ou perante as nossas Justiças, e se
quiserem mostrar desses feitos por sem culpa, que o possam fazer, poendo-se na
Cadea, ou ganhando segurança como devem; e os que o assim *fezerem, nom
sejam constrangidos que contra seus tallentes vãao aos ditos Coutos*[6].
21 – Outro sy queremos e mandamos, que o Privilegio sobre dito, que assy he dado
aos ditos omiziados, e perdom que assy ham d’aver per os ditos tempos, como
dito he de suso, nom aja lugar em nenhuma molher, que seja ou ande omiziada
por alguum malleficio, que cometesse ou cometer, nem sejam constrangidas que
aos ditos lugares vãao morar, nem se entenda em ellas (a pena)[7] suso dita. Pero se
ellas de suas vontades, e sem outro constrangimento quiserem hir aos ditos Coutos,
a fora Caminha, possam-no fazer, e sejam hy seguras, e ajam os Privilegios, que
ham os outros omiziados: salvo que, per nenhuum tempo que hy morem, nom
averom o perdom, que os outros averam, nem ajam licença de virem aos nossos
Regnos fora dos ditos Coutos. Pero se alguum levar molher casada pera fazer com
ella adulterio, elle nem ella nom sejam hy defesos, nem ajam Privilegio nenhuum
nos ditos Coutos.
22 – Outro sy mandamos, que este nosso Privilegio nom aja lugar em aquelles,
que cometerom ou cometerem alguuns malefícios contra os trautos das tregoas,
que ora som postas antre Nós e ElRey de Castella, porque sem embargo do dito
Privilegio mandamos que se faça delles Direito e Justiça, e se cumpra aquello que
nos ditos trautos he contheudo, ou em outros trautos, se antre Nós e elle despois
dello per alguuma guisa forem feitos e firmados; nem se entenda em alguuns

1
Falta no doc. da Lousã.
2
Falta no doc. da Lousã.
3
No doc. da Lousã.
4
No doc. da Lousã.
5
“entram”, no doc. da Lousã.
6
“fazer non queserem, constrange-de-os que contra suas voontades vãao aos dictos lugares”, no doc. da
Lousã.
7
No doc. da Lousã.

439
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

omiziados, que andando ataa ora em Castella, vierom a nossa terra fazer guerra,
(ou alguum dampno)[1]; porque estes mandamos que nom sejam hy defesos, nem
possam aver o dito Privilegio.
23 – E pera Nos sermos certo dos omiziados, que ha em cada huma Comarca,
mandamos ao nosso Meirinho, e aos Corregedores, que cada huum em sua
Correiçom faça haver huum Livro, em que ponha todos os que omiziados som,
em tal guisa que nom fique nenhuum, e este traga comsigo, e outro envie logo a
Nos; e quando pellas Correiçooens andarem, enqueiram e saibam (parte)[2] honde
vivem esses, que assy som omiziados; e se acharem que nom vãao morar aos
lugares cada huum anno, assy como lhes he mandado, que tomem logo [todos]
[3]
seus bens honde quer que lhe forem achados, e os façam escrepver, e poer em
enventairo em mãao de homeens boons, que os tenham, e guardem, e enviem
logo dizer a Nos, pera Nós *em*[4] ello fazermos o que nossa mercee for. Outro
sy mandamos aos Juizes dos ditos Coutos, que cada huum em seu Julgado façam
fazer huum Livro, em que escrepvam todollos omiziados que hy forem morar, e
o dia em que alla chegarem, e por quaees malleficios som omiziados, e saiba cada
huum Juiz se vivem hy, e fazem vizinhança pellos tempos que devem, como suso
dito he, e assy se escrepva todo.
24 – E porem mandamos (a todollos Meirinhos, e Corregedores, Juizes, e Justiças
dos nossos Regnos)[5], que façam comprir e guardar este Privilegio e nossa Ley,
assy e polla guisa que em ella he contheudo, (e lhes nom vaaom contra ella em
nenhuuma guisa que seja)[6]; porque nossa mercee he de se assy teer, e comprir, e
guardar; e nom seja nenhuum tam ousado contra ella [queira][7] hir, senom sejam
certos os que o contrairo fezerem, que nos tornaremos a elles, e lho estranharemos
gravemente nos corpos, e beens, como aquelles, que nom cumprem mandado de
seu Rey, e Senhor: [e mandamos que emvyedes logo trelado desta nossa ley a
todollos logares e julgados dessa correiçom em tal guisa que nenhuum non aja
escusaçom que o non sabem][8] e al nom façades. Dante em Santarem *trinta dias
d’Agosto*[9]. ElRey o mandou [por Johane Meendez, cooregedor em na sua corte][10].
*Bertollameu Gomes*[11] a fez. Era de mil quatrocentos e quarenta e quatro annos.

25 – E despois desto o dito Senhor Rey meu Avoo deu outro Couto aa Villa de
Pena Garcia em esta guisa, que se segue.

[transcreve-se a carta de couto de Pena Garcia, de 24 de Janeiro de 1431]


[segue-se outra lei de D. João I, de Junho de 1433]

30 – E vistas per Nós as ditas Leys, mandamos que se guardem e cumpram,


segundo em ellas he contheudo.

1
Falta no doc. da Lousã.
2
Falta no doc. da Lousã.
3
No doc. da Lousã.
4
“com”, no doc. da Lousã.
5
Falta no doc. da Lousã.
6
Falta no doc. da Lousã.
7
No doc. da Lousã.
8
No doc. da Lousã.
9
“vynte e sete dias de Setenbro”, no doc. da Lousã.
10
No doc. da Lousã.
11
“Afomso Annes”, no doc. da Lousã.

440
José Domingues

Salvo uma ou outra alteração, pode dizer-se que a transcrição desta lei é integral.
O que interessa salientar é que os parágrafos 10 e 11 faltam no manuscrito da Câmara
de Santarém. Existindo no original, só pode ter sido lapso do copista de Santarém. É
que, embora menos plausível, podia também ser um acrescento posterior tal como o
do § 9 do título 114, que também falta no livro de Santarém.

Tít. LXXIII – Dos que entram em casa d’alguum, por lhe fazer mal, e hi morrem, ou som
deshonrados.[1]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 80-81]
[Ordenações de D. Duarte, p. 189]
[Foros de Beja, fl. 71]

ElRey Dom Donis, da muito louvada e famosa memoria, em seu tempo fez Ley em
esta forma, que se segue.

1 – Dom Donis *pella graça de Deos Rey de Portugal, e do Algarve*[2]. (A quantos


esta Carta virem faço saber, que Eu entendendo que se faziam muitos malles e
dampnos, e muitas perdas na minha terra per razom dos homizios,)[3] *estabeleci
per conselho dos homeens boons da minha Corte,*[4] que todos aquelles, que
forem a casa d’alguum, ou pousada, ou a seu herdamento, ou a terra que tenha
de Senhor, ou a prestemo que tenha d’alguem, ou emprazamento, que tenha de
quem quer, ou a caminho, perque vãao pera o matar, ou deshonrar, ou pera lhe
fazer mal, e hi morrer el, ou aquelles que com elle forem, (ou cada hum delles,)
[5]
ou hy forem chagados, (ou deshonrados,)[6] nom seja aquelle que se defender,
nem aquelles que com elles esteverem, omiziam daquelles que o cometerem, nem
dos que com elle forem, nem de seu linhagem delles. E esto faço, porque vejo que
he serviço de Deos, e prol e assessego de minha terra, e das minhas gentes. E esta
Ley Mando que se tenha tambem nos Filhos d’algo, como nas outras gentes. [e
mandou][7] E todo homem, [de quallquer condiçam que seia][8] que *contra*[9]
esto vier [E for contra esta nosa ley][10] pera *acooimar,*[11] ou fazer vindita, que
moira porem.

1
“Ley que nenhuum nom uaa aa herdade de nenhuum homem nem a ssa casa pera lhi fazer mal”, no LLP.
“Ley que pena merece o que uay a casa ou a herdade doutro para lhy fazer mal ou para matalo”, nos Foros.
2
“E cetera”, nas ODD; “etc”, nos Foros.
3
Falta nos Foros.
4
“e eu auudo consselho com mha corte estabelezco e ponho por ley”, no LLP; “E eu auendo conselho com
os homeens boons da minha corte Estabeleço E ponho por ley”, nas ODD; “estabeleçeu elrey com conçelho
de ssa corte e pos ley”, nos Foros.
5
Falta nas ODD.
6
Falta no LLP
7
Nos Foros.
8
Nas ODD.
9
“pera”, nas ODD.
10
Nas ODD.
11
“tomar”, no LLP

441
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

2 – (Porque Mando a cada hum de vós, que façades conprir (e guardar)[1] esta minha
postura [asy como em ella he contheudo][2]. E (Mando a todollos Taballiãaes que
a registem em seus Livros, e)[3] que a leam cada *domaa/mez*[4] huma vez em
Concelho ataa huum anno (conprido)[5]. Dante em Lixboa primeiro dia de Junho.
ElRey o mandou com Conselho de sa Corte. Lourence Annes [de Beia][6] a fez. Era
de *mil e *trezentos e quarenta e hum*[7] annos.)[8]

De seguida, no Livro das Leis e Posturas e nas Ordenações de D. Duarte consta uma
declaração a esta lei, do punho do monarca D. Dinis (de 15 de Maio de 1305), que falta
nos foros de Beja e nas Afonsinas. Essa declaração é remetida a um advogado de Penela,
Afonso Peres. A exclusão das Afonsinas suscitou-me uma dúvida: esta declaratória
seria uma lei geral ou mera resposta régia à consulta do causídico de Penela?

Esta é uma das poucas leis que aparece trasladada num livro de vereações.

Tít. LXXXXIII – Dos Carcereiros, a que fogem os presos per sua culpa, e maa guarda, ou
malicia.
[“Vereações” Anos de 1401-1449, pp. 261-262]

[Dom afomso per graça de deus Rey de purtugall e do allgarue E Senhor de


çeupta A uos nosos corregedores E a outros quaees quer nossos Jujzes E Justiças
a que esta nosa carta ou o treslado della em pruujca forma for mostrada saude
sabede que nos][9]
(Muito sollicitos e dilligentes devem seer os Carcereiros, a que he encomendada
a guarda dos presos e malfeitores, pera se delles fazer justiça segundo suas
culpas, porque da sua fiança pende gram parte da justiça; ca se elles por maa
guarda, e malicia dos Carcereiros fogem, perece a justiça per sua mingua. E por
tanto estranhaaram muito os direitos a fogida dos presos aos que delles teem
guarda, determinando, que se o preso foge por malícia, ou manifesta culpa do
Carcereiro, deve esse Carcereiro a morrer por ello, se aquel que fugio era acusado
por tal malefício, que se provado fosse devera de morrer; e seendo accusado por
outro qualquer malefício menor, em tal caso deve esse Carcereiro seer açoutado
pubricamente, e degradado por doos annos pera Cepta: e em todo o caso deve
emendar o dapno aas partes, que por a dita fogida forem dapnificadas.
1 – E disserom mais os direitos, que se o dito Carcereiro ouvesse encomendada
a guarda da cadea a alguum outro, que a guardasse de sua mãao, e em este
tempo fogissem alguuns presos, nom leixará por tanto o dito Carcereiro aver a
dita pena, como dito he, e outra tal avera aquel, a que o dito Carcereiro ouvesse

1
Falta no LLP
2
Nas ODD.
3
Falta no LLP
4
“domaa”, no LLP e nas ODD.
5
Falta nas ODD.
6
No LLP e nas ODD.
7
“iijc e x’ª j”, no LLP e “1341”, nas ODD.
8
Este parágrafo falta nos Foros, onde consta apenas a data “”ffeita Eª Mª CCCª Xª j annos”.
9
No Livro das Vereações do Porto.

442
José Domingues

encomendada a dita cadea; em tal guisa que ambos averam igual pena, e hum
nom será escusado pelo outro. E assy mandamos que se guarde por Ley em todo
nossos Regnos, e Senhorio.
2 – E porque)[1] soomos *certamente enformado*[2], que alguuns Alquaides dos
nossos Castellos, e Carcereiros per seus mandados, e consentimentos, a que *nos,
ou nossas Justiças*[3] mandam entregar alguuns presos, os leixam andar soltos,
nom embargante de serem muito obrigados aa nossa justiça, em tal (guisa)[4], que
quando os querem ouvir com seu direito, nom os acham prestes, e outros fogem,
o que avemos por mui mal feito; e querendo nós remediar sobre ello, segundo he
compridoiro, Teemos por bem e mandamos, que d’aqui em diante quaeesquer
Alquaides, que derem mandado, ou consentimento de andar solta alguma pessoa,
que lhe entreguem presa, se a dita prisom for por erro, que nom mereça pena de
sangue, pague por cada vez que o assy trouver solto mil reaes brancos; e se for
culpado por cousa, que mereça pena de sangue, pague tres mil *reis*[5]; e se for
caso, per que seja culpado a morte, pague dez mil *reis*[6] por cada huma vez, que
lhe provado for que o assy tras solto: e o terço seja pera quem ho acusar; e o terço
pera o Meirinho da [correiçom da][7] Comarca, e seos homeens; e o outro terço pera
as obras do Castello, de que assy for Alquaide. E aalem desto fiquem obrigados
os ditos Alquaides, e [sseus][8] Carcereiros aas penas criminaaes, ou civis, que per
direito merecerem, fogindo-lhe os ditos presos, que assy trouverem soltos, *por
nom perecer*[9] justiça. E semelhante pena queremos que ajam os Carcereiros, que
teverem os presos nas Villas chãas, ou cercadas, ou em algumas casas fora dos
Castellos. [E porem mandamos a cada huum de uos outros nossos Corregedores
que façaees logo assy noteficar em uosas comarcas esta nosa carta aos alcaydes
que neelas ouuer para ao diante no alegarem que nom eram ssabedores desta
nossa hordenaçom dada em a nossa cidade deuora xxxj dias do mes de Janeiro
por autoridade do Senhor Infante dom Pedro tetor e curador do Senhor Rey
Regedor E com ajuda de deus defenssor por ell de sseus Regnos e ssenhorio
fernam ujeira a fez ano do Senhor Jeshu xhrispto de mjll iiijc Rta iij annos][10]

10º

Esta lei (com data de 13 de Julho de 1321) é de D. Dinis e não de Afonso IV, como
consta nas Afonsinas. A redacção é substancialmente diferente nos dois códices.

CIIII – Do que levanta volta em Concelho, ou perante a Justiça.


[Ordenações de D. Duarte, p. 305]

ElRey Dom Affonso o Quarto, da muito louvada e famosa memoria, em seu tempo
fez Ley em esta forma, que se segue.

1
Falta no Livro das Vereações do Porto.
2
“çerteficados”, no Livro das Vereações do Porto.
3
“uos”, no Livro das Vereações do Porto.
4
Falta no Livro das Vereações do Porto.
5
“Reaes”, no Livro das Vereações do Porto.
6
“Reaes”, no Livro das Vereações do Porto.
7
No Livro das Vereações do Porto.
8
No Livro das Vereações do Porto.
9
“e perecendo”, no Livro das Vereações do Porto.
10
No Livro das Vereações do Porto.

443
As Ordenações Afonsinas Sistematização Interna

1 – Era de mil e trezentos e cinquoenta e quatro annos, *vinte dous / doze*[1] dias
de Julho, ElRey Dom Affonso com Conselho da sua Corte estabeleceo e por Ley
pôs, que qualquer homem, que levantar volta, ou tençom per qualquer maneira
em Concelho, ou per-ante as Justiças, ou contra ellas, que as Justiças o matem
porem, e nom lhe recebam outra razom, &c.

2 – E vista per nos a dita Ley, declarando em ella dizemos, que naquelle caso,
honde de proposito e conselheiramente levantar o dito arroido em Juizo contra
a justiça, ou contra alguma pessoa, que se ferir, que moira porem; e se nom ferir,
que fique em alvidro do Juiz: e levantando o arroido per reixa nova sem outro pro-
posito, mandamos que essa justiça o apene logo, segundo a qualidade do arroido.
E em todo caso, assy de reixa nova como de proposito, faça escrepver aos Tabal-
liãaes, ou Escripvaaens todo o auto, que se per-ante elle passar, pera se ao despois
poder veer se obrou em ello como devia; e nom fazendo ella assy todo esto, man-
damos aos ditos Taballiaaes, ou Escripvãaes, que ponham todo em estado contra
ella, pera ao depois se veer se leixou de o fazer por favor d’alguma das partes, e
assim aver escarmento, segundo achado for per direito.
3 – E com esta declaraçom mandamos que se cumpra e guarde a dita Ley, segundo
em ella he contheudo, &c.

A versão das Ordenações de D. Duarte:

Que pena deuem auer aquelles que saaem as uolltas per’aJudarem ou estroruarem os uolteiros.

Dom denijs E cetera. A quantos esta carta Virem faço saber que como quer que
de direito E de custume em toda-llas terras seJam muy defessas as contendas E as
uoltas nas ujllas hu sam os Reis por desuiarem grandes maaes E mortes que em
taaes uolltas poderiam Recreçer uendo eu como as demais uezes que se estas uol-
tas leuantam se mouem per algumas Razooes E que pelleJam E que Recudem hi
quantos ho ouuem per que se acreçentam a uollta E ho mall de cada uez E de que
se nom podem partir depois que assy Recudem.
Porque esto tenho por bem E mando por esquiuar estas uoltas E dapnos que se
ende poderiam seguir que sse em alguum lugar ou em barro dalguuns Ricos
homens ou homees boos se leuantar alguma uolta que os homens dos caualleiros
E Ricos homens ou meestres ou dos homens boos que aguardarem nom se partam
delles por braados que ouçam nem por outra cousa sem seu mandato E aquelles
que o asy nom fezerem E forem aa uollta pera ajudar ou pera estoruar huuns nem
os outros nem pera outra cousa mandamos que moiram porende todos os que aa
uolta rrecudirem tam bem filhos dalgo como outros quaeesquer dada em lixboa
xiij dias de Julho El Rey o mandou per sa corte lourenç’eanes a fez Era de mjl iijc
Lix anos.
[Ordenações de D. Duarte, p. 305]

1
“xiij”, nas ODD.

444
Conclusão

C onsciente de que a pretensão de trabalho perfeito é mister reservado e só digno do


Olimpo, é tempo de concluir, reconhecendo os equívocos e as fragilidades perante
o júri sapiente e, em breve resumo, expor no pelourinho da crítica vindoura as teses
estruturantes que orientaram este trabalho de dissertação e ficaram disseminadas ao
longo das páginas supra. Acalentando, no fundo, a sensação reconfortante de ter subi-
do mais um degrau na pirâmide do entendimento da precoce tentativa tardo-medieval
de compilação do ius regni de Portugal.
Não foi por simples casualidade que a iniciativa de coligir e arrumar o Direito
geral vigente no reino de Portugal numa colectânea surge com o primeiro monarca da
Dinastia de Avis – D. João I. O início desta nova linhagem monárquica, após o inter-
regno de 1383-1385, é marcado por uma robusta adversidade a tudo o que é castelha-
no, nomeadamente, as suas colectâneas legislativas. Por isso, não admira que uma das
tarefas prementes tenha sido a de organizar a própria compilação de leis, com o cunho
dos legisperitos pátrios. Por outras palavras, o reino já contava com mais de dois sécu-
los de existência e uma multiplicidade de fontes de Direito, disseminadas a esmo por
volumes e pergaminhos avelhentados, e aproveita a crise dinástica e a discórdia com
Castela para lançar as sementes de uma colectânea que abrace a maioria do Direito
vigente no seu espaço territorial e, em simultâneo, arrede os inconvenientes das colec-
tâneas do reino vizinho e inimigo.
Infelizmente, os parcos subsídios documentais que chegaram aos nossos dias não
nos permitem precisar, na frincha cronológica do reinado do Mestre de Avis (1385-
1433), o início certo para esta faina compiladora. De qualquer forma, ao certo, nos
princípios da década de noventa do século XIV já nos surgem referências escritas aos
Livros de Ordenações, que, de alguma forma, permitem encetar um processo de solidifi-
cação para a plausibilidade das Cortes de Coimbra (1385) como o berço da compilação
lusa, que irá culminar nas Ordenações Afonsinas – terminadas na vila de Arruda (actual
Arruda dos Vinhos), a 28 de Julho de 1446. Por outro lado, se acreditarmos que nes-
sas Cortes de Coimbra ficou gizado o primeiro esboço, ou, pelo menos, a iniciativa de
compilar o Direito do reino, o nome do seu mentor pode facilmente moldar-se ao do
legisperito protagonista dessa Cúria de trezentos – o Doutor João das Regras – confor-
me acreditavam alguns autores setecentistas.
Nunca será demasiado lembrar e salientar que esta é apenas uma mera suposição,
com o único e singelo amparo dos autores setecentistas e das referências documentais
aos Livros de Ordenações bastante anteriores ao início de carreira do corregedor João
Mendes (1402), o primeiro dos compiladores deveras sabidos. E já que estamos no cam-
po das conjecturas, à data das incipientes referências ao Livro das Ordenações, penso que
João Mendes seria demasiado jovem e imaturo para levar a cabo uma empresa de tal
envergadura. De qualquer forma e em definitivo, a única prova documental coetânea
sabida – o proémio do livro I das Ordenações Afonsinas – apenas nos dá conta de dois
compiladores, o referido corregedor da corte João Mendes e o Doutor Rui Fernandes.

445
As Ordenações Afonsinas Conclusão

Mas, se este fragmento das Afonsinas continua a ser um testemunho documen-


tal exclusivo, não será justo suspeitar, pelo menos, que ele se refira apenas aos dois
compiladores que, efectivamente, trabalharam na sua elaboração? Por outras palavras,
não seria descabido que ao chegar o momento de redigir o prólogo da sua obra, Rui
Fernandes, tenha deixado no esquecimento os eventuais compiladores antecedentes à
fase final de reforma das ordenações, ou Ordenações Afonsinas? Isto não quer dizer que
esse testemunho documental seja dúbio, simplesmente, em Direito o que é revogado
deixa de ter qualquer interesse ou relevância prática, por isso, ele resume o processo
da colectânea que enceta, deixando as outras para trás. Aliás, é o que fazem os compi-
ladores subsequentes, nomeadamente os manuelinos (por isso, só muito recentemente
se acreditou a impressão completa de Valentim Fernandes, de 1512/13). Claro que, se
assim se entender, a referência às Cortes de D. João I no prólogo do livro I terá que ser
interpretada como a iniciação desta fase das Afonsinas e não de todo o sistema. Embora
não seja inteiramente conclusivo, repare-se que no dito prólogo consta que o monarca
cometeu “a reformaçom e compilaçom” a João Mendes.
Talvez, desta maneira, não seja tão hostil aceitar que os fidalgos subscreveram o
capítulo de Cortes para que o monarca “mandasse proveer as Leyx, e Hordenaçõoes feitas
pelos Reyx, que ante elle forom”. Em suma, neste caso, a insurreição seria contra uma
colectânea pré-existente, onde, plausivelmente, estava escrita a famosa Lei Mental
(como fica proposto nesta tese), que tanto apoquentava a fidalguia. E – se aqui pode
assistir outro justificativo para a inaudita ausência da lei Mental nas Ordenações Afonsi-
nas – mais uma vez fica avalizado o rigor do jurista que redigiu o prólogo do livro I.
A percepção das alegações supra vai de encontro ao meu despretensioso parecer
de que a compilação definitiva das Ordenações Afonsinas em cinco livros corresponde
apenas a uma fase – e nem sequer é a primeira – dessa ingente tarefa compiladora que
se desenvolve no dealbar da Dinastia de Avis e se prolonga por mais de cinco décadas.
Por isso, carecem de exactidão quantos, até à data, entenderam tratar-se de um único
e longo processo de vários anos, que abarcou três reinados consecutivos: iniciado no
de D. João I, passando pelo de D. Duarte e terminando no de D. Afonso V. O que quer
dizer que o alcunha de Afonsinas ou de D. Afonso V, apadrinhada pelos inexoráveis
séculos e legisperitos vindouros, pode não ser tão falaciosa como defendem alguns
autores hodiernos e se começa a acreditar. A ser conforme fica dito, também o assíduo
arrolamento como a mais antiga compilação de leis portuguesas terá que ser repensa-
do e, se for o caso, corrigido.
Isto, acima de tudo, quer dizer que, antes de se encetar a redacção das Afonsinas,
já existiam Livros de Ordenações a vigorar em Portugal. A alegação supra parece-me
um facto assente, uma vez que para esta tese se coligiram mais de duas dezenas de
referências documentais credíveis, entre os anos de 1391 e 1446, e, com certeza, outras
aparecerão num futuro próximo. Aliás, não pode ser por mero acaso que no manus-
crito da Câmara de Santarém consta este início: “Tauoa dos titollos do quinto liuro da
reformaçom noua das ordenaçõoes”. Fica, assim, aberto o caminho a novas investigações
em torno das compilações antecedentes. Mas a dificuldade de maior fôlego que agora
levanta este entendimento é a de saber, ao certo, quantas fases existiram e qual a sua
durabilidade, ou seja, quando começou e acabou cada uma delas. E, sobretudo, ave-
riguar em que data se terá iniciado a redacção da reforma nova das ordenações, vulgo
Ordenações Afonsinas, terminada a 28 de Julho de 1446 na vila de Arruda.
Tendo por base o prólogo do livro I, e continuando a linha de pensamento que
vimos seguindo, esta fase ainda teria sido iniciada no tempo de D. João I, mas, “por
alguuns empachos que se seguirom” e nós desconhecemos, acabou por ficar incompleta.

446
José Domingues

Parece inconcusso que quando o infante D. Pedro escreve ao seu irmão D. Duarte (cir-
ca 1425) estava em curso uma das fases de compilação (talvez iniciada em 1418). Em
1427 já estaria concluída, porque, nessa data, já há menção a um livro das ordenações
antigas. Esta referência pressupõe duas fases compilatórias acabadas, pelo menos, e a
existência de uma colecção nova e outra antiga. Desta forma, a primeira fase estaria
concluída em 1391 e a segunda em 1427. Se a primeira fase não pode ser da autoria de
João Mendes, como fica dito, a segunda já se desenvolve em plena corregedoria deste,
nada obstando a que lhe seja adjudicada.
No entanto, não pode ser esta a reforma e compilação que o autor do prólogo das
Afonsinas outorga ao corregedor da corte, João Mendes, ainda no tempo de D. João I.
Em primeiro lugar, porque esse prólogo, segundo acima ficou expresso, se limitaria à
fase das Afonsinas, que só terminam no reinado de D. Afonso V. Em segundo lugar,
porque aí se diz, intencionalmente, que esse primeiro esforço de João Mendes não
chegou a bom termo. Reparem que o escriba diz que a obra se não acabou por causa
de alguns estorvos e não por causa do falecimento do monarca – ao contrário do que
depois refere para a segunda empresa iniciada no reinado de D. Duarte, que só não
a concluiu “porque a Deos prouve regnar pouco”. Posto isto, somos obrigados a concluir
que o primeiro trabalho de João Mendes não é consentâneo com a vigência efectiva de
livros de ordenações.
E aqui está outro dado extraordinariamente relevante: o prólogo das Afonsinas
limita-se apenas aos compiladores e aos trabalhos desta última fase de compilação,
caso contrário, seria um perfeito disparate afirmar que a tarefa empreendida por João
Mendes no reinado de D. João I se não concluiu por causa de alguns “empachos” sub-
sequentes, quando a documentação consultada nos revela que existiam Livros de Orde-
nações a vigorar desde 1391 e, neste mesmo reinado de D. João I, se concluíram pelo
menos duas fases compilatórias.
O que quer dizer que esse trabalho inacabado de João Mendes terá que ser pos-
terior à conclusão da última fase a que nos referimos (circa 1427) e anterior ao início
do reinado de D. Duarte (1433). Pois bem, nesse lapso temporal de seis anos, surge o
resquício de uma compilação desconhecida, que foi aproveitado para compor o título
15 do livro III das Ordenações Afonsinas. Trata-se de alguns casos em que os clérigos
devem responder perante a justiça secular e que foram extractados – alterando-se na
sua redacção original – da Concordata assinada com a clerezia do reino, em 1427. Tudo
leva a crer que essa alteração ainda foi feita durante o reinado de D. João I, como ficou
razoado ao cotejar este título com a dita Concordata.
Fazendo um apanhado ligeiro, penso que seria esta a reforma e compilação incum-
bida por D. João I a João Mendes, efectuada entre 1427 e 1433, a que se refere o prólogo
do livro I. Seria também este o primeiro impulso, embora inacabado, para as Afonsinas.
Para a fase imediatamente anterior (1418-1427) desconheço qualquer indício seguro
que possa apontar para o seu compilador. A fase terminada por volta de 1391, é plau-
sível que tenha sido encabeçada pelo Doutor João das Regras. Posto isto, as Cortes
que desencadearam a compilação e reforma das Afonsinas, citadas no seu prólogo, só
podem ter sido as de Lisboa de 1427 ou as de Santarém de 1430.
O revés desta tentativa, nos finais do reinado joanino, justifica que o coetâneo
cronista-mor do reino, Rui de Pina, situe o início da tarefa no alvor do reinado de D.
Duarte. Algumas ilações documentais acabam por enfatizar este reiniciar, certifica-
do pelo prólogo. Desde logo, os capítulos das cortes de 1433 e seguintes estavam, em
princípio, excluídos da nova reforma; em caso de dúvida ou contradição, os capítulos
da clerezia são mandados observar de acordo com os acordados no reinado de D. João

447
As Ordenações Afonsinas Conclusão

I; da lei da amortização foram exceptuados os bens possuídos até à morte de D. João


I; a lei mental foi escrita pela primeira vez, nos livros da chancelaria, em 1434. São
tudo indícios suficientes que me levam a situar nesta data (plausível decisão tomada
nas cortes de Leiria-Santarém de 1433) o reatar da colectânea que chegou aos nossos
dias sob a designação de Ordenações Afonsinas. Assim, tentando ser precisos, podemos
afirmar que os trabalhos se iniciaram com D. João I e se retomaram no reinado de D.
Duarte, após breve interrupção.
Do que não tenho dúvida é de que todo este labor se processou por várias e
distintas fases de compilação, existindo colectâneas antecedentes, que encontram
testemunho credível no Livro das Leis e Posturas e nas Ordenações de D. Duarte. Se me é
permitida a analogia, estou convicto que afirmar hoje, meramente, que as Ordenações
Afonsinas foram começadas no reinado de D. João I e, apenas, concluídas no de D.
Afonso V, tendo por base o prólogo do livro I, seria o mesmo que dizer, com as
devidas adaptações, que as Ordenações Manuelinas foram começadas no ano de 1505 e
terminadas no ano de 1521.
Quer dizer, então, que os louros de principiador de todo o sistema não devem ser
subtraídos ao rei de Boa Memória (também neste reinado se principia a fase das Afon-
sinas) e ao jurista que marcou a viragem do século XIV para o XV. Sem, no entanto,
esquecer o elevado empenho e sublime dedicação do Eloquente, primeiro como regente
e depois como soberano, e tributando a derradeira fase – dos cinco livros de reforma das
ordenações, honestamente conhecidas como Ordenações de D. Afonso V – ao reinado de
D. Duarte e à regência do infante D. Pedro, na menoridade do Africano.
A compilação completa chegou aos nossos dias dividida em cinco livros, prova-
velmente seguindo a sugestão das Decretais de Gregório IX, com a particularidade de
o livro I ser redigido em estilo diferente dos restantes quatro. Sabendo que os compila-
dores também foram dois – João Mendes e Rui Fernandes – a inferência de atribuir um
estilo redactorial a cada um deles é aliciante. A controvérsia está em saber que estilo e
respectiva parte da obra adjudicar a cada um dos feitores. As opiniões dividem-se: uns
autores entendem que João Mendes, por ser o primeiro compilador, produziu o livro I
e Rui Fernandes os restantes livros II a V; outros autores, conjugando outros vectores
de investigação, pensam exactamente o contrário. Mas, na realidade, a questão pode
estar a ser equacionada em moldes erróneos, porque Rui Fernandes é o ultimador
de todo o processo e, por isso, também de todos os livros. O que quer dizer que, tal
como chegaram a nós, os cinco livros das Afonsinas destilam a autoria cabal de Rui Fer-
nandes. Desta forma, o trabalho de João Mendes acaba por ser ofuscado pelo do seu
prossecutor. O zelo compilatório de João Mendes terá que ser rebuscado em títulos
dispersos das Ordenações Afonsinas (como o tít. 15 do liv. III), nas compilações anterio-
res do Livro das Leis e Posturas e das Ordenações de D. Duarte, bem como nos regimentos
conhecidos para os oficiais concelhios (como o de Évora) e outros diplomas correlati-
vos que venham a surgir.
Fica, desta forma, desmistificada a ideia de que a diferença de estilo de redacção
entre o livro I e os restantes quatro tenha a ver com o punho compilador. E, já agora,
também não tem a ver com matéria ex novo, como chegou a ser alvitrado, mas tão só
com a especificidade dos títulos tratados, que, por isso, se designam regimentos em
contraposição às ordenações.
Se, por um lado, cessa um mito com mais de dois séculos de persistência, por
outro lado, surgem outros arcanos e, sobretudo, agudiza-se a dificuldade de discernir
o contributo de João Mendes para a redacção definitiva das Afonsinas. Está completa-
mente fora de questão dizer que o trabalho é todo de Rui Fernandes e ninguém pode

448
José Domingues

negar mérito aos cerca de dez anos de trabalho de João Mendes e, inclusive, dos outros
compiladores antecedentes. Só não é possível, com os parcos dados de que dispomos,
afirmar que João Mendes trabalhou ou não trabalhou neste ou naquele livro. Nem
sequer sabemos se a divisão em cinco livros foi projectada desde o início, ou sequer
no seu tempo, e nada obsta a que tenha sido Rui Fernandes a idealizar essa divisão em
cinco livros. Portanto, ao certo, muito pouco sabemos do desempenho de João Men-
des. O mais correcto será dizer que a colectânea dos cinco livros das Ordenações Afon-
sinas são obra conjunta de João Mendes e do seu sucessor Rui Fernandes. Até a nível
de tempo, ambos trabalharam, sensivelmente, o mesmo número de anos [João Mendes
(1427-1437 = 10 anos) e Rui Fernandes (1437-1446 = 09 anos)] e seria obsoleto afirmar
que um produziu mais obra do que o outro.
Ainda em relação ao zelo compilatório de João Mendes, ficou a incerteza se ele
teria participado na fase compilatória de 1418-1427. Enquanto não surgirem novos
dados documentais dificilmente poderemos ter uma resposta convicta. Mas não deixa
de ser sintomático que a data dos regimentos dos oficiais concelhios da cidade de Évo-
ra (e outras), outorgados pelo punho do próprio João Mendes, se aproximem, cada vez
mais, deste lapso temporal. Uma análise crítica à sua data e ao seu conteúdo poderá
revelar novos dados de elevado interesse para esta causa. Por ora, o contributo efecti-
vo deste compilador para as Afonsinas terá que limitar-se à primeira parte do título 15
do livro III. Como já se disse, esse singelo fragmento deriva do primeiro arranque dos
trabalhos (circa 1427-1433). A subida ao trono de D. Duarte coloca-o de novo na tarefa,
que deixa incompleta quando a morte lhe ceifa a vida, em 1437. Quase de certeza que
o seu trabalho nunca chegou a vigorar, ficando, por isso, irreversivelmente encoberto
pela reforma do seu sucessor, Rui Fernandes.
Este último compilador irá trabalhar na obra até que “com a graça de Deos a poses-
se em boa perfeiçom”. A data de conclusão indicada no final do livro V – 28 de Julho
de 1446 – também não passa sem polémica. Para uns, essa é a data de conclusão dos
trabalhos de Rui Fernandes, submetido, em seguida, ao exame de uma comissão revi-
sora composta pelo corregedor de Lisboa, Lopo Vasques, e pelos desembargadores do
Paço, Luís Martins e Fernão Rodrigues. Para outros, essa é a data da revista dos traba-
lhos pela dita comissão. Outra hipótese, proposta nesta tese, é a de que seja a data de
redacção definitiva do texto por Rui Fernandes, após a revisão e incorporando-lhe as
emendas e sugestões da comissão.
Outra questão lancinante é a da efectiva vigência da compilação, nas seis déca-
das seguintes à sua conclusão. Não tem faltado quem defenda a sua débil divulgação,
mas sem outros argumentos que não seja a de até nós terem chegado muito poucos
exemplares, de no reinado de D. João II se ter feito um Repertório dos cinco livros e de,
sobretudo, se conhecerem poucas referências documentais à sua utilização. Os dois
primeiros são muito pouco convincentes e o último terá que ser analisado com algum
cuidado. Efectivamente, não se pode dizer que as referências escritas à sua concreta
aplicação sejam copiosas. No entanto, tendo em atenção o decurso de mais de cinco
séculos e o facto de existirem referências por inventariar e outras surgirem dissimula-
das, não se pode reivindicar uma tão escassa divulgação, tendo sempre em atenção as
adversas conjunturas daquela época.
A terminar, temos de concluir, sem rodeios, que o trabalho de reforma consumado
por Fernandes foi admirável e representou um enorme avanço para a época, servindo
de limiar para o Compromisso de D. João II e todas as Ordenações vindouras (Manueli-
nas e Filipinas). É perfeitamente compreensível que durante séculos o seu brilho tenha
sido ofuscado pelo trabalho impresso dos juristas do primeiro quartel da XVI centúria

449
As Ordenações Afonsinas Conclusão

– uma vez que era desconhecido, no todo ou em parte, da maioria dos estudiosos. Mas
hoje, sem querer, de forma alguma, desmerecer o trabalho subsequente dos juristas
manuelinos, seria uma iniquidade não reconhecer o trabalho pioneiro, reformador,
sintetizador, esclarecedor, de elevado pragmatismo e de extrema sagacidade de João
Mendes, do Doutor Rui Fernandes e dos seus eventuais antecessores.
Se, por ventura, quisermos confrontar as empreitadas dos juristas do século XV
com os homólogos da centúria seguinte, de uma coisa tenho a certeza, os primeiros
nunca ficarão em inferioridade. Mas não existe obra humana incensurável e o maior
defeito ou afonsismo[1] desta parece ser o de não ter conseguido ultrapassar o obstáculo
das compilações cronológicas – Fernandes, na sua tumba multisecular, saberá entender
este gesto final mais antipático da minha parte. De qualquer forma, estou convicto que
não há nenhum lapsus calami que tire o elevado mérito à sua obra.

28 de Março de 2008

1
Escolhi esta terminologia em semelhança ao que fizeram os críticos das Ordenações Filipinas, que adopta-
ram a de filipismos.

450
Bibliografia

Instrumentos Auxiliares de Trabalho:

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Repertorio dos Lugares das Leis Extravagantes, Regimentos, Alvarás, Decretos, Assentos, e Resoluções
Regias, Promulgadas sobre matérias Criminaes antes, e depois das Compilações das Ordenações por
Ordem Chronologica. [s.l./s.n./s.d.].
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VENTURA, Margarida Garcez – Igreja e Poder no Séc. XV: Dinastia de Avis e Liberdades Eclesiásticas
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17, Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982.
ALVES, Francisco Manuel (Abade de Baçal) – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de
Bragança. Câmara Municipal de Bragança / Instituto Português de Museus – Museu do
Abade de Baçal, 2000.
CASTRO, Gabriel Pereira de – De manu regia tractatus prima [secunda] pars. Ulyssipone, apud
Petrum Craesbeeck, 1622-1625. (2.ª edição 1673).
CINTRA, Luís Filipe Lindley – A Linguagem dos Foros de Castelo Rodrigo. Lisboa, 1959.
Colectânea Legislativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (1498-1998). Santa Casa da Misericór-
dia de Lisboa, Lisboa, 1998.
FERREIRA, José de Azevedo – Afonso X, Foro Real. Vol. I, Edição e Estudo Linguístico, col.
«Linguística», vol. 11, Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Cientifica, 1986.
FERREIRA, José de Azevedo – Alphonse X. Primeyra Partida. Édition et Étude. Braga, Instituto
Nacional de Investigação Científica, 1980.
FIGUEIREDO, José Anastácio de – Synopsis Chronologica de subsidios ainda os mais raros
para a historia e estudo critico da legislação portugueza. Lisboa: Academia Real das Scien-
cias, 1790.
Fragmentos de Legislação Escritos no Livro Chamado das Posses da Casa da Supplicação, Publ. Na Col-
lecção de Livros Ineditos de Historia Portugueza, dos reinados de D. João I, D. Duarte, D.
Affonso V, e D. João II, publicados de ordem da Academia Real das Sciencias de Lisboa. Por
José Corrêa da Serra. Lisboa, na officina da mesma academia, 1793, Tomo III, fl. 543-615.
HERCULANO, Alexandre – Portugaliae Monumenta Historica. Leges et Consuetudines, vol. I,
Lisboa, 1856; vol. II (fasc. I), Lisboa, 1868.
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DIAS, João José Alves, introdução de MARQUES, A. H. de Oliveira e DIAS, João José
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pa, Lisboa, 1982.
Livro das Leis e Posturas. Prefácio de SILVA, Nuno Espinosa Gomes da e leitura paleográfica e
transcrição de RODRIGUES, Maria Teresa Campos. Universidade de Lisboa Faculdade de
Direito. Lisboa, 1971.
Livro das Posturas Antigas. Leitura paleográfica e transcrição de RODRIGUES, Maria Teresa
Campos. Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, 1974.
Ordenações Del-Rei Dom Duarte. Edição preparada por ALBUQUERQUE, Martim de e NUNES,
Eduardo Borges. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1988.
Ordenaçoens do Senhor Rey D. Affonso V, Coimbra, Real Imprensa da Universidade, 1792. (Fac-
simile com o título Ordenações Afonsinas, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1984). (5
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Ordenaçoens do Senhor Rey D. Manuel, Coimbra, Real Imprensa da Universidade, 1797. (Fac-
simile com o título Ordenações Manuelinas, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1984).
(5 vol.s).

