Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
No contexto local 12 proprietários controlavam 80% da terra; terra esta que possibilitava uma
variedade de cultivo demasiadamente considerável. Nesse caminho, os próprios escravos e
libertos cultivavam produtos que eram consumidos internamente ou vendidos na feira. Desde
1870, a lavoura açucareira entrou numa crise que perdurou até o fim do século XIX; houve uma
diminuição no volume de exportação do produto. Para agravar a situação a lavoura vinha
sofrendo as consequências da extinção do tráfico africano e dos golpes à escravidão.
Mesmo com essas dificuldades, no fim do século o recôncavo baiano era a região mais
importante economicamente e também a maior possuidora de escravos. Todavia, por
consequência da abolição do tráfico, a vida dos escravos sofrera mudanças consideráveis em
sua composição étnica; a lavoura estava trabalhando com uma população essencialmente
nascida no país – um perfil distinto do início do século XIX. Grande parte dessa população
pertencia a grupos familiares bem estabelecidos nas propriedades, ou seja, parentes de distintas
gerações trabalhavam na mesma propriedade. Muitas destas famílias estavam inseridas em
redes de parentesco e rituais que formavam a sólidas comunidades. A proximidade dos
engenhos permitiu também um intercâmbio permanente entre membros dessas famílias – esses
laços eram fortalecidos por festas, batismos, casamentos, etc.. Ao longo do tempo essas famílias
acumularam experiências em criar estratégias de acumular, plantar e produzir.
A população cativa da época era composta, em sua maioria, por indivíduos ainda em sua idade
produtiva, o que permitiu a atuação da produção sem muitos transtornos. Porém, não havia
solução para a queda crescente de cativos. O contingente livre e liberto dispunha de outras
alternativas para a própria subsistência; o autor aponta que, observando as atividades dos
escravos, percebe-se que a maioria trabalhava na lavoura, contudo, há um número considerável
de artesãos, o que provavelmente resultou na migração destes pros centros urbanos para
viverem do seu trabalho no pós-abolição.
Ainda durante o período escravistas, analisando alguns inventários, foi possível ver eu alguns
escravos ainda podiam ser remunerados por serviços extras realizados nos domingos e dias
santos. Ou ainda, havia também os trabalhos realizados por outros senhores de engenho.
Muitos escravos tinham suas pequenas roças, criavam animais e cultivavam algumas espécies
de plantas; os engenhos eram dotados de recursos naturais de onde os nativos podiam retirar
sua subsistência. Quando o cativo acabou, muitos dos ex-escravos permaneceram ligados à
propriedade para estar perto de sua terra; os senhores muitas das vezes apoiavam essa prática,
pois era uma forma de manter o negro ligado a sua terra e diminuíam os gastos com a
subsistência de seus cativos.
Com o tempo, o acesso a terra começou a gerar conflitos, pois começara-se a ter um senso de
“direito” sobre a roça. A maioria dos conflitos tinha origem nos senhores tentando reduzir a
quantidade de “tempo livre”, tempo que o escravo dedicava-se a roça, do cativo. Outro fator da
vida dos escravos é a frequência em feiras locais que possibilitava o acesso a bens que não
dispunham na fazenda, a construção de redes de sociabilidade, amizade, comércio, etc.. Essas
relações poderiam ser uteis no momento em que os escravos decidissem fugir quando achassem
sua posição como cativo ilegítima. Existe um sentimento de pertencimento. O tempo dedicado
a roça existia como moldador de uma expectativa de liberdade. Por isso, o escravo tinha de
negociar com o senhor o maior número de tempo livre possível, pois muitos apostavam na sua
roça como forma de alcançar a liberdade. A terra estava ligado a ideia de ser livre. De subsistir.
Contudo, quanto mais próxima a abolição parecia, mais cientes ficavam os senhores dessas
estratégias. Os castigos e os maus tratos iam na contramão dessa expectativa de liberdade.
Enfim