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Secretaria de Estado de Educação

Esporte e Lazer do Estado de


Mato Grosso - SEDUC/MT

Técnico Administrativo Educacional

VOLUME 2

História de Mato Grosso


PERÍODO COLONIAL. 1. Os bandeirantes: escravidão indígena e exploração do ouro; 2. A fundação de Cuiabá:
Tensões políticas entre os fundadores e a administração colonial; 3. A fundação de Vila Bela da Santíssima
Trindade e a criação da Capitania de Mato Grosso; 4. A escravidão negra em Mato Grosso. .................................1
PERÍODO IMPERIAL. 1. A crise da mineração e as alternativas econômicas da Província; 2. A Rusga; 3. Os
quilombos em Mato Grosso; 4. Os Presidentes de Província e suas realizações; 5. A Guerra da Tríplice Aliança
contra o Paraguai e a participação de Mato Grosso; 6. A economia mato-grossense após a Guerra da Tríplice
Aliança contra o Paraguai; 7. O fim do Império em Mato Grosso. ...............................................................................3
PERÍODO REPUBLICANO. 1.O coronelismo em Mato Grosso; 2. Economia de Mato Grosso na Primeira
República: usinas de açúcar e criação de gado; 3. Relações de trabalho em Mato Grosso na Primeira República;
4. Mato Grosso durante a Era Vargas: política e economia; 5. Política fundiária e as tensões sociais no campo;
6. Os governadores estaduais e suas realizações; ....................................................................................................... 10
7. Tópicos relevantes e atuais de política, economia, sociedade, educação, tecnologia, energia, relações
internacionais, desenvolvimento sustentável, segurança, ecologia e suas vinculações históricas. ................... 15

Geografia de Mato Grosso


1. Mato Grosso e a região Centro-Oeste ...........................................................................................................................1
2. Geopolítica de Mato Grosso ............................................................................................................................................1
3. Ocupação do território ....................................................................................................................................................2
4. Aspectos físicos e domínios naturais do espaço mato-grossense ...........................................................................2
5. Aspectos político-administrativos ................................................................................................................................3
6. Aspectos socioeconômicos de Mato Grosso ................................................................................................................3
7. Formação étnica ...............................................................................................................................................................5
8. Programas governamentais e fronteira agrícola mato-grossense ..........................................................................8
9. A economia do Estado no contexto nacional ............................................................................................................ 10
10. A urbanização do Estado ........................................................................................................................................... 15

Noções Básicas de Administração Pública


1. Estado, governo e administração pública: conceitos, elementos, poderes e organização; natureza, fins e
princípios. ..............................................................................................................................................................................1
2. Organização administrativa do Estado.........................................................................................................................3
3. Administração direta e indireta.................................................................................................................................. 10
4. Agentes públicos: espécies e classificação, poderes, deveres e prerrogativas do cargo, emprego e função
públicos. .............................................................................................................................................................................. 17
5. Poderes administrativos. ............................................................................................................................................. 23
6. Atos administrativos: conceitos, requisitos, atributos, classificação, espécies e invalidação. ........................ 27
7. Controle e responsabilização da administração: controle administrativo, controle judicial, controle
legislativo, ........................................................................................................................................................................... 31
Responsabilidade civil do Estado. .................................................................................................................................. 34

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Noções Básicas de Ética e Filosofia
1. Fundamentos da Filosofia. 2. Filosofia moral: Ética ou filosofia moral. 3. Consciência crítica e filosofia. .......1
4. A relação entre os valores éticos ou morais e a cultura ......................................................................................... 12
5. Juízos de fato ou de realidade e juízos de valor ....................................................................................................... 14
6. Ética e cidadania............................................................................................................................................................ 16
7. Racionalismo ético ........................................................................................................................................................ 20
8. Ética e liberdade ............................................................................................................................................................ 21

Políticas Públicas da Educação


1. Políticas públicas no contexto de uma sociedade. 1.1 Políticas públicas no contexto educacional. .................1
2. Papel da escola como formadora de valores e da ética social. .................................................................................4
3. As políticas para o currículo nacional...........................................................................................................................6
4. Políticas educacionais como políticas públicas de natureza social. ..................................................................... 11
5. Reformas neoliberais para a educação. 5.1 Implicações das políticas públicas para a organização do trabalho
escolar. ................................................................................................................................................................................ 13
6. A História da educação no Brasil: fundamentos históricos. .................................................................................. 17
7. Educação, história e cultura afro-brasileira. ............................................................................................................ 20
8. Educação no mundo contemporâneo: desafios, compromissos e tendências da sociedade, do conhecimento
e as exigências de um novo perfil de cidadão............................................................................................................... 23
9. A escola e a pluralidade cultural................................................................................................................................. 26
10. Currículo: elaboração e prática. ............................................................................................................................... 45
11. O desenvolvimento do projeto político pedagógico da escola. Educação inclusiva: fundamentos legais,
conceito e princípios, adaptações curriculares, a escola inclusiva. .......................................................................... 49

Redação Oficial (Federal)


Normas estabelecidas no Manual de Redação da Presidência da República, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.htm......................................................................................1

Noções Básicas de Arquivo


1. Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991 - Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá
outras providências. ............................................................................................................................................................1
2. Gestão de Documentos. ...................................................................................................................................................2
3. Arquivo Intermediário. 4. Arquivo Permanente. ........................................................................................................4

Raciocínio Lógico e Matemático


1. Resolução de problemas envolvendo frações, conjuntos, porcentagens, sequências (com números, com
figuras, de palavras). ...........................................................................................................................................................1
2. Raciocínio lógico-matemático: proposições, conectivos, equivalência e implicação lógica, argumentos
válidos. ............................................................................................................................................................................... 20

Relações Interpessoais
1. Relações Humanas/interpessoal;..................................................................................................................................1
2. Comunicação Interpessoal; ............................................................................................................................................2
3. Característica de um bom atendimento; ......................................................................................................................4
4. Postura Profissional; .......................................................................................................................................................6
5. Integração;.........................................................................................................................................................................9
6. Empatia; ......................................................................................................................................................................... 10
7. Capacidade de ouvir; ................................................................................................................................................... 11
8. Argumentação Flexível. ................................................................................................................................................ 11
Questões.............................................................................................................................................................................. 14

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Estatística Básica
1. Conceito de Estatística. ..................................................................................................................................................1
2. Fenômenos aleatórios. ...................................................................................................................................................2
3. População e amostra. ......................................................................................................................................................4
4. Distribuição de frequência. ............................................................................................................................................6
5. Variáveis discretas e variáveis contínuas. ..................................................................................................................7
6. Séries estatísticas e gráficos. ...................................................................................................................................... 11
7. Medidas de posição. ..................................................................................................................................................... 15
8. Medidas de Dispersão. ................................................................................................................................................. 19

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HISTÓRIA DE MATO GROSSO

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APOSTILAS OPÇÃO

Os Bandeirantes2

Expansão Territorial: Bandeiras e Bandeirantes

As bandeiras, tradicionalmente definidas como


expedições particulares, em oposição às entradas, de caráter
oficial, contribuíram decisivamente para a expando territorial
do Brasil Colônia. A pobreza de São Paulo, decorrente do
fracasso da lavoura canavieira no século XVI, a possibilidade
PERÍODO COLONIAL. da existência de metais preciosos no interior e,
1. Os bandeirantes: escravidão particularmente, a necessidade de mão-de-obra para o açúcar
indígena e exploração do ouro; nordestino, durante a União Ibérica, levaram os paulistas a
organizar a caça ao índio, o bandeirismo de contrato e a
2. A fundação de Cuiabá: pesquisa mineral.
Tensões políticas entre os
fundadores e a administração A caça ao Índio
colonial; Inicialmente a caça ao índio (Preação) foi uma forma de
3. A fundação de Vila Bela da suprir a carência de mão-de-obra para a prestação de serviços
Santíssima Trindade e a criação domésticas aos próprios paulistas. Logo, porém, transformou-
se em atividade lucrativa, destinada a complementar as
da Capitania de Mato Grosso; necessidades de braços escravos, bem como para a triticultura
4. A escravidão negra em Mato paulista. Na primeira metade do século XVII, os vicentinos
Grosso. realizaram incursões, principalmente contra as reduções
jesuíticas espanholas, resultando na destruição de várias
missões, como as do Guairá, Itatim e Tape, por Antônio Raposo
Período Colonial1 Tavares. Nesse período, os holandeses, que haviam ocupado
Ocupações indígenas existiam no alto do rio Xingu desde o uma parte do Nordeste açucareiro, também conquistaram
século IX. A primeira vez que o “homem branco” pisou em solo feitorias de escravos negros na África, aumentando a escassez
mato-grossense foi por volta de 1525, quando o navegante de escravos africanos no Brasil.
Pedro Aleixo Garcia percorreu as águas dos rios Paraná e
Paraguai em direção à Bolívia. O bandeirismo de contrato
Já no início do século XVIII, em 1718, o bandeirante
Antônio Pires de Campos informou os colonizadores que a A ação de bandeirantes paulistas contratados pelo
região era boa para escravizar índios. Tempos depois, foi governador-geral ou por senhores de engenho do Nordeste,
descoberto o potencial aurífero da região, este é considerado com o objetivo de combater índios inimigos e destruir
o início da história do Mato Grosso. quilombos, corresponde a uma fase do bandeirismo na
Diversos garimpeiros portugueses e espanhóis migraram segunda metade do século XVII. O principal acontecimento
em busca de ouro e diamante. No período, os jesuítas desse ciclo de bandeiras foi a destruição de um conjunto de
realizaram missões entre os rios Paraguai e Paraná, com o quilombos situados no Nordeste açucareiro, conhecido
intuito de assegurar os limites das terras portuguesas, que, genericamente como Palmares.
após o Tratado de Tordesilhas, faziam limite com o lado A atuação do bandeirismo foi de fundamental importância
espanhol. para a ampliação do território português na América. Num
Em 1748 foi fundada a capitania de Mato Grosso. Portugal espaço muito curto, os bandeirantes devassaram o interior da
ofereceu isenções e privilégios para quem desejasse povoar o colônia, explorando suas riquezas e arrebatando grandes
local e ainda financiou expedições que partiam de qualquer áreas do domínio espanhol, como é o caso das missões do Sul
lugar do Brasil, respeitando os limites de Tordesilhas. Anos e Sudeste do Brasil. Antônio Raposo Tavares, depois de
mais tarde, as bandeiras, como ficaram conhecidas as destruí-las, foi até os limites com a Bolívia e Peru, atingindo a
expedições, passaram a ser financiadas pelos paulistas, que foz do rio Amazonas, completando, assim, o famoso périplo
ultrapassaram os limites espanhóis. brasileiro. Por outro lado, o bandeirantes agiram de forma
As expedições paulistas visavam interesses econômicos. violenta na caça de indígenas e de escravos foragidos,
Serviam para captação de mão de obra indígena, ouro e pedras contribuindo para a manutenção do sistema escravocrata que
preciosas. Para fiscalizar a exploração de recursos naturais, a vigorava no Brasil Colônia.
capitania de Mato Grosso era subordinada à de São Paulo,
comandada por Rodrigo César de Menezes. O governador Mato Grosso
Menezes mudou-se para lá e elevou a capitania à categoria de As primeiras excursões feitas no território do mato grosso
vila, que passou-se a chamar Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá. datam de 1525, quando Pedro Aleixo Garcia vai em direção à
O termo “Mato Grosso” foi utilizado pelo primeira vez pelos Bolívia, seguindo as águas dos rios Paraná e Paraguai.
irmãos Fernando e Artur Paes de Barros, em 1734, quando Posteriormente portugueses e espanhóis são atraídos à região
buscavam índios Parecis e descobriram uma mina de ouro no graças aos rumores de que havia muita riqueza naquelas
rio Galera, no no vale do Guaporé. Chamaram o local de Minas terras ainda não exploradas devidamente. Também vieram
do Mato Grosso. jesuítas espanhóis que construíram missões entre os rios
Paraná e Paraguai.
Assim, em 1718, um bandeirante chamado Pascoal
Moreira Cabral Leme subiu pelo rio Coxipó e descobriu
enormes jazidas de ouro, dando início à corrida do ouro, fato
que ajudou a povoar a região. No ano seguinte foi fundado o

1 https://www.resumoescolar.com.br/historia-do-brasil/historia-do-mato- 2 http://www.infoescola.com/mato-grosso/historia-do-mato-grosso/
grosso/

História de Mato Grosso 1


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APOSTILAS OPÇÃO

Arraial de Cuiabá. Em 1726, o Arraial de Cuiabá recebeu novo Capitania de São Paulo, Rodrigo César de Menezes, como
nome: Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Em 1748, foi representante do Reino de Portugal. No dia 1º de janeiro de
criada a capitania de Cuiabá, lugar que concedia isenções e 1727, Cuiabá é elevada à categoria de vila, com o nome de Vila
privilégios a quem ali quisesse se instalar. Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Em 1748, foi criada a
As conquistas dos bandeirantes, na região do Mato Grosso, Capitania de Cuiabá, concedendo a coroa portuguesa isenções
foram reconhecidas pelo Tratado de Madrid, em 1750. No ano e privilégios a quem ali quisesse se instalar. Foram feitas
seguinte, o então capitão-general do Mato Grosso, Antonio diversas expedições financiadas por Portugal. Essas
Rolim de Moura Tavares, fundou, à margem do rio Guaporé, a expedições partiam de qualquer lugar do Brasil e não
Vila Bela da Santíssima Trindade. Entre 1761 e 1766, ultrapassavam o Tratado de Tordesilhas. Mais tarde, as
ocorreram disputas territoriais entre portugueses e chamadas bandeiras foram financiadas pelos paulistas.
espanhóis, depois daquele período as missões espanholas e os Somente eles foram ao oeste, ultrapassando a linha de
espanhóis se retiraram daquela região, mas o Mato Grosso Tordesilhas.
somente passou a ser definitivamente território brasileiro
depois que os conflitos por fronteira com os espanhóis A Fundação de Vila Bela da Santíssima Trindade e a
deixaram de acontecer, em 1802. Capitania de Mato Grosso4
Primeira capital de Mato Grosso, Vila Bela da Santíssima
O Ciclo do Ouro Trindade foi fundada em 19 de março de 1752, pelo capitão
Quando foi divulgada a notícia da descoberta de jazidas dom Antonio Rolim de Moura, que chegou à região com ordens
auríferas, muitas pessoas dirigiram-se para as regiões do ouro, régias para instituir o governo da Capitania de Mato Grosso,
em especial para o atual território do estado de Minas Gerais. desmembrada da Capitania de São Paulo.
Praticamente todas as pessoas que que se dirigiram para a Vila Bela foi escolhida especialmente para a instalação da
região o fizeram na intenção de dedicar-se exclusivamente na primeira capital mato-grossense, com projeto elaborado em
exploração do metal, deixando de lado até mesmo atividades Portugal. Pode ser considerada uma das primeiras cidades
essenciais para a sobrevivência, como a produção de planejadas do país. Até projeto para implantação da primeira
alimentos, o que gerou uma profunda escassez de mercadorias Faculdade de Medicina na capital de Vila Bela, nesse período
nas Minas Gerais. Era comum entre os anos de 1700 e 1730 a colonial, foi determinado pela coroa portuguesa, o que não foi
ocorrência de crises de fome na região caso o acesso a outras concretizado.
regiões das quais os produtos básicos eram adquiridos fossem D. Rolim de Moura, primo do rei de Portugal, d. João V,
interrompidas. A situação começa a mudar com a expansão de recebeu a recomendação para “ter vigilância e evitar
novas atividades, e com a melhoria das vias de comunicação. desavenças com os vizinhos espanhóis”. O parentesco entre as
famílias dos reis de Portugal e Espanha, associado à habilidade
Exploração do Ouro no Mato Grosso e diplomacia de Rolim de Moura, evitou confrontos com
Com a exploração do interior do Brasil, promovida castelhanos e jesuítas, ao mesmo tempo em que fixou colonos
principalmente pela coroa portuguesa e por alguns senhores na margem esquerda do Guaporé, fundou aldeias jesuítas,
de engenho, no início do século XVIII, algumas bandeiras expandindo mais ainda a fronteira portuguesa ocidental.
paulistas (como eram chamadas as expedições) alcançaram a Com a colonização portuguesa ultrapassando a linha
região do Coxipó, em busca de índios para preação. Em meio imaginária do Tratado de Tordesilhas (1494), todas as
aos conflitos com os indígenas, as “Minas de Cuyabá” foram questões de fronteiras foram resolvidas por tratados entre
encontradas, atraindo um imenso contingente populacional Portugal e Espanha: o de Madri (1750), o marco de Jauru
que rumava para região em busca do ouro. (1754), o de El Pardo (1761), de Ildefonso (1777), entre
O metal foi de extrema importância para o outros.
desenvolvimento da região. Com o grande fluxo migratório em O nome “Mato Grosso” surgiu em 1735, com a descoberta
busca de riquezas, houve a elevação a Arraial de Cuiabá em de minas de ouro na Chapada dos Parecis, área de mata
1719 e Villa de Cuiabá em 1727. Com a atenção voltada para o fechada entre os rios Jauru e Guaporé. Essas expansões deram
ouro, a produção de gêneros alimentícios era modesta, origem ao Tratado de Madri (1750) com o famoso acordo “Uti
causando rapidamente a escassez de alimentos. A falta de Possidetis”, ou seja, posse do território onde estivesse
segurança e o posterior esgotamento das jazidas contribuíram efetivamente ocupando. A Coroa Portuguesa decidiu garantir
para a decadência da região, acentuada ainda mais com a a posse do novo território, criando a capitania de Mato Grosso.
notícia da descoberta de novas jazidas na região do Guaporé. Capital de Mato Grosso de 1752 a 1820, Vila Bela da
Santíssima Trindade teve grande destaque político e
A Fundação de Cuiabá3 econômico, garantindo a expansão e preservação do território
A cidade de Cuiabá foi fundada oficialmente no dia 08 de fronteiriço. A partir de 1820, dividiu com Cuiabá a
Abril de 1719. A história registra que os primeiros indícios de administração provincial. Foi o ano da descentralização
Bandeirantes paulistas na região, onde hoje fica a cidade, política e Vila Bela passou a denominar-se cidade de Mato
datam de 1673 e 1682, quando da passagem do bandeirante Grosso.
Manoel de Campos Bicudo pela região. Ele fundou o primeiro Em 1835, a capital de Mato Grosso passa a ter sede em
povoado da região, no ponto onde o rio Coxipó deságua no rio Cuiabá. A cidade de Mato Grosso recuperou o nome definitivo
Cuiabá, localidade batizada de São Gonçalo. de Vila Bela da Santíssima Trindade pela Lei Estadual nº 4.014,
Em 1718, chega ao local, já abandonado, a bandeira do de 29 de novembro de 1978.
paulista de Sorocaba, Pascoal Moreira Cabral, que depois de As divisões e emancipações de distritos dos municípios de
uma batalha perdida para os índios coxiponés, viu-se Vila Bela e Cáceres, no final do século XX, deram origem aos 22
compensado pela descoberta de ouro, passando a se dedicar novos municípios dessa região sudoeste mato-grossense, que
ao garimpo. fazem parte da faixa fronteiriça de 500 km com a Bolívia.
Em 08 de Abril de 1719, Pascoal Moreira Cabral assina a
ata da fundação de Cuiabá, no local conhecido como Forquilha,
às margens do rio Coxipó. Foi a forma encontrada para
garantir os direitos pela descoberta à Capitania de São Paulo.
Em 1726, chega à região o capitão-general governador da

3 http://www.mtnacopa.mt.gov.br/imprime.php?sid=287&cid=76790 4 http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=408725

História de Mato Grosso 2


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Escravidão Negra e os Quilombos no Mato Grosso5 Pereira e Cáceres, foi organizada uma aldeia — a Aldeia da
Carlota — que visava o interesse português em garantir a
Como marco oficial, a História de Mato Grosso iniciou-se, posse da terra num local tão isolado. Os moradores da aldeia
em 1719, nas margens do rio Coxipó-Mirim, com a descoberta contavam com o apoio do governador.
de ouro pelos homens que acompanhavam o bandeirante Outros quilombos também foram organizados em terras
Pascoal Moreira Cabral. mato-grossenses durante os séculos XVIII e XIX, podendo ser
Com o sucesso da mineração e a necessidade de garantir registrados aqui, apenas para exemplificar, os quilombos
para Portugal, a posse de terras além Tratado de Tordesilhas, "Mutuca" e "Pindaituba", situados na Chapada dos Guimarães,
foi criado em 1748 a Capitania de Mato Grosso, sendo a os "Sepoutuba" e "Rio Manso", próximos a Vila Maria (atual
primeira capital Vila Bela da Santíssima Trindade, na Cáceres).
extremidade oeste do território colonial. A historiadora Elizabeth Madureira refere-se à
Para trabalhar na mineração, chegaram, no século XVIII, organização de 11 quilombos em Mato Grosso, porém registra
em Mato Grosso, os primeiros escravos de origem africana. o pouco que ainda foi percorrido e pesquisado sobre o assunto.
Como resistência à escravidão, as fugas foram constantes,
sendo individuais ou coletivas, formando diversos quilombos.
Por ocasião da presença da capital Vila Bela da Santíssima PERÍODO IMPERIAL.
Trindade a região do vale do rio Guaporé foi onde houve maior
concentração dessas aldeias de escravos fugitivos.
1. A crise da mineração e as
O quilombo do Piolho ou Quariterê, no final do século XVIII, alternativas econômicas da
localizado próximo ao rio Piolho, ou Quariterê, reuniu negros Província;
nascidos na África e no Brasil, índios e mestiços de negros e
índios (cafuzos). José Piolho, provavelmente foi o primeiro
2. A Rusga;
chefe do quilombo. Depois, assumiu o poder sua esposa, 3. Os quilombos em Mato
Teresa. Grosso;
Fugidos da exploração branca, os habitantes do quilombo
conviviam comunitariamente em uma fusão de elementos
4. Os Presidentes de Província e
culturais de origem indígena e africana. Os homens caçavam, suas realizações;
lenhavam, cuidavam dos animais e conseguiam mel na mata; 5. A Guerra da Tríplice Aliança
as mulheres preparavam os alimentos e fabricavam panelas
com barro, artesanato e roupas.
contra o Paraguai e a
As dificuldades de abastecimento, principalmente de participação de Mato Grosso;
escravos, com que constantemente conviviam os habitantes da 6. A economia mato-grossense
região guaporeana, levou-os a organizar uma bandeira para
atacar os escravos fugitivos.
após a Guerra da Tríplice
O poder público, através da Câmara Municipal de Vila Bela Aliança contra o Paraguai;
da Santíssima Trindade, e os proprietários de escravos 7. O fim do Império em Mato
patrocinaram a bandeira para destruir o quilombo e
recapturar seus moradores.
Grosso.
A bandeira contendo cerca de trinta homens e comandada
por João Leme de Prado, percorreu um mês de Vila Bela até o
quilombo, e, de surpresa, atacou-o, prendendo quase a (O tópico 3 “Os quilombos em Mato Grosso” foi abordado
totalidade dos moradores. Alguns morreram no combate que junto de “A escravidão negra em Mato Grosso”, no Período
se travou, outros fugiram. Colonial.).
Os escravos que sobreviveram foram capturados e levados
para Vila Bela, sendo colocados para reconhecimento público, Em 1824, quando entrou em vigor a Constituição Imperial
a mando do capitão-general de Mato Grosso Luís de do Brasil, as capitanias tornaram-se províncias. Mato Grosso
Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres e após o ato de foi regido por governo provisório constitucional até o ano
reconhecimento, os escravos foram submetidos a outros seguinte, quando José Saturnino da Costa Pereira assumiu o
momentos de castigos, com surras, tendo parte de suas orelhas governo. Nesse período ocorreu uma expedição russa,
cortadas e tatuados o rosto com a letra "F" — de Fugitivo feita chefiada pelo Barão de Langsdorff, que realizou o primeiros
com ferro em brasa. registro de fatos e imagens da época. No mesmo ano Costa
O objetivo da repressão era intimidar novas fugas, porém, Pereira, através de negociações, ainda paralisou o avanço de
a vontade, o desejo e a luta pela liberdade era maior que essa 600 soldados chiquiteanos que iam para a região do Rio
humilhação. Tal conquista esteve presente por um bom tempo Guaporé.
e em 1791 — duas décadas após a primeira uma segunda O governante também foi responsável pelo Arsenal da
bandeira foi organizada para recapturar negros fugitivos e, Marinha no porto de Cuiabá e o Jardim Botânico da cidade.
finalmente, acabar com o quilombo do Quariterê. No governo do tenente coronel João Poupino Caldas, em
Comandada pelo alferes de dragão, Francisco Pedro de 1934, a província enfrenta a Rusga, uma revolta de nativos que
Melo, a bandeira de 1791 continha 45 homens que destruíram invadiram casas e comércios portugueses.
as edificações e plantações do quilombo, recapturando sua
população e devolvendo aos seus donos, em Vila Bela. Porém, A crise da Mineração e as Alternativas Econômica da
percebendo a ineficiência dos castigos físicos, os escravos não Província
mais foram torturados publicamente.
Outros quilombos na região também foram destruídos, No século XVIII, o advento da mineração no Brasil
inclusive ao comando do mesmo alferes, Francisco de Melo, possibilitou o desenvolvimento de centros urbanos, a
que assolou os quilombos de "João Félix" e o do "Mutuca". articulação do mercado interno e a própria recuperação
No local do quilombo do Piolho, após sua destruição a econômica portuguesa. Sendo um recurso não renovável, a
mando do capitão-general João de Albuquerque de Melo riqueza conseguida com a extração do ouro começou a se

5 http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=185

História de Mato Grosso 3


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APOSTILAS OPÇÃO

escassear no fim desse mesmo século. Para entender tal uma estrutura política centralizada e a manutenção dos
fenômeno, é preciso buscar os vários fatores que explicam a privilégios que desfrutavam antes da independência.
curta duração que a atividade mineradora teve em terras Com a saída de Dom Pedro I do governo e a instalação dos
brasileiras. governos regenciais, a disputa entre esse dois grupos políticos
Primeiramente, devemos salientar que o ouro encontrado se acirrou a ponto de deflagrar diversas rebeliões pelo Brasil.
nas regiões mineradoras era, geralmente, de aluvião, ou seja, Na região do Mato Grosso, a contenda entre liberais e
depositado ao longo de séculos nas margens e leitos dos rios. conservadores era representada, respectivamente, pela
O ouro de aluvião era obtido através de fragmentos que se “Sociedade dos Zelosos da Independência” e a “Sociedade
desprendiam de rochas matrizes. Entre os séculos XVII e XVIII Filantrópica”. No ano de 1834, as disputas naquela província
era inexistente qualquer recurso tecnológico que pudesse culminaram em um violento confronto que ganhou o nome de
buscar o ouro diretamente dessas rochas mais profundas. Com Rusga.
isso, a capacidade de produção das jazidas era bastante Segundo pesquisas, os liberais mato-grossenses
limitada. organizaram um enorme levante que pretendia retirar os
Como se não bastassem tais limitações, alguns relatos da portugueses do poder com a força das armas. No entanto, antes
época indicam que o próprio processo de exploração do ouro do ocorrido, as autoridades locais souberam do levante
disponível era desprovido de qualquer aprimoramento ou combinado. Com isso, tentando desarticular o movimento,
cuidado maior. Quando retiravam ouro da encosta das decidiram colocar o tenente-coronel João Poupino Caldas –
montanhas, vários mineradores depositavam esse material em aliado dos liberais – como novo governador da província.
outras regiões que ainda não haviam sido exploradas. Dessa Apesar da mudança, o furor dos revoltosos não foi contido.
forma, a falta de preparo técnico também foi um elemento Na madrugada de 30 de maio de 1834, ao som de tiros e
preponderante para o rápido esgotamento das minas. palavras de repúdio contra os portugueses, cerca de oitenta
Além desses fatores de ordem natural, também devemos revoltosos partiram do Campo do Ourique e tomaram o
atribuir a crise da atividade mineradora ao próprio conjunto Quartel dos Guardas Municipais. Dessa forma, conseguiram
de ações políticas estabelecidas pelas autoridades conter a reação dos soldados oficias e tomaram as ruas da
portuguesas. Por conta de sua constante debilidade capital em busca dos “bicudos”. “Bicudo” era um termo
econômica, as autoridades lusitanas entendiam que a depreciativo dirigido aos portugueses que foi inspirado pelo
diminuição do metal arrecadado era simples fruto do nome do bandeirante Manuel de Campos Bicudo, primeiro
contrabando. Por isso, ampliavam os impostos, e não se homem branco que se fixou na região.
preocupavam em aprimorar os métodos de prospecção e A ordem dos “rusguentos” era de saquear a casa dos
extração de metais preciosos. portugueses e matar cada um que se colocasse em seu
Mediante a falta de metais preciosos, vemos que o caminho, levando como troféu a orelha de cada inimigo morto.
enrijecimento da fiscalização e a cobrança de impostos foi Segundo alguns relatos, centenas de pessoas foram mortas
responsável por vários incidentes entre os mineradores e as pela violenta ação que aterrorizou as ruas de Cuiabá. Logo
autoridades portuguesas. Em 1789, esse sentimento de após o incidente, foram tomadas as devidas providências para
insatisfação e a criação da derrama, instigaram a organização que os líderes e participantes da Rusga fossem presos e
da Inconfidência Mineira. Mais do que um levante julgados pelas autoridades.
anticolonialista, tal episódio marcou o desenvolvimento da Em um primeiro momento, Poupino Caldas quis contornar
crise mineradora no território colonial. a situação sem denunciar o ocorrido para os órgãos do
Ao fim do século XVIII, o escasseamento das jazidas de governo regencial. Contudo, não suportando o estado caótico
ouro foi seguido pela recuperação das atividades no setor que se instalou na cidade, pediu socorro do governo central,
agrícola. A valorização de produtos como o algodão, açúcar e o que – de imediato – nomeou Antônio Pedro de Alencastro
tabaco marcaram o estabelecimento do chamado como novo governador da província. Contando com o auxílio
“renascimento agrícola”. Com o advento da revolução da antiga liderança liberal, os cabeças do movimento foram
industrial, o tabagismo e a indústria têxtil alargaram a busca presos e mandados para o Rio de Janeiro.
por algodão e tabaco. Paralelamente, as lutas de Apesar de nenhum dos envolvidos sofrer algum tipo de
independência nas Antilhas permitiram a recuperação de punição das autoridades, o clima de disputa política
mercado do açúcar brasileiro. continuava a se desenvolver em Cuiabá. O último capítulo
No estado, na segunda metade do século XIX, a borracha dessa revolta aconteceu em 1836, quando João Poupino Caldas
despontou como produto de exportação. O látex produzido no – politicamente desprestigiado – resolveu deixar a província.
Mato Grosso era exportado para diversas partes do mundo No exato dia de sua partida, um misterioso conspirador o
industrializado, com destaque para Diamantino, grande centro alvejou pelas costas com uma bala de prata. Na época, esse tipo
produtor e Cuiabá, centro comercial do produto. No território de projétil era especialmente utilizado para matar alguém que
hoje correspondente ao Mato Grosso do Sul, a extração do fosse considerado traidor.
mate, durante aproximadamente 20 anos, também rendeu
bons lucros para a Província. Os Presidentes de Província
Após a Proclamação da República em 1889, várias usinas
açucareiras foram criadas e se desenvolveram. Entre elas se Primeiro Reinado (1822-1831)
destacaram as usinas Conceição, Aricá, Flechas, São Miguel e Luís de Castro Pereira
Itaici. Esses grandes empreendimentos foram, na época, o 20 de agosto de 1821 - 1º de agosto de 1822
maior indício de desenvolvimento industrial de Mato Grosso.
— Jerônimo Joaquim Nunes
A Rusga6 1º de agosto de 1822 - 20 de agosto de 1822
Após o processo de independência, o cenário político
nacional se viu fragmentado em dois setores maiores que — Antônio José de Carvalho Chaves
disputavam o poder entre si. De um lado, os políticos de 20 de agosto de 1822 - 30 de julho de 1823
tendência liberal defendiam a autonomia política das
províncias e a reforma das antigas práticas instauradas — Manuel Alves da Cunha
durante a colonização. Do outro, os portugueses defendiam 30 de julho de 1823

6 http://guerras.brasilescola.uol.com.br/seculo-xvi-xix/rusga-mato-grosso.htm

História de Mato Grosso 4


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APOSTILAS OPÇÃO

José Saturnino da Costa Pereira — Manuel Alves Ribeiro


10 de setembro de 1825 - 3 de maio de 1828 6 de abril de 1848 - 31 de maio de 1848

— Jerônimo Joaquim Nunes — Antônio Nunes da Cunha


— André Gaudie Ley 31 de maio de 1848 - 30 de setembro de 1848
1º de janeiro de 1830 - 21 de janeiro de 1830
Joaquim José de Oliveira
Período regencial (1831-1840) 27 de setembro de 1848 - 8 de setembro de 1849
Antônio Correia da Costa
21 de julho de 1831 João José da Costa Pimentel
8 de setembro de 1849 - 11 de fevereiro de 1851
— André Gaudie Ley
19 de abril de 1830 - 4 de dezembro de 1830 Augusto João Manuel Leverger, Barão de Melgaço
11 de fevereiro de 1851 - 1º de abril de 1857
— Antônio Correia da Costa
3 de dezembro de 1833 - 26 de maio de 1834 — Albano de Sousa Osório
1º de abril de 1857 - 28 de fevereiro de 1858
— José de Melo Vasconcelos
24 de maio de 1834 - 26 de maio de 1834 Joaquim Raimundo de Lamare, Visconde de Lamare
28 de fevereiro de 1858 - 13 de outubro de 1859
— João Poupino Caldas
28 de maio de 1834 - 22 de setembro de 1834 Antônio Pedro de Alencastro
13 de outubro de 1859 - 8 de fevereiro de 1862
Antônio Pedro de Alencastro
22 de setembro de 1834 - 31 de janeiro de 1836 Herculano de Souza Ferreira Pena
8 de fevereiro de 1862 - 14 de maio de 1863
— Antônio José da Silva
— Antônio Correia da Costa — Augusto Leverger, Barão de Melgaço
1º de fevereiro de 1836 - 24 de fevereiro de 1836 9 de agosto de 1865 - 13 de fevereiro de 1866

— Antônio José da Silva Alexandre Manuel Albino de Carvalho


José Antônio Pimenta Bueno, Marquês de São Vicente 15 de julho de 1863 - 9 de agosto de 1865

26 de agosto de 1836 - 1838 Augusto Leverger, Barão de Melgaço


13 de fevereiro de 1866 - 1º de maio de 1866
— José da Silva Guimarães
21 de maio de 1838 - 16 de setembro de 1838 — Albano de Sousa Osório
1º de maio de 1866 - 2 de fevereiro de 1867
Estêvão Ribeiro de Resende
16 de setembro de 1838 - 25 de outubro de 1840 José Vieira Couto de Magalhães
2 de fevereiro de 1867 - 13 de abril de 1868

Segundo Reinado (1840-1889) — João Batista de Oliveira, Barão de Aguapeí


— Antônio Correia da Costa 13 de abril de 1868 - 7 de setembro de 1868
25 de outubro de 1840 - 28 de outubro de 1840
— José Vieira Couto de Magalhães
José da Silva Guimarães 7 de setembro de 1868 - 17 de setembro de 1868
28 de outubro de 1840 - 9 de dezembro de 1842
— Albano de Sousa Osório
— Antônio Correia da Costa 17 de setembro de 1868 - 19 de setembro de 1868
9 de dezembro de 1842 - 11 de maio de 1843
— José Antônio Murtinho
— José da Silva Guimarães 19 de setembro de 1868- 26 de março de 1869
11 de maio de 1843 - 7 de agosto de 1843
Augusto Leverger, Barão de Melgaço
— Manuel Alves Ribeiro 26 de março de 1869 - 10 de fevereiro de 1870
7 de agosto de 1843 - 5 de outubro de 1843
— Luís da Silva Prado
— José Mariano de Campos 10 de fevereiro de 1870 - 29 de maio de 1870
5 de outubro de 1843 - 24 de outubro de 1843
— Antônio de Cerqueira Caldas, Barão de Diamantino
Zeferino Pimentel Moreira Freire 29 de maio de 1870 - 12 de outubro de 1870
24 de outubro de 1843 - 26 de setembro de 1844 Francisco Antônio Raposo, Barão de Caruaru

Ricardo José Gomes Jardim 12 de outubro de 1870 - 27 de maio de 1871


26 de setembro de 1844 - 5 de abril de 1847 — Antônio de Cerqueira Caldas, Barão de
Diamantino
João Crispiniano Soares 27 de maio de 1871 - 29 de julho de 1871
5 de abril de 1847 - 6 de abril de 1848

História de Mato Grosso 5


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APOSTILAS OPÇÃO

Francisco José Cardoso Júnior A Guerra do Paraguai


29 de julho de 1871 - 25 de dezembro de 1872 Entre novembro de 1864 e março de 1870, desenrolou-se
a Guerra do Paraguai, a mais longa e sangrenta guerra na
José de Miranda da Silva Reis América do Sul, com consequências que influenciaram
1872 - 6 de dezembro de 1874 decisivamente a história dos países envolvidos. Até maio de
1865, enfrentaram-se apenas o Paraguai e o Brasil. A partir daí,
— Antônio de Cerqueira Caldas, Barão de Diamantino com a assinatura do tratado da Tríplice Aliança, os paraguaios
6 de dezembro de 1874 - 5 de junho de 1875 passaram a lutar contra o Brasil, a Argentina e o Uruguai.
Dentre aos razoes que desencadearam a guerra do
Hermes Ernesto da Fonseca Paraguai, destacam-se em primeiro lugar as questões que
5 de julho de 1875 - 2 de março de 1878 dividiam os países do Prata.
O Paraguai, em meados do século XIX, era um país
— João Batista de Oliveira, Barão de Aguapeí diferente dos demais da América latina. Desde a sua
2 de março de 1878 - 6 de julho de 1878 independência em 1811, até a guerra, tivera apenas três
João José Pedrosa governantes: Francia, Carlos Antônio Lopez e seu filho
6 de julho de 1878 Francisco Solano Lopez. O governo paraguaio não era
democrático, como não era nenhum dos outros governos
Rufino Enéas Gustavo Galvão, Visconde de Maracaju latino-americanos.
Apesar disso, o governo paraguaio, mais do que qualquer
5 de dezembro de 1879 - 2 de maio de 1881 outro do continente, realizava uma política favorável às
camadas populares. Desde os tempos de Francia, a elite agrária
— José Leite Galvão fora progressivamente eliminada, e suas terras expropriadas
2 de maio de 1881 - 31 de maio de 1881 pelo governo e entregues em usufruto aos trabalhadores
rurais. O mesmo acontecera com a exploração de madeira e
José Maria de Alencastro erva-mate, produtos monopolizados pelo Estado.
31 de maio de 1881 - 10 de março de 1883 Assim, em meados do século XIX, o padrão médio de vida
do povo paraguaio superava o de qualquer outro povo latino-
— José Leite Galvão americano: o analfabetismo fora quase erradicado e era
10 de março de 1883 - 7 de maio de 1883 garantido o emprego, a moradia, alimentação e vestuário para
a maioria das famílias. Embora pobre, o Paraguai não tinha
Manuel de Almeida Gama Lobo d'Eça,Barão de Batovi dívida externa, suas riquezas não eram exploradas por
estrangeiros e estava começando a criar um parque industrial
7 de maio de 1883 - 13 de setembro de 1884 próprio.

Floriano Peixoto As causas da guerra


15 de novembro de 1884 -15 de novembro de 1885 Em 1850, brasil e Paraguai assinaram um tratado
comprometendo-se a defender a independência do Uruguai.
— José Joaquim Ramos Ferreira Pouco depois, Paraguai e Uruguai assinaram um novo tratado,
5 de outubro de 1885 - 5 de novembro de 1885 estabelecendo que se qualquer vizinho invadisse um desses
países, o outro lhe prestaria imediato auxilio militar. Por isso,
Joaquim Galdino Pimentel em agosto de 1864, quando o Brasil já ameaçava claramente
5 de novembro de 1885 - 9 de novembro de 1886 invadir o Uruguai para derrubar o governo de Aguirre, o
presidente paraguaio, Solano Lopez, comunicou ao Império
— Antônio Augusto Ramiro de Carvalho que consideraria a invasão atentatória ao equilíbrio político do
9 de novembro de 1886 - 9 de dezembro de 1886 Prata e agiria conforme essa convicção.
Mesmo assim, em setembro de 1864, o governo imperial
Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis ordenou o ataque ao Uruguai. Com base nos tratados
9 de dezembro de 1886 - 28 de março de 1887 anteriores e na certeza de que seriam as próximas vítimas, os
paraguaios reagiram: em novembro, aprisionaram o navio
— Antônio Augusto Ramiro de Carvalho Brasileiro “Marquês de Olinda” em frente a assunção, e logo em
28 de março de 1887 - 29 de maio de 1887 seguida, Solano Lopez declarou guerra ao Brasil.
Entre novembro de 1864 e maio de 1865, a guerra
— José Joaquim Ramos Ferreira envolveu apenas Brasil e Paraguai. A partir dessa data, com a
29 de maio de 1887 - 16 de novembro de 1887 oficialização da Tríplice Aliança, o Paraguai passou a enfrentar
Brasil, Argentina e Uruguai.
Francisco Rafael de Melo Rego O balanço das forças, ao iniciar-se a guerra, era o seguinte:
16 de novembro de 1887 - 6 de fevereiro de 1889 Brasil, 18000 soldados; Argentina, 8000; Uruguai, 1500;
Paraguai, 60000. Apesar da vantagem no tamanho das tropas,
Antônio Herculano de Sousa Bandeira Filho o Paraguai enfrentava um grande número de desvantagens em
6 de fevereiro de 1889 - 1889 relação aos inimigos.
Os aliados tinham 13 milhões de habitantes, contra 800 mil
— Manuel José Murtinho do Paraguai, a dimensão territorial dos inimigos impedia que
1889 os paraguaios os ocupassem efetivamente. A única via de
comunicação do Paraguai com o resto do mundo era o rio da
Ernesto Augusto da Cunha Matos Prata, facilmente bloqueável pelos aliados, que também
9 de agosto de 1889 - 11 de dezembro de 1889 contavam com superioridade naval: o Brasil possuía 42 navios,
A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai enquanto o Paraguai possuía apenas 14 e apenas 3 estavam
preparados para a guerra. A última grande vantagem dos
países inimigos era o apoio financeiro constante da Inglaterra,
enquanto o Paraguai lutava sozinho.

História de Mato Grosso 6


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APOSTILAS OPÇÃO

Sob o ponto de vista militar, a Guerra do Paraguai pode ser Foi ai que o Tte. Antônio João enviou ao Comandante Dias
dividida em quatro grandes fases: da Silva, de Nioaque, o seu famoso bilhete dizendo: "Ser que
-Ofensiva paraguaia (dezembro de 1864 a dezembro de morro mas o meu sangue e de meus companheiros será de
1865); a iniciativa militar coube aos paraguaios e a guerra protesto solene contra a invasão do solo da minha Pátria" A
desenrolou-se em território brasileiro e argentino; evacuação de Corumbá, desprovida de recursos para a defesa,
-Invasão do Paraguai (de janeiro de 1866 a janeiro de foi outro episódio notável, saindo a população, através do
1868): a guerra já em território paraguaio, foi comandada pelo Pantanal, em direção a Cuiabá, onde chegou, a pé, a 30 de abril
aliado general Mitre; de 1865.
-Comando de Caxias (de janeiro de 1868 a janeiro de Na expectativa dos inimigos chegarem a Cuiabá,
1869): Caxias assumiu o comando geral dos Aliados; autoridades e povo começaram preparativos para a
-Campanha da Cordilheira (janeiro de 1869 a março de resistência. Nesses preparativos sobressaia a figura do Barão
1870): sob o comando de Conde D’Eu, destruiu-se o de Melgaço que foi nomeado pelo Governo para comandar a
remanescente do exército paraguaio. defesa da Capital, organizando as fortificações de Melgaço. Se
os invasores tinham intenção de chegar a Cuiabá dela
As consequências da Guerra desistiram quando souberam que o Comandante da defesa da
A Guerra do Paraguai teve consequências dramáticas para cidade era o Almirante Augusto Leverger - o futuro Barão de
ambos os lados. Melgaço -, que eles já conheciam de longa data. Com isso não
O Paraguai ficou completamente destruído, e perdeu subiram além da foz do rio São Lourenço. Expulsão dos
150000 km² de territórios cedidos ao Brasil e à Argentina. invasores do sul de Mato Grosso- O Governo Imperial
Durante a ocupação aliada (1870-1876), o nascente parque determinou a organização, no triângulo Mineiro, de uma
industrial paraguaio foi totalmente destruído pelos aliados, "Coluna Expedicionária ao sul de Mato Grosso", composta de
sendo a fundição de Ibicuí completamente demolida. A soldados da Guarda Nacional e voluntários procedentes de São
ferrovia foi vendida a preço de sucata para os ingleses e as Paulo e Minas Gerais para repelir os invasores daquela região.
reservas de mate e madeira vendidas para empresas Partindo do Triângulo em direção a Cuiabá, em Coxim
estrangeiras. As terras públicas que eram cultivadas pelos receberam ordens para seguirem para a fronteira do Paraguai,
camponeses passaram para as mãos de banqueiros ingleses, reprimindo os inimigos para dentro do seu território.
holandeses e estadunidenses, que passaram a aluga-las aos A missão dos brasileiros tornava-se cada vez mais difícil,
próprios paraguaios. pela escassez de alimentos e de munições. Para cúmulo dos
Além desses aspectos, a consequência mais trágica da males, as doenças oriundas das alagações do Pantanal mato-
guerra foi a dizimação da população paraguaia: estima-se que grossense, devastou a tropa. Ao aproximar-se a coluna da
75% da população paraguaia tenha morrido em decorrência fronteira paraguaia, os problemas de alimentos e munições se
da guerra, com 90% da população masculina dizimada. agravava cada vez mais e quando se efeito a destruição do forte
paraguaio Bela Vista, já em território inimigo, as dificuldades
A Guerra no Mato Grosso7 chegaram ao máximo. Decidiu então o Comando brasileiro que
Proclamada a 23 de julho de 1840 a maioridade de Dom a tropa segue até a fazenda Laguna, em território paraguaio,
Pedro II, Mato Grosso foi governado por 28 presidentes que era propriedade de Solano Lopez e onde havia, segundo se
nomeados pelo Imperador, até à Proclamação de República, propalava, grande quantidade de gado, o que não era exato.
ocorrida a 15/11/1889. Durante o Segundo Império (governo Desse ponto, após repelir violento ataque paraguaio, decidiu o
de Dom Pedro II), o fato mais importante que ocorreu foi a Comando empreender a retirada, pois a situação era
Guerra da Tríplice Aliança, movida pela República do Paraguai insustentável.
contra o Brasil, Argentina e Uruguai, iniciada a 27/12/1864 e Iniciou-se aí a famosa "Retirada da Laguna", o mais
terminada a 01/03/0870 com a morte do Presidente do extraordinário feito da tropa brasileira nesse conflito. Iniciada
Paraguai, Marechal Francisco Solano Lopez, em Cerro-Corá. a retirada, a cavalaria e a artilharia paraguaia não davam
Os episódios mais notáveis ocorridos em terras mato- tréguas à tropa brasileira, atacando-as diariamente. Para
grossenses durante os 5 anos dessa guerra foram: maior desgraça dos nacionais veio o cólera devastar a tropa.
a) o início da invasão de Mato Grosso pelas tropas Dessa doença morreram Guia Lopes, fazendeiro da região, que
paraguaias, pelas vias fluvial e terrestre; se ofereceu para conduzir a tropa pelos cerrados sul mato-
b) a heroica defesa do Forte de Coimbra; grossenses, e o Coronel Camisão, Comandante das forças
c) o sacrifício de Antônio João Ribeiro e seus comandados brasileiras. No dia da entrada em território inimigo (abril de
no posto militar de Dourados. 1867), a tropa brasileira contava com 1.680 soldados. A 11 de
d) a evacuação de Corumbá; junho foi atingido o Porto do Canuto, às margens do rio
e) os preparativos para a defesa de Cuiabá e a ação do Aquidauana, onde foi considerada encerrada a trágica
Barão de Melgaço; retirada. Ali chegaram apenas 700 combatentes, sob o
f) a expulsão dos inimigos do sul de Mato Grosso e a comando do Cel. José Thomás Gonçalves, substituído de
retirada da Laguna; Camisão, que baixou uma "Ordem do dia", concluída com as
g) a retomada de Corumbá; seguintes palavras: "Soldados! Honra à vossa constância, que
h) o combate do Alegre; conservou ao Império os nossos canhões e as nossas
Pela via fluvial vieram 4.200 homens sob o comando do bandeiras".
Coronel Vicente Barrios, que encontrou a heroica resistência
de Coimbra ocupado por uma guarnição de apenas 115 A Retirada da Laguna
homens, sob o comando do Tte. Cel. Hermenegildo de A retirada da Laguna foi, sem dúvida, a página mais
Albuquerque Porto Carrero. Pela via terrestre vieram 2.500 brilhante escrita pelo Exército Brasileiro em toda a Guerra da
homens sob o comando do Cel. Isidoro Rasquin, que no posto Tríplice Aliança. O Visconde de Taunay, que dela participou,
militar de Dourados encontrou a bravura do Tte. Antônio João imortalizou-a num dos mais famosos livros da literatura
Ribeiro e mais 15 brasileiros que se recusaram a rendição, brasileira. A retomada de Corumbá foi outra página brilhante
respondendo com uma descarga de fuzilaria à ordem para que escrita pelas nossas armas nas lutas da Guerra da Tríplice
se entregassem. Aliança. O presidente da Província, então o Dr. Couto de
Magalhães, decidiu organizar três corpos de tropa para

7 http://www.mt.gov.br/historia

História de Mato Grosso 7


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recuperar a nossa cidade que há quase dois anos se encontrava raiz passou a ser consumida somente a partir da década de 40,
em mãos do inimigo. O 1º corpo partiu de Cuiabá a com o desenvolvimento industrial promovido pelo governo
15.05/1867, sob as ordens do Tte. Cel. Antônio Maria Coelho. Vargas. No século XIX, a poaia era escoada para a Europa
Foi essa tropa levada pelos vapores "Antônio João", "Alfa", através da Bacia Platina, sendo que a mão de obra utilizada
"Jaurú" e "Corumbá" até o lugar denominado Alegre. Dali em para sua extração era assalariada, mas baseada na produção e
diante seguiria sozinha, através dos Pantanais, em canoas, os trabalhadores recebiam tratamento escravista.
utilizando o Paraguai -Mirim, braço do rio Paraguai que sai
abaixo de Corumbá e que era confundido com uma "boca de - BORRACHA - O auge da extração o látex em Mato Grosso
baía". se deu a partir de 1870 com o avanço da industrialização. E,
Desconfiado de que os inimigos poderiam pressentir a 1834, a borracha já passava pelo processo da vulcanização
presença dos brasileiros na área, Antônio Maria resolveu, com desenvolvida por Charles Goodyear e pelo processo de
seus Oficiais, desfechar o golpe com o uso exclusivo do 1º elasticidade e resistência desenvolvida por Hancoock. Em
Corpo, de apenas 400 homens e lançou a ofensiva de surpresa. Mato Grosso, a látex podia ser extraído tanto da seringueira,
E com esse estratagema e muita luta corpo a corpo, consegui o localizada na região norte (vale Amazônico), como da
Comandante a recuperação da praça, com o auxílio, inclusive, mangabeira, encontrada às margens dos Rios da Bacia Platina.
de duas mulheres que o acompanhavam desde Cuiabá e que Ao contrário da poaia, a borracha era sempre extraída no
atravessaram trincheiras paraguaias a golpes de baionetas. período das secas, uma vez que o látex malhasse, ele não
Quando o 2º Corpo dos Voluntário da Pátria chegou a poderia ser coagulado (processo pelo qual ele passava antes
Corumbá, já encontrou em mãos dos brasileiros. Isso foi a de ser transportado). O mercado consumidor da borracha era
13/06/1867. No entanto, com cerca de 800 homens às suas a Europa, e seu escoamento no século XIX ocorreu através da
ordens o Presidente Couto de Magalhães, que participava do Bacia Platina. No século XX, o produto era escoado através da
2º Corpo, teve de mandar evacuar a cidade, pois a varíola nela estrada de ferro Madeira-Mamoré até o porto de Manaus. A
grassava, fazendo muitas vítimas. O combate do Alegre foi mão de obra utilizada na sua extração era assalariada, baseada
outro episódio notável da guerra. Quando os retirantes de na produção e com o tratamento escravista. A produção de
Corumbá, após a retomada, subiam o rio no rumo de Cuiabá, borracha era realizada principalmente pelos nordestinos, que
encontravam-se nesse porto "carneando" ou seja, vieram trabalhar na extração da borracha com a promessa de
abastecendo-se de carne para a alimentação da tropa eis que uma vida melhor. A decadência da produção ocorreu a partir
surgem, de surpresa, navios paraguaios tentando uma de 1912, quando os ingleses levaram mudas da seringueira
abordagem sobre os nossos. para a Ásia. O plantio obteve sucesso, e não demorou para que
A soldadesca brasileira, da barranca, iniciou uma viva os asiáticos se tornassem o maior produtos mundial da
fuzilaria e após vários confrontos, venceram as tropas extração do látex. O governo brasileiro tentou reverter à
comandadas pela coragem e sangue frio do Comandante José situação, criando o “Plano de Defesa da Borracha”. Para isso
Antônio da Costa. Com essa vitória chegaram os da retomada tomou algumas medidas como incentivo da plantação de
de Corumbá à Capital da Província (Cuiabá), transmitindo a árvores, a isenção dos impostos para a importação de
varíola ao povo cuiabano, perdendo a cidade quase a metade equipamentos que facilitassem a extração do látex. Mas estas
de sua população. Terminada a guerra, com a derrota e morte tentativas não foram suficientes para colocar o Brasil
de Solano Lopez nas "Cordilheiras" (Cerro Corá), a 1º de março novamente como líder mundial. Durante o Governo de Getúlio
de 1870, a notícia do fim do conflito só chegou a Cuiabá no dia Vargas, com os incentivos dados a indústria nacional, o látex
23 de março, pelo vapor "Corumbá", que chegou ao porto passou a atender o mercado interno.
embandeirado e dando salvas de tiros de canhão. Dezenove
anos após o término da guerra, foi o Brasil sacudido pela - CANA DE AÇÚCAR - Em relação à cana de açúcar na
Proclamação da República, cuja notícia só chegou a Cuiabá na História de Mato Grosso podemos descrevê-la em dois
madrugada de 9 de dezembro de 1889. momentos. Primeiramente no século XVIII, quando o governo
português interessado na mineração, proibiu a instalação dos
Consequências do pós Guerra para a Província de Mato engenhos. O governo alegou que a produção de aguardente
Grosso: trazia efeitos prejudiciais aos escravos, e que ao invés de
- Reabertura da Bacia Platina. minerar só queriam se dedicar à fabricação dela. Os engenhos
- Afirmação dos principais portos: Corumbá, Cuiabá e eram movidos por tração animal ou através de uma roda
Cáceres. d’água, sendo encontrados em pequenas propriedades, e
- Surgimento de um nova burguesia: comercio de voltados para abastecer o mercado interno, como por
importação e exportação. exemplo, as Minas de Cuiabá. Os engenhos se localizavam na
- Aumento territorial. região da Chapada (Serra acima) e nas margens do Rio Cuiabá
- Imigração. (Santo Antonio do Rio abaixo). Os engenhos produziam
rapadura, melado, açúcar e cachaça. No século XIX, temos o
Economia Mato-grossense após a Guerra da Tríplice advento da Revolução Industrial e o surgimento das máquinas,
Aliança os proprietários de terras importaram máquinas e instalaram
as primeiras usinas. Essas usinas se localizavam as margens do
POAIA - Também conhecida como Ipéca ou Ipecacuanha Rio Paraguai, sendo a que mais se destacou foi a Usina Ressaca,
esta planta com o formato de um arbusto de aproximadamente e nas margens do Rio Cuiabá (na região de Santo Antonio)
45 cm de altura, tem a sua raiz utilizada devidos as suas sendo as que mais se destacaram foram as Usinas Itaicí,
propriedades medicinais. A poaia destacou-se na economia de maravilha, Conceição. As usinas se localizavam as margens dos
Mato Grosso, a partir de 1860, logo na segunda metade do rios devido a fertilidade do solo e a facilidade do escoamento
século XIX período em que ocorreu a Revolução Industrial na da produção, pois nesse período a produção era escoada pela
Europa. A extração se dava na região oeste de Mato Grosso Bacia Platina e seu mercado consumidor era tanto o mercado
onde ela é nativa. Através do arrendamento de terras interno como os países da América do Sul e outras províncias
devolutas para empresários nacionais e estrangeiros extraiam brasileiras. A mão de obra utilizada nas Usinas era assalariada,
a sua raiz sempre no período das chuvas. A seguir, esse baseado na produção e com tratamento escravista. Os
produto do extrativismo vegetal era destinado ao mercado proprietários das usinas eram conhecidos como “Coronel” e as
externo, mais especificamente a Europa, para atender as pessoas que trabalhavam nesta atividade eram chamados de
necessidades das indústrias farmacêuticas. Já no Brasil, esta “Camaradas”. A usina mais importante com certeza foi a de

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“Itaicí”. Era de propriedade de Totó Paes de Barros, e chegou a particular da Companhia que se denominavam “Comitiveros”,
pagar os seus trabalhadores com a sua própria moeda. Essa que demonstra o poder dos seus proprietários, uma vez que o
moeda era feita de cobre e recebia o nome de “Tarefa”. Esse segundo a legislação somente o Estado podia constituir Polícia.
fato demonstra a força política de seu proprietário, A produção do mate era voltada principalmente para o
considerado um dos maiores coronéis da região, e chegou a mercado externo, sendo a Argentina o seu princiál comprador.
ocupar o cargo de Presidente do Estado de Mato Grosso. Os Em 1902, o Governo Campos Salles atravessou uma forte
camaradas de Itaicí chegavam a trabalhar até 19 horas por dia recessão, o Banco Rio e Mato Grosso faliu, as suas ações Cia
no período das safras e eram castigados, humilhados pelo Mate Laranjeiras foram colocadas à venda. O comprador foi
patrão. Na década de 30, com ascensão de Vargas, a sorte dos Francisco Mendes, empresário argentino. Tal fato levou a
usineiros começou a mudar. Getúlio Vargas empreendeu uma empresa a mudar a sua razão social, e passou a ser chamada
série de medidas que visavam destruir o poder destes Laranjeiras, Mendes e Cia. Nesse momento Tomás Laranjeira
coronéis. Uma destas medidas foi a criação do I.A.A. (Instituto ficou responsável pela extração em Mato Grosso e Francisco
do Álcool e do Açúcar). Com o objetivo de financiar a produção Mendes, pela sua industrialização, distribuição e venda na
das usinas, o governo federal estabeleceu que somente os Argentina. A decadência da empresa ocorreu na década de 30,
grandes produtores receberiam financiamento, e como Mato quando Getúlio Vargas estimulou a produção de erva mate no
Grosso tinha uma pequena produção, os usineiros de MT sul, e o governo não concedeu um novo arrendamento de
faliram. Outra medida que enfraqueceu mais ainda o poder terras alegando que as terras usadas pela Cia Mate Laranjeira
destes produtores de açúcar foi a cobrança das leis seriam usadas para promover a colonização no sul de Mato
trabalhistas. Grosso. Além disso, a decadência da Companhia estava
também associada a produção da erva mate em Corrientes e
- PECUÁRIA - A pecuária no século XVIII abastecia o Missiones, assim a empresa perdeu o seu maior comprador.
mercado interno. O gado era criado solto, consequentemente
era uma economia de baixa produtividade. A região que mais O Movimento Republicano e a Proclamação da
se destacou na criação do gado foi Vila Maria de Cáceres. Uma República
das fazendas mais importantes desse período foi a Fazenda Proclamada em 1889, nascia no Brasil a República. Os
Jacobina. No século XIX, com a Revolução Industrial na Vila líderes do movimento organizaram um governo provisório
Maria de Cáceres esta começou a se destacar pelo surgimento chefiado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, antigo
das usinas de charque, sendo a mais importante a de monarquista e amigo de D. Pedro II. O seu ministério foi
Descalvado. Descalvado, localizada as margens do Rio composto tanto por civis quanto por militares que
Paraguai era uma saladeiro que foi construído com o capital participaram do movimento republicano, o ministério
belga e posteriormente foi vendido aos argentinos. O representava somente as principais elites econômicas do país.
escoamento do charque era feito através da Bacia Platina, e a A primeira medida adotada foi transformar o país em
mão de obra utilizada era assalariada. No entanto, o República Federativa, com o nome de Estados Unidos do
pagamento feito ao peão geralmente era em gado. Durante o Brasil. As províncias se transformaram em estados e a o estado
século XX, na Primeira República, com a construção da Estrada separado da Igreja. Na economia, foi promovida a
de Ferro Noroeste do Brasil, a pecuária floresceu industrialização do país.
principalmente na região sul de Mato Grosso. O gado era criado Com a Assembleia de 24 de fevereiro de 1891 é que
em MT e transportado pel estrada de ferro até Bauru e finalmente a Constituição republicana entra em vigor. A
Uberaba, onde era abatido e beneficiado. Com a pecuária, Assembleia elege Marechal Deodoro da Fonseca como
Corumbá se tornou local de instalação de grandes casas primeiro presidente da república. Segunda nova constituição,
comerciais, em sua grande maioria estrangeiras. Ocorreu a os próximos presidentes deveriam ser eleitos através do voto.
valorização das terras nesse região, o aparecimento de cidades Desde o início de seu governo ele sofreu com a forte oposição,
como Águas Claras e Três Lagoas, além do crescimento e que lhe chamaram de autoritário. Após o forte movimento de
desenvolvimento da região de Campo Grande, que passou a oposição e sem oposição, Deodoro deixa o cargo em novembro
ambicionar o stratus de capital. de 1891 e Floriano Peixoto assume o cargo.
A forma de governo adotada com a Constituição de 1891,
- ERVA MATE - A erva mate é um produto do extrativismo acabou por acarretar uma política de alianças, que organizou-
vegetal rico em cálcio, magnésio, sódio, potássio e ferro. Era se para assumirem a ocupação da presidência. O período foi
utilizada para descansar os músculos, atenuar a fome, tinha marcado por conflitos militares, dentre eles, a Revolta
função diurética segundo os médicos e poder afrodisíaco. Era Federalista, no Rio Grande do Sul, e a Revolta da Armada, no
encontrada na região sul de Mato Grosso. Em 1870, após a Rio de Janeiro, ambas em 1893.
Guerra do Paraguai, Tomás Laranjeira, empresário de visão e Após as revoltas serem contidas, a transição do poder para
tinha sido Secretário do Governo Imperial, usou da sua os civis se tornou possível. O presidente Prudente de Morais
influência política para arrendar as terras do sul ricas em foi o primeiro civil eleito. Começando a alternância de poder
ervais. Com o arrendamento concedido, Tomas Laranjeira entre as oligarquias brasileiras do sudeste até 1930. Essa
funda a Companhia Mate Laranjeira. Devido a sua influência foi forma de política ganhou o nome de política Café com Leite.
fácil conseguir financiamentos e sócios com os irmãos Essa forma alternância de poder ganhou esse nome pois São
Murtinha. Joaquim Murtinho era Ministra da Fazenda do Paulo era o maior produtor de café, enquanto Minas Gerais
Governo Campos Salles e Manoel Murtinho era Senador da produzia leite. Para manter essa alternância, o presidente
República e Presidente do Supremo Tribunal Federal. Essa Campos Sales (1898-1902) realizou uma costura política, a
empresa desenvolveu tanto, que a sua renda era seis vezes política dos governadores, que proporcionou apoio regional ao
mais que o valor da renda do Estado de Mato Grosso, por isso poder executivo federal e fortaleceu os coronéis oligarcas
se dizia que a Mate Laranjeira era um “Estado dentro de outro regionais. É desta aliança que surgiu o coronelismo que
Estado”. A mão de obra utilizada era principalmente dos marcou a prática política no interior do Brasil até a segunda
paraguaios, que estavam desempregados devido à guerra e metade do século XX.
entravam em Mato Grosso para trabalhar por qualquer salário.
Os trabalhadores da era mate eram chamados de “Mineros” e
eram assalariados, recebiam conforme a produção, porém o
tratamento era escravista. Para a repressão daqueles que não
queriam trabalhar quase como escravos existia a polícia

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Após a saída de Vargas, com a aprovação da nova


PERÍODO REPUBLICANO. Constituição Federal de 1946, a Assembleia Constituinte de
Mato Grosso elegeu o Dr. Arnaldo Estevão de Figueiredo para
1.O coronelismo em Mato Grosso; o governo do Estado. Em 03 de outubro de 1950 houveram
2. Economia de Mato Grosso na eleições para governador, concorrendo Filinto Müller, pelo
Primeira República: usinas de Partido Social Democrata e Fernando Corrêa da Costa pela
União Democrática Nacional. Venceu Fernando Corrêa, que
açúcar e criação de gado; tomou posse em 31 de janeiro de 1951, governando até 31 de
3. Relações de trabalho em Mato janeiro de 1956. Fernando Corrêa da Costa instalou a
Grosso na Primeira República; Faculdade de Direito de Mato Grosso, núcleo inicial da futura
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.
4. Mato Grosso durante a Era A política implementada por governos de estado na esfera
Vargas: política e economia; federal visou a ocupação do território durante o século XX, com
5. Política fundiária e as tensões a criação de várias colônias agrícolas, visando a produção de
alimentos. Com a ocupação das áreas produtoras de látex no
sociais no campo; Leste Asiático durante a Segunda Guerra Mundial, a produção
6. Os governadores estaduais e do material ganhou destaque novamente.
suas realizações; Na década de 1960, com as mudanças político-
administrativas no país e o surgimento de fatores estruturais,
a agricultura brasileira sofreu profundas transformações.
Com a escassez de terras desocupadas e utilização de
O coronelismo em Mato Grosso na República Velha 8
tecnologia moderna no Centro-Sul, muitos migrantes
A Primeira República, ou República Velha, em Mato Grosso,
chegaram a Mato Grosso dispostos a ocupar as áreas
foi marcada politicamente pela disputa entre as oligarquias do
do Estado. O interesse de fazer crescer o setor agrícola e a
Norte, composta pelos usineiros de açúcar, e do Sul, composta
necessidade de atender as pressões demográficas de grupos
por pecuaristas, comerciantes, ligados à importação e
de pequenos e médios proprietários levou o poder público a
exportação, e pelos coronéis da erva-mate. Essas oligarquias
uma efetiva ocupação do território mato-grossense.
alternaram-se no poder após lutas violentas entre coronéis e
O incremento desta ocupação e a caracterização da função
seus bandos de lado a lado. Os episódios mais graves dessas
de Mato Grosso como estado eminentemente agrícola se
disputas foram: Massacre da Bahia Garcez, em 1901; o
consolidou na década de 1970, a partir principalmente do
assassinato do governador Totó Paz, em 1906; a Caetanada,
estímulo à colonização privada e à exploração de terras. A
em 1916, que culminou com a intervenção federal em Mato
colonização, que atraiu primeiramente colonos com larga
Grosso; Morbeck X Carvalinho verdadeira guerra na região dos
experiência agrícola, mas também, acostumados ao manejo
garimpos no Araguaia, em Garças.
tradicional e ainda arredios às modernas técnicas de
agricultura.
O massacre da Baía do Garcez: foi o assassinato de 17
A Era Vargas é o período da história do Brasil em que
presos, onde um ano após o ocorrido a Baía secou e os corpos
Getúlio Vargas governa o país. Esse período tem início na com
vieram à tona, no entanto ninguém foi preso e Tótó Paes vence
a Revolução de 30, continuando pelos próximos 15 anos em
as eleições.
que Vargas se mantém no poder. Esse período é marcando
para a história do Brasil, tento grandes alterações sociais e
A Caetanada: em 1915 as eleições em Mato grosso foram
econômicas. Esse período é dividido em três momentos,
disputadas pelos republicanos e pelos liberais, Caetano de
Governo Provisório, Governo Constitucional e Estado Novo.
Albuquerque, o que sugere o nome do movimento sofreu duras
perseguições e chegou a desistir, contudo resolveu voltar a
Revolução de 1930
disputa encontrando resistência por parte de Manoel
Antes de 1930, o governo brasileiro era controlado por
Escolástico Virgilio.
grupos ligados a produção e exportação de café – oligarquia
cafeeira – principalmente dos estados de São Paulo e de Minas
Morbeck e Carvalinho: Esse movimento ocorreu em 1926
Gerais. Essas oligarquias, conseguiam se manter no poder
sob governo de Pedro Celestino, Morbeck se revoltou com a
através das fraudes nas eleições, escolhendo candidatos que
nomeação de Carvalinho para o cargo de delegado e rompe
representassem seus interesses. Essa política, ficou conhecida
com o amigo governador partindo para pequenos ataques,
como republica do “café-com-leite”.
afim de minimizar a situação Pedro Celestino destitui
Esse controle ficou abalado nas eleições de 1930, quando o
Carvalinho que armou um bando e promoveu ataques aos
estado de São Paulo e Minas Gerais, entram em conflito. Como
quartéis, Carvalinho foi preso e em seguida liberado.
o presidente Washington Luís, havia sido indicado pelo estado
de São Paulo, estava na vez de Minas Gerais indicar qual seria
Era Vargas
o candidato nas eleições. Contudo os paulistas apresentam
Júlio Prestes como candidato à presidência. Minas Gerais,
- O estado de Mato Grosso e a Era Vargas
junto com a Aliança Liberal, formada pelo Rio Grande do Sul e
As décadas de 1930 e 1940 foram marcadas pela política
Paraíba, defendiam a candidatura de Getúlio Vargas.
centralizadora de Getúlio Vargas. Interventores federais foram
Em março, nas eleições, o candidato Júlio Prestes ganha,
nomeados por entre exercícios de curto governo. Em 16 de
mas com grande indicio de fraude, o que gerou mais
julho de 1934 foi promulgada a nova Constituição Federal,
descontentamento entre os opositores. No mesmo ano, em
seguida pela estadual mato-grossense, em 07 de setembro de
julho, o candidato a vice-presidente de Getúlio Vargas, é
1935. O título de presidente foi substituído pelo de
assassinado. Esse ocorrido acaba gerando grande revolta na
governador. Os constituintes estaduais elegeram o Dr. Mário
população. Além disse, em 1929, com a quebra da bolsa de
Corrêa da Costa. O governo de Costa foi marcado por agitações
Valore de Nova York atingiu fortemente o Brasil, causando
políticas, que acabaram somente com a eleição do bacharel
desemprego e dificuldades financeiras. Com a crise o nível de
Júlio Strubing Müller pela Assembleia Legislativa em 1937.

8 http://historiografiamatogrossense.blogspot.com.br/2009/12/o-coronelismo-
em-mato-grosso-na.html#!/tcmbck

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insatisfação com o atual presidente cresce. Esses conflitos Já a Aliança Nacional Libertadora (ANL), sugue em 1935,
preocuparam o setor militar, que chegou a pensar na liderada pelo comunista Luís Carlos Prestes. Assim como a AIB,
possibilidade de haver uma guerra civil no Brasil. eles eram nacionalistas, mas suas semelhanças acabam por ai.
Com a crise já instaurada no Brasil, uma revolta militar A ANL defendia os ideais comunistas como o não pagamento
estoura, saindo do sul do país, com o objetivo de derrubar o da dívida externa, a reforma agrária e a nacionalização das
atual governo. A situação do então presidente Washington empresas estrangeiras.
Luís estava crítica, mas ele não pretendia renunciar. Então, No dia 5 de julho de 1935, Luís Carlos Prestes lança seu
militares do exército de marinha acabam por tirar o presidente apoio à ANL, incentivando uma relação contra o governo. Após
e no dia 3 de novembro Getúlio Vargas assume o poder em o apoio, Getúlio Vargas decretou a ilegalidade do movimento,
caráter provisório. e mandou prender os líderes. Desde então esse grupo passou
a agir na ilegalidade. A ANL liderou diversos movimentos
Constituição de 1934 militares em diversos estados, como Natal, Recife e Rio de
Graças a grande conturbação causada pela Revolução Janeiro, com o intuito de tomar o poder e implantar o
constitucionalista de 1932, o então gover de Getúlio Vargas foi comunismo. Esses levantes ficaram conhecidos como
obrigado a tomar medidas que sanasse o regime republicano. Intentona Comunista, mas todas fracassaram, gerando uma
Foi criado então uma nova lei, chamada de Lei Eleitoral, forte repressão a todos os movimentos de esquerda no Brasil.
convocando eleições que seriam realizadas no ano posterior. A
partir daí, uma nova assembleia constituinte foi convocada, Estado Novo
tomando posso no final de 1933. Após o fracasso da Intentona Comunista, iniciou-se as
No dia 16 de julho de 1934, uma nova constituição é articulações para presidente. O mandato de Vargas deveria
lançada, contentando 187 artigos. Nessa constituição, novos acabar no início de 1938. No decorrer de 1937 três candidatos
direitos foram adquiridos, como na questão trabalhista, onde surgiram, Armando Sales de Oliveira, José Américo de Almeida,
ficava garantido por lei a proibição de distinção salarial e Plínio Salgado. Embora Getúlio apoiasse José Américo, sua
fundamentada no sexo, idade, estado civil ou nacionalidade. verdadeira intenção era a de continuar no poder. Para que sua
Outras conquistas importantes surgiram nesta constituição, vontade pudesse se concretizar, ele contou com o apoio do
como a criação do salário mínimo, redução da carga de alto-comando militar.
trabalho para 8 horas diárias, repouso semanal, férias Em setembro, foi anunciado a descoberta de um plano
remuneradas, indenização ao trabalhador demitido sem justa comunista, onde estes iriam promover uma revolução, onde
causa e proibição do trabalho para jovens menores de 14 anos. centenas de pessoas morreria. Esse plano ganhou o nome de
Essa constituição também atingiu o âmbito econômico, Plano Cohen. Na verdade, tudo isso não passou de uma
onde medidas foram tomadas para promover o invenção, que serviria de pretexto para Getúlio dar o golpe. O
desenvolvimento da indústria nacional. Foi permitido a plano deu certo e no dia 10 de novembro foi instituído o Estado
criação de fundações e institutos de pesquisas, linhas de Novo.
crédito foram criadas para viabilizar uma modernização na No mesmo dia, Vargas anunciou uma nova Constituição.
economia por meio do crescimento do parque industrial do Através dela foram dissolvidas as câmaras legislativas, as
país. Na agricultura, foi tomado medidas que favorecessem garantias individuais foram suspensas e os opositores
uma variação de itens para exportação. passaram a ser perseguidos, Os Estados eram governados por
Na área educacional, foi incentivado o desenvolvimento de interventores nomeados por Vargas, os quais, por sua vez,
um ensino superior e médio. Um ensino primário público foi nomeavam os prefeitos municipais. A nova constituição
criado, sendo gratuito e obrigatório. O grande objetivo coma afirmou o caráter ditatorial do novo governo, ela concedia
educação, era o de formar jovens que fossem capacitados para muito poder ao governo federal e limitava os demais.
trabalhar nas indústrias, que estaria mais avançadas, graças Essa constituição foi inspirada nas constituições fascistas
aos investimento no setor econômico. Foi garantido o voto da Itália e da Polônia, a Carta de 1937 acabou com a autonomia
para todos os maiores de 21 anos, as mulheres também teriam dos estados e garantiu a Getúlio um governo extremamente
o direito de votar. autoritário. Os partidos foram todos dissolvidos e a imprensa
Apesar de todas as conquistas garantidas pela constituição, passou a ser censurada. Somente a legislação trabalhista foi
ela também teve seu lado autoritário. Na Carta Magna, ficou mantida.
determinado que as novas leis eleitorais não valeriam para a
escolha de um novo presidente. Assim Getúlio Vargas seria Economia
eleito indiretamente pelos membros da Assembleia No âmbito econômico, o Estado Novo conseguiu promover
Constituinte. a industrialização do país. Devido ao seu caráter nacionalista,
foi suspendido o pagamento da dívida externa, entretanto, as
Intentona Comunista (1935) negociação fitas para atrair capital foram mantidas. Essa
A Intentona Comunista, foi uma revolta contra o governo política teve como elemento principal a intervenção do Estado
de Getúlio Vargas. O movimento tinha o objetivo tirar o em todas as atividades econômicas. O processo de
presidente e tomar o poder. O movimento eclodiu em industrialização foi favorecido pela Segunda Guerra Mundial,
novembro de 1935, liderada pela Aliança Nacional Libertadora quando as dificuldades de importações estimularam a
(ANL), mas foi contida pela Força de Segurança Nacional. produção interna de bens industrializados. As principais
empresas criadas nesse período foram: Companhia
Ação Integralista Brasileira x Aliança Nacional Siderúrgica Nacional (1941), Companhia Vale do Rio Doce
Libertadora (1942), Companhia nacional de Álcalis (1943), Companhia
O período do governo de Getúlio Vargas foi marcado por Hidroelétrica do São Francisco (1945), Fábrica Nacional de
uma grande polarização de ideias políticas e ideológicas. De Motores (1943).
uma lado estava a Ação Integralista Brasileira (AIB), que
defendia e simpatizava a ditadura fascista de Mussolini na Direitos Trabalhistas
Itália. A AIB foi fundada em 1932 e foi liderada pelo político e Durante seu governo, diversas leis trabalhistas foram
jornalista Plínio Salgado. O lema do movimento era “Deus, criadas, a maioria ainda está em vigor no Brasil. Umas das
Pátria e Família”. Para eles o governo devia manter sob seu medidas mais importantes foi a criação do salário mínimo, que
controle a economia do estado e a democracia representativa garantia ao trabalhador o dinheiro necessário para cobrir suas
devia ser extinta e controlada por um só partido. despesas básicas, como alimentação, habitação higiene,

História de Mato Grosso 11


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transporte e vestuário. Essa lei instituída em meio as 2 de julho de 15 de agosto de


Pedro Leite Osório
festividades do dia Primeiro de Maio de 1940. 1906 1907
Em 1943, foi criado um documento que estabelecia regras Generoso
como, horário de trabalho, férias, descanso remunerado, Generoso Pais Leme Ponce.jpg 12 de outubro
pagamento de aviso prévio, jornada de oito horas, entre de Sousa Ponce 15 de de 1908
outros. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), deveria agosto de 1907
reger as relações empregado-patrão. Pedro Celestino 12 de outubro 15 de agosto de
Correia da Costa de 1908 1911
Fim da Ditadura Vargas. Joaquim Augusto da 15 de agosto de 15 de agosto de
Com o início da Segunda Guerra Mundial o Brasil tentou se Costa Marques 1911 1915
manter neutro para que as relações comerciais se Caetano Manuel de 15 de agosto de 8 de fevereiro
mantivessem com ambos os lados. Contudo, sem ter pra onde Faria e Albuquerque 1915 de 1917
correr, o país entra na guerra, em 1942 ao lado dos Aliados. Camilo Soares de 9 de fevereiro 22 de agosto de
Por essa atitude, os opositores começaram a criticar a sua Moura de 1917 1917
contradição, já que os Aliados lutavam contra a ditadura Cipriano da Costa 23 de agosto de 21 de janeiro de
nazista e fascista. Em 1944 foram mandados 25.000 soldados Ferreira 1917 1918
da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália, Francisco de Aquino 22 de janeiro 21 de janeiro de
marcando a participação do Brasil no conflito. Correia Aquino de 1918 1922
Após 1944, alguns nomes apoiaram e contribuíram para Pedro Celestino 22 de janeiro 24 de outubro
que Vargas conseguisse se manter no poder, como Oswaldo Correia da Costa de 1922 de 1924
Aranha, ministro das Relações Exteriores. Contudo, vários
Estêvão Alves 25 de outubro 22 de janeiro de
movimentos oposicionistas surgiram, como os estudantes, que
Correia de 1924 1926
por meio da União Nacional dos Estudantes (ENE), passou a
Mário Correia da 22 de janeiro 21 de janeiro de
fazer diversos protestos, pedindo a sida de Getúlio.
Costa de 1926 1930
Em meio a pressão, foram convocadas novas eleições,
Aníbal Benício de 22 de janeiro 30 de outubro
assim que as eleições foram marcadas, novos partidos foram
Toledo de 1930 de 1930
criados, como o PTB e o PSD. Na tentativa de permanecer no
poder, foi articulado o movimento queremista, com o slogan
“Nós queremos Getúlio”. No entanto esse movimento teve Era Vargas
repercussão negativa entre os liberais. Temendo um novo (1930-1945)
golpe, os oposicionistas articularam um golpe, depondo
Getúlio Vargas. Era o fim da Era Vargas, mas não o fim de Sebastião Rabelo
30 de outubro 3 de novembro
Getúlio Vargas, que em 1951 retornaria à presidência pelo Leite Interventor
de 1930 de 1930
voto popular. federal
Antônio Mena
3 de novembro 24 de abril de
Governadores Estaduais Gonçalves
de 1930 1931
Interventor federal
Início do Fim do Artur Antunes
Nome 24 de abril de 15 de junho de
mandato mandato Maciel
1931 1932
Interventor federal
Primeira Leônidas Antero de
15 de junho de 12 de outubro
República Matos Interventor
1932 de 1934
Brasileira federal
(1889-1930) César de Mesquita
12 de outubro 8 de março de
Serva Interventor
de 1934 1935
Antônio Maria 11 de federal
15 de fevereiro Fenelon Müller 8 de março de 28 de agosto de
Coelho, Barão do dezembro de
de 1891 Interventor federal 1935 1935
Amambaí 1889
Frederico Solon de 16 de fevereiro 31 de março de Newton Deschamps
28 de agosto de 7 de setembro
Sampaio Ribeiro de 1891 1891 Cavalcanti
1935 de 1935
José da Silva 1º de abril de 5 de junho de Interventor federal
Rondon 1891 1891 Mário Correia da 7 de setembro 8 de março de
João Nepomuceno 6 de junho de 16 de agosto de Costa de 1935 1937
de Medeiros Mallet 1891 1891 Manuel Ari da Silva
9 de março de 13 de setembro
Manuel José 16 de agosto de 15 de agosto de Pires Interventor
1937 de 1937
Murtinho 1891 1895 federal
Antônio Correia da 15 de agosto de 26 de janeiro de Júlio Strübing
13 de setembro 30 de outubro
Costa 1895 1898 Müller
de 1937 de 1945
Antônio Cesário de 26 de janeiro 10 de abril de Interventor federal
Figueiredo de 1898 1899
João Pedro Xavier 10 de abril de 6 de julho de Segunda
Câmara 1899 1899 República
Antônio Leite de 6 de julho de 15 de agosto de Brasileira
Figueiredo 1899 1899 (1945-1964)
Antônio Pedro Alves 15 de agosto de 15 de agosto de
de Barros 1899 1903 Olegário Moreira de 30 de outubro 19 de agosto de
Antônio Pais de Barros de 1945 1946
15 de agosto de 2 de julho de José Marcelo 19 de agosto de 8 de abril de
Barros, Barão de
1903 1906 Moreira 1946 1947
Piracicaba

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Arnaldo Estêvão de 8 de abril de 1º de julho de Aspectos socioeconômicos de Mato Grosso


Figueiredo 1947 1950
1º de julho de 31 de janeiro de As bases da economia do estado mato-grossense910
Jari Gomes O estado de Mato Grosso é conhecido como o celeiro do
1950 1951
Fernando Corrêa da 31 de janeiro 31 de janeiro de país, campeão na produção de soja, milho, algodão e de
Costa de 1951 1956 rebanho bovino, e agora quer alcançar novos títulos do lado de
João Ponce de 31 de janeiro 31 de janeiro de fora da porteira das fazendas. Com crescimento “chinês” de
Arruda de 1956 1961 seu Produto Interno Bruto, o estado iniciou um planejamento
Fernando Corrêa da 31 de janeiro 31 de janeiro de para atacar diversas frentes com potencialidades até então
Costa de 1961 1966 adormecidas. A estratégia vai permitir que sua produção seja
Ditadura diversificada para agregar valor à tudo aquilo que é produzido
Militar (1964- em terras mato-grossenses e que acaba abastecendo o Brasil e
1985) o mundo.
31 de janeiro 15 de março de O governado do Estado, por meio da Secretaria de
Pedro Pedrossian Desenvolvimento Econômico (Sedec), está planejando um
de 1966 1971
José Manuel 15 de março de 15 de março de conjunto de ações para atrair investidores para Mato Grosso.
Fontanillas Fragelli 1971 1975 Cinco eixos prioritários para esta transformação foram
15 de março de 15 de agosto de definidos pela secretaria. A partir de agora serão realizados
José Garcia Neto estudos para reformular as políticas tributária, de atração de
1975 1978
investimentos, logística e mão de obra.
Cássio Leite de 15 de agosto de 15 de março de
Os cinco setores com grande potencial de crescimento na
Barros 1978 1979
região e que terão atenção especial do estado são
Frederico Carlos 15 de março de 15 de março de
agroindústria, turismo, piscicultura, economia criativa e pólo
Soares Campos 1979 1983
joalheiro. Para isso, o estado pretende reformular o Programa
Governador
15 de março de de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso
Júlio José de eleito que
1983 15 de (Prodeic) e o sistema tributário estadual.
Campos renunciou ao
maio de 1986
mandato
Agronegócio
Nova Em pouco mais de uma década, o PIB estadual passou de
República R$ 12,3 bilhões (1999) para R$ 80,8 bilhões (2012),
(1985- representando um crescimento de 554%. Neste mesmo
presente) período, o PIB brasileiro aumentou 312%, segundo dados do
IBGE. Grande parte deste desempenho positivo veio do campo.
Wilmar Peres de 15 de maio de 15 de março de Atualmente, o estado Mato Grosso lidera a produção de soja no
Faria 1986 1987 país, com estimativa de 28,14 milhões de toneladas para a
Carlos Gomes 15 de março de 2 de abril de safra 2014/2015. Também está à frente na produção de
Bezerra 1987 1990 algodão em pluma – 856.184 toneladas para 2014/2015 – e
Edison Freitas de 2 de abril de 15 de março de rebanho bovino, com 28,41 milhões de cabeças. De acordo com
Oliveira 1990 1991 o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea),
Jaime Veríssimo de 15 de março de 31 de dezembro o agronegócio representa 50,5% do PIB do estado.
Campos 1991 de 1994 Com o agronegócio consolidado, Mato Grosso é terreno
Dante Martins de 1º de janeiro de 31 de dezembro fértil para as indústrias que atuam antes e depois da porteira.
Oliveira 1995 de 1998 Até 2013, segundo a Federação das Indústrias no Estado de
1º de janeiro de 6 de abril de Mato Grosso (Fiemt), o estado tinha 11.398 unidades
1999 2002 industriais em operação, com 166 mil empregos gerados.
6 de abril de 31 de dezembro Ainda assim, é preciso agregar mais valor ao produto que
José Rogério Salles
2002 de 2002 sai de Mato Grosso. Da porteira para dentro há potencial para
1º de janeiro de 31 de dezembro as empresas que abastecem os produtores com adubo,
Blairo Borges Maggi
2003 de 2006 defensivo e maquinário, entre outros produtos. Da porteira
1º de janeiro de 31 de março de para fora, as empresas de beneficiamento, como a têxtil e de
2007 2010 etanol.
Silval da Cunha 31 de março de 31 de dezembro
Barbosa 2010 de 2010 Plantação de soja
1º de janeiro de 31 de dezembro A Produção de grãos em Mato Grosso está associada à
2011 de 2014 atividade pecuária.
31 de dezembro O mapeamento mostra que a atividade pecuária
José Pedro 1º de janeiro de predomina em pelo menos 40% de Mato Grosso, com animais
de 2018
Gonçalves Taques 2015 de grande porte e rebanho de corte.
(previsão)
A atividade predomina no sul do estado, no nordeste, na
Política Fundiária e as tensões sociais no campo região do Rio Araguaia e no norte, entre Alta Floresta e Nova
Bandeirantes.
Em relação a questão fundiária e o processo e tensões A área para a produção de grãos e fibras apresenta maior
ocorridos pela disputa ao acesso à terra no estado de Mato concentração na região centro-norte do estado, especialmente
Grosso, recomendamos que leia o seguinte artigo publicado nos municípios de Sinop, Sorriso e Lucas do Rio Verde, e no
pela revista da UFSC através do link: centro-sul, sobretudo nos municípios de Campo Verde e
Primavera do Leste.

9 http://www.mt.gov.br/geografia. 10 http://www.mt.gov.br/economia.

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A atividade associa-se à pecuária de animais de grande Energia também não falta para mover esta máquina.
porte, dispersa por todas as regiões do estado. Superavitário no setor energético, Mato Grosso alcançou em
O Mapa da Cobertura e Uso da Terra de Mato Grosso é 2014 a produção de 14 milhões/MWh. Desse montante,
resultado da interpretação de imagens de satélite que são consumiu 9 milhões/MWh e exportou 5 milhões/MWh via o
comparadas à análise de informações obtidas em trabalhos de Sistema Interligado Nacional (SIN).
campo, análises de tipologia agrícola e de documentação
acessória disponível, como estatísticas e textos. Do ouro às pedras coradas
O IBGE também publica o manual Geoestatísticas de Se durante a colonização Mato Grosso foi reconhecido pelo
Recursos Naturais da Amazônia Legal, que apresenta ouro, hoje é um mercado potencial para a fabricação de joias e
avaliações qualitativas e quantitativas de dados sobre a semi joias a partir de pedras preciosas. Além de ser o maior
organização e a distribuição dos recursos naturais e da produtor de diamante do Brasil – com 88% do total da
cobertura da terra disponíveis para a Amazônia Legal, com produção brasileira, segundo o Departamento Nacional de
base em estatísticas do Banco de Dados e Informações Produção Mineral (DNPM) –, o estado também se destaca pelas
Ambientais, também do instituto, obtidos por aplicativos pedras coradas, como a ametista, o quartzo rosa, a ágata e a
computacionais de análise espacial. turmalina.
O mapa é disponibilizado nos formatos shape – arquivo A atividade mineral no Estado é histórica. Não há como
que contém dados geoespaciais em forma de vetor – e PDF, que falar da povoação de Mato Grosso sem falar da extração do
auxilia no processo de gestão ambiental, além de servir de ouro e diamante. Era 1719, quando o ouro foi descoberto por
apoio para a avaliação de impactos ambientais e elaboração de bandeirantes às margens do Rio Coxipó. Já o diamante
zoneamentos ecológico e econômico e de processos de começou a ser explorado no fim do século XVIII nas regiões de
transformação. Coité, Poxoréu e Diamantino.
Atualmente, conforme dados da Companhia Mato-
Pesquisa e tecnologia grossense de Mineração (Metamat), as pedras coradas se
O que poucos sabem é que Mato Grosso, além de grãos, é o concentram nas regiões noroeste, centro sul e leste de Mato
maior produtor de pescado de água doce do país, responsável Grosso. A granada, o zircão e o diopsídio em geral são
por 20% da produção do Brasil, com 75,629 mil toneladas encontrados associados ao diamante, nas regiões de
(IBGE 2013). E esse mercado tem muito a crescer. O potencial Paranatinga e de Juína.
está na abundância de rios e lagos em território mato- Nas proximidades de Rondolândia existe um depósito de
grossense. quartzo rosa e as turmalinas são encontradas próximas a
Atualmente, 72% do pescado produzido no estado são Cotriguaçu, enquanto as ametistas estão concentradas
destinados ao consumo interno, de acordo com dados de 2014 próximas aos municípios de Aripuanã (noroeste) e Pontes e
do Imea. O segundo maior consumidor do peixe produzido no Lacerda (oeste).
estado é o Pará (9,71%), seguido do Tocantins (2,35%). O
plano do Governo do Estado é estimular o aumento da Economia criativa
produção e atrair empresas de beneficiamento do peixe para A política de incentivo do Governo do Estado para o setor
exportá-lo para outros estados. inclui o estímulo a pequenos empresários do ramo joalheiro,
A Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e dentro do programa de Economia Criativa que vem sendo
Extensão Rural (Empaer) é uma das que investe no setor, tanto desenvolvido pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento
em pesquisa quanto na produção. A instituição mantém no Econômico (Sedec), que abrange setores como moda, design,
município de Nossa Senhora do Livramento uma estação de artes e gastronomia.
piscicultura onde são produzidos e comercializados alevinos Há 30 anos no mercado de joias em Cuiabá, Carmem
de espécies como pacu, tambacu e tambatinga. A meta da D’Lamonica vê Mato Grosso como um futuro polo joalheiro
instituição é fechar o primeiro quadrimestre de 2015 com uma pela abundância de pedras coradas existentes no solo mato-
produção de 800 mil alevinos. grossense e até então pouco exploradas. Para estruturar o
Para isso a Empaer conta com 39 tanques de reprodução mercado, avalia, é necessário criar uma política voltada para o
com capacidade para produzir um milhão de alevinos – sendo ramo, desde a extração até o produto final.
12 tanques de pesquisa e 27 para recria. A instituição também “Temos condições de montar uma cadeia produtiva e nos
oferece cursos para produtores rurais e técnicos agrícolas tornar referência no setor”, garante a designer, lembrando que
sobre noções básicas de piscicultura. matéria-prima atrai não apenas joalheiros, mas também
A borracha natural é outro foco da política de incentivos indústrias de semi joias e bijuterias.
desenvolvida pelo Governo de Mato Grosso, que quer agregar
valor à borracha produzida no estado, com beneficiamento e Paraíso do ecoturismo
industrialização. O estado é o segundo maior produtor de Cachoeiras, safaris, trilhas ecológicas, observação de
borracha natural do país, com 40 mil hectares de área plantada pássaros, mergulho em aquários naturais. Seja no Pantanal, no
e 25 mil famílias envolvidas na atividade, conforme dados da Cerrado ou no Araguaia, Mato Grosso é o destino certo para
Empaer. quem gosta de ecoturismo e para quem planeja investir no
Pioneira no estado em produção e pesquisa da seringueira, segmento que mais cresce no setor de turismo.
a empresa possui um campo experimental no município de Dados da Organização Mundial de Turismo (OMT)
Rosário Oeste (128 km ao Norte de Cuiabá) com jardim clonal apontam que o ecoturismo cresce em média 20% ao ano,
e viveiro para atender a agricultura familiar. Os produtores enquanto o turismo convencional apresenta uma taxa de
contam com o apoio do Programa Nacional de Fortalecimento aumento anual de 7,5%, conforme divulgado pelo Ministério
da Agricultura Familiar (Pronaf Eco), que disponibiliza uma do Turismo em 2014. A organização estima ainda que pelo
linha de crédito com prazo de 20 anos para pagamento e oito menos 10% dos turistas em todo o mundo sejam adeptos do
de carência. turismo ecológico.
Paralelamente, a Secretaria de Ciência e Tecnologia Como belezas naturais não faltam em Mato Grosso, os
(Secitec) investe em inovação e qualificação de mão de obra governos Federal e Estadual têm investido em infraestrutura
com a criação do primeiro parque tecnológico de Mato Grosso, de acesso a paraísos naturais mato-grossenses, como o
além de negociação com centros europeus para cooperações Pantanal. Exemplo disso é o projeto de substituição de pontes
na área de tecnologia. de madeira ao longo da rodovia Transpantaneira – que liga a
cidade de Poconé até a localidade de Porto Jofre, cortando a

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planície alagável. Ao todo serão construídas 31 pontes de época, Serraglio ainda não era ministro, e a PF, apesar dos
concreto. telefonemas, não encontrou indícios de crime em sua conduta.
Chapada dos Guimarães é outro ponto prioritário para a Nas interceptações, também foram citados outros
Sedec quando o assunto é infraestrutura. No município, que parlamentares do PMDB do Paraná - como o deputado federal
atrai visitantes adeptos do turismo de contemplação e de Sérgio Souza, da Frente Parlamentar da Agropecuária.
esporte de aventura, será executada a conclusão do Complexo
Turístico da Salgadeira e a pavimentação da MT-060 e MT-020. Quem comer a carne vencida vai ficar doente?
O Governo do Estado também retomou o diálogo com o Não necessariamente - a carne que já passou da data de
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade validade não tem uma aparência muito diferente da carne boa,
(ICMBio) para o andamento das obras do Portão do Inferno e caso mantida sob refrigeração adequada. O que muda é o
da entrada da Cachoeira Véu de Noiva, os dois principais gosto, que logo denuncia o produto ruim. Segundo
pontos de contemplação do Parque Nacional de Chapada. especialistas consultados pelo jornal Folha de S. Paulo, haverá
problema se tiverem se proliferado, no produto, colônias de
bactérias potencialmente nocivas, como coliformes fecais.
Nesse caso, o consumo da carne pode provocar enjoos, vômito
7. Tópicos relevantes e atuais de e diarreia.
política, economia, sociedade,
educação, tecnologia, energia, Para onde toda essa carne foi vendida?
As carnes eram comercializadas em todo o país e também
relações internacionais, exportadas. A agência de notícias Bloomberg destacou que o
desenvolvimento sustentável, esquema envolvia inclusive uma carga de carnes contaminada
segurança, ecologia e suas com salmonela e que estava a caminho da Europa.

vinculações históricas. E o mercado externo? Como reagiu?


Na sexta-feira, quando foi deflagrada a operação, as ações
da JBS caíra 10,6% e as da BRF caíram 7,3%. Em parte, pesou
contra elas a má repercussão internacional do caso. O jornal
Política americano The New York Times chegou a dizer que o caso
abala um dos poucos pilares ainda seguros da instável
Seis perguntas para entender a operação Carne economia brasileira, o agronegócio.
Fraca11
A Polícia Federal deflagrou, na manhã da última sexta-feira Haverá punições?
(17/03) a operação Carne Fraca, destinada a combater a venda Por ora, a Justiça Federal do Paraná já decretou o bloqueio
ilegal de carnes no país. A operação, a maior já realizada pela de R$1 bi em bens das investigadas. A Polícia Federal também
PF, contou com o trabalho de mais de mil agentes, em sete cumpriu 38 mandados de prisão - 34 deles para funcionários
Estados. Revelou uma extensa rede de corrupção - da qual públicos. Foram detidos, também, quatro executivos das
participavam empresários e dezenas de inspetores do governo empresas envolvidas. Entre eles, o gerente de Relações
- criada para garantir a comercialização de carnes adulteradas Institucionais e Governamentais da BRF Brasil, Roney
e com data de validade vencida. A investigação implicou mais Nogueira dos Santos, e o diretor da BRF André Luiz Baldissera.
de 30 empresas, entre elas as gigantes JBS e BRF - donas de
marcas como Friboi, Sadia e Perdigão. As duas figuram entre Câmara aprova proposta de reforma trabalhista; texto
as maiores exportadoras mundiais de carne. Negam ter segue para o Senado12
cometidos essas irregularidades. Projeto recebeu 296 votos favoráveis e 177 contrários;
deputados aceitaram somente uma proposta de alteração de um
O que houve? dos pontos do texto e rejeitaram outras 16.
De acordo com a Polícia Federal, ao menos 30 empresas Após quase 14 horas de sessão, a Câmara dos Deputados
produtoras de carne no Brasil adulteravam a data de validade concluiu, na madrugada desta quinta-feira (27), a votação da
dos produtos comercializados. Para mascarar a aparência e o proposta de reforma trabalhista do governo.
cheiro ruim da carne vencida, eram usados produtos químicos Aprovado por 296 votos a favor (eram necessários pelo
- o ácido ascórbico e o ácido sórbico. As empresas também menos 257) e 177 contrários, o texto segue agora para o
injetavam água nas peças, para aumentar o peso dos produtos, Senado.
e acrescentavam papelão no preparo de embutidos. As carnes Entre outros pontos, a reforma estabelece regras para que
chegavam aos supermercados graças ao pagamento de acordos entre empresários e representantes dos
propina a fiscais do Ministério da Agricultura, que afrouxavam trabalhadores passem a ter força de lei, o chamado "negociado
a vigilância. Nem sempre a propina envolvia dinheiro - até sobre o legislado".
mesmo caixas de carnes, frango e botas foram dadas como Dos 17 destaques apresentados (propostas de alteração no
forma de pagamento pela vista grossa das autoridades. texto), somente um foi aprovado. Os demais acabaram sendo
rejeitados ou retirados. O único destaque aprovado estabelece
Havia envolvimento de políticos? que, nos processos trabalhistas, a penhora on-line deverá se
Segundo a Polícia Federal, a propina paga aos fiscais limitar ao valor da dívida que a empresa tem com o
acabava alimentando os cofres de PP e PMDB. A polícia, no empregado.
entanto, ainda não conseguiu estabelecer por que essa divisão Entre os destaques rejeitados, estava o que mantinha como
acontecia. Um dos envolvidos no caso é o ministro da Justiça obrigatória a cobrança de contribuição sindical por três anos.
Osmar Serraglio (PMDB- PR). Ele aparece em grampos Depois desse prazo, segundo o texto do destaque, haveria uma
interceptados pela PF, conversando com Daniel Golçalves redução gradual no valor nos três anos seguintes. A proposta
Filho, fiscal agropecuário e líder do esquema criminoso. Na foi rejeitada por 259 votos contrários e 159 favoráveis.

11 18/03/2017 – Fonte: http://epoca.globo.com/brasil/noticia/2017/03/seis- <http://g1.globo.com/politica/noticia/camara-aprova-texto-base-da-reforma-


perguntas-para-entender-operacao-carne-fraca.html trabalhista.ghtml> Acesso em 28 de abril de 2017.
12 CALGARO, Fernanda. CARAM, Bernardo. Câmara aprova proposta de reforma

trabalhista; texto segue para o Senado. G1 Política. Disponível em:

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Votação Banco de horas - Patrões e empregados podem negociar,


Além dos partidos de oposição, contrários à reforma, por exemplo, jornada de trabalho e criação de banco de horas;
líderes de partidos governistas como SD e PSB orientaram o Multa por ausência de registro - Haverá multa de R$ 3 mil
voto contrário à proposta. O PSB chegou a fechar questão por trabalhador não registrado. No caso de micro e pequenas
contra o texto. empresas, o valor cai para R$ 800.
Para garantir mais votos favoráveis, o presidente Michel Home office - O trabalho em casa (home office) entra na
Temer decidiu exonerar ministros que têm mandato de legislação e terá regras específicas, como reembolso por
deputado na Câmara para que engrossassem os votos despesas do empregado;
favoráveis à reforma. Má-fé - Juízes poderão dar multa a quem agir com má-fé em
Entre os ministros que participaram da votação estavam processos trabalhistas.
Ronaldo Nogueira (Trabalho) e Mendonça Filho (Educação). Negociado sobre o legislado
O ministro Ronaldo Nogueira, exonerado Veja, abaixo, pontos que poderão se sobrepor à lei quando
temporariamente do cargo, saiu em defesa da matéria. "A houver acordo entre empresários e trabalhadores:
proposta se baseia em três eixos: o primeiro é consolidar Pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites
direitos. O segundo, dar segurança jurídica. E o terceiro eixo é constitucionais;
a geração de empregos", disse. Banco de horas anual;
Ele contestou as críticas de que a mudança retira direitos Intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de
dos trabalhadores. "Nenhum direito está ameaçado porque trinta minutos para jornadas superior a seis horas;
direito você não revoga, direito você aprimora. E nós Adesão ao Programa Seguro-Emprego
queremos garantir igualdade de condições para todos os Plano de cargos, salários e funções
brasileiros para que o trabalhador possa escolher através da Regulamento empresarial;
sua respectiva convenção coletiva e escolher a forma mais Representante dos trabalhadores no local de trabalho;
vantajosa para o trabalhador usufruir dos seus direitos", "Teletrabalho”, ou home office e trabalho intermitente;
ressaltou. Remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas e
A favor da reforma, o deputado Celso Maldaner (PMDB-SC) remuneração por desempenho individual;
defendeu a aprovação do projeto por entender ser necessário Modalidade de registro de jornada de trabalho;
modernizar a legislação atual. Troca do dia de feriado;
“Todos os direitos dos trabalhadores serão respeitados. O Enquadramento do grau de insalubridade;
que estamos fazendo é modernizar a legislação trabalhista, Prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem
que está em vigor desde 1943 e precisa incorporar a realidade licença prévia do Ministério do Trabalho;
de profissões que nem existiam naquela época”, afirmou. Prêmios de incentivo em bens ou serviços;
Durante a sessão, a oposição protestou com cartazes e Participação nos lucros ou resultados da empresa.
palavras de ordem em diversos momentos. Deputados Veja, abaixo, as hipóteses nas quais não será permitida, por
oposicionistas chegaram a subir à mesa do plenário, com acordo coletivo, supressão ou redução dos seguintes direitos:
placas e cartazes, para fazer um protesto. Nesse momento, Normas de identificação profissional, inclusive as
irritado com a manifestação, o presidente Rodrigo Maia (DEM- anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social;
RJ), empurrou o deputado Afonso Florence (PT-BA). Mais Seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
tarde, pediu desculpas publicamente. Valor dos depósitos mensais e da indenização rescisória do
Os oposicionistas afirmam que a aprovação do texto vai FGTS;
fragilizar as relações de trabalho, além de gerar demissões. A Salário-mínimo;
deputada Benedita da Silva (PT-RJ) classificou de “farsa” o Valor nominal do décimo terceiro salário;
argumento de que as mudanças na legislação trabalhista não Remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
vão retirar direitos dos trabalhadores. Proteção do salário na forma da lei;
“É uma farsa dizer que não tira direitos. Dá ao empregador Salário-família;
plena liberdade para não assegurar os direitos dos Repouso semanal remunerado;
trabalhadores”, disse. Remuneração do serviço extraordinário superior, no
mínimo, em 50% à do normal;
Temer Número de dias de férias devidas ao empregado;
Após a aprovação do texto-base, o porta-voz da Gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
Presidência da República, Alexandre Parola, afirmou em terço a mais do que o salário normal;
pronunciamento que a nova legislação, se aprovada pelo Licença-maternidade com a duração mínima de 120 dias,
Senado, "permitirá garantir os direitos dos trabalhadores com extensão do benefício à funcionária que adotar uma
previstos na Constituição Federal e impulsionar a criação de criança;
empregos no país". Licença-paternidade nos termos fixados em lei;
"O presidente Michel Temer agradece à base de apoio do Proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante
governo e às lideranças partidárias, ministros de Estado, incentivos específicos;
governadores, prefeitos e representantes empresariais e Aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no
sindicais que atuaram decididamente em favor da aprovação mínimo de 30 dias;
do projeto na Câmara. O mesmo grau de engajamento será Normas de saúde, higiene e segurança do trabalho;
agora necessário para a aprovação definitiva da reforma Adicional de remuneração para as atividades penosas,
trabalhista no Senado Federal", disse Parola. insalubres ou perigosas;
Aposentadoria;
Principais pontos do projeto Seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do
Férias - As férias poderão ser parceladas em três vezes ao empregador;
longo do ano; Ação, quanto aos créditos resultantes das relações de
Horas extras - Será permitido, desde que haja acordo, que trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os
o trabalhador faça até duas horas extras por dia de trabalho; trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após
Contribuição sindical - A contribuição sindical, hoje a extinção do contrato de trabalho;
obrigatória, passa a ser opcional; Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e
critérios de admissão do trabalhador com deficiência

História de Mato Grosso 16


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Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a pena de R$ 1 mil. No texto aprovado, foi reduzido o valor da
menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16 multa para R$ 3 mil para cada empregado não registrado. No
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos; caso de micro e pequenas empresas, a multa será de R$ 800.
Medidas de proteção legal de crianças e adolescentes; Na hipótese de não serem informados os registros, ele reduziu
Igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo a multa para R$ 600.
empregatício permanente e o trabalhador avulso; Jornada de trabalho - Hoje, a legislação não conta como
Liberdade de associação profissional ou sindical do jornada de trabalho o tempo gasto pelo trabalhador no
trabalhador; deslocamento até o local de trabalho e na volta para casa, por
Direito de greve; qualquer meio de transporte. A exceção é quando o empregado
Definição legal sobre os serviços ou atividades essenciais e usa transporte fornecido pelo empregador por ser um local de
disposições legais sobre o atendimento das necessidades difícil acesso ou onde não há transporte público. O texto
inadiáveis da comunidade em caso de greve; aprovado deixa claro que não será computado na jornada de
Tributos e outros créditos de terceiros; trabalho o tempo que o empregado levar até “a efetiva
Proibição de anúncio de emprego que faça referência a ocupação do posto de trabalho” e não mais até o local de
sexo, idade, cor ou situação familiar, salvo quando a natureza trabalho. Além disso, deixa de considerar como jornada de
da atividade exigir, além da vedação a recusa de emprego, trabalho o tempo usado pelo empregado no trajeto utilizando
promoção ou diferença salarial motivadas por essas meio de transporte fornecido pelo empregador “por não ser
características; tempo à disposição do empregador”. Também não será
Proibição de que o empregador exija atestado para computado como extra o período que exceder a jornada
comprovação de esterilidade ou gravidez, além de proibição normal quando o empregado, por escolha própria, buscar
da realização de revistas íntimas em funcionárias; proteção pessoal, em caso de insegurança nas vias públicas ou
Proibição de que uma mulher seja empregada em serviço más condições climáticas, ou ficar nas dependências da
que demande força muscular superior a 20 quilos para o empresa para exercer atividades particulares, como higiene e
trabalho contínuo, ou 25 quilos para o trabalho ocasional; troca de roupa ou uniforme, quando não houver
Autorização para mulher romper compromisso contratual, obrigatoriedade de realizar a troca na empresa.
mediante atestado médico, se este for prejudicial à gravidez; Regime parcial - A lei em vigor considera trabalho em
Repouso remunerado de duas semanas em caso de aborto regime de tempo parcial aquele cuja duração não passe de 25
não criminoso; horas semanais. Pela legislação atual, é proibida a realização
Dois descansos diários de meia hora cada para mulheres de hora extra no regime parcial. O projeto aumenta essa carga
lactantes com filho de até seis meses; para 30 horas semanais, sem a possibilidade de horas
Exigência de que os locais destinados à guarda dos filhos suplementares por semana. Também passa a considerar
das operárias durante o período da amamentação deverão trabalho em regime de tempo parcial aquele que não passa de
possuir, no mínimo, um berçário, uma sala de amamentação, 26 horas por semana, com a possibilidade de 6 horas extras
uma cozinha dietética e uma instalação sanitária. semanais. As horas extras serão pagas com o acréscimo de
Outras mudanças 50% sobre o salário-hora normal. As horas extras poderão ser
Veja outras alterações propostas pelo projeto: compensadas diretamente até a semana seguinte. Caso isso
Férias em três etapas - Atualmente, as férias podem ser não aconteça, deverão ser pagas.
tiradas em dois períodos, desde que um deles não seja inferior Regime normal - Em relação ao regime normal de trabalho,
a 10 dias corridos. Pelo novo texto, desde que o empregado o texto mantém a previsão de, no máximo, duas horas extras
concorde, as férias poderão ser usufruídas em até três diárias, mas estabelece que as regras poderão ser fixadas por
períodos, sendo que um deles não poderá ser inferior a 14 dias “acordo individual, convenção coletiva ou acordo coletivo de
corridos e os demais não poderão ser menores do que 5 dias trabalho”. Hoje, a CLT diz que isso só poderá ser estabelecido
corridos, cada um. Também fica vedado o início das férias no “mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou
período de dois dias que antecede feriado ou dia de repouso mediante contrato coletivo de trabalho”. Pela regra atual, a
semanal remunerado. remuneração da hora extra deverá ser, pelo menos, 20%
Terceirização - O projeto propõe uma série de superior à da hora normal. O projeto votado na Câmara
salvaguardas para o trabalhador terceirizado. Em março, o aumenta esse percentual para 50%.
presidente Michel Temer sancionou uma lei que permite a Banco de horas - Hoje, a lei prevê a compensação da hora
terceirização para todas as atividades de uma empresa. O texto extra em outro dia de trabalho, desde que não exceda, no
inclui uma espécie de quarentena, na qual o empregador não período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de
poderá demitir o trabalhador efetivo e recontratá-lo como trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de
terceirizado em um período de 18 meses. A empresa que dez horas diárias. A regra é estabelecida por acordo ou
recepcionar um empregado terceirizado terá, ainda, que convenção coletiva de trabalho. O texto apreciado prevê que o
manter todas as condições que esse trabalhador tem na banco de horas poderá ser pactuado por acordo individual
empregadora-mãe, como uso de ambulatório, alimentação e escrito, desde que a compensação ocorra no período máximo
segurança. de seis meses. Além disso, poderá ser ajustada, por acordo
Contribuição sindical - Atualmente, o pagamento da individual ou coletivo, qualquer forma de compensação de
contribuição sindical é obrigatório e vale para empregados, jornada, desde que não passe de dez horas diárias e que a
sindicalizados ou não. Uma vez ao ano, é descontado o compensação aconteça no mesmo mês.
equivalente a um dia de salário do trabalhador. Se a mudança Jornada de 12 x 36 horas - Hoje, a Justiça autoriza a
for aprovada, a contribuição passará a ser opcional. realização da jornada de 12 horas de trabalho alternados por
Multa - Pela legislação atual, o empregador que mantém 36 horas de descanso para algumas categorias. Esse tipo de
empregado não registrado fica sujeito a multa de um salário- jornada de trabalho é seguido por várias categorias, sendo
mínimo regional, por empregado não registrado, acrescido de observado o limite semanal de cada profissão em legislação
igual valor em cada reincidência. Na reforma enviada pelo específica. Com a reforma trabalhista, a jornada 12x36 passa a
governo, o texto propõe multa de R$ 6 mil por empregado não fazer parte da legislação. O texto também prevê que a
registrado, acrescido de igual valor em cada reincidência. No remuneração mensal incluirá descanso semanal remunerado
caso de microempresa ou empresa de pequeno porte, a multa e descanso em feriados.
prevista é de R$ 1 mil. O texto prevê ainda que o empregador Trabalho remoto ou home office - Atualmente, não há
deverá manter registro dos respectivos trabalhadores sob previsão na legislação para o trabalho home office, como

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quando o empregado trabalha de casa. O texto da reforma Justiça do Trabalho - No texto, é definido maior rigor para
inclui o trabalho em casa na legislação e estabelece regras para a criação e alteração de súmulas, interpretações que servem de
a sua prestação. Ele define, por exemplo, que o referência para julgamentos. Ficará definido na CLT como as
comparecimento às dependências do empregador para a súmulas poderão ser produzidas. Será exigida a aprovação de
realização de atividades específicas que exijam a presença do ao menos dois terços dos ministros do Tribunal Superior do
empregado no estabelecimento não descaracteriza o regime Trabalho para que elas sejam editadas. Ainda assim, essa
de trabalho remoto. Deverá haver um contrato individual de definição só poderá ser feita se a mesma matéria já tiver sido
trabalho especificando as atividades que serão realizadas pelo decidida de forma idêntica por unanimidade em pelo menos
empregado. O contrato também deverá fixar a dois terços das turmas, em pelo menos dez sessões diferentes.
responsabilidade sobre aquisição, manutenção ou Má-fé - O texto estabelece punições para quem, seja o
fornecimento dos equipamentos, além da infraestrutura reclamante ou o reclamado, agir com má-fé em processos
necessária, assim como ao reembolso de despesas arcadas judiciais na área trabalhista. O juiz poderá dar condenação de
pelo empregado. As utilidades não poderão integrar a multa, entre 1% e 10% da causa, além de indenização para a
remuneração do empregado. parte contrária. Será considerada de má-fé a pessoa que
Mulheres e trabalho insalubre - Atualmente, a lei proíbe alterar a verdade dos fatos, usar o processo para objetivo
que mulheres grávidas ou lactantes trabalhem em ambientes ilegal, gerar resistência injustificada ao andamento do
com condições insalubres. O texto apreciado na Câmara prevê processo, entre outros.
que a empregada gestante seja afastada das atividades
consideradas insalubres em grau máximo enquanto durar a STF considera válida cota de 20% para negros em
gestação. Quando o grau de insalubridade for médio ou concurso público13
mínimo, ela poderá apresentar atestado de saúde, emitido por Dez ministros se manifestaram favoravelmente à lei. Corte
um médico de confiança da mulher, que recomende o analisa se cota vale para todos os poderes e se deve ser aplicada
afastamento dela durante a gestação. No caso da lactação, ela em promoções internas.
também poderá apresentar atestado de saúde para ser O Supremo Tribunal Federal (STF) votou pela validade de
afastada de atividades consideradas insalubres em qualquer uma lei de 2014 que obrigou órgãos públicos federais a
grau. O projeto garante que, durante o afastamento, não reservar 20% de suas vagas em concursos públicos para
haverá prejuízo da remuneração da mulher, incluindo o valor negros.
do adicional de insalubridade. Quando não for possível que a O julgamento havia sido suspenso no mês passado, após o
gestante ou a lactante afastada exerça suas atividades em local voto favorável de 5 dos 11 ministros. Nesta quinta-feira (8), o
salubre na empresa, a situação será enquadrada como debate foi retomado e os ministros Dias Toffoli, Ricardo
gravidez de risco e ela poderá pedir auxílio-doença. Lewandowski, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Cármen
Dano extrapatrimonial - O texto inclui na legislação Lúcia se manifestaram pela constitucionalidade da cota.
trabalhista a previsão do dano extrapatrimonial, quando há Em maio, já haviam votado a favor os ministros Luís
ofensa contra o empregado ou contra a empresa. São Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luiz Fux
consideradas passíveis de reparação quando, no caso da e Rosa Weber.
pessoa física, por exemplo, houver ofensa à honra, imagem, Apenas Gilmar Mendes não votou. Ele não participou da
intimidade, liberdade de ação ou saúde. No caso da pessoa sessão porque participa do julgamento no Tribunal Superior
jurídica, quando houver ofensa à imagem, marca, nome, Eleitoral que analisa ação que pede a cassação da chapa Dilma-
segredo empresarial e sigilo da correspondência. Caberá ao Temer.
juiz fixar a indenização a ser paga.
Trabalhador autônomo - O texto da reforma deixa claro A ação
que a contratação do autônomo, com ou sem exclusividade, de A ação, proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil
forma contínua ou não, afasta a qualidade de empregado. (OAB), visava sanar dúvidas sobre a aplicação da lei, que vinha
Trabalho intermitente - Sobre o contrato individual de sendo questionada em outras instâncias judiciais.
trabalho, o texto mantém que ele poderá ser acordado No julgamento, os ministros acompanharam o voto do
verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou relator, que defendeu que a cota de 20% vale para concursos
indeterminado, mas inclui a previsão para que o trabalho seja da administração pública federal. A assessoria de imprensa do
prestado de forma intermitente, que permite a contratação de STF informou que a regra é válida para os poderes Executivo,
funcionários sem horário fixo de trabalho. O contrato deverá Legislativo e Judiciário, no âmbito federal.
ser por escrito e conter especificamente o valor da hora de No voto, Barroso disse ainda que a definição não é
trabalho, que não pode ser inferior ao valor-horário do salário obrigatória para órgãos estaduais e municipais, mas pode ser
mínimo ou àquele pago aos demais empregados que exerçam seguida por eles.
a mesma função em contrato intermitente ou não. O Não ficou definido se a cota de 20% deve ser considerada
empregado deverá ser convocado com, no mínimo, três dias nos concursos internos de promoção e de transferência.
corridos de antecedência. No período de inatividade, o Por fim, o STF examinou se os órgãos públicos podem
trabalhador poderá prestar serviços a outros contratantes. Ao verificar eventuais falsas declarações de candidatos cotistas.
final de cada período de prestação de serviço, o empregado O voto vencedor do relator admitiu essa verificação, por
receberá o pagamento imediato das parcelas do salário, férias exemplo, por meio da autodeclaração presencial, exigência de
e décimo terceiro salário proporcionais. Também haverá o fotos e entrevista por comissões plurais posterior à
recolhimento da contribuição previdenciária e do FGTS. Nesse autodeclaração.
ponto, a pedido da categoria dos aeronautas, o projeto passou Nesse caso, essa identificação deve ocorrer num processo
a definir que trabalho intermitente será proibido em casos de no qual seja respeitada a dignidade da pessoa humana e
profissões regidas por legislação específica. garantidos o contraditório e a ampla defesa do candidato,
Sucessão empresarial - O projeto prevê que, no caso de recomendou o ministro.
sucessão empresarial ou de empregadores, as obrigações A lei diz que, constatada a falsa declaração, o candidato
trabalhistas passam a ser de responsabilidade do sucessor. poderá ser eliminado do concurso ou demitido se for
constatada a fraude após sua admissão no serviço público.

13 CARAM, BERNARDO. STF considera válida cota de 20% para negros em concurso 20-para-negros-em-concurso-
público. G1 Política. Disponível em: publico.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1>
<http://g1.globo.com/politica/noticia/maioria-do-stf-considera-valida-cota-de- Acesso em 09 de junho de 2017.

