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A longo prazo, tudo indica que na Ásia se firmará o núcleo mais dinâmico do
capitalismo global, mormente a partir da China, com um capitalismo
controlado por um partido-estado tentacular que soube retirar as lições do
fracasso do capitalismo de estado soviético. Essa dinâmica depende bastante
da incorporação da Europa e vem beneficiando da evidente decadência dos
EUA que, por sua vez, havia superado a Europa a seguir à II Guerra.
Sumário
A Ásia acolheu o berço da civilização humana, depois dos primeiros homens terem
saído de África, do vale do Rift, ao que se julga, por volta de 170000 AEC (Antes da
Era Comum1). Essa viagem correspondeu à instalação na Mesopotâmia, na Arábia e
no planalto iraniano cerca de 146000 AEC. A ocupação humana do norte da Índia terá
ocorrido pelos 125000 anos AEC e a da China e da Indochina cerca de 30000 anos
depois (95000 AEC).
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AEC é uma forma de apresentar a cronologia sem a conectar com qualquer religião, como o tradicional
AC (antes de Cristo); se conveniente pode usar-se EC (Era Comum) para os tempos posteriores a um
instituído ano zero
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A expansão pela Europa prosseguiu, tendo os humanos chegado à Península Ibérica,
ao sul da Grã-Bretanha e da Dinamarca em 29000 AEC; tal como à Sibéria. No que se
refere à Europa, por alturas de 18000 AEC, toda ela incorporava colónias paleolíticas
de seres humanos, excepto a Escócia e a Escandinávia; por essa época, os humanos
atravessaram o estreito de Bering, principiando a colonização do continente
americano.
Os humanos que se instalaram nessas duas regiões asiáticas não eram mais
inteligentes do que os seus congéneres que entretanto se foram espalhando pelo
globo. As suas vantagens eram as fornecidas pelo clima que lhes oferecia chuvas de
outono e calor no verão, num ciclo muito favorável para grande parte das espécies
vegetais; estas, por sua vez, atraiam os animais, herbívoros e os seus predadores
carnívoros. Essa regularidade relativa do clima permitiu aos homens uma adaptação
facilitada a que se juntou o seu espírito de observação, por exemplo, para a seleção,
pelo tamanho, dos grãos dos cereais – trigo e cevada e arroz na China - preferindo os
maiores, para proceder à sua prioritária reprodução.
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Relevamos ainda os códigos de Ur-Nammu (2040 AEC) e o de Hamurabi 270 anos
depois, ambos na Mesopotâmia, vocacionados para o estabelecimento de leis que
regrassem os direitos e os deveres comunitários. Em Roma, em 450 AEC viriam a
estabelecer-se as 12 Tábuas da Lei, a base do direito romano que, por sua vez foi o
alicerce para os atuais sistemas jurídicos na Europa.
Nem tudo foi positivo. Na Ásia surgiram as religiões que configuram ou manipulam as
mentes, geradoras de ódios, conflitos e guerras, mormente no caso das designadas
“do Livro” – judaísmo, cristianismo e islamismo; numa escala muito superior às outras,
também todas ali nascidas – o hinduísmo, o budismo, o jainismo; para além do
confucionismo, que se situa mais como uma moralidade pública do que uma religião.
Na Europa, a cultura minoica, surge em Creta, ligada a Ebla, uma civilização existente
onde hoje é a Síria, cerca de 2500 AEC e transmite-se ao Peloponeso, constituindo
ambas as áreas mais desenvolvidas da Europa naquele tempo. Em torno de 1630
AEC, impõem-se na Grécia os aqueus, indo-europeus, portadores da cultura do
bronze e que, pouco mais de 500 anos depois, são superados pelos dórios,
conhecedores do ferro e procedentes da Macedónia.
