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Evolução e
desdobramentos do
conceito de
Paideia
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1. OBJETIVOS
• Contextualizar o período histórico em que se dá a exis-
tência de Sócrates (Período Clássico) e a importância de
alguns aspectos presentes nesse momento, em que se dá
a criação de uma proposta diferenciada de Paideia.
• Reconhecer e justificar a importância de Sócrates para a
fundamentação da Paideia grega.
• Compreender e analisar a Paideia socrática.
• Compreender e comparar a relação entre Sócrates e os
filósofos da natureza.
• Analisar a educação política de Sócrates.
• Analisar e pontuar método socrático na Educação.
• Distinguir Sócrates de Platão e compará-los.
• Analisar e identificar a Teoria das Ideias de Platão.
• Classificar e pontuar evolução do conceito de Areté na
obra A República, de Platão.
126 © Paideia: Tópicos de Filosofia e Educação
2. CONTEÚDOS
• Método.
• Educação para a pólis.
• Maiêutica.
• Protágoras.
• A República.
• A Teoria das Ideias.
• Areté e Paideia.
• Areté política.
• O homem e a pólis em Aristóteles.
• Humanismo romano.
• Paideia Christi.
• A Bildung contemporânea.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você estudou em que consiste a Paideia
sofística e os seus valores em Educação, cuja finalidade era superar
o modelo de Educação baseada na linhagem divina. Como estu-
damos anteriormente, os sofistas não conseguiram desvincular o
conceito de Areté da aristocracia.
Nesta unidade, examinaremos uma das figuras que mais
combateram os sofistas: trata-se de Sócrates. Ao longo desse ca-
minho, tentaremos compreender quais são os pressupostos da
Paideia socrática.
Antes de começarmos a realizar essa análise, torna-se neces-
sário contextualizarmos a realidade vivida pelo povo grego nesse
5. SÓCRATES
O que sabemos de Sócrates? Muito pouco. Na verdade, o
que sabemos a seu respeito nos chegou por meio de Xenofonte e,
principalmente, de Platão.
As obras de Platão têm sempre como personagem principal
Sócrates. Como Sócrates não deixou nenhum escrito, várias são as
dúvidas que pode ter um leitor mais atento. Nesses escritos, Platão
não estaria apresentando suas próprias ideias por meio de Sócra-
tes? Como delimitar as ideias do mestre das do discípulo? Não teria
sido ele, Sócrates, uma invenção? O que lemos em A República e em
outras obras não seriam simplesmente as ideias de Platão?
Devemos considerar que, para a tradição grega, a linguagem
escrita não era tão valorizada, pelo menos até certo período da
história. Na Carta VII de Platão, temos uma percepção clara dessa
questão.
Ponto de partida
Em Apologia de Sócrates (ou Defesa de Sócrates), Platão pro-
cura reproduzir o discurso que Sócrates teria feito para se defen-
der das acusações de corromper a juventude, não acreditar nos
deuses então cultuados e criar novos deuses.
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Discípulos
É por meio do testemunho de Platão, em seus diálogos,
como Fédon, Apologia, Protágoras, que temos um retrato um pou-
co mais fiel do mestre ateniense, um decalque de sua personalida-
de moral, cuja importância promoveu uma mudança no conceito
de Areté, conforme já havíamos mencionado anteriormente.
A Paideia Christi
Embora Jaeger seja muito conhecido a partir de suas consi-
derações sobre a Paideia grega, ele também compôs uma análise
das influências dessa Paideia no cristianismo primitivo. Suas con-
siderações a respeito desse tema foram compiladas em uma obra
intitulada Early christianity and greek Paideia (Cristianismo primiti-
vo e Paideia grega). Essa obra foi publicada em 1961 e originou-se
das conferências realizadas na Universidade de Harvard, em 1960.
víduo já não encontre sua razão de ser no próprio eu, mas na fun-
ção dessa vocação altruísta, desse amor ao próximo" (VILLANOU,
2001, [s/p]).