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Essa e outras dúvidas na aplicação da lei deverão ser melhor campanhas. Benjamin usou os depoimentos dos marqueteiros
definidas ao final do julgamento. para comprovar o uso de caixa 2.
No início do julgamento, a OAB e a União se manifestaram Ele chegou a dividir a propina em caixa 2, propina-gordura,
a favor da manutenção da lei. Segundo a ONG Educafro, que ou propina-poupança (dinheiro reservado para ser usado
também participou da discussão, atualmente, 27% dos cargos depois) e caixa 3 (operações de empresas que serviram como
federais são preenchidos por negros, enquanto que na "barriga de aluguel" para que outras doassem mais dinheiro e
população, 55% das pessoas se declaram negras. seus nomes não aparecessem nas contabilidades das
campanhas).
TSE absolve a chapa Dilma-Temer por abuso de poder — A Odebrecht está na petição inicial, queria dizer que
econômico e político nas Eleições 201414 temos Petrobras, temos uma contratante da Petrobras, temos
Coube ao presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes, pagamento tirado de um crédito rotativo de uma conta
desempatar o placar do julgamento poupança para o partido do governo e esses recursos foram
Por 4 votos a 3, os ministros que compõem o TSE (Tribunal utilizados para os marqueteiros dessa campanha de 2014. E
Superior Eleitoral) absolveram nesta sexta-feira (9) a chapa que sejam relacionados a débitos de 2010, 2012 é irrelevante,
Dilma-Temer por abuso de poder econômico e político nas pois sem esses pagamentos, eles disseram em depoimentos,
Eleições 2014. Votaram pela absolvição os ministros Gilmar não fariam a campanha. Por isso reconheço o abuso de poder
Mendes, que foi o voto de desempate, Napoleão Maia Nunes e político com altos impactos nas eleições.
os recém indicados por Temer Admar Gonzaga e Tarcísio Em abril, quando o julgamento começou, o tribunal aceitou
Vieira. Votaram pela condenação os ministros Rosa Weber, pedido da defesa de incluir novas testemunhas no processo, o
Luiz Fux e o relator Herman Benjamin. ex-ministro Guido Mantega e os delatores João Santana,
Coube ao presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes, Mônica Moura e André Santana, estes três últimos presos na
desempatar o placar do julgamento. Por recair sobre ele o peso Operação Acarajé após a descoberta do departamento de
da absolvição, o ministro fez um voto extenso. Justificou o operações estruturadas (propina) da Odebrecht.
motivo de ter votado pelo prosseguimento da ação contra a — A Odebrecht até merecia uma fase própria. Não é um
chapa que agora absolve em 2015. Voto que foi citado pelo capítulo, é um título inteiro. Uma empresa que liderou o ataque
relator Herman Benjamin várias vezes ao longo do julgamento. à Petrobras e que está desde o início. A Odebrecht era a
— Havia sinais de que havia abusos, como na questão das matriarca da manada de elefantes que transformou a
gráficas. Mas aqui é como se fosse, no máximo, o recebimento Petrobras numa savana africana para a reprodução da
de uma denúncia. Quantas vezes recebemos denúncia que são rapinagem.
depois excluídas. Primeiro é preciso julgar para depois O julgamento foi marcado pelo embate entre os ministros
condenar. E é assim que se faz. O objeto dessa questão é Herman Benjamin, relator, e Gilmar Mendes, presidente da
sensível e não se compara a qualquer outro porque trata da Corte, que tinham visões divergentes. Apesar das discussões
soberania popular. dentro do plenário, Benjamin e Mendes são amigos há mais de
O relator, ainda na quinta (8), ao finalizar o seu voto, já com trinta anos.
a sinalização de que seria derrotado pelo plenário, defendeu o Para tentar convencer os seus colegas tanto na preliminar
uso das provas coletadas e das delações da Odebrecht, alvo de quanto no mérito, Benjamin chegou a usar um voto anterior de
grande discussão ao longo de todo o julgamento. Gilmar Mendes no próprio processo, quando ele defendeu dar
— Recuso papel de coveiro de prova viva. Posso participar seguimento a ação. Mendes acusou Benjamin de distorcer
do velório, mas não carrego caixão. a sua visão e chegou a chamar o relator de 'falacioso' em um de
Dilma e Temer eram acusados de usar recursos de propina seus argumentos.
de contratos superfaturados da Petrobras na campanha O relator focou o seu voto quanto ao mérito no uso de caixa
eleitoral que saiu vitoriosa por uma margem pequena da chapa 2 nas eleições. Também foi discutida a importância da reforma
de Aécio Neves, autor da ação. O PSDB e o Ministério Público eleitoral para acabar com arrecadações ilegais em eleições no
Eleitoral podem recorrer ao próprio TSE por meio de Brasil, como disse o relator.
embargos de declaração, assim como aconteceu no julgamento — No Brasil ninguém fazia doações por questões
do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), mas ainda ideológicas. Aqui era sempre na expectativa de cooptação e
não declararam se irão recorrer da decisão. Os embargos só favorecimento futuro ou já ocorrido.
podem ser apresentados após a publicação do acórdão do Para Gilmar Mendes, houve "alargamento" do pedido
julgamento, que deve demorar cerca de dez dias. inicial da ação. Para ele, a Odebrecht não tem relação com o
As sessões começaram na noite de terça-feira (6) e se possível pagamento de propina da Petrobras a chapa. Ele
estenderam até esta sexta (9). Somado, o julgamento durou ressaltou, contudo, que não está negando a corrupção, mas se
cerca de 30 horas, descontados os intervalos. A maior parte do atendo aos fatos sobre a chapa eleitoral.
tempo foi gasta na discussão das preliminares (questões — Estamos discutindo abuso de poder econômico nas
colocadas pela defesa sobre o processo, e não sobre o mérito) eleições.
e no voto do relator. Durante o julgamento das preliminares também foi
A única das sete preliminares apresentadas pela defesa discutido se recursos eram caixa 2 ou caixa 1 (doações legais
aceita pela maioria dos ministros foi a de descartar as delações de empresas para as campanhas). Um dos ministros, Admar
da Odebrecht da ação de cassação, por terem sido reveladas Gonzaga disse que só caixa 1 deveria ser considerado. O
depois do início da ação (inicial). argumento foi rechaçado pelo relator, e lembrado sempre no
Apesar da maioria dos ministros entenderem que as seu voto.
delações da Odebrecht deveriam ser descartadas, o relator — Se foi montado um sofisticado esquema de arrecadação
Herman Benjamin centrou o seu voto pela condenação nas de dinheiro público, como não é caixa 2? questionou o relator.
informações prestadas pelos marqueteiros João Santana e Admar Gozaga chegou a dizer que Benjamin estava
Mônica Moura. tentando constranger os demais ministros.
Para o relator, as investigações da Lava Jato revelaram o Nos quatro dias de julgamento, apenas o assessor de
esquema de distribuição de propina e os políticos tinham Temer Gastão Toledo esteve no TSE para acompanhar de perto
conhecimento de que recebiam dinheiro ilícito nas das discussões. O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que era

14 LONDRES, MARIANA. TSE absolve a chapa Dilma-Temer por abuso de poder poder-economico-e-politico-nas-eleicoes-2014-10062017> Acesso em 12 de junho
econômico e político nas eleições de 2014. R7, Brasil. Disponível em: < de 2017.
http://noticias.r7.com/brasil/tse-absolve-a-chapa-dilma-temer-por-abuso-de-

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presidente da corte durante o julgamento do mensalão, o mundo, tornando-se sinônimo de qualidade em mais de 150
também esteve no plenário em uma das sessões de discussão. países.
Mas esse selo de garantia está sob risco desde a última
Último dia de julgamento sexta-feira, quando a Polícia Federal revelou um esquema de
O último dia do julgamento, esta sexta (9), foi marcado pela adulteração envolvendo pelo menos 30 frigoríficos.
finalização do voto do relator, que ao todo levou nove horas Por si só, pela natureza das descobertas, a operação Carne
em dois dias, e pelos votos dos demais ministros. Por um Fraca já teria o potencial de causar estragos significativos no
acordo entre os ministros, cada um, tirando o relator, tinha mercado interno. Afinal, qual brasileiro vai querer comprar - e
vinte minutos para falar. consumir - possível carne adulterada?
Além das leituras dos votos, o vice-procurador eleitoral Mas o problema se torna ainda pior porque essa mesma
Nicolao Dino pediu o impedimento do ministro Admar pergunta está sendo feita pelos compradores internacionais -
Gonzaga, por ele ter sido, nas Eleições 2010, advogado da ex- nesta segunda-feira (20/03), países como China, Chile e Coreia
presidente Dilma Rousseff. O pedido foi negado pela corte e o do Sul, além da União Europeia, suspenderam
presidente Gilmar Mendes chegou a suspender a sessão por temporariamente as importações de empresas citadas na
cinco minutos em função do pedido, seguido por uma fraude.
manifestação acalorada do ministro Napoleão Maia Nunes. Por causa disso, segundo economistas ouvidos pela BBC
Brasil, o impacto na economia brasileira pode ser "maior do
Aprovação de Temer é de 7%, a menor marca em 28 que se imaginava".
anos, diz Datafolha15 Eles ressalvam, contudo, que tudo "dependerá de quanto
Na estimativa do instituto, apenas José Sarney ficou abaixo, vão durar os embargos e se mais países vão aderir a ele".
com 5% em 1989
BRASÍLIA — Apenas 7% dos brasileiros consideram o 'Péssimo momento'
governo de Michel Temer como ótimo ou bom — a menor Mas existe um consenso: a operação da PF veio em um
marca apurada pelo Instituto Datafolha em 28 anos. Na série "péssimo momento" para o agronegócio, um dos pilares da
histórica, apenas José Sarney ficou abaixo deste patamar, ao economia brasileira, que vinha esboçando sinais de
tocar 5% de aprovação em setembro de 1989, durante a crise recuperação.
da hiperinflação. "O Brasil custou para abrir novos mercados e agora a
A impopularidade do presidente aumentou desde a imagem do país está abalada lá fora. É difícil prever o que vai
revelação da colaboração premiada dos donos da JBS, que acontecer, mas não resta dúvida de que esse escândalo será
situaram Temer no centro de um esquema de corrupção prejudicial para a economia brasileira", diz à BBC Brasil José
nacional. Segundo o Datafolha, 69% do público considerada a Carlos Hausknecht, sócio diretor da MB Agro, braço agrícola da
gestão ruim ou péssima, e 23% avaliam o governo como consultoria MB Associados.
regular. Em outras palavras: isso pode acarretar um
Mulheres, jovens e eleitores de renda mais baixa mostram prolongamento da recessão, afetando a vida de todos os
mais indisposição com Temer, em comparação com a média da brasileiros.
população. Já segundo estimativa da consultoria LCA consultores, no
Em 1989, 68% consideravam ruim ou péssima a atuação pior dos cenários - se todos os países fecharem as portas às
de Sarney, enquanto 24% julgavam a administração regular. importações de carne brasileira - o impacto no PIB pode ser de
O novo levantamento do instituto ouviu 2.771 pessoas até 1 ponto porcentual. A previsão oficial do governo, que deve
entre quarta-feira e a sexta-feira. Os novos números ser revisada para baixo nos próximos dias, é de crescimento de
evidenciam a queda da popularidade do presidente, que, há 1%.
dois meses, somava 9% entre os entrevistados que avaliavam
a gestão como ótima ou boa. No fim de abril, 61% julgavam o Desemprego e inflação
governo como ruim ou péssimo e 28% enxergavam uma A revelação do esquema de carne adulterada terá
administração regular. consequências para a economia brasileira, explicam os
A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais especialistas, pela "importância do setor de carnes".
ou para menos. O Datafolha ainda informou que a nota do Atualmente, de toda a carne produzida no Brasil, 80% é
presidente caiu de 3 para 2,7 na nova pesquisa. Não souberam consumida pelo mercado interno. O restante vai para fora.
responder 2% dos entrevistados. No ano passado, as exportações brasileiras do produto
A avaliação de Temer é pior que a de Dilma Rousseff às somaram mais de US$ 14 bilhões (R$ 43 bilhões), ou 7,5% do
vésperas da conclusão do processo de impeachment, quando a total exportado, atrás apenas do minério de ferro e da soja.
petista seria destituída pelo Congresso. Na época, ela tinha Além disso, o setor de carnes possui uma cadeia produtiva
13% de aprovação e 63% de reprovação. A impopularidade do "muito extensa", com "efeitos indiretos", lembra Gesner
peemedebista é semelhante à da ex-presidente de agosto de Oliveira, sócio da consultoria GO Associados.
2015, quando Dilma amealhou 71% de avaliações de um Oliveira estima que uma redução de 10% nas exportações
governo ruim ou péssimo. brasileiras de carne pode custar 420 mil postos de trabalho e
Além de Temer, Dilma e Sarney, apenas Fernando Collor R$ 1,1 bilhão a menos em impostos - notícia nada positiva em
atingiu índices tão negativos frente à população. Ele somava um momento de crise fiscal.
68% de ruim e péssimo, em setembro de 1992, ao sofrer Já a inflação também deve subir por causa do escândalo,
impeachment. "devido a algum tipo de recall das carnes já distribuídas ao
comércio", diz à BBC Brasil André Perfeito, economista-chefe
Economia da Gradual Investimentos.
Qual é o impacto do escândalo das carnes na economia Apesar disso, ressalva ele, o impacto na subida dos preços
brasileira?16 deve ser residual, já que o peso total das carnes no índice
Terceiro maior produto de exportação do Brasil, atrás da oficial (IPCA) é de apenas 3,69%.
soja e do minério de ferro, as carnes brasileiras conquistaram

15O GLOBO. Aprovação de Temer é de 7%, a menor marca em 28 anos, diz 16 21/03/2017 – Fonte: http://g1.globo.com/economia/noticia/qual-e-o-
Datafolha. O Globo, Brasil. Disponível em: impacto-do-escandalo-das-carnes-na-economia-brasileira.ghtml
<https://oglobo.globo.com/brasil/aprovacao-de-temer-de-7-menor-marca-em-
28-anos-diz-datafolha-21515257> Acesso em 26 de junho de 2017.

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"Nesse sentido, uma alta adicional de 2% nesses produtos segundo semestre, espera-se elevação da arrecadação em
iria criar um impacto de 7 pontos base (ou 0,07%) na inflação função da melhora da atividade econômica”.
plena: neste caso, se o IPCA fosse de 4,50%, ele ficaria em Arrecadação federal
4,57%", afirma. O presidente da ACSP esclarece que, embora a arrecadação
"Mas será preciso saber mais detalhes sobre como isso vai federal tenha caído em termos reais, é o número nominal (sem
ocorrer, pois não há notícias de desabastecimento e não se descontar a inflação), o mesmo medido pelo Impostômetro,
trata da totalidade de toda a cadeia da carne", acrescenta. que deve ser analisado. “Nosso painel não mede apenas
tributos federais. Também entram na conta os estaduais e
Concorrência e protecionismo municipais. O que temos que observar são os valores nominais,
Os especialistas também apontaram que, por causa do porque os gastos são todos nominais”.
escândalo, o Brasil poderia perder espaço para outros
competidores no mercado global de carnes. Sociedade
Nesse sentido, segundo eles, seria um "grande retrocesso"
para um setor que se tornou prioridade durante os mandatos Brasil tem 2,6 milhões de crianças em situação de
de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff trabalho infantil, diz estudo18
(2011-2016). O Brasil tem 2,6 milhões de crianças e adolescentes (entre
Nesse período, recursos públicos foram direcionados (via 5 e 17 anos) em situação de trabalho infantil, segundo
BNDES, a agência nacional de fomento) para a criação dos levantamento feito pela Fundação Abrinq. O panorama
chamados "campeões nacionais" - com o apoio irrestrito do nacional da infância e adolescência é lançado nesta terça-feira
governo, empresas como a JBS e a BRF formaram monopólios (21/03) pela organização sem fins lucrativos que promove a
e se projetaram internacionalmente. defesa dos direitos de crianças e adolescentes.
"Hoje em dia, o mercado é altamente competitivo. A pesquisa ainda aponta um aumento de 8,5 mil crianças
Qualquer deslize pode ser fatal", diz Oliveira, da GO de 5 a 9 anos em situação de trabalho infantil, e redução de 659
Associados. mil crianças e adolescentes na faixa de 10 a 17 anos na
Hausknecht, da MB Agro, concorda que o escândalo acaba comparação entre os anos de 2014 e 2015 – segundo dados da
gerando uma oportunidade para potenciais concorrentes, mas Pnad 2015.
avalia que, atualmente, pelas condições do mercado, não há A maior parte delas encontra-se nas regiões Nordeste e
competidores à altura do Brasil. Sudeste, sendo que, proporcionalmente, a Região Sul lidera a
"A Austrália, por exemplo, que poderia ser uma alternativa concentração desse público nessa condição.
ao Brasil para a oferta de carnes à China, ainda estão A compilação reúne os dados mais recentes no tema,
recompondo o rebanho", diz, em alusão à forte seca que forçou disponibilizados em órgãos como IBGE, Ministério da Saúde,
produtores australianos a elevarem o escoamento de animais Ministério da Educação, Disque Denúncia, entre outros.
para o abate.
"Já os Estados Unidos, o segundo maior produtor mundial Pobreza
de carne bovina, tampouco tem muita entrada no mercado O “Cenário da Infância e Adolescência – 2017” também
chinês por causa da escalada da tensão entre Washington e revela que 17,3 milhões de crianças de 0 a 14 anos, equivalente
Pequim." a 40,2% da população brasileira nessa faixa etária, vivem em
"Por fim, a Índia também é outro grande exportador de domicílios de baixa renda, segundo dados do IBGE (2015).
carne bovina, mas ela é de pior qualidade", completa. Entre as regiões que apresentam a maior concentração de
Para Campos, da LCA Consultores, a maior consequência pobreza (pessoas que vivem com renda domiciliar per capita
do escândalo é dar munição a governos para impor mais tarifas mensal igual ou inferior a meio salário mínimo), o Nordeste e
alfandegárias ao Brasil, em um contexto de maior o Norte do País continuam apresentando os piores cenários,
protecionismo no mundo. com 60% e 54% das crianças, respectivamente, vivendo nessa
"Trump (Donald Trump, presidente dos Estados Unidos) já condição.
deu sinais de que pretende lançar mão de medidas O guia também traz números sobre o que é considerado
protecionistas. Nesse caso, isso (escândalo das carnes como “extrema pobreza”, isto é, crianças cuja família tem
adulteradas) pode ser usado como desculpa", conclui. renda per capita é inferior a ¼ de salário mínimo: 5,8 milhões
de habitantes (13,5% da população) de 0 a 14 anos de idade.
População brasileira já pagou R$ 1 trilhão em A publicação chama a atenção sobre o fato de as regiões
impostos este ano17 que mais concentram crianças e adolescentes no Brasil
A marca de R$ 1 trilhão no painel do Impostômetro da apresentarem, justamente, os piores indicadores sociais. No
Associação Comercial de São Paulo (ACSP) foi registrada às 8h Norte do país, 25,5% dos bebês dos nascidos são de mães com
desta sexta-feira (16). O valor equivale ao total de impostos, menos de 19 anos.
taxas e contribuições pagos pela população brasileira desde o
dia 1º de janeiro de 2017. Violência
Em 2016, o montante de R$ 1 trilhão foi alcançado em 5 de De acordo com o estudo, quase 18,4% dos homicídios no
julho. O presidente da entidade, Alencar Burti, explica que a país são praticados contra crianças e adolescentes. Pouco mais
arrecadação aumenta quando há crescimento econômico e de 80% deles com armas de fogo.
elevação de impostos. “Já que nossa economia não está A região Nordeste concentra a maior proporção de
crescendo, essa diferença de 19 dias reflete aumentos e homicídios de crianças e jovens por armas de fogo e supera a
correções feitos em impostos e isenções, além da obtenção de proporção nacional em 5,4 pontos percentuais.
receitas extraordinárias como o Refis [parcelamento de
débitos tributários]. Reflete também a inflação, que, apesar de Brasil tem greve e protestos em 25 estados contra as
ter caído, segue em patamar alto”, analisa. Para Burti, “no reformas de Temer19

17SOUZA, LUDMILLA. População brasileira já pagou R$1 trilhão em impostos esse 18 21/03/2017 – Fonte: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/brasil-tem-26-
ano. EBC Agência Brasil. Disponível em: milhoes-de-criancas-em-situacao-de-trabalho-infantil-diz-estudo.ghtml
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-06/populacao- 19 DW. Brasil tem greve e protestos em 25 estados contra as reformas de Temer.

brasileira-ja-pagou-r-1-trilhao-em-impostos-este-ano> Acesso em 16 de junho de DW Brasil. Disponível em: < http://www.dw.com/pt-br/brasil-tem-greve-e-


2017. protestos-em-25-estados-contra-as-reformas-de-temer/a-38630159> Acesso em
28 de abril de 2017.

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Paralisação de 24 horas convocada por centrais sindicais e saúde devem funcionar com escala reduzida, a exemplo do
movimentos sociais acontece em todo o país. Serviços de Hospital de Pronto-Socorro João XXIII e dos hospitais Júlia
transporte coletivo, aeroportos e escolas são os principais Kubistchek e Odete Valadares.
afetados. O TRT-MG declarou feriado no órgão, suspendendo as
Diversas cidades em todo o país amanheceram com vias audiências e os prazos que venceriam na data.
bloqueadas nesta sexta-feira (28/04), devido à greve geral A BH Airport, concessionária do Aeroporto Internacional
contra as reformas trabalhista e da Previdência, ainda em de Confins, afirmou que os serviços serão oferecidos
tramitação, e a Lei da Terceirização. normalmente, mas pede que os passageiros se informem
A greve, que pretende ser maior em mais de 20 anos, foi diretamente com as companhias aéreas sobre a situação de
convocada após a Câmara dos Deputados aprovar a reforma seus voos.
trabalhista na quarta-feira. Convocada por centrais sindicais e
movimentos sociais, a paralisação foi acordada nos últimos Salvador
dias em vários estados por meio de assembleias. Com adesão Rodoviários, bancários, professores das redes estadual e
em 25 estados e no Distrito Federal, a greve e as manifestações municipal, petroleiros, além de servidores municipais, da
afetaram, sobretudo, os serviços de transporte coletivo, Justiça e do Ministério Público Estadual afirmaram que irão
aeroportos e escolas. parar as atividades. Os médicos estaduais também
informaram que vão suspender os atendimentos eletivos
Brasília (como consultas), mas que os serviços de urgência e de
Rodoviários, metroviários, bancários, professores da rede emergência serão mantidos.
pública e privada, servidores administrativos do governo do No Aeroporto Internacional de Salvador, aeronautas
DF e do Departamento de Trânsito (Detran), além de técnicos anunciaram adesão ao movimento, e voos poderão ser
e professores da Universidade de Brasília (UnB) prometeram cancelados ou remarcados. A Associação Brasileira das
parar suas atividades por 24 horas, informa a Central Única Empresas Aéreas orienta os passageiros com viagem marcada
dos Trabalhadores (CUT). para que entrem em contato com a empresa aérea e se
Também devem aderir vigilantes, trabalhadores do setor informem sobre possíveis cancelamentos e remarcações.
de hotéis, bares e restaurantes, servidores da Companhia de
Saneamento Ambiental do DF (Caesb), da Companhia Recife
Energética de Brasília (CEB) e do Ministério Público da União, Policiais civis, federais, rodoviários federais, agentes
além dos trabalhadores do ramo financeiro, como os de penitenciários e guardas municipais do Recife devem aderir à
transporte de valores. greve geral. Também prometeram parar servidores da
Assembleia Legislativa e do Ministério Público de
São Paulo Pernambuco, professores e servidores das redes estadual,
Pelo menos 15 categorias afirmaram que participarão da municipal e privada de educação e auditores fiscais da
greve. Entre elas, estão professores da rede pública estadual, Secretaria da Fazenda do estado. Houve adesão ainda de
municipal e particular, bancários, servidores municipais, metalúrgicos, petroleiros, químicos, indústria naval,
trabalhadores da Saúde e Previdência do estado e construção pesada, bancários e comerciários.
metalúrgicos do ABC. Uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª
Metroviários (com exceção da Linha Amarela), ferroviários Região (TRT) determinou que os serviços de ônibus e metrô
(Linhas 7, 10, 11 e 12 da CPTM não funcionarão) e rodoviários funcionem com 50% da frota nos horários de pico e 30% nos
também cruzarão os braços por um dia, Já os funcionários dos demais períodos e estabeleceu uma multa de R$ 100 mil em
Correios decretaram greve nacional por tempo caso de descumprimento. O Sindicato dos Rodoviários de
indeterminado. Pernambuco, porém, informou que a paralisação está mantida.

Rio de Janeiro Porto Alegre


A greve geral tem a adesão de funcionários do metrô, Rodoviários, metroviários, aeroviários e bancários
motoristas e cobradores de ônibus, policiais civis, militares, prometeram aderir à greve. Professores das redes municipal,
federais; servidores da Justiça Federal e da Trabalhista; estadual, tanto do setor público quanto privado, também
radialistas; petroleiros; carteiros e aeroviários. aprovaram a adesão.
A Secretaria Estadual de Transportes, contudo, informou
que os sistemas de metrô, trens, barcas e ônibus Curitiba
intermunicipais funcionarão normalmente, ainda que com Motoristas e cobradores de ônibus, professores e
planos de contingência. servidores das escolas municipais e estaduais, servidores
Professores das escolas públicas e particulares também estaduais da saúde, aeroviários e trabalhadores da limpeza
prometeram aderir, mas as secretarias estadual e municipal de urbana decidiram paralisar nesta sexta-feira.
Educação avisaram que as escolas abrirão normalmente e que
os profissionais que faltarem terão o ponto cortado. 34% dizem ter vergonha de ser brasileiros, segundo
Datafolha20
Belo Horizonte Ainda segundo o levantamento, publicado pelo jornal 'Folha
Rodoviários, metroviários, professores das redes pública e de S.Paulo', 63% se sentem mais orgulhosos do que
privada, servidores públicos, profissionais da saúde, envergonhados.
trabalhadores dos Correios, eletricitários, bancários, Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta terça-feira
psicólogos, economistas, jornalistas, radialistas, petroleiros e (2) pelo jornal "Folha de S.Paulo" apontou que 34% têm
aeroportuários, entre outros, prometeram aderir à greve. vergonha de ser brasileiros. O índice daqueles que têm mais
No caso dos professores das escolas municipais, foi orgulho do que vergonha de ser brasileiros é de 63%, o menor
aprovada uma greve de dois dias, que teve início já na véspera. valor para a série histórica, segundo o Datafolha.
Professores e servidores da Universidade Federal de Minas O Datafolha questiona a população sobre o orgulho de ser
Gerais também decidiram parar. Algumas unidades do setor de brasileiro desde 2000. O menor resultado havia sido em julho

20 G1, BRASÍLIA. 34% dizem ter vergonha de


ser brasileiros, segundo Datafolha. G1, vergonha-de-ser-brasileiros-segundo-datafolha.ghtml> Acesso em 02 de maio de
Política. Disponível em: < http://g1.globo.com/politica/noticia/34-dizem-ter- 2017.

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de 2016, quando 67% diziam se sentir orgulhosos. Já o menor Usuários deixam Praça Princesa Isabel e retornam
índice dos envergonhados havia sido em 2000, quando era de para antiga Cracolândia22
9%. Praça estava tomada apenas por lixo na noite desta quarta-
A atual pesquisa ouviu 2.781 pessoas em 172 municípios feira (21). Ruas que antes de ação da Prefeitura e da polícia na
na semana passada. A margem de erro de 2 pontos percentuais região da Luz, em 21 de maio, concentravam os dependentes
para mais ou para menos. voltaram a ser ocupadas.
O Datafolha também ouviu as pessoas sobre a avaliação do Os usuários de drogas que há exato um mês ocuparam a
Brasil como lugar para viver. Para 54%, o Brasil é um país Praça Princesa Isabel, na Luz, no Centro de São Paulo,
ótimo ou bom para morar, uma queda de sete pontos retornaram para a região da antiga Cracolândia, na noite desta
percentuais desde o final do ano passado. Para 26% é regular quarta-feira (21).
e para 20% é ruim ou péssimo. Por volta das 22h, a Praça, que desde a ação da Prefeitura
Segundo o instituto, as duas avaliações, apesar de estar em e da polícia no dia 21 de maio concentrava a maioria dos
queda, ainda mostram otimismo com o país, já que a maioria usuários, o chamado "fluxo", estava vazia, apenas tomada por
sente orgulho de ser brasileiro e considera o Brasil um bom lixo.
lugar para morar. Os dependentes químicos agora ocupam a Alameda
Cleveland, próximo à Rua Helvétia. A polícia está no local e
71% são contra reforma da Previdência, aponta fechou algumas ruas da região. Ainda não há informações
pesquisa Datafolha21 sobre as razões que teriam provocado tal deslocamento.
Pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais "Fim da Cracolândia"
para mais ou para menos. Instituto ouviu 2.781 pessoas nos dias Foi na madrugada do dia 21 de maio, após uma ação
26 e 27 de abril. policial na região da Luz, no Centro de São Paulo, que o prefeito
Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta segunda- João Doria anunciou o “fim da Cracolândia” e o início do
feira (1º) pelo jornal “Folha de S.Paulo” mostra que 71% dos Redenção, programa municipal de combate ao uso de drogas.
brasileiros são contrários à reforma da Previdência e 23%, a Um mês após tal começo, entretanto, o “fluxo”, nome dado
favor. Veja os índices: ao local que concentra os usuários, apenas tinha migrado dos
- Contra: 71% quarteirões da Rua Helvétia para a Praça Princesa Isabel. Os
- A favor: 23% dependentes revelam desconhecer as propostas da atual
- Não sabe: 5% gestão, e dizem fazer parte do Braços Abertos, programa de
- Indiferente: 1% redução de danos criado pelo ex-prefeito Fernando Haddad –
Segundo o Datafolha, 73% das mulheres e 69% dos e supostamente extinto por Doria.
homens são contrários à reforma. A rejeição é maior entre os O projeto de Haddad previa a reinserção social dos
mais escolarizados (76% entre os que têm ensino superior, usuários de droga da Luz por meio de emprego e moradia em
73% entre os que têm ensino médio e 64% entre os que têm hotéis do bairro. Atualmente, 388 pessoas residem em sete
ensino fundamental). hospedagens que continuam a prestar serviço, e a serem pagos
O instituto quis saber os principais pontos de crítica entre pela Prefeitura.
os entrevistados. São eles: Na prática, por ora, para esse grupo, nada mudou. Mas há
- Contribuição de 40 anos exigida para receber o temor de despejo. “A gente não sabe pra onde vai, ninguém
aposentadoria integral: 60% diz nada”, afirma uma beneficiária do antigo programa, que
- Idade mínima de 65 anos para homens: 27% prefere não se identificar.
- Idade mínima de 62 anos para mulheres: 25% A Prefeitura confirmou que as 388 pessoas que estão nos
- Todas essas propostas da reforma: 23% hotéis pertencentes ao programa Braços Abertos seguem
Segundo o Datafolha, 66% tomaram conhecimento da atendidas nesses locais até "que com o avanço das ações em
proposta, sendo que estão: andamento sejam implantadas soluções alternativas de
- Mais ou menos informados: 39% acolhimento".
- Bem informados: 18% Em nota enviada à imprensa nesta terça (20), a gestão
- Mal informados: 9% municipal afirma que equipes da assistência social realizaram,
Segundo o Datafolha, entre os que se dizem informados, desde o dia 21 de maio, 25.235 abordagens na região da Luz.
78% são contra a reforma. Deste total, houve 10.786 encaminhamentos para acolhimento
Para a maioria dos entrevistados, militares, policiais e nos equipamentos da rede assistencial, 7.719 atendimentos na
professores deveriam ter as mesmas regras de aposentadoria. Unidade Emergencial de Atendimento, e 6.730 recusas de
A maior parte dos ouvidos (52%) também diz que o brasileiro atendimento. Apenas no último domingo (18), foram feitas
se aposenta mais tarde do que deveria; 38% acham que isso 1.293 abordagens na Luz, com 472 acolhimentos e 62 recusas.
ocorre na idade adequada e 8%, mais cedo do que deveria. A tenda na Rua Helvétia, que na gestão petista oferecia
atividades de lazer, banho e espaço para descanso aos
Reforma trabalhista beneficiários, perdeu a placa com o nome “Braços Abertos” no
O Datafolha também questionou os entrevistados sobre a dia 21. A retirada foi acompanhada pelo secretário de
reforma trabalhista. Para 64%, ela privilegia mais os Assistência e Desenvolvimento Social, Felipe Sabará. Parte da
empresários que os trabalhadores; 21% consideram que o programação também deixou de existir. O espaço segue
trabalhador será mais beneficiado. acolhendo os dependentes químicos da área, com
Segundo a pesquisa, 58% acham que terão menos direitos funcionamento 24 horas e, sob a nova administração, recebeu
com a reforma e 21%, que terão os mesmos direitos que terão uma lona azul.
hoje; 11% acham que terão mais direitos. O fim do Braços Abertos era anunciado por Doria durante
A pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais a campanha eleitoral. Algumas estruturas, porém, segundo
para mais ou para menos e índice de confiança de 95%. O apurou o G1, seguem em vigor.
Datafolha ouviu 2.781 pessoas em 172 municípios nos dias 26 Nas últimas quatro semanas, o que se viu intensificar
e 27 de abril. foram as intervenções policiais.

21G1. 71% são contra reforma da Previdência, aponta pesquisa Datafolha. G1 22MACHADO, LÍVIA, G1, SP. Usuários deixam Praça Princesa Isabel e retornam
Economia. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/71-sao- para antiga Cracolândia. G1 São Paulo. Disponível em: http://g1.globo.com/sao-
contra-reforma-da-previdencia-aponta-pesquisa-datafolha.ghtml> Acesso em 02 paulo/noticia/usuarios-deixam-praca-princesa-isabel-de-retornam-para-antiga-
de maio de 2017. cracolandia.ghtml> Acesso em 22 de junho de 2017.

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Nesta terça-feira (20), a funcionária de uma ONG que municipal a posse dos imóveis. A medida foi considerada
presta serviço para a secretaria de Assistência e arbitrária por especialistas.
Desenvolvimento Social foi detida ao tentar acompanhar uma Como parte do projeto da “Nova Luz”, a administração
abordagem policial na Praça Princesa Isabel. municipal também iniciou a demolição de alguns edifícios do
No dia 14, a Polícia Militar usou bombas de gás e spray de bairro. Um imóvel chegou a ser derrubado com pessoas
pimenta contra usuários de drogas que estavam na tenda do dentro. Após o ocorrido, a Justiça de São Paulo já havia
programa municipal Redenção. proibido a administração municipal de remover
Um vídeo registrado no interior do espaço mostrava o compulsoriamente as pessoas da região da Cracolândia e de
momento em que os guardas chegam ao local. Segundo interditar e demolir imóveis com moradores.
testemunhas, o portão foi quebrado pelos policiais. Um pedaço A gestão de Doria acionou a Justiça para conseguir
da lona foi perfurado por bala de borracha e uma pessoa ficou apreender usuários de droga da região para avaliação médica.
ferida. Cerca de 100 pessoas estavam na tenda. O pedido também solicitava a internação compulsória de
dependentes químicos.
Ação em tenda na Cracolândia O Ministério Público, a Defensoria Pública e o Conselho
Na avaliação do promotor Arthur Pinto Filho, da Regional de Medicina se posicionaram contrários às ações. A
Promotoria da Saúde, a detenção de uma profissional que atua Justiça chegou a autorizar a busca e apreensão, mas a decisão
diretamente com os usuários impede a existência de “qualquer foi derrubada dois dias depois.
serviço com profundidade”. O MP investiga se a Guarda Civil Metropolitana (GCM)
“Enquanto a PM e a GCM estiverem fazendo o que estão cometeu o desvio de função durante operação na Cracolândia
fazendo, a chance de um programa, qualquer programa, dar do dia 21. De acordo com a Promotoria, o inquérito civil apura
certo, é zero”, defende o promotor. a suspeita de que a GCM atuou e continua atuando
Ele ainda afirma que nos próximos dias o Ministério irregularmente na Cracolândia ao revistar usuários de drogas
Público, a Defensoria Pública, o Conselho Regional de Medicina como se fosse a Polícia Militar (PM).
e outras entidades vão se reunir com a Prefeitura para fazer
um balanço e traçar um rumo para o programa. Educação
A Polícia Civil informou à GloboNews que, do dia 21 de
maio ao dia 19 de junho, foram presos 130 suspeitos de tráfico Câmara arquiva PEC que permitiria cobrança por
de drogas, 14 menores de idade foram detidos e 12,6 kg de cursos em universidades públicas23
crack foram apreendidos. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 395/14, que
permitiria às universidades cobrarem por cursos de pós-
Tenda do projeto Redenção na Rua Helvétia graduação lato sensu (especialização), de extensão e de
Quase um mês após a instalação da tenda do projeto mestrado profissional foi arquivada. Eram necessários 308
Redenção, da Prefeitura de São Paulo, na Rua Helvétia, ela foi votos para a aprovação da matéria em segundo turno na
desmontada nesta terça-feira (20). Segundo a Prefeitura, a Câmara dos Deputados, mas 304 parlamentares se
ação estava prevista porque a estrutura fazia parte um posicionaram a favor e 139, contra.
contrato emergencial com a SPTuris. O texto já havia passado pela Câmara em primeiro turno e
A administração municipal disse que, ainda nesta terça, alterava o Artigo 206 da Constituição Federal, que determina
outra tenda seria instalada e que um novo contrato, este a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais.
definitivo, foi feito. No entanto, a Prefeitura não soube Na ocasião, os parlamentares aprovaram um substitutivo do
informar qual empresa será a responsável. deputado Cléber Verde (PRB-MA), que alterou a proposta
Um contêiner intitulado de “Unidade Avançada” CAPSADIII inicial para incluir o mestrado profissional como passível de
foi instalado no dia 26 de maio. Os CAPS são os Centros de cobrança. O tema foi o principal ponto de polêmica entre os
Atenção Psicossocial, e, este da Rua Helvétia, segundo a deputados. Parte da base aliada defendeu a medida, e a
Prefeitura, é como se fosse um “anexo” da unidade da Rua oposição contestou os argumentos dos governistas, alegando
Prates. Ele não poderia ser uma nova unidade porque não está que a proposta poderia levar à privatização do ensino público.
de acordo com o que a portaria do Ministério da Saúde Antes da rejeição da PEC, Celso Pansera (PMDB-RJ) negou
estabelece - em termos de infraestrutura e equipe - para a a intenção de privatizar o ensino público. Para o deputado, a
modalidade de CAPSADIII. iniciativa iria suprir uma demanda do mercado por cursos de
Para a psicóloga e sanitarista Lumena Castro Furtado, ex- especialização. “A modernização do sistema produtivo cria
secretária de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, ter demandas pontuais por cursos de pós-graduação lato sensu
profissionais do CAPS na região é positivo, mas “há uma (em sentido amplo). As universidades públicas têm quadros
preocupação de que o espaço vire um balcão de internação”. preparados para prestar esse serviço ao futuro do país e não
Segundo a profissional, a internação requer vínculo, e deve ser conseguem porque a legislação não permite”, sustentou.
aplicada como último recurso. O líder do PSOL, Glauber Braga (RJ), disse que a cobrança
A profissional ainda disse que a unidade “fere a proposta de mensalidades flexibiliza o direito à educação assegurado na
de cuidado que a gente tem nessa área”. Isso porque ela diz que Constituição e que a medida poderia acabar sendo estendida
é importante ter o que profissionais da área chamam de para outras etapas de ensino. “Onde a gente vai parar?
“escuta qualificada”, que é entender o que há por trás do Primeiro é a vírgula da pós-graduação, depois a graduação e
pedido de internação. “Quantas vezes já fui abordada por depois a educação básica”, afirmou.
pessoas que pedem internação e o que ela quer é um cuidado
intensivo. Nesse cuidado intensivo no CAPS que você vai Mudanças no Enem dividem opiniões24
avaliar se é necessária a internação”, explica Lumena. As mudanças no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
dividiram opiniões, e o assunto chegou aos tópicos mais
Cronologia comentados nas redes sociais hoje (09/03). As provas deste
Após retirar os usuários da Rua Helvétia, a Prefeitura ano serão aplicadas em dois domingos seguidos, nos dias 5 e
anunciou a desapropriação de imóveis na região. Um decreto 12 de novembro, e não mais em um único fim de semana. Além
foi publicado no “Diário Oficial” que afirmava garantir a gestão disso, na edição deste ano, a prova de redação será no primeiro

23 29/03/2017 – Fonte: 24 09/03/2017 – Fonte:


http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-03/camara-arquiva- http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-03/mudancas-no-
pec-que-permitira-cobranca-por-cursos-em-universidades enem-dividem-opinioes

História de Mato Grosso 24


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dia, junto com as questões de linguagens e ciências humanas. para a revisão das disciplinas de exatas. "Descanso para o
O segundo dia de aplicação será das exatas, com matemática e estudante, só quando passar na universidade."
ciências da natureza.
As mudanças foram feitas com base em consulta pública Ciência e Tecnologia
realizada pelo Ministério da Educação (MEC). Cerca de 600 mil
pessoas participaram da consulta, que ficou disponível no Ciência: técnica pode tornar realidade a produção de
período de 18 de janeiro a 17 de fevereiro. Dentre os "bebês sob medida"25
participantes, 42,3% disseram preferir a prova em dois Uma nova técnica de edição do DNA conhecida como
domingos seguidos; 34,1%, no domingo e na segunda-feira - CRISPR promete grandes avanços na biologia e na medicina,
sendo segunda feriado; e, 23,6% optaram pela manutenção do mas desperta polêmica pelo potencial de alterar genes
formato até então vigente, aplicação em um final de semana, humanos e produzir “bebês sob medida”.
no sábado e no domingo. Uma nova técnica de manipulação do genoma conhecida
Adventista, Amanda Pereira, de 18 anos, gostou da como CRISPR/Cas9 (pronuncia-se “crísper-cás-nove”) vem
alteração. Por causa da religião, até o ano passado, os conquistando cientistas ao redor do planeta. Criada em 2012,
sabatistas, pessoas que guardam o sábado, passavam a tarde hoje ela se popularizou e promete impulsionar descobertas
toda do primeiro dia de prova em uma sala até que o sol se nas áreas de biologia e medicina.
pusesse para, então, fazer o Enem à noite. Amanda fez o exame A expectativa é que no futuro o uso da CRISPR/Cas9 em
em 2014 e prometeu para si mesma que não repetiria a pesquisas possa curar doenças genéticas alterando o DNA
experiência. (conjunto de moléculas que carrega a informação genética de
A alteração trouxe, no entanto, desvantagens para quem todos os seres vivos). Mas essa técnica abre caminho para
pretendia fazer a prova em outra cidade. A estudante Maya outra possibilidade: realizar uma “edição” do genoma de
Carvalho, de 18 anos, mora em São Paulo, mas grande parte da maneira barata, fácil e precisa.
família está em Brasília. No ano passado, ela fez a prova na A CRISPR (sigla em inglês para “clustered regularly
capital federal. Agora, viajar dois fins de semana seguidos será interspaced short palindromic repeats”; em português,
inviável. "Prefiro ficar perto da família por conta do apoio, meu repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente
pai vai comigo até a porta da sala para me abraçar. Agora, vai interespaçadas) é um mecanismo de defesa do corpo humano.
ficar difícil porque terei aula na semana de intervalo entre as Trata-se de uma parte do sistema imunológico bacteriano, que
provas." mantém partes de vírus perigosos ao redor para poder
Sobre a aplicação em dois domingos, Maya teme prejuízo reconhecer e se defender dessas ameaças no futuro.
para os alunos. "Eu acho meio estranho porque, ao mesmo A segunda parte desse mecanismo de defesa é um conjunto
tempo em que há a ideia de que é possível se recuperar para a de enzimas chamadas Cas, que podem cortar precisamente o
próxima prova com mais tranquilidade, pode-se também DNA e eliminar vírus invasores. Existem diversas enzimas Cas,
perder o foco dos estudos." mas a mais conhecida é chamada Cas9. Ela vem da
Streptococcus pyogenes, uma bactéria conhecida por causar
Dicas infecção na garganta.
O professor de português Marcelo Freire, do Colégio Único,
em Brasília, estava em sala de aula quando as mudanças foram Como funciona o método
anunciadas. Ele aproveitou para discutir as alterações com os O método usa uma proteína (enzima chamada Cas9)
alunos. "Eles estão muito divididos", disse Freire. guiada por uma molécula de RNA que corta as fitas de DNA em
Segundo Freire, a aplicação em dois domingos tem prós e pontos específicos e ativa vias de reparo. É possível desativar,
contras, mas, no geral, deverá beneficiar os estudantes. "Tem- ativar ou inserir novos genes. Embora tenha sido descoberta
se um dia de desgaste e, depois, uma semana para a próxima em 2012, a técnica tornou-se mais popular nos últimos dois
aplicação. Não tem mais essa questão de domingo estar anos. Uma justificativa para isso é que ela permite que a
esgotado após um sábado de prova. O estudante poderá se modificação de genomas com uma precisão nunca antes
organizar e fazer a prova com mais tranquilidade no próximo atingida.
domingo." “É como um canivete suíço que corta o DNA em um local
Freire também elogiou a nova distribuição das provas. No específico e pode ser usado para introduzir uma série de
primeiro dia, o foco será em humanidades e redação e, no alterações no genoma de uma célula ou organismo”, diz a
segundo, em exatas. Até o ano passado, os estudantes faziam, definição da técnica da bióloga Jennifer Doudna, da
no primeiro dia, as provas de ciências da natureza e ciências Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA), uma das
humanas. No segundo, as provas de matemática, linguagens e pioneiras na aplicação do mecanismo.
redação. Ao retirar partes defeituosas do genoma, pesquisadores
"A aplicação das provas de redação e matemática no estão conseguindo eliminar mutações em células de animais e
mesmo dia sempre gerou problemas com o tempo. As questões plantas. Em janeiro deste ano, cientistas norte-americanos
de matemática exigem tempo, e a redação, também. A utilizaram a técnica para cortar a parte de um gene defeituoso
mudança é positiva nesse sentido. Vai ter mais leitura no em ratos com distrofia muscular de Duchanne, doença
primeiro dia, vai, mas tem a vantagem de não ter cálculo. No genética rara. O experimento permitiu que as células dos
segundo dia aumenta cálculo? Aumenta, mas o estudante não animais produzissem uma proteína essencial para os
terá que fazer a redação", pondera. músculos. A pesquisa foi o primeiro caso de sucesso da
Segundo o professor, os estudantes terão que mudar CRISPR/Cas9 em mamíferos vivos.
também a preparação. "O bom aluno é treinado para fazer Cientistas já estão encontrando novas formas de
questões casadas. No ano passado, fazia questões de aplicações da técnica, como desenvolver terapias que ajudem
matemática e português, porque as provas eram juntas, agora na cura de doenças como câncer, leucemia e hemofilia.
terá que treinar fazer questões de humanidades juntas e de Algumas pesquisas testam limites éticos da ciência e reavivam
exatas juntas". Sobre a semana de intervalo entre as provas, os debates sobre experimentos com embriões humanos e
Freire aconselha que ela não seja usada para o descanso, mas mutações nos genes humanos.

25 24/01/2017. Fonte: https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-


disciplinas/atualidades/ciencia-tecnica-pode-tornar-realidade-a-producao-de-
bebes-sob-medida.htm

História de Mato Grosso 25


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Com a técnica, seria possível “forçar” organismos a e organizações, como hospitais britânicos, a gigante espanhola
repassarem certos traços genéticos hereditários, sejam Telefónica e a empresa francesa Renault. No Brasil, empresas
naturais ou inseridos pelo método. O temor é que essa e órgãos públicos de 14 estados mais o Distrito Federal
possibilidade abra precedentes para a criação de “bebês sob também foram afetados.
medida”. "O ataque é de um nível sem precedentes e exigirá uma
Por exemplo, cientistas poderão editar genes para gerar complexa investigação internacional para identificar os
bebês com características físicas específicas, como a cor dos culpados", afirmou em um comunicado a Europol.
olhos, do cabelo ou da pele. A possibilidade do “design” de Dezenas de milhares de computadores de uma centena de
bebês ainda não foi comprovada, mas novas pesquisas podem países, entre eles Rússia, Espanha, México e Itália, foram
avançar nessa questão. infectados na sexta por um vírus "ransonware", explorando
Em 2017, o Instituto Karolinska de Estocolmo, na Suécia, uma falha nos sistemas Windows, exposta em documentos
obteve aprovação para testar a técnica em embriões humanos. vazados da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos
Eles esperam que, por meio da desativação de determinados (NSA).
genes, seja possível compreender melhor os primeiros Os ataques usam vírus de resgate, que inutilizam o sistema
estágios do processo de desenvolvimento humano. O objetivo ou seus dados até que seja paga uma quantia em dinheiro -
é melhorar a eficácia dos tratamentos de fertilização. entre US$ 300 e US$ 600 em Bitcoins, segundo o grupo russo
de segurança Kaspersky Lab. Ou seja, eles "sequestram" o
O primeiro teste em humanos acesso aos dados e pedem uma recompensa.
No final de 2016, cientistas chineses já anunciaram testes Empresas afetadas em todo o mundo
de engenharia genética com embriões humanos. A equipe No Brasil, os ciberataques levaram várias empresas e
queria consertar um gene defeituoso, causador da talassemia órgãos públicos a tiraram sites do ar e desligarem seus
beta. O resultado da edição não obteve sucesso --os genes computadores:
modificados sofreram mutações aleatórias. Petrobras
No estudo chinês, foram utilizados embriões não viáveis, Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em todo o Brasil
que nunca poderiam gerar um bebê. Agora os cientistas do Tribunais da Justiça de São Paulo, Sergipe, Roraima,
Instituto Karolinska estão usando zigotos sadios que estavam Amapá, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
congelados em clínicas de fertilização, mas seriam Rio Grande do Norte, Piauí, Bahia e Santa Catarina
descartados. Ministério Público de São Paulo
No Reino Unido, o uso da CRISPR/Cas9 foi aprovado Itamaraty
recentemente para pesquisas em embriões humanos que Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
buscam melhorar a qualidade das fertilizações in vitro e De acordo com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI)
reduzir o número de abortos. da presidência, as invasões ocorreram em grande quantidade
Os especialistas afirmam que a edição em linhagens no país por meio de e-mails com arquivos infectados. Segundo
germinativas (óvulos e espermatozoides) apresenta barreiras o GSI, "não há registros e evidências de que a estrutura de
como o risco de edição imprecisa, dificuldade de prever efeitos arquivos dos órgãos da Administração Pública Federal (APF)
danosos e dificuldade de remoção da modificação. Serão tenha sido afetada".
necessários inúmeros experimentos para conseguir a O Serviço Público de Saúde britânico (NHS), quinto
possibilidade da alteração de forma precisa e segura. empregador do mundo, com 1,7 milhão de trabalhadores, foi a
Outro temor da comunidade científica é que, em mãos principal vítima no Reino Unido. O gigante americano do
erradas, a tecnologia que edita o DNA possa reavivar correio privado FedEx, o ministério do Interior russo e o
ideologias perigosas como a eugenia, que prega a “melhoria construtor de automóveis francês Renault - que suspendeu sua
genética” das populações humanas. Durante a Segunda Guerra produção em várias fábricas da França "para evitar a
Mundial, o nazismo usou a eugenia para justificar o genocídio propagação do vírus" - indicaram neste sábado à AFP que
dos judeus e de minorias. O Estado buscou eliminar da também foram hackeados.
sociedade alemã qualquer tipo de pessoa que não fosse ariana A companhia ferroviária pública alemã também está
ou que apresentasse alguma deficiência mental ou física. envolvida. Embora os painéis das estações tenham sido
No entanto, o design de bebês ainda é realidade muito hackeados, a Deutsche Bahn certificou que o ataque não teve
distante. Além da falta de pesquisas que asseguram a nenhum impacto no tráfego.
estabilidade do processo, o tema deve passar por uma forte Segundo a Kaspersky, a Rússia foi o país mais atingido
regulação judicial. Atualmente, muitos países proíbem estudos pelos ataques. Os meios de comunicação russos afirmam que
com embriões humanos. No Brasil, a lei de biossegurança vários ministérios, assim como o banco Sberbank, também
brasileira, de 2005, deixa claro ser proibida a “engenharia foram atacados.
genética em célula germinal humana, zigoto humano e O centro de monitoramento do Banco Central russo IT
embrião humano”. "detectou uma distribuição em massa do software daninho do
Por Carolina Cunha, da Novelo Comunicação primeiro e segundo tipo", revela um comunicado do Banco
Central citado pelas agências de notícias russas.
Ataque de hackers 'sem precedentes' provoca alerta As autoridades americanas e britânicas aconselharam os
no mundo26 particulares, as empresas e organizações afetadas a não
Ataque exigirá 'investigação internacional para identificar pagarem os hackers, que exigem um resgate para desbloquear
os culpados', diz Europol. Empresas e órgãos públicos de 14 os computadores infectados.
estados mais o DF foram afetados no Brasil. "Recebemos múltiplos informes de contágios pelo vírus
O ciberataque que atingiu diversos países nesta sexta-feira 'ransonware'", escreveu o ministério americano de Segurança
(12) é sem precedentes e exigirá investigação internacional Interior em um comunicado. "Particulares e organizações
para a identificação dos culpados, informa a Europol, o serviço foram alertados a não pagar o resgate, já que este não garante
europeu de polícia. que o acesso aos dados será restaurado".
A onda de ataques atingiu quase uma centena de países em
todo o mundo, afetando o funcionamento de muitas empresas

26 FRANCE PRESSE. Ataque de hackers ‘sem precedentes’ provoca alerta no mundo. provoca-alerta-no-
G1 Tecnologia e Games. Disponível em: mundo.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1>
<http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/ataque-de-hackers-sem-precedentes- Acesso em 15 de maio de 2017.

História de Mato Grosso 26


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'Grande campanha' ordem. Isso ocorre porque as distribuidoras trabalham com


Este conjunto de ataques informáticos de envergadura margem de preço suficiente para arcar com as diferenças entre
mundial provocou inquietação entre os especialistas em a energia que compram das usinas geradoras e aquela que
segurança. O ex-hacker espanhol Chema Alonso, responsável efetivamente faturam para seus usuários. Caso contrário,
pela cibersegurança da Telefónica - outro grupo afetado pelo correriam risco de ir à bancarrota.
ataque - declarou neste sábado em seu blog que "o ruído Na média, o roubo elétrico suga diariamente 5% da
midiático que este 'ransonware' produz não teve muito produção nacional de energia. A diluição, golpe dado por
impacto real", já que "é possível ver na carteira bitcoin milhões de instalações clandestinas, ajuda a ofuscar o tamanho
utilizada que o número de transações" é fraco. do estrago. Os R$ 8 bilhões furtados em 2015 e que não
A Forcepoint Security Labs, outra empresa do setor, chamam a atenção da população superam, com folga, os R$ 6,2
afirmou, por sua vez, que "uma campanha maior de difusão de bilhões que a Petrobrás teve de declarar em baixas contábeis
e-mails infectados" está sendo realizada, com o envio de 5 no mesmo ano, por conta da corrupção escancarada pela
milhões de e-mails por hora para divulgar um malware Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
chamado WCry, WannaCry, WanaCrypt0r, WannaCrypt ou “Há um problema moral nisso tudo. A sociedade acaba
Wana Decrypt0r. tolerando uma situação dessas como se fosse natural, porque
O NHS britânico tentou neste sábado tranquilizar seus se trata do que se costuma chamar de pequeno furto. Mas
pacientes, mas muitos deles temem um risco de desordem, quando observamos a dimensão do problema que é produzido,
sobretudo nas urgências médicas, já que o sistema de Saúde encaramos como a realidade do setor é assustadora”, diz
Pública, austero, já estava à beira da ruptura. Claudio Sales, presidente do Acende Brasil.
"Cerca de 45 estabelecimentos" do Serviço de Saúde
Pública foram infectados, indicou neste sábado a ministra Calote
britânica do Interior, Amber Rudd, na BBC. Muitos deles foram Aos golpes, soma-se o peso da inadimplência. Clientes que
obrigados a cancelar ou adiar as intervenções médicas. somam mais de dois anos de atrasos no pagamento da conta
Rudd acrescentou que "não houve um acesso malévolo aos de luz geram prejuízo de mais R$ 3 bilhões por ano. Somados
dados dos pacientes". No entanto, começa a aumentar a com os gatos, chega-se a um rombo de R$ 11 bilhões.
pressão sobre o governo conservador a poucas semanas das As distribuidoras da região Norte do País concentram o
eleições legislativas de 8 de junho. O Executivo foi acusado de maior número de fraudes. A Amazonas Energia (AME),
não ter ouvido os sinais de alerta que advertiam para estes controlada pela estatal Eletrobrás, vê regularmente 32,5% da
ataques, já que a estrutura informática do NHS é energia que lança pelas linhas de transmissão do Estado ser
especialmente antiga. consumida por instalações ilegais. Na Companhia de
Eletricidade do Amapá (CEA), esse volume foi de 28,1% em
Como é o ataque 2015.
Os vírus de resgate são pragas digitais que embaralham os O baque mais agressivo das fraudes é sentido pelo Rio de
arquivos no computador usando uma chave de criptografia. Os Janeiro. A Light, uma das maiores distribuidoras do País,
criminosos exigem que a vítima pague um determinado valor entrega energia para 4,2 milhões de clientes. Outras 1,75
para receber a chave capaz de retornar os arquivos ao seu milhão de unidades de consumo, porém, (sejam consumidores
estado original. formais da empresa ou não) roubam energia diariamente dos
Quem não possui cópias de segurança dos dados e precisa postes cariocas. Na Baixada Fluminense, conforme números da
recuperar a informação se vê obrigado a pagar o resgate, própria empresa, 40% da carga são desviadas por golpes. As
incentivando a continuação do golpe. fraudes consomem ainda 30% do que chega até as zonas Norte
O jornal "The New York Times" diz que os ataques podem e Oeste do Rio.
ter usado uma ferramenta que foi roubada da NSA, a agência Do total da energia distribuída na área de concessão da
de segurança nacional dos EUA. O vírus que se espalhou é o empresa, 23,4% é furtada, o equivalente aos 6 mil megawatts
Wanna Decryptor, variante do ransomware WannaCry, diz o consumidos por todas as residências do Espírito Santo. Nos
jornal. cálculos da Light, se todos esses furtos fossem eliminados, a
Segundo a Kaspersky, o vírus se espalha por meio de uma tarifa de energia no Rio cairia 17%.
brecha no Windows, que a Microsoft diz ter corrigido em 14 de As maracutaias têm sobrecarregado as distribuidoras do
março. Mas usuários que não atualizaram os sistemas podem Rio e, segundo a Light, provocado interrupções no
ter ficado vulneráveis. fornecimento. “Entre os dias 22 e 31 de janeiro a Light atendeu
A falha afeta as versões Vista, Server 2008, 7, Server 2008 30 mil chamados em razão de interrupções”, declara a
R2, 8.1, Server 2012, Server 2012 R2, RT 8.1, 10 e Server 2016 empresa. Apesar de o maior número de ligações irregulares
do Windows. ser nas favelas, é nas mansões e nos bairros nobres do Rio que
ocorrem os maiores assaltos elétricos. As informações são do
Energia jornal O Estado de S. Paulo.

Perda com “gatos” na rede elétrica chega a R$ 8 bi27 Gelo combustível, a promissora fonte de energia que a
Todos os dias, um volume de energia suficiente para China extraiu do fundo do mar28
iluminar todo o Estado de Santa Catarina e seus 7 milhões de A China anunciou ter extraído do fundo do Mar da China
habitantes é roubado da geração elétrica nacional. São mais de Meridional uma quantidade considerável de hidrato de metano,
15 milhões de megawatts de energia que, por hora, escorrem também conhecido como gelo combustível, que é tido por muitos
pelos cabos das ligações clandestinas, os famosos “gatos”, que como o futuro do abastecimento de energia.
só em 2015 geraram prejuízo superior a R$ 8 bilhões. Num comunicado emitido na semana passada, autoridades
Os dados apurados por novo estudo do Instituto Acende do país asiático comemoraram o feito. Isso porque a tarefa é
Brasil, especializado no setor elétrico, expõem o tamanho do considerada altamente complexa, e já tinha sido alvo de
rombo financeiro que, no fim das contas, acaba sendo cobrado tentativas pelo Japão e pelos Estados Unidos, sem muito
dos consumidores que mantém suas contas e instalações em sucesso.

27 26/03/2017 – Fonte: http://exame.abril.com.br/economia/perda-com-gatos- <http://www.bbc.com/portuguese/geral-40029080?ocid=socialflow_twitter>


na-rede-eletrica-chega-a-r-8-bi/ Acesso em 29 de maio de 2017.
28 BBC. Gelo combustível, a promissora fonte de energia que a China extraiu do

fundo do mar. BBC Brasil. Disponível em:

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Mas o que é exatamente esse composto e por que ele é Pequim reclama domínio sobre a área, alegando ter o
considerado como uma promissora fonte de energia no direito de exploração de todas as potenciais reservas naturais
mundo? escondidas abaixo da superfície.

Reservas imensas Futuro


O gelo combustível ou gelo inflamável é uma mistura Embora o êxito da China seja um avanço importante, esse
gelada de água e gás. é apenas um passo de um longo caminho.
"Parecem cristais de gelo, mas quando se olha mais de "É a primeira vez que os índices de produção são
perto, a nível molecular, veem-se as moléculas de metano realmente promissores", disse Linga. "Mas acreditamos que só
dentro das moléculas de água", explica à BBC Praven Linga, em 2025, na melhor das hipóteses, poderemos considerar
professor do Departamento de Engenharia Química e realistas as opções comerciais", acrescenta.
Biomolecular da Universidade Nacional de Cingapura. Segundo a imprensa chinesa, eles conseguiram extrair, da
Conhecidos como hidratos de metano, formam-se a região de Shenhu, uma média de 16 mil metros cúbicos de gás
temperaturas muito baixas, em condições de pressão elevada. de elevada pureza por dia.
São encontrados em sedimentos do fundo do mar e ou abaixo Linga ainda ressalta que as empresas que potencialmente
do permafrost, a camada de solo congelada dos polos. operem na exploração do material devem seguir condutas
O gás encapsulado dentro do gelo torna os hidratos bastante rígidas de controle para se evitar danos ambientais.
inflamáveis, mesmo a baixíssimas temperaturas. Essa O perigo é que o metano escape, e isso teria consequências
combinação rendeu-lhe o apelido de "gelo de fogo". graves para o aquecimento global, já que se trata de um gás
Quando se reduz a pressão ou se eleva a temperatura, os com um potencial de impacto sobre as mudanças climáticas
hidratos se decompõem em água e metano. Um metro cúbico muito maior do que o dióxido de carbono.
dessa substância libera cerca de 160 metros cúbicos de gás -
ou seja, trata-se de um combustível de grande potencial Relações internacionais
energético.
O problema, no entanto, é que extrair esse gás é um Nº de mortes em 'ataque químico' passa de 70 na Síria;
processo que, por si só, consome muita energia. ONU denuncia crimes de guerra29
O suposto ataque químico que matou pelo menos 72 civis
Países pioneiros em uma cidade do norte da Síria demonstra os "crimes de
Os hidratos de metano foram descobertos no norte da guerra" continuam sendo cometidos no país, afirmou nesta
Rússia nos anos 1960, mas foi há apenas dez ou 15 anos que quarta-feira (05/04) o secretário-geral da Organização das
começou a pesquisa sobre como extrai-lo dos sedimentos Nações Unidas (ONU), António Guterres.
marinhos. O balanço divulgado pelo Observatório Sírio dos Direitos
O Japão foi pioneiro na exploração devido à sua carência de Humanos (OSDH) nesta quarta indica que 20 das mais de 70
fontes de energia natural. Outros países líderes na prospecção vítimas são crianças. De acordo com a ONG, houve um ataque
de gelo combustível são Índia e Coreia do Sul, que tampouco aéreo no reduto rebelde da cidade de Khan Sheikhun, na
têm reservas próprias de petróleo. província de Idlib. Logo em seguida, foi liberado um "gás
Americanos e canadenses também são bastante atuantes tóxico" que a instituição não sabe identificar. Civis morreram
neste sentido - o foco de suas explorações tem sido nos por e dezenas apresentaram problemas respiratórios, vômitos
hidratos de metano abaixo do permafrost do norte do Alasca e e desmaios.
Canadá. "Os horríveis acontecimentos de terça-feira demonstram,
infelizmente, que os crimes de guerra continuam na Síria e que
Por que importa? o direito internacional humanitário é violado
Pesquisadores acreditam que os hidratos de metano têm o frequentemente", disse Guterres ao chegar a Bruxelas, onde
potencial de se tornar uma fonte de energia revolucionária que ocorre uma conferência sobre o conflito sírio.
poderia ser fundamental para suprir necessidades energéticas Guterres afirmou que a ONU deseja estabelecer
no futuro. responsabilidades por estes crimes e expressou confiança de
Existem grandes depósitos abaixo dos oceanos do globo, que o Conselho de Segurança estará " à altura de suas
sobretudo nas extremidades dos continentes. Atualmente, responsabilidades".
vários países estão buscando maneiras de extraí-lo de forma
segura e rentável. Ação do regime?
A China descreveu a extração feita na semana passada Para a oposição ao presidente sírio, Bashar al-Assad, e para
como "um feito importante". a União Europeia, o regime sírio é responsável pelo
Praven Linga compartilha dessa visão: "Em comparação bombardeio. O governo da Síria nega.
com os resultados que temos visto na pesquisa japonesa, os A Rússia nega ter atacado a região, mas afirma que a
cientistas chineses conseguiram extrair uma quantidade aviação de Damasco bombardeou um "depósito terrorista"
muito maior de gás". onde eram armazenadas "substâncias tóxicas" destinadas a
"É certamente um passo importante em tornar viável a combatentes no Iraque. Os russos têm poder de veto no
extração de gás dos hidratos de metano", acrescentou. Conselho de Segurança e apoiam o presidente sírio Bashar al-
Estima-se que sejam encontradas dez vezes mais gás nos Assad contra os rebeldes.
hidratos de metano do que no xisto, do qual pode ser extraído Alguns minutos antes, o ministro britânico das Relações
gás natural e óleo e também tem servido como alternativa Exteriores, Boris Johnson, havia dito que "todas as provas"
energética. apontam para o regime de Bashar al-Assad como responsável
"E essa é uma estimativa conservadora", ressalva Linga. pelo suposto ataque.
A China descobriu o gelo combustível no Mar da China "Todas as provas que vi sugerem que foi o regime de Al-
Meridional em 2007 - uma área cuja soberania tem sido Assad... usando armas ilegais contra seu próprio povo", disse
disputada entre o país, o Vietnã e as Filipinas. Johnson.

2905/04/2017 – Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/ataque-quimico- http://g1.globo.com/mundo/noticia/vai-a-72-o-numero-de-mortos-apos-


mata-dezenas-na-siria-o-que-se-sabe-ate-agora.ghtml e ataque-quimico-na-siria-diz-ong.ghtml

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"É a confirmação de que se trata de um regime bárbaro que O sarin já foi usado antes na Síria?
torna impossível aos nossos olhos que imaginar que possa ter O governo sírio foi acusado pelas potências ocidentais de
a menor autoridade na Síria após o fim do conflito", completou atirar foguetes cheios de sarin em uma série de subúrbios da
o ministro britânico. capital, Damasco, que eram controlados pelos rebeldes em
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, pediu agosto de 2013, matando centenas de pessoas.
um grande esforço a favor das negociações de paz sobre a Síria O presidente Bashar al-Assad negou as acusações,
em Genebra, que tem a mediação da ONU. "Temos que unir a culpando combatentes rebeldes, mas, em seguida, concordou
comunidade internacional nas negociações", declarou em destruir o arsenal químico da Síria.
Mogherini. Apesar disso, a Organização pela Proibição de Armas
Estados Unidos, França e Reino Unido apresentaram na Químicas continua a documentar o uso de químicos tóxicos em
terça-feira (04/04) um projeto de resolução ao Conselho de ataques na Síria.
Segurança que condena o ataque químico na Síria e exige uma Em janeiro de 2016, o órgão disse que amostras de sangue
investigação completa e rápida. das vítimas de um ataque não especificado no país mostrou
que elas foram expostas ao sarin ou substância semelhante.
O que aconteceu?
Os aviões teriam atacado Khan Sheikhoun, que fica cerca O que se sabe sobre o uso de outros agentes químicos?
de 50 km ao sul da cidade de Idlib, no início da manhã desta Uma investigação conjunta da Organização pela Proibição
terça-feira (04/04). de Armas Químicas com a ONU concluiu, no último mês de
Hussein Kayal, um fotógrafo do grupo de jornalistas pró- outubro, que as forças do governo usaram gás cloro, que
oposição Edlib Media Center (EMC), disse à agência de notícias também provoca asfixia, como arma ao menos três vezes entre
Associated Press que ele foi acordado pelo som de uma 2014 e 2015.
explosão às 6h30 no horário local. Os investigadores também concluíram que militantes do
Quando ele chegou ao local do ataque, disse não ter sentido grupo autodenominado Estado Islâmico, que atua no país,
cheiro de nada, mas viu pessoas no chão, sem conseguirem se usaram gás mostarda - que pode provocar cegueira,
mover e com as pupilas contraídas. ferimentos na pele e morte.
Mohammed Rasoul, o chefe de um serviço caritativo de A ONG de direitos humanos Human Rights Watch acusou
ambulâncias em Idlib, disse à BBC que os médicos que ele recentemente helicópteros do governo de soltarem bombas
transportava encontraram pessoas, muitas delas crianças, contendo gás cloro em áreas controladas por rebeldes em
sufocando nas ruas. Aleppo em ao menos oito ocasiões entre os dias 17 de
O grupo Observatório Sírio também citou relatos de novembro e 13 de dezembro de 2016, durante os estágios
médicos dizendo que estavam tratando pessoas com sintomas finais da batalha pela cidade.
que incluíam desmaios, vômito e espuma na boca. E na semana passada, dois ataques supostamente químicos
Um jornalista da agência de notícias AFP afirmou ter visto foram registrados na província de Hama, uma área controlada
uma garota, uma mulher e dois idosos mortos em um hospital, pelos rebeldes próxima a Khan Sheikhoun.
todos com espuma ainda visível ao redor da boca.
O jornalista também afirmou que o hospital foi atingido Qual foi a reação ao ataque desta terça?
por um foguete na tarde de terça, e que médicos que cuidavam A província de Idlib, onde os ataques ocorreram, é quase
dos doentes foram atingidos por pedras e destroços. completamente controlada por uma aliança rebelde e pelo
A procedência dos foguetes não está clara, mas o EMC e os grupo jihadista Hayat Tahrir Al-Sham, ligado à al-Qaeda.
Comitês de Coordenação Local, da oposição ao governo, dizem A região, onde vivem 900 mil pessoas, é frequentemente
que aviões alvejaram diversas clínicas. alvejada pelo governo e pela Rússia, sua aliada, assim como
Jornalistas pró-governo citaram fontes militares dizendo pela coalizão contra o EI, liderada pelos Estados Unidos.
que houve uma explosão em uma fábrica de armas químicas Não houve comentário oficial imediato após o ataque desta
em Khan Sheikhoun - que teria sido causada por um ataque terça-feira, mas uma fonte militar disse à agência de notícias
aéreo ou por acidente. Reuters que o governo "não usa e não usou" armas químicas
contra a população.
Que substância foi usada? O enviado dos grupos de oposição sírios na ONU, Staffan de
O Observatório Sírio de Direitos Humanos diz que não foi Mistura, disse que o ataque foi "horrível" e que deve haver uma
possível determinar que tipo de substância teria sido usada no "identificação clara de responsabilidades e prestação de
ataque. contas" pelo ataque na cidade.
O EMC e os Comitês de Coordenação Local afirmam que Em um comunicado, o presidente francês François
pode ter sido o gás sarin, que é altamente tóxico e considerado Hollande acusou o governo sírio de cometer um "massacre".
20 vezes mais letal do que o cianureto. O ministro das Relações Exteriores britânico, Boris
O sarin inibe a ação de uma enzima que desativa os sinais Johnson, disse que Assad seria considerado culpado de um
que as células nervosas humanas transmitem aos músculos crime de guerra caso seu governo seja responsável.
para relaxá-los. Isso faz com que o coração e outros músculos O Reino Unido e a França pediram uma reunião de
- incluindo os envolvidos na respiração - tenham espasmos. emergência do Conselho de Segurança da ONU.
A exposição ao gás pode causar desmaios, convulsões e Em comunicado, o presidente americano Donald Trump
levar à morte por asfixia em minutos. também responsabilizou o governo Assad e condenou o que
O especialista em armas químicas Dan Kaszeta disse à BBC chamou de "ações abomináveis" do regime.
que é difícil determinar se o sarin foi usado no ataque apenas
examinando vídeos, como os compartilhados nas redes sociais
por sobreviventes e jornalistas.
Ele afirmou que o ataque pode ter sido resultado de uma
série de agentes químicos que "tendem a ter efeitos
semelhantes no corpo humano".
O sarin é quase impossível de detectar - é um líquido claro,
sem cor e sem gosto que, em sua forma mais pura, também não
tem odor.

História de Mato Grosso 29


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Brexit: Reino Unido entrega carta e dá início à saída da Principais dúvidas


União Europeia30 1. Imigração
O Reino Unido deu início na manhã desta quarta-feira Em seu pronunciamento nesta manhã, May afirmou que a
(29/03) ao processo de saída da União Europeia. O situação dos europeus no Reino Unido será uma das
afastamento efetivo só acontecerá depois de pelo menos dois prioridades da negociação.
anos de negociação com os outros 27 integrantes do bloco. Atualmente, cerca de 3 milhões de cidadãos europeus
Essa é a 1ª vez que um país pede para deixar o grupo. vivem no Reino Unido, vindos principalmente da Polônia (850
O embaixador britânico na União Europeia, Tim Barrow, mil), da República da Irlanda (330 mil) e de diversos países do
entregou nesta manhã ao presidente do Conselho Europeu, antigo bloco soviético. Esses podem pedir a residência
Donald Tusk, uma carta que simboliza o acionamento do permanente no Reino Unido quando completarem cinco anos
Artigo 50 do Tratado de Lisboa – dando início às discussões vivendo no país. Com a Brexit, o Certificado de Residência
sobre o processo de afastamento. A carta de seis páginas é Permanente para Cidadão da UE, no entanto, deve deixar de
assinada pela pela premiê britânica, Theresa May. valer.
Ao longo das negociações, é preciso estabelecer uma nova
Sem volta política migratória, uma das principais reinvindicações dos
Logo após a entrega da carta, Theresa May fez um partidários da Brexit, que exigiam medidas mais restritivas.
pronunciamento no Parlamento britânico. “O Reino Unido está Analistas e políticos ouvidos pela BBC disseram na época que
deixando a União Europeia. Este é um momento histórico do a mudança será gradual e que ninguém terá de deixar o país da
qual não pode haver volta". noite para o dia.
May também indicou a intenção de buscar um acordo
comercial "audaz e ambicioso" ao mesmo que tempo que 2. Comércio
negocia o Brexit. A participação na União Europeia permite que os países
A premiê fez um apelo pela união do Reino Unido no comprem e vendam produtos e serviços entre si sem a
Parlamento britânico. "Agora é a hora de nos unir nesta casa aplicação de taxas e impostos dentro da área comum. O Reino
[do Parlamento] e em todo o país para garantir que Unido então passará a ter taxas diferentes no comércio
trabalhamos para o melhor acordo possível para o Reino exterior com os países europeus em relação às praticadas
Unido e para o melhor futuro possível para todos nós", agora, podendo inclusive trocar de parceiros.
declarou May. Na terça-feira, a Escócia aprovou a realização de Segundo a União Europeia, o Reino Unido exporta
um novo referendo sobre a independência. principalmente para os EUA, a Alemanha e os Países Baixos.
Por sua vez, as suas importações vêm sobretudo da Alemanha,
Obrigado e adeus da China e dos EUA.
Tusk afirmou que a União Europeia está descontente com
a saída da Grã-Bretanha. Para ele, não há razão para dizer que 3. Compromissos europeus
esta quarta-feira é um dia feliz nem para o Reino Unido nem Os defensores do Brexit alegavam que a contribuição do
para a União Europeia. O bloco tem o objetivo de minimizar o Reino Unido para União Europeia era muito elevada. Nesse
custo para os cidadãos europeus, os negócios e para os países processo é preciso discutir quais são as dívidas britânicas com
membros do bloco. "Já sentimos a sua falta, obrigado e adeus", relação ao bloco, a chamada, “conta do divórcio”, que poderá
declarou ao concluir uma breve coletiva de imprensa, segundo custar por volta de 50 bilhões de libras (mais de R$ 191
a Reuters. bilhões).
O presidente do Conselho Europeu já tinha prometido Outras questões que deverão ser discutidas são, por
informar na sexta-feira (31/03) as primeiras diretrizes do exemplo, regras de segurança para o cruzamento de
processo de negociação, mas uma resposta formal do bloco fronteiras; o "Mandado Europeu de Prisão", que é um
dificilmente será divulgada antes do primeiro encontro oficial mandado de prisão válido em todos os países membros do
dos países membros, já sem a presença do Reino Unido, em 29 bloco; a mudança de agências europeias que têm suas bases no
de abril. Reino Unido.
Esta é a primeira vez que o artigo, criado em 2009, é
invocado por um país que decide deixar o bloco, O prazo de Sem acordo?
dois anos de negociações só pode ser prorrogado com uma May, no entanto, declarou em janeiro deste ano que o
aprovação unânime de todos os países da União Europeia. A Reino Unido deixará o bloco mesmo que não haja um pleno
negociação é muito complexa pois exige rescisão de vários acordo nesse período. Segundo a primeira-ministra, ela está
tratados internacionais, acordos comerciais e uma nova pronta a abandonar as discussões se suas exigências não forem
política migratória. atendidas, e chegou a afirmar que “nenhum acordo para o
Reino Unido é melhor do que um acordo ruim para o Reino
Divórcio difícil Unido”.
O processo para encerrar 40 anos de união não é A decisão de sair da União Europeia, conhecida como
automático e se anuncia um divórcio difícil, porque tem de ser Brexit, foi tomada em um referendo, realizado em 23 de junho
discutido com os outros 27 membros do bloco. O afastamento de 2016. Na ocasião, 51,9% dos britânicos optaram por deixar
de um país-membro é inédito no bloco. o bloco, o que provocou a queda do então primeiro-ministro,
A negociação é muito complexa, já que exige rescisão de David Cameron.
vários tratados internacionais. Só com a União Europeia, há Após o referendo, o Brexit foi aprovado também pelo
pelo menos 80 mil páginas de acordos. Por isso, é provável que, Parlamento britânico e no dia 16 de março deste ano suas
após a negociação, exista uma fase de transição. negociações receberam autorização formal da rainha
Elizabeth 2ª.

Oposição escocesa
A decisão de deixar a União Europeia desapontou
especialmente a população da Escócia, onde 66% votaram

30 29/03/2017 – Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/brexit-reino-


unido-entrega-carta-e-da-inicio-a-saida-da-uniao-europeia.ghtml

História de Mato Grosso 30


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contra o Brexit. Líderes políticos a favor da independência começou uma série de radicais mudanças políticas,
usaram o resultado como argumento para justificar o pedido econômicas, sociais e culturais.
para um novo referendo sobre a independência do país. Fidel nacionalizou empresas estrangeiras, confiscou bens
O Reino Unido tenta barrar ou ao menos adiar a realização e patrimônios e fez a reforma agrária. As multinacionais norte-
da nova consulta para o fim de 2018 ou em 2019, que foi americanas e mais de 50.000 comércios foram expropriados e
aprovada pelo parlamento escocês na terça-feira (28). A chefe se tornaram propriedade do Estado. Impactados pelas
de governo britânica já chamou o novo referendo de medidas, muitos cubanos foram para o exílio.
"inaceitável", porém não há um artigo na Constituição que No campo social, Fidel realizou uma intensa campanha de
proíba a sua realização. alfabetização, erradicou a desnutrição infantil, declarou a
Em 2014, a decisão de permanecer no Reino Unido foi gratuidade do ensino e o fim da privatização da saúde.
aprovada com 55% dos votos em um plebiscito, mas os Eliminou ainda o racismo institucional e fez o país se tornar
nacionalistas escoceses acreditam que o temor de deixar a uma potência olímpica. Sua medicina hoje é reconhecida como
União Europeia será decisiva para aprovação da uma das melhores do mundo.
independência do país. Apesar das inovadoras reformas sociais, houve grande
repressão daqueles que o regime designava como inimigos da
Cuba sem Fidel: relembre a trajetória da ilha revolução. Fidel realizou prisões arbitrárias, reprimiu e matou
caribenha31 opositores. Muitos inimigos foram fuzilados.
O líder cubano Fidel Castro morreu em novembro de 2016, Além da forte repressão, ele montou um regime de partido
após estar 49 anos à frente do regime comunista. único (o Partido Comunista de Cuba) e não permitiu que a
A Revolução Cubana ocorreu em 1959. Fidel Castro população escolhesse seu presidente de forma democrática.
comandou o regime desde então e foi um dos principais Depois da Revolução Cubana, a ilha exerceu um papel
protagonistas da Guerra Fria (1945-1989). central durante a Guerra Fria (1945-1991). O período foi
Após a Revolução Cubana, os EUA mantêm uma política de marcado pelo conflito ideológico entre o mundo capitalista,
sanções econômicas e isolamento de Cuba. A tensão entre os unido sob a liderança dos americanos, e o bloco comunista,
dois países atinge pontos culminantes na Guerra Fria, após a alinhado com os soviéticos.
invasão fracassada da ilha na Baía dos Porcos, o bloqueio
econômico e a Crise dos Mísseis, que quase levou a um Em abril de 1961, depois da tentativa de invasão da Baía
confronto militar direto entre EUA e URSS. dos Porcos por milicianos cubanos que queriam derrubar o
Desde 1962 os EUA mantêm um embargo econômico à regime com o apoio dos EUA, Fidel Castro declarou
ilha, com o objetivo de desestabilizar a econômica cubana. oficialmente o regime comunista e se aproximou da União
O fim da União Soviética fez Cuba perder os subsídios Soviética (URSS). Cuba foi expulsa da Organização dos Estados
econômicos e forçou o país a realizar reformas e aberturas Americanos (OEA), que alegou que o regime socialista era
políticas. incompatível com os princípios da instituição.
Em fevereiro de 2008, Fidel deu lugar a seu irmão, Raúl A URSS passou a ser o principal apoiador dos cubanos,
Castro, que hoje lidera o país e sinaliza uma maior abertura oferecendo um forte auxílio financeiro, econômico e militar. A
política e econômica ao mundo. ilha exportava produtos primários (sobretudo açúcar e
Em 25 de novembro de 2016, morreu Fidel Castro, aos 90 tabaco) a preços vantajosos e importava produtos
anos de idade. Depois de receber homenagens e viajar em industrializados e derivados do petróleo a valores abaixo do
caravana por várias províncias do país cubano, suas cinzas mercado internacional.
foram levadas para o cemitério de Santiago de Cuba, onde Em 1962, os EUA anunciaram um bloqueio comercial e
foram enterradas. financeiro que pretendia sufocar a economia de Cuba. Os
O líder cubano ficou 49 anos à frente do regime comunista cubanos foram impossibilitados de realizar transações
na ilha, instaurado após o golpe contra o presidente Fulgêncio financeiras e de receberem concessões econômicas com
Batista, em 1959. Fidel entrou para a história como uma figura instituições ou empresas norte-americanas.
controversa: para seus admiradores, ele foi um líder No mesmo ano, Cuba autorizou a instalação de mísseis
revolucionário, que resistiu ao imperialismo norte-americano nucleares soviéticos na ilha. As relações entre EUA e Fidel
e buscou melhorar a qualidade de vida dos cubanos. Para os foram cortadas, com o receio da possibilidade de soviéticos
críticos, Fidel foi um ditador de um regime totalitário. dispararem uma bomba nuclear em cidades americanas. O
No início do século XX, Cuba era uma ilha caribenha sem então presidente americano, John F. Kennedy, ordenou um
importância no jogo político mundial. Em 1959 acontece a bloqueio naval contra Cuba e ameaçou atacar o país. As
Revolução Cubana. Os guerrilheiros do Movimento 26 de julho, tensões aumentaram, mas um acordo diplomático fez a União
comandados por Fidel Castro, Che Guevara, Raúl Castro e Soviética ceder e retirar os mísseis.
Camilo Cienfuegos, fazem uma ofensiva pelo país e derrubam Em contrapartida, os EUA se comprometeram a retirar
o regime do general Fulgêncio Batista, que se vê obrigado a seus mísseis da Turquia e não invadir Cuba. O episódio é
fugir. conhecido como “Crise dos Mísseis” e representa o momento
Batista era acusado de corrupção e de manter as mais crítico e tenso da Guerra Fria, que quase levou a um
desigualdades sociais e a miséria da população. Além disso, era confronto militar direto entre EUA e URSS.
criticado pela oposição por sua proximidade com os Estados Durante a Guerra Fria, Fidel buscou promover o socialismo
Unidos. Era visto como um “fantoche” dos EUA, pois teria e aumentar sua influência em outros países. Cuba enviou
tornado a ilha um “quintal” dos norte-americanos. expedições militares à África e apoiou tropas rebeldes em
A pequena ilha caribenha possui uma localização países da América Central. Também promoveu uma política de
estratégica, a apenas 150 km da costa da Flórida. Nos anos ajuda humanitária internacional, com o envio de médicos a
1950, Havana, a capital cubana, era chamada de Miami do diversos países em desenvolvimento.
Caribe, com fortes investimentos dos Estados Unidos na Em 1991, após a Queda do Muro de Berlim (1989), novas
economia. Mas a maioria dos cubanos vivia na pobreza. fronteiras políticas, estratégicas e econômicas foram
Fidel emergiu como líder do novo governo, com um delineadas. A União Soviética entrou em colapso. Em Cuba, os
discurso sobre igualdade e transformações sociais. Ele subsídios soviéticos foram cortados e a ilha sofreu um grave

31 03/02/2017. Fonte: https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-


disciplinas/atualidades/cuba-sem-fidel-relembre-a-trajetoria-da-ilha-
caribenha.htm

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baque na economia, sendo incapaz de continuar as reformas Sem fazer qualquer menção às mortes ocorridas durante
estruturais. O conjunto de países da comunidade socialista as marchas, Maduro parabenizou a Força Armada Nacional
chegou a somar 75% do fluxo comercial e o seu fim foi um Bolivariana (Fanb) pelo “sucesso na largada do Plano Zamora”,
golpe duro para o país caribenho. anunciado na véspera como a grande aposta do Palácio de
Os próximos anos foram marcados pela escassez de Miraflores “para derrotar o golpe de Estado”.
produtos, falta de alimentos, falta de combustível e apagões de — O Plano Zamora está dando resultados — comemorou,
energia elétrica nas cidades cubanas. No campo, a baixa ao fim de uma manifestação convocada para se contrapor,
produtividade agrícola gerou problemas de segurança como de costume, aos protestos opositores.
alimentar, e o governo cubano recorreu ao mercado A repressão também atingiu a imprensa: o sinal da TV do
internacional para se abastecer de comida. jornal colombiano “El Tiempo” foi retirado do ar pelo governo
As sucessivas crises econômicas e a ausência de liberdade quando transmitia ao vivo os protestos. Do Brasil, o chanceler
política e econômica geraram o fenômeno dos “balseros”, Aloysio Nunes, acusou Maduro de ser o responsável pela
pessoas que se aventuram pelo mar em precárias morte do manifestante em Caracas. “Aconteceu o que eu mais
embarcações, tentando chegar aos Estados Unidos a qualquer temia na Venezuela: a repressão do governo matou um
custo. manifestante”, escreveu no Twitter.
Apesar da tensão com Cuba, ao longo dos anos, os Estados — A repressão está se tornando cada vez mais violenta,
Unidos apoiou imigrantes que fugiam da ilha. Nos últimos 50 existe uma vontade evidente de impedir as ações da oposição
anos, mais de dois milhões de cubanos deixaram o país. Quase — disse Carlos Correa, da ONG Espaço Público, que classifica a
80% migraram para os EUA. marcha de quarta-feira como a maior dos últimos anos. — As
Em 1966, Os Estados Unidos criou a Lei de Ajuste Cubano, pessoas estão decididas a continuar nas ruas. As declarações
um dispositivo que permitia que cubanos que chegassem de Maduro e do ministro da Defesa (Vladimir Padrino López)
ilegalmente aos Estados Unidos conseguissem residência. Em mostram um governo em guerra.
1995 foi instaurada a política de "pés secos, pés molhados", Na marcha, como em todas realizadas nos últimos dias —
que permitia que os migrantes cubanos se beneficiassem de até durante a Semana Santa — dirigentes de peso da Mesa de
mecanismos para obter residência permanente, enquanto os Unidade Democrática (MUD) como Capriles, estiveram
que eram interceptados no mar eram devolvidos ao seu país. presentes e foram atingidos pela repressão. O uso de gás
Em janeiro de 2016, esta política foi suspensa. lacrimogêneo — inclusive de helicópteros — é cada vez mais
Por Carolina Cunha, da Novelo Comunicação intenso e obrigou muitas pessoas a serem atendidas em
hospitais.
Sobe para três o número de mortos em protestos na MADURO ACUSA PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA
Venezuela32 Um dos detidos foi o secretário geral do partido Primeiro
Justiça (PJ, de Capriles) em Táchira, Gustavo Gandica, acusado
Membro da Guarda Nacional foi baleado em Caracas; pelo governo de estar envolvido no suposto plano para
governo acusa oposição derrubar Maduro.
CARACAS — Um membro da Guarda Nacional foi morto na — A violência é o último recurso do governo e, por isso,
noite desta quarta-feira em Caracas, elevando para três o estamos vendo uma violência descontrolada. Caracas virou
número de vítimas durante os protestos realizados na uma espécie de Berlim, só que aqui o muro não é de cimento, e
Venezuela. Mais cedo, dois jovens já haviam sido mortos. sim formado por militares que não permitem que
Segundo a Defensoria do Povo, o militar foi baleado por um manifestantes da oposição cheguem ao centro da cidade —
franco-atirador. O deputado chavista Diosdado Cabello, assegurou Carlos Romero, professor da Universidade Central
homem forte do regime, culpou o governador de Miranda, da Venezuela.
Henrique Capriles, e a oposição pela morte. Para ele, o governo já se esqueceu da política, não se
— Acabam de assassinar um guarda nacional em San importa com a repercussão internacional e ignora os alertas:
Antonio de los Altos. Capriles e seu combo de assassinos — Mais cedo ou mais tarde, um setor militar não
estavam buscando mortos, desesperados. Mas aqui haverá acompanhará mais esta aventura repressiva, mas pode levar
justiça, tenham certeza de que vai haver justiça — afirmou meses.
Cabello, em seu programa televisivo semanal.
Já haviam sido confirmadas as mortes de Carlos José Nicolás Maduro
Moreno Baron, de 17 anos, atingido por uma bala na cabeça, na Eleito em abril de 2013 para suceder Hugo Chávez, o
região de San Bernardino, em Caracas; e Paola Ramírez, de 23 presidente enfrenta forte pressão por conta da escassez de
anos, em San Cristóbal, no estado de Táchira. Ambos, segundo alimentos e remédios, agravada pela queda dos preços do
a mídia local, foram atingidos por disparos feitos pelos petróleo. Trava uma guerra política contra o Parlamento,
coletivos chavistas, embora não estivessem participando das controlado pela oposição, que o chama de ditador.
marchas. Maduro acusou o presidente da Assembleia Nacional,
A oposição marcou um novo protesto para esta quinta- deputado Julio Borges, de ter violando a Constituição ao pedir
feira. à Fanb que “esteja ao lado do povo”. Em Caracas, há a sensação
— Amanhã, na mesma hora, convocamos todo o povo de que Borges pode ser um dos próximos perseguidos.
venezuelano a se mobilizar. Hoje fomos milhões e amanhã — Borges, mais uma vez, cometeu um delito contra a
temos que reunir mais pessoas — declarou Capriles, em Constituição e deverá ser processado. Ele está pedindo,
entrevista coletiva. abertamente, um golpe de Estado e a divisão dentro da Fanb
— disse, prometendo eleições “em breve”, mas sem falar em
'MÃE DE TODAS AS MARCHAS' datas.
Chamada de "mãe de todas as marchas", a manifestação Já o presidente da AN assegurou que seu único objetivo é
ocorreu um dia depois de o presidente, Nicolás Maduro, ter “pedir que a Constituição seja respeitada”. E pela segunda vez
denunciado em cadeia nacional uma tentativa de golpe de em menos de um mês, a procuradora-geral da República, a
Estado “da direita venezuelana, liderada pelo Departamento chavista Luisa Ortega, questionou publicamente o governo ao
de Estado dos Estados Unidos”. exigir a garantia ao direito de manifestações pacíficas.

32O GLOBO com Agências Internacionais. Sobe para três número de mortos em 21232749?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Glo
protestos na Venezuela. Disponível em: < http://oglobo.globo.com/mundo/sobe- bo> Acesso em 20 de abril de 2017.
para-tres-numero-de-mortos-em-protestos-na-venezuela-

História de Mato Grosso 32


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ficaram feridas, incluindo adolescentes e crianças que faziam


Estados Unidos adiam construção do muro na parte do público. O ataque foi o mais grave no país desde 2005,
fronteira com México33 quando vários atentados suicidas deixaram 52 mortos.
Financiamento do muro colocou em risco votação Algumas mensagens descreveram o ataque como um ato
orçamentária do governo. de vingança em resposta a ataques aéreos no Iraque e na Síria.
Trump recuou e disse que aceita que o dinheiro seja liberado "Parece que bombas da Força Aérea britânica sobre
em setembro crianças em Mossul e Raqqa acabaram de voltar para
A ameaça de uma paralisação do governo americano fez o #Manchester", escreveu um usuário chamado Abdul Haqq no
presidente Donald Trump suspender, por enquanto, uma das Twitter, em referência às cidades iraquianas e sírias
promessas mais repetidas na campanha eleitoral do ano controladas por militantes onde uma coalizão liderada pelos
passado. Estados Unidos, da qual o Reino Unido faz parte, está
A pressa acabou. É que a disputa política virou uma conduzindo ataques aéreos.
barreira maior do que o muro de 3.500 quilômetros entre os Falando em frente à sua residência oficial na Downing
Estados Unidos e o México, que Donald Trump prometeu Street, a premier Theresa May disse que as autoridades ainda
durante a campanha presidencial. não estão prontas para revelar informações sobre o suposto
Trump queria mais de US$ 1 bilhão para começar a terrorista. Ela confirmou que o autor do ataque tinha realizado
construção. E queria a verba até sexta-feira (28), prazo para a ação sozinho, mas ainda não estava claro se outras pessoas
que o Congresso aprove uma extensão do orçamento federal. tinham ajudado na preparação do atentado.
Mas o impasse sobre como financiar o muro estava — Sabemos que um único terrorista detonou um
colocando em risco a votação do orçamento, e poderia forçar dispositivo caseiro perto de uma das saídas da arena,
uma paralisação do governo americano. deliberadamente escolhendo a hora e o local para provocar
Na segunda-feira (24), numa conversa fechada com uma carnificina máxima — declarou a primeira-ministra. — À
jornalistas, Trump recuou e disse que aceita que o dinheiro só noite experimentamos o pior da Humanidade em Manchester
seja liberado em setembro, quando começa um novo ano fiscal. A polícia recebeu um alerta de explosão na Manchester
Nesta terça-feira (25), o presidente afirmou: “O muro vai Arena, com capacidade para 20 mil pessoas, às 22h35 (18h35
ser construído. Temos tempo de sobra.” de Brasília). A área foi isolada e viaturas policiais e
Mas o muro pode não sair do papel da forma como foi ambulâncias foram enviadas ao local.
prometido. Alguns senadores propõem uma mistura de O homem-bomba detonou a carga explosiva na saída do
barreira física com barreira tecnológica, usando câmeras e show. Entre as vítimas estão crianças e adolescentes.
sensores de movimento. O desafio para Donald Trump vai ser O atentado provocou a suspensão dos atos da campanha
explicar essa mudança para os eleitores dele. para as eleições de 8 de junho no Reino Unido e aconteceu
exatamente dois meses depois do ataque perto do Parlamento
Estado Islâmico reivindica autoria de atentado em de Londres que deixou cinco mortos, quando um homem
Manchester34 avançou com seu carro contra uma multidão e esfaqueou um
Partidários do grupo extremista celebraram atentado que policial.
matou ao menos 22 pessoas O nível de ameaça de atentados no Reino Unido é severo, o
MANCHESTER — O Estado Islâmico (EI) reivindicou nesta segundo mais elevado na escala do governo, e significa que é
terça-feira a autoria do ataque suicida que deixou ao menos 22 altamente provável que aconteçam atentados. O nível mais
mortos e 59 feridos em Manchester, no final do show da elevado na escala é o crítico, ativado em caso de ameaça
cantora americana Ariana Grande. A polícia britânica deteve iminente.
três pessoas, incluindo um jovem de 23 anos, por suspeita de O ataque de Manchester é o mais grave no Reino Unido
conexão com o atentado. Segundo a primeira-ministra desde julho de 2005, quando vários atentados suicidas
britânica, Theresa May, as autoridades acreditam conhecer a deixaram 52 mortos, incluindo quatro terroristas, e 700
identidade do autor do ataque, que morreu ao detonar um feridos no metrô e em um ônibus de dois andares de Londres.
explosivo caseiro no momento em que as pessoas deixavam o Esta ação foi reivindicada por um grupo que dizia pertencer à
concerto. al-Qaeda.
Em comunicado, o grupo extremista disse que um de seus
membros perpetrou o ataque — o mais violento no Reino Portugal vive sua maior tragédia em incêndio
Unido desde os atentados que atingiram os transportes florestal35
públicos de Londres em 2005. Autoridades do Reino Unido e Portugal está arrasada com o incêndio que matou pelo
dos EUA ainda não confirmaram ter comprovado que o menos 61 pessoas e deixou cerca de 60 feridos. Essa é,
atentado foi mesmo realizado pelo EI. certamente, a maior tragédia registrada no país nas últimas
"Um dos soldados do califado colocou uma bomba no meio décadas. O incêndio que atingiu Pedrógrão Grande e região é o
da multidão durante o show", diz a nota. incidente que fez mais vítimas fatais na história recente de
Partidários do Estado Islâmico comemoraram a ação nas Portugal e já é considerado um dos mais graves do mundo. O
redes sociais. Contas do Twitter associadas ao grupo usaram fogo começou no sábado e ainda não está totalmente
hashtags referindo-se à explosão para publicar mensagens de controlado.
celebração, com alguns usuários encorajando ataques O cenário nos vilarejos tomados pelo fogo assusta.
semelhantes em outros lugares. Segundo relata a mídia portuguesa, há corpos espalhados pelo
Manchester Arena, Inglaterra chão esperando para serem recolhidos. Alguns estão cobertos
Em maio de 2017, 22 pessoas foram mortas em um com lençóis brancos. Outros nem isso. Há inúmeras pessoas
atentado suicida no final do show da cantora pop Ariana desaparecidas e outras tantas em desespero por terem
Grande, no Manchester Arena. Outras dezenas de pessoas perdido parentes, vizinhos ou amigos. Pessoas com as quais

33 G1. Estados Unidos adiam construção do muro na fronteira com México. G1, islamico-reivindica-autoria-de-atentado-em-manchester-21379175> Acesso em
Jornal Nacional. Disponível em: < http://g1.globo.com/jornal- 23 de maio de 2017.
nacional/noticia/2017/04/estados-unidos-adiam-construcao-do-muro-na- 35 PUGLLERO, FERNANDA. Portugal vive sua maior tragédia em incêndio florestal.

fronteira-com- Correio do Povo. Disponível em: <


mexico.html?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_content=jn> Acesso http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/Internacional/2017/6/620719/Port
em 26 de abril de 2017. ugal-vive-sua-maior-tragedia-em-incendio-florestal> Acesso em 19 de junho de
34 O GLOBO. Estado Islâmico reivindica autoria de atentado em Manchester. O 2017.
Globo, Mundo. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/mundo/estado-

História de Mato Grosso 33


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conviviam diariamente e cuja família se conhecia a gerações mundo, o relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas
até tudo se acabar em chamas. para Refugiados (Acnur). De acordo com os dados, os números
Para se ter uma ideia do estrago que o fogo causou nos registrados em 2016 superam os de 2015, com um aumento de
vilarejos aos quais chegou é preciso entender Portugal. O país mais de 300 mil pessoas. O número de refugiados aumentou,
tem pouco mais de 10 milhões de habitantes. Cerca de 1/3 da alcançando a marca de 22,5 milhões de pessoas.
população vive na capital Lisboa ou arredores. Outra parte Conflitos políticos, guerras e perseguições são as
reside em volta do Porto, cidade ao Norte do país. O país é principais causas dos deslocamentos. Desse total de pessoas,
pequeno e praticamente todo mundo, de alguma forma, se 17,2 milhões estão sob a responsabilidade do Acnur, e o
conhece – ou conhece alguém que conhece alguém. restante é formado por refugiados palestinos. O conflito na
Pedrógão Grande é uma vila que pertence ao Distrito de Síria mantém o país como o local de origem do maior número
Leiria, na região central do país, com menos de 2 mil de deslocados (5,5 milhões).
habitantes. Há inúmeros vilarejos em volta, que pertencem ao Ainda de acordo com o Acnur, se não for levada em conta a
concelho – a divisão municipal portuguesa difere da brasileira. situação dos palestinos, os afegãos continuam sendo a segunda
Alguns desses vilarejos (ou aldeias, como chamam por aqui) maior população de deslocados (4,7 milhões) no mundo,
têm 100 habitantes. Outros, 30 ou menos. Há vilarejos onde seguidos pelos iraquianos (4,2 milhões).
sobreviveram apenas algumas pessoas para contar a história e O Sudão do Sul também aparece em destaque nos números
narrar os momentos de pavor ao tentar escapar das chamas e de 2016, onde “a desastrosa ruptura dos esforços de paz
salvar pessoas – pois as casas arderam. contribuiu para o êxodo de 739,9 mil pessoas entre julho e
Segundo informações preliminares, o fogo iniciou por dezembro. No total, já são 1,87 milhão de
causas naturais – presume-se que um raio tenha colocado em deslocados originários do Sudão do Sul”.
chamas alguma árvore e, por causa do calor combinado à No fim do ano passado, a organização registrou que 40,3
umidade, o fogo tenha se espalhado rapidamente. A fumaça milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar dentro de
que emanou da floresta que fica no local tinha coloração seus próprios países.
branca – e é extremamente tóxica. Sem informação sobre o Além disso, a Síria, o Iraque e “o ainda expressivo
perigo e sobre a grandeza do incidente, alguns moradores deslocamento dentro da Colômbia foram as situações de maior
tentaram fugir das chamas que poderiam chegar às suas casas movimento interno. Esse tipo de deslocamento representa
e se dirigiram à principal estrada da região – que agora ficou quase dois terços dos deslocamentos forçados em todo o
conhecida como “Estrada da Morte”, pois as pessoas que ali mundo”, acrescenta a organização.
estavam acabaram intoxicadas pela fumaça antes de serem Países receptivos
carbonizadas pelas chamas. O relatório diz ainda que, em 2016, 2,8 milhões de pessoas
Um dos maiores canais da televisão portuguesa sobrevoou pediram formalmente refúgio em outros países. Para o Acnur,
a estrada com um drone. O cenário é devastador. Os carros os números indicam a necessidade de consolidar mecanismos
foram consumidos pelas chamas e, provavelmente, as pessoas de proteção para essas pessoas e de suporte para países e
desesperadas com o avançar do fogo não sabiam para onde comunidades que apoiam pessoas deslocadas.
fugir. A maioria morreu dentro dos automóveis. Alguns foram O retorno das pessoas para as suas casas, em conjunto com
encontrados nas laterais da estrada e, presume-se, tenham outras soluções como reassentamento em outros países,
morrido intoxicados antes de terem os corpos queimados – significou melhores condições de vidas para muitos no ano
pois quando uma pessoa morre queimada, coloca os membros passado.
em posição de defesa, o que não se observou nas vítimas que "No total, cerca de 37 países aceitaram 189.300 refugiados
estavam com os braços estendidos ao lado do corpo. para reassentamento. Cerca de meio milhão deles tiveram a
O governo português decretou luto oficial de três dias e oportunidade de voltar para seus países, e aproximadamente
promete investigar as causas do incêndio. Alguns donativos já 6,5 milhões de deslocados internos regressaram para suas
começam a chegar para ajudar as famílias das vítimas fatais e regiões de origem – embora muitos deles em circunstâncias
os sobreviventes a reconstruírem suas vidas – se bem que abaixo do ideal e com um futuro incerto”, afirma a organização.
talvez isso não seja possível, após o trauma de ver o fogo
avançar e nada ser feito. Muitos moradores locais criticam a Desenvolvimento sustentável e ecologia.
lentidão das autoridades em apagar o incêndio: “Deixaram-nos
aqui para morrer”, disse um residente de Pedrógrão Grande a Desenvolvimento sustentável37
um site de notícias português. As festas juninas foram Desenvolvimento sustentável é o modelo que prevê a
suspensas por três dias em todo o país – junho é um mês integração entre economia, sociedade e meio ambiente. Em
festivo em Portugal. O clima está pesado nas ruas e “toda a outras palavras, é a noção de que o crescimento econômico
gente”, como dizem os portugueses, lamenta a tragédia. deve levar em consideração a inclusão social e a proteção
ambiental
Número de refugiados no mundo é o maior já
registrado, diz relatório da ONU36 Gestão do Lixo
De acordo com os dados, números registrados em 2016 O lixo ainda é um dos principais desafios dos governos na
superam os de 2015, com um aumento de mais de 330 mil área de gestão sustentável. No entanto, na última década, o
pessoas que tiveram que ser deslocadas Brasil deu um salto importante no avanço para a gestão
Só no ano passado, cerca de 65,6 milhões de pessoas foram correta dos resíduos sólidos. Segundo dados do Ministério do
forçadas a se deslocar em todo o mundo. Do total forçado a se Meio Ambiente, em 2000, apenas 35% dos resíduos eram
deslocar, 10,3 milhões de pessoas são novas e cerca de dois destinados aos aterros.
terços (6,9 milhões) delas se deslocaram dentro de seus Em 2008, esse número subiu para 58%. Além disso, o
próprios países. As crianças representam a metade do número número de programas de coleta seletiva saltou de 451, em
total dos refugiados de todo o mundo. 2000, para 994, em 2008.
As informações foram divulgadas nesta segunda-feira (19) Para regulamentar a coleta e tratamento de resíduos
por meio do maior levantamento sobre deslocamentos no urbanos, perigosos e industriais, além de determinar o destino

36 IG SÃO PAULO. Número de refugiados no mundo é o maior já registrado, diz 37 Fonte: http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20/desenvolvimento-
relatório da ONU. Último Segundo. Mundo. Disponível em: < sustentavel.html
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2017-06-19/refugiados.html> Acesso em
19 de junho de 2017.

História de Mato Grosso 34


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final correto do lixo, o Governo brasileiro criou a Política Cada tonelada de CO2e equivale a 1 crédito de carbono. A
Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305/10), aprovada em ideia do MDL é que cada tonelada de CO2 e não emitida ou
agosto de 2010. retirada da atmosfera por um país em desenvolvimento possa
ser negociada no mercado mundial por meio de Certificados de
Créditos de Carbono Emissões Reduzidas (CER).
No mercado de carbono, cada tonelada de carbono que As nações que não conseguirem (ou não desejarem)
deixa de ser emitida é transformada em crédito, que pode ser reduzir suas emissões poderão comprar os CER em países em
negociado livremente entre países ou empresas. desenvolvimento e usá-los para cumprir suas obrigações.
O sistema funciona como um mercado, só que ao invés das
ações de compra e venda serem mensuradas em dinheiro, elas Consumo racional39
valem créditos de carbono. É um modo de consumir capaz de garantir não só a
Para isso é usado o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo satisfação das necessidades das gerações atuais, como também
(MDL), que prevê a redução certificada das emissões de gases das futuras gerações. Isso significa optar pelo consumo de
de efeito estufa. Uma vez conquistada essa certificação, quem bens produzidos com tecnologia e materiais menos ofensivos
promove a redução dos gases poluentes tem direito a ao meio ambiente, utilização racional dos bens de consumo,
comercializar os créditos. evitando-se o desperdício e o excesso e ainda, após o consumo,
Por exemplo, um país que reduziu suas emissões e cuidar para que os eventuais resíduos não provoquem
acumulou muitos créditos pode vender este excedente para degradação ao meio ambiente. Principalmente: ações no
outro que esteja emitindo muitos poluentes e precise sentido de rever padrões insustentáveis de consumo e
compensar suas emissões. diminuir as desigualdades sociais.
O Brasil ocupa a terceira posição mundial entre os países Adotar a prática dos três 'erres': Redução, que recomenda
que participam desse mercado, com cerca de 5% do total evitar o consumo de produtos desnecessários; Reutilização,
mundial e 268 projetos. que sugere que se reaproveite diversos materiais; e
Reciclagem, que orienta reaproveitar materiais,
Entenda como funciona o mercado de crédito de transformando-os e lhes dando nova utilidade.
carbono38
A partir dos anos 2000, entrou em cena um mercado Aquecimento Global
voltado para a criação de projetos de redução da emissão dos O aquecimento global é uma consequência das alterações
gases que aceleram o processo de aquecimento do planeta. climáticas ocorridas no planeta. Diversas pesquisas
Trata-se do mercado de créditos de carbono, que surgiu a confirmam o aumento da temperatura média global. Conforme
partir do Protocolo de Quioto, acordo internacional que cientistas do Painel Intergovernamental em Mudança do Clima
estabeleceu que os países desenvolvidos deveriam reduzir, (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), o século XX
entre 2008 e 2012, suas emissões de Gases de Efeito Estufa foi o mais quente dos últimos cinco, com aumento de
(GEE) 5,2% em média, em relação aos níveis medidos em temperatura média entre 0,3°C e 0,6°C. Esse aumento pode
1990. parecer insignificante, mas é suficiente para modificar todo
O Protocolo de Quioto criou o Mecanismo de clima de uma região e afetar profundamente a biodiversidade,
Desenvolvimento Limpo (MDL), que prevê a redução desencadeando vários desastres ambientais.
certificada das emissões. Uma vez conquistada essa As causas do aquecimento global são muito pesquisadas.
certificação, quem promove a redução da emissão de gases Existe uma parcela da comunidade científica que atribui esse
poluentes tem direito a créditos de carbono e pode fenômeno como um processo natural, afirmando que o planeta
comercializá-los com os países que têm metas a cumprir. Terra está numa fase de transição natural, um processo longo
“O ecossistema não tem fronteira. Do ponto de vista e dinâmico, saindo da era glacial para a interglacial, sendo o
ambiental, o que importa é que haja uma redução de emissões aumento da temperatura consequência desse fenômeno.
global”, ressalta o consultor de sustentabilidade e energia No entanto, as principais atribuições para o aquecimento
renovável, Antonio Carlos Porto Araújo. global são relacionadas às atividades humanas, que
Durante a última Conferência do Clima (COP 17), realizada intensificam o efeito de estufa através do aumento na queima
em 2011, na África do Sul, as metas de Quioto foram de gases de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão
atualizadas e ampliadas para cortes de 25% a 40% nas mineral e gás natural. A queima dessas substâncias produz
emissões, em 2020, sobre os níveis de 1990 para os países gases como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e
desenvolvidos. óxido nitroso (N2O), que retêm o calor proveniente das
“Isso pode significar um fomento nas atividades de crédito radiações solares, como se funcionassem como o vidro de uma
de carbono que andavam pouco atraentes”, disse Araújo, autor estufa de plantas, esse processo causa o aumento da
do livro “Como comercializar créditos de carbono”. temperatura. Outros fatores que contribuem de forma
O Brasil ocupa a terceira posição mundial entre os países significativa para as alterações climáticas são os
que participam desse mercado, com cerca de 5% do total desmatamentos e a constante impermeabilização do solo.
mundial e 268 projetos. A expectativa inicial era absorver Atualmente os principais emissores dos gases do efeito de
20%. O mecanismo incentivou a criação de novas tecnologias estufa são respectivamente: China, Estados Unidos, Rússia,
para a redução das emissões de gases poluentes no Brasil. Índia, Brasil, Japão, Alemanha, Canadá, Reino Unido e Coreia
do Sul. Em busca de alternativas para minimizar o
Cálculo aquecimento global, 162 países assinaram o Protocolo de
A redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) é Kyoto em 1997. Conforme o documento, as nações
medida em toneladas de dióxido de carbono equivalente – t desenvolvidas comprometem-se a reduzir sua emissão de
CO2e (equivalente). Cada tonelada de CO2e reduzida ou gases que provocam o efeito de estufa, em pelo menos 5% em
removida da atmosfera corresponde a uma unidade emitida relação aos níveis de 1990. Essa meta teve que ser cumprida
pelo Conselho Executivo do MDL, denominada de Redução entre os anos de 2008 e 2012. Porém, vários países não
Certificada de Emissão (RCE). fizeram nenhum esforço para que a meta fosse atingida, o
principal é os Estados Unidos.

38 Fonte: http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2012/04/entenda-como- 39Texto adaptado de http://www.wwf.org.br/natureza_


funciona-o-mercado-de-credito-de-carbono brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/

História de Mato Grosso 35


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Fenômenos climáticos extremos prosseguirão em A seca na Somália deixou 185 mil crianças em situação à
2017, diz ONU40 beira da fome e nos próximos meses espera-se que este
Após um ano de 2016 com temperaturas em nível recorde número alcance 270 mil crianças, segundo o Unicef.
no qual a banquisa (água do mar congelada) no Ártico seguiu
minguando e o nível do mar subindo, as Nações Unidas Trump anuncia saída dos EUA do Acordo de Paris
advertiram nesta terça-feira (21/03) que os fenômenos sobre mudanças climáticas42
climáticos extremos prosseguirão em 2017. Presidente prometeu negociar um retorno futuro ou fazer
A Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma um novo acordo mais justo para os americanos. Na campanha
agência especializada da ONU, publicou seu relatório anual eleitoral, ele tinha prometido abandonar consenso da ONU nos
sobre o estado mundial do clima coincidindo com a jornada primeiros 100 dias de governo.
meteorológica mundial, que será realizada em 23 de março. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou
"O relatório confirma que 2016 foi o ano mais quente já nesta quinta-feira (1º) a saída de seu país do Acordo de Paris
registrado. O aumento da temperatura em relação à era pré- sobre mudanças climáticas, mas prometeu negociar um
industrial alcançou 1,1ºC, ou seja, 0,06ºC mais que o recorde retorno ou um novo acordo climático em termos que considere
anterior de 2015", disse o secretário-geral da OMM, Petteri mais justos para os americanos. Ele disse que o atual
Taalas, em um comunicado. documento traz desvantagens para os EUA para beneficiar
Segundo a OMM, os fenômenos chamados extremos não outros países, e prometeu interromper a implementação de
apenas seguirão em 2017, mas os estudos recentes "dão a tudo que for legalmente possível imediatamente.
entender que o aquecimento dos oceanos pode ser mais "Para cumprir o meu dever solene de proteger os Estados
pronunciado do que se acreditava". Unidos e os seus cidadãos, os Estados Unidos vão se retirar do
Os dados provisórios dos quais a ONU dispõe revelam que acordo climático de Paris, mas iniciam as negociações para
o ritmo de crescimento da concentração de dióxido de carbono voltar a entrar no acordo de Paris ou em uma transação
(CO2) na atmosfera não foi freado. inteiramente nova em termos justos para os Estados Unidos,
"Depois que o potente (fenômeno climático) El Niño de suas empresas, seus trabalhadores, suas pessoas, seus
2016 se dissipou, hoje assistimos a outras alterações no contribuintes ", disse Trump.
mundo que não conseguimos elucidar, estamos ao limite de "Estamos saindo, mas vamos começar a negociar e
nossos conhecimentos científicos sobre o clima", disse por sua veremos se podemos fazer um acordo justo. Se pudermos,
vez o diretor do programa mundial de investigação sobre o ótimo. Se não pudermos, tudo bem", disse. "Fui eleito para
clima, David Carlson. representar os cidadãos de Pittsburgh, não Paris", completou.
O fenômeno El Niño, que ocorre a cada quatro ou cinco Logo após o anúncio, no entanto, o prefeito de Pittsburgh,
anos com intensidade variável, provocou um aumento da Bill Peduto, disse que irá "garantir que seguiremos as
temperatura do Pacífico, desencadeando, por sua vez, secas e diretrizes do Acordo de Paris para nosso povo, nossa economia
precipitações superiores à média. e futuro."
Em geral, este fenômeno chega ao seu ponto máximo no Ao iniciar os procedimentos oficiais de retirada,
fim do ano, perto do Natal, daí seu nome, em referência ao respeitando a forma de saída prevista no acordo, Trump
menino Jesus. desencadeia um longo processo que não será concluído até
Por sua vez, o Ártico viveu ao menos três vezes neste novembro de 2020 -- no mesmo mês em que concorrerá à
inverno o equivalente polar de uma onda de calor, segundo a reeleição, garantindo que a questão se torne um grande tema
OMM, que ressalta que em alguns dias a temperatura era de debate na próxima campanha presidencial.
próxima ao degelo. O acordo, assinado em dezembro de 2015 durante a cúpula
Segundo as conclusões dos pesquisadores, as mudanças no da ONU sobre mudanças climáticas, COP 21, prevê que os
Ártico e o degelo da banquisa provocam uma modificação países devem trabalhar para que o aquecimento fique muito
geral da circulação oceânica e atmosférica que afeta, por sua abaixo de 2ºC, buscando limitá-lo a 1,5ºC em relação aos níveis
vez, as condições meteorológicas de outras regiões do mundo. pré-industriais.
É o caso do Canadá e de grande parte dos Estados Unidos, A saída dos EUA, segundo maior produtor mundial de gás
que tiveram um clima suave pouco habitual, enquanto na de efeito estufa, pode minar o acordo internacional, o primeiro
península arábica e no norte da África foram registradas no da história em que os 195 países da ONU se comprometem a
início de 2017 temperaturas anormalmente baixas. reduzir suas emissões.
Além disso, as temperaturas na superfície do mar foram
em 2016 as mais altas já registradas e o aumento do nível Obama
médio do mar prosseguiu, enquanto a superfície da banquisa O ex-presidente Barack Obama, que havia assinado o
no Ártico foi inferior à normal durante grande parte do ano. tratado em 2015, imediatamente reagiu ao anúncio, dizendo
que a administração Trump rejeita o futuro com essa retirada.
Mais de 100 pessoas morrem em 48h por causa da seca "Ainda que este governo tenha se unido a um pequeno
na Somália41 grupo de países que ignoram o futuro, confio nos nossos
Cento e dez pessoas morreram no sul da Somália nas estados, empresas e cidades que darão um passo à frente e
últimas 48 horas em consequência da seca, anunciou o farão ainda mais para liderar o caminho", disse.
primeiro-ministro somali Hassan Ali Khaire. Ao assinar em 2015, Washington tinha se comprometido a
Segundo ele, as vítimas também sofreram com diarreias reduzir em 28% sua produção de gases de efeito estufa, além
severas provocadas pela água insalubre nas regiões do sul da de transferir cerca de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 9,6 bilhões)
Somália. A maioria dos mortos é de crianças e idosos, segundo para países pobres como forma de ajudá-los a lutar contra as
as autoridades. mudanças climáticas.
A Somália decretou no final de fevereiro estado de
catástrofe nacional pela seca que atinge o país e ameaça a cerca Medida anunciada
de três milhões de pessoas. Antes de ser eleito, Trump descreveu em várias ocasiões o
aquecimento global como uma enganação criada pela China

40 21/03/2017 – Fonte: http://g1.globo.com/natureza/noticia/fenomenos- 42 G1. Trump anuncia saída dos EUA do acordo de Paris sobre mudanças climáticas.

climaticos-extremos-prosseguirao-em-2017-diz-onu.ghtml G1 Natureza. Disponível em: <http://g1.globo.com/natureza/noticia/trump-


41 05/03/2017. Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/mais-de-100- anuncia-saida-dos-eua-do-acordo-de-paris-sobre-mudancas-climaticas.ghtml>
pessoas-morrem-em-48h-por-causa-da-seca-na-somalia.ghtml Acesso em 02 de junho de 2017.

