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Editorial

Os caminhos do desenvolvimento local passam pela agricultura familiar


Nosso entrevistado deste nú mero, o professor portu - das às mu ltidimensões da su stentabilidade e coerentes
gu ês Athu r Cristóvão, discu te algu mas contradições qu e com as pecu liar idades da agr icu ltu r a fam iliar . Por su a
se est ab el ecem en t r e o m od el o d e d esen vol vi m en t o vez, o ar t igo de Toledo, ao eviden ciar a con exão en t r e
hegemônico e as novas formas de exploração do espaço Agr oecologia, su st en t abilidade e agr icu lt u r a fam iliar ,
ru ral qu e o momento presente está a exigir. Partindo da apon ta o poten cial da Refor m a Agr ár ia com o elem en t o
evidên cia de qu e, ao lon go da h ist ór ia, as at ividades ar t icu lador daqu eles pr eceit os vin cu lados ao desen vol-
agr opecu ár ias vêm se r evelan do com o m odelador as do vi m en t o r u r al . Ao di scu t i r efici ên ci a e pr odu t ividade
am bien t e, Cr ist óvão afir m a qu e a su st en t abilidade r e- com base em evidências de vários países, o au tor mons-
qu er a constru ção de processos qu e fortaleçam os recu r- tra a su perioridade da agricu ltu ra familiar em relação a
sos locais, valor izem o espaço t er r it or ial e apóiem as ou t r os sist em as de explor ação da t er r a e con clu i pela
inter ações e as r elações de solidar iedade entr e as pes- n ecessidade de pesqu isador es, t écn icos e or gan izações
soas. Nesta perspectiva, haveria correlação direta entre de caráter mu ltidisciplinar capazes de entender as rela-
a bu sca do desen volvim en t o local e a con solidação de ções qu e in exor avelm en te se est abelecem en tr e a Su s-
estratégias agroecológicas, cu jo potencial transformador tentabilidade, a Agroecologia e a Reforma Agrária. Nou -
extrapolaria a simples condição de su porte à agricu ltu - tro artigo, Pinto e Garavello discu tem a perda da biodi-
ra em si, abrindo caminho para novas atividades relaci- versidade como resu ltado da adoção parcial de tecnolo-
onadas ao ru ral, entre as qu ais o tu rismo ru ral aparece gias inadequ adas ao saber local, im plantadas na linha
com o u m im por tante exem plo. As potencialidades con- tradicional de forma artificializada e à revelia das práti-
t idas n est a r eor ien t ação dos pr ocessos de desen volvi- cas, con h ecim en t os e cost u m es da com u n idade a qu e
m en t o r u r al est ar iam cobr an do n ovos ser viços e fu n - se destinam. Ao mostrar as transformações na vida de
ções da Extensão Ru ral, cu jo su cesso seria dependente u m a aldeia Bor or o, face a in t r odu ção de m ilh os h íbr i-
da capacitação dos pr ofissionais envolvidos na su per a- dos, o ar tigo eviden cia a velocidade com qu e se m an i-
ção dos novos desafios qu e su rgem nesse contexto. Tra- fest am im pact os delet ér ios, decor r en t es de t ecn ologias
balhando sobre qu estão similar, ou seja, a qu alificação e políticas de corte imediatista (qu e ignoram o enfoqu e
pr ofission al, Sar an dón exam in a as con dições e dificu l- agroecológico), sobre cu ltu ras milenares. Com o com ple-
dades par a a for m ação de n ovos per fis pr ofission ais a m en t o a esse ar gu m en t o, o Rel at o d e E x p er i ên ci a
partir do ensino formal. Focalizando o caso da Facu lda- assi n ado por Vi van , qu e an al i sa a i n t egr ação en t r e
de de Ciên cias Agr ár ias da Un iver sidade Nacion al de ban an i cu l t u r a e si st em as agr ofl or est ai s, i l u st r a qu e
La Plat a, Ar gen t in a, su st en t a qu e a Agr oecologia deve a abor dagem agr oecol ógi ca per m i t e, a par t i r do r es-
constitu ir disciplina obrigatória no cu rso de Agronomia gat e e in t er pr et ação dos saber es locais, com bin á-los
e propõe ementa capaz de assegu rar efeito dinamizador com i n for m ações t eór i cas e ger ar or i en t ações pr át i -
sobr e os dem ais con t eú dos. M esm o r econ h ecen do as cas qu e am pliam o con h ecim en t o colet ivo e elevam a
resistências associadas ao perfil inadequ ado dos docentes com p r een são d os n ívei s d e com p l ex i d ad e com qu e
e à est r u t u r a do en sin o t r adicion al (am bos volt ados à t r abalh a. Nessa par cer ia am igável en t r e h om em e n a-
for m u lação de r eceit as pr on t as, qu e ser iam , adem ais, t u r eza, su r gem r esu l t ados soci oam bi en t ai s posi t i vos
dem an dadas pelos pr ópr ios alu n os), Sar an dón afir m a a cu r t o e lon go pr azos. Tam bém con sider an do a per s-
qu e est as dificu ldades devem ser en fr en t adas dir et a- pect i va de su st en t abi l i dad e, B ar t el s e seu s col egas
m en te, sen do in adm issível qu e, n o m om en to pr esen te, apr esen t am Al t er n at i va Tecn ol ógi ca par a apr ovei t a-
as u niversidades continu em a oferecer à sociedade pro- m en t o de dej et os de su ín os, qu e se n ot abi l i za pel o
fission ais qu e car eçam de em basam en t o agr oecológico m en or im pact o am bien t al, m elh or apr oveit am en t o do
em su a formação obrigatória. Aliás, em Opinião, Caporal est r u m e e bai xo cu st o, r el at i vam en t e às opções t r a-
e Cost ab eb er ab or d am as d i fi cu l d ad es r el at i vas ao d i ci on ai s. E st e n ú m er o, qu e p ar a a n ossa al egr i a
embasamento conceitu al e seu impacto sobre a constru - m ar ca a déci m a edi ção de Agr oecol ogi a e D esen vol -
ção de práticas consistentes com os princípios da Agro- vi m en t o Ru r al Su st en t ável , ai n da apr esen t a as t r a-
ecologia, enqu anto enfoqu e científico or ientado à cons- dicion ais dicas ecológicas, econ ot as e r esen h as. Boa
t r u ção de estr atégias de desen volvim en to r u r al aju sta- leit u r a a t odos.
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Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
SUMÁRIO RevistadaEmater/RS
v. 3, n.2, Abril /Junho / 2002
Entrevista 5
Coordenação Geral: Diretoria Técnica da EMATER/RS
Arthur Cristóvão aborda a multifuncionalidade do rural

Opinião 13
Conselho Editorial: ÂngelaFelippi, Alberto Bracagioli, Ari
Henrique Uriartt, Dulphe Pinheiro Machado Neto, ErosMarion
Agroecologia. Enfoque científico e estratégico Mussoi, Fábio José Esswein, Francisco Roberto Caporal,
Caporal, Francisco Roberto; Costabeber, José Antônio Gervásio Paulus, Jaime Miguel Weber, João CarlosCanuto, João
Carlos Costa Gomes, Isabel Cristina de Moura Carvalho, Jorge
Relato de Experiência 17 LuizAristimunha, Jorge LuizVivan, José Antônio Costabeber,
Bananicultura emSistemas Agroflorestais no Litoral Norte José Mário Guedes, Leonardo AlvimBeroldt da Silva, Leonardo
do RS. Melgarejo, Lino De David, LuizAntônio RochaBarcellos, Nilton
Vivan,Jorge Luiz Pinho de Bem, Renato dosSantosIuva, Rogério de Oliveira
Antunes, Soel Antonio Claro.
Artigo 27
Editor Responsável: Jorn. ÂngelaFelippi - RP7272
Agroecología, sustentabilidad y reforma agraria
Editoração deTexto: MariléaFabião
Toledo, Víctor M. Projeto Gráfico eIlustração: Sérgio Batsow
Diagramação: MairãAlves- ImprensaLivreEditora
AlternativaTecnológica 37 Revisão: NiamaraPessoaRibeiro
Estrumeiras de solo-cimento Fotografia: KátiaFarinaMarcon, Rogério daS. Fernandes,
Bartels, Henrique A. S.; Kappel, Paulo Sérgio; Thume, LeonardoMelgarejo
Valmir Periodicidade: Trimestral
Tiragem: 3.000 exemplares
Artigo 40
Impressão: Pallotti
Distribuição: BibliotecadaEMATER/RS
Incorporando el enfoqueagroecológico enlasInstitucionesde
Educación Agrícola Superior EMATER/RS
Sarandón, Santiago J. RuaBotafogo, 1051
BairroMenino Deus
Econotas 49 90150-053 - Porto Alegre- RS
Telefone: 51- 3233-3144
Fax: 51- 3233-9598

Dica Agroecológica 51 Endereçoeletrônicodarevista


http://www.emater.tche.br/docs/agroeco/revista/revista.htm
Catar a fêmea do carrapato à mão
Lunardi, Jorge J.
E-mail: agroeco@emater.tche.br

Eco Links 53 A RevistaAgroecologiaeDesenvolvimento Rural Sustentável éuma


publicação daAssociação Riograndense de Empreendimentosde

Artigo 54
AssistênciaTécnicaeExtensão Rural - EMATER/RS.
OsartigospublicadosnestaRevistasão de inteiraresponsabilidade
Transformação (agri)cultural ou etnossustentabilidade de seus autores.
Pinto, José Galvão; Garavello, Maria Elisa de Paula
Eduardo Cartas
Asinstituiçõesinteressadasemmanter permutapodemenviar cartas

Resenha 61
paraabibliotecáriaMariléaFabião, EMATER/RS, RuaBotafogo,
1051, 2°andar, Bairro Menino Deus,
CEP 90.150.053,
Normaseditoriais 65 Porto Alegre/RS, oupara agroeco@emater.tche.br.
ISSN 1519-1060

4 Agroecol. eDesenvol. Sustent.| PortoAlegre| v.3| n.2 | p.1-68| abr./junh. 2002

Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002


E ntrevista/Arthur Cristóvão
"A vida de qualquer área rural depende
de um cruzamento e de uma articulação
entre atividadesdiversas"

iniciativas de tu rismo, de indu strialização e a


cr iação de ser viços qu e gar antam qu alidade
As fu nções do meio ru ral vão mu ito além de vida aos moradores das zonas ru rais.
de fornecer alimentos para as cidades. Essa é Ele est eve n o Br asil em m aio, par a par t ici-
u ma das perspectivas atu ais de discu ssão das par do III Con gr esso In t er n acion al sobr e Tu -
estratégias de desenvolvimento local, qu e par- r ism o Ru r al e Desen volvim en t o Su st en t ável,
te do princípio da mu ltifu ncionalidade do es- pr om ovido pela Un iver sidade de San t a Cr u z
paço ru ral. Um dos especialistas nesse assu n- do Su l/ RS. Du r an t e su a est ada n o Rio Gr an -
t o é o d ou t or em E d u cação Con t ín u a e de do Su l, falou par a a Revist a Agr oecologia e
Vocacional, agrônomo Arthu r Cristóvão, pro- DRS sobr e as n ovas fu n ções do r u r al, da pr o-
fessor de Extensão Ru ral e Desenvolvimento du ção ecológica den t r o desse con t ext o, da r e-
Ru ral da Universidade de Trás-os-Montes e Alto t ir ada do est ado dos ser viços pú blicos de ex-
Dou ro, de Portu gal. Pesqu isador, com projetos t en são r u r al n a Eu r opa e do t r abalh o desen -
de exten são e con su ltor ia em vár ios países, volvido pela EMATER/ RS.
Cr istóvão aposta na r evitalização do r u r al a R e v i s t a - An a li s t a s d i z e m q u e o a t u -
partir do desenvolvimento de u ma série de ati- a l m o d e lo d e d e s e n v o lv i m e n t o d o r u r a l
vidades qu e extrapolam a agrícola, inclu indo e d o a gr íc o la e s t á e s go t a d o e q u e a s o -
c ie d a d e p e d e n o v a s fu n ç õ e s a e s t e s t e r -
* A entrevista foi realizada por Ângela Felippi r it ó r io s . Qu a is a s r a z õ e s d e s s e e s go t a -
e Luiz Fernando Fleck m e n t o e q u a i s a s n o v a s fu n ç õ e s d o r u - 5
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
Entrevista/Arthur Cristóvão
r a l e d a a g r i c u lt u r a ? u m a im por t ân cia cr escen t e n a pr odu ção de
Cr is t ó vã o - Acho qu e essas novas fu nções ou t r o t ipo de valor es: am bien t ais, cu lt u r ais;
são exigidas como resu ltado dos efeitos do pró- por isso se fala t an t o n essa m u lt ifu n cion ali-
prio modelo de desenvolvimento. O modelo foi dade. A agr icu lt u r a é n at u r alm en t e u m a at i-
gerador, por u m lado, de grandes excedentes vidade con st r u t or a de am bien t e. Isso é t ão
alimentares, au mento alicerçado no au men- fu n dam en t al qu e n ós n ão podem os t am pou co
to da produ ção, da produ tividade, e, por ou tro pen sar em desen volver o t u r ism o n o espaço
lado, gerador de u ma série de ineficiências e r u r al qu e se fala t an t o se n ão pen sar m os em
problemas de natu reza ambiental, social. Foi m an t er a agr icu lt u r a com o at ividade pr odu t i-
gerador de u ma ilu são de recu rsos e patrimô- va. De ou t r a for m a, est am os a liqu idar a pai-
nios, de certa forma porqu e em mu itas situ a- sagem , qu e é u m elem en t o m u it o im por t an -
ções, lembrando o caso portu gu ês, qu e não é o t e de at r ação das pessoas: o ver de, as past a-
ú nico, nem o melhor, porqu e Portu gal não é gen s, as vin h as, os pom ar es, elem en t os de
u m país mu ito desenvolvido sob o ponto de vis- r iqu eza da paisagem . Não h aven do u m a agr i-
ta agrícola. Mas no caso portu gu ês, verificou - cu ltu ra viva, o tu rismo também acaba perden-
se qu e, onde a modernização do seu in t er esse.
da agricu ltu ra foi mais inten- R e v is t a - Co m o o s e -
sa, hou ve u m certo desprezo Não podemos pensar no desen- n h or vê a qu est ão do
por ou tro tipo de recu rso: pelo volvimento local como um desen- d e s e n v o l v i m e n t o
ambiente, por variedades, es- volvimento encerrado no territó- a l i c e r ç a d o e m b a s e s
pécies vegetais locais, por va- l o c a i s c o m o fo r m a d e
r i ed ad es m ai s au t óct on es.
rio local, [ mas] qualquer desen- o r g a n i z a ç ã o e p la n e ja -
Portanto, veio u ma ilu são des- volvimento no mundo globalizado m en t o para u m n ovo
se patrimônio. tem que ser entendido em r u r a l?
Nós ch egam os, al gu n s Cris t óvã o - Em primei-
interação entre territórios.
an os at r ás, a u m a con st at a- r o lu gar , u m aspect o em
ção m ais agu da de qu e er a r elação ao qu al talvez seja
pr eciso pen sar o desen volvim en t o de u m a for - preciso sublinhar e que talvez estejamos de acor-
m a difer en t e, m ais am pla, qu e n ão fizesse do é que não podemos pensar no desenvolvimen-
u ma erosão tão rápida dos recu rsos. Então veio to local como um desenvolvimento encerrado no
essa lógica do desen volvim en t o su st en t ável território local. Qu alqu er desenvolvimento no
e do espaço r u r al e da agr icu lt u r a com o t en do mundo globalizado em que vivemos tem que ser
u m car át er m u lt ifu n cion al. Est á m u it o pr e- entendido em inter ação entr e ter r itór ios. De
sen t e essa idéia lá, e aqu i t am bém ou vi falar qualquer forma, quando pensamos em desenvol-
dessa idéia de m u lt ifu n cion alidade do espaço vimento local, em promover iniciativas, experi-
r u r al e da agr icu lt u r a. No fu n do, t em a ver ências, projetos de desenvolvimento local, a idéia
com a possibilidade de valor izar difer en t es di- central é criar projetos que possam estar inti-
m en sões do espaço r u r al e da at ividade agr í- mamente ligados ao território em todas as suas
cola. O espaço agr ícola r u r al n ão é h oje vist o dimensões. Projetos que estão ligados aos ato-
apen as com o espaço de pr odu ção de alim en - res que intervêm nesse território, às pessoas,
tos, até porqu e os alimentos se produ zem cada às organizações, a todo tipo de instituições que
vez n u m a por ção m ais pequ en a do t er r it ór io, fazem esse território viver e que vivem nele. Um
dado os n íveis de pr odu t ividade qu e se at in - desenvolvimento também que procura valorizar
giu . O espaço r u r al, t en do per dido essa im - e integrar todos os recursos que esse território
6 por t ân ci a n a pr odu ção al i m en t ar , gan h ou possui. O local também tem uma importância

Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002


Entrevista/Arthur Cristóvão
central quando falamos em desenvolvimento lo- p a r a a c a b a r c o m a fo m e n o m u n d o , s e -
cal, [no sentido de] ser um desenvolvimento que r i a fa v o r á v e l a o s e u c u lt i v o . E s s e a r g u -
pode valorizar as próprias participações das pes- m e n t o t e m va lid a d e s o b o a s p e c t o q u a n -
soas, dos atores. Essa dimensão de participação, t it a t ivo ? O q u e o s e n h o r p e n s a a r e s -
de construção, de interações, de solidariedade p e it o d o s o u t r o s a r gu m e n t o s : a s p e c t o s
no território é uma dimensão fundamental, que q u a l i t a t i v o s , n a l i n h a d e "e n r i q u e c i -
está hoje muito presente em alguns instrumen- m e n t o " d o s a li m e n t o s "t r a d i c i o n a i s ", e
tos de política na Europa. É o caso do programa a s p e c t o s e c o n ô m i c o s , n a l i n h a d a "r e -
Leader. A idéia cen t r al é exat am en t e essa: d u ç ã o d e c u s t o s "?
alicerçar o desenvolvimento nas pessoas, nos re- Cr is t ó v ã o - Na Eu r opa, o pr ópr io t er m o
cursos, na participação, nas relações, na cria- ext en são r u r al est á su jeit o ao esqu ecim en -
ção de laços, no capital social dos territórios e, t o. Fala-se em ou t r as coisas: assist ên cia t éc-
dessa forma, criar uma hipótese de desenvolvi- n ica, con su lt or ia, desen volvim en t o local. O
mento que seja enriquecedora do território, por- t er m o ext en são r u r al caiu em desu so. Isso
que muito do desenvolvimento que se fez, de base n ão qu er dizer qu e n ão seja im por t an t e, qu e
exógena, portanto um desenvolvimento que é pro- n ão h aja u m a in t er ven ção n esse dom ín io. A
movido de fora para dentro, tem sido um desen- in t er ven ção, em Por t u gal e em m u it os ou -
volvimento que faz tábua rasa da- t r os p aíses, t em si d o fei t a
qu ilo qu e são as capacidades, cada vez m ais a par t ir das or -
oportu nidades, os recu rsos lo- Osserviçospúblicosligados gan izações da sociedade civil
cais. O desenvolvimento local é ao desenvolvimento agrícola e n ão a par t ir do est ado. Os
o contrário: é partir daquilo que ser viços pú bli cos l igados ao
burocratizaram-se e o estado
o território é e dos valores que desen volvim en t o agr ícola bu -
ele encerra. E qualquer territó- está apostando em processos r ocr at izar am -se m u it o n as ú l-
rio tem valores. Depois, é preci- de transferência de funções t im as décadas, e o est ado est á
so conjugá-lo com outros valores para outras organizações. apost an do cada vez m ais em
que estão fora. Nós encontramos pr ocessos da ch am ada t r an s-
cada vez mais a necessidade de fer ên cia de fu n ções par a ou -
atrair gente de fora. Empreendedores, jovens, t r as or gan izações, com o cooper at ivas, asso-
gente que venha de outros locais com idéias, di- ciações de agr icu lt or es, associações de de-
namismo, recursos financeiros. É preciso fazer sen volvim en t o, ou t em apost ado em cr iar par -
todo este jogo de interações, mas que estão muito cer ias, pr ocu r an do ar t icu lar a ofer t a de ser -
centradas na hipótese de desenvolver o territó- viços pú blicos locais, or igin ais com a in t er -
rio em benefício do território. ven ção dessas or gan izações da sociedade ci-
Re vis t a - Pe n s a n d o n e s s a n o va p e r s - vil. Em r esu m o, o qu e n ós t em os, n o caso da
p e c t i v a d e d e s e n v o lv i m e n t o , e m b a s e s agr icu lt u r a, especificam en t e: os ser viços de
lo c a is , c o m o o s e n h o r v ê o p a p e l d a e x - ext en são est ão h oje dilu ídos n u m con ju n t o
t e n s ã o r u r a l? m u it o gr an de de or gan izações, sobr et u do as
Mo o n e y – Pen so qu e est am os m u dan do de ligadas a pr odu t or es agr ícolas, qu e, de qu al-
u ma postu ra defensiva para u ma postu ra mais qu er for m a, r ealizam u m a ext en são m u it o
ofen siva. Tem os algo pelo qu al lu t ar n o acor - m ais t écn ica, qu e, por t an t o n ão se liga m u i-
do sobr e com o est es ben s gen ét icos com u n s t o a esse m odelo de desen volvim en t o local,
da h u m an idade dever ão ser par t ilh ados. m ais par t icipat ivo, de qu e n ós falam os h á
R e v is t a – O s e n h o r d is s e r e c e n t e m e n - pou co, qu e dá aqu i u m a cer t a difer en ça de
t e qu e s e os t r a n s gê n ic os s e r vis s e m per spect iva. As or gan izações ligadas aos pr o- 7
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
Entrevista/Arthur Cristóvão
du t or es con t in u am a apost ar n u m a ext en - lin h a do desen volvim en t o su st en t ável. Pen so
são m ais con ven cion al, m ais t r adicion al, de qu e t em os exper iên cias sem elh an t es. A dife-
base t écn ica e m u it o dir igida par a in for m a- r en ça qu e en con tr o com a EMATER/ RS é qu e,
ção, difu são de in for m ação, en qu an t o qu e em Por t u gal, as exper iên cias est ão m u it o dis-
em er gir am ao m esm o t em po m u it as or gan i- per sas, e aqu i, no fu ndo, há toda u m a possibi-
zações de di fer en t es di m en sões qu e est ão lidade de ar t icu lação de in t er ven ções qu e n ão
m ais ligadas ao t er r it ór io e àqu ela lógica de exist e em Por t u gal, ou at é n a Espan h a, ou em
qu e falam os h á pou co. Mas, de qu alqu er for - ou tros países eu ropeu s, onde o trabalho de de-
m a, n ão r eflet em m u it o ou n ada aqu ilo qu e sen vol vi m en t o par t i ci pat i vo e su st en t ável
são os pr oblem as, as n ecessidades e as opor - est á m u it o desar t icu lado, disper so n o t er r it ó-
t u n idades n o dom ín io da agr icu lt u r a. Qu er r io. Por t an t o, n ão h á u m a lin h a con t ín u a de
dizer , t em os associações de desen volvim en - in t er ven ção. Talvez com exceção do t r abalh o
t o local qu e n ão in t er vêm n o dom ín io agr íco- qu e foi feit o n o dom ín io do pr ogr am a de in ici-
la, m as qu e in t er vêm n o dom ín io do t u r is- at iva com u n it ár ia Leader. Aí sim , h ou ve u m a
m o, do desen volvim en t o social, n o t r abalh o pr eocu pação de m on t ar u m a filosofia de pr o-
com joven s, com m u lh er es. gr am a e de im plem en t á-la. É
Depois, t em os or gan izações u m a exper iên cia m u it o vali-
de agr i cu l t or es qu e i n t er - A vida de qualquer área rural osa, est á pr esen t e em m il t er -
vêm n o dom ín i o agr ícol a, depende de um cruzamento e r itór ios da Eu r opa.
m as n u m a l ógi ca m u i t o de uma articulação entre ativi- R e v i s t a - De q u e m é a
set or ial. Tem os u m pr oble- i n i c i a t i v a d o Le a d e r ?
dades diversas. Não podemos
m a qu e n ão t em sido r esol- C r i s t ó v ã o - É d a Un i ão
vido, com exceção de algu - pensar em estruturar o projeto Eu r opéia e, n o fu n do, é a t en -
m as associações de desen - de desenvolvimento apenas t at i va de i m pl em en t ar u m a
volvim en t o qu e t êm pr ocu - ex p er i ên ci a d e d esen vol vi -
com base no turismo.
r ado de fat o agar r ar o pr o- m en t o d e b a se l oca l ,
blem a do desen volvim en t o par t icipat ivo, a par t ir de par -
n o seu con ju n t o, m as qu e são casos n ão m u i- cer ias de in st it u ições locais e visan do ao de-
t o abu n dan t es. sen volvim en t o do t er r it ór io de u m a for m a in -
R e vis t a - O s e n h o r t e m c o n h e c im e n - t egr ada. Isso vem do r esu lt ado de t odo balan -
t o d o t r a b a l h o d a e x t e n s ã o r u r a l fe i t o ço qu e se fez dos efeit os da polít ica agr ícola
a q u i n o R io Gr a n d e d o S u l p e la E m a t e r / com u m . A União Eu r opéia tem , entr e u m a das
R S ? Qu a l a a v a lia ç ã o q u e fa z d e s s e t r a - su as pr im eir as políticas, a política agr ícola co-
b a lh o ? m u m , m as qu e er a fu n dam en t alm en t e e con -
Cr is t ó vã o - Sim . Ju lgo qu e aqu ilo qu e é t in u a a ser u m a polít ica set or ial. Qu an do, n os
feit o aqu i n o Rio Gr an de do Su l, pelo qu e t ive an os 80 e 90, com eça-se a se discu t ir n eces-
a opor t u n idade de ou vir , de obser var em con - sidade de t er polít icas m ais t er r it or ializadas
fer ên cias e apr esen t ações de exper iên cias [n o e m ais dir igidas par a o desen volvim en t o r u -
Con gr esso de Tu r ism o] e n a leit u r a de t r aba- r al e par a o agr ícola, su r ge o Leader com o u m
lh os, é qu e h á u m a m u dan ça m u it o sign ifi- in st r u m en t o desse discu r so, dessa r et ór ica.
cat iva do par adigm a de t r abalh o da ext en são, R e vis t a - Co m o e s t á o t u r is m o r u r a l
qu e vai n o sen t ido daqu ilo qu e se discu t e h oje c o m o u m a a la v a n c a p a r a o d e s e n v o lv i -
em dia em t odo o m u n do. Por u m lado, a da m e n t o? Qu a l a s it u a ç ã o d a Eu r op a ? Pod e -
valor ização da par t icipação local, das abor da- r ia fa z e r u m c o m p a r a t ivo c o m o Br a s il?
8 gen s par t icipat ivas, e, por ou t r o lado, a dessa Cr i s t ó v ã o - O t u r ism o n o espaço r u r al
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Entrevista/Arthur Cristóvão
d eve ser essen ci al m en t e vi st o com o u m
com p l em en t o, com o ou t r a at i vi d ad e qu e
pode ser pr om ovida em algu m as ár eas r u -
r ai s, n ão n ecessar i am en t e em t odas, per -
m it in do viabilizar as explor ações agr ícolas,
as fazen d as, vi ab i l i zá- l as p er m i t i n d o au -
m en t ar a r en da, fixar as pessoas. De for m a
al gu m a dever em os en t en der o t u r i sm o de
espaço r u r al com o u m a r eceit a m ilagr osa,
com o algo qu e pode t r an sfor m ar a face das
ár eas r u r ais e cr iar o din am ism o e dar vida.
A vida de qu alqu er ár ea r u r al depen de de
u m cr u zam en t o e de u m a ar t icu lação en t r e
at ividades diver sas. Não podem os pen sar em
est r u t u r ar o pr ojet o de desen volvim en t o ape-
n as com base n o t u r ism o.
Ju lgo qu e em m u it as sit u ações, n om eada- e da organização da própria oferta, e depois se
m en t e n o caso por t u gu ês, h ou ve u m a r et ór i- propagou para todo lado. Existem diferentes ti-
ca dem asiadam en t e ot im ist a em m at ér ia de pos de tu rismo. Hou ve u ma evolu ção na pró-
t u r ism o n o espaço r u r al. Não se t eve em de- pria legislação, permitindo diversificar a ofer-
vida con t a as car act er íst icas de cada t er r it ó- ta do tu rismo em espaço ru ral. Nós hoje temos
r io. Hoje, pr ocu r a-se fazer t u r ism o n o espaço o chamado agrotu rismo - qu e é o tu rismo na
r u r al de t u do qu e possa exist ir n u m m u n icí- fazenda produ tiva; o tu rismo ru ral - qu e é mais
pio. Não h á pr esiden t e de m u n icípio, polít ico ligado a casas, a solares, a casas com particu -
local qu e n ão qu eir a t r an sfor m ar a su a t er r a lar idades ar qu it et ôn icas, ger alm en t e casas
n u m a at r ação t u r íst ica. Mas a con st r u ção de ru rais ricas; o tu rismo de habitação - também
u m pr ojet o de t u r ism o n ão é fácil. Tem qu e ligado a u m patrimônio com valor; o tu rismo
ser m u it o bem ar t icu lada com as pot en ciali- de aldeia - qu e é u ma organização de tu rismo
dades agrícolas, com os produ tos locais, com o baseada em aldeias, em pequ enos nú cleos u r-
pat r im ôn io. Nem t odos os t er r it ór ios t êm o ban os r u r ais, de ár eas r u r ais, com ofer t a e
m esm o pot en cial. Cr iou -se t am bém m u it o a gestão coletiva; temos as casas de campo, os
idéia de qu e qu alqu er agr icu lt or pode ser po- parqu es de campismo ru rais, os hotéis ru rais.
t en cialm en t e u m pr om ot or t u r íst ico. Tam bém Caminhou -se no sentido de diversificar a ofer-
n ão é ver dade. São exigidas algu m as par t icu - ta. De qu alqu er for m a, n osso tu r ism o r u r al
lar idades. Esse é u m pr im eir o aspect o im por - continu a mu ito vincu lado a u ma elite.
t an t e: t u r ism o n o espaço r u r al sim com o u m Isso t am bém acon t ece n o Br asil, m as t am -
com plem en t o, com o u m a at ividade possível, bém vi exem plos de ofer t a ligada a pequ en as
desde qu e exist am valor es segu r os, valor es fazen das fam iliar es, o qu e n ão exist e em Por -
dos qu ais se possam con st r u ir u m pr ojet o em t u gal, on de n or m alm en t e os pr opr iet ár ios de
ar t icu lação com ou t r os t ipos de valor es, qu e boas casas r u r ais r icas é qu e est ão en volvi-
m er am en t e a pr odu ção agr ícola. dos n essa at ividades. Mu it as vezes n ão de-
No caso portu gu ês, o tu rismo ru ral desen- sem pen h am u m a at ividade at iva n o dom ín io
volveu -se nas ú ltimas du as décadas. Começou da agr icu lt u r a. São pr ofessor es, m édicos, ad-
pelo norte do país, onde continu a a ser mu ito vogados, exer cem pr ofissões m u it o var iadas
mais desenvolvido em possibilidades de oferta e, t en do esse pat r im ôn io, in vest ir am ou ob- 9
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Entrevista/Arthur Cristóvão
t iver am fin an ciam en t o, su bsídio, par a pode- Em Portu gal, tem havido algu m esforço de
r em valor izar esse pat r im ôn io, m elh or an do criar legislação qu e defina essas diferentes for-
as su as con dições. Mu it as vezes é a m u lh er mas de tu rismo e as condições em qu e os ope-
qu e se ocu pa da gest ão dessa at ividade. Ou - radores possam intervir. Tem havido u m de-
t r as vezes, são pr opr iet ár ios qu e t êm u m ca- senvolvimento grande do tu rismo de natu reza.
seir o, qu e est á per m an en t em en t e n a pr opr i- Há algu mas zonas qu e começam a ter proble-
edade, qu e r ecebe e faz a gest ão dessa in ici- mas, nomeadamente as de parqu es natu rais,
at iva de t u r ism o. Não sou especialist a n es- qu e começam a ter problemas com o nú mero
se assu n t o, t en h o con t at o com colegas qu e de visit an t es m u it o elevado, u m a t en dên cia
são, m as os est u dos qu e exist em n ão são para massificação desse tipo de tu rismo, em
m u it o con clu den t es qu an t o a im pact os eco- especial nu m parqu e qu e existe em Portu gal.
n ôm icos n ot áveis n as com u n idades locais, De qualquer forma, o turismo rural também
qu er n a cr iação de em pr egos, qu er n os gas- se encontra naturalmente vinculado ao usu fru-
t os qu e os t u r ist as possam fazer , n a alim en - to de bens ambientais: os rios, esportes ligados
tação, n a com pr a de pr odu tos. O em pr ego qu e à natu reza. As pessoas visitam o local, ficam
é cr iado é r elat ivam en t e pou - numa pousada, numa casa de
co, é, m u it as vezes, sazon al, campo, numa casa de aldeia,
de ver ão, de fin al de sem a- S uíça e Áustria conseguiram fazem caminhada por trilhas
n a, de t em po par cial. Os t u - reverter a desertificação das de m on t an h as, descidas de
r i st as, m u i t as vezes, n ão rios em barcos. Há, hoje, toda
áreas rurais. Eles conseguiram
gast am m u it o din h eir o par a uma preocupação com os efei-
al ém do al oj am en t o. O de- através de um esforço muito tos nefastos que isso possa vir
sen volvim en t o at r avés do t u - forte de políticas públicas. a ter se não houver um acom-
r ism o exige a cr iação de u m a panhamento, uma gestão ade-
r ede de at ividades, qu e per - quada dessas iniciativas, quer
m it a ao t u r ist a ficar u m a sem an a, algu n s partam dos parques, quer partam dos próprios
dias e possibilit e qu e o t u r ist a faça despe- municípios.
sas, gast e din h eir o. Isso pode est ar ligado a R e v is t a - Co m o a a gr ic u lt u r a e c o ló -
u m com ér cio local vivo, qu e ofer eça pr odu - gic a p o d e s e r in s e r ir n o d e s e n v o lv im e n -
t os daqu ela zon a, pode est ar ligado à exis- t o lo c a l?
t ên cia de feir as, de u m a an im ação cu lt u r al, Cr i s t ó v ã o - É t am bém u m a alt er n at iva
de fest as de exposições, à exist ên cia de m u - in ter essan te, por qu e a pr odu ção agr ícola con -
seu s, de pat r im ôn ios qu e as pessoas possam ven cion al em m assa é h oje r econ h ecida cada
visit ar , de for m a a con h ecer a r egião do pon - vez m ais por u m cr escen t e n ú m er o de con -
t o de vist a o pat r im on ial. É pr eciso con st r u ir su m idor es com o t en do pr oblem as. Há u m a
essa ofer t a de possibilidades qu e at r aiam o pr eocu pação m u it o gr an de n a Eu r opa com as
t u r ist a e qu e o levem a gast ar din h eir o. Pe- qu est ões da segu r an ça alim en t ar , n ão t an t o
los est u dos qu e vêm sen do feit os, esse t u r is- com a pr odu ção agr ícola, m as m ais ligada à
t a t em poder de com pr a. pr odu ção an im al. Por t an t o, o or gân ico, o bio-
Re vis t a - O t u r is m o r u r a l p o d e a u xi- lógico, o ecológico com eça a ser at r at ivo e
lia r n a s u s t e n t a b ilid a d e a m b ie n t a l? n esse sen t ido pode ser u m a alt er n at iva par a
Cr is t ó vã o - Depen de das cir cu n st ân cias. o pr odu tor r econver ter a su a explor ação e pr o-
Tem os, h oje, do pon t o de vist a am bien t al, o du zir u m pr odu t o qu e t em pr eço su per ior -
t u r ism o r u r al, qu e se liga m u it o com o ch a- por volt a de 10% a 20% do pr odu t o con ven ci-
10 m ado t u r ism o de n at u r eza. on al, at r at ivo par a m u it os agr icu lt or es. Con -
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Entrevista/Arthur Cristóvão
t u do o gr an de desen volvim en t o da agr icu lt u - Os do su l produ zem e vendem, os do norte pro-
r a or gân ica em Por t u gal se r ealizou sobr et u - du zem também, mas consomem e importam
do n a década de 90, t alvez n ão est eja t ão li- mu itos produ tos, não só da Eu ropa, mas tam-
gado à con sciên cia am bien t al dos pr odu t or es bém de todo o mu ndo. Hoje, nos su permerca-
e t am bém n ão t ão ligado a essa possibilida- dos da França, Inglaterra, encontramos cho-
de de o pr odu t or t er u m a r en da acr escida, colates, bolachas, chás, cafés orgânicos feitos
m as est á m u it o ligada aos est ím u los fin an - na África, na América Latina. Essa é também
ceir os qu e a Un ião Eu r opéia in st it u iu par a u ma área interessante, a conscientização dos
desen volver a agr icu lt u r a or gân ica e ou t r as consu midores e também todo o problema do
for m as de agr icu lt u r a qu e est ejam m ais pr ó- poder de compra e das diferenças do padrão de
xim as do am bien t e. Há u m a dim en são con - vida qu e existe em toda a Eu ropa.
cr et a da polít ica agr ícola eu r opéia, as ch a- R e v is t a - H á in s t it u iç õ e s t r a b a lh a n -
m ad as m ed i d as agr oam b i en t ai s, qu e são d o n a c o n s c ie n t iz a ç ã o ?
im plem en t adas em t odos os est ados m em - Cr ist óvão - Em Por t u gal, t em os u m a in st i-
br os e qu e per m it em ao agr icu lt or t er su bsí- t u ição, qu e já exist e h á m ais de 20 an os, qu e
di os caso r econ ver t a su a expl or ação par a é a Agr obio, u m a associação de agr icu lt u r a
u m a explor ação or gân ica. Est á aqu i u m de- biológica qu e engloba pr odu tor es, consu m ido-
safio a cu m pr ir , qu e é o da con scien t ização r es, t écn icos in t er essados n a agr icu lt u r a or -
dos pr odu t or es dessa m u dan ça do par adigm a gân ica, qu e pr om ovem feir as em Lisboa, qu e
da pr odu ção con ven cion al par a ou t r o par a- t êm u m a r evist a - a Joan in h a, t êm pu blica-
digm a de pr odu ção vin cu lado ao am bien t e, à ções técnicas de divu lgação, qu e tr abalha com
su st en t abilidade am bien t al. escolas, par a levar às cr ian ças e pr ofessor es
R e vis t a - Is s o n ã o d a r ia u m a c e r t a essa idéia de for m as alt er n at ivas de pr odu -
fr a g i li d a d e a o d e s e n v o lv i m e n t o d a a g r i - ção agr ícola. Talvez seja a or gan ização qu e,
c u lt u r a e c o ló g i c a ? em n ível n acion al, t en h a feit o m ais t r abalh o
Cr is t ó vã o - Exatamente. Isso é visível in- par a con scien t izar pr odu t or es e con su m ido-
clu sive porqu e a agricu ltu ra orgânica pratica- r es. Depois, exist em algu m as associações r e-
mente estagnou em Portu gal nos ú ltimos dois gion ais qu e est ão m ais ligadas à pr odu ção,
anos, porqu e foi u m período de transição em m as qu e são r elat ivam en t e fr acas em t er m os
qu e os mecanismos não aplicaram os mesmos de capacidade de inter venção. Tem os algu m as
su bsídios. O nú mero de adesões à agricu ltu ra associações de defesa do con su m idor , qu e fa-
ecológica ou orgânica não cresceu . Isso é u m
indicador de qu e a adesão se faz não por ra-
zões de consciência ecológica. Um aspecto tam-
bém interessante é qu e os países do su l da
Eu ropa - Portu gal, Espanha, Itália - tentam a
ser países produtores de produtos orgânicos, en-
quanto os do norte da Europa são sobretudo con-
su midores de orgânicos. A interpretação qu e
faço é qu e isso tem mu ito a ver, por u m lado,
com a própria consciência dos consu midores.
Os consu midores nórdicos estão mu ito mais
con scien t es das qu est ões da segu r an ça ali-
mentar e também com maior poder de com-
pra, com possibilidade de pagar o diferencial. 11
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Entrevista/Arthur Cristóvão
zem divu lgação desse t ipo de pr odu t o. Tem os cidade e morar na aldeia, contribu ir para al-
t am bém o Min ist ér io da Agr icu lt u r a, qu e t em gu m dinamismo da aldeia, como o comércio.
pr om ovido a difu são da agr icu lt u r a biológica, Depois, temos o ru ral mu ito profu ndo, afasta-
de for m a m odest a, e n ão est á de for m a algu - do dos grandes centros, mu ito envelhecido. Aí
m a em lin h a com aqu ilo qu e t em sido o dis- penso qu e será mu ito difícil reverter essa ten-
cu r so político sobr e a n ecessidade de pr odu zir dência. Na Espanha e em ou tros países, exis-
de m an eir a m ais r espeit osa ao am bien t e. tem mu itas aldeias abandonadas, em Portu -
Re vis t a – Em t o d o o m u n d o a s s is t i- gal existem menos. Mas, de qu alqu er forma, é
m os a u m p roc e s s o d e e s va zia m e n t o cu r ioso qu e algu n s países eu r opeu s com o
d o m e io r u r a l. Há e s p e r a n ç a d e r e - mesmo problema, como a Su íça e a Áu stria,
ve rt e r o qu a d ro d e e s va zia m e n t o d o consegu iram reverter a desertificação das áre-
m e io r u r a l? as r u r ais. Eles con segu ir am at r avés de u m
Cristóvão - Eu ju lgo qu e não é mu ito fácil. esforço mu ito forte de políticas pú blicas. A Su -
Qu ando percorremos Portu gal, país pequ eno - íça tem investimento da indú stria farmacêu -
qu e se faz em sete, oito horas de norte a su l, e tica em zonas de montanha e consegu iu in-
três, qu atro horas de leste a oeste –, em zonas verter aqu ele ciclo de desertificação, através
qu e ficam a três, qu atro horas do litoral, vemos do tu rismo, da indú stria, da criação de esco-
aqu elas aldeias onde não existe u m comércio las; no fu ndo, é criação da qu alidade de vida
semelhante ao comércio u rbano, onde não te- n as zon as m ais r em ot as. Pen so qu e aí t em
mos o cinema, a livraria, o sítio onde se com- ocorrido u ma das falhas: a não existência de
pra o jornal todo dia de manhã, o centro de saú - políticas pú blicas, para consegu ir ter investi-
de, a escola viva. Qu ando passamos por essas mento, ter serviços, ter qu alidade de vida.
zonas ru rais, vemos toda essa fragilidade, toda Existe hoje em dia todo esse discurso da cha-
essa circu nstância em qu e as pessoas têm qu e m ada deslocalização. Pode ser u m a gr an de
viver. Então é fácil de perceber por qu e as pes- empresa, u ma mu ltinacional localizada nu ma
soas qu erem sair. Sobretu do as mais jovens, zona relativamente isolada, desde qu e tenha
qu e têm u ma expectativa, o paradigma é a ci- acesso a telecomu nicações. Mas isso também
dade. É na cidade qu e as pessoas terão mu itas exige qu alidade de vida, qu e se criem facilida-
possibilidades, qu e mu itas vezes não u sam de- des de acesso, de telecomu nicações, de ener-
pois, por razões de tempo ou econômicas. Então gia elétrica. Temos situ ações de aldeias qu e se
aí nos percebemos qu e não é mu ito fácil man- encontram há três ou qu atro qu ilômetros du ma
ter as pessoas naqu elas aldeias. E, hoje, em cidade e onde a energia elétrica é mu ito mais
mu itas aldeias estão os mais velhos, pessoas fraca. Não é possível u ma indú stria estar nu ma
com 70, 80 anos, com escolas primárias fecha- zona ru ral com esse tipo de problema, tem qu e
das - u ma tendência qu e só tem sido parada haver infra-estru tu ra. Ju lgo qu e o tu rismo ru -
nos mu nicípios qu e têm a seu cargo essa deci- ral, o desenvolvimento da agricu ltu ra, a cria-
são. Fechar u ma escola nu ma aldeia é o golpe ção de m icr oem pr esas ligadas às atividades
final, é a impossibilidade de os pais terem u ma novas ou de produ tos locais são possibilidades
criança e a colocarem na escola. interessantes, mas não retiram a necessidade
Penso qu e não é fácil manter o ru ral, sobre- de uma atitude mais dinâmica do Estado no sen-
tudo o rural mais profundo. Quando falamos em tido de criar condições qu e permitam pr opor ci-
ru ral, falamos de coisas mu ito diversas. Te- on ar qu alidade de vida nessas áreas: estrada,
mos áreas ru rais em Portu gal qu e estão a u ma edu cação, com ér cio, ser viços, telecom u nica-
hora de u ma grande cidade, como Braga ou ções, energia, águ a, indú stria - desde qu e se-
12 Porto, o qu e torna fácil a pessoa trabalhar na jam limpas, respeitadoras do meio ambiente.
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
O pinião
Agroecologia. Enfoque científico
e estratégico
Agr oecologia n os faz
lem br ar de u m a agr i-
cu l t u r a m en os
a gr essi va a o m ei o
am bi en t e, qu e pr o-
m ove a in clu são so-
ci al e p r op or ci on a
m el h or es con di ções
econ ôm icas par a os
agr icu ltor es de n osso
est ado. Não apen as
i sso, m as t am b ém
t em os vi n cu l ad o a
Agr oecologia à ofer t a
de produ tos "limpos",
ecol ógi cos, i sen t os
d e r esíd u os qu ím i -
c os , em op os i ç ã o
àqu eles car act er íst i-
cos da Revolu ção Ver-
de. Por t an t o, a Agr o-
ecologia n os t r az a idéia e a expect at iva de
C a p o r a l, Fr a n c is c o Ro b e r t o *
u m a n ova agr icu lt u r a, capaz de fazer bem aos
C o s t a b e b e r , J o s é A n t ô n io * *
h om en s e ao m eio am bien t e com o u m t odo,
De algu m t em po par a cá, qu ase t odos n ós afast an do-n os da or ien t ação dom in an t e de
temos lido, ou vido, falado e opinado sobre Agro- u m a agr icu lt u r a in t en siva em capit al, en er -
ecologia. As or ien t ações daí r esu lt an t es t êm gi a e r ecu r sos n at u r ai s n ão r en ovávei s,
sido m u it o posit ivas, por qu e a r efer ên cia à agr essiva ao m eio am bien t e, exclu den t e do
pon t o de vist a social e cau sador a de depen -
* Engenheiro Agrônomo, Mestre emExtensão Rural
dên cia econ ôm ica.
(CPGER/UFSM), Doutor pelo Programa de
"Agroecología, Campesinado e Historia" - Instituto de Por ou t r o lado, e ist o é im por t an t e qu e se
Sociología y Estudios Campesinos, Universidad de diga, o en t en dim en t o do qu e é a Agr oecologia
Córdoba (Espanha), Extensionista Rural e Diretor e on de qu er em os e podem os ch egar com ela
Técnico da EMATER/RS-ASCAR. n ão est á clar o par a m u it os de n ós ou , pelo
* * Engenheiro Agrônomo, Mestre emExtensão Rural m en os, t em os t ido in t er pr et ações con ceit u -
(CPGER/UFSM), Doutor pelo Programa de ais diver sas qu e, em m u it os casos, acabam
"Agroecología, Campesinado e Historia" - Instituto de n os pr eju dican do ou n os con fu n din do em r e-
Sociología y Estudios Campesinos, Universidad de lação aos pr opósit os, objet ivos e m et as do t r a-
Córdoba (Espanha), Extensionista Rural e Assessor balh o qu e t odos est am os em pen h ados em r e-
Técnico da EMATER/RS-ASCAR. alizar . Apen as par a dar algu n s exem plos do 13
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
O pinião
m au u so do t er m o, n ão r ar as vezes t em -se m aior ên fase n o con h ecim en t o, n a an álise e
con fu n dido a Agr oecologia com u m m odelo de n a i n t er p r et ação d as com p l exas r el ações
agr icu lt u r a, com u m pr odu t o ecológico, com existentes entre as pessoas, os cu ltivos, o solo,
u m a pr át ica ou t ecn ologia agr ícola e, in clu - a águ a e os an im ais. Por est a r azão, as pes-
sive, com u m a polít ica pú blica. Isso, além de qu isas em labor at ór io ou em est ações expe-
con st it u ir u m en or m e r edu cion ism o do seu r im en t ais, ain da qu e n ecessár ias, n ão são
sign ificado m ais am plo, at r ibu i à Agr oecolo- su ficien t es, pois, sem u m a m aior apr oxim a-
gia defin ições qu e são im pr ecisas e in cor r e- ção com os difer en t es agr oecossist em as, elas
t as sob o pon t o de vist a con ceit u al e est r at é- n ão cor r espon dem à r ealidade objet iva on de
gico, m ascar an do a su a r eal pot en cialidade seu s ach ados ser ão aplicados e, t am pou co,
de apoiar pr ocessos de desen volvim en t o r u - r esgu ar dam o en foqu e ecossist êm ico deseja-
r al. Por esses m ot ivos, e sem t er a pr et en são do. São r elações com plexas dest e t ipo qu e ali-
de fazer , n est e m om en t o, qu alqu er apr ofu n - m en t am a m oder n a n oção de su st en t abilida-
dam en t o t eór ico e/ ou m et odológico, n os pa- de, t ão im por t an t e aspect o a ser con sider ado
r ece con ven i en t e m en ci on ar , obj et i vam en - n a at u al en cr u zilh ada em qu e se en con t r a a
t e, com o a Agr oecologia vem sen do en car ada h u m an idade.
sob o pon t o de vist a acadêm ico e o seu vín cu - Em essên ci a, o En foqu e Agr oecol ógi co
lo com a pr om oção do desen volvim en t o r u r al cor r espon de à aplicação de con ceit os e pr in -
su st en t ável. cípios da Ecologia, da Agr on om ia, da Sociolo-
Com base em vár ios est u diosos e pesqu i- gia, da An t r opologia, da ciên cia da Com u n i-
sad or es n est a ár ea (Al t i er i , Gl i essm an , cação, da Econ om ia Ecológica e de t an t as ou -
Noor gar d, Sevilla Gu zm án , Toledo, Leff), a t r as ár eas do con h ecim en t o, n o r edesen h o e
Agr oecologia t em sido r eafir m ada com o u m a n o m an ejo de agr oecossist em as qu e qu er e-
ciên cia ou disciplin a cien t ífica, ou seja, u m m os qu e sejam m ais su st en t áveis at r avés do
c a m p o d e c on h ec i m en t o d e c a r á t er t em po. Tr at a-se de u m a or ien t ação cu jas pr e-
m u lt idisciplin ar qu e apr esen t a u m a sér ie de t en sões e con t r ibu ições vão m ais além de
pr in cípios, con ceit os e m et odologias qu e n os aspect os m er am en t e t ecn ológicos ou agr on ô-
per m it em est u dar , an alisar , dir igir , desen h ar m icos da pr odu ção agr opecu ár ia, in cor por an -
e avaliar agr oecossist em as. Os agr oecossis- do dim en sões m ais am plas e com plexas, qu e
t em as são con sider ados com o u n idades fu n - in clu em t an t o var iáveis econ ôm icas, sociais
dam en t ais par a o est u do e plan ejam en t o das e ecológicas, com o var iáveis cu lt u r ais, polí-
in t er ven ções h u m an as em pr ol do desen vol- t icas e ét icas. Assim en t en dida, a Agr oecolo-
vim en t o r u r al su st en t ável. Nest as u n idades gia cor r espon de, com o afir m am os an t es, ao
geogr áficas e sociocu lt u r ais qu e ocor r em os cam po de con h ecim en t os qu e pr opor cion a as
c i c l os m i n er a i s , a s t r a n s f or m a ç ões bases cien t íficas par a apoiar o pr ocesso de
en er gét icas, os pr ocessos biológicos e as r e- t r an sição do m odelo de agr icu lt u r a con ven -
lações sócioecon ôm icas, con st it u in do o lócu s cional para estilos de agricu ltu ras de base eco-
on de se pode bu scar u m a an álise sist êm ica lógica ou su st en t áveis, assim com o do m ode-
e h ol íst i ca do con j u n t o dest as r el ações e lo con ven cion al de desen volvim en t o a pr oces-
t r an sfor m ações. Sob o pon t o de vist a da pes- sos de desen volvim en t o r u r al su st en t ável.
qu isa Agr oecológica, os pr im eir os objet ivos Su as bases epist em ológicas m ost r am qu e,
n ão são a m axim ização da pr odu ção de u m a h ist or icam en t e, a evolu ção da cu lt u r a h u m a-
at ividade par t icu lar , m as sim a ot im ização n a pode ser explicada com r efer ên cia ao m eio
do equ ilíbr io do agr oecossist em a com o u m am bien t e, ao m esm o t em po em qu e a evolu -
14 t odo, o qu e sign ifica a n ecessidade de u m a ção do m eio am bien t e pode ser explicada com
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
O pinião

r efer ên cia à cu lt u r a h u m an a. Ou seja: a) Os cion ais e a exper iên cia com in st it u ições e
sist em as biológicos e sociais t êm pot en cial t ecn ol ogi as agr ícol as oci den t ai s podem se
agr ícola; b) est e pot en cial foi capt ado pelos u n ir par a m elh or ar t an t o os agr oecossist e-
agr icu lt or es t r adicion ais at r avés de u m pr o- m as t r adicion ais com o os m oder n os; f) o de-
cesso de t en t at iva, er r o, apr en dizado selet i- sen volvim en t o agr ícola, at r avés da Agr oeco-
vo e cu lt u r al; c) os sist em as sociais e biológi- logia, m an t er á m ais opções cu lt u r ais e bioló-
cos coevolu ír am de t al m an eir a qu e a su s- gicas par a o fu t u r o e pr odu zir á m en or det er i-
t en t ação de cada u m depen de est r u t u r alm en - or ação cu lt u r al, biológica e am bien t al qu e os
te do ou tr o; d) a n atu r eza do poten cial dos sis- en foqu es das ciên cias con ven cion ais por si
t em as social e biológico pode ser m elh or com - sós (Nor gaar d, 1989).
preendida dado o nosso presente estado do co- Den t r o dest a per spect iva, especialm en t e
n h ecim en t o for m al, social e biológico, est u - ao lon go dos ú lt im os 3 an os, o Rio Gr an de do
dan do-se com o as cu lt u r as t r adicion ais cap- Su l vem se t r an sfor m an do em u m est ado
t ar am est e pot en cial; e) o con h ecim en t o for - on de exist em r efer ên cias con cr et as qu an t o
m al, social e biológico, o con h ecim en t o obt i- ao pr ocesso de t r an sição agr oecológica a par -
do do est u do dos sist em as agr ár ios con ven ci- t ir da adoção dos pr in cípios da Agr oecologia
on ais, o con h ecim en t o de algu n s in su m os de- com o base cien t ífica par a or ien t ar est a t r an -
sen volvidos pelas ciên cias agr ár ias con ven - sição a est ilos de agr icu lt u r a e desen volvi- 15
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
O pinião
m en t o r u r al su st en t áveis. Não obst an t e, ain - r ar , de for m a h olíst ica e sist êm ica, as seis
da qu e o t em a, com o abor dam os acim a, t e- dim en sões da su st en t abilidade, ou seja: a
n h a sido objet o de discu ssão em dist in t os Ecológica, a Econ ôm ica, a Social, a Cu lt u r al,
even t os r ealizados em t odas as r egiões do a Polít ica e a Ét ica (Capor al e Cost abeber ,
est ado e est eja pr esen t e em vár ios t ext os e 2002). Par t in do dest a com pr een são, r epet i-
docu m en t os de am pla cir cu lação, con t in u a- m os qu e a Agr oecologia n ão pode ser con fu n -
m os a obser var qu e segu e exist in do u m u so dida com u m est ilo de agr icu lt u r a. Tam bém
equ ivocado do t er m o Agr oecologia e de seu n ão pode ser con fu n dida sim plesm en t e com
sign ificado. u m c on j u n t o d e p r á t i c a s a gr í c ol a s
Por est e m ot i vo, n os par ece i m por t an t e am bien t alm en t e am igáveis. Ain da qu e ofe-
r efor çar a n oção de Agr oecol ogi a qu e vem r eça pr in cípios par a est abelecim en t o de es-
r espal dan do o pr ocesso de t r an si ção agr oe- t ilos de agr icu lt u r a de base ecológica, n ão se
c o l ó gi c a em c u r s o c o m s eu c a r á t er pode confu ndir Agr oecologia com as vár ias de-
ecossoci al , com o fazem os n est e ar t i go de n om in ações est abelecidas par a iden t ificar al-
opi n i ão. Na pr át i ca e t eor i cam en t e, a Agr o- gu m as cor r en t es da agr icu lt u r a "ecológica".
ecol ogi a p r eci sa ser en t en d i d a com o u m Por t an t o, n ão se pode con fu n dir Agr oecologia
en foqu e ci en t ífi co, u m a ci ên ci a ou u m con - com "agr icu lt u r a sem ven en o" ou "agr icu lt u -
j u n t o de con h eci m en t os qu e n os aj u da t an - r a or gân ica", por exem plo, at é por qu e est as
t o par a a an ál i se cr ít i ca da agr i cu l t u r a con - n em sem pr e t r at am de en fr en t ar -se em r e-
ven ci on al (n o sen t i do da com pr een são das lação aos pr oblem as pr esen t es em t odas as
r azões da i n su st en t abi l i dade da agr i cu l t u - dim en sões da su st en t abilidade.
r a da Revol u ção Ver de), com o t am bém par a Est as são con sider ações qu e ju lgam os ser
or i en t ar o cor r et o r edesen h o e o adequ ado de su m a im por t ân cia qu an do se alm eja pr o-
m an ej o de agr oecossi st em as, n a per spect i - m over a con st r u ção de pr ocessos de desen -
va da su st en t abi l i dade. vol vi m en t o r u r al su st en t ável , or i en t ad os
Assi m sen do, o En foqu e Agr oecol ógi co, pel o i m per at i vo soci oam bi en t al , com par t i -
com o o est am os en t en den do n o Rio Gr an de ci pação e equ i dade soci al , com o j á n os r e-
do Su l, t r az con sigo as fer r am en t as t eór icas f er i m o s em o u t r o t ex t o (C a p o r a l e
e m et odológicas qu e n os au xiliam a con side- Cost abeber , 2000; 2001).

ReferênciasBibliográficas
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são Ru r al. In : ETGES, Vir gín ia Elisabet a gia : as bases científicas da agricultura alterna-

16 (Or g.). De s e n vo l vi m e n t o r u r a l : p o t e n - tiva. Rio de Janeiro: PTA/ FASE, 1989. p.42-48.

Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002


R elato
de Experiência

Bananicultura em Sistemas Agroflorestais


no Litoral Norte do RS

V iv a n , J o r g e L u iz* par a o m ês m ais fr io. A evapor ação é em t or -


n o de 1.091 m ilím et r os ao an o, e a pr ecipi-
R e s u m o : Nos ú lt im os 11 an os, agr icu lt o- t ação, 1.676 m ilím et r os ao an o, com cer ca
r es ecologist as do Lit or al Nor t e do RS aper - de 123 di as passívei s de pr eci pi t ação. Os
feiçoar am sist em as de con sór cio da ban a- ven t os pr edom in an t es são de NE e, secu n -
n a, seu cu lt ivo pr in cipal e eixo econ ôm ico, dar iam en t e, de SE e SO. Alt er ações locais
com ou t r as espécies de cu r t o, m édio e lon go n os vales e ver t en t es são possíveis, u m a vez
p r a zo, t a n t o m a d ei r á v ei s c om o n ã o qu e o r el evo cr i a m i cr ocl i m as e ven t os
m adeir áveis. O saber ecológico dos pr ópr ios dir ecion ados com r ajadas in t en sas pequ e-
n as. É n est a paisagem qu e se sit u a a m aior
a gr i c u l t or es é a b a s e d os Si s t em a s
par t e dos ban an ais, o qu e au m en t a a im por -
Agr ofl or est ai s (SAF), com o apoi o t écn i co
t â n c i a d e q u eb r a - v en t os e s i s t em a s
con st an t e do Cen t r o Ecológico Lit or al Nor t e
m u l t i es t r a t i f i c a d os , c om o os Si s t em a s
e, de for m a cr escen t e, da EM ATER/ RS. A
Agr oflor est ais Ban an eir os (Vivan , 2000).
som br a pr odu zida pelos est r at os dom in an t es
A veget ação or igin al é a Flor est a At lân t i-
at u a com o u m im por t an t e r edu t or dos dan os
ca, defin ida com o Flor est a Om br ófila Den sa
ocasi on ad os p el o f u n go My cosp h a er el l a
Pr é-M on t an a. Os solos são pr edom in an t e-
musicola (Leach), con h ecido com o Sigat ok a
m en t e ar gi l osos (podzól i co), or i gi n ados do
Am ar ela. Podações r egu lam o n ível de som -
basalt o. O r elevo é for t em en t e on du lado, com
br a, e o m at er ial r esu lt an t e, ju n t am en t e com
boa dr en agem e aflor am en t o de r och as em
adu bações or gân icas e o m an ejo da cober t u -
vár ios pon t os. Desde a Plan ície Cost eir a at é
r a h er bácea, fer t i l i zam o si st em a. Aval i a-
as ver t en t es da Ser r a Ger al, a veget ação é
ções pr elim in ar es apon t am par a a eficiên -
car act er íst i ca d e u m a for m ação fl or est al
ci a dest es SAF em m el h or ar os n ívei s de
su bt r opical de clim a ú m ido, com gr an de va-
cober t u r a do solo, r edu zir im pact os de doen -
r iedade de epífit as. A paisagem , en t r et an t o,
ças fú n gicas e cr iar alt er n at ivas de r en da,
foi am plam en t e t r an sfor m ada: a colon ização
m an t en do pr odu t ividades n iveladas com os
açor ian a de m eados do sécu lo XVIII in t r odu -
padr ões r egion ais. A pr ovável ch egada n a r e-
ziu gado n as ár eas de baixada, e can a-de-
gi ão d a Si gat ok a Negr a (My cosph a er el l a
açú car e m an d i oca n as en cost as. D esd e
f i j i en s i s ) au m en t a a i m p or t ân ci a d e se
1870 at é o fin al do sécu lo XIX, a colon ização
apr ofu n dar e difu n dir t ais sist em as.
alem ã e, m ais t ar de, a it alian a em m en or
1 Uma trajetória ambiental, escal a, m an t i ver am a can a-de-açú car e a
m an dioca, e o ar r oz ir r igado avan çou sobr e
social e econômica os b a n h a d os n os a n os 1 9 5 0 - 1 9 6 0 . A
O Lit or al Nor t e do Rio Gr an de do Su l apr e- ban an icu lt u r a com er cial, por su a vez, só foi
sen t a car act er íst icas su bt r opicais, com t em - in t r odu zida n os an os 60. Ela ocu pou os es-
p er at u r a m éd i a an u al d e 1 9 ,8 oC, sen d o p a ços d a a n t i ga f l or est a n a s á r ea s d e
24,4oC par a o m ês m ais qu en t e e 15,4oC piem on t e, con st it u in do h oje a pr in cipal at i-
vidade econ ôm ica de m in ifú n dios en t r e cin -
* Engenheiro Agrônomo, M.sc. emAgroecossistemas, co e 25 h ect ar es. D a pr i m i t i va fl or est a, a
extensionista da EMATER/RS. Est ação Ecológica de Ar at in ga, n a r egião do 17
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R elato
de Experiência

vale do Rio M aqu in é, é o ú n ico r em an escen - t em , en t r et an t o, sér i as r est r i ções l egai s a


t e pr ot egido den t r o de u m a u n idade de con - u m a con t in u idade da expan são, u m a vez qu e
ser vação. Est e fat o r efor ça a im por t ân cia da a r egião sit u a-se den t r o da poligon al da Re-
con ver são dos sist em as de u so da t er r a at u - ser va da Biosfer a da M at a At lân t ica. O fat o é
ais par a sist em as m ais con ser vador es da bi- h abilm en t e m an ipu lado por set or es con ser -
odiver sidade (Caldecot t , 1996). vador es e popu list as, e ser vem am bien t alis-
t as e ór gãos de fiscalização com o "cu lpados"
2 Contexto, crise e da cr ise social e econ ôm ica. O foco do pr o-
alternativas blem a, en t r et an t o, qu e é u m a cadeia pr odu -
t iva m on opolizada por pou cos e m ovida por
A ban an icu lt u r a at r avessa u m a cr ise qu e
u m m odelo t ecn ológico in su st en t ável, n ão é
t em vár ios aspect os: por u m lado, a r egião é o qu est ion ado. Se o im passe é clar o, a per gu n -
lim it e m er idion al par a a cu lt u r a, o qu e im -
t a est á feit a:
plica r iscos clim át icos r epr esen t ados por ven -
— Qu al ser á en t ão o m odelo m ais apr opr i-
t os fr ios e geadas ocasion ais; por ou t r o, os ado par a u m a in t en sificação de pr odu ção (e
an os 90 m ar car am a com pet ição com pr odu -
r en da) por u n idade de ár ea n a r egião?
t o pr oven ien t e de ou t r os est ados do su l. Alia- A r espost a n ão é pr opr iam en t e u m a in o-
do ao domínio do mercado por atravessadores, vação. A par t ir do con t at o com a t r adição asi-
est e con t ext o cr iou u m a pr essão por au m en - át ica de sist em as agr oflor est ais (An der son ,
t o de pr odu t ividade e apar ên cia da fr u t a, vi- 1993; Lan dau er , 1990), os por t u gu eses aço-
san do a su per ar a com pet ição. A r espost a foi r ian os já h aviam in st alado n o sécu lo XVII os
u m a u m en t o c r es c en t e d o u s o d e sist em as m u lt iest r at ificados in clu in do a ba-
agr oqu ím i cos e ou t r os i n su m os n os an os n an a e vár ias espécies do t r ópico e su bt r ópico
1960-1990, e t r iplicar am os pr in cípios at ivos n a r egião. Par t e dest a "t ecn ologia" passou
r ecom en dados e/ ou r egist r ados par a a cu l- par a os n ovos colon izador es e h oje, a par t ir
tu ra em 30 anos (Peixoto, 1961; Secchi, 1998), de algu n s qu in t ais e em algu m as pou cas pr o-
au m en t an do a exposição t an t o dos agr icu lt o- pr iedades, se pode t er u m a idéia de com o fu n -
r es com o do m eio am bien t e aos agr ot óxicos. cion avam est es sist em as.
No fin al dos an os 90, t am bém sacos plást i- A m ot ivação at u al dos agr icu lt or es par a
cos, algu n s deles t r at ados com fu n gicidas e "r ei n ven t ar " os SAF, n est e sen t i do, r esi de
u sados par a pr ot eger os cach os, passar am a tanto no impasse do modelo agroqu ímico e nas
apar ecer n os cu r sos d'águ a da r egião. En t r e su as car act er íst icas exclu den t es, com o n os
os vár ios im pact os dest e m odelo de m oder n i- gan h os econ ôm icos dir et os e in dir et os ger a-
zação con ser vador a, est á o au m en t o do r isco, dos pelos SAF. Est e pr ocesso, par a o caso da
u m a vez qu e se au m en t a o im obilizado em ban an a, apóia-se t an t o n o saber ecológico lo-
equ ipam en t os e o cu st o de pr odu ção, par ale- cal, como em pesqu isa form al (Gar nica, 2000).
lam en t e a u m a r edu ção da diver sidade pelo O qu e se desen volve h oje n o Lit or al Nor t e do
m on ocu lt ivo, o qu e se t r adu z n u m a m en or RS, por t an t o, é u m t r abalh o de in vest igação
r esiliên cia do agr oecossist em a (Pr et t y, 1995; par t icipat iva qu e visa a in t egr ar saber es qu e
Gliessm an , 2000). r es p on d a m a a l gu m a s d a s d em a n d a s
Fin alm en t e, a fr u st r ação do au m en t o de t ecn ológicas qu e se colocar am n a t r ajet ór ia
r en da 1 por est a via t eve com o saída "n or m al" sócio-am bien t al e econ ôm ica da r egião.
u m a t en t at iva de com pen sação pela expan - Em 1991, a ONG Cen t r o Ecológico (CE) or -
são da ár ea plan t ada, qu e au m en t ou em 25% gan izou u m cu r so sobr e Agr icu lt u r a Ecológi-
18 entr e 1979 e 2001 (IBGE; EMATER/ RS). Exis- ca, no qu al o au tor desse texto abor dou o tema
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
R elato
de Experiência

SAF. Naqu ele m esm o an o, m u it os dos par t i- sist em at izar est es pr ocessos n a r egião, con s-
cipan t es, con t an do com o apoio do CE e da t r u in do fer r am en t as apr opr iadas a u m pr o-
Past or al Ru r al da r egião, for m ar am a Asso- cesso par t icipat ivo de pesqu isa-ação.
ciação dos Colon os Ecologist as da Região de
Tor r es (ACERT). Essa associação r eú n e h oje 4 Sistema agroflorestal
em t or n o de 30 fam ílias e est á dividida em bananeiro
t r ês n ú cleos r egion alizados, qu e or gan izam
A fam ília qu e t r abalh a e r eside n a pr opr i-
e f a c i l i t a m o p r oc es s a m en t o e a
com er cialização de pr odu t os de or igem eco- edade é com post a pelo casal Model e m ais
u m a filh a adolescen t e, e aju dan t es ocasio-
lógica, en t en didos aqu i com o pr odu zidos sem
n ais pagos com o diar ist as desem pen h am t a-
o u so de agr oqu ím icos. Por volt a de 1994, u m
con vên i o en t r e o CE e a Past or al Ru r al r efas em er gen ciais. Os plan t ios de ban an a-
pr at a e ban an a-m açã ocu pam 4h a localiza-
viabilizou a in t en sificação do t r abalh o n a r e-
dos em u m a en cost a com exposição n or t e-
gião com a con t r at ação de u m t écn ico, m an -
t en do-se ain da a assessor ia pr est ada pelo n or dest e. Mam ão, aipim , m u das de or n am en -
t ais e er vas con dim en t ar es/ m edicin ais, pr o-
au t or desse Relat o de Exper iên cia, en qu an t o
du zidas pela esposa e filh a, com plem en t am
fu n cion ár io da EMATER/ RS.
a r en d a d a b a n a n a . O s p r od u t os s ã o
3 Integração de com er cializados n as Feir as de Agr icu lt or es
Ecologist as em Por t o Alegr e, RS (a 200 qu ilô-
saberes m et r os da pr opr iedade), e as or n am en t ais (so-
Um dos r esu lt ados do t r abalh o n a r egião m en t e as exót icas)2 t am bém são ofer ecidas
foi a sen sibilização de vár ios agr icu lt or es em n a Feir a de Agr icu ltor es de Tor r es, RS (18 qu i-
r elação à Agr oecologia. O Sr . An t on io Bor ges lôm et r os da pr opr iedade).
Model, o "Ton in h o", com o é con h ecido pelos A ár ea t ot al do Sr . Model é de 14,3 h ect a-
seu s am igos, foi u m deles. Su a pr opr iedade r es, dos qu ais m ais de 50% est ão cober t os por
fica sit u ada n o m u n icípio de Dom Pedr o de veget ação n at iva. A ár ea apr esen t a gr an de
Alcân t ar a, a 200 qu ilôm et r os de Por t o Alegr e aflor am en t o de r och as e t em h ist ór ico de cu l-
e a 18 qu ilôm et r os de Tor r es. O caso do Sr . t ivo de can a-de-açú car e ban an a an t er ior à
Model agr ega a for ça de u m a associação (a com pr a, o qu e pr odu ziu im pact os n a fer t ili-
ACERT) e a com bin ação de saber es locais e dade do solo. Est a difer en ciação in flu en cia o
ext er n os. É est a in t egr ação qu e vem dan do m an ejo, qu e é difer en ciado segu n do as "zo-
m a i or c om p l ex i d a d e a s eu b a n a n a l n as" qu e o agr icu lt or r econ h ece. An álises de
agr oflor est al, e ele afir m a qu e seu in t er esse solo destas zon as podem ser com par adas com
pelos con sór cios passou a ser m ais for t e n os a per cepção do agr icu lt or .
ú lt im os an os: "passei a pr est ar m ais at en - En t en den do o con t ext o em qu e a exper i -
ção n o papel das ár vor es den t r o do ban an al". ên ci a se desen vol ve, os pr i n cípi os de fu n ci -
O con h ecim en t o do agr icu lt or , en t r et an - on am en t o do SAF ban an ei r o são r el at i va-
t o, é o qu e r ealm en t e m ove o sist em a. Ele m en t e sim ples de r eplicar , e podem ser apli-
segu e acu m u lan do exper iên cia, fr u t o t an t o cados t an t o em ban an ais já in st alados com o
da obser vação diár ia e de seu pr ópr io in t e- em ban an ai s a i n st al ar . Em am bos os ca-
r esse, com o de viagen s de in t er câm bio e in - sos, o t i po de m u das e espaçam en t o (2,5
for m ações qu e t r oca em cu r sos e r eu n iões. m et r os x 2,5 m et r os) é i gu al ao con ven ci o-
Assi m , o p ap el d a p ar cer i a en t r e ONG e n al . Em ban an ai s j á i n st al ados, o pr i m ei r o
EMATER/ RS t em sido apoiar , en r iqu ecer e passo foi per m i t i r o cr esci m en t o das er vas 19
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Tabela1

Fonte:Vivan(2000).
e a r egen er ação n at u r al de ár vor es, ar bu s- sobr agi (Colubrina glandulosa). En t r e as er -
t os e pal m ei r as. Um a vez qu e est a r egen e- vas espon t ân eas con sider adas ben éficas, qu e
r ação passou a ser acom pan h ada e aval i a- cost u m am cr escer em ár eas de solos m ais
da, o agr i cu l t or pôde i den t i fi car as di fer en - equ ilibr ados e com cer t o n ível de som br ea-
t es si t u ações de n u t r i en t es, en t r ada de l u z m en t o, est ão a er va-gor da (Erechtites valeri-
e de u m i dade n o ban an al . As er vas espon - anaefolia), a t r an ça de cigan o ou t r apoer aba
t ân eas at u am com o in dicador as qu e aju dam (Comelina spp.) e a er va-de-ju n t a (Piper gau -
a i den t i fi car os l ocai s on de exi st e en t r ada dich au dian u m ). As er vas qu e t êm ciclo an u -
de l u z em excesso, fal t a ou excesso de u m i - al são r oçadas som en t e após com plet ar o ci-
dade, ou bai xa fer t i l i dade. Tam bém m os- clo, visan do a au m en t ar a qu an t idade de se-
t r am on de ser á n ecessár i o i n t r odu zi r ár vo- m en t es n o ban co do solo.
r es e pal m ei r as, ou on de o pr ocesso de r e- A r oçagem é, por t an t o, selet iva. Ela t an t o
gen er ação n at u r al j á as est á t r azen do. Es- m an eja a su cessão n at u r al com o iden t ifica
t es passos ger ar am o "zon eam en t o" qu e or i - lacu n as ou "vazios ecológicos". Con for m e o
en t a o agr i cu l t or . saber ecológico qu e acu m u lou sobr e a vege-
O passo segu in t e foi aju st ar u m m an ejo t ação, cada agr icu lt or deixa ou in t r odu z es-
a d eq u a d o p a r a c a d a u m a d a s " zon a s " pécies difer en t es. Exist em , por ém , pon t os em
iden t ificadas. Gr am ín eas pion eir as in dicam com u m n est e pr ocesso. Espécies ar bór eas pi-
pon t os de en t r ada de lu z acim a do n or m al n o on eir as e secu n dár ias pr esen t es n a r egen e-
ban an al. Elas são en t ão elim in adas por capi- r ação, com o a cap or or oqu i n h a (My r si n e
n a, e bu sca-se cobr ir o local com r est os de cor ea cea ), a a r oei r a ver m el h a (Sch i n u s
t alos e folh as de ban an eir a, além de ou t r os t er eb en t i f ol i a ), o a l ec r i m (Ma ch a er i u m
m at er i ai s d i sp on ívei s. In t r od u z- se n est es st i pi t a t u m, Fa ba cea e), can el as em ger al
pon t os fr u t ífer as, com o o m am ão3 (Carica (Lauraceae), in gás (Inga spp., Leguminosae-
papaya), de u m a var iedade cr iou la, e ár vor es Papilionoideae) são ger alm en t e m an t idas por -
de m adeir a valiosa, en t r e elas o lou r o (Cordia qu e podem at u ar com o fer t ilizador as, at r avés
20 tr ichotoma), o ced r o (Ced r ela f issilis) e o de podas per iódicas. Espécies secu n dár ias
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t ar di as e t er ci ár i as com val or m adei r ei r o, fr eqü en t es e qu ase t ot ais (acim a de 70% da


com o l ou r o, ced r o, can j er an a, sob r agi e copa), en qu an t o ou t r as, com o algu m as espé-
l i cu r an a (H y er on i m a a l ch or n eoi d es ) são cies de in gá, t oler am apen as podas an u ais
m an t idas ou deliber adam en t e plan t adas em ou bian u ais, qu e n ão u lt r apassem 60% da
espaços r egu lar es. Na cat egor ia de palm ei- copa. Est es são saber es at u alm en t e obt idos
r as, o palm it o (Euterpe edulis) é o pr efer ido, pela obser vação e qu e con st it u em u m cam po
t an t o pelos seu s u sos pot en ciais, com o por aber t o à pesqu isa.
su a beleza. No caso específico dest e SAF, ele As ár vor es qu e t er ão u so com o m adeir a
t eve qu e ser r ein t r odu zido, devido à falt a de são selecion adas a par t ir do pr ópr io ban co
u m a densidade de m atr izes silvestr es qu e per - de r egen er ação ou im plan t adas, qu an do n ão
m it issem a r egen er ação espon t ân ea. h á m at r izes pr óxim as. Na pr opr iedade do Sr .
Um a vez qu e as ár vor es se est abelecem , M odel, est as espécies são pr in cipalm en t e o
as podas in icialm en t e visam a con du zir a lou r o, o sobr agi e o cedr o. O objet ivo é t er
copa par a u m est r at o acim a das ban an eir as. u m a ár vor e de gr an de por t e a cada 20-25
Isso evit a qu e galh os e folh as dessas dan ifi- m et r os, o qu e ger ar á u m a den sidade fin al
qu em as folh as e os cach os da ban an eir a. Na de 50 ár vor es por h ect ar e. O cr it ér io de se-
m edida em qu e as ár vor es cr escem e u lt r a- leção de espécies in clu i a qu alidade da m a-
passam a ban an eir a, u m con t r ole de som br e- deir a e a per da cíclica de folh as, per m it in do
am en t o é fei t o. In d i vídu os fr acos ou m al qu e ár vor es de gr an de por t e n ão t en h am qu e
posicionados são eliminados, enqu anto ou tros ser podadas.
são m an t idos com o plan t as fer t ilizador as. A Nos estratos intermediários é importante a
den sidade desse t ipo de ár vor es-fer t ilizador as reintrodu ção e a regeneração de palmito, em
por ár ea é var iável, e depen de da fer t ilidade densidades variáveis. O objetivo é obter uma den-
do solo e das espécies qu e r egen er ar am . Nas sidade de pelo menos 200 adultos reprodutivos/
zon as m ais pobr es é m an t ida u m a m aior den - hectares, com posterior raleio para 50-60/ hec-
sidade de ár vor es: segu n do o agr icu lt or , isso tares, o que permitirá que apenas o manejo da
é feit o t an t o por qu e as ár vor es aju dar ão a r e- regeneração seja suficiente para manter o pal-
cu per ar o local, qu an to por qu e as zon as já n a- m i t o n o si st em a (D os Rei s et al ., 2 0 0 0 ).
t u r alm en t e de alt a fer t ilidade r ecebem m e- Bromélias, orquídeas e outras ornamentais são
n os diver sidade de ár vor es. introduzidas em nichos especiais nos estratos
No m an ejo da qu an t idade e qu alidade das inferiores, por critérios de aptidão e praticidade
ár vor es qu e ir ão fazer fer t ilização ou per m a- de manejo. As entrelinhas e o "olho" antigo das
n ecer com o som br a, en t r am vár ios fat or es. touceiras de banana são usadas para bromélias,
São pr efer idas ár vor es de fu st e lon go e copa e árvores de ciclo longo são estacas vivas para
r edu zida, bom valor de u so, qu e n ão liber em as orquídeas. A filha e a esposa do senhor Model
r esin as qu e at r aem , qu e n ão qu ebr em galh os são as responsáveis pelo enriquecimento do sis-
facilm en t e com ven t os e qu e t en h am h ábit o tema com essas espécies, reproduzindo-as no
cadu cifólio. O n ível de som br a qu e per m it e quintal para reintroduzi-las no bananal.
u m desem pen h o n or m al da ban an a t em sido A fer t i l i zação ob t i d a com as p od as é
r efer i d o com o 5 0 % p ar a o t r óp i co ú m i d o su plem en t ada a cada t r ês an os por cam a de
(Garnica, op. cit.), e a r espost a à poda ou ca- aviár io (qu at r o t on eladas/ h ect ar e), calcár io
r act er íst ica cadu cifólia são por isso im por t an - d e c on c h a s (u m a t on r el a d a / h ec t a r e),
t es. A poda deve ser r ealizada de acor do com m icr on u t r ien t es (B e Zn ) e fosfat o de r och as
a fisiologia de cada plan t a, e isso sign ifica (0,5 t on eladas/ h ect ar e) n os set or es qu e n e-
qu e algu m as, com o a ar oeir a, t oler am podas cessitam ser r ecu per ados. A oper ação de "lim - 21
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peza" é sin ér gica com os objet ivos da fer t ili- en t e cr iado n a t in a, favor ece a m at u r ação
zação. Nas du as r oçadas an u ais, qu e visam a u n ifor m e. As caixas qu e r ecebem as fr u t as
facilit ar o t r ân sit o n o ban an al, se faz t am - par a post er ior t r an spor t e at é Por t o Alegr e são
bém a r et ir ada de folh as secas e o r aleio de for r adas com papel. As plan t as or n am en t ais
br ot os, visan do a m an t er t r ês ger ações por e con dim en t ar es/ m edicin ais são acon dicio-
t ou cei r a, n o esp açam en t o p ad r ão d e 2 ,5 n adas em sacos plást icos ou vasos, em bala-
m et r os x 2,5 m et r os. Todo est e m at er ial (er - das e en viadas às feir as, bem com o ar r an jos
vas r oçadas, desbr ot es, folh as e t alos secos) flor ais. A fam ília t oda en volve-se n a pr odu -
p assam a com p or a l i t ei r a e en t r am n a ção e com er ci al i zação, sej a n as fei r as em
r eciclagem de n u t r ien t es do SAF. Por t o Alegr e ou em Tor r es, além de par t ici-
Fin alm en t e, é im por t an t e r essalt ar o cu i- par at ivam en t e das at ividades de for m ação,
dado com a qu alidade do pr odu t o, desde a co- plan ejam en t o e fest ividades da Associação e
lh eit a at é a ven da. Mam ões e ban an as são da com u n idade. A exper iên cia de "Ton in h o"
t r an spor t ados em car r o de boi, em caixas for - é m u it o visit ada, o qu e ocu pa u m t em po con -
r adas com espu m a par a evit ar dan os, at é o sider ável do agr icu lt or , qu e at u a com o u m
galpão, on de os cach os são t r an sfor m ados em "monitor agroflorestal" informal dentro do gru -
pen cas e m er gu lh ados em águ a con ten do pr o- po, além de r eceber visit an t es in t er essados
du t o biológico à base de sem en t e de cit r u s, n a exper iên cia da fam ília Model.
qu e au xilia n a con ser vação e am adu r ecim en -
t o. Após, eles são post os a am adu r ecer em 5 Decisões de manejo
u ma grande tina de madeira forrada com plás-
t ico, con t en do pen cas m adu r as. O et ilen o li- O m an ejo da lu m in osidade, r egen er ação,
ber ado pelas fr u t as m adu r as, além do am bi- cober t u r a e fer t ilidade do solo são fu n dam en -

Figura1-ComposiçãodoBananalAgroflorestal

Obananalagroflorestalestácompostodequatroestratosprincipais(verfigura1):
1)oestratomaisbaixo(0-1m),compostoporervasnativaseintroduções.Bromélias,orquídeaseoutrasornamentaisestãointroduzidasemalgumasáreasjá
sombreadaspelabanana,ouutilizandoárvorescomoestacasvivas.
2)Oestratoarbustivo(1-5m)éocupadopelabananaeoselementosarbóreosqueestãoemregeneraçãoouemimplantação,comomudasjovensdepalmito,louro,
sobragi,licurana,cedro,alecrim,canjerana,entreoutrasespéciesnativas.Omamãoocupaomesmoestratodabananaempontosmaisabertos,emcrescimento.
3)Oestratointermediário(5-8m)abrigaárvoresepalmeirasjádesenvolvidasdasespéciescitadas.
22 4)Oestratosuperior(8-15m+)atualmenteéocupadoprincipalmenteporsobragielouro,numespaçamentoaleatório,masnuncamaiorque10mx10m.

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Figura2-SAFBananeirodaPropriedadedoSr.Model

t ais par a o su cesso do SAF. Todas as deci- e às r edes de com er cialização e pr ocessam en -
sões r elat ivas às podas, a per m it ir ou en r i- t o qu e se pu der m obilizar n os pr óxim os an os,
qu ecer a r egen er ação, bem com o à fer t iliza- n u m cen ár io de in t egr ação in t er in st it u cio-
ção são t om adas a par t ir das obser vações r e- n al.
alizadas pelo agr icu lt or , den t r o de su a con vi-
vên cia diár ia, apr en dizado pessoal e colet ivo 6 Resultados
com o agr oam bien t e e esfer a de r elações so- Con sider an do o u n iver so da agr icu lt u r a
ciais e de t r abalh o. Na r egião, com exceção fam iliar da r egião com est as car act er íst icas,
da ár ea do Sr . Model, qu e foi acom pan h ada os r esu lt ados são an im ador es. Afor a a m a-
n u m a pesqu isa de cam po (ver Vivan , 2000), n u t en ção de u m a pr odu ção est ável de ban a-
n ão exist e ain da u m "m on it or am en t o" sist e- n a-pr at a, o sist em a de som br eam en t o t em
m át ico e r egist r ado das con dições e fen ôm e- per m it ido u m a pr esen ça cada vez m aior de
n os obser vados n as dem ais exper iên cias em ban an a-m açã, qu e t em u m pr eço de m er ca-
SAF em an dam en t o. do 100% su per ior à ban an a-pr at a e at u al-
O qu e h oje alim en t a a t om ada de decisão m en t e 200k g m en sais são ven didos n a fei-
do agr icu lt or em r elação aos pon t os acim a ci- r a, além da ven da do m am ão, qu e já acr es-
t ados são, por t an t o, in for m ações qu e r esu l- cen t ava m il r eais ao an o desde 1999. Est e
t am de u m a acu m u lação e in t egr ação de sa- con j u n t o r efl et e-se n os i n di cador es sóci o-
b er es q u e a i n d a es t á em p r oc es s o d e econ ôm icos abaixo:
for m alização. Fat or es ext er n os, com o falt a de E m 2 a n os , t od a u m a ger a ç ã o d e
m ão-de-obr a, per íodos pr olon gados de ch u va p a l m i t ei r os es t a r á en t r a n d o em f a s e
ou seca, falt a de u m a polít ica pú blica, de su - r epr odu t iva, o qu e sign ifica u m a possibilida-
por t e t écn ico e legislação adequ ada poder ão de de r en da ext r a. Est a poder á en t r ar t an t o
afet ar essas decisões. A velocidade do avan - pela colet a de fr u t os par a ext r ação de polpa
ço desse t ipo de sist em a depen der á, assim , (qu e h oje alcan ça en t r e R$ 4,00 qu ilos a R$
além de fat or es con ju n t u r ais sociais e eco- 6,00 q/ k g n os m er cados r egion ais), com o pelo
n ôm icos, do apoio à in vestigação par ticipativa r epovoam en t o de ár eas de capoeir a e cor t e 23
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Tabela2.Indicadorescomparadosparaomesmoestratofundiário,faixasocioeconômicaetipodesolo.