462
José Domingues

Ordenações Manuelinas. Reprodução fac-símile da edição de Valentim Fernandes (Lisboa, 1512-


1513). Introdução de João José Alves DIAS. Centro de Estudos Históricos da Universidade
Nova de Lisboa. Lisboa, 2002. (5 vol.s).
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Calouste Gulbenkian, 1985. (edição fac-simile da edição feita por Candido Mendes de
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boa, Instituto para a Alta Cultura, 1946.
Posturas do Concelho de Lisboa (Século XIV). Apresentação de VELOZO, Francisco José, leitura
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do da História e da Cultura dos Portugueses. Sociedade de Língua Portuguesa, Lisboa,
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Regimento dos Oficiais das cidades, vilas e lugares destes reinos. Ed. Por CAETANO, Marcello. Fun-
dação da Casa de Bragança, Lisboa, 1955. (Texto em fac-simile da 1.ª edição, Lisboa, 1504)
Repertorio dos lugares das leis extravagantes, regimentos, alvarás, decretos, assentos, e resoluções regias,
Promulgadas sobre materias Criminaes antes, e depois das Compilações das Ordenações por Ordem
Chronologica. [s.l. e s.d.].
RIBEIRO, João Pedro – Additamentos e Retoques à Synopse Chronologica. Lisboa, typografia
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SANTARÉM. 2.º Visconde de – Memorias para a Historia, e Theoria das Cortes Geraes, que em
Portugal se Celebrarão pelos Tres Estados do Reino. Partes 1.ª e 2.ª, Lisboa, na Impressão
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Históricos:

Actas das Vereações de Loulé. Edição da Câmara Municipal de Loulé, vol. I, 1984.
Actas de Vereação de Loulé Séculos XIV e XV. Leitura e Revisão de Luís Miguel DUARTE. Separata
da Revista Al’-Ulyã, da Câmara Municipal de Loulé, n.º7, Loulé, 1999-2000.
Actas de Vereação de Loulé Século XV. Leitura e Revisão de Luís Miguel DUARTE. Suplemento da
Revista Al’-Ulyã, da Câmara Municipal de Loulé, n.º10, Loulé, 2004.
AZEVEDO, Pedro de, COSTA, Avelino Jesus da, PEREIRA, Marcelino Rodrigues – Documen-
tos de D. Sancho I (1174-1211). Vol. I, Universidade de Coimbra, 1979.
Chancelarias Portuguesas: D. Duarte. Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova de Lis-
boa. Dirigida por A. H. de Oliveira Marques, Lisboa, 1998-2002. 3 vol.s em 4 tomos. (vol. I,
tomo 1 (1433-1435); vol. I, tomo 2 (1435-1438); vol. II, Livro da Casa dos Contos; vol. III)
CHAVES, Álvaro Lopes de – Livro de Apontamentos (1438-1489). Códice 443 da Colecção Pom-
balina da BNL, introdução e transcrição de Anastásia Mestrinho SALGADO e Abílio José
SALGADO. Biblioteca de Autores Portugueses, Lisboa, 1983.
Corpus Codicum Latinorum et Portugalensium eorum qui in Archivo Municipali Portucalensi asser-
vantur antiquissimorum – Diplomata, Chartae et Inquisitiones. Porto, Câmara Municipal, 1891-
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INIC, Centro de Estudos Históricos, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universi-
dade Nova de Lisboa, Lisboa, 1982.
Cortes Portuguesas, Reinado de D. Pedro I (1357-1367). Org. A. H. de Oliveira MARQUES, INIC,
Centro de Estudos Históricos, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade
Nova de Lisboa, Lisboa, 1986.

463
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

Cortes Portuguesas, Reinado de D. Fernando I (1367-1383). Org. A. H. de Oliveira MARQUES,


INIC, Centro de Estudos Históricos, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universi-
dade Nova de Lisboa, Lisboa, vol. I (1367-1380), 1990.
Cortes Portuguesas, Reinado de D. Manuel I (Cortes de 1498, 1499 e 1502). Organização e revisão
geral de João José Alves DIAS, Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova de Lis-
boa, Lisboa, 2001-2002. (3 vol.s).
CRUZ, António – “Alguns documentos medievais do cartório de São Bento da Ave-Maria”. in
Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto, Porto, 1945, vol. VIII, Fasc. 1-2, pp. 128-168.
Descobrimentos Portugueses. Documentos para a sua História Publicados e Prefaciados por João
da Silva Marques Professro da Faculdade de Letras de Lisboa. Reprodução Fac-similada.
Instituto Nacional de Investigação Científica. Lisboa, 1988, Edição Comemorativa dos Des-
cobrimentos Portugueses. (3 vol.s)
Documentos de D. Sancho I (1174-1211). Rui de AZEVEDO, P. Avelino Jesus da COSTA e Marce-
lino Rodrigues PEREIRA, Vol. I, Centro de História da Universidade de Coimbra, 1979.
Documentos e Memórias para a História do Porto V: Livro Antigo de Cartas e Provisões dos Senhores
Reis D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I. Do Arquivo Municipal do Porto, prefácio e notas
de Artur Magalhães Basto, Porto (s/d).
Documentos para a Historia da Cidade de Lisboa: Livro I de Misticos de Reis Livro e II dos Reis D. Dinis,
D. Afonso IV e D. Pedro I. Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, 1947.
Gavetas (As) da Torre do Tombo. Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, Lisboa, 1960-1977.
(12 vol.)
GOMES, Saúl António – Documentos Medievais de Santa Cruz de Coimbra. I – Arquivo Nacio-
nal da Torre do Tombo. Separata de Estudos Medievais, Porto, 1988.
História Florestal, Aquícola e Cinegética. Colectânea de documentos existentes no Arquivo Nacional da
Torre do Tombo – Chancelarias Reais. Dir. NEVES, Carlos Manuel L. Baeta. Vol. I (1208-1483),
Ministério da Agricultura e Pescas Direcção Geral do Ordenamento e Gestão Florestal,
Lisboa, 1980.
Livro dos Conselhos de El-rei D. Duarte (Livro da Cartuxa). Edição Diplomática, transcrição de
DIAS, João José Alves, introdução de MARQUES, A. H. de Oliveira e DIAS, João José
Alves, revisão de MARQUES, A. H. de Oliveira e RODRIGUES, Teresa F., Editorial Estam-
pa, Lisboa, 1982.
Livro Verde da Universidade de Coimbra. Arquivo da Universidade de Coimbra, 1992.
MARQUES, A. H. DE Oliveira, ed. lit. – Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I. Lisboa, I.N.I.C /
Centro de Estudos Históricos da U.N.L., 1984.
MARQUES, A. H. DE Oliveira, ed. lit. – Chancelarias Portuguesas. D. Afonso IV. Lisboa, I.N.I.C
/ Centro de Estudos Históricos da U.N.L., 1990-1992, 3 vol.
(vol. 1: 1325-1336, 1990; vol. 2: 1336-1340, 1992; vol. 3: 1340-1344, 1992)
MARQUES, João Martins da Silva – Descobrimentos Portugueses – documentos para a sua his-
tória. Lisboa, I.N.I.C., 1988 (5 vol.). Reprodução fac-similada da edição original do I.A.C.,
1944-1971.
PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora. 3 partes. Évora, 1885, 1887,
1891. Edição fac-similada da INCM, com apresentação de Humberto Baquero Moreno,
1998.
SÁ, Artur Moreira de – Chartularium Universitatis Portugalensis. Instituto de Alta Cultura
– Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1966-1981.
SALGADO, Abílio José e SALGADO, Anastásia Mestrinho – Registos dos Reinados de D. João
II e de D. Manuel I (edição fac-similada), Lisboa, 1996.
SANTARÉM. 2.º Visconde de – Quadro Elementar das Relações Politicas e Diplomaticas de Por-
tugal com as diversas potencias do mundo. Tomo I, Paris, 1842.

464
José Domingues

SOUSA, António Caetano de – Provas da História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Coim-
bra: Atlântida, 1946-1954 (12 vol.s).
«Vereações» Anos de 1401-1449 O segundo Livro de Vereações do Município do Porto existente no seu
Arquivo, com nota prévia de J. A. Pinto FERREIRA. Documentos e Memórias para a His-
tória do Porto – XL. Publicações da Câmara Municipal do Porto – Gabinete de História da
Cidade. Porto, 1980.
«Vereações» 1431-1432, Livro I. Leitura, Índice e Notas de João Alberto MACHADO e Luís Miguel
DUARTE. Documentos e Memórias para a História do Porto – XLIV. Arquivo Histórico /
Câmara Municipal do Porto. Porto, 1985.

465
Anexos
Anexo I

Sinopse Cronológica de Legislação Medieval (1211-1512)

D. Afonso II [1211-1223]

1 - 1211 – [Coimbra].
Lei pela qual el-rei colocou juízes pelo reino e mandou que se respeitasse a lei
e os direitos da Santa Igreja.
[Foros de Santarém, fl. 25]
[Livro das Leis e Posturas, p. 9]
[Ordenações de D. Duarte, p. 43]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, pp. 163-164]

2 - 1211 – [Coimbra].
Como el-rei manda aos seus alcaides que não levem nenhuma cousa daqueles
que as venderem para comer assim como antes tomavam por costume.
[Foros de Santarém, fl. 25]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 9-10]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 43-44]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 164]
[O A – Liv. II, Tít. 31]

3 - 1211 – [Coimbra].
Que os almoxarifes de el-rei não levem alguma coisa do navio que se perder,
ainda que seja estrangeiro.
[Livro das Leis e Posturas, p. 10]
[Ordenações de D. Duarte, p. 44]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, pp. 164-165]
[O A – Liv. II, Tít. 32]

4 - 1211 – [Coimbra].
Dos que fazem traição ou aleive contra el-rei ou seu estado real.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 10-11]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 44-45]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, pp. 165-166]
[O A – Liv. V, Tít. 2]
[O A – Liv. II, Tít. 54]

469
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

5 - 1211 – [Coimbra].
Como el-rei defende que nenhum não corte vinhas, nem árvores, nem queime
casas.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 11-12]
[Ordenações de D. Duarte, p. 45]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 166]

6 - 1211 – [Coimbra].
Que as casas dos nobres e dos outros sejam coutadas e não entrem nelas para
matar, nem tolher membro a nenhum, nem matem homens a seus inimigos.
[Livro das Leis e Posturas, p. 12]
[Ordenações de D. Duarte, p. 46]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 167]

7 - 1211 – [Coimbra].
Dos que pedem que lhes revejam os feitos e sentenças desembargadas pelos
juizes da Suplicação.
[Foros de Santarém, fl. 25v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 12]
[Ordenações de D. Duarte, p. 46]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 167]
[O A – Liv. III, Tít. 108]

8 - 1211 – [Coimbra].
Da execução que se faz por porteiro e do que lhe tolhe o penhor.
[Foros de Santarém, fl. 25v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 12-13]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 46-47]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 168]
[O A – Liv. III, Tít. 92, § 1]
[O A – Liv. V, Tít. 63, § 1]

9 - 1211 – [Coimbra].
El-rei couta os mosteiros e igrejas e que ele possa apresentar onde for padroeiro.
[Livro das Leis e Posturas, p. 13]
[Ordenações de D. Duarte, p. 47]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, pp. 168-169]

10 - 1211 – [Coimbra].
Que os mosteiros e igrejas não comprem possissões – Lei da desamortização.
[Foros de Santarém, fl. 26]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 13-14]
[Ordenações de D. Duarte, p. 47]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. ]
[O A – Liv. II, Tít. 2, Artigo II][1]

1
Integrada na concordata dos onze artigos de D. Dinis, que acordou com os prelados na corte de Roma.

470
José Domingues

11 - 1211 – [Coimbra].
Como devem fazer foro das herdades.
[Livro das Leis e Posturas, p. 14 e pp. 132-133]
[Ordenações de D. Duarte, p. 48]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 170]

12 - 1211 – [Coimbra].
Porque manda el-rei que os clérigos respondam perante o seu bispo nos feitos
criminais e eclesiásticos.
[Ordenações de D. Duarte, p. 48]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, pp. 170-171]

13 - 1211 – [Coimbra].
Que sejam findos os homizios e aquele que receber mal ou torto que o deman-
de perante as justiças.
[Foros de Santarém, fl. 26]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 14-15]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 48-49]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 171]

14 - 1211 – [Coimbra].
Privilégios aos mosteiros e igrejas.
[Livro das Leis e Posturas, p. 15]
[Ordenações de D. Duarte, p. 49]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 172]

15 - 1211 – [Coimbra].
Que não penhore alguém seu devedor, nem filhe posse de sua cousa, sem
autoridade da justiça.
[Livro das Leis e Posturas, p. 15]
[Ordenações de D. Duarte, p. 49]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 172]
[O A – Liv. IV, Tít. 9, § 1]

16 - 1211 – [Coimbra].
Que nenhum seja constrangido para dar aljavas para as suas aves.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 15-16]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 49-50]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, pp. 172-173]

17 - 1211 – [Coimbra].
Que nenhum não pouse nas igrejas nem nas casas com os clérigos.
[Livro das Leis e Posturas, p. 16]
[Ordenações de D. Duarte, p. 50]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 173]

471
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

18 - 1211 – [Coimbra].
Que não possam vender herdamento, salvo a irmão, ou a parente mais chega-
do – Lei de Avoenga.
[Livro das Leis e Posturas, p. 16]
[Ordenações de D. Duarte, p. 50]
[FIGUEIREDO, José Anastácio de – “Memoria sobre qual foi a época certa da introdução do
Direito de Justiniano em Portugal, o modo da sua introducção, e os grãos de authoridade,
que entre nós adquirio. Por cuja occasião se trata toda a importante materia da Ord. liv. 3
tit. 64”. in Memorias de Litteratura Portugueza, publicadas pela Academia Real das Sciencias
de Lisboa. Tomo I, Lisboa, 1792, pp. 332-334.]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, pp. 173-174]
[O A – Liv. IV, Tít. 37]

19 - 1211 – [Coimbra].
1211 – Que todo homem possa viver com quem lhe aprouver.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 16-17]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 50-51]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 174]
[O A – Liv. IV, Tít. 25]

20 - 1211 – [Coimbra].
Que os tesoureiros, almoxarifes e recebedores de el-rei não dêem dinheiros à
onzena, nem os emprestem sem seu mandado.
[Livro das Leis e Posturas, p. 17]
[Ordenações de D. Duarte, p. 51]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, pp. 174-175]
[O A – Liv. II, Tít. 43]

21 - 1211 – [Coimbra].
Quando for dada sentença de morte seja prolongada a execução até vinte
dias.
[Livro das Leis e Posturas, p. 17]
[Ordenações de D. Duarte, p. 51]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 175]
[O A – Liv. V, Tít. 70]

22 - 1211 – [Coimbra].
Que não constranjam alguém que case contra sua vontade.
[Livro das Leis e Posturas, p. 17]
[Ordenações de D. Duarte, p. 51]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 175]
[O A – Liv. IV, Tít. 10]

23 - 1211 – [Coimbra].
Dos tesoureiros, almoxarifes e outros oficiais de el-rei que lhe furtam ou enga-
nosamente mal baratam o que por ele receberem.
[Foros de Santarém, fl. 26v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 18]

472
José Domingues

[Ordenações de D. Duarte, pp. 51-52]


[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 176]
[O A – Liv. II, Tít. 42]
[O A – Liv. II, Tít. 43]

24 - 1211 – [Coimbra].
Dos que fazem moeda falsa.
[Livro das Leis e Posturas, p. 18]
[Ordenações de D. Duarte, p. 52]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 177]
[O A – Liv. V, Tít. 5]

25 - 1211 – [Coimbra].
Que não tomem o alheio sem ordenança da justiça, pagando primeiro.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 18-19]
[Ordenações de D. Duarte, p. 52]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, pp. 177-178]

26 - 1211 – [Coimbra].
De como judeu nem mouro deve ser ovençal real, ou ocupar qualquer cargo
oficial de modo que os cristãos se possam sentir prejudicados.
[Livro das Leis e Posturas, p. 19 e pp. 121-122]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 52-53]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, pp. 178-179]
[O A – Liv. II, Tít. 85, § 1]
[O A – Liv. II, Tít. 95, § 1]
[O A – Liv. II, Tít. 79]
[O A – Liv. II, Tít. 121]

27 - 1211 – [Coimbra].
Que pena devem haver os homens que andam pela terra vagabundos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 19-20]
[Ordenações de D. Duarte, p. 53]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 179]

28 - [1219-1220], Junho, 19 – Santarém.


Provisão contra os decretos civis do prior dos dominicanos Soeiro Gomes.
[IAN/TT – Maço 12 de Forais Antigos, n.º3, fl. 17]

29 - 1222, Junho – Santarém.


Modo de suprir o alferes-mor, o mordomo-mor e o chanceler-mor, nos seus
impedimentos.
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º1]
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 236]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 694, BGUCoimbra, p. 303]

473
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

D. Sancho II [1223-1248]

Não se conhece qualquer diploma com características de lei geral, para este
reinado.
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, p. 182]

D. Afonso III [1248-1279]

1 - 1250 – [Cortes de Guimarães].


Queixas apresentadas pelo arcebispo de Braga sobre os agravos feitos em geral
ao clero e dos artigos especiais oferecidos pelos bispos da Guarda, Coimbra e
Porto, tudo com as respectivas respostas do rei.
[IAN/TT – Sé de Coimbra, m. 14, doc. 42]
[Monarquia Lusitana, Parte 4, Apêndice, doc. 32]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 184-189]

2 - 1251, Janeiro, 24 – [Guimarães]


Lei que declara as penas de vários crimes e manda defender e amparar os
mosteiros.
[IAN/TT – Livro 1 de Doações de D. Afonso III, fl. 4]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 20-21 e pp. 221-222 (com o dia 14)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 71-72 (com data de 1272, Janeiro, 24)]
[BRANDÃO, Fr. António – Monarquia Lusitana, Parte 4, Apêndice escritura n.º27
(com tradução a fl. 193v, dando-lhe a data de 20 de Janeiro)]
[Provas da História Genealógica, tomo VI, II Parte, pp. 5-6]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 190-191]
[BARROS, Gama – História da Administração Pública em Portugal nos séculos XII a XV.
2.ª edição dirigida por Torquato de Sousa Soares, tomo XI, Lisboa, 1954, pp. 129-130 e nota 4]
[VENTURA, Leontina e OLIVEIRA, António Resende de
– Chancelaria de D. Afonso III, Coimbra, 2006]

3 - 1253, Dezembro, 26 – Lisboa.


Lei da almotaçaria.
[IAN/TT – Maço 1 de Leis, n.º 14]
[IAN/TT – Livro de Extras, fls. 206v-210]
[RIBEIRO, João Pedro – Dissertações Cronológicas, tomo III, Parte 2, Lisboa, 1857,
Apêndice 21, pp. 60-74]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 191-196]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed.,
Porto, 1964, Vol. I, doc. 3pp. 334-340]
[RAMALHO, A. – Legislação Agrícola, pp. 88-94]
[ALMEIDA, Carlos Marques de – História das Instituições (aulas práticas). Vol. I,
Universidade Portucalense, Porto, 1994, pp. 455-480 (tradução em Português) (policopiado)]

4 - 1255, Março, 18 – Santarém.


Carta régia sobre a não exigência do monetágio. O monarca jura não vender,
nem baixar moeda, nem pedir, nem levar mais que os seus antecessores.[1]

1
Apensa, anda uma carta enviada ao Papa sobre o mesmo assunto, de 16 de Março de 1255.

474
José Domingues

[IAN/TT – Liv. 1 das Doações de D. Afonso III, fl. 150]


[Provas da História Genealógica, tomo VI, II Parte p. 3-5
(com data errada da era 1263, ano de 1225)]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 196-197]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal.
(1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc. 4, p. 340]
[VENTURA, Leontina e OLIVEIRA, António Resende de
– Chancelaria de D. Afonso III, Coimbra, 2006]

5 - 1258, Abril, 11 – Guimarães.


Primeiro Regimento da Casa Real.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 54-58]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 198-200]

6 - 1261, Janeiro – Guimarães.


Segundo Regimento da Casa Real.
[Ordenações de D. Duarte, p. 59]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 200-201]

7 - 1261, Fevereiro, 01 – Guimarães.


Carta régia dirigida às ordens militares, defendendo a população contra os
vexames destas poderosas corporações.
[IAN/TT – Livro 1 de Doações de Afonso III, fl. 49]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 201]
VENTURA, Leontina e OLIVEIRA, António Resende de
– Chancelaria de D. Afonso III, Coimbra, 2006]

8 - 1255 (1261, Março)[1] – [Guimarães].


Lei sobre o direito de padroado, pela qual se regulamenta a aposentadoria dos
infanções, ricos-homens, cavaleiros e padroeiros nas igrejas e mosteiros.
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º15]
[Coimbra, AU]
[Livro de Leis e Posturas, pp. 141-147]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 59-65 (segue-se a reforma de D. Dinis, pp. 65-71)]
[Porto, AHM – Livro A, fl. 151-154]
[Livro Antigo do Porto, fls. 51 e 55v (CAETANO – Memória V, p. 37)]
[Portugaliae Monumenta Historica – fl. 201-210]
[Extr. O A – Liv. II, Tít. 19]
[Extr. O A – Liv. II, Tít. 20]

9 - 1261, Abril, 11 – Coimbra.


Deliberações das cortes de Coimbra sobre a moeda feita por el-rei.
[IAN/TT – Livro 1 de Doações de Afonso III, fl. 52v]
[Braga, AD – Colecção Cronológica, n.º65]
[Braga, AD – Livro das cadeias, doc. 56, fls. 36v-38v]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 210-212]

1
Veja-se o que ficou dito a propósito da data deste diploma nas pp. 141-143.

475
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome


dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964,
Vol. I, doc. 5-A, pp. 341-344]
[AMARAL, António Caetano do – Memória V, nota 6]
VENTURA, Leontina e OLIVEIRA, António Resende de
– Chancelaria de D. Afonso III, Coimbra, 2006]

10 - 1264, Novembro, 15 – Coimbra.


Estabelecimento para que, nas vilas grandes, não haja mais de dois alcaides,
um grande e outro pequeno.
[Lisboa, AHM – Livro dos Pregos, fl. 57]
[Livro de Leis e Posturas, pp. 21-23 (sem data)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 73-74]
[Portugaliae Monumenta Histórica – Leges, pp. 213-215]

11 - 1265, Abril, 02 – Lisboa.


Provisão dirigida ao rico-homem, juiz e tabelião de Viseu, mandando restituir
ao seu antigo estado os bens reguengos ou foreiros de el-rei, transferidos a
eclesiásticos ou privilegiados.
[IAN/TT – Livro 1 de Doações de Afonso III, fl. 163v]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 215-216]
VENTURA, Leontina e OLIVEIRA, António Resende de
– Chancelaria de D. Afonso III, Coimbra, 2006]

12 - 1265, Julho, 28 – Coimbra.


Lei sobre as anúduvas e os que delas deviam ser escusos.
[Lisboa, AHM – Livro dos Pregos, fl. 57v e fl. 58 (confirmação de 1273)]
[IAN/TT – Gaveta III, maço 2, n.º13]
[IAN/TT – Gaveta XI, maço 2, n.º16]
[Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. 115 (em carta de 1285, Junho, 06)]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 216-217]
[SANTA ROSA DE VITERBO, Fr. Joaquim de – Elucidário, v. ADUA (Que a trasladou de
um tombo, do séc. XIII, que se guardava na Catedral de Viseu, a fl. 42. E diz que foi
reproduzida nas cortes de Santarém de 1284(sic), em 27 de Janeiro)]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 703 da BGUC, fl. 262 (copiada do Cabido de Viseu. E diz constar
em carta de 1274, Janeiro, 27, transmitindo resolução das cortes de Santarém)]

13 - 1266, Maio, 04 – Lisboa.


Do pedido concedido para combater os infiéis: carta ao concelho de Coimbra
sobre as 4 mil libras que emprestou para socorrer el-rei de Castela.
[BRANDÃO, Fr. Francisco – Monarquia Lusitana, Parte V, apêndice]
[BARBOSA, José – Catálogo das Rainhas de Portugal, Lisboa, 1727, p. 66]
[Lisboa, BARC – Colecção de Legislação de Trigoso]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 217-218][1]

14 - 1266, Dezembro – [s/l].


Que as usuras e penas não cresçam mais que outro tanto.
[Foros de Santarém, fl. 30v]
[Foros da Guarda, fl. 67]

1
Ribeiro refere uma versão do perg. 2 da Camera de Coimbra, mas Herculano já não o encontrou.

476
José Domingues

[Livro das Leis e Posturas, p. 26 e p. 96]


[Ordenações de D. Duarte, p. 104]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p.218]
[O A – Liv. IV, Tít. 62]

15 - 1269, Setembro, 14 – Lisboa.


Situações em que se devem pagar custas.
[Foros de Gravão, fl. 21]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 219]

16 - 1270, Março, 06 – Lisboa.


Carta declarando o aumento e mudança na moeda.
[Cartório do concelho de Mós][1]
[SANTA ROSA DE VITERBO, Joaquim de – Elucidário, edição crítica por Mário Fiúza,
Porto, 1993, vol. II, s. v. “Maravidil”, p. 390, col. 2. (1.ª edição, 1799)]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 219]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964,
Vol. I, doc. 7, p. 344]

17 - 1270, Dezembro, meiado – [s/l].


Lei que condena o vencido em custas.
[Foros de Santarém, fl. 29]
[Foros da Guarda, fl. 65]
[Livro das Leis e Posturas, p. 93, p. 123 e p. 220]
[Ordenações de D. Duarte, p. 101]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 220]

18 - 1271, Janeiro – [s/l].


Lei sobre a apelação.
[Foros de Santarém, fl. 30v]
[Foros da Guarda, fl. 67]
[Livro das Leis e Posturas, p. 96 e p. 221]
[Ordenações de D. Duarte, p. 104]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 220-221]
[O A – Liv. III, Tít. 73, § 4]

19 - 1272, Fevereiro, 27 – Lisboa.


Lei que proíbe as assuadas no reino e as pousadas nas igrejas e mosteiros.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 138-139 e pp. 154-155]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 72-73]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 221-223]
[O A – Liv. V, Tít. 45]

20 - 1272, Junho, 21 – Lisboa.


Lei sobre as revelias.
[Foros de Santarém, fl. 31v (sem ano)]
[Foros da Guarda, fl. 63]

1
Referido por Viterbo e por Ribeiro.

477
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[Foros de Gravão, fl. 19v]


[Livro das Leis e Posturas, pp. 24-26]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 115-116]
[Inéditos de História Portuguesa, V, pp. 391-393 e pp. 440 e ss.]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 224-226]
[Cit. nas O A – Liv. III, Tít. 48]

21 - 1273, Julho, 13 – Lisboa.


Que não levem pão, nem farinha, para fora do reino, por mar ou por terra.
[Portugaliae Monumenta Historica – Legs, fl. 226-227]
[O A – Liv. V, Tít. 48, § 1]

22 - 1273, Setembro – Lisboa.


Lei que permite a nomeação de testemunhas até ao número de trinta.
[Foros de Santarém, fl. 31]
[Foros da Guarda, fl. 65]
[Livro de Leis e Posturas, p. 27 e pp. 96-97]
[Ordenações de D. Duarte, p. 108 e p. 117]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 220]

23 - 1273, Setembro – [s/l].


Das autorias, e quando devem os autores ser nomeados e chamados a juízo.
[Foros de Santarém, fl. 31]
[Foros da Guarda, fl. 64v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 27 (com data de Dezembro, 1273) e p. 97 (sem data)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 163]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 228]
[O A – Liv. IV, Tít. 59, § 1]

24 - 1273, Dezembro, 18 – Santarém.


Carta para que, a mandado do Papa, se corrijam os agravamentos régios feitos
a todas as comunidades do reino.
[IAN/TT – Chancelaria D. Afonso III, Liv. 1, fl. 127]
[IAN/TT – Chancelaria D. Afonso III, Liv. 3, fl. 5v]
[IAN/TT – Livro dos Bens de D. João de Portel fl. 80v]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 229-231]
VENTURA, Leontina e OLIVEIRA, António Resende de
– Chancelaria de D. Afonso III, Coimbra, 2006]

25 - 1274, Janeiro, 27 – Santarém.


Confirmação, nas cortes de Santarém, da provisão de 28 de Julho de 1265,
sobre anúduvas.
[Livro Antigo do Tombo do Cabido de Viseu, fl. 42]
[Lisboa, AHM – Livro dos Pregos, fl. 57v e fl. 58v]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 231]

26 - 1275, Março, 18 – Lisboa.


Lei que proíbe que aqueles que obrigarem as propriedades ou possessões as
não possam vender.

478
José Domingues

[Foros de Santarém, fl. 33]


[Livro das Leis e Posturas, pp. 23-24 e p. 181]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 114-115]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 232-233]
[O A – Liv. IV, Tít. 49]

Leis com data duvidosa:

27 - [1254? – 1261?]
Lei de avoenga.
[Foros de Santarém, fls. 35-36]
[Foros da Guarda, fls. 149-150]
[Foros de Beja, fls. 13-14]
[IAN/TT – Núcleo Antigo, códice n.º 3 (Terceira Partida), fls. 125-125v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 84-86]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 95-97]
[FIGUEIREDO, José Anastácio de – “Memoria sobre qual foi a época certa da introdução do
Direito de Justiniano em Portugal, o modo da sua introducção, e os grãos de authoridade,
que entre nós adquirio. Por cuja occasião se trata toda a importante materia da Ord. liv. 3
tit. 64”. in Memorias de Litteratura Portugueza, publicadas pela Academia Real das Sciencias
de Lisboa. Tomo I, Lisboa, 1792, pp. 334-337]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 234-238]
[O A – Liv. IV, Tít. 38]

28 - [1254? – 1261?]
Que o citado para a Corte seja esperado três dias, antes de ser julgado à reve-
lia. E aparecendo depois dos três dias assinados, mas antes de passar a senten-
ça pela Chancelaria, seja ouvido.
[Foros de Santarém, fl. 27]
[Foros da Guarda, fl. 61]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 217-218]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 97-98]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 238]

29 - [1254? – 1261?]
Formalidades sobre a validade da procuração.
[Foros de Santarém, fl. 27v]
[Foros da Guarda, fl. 61]
[Livro das Leis e Posturas, p. 218]
[Ordenações de D. Duarte, p. 98]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 238]

30 - [1254? – 1261?]
Como fará procuração o concelho onde não há tabelião: que envie um juiz
com dois homens bons e o selo do concelho, se o houver, ou com a carta de
foro, que valha como procuração.

479
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[Foros de Santarém, fl. 27v]


[Foros da Guarda, fl. 61]
[Livro das Leis e Posturas, p. 218]
[Ordenações de D. Duarte, p. 98]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 239]

31 - [1254? – 1261?]
Que o procurador da primeira instância tem poderes para a segunda.
[Foros de Santarém, fl. 27v]
[Foros da Guarda, fl. 61]
[Livro das Leis e Posturas, p. 218]
[Ordenações de D. Duarte, p. 98]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 239]

32 - [1254? – 1261?]
Havendo dois advogados bons na Corte, a parte tome apenas um e deixe o
outro à outra parte
[Foros de Santarém, fl. 28]
[Foros da Guarda, fl. 61v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 122 e 218]
[Ordenações de D. Duarte, p. 98]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 240]

33 - [1254? – 1261?]
Sobre a entrega das cousas por causa da revelia.
[Foros de Santarém, fl. 28]
[Foros da Guarda, fl. 61v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 218-219]
[Ordenações de D. Duarte, p. 99]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 240]

34 - [1254? – 1261?]
A que tempo se pode purgar a revelia.
[Foros de Santarém, fl. 28v]
[Foros da Guarda, fl. 62]
[Livro das Leis e Posturas, p. 93, pp. 122-123 e p. 219]
[Ordenações de D. Duarte, p. 99]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 241]

35 - [1254? – 1261?]
Estabelecimento do autor que cita outro e não aparece em juízo, e aparece
apenas o citado. Para responder à segunda citação sejam-lhe pagas as custas
da primeira citação. Absolvido este duas vezes, não seja obrigado a obedecer
à terceira citação.
[Foros de Santarém, fl. 27]
[Foros da Guarda, fl. 61]
[Livro das Leis e Posturas, p. 26]
[Ordenações de D. Duarte, p. 83 e p. 99]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 241]
[O A – Liv. III, Tít. 17]

480
José Domingues

36 - [1254? – 1261?]
Que por revelia se não embarque o preito.
[Foros de Santarém, fl. 29]
[Foros da Guarda, fl. 62v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 219-220]
[Ordenações de D. Duarte, p. 99]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 242]
37 - [1254? – 1261?]
Das entregas da revelia.
[Foros de Santarém, fl. 29]
[Foros da Guarda, fl. 62v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 220]
[Ordenações de D. Duarte, p. 100]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 242]

38 - [1254? – 1261?]
Título da purga da revelia e das entregas por porteiro.
[Foros de Santarém, fl. 29]
[Foros da Guarda, fl. 63]
[Livro das Leis e Posturas, p. 94 e p. 220]
[Ordenações de D. Duarte, p. 100]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 243]

39 - [1254? – 1261?]
Do autor que é metido em posse dos bens de raiz à revelia do réu, não seja
obrigado a ará-los.
[Foros de Santarém, fl. 28]
[Foros da Guarda, fl. 61v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 219]
[Ordenações de D. Duarte, p. 100]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 243]
[O A – Liv. III, Tít. 47]

40 - [1254? – 1261?]
Aquele a que for entregue herdamento, em razão de revelia, está obrigado a
colher e dar recado dos frutos que aí houver.
[Foros de Santarém, fl. 28v]
[Foros da Guarda, fl. 62]
[Livro das Leis e Posturas, p. 219]
[Ordenações de D. Duarte, p. 100]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 243-244]
[O A – Liv. III, Tít. 47]

41 - [1254? – 1261?]
Averiguação do valor dos bens da revelia a entregar ao adversário.
[Foros de Santarém, fl. 28v]
[Foros da Guarda, fl. 62v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 93, p. 123 e p. 215]
[Ordenações de D. Duarte, p. 101]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 244]

481
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

42 - [1254? – 1261?]
Título da revelia do móvel.
[Foros de Santarém, fl. 28v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 93, p. 123 e p. 219]
[Ordenações de D. Duarte, p. 101 e p. 107]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 245]

43 - [1254? – 1261?]
Da execução por dívida, primeiro venda-se o móvel e depois, se este não
chegar, venda-se os bens de raiz.
[Foros de Santarém, fl. 29v]
[Foros da Guarda, fl. 65]
[Livro das Leis e Posturas, p. 123 e p. 215]
[Ordenações de D. Duarte, p. 101]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 245]

44 - [1254? – 1261?]
Substituição do juiz, no decurso do preito, por morte do anterior.
[Foros de Santarém, fl. 29v]
[Foros da Guarda, fl. 65v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 220]
[Ordenações de D. Duarte, p. 101]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 246]

45 - [1254? – 1261?]
Que aquele que está em posse de alguma coisa por ano e dia responda perante
o seu juiz.
[Foros de Santarém, fl. 29v]
[Foros da Guarda, fl. 63v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 215-216]
[Ordenações de D. Duarte, p. 102]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 246]
[O A – Liv. III, Tít. 116]

46 - [1254? – 1261?]
O cônjuge não pode vender ou meter a preito bens imóveis, sem o consentimento
do outro cônjuge.
[Foros de Santarém, fl. 29v]
[Foros da Guarda, fl. 66]
[Livro das Leis e Posturas, p. 220]
[Ordenações de D. Duarte, p. 102 e p. 109]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 246-247]
[O A – Liv. III, Tít. 45]

47 - [1254? – 1261?]
Formalidades como devem ser seguidas as apelações.
[Foros de Santarém, fl. 30]
[Foros da Guarda, fl. 66]
[Livro das Leis e Posturas, p. 95 e p. 216]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 102-103]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 247-248]
[O A – Liv. III; Tít. 73]

482
José Domingues

48 - [1254? – 1261?]
Das apelações onde estiver el-rei.
[Foros da Guarda, fl. 66v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 217]
[Ordenações de D. Duarte, p. 103 e p. 111]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 249]
[O A – Liv. III, Tít. 73, § 3]

49 - [1254? – 1261?]
Dos que querem apelar do sobrejuiz, que apelem imediatamente para a Corte.
[Foros da Guarda, fl. 66v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 217]
[Ordenações de D. Duarte, p. 103]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 249]

50 - [1254? – 1261?]
Como o juix deve dar carta de sentença.
[Foros da Guarda, fl. 67]
[Livro das Leis e Posturas, p. 217]
[Ordenações de D. Duarte, p. 104]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 249]

51 - [1254? – 1261?]
Como a usura dos judeus não cresça mais do que outro tanto[1].
[Foros de Santarém, fl. 30v]
[Foros da Guarda, fl. 67]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 26-27 e p. 96]
[Ordenações de D. Duarte, p. 105]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 250]

52 - [1254? – 1261?]
Título dos advogados da Casa de el-rei[2].
[Foros da Guarda, fl. 61v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 93 e p. 122]
[Ordenações de D. Duarte, p. 107]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 250]

53 - [1254? – 1261?]
Como se deve dar conta dos bens que são entregues em revelia.
[Foros da Guarda, fl. 65]
[Livro das Leis e Posturas, p. 94]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 107-108]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 250-251]

1
“Este estabelecimento é correlativo ao de Dezembro de 1266 (Aff. III – 14)”, adverte HERCULANO:
2
Esta lei é idêntica à que vai sobre o n.º32.

483
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

54 - [1254? – 1261?]
Título dos fiadores, como como devem pagar igualmente a fiadoria e não uns
mais do que outros
[Foros de Santarém, fl. 29v]
[Foros da Guarda, fl. 66]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 94-95 e p. 216]
[Ordenações de D. Duarte, p. 108]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 251-252]
[O A – Liv. IV, Tít. 54]

55 - [1254? – 1261?]
Das revelias.
[IAN/TT – Maço 6 de Forais Antigos, n.º4, fl. 62]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 252]

56 - [1254? – 1261?]
Das revelias.
[IAN/TT – Maço 6 de Forais Antigos, n.º4, fl. 62v]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 252]

57 - [1254? – 1261?][1]
Regimento dos meirinhos-mores.
[IAN/TT – Gaveta 3, maço 5, n.º 19]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 252-253]

58 - [1259? – 1277?][2]
Proíbe-se os fidalgos de pousarem nos herdamentos do termo de Cernancelhe
e das comarcas de Ledra, de Montenegro e de Vilariça ou em outros quaisquer
herdamentos reais, quer reguengos, quer foreiros.
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 253]
[O A – Liv. II, Tít. 27]

59 - [1254 ou 1255][3], Dezembro, 06 – Santarém.


Lei que defende a exportação de prata em barra, em moeda e em obra, e bem
assim a de peles, panos de cor, coiros, cera e mel, salvo pelos portos por onde
entrarem panos de França. Fixam-se as penas aplicáveis aos infractores e res-
pectivo processo.
[IAN/TT – Livro dos Copos do Convento de Palmela, fl. 62, aliás 92]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 253-254]
[Descobrimentos Portugueses, Supl. ao vol. I, doc. 4, pp. 9-10.]

1
A propósito da data crítica deste regimento vide Marcello CAETANO, As Cortes de Leiria de 1254, memória
comemorativa do VII centenário, Lisboa, 1954.
2
“Veja-se a nota X no fim do 3.º vol. da Historia de Portugal por A. Herculano”, HERCULANO. José Mat-
toso, em nota a esta de Herculano, inclina-se para a data de 1277.
3
“Veja-se acerca da data deste documento a nota VI no fim do 3.º vol. da Historia de Portugal por A. Her-
culano”, HERCULANO.