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1.1 – O predomínio da Europa através da colonização e do capitalismo decai depois
de 1945
No Extremo Oriente, o Japão desenvolveu uma forte economia entregando (ou forçado
a entregar) aos EUA a suserania no mar da China e os respetivos custos que devem
fazer sorrir a indústria militar americana; por outro lado, as suas relações históricas
com a China e, sobretudo com a Coreia, geraram um caudal de danos, de queixas em
que o racismo dos japoneses não ajuda de todo. Os EUA têm uma constelação de
bases militares no Japão (Okinawa e mais outras dezenas de instalações militares);
Guam, uma sua colónia nas Marianas; e uma trintena na Coreia do Sul, focadas na
ameaça à China e à Coreia do Norte, à sombra da guerra que se desenvolveu há… 65
anos.
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1.2 – A Europa, de novo uma península asiática?
A separação terrestre entre a Ásia e a África faz-se numa curta faixa de terra que
prolonga o golfo do Suez com o canal do mesmo nome; e que, de facto nunca separou
coisa alguma através do tempo. Com a América, a separação da Ásia é nítida e
processa-se através do frio estreito de Bering.
Entre a Ásia e a Europa não há uma separação geográfica clara mas apenas
delimitações meramente convencionais, de caráter político. Por exemplo, considera-se
a Rússia um país europeu mas a parte maior do seu território é na Ásia, embora em
termos populacionais a maior faixa esteja na Europa.
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No Cáucaso, as altas montanhas separam, a norte, as atuais seis repúblicas da
Federação Russa, daquelas outras que se situam a sul, a Geórgia, a Arménia e o
Azerbaijão. Geograficamente, as últimas estão contidas na Ásia, com maiores
continuidades topográficas com a Turquia e o Irão do que com as seis repúblicas
russas. Pode pensar-se que sendo a Geórgia e a Arménia de cultura cristã ortodoxa,
deveriam ser incluídas na Europa mas, o mesmo não pode ser aplicado ao Azerbaijão,
islâmico, xiita e com fortes ligações ao Irão, onde aliás há também uma população de
azeris. Se a cultura religiosa é um fator determinante, então as repúblicas muçulmanas
contidas na Federação Russa e a norte da cordilheira, deveriam ser incluídas na Ásia,
Neste trabalho, decidimos considerar a cordilheira do Cáucaso, que aliás tem
bastantes caraterísticas que dificultam a sua travessia, como o separador entre a
Europa e a Ásia; e que permitem seja um caleidoscópio de etnias e culturas.
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No relatório Global Wealth Review-2018, pode observar-se o crescimento da riqueza
nos principais países (em %), recente e no futuro, onde está bem presente o declínio
da Europa; os indicadores têm pouco a ver com o PIB mas bastante com a valorização
dos capitais em bolsa.
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É evidente que neste contexto de integração dos três continentes – Europa, Ásia e
África – haverá lugar também para uma ligação mais profunda da América Latina,
pese embora o seu caráter excêntrico naquele contexto; mas que poderá proceder
a uma integração entre as duas margens do Pacífico (o Acordo de Associação
Transpacífico (TPP) foi lançado, mesmo com a recusa de Trump e a China de fora
mas, incluindo, entre outros, o Japão e a Austrália, o Chile, o México e o Peru).
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Alfred Mahan foi um oficial de marinha norte-americana que considerou necessário para a
preponderância das potências imperiais (Grã-Bretanha e depois, os EUA) a posse de uma marinha de
guerra poderosa e bases navais para rodear as grandes massas continentais, mormente na Ásia
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Ainda que sempre crescente em todo o período, a população asiática, no contexto
global, mostra que o seu peso relativo sobe regularmente de 54.3% em 1950 para
60.7% em 2000, decaindo um pouco até 2016 (59.8%), prevendo-se para 2050 que
corresponda a uma parcela do total, próxima da registada um século atrás; isto é,
53.8% do total. Essa previsão de perda de peso relativo da Ásia deverá ocorrer
também, especialmente na Europa e também de modo mais ligeiro, na América; todos
esses três continentes perdem representatividade na população mundial face à África
como vimos atrás. Assim, a população asiática que, em 1950 era seis vezes superior à
africana é 3.7 vezes superior em 2016 e sê-lo-á, cerca do dobro em 2050. Quanto à
Europa a situação evolui de modo muito rápido, com a Ásia a ter 2.4 vezes mais
população que a Europa em 1950 e, seis ou 7.3 vezes mais, em 2016 e 2050,
respetivamente. Para além de geografia física indicar a Europa como península
asiática, também a demografia aponta para uma menor relevância no seio da massa
euro-asiática, como também acontece na comparação com a África.