Fonte:Mazurana(1999);EscritórioMunicipaldeDomPedrodeAlcântara,(EMATER/RS,2002).

de excedentes no pr ópr io SAF, obtendo-se pal- su a vez, t em gr an de pr azer em r eceber pes-


m it o par a con ser va. At r avés da in t r odu ção de soas e r epassar a su a exper iên cia, apr en den -
m a d ei r a s n ob r es , t a m b ém es t á s en d o do sem pr e com a n at u r eza e com os visit an -
con str u ída u m a ver dadeir a "pou pan ça ver de", t es. A pr opr iedade é h oje u m am bien t e ex-
qu e com eçar á a ser colh ida en t r e cin co e dez t r em am en t e agr adável, on de se apr eciam or -
an os, e qu e segu ir á pelos pr óxim os 50 an os. qu ídeas, br om élias, h elicôn ias, sam am baias,
O sist em a de podas t am bém t em possibilit a- ár vor es e fr u t ífer as, o qu e con t a m u it o em
do ao agr icu lt or r edu zir su a depen dên cia de t er m os da qu alidade de vida dessa fam ília.
in su m os com o est er co e cor r et ivos, au m en -
t an do os n íveis de cober t u r a do solo, qu e se 7 Potenciais e Limitações
sit u am sem pr e acim a de 75% (Vivan , op. cit.).
En t r e as for t alezas e pot en ciais dessa ex-
A r en da pode dar u m salt o apr eciável com a
per iên cia pode-se list ar : baixa n ecessidade
possível com er cialização fu t u r a de br om élias,
or qu ídeas, h elicôn ias e ou t r as espécies qu e de capit al de gir o; gast o r edu zido com m ão-
est ão se r epr odu zin do n a ár ea e capit alizan - de-obr a-exter na4 , com m anu tenção de m aqu i-
do o sist em a, sen do qu e a exper iên cia é u m a n á r i o e u s o d e v a r i ed a d es e m a t er i a l
espécie de "pilot o" qu e ser á discu t ida e avali- pr opagat ivo pr ópr io ou local; r eciclagem de
ada ju n t o ao Com it ê da Reser va da Biosfer a r esídu os com fer t ilizan t es ext er n os; m er ca-
da Mat a At lân t ica-RS, de m odo a per m it ir qu e do preferencial; diversidade de produ tos; apro-
aju st es e plan os sejam con st it u ídos den t r o de veit am en t o da diver sidade de am bien t es e n i-
u m con t ext o de plen a colabor ação in t er in st i- ch os, aliada à con ser vação da biodiver sidade
t u cion al. e qu alidade de solo e águ a.
A con ser vação de u m a ár ea n at u r al e a di- Do ponto de vista ecológico, apesar das ava-
ver sidade do sist em a, além do ban im en t o da liações in iciais m icr oclim át icas já efet u adas
en t r ada de caçador es, cr iou a possibilidade (Vivan , op. cit), falt a ain da u m a avaliação sis-
de u m r efú gio par a an im ais silvest r es, pr in - t em át ica e am pliada qu e in t egr e o saber lo-
24 cipalm en t e da fau n a avícola. A fam ília, por cal sobr e ár vor es, n íveis de som br a e fer t ili-
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zação pr opor cion ada, bem com o as r elações pécie qu e n ão o cu lt ivo pr in cipal u m "com -
en t r e o t ipo de ár vor es de som br a e qu alidade pet idor ". A n oção de qu e "a in t r odu ção das
visu al dos fr u t os. ár vor es r edu z a pr odu ção, e qu e as espécies
Um a am eaça à est abilidade do sist em a é n ão vão poder ser m an ejadas, t or n an do-se
o r ou bo de palm it o da pr ópr ia ár ea do agr i- in t ocáveis pela lei am bien t al" n ão t em base
c u l t or , o q u e s ó s er á r es ol v i d o c om o n em cien t ífi ca (vi de Gar n i ca, op. cit.) n em
en gajam en t o de t oda a vizin h an ça n a fisca- legal, m as se per pet u a pelo saber ecológico
lização do acesso de pessoas às ár eas. A fal- escasso en t r e t écn icos e en t r e m u it os agr i-
t a de pessoal n os ór gãos am bien t ais, bem cu lt or es da n ova ger ação, além do descon h e-
com o a in adequ ação dos m ecan ism os at u - cim en t o da legislação am bien t al. O in t er es-
ais de licen ciam en t o par a fazer fr en t e a u m san t e é qu e n ão exist e u m acú m u lo r eal de
possível au m en t o de dem an da par a SAF pode exper iên cias n egat ivas com ban an ais som -
pesar n a decisão de in vest ir t em po e r ecu r - br eados e SAF n a r egião com o, pelo con t r á-
sos em plan t as n at ivas u m a vez qu e, con si- r io, são in ú m er os os r elat os de ban an ais at a-
der an do o m an ejo at u al, algu m as pr át icas c a d os p el o M a l d o Pa n a m á (Fu s a r i u m
em SAF n ecessit am su por t e legal via plan o oxysporum) qu e, u m a vez aban don ados e par -
de m an ejo. De m odo ger al, n ão é r ecom en - cialm en t e som br eados, volt ar am a pr odu zir .
dável qu e o m an ejo exija o cor t e r aso de es- Tr at a-se, por t an t o, ju st am en t e de u m a "fal-
pécies n at ivas em ár eas de pr ot eção per m a- t a de exper iên cias" sist em at izadas. A difu -
n en t e (m ín im o de 30m de n ascen t es e cu r - são e adoção dos SAF ban an eir os im plica os
sos d'águ a e declividades su per ior es a 45o), segu in t es passos:
n em pr evej a el i m i n ação de espéci es i m u - — est i m u l ar , si st em at i zar e aval i ar , de
n es ao cor t e n o RS, com o a figu eir a (Ficus m odo par t icipat ivo, o saber ecológico local,
qu e m u i t as vezes est á r est r i t o a al gu n s
or ga n en s i s ) e a c or t i c ei r a - d a - s er r a
agr icu lt or es(as) em u m a com u n idade;
(Ery thrina falcata). Por ém o cor t e selet ivo de
— en t en der qu e a diver sificação im plica
n at i vas est á pr evi st o em l ei e passível de
viabilizar u m flu xo de m er cado e for m ação/
plan o de m an ejo den om in ado "Plan o de M a-
assessor ia par a m an ejo, colh eit a, pr ocessa-
n ejo em Regim e Ajar din ado".
m en t o e ven da de pr odu t os qu e n ão est ão n o
En t r et an t o est es são pr oblem as con ju n t u -
flu xo pr in cipal dos m er cados estabelecidos n a
r ais qu e devem ser en fr en t ados por polít icas
r egião;
pú blicas, o qu e r efor ça a n oção de qu e est e
— con solidar u m ban co de in for m ações e
t ipo de exper iên cia pilot o deve ser apoiada e
dados de apoio qu e in cor por e o saber local e o
r efor çada, n a m edida em qu e con st r ói alt er -
acadêm ico, at r avés de u m a r ede de in vest i-
n at ivas e apon t a cam in h os n a pr át ica, ju n -
gação par t icipat iva, qu e ger e t an t o ações por
t an do saber es e in st it u ições.
par t e dos t écn icos e agr icu lt or es in t er essa-
8 Conclusão: dos nos SAF, como políticas pú blicas de apoio.
Estes são algu ns dos fator es fu ndam entais
reproduzindo SAFs para qu e o agricu ltor aceite os "riscos" de cons-
O m an ejo in t en cion al e com plexo qu e se tr u ir de for m a par ticipativa u m a "nova" tec-
ver ifica n a pr opr iedade do Sr . Model t em ain - n ol ogi a. Por ém , p od e- se afi r m ar qu e t ai s
da u m n ú m er o r edu zido de sim ilar es n a r e- lim itantes são válidos par a gr ande par te das
gião. Est e fat o pode ser at r ibu ído à desin for - m odificações qu e se pr etende qu ando o objeti-
m ação e à aplicação r igor osa do m odelo de vo são sistem as de pr odu ção m ais su stentá-
in t en sificação, qu e con sider a qu alqu er es- veis, e isso coloca em evidência a im por tân- 25
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
R elato
de Experiência

cia das r edes sociais par ticipativas par a a Tel (51) 664 00 58; (51) 664 00 60. E-mail:
constr u ção de novos conhecim entos e ações. jlvivan@ter r a.com .br ; vivan@em ater .tche.br
Co n t a t o s s o b r e o t e m a d e s t e a r t i g o — Laér cio Meir elles e/ ou An dr é Gon çal-
p o d e m s e r fe it o s c o m : ves, Cen t r o Ecológico Lit or al Nor t e, Coor -
— J or ge Lu iz Vivan , Nú cleo de In vest i- denador . Ru a Padr e Jor ge, s/ no, Dom Pedr o
gação Par t icipat iva, EMATER-RS. de Alcân t ar a, RS, CEP 95568-970.
Ru a J oão T. Hen dler , 251, Dom Pedr o de Tel (51) 664 02 20, e-mail:
Alcân t ar a, RS, CEP 95 560-000. cen t r o.lit or al@t er r a.com .br

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p i c a l Ho m e Ga r d e n s . Un it ed Nat ion s ecossistemas) - UFSC, Florianopolis, Brasil.
Un iver sit y Pr ess, 1990. 257 p.

Notas
1
O preço da banana-prata na CEASA-RS passou de US$ de elaboração até o fechamento deste artigo.
3
0,08 em dezembro de 1992 para US$ 0,10 em junho Mais de 20 espécies diferentes, entre exóticas e nati-
de 2002 (DIMER et al, 1993; PRESA, D., 2002, Inf. vas, já foram introduzidas no SAF.
4
Pessoal). Mais dados sobre a mão-de-obra ainda são necessários,
2
A exploração de ornamentais nativas depende ainda de embora a ausência de capinas e aplicações de
plano de manejo e certificação que estava em processo agroquímicos aliviem a lista de tarefas.
26
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
Agroecología, sustentabilidad y reforma
agraria: la superioridad de la pequeña
producción familiar
p r od u c c i ón f a m i l i a r p or s ob r e l a s
explot acion es agr ícolas y pecu ar ias m edian as
y gr an d es. Con b ase en u n a ex h au st i va
r evisión de lit er at u r a, el pr esen t e ar t ícu lo
m u es t r a l a s v en t a j a s d e l a p eq u eñ a
pr odu cción fam iliar y discu t e su im por t an cia
par a la r econ ver sión agr oecológica. El ar tícu lo
t er m i n a l l am an d o l a at en ci ón sob r e l a
n ecesi d ad d e h acer ef ect i va l a r ef or m a
agr ar ia, com o u n a con dición obligat or ia par a
h acer u n m an ejo adecu ado de los r ecu r sos
n at u r ales y t r an sit ar por los cam in os de la
sociedad su st en t able.
P a la b r a s -c la v e : Agr oecología, Agr icu lt u -
r a f a m i l i a r , E f i c i en c i a p r od u c t i v a ,
Sost en ibilidad, Refor m a Agr ar ia.

1 Introducción
L a d i scu si ón sob r e l as ven t aj as y
d esven t aj as d e l a p r od u cci ón r u r al
(agropecu aria, forestal y pesqu era), en relación
T o le d o , V íc t o r M .* con la escala o el tamaño de la propiedad, ha
si d o u n d eb at e ál gi d o con en or m es
Para Francisco Julião y el Movimento de repercu siones en los ámbitos de las políticas
los Trabajadores sin Tierra de Brasil agropecu arias, forestales, ecológicas, económi-
cas y de desar r ol l o r u r al . Basado en u n a
R e s u m e n - El debat e sobr e la r elación en - exhau stiva revisión de literatu ra sobre el tema,
t r e la eficien cia o pr odu ct ividad y el t am añ o el presente artícu lo está dirigido a cu estionar
de la pr opiedad agr ar ia h a sido siem pr e in - u no de los pr incipales m itos de la ideología
t en so y polém ico. Sin em bar go, en los ú lt i- d esar r ol l i st a: l a su p u est a su p er i or i d ad
m os añ os se h an acu m u lado n u m er osas evi- produ ctiva de la produ cción a gran escala y, por
d en ci as qu e m u est r an l a su p er i or i d ad consigu iente, la su pu esta ventaja de las medi-
ec on óm i c a y ec ol ógi c a d e l a p eq u eñ a an as y gr an des pr opiedades por sobr e las
pequ eñas. Por el contrario, los análisis revisa-
* Instituto de Ecología, Universidad Nacional dos en éste ensayo mu estran como la pequ eña
Autónoma de México. Apdo 41-H, Sta. María p r od u cci ón agr ícol a y p ecu ar i a, qu e
Guido, Morelia, Michoacán 58090. MÉXICO. E- generalmente es de carácter familiar y mu chas
mail: vtoledo@oikos.unam.mx veces de familias agru padas en comu nidades 27
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
ru rales (campesinas o indígenas), resu lta más u n a di syu n t i va soci al de pr opor ci on es h i s-
produ ctiva tanto en términos económicos como t ór i cas: l a vi ab i l i d ad o i n vi ab i l i d ad d el
ecológicos qu e las medianas y grandes. cam pesi n ado o de l a agr i cu l t u r a fam i l i ar ,
Esta demostración tiene repercu siones de qu e h aci a 1990 aú n m an ej aba en t r e u n 60
carácter económico y agrario, no solo porqu e y u n 80 por ci en t o de l a pr odu cci ón pr i m a-
cu estiona la su pu esta eficiencia de las media- r i a del m u n do (véase Cu adr o 1). Por el l o, a
n as y gr an des explot acion es agr opecu ar ias f i n a l es d e l os s et en t a s , el ec on om i s t a
impu lsadas por el modelo agroindu strial, sino
porqu e repercu te en aqu ellas regiones y paí-
ses donde dominan las grandes propiedades y Los análisis muestran como la
donde se hace necesaria y u rgente u na refor-
ma agraria. En la perspectiva de u n desarrollo
pequeña producción agrícola y
r u r al su st en t ab l e, l a su p r em acía d e l as pecuaria resulta más productiva
pequ eñas produ cciones obliga a generar mo-
delos agr oecológicos de pequ eñ a escala qu e tanto en términos económicos
sean apropiados a las condiciones ambientales, como ecológicos que las medianas
cu ltu rales y produ ctivas de cada región.
y grandes
2 Una antigua discusión
La di scu si ón sobr e l a su pu est a m ayor Er n est Feder se r efi r i ó a l a pol ém i ca com o
v i a b i l i d a d d e l a s m ed i a n a s y gr a n d es u n en c u en t r o en t r e " c a m p es i n i s t a s " y
pr opiedades es t an an t igu a qu e, segú n J . L. "descam p esi n i st as".
Cal va (1988), se r em on t a a l a an t i gü edad
gr ecolat in a. En los siglos XVIII y XIX, est a 3 Premisas
discu sión se dio con t al in t en sidad qu e dividió
a los gr an des econ om istas políticos de su épo- Par a en cu adr ar la polém ica es n ecesar io
ca. Mien t r as qu e F. Qu esn ay, Adam Sm it h y r ea l i za r a n á l i s i s c om p a r a t i v os d e l a
Th . R. Malt h u s fu er on decididos det r act or es pr odu ct ividad o eficien cia en con t r ada a dife-
del m in ifu n dio, ot r os, com o S. Sism on di y J . r en t es escalas y bajo con dicion es t écn icas y
St u ar t MilI, fu er on apasion ados defen sor es am bi en t al es sem ej an t es, o al m en os m u y
de la pr odu cción a pequ eñ a escala. si m i l ar es. El con cept o de pr odu ct i vi dad o
En t i em pos m ás r eci en t es, est e debat e eficien cia de u n sist em a pr odu ct ivo r u r al o
r esu r gi ó con fu er za en l a d écad a d e l os pr im ar io (es decir , agr ícola, pecu ar io, for est al
set en t as (en Lat i n oam ér i ca y M éx i co), y o pesqu er o) com ú n m en t e se defin e com o la
adqu ir ió u n a n u eva per spect iva u n a vez qu e r elación qu e exist e en t r e lo qu e se in vier t e
se i n i ci ar on l as dem ol edor as cr ít i cas de l a (in su m os) y lo qu e se obt ien e (pr odu ct os), es
ecol ogía p ol ít i ca al m od el o "m od er n o" d e decir , se t r at a de u n balan ce de in su m os/
agr i cu l t u r a i n d u st r i al i zad a (b asad a en el pr odu ct os (o an álisis ou t pu t / in pu t ). Est o per -
m on ocu l t i vo y qu e u t i l i za pet r ól eo, fer t i l i - m it e ar r ibar a difer en t es ín dices de eficien cia
zan t es qu ím i cos, pest i ci das y m aqu i n ar i a). o p r od u ct i vi d ad (econ óm i ca, en er gét i ca,
El debat e h a si do, por l o gen er al , i n t en so y t ecn o-am bien t al, et c.), depen dien do de los
a p a s i on a d o p or q u e l o q u e p a r ec e u n a par ám et r os u t ilizados (din er o, jor n adas de
di scu si ón m er am en t e t écn i ca sobr e l a es- t r abajo, k ilocalor ías, et c.). De est a for m a, u n
28 cal a de l a pr odu cci ón , en r eal i dad en ci er r a si st em a agr opecu ar i o, for est al o pesqu er o
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A r t i go
ser á m ás pr odu ct ivo en t an t o u t ilice la m e- gicas en las que se encuentra la propiedad, pues
n or can t idad de in su m os par a obt en er los n o es lo m ism o r ealizar la pr odu cción bajo
m a y or es v ol ú m en es d e p r od u c t os . L a situaciones de máxima humedad y temperatu-
in t r odu cción del cr it er io de su st en t abilidad ra (como sucede en las regiones tropicales cáli-
es t a b l ec e, a d em á s , q u e es n ec es a r i o do húmedas), que en condiciones donde existen
d em os t r a r el m a n t en i m i en t o d e l a limitaciones térmicas, hidrológicas o edáficas.
pr odu ct ividad de u n cier t o sist em a a t r avés M ás al l á de est as con si der aci on es, pu ede
del t iem po, es decir , a lo lar go de var ios ci- afirmarse que una pequeña propiedad familiar
clos an u ales (véase Maser a, et al., 1999, par a será aquella que no rebasa las 10 a 15 hectáreas,
u n a m et odología par a evalu ar el gr ado de pues por encima de estos tamaños comienzan
su st en t abilidad de u n sist em a pr odu ct ivo). El a manifestarse ciertos "factores de escala" que
m an t en im ien t o de la m áxim a pr odu ct ividad tienden a modificar la lógica o racionalidad de
d u r a n t e el m a y or l a p s o s er á en t on c es la producción, es decir, del manejo de los recur-
in dicat ivo del valor ópt im o, dem ost r an do qu e sos naturales y de la tecnología. No obstante lo
se h ace u n u so efi ci en t e d e l os r ecu r sos an t er i or , au n cu an d o ad op t ár am os u n a
n at u r ales y de la t ecn ología. definición m ás r ígida de pequ eña pr opiedad
como aquella con una extensión de no más de 5
4 ¿Qué se entiende por hectáreas, el número de productores del mun-
do en esa situación es inmenso: más de 1,500
pequeña producción? millones, es decir, la mayoría de los propietarios
La n oci ón d e "p equ eñ a p r od u cci ón " o agrarios del planeta (Cuadro 1).
"pequ eñ a pr opiedad" var ía de acu er do con las
con dicion es agr ar ias de cada país o r egión y 5 Eficiencia o
par ece ser l a r esu l t an t e de l as r el aci on es
en t r e den sidad dem ogr áfica y dispon ibilidad
productividad economica
de t ier r a o r ecu r so. Por ejem plo, en bu en a De la abu n dan t e lit er at u r a sobr e el t em a,
par t e de las ár eas m ás den sam en t e pobladas es posible seleccion ar t r es ejem plos por ser
com o Ch in a, In dia, In don esia, El Salvador o alt am en t e con fiables, con ocidos y m ás o m e-
la m ayor par t e de los países eu r opeos, don de n os r ecien t es. El pr im er o es el libr o Peasan t
los pr om edios de la pr opiedad agr ar ia se dan Econ om ics, del econ om ist a in glés Fr an k Ellis
por debajo de las cin co h ect ár eas, la pequ eñ a (1988). Con base en var ios est u dios de caso y
pr odu cción fam iliar gen er alm en t e se u bica en u n a cier t a ar gu m en t ación t eór ica, Ellis
alr ededor de u n a h ect ár ea. En países con est ablece qu e exist e u n apar en t e descen so
m ayor dispon ibilidad de r ecu r sos la exten sión de la pr odu ct ividad con for m e se in cr em en t a
au m en t a. En México, por ejem plo, se con si- el t am añ o de u n a par cela. Est e pat r ón lo ex-
dera qu e los tamaños de la pequ eña propiedad plica en fu n ción del u so cada vez m en os in -
oscilan en t r e las cin co y las dez h ect ár eas. t en so qu e h acen los pr odu ct or es con for m e su
F i n a l m en t e, en p a í s es c on gr a n d es pr opiedad va en au m en t o, y a cier t os fact or es
ext en sion es de t ier r a, com o Ar gen t in a o Br a- ligados al est ablecim ien t o de los pr ecios.
sil, h ablar de pequ eñ a pr odu cción es r efer ir se A con cl u si on es si m i l ar es l l ega R. M .
a pr opiedades de 20 h ect ár eas, e in clu so de Net t i n g, u n r econ oci d o an t r op ól ogo
m ayor ext en sión . nor team er icano de tem as r u r ales, en el qu e
A la situ ación an ter ior debe agr egar se la f u e su ú l t i m o y m ás i m p or t an t e l i b r o:
variación resu ltante de las condiciones ecoló- Sm allh older s, Hou seh older s, pu blicado en 29
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
1993 y dedicado a r evisar el tem a de la agr i- de el pu n t o de vist a del u so y con ser vación de
cu ltu r a fam iliar o m inifu ndista a nivel m u n- l os r ec u r s os n a t u r a l es (s u el o, a gu a ,
dial. En su capítu lo cinco, ese au tor confir m a, b i od i ver si d ad , en er gía, ecosi st em as). La
con base en estu dios em pír icos r ealizados en explicación es bast an t e sim ple y pu ede se-
la India, Bangladesh y Costa Rica, la m ayor gu ir var ios cam in os. Un a pr opiedad gr an de
ef i ci en ci a econ óm i ca d e l a p equ eñ a n o per m it e de en t r ada el m an ejo m et icu loso
explotación. Citando a F. Ellis, este segu ndo y fin o qu e r equ ier e u n u so ecológicam en t e
au t or du da, adem ás, de l a val i dez de u n apr opiado (por ejem plo, la delicada var iación
concepto r ecu r r entem ente m anejado por los de los su elos qu eda su pr im ida en las gr an des
econom istas agr ícolas: el de econom ía de es- ext en sion es o la m an ipu lación de cu lt ivos
cala, y dem u estr a qu e este su pu esto efecto es m ú lt iples o el con t r ol biológico de las plagas).
m ás u n r esu ltado del tipo de tecnología y de la Por otra parte, u na gran propiedad requ iere
valor ación qu e se haga de la tier r a, el capital casi obl i gat or i am en t e del u so de i n su m os
y el tr abajo qu e del tam año de la explotación. qu ím icos par a m an t en er la fer t ilidad del su elo
El ter cer ejem plo es el m ás contu ndente. y / o ev i t a r l a en t r a d a d e p l a ga s o d e
Teniendo com o base el análisis detallado de en fer m edades, pu es casi sin excepción las
la evolu ción histórica de los derechos agrarios, explot acion es lat ifu n dar ias se basan en ex-
H . P. B i sw an ger y col ab or ad or es (1 9 9 3 ) t en sos m on ocu lt ivos, sean agr ícolas, par a el
conclu yen qu e "(...) la m ayor ía de los estu dios ganado (pastizales) o for estales (plantaciones).
sobre la relación entre produ ctividad y tamaño Est a vez u t ilizar em os, sin em bar go, u n
d e p r ed i o su gi er e m ay or es n i vel es d e ej em p l o cu an t i t at i vo u sad o con ci er t a
pr odu ctividad en las u nidades fam iliar es qu e fr ecu encia en la liter atu r a par a dem ostr ar la
en las gr andes gr anjas oper adas con base en m ayor pr odu ctividad ecológica de la pequ eña
t r abajo asalar iado". Los au t or es m u est r an finca por sobr e la gr an pr opiedad agr ícola: el
entonces qu e las su pu estas ventajas de la gran u so de la ener gía. El ejem plo fu e intr odu cido
en su ver si ón pr i m er a por el i n vest i gador
pr opiedad han sido u n m ito, u tilizado a lo lar -
n or t eam er i can o D . Pi m en t el (Pi m en t el &
go de la histor ia par a ju stificar la explotación
Pim entel, 1979) y u na ver sión aplicada al caso
del trabajo asalariado y de los campesinos, me-
de México fu e pr esentada por este au tor y co-
dian te el cobr o de tr abajo esclavo, tr ibu tos,
legas u nos años despu és (Toledo, et al., 1989).
r entas (en diner o, especie o tr abajo) y otr os
El Cu adr o 2 m u est r a la en er gía in ver t ida
m ecanism os. Destaca el hecho de qu e estos
y obt en ida (m edida en k ilocalor ías) du r an t e
au t or es son t r es r i gu r osos econ om i st as
la pr odu cción de u n a h ect ár ea de m aíz en 15
nor team er icanos, y qu e la pu blicación citada
difer en t es sit u acion es: (a) siet e r epr esen t an
es u n reporte financiado y pu blicado por el Ban-
u n a t ípica pr odu cción cam pesin a don de n o se
co Mu ndial.
em plea m ás en er gía qu e aqu ella der ivada del
p r op i o esf u er zo d el p r od u ct or ; (b ) sei s
6 La productividad o con st i t u yen est ados i n t er m edi os don de l a
eficiencia ecológica pr odu cci ón cam pesi n a com bi n a el u so de
en er gía h u m an a con en er gía der ivada de la
Tr as t r es décadas de in vest igación agr o- tr acción anim al; (c) los dos ú ltim os confor m an
ecol ógi ca y et n o- ecol ógi ca, ex i st e ya u n casos m oder n os don de el em pleo de m aqu i-
r espet able r eper t or io de ejem plos m ost r an do n ar ia y de fer t ilizan t es y pest icidas qu ím i-
cóm o el m i n i fu n di o fam i l i ar (cam pesi n o o cos, accionados y elabor ados con ener gía fósil,
30 in dígen a) r esu lt a m u ch o m ás eficien t e des- son par t e del sist em a de pr odu cción .
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
En los primeros dos conju ntos, el produ ctor por u nidad de su perficie en las fincas de me-
dedica enormes períodos de tiempo en el proceso nor tamaño (de 200 a 1,000 por ciento más) qu e
produ ctivo: entre 500 y 1,500 horas para hacer en las grandes. Rosset atribu ye ese patrón al
produ cir u na sola hectárea de maíz. Por el con- h ech o d e qu e p or l o gen er al l as gr an d es
trario, el produ ctor moderno, qu e sólo emplea a propiedades agrícolas se basan en extensos y
través de su s sistema tecnificado u nas cu antas monótonos cu ltivos de u na sola especie, en tan-
horas, pu ede hacer produ cir más de 100 veces to qu e en las pequ eñas parcelas de carácter
lo qu e u n pr odu ct or cam pesin o u t ilizan do fam iliar (cam pesin o o in dígen a) se t ien de a
energía hu mana y/ o animal. No obstante lo sembrar más de u na especie (policu ltivos) y a
an t er i or , en t ér m i n os est r i ct am en t e integrar a la ganadería con la agricu ltu ra. La
energéticos, qu e es la forma como los investi- sim ple com par ación de lo pr odu cido en u n
gadores calcu lan la eficiencia ecológica de u n monocu ltivo contra u n policu ltivo por u nidad
sistema produ ctivo, los produ ctores campesi- de su perficie revela u na mayor produ ctividad
nos resu ltan más eficientes qu e los modernos. en el segundo, no obstante que en la explotación
La explicación se en cu en t r a en el h ech o de mayor escala la produ ctividad de cada u no
de qu e, m ien t r as la pr odu cción cam pesin a de los cu lt ivos pu eda ser m ayor qu e en la
i n vi er t e de 200,000 a 1,500,000 k cal por pequ eña explotación.
hectár ea, los sistem as m oder nos r equ ier en de
15 a 20 m illones k cal par a r ealizar el m ism o 8 Estudios de caso: China,
pr oceso. Dado qu e la ener gía total obtenida en
los sistem as m oder nos sólo es de tr ês a cinco
Usa, Europa y Cuba
veces m ay or qu e l as d os p r i m er as, l a Adem ás de las r efer en cias ofr ecidas en los
pr odu cción m oder n a sobr e gr an des escalas apar t ados an t er ior es, t am bién es posible dar
r esu lta ener géticam ente m enos eficiente qu e u n r ápido r epaso a la sit u ación qu e exist e en
la del pequ eño pr edio cam pesino. algu n os países. El m ás n ot able es, sin du da,
el d e C h i n a , u n p a í s l egen d a r i a m en t e
7 El análisis de Rosset m in ifu n dist a desde h ace por lo m en os 3,000
añ os, y don de se con cen t r a u n a qu in t a par t e
La contribu ción más reciente al debate es de la población del m u n do. En Ch in a, m ás de
el detallado an álisis r ealizado por P. Rosset 200 m illon es de u n idades fam iliar es r u r ales
(1999a, 1999b y www.foodfi r st .or g/ pu bs/ - qu e en pr om edio det en t an m en os de u n a
policybs/ pb4.html) sobre la productividad de fin- h ect ár ea cada u m a - logr an la au t osu ficien cia
cas agrícolas de diferentes escalas en 15 paí- al i m en t ar ía d e u n a p ob l aci ón d e 1 , 2 0 0
ses del mu ndo. Las conclu siones a las qu e llega m illon es de h abit an t es sobr e u n a su per ficie
ese au tor son evidentes: "Using evidence from qu e es solam en t e cin co veces el ár ea agr íco-
Sou t h er n an d Nor t h er n cou n t r i es I la de México o cin co veces el t er r it or io de Rio
dem on st r at e t h at sm al l far m s ar e ‘m u l t i - Gr an de do Su l, est o es, u n as 100 m illon es de
fu nctional’ - more produ ctive, more efficient, h ect ár eas (Hsu , 1982; Net t in g,1993).
and contribu te more to economic development En el im per io de las gr an des pr opiedades,
than large farms. Small farmers can also mak e los Est ados Un idos, Mar t y St r an ge h a escr it o
b et t er st ew ar d s of n at u r al r esou r ces, u n libr o en t er o sobr e la agr icu lt u r a fam iliar
conserving biodiversity and safe-gu arding the (1 9 8 8 ) p ar a d em ost r ar , con ab u n d an t e
future sustainability of agricultural production". in for m ación est adíst ica, qu e el pr in cipio de
La tendencia predominante encontrada por ese "bigger is bet t er " (lo gr an de es lo m ejor ) es u n
au tor es la de u na mu cho mayor produ ctividad m it o en la agr icu lt u r a n or t eam er ican a. Un a 31
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A r t i go
década despu és, el Depar t am en t o de Agr icu l- n u evo en el ú n i co sect or qu e r esi st i ó el
t u r a de los Est ados Un idos r econ oció, a t r a- pr oceso de colect ivización : el pequ eñ o agr i-
vés de u n r epor t e especialm en t e pr epar ado cu lt or fam iliar y pr ivado.
sobre la agricu ltu ra de pequ eña escala (USDA, En 1996, este au tor obser vó en Cu ba cóm o
1998), las vir t u des de la agr icu lt u r a fam iliar . u na fam ilia cam pesina, u bicada m u y cer ca de
De acu er do con dich o r epor t e, la pr odu cción La H aban a, h abía l ogr ado evi t ar l a cr i si s
agr ícol a a p equ eñ a escal a m an t i en e l a econ óm ica qu e afect aba a t odo el país, er a
diver sidad (biológica, paisajíst ica, agr ícola y au tosu ficiente en alim entos y ener gía y er a,
cu l t u r al ), gen er a n u m er osos b en ef i ci os com o otr as fam ilias de pr odu ctor es sim ilar es,
am bi en t al es (pu es se t i en de a r eal i zar u n gener ador a de excedentes en el agr o cu bano.
m an ejo r espon sable del su elo, el agu a y la Su pr opiedad de solam ente 1 caballer ía (13.6
vida silvest r e), pr odu ce opor t u n idades econ ó- h ect ár eas) pr odu cía 15 clases difer en t es de
m icas m ás ju st as, m an t ien e u n m an ejo per - cer eal es, h or t al i zas y f r u t os, m an t en ía
son al i zado de l os al i m en t os y en m u ch as gallinas, patos, cer dos y caballos, y pr odu cía
r egion es es vit al par a la econ om ía r egion al. 24 litr os de leche diar ios, par a conver tir se en
E n E u r op a, d on d e l a al t a d en si d ad u na u nidad de pr odu cción con excedentes. En
d em ogr áfi ca l ogr ó m an t en er en cl aves d e Cu ba el pr oceso de la r evolu ción socialist a
pequ eña escala pesar de la com pactación qu e r edu jo la pr odu cción fam iliar de pequ eña es-
pr ovocó la "m oder nización" r u r al de las ú lti- cala al solo 20% del ter r itor io isleño, pu es el
m as d écad as, l as est ad íst i cas m u n d i al es r est o f u e con ver t i d o a l a m od al i d ad
indican qu e las m ayor es pr odu ctividades agr í- agr oindu str ial de gr an escala: cooper ativas y
colas están en los países donde pr evalece el gr anjas colectivas de car ácter estatal basadas
m i n i fu n d i o: H ol an d a, Al em an i a, B él gi ca, en el u so de m áqu inas m ovidas por petr óleo.
It al i a. At en t o a ést e fen óm en o, A. Pal er m Hoy, ante la cr isis ener gética qu e su fr e el país
por la au sencia del petr óleo qu e le abastecía
(1980), u no de los m ás destacados estu diosos
la antigu a ex Unión Soviética, Cu ba no solo
de la antropología económica, recomendó, des-
r ecu per a el valor de la pr odu cción fam iliar y
de hace m ás de dos décadas, tom ar en cu enta
d e p equ eñ a escal a, t am b i én r eal i za u n a
lo qu e él llamó el "modelo holandés" para llevar
r econver sión aceler ada de su agr o, tr anspor -
a cabo u n desar r ollo r u r al apr opiado, ahí don-
te y ciu dades, con énfasis en la agr icu ltu r a
de pr edom ina u n r égim en agr ar io cam pesino,
orgánica o ecológica (Rosset & Benjamin, 1997;
plu r icu ltu r al y m inifu ndista.
ALTIERI, et al., 1999).
El caso de Cu ba r esu lt a t am bién alt am en -
t e ilu st r at ivo por qu e m u est r a de m an er a des-
car n ada com o la gr an pr opiedad qu e se h a 9 Sustentabilidad,
im pu lsado en las sociedades in du st r iales de
Occi den t e (USA, Can adá, Eu r opa) r esu l t a
Agroecología y Reforma
igu alm en t e im pr odu ct iva desde el pu n t o de Agraria
vist a econ óm ico y ecológico, en su m odalidad
La bú squ eda de u n a sociedad su st en t able
col ect i vi st a o est at i st a. E st e m od el o fu e
im pu lsado a par t ir de la r evolu ción r u sa y im plica, en t r e ot r as cosas, la r econ ver sión
ext r apolado al "socialism o t r opical" cu ban o. de los sist em as pr odu ct ivos pr im ar ios (agr i-
Sin pet r óleo su ficien t e par a alim en t ar la agr i- c u l t u r a , ga n a d er í a , p es c a , f or es t er í a ,
cu lt u r a in du st r ializada de las gr an des gr an - ext r acción ) h acia m odalidades ecológicam en -
jas y cooper at ivas est at ales, y con u n a agu da t e adecu adas. En los países con u n a in ju st a
32 escasez de alim en t os, los ojos est án h oy de d i s t r i b u c i ón a gr a r i a , s e h a c e a d em á s
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n ecesar io im pu lsar la dem ocr at ización de la
la innovación tecnológica, el extensionismo y
pr opiedad de la t ier r a. En países com o Br asil,
el desarrollo ru rales. En su ma, se requ iere de
lo an t er ior es u n a asign at u r a pen dien t e y
investigadores y técnicos (natu rales y sociales)
cada vez m ás u r gen t e. Br asil posee el r ecor d
d e s er l a n a c i ón c on l a m á s i n j u s t a
dist r ibu ción de la t ier r a en el plan et a: u n os
Brasil esla nación con la más
50,000 pr opiet ar ios, r epr esen t an do apen as el
u n o por cien t o, det en t an m ás de la m it ad de injusta distribución de la tierra en
l a t i er r a d el ex t en so t er r i t or i o b r asi l eñ o,
m i en t r as qu e se est i m a ex i st en u n os 1 2
el planeta: unos 50.000
m i l l on es d e d em an d an t es d e p r op i ed ad propietarios (uno por ciento)
agr ar ia.
La distribu ción equ itativa de los recu rsos detentan más de la mitad de la
implica el impu lsar la pequ eña produ cción de tierra. Se estima existen unos 12
carácter familiar y, de acu erdo a lo examinado
en los apartados anteriores, fomentar u n ma- millones de demandantes de
nejo agro-ecológico de los recu rsos natu rales.
propiedad agraria
Ello implica u n reto para la investigación cien-
tífica y tecnológica porqu e se hace necesario
el diseñar y llevar a la práctica, dentro de u na y de institu ciones de carácter mu ltidisciplinar
modalidad de investigación participativa, mo- cap aces d e en t en d er l as r el aci on es qu e
delos integrales y mú ltiples de manejo de los i n ex or ab l em en t e se est ab l ecen en t r e
recu rsos natu rales a pequ eña escala (véase u n Su st en t abi l i dad, Agr o- ecol ogía y Refor m a
ejemplo en la Figu ra 1), es decir, de carácter Agraria. La su perioridad económica y ecológi-
f am i l i ar . E st o con l l eva u n a m an er a d e ca de la pequ eña produ cción familiar mostrada
visu alizar la problemática radicalmente dife- en este artícu lo confirma qu e estas relaciones
r en te a com o se h a ven ido r ealizan do en la n o sol o son p osi b l es, si n o u r gen t es y
mayoría de los centros académicos dedicados a n ecesar ias. A