História de Mato Grosso 36


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para prejudicar as empresas americanas, e anunciou que iria complexas questões das mudanças climáticas. Os líderes do G7
“cancelar” o Acordo de Paris nos primeiros 100 dias após sua criticaram a decisão de Trump de deixar o tratado e os
posse. governos do Canadá, da China e a União Europeia já
Uma decisão necessária, segundo ele, para favorecer as informaram que continuarão a honrar seus compromissos
empresas petrolíferas e produtores de carvão dos EUA, e dessa com o Acordo de Paris mesmo se os EUA se retirarão.
forma garantir mais crescimento econômico e a criação de A preocupação em nível global com a saída dos Estados
novos empregos. Depois de tomar posse, Trump anunciou que Unidos é o efeito de emulação: outros países poderiam ser
teria estudado o acordo antes de tomar uma decisão sobre o influenciados a reduzir ou atenuar seus compromissos
assunto. internacionais sobre a questão climática ou até abandonar
O presidente norte-americano tem poderes suficientes completamente o acordo.
para retirar os EUA do tratado. Isso porque o texto foi A decisão de se retirar do acordo poderia sinalizar a
denominado “acordo” para permitir que Barack Obama intenção de Trump de cortar outras leis que limitam a
pudesse utilizar seus poderes presidenciais para ratificá-lo produção de gases poluentes nos EUA assinadas pelo seu
sem pedir a permissão do Congresso, então controlado pelo antecessor Obama. Entretanto, a saída dos EUA do Acordo de
Partido Republicano, hostil a qualquer redução das emissões Paris não seria imediata. O processo poderá demorar até três
de poluentes. Por esse motivo, a delegação dos EUA foi anos, assim como estabelecido no próprio acordo, com
obrigada a negociar por muitas horas sobre essa complexa diversas batalhas jurídicas e diplomáticas muito intensas,
linguagem jurídica no dia da assinatura do documento. além do grave desgaste de imagem internacional dos Estados
VEJA PRINCIPAIS PONTOS DO ACORDO DO CLIMA Unidos.
Países devem trabalhar para que o aquecimento fique
muito abaixo de 2ºC, buscando limitá-lo a 1,5ºC O que é o Acordo de Paris
Países ricos devem garantir financiamento de US$ 100 O Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas impõe aos
bilhões por ano países signatários conter o aquecimento global em até 2º C em
Não há menção à porcentagem de corte de emissão de relação aos níveis pré-industriais, com o objetivo de não
gases-estufa necessária superar o 1,5º de aumento da temperatura mundial até 2100.
Texto não determina quando emissões precisam parar de Já hoje as temperaturas médias são de 1º acima dos níveis
subir pré-industriais, uma mudança climática ocorrida em larga
Acordo deve ser revisto a cada 5 anos parte nas últimas décadas. Com o acordo assinado em 2015 no
A decisão de Trump pode ter sérias consequências para o final da Cúpula do Clima de Paris (COP 21), 195 países
cumprimento das obrigações previstas pelo tratado por parte signatários se comprometeram a reduzir suas emissões de
de outros países e, mais em geral, sobre a condição climática gases de efeito estufa. Entretanto, segundo muitos cientistas
do planeta, considerando que o aquecimento global é um essas medidas seriam insuficientes para garantir o respeito
fenômeno que já está ocorrendo e que todos os anos perdidos dos objetivos fixados e deveriam ser rapidamente atualizadas.
na luta contra esse fenômeno aumentam o risco de provocar O Acordo de Paris foi assinado na cúpula anual da ONU
efeitos irreversíveis sobre o clima. sobre o clima COP 21, a vigésima-primeira cúpula das Nações
Segundo levantamentos realizados por várias Unidas sobre o tema.
universidades e centros de pesquisa de diferentes países do Segundo o próprio acordo, os países signatários não
mundo, a saída dos EUA do Acordo de Paris acrescentaria 3 podem abandoná-lo antes de três anos, além de um quarto ano
bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) emitido por para que o procedimento seja completado. Ou seja, Trump não
ano na atmosfera, aumentando a temperatura da Terra entre poderia se livrar dos vínculos legais do texto antes de 2020,
0,1º e 0,3º C até o final do século. sem cometer uma violação do direito internacional.
Uma alternativa para os EUA poderia ser aquela de
Apoio dividido abandonar completamente a Convenção-Quadro das Nações
A decisão de Trump foi influenciada por uma carta Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) (a que organiza
assinada por 22 senadores republicanos, incluindo o líder da as cúpulas da COP), que Trump criticou fortemente em
bancada Mitch McConnell, que defendia a retirada dos EUA do diversas ocasiões no passado. Uma última opção poderia ser
tratado. Trump preferiu ignorar a opinião de alguns dos seus uma renegociação dos objetivos de corte das emissões,
assessores mais influentes, como a filha, Ivanka, o Secretário obrigando todavia Washington a uma longa e difícil
de Defesa, James Mattis, e o Secretário de Estado Rex Tillerson, negociação com os outros países.
os quais defendiam que ele mantivesse os Estados Unidos no
acordo. Mattis em particular salientou como o Pentágono, o Segurança
Ministério da Defesa dos EUA, já está produzindo uma grande
quantidade de pesquisas sobre o aumento do nível dos mares, Sistema penitenciário: Prender menos ou construir
a mudança nas rotas marinhas para os navios de guerra por mais prisões?43
causa do derretimento das geleiras do Ártico e os efeitos de Em janeiro de 2017, o Brasil assistiu a chacinas que
secas ou de inundações sobre a segurança nacional americana. aconteceram dentro de presídios. No Rio Grande do Norte, 26
presos foram mortos na Penitenciária de Alcaçuz. Segundo o
ONU governo, trata-se de uma disputa entre as facções Primeiro
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu Comando da Capital (PCC) e Sindicato do Crime RN. Em
oficialmente aos EUA para que não saíssem do Acordo de Paris, Manaus, um guerra de facções (Família do Norte e PCC) causou
sem obter nenhum resultado. Outros países, como Alemanha e a morte de 60 presos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim
França, expressaram suas preocupações com a posição de (Compaj). Além desses fatos, foram registrados confrontos,
Trump sobre o meio ambiente e mudanças climáticas. Até o fugas e rebeliões nos estados da Bahia, Santa Catarina e
Papa Francisco tentou persuadir o presidente norte- Rondônia, no mesmo período.
americano em permanecer no acordo durante sua recente Essa crise no sistema penitenciário revelou um fenômeno
visita no Vaticano, entregando-lhe uma cópia da encíclica no Brasil: o fortalecimento das organizações e facções
“Laudato si'” que o Pontífice escreveu em 2015 sobre as criminosas nos presídios brasileiros. Grupos como PCC, CV e

4327/02/2017. Fonte: https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-


disciplinas/atualidades/sistema-penitenciario--prender-menos-ou-construir-
mais-prisoes.htm

História de Mato Grosso 37


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FDN comandam a venda de drogas no Brasil e disputam entre Em resposta ao massacre que levou à morte mais de 100
si as principais rotas do tráfico. Segundo a polícia, 25 presos no Brasil em janeiro, o presidente Temer anunciou a
organizações batalham pelo controle de regiões, formando construção de cinco presídios federais para resolver a
parcerias com grupos locais. urgência da superlotação. A previsão é que sejam abertas 30
Nos presídios, as facções brigam para ter o maior número mil vagas. Além disso, anunciou que vai investir na compra de
de membros possível. Depois de entrar para um grupo, o preso novos materiais para reforçar a segurança. Entre os
tem que prestar serviços à fação dentro da cadeia e fora dela. equipamentos a serem comprados estão o uso de tornozeleira,
Em troca, ganha proteção. O PCC é a principal facção criminosa scanner de corpo e bloqueador de celular.
brasileira e conta com 30 mil membros espalhados pelo país. Este ano, o governo federal deve destinar R$ 2,2 bilhões
Outro problema é a falta de controle interno nos presídios. para o sistema penitenciário e para os estados construírem
Em Manaus, por exemplo, erros básicos foram cometidos pela presídios. No ano passado, ele liberou R$ 1,2 bilhão para esta
gestão do Compaj. Não havia divisão entre celas, revistas e finalidade. Se o número de presos continuar a crescer no ritmo
monitoramento dos presos. A organização do presídio era atual será necessário um investimento ainda maior no futuro.
controlada internamente pelos próprios detentos, que podiam "Construir novos presídios também é muito importante,
circular livremente. Uma revista realizada lá dentro resultou mas também não resolve o problema", afirmou Paulo Fontes, o
na apreensão de um rifle, facas, celulares e um roteador de Secretário de Segurança Pública do Amazonas, estado onde
internet. estourou a atual crise no sistema penitenciário. Em entrevista
ao UOL, ele diz que o mais importante é o combate ao
A superlotação dos presídios narcotráfico, como a intensificação de barreiras policiais nas
O Brasil possui a quarta maior população carcerária do fronteiras do Amazonas com outros países.
mundo (perdendo apenas para os EUA, China e Rússia). O
número de presos no país aumentou de 233 mil em 2000, para A lentidão da justiça
654 mil em 2017. Esses dados refletem o aumento da A superlotação das prisões também é estimulada pela
criminalidade, especialmente de delitos relacionados ao lentidão em julgar o réu. O mais recente levantamento do
tráfico de drogas e roubo, que representam juntos, mais da Conselho Nacional da Justiça revela que dos 654 mil presos
metade dos presos. brasileiros, 221 mil são provisórios (34%) e foram presos de
O problema é que o nosso sistema penitenciário comporta forma preventiva. Ou seja, um a cada três presos no Brasil
aproximadamente 370 mil vagas. Há um déficit muito alto para ainda aguarda julgamento.
equilibrar o sistema. A superlotação pressiona todas as esferas Em Pernambuco, um preso espera em média 974 dias para
e dificulta o controle das prisões e a prevenção a rebeliões. ser julgado. A justiça mais ágil é a de Rondônia, na qual o preso
No estado de São Paulo, que concentra a maior parte dos espera 172 dias (média 6 meses) para o julgamento de sua
presos no Brasil, dos 22 presídios construídos nos últimos sete sentença.
anos, 19 já estão lotados. Hoje as instalações operam 51% De acordo com o levantamento da CNJ, o crime com base
acima da sua capacidade. no qual há um maior porcentual de presos provisórios é o de
A superlotação compromete a saúde física e mental do tráfico de drogas: 29%. Roubo aparece em seguida, com 26%.
preso e exarceba os níveis de estresse dos detidos, forçando- Após a crise penitenciária do início do ano, o Ministério da
os a competir por espaço e recursos limitados. Ela também Justiça propôs medidas de curto prazo para desafogar os
dificulta a separação entre presos provisórios e definitivos ou presídios superlotados. Entre as principais ações estão a
entre réus primários e reincidentes, como estabelece o Código realização de mutirões de audiências criminais para analisar e
de Processo Penal. julgar os processos de presos provisórios. A expectativa é que
Em teoria, um presídio deve oferecer condições dignas desta forma, o governo reduza a superlotação em 15% até
para o preso se recuperar e voltar à sociedade reabilitado. O 2018.
ambiente que oferece e infraestrutura precária aumenta a Outra tendência é o aumento das penas alternativas em
dificuldade de dar assistência ao preso e se torna um terreno detrimento da prisão. Ou seja, permitir aos condenados
fértil para rebeliões e a proliferação de facções, que ocupam o cumprirem suas penas em regime aberto, sob algumas
vácuo deixado pelo Estado na gestão do local. condições. Entre elas, estão o comparecimento uma vez por
O Supremo Tribunal Federal avançou no tema e deve mês diante do juiz e o uso de tornozeleiras eletrônicas. A ideia
pressionar mudanças na política penitenciária. No início do é possibilitar a ressocialização para aqueles que têm
ano, a Corte decidiu que cabe indenização para o preso que foi condições.
submetido a condições carcerárias degradantes, como celas Em 2015, nos estados de Minas Gerais, Acre, Amapá, Goiás,
superlotadas, falta de assistência à saúde dos presos, a falta de Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Piauí e Roraima,
alimentação e as péssimas condições de higiene. foram concedidas mais penas alternativas à prisão que penas
No entender do STF, é dever do Estado garantir a privativas de liberdade. Nesse caso, os juízes avaliam se o réu
integridade física e psicológica dos presos e reparar os danos foi condenado por crime que tenha sido cometido sem
sofridos pela inobservância desse dever. A decisão fixou violência ou grave ameaça à pessoa, com pena menor que
indenização de R$ 2 mil por danos morais a um condenado que quatro anos. A decisão final leva em conta ainda “a
cumpriu pena no presídio de Corumbá/MS. Essa decisão vale culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
para todos os presos que entrarem na justiça pedindo esse personalidade do condenado” assim como os motivos e as
direito. circunstâncias da eventual substituição da pena.

Novos presídios A política de combate às drogas


A situação crítica das penitenciárias exige a construção de Alguns analistas avaliam que a política de combate às
mais vagas e uma gestão melhor. Projeções feitas pelo drogas no Brasil se relaciona diretamente com o aumento
Departamento Penitenciário Nacional (Depen) mostram que expressivo da população carcerária.
seriam necessários R$ 11 bilhões para suprir o déficit de 250 Em 2006, a Lei de Drogas (Lei 11.343) aumentou as penas
mil vagas no sistema prisional e teriam que ser gastos R$ 7 para o tráfico e define como crime a porte de drogas para uso
bilhões por ano para manter o serviço. O cálculo levou em pessoal. Como reflexo, aumentaram as prisões para esse tipo
conta o custo médio de mater um preso no Brasil, de R$ 2,4 mil de crime. Em 2006, quando a Lei 11.343 começou a valer, eram
por mês. 31.520 presos por tráfico nos presídios brasileiros. Em 2013,
esse número passou para 138.366, um aumento de 339%.

História de Mato Grosso 38


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Presos por tráfico de drogas representam hoje a maior parcela 06. (Pref. de Lauro Muller/SC – Auxiliar
dos prisioneiros. Administrativo – Instituto Excelência/2017) Ártico tem
Segundo a Organização Human Rights Watch, a aplicação ano recorde de calor e derretimento maciço de gelo. Avaliação
da lei é falha e teve efeito perverso sobre usuários. Muitas foi publicada no Arctic Report Card 2016, relatório revisado
pessoas são presas por portar quantidades pequenas de por pares de 61 cientistas de todo o mundo.
drogas e acabam sendo tratadas como traficantes e Disponível< http://g1.globo.com/natureza/noticia/artico-
encarceradas ao lado de condenados por crimes graves, como temano-recorde-de-calor-e-derretimento-macico-de-
latrocínio, homicídio, entre outros. gelo.ghtml>Acesso em 14 dez de 2016
Sobre essa notícia é INCORRETO afirmar:
Questões (A) O Ártico quebrou recordes de calor no ano passado,
quando um ar excepcionalmente quente provocou o
01 - O arraial de Cuiabá foi transformado em vila, em 1 de derretimento maciço de gelo e de neve e um congelamento
janeiro de 1727, recebendo o nome de: tardio no outono.
(A) Arraial de São Gonçalo. (B) Os cientistas do clima dizem que as razões para o
(B) Vila de Santa Cruz aumento do calor incluem a queima de combustíveis fósseis
(C) Lavras do Sutil. que emitem gases causadores do efeito estufa, que prendem o
(D) São Pedro D’El Rey. calor na atmosfera, bem como a tendência de aquecimento do
(E) Vila Real do Senhor bom Jesus de Cuiabá. oceano El Niño, que terminou no meio do ano.
(C) Essa tendência de aquecimento também levou a uma
02 - A presença de escravos africanos, em Mato Grosso, é cobertura de gelo adulta e grossa que derrete facilmente.
decorrente do desenvolvimento da mineração, a partir da (D) Nenhuma das alternativas.
primeira metade do século XVIII. Desde o começo, a escravidão
foi acompanhada por diversas modalidades de resistência ao 07. (Prefeitura de Cipotânea – MG – Enfermeiro - REIS
trabalho compulsório, entre as quais a fuga e a organização de & REIS/2016) “Apontada como um mecanismo importante de
quilombos. financiamento cultural no Brasil, a ________________ é
constantemente alvo de críticas e voltou ao debate nacional
Assinale a opção que indica os dois quilombos mato- por causa da extinção – agora revertida – do Ministério da
grossenses mais importantes dos séculos XVIII e XIX. Cultura na gestão interina de Michel Temer. Esta Lei foi criada
(A) Piolho e Carucango. em 1991, durante o governo Collor, e permite que produtores
(B) Quariterê e Rio Manso. e instituições captem, junto a pessoas físicas e jurídicas,
(C) Palmares e Piolho. recursos para financiar projetos culturais. O valor destinado a
(D) Carucango e Quariterê. esses projetos pode ser deduzido integralmente do Imposto de
(E) Aldeia da Carlota e Palmares. Renda a pagar.”
Marque a alternativa que completa corretamente o
03 - Em 1891 foi promulgada a primeira Constituição de enunciado acima:
Mato Grosso. A seguir, a Assembleia Constituinte elegeu para (A) Lei Collor.
conduzir o governo do Estado: (B) Lei Rouanet.
(A) Antônio Correa da Costa. (C) Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
(B) Generoso Paes Leme de Souza. (D) Lei Echer.
(C) Manuel José Murtinho.
(D) Pedro Celestino. 08. (TJ-SP – Assistente Social Jurídico – Vunesp – 2017)
(E) Delfino Augusto de Figueiredo. O presidente Michel Temer sancionou na noite desta sexta-
feira o projeto de lei que regulamenta a terceirização no país.
04 - Assinale a alternativa incorreta a respeito do governo A iniciativa foi publicada em edição extra do “Diário Oficial
de Totó Paes de Barros: da União” e inclui vetos parciais a três pontos da proposta.
(A) Foi responsável por levar os produtos mato-grossenses (Folha de S.Paulo, 31.03.2017)
a Exposição Internacional de Saint-Louis.
(B) Tinha como base de sustentação política Joaquim O projeto de lei sancionado
Murtinho. (A) Isenta as empresas contratantes e contratadas dos
(C) Editou a revista O Arquivo na qual há a reconstituição serviços terceirizados de qualquer ação no âmbito da Justiça
histórica de Mato Grosso. do Trabalho e determina que todos os trabalhadores
(D) Estimulou o comercio dos produtos do extrativismo terceirizados devem se constituir em microempresários, dessa
vegetal produzidos no Estado, como a erva-mate, a poaia e a forma responsáveis pelos tributos relacionados ao trabalho.
borracha. (B) Determina que todas as empresas privadas podem
(E) A sua decadência política aconteceu na Revolta de terceirizar qualquer atividade profissional, desde que todos os
1906. direitos trabalhistas sejam respeitados, e veta a utilização de
trabalho terceirizado para as empresas de economia mista e a
05 - (UFMT) Sobre a colonização de Mato Grosso no século administração pública, com exceção para a área de saúde.
XX, assinale a alternativa incorreta: (C) Limita a terceirização do trabalhador à denominada
a) Getúlio Vargas implantou a “Marcha para o Oeste”, que atividade-meio e, em caso de litígio trabalhista, as empresas
visava instalar em Mato Grosso os sulistas. contratadas e contratantes devem ser acionadas
b) A Colônia De Dourados foi um projeto de colonização conjuntamente na Justiça do Trabalho e dividirão os custos das
que instalou os sulistas em Mato Grosso. indenizações relacionadas a tais processos.
c) Na década de sessenta ocorreu um crescimento (D) Impede que a empresa de terceirização subcontrate
populacional em Mato Grosso, em função da colonização outras empresas, prática denominada de quarteirização, e
particular. amplia os direitos trabalhistas dos funcionários das empresas
d) SUDAM e SUDECO foram projetos governamentais que de terceirização, por exemplo o aumento da multa sobre o
instalaram o pequeno produtor em Mato Grosso. valor dos depósitos do FGTS em caso de demissão sem justa
e) Em Mato Grosso, a colonização dirigida pelas empresas causa.
particulares fez surgir várias cidades no Estado.

História de Mato Grosso 39


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APOSTILAS OPÇÃO

(E) Permite a terceirização de todas as atividades e


autoriza a empresa de terceirização a subcontratar outras
empresas para realizar serviços de contratação, remuneração
e direção do trabalho e atribui à empresa terceirizada, em
casos de ações trabalhistas, o pagamento dos direitos
questionados na Justiça, se houver condenação.

09. (CRBio-1ª Região – Auxiliar Administrativo –


Vunesp – 2017) O ministro (...) foi escolhido para ser o novo
relator dos processos da Operação Lava Jato no STF (Supremo
Tribunal Federal), em sorteio realizado nesta quinta-feira
(02.02) por determinação da presidente da Corte, ministra
Cármen Lúcia.
O ministro vai herdar os processos ligados à operação que
estavam com o ministro Teori Zavaski, morto num acidente
aéreo em janeiro. Estavam sob a relatoria de Teori 16
denúncias e outros 58 inquéritos relacionados à Lava Jato.
(Uol, https://goo.gl/NANZYF, 02.02.2017. Adaptado)

O novo relator escolhido por sorteio é o ministro


(A) Alexandre de Moraes
(B) Dias Toffoli
(C) Edson Fachin
(D) Gilmar Mendes
(E) Luiz Fux

Respostas
01 – E / 02 – A / 03 – C / 04 – B / 05 – D / 06 – C / 07 – B /
08 – E / 09 - C

Anotações

História de Mato Grosso 40


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GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

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APOSTILAS OPÇÃO

No Brasil, o desenvolvimento do capitalismo foi


caracterizado por forte intervenção do Estado através de
vários instrumentos, que tinham por objetivo a valorização do
capital e a inserção econômica do país no contexto mundial.
A intervenção estatal imprimiu, na região Centro-Oeste,
profundas transformações estruturais:

→ Implantação de programas de desenvolvimento (década


de 1970);
→ Divisão territorial do Estado de Mato Grosso (1977);
1. Mato Grosso e a região → Divisão territorial de Goiás, com a criação do Estado de
Tocantins (1981).
Centro-Oeste
Pode-se constatar, então, que as estratégias de intervenção
do Estado Nacional foram variadas.
Mato Grosso e a Região Centro-Oeste Consequentemente, os impactos na estrutura regional
também foram diferenciados.
Desenvolvimento socioeconômico no contexto da região Assim, em busca da homogeneização econômica nacional –
Centro-Oeste: A estrutura do espaço regional expressa pela integração das regiões brasileiras –, ocorreram
Para compreender o processo de desenvolvimento de transformações que afetaram as relações de produção e
Mato Grosso, é preciso conhecer o contexto da região Centro- modificaram o inter-relacionamento dos núcleos urbanos com
Oeste do Brasil (Figura 1). as áreas produtivas rurais.
O território mato-grossense é resultado de um conjunto de
espaços geográficos moldados ao longo do processo de Como resultado, evidencia-se na região Centro-Oeste:
formação econômico-social do país, posto em prática de forma
efetiva a partir do século XVIII (Figura 2). 1. Espaços estruturados pela iniciativa privada sem a
Isso significa dizer que a estrutura regional do Centro- intervenção direta de políticas governamentais; e
Oeste relaciona-se ao contexto nacional como uma totalidade, 2. Espaços reestruturados por políticas governamentais
sendo regida pela dinâmica capitalista.
Essa dinâmica pode ser entendida como a crescente
integração das regiões brasileiras a partir da homogeneização
da economia nacional.
Assim, a estrutura espacial é resultante de um processo
temporal onde o território é continuamente estruturado e
reestruturado.
Essa dinâmica expressa-se pela articulação inter-regional
entre os Estados brasileiros, através de fluxos de diversas
ordens: bens e serviços, capitais, investimentos e força de Referências Bibliográficas:
trabalho.
Esses fluxos determinaram os processos que moldaram a Geografia de Mato Grosso: Seleção de Conteúdo para o
região Centro-Oeste. Concurso Público do Governo de Mato Grosso. /Gislaene Moreno
Embora não tenha sido a única responsável pela (org.), Tereza Cristina Souza Higa (org.), Gilda Tomasini
construção do espaço regional, a mineração de ouro foi o fator Maitelli (colab.). Cuiabá: Entrelinhas. Disponível em:
inicial de apropriação da terra e construção do espaço http://www.entrelinhaseditora.com.br/uploads/produto
regional, sendo responsável pelo assentamento das primeiras pdf/Apostila_Geografia_2015_Degustacao(1).pdf.
populações não-indígenas na região.

2. Geopolítica de Mato Grosso

Mato Grosso é o terceiro Estado em área da Federação


brasileira, com área total de 906.807 km², aproximadamente.
Encontra-se na região Centro-Oeste do país, centro do
continente Sul-americano.
A sua localização privilegiada – território fronteiriço
internacional e que faz parte da Amazônia brasileira – confere-
lhe a condição de espaço estratégico, ao qual tem sido
atribuído relevante papel nos planos de desenvolvimento
nacional e de integração sul-americana.
Com importância geopolítica e econômica reconhecida
desde o Brasil Colônia, Mato Grosso começou a ser
amplamente explorado a partir da segunda metade do século
XX e, a partir da década de 1970, passou a receber estímulos
para a ocupação do seu território provenientes de diversos
programas federais e estaduais que rapidamente o
transformaram em um dos maiores produtores agropecuários
do país.
O desencadeamento desse processo provocou a
interiorização da economia, crescimento populacional e,

Geografia de Mato Grosso 1


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APOSTILAS OPÇÃO

consequentemente, intensa urbanização que, ao lado de outros política em que os sulistas se encontravam. No documento
fatores, sobretudo políticos, foram decisivos para contínuas reclamam do descaso dos políticos cuiabanos que, segundo
divisões territoriais originando dezenas de municípios nas eles, usurpavam de toda a verba que o sul destinava ao Estado,
últimas duas décadas do século XX. e nem ao menos tinham representação significativa na
Assim, a área do atual território mato-grossense que, em Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Chegam a apresentar
1970, contava com 34 municípios, chegou a 2000 com 141 algumas consequências que poderiam vir a ocorrer se caso a
unidades municipais e uma população de 2.498.150 habitantes divisão não ocorresse, entre os quais, o não pagamento de
(IBGE, 2000a). Em 2006, com as mesmas 141 unidades imposto e a ameaça de revoltas não pacíficas contra os
municipais, a projeção populacional do IBGE para o Estado é políticos do norte residentes em Cuiabá.
de 2.856.999, bem como chegou a 3.066.046 habitantes, em Somente a partir da apresentação desses documentos
2010. torna-se possível a realização de algumas reflexões acerca da
Esse número foi atualizado em 2016 para 3.305.531. influência da divisão na economia do Estado nesses últimos
quarenta anos.
Referências Bibliográficas:

Geografia de Mato Grosso: Seleção de Conteúdo para o 4. Aspectos físicos e


Concurso Público do Governo de Mato Grosso. /Gislaene Moreno
(org.), Tereza Cristina Souza Higa (org.), Gilda Tomasini domínios naturais do espaço
Maitelli (colab.). Cuiabá: Entrelinhas. (Adaptado). mato-grossense
Disponível em:
http://www.entrelinhaseditora.com.br/uploads/produto
pdf/Apostila_Geografia_2015_Degustacao(1).pdf.
Mato Grosso possui um grande território, nesse existe uma
grande variedade de recursos e paisagens naturais.
Diante da imensa biodiversidade, serão abordadas as
principais características do relevo, clima, vegetação,
3. Ocupação do território hidrografia, além das reservas ecológicas que se faz presente
na região.

As ideias separatistas de Mato Grosso do Sul tiveram início Relevo


no começo do século XX, com uma revolta chefiada pelo O Relevo apresenta as irregularidades da superfície
coronel Mascarenhas, que resultou na derrota dos rebeldes. O terrestre. O território de Mato Grosso é composto por um
norte sempre resistiu, por temer o esvaziamento econômico relevo de baixas altitudes, dessa forma, grande parte do espaço
do Estado. Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, a estadual é plano.
região sul aderiu ao movimento, sob a condição de que em caso No entanto, esse tipo de relevo se divide em três tipos de
de vitória obteria a divisão. compostos, chamados de unidade, sendo todos distintos. São
Em 11 de outubro de 1977, Mato Grosso do Sul foi eles:
finalmente desmembrado, transformando-se em Estado no 1º - Planalto mato-grossense: formação a partir de
de janeiro de 1979, com a posse do primeiro governador, o planaltos cristalinos e chapadões sedimentares, nesse as
engenheiro gaúcho Harry Amorim Costa, e da Assembleia altitudes podem variar entre 400 a 800 metros em relação ao
Constituinte. A primeira eleição só ocorreu em 1982. Para nível do mar. Esse planalto tem a função de divisor de águas de
justificar o desmembramento, o governo federal argumentou importantes bacias, tais como Paraguai e alguns rios da bacia
que o antigo Estado dispunha de área muito extensa, que do Amazonas.
dificultava a administração, além de apresentar claras - Planalto Arenítico-basáltico: formado pelos dois
diferenças ecológicas. últimos elementos, podem ser encontrados no sul de Mato
Mesmo que haja certa dificuldade em atribuir o Grosso.
crescimento econômico do Estado dos últimos quarenta anos - Planalto mato-grossense: se estabelece em uma área
à divisão de 1977, uma pesquisa bibliográfica mais acurada rebaixada, já no sul do planalto brasileiro se encontra o divisor
revela alguns aspectos interessantes que refletem de alguma entre as duas bacias, Paraguai e Amazonas.
forma na condição social e econômica do Estado no período A partir dessas considerações, as principais elevações
futuro. Com isso uma releitura desse material torna-se, no (serras) do relevo contido no Estado do Mato Grosso:
presente momento, indicado para este tipo de análise. - Serra dos Parecis
Quando a divisão ocorreu, foi realizado um relatório que - Serra Formosa
determinava para o governo estadual e federal algumas - Serra do Norte
diretrizes administrativas a cumprir que tivessem o objetivo - Serra dos Caiabis
de buscar a revitalização da economia do Estado - Serra dos Apiacás
remanescente como uma compensação de possíveis perdas - Serra do Roncador
que a divisão poderia vir a proporcionar para Mato Grosso. Há Além das serras citadas, existe outra variação do relevo
outro trabalho de extrema relevância a ser averiguado e que são as depressões, desse modo as duas principais são:
refletido, trata-se do livro de BORGES, intitulado, “Prosas com - Depressão do Alto Xingu
Governadores de Mato Grosso 1966 - 2006”. - Depressão do Médio Araguaia
Nele encontram-se entrevistas com personagens centrais
da política mato-grossense não só no período em que ocorreu Clima
a divisão, mas também no período anterior e posterior a O clima do estado sofre variações de acordo com a
mesma. O tema divisão de Mato Grosso é abordado de forma localização geográfica. Com base nessa afirmativa o clima que
direta, e ali os ex governadores expressam a sua opinião, e predomina é o tropical superúmido, característica do clima
adicionam informações para a compreensão de alguns amazônico, no qual há elevadas temperaturas, algo em torno
pormenores que até o momento não havia sido ainda bem de 26ºC em relação à média anual e uma grande incidência de
esclarecidos. precipitações que chegam a 2.000 mm ao ano.
Há também um documento datado de 1934 realizado pela
liga sul mato-grossense que expressa a revolta pela situação

Geografia de Mato Grosso 2


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Outro tipo de clima de grande influência no Estado é o O poder legislativo estadual é unicameral, constituído pela
tropical, que possui duas estações bem definidas, sendo uma Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, localizada
seca e outra chuvosa. no Centro Político Administrativo. Ela é constituída por 24
deputados, que são eleitos a cada quatro anos. No Congresso
Vegetação Nacional, a representação mato-grossense é de três senadores
Uma grande parcela do território mato-grossense é e setenta deputados federais.
composta por cobertura vegetal de floresta equatorial, que O poder judiciário tem a função de julgar, conforme leis
corresponde ao tipo de vegetação da floresta amazônica. criadas pelo legislativo e regras constitucionais brasileiras,
Já ao sul da capital, Cuiabá, o tipo de vegetação que sendo composto por desembargadores, juízes e ministros.
predomina é o cerrado, esse bioma é composto por árvores Atualmente, a maior corte do Poder Judiciário mato-
baixas com troncos retorcidos, folhas e cascas grossas, além de grossense é o Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
uma vasta vegetação rasteira formada por capins nativos e
arbustos.
Na área que está localizado o Pantanal o tipo de vegetação 6. Aspectos socioeconômicos
é variado, chamada pelos estudiosos de área de transição entre de Mato Grosso
cerrado, campos, floresta seca, floresta equatorial, floresta
tropical, desse modo, não há um tipo homogêneo de vegetação.
As bases da economia do estado mato-grossense
Hidrografia/Bacias Hidrográficas
Mato Grosso é um dos lugares com maior volume de água O estado de Mato Grosso é conhecido como o celeiro do
doce no mundo. Considerado a caixa-d'água do Brasil por país, campeão na produção de soja, milho, algodão e de
conta dos seus inúmeros rios, aquíferos e nascentes. O planalto rebanho bovino, e agora quer alcançar novos títulos do lado de
dos Parecis, que ocupa toda porção centro-norte do território, fora da porteira das fazendas. Com crescimento “chinês” de
é o principal divisor de águas do estado. Ele reparte as águas seu Produto Interno Bruto, o estado iniciou um planejamento
das três bacias hidrográficas mais importantes do Brasil: Bacia para atacar diversas frentes com potencialidades até então
Amazônica, Bacia Platina e Bacia do Tocantins. adormecidas. A estratégia vai permitir que sua produção seja
Os rio de Mato Grosso estão divididos nessas três grandes diversificada para agregar valor a tudo aquilo que é produzido
bacias hidrográficas que integram o sistema nacional, no em terras mato-grossenses e que acaba abastecendo o Brasil e
entanto, devido à enorme riqueza hídrica do estado, muito rios o mundo.
possuem características específicas e ligações tão estreitas O governado do Estado, por meio da Secretaria de
com os locais que atravessam que representam, por si só, uma Desenvolvimento Econômico (Sedec), está planejando um
unidade geográfica, recebendo o nome de sub-bacias. conjunto de ações para atrair investidores para Mato Grosso.
As principais sub-bacias do estado são: Sub-bacia do Cinco eixos prioritários para esta transformação foram
Guaporé, Sub-bacia do Aripuanã, Sub-bacia do Juruena-Arinos, definidos pela secretaria. A partir de agora serão realizados
Sub-bacia do Teles Pires e Sub-Bacia do Xingu. estudos para reformular as políticas tributária, de atração de
Os rios pertencentes a Bacia Amazônica drenam 2/3 do investimentos, logística e mão de obra.
território mato-grossense. Os cinco setores com grande potencial de crescimento na
região e que terão atenção especial do estado são
Fonte: agroindústria, turismo, piscicultura, economia criativa e pólo
Governo de Mato Grosso. joalheiro. Para isso, o estado pretende reformular o Programa
Disponível em: de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso
http://www.mt.gov.br/geografia. (Prodeic) e o sistema tributário estadual.

Agronegócio
5. Aspectos político- Em pouco mais de uma década, o PIB estadual passou de
administrativos R$ 12,3 bilhões (1999) para R$ 80,8 bilhões (2012),
representando um crescimento de 554%. Neste mesmo
período, o PIB brasileiro aumentou 312%, segundo dados do
O estado do Mato Grosso, assim como em uma república, é IBGE. Grande parte deste desempenho positivo veio do campo.
governado por três poderes, o executivo, representado pelo Atualmente, o estado Mato Grosso lidera a produção de soja no
governador, o legislativo, representado pela Assembleia país, com estimativa de 28,14 milhões de toneladas para a
Legislativa do Estado de Mato Grosso, e o judiciário, safra 2014/2015. Também está à frente na produção de
representado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Mato algodão em pluma – 856.184 toneladas para 2014/2015 – e
Grosso e outros tribunais e juízes. rebanho bovino, com 28,41 milhões de cabeças. De acordo com
Além dos três poderes, o estado também permite a o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea),
participação popular nas decisões do governo através de o agronegócio representa 50,5% do PIB do estado.
referendos e plebiscitos. Com o agronegócio consolidado, Mato Grosso é terreno
A atual constituição do estado foi promulgada em 1989, fértil para as indústrias que atuam antes e depois da porteira.
acrescida das alterações resultantes de posteriores Emendas Até 2013, segundo a Federação das Indústrias no Estado de
Constitucionais. Mato Grosso (Fiemt), o estado tinha 11.398 unidades
O poder executivo mato-grossense está centralizado no industriais em operação, com 166 mil empregos gerados.
governador do estado, que é eleito em sufrágio universal e Ainda assim, é preciso agregar mais valor ao produto que
voto direto e secreto pela população para mandatos de até sai de Mato Grosso. Da porteira para dentro há potencial para
quatro anos de duração, podendo ser reeleito para mais um as empresas que abastecem os produtores com adubo,
mandato. defensivo e maquinário, entre outros produtos. Da porteira
Sua sede é o Palácio Paiaguás, que desde 1975 é sede do para fora, as empresas de beneficiamento, como a têxtil e de
poder executivo e residência oficial do governador. etanol.
Nas eleições estaduais em Mato Grosso em 2014, Pedro
Taques candidatou-se pelo PDT a governador e foi eleito em 1º
turno com 57,25% dos votos válidos.

Geografia de Mato Grosso 3


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Plantação de soja oferece cursos para produtores rurais e técnicos agrícolas


A Produção de grãos em Mato Grosso está associada à sobre noções básicas de piscicultura.
atividade pecuária. A borracha natural é outro foco da política de incentivos
O mapeamento mostra que a atividade pecuária desenvolvida pelo Governo de Mato Grosso, que quer agregar
predomina em pelo menos 40% de Mato Grosso, com animais valor à borracha produzida no estado, com beneficiamento e
de grande porte e rebanho de corte. industrialização. O estado é o segundo maior produtor de
A atividade predomina no sul do estado, no nordeste, na borracha natural do país, com 40 mil hectares de área plantada
região do Rio Araguaia e no norte, entre Alta Floresta e Nova e 25 mil famílias envolvidas na atividade, conforme dados da
Bandeirantes. Empaer.
A área para a produção de grãos e fibras apresenta maior Pioneira no estado em produção e pesquisa da seringueira,
concentração na região centro-norte do estado, especialmente a empresa possui um campo experimental no município de
nos municípios de Sinop, Sorriso e Lucas do Rio Verde, e no Rosário Oeste (128 km ao Norte de Cuiabá) com jardim clonal
centro-sul, sobretudo nos municípios de Campo Verde e e viveiro para atender a agricultura familiar. Os produtores
Primavera do Leste. contam com o apoio do Programa Nacional de Fortalecimento
A atividade associa-se à pecuária de animais de grande da Agricultura Familiar (Pronaf Eco), que disponibiliza uma
porte, dispersa por todas as regiões do estado. linha de crédito com prazo de 20 anos para pagamento e oito
O Mapa da Cobertura e Uso da Terra de Mato Grosso é de carência.
resultado da interpretação de imagens de satélite que são Paralelamente, a Secretaria de Ciência e Tecnologia
comparadas à análise de informações obtidas em trabalhos de (Secitec) investe em inovação e qualificação de mão de obra
campo, análises de tipologia agrícola e de documentação com a criação do primeiro parque tecnológico de Mato Grosso,
acessória disponível, como estatísticas e textos. além de negociação com centros europeus para cooperações
O IBGE também publica o manual Geoestatísticas de na área de tecnologia.
Recursos Naturais da Amazônia Legal, que apresenta Energia também não falta para mover esta máquina.
avaliações qualitativas e quantitativas de dados sobre a Superavitário no setor energético, Mato Grosso alcançou em
organização e a distribuição dos recursos naturais e da 2014 a produção de 14 milhões/MWh. Desse montante,
cobertura da terra disponíveis para a Amazônia Legal, com consumiu 9 milhões/MWh e exportou 5 milhões/MWh via o
base em estatísticas do Banco de Dados e Informações Sistema Interligado Nacional (SIN).
Ambientais, também do instituto, obtidos por aplicativos
computacionais de análise espacial. Do ouro às pedras coradas
O mapa é disponibilizado nos formatos shape – arquivo Se durante a colonização Mato Grosso foi reconhecido pelo
que contém dados geoespaciais em forma de vetor – e PDF, que ouro, hoje é um mercado potencial para a fabricação de joias e
auxilia no processo de gestão ambiental, além de servir de semi joias a partir de pedras preciosas. Além de ser o maior
apoio para a avaliação de impactos ambientais e elaboração de produtor de diamante do Brasil – com 88% do total da
zoneamentos ecológico e econômico e de processos de produção brasileira, segundo o Departamento Nacional de
transformação.1 Produção Mineral (DNPM) –, o estado também se destaca pelas
pedras coradas, como a ametista, o quartzo rosa, a ágata e a
Fonte: turmalina.
Governo de Mato Grosso. A atividade mineral no Estado é histórica. Não há como
Disponível em: falar da povoação de Mato Grosso sem falar da extração do
http://www.mt.gov.br/geografia. ouro e diamante. Era 1719, quando o ouro foi descoberto por
bandeirantes às margens do Rio Coxipó. Já o diamante
Pesquisa e tecnologia começou a ser explorado no fim do século XVIII nas regiões de
O que poucos sabem é que Mato Grosso, além de grãos, é o Coité, Poxoréu e Diamantino.
maior produtor de pescado de água doce do país, responsável Atualmente, conforme dados da Companhia Mato-
por 20% da produção do Brasil, com 75,629 mil toneladas grossense de Mineração (Metamat), as pedras coradas se
(IBGE 2013). E esse mercado tem muito a crescer. O potencial concentram nas regiões noroeste, centro sul e leste de Mato
está na abundância de rios e lagos em território mato- Grosso. A granada, o zircão e o diopsídio em geral são
grossense. encontrados associados ao diamante, nas regiões de
Atualmente, 72% do pescado produzido no estado são Paranatinga e de Juína.
destinados ao consumo interno, de acordo com dados de 2014 Nas proximidades de Rondolândia existe um depósito de
do Imea. O segundo maior consumidor do peixe produzido no quartzo rosa e as turmalinas são encontradas próximas a
estado é o Pará (9,71%), seguido do Tocantins (2,35%). O Cotriguaçu, enquanto as ametistas estão concentradas
plano do Governo do Estado é estimular o aumento da próximas aos municípios de Aripuanã (noroeste) e Pontes e
produção e atrair empresas de beneficiamento do peixe para Lacerda (oeste).
exportá-lo para outros estados.
A Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Economia criativa
Extensão Rural (Empaer) é uma das que investe no setor, tanto A política de incentivo do Governo do Estado para o setor
em pesquisa quanto na produção. A instituição mantém no inclui o estímulo a pequenos empresários do ramo joalheiro,
município de Nossa Senhora do Livramento uma estação de dentro do programa de Economia Criativa que vem sendo
piscicultura onde são produzidos e comercializados alevinos desenvolvido pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento
de espécies como pacu, tambacu e tambatinga. A meta da Econômico (Sedec), que abrange setores como moda, design,
instituição é fechar o primeiro quadrimestre de 2015 com uma artes e gastronomia.
produção de 800 mil alevinos. Há 30 anos no mercado de joias em Cuiabá, Carmem
Para isso a Empaer conta com 39 tanques de reprodução D’Lamonica vê Mato Grosso como um futuro polo joalheiro
com capacidade para produzir um milhão de alevinos – sendo pela abundância de pedras coradas existentes no solo mato-
12 tanques de pesquisa e 27 para recria. A instituição também grossense e até então pouco exploradas. Para estruturar o

1 Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2015-


06/ibge-disponibiliza-mapa-da-cobertura-e-uso-da-terra-de-mato-grosso.

Geografia de Mato Grosso 4


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mercado, avalia, é necessário criar uma política voltada para o É o segundo Estado mais populoso da região Centro-Oeste,
ramo, desde a extração até o produto final. apenas o estado de Goiás possui população superior
“Temos condições de montar uma cadeia produtiva e nos (6.003.788 habitantes). No entanto, o território mato-
tornar referência no setor”, garante a designer, lembrando que grossense possui grandes vazios demográficos, fato que
matéria-prima atrai não apenas joalheiros, mas também interfere diretamente na densidade demográfica estadual,
indústrias de semi joias e bijuterias. que, atualmente, é de 3,3 habitantes por quilômetro quadrado,
portanto, o estado é pouco povoado.
Paraíso do ecoturismo A taxa de crescimento demográfico é de 1,9% ao ano.3
Cachoeiras, safaris, trilhas ecológicas, observação de
pássaros, mergulho em aquários naturais. Seja no Pantanal, no A maioria dos mato-grossenses reside em áreas urbanas
Cerrado ou no Araguaia, Mato Grosso é o destino certo para (82%), a população rural compreende 18%. O estado possui
quem gosta de ecoturismo e para quem planeja investir no 141 municípios, a maioria é habitada por menos de 20 mil
segmento que mais cresce no setor de turismo. pessoas.
Dados da Organização Mundial de Turismo (OMT) Cuiabá, capital do Estado, é a cidade mais populosa –
apontam que o ecoturismo cresce em média 20% ao ano, 551.098 habitantes.
enquanto o turismo convencional apresenta uma taxa de Outros municípios com grande concentração populacional
aumento anual de 7,5%, conforme divulgado pelo Ministério são: Várzea Grande (252.596), Rondonópolis (195.476), Sinop
do Turismo em 2014. A organização estima ainda que pelo (113.099), Cáceres (87.942), Tangará da Serra (83.431).
menos 10% dos turistas em todo o mundo sejam adeptos do Nos últimos anos o Mato Grosso tem recebido
turismo ecológico. consideráveis fluxos migratórios, consequência da expansão
Como belezas naturais não faltam em Mato Grosso, os da fronteira agrícola. A população do estado é formada por
governos Federal e Estadual têm investido em infraestrutura pessoas de diferentes composições étnicas. De acordo com
de acesso a paraísos naturais mato-grossenses, como o dados do IBGE, a distribuição é a seguinte:
Pantanal. Exemplo disso é o projeto de substituição de pontes
de madeira ao longo da rodovia Transpantaneira – que liga a Pardos – 55,2%.
cidade de Poconé até a localidade de Porto Jofre, cortando a Brancos – 36,7%.
planície alagável. Ao todo serão construídas 31 pontes de Negros – 7%.
concreto. Indígenas – 1,1%.
Chapada dos Guimarães é outro ponto prioritário para a
Sedec quando o assunto é infraestrutura. No município, que Portanto, os habitantes que se declaram como pardos é
atrai visitantes adeptos do turismo de contemplação e de maioria.
esporte de aventura, será executada a conclusão do Complexo A população indígena de Mato Grosso se concentra no
Turístico da Salgadeira e a pavimentação da MT-060 e MT-020. Parque Nacional do Xingu, ali vivem tribos indígenas que
O Governo do Estado também retomou o diálogo com o preservam a tradição do Kuarup, ritual realizado em
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade homenagem aos mortos.
(ICMBio) para o andamento das obras do Portão do Inferno e O estado apresenta grande pluralidade cultural, entre os
da entrada da Cachoeira Véu de Noiva, os dois principais elementos da cultura mato-grossense estão: o Cururu, o Siriri,
pontos de contemplação do Parque Nacional de Chapada. o Rasqueado Cuiabano, o Boi, a Dança de São Gonçalo, a Dança
dos Mascarados e o Congo.
Fonte: O Mato Grosso ocupa a 11° posição no ranking nacional de
Governo de Mato Grosso. Disponível em: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com média de
http://www.mt.gov.br/economia. 0,796.
A taxa estadual de mortalidade infantil é de 19,2 a cada mil
crianças nascidas vivas, essa média é a maior do Centro-Oeste.
A taxa de assassinatos por 100 mil habitantes é de 25,2,
7. Formação étnica sendo uma das maiores médias do país.
A maioria dos habitantes é alfabetizada – 89,8%, e 48,7%
possuem oito anos ou mais de estudo.
População2
Referências Bibliográficas:
Mato Grosso é um estado de povos diversos, uma mistura
de índios, negros, espanhóis e portugueses que se FRANCISCO, Wagner de Cerqueria e. "Aspectos da
miscigenaram nos primeiros anos do período colonial. Foi essa população de Mato Grosso"; Brasil Escola. Disponível em
gente miscigenada que recebeu migrantes vindo de outras <http://brasilescola.uol.com.br/brasil/aspectos-populacao-
partes do país. Hoje, 41% dos moradores do estado nasceram mato-grosso.htm>.
em outras partes do país ou no exterior.
Composição étnica
Geografia e dinâmica da população em Mato Grosso

O Mato Grosso é um estado brasileiro localizado na região


Centro-Oeste. Sua extensão territorial é de 903.329,700
quilômetros quadrados, sendo o maior estado da região e o
terceiro maior do Brasil.
Conforme contagem populacional realizada em 2010 pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Mato
Grosso possuía na época 3.035.122 habitantes, o que
representava 1,59% da população brasileira.

2 Governo de Mato Grosso. Disponível em: http://www.mt.gov.br/geografia. 3 Governo de Mato Grosso. Disponível em: http://www.mt.gov.br/geografia.

Geografia de Mato Grosso 5


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Religião: LINGUAJAR
Semelhante ao que ocorre em todo território nacional o
Mato Grosso é predominantemente povoado por pessoas Mato Grosso é uma terra de vários sotaques. Com
cristãs, sendo na sua maioria católicos e uma fração menor influência de Gaúchos, mineiros, paulistas, portugueses,
dividida em inúmeras denominações evangélicas, contando negros, índios e espanhóis, o estado não tem uma fala própria.
ainda com a presença de religiões afrodescendentes. Em lugares como Sorriso, Lucas do Rio Verde e Sinop o acento
do sul fica mais evidente. É claro que o língua é porosa e a
Cultura influência se faz presente, até mesmo nas comunidades mais
fechadas.
DANÇA E MÚSICA No entanto, em Mato Grosso, temos o falar cuiabano, talvez
o sotaque mais marcados da língua portuguesa. Com
A dança e a música de Cuiabá tem influências de origem expressões próprias como “vôte” e “sem-graceira” esse falar se
africana, portuguesa, espanhola, índigenas e chiquitana. É um mistura com uma entonação diferente, como a desnasalização
conjunto muito rico de combinações que resultou no no final de algumas palavras. Infelizmente ele é um dos menos
rasqueado, siriri, cururu e outros ritmos. Os instrumentos retratados na cultura nacional, nunca apareceu em uma novela
principais que dão ritmo às músicas e danças são: a viola de ou filme de sucesso nacional e não possui uma identificação
cocho, ganzá e mocho. imediata.
Devido ao seu enorme isolamento por conta da distância e
• Cururu acontecimentos históricos, o linguajar guardou resquícios do
Música e dança típica de Mato Grosso. Do modo como é português arcaico, misturou-se com o falar dos chiquitanos da
apresentado hoje é uma das mais importante expressões bolívia e dos índios das diversas tribos do estado.
culturais do estado. Teve origem à época dos jesuítas, quando Antônio de Arruda descreveu algumas expressões
era executado dentro das igrejas. Mais tarde, após a vinda de idiomáticas que são verificadas num glossário do Linguajar
outras ordens religiosas, caiu na marginalidade e ruralizou-se. Cuiabano:
É executada por dois ou mais cururueiros com viola de cocho, • É mato - abundante.
ganzás (kere-kechê), trovos e carreiras. • Embromador - tapeador.
• Fuxico - mexerico.
• Congo • Fuzuê - confusão, bagunça.
Esta dança é um ato de devoção a São Benedito. No reinado • Gandaia - cair na farra, adotar atitude suspeita.
do Congo os personagens representados são: o Rei, o • Ladino - esperto, inteligente.
Secretário de Guerra e o Príncipe. Já no reino adversário, • Molóide - fraco.
Bamba, fica o Embaixador do Rei e doze pares de soldados. Os • Muxirum - mutirão.
músicos ficam no reino de Bamba e utilizam: ganzá, viola • Pau-rodado - pessoa de fora que passa a residir na cidade.
caipiria, cavaquinho, chocalho e bumbo. • Perrengue - molóide, fraco.
• Pinchar - jogar fora.
• Chorado • Quebra torto - desjejum reforçado.
Dança surgida na primeira capital de Mato Grosso, Vila • Ressabiado - desconfiado.
Bela de Santíssima Trindade, no período colonial. A dança leva • Sapear - assistir do lado de fora.
esse nome, pois representa o choro dos negros escravos para • Taludo - crescido desenvolvido fisicamente.
seus senhores para que os perdoassem dos castigos imposto • Trens - objetos, coisas.
aos transgressores. O ritmo da música é afro, com marcações • Vote! - Deus me livre
em palmas, mesa, banco ou tambor.
Fonte
• Siriri ARRUDA, Antônio. O Linguajar Cuiabano E Outros Escritos.
Dança com elementos africanos, portugueses e espanhóis. Cuiabá, 1998.
O nome indígena é referência aos cupins com asa, que voavam
num ritmo parecido com a dança nas luminárias. A música é IMAGINÁRIO POPULAR (MITOS E LENDAS)
uma variação do cururu, só que com ritmo bem mais rápido.
Os instrumentos utilizados são: viola de cocho, o ganzá, o adufe • Currupira
e o mocho. Os versos são cantigas populares, do cotidiano da Este personagem faz parte do folclore nacional, mas tem
região. bastante espaço no meio rural de Mato Grosso. Um garoto com
os pés virados, que vaga pela mata aprontando estripulias. Em
• Dança dos Mascarados Mato grosso diz-se que ele protege os animais selvagens da
Dança executada durante a Cavalhada em Poconé. E uma caça e chama garotos que caçam passarinhos para dentro da
apresentação composta apenas por homens - adultos e mata – esta parte é usada pelos adultos para manter as
crianças. Tem esse nome por executarem a dança com crianças longe da mata fechada.
máscaras de arame e massa. O ritmo é instrumental com o uso
de saxofone, tuba, pistões pratos e tambores. O município de • O Minhocão
Poconé é o único do Brasil a realizar esse espetáculo. Este ser mítico é o Monstro do Lago Ness de Cuiabá.
Relatos dos mais antigos atestam que um ser em forma de uma
• Rasqueado cobra gigante, com cerca de 20 metros de cumprimento e dois
Tem origem no siriri e na polca paraguaia. O nome do ritmo de diâmetro, morava nas profundezas do rio e atacava
é referência ao rasqueado que as unhas fazem no instrumento pescadores e banhistas. A lenda percorre toda extensão do rio
de corda, uma forma tradicional de tocar instrumentos. Na sua e foi passada de boca a boca pelos mais velhos.
essência utiliza os mesmos instrumentos que o siriri: viola de
cocho, mocho, adufe e ganzá. Mas evoluiu para o uso de violões, • Boitatá
percussão, sanfona e rabeca. O nome quer dizer “cobra de fogo” (boia = cobra / atatá =
fogo). É uma cobra transparente que pega fogo como se
Fonte: LOUREIRO, Antônio. Cultura mato-grossense. queimasse por dentro. É um fogo azulado. Sua aparição é
Cuiabá, 2006 maior em locais como o Pantanal, onde o fenômeno de fogo

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fátuo é mais comum. Esse fenômeno se dá por conta da Palácio da Instrução


combustão espontânea de gases emanados de cadáveres e
pântanos. Belíssima construção em pedra canga, localizada na região
central de Cuiabá, ao lado da Catedral Metropolitana.
• Cabeça de Pacu Inaugurado em 1914, é hoje a sede da Secretaria Estadual de
Se você estiver de passagem por Mato Grosso é bom ficar Cultura, do Museu de História Natural e Antropologia e da
atento ao Pacu. De acordo com a lenda local, quem come Biblioteca Pública.
cabeça de Pacu nunca mais saí de Mato Grosso. Se o viajante
for solteiro não tardará a casar com uma moça da terra, caso O Palácio da Instrução foi reinaugurado no dia 06 de
for casado, vai fincar raízes e permanecer no estado. dezembro de 2004. O projeto foi considerado a maior obra de
recuperação feita até hoje no Estado.
Fonte: LOUREIRO, Antônio. Cultura mato-grossense.
Cuiabá, 2006 Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito

GASTRONOMIA A igreja é um dos marcos de fundação da cidade de Cuiabá,


tendo sido construída em arquitetura de terra em torno de
Apesar de ser conhecido como o celeiro do mundo, Mato 1730, próximo às águas do córrego da Prainha, em cujas águas
Grosso tem um enorme potencial também para servir comidas Miguel Sutil descobriu as minas de ouro que impulsionariam a
de excelente qualidade. A culinária do estado tem influências colonização da região.
da África, Portugal, Síria, Espanha e dos antigos indígenas. Com
a migração dos últimos anos a culinária também agregou Igreja Senhor dos Passos
alguns pratos típicos de outras regiões brasileiras.
Pratos considerados bem mato-grossenses são: Maria Instalada há 214 anos num cantinho discreto do Centro
Isabel (carne seca com arroz ) o Pacu assado com farofa de Histórico – no movimentado cruzamento das ruas 7 de
couve, a carne seca com banana-da-terra verde, farofa de setembro e Voluntários da Pátria -, a Igreja do Nosso Senhor
banana-da-terra madura além do tradicional churrasco dos Passos guarda muitas histórias e lendas, que se
pantaneiro que se desenvolveu pelas longas comitivas de gado confundem, e revelam aspectos do folclore, das crendices e do
no pantanal. espírito religioso da Cuiabá antiga.
O peixe é um alimento farto. Ele é comido frito, assado ou
ensopado, recheado com farinha de mandioca ou servido com Museu Histórico de Mato Grosso
pedaços de mandioca. Os peixes de mais prestígio nas mesas
locais são: o pacu, a piraputanga, o bagre, o dourado, o O prédio do antigo Thesouro do Estado foi recuperado e
pacupeva e o pintado. Os peixes dos rios do estado, carnudos e entregue em novembro de 2006. Atualmente, abriga o Museu
saborosos, são uma atração turística para quem visita o estado. Histórico de Mato Grosso. O acervo do Museu contém
Outro elemento bastante presente é o guaraná de ralar, documentos, maquetes e registros que vão desde os tempos
usado principalmente pelos mais velhos que o tomam sempre pré-históricos de ocupação do território, passando pelos
pela manhã antes de começar o dia. períodos colonial e imperial do Estado até chegar à Política
Podemos destacar a variedade de doces e licores Contemporânea.
apreciados pelos mato-grossenses. Temos como os mais
famosos o Furrundu (doce feito de mamão e rapadura de Antiga Residência Oficial dos Governadores de Mato
cana), o doce de mangaba, o doce de goiaba, o doce de caju em Grosso
calda, o doce de figo, o doce de abóbora, e outros. Como
aperitivo temos o licor de pequi, licor de caju, licor de A Residência Oficial dos Governadores de Mato Grosso foi
mangaba, e outros. construída entre os anos de 1939 e 1941, no Governo do
Interventor Júlio Müller. Getúlio Vargas, que ocupava o Palácio
Fonte: LOUREIRO, Antônio. Cultura mato-grossense. do Catete no Rio de Janeiro à época, foi o primeiro presidente
Cuiabá, 2006 brasileiro a visitar o Estado e, também, o primeiro hóspede
ilustre da casa.
PATRIMÔNIO HISTÓRICO Durante 45 anos a residência abrigou 14 dirigentes do
Estado de Mato Grosso e seus familiares. Foi palco de grandes
O Patrimônio Histórico de Mato Grosso vem sendo decisões políticas e governamentais, sendo desativada como
revitalizado através de várias ações em âmbito estadual. residência oficial em 1986. A última reforma/restauro, em
Imóveis que contam a história coletiva dos povos mato- 2000, devolveu a residência suas características do projeto
grossenses, como igrejas e museus, são alvos de projetos de original.
recuperação em várias cidades como Vila Bela de Santíssima
Trindade, Diamantino, Rosário Oeste, Cáceres e Poxoréu. Fonte: Secretaria de Cultura de Mato Grosso

Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho ARTESANATO

A igreja dedicada à Nossa Senhora foi uma das primeiras a O artesanato mato-grossense reflete o modo de vida do
serem levantadas em Cuiabá, ainda no século XVIII. A artesão. Em cada obra, vemos representado o dia-a-dia e os
construção atual, entretanto, data de 1918, iniciada durante a costumes da sociedade. Verdadeiras obras de arte enriquecem
presidência de Dom Francisco de Aquino Correia, que também a cultura mato-grossense e transformam o cotidiano num
era arcebispo de Cuiabá na época. Tombada estadualmente em encanto de belezas. São objetos de barro, madeira, fibra
1977, a Igreja foi reinaugurada em 2004 após passar por um vegetal, linhas de algodão e sementes.
amplo processo de recuperação feito em parceria pelos Dentro do artesanato mato-grossense a cerâmica é a que
governos estadual e federal. mais se destaca pelas suas formas e perfeições. Feita de barro
cozido em forno próprio, ela é muito utilizada para a
fabricação de utensílios domésticos e objetos de
ornamentação. Na divulgação da arte, cultura e tradição mato-

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grossense, a tecelagem também detém grande


representatividade, principalmente pela beleza das cores 8. Programas
refletidas nas redes tingidas e bordadas, uma a uma, pelas
mãos das redeiras. A mistura de cores forma lindas imagens, governamentais e fronteira
que vão desde araras e onças até belas flores nativas. agrícola mato-grossense
Indígena
Espaços estruturados sem a intervenção direta de
A cultura mato-grossense sofre forte influência dos
políticas governamentais
indígenas, através de seus costumes e tradições. O artesanato
é forte e expressivo, representando o modo de vida de cada
O processo de produção do espaço da região foi
tribo. Eles preservam a arte de confeccionar cocar, colares,
descontínuo, nucleado e desarticulado. Assim, para explicar a
brincos e pulseiras, utilizando-se das matérias-primas
estruturação desses espaços, deve-se buscar na história as
oriundas da natureza, como sementes, penas e pigmentos.
razões que desencadearam a ocupação desse território. Nessa
perspectiva, observa-se que, em Mato Grosso, se identificam,
Fonte: Mato Grosso e seus Municípios
as seguintes fases de ocupação:
→ Mineração e fortificações – século XVIII;
FOLCLORE
→ Pecuária extensiva – século XIX, até o final da Guerra do
Paraguai, em 1870;
CAVALHADA
→ Internacionalização da navegação do rio Paraguai e
A Cavalhada é uma das mais ricas manifestações da cultura
diversificação da produção econômica – após 1870;
popular da cidade de Poconé, que rende homenagem a São
→ Processo inicial de integração econômica regional e
Benedito. Uma festa organizada por famílias tradicionais da
modernização de algumas áreas produtivas – décadas de 1940,
região, carrega o Pantanal para uma longínqua Idade Média.
1950 e 1960.
Trata-se de uma disputa entre mouros e cristãos. Nesta luta
são utilizados dezenas de cavalos e cavaleiros que têm por
A primeira fase de ocupação da região deu-se em
objetivo salvar uma princesa presa em uma torre
decorrência da expansão do bandeirantismo paulista durante
permanentemente vigiada. Em dia de Cavalhada, a cidade de
o domínio da Coroa Portuguesa, nos séculos XVII e XVIII. Da
Poconé amanhece azul e vermelha, as cores que representam
mineração, surgiram cidades como Cuiabá (1727) e Vila Bela
os cristãos e os mouros, um exemplo puro de cultura e paixão
da Santíssima Trindade (1752), em Mato Grosso, e as cidades
por suas raízes.
de Goiás (1725) e Pirenópolis (1727), em Goiás. A necessidade
de abastecimento desses núcleos incentivou a agricultura de
FESTA DE SÃO BENEDITO
subsistência nos vales próximos às atividades mineradoras.
Geralmente realizada entre a última semana de junho e a
Posteriormente, buscando consolidar a posse do território
primeira de julho, movimenta milhares de fiéis, em procissão
no interior do Brasil, a metrópole portuguesa ergueu
com bandeiras e mastros tão criativos quanto singelos. Ao final
fortificações militares na fronteira com a Colônia espanhola.
da procissão é levantado o mastro em homenagem ao santo.
Dessa forma, surgiram núcleos urbanos militares às margens
Dias antes do festejo há um ritual no qual os festeiros
dos rios Guaporé e Paraguai.
percorrem as ruas da cidade levando a bandeira do santo de
Com a decadência da mineração, foi desacelerada a
casa em casa e recebendo donativos. Durante os dias de festa
ocupação da região. Tal fato pode ser apontado como
há fartura de comida e diversas iguarias, com distribuição de
responsável pelo longo período de estagnação econômica de
alimentos.
Mato Grosso e Goiás, entre fins do século XVIII e início do
século XX.
DANÇA DOS MASCARADOS
Típica do município de Poconé, é uma mistura de
A segunda fase de ocupação da região Centro-Oeste insere-
contradança européia, danças indígenas e ritmos negros. A
se no contexto histórico do século XIX, até a Guerra do
maior peculiaridade desta dança é o fato de participarem
Paraguai (1864/1870). Nesse período, a ocupação do oeste
apenas homens, aos pares, metade dos quais vestidos de
deu-se através da criação extensiva de gado de forma dispersa,
mulher, com máscaras e roupas coloridas onde predominam o
acompanhando os vales à procura de campos nativos para
vermelho e o amarelo. A Dança dos Mascarados não encontra
serem utilizados como pastagens.
semelhanças com nenhuma outra manifestação no Brasil e sua
origem ainda é um mistério, porém a origem pode estar ligada
Uma terceira fase remonta ao período após a Guerra do
aos índios que habitavam a região.
Paraguai, com a internacionalização da navegação do rio
Paraguai.
DANÇA DO CHORADO
Tal fato desencadeou transformações no espaço regional,
Dança afro, da região de Vila Bela da Santíssima Trindade,
em decorrência do crescimento econômico que se deu pela
surgiu no período colonial, quando escravos fugitivos e
instalação de charqueadas no Pantanal, pela extração de erva-
transgressores eram aprisionados e castigados pelos Senhores
mate, poaia e borracha e pela indústria açucareira na
e seus entes solicitavam o perdão dançando o Chorado. Com o
Depressão Cuiabana.
passar do tempo a dança foi introduzida nos últimos dias da
Festa de São Benedito, pelas mulheres que trabalhavam na
Os períodos subsequentes no processo de ocupação da
cozinha. Com coreografia bem diferente da demais danças
região Centro-Oeste referem-se à integração econômica das
típicas, são equilibradas garrafas na cabeça das dançarinas que
várias localidades espalhadas pelo seu território ao contexto
cantam e dançam um tema próprio.
regional/nacional, através da abertura de novas vias de
escoamento da produção, como rodovias, ferrovias e estradas
vicinais, ao lado da diversificação de atividades econômicas,
consolidação das atividades preexistentes e modernização das
atividades produtivas.
Assim, entre as medidas que ocorreram nas primeiras
décadas do século XX que contribuíram para a estruturação do

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espaço regional, destacam-se: instalação de empresas do eixo Assim, tiveram a chance de acumular capital por outras vias
São Paulo-Santos no interior de Mato Grosso; melhoria do que não a comercialização de sua produção. Quando a terra,
rebanho pantaneiro; projetos de colonização; e estímulo à valorizada pela infraestrutura colocada pelo Estado, torna-se
imigração. mercadoria de maior valor, as possibilidades de acumulação
O conjunto dos fatores descritos evidencia que a região de capital podiam ocorrer através do arrendamento ou venda
Centro-Oeste apresentou, na primeira metade do século XX, da terra.
um processo próprio de estruturação territorial, desvinculado,
em grande parte, das políticas de desenvolvimento do governo Nesse contexto, distinguem-se dois tipos de produtores:
federal. As atividades econômicas implantadas e consolidadas → Os produtores capitalizados, provenientes do Sul, que
foram apoiadas em diversas articulações, inclusive com o reproduziam o capital trazido, transformando-se em
capital externo. empresários rurais através do crédito e infraestrutura de
armazenagem disponíveis;
Espaços reestruturados por políticas governamentais a → Os produtores descapitalizados e pequenos produtores,
partir da década de 1970 que, não conseguindo usufruir da política creditícia, acabam
vendendo suas terras ou posses, cedendo lugar à concentração
A década de 1970 marcou uma fase significativa no capitalista (de terras ou da produção).
processo de desenvolvimento do país. As indústrias, que
elevaram o país ao grupo dos países em desenvolvimento, já O segundo tipo de área é representado pelos locais de
estavam concentradas no Sudeste brasileiro. O governo economia tradicional de pecuária extensiva, extrativismo
federal considerou que era necessário levar os seus planos de vegetal, garimpagem de ouro e diamantes. São áreas pouco
desenvolvimento para as demais regiões brasileiras. povoadas e distantes dos grandes centros de consumo.
A disseminação desse processo foi empreendida sob o Integram-se às áreas extra regionais através do comércio do
argumento de necessidade de integração nacional, embasada boi magro e dos produtos do extrativismo e mineração.
pela doutrina de segurança nacional. Para difundir o modelo Esses locais foram considerados como áreas de reserva,
econômico pretendido, era preciso integrar as regiões que que poderiam ser incorporadas ao processo produtivo que se
estavam “desconectadas” do centro hegemônico de poder pretendia implantar. Algumas delas receberam grandes
econômico (eixo Rio-São Paulo). investimentos de infraestrutura, tendo como resultado
Na realidade, essa pregação integracionista visava imediato a valorização da terra e a especulação fundiária.
camuflar os interesses existentes naqueles centros, que Em Mato Grosso e na região Centro-Oeste, o processo de
demandavam um aumento da sua área de influência pela ocupação do território e a implantação de novos sistemas de
conquista de novos mercados. Daí a necessidade de integração, produção gerou, além dos conflitos fundiários, problemas
que se estabeleceu com a incorporação de áreas do Centro- ambientais como a degradação dos solos, perdas de fauna e
Oeste no amplo processo de modernização das bases flora, de biodiversidade, diminuição dos estoques pesqueiros
produtivas brasileiras. por assoreamento e poluição dos rios, com forte reflexo no
Desse modo, o governo federal redefiniu uma “nova Índice de Desenvolvimento Humano no Estado.
função” para a região Centro-Oeste no contexto do Com a implantação do Polonoroeste, em 1981, ocorreu a
desenvolvimento capitalista nacional, com a estratégia alocação de recursos financeiros em infraestrutura rodoviária,
econômica de estabelecer a agropecuária em moldes social, e amparo financeiro e creditício para promover a
empresariais. Até aquele momento, a atividade agropecuária integração nacional de áreas próximas à fronteira agrícola. O
era extensiva, considerada de baixa produtividade. Para programa visava absorver o fluxo migratório de forma
mudar esse quadro, seria necessário transformar toda a ordenada e sustentável, à medida em que o governo
estrutura produtiva do setor. reconhecia os problemas ambientais e socioeconômicos
Tal intenção concretizou-se. O governo federal, então, não causados pela migração de colonos para a fronteira agrícola de
só planejou detalhadamente sua atuação, como também a Mato Grosso e Rondônia.
divulgou em documentos denominados “Planos Nacionais de O programa causou grandes transformações na economia
Desenvolvimento – PNDs”. Esses planos explicitam todas as das regiões em que atuou. Os seus investimentos viabilizaram
transformações que se pretendiam alcançar. as atividades empresariais de criação de gado e
Como principal agente na reestruturação do espaço no agroindustriais, articuladas com o eixo São Paulo-Rio de
Centro-Oeste, o poder público foi o incentivador e avalista da Janeiro.
expansão espacial do processo capitalista na região. Para isso: Esse Programa, com financiamento internacional, teve,
→ destinou recursos do setor público para viabilizar a entre seus vários componentes, um zoneamento
implantação de infraestrutura de transporte, energia e agroecológico, que abrangia uma área de 55.000 km²,
armazenagem; aproximadamente, entre Cáceres e parte do Vale do Guaporé.
→ expandiu o processo de ocupação, anexando novas áreas Em 1989, a Fundação de Pesquisas Cândido Rondon – extinta
ao processo produtivo através de incentivos fiscais e no Governo de Carlos Bezerra – finalizou um trabalho de
financeiros – o que atraiu grandes empresas; vocação dos solos em todo o Estado. A Fundação completou,
→ disponibilizou política creditícia àqueles considerados assim, a primeira aproximação de um zoneamento
aptos a inserir a região no cenário econômico nacional socioeconômico/agroecológico de Mato Grosso, que definiu
sete grandes zonas com base nas características de fertilidade
Os espaços, antes da ação política do Estado Nacional do solo, clima, relevo e sócio economia.
Embora o Polonoroeste tenha tido como estratégia o
Ao final da década de 1960, a região Centro-Oeste e, por direcionamento dos migrantes, mantendo-os distantes das
extensão, Mato Grosso, apresentavam dois tipos de estrutura áreas ecologicamente frágeis e/ou ocupadas por índios,
espacial já consolidada. infelizmente não obteve o sucesso esperado. Sua execução foi
O primeiro tipo refere-se às áreas de povoamento pontuada por dificuldades técnicas, institucionais e
estabilizado e espaços estruturados pela pecuária financeiras. Apenas as obras de pavimentação de rodovias
modernizada. cumpriram as metas, enquanto os serviços agrícolas e de apoio
Nessas áreas, os proprietários de terras (pecuaristas) social, e programas de proteção ambiental e indígena
foram beneficiados duplamente: pela infraestrutura fracassaram, pelo pouco alcance que tiveram.
implantada na região e pela sua consequente valorização.

Geografia de Mato Grosso 9


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O programa recebeu pesadas críticas por ter apresentado capacitação dos técnicos para o entendimento da questão
um resultado questionável na reversão da ocupação acelerada ambiental no Estado.
e do desmatamento. Enfatizou a execução de obras de
infraestrutura, como abertura de estradas para assentamento Diante do exposto, pode-se concluir que:
de colonos, sem que se atentasse para os problemas → A estruturação do território de Mato Grosso e da região
ambientais gerados. Proposto pelo governo federal para o Centro-Oeste foi resultado de um amplo processo de
Estado, este programa não teve nenhuma articulação com os integração regional, entendido como a inserção dessas regiões
municípios ou a sociedade local. no contexto econômico nacional;
Com o insucesso do Polonoroeste, o governo federal → Foram os ciclos econômicos de ocupação do território
decidiu tentar pôr um fim na ocupação desordenada do nacional que justificaram o povoamento (por populações não-
espaço, através da contratação de novo empréstimo índias) destas regiões;
internacional para a realização de outro programa, com o → Essa integração regional significou a ampliação da área
objetivo claro de “firmar as bases para o desenvolvimento de influência do centro hegemônico de poder no Brasil (eixo
sustentável” do Estado: o Programa de Desenvolvimento São Paulo-Rio);
Agroambiental do Estado de Mato Grosso (Prodeagro). → A modernização da atividade agropecuária preexistente
na região foi a forma encontrada para viabilizar o processo de
A ação do Prodeagro produção/reprodução do capital do eixo Rio-São Paulo;
O Prodeagro teve início em 1992, com a assinatura pelo → O processo de modernização foi custeado pelo Estado
governo brasileiro, junto ao Banco Mundial, do contrato que brasileiro, que instalou a infraestrutura necessária para tal
estabelecia as bases do empréstimo destinado à sua fim, disponibilizou política creditícia e incorporou novos
implementação. espaços do território ao processo produtivo;
Apesar de protocolado, vários problemas dificultaram o → O processo de modernização foi efetuado para atender
início dos trabalhos, entre os quais destacaram-se: a não os interesses do centro hegemônico do poder econômico, em
viabilização do zoneamento socioeconômico-ecológico, grave detrimento dos interesses das populações locais já
depredação de áreas indígenas e fragilidade institucional dos estabelecidas na área;
órgãos do Estado envolvidos na execução dos seus → A estruturação do território poderia ocorrer
componentes. naturalmente, sem a intervenção do Estado;
O Programa começou com a liberação da primeira parcela → Do ponto de vista social, a atuação estatal foi desastrosa,
do financiamento, em 1993, após compromisso do governo do uma vez que foi responsável pelos processos de concentração
Estado em sanar os problemas apontados. Organizava-se em fundiária e de produção, que por sua vez desencadearam os
quatro componentes e dezenove subcomponentes, formando conflitos pela posse da terra por parte dos expropriados;
um bloco de atividades vinculadas à proteção ambiental para A tendência para a região é a continuidade de expansão da
todo o território estadual. Entre estes, estavam os seguintes: fronteira agrícola com monoculturas de exportação;
zoneamento socioeconômico-ecológico; regularização → Programas de desenvolvimento, como o Prodeagro, que
fundiária; conservação ambiental e proteção e controle de visam a gestão territorial e ambiental, devem começar em uma
áreas indígenas. determinada região do Estado, de forma a permitir que a
No decorrer de sua execução, o Prodeagro teve a experiência adquirida possa ser, gradualmente, aplicada às
cooperação técnica do Programa das Nações Unidas para o demais regiões;
Desenvolvimento (PNUD), cuja missão principal foi conceber → Os futuros programas de gestão territorial e ambiental a
um sistema de gerenciamento eficiente para programar, serem implementados devem ter mecanismos capazes de
monitorar, avaliar e realimentar, de forma contínua, a assimilar as demandas coletivas e monitorar os impactos de
execução do Programa. suas ações. Que, ao lado disso, estimulem a descentralização, o
Ao longo da implementação do Programa, foram realizadas fortalecimento das localidades em que atuam e a sustentação
três avaliações de desempenho. Os problemas referiam-se ao das instituições. Este conjunto, bem articulado, será capaz de
atraso na execução dos componentes, pela falta de promover o desenvolvimento sustentável.
coordenação e preparação técnica e institucional dos órgãos
governamentais encarregados da execução do Programa para
trabalhar de forma orgânica. Aliado a isto, a falta de fórum para 9. A economia do Estado no
discussões e maior envolvimento da iniciativa privada para contexto nacional
que esta incorporasse a ideia de desenvolvimento sustentável
gerou dificuldades na implementação do Programa. Foi
detectado, ainda, que os próprios beneficiários – pequenos A questão agrária e a privatização do território em
produtores e comunidades indígenas – desconheciam as Mato Grosso4
propostas do Programa, que se apresentavam de forma muito
técnica e foram pouco divulgadas, falhando no processo de A questão agrária se impõe na história do Brasil como
comunicação com a comunidade. elemento fundamental da reprodução de nossa realidade
As restrições de ordem orçamentária impostas em âmbito social e como atualidade nesse processo de reprodução.
federal impediram que o Prodeagro prosseguisse com a Nesse sentido, a questão agrária aparece no presente como
execução de suas ações no Estado. Entretanto, o Zoneamento um dos fundamentos de nosso processo de formação
Socioeconômico-ecológico foi concluído em 2002. Este foi um territorial e da produção do espaço brasileiro. O objetivo
dos seus principais componentes, concebido para garantir que central que apresentamos aqui se constitui na busca por
a utilização dos ativos ambientais seja compatível com os investigar a questão agrária no processo de reprodução das
interesses de conservação/preservação ambiental, e a relações de produção contemporâneo, revelado pelos conflitos
consequente melhoria das condições de vida da população. e contradições postos mesmo no interior das atividades
O Prodeagro, é inegável, possibilitou o fortalecimento dos compreendidas como modernas. Mais especificamente,
órgãos gestores do meio ambiente em Mato Grosso, havendo buscaremos esses elementos pensando a realidade da

4 PADUA, Rafael Faleiros de. QUESTÃO AGRÁRIA, MODERNIZAÇÃO DA http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/geografia/article/downloa


AGROPECUÁRIA E URBANIZAÇÃO EM MATO GROSSO. Revista Mato-Grossense d/770/2845.
de Geografia - Cuiabá - v. 17, n. 1 - p. 33 - 63 - jan/jun 2014. Disponível em:

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expansão da agropecuária modernizada no Mato Grosso, A luta histórica dos movimentos sociais do campo nos
propondo uma reflexão sobre os novos conteúdos da produção escancara a dimensão cotidiana de enfrentamento da
do espaço, assim como sobre o redimensionamento da relação mediação abstrata da propriedade privada da terra como
cidade-campo nesse processo. condição fundamental da posse, com a transformação do
O debate sobre a questão agrária é fundamental à reflexão sentido da terra de terra de vida e de trabalho (caso dos
sobre o moderno no Brasil, se revelando como fundamento da camponeses e indígenas) para a terra como meio de
história da nossa formação territorial, produzindo e reprodução do capital (caso do agronegócio).
reproduzindo contradições que perpassam o processo A reflexão sobre a questão agrária no Brasil nos coloca
histórico, determinando a produção social do presente. Se por diante de contradições centrais da nossa história, aquela do
um lado a questão agrária exige que busquemos na história os acesso à terra, que tem como consequência a dominação dos
fundamentos da produção do mundo, não permanecemos na meios de vida. O entendimento do presente, no caso da
reflexão sobre o passado, pois o objetivo é o entendimento do Geografia através da dimensão espacial da vida social
presente, mesmo porque essa questão se reproduz sob novas (buscando sempre superar a condição de ciência parcelar),
formas no presente. passa por construirmos um conhecimento que leve em conta o
A formação territorial do Brasil se revela então como um movimento da realidade como processo histórico concreto,
processo de expansão espacial do capitalismo, cuja forma de buscando as mediações que nos expliquem a produção desse
reprodução é necessariamente expropriatória, necessita processo. Nesse sentido, a reflexão envolve dois momentos,
expropriar os meios de vida de grande parcela da população um se refere ao movimento da realidade, e outro ao
para se realizar. A questão agrária se coloca aí como uma movimento do pensamento sobre essa realidade. Tanto a
mediação fundamental dessa expansão capitalista, cujo realidade quanto o pensamento sobre a realidade são
resultado é a expropriação de camponeses e o extermínio de produtos sociais historicamente determinados, nos colocando
grupos indígenas (a questão indígena faz parte da questão a questão de pensar o movimento do real construindo
agrária), produzindo as particularidades do processo necessariamente um conhecimento novo sobre esse real que
capitalista no Brasil. se transforma, como condição necessária do movimento do
A questão agrária, surgida da institucionalização da pensamento do real. Dessa maneira, o debate que propomos
propriedade privada da terra (Lei de Terras de 18503), para a reflexão sobre a questão agrária no Brasil vai na direção
quando o acesso à terra passava a se realizar exclusivamente do enfrentamento da questão a partir dos elementos do
pela mediação do dinheiro, se reproduz ao longo da história, presente, para entendermos a realidade social atual, buscando
se colocando, em diferentes momentos, como o principal na história os fundamentos necessários para o entendimento
entrave para a modernização efetiva do país. Ela se revela, desse presente.
nesse movimento, como a característica arcaica da Nos últimos 40 anos, o processo de expansão da
permanência da concentração fundiária, e determina em agropecuária capitalista no Centro-Oeste e na Amazônia foi
grande parte nosso processo de modernização (MARTINS, determinado pelas ações estatais elaboradas e implementadas
1999), e cujo debate é fundamental mesmo para entendermos durante o período do regime militar (1964-1985). “Assim, a
as nossas contradições sociais, inclusive as que se realizam nas implantação dos projetos agropecuários na Amazônia tem
cidades. Dessa forma, é preciso que encaminhemos a nossa também que ser entendida como uma das estratégias dos
reflexão de modo a entender de que maneira essa questão se governos militares no sentido de patrocinarem o acesso à terra
impõe hoje como determinação de nossa realidade social atual. na região pelos grandes grupos econômicos” (OLIVEIRA, 1997,
Assim, a questão agrária não se define como uma questão p.67). Essas estratégias do Estado brasileiro de ocupação dos
central para o entendimento dos processos do mundo rural “vazios” da Amazônia se realizaram através dos incentivos
somente, mas também para o entendimento do próprio fiscais, buscando atrair grupos capitalistas do centro-sul do
processo de urbanização brasileiro, e a realidade país para o norte. Com isso, grandes grupos econômicos
contemporânea do Mato Grosso nos aponta isso. O urbano vai passam a investir na área da Amazônia Legal, que compreende
além da cidade, assim com a questão agrária e suas toda a região amazônica e parte do cerrado do Centro-Oeste e
implicações vão além do campo. Em nosso processo histórico do Norte. Esses investimentos se deram inicialmente
as contradições se complexificam nas realidades da cidade e sobretudo na pecuária, com a derrubada da vegetação natural
do campo, redimensionando a relação cidade campo, que para a constituição de grandes pastagens.
agora se realiza em novas bases, totalizada pelo urbano. Esses empresários investiram nesta empreitada da
Problematizar a questão agrária hoje significa, portanto, ocupação da Amazônia pela pata do boi, sendo que o resultado,
pensar como ela se reproduz diante da modernização da hoje, passados quase 20 anos [o texto é da segunda metade da
agropecuária, e que espaço é produzido nesse processo, assim década de 1980, observação minha], é no mínimo melancólico.
como desvendar as formas nas quais a propriedade privada da Pois o rastro deixado por este processo foi quase sempre
terra se põe como dominação política e econômica (e cultural), marcado pelo sangue. Sangue derramado das nações indígenas
produzindo novas contradições no âmbito do social. e dos posseiros. Sangue derramado dos peões no trabalho de
Tomando o caso específico do Mato Grosso, é preciso “abertura da mata” (OLIVEIRA, 1997, p.68)
desvendar a produção do espaço sob a dominação da grande O professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, estudioso da
propriedade, agora não mais aquela que já na aparência se questão agrária no Brasil, evidencia em seus trabalhos o
mostrava arcaica (o grande latifúndio), mas a grande resultado desse processo patrocinado pelo Estado durante a
propriedade unida ao capital (o agronegócio). Essa ditadura militar e mesmo depois, quando observamos que a
modernização da agricultura produz um espaço-tempo violência no campo ainda é uma mediação importante para a
característico do processo de produção do que hoje se reprodução das desigualdades de acesso à terra, mesmo nos
denomina o “agronegócio” revelado nas formas das cidades dias de hoje.
novas (sem história, pois produzidas segundo a lógica da A violência, assim como o trabalho escravo, ainda fazem
produção econômica), das lavouras (imensas plantações parte do cenário do processo contraditório de ocupação-
homogêneas), dos equipamentos (máquinas, aviões, etc.), das dominação da terra no Brasil, sobretudo nas regiões de
relações sociais determinadas pelo ritmo da reprodução fronteira, onde a frente pioneira (avanço da grande
econômica (a esfera do financeiro mundializado se imiscuindo propriedade capitalista) se encontra com a frente de expansão
nas relações de proximidade). Ao mesmo tempo, refletir sobre (posseiros e camponeses que ocupam a terra) (Martins, 2009),
a questão agrária implica em pensar a luta pela terra, que traz processo que o documentário “Nas terras do bem-virá”
à tona os conflitos e contradições da posse da terra no Brasil. (Alexandre Rampazzo, 2007) mostra muito bem. Neste

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documentário podemos ver que nos dias de hoje a violência Se inicialmente os projetos de colonização públicos,
ainda reina com o aval do Estado (vide o massacre de Eldorado através do INCRA, apontavam para uma redistribuição da
dos Carajás (1996), o assassinato de Irmã Dorothy Stang terra, pretendendo resolver a pressão exercida pela
(2005), retratados no filme, assim como o assassinato do casal concentração fundiária, posteriormente se vê que as
de extrativistas José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo estratégias se direcionam para o incentivo da “ocupação” do
(2011), entre tantos outros atos de violência sobre quem luta território pelas grandes propriedades. As margens da
pela terra e que a Comissão Pastoral da Terra não cansa de Transamazônica (10 km de cada lado) foram inicialmente
denunciar. voltadas para a constituição de assentamentos de reforma
A omissão e/ou morosidade e mesmo a participação do agrária, no entanto os projetos foram realizados sem levar em
Estado na violência sobre as pessoas e movimentos que lutam conta nem mesmo a realidade regional e assim foram logo
pela terra faz parte da questão agrária no Brasil. O Estado é, abandonados pelo Poder Público (OLIVEIRA, 1997). Cabe
dessa forma, um agente fundamental da reprodução da salientar aqui que as rodovias que o Estado brasileiro
concentração fundiária no país, não somente por essa construiu, cortando grande parte da região amazônica, se
violência e omissão, mas também como o mediador que revelaram como os eixos de ocupação-dominação do espaço,
garante que essa reprodução aconteça até os dias de hoje. no processo de avanço da fronteira agrícola, com destaque
Nesse processo, a grande propriedade privada da terra é para as BR-163 (Cuiabá-Santarém), BR-364 (Brasília-Acre) e a
produzida e garantida pela violência, através da grilagem de própria Transamazônica (BR-230).
terras, com a produção de títulos falsos de propriedade, Nesse processo induzido pelas políticas de espaço
expropriando a terra de nações indígenas e posseiros, que implantadas pelos governos da ditadura militar sobretudo a
legitimamente lutam pela terra de vida e de trabalho. Alia-se a partir da década de 1970 há um abandono dos projetos
esse estado de coisas a peonagem, que podemos definir como públicos de colonização e um incentivo aos projetos
a “escravidão branca” (OLIVEIRA, 1997, p.85), onde os peões particulares de colonização, quando se concede a empresas
são aliciados por “gatos” em regiões com alto índice de colonizadoras grandes parcelas do território, e são essas
desemprego, principalmente no Nordeste brasileiro, com empresas que irão vender os lotes, sejam estes rurais ou
propostas enganosas de trabalho, e são levados para o urbanos, já que aí nascem novos municípios cuja posse e
trabalho de desmatamento e formação de pastagens, em propriedade da terra, assim como a própria produção do
condições extremamente degradadas de trabalho, onde tudo o espaço são totalmente controladas por essas empresas. Trata-
que o peão consome ou usa é debitado em sua conta, algo que se de um processo de privatização da terra, que permite o que
nunca conseguirá quitar com o fazendeiro, o que produz um Martins chama de aliança da grande propriedade da terra ao
processo de escravidão por dívida (OLIVEIRA, 1997; capital (MARTINS, 1999).
MARTINS, 2009). O Estado de Mato Grosso concentrou os projetos de
A partir da década de 1970, a Amazônia passa a concentrar colonização privados, que se revelaram como estratégias
os conflitos e as mortes (sobretudo de trabalhadores rurais, espaciais de longo alcance, seja espacialmente como
posseiros, peões) no campo e os genocídios das nações temporalmente, já que ao mesmo tempo dominaram grandes
indígenas com o avanço dos projetos de “ocupação” da terra. parcelas de terras em regiões onde a qualidade do solo é
Devemos entender esse processo no contexto do avanço da particularmente superior (CABRAL, 2007), e onde se
produção capitalista no Brasil. É uma história de expropriação materializaram lógicas de produção do espaço estritamente
e da reprodução de uma estrutura fundiária concentrada (a mediadas pela redução da terra à “qualidade” de mercadoria,
questão agrária). ou seja, o espaço é produzido a partir de projetos privados
Historicamente no Brasil, os camponeses migram para visando o lucro, a terra e a produção do espaço aí se realizam
onde podem ser proprietários de seu próprio trabalho, e nesse estritamente como um grande negócio. Como reprodução
sentido, há um movimento migratório de camponeses desse processo em um contexto de expansão da agricultura
empobrecidos das regiões onde a concentração fundiária se modernizada a partir da década de 1990 são produzidas
aprofunda (através inclusive de uma modernização agrícola realidades regionais características do agronegócio, num
que elimina trabalho no campo), ou seja, onde a terra se torna processo que produz concomitantemente e
raridade, para as regiões onde há uma abundância de terras a complementarmente, o campo e a cidade, como elementos de
serem ocupadas. A região amazônica e parcelas do cerrado do uma mesma realidade. São os casos de cidades como Sinop,
Centro-Oeste e Norte do país são assim o destino dessas Sorriso, Nova Mutum, para citar apenas alguns municípios que
populações empobrecidas expropriadas de suas terras em se formaram no eixo da BR-163 (Cuiabá-Santarém).
suas regiões de origem, embora a terra de chegada não fosse Ainda segundo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Isso reflete
de todo desocupada, tendo em vista a presença de populações a estratégia da geopolítica militar, expressa nos escritos do
indígenas, elas próprias acuadas (e também migrantes) pela General Golbery, onde a ocupação da Amazônia deveria
expansão espacial do capitalismo no Brasil. avançar em cunha a partir do planalto central mato-grossense,
Segundo OLIVEIRA, a presença de posseiros na Amazônia através da Cuiabá- Santarém, e as fronteiras deveriam receber
“passou de mais de 213 mil em 1960, para 360 mil em 1970, assentamentos de modo a “garanti-las” sob domínio brasileiro
452 mil em 1975, e baixando para 404 mil em 1980” (OLIVEIRA, 1997, p.95).
(OLIVEIRA, 2007, p.91). Segundo esse autor, a queda do O projeto estatal de dominação do espaço, que se
número de posseiros em 1980 se deu pela violência dos materializa nas inúmeras estratégias de “colonização”, impõe
grileiros, uma vez que os projetos estatais e o consequente uma lógica ao território, a lógica capitalista. Se por um lado se
avanço das mega-propriedades já se estabeleciam como uma incentiva o estabelecimento de grandes empreendimentos
realidade em direção ao norte do país. Os grandes projetos agropecuários que se revelam como a necessária expansão
agropecuários da SUDAM, que até o final da década de 1980 espacial da produção capitalista (produção de capital, através
somavam 9 milhões de hectares, se concentraram no Pará e no de uma acumulação primitiva, necessariamente
Mato Grosso, com áreas médias por projeto agropecuário de expropriatória), por outro lado os parques indígenas também
“16.300 há no Pará e 31.400 há no Mato Grosso” (OLIVEIRA, se revelam como o estabelecimento dessa lógica no espaço, já
1997, p.83), voltados principalmente para a pecuária. A partir que ao se transformar a terra em mercadoria, se mostra a
desses números podemos construir uma ideia da necessidade de restrição do uso da terra às nações indígenas,
concentração fundiária que se produz a partir desses projetos que são reduzidas às reservas indígenas (OLIVEIRA, 1997). Se
de “ocupação”. a terra como lugar da vida das nações indígenas não tem
limites, os limites são impostos pelo avanço do capitalismo no

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território, e mesmo os limites onde se fecharam as nações Com isso, ainda segundo esses autores, o setor agrícola
indígenas são usurpados pela necessidade devoradora do passa a ter que lidar com o problema da superprodução, que
capital por espaço, para tornar o espaço produtivo vai incentivar, no caso dos grãos, o direcionamento da
economicamente. produção para a fabricação de ração animal.
Nesta exposição, fica evidente que, mesmo se os setores
A modernização da agricultura e seu impacto em Mato mecânico, químico e biológico/genético se desenvolvem de
Grosso maneira não concomitante e desigual no tempo, eles cada vez
mais passam a se articular, levando a indústria de mecanização
A modernização da agricultura se apresenta como uma a se adaptar às necessidades dos demais setores. Nesse
condição fundamental do processo de expansão espacial da processo, a produção agrícola passa a cada vez mais depender
fronteira econômica no Brasil. Essa modernização se realiza de um pacote industrial: implementos-sementes-insumos
como uma intensificação da inserção dos processos naturais (fertilizantes e agrotóxicos). Ou seja, o grande capital
ao processo do capital. Trata-se, sempre, de uma apropriação representado por esses setores (a grande maioria das
parcial da natureza, mas que se concretiza como uma empresas produtoras de sementes, implementos e insumos
subordinação crescente de setores da agricultura ao processo são grandes corporações multinacionais) exerce um controle
do capital. Essa incorporação da agricultura ao processo do cada vez maior sobre a produção agrícola, restringindo a
capital se coloca no contexto da necessidade de expansão autonomia dos produtores, já que são necessárias práticas de
espacial e setorial da acumulação capitalista, mas encontra cultivo mais precisas, mais cuidadosamente reguladas e
barreiras nos elementos irredutíveis do processo: a terra e as cronologicamente determinadas, mas isto devido às
condições naturais ainda tem um papel relevante na produção consequências diretas e imediatas da maior intromissão nos
agrícola (GOODMAN et al., 1990). processos naturais por parte do capital (GOODMAN et al.,
Esses autores demonstram que em um primeiro momento, 1990, p.36).
que se inicia no século XIX, sobretudo nos EUA, a Esse maior controle externo à produção agrícola irá
industrialização da produção agrícola se dá no processo de provocar uma transformação radical nas relações sociais,
trabalho e nos processos físicos de manejo do solo e não nas impactando sobremaneira a agricultura camponesa. Nesse
questões químicas e biológicas, que serão desenvolvidas em sentido, o “pacote” que passa a dominar a produção agrícola se
um segundo momento, já no século XX. Sobretudo na segunda define como uma série de imposições, começando com as
metade do século XIX há uma intensificação do sementes, as chamadas “variedades de alto rendimento”, que
desenvolvimento dos equipamentos agrícolas, assim como vão exigir novas técnicas de manejo mecanizado do solo, assim
uma diminuição acentuada dos fabricantes destes como a aplicação de pesticidas e fungicidas. O avanço contínuo
equipamentos. Isso revela uma concentração do capital nesse que essas inovações biológicas da produção de sementes
setor, com a constituição de grandes corporações. Entretanto, impõem passa a ditar o ritmo das inovações relativas à
se a mecanização dos processos de trabalho na agricultura produção agrícola como um todo, exigindo que os setores
transformou as relações sociais de produção, com a mecânico e químico acompanhem as novas temporalidades
diminuição drástica de trabalho braçal, alavancando um impostas à produção agrícola (GOODMAN et al., 1990),
aumento da produtividade, a barreira para o processo de produzindo uma transformação na relação espaço-temporal
acumulação na agricultura é o tempo natural das plantas. Os das populações envolvidas nesta produção.
fertilizantes industrializados começam a ser produzidos Do ponto de vista da criação de animais, as principais
também no século XIX, na Inglaterra, promovendo uma inovações se referem às técnicas de confinamento (com a
transformação na fertilidade natural e na recuperação dos industrialização da alimentação animal), promovendo uma
solos. Essa indústria se torna também um importante setor diminuição do espaço necessário para as criações. A partir da
industrial e demanda grandes investimentos para seu década de 1950, a engenharia genética, com as técnicas de
desenvolvimento, o que restringe a sua produção às grandes inseminação artificial vão, por sua vez, promover um
corporações, o que passa a ocorrer já no começo do século XX significativo aumento de produtividade e também um
(GOODMAN et al., 1990). crescente aumento do controle da produção (GOODMAN et al.,
A intensificação das inovações genéticas se dão somente 1990).
no século XX, com pesquisas realizadas sobretudo por órgãos Uma questão que se nos apresenta diante desse quadro de
públicos, dado os riscos em termos de negócios que essas aumento de uma agropecuária modernizada de alta
pesquisas envolviam. As técnicas de hibridização de sementes produtividade, altamente tecnificada, são quais as
(sobretudo do milho nos EUA) permitiram a entrada das necessidades sociais estão sendo contempladas nesse
grandes empresas na pesquisa e produção de sementes, processo, a da sociedade como um todo, que necessita de
esmagando a pesquisa dos órgãos públicos (no caso dos EUA) alimentos para sua sobrevivência ou a reprodução econômica
e os pequenos produtores de sementes. É nesse contexto que dos agentes envolvidos nas cadeias produtivas?
se expande o que ficou conhecido como “Revolução Agrícola” Muitas pesquisas, inclusive aquelas que se dedicam a
ou “Revolução Verde”, que para esses autores se trata da pensar o impacto da atividade do agronegócio sobre a saúde
difusão de sementes e técnicas agrícolas dos países dos trabalhadores e da população nos apontam claramente
temperados para os países tropicais e subtropicais que a finalidade desse processo é a acumulação ampliada do
(GOODMAN et al., 1990), promovendo uma homogeneização capital, que se utiliza da produção agropecuária da forma mais
cada vez maior da agricultura. rentável (e necessariamente mais produtiva economicamente)
Posteriormente, com o aprimoramento das pesquisas em para sua reprodução. As condições de trabalho e a qualidade
biotecnologias, assim como com o avanço no setor químico (e acesso) da sociedade em geral aos alimentos produzidos
(insumos), a difusão das inovações industriais trouxe ganhos estão subordinados à acumulação ampliada, ou seja, o âmbito
espetaculares no crescimento da produtividade total, do social está subordinado às necessidades da reprodução do
transformando a economia política da agricultura e do sistema econômico e às normas do político, mediação fundamental
agroalimentício. Por exemplo, a produção total das safras para a realização desse processo.
aumentou 97% nos Estados Unidos entre 1950 e 1981, com Dessa maneira, o processo de modernização da agricultura
um aumento de apenas 3% nas terras cultivadas e apesar de e da pecuária se substancia em um processo de
um declínio de 63% no emprego de mão de obra (GOODMAN industrialização da produção que as submetem a um
et al., 1990, p.10). movimento crescente de dependência de um pacote
mecânico/químico/biológico genético, dominado por grandes

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corporações, que muitas vezes controlam todo o processo de Partindo-se de uma visão geral sobre o território mato-
produção, processamento e comercialização dos produtos. A grossense, pode-se, identificar seus desdobramentos
produção de alimentos se revela aí como um grande negócio, particulares nas distintas frações do seu espaço, em seus
mediação da realização de interesses externos, alheios aos tempos respectivos, os principais vetores da expansão recente
agentes imediatamente ligados à produção, ou seja, nesse e as implicações no redesenho de sua estrutura espacial.
processo de industrialização da agricultura e pecuária, há Efetivamente no século XVIII, inicia-se a ocupação do
também um processo de alienação do trabalho. É em um Estado de Mato Grosso, através das incursões dos
contexto de crescente mundialização do capital, assim como de bandeirantes à região, em busca de ouro e na captura e
acentuação das crises do capitalismo, que esse processo de aprisionamento de mão-de-obra indígena, mercadoria que
modernização como força produtiva econômica, que se realiza viabilizou, durante longo tempo, a economia da colônia de
em escala mundial, permite o avanço da agricultura de grande povoamento de São Vicente, (atualmente estado de São Paulo).
escala para o Cerrado e para a Amazônia. Durante todo o século XVIII, mesmo após a descoberta de
Nesse cenário, a partir do final do decênio de setenta, ouro na região de Cuiabá, o espaço mato-grossense
acompanhando a tendência do agro nacional, o contínuo permaneceu “vazio” dado que as atividades econômicas
avanço do capital industrial no ambiente agropecuário implementadas na região de Cuiabá, basicamente mineração
implicou acentuada transformação e diferenciação das do ouro e de diamantes, fundavam-se num sistema
características básicas do agro mato-grossense. comumente designado como o de pilhagem do período
Além do surgimento de número elevado de latifúndios colonial e num povoamento temporário e itinerante.
capitalizados, grande parte dos estabelecimentos então (DSEE/ZSEE - Relatório sobre o Processo de Ocupação do
existentes se transformou em modernas empresas Estado de Mato Grosso. Cuiabá: SEPLAN, 1997).
capitalistas, diferenciando-se cada vez mais dos antigos Sob a lógica da expansão capitalista, de concentração-
latifúndios tradicionais. Essas empresas produzem bens centralização do capital e da dominação-subordinação, no que
dotados de alto valor comercial, como a soja, o algodão, o arroz diz respeito às suas relações sociais e de produção, o
e outros produtos de origem agropecuária (PEREIRA, 2007, desenvolvimento econômico brasileiro, em termos espaciais,
p.50). pode ser visto como um processo de articulação e integração
É esse processo de modernização da agropecuária, que nacional que se desenvolveu, de forma desigual e combinada,
aproxima cada vez mais essa produção da produção industrial, segundo três fases distintas: a do isolamento das regiões; a da
que vai dar um aspecto ideológico de legitimidade na aliança articulação comercial e a de integração produtiva.
entre a grande propriedade da terra e o capital, processo que
contribuirá também para uma desmobilização das lutas dos Diante disso, contextualiza-se também a formação
camponeses pela terra em Mato Grosso e uma desvalorização, histórica de Mato Grosso, caracterizando-se:
também ideológica, da agricultura camponesa. 1) o período da ocupação do território e da constituição da
região, ainda sob uma longa fase de isolamento, que perdura
Produção do espaço regional mato-grossense até às primeiras décadas do século XX;
2) o da diversificação da base produtiva incipiente e sua
A formação e ocupação do território mato-grossense5 articulação comercial com centros produtores-consumidores
nacionais e internacionais; e,
O território mato-grossense compreende, 3) o da criação das condições materiais e não-materiais
aproximadamente, 10% do território nacional e abriga, em (década de 1970) para a efetiva integração produtiva da região
contrapartida, aproximadamente 1,53% da população do país, (década de 1980) ao movimento de produção/reprodução do
(3.033.991habitantes- IBGE/SEPLAN 2010, hoje capital hegemônico nacional quando este, concretamente,
aproximadamente 3.306.000). Constitui exemplo de região apropria-se do espaço, via instrumento jurídico da
que caminha rumo à consolidação de uma área de moderna propriedade da terra, subordinando à sua lógica de
produção agroindustrial, após a transformação de sua base desenvolvimento os processos de trabalho e de produção
produtiva, impulsionada por forte ação estatal. existentes em quase todos os segmentos da economia regional.
Como característica preliminar, pode-se dizer que essa Assim, para melhor compreensão sobre o processo de
área vem-se afirmando, nas últimas décadas, como uma ocupação do estado de Mato Grosso, uma vez que ele será
economia baseada predominantemente na pecuária extensiva apresentado de uma forma sintética, achou-se melhor dividir
de corte e de leite, e, principalmente, na produção intensiva de essa abordagem em sete fases, ou seja:
milho, algodão e soja, afora experiência isolada de indústrias A primeira fase de ocupação do território mato-grossense
madeireiras. tem seu início nos séculos XVII-XVIII, com a penetração
Esses sistemas produtivos têm sido responsáveis pela portuguesa em terras de Mato Grosso promovida pelas
produção de matérias primas para a agroindústria e algumas incursões de bandeirantes paulistas. A partir de então, o
mercadorias processadas, em geral destinadas à exportação avanço bandeirante em direção ao oeste intensificou-se cada
como: grãos, carnes e algodão e, portanto, desencadeadores do vez mais, na medida em que o aprisionamento de índios para
próprio processo de agroindustrialização regional. Esses o trabalho escravo na Província de São Paulo constituía-se
produtos são exportados principalmente para os estados das numa atividade bastante lucrativa. O final dessa fase encerra-
regiões Sul e Sudeste do Brasil e para os países da comunidade se quando o ouro de Mato Grosso, que tinha proporcionado
europeia, Estados Unidos, China, Rússia, etc. grande riqueza ao final do século XVIII, à Coroa Portuguesa,
Deve-se ainda considerar que o território mato-grossense começa a dar sinais de esgotamento, disso resultando o
partilha vasta área de fronteira interna com vários estados esvaziamento dos principais núcleos populacionais ligados à
brasileiros e externa com a Bolívia. mineração.
Embora só tenha recebido atenção há pouco tempo, essa A segunda fase de ocupação do território mato-grossense
área de fronteira internacional ocupa lugar potencialmente acontece nos séculos XIX-XX. Ela mostra que os núcleos
estratégico no espaço econômico latino-americano e sua portuários mais antigos, como Cuiabá, Corumbá e Cáceres,
integração, seja nas articulações com o Mercosul, seja em convivem com uma intensa atividade econômico comercial.
possíveis vias de escoamento pelo pacífico.

5 ABUTAKKA, Antonio. A formação e ocupação do território mato-grossense. http://www.seplan.mt.gov.br/documents/363424/3935270/A+forma%C3%A


Artigos da Secretaria de Estado de Planejamento – SEPLAN. Governo do Mato 7%C3%A3o+e+ocupa%C3%A7%C3%A3o+do+territ%C3%B3rio+mato-
Grosso. Disponível em: grossense.pdf/dd149e42-ce2e-4eb0-8ad7-fffa31ce3d43.

Geografia de Mato Grosso 14


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Cáceres firma-se como centro exportador da poaia, cuja


extração e comercialização geraram grande movimento
agrícola e comercial nas cidades de Barra do Bugres, Vila Bela 10. A urbanização do Estado
da Santíssima Trindade e Cuiabá, e também através da
exportação da seringa (látex), extraída na Bacia Amazônica.
A terceira fase de ocupação é marcada pela “Marcha para o Apontamentos para a reflexão sobre a urbanização nas
Oeste” (1930- 1950), cujo fator principal foi uma política de cidades das regiões de expansão do agronegócio6
interiorização da economia e de incorporação das regiões, em
especial, Centro-Oeste e Norte ao processo de reprodução do As cidades concebidas no contexto de expansão da
capital hegemônico nacional. Enquanto área de fronteira, a agricultura modernizada são desde o seu início produtos e se
necessidade de legitimar os limites estabelecidos, através de reproduzem desde então como negócio, sem passado,
uma ocupação efetiva do território, foi uma constante em toda reproduzindo a temporalidade da produção da agricultura
a formação histórica de Mato Grosso. modernizada (MARTINS e SEABRA, 1993). A história social (a
A quarta fase de ocupação do território mato-grossense é história das migrações, carregadas de esperanças; das
marcada com a construção de Brasília. (Final da década de resistências de posseiros e índios; das expropriações e
1950 a 1960). conflitos no embate da terra como lugar da vida e como lugar
A quinta fase (final da década de 1960 a 1970) foi da acumulação do capital) permanecem no subterrâneo, não
intitulada como sendo a da implementação dos primeiros reveladas, diante desse processo que se realiza na produção
programas de desenvolvimento da região Centro Oeste, simultânea da cidade e do campo (do campo modernizado),
corporificados, em grande parte, no I e II PND (Programa em uma unidade dialética totalizada pelo urbano como modo
Nacional de Desenvolvimento), e com a intensificação do fluxo de vida (LEFEBVRE, 2009; ARRUDA, 2007). O urbano aí se
migratório dirigido a essa região. revela como mediação com a mundialidade, assim como
A sexta fase de ocupação compreendeu os programas de sociabilidade fundamental, mesmo que contraditoriamente
desenvolvimento, pós década de 1970, como o POLOCENTRO, revelando a privação de relações sociais qualitativas e
o POLONOROESTE e o PRODEAGRO. Somente a partir dessa concretas.
década e fruto de uma intervenção do Estado Nacional, O momento atual do modo capitalista de produção aponta
planejada e dirigida à ocupação do Centro-Oeste e Amazônia, é a esfera do financeiro se reproduzindo através da cidade e do
que se criam, na região, as condições efetivas para a campo, induzindo outra temporalidade à produção concreta
apropriação do espaço pelo capital e - além disso - para sua de mercadorias e sua circulação (ARRUDA, 2007). Essa
transformação em espaço econômico integrado ao movimento temporalidade, ligada ao ritmo da reprodução do capital
dominante da produção/reprodução do capital tanto nacional financeiro induz uma determinada produção do espaço, que a
como internacional. (SIQUEIRA, 1990). nosso ver impõe, no contexto da urbanização recente do Mato
A sétima fase é a atual, ou seja, os avanços recentes da Grosso, uma escala de análise que supera a escala intra-
fronteira agrícola do território rumo a “consolidação”. Dessa urbana, embora não a elimine, encaminhando a análise para
forma, as frentes de expansão fizeram surgir um conjunto uma escala de abrangência regional. Assim, a própria escala se
variado de formas de apropriação do espaço agrário, revela como um conteúdo da análise, dado o imbricamento do
tornando-se estas também responsáveis pela transformação local ao regional e deste ao mundial, indicado pelo fato de a
da paisagem natural do Estado. Essa transformação implicou produção agrícola, que se constitui como a principal fonte de
não somente na organização de um setor primário dinâmico, riquezas, estar intimamente ligada a um contexto mundial de
baseado numa gama variada de produtos (extrativos vegetais, produção de matérias-primas.
agrícolas, pecuários, etc.), mas também num leque de impactos A ligação do excedente econômico produzido no
socioeconômicos e ambientais de natureza e intensidade agronegócio à urbanização, realizando esse excedente no
diversas. mercado imobiliário das cidades (em muitas cidades se aceita
De maneira geral, a agricultura empresarial localizou-se quantidade de produção de soja como pagamento de imóveis,
nas áreas planas dos cerrados, cujos solos são potencialmente por exemplo), demonstra que a produção do campo está
de boa qualidade. A pecuária, além de estar também nesse tipo articulada de maneira fundamental à reprodução do espaço
de ambiente, tende a ocupar áreas mais antigas, anteriormente urbano, seja em Cuiabá, seja nas cidades ligadas mais
exploradas pela agricultura tradicional, ou expande-se para a diretamente ao agronegócio (Sinop, Sorriso, Lucas do Rio
região de fronteira de ocupação, em áreas onde as condições Verde, Nova Mutum, Campo Verde, Primavera do Leste e
ecológicas e/ou o fator distância (fretes) são desfavoráveis à outras) e porque não dizer, provavelmente em outras cidades
grande empresa de exploração agrícola. (DSEE/ZSEE - do país e mesmo de outras regiões do mundo.
Relatório sobre o Processo de Ocupação do Estado de Mato É uma realidade voltada para a produção agropecuária, e
Grosso. Cuiabá: SEPLAN, 1997). cria uma espacialidade e temporalidade específicas. Pode-se
Em linhas gerais, o modelo de ocupação pautado na ver a cidade como uma concentração de elementos
agricultura “moderna” mantém-se ancorado no modelo necessários à produção (mão-de-obra, estabelecimentos
agroexportador de contexto “maior” (nacional/internacional) comerciais, serviços bancários, etc.). Mas a concentração
e nas políticas agrícolas nacionais (crédito e financiamento). urbana aponta para novas questões qualitativas: a vida urbana
Esse modelo de ocupação, na medida em que privilegia a e a centralidade como necessidades da realização do humano
agropecuária de caráter empresarial e as cadeias agro- (CARLOS, 2008).
industriais associadas aos produtos de mercado externo (soja, Estamos construindo a hipótese de que a urbanização
cana-de-açúcar, carnes, milho, madeira) tende a adequar-se às recente do Mato Grosso revela uma nova dimensão da relação
normas e padrões determinados pelos mercados nacionais e campo-cidade, pois produz (ou reproduz) o campo e a cidade
internacionais, inclusive quanto à mitigação dos impactos como elementos do urbano (concentração de inúmeros
ambientais derivados. elementos, simultaneidade, fluidez). A agricultura
modernizada nos dá argumentos para pensar a urbanização do
campo. Ou seja, nos colocamos diante da questão: que campo

6 PADUA, Rafael Faleiros de. QUESTÃO AGRÁRIA, MODERNIZAÇÃO DA http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/geografia/article/downloa


AGROPECUÁRIA E URBANIZAÇÃO EM MATO GROSSO. Revista Mato-Grossense d/770/2845.
de Geografia - Cuiabá - v. 17, n. 1 - p. 33 - 63 - jan/jun 2014. Disponível em:

Geografia de Mato Grosso 15


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e que urbano são produzidos nesse processo? Para pensarmos de estratégias estatais e privadas) que sugere o futuro,
um caminho de resposta a essa questão é preciso refletir realizando o repetitivo da produção de mercadorias (aqui o
teoricamente sobre essa realidade nova, a partir de sua espaço e a cidade também são as mercadorias), com o
materialidade concreta, colhendo aí as indicações de seu esvaziamento do tempo como duração enquanto condição de
conteúdo. realização desse mundo do instantâneo, ligado ao tempo da
Temos ainda que deixar claro que é um processo que usa o reprodução do econômico (o imobiliário, os ramos do
espaço e produz o espaço como se fosse uma página em branco agronegócio, o financeiro), que entra em contradição com as
a ser preenchida, e ao mesmo tempo é um processo que nega necessidades próprias da reprodução da vida, revelando as
uma história concreta, aquela das terras indígenas e dos contradições como o conteúdo do processo.
posseiros que se reproduziam, não através de relações Valores se consolidam, carregando o moderno na
abstratas, mas concretamente a sua vida no espaço hoje concepção da propriedade privada, revelada no “sucesso” do
ocupado pela homogeneidade das grandes plantações e das empreendedorismo individual. Qual o conteúdo desse
cidades planejadas. As resistências e os conflitos escancaram progresso? Produziu-se um espaço característico da atividade
as contradições do processo de avanço da agricultura moderna agrícola modernizada e criaram-se cidades intrinsecamente
no Brasil. Assim, a história da expansão econômica para oeste ligadas a essa atividade. Qual o conteúdo dessa urbanização no
e norte promovida pelo Estado se concretiza não como uma nível da prática socioespacial? Estamos diante de uma
história de ocupação de espaços vazios, mas como a história realidade urbana que é nova (mesmo sendo produzida por
violenta de extermínio dos índios, expulsão de camponeses relações sociais arcaicas) que carrega também o conteúdo da
pobres (os posseiros), pela violência da propriedade privada migração (que traz também a sua complexidade). O que essas
da terra (mesmo sendo esta ilegal) e pela produção cidades revelam enquanto conteúdos do urbano? Dessa
monopolista do espaço, regida hegemonicamente pelo Estado maneira, é preciso pensar a prática socioespacial que é
e por grupos econômicos que dominam economicamente e produzida nesse processo, com todas as dificuldades de
politicamente grandes parcelas do território. alcançá-la.
A questão que importa para nós é: quais os conteúdos A realidade da urbanização recente do Mato Grosso nos
sociais desse crescimento quantitativo que apresentamos no coloca diante de novas questões para pensarmos uma
início do texto? Ou seja, é preciso passarmos do âmbito do problemática urbana. O urbano está posto nesta expansão
quantitativo para aquele do qualitativo para entendermos o para o oeste, pois, como estamos afirmando, é uma realidade
sentido do movimento da realidade urbana (GEORGE, 1966). urbana a que é produzida, inserida no próprio movimento de
Deparamo-nos aqui com a limitação de uma ciência parcelar transformação da realidade brasileira. Já a partir da década de
(em nosso caso a Geografia) a partir da qual vamos nos inserir 1950-60, quando o Brasil se industrializava efetivamente e
no movimento do conhecimento dessa realidade; por outro passava a ser um país de população majoritariamente urbana,
lado, estamos diante de outra limitação inerente à pesquisa a urbanização como realidade trazia novas questões do âmbito
que é a de, a partir de um fragmento da realidade, refletirmos do social: moradia, transporte, saneamento, etc., passava a
sobre todo o conjunto da sociedade. Nesse sentido, sem demandar uma vida urbana concreta, que não se restringe ao
resolvermos as contradições e limitações da pesquisa provimento de serviços urbanos básicos, mas se refere ao uso
científica, devemos sempre ter como horizonte a noção de da cidade pelos cidadãos, o direito à centralidade, enfim, o
totalidade, articulando o objeto específico da pesquisa ao direito à cidade (CARLOS, 2011).
movimento do real, ou seja, à totalidade na qual está inserido As cidades do agronegócio foram criadas por projetos de
(LEFEBVRE, 1955). colonização públicos ou privados, há poucas décadas, se
Outra questão com a qual nos deparamos neste revelando como uma produção do espaço hegemonizada por
encaminhamento é como podemos pensar teoricamente a determinados interesses, criando novas espacialidades. Nesse
urbanização (recente) de Mato Grosso? Até o momento atual, contexto, é o espaço e a produção do espaço que determinam
se privilegiou o estudo da técnica, fundamental para se pensar a produção de novas relações sociais (LEFEBVRE, 2000), que
a produção do espaço (BERNARDES e FREIRE FILHO (orgs.), produzem novas sociabilidades urbanas.
2005; BERNARDES, 2008; BERNARDES, 2010; SANTOS, 2008; Nessa produção do espaço dessa nova realidade social
SANTOS e SILVEIRA, 2011). No entanto é preciso ir além da ligada à produção do agronegócio, a técnica tem um papel
técnica, buscando refletir sobre a vida cotidiana (finalidade importante (BERNARDES, 1996; GOLDMAN et al., 1990). Com
última e conteúdo da produção do espaço), uma vez que o isso, podemos dizer que a industrialização define essa
urbano e a urbanização dizem respeito à vida e não somente à realidade e é determinante na produção dessa urbanização.
reprodução de coisas no espaço (LEFEBVRE, 2009, 2000, A agroindústria, a integração lavoura-indústria (que
1999; CARLOS, 2008, 2001). podemos definir como a relação lavoura-indústria-cidade), é
No limite poderíamos definir o processo de urbanização uma realidade que nasce urbanizada, tendo o urbano como
como o processo de concentração permanente de pessoas em conteúdo e perspectiva. A história desse processo de
um determinado lugar ou região, e que se revela como um urbanização nos aponta para o fato de que é a produção do
lugar de possibilidades, reunião, encontro das diferenças, espaço que explica os conteúdos sociais no momento atual, ou
criação, mesmo em função de uma concentração quantitativa seja, a produção de novas espacialidades produz novas
de população. Ou seja, a partir do quantitativo se revela o relações sociais. O espaço é produto de determinadas relações
qualitativo enquanto possibilidade. Mesmo que resultado de sociais da contemporaneidade, mas também é produtor de
projetos de colonização privados, onde a finalidade reside na novas relações sociais (LEFEBVRE, 2009, 2000). As estratégias
produção e realização de um negócio mercantil, a urbanização públicas e privadas (a ocupação dos “vazios territoriais”, os
carrega em si novos conteúdos, ainda que como possibilidades, projetos de colonização, a produção de um espaço agrícola
virtualidades presentes no real. Dessa maneira, é preciso modernizado), que se revelam como estratégias espaciais,
pensar as relações sociais que envolvem a urbanização nesse produziram e produzem uma realidade específica, com um
contexto de expansão do agronegócio: os agentes sociais que espaço característico. Trata-se um espaço que é produzido, já
produzem essa realidade de fronteira (realidade de migração no início do processo de colonização, de maneira fragmentada,
e de extermínio). com funções específicas, se realizando aos pedaços como
Estamos diante, portanto, de uma persistência do passado negócio.
(a questão agrária como permanência e conteúdo da nossa Henri Lefebvre nos ajuda a pensar esses espaços
modernidade (MARTINS, 1999)) mas que aparece como uma produzidos segundo as estratégias dos agentes hegemônicos
paisagem nova, “moderna” (as cidades novas criadas a partir da produção do espaço em Mato Grosso, quando escreve sobre

Geografia de Mato Grosso 16


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Mourenx, uma cidade nova construída para dar suporte a um do agronegócio, complexificada pela união do capital com a
complexo petroquímico, próxima a sua cidade natal, nos propriedade da terra promovida pelos governos militares
Pireneus franceses: (1964-1985) (MARTINS, 1999).
Mourenx ensinou-me muita coisa. Aqui os objetos têm o O urbano e a produção do espaço aparecem aí como
título de sua existência social: sua função. Cada objeto serve e resultado do aprimoramento da terra como mercadoria,
o diz. Sua função é bem distinta e bem própria. No melhor caso, através dos projetos de colonização, num processo histórico e
quando a cidade nova for acabada e bem sucedida, tudo nela estratégico de privatização da terra em Mato Grosso. A partir
será funcional, e cada objeto terá uma função própria: a sua. das centralidades produzidas com a criação das cidades,
Esta função, cada objeto a indica, significa, grita-a a sua volta. sobretudo ao longo da BR-163, com o processo de
Ele se repete infinitamente. O objeto reduzido a sua função e modernização da agricultura, a indústria e o urbano passam a
também a sua significação; aproxima-se indefinidamente do ser determinantes na produção da sociabilidade, propondo
sinal e o conjunto desses objetos de um sistema de sinais. Em novos conteúdos sociais.
Mourenx, não há ainda muitos sinais verdes ou vermelhos. Assim, devemos considerar que a industrialização
Tudo é apenas sinais verdes ou vermelhos: isto exigido, isto (propiciada pela industrialização da agricultura e pelo
proibido. O objeto reduzido à uma simples significação processamento dos produtos agrícolas) e o urbano se revelam
confunde-se com a coisa nua, despojada, desprovida de na prática socioespacial, descolada da história, pois produzida
sentido (LEFEBVRE,1969, p.140-141). em um espaço-tempo ligado ao processo de realização do
Nas cidades produzidas nas regiões de expansão do capital de forma ampliada. No entanto, os conteúdos do
agronegócio, observamos que ordens estritas comandam o processo de industrialização-urbanização apontam para novas
ritmo da vida. Nessas cidades há pouca tolerância para o questões de ordem qualitativas: a vida urbana, o urbano como
diferente, para aquilo que foge à lógica da produção realização concreta da vida está como perspectiva mesmo
econômica. Muitos são os relatos de que pessoas com pouco ou nesse espaço produzido segundo a lógica da reprodução
nenhum dinheiro são coagidas a sair ou mesmo são expulsas econômica.
dessas cidades.
Constitui-se aí, contraditoriamente, uma realidade urbana, Questões
cujos conteúdos é preciso investigar, de um lado através da
pesquisa sobre a reprodução dessas estratégias espaciais dos 01. (DETRAN/MT – Auxiliar do Serviço de Trânsito –
agentes hegemônicos da produção do espaço (prefeituras, UFMT/2015) Sobre aspectos da Geografia Física do estado de
companhias de colonização, imobiliárias, empresas do Mato Grosso, assinale a afirmativa INCORRETA
agronegócio, bancos, etc.); por outro lado, é preciso investigar (A) Há três grandes biomas: Amazônia, Cerrado e Pantanal.
a prática socioespacial que se produz nesse processo, trazendo Ao norte, o estado é coberto por floresta equatorial, a Floresta
para o debate a noção de vida cotidiana (LEFEBVRE, 1992), Amazônica.
fundamental para refletirmos sobre o nível do social no lugar, (B) O principal divisor de águas de Mato Grosso é o
onde se concretizam as contradições, no embate desigual com Planalto dos Parecis que divide as águas que correm para três
os níveis do político e do econômico. bacias hidrográficas: Amazônica, Platina e do Araguaia-
Podemos a princípio indicar que se trata de uma realidade Tocantins.
onde o campo e a cidade não estão separados de maneira (C) De maneira geral, o relevo é composto por chapadas e
estritamente definida, pois formam uma única realidade, um planaltos na região central, planícies a oeste, planaltos
se realizando no outro, inseridos em uma realidade que como residuais ao norte e depressões ao sul do estado.
conteúdo se revela urbana. A vida urbana é preenchida por (D) O clima no estado caracteriza-se como temperado com
inúmeras informações (concretas), com inúmeros variações na direção sul, chegando a atingir temperaturas
significados, que no momento atual são reduzidas a ordens nas elevadas devido às massas de ar frequentes nos meses de
estratégias espaciais, impondo o mundo do consumo dirigido agosto e setembro.
(LEFEBVRE, 1992). São espaços produzidos com uma única
finalidade que nas cidades do agronegócio são representados 02. (DETRAN/MT – Administrador – UFMT/2015)
pelas agroindústrias, os armazéns, a área residencial, as áreas Sobre os aspectos econômicos do estado de Mato Grosso,
de lazer (clubes), etc., espaços que se realizam por ordens assinale a afirmativa correta.
estritas de uso: o lugar do morar (habitat), o lugar de comprar, (A) O maior contingente populacional reside nas áreas
o lugar da burocracia, o lugar do trabalho, o lugar do lazer. rurais onde se encontra a maior oferta de emprego, o que
A particularidade desses lugares novos (as cidades das reflete as consequências do estilo de desenvolvimento
regiões de expansão agronegócio) se apresenta como adotado.
generalidade do modo de vida urbano, baseado em atividades (B) A agropecuária é a principal atividade econômica e se
que podemos chamar de atividades “modernas”. Mas, mesmo caracteriza pela alta rentabilidade na exportação de
não deixando notar a princípio, dada a “modernidade” commodities e liderança na produção de grãos.
aparente revelada na paisagem, o espaço carrega as (C) Devido à alta produtividade e à moderna tecnologia, o
contradições de nossa formação social. Assim, relações sociais setor industrial lidera as exportações direcionadas ao
arcaicas, atrasadas e reprodutoras de um atraso social fazem mercado asiático.
parte do conteúdo da nossa “modernidade” (MARTINS, 1999). (D) O rebanho bovino do Estado é pouco expressivo com a
O monopólio da terra, mesmo em sua versão atual (o utilização de mão de obra especializada em larga escala.
agronegócio) aponta nessa direção, pois se converte em
mediação central da produção das relações sociais (inclusive 03. (CGE/MT – Auditor – FMP/2015) NÃO se constitui
através do espaço produzido), baseadas em relações de poder um dos irradiadores da influência geopolítica do Mato Grosso
e de domínio político, se revelando também enquanto e em consequência da região Centro-Oeste:
dominação cultural e simbólica. (A) a localização geográfica
Os “significados” do processo no que podemos chamar da (B) a presença do MERCOSUL.
construção da “opinião pública”, são produzidos e difundidos (C) as bacias hidrográficas do Paraguai e Paraná.
pelos detentores das esferas de domínio, ou seja, pela grande (D) as estradas voltadas para o porto de Paranaguá e
propriedade da terra. Nesse sentido, a questão agrária se Santos.
revela como a base da reprodução das relações sociais, (E) os portos bolivianos.
definindo inclusive as particularidades do urbano nas cidades

Geografia de Mato Grosso 17


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04. (DETRAN/MT – Administrador – UFMT/2015) As III - No sudoeste do Estado predomina a vegetação de


características naturais do estado de Mato Grosso são transição caracterizada pela presença de gramíneas.
constantemente impactadas pelas atividades econômicas A prática da queimada otimiza a produção de feijão e
desenvolvidas. Sobre o assunto, assinale a afirmativa algodão em larga escala.
INCORRETA. Está correto o que se afirma em
(A) O Bioma Cerrado é composto por árvores baixas com (A) II e III, apenas.
troncos retorcidos, folhas e cascas grossas, além de uma vasta (B) I e II, apenas.
vegetação rasteira formada por capins nativos e arbustos; a (C) I, apenas.
ocorrência de incêndios devido às técnicas de manejo (D) III, apenas.
agropecuário pode ocasionar múltiplos danos à vegetação, à
fauna e à saúde humana. 08. (DETRAN/MT – Agente de Fiscalização de Trânsito
(B) Há no estado nascentes das três maiores bacias – UFMT/2015) A Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá
hidrográficas do país, cujas principais fontes de poluição (RMVRC) envolve municípios com estreitas ligações.
resultam, entre outros fatores, dos esgotos domésticos, Sobre o assunto, marque V para as afirmativas verdadeiras
despejos industriais e das águas do retorno de irrigação. e F para as falsas.
(C) A planície mato-grossense é formada por chapadões ( ) O município de Santo Antônio do Leverger está em
com a função de divisores de águas de importantes bacias processo de conurbação com a capital.
hidrográficas cujas Áreas de Preservação Permanentes ( ) Nossa Senhora do Livramento exibe sólidas relações
encontram-se intocadas. socioeconômicas e culturais com o município de Várzea
(D) O Bioma Pantanal é recoberto por uma vegetação Grande.
característica com predominância do Cerrado cujo ( ) A centralização da oferta de bens e serviços está nos
desmatamento para estabelecimento de pastagens cultivadas municípios de Rosário Oeste e Acorizal.
pode levar à perda de áreas nativas e da biodiversidade. ( ) Várzea Grande possui população reduzida e dispersa,
apresentando baixa taxa de urbanização, e crescimento
05. (DPE/RR – Auxiliar Administrativo – FCC/2015) Em urbano em direção ao município de Poconé.
outubro, cerca de 2.000 pessoas, segundo cálculos da Assinale a sequência correta.
prefeitura, foram seduzidas por imagens de pepitas gigantes e (A) V, F, V, V
sacos de dinheiro compartilhadas nos últimos dias nas redes (B) F, F, V, V
sociais. Imagens que ninguém sabe dizer se são verdadeiras. (C) F, V, F, V
Chamada de "Nova Serra Pelada", a área atrai pessoas de (D) V, V, F, F
todo o país.
(Adaptado de: http://www1.folha.uol.com.br/mercado) 09. (DETRAN/MT – Agente de Fiscalização de Trânsito
Esta nova área de atração de população se localiza no – UFMT/2015) Sobre características do modelo da ocupação
Estado demográfica e econômica da Amazônia Legal, que inclui parte
(A) do Mato Grosso. do estado de Mato Grosso, considere:
(B) de Goiás. I - Níveis significativos de desmatamento, resultante de
(C) do Pará. múltiplos fatores, tais como a abertura de estradas, o
(D) do Amazonas. crescimento das cidades, a ampliação de pecuária, a acelerada
(E) de Rondônia. exploração madeireira e a crescente agricultura mecanizada.
II - Desenvolvimento econômico resultante do elevado
06. (DETRAN/MT – Agente do Serviço de Trânsito – contingente industrial via ocupação das áreas urbanas que
UFMT/2015) Assim se denominam os torneios hípicos que se incluem as Áreas de Reserva Legal.
constituíram num dos mais populares folguedos em Mato III - Dinâmica ligada ao mercado de exportação
Grosso, notadamente em Cuiabá, Poconé, São Luís de Cáceres impulsionada pela alta rentabilidade das principais atividades
e Porto Esperidião. [...] Foi uma diversão popular que econômicas, como a extração madeireira, a pecuária e a
conservou vestígios das lutas medievais, preservada pelos produção de grãos.
povoadores de Mato Grosso, que imitaram os celebrados Está correto o que se afirma em
torneios que o feudalismo desenvolveu. [...] Caracteriza-se (A) II e III, apenas.
como as guerras entre mouros e cristãos. (B) I e III, apenas.
(LOUREIRO, R. Cultura Mato-Grossense: Festas de Santos e (C) I e II, apenas.
outras tradições. Cuiabá, MT: Entrelinhas, 2006.) (D) III, apenas
O texto faz referência às
(A) Touradas. 10. (AL/MT – Técnico – FGV/2013) A divisão do estado
(B) Folias de Santos. de Mato Grosso em dois estados, com a consequente criação do
(C) Cavalhadas. estado de Mato Grosso do Sul ocorreu
(D) Folias de Reis. (A) na República Velha, em 1906.
(B) na Era Vargas, em 1930.
07. (DETRAN/MT – Agente de Fiscalização de Trânsito (C) no Estado Novo, em 1942.
– UFMT/2015) A vegetação do estado de Mato Grosso varia (D) no Regime Militar, em 1977.
de acordo com a localização geográfica. Sobre o assunto, (E) na Nova República, em 1987
analise as assertivas.
I - Ao sul da capital, Cuiabá, a vegetação encontrada
originalmente era o cerrado, com características e
biodiversidade próprias. Porém, com o avanço da agricultura,
grande parte da área antes coberta pelo cerrado transformou-
se em plantações principalmente de soja ou algodão.
II - Ao norte do Estado encontra-se o Pantanal, com
predominância de vegetação com árvores altas e raízes
profundas, sendo utilizado pela pecuária intensiva.