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Próximo e Médio Oriente – Afeganistão, Arábia Saudita, Arménia, Azerbaijão, Bahrein, Emiratos Árabes
Unidos, Entidade sionista, Geórgia, Irão, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Oman, Palestina, Qatar, Síria,
Turquia e Yémen, onde sublinhamos os que considerámos como âncoras regionais.
Ásia Central e Oriental – Bangla Desh, Butão, Brunei Darussalam, Cambodja, Cazaquistão, China
(mantendo em separado, para efeitos de análise a República Popular, Hong-Kong, Macau e Taiwan),
Coreia do Norte, Coreia do Sul, Filipinas, Guam (colónia dos EUA), Índia, Indonésia, Japão, Quirguizistão,
Laos, Malásia, Maldivas, Maurícia, Mongólia, Myanmar, Nepal, Palau, Paquistão, Singapura, Sri Lanka,
Tailândia, Tajiquistão, Timor-Leste, Turquemenistão, Uzbequistão e Vietnam. Os países que
considerámos como âncoras regionais estão identificados com um sublinhado.
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Tendo como referência o ano de 1970 verifica-se que a evolução demográfica da Ásia
no seu total é determinada pela Ásia Central e Oriental que tem uma grande
ponderação no total do continente; e isso dá maior relevo, no gráfico, ao conjunto dos
países do Próximo e Médio Oriente quando observados isoladamente. Olhando para o
gráfico, observa-se que para a Ásia Central e Oriental a população cresce 2.4 vezes,
enquanto para o Próximo e Médio Oriente o aumento é superior a cinco vezes, na
projeção para 2050.
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Comparando a situação dos países âncora e restantes, de África e do Próximo e
Médio Oriente, em 2016 e 2050, observa-se que em África há uma evolução
demográfica aproximada entre os países âncora e os restantes; e que nos países do
Próximo e Médio Oriente as diferenças são muito mais acentuadas. Isto poderá
interpretar-se como uma grande homogeneidade entre as populações africanas, com
índices de crescimento demográfico indiferentes à situação de países âncora ou não;
e que as diferenças de dinamismo económico não diferenciam os níveis de
crescimento demográfico.
nº de vezes a população de 1970
2016 2050
Âncoras - África 3.2 6.3
Âncoras – P M Oriente 2.8 3.4
Restantes - África 3.6 8.1
Restantes – P M Oriente 4.9 8.5
Entre os estados de cultura islâmica a sua maioria tem população sunita, embora os
xiitas sejam dominantes no Irão, no Iraque, no Líbano, no Bahrein, no Azerbaijão e no
Yémen (zaiditas) ou constituam importantes minorias na Arábia Saudita, no
Afeganistão, na Síria (alauitas) e na Turquia. Por sua vez, no Oman, o predomínio
cabe aos ibaditas, uma outra expressão do islamismo.
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Quanto à demografia na região, observa-se grande diversidade de situações no
período 1970/2016. Em primeiro lugar, referimos o assombroso ritmo de crescimento
demográfico nos Emiratos (83.4% ao ano), seguidos do Qatar com “apenas” 48.8%
anuais; em termos reais significa a passagem de 235 mil para 9270 mil no primeiro
caso e de 110 para 2570 mil no segundo, na sequência de um inusitado recurso à
entrada de imigrantes. Outros casos de elevada média de crescimento populacional
registam-se no Bahrein, no Oman, na Jordânia, na Arábia Saudita e no Kuwait.