10 Literatura citada
ALTIERI, M.; COMPANIONI, N.; CAÑOZARES, E L L I S, F . P e a s a n t E c o n o m i c s ' f a r m
K. et al. Th e gr een in g of t h e "bar r ios": u r ban h o u s e h o l d s a n d a g r a r i a n d e ve l o p m e n t .
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33
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Pies de figuras

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Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
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1. M odel o eco-pr odu ct i vo de escal a fam i - con t r ol ador es bi ol ógi cos de pl agas, or gan i s-
l i a r en d ez h ec t á r ea s p a r a l a S el v a m os d el su el o, sem i l l as, fu en t es p ar a l a
Lacan d on a, Ch i ap as, M éx i co. El m od el o, p r od u cci ón d e m i el , ab on os n at u r al es y
b a s a d o en l a es t r a t egi a i n d í gen a es t a b i l i za d o r es d el cl i m a. Com o
m esoam er i can a, i n cl u ye si et e si st em as y con t r apar t e en con t r am os l a con ver si ón del
su s r el aci on es t an t o con l os ecosi st em as est i ér col y l a or i n a an i m al es en ab on os
com o con l os m er cados: el h u er t o fam i l i ar par a l a agr i cu l t u r a o el u so de l os desech os
u bicado ju n t o a la vivien da, y la par cela par a d el c a f é (p u l p a y m u c í l a go ) p a r a l a
m aíz o m i l pa (doi s h ect ár eas), el pot r er o (1 p r o d u c c i ó n d e h o n go s o a b o n o s
h ec t á r ea ), un á r ea de cu l t i vos (ver m i com post a), o l a t r an sfor m aci ón de l a
com pl em en t ar i os (cañ a de azú car y ot r os) c a ñ a d e a zú c a r en f o r r a j es , a b o n o y
y u n á r ea f o r es t a l y a gr o - f o r es t a l (6 en er gía. La vi abi l i dad econ óm i ca del m o-
h ect ár eas) di vi di da en t r es secci on es: u n a del o se l ogr a m edi an t e: a) el abast o de m aíz,
por ci ón con sel va m adu r a, ot r a con cafet al fr i j ol es, azú car y ot r os al i m en t os pr oven i -
baj o som br a y u n a t er cer a con sel vas se- en t es de l as ár eas agr ícol as, l ech e y car n e
c u n d a r i a s d e d i f er en t es ed a d es . L a d el p ot r er o, f r u t os d i ver sos, h or t al i zas,
vi abi l i dad ecol ógi ca del m odel o se l ogr a por h u evo, m i el y car n e de cer do y de pol l o del
l a s c o n ex i o n es en er gét i c a s q u e s e h u er t o fam i l i ar , así com o l eñ a, m edi ci n as,
est abl ecen en t r e l os si st em as y l os ci er r es m at er i al es de con st r u cci ón y ot r os al i m en -
l ogr a d os p or el r ec i c l a j e d e m a t er i a y t os de l as ár eas for est al es. Y b) por l a ven -
en er gía al i n t er i or d e cad a si st em a. Por t a de m aíz, l ech e, gan ado en pi e, café y di -
ej em pl o, l os desech os o esqu i l m os agr íco- ver sos pr odu ct os de l as ár eas for est al es (es-
l as y ci er t os m at er i al es de or i gen veget al peci al m en t e fr u t os y h oj as de pal m a), así
p r oven i en t es d e l as ár eas f or est al es se com o m i el , m oscabado, cer dos y fr u t os di -
em p l ea n c o m o f o r r a j es en el p o t r er o v er s os d el h u er t o. A l o a n t er i or d eb e
(gan ad o b ovi n o) y en el h u er t o fam i l i ar su m ar se u n ci er t o pago por l os ser vi ci os
(gan ado por ci n o y gal l i n as). Por su par t e, am bi en t al es de l as 6 h ect ár eas con cober -
l os si st em as for est al es ofr ecen ser vi ci os al t u r a for est al . Par a m ayor es det al l es véase
r es t o, t a l es c om o l eñ a , p ol i n i za d or es , Tol edo (2000).

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Cuadro2.Análisiscomparativodelaeficienciaenergéticaenlaproduccióndeunahectáreademaízbajotrescondiciones
tecnológicas:conenergíahumana,conenergíaanimalyconenergíafósil.TomadodeToledoetal.,1989.

36 (a)confertilizantesquímicos;(b)utilizayunta,tractoryfertilizantesquímicos;(c)en1975.

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ATlternativa
ecnológica

Estrumeirasde solo-cimento

* B a r t e ls , H e n r iq u e A . S . sem pr e ju stifica os investim entos. Estas r es-


* * K a p p e l, P a u lo S é r g io tr ições são m aior es ainda qu ando os dejetos
* * * T h u m e , V a lm ir são m anejados na for m a líqu ida.
As est r u m eir as de solo-cim en t o t êm sido
Estr u m eir as de concr eto, de tijolos ou de u m a alt er n at iva par a o ar m azen am en t o de
lona plástica são algu mas das alternativas qu e dejet os líqu idos de su ín os n a Região Nor oes-
já for am colocadas em pr át ica par a fazer o te do Rio Gr ande do Su l, desde 1993. Pr odu to-
ar m azenam ento dos dejetos de su ínos. O alto r es de m u n icípios daqu ela r egião con st r u í-
cu sto da constr u ção das ester qu eir as, por ém , r am u m n ú m er o sign ificat ivo dest e t ipo de
sem pr e foi u m em pecilho ou u m a ju stificati- depósit o, con for m e est á apr esen t ado n a t a-
va para o produ tor de su ínos não aproveitar os bela a segu ir .
dejetos de for m a integr al e evitar a polu ição Est e t ipo de est r u m eir a se adapt a ao u so
am biental. O valor econôm ico dos dejetos nem de est er co líqu ido, especialm en t e qu an do a
pocilga fica n o alt o e o est er co pode ser can a-
* Eng. Agr., Escritório Central, EMATER/RS. lizado por declividade par a ár eas de cu lt u r as
** Eng. Agr., Escritório Regional deSantaRosa, EMATER/RS. ou de past agen s n at ivas.
*** Tec. Agr., Escritório Municipal deSão Paulo dasMissões, O val or do i n vest i m en t o e o r et or n o do
EMATER/RS. em pr een di m en t o, al i ados à pr eocu pação da 37
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ATlternativa
ecnológica

MunicípiosdoRioGrandedoSul Estrumeirasno Volumemédiom3 Volumetotal1 m3

CampinasdasMissões 30 25 750
SãoPaulodasMissões 27 50 1.350
RoqueGonzales 30 30 900
VistaGaúcha 85 25 2.125
Total 172 — 4.315
1.Capacidadeestática

pr eser vação do m ei o am bi en t e, t êm fei t o t er r en o, com o a pr esen ça de r och as. O for -


com qu e m u i t os agr i cu l t or es fam i l i ar es op- m at o das est r u m eir as pode var iar de cir cu -
t em por est a pr át i ca. lar a qu ase r et an gu lar . Est a possibilidade de
O cu st o d os m at er i ai s (t i j ol os, ar ei a, t r abalh ar com su per fícies ar r edon dadas eco-
br i t a, ci m en t o) e o cu st o da m ão-de-obr a n om iza m at er ial e facilit a o t r abalh o de con s-
especi al i zada par a a con st r u ção da est r u - tr u ção.
m ei r a t r i pl i cam o val or do i n vest i m en t o n o O sol o ar en oso, qu e t em u m a par t e m ai -
m odelo t r adicion al qu an do com par ados com or d e ar ei a e ou t r a m en or d e ar gi l a, é o
o cu st o do m odel o de sol o-ci m en t o. A con s- m ai s adequ ado. O sol o ar gi l oso r equ er m ai -
t r u ção d e sol o- ci m en t o r ed u z o cu st o d e or qu an t i dade de ci m en t o e é m ai s di fíci l
aqu i si ção e de t r an spor t e da ar ei a, dos t i j o- de m i st u r ar e com pact ar . O sol o adequ ado
l os e da br i t a. n ão deve con t er pedaços de gal h os, fol h as,
O r evest i m en t o das par edes das est r u - r aízes ou qu al qu er ou t r o t i po de m at er i al
m ei r as é fei t o par a evi t ar as i n fi l t r ações qu e or gân i co qu e possa pr ej u di car a qu al i dade
possam con t am i n ar as fon t es d'águ a. Est a f i n al d o sol o- ci m en t o. Sol os com m u i t o
pr eocu pação t em au m en t ado n os ú l t i m os m at er i al or gân i co d evem ser d escar t ad os
an os em vi r t u de da m ai or con cen t r ação da par a a pr odu ção de sol o- ci m en t o, poi s su a
pr odu ção de su ín os, u m a vez qu e as cr i a- l i m peza é m u i t o di fíci l (Associ ação... 19- - ).
ções são cada vez m ai or es.
Est a est r u m eir a é difer en t e das qu e são M at e r i ai s p ar a a c o nst r uç ão d a e st r ume i r a
d e so l o -c i me nt o
cit adas n a lit er at u r a, par a as qu ais r ecom en -
do u so de su per fícies plan as e de fôr m as par a Par a cada 2 m 2 de r evest im en t o são n e-
con ter a m assa (Associação...19--). A con str u - cessár ios os segu in t es m at er iais:
ção é m u it o sim ples, pois n ão h á n ecessida- 1 lat a de cim en t o;
de de u t ilizar fôr m as de m adeir a par a con t er 1,5 lat a de ar eia;
a m assa. A m assa, u m a m ist u r a de águ a, 6,5 lat as de t er r a ver m elh a;
ar eia, cim en t o e solo do pr ópr io local, é ajei- 2 lit r os de h idr oasfalt o (pich e fr io).
tada no fu ndo e nos lados do bu raco escavado, Cada lat a cor r espon de a u m volu m e de 18
u t ilizan do-se fer r am en t as sim ples com o pá, lit r os.
en xada e colh er de pedr eir o. Os lados e o fu n -
Esc avaç ão d a e st r ume i r a
do do bu r aco dest in ado à est r u m eir a n ão pr e-
cisam ser plan os per feit os. O r evest im en t o O for m at o poder á ser oval, qu adr ado ou
das later ais e do fu n do com solo-cim en to pode r et an gu lar . As lat er ais são escavadas com
ser feit o em su per fícies côn cavas ou con ve- u m a i n cl i n ação de, apr oxi m adam en t e, 45
38 xas, obedecen do algu m as par t icu lar idades do gr au s. A pr ofu n didade poder á ser de at é 2
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ATlternativa
ecnológica

m et r os. Em caso de at er r am en t o, o solo pr e- tir as de 70 centím etr os a 1 m de lar gu r a, de


cisa ser bem com pact ado an t es de pr oceder - cim a par a baixo, com u m a espessu r a de 10
se ao r evest im en t o das lat er ais. centím etr os. A m assa deve ser com pactada de
tal for m a qu e não fiqu e espaço entr e a qu an-
M ão - d e - o b r a
tidade de u m a pá e de ou tr a par a evitar r a-
A m ão-de-obr a n ão pr ecisa ser especializa- chadu r as. Com au xilio de u m a colher de pe-
da e n or m alm en t e é com post a de n o m ín im o dreiro, u ma brocha de pintu ra e u m balde com
6 t r abalh ador es, for m an do du as equ ipes. águ a, as par edes são alisadas. À m edida qu e a
Um a pr epar a a m assa e a ou t r a aplica o solo- con st r u ção evolu i, as par edes são cober t as
cim en t o, t an t o n o fu n do com o n as lat er ais. com u m a lona par a evitar a secagem r ápida.
Isso per m it e qu e o ser viço seja con clu ído n o Após a conclu são da aplicação do solo-cim en-
m esm o dia. to, as par edes são u m edecidas, no m ínim o 5
Pr e p ar o d a massa vezes ao dia, por u m per íodo de 20 dias par a
evitar r achadu r as.
As qu an t idades de m at er iais são m edidas
com vasilh as ou lat as, de m odo a m an t er a Bo r d a d a e st r ume i r a
u n ifor m idade da m ist u r a. O solo-cimento também é u tilizado na cons-
I n i ci al m en t e, 1 l at a d e ci m en t o e 1 ,5 t r u ção da bor da com a segu in t e m ist u r a: 1
l at a de ar ei a m édi a são col ocadas em u m a lat a de cim en t o, 3 lat as de ar eia e 1 lat a de
cai xa e bem m i st u r adas. Em segu i da, n a t er r a ver m elh a. O m u r o dever á t er n o m ín i-
pr ópr i a cai xa ou sobr e o sol o, aos pou cos, m o qu at r o fileir as de t ijolos m aciços, acim a
são adi ci on adas as 6,5 l at as de t er r a ver - do n ível do solo, par a evit ar a en t r ada da águ a
m el h a. O passo segu i n t e é m i st u r ar bem a da ch u va.
ar ei a, o ci m en t o e t er r a ver m el h a. Aos pou -
Uso d o hi d ro asf al t o f r i o
cos, a segu i r , a águ a é adi ci on ada, evi t an -
do o excesso. At é esse m om en t o a m i st u r a Vi n t e di as após o r evest i m en t o, t odas as
é fei t a com a en xada, e depoi s di sso at r a- par edes e fu n do da est r u m ei r a são bem var -
vés do pi sot ei o. A m assa est á n o pon t o r i das e du as dem ãos de h i dr oasfal t o são
qu an do com eça a se sol t ar da bot a du r an - a p l i c a d a s s o b r e a s u p er f í c i e s ec a . O
t e o pi sot ei o. h i dr oasfal t o cobr e pequ en as fi ssu r as e faz
O u so de bet on eir a é in viável, pois a m as- com qu e a est r u m ei r a fi qu e t ot al m en t e i m -
sa se fixa n as par edes e n ão possibilit a a p er m eab i l i zad a.
m ist u r a.
Cercamento da estrumeira
A p l i c aç ão d a massa d e so l o -c i me nt o
As est r u m ei r as p r eci sam ser cer cad as
Ao i n i ci ar o r evest i m en t o, é i m por t an t e par a evit ar aciden t es com cr ian ças, adu lt os
qu e as par edes est ej am bem u m edeci das e an i m ais.
par a evi t ar r ach adu r as.
O t r abal h o i n i ci a por u m a das par edes
e, em segu i d a, as d em ai s p ar ed es são
r evest i das, dei xan do- se u m espaço n u m a
Referência Bibliográfica
das ext r em i dades par a a saída dos t r aba-
ASSOCIACAO BRASILEIRA DE CIMENTO
l h ador es. O fu n do é cober t o com sol o- ci -
PORTLAND. Gu ia d e c on s t r u ç õe s r u r a is :
m en t o por ú l t i m o.
Com au xilio de pás, a m assa é colocada em
à base de cim ento. São Pau lo, [19--]. v.2
39
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
Incorporando el enfoque agroecológico
en lasInstitucionesde Educación Agrícola
Superior: la formación de profesionales
para una agricultura sustentable
pr ofesion al, capaz de en t en -
d er l os a gr oec os i s t em a s
com o si st em as b i ol ógi cos,
i n cor por an do, adem ás, su s
com p on en t es soci oecon ó-
m i cos. Par a el l o se r equ i er e
u n pr ofu n do cam bi o en l os
pl an es de est u di o y m odal i -
dades de en señ an za de l as
I EAS. Si n em b ar go, en l a
r ealidad, est o n o siem pr e es
posi bl e por l as r esi st en ci as
al cam b i o qu e p r esen t an ,
S a r a n d ó n , S a n t ia g o J .*
en gen er al , l as u n i ver si da-
des. La i n t r odu cci ón de l a
A gr o ec o l o gí a c o m o u n a
n u eva asign at u r a en los pla-
S a r a n d ó n , S a n t ia g o J .* n es de est u di os de l as IEAS
R e s u m e n : H ast a h oy, l as In st i t u ci on es pu ede ser u n a est r at egi a adecu ada (au n qu e
de Edu caci ón Agr ícol a Su per i or (IEAS) h an n o su fi ci en t e) par a l ogr ar est e cam bi o pr o-
for m ado pr ofesi on al es de acu er do con u n fu n do. Est e ar t ícu l o an al i za l a i n t r odu cci ón
m od el o agr ícol a p r od u ct i vi st a al t am en t e del en foqu e de l a Agr oecol ogía en l as u n i -
depen di en t e de i n su m os ext er n os qu e h a ver si dades, a par t i r del caso de l a Facu l t ad
gen er ado gr aves pr obl em as am bi en t al es y d e Ci en ci as Agr ar i as y For est al es d e l a
s o c i a l es q u e p o n en en d u d a l a Un i ver si dad Naci on al de La Pl at a, Ar gen t i -
su st en t abi l i dad de est e m odel o pr odu ct i vo. n a.
El m an ej o o gest i ón de si st em as agr ícol as
s u s t en t a b l es r eq u i er e un n u ev o P a l a b r a s -c l a v e : Agr oecol ogía, Pl an d e
Est u dios, Refor m a Cu r r icu lar , Agr oecosist e-
m as.
* Profesor responsable del curso de Agroecología,
Investigador de la Comisión de Investigaciones Científi-
casde la Provincia. de Bs. As. Cátedra de
1 Fundamentación
Agroecología, Facultad de Ciencias Agrarias y Hast a h oy, las In st it u cion es de Edu cación
Forestales, Universidad Nacional de La Plata. CC 31, Agr í c ol a Su p er i or (I E AS) h a n f or m a d o
Calle 60 y 119, 1900, La Plata, Argentina. E-mail: pr ofesion ales de acu er do con u n m odelo agr í-
40 sarandon@ceres.agro.unlp.edu.ar cola produ ctivista qu e ha bu scado la obtención
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
d e a l t os r en d i m i en t os , a t r a v és d e l a pr odu ct ivo h a t r aído com o con secu en cia la
m ecan ización agr ícola, el u so in t en sivo de for m ación de u n pr ofesion al sever am en t e li-
agr o-qu ím icos (pest icidas y fer t ilizan t es), el m i t a d o p a r a p r om ov er u n d es a r r ol l o
u so de var iedades m ejor adas de cu lt ivos, y el sost en ible".
em pleo de t écn icas "m oder n as" de m an ejo.
Si n em bar go, debem os r econ ocer qu e l os 2 El desafío: la formación
"avan ces" t ecn ológicos de la Revolu ción Ver -
d e n o h a n c on s t i t u i d o u n a r es p u es t a de los nuevos profesionales
adecu ada a la t ot alidad de las sit u acion es El m an ejo o gest ión de los sist em as agr í-
(m ar cadam en t e h et er ogén eas) qu e m u est r a colas r equ ier e u n n u evo pr ofesion al, capaz
el s ec t or r u r a l , p r i n c i p a l m en t e d e
de en t en der los agr oecosist em as, com o sis-
Lat in oam ér ica, ya qu e ést as in n ovacion es n o
t em as biológicos in cor por an do, adem ás, su s
r es u l t a n s i em p r e a p r op i a d a s p a r a s u
c om p on en t es s oc i oec on óm i c os . La
u t ilización por par t e de las com u n idades qu e
Asociaci ón Lat in oam er i can a de Edu cación
se en cu en t r an ocu pan do t ier r as m ar gin ales
Agr ícola Su per ior (ALEAS, 1993, 1999) y la
y/ o con m u y escasos r ecu r sos.
FAO t am bién r econ ocen qu e la for m ación de
A su vez, est a t ecn ología pr esen t a cier t as
u n n u ev o p r of es i on a l d e l a s c i en c i a s
car act er íst i cas qu e p on en en p el i gr o l a
agr ar ias es "u n r equ isit o in dispen sable par a
su st en t abilidad del pr opio sist em a, en t r e las
el desar r ollo agr opecu ar io con sost en ibilidad,
qu e pu eden dest acar se:
r en t abilidad y com pet it ividad" (de M elo Ar a-
• Un a depen den cia cr ecien t e de t ecn ología
e in su m os (com bu st ibles fósiles, in sect icidas, u jo, 1999).
h er bicidas, fer t ilizan t es qu ím icos, et c.) La for m ación de est e pr ofesion al r equ ier e,
• Un a baja eficien cia en er gét ica. sin em bar go, u n pr ofu n do cam bio en los pla-
• Un im pact o n egat ivo sobr e el m edio am - n es de est u dio y m odalidades de en señ an za
bien t e: degr adación de los r ecu r sos n at u r a- de las In st it u cion es de Edu cación Agr ícola
les, pér dida de la capacidad pr odu ct iva de los Su per ior (IEAS). En est as In st it u cion es, "au n
su el os, con t am i n aci ón , er osi ón gen ét i ca, exist en m odelos de en señ an za basados en
er osión cu lt u r al. u n a r aci on al i d ad t ecn i ci st a, en l os qu e
• U n a r esi st en ci a cr eci en t e a l os p l a- p r ed om i n a n v i s i on es f r a gm en t a r i a s y
gu icidas por par t e de plagas y pat ógen os. r edu ccion istas de la r ealidad, qu e descon ocen
En gen er al, los especialist as h an t en ido desar r ollos su per ador es, t ales com o los qu e
pr oblem as par a evalu ar cor r ect am en t e los se der ivan del en foqu e de sist em as, desde
a m p l i os i m p a c t os d e l os s i s t em a s d e u n a per spect iva agr oecológica" (Sar an dón et
pr odu cción , debido al excesivo én fasis en u n a al., 2001).
edu cación y en t r en am ien t o alt am en t e espe- En est e con t ex t o, el agr egad o d e u n a
cializado (Alt ier i y Fr an cis, 1992). El In st it u - asi gn at u r a m ás, o de ci er t os con t en i dos so-
t o In t er am er i can o de Cooper aci ón par a l a br e su st en t abi l i dad, n o es su fi ci en t e par a
Agr icu lt u r a (IICA) t am bién r econ oce "... qu e for m ar u n pr ofesi on al pr epar ado par a dar
la edu cación t r adicion al del pr ofesion al de las u n a r espu est a adecu ada al n u evo desafío
cien cias agr opecu ar ias n o con t r ibu ye a for - qu e se p r esen t a. Com o r econ oce Vi ñ as-
m ar u n act or qu e, en su desem peñ o, debe Rom án (1999), "la m u lt idim en sion alidad del
m an ej ar n u m er osas var i abl es, m u ch as de desar r ol l o sost en i bl e pl an t ea l a n ecesi dad
el l as com p l ej a s" (V i ñ as- Rom á n , 1 9 9 9 ), de u n a visión r en ovada de la agr icu lt u r a qu e
añ adien do lu ego qu e "el én fasis en lo t écn ico p er m ee í n t egr a m en t e l a s p r o p u es t a s 41
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
cu r r i cu l ar es". Si n em bar go, en l a r eal i dad, qu e, a pr im er a vist a y en el cor t o plazo, pu ede
es t o n o s i em p r e es p o s i b l e p o r l a s par ecer u n éxit o, r esu lt a alt am en t e con t r a-
r esi st en ci as al cam bi o qu e pr esen t an , en p r od u c en t e a m ed i a n o p l a zo p a r a l a
gen er a l , l a s u n i v er s i d a d es . A n t e es t e in cor por ación del en foqu e agr oecológico en el
h ech o, l a i n t r odu cci ón de l a Agr oecol ogía r est o d e l as asi gn at u r as d e l as IEAS. La
c om o u n a n u ev a a s i gn a t u r a c on es t e c r ea c i ón d e u n a c a r r er a p a r a l el a en
en foqu e pu ede ser u n a est r at egi a adecu ada Agr oecol ogía si gn i fi ca adm i t i r qu e ést a es
(au n qu e n o su f i ci en t e) p ar a l ogr ar est e sól o u n a al t er n at i va m ás d en t r o d e l as
cam bio pr ofu n do. Cien cias Agr ícolas, y n o u n n u evo par adig-
En l a Facu l t ad de Ci en ci as Agr ar i as y
For est ales de la Un iver sidad Nacion al de La
Plat a (UNLP), Ar gen t in a, se in t r odu jo com o
La creación de una carrera para-
obl i gat or i a, en el n u evo pl an de est u di os lela en Agroecología significa ad-
(1999), la asign at u r a Agr oecología, com o u n a
est r at egia qu e per m it e cu br ir est e déficit en mitir que ésta es sólo una alternati-
l a f or m aci ón d e l os p r of esi on al es d e l a va más dentro de las Ciencias Agrí-
Agr on om ía. En est e ar t ícu lo se pr et en de dis-
cu t i r l a i n t r od u cci ón d el en f oqu e d e l a colas, y no un nuevo paradigma
Agr oecología en las Un iver sidades a par t ir de
est a exper ien cia.
m a qu e bu sca r edefin ir las y m odificar las en
3 Introduciendo la su esen cia.
Un a vez adm it ida la n ecesidad de in cor po-
Agroecología en la r ar la Agr oecología dentr o del plan de estu dios
Universidad de u n a Facu lt ad de Cien cias Agr ar ias, su r ge
ot r a du da ¿En cu ál et apa de la car r er a es m ás
I n t r od u c i r l a Agr oec ol ogí a en u n a con ven ien t e el dict ado de est a asign at u r a?
U n i ver si d ad , n o es u n a t ar ea f áci l . E n ¿Debe u bicar se al pr in cipio, en la m it ad o al
r eal i d ad , l os cam b i os h aci a d en t r o d e l a fin al de la car r er a? La r espu est a depen der á
Un iver sidad son , de por sí, bast an t es difíciles. del im pact o qu e se bu squ e con segu ir den t r o
Con m ás r azón aú n cu an do, com o en el caso de la In st it u ción , y de la posibilidad de dict ar
de la Agr oecología, est e cam bio im plica u n a la asign at u r a de u n a m an er a com pr en sible
r edefin ición y com plejización de las m ism as por los alu m n os. Su u bicación en el pr im er
in st it u cion es, ya qu e, en gen er al, las u n iver - añ o de la car r er a pu ede t en er u n gr an im -
sidades se h an con for m ado alr ededor del pa- pacto sobr e el r esto de las asignatu r as de años
r adigm a de la sim plificación y especialización su bsigu ien t es, al desar r ollar u n a act it u d cr í-
(Rojas, 2000). t ica en los alu m n os. Sin em bar go, defin it i-
An t e las dificu lt ades y r esist en cias qu e vam en t e n o es con ven i en t e p or qu e l os
p u ed en su r gi r al i n t en t ar i n cor p or ar el alu m n os n o t ien en aú n los con ocim ien t os
en foqu e d e l a Agr oecol ogía en l as I E AS, n ec es a r i os p a r a p od er i n c or p or a r l os
m u ch as veces, pu ede caer se en la t en t ación con cep t os y con t en i d os m ín i m os d e l a
de cr ear u n a car r er a par alela o licen ciat u r a Agr oecología.
en Agr oecología qu e coexist a con la ofer t a de En el otr o extr em o, su u bicación en el ú lti-
l a Agr on om ía con ven ci on a l . D e h ech o, m o añ o, con al u m n os d e for m aci ón m ás
42 algu n as u n iver sidades lo h an h ech o. Est o avanzada, posibilita u na m ejor capacidad de
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
análisis y tom a de conciencia sobr e el im pac- es u na tar ea fácil, ya qu e cada Facu ltad tiene
to am biental de cier tas pr ácticas agr ícolas, ya su s par ticu lar idades qu e deben ser tenidas en
qu e los alu mnos manejan u na mayor cantidad cu enta a la hor a de diseñar los contenidos y
de elem en t os r elacion ados a la pr odu cción m od al i dad d e en señ an za de u n cu r so de
agr opecu ar ia. Per o su im pacto tr ansfor m ador Agr oecología. A su vez, la Agr oecología, por
dentr o de la Institu ción, hacia el r esto de las d ef i n i ci ón , es m ás qu e u n a ser i e d e
asignatu r as, no ser á m u y im por tante. contenidos; es u n nu evo par adigm a o enfoqu e
Por ú lt im o, su in clu sión en t er cer añ o, qu e p r et en d e u n cam b i o p r ofu n d o en l a
per m it e desper t ar en los alu m n os u n espír it u m aner a de abor dar la r ealidad agr opecu ar ia.
cr ít ico y u n a capacidad de an álisis sist ém ico Dentr o de este contexto se pr oponen, a m odo
y h olíst ico, qu e pu ede ser vir par a cu est ion ar de gu ía, los objetivos y contenidos qu e deber ía
el en foqu e at om ist a y fr agm en t ar io con qu e abar car esta asignatu r a, si su u bicación fu ese
se dict an las asign at u r as de los añ os su per i- en t er cei r o (3 er ) añ o d e l a car r er a. E s
or es. D esde est e pu n t o de vi st a, el poder necesar io aclar ar , qu e el ar m ado o diseño del
t r a n s f or m a d or , h a c i a d en t r o d e l a s pr ogr am a del cu r so debe r espon der a u n
In st i t u ci on es, pu ede ser m u y i m por t an t e. an ál i si s cu i d ad oso d e l os con oci m i en t os
Ubicada en est a et apa de la car r er a, se deben pr evios qu e los alu m nos tr aen al m om ento de
sel ecci on ar con t en i d os y d esar r ol l ar u n a cu r sar est a asi gn at u r a. Sob r e el l os d eb e
m odalidad de en señ an za, qu e per m it an la formu larse el diseño de los contenidos. Un pro-
for m ación en el con ocim ien t o de los aspec- gr am a qu e no tenga en cu enta esta r ealidad
t os b á si cos d el f u n ci on a m i en t o d e l os no tendr á m u chas posibilidades de éxito.
ecosist em as y agr oecosist em as y el im pact o
4 1 O b j e t i v o s.
qu e t ien en en est os los difer en t es est ilos de
agr icu lt u r a. De est a m an er a, se pu ede dot ar Du r an t e el desar r ollo de est e cu r so se pr e-
a los alu m n os de elem en t os par a abor dar de t en de:
u n a m a n er a a p r op i a d a l a s f u t u r a s
asign at u r as, de car áct er m ás aplicado. a) Desper t ar u n a act it u d cr ít ica acer ca del
E n l a F a c u l t a d d e C s . A gr a r i a s y im pact o, en el pr esen t e y en el fu t u r o, de la
For est al es de l a UNLP, est a asi gn at u r a, de agr icu lt u r a com o act ividad t r an sfor m ador a
r eci en t e cr eaci ón , h a si d o u b i cad a com o del m edio am bien t e en gen er al y del pr opio
obl i gat or i a, en el segu n do cu at r i m est r e del agr oecosist em a en par t icu lar , y su r elación
3 er a ñ o d e l a C a r r er a d e I n gen i er í a con aspect os socioecon óm icos y cu lt u r ales.
Agr on óm i ca. Au n qu e con si d er o qu e est a b) Pr ovocar u n a per cepción de los sist em as
agr ícolas con u n a visión h olíst ica, r esalt an do
u bi caci ón es l a m ás adecu ada par a n u est r a
l a i m p or - t a n c i a d e c on s i d er a r l a s
r eal i dad, su s ven t aj as y desven t aj as r eci én
in t er accion es de t odos los com pon en t es bio-
podr án eval u ar se cor r ect am en t e l u ego de
lógicos, físicos y socioecon óm icos de los sis-
al gu n os añ os de di ct ado.
t em as d e p r od u cci ón , d esd e u n a óp t i ca
m u lt idisciplin ar ia.
4 Programa de un curso de c) Comprender y conocer el fu ncionamiento
Agroecología d e l os ecosi st em as en gen er al y d e l os
agr oecosistem as en par ticu lar , señalando di-
Adm it ida ya la n ecesidad del dict ado de fer encias y sim ilitu des entr e am bos.
Agr oecología, r esta definir los contenidos y la d) M an ej ar h er r am i en t as qu e per m i t an
m odalidad de enseñanza de la m ism a. Esta no com p r en d er l os p r i n ci p al es p r ocesos qu e 43
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
ocu r r en en los agr oecosist em as y su r elación Biot ecn ología y su st en t abilidad.
con difer en t es pr áct icas agr on óm icas. • Pr in cipios de m an ejo ecológico de plagas,
e) Visu alizar el im pact o del m an ejo de los en fer m edades y m alezas.
agr oecosist em as sobr e las pr in cipales adver - • Pr act i cas al t er n at i vas de pr odu cci ón
sidades de los cu ltivos o sistemas produ ctivos, agr op ecu ar i a. D i fer en ci as, l i m i t aci on es y
plagas, m alezas y en fer m edades. posibilidades fu t u r as.
f) Desar r ollar u n a act it u d r eflexiva en t or - • Met odología de an álisis y evalu ación de
n o de los fu n dam en tos con ceptu ales, cr iter ios a gr oec os i s t em a s . I n d i c a d or es de
y p ar ám et r os qu e p er m i t an en t en d er y su st en t abilidad.
pr opon er solu cion es a la pr oblem át ica r u r al
4 3 Est r at e g i as me t o d o l ó g i cas y o r g ani zaci ó n
con u n en foqu e agr oecológico, en el m ar co
d e act i vi d ad es.
de u n a agr icu lt u r a su st en t able.
g) Con ocer las m et odologías qu e per m it an Com o se h a señ al ado, l a Agr oecol ogía,
d i a gn os t i c a r , ev a l u a r e i n v es t i ga r l os com o u n n u evo en foqu e o par adi gm a, es
agr oecosist em as, con la fin alidad del diseñ o m u ch o m ás qu e u n a ser ie de con t en idos. Por
y m an ejo de sist em as su st en t ables. l o t an t o, l a m od al i d ad o m et od ol ogía d e
en señ an za adqu ier e u n papel fu n dam en t al
4 2 Sínt e si s d e l o s p r i nc i p al e s c o nt e ni d o s. en el éxit o de est a pr opu est a.
Se con sider a qu e, par a el cu m plim ien t o de La or gan ización de act ividades debe bu s-
los objet ivos en u n ciados pr eceden t em en t e, la car fom en t ar y valor ar la par t icipación del
asi gn at u r a deber ía abor dar l os si gu i en t es est u dian t e en el pr oceso edu cat ivo con l a
con t en idos, qu e se list an en for m a sin t ét ica: con vicción de qu e es el act or pr in cipal de est e
• La agr icu lt u r a com o act ividad t r an sfor - pr oceso. Ello im plica fom en t ar el espír it u cr í-
m ador a del am bien t e. Agr icu lt u r a in t en siva t ico y su capacidad de an álisis y de acceso y
vs. Su st en t able. Im pact o de la Filosofía de la
Revolu ción Ver de en el m odelo de agr icu lt u -
r a pr evalecien t e. La organización de actividades
• El n u evo en foqu e: h olíst ico y sist ém ico.
debe buscar fomentar y valorar la
• In cor por ación del com pon en t e social. Un
r equ isit o in dispen sable. participación del estudiante en el
• Pr i n c i p i os d e ec ol ogí a gen er a l . E l
ecosistem a. Pr opiedades. Com pon en tes de los proceso educativo. Ello implica
ecosist em as. Su r ol en el fu n cion am ien t o del fomentar el espíritu crítico y su
m ism o. Niveles de or gan ización .
• Los ci cl os en l os ecosi st em as: ci cl os capacidad de análisis y de acceso
biogeoqu ím icos, la en er gía en el ecosist em a.
y evaluación de la información
Eficien cia en er gét ica.
• In t er accion es en t r e com pon en t es de los
ecosi st em as: fen óm en os d e com p et en ci a, evalu ación de la in for m ación .
com plem en t ar iedad de r ecu r sos. La asociación o in t egr ación de la t eor ía con
• Desar r ollo y evolu ción de ecosist em as. la pr áct ica adqu ier e especial im por t an cia en
La su cesión . est a asign at u r a don de es fu n dam en t al fijar
• E l p ap el d e l a b i od i ver si d ad en l os los con ocim ien t os pr evios par a poder avan zar
agr oecosi st em as; m an ej o, con ser vaci ón y sobr e aspect os m ás com plejos. En est e sen t i-
44 r ec u p er a c i ón de la b i od i v er s i d a d . do, se con sider a a las act ividades pr áct icas
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go