Geografia de Mato Grosso 18


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11. (PGE/MT – Técnico – FCC/2016) Considere o mapa 14. (PGE/MT – Técnico – FCC/2016) Sobre os climas do
do Mato Grosso a seguir. Mato Grosso, é correto afirmar que
(A) em áreas elevadas do sudoeste mato-grossense, o clima
é tropical continental e a média anual atinge os 25ºC, podendo
chegar a 35ºC nos meses de verão.
(B) as baixas latitudes do Estado impedem a presença de
massas de ar polares e continentais, o que torna o clima sujeito
a pequenas variações de temperatura.
(C) no extremo sul do Estado a pluviosidade é alta devido
à presença de serras e chapadas que provocam chuvas
orográficas, principalmente no verão e outono.
(D) ao norte o clima é equatorial com elevada temperatura
média anual, alta pluviosidade e predomínio da massa de ar
equatorial no verão.
(E) no centro-leste do Estado, nas áreas de baixa altitude,
há predomínio do clima tropical úmido com fracos períodos de
seca nos meses de inverno.

15. (PGE/MT – Técnico – FCC/2016) A divisão do


território do Estado do Mato Grosso, que resultou na criação
do Estado do Mato Grosso do Sul
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia (A) realizou-se por uma decisão do governo de Ernesto
e Estatística), entre os 15 Municípios que dobraram a Geisel, após o longo histórico de pressões pela separação,
população no período compreendido entre 2000 e 2010, desde a Revolução Constitucionalista de 1932 quando a elite
quatro estão localizados no Estado do Mato Grosso na local havia proposto o “Estado de Maracaju”, em moldes
mesorregião democráticos e em contraposição às práticas coronelísticas
(A) Sudoeste mato-grossense. vigentes no norte.
(B) Nordeste mato-grossense. (B) aconteceu no início da ditadura no Brasil, numa
(C) Norte mato-grossense. tentativa do governo militar em solidificar alianças políticas
(D) Centro-Sul mato-grossense. com certos grupos oligárquicos, particularmente famílias ricas
(E) Sudeste mato-grossense. que se dedicavam à pecuária e reforçariam a base política do
ARENA, o partido governista.
12. (PGE/MT – Técnico – FCC/2016) O cultivo da soja no (C) resultou de um plebiscito popular realizado em 1977,
Mato Grosso, uma vez que a população dessa parte do Estado sentia-se
(A) caracteriza-se pelo emprego de moderna tecnologia, negligenciada pelo governo estadual, ao qual reivindicava
incluindo o tipo de maquinário envolvido, o uso de mais investimentos e maior presença do poder público, que
biotecnologia, a pesquisa da transgênese e outros parecia privilegiar o norte do Estado.
investimentos que tornaram o Brasil o maior produtor (D) ocorreu em pleno regime militar, por antigas pressões
mundial. das elites estabelecidas na parte sul do Estado, sob o
(B) teve notável crescimento nas últimas décadas do argumento, dentre outros, de que a diversidade presente na
século XX, sendo o produto agrícola que mais se expandiu em grande extensão do território dificultava sua unidade, sua
âmbito nacional, mas atualmente sofre uma crise resultante da administração e seu desenvolvimento econômico.
concorrência oferecida por novos países produtores, como o (E) derivou de conflitos de interesses, acirrados após os
Canadá. anos 1950, entre a elite do norte do Estado, ligada à produção
(C) iniciou-se concomitantemente às primeiras levas de da soja e à pecuária para o mercado interno, e a elite do sul,
assentamento de migrantes do sul na região, favorecendo a que se dedicava à exportação da erva mate e café, sendo
economia familiar, a descentralização de recursos e somando, formada por empresários paulistas.
com a produção gaúcha, o mais alto volume de exportações de
grãos do Brasil. Respostas
(D) continua em franca expansão em direção ao Norte e ao
Nordeste, em função das grandes demandas de importação 01. D/02. B/03. E/04. C/05. A/06. C/07. C/ 08. D/ 09.
existentes por parte de países como Argentina, China e Estados B/10. D/11. C/ 12. E/13. E/14. D/15. D
Unidos, os principais compradores desse produto brasileiro.
(E) ocupa a maior área plantada do Estado, tem parte da
produção destinada à fabricação de rações para animais e
conta com certo crescimento de seu consumo nos hábitos de
alimentação do brasileiro, ainda que existam polêmicas sobre
os benefícios desse grão à saúde.

13. (SEAP/GO – Vigilante - SEGPLAN/GO/2015)


Oficialmente o Brasil é dividido em 05 grandes regiões: Norte,
Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Cada uma dessas
regiões é formada por vários estados, sendo que o estado de
Goiás faz parte da região Centro-Oeste, juntamente com:
(A) Distrito Federal, Tocantins e Mato Grosso.
(B) Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
(C) Mato Grosso, Bahia e Tocantins.
(D) Distrito Federal, Mato Grosso e Bahia.
(E) Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Geografia de Mato Grosso 19


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APOSTILAS OPÇÃO

Anotações

Geografia de Mato Grosso 20


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NOÇÕES BÁSICAS DE
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

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O Brasil adota o Presidencialismo.

2- Administração Pública.
Administração Pública é conceituada sob 2 aspectos2:
Primeiro, Administração Pública em sentido subjetivo ou
orgânico são os agentes, órgãos e entidades pública que
exercem a função administrativa.
1. Estado, governo e Segundo, Administração Pública em sentido objetivo,
administração pública: conceitos, material ou funcional, nesse sentido a grafia correta é em
letras minúsculas (administração pública), significa a
elementos, poderes e atividade estatal consistente em defender concretamente o
organização; natureza, fins e interesse público.
princípios.
3- Princípios da Administração Pública.
Têm a função de oferecer coerência e harmonia para o
ordenamento jurídico. Encontram-se de maneira explícita ou
1- Estado e Governo: conceitos e diferenças.
não no texto da Constituição Federal. Os primeiros são, por
unanimidade, os chamados princípios expressos (ou
Estado é pessoa jurídica, que goza de personalidade
explícitos), estão previstos no art. 37, caput, da Constituição
jurídica, ou seja, possui aptidão para ser sujeito de direito e de
Federal. Os demais são os denominados princípios
obrigações.
reconhecidos (ou implícitos), estes variam de acordo com cada
O Estado possui 4 elementos: povo, território, governo e
autor, sendo trabalhado, no presente estudo, apenas os
soberania.
princípios reconhecidos pela doutrina majoritária e que são
mais exigidos e concursos.
a- povo: componente humano;
Lembre-se que não há hierarquia entre os princípios
b- território: espaço físico que ocupa;
(expressos ou não), visto que tais diretrizes devem ser
c- governo: elemento condutor ou cúpula diretiva;
aplicadas de forma harmoniosa. Assim, a aplicação de um
d- soberania: poder de autodeterminação, auto-
princípio não exclui a aplicação de outro e nem um princípio
organização. Significa que o Estado é entidade que não
se sobrepõe aos outros.
conhece superior na ordem externa nem igual na ordem
interna1.
Princípios expressos: estão elencados no art. 37 da
Constituição Federal: legalidade, impessoalidade,
Governo é o conjunto das funções necessárias à
moralidade, publicidade e eficiência.
manutenção da ordem jurídica e da administração pública. A
palavra governo tem dois sentidos, coletivo e singular. O
Para decorar: LIMPE.
primeiro, como conjunto de órgãos que orientam a vida
política do Estado. O segundo, como poder executivo, órgão
a. Princípio da Legalidade
que exerce a função mais ativa na direção dos negócios
De acordo com esse princípio ninguém será obrigado a
públicos.
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei
(art. 5.º, II, da CF). O princípio da legalidade representa uma
A forma de governo é a maneira como se dá a instituição
garantia para os administrados, pois qualquer ato da
do poder na sociedade e como se dá a relação entre
Administração Pública somente terá validade se respaldado
governantes e governados. Existem diversos tipos de governo,
em lei. Representa um limite para a atuação do Estado, visando
como anarquismo (quando existe a ausência ou falta de
à proteção do administrado em relação ao abuso de poder.
governo), democracia (os cidadãos elegíveis participam
igualmente), ditadura (não há participação popular),
b. Princípio da Impessoalidade
monarquia (chefe de governo se mantém no cargo até a
Impessoalidade significa que o administrador não pode
morte), oligarquia (poder político concentrado em um
buscar interesses pessoais, ou seja, ele tem que agir com
pequeno número de pessoas), tirania (utilizada normalmente
ausência de subjetividade.
em situações excepcionais) e outros.
Esse princípio traduz a ideia de que o administrador tem
que tratar a todos sem discriminações, benéficas ou
Sistema de governo é a maneira como o poder político é
detrimentosas. Nem favoritismo nem perseguições são
dividido e exercido no âmbito de um Estado. O sistema de
toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou
governo adotado por um Estado não deve ser confundido com
ideológicas não podem interferir na atuação administrativa e
a sua forma de Estado (Estado unitário ou federal) ou com a
muito menos interesses sectários, de facções ou grupos de
sua forma de governo (monarquia, república etc.).
qualquer espécie.
Temos os seguintes sistemas de governo:
parlamentarismo, presidencialismo e semi-presidencialismo.
c. Princípio da Moralidade
a- parlamentarismo: o poder legislativo oferece a
Traz a ideia de lealdade, boa-fé, princípios éticos,
sustentação política para o poder executivo. No
honestidade correção de atitudes, probidade administrativa.
parlamentarismo, o poder executivo é, geralmente, exercido
Administrador honesto é aquele que atende à moralidade.
por um primeiro-ministro (chanceler).
A moralidade administrativa diverge da moralidade
b- presidencialismo: o chefe de governo também é o chefe
comum. A moralidade comum é o certo e errado dentro das
de Estado e lidera o poder executivo, que é separado do poder
regras de convívio social. Já a moralidade administrativa é
legislativo e do poder judiciário.
mais rigorosa, exigente que a moralidade comum. Nesta, o
c- semi-presidencialismo: o presidente partilha o poder
administrador, além de agir de forma correta, precisa exercer
executivo com um primeiro-ministro e um gabinete, sendo os
boa administração.
dois últimos responsáveis perante a legislatura de um Estado.

1 Jean Bodin (1530-1596). 2 Alexandre Mazza. Manual de Direito Administrativo. Saraiva.

Noções Básicas de Administração Pública 1


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d. Princípio da Publicidade fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de


Significa conhecimento, divulgação pública, ciência. É dar nova interpretação.
conhecimento, divulgação, ciência ao titular do direito, do O princípio da segurança jurídica não veda que a
interesse – que é o povo. Administração mude a interpretação dada anteriormente
sobre determinada norma administrativa, porém, veda que a
e. Princípio da Eficiência Administração aplique retroativamente essa nova
A Administração Pública deve aperfeiçoar os serviços e as interpretação.
atividades que presta, buscando otimização de resultados e
visando atender o interesse público com maior eficiência. Questões

Há ainda outros princípios que a Administração Pública 01. (TRT /8ª Região (PA e AP) - Analista Judiciário -
deve perseguir, dentre eles: Área Administrativa – CESPE/2016) A respeito dos
elementos do Estado, assinale a opção correta.
a) Princípio da Motivação: É o princípio mais importante, (A) Povo, território e governo soberano são elementos
visto que sem a motivação não há o devido processo legal. indissociáveis do Estado.
No entanto, motivação, neste caso, nada tem a ver com (B) O Estado é um ente despersonalizado.
aquele estado de ânimo. Motivar significa mencionar o (C) São elementos do Estado o Poder Legislativo, o Poder
dispositivo legal aplicável ao caso concreto, relacionar os fatos Judiciário e o Poder Executivo.
que concretamente levaram à aplicação daquele dispositivo (D) Os elementos do Estado podem se dividir em
legal. presidencialista ou parlamentarista.
Todos os atos administrativos devem ser motivados para (E) A União, o estado, os municípios e o Distrito Federal são
que o Judiciário possa controlar o mérito do ato administrativo elementos do Estado brasileiro.
quanto à sua legalidade. Para efetuar esse controle, devem-se
observar os motivos dos atos administrativos. 02. (IF/AP - Auxiliar em Administração –
FUNIVERSA/2016) No sistema de governo brasileiro, os
b) Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre chefes do Poder Executivo (presidente da República,
o Particular: Sempre que houver necessidade de satisfazer governadores e prefeitos) exercem, ao mesmo tempo, as
um interesse público, em detrimento de um interesse funções administrativa (Administração Pública) e política
particular, prevalece o interesse público. São as prerrogativas (governo). No entanto, são funções distintas, com conceitos e
conferidas à Administração Pública, porque esta atua por objetivos bem definidos. Acerca de Administração Pública e
conta dos interesses públicos. governo, assinale a alternativa correta.
(A) Administração Pública e governo são considerados
c) Indisponibilidade do Interesse Público: Os bens e sinônimos, visto que ambos têm como objetivo imediato a
interesses públicos são indisponíveis, ou seja, não pertencem busca da satisfação do interesse coletivo.
à Administração ou a seus agentes, cabendo aos mesmos (B) As ações de Administração Pública têm como objetivo
somente sua gestão em prol da coletividade. Veda ao a satisfação do interesse público e são voltadas à execução das
administrador quaisquer atos que impliquem renúncia de políticas públicas.
direitos da Administração ou que, injustificadamente, onerem (C) Administração Pública é a atividade responsável pela
a sociedade. fixação dos objetivos do Estado, ou seja, nada mais é que o
Estado desempenhando sua função política.
d) Continuidade do Serviço Público: Os serviços (D) Governo é o conjunto de agentes, órgãos e pessoas
públicos por serem prestados no interesse da coletividade jurídicas de que o Estado dispõe para colocar em prática as
devem ser adequados e seu funcionamento não deve sofrer políticas públicas.
interrupções. (E) A Administração pratica tanto atos de governo
Porém, devemos ressaltar que isto não se aplicará às (políticos) como atos de execução das políticas públicas.
interrupções por situações de emergência ou após aviso
prévio – nos casos de segurança, ordem técnica. 03. (TRE-SP - Técnico Judiciário – Área Administrativa
– FCC/2017) Considere a lição de Maria Sylvia Zanella Di
e) Probidade Administrativa: A conduta do Pietro: A Administração não pode atuar com vistas a
administrador público deve ser honesta, pautada na boa prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, uma vez que é
conduta e na boa-fé. Ganhou status constitucional com a atual sempre o interesse público que tem que nortear o seu
Constituição de 1988. comportamento. (Direito Administrativo, São Paulo: Atlas, 29ª
edição, p. 99). Essa lição expressa o conteúdo do princípio da
f) Autotutela: por esse princípio a Administração Pública (A) impessoalidade, expressamente previsto na
poderá revisar seus atos. Não deve ser confundido com a tutela Constituição Federal, que norteia a atuação da Administração
administrativa que representa a relação existente entre a pública de forma a evitar favorecimentos e viabilizar o
Administração Direta e Indireta. atingimento do interesse público, finalidade da função
executiva.
g) Razoabilidade e da Proporcionalidade: São tidos (B) legalidade, que determina à Administração sempre
como princípios gerais de Direito, aplicáveis a praticamente atuar de acordo com o que estiver expressamente previsto na
todos os ramos da ciência jurídica. No âmbito do Direito lei, em sentido estrito, admitindo-se mitigação do
Administrativo encontram aplicação especialmente no que cumprimento em prol do princípio da eficiência.
concerne à prática de atos administrativos que impliquem (C) eficiência, que orienta a atuação e o controle da
restrição ou condicionamento a direitos dos administrados ou Administração pública pelo resultado, de forma que os demais
imposição de sanções administrativas. princípios e regras podem ser relativizados.
(D) supremacia do interesse público, que se coloca com
h) Segurança Jurídica: O ordenamento jurídico vigente primazia sobre os demais princípios e interesses, uma vez que
garante que a Administração deve interpretar a norma atinente à finalidade da função executiva.
administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do

Noções Básicas de Administração Pública 2


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(E) publicidade, tendo em vista que todos os atos da (C) Princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
Administração pública devem ser de conhecimento dos publicidade e eficiência.
administrados, para que possam exercer o devido controle. (D) Princípios do sigilo, privacidade, eficácia e ilegalidade.

04. (UECE - Assistente de Administração – 10. (MPE-RN - Técnico do Ministério Público Estadual -
FUNECE/2017) O princípio da Administração Pública, Área Administrativa – COMPERVE/2017) A Administração
previsto na Constituição Federal de 1988, que exige atuação Pública, nos termos do art. 37 da Constituição Federal (CF),
segundo padrões éticos de decoro, probidade e boa-fé é o deve obedecer a certos princípios. Tendo em vista os
princípio da princípios constitucionais expressos no art. 37, da CF,
(A) eficiência. (A) a moralidade administrativa, embora seja observada
(B) legalidade. por grande parte dos administradores, não se configura um
(C) publicidade. princípio positivado no ordenamento jurídico brasileiro.
(D) moralidade. (B) a publicação do nome dos servidores públicos com seus
respectivos vencimentos em sítios eletrônicos, de acordo com
05. (SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargos 1, 3 a 2 – o entendimento do Supremo Tribunal Federal, é legítima, haja
CESPE/2017) A respeito dos princípios da administração vista o princípio da publicidade dos atos administrativos.
pública e da organização administrativa, julgue o item a seguir. (C) o princípio da legalidade determina que a
Administração Pública não pode ser obrigada a fazer ou a
Se uma autoridade pública, ao dar publicidade a deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei.
determinado programa de governo, fizer constar seu nome de (D) o princípio da impessoalidade, de acordo com o
modo a caracterizar promoção pessoal, então, nesse caso, entendimento do Supremo Tribunal Federal, possibilita a
haverá, pela autoridade, violação de preceito relacionado ao contratação de parentes de terceiro grau da autoridade
princípio da impessoalidade. nomeante para o exercício de cargo em comissão.
( ) Certo
( ) Errado Respostas
01. A / 02. B / 03. A / 04. D / 05. Certo
06. (TJM-SP - Escrevente Técnico Judiciário – 06. C / 07. D / 08. Certo / 09. C. / 10. B
VUNESP/2017) Os atos dos servidores públicos deverão estar
em conformidade com o interesse público, e não próprio ou de
acordo com a vontade de um grupo. Tal afirmação está de 2. Organização
acordo com o princípio administrativa do Estado.
(A) do bem público.
(B) da legalidade.
(C) da impessoalidade. Da Organização do Estado (arts. 18 a 43).
(D) do poder vinculado.
(E) da hierarquia. A nossa Constituição Federal, em seu Título III
regulamenta a organização do Estado Brasileiro. Falar em
07. (PGE-MT - Analista – Administrador – FCC/2016) A organização de um estado é falar de como ele está composto,
respeito dos princípios básicos da Administração pública no como está dividido, quais os poderes, as atribuições e
Brasil, é INCORRETO afirmar que o princípio competências de cada entidade que o compõe, é falar o que é
(A) de impessoalidade demanda objetividade no proibido a cada poder e os relacionamentos que devem ter um
atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal para com os outros.
de agentes públicos. Nossa organização político-administrativa compreende a
(B) de legalidade demanda atuação da Administração União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. A
pública conforme a lei e o Direito. Constituição admite a criação de Territórios Federais, que, se
(C) de moralidade demanda atuação da Administração criados, integrarão a União, podendo ser transformados em
pública segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé. Estados ou reintegrados ao Estado de origem.
(D) da eficiência demanda celeridade na atuação da
Administração pública, se necessário em contrariedade à lei, Da União
dada a primazia do resultado sobre a burocracia. A União é autônoma em relação aos Estados, Distrito
(E) de publicidade demanda a divulgação oficial dos atos Federal e Municípios, não se confundindo com a República
administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas Federativa do Brasil (Estado Federal), uma vez que a integra.
no ordenamento jurídico. Ademais, é a União pessoa jurídica de direito público
interno, possuindo competências administrativas e
08. (INSS - Perito Médico Previdenciário - CESPE) legislativas determinadas constitucionalmente.
Acerca do direito administrativo, julgue os itens a seguir.
Na repartição das competências materiais (matéria
Povo, território e governo soberano são elementos do administrativa) e legislativas (edição de leis), a Constituição
Estado. brasileira optou por enumerar as atribuições da União (arts.
( ) Certo 21 e 22 da CF) e dos Municípios (art. 30) e reservar o restante,
( ) Errado as remanescentes, aos Estados (art. 25, §1º).
Assim, as competências dividem-se em dois grandes
09. (CEGÁS - Assistente Técnico – Programador – grupos: material e legislativa. Podem ser:
IESES/2017) Os princípios da administração pública que - Exclusiva: atribuída a uma entidade, com exclusão das
encontram-se estampados no caput do art. 37 da Constituição demais.
Federal são os seguintes: - Privativa: própria de uma entidade, com a possibilidade
(A) Princípios da ilegalidade, comunicabilidade, sigilo e de delegação ou suplementação.
pessoalidade. - Comum, cumulativa ou paralela: comum a várias
(B) Princípios do contraditório, da compensação, da entidades, em pé de igualdade.
imoralidade e eficácia.

Noções Básicas de Administração Pública 3


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- Concorrente: possibilidade de disposição sobre o territorial da União. Embora tenha personalidade jurídica não
mesmo assunto ou matéria por mais de uma entidade, porém, tem autonomia política.
com a primazia da União no que tange as normas gerais. A partir de 1988, não existem mais territórios no Brasil.
- Suplementar: decorre da competência concorrente, Antigamente, eram territórios: Roraima, Amapá e Fernando de
consubstanciando o poder de formular normas que Noronha (art. 15 dos ADCT).
desdobrem o conteúdo de princípios ou normas gerais ou que A Formação de Territórios Federais dar-se-á por meio de
supram a ausência ou omissão destas. lei complementar, sendo esta responsável em regulamentar
- Residual ou remanescente: É a competência sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao
remanescente, não abrangida por aquelas expressamente Estado de origem (art. 18, §2º da CF).
atribuídas pela Constituição Federal.
Veja os dispositivos acerca do assunto:
Dos Estados Federados
Os Estados têm governo próprio, desempenhando as TÍTULO III
funções dos três poderes estatais — Executivo, Legislativo e Da Organização do Estado
Judiciário. A Constituição da República também lhes adjudica CAPÍTULO I
bens próprios (art. 26). No âmbito da competência legislativa DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
dos Estados, eles editam as normas e as executam com
autonomia. Os governadores são as autoridades executivas Art. 18. A organização político-administrativa da República
máximas e a Assembleia Legislativa é a sede do Poder Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o
Legislativo. A Constituição da República disciplina, com Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos
alguma minúcia, tanto as eleições para ambos os poderes, o desta Constituição.
seu funcionamento, bem como aspectos de remuneração dos § 1º Brasília é a Capital Federal.
seus titulares (arts. 27 e 28 da CF/88). § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua
De acordo com o disposto no art. 25 da CF/88 os Estados- criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado
membros organizam-se e se regem pelas Constituições e leis de origem serão reguladas em lei complementar.
que adotarem, além dos princípios estabelecidos na CF/88. Os § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-
Estados-membros possuem competência residual, vez que as se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem
competências e atribuições da União encontram-se expressas novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da
na Constituição e a dos Municípios encontram-se associadas população diretamente interessada, através de plebiscito, e do
aos interesses locais. Assim, a “residualidade” indica que não Congresso Nacional, por lei complementar.
havendo atribuição expressa da União ou não se tratando de § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o
interesse local, a competência será dos Estados-membros. Os desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual,
Estados-membros são reconhecidos como entes federativos dentro do período determinado por Lei Complementar
autônomos. Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito,
às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos
Dos Municípios Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados
O Município pode ser definido como pessoa jurídica de na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
direito público interno e autônoma nos termos e de acordo 15, de 1996)
com as regras estabelecidas na CF/88.
Muito se questionou a respeito de serrem os Municípios Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
parte integrante ou não de nossa Federação, bem como sobre e aos Municípios:
a sua autonomia. A análise dos arts. 1º e 18, bem como de todo I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,
o capítulo reservado aos Municípios, leva-nos ao único embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus
entendimento de que eles são entes federativos, dotados de representantes relações de dependência ou aliança,
autonomia própria, materializada por sua capacidade de auto- ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
organização (art. 29, caput, da CF), autogoverno (elege, II - recusar fé aos documentos públicos;
diretamente, o Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores, conforme III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre
incisos do art. 29 da CF), autoadministração e auto legislação si.
(art. 30 da CF). Ainda mais diante do art. 34, VII, “c”, que
estabelece a intervenção federal na hipótese de o Estado não CAPÍTULO II
respeitar a autonomia municipal. DA UNIÃO

Distrito Federal Art. 20. São bens da União:


Nos termos do que dispõe a Constituição Federal de 1988, I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a
o Distrito Federal não é mais Capital Federal, pois, de acordo ser atribuídos;
com o art. 18, §1º, a Capital Federal é Brasília, que se situa II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das
dentro do território do Distrito Federal. Aliás, nos termos do fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias
art. 6º da Lei Orgânica do DF, Brasília, além de Capital da federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas
República Federativa do Brasil, é a sede do governo do Distrito em lei;
Federal. III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em
Após a promulgação da Constituição de 1988, o Distrito terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado,
Federal passou a gozar da mais ampla autonomia, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a
autogovernando-se através de leis e autoridades próprias; território estrangeiro ou dele provenham, bem como os
possui capacidade de auto-organização, autogoverno, terrenos marginais e as praias fluviais;
autoadministração e auto legislação. IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com
outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as
Dos Territórios costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de
O Território não é ente da federação, mas sim integrante Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e
da União. Trata-se de mera descentralização administrativo- a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 2005)

Noções Básicas de Administração Pública 4


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V - os recursos naturais da plataforma continental e da XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o
zona econômica exclusiva; corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como
VI - o mar territorial; prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;
VIII - os potenciais de energia hidráulica; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística,
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
arqueológicos e pré-históricos; XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. diversões públicas e de programas de rádio e televisão;
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao XVII - conceder anistia;
Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as
administração direta da União, participação no resultado da calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações;
exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de
para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de
minerais no respectivo território, plataforma continental, mar seu uso;
territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano,
financeira por essa exploração. inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema
largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como nacional de viação;
faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do XXII - executar os serviços de polícia marítima,
território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas aeroportuária e de fronteiras; (Redação dada pela Emenda
em lei. Constitucional nº 19, de 1998)
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de
Art. 21. Compete à União: qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a
I - manter relações com Estados estrangeiros e participar pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a
de organizações internacionais; industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus
II - declarar a guerra e celebrar a paz; derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
III - assegurar a defesa nacional; a) toda atividade nuclear em território nacional somente
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do
forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele Congresso Nacional;
permaneçam temporariamente; b) sob regime de permissão, são autorizadas a
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a comercialização e a utilização de radioisótopos para a
intervenção federal; pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais; (Redação
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
material bélico; c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção,
VII - emitir moeda; comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar igual ou inferior a duas horas; (Redação dada pela Emenda
as operações de natureza financeira, especialmente as de Constitucional nº 49, de 2006)
crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe
previdência privada; da existência de culpa; (Redação dada pela Emenda
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de Constitucional nº 49, de 2006)
ordenação do território e de desenvolvimento econômico e XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
social; XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; da atividade de garimpagem, em forma associativa.
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização,
concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
criação de um órgão regulador e outros aspectos agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
institucionais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº II - desapropriação;
8, de 15/08/95:) III - requisições civis e militares, em caso de iminente
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, perigo e em tempo de guerra;
concessão ou permissão: IV - águas, energia, informática, telecomunicações e
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; radiodifusão;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de V - serviço postal;
15/08/95:) VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o metais;
aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de
com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; valores;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura VIII - comércio exterior e interestadual;
aeroportuária; IX - diretrizes da política nacional de transportes;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial,
portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham marítima, aérea e aeroespacial;
os limites de Estado ou Território; XI - trânsito e transporte;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
internacional de passageiros; XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; XIV - populações indígenas;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão
Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria de estrangeiros;
Pública dos Territórios; (Redação dada pela Emenda XVI - organização do sistema nacional de emprego e
Constitucional nº 69, de 2012) condições para o exercício de profissões;

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XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos legislar concorrentemente sobre:
Territórios, bem como organização administrativa destes; I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 69, de 2012) urbanístico;
(Produção de efeito) II - orçamento;
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de III - juntas comerciais;
geologia nacionais; IV - custas dos serviços forenses;
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da V - produção e consumo;
poupança popular; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
XX - sistemas de consórcios e sorteios; defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material ambiente e controle da poluição;
bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico,
militares e corpos de bombeiros militares; turístico e paisagístico;
XXII - competência da polícia federal e das polícias VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
rodoviária e ferroviária federais; consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
XXIII - seguridade social; histórico, turístico e paisagístico;
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia,
XXV - registros públicos; pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Redação dada pela
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas X - criação, funcionamento e processo do juizado de
as modalidades, para as administrações públicas diretas, pequenas causas;
autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal XI - procedimentos em matéria processual;
e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
empresas públicas e sociedades de economia mista, nos XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
termos do art. 173, § 1°, III; (Redação dada pela Emenda XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras
Constitucional nº 19, de 1998) de deficiência;
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa XV - proteção à infância e à juventude;
marítima, defesa civil e mobilização nacional; XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias
XXIX - propaganda comercial. civis.
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência
Estados a legislar sobre questões específicas das matérias da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
relacionadas neste artigo. § 2º A competência da União para legislar sobre normas
gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
Distrito Federal e dos Municípios: exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das peculiaridades.
instituições democráticas e conservar o patrimônio público; § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.
garantia das pessoas portadoras de deficiência;
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de CAPÍTULO III
valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as DOS ESTADOS FEDERADOS
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas
obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou Constituições e leis que adotarem, observados os princípios
cultural; desta Constituição.
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, § 1º São reservadas aos Estados as competências que não
à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; (Redação dada lhes sejam vedadas por esta Constituição.
pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei,
qualquer de suas formas; vedada a edição de medida provisória para a sua
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; regulamentação. (Redação dada pela Emenda Constitucional
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o nº 5, de 1995)
abastecimento alimentar; § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar,
IX - promover programas de construção de moradias e a instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios
X - combater as causas da pobreza e os fatores de limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a
marginalização, promovendo a integração social dos setores execução de funções públicas de interesse comum.
desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
minerais em seus territórios; emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma
XII - estabelecer e implantar política de educação para a da lei, as decorrentes de obras da União;
segurança do trânsito. II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União,
para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Municípios ou terceiros;
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) União.

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Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de
corresponderá ao triplo da representação do Estado na 30.000 (trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil)
Câmara dos Deputados e, atingido o número de trinta e seis, habitantes; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 58,
será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais de 2009)
acima de doze. d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados 50.000 (cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta mil)
Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição habitantes; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 58, de
sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, 2009)
remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de
incorporação às Forças Armadas. 80.000 (oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento e vinte
§ 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei mil) habitantes; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 58,
de iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no de 2009)
máximo, setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de
espécie, para os Deputados Federais, observado o que dispõem 120.000 (cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cento
os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação sessenta mil) habitantes; (Incluída pela Emenda
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) Constitucional nº 58, de 2009)
§ 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
regimento interno, polícia e serviços administrativos de sua 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até 300.000
secretaria, e prover os respectivos cargos. (trezentos mil) habitantes; (Incluída pela Emenda
§ 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo Constitucional nº 58, de 2009)
legislativo estadual. h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais de
300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000
Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes; (Incluída pela
Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á no Emenda Constitucional nº 58, de 2009)
primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de
domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de até
anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a 600.000 (seiscentos mil) habitantes; (Incluída pela Emenda
posse ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subsequente, Constitucional nº 58, de 2009)
observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77. (Redação j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de
dada pela Emenda Constitucional nº 16, de1997) 600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000
§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro (setecentos cinquenta mil) habitantes; (Incluída pela Emenda
cargo ou função na administração pública direta ou indireta, Constitucional nº 58, de 2009)
ressalvada a posse em virtude de concurso público e k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de
observado o disposto no art. 38, I, IV e V. (Renumerado do 750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até
parágrafo único, pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 900.000 (novecentos mil) habitantes; (Incluída pela Emenda
§ 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e dos Constitucional nº 58, de 2009)
Secretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa da l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
Assembleia Legislativa, observado o que dispõem os arts. 37, 900.000 (novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um
XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Incluído pela Emenda milhão e cinquenta mil) habitantes; (Incluída pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998) Constitucional nº 58, de 2009)
m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais
CAPÍTULO IV de 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e de até
Dos Municípios 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes; (Incluída
pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009)
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais
dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada de 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes e de até
por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes;
promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta (Incluída pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009)
Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de
seguintes preceitos: 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitantes
I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, e de até 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes;
para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e (Incluída pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009)
simultâneo realizado em todo o País; p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais
II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes e de até
primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes; (Incluída
mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009)
77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil eleitores; q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 16, de1997) de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes e de até
III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes;
do ano subsequente ao da eleição; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009)
IV - para a composição das Câmaras Municipais, será r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais
observado o limite máximo de: (Redação dada pela Emenda de 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habitantes e de
Constitucional nº 58, de 2009) até 3.000.000 (três milhões) de habitantes; (Incluída pela
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 Emenda Constitucional nº 58, de 2009)
(quinze mil) habitantes; (Redação dada pela Emenda s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de
Constitucional nº 58, de 2009) mais de 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até
b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes; (Incluída pela
(quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil) habitantes; Emenda Constitucional nº 58, de 2009)
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009) t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de mais
de 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de até

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5.000.000 (cinco milhões) de habitantes; (Incluída pela XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da
Emenda Constitucional nº 58, de 2009) Câmara Municipal; (Renumerado do inciso IX, pela Emenda
u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de Constitucional nº 1, de 1992)
mais de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de até XII - cooperação das associações representativas no
6.000.000 (seis milhões) de habitantes; (Incluída pela Emenda planejamento municipal; (Renumerado do inciso X, pela
Constitucional nº 58, de 2009) Emenda Constitucional nº 1, de 1992)
v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse
de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até 7.000.000 específico do Município, da cidade ou de bairros, através de
(sete milhões) de habitantes; (Incluída pela Emenda manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado;
Constitucional nº 58, de 2009) (Renumerado do inciso XI, pela Emenda Constitucional nº 1,
w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de de 1992)
mais de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28,
8.000.000 (oito milhões) de habitantes; e (Incluída pela parágrafo único. (Renumerado do inciso XII, pela Emenda
Emenda Constitucional nº 58, de 2009) Constitucional nº 1, de 1992)
x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de
mais de 8.000.000 (oito milhões) de habitantes; (Incluída pela Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo
Emenda Constitucional nº 58, de 2009) Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos
V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes
Municipais fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das
observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, transferências previstas no § 5º do art. 153 e nos arts. 158 e
III, e 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda constitucional nº 159, efetivamente realizado no exercício anterior: (Incluído
19, de 1998) pela Emenda Constitucional nº 25, de 2000)
VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de
respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a até 100.000 (cem mil) habitantes; (Redação dada pela Emenda
subsequente, observado o que dispõe esta Constituição, Constituição Constitucional nº 58, de 2009)
observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei II - 6% (seis por cento) para Municípios com população
Orgânica e os seguintes limites máximos: (Redação dada pela entre 100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes;
Emenda Constitucional nº 25, de 2000) (Redação dada pela Emenda Constituição Constitucional nº 58,
a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio de 2009)
máximo dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população
subsídio dos Deputados Estaduais; (Incluído pela Emenda entre 300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (quinhentos mil)
Constitucional nº 25, de 2000) habitantes; (Redação dada pela Emenda Constituição
b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil Constitucional nº 58, de 2009)
habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para
a trinta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; Municípios com população entre 500.001 (quinhentos mil e
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 25, de 2000) um) e 3.000.000 (três milhões) de habitantes; (Redação dada
c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil pela Emenda Constituição Constitucional nº 58, de 2009)
habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população
a quarenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; entre 3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito milhões)
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 25, de 2000) de habitantes; (Incluído pela Emenda Constituição
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil Constitucional nº 58, de 2009)
habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para
a cinquenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; Municípios com população acima de 8.000.001 (oito milhões e
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 25, de 2000) um) habitantes. (Incluído pela Emenda Constituição
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil Constitucional nº 58, de 2009)
habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá § 1º A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por
a sessenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; cento de sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 25, de 2000) com o subsídio de seus Vereadores. (Incluído pela Emenda
f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, o Constitucional nº 25, de 2000)
subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta e § 2º Constitui crime de responsabilidade do Prefeito
cinco por cento do subsídio dos Deputados Estaduais; Municipal: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 25, de
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 25, de 2000) 2000)
VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste
não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 25, de 2000)
receita do Município; (Incluído pela Emenda Constitucional nº II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
1, de 1992) (Incluído pela Emenda Constitucional nº 25, de 2000)
VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei
palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Orçamentária. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 25, de
Município; (Renumerado do inciso VI, pela Emenda 2000)
Constitucional nº 1, de 1992) § 3º Constitui crime de responsabilidade do Presidente da
IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da Câmara Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo. (Incluído
vereança, similares, no que couber, ao disposto nesta pela Emenda Constitucional nº 25, de 2000)
Constituição para os membros do Congresso Nacional e na
Constituição do respectivo Estado para os membros da Art. 30. Compete aos Municípios:
Assembleia Legislativa; (Renumerado do inciso VII, pela I - legislar sobre assuntos de interesse local;
Emenda Constitucional nº 1, de 1992) II - suplementar a legislação federal e a estadual no que
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça; couber;
(Renumerado do inciso VIII, pela Emenda Constitucional nº 1, III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência,
de 1992) bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da

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obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos § 2º As contas do Governo do Território serão submetidas
prazos fixados em lei; ao Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal de
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a Contas da União.
legislação estadual; § 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de habitantes, além do Governador nomeado na forma desta
concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira e segunda
local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter instância, membros do Ministério Público e defensores
essencial; públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a Câmara
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União Territorial e sua competência deliberativa.
e do Estado, programas de educação infantil e de ensino
fundamental; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº Questões
53, de 2006)
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da 01. (PC-GO - Delegado de Polícia Substituto –
União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da CESPE/2017) A respeito dos estados-membros da Federação
população; brasileira, assinale a opção correta.
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento (A) Denomina-se cisão o processo em que dois ou mais
territorial, mediante planejamento e controle do uso, do estados se unem geograficamente, formando um terceiro e
parcelamento e da ocupação do solo urbano; novo estado, distinto dos estados anteriores, que perdem a
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural personalidade originária.
local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e (B) Para o STF, a consulta a ser feita em caso de
estadual. desmembramento de estado-membro deve envolver a
população de todo o estado-membro e não só a do território a
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo ser desmembrado.
Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e (C) A CF dá ao estado-membro competência para instituir
pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo regiões metropolitanas e microrregiões, mas não
Municipal, na forma da lei. aglomerações urbanas: a competência de instituição destas é
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido dos municípios.
com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do (D) Conforme a CF, a incorporação, a subdivisão, o
Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos desmembramento ou a formação de novos estados dependerá
Municípios, onde houver. de referendo. Assim, o referendo é condição prévia, essencial
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente ou prejudicial à fase seguinte: a propositura de lei
sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só complementar.
deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros (E) Segundo o STF, os mecanismos de freios e contrapesos
da Câmara Municipal. previstos em constituição estadual não precisam guardar
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta estreita similaridade com aqueles previstos na CF.
dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para
exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a 02. (Prefeitura de Mogi das Cruzes – SP - Procurador
legitimidade, nos termos da lei. Jurídico - VUNESP/2016) Para a criação, incorporação, fusão
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos e desmembramento de Municípios, a Constituição Federal
de Contas Municipais. exige a presença dos seguintes requisitos:
(A) lei ordinária federal, estudo de viabilidade municipal,
CAPÍTULO V plebiscito e lei complementar estadual.
DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS (B) lei complementar federal, estudo de viabilidade
Seção I estadual, plebiscito e lei estadual.
DO DISTRITO FEDERAL (C) lei complementar federal, estudo de viabilidade
municipal, plebiscito e lei estadual.
Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em (D) lei federal nacional, estudo de viabilidade municipal, lei
Municípios, reger- se-á por lei orgânica, votada em dois turnos estadual e referendo.
com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços (E) lei complementar federal, estudo de viabilidade
da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os municipal, referendo e lei estadual.
princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências 03. (Prefeitura de Mogi das Cruzes – SP - Procurador
legislativas reservadas aos Estados e Municípios. Jurídico _ VUNESP/2016) Considerando a repartição de
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, competências estabelecida pela Constituição Federal,
observadas as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais devidamente ratificada pelo entendimento do Supremo
coincidirá com a dos Governadores e Deputados Estaduais, Tribunal Federal, assinale a alternativa que consagra uma
para mandato de igual duração. hipótese de legislação que decorre da competência
§ 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica- constitucional legislativa pertencente ao Município.
se o disposto no art. 27. (A) Confere gratuidade de estacionamento em
§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do estabelecimento privado (shopping centers, hipermercados,
Distrito Federal, das polícias civil e militar e do corpo de instituições de ensino, rodoviárias e aeroportos).
bombeiros militar. (B) Fixa um limite máximo de 20% do valor do automóvel
Seção II em relação às multas impostas pelo Detran Estadual dentro do
DOS TERRITÓRIOS território do Município.
(C) Autoriza o uso, pela Guarda Municipal, de armas de
Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e fogo apreendidas dentro do território do Município.
judiciária dos Territórios. (D) Proíbe revista íntima em empregados de
§ 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, estabelecimentos situados no respectivo território do
aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV Município.
deste Título.

Noções Básicas de Administração Pública 9


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(E) Determina a instalação de cadeiras de espera, Segundo a Constituição Federal, a competência da União,
bebedouros e equipamentos de segurança em agências de Estados e Municípios relativa a essas matérias é
Bancos dentro do território municipal. (A) privativa nos itens II e III e concorrente nos itens I e IV.
(B) comum nos itens IV e V e concorrente nos itens I e III.
04. (EBSERH - Advogado (HUPEST-UFSC) – IBFC/2016) (C) concorrente nos itens I e III e privativa nos itens II e V.
A Constituição Federal especifica a competência legislativa de (D) concorrente nos itens I e V e comum nos itens II e III
cada ente da Federação. Analise as alternativas abaixo e (E) comum nos itens II e III e concorrente nos itens IV e V.
selecione a que NÃO apresenta uma das competências
privativas da União. Respostas
(A) Diretrizes da política nacional de transportes 01. B. / 02. C. / 03. E. / 04. C. / 05. E. / 06. D. / 07. E.
(B) Normas gerais de organização, efetivos, material
bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias
militares e corpos de bombeiros militares 3. Administração direta e
(C) Educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, indireta.
pesquisa, desenvolvimento e inovação
(D) Águas, energia, informática, telecomunicações e
radiodifusão Organização da Administração Pública
(E) Política de crédito, câmbio, seguros e transferência de
valores A Administração Pública dispõe de um conjunto de órgãos,
serviços e agentes que irão colocar em prática as ações do
05. (Câmara de Bandeirantes - SC - Auxiliar Legislativo governo. A administração é a ferramenta para que o Estado
– ALTERNATIVE CONCURSOS/2016) Sobre a Organização satisfaça seus interesses.
Político-Administrativa dos Municípios, analise as alternativas
e indique a INCORRETA: Em outras palavras, administração pública é a gestão dos
(A) A eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos interesses públicos por meio da prestação de serviços
Vereadores, terá mandato de quatro anos, mediante pleito públicos, sendo dividida em administração direta e indireta.
direto e simultâneo realizado em todo o País.
(B) O subsídio dos Vereadores será fixado pelas ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA
respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a A Administração Pública Direta é o conjunto de órgãos
subsequente, observado o que dispõe esta Constituição, públicos vinculados diretamente ao chefe da esfera
observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei governamental que integram. Não possuem personalidade
Orgânica. jurídica própria, patrimônio e autonomia administrativa e
(C) A fiscalização do Município será exercida pelo Poder cujas despesas são realizadas diretamente através do
Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos orçamento da referida esfera.
sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal. Assim, ela é responsável pela gestão dos serviços públicos
(D) O controle externo da Câmara Municipal será exercido executados pelas pessoas políticas via de um conjunto de
com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do órgãos que estão integrados na sua estrutura.
Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Sua competência abarca os diversos órgãos que compõem
Municípios, onde houver. a entidade pública por eles responsáveis. Exemplos:
(E) As contas dos Municípios poderão ficar, durante Ministérios, Secretarias, Departamentos e outros que, como
noventa dias, semestralmente, à disposição de qualquer característica inerente da Administração Pública Direta, não
contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá possuem personalidade jurídica, pois não podem contrair
questionar-lhes a legitimidade. direitos e assumir obrigações, haja vista que estes pertencem
a pessoa política (União, Estado, Distrito Federal e
06. (Câmara de Bandeirantes - SC - Auxiliar Legislativo Municípios).
– ALTERNATIVE CONCURSOS/2016) De acordo com a
Constituição Federal compete privativamente à União legislar ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA
sobre, EXCETO: São integrantes da Administração indireta as fundações, as
(A) Águas, energia, informática, telecomunicações e autarquias, as empresas públicas e as sociedades de economia
radiodifusão. mista.
(B) Sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos Essas quatro pessoas são criadas para a prestação de
metais. serviços públicos ou para a exploração de atividades
(C) Política de crédito, câmbio, seguros e transferência de econômicas, com o objetivo de aumentar o grau de
valores. especialidade e eficiência da prestação do serviço público.
(D) Direito civil, comercial, penal, processual, exceto o
eleitoral, o agrário, o marítimo, o aeronáutico, que são regidos CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO
pelo Exército e o do trabalho que é de competência do Estado.
(E) Sistemas de poupança, captação e garantia da A execução do serviço público poderá ser:
poupança popular.
Centralização: Quando a execução do serviço estiver
07. (PGE-MT - Analista – Bacharel em Direito – sendo feita pela Administração direta do Estado (ex.:
FCC/2016) Considere as matérias: Secretarias, Ministérios etc.).
I. Legislação sobre trânsito.
II. Preservação das florestas. Descentralização: Quando estiver sendo feita por
III. Fomento da produção agropecuária. terceiros que não se confundem com a Administração direta
IV. Legislação sobre juntas comerciais. do Estado. Assim, descentralizar é repassar a execução e a
V. Legislação sobre direito urbanístico. titularidade, ou só a execução de uma pessoa para outra, não
havendo hierarquia.

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CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA. CONCURSO PÚBLICO (ART. 37, II DA


CONSTITUIÇÃO DO BRASIL). INEXIGÊNCIA DE CONCURSO
Desconcentração (Criar órgãos) PÚBLICO PARA A ADMISSÃO DOS CONTRATADOS PELA OAB.
Ocorre desconcentração administrativa quando uma AUTARQUIAS ESPECIAIS E AGÊNCIAS. CARÁTER JURÍDICO DA
pessoa política ou uma entidade da administração indireta OAB. ENTIDADE PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO
distribui competências no âmbito de sua própria estrutura INDEPENDENTE. CATEGORIA ÍMPAR NO ELENCO DAS
afim de tornar mais ágil e eficiente a prestação dos serviços. PERSONALIDADES JURÍDICAS EXISTENTES NO DIREITO
BRASILEIRO. AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA DA ENTIDADE.
Concentração (extinguir órgãos) PRINCÍPIO DA MORALIDADE. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 37,
Ocorre quando uma pessoa jurídica integrante da CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. NÃO OCORRÊNCIA. 1.
administração pública extingue órgãos antes existentes em A Lei n. 8.906, artigo 79, § 1º, possibilitou aos "servidores" da
sua estrutura, reunindo em um número menor de unidade as OAB, cujo regime outrora era estatutário, a opção pelo regime
respectivas competências celetista. Compensação pela escolha: indenização a ser paga à
época da aposentadoria. 2. Não procede a alegação de que a
Diferença entre Descentralização e Desconcentração: OAB sujeita-se aos ditames impostos à Administração Pública
Descentralização, entretanto, significa transferir a execução de Direta e Indireta. 3. A OAB não é uma entidade da
um serviço público para terceiros que não se confundem com Administração Indireta da União. A Ordem é um serviço
a Administração Direta, e a desconcentração significa público independente, categoria ímpar no elenco das
transferir a execução de um serviço público de um órgão para personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. 4. A
o outro dentro da Administração Direta, permanecendo está OAB não está incluída na categoria na qual se inserem essas
no centro. que se tem referido como "autarquias especiais" para
pretender-se afirmar equivocada independência das hoje
São pessoas jurídicas que compõem a Administração chamadas "agências". 5. Por não consubstanciar uma entidade
Pública Indireta: da Administração Indireta, a OAB não está sujeita a controle da
Administração, nem a qualquer das suas partes está vinculada.
AUTARQUIAS Essa não-vinculação é formal e materialmente necessária. 6. A
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público OAB ocupa-se de atividades atinentes aos advogados, que
criadas para a prestação de serviços públicos, contando com exercem função constitucionalmente privilegiada, na medida
capital exclusivamente público, ou seja, as autarquias são em que são indispensáveis à administração da Justiça [artigo
regidas integralmente por regras de direito público, podendo, 133 da CB/88]. É entidade cuja finalidade é afeita a atribuições,
tão-somente, serem prestadoras de serviços e contando com interesses e seleção de advogados. Não há ordem de relação ou
capital oriundo da Administração Direta (ex.: INCRA, INSS, dependência entre a OAB e qualquer órgão público. 7. A Ordem
DNER, Banco Central etc.). dos Advogados do Brasil, cujas características são autonomia
e independência, não pode ser tida como congênere dos
AUTARQUIA DE REGIME ESPECIAL demais órgãos de fiscalização profissional. A OAB não está
É toda aquela em que a lei instituidora conferir privilégios voltada exclusivamente a finalidades corporativas. Possui
específicos e aumentar sua autonomia comparativamente com finalidade institucional. 8. Embora decorra de determinação
as autarquias comuns, sem infringir os preceitos legal, o regime estatutário imposto aos empregados da OAB
constitucionais pertinentes a essas entidades de não é compatível com a entidade, que é autônoma e
personalidade pública. O que posiciona a autarquia de regime independente. 9. Improcede o pedido do requerente no
especial são as regalias que a lei criadora lhe confere para o sentido de que se dê interpretação conforme o artigo 37, inciso
pleno desempenho de suas finalidades específicas. 3 II, da Constituição do Brasil ao caput do artigo 79 da Lei n.
8.906, que determina a aplicação do regime trabalhista aos
Assim, são consideradas autarquias de regime especial o servidores da OAB. 10. Incabível a exigência de concurso
Banco Central do Brasil, as entidades encarregadas, por lei, dos público para admissão dos contratados sob o regime
serviços de fiscalização de profissões. Com a política trabalhista pela OAB. 11. Princípio da moralidade. Ética da
governamental de transferir para o setor privado a execução legalidade e moralidade. Confinamento do princípio da
de serviços públicos, reservando ao Estado a regulamentação, moralidade ao âmbito da ética da legalidade, que não pode ser
o controle e fiscalização desses serviços, houve a necessidade ultrapassada, sob pena de dissolução do próprio sistema.
de criar na administração agências especiais destinadas a esse Desvio de poder ou de finalidade. 12. Julgo improcedente o
fim. pedido”. (STF - ADI: 3026 DF, Relator: EROS GRAU, Data de
Julgamento: 08/06/2006, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
Havia discussão no mundo jurídico acerca do regime DJ 29-09-2006 PP-00031 EMENT VOL-02249-03 PP-00478)
jurídico da OAB, se seria autarquia de regime especial ou não.
No julgamento da ADIn 3026/DF o STF decidiu que “a OAB não AGÊNCIAS EXECUTIVAS
é uma entidade da Administração Indireta da União. A Ordem A qualificação de agências executivas se dá por meio de
é um serviço público independente, categoria ímpar no elenco requerimento dos órgãos e das entidades que prestam
das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro”. atividades exclusivas do Estado e se candidatam à qualificação.
Veja a íntegra do julgado: Aqui estão envolvidas a instituição e o Ministério responsável
pela sua supervisão.4
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. § 1º DO
ARTIGO 79 DA LEI N. 8.906, 2ª PARTE. "SERVIDORES" DA Segundo determina a lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998,
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. PRECEITO QUE artigos. 51 e 52 e parágrafos, o Poder Executivo poderá
POSSIBILITA A OPÇÃO PELO REGIME CELESTISTA. qualificar como Agência Executiva autarquias ou fundações
COMPENSAÇÃO PELA ESCOLHA DO REGIME JURÍDICO NO que tenham cumprido os requisitos de possuir plano
MOMENTO DA APOSENTADORIA. INDENIZAÇÃO. IMPOSIÇÃO estratégico de reestruturação e de desenvolvimento
DOS DITAMES INERENTES À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

3 http://www.portaleducacao.com.br/direito/artigos/27676/autarquias-de- 4 http://www.ambito-
regime-especial juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=661

Noções Básicas de Administração Pública 11


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institucional em andamento além da celebração de Contrato administração fiscal responsável a partir do que se encontra
de Gestão com o respectivo Ministério supervisor. positivado pela Lei Complementar 101 de 2000.

Os planos devem definir diretrizes, políticas e medidas Algo semelhante é o que se deu também com o art. 8º e
voltadas para a racionalização de estruturas e do quadro de parágrafo que delega competência para os Ministros
servidores, a revisão dos processos de trabalho, o supervisores e dirigentes máximos das Agências para a fixação
desenvolvimento dos recursos humanos e o fortalecimento da de limites específicos, aplicáveis às Agências Executivas, para
identidade institucional da Agência Executiva. a concessão de suprimento de fundos para atender a despesas
de pequeno vulto.
O Poder Executivo definirá também os critérios e
procedimentos para a elaboração e o acompanhamento dos As Agências Executivas poderão editar regulamento
Contratos de Gestão e dos programas de reestruturação e de próprio de valores de diárias no País e condições especiais
desenvolvimento institucional das Agências. para sua concessão. O que se busca é adequá-las às
necessidades específicas de todos os tipos de deslocamentos.
A qualificação como Agência Executiva deve ser dada por Todos os dados relativos a número, valor, classificação
meio de decreto do Presidente da República. funcional programática e de natureza da despesa,
correspondentes à nota de empenho ou de movimentação de
O Poder Executivo também estabelecerá medidas de créditos devem ser publicados no Diário Oficial da União em
organização administrativa específicas para as Agências atendimento ao princípio constitucional da publicidade.
Executivas, com o objetivo de assegurar a sua autonomia de
gestão, bem como as condições orçamentárias e financeiras As agências reguladoras foram criadas pelo Estado com a
para o cumprimento dos contratos de gestão. finalidade de tentar fiscalizar as atividades das iniciativas
privadas. Tratam-se de espécies do gênero autarquias,
O plano estratégico de reestruturação deve produzir possuem as mesmas características, exceto pelo fato de se
melhorias na gestão da instituição, com vistas à melhoria dos submeterem a um regime especial. Seu escopo principal é a
resultados, do atendimento aos seus clientes e usuários e da regulamentação, controle e fiscalização da execução dos
utilização dos recursos públicos. serviços públicos transferidos ao setor privado.
São criadas por meio de leis e tem natureza de autarquia
O contrato de gestão estabelecerá os objetivos estratégicos com regime jurídico especial, ou seja, é aquela que a lei
e as metas a serem alcançadas pela instituição em instituidora confere privilégios específicos e maior autonomia
determinado período de tempo, além dos indicadores que em comparação com autarquias comuns, sem de forma alguma
medirão seu desempenho na realização de suas metas infringir preceitos constitucionais.
contratuais, condições de execução, gestão de recursos
humanos, de orçamento e de compras e contratos. Uma das principais características das Agências
Reguladoras é a sua relativa autonomia e independência. As
A autonomia concedida estará subordinada à assinatura do agências sujeitam-se ao processo administrativo (Lei
Contrato de Gestão com o Ministério supervisor, no qual serão 9.784/99, na esfera federal, além dos próprios dispositivos das
firmados, de comum acordo, compromissos de resultados. leis especificas).
Caso ocorra lesão ou ameaça de lesão de direito, a empresa
Organização administrativa das Agências Executivas. concessionária poderá ir ao Judiciário. Sua função é regular a
prestação de serviços públicos, organizar e fiscalizar esses
As Agências Executivas serão objeto de medidas serviços a serem prestados por concessionárias ou
específicas de organização administrativa. Os objetivos são, permissionárias.
basicamente, aumento de eficiência na utilização dos recursos
públicos, melhoria do desempenho e da qualidade dos serviços FUNDAÇÕES PÚBLICAS
prestados, maior autonomia de administração orçamentária, Fundação é uma pessoa jurídica composta por um
financeira, operacional e de recursos humanos além de patrimônio personalizado, destacado pelo seu instituidor para
eliminar fatores restritivos à sua atuação como instituição. atingir uma finalidade específica. As fundações poderão ser
tanto de direito público quanto de direito privado.
Os dirigentes máximos das Agências Executivas também As fundações que integram a Administração indireta,
poderão autorizar os afastamentos do País de servidores civis quando forem dotadas de personalidade de direito público,
das respectivas entidades. serão regidas integralmente por regras de Direito Público.
Quando forem dotadas de personalidade de direito privado,
As Agências Executivas também poderão editar serão regidas por regras de direito público e direito privado.
regulamentos próprios de avaliação de desempenho dos seus O patrimônio da fundação pública é destacado pela
servidores. Estes serão previamente aprovados pelo seu Administração direta, que é o instituidor para definir a
Ministério supervisor e, provavelmente, pelo substituto finalidade pública. Como exemplo de fundações, temos: IBGE
Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado nos (Instituto Brasileiro Geográfico Estatístico); Universidade de
governos posteriores à sua extinção. Brasília; FEBEM; FUNAI; Fundação Memorial da América
Latina; Fundação Padre Anchieta (TV Cultura).
De acordo com o que se viu a partir da Emenda As fundações são dotadas dos mesmos privilégios que a
Constitucional nº 19 de 1998, os resultados da avaliação Administração direta, tanto na área tributária (ex.: imunidade
poderão ser levados em conta para efeito de progressão prevista no art. 150 da CF/88), quanto na área processual (ex.:
funcional dos servidores das Agências Executivas. prazo em dobro).
As fundações respondem pelas obrigações contraídas
O art. 7º do Decreto subordina a execução orçamentária e junto a terceiros. A responsabilidade da Administração é de
financeira das Agências Executivas aos termos do contrato de caráter subsidiário, independente de sua personalidade.
gestão e isenta a mesma dos limites nos seus valores para
movimentação, empenho e pagamento. Esta determinação não
se coaduna, entretanto, com o pensamento reinante de

Noções Básicas de Administração Pública 12


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EMPRESAS PÚBLICAS Os Conselhos Profissionais têm o poder de deslocar a


Empresas públicas são pessoas jurídicas de Direito competência para a justiça federal (art. 109, I, CF). Veja o que
Privado, criadas para a prestação de serviços públicos ou para dispõe a súmula 66 do STJ: "Compete à justiça Federal
a exploração de atividades econômicas que contam com processar e julgar execução fiscal promovida por Conselho de
capital exclusivamente público e são constituídas por qualquer fiscalização profissional".
modalidade empresarial. Se a empresa pública é prestadora de
serviços públicos, por consequência está submetida a regime As anuidades cobradas pelas entidades ostentam a
jurídico público. Se a empresa pública é exploradora de qualidade de tributos federais, devendo portanto obediência
atividade econômica, estará submetida a regime jurídico igual ao princípio da legalidade, não se admitindo a criação sem
ao da iniciativa privada. previsão de lei.
Eles gozam de parafiscalidade, ou seja, a eles é transferida
Quanto à responsabilidade das empresas públicas, temos a capacidade tributária.
que: Os servidores dos Conselhos Profissionais se submetem as
- Empresas públicas exploradoras de atividade econômica: A regras da Lei nº 8.112/90
responsabilidade do Estado não existe, pois, se essas empresas
públicas contassem com alguém que respondesse por suas ENTIDADES PARA ESTATAIS E O TERCEIRO SETOR
obrigações, elas estariam em vantagem sobre as empresas As Entidades Paraestatais possuem conceituação bastante
privadas. Só respondem na forma do § 6.º do art. 37 da CF/88 confusa, os doutrinadores entram, em diversas matérias, em
as empresas privadas prestadoras de serviço público, logo, se contradição uns com os outros.
a empresa pública exerce atividade econômica, será ela a Celso Antônio Bandeira de Mello acredita que as
responsável pelos prejuízos causados a terceiros (art. 15 do sociedades de economia mista e as empresas públicas não são
CC); paraestatais; sendo acompanhado por Marçal Justen Filho que
- Empresas públicas prestadoras de serviço público: Como o acredita serem apenas entidades paraestatais os serviços
regime não é o da livre concorrência, elas respondem pelas sociais autônomos.
suas obrigações e a Administração Direta responde de forma Diferentemente do que eles acreditam, Hely Lopes
subsidiária. A responsabilidade será objetiva, nos termos do Meirelles defende que as empresas públicas e as sociedades de
art. 37, § 6.º, da CF/88. economia mista são paraestatais, juntamente com os serviços
Empresas públicas exploradoras de atividade econômica: sociais autônomos. Hely Lopes Meirelles diz que as entidades
Submetem-se a regime falimentar, fundamentando-se no paraestatais podem ser lucrativas por serem empresariais. Já
princípio da livre concorrência. Ana Patrícia Aguiar, Celso Antônio Bandeira de Mello e Marçal
Empresas públicas prestadoras de serviço público: não se Justen Filho discordam dizendo que elas não devem ser
submetem a regime falimentar, visto não estão em regime de lucrativas.
concorrência. As entidades paraestatais são fomentadas pelo Estado
através de contrato social, quando são de interesse coletivo.
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA Não se submetem ao Estado porque são autônomas
As sociedades de economia mista são pessoas jurídicas de financeiramente e administrativamente, porém, por terem
Direito Privado criadas para a prestação de serviços públicos relevância social e se tratar de capital público, integral ou
ou para a exploração de atividade econômica, contando com misto, sofrem fiscalização, para não fugirem dos seus fins.
capital misto e constituídas somente sob a forma empresarial Tem como objetivo a formação de instituições que
de S/A. As sociedades de economia mista são: contribuam com os interesses sociais através da realização de
- Pessoas jurídicas de Direito Privado. atividades, obras ou serviços.
- Exploradoras de atividade econômica ou prestadoras de Quanto às espécies de entidades paraestatais, elas variam
serviços públicos. de doutrinador para doutrinador. Hely Lopes Meirelles
- Empresas de capital misto. acredita que elas se dividem em empresas públicas,
- Constituídas sob forma empresarial de S/A. sociedades de economia mista e os serviços sociais
autônomos, diferente de Celso Antônio Bandeira de Mello, pois
As sociedades de economia mista integram a esse diz que as pessoas privadas exercem função típica (não
Administração Indireta e todas as pessoas que a integram exclusiva do Estado), como as de amparo aos hipossuficientes,
precisam de lei para autorizar sua criação, sendo que elas de assistência social, de formação profissional.
serão legalizadas por meio do registro de seus estatutos. Para Marçal Justen Filho elas são sinônimo de serviço
A lei, portanto, não cria, somente autoriza a criação das social autônomo, voltadas à satisfação de necessidades
sociedades de economia mista, ou seja, independentemente coletivas e supra individuais, relacionadas com questões
das atividades que desenvolvam, a lei somente autorizará a assistenciais e educacionais.
criação das sociedades de economia mista, (art. 37, XX, da Ana Patrícia Aguilar insere as organizações sociais na
CF/88). categoria de entidades paraestatais, por serem pessoas
A Sociedade de economia mista, quando explora atividade privadas que atuam em colaboração com o Estado,
econômica, submete-se ao mesmo regime jurídico das "desempenhando atividade não lucrativa e às quais o Poder
empresas privadas, inclusive as comerciais. Logo, a sociedade Público dispensa especial proteção", recebendo, para isso,
mista que explora atividade econômica submete-se ao regime dotação orçamentária por parte do Estado.
falimentar. Sociedade de economia mista prestadora de serviço As Entidades Paraestatais estão sujeitas a licitação,
público não se submete ao regime falimentar, visto que não seguindo a lei 8.666/93, para compras, obras, alienações e
está sob regime de livre concorrência. serviços em geral. Podendo também ter regulamentos
próprios para licitar, mas com observância da lei. Devendo ser
CONSELHOS PROFISSIONAIS: são entidades que se aprovados pela autoridade superior e obedecer ao princípio da
destinam a controlar e fiscalizar algumas profissões publicidade.
regulamentadas. Seus empregados estão sujeitos ao regime Celetista, CLT.
Prevalece o entendimento que possuem natureza jurídica Têm que ser contratados através de concurso público de
de autarquia, assim gozam de todos os privilégios e se acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego,
submetem as restrições impostas. ressalvadas as nomeações para cargo em comissão.

Noções Básicas de Administração Pública 13


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APOSTILAS OPÇÃO

A administração varia segundo a modalidade, civil ou ligarem-se à estrutura sindical e terem sua denominação
comercial, que a lei determinar. Seus dirigentes são iniciada com a letra “S” – SERVIÇO.
estabelecidos na forma da lei ou do estatuto. Podendo ser
unipessoal ou colegiada. Eles estão sujeitos a mandado de Integram o Sistema “S:” SESI, SESC, SENAC, SEST, SENAI,
segurança e ação popular. SENAR e SEBRAE.

TERCEIRO SETOR: O primeiro setor é o governo, que é Estas entidades visam ministrar assistência ou ensino a
responsável pelas questões sociais. O segundo setor é o algumas categorias sociais ou grupos profissionais, sem fins
privado, responsável pelas questões individuais. Com a lucrativos. São mantidas por dotações orçamentárias e até
falência do Estado, o setor privado começou a ajudar nas mesmo por contribuições parafiscais.
questões sociais, através das inúmeras instituições que
compõem o chamado terceiro setor. Ou seja, o terceiro setor Ainda que sejam oficializadas pelo Estado, não são partes
é constituído por organizações sem fins lucrativos e não integrantes da Administração direta ou indireta, porém
governamentais, que tem como objetivo gerar serviços de trabalham ao lado do Estado, seja cooperando com os diversos
caráter público. setores as atividades e serviços que lhes são repassados.

Podemos caracterizar as entidades do terceiro setor como Organizações Sociais: Criada pela Lei n. 9.637/98,
entes particulares em colaboração, sem fins lucrativos, que organização social é uma qualificação especial outorgada pelo
atuam ao lado do Estado na prestação de serviços públicos não governo federal a entidades da iniciativa privada, sem fins
exclusivos, mas de cunho social. Por prestarem serviços lucrativos, cuja outorga autoriza a fruição de vantagens
públicos recebem incentivos do Poder Público, mediante a peculiares, como isenções fiscais, destinação de recursos
dotação orçamentária, cessão de bens públicos entre outros orçamentários, repasse de bens públicos, bem como
benefícios e, consequentemente, se submetem às restrições de empréstimo temporário de servidores governamentais. 5
controle impostas ao ente estatal.
As áreas de atuação das organizações sociais são ensino,
É importante ressaltar, que essas entidades se submetem pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e
aos princípios básicos da Administração Pública. preservação do meio ambiente, cultura e saúde.
Desempenham, portanto, atividades de interesse público, mas
Os principais personagens do terceiro setor são: que não se caracterizam como serviços públicos stricto sensu,
A) Fundações: São as instituições que financiam o terceiro razão pela qual é incorreto afirmar que as organizações sociais
setor, fazendo doações às entidades beneficentes. No Brasil, são concessionárias ou permissionárias.
temos também as fundações mistas que doam para terceiros e
ao mesmo tempo executam projetos próprios. Nos termos do art. 2º da Lei n. 9.637/98, a outorga da
B) Entidades Beneficentes: São as operadoras de fato, qualificação constitui decisão discricionária, pois, além da
cuidam dos carentes, idosos, meninos de rua, drogados e entidade preencher os requisitos exigidos na lei, o inciso II do
alcoólatras, órfãos e mães solteiras; protegem testemunhas; referido dispositivo condiciona a atribuição do título a “haver
ajudam a preservar o meio ambiente; educam jovens, velhos e aprovação, quanto à conveniência e oportunidade de sua
adultos; profissionalizam; doam sangue, merenda, livros, qualificação como organização social, do Ministro ou titular de
sopão; dão suporte aos desamparados; cuidam de filhos de órgão supervisor ou regulador da área de atividade
mães que trabalham; ensinam esportes; combatem a violência; correspondente ao seu objeto social e do Ministro de Estado
promovem os direitos humanos e a cidadania; cuidam de da Administração Federal e Reforma do Estado”. Assim, as
cegos, surdos-mudos; enfim, fazem tudo. entidades que preencherem os requisitos legais possuem
C) Fundos Comunitários: As empresas doam para o simples expectativa de direito à obtenção da qualificação,
Fundo Comunitário, sendo que os empresários avaliam, nunca direito adquirido.
estabelecem prioridades, e administram efetivamente a Evidentemente, o caráter discricionário dessa decisão,
distribuição do dinheiro. Um dos poucos fundos existentes no permitindo outorgar a qualificação a uma entidade e negar a
Brasil, com resultados comprovados, é a FEAC, de Campinas. outro que igualmente atendeu aos requisitos legais, viola o
D) Entidades Sem Fins Lucrativos: Infelizmente, muitas princípio da isonomia, devendo-se considerar inconstitucional
entidades sem fins lucrativos são, na realidade, lucrativas ou o art. 2º, II, da Lei n. 9.637/98.
atendem aos interesses dos próprios usuários. Um clube Na verdade, as organizações sociais representam uma
esportivo, por exemplo, é sem fins lucrativos, mas beneficia espécie de parceria entre a Administração e a iniciativa
somente os seus respectivos sócios. privada, exercendo atividades que, antes da Emenda 19/98,
E) ONGs Organizações Não Governamentais: Nem toda eram desempenhadas por entidades públicas. Por isso, seu
entidade beneficente ajuda prestando serviços a pessoas surgimento no Direito Brasileiro está relacionado com um
diretamente. Uma ONG que defenda os direitos da mulher, processo de privatização lato sensu realizado por meio da
fazendo pressão sobre nossos deputados, está ajudando abertura de atividades públicas à iniciativa privada.
indiretamente todas as mulheres.
O instrumento de formalização da parceria entre a
Serviços sociais autônomos: São pessoas jurídicas de Administração e a organização social é o contrato de gestão,
direito privado, criados por intermédio de autorização cuja aprovação deve ser submetida ao Ministro de Estado ou
legislativa. Tratam-se de entes paraestatais de cooperação outra autoridade supervisora da área de atuação da entidade.
com o Poder Público, possuindo administração e patrimônio O contrato de gestão discriminará as atribuições,
próprios. responsabilidades e obrigações do Poder Público e da
organização social, devendo obrigatoriamente observar os
Para ficar mais fácil de compreender, basta pensar no seguintes preceitos:
sistema “S”, cujo o qual resulta do fato destas entidades I – especificação do programa de trabalho proposto pela
organização social, a estipulação das metas a serem atingidas

5MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 4ª edição. Ed. Saraiva.


2014.

Noções Básicas de Administração Pública 14


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e os respectivos prazos de execução, bem como previsão A lei que regula as OSCIPs é a nº 9.790, de 23 março de
expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a 1999. Esta lei traz a possibilidade das pessoas jurídicas
serem utilizados, mediante indicadores de qualidade e (grupos de pessoas ou profissionais) de direito privado sem
produtividade; fins lucrativos serem qualificadas, pelo Poder Público, como
II – a estipulação dos limites e critérios para despesa com Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIPs
remuneração e vantagens de qualquer natureza a serem e poderem com ele relacionar-se por meio de parceria, desde
percebidas pelos dirigentes e empregados das organizações que os seus objetivos sociais e as normas estatutárias atendam
sociais, no exercício de suas funções; os requisitos da lei.
III – os Ministros de Estado ou autoridades supervisoras da Um grupo recebe a qualificação de OSCIP depois que o
área de atuação da entidade devem definir as demais cláusulas estatuto da instituição, que se pretende formar, tenha sido
dos contratos de gestão de que sejam signatários. analisado e aprovado pelo Ministério da Justiça. Para tanto, é
A fiscalização do contrato de gestão será exercida pelo necessário que o estatuto atenda a certos pré-requisitos que
órgão ou entidade supervisora da área de atuação estão descritos nos artigos 1º, 2º, 3º e 4º da Lei nº 9.790/1999.
correspondente à atividade fomentada, devendo a organização
social apresentar, ao término de cada exercício, relatório de Questões
cumprimento das metas fixadas no contrato de gestão.
01. (Prefeitura de Paraty – RJ - Procurador - RHS
Se descumpridas as metas previstas no contrato de gestão, Consult/2016) Com relação às autarquias, pode-se afirmar
o Poder Executivo poderá proceder à desqualificação da que:
entidade como organização social, desde que precedida de (A) Possuem personalidade física de direito público
processo administrativo com garantia de contraditório e externo.
ampla defesa. (B) São formas de centralização administrativa.
(C) São entes administrativos autônomos, criados por lei.
Por fim, convém relembrar que o art. 24, XXIV, da Lei n. (D) Agem por delegação.
8.666/93 prevê hipótese de dispensa de licitação para a (E) Subordinam-se hierarquicamente às entidades
celebração de contratos de prestação de serviços com a s estatais.
organizações sociais, qualificadas no âmbito das respectivas
esferas de governo, para atividades contempladas no contrato 02. (Prefeitura de Paraty – RJ - Procurador - RHS
de gestão. Excessivamente abrangente, o art. 24, XXIV, da Lei Consult/2016) Quanto às fundações instituídas pelo Poder
n. 8.666/93, tem a sua constitucionalidade questionada Público, pode-se afirmar que:
perante o Supremo Tribunal Federal na ADIn 1.923/98. (A) Perdem a sua personalidade privada ao se estatizarem.
Recentemente, foi indeferida a medida cautelar que suspendia (B) Não se destinam a realizar atividades de interesse
a eficácia da norma, de modo que o dispositivo voltou a ser público.
aplicável. (C) Configuram-se como entes de cooperação, do gênero
paraestatal.
Entidades de Apoio: As entidades de apoio fazem parte do (D) Prescindem de autorização legislativa para serem
Terceiro Setor e são pessoas jurídicas de direito privado, instituídas.
criados por servidores públicos para a prestação de serviços (E) Desfrutam de prerrogativas estatais, administrativas e
sociais não exclusivos do Estado, possuindo vínculo jurídico tributárias.
com a Administração direta e indireta.
03. (TCM-RJ - Técnico de Controle Externo –
Atualmente são prestadas no Brasil através dos serviços de IBFC/2016) Autarquia, no Direito Administrativo brasileiro,
limpeza, conservação, concursos vestibulares, assistência indica um caso especial de descentralização por serviços.
técnica de equipamentos, administração em restaurantes e Trata-se de ente da administração indireta que, entre outras
hospitais universitários. características:
(A) possui personalidade jurídica de direito privado
O bom motivo da criação das entidades de apoio é a (B) adquire personalidade jurídica com o registro civil
eficiência na utilização desses entes. Através delas, convênios (C) realiza atividades típicas da Administração Pública
são firmados com a Administração Pública, de modo muito (D) desempenha atividade econômica em sentido estrito
semelhante com a celebração de um contrato
04. (SES-PR - Técnico Administrativo – IBFC/2016)
Organização da sociedade civil de interesse público: Leia a afirmação a seguir e assinale a alternativa que preenche
OSCIP é um título fornecido pelo Ministério da Justiça do corretamente a lacuna. _____________é a Entidade integrante da
Brasil, cuja finalidade é facilitar o aparecimento de parcerias e Administração Pública indireta, criada pelo próprio governo,
convênios com todos os níveis de governo e órgãos públicos através de uma Lei Específica para exercer uma função típica,
(federal, estadual e municipal) e permite que doações exclusiva do Estado.
realizadas por empresas possam ser descontadas no imposto (A) Empresa pública.
de renda. OSCIPs são ONGs criadas por iniciativa privada, que (B) Sociedade de economia mista.
obtêm um certificado emitido pelo poder público federal ao (C) Fundações Públicas.
comprovar o cumprimento de certos requisitos, especialmente (D) Autarquias.
aqueles derivados de normas de transparência
administrativas. Em contrapartida, podem celebrar com o 05. (PC-PA - Escrivão de Polícia Civil – FUNCAB/2016)
poder público os chamados termos de parceria, que são uma “Por mais impopular que seja uma decisão, embasada por
alternativa interessante aos convênios para ter maior estudo técnico dos seus servidores, os dirigentes não poderão
agilidade e razoabilidade em prestar contas. ser exonerados à vontade do Chefe do executivo” (PINHEIRO
Uma ONG (Organização Não-Governamental), MADEIRA, José Maria. Administração Pública, Freitas Bastos,
essencialmente é uma OSCIP, no sentido representativo da 12ª. Ed., 2014, p. 929).
sociedade, OSCIP é uma qualificação dada pelo Ministério da
Justiça no Brasil.

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APOSTILAS OPÇÃO

Em relação às entidades que integram a Administração 10. (TRE-SP - Analista Judiciário - Área Administrativa
Pública Indireta, nessa citação acima, é correto afirmar que há – FCC/2017) A Administração pública, quando se organiza de
referência à(ao): forma descentralizada, contempla a criação de pessoas
(A) órgão autônomo. jurídicas, com competências próprias, que desempenham
(B) empresa pública. funções originariamente de atribuição da Administração
(C) sociedade de economia mista. direta. Essas pessoas jurídicas,
(D) fundação. (A) quando constituídas sob a forma de autarquias, podem
(E) agência reguladora. ter natureza jurídica de direito público ou privado, podendo
prestar serviços públicos com os mesmos poderes e
06. (SJC-SC - Agente de Segurança Socioeducativo – prerrogativas que a Administração direta.
FEPESE/2016) Assinale a alternativa correta sobre a (B) podem ter natureza jurídica de direito privado ou
autarquia público, mas não estão habilitadas a desempenhar os poderes
(A) A sua criação constitui um exemplo de típicos da Administração direta.
desconcentração de serviço público. (C) desempenham todos os poderes atribuídos à
(B) Possui personalidade, patrimônio e receita próprios, Administração direta, à exceção do poder de polícia, em
para executar atividades típicas da Administração Pública. qualquer de suas vertentes, privativo da Administração direta,
(C) Quando revestida sob a forma de uma Secretaria por envolver limitação de direitos individuais.
estadual, não terá personalidade jurídica própria. (D) quando constituídas sob a forma de autarquias,
(D) Somente poderá ser constituída para a execução de fins possuem natureza jurídica de direito público, podendo exercer
religiosos, morais, culturais ou de assistência. poder de polícia na forma e limites que lhe tiverem sido
(E) Ao adquirir personalidade jurídica de direito privado, atribuídos pela lei de criação.
passa a integrar a administração indireta do ente que a criou. (E) terão natureza jurídica de direito privado quando se
tratar de empresas estatais, mas seus bens estão sujeitos a
07. (TCE-PR - Analista de Controle – Contábil – regime jurídico de direito público, o que também se aplica no
CESPE/2016) Assinale a opção correta, a respeito das que concerne aos poderes da Administração, que
autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista desempenham integralmente, especialmente poder de polícia.
e empresas públicas.
(A) A extinção das empresas públicas e das sociedades de 11. (TRE-SP - Analista Judiciário - Área Judiciária –
economia mista somente pode ocorrer por meio de lei FCC/2017) A figura do contrato de gestão está prevista no
autorizadora. ordenamento para disciplinar diferentes relações jurídicas,
(B) Poderá o Estado instituir fundações públicas quando entre as quais figuram:
pretender intervir no domínio econômico. I. a fixação de metas de desempenho visando à ampliação
(C) Cabe às autarquias a execução de serviços públicos de da autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos
natureza social, de atividades administrativas e de atividades e entidades da Administração direta e indireta.
de cunho econômico e mercantil. II. a disciplina para permissão de serviço público em
(D) As empresas públicas, as sociedades de economia caráter precário, não passível de concessão.
mista e as autarquias têm personalidade jurídica de direito III. o estabelecimento de indicadores de desempenho para
privado. fins de participação nos lucros ou resultados de empregados
(E) Tanto as sociedades de economia mista quanto as públicos submetidos ao regime celetista.
empresas públicas devem ter a forma de sociedades anônimas. Está correto o que consta APENAS em
(A) II.
08. (SEGEP-MA - Auditor Fiscal da Receita Estadual - (B) I e II.
Administração Tributária – FCC/2016) As autarquias (C) I.
devem ser criadas por (D) I e III.
(A) lei e com personalidade jurídica de direito público. (E) II e III.
(B) decreto pelo Ministério ou Secretaria ao qual estejam
vinculadas e podem ter personalidade jurídica de direito 12. (EBSERH - Advogado (HUJB – UFCG) – INSTITUTO
privado ou de direito público. AOCP/2017) A administração pública poderá distribuir suas
(C) decreto quando tiverem personalidade jurídica de competências administrativas a pessoas jurídicas autônomas,
direito privado; e lei quando tiverem personalidade jurídica de para fins de garantir o cumprimento de suas obrigações
direito público. constitucionais. A tal ato dá-se o nome de
(D) lei e sua personalidade jurídica pode ser definida via (A) Imposição.
decreto. (B) Delegação.
(E) lei e podem atuar no mercado financeiro, uma vez que (C) Desconcentração.
podem ter personalidade jurídica de direito privado. (D) Outorga.
(E) Descentralização.
09. (SEGEP-MA - Auditor Fiscal da Receita Estadual -
Administração Tributária – FCC/2016) São exemplos de 13. (SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargos 1, 3 a 26 –
empresa pública e sociedade de economia mista, CESPE/2017) A respeito dos princípios da administração
respectivamente: pública e da organização administrativa, julgue o item a seguir.
(A) Banco do Brasil S.A. e Caixa Econômica Federal. Uma autarquia é entidade administrativa personalizada
(B) Agência Nacional de Energia Elétrica e Empresa distinta do ente federado que a criou e se sujeita a regime
Brasileira de Correios e Telégrafos. jurídico de direito público no que diz respeito a sua criação e
(C) Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e Caixa extinção, bem como aos seus poderes, prerrogativas e
Econômica Federal. restrições.
(D) Companhia Nacional de Abastecimento e Banco do ( ) Certo
Brasil S.A. ( ) Errado
(E) Banco do Brasil S.A. e Companhia Nacional de
Abastecimento.

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14. (SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargos 1, 3 a 26 – A respeito da situação hipotética apresentada e de


CESPE/2017) A respeito dos princípios da administração aspectos legais e doutrinários a ela relacionados, julgue o item
pública e da organização administrativa, julgue o item a seguir. a seguir.
Embora sejam entidades dotadas de personalidade A criação de um órgão denominado setor de aquisições na
jurídica de direito privado, as empresas públicas, como regra citada prefeitura constitui exemplo de desconcentração.
geral, estão obrigadas a licitar antes de celebrar contratos ( ) Certo
destinados à prestação de serviços por terceiros. ( ) Errado
( ) Certo
( ) Errado Respostas

15. (SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargos 1, 3 a 26 – 01. C. / 02. C. / 03. C. / 04. D.


CESPE/2017) João, servidor público ocupante do cargo de 05. E. / 06. B. / 07. A. / 08. A. / 09. D.
motorista de determinada autarquia do DF, estava conduzindo 10. D / 11. C / 12. E / 13. Certo / 14. Certo
o veículo oficial durante o expediente quando avistou sua 15. Certo / 16. Errado / 17. Errado / 18. Certo
esposa no carro de um homem. Imediatamente, João
dolosamente acelerou em direção ao veículo do homem,
provocando uma batida e, por consequência, dano aos 4. Agentes públicos: espécies e
veículos. O homem, então, ingressou com ação judicial contra
a autarquia requerendo a reparação dos danos materiais
classificação, poderes, deveres e
sofridos. A autarquia instaurou procedimento administrativo prerrogativas do cargo, emprego
disciplinar contra João para apurar suposta violação de dever e função públicos.
funcional.

No que se refere à situação hipotética apresentada, julgue


AGENTES PÚBLICOS
o item a seguir.
João é servidor de entidade integrante da administração
Agente é expressão que engloba todas as pessoas lotadas
indireta.
na Administração. Agente público é denominação genérica que
( ) Certo
designa aqueles que servem ao Poder Público. Esses
( ) Errado
servidores subdividem-se em:
1. Agentes políticos;
16. (SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargos 1, 3 a 26 –
2. Servidores públicos;
CESPE/2017) Em relação aos princípios da administração
3. Particulares em colaboração com o estado.
pública e à organização administrativa, julgue o item que se
segue.
Os servidores públicos, por sua vez, são classificados em:
Por terem personalidade jurídica de direito privado, as
1. Funcionário público; titularizam cargo e, portanto, estão
sociedades de economia mista não se subordinam
submetidos ao regime estatutário.
hierarquicamente ao ente político que as criou. Exatamente
2. Empregado público; titularizam emprego, sujeitos ao
por isso elas não sofrem controle pelos tribunais de contas.
regime celetista. Ambos exigem concurso.
( ) Certo
3. Contratados em caráter temporário; para determinado
( ) Errado
tempo, dispensa concurso público e cabe nas hipóteses de
excepcional interesse (art. 37, IX, da CF/88).
17. (SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargos 36 e 37 –
CESPE/2017) Em relação aos princípios da administração
Agentes políticos: definidos por Celso Antônio Bandeira
pública e à organização administrativa, julgue o item que se
de Melo, são os titulares dos cargos estruturais à organização
segue.
política do País, Presidente da República, Governadores,
Quando a União cria uma nova secretaria vinculada a um
Prefeitos e respectivos vices, os auxiliares imediatos dos
de seus ministérios para repassar a ela algumas de suas
chefes de Executivo, isto é, Ministros e Secretários das diversas
atribuições, o ente federal descentraliza uma atividade
pastas, bem como os Senadores, Deputados Federais e
administrativa a um ente personalizado.
Estaduais e os Vereadores.
( ) Certo
( ) Errado
Particulares em colaboração: são agentes públicos, mas
não integram a Administração e não perdem a característica
18. (SEDF - Analista de Gestão Educacional - Direito e
de particulares. Ex.: jurados, recrutados para o serviço militar,
Legislação – CESPE/2017) O prefeito de determinado
mesário de eleição.
município utilizou recursos do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Agentes de Fato: para que os atos que são praticados pelo
Profissionais da Educação (FUNDEB) para pagamento de
agente de fato sejam considerados válidos se faz mister sua
professores e para a compra de medicamentos e insumos
investidura no cargo. A validade dos atos decorre de exame
hospitalares destinados à assistência médico-odontológica das
caso a caso, visando assegurar a segurança jurídica e da boa-fé
crianças em idade escolar do município.
da população. Caso os atos praticados por agente público não
Mauro, chefe do setor de aquisições da prefeitura,
sejam de sua competência, os atos serão nulos.
propositalmente permitia que o estoque de medicamentos e
insumos hospitalares chegasse a zero para justificar situação
Agentes militares: são uma categoria à parte entre os
emergencial e dispensar indevidamente a licitação, adquirindo
agentes políticos, na medida em que as instituições militares
os produtos, a preços superfaturados, da empresa Y,
são organizadas com base na hierarquia e na disciplina.
pertencente a sua sobrinha, que desconhecia o esquema
fraudulento.
Assim, os militares abrangem as pessoas físicas que
prestam serviços às Forças Armadas - Marinha, Exército e
Aeronáutica (art. 142, caput, e § 3º, da Constituição) - e às
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares dos

Noções Básicas de Administração Pública 17


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Estados, Distrito Federal e dos Territórios (art. 42), com servidores públicos ainda não foi regulamentado por lei
vínculo estatutário sujeito a regime jurídico próprio, mediante específica. Com isso, o STF possibilitou que seja aplicada a lei
remuneração paga pelos cofres públicos. de greve da iniciativa privada (Lei nº 7.783/89) no setor
público.
Particulares em colaboração: São agentes públicos, mas
não integram a Administração e não perdem a característica A respeito da tão sonhada estabilidade no cargo público,
de particulares. São também conhecidos como agentes prevê a Constituição que esta virá após 3 anos no cargo efetivo
honoríficos, exercendo função pública. com a correspondente aprovação na avaliação e desempenho
por comissão instituída para essa finalidade. Contudo, pode
Essa categoria, de acordo com Celso Antônio Bandeira de ser que o servidor, mesmo estável, venha perder seu cargo nas
Mello é composta por: seguintes hipóteses: sentença judicial transitada em julgado,
processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla
a) requisitados de serviço: como mesários e convocados defesa, procedimento de avaliação periódica de desempenho,
para o serviço militar (conscritos); na forma da lei complementar, assegurada ampla defesa e em
b) gestores de negócios públicos: são particulares que razão de excesso de despesa. Caso a demissão do servidor seja
assumem espontaneamente uma tarefa pública, em situações invalidada por sentença judicial, ele será reintegrado ao cargo
emergenciais, quando o Estado não está presente para de origem (art. 41 e parágrafos da CF/88).
proteger o interesse público. Exemplo: socorrista de Quanto à acumulação de cargos públicos, a Constituição
parturiente; prevê que, em regra, não será permitida. Entretanto, poderão
c) contratados por locação civil de serviços: é o caso, por ser cumulados desde que haja compatibilidade de horário, dois
exemplo, de jurista famoso contratado para emitir um parecer; cargos de professor, um cargo de professor com outro de
d) concessionários e permissionários: exercem função técnico ou científico, dois cargos ou empregos privativos de
pública por delegação estatal; profissionais da saúde, com profissões regulamentas ou cargo
e) delegados de função ou ofício público: é o caso dos de provimento efetivo com cargo de vereador (art. 37, XVI,
titulares de cartórios. CF/88). Esta proibição estende-se a empregos e funções e
abrange as autarquias, fundações, empresas públicas,
Agentes públicos: são classificados da seguinte forma: sociedade de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades
- Agentes políticos: pessoas físicas que exercem controladas, direta ou indiretamente, pelo Poder Público (art.
determinada função (legislativa, executiva ou administrativa) 37, XVII, CF/88).
descrita na Constituição Federal. São exemplos: deputado Há outra vedação para os servidores públicos e também
federal, senador, governador de estado, procurador do para o militar (art. 42, CF/88) no tocante à percepção
trabalho, entre outros. simultânea de proventos de aposentadoria com a
- Agentes administrativos: são servidores sujeitos a uma remuneração de cargo, emprego ou função pública,
relação hierárquica com os agentes políticos, isto é, são os ressalvados, outrossim, os cargos acumuláveis, os cargos
servidores públicos propriamente ditos, os empregados eletivos e os cargos declarados em lei de livre nomeação e
públicos (e os servidores temporários exoneração (art. 37, XVI, CF/88).
- Agentes honoríficos: pessoas que desempenham
atividade administrativa em razão de sua honorabilidade CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICA
(honra). Ex: mesário da eleição ou jurado convocado para júri
- Agentes delegados: pessoas que recebem a incumbência O vocábulo, cargo, emprego e função pública está inserido
de executarem, por sua conta e risco, um serviço público ou em vários dispositivos da Constituição Federal. Para que sejam
uma atividade de interesse público compreendidos os diferentes significados é preciso ter em
- Agentes credenciados: pessoas que representam a mente que a Administração Pública possui competências
Administração Pública em um determinado evento ou definidas em lei e distribuídas em alguns níveis diversos:
atividade. pessoas jurídicas (União, Estados e Municípios), órgãos
(Ministérios, Secretarias e suas subdivisões) e servidores
Servidores públicos segundo a Constituição Federal de públicos, que ocupam cargos ou empregos, ou ainda que
1988: aspectos gerais exerçam função pública.

Para ingressar num cargo ou emprego público, é Cargo público: é aquele ocupado por servidor público;
necessário ser aprovado em concurso público de provas ou
provas e títulos, conforme disciplina o art. 37, II da CF/88. OBS: Função pública: é a atividade em si mesma, são as tarefas
não é necessário concurso para o ingresso a cargos em desenvolvidas pelos servidores. São espécies:
comissão (correspondem às atribuições de direção, chefia e a) Funções de confiança,
assessoramento – art. 37, V, CF; diferentemente, as funções de b) Funções exercidas por contratados por tempo
confiança são exercidas exclusivamente por servidores determinado.
ocupantes de cargo efetivo) declarados em lei de livre
nomeação e exoneração. Ademais, o certame poderá ter Emprego Público: é aquele ocupado por empregado
duração de até 2 anos, prorrogáveis, uma vez, por igual público que pode atuar em entidade privada ou pública da
período (art. 37, III, CF/88). Ainda sobre concurso público, diz Administração indireta.
a Constituição que “durante o prazo improrrogável previsto no
edital de convocação, aquele aprovado em concurso público de Acumulação de Cargos, Empregos e Funções Públicas:
provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade As hipóteses de acumulação constitucionalmente
sobre os novos concursados para assumir cargo ou emprego autorizadas são:
na carreira” (art. 37, IV, CF/88). a) a de dois cargos de professor (art. 37, XVI, a);
Além disso, vale lembrar que os cargos, empregos e b) a de um cargo de professor com outro técnico ou
funções públicas estendem-se não só a brasileiros, mas científico (art. 37, XVI, b);
também aos estrangeiros, na forma da lei (art. 37, I, CF/88). c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais
É importante salientar que apesar de prevista na de saúde, com profissões regulamentadas (art. 37, XVI, c);
Constituição (art. 37, VI e VII, CF/88) o direito de greve dos

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d) a de um cargo de vereador com outro cargo, emprego ou Formas de Provimento:


função pública (art. 38, III); a) nomeação;
e) a de um cargo de magistrado com outro no magistério b) promoção;
(art. 95, parágrafo único, I); c) readaptação;
f) a de um cargo de membro do Ministério Público com d) reversão;
outro no magistério (art. 128, § 5º, II, d). e) aproveitamento;
f) reintegração;
Servidores Públicos e Empregados Públicos: g) recondução.
O servidor público é o agente público que está investido em
cargo público, que é um conjunto de atribuições e a. Nomeação: é a forma de provimento originário, de
responsabilidades conferidas pela lei. O Empregado Público é modo que não depende de prévia relação jurídica com o
o agente público que tem vínculo contratual, ou seja, sua servidor do Estado, irá depender de habilitação em concurso
relação com a Administração Pública decorre de contrato de público de provas ou de provas e títulos, desde que obedecidos
trabalho. Possui então, vínculo de natureza contratual celetista a ordem que foi classificado e a validade do concurso.
(CLT). Assim, o Empregado Público é regido pela CLT e o
Servidor Público é regido por lei específica, no caso do b. Promoção: é a forma de provimento derivado, que só
servidor público federal, será regido pela Lei 8.112/90. vai favorecer aqueles servidores públicos que ocupem cargos
públicos em caráter efetivo. Para tanto, é necessário ser
Contratados em caráter temporário são servidores aprovado em concurso público e obedecer os demais
contratados por um período certo e determinado, por força de requisitos próprios de seu cargo.
uma situação de excepcional interesse público. Não são
nomeados em caráter efetivo, que tem como qualidade a c. Readaptação: trata-se de provimento derivado, que
definitividade – art. 37, inc. IX, da Constituição Federal. consiste na investidura do servidor em cargo de atribuições e
responsabilidades, que sejam compatíveis com a limitação que
Provimento: é o preenchimento do cargo público, com a tenha sofrido, tanto na sua capacidade física, quanto mental,
designação de seu titular. Pode ser: verificada em inspeção médica.
a) originário ou inicial Ex: motorista da ambulância da prefeitura, que após
b) derivado acidente, fica com debilidade nos movimentos da perna e é
readaptado para a função de auxiliar em outro setor.
Investidura é um ato complexo, exigindo, segundo Hely Caso o readaptando não consiga realizar seu serviço, em
Lopes Meirelles, a manifestação de vontade de mais de um virtude da limitação, ainda que colocado em outra função, ele
órgão administrativo – a nomeação é feita pelo Chefe do será considerado incapaz, e dessa maneira, aposentado.
Executivo; a posse e o exercício são dados pelo Chefe da
Repartição. d. Reversão: é uma espécie de provimento derivado
decorrente do retorno à atividade de servidor aposentado por
O art. 37, inc. I, da Constituição Federal dispõe que os invalidez, quando junta médica oficial declarar insubsistentes
brasileiros e estrangeiros que preencham os requisitos os motivos da aposentadoria; ou no interesse da
estabelecidos em lei terão acesso aos cargos, aos empregos e Administração, desde que: 6
às funções públicas. a) tenha solicitado a reversão;
O art. 37, inc. II, da Constituição Federal estabelece que b) a aposentadoria tenha sido voluntária;
para a investidura em cargo ou emprego público é necessário c) estável quando na atividade;
a aprovação prévia em concurso público de provas ou de d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos
provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade anteriores à solicitação;
do cargo ou emprego. e) haja cargo vago
A exigência de concurso é válida apenas para os cargos de
provimento efetivo – aqueles preenchidos em caráter e. Aproveitamento: é o retorno do servidor que se
permanente. encontra em disponibilidade, sendo que seu regresso é
Os cargos preenchidos em caráter temporário não obrigatório em cargo de atribuições e vencimentos, que seja
precisam ser precedidos de concurso, pois a situação compatível com os ocupados anteriormente.
excepcional e de temporariedade, que fundamenta sua Caso o servidor não entre em exercício no prazo legal, será
necessidade, é incompatível com a criação de um concurso tornado sem efeito o aproveitamento e cassada a sua
público. disponibilidade, exceto se a junta médica oficial comprovar
Para os cargos em comissão também não se exige concurso doença.
público (art.37, inc. V), desde que as atribuições não sejam de
direção, chefia e assessoramento. Esses devem ser f. Reintegração: trata-se da reinvestidura do servidor
preenchidos nas condições e nos percentuais mínimos estável no cargo anteriormente ocupado, ou ainda em cargo de
previstos em lei. sua transformação, se a sua demissão for invalidada por
Para as funções de confiança não se impõe o concurso decisão judicial ou administrativa, permitindo o ressarcimento
público, no entanto a mesma norma acima mencionada de todas as suas vantagens.
estabelece que tal função será exercida exclusivamente por
servidores ocupantes de cargo efetivo. Caso o cargo venha a ser extinto, o servidor deve ficar em
Durante o prazo do concurso, o aprovado não tem direito disponibilidade, podendo ser aproveitado em outro cargo,
adquirido à contratação. Há apenas uma expectativa de direito desde que respeitadas as regras sobre aproveitamento.
em relação a esta. Se o seu cargo estiver provido, o eventual ocupante será
O art. 37, inc. IV, apenas assegura ao aprovado o direito reconduzido ao cargo de origem, sem direito à indenização, ou
adquirido de não ser preterido por novos concursados. aproveitado em outro cargo, ou ainda, posto em
disponibilidade.

6 Mazza, Alexandre. Manual de Direito Administrativo, 4ª edição, 2014.

Noções Básicas de Administração Pública 19


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APOSTILAS OPÇÃO

g. Recondução: é o retorno do servidor estável ao cargo Vacância


anteriormente ocupado, que decorrerá de inabilitação em A vacância ocorrerá quando o cargo público se torna vago.
estágio probatório referente a outro cargo ou reintegração do A vacância pode decorrer de exoneração, demissão,
anterior ocupante. promoção, readaptação, aposentadoria, posse em outro cargo
Se estiver provido o cargo de origem, o servidor será inacumulável, falecimento ou recondução. Outras formas de
aproveitado em outro. Contudo, se o cargo for extinto durante vacância é a exoneração, demissão, aposentadoria e
o estágio probatório do servidor inexiste direito à recondução. falecimento. Vamos ver cada uma destas últimas.
a- exoneração ocorre quando o servidor deixa o cargo
Estabilidade e Estágio Probatório: público, pode ocorrer a pedido ou de ofício. Há rompimento de
vínculo funcional com o serviço público.
Atualmente o prazo mencionado de 3 anos (36 meses) de Atenção! ao contrário da demissão a exoneração não
efetivo exercício para o servidor público (de forma geral), possui caráter punitivo.
adquirir estabilidade é o que está previsto na Constituição
Federal, que foi alterado após a Emenda nº 19/98. Embora, a b- demissão é o desligamento forçado do servidor de cargo
Lei nº 8.112/90, no artigo 20 cite o prazo de 24 meses para que efetivo. Como já mencionado é uma penalidade disciplinar.
o servidor adquira estabilidade devemos considerar que o c- aposentadoria desde que cumpridos os requisitos
correto é o texto inserido na Constituição Federal. Como não constitucionais, o servidor será aposentado e no lugar da
houve uma revogação expressa de tais normas elas remuneração passa a receber subsídio.
permanecem nos textos legais, mesmo que na prática não são d- falecimento: com o falecimento do servidor, o cargo
aplicadas, pois ferem a CF (existe uma revogação tácita dessas passa a estar vago de pleno direito, isto é, a partir da
normas). Com isso, lá vai uma dica: tendo em vista que todos ocorrência do evento, independentemente de qualquer
os dispositivos mencionados estão em vigor, não foram manifestação formal da Administração, que deve apenas
revogados expressamente pela Emenda nº 19/98, se a prova declarar tal situação.
perguntar “de acordo com a lei 8112/90, assinale o prazo de
24 meses. Se for outro o enunciado, fique com 36 meses. DIREITOS, PODERES, DEVERES E PRERROGATIVAS
Particularmente, creio que esta questão sequer será pedida,
pois uma questão assim é pedir pra ser anulada, já que hoje o 1- Direitos.
entendimento jurisprudencial vem se estabilizando no sentido Segundo a lei nº 8.112/90 são direitos e vantagens do
de que, qualquer que seja o caso, o prazo de estabilidade é servidor público:
comum de 3 anos, conforme o art. 41, caput, CF. A justificativa? - Vencimento;
Eis um prazo previsto na Constituição Federal, nossa Lei - Indenizações;
Maior. - Gratificações;
- Diárias;
Vitaliciedade: Cargos vitalícios são aqueles que oferecem - Adicionais;
a maior garantia de permanência a seus ocupantes. Somente - Férias;
através de processo judicial, como regra, podem os titulares - Licenças;
perder seus cargos (art. 95, I, CF). Desse modo, torna-se - Concessões;
inviável a extinção do vínculo por exclusivo processo - Direito de petição.
administrativo (salvo no período inicial de dois anos até a
aquisição da prerrogativa). A vitaliciedade configura-se como Vamos analisar cada um desses direitos.
verdadeira prerrogativa para os titulares dos cargos dessa
natureza e se justifica pela circunstância de que é necessária a- vencimento: a retribuição pecuniária pelo exercício de
para tornar independente a atuação desses agentes, sem que cargo público, com valor fixado em lei. Já a remuneração é
sejam sujeitos a pressões eventuais impostas por composta pelo vencimento básico do servidor público,
determinados grupos de pessoas.7 acrescido de todas as vantagens pecuniárias permanentes do
Existem três cargos públicos vitalícios no Brasil: cargo.9
- Magistrados (Art. 95, I, CF);
- Membros do Ministério Público (Art. 128, § 5º, I, “a”, CF); É assegurada a isonomia de vencimentos para cargos de
- Membros dos Tribunais de Contas (Art. 73, §3º). atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, ou entre
Por se tratar de prerrogativa de sede constitucional, em servidores dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de
função da qual cabe ao Constituinte aferir a natureza do cargo caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de
e da função para atribuí-la, não podem Constituições Estaduais trabalho.
e Leis Orgânicas municipais, nem mesmo lei de qualquer
esfera, criar outros cargos com a garantia da vitaliciedade. A remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos e
Consequentemente, apenas Emenda à Constituição Federal funções públicas federais, assim como os proventos de
poderá fazê-lo.8 aposentadoria e pensões pagos pela União, suas autarquias ou
fundações públicas, incluídas as vantagens pessoais ou de
Vencimento e Remuneração qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio
mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal
Vencimento: é a retribuição pecuniária pelo exercício de Federal (STF), atualmente está em R$ 54.358,43.10
cargo público, com valor fixado em lei.
O servidor perderá a remuneração do dia em que faltar ao
Remuneração: é o vencimento do cargo efetivo, acrescido serviço, sem motivo justificado, bem como a parcela de
das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. remuneração diária, proporcional aos atrasos e saídas
antecipadas, ressalvadas as concessões previstas em lei.

7 Idem 10http://www.stf.jus.br/portal/remuneracao/listarRemuneracao.asp?periodo=
8 Ibidem 012016&ano=2016&mes=01&folha=1, acesso em maio/2017.
9 Matheus de Carvalho. Manual de Direito Administrativo. Juspodivm.

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APOSTILAS OPÇÃO

b- Vantagens: as vantagens abrange as gratificações, - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro;


indenizações e adicionais. São parcelas pecuniárias pagas - para o serviço militar;
juntamente com o vencimento do servidor. - para atividade política;
- para capacitação;
Muita atenção com as observações a seguir: - para tratar de interesses particulares;
- para desempenho de mandato classista.
As indenizações não se incorporam ao vencimento ou
provento para qualquer efeito. Já as gratificações e os Direito de Petição: é assegurado ao servidor o direito de
adicionais incorporam-se ao vencimento ou provento, nos requerer aos Poderes Públicos, em defesa de direito ou
casos e condições indicados em lei. interesse legítimo. Esse requerimento será dirigido à
As vantagens pecuniárias não serão computadas, nem autoridade competente para decidi-lo e encaminhado por
acumuladas, para efeito de concessão de quaisquer outros intermédio daquela a que estiver imediatamente subordinado
acréscimos pecuniários ulteriores, sob o mesmo título ou o requerente. O requerimento deve ser despachado no prazo
idêntico fundamento. de cinco dias e decidido dentro de 30 dias.

Constituem indenizações: O direito de requerer prescreve:


- ajuda de custa; - em cinco anos, quanto aos atos de demissão e de cassação
- diárias; de aposentadoria ou disponibilidade, ou aos que afetem
- transporte; e interesse patrimonial e créditos resultantes das relações de
- auxílio-moradia. trabalho;
- em 120 dias, nos demais casos, salvo quando outro prazo
Ajuda de custo serva para compensar as despesas do for fixado em lei.
servidor com instalação, mudança de domicílio. Ela é
concedida quando o servidor precisar mudar de domicílio, em 2- Deveres do Servidor Público
razão do interesse público. A ajuda de custo durará 3 meses. Os regimes jurídicos estabelecem alguns deveres aos
Se o servidor venha a falecer na nova sede, será assegurada servidores públicos, podendo citar como exemplo, o bom
à família ajuda de custo e transporte para a localidade de funcionamento das atividades. Os deveres funcionais são de
origem, dentro do prazo de um ano do óbito. duas espécies, de forma que podemos citar os deveres gerais,
O servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo que devem ser cumpridos por todos os servidores e os
quando, injustificadamente, não se apresentar na nova sede no especiais, que obrigam determinadas classes de servidores,
prazo de 30 dias. em razão de determinadas funções.

Diária será paga em caráter eventual ou transitório Os deveres administrativos do setor público e do setor
quando o servidor se afastar da sede do serviço. Custeará as privado são distintos, enquanto o primeiro é um compromisso
despesas com passagens e diárias destinadas a despesa com a coletividade, o privado não passa de uma mera
extraordinária. faculdade.