484
José Domingues

Leis sem data conhecida:

60 - [1248-1279]
Da pena para aquele que fere outrem sem qualquer motivo.
[Ordenações de D. Duarte, p. 104]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 254]

61 - [1248-1279]
Forma de corrigir a agressão perpetrada por vários agressores.
[Livro das Leis e Posturas, p. 103]
[Ordenações de D. Duarte, p. ]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 255]

62 - [1248-1279]
Proíbe-se que os cavaleiros ou outros poderosos tomem carnes ou outras cou-
sas, arbitrariamente, sem mandato dos homens bons.
[Livro das Leis e Posturas, p. 121]
[Ordenações de D. Duarte, p. 76]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 255]

63 - [1248-1279]
Que pena deve haver aquele que filha a outrem por força e sua autoridade.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 110-111]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 255]

64 - [1248-1279]
Da pena para os falsificadores de prata, ouro e moeda.
[Livro das Leis e Posturas, p. 121]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 255]

65 - [1248-1279]
Da mulher forçada.
[Ordenações de D. Duarte, p. 106]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 256]

66 - [1248-1279]
Que pena deve haver aquele que, idevidamente, demanda o que já lhe foi
pago.
[Ordenações de D. Duarte, p. 114]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 256]

67 - [1248-1279]
Do crime da merda em boca.
[Livro das Leis e Posturas, p. 140]
[Ordenações de D. Duarte, p. 106]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 256]

485
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

68 - [1248-1279]
Da cousa furtada e solicitada pelo próprio ladrão.
[Livro das Leis e Posturas, p. 223]
[Ordenações de D. Duarte, p. 120]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 256]

69 - [1248-1279]
Se alguém cair de uma árvore e morrer, não deve o mordomo haver parte da
árvore.
[Livro das Leis e Posturas, p. 226]
[Ordenações de D. Duarte, p. 121]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 256]
[O A – Liv. V, Tít. 79]

70 - [1248-1279]
Se a mulher se enforca numa árvore, haverá o mordomo a corda com que se
enforcou e não mais.
[Livro das Leis e Posturas, p. 225]
[Ordenações de D. Duarte, p. 105]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 257]
[O A – Liv. V, Tít. 79]

71 - [1248-1279]
Das mulheres que casam contra vontade dos seus pais ou parentes, se podem
ser deserdadas.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 114-115]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 88-89]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 257-258]

72 - [1248-1279]
Que o cônjuge não possa dar nada ao outro cônjuge, salvo se for da sua terça.
[Livro das Leis e Posturas, p. 214]
[Ordenações de D. Duarte, p. 105]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 258]

73 - [1248-1279]
Da herdade que o marido dá à sua mulher.
[Livro das Leis e Posturas, p. 217 e p. 224]
[Ordenações de D. Duarte, p. 121]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 258]

74 - [1248-1279]
Das doações entre cônjuges.
[Livro das Leis e Posturas, p. 126]
[Ordenações de D. Duarte, p. 111]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 258]

486
José Domingues

75 - [1248-1279]
Como a mulher pode demandar o que o marido vendeu.
[Livro das Leis e Posturas, p. 212]
[Ordenações de D. Duarte, p. 114]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 259]

76 - [1248-1279]
Da penhora ditada contra os dois cônjuges, que a mulher se não possa escusar.
[Livro das Leis e Posturas, p. 225]
[Ordenações de D. Duarte, p. 105]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 259]

77 - [1248-1279]
Se o marido é fiador de alguém, que pague a fiadoria com os seus bens e da
sua mulher.
[Livro das Leis e Posturas, p. 225]
[Ordenações de D. Duarte, p. 106]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 259]

78 - [1248-1279]
Como os filhos da barregã podem herdar os bens do pai.
[Livro das Leis e Posturas, p. 120]
[Ordenações de D. Duarte, p. 109]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 259-260]

79 - [1248-1279]
Que nenhum homem casado possa herdar a sua barregã, nem lhe possa fazer
venda ou doação.
[Ordenações de D. Duarte, p. 117]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 260]

80 - [1248-1279]
Que o marido não possa vender à sua barregã.
[Livro das Leis e Posturas, p. 224]
[Ordenações de D. Duarte, p. 120]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 260]
[O A – Liv. IV, Tít. 13]

81 - [1248-1279]
Como os filhos da barregã podem herdar, mas não podem haver os bens de
avoenga de tanto por tanto.
[Livro das Leis e Posturas, p. 121]
[Ordenações de D. Duarte, p. 109]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 260]

82 - [1248-1279]
Que o filho traga à colação os bens que ganhou em vida dos seus pais.

487
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[Livro das Leis e Posturas, p. 125 e p. 224]


[Ordenações de D. Duarte, p. 121]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 260]

83 - [1248-1279]
Como deve valer o preito e a postura que os filhos fizerem com o seu pai, a
sua mãe ou seus irmãos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 112-113]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 87-88]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 261]

84 - [1248-1279]
Que aquilo que os avôs doam aos netos, em vida, seja trazido a partição
[Livro das Leis e Posturas, p. 92 e p. 225]
[Ordenações de D. Duarte, p. 107]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 261-262]

85 - [1248-1279]
Sobre a validade do casamento.
[Livro das Leis e Posturas, p. 114]
[Ordenações de D. Duarte, p. 88]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 262]

86 - [1248-1279]
Que irmão contra irmão não possa prescrever a herança.
[Livro das Leis e Posturas, p. 223]
[Ordenações de D. Duarte, p. 118]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 262]
[O A – Liv. IV, Tít. 108]

87 - [1248-1279]
Que o citado responda apenas aquilo pra que foi citado.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 102-103]
[Ordenações de D. Duarte, p. 111]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 262-263]
[O A – Liv. III, Tít. 46]
[O A – Liv. IV, Tít. 11]

88 - [1248-1279]
Em caso de morte de um dos cônjuges, enquanto se não efectuarem as par-
tilhas, todos os ganhos que advierem dos bens do falecido são comunais e
devem entrar nas partilhas com os filhos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 118-120]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 91-93]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 263-264]
[O A – Liv. IV, Tít. 107, §§ 14-22]

488
José Domingues

89 - [1248-1279]
De como se devem fazer as partições entre os irmãos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 115-118]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 89-93]
[Regimento dos Oficiais das Cidades e Vilas, fl. 62-67v]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 265-268]
[O A – Liv. IV, Tít. 107, §§ 1-13]

90 - [1248-1279]
Os alvazis ou juízes devem dar curadores e tutores aos órfãos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 110-112]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 85-87]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 138-140]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 268-270]

91 - [1248-1279]
Que ninguém seja obrigado a reparar o dano provocado em herdade que não
seja tapada.
[Livro das Leis e Posturas, p. 125 e p. 226]
[Ordenações de D. Duarte, p. 106]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 270]

92 - [1248-1279]
Que cada um tape as testadas das suas herdades, pondendo ser responsabili-
zado se daí advierem prejuízos a terceiros.
[Ordenações de D. Duarte, p. 121]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 270]

93 - [1248-1279]
Se o caminho público estiver destruído na testeira de alguma herdade e o
dono da herdade o não quer mandar tapar, que passem pela herdade sem
qualquer penalização.
[Livro das Leis e Posturas, p. 125]
[Ordenações de D. Duarte, p. 110]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 271]

94 - [1248-1279]
Que cada um tape ou seja constrangido a tapar a testeira da sua herdade e o que
não a tapar seja responsabilizado pelos danos sofridos por aquele que a tapou.
[Livro das Leis e Posturas, p. 125 e p. 226]
[Ordenações de D. Duarte, p. 111]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 271]

95 - [1248-1279]
Que os que tiverem testadas de herdades ou vinhas nas margens de algum rio
possam fazer o que lhes aprouver até ao meio desse rio.
[Livro das Leis e Posturas, p. 225]
[Ordenações de D. Duarte, p. 106]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 271]

489
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

96 - [1248-1279]
Que não se alegue título de posse em contrário ao direito comum.
[Livro das Leis e Posturas, p. 213 e p. 223]
[Ordenações de D. Duarte, p. 120]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 271]

97 - [1248-1279]
Como deve valer o preito: que não valha o que for feito em prisão, por força
ou por medo, contra direito, por menores de catorze anos e sandeus.
[Livro das Leis e Posturas, p. 113]
[Ordenações de D. Duarte, p. 88]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 271-272]

98 - [1248-1279]
Como não deve ser alheada ou escondida a cousa que for demandada.
[Livro das Leis e Posturas, p. 113]
[Ordenações de D. Duarte, p. 88]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 272]

99 - [1248-1279]
Título dos juízes árbitros, que as partes elegem, e do que pertence ao seu ofício.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 107-110]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 83-85]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 272-274]

100 - [1248-1279]
Dos que metem juízes árbitros.
[Livro das Leis e Posturas, p. 212]
[Ordenações de D. Duarte, p. 122]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 274]

101 - [1248-1279]
Como aqueles que andam no mar podem eleger juízes árbitros e como podem
consentir outros.
[Livro das Leis e Posturas, p. 110]
[Ordenações de D. Duarte, p. 85]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 275]

102 - [1248-1279]
Que os procuradores possam eleger juízes árbitros.
[Livro das Leis e Posturas, p. 92 e p. 224]
[Ordenações de D. Duarte, p. 119]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 275]

103 - [1248-1279]
Que o clérigo possa responder por penas perante o juiz eclesiástico.
[Ordenações de D. Duarte, p. 105]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 275]

490
José Domingues

104 - [1248-1279]
Como os clérigos devem responder, nos casos de força, perante o juiz secular.
[Ordenações de D. Duarte, p. 102]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 275]

105 - [1248-1279]
Que os tabeliães e mordomos façam direito perante os seus juízes.
[Livro das Leis e Posturas, p. 226]
[Ordenações de D. Duarte, p. 106]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 275]

106 - [1248-1279]
Que nenhum morador da Casa de el-rei, nem nenhum outro que tenha ração
sua, seja procurador por outro na sua corte, salvo se este tiver ração de el-rei
ou for morador em sua Casa, se lho el-rei conceder por graça.
[Ordenações de D. Duarte, p. 117]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 276]

107 - [1248-1279]
Que os que tem ração de el-rei não possam ser procuradores.
[Livro das Leis e Posturas, p. 223]
[Ordenações de D. Duarte, p. 119]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 276]

108 - [1248-1279]
Formalidades sobre a constituição de procurador.
[Ordenações de D. Duarte, p. 113]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 276]

109 - [1248-1279]
Que na procuração se mencione o artigo especial para que se estabelece pro-
curador.
[Livro das Leis e Posturas, p. 223]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 118-119]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 276]

110 - [1248-1279]
Que os maiores de catorze anos possam ser procuradores.
[Livro das Leis e Posturas, p. 217]
[Ordenações de D. Duarte, p. 120]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 276]

111 - [1248-1279]
Como aquele que quer recusar o juiz, perante o qual foi citado, o faça antes de
prestar quaesquer declarações perante ele.
[Livro das Leis e Posturas, p. 91]
[Ordenações de D. Duarte, p. 106]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 277]

491
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

112 - [1248-1279]
Até quando, segundo o Direito Canónico, se pode revogar o procurador.
[Foros de Gravão, fl. 21v]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 277]

113 - [1248-1279]
Dos procuradores.
[Foros de Gravão, fl. 21]
[Livro das Leis e Posturas, p. 125 e p. 223]
[Ordenações de D. Duarte, p. 119]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 277]

114 - [1248-1279]
A que tempo devem ser postas as excepções nos preitos.
[Livro das Leis e Posturas, p. 222]
[Ordenações de D. Duarte, p. 117]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 277-278]

115 - [1248-1279]
Que se alguém encontra o seu adversário na Corte o não possa aí citar, mas
volva-se ao seu juiz.
[Livro das Leis e Posturas, p. 213]
[Ordenações de D. Duarte, p. 121]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 278]

116 - [1248-1279]
Do valor das cartas citatórias: cinco soldos para citar quatro pessoas, se mora-
rem no mesmo julgado, ou cinco soldos por cada uma, se morarem em julga-
dos distintos.
[Ordenações de D. Duarte, p. 121]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 278]

117 - [1248-1279]
Dos que podem citar os seus adversários à Corte.
[Livro das Leis e Posturas, p. 222]
[Ordenações de D. Duarte, p. 118]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 278]

118 - [1248-1279]
Que os poderosos não perlonguem os feitos.
[Ordenações de D. Duarte, p. 163]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 278]

119 - [1248-1279]
Que o mordomo não perlongue o feito, sob pena de absolvição do chamado
à demanda.
[Livro das Leis e Posturas, p. 224]
[Ordenações de D. Duarte, p. 120]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 278]

492
José Domingues

120 - [1248-1279]
Sobre o prazo concedido ao demandado, na demanda real.
[Livro das Leis e Posturas, p. 224]
[Ordenações de D. Duarte, p. 119]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 279]

121 - [1248-1279]
Do prazo que deve haver o citado à Casa de el-rei.[1]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 122-123]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 279]

122 - [1248-1279]
Da entrega das revelias
[Livro das Leis e Posturas, p. 223]
[Ordenações de D. Duarte, p. 118]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 279]

123 - [1248-1279]
Do tempo de duração da revelia.
[Ordenações de D. Duarte, p. 110]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 279]

124 - [1248-1279]
A que tempo se pode doestar a revelia.
[Ordenações de D. Duarte, p. 110]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 279-280]
[O A – Liv. III, Tít. 48]

125 - [1248-1279]
Como aquele que esbulha o que está em posse, em logo de revelia, perde o
direito de a purgar depois.
[Livro das Leis e Posturas, p. 92]
[Ordenações de D. Duarte, p. 122]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 280]

126 - [1248-1279]
Se a parte é citada para ouvir alguma sentença interlucotória e não aparece,
seja julgada revel, mas apenas sobre essa sentença.
[Foros de Gravão, fl. 21]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 280]

127 - [1248-1279]
Quais pessoas devem haver prazo de terceiro dia.
[Ordenações de D. Duarte, p. 78]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 280]

1
O conteúdo desta lei é semelhante ao da anterior.

493
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

128 - [1248-1279]
Como a parte pode haver prazo de terceiro dia cada vez que alegar nova
razão.
[Ordenações de D. Duarte, p. 78]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 281]

129 - [1248-1279]
Quais pessoas não podem haver prazo de terceiro dia, nem ter advogado em
seus preitos.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 78-79]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 281]

130 - [1248-1279]
Como aquele que está em posse, em logo de revelia, não pode haver prazo de
terceiro dia na entrega.
[Ordenações de D. Duarte, p. 79]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 281]

131 - [1248-1279]
Como devem fazer a mostra.
[Livro das Leis e Posturas, p. 103]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 111-112]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 281-282]

132 - [1248-1279]
Como se deve fazer a mostra da cousa demandada e de quais cousas se deve
fazer mostra.
[Ordenações de D. Duarte, p. 79]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 282]

133 - [1248-1279]
Que prazos deve dar o juiz aquele que se chamar autor por outro.
[Ordenações de D. Duarte, p. 80]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 282]

134 - [1248-1279]
Como o juiz deve dar carta de concelho aquele que se chamar autor por
outro.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 80-81]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 282-283]

135 - [1248-1279]
Como se deve citar aquele que há de ser autor a outro na demanda.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 81-82]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 283]

494
José Domingues

136 - [1248-1279]
Como aquele que se chamou a outro por autor de de haver prazos.
[Ordenações de D. Duarte, p. 82]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 283]

137 - [1248-1279]
Como deve ser citado e constrangido aquele que há de ser autor a outro.
[Ordenações de D. Duarte, p. 82]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 283]

138 - [1248-1279]
Que ninguém seja acreditado na demanda se não jurar sobre os Evangelhos.
[Livro das Leis e Posturas, p. 92]
[Ordenações de D. Duarte, p. 105]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 284]

139 - [1248-1279]
Pena de perjúrio para o que pede advogado e não aparece com ele ao tempo
assinado.
[Livro das Leis e Posturas, p. 95]
[Ordenações de D. Duarte, p. 108]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 284]

140 - [1248-1279]
Como deve ser acreditado o juramento do carniceiro, da padeira ou da taver-
neira.
[Livro das Leis e Posturas, p. 125]
[Ordenações de D. Duarte, p. 109]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 284]

141 - [1248-1279]
Que aquele que for chagado e não o poder provar por testemunhas que o pro-
ve pela chaga e por quatro ajudas.
[Livro das Leis e Posturas, p. 224]
[Ordenações de D. Duarte, p. 119]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 284]

142 - [1248-1279]
Quando a parte não deve ser constrangida a jurar.
[Livro das Leis e Posturas, p. 224]
[Ordenações de D. Duarte, p. 119]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 284]

143 - [1248-1279]
Que fique por firme o facto alegado e não contrariado pela outra parte.
[Foros de Gravão, fl. 20v]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 285]

495
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

144 - [1248-1279]
Quando ambas as partes razoam o preito.
[Foros de Gravão, fl. 21]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 285]

145 - [1248-1279]
Palavras para a lide ser contestada por confissão.
[Livro das Leis e Posturas, p. 126 e p. 221]
[Ordenações de D. Duarte, p. 120]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 285]

146 - [1248-1279]
Palavras para a lide ser contestada por negação
[Livro das Leis e Posturas, p. 126 e p. 221]
[Ordenações de D. Duarte, p. 120]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 285]

147 - [1248-1279]
Prazo do que apela onde está el-rei.
[Ordenações de D. Duarte, p. 103]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 285]

148 - [1248-1279]
Como o mordomo nem contra-mordomo não dêm agravo sobre coima.
[Ordenações de D. Duarte, p. 105]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 285]

149 - [1248-1279]
Que fala dos juízes e de quem pode apelar ou não.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 105-107]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 93-95]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 286-287]

150 - [1248-1279]
Das apelações e suplicações.
[Livro das Leis e Posturas, p. 104]
[Ordenações de D. Duarte, p. 113]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 287]

151 - [1248-1279]
Como fica o feito em cartas de el-rei por apelação.
[Livro das Leis e Posturas, p. ]
[Ordenações de D. Duarte, p. 117]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 287]

152 - [1248-1279]
Como deve suplicar.

496
José Domingues

[Livro das Leis e Posturas, 222]


[Ordenações de D. Duarte, p. 118]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 288]

153 - [1248-1279]
Do que ganha carta de el-rei para lhe darem a apelação.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 124-125]
[Ordenações de D. Duarte, p. 118]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 288]

154 - [1248-1279]
Forma de desistência do agravo.
[Foros de Gravão, fl. 21]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 288]

155 - [1248-1279]
Como o juiz perde a jurisdição no preito depois que dele apelarem.
[Livro das Leis e Posturas, p. 92]
[Ordenações de D. Duarte, p. 120]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 288]

156 - [1248-1279]
Do que apela, que pague um soldo ao porteiro e mande por ele a escritura
aquele para que apelar.
[Livro das Leis e Posturas, p. 211]
[Ordenações de D. Duarte, p. 122]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 288-289]

157 - [1248-1279]
Que quando alguém quiser apelar do sobrejuiz à Corte, o faça de imediato.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 95-96]
[Ordenações de D. Duarte, p. 108]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 289]

158 - [1248-1279]
Se o juiz não der correctamente a apelação à parte, fica obrigado a pagar as
despesas.
[Foros da Guarda, fl. 67]
[Livro das Leis e Posturas, p. 96]
[Ordenações de D. Duarte, p. 104 e p. 108]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 289]

159 - [1248-1279]
Mesmo que o juiz dê concelho a alguém para que não apele, mesmo assim
passe a carta de apelação se lhe for solicitado.
[Livro das Leis e Posturas, p. 96]
[Ordenações de D. Duarte, p. 108]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 289]

497
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

160 - [1248-1279]
Das custas.
[Foros de Gravão, fl. 21]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 289]

161 - [1248-1279]
Que pague as custas o que mal apelar.
[Foros da Guarda, fl. 66v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 96]
[Ordenações de D. Duarte, p. 103]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 290]

162 - [1248-1279]
Que pague as custas o que mal agravar.
[Foros de Gravão, fl. 20v]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 290]

163 - [1248-1279]
Das custas, pagas pelo vencido.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 103-104]
[Ordenações de D. Duarte, p. 112]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 290]

164 - [1248-1279]
Que custas deve levar o rico-homem, o cavaleiro ou o mestre de ordem.
[Livro das Leis e Posturas, p. 101]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 112-113]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 290-291]

165 - [1248-1279]
Como o cavaleiro deve haver as custas.
[Ordenações de D. Duarte, p. 114]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 291]

166 - [1248-1279]
Das custas, que deve pagar aquele que manda seu homem ao preito a Casa
de el-rei.
[Ordenações de D. Duarte, p. 121]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 291]

167 - [1248-1279]
Que os sobrejuizes e ouvidores não conheçam de sentença definitiva, salvo se
lho el-rei permitir pessoalmente ou por carta.
[Livro das Leis e Posturas, 132]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 291]

498
José Domingues

168 - [1248-1279]
Da demanda.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 123-124]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 291-292]

169 - [1248-1279]
Das testemunhas e inquiridores
[Ordenações de D. Duarte, p. 124]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 292]

170 - [1248-1279]
A que tempo a parte deve nomear inquiridor.
[Ordenações de D. Duarte, p. 124]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 292]

171 - [1248-1279]
Como os inquiridores devem filhar a inquirição e perguntar as testemunhas.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 124-125]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 292-293]

172 - [1248-1279]
Como deve ser provado o costume.
[Ordenações de D. Duarte, p. 125]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 293]

173 - [1248-1279]
Quantos inquiridores podem ser nomeados num feito.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 125-126]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 293]

174 - [1248-1279]
Dos que não podem ser inquiridores.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 126-127]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 293-294]

175 - [1248-1279]
Como e a que tempo devem ser postas as contraditas às testemunhas.
[Ordenações de D. Duarte, p. 127]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 294]

176 - [1248-1279]
Que pena deve haver aquele que fala com as testemunhas.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 128-129]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 294-295]

177 - [1248-1279]
Quantas testemunhas podem ser nomeadas e quem não pode ser testemunha.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 129-130]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 295]

499
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

178 - [1248-1279]
Como os que vivem per si podem ser nomeados testemunhas.
[Ordenações de D. Duarte, p. 130]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 295]

179 - [1248-1279]
Como os porteiros e os outros do concelho podem ser testemunhas.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 130-131]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 296]

180 - [1248-1279]
Como os judeus e os cristãos podem testemunhar.
[Ordenações de D. Duarte, p. 131]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 296]

181 - [1248-1279]
Como devem nomear e identificar as testemunhas.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 131-132]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 296]

182 - [1248-1279]
Como o feito pode ser provado por presunções.
[Ordenações de D. Duarte, p. 132]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 296-297]

183 - [1248-1279]
Como se deve provar o devido e o parentesco pela fama da terra.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 133-134]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 297]

184 - [1248-1279]
Em que casos podem testemunhar as mulheres.
[Ordenações de D. Duarte, p. 134]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 297]

185 - [1248-1279]
Como se pode provar o malefício feito de noite.
[Ordenações de D. Duarte, p. 134]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 298]

186 - [1248-1279]
Como o ferido pode provar pela ferida, segundo o costume.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 135-136]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 298]
187 - [1248-1279]
Como os juízes, almotacés e oficiais do concelho devem jurar.
[Ordenações de D. Duarte, p. 136]

500
José Domingues

[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 298-299]

188 - [1248-1279]
Como aquele que demanda pode deixar em verdade de seu contentor.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 137-138]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 299]

189 - [1248-1279]
Como os judeus devem jurar sob a Tora.
[Ordenações de D. Duarte, p. 138]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 299-300]

190 - [1248-1279]
Dos procuradores, que apresentem procuração válida.
[Ordenações de D. Duarte, p. 140]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 300]

191 - [1248-1279]
Da demanda na Casa de el-rei, se é do móvel ou da raiz, e do prazo que tem o
demandado para responder.
[Livro das Leis e Posturas, p. 28]
[Ordenações de D. Duarte, p. 140]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 300]

192 - [1248-1279]
Que o citado não seja obrigado a responder mais do que aquilo que consta na
citação.
[Livro das Leis e Posturas, p. 28]
[Ordenações de D. Duarte, p. 140]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 300]

193 - [1248-1279]
Como devem dar prazo ao demandador e ao demandado.
[Livro das Leis e Posturas, p. 28]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 140-141]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 301]

194 - [1248-1279]
Como o citado deve responder a uma demanda de cada vez.
[Livro das Leis e Posturas, p. 28]
[Ordenações de D. Duarte, p. 141]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 301]

501
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

195 - [1248-1279]
Como o que for citado sobre força nova deve responder.
[Livro das Leis e Posturas, p. 29]
[Ordenações de D. Duarte, p. 141]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 301-302]
[O A – Liv. III, Tít. 52]
[O A – Liv. V, Tít. 69]

196 - [1248-1279]
Das pessoas que devem ser citadas à Casa de el-rei.
[Livro das Leis e Posturas, p. 29]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 141-142]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 302]
[O A – Liv. III, Tít. 6, § 1]

197 - [1248-1279]
Daqueles que têm privilégio para citar à Casa de el-rei.
[Livro das Leis e Posturas, p. 30]
[Ordenações de D. Duarte, p. 142]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 302-303]

198 - [1248-1279]
Por que cousa devem os suso ditos ser demandados à Casa de el-rei.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 30-31]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 142-143]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 303-304]

199 - [1248-1279]
Como o demandador e demandado devem dizer todas as razões que houverem.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 31-32]
[Ordenações de D. Duarte, p. 144]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 304]

200 - [1248-1279]
O demandador e demandado devem jurar de malícia, no começo do preito.
[Ordenações de D. Duarte, p. 144]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 305]

201 - [1248-1279]
Contra os que abandonam a causa antes de ouvirem a sentença.
[Livro das Leis e Posturas, p. 32]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 144-145]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 305]

202 - [1248-1279]
Contra o demandado que abandona a causa antes de ouvir a sentença.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 32-34]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 145-146]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 305-306]

502
José Domingues

203 - [1248-1279]
Daqueles que podem ser procuradores e dos que os podem fazer.
[Livro das Leis e Posturas, p. 34]
[Ordenações de D. Duarte, p. 146]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 306-307]

204 - [1248-1279]
Do que há ração de el-rei e é nomeado procurador.
[Livro das Leis e Posturas, p. 34]
[Ordenações de D. Duarte, p. 147]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 307]

205 - [1248-1279]
Que pessoas não podem ser procuradores por outros.
[Livro das Leis e Posturas, p. 35]
[Ordenações de D. Duarte, p. 147]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 307-308]

206 - [1248-1279]
Dos que não podem estabelecer procuradores.
[Livro das Leis e Posturas, p. 35 e p. 212]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 147-148]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 308]

207 - [1248-1279]
Daqueles que podem ou não podem ser advogados.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 35-36]
[Ordenações de D. Duarte, p. 148]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 308-309]

208 - [1248-1279]
Daquelas pessoas que podem ser testemunhas por outros e quais não podem.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 36-37]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 148-149]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 309-310]
[O A – Liv. III, Tít. 63]

209 - [1248-1279]
Das razões porque não valha o testemunho de alguns.
[Livro das Leis e Posturas, p. 37]
[Ordenações de D. Duarte, p. 149]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 310]
[O A – Liv. III, Tít. 63, § 5]

210 - [1248-1279]
Casos em que as mulheres podem ser testemunhas.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 37-38]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 149-150]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 311]

503
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

211 - [1248-1279]
Como as destemunhas devem ser encoutadas.
[Livro das Leis e Posturas, p. 38]
[Ordenações de D. Duarte, p. 150]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 311]
[O A – Liv. III, Tít. 62]

212 - [1248-1279]
Que pena deve haver o que fala com as testemunhas depois de serem nomea-
das em juízo.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 38-39]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 150-151]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 312]
[O A – Liv. III, Tít. 62, § 2]

213 - [1248-1279]
Da ordem que se deve ter nas apelações, tanto das sentenças interlucotórias
como das definitivas.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 39-40]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 151-153]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 312-314]
[O A – Liv. III, Tít. 71, §§ 1-8]

214 - [1248-1279]
Da ordem que se deve ter nas apelações, tanto das sentenças interlucotórias
como das definitivas.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 41-44]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 153-156]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 315-318]
[O A – Liv. III, Tít. 71, §§ 9-17]

215 - [1248-1279]
Da ordem que se deve ter nas apelações, tanto das sentenças interlucotórias
como das definitivas.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 44-46]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 156-158]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 318-321]
[O A – Liv. III, Tít. 71, §§ 18-23]

216 - [1248-1279]
Da ordem que se deve ter nas apelações, tanto das sentenças interlucotórias
como das definitivas.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 46-50]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 158-163]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 321-325]
[O A – Liv. III, Tít. 71, §§ 24-33]

504
José Domingues

Leis com data duvidosa quanto ao reinado:

217 - [------]
Ordenação que fala dos porteiros das audiências e dos corregedores.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 76-77]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, pp. 326-327]

218 - [------]
Como aquele que quer compensar custas deve apresentar o seu valor certo no
prazo de dez dias.
[Livro das Leis e Posturas, p. 102]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 327]

219 - [------]
Das custas que cada um pode levar dos moradores de el-rei ou vice-versa.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 101-102]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 327]

220 - [------]
Título das citações.
[Livro das Leis e Posturas, p. 105]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 327]

221 - [------]
Título das custas.
[Livro das Leis e Posturas, p. 105]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 328]

222 - [------]
Que cada um siga os seus foros.
[Livro das Leis e Posturas, p. 125]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 328]

223 - [------]
Revogação de uma constituição do Código.
[Livro das Leis e Posturas, p. 125]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 328]

224 - [------]
Título das partilhas dos fidalgos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 214-215]
[Portugaliae Monumenta Historica – Leges, p. 328]

225 - [------]
Da parte que cabe ao que achar tesouro, ao senhor da terra e a parte que deve
entregar a el-rei.
[O A – Liv. II, Tít. 2, art.º 5]

505
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

226 - [------]
Do judeu que rompe a igreja por mandado de algum cristão.
[O A – Liv. II, Tít. 87]

227 - [------]
Do mouro que rompe a igreja por mandado de algum cristão.
[O A – Liv. II, Tít. 115]

228 - [------]
Que não obriguem ninguém a casar contra sua vontade.
[O A – Liv. IV, Tít. 10, § 3]

229 - [------]
Do amo que demanda ao mancebo, quando lhe pede a soldada, o dano que
lhe fez em vivendo com ele.
[O A – Liv. IV, Tít. 33]

230 - [------]
Que não traga algum homem barregã na Corte.
[O A – Liv. V, Tít. 8]

231 - [------]
Dos que chamam seus amigos a suas casas para os defenderem dos seus
inimigos.
[O A – Liv. V, Tít. 72]

232 - [------]
Em que casos os cavaleiros, fidalgos e semelhantes pessoas devem ser
presos.
[O A – Liv. V, Tít. 94]

233 - [------]
Que não prendam por dívidas.
[O A – Liv. V, Tít. 108]

D. Dinis [1279-1325]

1 - 1280, Agosto, 08 – Lisboa.


Da jurisdição régia sobre clérigos casados.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 206-207 (com data de 1305, Agosto, 09)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 171-172]
[O A – Liv. III, Tít. 15, § 52-57][1]

1
Era 1313, data errada que não caberia no reinado de D. Dinis. Cfr. PMH, Leges, I, p. 149.

506
José Domingues

2 - 1282, Julho, 31 – Guarda.


Das apelações para el-rei.
[Braga, AD – Colecção Cronológica, n.º108 (pública forma em latim)]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 50-51]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 165-166]

3 - 1282, Agosto, 24 – Guarda.


Que pela dívida conhecida em juízo se vendam os bens móveis e, se não abun-
darem também os de raiz, no prazo de 1 ano.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 126 e 182]
[Ordenações de D. Duarte, p. 164]
[O A Liv. III, Tít. 102]

4 - 1282, Agosto, 24 – Guarda.


Que quem tiver ração régia não seja procurador na Corte, salvo de outrem
também de ração (confirmação da lei de Afonso III).
[IAN/TT – Forais Antigos, maço 6, n.º4 – “Foros da Guarda”, fl. 70 (em latim)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 165]
[Publ. Collecção de Ineditos de Historia Portugueza, publicados de ordem da Academia Real
das Sciencias de Lisboa. tomo V, Lisboa, na officina da mesma Academia, 1824, p. 454]

5 - 1283, Janeiro, 28 – Estremoz.


Que só existam os porteiros e sacadores que existiam no tempo dos monarcas
antecessores.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 163-164 e 182-183]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 172-173]
[O A – Liv. II, Tít. 33]
[O A – Liv. III, Tít. 94]

6 - 1283, Fevereiro, 26 – Évora.


Do juramento e dos honorários dos advogados
[Livro das Leis e Posturas, p. 190]
[Ordenações de D. Duarte, p. 175 (sem local e com data de 1286)]

7 - 1283, Julho, 05 – Torres Vedras.


Que os sobrejuízes não dêem por fiador aqueles que forem presos por crime.
[Ordenações de D. Duarte, p. 211]

8 - 1286, Julho, 10 – Lisboa.


Ordenação de D. Dinis para que os clérigos e ordens não comprem bens de
raiz sem mandado régio.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fl. 70 – Foros de Beja]
w(com data de 11 de Julho).
[IAN/TT – Gaveta XIV, maço 7, n.º20]
[Livro das Leis e Posturas, p. 162]
[Ordenações de D. Duarte, p. 173]
[O A – Liv. II, Tít. 14]

507
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

9 - 1286, Julho, 29 – Lisboa.


Que os clérigos vendam as herdades que compraram, no prazo de um ano, a
partir de Santa Maria de Agosto.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fl. 70v – Foros de Beja]
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 221v (com data de 29 de Julho)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 173-174]

10 - 1286, Outubro, 21 – Viseu.


Que cavaleiros e donas não comprem bens em Arouca.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 162-163]
[Ordenações de D. Duarte, p. 172 (com data de 1282)]

11 - 1288, Novembro, 09 – Montemor-o-Novo.


Da pena que devem ter os que acham aves alheias e as não dão a seus donos.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 69v- – Foros de Beja]
(com data de 1289, Novembro, 10)
[Livro das Leis e Posturas, pp. 191-192]
[Ordenações de D. Duarte, p. 177]
[História Florestal, Aquícola e Cinegética, vol. I, doc. 14, pp. 38-39]
[O A – Liv. V, Tít. 54]

12 - 1290, Abril, 08 – Lisboa.


Carta para se não criar fidalgo, nem pela sua criação ser honrado lugar onde
El-Rei tenha algum direito, nem lugar algum fique honrado pela criação de
filho ilegítimo.
[IAN/TT – Gaveta VIII, Maço 1, n.º7]
[IAN/TT – Livro 1 das Doações de D. Dinis, fl. 278-278v]
[Porto, AHM – Livro Grande, fl. 55]
[Coimbra BGU – Ms. 694, fl. 65]
[RIBEIRO, João Pedro – Memorias para a historia das inquirições dos primeiros reinados de
Portugal, Lisboa, 1815, doc. 18, pp. 56-57]
[Corpus Codicum, vol. I, p.145]
[MAURÍCIO, Maria Fernanda – Entre Douro e Tâmega e as Inquirições Afonsinas e
Dionisinas, Lisboa, Colibri-História, 1997, p. 432]

13 - 1291, Março, 21 – Coimbra.


Lei de D. Dinis que proíbe às igrejas e mosteiros herdarem os bens dos seus
professos.
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º 36]
[IAN/TT – Chancelaria D. Dinis, Liv. 2, fl. 12-12v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 72-74]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 179-180]
[BRANDÃO, Fr. Francisco – Monarquia Lusitana, Parte 5, escritura n.º28]
[Provas da História Genealógica. Lisboa, 1739, Tomo I, Livro II, pp. 83-84 (Coimbra, 1946)]
[O A – Liv. II, Tít. 15, § 1-4]

14 - 1292, Abril, 04 – Lisboa.


Das dívidas dos que vão à Cruzada (feita em observância da bula do Papa),
para que se não levasse usura.

508
José Domingues

[Livro das Leis e Posturas, pp. 192-193]


[Ordenações de D. Duarte, pp. 180-181]

15 - 1292, Agosto, 23 – Porto.


Resposta de D. Dinis aos agravamentos que os bispos do Porto, da Guarda, de
Lamego e de Viseu diziam lhe serem feitos no reino.
[Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. n.º144]
[Braga, AD – Livro das Cadeias, doc. 95, fls. 57-57v]
[IAN/TT – Chancelaria D. Dinis, Liv. 2, fl. 38] RIBEIRO
[Livro de Leis e Posturas, pp. 128-129, repetida, com erro de data, a pp. 371-372 (Era 1323)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 184-185 e 259-260 (com data de 1295)]
[Monarquia Lusitana, Parte V, p. 209v]
[PEREIRA, Gabriel – Documentos de Évora, pp. 34-35]
[O A – Liv. II, Tít. 3]

16 - 1293, Maio, 10 – Lisboa.


Carta de confirmação de certa postura feita entre os mercadores portugueses,
em virtude da qual todas as barcas de mais de 100 tonéis, que carregassem nos
portos do reino para Flandres, Inglaterra, Normandia, Bretanha e Arrochela,
pagariam 20 soldos de estrelins, no frete; as de menos de 100 tonéis pagariam
10 soldos; e as barcas fretadas por mercadores portugueses para além mar,
Sevilha, ou outras partes, e que fossem para Flandres e lugares acima indica-
dos, pagariam nos termos referidos.
[IAN/TT – Gaveta 3, maço 5, n.º5 (original)]
[IAN/TT – Leitura Nova, Livro de Extras, fl. 237]
[Coimbra, BGU – Ms. n.º698, fl. 86]
[Descobrimentos Portugueses, vol. I, pp. 21-22]

17 - 1294, Janeiro, 01 – Coimbra.


Dos contratos entre cristãos e judeus[1].
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 71-71v – Foros de Beja]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 100-101 e 193-194 (com data de 1284)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 174-175 (com data de 1286)]
[O A – Liv. II, Tít. 88, § 2-5 (conf. § 1 e 6)]

18 - 1294, Janeiro, 01 – Coimbra.


Que o revel “purgue” a revelia no prazo de nove dias.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 164-165 e 194-195]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 181-182 (sem data)]

19 - 1294, Janeiro, 05 – Coimbra.


Dos que forçosamente filham posse da coisa que outrem possui.
[O A – Liv. IV, Tít. 65, § 3]

20 - 1294, Julho, 01 – Lisboa.


Declaração sobre os bens dos professos que morrem nas ordens.

1
Confirmada em 1324, Julho, 27, em Santarém.

509
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[Livro das Leis e Posturas, pp. 74-76 (com data de 1309, Julho, 01)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 182-183 (com data de 1309, Julho, 01)]
[O A – Liv. II, Tít. 15, § 5-8]

21 - 1295, Março, 04 – Lisboa.


Que a mulher com menos de 25 anos que casa, ou faz maldade de seu corpo,
sem mandado de seu pai, seja deserdada.
[Livro das Leis e Posturas, p. 165]
[Ordenações de D. Duarte, p. 185]
[O A – Liv. IV, Tít. 99, § 1] (em Santarém, com data de 1301, Fev/Set, 01)

22 - 1299, Julho, 23 –
Lei que proibiu as comedorias nos mosteiros femininos.
[Cartório de S. Bento de Ave Maria do Porto (segundo Ribeiro)]
[Coimbra, BGU – Ms. 701, fl. 13]
[AMARAL, António Caetano do – Memória V. Ed. Livraria Civilização, Porto, 1945, p. 88,
nota a)]
[CRUZ, António – “Alguns documentos medievais do cartório de São Bento da Ave-Maria”.
in Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto, Porto, 1945, vol. VIII, Fasc. 1-2, p. 152]

23 - 1299 –
Lei que isentou de dízima a prata que viesse de fora do reino.
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 229]

24 - 1301/1311, Janeiro, 06 – Santarém.


Das prescrições entre irmãos e quaisquer outras pessoas.
[O A – Liv. IV, Tít. 108, § 3]

25 - 1301, Janeiro, 07 – Lisboa.


Que os que não forem “lídimos” não comam nas igrejas, nem lhes sejam dados
“cavalarias” ou “casamentos”.
[Livro das Leis e Posturas, p. 196 (1297, Junho, 16)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 166-167]

26 - 1301[1], Setembro, 01 – Lisboa.


Que porteiros e mordomos não percam dos dinheiros e das dívidas ao Rei.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 195-196]
[Ordenações de D. Duarte, p. 186]
[O A – Liv. III, Tít. 96 (com data de 1296 ou 1302)]

1
“O.A., III, 96. No texto a era é de 1334 (1296), mas em nota indica-se a variante de 1340 (1302), que deve ser
a data certa, porque em 1 de Setembro de 1296 o rei não estava em Lisboa, mas aí se encontrava em 1302”,
infere Marcello CAETANO, História do Direito, p. 339, nota 2. Mas o ano correcto será o de 1301, conforme
consta no LLP e nas ODD. Ou seja, era de mil trezentos e “XXXIX”, que num códice das Afonsinas se errou
para “XXXIV” (1334) e no outro para “XXXX.” (1340).

510
José Domingues

27 - 1302, Janeiro, 11 – Coimbra.


Das penas dos que dão testemunho falso nos feitos.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fl. 71v – Foros de Beja]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 196-197 (com data de 1303)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 187]
[O A – Liv. V, Tít. 37]

28 - 1302, Janeiro, 15 – Coimbra.