com o u n m ecan ism o n ecesar io de fijación de de los alu mnos, pero, por otro lado, también la
con ocim ien t os y de det ección de du das por au toevalu ación de los docentes. Teniendo en
par t e de los pr opios alu m n os qu e qu izás n o cu enta qu e este cu rso plantea objetivos relaci-
r esu lt an eviden t es en u n a clase exposit iva. onados con conocimientos, actitu des, criterios
Se con sider an fu n dam en t ales las visit as y el o destrezas, la evalu ación se adecu ará a estos
an álisis de sist em as pr odu ct ivos r eales con aspectos, bu scando valorar al alu mno desde u n
difer en t es est ilos y m odalidades de m an ejo: punto de vista holístico, evaluando los progresos
or gán icos, con ven cion ales; ext en sivos, in t en - en el desarro-llo de la capacidad crítica y de
sivos; gan ader os, agr ícolas, et c. análisis. Se u tilizan para ello evalu aciones a
Sintetizando, el curso consiste en clases te- libro abierto, qu e se le entregan al alu mno con
óricas, trabajos prácticos, seminarios a cargo de varias semanas de anticipación.
los alumnos, lectura y discusión de trabajos ci-
entíficos relevantes rela-cionados con el tema. 5 Impedimentos o
A su vez, se complementa con visitas de campo
a establecimientos donde los alu mnos hacen
limitaciones para la
una evaluación de la sustentabilidad de diferen- introducción de
tes sistemas de producción y un posterior infor-
me para su discusión en grupos. este enfoque en las
4 .4 Eval uac i ó n universidades
La evalu ación es u n pr oceso per m anente Au n qu e la agr icu lt u r a su st en t able es u n
qu e permite, por u n lado, analizar la evolu ción objetivo teóricamente aceptado por todos, los 45
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A r t i go
• La au sen cia de u n a m asa
cr ít ica de docen t es for m ados con
el en foqu e h olíst ico y sist ém ico.
• La exist en cia de u n im por -
t an t e n ú m er o de docen t es e in -
vest igador es qu e con t in ú an pr i-
vilegian do su s lín eas de t r abajo
de acu er do al pr est igio de cier t as
pu blicacion es.
• La fal t a de un
r econ oci m i en t o "académ i co" a
t odo aqu ello qu e se r elacion e con
la Agr oecología o agr icu lt u r as al-
t er n at i vas. Ex i st e al r esp ect o
u n a s ob r ev a l or a c i ón d e l a
t ecn ología in su m o depen dien t e
asociada a m ayor es r en dim ien -
avan ces par a in cor por ar la efect ivam en t e en t os, qu e apar ece aú n h oy com o
las u niversidades, más allá de los aspectos me- el par adigm a dom in an t e.
ramente discu rsivos, no son mu y alentadores. • La m ayor sim plicidad qu e sign ifica el
Lograr este cambio no es fácil, sobre todo, por- plan t eo de los pr oblem as desde u n a sola dis-
qu e r equ i er e, de par t e de l os p r ofesor es, ciplin a (en foqu e r edu ccion ist a).
reconocer qu e el perfil del profesional qu e han • Necesidad cr ecien t e de fon dos por par t e
estado formando (y en el qu e se han formado la de las Un iver sidades, lo qu e con du ce a u n a
mayoría de ellos) debe ser revisado y cambia- vin cu lación y asociación con em pr esas qu e,
do. Por otra parte, la incorporación definitiva en gen er a l , p r i v i l egi a n l í n ea s d e
del enfoqu e agroecológico en las IEAS tropieza in vest igación depen dien t es de in su m os.
con otras serie de dificultades (Sarandón y Hang,
1995, modificado):
6 Inconvenientes o
• Escasa con cien cia sobr e el im pact o am -
bien t al y social, de algu n os sist em as m oder - aspectos atener
n os de pr odu cción agr ícola. en cuenta para el
• Poca o n u la per cepción sobr e el r ol qu e el
pr ofesion al de la Agr on om ía debe cu m plir en dictado del curso de
u n a gest i ón su st en t ab l e d e l os r ecu r sos
(agr oecosist em as).
Agroecología
• La falt a de flexibilidad de los plan es de
est u d i o, p ar a i n cor p or ar , con su fi ci en t e U n a v ez i n c or p or a d o el c u r s o d e
agilidad, n u evas m et odologías, en foqu es y Agr oecología en el plan de est u dio de las Un i-
con t en idos. ver sidades, se pr esen t an aú n u n a ser ie de
• La r esist en cia al cam bio, pr opio de los in con ven ien t es a r esolver , par a su dict ado:
pr ofesor es for m ados en el an t igu o par adigm a.
I n cer t i d u m b r e sob r e el r ol o l u gar qu e • Se r equ ier e u n plan t el de docen t es con -
46 ocu par an en el n u evo escen ar io. ven ci d os y con h er r am i en t as t eór i cas y
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
pr áct icas en Agr oecología de m u y bu en n ivel A su vez, du r an t e el dict ado del cu r so, es
("n o im pr ovisar "). com ú n qu e su r jan dem an das, por par t e de los
• Exist e poca pr epar ación de los alu m n os alu m n os, de r ecet as o t ecn ologías alt er n at i-
par a est e en foqu e. Edu cación fr agm en t ada y vas, n o siem pr e dispon ibles par a t odos los
m em or íst ica. "Est o es m u y difícil". casos. Es decir , est a asign at u r a plan t ea los
• Dem an da de tecn ologías o r ecetas de par - p r ob l em a s p er o n o t i en e s ol u c i on es
t e de los alu m n os. "Todo eso est a bien , per o, in m ediat as par a t odos ellos. En Facu lt ades
¿Cóm o h acem os?". don de, en gen er al, la edu cación h a con sist i-
• Poca dispon ibilidad de t ecn ologías alt er - do en dar les pr ecisam en t e las r ecet as par a
n at ivas adapt adas a t odas las r ealidades. No casi t odos los pr oblem as, est o pu ede pr ovocar
h ay r espu est as o ej em pl os par a t odas l as cier t a in cer t idu m br e y descon cier t o. Es im -
pr egu n t as o dem an das. Escasa bibliogr afía por t an t e en est e sen t ido h acer les com pr en der
apropiada. qu e la Agr oecología n o r eem plaza u n a ser ie
• Casi t odo el r est o de la Facu lt ad sigu e de r ecet as de la agr icu lt u r a con ven cion al por
fu n cion an do bajo ot r o par adigm a. ot r a ser ie de r ecet as "ecológicas", sin o qu e
pretende darle los criterios y metodologías para
Un o de l os pr i m er os pr obl em as qu e se qu e con st r u yan , en cada caso par t icu lar , la
deben afr on t ar par a el di ct ado de u n cu r so m ej or a l t er n a t i v a p a r a l os s i s t em a s
de Agr oecol ogía, es con segu i r el cu er po de pr odu ct ivos con los qu e t r abajen .
d ocen t es qu e i m p ar t i r án l a asi gn at u r a, L a f a l t a d e b i b l i ogr a f í a a d ec u a d a y
¿D ón de con segu i r docen t es "agr oecól ogos" dispon ible es u n ser io pr oblem a, debido, en
en u n a Facu l t ad con ven ci on al ? ¿D ón de se par t e, a qu e las Facu lt ades, don de h a pr edo-
su pon e qu e se h an for m ado y cu án do? Par a m in ado el en foqu e con ven cion al, n o se h an
el di ct ado de l a Agr oecol ogía n o bast a con pr eocu pado en adqu ir ir bibliogr afía con el
el ap r en d i zaj e d e n u evos con t en i d os. Se en foqu e agr oecológico. Per o, por el ot r o lado,
r equ i er e m u ch o m ás qu e eso: u n cam bi o
en el en foqu e de l os docen t es qu e deber án
Esta claro que la agricultura
t en er u n a vi si ón si st ém i ca y h ol íst i ca, ot r o
per fi l , di fer en t e al con ven ci on al de l as u n i - sustentable sólo podrá
ver si dades. Adem ás, al ser l a Agr oecol ogía
u n a asi gn at u r a qu e abar ca m u ch os cam -
concretarse cuando las
pos de con oci m i en t o, su di ct ado n o es al go Instituciones de Educación Agrí-
sen ci l l o.
Ot r a di fi cu l t ad qu e pu ede apar ecer du - cola formen nuevos profesionales
r an t e el di ct ado del cu r so est á r el aci on ada preparados para ello
c o n l a d ef i c i en t e p r ep a r a c i ó n d e l o s
al u m n os par a el abor daj e de pr obl em át i cas
c o m p l ej a s c o m o l a s q u e p l a n t ea l a
Agr oecol ogía y l as qu e se r ef i er en a l a d eb em os r econ ocer u n d éf i ci t ci er t o d e
su st en t abi l i dad. Su for m aci ón fr agm en t a- bibliogr afía en españ ol y adecu ada a las dis-
d a y m em or íst i ca p u ed e d i fi cu l t ar l es, d e t in t as ár eas de in flu en cia de las Facu lt ades.
m an er a i m p or t an t e, el ap r en d i zaj e d e l a Est o se ve cl ar am en t e en l a Facu l t ad d e
Agr oecol ogía qu e bu sca en t en der l as r el a- Agr on om ía de La Pl at a, u bi cada en pl en a
c i o n es en t r e l o s c o m p o n en t es d e l o s Pam pa Hú m eda, don de los sist em as ext en si-
agr oecosi st em as. vos de clim a t em plado, com o la pr odu cción de 47
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A r t i go
cer eales, oleagin osas y gan ader ía ext en sivas la UNLP, im plica u n r econ ocim ien t o de qu e
son las act ividades pr in cipales. Exist e poca n o es posible qu e u n pr ofesion al car ezca del
bi bl i ogr afía adecu ada, en i di om a españ ol , en foqu e agr oecológico en su for m ación . Est a
par a est e t ipo de r ealidad. Y est o con st it u ye decisión es u n pr im er paso im por t an t e y n o
u n a lim it an t e im por t an t e par a el dict ado de debe ser desapr ovech ado.
la asign at u r a en el ám bit o de gr ado. E s t a c l a r o q u e l a a gr i c u l t u r a
Fin alm en t e, debem os ser con scien t es qu e, su st en t able sólo podr á con cr et ar se cu an do
en u n a Facu lt ad don de pr edom in a aú n el pa- l as In st i t u ci on es de Edu caci ón Agr ícol a
r adigm a de la agr icu lt u r a con ven cion al, u n for m en n u evos pr ofesi on al es pr epar ados
cu r so de Agr oecología con st it u ye, por ah or a, par a el l o. El i m pact o qu e l a i n t r odu cci ón
u n a s i n gu l a r i d a d . A p es a r d e es t o, l a de l a asi gn at u r a Agr oecol ogía pu ede t en er
i n c or p or a c i ón of i c i a l d e es t a n u ev a en el cu m pl i m i en t o de est e obj et i vo, sól o
asign at u r a con car áct er obligat or io en el plan p od r á ser d eb i d am en t e eval u ad o en el
de est u dios de la Facu lt ad de Cs. Agr ar ias de t i em po. A

7 Bibliografía citada
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Ed u c a c ión Ag r íc ola S u p e r ior , De s a r r ollo
Un i ver si d ad en l a I n cor p or aci ón d e u n
S o s t e n i b l e In t e g r a c i ó n r e g i o n a l y
en foqu e agr oecológico par a el Desar r ollo
Globa liz a c ión . San t iago: ALEAS, 1999.
Ru r a l Su st en t a b l e. Ag r o e c o l o g í a y
ALTIERI, M.A.; FRANCIS, Ch.A. Incorporating De s a r r ol l o, CLADES (Ch ile), n . 8/ 9, p. 17-
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cu r r i cu l u m . Am e r i c a n J o u r n a l o f
SARANDÓN, S.J.; CERDÁ, E.; PIERINI, N.;
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V AL L E J O S, J .; G ARATTE , M .L.
MELO ARAUJO, S. Discurso Inaugural en XI In cor por ación de la Agr oecología y la agr i-
Reunión de ALEAS. In: CONFERENCIA LATI- cu l t u r a su st en t a b l e en l a s escu el a s
NOAMERICANA DE ALEAS, 11., 1997, Santia- agr opecu ar ias de n ivel m edio en la Ar gen -
go, Ch ile. E d u c a c i ó n Ag r í c o l a S u p e r i o r , t in a. El caso de la Escu ela Ag r op e c u a r i a
De s a r r ollo S os t e n ible In t e g r a c ión r e g io- d e T r e s Ar r o y o s . Tópicos en Edu cación
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ROJAS, J. La com plejidad am bien t al en la
V I ÑAS- ROM ÁN, J . A. E l r ol d e l as
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institu ciones de edu cación agrícola su peri-
Co m p l e ji d a d a m b i e n t a l . M éx i co: Si gl o
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Vein t iu n o Edit or es, 2000. p.193-215.
RENCIA LATINOAMERICANA DE ALEAS, 11.,
SARAND ÓN, S. J . ; H ANG, G. M . (E d s. ). 1997, Santiago, Chile. Ed u c a c ión Ag r íc o-
Co n c l u s i o n e s d e l a X Co n f e r e n c i a l a S u p e r i o r , De s a r r o l l o S o s t e n i b l e
La t i n o a m e r i c a n a d e E d u c a c i ó n Ag r í c o - In t e g r a c i ó n r e g i o n a l y Gl o b a l i z a c i ó n .

48 la S u p e r ior . La Plata, Ar gen tin a: Asociación Santiago, 1999. p. 141-152.

Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002


Dia Mundial de Combate à Seca e à Deser- tudo, o algodão modificado combate certos ti-
ti fi ca çã o pos de pragas, mas colabora para o apareci-
No dia 16 de junho é comemorado o Dia Mun- mento de outras.
dial de Combate à Seca e à Desertificação. A Fonte: Gazeta Mercantil, 6 de junho, 2002. Bole-
desertificação é fenômeno mundial das terras. tim nº 116 - Por um Brasil livre de transgênicos.
Estima-se que, anualmente, haja uma perda de Soja terá sistema de certificação no Paraná
produtividade da ordem de 20 milhões de tone- Numa iniciativa inédita, representantes de toda
ladas de grãos devido à erosão do solo. E per- a cadeia paranaense de soja estão trabalhando
da de grãos significa falta de comida, para os para implantar um sistema de segregação e
animais e os seres humanos. A desertificação certificação para o grão produzido no Estado. O
afeta um sexto da população mundial e nesses principal objetivo é garantir aos clientes interna-
seis bilhões de seres humanos estão incluídos cionais o produto - transgênico ou convencional
um bilhão de miseráveis. - com origem controlada. "Mesmo se o plantio de
Segundo os pesquisadores do PNUMA,o controle transgênicos continuar proibido, teremos de es-
da seca e da desertificação está claramente relaci- tar aptos para fornecer produto rastreado se o
onado com as mudanças climáticas, a conserva- mercado assim o exigir", diz Nelson Costa, ge-
ção da biodiversidade e a necessidade de preser- rente da O rganização das Cooperativas do
vação de florestas e de gerenciamento adequado Paraná (Ocepar).
dos recursos hídricos. Isso exige um compromisso Fonte: Valor Econômico, São Paulo, 14 de junho,
global para deter a seca e a desertificação. 2002.
Fonte: Ambientebrasil.com.br, com informações Con sul tor a l er ta p a r a os r i scos d o p l a n ti o
Jornal do Brasil. i l eg a l
Projeções apontam queda no desmatamento Se não se posicionar claramente em relação aos
na Amazônia transgênicos, o Brasil perderá credibilidade diante
As projeções do Instituto de Pesquisas Espaciais dos países que demandam soja convencional. A
(IN PE) i ndi cam um a queda nas taxas de avaliação é do belga Rodolphe de Borchgrave, da
desmatamento na Amazônia Legal, de 18.226 Arcardia International, consultoria européia da área
quilômetros quadrados em 1999/ 2000 para de alimentos e ciências da vida. Segundo ele, por
15.787 quilômetros quadrados em 2000/ 2001, enquanto o Brasil ainda é considerado pelos euro-
o que representa uma redução de 13,4%. A área peus um fornecedor confiável de soja convencional
cujo desmatamento foi evitado corresponde a a baixos custos. Mas o avanço do plantio ilegal de
260 mil campos de futebol. No entanto, segun- soja transgênica no País pode mudar esse quadro.
do a revista Conservation Biology, uma invertiga- "Em cerca de um a dois anos, ninguém vai conse-
ção de mais de 22 anos mostra que mesmo os guir controlar a situação”, afirma Borchgrave.
cortes mais insignificantes em áreas Tropicais do Fonte: Valor Econômico, São Paulo, 14 de junho
Amazonas podem acabar com um grande nú- de 2002.
mero de espécies endêmicas destas zonas. Con- Produção de alimentos orgânicos cresce 50%
forme publicação, “as clareiras impedem o mo- ao ano
vimento da biodiercidade.” A produção de alimentos orgânicos no Brasil tem
Fonte: Agência Meio Ambiente - 10 de junho, registrado crescimento médio de 50% ao ano. Es-
Abital 06 de junho, 2002. tima-se que no ano passado cerca de três mil agri-
Algodão tr ansgênico colabor a par a o apa- cultores orgânicos tenham produzido perto de 300
r ecim ento de pr agas. mil toneladas de alimentos, livres de agrotóxicos,
Estudo publicado pela imprensa oficial da Chi- movimentando US$ 200 milhões. O vice-presiden-
na mostra que o algodão transgênico, introdu- te-executivo do Instituto Biodinâmico (IBD), Alexan-
zido por agricultores nos últimos anos, causou dre Harkaly, disse durante encontro com produ-
danos ao ecossistema da região. Segundo o es- tores, em São Paulo, em junho, que esse vertigi-
49
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
noso aumento da produção tem se sustentado ência nova, surgida há menos de duas déca-
na qualidade dos produtos e no trabalho de con- das, e permitem a redução de resíduos e o
fiança entre produtores e consumidores. Pelo me- uso mais eficiente de matérias-primas, o que
nos 30 tipos de alimentos orgânicos são produzi- otimiza custos. Segundo Carlos Maia do Nas-
dos no País, com destaque para café (Minas), ca- cimento, diretor do Instituto Brasileiro de Pro-
cau (Bahia), soja, açúcar e erva-mate (Paraná), dução Sustentável e Direito Ambiental (IBPS),
suco de laranja e frutas secas (São Paulo), casta- organização não-governamental sediada em
nha de caju, óleo de dendê e frutas tropicais (Nor- Porto Alegre, o setor produtivo nacional mos-
deste), entre outros. tra- se cada vez mais interessado em adotar
Fonte: Agência Estado. tecnologias limpas, que minimizam impactos
Decepção marca fim da cúpula contra fome ambientais e os riscos inerentes dos proces-
A Cúpula Mundial da Alimentação, ocorrida em sos industriais. Nascimento apresentou as po-
junho, em Roma, obteve poucos resultados con- tencialidades de energia renováveis como a
cretos e provocou decepção entre boa parte das so l a r, b i o m a ssa , eó l i ca , h i d r á u l i ca e
representações na reunião, incluindo várias lati- geotérmica, por exemplo, durante sua apre-
no-americanas. Convocada pela O rganização sentação no 1º Simpósio e Exposição Interna-
das Nações Unidas para a Agricultura e a Ali- cional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimen-
mentação (FAO ), a Cúpula não contou com a to Sustentável em Municípios Industriais, em
presença de chefes de estado e de governo dos maio. "A partir da promulgação da Lei 10.438,
países desenvolvidos, à exceção da Itália (a anfi- de 26 de abril de 2002, o País finalmente ga-
triã) e da Espanha, que exerce a presidência nhou um programa de incentivo às fontes al-
rotativa da União Européia. Para aproximada- ternativas de energia".
mente mil organizações não- governamentais Fonte: Comunicativa Assessoria e Consultoria
(ONGs) que colaboraram com o encontro, inclu- Jornalística, www.clicknoticia.com.br
indo movimentos camponeses da América Lati- Brasil ganha com produtos não- transgênicos
na, a Cúpula fracassou. "Não foi dado nem um Um relatório divulgado no dia 12 de junho pela
único passo adiante para combater a fome", dis- organização ambientalista Greenpeace mostra
seram, em declaração conjunta, as ONGs. que o Brasil tem uma oportunidade de ouro para
Fonte: Folha de São Paulo, 14 de junho, 2002. capitalizar vantagens de mercado por ser o úni-
Fome no Mundo co dos três maiores países produtores de soja
Pelo menos 800 milhões de pessoas - mais de que não liberou o plantio e a comercialização de
uma em cada sete - passam fome ou não po- transgênicos.
dem se alimentar devidamente. A intenção O Brasil já vem ganhando cada vez mais parce-
anunciada da Cúpula Mundial da Alimenta- las de mercados e prêmios como resultado da
ção era buscar formas de salvar cerca de 400 demanda internacional crescente no mercado
milhões de pessoas da fome até o final de internacional por alimentos não-transgênicos.
2015. "A fome é, após o terrorismo, ou, na O relatório do Greenpeace compila estatísticas
verdade, ao lado do terrorismo, o problema e declarações publicadas por órgãos oficiais,
mais grave que a comunidade internacional analistas de mercado e grandes empresas de
en f r en ta", di sse o pr em i ê da Itál i a, Si l vi o alimentação, enfatizando a rejeição do merca-
Berlusconi, cujos assessores fizeram articula- do mundial em relação aos transgênicos. Se o
ções para finalizar a cúpula mais cedo a fim País mantiver seu status de não-transgênico, será
de que ele assistisse à partida entre Itália e capaz de atender à mudança de mercado ante-
México pela Copa do Mundo. ci pada par a o u so de r ação an i m al n ão -
Fonte: Folha de São Paulo, 14 de junho, 2002. transgênica na Europa e o mercado asiático de
Tecnologias lim pas alimentação humana.