Transporte conceder-se-para o servidor que realizar Os deveres mais citados pela doutrina são:
despesas com a utilização de meio próprio de locomoção para
a execução de serviços externos, por força das atribuições a. Dever de Probidade: uma das mais importantes condutas
próprias do cargo, conforme se dispuser em regulamento. a ser praticada pelo administrador diz respeito a probidade.
Com efeito, além de estar consolidada na Lei, a conduta dos
O auxílio-moradia é o ressarcimento das despesas agentes públicos deve ser honesta, respeitando a noção de
realizadas pelo servidor com aluguel de moradia ou hotel, no moral administrativa e em seio social.
prazo de um mês após a comprovação da despesa. O auxílio- Tem força de status constitucional, conforme se vê no § 4º,
moradia não será concedido por prazo superior a oito anos art. 37 da Carta Magna, verbis:
dentro de cada período de doze anos.
Os atos de improbidade importarão a suspensão dos
Gratificações: direitos políticos, a perda da função pública, a
Além da remuneração e das indenizações, serão deferidos indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na
aos servidores as seguintes retribuições, gratificações e forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal
adicionais: cabível.
- retribuição de função de direção, chefia e
assessoramento; b. Dever de Eficiência: a atividade administrativa deve ser
- gratificação natalina; cada vez mais célere, não devendo se falar apenas em aumento
- adicional de atividades insalubres, perigosas ou penosas; quantitativo, mas também no aspecto qualitativo que é
- adicional de serviço extraordinário; desempenhado pelo profissional público. Quanto mais
- adicional noturno; eficiente for a atividade desenvolvida mais benéfico será para
- adicional de férias; e a coletividade.
- gratificação por encargo de curso ou concurso.
c. Dever de prestar contas: para que se torne público o que
O servidor fará jus a trinta dias de férias anuais, que podem vem sendo desenvolvido pela Administração Púbica, o
ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, no caso de administrador tem o dever de prestar contas de suas tarefas
necessidade do serviço, ressalvadas as hipóteses previstas em desenvolvidas para toda a coletividade.
legislação específica. As férias são consideradas como tempo A prestação de contas deve ser feita em todas as esferas,
de efetivo exercício para todos os efeitos. tanto as privadas quanto as públicas. Não há como não pensar
em “mexer, controlar dinheiro alheio” e não demonstrar como
Licenças está sendo prestado esse serviço.
O servidor terá direito às seguintes licenças:
- por motivo de doença em pessoa da família;

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APOSTILAS OPÇÃO

d. Poder-dever de agir: Segundo Hely Lopes Meirelles: A reprovação de Eduardo no estágio probatório, de acordo
“Se para o particular o poder de agir é uma faculdade, para com a lei, é hipótese de exoneração do cargo, e não de
o administrador público é uma obrigação de atuar, desde que demissão, como ocorreu na situação narrada.
se apresente o ensejo de exercitá-lo em benefício da ( ) Certo
comunidade. É que o Direito Público ajunta ao poder do ( ) Errado
administrador o dever de administrar”.
02. (IFF - Assistente de Administração – FCM/2016)
Conclui-se, portanto que o administrador não terá margem Ronaldo, servidor público federal, retira da repartição um
de escolhas sobre o dever de agir, caso se demonstre em documento pertencente ao patrimônio público a fim de
silêncio com os fatos ocorridos, será considerado agente realizar uma diligência inerente às suas atribuições
omisso e a obtenção do ato se dará por via judicial, por regra, profissionais. Diante dessa situação, a conduta de Ronaldo é
utiliza-se o mandado de segurança, caso ferir direito líquido e (A) permitida, desde que o servidor esteja legalmente
certo do interessado. autorizado.
(B) permitida, desde que o documento não seja sigiloso ou
Veja o que dispõe o art. 116 da Lei 8.112/90 que dispõe de relevante interesse público.
sobre o assunto: (C) vedada, uma vez que somente a autoridade superior da
repartição possui essa prerrogativa.
Art. 116. São deveres do servidor: (D) permitida, desde que essa seja uma prática
I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo; corriqueiramente executada pelos seus colegas de repartição.
II - ser leal às instituições a que servir; (E) vedada, uma vez que é proibido por lei, em caráter
III - observar as normas legais e regulamentares; absoluto, retirar da repartição pública qualquer documento,
IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando livro ou bem pertencente ao patrimônio público.
manifestamente ilegais;
V - atender com presteza: 03. (IFF - Assistente de Administração – FCM/2016) A
a) ao público em geral, prestando as informações vacância de um cargo público NÃO decorrerá de
requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; (A) reversão.
b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito (B) falecimento.
ou esclarecimento de situações de interesse pessoal; (C) exoneração.
c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública. (D) readaptação.
VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do (E) aposentadoria.
cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando
houver suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de 04. (ANVISA - Técnico Administrativo – CESPE/2016)
outra autoridade competente para apuração; José, servidor público estável de órgão do Poder Executivo
VII - zelar pela economia do material e a conservação do federal, durante o período de doze meses, faltou
patrimônio público; intencionalmente ao serviço por cinquenta dias consecutivos,
VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição; sem causa justificada. A administração pública, mediante
IX - manter conduta compatível com a moralidade procedimento disciplinar sumário, enquadrou a conduta de
administrativa; José como abandono de cargo.
X - ser assíduo e pontual ao serviço;
XI - tratar com urbanidade as pessoas; A respeito dessa situação hipotética, julgue o item que se
XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de segue.
poder. José somente poderia ser demitido por abandono de cargo
Parágrafo único. A representação de que trata o inciso XII caso tivesse se ausentado por mais de sessenta dias
será encaminhada pela via hierárquica e apreciada pela consecutivos.
autoridade superior àquela contra a qual é formulada, ( ) Certo
assegurando-se ao representando ampla defesa. ( ) Errado

3- Poderes: é um poder-dever de eficiência, de probidade 05. (ANVISA - Técnico Administrativo – CESPE/2016) O


e o de prestar contas etc. teto de um imóvel pertencente à União desabou em
decorrência de fortes chuvas, as quais levaram o poder público
4- Prerrogativas: são os direitos e vantagens dos a decretar estado de calamidade na região. Maria, servidora
servidores públicos, quais sejam: vencimento, indenizações, pública responsável por conduzir o processo licitatório para a
gratificações, diárias, adicionais, férias, licenças, concessões e contratação dos serviços de reparo pertinentes, diante da
direito de petição. situação de calamidade pública, decidiu contratar mediante
dispensa de licitação. Findo o processo de licitação, foi
Questões escolhida a Empresa Y, que apresentou preços superiores ao
preço de mercado, mas, reservadamente, prometeu, caso fosse
01. (FUB - Conhecimentos Básicos - Cargo 20 – contratada pela União, realizar, com generoso desconto, uma
CESPE/2016) Eduardo, servidor público em estágio grande reforma no banheiro da residência de Maria. Ao final,
probatório, frequentemente se ausentava de seu local de em razão da urgência, foi firmado contrato verbal entre a
trabalho sem justificativa e, quando voltava, se apresentava União e a Empresa Y e executados tanto os reparos
nitidamente embriagado. Em razão desses fatos, a comissão de contratados quanto a reforma prometida.
ética, tendo apreciado a conduta do servidor, decidiu aplicar a Com referência a essa situação hipotética, julgue o item
ele a penalidade de advertência. Eduardo foi, então, reprovado que se segue.
no estágio probatório e, por isso, foi demitido, sem que a
administração pública tenha observado o contraditório e a A autoridade que tiver ciência da conduta de Maria será
ampla defesa. obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante
Considerando essa situação hipotética, julgue o item a sindicância ou processo administrativo disciplinar.
seguir. ( ) Certo
( ) Errado

Noções Básicas de Administração Pública 22


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APOSTILAS OPÇÃO

06. (ANVISA - Técnico Administrativo – CESPE/2016) 10. (IF Farroupilha – RS - Docente -


João, após aprovação em concurso público, foi nomeado em Administração/Gestão de Pessoas – FCM/2016) A
2015 para integrar o quadro de uma entidade da investidura do servidor, em cargo de atribuições e de
administração indireta dotada de personalidade jurídica de responsabilidades compatíveis com a limitação, que tenha
direito privado. sofrido em sua capacidade física ou mental, verificada em
inspeção médica, é denominada de
Acerca dessa situação hipotética, julgue o item seguinte. (A) reversão.
Com a aprovação no referido concurso, João passará a (B) remoção.
ocupar cargo público efetivo regido pelo regime jurídico único (C) recondução.
dos servidores públicos civis. (D) substituição.
( ) Certo (E) readaptação.
( ) Errado
Respostas
07. (TRT - 20ª REGIÃO (SE) - Técnico Judiciário – 01. Certo. / 02. A. / 03. A. / 04. Errado. / 05. Certo.
Administrativa – FCC/2016) Considere 06. Errado. / 07. C. / 08. Errado. / 09. E. / 10. E.
I. Ministro de Estado.
II. Secretário Estadual.
III. Vereador.
IV. Prefeito 5. Poderes administrativos.
De acordo com a Constituição Federal, serão remunerados,
exclusivamente, por subsídio fixado em parcela única, vedado O Estado necessita de alguns poderes, pois sem eles, a
o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, Administração Pública não conseguiria fazer sobrepor a
prêmio, verba de representação ou outra espécie vontade da lei à individual.
remuneratória, obedecidas as normas constitucionais Dentre os poderes serão analisados o poder normativo,
pertinentes, os cargos indicados em disciplinar, discricionário, vinculado, hierárquico e o poder de
(A) II, III e IV, apenas. polícia.
(B) I, II e III, apenas.
(C) I, II, III e IV. São características dos poderes administrativos:
(D) I, III e IV, apenas. - obrigatoriedade.
(E) I e II, apenas. - irrenunciabilidade;
- limitação legal.
08. (PGE-AM - Procurador do Estado – CESPE/2016)
Um motorista alcoolizado abalroou por trás viatura da polícia ESPÉCIES DE PODERES
militar que estava regularmente estacionada. Do acidente
resultaram lesões em cidadão que estava retido dentro do Poder Vinculado: quando o poder é vinculado, o
compartimento traseiro do veículo. Esse cidadão então ajuizou administrador não tem possibilidade de exercer juízo de valor,
ação de indenização por danos materiais contra o Estado, ou seja, não tem campo de discricionariedade. Ocorre quando
alegando responsabilidade objetiva. O procurador a lei determinada que se atue de determinada forma, não
responsável pela contestação deixou de alegar culpa exclusiva dando escolha para o agente.
de terceiro e não solicitou denunciação da lide. O corregedor Ex: licença para construir. Se um cidadão cumpre com
determinou a apuração da responsabilidade do procurador, todos os requisitos legais, a licença deve ser concedida, assim
por entender que houve negligência na elaboração da defesa, a concessão da licença é ato vinculado, não cabendo ao agente
por acreditar que seria útil à defesa do poder público alegar público não concedê-la.
culpa exclusiva de terceiro na geração do acidente.
Poder Discricionário: contrariamente ao poder
Considerando essa situação hipotética, julgue o próximo vinculado, o poder discricionário é aquele em que o agente
item. público pode exercer juízo de valor, ou seja pode analisar a
O procurador poderá defender-se pessoalmente, conveniência e a oportunidade do ato a ser praticado. Embora
advogando em causa própria, se contra ele for instaurado haja esse grau de liberdade, o poder discricionário também é
processo administrativo disciplinar. Outras categorias de balizado pela lei, porque é a própria lei que confere esse poder
servidores, contudo, necessitariam contratar advogado, ao administrador público.
imprescindível para o exercício da ampla defesa no processo São exemplos de poder discricionário: a nomeação para
administrativo disciplinar. cargo em comissão, uma vez que o administrador irá nomear
( ) Certo aquele que é de sua confiança.
( ) Errado
Poder Hierárquico: a Administração Pública é
09. (IF Farroupilha – RS - Docente - hierarquizada, ou seja, existe um escalonamento de poderes
Administração/Gestão de Pessoas – FCM/2016) NÃO é entre as pessoas e órgãos. É pelo poder hierárquico que, por
dever do servidor público, exemplo, um servidor está obrigado a cumprir ordem
(A) guardar sigilo sobre assunto da repartição. emanada de seu superior. É também esse poder que autoriza a
(B) manter conduta compatível com a moralidade delegação, a avocação, etc.
administrativa.
(C) zelar pela economia do material e pela conservação do O direito positivo define as atribuições dos órgãos
patrimônio público. administrativos, cargos e funções, de forma que haja harmonia
(D) atender com presteza as requisições para a defesa da e unidade de direção.
Fazenda Pública. Percebam que o poder hierárquico vincula superior e
(E) cumprir as ordens superiores independentemente de subordinados dentro do quadro da Administração Pública.
sua legalidade, em virtude do respeito à hierarquia.

Noções Básicas de Administração Pública 23


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APOSTILAS OPÇÃO

Quando a organização administrativa corresponda a interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de
aumento de despesa será de competência do Presidente da fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à
República e quando acarretar aumento de despesa será higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do
matéria de lei de iniciativa do Presidente da República. mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade
Poder Disciplinar: para que a Administração possa pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais
organizar-se é necessário que haja a possibilidade de aplicar ou coletivos.
sanções aos agentes que agem de forma ilegal. A aplicação de Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder
sanções para o agente que infringiu norma de caráter de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos
funcional é exercício do poder disciplinar. Não se trata aqui de limites da lei aplicável, com observância do processo legal e,
sanções penais e sim de penalidades administrativas como tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária,
advertência, suspensão, demissão, entre outras. sem abuso ou desvio de poder.
Estão sujeitos às penalidades os agente públicos quando
praticarem infração funcional, que é aquela que se relaciona Deveres:
com a atividade desenvolvida pelo agente.
Dever de Agir – O administrador público tem o dever de
Poder Regulamentar ou Poder Normativo: é o poder agir, ele tem por obrigação exercitar esse poder em benefício
que tem os chefes do Poder Executivo de criar regulamentos, da comunidade. Esse poder é irrenunciável.
de dar ordens, de editar decretos. São normas internas da
Administração. Dever de Eficiência – Cabe ao agente público realizar suas
É o poder conferido aos Chefes do Executivo para editar atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional.
decretos e regulamentos com a finalidade de oferecer fiel
execução à lei. Temos como exemplo a disposição Dever de Probidade – A Administração poderá invalidar o
constitucional do art. 84, IV, CF/88. ato administrativo praticado com lesão aos bens e interesses
públicos. A probidade é elemento essencial na conduta do
O poder regulamentar enquadra-se em uma categoria mais agente público necessária à legitimidade do ato
ampla denominada poder normativo, que inclui todas as administrativo.
diversas categorias de atos gerais, tais como: regimentos,
instruções, deliberações, resoluções e portarias. O administrador ao desempenhar suas atividades deve
atuar em consonância com os princípios da moralidade e da
Poder de Polícia: é o poder conferido à Administração honestidade na administração pública. É um tipo de dever
para condicionar, restringir, frenar o exercício de direitos e pautado na ética e moral. Em contrapartida, a improbidade
atividades dos particulares em nome dos interesses da relaciona-se com o enriquecimento ilícito e prejuízo ao erário.
coletividade. Ex: fiscalização.
Dever de Prestar Contas – É dever de todo administrador
público prestar contas em decorrência da gestão de bens e
Quanto aos atributos do poder de polícia, é certo que interesses alheios, nesse caso, de bens e interesses coletivos.
busca-se garantir a sua execução e a prioridade do interesse
público. São eles: discricionariedade, autoexecutoriedade e Poder de polícia municipal
coercibilidade.
Conforme ensina Nelson Nery Costa, o poder de polícia
a- Discricionariedade: A Administração Pública goza de municipal deve ser entendido como o conjunto de
liberdade para estabelecer, de acordo com sua conveniência e intervenções administrativas, restringindo direitos e
oportunidade, quais serão os limites impostos ao exercício dos liberdades dos munícipes, em favor dos interesses da
direitos individuais e as sanções aplicáveis nesses casos. coletividade. Tal poder não se presta para suprimir a cidadania
Também confere a liberdade de fixar as condições para o local, mas reduzir os interesses individuais em prol da
exercício de determinado direito. coletividade.
No entanto, a partir do momento em que são fixados esses
limites com suas posteriores sanções, a Administração será O poder de polícia compete, privativamente, ao Município,
obrigada a cumpri-las, ficando dessa maneira com seus atos quando dispõe das matérias previstas nos incisos do art. 30 da
vinculados. Constituição Federal, em relação aos assuntos de interesse
Por exemplo: fixar o limite de velocidade para transitar nas local, organiza e presta os serviços locais, incluído o de
vias públicas. transporte coletivo, promove o adequado ordenamento
b- Autoexecutoriedade: Não é necessário que o Poder territorial, além de outras matérias que lhes são pertinentes,
Judiciário intervenha na atuação da Administração Pública. No bem como outras fixadas em Constituição Estadual. Já em
entanto, essa liberdade não é absoluta, pois compete ao Poder outras circunstâncias, tal poder compete concorrentemente
Judiciário o controle desse ato. com a União e com o Estado, nas competências previstas nos
Somente será permitida a autoexecutoriedade quando esta incisos do art. 23 do texto constitucional federal, como cuidar
for prevista em lei, além de seu uso para situações da saúde e assistência pública; proteger o meio ambiente e
emergenciais, em que será necessária a atuação da combater a poluição; promover programas de construção de
Administração Pública. moradias; fomentar a produção agropecuária e organizar o
c- Coercibilidade: Limita-se ao princípio da abastecimento alimentar, dentre outra.
proporcionalidade, na medida que for necessária será
permitido o uso da força par cumprimento dos atos. Uso e Abuso De Poder

O art. 78 do Código Tributário Nacional assim conceitua Sempre que a Administração extrapolar os limites dos
poder de polícia: poderes aqui expostos, estará cometendo uma ilegalidade. A
ilegalidade traduz o abuso de poder que, por sua vez, pode ser
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da punido judicialmente.
administração pública que, limitando ou disciplinando direito,

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APOSTILAS OPÇÃO

O abuso de poder pode gerar prejuízos a terceiros, caso em função jurisdicional penal. É exercida pela polícia civil ou
que a Administração será responsabilizada. Todos os Poderes militar, estadual ou federal.
Públicos estão obrigados a respeitar os princípios e as normas
constitucionais, qualquer lesão ou ameaça, outorga ao lesado O que ambas tem em comum?
a possibilidade do ingresso ao Poder Judiciário.
A responsabilidade do Estado se traduz numa obrigação, Simples: ambas exercem a função administrativa de
atribuída ao Poder Público, de compor os danos patrimoniais proteger o interesse da coletividade, para bem do domínio
causados a terceiros por seus agentes públicos tanto no público.
exercício das suas atribuições quanto agindo nessa qualidade.
Principais setores de atuação da polícia administrativa
Desvio de Poder
Como o poder de polícia é mais abrangente e contempla as
O desvio significa o afastamento, a mudança de direção da atividades do Legislativo e do Executivo, os meios de atuação
que fora anteriormente determinada. Este tipo de ato é da polícia administrativa se dão por:
praticado por autoridade competente, que no momento em
que pratica tal ato, distinto do que é visado pela norma legal - atos normativos em geral: o Estado cria limitações
de agir, acaba insurgindo no desvio de poder. administrativas, ao exercício dos direitos e das atividades
individuais, com a instituição de normas gerais e abstratas
Segundo Cretella Júnior: dirigidas indistintamente às pessoas que estejam em idêntica
situação; disciplinando a aplicação da lei aos casos concretos,
“o fim de todo ato administrativo, discricionário ou não, é pode o Executivo baixar decretos, resoluções, portarias,
o interesse público. O fim do ato administrativo é assegurar a instruções;
ordem da Administração, que restaria anarquizada e
comprometida se o fim fosse privado ou particular “ - Atos administrativos e operações materiais de aplicação
da lei ao caso concreto, que envolvam as medidas preventivas
Não ser refere as situações que estejam eivadas de má-fé, (fiscalização, vistoria, ordem, notificação, autorização,
mas sim quando a intenção do agente encontra-se viciada, licença), com o intuito de adequar o comportamento
podendo existir desvio de poder, sem que exista má-fé. É a individual à lei, e medidas repressivas (dissolução de reunião,
junção da vontade de satisfação pessoal com inadequada interdição de atividade, apreensão de mercadorias
finalidade do ato que poderia ser praticado. deterioradas, internação de pessoa com doença contagiosa),
para que o infrator seja coagido a cumprir a lei.
Essa mudança de finalidade, de acordo com a doutrina,
pode ocorrer nas seguintes modalidades: Excesso de Poder: Ocorre quando o agente excede os
a. quando o agente busca uma finalidade alheia ao limites de sua competência. Como por exemplo quando a
interesse público; autoridade aplica uma demissão ao invés de aplicar uma
b. quando o agente público visa uma finalidade que, no suspensão.
entanto, não é o fim pré-determinado pela lei que enseja
validade ao ato administrativo e, por conseguinte, quando o Condições de validade:
agente busca uma finalidade, seja alheia ao interesse público
ou à categoria deste que o ato se revestiu, por meio de omissão. As condições gerais de validade do ato administrativo, bem
como as condições específicas deste ato, dizem respeito a
CICLO DE POLÍCIA competência, finalidade, forma e objeto, além destes também
acrescentamos a proporcionalidade da sanção e de legalidade
É voltado para a adoção ou unificação das funções dos meios empregados pela Administração. Os meios
judiciário-investigativa com a ostensivo-preventiva, que são utilizados não podem ser ilegais, devendo seus atos serem
realizados por polícia única. legítimos para terem validade, não só isso devem ser tomadas
O importante seria unificar as polícias civis e militares, atitudes humanas e compatíveis com a urgência e necessidade
levando a uma única atividade policial, com garantias na da medida adotada.
própria Constituição Federal.
Questões
No entanto, parte da doutrina cita que polícia é gênero, do
qual polícia civil e polícia militar são espécies, não podendo se 01. (ANVISA - Técnico Administrativo – CESPE/2016) O
unificar o que sempre permaneceu unido pelos mesmos teto de um imóvel pertencente à União desabou em
objetivos, ou seja, ambas existem e foram criadas para cuidar decorrência de fortes chuvas, as quais levaram o poder público
da segurança pública, onde o que precisa ser unificado é tão a decretar estado de calamidade na região. Maria, servidora
somente o comando ou a coordenação entre elas, certamente pública responsável por conduzir o processo licitatório para a
na figura do Secretário de Segurança Pública. contratação dos serviços de reparo pertinentes, diante da
situação de calamidade pública, decidiu contratar mediante
POLÍCIA JUDICIÁRIA E POLÍCIA ADMINISTRATIVA dispensa de licitação. Findo o processo de licitação, foi
escolhida a Empresa Y, que apresentou preços superiores ao
A polícia administrativa incide sobre bens, direitos e preço de mercado, mas, reservadamente, prometeu, caso fosse
atividades, visa o bem estar estar da sociedade. Tem a função contratada pela União, realizar, com generoso desconto, uma
de fiscalização, portanto. Podem ser citadas como exemplo a grande reforma no banheiro da residência de Maria. Ao final,
polícia sanitária, polícia de trânsito, polícia edilícia, entre em razão da urgência, foi firmado contrato verbal entre a
outras. União e a Empresa Y e executados tanto os reparos
contratados quanto a reforma prometida.
A polícia judiciária vai em busca do controle do crime,
portanto atua sobre as pessoas, individual e Com referência a essa situação hipotética, julgue o item
indiscriminadamente, com o fito de preparar a atuação da que se segue.

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Maria agiu com excesso de poder ao escolher a Empresa Y. 05. (FIOCRUZ - Assistente Técnico de Gestão em Saúde
( ) Certo – FIOCRUZ/2016) O poder conferido pela lei ao
( ) Errado administrador para que ele, nos atos discricionários, decida
sobre a oportunidade e conveniência de sua prática, é
02. (TRT - 20ª REGIÃO (SE) - Técnico Judiciário – denominado:
Administrativa – FCC/2016) Considere as seguintes (A) mérito administrativo.
assertivas concernentes ao poder disciplinar: (B) presunção de legitimidade.
I. A Administração pública, ao tomar conhecimento de (C) motivação.
infração praticada por servidor, deve instaurar o (D) auto-executoriedade.
procedimento adequado para sua apuração. (E) tipicidade.
II. A Administração pública pode levar em consideração, na
aplicação da pena, a natureza e a gravidade da infração e os 06. (TRE-SP - Técnico Judiciário – Área Administrativa
danos que dela provierem para o serviço público. – FCC/2017) Os servidores públicos estão sujeitos à
III. No procedimento administrativo destinado a apurar hierarquia no exercício de suas atividades funcionais.
eventual infração praticada por servidor, devem ser Considerando esse aspecto,
assegurados o contraditório e a ampla defesa com os meios e (A) o poder disciplinar a que estão sujeitos é decorrente
recursos a ela inerentes. dessa hierarquia, visto que guarda relação com o vínculo
IV. A falta grave é punível com a pena de suspensão e funcional existente e observa a estrutura organizacional da
caberá à Administração pública enquadrar ou não um caso Administração pública para identificação da autoridade
concreto em tal infração. competente para apuração e punição por infrações
O poder disciplinar, em algumas circunstâncias, é disciplinares.
considerado discricionário. Há discricionariedade APENAS (B) submetem-se ao poder de tutela da Administração, que
nos itens projeta efeitos internos, sobre órgãos e servidores, e externos,
(A) I e IV. atingindo relações jurídicas contratuais travadas com
(B) I e II. terceiros.
(C) I e III. (C) conclui-se que o poder hierárquico é premissa para o
(D) III e IV. poder disciplinar, ou seja, este somente tem lugar onde se
(E) II e IV. identificam relações jurídicas hierarquizadas, funcional ou
contratualmente, neste caso, em relação à prestação de
03. (Prefeitura de Paraty – RJ - Procurador - RHS serviços terceirizados.
Consult/2016) Sobre o poder discricionário, pode-se afirmar: (D) o poder hierárquico autoriza a edição de atos
(A) Possui o mesmo valor que o poder arbitrário, posto que normativos de caráter autônomo, com força de lei, no que se
se iguala à vinculada pela maior liberdade de ação que é refere à disciplina jurídica dos direitos e deveres dos
conferida ao administrador. servidores públicos.
(B) Relaciona-se à prática de atos administrativos com (E) somente o poder hierárquico e o poder disciplinar
liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e produzem efeitos internos na Administração pública, tendo
conteúdo. em vista que o poder de polícia e o poder regulamentar visam
(C) Não se justifica pela impossibilidade de o legislador à produção de efeitos na esfera jurídica de direito privado, não
catalogar na lei todos os atos que a prática administrativa podendo atingir a atuação de servidores públicos.
exige.
(D) Não se sujeita aos condicionamentos externo e interno, 07. (TRE-SP - Analista Judiciário - Área Judiciária –
ou seja, pelo ordenamento jurídico e pelas exigências do bem FCC/2017) Suponha que o Secretário de Transportes de
comum e da moralidade. determinado Estado tomou conhecimento, por intermédio de
(E) Tem por objetivo ordenar, coordenar, controlar e matéria jornalística, da existência de longas filas para
corrigir as atividades administrativas, no âmbito interno da carregamento dos cartões de utilização dos trens
Administração pública. administrados por uma sociedade de economia mista
vinculada àquela Pasta. Diante dos fatos apurados, decidiu
04. (PC-GO - Agente de Polícia Substituto – avocar, para área técnica da Secretaria, algumas atividades de
CESPE/2016) Com relação aos poderes administrativos e ao gerenciamento e logística desempenhadas por uma das
uso e abuso desses poderes, assinale a opção correta. Diretorias da referida empresa. Fundamentou sua decisão no
(A) O poder de polícia refere-se às relações jurídicas exercício dos poderes hierárquico e disciplinar. Considerando
especiais, decorrentes de vínculos jurídicos específicos a situação narrada,
existentes entre o Estado e o particular. (A) a atuação do Secretário justifica-se do ponto de vista da
(B) O poder disciplinar, mediante o qual a administração hierarquia, porém não sob aspecto disciplinar, eis que não
pública está autorizada a apurar e aplicar penalidades, alcança identificada infração administrativa.
tão somente os servidores que compõem o seu quadro de (B) a decisão baseia-se, legitimamente, apenas no poder
pessoal. disciplinar, que compreende o controle e a supervisão.
(C) A invalidação, por motivos de ilegalidade, de conduta (C) descabe a invocação dos poderes citados, sendo certo
abusiva praticada por administradores públicos ocorre no que a atuação da Secretaria deve se dar nos limites do poder
âmbito judicial, mas não na esfera administrativa. de tutela.
(D) Poder regulamentar é a competência atribuída às (D) a decisão somente será justificável, sob o fundamento
entidades administrativas para a edição de normas técnicas de de poder hierárquico, se constada a existência de desvio de
caráter normativo, executivo e judicante. conduta pelos administradores da empresa.
(E) Insere-se no âmbito do poder hierárquico a (E) a decisão extrapolou a competência disciplinar, que
prerrogativa que os agentes públicos possuem de rever os atos somente pode ser exercida para corrigir desvios na
praticados pelos subordinados para anulá-los, quando estes organização administrativa da entidade.
forem considerados ilegais, ou revogá-los por conveniência e
oportunidade, nos termos da legislação respectiva. 08. (PC-GO - Delegado de Polícia Substituto –
CESPE/2017) De acordo com a legislação e a doutrina
pertinentes, o poder de polícia administrativa

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(A) pode manifestar-se com a edição de atos normativos Os atos administrativos podem ser praticados pelo Estado
como decretos do chefe do Poder Executivo para a fiel ou por alguém que esteja em nome dele. Logo, pode-se concluir
regulamentação de leis. que os atos administrativos não são definidos pela condição da
(B) é poder de natureza vinculada, uma vez que o pessoa que os realiza. Tais atos são regidos pelo Direito
administrador não pode valorar a oportunidade e Público.
conveniência de sua prática, estabelecer o motivo e escolher
seu conteúdo. Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro (2000, p.175) “todo
(C) pode ser exercido por órgão que também exerça o ato praticado no exercício da função administrativa é ato da
poder de polícia judiciária. administração”. Assim, os atos da Administração são bem
(D) é de natureza preventiva, não se prestando o seu vastos e representam, por conseguinte, todos os atos
exercício, portanto, à esfera repressiva. praticados no exercício da função administrativa, e
(E) é poder administrativo que consiste na possibilidade comumente exteriorizam-se através de:
de a administração aplicar punições a agentes públicos que
cometam infrações funcionais. - Atos de direito privado;
- Atos materiais;
09. (PC-GO - Delegado de Polícia Substituto – - Atos políticos.
CESPE/2017) A respeito dos poderes e deveres da
administração, assinale a opção correta, considerando o Atos Administrativos que não são Atos da
disposto na CF. Administração: São todos os atos administrativos praticados
(A) A lei não pode criar instrumentos de fiscalização das em caráter atípico pelo Poder Legislativo ou pelo Poder
finanças públicas, pois tais instrumentos são taxativamente Judiciário.
listados na CF. Fato Administrativo
(B) A eficiência, um dever administrativo, não guarda Fato administrativo é toda realização material da
relação com a realização de supervisão ministerial dos atos Administração em cumprimento de alguma decisão
praticados por unidades da administração indireta. administrativa, tal como a construção de uma ponte, a
(C) O abuso de poder consiste em conduta ilegítima do instalação de um serviço público etc. […] O fato administrativo
agente público, caracterizada pela atuação fora dos objetivos resulta sempre do ato administrativo que o determina
explícitos ou implícitos estabelecidos pela lei. (MEIRELLES, 2007, p.153).
(D) A capacidade de inovar a ordem jurídica e criar
obrigações caracteriza o poder regulamentar da REQUISITOS
administração. São as condições necessárias para a existência válida do
(E) As consequências da condenação pela prática de ato de ato. Do ponto de vista da doutrina tradicional (e majoritária
improbidade administrativa incluem a perda dos direitos nos concursos públicos), os requisitos dos atos
políticos e a suspensão da função pública. administrativos são cinco:

10. (SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargos 1, 3 a 26 – Competência: o ato deve ser praticado por sujeito capaz,
CESPE/2017) No que se refere aos poderes administrativos, trata-se de requisito vinculado. Para que um ato seja válido
aos atos administrativos e ao controle da administração, julgue deve-se verificar se foi praticado por agente competente.
o item seguinte.
Objeto lícito: É o conteúdo ato, o resultado que se visa
A avocação se verifica quando o superior chama para si a receber com sua expedição. Todo e qualquer ato
competência de um órgão ou agente público que lhe seja administrativo tem por objeto a criação, modificação ou
subordinado. Esse movimento, que é excepcional e comprovação de situações jurídicas referentes a pessoas,
temporário, decorre do poder administrativo hierárquico. coisas ou atividades voltadas à ação da Administração Pública.
( ) Certo
( ) Errado Forma: é o requisito vinculado que envolve a maneira de
exteriorização e demais procedimentos prévios que forem
Respostas exigidos com a expedição do ato administrativo. Via de regra,
01. Errado / 02. E / 03. B / 04. E / 05. A os atos devem ser escritos, permitindo de maneira excepcional
06. A / 07. C / 08. C / 09. C / 10. Certo atos gestuais, verbais ou provindos de forças que não sejam
produzidas pelo homem, mas sim por máquinas, que são os
casos dos semáforos, por exemplo.
6. Atos administrativos:
Motivo: Este integra os requisitos dos atos
conceitos, requisitos, administrativos tendo em vista a defesa de interesses
atributos, classificação, coletivos. Por isso existe a teoria dos motivos determinantes;
espécies e invalidação.
Difere-se de motivação, pois este é a explicação por escrito
das razões que levaram à prática do ato.
ATO ADMINISTRATIVO
Finalidade: O ato administrativo somente visa a uma
finalidade, que é a pública; se o ato praticado não tiver essa
Ato administrativo é todo ato jurídico, referente a área do
finalidade, ocorrerá abuso de poder;
Direito Administrativo, apresentando portanto diferenças com
relação as demais categorias de atos, em decorrência de seu
ATRIBUTOS
regime peculiar.
São prerrogativas que existem por conta dos interesses
que a Administração representa, são as qualidades que
Trata-se de toda manifestação lícita e unilateral de vontade
permitem diferenciar os atos administrativos dos outros atos
da Administração ou de quem lhe faça às vezes, que agindo
jurídicos. São eles:
nesta qualidade tenha por fim imediato adquirir, transferir,
modificar ou extinguir direitos e obrigações.

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1. Presunção de Legitimidade: É a presunção de que os atos vinculado e o ato discricionário está no grau de liberdade
administrativos devem ser considerados válidos, até que se conferido ao administrador. Tanto o ato vinculado quanto o
demonstre o contrário, a bem da continuidade da prestação ato discricionário só poderão ser reapreciados pelo Judiciário
dos serviços públicos. no tocante à sua legalidade, pois o judiciário não poderá
intervir no juízo de valor e oportunidade da Administração
2. Imperatividade: É o poder que os atos administrativos Pública.
possuem de gerar unilateralmente obrigações aos
administrados, independente da concordância destes. O SILÊNCIO NO DIREITO ADMINISTRATIVO
O silêncio pode ser considerado como omissão, ausência
3. Exigibilidade ou Coercibilidade: É o poder que possuem de manifestação de vontade. Em alguns casos poderá a lei
os atos administrativos de serem exigidos quanto ao seu determinar a que a Administração Pública manifeste, de forma
cumprimento sob ameaça de sanção. obrigatória, sua vontade. Ao nos depararmos com esses casos
afirmamos que estaremos diante de um ato administrativo.
4. Autoexecutoriedade: É o poder pelo qual os atos
administrativos podem ser executados materialmente pela CLASSIFICAÇÃO
própria administração, independentemente da atuação do Quanto à formação: Os atos se dividem em simples,
Poder Judiciário. complexo e compostos.
Para a ocorrência da autoexecutoriedade é necessário a
presença dos seguintes requisitos: Quanto aos destinatários: gerais e individuais.
a) Quando a lei expressamente prever;
b) Quando estiver tacitamente prevista em lei (nesse caso Quanto à supremacia do poder público: Atos de império e
deverá haver a soma dos seguintes requisitos: Atos de expediente:
- situação de urgência; e
- inexistência de meio judicial idôneo capaz de, a tempo, Quanto à natureza do ato: - Atos-regra, Atos subjetivos, -
evitar a lesão. Atos-condição:

ELEMENTOS Quanto ao regramento: atos vinculados e discricionários


O elemento quer dizer a parte que compõe um todo, e desta
maneira é o que é externo ou antecedente ao ato, não pode ser Quanto aos efeitos: Constitutivo, Declaratório,
parte dele. Modificativo, Extintivo:
Desta maneira podemos considerar que elemento é o
conteúdo e a forma. Quanto à abrangência dos efeitos: Internos e externos.
Quanto à validade: válido, nulo, anulável e inexistente.
Conteúdo: é a disposição sobre a coisa, o objeto. Desta
maneira se distinguem entre si, não sendo iguais. Tem relação Quanto à exequibilidade: Perfeito, Imperfeito, Pendente,
com o que o ato dispõe, ou seja, o que o ato decide, opina, Consumado.
certifica, enuncia e altera na ordem jurídica.
Quanto à forma os atos administrativos podem ser
Forma: diz respeito à exteriorização do ato classificados em decreto, resolução e portaria, circular,
administrativo, do conteúdo e pode ter ou não previsão em lei. despacho, alvará.

EXISTÊNCIA (OU PERFEIÇÃO), VALIDADE E EFICÁCIA ESPÉCIES DE ATO ADMINISTRATIVO


O ato administrativo se torna perfeito quando completa Existem diversas classificações que trata das espécies dos
seu ciclo de formação. atos administrativos. Ainda considerando a simplicidade do
presente trabalho, trataremos apenas das principais espécies
É válido quando completa os requisitos exigidos pelo apresentadas pela doutrina.
ordenamento jurídico. Para facilitar o estudo, dividimos a análise do ato
Por fim, é eficaz quando está apto a produzir efeitos administrativo utilizando dois critérios distintos: o conteúdo e
jurídicos. a forma.

A existência ou perfeição é o primeiro plano lógico do ato Quanto ao conteúdo, os atos administrativos podem ser
administrativo. Nesse plano é necessário a verificação dos classificados em autorização, licença, admissão, permissão,
elementos e pressupostos que compõem seu ciclo de aprovação, homologação, parecer e visto.
formação. Após isso e, se presentes os requisitos, o ato passa a
ser válido. 1. Autorização: ato administrativo unilateral,
A eficácia é a aptidão do ato para produzir efeitos jurídicos. discricionário e precário pelo qual a Administração faculta ao
O destino natural do ato administrativo é ser praticado com a particular o uso de bem público (autorização de uso), ou a
finalidade de criar, declarar, modificar, preservar e extinguir prestação de serviço público (autorização de serviço público),
direitos e obrigações. ou o desempenho de atividade material, ou a prática de ato
que, sem esse consentimento, seriam legalmente proibidos
VINCULAÇÃO E DISCRICIONARIEDADE (autorização como ato de polícia).
No ato vinculado, o administrador não tem liberdade para
decidir quanto à atuação. A lei previamente estabelece um 2. Licença: é o ato administrativo unilateral e vinculado
único comportamento possível a ser tomado pelo pelo qual a Administração faculta àquele que preencha os
administrador no caso concreto; não podendo haver juízo de requisitos legais o exercício de uma atividade.
valores, o administrador não poderá analisar a conveniência e
a oportunidade do ato. 3. Admissão: é ato unilateral e vinculado pelo qual a
O ato discricionário é aquele que, editado sob o manto da Administração reconhece ao particular, que preencha os
lei, confere ao administrador a liberdade para fazer um juízo requisitos legais, o direito à prestação de um serviço público.
de conveniência e oportunidade. A diferença entre o ato

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4. Permissão: em sentido amplo, designa o ato O objetivo dos atos punitivos é punir e reprimir as
administrativo unilateral, discricionário, gratuito ou oneroso, infrações administrativas ou a conduta irregular dos
pelo qual a Administração Pública faculta a execução de servidores ou dos particulares perante a Administração.
serviço público ou a utilização privativa de bem público. O seu
objeto é a utilização privativa de bem público por particular ou Esses atos podem ser de atuação externa e interna.
a execução de serviço público. Internamente, cabe à administração punir disciplinarmente
seus servidores e corrigir os serviços defeituosos por meio de
5. Aprovação: é ato unilateral e discricionário pelo qual se sanções estatutárias. Externamente, incumbe-lhe de velar pela
exerce o controle a priori ou a posteriori do ato administrativo. correta observância das normas administrativas. Ex: multa,
No controle a priori, equivale à autorização para a prática do interdição de atividades e a destruição.
ato; no controle a posteriori equivale ao seu referendo. É ato
discricionário, porque o examina sob os aspectos de Multa administrativa é imposição pecuniária que tem o
conveniência e oportunidade para o interesse público; por isso objetivo de compensar o dano presumido. Possui natureza
mesmo, constitui condição de eficácia do ato. objetiva. Será devida independente da ocorrência de dolo ou
culpa do infrator.
6. Homologação: é o ato unilateral e vinculado pelo qual a
Administração Pública reconhece a legalidade de um ato Interdição administrativa de atividade é o ato pelo qual
jurídico. Ela se realiza sempre a posteriori e examina apenas o a Administração veda a alguém a prática de atos sujeitos ao seu
aspecto de legalidade, no que se distingue da aprovação. É o controle ou que incidam sobre seus bens, deve ser precedido
caso do ato da autoridade que homologa o procedimento da de processo regular e do respectivo auto, que possibilite
licitação. defesa do interessado.

7. Parecer: é o ato pelo qual os órgãos consultivos da Destruição de coisas é o ato sumário da Administração
Administração emitem opinião sobre assuntos técnicos ou pelo qual se inutilizam alimentos, substâncias, objetos ou
jurídicos de sua competência. O parecer pode ser facultativo, instrumentos imprestáveis ou nocivos ao consumo ou de uso
obrigatório e vinculante proibido por lei.

8. Visto: é o ato administrativo unilateral pelo qual a MÉRITO ADMINISTRATIVO.


autoridade competente atesta a legitimidade formal de outro O mérito administrativo tem relação com o motivo,
ato jurídico. Não significa concordância com o seu conteúdo, validade e objeto, não tratando-se de requisito para sua
razão pela qual é incluído entre os atos de conhecimento, que formação.
são meros atos administrativos e não encerram manifestações
de vontade. O mérito consubstancia-se na escolha do objeto e
valoração do ato feita pela Administração Pública, que possui
Quanto à forma, os atos administrativos podem ser poderes para decidir sobre a conveniência e oportunidade.
classificados em decreto, resolução e portaria, circular,
despacho, alvará. Compreendem o merecimento os atos administrativos
1. Decretos: São atos emanados pelos chefes do Poder relacionados com a competência exclusiva, por sua vez, os atos
Executivo, tais como, prefeitos, governadores e o Presidente vinculados não devem compreender o mérito, pois o Poder
da República. Podem ser dirigidos abstratamente às pessoas Executivo deverá obedecer os princípios e normas legais
em geral (decreto geral), ou a pessoas, ou a um grupo de pertinentes.
pessoas determinadas. (decreto individual).
MOTIVAÇÃO
2. Resoluções e Portarias: São atos emanados por É a exposição dos motivos, trata-se de demonstração por
autoridades superiores, mas não os chefes do Poder Executivo. escrito que os pressupostos existiram. A motivação
Ou seja, é a forma pelo qual as autoridades de nível inferior aos corresponde as formalidades do ato, está contida em parecer,
Chefes do Poder Executivo fixam normas gerais para laudo, relatório.
disciplinar conduta de seus subordinados.
Em alguns casos a motivação é obrigatória, como o caso de
3. Circular: É o instrumento usado para a transmissão de ato vinculado, tendo em vista que a Administração deve
ordens internas uniformes, incumbindo de certos serviços ou demonstrar que o ato está em conformidade com os motivos
atribuições a certos funcionários. apontados em lei, já para os casos de atos discricionários se faz
necessária a motivação, pois sem ela não haveria meios de
4. Despacho: Quando a administração, por meio de um conhecer e controlar a legitimidade dos motivos que
despacho, aprova parecer proferido por órgão técnico sobre ensejaram a Administração para a prática do ato.
determinado assunto de interesse geral, este despacho é
denominado de despacho normativo. Desta forma, reconhece-se que a motivação é necessária
tanto para os atos vinculados como para os atos
5. Alvará: é instrumento pelo qual a Administração se vale discricionários, já que configura garantia de legalidade.
para conferir ao administrado uma licença ou autorização. Ou
seja, é o formato pelo qual são emitidas as licenças e TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES
autorizações. Pensando na possibilidade do controle externo do ato
administrativo, realizado pelo Poder Legislativo e Poder
Atos Punitivos. Judiciário, a doutrina achou por bem criar a teoria dos motivos
São aqueles que contêm uma sanção em razão da violação determinantes, que interliga-se com a prática dos atos
de uma disposição legal, regulamentar ou ordinatória dos bens administrativos e os motivos que ensejaram sua criação.
e serviços públicos. Os motivos que determinam a prática do ato devem ser
verídicos e devem existir sob pena de invalidação do ato
administrativo. Devem ser praticados por agente competente,
respeitando as determinações legais.

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Exemplo: Exoneração de cargo em comissão por motivo de Prescrição: O instituto da prescrição, entendida como a
contenção de despesas com o pessoal. perda do direito de ação devido à inércia de seu titular,
também é reconhecido pela legislação pertinente ao Direito
VÍCIOS DO ATO ADMINISTRATIVO Administrativo.
Os vícios são variados, interligando-se de muitas maneiras, Como regra, o prazo para interposição de recursos
podendo muitas vezes prejudicar de maneira direta ou administrativos é de cinco dias.
indireta a coletividade. Já o prazo para propositura de ações judiciais, tanto pela
Administração quanto pelo administrado, em regra é de cinco
Espécies de vícios: anos. Importante destacar que as hipóteses de suspensão e
a) Vícios sanáveis: Sujeito e forma; interrupção do prazo prescricional previstas na legislação civil
b) Vícios insanáveis: Objeto, motivo e finalidade; também são aplicáveis às ações judiciais pertinentes ao Direito
Administrativo.
Vício de sujeito;
a) Excesso de poder (quando o agente exorbita sua Questões
competência)
b) Função de fato; (quem pratica o ato não foi investido 01. (ANVISA - Técnico Administrativo – CESPE/2016)
regulamente na função. O ato praticado pelo agente de fato Acerca do regime jurídico-administrativo e do controle da
reputa-se válido perante terceiro de boa-fé. administração pública, julgue o próximo item.
c) Usurpação de função pública; (considerado ato
inexistente) A administração pública pode revogar seus atos por
motivos de conveniência ou oportunidade, competindo, no
Vício na forma; entanto, exclusivamente ao Poder Judiciário a anulação de atos
a) Quando a forma prescrita em lei não é observada; administrativos eivados de vícios de legalidade.
( ) Certo
Vício no objeto; ( ) Errado
a) Quando o objeto é ilícito;
b) Quando o objeto é impossível; 02. (TRT - 20ª REGIÃO (SE) - Técnico Judiciário -
c) Quando o objeto é indeterminado; Tecnologia da Informação – FCC/2016) Mateus, servidor
d) Quando o objeto é imoral; público federal, removeu o servidor Pedro para localidade
extremamente distante e de difícil acesso, no intuito de
Vício no motivo; castigá-lo. Ocorre que Pedro merecia penalidade
a) Teoria dos motivos determinantes administrativa por ter cometido infração funcional mas não
Quando o motivo é inexistente; remoção. No caso narrado, a remoção, por não ser ato de
Quando o motivo é falso; categoria punitiva, apresenta vício de
(A) motivo.
Vício na finalidade; (B) finalidade.
a) Quando há desvio de finalidade (desvio de poder) (C) objeto.
Há desvio de finalidade quando o agente pratica um ato (D) forma.
visando outra finalidade que não seja a prevista em lei; (E) competência.

EXTINÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO 03. (TRT - 20ª REGIÃO (SE) - Técnico Judiciário -
O ato administrativo se extingue das seguintes formas: Tecnologia da Informação – FCC/2016) Sergio, servidor
público federal e chefe de determinada repartição pública,
Anulação ou Invalidação (Desfazimento): É a retirada, o demitiu Antônio sob o fundamento de que o mesmo havia
desfazimento do ato administrativo em decorrência de sua cometido falta grave. Cumpre salientar que Antônio não era
invalidade, ou seja, é a extinção de um ato ilegal, determinada servidor concursado, mas sim ocupante de cargo em comissão.
pela Administração ou pelo judiciário, com eficácia retroativa Transcorridos quinze dias após a demissão, descobriu-se que
– ex tunc. Antônio não havia praticado falta grave e que Sergio pretendia
colocar um colega seu no cargo anteriormente ocupado por
Baseia-se, portanto, em razões de ilegitimidade ou Antônio. Neste caso, é correto afirmar:
ilegalidade. (A) Por ser falso o motivo do ato administrativo, o ato de
A anulação pode acontecer por via judicial ou por via demissão é nulo.
administrativa. Veja as súmulas do STF a respeito do tema: (B) O ato de demissão é válido, haja vista tratar-se de cargo
demissível ad nutum e que, portanto, sequer exigia motivação.
Revogação: De acordo com MAZZA, revogação é a extinção (C) Não incide a teoria dos motivos determinantes, haja
do ato administrativo perfeito e eficaz, com eficácia ex nunc, vista que o vício é na forma e na finalidade do ato
praticada pela Administração Pública e fundada em razão de administrativo de demissão.
interesse público (conveniência e oportunidade). (D) Aplica-se, na hipótese, a convalidação do ato
Convalidação ou Sanatória: É o ato administrativo que, administrativo; portanto, Antônio, injustamente demitido,
com efeitos retroativos, sana vício de ato antecedente, de poderá retornar ao seu cargo.
modo a torná-lo válido desde o seu nascimento, ou seja, é um (E) O ato é válido porque a finalidade pública foi mantida,
ato posterior que sana um vício de um ato anterior, sendo admissível a substituição de um servidor por outro,
transformando-o em válido desde o momento em que foi desde que o cargo seja adequadamente preenchido, de modo a
praticado. Alguns autores, ao se referir à convalidação, não trazer prejuízo ao interesse público.
utilizam a expressão sanatória.
04. (Câmara de Santa Maria Madalena – RJ -
O ato convalidatório tem natureza vinculada (corrente Procurador Jurídico – IBADE/2016) Os atos administrativos
majoritária), constitutiva, secundária, e eficácia ex tunc. têm cinco elementos, entre os quais a competência a qual
possui como característica ser de exercício:

Noções Básicas de Administração Pública 30


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APOSTILAS OPÇÃO

(A) obrigatório, renunciável. transferível, imodificável e 09. (IF-TO - Professor Administração – IF-TO/2016)
imprescritível. Em relação a elementos, pressupostos e atributos do ATO
(B) obrigatório, irrenunciável, intransferível, modificável e Administrativo, é correto afirmar:
imprescritível. (A) os pressupostos de existência são: subjetivo (sujeito);
(C) facultativo, renunciável. transferível, modificável e objetivos (motivo e requisitos procedimentais); tecnológico
prescritível. (finalidade), lógico (causa); e formalísticos (formalização).
(D) obrigatório, irrenunciável, intransferível, imodificável (B) todo ato praticado por agente público é,
e imprescritível, obrigatoriamente, imputável à administração.
(E) facultativo, irrenunciável, intransferível, modificável e (C) nem todo ato administrativo é dotado de atributos que
prescritível. lhe são peculiares.
(D) elementos do ato são realidades intrínsecas do ato e os
05. (Prefeitura de Paraty – RJ - Procurador – RHS pressupostos são de validade e de existência do ato, conforme
CONSULT/2016) É o que nasce afetado de vício insanável por condicionem a existência ou a lisura jurídica do ato.
ausência ou defeito substancial em seus elementos (E) a tipicidade consiste na necessária adequação da
constitutivos, ou no procedimento formativo. manifestação de vontade administrativa, sem a prévia
Considerando a classificação dos atos administrativos previsão legal.
segundo o conteúdo, o exposto acima diz respeito ao ato:
(A) Válido. 10. (Prefeitura de Lages – SC - Procurador –
(B) Extintivo. FEPESE/2016) Assinale a alternativa que indica
(C) Declaratório. corretamente o elemento do ato administrativo que
(D) Nulo. representa o efeito jurídico imediato que o ato produz.
(E) Modificativo. (A) forma
(B) objeto
06. (TCM-RJ - Técnico de Controle Externo – (C) sujeito
IBFC/2016) Considere a seguinte situação hipotética: (D) finalidade
Autoridade municipal fixou as linhas e os itinerários de (E) competência
ônibus da cidade, de modo a beneficiar determinada empresa,
que disputa a concessão de serviço público de transporte Respostas
coletivo. 01. Errado. / 02. B / 03. A. / 04. D. / 05. D.
Desse modo, o ato da autoridade municipal poderá ser: 06. A. / 07. E. / 08. B. / 09. D. / 10. B.
(A) anulado, por desvio de finalidade
(B) revogado, desde que seja caracterizado o desvio de
poder 7. Controle e responsabilização
(C) revogado, desde que se trate de ato administrativo
vinculado
da administração: controle
(D) convalidado, desde que a autoridade municipal tenha administrativo, controle judicial,
poder discricionário para a fixação das linhas e dos itinerários controle legislativo,
07. (PC-GO - Agente de Polícia Substituto –
CESPE/2016) O ato que concede aposentadoria a servidor
Controle da Administração Pública: conceito, espécies
público classifica-se como ato
(judicial, legislativo e administrativa)
(A) simples.
(B) discricionário.
A Administração Pública se sujeita a controle por parte dos
(C) composto.
Poderes Legislativo e Judiciário, além de exercer, ela mesma, o
(D) declaratório.
controle sobre os próprios atos.
(E) complexo.
Embora o controle seja atribuição estatal, o administrado
participa dele à medida que pode e deve provocar o
08. (PC-GO - Escrivão de Polícia Substituto –
procedimento de controle, não apenas na defesa de seus
CESPE/2016) A respeito da invalidação, anulação e revogação
interesses individuais, mas também na proteção do interesse
de atos administrativos, assinale a opção correta.
coletivo.
(A) Atos administrativos, por serem discricionários,
A Emenda Constitucional nº 19/98 inseriu o § 3º no artigo
somente podem ser anulados pela própria administração
37, prevendo lei que discipline as formas de participação do
pública.
usuário na administração pública direta e indireta: é o
(B) A administração, em razão de conveniência, poderá
chamado controle popular. Essa lei ainda não foi
revogar ato administrativo próprio não eivado de qualquer
promulgada.
ilegalidade, o que produzirá efeitos ex nunc.
(C) O ato administrativo viciado pela falta de manifestação
CLASSIFICAÇÃO
de vontade do administrado deverá ser anulado, não podendo
essa ilegalidade ser sanada por posterior manifestação de
Vários critérios existem para classificar as modalidades de
vontade do interessado.
controle.
(D) São anuláveis e passíveis de convalidação os atos que
Quanto ao órgão que o exerce, o controle pode ser
violem regras fundamentais atinentes à manifestação de
administrativo, legislativo ou judicial.
vontade, ao motivo, à finalidade ou à forma, havidas como de
obediência indispensável pela sua natureza, pelo interesse
a. Conforme a origem: interno ou externo
público que as inspira ou por menção expressa da lei.
(E) A anulação de ato administrativo ocorre por questões
É interno o controle que cada um dos Poderes exerce sobre
de conveniência e produz efeitos retroativos à data em que o
seus próprios atos e agentes. Exemplo: os chefes que possuem
ato foi emitido.
controle sobre seus funcionários.

Noções Básicas de Administração Pública 31


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APOSTILAS OPÇÃO

É externo o controle exercido por um dos Poderes sobre o Judiciário, existem os órgãos de Contencioso Administrativo,
outro, como também o controle da Administração Direta sobre que exercem, como aquele, função jurisdicional sobre lides de
a Indireta. Exemplo: quando o ato da Administração é anulado que a Administração Pública seja parte interessada.
judicialmente. O Poder Judiciário pode examinar os atos da
Administração Pública, de qualquer natureza, sejam gerais ou
b. Conforme o momento a ser exercido: prévio, individuais, unilaterais ou bilaterais, vinculados ou
concomitante ou posterior discricionários, mas sempre sob o aspecto da legalidade e da
moralidade (art. 5º, LXXIII, e art. 37).
Controle prévio ou preventivo: é o exercido antes de
consumar-se a conduta administrativa. CONTROLE PELO TRIBUNAL DE CONTAS

Controle concomitante: segue a situação administrativa, O Tribunal de Contas é competente para realizar a
como ela se encontra. fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial dos entes federativos, da Administração Pública
Controle posterior ou corretivo: tem a finalidade da direta e indireta, além das empresas públicas e sociedades de
revisão de atos já praticados, para corrigir, desfazer ou apenas economia mista que também estão sujeitas à fiscalização dos
confirmá-los. É o caso da aprovação, homologação, revogação, Tribunais de Contas.
entre outros.
Os Tribunais de contas tem competência fiscalizadora e a
10.2.3 Conforme a amplitude: hierárquico ou exercem por meio da realização de auditorias e inspeções em
finalístico. entidades e órgãos da Administração Pública. Também é
competente para fiscalizar os procedimentos de licitações e,
Quanto à amplitude, o controle pode ser hierárquico ou nesse caso, pode o Tribunal adotar medidas cautelares com a
finalístico. finalidade de evitar futura lesão ao erário, bem como para
garantir o cumprimento de suas decisões.
O controle é hierárquico sempre que os órgãos superiores
(dentro de uma mesma estrutura hierárquica) possuírem A súmula 347 do Supremo Tribunal Federal reconheceu a
competência para controlar e fiscalizar os atos praticados por competência do Tribunal de Contas para apreciar a
seus subordinados. inconstitucionalidade de leis e atos do poder público, dessa
Já o controle finalístico é o controle que é exercido pela forma suas atribuições não dizem respeito somente à
Administração Direta sobre as pessoas jurídicas integrantes apreciação da legalidade, mas também da legitimidade do
da Administração Indireta. órgão e do princípio da economicidade. Segue a súmula:

CONTROLE ADMINISTRATIVO Súmula 347, STF. O Tribunal de Contas, no exercício de suas


atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos
O controle administrativo é o que decorre da aplicação do atos do poder público.
princípio do autocontrole, ou autotutela, do qual emerge o
poder com idêntica designação (poder de autotutela). A Além disso, o art. 113, § 2º, da Lei n. 8.666/93 confere aos
Administração tem o dever de anular seus próprios atos, Tribunais de Contas e demais órgãos integrantes do sistema de
quando eivados de nulidade, podendo revogá-los ou alterá-los, controle interno competência para solicitar cópia de edital de
por conveniência e oportunidade, respeitados, nessa hipótese, licitação já publicado com o objetivo de realizar seu exame,
os direitos adquiridos. É o poder de fiscalização e correção que podendo também determinar a adoção de medidas corretivas
a Administração Pública (em sentido amplo) exerce sobre sua de cumprimento obrigatório para todos os órgãos e entidades
própria atuação, sob os aspectos de legalidade e mérito, por da Administração Pública, desde que a solicitação seja
iniciativa própria ou mediante provocação. motivada e casuística

CONTROLE LEGISLATIVO Questões

O controle legislativo, ou parlamentar, é exercido pelo 01. (ANVISA - Técnico Administrativo – CESPE/2016)
Poder Legislativo (Congresso Nacional, Senado Federal, Acerca do regime jurídico-administrativo e do controle da
Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas, Câmara administração pública, julgue o próximo item.
Distrital e Câmara de Vereadores), tendo em mira a
administração desempenhada pelos Poderes Executivo e A administração possui prerrogativas não extensíveis às
Judiciário. relações privadas, mas sua liberdade de ação encontra-se
O controle que o Poder Legislativo exerce sobre a sujeita a maiores restrições se comparada à dos atos
Administração Pública limita-se às hipóteses previstas na praticados por particulares em suas relações.
Constituição Federal. Alcança os órgãos do Poder Executivo, as ( ) Certo
entidades da Administração Indireta e o próprio Poder ( ) Errado
Judiciário, quando executa função administrativa.
O exercício do controle constitui uma das funções típicas 02. (ANVISA - Técnico Administrativo – CESPE/2016)
do Poder Legislativo, ao lado da função de legislar. Acerca do regime jurídico-administrativo e do controle da
administração pública, julgue o próximo item.
CONTROLE JUDICIAL
Uma ação ou omissão que, submetida a controle
O Direito brasileiro adotou o sistema de jurisdição una, administrativo quanto à legalidade, seja considerada correta
pelo qual o Poder Judiciário tem o monopólio da função não poderá ser submetida a nenhuma outra medida de
jurisdicional, ou seja, do poder de apreciar, com força de coisa controle administrativo.
julgada, a lesão ou ameaça de lesão a direitos individuais e ( ) Certo
coletivos (art. 5º, XXXV CF/88). Afastou, portanto, o sistema da ( ) Errado
dualidade de jurisdição, em que, paralelamente ao Poder

Noções Básicas de Administração Pública 32


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APOSTILAS OPÇÃO

03. (ANVISA - Técnico Administrativo – CESPE/2016) (C) O exercício da autotutela, poder-dever da


Acerca do regime jurídico-administrativo e do controle da administração, é amplo e dispensa a instauração de
administração pública, julgue o próximo item. procedimento administrativo, ainda que potenciais interesses
O controle judicial pode incidir sobre atividades individuais sejam atingidos.
administrativas realizadas em todos os poderes do Estado. (D) Situação hipotética: Lúcio, indivíduo de boa-fé, logrou
( ) Certo a manutenção dos efeitos já produzidos por ato administrativo
( ) Errado posteriormente declarado nulo. Assertiva: Nessa situação, por
força da isonomia, aquele que detiver situação jurídica
04. (PGE-AM - Procurador do Estado – CESPE/2016) idêntica à de Lúcio terá direito à extensão dos mesmos efeitos
Acerca do controle administrativo interno e externo, julgue o jurídicos produzidos pelo ato anulado.
item a seguir. (E) Um ato administrativo pode ser anulado em
As comissões parlamentares de inquérito são decorrência de pressupostos de conveniência e oportunidade
instrumentos de controle externo destinados a investigar fato da administração ou devido à ilegalidade do ato. Nesse caso,
determinado em prazo determinado, mas desprovidos de será desnecessária a instauração de processo administrativo
poder condenatório. para a oitiva de interessados.
( ) Certo
( ) Errado 09. (TRE-SP - Técnico Judiciário – Área Administrativa
– FCC/2017) O controle exercido pela Administração direta
05. (PGE-AM - Procurador do Estado – CESPE/2016) sobre a Administração indireta denomina-se
Acerca do controle administrativo interno e externo, julgue o (A) poder de tutela e permite a substituição de atos
item a seguir. praticados pelos entes que integram a Administração indireta
O controle administrativo interno é cabível apenas em que não estejam condizentes com o ordenamento jurídico.
relação a atividades de natureza administrativa, mesmo (B) poder de revisão dos atos, decorrente da análise de
quando exercido no âmbito dos Poderes Legislativo e mérito do resultado, bem como em relação aos estatutos ou
Judiciário. legislação que criaram os entes que integram a Administração
( ) Certo indireta.
( ) Errado (C) controle finalístico, pois a Administração direta
constitui a instância final de apreciação, para fins de aprovação
06. (PGE-AM - Procurador do Estado – CESPE/2016) ou homologação, dos atos e recursos praticados e interpostos
Acerca do controle administrativo interno e externo, julgue o no âmbito da Administração indireta.
item a seguir. (D) poder de tutela, que não pressupõe hierarquia, mas
O CNJ é órgão externo de controle administrativo, apenas controle finalístico, que analisa a aderência da atuação
financeiro e disciplinar do Poder Judiciário. dos entes que integram a Administração indireta aos atos ou
( ) Certo leis que os constituíram.
( ) Errado (E) poder de autotutela, tendo em vista que a
Administração indireta integra a Administração direta e, como
07. (PC-GO - Escrivão de Polícia Substituto – tal, compreende a revisão dos atos praticados pelos entes que
CESPE/2016) Assinale a opção correta a respeito do controle a compõem quando não guardarem fundamento com o escopo
da administração pública. institucional previsto em seus atos constitutivos.
(A) O ato regulamentar que extrapola os limites da lei
regulamentada acaba por vulnerá-la, podendo resultar em 10. (TRE-SP - Analista Judiciário - Área Administrativa
controle judicial quanto à sua constitucionalidade por afronta – FCC/2017) Os atos da Administração pública estão sujeitos
aos princípios da legalidade e da reserva legal. a controle externo e interno. O controle exercido pelo Poder
(B) O poder de fiscalização de uma pessoa jurídica Legislativo, com auxílio do Tribunal de Contas,
integrante da administração indireta por ente da (A) dá-se sobre atos e contratos firmados pela
administração direta consagra a chamada tutela Administração pública, não sendo exercido, contudo, antes da
administrativa, verdadeiro controle por vinculação que se dá celebração dos referidos instrumentos.
pelas vias política, institucional, administrativa e financeira. (B) inclui a análise dos editais de licitação publicados,
(C) A vedação ao controle judicial do mérito dos atos permitindo a modificação da redação daqueles instrumentos,
administrativos não impede que o Poder Judiciário reavalie de especialmente no que se refere à habilitação, a fim de
forma ampla os critérios de correção de banca examinadora preservar a igualdade entre os participantes do certame.
em concurso público. (C) autoriza a suspensão de atos e contratos celebrados
(D) Em razão dos princípios da continuidade do serviço pela Administração pública quando, instada a revogá-los ou
público e da eficiência o controle administrativo deve ser anulá-los, não o fizer no prazo fixado.
exercido de forma prévia/preventiva ou posterior/repressiva, (D) possibilita a sustação de atos pelo Tribunal de Contas,
sendo descabida a sua realização concomitantemente com a quando a Administração pública não sanar os vícios indicados
prática do ato. pelo mesmo.
(E) A discricionariedade administrativa somente é cabível (E) permite a sindicância das licitações realizadas pela
na hipótese de o administrador se deparar com conceitos Administração direta e indireta, com a anulação de editais e
jurídicos indeterminados. contratos deles decorrentes sempre que houver vício de
legalidade insanável.
08. (PC-GO - Escrivão de Polícia Substituto –
CESPE/2016) Com referência ao controle administrativo, 11. (ALERJ - Procurador – FGV/2017) Determinada
assinale a opção correta. agência de fomento estadual, enquadrada como instituição
(A) A revogação, pela administração, de ato administrativo financeira, é instada pelo competente Tribunal de Contas a
que tenha revogado um primeiro ato produzirá como efeito apresentar dados relativos aos financiamentos públicos por
automático e imediato a revalidação desse primeiro ato, que ela concedidos.
passará novamente a surtir efeitos normalmente.
(B) Os atos administrativos cujos efeitos já se tenham
exaurido integralmente são insuscetíveis de revogação.

Noções Básicas de Administração Pública 33


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APOSTILAS OPÇÃO

Diante da requisição, deve a agência: Na Administração Pública, o controle de mérito decorrerá


(A) se recusar a fornecer os dados relativos ao do escalonamento vertical de órgãos da administração direta
financiamento público, considerando que estão protegidos ou do escalonamento vertical de órgãos integrantes de cada
pelo sigilo bancário; entidade da administração indireta.
(B) se recusar a fornecer os dados relativos ao ( ) Certo
financiamento público, porquanto apenas o Poder Judiciário ( ) Errado
poderia requisitar essas informações;
(C) fornecer os dados requisitados pelo Tribunal de Respostas
Contas, considerando o fato de que operações financeiras que 01. Certo. / 02. Errado. / 03. Certo. / 04. Certo.
envolvam recursos públicos não estão submetidas ao sigilo 05. Certo. / 06. Errado. / 07. B. / 08. B. / 09. D / 10. D
bancário; 11. C / 12. Errado / 13. Errado / 14. A / 15. Errado
(D) fornecer os dados requisitados pelo Tribunal de
Contas, considerando o fato de que a Constituição Federal
ressalva expressamente o direito ao sigilo nos casos de Responsabilidade civil do
requisições efetivadas pelas Cortes de Contas; Estado.
(E) se recusar a fornecer os dados relativos ao
financiamento público, porquanto restaria violado o direito à
intimidade dos beneficiários dos financiamentos públicos. RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO BRASILEIRO

12. (SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargos 1, 3 a 26 – Desde os tempos do Império que a Legislação Brasileira
CESPE/2017) No que se refere aos poderes administrativos, prevê a reparação dos danos causados a terceiros pelo
aos atos administrativos e ao controle da administração, julgue Estado, por ação ou omissão dos seus agentes. Problemas de
o item seguinte. omissão, abuso no exercício de função e outros tipos de falhas
O poder de fiscalização que a Secretaria de Estado de sempre existiram no serviço público, o que é perfeitamente
Educação do DF exerce sobre fundação a ela vinculada plausível dadas as características da Administração Pública,
configura controle administrativo por subordinação. tanto do ponto de vista da sua complexidade quanto do seu
( ) Certo gigantismo.
( ) Errado
Teorias da responsabilidade objetiva do Estado
13. (SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargos 1, 3 a 2 – (segundo Hely Lopes Meirelles):
CESPE/2017) No que se refere aos poderes administrativos,
aos atos administrativos e ao controle da administração, julgue a) teoria da culpa administrativa: a obrigação do Estado
o item seguinte. indenizar decorre da ausência objetiva do serviço público em
É garantido ao Poder Judiciário o controle de mérito si. Não se trata de culpa do agente público, mas de culpa
administrativo dos atos administrativos, pois lesão ou ameaça especial do Poder Público, caracterizada pela falta de serviço
a direito não podem ser excluídas da apreciação de juiz. público.
( ) Certo
( ) Errado b) teoria do risco administrativo: a responsabilidade
civil do Estado por atos comissivos ou omissivos de seus
14. (Câmara de Maria Helena – PR - Advogado – agentes é de natureza objetiva, ou seja, dispensa a
FAUEL/2017) Compete ao Poder Legislativo, além da comprovação de culpa, bastando assim a conduta, o fato
atividade legiferante, a realização da fiscalização da danoso e o dano, seja ele material ou moral. Não se indaga da
administração pública. O controle legislativo, por vezes culpa do Poder Público mesmo porque ela é inferida do ato
chamado de controle parlamentar, possui limites traçados lesivo da Administração.
pelo texto constitucional, aplicados, por simetria, à esfera Entretanto, é fundamental, que haja o nexo causal.
municipal. A respeito do tema, é correto afirmar: Deve-se atentar para o fato de que a dispensa de
(A) O parecer técnico elaborado pelo Tribunal de Contas comprovação de culpa da Administração pelo administrado
tem natureza meramente opinativa, competindo não quer dizer que aquela esteja proibida de comprovar a
exclusivamente à Câmara de Vereadores o julgamento das culpa total ou parcial da vítima, para excluir ou atenuar a
contas anuais do Chefe do Poder Executivo local, sendo indenização. Verificado o dolo ou a culpa do agente, cabe à
incabível o julgamento ficto das contas por decurso de prazo. fazenda pública acionar regressivamente para recuperar
(B) O parecer prévio sobre as contas que o Chefe do Poder deste, tudo aquilo que despendeu com a indenização da vítima.
Executivo deve anualmente prestar, emitido pelo responsável
Tribunal de Contas, só deixará de prevalecer por decisão de c) Teoria do risco integral: a Administração responde
dois quartos dos membros da Câmara Municipal. invariavelmente pelo dano suportado por terceiro, ainda que
(C) O parecer prévio do Tribunal de Contas possui decorrente de culpa exclusiva deste, ou até mesmo de dolo. É
natureza jurídica de decisão quando opine pela desaprovação a exacerbação da teoria do risco administrativo que conduz ao
das contas de Prefeito, produzindo efeitos imediatos a partir abuso e à iniquidade social, com bem lembrado por Meirelles.
de sua emissão, os quais se tornam permanentes no caso do A Constituição Federal de 1988, em seu art. 37, § 6º, diz:
silêncio da casa legislativa. “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
(D) O julgamento das contas anuais do Prefeito compete prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
precipuamente ao Tribunal de Contas Municipal (onde seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado
houver) ou ao Tribunal de Contas do Estado em que esteja o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
localizado o município, com o auxílio da Câmara Municipal. culpa”.
E no art. 5º, X, está escrito: “são invioláveis a intimidade, a
15. (SEDF - Professor – Direito – QUADRIX/2017) vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
Acerca do Direito Administrativo, julgue o item a seguir. direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação”.
Vê-se por esse dispositivo que a indenização não se limita
aos danos materiais. No entanto, há uma dificuldade nos casos

Noções Básicas de Administração Pública 34


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APOSTILAS OPÇÃO

de danos morais na fixação do quantum da indenização, em violadora de um dever de agir. Em outras palavras, os danos por
vista da ausência de normas regulamentadoras para aferição omissão são indenizáveis somente quando configura omissão
objetiva desses danos. dolosa ou omissão culposa. Na omissão dolosa, o agente
público encarregado de praticar a conduta decide omitir-se e,
RESPONSABILIDADE POR AÇÃO E POR OMISSÃO DO por isso, não evita o prejuízo. Já na omissão culposa, a falta de
ESTADO ação do agente público não decorre de sua intenção deliberada
em omitir-se, mas deriva da negligência na forma de exercer a
O dano indenizável pode ser material e/ou moral e ambos função administrativa. Exemplo: policial militar que adorme em
podem ser requeridos na mesma ação, se preencherem os serviço e, por isso, não consegue evitar furto a banco privado.
requisitos expostos.
Aquele que é investido de competências estatais tem o Assim, pode-se afirmar que são requisitos para a
dever objetivo de adotar as providências necessárias e demonstração da responsabilidade do Estado a ação ou
adequadas a evitar danos às pessoas e ao patrimônio. omissão (ato do agente público), o resultado lesivo (dano) e
Quando o Estado infringir esse dever objetivo e, nexo de causalidade.
exercitando suas competências, der oportunidades a
ocorrências do dano, estarão presentes os elementos Requisitos para a demonstração da responsabilidade
necessários à formulação de um juízo de reprovabilidade do Estado.
quanto a sua conduta. Não é necessário investigar a existência Podemos afirmar que são requisitos para a demonstração
de uma vontade psíquica no sentido da ação ou omissão da responsabilidade do Estado a ação ou omissão (ato do
causadoras do dano. agente público), o resultado lesivo (dano) e nexo de
A omissão da conduta necessária e adequada consiste na causalidade.
materialização de vontade, defeituosamente desenvolvida.
Logo, a responsabilidade continua a envolver um elemento Reparação do Dano.
subjetivo, consiste na formulação defeituosa da vontade de A reparação pode ser amigável (administrativa) ou
agir ou deixar de agir. judicial. A primeira, de difícil ocorrência, dá-se direta e
Não há responsabilidade civil objetiva do Estado, mas há internamente depois de apurado o quantum em sede de
presunção de culpabilidade derivada da existência de um procedimento administrativo próprio; a segunda, por
dever de diligência especial. Tanto é assim que, se a vítima provimento judicial, em sede de ação de conhecimento
tiver concorrido para o evento danoso, o valor de uma condenatório. O lesado não necessita requerer
eventual condenação será minimizado. administrativamente o pagamento, podendo ajuizar a ação
Essa distinção não é meramente acadêmica, especialmente desde logo. Se obtida a conciliação no âmbito do processo
porque a avaliação do elemento subjetivo é indispensável, em administrativo, o pagamento poderá ser parcelado. Se a
certas circunstâncias, para a determinação da indenização reparação envolver a transferência de bem imóvel, dependerá
devida. de autorização legislativa.
A Constituição Federal de 1988, seguindo uma tradição
estabelecida desde a Constituição Federal de 1946, Apesar da divergência doutrinária, com relação ao prazo
determinou, em seu art. 37, §6º, a responsabilidade objetiva do prescricional para exigir a reparação do dano, entendemos que
Estado e responsabilidade subjetiva do funcionário. o prazo será de 3 anos.
Em que pese a aplicação da teoria da responsabilidade
objetiva ser adotada pela Constituição Federal, o Poder CAUSAS EXCLUDENTES E ATENUANTES DA
Judiciário, em determinados julgamentos, utiliza a teoria da RESPONSABILIDADE DO ESTADO
culpa administrativa para responsabilizar o Estado em casos
de omissão. Assim, a omissão na prestação do serviço público A responsabilidade do Poder Público não existirá ou será
tem levado à aplicação da teoria da culpa do serviço público atenuada quanto a conduta da Administração Pública não der
(faute du service). A culpa decorre da omissão do Estado, causa ao prejuízo, ou concorrerem outras circunstâncias que
quando este deveria ter agido e não agiu. Por exemplo, o Poder possam afastar ou mitigar sua responsabilidade. Em geral, são
Público não conservou adequadamente as rodovias e ocorreu chamadas causas excludentes da responsabilidade estatal; a
um acidente automobilístico com terceiros. força maior, o caso fortuito, a culpa exclusiva da vítima e a
culpa de terceiro.
Com relação ao comportamento comissivo ou omissivo do Nestes casos, não existindo nexo de causalidade entre a
Estado, importante destacar o que dispõe MAZZA11 sobre o conduta da Administração e o dano ocorrido, a
tema: responsabilidade estatal será afastada.
Existem situações em que o comportamento comissivo de A força maior pode ser definida como um evento previsível
um agente público causa prejuízo a particular. São os chamados ou não, porém excepcional e inevitável.
danos por ação. Noutros casos, o Estado deixa de agir e, devido Em regra, não há responsabilidade do Estado, contudo
a tal inação, não consegue impedir um resultado lesivo. existe a possibilidade de responsabilizá-lo mesmo na
Nessa hipótese, fala-se me dano por omissão. Os exemplos ocorrência de uma circunstância de força maior, desde que a
envolvem prejuízos decorrentes de assalto, enchente, bala vítima comprove o comportamento culposo da Administração
perdida, queda de árvore, buraco na via pública e bueiro aberto Pública. Por exemplo, num primeiro momento, uma enchente
sem sinalização causando dano a particular. Tais casos têm em que causou danos a particulares pode ser entendida como uma
comum a circunstância de inexistir um ato estatal causador do hipótese de força maior e afastar a responsabilidade Estatal,
prejuízo. contudo, se o particular comprovar que os bueiros entupidos
(...) concorreram para o incidente, o Estado também responderá,
Em linhas gerais, sustenta-se que o estado só pode ser pois a prestação do serviço de limpeza pública foi deficiente.
condenado a ressarcir prejuízos atribuídos à sua omissão O caso fortuito é um evento imprevisível e, via de
quando a legislação considera obrigatória a prática da conduta consequência, inevitável. Alguns autores diferenciam-no da
omitida. Assim, a omissão que gera responsabilidade é aquela força maior alegando que ele tem relação com o

11MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. Ed. Saraiva. 4ª edição.


2014.

Noções Básicas de Administração Pública 35


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comportamento humano, enquanto a força maior deriva da 1) condenação do Estado na ação indenizatória;
natureza. Outros, atestam não haver diferença entre ambos. 2) trânsito em julgado da decisão condenatória;
A regra é que o caso fortuito exclua a responsabilidade do 3) culpa ou dolo do agente;
Estado, contudo, se o dano for consequência de falha da 4) ausência de denunciação da lide na ação indenizatória.
Administração, poderá haver a responsabilização. Ex:
rompimento de um cabo de energia elétrica por falta de Questões
manutenção ou por má colocação que cause a morte de uma
pessoa. 01. (ANVISA - Técnico Administrativo – CESPE/2016)
Julgue o item que se segue, relativos aos fundamentos da
O agente público poderá ser responsabilizado nos âmbitos responsabilidade civil do Estado atualmente adotados pelo
civil, penal e administrativo. direito brasileiro.
a) Responsabilidade Civil: Neste caso, responsabilidade
civil se refere à responsabilidade patrimonial, que faz Em virtude da observância do princípio da supremacia do
referência aos Atos Ilícitos e que traz consigo a regra geral da interesse público, será integralmente excluída a
responsabilidade civil, que é de reparar o dano causado a responsabilidade civil do Estado nos casos de culpa — seja
outrem. O órgão público, confirmada a responsabilidade de exclusiva, seja concorrente — da vítima atingida pelo dano.
seus agentes, como preceitua a no art.37, §6, parte final do ( ) Certo
Texto Maior, é "assegurado o direito de regresso contra o ( ) Errado
responsável nos casos de dolo ou culpa", descontará nos
vencimentos do servidor público, respeitando os limites 02. (ANVISA - Técnico Administrativo – CESPE/2016)
mensais, a quantia exata para o ressarcimento do dano. Julgue o item que se segue, relativos aos fundamentos da
b) Responsabilidade Administrativa: A responsabilidade responsabilidade civil do Estado atualmente adotados pelo
administrativa é apurada em processo administrativo, direito brasileiro.
assegurando-se ao servidor o contraditório e a ampla defesa.
Uma vez constatada a prática do ilícito administrativo, ficará o Um ato, ainda que lícito, praticado por agente público e que
servidor sujeito à sanção administrativa adequada ao caso, que gere ônus exorbitante a um cidadão pode resultar em
poderá ser advertência, suspensão, demissão, cassação de responsabilidade civil do Estado.
aposentadoria ou disponibilidade, destituição de cargo em ( ) Certo
comissão ou destituição de função comissionada. A penalidade ( ) Errado
deve sempre ser motivada pela autoridade competente para
sua aplicação, sob pena de ser nula. Na motivação da 03. (ANVISA - Técnico Administrativo – CESPE/2016)
penalidade, devem estar presentes os motivos de fato (os atos Julgue o item que se segue, relativos aos fundamentos da
irregulares praticados pelo servidor) e os motivos de direito responsabilidade civil do Estado atualmente adotados pelo
(os dispositivos legais ou regulamentares violados e a direito brasileiro.
penalidade prevista). Se durante a apuração da
responsabilidade administrativa a autoridade competente Para a caracterização da responsabilidade civil do Estado,
verificar que o ilícito administrativo também está capitulada basta a comprovação da qualidade de agente público, não se
como ilícito penal, deve encaminhar cópia do processo exigindo para isso que o agente esteja agindo no exercício de
administrativo ao Ministério Público, que irá mover ação penal suas funções.
contra o servidor ( ) Certo
c) Responsabilidade Penal: A responsabilidade penal do ( ) Errado
servidor é a que resulta de uma conduta tipificada por lei como
infração penal. A responsabilidade penal abrange crimes e 04. (PGE-AM - Procurador do Estado – CESPE/2016)
contravenções imputadas ao servidor, nessa qualidade. Muitos Um motorista alcoolizado abalroou por trás viatura da polícia
dos crimes funcionais estão definidos no Código Penal, artigos militar que estava regularmente estacionada. Do acidente
312 a 326, como o peculato, a concussão, a corrupção passiva, resultaram lesões em cidadão que estava retido dentro do
a prevaricação etc. Outros estão previstos em leis especiais compartimento traseiro do veículo. Esse cidadão então ajuizou
federais. A responsabilidade penal do servidor é apurada em ação de indenização por danos materiais contra o Estado,
Juízo Criminal. Se o servidor for responsabilizado penalmente, alegando responsabilidade objetiva. O procurador
sofrerá uma sanção penal, que pode ser privativa de liberdade responsável pela contestação deixou de alegar culpa exclusiva
(reclusão ou detenção), restritiva de direitos (prestação de terceiro e não solicitou denunciação da lide. O corregedor
pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviço à determinou a apuração da responsabilidade do procurador,
comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de por entender que houve negligência na elaboração da defesa,
direitos e limitação de fim de semana) ou multa (Código Penal, por acreditar que seria útil à defesa do poder público alegar
art. 32). culpa exclusiva de terceiro na geração do acidente.
Importante ressaltar que a decisão penal, apurada por
causa da responsabilidade penal do servidor, só terá reflexo na Considerando essa situação hipotética, julgue o próximo
responsabilidade civil do servidor se o ilícito penal tiver item.
ocasionado prejuízo patrimonial (ilícito civil). A Foi correto o corregedor quanto ao entendimento de que
responsabilidade civil do servidor será afastada se, no seria útil à defesa do poder público alegar culpa exclusiva de
processo criminal, o servidor for absolvido por ter sido terceiro na geração do acidente, uma vez que, provada, ela
declarada a inexistência do fato ou, quando o fato realmente pode excluir ou atenuar o valor da indenização.
existiu, não tenha sido imputada sua autoria ao servidor. ( ) Certo
Notem que, se o servidor for absolvido por falta ou ( ) Errado
insuficiência de provas, a responsabilidade civil não será
afastada. 05. (PGE-AM - Procurador do Estado – CESPE/2016)
Um motorista alcoolizado abalroou por trás viatura da polícia
Direito de Regresso ou Ação de Regresso militar que estava regularmente estacionada. Do acidente
São pressupostos para a propositura da ação regressiva: resultaram lesões em cidadão que estava retido dentro do
compartimento traseiro do veículo. Esse cidadão então ajuizou

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ação de indenização por danos materiais contra o Estado, responsáveis, comunicando o fato. Embora os órgãos de
alegando responsabilidade objetiva. O procurador segurança tenham sido avisados a tempo, seus agentes não
responsável pela contestação deixou de alegar culpa exclusiva compareceram ao local, ocorrendo atos predatórios causados
de terceiro e não solicitou denunciação da lide. O corregedor pelos delinquentes, o que gerou inúmeros danos aos
determinou a apuração da responsabilidade do procurador, particulares. A propósito do tema, é correto afirmar que
por entender que houve negligência na elaboração da defesa, (A) os danos causados por multidões insere-se na
por acreditar que seria útil à defesa do poder público alegar categoria de fatos imprevisíveis, não havendo
culpa exclusiva de terceiro na geração do acidente. responsabilidade estatal.
(B) se trata de danos causados por terceiros, causa
Considerando essa situação hipotética, julgue o próximo excludente da responsabilidade estatal.
item. (C) o Estado arcará integralmente com os danos causados,
Diante da ausência de denunciação da lide, ficou haja vista tratar-se de hipótese de responsabilidade subjetiva.
prejudicado o direito de regresso do Estado contra o motorista (D) o Estado responderá pelos danos, haja vista sua
causador do acidente. conduta omissiva culposa, no entanto, a indenização será
( ) Certo proporcional à participação omissiva do Estado no resultado
( ) Errado danoso.
(E) o Estado responderá integralmente pelos danos
06. (Câmara de Santa Maria Madalena – RJ - causados, em razão de sua responsabilidade objetiva e a
Procurador Jurídico – IBADE/2016) Durante a obra de aplicação da teoria do risco integral.
pavimentação de uma via pública, executada por um particular
contratado pelo Município, apesar de executada 10. (TRE-SP - Analista Judiciário - Área Administrativa
diligentemente, houve rachaduras nas paredes de imóveis que – FCC/2017) Durante um evento cultural, realizado por
margeiam o logradouro. Os danos foram causados pelo só fato determinada municipalidade, o palco onde estava sendo
da obra. Sobre a responsabilidade da encenada uma peça de teatro cedeu, atingindo algumas
Administração Pública, é correto afirmar que: pessoas que estavam na plateia, para as quais foi prestado
(A) responde com base na Teoria do risco integral. atendimento médico. Algum tempo depois, a municipalidade
(B) responde com base na Teoria da culpa administrativa. foi acionada por um cidadão, pleiteando indenização por
(C) responde com base na Teoria da culpa civil comum do danos experimentados em decorrência de lesões sofridas no
Estado. dia do acidente narrado, que o teriam impedido de trabalhar.
(D) é irresponsável pelos danos. Dentre os possíveis aspectos a serem analisados a partir dessa
(E) responde com base da Teoria do risco administrativo. narrativa, está a possibilidade
(A) do autor da ação demonstrar a culpa dos agentes
07. (TCM-RJ - Técnico de Controle Externo – públicos pelos danos que alega ter sofrido, em razão do tempo
IBFC/2016) Considere as afirmativas abaixo a respeito das decorrido, que impediram a alegação de responsabilidade
regras sobre a responsabilidade civil do Estado e assinale a objetiva.
alternativa correta. (B) da municipalidade demonstrar que seus agentes não
I. A culpa do agente público é de natureza objetiva, sendo agiram com culpa, tratando-se de caso fortuito, imprevisível,
assim dizemos que não há a necessidade da comprovação de portanto, razão pela qual caberia ao autor comprovar suas
sua culpa ou dolo. alegações.
II. Quando o Estado deixa de fazer o serviço por não tê-lo (C) do autor demonstrar o nexo causal entre o incidente
disponível à sociedade ou por tê-lo deficiente (omissão ocorrido no dia do evento, que era realizado sob
genérica), a responsabilidade é subjetiva, segundo abalizada responsabilidade da municipalidade, e os danos que alega ter
doutrina administrativista. sofrido, para que seja configurada a responsabilidade objetiva
do ente público.
A partir dessa análise, pode-se concluir que: (D) da municipalidade comprovar a ocorrência de uma das
(A) apenas I está correta excludentes de responsabilidade que, em verdade, afastam a
(B) apenas II está correta culpa do ente público pelo acidente em todos os casos de
(C) I e II estão corretas responsabilidade extracontratual objetiva.
(D) todas estão incorretas (E) do autor demonstrar a veracidade de suas alegações e
a ausência de atendimento por parte da municipalidade, tendo
08. (FUNPRESP-JUD - Assistente - Secretariado em vista que o socorro prestado imediatamente e no local do
Executivo – CESPE/2016) Em relação à organização acidente afasta a responsabilidade extracontratual objetiva.
administrativa e às concessões e permissões do serviço
público, julgue o item a seguir. 11. (TRE-SP - Técnico Judiciário – Área Administrativa
– FCC/2017) O Estado, tal qual os particulares, pode
As fundações públicas de direito público devem responder responder pelos danos causados a terceiros. A
objetivamente pelos danos que seus agentes causem a responsabilidade extracontratual para pessoas jurídicas de
terceiros. Sendo condenadas a indenizar pelo prejuízo que seu direito público, prevista na Constituição Federal, no entanto,
agente culposamente tenha cometido, assegura-se a elas o (A) dá-se sob a modalidade subjetiva para os casos de
direito de propor ação regressiva contra o agente causador do omissão de agentes públicos e de prática de atos lícitos,
dano. quando causarem danos a terceiros.
( ) Certo (B) não se estende a pessoas jurídicas de direito privado,
( ) Errado ainda que integrantes da Administração indireta, que se
submetem exclusivamente à legislação civil.
09. (TRT - 11ª Região (AM e RR) - Analista Judiciário - (C) exige a demonstração pelos demandados, de
Área Administrativa – FCC/2017) Em movimentada rua da inexistência de culpa do agente público, o que afastaria, em
cidade de Manaus, em que existem diversas casas comerciais, consequência o nexo de causalidade entre os danos e a atuação
formou-se um agrupamento de pessoas com mostras de daqueles.
hostilidade. Em razão disso, um dos comerciantes da rua, (D) tem lugar pela prática de atos lícitos e ilícitos por
entrou em contato com os órgãos públicos de segurança agentes públicos, admitindo, quando o caso, excludentes de

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responsabilidade, que afastam o nexo causal entre a atuação A responsabilidade civil do Estado, no caso da conduta
do agente público e os danos sofridos. omissiva, só existirá na presença dos elementos que
(E) somente tem lugar com a comprovação de danos caracterizem a culpa.
concretos pelo demandante, o que obriga, necessariamente, a ( ) Certo
incidência da modalidade subjetiva. ( ) Errado

12. (TRE-SP - Analista Judiciário - Área Judiciária – Respostas


FCC/2017) Suponha que tenha ocorrido o rompimento de
uma adutora de empresa prestadora de serviço público de 01. Errado. / 02. Certo. / 03. Errado. / 04. Certo.
saneamento básico, causando prejuízos materiais a diversas 05. Errado. / 06. E. / 07. B. / 08. Certo. / 09. D / 10. C
famílias que residem na localidade, as quais buscaram a 11. D / 12. D / 13. Certo / 14. Certo / 15. Certo
responsabilização civil da empresa objetivando a reparação
dos danos sofridos. De acordo com o regramento
constitucional aplicável, referida empresa
(A) será responsável pelos danos sofridos pelos moradores
desde que comprovada culpa dos agentes encarregados pela Anotações
operação ou falha na prestação do serviço.
(B) sujeita-se, sendo pública ou privada, à
responsabilização subjetiva, baseada na teoria da culpa
administrativa.
(C) não poderá ser responsabilizada pelos prejuízos
causados, eis que, em se tratando de responsabilidade
subjetiva, o caso fortuito seria excludente da responsabilidade.
(D) sujeita-se, ainda que concessionária privada de serviço
público, à responsabilização objetiva, que admite, em certas
hipóteses, algumas causas excludentes de responsabilidade,
como força maior.
(E) somente estará sujeita à responsabilização objetiva se
for uma empresa pública, aplicando-se a teoria do risco
administrativo.

13. (SEDF - Conhecimentos Básicos - Cargos 27 a 35 –


CESPE/2017) João, servidor público ocupante do cargo de
motorista de determinada autarquia do DF, estava conduzindo
o veículo oficial durante o expediente quando avistou sua
esposa no carro de um homem. Imediatamente, João
dolosamente acelerou em direção ao veículo do homem,
provocando uma batida e, por consequência, dano aos
veículos. O homem, então, ingressou com ação judicial contra
a autarquia requerendo a reparação dos danos materiais
sofridos. A autarquia instaurou procedimento administrativo
disciplinar contra João para apurar suposta violação de dever
funcional.
No que se refere à situação hipotética apresentada, julgue
o item a seguir.
A autarquia tem direito de regresso contra João.
( ) Certo
( ) Errado

14. (SEDF - Analista de Gestão Educacional - Direito e


Legislação – CESPE/2017) A exploração e operação de
determinado aeroporto foi transferida pelo governo federal
para um consórcio de empresas pelo prazo de vinte anos. Em
determinado dia, durante a vigência da execução desse serviço
público pelo consórcio, uma passageira sofreu um acidente
grave em esteira rolante do aeroporto, a qual se encontrava em
manutenção devidamente sinalizada. A passageira, por estar
enviando mensagem no aparelho celular, não observou a
sinalização relativa à manutenção da esteira.

A respeito dessa situação hipotética e de aspectos legais e


doutrinários a ela relacionados, julgue o item subsequente.
Caso se comprove que o acidente decorreu de culpa
exclusiva da passageira, o consórcio de empresas não
responderá civilmente pelo acidente.
( ) Certo
( ) Errado

15. (SEDF - Professor – Direito – QUADRIX/2017)


Acerca do Direito Administrativo, julgue o item a seguir.

Noções Básicas de Administração Pública 38


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NOÇÕES BÁSICAS DE ÉTICA E
FILOSOFIA

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APOSTILAS OPÇÃO

desenvolvidas que estejam as nossas tecnologias, expressar o


pensamento sem linguagem e nem exercitar a linguagem sem
que ela seja, antes, elaborada pelo pensamento.

Surgimento da Filosofia

A Filosofia, como conhecemos hoje, ou seja, no sentido de


um conhecimento racional e sistemático, foi uma atividade
1. Fundamentos da Filosofia. que, segundo se defende na história da filosofia, iniciou na
2. Filosofia moral: Ética ou Grécia Antiga formada por um conjunto de cidades-Estado
(pólis) independentes. Isso significa que a sociedade grega
filosofia moral. reunia características favoráveis a essa forma de expressão
3. Consciência crítica e filosofia. pautada por uma investigação racional. Essas características
eram: poesia, religião e condições sociopolíticas.

Fundamentos da Filosofia. Consciência crítica e A partir do século VII a.C., os homens e as mulheres não se
filosofia. satisfazem mais com uma explicação mítica da realidade. O
O que é isto: a Filosofia? Se essa pergunta continua a ser pensamento mítico explica a realidade a partir de uma
feita é porque é um desafio a tentativa de respondê-la. Não há realidade exterior, de ordem sobrenatural, que governa a
uma definição simples que consiga resolver a questão, pela natureza. O mito não necessita de explicação racional e, por
própria extensão do conteúdo produzido que se convencionou isso, está associado à aceitação dos indivíduos e não há espaço
chamar de “filosofia” e pelas diferentes respostas que os para questionamentos ou críticas.
filósofos deram a ela no decorrer da história, muitas vezes
refutando as interpretações de outros. Ou seja, a própria É em Mileto, situado na Jônia (atual Turquia), no século VI
questão “O que é Filosofia” é aquilo que chamamos de a.C. que nasce Tales que, para a Aristóteles é o iniciador do
“problema filosófico”: problemas que só podem ser resolvidos pensamento filosófico que se distingue do mito. No entanto, o
por meio da investigação racional, pois não podem ser pensamento mítico, embora sem a função de explicar a
constatados por meio de uma experimentação, como faz a realidade, ainda ecoa em obras filosóficas, como as de Platão,
Matemática, através de cálculos, ou de análise de documentos, dos neoplatônicos e dos pitagóricos.
como faz a História, por exemplo.
A autoria da palavra “filosofia” foi atribuída pela tradição a
Vamos tomar a palavra “Justiça” como exemplo, pelo Pitágoras. As duas principais fontes sobre isso são Cícero e
método histórico, nós podemos fazer uma investigação de Diógenes Laércio. Vejamos o que escreve Cícero:
quando essa noção aparece, em qual contexto, quais foram
seus antecedentes, qual o sentido essa palavra teve em “O doutíssimo discípulo de Platão, Heráclides Pontico,
determinada época. Se dois sócios querem dividir os lucros da narra que levaram a Fliunte alguém que discorreu douta e
empresa de forma justa, ou seja, dividindo igualmente o lucro extensamente com Leonte, príncipe dos fliúncios.
e os custos, a Matemática pode nos ajudar a partir de cálculos. Como seu engenho e eloquência tivessem sido apreciados
No entanto, se tentarmos responder “O que é a justiça?” ou: por Leonte, este lhe perguntou que arte professasse, ao que ele
“Faz parte da condição humana a noção de justiça?”, o único respondeu que não conhecia nenhuma arte especial, mas que
recurso que teremos será a nossa razão, a nossa capacidade de era filósofo.
pensar. Admirado Leonte diante da novidade daquele termo,
perguntou que tipo de pessoas eram os filósofos e o que os
Desde a invenção da palavra “filosofia”, por Pitágoras, distinguia dos outros homens.
temos diversos problemas filosóficos e diversas respostas a (...)
cada um deles. Para os pré-socráticos: a physis; para a Filosofia
Antiga: a atividade política, técnicas e ética do homem; para a [Pitágoras respondeu] Outrossim, os homens (…)
Filosofia Medieval, o conflito entre fé e razão, os Universais, a comparam-se com os que vão da cidade a uma festa popular:
existência de Deus, a conciliação entre Presciência divina e alguns vão em busca de glória enquanto outros de ganho,
Livre-arbítrio; para a Filosofia Moderna, o empirismo e o restando, todavia, alguns poucos que desconsiderando
racionalismo, para a Filosofia Contemporânea, diversos completamente as outras atividades, investigam com afinco a
problemas a respeito da existência, da linguagem, da arte, da natureza das coisas: estes se dizem investigadores da
ciência, entre outros. sabedoria - quer dizer filósofos - e como é bem mais nobre ser
espectador desinteressado, também na vida a investigação e o
Temos também uma diversidade de formas literárias da conhecimento da natureza das coisas estão acima de qualquer
filosofia: Parmênides escreveu em forma de poema; Platão outra atividade”.
escreveu diálogos; Epicuro escreveu cartas; Tomás de Aquino
desenvolveu o método “questio disputatio” em suas aulas que Percebemos, por meio desse fragmento de Cícero que:
foram transcritas por seus alunos; Nietzsche escreveu em
forma de aforismos. Por esses exemplos, que não esgotam a 1) A fonte na qual ele se baseia para escrever sobre
pluralidade da escrita e da atividade filosófica, podemos Pitágoras é Heráclides Pontico, discípulo de Platão, mas que
compreender que as formas de se fazer filosofia vão muito era também influenciado pelos pitagóricos. No entanto, não se
além dos tratados e das dissertações. sabe da veracidade a respeito dessa informação, como nota
Ferrater Mora que também observa que não é possível saber
A compreensão que temos por vezes da Filosofia como se “filósofo” para Pitágoras significa o mesmo que significaria
uma atividade reservada a gênios e que, portanto, não precisa para Platão ou Aristóteles.
se preocupar em se fazer entendida aos demais humanos é
baseada em uma compreensão da atividade do pensamento 2) Pitágoras em vez de se denominar como “sábio”, prefere
sendo superior à atividade da linguagem, como se elas se denominar “filósofo”, ou seja, aquele que tem amor pela
estivessem dissociadas. Ora, não podemos ainda, por mais sabedoria. Também percebemos que aparece nome “filósofo”

Noções Básicas de Ética e Filosofia 1


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APOSTILAS OPÇÃO

e não “Filosofia” que, como atividade, tem origem posterior. muito óbvio, nunca poderá ser filósofo”. (Fundamentos de
Como se pode ver no fragmento, não havia na época uma “arte filosofia, p. 33-34)
especial”.
Consciência crítica e filosofia1
O que alguns filósofos dizem sobre O que é a Filosofia:
Talvez nada caracterize melhor o ser humano do que a
Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.): “A admiração sempre foi, consciência, isto é, o desenvolvimento dessa atividade mental
antes como agora, a causa pela qual os homens começaram a que nos permite estar no mundo com algum saber, “com-
filosofar: a princípio, surpreendiam-se com as dificuldades ciência”. Por isso, a biologia classifica o homem atual como
mais comuns; depois, avançando passo a passo, tentavam sapiens sapiens: o ser que sabe que sabe. Isso significa que o
explicar fenômenos maiores, como, por exemplo, as fases da homem é capaz de fazer sua inteligência debruçar sobre si
lua, o curso do sol e dos astros e, finalmente, a formação do mesma para tomar posse de seu próprio saber, avaliando sua
universo. Procurar uma explicação e admirar-se é reconhecer- consistência, seu limite e seu valor.
se ignorante." “O animal sabe. Mas, certamente ele não sabe que sabe: de
outro modo teria há muito multiplicado invenções e
Epicuro (341 a. C. - 270 a. C.) - "Nunca se protele o desenvolvido um sistema de construções internas.
filosofar quando se é jovem, nem o canse fazê-lo quando se é Consequentemente, permanece fechado para ele todo um
velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem domínio Real, no que nos movemos. Em relação a ele, por sermos
demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem reflexivos, não somos apenas diferentes, mas outros. Não só
diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou simples mudança de grau, mas mudança de natureza, que
assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a resulta de uma mudança de estado.” CHARDIM, Teilhard de. O
hora de ser feliz." fenômeno humano, p 187.

Edmund Husserl (1859-1938): "O que pretendo sob o O processo contínuo de conscientização faz do homem,
título de filosofia, como fim e campo de minhas elaborações, portanto, um sistema aberto, fundamentalmente relacionado
sei-o naturalmente. E contudo não o sei... Qual o pensador para com o mundo e consigo mesmo. O ser humano pode voltar-se
quem, na sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um para dentro de si, investigando seu íntimo. E projetar-separa
enigma?" fora, investigando o universo.

Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Um filósofo: é um Assim, a conscientização faz do homem um ser dinâmico,
homem que experimenta, vê, ouve, suspeita, espera e sonha eterno caminhante destinado à procura e ao encontro da
constantemente coisas extraordinárias; que é atingido pelos realidade. Caminhante cuja estrada é feita da harmonia e do
próprios pensamentos como se eles viessem de fora, de cima e conflito com o ser, o saber e o fazer, dimensões essenciais da
de baixo, como por uma espécie de acontecimentos e de faíscas existência humana.
de que só ele pode ser alvo; que é talvez, ele próprio, uma
trovoada prenhe de relâmpagos novos; um homem fatal, em Despertar da consciência critica
torno do qual sempre tomba e rola e rebenta e se passam
coisas inquietantes”. (Para além do bem e do mal, p. 207) Vimos que a consciência pode centra-se sobre o próprio
sujeito, sondando a interioridade, ou sobre os objetos
Kant (1724-1804): “Não se ensina filosofia, ensina-se a exteriores, sondando a alteridade (do latim alter “outro”). Há,
filosofar”. portanto, duas dimensões complementares no processo de
conscientização:
Ludwig Wittgenstein (1889-1951): "Qual o seu objetivo
em filosofia? - Mostrar à mosca a saída do vidro." - Consciência de si, isto é, concentração da consciência
nos estados interiores do sujeito, que exige reflexão. Alcança-
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961): "A verdadeira se, por intermédio dela, a dimensão da interioridade que se
filosofia é reaprender a ver o mundo." manifesta através do processo de falar, criar, afirmar, propor,
inovar.
Gilles Deleuze (1925-1996): e Félix Guattari (1930-
1993): "A filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar - Consciência do outro, isto é, a concentração da
conceitos... O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em consciência nos objetos exteriores que exige atenção. Alcança-
potência... Criar conceitos sempre novos é o objeto da se, por intermédio dela, a dimensão da alteridade, que se
filosofia." manifesta através do processo de escutar, absorver,
reformular, rever, renovar.
Karl Jaspers (1883-1969): “As perguntas em filosofia são
mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma- O despertar da consciência crítica (ou senso crítico)
se numa nova pergunta” (Introdução ao pensamento filosófico, depende do crescimento dessas duas dimensões da
p. 140). consciência: a reflexão sobre si e a atenção sobre o mundo. Se
apensas um desses aspectos se desenvolve, há uma
García Morente (1886-1942): “Para abordar a filosofia, deformação, um abalo no desenvolvimento da consciência
para entrar no território da filosofia, é absolutamente crítica.
indispensável uma primeira disposição de ânimo. É
absolutamente indispensável que o aspirante a filósofo sinta a Suponhamos, por exemplo, o crescimento só da
necessidade de levar seu estudo com uma disposição infantil. consciência do outro. Essa atenção unilateral ao mundo, sem
(…) Aquele para quem tudo resulta muito natural, para quem reflexão sobre si mesmo, conduziria à perda da identidade
tudo resulta muito fácil de entender, para quem tudo resulta pessoal, à exaltação dos objetos externos, ao alheamento.

1 http://professorrodrigosouza.blogspot.com.br/2010/07/desenvolvimento-da-
consciencia.html

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Por outro lado, Imaginemos o crescimento só da satisfatoriamente esses dois termos. No período seguinte, a
consciência de si. Essa reflexão em trono do eu, sem atenção discussão prosseguiu entre os filósofos. O francês René
sobre o mundo, conduziria ao isolamento, ao fechamento Descartes (1596-1650), por exemplo, colocava a ênfase na
interior, ao labirinto narcisista. razão, enquanto o também francês Pascal fazia o contraponto
ao afirmar que “o coração tem razões que a razão desconhece”,
O escritor alemão Wolfgang Goethe (1749-18322) dizia isto é, existem outras possibilidades de conhecimento das
que o homem só conhece o mundo dentro de si se toma quais a razão não participa.
consciência de si mesmo dentro do mundo. Assim, o
desenvolvimento da conscientização humana depende da Consciência intuitiva
superação do isolamento e do alheamento. É processo
dialético, que se move do eu ao mundo e do mundo ao eu. Do A intuição é uma forma de consciência que pode ser
fazer ao saber. E do saber ao refazer, e assim por diante. apontada como um saber imediato ou seja, que ocorre como
um insight. Desse modo, a intuição distingue-se do
Modos de consciência conhecimento formal, refletido, que se constrói através de
argumentos.
Geralmente relacionamos a consciência apenas à
capacidade cognitiva, ou seja, à capacidade de apreensão É possível falar na existência de uma intuição sensível e
intelectual de uma dada realidade. No entanto, o ser humano uma intuição intelectual. O filosofo grego Aristóteles se refere
se relaciona com a realidade através de múltiplos sentidos e à intuição intelectual como o conhecimento imediato de algo
múltiplas capacidades. Por isso, podemos distinguir alguns universalmente valido e evidente, que, posteriormente,
modos da consciência que estabelecem essa relação homem- poderá ser demonstrado através de argumentos. Já a intuição
mundo. sensível seria um conhecimento imediato restrito ao contexto
das experiências individuais singulares. Ou seja, são aquelas
Consciência Mítica “leituras de mundo” guiadas pelo conjunto de experiências de
cada indivíduo e se que, dessa forma, só podem ser
O termo mito tem diversos significados. Pode significar: “decifradas” a partir de suas vivencias subjetivas.
uma ideia falsa, como quando se diz “o mito da superioridade
racial dos germânicos difundidos pelos nazistas”; uma crença Em um e outro caso, a intuição tem caráter sincrético, isto
exagerada no talento de alguém, como em “Elvis Presley foi o é, representa uma aglutinação de elementos indistintos que,
maior mito da música popular mundial”, ou ainda algo irreal e posteriormente, podem ser desdobrados em uma análise.
supersticioso, como o “mito do saci-pererê”. Quando isso se der, estaremos entrando no conhecimento
racional.
Quando falamos em mito num sentido antropológico, que
é o que nos interessa aqui, queremos nos referir às narrativas Consciência racional
e ritos tradicionais, integrantes da cultura de um povo,
principalmente entre as populações primitivas e antigas, que O filosofo Hegel considera que há três grandes formas de
utilizam elementos simbólicos para explicar a realidade e dar compreensão do mundo, que seriam a religião, a arte e a
sentido à vida humana. Para o especialista romeno em história filosofia. A diferença entre elas estaria no seu modo de
das religiões Mircea Eliade (1907-1986): “O muito conta uma consciência enquanto a religião apreende o mundo pela fé, a
história sagrada: ele relata um acontecimento ocorrido no arte o faz predominantemente pela intuição e a filosofia, pelo
tempo primordial (...) O mito narra como, graças às façanhas conhecimento racional.
dos entes sobrenaturais, uma realidade passou a existir”.
A consciência racional busca a compressão da realidade
Através dos mitos, os homens procuravam explicar a por meio de certos princípios estabelecidos pela razão, como,
realidade e, a partir dessa explicação, criavam meios para, por por exemplo o de causa e efeito (todo efeito deve ter sua
exemplo, se proteger dos males que os ameaçavam. Por causa). Essa busca racional se caracteriza por pretender
intermédio de ritos sagrados, afirmavam e renovavam suas alcançar uma adequação entre o pensamento e a realidade,
alianças com os seres sobrenaturais e, com isso, produziam isto é, entre explicação e aquilo que se procura explicar.
uma sensação de amparo diante dos perigos da vida.
“Para o racionalismo grego, de Platão e Aristóteles e outros,
Embora não fosse um conhecimento do tipo racional, conhecer significava entender as causas (...) Para se conseguir
conforme veremos adiante, a consciência mítica mostrava-se definir o mundo em termos de causas, é essencial desenvolver a
operativa, isto é, trazia resultados, transmitindo valores e ideia de uma cadeia unilinear (..) é necessário supor uma série
normas de conduta desejados pelas sociedades. Nesse sentido, de princípios: o princípio de identidade (A=A), o princípio de não
as lendas míticas de vários povos são ricas em metáforas e contradição (é impossível algo ser A e não ser A ao mesmo
reflexões sobre os homens e sua condição do mundo. tempo) e o princípio do terceiro excluído (ou A é verdadeiro ou
A é falso e não há terceira possibilidade). A partir desses três
Consciência religiosa princípios derivamos o modelo típico do pensamento racional
ocidental.” ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação,
A consciência religiosa compartilha com a consciência p. 31 e 32.
mítica o elemento do sobrenatural, a crença em um poder
superior inteligente, isto é, a divindade. No entanto, é uma O conhecimento racional é comum à ciência e à filosofia.
consciência que, historicamente, conviveu, dialogou e debateu Esses dois campos do saber racional se mantiveram ligados
com a razão filosófica e cientifica. Sua diferença em relação a por muitos séculos, mas, principalmente, a partir da revolução
esses saberes está na crença em verdades revelada pela fé cientifica, no séc. XVII, foram separados e hoje guardam
religiosa enquanto a filosofia e a ciência se apoiam sobretudo características próprias.
na razão para alcançar o conhecimento.
A ciência desenvolve métodos científicos, baseados em
Os longos debates travados entre os defensores da fé e os experimentações, que permitem a observação dos dados
da razão, durante a Idade Média, não conseguiram conciliar empíricos e a sua organização em teorias, para alcançar o que

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é universal em relação ao fenômeno ou objeto investigado. má, virtuosa ou viciosa? Por que, por exemplo, a coragem era
Devido ao acumulo de conhecimento já alcançado pela considerada virtude e a covardia, vício? Por que valorizavam
humanidade, a ciência tende cada vez mais à especialização. positivamente a justiça e desvalorizavam a injustiça,
combatendo-a? Numa palavra: o que eram e o que valiam
A filosofia se distingue da ciência por ser mais teórica e não realmente os costumes que lhes haviam sido ensinados?
condicionar o objeto de sua análise a um laboratório de
experimentações. A filosofia também não pretende um saber Os costumes, porque são anteriores ao nosso nascimento e
especializado, e sim um conhecimento que resgate a visão de formam o tecido da sociedade em que vivemos, são
conjunto. Por isso, o diálogo entre filosofia e ciência é considerados inquestionáveis e quase sagrados (as religiões
fundamental, pois um lado complementa o outro. Nesse tendem a mostrá-los como tendo sido ordenados pelos deuses,
dialogo, a filosofia pede valer-se dos resultados alcançados na origem dos tempos). Ora, a palavra costume se diz, em
pela ciência e questiona-los de uma forma global. grego, ethos – donde, ética – e, em latim, mores – donde, moral.
Enquanto a ciência procura, principalmente, compreender Em outras palavras, ética e moral referem-se ao conjunto de
o que são as coisas, ou seja, fornece a chave da compressão da costumes tradicionais de uma sociedade e que, como tais, são
realidade, a filosofia, através da razão crítica, e capaz de considerados valores e obrigações para a conduta de seus
“estranhar” essa realidade cotidianamente e, assim, proceder membros. Sócrates indagava o que eram, de onde vinham, o
à reflexão em busca de seus fundamentos, percebendo o que que valiam tais costumes. No entanto, a língua grega possui
ela é e propondo o que ela deveria ser. Em outras palavras, a uma outra palavra que, infelizmente, precisa ser escrita, em
filosofia não busca somente a descrição objetiva da realidade, português, com as mesmas letras que a palavra que significa
mas avalia e questiona essa realidade. costume: ethos. Em grego, existem duas vogais para
pronunciar e grafar nossa vogal e: uma vogal breve, chamada
A filosofia moral - Ética ou filosofia moral2 epsilon, e uma vogal longa, chamada eta. Ethos, escrita com a
vogal longa (ethos com eta), significa costume; porém, escrita
Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, com a vogal breve (ethos com epsilon), significa caráter, índole
valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao natural, temperamento, conjunto das disposições físicas e
proibido, e à conduta correta, válidos para todos os seus psíquicas de uma pessoa. Nesse segundo sentido, ethos se
membros. Culturas e sociedades fortemente hierarquizadas e refere às características pessoais de cada um que determinam
com diferenças muito profundas de castas ou de classes podem quais virtudes e quais vícios cada um é capaz de praticar.
até mesmo possuir várias morais, cada uma delas referida aos Refere-se, portanto, ao senso moral e à consciência ética
valores de uma casta ou de uma classe social. individuais.

No entanto, a simples existência da moral não significa a Dirigindo-se aos atenienses, Sócrates lhes perguntava qual
presença explícita de uma ética, entendida como filosofia o sentido dos costumes estabelecidos (ethos com eta: os
moral, isto é, uma reflexão que discuta, problematize e valores éticos ou morais da coletividade, transmitidos de
interprete o significado dos valores morais. Podemos dizer, a geração a geração), mas também indagava quais as disposições
partir dos textos de Platão e de Aristóteles, que, no Ocidente, a de caráter (ethos com epsilon: características pessoais,
ética ou filosofia moral inicia-se com Sócrates. sentimentos, atitudes, condutas individuais) que levavam
alguém a respeitar ou a transgredir os valores da cidade, e por
Percorrendo praças e ruas de Atenas – contam Platão e quê.
Aristóteles -, Sócrates perguntava aos atenienses, fossem
jovens ou velhos, o que eram os valores nos quais acreditavam Ao indagar o que são a virtude e o bem, Sócrates realiza na
e que respeitavam ao agir. Que perguntas Sócrates lhes fazia? verdade duas interrogações. Por um lado, interroga a
sociedade para saber se o que ela costuma (ethos com eta)
Indagava: O que é a coragem? O que é a justiça? O que é a considerar virtuoso e bom corresponde efetivamente à virtude
piedade? O que é a amizade? A elas, os atenienses respondiam e ao bem; e, por outro lado, interroga os indivíduos para saber
dizendo serem virtudes. Sócrates voltava a indagar: O que é a se, ao agir, possuem efetivamente consciência do significado e
virtude? Retrucavam os atenienses: É agir em conformidade da finalidade de suas ações, se seu caráter ou sua índole (ethos
com o bem. E Sócrates questionava: Que é o bem? (...) com epsilon) são realmente virtuosos e bons. A indagação ética
socrática dirige-se, portanto, à sociedade e ao indivíduo.
Nossos sentimentos, nossas condutas, nossas ações e
nossos comportamentos são modelados pelas condições em As questões socráticas inauguram a ética ou filosofia
que vivemos (família, classe e grupo social, escola, religião, moral, porque definem o campo no qual valores e obrigações
trabalho, circunstâncias políticas, etc.). Somos formados pelos morais podem ser estabelecidos, ao encontrar seu ponto de
costumes de nossa sociedade, que nos educa para partida: a consciência do agente moral. É sujeito ético moral
respeitarmos e reproduzirmos os valores propostos por ela somente aquele que sabe o que faz, conhece as causas e os fins
como bons e, portanto, como obrigações e deveres. de sua ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes
e a essência dos valores morais. Sócrates afirma que apenas o
Dessa maneira, valores e maneiras parecem existir por si e ignorante é vicioso ou incapaz de virtude, pois quem sabe o
em si mesmos, parecem ser naturais e intemporais, fatos ou que é o bem não poderá deixar de agir virtuosamente(...).
dados com os quais nos relacionamos desde o nosso
nascimento: somos recompensados quando os seguimos, Aristóteles acrescenta à consciência moral, trazida por
punidos quando os transgredimos. Sócrates, a vontade guiada pela razão como o outro elemento
fundamental da vida ética. A importância dada por Aristóteles
Sócrates embaraçava os atenienses porque os forçava a à vontade racional, à deliberação e à escolha o levou a
indagar qual a origem e essência das virtudes (valores e considerar uma virtude como condição de todas as outras e
obrigações) que julgavam praticar ao seguir os costumes de presente em todas elas: a prudência ou sabedoria prática. O
Atenas. Como e por que sabiam que uma conduta era boa ou prudente é aquele que, em todas as situações, é capaz de julgar

2Extraído p/ fins didáticos de Convite à Filosofia - de Marilena Chauí - Ed. Ática, Disponível em:
São Paulo, 2000. http://www.projeto.unisinos.br/humanismo/etica/histetica.pdf.

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e avaliar qual a atitude e qual a ação que melhor realizarão a Deus. Em outras palavras, enquanto nas demais religiões
finalidade ética, ou seja, entre as várias escolhas possíveis, qual antigas a divindade se relacionava com a comunidade social e
a mais adequada para que o agente seja virtuoso e realize o que politicamente organizada, o Deus cristão relaciona-se
é bom para si e para os outros. diretamente com os indivíduos que nele creem. Isso significa,
antes de qualquer coisa, que a vida ética do cristão não será
Se examinarmos o pensamento filosófico dos antigos, definida por sua relação com a sociedade, mas por sua relação
veremos que nele a ética afirma três grandes princípios da vida espiritual e interior com Deus. Dessa maneira, o cristianismo
moral: introduz duas diferenças primordiais na antiga concepção
ética: em primeiro lugar, a ideia de que a virtude se define por
1. por natureza, os seres humanos aspiram ao bem e à nossa relação com Deus e não com a cidade (a polis) nem com
felicidade, que só podem ser alcançados pela conduta virtuosa; os outros. Nossa relação com o outros depende da qualidade
de nossa relação com Deus, único mediador entre cada
2. a virtude é uma força interior do caráter, que consiste na indivíduo e os demais. Por esse motivo, as duas virtudes cristãs
consciência do bem e na conduta definida pela vontade guiada primeiras e condições de todas as outras são a fé (qualidade da
pela razão, pois cabe a esta última o controle sobre instintos e relação de nossa alma com Deus) e a caridade (o amor aos
impulsos irracionais descontrolados que existem na natureza outros e a responsabilidade pela salvação dos outros,
de todo ser humano; conforme exige a fé). As duas virtudes são privadas, isto é, são
relações do indivíduo com Deus e com os outros, a partir da
3. a conduta ética é aquela na qual o agente sabe o que está intimidade e da interioridade de cada um; em segundo lugar, a
e o que não está em seu poder realizar, referindo-se, portanto, afirmação de que somos dotados de vontade livre – ou livre-
ao que é possível e desejável para um ser humano. Saber o que arbítrio – e que o primeiro impulso de nossa liberdade dirige-
está em nosso poder significa, principalmente, não se deixar se para o mal e para o pecado, isto é, para a transgressão das
arrastar pelas circunstâncias, nem pelos instintos, nem por leis divinas. Somos seres fracos, pecadores, divididos entre o
uma vontade alheia, mas afirmar nossa independência e nossa bem (obediência a Deus) e o mal (submissão à tentação
capacidade de autodeterminação(...). demoníaca). Em outras palavras, enquanto para os filósofos
antigos a vontade era uma faculdade racional capaz de
Os filósofos antigos (gregos e romanos) consideravam a dominar e controlar a desmesura passional de nossos apetites
vida ética transcorrendo como um embate contínuo entre e desejos, havendo, portanto, uma força interior (a vontade
nossos apetites e desejos – as paixões – e nossa razão. Por consciente) que nos tornava morais, para o cristianismo, a
natureza, somos passionais e a tarefa primeira da ética é a própria vontade está pervertida pelo pecado e precisamos do
educação de nosso caráter ou de nossa natureza, para auxílio divino para nos tornarmos morais.
seguirmos a orientação da razão. A vontade possuía um lugar
fundamental nessa educação, pois era ela que deveria ser Qual o auxílio divino sem o qual a vida ética seria
fortalecida para permitir que a razão controlasse e dominasse impossível? A lei divina revelada, que devemos obedecer
as paixões. O passional é aquele que se deixa arrastar por tudo obrigatoriamente e sem exceção. O cristianismo, portanto,
quanto satisfaça imediatamente seus apetites e desejos, passa a considerar que o ser humano é, em si mesmo e por si
tornando-se escravo deles. Desconhece a moderação, busca mesmo, incapaz de realizar o bem e as virtudes. Tal concepção
tudo imoderadamente, acabando vítima de si mesmo. leva a introduzir uma nova ideia na moral: a ideia do dever.

Podemos resumir a ética dos antigos em três aspectos Por meio da revelação aos profetas (Antigo Testamento) e
principais: de Jesus Cristo (Novo Testamento), Deus tornou sua vontade e
sua lei manifestas aos seres humanos, definindo eternamente
1. o racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade o bem e o mal, a virtude e o vício, a felicidade e a infelicidade,
com a razão, que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade a salvação e o castigo. Aos humanos, cabe reconhecer a
até ele; vontade e a lei de Deus, cumprindo-as obrigatoriamente, isto
é, por atos de dever. Estes tornam morais um sentimento, uma
2. o naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade intenção, uma conduta ou uma ação.
com a Natureza (o cosmos) e com nossa natureza (nosso
ethos), que é uma parte do todo natural; Mesmo quando, a partir do Renascimento, a filosofia moral
distancia-se dos princípios teológicos e da fundamentação
3. a inseparabilidade entre ética e política: isto é, entre a religiosa da ética, a ideia do dever permanecerá como uma das
conduta do indivíduo e os valores da sociedade, pois somente marcas principais da concepção ética ocidental. Com isso, a
na existência compartilhada com outros encontramos filosofia moral passou a distinguir três tipos fundamentais de
liberdade, justiça e felicidade. conduta:

A ética, portanto, era concebida como educação do caráter 1. a conduta moral ou ética, que se realiza de acordo com
do sujeito moral para dominar racionalmente impulsos, as normas e as regras impostas pelo dever;
apetites e desejos, para orientar a vontade rumo ao bem e à
felicidade, e para formá-lo como membro da coletividade 2. a conduta imoral ou antiética, que se realiza
sociopolítica. contrariando as normas e as regras fixadas pelo dever;

Sua finalidade era a harmonia entre o caráter do sujeito 3. a conduta indiferente à moral, quando agimos em
virtuoso e os valores coletivos, que também deveriam ser situações que não são definidas pelo bem e pelo mal, e nas
virtuosos. quais não se impõem as normas e as regras do dever.