Há de se dizer que as contribuições da Paideia Christi se mos-
tram presentes atualmente sobretudo na chamada relação "eu e
o outro", ou seja, nela os desdobramentos da Areté referem-se à
consideração e à valorização dos demais seres humanos.
Dada as especificidades desta disciplina, não nos alonga-
remos nesse desdobramento, mas lhe indicamos para que você
aprofunde suas pesquisas sobre o tema no estudo de Antropologia
Filosófica, no qual se encontra uma abordagem que lhe apresenta-
rá vários pensadores que se inspiram nessa proposta e que certa-
mente lhe ajudarão a perceber a originalidade dessa contribuição.
A Bildung
Vamos agora apresentar outro desdobramento interessan-
te da Paideia grega, desenvolvido essencialmente por pensadores
alemães e por eles denominado "Bildung" ("formação").
De modo preliminar, vamos examinar uma expressão cunha-
da pelos pensadores alemães que se identificaram com essa pro-
posta por meio do relato de Villanou (2001, [s/p]):
Bilde dich griegisch, isto é "forme-se com um grego" [...], esteve
canalizada por uma série de tradições e obras que culminam no
século XX com a Paidéia de Jaeger em seu intento de implantar –
no meio da crise dos anos de entre guerras (1919-1939) – um ide-
alismo de corte platônico capaz de espiritualizar, de novo, a vida
humana.
ainda mais sábios e tive a mesmíssima impressão; também ali me tornei odiado
dele e de muitos outros.
Depois disso, não parei, embora sentisse, com mágoa e apreensões, que me ia
tornando odiado; não obstante, parecia-me imperioso dar a máxima importância
ao serviço do deus. Cumpria-me, portanto, para averiguar o sentido do oráculo,
ir ter com todos os que passavam por senhores de algum saber. Pelo Cão, Ate-
nienses! Já que vos devo a verdade, juro que se deu comigo mais ou menos isto:
investigando de acordo com o deus, achei que aos mais reputados pouco faltava
para serem os mais desprovidos, enquanto outros, tidos como inferiores, eram
os que mais visos tinham de ser homens de senso. Devo narrar-vos os meus
vaivéns nessa faina de averiguar o oráculo.
Depois dos políticos, fui ter com os poetas, tanto os autores de tragédias como os
de ditirambos e outros, na esperança de aí me apanhar em flagrante inferioridade
cultural. Levando em mãos as obras em que pareciam ter posto o máximo de
sua capacidade, interrogava-os minuciosamente sobre o que diziam, para ir, ao
mesmo tempo, aprendendo deles alguma coisa. Pois bem, senhores, coro de vos
dizer a verdade, mas é preciso. A bem dizer, quase todos os circunstantes pode-
riam falar melhor que eles próprios sobre as obras que eles compuseram. Assim,
logo acabei compreendendo que tampouco os poetas compunham suas obras
por sabedoria, mas por dom natural, em estado de inspiração, como os adivinhos
e profetas. Estes também dizem muitas belezas, sem nada saber do que dizem;
o mesmo, apurei, se dá com os poetas; ao mesmo tempo, notei que, por causa
da poesia, eles supõem ser os mais sábios dos homens em outros campos, em
que não o são. Saí, pois, acreditando superá-los na mesma particularidade que
aos políticos.
Por fim, fui ter com os artífices; tinha consciência de não saber, a bem dizer,
nada, e certeza de neles descobrir muitos belos conhecimentos. Nisso não me
enganava; eles tinham conhecimentos que me faltavam; eram, assim, mais sá-
bios e eu. Contudo, Atenienses, achei que os bons artesãos têm o mesmo defeito
dos poetas; por praticar bem a sua arte, cada qual imaginava ser sapientíssimo
nos demais assuntos, os mais difíceis, e esse engano toldava-lhes aquela sabe-
doria. De sorte que perguntei a mim mesmo, em nome do oráculo, se preferia
ser como sou, sem a sabedoria deles nem sua ignorância, ou possuir, como eles,
uma e outra; e respondi, a mim mesmo e ao oráculo, que me convinha mais ser
como sou.