50 As tecnologias limpas fazem parte de uma ci- Fonte: www.agrolink.com.br, 17 de junho, 2002.

Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002


ELcoinks
Nesta edição, a seção EcoLinks apresenta alguns informações ambientais vindas de jornalistas e
endereços de sites que trazem notícias sobre assessorias de imprensa. Nesse site, encontra-
meio ambiente, produção orgânica, Agroecolo- se notícias e eventos divulgados por empresas,
gia e jornalismo ambiental. O NGs e Governos.
w w w.a m b i en t eb r a si l .com .b r
w w w.ecop r ess.com .b r Informação. Essa é a palavra chave do Ambi-
Esse é o endereço da Agência de N otícias ente Brasil, um site que enfoca os mais diversos
Ambientais, site mantido pela Ecopress, O NG temas ligados à preservação ambiental, desde
fundada por um grupo de ambientalistas com agricultura orgânica até biotecnologia e legis-
o objetivo de divulgar informações sobre ques- lação a respeito desses temas. Em espaços cha-
tões ambientais através das mais variadas for- mados de Ambientes, o site traz textos sobre
mas jornalísticas. Nessa página, o internauta energia, educação, água, resíduos e conserva-
encontra um resumo das principais notícias ção do solo, entre outros temas. Além disso,
publicadas pelos jornais e que são reescritas mantém um resumo das principais notícias
por jornalistas recém-formados, e reportagens publicadas na imprensa sobre o tema, assim
produzidas pela equipe do site, abordando di- como oferece a possibilidade de o internauta
versos temas ligados ao meio ambiente. Uma receber diariamente, via e-mail , um boletim de
galeria de fotos e uma lista de discussões tam- notícias.
bém podem ser acessadas na página. www.a g ir a zul.com .b r
w w w.en vol ver d e.com .b r Esse é o endereço que reúne, na internet , as
A Agência Envolverde foi criada em 1996 para ad- principais O NGs gaúchas ligadas ao meio am-
ministrar no Brasil o Projeto Terramérica, realizado biente. O site divulga notícias e atividades das
em parceria com o Programa das Nações Unidas instituições, assim como artigos e textos analí-
para o Meio Ambiente - Pnuma. O Terramérica é ticos. Também mantém uma lista atualizada
um suplemento de meio ambiente e desenvolvimento de contatos com entidades e produtores ecoló-
que circula em parceria com jornais regionais, com gicos do Rio Grande do Sul.
tiragem mensal superior a um milhão de exempla- w w w.uol .com .b r / a m b i en teg l ob a l
res. O conteúdo do jornal pode ser acessado atra- N otícias, artigos e reportagens são o princi-
vés do site. Além disso, o internauta pode contratar pal destaque deste site , voltado à preserva-
os serviços da agência, comprando artigos e re- ção ambiental. O s temas abordados envol-
portagens de seu interesse. vem desenvolvimento sustentável, legislação
w w w.p l a n eta or g a n i co.com .b r ambiental, mercado, turismo e alimentação.
O tema principal deste site é a agricultura or- O Ambiente Global também promove bate-
gânica, abordada a partir de notícias, reporta- papos com convidados, que são realizados
gens e artigos. O Planeta O rgânico também nas sal as do UO L, por tal que hospeda a
presta informações sobre produtores orgâni- página.
cos e restaurantes, além de manter uma agen- w w w.a g r i com a .com .b r
da atualizada com eventos ligados ao tema e Esse site não é voltado à disseminação de in-
que são realizados em todo o País. As matérias formações sobre agricultura e meio ambiente,
não enfocam somente a agricultura, mas tam- e sim à discussão sobre maneira como a mídia
bém o meio ambiente, a preservação e o de- trata desses temas. Em artigos e relatos, jor-
senvolvimento sustentável. nalistas e pesquisadores analisam a cobertu-
w w w . w e b j o r n a l . n e t / cl i e n t e / r a d e a ssu n t o s co m o b i o d i ve r si d a d e ,
ecor el ea ses agribusiness, preservação, reforma agrária,
Este é um serviço de organização e difusão de transgênicos, entre outros. 53
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A groecológica

dic




Catar a fêmea do carrapato à mão


















































L u n a r d i, J o r g e J * . seqüência disso, acabam provocando doenças.



Alguns produtos químicos são eliminados do


O combate sistemático que atualmente se faz animal em até 98% do total aplicado, chegando

contra os carrapatos, baseado nas aplicações de ao ambiente com 45% de droga ativa e perma-

químicos -venenos em profusão-, não tem resol- necendo nas fezes por até 240 dias, entrando

vido o problema, pois os parasitas adquirem re- na cadeia alimentar. Sabe-se também que os

sistência contra os produtos usados e abundam


piretróides -venenos que mais se aplica nos ani-


cada vez mais, exigindo novos produtos e aplica- mais- afetam o sistema nervoso, a pele, os mús-

ções mais constantes nos animais. Tais produtos culos e o trato respiratório de humanos. Além

também contaminam os alimentos e o ambiente, disso, saem no leite em quantidades superiores


já que, quando aplicados nos animais, resíduos


aos limites permitidos por até 28 dias, contami-


são eliminados no leite, na carne, nas fezes e na nando o leite, a carne, a nata, o queijo, as pes-

urina, indo parar na água e nos alimentos e vol- soas e o meio ambiente como um todo.

tando a se integrar no ciclo da vida. Como con- A natureza e a ciência nos fornecem conheci-

mentos sobre o carrapato, conhecimentos que


* Médico Veterinário, Assistente Técnico do Escritório podem ser usados no controle e combate desse

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Regional da EMATER/RS de Santa Rosa. parasita sem agredir o ambiente ou contaminar




Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002


A groecológica


dic







sobre o animal ou girando-as levemente



para o lado direito ou esquerdo, ou mes-



mo retirando-as com alguma raspadeira


ou mesmo um facão, as fêmeas devem ser



coletadas em vasilhames ou vidros e, após,



queimadas ou enterradas. Jamais devem


ser jogadas no chão, pisadas ou coloca-



das no esterco, pois os pequenos ovos



podem ser transportados até a pastagem



através dos calçados, dos insetos ou do


próprio esterco. Dessa forma não nasce-



rão filhotes, já que as mães foram mortas



e não tiveram a chance de ir sobre o ani-



mal e cair na pastagem. Essa prática pode


ser usada no dia-a-dia tanto com vacas



que vão para a ordenha como com aque-



os alimentos. Enquanto o macho, bem menor, les animais de sangue doce, que são mais



permanece até cinco semanas sobre o animal, a carrapateados.



fêmea atinge um tamanho bem maior, permane- Os agricultores conhecem ovos de carrapa-


cendo sobre o animal apenas 22 dias, tempo tos? Temos feito esta pergunta para milhares de



necessário para se acasalar e, no último dia, chu- agricultores e, invariavelmente, quase todos di-



par sangue. Após ficar grávida, a fêmea cai na zem nunca ter visto ovos de carrapato. E se não



pastagem e bota em média três mil ovos durante conhecem a vida deste parasita, é obvio que não


15 dias. Após, até dez dias (dependendo da saberão controlá-lo sem a aplicação de venenos.



umidade e da temperatura), as larvas nascem e Para aqueles que querem conhecer ovos de car-



sobem nas pastagens à procura dos animais. Em rapato, basta catar algumas fêmeas que estão



regiões quentes, o ciclo do carrapato pode levar sobre o animal e colocá-las dentro de uma caixa


de 60 dias (primavera e verão) a 120 dias (outo- de fósforo ou recipiente de vidro bem fechado.



no e inverno). Após sete a dez dias, abre-se a tampa e obser-



Para combater os carrapatos e diminuir sua in- va-se a massa de ovos liberados pelas fêmeas.



cidência nos animais sem lançar mão de insumos Os ovos sao de cor escura, marrom, cor de cho-
químicos, podemos utilizar: plantas e ervas medici- colate e brilhosos, e ficam amontoados e bem ○

nais; homeopatias; controles caseiros, conforme grudados uns aos outros. E são esses ovos que,

dezenas de receitas disponíveis; pastoreio rotativo; caindo na pastagem, vão gerar larvas (micuins)

resistência animal; pastagens limpas e manejadas; que subirão no animal, gerando novamente ma-

predadores naturais e, sobretudo, a técnica casei- chos e fêmeas que se acasalarão, reiniciando per-

ra de "catar as fêmeas dos carrapatos à mão, quei- manentemente seu ciclo de vida.

mando-as ou enterrando-as". Essa prática, alta- Em nosso ponto de vista, esta tecnologia ca-

mente resolutiva, de alto poder tecnológico, de bai- seira precisa ser adotada imediatamente por to-

xo custo e possível de ser realizada por qualquer dos os agricultores, pois é altamente econômica

agricultor, consiste em retirar com as mãos, de so- e ecológica e traz benefícios a todos. Na região

bre o animal, as fêmeas grávidas e ingorgitadas, noroeste do RS, milhares de agricultores vêm

que são parecidas com um grão de feijão. usando essa tecnologia simples e prática, dispen-

Após retirá-las com a mão, puxando-as de sando assim o uso de produtos químicos.
52


Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002


A r t i go
Transformação (agri)cultural ou
etnossustentabilidade:
relato de uma aldeia Bororo*
P in t o , J o s é G a lv ã o .* * P a la v r a s -c h a v e : Agr icu lt u r a t r adicion al,
G a r a v e llo , M a r ia Elis a d e P a u la diver sidade gen ét ica, t ecn ologias adapt adas,
Ed u a r d o . * * * ín dios Bor or o, et on ossu st en t abilidade.

R e s u m o : M er u r i é at u al m en t e a m ai or 1 Introdução
aldeia dos ín dios Bor or o, povo h abit an t e dos
Os povos in dígen as con st it u em u m a par -
cer r ados do Br asil Cen t r al. A h ist ór ia do con -
cela m u it o pecu liar da popu lação r u r al br asi-
t at o dest e povo com a soci edade n ão-ín di a e
leir a. Por ém , apesar da su a par t icipação di-
as t r an sfor m ações decor r en t es n o m odo de
r et a n a pr odu ção agr ícola de vár ios est ados e
vi da e n o si st em a agr ícol a t r adi ci on al são
de ser em det en t or es de valioso con h ecim en -
r epr esen t at i vos da si t u ação de gr an de par -
t o sobr e o m an ejo dos r ecu r sos n at u r ais de
t e d os gr u p os i n d ígen as r em an escen t es.
u m a for m a m ais h ar m on iosa, est es povos n ão
Est es povos, ao l on go de cen t en as de an os,
t êm r ecebido ain da a devida at en ção por par -
acu m u l ar am con h eci m en t os e desen vol ve-
t e dos ór gãos r espon sáveis por eles.
r am t écn icas m u it o adapt adas aos seu s am -
Desde a chegada dos primeiros não-índios,
bi en t es n at u r ai s. Técn i cas e con h eci m en -
a popu lação indígena caiu de cerca de seis mi-
t os qu e i n cl u si ve con st i t u em i m p or t an t e
lhões de pessoas, divididos em 900 etnias, para
fon t e de est u dos par a a Agr oecol ogi a e par a
apenas 180 mil em 225 nações no final dos anos
o d esen vol vi m en t o d e si st em as agr ícol as
60. A gravidade deste genocídio se dá não ape-
su st en t ávei s. Apesar di st o, a soci edade ex-
nas pelo número total de pessoas mortas ao lon-
t er n a descon si der a a i m por t ân ci a dos si s-
go dos 500 anos de história de ocu pação estran-
t em as de pr odu ção t r adi ci on al e t en t a, por
geira, mas especialmente pelo desaparecimen-
m ei o de seu s vár i os agen t es, "m oder n i zar "
to de qu ase 700 povos, cada u m com su a cu ltu -
t ai s si st em as.
ra própria e conhecimentos ú nicos sobre os
recu rsos natu rais e seu manejo.
* Artigo resultante do trabalho "Agroecossistema e
Par alelam en t e a est e m assacr e físico ocor -
Subsistência emuma aldeia dos índios Bororo", financiado
r eu , e ain da ocor r e, u m ou t r o m ais su t il, po-
pelo PIBIC - CNPq/USP e realizado nosperíodosde
r ém igu alm en t e desu m an o. Tr at a-se da im -
2000/2001 e2001/2002. Osdadosiniciaisforam
posição, a est es povos, da cu lt u r a e do m odo
apresentados no 9°Simpósio Internacional de Iniciação
Científica da USP. de vida do n ão-ín dio. Est im a-se qu e exist am
* * Bolsistado PIBIC - CNPq/USP e estudante do 5° h oje apr oxim adam en t e 551 m il ín dios, em -
ano de Engenharia Agronômica da Escola Superior de bor a qu ase 192 m il vivam n as per ifer ias dos
Agricultura "Luiz de Queiroz"/USP. E-mail: cen t r os u r ban os, lon ge de seu m eio e cu lt u r a
jgpinto@esalq.usp.br. or igin ais. Mesm o par a os qu e con qu ist ar am
* * * Professora da Escola Superior de Agricultura "Luiz de o dir eit o de per m an ecer em su as t er r as, a
Queiroz" /USP, Mestre emSociologia Rural e Doutora em pr essão da sociedade ext er n a os im pele cada
Antropologia Social pela USP. E-mail: vez m ais a aban don ar o m odo de vida t r adici-
54 mepegara@esalq.usp.br. on al e adot ar alt er n at ivas e t écn icas in du s-

Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002


A r t i go
t r iais m oder n as. Est e pr ocesso, descon t adas bem como acesso a seu s bens e serviços. Dista
as pecu liar idades do caso dos povos in díge- cerca de 50 qu ilômetros da cidade de General
n as, é o m esm o qu e afet a qu alqu er pequ en o Carneiro, cu ja popu lação aproximada é de qu a-
tro mil habitantes, e 120 qu ilômetros de Barra
do Garças, sétima maior cidade do estado, com
Desde a chegada dos primeiros cerca de cinqü enta mil habitantes (IBGE, 2000).
não-índios, a população indígena
3 O modo de vida
caiu de cerca de seis milhões de tradicional dos Bororo
pessoas, divididos em 900 etnias, (pré-contato)
para apenas 180 mil em 225 nações Ser pa (1988) car act er iza de for m a r azoá-
vel o sist em a econ ôm ico t r adicion al Bor or o
no final dos anos 60 (an t er ior ao con t at o com o n ão-ín dio) com o
sen do u m a "com bin ação das at ividades de
colet a, de caça, de pesca e de agr icu lt u r a". É
agr icu lt or em qu alqu er lu gar do país. im por t an t e com pr een der qu e, an t es de sig-
Nesse con t ext o, o objet ivo do pr esen t e ar - n i fi car m ai or ou m en or d esen vol vi m en t o
t igo é r elat ar o caso dos ín dios Bor or o, par t i- t ecn ológico ou est oqu e de in for m ações, est e
cu lar m en t e os da Ter r a In dígen a Mer u r i, caso sist em a sign ificava u m a adapt ação às con -
ilu st r at ivo da sit u ação de m u it os dos povos dições am bien t ais locais e sazon alidade dos
in dígen as br asileir os. r ecu r sos do Cer r ado1 . As at ividades obedeci-
am a u m a or dem cíclica de acor do com a dis-
2 A Terra Indígena Meruri pon ibilidade dest es r ecu r sos ao lon go do an o.
Ser pa r essalt a as pr át icas e r it u ais ligados
Mer u r i é at u alm en t e a m aior aldeia dos ao cu lt ivo do m ilh o, bem com o os m it os r ela-
ín dios Bor or o, com u m a popu lação apr oxim a- cion ados à or igem das plan t as cu lt ivadas.
da de 350 habitantes. A Ter r a Indígena Mer u r i Havia n a cu lt u r a bor or o u m r it u al agr ár io
localiza-se no su deste do estado do Mato Gros- bast an t e desen volvido, assen t ado em gr an de
so, m u n icípios de Gen er al Car n eir o e Bar r a par te no cu ltivo do m ilho. Vier tler (1990a) afir -
do Gar ças. A ár ea t ot al da r eser va, qu e at u al- m a qu e as t r adições or ais r evelam o con h e-
m en t e abr iga du as aldeias, Mer u r i e a do r io cim en t o de n u m er osas var iedades de m ilh o
Gar ças, é de 82.301h a. Foi dem ar cada em cr iou lo. Er am cu lt ivadas cer ca de set e var ie-
1976 (Decr et o 76.999/ 76) e h om ologada em dades e a época do cu lt ivo, qu e se est en dia
1987 (Decr et o 94014/ 87). desde a der r u bada em m aio at é a colh eit a em
Su as terras são cortadas pela rodovia fede- fever eir o, t r azia u m a sér ie de r it u ais e cer i-
r al BR-70, pr in cipal via de cir cu lação en t r e m ôn ias ligadas dir et a ou in dir et am en t e ao
Goiânia e Cu iabá e importante via de escoa- m ilh o (kuiadá). Est es r it u ais cu lm in avam n o
mento da crescente produ ção agropecu ária do Ku iadá Páru , a festa do milho, celebrado qu an-
estado. Separada desta rodovia por u m pequ e- do da colh eit a.
no trecho não pavimentado de aproximadamen- As r oças t r adicion ais dos Bor or o (Boe Épa)
te cinco qu ilômetros, a comu nidade tem aces- se car act er izavam , grosso modo, por ser em
so relativamente fácil às cidades e lu garejos fam iliar es, de policu lt ivo e de pou sio. Er a u m
próximos e, conseqü entemente, fácil comu ni- sist em a de cu lt ivo it in er an t e n o qu al o fogo
cação com a comu nidade externa não-índia, desem pen h ava u m papel cen t r al. Tais sist e- 55
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
m as de cu lt ivo it in er an t e su r gir am de m a- alt er ações m ais sign ificat ivas n as bases de
n eir a in depen den t e em vár ios pon t os das flo- su bsist ên cia e n as r elações com o m eio n a-
r est as t r opicais ao r edor do m u n do e se m os- t u r al.
t r ar am u m a for m a de agr icu lt u r a su st en t á- A par t ir da in st alação das pr im eir as m is-
vel e m u it o adapt ada às con dições t r opicais sões, m ilit ar es ou r eligiosas, n as du as ú lt i-
(Adam s, 2000). A ár ea r elat ivam en t e pequ e- m as décadas do sécu lo XIX, t an t o os Bor or o.
n a desm atada par a o cu ltivo e o r edu zido tem - sob influ ência dos ór gãos governamentais, SPI
po pelo qu al er a u sada per m it iam u m a r ege- (Ser viço de Pr ot eção ao Ín dio) e m ais t ar de
n er ação t ot al em pou co t em po, sem com pr o- FUNAI (Fu n dação Nacion al do Ín dio), qu an t o
m et er a paisagem n at u r al e devolven do a fer - os povos dos r ios Gar ças, Bar r eir o e San gr a-
t ilidade do solo n at u r alm en t e. Na lit er at u r a, d ou r o, sob i n f l u ên ci a d os m i ssi on ár i os
o m esm o sist em a, com pequ en as var iações salesian os, for am su bm et idos a polít icas se-
de u m povo par a ou t r o, é den om in ado cu lt ivo m elh an t es n o sen t ido de in cor por á-los à eco-
it in er an t e, r oça de t oco, r oça de coivar a ou n om i a e soci edade n aci on al . Con fl i t an t es
de cor t e e qu eim a (slash and burn). en t r e si n o qu e diz r espeit o a valor es m or ais
e especialm en t e r eligiosos, t ais polít icas pr o-
du zir am r eflexos qu e ain da per sist em n a cu l-
4 História do contato t u r a, n a or gan ização social e pr odu t iva at u al
interétnico: Boe e Braido e m esm o n a ideologia dest es dois gr u pos. O
fat o é qu e t an t o m ission ár ios qu an t o o Est a-
A h istór ia do con tato en tr e Bor or os, ou Boe do e a pr ópr ia popu lação n ão ín dia qu e colon i-
(gen t e), com o se au t oden om in am , e "civili- zou o t er r it ór io t r adicion al Bor or o pr odu zir am
zados" (braido) se in icia n o an o de 1719, com alt er ações dr ást icas n o seu m odo de vida e
a descober t a de ou r o n o r io Coxipó e o in ício cau sar am desar r an jos ir r ever síveis em su a
da ocu pação de seu t er r i t ór i o t r adi ci on al or gan ização social, t al a am plit u de e a velo-
(Lévi-St r au ss, 1996). Segu n do Colbacch in i e cidade com qu e est as m u dan ças for am im -
Albiset t i, cit ados por Vier t ler (1990b), t al t er - postas aos Bor or o.
r i t ór i o t r ad i ci on al com p r een d i a cer ca d e Pr át ica com u m dos colon izador es, a dist r i-
350.000 qu ilôm et r os qu adr ados, com t er r as bu i ção de fer r am en t as, r ou pas, u t en síl i os
sit u adas n os at u ais est ados de Mat o Gr osso, dom ést icos e alim en t os sem pr e foi u t ilizada
Mat o Gr osso do Su l e Goiás. Est im a-se qu e com o for m a de at r ai-los par a per t o de su as
n aqu ele t em po a popu lação Bor or o poder ia in st alações e m an t ê-los sob su a t u t ela, se-
ch egar a dez m il pessoas (Och oa Cam ar go, du zindo-os com as com odidades do m u ndo ci-
2001). A ch egada dos pr im eir os ban deir an - vilizado par a, pau lat in am en t e, in t r odu zi-los
t es em bu sca de ou r o m ar ca o in ício de u m a n o m odo de vida e t r abalh o do br an co.
sér ie de con flit os e at aqu es m ú t u os, qu e ao Con for m e obser va Vier t ler (1990b), a in -
lon go dos an os r esu lt ar am n u m a gr an de r e- t en ção t an t o de m i ssi on ár i os qu an t o dos
du ção popu lacion al dos Bor or o (h oje est im a- agen t es gover n am en t ais er a "at r aí-los pelos
dos em cer ca de apen as m il pessoas)2 e n a m eios m at er iais m ais per cept íveis aos sen -
r edu ção t er r it or ial dest e povo. t idos, pr esen t eá-los com fr eqü ên cia e m an -
Par a a an ál i se qu e pr et en dem os fazer , t en do, exclu sivam en t e par a eles, u m est ado
en t r et an t o, é de m aior r elevân cia o per íodo a con t ín u o de abu n dân cia de m eios de su bsis-
par t ir do fin al do sécu lo XIX, per íodo em qu e t ên cia, pr olon gan do por n ecessidade a con t i-
h ou ve u m con tato "pacífico" m ais in ten so com n u ação da ‘im pr evidên cia de qu e er am dot a-
56 a sociedade n acion al e n o qu al se der am as dos’, com o fim de en t r et er r elações, gan h ar -

Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002


A r t i go
lh es a afeição, a fim de poder con ven cê-los, pr ovocou u m ver dadeir o "efeit o dom in ó" so-
pou co a pou co, da obr igação do t r abalh o, at é br e ou t r os aspect os da or gan ização social t r a-
qu e adqu ir issem o h ábit o de pr om over em , por dicion al. A su bst it u ição do m ilh o pelo ar r oz
si, a su a m an u t en ção". Na ver dade, con for - com o cu lt ivo m ais im por t an t e r eflet iu n o qu a-
m e a au t or a post er ior m en t e con st at a, a in - se aban don o da m ais im por t an t e m an ifest a-
t en ção fin al er a in t r odu zi-los n a econ om ia ção r it u al associada à agr icu lt u r a, o Kuiadá
n aci on al com o m ão-de-obr a al t er n at i va à Páru ou fest a do m ilh o. A ár ea at u alm en t e
dispon ibilizada em ou t r os est ados pela im i- plan t ada de m ilh o n o Mer u r i for n ece apen as
gr ação est r an geir a. o m ín im o n ecessár io par a qu e se r ealize u m
For am vár ias as tentativas da FUNAI (Fu n- r it u al m u it o r edu zido e sim plificado n o qu al
dação Nacional do Índio) e dos m issionár ios o Bári, ou xamã dos espíritos, responsável pela
de envolver os hom ens Bor or o nos tr abalhos ligação en t r e os h om en s (Boe) e os espír it os
de cu lt ivos colet ivos de m on ocu lt u r as, com
em pr ego de t écn icas qu ím ico-m ecan izadas
A introdução de novas variedades
qu e ger assem excedentes com er cializáveis. A
intenção er a pr om over a independência finan- de milho e do milho híbrido causou
cei r a d as com u n i d ad es e acel er ar a
"integr ação" dos Bor or o na econom ia r egional. a perda de pelo menos seis varie-
Um dos em pecilhos a estes pr ojetos, já obser - dades de milho crioulo conhecidas.
vado por Steinen em 1888 (in: Viertler, 1990b),
er a o fato de os hom ens Bor or o ser em pou co Enorme perda do ponto de vista
dispostos ao tr abalho nestas r oças. O qu e não
de germoplasma e da estabilidade
se obser vou é qu e vár ias etapas da agr icu ltu -
r a, bem com o a obtenção de qu alqu er alim en- e sustentabilidade dos sistemas de
to de or igem vegetal por coleta, er am tr adicio-
n alm en t e at ividades fem in in as.
cultivo e também da identidade e
cultura deste povo
5 Principais
transformações na
agricultura tradicional da n at u r eza (Bópe), ch ega a ser su bst it u ído
Bororo por u m padr e n a t ar efa de ben zer o m ilh o e
afast ar dele os espír it os m aléficos4 .
A pr im eir a, e t alvez a m ais im por t an t e, Ou t r o fat or i m por t an t e a ser obser vado
m u dança no sistem a agr ícola Bor or o foi a in- é a i n t r odu ção de n ovas var i edades de m i -
tr odu ção de novos cu ltivos, o qu e por si só im - l h o e do m i l h o h íbr i do. Est e fat o cau sou a
plicou profu ndas transformações na organiza- p er d a d e p el o m en os sei s var i ed ad es d e
ção par a a pr odu ção e nas m anifestações cu l- m i l h o cr i ou l o an t i gam en t e con h eci d as, o
tu rais associadas às cu ltu ras agrícolas. O caso qu e é u m a en or m e per da n ão só do pon t o
m ais significativo é a intr odu ção do ar r oz, qu e de vi st a de ger m opl asm a e par a a est abi l i -
su bstitu iu o m ilho em im por tância na alim en- d ad e e su st en t ab i l i d ad e d os si st em as d e
tação e em ár ea cu ltivada. cu l t i vo, m as t am bém par a a i den t i dade e a
Com o est a cu lt u r a er a pou co con h ecida 3 , cu l t u r a dest e povo. Al ém di st o, a per da das
a su a in t r odu ção im plicou a adoção de n ovas var i ed ad es p r óp r i as r efor ça a p osi ção d e
t écn icas e fer r am en t as n em sem pr e com pa- depen dên ci a fr en t e às em pr esas de sem en -
t íveis com o u n iver so cu lt u r al bor or o, o qu e t es (Soar es, 1998). 57
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
A r t i go
A diver sidade gen ét ica in t r a-específica é vi st a agr oecol ógi co, é evi den t e o equ ívoco
u m a im por t an t e est r at égia adot ada por po- dest a t en t at i va. Rei j n t j es e col abor ador es
pu lações t r adicion ais par a m in im izar as per - (1992: 264) afir m am qu e, em m u it os casos,
das im post as pelas adver sidades am bien t ais, os sist em as agr ícolas ger ados pelo con h eci-
pr agas e doen ças, bem com o par a explor ar m en t o n at ivo são "for m as sofist icadas de agr i-
n i ch os e con d i ções am b i en t ai s d i ver sos cu l t u r a ecol ógi ca, fi n am en t e aj u st adas às
(Alt ier i, 2000). As visit as às r oças eviden ci- con dições am bien t ais específicas". Mais do
ar am qu e o u so do m ilh o h íbr ido pelos Bor or o qu e u m a qu est ão pu r am en t e de t écn icas agr í-
n ão im plica au m en t o de pr odu ção, já qu e as colas, h á evidên cias de qu e o m odelo adot ado
con di ções t écn i cas e econ ôm i cas i m possi - at u alm en t e pr ovoca desar r an jos n as cam a-
b i l i t a m a a d oç ã o d e t od o o " p a c ot e das su per ior es da cu lt u r a. São dist or ções qu e
t ecn ológico" (adu bos qu ím icos, agr ot óxicos e se exp r essam n a or gan i zação soci al , n as
m áqu i n as) exi gi do par a qu e se obt en h a o m an ifest ações cu lt u r ais e at é m esm o n o es-
desem pen h o esper ado. tado psicológico dos Bor or o5 .
D en t r e as cu l t u r as m ai s i m por t an t es ob- Um a m odi fi cação i m por t an t e obser vada
ser vadas n as r oças e n os qu in t ais do M er u r i at u al m en t e n o si st em a de cu l t i vo de r oças
h oj e, qu ase t odas for am i n t r odu zi das pós- n a aldeia foi o aban don o do pou sio ou o pr o-
con t at o. l on gam en t o do u so da m esm a ár ea e a i n -
t r odu ção de m áqu i n as. A l i m peza da ár ea
Figura8:PrincipaisculturasutilizadaspelosBororodoMeruri er a fei t a m an u al m en t e com au xíl i o de fogo
e as r oças n ão er am dest ocadas, con for m e
Bororo Português Científico pr evi am en t e di scu t i do. Com a i n t r odu ção
de m áqu i n as, n o fi n al da década de 1970,
Arrói Arroz* Oryza sativa a l i m peza da ár ea passou a ser fei t a m eca-
Kuiadá Milho Zea mays n i cam en t e. At u al m en t e são aber t as ár eas
Bako Ito Banana* Musa sp. pr at i cam en t e con t ín u as de 10 a 15 h a qu e
Ri Boaréu Abóbora* Cucurbita são post er i or m en t e di vi di das en t r e os i n -
pepo t er essad os em fazer r oças. Cada i n t er es-
Jú Ika Mandioca* Manihot sp sado fi ca com cer ca d e 1 a 1,5 h a n os qu ai s
- Feijão* Phaseolus cost u m am cu l t i var ar r oz, m i l h o, f ei j ão,
vulgaris abóbor a, m el an ci a, m am ão e ou t r os. O t r a-
*Plantas de introdução pós-contato bal h o n as r oças é fam i l i ar , n ão sen do h i s-
Fonte: Serpa, 1988. t or i cam en t e o t r abal h o col et i vo u m a pr át i -
No fin al da década de 1970, a FUNAI, se- ca com u m .
gu in do as dir et r izes desen volvim en t ist as do A ár ea at u alm en t e em u so foi desm at ada
r egim e m ilit ar , t en t ou t r an sfor m ar as con di- h á qu at r o ou cin co an os. Ela dist a cer ca de
ções t écn icas da agr icu lt u r a bor or o, afet an do dez qu ilôm et r os da aldeia e foi escolh ida por
n ão apen as as bases ideológicas dest a at ivi- n ão h aver ou t r a ár ea de m at a m ais pr óxim a
dade com o, por con seqü ên cia, t odo a or gan i- da aldeia. Est as ár eas são vist as com o m ais
zação sociocu lt u r al dest e povo (Ser pa, 1988). fér t eis qu e as de cer r ado e as ú n icas passí-
A in t r odu ção de m áqu in as e im plem en t os foi veis de cu lt ivo, en qu an t o os solos de cer r ado
u m a t en t at iva dos ór gãos gover n am en t ais e são con sider ados por eles adequ ados apen as
dos m ission ár ios de "m oder n izar " os sist em as par a a im plan t ação de past agen s par a cr ia-
de cu lt ivo pelo u so de pr át icas pou co con di- ção de bovin os.
58 zen t es com a r ealidade bor or o. Do pon t o de A seden t ar i zação do gr u po, qu e desde os
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A r t i go
pr i m ór di os da col ôn i a r el i gi osa sal esi an a agr icu ltu r a m oder n a in du str ializada, com o os
fu n dada h á qu ase cem an os i n st al ou -se em cau sados pela adoção par cial dest e m odelo.
casas de al ven ar i a ao r edor das i n st al ações Par a i den t i fi car os l i m i t es das r oças, por
dos m i ssi on ár i os, t or n a-se u m obst ácu l o à exem plo, cada fam ília faz o plan t io em lin h as
at ividade agr ícola. Apesar de h aver u m cer t o de sen t ido alt er n ado, descon sider an do-se o
d esl ocam en t o t em p or ár i o n as ép ocas d e r elevo local e a declividade de su a ár ea. J á
pl an t i o, t r at os cu l t u r ai s e col h ei t as, a di s- qu e n ão h á u so de cober t u r a m or t a n em
t ân ci a desen cor aj a e di fi cu l t a u m m el h or con sor ciação, o solo n as en t r elin h as fica des-
acom pan h am en t o e t r at o dos cu l t i vos . Tal cober t o. O sen t ido das lin h as pode en t ão, ale-
seden t ar i zação, som ada à r edu ção e l i m i - at or iam en t e, cor t ar ou favor ecer as en xu r -
t ação da ár ea, i m post a pel a dem ar cação da r adas e a er osão.
r eser va e pel a ocu pação dos ar r edor es por As pr essões do con t at o com o braid o n ão
n ão- ín d i os, d i f i cu l t a t am b ém o cu l t i vo
i t i n er an t e.
Foi obser vado u m ú n ico caso de t en t at iva Toda a série de equívocos come-
de volta ao sistem a tr adicional de r oça de toco.
tidos na tentativa de se "moderni-
Um bor or o, com idade ao r edor de 25 an os, se
declar ou in sat isfeit o com a ir r egu lar idade das zar" a agricultura Bororo resultou
con dições de assist ên cia às r oças at u ais e
est á t en t an do, com m ais u m ou dois com pa-
num sistema dependente de recur-
n h eir os, cu lt ivar ban an a e café n u m sist e- sos e conhecimentos externos, de
m a m ais sem elh an t e ao t r adicion al.
alto risco ambiental e incapaz de
6 Conclusão satisfazer as necessidades mínimas
Pode-se con st at ar qu e a adoção do m odelo alimentares da comunidade
agr ícola qu ím ico-m ecan izado foi apen as par -
cial, já qu e n ão h á viabilidade t écn ica n em
econ ôm ica par a o u so de qu alqu er t ipo de fer - t i ver am su cesso em su per ar o car át er fa-
t i l i zan t e qu ím i co- si n t ét i co, cor r et i vo ou m i l i ar das r oças. Os dados l evan t ados n es-
agr ot óxico. A falt a de r ecu r sos par a a obt en - t e t r abal h o m ost r am qu e, apesar do i n t en -
ção de com bu st ível par a as m áqu in as possu - so con t at o com a soci edade ext er n a, ai n da
ídas pela com u n idade t am bém t r az gr an de h oj e se m an t ém o bai xo i n t er esse pel as at i -
depen dên cia e cau sa m u it os em pecilh os par a vi dades agr ícol as n os m ol des pr opost os pe-
u m a pr odu ção adequ ada. Con st at ou -se qu e, l os agen t es ext er n os n ão-ín di os e n en h u m
n o ú lt im o an o, o plan t io das r oças foi feit o p r o j et o d e ger a ç ã o d e ex c ed en t es
apen as par cialm en t e e com dois m eses de com er ci al i závei s em gr an d e escal a t eve
at r aso por qu e os r ecu r sos r equ isit ados par a su cesso. Isso se dá obvi am en t e em fu n ção
a FUNAI par a a com pr a de óleo Diesel e se- da i n adequ ação do m odel o agr ícol a qu e se
m en t es n ão for am en viados. Est a adoção par - t en t a i m pr i m i r à com u n i dade, m odel o est e
cial com pr om et e sobr em an eir a a pr odu t ivi- qu e n ão l eva em con t a os padr ões t r adi ci o-
dade das r oças bor or o e a su a su st en t abilida- n ai s de di vi são sexu al do t r abal h o, cost u -
de, o qu e desest im u la a pr át ica agr ícola en - m es, cr en ças, h abilidades e valor es qu e ain -
t r e a popu lação. Acar r et a t am bém vár ios da- da se con ser vam n a com u n i dade, al ém das
n os am bien t ais, n ão apen as os in er en t es à var i ávei s am bi en t ai s l ocai s. 59
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A r t i go
Toda a sér ie de equ ívocos com etidos na de. Pr ova disto é o fato de a atividade agr íco-
t en t at iva de se "m oder n izar " a agr icu lt u r a la, de for m a ger al, ser vista com o ú ltim a op-
Bor or o r esu ltou nu m sistem a com pletam en- ção par a a obtenção dos r ecu r sos básicos. É
te dependente de r ecu r sos e conhecim entos evidente a pr efer ência pela bu sca de divisas
exter nos, de alto r isco am biental e incapaz via em pr ego for a da aldeia, ar tesanato, ser -
de satisfazer as necessidades m ínim as ali- viços na m issão e ou tr as fontes par a com pr a
m entar es e de sobr evivência da com u nida- de alim entos nas cidades da r egião. A

7 Referências Bibliográficas
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cológica : facetas complementares do desen- VIERTLER, R. B. A d u r a s p e n a s : u m histó-
volvimento agrícola socialmente sustentado na rico das relações entre índios Bororo e "civili-
região centro-sul do Paraná. União da Vitória: zados" no Mato Grosso. São Pau lo: FFLCH/
AS-PTA, 2002. USP, 1990b. 212 p.

Notas
1
Exemplo disto é o caso do manejo da floresta variedades selvagens de arroz. Estas, porém, eram
secundária pelos Caiapó (Posey, 1984). Em sua coletadase não cultivadas.
4
obra, Posey mostra que um caso de economia A aldeia não conta atualmente com a figura do
baseada, à primeira vista, na caça e na coleta, era Bári, sendo que o último delesfaleceu há algunsanos.
na verdade um refinado manejo de fauna e flora, Osjovensnão querem passar pelo processo de rituais
de alta produtividade. O sistema desenvolvido e sacrifícios exigidos para a obtenção do título, que
pelos Caiapó reuniu conhecimentos profundos em já não confere o mesmo statusdentro da comunidade.
5
ecologia, pedologia, zoologia, botânica, agronomia Este processo não foi exclusivo do caso dosBororo
e agroflorestamento que facilmente superam os ou das sociedades indígenas. É o mesmo processo
conhecimentos exigidos para o desenvolvimento do resultante da "modernização conservadora"observado
arado. em todo o meio rural. Exemplo bastante ilustrativo
2
Levantamento da população Bororo - Janeiro, está no trabalho "Tradição (agri)cultural e inovação
2000, P. Gonçalo Ochoa. Documento pessoal cedido tecnológica" (Petersen, Tardin e Marochi, 2002).
6
em entrevista em agosto de 2000. Exemplo disto são as perdas causadas pelo
3
Serpa (1988) afirma que osBororo já conheciam ataque de caititus(Tayassu tajacu) ao milho.
60
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
WILSON, Edward em que o autor relaciona estas questões com
O. O futuro d a aspectos da macroeconomia, para mostrar que
vid a : um estudo o crescimento ilimitado é impossível, pois jamais
da biosfera para conseguiremos substituir os serviços ofertados
a proteção de to- pela natureza por recursos artificiais. Assim
das as espécies, in- mesmo, desde uma posição conservadora, o
clusive a humana. Rio autor destaca os riscos dos cultivos e produtos
de Janeiro: Campus, transgênicos. Ainda que veja na engenharia
2002. 242 p. genética uma arma para o que chama de "re-
volução verde sustentável", Wilson destaca a
Ganhador do Prêmio necessidade de adotar-se o princípio da pre-
Pulitzer, Edward Wilson caução.
apresenta agora uma obra importantíssima Trata-se, pois, de um livro que pode ajudar
para quem ainda se preocupa com o futuro da os iniciantes nos temas ambientais a familiari-
vida sobre o planeta. Ainda que apresente per- zar-se com um conjunto de aspectos que estão
manentemente uma posição conservadora, O em jogo neste século XXI e que serão decisivos
Futuro da Vida nos traz, ao mesmo tempo, in- para o futuro da humanidade, inclusive o po-
formações relevantes sobre os impactos que
tencial para a vida que a natureza ainda nos
estamos causando à biodiversidade e reflexões
oferece, pela biodiversidade que nós ainda não
de fundo sobre nosso modo de vida e as con-
conseguimos destruir com a "avalanche do capi-
seqüentes externalidades causadas pelo nosso
talismo baseado na tecnologia" que só será en-
estilo de desenvolvimento. Entre os destaques,
frentada a partir de uma "ética ambiental a lon-
poderíamos citar o "diálogo" entre o economis-
go prazo e que conte com o apoio da maioria".
ta e o ambientalista, uma montagem de dados
e discursos correntes em nosso meio (e no dele, Re s e n h a e la b o r a d a p e lo En g e n h e ir o
nos USA), sustentado por diferentes visões de A g r ô n o m o Fr a n c is c o Ro b e r t o C a p o r a l,
mundo e diferentes pontos de vista sobre o fu- D ir e t o r T é c n ic o d a EM A T ER/ RS . E- m a il:
turo. Como ele afirma, os economistas "sabem c a p o r a l@e m a t e r .t c h e .b r
que a humanidade está destruindo a biodiver-
sidade, simplesmente não gostam de passar FURTADO, Celso. In-
muito tempo pensando sobre o assunto". Des- trodução ao de-
te "diálogo", o autor conclui que o grande "dile- senvol vi mento:
ma do ambientalismo" é resultado da falta de enfoque histórico-
aproximação e acordo entre "dois sistemas de estrutural, 3ª ed. re-
valores": o conflito entre valores de curto prazo vista pelo autor, Rio
e de longo prazo. Encontrar o meio termo so- de Janeiro: Paz e Ter-
bre o agora e o futuro que queremos seria fun- ra, 2000. 126 p.
damental para que se possa "passar pelo gar-
galo em que nossa espécie imprudentemente N ascido na Pa-
se meteu". raíba em 1920, o autor
A exterminação de espécies, o impacto dos apresenta uma marcante
processos de colonização e a ocupação huma- trajetória de vida - publicando várias obras
na dos espaços são abordados de uma manei- e ocupando importantes cargos públicos - e
ra singela e compreensível, ao mesmo tempo continua mantendo a chama de suas idéias
61
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
e sugestões que sempre estimularam o de- suas condutas, distintas dos países subdesen-
bate. N a obra em questão, Celso Furtado volvidos, os quais operam às margens das gran-
procura ir além da visão da economia, para des decisões, tornando-se periféricos. Essa aná-
realizar uma análise multidisciplinar, com o l i se é i m p r esci n d ível em u m p er ío d o d e
foco na história e na filosofia, contribuindo globalização, quando surgem novas formas de
dessa forma com a temática do desenvolvi- apreender a realidade social. Tudo visto dentro
mento, fortemente presente em nossa reali- de um contexto histórico, jamais estanque ao
dade local. Incorpora na análise razões que momento presente. A partir desta realidade
possam ter levado os países do Terceiro Mun- dicotômica, estabelece-se uma relação de po-
do a adotar modelo de desenvolvimento que der que é bem distinta em cada realidade, e a
se mantém sob a tutela tecnológica e finan- respectiva submissão nacional geralmente se re-
ceira dos países centrais, cujas regras pro- produz nas relações internas. Em épocas distin-
vavelmente tenham que ser urgentemente tas, alguns setores podem ser beneficiados com
rediscutidas. N o decorrer da obra, é possí- as posições dos países desenvolvidos e acumu-
vel identificar nos diversos momentos histó- lar poder, como também podem ficar à margem.
ricos os beneficiários de determinada deci- O desenvolvimento ainda é analisado sob o pris-
são, que puderam incorporar excedentes, e ma das estruturas agrárias e das possibilidades
aqueles que sempre operam à margem dos de formação de excedentes. Além disso, a obra
processos, dificilmente decidindo algo. A par- conta com uma análise do progresso técnico,
tir desses cenários, trabalha os limitados ca- considerado fruto da criatividade humana, que
minhos que restam dentro deste complexo nos últimos dois séculos vem sendo canalizada
contexto macroeconômico. especialmente para a inovação técnica.
Através desta obra, o autor deixa vários Em síntese, o livro fornece elementos que po-
questionamentos e interrogações para os lei-
dem contribuir na compreensão do contexto
tores: por que certas sociedades apresentam
dos últimos dois séculos e meio, com ênfase na
em determinados períodos de sua história tão
análise do presente, momento em que as em-
grande capacidade de inovação, como ocor-
presas globais possuem sede em países desen-
reu na Grécia de Péricles? Por que outras fa-
volvidos e procuram elevar a apropriação de
vorecem em dado momento a invenção de téc-
seus excedentes através da atuação em países
nicas em detrimento da criação de valores,
periféricos. N esses, buscam encontrar mão-de-
como aconteceu na Inglaterra da Revolução
obra mais barata, menos impostos, mais incen-
Industrial? Será que o avanço tecnológico re-
tivos, menos restrições quanto a poluição e, não
prime a criação dos valores substantivos que
raras vezes, seus excedentes são obtidos com
são a conquista maior do espírito humano?
a devastação dos recursos naturais. A obra é
Pode haver desenvolvimento sem criatividade
de fácil leitura e recomendada para todos que
própria? A globalização agrava este proces-
trabalham com a questão do desenvolvimento,
so? Este ambiente provocativo ilustra a rique-
principalmente com os limites de um desenvol-
za da obra, que se encontra na terceira edi-
vimento endógeno.
ção, toda revista pelo autor e com abordagens
bem atuais sobre o assunto.
Re s e n h a e la b o r a d a p e lo En g e n h e ir o A g r ô -
O debate se estende também à compreen- n o m o d a EM A T ER/ RS Iv a r J o s é K r e u t z,
são das relações internas dos países desen- m e s t r a n d o e m A g r o e c o s s is t e m a s - U FS C .
E- m a il: ijk r e u t z@t e r r a .c o m .b r
62 volvidos e às respectivas implicações sobre

Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002


CAPRA, Fritjof. O nismos vivos, considerando o corpo humano
p onto d e muta - como uma máquina, um relógio, comparando
çã o: a ciência, a um homem doente a um relógio mal fabrica-
sociedade e a cul- do. Cientistas, sociólogos, psicólogos e econo-
tura emergente. São mistas passaram a tratar os organismos vivos
Paulo: Cultrix, 1982. como máquinas e a ignorar outros fatores, os
quais poderiam contribuir para evitar o
"Acredito que a visão desequilíbrio cultural e social em que nos en-
de mundo sugerida pela contramos hoje.
física moderna seja in- O autor, professor da Universidade da
compatível com a nossa so- Califórnia (Berkeley) e fundador do Center for
ciedade atual, a qual não Ecoliteracy (instituição que forma profissionais
reflete o harmonioso estado de inter-relacio- para ensinar ecologia nas escolas), cita três
namento que observamos na natureza. Para grandes acontecimentos como o passo inicial
se alcançar tal equilíbrio dinâmico, será neces- para uma transformação no nosso sistema
sário uma estrutura social e econômica radi- social: a) o declínio do patriarcado, pois o
calmente diferente: uma revolução cultural na movimento feminista é uma das mais fortes
verdadeira acepção da palavra. A sobrevivên- correntes culturais de nosso tempo e terá um
cia de toda a nossa civilização pode depender papel importante na evolução social e cultural
de sermos ou não capazes de realizar tal mu- futura; b) o declínio da era dos combustíveis
dança". Fritjof Capra. fósseis, que estariam esgotados por volta de
2003 (estaríamos experimentando um proces-
O livro do físico, cientista, ambientalista e so de transição da era do combustível fóssil
educador Fritjof Capra explora as mudanças para a era solar); c) mudança de paradigma,
de paradigma que acompanharam as desco- uma mudança profunda nos valores e percep-
bertas científicas. Em sua primeira parte, des- ções. Ademais, nos remete a uma reflexão de
creve o desenvolvimento histórico da visão que a crise energética, a crise na assistência à
cartesiana do mundo e a drástica mudança de saúde, as altas taxas de desemprego e os de-
conceitos básicos que ocorreu na física moder- sastres ambientais que estão ocorrendo são
na, enfatizando principalmente as limitações da decorrentes de uma só crise: a "crise de per-
visão de mundo cartesiana e como isto está cepção". Estamos tentando aplicar os concei-
afetando a nossa saúde individual e social. Se- tos de uma visão de mundo obsoleta - a visão
gundo ele, desde o século XVII, a física tem sido de mundo mecanicista da ciência cartesiana-
o exemplo brilhante da ciência exata e os físi- newtoniana - a uma realidade que já não pode
cos utilizaram uma visão mecanicista do mun- ser entendida em função destes conceitos. Pre-
do para desenvolver e refinar a estrutura cisamos de um novo "paradigma".
conceptual do que é conhecido como física clás- A proposta de Capra é uma mudança de
sica. Suas idéias foram baseadas em duas fi- paradigmas baseada na transferência da con-
guras gigantescas do século XVII: Descartes e cepção mecanicista para uma visão holística
Newton, que trataram o mundo como uma da realidade, apoiada na consciência do esta-
grande máquina. Esse quadro mecânico tor- do de inter-relações e interdependência essen-
nou-se o paradigma dominante da ciência. A cial de todos os fenômenos físicos, biológicos,
teoria de Descartes foi estendida até os orga- psicológicos, sociais e culturais. Aliás, em toda
63
Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
a sua obra o autor faz uma crítica fundamental
à mentalidade analítica e fragmentadora da ci-
ência normal, em especial às ciências que tomam
o método analítico da Física Clássica de Newton
como modelo que deve ser seguido para erguer
as demais ao status de ciência perante a comuni-
dade acadêmica. Analisa profundamente a in-
fluência do pensamento cartesiano-newtoniano
sobre a biologia, a medicina, a psicologia e a
economia e apresenta suas críticas ao paradig-
ma mecanicista nestas disciplinas. Posteriormen-
te, faz um exame detalhado da nova visão da
realidade, no qual inclui a emergente visão
sistêmica da vida e todas as suas manifestações.
Mostra ainda que a evolução de uma socieda-
de, inclusive a evolução de seu sistema econômi-
co, está intimamente ligada a mudanças no sis-
tema de valores que serve de base a todas as
suas manifestações. Os valores que inspiram a
vida de uma sociedade determinarão sua visão
de mundo. E a concepção sistêmica vê o mundo
em termos de relações e de integração, tornan-
do-se cada vez mais necessária a aplicação de
conceitos sistêmicos aos processos e atividades
econômicas.
No final, Capra deixa bem claro que a sobre-
vivência humana, ameaçada por várias ações
igualmente humanas e advindas de uma visão
de mundo mecanicista e fragmentada, somente
será possível se formos capazes de mudar radi-
calmente os métodos e os valores subjacentes à
nossa cultura individualista e materialista atual
e à nossa tecnologia de exploração do meio
ambiente. Esta mudança deverá, logicamente,
refletir-se em atitudes mais orgânicas, holísticas
e fraternas entre os seres humanos e entre estes
e a natureza, em todos os seus aspectos.

Re s e n h a e la b o r a d a p o r L u is a H e le n a
S c h w a n t z d e S iq u e ir a , s o c ió lo g a d a
EM A T ER/ RS , m e s t r a n d a e m D e s e n v o lv i-
m e n t o Ru r a l - U FRG S . E- m a il:
lu iza @e m a t e r .t c h e .b r

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Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
1. AgroecologiaeDesenvolvimentoRural Sustentável éuma debateeao “estado daarte” do campo deestudo aque
publicação daEMATER/RS, destinadaàdivulgação de se refere. Assim mesmo, terão prioridade os textos
trabalhos de agricultores, extensionistas, professores, encomendadospelaRevista.
pesquisadoreseoutrosprofissionaisdedicadosaostemas
centraisdeinteressedaRevista. 7. Serãoenviados5 (cinco) exemplaresdonúmerodaRevista
paratodososautoresquetiveremseusartigosou textos
2. AgroecologiaeDesenvolvimentoRural Sustentável éum publicados. Emqualquercaso, ostextosnãoaceitospara
periódico depublicação trimestral quetemcomo público publicação não serão devolvidosaosseusautores.
referencial todasaquelaspessoasque estão empenhadas
naconstrução daAgriculturaedo Desenvolvimento Rural 8. Ascontribuiçõesdevemter no máximo 10 (dez) laudas
Sustentáveis. (usando editor de textos Word) em formato A-4,
devendo ser utilizadaletra TimesNew Roman, tamanho
3. AgroecologiaeDesenvolvimentoRural Sustentável publica 12 e espaço 1,5 entre linhas (dois espaços entre
artigoscientíficos, resultadosdepesquisa, estudosdecaso, parágrafos). Poderãoserutilizadasnotasdepédepágina
resenhasdeteseselivros, assimcomoexperiênciaserelatos ou notasao final, devidamente numeradas, devendo ser
detrabalhosorientadospelosprincípiosdaAgroecologia. escritasemletraTimesNewRoman, tamanho10 eespaço
Alémdisso, aceitaartigoscomenfoquesteóricose/oupráticos simples. Quandoforocaso, fotos, mapas, gráficosefiguras
nos campos do Desenvolvimento Rural Sustentável e da devemser enviados, obrigatoriamente, emformato digital
Agricultura Sustentável, esta entendida como toda forma epreparadosemsoftwarescompatíveiscomaplataforma
ou estilo de agricultura de base ecológica, windows, depreferênciaemformato JPG ouGIF.
independentemente daorientação teóricasobre aqual se
assenta. Como não poderiadeixar deser, aRevistadedica 9. Os artigos devem seguir as normas da ABNT (NBR
especial interesse à Agricultura Familiar, que constitui o 6022/2000). Recomenda-se que sejam inseridas no
públicoexclusivodaExtensãoRural gaúcha. Nestesentido, corpodotextotodasascitaçõesbibliográficas, destacando,
são aceitos para publicação artigos e textos que tratem entreparênteses, osobrenomedoautor, anodepublicação
teoricamenteestetemae/ouabordemestratégiasepráticas e, se for o caso, o número da página citada ou letras
quepromovamo fortalecimento daAgriculturaFamiliar. minúsculasquandohouvermaisdeumacitaçãodomesmo
autoreano. Exemplos: ComojámencionouSilva(1999,
4. Os artigos e textos devemser enviados empapel e em p.42); como jámencionouSouza(1999 a,b); ou, no
disquete à Biblioteca da EMATER/RS (A/C Mariléa final dacitação, usando (Silva, 1999, p.42).
Fabião Borralho, RuaBotafogo, 1051 – Bairro Menino
Deus– CEP90150-053 – PortoAlegre– RS) oupor 10. As fontes consultadas devemconstar no fimdo texto,
correio eletrônico (paraagroeco@emater.tche.br) atéo nas Referências Bibliográficas, seguindo as normas da
últimodiadosmesesdemarço, junho, setembroedezembro ABNT(NBR6023/2000).
decadaano. Ademais, devemseracompanhadosdecarta
autorizando sua publicação na Revista Agroecologia e 11. Sobreaestruturadosartigostécnico-científicos:
Desenvolvimento Rural Sustentável, devendo constar o a) Título do artigo: emnegrito e centrado
endereçocompletodoautor. b) Nome(s) do(s) autor(es): iniciando pelo(s)
sobrenome(s), acompanhado(s) denotaderodapé
5. SerãoaceitosparapublicaçãotextosescritosemPortuguês onde conste: profissão, titulação, atividade
ou Espanhol, assimcomo tradução de textos para estes profissional, local detrabalho, endereço e E-mail.
idiomas. Salienta-seque, no caso dastraduções, deveser c) Resumo: no máximo em10 linhas.
mencionadodeformaexplícita, empédepágina, “Tradução d) Corpo do trabalho: deve contemplar, no mínimo,
autorizadaerevisadapeloautor” ou“Traduçãoautorizada 4 (quatro) tópicos, a saber: introdução,
enãorevisadapeloautor”, conformeforocaso. desenvolvimento, conclusões e referências
bibliográficas. Poderão ainda constar listas de
6. Terãoprioridadenaordemdepublicaçãoostextosinéditos, quadros, tabelasefiguras, relaçãodeabreviaturase
ainda não publicados, assimcomo aqueles que estejam outros itens julgados importantes para o melhor
centradosemtemasdaatualidade e contemporâneosao entendimento do texto.
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Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

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