O cristianismo: interioridade e dever Juntamente com a ideia do dever, a moral cristã introduziu
Diferentemente de outras religiões da Antiguidade, que uma outra, também decisiva na constituição da moralidade
eram nacionais e políticas, o cristianismo nasce como religião ocidental: a ideia de intenção. Até o cristianismo, a filosofia
de indivíduos que não se definem por seu pertencimento a moral localizava a conduta ética nas ações e nas atitudes
uma nação ou a um Estado, mas por sua fé num mesmo e único visíveis do agente moral, ainda que tivessem como

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pressuposto algo que se realizava no interior do agente, em A exposição kantiana parte de duas distinções:
sua vontade racional ou consciente. Eram as condutas visíveis
que eram julgadas virtuosas ou viciosas. O cristianismo, 1. a distinção entre razão pura teórica ou especulativa e
porém, é uma religião da interioridade, afirmando que a razão pura prática;
vontade e a lei divinas não estão escritas nas pedras nem nos
pergaminhos, mas inscritas no coração dos seres humanos. A 2. a distinção entre ação por causalidade ou necessidade e
primeira relação ética, portanto, se estabelece entre o coração ação por finalidade ou liberdade.
do indivíduo e Deus, entre a alma invisível e a divindade. Como
consequência, passou-se a considerar como submetido ao Razão pura teórica e prática são universais, isto é, as
julgamento ético tudo quanto, invisível aos olhos humanos, é mesmas para todos os homens em todos os tempos e lugares –
visível ao espírito de Deus, portanto, tudo quanto acontecem podem variar no tempo e no espaço os conteúdos dos
nosso interior. O dever não se refere apenas às ações visíveis, conhecimentos e das ações, mas as formas da atividade
mas também às intenções invisíveis, que passam a ser julgadas racional de conhecimento e da ação são universais. Em outras
eticamente. Eis por que um cristão, quando se confessa, palavras, o sujeito, em ambas, é sujeito transcendental, como
obriga-se a confessar pecados cometidos por atos, palavras e vimos na teoria do conhecimento. A diferença entre razão
intenções. Sua alma, invisível, tem o testemunho do olhar de teórica e prática encontra-se em seus objetos. A razão teórica
Deus, que a julga. ou especulativa tem como matéria ou conteúdo a realidade
exterior a nós, um sistema de objetos que opera segundo leis
Natureza humana e dever necessárias de causa e efeito, independentes de nossa
intervenção; a razão prática não contempla uma causalidade
O cristianismo introduz a ideia do dever para resolver um externa necessária, mas cria sua própria realidade, na qual se
problema ético, qual seja, oferecer um caminho seguro para exerce. Essa diferença decorre da distinção entre necessidade
nossa vontade, que, sendo livre, mas fraca, sente-se dividida e finalidade/liberdade.
entre o bem e o mal. No entanto, essa ideia cria um problema
novo. Se o sujeito moral é aquele que encontra em sua A Natureza é o reino da necessidade, isto é, de
consciência (vontade, razão, coração) as normas da conduta acontecimentos regidos por sequências necessárias de causa e
virtuosa, submetendo-se apenas ao bem, jamais submetendo- efeito – é o reino da física, da astronomia, da química, da
se a poderes externos à consciência, como falar em psicologia. Diferentemente do reino da Natureza, há o reino
comportamento ético por dever? Este não seria o poder humano da práxis, no qual as ações são realizadas
externo de uma vontade externa (Deus), que nos domina e nos racionalmente não por necessidade causal, mas por finalidade
impõe suas leis, forçando-nos a agir em conformidade com e liberdade.
regras vindas de fora de nossa consciência?
A razão prática é a liberdade como instauração de normas
Em outras palavras, se a ética exige um sujeito autônomo, e fins éticos. Se a razão prática tem o poder para criar normas
a ideia de dever não introduziria a heteronomia, isto é, o e fins morais, tem também o poder para impô-los a si mesma.
domínio de nossa vontade e de nossa consciência por um Essa imposição que a razão prática faz a si mesma daquilo que
poder estranho a nós? ela própria criou é o dever. Este, portanto, longe de ser uma
imposição externa feita à nossa vontade e à nossa consciência,
Um dos filósofos que procuraram resolver essa dificuldade é a expressão da lei moral em nós, manifestação mais alta da
foi Rousseau, no século XVIII. Para ele, a consciência moral e o humanidade em nós. Obedecê-lo é obedecer a si mesmo. Por
sentimento do dever são inatos, são “a voz da Natureza” e o dever, damos a nós mesmos os valores, os fins e as leis de nossa
“dedo de Deus” em nossos corações. Nascemos puros e bons, ação moral e por isso somos autônomos.
dotados de generosidade e de benevolência para com os
outros. Se o dever parece ser uma imposição e uma obrigação Resta, porém, uma questão: se somos racionais e livres, por
externa, imposta por Deus aos humanos, é porque nossa que valores, fins e leis morais não são espontâneos em nós,
bondade natural foi pervertida pela sociedade, quando esta mas precisam assumir a forma do dever?
criou a propriedade privada e os interesses privados,
tornando-nos egoístas, mentirosos e destrutivos. Responde Kant: porque não somos seres morais apenas.
Também somos seres naturais, submetidos à causalidade
O dever simplesmente nos força a recordar nossa natureza necessária da Natureza. Nosso corpo e nossa psique são feitos
originária e, portanto, só em aparência é imposição exterior. de apetites, impulsos, desejos e paixões. Nossos sentimentos,
Obedecendo ao dever (à lei divina inscrita em nosso coração), nossas emoções e nossos comportamentos são a parte da
estamos obedecendo a nós mesmos, aos nossos sentimentos e Natureza em nós, exercendo domínio sobre nós, submetendo-
às nossas emoções e não à nossa razão, pois esta é responsável se à causalidade natural inexorável.
pela sociedade egoísta e perversa.
Quem se submete a eles não pode possuir a autonomia
Uma outra resposta, também no final do século XVIII, foi ética. A Natureza nos impele a agir por interesse. Este é a forma
trazida por Kant. natural do egoísmo que nos leva a usar coisas e pessoas como
meios e instrumentos para o que desejamos. Além disso, o
Opondo-se à “moral do coração” de Rousseau, Kant volta a interesse nos faz viver na ilusão de que somos livres e
afirmar o papel da razão na ética. Não existe bondade natural. racionais por realizarmos ações que julgamos terem sido
Por natureza, diz Kant, somos egoístas, ambiciosos, decididas livremente por nós, quando, na verdade, são um
destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos de prazeres que nunca impulso cego determinado pela causalidade natural. Agir por
nos saciam e pelos quais matamos, mentimos, roubamos. É interesse é agir determinado por motivações físicas, psíquicas,
justamente por isso que precisamos do dever para nos vitais, à maneira dos animais.
tornarmos seres morais.
Visto que apetites, impulsos, desejos, tendências,
comportamentos naturais costumam ser muito mais fortes do
que a razão, a razão prática e a verdadeira liberdade precisam
dobrar nossa parte natural e impor-nos nosso ser moral. Elas

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o fazem obrigando-nos a passar das motivações do interesse humano-Natureza (a relação entre razão e paixões),
para o dever. Para sermos livres, precisamos ser obrigados esquecendo a relação sujeito humano-Cultura e História. Em
pelo dever de sermos livres. segundo lugar, por terem admitido a relação entre a ética e a
sociabilidade dos seres humanos, mas tratando-a a partir de
Assim, à pergunta que fizemos no capítulo anterior sobre o laços muito frágeis, isto é, como relações pessoais diretas entre
perigo da educação ética ser violência contra nossa natureza indivíduos isolados ou independentes, quando deveriam tê-la
espontaneamente passional, Kant responderá que, pelo tomado a partir dos laços fortes das relações sociais, fixadas
contrário, a violência estará em não compreendermos nossa pelas instituições sociais (família, sociedade civil, Estado). As
destinação racional e em confundirmos nossa liberdade com a relações pessoais entre indivíduos são determinadas e
satisfação irracional de todos os nossos apetites e impulsos. O mediadas por suas relações sociais. São estas últimas que
dever revela nossa verdadeira natureza. determinam a vida ética ou moral dos indivíduos.

O dever, afirma Kant, não se apresenta através de um Somos, diz Hegel, seres históricos e culturais. Isso significa
conjunto de conteúdos fixos, que definiriam a essência de cada que, além de nossa vontade individual subjetiva (que
virtude e diriam que atos deveriam ser praticados e evitados Rousseau chamou de coração e Kant de razão prática), existe
em cada circunstância de nossas vidas. O dever não é um uma outra vontade, muito mais poderosa, que determina a
catálogo de virtudes nem uma lista de “faça isto” e “não faça nossa: a vontade objetiva, inscrita nas instituições ou na
aquilo”. O dever é uma forma que deve valer para toda e Cultura.
qualquer ação moral.
A vontade objetiva – impessoal, coletiva, social, pública –
Essa forma não é indicativa, mas imperativa. O imperativo cria as instituições e a moralidade como sistema regulador da
não admite hipóteses (“se… então”) nem condições que o vida coletiva por meio de mores, isto é, dos costumes e dos
fariam valer em certas situações e não valer em outras, mas valores de uma sociedade, numa época determinada. A
vale incondicionalmente e sem exceções para todas as moralidade é uma totalidade formada pelas instituições
circunstâncias de todas as ações morais. Por isso, o dever é um (família, religião, artes, técnicas, ciências, relações de trabalho,
imperativo categórico. Ordena incondicionalmente. Não é uma organização política, etc.), que obedecem, todas, aos mesmos
motivação psicológica, mas a lei moral interior. O imperativo valores e aos mesmos costumes, educando os indivíduos para
categórico exprime-se numa fórmula geral: Age em interiorizarem a vontade objetiva de sua sociedade e de sua
conformidade apenas com a máxima que possas querer que se cultura.
torne uma lei universal. Em outras palavras, o ato moral é
aquele que se realiza como acordo entre a vontade e as leis A vida ética é o acordo e a harmonia entre a vontade
universais que ela dá a si mesma. subjetiva individual e a vontade objetiva cultural. Realiza-se
plenamente quando interiorizamos nossa Cultura, de tal
Essa fórmula permite a Kant deduzir as três máximas maneira que praticamos espontânea e livremente seus
morais que exprimem a incondicionalidade dos atos costumes e valores, sem neles pensarmos, sem os discutirmos,
realizados por dever. São elas: sem deles duvidarmos, porque são como nossa própria
vontade os deseja. O que é, então, o dever? O acordo pleno
1. Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida entre nossa vontade subjetiva individual e a totalidade ética ou
por tua vontade em lei universal da Natureza; moralidade.

2. Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua Como consequência, o imperativo categórico não poderá
pessoa como na pessoa de outrem, sempre como um fim e ser uma forma universal desprovida de conteúdo
nunca como um meio; determinado, como afirmara Kant, mas terá, em cada época,
em cada sociedade e para cada Cultura, conteúdos
3. Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei determinados, válidos apenas para aquela formação histórica
universal para todos os seres racionais(...). e cultural. Assim cada sociedade, em cada época de sua
História, define os valores positivos e negativos, os atos
As respostas de Rousseau e Kant, embora diferentes, permitidos e os proibidos para seus membros, o conteúdo dos
procuram resolver a mesma dificuldade, qual seja, explicar por deveres e do imperativo moral.
que o dever e a liberdade da consciência moral são
inseparáveis e compatíveis. A solução de ambos consiste em Ser ético e livre será, portanto, pôr-se de acordo com as
colocar o dever em nosso interior, desfazendo a impressão de regras morais de nossa sociedade, interiorizando-as.
que ele nos seria imposto de fora por uma vontade estranha à
nossa. Hegel afirma que podemos perceber ou reconhecer o
momento em que uma sociedade e uma Cultura entram em
Cultura e dever declínio, perdem força para conservar-se e abrem-se às crises
internas que anunciam seu término e sua passagem a uma
Rousseau e Kant procuraram conciliar o dever e a ideia de outra formação sociocultural. Esse momento é aquele no qual
uma natureza humana que precisa ser obrigada à moral. No os membros daquela sociedade e daquela Cultura contestam
entanto, ao enfatizarem a questão da natureza (Natureza e os valores vigentes, sentem-se oprimidos e esmagados por
natureza humana), tenderam a perder de vista o problema da eles, agem de modo a transgredi-los. É o momento no qual o
relação entre o dever e a Cultura, pois poderíamos repetir, antigo acordo entre as vontades subjetivas e a vontade
agora, a pergunta que fizemos antes: Se a ética exige um sujeito objetiva rompem-se inexoravelmente, anunciando um novo
consciente e autônomo, como explicar que a moral exija o período histórico.
cumprimento do dever, definido como um conjunto de valores,
normas, fins e leis estabelecidos pela Cultura? Não estaríamos Numa perspectiva algo semelhante à hegeliana encontra-
de volta ao problema da exterioridade entre o sujeito e o se, no século XX, o filósofo francês Henri Bergson. Como Hegel,
dever? A resposta a essa questão foi trazida, no século XIX, por Bergson procura compreender a relação dever-Cultura ou
Hegel. Hegel critica Rousseau e Kant por dois motivos. Em dever-História e, portanto, as mudanças nas formas e no
primeiro lugar, por terem dado atenção à relação sujeito conteúdo da moralidade. Distingue ele duas morais: a moral

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fechada e a aberta. A moral fechada é o acordo entre os valores Espinosa jamais fala em pecado e em dever; fala em fraqueza e
e os costumes de uma sociedade e os sentimentos e as ações em força para ser, pensar e agir.
dos indivíduos que nela vivem. É a moral repetitiva, habitual,
respeitada quase automaticamente por nós. Em contrapartida, As virtudes aristotélicas inserem-se numa sociedade que
a moral aberta é uma criação de novos valores e de novas valorizava as relações sociopolíticas entre os seres humanos,
condutas que rompem a moral fechada, instaurando uma ética donde a proeminência da amizade e da justiça. As virtudes
nova. Os criadores éticos são, para Bergson, indivíduos cristãs inserem-se numa sociedade voltada para a relação dos
excepcionais – heróis, santos, profetas, artistas -, que colocam humanos com Deus e com a lei divina. A virtude espinosista
suas vidas a serviço de um tempo novo, inaugurado por eles, toma a relação do indivíduo com a Natureza e a sociedade,
graças a ações exemplares, que contrariam a moral fechada centrando-se nas ideias de integridade individual e de força
vigente. interna para relacionar-se livremente com ambas. Como,
porém, vivemos numa cultura cristã, a perspectiva do
Hegel diria que a moral aberta bergsoniana só pode cristianismo, embora historicamente datada, tende a ser
acontecer quando a moralidade vigente está em crise, prestes dominante, ainda que se altere periodicamente para adaptar-
a terminar, porque um novo período histórico-cultural está se a novas exigências históricas. Assim, no século XVII,
para começar. A moral fechada quando sentida como Espinosa abandona as noções cristãs de pecado e dever que,
repressora e opressora, e a totalidade ética, quando percebida no século XVIII, reaparecem com Kant.
como contrária à subjetividade individual, indicam aquele
momento em que as normas e os valores morais são Razão, desejo e vontade
experimentados como violência e não mais como realização
ética. A tradição filosófica que examinamos até aqui constitui o
racionalismo ético, pois atribui à razão humana o lugar central
História e Virtudes(...) na vida ética. Duas correntes principais formam a tradição
racionalista: aquela que identifica razão com inteligência, ou
Para Espinosa, somos seres naturalmente passionais, intelecto – corrente intelectualista – e aquela que considera
porque sofremos a ação de causas exteriores a nós. Em outras que, na moral, a razão identifica-se com a vontade – corrente
palavras, ser passional é ser passivo, deixando-se dominar e voluntarista.
conduzir por forças exteriores ao nosso corpo e à nossa alma.
Ora, por natureza, vivemos rodeados por outros seres, mais Para a concepção intelectualista, a vida ética ou vida
fortes do que nós, que agem sobre nós. Por isso, as paixões não virtuosa depende do conhecimento, pois é somente por
são boas nem más: são naturais. Três são as paixões originais: ignorância que fazemos o mal e nos deixamos arrastar por
alegria, tristeza e desejo. As demais derivam-se destas. Assim, impulsos e paixões contrários à virtude e ao bem. O ser
da alegria nascem o amor, a devoção, a esperança, a segurança, humano, sendo essencialmente racional, deve fazer com que
o contentamento, a misericórdia, a glória; da tristeza surgem o sua razão ou inteligência (o intelecto) conheça os fins morais,
ódio, a inveja, o orgulho, o arrependimento, a modéstia, o os meios morais e a diferença entre bem e mal, de modo a
medo, o desespero, o pudor; do desejo provém a gratidão, a conduzir a vontade no momento da deliberação e da decisão.
cólera, a crueldade, a ambição, o temor, a ousadia, a luxúria, a A vida ética depende do desenvolvimento da inteligência ou
avareza. razão, sem a qual a vontade não poderá atuar.

Uma paixão triste é aquela que diminui a capacidade de ser Para a concepção voluntarista, a vida ética ou moral
e agir de nosso corpo e de nossa alma; ao contrário, uma paixão depende essencialmente da nossa vontade, porque dela
alegre aumenta a capacidade de existir e agir de nosso corpo e depende nosso agir e porque ela pode querer ou não querer o
de nossa alma. No caso do desejo, podemos ter paixões tristes que a inteligência lhe ordena. Se a vontade for boa, seremos
(como a crueldade, a ambição, a avareza) ou alegres (como a virtuosos, se for má, seremos viciosos. A vontade boa orienta
gratidão e a ousadia). nossa inteligência no momento da escolha de uma ação,
enquanto a vontade má desvia nossa razão da boa escolha, no
Que é o vício? Submeter-se às paixões, deixando-se momento de deliberar e de agir. A vida ética depende da
governar pelas causas externas. Que é a virtude? Ser causa qualidade de nossa vontade e da disciplina para forçá-la rumo
interna de nossos sentimentos, atos e pensamentos. Ou seja, ao bem. O dever educa a vontade para que se torne reta e boa.
passar da passividade (submissão a causas externas) à
atividade (ser causa interna). A virtude é, pois, passar da Nas duas correntes, porém, há concordância quanto à ideia
paixão à ação, tornar-se causa ativa interna de nossa de que, por natureza, somos seres passionais, cheios de
existência, atos e pensamentos. As paixões e os desejos tristes apetites, impulsos e desejos cegos, desenfreados e
nos enfraquecem e nos tornam cada vez mais passivos. As desmedidos, cabendo à razão (seja como inteligência, no
paixões e os desejos alegres nos fortalecem e nos preparam intelectualismo, seja como vontade, no voluntarismo)
para passar da passividade à atividade. estabelecer limites e controles para paixões e desejos.
Egoísmo, agressividade, avareza, busca ilimitada de prazeres
Como sucumbimos ao vício? Deixando-nos dominar pelas corporais, sexualidade sem freios, mentira, hipocrisia, má-fé,
paixões tristes e pelas desejantes nascidas da tristeza. O vício desejo de posse (tanto de coisas como de pessoas), ambição
não é um mal: é fraqueza para existir, agir e pensar. Como desmedida, crueldade, medo, covardia, preguiça, ódio,
passamos da paixão à ação ou à virtude? Transformando as impulsos assassinos, desprezo pela vida e pelos sentimentos
paixões alegres e as desejantes nascidas da alegria em alheios são algumas das muitas paixões que nos tornam
atividades de que somos a causa. A virtude não é um bem: é a imorais e incapazes de relações decentes e dignas com os
força para ser e agir autonomamente. outros e conosco mesmos.

Observamos, assim, que a ética espinosista evita oferecer Quando cedemos a elas, somos viciosos e culpados. A ética
um quadro de valores ou de vícios e virtudes, distanciando-se apresenta-se, assim, como trabalho da inteligência e/ou da
de Aristóteles e da moral cristã, para buscar na ideia moderna vontade para dominar e controlar essas paixões.
de indivíduo livre o núcleo da ação moral. Em sua obra, Ética, Uma paixão – amor, ódio, inveja, ambição, orgulho, medo –
coloca-nos à mercê de coisas e pessoas que desejamos possuir

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ou destruir. O racionalismo ético define a tarefa da educação Consciência, desejo e vontade formam o campo da vida
moral e da conduta ética como poderio da razão para impedir- ética: consciência e desejo referem-se às nossas intenções e
nos de perder a liberdade sob os efeitos de paixões motivações; a vontade, às nossas ações e finalidades. As
desmedidas e incontroláveis. primeiras dizem respeito à qualidade da atitude interior ou
dos sentimentos internos ao sujeito moral; as últimas, à
Para tanto, a ética racionalista distingue necessidade, qualidade da atitude externa, das condutas e dos
desejo e vontade. comportamentos do sujeito moral.

A necessidade diz respeito a tudo quanto necessitamos Para a concepção racionalista, a filosofia moral é o
para conservar nossa existência: alimentação, bebida, conhecimento das motivações e intenções (que movem
habitação, agasalho no frio, proteção contra as intempéries, interiormente o sujeito moral) e dos meios e fins da ação moral
relações sexuais para a procriação, descanso para desfazer o capazes de concretizar aquelas motivações e intenções.
cansaço, etc. Convém observar que a posição de Kant, embora racionalista,
difere das demais porque considera irrelevantes as
Para os seres humanos, satisfazer às necessidades é fonte motivações e intenções do sujeito, uma vez que a ética diz
de satisfação. O desejo parte da satisfação de necessidades, respeito à forma universal do ato moral, como ato livre de uma
mas acrescenta a elas o sentimento do prazer, dando às coisas, vontade racional boa, que age por dever segundo as leis
às pessoas e às situações novas qualidades e sentidos. universais que deu a si mesma. O imperativo categórico exclui
motivos e intenções (que são sempre particulares) porque
No desejo, nossa imaginação busca o prazer e foge da dor estes o transformariam em algo condicionado por eles e,
pelo significado atribuído ao que é desejado ou indesejado. A portanto, o tornariam um imperativo hipotético, destruindo-o
maneira como imaginamos a satisfação, o prazer, o como fundamento universal da ação ética por dever.
contentamento que alguma coisa ou alguém nos dão
transforma esta coisa ou este alguém em objeto de desejo e o Ética das emoções e do desejo(...)
procuramos sempre, mesmo quando não conseguimos possuí-
lo ou alcançá-lo. O desejo é, pois, a busca da fruição daquilo que Há ainda uma outra concepção ética, francamente
é desejado, porque o objeto do desejo dá sentido à nossa vida, contrária à racionalista (e, por isso, muitas vezes chamada de
determina nossos sentimentos e nossas ações. Se, como os irracionalista), que contesta à razão o poder e o direito de
animais, temos necessidades, somente como humanos temos intervir sobre o desejo e as paixões, identificando a liberdade
desejos. Por isso, muitos filósofos afirmam que a essência dos com a plena manifestação do desejante e do passional. Essa
seres humanos é desejar e que somos seres desejantes: não concepção encontra-se em Nietzsche e em vários filósofos
apenas desejamos, mas sobretudo desejamos ser desejados contemporâneos.
por outros.
Embora com variantes, essa concepção filosófica pode ser
A vontade difere do desejo por possuir três características resumida nos seguintes pontos principais, tendo como
que este não possui: referência a obra nietzscheana A genealogia da moral: a moral
racionalista foi erguida com finalidade repressora e não para
1. o ato voluntário implica um esforço para vencer garantir o exercício da liberdade; a moral racionalista
obstáculos. Estes podem ser materiais (uma montanha surge transformou tudo o que é natural e espontâneo nos seres
no meio do caminho), físicos (fadiga, dor) ou psíquicos humanos em vício, falta, culpa, e impôs a eles, com os nomes
(desgosto, fracasso, frustração). A tenacidade e a de virtude e dever, tudo o que oprime a natureza humana;
perseverança, a resistência e a continuação do esforço são paixões, desejos e vontade referem-se à vida e à expansão de
marcas da vontade e por isso falamos em força de vontade; nossa força vital, portanto, não se referem, espontaneamente,
ao bem e ao mal, pois estes são uma invenção da moral
2. o ato voluntário exige discernimento e reflexão antes de racionalista; a moral racionalista foi inventada pelos fracos
agir, isto é, exige deliberação, avaliação e tomada de decisão. A para controlar e dominar os fortes, cujos desejos, paixões e
vontade pesa, compara, avalia, discute, julga antes da ação; vontade afirmam a vida, mesmo na crueldade e na
agressividade. Por medo da força vital dos fortes, os fracos
3. a vontade refere-se ao possível, isto é, ao que pode ser condenaram paixões e desejos, submeteram a vontade à razão,
ou deixar de ser e que se torna real ou acontece graças ao ato inventaram o dever e impuseram castigos para os
voluntário, que atua em vista de fins e da previsão das transgressores; transgredir normas e regras estabelecidas é a
consequências. Por isso, a vontade é inseparável da verdadeira expressão da liberdade e somente os fortes são
responsabilidade. capazes dessa ousadia. Para disciplinar e dobrar a vontade dos
fortes, a moral racionalista, inventada pelos fracos,
O desejo é paixão. A vontade, decisão. O desejo nasce da transformou a transgressão em falta, culpa e castigo; a força
imaginação. A vontade se articula à reflexão. O desejo não vital se manifesta como saúde do corpo e da alma, como força
suporta o tempo, ou seja, desejar é querer a satisfação imediata da imaginação criadora. Por isso, os fortes desconhecem
e o prazer imediato. A vontade, ao contrário, realiza-se no angústia, medo, remorso, humildade, inveja. A moral dos
tempo; o esforço e a ponderação trabalham com a relação fracos, porém, é atitude preconceituosa e covarde dos que
entre meios e fins e aceitam a demora da satisfação. Mas é o temem a saúde e a vida, invejam os fortes e procuram, pela
desejo que oferece à vontade os motivos interiores e os fins mortificação do corpo e pelo sacrifício do espírito, vingar-se da
exteriores da ação. À vontade cabe a educação moral do desejo. força vital; a moral dos fracos é produto do ressentimento, que
odeia e teme a vida, envenenando-a com a culpa e o pecado,
Na concepção intelectualista, a inteligência orienta a voltando contra si mesma o ódio à vida; a moral dos
vontade para que esta eduque o desejo. Na concepção ressentidos, baseada no medo e no ódio à vida (às paixões, aos
voluntarista, a vontade boa tem o poder de educar o desejo, desejos, à vontade forte), inventa uma outra vida, futura,
enquanto a vontade má submete-se a ele e pode, em muitos eterna, incorpórea, que será dada como recompensa aos que
casos, pervertê-lo. sacrificarem seus impulsos vitais e aceitarem os valores dos
fracos; a sociedade, governada por fracos hipócritas, impõe
aos fortes modelos éticos que os enfraqueçam e os tornem

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prisioneiros dóceis da hipocrisia da moral vigente; é preciso mas porque eram irrealizáveis e impossíveis numa sociedade
manter os fortes, dizendo-lhes que o bem é tudo o que violenta como a nossa, baseada na exploração do trabalho, na
fortalece o desejo da vida e o mal tudo o que é contrário a esse desigualdade social e econômica, na exclusão de uma parte da
desejo. Para esses filósofos, que podemos chamar de anti- sociedade dos direitos políticos e culturais. A moral burguesa,
racionalistas, a moral racionalista ou dos fracos e ressentidos dizia Marx, pretende ser um racionalismo humanista, mas as
que temem a vida, o corpo, o desejo e as paixões é a moral dos condições materiais concretas em que vive a maioria da
escravos, dos que renunciam à verdadeira liberdade ética(...) sociedade impedem a existência plena de um ser humano que
realize os valores éticos. Para Marx, portanto, tratava-se de
Essa concepção da ética suscita duas observações. mudar a sociedade para que a ética pudesse concretizar-se.

Em primeiro lugar, lembremos que a ética nasce como Críticas semelhantes foram feitas por pensadores
trabalho de uma sociedade para delimitar e controlar a socialistas, anarquistas, utópicos, para os quais o problema
violência, isto é, o uso da força contra outrem. Vimos que a não se encontrava na razão como poderio dos fracos
filosofia moral se ergue como reflexão contra a violência, em ressentidos contra os fortes, mas no modo como a sociedade
nome de um ser humano concebido como racional, desejante, está organizada, pois nela o imperativo categórico kantiano,
voluntário e livre, que, sendo sujeito, não pode ser tratado por exemplo, não pode ser respeitado, uma vez que a
como coisa. A violência era localizada tanto nas ações contra organização social coloca uma parte da sociedade como coisa,
outrem – assassinato, tortura, suplício, escravidão, crueldade, instrumento ou meio para a outra parte.
mentira, etc. – como nas ações contra nós mesmos –
passividade, covardia, ódio, medo, adulação, inveja, remorso, O intelecto: empirismo e criticismo.
etc.
Empirismo e criticismo3
A ética se propunha, assim, a instituir valores, meios e fins
que nos libertassem dessa dupla violência. Os críticos da moral Empirismo
racionalista, porém, afirmam que a própria ética,
transformada em costumes, preconceitos cristalizados e O empirismo pode ser definido como a asserção de que
sobretudo em confiança na capacidade apaziguadora da razão, todo conhecimento sintético é baseado na experiência.
tornou-se a forma perfeita da violência. Contra ela, os anti- Conceitua-se empirismo, como a corrente de pensamento que
racionalistas defendem o valor de uma violência nova e sustenta que a experiência sensorial é a origem única ou
purificadora – a potência ou a força dos instintos -, fundamental do conhecimento.
considerada libertadora. O problema consiste em saber se tal
violência pode ter um papel libertador e suscitar uma nova Originário da Grécia Antiga, o empirismo foi reformulado
ética. através do tempo na Idade Média e Moderna, assumindo várias
manifestações e atitudes, tornando-se notável as distinções e
Em segundo lugar, é curioso observar que muitos dos divergências existentes. Porém, é notório que existem
chamados irracionalistas contemporâneos baseiam-se na características fundamentais, sem as quais se perde a essência
psicanálise e na teoria freudiana da repressão do desejo do empirismo e a qual, todos os autores conservam que é a tese
(fundamentalmente, do desejo sexual). Propõem uma ética de que todo e qualquer conhecimento sintético haure sua
que libere o desejo da repressão a que a sociedade o submeteu, origem na experiência e só é válido quando verificado por fatos
repressão causadora de psicoses, neuroses, angústias e metodicamente observados, ou se reduz a verdades já
desesperos. O aspecto curioso está no fato de que Freud fundadas no processo de pesquisa dos dados do real, embora,
considerava extremamente perigoso liberar o id, as pulsões e sua validade lógica possa transcender o plano dos fatos
o desejo, porque a psicanálise havia descoberto uma ligação observados.
profunda entre o desejo de prazer e o desejo de morte, a
violência incontrolável do desejo, se não for orientado e Como já foi dito anteriormente, existe no empirismo
controlado pelos valores éticos propostos pela razão e por divergência de pensamentos, e é exatamente esse aspecto que
uma sociedade racional. abordaremos a seguir. São três, as linhas empíricas, sendo elas:
a integral, a moderada e a científica.
Essas duas observações não devem, porém, esconder os
méritos e as dificuldades da proposta moral anti-racionalista. O empirismo integral reduz todos os conhecimentos à
É o seu grande mérito desnudar a hipocrisia e a violência da fonte empírica, aquilo que é produto de contato direto e
moral vigente, trazer de volta o antigo ideal de felicidade que imediato com a experiência. Quando a redução é feita à mera
nossa sociedade destruiu por meio da repressão e dos experiência sensível, temos o sensismo (ou sensualismo). É o
preconceitos. Porém, a dificuldade, como acabamos de caso de John Stuart Mill, que na obra Sistema da Lógica diz que
assinalar acima, está em saber se o que devemos criticar e todos os conhecimentos científicos resultam de processos
abandonar é a razão ou a racionalidade repressora e violenta, indutivos, não constituindo exceção as verdades matemáticas,
inventada por nossa sociedade, que precisa ser destruída por que seriam resultado de generalizações a partir de dados da
uma nova sociedade e uma nova racionalidade. experiência. Ele apresenta a indução como único método
científico e afirma que nela resolvem-se tanto o silogismo
Sob esse aspecto, é interessante observar que não só Freud quanto os axiomas matemáticos.
e Nietzsche criticaram a violência escondida sob a moral
vigente em nossa Cultura, mas a mesma crítica foi feita por O empirismo moderado, também denominado genético-
Bergson (quando descreveu a moral fechada) e por Marx, psicológico, explica que a origem temporal dos conhecimentos
quando criticou a ideologia burguesa. Marx afirmava que os parte da experiência, mas não reduz a ela a validez do
valores da moral vigente – liberdade, felicidade, racionalidade, conhecimento, o qual pode ser não empiricamente valido
respeito à subjetividade e à humanidade de cada um, etc. – (como nos casos dos juízos analíticos). Uma das obras
eram hipócritas não em si mesmos (como julgava Nietzsche), baseadas nessa linha é a de John Locke (Ensaios sobre o

3 Texto adaptado e disponível em:


http://filosofando.no.comunidades.net/index.php?pagina=1351028287_04

Noções Básicas de Ética e Filosofia 10


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Entendimento Humano), na qual ele explica que as sensações filosofia segue a mesma que Platão e Sócrates, ter a razão como
são ponto de partida de tudo aquilo que se conhece. Todas as instrumento fundamental de conhecimento.
ideias são elaborações de elementos que os sentidos recebem
em contato com a realidade. Empirismo

Como já foi dito, para os moderados há verdades Para o empirismo a experiência é a fonte de todo o
universalmente validas, como as matemáticas, cuja validez não conhecimento, mas também o seu limite. Os empiristas negam
assenta na experiência, e sim no pensamento. Na doutrina de a existência de ideias inatas, como defendiam Platão e
Locke, existe a admissão de uma esfera de validade lógica a Descartes.
priori e, portanto não empírica, no que concerne aos juízos
matemáticos. Os empiristas reservam para a razão a função de uma mera
organização de dados da experiência sensível, sendo as ideias
Por fim, há o empirismo científico, que admite como válido, ou conceitos da razão simples cópias ou combinações de dados
o conhecimento oriundo da experiência ou verificado provenientes da experiência.
experimentalmente, atribuindo aos juízos analíticos
significações de ordem formal enquadradas no domínio das Entre os filósofos que assumiram uma perspectiva
fórmulas lógicas. Esta tendência está longe de alcançar a empirista destacam-se John Locke e David Hume.
almejada “unanimidade científica”.
Locke afirma que o conhecimento começa do particular
Criticismo para o geral, das impressões sensoriais para a razão. A mente
humana é como uma “tábua rasa” que por meio da experiência
O criticismo é o estudo metódico prévio do ato de conhecer intermediada pelos sentidos vão sendo geradas as ideias. Não
e dos modos de conhecimento, ou seja, uma disposição há ideias nem princípios inatos. Nenhum ser humano por mais
metódica do espírito no sentido de situar, preliminarmente o genial que seja é capaz de construir ou inventar ideias, e nem
problema do conhecimento em função da relação sujeito- sequer é capaz de destruir as que existem.
objeto, indagando as suas condições e pressupostos.
Para Hume as ideias são resultados de uma reflexão das
Ele aceita e recusa certas afirmações do empirismo e impressões (sensações) recebidas das experiências sensíveis.
racionalismo, por isso, muitos autores acreditam em sua A imaginação permite-nos associar ideias simples entre si para
autonomia. Entretanto, devemos entender tal posição como formar ideias complexas. Qualquer ideia tem assim origem em
uma análise crítica e profunda dos pressupostos do impressões sensoriais. As impressões não nos dão a realidade,
conhecimento. mas são a própria realidade. Por isso podemos dizer que as
mesmas são verdadeiras ou falsas. As ideias só são verdadeiras
Seu maior representante, Immanuel Kant, tem como marca se procederam de impressões. Neste sentido, todas aquelas
a determinação a priori das condições lógicas das ciências. Ele que não correspondam a impressões sensíveis são falsas ou
declara que o conhecimento não pode prescindir da meras ficções, como é o caso das ideias de "substância
experiência, a qual fornece o material cognoscível e nesse espírito", "causalidade", pois não correspondem a algo que
ponto coincide com o empirismo. Porém, sustenta também que exista.
o conhecimento de base empírica não pode prescindir de
elementos racionais, tanto que só adquire validade universal Criticismo
quando os dados sensoriais são ordenados pela razão.
Segundo palavras do próprio autor: “os conceitos sem as Kant (1724-1804). Todo o conhecimento inicia-se com
intuições são vazios; as intuições sem os conceitos são cegas”. a experiência, mas este é organizado pelas estruturas a
Para ele, o conhecimento é sempre uma subordinação do real priori do sujeito. Segundo Kant o conhecimento é a síntese do
à medida do humano. dado na nossa sensibilidade (fenômeno) e daquilo que o nosso
entendimento produz por si (conceitos). O conhecimento
Conclui-se então, que pela ótica do criticismo, o nunca é pois, o conhecimento das coisas "em si", mas das
conhecimento implica sempre numa contribuição positiva e coisas "em nós".
construtora por parte do sujeito cognoscente em razão de algo
que está no espírito, anteriormente à experiência do ponto de Para Kant, a dualidade "Racionalismo - Empirismo" é
vista gnosiológico. superada por uma harmonia entre os sentidos e a razão.

Racionalismo, Empirismo e Criticismo4 Questões5

Racionalismo 01. (Leopoldino Rocha) O sujeito ético-moral é somente


aquele que preencher os seguintes requisitos:
O Racionalismo é uma doutrina que atribui à Razão (A) ser consciente de si, mas não precisa reconhecer a
humana a capacidade exclusiva de conhecer e de estabelecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a si.
verdade. O racionalismo é baseado nos princípios da busca da (B) saber o que faz, conhecer as causas e os fins de sua
certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes e a
a priori, ou seja, conhecimentos que não vêm da experiência e essência dos valores morais.
são elaborados somente pela razão. Para o racionalismo a (C) não precisa controlar interiormente seus impulsos,
razão é a fonte principal do conhecimento. suas inclinações e suas paixões, deixando-as fluir livremente
(D) dizer o que as coisas são, como são e por que são.
Entre os filósofos que assumiram uma perspectiva Enunciar, pois, juízos de fato
racionalista do conhecimento, destaca-se René Descartes, sua

4 Texto adaptado e disponível em: 5 DESCONVERSA. Questões. Disponível em: <


http://filosofiasociedadeeeducacao.blogspot.com.br/2012/05/racionalismo- https://descomplica.com.br/blog/exercicios-resolvidos/questoes-comentadas-
empirismo-e-criticismo.html pre-socraticos/> Acesso em 13 de abril de 2017.

Noções Básicas de Ética e Filosofia 11


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(E) ser responsável, mas não precisa reconhecer-se como


autor da sua própria ação nem avaliar os efeitos e as 4. A relação entre os valores
consequências dela sobre si e sobre os outros. éticos ou morais e a cultura
02. O brasileiro tem noção clara dos comportamentos
éticos e morais adequados, mas vive sob o espectro da Para entender a diferença entre Ética e Moral
corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado dos
padrões morais que as pessoas dizem aprovar, pareceria mais Podemos responder à pergunta: “Qual é a diferença entre
com a Escandinávia do que com Bruzundanga (corrompida ética e moral?”, utilizando de uma parábola árabe, de Gustavo
nação fictícia de Lima Barreto). Bernardo6.

O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” “Certa vez, um homem fugia de uma quadrilha de bandidos
efetivamente o que é moral constitui uma ambiguidade violentos quando encontrou, sentado na beira do caminho, o
inerente ao humano, porque as normas morais são: profeta Maomé. Ajoelhando-se à frente do profeta, o homem
(A) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, pediu ajuda: essa quadrilha quer o meu sangue, por favor,
utópicas. proteja-me!
(B) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é O profeta manteve a calma e respondeu: continue a fugir
destituído de obrigação. bem à minha frente, eu me encarrego dos que o estão
(C) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo perseguindo.
conseguir cumpri-las integralmente. Assim que o homem se afastou correndo, o profeta levantou-
(D) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à se e mudou de lugar, sentando-se na direção de outro ponto
qual deve se submeter cardeal. Os sujeitos violentos chegaram e, sabendo que o profeta
(E) cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a só podia dizer a verdade, descreveram o homem que
observar as normas jurídicas. perseguiam, perguntando-lhe se o tinha visto passar.
O profeta pensou por um momento e respondeu: falo em
Respostas. nome daquele que detém em sua mão a minha alma de carne:
desde que estou sentado aqui, não vi passar ninguém.
01 - B Os perseguidores se conformaram e se lançaram por um
Vamos analisar cada uma das alternativas. outro caminho. O fugitivo teve a sua vida salva”.
(A) Essa alternativa está errada, porque o sujeito moral
precisa ter consciência de tudo que o cerca. Enquanto a Ética está contida na reflexão, a Moral está
(B) Essa alternativa responde perfeitamente à questão. O contida na ação.
sujeito moral é aquele que vive em plena consonância com sua A Moral, verificada na ação reiterada no tempo e espaço
cultura, com seus objetivos e com os outros. (costume, hábito), é tida como particular. A Ética, de cunho
(C) O agir moral é o resultado de um acordo comunitário, filosófico, é tida como universal.
por isso o homem precisa conter suas paixões para que possa
exercitá-lo. Se o profeta fosse apenas um moralista, seguindo as regras
(D) O sujeito moral precisar ter disposição para alterar a sem pensar sobre elas, sem avaliar as consequências da sua
realidade através de seus atos. aplicação irrefletida, ele não poderia ajudar o homem que fugia
(E) O sujeito moral deve responsabilizar-se inteiramente dos bandidos, a menos que arriscasse a própria vida. Ele teria
pelo que faz e abraçar as implicações de seus atos totalmente. de dizer a verdade, mesmo que a verdade tivesse como
consequência a morte de uma pessoa inocente.
02 - D Se avaliarmos a ação e as palavras do profeta com absoluto
Vamos analisar cada uma das questões. rigor moral, temos de condená-lo como imoral, porque em
(A) As normas morais são fruto do pensamento de cada termos absolutos ele mentiu. Os bandidos não podiam saber
comunidade. que ele havia mudado de lugar e, na verdade, só queriam saber
(B) A moral é um padrão de conduta coletiva que deve se ele tinha visto alguém, e não se ele tinha visto alguém “desde
existir na teoria e na prática. que estava sentado ali”.
(C) As normas morais têm um caráter restritivo, uma vez Se avaliarmos a ação e as palavras do profeta, no entanto,
que funcionam como um conjunto de regras. nos termos da ética filosófica, precisamos reconhecer que ele
(D) as normas morais foram criadas pelos homens e todos teve um comportamento ético, encontrando uma alternativa
devem submeter-se a elas para que possam ter uma esperta para cumprir a regra moral de dizer sempre a verdade
convivência equilibrada. e, ao mesmo tempo, ajudar o fugitivo. Ele não respondeu
(E) O cumprimento das normas morais é um dever de exatamente ao que os bandidos perguntavam, mas ainda assim
todos. disse rigorosamente a verdade. Os bandidos é que não foram
inteligentes o suficiente, como de resto homens violentos
normalmente não o são, para atinarem com a malandragem da
frase do profeta e então elaborarem uma pergunta mais
específica, do tipo: na última meia hora, sua santidade viu este
homem passar, e para onde ele foi?

Logo, embora seja possível ser ético e moral ao mesmo


tempo, como de certo modo o profeta o foi, ética e moral não
são sinônimas. Também é perfeitamente possível ser ético e
imoral ao mesmo tempo, quando desobedeço uma
determinada regra moral porque, refletindo eticamente sobre

6 BERNARDO, Gustavo. Colunas: “Qual é a diferença entre ética e moral?”


Disponível em:
http://www.revista.vestibular.uerj.br/coluna/coluna.php?seq_coluna=68.

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ela, considero-a equivocada, ultrapassada ou simplesmente à cultura e a cultura, por sua vez, adquire uma dimensão
errada. axiológica, vale dizer, uma dimensão ética e valorativa, que é
constitutiva daquilo que a define como cultura. Esta a razão
Um exemplo famoso é o de Rosa Parks, a costureira negra pela qual se diz que não existe cultura sem ética, da mesma
que, em 1955, na cidade de Montgomery, no Alabama, nos forma que não pode existir ética sem cultura.
Estados Unidos, desobedeceu à regra existente de que a
maioria dos lugares dos ônibus era reservada para pessoas Questões
brancas. Já com certa idade, farta daquela humilhação
moralmente oficial, Rosa se recusou a levantar para um branco 01. (SEGEP/MA – Agente Penitenciário –
sentar. O motorista chamou a polícia, que prendeu a mulher e FUNCAB/2016) A Moral:
a multou em dez dólares. O acontecimento provocou um (A) no sentido prático, tem finalidade divergente da ética,
movimento nacional de boicote aos ônibus e foi a gota d’água mas ambas são responsáveis por construir as bases que vão
de que precisava o jovem pastor Martin Luther King para guiar a conduta do homem.
liderar a luta pela igualdade dos direitos civis. (B) determina o caráter da sociedade e valores como
No ponto de vista dos brancos racistas, Rosa foi imoral, e altruísmo e virtudes, ensina a melhor forma de agir e de se
eles estavam certos quanto a isso. Na verdade, a regra moral comportar em sociedade, e capacita o ser humano a competir
vigente é que estava errada, a moral é que era estúpida. A com os antiéticos, utilizando os mesmos meios destes.
partir da sua reflexão ética a respeito, Rosa pôde deliberada e (C) diferencia-se da ética no sentido de que esta tende a
publicamente desobedecer àquela regra moral. julgar o comportamento moral de cada indivíduo no seu meio.
No entanto, ambas buscam o bem-estar social.
Entretanto, é comum confundir os termos ética e moral, (D) é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano, usadas
como se fossem a mesma coisa. Muitas vezes se confunde ética eventualmente por cada cidadão, que orientam cada indivíduo,
com espírito de corpo, que tem tudo a ver com moral mas nada norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é
com ética. Um médico seguiria a “ética” da sua profissão se, por moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau.
exemplo, não “dedurasse” um colega que cometesse um erro (E) é um conjunto de conhecimentos extraídos da
grave e assim matasse um paciente. Um soldado seguiria a investigação do comportamento humano ao tentar explicar as
“ética” da sua profissão se, por exemplo, não “dedurasse” um regras morais de forma racional, fundamentada, científica e
colega que torturasse o inimigo. Nesses casos, o tal do espírito teórica.
de corpo tem nada a ver com ética e tudo a ver com
cumplicidade no erro ou no crime. 02. (FUNPRESP/EXE – Conhecimentos Básicos –
CESPE/2016) Acerca da ética e da função pública e da ética e
Há que proceder eticamente, como o fez o profeta Maomé: da moral, julgue o item que se segue.
não seguir as regras morais sem pensar, só porque são regras, Os termos moral e ética têm sentidos distintos, embora
e sim pensar sobre elas para encontrar a atitude e a palavra sejam frequente e erroneamente empregados como
mais decentes, segundo o seu próprio julgamento. sinônimos.
(....) Certo
A Moral, portanto, é influenciada por fatores sociais e (....) Errado
históricos (espaço – temporais), havendo diferenças entre os
conceitos morais de um grupo para outro(relativismo), 03. (SEDUC/PI – Professor de Filosofia –
diferentemente da Ética que, pauta-se pela universalidade NUCEPE/2015) Sobre as éticas deontológicas, marque a
(absolutismo), valendo seus princípios e valores para todo e alternativa INCORRETA.
qualquer local, em todo e qualquer tempo. (A) Para uma ética deontológica, o conceito central é o de
Dever.
Ética e Cultura7 (B) Em sua formulação contemporânea, uma ética
deontológica assume a prioridade do justo sobre o bem.
Ethos e Cultura (C) Em Kant, a ética deontológica preconiza uma razão
A dupla significação da palavra ethos, vale dizer, o éthos- prática autônoma em relação às inclinações naturais, de
costume e o éthos-morada, abre um espaço, no qual o ser caráter universal.
humano, para tornar seu mundo mais habitável, cria as formas (D) Para uma ética deontológica, o único sentimento
simbólicas, através das quais as “coisas materiais”, ou as apropriado é o de respeito à lei moral, dada a precedência das
realidades da natureza, são integradas ao sistema simbólico da normas sobre os desejos.
cultura. A realidade material (res) transforma-se, então, em (E) Para uma ética deontológica, o conteúdo do dever
uma verdadeira “obra” cultural (opus). E quando as coisas da universal é configurado a partir das consequências do curso de
natureza transformam-se em obras humanas, a Natureza se faz ação escolhido.
Cultura, da qual o homem é, ao mesmo tempo, a causa e o
efeito. Causa porque é ele quem transforma a Natureza em 04. (TCE/RN – Conhecimentos Básicos – CESPE/2015)
Cultura, e, ao mesmo tempo, efeito, porque todo homem é Com relação à ética e à moral, julgue o item seguinte.
homem de seu tempo e traz as marcas da cultura em que se A ética é um conjunto de regras e preceitos de ordem
insere e da qual recebe as influências. valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de
Pois bem, na medida em que o homem, como criador de uma sociedade.
símbolos, revela o significado dos objetos materiais que (....) Certo
transforma em objetos de cultura, ele diz, ao mesmo tempo, o (....) Errado
que esses objetos são, o que significam e o que devem ser para
atingir sua finalidade no mundo simbólico da cultura. Neste 05. (TCE/RN – Conhecimentos Básicos – CESPE/2015)
mundo, o indivíduo não encontra apenas o que precisa para Com relação à ética e à moral, julgue o item seguinte.
sua sobrevivência, mas também descobre um sistema de
normas e de valores de que precisa para sua realização, tanto
individual quanto comunitária. Por isso, o éthos é co-extensivo

7 Disponível em: http://www.unicap.br/neal/artigos/ProfZeferinoRocha.pdf.

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A efetivação da cidadania e a consciência coletiva da Mas, se ao falar em conteúdo de uma frase declarativa nos
cidadania são indicadores do desenvolvimento moral e ético referimos ao significado linguístico – a uma proposição –
de uma sociedade. quando falamos no conteúdo de um juízo referimo-nos a um
(....) Certo ato mental ao qual está associado um significado. Assim, o
(....) Errado termo juízo é geralmente utilizado numa acepção psicológica,
para referir o ato mental que nos conduz a formar (ou captar)
06. (MPU – Técnico do MPU – CESPE/2015) Com relação uma certa proposição, ou seja, a formar ou captar um certo
a moral e ética, julgue o item a seguir. pensamento. É isto que acontece quando afirmamos: “Já
A ética é um ramo da filosofia que estuda a moral, os percebi” ou “Já apanhei a ideia”. Estamos a indicar que
diferentes sistemas públicos de regras, seus fundamentos e compreendemos a proposição que a pessoa tinha em mente –
suas características aquilo que a pessoa tentava comunicar.
(....) Certo
(....) Errado Fatos e valores
Em geral, distinguimos dois tipos de juízos: juízos de fato e
07. (DEPEN – Agente e Técnico – CESPE/2015) Acerca juízos de valor. Um exemplo do primeiro tipo seria: o sol é uma
da ética e da moralidade no serviço público, julgue o item estrela; um exemplo do segundo tipo seria: o aborto – em
subsecutivo. certas circunstâncias – é moralmente permissível. Estes
Ética e moral são termos que têm raízes históricas exemplos permitem compreender facilmente a razão de ser da
semelhantes e são considerados sinônimos, uma vez que distinção. No primeiro caso, referimo-nos a um fato, não
ambos se referem a aspectos legais da conduta do cidadão. estando presente qualquer noção de certo ou errado; no
(....) Certo segundo caso, o nosso juízo envolve valores, estando por vezes
(....) Errado em causa avaliar o que é moralmente certo ou moralmente
errado.
08. (Prefeitura de Paranaguá/PR – Economista – Mas o que são valores? Os valores intervêm e influenciam
FAFIPA/2016) Sobre a ética, assinale a alternativa as nossas decisões nos mais variados campos. Os valores
INCORRETA. morais orientam as nossas ações quando está em causa o bem
(A) O objeto principal da ética, como ramo da filosofia, é a e o mal, o certo e o errado. A amizade, o respeito pelos outros,
reflexão do comportamento humano através da análise dos a honestidade e a generosidade são exemplos de valores éticos
valores e normas sociais vigentes em determinado lugar. (morais). Mas os valores estéticos e os valores religiosos são
(B) Ética e moral nem sempre são sinônimos; a moral seria também importantes na vida de muitas pessoas, basta
um conjunto de normas que podem variar com o momento pensarmos no papel central que a arte e a religião têm nas
histórico e cultural de cada sociedade, sendo, na verdade, o sociedades humanas. Como exemplos de valores estéticos, que
objeto de estudo da ética. orientam a criação artística na música, na pintura, etc.,
(C) Ética vem da palavra romana ethos, que vem de mos ou encontramos a beleza e a harmonia. A fé e o sagrado são
mores do grego, que significa moral, caráter ou costumes. exemplos de valores religiosos, decisivos na vida de muitas
(D) Muitos dividem a ética didaticamente em dois campos: pessoas.
o primeiro cuida dos problemas gerais e fundamentais Podemos então dizer que os valores – morais, estéticos e
relacionados aos valores e normas da sociedade e o segundo, religiosos – são critérios de ação. Refletem aquilo a que damos
de áreas específicas, como a ética profissional etc. importância e orientam o nosso comportamento: são eles que
nos fazem preferir certas ações e excluir outras. (Se
Respostas valorizamos o respeito pelos outros, há ações que não
praticamos – por exemplo, ferir intencionalmente os seus
01. C/02. Certo/03. E/04.Certo/05. Certo/06. Certo/ sentimentos.)
07. Errado/08. C
Juízos de fato
Retomemos um dos exemplos referidos acima. Ao dizer
5. Juízos de fato ou de que o sol é uma estrela estou a expressar um juízo de fato. Na
realidade e juízos de valor verdade, a frase “O sol é uma estrela” descreve um certo
aspecto da realidade. Os juízos de fato são, portanto,
descritivos: informam-nos sobre o que se passa na realidade –
Juízos de fato e juízos de valor8 dizem-nos, em suma, de que modo as coisas são. O mesmo
acontece com as frases “Há mais chineses que portugueses” ou
Juízos “A atmosfera terrestre contém oxigénio”.
Comecemos por esclarecer o que significa dizer que Estes exemplos permitem-nos compreender que os juízos
alguém formulou um juízo sobre determinado assunto. Fazer de fato têm valor de verdade: são verdadeiros ou falsos. Esta
um juízo significa geralmente que alguém formou ou deu uma característica deve-se a serem descritivos: são verdadeiros se
opinião. Esta opinião é comunicada oralmente ou por escrito descreverem corretamente a realidade, falsos caso a
através de uma frase declarativa, que exprime o juízo descrevam de forma incorreta. Além disso, são objetivos: a
formulado. Se a frase pôde expressar a opinião ou juízo de realidade que descrevem, quer nos agrade quer não, é como é.
alguém é porque há um significado associado à frase. Quando, Não depende do que possamos pensar ou sentir, dos nossos
depois de refletir sobre o assunto, concluo que a pena de morte desejos ou aversões. Estes sentimentos, desejos, aversões, etc.,
é injusta, estou a formar um juízo. E quando uso a frase “A pena são estados psicológicos subjetivos, e não algo independente
de morte é injusta” para comunicar a alguém a opinião que do sujeito. O filme que vi ontem na televisão, por exemplo, tem
acabei de formar, estou a comunicar o meu juízo. A frase que uma duração de 93 minutos: eis algo de objetivo, que em nada
permite comunicar o juízo tem, portanto, o mesmo conteúdo depende de mim (como existirem nove planetas no sistema
que o juízo. solar também não depende de mim: mesmo que eu pensasse
ou desejasse o contrário, a realidade não deixaria de ser a que

8 Disponível em: tamentos/Ju%C3%ADzos%20de%20Facto%20e%20Ju%C3%ADzos%20de%2


http://srec.azores.gov.pt/dre/sd/115152010600/depart/dcsh/filososia/apon 0Valor.pdf.

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é). Mas gostar ou não do filme é algo de subjetivo: depende da “António é honesto” significa algo como “Viva o António!”. Os
experiência agradável ou desagradável que o filme me juízos de valor situar-se-iam num plano puramente emotivo,
proporcionou. Um juízo deste tipo pode variar de sujeito para servindo exclusivamente para exprimir sentimentos de
sujeito (de pessoa para pessoa), e depende claramente do aprovação ou desaprovação sobre ações ou coisas.
género de experiência que cada tem ou possa ter acerca de Para se perceber melhor este ponto, convém considerar o
algo. seguinte exemplo. Os esquimós, tal como os antigos romanos,
Os juízos de fato serem objetivos tem uma consequência aceitavam o infanticídio, não vendo nesta prática nada de
importante: podemos estar errados quando os formulamos. Se condenável. Pelo contrário, nós tendemos a considerar o
alguém pensar que a Terra ocupa o centro do universo, o seu infanticídio como algo de inaceitável. Segundo o emotivismo,
juízo está objetivamente errado. O mesmo seria se todos no entanto, não podemos dizer que os romanos ou os
pensássemos dessa maneira. Não é por todos estarmos de esquimós estivessem errados. Isto implicaria supor que os
acordo sobre um certo assunto que nos faz estar na verdade. esquimós e ou romanos tinham uma crença moral falsa. Ora,
Em síntese: os juízos de fato são descritivos, têm valor de se os juízos de valor apenas exprimem atitudes, não são nem
verdade (exprimem proposições) e são objetivos. verdadeiros nem falsos; logo, nem os romanos nem os
esquimós podem, de acordo com o emotivismo, estar errados.
Juízos de valor Tudo o que se pode dizer é que entre eles e nós há uma nítida
Vejamos agora os juízos de valor. Exemplo: “A pena de diferença de atitudes.
morte é injusta.” Parece claro que este juízo exprime uma Assim, para os emotivistas, a fronteira entre juízos de valor
atitude desfavorável em relação à pena de morte: alguém que e juízos de fato não podia ser mais clara. Enquanto os juízos de
acredite nele sinceramente não está apenas a dizer-nos como fato são descritivos, têm valor de verdade e exprimem
as coisas se passam na realidade; não está apenas a descrevê- proposições, os juízos de valor, pelo contrário, são normativos,
las. Está a dizer-nos como as coisas deviam ser, isto é, está a não têm valor de verdade e não exprimem proposições, mas
avaliá-las. Dizer que a pena de morte é injusta significa fazer atitudes. A fronteira entre estes juízos não pode ser mais
uma avaliação negativa desta prática. E fazer uma avaliação vincada.
negativa implica uma atitude de reprovação: estamos a dizer
que a pena de morte não devia existir, que devia ser abolida. A fronteira segundo o objetivismo e o subjetivismo
Não nos limitamos, portanto, a descrever um fato; estamos a Outros filósofos, pelo contrário, embora admitam que os
propor a adopção de uma norma de comportamento – neste juízos de valor refletem as nossas atitudes, pensam que isso
caso, a ser aplicada pelos tribunais. Ora, as normas servem não é tudo. Os juízos de valor seriam parcialmente descritivos,
para indicar a maneira como devemos agir. É devido a esta além de normativos. Assim, tornar-se-ia possível admitir que
característica que os juízos de valor são normativos. os juízos de valor são verdadeiros ou falsos. Mas, neste caso, é
Esta análise permite-nos concluir que os juízos de fato são inevitável colocar outra questão: exprimirão os juízos de valor
descritivos e os juízos de valor têm uma função normativa. É verdades (ou falsidades) objetivas, isto é, serão verdadeiros ou
costume indicar esta diferença da seguinte maneira: os juízos falsos independentemente da perspectiva, sentimentos,
de fato tratam daquilo que as coisas são, os juízos de valor aversões, desejos, etc., dos sujeitos que os formulam? Ou
tratam daquilo que as coisas devem ser. limitar-se-ão a descrever os sentimentos, desejos, emoções,
Isto é consensual. Mas será que é tudo o que há a dizer etc. das pessoas que os fazem?
sobre as diferenças entre estes dois tipos de juízos? Ou é Voltemos ao caso do infanticídio e admitamos, por
possível ir mais longe? hipótese, que os emotivistas não têm razão – que o juízo de
valor “O infanticídio é um mal” possui valor de verdade. A
A fronteira segundo o emotivismo questão é saber se este juízo exprime uma verdade objetiva
Façamos uma breve revisão. Um juízo como “A relva é como, por exemplo, “A Terra tem um único satélite natural”, ou
verde” é verdadeiro porque descreve corretamente a se exprime algo de puramente subjetivo como “Gosto de
realidade; por outro lado, o juízo “Camões é zulu” é falso gelado de chocolate”.
porque descreve incorretamente a realidade. Para um juízo ter Se optarmos pela primeira hipótese, o infanticídio ser um
valor de verdade é, portanto, necessário ser descritivo. mal era tão verdadeiro na Roma Antiga como o é hoje, nas
Isto leva-nos naturalmente a perguntar: será que os juízos nossas sociedades, se estivermos certos e os romanos errados;
de valor também têm valor de verdade (ou seja, além de simplesmente, os romanos não o sabiam, como não sabiam,
normativos, serão também parcialmente descritivos), ou, ao por exemplo, que as espécies evoluem por seleção natural (o
contrário dos juízos de fato, não são nem verdadeiros nem que Darwin descobriu no século XIX). Assim, as verdades
falsos? Será que dizer que a pena de morte é injusta, além de morais seriam algo que descobrimos como descobrimos as
exprimir uma atitude desfavorável a respeito da pena de verdades científicas, embora não do mesmo modo. Se uma
morte, estamos também a dizer uma verdade? Ou limitamo- pessoa afirmar que o infanticídio é um mal e outra pessoa
nos a fazer uma avaliação negativa desta prática sem, contudo, afirmar que o infanticídio não é um mal, não apenas há uma
estarmos a dizer algo de verdadeiro ou de falso a seu respeito? discordância real entre elas, como uma tem de estar errada. O
Ao colocarmos esta segunda pergunta, o consenso anterior infanticídio ser – ou não – um mal não depende do ponto de
desaparece. Alguns filósofos pensam que os juízos de valor vista de cada um: é algo objetivo. Será, portanto, possível
nada têm de descritivo; são, portanto, puramente normativos. mostrar racionalmente que os romanos e os esquimós
Assim, não são nem verdadeiros nem falsos. Não haveria, estavam enganados, i. e., que a sua crença era falsa. Os filósofos
segundo esta teoria, verdades nem falsidades morais, estéticas que defendem que os valores (morais, estéticos, etc.) são
ou religiosas. Haveria apenas atitudes: atitudes que refletem objetivos chamam-se realistas ou objetivistas.
os nossos sentimentos – favoráveis ou desfavoráveis – a Para os objetivistas, a distinção entre juízos de valor e
respeito de certos assuntos. Em consequência, os juízos de juízos de fato não é muito significativa. Os juízos de valor
valor, sendo exclusivamente normativos, também não apenas se distinguem dos juízos de fato pelo seu carácter
expressariam proposições. Chamam-se emotivistas aos parcialmente normativo, sendo no mais idênticos. Esta
filósofos que defendem esta perspectiva. maneira de traçar a fronteira é, de todas, a menos vincada.
De acordo com os emotivistas, um juízo de valor como Se optarmos pela segunda hipótese, o juízo “O infanticídio
“António é honesto” reflete apenas uma atitude favorável em é um mal” é verdadeiro consoante descreva corretamente os
relação ao comportamento do António, isto é, exprime a sentimentos de quem o formula. Este juízo será verdadeiro se
respeito do António, um sentimento de aprovação. Dizer a pessoa que o formula de fato tiver um sentimento de

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reprovação acerca do infanticídio, e falso no caso inverso. não é extremamente delicado e exige muita prudência de
Assim, se uma pessoa afirmar que o infanticídio é um mal e quem vai formular o “veredicto final”.
outra afirmar que o infanticídio não é um mal, a discordância Como se não bastasse o risco de elaborarmos julgamentos
entre elas é apenas aparente, se estiverem a ser sinceras, mas precipitados e injustos sobre a participação individual das
não real. Uma dirá que tem um sentimento de aprovação em pessoas envolvidas em um caso aparentemente incorreto,
relação ao infanticídio, o que é verdade se estiver a ser sincera; muitas vezes nossos julgamentos recaem sobre segmentos
a outra dirá que tem um sentimento de desaprovação em inteiros de uma sociedade, como instituições, organismos,
relação ao infanticídio, o que é verdade se estiver a ser sincera. empresas, profissões etc.
Logo, como ambas estão a dizer a verdade, não há realmente No entanto, é preciso lembrar que em todos os setores da
uma contradição entre elas. Além disso, como um juízo de vida social há pessoas que são éticas e outras que não são. Por
valor ser verdadeiro depende apenas de quem o formula estar isso, toda generalização implica injustiça ou impropriedade
a ser sincero (de ter o sentimento que diz ter), ninguém pode em relação a muitos indivíduos, seja ela negativa ou positiva.
estar errado nos juízos de valor que formula. As verdades Alguns motivos explicam por que as pessoas caem no
morais seriam verdades acerca dos nossos sentimentos, não caminho perigoso da generalização, ao julgar todo um grupo
acerca de algo independente de nós. Estes filósofos chamam- tomando-se como referência a atitude de alguns de seus
se subjetivistas. membros que agem de forma antiética. Os motivos dessa
A fronteira, de acordo com os subjetivistas, entre juízos de generalização podem estar relacionados ao fato de que os
valor e juízos de fato é então a seguinte: os juízos de fato são membros do grupo que agiram de forma errada fazem parte
descritivos, possuem valor de verdade (exprimem de uma parcela:
proposições), e a sua verdade ou falsidade é objetiva; os juízos • quantitativamente muito expressiva, ou seja, um
de valor são parcialmente normativos, têm valor de verdade percentual muito grande de membros do grupo age
mas a sua verdade é subjetiva (pode variar consoante o sujeito incorretamente;
que os formula). • qualitativamente mais destacada do que as outras,
como a cúpula dirigente, a liderança, ou o grupo mais notável;
• que é alvo de interesse maior dos meios de
comunicação, por alguma razão;
6. Ética e cidadania • que se projetou mais, por causa de algumas
experiências negativas ocorridas com ela;
• que praticou ações de maior repercussão, pois
Ética profissional e ética da responsabilidade acabaram afetando um número muito grande de pessoas.

Um profissional apropriou-se indevidamente de recursos Também por causa desses motivos é que, quando
financeiros da organização, na qual exerce um cargo participamos de um grupo, temos duas grandes
importante. Ao ser constatado o desvio de verba, o “criminoso” responsabilidades em relação aos seus membros: a de não
passa a ser procurado. Algumas pessoas sabem que é ele o mancharmos sua imagem com algum comportamento
autor do crime, outras têm pistas que indicam que talvez seja reprovável e a de estarmos sempre atentos para que os demais
ele, e algumas não têm ideia de quem possa ser. também não o façam.
Entre essas pessoas, uma é a psicoterapeuta que o atende, Transcrevemos a seguir um pensamento de Montesquieu,
outra, o padre da igreja que ele frequenta e a quem ele se citado no livro Ética para meu filho (SAVATER, 1993, p. 169).
confessa. Ambos o ouviram e, pelo código de suas profissões, Se eu soubesse algo que me fosse útil e que fosse
devem manter sigilo. Seu advogado para assuntos pessoais, prejudicial à minha família, expulsá-lo-ia de meu espírito. Se
que também é advogado da organização onde ele trabalha, eu soubesse algo útil à minha família que não o fosse à minha
desconfiou, interrogou-o e ele confirmou ter sido o pátria, tentaria esquecê-lo. Se eu soubesse algo útil à minha
responsável, mostrando, contudo, que desviou o dinheiro por pátria que fosse prejudicial à Europa, ou que fosse útil à
estar sendo chantageado. Essa situação deixou o advogado Europa e prejudicial ao gênero humano, considerá-lo-ia um
diante de um dilema: revelar ou não o que sabia a respeito do crime, pois sou necessariamente homem, ao passo que sou
desvio de verba? francês por mera casualidade. (Montesquieu)
Um repórter está investigando o caso e conhece fatos que
podem comprometê-lo, mas não tem certeza de que é ele o O filósofo político francês Charles-Louis de Secondat,
culpado. Se não for, o jornalista e o jornal poderão sofrer Barão de Montesquieu (1689-1755), foi o autor de teorias
processo por danos morais se divulgarem a notícia. que exerceram profunda influência no pensamento político
Os membros do seu partido político, do qual é um dos moderno.
líderes, receiam um escândalo que possa comprometer a Elas inspiraram a Declaração dos Direitos do Homem e
imagem de todos. Estão sendo procurados pela imprensa para do Cidadão, elaborada em 1789, durante a Revolução
dar entrevistas, mas sabem que suas declarações poderão ser Francesa, e a Constituição dos Estados Unidos, de 1787, que
veiculadas de forma manipulada. Por isso, negam-se a falar a substituiu a monarquia constitucional pelo
respeito. presidencialismo.
A cúpula da administração teme a repercussão negativa Estado é a nação politicamente organizada, ou a
que o “golpe” possa provocar na opinião pública, entre seus sociedade política constituída segundo determinadas
clientes e entre os concorrentes. Sob o ângulo da relação custo- normas jurídicas, num território definido, sob a direção de
benefício, não sabe o que seria melhor: levar adiante um um governo independente e com a finalidade de realizar o
processo ou abafar o caso. bem comum. Estado não é a mesma coisa que governo,
Nessa situação-problema, de interesses diversos e muitos embora muitas vezes os termos sejam usados um pelo
até antagônicos, as questões relativas não só à ética outro. Governo é o órgão que exerce o poder no Estado.
profissional como também à ética da responsabilidade estão No regime democrático, ele é constituído pelos três
presentes. O que fazer? Se nos colocarmos no lugar de cada poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
uma das pessoas envolvidas, teremos ideia da importância e Os governos se revezam periodicamente. O Estado
da dimensão dos dilemas éticos com os quais podemos nos permanece e só pode ser mudado por alterações estruturais
confrontar em nossa vida profissional. Por isso, o julgamento profundas, a serem consignadas na sua Carta
sobre se a atitude de cada uma dessas pessoas seria ética ou Constitucional.

Noções Básicas de Ética e Filosofia 16


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Nesse sentido, há uma relação global na qual o destino do


planeta “sobredetermina” os destinos singulares das nações. A
vida de uma nação, dos seus indivíduos e sociedades está
indissoluvelmente vinculada à vida de todo o planeta.
“Como consequência, ocorre romper com o fechamento da
ética às comunidades nacionais e pensar numa ética da
comunidade humana que respeite as éticas nacionais e as
integre” (MORIN, 2005, p. 163).

Cidadania: uma longa história de lutas, derrotas e


conquistas
Em busca do conceito de cidadania
Por muito tempo e num passado não tão remoto, nem
É difícil encontrar um conceito de cidadania todos os seres humanos eram considerados e tratados como
suficientemente abrangente que seja aplicável a qualquer humanos por seus iguais. Conforme a época e o lugar, a
lugar, situação ou momento. Primeiro porque, como acontece desigualdade se manifestou de diferentes maneiras, ditada
com outros conceitos ligados à evolução das sociedades pelo gênero, cor, idade, origem familiar, condição econômica e
humanas, ele é uma construção histórica, ou seja, modifica-se outros motivos.
por influência das transformações da história humana. A ampliação do conceito de cidadania se processou por um
Além disso, ele reflete o ponto de vista e a condição social longo caminho de conquistas, principalmente a partir das
de quem o utiliza. revoluções sociais dos séculos XVII (a Revolução Gloriosa,
Isso porque o conceito de cidadania depende ainda do jogo inglesa) e XVIII (a Revolução Francesa e a Independência dos
de interesses de segmentos sociais diferentes e dos conflitos EUA), cujas influências foram irradiadas para todo o mundo,
entre os que estão no poder e os que estão fora dele. reformulando a lista de direitos e deveres dos cidadãos,
Vamos partir de um ponto comum de referência para segundo o ponto de vista e interesse dos vitoriosos. Algumas
chegarmos à definição adotada hoje pela maioria dos países. dessas listas ou declarações constituem a origem da ideia de
Todos nós temos direitos humanos universais, que devem cidadania que temos ainda hoje, como a Carta de Direitos
ser respeitados em qualquer lugar do mundo, Inglesa (1689), a Declaração de Independência dos Estados
independentemente da nossa nacionalidade. Os que estão Unidos (1776), a Declaração Universal dos Direitos do Homem
relacionados à nacionalidade são os direitos de cidadania. Ou e do Cidadão (1789) e a Declaração Universal dos Direitos do
seja, a cidadania é uma ligação jurídico-política que o indivíduo Homem da ONU (1948).
tem com o Estado, a que pertence e que lhe garante direitos e
lhe impõe obrigações. Seus direitos são os de decidir e influir A Declaração da ONU é bastante conhecida. Ela
sobre os destinos do Estado e o de ter a sua condição humana expressa, entre outras coisas e de forma inequívoca, que
garantida e protegida por ele. Suas obrigações são permitir e todos os homens nascem livres e iguais e têm direitos: à
cuidar para que todos obedeçam às regras estabelecidas, de vida; à liberdade (incluindo a de pensamento, opinião,
forma que a vida em comum transcorra em harmonia e expressão, reunião, associação e participação política); à
respeito e que os interesses coletivos sempre predominem segurança; a uma vida digna, mesmo quando
sobre os particulares. desempregado; à instrução e à participação na vida cultural
Por isso, ser cidadão supõe desenvolver atitudes, assumir da humanidade.
padrões de comportamento e adquirir hábitos que favoreçam
o bom convívio com os demais e também que suas ações sejam As grandes transformações na nossa vida e na vida do
pautadas pela ética do cuidado, do zelo pelo bem comum e do planeta nos últimos 50 anos imprimiram maior visibilidade
respeito pela coisa pública. Ou seja, aquele contínuo estado de aos direitos humanos e à cidadania. Eles passaram a ser mais
alerta, de observação cuidadosa em relação à segurança, à discutidos e, em consequência, ampliaram-se.
dignidade e ao bem-estar do outro e que nos leva a sempre Entre essas transformações, destacam-se:
respeitá-lo e a nos colocar de seu lado e defendê-lo quando • as novas necessidades e possibilidades que foram
alguém não o respeitar. Por essas razões, é nosso dever apoiar incorporadas ao nosso cotidiano, como acesso à escolaridade,
e estimular a extensão dos direitos de cidadania a todos, à informação, ao emprego, aos progressos da medicina e aos
assumir responsabilidades coletivas e pressionar meios de locomoção mais rápidos;
organizações e instituições que podem promover a melhoria • a ampliação de nossa visão de mundo, decorrente do
das nossas condições de vida. maior acesso à informação, por meio de diferentes mídias, e da
possibilidade de viajar a lugares mais distantes e em menor
Cidadania planetária tempo (ainda que virtualmente);
• a progressiva transformação da natureza pelo ser
Na atualidade, amplia-se o conceito de cidadania, humano, devido a descobertas científicas, à exploração de
ultrapassando a responsabilidade social no âmbito de um novas matérias-primas, às obras de engenharia, ao
Estado, para o conceito de cidadania planetária. desenvolvimento do turismo até lugares antes preservados e
Edgar Morin, no capítulo dedicado à Ética planetária, que até há pouco intocáveis, entre outros motivos;
integra o seu Método – Ética, apresenta este pensamento de V. • a luta, por meio dos diversos movimentos sociais, de
Verdnadski (filósofo e cientista político ucraniano): pessoas que foram ou ainda são excluídas da cidadania plena;
Pela primeira vez, o ser humano realmente compreendeu • a exposição maior do indivíduo, com relação à sua
que ele é um habitante do planeta e, talvez, deva pensar ou agir identidade e privacidade, devido aos meios de comunicação e
segundo um novo prisma, não apenas sob o ponto de vista técnicas de informação que podem construir e destruir sua
individual, familiar ou de gênero, estatal ou de grupos de imagem pessoal.
Estados, mas também sob o prisma planetário (VERDNADSKI
apud MORIN, 2005, p. 162). Subcidadania: a persistência da desigualdade
A cidadania planetária exige a “intersolidariedade”
objetiva da humanidade. Os direitos de cidadania que temos hoje foram
conquistados durante um longo processo histórico. Ainda

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assim, alguns deles não são oficialmente estendidos a todos ou, Sabemos que devemos ficar atentos às condições de
quando são, permanecem mais como possibilidade do que higiene e de segurança necessárias tanto para a preparação de
como realidade. um produto quanto para a prestação de um serviço?
Algumas leis que garantem direitos são muito genéricas, o
que permite múltiplas leituras e interpretações. Seguimos as normas de qualidade na produção?
Com isso, na prática, elas propiciam privilégios, exclusões Considerando o tipo de produto que oferecemos, nós
e discriminações. caprichamos na sua durabilidade, conforto, clareza, estética,
Muitas vezes também as discriminações são tão sutis e aroma, som e sabor?
camufladas que não chegam a ser percebidas por todos. Por Reparamos as falhas que encontramos ou informamos
esse motivo, não provocam reação e consequente adoção de àqueles que devem fazê-lo, para que o produto ou serviço
medidas legais para reprimi-las. corresponda ao seu protótipo?
As violências cometidas contra alguns cidadãos, ainda Sugerimos ou indicamos maneiras para melhorar a
hoje, têm provocado novos debates e novos movimentos de qualidade do que produzimos?
luta pela cidadania. São violências contra pessoas com algum Observamos se o trabalho realizado por outros, e do qual
tipo de deficiência ou doença, contra indivíduos que não se dependemos para fazer o nosso com qualidade, está sendo
enquadram nos padrões físicos estabelecidos como ideais, desenvolvido com o mesmo cuidado?
idosos, moradores de rua, homossexuais, negros, índios,
algumas nacionalidades e até mesmo contra o meio (crimes 3. Como nos comportamos, considerando a importância de
ambientais). nosso trabalho e sua repercussão tanto no ambiente em que
Por isso, apesar dos avanços conseguidos nos últimos anos, ele se desenvolve quanto na vida em sociedade?
muita gente ainda é cidadão apenas no papel, com direitos Estamos conscientes de que tudo de que dispomos é
teoricamente garantidos, mas vivendo, na prática, como resultado de trabalho coletivo e, portanto, dos esforços de
subcidadãos. Mas as obrigações da cidadania são exigidas de muitas outras pessoas que aplicaram suas energias,
todos, independentemente das oportunidades que tiveram ou competências, vontade e tempo para oferecer algo à
de sofrerem algum tipo de exclusão social. comunidade? Temos consciência de que somos um elo nessa
cadeia de energias e intenções que permite a sociabilidade e
Ética, cidadania e os deveres do trabalhador garante a sobrevivência e continuidade de nossa espécie?
Ao nos darmos conta disso, atuamos de forma
Se nos sentirmos desmotivados e com a autoestima em responsável?
baixa, porque não somos valorizados e nossos direitos não são Sabemos que, quando falhamos, podemos causar danos
respeitados, devemos utilizar os meios e aproveitar as físicos ou morais, prejuízos materiais, desconforto,
oportunidades para reverter tal situação, reivindicando, descontentamento, comprometimento de patrimônio e da
defendendo juridicamente nossos direitos, aprimorando-nos imagem de pessoas, categorias profissionais, marcas e
ou procurando outras organizações que nos ofereçam organizações?
melhores condições de trabalho. Até mesmo, se houver Respeitamos o ambiente, conservando a natureza e
oportunidade, abrir o nosso próprio negócio. evitando a poluição? Exigimos o mesmo comportamento de
Entretanto, o trabalhador cidadão também tem deveres. todos?
O que não podemos é agir de forma descuidada em nossa Reconhecemos a importância de aprender mais e nos
vida profissional, pois somos responsáveis pelas atualizar para melhorar nossa prática profissional e a dos que
consequências de nossos descuidos, tanto sobre nós mesmos nos cercam?
como sobre os outros. Por isso, como trabalhadores, devemos
estar sempre nos questionando e nos avaliando sob 4. Qual a nossa disposição para trabalhar em equipe de
determinados aspectos, de modo que nos comportemos forma cooperativa, oferecendo e recebendo ajuda, dividindo
sempre de acordo com os nossos deveres, orientados pelos responsabilidades, respeitando direitos e compartilhando
princípios da ética profissional e conforme os valores da poder e sucesso?
cidadania organizacional. Reconhecemos o valor da contribuição de cada um em
Assim, quando nos autos avaliamos, é preciso nos nosso grupo?
perguntar: Expressamos esse reconhecimento elogiando esforços e
talentos dos demais, orientando-os e indicando caminhos que
1. Como lidamos com os instrumentos e com os recursos os façam melhorar?
físicos que usamos em nosso trabalho, seja produzindo algo Solicitamos sua opinião e colaboração quando precisamos
concreto ou prestando serviços? de ajuda?
Somos cuidadosos, parcimoniosos, sensatos e prudentes Divulgamos informações e conhecimentos que possam
ao usá-los? ajudá-los?
Compreendemos a importância de evitar desperdício, Estimulamos seu desenvolvimento, sua autonomia e seu
estrago e destruição desses materiais? Temos consciência de protagonismo?
que os recursos naturais podem se esgotar e de que Ficamos atentos às condições de segurança e salubridade
economizar nos custos permite a diminuição dos preços e o do ambiente que partilhamos com os outros e também às
aumento dos salários? maneiras de preservar nossa saúde e a dos demais?
Sabemos que a qualidade do nosso trabalho depende Ao tomarmos esses cuidados, exigimos que os outros
também do bom estado e do funcionamento dos instrumentos também o façam, para que toda a comunidade seja respeitada?
que utilizamos e da qualidade da matéria-prima com que A nossa interação com a realidade, através do trabalho,
operamos? Passamos, por isso, a ficar atentos aos materiais de tem sido a favor da boa qualidade de vida?
que esses instrumentos são feitos e a seu funcionamento, para
empregá-los de forma adequada? Exigências da cidadania no mundo do trabalho e
direitos do trabalhador
2. Qual a atenção que damos à qualidade do que
oferecemos aos consumidores, clientes ou usuários? Há reciprocidade entre deveres e direitos. A todo direito
Sabemos que devemos tratá-los da mesma forma que corresponde um dever e a todo dever um direito.
gostaríamos de ser tratados?

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Hoje, várias empresas reconhecem a necessidade de 02. (FSC – Advogado – CEPERJ/2014) Dentre os
investir cada vez mais na educação de seus funcionários, fundamentos da República Federativa do Brasil está aquele
algumas delas até criando universidades corporativas. Da que não está limitado por nenhum outro na ordem interna.
mesma forma, outras empresas remuneram seus funcionários Trata-se da:
pelos títulos acadêmicos, pelo desempenho ou com base nos (A) democracia
lucros obtidos. (B) cooperação
A cidadania organizacional consiste exatamente na (C) dignidade
consciência de que a organização tem de cumprir seus deveres (D) cidadania
em relação aos seus funcionários, aos seus clientes e à (E) soberania
comunidade, deveres esses que se referem à qualidade do
produto ou serviço que oferecem, à remuneração justa ao 03. (MPOG – Atividade Técnica – FUNCAB/2015) Sobre
trabalho, ao preço justo de venda, à observância aos princípios os direitos políticos, é correto afirmar que:
éticos no que se refere aos concorrentes e ao público e também (A) são inelegíveis, de acordo com o art. 14, § 4º, da
no que diz respeito ao marketing e à propaganda. Constituição Federal, os inalistáveis e os analfabetos.
Se o trabalhador precisa ser cuidadoso com os materiais (B) a idade mínima de vinte e um anos é requisito de
que usa para trabalhar, com a qualidade do que produz elegibilidade para candidatura a vereador.
trabalhando e perceber como é responsável pela repercussão (C) o alistamento eleitoral e o voto são facultativos para os
que tem o seu trabalho na vida social, também são deveres de maiores de setenta anos e para os maiores de dezesseis e
quem o emprega, das políticas públicas, dos meios de menores de dezoito anos, mas não para os analfabetos.
comunicação, enfim, de toda a sociedade: (D) para concorrer a outro cargo, prefeitos devem
• garantir o respeito à legislação que protege os seus renunciar ao mandato até três meses antes do pleito.
direitos; (E) não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e
• reconhecer e valorizar o seu papel na sociedade, os brasileiros naturalizados.
propiciando-lhe salários justos, segurança, saúde e bem-estar
no trabalho; 04. (DEPEN – Técnico de Apoio – CESPE/2013) No que
• oferecer-lhe oportunidades e condições de crescer se refere à ética e ao exercício da cidadania, julgue o próximo
profissionalmente, com políticas de treinamento e item.
desenvolvimento e por meio de capacitações das mais diversas Configura um dos elementos indispensáveis para o
formas; exercício da cidadania o efetivo conhecimento a respeito dos
• ampliar vagas nos cursos profissionalizantes, de direitos
qualificação, requalificação e habilitação, nas modalidades (....) Certo (....) Errado
presencial e a distância;
• reconhecer os esforços e os resultados obtidos pelo 05. (INES - Assistente Social – AOCP/2013). Preencha a
trabalhador, recompensando-o com formas de remuneração lacuna e assinale a alternativa correta.
em função de seu desempenho; benefícios (plano de saúde, “A revisão do texto de 1986 processou-se em dois níveis.
pagamento de educação dos filhos, tíquete alimentação etc.); Reafirmando os seus valores fundantes - a liberdade e a justiça
participação em ações etc.; social -, articulou-os a partir da exigência democrática: a
• divulgar a importância de sua função e participação _______________ é tomada como valor ético-político central, na
no processo produtivo, de modo que seu valor seja medida em que é o único padrão de organização político-social
reconhecido socialmente. capaz de assegurar a explicitação dos valores essenciais da
liberdade e da equidade. É ela, ademais, que favorece a
Referências Bibliográficas: ultrapassagem das limitações reais que a ordem burguesa
BARBOSA, Carmem Bassi. Núcleo básico: ética profissional impõe ao desenvolvimento pleno da cidadania, dos direitos e
e cidadania organizacional/ Carmem Bassi Barbosa, José J. garantias individuais e sociais e das tendências à autonomia e
Queiroz, Julia Falivene Alves (autores); Cosme Lima de à autogestão social."
Oliveira (revisor); André Müller de Mello (coordenador). — (A) ética
São Paulo: Fundação Padre Anchieta, 2011. (Coleção Técnica (B) cidadania
Interativa. Série Núcleo Básico, v. 4) (C) democracia
Manual técnico Centro Paula Souza (D) sociedade
ISBN 978-85-8028-054-8 (E) justiça social
I. Ética profissional 2. Cidadania organizacional I. Queiroz,
José J. II. Alves, Julia Falivene. III. Oliveira, Cosme Lima de IV. 06. (Prefeitura de Cuiabá – Técnico em Administração
Mello, André Müller de V. Título. Escolar – FGV/2015) Segundo os princípios éticos e da
cidadania, assinale a afirmativa correta.
Questões (A) O servidor público deve proceder de forma diligente no
exercício de sua função.
01. (LIQUIGÁS – Profissional Júnior – (B) O servidor público pode ausentar-se do serviço
CESGRANRIO/2014) Na medida em que é editada uma lei, durante o expediente, sem prévia autorização.
regularmente votada pelo Congresso Nacional, a qual protege (C) O servidor público pode recusar fé a documentos
as pessoas com certo grau de deficiência física, ofertando públicos.
oportunidades de inserção no mercado de trabalho, está sendo (D) O servidor público pode opor resistência injustificada
realizado o princípio da ao andamento de um documento.
(A) cidadania (E) O servidor público pode coagir os subordinados no
(B) organização sentido de filiarem-se a um partido político.
(C) proteção
(D) democracia Respostas
(E) república
01. A/02. E/03. A/04. Errado/05. C/06. A

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convergência entre eles. Podemos identificar esse lugar


teórico pelo postulado imanentista no sentido estrito de
7. Racionalismo ético negação da transcendência do domínio da Ontologia, ou seja,
pela pressuposição fundamental de um pensamento pós
metafísico. Em medida mais ou menos explícita e rigorosa,
O racionalismo como padrão de conduta ética veio atender todas as correntes mais representativas do pensamento ético
as exigências do grande processo de racionalização da vida contemporâneo renunciam a uma fundamentação metafísica
social e política da França no século XVII, caracterizando a da Ética. A Ética como Metafísica segundo o projeto de Kant
época que posteriormente foi denominada l`âge classique. Ele recebido e desenvolvido especulativamente pelo idealismo
foi denominado pela figura emblemática de Descartes e, nesse alemão não teve a sequência na ética pós Kantiana. É possível,
sentido, pode ser considerado um racionalismo de perfil por outro lado, que tenhamos assistido no fim do século XX a
cartesiano. Historicamente o racionalismo ético moderno um esgotamento teórico das Éticas não metafísicas, como
conheceu duas versões: a versão mais fielmente cartesiana, testemunho um certo retorno a Aristóteles e à tradição da
influenciada pelo ideal de uma “moral da razão” e Ética clássica.
representada no século XVII pelos moralistas franceses da
segunda metade do século, e no século XVIII, pela ética da Disponível em:
ilustração interpretada seja pelo deísmo voltairiano seja pelo https://books.google.com.br/books?id=UbGyFbAeJaUC&
materialismo dos mentores da Enciclopédia; a segunda versão pg=PA91&lpg=PA91&dq=racionalismo+%C3%A9tico&sourc
desenvolveu-se no âmbito da chamada “escolástica e=bl&ots=0pTWV5psEJ&sig=bwjvVonZnnJ3XbXl-
racionalista” segundo o modelo da antiga filosofia practica que, BGpaok3HnM&hl=pt-
sob a influência Chr. Wolff, predominou nas universidades BR&sa=X&ved=0ahUKEwjDyqbzgs7QAhUKHJAKHchmC-
alemãs no século XVIII até ceder lugar à moral Kantiana. Como sQ6AEIOTAF#v=onepage&q=racionalismo%20%C3%A9tico
a do empirismo, a influência do racionalismo ético perdura e &f=false.
se fortalece na Ética contemporânea, podendo a atual “Ética da
ciência” ser considerada sua legítima herdeira. Questões
O historicismo (paradigma que faz da história,
diversamente entendida, o primum movens do pensamento 01. (PC/MT – Investigador – FUNCAB/2014) O
filosófico) tem raízes na conjuntura histórico cultural da racionalismo ético é uma das principais concepções filosóficas
Alemanha, na segunda metade do século XVII, onde a ausência da moral. Atribui à razão humana lugar central na vida ética. É
de um Estado nacional capaz de auto afirmar-se na direção do correto afirmar que essa concepção:
futuro, como na Inglaterra e na França, reforça o sentimento (A) identifica a liberdade com a plena manifestação do lado
da identidade histórica e a busca de expressões culturais que passional do homem.
correspondam às primeiras manifestações do estado de (B) não difere vontade e desejo, já que ambos tomam a
espírito que será denominado mais tarde “consciência forma de atitudes irrefletidas ou irracionais.
histórica”. Na Alemanha da segunda metade do século XVIII (C) considera as motivações e as intenções humanas
essas expressões culturais se traduzirão em movimentos de possíveis de serem conhecidas pela razão.
sensibilidade e de ideias como o chamado Sturm und Drang (D) associa os diversos vícios humanos (egoísmo, avareza,
(tempestade e ímpeto) e, mais tarde, o movimento romântico má-fé) à própria natureza do homem, impossível de ser
(die Romantik). Em contrapartida, a crítica Kantiana ao domesticada.
utilitarismo, de um lado, ao racionalismo dogmático e à sua (E) nega à razão o direito de intervir sobre o desejo e as
ética, de outro, e a preposição de uma metafísica da Razão paixões do homem.
prática como fundamento da moral irão encaminhar os
grandes herdeiros de Kant, protagonistas do chamado 02. (SED/SC – Professor – ACAFE/2015) A palavra
Idealismo alemão, na busca de uma solução especulativo – empirismo vem do grego empeiria. Ela significa:
histórica à cisão (Entzweiung) Kantiana entre razão teórica e (A) racionalismo.
razão prática. O Idealismo alemão, que se estende (B) conhecimento.
convencionalmente de 1770 (ano da Dissertatio de Kant e do (C) inatismo.
nascimento de Hegel) levará o historicismo à uma altitude (D) conhecimento inato.
especulativa raramente atingida na história da filosofia. Do (E) experiência.
historicismo filósofo procederão algumas das correntes mais
importantes da Ética contemporânea. 03. (DPU – Defensor Público – CESPE/Adapta)
É, pois, no entrecruzamento desses grandes paradigmas e Considerando concepções teóricas do empirismo e do
de suas diversas versões que irá desenvolver-se o pensamento racionalismo, julgue os itens que se seguem.
ético depois de Kant. Cada um deles dará primazia a alguma Segundo o racionalismo, todo e qualquer conhecimento é
das fontes que alimentam, na forma e no conteúdo, o agir embasado na experiência e só é válido quando verificado por
humano, sobretudo em sua especificidade ética. Assim, o fatos metodicamente observados.
empirismo tem como campo tem como campo privilegiado o (....) Certo (....) Errado
psiquismo humano, sobretudo em sua estrutura pulsional. O
racionalismo volta-se para a natureza em cujas as leis as Respostas
normas éticas deverão encontrar, de alguma maneira,
correspondência ou modelo. O historicismo vê na cultura, da 01. C/02. E/03. Errado.
qual o ethos é uma forma fundamental, o campo privilegiado
para o exercício da reflexão ética.
O espaço hermenêutico ou campo de interpretação da
Ética contemporânea, entendida como Ética pós Kantiana, fica,
desse modo, suficientemente definido entre o empirismo,
racionalismo e historicismo. Se, no que diz respeito ao
historicismo, ultrapassamos a idade romântica e os grandes
sistemas do Idealismo alemão, um traço comum une os três
paradigmas e se apresenta, talvez, como o lugar teórico de

Noções Básicas de Ética e Filosofia 20


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Karl Marx entende a liberdade humana como a constante


criação. Para ele, não há liberdade sem o mundo material no
8. Ética e liberdade qual os indivíduos manifestem na prática sua liberdade junto
com as outras pessoas.
A questão da liberdade entra na história na medida em que
O que é Ética na Filosofia9 o homem, para viver em sociedade, deve se adequar as normas
sociais que atendam às necessidades da coletividade e não as
Ética na filosofia é o estudo dos assuntos morais, do modo particulares ou individuais, o que implica em por limites a sua
de ser e agir dos seres humanos, além dos seus liberdade individual.
comportamentos e caráter. A ética na filosofia procura A liberdade é, sem dúvida, um dos conceitos centrais das
descobrir o que motiva cada indivíduo de agir de um teorizações políticas. São poucos os autores que não trataram
determinado jeito, diferencia também o que significa o bom e essa problemática em alguma de suas obras. Entretanto, para
o mau, e o mal e o bem. nos adentrarmos na problemática da liberdade, deveremos
A ética na filosofia estuda os valores que regem os fazer referência ao tema da propriedade, já que, nos autores
relacionamentos interpessoais, como as pessoas se que veremos, ambos os conceitos se entrecruzam.
posicionam na vida, e de que maneira elas convivem em Analisaremos a visão de Immanuel Kant sobre a liberdade e a
harmonia com as demais. O termo ética é oriundo do grego, e relação desta com a propriedade a partir uma dupla
significa “aquilo que pertence ao caráter”. A ética diferencia-se perspectiva. Por um lado, a relação entre ambos os conceitos
de moral, uma vez que, a moral é relacionada a regras e estará dada porque um dos direitos fundamentais, para este
normas, costumes de cada cultura, e a ética é o modo de agir pensador, será o direito a ter propriedade privada e o uso
das pessoas. quase absoluto que dela se pode fazer; haverá liberdade de ter
Para a filosofia clássica, a ética estudava a maneira de propriedade. Por outro lado, focaremos nossa atenção sobre a
buscar a harmonia entre todos os indivíduos, uma forma de relação entre liberdade e direito. Da mesma forma em que o
conviver e viver com outras pessoas, de modo que cada um conceito de liberdade está ligado a outros conceitos nos
buscasse seus interesses e todos ficassem satisfeitos. A ética na autores citados –direito em Kant e Estado em Hegel–, para
filosofia clássica abrangia diversas outras áreas de pensar a liberdade em Marx, é necessário fazer referência à
conhecimento, como a estética, a psicologia, a sociologia, a categoria de alienação. Esse conceito tomará, em A questão
economia, pedagogia, política, e etc. judaica, duas direções, que estarão, por sua vez, inter-
Com o crescimento mundial e o início da Revolução relacionadas: a crítica marxiana ao conceito de sociedade civil
Industrial, surgiu a ética na filosofia contemporânea. Diversos como o primado da liberdade negativa (Kant), por um lado, e,
filósofos como Sócrates, Aristóteles, Epicuro e outros, pelo outro, a crítica ao Estado hegeliano como o reino da
procuraram estudar a ética como uma área da filosofia que autêntica liberdade. Ambas as instâncias se entrecruzarão a
estudava as normas da sociedade, a conduta dos indivíduos e partir do conceito de alienação e propriedade privada. Um dos
o que os faz escolher entre o bem e o mal. eixos teóricos mais relevantes a tratar, esboçado nos
Manuscritos, será a noção de trabalho alienado, para explicar
Ética e Liberdade a perda da liberdade. O homem livre, de acordo com esta visão
positiva da liberdade, será aquele que não se encontrar
Em ética a liberdade costuma ser considerada um alienado nem pela relação com o seu trabalho, nem pelas
pressuposto para a responsabilidade do agente, o relações sociais nas quais se encontra inserido. Como veremos,
desenvolvimento de seu ambiente, de suas estruturas, para a ideia de liberdade política está fortemente ligada à noção de
conseguir, no final, satisfação para o meio. direito. A liberdade é por si só, um dos termos mais difíceis e
complicados para ser definido. Podemos dizer que liberdade é
Liberdade em filosofia, designa de uma maneira negativa, a um conceito inerente aos mais variados aspectos da vida
ausência de submissão de servidão e determinação, ela qualifica humana. Se definirmos liberdade na sua forma mais comum,
a independência do ser humano. dizemos que liberdade é a faculdade natural que possuem os
seres humanos de poder atuar de acordo com sua própria
É a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional, vontade. Também podemos entender como liberdade como
ela qualifica e constitui a condição dos comportamentos um estado no qual o ser humano não é obrigado a atuar de
humanos voluntários. acordo com a vontade de outro; não está escravizado por
outrem. É um conceito ligado à aspectos que tem relação com
Conceito de Liberdade para alguns Filósofos: a independência, onde não é obrigatório uma licença para
poder realizar qualquer ação por parte da pessoa onde o
Para Descartes, age com mais liberdade quem melhor adequado e o inconveniente não são levados em conta. O
compreende as alternativas que precedem à escolha. Dessa conceito de liberdade é algo que ao longo de toda a existência
premissa decorre o silogismo lógico de que quanto mais do ser humano, há sido motivo de reflexão em muitos sentidos,
evidente a veracidade de uma alternativa, maiores chances e quando nos referimos à liberdade na filosofia, liberdade é um
dela ser escolhida pelo agente. dos termos fundamentais de discussão.

Para Kant ser livre é dar a si mesmo as regras a serem Liberdade e Razão
seguidas racionalmente. Todos entendem, mas nenhum A razão no Iluminismo e a instrumentalização da razão na
homem sabe explicar. sociedade contemporânea, no Brasil, o filósofo Sérgio Paulo
Rouanet critica tendências que fazem prever o advento de um
Para Spinoza ser livre é fazer o que segue necessariamente novo irracionalismo, no qual a razão não é mais repudiada por
da natureza do agente. A liberdade suscita ao homem o poder negar realidades transcendentes como a pátria, a religião, a
de se exprimir como tal, na sua totalidade. Esta é também a família, o Estado e também por estar comprometida com o
meta dos seus esforços, a sua própria realização. poder. O irracionalismo mudou de rosto, mas não mudou de
natureza. Para Rouanet, hoje como antes, só a razão é crítica.
Admite que há um núcleo de verdade no novo irracionalismo:

9 Disponível em: https://www.significados.com.br/etica-na-filosofia/.

Noções Básicas de Ética e Filosofia 21


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APOSTILAS OPÇÃO

o conceito clássico de razão deve efetivamente ser revisto. sobre a limitação da liberdade dos governados e, pelo nosso
Depois de pensadores como Marx, Freud, Weber, Adorno e crônico déficit de cidadania, nós mesmos confundimos o valor
Foucault, precisaram de um racionalismo novo, fundado numa da liberdade com o da licenciosidade, como o direito de fazer
nova razão. De acordo com ele, não é a razão que oprime, mas aquilo que nos dá na veneta, tomando a liberdade como valor
o irracionalismo. Argumenta, todavia, que a razão de um novo antagônico à lei. Quando a boa lei é a que garante a liberdade,
iluminismo não pode ser a do século 18, que desconhecia os tratando o cidadão como senhor de suas escolhas, responsável
limites internos e externos da racionalidade e não sabia pleno pelos seus atos, na dignidade com que deve ser tratado
distinguir entre razão e ideologia. Como nos ensinam mestres pelos agentes públicos, como cidadão adulto e livre. É, pois,
e doutores da filosofia, o Iluminismo fez da razão uma fundamental se diferenciar o conceito ideal de liberty, que são
companheira da liberdade. De acordo com o otimismo essas liberdades listadas no artigo 5º da Constituição, com a
iluminista, seria através da razão que nos libertaríamos da liberdade essencial, e que dá sentido e concretude ao conceito
tirania da tradição da igreja, dos estados absolutistas… No de cidadania, que é a liberdade do freedom, enquanto domínio
entanto, já no século 18, as limitações da razão começaram a oposto ao do kingdom. Liberdade política de limitar sobretudo
ser questionadas pelos filósofos. Na atualidade, a crítica dos o poder fiscal dos governantes, de um cidadão livre para se
pós-modernos em relação à razão como legitimadora de exprimir, celebrar suas crenças, se fazer representar, produzir,
tiranias, ditaduras, totalitarismos, opressão, fez surgir empreender e se apropriar do lucro do seu trabalho. Para que,
abordagens irracionalistas que Rouanet cita e critica. Uma das para além de contribuinte, seja um pagador de impostos
conclusões, portanto, é de que não devemos nem endeusar consciente, ao mesmo tempo em que exerce controle social
nem rejeitar a razão, seja em que aspecto for, como por sobre os governantes. Vale a pena refletir sobre essa questão
exemplo no processo cognitivo e afetivo, na vida individual e do freedom como essência do liberty que foi tão bem colocado
coletiva, etc. Temos que compreender suas possibilidades e na democracia do estado moderno inglês a partir do
limites. iluminismo do século XVIII e ainda por aportar por nossas
costas.
Liberdade na Filosofia
Liberdade, em filosofia, pode ser compreendida tanto Liberdade segundo Rousseau
negativa quanto positivamente. Sob a primeira perspectiva Para ele, as instituições educativas corrompem o homem e
denota a ausência de submissão, servidão e de determinação; tiram-lhe a liberdade. Para a criação de um novo homem e de
isto é, qualifica a independência do ser humano. Na segunda, uma nova sociedade, seria preciso educar a criança de acordo
liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito com a Natureza, desenvolvendo progressivamente seus
racional; elemento qualificador e constituidor da condição dos sentidos e a razão com vistas à liberdade e à capacidade de
comportamentos humanos voluntários. Designada de uma julgar.
maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de Para Rousseau, a liberdade natural caracteriza-se por
determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser ações tomadas pelo indivíduo com o objetivo de satisfazer seus
humano. instintos, isto é, com o objetivo de satisfazer suas
A primeira grande teoria filosófica da liberdade é exposta necessidades. O homem neste estado de natureza
por Aristóteles em sua obra Ética a Nicômaco, Nessa desconsidera as consequências de suas ações para com os
concepção, a liberdade se opõe ao que é condicionado demais, ou seja, não tem a vontade e nem a obrigação de
externamente (necessidade) e ao que acontece sem escolha manter o vínculo das relações sociais. Outra característica é a
deliberada (contingência). Diz Aristóteles que é livre aquele sua total liberdade, desde que tenha forças para colocá-la em
que tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir, isto é, prática, obtendo as satisfações de suas necessidades,
aquele que é causa interna de sua ação ou da decisão de não moldando a natureza. “O homem realmente livre faz tudo que
agir. Inicialmente, desenvolvida por uma escola de Filosofia, lhe agrada e convém, basta apenas deter os meios e adquirir
Eles conservam a ideia aristotélica de que a liberdade é a força suficiente para realizar os seus desejos.”
autodeterminação ou ser causa de si. Conservam também a Ao perder uma disputa com outros indivíduos o sujeito não
ideia de que é livre aquele que age sem ser forçado nem consegue exercer a sua liberdade, uma vez que a liberdade
constrangido por nada ou por ninguém nesse estágio se estabelece a partir da correlação de forças
A terceira concepção da liberdade introduz a noção de entre os indivíduos. Não há regras, instituições ou costumes
possibilidade objetiva, O possível não é apenas alguma coisa que se sobrepõem às vontades individuais para a manutenção
sentida ou percebida subjetivamente por nós, mas é também, do “bem coletivo”. Contudo, na concepção de Rousseau, o
sobretudo alguma coisa inscrita no coração da necessidade homem selvagem viveria isolado e por isso, não faz sentido
pensar em um bem coletivo. Também não haveria tendência
Liberdade e Cidadania ao conflito entre os indivíduos isolados quando se
Como pensar a verdadeira liberdade sem pensar a lei como encontrassem, pois seus simples necessidades seriam
garantia do estado para que a liberdade de um cidadão não satisfeitas com pouco esforço, devido à relação de comunhão
venha a limitar a liberdade de outro? Como pensar a lei sem a com a natureza. O isolamento entre os indivíduos só era
urgente exigência de seu cumprimento? Como conceber uma quebrado para fins de reprodução, pois sendo autossuficientes
genuína garantia de liberdade, enfim, sem a garantia da não tinham outra necessidade para viverem em agrupamentos
propriedade mais básica de nosso próprio corpo, força de humanos. Foi a partir do isolamento que o homem adquiriu
trabalho e criação intelectual? Mas no baixo nível da cultura qualidades como amor de si mesmo e a piedade.
política brasileira não corrompemos apenas contratos e Vale ressaltar que, para Rousseau, o homem se completa
negócios. Corrompemos acima de tudo valores. Como a com a natureza, portanto não é um estado a ser superado,
cidadania mal entendida como titulação de direitos ilimitados como Locke e Hobbes acreditavam. Rousseau em o Discurso
sem a obrigatória contrapartida de deveres políticos. A sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os
começar pelo desentendimento da lei como parâmetro da Homens, afirma que “a maioria de nossos males é obra nossa e
legitimidade da própria liberdade, uma vez que esta não pode que os teríamos evitado quase todos conservando a maneira
ser entendida como algo contrário àquela. Pois toda liberdade de viver simples, uniforme e solitária que nos era prescrita
é lícita, como direito fundamental do cidadão, até o momento pela natureza” A consciência no estado selvagem não
em que não venha constranger ou limitar a liberdade de outro estabelece distinção entre bem ou mal, uma vez que tal
cidadão. Mas, na miséria de nossa cultura política, é comum um distinção é característica do indivíduo da sociedade civil. Para
abuso sem limites de legisladores e governantes legislando Rousseau, o que faz o indivíduo em estado de natureza parecer

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bom é, justamente, o fato de conseguir satisfazer suas


necessidades sem estabelecer conflitos com outros indivíduos,
sem escravizar e não sentindo vontade de impor a sua força a
outros para sobreviver e ser feliz. Anotações
Assim, sendo a ética também voltada a educação, tornando
a vida social impossível sem alguns valores que permitem a
vida em comum, sendo necessário receber uma formação
reacional para que se possa escolher de forma exata o justo e
o injusto, e a diferença do certo e o errado, a liberdade consiste
em uma interação harmoniosa dos indivíduos com a
sociedade, em verdades concretas e históricas que se voltam
para a questão em que o homem afirma que a liberdade e a
realização humana é uma decisão livre formada no
pensamento do indivíduo.

Questões

01. (INPI – Todos os cargos – CESPE/2013) Com relação


a ética, moral e ética profissional do servidor público, julgue os
itens a seguir.
Ética é a parte da filosofia que estuda os fundamentos da
moral e os princípios ideais da conduta humana.
(....) Certo (....) Errado

02. (CAIXA – Advogado – CESPE/Adaptada) Acerca da


relação entre ética e moral, assinale a opção correta.
(A) O entendimento ético discorre filosoficamente, em
épocas diferentes e por vários pensadores, dando conceitos e
formas de alusão ao termo ética.
(B) Durante as Idades Média e Moderna, a ética era
considerada uma ciência, portanto, era ensinada como
disciplina escolar. Na Idade Contemporânea, a ética assumiu
uma nova conotação, desvinculando-se da ciência e da filosofia
e sendo vinculada às práticas sociais.
(C) A simples existência da moral significa a presença
explícita de uma ética, entendida como filosofia moral, isto é,
uma reflexão que discute, problematiza e interpreta o
significado dos valores morais.
(D) A ética não tem por objetivo procurar o fundamento do
valor que norteia o comportamento, tendo em vista a
historicidade presente nos valores.
(E) O conhecimento do dever está desvinculado da noção
de ética, pois este é consequência da percepção, pelo sujeito,
de que ele é um ser racional e, portanto, está obrigado a
obedecer ao imperativo categórico: a necessidade de se
respeitar todos os seres racionais na qualidade de fins em si
mesmos.

Respostas

01. Certo/02. A.

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POLÍTICAS PÚBLICAS DA
EDUCAÇÃO

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novos sujeitos históricos (a mulher, a criança, o mendigo, o


louco, o pobre e novos temas e enfoques), em que a história
nova resgatou vários elementos discriminados pela história
rankeana.
O método de pesquisa e ensino da História nova é de que o
conhecimento historiográfico deve partir através de “pistas”,
vestígios deixados na história, ou seja, procurar e questionar
os documentos históricos como fontes, não aceitando como
documento histórico apenas os documentos oficiais e sim todo
1. Políticas públicas no vestígio que comprove o momento histórico em análise.
contexto de uma sociedade. Essa percepção de que a história não era apenas esses fatos
1.1 Políticas públicas no políticos, nem que a história era uma ciência semelhante à
Física foi uma grande contribuição dos Annales. Assim eles
contexto educacional. visam proporcionar uma história problemática e não apenas
automática, pois se visava “compreender o presente pelo
passado”, mas também percebeu que muito do sabemos do
Políticas Públicas em Educação: Contextualização passado é em virtude das nossas posturas atuais nosso
Histórico-Social e Educacional1. presente. Assim deve-se preocupar também em compreender
o passado pelo presente, como defende Le Goff.
Inserida em um contexto mundial em que se tem Muitas são as formulações de novas contribuições teórico
repensado os paradigmas modernos, no qual se questiona, metodológicas surgidas a partir da fundação da chamada
inclusive, o papel da racionalidade instrumental, questionando escola francesa dos Annales. As mais férteis têm sido sobre a
assim a ideia de objetividade da ciência e do progresso como história do cotidiano e da vida privada, história das mulheres,
linear e único para todas as sociedades, assim como a reflexão história da sexualidade, história de gêneros, micro–história,
acerca da linearidade dos acontecimentos, a pesquisa história cultural, entre várias outras tendências, mas com um
historiográfica não pôde ficar indiferente a essas teorias que claro desprestígio à História da Educação, onde percebe-se
visam fornecer elementos conceituais que auxiliem na uma dificuldade dos historiadores de verem na História da
ampliação do campo de pesquisa e na interpretação das Educação um campo de investigação histórica, o que provoca
próprias alterações por que a historiografia tem passado. um distanciamento dos historiadores de oficio deste campo.
O conhecimento histórico, por si já pressupõe uma série de Como bem lembra Block, a História é uma ciência em
dificuldades conceituais, pois, esta não possuí símbolos e construção e a História da Educação também se insere neste
grupos genéricos a todos os estudiosos; a história conheceu processo. O conceito de História da Educação é pouco preciso,
uma dilatação no seu campo conceitual, e uma mudança de bem como o seu conteúdo, o que nos leva a perceber que tal
significados dos conceitos. Esta, além de outros fatores, como a História, a História da Educação ainda está se
depende dos referenciais de quem a estuda. formando, organizando o seu campo conceitual e
As políticas educacionais são de grande importância para metodológico, e que no Brasil, nas últimas três décadas esta
entender como se apresenta o contexto em que elas são vem sendo escrita: “embora de forma fragmentária, a partir da
elaboradas e para entender as concepções e manifestações da contribuição significativas de um número crescente de
educação em dado período, podendo contribuir bastante para estudos analíticos, com grandes lacunas ainda a serem
a História da Educação. preenchidas e ressentindo-se, sobretudo, da ausência de
Assim é imprescindível saber que a História da Educação trabalhos de síntese, de caráter interpretativo”.
está em processo de definição de seus objetos, métodos e Além disto, encontramos um outro problema que é o da
teorias, assim como a própria História também tem sofrido periodização da História da Educação, em que “a tentativa de
redefinições em suas concepções teóricas e metodológicas. elaborar uma periodização mais plausível é sem dúvida,
Em meio a esta constante luta entre “paradigmas rivais” empresa arriscada, não só pela complexidade do tema, como,
observamos a firmação da História Nova, que embora não sobretudo, por ser relativamente baixo o índice de crítica
negue nenhuma das concepções anteriores de história, se historiográfica na área”.
apresenta como a mais forte contribuição no sentido desse Como nos lembra Warde: “a tarefa de enfrentar a história é
repensar da história. Iniciada a partir da fundação da revista arriscada; os problemas brotam de todos os lados e ganham as
francesa dos Annales, em 1929, sob a direção de Marc Bloch e mais diferentes formas. Mas a tarefa de estudar à História da
Lucien Febvre. A partir de então a historiografia repensou a Educação é arriscadíssima. Os historiadores, mesmo admitindo
história sob múltiplas interpretações e instigou muitos as suas dissenções, pelo menos aludem-se mutuamente, porque,
debates, dentro e fora dos centros acadêmicos, contribuindo bem ou mal, reconhecem o oficio de historiadores. Mas a quem
para uma pluralização nos debates tanto sobre a história como se reportar aquele que investiga a História da Educação?”
em outras ciências sociais, pois procurou manter uma Em meio a estas colocações insere-se o estudo das
interdisciplinaridade. políticas públicas em educação que exige muita cautela do
Engendrou-se a revolução Francesa da Historiografia, pesquisador visto os problemas de afirmação de campos,
como uma nova possibilidade de se interpretar os fatos conceitos e periodização da História e da História da Educação,
históricos, e com ela surgem novos métodos de investigação elementos chaves da investigação.
histórica da qual originou a chamada “História Nova”, que Feitas as devidas ressalvas, e esclarecidas as dificuldades
criou novas possibilidades de ver o mundo, de estudar o quanto aos objetos, problemas e métodos de análise,
ambiente privado, não se restringindo somente ao público; de verificamos que no início da década de 80 os estudos sobre
estudar uma história também feita por mulheres, pelos políticas públicas passaram a ganhar uma maior atenção no
personagens anônimos dos fatos históricos; enfim, abrindo um Brasil, possibilitando a afirmação de um campo investigativo a
leque de vieses para o pesquisador social e historiador na respeito desta temática, ligado, sobretudo à Ciência Política e
escolha e interpretação do objeto de estudo a ser indagado. à Sociologia, mas que extrapolaram o campo destas, pelo
Assim, o saber histórico que privilegiava os heróis, as batalhas, próprio caráter interdisciplinar que está implicado no
as elites, deu lugar a uma nova concepção de história com

1Texto adaptado de NETO, M. S. Políticas Públicas em Educação: Reflexões


Histórico sociais.

Políticas Públicas da Educação 1


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APOSTILAS OPÇÃO

fenômeno. Neste sentido, tal como ocorreu com outras áreas Surge, assim, a necessidade de se estudar em que medida
voltadas para a questão social, “no campo educacional passou- as políticas públicas em educação, apresentam semelhanças e
se a produzir estudos que privilegiam a abordagem da diferenças em relação a esse exposto. E inserido neste contexto
educação na sua dimensão de política pública”. de rearranjo e implementação de novas políticas públicas de
Pesquisar políticas públicas na educação, significa “enfocar financiamento da educação, temos a criação do Fundo de
uma estrutura de poder e de dominação entranhados nos mais Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
diversos níveis sociais”. Questionamos, portanto, em que Valorização do Magistério (FUNDEF), fundo este que tem
medida isso implica que os recursos do poder estatal têm chamado a atenção da sociedade em função do volume de
operado em favor do encontro da justiça social através da recursos movimentados por este e pelas propostas que visa
educação. alcançar.
Fazendo referência a Durkheim, Freitag, vê a educação não Em função deste fundo, mudou-se a forma de
como um fator de desenvolvimento e de superação de financiamento do ensino fundamental no país, ao subvincular
estruturas de dominação, mas sim de manutenção da uma parcela dos recursos financeiros a essa modalidade de
estrutura e o funcionamento de uma sociedade dada, em que o educação básica e introduzir novos critérios na distribuição,
sistema educacional garante a “transmissão hereditária do promovendo a partilha do montante a ser gasto entre estados
poder e dos privilégios, dissimulando sob a aparência da e Distrito Federal e os municípios, de acordo com o número de
neutralidade o cumprimento desta função”. Onde, em geral: “a alunos matriculados na referida modalidade. Assim sendo,
exclusão do educando é explicada em termos de falta de estaria sendo realizado o que estabelece o art. 205 da
habilidades, capacidades, mau desempenho, etc., colocando-se Constituição Federal, ratificado pelo art. 2º da Lei de Diretrizes
o sistema educacional, e por consequência o Estado, como e Bases da Educação Nacional – lei de n.9.394/96 sancionada
árbitro neutro”. em 20 de dezembro de 1996 pelo então Presidente da
Neste mesmo sentido, Althusser caracteriza a escola como: República Fernando Henrique Cardoso – isto é, de promover o
“aparelho ideológico do estado” (AIE). Localizada no ponto de pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
intersecção da infraestrutura dos aparelhos repressivos e exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
ideológicos do Estado, a escola preenche a função básica de Logo, além do FUNDEF, se faz necessário refletir se as
reprodução das relações materiais e sociais de produção. Ela políticas públicas em educação no Brasil nesta última década
assegura que se reproduza à força de trabalho, qualificações e têm agido como instrumento de autonomia dos sujeitos
o “saber fazer” necessários para o mundo do trabalho, e faz assistidos por elas ou se têm servido muito mais como retórica
com que ao mesmo tempo os indivíduos se sujeitem à nos discursos políticos partidários, bem como discutir como a
estrutura de classe. sociedade tem-se relacionado com essas políticas
Além disto, devemos lembrar do caráter da educação como educacionais.
investimento econômico do aumento quantitativo e Compreender as medidas governamentais tomadas no
qualitativo da produção, inseridos na passagem, nos países setor educacional na última década não é das tarefas mais
capitalistas centrais, da produção de Larga Escala (bens simples, e não basta uma descrição empírica dos
tangíveis), para produção de Alto Valor (Pesquisa e acontecimentos para lhe encerrar. Faz-se necessária uma
desenvolvimento), que faz necessário que os países da análise histórico-social mais ampla para realmente podermos
periferia capitalista se integrem à nova ordem com a produção avaliar o peso e a funcionalidade dessas medidas no contexto
de bens tangíveis, o que não é possível sem uma parcela de da sociedade brasileira, levando-se em consideração que mais
investimentos em educação, onde a força de trabalho não é que discutir o conteúdo de estilos de definições ou propostas
qualificada, no interesse do trabalhador, para que melhore sua de tipos de educação, é necessário procurar de onde elas vem
vida, e se emancipe das relações de trabalho vigentes, mas sim, e a quem estão a serviço.
para aprimorar e tornar mais eficazes essas relações, ou seja, É preciso questionar até que ponto as políticas públicas
a dependência do trabalhador em relação ao capitalista. desenvolvidas pelo Estado nesta última década tem a
Mesmo considerando as preocupações já demonstradas capacidade de educar para a emancipação política, econômica
por Freitag sobre educação no período de 1965 a 1975, e social de seus assistidos, buscando verificar até que ponto o
observa-se que as preocupações com educação ganharam discurso estatal acerca da autonomia e qualidade do ensino,
maior evidência nos discursos oficiais a partir do final da em especial do ensino fundamental, é condizente com a
década passada. Isto se credita a “um sistema educacional prática, pois, as reformas sempre foram uma constante no
visivelmente ineficiente, denunciado por índices educacionais Brasil, em que dar-se o nome de reforma a qualquer ação
vergonhosos”, com índices de evasão e repetência que há normal sobre o sistema educacional, visto que reformas
décadas nos acompanham. implicam em reformadores, em salvadores da pátria.
Percebe-se ainda cautela com o modelo escolar que temos, Muitas reformas, muitas políticas públicas não têm por
pois a temática quanto a políticas públicas em educação: “nem função buscar uma transformação social e sim visam somente
sempre foi acompanhada de medidas que viabilizassem o fazer crer que existe uma estratégia política para melhorar a
adequado funcionamento das escolas, e que teve como resultado qualidade educacional, de dar a ideia de movimento para
a implantação de uma rede de ensino com precárias condições frente, mas só beneficiam as plataformas políticas dos
materiais e humanas de funcionamento e sem identidade reformadores.
própria. Com o passar do tempo, as escolas transformaram-se
em instituições burocráticas, cumpridoras de normas emanadas Das Políticas Públicas
dos órgãos centrais... sem estímulo nem espaço para propostas Ao falar sobre Políticas Públicas para a Educação no Brasil,
próprias”. é necessário mencionar o Neoliberalismo e a interferência
Por fundamento, “a escola é um instrumento que deve ser norte-americana. Segundo Fonseca (1998), desde a década de
capaz de possibilitar a liberdade e a autonomia do educando”, 30 que há uma integração de ideias entre educadores
entretanto questionamos até que ponto a escola que temos brasileiros e americanos.
tem conseguido efetivar essa proposta. A partir da década de 50 e seguintes essa cooperação
Vista desta maneira a escola, e por consequência, as passou para o campo técnico e econômico. O Banco Mundial e
políticas públicas destinadas a esta, tem como função a o BIRD começaram a financiar projetos de educação no Brasil
manutenção e perpetuação das relações de poder e dominação e demais países pobres da África e América Latina objetivando
existentes. melhorar a infraestrutura e a qualidade do ensino através da
ampliação de matrículas e redução da evasão e repetência.