Que nenhum cavaleiro morador de el-rei “vogue” contra outrem.
[Ordenações de D. Duarte, p. 188]

29 - 1302, Abril, 24 – Santarém.


Dos que pedem que lhes revejam os feitos e sentenças régias pague 500 soldos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 136-137 (com data de 1307, Abril, 24)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 211 (com data de 1307, Abril, 23)]
[O A – Liv. III, Tít. 108, § 3]

30 - 1302, Junho, 07 – Santarém.


Que os ouvidores não mais curem do feito que passar por suplicação.
[Livro das Leis e Posturas, p. 207 (com data de Julho, 07)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 186]
[O A – Liv. III, Tít. 108, § 5]

31 - 1302, Junho, 10/12[1] – Santarém.


Das taxas a cobrar por escrivães, procuradores, advogados e porteiros da
audiência.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 97-100 (sem data); pp. 165-167
(com data de 1302, Junho, 12); e pp. 198-200 (com data 1303, Junho, 10)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 167-170 (com data de 1282, Janeiro, 10)]

32 - 1302, Julho, 07 – Santarém.


Pena de 500 soldos para os que pretendam embargar sentenças dadas e con-
firmadas por sobrejuízes e ouvidores.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 82-83]

33 - 1302, Agosto, 11 – Lisboa.


Das penas para o Homem que casa com duas mulheres ou vice-versa (biga-
mia); e para os que casam ou dormem com parentas ou criadas de seus senho-
res, sem sua licença.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fl. 70v – Foros de Beja]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 200-201 (com data de 1303, Agosto, 11)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 308 e p. 187 (com data de 1302, Agosto, 09)]
[O A – Liv. V, Tít. 11]
[O A – Liv. V, Tít. 14]

1
Nesta data a corte estava em Santarém. Em Junho de 1282 estava em Trancoso [Itinerário dÉl-Rei D. Dinis
1279-1325, p. 61] e em Janeiro de 1303 em Lisboa.

511
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

34 - 1302, Agosto, 14 – Lisboa.


Da pena que devem ter os que matam suas mulheres sem razão.
[Livro das Leis e Posturas, p. 82 (com data de Agosto, 18)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 185-186 (com data de Agosto, 23]
[O A – Liv. V, Tít. 18]

35 - 1302, Setembro, 11 – Lisboa.


Da mulher casada que se saiu de casa de seu marido para fazer adultério.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 70v-71 – Foros de Beja (sem data)]
[Livro das Leis e Posturas, p. 201]
[Ordenações de D. Duarte, p. 188 (com data de Setembro, 19)]
[O A – Liv. V, Tít. 12]

36 - 1302, Setembro, 18 – Lisboa.


Das penas para aquele que matar ou ferir outrem onde o Rei estiver, ou uma
légua em redor.
[Livro das Leis e Posturas, p. 81 (sem data)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 186 (com data de Setembro, 17)]
[O A – Liv. V, Tít. 33]

37 - 1303, Junho, 01 – Lisboa.


Das penas para aqueles que vão sobre outrem em suas casas ou herdades.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fl. 71 – Foros de Beja]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 80-81]
[Ordenações de D. Duarte, p. 189]
[O A – Liv. V, Tít. 73]

38 - 1303, Junho, 04 – Lisboa.


Determinação múltipla sobre o exercício de justiça por alcaides, juízes, alva-
zis, comendadores e meirinhos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 168-169 (com data errada de 1263)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 190-191 (com data de Julho, 03)]
[O A – Liv. V, Tít. 56]

39 - 1303, Agosto, 23 – Lisboa.


Dos salários dos advogados e procuradores.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 83-84]
[Ordenações de D. Duarte, p. 191]

40 - 1303, Novembro, 15 – Santarém.


Das custas a levar pelos moradores do rei e da rainha em processos.
[Livro das Leis e Posturas, p. 207]
[Ordenações de D. Duarte, p. 201 (com data de 1305) e p. 205]

41 - 1304, Fevereiro, 21 – Santarém.


Que ninguém vá contra o que foi absolvido por sentença do rei ou seus ouvi-
dores.

512
José Domingues

[Livro das Leis e Posturas, p. 91 e pp. 207-208]


[Ordenações de D. Duarte, p. 201]
[O A – Liv. V, Tít. 101 (com data de 1284)]

42 - 1304(?) –
Pena de morte para quem jogar com dados falsos.
[Ordenações de D. Duarte, p. 177]
[O A – Liv. V, Tít. 40]

43 - 1305, Janeiro, 12 – Santarém.


Regimento dos tabeliães.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 69-69v – Foros de Beja]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 63-70]
[BARROS, Gama – História da Administração, vol. 8, p. 378, nota 2]
[PEREIRA, Isaías da Rosa – O Tabelionado em Portugal. pp. 669-676]

44 - 1305, Janeiro, 15 – Santarém.


Das taxas a cobrar pelos tabeliães.
[IAN/TT – Maço 10 de Forais Antigos, n.º7, fl. 69v]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 181-193]
[PEREIRA, Isaías da Rosa – O Tabelionado em Portugal. pp. 679-681]

45 - 1305, Maio, 04 – Santarém.


Que só o rei possa fazer cavaleiros, não podendo gozar das honras de cavalei-
ros os que não forem armados ou feitos por autoridade régia.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 202-203]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 201-202]
[Ordenações Manuelinas, Liv. II, Tít. 38]
[Monarquia Lusitana, Parte 6, Liv. 18, cap. 20]

46 - 1305, Maio, 15 – Lisboa.


Declaração da lei sobre os que vão contra outrem, mandando que ela se enten-
da também no corregimento das chagas e feridas.
[Livro das Leis e Posturas, p. 81 (com data de 1310, Maio, 25)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 189]

47 - 1305, Julho, 01 – Lisboa.


Que os tabeliães não ponham nos instrumentos e cartas públicas menos de
cinco testemunhas.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 203-205]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 202-204]

48 - 1305, Julho, 30 – Lisboa.


Que os mosteiros e os clérigos não comprem possessões.
[Livro das Leis e Posturas, p. 205]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 204-205]

513
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

49 - 1306, Maio, 06 – Torres Vedras.


Que aquele que trás testemunhas lhes pague as despesas.
[Livro das Leis e Posturas, p. 105]

50 - 1306, Agosto, 15 – Lisboa.


Que ninguém ofenda aquele com quem tiver demanda.
[Ordenações de D. Duarte, p. 205]

51 - 1307, Agosto, 04 – Lisboa.


A instância dos infanções o monarca reformou a lei de D. Afonso III sobre os
direitos dos padroeiros.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 147-153]
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º15]
[Monarquia Lusitana, Parte 7, Liv. 6, Cap. 2, p. 242]

52 - 1308, Outubro, 20 – Coimbra.


Como se hão-de fazer as novas inquirições aos coutos e honras, que manda
tirar a Aparício Gonçalves.
[IAN/TT – Gaveta VIII, maço 1, n.º9]
[IAN/TT – Livro III de Doações de D. Dinis, fl. 75]
[IAN/TT – Chancelaria de D. Dinis, Livro III, fl. 65v]
[IAN/TT – Inquirições de D. Dinis Beira e Além Douro, Livro 1, fl. 136]
[Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. 1260 (em certidão de 1453, Dezembro, 01 – tirada
do Livro II da Reforma das Ordenações)]
[Braga, AD – Rerum Memorabilium, vol. II, fl. 84 (em certidão de 1453, Dezembro, 01
– tirada do Livro II da Reforma das Ordenações)]
[Porto, AHM – Livro Grande, fls. 68v-69v]
[Évora, AD – Cód. CXXX/2-3, fls. 4-6v (cópia da certidão de Braga)]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º701, fl. 241]
[Monarquia Lusitana, Parte V, escritura n.º23]
[RIBEIRO, João Pedro – Memorias para a historia das inquirições dos primeiros reinados
de Portugal, colligidas pelos discipulos da aula de Diplomatica no ano de 1814 para
1815, debaixo da direcção dos lentes proprietario, e substituto da mesma aula. Lisboa, na
Impressão Regia, 1815, doc. 25, pp. 65-73 (a partir de IAN/TT – Gaveta VIII, maço 1, n.º9);
Doc. 26, pp. 73-82 (a partir de IAN/TT – Livro III de Doações de D. Dinis, fl. 75) e Doc. 27,
pp. 82-87 (a partir de IAN/TT – Chancelaria de D. Dinis, Livro III, fl. 65v)]
[Corpus Codicum, vol. I, pp. 177-179]
[O A – Liv. II, Tít. 65, § 4-21]

53 - 1309, Janeiro, 21 – Santarém.


Que ninguém possa demandar “encoutos” por carta de graça.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 208-209]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 212-213]

54 - 1309, Fevereiro, 24 – Lisboa.


Que a lei sobre os bens dos que entram em ordens se não entenda relativa-
mente aos pregadores e frades menores.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 209-210 (com data de Fevereiro, 22)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 213]

514
José Domingues

55 - 1309, Abril, 08 – Lisboa.


Proíbe selar renembrança na audiência.
[Ordenações de D. Duarte, p. 213]

56 - 1309, Maio, 06 – Lisboa.


Declaração da lei sobre os que morriam professos nas ordens relativamente
ao mosteiro de Arouca.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 210-211 (sem data)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 214]

57 - 1309, Julho, 01 – Lisboa.


Declaração da lei sobre os que morriam professos nas ordens.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 74-76]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 182-183]

58 - 1309, Outubro, ... – Lisboa.


Direitos e deveres de clérigos no exercício de jurisdição e demarcação com a
jurisdição temporal.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 129-136]

59 - 1310, Agosto, 05 – Lisboa.


Dos contratos entre judeus e cristãos.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 282-283]

60 - 1310, Novembro, 15 – Lisboa.


Que as sentenças sejam passadas a escrito.
[Livro das Leis e Posturas, p. 139]

61 - 1311, Fevereiro, 03 – Lisboa.


Que cavaleiros, fidalgos ou qualquer poderoso não tomem ou mandem filhar
bestas de sela nem de albarda sem grado dos donos ou mandado de justiça.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 76-78]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 280-281]
[O A Liv. II, Tít. 62 (sem data)]

62 - 1311, Fevereiro, 18 – Lisboa.


Da carceragem a levar dos presos, para que os alcaides não levem mais do
que devem.
[Silves, AM – Pergaminho 59][1]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 78-79]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 281-282]

63 - 1311, Maio, 15 – Lisboa.


Como nenhum fidalgo pode ganhar ou comprar herdade na honra de outro.

1
Ribeiro ainda consultou este pergaminho no cartório de Silves, que, entretanto, foi queimado pelo famoso
bandoleiro Remexido. Actualmente, não existe qualquer pergaminho medieval nesse Arquivo.

515
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[Livro das Leis e Posturas, p. 214]


[Ordenações de D. Duarte, pp. 215-216]
[RIBEIRO, João Pedro – Memorias para a historia das inquirições dos primeiros reinados
de Portugal, colligidas pelos discipulos da aula de Diplomatica no ano de 1814 para
1815, debaixo da direcção dos lentes proprietario, e substituto da mesma aula. Lisboa, na
Impressão Regia, 1815, doc. 31, p. 99]

64 - 1311, Junho, 15 – Coimbra.


Inquirição que D. Dinis mandou fazer por causa das honras e coutos que os
fidalgos faziam, indevidamente.
[IAN/TT – Inquirições de D. Dinis Beira e Além Douro, Liv. 1, fl. 136]
[IAN/TT – Chancelaria de D. Dinis, Liv. 3, fl. 75] Ribeiro
[Monarquia Lusitana, Parte V, escritura n.º23]
[Corpus Codicum, vol I, pp. 177-179]
[RIBEIRO, João Pedro – Memorias para a historia das inquirições dos primeiros reinados
de Portugal, colligidas pelos discipulos da aula de Diplomatica no ano de 1814 para
1815, debaixo da direcção dos lentes proprietario, e substituto da mesma aula. Lisboa, na
Impressão Regia, 1815, doc. 25]
[Nova História de Malta, Parte 2, p. 363, § 252]
[O A – Liv. II, Tít. 65]

1316, Agosto, 01 – Lisboa.


Carta régia sobre as inquirições das honras e coutos que por três vezes man-
dara tirar.
[IAN/TT – Gaveta VIII, Maço 1, n.º5]
[Porto, AHM – Livro 2 de Pergaminhos, n.º14]
[Porto, AHM – Livro A, fl. 28]
[Porto, AHM – Livro Grande, fl. 18v (com data de Julho, 20)]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º701, fl. 244]
[RIBEIRO, João Pedro – Memorias para a historia das inquirições dos primeiros reinados
de Portugal, colligidas pelos discipulos da aula de Diplomatica no ano de 1814 para
1815, debaixo da direcção dos lentes proprietario, e substituto da mesma aula. Lisboa, na
Impressão Regia, 1815, doc. 30, pp. 93-98]
[O A – Liv. II, Tít. 65]

65 - 1311, Junho, 15 – Coimbra.


Lei que proíbe aos clérigos, ordens, mosteiros, fidalgos e cavaleiros, que não
possam comprar ou adquirir bens nos reguengos de el-rei.
[IAN/TT – Gaveta XV, maço 9, n.º17]
[IAN/TT – Chancelaria de D. Dinis, Liv. 3, fl. 76]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 381-382 (Tirada do registo da vila de Monforte)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 208-210 (com data de 20 de Julho)]
[RIBEIRO, João Pedro – Memorias para a historia das inquirições dos primeiros reinados
de Portugal, colligidas pelos discipulos da aula de Diplomatica no ano de 1814 para
1815, debaixo da direcção dos lentes proprietario, e substituto da mesma aula. Lisboa, na
Impressão Regia, 1815, doc. 32, pp. 99-102]
[O A – Liv. II, Tít. 13]

66 - 1312, Janeiro, 11 – Santarém.


Que nem fidalgo nem ordens constranjam ninguém nos reguengos. (para se
cumprir a postura de 15 de Junho de 1311 sobre os reguengos??)

516
José Domingues

[IAN/TT – Chancelaria D. Dinis, Liv. 3, fl. 62v e fl. 76] Ribeiro


[Livro das Leis e Posturas, pp. 188-190]

67 - 1313, -
Que não valha contra judeu qualquer testemunho de cristão sem outro judeu.
[Lisboa, AHCM – Livro dos Pregos, doc. n.º33, fl. 8-9]
[Lisboa, AHCM – Livro I de Misticos de Reis, Livro II de Reis, pp. 120-121]

68 - 1313, Junho, 29 – Frielas.


Das penas para os oficiais de justiça que dormirem com mulheres que tiverem
feitos perante si.
[Livro das Leis e Posturas, p. 79 (com data de 1311)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 283-284]
[O A – Liv. V, Tít. 15]

69 - 1313, Agosto, 09 – Lisboa.


Das penas para os que encobrem malfeitores ou os acolhem em suas casas.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 71v-72 – Foros de Beja
(com data 1315, Maio, 11)]
[Livro das Leis e Posturas, p. 80 (com data de 1311)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 284]
[O A – Liv. V, Tít. 100]

70 - 1313, Setembro, 15 – Lisboa.


Conjunto de medidas para evitar as delongas maliciosas nos processos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 52-57 (com data de 1314, Setembro, 15); e pp. 169-175]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 285-292]

71 - 1314, Maio, 18 – Lisboa.


Dos contratos e prometimentos por razão de dívidas.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 183-184 (com data de Maio, 02)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 293-294 (com data de Maio, 11)]
[O A – Liv. IV, Tít. 6]

72 - 1314, Junho, 01 – Lisboa.


Que os advogados e procuradores não tomem serviços de pão, vinho, carne
etc., daqueles que têm feitos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 296-297]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 184-185 (com data de Julho, 07)]

73 - 1314, Agosto, 23 – Lisboa.


Revogação da lei, mandando vender por dívidas.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 185-186]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 294-295]

74 - 1314, Setembro, 02 – Lisboa.


Que os contratos entre cristãos e judeus se façam perante os juizes e de outra
guisa não valham.

517
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[Lisboa, AHCM – Livro dos Pregos, doc. n.º29, fl. 7v-8]


[Lisboa, AHCM – Livro II de Reis D. Dinis, D. Afonso IV e D. Pedro I
(com data de Dezembro, 02)]
[Livros de Reis, Lisboa, 1947, pp. 125-126]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 186-187]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 295-296]

75 - 1314, Setembro, 02 – Lisboa.


Que os juizes não dêem cartas de sentenças de dívidas aos judeus.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 300-301]

76 - 1314, Novembro, 03 – Lisboa.


Que se guarde a lei sobre contratos entre judeus e cristãos.
[Livro das Leis e Posturas, p. 178]
[Ordenações de D. Duarte, p. 297]

77 - 1315, Janeiro, 14 – Évora.


Que os juizes e tabeliães sejam «residentes» em seus ofícios para se fazerem
perante eles os contratos dos judeus.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 176-177]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 298-299]

78 - 1315, Junho, 07 – Lisboa.


Da pena de blasfémia, para quem descrer de Deus e de sua Mãe.
[Livro das Leis e Posturas, p. 82 (com data de 1312, Junho, 20)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 298]
[O A – Liv. V, Tít. 99]

79 - 1315, Agosto, 05 – Lisboa.


Dos contratos entre judeus e cristãos.
[Ordenações de D. Duarte, p. 300]

80 - 1315, Outubro, 18 – Tojal.


Que as justiças guardem os casos em que os clérigos são da sua jurisdição.
[Ordenações de D. Duarte, p. 298]

81 - 1316, Agosto, 27 – Lisboa.


Que os sobrejuízes e os ouvidores livrem sem delonga os feitos das
apelações.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 175-176]
[Ordenações de D. Duarte, p. 301]
[O A – Liv. III, Tít. 72]

82 - 1317, Março, 18 – Santarém.


Lei das apelações que saem das terras dos fidalgos.
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º 82]
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 221-221v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 187-188]

518
José Domingues

[Ordenações de D. Duarte, pp. 301-302 (com data de 1317, Agosto, 18)]


[RIBEIRO, João Pedro – Memorias para a historia das inquirições dos primeiros reinados
de Portugal, colligidas pelos discipulos da aula de Diplomatica no ano de 1814 para
1815, debaixo da direcção dos lentes proprietario, e substituto da mesma aula. Lisboa, na
Impressão Regia, 1815, doc. 34, pp. 105-106]
[O A – Liv. III, Tít. 74]

83 - 1318, Junho, 05 – Torres Vedras.


Que não seja dado por fiador aquele que estiver preso por feito crime.
[Ordenações de D. Duarte, p. 211 (com data de 1283, Julho, 05)]
[O A – Liv. V, Tít. 51]

84 - 1318, Julho, 31 – Lisboa.


Das penas para fidalgos e vilãos que matarem ou ferirem outrem em vindicta.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 190-191]
[Ordenações de D. Duarte, p. 303]

85 - 1318, Setembro, 18 – Frielas.


Como os juizes não devem mudar os feitos no estado em que estiverem.
[Ordenações de D. Duarte, p. 304]

86 - 1319, Janeiro, 02 – Elvas.


Lei que mandou averiguar e dar conta a el-rei das rendas dos concelhos da
Estremadura, bem como dos seus procuradores e recebedores.
[Ordenações de D. Duarte, p. 393]

87 - 1321, Maio, 02 – Santarém.


Que os judeus não possam demandar por dívidas passados mais de 20 anos.1
[Livro das Leis e Posturas, p. 179 (com data de Abril, 02]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 304-305]

88 - 1321, Maio, 20 – Lisboa.


Que nenhum fidalgo possa ganhar ou comprar herdade ou possessão na hon-
ra de outro fidalgo, de maior ou menor estado.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 215-216]

89 - 1321, Julho, 13 – Lisboa.


Das penas para aqueles que saem às «voltas» para ajudar ou estorvar os volteiros.
[Ordenações de D. Duarte, p. 305]
[O A – Liv. V, Tít. 103 (1316, Julho, 22/12)]

90 - 1321, Novembro, 24 – Santarém.


Revogação da lei sobre invalidade do testemunho de cristãos contra judeus.
[Livro das Leis e Posturas, p. 179]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 305-306]

1
Para as Afonsinas passou o artigo das cortes de 1331, que pede que se cumpra a dita lei de D. Dinis. “…
pedindo-nos por mercee, que se guarde a dita Lei. Ao qual Artigo respondeo o dito Senhor Rey em esta
guisa. Diz ElRey que se guarde daqui adeante sobre esto o Direito Cõmuum.” [Ordenações Afonsinas, Liv.
II, Tít. 84]

519
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

91 - 1321, Novembro, 25 – Santarém.


Proibição da tavolagem.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 179-180 (com data errada de Novembro, 15)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 306]

92 - 1321, Novembro, 25 – Santarém.


Que não se leve soldo das prostitutas.1
[Livro das Leis e Posturas, p. 180 (com data de Novembro, 15)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 306]

93 - 1322, Agosto, 04 – sem local.


Que os advogados e procuradores levem metade do salário no início dos fei-
tos e outra metade após a sentença.
[Livro das Leis e Posturas, p. 215 e pp. 86-87 (com data de Agosto, 07)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 307 e p. 205 (sem data)]

94 - 1322, Agosto, 14 – Lisboa.


Que os tabeliães escrevam os contratos dos judeus em livros apartados.
[Ordenações de D. Duarte, p. 308]

95 - 1322, Agosto, 17 – Lisboa.


Confirmação da lei sobre a cobrança de metade dos salários no início dos fei-
tos pelos advogados e procuradores.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 308-309]

96 - 1322, Agosto, 27 – Lisboa.


Que a lei impedindo demandas pelos judeus por dívidas e obrigações passados
mais de 20 anos só se entenda em relação às que se fizeram depois da dita lei.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 306-307]

97 - 1324, Agosto, 09 – Lisboa.


Carta régia para que nas honras entrassem os oficiais de el-rei a prender e
fazer justiça, citar, etc. e que os senhores dos coutos entregassem os malfei-
tores e degredados, quando pelas justiças fossem requeridos. Expedida por
queixas que a este respeito fizeram os povos a el-rei.
[IAN/TT – Chancelaria D. Dinis, Liv. 3, fl. 159] Ribeiro
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.88 (instrumento de 1325, Fevereiro, 10)]
[IAN/TT – Leitura Nova, Livro das Inquirições da Beira e Além Douro, fl. 49v]
[Porto, AHM – Livro Grande, fls. 55v-56]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 701 da BGUC, fl. 253]
[Corpus Codicum, vol. I, pp. 146-147]

98 - 1324, Dezembro, 12 – Santarém.


Ordenação para que não paguem portagem os concelhos que para isso tive-
rem privilégio
[IAN/TT – Maço 1 de Leis, n.º89]

1
Nas Afonsinas consta um texto mais desenvolvido, sem local, nem data, nem qualquer identificação do
monarca outorgante. [Ordenações Afonsinas, Liv. V, Tít. 22]

520
José Domingues

Leis sem data:

99 - [1279-1325]
Que dos juízes «alvidros» se possa apelar para os sobrejuizes.
[O A – Liv. II, Tít. 113]

100 - [1279-1325]
Vinte casos em que os clérigos são da jurisdição régia e devem responder
perante juiz leigo.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 52-57 (parcial)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 270-277]
[O A – Liv. III, Tít. 15]

101 - [1279-1325]
Que o credor que reclame dívida já paga a pague a dobrar.
[O A – Liv. III, Tít. 34]

102 - [1279-1325]
Do credor que primeiramente houver sentença e fizer execução que preceda
outras todas, ainda que sejam primeiras no tempo.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 180-181
[O A – Liv. III, Tít. 97, pr.]

103 - [1279-1325]
Do devedor que aliena os bens móveis depois de condenado para não se fazer
execução nele.
[O A – Liv. III, Tít. 102]

104 - [1279-1325]
Que carniceiros, padeiras ou taberneiros sejam cridos por juramento do que
lhes devem de seus mesteres.
[O A – Liv. IV, Tít. 56]

105 - [1279-1325]
Daquele que prometeu fazer instrumento público e depois se arrepende e o
não quer fazer.
[O A – Liv. IV, Tít. 57]

521
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

106 - [1279-1325]
Que não valham os preitos e obrigações feitos por quem está preso.
[O A – Liv. IV, Tít. 58]

107 - [1279-1325]
De como herda o filho do peão a herança do seu pai.
[O A – Liv. IV, Tít. 98]

108 - [1279-1325]
Que pena deve haver aquele que meter ou mandar meter merda em boca.
[Ordenações de D. Duarte, p. 176]
[O A – Liv. V, Tít. 32, §§ 1-3]

109 - [1279-1325]
Que aquele que chamar tornadiço ou cão ao infiel que se converteu cristão
seja demandado perante os juizes seculares.
[O A – Liv. V, Tít. 81]

110 - [1279-1325]
Dos burlões e “inlizadores”.
[O A – Liv. V, Tít. 89, § 1]

111 - [1279-1325]
Da pena que devem ter os leigos que vão em companhia de clérigos fazer mal
ou força.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 71-72]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 177-178]
[O A – Liv. V, Tít. 109, §§ 1-3]

112 - [1279-1325]
Dos vinte e oito artigos sobre o exercício do ofício de tabelião.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 63-70]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 194-210]

113 - [1279-1325]
Como aquele que demanda o seu devedor em juízo deve ter o que lhe for jul-
gado.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 180-181]
[Ordenações de D. Duarte, p. 309]

114 - [1279-1325]
Que o homem ou mulher possa demandar herdade que seja de sua avoenga.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 84-86]

115 - [1279-1325]
Que não se atendam os advogados das partes depois de marcada a leitura da
sentença.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 89-90]

522
José Domingues

116 - [1279-1325]
Dos que não querem fazer justiça nos julgados.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 168-169]

117 - [1279-1325]
Dos sobrejuizes, advogados, procuradores e escrivães da Corte.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 285-293]

118 - [1279-1325]
Como se prova o casamento por fama.
[Livro das Leis e Posturas, p. 225]
[Ordenações de D. Duarte, p. 216]

119 - [1279-1325]
Que o senhor da casa alugada possa tomar penhor pelo aluguer.
[Ordenações de D. Duarte, p. 216]

120 - [1279-1325]
Como se pode fazer execução por carta.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 216-217]

121 - [1279-1325]
Onze casos em que a igreja não dá asilo aos que nela se acolherem.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 278-280]

122 - [1279-1325]
Do testemunho da mulher forçada.
[Ordenações de D. Duarte, p. 215]

123 - [1279-1325]
Do testemunho daqueles que têm penhor.
[Ordenações de D. Duarte, p. 215]

124 - [1279-1325]
Como o ferido se prova pela ferida.
[Ordenações de D. Duarte, p. 215]

125 - [1279-1325]
Como se deve lavrar o herdamento entregue por revelia.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 210-211]

126 - [1279-1325]
Das penas dos tabeliães que não guardam a «tausaçom».
[Ordenações de D. Duarte, p. 194]

523
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

127 - [1279-1325]
Que ninguém seja preso «por segurança britada».
[Ordenações de D. Duarte, p. 176]

128 - [1279-1325]
Que o vencido nos feitos pague as custas.
[Ordenações de D. Duarte, p. 164]

129 - [1279-1325]
Dos prazos para venda de bens por dívidas.
[Ordenações de D. Duarte, p. 164]

130 - [1279-1325]
Que se alguém por sua autoridade filha alguma coisa a outrem perca o direito
que possa ter.
[Ordenações de D. Duarte, p. 164]

D. Afonso IV [1325-1357]

1 - 1325, Fevereiro, 23 – Montemor-o-Novo.


Revogação da lei de D. Dinis que proibia desafios entre fidalgos.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 376-378]

2 - 1325, Abril, 11 – Évora.


Que ninguém, fidalgo ou vilão, acoime nem tome vindicta por morte ou por
mal, antes demande o seu direito perante o Rei e suas justiças.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 373-376]

3 - 1325, Abril, 26 – Évora.


Como devem usar na almotaçaria e nas cousas do concelho.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fl. 75-76 – Foros de Beja]

4 - 1325, Abril, 29 – Évora.


Conjunto de ordenações sobre audiências, ouvidores, sobrejuízes, advogados
e procuradores.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 310-315]

5 - 1326, Março, 17 – Coimbra.


Dos homízios, coimas e vindictas entre fidalgos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 285-286 (sem data)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 378-380 (com data de Março, 16)]
[O A – Liv. V, Tít. 53, §§ 1-11]

6 - 1326, Março, 26 – [sem local].


Dos feitos que forem à Corte em apelação.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 382-383]

524
José Domingues

7 - 1326, Junho, 16 – Lisboa.


Sobre os homízios dos feitos dos fidalgos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 413-414 (com data de 1336, Junho, 17)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 380-381]

8 - 1326, Julho, 04 –
Sentença contra João Afonso.1
[Livro das Leis e Posturas, pp. 241-244]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 334-337]

9 - 1326, Agosto, 01 –
Declaração do regimento dos tabeliães de 15 de Janeiro de 1305.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 70-71]
[Lisboa, AHM – Livro I dos Originais de Cortes, fl. 27]

10 - 1327, Fevereiro, 25 – Estremoz.


Ordenação porque foi defeso por D. Afonso IV que em sua corte não houvesse
advogados nem procuradores, porquanto, por sua causa, se alongavam as
demandas.
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º96]

11 - 1327, Março, 13 – Vimieiro.


Lei pela qual se proibia a exportação de ouro e prata.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fl. 73 – Foros de Beja]
[Coimbra, FLU – Sala Gama Barros, «Colecção de Cortes», vol. I, fl. 99-99v
(cópia do século XVIII)]
[Cortes Portuguesas reinado de D. Afonso IV, pp. 19-20]

12 - 1328, Março, 06 – [sem local].


Taxamento das cartas e outras escrituras a fazer pelos escrivães das audiên-
cias e da Corte.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 392-394]

13 - 1328, Abril, 22 – Lisboa.


Carta régia sobre os direitos dos padroeiros (a requerimento da clerezia, nas
cortes de Évora de 1325).
[Coimbra, BGU – Sala de Manuscritos, códice 702, pp. 47-54 (cópia do séc. XVIII, tirada de
documento do cartório do mosteiro de Pendorada)]
[Cortes Portuguesas reinado de D. Afonso IV, pp. 21-24]

14 - 1328, Dezembro, 20 – Santarém.


Dos salários dos porteiros.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 397-399]

1
Apesar de constar nestas duas colectâneas, não é uma lei geral.

525
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

15 - 1328 – [sem local].


Como os porteiros devem fazer execuções e constrangimentos.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 383-386]

16 - 1329, Abril, 19 – Beja.


Como os comendadores com lugar de senhorio podem ser citados à casa do rei.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 399]
[O A – Liv. III, Tít. 6, § 1]

17 - 1329, Outubro, 03 – Coimbra.


Das cartas de segurança.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 393-394]

18 - 1330, Julho, 20 – Guimarães.


Que as igrejas com mais de 5 casais sejam destaxadas.
[Ordenações de D. Duarte, p. 396]

19 - 1330, Outubro, 23 – Coimbra.


Que os juizes não dêem apelações dos feitos de 5 libras ou menos.
[Ordenações de D. Duarte, p. 388 e p. 395]

20 - [1332], Fevereiro, 18 – Estremoz.


Ordenação sobre o livramento de feitos na Corte e proibição de advogados e
procuradores residentes na corte.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 226-241 (era de 1470)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 315-334]
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 21-28v – Foros de Beja (com data de )]
(Vide O A – Liv. III, Tít. 68)

21 - 1332[1], Junho, 20 – Lisboa.


Que não se receba portaria régia se não dada por carta ou «renembrança» com
sinal certo e selo régio.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 459-460 e p. 381 (com data errada de 1322)]
[O A – Liv. II, Tít. 25]

22 - 1332 – [sem local].


Regimento dos corregedores das comarcas.
[IAN/TT – Forais Antigos, maço 10, n.º10, fl. 31-36v (Foros de Beja)]
[Marcello CAETANO, Administração, pp. 151-157]
[O A – Liv. I, Tít. 23]

23 - 1333, Agosto, 21 – Lisboa.


Que aqueles que tiverem ofícios de Justiça não tomem serviço nem amor de
ninguém, salvo daqueles que não possam ser juizes.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 348-349 (sem data)]
[O A – Liv. V, Tít. 31, §§ 1-4]

1
Este é o ano correcto, já que D. Miguel Vivas foi bispo de Viseu entre 1329 e 1333. Em 1328 ainda era bispo
em Viseu D. Gonçalo e em 1333 já é D. João.

526
José Domingues

24 - 1334, Setembro, 23 – Lisboa


Que não se leve na Chancelaria os 3 soldos das cartas para as vilas ou lugares
onde está o Rei ou a sua casa.
[Ordenações de D. Duarte, p. 436]

25 - 1334, Novembro, 24 – Coimbra.


Que as cartas de feitos criminais de gente pobre não paguem chancelaria.
[Ordenações de D. Duarte, p. 437]

26 - 1336, Abril, 03 – Santarém.


Que nenhum vassalo, ou vassalo do vassalo, penhore ou obrigue cavalo,
armas ou maravedis.
[Ordenações de D. Duarte, p. 436]

27 - 1338, Março, 28 – Coimbra.


Que os sobrejuizes e ouvidores dêem as cartas direitas nos feitos de crime.
[Ordenações de D. Duarte, p. 446-447]

28 - 1338, Julho – Santarém.


Estas são as cousas que mandou el-rei fazer ao corregedor pelas terras por
onde andasse.
[IAN/TT – Núcleo Antigo 458, maço 10, n.º7, fls. 47v-49v (Foros de Beja)]

29 - 1339, Novembro, 02 – Porto.


Que os fidalgos não sejam penhorados em cavalo, armas ou maravedis.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 439-440]

30 - 1340, Janeiro, 15 – [sem local].


Regimento dos corregedores das comarcas.
[IAN/TT – Forais Antigos, maço 10, n.º7, fl. 37-41v]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 502-518.]
[Marcello CAETANO, Administração, pp. 158-174]
[O A – Liv. I, Tít. 23]

31 - 1340, Janeiro, 15 – [sem local].


Regimento dos tabeliães.
[IAN/TT – Forais Antigos, maço 10, n.º7, fls. 41v-44 (Foros de Beja)]
[Isaías da Rosa PEREIRA, O Tabelionado em Portugal, sep. Notariado Público y Documento
Privado: de los origines al siglo XIV. Actas del VII Congresso Internacional de
Diplomática. Valencia, 1986, pp. 681-688]

32 - 1340, Fevereiro, 11 – Estremoz.


Da pena de adultério e luxúria com mulheres de ordens ou casadas.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 73-73v – Foros de Beja]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 319-321 e pp. 419-422]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 440-441 (em Santarém)]
[O A – Liv. V, Tít. 7, §§ 1 e 2 (sem data)]

527
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

33 - 1340, Fevereiro, 11 – Estremoz.


Da pena que deve ter todo o homem que fizer pecado de luxúria com mulher
de Ordem.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 73v-74 – Foros de Beja]
[Ordenações de D. Duarte, p. 441 (em Santarém)]

34 - 1340, Fevereiro, 11 – Estremoz.


Que pena deve haver aquele que “jouuer” com mulher virgem ou viúva que
vive honestamente.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fl. 74 – Foros de Beja]
[Ordenações de D. Duarte, p. 442 (em Santarém)]
[O A – Liv. V, Tít. 9, § 1]

35 - 1340, Fevereiro, 11 – Estremoz.


Que pena devem haver os alcaiotes ou as alcaiotas que alcouvetarem mulhe-
res virgens ou viúvas que vivem honestamente.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fl. 74 – Foros de Beja]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 442-443 (em Santarém)]
[O A – Liv. V, Tít. 16 (sem data)]

36 - 1340, Fevereiro, 11 – Estremoz.


Que pena devem ter aqueles que casarem com mulher, virgem ou viúva, que
vive em poder de seus pais ou de outrem, sem seu consentimento.
[IAN/TT – Núcleo Antigo n.º458, maço 10, n.º7, fls. 74-74v – Foros de Beja]
[Ordenações de D. Duarte, p. 443 (em Santarém)]
[O A – Liv. V, Tít. 13] (com data 1340, Setembro, 21)]

37 - 1340, Fevereiro, 16/17 – Estremoz.


Carta para que os alcaides dos mouros guardem nos seus julgados entre si os
seus direitos, usos e costumes.
[O A – Liv. II, Tít. 101, §§ 1-2]

38 - 1340, Abril, 01 – Lisboa.


Lei contra os empréstimos de usura e os judeus onzeneiros.
[IAN/TT – Suplemento de Cortes, maço 1, doc. n.º4, fl. 3v-4]
[IAN/TT – Cortes, vol. I, fl. 62]
[IAN/TT – Cortes do Reino, vol. I (1331-1434), fl. 40v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 322-324 (sem data),
pp. 398-400 (sem data) e pp. 417-419 (sem data)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 444-445]
[Cortes D. Afonso IV, pp. 113-115 (1340, Julho, 01, sábado)]
[O A – Liv. II, Tít. 96 (sem data)]
[O A – Liv. IV, Tít. 19 (sem data)]

39 - 1340, Junho, 01 – Santarém.


Pragmática sobre vestidos e comeres.
[IAN/TT – Maço I de Supl. De Cortes, Doc. 4]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 395-405]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 448-458]

528
José Domingues

[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 694 da BGUC, fl. 560]


[A. H. Oliveira MARQUES, A Pragmática de 1340.
in Ensaios da História Medieval Portuguesa, pp. 109-119]
[Cortes D. Afonso IV, pp. 103-111]

40 - 1340, Junho, 01 – Santarém.


Contra os criados que abandonavam os amos: proibia-se a todo o serviçal que
deixasse o seu senhor antes de passado um ano de serviço, se recebesse dele
capa e saia ou cerame; igual proibição era feita aos homens de besta, com as
mesmas cláusulas.
[IAN/TT – Maço I de Supl. De Cortes, Doc. 4, fl. 3v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 395-405]
[Ordenações de D. Duarte, p. 459]
[A. H. Oliveira MARQUES, A Pragmática de 1340. in Ensaios da História Medieval
Portuguesa, pp. 118]
[Cortes D. Afonso IV, p. 112]
[O A – Liv. IV, Tít. 26]

41 - 1340, Junho, 01 – Santarém.


Lei contra os que obrigam, sem licença, cavalos, armas, ou maravedis que
recebiam do seu senhor: era uma lei destinada a coibir os abusos dos que
pagavam importâncias em dívida com as quantias que haviam de receber do
rei ou do rico-homem para lhe prestarem serviço militar.
[IAN/TT – Maço I de Supl. De Cortes, Doc. 4, fl. 3v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 395-405]
[Ordenações de D. Duarte, p. 440 e p. 447]
[A. H. Oliveira MARQUES, A Pragmática de 1340. in Ensaios da História Medieval
Portuguesa, pp. 118-119]
[Cortes D. Afonso IV, p. 113]
[O A – Liv. IV, Tít. 53]

42 - 1340, Junho, 01 – Santarém.


Lei contra o jogo a dinheiro, tavolagem.
[IAN/TT – Maço I de Supl. De Cortes, Doc. 4, fl. 4-4v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 395-405]
[Cortes D. Afonso IV, p. 113]
[O A – Liv. V, Tít. 41]

43 - 1340, Junho, 01 – Santarém.


Revogação de uma lei anterior que concedia ao rei o terço de todos os achados
nas propriedades particulares.
[IAN/TT – Maço I de Supl. De Cortes, Doc. 4, fl. 4v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 395-405]
[Cortes D. Afonso IV, p. 116-117]

44 - 1340, Junho, 01 – Santarém.


Contra os abusos dos porteiros e sacadores, que agravavam os povos.
[IAN/TT – Maço I de Supl. De Cortes, Doc. 4, fl. 4v-5]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 327-328]

529
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[Ordenações de D. Duarte, pp. 447-448]


[Cortes D. Afonso IV, p. 117-118]
[O A – Liv. III, Tít. 101]

45 - 1340, Junho, 01 – Santarém.


Lei contra os abusos dos privilegiados em citarem os seus contendores peran-
te o tribunal régio, sem mandato especial do rei.
[IAN/TT – Maço I de Supl. De Cortes, Doc. 4, fl. 4-4v]
[Livro das Leis e Posturas, p. 328]
[Ordenações de D. Duarte, p. 446]
[Cortes D. Afonso IV, p. 118-119]
[O A – Liv. III, Tít. 43]

46 - 1341, Junho, 01 – Santarém.


Que os conselheiros e sobrejuizes dêem em cada mês conto dos serviços.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 464-466]

47 - 1341, Dezembro, 02 – Coimbra.


Que se tirem inquirições devassas sobre mortes, furtos e roubos.
[O A – Liv. V, Tít. 34]

48 - 1341, Dezembro, 16 – Coimbra.


Lei que proíbe que se tire para fora do reino ouro, prata, cavalos, armas e
outras coisa, sem licença régia.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Afonso IV, Liv. 4, fl. 85v]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 498-501 (com data de 1347, Dezembro, 13)]
[Chancelaria de D. Afonso IV, vol. III, doc. 344, fl. 198-201]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal.
(1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc. 9, pp. 346-347]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I,doc.
13, pp. 351-353 (a partir das OA, e entendendo ser renovação desta, da lavra de D: João I)]
[O A – Liv. V, Tít. 47, § 3-15 (com data 1347 ou 1427, Dezembro, 13)]

49 - 1342, Janeiro, 16 – Coimbra.