Dessa investigação é que procedem, Atenienses, de um lado, tantas inimizades,
tão acirradas e maléficas, que deram nascimento a tantas calúnias, e, de outro,
essa reputação de sábio. É que, toda vez, os circunstantes supõem que eu seja
um sábio na matéria em que confundo a outrem. O provável, senhores, é que,
na realidade, o sábio seja o deus e queira dizer, no seu oráculo, que pouco va-
lor ou nenhum tem a sabedoria humana; evidentemente se terá servido deste
nome de Sócrates para me dar como exemplo, como se dissesse: "O mais sábio
dentre vós, homens, é quem, como Sócrates, compreendeu que sua sabedoria
é verdadeiramente desprovida do mínimo valor." Por isso não parei essa investi-
gação até hoje, vagueando e interrogando, de acordo com o deus, a quem, seja
cidadão, seja forasteiro, eu tiver na conta de sábio, e, quando julgar que não o
é, coopero com o deus, provando-lhe que não é sábio. Essa ocupação não me
permitiu lazeres para qualquer atividade digna de menção nos negócios públicos
nem nos particulares; vivo numa pobreza extrema, por estar ao serviço do deus.
Além disso, os moços que espontaneamente me acompanham – e são os que
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dispõem de mais tempo, os das famílias mais ricas – sentem prazer em ouvir o
exame dos homens; eles próprios imitam me muitas vezes; nessas ocasiões,
metem-se a interrogar os outros; suponho que descobrem uma multidão de
pessoas que supõem saber alguma coisa, mas pouco sabem, quiçá nada. Em
consequência, os que eles examinam se exasperam contra mim e não contra
si mesmos, e propalam que existe um tal Sócrates, um grande miserável, que
corrompe a mocidade. Quando se lhes pergunta por quais atos ou ensinamentos,
não têm o que responder; não sabem, mas, para não mostrar seu embaraço,
aduzem aquelas acusações contra todo filósofo, sempre à mão: "os fenômenos
celestes –o que há sob a terra – a descrença dos deuses –o prevalecimento
da razão mais fraca". Porque, suponho, não estariam dispostos a confessar a
verdade: terem dado prova de que fingem saber, mas nada sabem. Como são
ciosos de honrarias, tenazes, e numerosos, persuasivos no que dizem de mim
por se confirmarem uns aos outros, não é de hoje que eles têm enchido vossos
ouvidos de calúnias assanhadas. Daí a razão de me atacarem Meleto, Ânito e
Licão – tomando Meleto as dores dos poetas; Ânito, as dos artesãos e políticos
– e Licão, as dos oradores. Destarte, como dizia ao começar, eu ficaria surpreso
se lograsse, em tão curto prazo, delir em vós os efeitos dessa calúnia assim avo-
lumada. Aí tendes, Atenienses, a verdade; em meu discurso não vos oculto nada
que tenha alguma importância, nada vos dissimulo. Sem embargo, sei que me
estou tornando odioso por mais ou menos os mesmos motivos, o que comprova
a verdade do que digo, que é mesmo essa a calúnia contra mim e são mesmo
essas as suas causas. É o que haveis de descobrir, se investigardes agora ou
mais tarde (PLATÃO, 1987, p. 8-10).
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Gabarito
1) a.
2) b.
3) d.
4) c.
5) e.
17. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
GIACOMONI, P. Paideia as Bildung in Germany in the age of enlightenment. Disponível
em: <http://www.bu.edu/wcp/Papers/Mode/ModeGiac.htm>. Acesso em: 19 abr. 2012.
VILLANOU, C. De la Paideia a la Bildung: hacia una Pedagogía Hermenéutica. Revista Por-
tuguesa de Educação, Minho, v. 14, n. 2, 2001. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.
mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=37414210>. Acesso em: 19 abr. 2012