Políticas Públicas da Educação 2


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Para que esses empréstimos fossem realizados era de creches, saúde, terra, entre outros, inclusive rompimento
necessário que o Brasil aceitasse as condições impostas pelo com o FMI.
Banco Mundial que embora estivessem mascaradas sob o De acordo com ROSEMBERG (2008), foi neste contexto
disfarce da “qualidade” a realidade era outra. A verdadeira histórico que a Constituição de 1988 foi elaborada e aprovada
intenção dos organismos internacionais é difundir as ideias tendo como modelo político o Estado do bem-estar social e a
neoliberais de desmonte do Estado e redução da máquina democracia que até então não havia sido afetado pelo ideal
administrativa pública. Na educação, isso pode ser feito político Neoliberal2
através do corte de gastos com a formação do professor, A partir dos anos 90, embora tenha sido promulgada uma
incentivo ao voluntariado na escola pública, o aumento do Constituição Federal democrática em 1988, há um retrocesso
número de alunos em sala de aula, impregnação da ideologia nas conquistas dos movimentos sociais e uma ascendência do
neoliberal no livro didático, ampliação do número de pessoas neoliberalismo e da ideologia globalizada que ganham força
alfabetizadas, sucateamento das universidades públicas, política principalmente no governo de Fernando Henrique
expansão do ensino superior à distância e privatização do Cardoso que adere à proposta político-econômica norte-
ensino público. americana.
No decorrer de sua história as leis instituídas no Brasil Neste contexto, o resultado dos sete anos do Governo
sempre atenderam aos interesses das elites dominantes, Fernando Henrique Cardoso mostram que as conquistas da
sendo assim, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação década de 1980 foram sendo uma a uma anuladas em nome do
Nacional promulgada no país, a Lei Nº4. 024/61 também foi ajuste da economia e da atração do capital especulativo,
fortemente influenciada por esta classe. Esta lei havia deixado mediante os mecanismos da desregulamentação,
os caminhos abertos para o investimento no ensino privado, descentralização, flexibilização e privatização. A ditadura das
pois permitia a concessão de bolsas para alunos carentes leis do mercado vale dizer do capital e, particularmente, o
estudarem em escolas particulares incentivando a aplicação capital financeiro especulativo, condena milhões de brasileiros
dos recursos públicos em instituições privadas, conforme ao desmonte dos direitos públicos de saúde, educação,
CUNHA. trabalho, cultura, renda mínima, transporte, habilitação e
A Lei Nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961 em seu aposentadoria. A consequência no âmbito social é a indigência
(capítulo I Da Educação Pré-Primária, Artigo 24) reconhece a de quase um terço da população brasileira.
obrigatoriedade do ensino público para crianças a partir dos Inserida neste enredo histórico que a atual LDB em vigor,
sete anos e estimula as empresas que possuem mães com a Lei Nº 9.394/96 surge, de acordo com ROSEMBERG (2008)
crianças de idade até seis anos a buscarem parceria com em um novo modelo político- econômico marcado pela
órgãos públicos ou assumirem por conta própria a educação globalização da economia e a redução da função do Estado. A
dessas crianças em instituições denominadas pré-primárias, nova LDB seria resultado do debate democrático de diferentes
Brasil (1961). Evidencia-se aí a total ausência do Estado em setores da sociedade e expressava o desejo desses segmentos
relação à educação de crianças provenientes das classes de que a educação fosse assumida como prioridade do Estado.
populares ao negar suas atribuições enquanto responsável Após sua aprovação nos trâmites legais e sanção pelo então
pela promoção do bem comum transferindo-as às empresas. Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, foi
Tal atitude conferiu caráter puramente assistencialista à promulgada em dezembro de 1996 a Lei de Diretrizes e Bases
educação dessas crianças. da Educação Nacional, Lei Nº 9.394/96.
Com a implantação da segunda LDB, a Lei Nº 5.692/71 o Analisando o longo processo pelo qual passou a LDB
contexto político vigente no país era outro, além das ideologias 9.394/96 até ser promulgada percebe-se o quanto os
impostas pela elite brasileira, havia também segundo governantes brasileiros são submissos às regras ditadas pela
FONSECA (1998), a influência do pensamento neoliberal política neoliberal, e como isto afetou diretamente aos
presente nos organismos internacionais que iniciavam o interesses da população brasileira que teve os avanços
financiamento de projetos educacionais no Brasil e exigiam conquistados na Constituição de 1988 castrados pelo
uma abertura cada vez maior das políticas educacionais pensamento neoliberal.
brasileiras ao setor privado. A partir de então, a nova LDB Em se tratando de Educação Infantil no decorrer da
priorizava o ensino tecnicista visando atender as necessidades História da Educação brasileira, é histórica a omissão do
das indústrias ao preparar o aluno exclusivamente para Estado na elaboração e implementação de políticas públicas
atender à demanda do mercado de trabalho. que a contemple.
Até início dos anos 60 o Brasil possuía uma rede de ensino A partir da década de 70, houve uma expansão no
público de qualidade, mas a partir do golpe de 1964 que atendimento de crianças de quatro a seis anos através de
instaurou a Ditadura Militar o cenário educacional brasileiro programas educacionais compensatórios para o pré-escolar
foi modificado pela política econômica adotada pelos militares visando reduzir as carências econômicas, afetivas e culturais
que abriram a economia do país ao capital estrangeiro. Essa dentre outras apresentadas pelas crianças que dificultavam
atitude, conforme CUNHA (1998) favoreceu o privatismo e a sua aprendizagem.
economia de mercado em detrimento das políticas públicas e Só a partir do final século XX, depois que o país já tinha
sociais. passado por várias transformações sociais, políticas,
O período de 1964 até 1973 foi segundo CUNHA (1998), o econômicas e culturais, após muitas reivindicações sociais
de maior expansão do ensino privado, onde escolas pela liberdade política, pela democratização da educação das
particulares receberam incentivos públicos para ampliarem crianças de zero a seis anos, elas conseguiram em 1988 com a
sua oferta de ensino primário para o 1º e 2º graus, mesmo que promulgação da Constituição Federal ser consideradas
precariamente. Algumas se organizaram e abriram até cidadãs de direito. A partir daí, a educação infantil tornou-se:
cursinhos pré- vestibulares e faculdades se fortalecendo direito da criança e dever não só da família, mas também do
enquanto redes privadas, acumulando capital suficiente para Estado.
transformarem essas faculdades em universidades. Percebe-se que não há uma obrigatoriedade do Estado em
A década de 1980 foi marcada pela efervescência política garantir que as crianças de zero a seis anos estejam
dos movimentos organizados pela sociedade civil em prol da efetivamente na escola, a lei é clara cabe ao Estado
liberdade política, anistia, educação, construção e manutenção complementar a ação da família e da comunidade; bem

2Texto Adaptado De SANTANA, D. R. Legislação e Políticas Públicas para A


Educação no Brasil: O Lugar da Educação Infantil neste Contexto.

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diferente da seriedade com que é tratado o Ensino responsável. Uma pedagogia da ética começa pelo respeito ao
Fundamental. Em relação ao Ensino Fundamental a LDB em outro, à humanidade que se mostra a partir de outrem.
seu Art. 32 diz: “O ensino fundamental, com duração mínima Se nos preocupamos com a construção de uma sociedade
de oito anos, obrigatório e gratuito na escola pública [...]”. Mais ética, devemos reconhecer que o alicerce para um futuro digno
uma vez se evidencia o descaso com a Educação Infantil ao ser é a educação, portanto, se faz necessária uma constante
colocada à margem das demais etapas da Educação Básica. reflexão sobre as implicações educacionais a partir do apelo à
No que tange à formação de professores, a Educação humanidade advinda de e com o outro e a possibilidade de
Infantil foi contemplada pela primeira vez em sua história na uma resposta incondicionalmente responsável.
LDB que exige uma formação inicial mínima para esses Acredita-se na educação como espaço de encontro, de
docentes conforme seu Art. 62 da Lei 9.394/96, alterado pelo acolhida, de resposta ao outro em sua diferença, portanto a
Decreto nº 3.554, de 2000. educação é concebida de modo eminentemente ético. Pensar a
A formação em nível superior de professores para a educação a partir de seu fundamento ético implica em pensá-
atuação multidisciplinar, destinada ao magistério na educação la na perspectiva do encontro e da acolhida.
infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, far-se-á, Assim, conhecer e educar para a ética ultrapassa as linhas
preferencialmente, em cursos normais superiores. da objetividade, da personalidade, das técnicas, da
Após a entrada da LDB 9.394/96 em vigor, planos, subjetividade, num processo dialético de ir e vir ao mundo e ao
referenciais, diretrizes curriculares, e demais documentos têm ser. É um definir o mundo e um definir-se diário, já que o
sido elaborados pelo MEC abordando a Educação Infantil como conhecimento supõe, em primeiro lugar, o “conhecer-se a si
primeira etapa da Educação Básica e sua relevância no mesmo”, buscando algo que possa nos definir por dentro,
processo educativo das crianças. Porém, surge no cenário da interligando a humanidade ao seu destino e à sua busca pela
política nacional brasileira uma nova ameaça aos direitos das felicidade.
crianças de zero a cinco anos considerada uma afronta à A necessidade de revigorar a reflexão ética se dá pela
Constituição e à LDB, são as interferências dos organismos percepção de uma grande banalização quanto aos conceitos da
internacionais nas leis e políticas que regem a Educação ética nas relações interpessoais, sejam elas formais ou
Nacional. informais. Vivemos uma enorme lacuna, nos sentimos
Considerando as lutas empreendidas pela sociedade, em profundamente distantes de interação com as pessoas, o que
particular pelos educadores e demais profissionais e nos dá margem para o surgimento de posturas e condutas que
pesquisadores da Educação Infantil, em prol dos direitos das se aproximam do descompromisso em suas várias dimensões.
crianças menores de seis anos e por uma educação que as
considerem em suas dimensões biológicas, psicológicas, Segundo Vázquez (1996), “ética é a ciência do
intelectuais, afetivas e sócio-histórico-culturais, não se pode comportamento moral dos homens em sociedade”. É uma
permitir que políticas alheias aos interesses da população ciência, pois tem objeto próprio, leis próprias e método próprio.
brasileira se sobreponham à sua democracia. Assim, o objeto da Ética é a moral. A moral é um dos aspectos do
comportamento humano. A expressão deriva da palavra
romana mores, com o sentido de costumes, conjunto de normas
2. Papel da escola como adquiridas pelo hábito reiterado de sua prática. Portanto, “a
moral se edifica com o bom exemplo, não com palavras. Nutre-
formadora de valores e da se e afirma-se numa atitude que surge do ser interno como
ética social. imperativo da consciência”.

A ética trata da conduta humana diante do bem e do mal.


Ou, “daquilo que tem valor, do que realmente tem importância,
As várias transformações ocorridas no processo histórico
do sentido da vida, do que torna a vida digna de ser vivida ou
nos exigem mudanças de modelos, de ações, de atitudes, de
da maneira correta de viver”.
postura, enfim, de atuação pessoal e social. São muitas e
Uma educação em sintonia com a prática da ética deve
significativas mudanças, vivemos um tempo em que as
pressupor ação afetiva, que liga, toca, desperta, compreende,
informações e a comunicação, essenciais para a compreensão
encaminha, partilha. Deve buscar apreender conceitos,
e a participação no mundo, se processam rapidamente. Os
técnicas, saberes, que sejam significativos, transformadores,
avanços tecnológicos nos impulsionam até mesmo para novas
construtores de pessoas, através de procedimentos
formas de viver e sentir o mundo, novas formas de ver o
relacionais, desafiadores, geradores de seres humanos e não
próprio homem.
apenas de pessoas. O conhecer assim transforma-se em uma
Em meio a tantas mudanças, questionamo-nos sobre o que
atividade volitiva, que deve levar ao transcender, ao
fazer com elas, sobre sua validade, sua essência, sobre nosso
aperfeiçoar, ao ser e não apenas ao fazer, um instrumento de
fazer diário no processo de educar. Tantos avanços e tantas
consciência do nosso agir no mundo.
exigências, muitas vezes extemporâneos, que geram dúvidas,
O processo de educar precisa fazer com que saibamos
questionamentos, insegurança. O mundo nos pede rapidez,
utilizar as informações e os conhecimentos na efetivação de
capacidade, conhecimento, mas não nos mostra o como utilizar
pessoas melhores e mais responsáveis por si mesmas e pelo
tudo isso de maneira correta, de forma a promover maior
mundo em que vivem. De nada adianta acumular saberes e
equilíbrio e felicidade para as pessoas.
informações, se estes não nos tornam melhores e mais capazes
Desvelar o processo de construção e aplicação dos
de agir e melhorar o meio em que convivemos e em que
conhecimentos sempre foi a meta de vários estudos ao longo
atuamos.
da história, que mesmo hoje, diante de tantos avanços e de um
Educar é acreditar na perfeição humana, na capacidade
grande número de pesquisas, constitui-se como algo em
inata de aprender sobre coisas, valores, memórias, fatos, que
constante interrogação. O que e para que aprendemos? Por
podem ser sabidos e merecem ser, e que nós, homens e
que a escola ainda tem tanta dificuldade em formar também
mulheres, precisamos e podemos com aquilo que conhecemos,
para a dimensão ética?
encontrar meios de melhorar a nós mesmos e o mundo em que
Quando se fala em ética na educação, precisamos
vivemos. É um fazer de risco, um processo de ação e reação,
considerar que as implicações educacionais desse fazer se dão
além de rupturas, erros e acertos, dúvidas e certezas.
a partir do apelo à humanidade advindo de outrem e a
É oferecer conhecimentos que transcendem e se
possibilidade de uma resposta incondicionalmente
transformam em sabedoria, e assim, nos faz querer o

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aperfeiçoar constante, na intenção de ser melhor e ajudar o caminho possível para combatermos a cultura (...) pautada na
outro a ser também, num despertar interno para uma vida insensibilidade interpessoal e na ausência da solidariedade
produtiva, destinada a buscar os desígnios do bem. coletiva.
Temos enxergado tanta destruição não só do meio, como Conforme alguns estudiosos, existem hoje três
também de nós mesmos. Vivemos momentos de perplexidade, preocupações que devem orientar nossa reflexão sobre a
de dúvidas provocadas pelas profundas transformações educação para o século XXI: a ética, a política e a
culturais, científicas, tecnológicas, políticas, morais, que epistemológica, ou seja, precisamos de uma reflexão sobre a
atestam a decadência dos povos, a ausência de liberdade construção de uma pedagogia que compreenda aspectos
moral. Estamos carentes do humano, nos encontramos diante cognitivos, morais e afetivos. Pergunta-se então, como esta
de situações-limite que nos envolvem e nos questionam sobre questão está sendo vivida dentro das escolas e se existe uma
o que temos sido e o que temos feito a nós mesmos e ao mundo. formação que objetiva a qualidade formativa e humana.
É como se nos dissessem: “Vivam o presente, porque não há São várias as teorias de produção e prática de
futuro”. Reflexo disso é esse imediatismo, esse consumismo, conhecimentos analisadas por autores como Zabala, Coll,
esse individualismo, essa falta de respeito pelo outro, pela Morin, entre outros, afirmando que a educação se faz e se
própria vida. Estamos vivendo o “social conformismo”. constrói através da inter-relação do conteúdo com a prática,
sendo necessária a atribuição de significados ao que se
Sentimos falta de valores, como respeito, temperança, aprende e que, no processo de práticas educativas é preciso
coragem, solidariedade, amor. Valores que concretizam o incorporar uma visão crítica e questionadora quanto à prática
caráter que é a nossa marca profunda, valores que nos tornam das virtudes, que não aceita a realidade como estável e
dependentes e responsáveis com e pelo mundo, que nos faz determinada.
aderidos a uma causa humana, ao sentimento e opinião do e A escola hoje tem dedicado pouco tempo ao problema da
para o outro, da cultura da tolerância e do humano, do ética nas atividades escolares. A escola tem sido instrutiva e
transcender a esfera do comum. pouco formadora. Vejamos o que nos fala Chalita:
“Valores que continuam sendo cada vez mais desejados A disposição científica nos permite explicar os fenômenos
pela humanidade, e tratar deles constitui uma necessidade que da natureza, a disposição técnica possibilita que ajamos de
deve ser assumida por todas as instituições que educam”. No modo a transformar o ambiente para torná-lo mais favorável
entanto, esta não é uma tarefa fácil e para que este trabalho aos nossos desejos, o discernimento nos possibilita o
seja efetivo na formação das virtudes, é imprescindível levar conhecimento do bem e do mal, a inteligência nos permite
em conta a dimensão da manifestação dos sentimentos e apreender os fundamentos dos diferentes conhecimentos e a
emoções, da afetividade contida nas relações entre as pessoas, sabedoria, por último, mas não menos importante, permite
tão em falta nos dias atuais. saber nosso lugar no mundo e em relação às outras pessoas, é
Diante desse cenário é que reconhecemos a dimensão do ela o que possibilita nosso crescimento como pessoas e abre
papel da educação, como também podemos observar que caminho para agirmos com justiça rumo à felicidade.
muito se tem inovado nas análises epistemológicas e Portanto, superar esta relação muitas vezes linear e
metodológicas, mas ainda são poucas as ações educativas, que mecânica entre o conhecimento teórico e as práticas humanas
realmente efetivam teorias éticas em prática. Sabe-se que a se torna fundamental, almejando um perfil de escola, que
educação é a socialização das gerações e, uma possibilidade de tenha por objetivo formar para a cidadania e contribuir para
impulso à transformação. “A sociedade contemporânea tem na socializar os valores e as práticas democráticas baseadas em
escola um lugar privilegiado para a concretização do ideal de valores que promovam a dignidade humana. Ética é mais do
humanidade construído em torno dos valores da democracia, que apenas o dever, é eu me comover com o outro e me sentir
da justiça, da paz e da solidariedade”. feliz de poder ajudar o outro.
Neste universo de diferenças, de complexidades e de Os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000) apresentam
paradoxos, a dimensão axiológica se impõe por se tratar de a educação comprometida com o desenvolvimento total da
uma ação de sujeitos sobre o contexto que os cerca e por se dar pessoa. Aprender supõe a preparação do indivíduo para
em um espaço de vida de educandos e de educadores. elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular
Sendo assim, toda ação educativa deveria estar implicada seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir por si
com a construção de uma consciência ética e social, sendo mesmo, frente às diferentes circunstâncias da vida. Portanto, é
imperativa a reflexão sobre as virtudes no cotidiano escolar e através de práticas educativas comprometidas, que o
a discussão e efetivação de propostas pedagógicas que levem conhecimento sobre ética poderá ser reforçado, criando-se
em conta a formação de um ambiente sociomoral cooperativo assim, condições que preparem as pessoas para assumir suas
e participativo. responsabilidades e construir ou reconstruir uma sociedade
Em muitas situações, temos percebido que o tema das mais igualitária, mais justa, mais humana. Acreditamos que
virtudes desapareceu das escolas. Casos de desrespeito, de esta é a mais bela missão do processo educativo.
falta de limites, de assédio têm sido comuns, mas a Também o artigo 2º da LDB (1996) considera que,
radicalidade da crise ética nos impõe o desafio de reinserir inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais de
temas morais da formação humana nos processos solidariedade humana, é finalidade da educação nacional o
educacionais em todas as suas dimensões. Conhecer e viver pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
nossos limites nos leva a aprender o sentido da vida, de exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
pertença, de conviver verdadeiramente. A LDB institui que a escola é um espaço de formação de
O resgate das virtudes na educação implica conceber a cidadãos e de difusão de valores que expressem a cidadania e
construção da personalidade de pessoas com valores morais. a ética, mas não considera que a ideia da educação como
As virtudes “são nossos valores morais, se quiserem, mais formação do homem e do cidadão pressupõe que a escola
encarnados, tantos quanto quisermos, mas vividos, mas em também deva ser pensada como um espaço no qual estes
ato”. valores estejam presentes. Para que a escola seja inspiradora
Vejamos o que nos fala Silva sobre a importância de educar de valores éticos, é preciso que ela também seja um espaço
para os valores: ético, operando por meios éticos.
Somente uma educação pautada em sólidos valores É possível então, que através de um processo educativo
altruístas poderá fazer surgir uma nova ética social que seja contínuo e integrado com várias instâncias sociais, utilizando
capaz de conciliar direitos individuais com responsabilidades de todos os recursos humanos e técnicos disponíveis, na
interpessoais e coletivas. A aprendizagem altruísta é o único constante perseguição de tornar possível o amanhã impossível

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de hoje, possamos vivenciar esta aprendizagem conhecimento pode e deve ser transformador e a sabedoria é
contextualizada, como também formar pessoas cientes da exatamente essa capacidade de utilizá-lo a serviço do bem”.
importância da prática e exercício ético em todos os ambientes Já se disse que “fica sempre um pouco de perfume nas
em que se convive. Esta prática educativa da e na escola é mãos que oferecem rosas”. A busca pelo resgate e prática dos
certamente um projeto de ‘criação histórica’, pois visa valores através do processo de educar contribui, de maneira
transformar processos e práticas educativas tão arraigadas em significativa, para a construção da paz pessoal e social, afinal,
técnicas e informações. como humanos, recebemos dons especiais que nos tornam
Analisando a História da educação brasileira, através de capazes de dividir, trocar, buscar o ser no lugar do ter, liberar
Romanelli (2001), percebemos que os sistemas educacionais nossas energias infinitas, nossa criatividade ilimitada, aplicar
no país ainda possuem estruturas muito frágeis e são alvos de aquilo que somos capazes para alguma forma de bem comum.
frequentes reformas superficiais que pouco levam a mudar Uma das coisas mais nobres da vida é saber doar-se ao outro,
positivamente. Já Gadotti (1995) afirma que é por esse motivo é viver a generosidade, a solidariedade, a justiça, a tolerância,
que precisamos tornar-nos agentes dessa transformação a temperança e tantos outros valores que nos são essenciais, e
necessária e sonhada, enxergando na educação um campo nesse diálogo vivenciado no processo do educar, ao invés de
fértil para mudanças e práticas dos valores já que a escola é perder, acrescentamos, cada vez mais, naquilo que estamos
uma das mais importantes instituições, com capacidade de nos tornando como gente.
atingir um grande número de pessoas. Queremos uma escola, onde a ideia não amarre, mas
A educação assim, poderá ser vista como uma atividade liberte. Escola oficina da vida, que se faz saber do bem querer.
humana participante da totalidade da organização social. Por Escolas que assumam, mesmo com tantas adversidades sociais
outro lado, poderá também transformar cada um em agente, e governamentais, não só a dimensão técnica, mas acima de
não só pelo que realiza, mas também pelos resultados e tudo a de formação humana, pois estes são os saberes levados
consequências da ação. por toda a vida. Quem educa tem um papel muito mais amplo
Educação e ética, desta forma, se imbricam do que simplesmente transmitir saberes.
necessariamente, e quanto a isso Saviani nos diz: A cultura e a prática ética levar-nos-ão a perceber que,
Podemos, pois, dizer que a natureza humana não é dada ao efetivamente, vida é uma obra de arte aberta, que os preceitos
homem, mas é por ele produzida sobre a base da natureza éticos são como técnicas de uma arte de viver melhor a vida,
biofísica. Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de uma arte que envolve sempre a própria vida e a vida dos que
produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo estão ao lado, voluntária ou involuntariamente.
singular, a humanidade que é produzida histórica e Ainda temos muito que caminhar, muito que transformar,
coletivamente pelo conjunto dos homens. mas acreditamos que os caminhos têm sido construídos, pois
Esta prática educativa provavelmente possibilitará a todos as relações entre as condições históricas, epistemológicas e
os envolvidos, a capacidade de conviver com ética e viver como pedagógicas, têm condicionando-nos a esta mudança e
cidadãos, substituindo o conceito distorcido de que a função levando-nos a reformar a educação brasileira, construindo um
da escola tem sido o de apenas preparar quadros para o modelo que se baseia na formação integral do ser humano,
mercado de trabalho. A escola, em todos os níveis, tem uma afinal, nós professores conjugamos o verbo fundamental e
função, acima de tudo, civilizatória, ampla e profunda. Ela não essencial que está acima de qualquer gramática, de qualquer
existe apenas para informar, mas também para formar pessoas moeda e de qualquer política, o verbo amar, razão de ser e de
não só como homens, mas como civilizados, verdadeiros seres viver. É como já disse Fernando Pessoa: “Para ser grande é
humanos. preciso ser inteiro”.
Para que tudo isso se efetive e se faça cumprir é necessário
o comprometimento dos professores. É preciso que eles
acreditem que é possível ensinar a virtude, que é possível 3. As políticas para o
ensinar ética para a vivência da cidadania. currículo nacional.
Contudo, ainda percebemos que “a educação foi quase
inteiramente identificada com escolarização”. Desta forma, a
questão do papel do professor ganha uma relevância ainda Currículo e conceitos3
maior porque será a partir dele, de suas atitudes, da maneira O currículo é um conglomerado nele há várias
como organiza os conteúdos, como elabora suas aulas, como se composições de aspectos formantes, não apenas o conteúdo a
relaciona com seus alunos, da forma como lida com seus ser ministrado como reduzimos a significância do termo, para
preconceitos e conceitos que outros valores e virtudes Basil Bernstein, além do conhecimento, da pedagogia e da
poderão ser definidos. avaliação todos na sua forma válida (aquela que de fato é
Diante de tantos desafios que nos são postos a todo produzida, que tem força, valor legal). Ou seja, conhecimento
instante, o acesso ao conhecimento é um forte instrumento na válido - classificado como significante para ensinar, pedagogia
capacitação e na formação de consciência humana, já que a sua válida - como a forma de transmissão desse ensino e avaliação
ausência limita e dificulta a maneira de viver e os meios de válida - como a força de concretude de realização do
atuação. Só que este conhecimento só é prolífico quando conhecimento, de seu valor legal para aquele que é ensinado.
utilizado de maneira fecunda, através de princípios éticos, na O currículo não insere apenas o conteúdo a ser ministrado
busca do aperfeiçoamento humano. A arte de educar, de existe também as relações sociais desempenhadas na escola
aprender, de ensinar, encontra sua máxima expressão na alma pelos professores e profissionais da educação, a didática
daqueles que têm consciência do seu papel como pessoas, que desenvolvida pelo educador e os meios escolhidos pelo
vivem e praticam os valores. professor e pelo sistema educacional de avaliar esta
O acesso e uso do conhecimento consciente, o viver a aprendizagem.
educação em todos os meios e níveis, a prática da ética no As teorias tradicionais de currículo apresenta o sistema de
ambiente da escola, reforçam nossa responsabilidade em ensino Humanista- Clássico voltado para a Antiguidade
assumir o que somos, nos possibilitando usar nossa liberdade, Clássica com os eixos teóricos na gramática, retórica, dialética,
através da prática do livre-arbítrio, buscando o resgate astronomia, geometria, música e aritmética, estudos esses, que
cotidiano da vida em todas as suas instâncias. “O

3 Texto adaptado de MARQUES, M. J. D. V. A Importância da Disciplinaridade,


Interdisciplinaridade, Transdisciplinaridade, Transversalidade e
Multiculturalidade para a Docência na Educação.

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não foram suficientes em sua base hermética, se Freire no livro Pedagogia do Oprimido, como o saber que se
descontextualizaram, ao longo do tempo com o funde ao ato de depósito bancário algo externo e independente
desenvolvimento das sociedades. Com a evolução do período da essência de trabalho pedagógico, visão está ainda muito
histórico, chegam as teorias Pós-críticas, incluindo nos estudos comum nos dias de hoje. O currículo é movimento e precisa ser
curriculares as diferenças e identidades, as relações de gênero, encarado como tal durante a profissionalidade dos educadores
a pedagogia feminista, a narrativa étnica e racial e também que estarão à frente das salas de aula tanto do ensino superior
emergem os estudos culturais para chegar hoje ao motor das quanto da educação básica. “O currículo é texto, discurso,
discussões sobre as teorias de Currículo: a tríade saber, poder documento. O currículo é documento de identidade”.
e identidade. Existem várias conceituações de currículo e a cada
As teorias de currículo evoluíram e ainda não podemos período de nossa história ele se modifica, se amplia, e portanto,
considerá-las hermeticamente constituídas, uma vez que para uma definição precisa e coerente do que é currículo
passam por incessantes mutações agregando novos valores e buscamos a alternativa que J. Gimeno Sacristan apresenta afim
se ativando de acordo com as exigências contemporâneas. de uma definição independente das múltiplas teorias que se
Sumariamente, podemos afirmar que o currículo formal é propõem a conceituar o que é currículo. Sacristan elenca
um conjunto de dispositivos pedagógicos, composto por quatro itens que devem fazer parte do conceito de currículo:
conteúdos tradicionalmente disciplinares organizados nas As inter-relações de currículo com disciplinaridade
áreas dos diferentes campos disciplinares, metodologias, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade,
mecanismos de avaliação, definidos como o mais desejável transversalidade, e multiculturalidade representam uma
dentro de uma determinada ótica. O currículo oculto, por sua proposta contrária ao currículo hermético, antissocial e
vez conforme o próprio nome indica, constitui-se nas normas, descontextualizado que ainda se pratica em diversas salas de
crenças e valores imbricados e transmitidos aos alunos por meio aula. Partimos das inter-relações para ampliarmos a discussão
de regras subjacentes que estruturam a rotina e as relações de currículo e perceber a complementaridade desempenhada
sociais na escola e na vida da sala de aula. por cada uma da constituição curricular na sequência deste
Na educação escolar do ensino básico ao superior, o artigo.
currículo, chega primeiro como as significações de conteúdos A palavra disciplinaridade ao retirarmos o sufixo – dade –
disciplinares, muitas vezes os prescritos tecnicamente por - ela se desqualifica alterando-se morfologicamente de um
uma ótica enrijecida e nada flexível. substantivo que expressa substância e qualidade para o verbo
As relações de poder no saber ficam camufladas pelo - disciplinar - que indica uma ação, significa de acordo com o
currículo oculto – que se constitui de normas, crenças e valores dicionário eletrônico Houaiss, 1- submeter(-se) ao
– e são sobrepostas e transportadas aos alunos através de regulamento, à disciplina; impor(-se) ordem; 2- domar,
regras que não se manifestam claramente, que estruturam a refrear, acomodar; 3- castigar; impor punições a. No currículo
rotina e as relações sociais na escola e na vida da sala de aula estão contidos todas essas significações, pois disciplinar é a
de forma não ordenada explicitamente. Na definição sintética organização/seleção de saberes por intermédio de propósitos
das conceituações de currículo formal e currículo oculto, de escolares; definir eixos curriculares, impor disciplinas, regular
Maria Vieira Silva, percebemos sua complementaridade no o conhecimento e submetê-lo aos educandos.
meio escolar: Nas infinitas discussões sobre o que ensinar – discussão
Há relação de poder nas identidades assumidas pela central das teorias e de todos os profissionais da educação – a
sociedade escolar que envolve aquele meio, também, no saber disciplinaridade é a fôrma para caber o conteúdo adequado,
pelas disciplinas e eixos teóricos designados, nas políticas e em pela escolha de quem assim o determinou. A disciplinaridade
todas as relações sociais que permeiam as instituições é um ponto de partida, é uma forma de sintetizar, o
educacionais. conhecimento e pelas relações de poder definir-se o que é
Então, planejar currículo implica tomar decisões adequado para determinado currículo. Ela parte do verbo, de
educacionais, implica compreender as concepções uma ação disciplinar para qualificar-se no substantivo, agregar
curriculares existentes que envolvem uma visão de sociedade, valor, transformar-se e, a partir, de suas relações poder se
de educação e do homem que se pretende formar. Assim, organizar em outros núcleos, a partir de prefixos como o inter-
conhecer o currículo oculto é necessário mas não suficiente , o trans-, o poli-, o multi, dentre outros.
para a prática, faz-se prerrogativa juntamente com ele o A disciplinaridade engendra, molda o currículo e abre
conhecimento do que acontece no mundo e suas relações de espaço, aos que buscam a alteridade qualitativa da educação.
poder e também do autoconhecimento, o professor saber-se Compreender suas possibilidades e limitações contribui para
compreender-se. que o profissional agregue valor ao seu trabalho pedagógico.
Os estudos de currículo, as discussões de abordagens,
O currículo é uma linguagem que: identificamos concepções e suas tratativas nas instituições educacionais e
significantes, significados, sons, imagens, conceitos, falas, língua, nas salas de pós-graduação (especialização, mestrado ou
posições discursivas, representações, metáforas, metonímias, doutorado) são essenciais, para no momento em que esse
ironias, invenções, fluxos, cortes...(...) Ao atribuir essa condição futuro professor de graduação, atue nas licenciaturas,
“linguajeira” a um currículo, dizemos que a natureza de sua fundamentar o aluno graduando que lidará diretamente com
discursividade é arbitrária e ficcional, por ser histórica e estas questões a fim de compreender as multifacetadas
socialmente construída. Que seu discurso fornece apenas uma possibilidades da disciplinaridade.
das tantas maneiras de formular o mundo, de interpretar o
mundo, e de atribuir-lhe sentidos. (...) Que um currículo, como Interdisciplinaridade
linguagem, é uma prática social, discursiva e não-discursiva, que Na disciplinaridade escolar parte-se de uma forma mais
se corporifica em instituições, saberes, normas, relações, valores, sintética de dimensionar o conteúdo para que ele seja
modos de ser sujeito. compreendido, e englobe fatores determinantes para as
Compreender o currículo e aprender suas novas vivências, as relações sociais e contribuições históricas da
interfaces transforma o trabalho educacional na medida que sociedade contemporânea para a educação.
este aprendizado se reflete em ações. A disciplinaridade ganha mais valor e acrescenta novas
Na elaboração do trabalho pedagógico, na constituição do possibilidades de trabalho pedagógico quando interpretada
profissional que vai para a sala de aula, a visão de professor em sua faceta Interdisciplinar, na qual, é um processo de
que repassa o conteúdo que deposita o conhecimento no aluno ensino-aprendizagem de acordo com um projeto intencional
foi nominada de “educação bancária”, pelo educador Paulo de envolvimento coletivo que excede os conceitos de

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integração, interação e interrelação para a construção única do Por vezes mascara-se algum tipo de contato entre os
conhecimento. alunos ou entre os professores com reuniões coletivas, mas o
A interdisciplinaridade é uma maneira (métodos e processo final acaba sendo executado individualmente por
conteúdos) de se trabalhar o currículo disciplinar cada disciplina sendo que habitualmente uma matéria
qualitativamente negando-o, abrindo-se para diferentes desconhece o que a outra realizou de trabalho “dito
possibilidades, ou seja, os professores de diferentes saberes se interdisciplinar”.
unem para desfragmentar o conhecimento que está hermético, Experiências traduzidas por projetos interdisciplinares
encerrado em cada disciplina, de forma que haja ruptura entre bem sucedidas com estudantes de pós-graduação e graduação
a rígida linha que separa os saberes, e pelo trabalho são grandes impulsionadores de uma prática profissional
pedagógico o aluno consiga perceber que há uma qualitativa e embasada epistemologicamente nos conteúdos.
multiplicidade de estruturas que se relacionam para construir Este contributo formador da classe docente transforma e
este conhecimento por uma única via. Ter clareza para agrega valor ao trabalho com os futuros alunos da educação
compreender que as disciplinas não ensejam conhecimentos básica ou superior; e também corrobora com um tipo de
totalmente diferentes e desconectados entre si, perceber que educação qualitativamente diferenciada, o que proporciona
elas se relacionam e constroem suas vidas e realidades por eles visões também ampliadas sobre a cidadania, a convivência em
hoje compartilhadas. grupo e sobre a vida.
O trabalho pedagógico se vale, se utiliza do trabalho
interdisciplinar no processo de ensino-aprendizagem que Transdisciplinaridade
aliado à pesquisa como um princípio educativo e científico Uma outra faceta da disciplinaridade que dialoga ou se
deixa de lado o ensino positivista e se reconstrói de forma a mostra como uma alteridade da interdisciplinaridade é a
ressaltar a grande importância da interdisciplinaridade para o transdisciplinaridade que é mais uma das possibilidades de
professor, para a escola e para os alunos. trabalhá-la nos currículos em sala de aula. O prefixo trans- que
Thiesen fala da postura e do ofício interdisciplinar que significa situação ou ação além de; mudança, transformação,
deve ser assumido pelo professor e da escola como espaço de acordo com o dicionário eletrônico Houaiss, amplia mais as
interdisciplinar: alternativas de trabalho pedagógico da disciplinaridade
(...), o professor precisa tornar-se um profissional com visão curricular.
integrada da realidade, compreender que um entendimento A transdisciplinaridade significa uma batalha contra a
mais profundo de sua área de formação não é suficiente para fragmentação do conhecimento que se difunde e prolifera pela
dar conta de todo processo de ensino. Ele precisa apropriar-se sociedade e molda os meios educacionais e sociais. Entende-se
também das múltiplas relações conceituais que sua área de por fragmentação do conhecimento a divisão de um
formação estabelece com as outras ciências. O conhecimento conhecimento complexo em tantas partes quanto possíveis e
não deixará de ter seu caráter de especialidade, sobretudo necessárias para melhor compreendê-lo. Para melhor
quando profundo, sistemático, analítico, meticulosamente compreensão de como se molda nas instituições educacionais
reconstruído; todavia, ao educador caberá o papel de o princípio da fragmentação, contextualizamos suas
reconstruí-lo dialeticamente na relação com seus alunos por consequências, com base no texto de Akiko Santos (2008):
meio de métodos e processos verdadeiramente produtivos. A Como consequência dele, a prática pedagógica tendeu a
escola é um ambiente de vida e, ao mesmo tempo, um organizar-se nos moldes da disjunção dos pares binários:
instrumento de acesso do sujeito à cidadania, à criatividade e à simples-complexo, parte-todo, local-global, unidade-
autonomia. Não possui fim em si mesma. Ela deve constituir-se diversidade, particular universal; em contrapartida, cristalizou-
como processo de vivência, e não de preparação para a vida. Por se a subdivisão do conhecimento em áreas, institutos e
isso, sua organização curricular, pedagógica e didática deve departamentos, cada qual delimitado pelas fronteiras
considerar a pluralidade de vozes, de concepções, de epistemológicas. Cada instituto ou departamento organiza seus
experiências, de ritmos, de culturas, de interesses. A escola deve respectivos cursos por meio de listas de diferentes disciplinas.
conter, em si, a expressão da convivialidade humana, São as grades curriculares que, na prática, funcionam como
considerando toda a sua complexidade. A escola deve ser, por esquemas mentais ao impedirem o fluxo de reações existentes
sua natureza e função, uma instituição interdisciplinar. entre as disciplinas e áreas de conhecimento.
Pela construção conjunta de saberes interdisciplinares a A transdisciplinaridade se caracteriza por teias em que o
percepção do aluno sobre o nível qualitativo e diferenciado de conhecimento se ramifica construído/levado por outros
seu aprendizado transforma-se em motivação e conhecimentos, de forma que se prende à estrutura ou rompe-
aprofundamento de intencionalidade no projeto. a. O educador estabelece essas ramificações de conhecimentos
As propostas interdisciplinares nas escolas ou nas buscando em outras áreas/disciplinas saberes que se
instituições de ensino superior nem sempre são entrelaçam à sua própria área, como um recurso, de forma que
compreendidas pelos que a projetam, há confusões teóricas eles atravessam a disciplina de tal forma que pode promover
sobre a prática interdisciplinar, por parte dos educadores, que mudanças ou rupturas. “O conhecimento é concebido como
atrapalham e até impedem o ganho intelectual. São uma rede de conexões (...), o que leva à multidimensionalidade
construídos trabalhos intitulados interdisciplinares nos do conhecimento e à distinção de vários níveis de realidade”.
planos de curso, contudo eles não se moldam em sua essência O professor não modifica disciplinarmente sua matéria
na base interdisciplinar. No projeto, erroneamente lecionada, mas interfere sensivelmente nela, mostra outros
considerado interdisciplinar, no qual altera a vertente de caminhos agregando novas alternativas/ramos de saberes que
trabalho por desconhecimento do tema, por tentar facilitar o levam a compreensão objetivada.
trabalho tanto dos professores como dos alunos, ou apenas O conhecimento transdisciplinar associa-se à dinâmica da
para constar no plano de curso, ou porque consta nas multiplicidade das dimensões da realidade e apoia-se no
premissas do projeto político pedagógico, há um próprio conhecimento disciplinar. Isso quer dizer que
entendimento incoerente que foge da lógica interdisciplinar, e, pesquisa trasndisciplinar pressupõe a pesquisa disciplinar, no
é tratado como se algum conhecimento foi construído entanto, deve ser enfocada a partir da articulação de
coletivamente o que na realidade não aconteceu. Um exemplo referências diversas. Desse modo, os conhecimentos
muito comum, principalmente em instituições de ensino disciplinares e transdisciplinares não se antagonizam, mas se
superior é o uso da Unitematização – elege-se um único tema complementa.
que será trabalhado por cada disciplina isoladamente, cada Da articulação transdiciplinar dos conhecimentos nas
uma em seu contexto. diversas disciplinas acontece o uso dos temas transversais que

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estão profundamente ou completamente ligados à Na docência universitária a transversalidade deve ser


transdisciplinariade na medida em que usa a lógica de tratada de forma mais rigorosa, profunda no sentido de ser
transgredir barreiras e fronteiras, de evidenciar as relações e amplamente problematizada, questionada, criticada pelas
conexões com os conhecimentos. partes que compõem o todo, o conhecimento. A simples
compreensão não é suficiente para abarcar as temáticas
Transversalidade transversais, neste nível de ensino, a graduação, são
Existem trabalhos pedagógicos, termos e propostas nas necessários diálogos e atitudes politizadas para a formação de
formas transdisciplinares e interdisciplinares do currículo que futuros docentes que se percebam cidadãos críticos e possam
fogem do padrão disciplinar. É o caso da Transversalidade que transportar essas reflexões a seus futuros educandos.
se liga no currículo ao universo das temáticas atravessando Dos universitários aos alunos da educação básica o
todas as disciplinas e nelas se impregnando (YUS, 1998). “(...) tratamento transversal requer cuidados com a
a transversalidade representa uma brecha no sistema de contextualização histórico-social, como a compreensão dos
ensino para organizar o processo educativo em torno de processos de globalização e culturalidade, processos esses
valores universais, integrando os diferentes saberes e discutidos na multiculturalidade e seus complementos.
impregnando-os de elementos da vida cotidiana e da
problemática do mundo”. Multiculturalidade
A transversalidade surge também como uma alternativa Compreender a multiculturalidade no mundo globalizado
de luta contra a compartimentalização dos saberes, Ingride M. se torna uma tarefa de ampla construção e reflexão, tanto do
Bozzeto alia ao discurso da transversalidade o paradigma da meio sócio-histórico quanto de nossas próprias ações- nossas
complexidade a fim de ressignificar o currículo escolar “em atitudes. Para corroborar com esta temática Moreira (2001) se
torno de problemas sociais, relevantes não incluídos nos apropria da fala de Young para evidenciar “uma educação que
programas das disciplinas fragmentadas”. se pretenda capaz de acelerar transformações sociais”, ele
Há temas que fogem do enquadramento disciplinar, que se deixa claro: Não há, (...), maior contradição do que a busca por
apresentam em várias matérias sendo por elas tratadas de certeza em um mundo incerto, o que me leva a concluir que os
forma global e em sua esfera atitudinal. O Ministério da problemas teóricos e práticos nos afligem, ainda que devam ser
Educação e Cultura – MEC pelos Parâmetros Curriculares enfrentados, não podem nos imobilizar e nos eximir do
Nacionais - PCNs definem temas transversais a serem engajamento com os outros em uma luta, em uma história
trabalhados com os alunos na educação como a ética, o meio comum.
ambiente, orientação sexual, a saúde, pluralidade cultural. Um A multiculturalidade representa as várias culturas que
tema novo que perpassa por todos os temas e disciplinas é a convivemos, participamos/pactuamos, ou discriminamos, e
solidariedade, no sentido que a vivência escolar é um suas particularidades. O termo não é suficiente para esclarecer
compromisso pelo qual as pessoas (professores, alunos, todas as especificidades que o tema impõe. Para tentar
trabalhadores da educação) se obrigam umas às outras e cada compreender, algo que a nós constitui, em sua amplitude
uma delas a todas no universo de construção educacional. utilizamos outros conceitos complementares como a
Pelas dimensões de conceitos e valores eles não são ensinados transculturalidade, o intertransculturalismo e o
por apenas uma disciplina cruzam e se juntam a conceitos e multiculturalismo; cada um com suas facetas que também não
valores dos professores, da instituição e dos alunos. se esgotam no total entendimento da matéria.
O ensino-aprendizagem dos temas transversais se faz A intertransculturalidade é uma relação intencional que
necessário para abrir a instituição escolar para a vida; ligar os visa o enriquecimento cultural dos membros da culturas em
conhecimentos obtidos pelos alunos dentro e fora da escola - presença, através da superação e da construção de um
os conhecimentos vulgares dos escolares; desfazer a distância patrimônio cultural comum.
entre as instituições educacionais e os saberes; desenvolver na O multiculturalismo que pode ter várias interpretações,
escola atitudes críticas e construtivas e desenvolver além das aqui recebe contornos específicos que também não serão
capacidades cognitivas e motoras as afetivas e sociais. suficientes para contextualizar completamente a temática,
Há vários tipos de transversalidades como a pois dependendo do seu uso pode ter um significado amplo ou
intertransversalidade que é a interdisciplinaridade entre pode não querer dizer nada. Seu significado mais comumente
temas transversais como um projeto que relacione a saúde utilizado se refere as mudanças de povos e culturas, abarca as
entre disciplinas, coletivamente. Também a transversalidade diferenças relativas entre a raça, a etnia, gênero, sexualidade,
disciplinar que envolve o tratamento específico que cada área cultura, religião, classe social, idade, necessidades especiais,
proporciona ao tema transversal. A transversalidade no entre outras. Na educação envolve a luta contra a opressão, a
espaço que consiste na conversa entre duas disciplinas por um discriminação, estudos, pesquisas e ações politicamente
período letivo determinado. A transversalidade no tempo que comprometidas.
amplia o período trabalhado. A transversalidade curricular Pensar o outro como igual na instituição universitária se
que se refere às fases curriculares a que determinado tema torna clichê ao nos deparamos com os discursos politicamente
transversal será melhor trabalhado. Na transversalidade corretos em sala de aula e até mesmo com os trabalhos
ambiental são as ações orientadas para trabalhar a acadêmicos. Mas o que o termo igual significa para cada
transversalidade no projeto político pedagógico regulamentar estudante, para cada professor? Quando pensamos no
e social desenvolvidas no âmbito da organização escolar (YUS, diferente ou no desigual o que isto representa, uma oposição
1998). ao igual? A compreensão das similaridades varia muito
Os temas transversais podem constituir-se em pontes levando-se em contrapartida questões culturais, sociais e
entre a cultura científica e a cultura popular, pela reconciliação ideológicas; cada cidadão constrói para si um conceito, sobre
com a visão antropológica e pela ligação com a realidade e os estes termos, carregado de valores morais que importam e se
interesses dos alunos. A impregnação das disciplinas escolares impõe na medida de suas escolhas na vida. Questões que estão
por um tema transversal ou a diluição de um tema transversal presentes no currículo formal e oculto e são necessárias para
nas diferentes disciplinas não acontece somente na dialogar no processo pedagógico, principalmente, no aspecto
organização do currículo mas, evidencia-se na atmosfera da não prescrito, na dimensão que:
escola, como um todo, e a sua concretização não se restringe à É chamada de oculta, pois não aparece de forma prescrita
sala de aula mas requer a participação de toda a comunidade ou explicita no currículo oficial, mas é um poderoso instrumento
escolar, prolongando-se ao próprio meio social. de formação das identidades e subjetividades de nossos alunos;
e os valores neles transmitidos são veiculados mediante gestos,

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olhares, inclusão/segregação, valoração, atributos baseados em turmas e, ainda, mensagens implícitas nas falas dos
binarismos como bem/mau, belo/feio, legítimo/ilegítimo, etc. professores e nos livros didáticos.
É no currículo que se sistematizam os esforços
Atentar para o meio escolar com o qual o professor/a, e pedagógicos na escola. Ele é algo como o coração da escola, o
todos os profissionais da educação, lidam diariamente, e com espaço central da atuação pedagógica. É fundamental o papel
uma educação cultural corretamente orientada deve fazer do educador no processo curricular, o que implica a
parte da profissionalidade, das salas de aula e das relações necessidade de discussões e reflexões sobre o currículo, seja
sociais que envolvem todos os atores da escola. aquele formalmente planejado e explicitado ou não.
As reflexões e discussões sobre currículo não podem
Multidisciplinaridade4 deixar de recorrer aos documentos oficiais, como a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as diversas Diretrizes
Estudiosos do tema propõem diferentes modalidades de Curriculares Nacionais, os Parâmetros Curriculares Nacionais,
colaboração entre as disciplinas, às vezes, com subdivisões as Propostas Curriculares Estaduais e Municipais. É nesses
dentro de um mesmo nível de relação (interdisciplinaridade documentos que se encontram os subsídios e sugestões
linear, estrutural, restritiva), dentre os quais, Piaget, que sistematizadas para o trabalho pedagógico escolar.
apresenta o seguinte modelo: multidisciplinaridade,
interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade. O conhecimento escolar como centro do currículo
Conceitualmente Multidisciplinaridade corresponde ao
nível mais baixo e integração. Caracteriza-se como uma O conhecimento escolar é tema central das discussões
justaposição de disciplinas com a intenção de esclarecer sobre o currículo. Esse fato envolve o pressuposto de que a
alguns de seus elementos comuns. escola precisa preparar-se para socializar os conhecimentos
escolares, com o objetivo também de facilitar o acesso do
O currículo como instrumento de viabilização do estudante a outros saberes. Os conhecimentos construídos
direito à educação5 socialmente e que circulam nos diferentes espaços sociais
constituem direito de todos.
A palavra currículo é muito familiar a todos nós que Denominamos conhecimento escolar aquele
trabalhamos nas escolas e nos sistemas educacionais. Devido conhecimento que tem uma construção específica para a
à familiaridade com o termo, às vezes deixamos de refletir com escola e não constitui uma simplificação de conhecimentos
cuidado sobre o seu sentido. produzidos fora da escola. Assim, o conhecimento escolar tem
Diferentes entendimentos frequentemente parecem características próprias, é distinto de outras formas de
denominar o que entendemos por currículo: os conteúdos a conhecimento. Sua produção e seleção, no entanto, se dão em
serem ensinados e aprendidos; as experiências de meio a relações de poder estabelecidas no aparelho escolar e
aprendizagem escolares a serem vividas pelos estudantes; os entre esse aparelho e a sociedade.
planos pedagógicos elaborados por professores, escolas e Os saberes e as práticas socialmente construídos são a
sistemas educacionais; os objetivos a serem alcançados por origem dos conhecimentos escolares. Esses provêm de saberes
meio do processo de ensino; os processos de avaliação que e conhecimentos socialmente produzidos nos chamados
terminam por influir nos conteúdos e nos procedimentos “âmbitos de referência dos currículos”.
selecionados nos diferentes graus da escolarização. Os conhecimentos que se originam em tais âmbitos são
Essas concepções refletem diferentes compromissos e selecionados e, de certa forma, reestruturados para
posições teóricas. O que podemos afirmar, no entanto, é que as constituírem o conhecimento escolar. Segundo Moreira e
discussões curriculares envolvem os temas relativos aos Candau, os conhecimentos de referência passam por um
conhecimentos escolares, aos procedimentos pedagógicos, às processo de recontextualização.
relações sociais, aos valores que a escola inculca, às
identidades dos estudantes. Cabe ressaltar que as discussões Os direitos dos estudantes e o currículo escolar
curriculares inevitavelmente recaem sobre questões relativas
ao conhecimento, à verdade, ao poder e à identidade, com Miguel G. Arroyo é um dos autores que têm se preocupado
maior ou menor ênfase. com o currículo e os sujeitos envolvidos na ação educativa:
Pretendemos focalizar o currículo como um campo de educandos e educadores. Arroyo tem ressaltado nesses
conhecimento pedagógico no qual se destacam as experiências estudos diversos aspectos, tais como: a importância do
escolares em torno do conhecimento, levando sempre em trabalho coletivo na educação para a construção de
consideração a especificidade da escola, em meio a relações parâmetros de ação pedagógica; o fato de serem os educandos
sociais e a sua contribuição para a construção das identidades sujeitos de direito ao conhecimento; a necessidade de se
dos estudantes. Assim, associa-se o currículo ao conjunto de mapearem imagens e concepções dos educandos para
esforços pedagógicos desenvolvidos com intenções subsidiar o debate sobre os currículos.
educativas. Com base em discussões apresentadas por esse autor,
Portanto, estamos empregando a palavra currículo para apresentamos alguns pontos de reflexão sobre o tema:
nos referir às atividades organizadas por instituições
escolares. Assim, essa palavra tem sido também empregada a) O currículo e os sujeitos da ação pedagógica: O coletivo
para indicar efeitos que não estão explicitados e nem sempre dos educadores planeja a execução dos seus currículos por
são claramente percebidos pela comunidade escolar. área ou por ciclo. Individual e coletivamente, os conteúdos
É o que denominamos de currículo oculto, que envolve, curriculares são revisados. Junto com os administradores das
dominantemente, atitudes e valores transmitidos, escolas, professores escolhem e planejam prioridades e
subliminarmente, pelas relações sociais e pelas rotinas do atividades, reorganizam os conhecimentos, intervindo na
cotidiano escolar. Esse é um conceito importante, do qual construção dos currículos. O avanço dessa prática de trabalho
fazem parte rituais e práticas, relações hierárquicas, regras e coletivo está se constituindo em uma dinâmica promissora
procedimentos, modos de organizar o espaço e o tempo na para a reorientação curricular na educação básica. Esse
escola, modos de distribuir os estudantes por grupamentos e coletivo de profissionais termina produzindo e selecionando

4 SOARES, C.C. Disponível em http://crv.educacao.mg.gov.br/ 5 http://escoladegestores.mec.gov.br/site/3-


sala_fundamentos_direito_educacao/curriculoinstrumento3_u2_pg3.htm

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conhecimentos, materiais, recursos pedagógicos, de maneira falando a mesma língua, favorecendo o acesso ao
que eles se tornam produtores coletivos do currículo. conhecimento que é o assunto crucial a ser tratado neste
trabalho.
b) currículo e a qualidade do ensino: Outra inquietação A escola é um lugar que oportuniza, ou deveria possibilitar
permeia a análise dos currículos: trata-se da preocupação com as pessoas à convivência com seus semelhantes (socialização).
o rebaixamento da qualidade da docência e da escola. A reação As melhores e mais conceituadas escolas pertenciam à rede
das escolas, dos docentes e gestores diante dos dados que particular, atendendo um grupo elitizado, enquanto a grande
informam a desigualdade escolar, em geral, é culpar os maioria teria que lutar para conseguir uma vaga em escolas
estudantes, suas famílias, seu meio social, sua condição racial públicas com estrutura física e pedagógicas deficientes.
pelas capacidades desiguais de aprender. Podemos, sim, ter O país tem passado por mudanças significativas no que se
outro entendimento sobre isso. refere ao funcionamento e acesso da população brasileira ao
ensino público, quando em um passado recente era privilégio
Tomando os educandos como sujeitos de direito, os das camadas sociais assim consideradas de elite e de
currículos são responsáveis pela organização de preferência para os homens, as mulheres mal apareciam na
conhecimentos, culturas, valores, artes a que todo ser humano cena social, quando muito as únicas que tinham acesso à
tem direito. Isso significa inverter as prioridades ditadas pelo instrução formal recebiam alguma iniciação em desenho e
mercado e definir as prioridades a partir do respeito ao direito música.
dos educandos. Somente partindo do conhecimento dos A política de atuação da equipe pedagógica é de suma
educandos como sujeitos de direitos, estaremos em condições importância para a elevação da qualidade de ensino na escola,
de questionar o trato seletivo e segmentado em que ainda se existe a necessidade urgente de que os coordenadores
estruturam os conteúdos. pedagógicos não restrinjam suas atribuições somente à parte
Isso exige repensar a reorganização da estrutura escolar e técnica, burocrática, elaborar horários de aulas e ainda ficarem
do ordenamento curricular legitimados em valores de mérito nos corredores da escola procurando conter a indisciplina dos
e sucesso, em lógicas excludentes e seletivas, em hierarquias alunos que saem das salas durante as aulas, enquanto os
de conhecimentos e de tempos, em cargas horárias. professores ficam necessitados de acompanhamento.
A superação das hierarquias, das segmentações e dos A equipe de suporte pedagógico tem papel determinante
silenciamentos entre os conhecimentos e as culturas pode ser no desempenho dos professores, pois dependendo de como for
um dos maiores desafios atuais para a organização dos a política de trabalho do coordenador o professor se sentirá
currículos. Estes têm sido repensados, sobretudo, em função apoiado, incentivado. Esse deve ser o trabalho do
do progresso cientifico e tecnológico. Assim, os currículos se coordenador: incentivar, reconhecer, e elogiar os avanços e
tornam cada vez mais complexos, o que não significa que conquistas, em fim o sucesso alcançado no dia a dia da escola
questionem os processos humanos regressivos que acontecem e consequentemente o desenvolvimento do aluno em todos os
na sociedade e que cada vez mais parecem precarizar a vida âmbitos.
dos educandos. Ao educador compete a promoção de condições que
As exigências curriculares e as condições de garantia do favoreçam o aprendizado do aluno, no sentido do mesmo
direito à educação e ao conhecimento se distanciam pela compreender o que está sendo ministrado, quando o professor
precarização da vida dos setores populares. adota o método dialético; isso se torna mais fácil, e essa precisa
A escola vem fazendo esforços para se repensar em função ser a preocupação do mesmo: facilitar a aprendizagem do
da vida real dos sujeitos que têm direito à educação, ao aluno, aguçar seu poder de argumentação, conduzir ás aulas de
conhecimento e à cultura. modo questionador, onde o aluno- sujeito ativo estará também
A nova LDB no 9.394/96 recoloca a educação na exercendo seu papel de sujeito pensante; que dá ótica
perspectiva da formação e do desenvolvimento humano. O construtivista constrói seu aprendizado, através de hipóteses
direito à educação é entendido como direito à formação e ao que vão sendo testadas, interagindo com o professor,
desenvolvimento humano pleno. Essa lei se afasta, no seu argumentando, questionando em fim trocando ideias que
discurso, da visão dos educandos como mão-de-obra a ser produzem inferências.
preparada para o mercado e reconhece que toda criança, O planejamento é imprescindível para o sucesso cognitivo
adolescente, jovem ou adulto tem direito à formação plena do aluno e êxito no desenvolvimento do trabalho do professor,
como ser humano. Reafirma que essa é uma tarefa da gestão é como uma bússola que orienta a direção a ser seguida, pois
da escola, da docência e do currículo. quando o professor não planeja o aluno é o primeiro a
perceber que algo ficou a desejar, por mais experiente que seja
o docente, e esse é um dos fatores que contribuem para a
4. Políticas educacionais indisciplina e o desinteresse na sala de aula.
A cultura organizacional do gestor é decisiva para o
como políticas públicas de sucesso ou fracasso da qualidade de ensino da escola, a
natureza social. maneira como ele conduz o gestionamento das ações é o foco
que determinará o sucesso ou fracasso da escola. De acordo
com Libâneo (2005), características organizacionais positivas
eficazes para o bom funcionamento de uma escola:
É importante refletirmos sobre que tipo de trabalho temos
professores preparados, com clareza de seus objetivos e
desenvolvido em nossas escolas e qual o efeito, que resultados
conteúdos, que planejem as aulas, cativem os alunos.
temos alcançado.
Quando o gestor, com seu profissionalismo conquista o
Para se conquistar o sucesso se faz necessário que se
respeito e admiração da maioria de seus funcionários e alunos,
entenda ou e que tenha clareza do que se quer alcançar, a
há um clima de harmonia que predispõe a realização de um
escola precisa ter objetivos bem definidos, para que possa
trabalho, onde, apesar das dificuldades, os professores terão
desempenhar bem o seu papel social, onde a maior
prazer em ensinar e alunos prazer em aprender.
preocupação – o alvo deve ser o crescimento intelectual,
A escola é uma instituição social com objetivo explícito: o
emocional, espiritual do aluno, e para que esse avanço venha
desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e
fluir é necessário que o canal (escola) esteja desobstruído.
afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos
A sociedade tem avançado em vários aspectos, e mais do
(conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes, e
que nunca é imprescindível que a escola acompanhe essas
valores) que, aliás, deve acontecer de maneira
evoluções, que ela esteja conectada a essas transformações,

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contextualiazada desenvolvendo nos discentes a capacidade Com o passar do tempo ele adquire habilidades que lhe
de tornarem-se cidadãos participativos na sociedade em que possibilitarão o convívio dentro de uma sociedade. Diante da
vivem. realidade de uma sociedade contemporânea é muito comum a
Políticas que fortaleçam laços entre comunidade e escola é inserção da criança, ainda em sua fase bebê dentro do
uma medida, um caminho que necessita ser trilhado, para ambiente escolar, decorrente do fato dos pais trabalharem o
assim alcançar melhores resultados. O aluno é parte da escola, dia todo para a sustentação de sua família. Hoje a sociedade
é sujeito que aprende que constrói seu saber, que direciona possui um modelo não mais conservador de estrutura familiar
seu projeto de vida, assim sendo a escola lida com pessoas, onde a mãe ficava em casa para cuidar de seus filhos e o pai era
valores, tradições, crenças, opções e precisa estar preparada o núcleo do sustento família. (VYGOTSKY, 1996)
para enfrentar tudo isso. O contexto escolar vai proporcionar a criança o contato
Informar e formar precisa estar entre os objetivos com a diversidade através da interação com as outras crianças
explícitos da escola; desenvolver as potencialidades físicas, e da aprendizagem de novos conhecimentos que as preparam
cognitivas e afetivas dos alunos, e isso por meio da para se relacionar com o mundo real. É nesse universo que é
aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, preciso compreender a importância do desenvolvimento
procedimentos, atitudes e valores), fará com que se tornem humano e perceber que a criança não é um adulto em
cidadãos participantes na sociedade em que vivem. miniatura e que essas possuem características próprias de sua
Uma escola voltada para o pleno desenvolvimento do idade, ou seja, existem formas de perceber, compreender e se
educando valoriza a transmissão de conhecimento, mas comportar diante do mundo que nas palavras de Piaget quer
também enfatiza outros aspectos: as formas de convivência dizer que existe uma assimilação progressiva do meio
entre as pessoas, o respeito às diferenças, a cultura escolar. ambiente, que implica acomodação das estruturas mentais a
(Progestão 2001). este novo dado do mundo exterior, (BOOK, 1996).
Ao ouvir depoimentos de alunos que afirmaram que a Piaget divide os períodos do desenvolvimento de acordo
maioria das aulas são totalmente sem atrativos, professores com o aparecimento de novas qualidades do pensamento, o
chegam à sala cansados, desmotivados, não há nada que os que por sua vez, interfere no desenvolvimento global onde
atraem a participarem, que os desafiem a querer aprender. É cada período é caracterizado por aquilo que de melhor o
importante ressaltar a importância da unidade de propostas e indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias, (PIAGET,
objetivos entre os coordenadores e o gestor, pois as duas 1967).
partes falando a mesma linguagem o resultado será muito Piaget relata que a evolução cognitiva leva à percepção da
positivo que terá como fruto a elevação da qualidade de existência de outras pessoas e à colocação de si próprio como
ensino. um indivíduo entre os demais. Assim, para Piaget, o objetivo
Contudo, partindo do pressuposto de que a escola visa do desenvolvimento é a socialização do pensamento, sendo a
explicitamente à socialização do sujeito é necessário que se interação com outras pessoas de importância fundamental na
adote uma prática docente lúdica, uma vez que ela precisa construção do conhecimento e constituindo-se numa de suas
estar em sintonia com o mundo, a mídia que oferece: forças motivadoras, (PIAGET, 1967).
informatização e dinamismo. A teoria cognitiva foi construída por Piaget partindo do
Considerando a leitura, a pesquisa e o planejamento princípio que existe certa continuidade entre os processos
ferramentas básicas para o desenvolvimento de um trabalho biológicos de morfogênese e adaptação ao meio e a
eficaz, e ainda fazendo uso do método dialético, o professor inteligência. Com efeito, a vida é uma criação continua de
valoriza as teses dos alunos, cultivando neles a autonomia e formas cada vez mais complexas e um equilíbrio progressivo
autoestima o que consequentemente os fará ter interesse pelas entre essas formas e o meio. Dizer que a inteligência é um caso
aulas e o espaço escolar então deixará de ser apenas ponto de particular de adaptação biológica é, pois supor que ela é
encontro para ser também lugar de crescimento intelectual e essencialmente uma organização e que sua função é estruturar
pessoal. o universo como o organismo estrutura o meio imediato
Os coordenadores por sua vez precisam assumir sua (PIAGET, 1991).
responsabilidade pela qualidade do ensino, atuando como Esta citação tem significado a partir da estrutura
formadores do corpo docente, promovendo momentos de anatômica e morfológica que passa pelos sistemas de reflexos
trocas de experiências e reflexão sobre a prática pedagógica, o levando aos hábitos e associações adquiridos que dão origem
que trará bons resultados na resolução de problemas a inteligência prática ou sensória motora e a inteligência
cotidianos, e ainda fortalece a qualidade de ensino, contribui refletida, (PIAGET, 1991).
para o resgate da autoestima do professor, pois o mesmo Já Bruner; por sua vez explica que cada cultura gera a sua
precisa se libertar de práticas não funcionais, e para isso a própria psicologia popular, e esta seria o instrumento que
contribuição do coordenador será imprescindível, o que iniciaria as crianças na compreensão de seu mundo social. A
resultará no crescimento intelectual dos alunos. cultura emerge do senso comum das pessoas ao explicar os
acontecimentos do dia-a-dia, passando de uma geração para
Desenvolvimento social6 outra. Para este autor, a inteligência é em grande medida, a
A criança desde o início de sua vida está em constante e interiorização de instrumentos proporcionados por uma
profunda transformação. Inicialmente as respostas das cultura dada, (BRUNER, 1990).
crianças são dominadas por processos naturais e é através dos Todos os indivíduos passam por essas fases ou períodos,
adultos que os processos psicológicos mais complexos tomam nessa sequência, porém o início e o término de cada uma delas
formam. Dessa forma, a aprendizagem da criança inicia-se depende das características biológicas do indivíduo e dos
muito antes de sua entrada na escola, isto porque, ela já está fatores educacionais, sociais. Portanto a divisão nessa faixa
exposta desde o primeiro dia de vida aos elementos do seu etária é uma referência que pode variar de indivíduo para
sistema cultural, e à presença do outro se torna indispensável indivíduo.
para a mediação entre ela e a cultura, (DANTAS, 1990). O ser
humano nasce e se desenvolve primeiramente pelo auxílio de
suas respostas inatas, como por exemplo, o ato de mamar para
saciar a fome.

6Fonte: http://www.ceap.br/material/MAT25092013113236.pdf

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Na sociedade dividida em classes, temos uma constante


luta pela hegemonia política e a ideologia assume o caráter de
5. Reformas neoliberais convencimento, o primeiro recurso utilizado para a
para a educação. dominação. Do ponto de vista dos oprimidos, o embate
5.1 Implicações das políticas ideológico contra a hegemonia burguesa se dá em todos os
espaços em que esta se reproduz, como por exemplo, a escola.
públicas para a organização Temos então, uma luta de posição na escola, colocando a
do trabalho escolar. política, luta pelo poder, como o centro da ação pedagógica.
A educação, portanto, é um espaço social de disputa da
hegemonia; é uma prática social construída a partir das
As políticas educacionais no contexto do relações sociais que vão sendo estabelecidas; é uma “contra
neoliberalismo7 ideologia”. Nesta perspectiva, é importante situar a posição do
educador na sociedade, contribuindo para manter a opressão
A conjuntura das políticas educacionais no Brasil ainda ou se colocando em contraposição à ela. Se o educador é um
demonstra sua centralidade na hegemonia das ideias liberais trabalhador em educação, parece coerente que este seja aliado
sobre a sociedade, como reflexo do forte avanço do capital das lutas dos trabalhadores enquanto classe, visto que as suas
sobre a organização dos trabalhadores na década de 90. conquistas sociais, aparentemente mais imediatas, também
A intervenção de mecanismos internacionais como o FMI e dependem de vitórias maiores no campo social.
o Banco Mundial, aliada à subserviência do governo brasileiro O atual contexto traz algumas novidades e um conjunto de
à economia mundial, repercute de maneira decisiva sobre a elementos já presentes há muito tempo no capitalismo, ambos
educação. tentando se articular coerentemente, embora as contradições
Em contrapartida, a crise do capitalismo em nível mundial, estejam cada vez mais explícitas. Em termos de estrutura
em especial do pensamento neoliberal, revela, cada vez mais, social, vigora a manutenção da sociedade burguesa, com suas
as contradições e limites da estrutura dominante. A estratégia características básicas: trabalho como mercadoria;
liberal continua a mesma: colocar a educação como prioridade, propriedade privada; controle do excedente econômico;
apresentando-a como alternativa de “ascensão social” e de mercado como centro da sociedade; apartheid, exclusão da
“democratização das oportunidades”. maioria; escola dividida para cada tipo social.
Por outro lado, a escola continua sendo um espaço com Porém, em termos estruturais, a ordem burguesa está sem
grande potencial de reflexão crítica da realidade, com alternativa, ou seja, o capitalismo prova sua ineficácia
incidência sobre a cultura das pessoas. O ato educativo generalizada e a crise apresentada revela seu caráter
contribui na acumulação subjetiva de forças contrárias à endógeno, ou seja, o capitalismo demonstra explicitamente ser
dominação, apesar da exclusão social, característica do o gerador de seus próprios problemas.
descaso com as políticas públicas na maioria dos governos. O fracasso do capitalismo se comprova internamente,
A relação da ideologia com a educação foi bastante principalmente nos países mais pobres. Além disso, o auge do
polêmica ao longo da história. Embora o termo tenha sido neoliberalismo da década de 90 mostra suas limitações e
primeiramente utilizado em 1801, é com o advento do começa a ser rejeitado em todo o mundo.
marxismo que a ideologia assume uma maior importância Nem mesmo crescimento econômico, suposta virtude da
para o pensamento humano. Conforme Marilena Chauí, o qual os intelectuais burgueses ainda se vangloriavam, o
marxismo entende a ideologia como “um instrumento de capitalismo consegue proporcionar. Conforme o economista
dominação de classe e, como tal, sua origem é a existência da João Machado, a economia mundial que se mantinha num
divisão da sociedade em classes contraditórias e em luta”. crescimento de 4% na década de 60, chegou ao final da década
A compreensão de ideologia como expressão de interesses de 90 com apenas 1%.
e “falsificação da realidade” com vistas ao controle social, O custo social, por sua vez, é catastrófico:
permite a conclusão, do ponto de vista marxista, de que a a) a diferença entre países ricos e pobres têm aumentado
estrutura social dominante constitui “aparelhos ideológicos” em 110 vezes, desde a 2ª. Guerra Mundial até a década de 90;
em forma de superestrutura, mantendo a opressão. b) aumenta consideravelmente a distância entre ricos e
Segundo Louís Althusser a escola é o principal aparelho pobres dentro dos países;
ideológico da sociedade e, em seu entendimento, como a c) a crise ecológica vem sendo agravada, com a poluição
estrutura determina a superestrutura, não é possível qualquer das águas e diversos recursos naturais essenciais à produção.
mudança social a partir da educação. Moacir Gadotti considera Há uma clara incompatibilidade entre a ordem burguesa e a
a posição de Althusser bastante equivocada do ponto de vista noção de progresso civilizatório.
da emancipação humana, pois gera uma situação de
passividade e impotência, o que revela um caráter ideológico De maneira mais conjuntural as principais características
de sua própria teoria, já que “a subserviência da omissão são as seguintes:
interessa mais à dominação do que o combate a favor dela”. a) crise do trabalho assalariado, com acentuada
Para Gadotti, “se aceitarmos a análise de Althusser, precarização nas relações de trabalho;
certamente a educação enquanto sistema ou subsistema é um b) mito da irreversibilidade da globalização, com forte
aparelho ideológico em qualquer sistema político. Mas se carga de fatalismo;
aceitarmos que ela é também ato, práxis, então as coisas se c) mundo unitário sem identidade, trazendo à tona a
complicam. Não podemos reduzir a educação, a complexidade fragmentação, também no que se refere ao conhecimento;
do fenômeno educativo apenas às suas ligações com o sistema”. d) retorno de “velhas utopias”, principalmente na política,
De certa forma, Gramsci é que dá um novo rumo ao economia e religião;
conceito de ideologia e, com isso, fornece valiosas e) despolitização das relações sociais;
contribuições para a construção da educação voltada para a f) acento na competitividade com a perspectiva de que
transformação social. Um dos conceitos fundamentais alguns se salvam já que não dá para todos.
adotados por Gramsci é o de hegemonia que, segundo ele, se Nessa realidade está inserida a educação, como um espaço
dá por consenso e/ou coerção. de disputa de projetos antagônicos: liberal X democrático-
popular. Por um lado, o caos da ditadura do mercado como

7 Texto adaptado de Antonio Inácio Andrioli.

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regulador das relações humanas e, por outro, a tentativa de A Gestão Democrática na organização do trabalho
manter a democracia como valor universal e a solidariedade escolar: a contribuição do PPP8
como base da utopia socialista.
As mudanças, atualmente refletidas no espaço escolar têm
A educação neoliberal suas origens num processo mais amplo e complexo que
Do ponto de vista liberal, a educação ocupa um lugar antecede os anos 90. Destarte, para compreender o quadro
central na sociedade e, por isso, precisa ser incentivada. De atual, precisamos buscar na história os elementos
acordo com o Banco Mundial são duas as tarefas relevantes ao constitutivos do processo de mudança nos aspectos
capital que estão colocadas para a educação: econômicos, sociais e políticos.
1) ampliar o mercado consumidor, apostando na educação De acordo com Silva Jr, a escola desenvolve seu trabalho no
como geradora de trabalho, consumo e cidadania (incluir mais interior de uma sociedade capitalista; nela se manifestam as
pessoas como consumidoras); contradições e determinações; da mesma forma, são variadas
2) gerar estabilidade política nos países com a e, frequentemente, conflitantes as interpretações sobre a
subordinação dos processos educativos aos interesses da função da escola e/ou organização do trabalho pedagógico.
reprodução das relações sociais capitalistas (garantir Essas contradições impostas pelo capitalismo permeiam a luta
governabilidade). ideológica das ideias e convicções, assim, a escola tende a
reproduzir as tensões e forças nas relações de poder e na
É evidente que a preocupação do capital não é gratuita. própria organização do trabalho pedagógico.
Existe uma coerência do discurso liberal sobre a educação no Uma análise crítica a respeito da gestão democrática, da
sentido de entendê-la como “definidora da competitividade participação e do coletivo revelou os dois lados de uma mesma
entre as nações” e por se constituir numa condição de situação. Se, no aspecto ideológico, a gestão democrática tem
empregabilidade em períodos de crise econômica. Como para sido usada para concretização das políticas educacionais de
os liberais está dado o fato de que todos não conseguirão forma desvirtuada, visando a utilização da Associação de Pais
“vencer”, importa então impregnar a cultura do povo com a e Mestres e Funcionários – APMF, e dos colegiados escolares
ideologia da competição e valorizar os poucos que conseguem para os interesses hegemônicos, por outro, é inegável a
se adaptar à lógica excludente, o que é considerado um necessidade da participação de toda a comunidade escolar e as
“incentivo à livre iniciativa e ao desenvolvimento da benesses dessa prática.
criatividade”. O que passa a caracterizar as teorias modernas da
Conforme o Prof. Roberto Lehrer (UFRJ), o próprio Banco administração não são mais a coerção e a manipulação
Mundial tem declarado explicitamente que “as pessoas pobres características da teoria Clássica e de relações Humanas, mas
precisam ser ajudadas, senão ficarão zangadas”. Essa o dirigismo calcado nas práticas da motivação, cooperação e
interpretação é precisa com o que o próprio Banco têm integração.
apresentado oficialmente como preocupação nos países Procurou-se aqui relacionar a gestão democrática na
pobres: “a pobreza urbana será o problema mais importante e organização do trabalho pedagógico, tendo como referência as
mais explosivo do próximo século do ponto de vista político”. políticas educacionais e apresentar o Projeto Político
É evidente que parte do resultado esperado por parte de Pedagógico – PPP como colaborador nesse processo de gestão
quem encaminha as políticas educacionais de forma global fica democrática. O PPP aponta um caminho possível para uma
frustrada por que sua eficácia depende muito da aceitação ou gestão democrática. Nesse sentido, nossa preocupação é
não de lideranças políticas locais e, principalmente, dos analisar as possibilidades de práticas de participação no
educadores. espaço escolar, buscando uma abordagem crítica.
A interferência de oposições locais ao projeto neoliberal na Compreender e buscar o contraponto dessa discussão
educação é o que de mais decisivo se possui na atual “parece” ser o caminho a ser percorrido pela comunidade
conjuntura em termos de resistência e, se a crítica for escolar a ser construído pelo PPP. Esse caminho passa,
consistente, este será um passo significativo em direção à necessariamente, pela organização do espaço escolar, pelo
construção de um outro rumo, apesar do “massacre ideológico” trabalho diário realizado por cada um dos sujeitos da
a que os trabalhadores têm sido submetidos durante a última comunidade escolar, considerando-se os aspectos de tempo,
década. espaço, formação, legislação, administração, políticas
Em função dessa conjuntura política desfavorável, educacionais, recursos financeiros e humanos, o que define a
podemos afirmar que, em termos genéricos, as maiores complexidade da educação vivenciada em seu espaço mais
alterações que ultimamente tem sido previstas estão chegando específico que é a escola.
às escolas e, muitas vezes, tem sido aceitas sem maiores Essa complexidade não pode significar o impedimento de
discussões a seu respeito, impedindo uma efetiva mudanças no espaço escolar; uma visão crítica tem
contraposição. exatamente o objetivo de denunciar e de buscar caminhos
Diante da análise anterior, a atuação coerente e alternativos.
socialmente comprometida na educação parece cada vez mais A gestão democrática vista como uma forma diferente de
difícil, tendo em vista que a causa dos problemas está longe e, encaminhar o trabalho pedagógico na escola deve articular
ao mesmo tempo, dispersa em ações locais. todos os responsáveis pelo PPP de forma a interagirem com
A tarefa de educar, em nosso tempo, implica em conseguir toda a comunidade escolar. A partir do momento em que se
pensar e agir localmente e globalmente, o que carece da busca uma nova organização, também as relações de trabalho
interação coletiva dos educadores e, segundo Philippe no espaço escolar deverão ser ressignificadas.
Perrenoud, da Universidade de Genebra, “o professor que não Essa mudança exige uma ruptura com a cultura autoritária
se preparar para intervir na discussão global, não é um ator que perpassa a história da escola que, instalada em nossos
coletivo”. Além disso, a produção teórica só tem sentido se for hábitos, exige que se entenda a participação como um
feita sobre a prática, com vistas a transformá-la. princípio da democracia. Portanto, a participação não pode ser
privilégio de uns poucos, mas uma possibilidade para todos,
oportunizada de forma efetiva e acessível a toda a comunidade
escolar.

8 Texto adaptado de Silvana Barbosa de Oliveira, disponível em


http://www.pucpr.br/

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Um Pouco de História: Buscando As Origens da Gestão Ainda, segundo a autora, não é possível analisar a educação
Democrática sem relacioná-la às mudanças da base produtiva e às
Vivemos numa sociedade capitalista cujo princípio é a exigências de reorganização do capital.
produção de mercadorias e serviços através do trabalho que Diante disto, o neoliberalismo propôs alterações para o
depende das diferenças socioeconômicas entre aqueles que papel do Estado, de acordo com as quais o mercado
detêm ou controlam os meios de produção. Nesse sistema o substituiria a política e um Estado Mínimo substituiria o
objetivo é aumentar o capital, isto é, lucrar. O sistema Estado de Bem Estar. Para realizar essas medidas propostas, a
capitalista passou por diversas fases desde as suas origens até privatização foi um dos caminhos apresentados, pois
os dias atuais. teoricamente diminuiria os gastos do Estado e incentivaria a
Tomaremos como base as mudanças da década de noventa, livre competição do mercado, garantindo os interesses dos
na qual a globalização representa uma reestruturação setores privados da economia.
econômica em âmbito mundial, tendo como aparato ideológico Essa reorganização do capitalismo, em fase de
o neoliberalismo fundamentado em um discurso que privilegia desenvolvimento desde os anos setenta apresentou-se de
a esfera econômica. Assim, temos a globalização como forma mais clara nos últimos anos, através da globalização da
processo de integração mundial, via internacionalização do economia, da transnacionalização das estruturas de poder e da
capital, ou seja, a transnacionalização. reestruturação produtiva.
Esse processo de reestruturação econômica inclui a Seguindo a tese da autora, esta reorganização do
redução do papel do Estado na diminuição do investimento do capitalismo constitui-se um processo vasto e complexo e
setor público, reformas administrativas, estabilização fiscal e mostra as tendências de dois processos simultâneos, quais
redução do crédito interno e das barreiras de mercado. sejam: a nova fase de internacionalização do capital e a
Bruno explica que é praticamente impossível haver reorganização produtiva que, por sua vez, altera as estruturas
desenvolvimento fora deste quadro de economia de poder do capitalismo. Nesse mesmo sentido, a autora
internacionalizada. esclarece:
Completa ainda a autora: [...] Entretanto, a integração das Assim, a novidade da forma atual de internacionalização
várias economias numa estrutura global não implica em do capital, comumente designada globalização, reside no fato
homogeneização das condições econômicas e sociais de se constituir um processo de integração mundial que já não
existentes em cada uma delas. Antes, o que ocorre é a integra nações ou economias nacionais, mas conjuga a ação
reprodução generalizada das desigualdades em escala dos grandes grupos econômicos entre si e no interior de cada
mundial. Isto porque a divisão internacional do trabalho foi um deles, não só ultrapassando, mas ignorando, em suas ações
profundamente alterada e o que se observa é que esta e decisões, as fronteiras nacionais.
integração não se dá em termos de nação, mas de setores da A partir dos anos noventa, a questão da qualidade já
economia. incorporada aos discursos políticos educacionais alia-se ao
Esse processo aponta para um movimento de mudanças modelo neoliberal. “A qualidade educativa, nesta década de 90,
sem precedentes; soma-se a ordem econômica, a é requerida numa perspectiva mercadológica, neocientificista,
reestruturação do trabalho, as inovações tecnológicas e das neoconservadora, orientada para implantar-se nos países em
próprias estruturas de poder, entre as quais os organismos desenvolvimento, como o Brasil”.
multilaterias que têm expandido cada vez mais as suas ações, Portanto, a educação no que concerne ao mercado pode ser
via empréstimos e financiamentos. vista sob dois aspectos concretos:
Dentro desse quadro de mudanças, a educação passa a ter - 1º, em relação à gestão da escola, com ênfase na
função primordial, pois, enquanto política pública é reorganização das funções administrativas, da participação
considerada como serviço essencial que o Estado deve coletiva, das parcerias, do voluntariado;
garantir. - 2º, na busca da qualidade total.
De acordo com a ideologia neoliberal, as políticas Em relação ao primeiro aspecto, Bruno aponta para a
educacionais também tomam forma adequada à lógica do necessidade de promover formas consensuais de tomada de
mercado. O modelo de gestão administrativo empresarial será decisões, com a participação dos sujeitos envolvidos, o que
transferido para a gestão da escola. A racionalização constitui uma estratégia para prevenir conflitos e resistências
custo/benefício, a descentralização e a busca por uma maior que possam obstruir a implementação das medidas
participação da comunidade é o modelo a ser alcançado. “Os consideradas necessárias. O segundo aspecto, transplantado
conceitos de produtividade, eficácia, excelência e eficiência do setor privado para o setor público, diz respeito ao modelo
serão importados das teorias administrativas para as teorias de qualidade total e busca a eficiência dos resultados com a
pedagógicas”. redução de custos, enfatizando a relação entre consumidor e
Esse modelo tem como meta final a qualidade que, a partir cliente.
dos anos noventa, já está incorporada aos discursos políticos Analisar as políticas educacionais requer a compreensão
educacionais aliando-se ao modelo neoliberal. Para Lima, essa de um novo panorama na forma de organização das
qualidade preza o resultado, e a escola é o instrumento de sociedades, do modo de produção e de relações entre as
efetivação das políticas educacionais de adequação dos alunos pessoas.
à sociedade capitalista. Para o autor, a escola tem servido aos Nessa ótica, impossível pensar a educação sem pensar nas
interesses do Estado capitalista. alterações da base produtiva, nas exigências de reorganização
Essas mudanças representam o solo fecundo para o do capital, sempre explicitadas pela constante modernização
movimento das reformas implantadas tanto nos aspectos do sistema. Nesse sentido, impossível pensar a educação fora
legais, quanto nos ideológicos e de políticas educacionais. A do espectro da contradição que põe lado a lado a mudança e a
LDB 9394/96 torna a gestão democrática um princípio, além permanência, que impõe novas formas de trabalho no interior
da criação dos Conselhos Escolares. da mesma relação de produção, que aciona velhas atitudes,
As diretrizes educacionais respondem a uma política apenas maquiadas pelo velho dogma do mercado.
educacional, que, dentro de uma sociedade capitalista, traz O processo histórico como caminho para o entendimento
suas contradições e a luta pela superação de classes sociais e da educação, enquanto prática social construída
do poder hegemônico. Discutir políticas educacionais “implica, materialmente, nos auxilia a perceber que os fatos não
na verdade, em trazer informações sobre o passado acontecem por acaso e, sim que estão ligados por um conjunto
(organização do capital) e, com elas, cotejar a forma de ser do de fatores materiais, que alteram nosso modo de vida e
presente (reorganização do mesmo sistema produtivo)”.

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produção conforme os interesses hegemônicos do momento sentido de buscar soluções alternativas para diferentes
histórico. momentos do trabalho pedagógico-administrativo,
O pressuposto básico é que a educação é impactada pela desenvolver o sentimento de pertença, mobilizar os
lógica do capital, ou seja, os processos educacionais e os protagonistas para a explicitação de objetivos comuns comum,
processos sociais mais abrangentes de reprodução estão definindo o norte das ações a serem desencadeadas, fortalecer
intimamente interligados. a construção de uma coerência comum, mas indispensável,
A clareza da relação entre educação e capital nos impele a para que a ação coletiva produza seus efeitos.
buscar caminhos através da inter-relação das políticas A atuação efetiva dos Conselhos Escolares, além de
educacionais e das mudanças na prática. Uma das formas de colaborar com a gestão democrática permite,
materializar as mudanças propostas pelas políticas concomitantemente, a construção de um PPP graças ao qual
educacionais é a legislação. A LDB 9394/96 traduz as propicia espaço de participação nos processos decisórios da
orientações dos organismos internacionais, apontando para os escola, evitando o corporativismo.
princípios de produtividade, eficiência e qualidade total.
A LDB trouxe para a escola a questão da gestão Gestão e Organização do Trabalho Pedagógico
democrática, tratando-a de forma específica nos artigos que se É necessário avançar e explicar o que entendemos por
seguem, bem como a forma dessa construção coletiva através gestão democrática no espaço da escola pública, como prática
do PPP e da participação da comunidade em Conselhos cotidiana na organização do trabalho pedagógico. Para efeito
Escolares ou Colegiados. deste ensaio, gestão, administração e coordenação serão
utilizadas como sinônimos visando ampliar a perspectiva do
Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas de entendimento sobre o tema porquanto a organização e a
gestão democrática do ensino público na educação básica, de gestão constituem o conjunto das condições e dos meios
acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes utilizados para assegurar a qualidade da instituição escolar,
princípios: buscando alcançar os objetivos propostos a partir das
I- Participação dos profissionais da educação na discussões de toda a comunidade escolar.
elaboração do projeto político-pedagógico da escola; Portanto, a administração escolar, ou gestão escolar,
II- Participação das comunidades escolar e local em diferencia-se da administração de organizações particulares,
conselhos escolares ou equivalentes. pois não visa o lucro, mas sim o interesse público, assegurando
o caráter democrático da escola pública.
PPP: Contribuições A comunidade escolar, ou seja, professores, alunos, pais,
O PPP tem sido objeto de estudos e discussões desde os direção e equipe pedagógica são considerados como sujeitos
anos noventas. Apesar de ser um tema corriqueiramente ativos de todo o processo, de forma que a participação de cada
debatido no âmbito da educação básica, continua sendo um um implica em clareza e conhecimento do seu papel, em
desafio para sua construção e implementação. relação ao papel dos demais, como corresponsáveis. Além da
O PPP representa a escola, ou seja, expõe, exibe, revela, participação, a autonomia constitui-se um princípio básico da
mostra a sua organização, a sua prática pedagógica e gestão democrática. Para que os membros da comunidade
administrativa num movimento contínuo que envolve escolar possam ser considerados sujeitos ativos do processo é
diversos profissionais da educação e suas relações com a necessário refletirmos sobre a forma de organização do
comunidade escolar inserida num dado tempo num dado local, trabalho escolar e as relações de poder neste espaço.
como sujeitos históricos e críticos, revelando, ainda, as Para Dourado, a gestão democrática constitui-se como um
contradições presentes na função social da escola. processo de aprendizado e de luta política, possibilitando a
Portanto, a construção do PPP revela os interesses da criação e efetivação de canais de participação, de aprendizado
comunidade escolar, suas expectativas dentro da esfera do do “jogo democrático”, e tendo como resultado a reflexão das
coletivo, buscando uma gestão democrática na definição da estruturas autoritárias, com vistas à sua transformação.
ação de cada um e das ações conjuntas. Nesse sentido, a sua Apesar de partirmos do pressuposto de que há uma
construção terá sempre o caráter político. “Por isso, todo construção coletiva, de fato essa construção não passa de um
projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político agrupamento de ideias que busca um consenso. As discussões
por estar intimamente articulado ao compromisso para a elaboração do PPP não conta com a presença de todos
sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população os professores. Neste item, poderíamos citar muitos motivos,
majoritária”. mas indicaremos o que julgamos ser o principal, que é a
Para efeito deste artigo, o PPP será entendido como divisão da carga horária do professor em diversas e diferentes
elemento colaborador no processo de gestão democrática nas escolas e sua rotatividade. Essa situação gera a sensação de
práticas diárias no trabalho pedagógico e na organização. Essa que ele não pertence àquela comunidade, e a escola se torna
colaboração só poderá ser efetivada se o PPP representar, de apenas mais um local de trabalho. Essa situação tende a
fato, um projeto emancipador e não um simples documento descomprometer o professor com os rumos da instituição e
organizado de forma a atender as exigências burocráticas. com a própria construção do PPP.
Veiga explicita a diferença na construção do PPP enquanto O professor não é vítima nem culpado pela situação
inovação regulatória ou inovação emancipatória. Enquanto o vivenciada. Também não é o único profissional afetado por
primeiro está voltado para a burocratização, cumprindo esse sistema, apesar de fazer parte da maioria na escola. O
normas técnicas, de cunho político-administrativo, que geram pedagogo dividido entre o administrativo e o pedagógico,
um produto, no caso, um documento pronto e acabado, no exercendo funções burocráticas, entre outras atividades
segundo, a opção pela inovação com a participação dos “corriqueiras”, próprias do pedagogo tarefeiro, desvia-se da
diferentes atores, em um contexto histórico e social, propicia a sua real função. Aliada a essa situação, a complexidade da
argumentação, a comunicação e a solidariedade. escola e a falta de pessoal, impede o desenvolvimento de um
Nesse aspecto, o PPP permite a realização de um trabalho trabalho voltado para as questões pedagógicas específicas e o
mais comprometido com as ações definidas no conjunto dos próprio acompanhamento do PPP. Outra necessidade é o
participantes, podendo e devendo provocar mudanças na pedagogo posicionar-se, de fato, como articulador do trabalho
organização do trabalho pedagógico e rompendo com um pedagógico, exigindo pessoal para cumprir as atividades
modelo de trabalho isolado e fragmentado. tarefeiras e emergenciais na escola, como inspetor de alunos,
Sob esta ótica, o projeto é um meio de engajamento porteiro. É necessário observar se:
coletivo para integrar ações dispersas, criar sinergias no

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A ênfase no “administrativo” apresenta-se assim, ao alguns autores, o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa
mesmo tempo, como opção preferencial face às peculiaridades História passou a ter uma complexidade maior.
da disciplina e também como “proteção” face ao complexo A educação, no entanto, continuou a ter uma importância
universo teórico-metodológico em que a discussão sobre a secundária perante os governos brasieiros. Basta ver que,
educação se desenvolve. enquanto nas colônias espanholas já existiam muitas
Com a esperança de uma escola melhor, ousamos apontar universidades, sendo que em 1538 já existia a Universidade de
alguns encaminhamentos possíveis para a construção de um São Domingos e em 1551 a do México e a de Lima, a nossa
PPP coletivo ou, pelo menos, para a discussão desses temas. primeira Universidade só surgiu em 1934, em São Paulo.
- Analisar o Projeto Político Pedagógico implica em Por todo o Império, incluindo D. João VI, D. Pedro I e D.
considerar a gestão democrática para a sua construção; Pedro II, pouco se fez pela educação brasileira e muitos
- Discutir o Projeto Político Pedagógico significa discutir, reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclamação da
concomitantemente, a organização do trabalho escolar; República tentaram-se várias reformas que pudessem dar uma
- O pedagogo como articulador das questões pedagógicas nova guinada, mas se observarmos bem, a educação brasileira
necessita do coletivo para encaminhar o trabalho na escola; não sofreu um processo de evolução que pudesse ser
- Não é possível propor intervenção na escola, sem, considerado marcante ou significativo em termos de modelo.
primeiramente, analisar de forma crítica a participação da Até os dias atuais muito tem se alterado no panorama do
comunidade escolar; planejamento educacional, mas a educação continua a ter as
- O Colegiado Escolar pode representar um caminho para a mesmas características impostas em todos os países do
discussão da gestão democrática, como uma forma de mundo, que é a de manter o "status quo" para aqueles que
participação coletiva; frequentam os bancos escolares.
- Há necessidade da revisão dos “papéis” de cada um e o Concluindo podemos dizer que a Educação Brasileira tem
compromisso com metas comuns; um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente
- É necessário, ainda, compreender a “lógica” das políticas observável. E é isso que tentamos passar neste texto.
educacionais e suas perspectivas para a escola pública. Os períodos foram divididos a partir das concepções do
autor em termos de importância histórica.
Se considerarmos a História como um processo em eterna
6. A História da educação no evolução, não podemos considerar este trabalho como
terminado. Novas rupturas estão acontecendo no exato
Brasil: fundamentos momento em que esse texto está sendo lido. A educação
históricos. brasileira evolui em saltos desordenados, em diversas
direções.

Período Jesuítico
De acordo com o texto de Bello9, a História da Educação
A educação indígena foi interrompida com a chegada dos
Brasileira não é uma História difícil de ser estudada e
jesuítas. Os primeiros chegaram ao território brasileiro em
compreendida. Ela evolui em rupturas marcantes e fáceis de
março de 1549. Comandados pelo Padre Manoel de Nóbrega,
serem observadas.
quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola
A primeira grande ruptura travou-se com a chegada
elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão
mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo. Não
Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos. Irmão Vicente
podemos deixar de reconhecer que os portugueses trouxeram
tornou-se o primeiro professor nos moldes europeus, em
um padrão de educação próprio da Europa, o que não quer
terras brasileiras, e durante mais de 50 anos dedicou-se ao
dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam
ensino e a propagação da fé religiosa.
características próprias de se fazer educação. E convém
Quando os jesuítas chegaram por aqui, eles não trouxeram
ressaltar que a educação que se praticava entre as populações
somente a moral, os costumes e a religiosidade europeia;
indígenas não tinha as marcas repressivas do modelo
trouxeram também os métodos pedagógicos. Todas as escolas
educacional europeu.
jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por
Podemos também obter algumas noções de como era feita
Inácio de Loiola, o Ratio Studiorum.
a educação entre os índios na série Xingu, produzida pela
Eles não se limitaram ao ensino das primeiras letras; além
extinta Rede Manchete de Televisão. Neste seriado podemos
do curso elementar mantinham cursos de Letras e Filosofia,
ver crianças indígenas subindo nas estruturas de madeira das
considerados secundários, e o curso de Teologia e Ciências
construções das ocas, numa altura inconcebivelmente alta.
Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes.
Quando os jesuítas chegaram por aqui, eles não trouxeram
No momento da expulsão, os jesuítas tinham 25
somente a moral, os costumes e a religiosidade europeia;
residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de
trouxeram também os métodos pedagógicos.
seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas
Este método funcionou absoluto durante 210 anos, quando
em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus.
uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a
A educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura
expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia
histórica num processo já implantado e consolidado como
alguma coisa muito bem estruturada em termos de educação o
modelo educacional.
que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas
régias, o subsídio literário, mas o caos continuou até que a
Período Pombalino
Família Real, fugindo de Napoleão na Europa, resolve
transferir o Reino para o Novo Mundo.
Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da Bahia, 53
Na verdade não se conseguiu implantar um sistema
de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do Pará. Com eles
educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família Real
levaram também a organização monolítica baseada no Ratio
permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para
Studiorum.
preparar terreno para sua estadia no Brasil, D. João VI abriu
Desta ruptura, pouca coisa restou de prática educativa no
Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a
Brasil. Continuaram a funcionar o Seminário Episcopal, no
Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais
Pará, e os Seminários de São José e São Pedro, que não se
marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo

9 Texto adaptado de BELLO, J. L. P.

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encontravam sob a jurisdição jesuítica; a Escola de Artes e intenção de bons resultados não foi o que aconteceu, já que,
Edificações Militares, na Bahia, e a Escola de Artilharia, no Rio pelas dimensões do país, a educação brasileira perdeu-se mais
de Janeiro. uma vez, obtendo resultados pífios.
Os jesuítas foram expulsos das colônias em função de Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joaquim, na
radicais diferenças de objetivos com os dos interesses da cidade do Rio de Janeiro, é criado o Colégio Pedro II, com o
Corte. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o objetivo de se tornar um modelo pedagógico para o curso
proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer secundário. Efetivamente o Colégio Pedro II não conseguiu se
Portugal da decadência em que se encontrava diante de outras organizar até o fim do Império para atingir tal objetivo.
potências europeias da época. Até a Proclamação da República, em 1889 praticamente
A educação jesuítica não convinha aos interesses nada se fez de concreto pela educação brasileira. O Imperador
comerciais emanados por Pombal. Ou seja, se as escolas da D. Pedro II, quando perguntado que profissão escolheria não
Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses fosse Imperador, afirmou que gostaria de ser "mestre-escola".
da fé, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos Apesar de sua afeição pessoal pela tarefa educativa, pouco foi
interesses do Estado. feito, em sua gestão, para que se criasse, no Brasil, um sistema
Portugal logo percebeu que a educação no Brasil estava educacional.
estagnada e era preciso oferecer uma solução. Para isso
instituiu o "subsídio literário" para manutenção dos ensinos Período da Primeira República
primário e médio. Criado em 1772 o “subsídio” era uma
taxação, ou um imposto, que incidia sobre a carne verde, o A República proclamada adotou o modelo político
vinho, o vinagre e a aguardente. Além de exíguo, nunca foi americano baseado no sistema presidencialista. Na
cobrado com regularidade e os professores ficavam longos organização escolar percebe-se influência da filosofia
períodos sem receber vencimentos a espera de uma solução positivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como
vinda de Portugal. princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensino,
Os professores geralmente não tinham preparação para a como também a gratuidade da escola primária. Estes
função, já que eram improvisados e mal pagos. Eram princípios seguiam a orientação do que estava estipulado na
nomeados por indicação ou sob concordância de bispos e se Constituição brasileira.
tornavam "proprietários" vitalícios de suas aulas régias. Uma das intenções desta Reforma era transformar o
O resultado da decisão de Pombal foi que, no princípio do ensino em formador de alunos para os cursos superiores e não
século XIX, a educação brasileira estava reduzida a apenas preparador. Outra intenção era substituir a
praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado e predominância literária pela científica.
nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado para Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, já
dar continuidade a um trabalho de educação. que não respeitava os princípios pedagógicos de Comte; pelos
que defendiam a predominância literária, já que o que ocorreu
Período Joanino foi o acréscimo de matérias científicas às tradicionais,
tornando o ensino enciclopédico.
A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma nova A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o
ruptura com a situação anterior. Para atender às necessidades curso secundário se tornasse formador do cidadão e não como
de sua estadia no Brasil, D. João VI abriu Academias Militares, simples promotor a um nível seguinte.
Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Num período complexo da História do Brasil surge a
Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de Reforma João Luiz Alves que introduz a cadeira de Moral e
mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores, o Brasil Cívica com a intenção de tentar combater os protestos
foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma estudantis contra o governo do presidente Arthur Bernardes.
complexidade maior. A década de vinte foi marcada por diversos fatos
A educação, no entanto, continuou a ter uma importância relevantes no processo de mudança das características
secundária. Para Lima, "a 'abertura dos portos', além do políticas brasileiras. Foi nesta década que ocorreu o
significado comercial da expressão, significou a permissão Movimento dos 18 do Forte (1922), a Semana de Arte Moderna
dada aos 'brasileiros' (madeireiros de pau-brasil) de tomar (1922), a fundação do Partido Comunista (1922), a Revolta
conhecimento de que existia, no mundo, um fenômeno Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927).
chamado civilização e cultura". Além disso, no que se refere à educação, foram realizadas
diversas reformas de abrangência estadual, como as de
Período Imperial Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Teixeira, na
Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario Casassanta, em
D. João VI volta a Portugal em 1821. Em 1822 seu filho D. Minas, em 1927, a de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal
Pedro I proclama a Independência do Brasil e, em 1824, (atual Rio de Janeiro), em 1928 e a de Carneiro Leão, em
outorga a primeira Constituição brasileira. O Art. 179 desta Lei Pernambuco, em 1928.
Magna dizia que a "instrução primária é gratuita para todos os
cidadãos". Período da Segunda República
Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores
institui-se o Método Lancaster, ou do "ensino mútuo", onde um A Revolução de 30 foi o marco referencial para a entrada
aluno treinado (decurião) ensinava um grupo de dez alunos do Brasil no mundo capitalista de produção. A nova realidade
(decúria) sob a rígida vigilância de um inspetor. brasileira passou a exigir uma mão-de-obra especializada e
Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instrução: para tal era preciso investir na educação. Sendo assim, em
Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias. 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e,
Em 1827 um projeto de lei propõe a criação de pedagogias em em 1931, o governo provisório sanciona decretos organizando
todas as cidades e vilas, além de prever o exame na seleção de o ensino secundário e as universidades brasileiras ainda
professores, para nomeação. inexistentes. Estes Decretos ficaram conhecidos como
Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as "Reforma Francisco Campos".
províncias passariam a ser responsáveis pela administração Em 1932, um grupo de educadores lança à nação o
do ensino primário e secundário. Graças a isso, em 1835, surge Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por
a primeira Escola Normal do país, em Niterói. Se houve

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Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados inspirados nos educadores da velha geração de 1930, e a
educadores da época. participação das instituições privadas de ensino.
Em 1934, a nova Constituição (a segunda da República) Depois de 13 anos de acirradas discussões foi promulgada
dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de todos, a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961, sem a pujança do
devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos. anteprojeto original, prevalecendo as reivindicações da Igreja
Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal, Católica e dos donos de estabelecimentos particulares de
Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no ensino no confronto com os que defendiam o monopólio
atual município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade de estatal para a oferta da educação aos brasileiros.
Educação na qual se situava o Instituto de Educação. Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a
Educação Nacional foi o fato marcante, por outro lado, muitas
Período do Estado Novo iniciativas marcaram este período como, talvez, o mais fértil da
História da Educação no Brasil:
Refletindo tendências fascistas é outorgada uma nova - em 1950, em Salvador, no Estado da Bahia, Anísio
Constituição em 1937. A orientação político-educacional para Teixeira inaugura o Centro Popular de Educação (Centro
o mundo capitalista fica bem explícita em seu texto sugerindo Educacional Carneiro Ribeiro), dando início a sua ideia de
a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para escola-classe e escola-parque;
as novas atividades abertas pelo mercado. Neste sentido, a - em 1952, em Fortaleza, Estado do Ceará, o educador
nova Constituição enfatiza o ensino pré-vocacional e Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática baseada nas teorias
profissional. científicas de Jean Piaget: o Método Psicogenético;
Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam - em 1953 a educação passa a ser administrada por um
livres à iniciativa individual e à associação ou pessoas coletivas Ministério próprio: o Ministério da Educação e Cultura;
públicas e particulares, tirando do Estado o dever da educação. - em 1961 tem início uma campanha de alfabetização, cuja
Mantém ainda a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino didática, criada pelo pernambucano Paulo Freire, propunha
primário. Também dispõe como obrigatório o ensino de alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos;
trabalhos manuais em todas as escolas normais, primárias e - em 1962 é criado o Conselho Federal de Educação, que
secundárias. substitui o Conselho Nacional de Educação e os Conselhos
Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, Estaduais de Educação e, ainda
são reformados alguns ramos do ensino. Estas Reformas - em 1962 é criado o Plano Nacional de Educação e o
receberam o nome de Leis Orgânicas do Ensino, e são Programa Nacional de Alfabetização, pelo Ministério da
compostas por Decretos-lei que criam o Serviço Nacional de Educação e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire.
Aprendizagem Industrial – SENAI e valoriza o ensino
profissionalizante. Período do Regime Militar
O ensino ficou composto, neste período, por cinco anos de
curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial, Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas de se
podendo ser na modalidade clássico ou científico. O ensino revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto de que as
colegial perdeu o seu caráter propedêutico, de preparatório propostas eram "comunizantes e subversivas".
para o ensino superior, e passou a se preocupar mais com a O Regime Militar espelhou na educação o caráter
formação geral. Apesar dessa divisão do ensino secundário, antidemocrático de sua proposta ideológica de governo:
entre clássico e científico, a predominância recaiu sobre o professores foram presos e demitidos; universidades foram
científico, reunindo cerca de 90% dos alunos do colegial. invadidas; estudantes foram presos e feridos, nos confronto
com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram
Período da Nova República calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de
funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e
O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção de uma professores.
nova Constituição de cunho liberal e democrático. Esta nova Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento
Constituição, na área da Educação, determina a Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, aproveitando-se, em
obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá sua didática, do expurgado Método Paulo Freire. O MOBRAL
competência à União para legislar sobre diretrizes e bases da propunha erradicar o analfabetismo no Brasil. Não conseguiu.
educação nacional. E, entre denúncias de corrupção, acabou por ser extinto e, no
Em 1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha seu lugar criou-se a Fundação Educar.
regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal, além de É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer
criar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC, expressão popular contrária aos interesses do governo era
atendendo as mudanças exigidas pela sociedade após a abafada, muitas vezes pela violência física, que é instituída a
Revolução de 1930. Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em
Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna de 1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar
1946, o Ministro Clemente Mariani, cria uma comissão com o à formação educacional um cunho profissionalizante.
objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma geral da
educação nacional. Esta comissão, presidida pelo educador Período da Abertura Política
Lourenço Filho, era organizada em três subcomissões: uma
para o Ensino Primário, uma para o Ensino Médio e outra para No fim do Regime Militar a discussão sobre as questões
o Ensino Superior. educacionais já haviam perdido o seu sentido pedagógico e
Em novembro de 1948 este anteprojeto foi encaminhado à assumido um caráter político. Para isso contribuiu a
Câmara Federal, dando início a uma luta ideológica em torno participação mais ativa de pensadores de outras áreas do
das propostas apresentadas. Num primeiro momento, as conhecimento que passaram a falar de educação num sentido
discussões estavam voltadas às interpretações contraditórias mais amplo do que as questões pertinentes à escola, à sala de
das propostas constitucionais. Num momento posterior, após aula, à didática, à relação direta entre professor e estudante e
a apresentação de um substitutivo do Deputado Carlos à dinâmica escolar em si mesma.
Lacerda, as discussões mais marcantes relacionaram-se à No bojo da nova Constituição, um Projeto de Lei para uma
questão da responsabilidade do Estado quanto à educação, nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal, pelo Deputado
Octávio Elísio, em 1988. No ano seguinte o Deputado Jorge

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Hage enviou à Câmara um substitutivo ao Projeto e, em 1992, 03. Quanto às discussões sobre currículo e seus
o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo Projeto que pressupostos sociológicos, assinale a alternativa correta:
acabou por ser aprovado em dezembro de 1996, oito anos a) Currículo, na atualidade, está envolvido com os critérios
após o encaminhamento do Deputado Octávio Elísio. de seleção e poder, ou seja, com as questões identidade e
Mesmo que possamos não concordar com a forma como subjetividade.
foram executados alguns programas, temos que reconhecer b) Para a discussão curricular, selecionar não é uma
que, em toda a História da Educação no Brasil, contada a partir operação de poder.
do descobrimento, jamais houve execução de tantos projetos c) É precisamente a questão de poder que vai articular as
na área da educação numa só administração. teorias curriculares tradicionais, críticas e pós-críticas.
Concluindo, podemos dizer que a História da Educação d) As teorias críticas e pós-críticas de currículo não estão
Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e preocupadas com as conexões entre saber, identidade e poder.
facilmente observável. Ela é feita em rupturas marcantes, e em e) As teorias tradicionais se concentram nas questões
cada período determinado teve características próprias. comportamentais.
A bem da verdade, apesar de toda essa evolução e rupturas
inseridas no processo, a educação brasileira não evoluiu muito Resposta
no que se refere à questão da qualidade. As avaliações, de 01. E/ 02. Errada/ 03. A
todos os níveis, estão priorizadas na aprendizagem dos
estudantes, embora existam outros critérios. O que podemos
notar, por dados oferecidos pelo próprio Ministério da
Educação, é que os estudantes não aprendem o que as escolas
7. Educação, história e
se propõem a ensinar. cultura afro-brasileira.
Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estejam
sendo usados como norma de ação, nossa educação só teve
caráter nacional no período da Educação jesuítica. Após isso o Raça e etnia10
que se presenciou foi o caos e muitas propostas Antes de adentrarmos nos aspectos educacionais e a
desencontradas que pouco contribuíram para o forma que foram influenciados pela cultura afro-brasileira, é
desenvolvimento da qualidade da educação oferecida. necessário abordarmos questões conceituais acerca do termo
É provável que estejamos próximos de uma nova ruptura. “raça”.
E esperamos que ela venha com propostas desvinculadas do O termo raça tem sua origem datada do século XVII. Com o
modelo europeu de educação, criando soluções novas em passar do tempo, mais especificamente a partir do século XIX,
respeito às características brasileiras, como fizeram os países passou a ser utilizado no sentido de justificar as diferenças
conhecidos como Tigres Asiáticos, os quais, buscaram soluções fenotípicas entre seres humanos e marcar relações de
para seu desenvolvimento econômico, investindo em dominação político-cultural de um grupo sobre outro.
educação; ou, como fez Cuba que, por decisão política de Há uma linha de intelectuais, dentre eles Paul Gilroy, que
governo erradicou o analfabetismo em apenas um ano e trouxe argumentam sobre a não existência de raça, visto que, no
para a sala de aula todos os cidadãos cubanos. tocante à espécie humana, não existem ’raças’ biológicas, ou
Assim, na evolução da História da Educação brasileira a seja, não há um mundo físico e material nada que possa ser
próxima ruptura precisaria implantar um modelo que fosse corretamente classificado como ‘raça’”.
único e que atendesse às necessidades de nossa população e Com isso, o sentido biológico do termo raça foi
que fosse eficaz. abandonado e está passando por ressignificações, por meio do
movimento negro brasileiro e das ciências sociais.
Questões O entendimento de que o conceito de raça, no campo social
existe, foi confirmado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais
01. A formação docente abrange duas dimensões: a para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de
formação teórico-científica e a formação técnico-prática. A História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, que definem a
formação técnico-prática visa: raça como “a construção social forjada nas tensas relações entre
a) A transmissão dos conceitos espontâneos, brancos e negros, muitas vezes simuladas como harmoniosas,
historicamente construídos pelas civilizações, em prol do nada tendo a ver com o conceito biológico de raça cunhado no
sucesso escolar de todos. século XVIII e hoje sobejamente superado.”
b) Uma prática social que visa a aplicação dos princípios e Outro conceito bastante utilizado nos estudos sobre as
métodos utilizados nas empresas e assegura o ingresso dos relações raciais é o de etnia. O termo é derivado do grego
alunos das classes populares no mercado de trabalho. ethnikos, adjetivo de ethos, e se refere a povo, nação. O
c) Uma prática constitutiva que possa atender as conceito de etnia baseado no pensamento de Cashmore, diz
exigências do mercado de trabalho. respeito a um grupo que possui algum grau de coerência,
d) Uma prática social e histórica, desvinculada das teorias. solidariedade, origens e interesses comuns. Um grupo étnico é
e) A preparação profissional específica para a docência. mais do que um ajuntamento de pessoas, às pessoas deve ser
agregado seu pertencimento histórico e cultural.
02. Marque (C), se a alternativa for correta, ou (E), se a Gomes destaca que, “o uso do termo etnia ganhou força
alternativa for errada. para se referir aos ditos povos diferentes: judeus, índios,
A análise das tendências pedagógicas no Brasil não deixa negros, entre outros. A intenção era enfatizar que os grupos
evidente a influência dos grandes movimentos educacionais humanos não eram marcados por características biológicas
internacionais, da mesma forma que expressam as herdadas dos seus pais, mães e ancestrais, mas sim, por
especificidades de nossa história política, social e cultural, a processos históricos e culturais”.
cada período em que são consideradas. Assim, o termo “raça” diz respeito aos atributos
( ) Correta. dispensados a certo grupo e “grupo étnico” se refere a uma
( ) Errada. resposta original de um povo quando, em alguma situação, se
sente marginalizado pela sociedade. Um vocábulo que passou

10 SANTOS, R. F. dos; MARQUES, A. J. Diversidade étnico-racial: conceitos e


reflexões na escola.

Políticas Públicas da Educação 20


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a ser utilizado no Brasil e merece destaque é a expressão lucro que anda junto com a acumulação provoca
etnicorracial. Seu sentido determina que as tensas relações necessariamente uma luta concorrencial” (MARX, 1988).
raciais estabelecidas no país, vão para além das diferenças na As falências eram inevitáveis. A reação política dos
cor da pele e traços fisionômicos, mas correspondem também operários desencadeou vários movimentos de protestos, a
à raiz cultural baseada na ancestralidade afro-brasileira que criação de poderosos sindicatos e partidos políticos de cunho
difere em visão de mundo, valores e princípios da origem socialista. A saturação do mercado europeu agia como um
europeia. garrote. A saída foi a expansão do capitalismo para as regiões
Nesse sentido, raça e etnia são expressões que se fundem onde ele ainda não existia como modo de produção dominante.
no contexto social brasileiro, visto que ambos os termos são Essa expansão imperialista se concretizou na busca de
carregados de significações e podem determinar o mercados consumidores e fornecedores de matéria-prima a
pensamento, a atitude e forma de ser e pensar o mundo e as preço irrisório. O objetivo era reaver os lucros que estavam em
nuances que o cercam. queda livre. Era, também, a valorização do capital. E para isso
A distinção entre os termos preconceito, discriminação e era necessário o domínio e a submissão dos povos da África,
racismo é fundante para o entendimento dos processos Ásia e Américas.
psicossociais em que tais comportamentos se assentam. O
preconceito, segundo Jones, “é o julgamento negativo e prévio África, rico continente.
dos membros de uma raça, uma religião ou um dos ocupantes A África é um continente de muitos contrastes. Fora o
de qualquer outro papel social significativo, e mantido apesar berço de inúmeras civilizações avançadas na antiguidade, mas
de fatos que o contradizem”, sendo assim, o preconceito tem a em pleno século XIX ainda abrigava grande parte de sua
ver com um conceito anterior, um julgamento prévio que população organizada em tribos, cujo nível social e econômico
grupos majoritários ou dominantes encontram para remontava as sociedades comunistas primitivas.
manterem sua supremacia. A agricultura, principal base da riqueza social, assentava-
O preconceito tem uma dinâmica capaz de criar uma rede se sobre a posse coletiva da terra e a sua utilização era familiar
de relações entre as pessoas que, de maneira gradativa, ganha e/ou associada. Os campos eram trabalhados com técnicas
corpo e transforma-se em percepções de mundo. O maior rudimentares e extensivas e utilizavam-se instrumentos
problema é que essa dinâmica gera atitudes diante das simples de ferro. Não eram conhecidos nem o arado nem a
variadas situações e pessoas, produzindo deformidades nas tração animal. A adubação, a irrigação, a rotação dos gêneros
relações sociais, como: o homofobismo, o racismo, a cultivados etc. eram pouco desenvolvidas e empregavam-se
discriminação, o sexismo, dentre outros. como energia o fogo e a força humana.
Quanto à palavra discriminar que significa “estabelecer Sua imensa riqueza natural transformada em fonte de
diferenças”, “diferençar”, “discernir”, “distinguir” é possível, a matéria-prima para as indústrias europeias atraiu a ambição
partir disso, verificar que há uma relação entre a prática do empresários europeus. Mas, como transformar essas
racismo e o ato dinâmico do preconceito. Enquanto o racismo populações cuja organização social era tribal e praticante de
e o preconceito encontram-se no âmbito das doutrinas e dos uma agricultura de subsistência e autossustentável em
julgamentos, das concepções de mundo e das crenças, a assalariados a serviço da empresa europeia e em
discriminação é a adoção de práticas que os efetivam. consumidores dos produtos de suas indústrias.
Pesquisa realizada por Cavalleiro sobre discriminação em Foi, portanto, um processo violento em que os governos
escola pública da Cidade de São Paulo evidencia que o europeus utilizaram a força militar para subjugar e explorar as
preconceito racial está presente no cotidiano da escola, desde populações do continente africano. A imposição da cultura
quando as crianças muito pequenas entram na escola. Os europeia se deu em simultaneidade com a desvalorização da
exemplos extraídos deixam evidentes que as atitudes de cultura local. Uma guerra de conquista foi perpetrada, um
preconceito representam situações de conflitos e tensões massacre foi consumado. E esse verdadeiro genocídio
geradas pela verberação de um grupo sobre outro. precisava ser justificado perante as Instituições guardiãs da
A Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as democracia burguesa.
Formas de Discriminação Racial, de 1966 considera
discriminação racial, como sendo: A justificativa ideológica
[...] qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência Mas o século XIX foi também o século da afirmação e
baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou consolidação da sociedade capitalista cujo lema continuava
étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o sendo a igualdade, a fraternidade e a solidariedade exortado
reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano (em na revolução francesa e que estava sendo exportado da França
igualdade de condição) de direitos humanos no domínio político, para o restante da Europa. A França pós-revolucionária
social, cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública detinha o modelo de civilização a ser seguido e a Inglaterra o
(Art. 1º). modelo econômico. Haveria, então, que surgir uma
justificativa plausível para oprimir e explorar os povos
Dessa forma, as leis estão postas e apontam para o fim de africanos: a superioridade racial dos brancos sobre os negros.
toda e qualquer prática de discriminação presente na Assim, o racismo assumiu as vestes de missão redentora da
sociedade, mas as ações das pessoas ainda são insipientes civilização europeia sobre a barbárie negra. A guerra de
nesse sentido. conquista assumiu o manto de missão civilizatória. A ciência,
sem o véu da imparcialidade, mostrou sua verdadeira face:
Racismo e capitalismo surgiu o eugenismo, que pretendeu comprovar a
Na primeira metade do século XIX, na Europa, estava superioridade biológica da raça branca sobre a raça negra.
estabelecida a livre concorrência entre as empresas dos países Portanto, o racismo é uma política cuja justificativa ideológica
industrializados em busca de mercados. As crises cíclicas de esconde sua verdadeira intenção: valorizar o capital.
superprodução, inerentes ao capitalismo, aliadas ao avanço
tecnológico geravam desemprego e a redução dos salários dos O Capitalismo brasileiro e o racismo contra os
operários. afrodescendentes
A redução da massa de mais-valia obrigava as empresas a Se o atual sistema hegemonicamente vigente tem uma só
aumentar a taxa de mais-valia, através da redução dos salários, matriz e é planetário, o desenvolvimento desse modo de
a fim de manter os lucros. “Por outro lado, a queda da taxa de produção é diferente em diferentes países. Tendo como

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referência os países centrais, o capitalismo brasileiro sofreu estético negro estereotipado, embora 45% da população
um atraso, na sua implantação, de mais de cem anos. brasileira seja formada por negros, segundo o censo do IBGE,
A maior parte da riqueza nacional é enviada para os países não têm sido suficiente para eliminar ideologias,
centrais através do pagamento de juros das Dívidas externa e desigualdades e estereótipos racistas e preconceituosos. Não
interna; da remessa de lucros das empresas transnacionais etc. que seja na escola a origem de formas de discriminação,
Pelas razões da natureza do capitalismo-centralizador e entretanto, o preconceito corrente na sociedade perpassa por
concentrador- essa exigência tende a ser cada vez maior. “Os ali. Assim sendo, ele se dá através de apelidos depreciativos,
governos adotarão políticas para a redução dos direitos brincadeiras, piadas sugerindo incapacidade, ridicularizando
trabalhistas e sociais, de reduções salariais e desemprego.” seus traços físicos, a textura dos cabelos, fazendo pouco de
A condição para a eliminação definitiva da discriminação suas tradições, religião e cultura.
racial sobre a população afrodescendente brasileira só poderá A discriminação e o preconceito reproduzidos na escola
vir a partir do fim do capitalismo no Brasil. Enquanto esse fim apresentam um quadro de agressões materiais ou simbólicas,
não ocorre cabe aos movimentos sociais organizados exigir do de caráter não apenas físico e/ou moral, mas também psíquico,
Estado Brasileiro a adoção de políticas que diminuam as sobre o alunado negro, repercutindo sobre sua vida social e
desigualdades no âmbito da sociedade atual. intrapsíquica, podendo ser um desencadeador ou um entrave
ao seu pleno desenvolvimento. Por isso, torna-se fundamental
A desigualdade racial no contexto escolar11 professores capacitados para lidarem com essa situação, afim
de desnaturalizar o discurso preconceituoso e promover o
Sendo o espaço escolar privilegiado onde acontece boa respeito à diversidade étnico-racial e cultural da sociedade
parte do processo de socialização onde crianças e brasileira. Diante dessa realidade nos deparamos com muitos
adolescentes, de diferentes núcleos familiares, estabelecem profissionais ainda despreparados para agirem com
relações no convívio com a diversidade. A escola torna-se o autonomia em situações de discriminação.
primeiro contato de vivência das tensões raciais, que podem Nessa perspectiva, cabe aos professores estarem bem
acontecer de forma natural ou conflituosa, segregando, preparados para assumirem o papel de interventores para
excluindo, fazendo com que a criança negra tenha em alguns transformar essa realidade. De acordo com os PCN’s:
momentos uma postura introvertida. Isso pode acontecer por A intencionalidade se faz necessária como produto de uma
medo de ser discriminada ou ridicularizada, iniciando assim reflexão que permita ao professor perceber o papel que
um processo de desvalorização de seus atributos individuais, desempenha nessa questão. É também a capacidade de
que vão de alguma forma interferir na construção de sua perceber que tem o que trabalhar em si mesmo, e isso não o
identidade, favorecendo a disseminação do preconceito. impede de trilhar, junto com seus alunos, o caminho da
Nesse sentido, a construção da identidade, assim como sua superação do preconceito e da discriminação. Trata-se de ter a
manutenção, se constituirá dentro do processo social, quando certeza de que cada um de seus gestos pode fazer a diferença
o olhar do outro poderá ou não proporcionar o entre o esforço de atitudes inadequadas e a chance de abrir
reconhecimento ou sentimento de pertença positiva ao grupo novas possibilidades de diálogo, respeito e solidariedade.
social. A necessidade de subsidiar o trabalho dos professores
Abordar o tema sobre discriminação e preconceito racial deve-se a dificuldade que os docentes encontram de como
no ambiente escolar não é só realizar um discurso de tornar a cultura um eixo central do processo curricular e
vitimização, mas enfrentar os desafios, dando visibilidade à introduzir uma abordagem multicultural nas práticas
problemática envolvida e promovendo uma ampla discussão, pedagógicas.
motivando a reflexão individual e coletiva na transformação Dessa maneira, possibilitar que professores reflita sobre
de mentalidades e práticas de qualquer tratamento seus conceitos, amplie seus conhecimentos, analisem e
preconceituoso, através de ações conjuntas no contexto reconheçam a organização da sociedade da qual os alunos
educacional para a reversão da discriminação e das fazem parte, tornará o processo educativo democrático e livre
desigualdades em nossa sociedade, desenvolvendo nos alunos de atos opressores, preconceituosos e discriminatórios.
a autoconsciência que move o saber ser, se revela no saber- Pressupondo que toda e qualquer proposta de Educação
fazer como enfatiza Delors: ...proporciona uma relação de qualidade e verdadeiramente democrática, que promova a
dialógica do aluno com o conhecimento, o envolve num processo cidadania e diminuição das desigualdades, passa pelos
autoaprendizagem que o conduz a assumir compromissos com desafios da formação diferenciada para os professores, devido
uma nova prática de vida social. Isto é, uma corresponsabilidade o importante papel que exercem na efetivação das políticas
no seu processo de aprendizagem. públicas educacionais, a formação dos mesmos deve abordar
as relações de preconceito e discriminação de modo dinâmico,
Por isso, é fundamental que os educandos sejam participativo e inclusivo. Dessa forma será possível
orientados em seu processo de aprendizagem por professores proporcionar aos educadores condições de serem críticos e
qualificados, com formação para lidarem com as tensas reflexivos, com potencial para promoverem projetos e ações
relações produzidas pelo racismo e preconceito, que sejam transformadores no ambiente educacional.
sensíveis e capazes de conduzir a reeducação nas relações Nesse contexto, promover oficinas interativas a fim de
ético-raciais. E isso, requer estratégias pedagógicas, mudança proporcionar aos educadores debater a ampliar os
nos discursos, posturas, formas de tratar as pessoas, conhecimentos a cerca das questões étnico-raciais é
reconhecimento dos processos históricos de resistência negra possibilitar que os mesmos tenham condições de formar
desencadeados pelos africanos escravizados no Brasil e por cidadãos livres para pensar no nosso país na perspectiva da
seus descendentes na contemporaneidade, desconstrução do afirmação de sua identidade nacional.
mito da democracia racial e envolvimento de todos na
construção de um projeto de escola, de educação voltada para
um trabalho coletivo de articulação entre os processos
educativos escolares, políticas públicas e movimentos sociais.
Uma vez que, no âmbito educacional é possível observar as
tensas relações étnico-raciais envolvendo a cultura e o padrão

11Texto adaptado de ZEBRAL, D. F. Rompendo barreiras do preconceito racial


no ambiente escolar.