Que se não dê carta para citar julgador, sem mandado de el-rei.
[Lisboa, AMC – Livro I de Originais de Cortes, fl. 29]
[IAN/TT – No fim da Partida III, fls. 126 e ss. (com data de 21)]
[Livro das Leis e Posturas, p. 405]
[O A – Liv. III, Tít. 7]

50 - 1342, Janeiro, 16 – Coimbra.


Que obriga o revel a purgar a revelia dentro de quatro meses.[1]
[Lisboa, AMC – Livro I de Originais de Cortes, fls. 29-29v]
[IAN/TT – No fim da Partida III, fls. 126 e ss. (com data de 21)]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 405-408]

1
Inserida em lei de D. Fernando, nas Ordenações Afonsinas, liv. III, tít. 27, §§ 1-2.

530
José Domingues

51 - 1342, Janeiro, 16 – Coimbra.


Que declara a pena contra o que não prova a querela.
[Lisboa, AMC – Livro I de Originais de Cortes, fl. 30v]
[IAN/TT – No fim da Partida III, fls. 126 e ss. (com data de 21)]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 405-408]
[O A – Liv. V, Tít. 29]
[O A – Liv. V, Tít. 30, § 11]

52 - 1342, Janeiro, 16 – Coimbra.


Que manda que os juízes das terras admitam embargos contra as execuções
feitas pelos porteiros ou sacadores, parecendo justos.
[Lisboa, AMC – Livro I de Originais de Cortes, fl. 29v]
[IAN/TT – No fim da Partida III, fls. 126 e ss. (com data de 21)]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 407-408]
[O A – Liv. III, Tít. 89]

53 - 1342, Janeiro, 21 – Coimbra.


Dos que citam sobre execuções que ganham, se quebrada a carta que não
paguem dízima.
[Lisboa, AMC – Livro I de Originais de Cortes, fl. 30v]
[Livro das Leis e Posturas, pp. 408-409]

54 - 1342, Janeiro, 26 – Coimbra.


Daquele que nega o que razão há de saber e lhe vem provado, que lhe não seja
recebida defesa alguma.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 411-412 ]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 434-435]
[O A – Liv. III, Tít. 35, §§ 1-2]

55 - 1342, Janeiro, 26 – Coimbra.


Das penas para os que querelarem outrem e desamparam querelas ou acu-
sações.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 409-411 (com data de Janeiro, 28)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 462-464]
[O A – Liv. V, Tít. 30]
[O A – Liv. V, Tít. 29, §§ 1 e 3]

56 - 1343, Janeiro, 03 – Santarém.


Lei como foi outorgado aos fidalgos que ajam suas terras honradas e coutadas
com as suas jurisdições, como as haviam vinte anos antes da morte de el-rei
D. Dinis.
[IAN/TT – Chancelaria D. Afonso IV, Liv. IV, fl. 41v-42]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 532-534 (com data de 1344, Janeiro, 03)]
[Chancelarias Portuguesas D. Afonso IV, vol. III, doc. 410, fl. 313-316]
[O A – Liv. III, Tít. 50 (com data de 1343 ou 1344)]

57 - 1343, Julho, 13 – Santarém.


Da pena do homem casado que tiver barregã mantida.

531
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[Livro das Leis e Posturas, p. 258, pp. 282-283 e p. 423 (redacção diferente)]
[Ordenações de D. Duarte, p. 349 e pp. 372-373 (sem data)]

58 - 1343, Julho, 13 – Santarém.


Medidas para obviar a situação das mulheres que desbaratam os bens após a
morte dos maridos.
[Livro das Leis e Posturas, p. 423]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 468-469]
[O A – Liv. IV, Tít. 15]

59 - 1343[1] – Lisboa.
Que as justiças não recebam aos clérigos querelas nem acusações de leigos se
não derem fiadores leigos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 256-257 e p. 424]
[Ordenações de D. Duarte, p. 348]
(Cfr. O A – Liv. V, Tít. 107)

60 - 1343, Agosto, 02 – Óbidos.


Carta aos juízes de Guimarães, sobre a lei das querelas dadas dos leigos pelos
clérigos (vide diploma antecedente).
[Livro das Leis e Posturas, pp. 258-259 e pp. 424-425]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 349-350 (com data errada de 1342)]

61 - 1344, Janeiro, 02 – Santarém.


Restituição à posse das suas honras aos ricos-homens que no prazo de 3 meses
venham mostrar como as hão.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 534-535]

62 - 1344, Outubro, 17 – Coimbra.


Quitação aos fidalgos que não vierem ao «edito» da pena prevista.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 535-536]

63 - 1344, Dezembro, 30 – Estremoz.


Que sejam válidos os testemunhos das mulheres de boa fama nos feitos dos
«esterramentos», açoites e corregimentos.
[Ordenações de D. Duarte, p. 469]

64 - 1345, Abril, 08[2] – Santarém.


Conjunto de disposições sobre porteiros e sacadores das dívidas.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 481-489]
[O A – Liv. II, Tít, 53 (sem data)]
[O A – Liv. III, Tít, 95 (sem data)]

65 - 1345, Julho, 06 – Santarém.


Como os juizes devem livrar os feitos das «forças» sem delonga, nos dias
feriados e nos outros.

1
Data da publicação, em Lisboa, nas audiências, por mestre Pedro e por mestre Gonçalo das Leis.
2
Data da Publicação, que falta nas Afonsinas.

532
José Domingues

[Livro das Leis e Posturas, pp. 436-437 (com data de Junho)]


[Ordenações de D. Duarte, pp. 490-492]

66 - 1345, Julho, 06 – Santarém.


Lei que se algum quiser fazer demanda a outro por razão de desonra que se
deve obrigar à pena desta lei.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 493-494]
[O A – Liv. V, Tít. 52]
[Sum. O A – Liv. V, Tít. 59, § 1]

67 - 1345, Julho, 14 – Santarém.


Que os oficiais de Justiça não tomem serviços de Ninguém.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 494-497]
[O A – Liv. V, Tít. 31, § 6-12 (sem data)]

68 - 1345, Outubro – Coimbra.


Que os testemunhos das mulheres de boa fama sejam válidos em todos os
feitos, salvo os das mortes.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 497-498]

69 - 1347, Abril, 11 – Coimbra.


Lei sobre as vindictas, que não faça nenhum desafiação ou acoimamento por
desonra que lhe seja feita.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 285-286 (sem data) 414-417 (dada em Guimarães,
a 9 de Julho de 1330 e mandada publicar em Coimbra, sábado, 11 de Outubro de 1335)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 388-392 (sem data)]
[O A – Liv. V, Tít. 53, § 13-24]

70 - 1349, Maio, 21 – Alenquer.


Que os testamentos sejam publicados perante juizes leigos, e que não valham
as publicações dos vigários da Igreja.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 440-442]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 524-526]

71 - 1349, Julho, 11 – Lisboa.


Que os judeus não façam execuções por instrumentos de judeus antes de
haver mandado régio.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 440-442]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 524-526]

72 - 1349, Julho, 13 – Leiria.


Que os homens usem dos mesteres que tinham antes da Peste Negra, e que os
que moravam por soldada sejam constrangidos a morar com amos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 448-452 (sem data)]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 526-529]
[Carlos Marques de ALMEIDA, História das Instituições (aulas práticas). Vol. I,
Universidade Portucalense, Porto, 1994, pp. 611-627 (policopiado) (Publ. a partir do Livro
das Leis e Posturas e atribuindo-lhe a data de 3 de Julho de 1349)]

533
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

73 - 1349, Julho, 28 – Leiria.


Que cristãos e judeus não façam empréstimos entre si.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 443-448]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 518-522]

74 - 1350, Outubro, 03 – Benfica.


Que os cristãos possam fazer entre si contratos sem usura.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 522-523]

75 - 1350, Novembro, 17 - Torres Vedras.


Que os juizes não dêem carta aos advogados e procuradores para citar por
salários sem informação.
[Ordenações de D. Duarte, p. 530]

76 - 1350(?), Maio, 20/30 – Santarém.


Que não possam demandar soldada senão até três anos.
[O A – Liv. IV, Tít. 27, §§ 1-2]

77 - 1351, Março, 08 – Santarém.


Que os clérigos, quer casados, quer de ordens menores, não tenham ofícios
públicos em Lisboa.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 548-549]

78 - 1351, Março, 15 – Santarém.


Que nem procuradores, nem advogados, nem juizes, nem almoxarifes, nem
sobrejuizes, nem escrivães, nem sacadores tomem serviços dos que tiverem
feitos perante eles.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 437-439]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 531-532]

79 - 1351, Maio, 20 – [sem local].


Que não haja advogados nem procuradores de número.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 439-440]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 549-550]

80 - 1352, Novembro, 03 - Torres Vedras.


Que nem na Corte, nem nas audiências, nem nos concelhos haja advogados
nem procuradores.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 452-458]

81 - 1352, Novembro, 15 – Valada.


Como as comunas dos judeus hão de pagar o serviço régio.
[IAN/TT – Bens dos Próprios dos Reis e das Rainhas, Liv. I, fl. 90v-91]
[O A – Liv. II, Tít. 74]

82 - 1352, Dezembro, 07 – Évora.


Carta régia sobre o castigo dos clérigos.
[Coimbra, FLU –Sala Gama Barros, «Colecção de Cortes»,
vol. VI, fl. 103-110 (cópia do séc. XVIII. O original, outrora no AM de Coimbra,

534
José Domingues

Pergaminhos avulsos, n.º12, acha-se perdido)]


[João Pedro RIBEIRO, Ms. 694 da BGUC, fl. 54]
[Publ. José Anastácio de FIGUEIREDO, Synopsis Chronologica, Lisboa, 1790, pp. 10-16]
[João Pedro RIBEIRO, Qual seja a Época da introdução do Direito das Decretaes em
Portugal, e o influxo que o mesmo teve na Legislação Portugueza.
in “Memorias de Litteratura Portugueza”, Lisboa, 1796, p. 13
(Diz ser o pergaminho n.º 13 da Câmara de Coimbra)]
[Publ. Antiquario Conimbricense, 1841 – cópia reproduzida por António Machado de
FARIA, Da instituição dos registos paroquiais em Portugal. sep. “Arqueologia e História”,
vol. X, Lisboa, 1932]
[Cortes de D. Afonso IV, pp. 150-156]

83 - 1354, Julho, 10 [?]


provisão para que, não obstante a defesa de que qualquer judeu possuidor
de quinhentas libras, ou mais, saia do reino sem autorização régia, o possam
fazer sem ela, dando fiador abonado a voltar.
[Porto, AHM – Livro Grande, fl. 34v]
[Corpus Codicum, Porto, 1899, vol. I, p. 96-97]
[A. C. Barros BASTO, Os Judeus no velho Porto, Lisboa, 1929, pp. 41-42]

84 - 1355, Março, 12 - Torres Vedras.


Como as justiças hão-de proceder nos crimes de furto e outros.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 478-482]

85 - 1355, Março, 12 – Torres Vedras.


Das injúrias que hão-de ser desembargadas pelos juizes das terras e pelos
vereadores.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 482-483]
[O A – Liv. V, Tít. 59]

86 - 1355, Agosto, 05 – Canaveses, terra de Sousa.


Ordenação que el-rei deu ao infante D. Pedro quando lhe deu poder para
fazer justiça.
[Documentos para a história da cidade de Lisboa. Livro I de Místicos de Reis, Livro II dos
Reis D. Dinis, D. Afonso IV e D. Pedro I. Lisboa, 1947, doc. 30, pp. 206-209]

87 - 1355, Agosto, 06 – Porto.


Lei acerca do fretamento dos navios.
[Porto, AHM – Livro Grande, fl. 34-35]
[Corpus Codicum Latinorum, vol I, fl. 97-98]
[Descobrimentos Portuguese, vol. I, doc. 50 e 82, fl. 44-46 e 103-105]
[O A – Liv. IV, Tít. 5]

Leis sem data nem local:

88 - [1325-1357]
Que os escrivães dos tesoureiros e almoxarifados façam instrumentos públi-
cos dos direitos que os almoxarifes tiverem.

535
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[Ordenações de D. Duarte, p. 478]


[O A – Liv. II, Tít. 44]

89 - [1325-1357]
Que os almoxarifes façam dar pregão daquilo que tiverem por direitos, para
saber se tais direitos não estão obrigados a outrem.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 478-479]
[O A – Liv. II, Tít. 49]

90 - [1325-1357]
Regimento dos sacadores e porteiros que tiram as dívidas de el-rei.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 469-475]

91 - [1325-1357]
Se o cristão fez obrigação ao judeu por dinheiro, possa dizer, passados dois
anos, que os não recebeu
[O A – Liv. II, Tít. 97]

92 - [posterior a 1230/Abril/01][1]
Que as pagas e entregas feitas pelos cristãos e judeus se possam fazer sem
presença do juiz.
[O A – Liv. II, Tít. 98]

93 - [1325-1357]
Que concelho, corregedor ou juiz não sejam citados sem mandado especial
de el-rei.
[O A – Liv. III, Tít. 7]

94 - [1325-1357]
Que em feito de força nova procedam sumariamente sem outra ordem de juízo.
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º 172, fls. 24-25 (certidão de 1447, Agosto, 27)]
[O A – Liv. III, Tít. 53]

95 - [1325-1357]
Que os juízes julguem por a verdade sabida, sem embargo do erro do processo.
[O A – Liv. III, Tít. 68]

96 - [1325-1357]
Das execuções que se fazem geralmente pelas sentenças.
[O A – Liv. III, Tít. 89, §§ 1-3]

97 - [1325-1357]
Do senhor que lança mancebo de soldada fora de casa e do mancebo que foge
dela.

1
Porque refere a lei contra a usura, dessa data.

536
José Domingues

[Livro de Leis e Posturas, pp. 331-332]


[O A – Liv. IV, Tít. 32]

98 - [1325-1357]
Do que confessou ter recebido alguma coisa e depois diz que não recebeu.
[O A – Liv. IV, Tít. 55, §§ 1]

99 - [1325-1357]
Das penas convencionais e judiciais.
[O A – Liv. IV, Tít. 62, § 3]

100 - [1325-1357]
Do que matou sua mulher por a achar em adultério.
[O A – Liv. V, Tít. 18, § 3]

101 - [1325-1357]
Das penas para os que querelarem ou acusarem outrem e o não puderem
provar.
[Ordenações de D. Duarte, p. 462]
[O A – Liv. V, Tít. 29, § 3]

102 - [1325-1357]
Que em feito de força não se guarde ordem, nem figura de juízo.
[OA – Liv. V, Tít. 36]

103 - [1325-1357]
Que ninguém jogue a dados nem a dinheiro, das penas para tafuis e tavola-
geiros.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 324-325]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 466-467]
[O A – Liv. V, Tít. 41, § 1-6]

104 - [1325- 1357]


Que não recebam alguém a demandar injúria, sem primeiro dar fiadores às
custas.
[O A – Liv. V, Tít. 52, §§ 1-3]

105 - [1325-1357]
Dos que arrenegam a Deus e aos Santos.
[O A – Liv. V, Tít. 99, § 3]

106 - [1325-1357]
Do que é ferido ou roubado de noite às desoras.
[O A – Liv. V, Tít. 110, § 1]

537
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

107 - [1325-1357]
Ordenação que manda que metam tantos homens bons e tais que sejam para
prol e bom vereamento.
[IAN/TT – Núcleo Antigo 458, maço 10, n.º7, fls. 44-45v (Foros de Beja)]

108 - [1325-1357]
Dos que ganham as cartas de segurança, como devem fazer no tempo da segu-
rança.
[IAN/TT – Núcleo Antigo 458, maço 10, n.º7, fls. 45v-46 (Foros de Beja)]

109 - [1325-1357]
Dos clérigos casados e dos outros que trazem cuitelos grandes e outras armas
e andam de noite.
[IAN/TT – Núcleo Antigo 458, maço 10, n.º7, fls. 46-46v (Foros de Beja)]

110 - [1325-1357]
Como os que forem presos de crime não devem ser fiadores, nem carcereiros.
[IAN/TT – Núcleo Antigo 458, maço 10, n.º7, fl. 46v (Foros de Beja)]

111 - [1325-1357]
Como devem logo desembargar as apelações do crime.
[IAN/TT – Núcleo Antigo 458, maço 10, n.º7, fls. 46v-47 (Foros de Beja)]

112 - [1325-1357]
Dos advogados e dos procuradores, o que devem de fazer em seu ofício e que
não devem fazer volta no concelho.
[IAN/TT – Núcleo Antigo 458, maço 10, n.º7, fl. 47 (Foros de Beja)]

113 - [1325-1357]
Dos tabeliães que não devem vogar por nenhum e como devem dar e fazer
escrituras.
[IAN/TT – Núcleo Antigo 458, maço 10, n.º7, fl. 47 (Foros de Beja)]

114 - [1325-1357]
Que os mestres de cavalaria ou outros prelados que tiverem lugar de justiça
não dêem cartas de segurança.
[IAN/TT – Núcleo Antigo 458, maço 10, n.º7, fl. 47v (Foros de Beja)]

115 - [1332-1335]
Regimento das audiências.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 538-540]
[João Pedro RIBEIRO, Dissertações Cronológicas e Críticas,
Tomo 4, Parte II, Dissertação XVII, pp. 25-26 (incompleto)]

116 - [1325-1357]
Dos pagamentos na portaria.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 536-538]

538
José Domingues

117 - [1325-1357]
Que as justiças ponham tréguas e seguranças entre os fidalgos por razão dos
homízios.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 501-502]

118 - [1325-1357]
Como os corregedores devem exercer o seu ofício.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 502-517]

119 - [1325-1357]
Do juramento a prestar sobre os Evangelhos por procuradores e advogados.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 517-518]

120 - [1325-1357]
Que ninguém da mercê régia, da Rainha ou dos Infantes filhe roupa, galinhas,
capões ou palha.
[Ordenações de D. Duarte, p. 497]

121 - [1325-1357]
Que aqueles que propuserem demanda ou excepção contra outrem paguem
custas em tresdobro se não provarem.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 492-493]

122 - [1325-1357]
Como os juizes não devem dar apelação das sentenças interlocutórias, salvo
em certos casos.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 489-490]

123 - [1325-1357]
Das penas para as mulheres que fazem mal de seus corpos depois da morte
de seus maridos.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 475-476]

124 - [1325-1357]
Que os judeus não façam contratos usureiros com cristãos.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 425-427]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 476-477]

125 - [1325-1357]
Que aos que forem citados perante corregedores ou sobrejuizes não levem
maior portaria nas terras.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 479-480]

126 - [1325-1357]
Que os poderosos não vão pessoalmente aos feitos que tiverem com pobres,
mas mandem seus procuradores.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 480-481]

539
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

127 - [1325-1357]
Que a virgem desflorada querele o desflorante no prazo de 30 dias e não
mais.
[Ordenações de D. Duarte, p. 349]

128 - [1325-1357]
Como aqueles que acharem haver de escusa o devem ter para si, e o vendam
a el-rei pela valia da adiça.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 325-327]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 467-468]

129 - [1325-1357]
Que os ouvidores e sobrejuizes não conheçam em apelação feitos de menos
de 10 libras.
[Ordenações de D. Duarte, p. 461]

130 - [1325-1357]
Que os corregedores e os juizes não sejam citados enquanto exercerem o seu
ofício.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 461-462]

131 - [1325-1357]
Que os sobrejuizes e ouvidores não dêem cartas de sentença definitiva sem
terem recado da Chancelaria de que estão pagas.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 459-460]

132 - [1325-1357]
Até que tempo pode ser purgada a revelia.1
[Ordenações de D. Duarte, pp. 460-461]
[Cfr. OA, III, 27 (em lei D. Fernando)]

133 - [1325-1357]
Da carta de citação e outras.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 438-439]

134 - [1325-1357]
Das demandas e negações.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 433- 436]

135 - [1325-1357]
Que ninguém seja preso por querela de vindicta, revindicta ou segurança
«britada».
[Ordenações de D. Duarte, pp. 395]

1
Inserida em lei de D. Fernando, nas Ordenações Afonsinas, liv. III, tít. 27.

540
José Domingues

136 - [1325-1357]
Inquirição sobre rendas e inquiridores na Estremadura nos últimos 10 anos.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 393]

137 - [1325-1357][1], Julho, 12/22 – [sem local].


Do que levanta volta em concelho ou perante justiça.
[O A – Liv. V, Tít. 104, § 1]

138 - [1325-1357][2], Outubro, 21 – Serra.


Como os bispos e seus vigários não devem conhecer dos testamentos senão
em certos casos.
[Ordenações de D. Duarte, p. 382]

139 - [1325-1357]
Que os clérigos, seculares ou religiosos, não voguem nem procurem nas
audiências, nem por todo o reino.
[Ordenações de D. Duarte, p. 350]

140 - [1325-1357]
Do ofício de almotacé.
[Ordenações de D. Duarte, p. 351-352]

141 - [1325-1357]
Sobre advogados, juizes, procuradores, tabeliães e outros ofícios dos concelhos.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 353-173]

142 - [1325-1357]
Taxas das cartas.
[Livro das Leis e Posturas, pp. 244-256]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 337-345]

143 - [1325-1357]
Adenda à taxa das cartas.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 345-348]

D. Pedro I [1357-1367]

“Que alli lhe entregava aquelle Lavrador e que visse lá como


o tratava, porque havia de dar conta delle vivo e são, todas as
vezes que El Rei mandasse”
[LOPES, Fernão – Chronica de D. Pedro, cap. XI, pp. ]

1
“Era de mil e trezentos e cinquoenta e quatro annos”, esta data não é compatível com o reinado de D. Afonso IV.
2
“Era de mjll iijcLxj anos”, incompatível com o reinado de D. Afonso IV.

541
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

1 - 1357, Julho, 28 – Óbidos.


Ordenação dos barregueiros casados.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 20-20v]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 258, pp. 88-89]

2 - 1357, Agosto, 21 –
Lei que obriga a ter cavalo e armas aos que tinham duas mil libras, quando
antes bastavam mil e quinhentas.
[Porto, AHM – Livro Grande, fl. 66v]

3 - 1358, Junho, 01 –
Como os judeus deviam fazer os contractos de compra e venda.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 22v-23]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 521, pp. 98-99]

4 - 1359, Fevereiro, 07 – Évora.


Que os que quiserem agravar para el-rei da sentença que os seus sobrejui-
zes derem, que esses sobrejuizes lhe dêem os agravos, mas aquele que quiser
agravar pague, antes, 25 libras na Chancelaria.
[O A – Liv. III, Tít. 109]

5 - 1359, Março, 29 – Lagos.


Ordenação que proibe a tomada das galinhas, patos, etc… pelo preço que se
tomavam para el-rei.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 36-36v]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 369, pp. 147-148]
[O A – Liv. II, Tít. 61]

6 - 1361, Fevereiro, 12 – Évora.


Ordenação que não filhem peitas os oficiais do rei.
[IAN/TT – Chancelaria D. Pedro I, Liv. 1, fl. 49]
[IAN/TT – Partida III, fl. 2, antes do Índex]
[HOMEM, Armando Luís de Carvalho – Subsídios para o Estudo da Administração Central
no Reinado de D. Pedro I. Porto, 1978. pp. 49-50]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 505, pp. 203-204]

7 - 1361, Abril, 15 – Moura.


Ordenação que determina o modo de partilha entre órfãos e seus pais.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 51]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 521, pp. 211-212]

8 - 1361, Outubro, 05 – Évora.


De como devem ser feitos os contratos entre os cristãos e os judeus.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 62v-63v]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 569, pp. 255-258
(com data de 1361, Junho, 07, em Portalegre)]
[O A – Liv. II, Tít. 73]

542
José Domingues

9 - 1361, Setembro, 09 – Vila Viçosa.


Ordenação sobre os oficiais que os judeus devem ter e fazer.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 72]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 646, pp. 299-300]

10 - 1361 [sem local].


Regimento dos corregedores.
[RIBEIRO, João Pedro – Dissertações Chronologicas. Tomo III, Parte 2, pp. 100, 111 e 116]
[O A – Liv. I, Tít. 23]

11 - 1362, Fevereiro, 15 – Évora.


Que não tomem casas, nem roupas, nem pousadias aos mouros, sob pena de
sessenta açoutes.
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, vol. I, p. 58-59]

12 - 1362, Abril, 07 – Santarém.


Ordenação para que não aja procuradores nem advogados em todo Portugal.
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º28]
[IAN/TT – Partida III, na folha cujo verso trás o Índice (com o dia 27)]
[IAN/TT – Chancelaria D. Pedro I, Liv. 1, fl. 71-71v]
[LOPES, Fernão – Crónica de D. Pedro, Cap. V]
[HOMEM, Armando Luís de Carvalho – Subsídios para o Estudo da Administração Central
no Reinado de D. Pedro I. Porto, 1978. pp. 54-55]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 636, pp. 296]

13 - 1362, Dezembro, 28 – Évora.


Como os mouros ha de fazer alcaide em cada huum anno etc.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 51]
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, vol. I, p. 59]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 763, pp. 344-345]

14 - 1363, Janeiro, 31 – Olivença.


Como os oficiais dos judeus devem ser mudados.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 80]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 765, pp. 346-347]

15 - 1364, Dezembro, 15 – Ferreira de Aves.


Dos tabeliães.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 104]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 966, pp. 450]

16 - 1366, Janeiro, 08 – Santarém.


Regimento dos porteiros e sacadores das dívidas.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Duarte, Liv. 2, fl. 25-25v]
[Publ. HOMEM, Luís Armando de Carvalho – Em torno de Álvaro Pais,
Porto, 1984, doc. 4, pp. 29-31]
[Chancelarias Portuguesas – D. Duarte. Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova
de Lisboa. Dirigida por A. H. de Oliveira Marques, Lisboa, 1998-2002. 3 vol.s em 4 tomos]

543
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

17 - 1366, Março, 03 – Moura.


Regimento de el-rei, para que não lhe dêem novamente uma petição já por ele
desembargada, salvo se for por outro facto.
[IAN/TT – Chancelaria D. Pedro I, Liv. 1, fl. 117v]
[HOMEM, Armando Luís de Carvalho – Subsídios para o Estudo da Administração Central
no Reinado de D. Pedro I. Porto, 1978. p. 55]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 1081, pp. 508]

18 - 1366, Junho, 21 –
Lei que isenta os moleiros do serviço das galés.
[Porto, AHM – Livro Grande, fl. 67v]

19 - 1366, Junho/Julho, 14/05 – Torres Novas/Santarém.


Privilégio aos mouros e judeus de os libertar do serviço, ao mesmo tempo
que proíbe os juizes dos concelhos de os obrigar a vigiar a fronteira ou outros
lugares, e de os constranger a acompanhar presos e a guardar dinheiros.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. I, fls. 121-121v]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Docs. 1106-1111, pp. 522-525]

20 - c. 1366 –
Taxas a cobrar pelos tabeliães.
[Porto, AD – Mosteiro de Grijó, Tombo Novo do prior D. Afonso Esteves]
[ALARCÃO, Jorge de – “Emolumentos do tabelionado medieval português – uma tabela
inédita”. in Revista Portuguesa de História, tomo VIII, Coimbra, 1959, pp. 304-305]

Leis sem data nem local:

21 - [1357-1367]
Os procuradores deviam receber os seus salários da seguinte forma: a terça
parte quando o libelo for julgado, a outra parte quando as inquirições forem
abertas e publicadas e a outra terça quando o feito terminar com a sentença
definitiva.
[O A – Liv. I, Tít. 45, § 19]

22 - [1357-1367]
Lei para que os clérigos hajam servidores.
[O A – Liv. II, Tít. 10]

23 - [1357-1367]
Ordenação que nenhum tesoureiro ou seu almoxarife, ou dos infantes seus
filhos, não leve peita alguma.
[O A – Liv. II, Tít. 51]

24 - [1357-1367]
Impõe determinada conduta às mulheres forçadas, para que fique provado o
rouço.
[O A – Liv. V, Tít. 6, § 3]

544
José Domingues

25 - [1357-1367]
Ordenação como se hão de desembargar as petições.
[IAN/TT – Chancelaria D. Pedro I, Liv. 1, fl. 51v-52]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º694, fl. 46]
[RIBEIRO, João Pedro – Dissertações Chronologicas e Criticas.
Tomo I, Lisboa, 1860, pp. 316-321]
[História Florestal, Aquícola e Cinegética, vol. I, pp. 81-83, doc. 51]
[HOMEM, Armando Luís de Carvalho – Subsídios para o Estudo da Administração Central
no Reinado de D. Pedro I. Porto, 1978. pp. 50-52]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 523, pp. 212-214

26 - [1357-1367]
Ordenação que el-rei fez de como se hão de desembargar as petições.
[IAN/TT – Chancelaria D. Pedro I, Liv. 1, fl. 63v-64]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º694, fl. 49]
[RIBEIRO, João Pedro – Dissertações Chronologicas e Criticas. Tomo I, Lisboa, 1860, pp.
316-321]
[HOMEM, Armando Luís de Carvalho – Subsídios para o Estudo da Administração Central
no Reinado de D. Pedro I. Porto, 1978. pp. 52-54]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 574, pp. 260-262

27 - [1357-1367]
Ordenação dos galinheiros.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 73-73v]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 521, pp. 305-306]

28 - [1357-1367]
Per que guisa se hão de fazer os contractos dos judeus.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Pedro I, Liv. 1, fl. 79]
[Chancelarias Portuguesas – D. Pedro I, Doc. 757, pp. 341]

29 - [1357-1367]
D. Pedro I ordenou que os lavradores que não empalheirassem toda a sua
palha tivessem pela primeira vez a pena de açoites e as orelhas cortadas e pela
segunda vez fossem enforcados.
[Coll. de Decretos n.32 App. 41 § 1 até 10]
[CARVALHO, Porfírio Hemetério Homem de – Primeiras Linhas do Direiro Agrário deste
Reino. Nova edição preparada segundo a de 1815 e com uma nota bibliográfica por José
António Cardoso Veloso. Colecção «Scientia Iuridica», Livraria Cruz, Braga, 1965, p. 12]

D. Fernando [1367-1383]

“Mujtas hordenaçoões outras fez e mandou comprir por boom


regimento e prol do seu poboo este nobre rei Dom Fernando,
que razoadas todas por meudo fariam tam grande trautado, qual
aqui nom compre de seer escripto”
[LOPES, Fernão – Chronica de D. Fernando, cap. XXX, pp. 85-86]

545
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

1 - 1368, Setembro, 18 – Lisboa.


Dos excomungados e forçadores.
[O A – Liv. V, Tít. 27, §§ 3-8]

2 - 1368, Dezembro, 28 –
Lei que isenta os moleiros do serviço das galés.
[Porto, AHM – Livro Grande, fl. 72v]

3 - 1369, Agosto, 07 – Lisboa.


Lei de D. Fernando de como se hão de arrecadar as rendas do serviço real
imposto aos judeus.
[Lisboa, BN – Códice Alcobacense n.º222, fl. 191v]

4 - 1371, Junho, 27 – Porto.


Acordo da Câmara do Porto, estabelecendo sisa para terem anualmente 12
mil libras, atentos os seus gastos e dívidas e tendo de pagar cada ano a el-rei
4 mil libras das 20 mil que ainda lhe deviam. Declara de que se deverá pagar
a sisa e quanto.
[Porto, AHM – Livro 2.º de Pergaminhos, doc. 38]
[Corpus Codicum, Vol. 6, pp. 56-57; Est. XXXIX]

5 - 1372, Agosto, 17 –
Que nenhum conde, rico-homem, ou fidalgo lançasse nas terras cuja jurisdição
civil ou criminal lhes tivesse sido dada, quaisquer fintas, talhas, ou outros pedi-
dos, para evitar os danos e despovoamentos que nelas se iam verificando.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. 2, fl. 109v]
[Cartório da Câmara de Coimbra, perg. 33] Ribeiro.
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 696 da BGUC, fl. 193]
[RIBEIRO, João Pedro – Memorias para a historia das inquirições dos primeiros reinados
de Portugal, colligidas pelos discipulos da aula de Diplomatica no ano de 1814 para
1815, debaixo da direcção dos lentes proprietario, e substituto da mesma aula. Lisboa, na
Impressão Regia, 1815, doc. 48, pp. 133-136]

6 - 1373, Outubro, 20 –
Costume da Câmara de Lisboa segundo o qual o dono das casas despedia os
seus inquilinos 30 dias antes de findar o arrendamento; faziam penhora pelos
alugueres sem figura de juízo e ninguém podia reter a casa alheia sem licença
de seu dono.
[O A – Liv. IV, Tít. 73]

7 - 1373 –
Regimento da jurisdição do Arrabi Mor.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Fernando, Liv. I, fl. 132-133]
[FERRO, Maria José Pimenta – Os Judeus em Portugal no Século XIV. IAC, Centro de
Estudos Históricos, Faculdade de Letras, Lisboa, 1970, ap. doc. n.º39]

8 - 1374, Abril, 24 – Salvaterra de Magos.


Do que vive com senhor a bem fazer e se parte dele sem sua vontade.
[O A – Liv. IV, Tít. 26, §§ 5-9]

546
José Domingues

9 - 1375, Maio, 26 – Santarém.


Lei de como os mercadores estrangeiros devem comprar e vender as suas
mercadorias.
[Lisboa, AHCM – Livro I delRei D. João I, doc. 45, fl. 58]
[Lisboa, AHCM – Livro dos Pregos, doc. 183, fls. 160-160v (cópia)]
[Porto, AHM – Livro A, fl. 115-116v (certidão de 1448-12-06)]
[Porto, AHM – Livro A, fls. 87v-89v (confirmação de 1466, Janeiro, 29)] ??
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 696 da BGUC, fl. 83]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 698 da BGUC, fl. 87]
[Publ. parcial Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa – Livros
de Reis, vol. II, Lisboa, 1958, p. 53]
[O A – Liv. IV, Tít. 4, § 1-8]

10 - 1375, Maio, 26 – Santarém.


Lei das Sesmarias.
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º137]
[IAN/TT – Núcleo Antigo, NA 897, mç. 3, n.º9. (Cópia do maço I de leis, n.º137)]
[Coimbra, AM – Pergaminho n.º30]
[Lisboa, ACM – Livro dos Pregos, doc. 70, fls. 52-54v]
[Porto, AHM – Liv. Ant. fl. 115] Ribeiro
[LOPES, Fernão – Crónica de D. Fernando, cap. 4]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º696, fl. 83]
[Antiquário Conimbrigense, 1841, n.º 5 e 6, pp. 39-41 e 43-46]
[MORENO, Humberto Baquero – A Vagabundagem nos fins da Idade Média Portuguesa, in
Anais da Academia Portuguesa de História, vol. 24, Lisboa, 1977, pp. 261-269]
[ALMEIDA, Carlos Marques de – História das Instituições (Aulas Práticas), Universidade
Portucalense – Infante D. Henrique, vol. I, Porto, 1994, pp. 633-638]
[O A – Liv. IV, Tít. 81]

11 - 1375, Setembro, 13 – Atouguia.


Lei sobre a jurisdição dos donatários, como dela deverão usar.
[Porto, AHM – Livro 4º de Pergaminhos, doc. 7]
[Porto, AHM – Livro B, fl. 216-219]
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º172, fls. 19-23v (certidão de 1447, Agosto, 27)]
[Ribeiro, João Pedro – Ms. 696, fl. 193 (que diz tirar da Câmara de Coimbra, com data de
1372, Agosto, 17)]
[SANTOS, Frei Manuel dos – Monarquia Lusitana. Parte VIII. Lisboa, 1727, Liv. XXII, Cap.
XXX, pp. 212-216(edição fac-similada, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1988)]
[O A – Liv. II, Tít. 63]

12 - 1378, Fevereiro, 08 – Coimbra.


Sobre as barbudas e outros dinheiros do reino.
[Évora, AM – Liv. 4º de Originais, fl. 158]
[Revolução de Setembro, n.º 7.838]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal.

547
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

(1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc. 11, pp. 349-351(1)]
13 - 1379, Setembro, 12 – Lisboa.
Lei da prova dos contratos que se deve fazer por escritura pública.
[Lousã, AM – Doc. n.º 40, fls. 1-6]
[IAN/TT – Partida III, fls. 128-133v]
[IAN/TT – Remessa da Câmara de Santarém, n.º 9 (com data de 1379, Novembro, 08]
Ribeiro [Núcleo Antigo, NA 896 (2/5)]
[Lisboa, AHM – Chancelaria Régia, Livro dos Pregos, doc. 88, fl. 84v-88]
[Lisboa, AHM – Chancelaria Régia, Livro II de D. Fernando, doc. 17]
[Documentos da Câmara Municipal de Lisboa, II, pp. 205 e ss.]
[Colecção de Cortes, maço I, fl. 236v (Gama Barros, vol. I, p. 141,
n.º3 – cópia ao concelho de Santarém de 8 de Novembro)]
[O A – Liv. III, Tít. 64, § 1-23]

14 - 1379, Setembro, 12 – Lisboa.


Do réu que foi citado e não comparece em juízo, como se dará contra ele revelia.
[Lousã, AM – Doc. n.º 40, fls. 6-8]
[O A – Liv. III, Tít. 27]

15 - 1379, Setembro, 12 – Lisboa][2].


Das arrematações, como se hão de fazer, assim nos bens móveis como de
raiz.
[Lousã, AM – Doc. n.º 40, fls. 8-9v]
[O A – Liv. III, Tít. 106]

16 - a. 1380, Dezembro, 08 – [sem local].


Lei que instituiu a Companhia das Naus.
[LOPES, Fernão – Crónica de D. Fernando, cap. 91]
[Monarquia Lusitana, Parte VIII, p. 219 e ss. (data de 1375)]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º696, fl. 215]
[FERREIRA BORGES, José – Das fontes, especialidades e excelência da administração
comercial segundo o Código Comercial Português.
Porto, Tipografia Comercial Portuense, 1835, 1.º Apêndice]
[Anuario de Seguros. Lisboa, 1942, p. 17]
[Descobrimentos Portugueses, vol. I, pp. 171-173]

17 - 1382, Novembro, 07 – Évora.


Ordenação dos mouros e Judeus que acharem a desoras fora da mouraria ou
judiaria.
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, 1.ª Parte, Évora, 1885, p.
153]
[O A – Liv. II, Tít. 80, § 1]

1
“Copiado de um livro manuscrito, com capa de pergaminho, existente na Biblioteca da Ajuda, de fol. 262
a 265; tem por título: Tractado dos Reys deste Reyno de que aquy di alguãs memorias e asy d’outras lembranças.
As notas lançadas na primeira página o atribuem a Rui de Pina, talvez por aí se tratarem assuntos do fim
do reinado de D. Manuel, época em que se supõe a morte do cronista (1519-1523). Outros suspeitam serem
trabalhos do sobrinho de Rui de Pina, o que não parece tão provável. Esta lei existe também no arquivo da
Câmara Municipal de Lisboa (liv. De Reis, fol. 7) com variantes ortográficas.”
2
A data nas Afonsinas (1406, Maio, 12 – Santarém) é de uma publicação posterior, no reinado de D. João I.

548
José Domingues

18 - 1383, Agosto, 20 – Lisboa.


Aditamento à ordenação que defendia o uso de armas.
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, vol. I, p. 65]
[O A – Liv. I, Tít. 31, § 4]

Leis sem data nem local:

19 - [1367-1383]
Ordenação para que nenhum não advogasse nem procurasse, salvo aqueles
que para isso houvessem carta régia.
[Livro Verde da Universidade de Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra,
1992, p. 88 (Referida em diploma de 1384, Outubro, 03]
[O A – Liv. I, Tít. 13, § 1]

20 - [1367-1383]
Das malfeitorias que os fidalgos e pessoas poderosas fazem pelas terras onde
andam.
[O A – Liv. II, Tít. 60]

21 - [1367-1383]
Que não joguem a dados dinheiros, nem haja tavolagem.
[O A – Liv. V, Tít. 41, § 8]

22 - [1367-1383]
De como são defesas as bestas muares.
[O A – Liv. V, Tít. 119, §§ 1-12]

D. João I [1383-1433]

1 - 1384, Fevereiro, 21 –
Regimento das sisas gerais: na transcrição de uma acta do concelho de Mon-
temor-o-Novo, regulamenta-se a aplicação das sisas gerais nesse concelho,
cujo produto era destinado a acorrer às necessidades financeiras da defesa da
independência do país, prosseguida pelo Mestre de Aviz.
[IAN/TT – Gaveta 12, m. 7, n.º 13]
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 234-236]
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 214-217 (idêntico para Évora – 1384, Fev., 25)]
[RAMALHO, António Gomes – Legislação Agrícola, vol. I, pp. 209-212]
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, vol. I, pp. 78-83]
[FARO, Jorge – Receitas e Despesas da Fazenda Real de 1384 a 1481. Lisboa, 1965,
Doc. 1, pp. 1-7]

549
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

2 - 1386, Julho, 24 – [sem local].


