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Em relação ao turismo, este setor é considerado um dos vários alvos para os projetos
previstos até 2020; entretanto, não estão relacionadas as grandes obras públicas
indicadas para o setor e sim uma aposta na continuidade dos investimentos privados
(Mercado), posto que o Plano considera a fase de estruturação já completada. Em forma
de síntese, podemos afirmar que o plano não considerou os novos elementos de
articulação entre Turismo e Imobiliário, assim como não realizou esforço em focalizar
as conta do PIB e não observar com maior atenção os fluxos de investimento
estrangeiro no setor turístico, nem a natureza, as especificidades e os riscos desse
investimento.
Um segundo Plano, de escala microregional, é o Plano Estratégico da Região
Metropolitana de Natal (GOVERNO DO RN, 2007); este plano é um exemplo
ilustrativo da importância do “imobiliário-turístico” na realidade do Rio Grande do
Norte. De fato, um dos elementos de análise que tal plano possui diferentemente do
plano nacional é a presença do turismo e do imobiliário formando uma nova cadeia e
arranjos; este fator é um diferencial que permitiu ao plano metropolitano (envolvendo
uma população de aproximadamente 1,2 milhão de habitantes) focalizar o turismo de
um modo diferenciado, construindo alguns elementos de “amortecimento” entre a
dinâmica de crescimento internacional e os possíveis riscos do mercado financeiro.
Entre as alternativas de amortecimento dos possíveis impactos do “imobiliário-turístico”
sobre o território esta a formulação de um controle público da terra urbana e rural
(“terra suporte”), diversificação dos arranjos produtivos impedindo a formação de uma
setorização intensiva, capacidade de atração de visitantes nacionais evitando a extrema
dependência do mercado internacional, entre outros projetos.
Uma das dificuldades desse plano microregional é atuar na escala metropolitana; de
fato, o pólo de Natal acaba concentrando a maior parte das atividades econômicas e
gerenciais, relegando os outros municípios a uma menor capacidade de interferência nas
decisões. O plano, nesse sentido, estrutura novas estratégias de gestão territorial por
meio da ênfase em valores comuns como meio ambiente e um redesenho da
acessibilidade, tentando integrar o litoral com as áreas internas com o sentido de evitar a
formação de guetos na linha de praia. Em relação ao turismo são incentivados roteiros
não apenas costeiros, mas também um turismo baseado em trilhas ecológicas e
gastronômicas por outras áreas, não necessariamente litorânea.
Considerações Finais
Nos últimos dez anos, o que se destaca no nordeste brasileiro são as modificações em
sua estrutura produtiva sem abandonar de modo significativo os baixos índices sociais.
Isso significa que o crescimento econômico, notadamente das áreas litorâneas e
turísticas , não alterou o desenho de concentração de renda e pobreza relativa.
Esse primeiro elemento de reflexão é importante para demarcar que a estruturação do
território que o Estado provocou e que foi acompanhado pelos investimentos privados,
ainda estão limitados a ampliação de uma competitividade econômica regional mas
ainda não proporcionaram uma integração social ou produtiva. Cada vez mais essa
integração regional à economia global ocorre via o turismo e, mais recentemente
articulada ao mercado imobiliário.
A crise imobiliária e financeira por qual passam os principais centros desenvolvidos
podem ter efeitos no cenário regional, caso o modelo escolhido de desenvolvimento
esteja fortemente comprometido com a idéia de um Mercado competitivo e “racional”; o
imobiliário envolve grandes parcelas do território e meio ambiente para se valorizar e o
consumo desse espaço possui impacto na organização social das populações litorâneas.
Uma reflexão final aponta para um novo “redesenho territorial” desta área
metropolitana, formada pelos municípios costeiros. Não são apenas impactos de ordem
social e econômica que se apresentam como desafios, isto é, alteração na relação de
emprego e renda entre sede e aglomerado e entre sede e pólo, mas alterações nos níveis
de integração e configuração da rede urbana. O meio ambiente e os recursos naturais
estão cada vez mais pressionados, ao mesmo tempo em que se transformam em
importantes ativos econômicos, disputados pelos agentes do setor turístico e imobiliário.