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Evolução da população do Próximo e Médio Oriente em 2050 face a 2016
Outra questão que vai subsistindo na região prende-se com a identidade curda,
repartida por quatro países – Turquia, Iraque, Irão e Síria – com maior peso na
população total dos dois primeiros. As guerras no Iraque elevaram as capacidades de
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organização autónoma dos curdos, beneficiando, primeiro, da proteção dos EUA
contra Saddam; e depois do mesmo apoio face à ameaça do ISIS sobre o território
curdo, como também do governo iraquiano (xiita) instalado em Bagdad. Na Síria, as
comunidades curdas, vivendo junto da fronteira turca beneficiaram da incapacidade
militar inicial de Assad perante as investidas do ISIS e outros grupos, para gerarem
áreas de auto-organização, no seguimento da expulsão dos jihadistas das áreas de
implantação curda na Síria. Sabe-se, porém que para o governo turco, o seu exemplo
é visto como um fator de contágio para a população curda vivendo na Turquia; como
se observou na recente investida turca sobre Afrin.
Por seu turno, a Turquia procede a uma política de ziguezagues. Dá uma natural
prioridade ao não levantamento da sua população curda; negociou petróleo, numa
fase inicial, com o ISIS que combatia Assad; aceitou a oferta monetária da UE para
controlar/reter os refugiados a caminho da Europa; esperou o momento certo para
ocupar a zona curda síria de Afrin e, apesar de ser membro da NATO, vem
estabelecendo pontes com a Rússia, com promessas de compra de armamento
sofisticado.
A Arábia Saudita há vários anos, com o apoio dos emires do Golfo, envolveu-se numa
guerra civil no Yémen, com o objetivo de ter um acesso mais alargado ao Índico, com
o domínio da margem oriental do Bab el Mandeb e alargar o predomínio wahabita na
região, em detrimento do xiismo. Uma guerra pouco mediática para a qual a
“comunidade internacional”, alinhada pelo seu tenor Trump (como antes por Obama)
olha para o lado; tal como acontece com o abate de manifestantes palestinianos pelos
sionistas. que se tornou também uma rotina.
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Sobre o jihadismo veja-se http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/11/o-jihadismo-os-semeadores-de-
ventos-e_24.html ou http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/11/o-jihadismo-os-semeadores-de-ventos-
e_24.html (english version)
5
Sobre as intervenções da “comunidade internacional” veja-se
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bin Laden e do mullah Omar. Com a formação de um governo afegão apoiado pelos
EUA, estes ensaiaram uma retirada; porém, atualmente, os talibans controlam grande
parte do território e o governo e a embaixada dos EUA, estão acantonados numa
“zona verde” de Cabul, fortemente defendida, com a presença acrescida de tropas
americanas, com soldados portugueses a ajudar na segurança do aeroporto da
capital. Neste contexto, a China negoceia com o governo afegão áreas de exploração
mineira e, certamente saberá como não ser vítima de ataques dos talibans.
(continua)
Europa
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/05/evolucao-da-populacao-mundial-19502050.html
África
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/05/evolucao-da-populacao-mundial-19502050_26.html
http://grazia-tanta.blogspot.com/
https://pt.scribd.com/uploads
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/04/os-naufragios-no-mediterraneo-e-da-ue.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/05/the-empires-warlike-manoeuvres-in.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/08/o-militarismo-instrumento-politico-e_18.html
http://grazia-tanta.blogspot.com/2012/02/as-manobras-guerreiras-do-imperio-no.html
http://www.slideshare.net/durgarrai/comunicado-da-pagan-sobre-a-interveno-ocidental-na-lbia
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/oneoliberalismo-e-geopolitica-no.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/opentagono-e-nato.html
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