Que não seja consentido a algum prelado ou fidalgo que lance pedido em sua
terra.
[O A – Liv. V, Tít. 95]

3 - 1386, Outubro, 10 – Évora.


Ordenação das carpinhas que se soiam a fazer pelos finados.
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora,
1.ª Parte, Évora, 1885, p. 153]

4 - 1387, Maio, 21 – Coimbra.


Carta régia com os artigos que regulamentam a cobrança das sisas, concedidas
a D. João I no ajuntamento[1] de Coimbra de 1387, para subsidiar a guerra com
Castela.
[Braga, AM – pergaminho n.º 2 (1387, Maio, 08)]
[Coimbra, AM – Pergaminhos Avulsos, n.º37]
[IAN/TT – Suplemento de Cortes, maço 4, n.º55 (1473, Junho, 04)]
[GONÇALVES, Iria – Pedidos e Empréstimos Públicos em Portugal durante a Idade Média.
Lisboa, 1964, doc. 3, pp. 213-215]

5 - 1387, Agosto, 23/25 –


Que os desembargadores de el-rei, assim da fazenda como da justiça, não pas-
sem desembargos senão por cartas seladas.
[Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 26] [2]
[Ordenações Afonsinas, Liv. III, Tít. 44] [3] [4]

6 - 1387, Novembro, 24 – Braga.


Lei das sisas, promulgada nas cortes de Braga.5
[Lisboa, AHCM – Livro I de Cortes (Códice 5), doc. 7, fl. 63]
[Porto, AHM – Livro A, fls. 177v-180]
[Coimbra, BGU – Ms. 698, pp. 89-93]

1
“Estas cortes têm sido aceites sem reservas por todos os historiadores”, mas Armindo de Sousa desconfia,
concluindo que “as cortes de 1387 parecem-nos no mínimo, insuficientemente documentadas. As fontes
existentes inclinam-nos a pensar que se tratou duma reunião extraparlamentar”. Para este autor, em
nenhuma das três cartas com o regulamento das sisas gerais aparece a designação de cortes nem qualquer
locução equivalente. A única referência documental contraditória surge-lhe, quase cem anos mais tarde,
num artigo geral das cortes de 1481-1482 de Évora/Viana, que refere a carta de D. João I passada por Diogo
Lopes Pacheco, nas cortes de Coimbra, a 12 dias de Maio de 1425 (1387). [Armindo de SOUSA, Cortes
Medievais…, vol. I, pp. 432-435].
A argumentação desenvolvida por Armindo de Sousa é cativante e bastante persuasiva, no entanto, a pro-
visão, de 20 de Abril de 1392, para o concelho do Porto não ser obrigado pelo resto que ainda devesse do
pedido das 400 vezes mil libras da moeda antiga, refere expressamente terem sido outorgadas nas cortes
de Coimbra da era de 1425.
Mais duvidosa é a referência, no art.º 5º das cortes de Coimbra de 1400, aos rendeiros das sisas que punham
outros artigos e condições, para além “das ordenaçoões e artigos, que lhe foram outorgados nas cortes, que outra
vez foram feitas em Coimbra”.
2
Sem data.
3
No códice da Torre do Tombo era de 1420 (1382), errada por ficar fora do reinado de D. João I.
4
No códice da Merceana dia 23.
5
Referida nas Ordenações Afonsinas, Liv. II, Tít. 59, § 1.

550
José Domingues

7 - 1387, Novembro – Braga.


Lei sobre a equivalência das libras, nas cortes de Braga.
[Braga, AD – Colecção Cronológica, n.º 1057 (com data de 1388, Janeiro, 08]
[IAN/TT – Sé de Lamego, Liv. 10, n.º138 (com data de 1388, Janeiro, 20]
[Coimbra, AM – Pergaminhos Avulsos, n.º 49 (com data de 1401, Abril, 11)]
[Ref. O A – Liv. V, Tít. 27, § 12]

8 - 1388, Junho, 03 –
Carta de ordenação que regula a divisão entre o rei, o almirante e os homens
da frota real, das presas, feitas por mar e por terra.
[IAN/TT – Chancelaria de D. João I, Liv. 5, fl. 7]
[IAN/TT – Gaveta 19, maço 14, n.º4, fl. 35 e ss. (cópia do século XVI)]
[Descobrimentos Portugueses, vol. I, pp. 190-191]

9 - 1389, Maio, 12 – Lisboa.


São escusos de pagar o pedido ou contribuição extraordinária os fidalgos que
andavam na guerra, os velhos ou incapazes de servir e as viúvas dos mortos
na guerra.
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, vol. I, p. 91]

10 - 1389, Julho, 05 –
Regimento dos vedores da fazenda (?).
[IAN/TT – Chancelaria D. João I, Liv. 5, fl. 5v]

11 - 1391, Fevereiro, 08 – Évora.


Das cousas defesas, que não hão de trazer senão certas pessoas.
[IAN/TT – Chancelaria D. João I, Liv. 5, fl. 36]
[O A – Liv. V, Tít. 43, § 1-7]

12 - 1391, Fevereiro, 14 – Évora.


Dos leigos que tomam posse dos benefícios quando vagam.
[Braga, AD – Colecção Cronológica, n.º907 (doc. 1392(?), Novembro, 23]
[Braga, AD – Colecção Cronológica, n.º946 (doc. 1402, Outubro, 01)]
[Braga, AD – Colecção Cronológica, n.º1042 (doc. 1423, Julho, 07)]
[Braga, AD – Rerum Memorabilium, vol. III, fl. 55]
[Porto, AD – Livros de Originais, Livro III (1661), fls. 5 e ss.]
[IAN/TT – Chancelaria D. João I, Liv. 2, fls. 140-141]
[IAN/TT – Sé de Lamego, Liv. 10, n.º139]
[O A – Liv. II, Tít. 16]

13 - 1391, Fevereiro, 20 – Évora.


Que os judeus tragam sinais vermelhos.
[Lisboa, AHCM – Livro dos Pregos, fl. 125, doc. 164 e fl. 160, doc. 245]
[Lisboa, AHCM – Livro dos Pregos, fl. 110, doc. 129]
[IAN/TT – Chancelaria de D. João I, Liv. 1, fl. 96 (pedido apresentado por Santarém)]
[OLIVEIRA, Freire de – Elementos para a história do município de Lisboa,
Lisboa, 1882, vol. I, pp. 255-256]
[ALMEIDA, Fortunato de – História da Igreja em Portugal, 2.ª edição, Porto, 1967, vol. I, p. 395]
[O A – Liv. II, Tít. 86]

551
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

14 - 1391, Junho, 05 –
Lei do arruamento, determinando que cada mester fosse “apartado” em ruas
próprias.
[Lisboa, AHCM – Livro I de D. João I, fl. 55 e 56]

15 - 1391, Junho, 12 – Évora.


Lei que manda fazer por pelouros as eleições dos concelhos, para evitar ban-
dos, rogos, etc.
[Porto, AHM – Livro das Vereações da Era de 1428 e seguintes, fl. 73-73v]
[Lisboa, AHM – Chancelaria Régia, Livro I D. João I, doc. 44 (com data de 13 de Junho)]
[Lisboa, AHM – Chancelaria da Cidade, Livro de Posturas Antigas, doc. 306]
[Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa, vol. II, p. 52
(com data de 13 de Junho)]
[Documentos e Memórias para a História do Porto – II. “Vereações” Anos de 1390-1395 O
mais antigo dos Livros de Vereações do Município do Porto existentes no seu Arquivo,
com comentários e notas de BASTO, A. de Magalhães.
Publicações da Câmara Municipal do Porto, pp. 235-236]
[Livro das Posturas Antigas. Leitura paleográfica e transcrição de Maria Teresa Campos
RODRIGUES, Lisboa, Câmara Municipal, 1974, pp. 310-311]
[O A – Liv. I, Tít. 23, § 45-46]

16 - 1391, Agosto, 25 –
Lei que renova a proibição aos estrangeiros de venderem a retalho ou com-
prarem a ver de peso fora da cidade de Lisboa.
[Porto, AHM – Livro A, fl. 70]
[Coimbra, BGU – Secção de manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º698, fl. 87]

17 - 1391, Dezembro, 29 – Viseu.


Regimento aos oficiais da moeda da cidade do Porto.
[IAN/TT – Além Douro, Liv. II, fls. 51-51v]
[FERRO, Maria José Pimenta – Estudos de História Monetária Portuguesa (1383-1438).
Lisboa, 1974, doc. 3, pp. 145-146]

18 - 1392, Abril, 01 – Tentúgal.


Dos gados e viandas que foram tomadas no tempo da guerra, como se hão de
pagar.
[O A – Liv. V, Tít. 66, §§ 1-12]

19 - 1392, Junho, 28 – Coimbra.


D. João I proíbe por todo o senhorio, que ninguém – homem, mulher, cristão,
mouro ou judeu – use de física, antes de ser examinado e obter carta de mestre
Martinho, físico de el-rei, selada com o selo de el-rei.
[Porto, AHM – Livro 1 de Vereações, fl. 70]
[Jornal de Coimbra, n.º14, Parte 1, p. 203]
[Documentos e Memórias para a História do Porto – II. “Vereações” Anos de 1390-1395 O
mais antigo dos Livros de Vereações do Município do Porto existentes no seu Arquivo,
com comentários e notas de BASTO, A. de Magalhães.
Publicações da Câmara Municipal do Porto, p. 226]

552
José Domingues

20 - 1392, Julho, 17/18 – Coimbra.


Que não façam tornar judeu cristão contra sua vontade.
[O A – Liv. II, Tít. 94, §§ 1-14]

21 - 1393, Maio, 08 – Lisboa.


Das jugadas como hão de ser recadadas nas terras jugadeiras.
[O A – Liv. II, Tít. 29, § 1-14]

22 - 1393, Maio, 12 – Santarém.


Lei para que as cartas enviadas pelos concelhos sejam assinadas na Câmara
do concelho.
[Ponte de Lima, AM – Pergaminho n.º 28 (certidão régia de 1459-07-03)]
[O A – Liv. IV, Tít. 24]
[O A – Liv. V, final (só no códice de Santarém)]

23 - a. 1394 –
Dos barregueiros casados.
[O A – Liv. V, Tít. 20, §§ 1-22]

24 - 1395 –
A pedido do concelho de Lisboa, D. João I, ratifica uma postura que interdita
aos judeus a residência no exterior da judiaria e alarga a sua acção aos mem-
bros desta minoria que se encontram de passagem por esta cidade, coagin-
do‑os a ir além pousar e não às estalagens dos cristãos.
[IAN/TT – Chancelaria de D. João I, Liv. 1, fl. 78]
[Lisboa, AHCM – Livro dos Pregos, fl. 161, doc. 248]
[Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, 1958, vol. II, p.
74]
[Livro das Posturas Antigas, Lisboa, 1974, pp. 68-69]

25 - 1395, Março, 29 – Tentúgal.


De como são defesas as bestas muares, isentando os bispos, clérigos de missa,
os físicos, os contadores da sua capela e da rainha e os judeus.
[O A – Liv. V, Tít. 119, §§ 14-16]

26 - a. 1395, Setembro, 01 – [s/l]


De como são defesas as bestas muares, dispensando os clérigos, físicos e
judeus para andarem em bestas muares.
[O A – Liv. V, Tít. 119, §§ 17-18]

27 - 1395, Junho, 15 – Tentúgal.


Lei de como os mercadores estrangeiros devem comprar e vender as suas
mercadorias.
[IAN/TT – Chancelaria D. João I, Liv. 2, fl. 102]
[Porto, AHM – Livro A, fl. 116v-118v (certidão de 1448-12-06)]
[Porto, AHM – Livro A, fls. 87v-89v (confirmação de 1466-01-29)]

553
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[Descobrimentos Portugueses, vol. I, fl. 204-205]


[O A – Liv. IV, Tít. 4, § 10-17]

28 - 1396, Novembro, 18 – Lisboa.


Dos que podem ser citados perante os sobrejuizes da Casa do Cível ou peran-
te o corregedor da corte.
[O A – Liv. III, Tít. 6, §§ 1-2]

29 - 1398 – Coimbra.
Regimento para a cobrança das sisas gerais.
[IAN/TT – Chancelaria de D. João I, Liv. 5, fl. 50v-52]

30 - 1399 – Lisboa.
“Ordenamento” sobre a equivalência das libras dos foros antigos à moeda
corrente.
[Coimbra, AM – Pergaminhos avulso, n.º49]
[Lisboa, AHCM – Códice 10, fl. 88]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º701, fl. 422-424]

31 - 1400, Setembro, 22 – Braga.


Dos barregueiros casados.
[O A – Liv. V, Tít. 20, §§ 24-25]

32 - 1400, Setembro, 30 – Braga.


De como os judeus hão de viver em judiarias apartadamente.
[O A – Liv. II, Tít. 76]

33 - 1401, Novembro, 04 – Lisboa.


Dos barregueiros casados.
[O A – Liv. V, Tít. 20, §§ 27-29]

34 - 1401, Dezembro, 28 – Lisboa.


Lei das barregãs dos clérigos.
[O A – Liv. II, Tít. 22, §§ 1-14]
[O A – Liv. V, Tít. 19, §§ 1-14]

35 - 1402, Fevereiro, 09 – Monte-Mor-o-Novo.


Que não aforrem nem arrendem por ouro nem prata senão pela moeda geral
corrente no reino.
[IAN/TT – Suplemento de Cortes, maço 4, n.º 31 (em traslado de 1408, Maio, 10(?)]
[O A – Liv. IV, Tít. 2, §§ 1-11]

36 - 1402, Março, 06 – Évora.


De como os judeus não hão de levar armas quando forem a receber el-rei, ou
fazer outros jogos.
[O A – Liv. II, Tít. 75, §§ 1-3]

554
José Domingues

37 - 1402, Maio, 03 – Lisboa.


De como o Arrabi Mor dos judeus e os outros arrabis devem usar da sua juris-
dição.
[IAN/TT – Chancelaria D. João I, Liv. 3, fl. 48 (1405, Julho, 16)]
[O A – Liv. II, Tít. 81] [1]

38 - 1402, Setembro, 25 –
Lei que proibiu aos clérigos, mouros, judeus e estrangeiros o uso das armas.
[IAN/TT – Chancelaria D. João I, Liv. 5, fl. 90v]

39 - 1403, Março, 19 – Santarém.


Dos feiticeiros.
[O A – Liv. V, Tít. 42, § 1]

40 - 1403, Maio, 22 – Santarém.


Das escusas dos tutores e curadores.
[O A – Liv. IV, Tít. 88, §§ 1-3]

41 - 1403, Outubro, 14 – Lisboa.


Que os judeus ao sábado não sejam constrangidos para responder em juízo.
[O A – Liv. II, Tít. 90, §§ 1-2]

42 - 1404, Fevereiro, 15 – Lisboa.


Ordenação sobre moedas.
[Coimbra, AM – Pergaminhos Avulsos, n.º51]
[IAN/TT – Chancelaria D. João I, Liv. 5, fl. 42]
[FERRO, Maria José Pimenta – Estudos de História Monetária Portuguesa (1383-1438).
Lisboa, 1974, doc. 7, pp. 150-151]
[Lousã, AM – Pergaminho 44 (1404, Abril, 25)]

43 - 1404, Maio, 24 – Santarém.


Que os privilegiados por carta de el-rei não sejam escusados para serem tutores.
[O A – Liv. III, Tít. 124, §§ 1-3]

44 - 1405, Fevereiro, 26 – Lisboa.


De como são defesas as bestas muares.
[O A – Liv. V, Tít. 119, §§ 20-26]

45 - 1405, Novembro, 02 – Lisboa.


Do que pertence à apuração dos galiotes.
[O A – Liv. I, Tít. 70]

46 - 1405 –
Os tabeliães das comunas estão autorizados a fazer escrituras públicas em
hebraico, excepto as apelações e agravos que devem subir aos sobrejuizes e
ouvidores do rei.

1
No códice da Torre do Tombo, era 1450 (1412).

555
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[IAN/TT – Chancelaria de D. João I, Liv. 3, fl. 47v-48v]


[BARROS, Gama – História da Administração Pública, vol. 34, pp. 216 e 220-221]
[MARTINS, Maria Leonor dos Mártires – Subsídios para o estudo dos judeus e dos mouros
nos reinados de D. João I e de D. Duarte, dissertação de licenciatura, Faculdade de Letras
de Lisboa, Lisboa, 1961, pp. 228-230]

47 - 1406, Maio, 22 – Santarém.


Declaração feita à lei de D. Fernando sobre as provas que se devem fazer por
escritura pública.
[O A – Liv. III, Tít. 64, § 5]

48 - 1406, Agosto, 30 – Santarém.


Dos coutos que são dados às vilas de Marvão, Noudar, Sabugal, Caminha,
Miranda e de Freixo da Espada à Cinta, para os homiziados estarem em eles.
[Lousã, AM – Doc. 105, fl. 1-5v. (com data de 1406, Setembro, 27)]
[IAN/TT – Ordem de Avis, n.º741 (certidão de 1406, Novembro, 12)]
[Maria do Rosário Castiço de CAMPOS, Lousã (1376-1428) Elementos para a sua História,
Câmara Municipal da Lousã, Lousã, 1987, pp. 115-130]
[Humberto Baquero MORENO, “Elementos para o Estudo dos Coutos de Homiziados
Instituídos pela Coroa”, in Os Municípios Portugueses nos Séculos XIII a XVI – Estudos de
História, Editorial Presença, Lisboa, 1986, pp. 134-138]
[José Anastácio de FIGUEIREDO, “Memoria Para dar huma idêa justa do que erão
as Behetrias, e em que differião dos Coutos, e Honras”, in Memorias de Litteratura
Portugueza, publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa.
Tomo I, Lisboa, 1792, pp. 241-251]
[O A – Liv. V, Tít. 61]

49 - 1406, Outubro, 06 – Santarém.


Ordenação referente à castração de carneiros.
[Lousã, AH – Doc. 105, fl. 6]
[CAMPOS, Maria do Rosário Castiço de – Lousã (1376-1428) Elementos para a sua História.
Câmara Municipal da Lousã, Lousã, 1987, pp. 131-132]

50 - a. 1408 –
Que não traga nenhum armas algumas, salvo se for cavaleiro ou cidadão de
Lisboa.
[O A – Liv. I, Tít. 31]

51 - 1409, Fevereiro, 08/20 – Lisboa.


Da ordenação e declaração que el-rei D. João fez sobre os foros e arrendamen-
tos que foram feitor por moeda antiga.
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc.
16, pp. 355-359]
[O A – Liv. IV, Tít. 1, §§ 1-27]

52 - 1410 –
Ordenação dos cavalos e armas para defesa da terra.
[Évora, Arquivo Municipal – Livro Pequeno de Pergaminho, fl. 55]
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, vol. II, p. 25]

556
José Domingues

53 - 1410, Março, 14 – Santarém.


Carta de D. João I ao corregedor de Entre-Tejo-e-Guadiana, Gonçalo Mendes,
para que fizesse apregoar por todos os lugares da sua correição, a decisão
tomada com o conselho da sua corte, para que todas as cidades, vilas e julga-
dos do reino, com trinta ou mais homens dessem um lobo morto por ano. Aos
julgados que não cumprissem teriam que pagar uma dobra de ouro. Estipula
também um prémio de 100 reais de três libras e meia, pagos pelo concelho,
para quem matar lobo grande ou pequeno.
[Sesimbra, AM – Livro do Tombo da Vila de Sesimbra renovado em 1728, fl. 43]

54 - 1410, Setembro, 18 – Lisboa.


Provisão declarando ter extinto em todo o Reino, excepto em Évora e Lisboa,
os juizes e escrivães privativos dos órfãos e resíduos, anexando tudo aos juí-
zes ordinários e aos tabeliães gerais.
[IAN/TT – Suplemento de Cortes, M. 4, n.º 32 (1410/Maio/16 – carta ao concelho de Silves)]
[Porto, AHM – Livro 3.º de Pergaminhos, doc. n.º70]
[Porto, AHM – Livro 4º de Pergaminhos, doc. 53 (certidão de 1455/Novembro/12)]
[Porto, AHM – Livro A, fls. 212v-213]
[Porto, BPM – Manuscrito n.º558 (com data de 1410, Maio, 16)]

55 - 1410, Novembro, 01 – Aldeia Galega.


Do anadel mor e cousas que a seu ofício pertencem.
[O A – Liv. I, Tít. 68, §§ 5-38]

56 - 1410, Novembro, 08 – Aldeia Galega.


Do anadel mor e cousas que a seu ofício pertencem.
[O A – Liv. I, Tít. 68, §§ 2-4]

57 - 1410, Novembro, 22 –
Lei que isenta de direitos as armas e arnezes.
[Porto, AHM – Livro A do Porto, fl. 59 e 191v]
[Porto, AHM – Livro das Chapas, fl. 11]
[Porto, AHM – Maço 1 de Pergaminhos, n.º 13]
[Porto, AHM – pergaminho 59]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 696 da BGUC, fl. 108]

58 - 1410, Novembro, 26 – Aldeia Galega.


Duas ordenações do anadel-mor e coisas que a seu oficio pertencem.
[O A – Liv. I, Tít. 68]

59 - 1411, Maio, 28 – Santarém.


De como se pode renunciar a ofício de el-rei e em que forma se há de fazer a
carta para tal renúncia.
[O A – Liv. IV, Tít. 23]

60 - 1412, Janeiro, 03 – Évora.


Dos hereges.
[O A – Liv. V, Tít. 1, § 4]

557
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

61 - 1412, Fevereiro, 12 – Lisboa/Braga.


Das penas a aplicar aos judeus se forem achados fora da judiaria depois do
sino da oração.
[O A – Liv. II, Tít. 80, §§ 1-12]

62 - 1413, Agosto, 17 –
Provisão derrogando as providências sobre coudelarias, castração de Carnei-
ros e matança de lobos e coutamento de porcos.
[IAN/TT – Maço 1 de Leis, doc. 13 (com dia 18)]
[Porto, AHM – Liv. 3 de pergaminhos, doc. 75]
[Porto, AHM – Livro A, fls. 206-207]
[Porto, BPM – Manuscrito n.º558]
[Cartório da Câmara de Silves, pergaminho 3 – desaparecido]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 696 da BGUC, fl. 145]
[Colecção de Cortes, maço I, fl. 341 (Gama Barros, I, p. 142, n. 1)]

63 - 1414, Março, 05 – Santarém.


Que não possam vender, comprar e trocar ouro ou prata, salvo no “caibo” de
el-rei.
[IAN/TT – Chancelaria D. João I, Liv. 3, fl. 43v]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc.
17, p. 359]
[O A – Liv. IV, Tít. 3, § 1]

64 - 1414, Março, 28 –
Lei que isenta os mestres dos navios de dar conta dos fretes e acautela a
cobrança dos direitos.
[Porto, AHM – Livro A, fl. 15v]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 696 da BGUC, fl. 127]

65 - 1416, Janeiro, 03 – Évora.


Lei que deixou ao arbítrio de el-rei agravar as penas dos hereges.
[O A – Liv. V, Tít. 1, § 4]

66 - 1417, Maio, 07 – Lisboa.


Que os judeus não sejam presos por dizerem contra eles que fizeram moeda
falsa ou compraram ouro ou prata, salvo sendo primeiro deles querelado.
[O A – Liv. II, Tít. 82, §§ 1-2]

67 - 1417, Agosto, 30 – Lisboa.


Ordenação sobre os foros e arrendamentos que foram feitos por moeda antiga.
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875)
2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc. 18, p. 360]
[O A – Liv. IV, Tít. 1, §§ 29-31]

558
José Domingues

68 - 1417, Setembro, 18 – Lisboa.


Ordenações sobre as pagas das moedas antigas.
[IAN/TT – Chancelaria de D. João I, Liv. 5, fl. 104v-106]
[Porto, AHM – Livro B, fls. 56-58]
[Lisboa, BN – Pergaminhos, 5R (com data de 1417, Setembro, 30)]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed.,
Porto, 1964, Vol. I, doc. 19, pp. 360-363]
[O A – Liv. IV, Tít. 1, §§ 33-46]

69 - 1417, Setembro, 24 – Lisboa.


Ordenação sobre os foros e arrendamentos que foram feitos por moeda antiga.
[Porto, AHM – Livro B, fls. 56-58]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed.,
Porto, 1964, Vol. I, doc. 20, p. 363]
[O A – Liv. IV, Tít. 1, §§ 47-49]

70 - 1417[1], Outubro, 06 – Santarém.


Da forma que há de ser feita a doação que el-rei fizer dos bens de algum
judeu, por comprar ouro, ou prata, ou moeda.
[O A – Liv. II, Tít. 78, §§ 1-5]

71 - 1418, Setembro, 12 – Serra da Atouguia.


Regimento dos corregedores das comarcas.
[Lisboa, AHM – Chancelaria Régia,Livro dos Pregos, doc. 308, fls. 217v-221]
[OLIVEIRA, Freire de – Elementos, tomo II, p. 29]
[O A – Liv. I, Tít. 23]

72 - 1418, Novembro, 21 – Sintra.


Regimento dos coudéis.
[O A – Liv. I, Tít. 71]

73 - 1418 – Santarém.
Ordenação para a cobrança do pedido.
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Liv. 2, fl. 43v]

74 - 1418 – Santarém.
Artigos das sisas.
[IAN/TT – Chancelaria D. João I, Liv. 5, fl. 118v]
[Lisboa, AHM – Códice 11, fls. 35-49]

75 - 1419, Novembro, 08 –
Que os clérigos e judeus respondam perante as justiças seculares nas causas
de direitos reais e não tenham bens nos reguengos.
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Liv. 2, fl. 31v]

1
Esta ordenação é dirigida ao corregedor de Entre-Tejo-e-Guadiana Afonso Vasques, por isso, só pode ser
do ano de 1417 e não de 1407 como aparece no códice do Arquivo.

559
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

76 - 1419, Dezembro, 19 –
Foram publicadas as 40 leis jacobinas, extremamente vexatórias para a igreja,
que motivaram o recurso da clerezia para a Cúria Romana e para o Papa.
[Vaticana, BA – Cód. Vat. Lat. 2687, fls. 27-51v (com os comentários de João Gonçalves]
– Garcez Ventura.
[Vaticana, BA – Cód. Vat. Lat. 2688, fls. 43-61v (com os comentários de João de Mela]
– Garcez Ventura.
[Lisboa, AHM – Cortes, Liv. 1, n.º 19 e 20, fls. 93-98] – Garcez Ventura.
[COSTA, António Domingues de Sousa – “Leis atentatórias das liberdades eclesiásticas e o
Papa Martinho V contrário aos concílios gerais”.
in Studia Historico-Eclesiastica, 1977, pp. 505-592]
[Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa – Livro de Reis I.
Lisboa, 1957, pp. 206-208]
[VENTURA, Margarida Garcez – Poder régio e liberdades eclesiásticas (1383-1450).
Dissertação de Doutoramento em História da Idade Média apresentada à Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, 1993, vol. 2, (a partir do códice de Lisboa)]
[O A – Liv. V, Tít. 28, § 4 e 5; Tít. 107]

77 - 1420, Junho, 27 –
Regimento do tesoureiro mor do reino.
[IAN/TT – Chancelaria D. João I, Liv. 5, fl. 114]

78 - 1421, Janeiro, 15 – Évora.


Em que caso devem prender o malfeitor e pôr contra ele feito pela justiça e
apelar para el-rei.
[O A – Liv. V, Tít. 58, §§ 7-19]

79 - 1421, Fevereiro, 03 – Évora.


Das dúvidas que Vasco Fernandes e João de Basto moveram a D. João sobre a
apuração de besteiros e galiotes.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 649-663]
[O A – Liv. I, Tít. 69, §§ 26-47]

80 - 1421, Abril, 02 – Évora.


Regimento dos coudéis.
[Évora, AM – Livro Pequeno de Pergaminho, fl. 39 e ss.]
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, vol. III, pp. 28-34]

81 - 1421, Maio/Março, 05 – Évora.


Que os mouros forros não sejam presos por fugida de alguns cativos, salvo se
primeiramente for deles querelado.
[O A – Liv. II, Tít. 118, §§ 1-2]

82 - 1421, Maio, 26 – Évora.


Regimento do meirinho que anda na corte em logo do meirinho mor.
[Ordenações de D. Duarte, 640-642]
[O A – Liv. I, Tít. 11 (sem data)]

560
José Domingues

83 - 1422, Agosto, 12 – Óbidos.


Ordenação do apuramento dos besteiros.
[Lisboa, AHCM – Livro dos Pregos, doc. 313]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 651-663]
[O A – Liv. I, Tít. 69, §§ 48-66]

84 - 1422, Agosto, 14 – Óbidos.


Ordenação sobre os foros e arrendamentos que foram feitos por moeda antiga.
[IAN/TT – Chancelaria de D. João I, Liv. 5, fls. 132-132v e 133v]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964,
Vol. I, doc. 21, pp. 363-364]
[O A – Liv. IV, Tít. 1, §§ 51-57]

85 - 1422, Agosto, 14[1] – Óbidos.


Da mudança que se fez da Era de César para a do Nascimento de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
[Provas da História Genealógica, tomo 1, p. 363 (com data de 1420)]
[O A – Liv. IV, Tít. 66]
[O A – Liv. IV, Tít. 1, § 58]

86 - 1422, Novembro, 01 – Tentúgal.


Do privilégio dado ao judeu que se torna cristão.
[O A – Liv. II, Tít. 83, §§ 1-3]
[O A – Liv. II, Tít. 110][2]

87 - 1423, Julho, 23 – Sintra.


Carta de capitão-mor do mar a Álvaro Vasques de Almada.
[O A – Liv. I, Tít. 55, §§ 2-4]

88 - 1423 –
De como os judeus que se tornam cristãos hão de dar carta de quitação (guete)
às mulheres que ficam judias, passado um ano.
[IAN/TT – Chancelaria D. João I, Liv. 4, fl. 64v]
[O A – Liv. II, Tít. 72]

89 - 1426, Julho, 28 –
Carta de ordenação dos direitos e rendas da alcaidaria mor do castelo de Lisboa.
[IAN/TT – Chancelaria de D. João I, Liv. 4, fl. 94v]
[Descobrimentos Portugueses, supl. ao vol. I, doc. 727, p. 477]
[O A – Liv. I, Tít. 62]

1
A ordenação de 14 de Agosto, em Óbidos, sobre os foros e arrendamentos que foram feitos em moeda
antiga, já está datada pelo ano de nascimento de Cristo, sendo que a data de 22 de Agosto, em Lisboa,
corresponde à data da publicação. É natural que se tenha escolhido o dia 14 de Agosto para alteração da
contagem já que é uma data com elevado significado místico [Vide VENTURA, Margarida Garcez – O
Messias de Lisboa. Um Estudo de Mitologia Política (1383-1415). Edições Cosmos, Lisboa, 1992, p. 109]
2
Este título refere-se aos mouros e não está datado, mas penso tratar-se da mesma lei (que abrange judeus
e mouros).

561
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

90 - 1426, Dezembro, 15 – Montemor-o-Novo.


Do que enjeita a moeda de el-rei.
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964,
Vol. I, doc. 22, p. 364]
[O A – Liv. IV, Tít. 69, § 1]

91 - 1426 –
Lei do infante regulando o desembargo dos Rooles das petições, que perten-
cem ao ofício do Paço.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 642-644]
[O A – Liv. I, Tít. 4, §§ 6-17]

92 - 1427, Fevereiro, 25 – Évora.


Confirmação de Álvaro Gonçalves por sesmeiro de Estremoz, mandando-lhe
que não dê propriedade alguma de sesmaria sem se apregoar.
[O A – Liv. IV, Tít. 81, §§ 21-22]

93 - 1428, Junho – Santarém.


Ordenação para a cobrança do pedido e meio que as cortes de Santarém de
1418 outorgaram a el-rei D. João I, mandada depois observar por D. Duarte,
na tiragem do pedido para a conquista de Tânger.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Duarte, Liv. 2, fl. 43v]
[AZEVEDO, Pedro de – Documentos das Chancelarias Reais, vol. I, p. 493]
[Ref. Por MARQUES, J. M. da Silva – Descobrimentos Portugueses,
supl. ao vol. 1, pp. 466 e 495]
[Monumenta Henricina, vol. II, Doc. 145, pp. 289-298]

1430, Julho –
Regimento do coudel de Lisboa.
[Lisboa, AHCM – Livro I dos Místicos de Reis, doc. 12]
[Lisboa, AHCM – Livro dos Pregos, doc. 300, fl. 210v-211v (cópia)]

94 - 1431, Janeiro, 24 Almeirim.


Carta de couto da vila de Pena Garcia.
[O A – Liv. V, Tít. 61, §§ 26-27]

95 - 1431, Setembro, 25 – Sintra.


Que o degredo para Ceuta seja menos a metade do que se dá para dentro do
reino.
[O A – Liv. V, Tít. 114]

96 - 1431, Dezembro, 08 – Sintra.


Que o cristão não compre herdade de mouro sem especial consentimento de
el-rei.
[IAN/TT – Gaveta XII, Maço 1, n.º11]
[Ordenações de D. Duarte, pp. 555-556 (Truncada no início)]
[O A – Liv. II, Tít. 111 (sem data)]

562
José Domingues

97 - 1433, Abril, 13 – Torres Vedras.


Lei sobre as barregãs dos clérigos, condenando os corregedores que aceitam
dinheiro dos eclesiásticos para os deixar ficar amancebados, feita pelo infante
D. Duarte.
[O A – Liv. II, Tít. 22, §§ 16-22 (Sem data)]
[O A – Liv. V, Tít. 19, §§ 20-30]

98 - 1433, Junho – Lisboa.


Que os coutos de Portugal, Algarve e Ceuta se não guardassem em determi-
nados crimes.
[O A – Liv. V, Tít. 61, § 29]

99 - 1433, Julho, 23 – Sintra.


Das roupas que hão de trazer os tabeliães para serem da jurisdição de el-rei.
[Ordenações de D. Duarte, pp. 645-646 (com data de 1432)]
[O A – Liv. I, Tít. 49, §§ 1-4]

Leis sem data:

100 - [a. 1398]


Da maneira que hão de ter os juizes que el-rei manda a algumas vilas por seu
serviço e do poder que hão de levar.
[FIGUEIREDO, José Anastácio de – “Memoria Sobre a origem dos nossos juízes de Fóra”.
in Memorias de Litteratura Portugueza, publicadas pela Academia Real das Sciencias de
Lisboa. Tomo I, Lisboa, 1792, pp. 48-54]
[O A – Liv. I, Tít. 25]

101 - [1393-1401]
Artigos sobre as jugadas.
[O A – Liv. II, Tít. 29, §§ 15-50]

102 - [1383-1433]
Das armas como se hão de filhar.
[O A – Liv. I, Tít. 31, §§ 4-14]

103 - [1383-1433]
Da declaração feita entre os tabeliães do paço e os tabeliães das audiências,
sobre as escrituras que a cada um deles pertence fazer.
[O A – Liv. I, Tít. 48]

563
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

104 - [1413-1414][1]
Das letras que vêm da corte de Roma ou do grão-mestre, que não sejam publi-
cadas sem carta de el-rei.
[Ordenações de D. Duarte, p. 607]
[O A – Liv. II, Tít. 12]

105 - [1383-1433]
Dos fidalgos que apropriam a si os mosteiros e igrejas dizendo que hão em
elas pousadias e comedorias.
[O A – Liv. II, Tít. 17, § 1]

106 - [1383-1433]
Que os escrivães dos vigários guardem a taxa das escrituras que é dada aos
escrivães da corte.
[O A – Liv. II, Tít. 18]

107 - [1383-1433]
Dos privilégios dados aos caseiros das igrejas e mosteiros, em que forma se
hão de dar.
[O A – Liv. II, Tít. 23]

108 - [1383-1433]
Que se não faça obra por carta ou alvará de algum desembargador, senão for
selado com o selo de el-rei.
[O A – Liv. II, Tít. 26]

109 - [1383-1433]
De como el-rei debe herdar os mouros forros moradores em seus reinos e
senhorios.
[O A – Liv. II, Tít. 28]

110 - [1383-1433]
Do que hão de pagar os tabeliães gerais do reino a el-rei.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Afonso V, Liv. 37, fl. 85v (confirmação de 1461)]
[O A – Liv. II, Tít. 34]

111 - [1383-1433]
Que o privilégio da isenção dado ao morador da terra não faça prejuízo ao
senhor dela.
[O A – Liv. II, Tít. 35]

1
“Esta lei, de acordo com o texto das Ordenações eduardinas, poderá ser datada entre os anos de 1413 e
1414, pois vem consignada a hipótese de ser o infante a assinar as cartas ou alvarás com as licenças régias”
(Cfr. Armindo de Sousa, As Cortes Medievais…, Vol. I, p. 159).

564
José Domingues

112 - [1383-1433]
Que os almoxarifes e recebedores que foram de el-rei D. Afonso, D. Pedro e D.
Fernando sejam quites de tudo aquilo que por eles receberam.
[O A – Liv. II, Tít. 41]

113 - [1383-1433]
Que os serviçais e mordomos dos fidalgos e vassalos sejam escusados dos
encargos dos concelhos.
[O A – Liv. II, Tít. 64]

114 - [1383-1433]
Que os judeus não arrendem igrejas, nem mosteiros, nem as rendas deles.
[O A – Liv. II, Tít. 68, §§ 1-3]

115 - [1383-1433]
Que os arrabis das comunas guardem em seus julgados os seus direitos e cos-
tumes.
[O A – Liv. II, Tít. 71]

116 - [1383-1433]
Que os judeus não sejam presos por dizerem contra eles que se tornaram cris-
tãos em Castela, salvo sendo deles querelado.
[O A – Liv. II, Tít. 77, §§ 1-6]

117 - [1383-1433]
Que os judeus não sejam oficiais de el-rei, nem dos infantes, nem de quaisquer
outros senhores.
[O A, Liv. II, Tít. 85, § 3]

118 - [1383-1433]
Do judeu que bebe na taverna.
[IAN/TT – Gaveta 10, maço 12, n.º17, fl. 7v-8v]
[IAN/TT – Chancelaria de D. Afonso V, Liv. 11, fl. 67 / Liv. 10, fl. 134v / Liv. 34, fl. 153]
[O A – Liv. II, Tít. 91]

119 - [1383-1433]
De como os tabeliães dos judeus hão de fazer suas escrituras.
[O A – Liv. II, Tít. 93, § 1]

120 - [1383-1433]
Que os mouros vivam em mourarias apartadas dos cristãos.
[O A – Liv. II, Tít. 102]

121 - [1383-1433]
De como as portas das mourarias devem ser cerradas ao sino da trindade.
[O A – Liv. II, Tít. 104]

565
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

122 - [1383-1433]
Que os mouros não entrem em casa de nenhuma mulher cristã, nem cristã em
casa de nenhum mouro.
[O A – Liv. II, Tít. 105]

123 - [1383-1433]
Que os mouros não gozem nem usem do benefício da lei de avoenga.
[O A – Liv. II, Tít. 109]

124 - [1383-1433]
Dos mouros que são achados de noite fora das mourarias.
[O A – Liv. II, Tít. 112]

125 - [1383-1433]
De como os tabeliães dos mouros hão de fazer as escrituras públicas.
[O A – Liv. II, Tít. 116]

126 - [1383-1433]
Dos mouros que não levem armas quando forem receber el-rei ou fazer outros
jogos.
[O A – Liv. II, Tít. 117]

127 - [1383-1433]
Que não façam tornar mouro cristão contra sua vontade.
[O A – Liv. II, Tít. 119]

128 - [1383-1433]
Que não mate algum ou fira o mouro, nem lhe roube o seu, nem viole suas
sepulturas, nem lhes embargue suas festas.
[O A – Liv. II, Tít. 120]

129 - [1383-1433]
Das citações como devem ser feitas.
[O A – Liv. III, Tít. 1, §§ 5-21]

130 - [1383-1433]
Confirma a lei de D. Afonso IV, de que concelho, corregedor ou juiz não sejam
citados sem mandado especial de el-rei.
[O A – Liv. III, Tít. 7]

131 - [1383-1433]
Da ordem que se deve ter nas apelações, assim das sentenças interlucotórias
como definitivas.
[O A – Liv. III, Tít. 71, §§ 35-38]

566
José Domingues

132 - [1383-1433]
Das cartas de segurança que se pedem por morte de homem ou feridas aber-
tas e sangrentas, como e quando se darão.
[O A – Liv. III, Tít. 123, pr.]
[O A – Liv. V, Tít. 44, § 1]

133 - [1383-1433]
Quando o pai no testamento não faz menção do filho e dispõe somente da
terça dos seus bens.
[O A – Liv. IV, Tít. 97, §§ 1-2]

134 - [1383-1433]
De como o pai ou mãe herdam ao filho e não o irmão.
[O A – Liv. IV, Tít. 102, § 1]

135 - [1383-1433]
Dos que fazem moeda falsa.
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed.,
Porto, 1964, Vol. I, doc. 23, pp. 364-365]
[O A – Liv. V, Tít. 5, § 3]

136 - [1383-1433]
Que não possam demandar virgindade depois que passarem três anos.
[O A – Liv. V, Tít. 10]

137 - [1383-1433]
Outra lei das barregãs dos clérigos.
[O A – Liv. V, Tít. 19, §§ 16-18]

138 - [1383-1433]
Dos escomungados e forçadores.
[O A – Liv. V, Tít. 27, §§ 10-13]

139 - [1383-1433]
Dos escomungados e apelados.
[O A – Liv. V, Tít. 28, § 3]

140 - [1383-1433]
Do que mata ou fere na corte ou arredor dela.
[O A – Liv. V, Tít. 33, §§ 3-8]

141 - [1383-1433]
Que não joguem a dados dinheiros, nem aja tavolagem.
[O A – Liv. V, Tít. 41, §§ 10-11]

567
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

142 - [1383-1433]
Das cartas de segurança que se dão geralmente aos malfeitores para estar a
direito.
[O A – Liv. V, Tít. 57, § 2]

143 - [1383-1433]
Penas dos jurados e rendeiros do verde que fizerem avenças sobre alguma
coima.
[O A – Liv. V, Tít. 75, § 3]

144 - [1383-1433]
Da pena que haverá o que chama tornadiço ao que foi infiel e se tornou cristão.
[O A – Liv. V, Tít. 81, § 1]

145 - [depois de 1415]


Da ordenação que el-rei D. João fez acerca dos que foram na armada de Ceuta
e lá ficaram por seu mandado.
[O A – Liv. V, Tít. 83]

146 - [1383-1433]
Dos tormentos e em que casos devem ser dados aos fidalgos e cavaleiros –
artigo dos letrados.
[O A – Liv. V, Tít. 87, § 3]

147 - [1383-1433]
Que não seja consentido a algum prelado ou fidalgo que lance pedido em sua
terra.
[O A – Liv. V, Tít. 95]

148 - [1383-1433]
Que nenhum homem de pé não ande escudado pela terra nem traga nenhum
fidalgo consigo.
[O A – Liv. V, Tít. 96]

149 - [1383-1433]
Do alcaide ou carcereiro que leva peita do preso.
[O A – Liv. V, Tít. 105]

150 - [1383-1433]
Que não recebam ao clérigo querela sem fiador leigo.
[O A – Liv. V, Tít. 107]

151 - [1383-1433]
Que aqueles que guardam os presos não levem deles dinheiro por os levarem
à audiência.
[O A – Liv. V, Tít. 111]

568
José Domingues

152 - [1383-1433]
Dos que tem jurisdição por graça de el-rei, que não dêem cartas de segurança
em algum caso.
[O A – Liv. V, Tít. 112]

D. Duarte [1433-1438]

1 - 1433/34, Setembro, 8/18 –


Dos privilégios dados aos caseiros das igrejas e mosteiros, em que forma se
hão de dar.
[O A – Liv. II, Tít. 23, §§ 2-6]

2 - 1433, Setembro, 26 – Sintra.