Outro impacto importante é na habitação de interesse social, na medida em que o
aumento no valor do solo litorâneo impede que as classes mais pobres possam continuar
estabelecidas, o que gera um aumento no déficit habitacional nas sedes e distritos.
Como o eixo litorâneo se torna o espaço efetivo de conurbação entre os municípios, é
perceptível o aumento da densidade populacional, aumento dos valores fundiários e
maior pressão sobre os recursos naturais existentes. Este fato pode acarretar, como já o
vem fazendo em alguns pontos do território, uma maior atratividade de novas
populações advindas de municípios não costeiros, em busca de emprego ou moradia,
implicando no rebaixamento das condições de vida e dos serviços públicos oferecidos –
parcialmente – pelo poder público, além de uma pressão sobre a infra-estrutura urbana
instalada.
A “competição” no ambiente do Mercado pelo monopólio das melhores localizações,
paisagens e “espaços de lazer”, contribui para uma recente modificação na tradicional
articulação entre os elementos constituintes do território regional. Se os níveis de
crescimento econômico entre as diversas áreas desse litoral turistificado ainda não se
dão uniformemente entre os nove estados, o novo planejamento (seja macro ou micro-
regional) poderia se apoiar realmente em um conceito de sustentabilidade não apenas
ambiental (sempre presente) mas também econômica. O objetivo deveria ser a formação
de um território regional onde as Oportunidades não fiquem apenas para o Mercado e os
Riscos apenas para o Estado.
Notas
[1] Este trabalho está vinculado ao Projeto Milênio da Rede Observatório das Metrópoles – Núcleo
Região Metropolitana de Natal.
[2] Lei no 3.692, de 15 de dezembro de 1959. A Sudene era uma autarquia ligada à Presidência da
República e entre 1959 a 1964, Celso Furtado foi responsável pela estratégia de atuação do órgão.
[3] Segundo Araújo (1997, p.30): “os espaços mais dinâmicos atraem projetos federais de infra-estrutura
(que ampliam sua acessibilidade) com investimentos na ordem de R$ 5,7 bilhões enquanto os demais
estados ficam com apenas R$ 195 milhões para o biênio 1997-98 ou seja, apenas 3% do total”.
[4] Cf. Ferreira & Silva (2007).
[5] Como dito acima, o Nordeste é composto de nove estados e todos com área litorânea. Entretanto,
como recorte espacial e de dados para esta pesquisa comparativa, trabalha-se com quatro estados com
dinâmica e pólos metropolitanos diferenciados – Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. Outro
fator refere-se as Regiões Metropolitanas desses quatro estados fazerem parte do projeto Instituto do
Milênio (Observatório das Metrópoles) fato que tem permitido o trabalho conjunto com outros
pesquisadores e o cruzamento de dados e análises para as quatro realidades.
Referências
ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Herança de diferenciação e futuro de fragmentação. In.
Estudos Avançados: dossiê nordeste. São Paulo: Edusp,Volume 11, n.29,1997.
BENI, Mario Carlos. Globalização do turismo. Megatendências do setor e a realidade
brasileira. São Paulo: ALEPH, 2003
CARLOS, Ana Fani. Dinâmicas urbanas na metrópole de São Paulo. In. LEMOS,
Amália Inês Geraiges; ARROYO, Mônica; SILVEIRA, Maria Laura. América Latina:
cidade, campo e turismo. São Paulo: CLACSO, 2006.
DANTAS, Eustógio Wanderley Correia. ARAGÃO, Raimundo Freitas. LIMA, Ernady
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Gráfica,
EMBRATUR. Pesquisa Anual da Conjuntura Econômica do Turismo. Brasília:
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FERREIRA, Angela Lúcia de Araújo; SILVA, Alexsandro Ferreira Cardoso da. Perdas
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