Carta de D. Duarte acerca dos vinhos vendidos nas judiarias.
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Liv. 1, fl. 8v]
[Lisboa, BN – Códice Alcobacense n.º222, fl. 194]

3 - 1433 –
Ordenação dos tempos em que o rei havia de despachar e como.
[DIAS, João José Alves – Livro dos Conselhos de El-Rei D. Duarte, Lisboa, 1982, pp. 11-26]

4 - 1434, Março, 02 –
Regimento ao juiz dos órfãos, judeus e mouros.
[IAN/TT – Odiana, Liv. 4, fl. 85v-86]
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 115v]
[IAN/TT – Chancelaria de D. Afonso V, Liv., 2, fl. 2v / Liv. 30. fl. 52]
[IAN/TT – Chancelaria D. João II, Liv. 26, fl. 88-88v / Liv. 21, fl. 101]

5 - 1434, Março, 22 –
Regimento dos contos do reino.
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Livro 2, fls. 2-3v]

6 - 1434, Abril, 08 –
Lei Mental, reduzida a escrito e publicada por D. Duarte, ainda que já prati-
cada por D. João I, que nunca a quis publicar ou reduzir a escrito, em que se
define a forma de sucessão dos bens da coroa.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Duarte, Liv. 1, fl. 36v e ss.]
[OM, Liv. II, Tít. 17, § 1-6.]
[IAN/TT – Maço 1 de Leis, n.º158]
[Lisboa, BN – Códice Alcobacense n.º222, fl. 177]
[AHCB – Reforma Setecentista, Tomo I das Doações, fl. 70v-76 (Apógrafo de 1756, Maio, 24)].
[Provas da História Genealógica, tomo III, 2.ª Parte, doc. 14, pp. 54-61 (com data de 1434,
Setembro, 06, a partir de uma carta de confirmação de Filipe II. Refere também que no
arquivo da Casa de Bragança está o original de el-rei D. Duarte, com o seu selo)]
[Monumenta Henriquina, V, n.º3, p. 8]

569
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

7 - 1434[1], Abril, 10 – Santarém.


Da ordenação dada ao capitão de Ceuta, que aja de ter com os degradados e
homiziados.
[O A – Liv. V, Tít. 84]

8 - 1434, Maio, 04 – Vimieiro.


Que as rainhas e os infantes não dêem cartas de privilégio a nenhumas pessoas.
[O A – Liv. II, Tít. 39]

9 - 1434, Maio, 10 –
Que proíbe fazer carvão segunda vez nas queimadas, antes de passarem três
anos.
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Liv. 1, fl. 81]

10 - 1434, Junho, 19 – Santarém.


D. Duarte fixa as taxas a levar pelos tabeliães em todo o reino, cujo valor
depende do tipo de documento, da matéria (pergaminho ou papel) e da exten-
são do texto.
[Ponte de Lima, AM – Pergaminho n.º18]
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Liv. 2, fl. 26]
[SOUSA, Armindo de – “As cortes de Leiria-Santarém de 1433”.
in Estudos Medievais, n.º2, Porto, 1982, pp. 71-224]

11 - 1434, Junho, 30 –
Lei dada em Lisboa por D. Duarte, em que se determinam e declaram as dúvi-
das que se propuseram sobre a Lei Mental.
[IAN/TT – Gaveta XIII, maço 7, n.º32]
[IAN/TT – Estante 5, vol. 10 da Remessa de Santarém, n.º16, fl. 86 e ss.]
[Núcleo Antigo, NA 895 (1/10)]
[IAN/TT – NA 15, fls. 86-91v]
[OM (1514) – Liv. II, Tít. 17]
[OM – Liv. II, Tít. 17, § 7-23]
[Monumenta Henriquina, vol. V (1434-1436), Coimbra, Comissão Executiva das
Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1963, doc. 24, pp. 54-65]
[FARO, Jorge – Receitas e Despesas da Fazenda Real de 1384 a 1481. Subsídios Documentais.
Lisboa, Centro de Estudos Económicos – Instituto Nacional de Estatística,
1965, doc. 12, pp. 144-154]

12 - 1434, Julho, 02 –
Determinação régia para que as partes não vão falar aos Desembargadores a
suas casas, sob pena de dois mil reais brancos por cada vez, a metade para o
acusador e a outra metade para a arca da piedade.
[OM – Liv. III, Tít. 35]
[Livro de pergaminho, ou Livrinho da Relação, ou I da Suplicação, fl. 4]
[LEÃO, Duarte Nunes de – Compilação das Leis I, 1566, parte I, fl. 58v]
(Vide cortes de 1473, cap. 150, nos Inéditos de História de Portugal, tomo 3, p. 549)

1
Esta lei diz-se feita por D. Duarte, em sendo infante, em contradição com a data.

570
José Domingues

13 - 1434, Julho, 05 – Almeirim.


Do capitão mor do mar – confirmação.
[O A – Liv. I, Tít. 55, §§ 1-5]

14 - 1434[1], Setembro, 14/18 – Óbidos.


Dos moradores em Castela, que têm bens em Portugal, que os vendam a tem-
po certo ou venham cá morar.
[O A – Liv. IV, Tít. 44, §§ 1-2]

15 - 1434, Setembro, 17 – Óbidos.


Que não consintam aos moradores em Castela que venham em assuadas a
estes reinos para mal fazer.
[O A – Liv. V, Tít. 116]

16 - 1435, Março, 18 – Évora.


Das bestas vendidas em Évora, que se não possam engeitar depois que a ven-
da for feita e a besta entregue ao comprador.
[O A – Liv. IV, Tít. 22]

17 - 1435, Abril, 26 – Évora.


Das carta difamatórias que se lançam encobertamente por mal dizer.
[O A – Liv. V, Tít. 117]

18 - 1435[2], Maio, 05 – Montemor-o-Novo.


Do que é obrigado a pagar maravedi de Castela, quanto pagará por ele em
Portugal.
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875)
2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc. 26, p. 369]
[O A – Liv. IV, Tít. 20, §§ 1-3]

19 - 1435, Junho, 02 – Santarém.


Lei para que o dinheiro dos órfãos se empregue em propriedades e se não dê
à usura, que reconhece proibida pela lei de Deus.
[Porto, AHM – Livro A, fl. 6-6v]
[Porto, AHM – Livro 4º de Pergaminhos, doc. n.º20]
[O A – Liv. IV, Tít. 89, §§ 1-3]

20 - 1435, Julho, 21 –
Lei declaratória sobre as sisas, rendas e direitos reais, proibidas as avenças
fora do termo.

1
Este o ano correcto, já que nesta data a corte estava em Óbidos, enquanto que passa o mês de Setembro
de 1433 em Sintra [Humberto Baquero MORENO, Itinerários de El-Rei D. Duarte (1433-1438). Academia
Portuguesa de História, Lisbo, 1976, pp. 43 e 61-62].
2
Este deve ser o ano correcto, já que em 3 de Maio a corte estava em Arraiolos e no dia 7 em Coruche;
enquanto que no ano de 1436, no dia 5 de Maio estava em Estremoz [Humberto Baquero MORENO,
Itinerários de El-Rei D. Duarte (1433-1438). Academia Portuguesa de História, Lisbo, 1976, pp. 73 e 86-87].

571
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[IAN/TT – Chancelaria de D. Duarte, Liv. 2, fl. 9]


[OM – Liv. II, Tít. 15]

21 - 1435, Setembro, 02 – Sintra.


Do monteiro mor e cousas que a seu ofício pertencem.
[NEVES, C. M. Baeta – Dos Monteiros-mores aos Engenheiros Sivicultores. Lisboa, 1965,
anexo II, pp. 95-102]
[O A – Liv. I, Tít. 67, §§ 1-6]

22 - 1435, Outubro, 25 – Santarém.


Ordenação sobre os foros e arrendamentos que foram feitos por moeda antiga.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Duarte, Liv. 2, fl. 11v]
[Pergaminhos da Santa Casa de S. Lázaro, fl. 8v] – Gabriel Pereira, I, 112.
[IAN/TT – Chancelaria D. Afonso V, Liv. 35, fl. 59]
[Cfr. Ordenações Manuelinas, Liv. IV, Tít. 1, § 1]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc.
24, p. 365]
[Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova
de Lisboa. Lisboa, 1999, vol. II (Livro da Casa dos Contos), doc. 28, pp. 46-47]
[O A – Liv. IV, Tít. 1, §§ 61-65]

23 - 1436, Janeiro, 06 –
Regimento dos besteiros do conto.
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Liv. 1, fl. 175v]

24 - 1436, Janeiro, 20 – Estremoz.


Em que modo e em que tempo se faz algum vizinho porque seja escusado de
pagar portagem a el-rei.
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Liv. 2, fl. 12]
[IAN/TT – Maço 2 de Forais antigos, n.º2, fl. 47]
[Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova
de Lisboa. Lisboa, 1999, vol. II (Livro da Casa dos Contos), doc. 28, pp. 47-49]
[O A – Liv. II, Tít. 30, §§ 1-5]

25 - 1436[1], Janeiro, 20 – Estremoz.


Acrescento à lei de D. Fernando sobre as provas que se devem fazer por escri-
tura pública.
[O A – Liv. III, Tít. 64, §§ 24-28]

26 - 1436, Janeiro, 28 – Estremoz.


Regulamentação sobre o comércio com Castela e Aragão.
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Livro 2, fls. 12v]
[Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova
de Lisboa. Lisboa, 1999, vol. II (Livro da Casa dos Contos), doc. 28, pp. 49-50]

1
É este o ano correcto, porque em Janeiro de 1437 a corte estava em Santarém.

572
José Domingues

27 - 1436, Março, 11 –
Regulamentação sobre o modo como se deve arrecadar o rendimento da por-
tagem de Lisboa.
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Livro 2, fl. 13]

28 - 1436, Março –
Regimento para regular a cobrança do pedido e meio.
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Liv. 2, fl. 43v]
[AZEVEDO, Pedro de – Documentos das chancelarias reais anteriores a 1531 relativos a
Marrocos, vol. I, Lisboa, 1915, pp. 493-504]

29 - 1436, Abril, 10 – Estremoz.


Ordenação proibindo as vigílias e dormidas em igrejas, mosteiros, ermidas e
oratórios, para obstar aos jogos, tangeres e cantares que neles se faziam, difi-
cultando o ofício divino e as orações dos bons cristãos. Para os prevaricadores
foi estabelecida uma coima de 300 reis, ficando 200 para os cativos e 100 para
os delatores.
[Évora, AM – Livro Pequeno de Pergaminho, fl. 50v]
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, vol. III, pp. 54-55]
[Cfr. OM, Liv. V, Tít. 43]

30 - 1436, Abril, 31 – Évora.


Pregão da ordenação de como se hão de fazer os fornos e fornalhas novamen-
te na comarca de Évora.
[Évora, AM – Livro Pequeno de Pergaminho, fl. 63]
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, vol. III, pp. 55]

31 - 1436, Maio, 11 – Estremoz.


Das sesmarias.
[O A – Liv. IV, Tít. 81, §§ 24-34]

32 - 1436[1], Julho, 19/20 – Sintra.


Que os besteiros paguem jugada em todo lugar onde não forem escusados
pelo foral.
[O A – Liv. II, Tít. 35, §§ 1-4]

33 - 1436, Junho, 25 – Sintra.


Da ordenação que el-rei fez acerca da bolsa que se há de fazer para despesa
dos dinheiros e presos que se levam de um lugar para outro.
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, 2.ª Parte, Évora, 1887, p. 62]
[O A – Liv. IV, Tít. 21]

34 - 1436, Agosto, 19 – Santarém.


Que os judeus não gozem do privilégio e benefício da lei de avoenga.
[O A – Liv. II, Tít. 70, §§ 1-3]

1
Este é o ano correcto, porque no ano de 1437, nesse dia e mês, a corte estava em Lisboa [Humberto
Baquero MORENO, Itinerários de El-Rei D. Duarte (1433-1438). Academia Portuguesa de História, Lisbo,
1976, pp. 89 e 100.

573
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

35 - 1436, Outubro, 02 – Torres Vedras.


Da declaração que el-rei D. Duarte fez sobre as seguranças gerais dadas a
alguns para ir a Ceuta ou a algum outro lugar.
[O A – Liv. V, Tít. 115]

36 - 1436, Novembro, 22/12 – Lisboa.


Dos trajes que hão de trazer os mouros.
[O A – Liv. II, Tít. 103, §§ 1-4]

37 - 1436, Novembro, 30 – Lisboa.


Lei sobre as restrições impostas à saída de ouro e prata do reino.
[IAN/TT – Chancelaria D. Duarte, Livro 2, fls. 19-19v]
[Ordenações de D. Duarte – pp. 553-555 (com data de 1436, Outubro, 16, em Torres Vedras)]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc.
28, pp. 371-372]
[Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova
de Lisboa. Lisboa, 1999, vol. II (Livro da Casa dos Contos), doc. 43, pp. 76-79]

38 - 1436, Dezembro, 05 – Lisboa.


De como hão de ser feitos os contratos entre os cristãos e os judeus.
[O A – Liv. II, Tít. 73, §§ 14-16]

39 - 1437, Abril, 13 – Almeirim.


Declaração feita acerca da saca do pão e gados que se levam para fora do reino.
[O A – Liv. II, Tít. 36, §§ 1-3]
[O A – Liv. V, Tít. 48, §§ 3-5]

40 - 1437, Agosto, 03 – Lisboa.


Dos que compram as facas, que vem de Inglaterra, para as levarem para fora
do reino.
[O A – Liv. IV, Tít. 50, § 1]

41 - 1437, Novembro, 09 – Carnide.


Do perdão que el-rei fez aos que foram a Tânger e estiveram no palanque até
ao recolhimento do infante D. Henrique.
[O A – Liv. V, Tít. 86, §§ 1-2]

42 - 1437, Dezembro, 23 – Torres Novas.


Do perdão que el-rei fez aos que foram a Tânger e estiveram no palanque até
ao recolhimento do infante D. Henrique.
[O A – Liv. V, Tít. 86, §§ 3-6]

43 - 1438, Junho, 16 – Aviz.


Do monteiro mor e cousas que a seu ofício pertencem.
[O A – Liv. I, Tít. 67, § 7]

574
José Domingues

44 - 1439, Setembro, 18 –
Alvará régio que proíbe ao Desembargo do Paço o conhecimento de feitos de
almotaçaria.
[RODRIGUES, Maria Teresa Campos – Aspectos da Administração Municipal
de Lisboa no Século XV. Lisboa, 1968, p.60]

Leis sem data:

45 - [1433-1438]
Das armas como se hão de filhar.
[O A – Liv. I, Tít. 31, § 15]

46 - [1433-1438]
Que os clérigos e frades não paguem portagem senão como pagam os outros
cristãos.
[O A – Liv. II, Tít. 21]

47 - [1433-1438]
Dos direitos reais que aos reis pertence de haver em seus reinos por direito
comum.
[O A – Liv. II, Tít. 24, §§ 1-37]

48 - [1433-1438]
Que o judeu não tenha mancebo cristão por soldada, nem a bem fazer.
[O A – Liv. II, Tít. 66, §§ 1-3]

49 - [1433-1438]
Que os judeus não entrem em casa de cristãs nem as cristãs em caso dos
judeus.
[O A – Liv. II, Tít. 67, §§ 1-6]

50 - [1433-1438]
Que os judeus não sejam escusados de pagar portagem, nem havidos por vizi-
nhos em alguma vila, ainda que ai morem longamente.
[O A – Liv. II, Tít. 69, § 1]

51 - [1433-1438]
Das penas para os judeus que forem achados fora da judiaria depois do sino
da oração.
[O A – Liv. II, Tít. 80, § 13]

52 - [1433-1438]
Que os mouros não tenham por servidores cristãos, nem arrendem as dízimas
nem ofertas das igrejas.
[O A – Liv. II, Tít. 106]

575
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

53 - [1433-1438]
Que os mouros não sejam oficiais de el-rei, nem de nenhum dos infantes, nem
de outros quaisquer senhores.
[O A – Liv. II, Tít. 107]

54 - [1433-1438]
Que os mouros não gozem dos privilégios por que os cristãos como vizinhos
dos lugares são isentos de pagarem portagens e outras costumagens.
[O A – Liv. II, Tít. 108]

55 - [1433-1438]
Que o cristão não compre herdade de mouro sem especial autoridade de el-rei.
[O A – Liv. II, Tít. 111, §§ 1-8]

56 - [1433-1438]
Dos que acham os mouros cativos, que fogem, quanto hão de levar pelo acha-
dego.
[O A – Liv. II, Tít. 113, §§ 1-2]

57 - [1433-1438]
Dos que aconselham e ajudam ou encobrem os mouros cativos para fugirem.
[O A – Liv. II, Tít. 114]

58 - [1433-1438]
Dos que podem trazer seus contendores à corte por razão de seus privilégios.
[O A – Liv. III, Tít. 4, §§ 6-7]

59 - [1433-1438]
Que não dêem cartas direitas por informações, salvo por instrumentos de
agravo ou cartas testemunháveis com resposta dos juizes ou corregedores.
[O A – Liv. III, Tít. 115]

60 - [1433-1438]
Confirma a lei de D. Dinis, do credor que primeiramente houver sentença e
fizer execução, que preceda outras todas, ainda que sejam primeiras no tempo.
[O A – Liv. III, Tít. 97, §§ 2]

61 - [a. 1436, Novembro, 30 (?)]


Que não arrendem nem aforem por ouro nem prata, senão por moeda geral
corrente no reino. Que nenhum não compre nem venda ouro e prata para
revender como “cambador”.
[IAN/TT - ]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal.
(1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc. 27, pp. 369-371]
[Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova
de Lisboa. Lisboa, 1999, vol. II (Livro da Casa dos Contos), doc. 68, pp. 108-110
(atribuída a D. Afonso V)]

576
José Domingues

[O A – Liv. IV, Tít. 2, §§ 13-17]

62 - [1433-1438]
Que nos arroidos não chamem outro apelido senão o d’ElRey.
[Livro dos Conselhos de El Rei D. Duarte, Lisboa, 1982, p. 134]
[Monumenta Henriquina, Coimbra, 1964, vol. VI, 201-202]
[O A – Liv. V, Tít. 71, § 1-2]

63 - [1433-1438]
Mandou que quando alguém fosse condenado na corte ou na Casa do Cível
por ter casado com duas mulheres, ou com criada daquele com que vive, se
não fizesse a execução antes de lho comunicarem a el-rei.
[O A – Liv. V, Tít. 14, § 3]

64 - [a. 1433]
Que nas inquirições devassas perguntem pelo costume assim como nas outras
inquirições.
[O A – Liv. V, Tít. 35,§§ 1-5]

65 - [1433-1438]
Da ordenação que fez el-rei D. Duarte sobre a ida a Tânger.
[O A – Liv. V, Tít. 85]

66 - [1433-1438]
Que os moradores de el-rei não filhem palha até duas léguas, senão por
dinheiro.
[O A – Liv. V, Tít. 97]

67 - [1433-1438]
Daqueles que ajudam a fugir ou a encobrir os cativos que fogem.
[O A – Liv. V, Tít. 113]

D. Afonso V [1438-1481]

1 - 1440, Janeiro, 08 – Santarém.


Regimento dos porteiros.
[Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova
de Lisboa. Lisboa, 1999, vol. II (Livro da Casa dos Contos), doc. 62, pp. 100-103]

2 - 1440, Abril, 30 – Santarém.


Declaração sobre a recente lei do perdão geral.
[ODD – pp. 676-678]

577
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

3 - 1440(?) –
Taxas impostas aos tabeliães e escrivães.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Duarte, Livro 2, fl. 26 e 26v] (o documento não tem data,
mas deve ser de 1440, pois o documento anterior está datado de 30 de março de 1440 e o
documento que se segue está datado de 12 de Dezembro de 1440).
[PEREIRA, Isaias da Rosa – “O tabelionado em Portugal”, in Actas de VII Congreso
Internacional de Diplomática – Notariado público y documento privado: de los orígines al
siglo XIV –, Valencia, 1986, pp. 663-664]

4 - 1441, Março, 09 – Torres Vedras.


Ordenação sobre “feito da moeda”.
[Cartório da Câmara de Coimbra, Maço de Papéis antigos, n.º71] –RIBEIRO.

5 - 1442, Março, 17 –
Assento e resolução régia para que só os naturais do reino possam trazer armas.
[Livro das Posses da Casa da Suplicação, n.º 16]
[Inéditos da História Portuguesa, tomo 3, n.º16, p. 561]
[O A – Liv. I, Tít. 31, §§ 1-2]

6 - 1442, Março, 17 –
Assento tomado em relação, pelo infante regente, para que só depois de 6 meses
se conceda carta de segurança ao que confessa ter morto em sua defesa.
[LEÃO, Compilação de Leis I, fl. 244v]
[O A – Liv. V, Tít. 44, § 2]

7 - 1442, Abril, 27 –
Regimento do Monteiro Mor.
[IAN/TT – Livro das Extras, fl. 210]
[O A – Liv. I, Tít. 67]

8 - 1442, Setembro, 30 – Coimbra.


Das citações, pregões, procurações e inquirições de que a el-rei pertence haver
direito.
[O A – Liv. I, Tít. 50]

9 - 1443, Janeiro, 15 –
Assento ou determinação régia do infante D. Pedro, sobre as cartas de segu-
rança.
[OM – Liv. I, Tít. 5, § 11]
[OM – Liv. V, Tít. 49, § 4]
[Livro de Pergaminho, fl. 14]
[LEÂO, Duarte Nunes de – Compilação de Leis I, part. 3, tit. Das cartas de seguro, e dos que
per ellas se liurão, fl. 244v]
[Inéditos de História portuguesa, tomo 3, n.º15, p. 560]
[O A – Liv. V, Tít. 57, § 3]?

10 - 1443, Janeiro, 31 – Évora.


Lei para os alcaides e carcereiros não deixarem andar soltos os presos que lhe
forem entregues.

578
José Domingues

[Porto, AHM – 2.º Livro das Vereações (1401-1449), fl. 167-167v]


[Publ. “Vereações” Anos de 1401-1449, pp. 261-262]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 694 da BGUC, fl. 299]
[O A – Liv. V, Tít. 93, § 2 (sem data)]

11 - 1443, Março, 03 – Lisboa.


Regimento do chanceler, meirinho e porteiro das correições das comarcas.
[O A – Liv. I, Tít. 72]

12 - 1443, Maio, 01 – Lisboa.


Alvará de D. Afonso V proibindo que ninguém leve a vender para fora do rei-
no pão, nem cavalos, sem sua licença, descriminando as coimas para o que é
levado por água ou por terra.
[Porto, AHM – Livro II de Verações fl. 175-175v]
[Publ. “Vereações” Anos de 1401-1449, pp. 277-279]

13 - 1444 – Lisboa.
Regimento dos almotacés da cidade de Lisboa, dado pelo almotacé-mor, João
esteves Correia.
[Livro das Posturas Antigas. Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa, 1974, pp. 98-114]

14 - 1445, Janeiro, 11 – Beja.


Dos que tolhem penhor aos porteiros ou tornam mão à justiça.
[IAN/TT – Livro de Extra, fl. 248v]
[O A – Liv. V, Tít. 63, §§ 3-5]

15 - 1445, Junho, 18 –
Determinações do regente, o infante D. Pedro, às dúvidas que lhe foram apre-
sentadas pelo contador João Martins sobre o lançamento e cobrança do pedi-
do desse ano, mandadas registar no livro das ordenações dos contos.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Duarte, Liv. 2, fl. 41v]
[Descobrimentos Portugueses, Supl. ao vol. I, p. 527]
[GONÇALVES, Iria – Pedidos e Empréstimos Públicos em Portugal Durante a Idade Média.
Lisboa, 1964, doc. 17, pp. 235-239]
[Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova
de Lisboa. Lisboa, 1999, vol. II (Livro da Casa dos Contos), doc. 113, p. 165]

16 - [a. 1446]
Duas ordenações sobre o perdão régio.
[O A – Liv. I, Tít. 4, §§ 2-5 e 6-17]

17 - [a. 1446]
De como el-rei pode e deve espaçar as dívidas aos seus naturais.
[O A – Liv. II, Tít. 37]

18 - [a. 1446]
Das cartas empetradas de el-rei por falsa informação ou calada a verdade ou
dadas sem conhecimento.
[O A – Liv. II, Tít. 38]

579
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

19 - [a. 1446]
De como as rainhas e os infantes hão de usar das jurisdições nas vilas e terras
que lhes forem dadas por el-rei.
[O A – Liv. II, Tít. 40]

20 - [a. 1446]
Dos mancebos serviçais que vivem a bem fazer e depois demandam satisfação
do serviço que fizeram.
[O A – Liv. IV, Tít. 28]

21 - [a. 1446]
Do judeu que comprou algum mouro servo, que depois se torna cristão.
[O A – Liv. IV, Tít. 51]

22 - [a. 1446]
Dos rufiões que têm mancebas na mancebia pública para as defenderem e
haverem delas o que ganham no pecado da mancebia.
[O A – Liv. V, Tít. 22]

23 - [a. 1446]
Do que dorme com mulher que é casada de facto e não de direito, por causa
de algum divido ou cunhadia.
[O A – Liv. V, Tít. 23]

24 - [a. 1446]
Do judeu ou mouro que dorme com alguma cristã ou do cristão que dorme
com alguma moura ou judia.
[O A – Liv. V, Tít. 25]

25 - [a. 1446]
Do judeu ou mouro que anda em hábito de cristão, nomeando-se por cristão
[O A – Liv. V, Tít. 26]

26 - [a. 1446]
Do que usa de escritura ou testemunhas falsas, sem cometer alguma falsidade.
[O A – Liv. V, Tít. 38]

27 - [a. 1446]
Do que despende moeda falsa cientemente e não foi dela feitor.
[O A – Liv. V, Tít. 39 e Tít. 82]

28 - [a. 1446]
Do condenado à morte por sentença, que não possa fazer testamento.
[O A – Liv. V, Tít. 55]

580
José Domingues

29 - [a. 1446]
Dos que arrancam os marcos sem consentimento das partes, nem autoridade
da justiça
[O A – Liv. V, Tít. 60]

30 - [a. 1446]
Dos advogados e procuradores que são prevaricadores, advogando por ambas
as partes.
[O A – Liv. V, Tít. 64]

31 - [a. 1446]
Do que foi degradado por el-rei e não manteve o degredo
[O A – Liv. V, Tít. 67]

32 - [a. 1446]
Dos que tiram os presos do poder da justiça, ou das prisões em que jazem.
[O A – Liv. V, Tít. 90]

33 - [a. 1446]
Dos que fazem ou dizem injúrias aos julgadores, sobre o seu ofício.
[O A – Liv. V, Tít. 91]
[O A – Liv. III, Tít. 30, §§ 2 e 3]

34 - [a. 1446]
Dos que fazem cárcere privado, por si, sem autoridade de el-rei.
[O A – Liv. V, Tít. 92]

35 - 1447, Setembro, 20 –
D. Afonso V confirmou a lei da amortização, concedendo a graça de exceptuar
os imóveis possuídos antes da morte de D. João I até ao dia 20 de Setembro de
1447; quanto aos outros, determinou a estrita observância das leis da amorti-
zação. Mandou registar esta ordenação no final do Livro II de Ordenações.
[Maço 1 dos Pergaminhos de Vairão, n.º5] – (Ribeiro)
[Cartório de Santo Tirso, Gaveta 36 de pap. Var., n.º 45] – (Ribeiro)
[Porto, AD – Cartório do Cabido, Livro XXIX (1687), fls. 67-68]
[Cartório de Alcobaça, Tombo Velho, fl. 25 (Mon. Lus.)]
[Beja, AM - ]
[IAN/TT – Sé de Lamego, Cx. 4, maço único de concordatas, n.º14
(pública forma de 15 de Julho de 1448)]
[Ordenações Manuelinas, Liv. II, tít. 8, § 6]
[SANTOS, Frei Manuel dos – Monarquia Lusitana. Parte 8, Lisboa, 1727, Liv. XXII, Cap. XIX,
pp. 132-134 (edição fac-similada, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 1988)]
[LEÃO, Duarte Nunes de – Extravagantes, Lei de 27 de Novembro de 1499]
[VIANA, Abel – “Livro do Tombo da Igreja de São João (pergamináceo quinhentista)”.
Arquivo de Beja, Beja, 1945, vol. II, pp. 147-150]

581
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

36 - 1448, Fevereiro, 04 – Évora.


Da declaração que el-rei fez acerca dos coutos dados aos lugares dos extremos.
[FIGUEIREDO, José Anastácio de – “Memoria Para dar huma idêa justa do que erão
as Behetrias, e em que differião dos Coutos, e Honras”. in Memorias de Litteratura
Portugueza, publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa.
Tomo I, Lisboa, 1792, pp. 252-257]
[O A – Liv. V, Tít. 118]

37 - 1448, Agosto, 30 – Lisboa.


De como cada um pode comprar e vender a prata por quanto preço lhe prou-
ver, sem embargo da ordenação antes feita.
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed.,
Porto, 1964, Vol. I, doc. 30, pp. 372-373]
[O A – Liv. IV, Tít. 110]

38 - 1449, Junho, 27 – Lisboa.


Dos que foram na batalha de Alfarrobeira contra serviço de el-rei.
[Provas da História Genealógica]
[O A – Liv. V, Tít. 120]

39 - 1450, Fevereiro, 25 –
Das seguranças reais, como e por quem devem ser dadas.
[Liv. da Ex. fl. 88v]
[O A – Liv. III, Tít. 122]

40 - 1450, Março, 05 – Évora.


Da pena que merecem os que abrem as cartas mandadeiras de el-rei ou da
rainha ou de outros senhores.
[O A – Liv. II, Tít. 123]

41 - 1450, Novembro, 12 – Santarém.


Alvará dos privilégios dos corregedores.
[IAN/TT – Gaveta 14, maço 8, n.º23. (em carta de 1486, Agosto, 20)]
[IAN/TT – Corpo Cronológico, Parte 1, maço 3, doc. 74. (em carta de 1521, Novembro, 27)]
[Supostamente colocado no final do Liv. III das O A]

42 - 1450, Novembro, 20 –
D. Afonso V – “despois desta Hordenaçom acabada” – ordena que não se
guarde a ordenação que mandava comutar o degredo para Ceuta em menos
de metade do que se dava para dentro do reino [lei de 1431, Setembro, 25],
visto agora não ser necessário enviar para lá gente.
[O A – Liv. V, Tít. 114, § 8-9]

43 - 1450 –
Regimento do escrivão da puridade.
[TOVAR, Conde de – Estudos Históricos, vol. III, Lisboa, 1961, pp. 161-164]

582
José Domingues

44 - 1451, Dezembro, 01 – Lisboa.


Da inovação que el-rei D. Afonso V fez sobre a lei feita por el-rei seu pai sobre
a paga do ouro e prata que é emprestada.
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal.
(1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc. 31, pp. 373-374]
[O A – Liv. IV, Tít. 109]

45 - 1452, Fevereiro, 26 – Évora.


De como é defeso que se não forre mouro ou moura cativo se não por preço
que traga de sua terra, ou por resgate de outro cristão, que lá jaz cativo.
[O A – Liv. IV, Tít. 111]

46 - 1452, Junho, 05 – Évora.


De como hão-de ser dados os órfãos por soldadas e a quais pessoas.
[O A – Liv. IV, Tít. 112]

47 - 1453, Abril, 05 –
Regimento sobre as avenças dos pescadores de Castro Marim.
[IAN/TT – Maço 1 de Leis, n.º 166]

48 - 1454, Maio, 27 – Lisboa.


Da declaração das leis sobre as barregãs dos clérigos.
[Porto, AD – Cartório do Cabido da Sé do Porto, Livro XXII (1680), fl. 8]
[Porto, AD – Livro das Sentenças XCV, fls. 33-43v (traslado do doc. anterior, com data de
1481, Maio, 27)]
[O A – Liv. V, Tít. 121]

49 - 1455, Setembro, 23 – Lisboa.


Publicação de uma lei sobre a valia das libras.
[Porto, AHM – Livro B, fls. 56-58]

50 - 1457, Novembro, 08 –
Ordenação ou lei de D. Afonso V sobre a lei da amortização.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Duarte, Liv. 2, fl. 31v]

51 - 1457, Dezembro, 15 –
Lei declaratória sobre os escravos infiéis dos judeus que se tornassem cristãos.
[Biblioteca do Mosteiro de Alcobaça, Códice 323 do Liv. II Aff., fl. 176v]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 704 da BGUC, fl. 264]
[O A – Liv. IV, Tít. 51]

52 - 1458, Janeiro, 09 –
Lei sobre o conhecimento de resíduos e capelas.
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 155 e fl. 86v]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º696, fl. 189]

583
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

53 - 1459, Agosto, 21 – Sintra.


Ordenação sobre os fretes dos navios de socorro, com gente e mantimentos, a
Ceuta e Alcácer Ceguer. Mandada registar no livro das ordenações dos Con-
tos de Lisboa.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Afonso V, Liv. 37, fl. 77v]
[MARQUES, J. M. da Silva – Descobrimentos Portugueses, vol. I, p. 567]

54 - 1460, Outubro, 22 –
Lei que permite aos mestres, pilotos, marinheiros e mercadores de Galiza e
Astúrias o uso de punhais e adagas.
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 59]
[Vide O M, Liv. I, Tít. 57, § 2]

55 - 1460, Outubro, 27 – Lisboa.


Regimento dos ourives da prata dado por D. Afonso V.
[Documentos para a história da cidade de Lisboa. Livro I de Místicos de Reis, Livro II dos
Reis D. Dinis, D. Afonso IV e D. Pedro I. Lisboa, 1947, doc. 18, pp. 79-83]

56 - 1451-1461
Do privilégio dado aos rendeiros das rendas de el-rei nosso Senhor.
[Lisboa, BN – Livro II Afonsinas, alcobacenses, cód. 222, fl. 170]
[O A – Liv. II, Tít. 122]

57 - 1461, Março, 20 – Évora.


Confirmação da lei de D. João I, do que hão de pagar os tabeliães gerais do
reino a el-rei.
[IAN/TT – Chancelaria de D. Afonso V, Liv. 37, fl. 85v]
[DUARTE, Luís Miguel – Justiça e Criminalidade no Portugal Medievo (1459-1481).
Dissertação de Doutoramento em História da Idade Média apresentada à Faculdade de
Letras da Universidade do Porto. Porto, 1993, vol. III, Doc. 17.]
[O A – Liv. II, Tít. 34]

58 - 1461, Abril, 23 – Évora.


Lei Régia que criou a figura do boticário, retirando aos médicos e aos cirur-
giões a função do fabrico de mezinhas (medicamentos).
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 51
[Vide OM, Liv. I, Tít. 15]
[SILVA, Pedro José da – Principaes factos da Pharmacia Portugueza. Lisboa, 1868, pp. ]
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, vol. III, pp. 74-75]

59 - 1461, Julho, 08 –
Lei para não serem escusos de jugada os vassalos, besteiros e monteiros que
não tiverem cavalo, quando não mostrarem alvará especial de el-rei.
[Lisboa, BN – Liv. II Afonsinas, cód. 222, fl. 179]
[OM, Liv. II, Tít. 16, §§ 19-20]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 704 da BGUC, fl. 269]

60 - 1461, Outubro, 18 –
Carta régia que manda cumprir a sentença do bispo da Guarda de 6 do mes-
mo mês, como executor da bula de Pio II de 3 das calendas de Maio, também
do mesmo ano.

584
José Domingues

[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 197v]


[RIBEIRO, João Pedro – Qual seja a Época da introdução do Direito das Decretaes em
Portugal, e o influxo que o mesmo teve na Legislação Portugueza. in “Memorias de
Litteratura Portugueza”, Tomo VI, Lisboa, 1796, p. 32 (refere o Cartório da Câmara do
Porto, Pergaminho Volante n.º cccclxj)]
[O M – Liv. II, Tít. 1, §§ 14 e 15]

61 - 1462, Março, 28 –
Que se pague sisa dos cavalos que vão para Guiné.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), p. 183]

62 - 1463 –
Para se praticar com os mosteiros a respeito de jugada o mesmo que se fazia
no tempo de D. João I
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 240v]
[O M, Liv. II, Tít. 16, § 22}

63 - 1465, Março, 04 –
Para que os escrivães das ovidorias da Corte sirvam uns nos impedimentos
dos outros.
[LEÃO, Compilação I, fl. 42]
[OM, Liv. I, Tít. 20, § 22]

64 - 1465, Março, 15 –
Que reduziu a oito os dez escrivães do corregdor da Corte, não se provendo
os que vagarem até ficar o dito número.
[LEÃO, Compilação I, fl. 39]
[OM, Liv. I, Tít. 20, § 29]

65 - 1465, Março, 20 –
Para que os escrivães da Corte sirvam uns nos impedimentos dos outros.
[LEÃO, Compilação I, fl. 40]
[OM, Liv. I, Tít. 20, § 22]

66 - 1465, Junho, 05 – Portalegre.


Ordenação porque mandou tomar todos os castelos, vilas e lugares que nestes
reinos tinha D. Pedro, seu primo, por causa da retirada que deles fez para o de
Aragão, aonde se aclamou rei.
[IAN/TT – Liv. 3 de Místicos, fl. 46]
67 - 1465, Agosto, 25 – Guarda.
Alvará com treze determinações régias, nas cortes da Guarda.
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º 170]

68 - 1465, Agosto, 31 –
Carta que impõe pena aos tesoureiros e almoxarifes e seus recebedores que
houverem peita.
[Livro Vermelho da Casa da Suplicação, n.º36]

585
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

69 - 1468, Junho, 01 –
Regimento dos tabeliães.
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 177]
[OM, Liv. I, Tít. 63]

70 - 1468, Setembro, 18 –
Regimento do anadel mor dos besteiros do monte.
[IAN/TT – Livro das Extras, fl. 135]

71 - 1468, Outubro, 31 –
Lei que estabelece as penas contra os que caçarem perdizes com boi, rede ou
candeo.
[IAN/TT – Maço 1 de Leis, n.º 174]
[OM, Liv. V, Tít. 84]

72 - 1469, Maio, 16 –
Concede aos captivos todos os resíduos e bens dos intestados do reino e seus
domínios.
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 104v]
[OM, Liv. II, Tít. 35, § 12]

73 - 1470, Abril, 18 – Santarém.


Lei que declara que achando-se marcado o preço de 340 reais brancos aos
Henriques, mas lavrando-se depois estas moedas de baixa e variada liga, fica-
va determinado que ninguém daí em diante recebesse senão pelo seu valor
intrínseco, na razão de 16 reais brancos de 9,5 pretos por quilate de ouro; e
que pela grande quantidade que deles girava no comércio se permitia o lavra-
rem-se em cruzados, depois de afinado o ouro, como se achava estabelecido
na ordenação, pagando-se o custo do lavramento e afinação.
[Livro Vermelho, no tomo III dos Inéditos da Academia Real das Ciências, p. 436]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal.
(1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc. 34, pp. 382-383]

74 - 1470, Junho, 08 –
Acordo e determinação régia para poderem ser castigados pela justiça secular
os clérigos que não forem punidos como devem pela justiça eclesiástica.
[Livro Vermelho da Casa da Suplicação]
[Inéditos da Hist. Port., tomo 3, p. 399]
[OM, Liv. II, Tít. 2]
[Ordenações da Fazenda, cap. 242]
75 - 1470, Junho, 23 –
Regimento do promotor de justiça de Santarém.
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 98v]

76 - 1470, Outubro, 19 –
Lei que proíbe resgatar mais nos tratos e terras da Guiné gatos d’algallea,
malagueta e toda a especiaria, pedras preciosas, nem tintas, sem expressa e
especial licença, debaixo de graves penas.

586
José Domingues

[IAN/TT – Livro das Extras, fl. 56]


[Inéditos da Academia Real das Ciências, tomo 3, p. 458]

77 - 1470, Dezembro, 05 –
Lei que levanta as seguranças especiais dadas aos ingleses.
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 696 da BGUC, fl. 129]

78 - 1471, Abril, 16 – Santarém.


Regimento sobre os caimbos e Henriques.
[Livro Vermelho, Inéditos da Academia Real das Ciências, tomo III, pp. 430-435]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964,
Vol. I, doc. 35, pp. 384-386]

79 - 1471, Agosto, 13 –
Declaração ao regimento do almirante do reino.
[IAN/TT – Maço 1 de Leis, n.º 177]
[Évora, BP – Cód. CXIX/1-6, fl. 16v]
[SOUSA, António Caetano de – Provas da História Genealógica da Casa Real Portuguesa.
Lisboa, 1744, tomo III, pp. 405-406]
[As Gavetas da Torre do Tombo, Centro de Estudos históricos Ultramarinos,
Lisboa, 1962, vol. II, fl. 41-44]
[MARQUES, J. M. da Silva – Descobrimentos Portugueses, vol. III, doc. 71 e 72, pp. 96-101]

80 - 1472, Setembro, 16 – Coimbra.


Ordenação sobre a moeda dos meios grossos.
[Livro Vermelho, Inéditos da Academia Real das Ciências, tomo III, p. 444]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed.,
Porto, 1964, Vol. I, doc. 36, pp. 386-389]
[Costa LOBO, História da Sociedade em Portugal no Séc. XV, p. 329]

81 - 1473, Março, 13 – cortes de Coimbra-Évora.


Lei do acrescentamento das libras.
[IAN/TT – Remessa de Santarém, Liv. 16, fl. 100]
[Ordenações Manuelinas, Liv. IV, Tít. 1, §§ 1-8]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964,
Vol. I, doc. 37, pp. 389-391]
[Costa LOBO, História da Sociedade em Portugal no Séc. XV, pp. 334 e ss.]

82 - 1474, Agosto, 20 – Lisboa.


Lei para que ninguém arme navio sem licença de el-rei e prestar fiança de não
prejudicar aos amigos e aliados deste reino.
[Porto, AHM – Livro A, fls. 133-134]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 696 da BGUC, fl. 131]

83 - 1474, Agosto, 31 – Lisboa.


Ordenação que proíbe o tráfico, resgate, guerras e cativeiros de mouros, sem
licença ou autoridade régia, nas terras e mares da Guiné e ilhas do mar ocea-
no, desde o cabo Bojador até ao sul; o roubo e apresamento de navios; a sone-

587
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

gação e transporte de mercadorias escondidamente e a cumplicidade nestes


delitos; e o contrabando de malagueta e especiarias – tudo sob as penas nela
cominadas.
[IAN/TT – Maço 1 de Leis, n.º178 (original)]
[MERÊA, Paulo – Novos Estudos de História do Direito, Barcelos, 1937, Apêndice, pp. 43-45]
[As Gavetas da Torre do Tombo, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos,
vol. II, Lisboa, 1962, pp. 487-489]
[Descobrimentos Portugueses, vol. III, pp. 153-454]

84 - 1476, Setembro, 27 –
Regimento das sisas.
[Sistema dos Regimentos, tomo I, p. 205]

85 - 1476, Novembro, 21 –
Determinação régia para que nos feitos de mortes se ajuntassem todos os
desembargadores da Casa da Suplicação, quantos a esse tempo em ela esti-
vessem para julgar.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Compiação de Leis, Parte I, p. 60v]

86 - 1477 – Montemor-o-Novo.
Regimento para se cobrar o pedido, feito pelo príncipe D. João.
[Lisboa, AHCM – Cortes, Liv. 1, fl. 115]
[Ref. SANTARÉM, Visconde de]

87 - 1478, Janeiro, 26 –
Determinação régia para que quando na Casa da Suplicação houvesse sete ou
mais desembargadores, não fossem às mortes menos de sete; que porém não
havendo nela mais de sete, estejam todos e da mesma forma quando não che-
garem ao dito número.
[LEÃO, fl. 61]
[OM, Liv. I, Tít. 1, § 9]

88 - 1480, Janeiro, 18 –
Que proibiu contratar em alambres, por pertencer esta negociação ao príncipe.
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º 184 e 192]
[OM, Liv. V, Tít. 113]

89 - 1480, Março, 18 – Viana do Alentejo.


Declaração de como os privilegiados devem pagar jugada.
[IAN/TT – Maço I de Leis, n.º 183]
[IAN/TT – Livro de Extras, fl. 200]
[OM, Liv. II, Tít. 16, §§ 12-14]

90 - [1446-1481]
D. Afonso V esclareceu determinadas dúvidas sobre a Lei Mental.
[O M – Liv. II, Tít. 17, § 25]

588
José Domingues

D. João II [1481-1495]

1 - 1482, Março, 11 –
Carta aos poderosos de Entre Douro e Minho para não acolherem malfeitores.
[Porto, AHM – Livro das Vereações, fl. 58v]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 695 da BGUC, fl. 132]
[Vide OM; Liv. V, Tít. 90]

2 - 1482, Março, 17 –
Carta aos vigairos dos prelados de Entre Douro e Minho sobre as censuras
que punham às justiças de el-rei, por causa das imunidades pessoais e locais.
[Porto, AHM – Livro das Vereações, fl. 59]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º694, fl. 299]

3 - 1482, Abril – Viana do Alentejo.


Determinação acerca das moedas.
[CHAVES, Álvaro de – Livro de Apontamentos (1438-1489). Lisboa, 1983, p. 82]

4 - 1483, Fevereiro, 08 –
Condições de lançamento e cobrança do pedido.
[IAN/TT – Suplemento de Cortes, maço 2, n.º 17]

5 - 1483 – Santarém.
Lei pragmática sobre o excesso dos vestidos.
[CHAVES, Álvaro de – Livro de Apontamentos (1438-1489). Lisboa, 1983, pp. 252-254]

6 - 1483, Dezembro, 14 – Porto.


Regimento dos pesos e medidas dado à cidade do Porto pelo almotacé-mor,
Rui de Sousa.
[Porto, AHM – Livro das Vereações de 1475/1484, fls. 229v-233]
[Documentos e Memórias para a História do Porto – V. Livro Antigo de Cartas e Provisões
dos Senhores Reis D. Afonso V, João II e D. Manuel I do Arquivo Municipal do Porto.
Prefácio e notas de Artur de Magalhães BASTO. Publicações da Câmara Municipal do
Porto Gabinete de História da Cidade. Porto [s. d.], pp. 175-180]

7 - 1485, Janeiro, 31 – Montemor-o-novo.


Lei isentando por dez anos de dízima toda a prata que vier de fora e se meter
na moeda, facultando a exportação de seis cruzados de ouro por cada marco
de prata que se importar.
[Porto, AHM – Livro das Vereações de 1484 e ss., fls. 36v-38]
8 - 1485, Março, 19 –
Alvará que proíbe a extracção de couros para fora do reino por mais três anos.
[Porto, AHM – Livro de Vereações, fl. 39]
[Vide OM; Liv. 5, Tít. 88]

9 - 1487, Março, 11 – Santarém.


Lei pela qual se proíbe o uso de sedas.
[IAN/TT – Maço I de Leis, doc. 188]

589
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

10 - 1488, Outubro, 14 – Setúbal.


Carta régia sobre os pesos de que só se poderiam usar no reino.
[Porto, AHM – Livro das Vereações, fl. 21]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º701, fl. 35]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto, 1964, Vol. I, doc.
43, pp. 393-394]

11 - 1488, Dezembro, 19 –
Do filho que fere seu pai.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), p. 119v]

12 - 1489, Dezembro, 25 – Momtemor-o-Novo.


Regimento sobre as novas moedas de ouro e prata que mandara lavrar.
[Porto, AHM – Livro Antigo de Cartas e Provisões, fls. 5-6]
[Lisboa, AHM – Liv. 3 de D. João II, fl. 17]
[Colecção de cortes da Academia das Ciências, tomo III, p. 190]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º701, fl. 412]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed., Porto,
1964, Vol. I, doc. 44, pp. 394-395]
[Documentos e Memórias para a História do Porto – V. Livro Antigo de Cartas e Provisões
dos Senhores Reis D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I do Arquivo Municipal do Porto.
Prefácio e notas de Artur de Magalhães BASTO. Publicações da Câmara Municipal do
Porto Gabinete de História da Cidade. Porto, [s. d.], pp. 10-12]

13 - 1492, Outubro, 19 –
Lei que concede amplos privilégios a todos os que se converterem à religião
cristã.
[Évora, AD – Livro 3.º de Originais, fl. 205-206v]
14 - 1492, Novembro, 06 –
Lei proibindo geralmente o uso de bestas muares de sela e freio e aos ferrado-
res ferrarem-nas.
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 704 da BGUC, fl. 272]

15 - [----]
Ordenação da guarda de el-rei.
[CHAVES, Álvaro de – Livro de Apontamentos (1438-1489). Lisboa, 1983, pp. 68-71]

16 - [----]
Regimento da guarda de el-rei.
[CHAVES, Álvaro de – Livro de Apontamentos (1438-1489). Lisboa, 1983, pp. 82-85]

17 - 1495, Dezembro, 30 – Montemor-o-Novo.


Regimento ao desembargador da alçada da comarca da Beira.
[IAN/TT – Gaveta XX, maço 10, n.º11]

590
José Domingues

[DUARTE, Luís Miguel – Justiça e Criminalidade no Portugal Medievo (1459-1481).


Fundação Calouste Gulbenkian– Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Textos
Universitários de Ciências Sociais e Humanas, Coimbra, [1999], doc. 93, pp. 636-646]

D. Manuel I [1495-1521]

18 - 1496, Janeiro, 08 – Montemor-o-Novo.


Ordenação sobre o regimento dos juízes e título das medidas e pesos.
[IAN/TT – Gaveta XX, maço 10, n.º 11, fl. 12v]
[Ordenações Manuelinas, Liv. 1, Tít. 44]
[RIBEIRO, João Pedro – Dissertações Chronologicas e Criticas, tomo IV, Parte I, Lisboa, 1867,
doc. 7, pp. 192-199]

19 - 1497, Julho, 08 –
Carta aos juizes do Porto incluindo outra de 30 de Junho deste ano ao desem-
bargador Pero Gouveia, limitando-lhe o regimento que tinha na alçada em
que andava nas comarcas de Entre Douro e Minho e Tras dos Montes.
[Porto, AHM – Livro de Vereações, fl. 87]
[Coimbra, BGU – Secção de Manuscritos, RIBEIRO, João Pedro – Ms. n.º695, fl. 292]

20 - 1497, (a. Outubro) –


Que os judeus e mouros forros saiam do reino e não morem, nem estejam nele.
[Ordenações Manuelinas, Liv. II, Tít. 41]

21 - 1498, Agosto, 01 –
Que as igrejas e mosteiros e pessoas eclesiásticas não paguem sisa nem dízima.
[Porto, AD – Cartório do Cabido, Livro dos Originais n.º XXIX (1687), fl. 4]
[Porto, AD – Cartório do Cabido, Livro das Sentenças n.º CII, fls. 124v e ss.]
[Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. 1496]
[Rerum Memorabilium, vol. 2, fl. 94v]
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), pp. 184-185]

22 - 1499, Janeiro, 18 –
Lei sobre o governo destes reinos enquanto estivesse unido aos mais de Espanha.
[IAN/TT – Maço II de Leis, n.º1]
[Provas da História Genealógica]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 695 da BGUC, fl. 5]

23 - 1499, Fevereiro, 22 –
Dos que cortam bolsas.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), p. 120]

591
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

24 - 1499, Junho, 12 – Lisboa.


Carta de lei sobre a declaração do valor das moedas, feita em concelho, com
os procuradores de cada uma das comarcas do reino.
[Porto, AHM – Livro Grande fls. 3v-4 (Instrumento de 1500, Maio, 30)]
[Porto, AHM – Livro A, fls. 170v-172]
[OM, Liv. IV, Tít. 1, §§ 14-16]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 695 da BGUC, fl. 42]
[Publ. Corpus Codicum, vol. I, pp. 550-552]

25 - 1499, Julho, 14 –
Que não façam casamentos escondidos, nem case algum com mulher virgem
ou viúva que estiver em poder de seu pai, ou mãe ou avô, sem sua vontade.
[IAN/TT – Núcleo Antigo, n.º15 – Remessa de Santarém, Liv. N.º 16, fl. 93]
[FIGUEIREDO, José Anastácio de – Synopsis Chronologica, Lisboa, 1790, p. 150]
[O M (1514) – Liv. V, Tít. 27, no pr.]

26 - [s.d.]
Regimento dos pesos.
[Regimento dos Oficiais das cidades, villas e lugares destes Reinos, fls.76-79]

27 - 1499, Novembro, 27 –
Lei permitindo geralmente aos clérigos comprar bens de raiz, sem dependên-
cia de licença régia especial.
[Biblioteca do Mosteiro de Alcobaça, Códice 323 do Liv. II Aff., fl. 196v (ou 169v)]
[OM, Liv. II, Tít. 8, §§ 8-9]
[RIBEIRO, João Pedro – Ms. 704 da BGUC, fl. 274]
[RIBEIRO, João Pedro – Qual seja a Época da introdução do Direito das Decretaes em
Portugal, e o influxo que o mesmo teve na Legislação Portugueza. in “Memorias de
Litteratura Portugueza”, Tomo VI, Lisboa, 1796, p. 32]

28 - 1499 –
Como se entregarão de reino a reino os matadores à besta ou por dinheiro e
salteadores de caminhos.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), pp. 206v-207]

29 - 1500, Abril, 03 –
Que os desembargadores não ensinem às partes como hão de emendar os
artigos.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569.
(Edição «fac-simile» da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), p. 22v]

30 - 1500, Outubro, 10 – Lisboa.


Que os corregedores dêem audiência aos presos na cadeia, todos os quinze
dias, e os juizes do crime, todas as semanas.
[PEREIRA, Gabriel – Documentos Históricos da Cidade de Évora, 2.ª Parte, Évora, 1887, p. 89]

592
José Domingues

31 - 1501, Março, 23 –
Que estendeu a pena de mão cortada ao caso de rixa nova.
[LEÃO, fl. 263]
[OM, Liv. V, Tít. 10, § 10]

32 - 1501,Junho, 18 –
Lei de D. Manuel I para se não levarem armas a terra de mouros.
[IAN/TT – Leis, mç. 1, n.º 93]

33 - 1502,Março, 22 –
Lei de D. Manuel I para que nenhum escravo possa comer em taberna ou
outra qualquer venda e para que estas não estejam abertas depois do sino
corrido
[IAN/TT – Leis, mç. 1, n.º 89]

34 - 1502, Março, 31 –
Ordenação dos pesos.
[Regimento dos Oficiais das cidades, villas e lugares destes Reinos, fls. 80-80v]
[SOARES, Torquato de Sousa, nota LII ao tomo X da 2.ª edição da História da Administração
Pública em Portugal, de Gama Barros]

35 - 1502, Maio, 31 –
Carta de lei tratando dos privilégios concedidos às amas dos expostos e a seus
maridos, indicando-se o seguinte: “não pagam peitas, fintas, talhas ou pedi-
dos; são isentos de todo o cargo do concelho; não vão com presos nem com
dinheiros; são escusos de tutores e curadores à excepção dos legítimos; não
lhes tomam casas de moradas, adegas, cavalariças, pão, vinho, roupa, cevada,
palha, lenha, gallinhas, bestas de sella ou albarda”.
[TOMÁS, Manuel Fernandes – Repertorio geral ou Índice alphabetico das leis extravagantes
do reino de Portugal, publicadas depois das ordenações, comprehendendo tambem
algumas anteriores, que se achão em observancia. Coimbra, na Real Imprensa da
Universidade, 1815, vol. I, p. 49]
[Sum. – Colectânea Legislativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (1498-1998). Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa, Lisboa, 1998, p. 3]

36 - 1502, Dezembro, 31 –
Dos senhores que se devem citar por carta de Câmara.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Compilação I, fl. 213]
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), p. 91]
[Vide OM, Liv. III, Tít. 1]

37 - 1503, Abril, 20 –
Regimento que el-rei fez novamente sobre o passar do gado e as outras cousas
defesas para fora do reino.
[IAN/TT – Corpo Cronológico. Parte III, maço 2, doc. 29]
[Regimento dos Oficiais das cidades, villas e lugares destes Reinos, fls.81-91v]

593
As Ordenações Afonsinas Bibliografia

[OM, Liv. V, tít. 89]


[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), Parte 4, Tít. 6, Lei 5, p. ]

38 - 1503, Abril, 23 –
Ordenação que el-rei fez da maneira que os almoxarifes ham-de ter quando
receberem os dinheiros dos recebedores das sisas.
[Regimento dos Oficiais das cidades, villas e lugares destes Reinos, fls. 91v-92]

39 - 1503, Abril, 28 –
Ordenação que el-rei fez sobre a maneira em que os almoxarifes e recebedores
ham-de pagar seus dinheiros e assi os das partes que neles forem despachados.
[Regimento dos Oficiais das cidades, villas e lugares destes Reinos, fls. 92v-94v]

40 - 1503, Abril, 28 –
Ordenação da maneira que se há de ter na venda dos bens que se venderem
por dívida del rei.
[Regimento dos Oficiais das cidades, villas e lugares destes Reinos, fls. 94v-96]

41 - 1503, Maio, 24 –
Contra os que levarem pão, farinha e gados para fora do reino.
[IAN/TT – Corpo Cronológico, Parte 2, maço 7, doc. 119]

42 - 1504, Janeiro, 28 –
Que os comendadores e cavaleiros da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo
não paguem sisa nem dízima.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), pp. 185-186]

43 - 1504, Março, 06 –
Publicação da lei que proibiu a remessa de certos bens para a Índia.
[IAN/TT – Maço II de Leis, doc. 14]

44 - 1504, Junho, 27 –
Minuta para a lei sobre os lutos.
[IAN/TT – Maço I de Leis, doc. 10]

45 - 1504; Novembro, 13 –
Lei de D. Manuel I sobre as cartas de marear.
[IAN/TT – Leis, mç. 2, n.º 12]
46 - 1504 –
Imprime-se o Regimento dos oficiais das cidades, vilas e lugares destes rei-
nos, com a compilação de alguns títulos das Ordenações Afonsinas, revistos
e alterados.

594
José Domingues

47 - 1505, Março, 06 –
Lei de D. Manuel I que proibe levar certos géneros à Índia.
[IAN/TT - Leis, mç. 2, n.º 14]

48 - 1505, Julho, 05 – Lisboa.


Ordenação das armas que os oficiais de justiça são obrigados a possuir
[Abílio José SALGADO e Anastásia Mestrinho SALGADO, Registos dos Reinados de D. João
II e de D. Manuel I (edição fac-similada), Lisboa, 1996, pp. 392-394]

49 - 1506, Março, 31 –
Ordenação sobre a forma do pagamento dos desembargadores.
[IAN/TT – Corpo Cronológico, Parte 3, Maço 3, doc. 9]

50 - 1506, Abril, 07 –
Dos que fazem moeda falsa ou a despendem ou cerceiam. E do ourives que
faz alguma falsidade em sua obra.
[IAN/TT – Maço II de Leis, doc. 16]
[Ordenações Manuelinas, Liv. V, Tít. 6]
[ARAGÃO, A. C. Teixeira de – Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em nome
dos reis, regentes e governadores de Portugal. (1.ª ed., 1875) 2.ª ed.,
Porto, 1964, Vol. I, doc. 45, pp. 395-396]

51 - 1506, Abril, 17 – Abrantes.


Qualquer pessoa que incorrer em sodomia seja queimada e a sua fazenda con-
fiscada.
[IAN/TT – Maço II de Leis, doc. 17]
52 - 1506, Maio, 22 –
Lei de D. Manuel I para que não haja Casa dos Vinte e Quatro.
[IAN/TT – Leis, mç. 2, n.º 18]

53 - 1507, Junho, 20 –
Carta dirigida ao corregedor que andava em alçada no Algarve, o licenciado
Manuel Afonso, para que se proibissem os contratos ilícitos que se faziam por
causa da carestia do pão.
[IAN/TT – Maço II de Leis, doc. 22]
[OM; Liv. II, Tít. 14]

54 - 1509, Fevereiro, 15 –
Que dos relevamentos de degredos para os lugares do reino se tirem mil reais
para as despesas da relação.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), p. 171]

55 - 1509, Fevereiro, 21 –
Lei assinando coutos no reino para se recolherem os que andavam homizia-
dos fora dele.
[IAN/TT – Além Douro, Liv. 5, fl. 4]

595
As Ordenações Afonsinas Anexo I: Sinopse Cronológica de Legislação Medieval (1211-1512)

56 - 1511, Janeiro, 10 –
Que se não pague sisa nem dízima de livros.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), p. 184]

57 - 1511, Junho, 30 –
Do corredor das folhas da Casa do Cível: porque ordem se correrão as
folhas.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), pp. 67v-69]

58 - 1511, Outubro, 20 –
Como o regedor arbitrará as sportulas e em que feitos.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), pp. 108-108v]

59 - 1512, Julho, 23 –
Que o ouvidor do arcebispo de Braga passe cartas de seguro em caso de morte.
[Braga, AD – Colecção Cronológica, doc. 1569]
[Braga, AD – Rerum Memorabilium, vol. II, fl. 46v]
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), p. 104]

60 - 1512, Agosto, 20 –
Dos corregedores do crime da corte: que conheçam das querelas que se dão
das mulheres solteiras.
[LEÃO, Duarte Nunes de – Leis Extravagantes collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte
Nunez do Liam per mandado do muito alto e muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso
Senhor. Em Lisboa, per Antonio Gonçaluez, 1569. (Edição «fac-simile» da Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987), pp. 27v-28]

61 - 1512, Outubro, 24 –
Lei de D. Manuel I por que ordena sejam trazidos ao porto de Lisboa os escra-
vos da Guiné.
[IAN/TT – Leis, mç. 2, n.º 15]

62 - 1512 – Lisboa.
Artigos das Sisas impressos por mandado de el-rei nosso Senhor.
[Lisboa, BN – Res. 58 A (data de 1542)]
[Lisboa, BN – Res. 59 A (data de 1542)]
[Santarém, BM – N 840]

596
Anexo II

Os Capítulos de Cortes nas Afonsinas (1331-1433)

CAPÍTULOS GERAIS DE CORTES NAS ORDENAÇÕES AFONSINAS

Ordenações
Capítulos de Cortes Observações
Afonsinas

Cortes de Santarém – 1331, art.º 8º Liv.º V, Tít.º 62, § 1


Cortes de Santarém – 1331, art.º 12º Liv.º V, Tít.º 56, § 7
Cortes de Santarém – 1331, art.º 19º Liv.º III, Tít.º 107, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 20º Liv.º V, Tít.º 65, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 21º Liv.º IV, Tít.º 7, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 25º Liv.º V, Tít.º 74, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 26º Liv.º III, Tít.º 99, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 27º Liv.º II, Tít.º 55, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 28º Liv.º II, Tít.º 55, § 2
Cortes de Santarém – 1331, art.º 30º Liv.º II, Tít.º 56, §
Cortes de Santarém – 1331, art.º 32º Liv.º II, Tít.º 52, § 1 Redacção alterada.
Cortes de Santarém – 1331, art.º 33º Liv.º II, Tít.º 52, § 2 Redacção alterada.
Cortes de Santarém – 1331, art.º 38º Liv.º V, Tít.º 75, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 42º Liv.º V, Tít.º 100, § 3
Cortes de Santarém – 1331, art.º 43º Liv.º V, Tít.º 50, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 45º Liv.º IV, Tít.º 93, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 48º Liv.º V, Tít.º 47, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 50º Liv.º V, Tít.º 102, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 51º Liv.º V, Tít.º 76, § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 52º Liv.º II, Tít.º 84[26], § 1
Cortes de Santarém – 1331, art.º 54º Liv.º V, Tít.º 77, § 1

Cortes Santarém – 1331,


Liv.º III, Tít. 51 e 100
Cap. Fidalgos (?)

Cortes de Lisboa – 1352, art.º 16º Liv.º V, Tít.º 49, § 1

597
As Ordenações Afonsinas Anexo II: Os Capítulos de Cortes nas Afonsinas (1331-1433)

Cortes de Lisboa – 1352, art.º 20º Liv.º III, Tít.º 103, § 1

Cortes de Elvas – 1361[27]


Cortes de Elvas – 1361, art.º 9º Liv.º III, Tít.º 125, § 1 Com um acrescento nas OA.
Cortes de Elvas – 1361, art.º 19º Liv.º III, Tít.º 15, § 49
Cortes de Elvas – 1361, art.º 20º Liv.º III, Tít.º 104, § 1

Liv.º V, Tít.º 59, §


Cortes de Elvas – 1361, art.º 22º Não é transcrito, apenas mandado
Liv.º I, Tít.º 23, § 6
cumprir.
Não é transcrito, apenas mandado
Cortes de Elvas – 1361, art.º 23º Liv.º I, Tít.º 23, § 6
cumprir.
Cortes de Elvas – 1361, art.º 24º Liv.º II, Tít.º 50 Redacção alterada.
Erradamente art.º 28 no Ms. do IAN/TT e
Cortes de Elvas – 1361, art.º 27º Liv.º IV, Tít.º 17, § 1 art.º 20º no Ms. de Santarém, correcto no
Ms. do Porto
Erradamente art.º 25º, no Ms. do Porto,
Cortes de Elvas – 1361, art.º 35º Liv.º V, Tít.º 34, § 8
correcto no Ms. de Santarém.
Erradamente art.º 12º no Ms. do Arquivo e
Cortes de Elvas – 1361, art.º 42 Liv.º III, Tít.º 98, §
art.º 7º no Ms. da Merceana[28].
Cortes de Elvas – 1361, art.º 49 Liv.º III, Tít.º 15, § 50 Erradamente art.º 19º nas O A[29].
Erradamente 58º capítulo, no Ms. de
Cortes de Elvas – 1361, art.º 57 Liv.º IV, Tít.º 95, § 1
Santarém.
Cortes de Elvas – 1361, art.º 67 Liv.º II, Tít.º 46. Redacção alterada.
Cortes de Elvas – 1361, art.º 71 Liv.º V, Tít.º 88, §
Cortes de Elvas – 1361, art.º 73 Liv.º III, Tít.º 15, § 51
Cortes de Elvas – 1361, art.º 82 Liv.º V, Tít.º 56, § 9
Cortes de Elvas – 1361, art.º 84 Liv.º V, Tít.º 57, § 1
Cortes de Elvas – 1361, art.º 16 Liv. III, Tít. 15, § 13 Não é transcrito, apenas mandado cumprir
Cortes de Elvas – 1361, art.º 9(?) Liv.º V, Tít.º 34, § 6 Não corresponde ao art.º 9º destas cortes.

Cortes de Elvas – 1361, art.s do clero Liv. II, Tít. 5


Cortes de Elvas – 1361, art.º 7º do clero Liv.º IV, Tít.º 96, § 1 Erradamente capítulo 8º nas OA.
Erradamente capítulo geral do povo nas
Cortes de Elvas – 1361, art.º 24 do clero Liv.º V, Tít.º 27, § 1[30]
OA.

Cortes de Elvas – 1361, art.º 7 da


Liv.º V, Tít.º 87, § 1[31]
nobreza
Cortes de Elvas – 1361,
Liv.º V, Tít.º 94, § 3[32]
art.º 8 da nobreza
Cortes de Elvas – 1361, Erradamente capítulo geral do povo nas
Liv.º V, Tít.º 80, § 1[33]
art.º 18 da nobreza OA.

Erradamente art.º 7º, no Ms. de Santarém,


Cortes de Lisboa – 1371, art.º 12 Liv.º V, Tít.º 46, § 1
correcto no Ms. do Porto.
Cortes de Lisboa – 1371, art.º 20 Liv.º 3, Tít.º 15, § 25
Erradamente art.º 26º no Ms. do Porto, art.º
Cortes de Lisboa – 1371, art.º 25 Liv.º IV, Tít.º 48, § 1 27º no Ms. do Arquivo e art.º 22º no Ms. de
Santarém.
Cortes de Lisboa – 1371, art.º 30 Liv.º III, Tít.º 125, § 3 Erradamente art.º 31º nas OA.
Cortes de Lisboa – 1371, art.º 32 Liv.º II, Tít.º 48. Redacção alterada.

598
José Domingues

Cortes de Lisboa – 1371, art.º 44 Liv.º IV, Tít.º 47, § 1 Erradamente art.º 45º nas OA.
Liv.º IV, Tít.º 29, §
Cortes de Lisboa – 1371, art.º 54 Erradamente art.º 55º nas OA.
1e2
Cortes de Lisboa – 1371, art.º 58 Liv.º II, Tít.º 92 , § 1
[34]
Erradamente art.º 59º nas OA.
Cortes de Lisboa – 1371, art.º 69 Liv.º IV, Tít.º 64, § 1 Erradamente art.º 71º nas OA.
Liv.º V, Tít.º 50, § 3 Erradamente art.º 93º nas OA.
Cortes de Lisboa – 1371, art.º 90
Liv.º V, Tít.º 100, § 5 Erradamente art.º 93º nas OA.

A partir daqui seguimos a numeração de Armindo de SOUSA

Cortes do porto – 1387 ou 1398[35] Liv. o V, Tít. 24, § 1

Cortes de Évora – 1390/91, art.º (?) Liv.º II, Tít.º 86[36], § 1 Redacção alterada

Liv.º IV, Tít.º 29, §


Cortes de Viseu – 1391, art.º 1
4e5
Cortes de Viseu – 1391, art.º 6 Liv.º V, Tít.º 58, § 1
Cortes de Viseu – 1391, art.º 8 Liv.º II, Tít.º 57 Redacção alterada
Cortes de Viseu – 1391, art.º 10 Liv.º II, Tít.º 57, § 1 Redacção alterada

Cortes de Coimbra – 1394, art.º 6 Liv.º V, Tít.º 59, § 15


Cortes de Coimbra – 1394, art.º10 Liv.º V, Tít.º 78, § 1
Cortes de Coimbra – 1394, art.º12 Liv.º V, Tít.º 58, § 3
Cortes de Coimbra – 1394, art.º13 Liv.º V, Tít.º 68, § 1
Cortes de Coimbra – 1394, art.º21 Liv.º V, Tít.º 20, § 31
Cortes de Coimbra – 1394, art.º23 Liv.º IV, Tít.º 29, § 8 (cfr. cortes Coimbra 1398, cap. 11º)

Cortes de Coimbra – 1398, capítulos da


Liv.º II, Tít.º 59
nobreza

Liv. IV, Tít. 29, § 20


Cortes de Guimarães – 1401, art.º 6
e 21
Cortes de Guimarães – 1401, art.º 7 Liv. V, Tít. 106

No ms. do Porto = Évora.


Cortes de Lisboa – 1404, art.s do clero
No ms. de Santarém = Elvas
Liv.º II, Tít. 6 No ms. da Torre do Tombo = Elvas
(IAN/TT – Sé de Lamego,
SOUSA, Cortes …, I, p. 305 = Évora
Cx. 4, maço único de concordatas, n.º13)
VENTURA, Igreja e …, p. 118 = Lisboa
Erradamente atribuído a cortes de Évora
Cortes de Lisboa – 1404, art.º 7 do Clero Liv.º IV. Tít.º 96
nas OA.

Cortes de Évora – 1408, art.º 7 Liv.º IV, Tít.º 30, § 1


Cortes de Évora – 1408, art.º 8 Liv.º IV, Tít.º 31, § 1
Cortes de Évora – 1408, art.º 1 Liv.º V, Tít.º 58, § 5
Cortes de Évora – 1408 ][37
Liv.º V, Tít. 56, § 11

599
As Ordenações Afonsinas Anexo II: Os Capítulos de Cortes nas Afonsinas (1331-1433)

Liv.º II, Tít.º 59, §


Cortes de Évora – 1408, Cap. Fidalgos[38]
36-45

Cortes de Lisboa – 1410, art.º 21. Liv.º IV, Tít.º 90, § 1


Cortes de Lisboa – 1410, art.º 1 Liv.º IV, Tít.º 34, § 1 Erradamente atribuído a cortes de Évora[39].

Erradamente atribuído ao ano 1433 e a D.


Cortes de Santarém – 1418, art.º 7 Liv.º II, Tít.º 58, § 1
Duarte.[40]

Cortes de Lisboa – 1427, art.º 13 Liv.º IV, Tít.º 67, § 1


Erradamente atribuído às cortes de
Cortes de Lisboa – 1427, art.º 13 Liv.º V, Tít.º 108, § 3
Évora[41].
Erradamente atribuído às cortes de
Cortes de Lisboa – 1427, art.º 19 Liv.º IV, Tít.º 104, § 1
Évora[42].
Erradamente atribuído às cortes de
Cortes de Lisboa – 1427, art.º 1 Liv.º V, Tít.º 34, § 10
Évora[43].
Erradamente atribuído às cortes de
Cortes de Lisboa – 1427, art.º 17 Liv.º V, Tít.º 46, § 3
Évora[44].
Cortes de Lisboa – 1427, art.º 31º Liv.º II, Tít.º 47. Redacção alterada.

Cortes de Leiria-Santarém – 1433,


Liv.º III, Tít.º 90. Redacção alterada.
art.º 2
Cortes de Santarém – 1433, art.º 2 Liv.º V, Tít.º 98. Redacção alterada.
Erradamente atribuído a cortes de D. João
Cortes de Santarém – 1433, art.º 16 Liv.º IV, Tít.º 85, § 7
I.[45]
Cortes de Santarém – 1433, art.º 74 Liv. V, Tít. 97, § 1 e 2 Redacção alterada.

Lei (melhor, carta ao corregedor da corte


Cortes de Santarém – 1433, art.º 90 Liv. II, Tít. 39. e chanceler-mor) a partir deste capítulo de
cortes.
Lei (melhor, carta aos oficiais de Santarém)
Cortes de Santarém – 1433, art.º 134 Liv. IV, Tít. 21.
a partir deste capítulo de cortes.

26
João Pedro RIBEIRO, Memoria sobre as Ordenaçoins, p. 124 – refere o título 85.
27
João Pedro RIBEIRO, Memoria sobre as Ordenaçoins, p. 124 – refere os artigos 1º e 2º destas cortes, no Liv.
I, tít. 23, § 22. Deve ter sido lapso ou mera nota de Ribeiro, que nos induz em erro.
28
É provável que se trate de uma má leitura do X aspado.
29
Idem.
30
João Pedro RIBEIRO, Memoria sobre as Ordenaçoins, p. 125: “He o Artigo 24 da Concordia do Senhor D. Pedro
1.º feita nestas Cortes o que não declara a Ordenação”.
31
Ribeiro coloca-o entre os capítulos gerais do povo, com o n.º 88. Mas na edição das actas destas cortes
consta como capítulo da nobreza.
32
Ribeiro coloca-o entre os capítulos gerais do povo, com o n.º 79. Mas na edição das actas destas cortes
consta como capítulo da nobreza.
33
João Pedro RIBEIRO, Memoria sobre as Ordenaçoins, p. 125: “He citado como Artigo 18º mas não se acha nestas
Cortes nas Cert. de Coimbra e Archivo Real”. O mais provável, pelo seu conteúdo, é que seja um capítulo da
nobreza.
34
Ribeiro enumera o título 93.
35
Não se sabe ao certo a qual das cortes pertence este capítulo. Vide RIBEIRO, Memoria sobre as Ordenaçoins,
p. 126 e Armindo de SOUSA, Cortes Medievais…, vol. I, p. 297.

600
José Domingues

36
João Pedro RIBEIRO, Memoria sobre as Ordenaçoins, p. 124: refere o título 87.
37
Armindo de SOUSA, Cortes Medievais, vol. I, p.98, nota 16: “Também aqui se não diz se este capítulo é de
1390-1391 ou de 1408. Julgamos que é de 1408. Porquê? Porque neste capítulo os povos alegam um artigo que se não
respeitava; ora, esse artigo é precisamente o capítulo 12.º das Cortes de Évora daqueles anos de 1390-1391. Assim,
sendo absurdo admitir que nas mesmas Cortes o mesmo assunto foi duas vezes tratado obtendo até respostas diferen-
tes, é forçoso situar este capítulo das Ordenações Afonsinas em 1408”.
38
Armindo de SOUSA, Cortes Medievais, vol. I, p. 333: “Não se diz se estes capítulos são de 1390-1391 ou de 1408;
apenas que foram requeridos em cortes de Évora. Como, porém, eles aparecem a seguir aos de 1398 e são precedidos da
informação de que foram apresentados «passado longo tempo» depois deles, é claro que são destas cortes de 1408 e não
das outras de 1390-1391, as duas únicas que D. João celebrou em Évora”.
João Pedro Ribeiro também os coloca nestas cortes.
39
Armindo de SOUSA, Cortes Medievais, vol. I, p. 333: “No tít. 34 diz-se que as cortes são de Évora; é um
lapso; o capítulo extractado aí é o 1.º do doc. 44 do nosso inventário”.
40
De alguma forma se deve ter trocado este capítulo com o de Santarém de 1433 (art.º16º), no Liv. IV. Tít.
85, § 7.
41
Armindo de SOUSA, Cortes Medievais, vol. I, p. 343: “Os títs. 104 e 108 referidos dizem que o seu teor foi de-
sembargado em cortes de Évora; trata-se dum lapso”.
42
Armindo de SOUSA, Cortes Medievais, vol. I, p. 342, nota 102: “O texto das Ordenações Afonsinas diz:
«el-rei D. João meu avô, de gloriosa e esclarecida memória, em seu tempo fez cortes gerais na cidade de
Évora, ao tempo que deu casa ao muito excelente Príncipe Infante D. Duarte seu filho (…)». Na cidade de
Évoar: cortes de 1408/Évora? Poder-se-ia julgar que sim, visto que nessas cortes foi dada casa aos infantes
e, portanto, a D. Duarte. Mas o capítulo que as Ordenações transcrevem a seguir, nesse tít. 104, é o 19º destas
cortes de 1427 (…). Consequentemente, o compilador das Ordenações equivocou-se: deveria ter posto Lis-
boa e não Évora e ter escrito casamento e não deu casa. Estas cortes de 1427 tiveram por objectivo a obtenção
de dinheiro para o casamento de D. Duarte”.
43
Armindo de SOUSA, Cortes Medievais, coloca este artigo nas cortes de Évora de 1390-1391.
44
Ribeiro coloca este capítulo nas cortes de Évora de 1390-1391 ou nestas de Lisboa de 1427, mas interroga-
do. Armindo de Sousa coloca-o nas cortes de Évora de 1408, anotando: “Não se diz se este capítulo é das Cortes
de 1390-1391 ou destas de 1408. Não é fácil decidir. Atendendo, contudo, ao assunto focado – apropriação de coutadas
de pesca e de caça pelos fidalgos – talvez seja mais razoável colocar este capítulo aqui, nestas cortes de 1408, e não nas
de 1390-1391: é que o assunto reporta-se a um abuso dos fidalgos que supõe tempos de paz” [vol. II, p. 98, nota 15].
45
De alguma forma se deve ter trocado este capítulo com o de Santarém de 1418 (art.º7º), no Liv. II. Tít.
58, § 1.

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