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capitalista mundial. Esses fatores, por sua vez, influenciam a


vida das pessoas e geram novas formas de adaptação, de
8. Educação no mundo movimento, de poder e de sobrevivência. Em tempos como
contemporâneo: desafios, esses, “o indivíduo ousa individualizar-se”. De outro lado, esse
compromissos e tendências ousado indivíduo precisa desesperadamente “de um conjunto
de leis próprias, precisa de habilidades e astúcias, necessárias
da sociedade, do à autopreservação, à autoimposição, à autoafirmação, à
conhecimento e as autolibertação.”
Bauman enfatiza: “neste mundo, tudo pode acontecer e
exigências de um novo perfil tudo pode ser feito, mas nada pode ser feito uma vez por todas
de cidadão. – e o que quer que aconteça chega sem se anunciar e vai-se
embora sem aviso”.
Para o autor, compreende-se que a modernidade líquida
demarca uma grande transformação nos âmbitos social,
Sociedade contemporânea12 político, econômico, ambiental, sempre no sentido de esquecer
o passado, ou seja, aquilo que significava importante nas ações
Bauman (2001) apresenta a sociedade caracterizando-a dos indivíduos e agora acaba perdendo seu efeito. As
como modernidade líquida. Utiliza esta metáfora para possibilidades de criar novas formas de vida são aceitas e o
explanar o advento de uma sociedade mais leve em detrimento mundo movimenta-se conforme as demandas imediatas. É o
da chamada modernidade sólida. Atualmente o que se vivencia mundo do imediatismo, das coisas descartáveis. A diferença da
difere de tempos passados, que ganham novas formas. modernidade sólida para a modernidade líquida é a duração
Portanto, a modernidade sólida possui características da ação. Na modernidade líquida, a ação é imediata, em curto
contrárias aos novos tempos. prazo.
Para Bauman, vive-se hoje, uma modernidade líquida que Ainda, tomando-se em consideração os novos formatos e
é marcada pela instantaneidade e pela liquidez. O conceito de relações estabelecidas pelas novas tecnologias, surgem novas
liquidez utilizado pelo teórico destaca uma sociedade que não relações oferecidas pela internet. Esse recurso oferece meios
mantém sua forma, não é estável, mas é marcada por de conexão com o mundo todo, levando os indivíduos a
transformações, desestabilidades, construções e estarem constantemente em movimento, mesmo
desconstruções, imprevisibilidade, não se atendo a um só permanecendo no lugar onde se encontra. A internet também
formato, ao contrário de solidez que se refere à metáfora das favorece novas formas de relações entre as pessoas, sendo que,
marcas da modernidade, adjetivado por aspectos de a comunicação ocorre por intermédio de meios eletrônicos, a
durabilidade, de controle, de estabilidade. qualquer tempo, descartando outras formas de contato. A
A esse respeito, Almeida et. al. afirmam: Se o sociólogo mídia, assim como a internet, possibilita também repassar
empregou a metáfora da solidez como marca característica da informações em um curto espaço de tempo em uma grande
modernidade nas primeiras décadas do século XX (destruir a velocidade, permitindo a sensação de mobilidade. “O espaço
tradição e colocar outra, potencialmente superior e mais deixou de ser um obstáculo – basta uma fração de segundo
sólida, em seu lugar), na transição para o século XXI ele para conquistá-lo”.
destacará o novo aspecto da condição moderna, desta vez Referindo-se aos modos de trabalho, o ser humano busca o
baseado na metáfora da liquidez. Por isso a modernidade progresso, sendo visualizado como um caminho sem fim, que
líquida passou a ser a denominação preferencial de Bauman deve ser alcançado constantemente, através do esforço do
para referir-se ao contemporâneo. É essa oposição entre homem. Para o alcance do progresso, novos valores passam a
solidez e liquidez que permite a ele explicar a distinção entre permear as relações de trabalho: a competição e a
o nosso modo de vida moderno e aquele vivido por nossos individualização que concorrem, simultaneamente, para o
antepassados. alcance deste progresso. Todos esses processos mudam o
Entretanto, diante dos conceitos sólido e líquido, modo de vida humana, sendo que cada indivíduo é responsável
apresentados por Bauman (2001), é importante considerar por encontrar meios para o alcance de melhores condições de
aquilo que Berman (1986), enfatiza como conceito de solidez. vida.
Ao contrário de Bauman, assinala que o sólido também pode O trabalho, na modernidade sólida, era considerado uma
sofrer alterações. O conceito de sólido tratado por Berman virtude, sendo fundamental para a vida nos tempos modernos
(1986) difere da definição criada por Bauman (2001) na para alcançar status. Capital e trabalho eram
medida em que, para o primeiro, as bases sólidas, os valores interdependentes. Os trabalhadores dependiam do emprego
fundados na sociedade moderna são permanentes e imutáveis, para sobreviver e o capital dependia dos trabalhadores para
já na pós-modernidade, difundiram-se, sofreram alterações seu crescimento. Com o trabalho, o trabalhador comandava
marcadas pelos novos pressupostos da vida moderna. Para seu próprio destino. Como o modelo fordista, o trabalhador
Bauman, somente a metáfora da liquidez se compara a esse iniciava sua carreira em uma empresa e lá permanecia, ficando
processo de transformação. Percebe-se, entretanto, que, “preso” em seu lugar, impedindo a sua mobilidade. Porém, na
referindo-se às características gerais da modernidade, os contemporaneidade, o trabalho não é mais um projeto de vida,
autores compartilham as mesmas definições, apresentando o uma base sólida, mas um significado de satisfação, assim como,
mesmo painel sobre os tempos modernos. não significa estabilidade, como nos tempos passados. “Neste
O sentido da modernidade apresentada por Berman mundo, estabilidade significa tão somente entropia, morte
(1986) é o mesmo em comparação ao que apresenta Bauman lenta, uma vez que nosso sentido de progresso e crescimento
(2001), na medida em ambos ressaltam que esta modernidade é o único meio que dispomos para saber, com certeza, que
é passível de transformações, de mudanças, de desintegração estamos vivos”.
de ambientes, de construção de novas formas de vida. Da Era Industrial passa-se à Era do Acesso, sendo que,
Destacam-se, nesse movimento, algumas características, nesta, máquinas inteligentes, na forma de programas de
como: crescente explosão demográfica, grandes descobertas computador, da robótica, da biotecnologia, substituíram
nas ciências, crescimento acelerado da tecnologia e dos rapidamente a mão-de-obra humana na agricultura, nas
sistemas de comunicação de massa e expansão do mercado

12Texto adaptado de PAIM, V. C.; NODARI, P. C. A Missão da Escola no Contexto


Social atual.

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manufaturas e nos setores de serviços. Segundo a lógica serviços que o mercado pode oferecer, sendo definidos como
reinante do mundo globalizado, comandado pelas linhas os “pobres” da sociedade atual.
mestras da tecnologia, uma multidão de seres humanos Nesse panorama da sociedade de consumidores e busca
encontra-se sem razão para viver neste mundo. A ideologia de pela satisfação pessoal, alguns valores e princípios passaram a
sustentação da economia do mercado é excludente e busca tomar outras configurações. O valor da responsabilidade, por
eliminar quem não entra e consegue seguir seus parâmetros. exemplo, que, em outros tempos, residia no dever ético e na
Deve-se executar o ofício de separar e eliminar o refugo, o preocupação pelo outro, atualmente, configurou-se em relação
descartável. Tudo se estrutura a partir do privilégio e do a si próprio, levando o indivíduo a compreender-se como
padrão de vida e consumo. único responsável por seus atos e deveres, excluindo a
Assim, mudar de emprego tornou-se algo comum, responsabilidade pelos interesses, necessidades e desejos do
reafirmando o conceito de transitoriedade e flexibilidade que outro.
marcam a denominada modernidade líquida. “A vida de Entretanto, observa-se que, neste período atual, há certa
trabalho está saturada de incertezas”. As incertezas são ambiguidade em torno da vida responsável, pois surgem
marcadas pelo descontrole e desconhecimento das situações. reflexões, organizações e movimentos em favor da vida, do
Não há, neste tempo, segurança em relação ao trabalho, no respeito à natureza, à sustentabilidade. Enquanto se afirma
sentido de permanecer nele a vida toda. que o indivíduo preocupa-se com si mesmo, ao mesmo tempo,
Os conceitos de emancipação e individualidade ganham surgem preocupações acerca do outro e do mundo. Percebe-se
um peso maior nesta sociedade, sendo que o coletivo e a que há uma evolução para a possibilidade de construção de
comunidade passam a ser conceitos abstratos, aquilo que vem uma vida responsável.
depois das escolhas individuais. A solidariedade é um valor O panorama apresentado até aqui, certamente, não
que não possui mais fundamento. O indivíduo é capaz de contempla todos os aspectos referentes à sociedade
decidir sobre as ações e fins. contemporânea, mas apresenta definições importantes que
O sentimento de felicidade está, em muitos casos, ligado a levam a analisar e refletir sobre a configuração subjacente aos
situações de consumo. “O consumo é um investimento em tudo tempos atuais e que podem instigar a questão referente à
que serve para o ‘valor social’ e a autoestima do indivíduo”. tarefa da escola frente a tais aspectos presentes na sociedade
Neste sentido, o consumismo passa a ser algo de desejo atual.
imediato. Consome-se mais e, geralmente, para satisfazer
desejos instantâneos e individuais. A sociedade do consumo A tarefa da escola
privilegia não só aquisição de bens e produtos, mas a busca
incessante de novas receitas para uma vida melhor; novos Compreender a missão da escola perante as novas
exemplos, novas habilidades, novas competências em configurações da sociedade, torna-se essencial para avaliar a
detrimento daquilo que ainda o indivíduo não é, para sua tarefa, diante das transformações sociais e culturais e de
aparentar uma imagem, mostrar aos outros aquilo que não é, suas implicações no processo educativo atual.
para agradá-los ou como um modo de atrair atenção. O Desse modo, diante dos processos sociais que se
consumo não é mais caracterizado como a satisfação das desencadeiam na atualidade, surgem algumas questões que se
necessidades, mas serve para satisfazer os desejos insaciáveis. referem ao processo educativo escolar: qual é o papel da
As necessidades são sólidas, inflexíveis, já o desejo é marcado escola? A escola está preparada para formar sujeitos oriundos
pela fluidez, são flexíveis, mutáveis e podem ser substituídos. da sociedade descrita por Bauman? A educação escolar dá
Desse modo, estar na sociedade de consumidores requer conta de compreender esses processos de transformação?
estar adaptado aos novos padrões do mercado. Consumir é Essas questões remetem à reflexão sobre a verdadeira
estar de acordo com aquilo que o mercado impõe como missão da escola frente aos processos de mudança e ao
símbolo de comodidade, de autoafirmação, de conforto, de contexto atual que, de maneira geral, recebe as influências das
emancipação dos indivíduos. mudanças, passando a adquirir novos pressupostos, novos
Em sua versão presente, os direitos humanos não trazem objetivos, novas concepções. Diante dos temas que perfazem a
consigo a aquisição do direito a um emprego, por mais que realidade, a educação é vista como um meio indispensável na
bem desempenhado, ou – de um modo mais geral – o direito ao constituição da sociedade e passa a ocupar um papel
cuidado e à consideração por causa de méritos passados. Meio fundamental.
de vida, posição social, reconhecimento da utilidade e Nestes tempos de mutações profundas e de incerteza
merecimento da autoestima podem todos desvanecer-se acentuada, deve-se investir muito na educação, facilitando
simultaneamente da noite para o dia e sem se perceber. assim o emprego, despertando as mentes e as consciências
O poder de consumo avalia a posição social dos indivíduos. diante dos novos desafios, facilitando o acesso à cultura e
Aquelas pessoas que não possuem certa posição de conforto reduzindo a exclusão. A educação é o melhor investimento
na sociedade e que não detêm um mínimo de condições de social.
escolha de consumo, acabam muitas vezes demonstrando Sabe-se que, entre outros fatores, pontos, movimentos e
revolta, estranheza para muitos e violência, assim, como ao tendências, o cientificismo positivista impôs a fragmentação
que se assiste nos novos tempos. do conhecimento, sustentando a ordem econômica e social da
Uma vez que as únicas senhas para defender a liberdade de modernidade. Atualmente, não se pode mais conceber que esta
escolha, moeda corrente na sociedade do consumidor, estão fragmentação dê conta de formar e desenvolver o homem na
escassas em seu estoque ou lhes são inteiramente negadas, nova ordem social vigente. Como se vê, muitas transformações
elas precisam recorrer aos únicos recursos que possuem em têm surgido ao longo dos tempos: as novas tecnologias, as
quantidade suficientemente grande para impressionar. comunicações, a preocupação com o meio ambiente, a
Além disso, cresceram as taxas de desemprego e um produção econômica cada vez mais crescente e diversificada
grande número de excluídos socialmente, pois os empregos com novos produtos no mercado, demandando novos cursos
tomaram novas configurações, não sendo possível projetar de capacitação e aperfeiçoamento, entre tantas outras
uma vida em longo prazo, com projetos e planejamentos. mudanças as quais a escola deve acompanhar e produzir
De acordo com estas características, Bauman (1998) reflexões acerca destes novos elementos.
destaca que aqueles que não possuem emprego não são Além disso, a escola, mergulhada neste contexto, não pode
considerados como “desempregados”, mas sim como ficar alheia às transformações sociais e culturais advindas da
consumidores falhos, pois não desempenham a função ativa de sociedade. Mas, pelo contrário, a escola pertence ao meio
consumir e, portanto, não são aptos de usufruir dos bens e social e, por isso, sofre as influências do meio. “A escola é uma

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comunidade. Como parte da sociedade, ela está normalmente respeitando diferenças e enfatizando os princípios de
estruturada de forma a reproduzir a estrutura social.” solidariedade.
Relacionando os conceitos apresentados, pode-se dizer Nesse enredo, Gadotti enfatiza que esta época de rápidas
que a escola, na sociedade sólida, referenciando Bauman, era transformações acaba por demandar uma nova configuração
aquela que educava para toda a vida. A escola era um espaço da educação na busca de um melhor desempenho do sistema
que tinha como propósito estabelecer a ordem. escolar:
A formação dos indivíduos era responsabilidade de toda a Neste começo de um novo milênio, a educação apresenta-
sociedade, dos governantes e do Estado, com vistas a formá- se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do
los para um comportamento correto e moralmente aceitável. sistema escolar não tem dado conta da universalização da
Desse modo, somente os professores eram capazes de fornecer educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes
esta formação para uma integração social, destacando uma teóricas não apresentam ainda a consistência global
vida correta e moral, disciplinada e eficiente. Além disso, o necessária para indicar caminhos realmente seguros numa
conhecimento era um produto duradouro e a qualidade da época de profundas e rápidas transformações.
escola era medida pela transmissão deste conhecimento de Para esse propósito, é necessário que a escola fortaleça seu
valor adaptado ao mundo sólido. As pessoas se ajustavam ao projeto educativo, relacionando-o com o contexto social e suas
mundo pela educação, entendendo que este mundo era características, sendo este um princípio da educação
imutável e consideravelmente manipulável. O professor contemporânea, no mesmo modo que esta educação possa
detinha o poder de transmitir o conhecimento ao aluno, sempre superar os limites impostos pelo mercado, buscando a
compreendendo este conhecimento como justo e confiável. transformação social.
Para Pourtois e Desmet, a escola contemporânea continua Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea
a repetir os princípios defendidos pela escola moderna, na tomar, uma educação voltada para o futuro será sempre uma
qual enfatizava o modelo de que o aluno deveria aprender as educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo
regras da vida em sociedade e o pensamento racional, sendo Estado e pelo mercado, portanto, uma educação muito mais
disciplinado por meio de recompensas ou castigos, sendo que voltada para a transformação social.
a personalidade individual deve ser ocultada atrás da moral do Nesse sentido, a educação, na era contemporânea, deve
dever. apropriar-se das informações e refletir sobre elas. O contexto
Na passagem da modernidade sólida para a líquida, de deve ser de um agir comunicacional, ou seja, comunicação
acordo com a visão de sociedade de Bauman, a escola assume intersubjetiva em que os outros constituem uma forma de
outras características, sendo que a ordem social, sólida e mediação entre saberes existentes e os saberes de base do
imutável não é mais aceita na chamada modernidade líquida. sujeito. O ato educativo deve ter sentido no contexto social
A escola então, transmissora deste conhecimento, passa atual e deixar transparecer seus objetivos.
agora a não ser a detentora do saber, pois as novas tecnologias Além disso, com as novas configurações da sociedade, a
oferecem as informações em um rápido espaço de tempo, no escola passou a aceitar todas as visões de mundo que chegam
qual todos têm acesso ao “conhecimento”. Os professores até ela, sem desconsiderar os direitos de propriedade das mais
perdem a autoridade sobre o domínio exclusivo dos saberes. A diversas comunidades. Na modernidade, a construção da
nova dinâmica do mercado passa a ter autoridade, decidindo ordem era estabelecida pelos intelectuais, ou seja, professores
sobre as formações de opiniões, verificação de valores, e teóricos educacionais detinham a função de “legislar acerca
definindo o que é bom ou mal, belo ou feio, verdadeiro ou falso. do modo correto de separar a verdade da inverdade das
Os alunos passam a dar atenção àqueles que oferecem várias culturas [...].” Atualmente, a escola enfrenta o desafio de
possibilidades de experiência, prazer e proveito (geralmente a aceitar a multiplicidade de culturas e verdades que perpassam
mídia – televisão, internet), os seduzindo para a arte de saber os saberes escolares, pois a verdade do conhecimento torna-se
viver. O professor, desse modo, não é mais aquele conselheiro questionável nesse novo contexto.
que orientava os alunos a seguirem, de modo seguro, sua vida, De acordo com essa nova forma curricular, os Parâmetros
através de seus estudos e saberes. Curriculares Nacionais (1997), de acordo com a Lei de
Diante de todos esses desafios, Almeida (2009) enfatiza Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal n.
que, ao mesmo tempo em que Bauman apresenta tais aspectos, 9.394/96) destacam a valorização dos temas transversais, os
o próprio autor também oportuniza uma solução para a escola quais possuem a intenção de responder aos novos
poder enfrentá-los, destacando o poder da escola de facilitar a pressupostos e novas configurações da educação escolar.
socialização entre os indivíduos e de promover uma Dentre os temas transversais salientam-se a Ética e a
sensibilização acerca do mundo atual e conscientizar para a Pluralidade Cultural. De acordo com o enredo apresentado,
busca de novas formas de relações em suprimento das entende-se que a educação escolar deve preocupar-se com as
relações individualistas. Almeida afirma: condutas humanas e não só com o desenvolvimento de
habilidades e competências técnicas, mas referenciar valores
[...] além de promover a socialização, ou seja, preparar as que valorizem a relação com o outro, já que ética e valores
pessoas para o mundo cambiável em que vivemos, a estão imbuídos no currículo escolar e nas relações entre os
individualização pressuposta nos mecanismos educacionais, ao indivíduos.
mesmo tempo em que evita decretar o que é certo ou verdadeiro Segundo Gómez (2001), a função educativa da escola deve
e provocar sua manifestação, consiste no exercício de “agitar” os cumprir não só o processo de socialização, mas oferecer às
estudantes e incitar-lhes a dúvida sobre a imagem que têm de si futuras gerações a possibilidade de questionar a validade dos
e da sociedade em que estão inseridos e, nesse movimento, conteúdos, de elaborar alternativas e tomar decisões
desafiar o consenso prevalecente. Os professores seriam, assim, autônomas acerca das transformações sociais e culturais. O
intelectuais que ajudam a assegurar que a consciência moral de conjunto de conhecimentos adquiridos na escola só será válido
cada geração seja diferente da geração anterior. se oferecer ao indivíduo um modo consciente de pensamento
A escola, articulada como uma instituição, em harmonia e ação.
com a preparação de indivíduos adequados a habitar um Nesse sentido, salienta-se que a existência da escola
mundo ordenado, não se configura nos tempos atuais. perante a todas as transformações culturais e sociais, deve
Configura-se hoje como um espaço destinado a dar assumir uma postura, não só de transmissão de conteúdos sem
oportunidades iguais a todos, inclusive às minorias e aos significados, de aprendizagens mecânicas, sem sentido,
excluídos, sendo um ambiente no qual se recebe uma somente para atender às influências do mercado competitivo,
pluralidade de culturas e valores de uma mesma sociedade, mas assumir a condição de um espaço no qual valorize as

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experiências trazidas pelas culturas e assim, construir uma composta de uma infinidade de jogos e saberes, que se
interlocução entre elas, permeadas pela reflexão, pela aglutinam e se afastam, que se estendem.
socialização e pela relação de valores indispensáveis à Na era tecnológica, a verdade, a certeza, a estabilidade, o
formação do homem. princípio, a causa, tão caros à ciência, se tornaram sinônimo de
nada, perderam o valor, mas, se estes grandes valores, que
Educação Contemporânea13 tanto já nos oprimiram, desabaram, talvez a urgência seja
exatamente de um novo olhar, um novo posicionamento com
A modernidade nos deixou como herança um enorme relação ao mundo, nascido de uma nova correlação de forças,
desenvolvimento tecnológico, possivelmente em função do de novas avaliações e novos valores. E isto exige pessoas
investimento tecnicista dirigido aos alunos que apresentavam inteiras, capazes de olhar o mundo, as situações, como um
alto desempenho, mas nos deixou também um absurdo caos todo, ao mesmo tempo que são capazes de neles se localizar de
social, que deve resultar, entre outras coisas, do descaso com forma singular, própria.
relação aos distraídos, desobedientes, impulsivos, mal A escola deve ser um corpo vivo. E precisa envolver
vestidos. também os espaços públicos e as festividades, deve ir aos
O sonho do mundo moderno terminou por desabar sobre concertos, às exposições de arte, aos museus e bibliotecas, aos
nossas cabeças, em forma de violência, aquecimento global, centros de pesquisa, às reservas ambientais, enfim, as escolas
fome. A sociedade moderna, com seus projetos de futuro, devem ir à cidade. E a cidade tem de se preparar para recebê-
acabou não beneficiando de fato ninguém, e se desmorona em las, construindo espaços de convivência e de relação,
consequência de sua própria exaustão: diante da violência em assumindo seu papel no processo educativo, em vez de lavar
grande escala e da iminência de desastres ecológicos, todos as mãos, enquanto isola jovens e crianças em espaços que mais
somos iguais. se parecem a presídios de alunos. E espera cidadania quando
Mas o simples fracasso deste modelo moderno de oferece exclusão.
sociedade, que nos prometeu um futuro ordenado pela ciência,
não significa que resultará uma sociedade menos desigual e
mais justa. Mas, como a tecnologia produziu rachaduras 9. A escola e a pluralidade
irreversíveis no modo como a sociedade se organizava, uma cultural.
brecha sem dúvida se abriu, um ponto de vazão, capaz de fazer
ruir relações e conceitos opressivos, permitindo uma nova
configuração de forças e gerando novos acordos. Mas, para PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
isso, precisamos ter coragem de rever valores e modelos, e o
mais difícil talvez seja encarar o quanto obsoletos estão nossos Pluralidade Cultural
saberes. Precisamos rever o modo como estruturamos nosso
conhecimento, nosso pensamento, nossa educação. Introdução
É lugar comum, em nossos dias, apontar a educação como
a saída para os impasses que vivemos. Mas será que a educação A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao
pode mesmo dar conta desta enorme expectativa? Segundo o conhecimento e à valorização das características étnicas e
cientista da educação Rui Canário, da Universidade de Lisboa, culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no
a imaturidade política e social que nos caracteriza é território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à
proporcional ao grau de escolarização de nossa sociedade. crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que
Quanto mais uma sociedade se escolariza, quanto mais coloca permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a
suas crianças na escola, mais esta sociedade produz imaturos possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo,
políticos e sociais, e os responsáveis por isso são, entre outras multifacetado e algumas vezes paradoxal.
coisas, a excessiva fragmentação dos saberes e o isolamento da Este tema propõe uma concepção da sociedade brasileira
escola. que busca explicitar a diversidade étnica e cultural que a
Influenciada, por um lado, pela industrialização que compõe, compreender suas relações, marcadas por
chegava e, por outro, pelo regime militar que passou a vigorar desigualdades socioeconômicas, e apontar transformações
no Brasil, nossa escola foi se estruturando como uma linha de necessárias. Considerar a diversidade não significa negar a
montagem, um modo de produção que fragmentou o trabalho existência de características comuns, nem a possibilidade de
humano, tendo em vista o aumento da produtividade. constituirmos uma nação, ou mesmo a existência de uma
E nos tornamos especialistas cada vez mais fragmentados, dimensão universal do ser humano. Pluralidade Cultural quer
desvinculados das grandes questões humanas, sociais, dizer a afirmação da diversidade como traço fundamental na
planetárias. E vamos vivendo acoplados a uma parcela tão construção de uma identidade nacional que se põe e repõe
pequena da realidade que chegamos a esquecer quem somos, permanentemente, e o fato de que a humanidade de todos se
o que buscamos. Se, por um lado, a fragmentação do ensino manifesta em formas concretas e diversas de ser humano.
respondia à necessidade de produzir uma educação “em Por trabalhar com a diversidade humana, comporta uma
massa”, por outro, atendia à fundamentação ideológica do ampliação de horizontes para o professor e para o aluno, uma
novo regime, avesso à reflexão e à crítica, como mostram as abertura para a consciência de que a realidade em que vivem
denominações que ainda hoje usamos: grade curricular, é apenas parte de um mundo complexo, fascinante e
disciplina, prova. desafiador, na qual o elemento universal subjacente e
Com tudo isso, fomos formando pessoas cada vez mais definidor das relações intersociais e interpessoais deve ser a
segmentadas, incapazes de responder às grandes questões, e Ética. Propicia, ainda, a percepção de que essa característica
que hoje vivem em um mundo que as obriga a dar conta de sociocultural é expressão de uma pluralidade dinâmica para
temas cada vez mais complexos, como o destino do planeta, a além das fronteiras do Brasil, a qual tem sido benéfica e
internet, a globalização. estimuladora na definição de valores universais.
Verifica-se o surgimento de um novo modelo de mundo, Oferece, também, elementos para a compreensão de que
sem grandes valores fixos e eixos centrais, mas fundado em respeitar e valorizar as diferenças étnicas e culturais não
diversas conexões, formando uma imensa rede sem centro, significa aderir aos valores do outro, mas, sim, respeitá-los
como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a

13 Texto adaptado de MOSÉ, V. A educação e os desafios contemporâneos.

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todo ser humano, por sua dignidade intrínseca, sem qualquer Tratar da diversidade cultural, reconhecendo-a e
discriminação. valorizando-a, e da superação das discriminações é atuar
É importante, ao tratar este assunto, fazer-se a distinção sobre um dos mecanismos de exclusão — tarefa necessária,
entre diversidade cultural, a que o tema se refere, e ainda que insuficiente, para caminhar na direção de uma
desigualdade social. sociedade mais plenamente democrática. É um imperativo do
As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo trabalho educativo voltado para a cidadania, uma vez que
das suas histórias, na construção de suas formas de tanto a desvalorização cultural — traço bem característico de
subsistência, na organização da vida social e política, nas suas país colonizado — quanto a discriminação são entraves à
relações com o meio e com outros grupos, na produção de plenitude da cidadania para todos; portanto, para a própria
conhecimentos, etc. A diferença entre culturas é fruto da nação.
singularidade desses processos em cada grupo social.
A desigualdade social é uma diferença de outra natureza: é Justificativa
produzida na relação de dominação e exploração
socioeconômica e política. Quando se propõe o conhecimento É sabido que, apresentando heterogeneidade notável em
e a valorização da pluralidade cultural brasileira não se sua composição populacional, o Brasil desconhece a si mesmo.
pretende deixar de lado essa questão. Ao contrário, Na relação do País consigo mesmo, é comum prevalecerem
principalmente no que se refere à discriminação, é impossível vários estereótipos, tanto regionais quanto em relação a
compreendê-la sem recorrer ao contexto social em que grupos étnicos, sociais e culturais.
acontece e à estrutura autoritária que marca a sociedade. As Historicamente, registra-se dificuldade para se lidar com a
produções culturais não ocorrem “fora” de relações de poder: temática do preconceito e da discriminação racial/étnica. O
são constituídas e marcadas por ele, envolvendo um País evitou o tema por muito tempo, sendo marcado por
permanente processo de reformulação e resistência. “mitos” que veicularam uma imagem de um Brasil homogêneo,
sem diferenças, ou, em outra hipótese, promotor de uma
Ambas, desigualdade social e discriminação, se articulam suposta “democracia racial”. Na escola, muitas vezes, há
no que se convencionou denominar “exclusão social”: manifestações de racismo, discriminação social e étnica, por
impossibilidade de acesso aos bens materiais e culturais parte de professores, de alunos, da equipe escolar, ainda que
produzidos pela sociedade, e de participação na gestão de maneira involuntária ou inconsciente. Essas atitudes
coletiva do espaço público — pressuposto da democracia. Por representam violação dos direitos dos alunos, professores e
esse motivo, já se disse que, na prática, o Brasil não é uma funcionários discriminados, trazendo consigo obstáculos ao
sociedade regida por direitos, mas por privilégios. Os processo educacional, pelo sofrimento e constrangimento a
privilégios, por sua vez, assentam-se em discriminações e que essas pessoas se veem expostas.
preconceitos de todo tipo: socioeconômico, étnico e cultural. Movimentos sociais, vinculados a diferentes comunidades
Em outras palavras, dominação, exploração e exclusão étnicas, desenvolveram uma história de resistência a padrões
interagem; a discriminação é resultado e instrumento desse culturais que estabeleciam e sedimentavam injustiças.
complexo de relações. Gradativamente conquistou-se uma legislação
Entretanto, apesar da discriminação, da injustiça e do antidiscriminatória, culminando com o estabelecimento, na
preconceito, que contradizem os princípios da dignidade, do Constituição Federal de 1988, da discriminação racial como
respeito mútuo e da justiça, paradoxalmente o Brasil tem crime. Mais ainda, há mecanismos de proteção e promoção de
produzido também experiências de convívio e da identidades étnicas, como a garantia, a todos, do pleno
interetnicidade, a reelaboração das culturas de origem, exercício dos direitos culturais, assim como apoio e incentivo
constituindo algo intangível que se tem chamado de à valorização e difusão das manifestações culturais. Os povos
brasilidade, que permite a cada um reconhecer-se como indígenas, por exemplo, têm garantidos seus direitos de
brasileiro. Encravada nas contradições de um sistema desenvolvimento de processos pedagógicos próprios,
econômico e social que se constituiu historicamente de tradicionais, com liberdade de organização de suas escolas.
maneira injusta, o Brasil tem essa contribuição a dar: a A aplicação e o aperfeiçoamento da legislação são
possibilidade de uma singularidade múltipla, multifacetada, de decisivos, porém insuficientes. Os direitos culturais, a
uma relação também (ainda que não só) amistosa e calorosa criminalização da discriminação, atendem aspectos referentes
com o mundo e aberta para ele. à proteção de pessoas e grupos pertencentes a minorias
Por isso, no cenário mundial, o Brasil representa uma étnicas e culturais. Para contribuir nesse processo de
esperança de superação de fronteiras e de construção da superação da discriminação e de construção de uma sociedade
relação de confiança na humanidade. A singularidade que justa, livre e fraterna, o processo educacional há que tratar do
permite essa esperança é dada por sua constituição histórica campo ético, de como se desenvolvem atitudes e valores, no
peculiar no campo cultural. O que se almeja, portanto, ao tratar campo social, voltados para a formação de novos
de Pluralidade Cultural, não é a divisão ou o comportamentos, novos vínculos, em relação àqueles que
esquadrinhamento da sociedade em grupos culturais historicamente foram alvo de injustiças, que se manifestam no
fechados, mas o enriquecimento propiciado a cada um e a cotidiano.
todos pela pluralidade de formas de vida, pelo convívio e pelas
opções pessoais, assim como o compromisso ético de Mesmo em regiões onde não se apresente uma diversidade
contribuir com as transformações necessárias à construção de cultural tão acentuada, o conhecimento dessa característica
uma sociedade mais justa. plural do Brasil é extremamente relevante, pois, ao permitir o
A coexistência da ampla diversidade étnica, linguística e conhecimento mútuo entre regiões, grupos e indivíduos,
religiosa em solo brasileiro coloca a possibilidade da consolida o espírito democrático. Da mesma forma, tratar de
pluralidade de alternativas. De certa forma, é como se o plural aspectos referentes à discriminação social mesmo em locais
que se constata, seja no convívio direto, seja por outras onde as situações de exclusão não se manifestam diretamente
mediações, evidenciasse e ampliasse o plural que ou pelo menos não de maneira dramática, permitirá formar a
potencialmente está em cada um. Assim, o princípio de criança e o adolescente para a responsabilidade social de
liberdade se afirma nas possibilidades múltiplas de cada um, cidadão que participa dos destinos do País como um todo,
na polissemia subjetiva que permite escolhas e novos direcionando a proposta para a busca de soluções.
encontros. A demanda social existe há muito tempo, a urgência é
inadiável. Esta proposta considera, do ponto de vista social, os

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movimentos que há tanto lutam por essa valorização. O grande falam apenas de boas intenções, embora seja comum que
desafio proposto para a educação é estabelecer conexões entre atinjam seu oposto.
o que se aprende na escola e a vida da população brasileira. Da mesma forma, questões de gênero trazem em seu bojo
Mudar mentalidades, superar o preconceito e combater histórias de injustiça para com as mulheres, nas mais diversas
atitudes discriminatórias são finalidades que envolvem lidar dimensões da vida, do cotidiano na vida privada a situações
com valores de reconhecimento e respeito mútuo, o que é profissionais. Injustiças frequentemente agravadas, quando se
tarefa para a sociedade como um todo. A escola tem um papel manifestam em conjunto com problemas vinculados a
crucial a desempenhar nesse processo. Em primeiro lugar, discriminação por motivo de raça/etnia, cultura, exclusão
porque é o espaço em que pode se dar a convivência entre socioeconômica.
crianças de origens e nível socioeconômico diferentes, com No mesmo registro, práticas sedimentadas social e
costumes e dogmas religiosos diferentes daqueles que cada culturalmente fazem com que se deixe ao largo, com
uma conhece, com visões de mundo diversas daquela que frequência, novas possibilidades que se abrem para os
compartilha em família. Em segundo, porque é um dos lugares homens, em termos de comportamentos mais responsáveis e
onde são ensinadas as regras do espaço público para o participativos em relação às mulheres e a seus filhos. Assim,
convívio democrático com a diferença. Em terceiro lugar, uma reflexão que envolva Ética, Orientação Sexual, Saúde e
porque a escola apresenta à criança conhecimentos Pluralidade Cultural poderá fornecer pistas preciosas para o
sistematizados sobre o País e o mundo, e aí a realidade plural professor em seu cotidiano.
de um país como o Brasil fornece subsídios para debates e Convém lembrar que, por se tratar de ensino fundamental
discussões em torno de questões sociais. A criança na escola regular, portanto de crianças, pré-adolescentes e adolescentes,
convive com a diversidade e poderá aprender com ela. é preciso especial atenção para trabalhos voltados para a
Frequentemente, contudo, as escolas acabam formação de novas mentalidades, voltados para a questão dos
repercutindo, sem qualquer reflexão, as contradições que a Direitos Universais da Pessoa Humana, da consolidação
habitam. A escola no Brasil, durante muito tempo e até hoje, democrática do Brasil, da valorização de todos os povos e
disseminou preconceito de formas diversas. Conteúdos grupos humanos que formam a população brasileira, do pleno
indevidos e até errados, notadamente presentes em livros que respeito a todo cidadão, nas diferentes esferas da vida. Pela
têm sofrido críticas fundamentadas, constituem assunto que dificuldade do tema, há que se lidar com cuidado, para garantir
merece constante atenção. Também contribuía para essa um tratamento objetivo e compreensivo daqueles aspectos
disseminação de preconceitos certa mentalidade que vinha considerados mais relevantes em cada região, localidade,
privilegiar certa cultura, apresentada como a única aceitável e escola, classe.
correta, como também aquela que hierarquizava culturas É, ainda, importante lembrar que a maior parte do
entre si, como se isso fosse possível, sem prejuízo da dignidade magistério é constituída por professoras, que precisam voltar-
dos diferentes grupos produtores de cultura. Amparada pelo se para suas próprias mentalidades e práticas, como mulheres,
consenso daquilo que se impôs como se fosse verdadeiro, o como cidadãs, como educadoras, exigindo respeito para si e
chamado, criticamente, “mito da democracia racial”, a escola para aqueles com quem trabalham. Fortalecendo-se, portanto,
muitas vezes silencia diante de situações que fazem seus como sujeitos de um processo de transformação social, o qual
alunos alvo de discriminação, transformando-se facilmente em tem, na escola, um de seus instrumentos mais efetivos.
espaço de consolidação de estigmas. Assim, o educador está Do ponto de vista educacional, o que se busca é sobretudo
sujeito a uma escolha inevitável — ainda que inconsciente — a transformação de atitudes, e não a repetição de slogans. Do
quanto a ser agente privilegiado da expansão ou da contração ponto de vista social, este tema vem das forças sociais e para
do preconceito e da discriminação. Portanto, embora não caiba elas retorna na possibilidade de parceria e recriação da
à educação, isoladamente, resolver o problema da proposta. Espera-se com isso colaborar na consolidação
discriminação em suas mais perversas manifestações, cabe-lhe democrática do Brasil, prestando uma homenagem àqueles
atuar para promover processos, conhecimentos e atitudes que que constituíram e constituem este país, com suas vidas e seus
cooperem na transformação da situação atual. trabalhos, suas histórias de sofrimentos e lutas, de conquistas
O reconhecimento da complexidade que envolve a e perdas, ressaltando que o patrimônio humano da nação é o
problemática social, cultural e étnica é o primeiro passo. Tal bem maior a ser cuidado, protegido e promovido.
reconhecimento aponta a necessidade de a escola
instrumentalizar-se para fornecer informações mais precisas Estado atual dos trabalhos com a temática
para questões que vêm sendo indevidamente respondidas
pelo senso comum, quando não ignoradas por um silencioso Observe-se que, por ter caráter pioneiro até mesmo em
constrangimento. Esta proposta traz a necessidade imperiosa termos internacionais, a elaboração de propostas de trabalho
da formação de professores no tema da Pluralidade Cultural. pedagógico sobre este tema encontra dificuldades.
Provocar essa demanda específica, na formação docente, é Propostas da Organização das Nações Unidas (ONU), por
exercício de cidadania. intermédio de suas agências, têm procurado trazer
contribuições para que se desenvolva uma “Cultura da Paz”, no
Entrelaçado com os demais temas transversais, este abre- âmbito da escola, baseada em trabalhos sobre tolerância,
se para parte do complexo problema que envolve preconceito conceito adotado pela ONU como marco referencial no
e discriminação, sem fechar o campo de trabalho para o vasto processo de construção do entendimento, do respeito mútuo,
conjunto dessa complexidade. É de se notar que o preconceito da solidariedade. Essas iniciativas, contudo, são ainda
tem profundas raízes psicológicas, culturais, sociais, dirigindo- incipientes e têm caráter apenas indicativo, pois apresentam-
se aos mais diversos alvos — nem sempre encontrados em se como um apelo em prol do estabelecimento de novas bases
campo cultural, ou com reflexo exclusivo ali. de convivência local, nacional, regional e mundial. Alguns
Assim, ainda há um longo caminho a percorrer até que se países, com grande número de etnias, têm casos de escolas que
chegue, por exemplo, a práticas de respeito e solidariedade desenvolvem trabalhos de conhecimento mútuo. Há um apelo
para com os portadores de deficiência física e mental. da ONU para que se enviem novas propostas de trabalho neste
Ignorância muitas vezes completa acerca do que seja, das campo, tal o nível incipiente em que educadores em geral
causas, assim como do encaminhamento que se deve dar em ainda se encontram com relação à temática.
termos educacionais a tais casos, leva a práticas O esforço histórico que representa a própria criação da
discriminatórias, amparadas em discursos equivocados, que ONU, em 1945, no período imediatamente após a Segunda
Guerra Mundial, fala de uma humanidade consciente de sua

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precariedade, dos riscos que inflige a si, até em termos de uma continuamente em termos nacionais, apresentando
hecatombe. características regionais e locais. Coexistem aqui culturas
É importante observar que tratados, convenções, singulares, ligadas a identidades de origem de diferentes
declarações da ONU tomam como base a Declaração Universal grupos étnicos e culturais. Essa composição cultural tem se
dos Direitos da Pessoa Humana, compreendida como pauta caracterizado por plasticidade e permeabilidade,
mínima comum mundial, ainda em construção. Essa postura incorporando em seu cotidiano a criação e recriação das
exige compromissos internacionais de combate à miséria, à culturas de todos esses povos, sem diluí-las, ao mesmo tempo
exclusão social, a condições desumanas, cruéis e degradantes, que permite seu entrelaçamento. Nesse entrelaçamento de
ao medo, à opressão. Levar adiante esse compromisso é influências recíprocas, configura-se a permanente elaboração
também exigir dos países economicamente mais e redefinição da identidade nacional, em sua complexidade.
desenvolvidos, chamados do Primeiro Mundo, que assumam Convivem hoje no território nacional cerca de 206 etnias
sua responsabilidade no estabelecimento de condições de vida indígenas, guardando, cada uma delas, identidade própria,
digna e justa no planeta. representando, em si, riquíssima diversidade sociocultural,
No caso do Brasil, algumas iniciativas já tratam ou além de uma imensa população formada pelos descendentes
trataram da temática em projetos específicos e, em geral, dos povos africanos e um grupo igualmente numeroso de
pontuais. Há estudos desenvolvidos acerca de escolas imigrantes e descendentes de povos originários de diferentes
indígenas, pesquisas acerca da situação dos afrodescendentes continentes, de diferentes tradições culturais e de diferentes
em escolas. Podem-se encontrar, também, algumas religiões. A própria dificuldade de categorização dos grupos
experiências inovadoras desenvolvidas em alguns Estados, de que vieram para o Brasil, formando sua população, é indicativo
maneira geral vinculadas a movimentos de caráter étnico. da diversidade. Mesmo para a elaboração de um simples rol, é
Contudo, pouquíssimo se discutiu sobre uma proposta que difícil escolher ou priorizar certo recorte, seja continental ou
falasse do Brasil como um todo, em sua complexidade cultural, regional, nacional, religioso, cultural, linguístico, racial/étnico.
das relações que se estabelecem entre diferentes culturas que Portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, italianos, alemães,
convivem neste território, concorrendo todas para a poloneses, húngaros, lituanos, egípcios, sírios, libaneses,
constituição e permanente reelaboração da identidade armênios, indianos, japoneses, chineses, coreanos, ciganos,
nacional. latino-americanos, católicos, evangélicos, batistas, budistas,
judeus, muçulmanos, tradições africanas, situam-se entre
É interessante, também, registrar que raríssimos estudos outras inumeráveis categorias de identificação. Além disso, um
tratam, do ponto de vista psicológico, das relações entre mesmo indivíduo pode vincular-se a diferentes grupos ao
crianças e intercâmbio cultural, em um sentido amplo. Há mesmo tempo, reportando-se a cada um deles com igual
estudos, sobretudo no campo da linguística e da antropologia, sentido de pertinência. Quando se trata de falar da situação
que tratam da apreensão e da elaboração cultural pela criança, atual da população, eventuais categorizações são ainda mais
mais especificamente de seu grupo de origem. Contudo, difíceis, tal a circulação que existe entre tradições e culturas,
propor à criança uma abertura para culturas diferentes da sua, do ponto de vista individual, sem falar de aproximações
englobando conteúdos atitudinais, tem sido pouco usual. espontâneas e voluntárias entre grupos, com fins associativos,
Nesse sentido, procurou-se fazer um levantamento do que de cooperação para fins comuns ou de diálogo com vistas ao
estaria disponível no plano internacional e no Brasil. entendimento.
Outro ponto que reveste de dificuldade o trabalho, refere- A diversidade marca a vida social brasileira. Encontram-se
se ao fato de esse tema propor-se como ponto de confluência diferentes características regionais, diferentes manifestações
de estudos teóricos, movimentos sociais, em particular de cosmologias que ordenam de maneiras diferenciadas a
etnoculturais, além de outras forças socioculturais, presentes apreensão do mundo, formas diversas de organização social
e atuantes, contribuições compostas em práticas que se nos diferentes grupos e regiões, multiplicidade de modos de
efetivam no cotidiano da sala de aula e da escola como um relação com a natureza, de vivência do sagrado e de sua
todo. Propondo-se assim, estes Parâmetros Curriculares relação com o profano. O campo e a cidade propiciam às suas
Nacionais reconhecem que se trata de um campo em que populações vivências e respostas culturais muito
elaborações teóricas são rapidamente substituídas, além de diferenciadas que implicam ritmos de vida, ensinamentos de
representarem grande diversidade de posições teóricas valores e formas de solidariedade distintas. Os processos
divergentes e, às vezes, conflitantes entre si. Este documento migratórios colocam em contato grupos sociais com diferenças
apresenta-se como uma proposta aberta, um ponto de partida de fala, de costumes, de valores, de projetos de vida.
para a cooperação de educadores, estudiosos e sociedade em
geral. Frequentemente, porém, esse processo complexo presente
Do mesmo modo, movimentos sociais estabelecem, a cada na vida brasileira é ignorado e/ ou descaracterizado,
tempo, novas formas de lidar com a temática, de acordo com particularmente em processos da indústria de bens culturais.
avanços na consciência do próprio movimento, com mudanças Também na escola, onde essa diversidade está presente
em campo social, com influências internacionais com as quais diretamente naqueles que constituem a comunidade escolar,
dialogam, com a necessidade de novas estratégias que essa presença tem sido ignorada, silenciada ou minimizada.
conduzam a objetivos voltados para o pleno exercício de São múltiplas as origens da omissão com relação à Pluralidade
direitos civis, sociais, culturais, gerais da população e Cultural.
específicos dos diferentes grupos. É por isso que este O nacionalismo exacerbado que se registrou em períodos
documento enfatiza o intercâmbio da escola com movimentos autoritários, em diferentes momentos da história, também
sociais, universidades, imprensa, como forma de a escola valeu-se de ação homogeneizadora, em que a escola
abrir-se à atualização permanente também nas peculiaridades desempenhou um papel decisivo. Na década de 30, quando a
deste tema. política oficial buscou “assimilar” a população imigrada de
Caracterização do tema diferentes origens, documentos de autoridades educacionais
explicitavam grande preocupação com a nacionalização do
A pluralidade cultural existente no Brasil é fruto de um filho do imigrante, assim como um racismo difuso, porém
longo processo histórico de interação entre aspectos políticos indiscutível. A história dos índios não registra uma data única
e econômicos, no plano nacional e internacional. Esse processo para sentir os efeitos de ações homogeneizadoras: desde a
apresenta-se como uma construção cultural brasileira colonização têm sido vistos como grupos que deveriam se
altamente complexa, historicamente definida e redefinida

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aculturar ou então permanecerem na condição de completa sertanejos, caboclos, pantaneiros, povos da floresta e
tutela por parte do Estado. populações ribeirinhas.
As ações oficiais foram acompanhadas de dois tipos
básicos de interpretação do Brasil, manifestos em atitudes Algumas doutrinas pedagógicas concorreram para
sociais que os veicularam com insistência: uma expectativa de acentuar atitudes equivocadas por parte de educadores na
homogeneidade cultural, enquanto se propagava o “mito da escola. Teorias que afirmam a carência cultural, ainda que
democracia racial brasileira”. Essas interpretações rejeitadas atualmente, deixaram marcas na prática
conduziram a atitudes de dissimulação do quadro de fato pedagógica, traduzidas pela explicação do fracasso escolar
existente: um racismo difuso, porém efetivo, com única e exclusivamente pela “falta de condições” dos alunos. O
repercussões diretas na vida cotidiana da população simplismo dessa abordagem esconde, na prática, a
discriminada. desvalorização dos alunos e os preconceitos sobre suas
Disseminou-se, por um lado, uma ideia de um Brasil sem capacidades e de seus grupos de origem.
diferenças, formado originalmente pelas três raças — o índio, A atitude de baixa expectativa com relação a certas
o branco e o negro — que se dissolveram, dando origem ao camadas da população acaba por atingir, por certo tipo de
brasileiro. Tal mito social também foi veiculado na escola e nos “contágio de estigma”, professores e escolas que atendem a
livros didáticos, procurando às vezes neutralizar as diferenças essa clientela. Por ocasião do processo de ampliação das
culturais, às vezes subordinar uma cultura à outra. Divulgou- oportunidades educacionais, sobretudo a partir da década de
se, então, uma concepção de cultura uniforme, depreciando as 70, tornou-se comum certa argumentação que vinculava,
diversas contribuições que compuseram e compõem a indevidamente, a expansão quantitativa a um rebaixamento
identidade nacional. inevitável da qualidade do ensino. Associava-se, assim, a queda
Por outro lado, a perspectiva de um Brasil “de braços da qualidade ao acesso das camadas populares a uma escola
abertos” compôs-se no “mito da democracia racial”, segundo o que fora, até então, explicitamente seletiva.
qual mesmo aqueles que não tivessem integrado diretamente Portanto, é fato que a escola se encontra marcada por
processos de miscigenação seriam igualmente aceitos e práticas cultural e historicamente arraigadas, bem como por
valorizados. Assim, discriminações praticadas com base em teorias que deslocaram a responsabilidade da escola para o
diferenças ficam ocultas sob o manto de uma igualdade que aluno, além de currículos e formação de professores
não se efetiva. O acobertamento de práticas discriminatórias insuficientes. Entre outras medidas estruturais, o
empurrou para uma zona de sombra a vivência do sofrimento estabelecimento de condições que revertam esse processo
e da exclusão, na sociedade em geral. inclui, necessariamente, o reconhecimento e valorização de
características específicas e singulares de regiões, etnias,
Essas influências marcaram profundamente a história da escolas, professores e alunos.
escola no Brasil, consolidando mentalidades e atitudes das
quais frequentemente o educador não se dá conta em seu CONTRIBUIÇÕES PARA O
cotidiano. Encontram-se manifestações discriminatórias entre ESTUDO DA PLURALIDADE CULTURAL NO ÂMBITO DA
alunos, educadores e funcionários administrativos. Esse ESCOLA
quadro é particularmente perverso pelo que significa de
desrespeito ao aluno na situação direta de sala de aula. Para informar adequadamente a perspectiva de ensino e
Tais atitudes indicam, também, a formação de expectativas aprendizagem é importante esclarecer o caráter
em relação ao desempenho do aluno. Em princípio, espera-se interdisciplinar que constitui o campo de estudos teóricos da
que a criança e o adolescente possam se enquadrar com Pluralidade Cultural. A fundamentação ética, o entendimento
justeza no padrão “aluno médio”, abstração muito invocada em de preceitos jurídicos, incluindo o campo internacional,
documentos oficiais relativos à Reforma de Ensino de Primeiro conhecimentos acumulados no campo da História e da
e Segundo Graus, e disseminada nos cursos de formação de Geografia, noções e conceitos originários da Antropologia, da
professores nas décadas de 70 e 80, como parte dos Linguística, da Sociologia, da Psicologia, aspectos referentes a
conhecimentos da proposta educacional então em vigor. Essa Estudos Populacionais, constituem uma base sobre a qual se
expectativa é alterada diante de cada aluno que apresente opera tal reflexão que, ao voltar-se para a atuação na escola,
algum aspecto identificável como “diferente” do padrão. deve ter cunho eminentemente pedagógico.
Estudos têm demonstrado alto grau de correlação entre a Acrescenta-se a essa evidente complexidade o fato de que
expectativa dos professores e o desempenho dos alunos. Isto muitos grupos humanos, de que trata o tema Pluralidade
é, a expectativa frequentemente determina a atitude do Cultural, têm produzido um saber rico e profundo acerca de si
professor para com o aluno, e deste para com o mesmos, particularmente no âmbito de movimentos sociais e
desenvolvimento de seu processo escolar, apresentando-se, de suas organizações comunitárias. Assim, abre-se à escola a
assim, como profecia auto realizadora. possibilidade de empreender, em seu cotidiano, uma reflexão
É bastante comum que em relação ao aluno proveniente que integra, de maneira ímpar, teoria e prática, reflexão e ação.
das camadas economicamente menos favorecidas se A seguir são apresentadas algumas indicações das
desenvolva uma expectativa de desempenho baixo. Também a diferentes contribuições, a título de subsídios chave, a fim de
criança e o adolescente provenientes de grupos étnicos balizar o trabalho pedagógico deste tema, embora não o
socialmente discriminados recebem o mesmo tipo de esgotem. São pistas que o professor poderá seguir
tratamento. A desigualdade traduzida na situação de pobreza, aprofundando e ampliando conforme as necessidades de seu
seja a favelização em áreas urbanas, seja o filho de planejamento. Visam, sobretudo, explicitar que tratar do povo
trabalhadores rurais em condições precárias, seja, ainda, a brasileiro, em seus desafios e conquistas do cotidiano e no
dificuldade de adaptação do filho do migrante, processo histórico, exige estudo e preparo cuidadoso que não
lamentavelmente tem sido um estigma para muitas crianças se confundem, em hipótese alguma, com o senso comum.
na escola.
Desenvolveu-se uma forte expectativa de um Fundamentos éticos
comportamento de tipo urbano, como sendo o único requerido
e aceito pela situação escolar, enquanto políticas educacionais Uma proposta curricular voltada para a cidadania deve
registraram a falta de atenção às diversidades regionais, às preocupar-se necessariamente com as diversidades existentes
características de grupos tradicionais, como caiçaras, na sociedade, uma das bases concretas em que se praticam os
preceitos éticos. É a ética que norteia e exige de todos, e da

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escola e educadores em particular, propostas e iniciativas que outro lado, participação ativa nas reuniões mundiais sobre os
visem à superação do preconceito e da discriminação. A direitos humanos e sobre minorias. Aqui não se trata, é claro,
contribuição da escola na construção da democracia é a de de exigir conhecimentos próprios do especialista em Direito,
promover os princípios éticos de liberdade, dignidade, mas de saber como se define basicamente a cidadania.
respeito mútuo, justiça e equidade, solidariedade, diálogo no Vale lembrar que dispositivos presentes na Seção “Da
cotidiano; é a de encontrar formas de cumprir o princípio Educação”, da Constituição Federal, referentes às
constitucional de igualdade, o que exige sensibilidade para a comunidades indígenas, também asseguram “a utilização de
questão da diversidade cultural e ações decididas em relação suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem”
aos problemas gerados pela injustiça social. (art. 210, § 2º), consolidando o reconhecimento de exigências
A diferença entre o que se tem historicamente pregado historicamente apresentadas em trabalhos desenvolvidos
como sendo fins e valores da democracia republicana e pelos povos indígenas, em cooperação notadamente com a
práticas sociais marcadas pela dominação, exploração e sociedade civil.
exclusão, torna imperativo o posicionamento ético da escola e Alguns aspectos pedagógicos decorrem desse dispositivo.
do educador, ao mesmo tempo em que se coloca a superação O estabelecimento de escolas indígenas, com proposta
dessa situação, no campo educacional, como um dos maiores pedagógica, organização administrativa e didáticas próprias,
desafios da prática pedagógica. atende a uma exigência constitucional, traz enriquecimento
Num mundo que tende cada vez mais à globalização no pedagógico e introduz exigências adicionais na estruturação
plano econômico, da qual é ainda desconhecido o conjunto de do sistema nacional de educação.
efeitos sociais, é importante perceber o incessante processo de
reposição das diferenças e o ressurgimento de etnicidades. De O ensino religioso nas escolas públicas é assunto que exige
um lado, esse processo ensina que o fato de as culturas atenção. Tema vinculado, em termos de direito, à liberdade de
viverem dinâmicas que resultam em sua modificação consciência e de crença, a presença plural das religiões no
constante não quer dizer que o sentido da mudança seja único, Brasil constitui-se fator de possibilidade de escolha. Ao
e conduza fatalmente ao modelo de desenvolvimento indivíduo é dado o direito de ter religião, quando criança, por
dominante. De outro, apresenta com clareza a necessidade da decisão de seus pais, ou, quando adulto, por escolha pessoal;
construção de valores e novas práticas de relação social que de mudar de religião, por determinação voluntária ao longo da
permitam o reconhecimento e a valorização da existência das vida, sem restrições de ordem civil; e de não ter religião, como
diferenças étnicas e culturais, e a superação da relação de opção consciente. O que caracteriza, portanto, a inserção social
dominação e exclusão — ao mesmo tempo em que se constitui do cidadão, desse ponto de vista, é o respeito, a abertura e a
a solidariedade. liberdade.
De fato, a configuração laica do Estado é propiciadora
Conhecimentos jurídicos dessa pluralidade, no plano social, e se caracteriza por ser
impeditiva de rótulos, no plano do cidadão. Ou seja, não há
Explicitada no contexto dramático do pós-guerra, quando uma predeterminação que vincule compulsoriamente etnias e
se indagou como teria sido possível ao ser humano produzir a religiões, origem de nascimento e percursos de vida.
barbárie do Holocausto e o horror de Nagasaki e Hiroshima, a É nesse sentido que se define a postura laica da escola
Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu como a pública como imperativo no cumprimento do dever do Estado
ponte entre o medo e a esperança. Essa ponte, apenas referente ao estabelecimento pleno de uma educação
projetada ali, seria preciso ser construída. democrática, voltada para o aprimoramento e a consolidação
Os direitos humanos assumiram, gradativamente, a de liberdades e direitos fundamentais da pessoa humana.
importância de tema global. Assim como a preservação do Não se trata, é claro, de mostrar um Brasil perfeito e irreal,
meio ambiente, os Direitos Humanos colocam-se como mas as possibilidades que se abrem com trabalho, embates e
assunto de interesse de toda a humanidade. Se o planeta está entendimentos, mediante a colocação em prática de
ameaçado por políticas de desenvolvimento predatórias, da instrumentos jurídicos já disponíveis.
mesma maneira a miséria e a intolerância em seus diversos
matizes promovem no final do século a morte pela fome, a Conhecimentos históricos e geográficos
marginalidade extrema, migrações em massa, desequilíbrios
internos e, no limite, guerras entre grupos humanos que O estudo da ocupação do território nacional e da
outrora conviveram em suposta harmonia. A violência em que constituição da população pode ser empreendido por
pode resultar a disputa étnica, religiosa e social, quando a intermédio da trajetória das etnias no Brasil. Tarefa complexa,
intolerância e o desequilíbrio são levados ao extremo, esse estudo traz tanto a compreensão da produção das
expressa-se em números: sabe-se que 80% das guerras que riquezas, da miséria e da injustiça quanto de aspectos que
ocorrem hoje derivam da intolerância étnica e religiosa em tornaram o Brasil internacionalmente reconhecido como
conflitos internos. hospitaleiro.
A ONU, preocupada com a conquista da paz mundial, Os aspectos históricos e geográficos expõem uma
promoveu conferências que buscavam um programa de diversidade regional marcada pela desigualdade, do ponto de
consenso que orientasse os países e os indivíduos quanto à vista do atendimento pleno dos direitos de cidadania, de
questão dos direitos humanos. A Conferência de Viena de valorização desigual de práticas culturais. A formação
1993, de cuja declaração o Brasil é signatário, reafirmou a histórica do Brasil mostra os mecanismos de resistência ao
universalidade dos direitos humanos e apresentou as processo de dominação desenvolvidos pelos grupos sociais em
condições necessárias para os Estados promoverem, diferentes momentos. Uma das formas de resistência refere-se
controlarem e garantirem tais direitos. Sabia-se naquele ao fato de que cada grupo encontrou maneiras de preservar
momento que o tratamento adequado do tema da pluralidade sua identidade cultural, ainda que às vezes de forma
etnocultural era condição para a democracia e fator primordial clandestina e precária.
do equilíbrio social e internacional. Firma-se nesse contexto a A tendência de abafar e encobrir os problemas vividos pela
responsabilidade do Estado na proteção e promoção das diversidade, enquanto se dá destaque apenas à sua
identidades étnicas, culturais, linguísticas e religiosas. característica de ser um dos potenciais mais férteis,
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 tipicamente brasileiros, levou por muito tempo a acreditar que
é uma das mais avançadas quanto aos temas do respeito à o racismo era uma mazela social que o Brasil soube evitar. A
diferença e do combate à discriminação. O Brasil teve, por teoria da integração das raças, tradicionalmente divulgada na

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maioria das escolas de ensino fundamental, deixou pouco ou Conhecimentos sociológicos


nenhum espaço para que se encarassem as reais dificuldades
das diferentes etnias no contexto social brasileiro. Toda seleção curricular é marcada por determinantes e
Para a compreensão da trajetória das etnias é necessário fatores culturais, sociais e políticos, que podem ser analisados
tratar de temas básicos: ocupação e conquista, escravização, de forma isolada, para efeito de estudo, mas que se encontram
imigração, migração. Outro aspecto particularmente relevante amalgamados no social. Conhecimentos sociológicos são
refere-se à importância do estudo dos continentes de origem indispensáveis na discussão da Pluralidade Cultural, pelas
dos diversos grupos que compõem a população brasileira. possibilidades que abrem de compreensão de processos
Tratar da presença indígena, desde tempos imemoriais em complexos, onde se dão interações entre fenômenos de
território nacional, é valorizar sua presença e reafirmar seus diferentes naturezas.
direitos como povos nativos, como tratado na Constituição de Atuando em campo social marcado historicamente pela
1988. É preciso explicitar sua ampla e variada diversidade, de exclusão de grandes contingentes da população, a escola pode
forma a corrigir uma visão deturpada que homogeneíza as fortalecer sua atuação tanto mais quanto seja conhecedora dos
sociedades indígenas como se fossem de um único grupo, pela problemas presentes na estrutura socioeconômica, de como se
justaposição aleatória de traços retirados de diversas etnias. dão as relações de dominação, qual o papel desempenhado
Nesse sentido, a valorização dos povos indígenas faz-se tanto pelo universo cultural nesse processo.
pela via da inclusão nos currículos de conteúdos que informem Embora tenha sido muito salientado o papel de
sobre a riqueza de suas culturas e a influência delas sobre a reprodutora de mecanismos de dominação e exclusão,
sociedade como um todo, quanto pela consolidação das escolas atribuído historicamente à escola, cabe lembrar que
indígenas que destacam, nos termos da Constituição, a potencializar suas possibilidades de resistência e
pedagogia que lhes é própria. transformação depende também, ainda que não
exclusivamente, das opções e das práticas dos educadores.
Compreender a formação das sociedades europeias e das Nesse sentido, além das diversas contribuições da Sociologia,
relações entre sua história, viagens de conquista, aspectos particulares voltados para a discussão curricular têm
entrelaçamento de seus processos políticos com os do sido desenvolvidos por autores que se ocupam da Sociologia
continente americano, em particular América do Sul e Brasil, da Educação, Sociologia do Currículo. Nesses estudos, os
auxiliará professores e alunos a formarem referencial não só vínculos entre escola e democracia, escola e cidadania, e
de conteúdos específicos, como também da estruturação de democracia e currículo são analisados, permitindo uma
processos de influenciação recíproca. Isso é particularmente reflexão voltada especificamente para o interior da escola e da
importante para o momento atual, quando o quadro sala de aula, no que se refere a esses assuntos.
internacional interfere no cotidiano do cidadão de muitas e Os conhecimentos sociológicos permitem uma discussão
variadas formas. acurada de como as diferenças étnicas, culturais e regionais
O estudo histórico do continente africano, com sua não podem ser reduzidas à dimensão socioeconômica de
complexidade milenar, é de extrema relevância como fator de classes sociais, assim como das formas como ambas se
informação e de formação voltada para a valorização dos retroalimentam.
descendentes daqueles povos. Significa resgatar a história A desatenção à questão da diferença cultural tem sido
mais ampla, na qual os processos de mercantilização da instrumento que reforça e mantém a desigualdade social,
escravidão foram um momento, que não pode ser amplificado levando a escola a atuar, frequentemente, como mera
a ponto que se perca a rica construção histórica da África. O transmissora de ideologias. Por outro lado, a injustiça
conhecimento desse processo pode significar o socioeconômica se apoia em preconceitos e discriminações de
dimensionamento correto do absurdo, do ponto de vista ético, caráter etnocultural de tal forma que, muitas vezes, não é
da escravidão, de sua mercantilização e das repercussões que possível saber se a discriminação vem pelo fato étnico, pelo
os povos africanos enfrentam por isso. socioeconômico, ou por ambos.
Da mesma forma, uma visão histórica da Ásia contribui A discussão sociológica colabora para a escola e o
para a compreensão da formação cultural brasileira, tanto no professor enfrentarem o desafio que lhes está colocado, qual
que se refere às tradições quanto em relação aos processos seja, o de ser parte de certa realidade social injusta, dela sofrer
históricos que levaram seus habitantes a imigrarem para as influências, e, ainda assim, garantir a possibilidade de educar
Américas, e em particular para o Brasil, em diferentes o aluno como cidadão em formação, de forma que atue como
momentos históricos. É relevante, também, o estudo do sujeito sociocultural, voltado para mudanças, para a busca de
Oriente Médio, sua história e suas influências na constituição caminhos de transformação social.
da civilização ocidental.
Esses conhecimentos são subsídios para que se possa Conhecimentos antropológicos
compreender o processo de surgimento de tendências, ideias,
crenças, sistemas de pensamento, seu percurso por diversos Há relações presentes em diferentes grupos e sociedades
territórios nacionais e continentais, e a ampliação da humanas que não se explicam exclusivamente pelo
influência cultural; perceber a criação e recriação constante de socioeconômico, nem se reduzem a estados afetivos e
tradições, a complexidade da convivência da diversidade em psicológicos. São exemplos, a relação do ser humano com a
um mesmo território, nem sempre harmonizada, assim como organização de seu grupo, com o sagrado, o mágico, o
processos internacionais de pressão, e desenvolvimento de sobrenatural, a relação com o patrimônio cultural, tudo o que
processos regionais de construção da paz. o precede e sucede. Trata-se de fatos que caracterizam a
Cada um desses desenvolvimentos poderá estar presente existência da cultura, especificidade exclusiva da vida humana.
conforme a necessidade e a oportunidade do trabalho em sala A Antropologia caracteriza-se como o estudo das
de aula. É claro, contudo, que alguns desenvolvimentos alteridades, no qual se afirma o reconhecimento do valor
conceituais mais elaborados poderão ser deixados para as inerente a cada cultura, por se tratar daquilo que é
quinta a oitava séries, enquanto nas séries iniciais se poderá exclusivamente humano, como criação, e próprio de certo
veicular informações mais simples e promover aproximações grupo, em certo momento, em certo lugar. Nesse sentido, cada
conceituais que favorecerão uma futura ampliação em cultura tem sua história, condicionantes, características, não
abrangência e profundidade. cabendo qualquer classificação que sobreleve uma em
detrimento de outra.

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A variabilidade interna presente em cada cultura também do crânio e do rosto, tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se
é objeto de estudo da Antropologia, tornando possível transmitem por hereditariedade. O conceito de raça, portanto,
compreender variáveis formas de organização humana, assenta-se em um conteúdo biológico, e foi utilizado na
convivendo dentro de visões de mundo semelhantes. tentativa de demonstrar uma pretensa relação de
É também nos conhecimentos antropológicos que se superioridade/inferioridade entre grupos humanos.
encontram subsídios para entender algumas das questões A diversidade das sociedades humanas não se explica pela
mais difíceis de nosso tempo, que vai ao encontro do terceiro diferença genética — a variação dos caracteres genéticos
milênio. Em particular, a temática étnica, cada vez mais internos de qualquer grupo é muito grande —, mas sim pela
presente em um mundo que se complexifica de maneira cultura. A divisão biológica da espécie humana não implica
crescente, sob aparência de homogeneização, assim como o hierarquia, ainda que diferentes visões de mundo expliquem
estudo das mutações culturais, que se apresentam com ritmos de múltiplas formas a diversidade humana. Do ponto de vista
distintos, em diferentes grupos. de dignidade, de Direitos Universais, há uma só humanidade.
Assim, falar de cultura é tratar de permanências e Convém lembrar que o uso do termo “raça” no senso
mudanças, de manifestações patentes, que expressam, com comum é ainda muito difundido, variando da ideia de
frequência, o latente — atuante, embora nem sempre reafirmação étnica, de forma a distinguir singularidades de
perceptível em termos objetivos. potencial e demanda, como aquele que é feito comumente por
É preciso considerar que não se trata, aqui, do sentido mais movimentos sociais, a usos ostensivamente pejorativos, que
usual do termo cultura, empregado para definir certo saber, alimentam racismo e discriminação.
ilustração, refinamento de maneiras. No sentido antropológico Cabe, aqui, introduzir o conceito de etnia, que substitui
do termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no com vantagens o termo “raça”, já que tem base social e cultural.
contexto de uma cultura, não existindo homem sem cultura, “Etnia” ou “grupo étnico” designa um grupo social que se
mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. É como se se diferencia de outros por sua especificidade cultural.
pudesse dizer que o homem é biologicamente incompleto: não Atualmente o conceito de etnia se estende a todas as minorias
sobreviveria sozinho sem a participação das pessoas e do que mantêm modos de ser distintos e formações que se
grupo que o gerou. distinguem da cultura dominante. Assim, os pertencentes a
A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis uma etnia partilham de uma mesma visão de mundo, de uma
pelo grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento da organização social própria, apresentam manifestações
sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância, culturais que lhe são características. “Etnicidade” é a condição
aprende os valores do grupo; por eles são mais tarde de pertencer a um grupo étnico. É o caráter ou a qualidade de
introduzidos nas obrigações da vida adulta, da maneira como um grupo étnico, que frequentemente se autodenomina
cada grupo social as concebe. comunidade. Já o “etnocentrismo” — tendência de alguém
A cultura, como código simbólico, apresenta-se como tomar a própria cultura como centro exclusivo de tudo, e de
dinâmica viva. Todas as culturas estão em constante processo pensar sobre o outro também apenas a partir de seus próprios
de reelaboração, introduzindo novos símbolos, atualizando valores e categorias — muitas vezes dificulta um diálogo
valores. O grupo social transforma e reformula intercultural, impedindo o acesso ao inesgotável aprendizado
constantemente esses códigos, adaptando seu acervo que as diversas culturas oferecem.
tradicional às novas condições historicamente construídas Por isso, é errado, conceitual e eticamente, sustentar
pela sociedade. A cultura não é algo fixo e cristalizado que o argumentos de ordem racial/étnica para justificar
sujeito carrega por toda a sua vida como um peso que o desigualdades socioeconômicas, dominação, abuso,
estigmatiza, mas é elemento que o auxilia a compor sua exploração de certos grupos humanos. Historicamente, no
identidade. Brasil, tentou-se justificar, por essa via, injustiças cometidas
contra povos indígenas, contra africanos e seus descendentes,
Entretanto, o processo de mudança intrínseco a qualquer da barbárie da escravidão a formas contemporâneas de
cultura já foi entendido como desfiguração da cultura discriminação e exclusão, desses e outros grupos étnicos e
tradicional, desvio e perda, o que, do ponto de vista aqui culturais, em diferentes graus e formas. A escola deve
colocado, é uma ideia incorreta. É preciso compreender esse posicionar-se criticamente em relação a esses fatos, mediante
caráter intrínseco da mudança, do ponto de vista dos grupos informações corretas, cooperando no esforço histórico de
culturais, diferente de intromissões de elementos externos superação do racismo e da discriminação.
que sugerem ou impõem fatores estranhos à cultura, ou até de
transplantes culturais. Linguagens e representações
A cultura pode assumir um sentido de sobrevivência,
estímulo e resistência. Quando valorizada, reconhecida como Trata-se, aqui, de trabalhar diferentes linguagens que
parte indispensável das identidades individuais e sociais, ampliam as possibilidades de expressão para além da verbal,
apresenta-se como componente do pluralismo próprio da vida forma predominante de comunicação na maioria das
democrática. Por isso, fortalecer a cultura própria de cada sociedades. Integrada aos conhecimentos antropológicos,
grupo social, cultural e étnico que compõe a sociedade permitirá o entendimento da importância de diferentes
brasileira, promover seu reconhecimento, valorização e códigos linguísticos, de diferentes manifestações culturais e
conhecimento mútuo, é fortalecer a igualdade, a justiça, a sua compreensão no campo educacional, como fator de
liberdade, o diálogo e, portanto, a democracia. integração e expressão do aluno, respeitando suas origens.
Alguns temas, conceitos e termos da temática da Tratando especificamente da temática das línguas, abrem-
Pluralidade Cultural dependem intrinsecamente de se muitas possibilidades de transversalização com Língua
conhecimentos antropológicos, por referirem-se diretamente Portuguesa, por exemplo, pela valorização de diferentes
à organização humana, na qual se coloca a diversidade. formas de linguagem oral e escrita, pelo respeito às
Assim, o termo “raça”, de uso corriqueiro e banal no manifestações regionais, pela possibilidade de contato e
cotidiano, vem sendo evitado cada vez mais pelas ciências integração com a diversidade de línguas e de linguagens
sociais pelos maus usos a que se prestou. presentes na vida de crianças e adolescentes no Brasil.
Nas ciências biológicas, raça é a subdivisão de uma espécie, Conhecer a existência do uso de outras línguas diferentes
cujos membros mostram com frequência um certo número de da Língua Portuguesa, idioma oficial, significa não só
atributos hereditários. Refere-se ao conjunto de indivíduos ampliação de horizontes, como também compreensão da
cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, o formato complexidade do País. A escola tem a possibilidade de

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trabalhar com esse panorama rico e complexo, referindo-se à atividade educativa, com a necessária reciprocidade entre
existência, estrutura e uso dessas centenas de línguas. Pode, educador e educando, fazem do tema Pluralidade Cultural fim
com isso, promover não só a reflexão metalinguística, como e meio.
também a compreensão de como se constituem identidades e Do ponto de vista psicopedagógico, conhecimentos que
singularidades de diferentes povos e etnias. tragam ao professor a compreensão do fracasso e do sucesso
Saber da existência de diferentes formas de bilinguismos e que se apresentam como sendo mais da escola e de sua
multilinguíssimos, presentes em diferentes regiões — assim atividade didática, e não só dos alunos, levam à redefinição de
como ver-se reconhecida e presente neste tema transversal, procedimentos em sala de aula.
aberto às suas próprias singularidades regionais, étnicas e Evitar atitudes que “produzam” o fracasso escolar é uma
culturais — será extremamente relevante na construção desse possibilidade aberta ao professor. Um dos aspectos mais
conhecimento e na valorização do que é a pluralidade cultural complexos quanto ao atendimento adequado à criança e ao
brasileira. São exemplos de tais bilinguismos e adolescente refere-se às expectativas de homogeneização.
multilinguíssimos as vivências de escolas indígenas, escolas de Várias contribuições se apresentam para a conduta
regiões de fronteiras geopolíticas do Brasil, escolas vinculadas pedagógica, sendo, porém, a mais decisiva aquela que
a grupos étnicos, existentes em particular em grandes centros intervém nas situações de discriminação, seja qual for o
urbanos, regionalismos na fala cotidiana de tantas escolas motivo.
espalhadas pelo País. Com relação à discriminação, sabe-se que um de seus
Por outro lado, o desenvolvimento de outras linguagens fundamentos psicológicos é o medo. Falar sobre isso
será muito importante, permitindo transversalizar, em explicitamente, como um dos muitos e complexos motivos que
particular, com Educação Física e Arte. A música, a dança, as levam à discriminação, permite que se possa tratar o medo
artes em geral, vinculadas aos diferentes grupos étnicos e a como o que é de fato: manifestação da insegurança, muitas
composições regionais típicas, são manifestações culturais que vezes plantada em cada um de maneira arcaica, que pode ser
a criança e o adolescente poderão conhecer e vivenciar. Dessa revertida apenas quando encarada e trabalhada.
forma enriquecerão seu conhecimento sobre a diversidade É preciso esclarecer, também, que a discriminação ocorre
presente no Brasil, enquanto desenvolvem seu próprio como uma relação em que há dois polos. No polo que
potencial expressivo. discrimina, o medo se apresenta como reação ao
desconhecido, visto como ameaçador. Quem tem a cor da pele
Conhecimentos populacionais diferente, ou fala de tradições — étnicas, religiosas, culturais
— desconhecidas, confronta seu interlocutor com sua própria
Embora estejam presentes ao longo da discussão referente ignorância de mundos diferentes do seu. É a figura do
à trajetória das etnias no Brasil, os conhecimentos “estranho”, do “estrangeiro”, que, por escapar da apreensão
populacionais precisam ser aqui lembrados, por constituírem comum, pode ser rotulado de “esquisito”.
fonte de informação relevante, sobretudo a partir do segundo Esse medo se alimenta de si mesmo, ou seja, quanto mais
ciclo. medo, mais se busca distância do objeto do medo. Há estudos
Dados estatísticos sobre a população brasileira conforme que demonstram que nos conflitos interétnicos, quanto maior
distribuição regional, densidade demográfica, em relação com o medo, maior a violência presente nas reações.
dados como renda per capita, PIB per capita, fornecem um Uma forma de trabalhar e superar esse tipo de medo é com
quadro informativo de como se vive no Brasil. Cotejado com informação. Trata-se, portanto, de buscar conhecer aquele que
informações provenientes de levantamentos feitos pelos atemoriza. Esse conhecimento se dá por intermédio de textos,
próprios alunos (via correspondência, imprensa, etc.), fitas de vídeo, jornais e boletins informativos de grupos
significarão a possibilidade de um conhecimento mais organizados pelas diferentes comunidades. Contudo, a fonte
adequado sobre o Brasil e oportunidade, nas séries finais, de mais importante de conhecimento desse “desconhecido que
discussão, de debates acerca de políticas públicas alternativas atemoriza” é ele mesmo. Assim, trata-se de, potencializando ao
que beneficiem a vida da população. máximo a prática da transversalidade, oferecer informações,
Da mesma forma, História e Geografia, Ciências Naturais, nas diversas áreas, que permitam esse conhecimento mútuo,
Orientação Sexual e Saúde possibilitam discutir dados tanto dos alunos entre si, quanto em relação a concidadãos,
referentes à mortalidade infantil, abortos e esterilizações, com brasileiros de diferentes origens socioculturais. Trata-se
as consequências daí advindas. Um tratamento enriquecedor também de recuperar, de forma não-depreciativa,
da temática dos direitos reprodutivos propicia também a conhecimentos que os grupos étnicos e sociais têm,
análise da relação com questões de raça/etnia. permitindo, ainda, que se evidencie o saber emergente, aquele
A escolha dos conteúdos e abordagens pode nortear-se por que está em elaboração como parte do processo social de
questões como: quais características são relevantes quanto à conscientização e afirmação de identidades e singularidades.
relação entre composição populacional, aspectos culturais, No polo em que se encontra aquele que é discriminado, o
distribuição de renda, qualidade de vida e o papel da medo se apresenta como ameaça permanente, na qual a
educação? Que relações perversas estabeleceram-se, discriminação se dirige à sua forma extrema, aquela na qual se
historicamente, entre exclusão socioeconômica e busca eliminar fisicamente quem é discriminado. É importante
determinados grupos, que estão exigindo ações específicas? observar que a discriminação reveste-se sempre de conteúdos
Que dados são relevantes para uma compreensão integrada de de violência, ainda que em sua forma simbólica. Tal violência
áreas sociais, como educação e saúde, por exemplo? provoca o medo da eliminação, seja de forma extrema, seja
Esses conhecimentos poderão, assim, oferecer subsídios manifestada como exclusão. Assim, é decisivo propiciar
preliminares que permitam construir a compreensão do elementos ao aluno para que repudie toda forma de exclusão
entrelaçamento de componentes sociais, culturais e social, por meio sobretudo da prática cotidiana de
populacionais na definição da qualidade de vida, além de procedimentos voltados para o princípio da equidade.
possíveis formas de ação voltadas para a melhoria dessa
qualidade. ENSINO E APRENDIZAG EM NA
PERSPECTIVA DA PLURALIDADE CULTURAL
Conhecimentos psicológicos e pedagógicos
O tema Pluralidade Cultural propõe que sejam revistas e
Alguns aspectos presentes na escola, ligados à questão da transformadas práticas arraigadas, inaceitáveis e
expectativa, da estigmatização, da autoestima, da conduta na inconstitucionais, enquanto se ampliam conhecimentos acerca

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das gentes do Brasil, suas histórias, trajetórias em território possa ser trabalhada como parte de suas circunstâncias de
nacional, valores e vidas. O trabalho volta-se para a eliminação vida, que não seja impeditiva do desenvolvimento de suas
de causas de sofrimento, de constrangimento e, no limite, de potencialidades pessoais.
exclusão social da criança e do adolescente. Além disso, o tema É possível identificar no cotidiano as muitas manifestações
traz oportunidades pedagogicamente muito interessantes, que permitem o trabalho sobre pluralidade: os fatos da
motivadoras, que entrelaçam escola, comunidade local e comunidade ou comunidades do entorno escolar, as notícias
sociedade: ampliando questões do cotidiano para o âmbito de jornal, rádio e TV, as festas das localidades, estratégias de
cosmopolita e vice-versa, colocando-se assim, intercâmbio entre escolas de diferentes regiões do Brasil, e de
simultaneamente, como objetivo e como meio do processo diferentes municípios de um mesmo Estado.
educacional. A escola deve trabalhar atenta às limitações éticas. Assim,
Para os alunos, o tema da Pluralidade Cultural oferece quando se fala de alguma comunidade, é preciso ter certeza de
oportunidades de conhecimento de suas origens como que se referem a conhecimentos reconhecidos por essas
brasileiro e como participante de grupos culturais específicos. comunidades como verdadeiros. Então, como conseguir
Ao valorizar as diversas culturas que estão presentes no Brasil, informações? Nesse sentido, a prática de intercâmbio escolar
propicia ao aluno a compreensão de seu próprio valor, e da consulta a órgãos comunitários e de imprensa, inclusive
promovendo sua autoestima como ser humano pleno de das próprias comunidades, é instrumento pedagógico
dignidade, cooperando na formação de autodefesas a privilegiado. Com isso, será possível transformar a
expectativas indevidas que lhe poderiam ser prejudiciais. Por possibilidade de obter informações das comunidades em fator
meio do convívio escolar possibilita conhecimentos e de corresponsabilização social pelos rumos da discussão, da
vivências que cooperam para que se apure sua percepção de formação de crianças e adolescentes.
injustiças e manifestações de preconceito e discriminação que É importante abrir espaço para que a criança e o
recaiam sobre si mesmo, ou que venha a testemunhar — e para adolescente possam manifestar-se. Viver o direito à voz é
que desenvolva atitudes de repúdio a essas práticas. experiência pessoal e intransferível, que permite um oportuno
No âmbito instrumental, o tema permite a explicitação dos e rico trabalho de Língua Portuguesa. Assim também o
direitos da criança e do adolescente referentes ao respeito e à exercício efetivo do diálogo, voltado para a troca de
valorização de suas origens culturais, sem qualquer informações sobre vivências culturais e esclarecimentos
discriminação. Exige do professor atitudes compatíveis com acerca de eventuais preconceitos e estereótipos é componente
uma postura ética que valoriza a dignidade, a justiça, a fortalecedor do convívio democrático.
igualdade e a liberdade. Exige, também, a compreensão de que
o pleno exercício da cidadania envolve direitos e O cotidiano da escola permite viver algo da beleza da
responsabilidades de cada um para consigo mesmo e para com criação cultural humana em sua diversidade e multiplicidade.
os demais, assim como direitos e deveres coletivos. Traz, para Partilhar um cotidiano onde o simples “olhar-se” permite a
os conteúdos relevantes no conhecimento do Brasil, aquilo que constatação de que são todos diferentes traz a consciência de
diz respeito à complexidade da sociedade brasileira: sua que cada pessoa é única e, exatamente por essa singularidade,
riqueza cultural e suas contradições sociais. insubstituível.
Ao mostrar as diversas formas de organização social O simples fato de os alunos serem provenientes de
desenvolvidas por diferentes comunidades étnicas e diferentes famílias, diferentes origens, assim como cada
diferentes grupos sociais, explicita que a pluralidade é fator de professor ter, ele próprio, uma origem pessoal, e os outros
fortalecimento da democracia pelo adensamento do tecido auxiliares do trabalho escolar terem também, cada qual,
social que se dá, pelo fortalecimento das culturas e pelo diferentes histórias, permite desenvolver uma experiência de
entrelaçamento das diversas formas de organização social de interação “entre diferentes”, na qual cada um aprende e cada
diferentes grupos. um ensina. O convívio, aqui, é explicitação de aprendizagem a
Esse tema necessita, portanto, que a escola, como cada momento: o que um gosta e o outro não, o que um aprecia
instituição voltada para a constituição de sujeitos sociais e ao e o outro, talvez, despreze.
afirmar um compromisso com a cidadania, coloque em análise Aprender a posicionar-se de forma a compreender a
suas relações, suas práticas, as informações e os valores que relatividade de opiniões, preferências, gostos, escolhas, é
veicula. Assim, a temática da Pluralidade Cultural contribuirá aprender o respeito ao outro. Ensinar suas próprias práticas,
para a vinculação efetiva da escola a uma sociedade histórias, gestos, tradições, é fazer-se respeitar ao dar-se a
democrática. conhecer.
Para o aluno, importa ter segurança da aceitação de suas
Ensinar Pluralidade Cultural ou viver Pluralidade características, ter disponível a abertura para que possa dar-
Cultural? se a conhecer naquelas que sejam experiências particulares
suas ou do grupo humano a que se vincule e receber incentivo
Pela educação pode-se combater, no plano das atitudes, a para partilhar com seus colegas a vivência que tenha fora do
discriminação manifestada em gestos, comportamentos e mundo da escola, mas que possa ali ser referida, como
palavras, que afasta e estigmatiza grupos sociais. Contudo, ao contribuição sua ao processo de aprendizagem. Resumindo,
mesmo tempo em que não se aceita que permaneça a atual trata-se de oferecer à criança, e construir junto com ela, um
situação, em que a escola é cúmplice, ainda que só por omissão, ambiente de respeito, pela aceitação; de interesse, pelo apoio
não se pode esquecer que esses problemas não são à sua expressão; de valorização, pela incorporação das
essencialmente do âmbito comportamental, individual, mas contribuições que venha a trazer.
das relações sociais, e como elas têm história e permanência. É claro que aquilo que se apresenta para o aluno é idêntico
O que se coloca, portanto, é o desafio de a escola se constituir ao que se apresenta para o professor e demais funcionários da
um espaço de resistência, isto é, de criação de outras formas escola: uma organização escolar que saiba estar atenta às
de relação social e interpessoal mediante a interação entre o singularidades dos profissionais que ali atuam, respeitando
trabalho educativo escolar e as questões sociais, suas características próprias, entendendo que esse respeito é
posicionando-se crítica e responsavelmente perante elas. a base para a atuação profissional, e tal respeito não é
Assim, cabe à escola buscar construir relações de confiança incompatível com o respeito às normas institucionais, embora
para que a criança possa perceber-se e viver, antes de mais possa, às vezes, exigir flexibilidade em sua aplicação (por
nada, como ser em formação, e para que a manifestação de exemplo, os feriados religiosos).
características culturais que partilhe com seu grupo de origem

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Tal atuação não é simples e exige por parte do professor a entre o reforço de atitudes inadequadas e a chance de abrir
consciência de que ele mesmo estará aprendendo, uma vez que novas possibilidades de diálogo, respeito e solidariedade.
nessa área a prática do acobertamento é muito mais frequente
que a prática do desvelamento. A prática do desvelamento exige perspicácia para
A prática do acobertamento é a mais usual, porque assim responder adequadamente a diferentes situações que serão,
se estabeleceu no campo social. Vive-se numa realidade na na maioria das vezes, imprevisíveis. Devido a essa
qual a simples menção da palavra discriminação assusta, uma imprevisibilidade, a forma de desenvolver tal perspicácia é
vez que se convencionou aceitar sem discussões a ideia de que preparando-se com leituras, buscando informações e
no Brasil todos se entendem e são cordiais e pacíficos (o “mito vivências, estando atento aos gestos do cotidiano, explicitando
da democracia racial”). Mais ainda, muitas vezes a ideia de valores, refletindo coletivamente na equipe de professores.
aceitar que o preconceito existe gera tanto o medo de ser Desenvolve-se, assim, como uma forma de procurar entender
acusado de ser preconceituoso como o medo de ser vítima de a complexidade da vida e do comportamento humano.
preconceito. Essa atitude é o que se chama, popularmente, de Essa informação deve ser buscada de maneira intencional
“política de avestruz”, na qual, por se fazer de conta que um e pode se fazer de maneira lúdica: conhecer os cantos, as
problema não existe, tem-se a expectativa de que ele deixe, de lendas, as danças, as peculiaridades nas quais uma criança
fato, de existir. pode ensinar a outra aquilo que é característico do grupo
Na escola, a prática do acobertamento se dá quando se humano do qual participa.
procura diluir as evidências de comportamento Esse conhecimento recíproco respeitoso é mais que verbal.
discriminatório, com desculpas muitas vezes evasivas. Um Deverá incluir linguagens diversificadas, bem como a
professor pode ter tratado um aluno mal “porque estava possibilidade de o aluno assumir o papel de educador naquilo
nervoso”, ou a ofensa de uma criança contra outra é tratada que lhe seja próprio. Nesse sentido, o professor deverá
como se fosse um simples descuido, uma distração. cooperar, ao mesmo tempo em que aprende com o restante da
classe. Observe-se que essa vivência, em si, será extremamente
A prática do desvelamento, que é decisiva na superação da importante, por trazer para o aluno a possibilidade de
discriminação, exige do professor informação, discernimento constatar que a sociedade se apresenta, em sua complexidade,
diante de situações indesejáveis, sensibilidade ao sentimento como um constante objeto de estudo e aprendizagem, onde
do outro e intencionalidade definida na direção de colaborar todos sempre têm a aprender.
na superação do preconceito e da discriminação. Assim, a problemática que envolve a discriminação étnica,
A informação deverá permitir um repertório básico cultural e religiosa, ao invés de se manter em uma zona de
referente à pluralidade étnica suficiente tanto para identificar sombra que leva à proliferação da ambiguidade nas falas e nas
o que é relevante para a situação escolar como para buscar atitudes, alimentando com isso o preconceito, pode ser trazida
outras informações que se façam necessárias. à luz, como elemento de aprendizagem e crescimento do grupo
O discernimento é indispensável, de maneira particular, escolar como um todo.
quando ocorrem situações de discriminação no cotidiano da
escola. Enfrentar adequadamente o ocorrido, significa tanto Ensinar a pluralidade ou viver a pluralidade?
não escapar para evasivas quanto não resvalar para o tom de Sem dúvida, pluralidade vive-se, ensina-se e aprende-se. É
acusação. Se o professor se cala, ou trata do ocorrido de trabalho de construção, no qual o envolvimento de todos se dá
maneira ambígua, estará reforçando o problema social; se pelo respeito e pela própria constatação de que, sem o outro,
acusa, pode criar sofrimento, rancor e ressentimento. Assim, nada se sabe sobre ele, a não ser o que a própria imaginação
discernir o ocorrido, no convívio, é tratar com firmeza a ação fornece.
discriminatória, esclarecendo o que é o respeito mútuo, como
se pratica a solidariedade, buscando alguma atividade que O BJETIVOS GERAIS DE PLURALIDADE
possa exemplificar o que diz, com algo que faça, junto com seus CULTURAL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
alunos.
Aqui se coloca a sensibilidade em relação ao outro. O tema da Pluralidade Cultural busca contribuir para a
Compreender que aquele que é alvo da discriminação sofre de construção da cidadania na sociedade pluriétnica e
fato, e de maneira profunda, é condição para que o professor, pluricultural. Tendo esse objetivo maior em vista, propõe o
em sala de aula, possa escutar até mesmo o que não foi dito. desenvolvimento das seguintes capacidades:
Como a história do preconceito é muito antiga, muitos dos - conhecer a diversidade do patrimônio etno-cultural
grupos vítimas de discriminação desenvolveram um medo brasileiro, tendo atitude de respeito para com pessoas e
profundo e uma cautela permanente como reação. O professor grupos que a compõem, reconhecendo a diversidade cultural
precisa saber que a dor do grito silenciado é mais forte do que como um direito dos povos e dos indivíduos e elemento de
a dor pronunciada. Poder expressar o que sentiu diante da fortalecimento da democracia;
discriminação significa a chance de ser resgatado da - valorizar as diversas culturas presentes na constituição
humilhação, e de partilhar com colegas seus sentimentos. Ou do Brasil como nação, reconhecendo sua contribuição no
seja, trata-se de ensinar a dialogar sobre o respeito mútuo, processo de constituição da identidade brasileira;
num gesto que pode transformar o significado do sofrimento, - reconhecer as qualidades da própria cultura, valorando-
ao fazer do ocorrido ocasião de aprendizagem. A sensibilidade, as criticamente, enriquecendo a vivência de cidadania;
aqui, exige a atenção para a reação que a criança esteja - desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para
apresentando, para sua maior ou menor disposição para tratar com aqueles que sofrem discriminação;
do assunto exatamente no momento ocorrido, ou em situação - repudiar toda discriminação baseada em diferenças de
posterior. raça/etnia, classe social, crença religiosa, sexo e outras
A intencionalidade se faz necessária como produto de uma características individuais ou sociais;
reflexão que permita ao professor perceber o papel que - exigir respeito para si, denunciando qualquer atitude de
desempenha nessa questão. É também a capacidade de discriminação que sofra, ou qualquer violação dos direitos de
perceber que tem o que trabalhar em si mesmo, e isso não o criança e cidadão;
impede de trilhar, junto com seus alunos, o caminho da - valorizar o convívio pacífico e criativo dos diferentes
superação do preconceito e da discriminação. Trata-se de ter a componentes da diversidade cultural;
certeza de que cada um de seus gestos pode fazer a diferença - compreender a desigualdade social como um problema
de todos e como uma realidade passível de mudanças.

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PLURALIDADE CULTURAL A temática encontra-se proposta também de forma aberta,


2ª PARTE porque se propõe a relevância da integração com a sociedade,
com movimentos sociais, com organizações que podem trazer
OS CONTEÚDOS DE PLURALIDADE CULTURAL uma contribuição de extremo relevo para a ampliação do
PARA O PRIMEIRO E SEGUNDO CICLOS universo da escola. De fato, conteúdos contemplados nessa
temática têm sido formulados e reformulados em ritmo
Critérios de seleção intenso, estando presentes no cotidiano de forma muitas vezes
decisiva. Participar desse processo é essencial para a escola,
A amplitude do tema Pluralidade Cultural determinou a dentro dos objetivos que se propõe.
seleção dos conteúdos voltados para uma aproximação do Portanto, o que se apresenta aqui é uma referência, que
conhecimento da realidade cultural brasileira, quanto à sua incorpora avanços do conhecimento no tema, reivindicações
formação histórica e configuração atual. Espera-se que os antigas de movimentos sociais vinculados à temática
conteúdos propostos sirvam de suporte para que o professor racial/étnica, divulgação de direitos civis, sociais e culturais
possa contemplar a abrangência solicitada pelo tema, estabelecidos na Constituição Federal, pelos quais ainda há
adequando-os, ao mesmo tempo, aos objetivos e à realidade do muito por se trabalhar, coletivamente, em prol de seu pleno
seu trabalho, assim como às possibilidades de seus alunos. atendimento, respeitadas as especificidades do trabalho
Os critérios utilizados para seleção dos conteúdos foram os escolar. Embora possam parecer numerosos, encontram-se
seguintes: transversalizados com conteúdos de áreas, representando
- a relevância sociocultural e política, considerando a uma primeira aproximação da criança com o assunto, que
necessidade e a importância da atuação da escola em fornecer retornará inúmeras vezes ao longo de sua vida de estudante e
informações básicas que permitam conhecer a ampla cidadão.
diversidade sociocultural brasileira, divulgar contribuições
dessas diferentes culturas presentes em território nacional e PLURALIDADE CULTURAL
eliminar conceitos errados, culturalmente disseminados, E A VIDA DAS CRIANÇAS NO BRASIL
acerca de povos e grupos humanos que constituem o Brasil;
- a possibilidade de desenvolvimento de valores básicos Este bloco trata da diversidade sociocultural brasileira, do
para o exercício da cidadania, voltados para o respeito ao ponto de vista educacional, a partir dos elementos que são
outro e a si mesmo, aos Direitos Universais da Pessoa Humana comuns aos grupos culturais: vida sociofamiliar,
e aos direitos estabelecidos na Constituição Federal; temporalidade, espacialidade, organização política, educação.
- a possibilidade de capacitar o aluno a compreender, Trata da singularidade do Brasil, na forma como aqui se
respeitar e valorizar a diversidade sociocultural e a apresenta uma população de origem diversificada, portadora
convivência solidária em uma sociedade democrática. de culturas que se preservaram em suas especificidades, ao
mesmo tempo em que se amalgamaram em novas
Blocos de conteúdos configurações. Trata de estruturas que são comuns a todos,
dos entrelaçamentos socioculturais que permitem valorizar
Os conteúdos aqui elencados se apresentam na vida social aquilo que é próprio da identidade de cada grupo, e aquilo que
de modo integrado, interagindo no contexto amplo da cultura. permite uma construção comum, onde cabe pronunciar o
Para efeito didático, esses conteúdos receberam tratamento pronome “nós”. O objetivo didático, assim, é oferecer
por blocos. Propõem-se, neles, núcleos temáticos que se conteúdos que possibilitem aproximações da noção de
entrelaçam e se aplicam reciprocamente. Essa seleção visa a igualdade quanto aos direitos, quanto à dignidade e que
oferta de vivências e informações à criança, que propiciem a embasem a valorização da diversidade cultural.
percepção de uma situação social e cultural mais ampla e Uma característica marcante deste bloco será a abordagem
complexa que seu mundo imediato. Cabe ao professor, na dos conteúdos, tomando como núcleo a vida da criança.
criação de sua programação, e à escola, na decisão de seu Trabalhar os ciclos da vida, tal como se apresentam em
projeto educativo, priorizarem tais conteúdos conforme a diferentes grupos étnicos, culturais e sociais, será
especificidade do trabalho a ser desenvolvido. É importante oportunidade de valorização das diferentes etapas da vida, de
lembrar que o estreito vínculo existente entre os conteúdos tomada de consciência de que o caminho da maturidade e
selecionados e a realidade local, a partir mesmo das envelhecimento biológico é trilhado por todos, e será também
características culturais locais, faz com que este trabalho possa por ela.
incluir e valorizar questões da comunidade imediata à escola. A organização familiar como instituição em transformação
Contudo, a proposta levanta, também, a necessidade de no mundo contemporâneo, e as múltiplas formas em que se
referenciais culturais voltados para a pluralidade apresenta; a importância de se partilhar as responsabilidades
característica do Brasil, como forma de compreender a familiares, nas quais é básico o atendimento às necessidades
complexidade do País, bem como de ampliação de horizontes da criança; o cuidado com os idosos; esses são temas a serem
para o trabalho da escola como um todo. Lembra-se, ainda, que tratados tanto de forma a que a criança possa desenvolver
os conteúdos aqui definidos destinam-se ao trabalho com o referenciais atitudinais de respeito mútuo e valorização
primeiro e o segundo ciclos do ensino fundamental. quanto de maneira a permitir o reconhecimento de como se
Pelo fato de a temática da Pluralidade Cultural ser muito processa essa organização básica em diferentes grupos
abrangente e complexa, tanto do ponto de vista social quanto étnicos, sociais e culturais. Compreender a importância das
do teórico, a definição dos conteúdos foi feita de maneira famílias extensas, nas quais o referencial não se restringe ao
ampla e detalhada. Com isso, buscou-se oferecer a parentesco, assim como o fato de que laços de amizade muitas
possibilidade de que sejam selecionados e abordados em vezes propiciam tanto ou maior apoio que os laços de sangue,
diferentes aproximações e níveis de aprofundamento, fornecerá elementos para o aluno compreender que existem
conforme características e peculiaridades regionais, locais, da vínculos “herdados”, por assim dizer, e vínculos escolhidos,
escola e da sala de aula. Assim, se num Estado há prevalência que expressam a liberdade de consciência e a liberdade de
de determinado grupo na composição populacional, a associação.
organização dos conteúdos refletirá essa característica,
atendendo de forma mais adequada à realidade da escola, sem Recomenda-se enfaticamente que esses conteúdos sejam
deixar de contemplar o conjunto dos conteúdos que se voltam trabalhados por meio do intercâmbio com outras crianças,
para uma percepção do Brasil como um todo. tanto da mesma classe ou escola quanto de outras, e mesmo de

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diferentes cidades ou Estados, por correspondência, estruturação de vínculos afetivos, com finalidade de
privilegiando a transversalização com os conteúdos de Língua constituição de família ou convivência comunitária.
Portuguesa, no que se refere à expressão, e com História e - Participação do homem e da mulher na vida doméstica, o
Geografia, na contextualização dos contatos estabelecidos. papel das crianças, o cuidado com os idosos, o sustento, com
Em relação às questões da espacialidade, os conteúdos ênfase no apoio mútuo e solidariedade que se constrói no
indicados buscam possibilitar a constatação de que diferentes cotidiano, com a divisão das responsabilidades familiares.
grupos humanos se relacionam de diferentes formas com o - Relações de amizade e vizinhança, valorizando a
espaço, criando soluções alternativas, por exemplo, para a liberdade de escolha de vínculos socioafetivos, como elemento
questão das moradias: casas, apartamentos, condomínios, de liberdade de consciência e de associação.
favelas, casas sobre palafitas, ocas e outras habitações - Participação das crianças na vida das comunidades: ciclos
indígenas. Compreender semelhanças e diferenças entre a de trabalho, lazer, festas, ritos, etc.
aldeia, a vila, a cidade e a metrópole colaborará para ampliar a - Interesse por diferentes formas de organização social,
percepção acerca da vida de diferentes sociedades. Explorar a que se expressam na diversidade presente em diferentes
riqueza da relação dos povos indígenas com o meio ambiente, grupos e povos no Brasil, valorizando a liberdade de criar
os problemas característicos de regiões de intensa diferentes organizações comunitárias.
urbanização e a busca de acomodação mínima são exemplos
de assuntos que possibilitam transversalizar este conteúdo Pluralidade e educação
com Geografia. - Valorização da capacidade humana de criar instituições
O conhecimento das relações estabelecidas com o tempo, voltadas para o bem comum, como a escola.
pelos seres humanos de diferentes origens culturais, auxiliam - Diferentes formas de transmissão de conhecimento:
o aluno a ressignificar essa dimensão. Em uma civilização que práticas educativas e educadores nas diferentes culturas.
associa tempo predominantemente a relógio, recolocar a - Vida escolar: companheirismo, descoberta,
temática da marcação do tempo pela lua, ou pelo sol, a aprendizagem, espaço de conquista, espaço de trabalho,
existência de outros calendários, propicia — espaço de cidadania, espaço de prazer.
transversalizando com Ciências Naturais, Geografia e História - Tipos e oferta de escolas no Brasil: escola urbana, escola
— tratar de culturas que marcam fatos e festas de suas rural, escola indígena e de outras comunidades étnicas, escola
tradições por outros paradigmas, diferentes daqueles dados pública, nas diversas formas em que se apresenta, escola
pelo calendário civil, ou pelos feriados oficiais, tais como particular, laica e confessional, escola cooperativa, escola
índios, judeus, muçulmanos, asiáticos de diferentes origens, comunitária.
tradições africanas. A transversalização com História e
Geografia é imediata, facilitando a compreensão de outras CONSTITUIÇÃO DA PLURALIDADE CULTURAL
perspectivas de temporalidades, exigidas para a abordagem NO BRASIL E SITUAÇÃO ATUAL
histórica.
Como o núcleo de abordagem é a vida da criança, tratar de Este conteúdo trata de como se constituiu, se constitui, por
como se processa a educação em diferentes grupos humanos, sua permanente reelaboração, e se apresenta a face cultural
de quem desempenha o papel de educador, conforme a complexa e cheia de potencial do País, com sobreposição de
organização cultural, e da própria escola, é muito importante. tempos, no social, no cultural e no individual. Para conhecer a
Oferecer informações básicas sobre diferentes tipos de escola situação dos diferentes povos que aqui vivem e valorizá-los, é
existentes no Brasil, permitirá que a criança se localize nesse necessário trabalhar aspectos ligados às suas origens
universo, ao mesmo tempo em que valoriza a escolarização e continentais: a presença no continente e em território nacional
essa instituição, como uma daquelas que é voltada para o bem anterior ao descobrimento, no caso dos indígenas; a vida
comum. culturalmente complexa presente na África, desde antes da
mercantilização da escravidão; e a vida nos continentes de
Conteúdos a serem trabalhados: origem de conquistadores e imigrantes — Europa, Ásia,
Oriente Médio, África — ao longo da história.
Espaço e pluralidade Esse tipo de abordagem permitirá entender a
- Habitações e organização espacial de diferentes complexidade das origens brasileiras como uma confluência
sociedades. de heranças que se preservaram, vencendo políticas explícitas
- Diferentes formas de interação com o ambiente. de homogeneização cultural havidas no passado, resistindo,
- Mobilidade no espaço: sedentarismo e nomadismo, recolocando-se, recriando-se, ativas em diferentes momentos
migrações, etc. da história. Recuperar as origens dessas influências é valorizar
- Espaços de vivência comum (para os jogos, as festas, as os povos que as trouxeram e seus descendentes, reconhecendo
orações, os tratamentos de saúde) e espaços de vivência suas lutas pela defesa da dignidade e da liberdade, atuando na
particular (as moradias). construção cotidiana da democracia no Brasil, dando voz a um
passado que se faz presente em seres humanos que afirmam e
Tempo e pluralidade reafirmam sua dignidade na herança cultural que carregam.
- Vínculos geracionais no âmbito social e familiar: Não se trata de um estudo detalhado das histórias dos
transmissão de contos tradicionais, hábitos alimentares, diversos continentes, mas de considerá-las na perspectiva de
registros documentais, etc. ampliar o horizonte de referência do aluno, despertando sua
- Diferentes abordagens do tempo, conforme diferentes curiosidade para o mundo que o cerca. Será a possibilidade de
culturas: ritmos, marcação do tempo, calendários, datas desenvolver um novo olhar sobre fatos e relações que os meios
relevantes. de comunicação aproximam da criança, vinculando-os à sua
realidade. Será também a oportunidade de oferecer
Vida sociofamiliar e comunitária informações que contribuam para a superação do preconceito
- Ciclos de vida: infância, puberdade, juventude, vida e da estigmatização, trabalhando a valorização da história de
adulta, velhice. povos que, tendo construído o Brasil, foram injustiçados, como
- Hábitos familiares e comunitários em diferentes etnias e os índios e negros.
diferentes regiões do Brasil.
- Tipos de família: nuclear, monoparental, reestruturada, Outros povos, de outras etnias, em outros continentes,
extensa, comunitária, lembrando que há múltiplas formas de sofreram a escravidão como resultado de processos de guerra,

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conquista e submissão, em outros momentos da história da - Reconhecimento da contribuição da diversidade de


humanidade. Nenhum processo, porém, representou tanto origem dos grupos humanos presentes na constituição da
absurdo como a exacerbação do escravismo, com sua ampla sociedade brasileira.
mercantilização no continente africano nos séculos XVII, XVIII
e XIX. Para sustentar-se, inúmeras teorias e justificativas Trajetórias das etnias no Brasil
inaceitáveis foram construídas e disseminadas como senso - Vida nas aldeias indígenas antes do contato; diversidade
comum, consolidando-se ao gerar, ao término da escravidão, das etnias indígenas: os Tupinambá da costa e os grupos Jê do
racismo, discriminação e exclusão. Esse processo significou o Brasil Central; os Pano, os Mura, os Mundurucu e as mais de
alerta para que o ser humano percebesse que a escravidão é 200 etnias presentes em território nacional.
sempre inaceitável e a liberdade é fundamental no - Relações de conquista e colonização: catequese,
estabelecimento da justiça. aldeamentos, frentes de conquista, com bandeiras e entradas
Todos os grupos sociais e étnicos têm histórias. Essas para o sertão; escravização de índios e outras práticas de
histórias são distintas entre si e também distintas do que se dominação e exclusão nos períodos colonial e imperial;
convencionou como história do Brasil, no singular. Embora as políticas de aculturação dos povos indígenas.
trajetórias das culturas e etnias no Brasil já façam parte dos - Guerras, rebeliões e outras formas de resistência
conteúdos trabalhados pela escola, com referência aos índios, indígena.
aos negros, aos imigrantes, o que se propõe são novos - Africanos trazidos para o Brasil, escravizados, a violência
conteúdos, que buscam narrar a história do ponto de vista dos da privação da escolha de ficar em seu continente de origem,
grupos sociais que a produziram. Por exemplo, pouco se tem distinta de todas as formas de imigração; tráfico e sistema
falado nas escolas sobre a escravização dos índios e os escravista nas diferentes regiões do Brasil.
movimentos de reação destes ao domínio europeu, sobre os - Movimentos contra a escravidão, desenvolvidos pelos
mecanismos de resistência desenvolvidos pelos africanos próprios africanos e seus descendentes no cativeiro, com base
escravizados e seus descendentes e as formas criativas de na preservação da cultura e da identidade, em alternativas de
sobrevivência na sociedade escravocrata e nos quilombos. organização sociopolítica como as irmandades, na celebração
A existência de cultura, tecnologia e modos de vida de festas e ritos clandestinos, no desenvolvimento de
próprios desses grupos também são pontos obscuros de uma sincretismos.
história do Brasil que está para ser contada: a história dos - Rebeliões, revoltas, fugas e resistência organizada dos
negros, dos índios, dos imigrantes e migrantes. Essas questões negros escravizados; quilombos como mecanismo de
passaram em branco no ensino tradicional de História do resistência sistemática e alternativa de organização
Brasil e nos livros didáticos, e estão por requerer um econômica; Quilombo de Palmares, vivência democrática de
tratamento cuidadoso por parte da escola. pluralidade, símbolo de luta.
Trata-se de voltar a atenção para o ponto de vista dos - Movimentos abolicionistas.
grupos sociais: o que significou a experiência da escravidão - Fim do escravismo, discriminação e exclusão dos
para a população de índios e negros? Como se desdobraram afrodescendentes da vida social e econômica, consequências
infinita e variadamente as práticas de resistência? O que perversas sobre os afrodescendentes até os dias atuais.
motivou milhares de famílias a imigrarem? Qual o sentido do - Influências culturais de invasões estrangeiras, guerras e
deslocamento interno vivido ainda hoje por uma parte conflitos de fronteiras no período colonial e imperial, nas
considerável da população, incorrendo no abandono de diversas regiões do Brasil.
parentes, territórios, hábitos e culturas, de técnicas de - Condições na chegada dos imigrantes em diferentes
trabalho eficientes e tradicionais? O tema da Pluralidade regiões, em diferentes momentos históricos, inserção no
Cultural propõe uma visão ampla sobre a trajetória dessas mercado de trabalho, laços culturais e sociais.
culturas e etnias no Brasil, acreditando ser esta uma forma de - Levas imigratórias: origens dos imigrantes, sua relação
resgatar a dignidade dos povos também na história e por meio com o sistema econômico.
dela. - Diversidade religiosa e cultural ampla, trazida pelos
Este bloco de conteúdos mantém grande afinidade com as imigrantes, nem sempre bem recebida pelo sistema
áreas de História e Geografia na medida em que apresenta a dominante, em épocas de nacionalismo exacerbado e
dinâmica das culturas que formaram historicamente o Brasil, aculturação imposta.
e o constituem. - Grupos tradicionais do Brasil, representantes da
diversidade cultural gerada internamente, em interação com o
Conteúdos a serem trabalhados: meio ambiente, vinculados, cada qual, a diferentes regiões do
País, caracteristicamente ricos em tradição oral: caipira,
Continentes e terras de origem dos povos do Brasil sertanejo, ribeirinho, caiçara, caboclo, pantaneiro, seringueiro,
- Povos nativos, culturas pré-colombianas na América, em habitante do mangue e outros.
geral, e na América Latina, em particular, ocupação imemorial - Fatores socioeconômicos motivadores de migrações.
do território pelos povos indígenas, sua diversidade
sociocultural atual. Situação atual
- Europa, sede da formação civilizatória dos - Conhecimento da situação populacional no Brasil;
conquistadores, nos primórdios, e de grupos de imigrantes, respeito e valorização das diversas manifestações das
relações históricas com outros continentes, vínculos atuais. diversidades.
- África, berço da humanidade, complexa organização - Conhecimento e valorização das características
socioeconômica e política no período pré-colonial, culturas populacionais da região da escola, com relação às influências
milenares e choque da mercantilização da escravidão, culturais de povos nativos, afrodescendentes, permanências e
demandas e conquistas contemporâneas. levas imigratórias, emigratórias, migratórias, grupos
- Oriente Médio, berço da civilização ocidental, tradicionais, valorizando a contribuição recebida de todos e de
coexistência da diversidade, esforços atuais de construção da cada um dos diversos grupos.
paz. - Associações voltadas para atividades culturais vinculadas
- Ásia, berço da civilização oriental, convivência de culturas a raízes, movimentos raciais/étnicos atuando em campo
e tradições espirituais milenares, influência de princípios sociopolítico, no reconhecimento, na conquista e na
pacifistas. consolidação de direitos civis e culturais específicos.
- Valorização das próprias origens nos diferentes grupos.

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- Atitude crítica em relação às injustiças cometidas no no judaísmo, etc. —, e cujo conhecimento pode facilitar a
passado, repercutindo no presente. convivência com outros que não partilham o sentido. Esse
- Atitude de repúdio a todo estereótipo estigmatizador de trabalho também deve ser desenvolvido como uma forma de
indivíduos e grupos. abordar respeitosamente expressões desconhecidas, sem
- Atitude de repúdio à exclusão social que sofreram e estranhamento e sem deboche. Isso pode ser feito com
sofrem indivíduos e grupos. naturalidade ao se tratar de ritos, calendários e sempre que
- Reconhecimento de que se vive tempos de consolidação surgir a oportunidade. Portanto, quando se trata de algo que é
de direitos de minorias já reconhecidos e estabelecidos na próprio de um determinado grupo étnico ou cultural, deve-se
Constituição Federal e no sistema legislativo como um todo; usar seu nome, tal como é chamado pelas pessoas daquele
responsabilidades do Estado e da sociedade nesse processo. grupo.
- Repúdio a estereótipos dos diferentes grupos étnicos e Tratar de bilinguismos e multilinguíssimos é uma forma de
culturais que compõem a sociedade brasileira, em particular mostrar a riqueza da diversidade que sabe desenvolver-se
quanto a seu papel histórico e social. mantendo elementos comuns e elementos singulares. Será
possível trabalhar a importância da língua como fator de
O SER HUMANO COMO AGENTE SOCIAL identidade para um grupo étnico, tratando da estrutura e do
E PRODUTOR DE CULTURA uso das diferentes línguas das etnias indígenas presentes no
Brasil, ou da manutenção da língua do país de origem em
Um conhecimento fundamental para a leitura da colônias de imigrantes. Ao mesmo tempo, tratar do papel
Pluralidade Cultural são as muitas linguagens que se unificador da Língua Portuguesa é oferecer à criança
apresentam como fator de identidade de grupos e indivíduos. instrumentos para que entenda fatores determinantes da vida
Conhecer e respeitar diferentes linguagens é decisivo para que cultural, em termos nacionais.
o trabalho com este tema possa desenvolver atitudes de Finalizando esses aspectos voltados para a ampliação de
diálogo e respeito para com culturas distintas daquela que a códigos e universos linguísticos do aluno, tratar da criação
criança conhece, do grupo do qual participa. literária, incluindo a oral, de diferentes grupos étnicos e
Este bloco oferece oportunidades de transversalidade com culturais, terá tanto um sentido de exploração de linguagem
Arte, quando, por exemplo, a criança poderá aprender sobre a quanto de conhecimento de elementos ligados a diferentes
cerâmica artesanal de certa população, ou músicas e danças de tradições culturais. Cabe lembrar ainda a necessidade de se
certos grupos étnicos, como formas de linguagem. É muito trabalhar linguagens do mundo contemporâneo, em sua
importante que, ao propor a atividade, o professor interação na vida cotidiana.
contextualize seu significado para o grupo étnico ou cultural Passando ao estudo de visões de mundo, relações com a
de onde se originou a proposta, para que o assunto não seja natureza e com o corpo, em diferentes culturas, apresentadas
tratado como folclore, mas como elemento cheio de de diferentes formas em diferentes momentos, será possível
importância para a estruturação e manifestação da vida explorar o potencial criativo e inovador característico do ser
simbólica daquele grupo. É importante também tratar das humano. Oferecer informações para que a criança possa
relações que se estabelecem entre o ser humano como perceber que existem múltiplas formas de interpretação das
produtor, e os produtos dessas diferentes linguagens. Por origens do universo e da vida, diferentes sistemas de
exemplo, como determinado utensílio ou objeto de grande construção do saber que coexistem e podem ser, muitas vezes,
valor cultural, de cunho sagrado, é guardado ou como se complementares, auxiliará o desenvolvimento de atitudes de
procede à sua limpeza e manutenção, quem é o encarregado; diálogo e respeito em relação a culturas distintas daquelas de
como o boiadeiro cuida da sela que usa em seu cavalo, ou do origem. É uma forma também de se trabalhar a mútua
berrante que usa ao lidar com o gado. influenciação e os diferentes níveis de integração que
Devem ser abordados os regionalismos, especialmente no permeiam e entrelaçam diferentes formas de organização
tocante aos acentos da língua oral. Nesse sentido, será social e de expressões culturais.
importante trabalhar a percepção relativa do sotaque.
Perguntas como “Quem tem sotaque?, ou “Onde certo tipo de Conteúdos a serem trabalhados:
acento é sotaque, onde é próprio da região?”, poderão ajudar a
construir a compreensão de que “fora de casa todos são Linguagens da pluralidade, nos diferentes grupos
estrangeiros”. Observe-se que, além dos conteúdos que étnicos e culturais do Brasil
transversalizam com Língua Portuguesa e Geografia, há - Artes, em suas diversas manifestações nos diferentes
conteúdos atitudinais relevantes que podem ser trabalhados, grupos étnicos e culturais: dança, música, teatro; artes
como o que se volta para a solidariedade, crucial para a plásticas, escultura, arquitetura.
vivência de todos, em particular quando se tem essa - Artes aplicadas, em sua expressão e em seu uso, pelos
perspectiva de que, de certa forma, se é sempre “estrangeiro”. diferentes grupos étnicos e culturais: pintura corporal,
Transversalizando, novamente, com Geografia e Língua indumentária/vestuário; utensílios, decoração de moradias;
Portuguesa, será possível trabalhar expressões típicas culinária; brinquedos.
regionais. Essa abordagem será importante tanto em relação à - Vivências socioculturais, em particular aquelas de que a
região onde se localiza a escola quanto em relação a outras criança participe: brincadeiras, como manifestação cultural e
regiões. Explorar os diferentes significados de uma mesma como recriação da criança; festas, como momento de
palavra ou expressão, principalmente trabalhando a partir da celebração social, comunitária, familiar.
região da escola, colaborará para a ampliação da percepção da - Interesse por conhecer diferentes formas de expressão
pluralidade. Será possível, também, transversalizar com cultural.
História, em conteúdos que possibilitem levantar expressões - Reconhecimento de expressões, marcas e emblemas
que se incorporaram ao cotidiano, e que são originárias de produzidos pelas culturas, como portadores de significado e
influências de certas etnias, ou de certos grupos imigrantes, respeito.
por exemplo. - Identificação, representação e transmissão de símbolos
A abordagem linguística permite trabalhar com expressões de sua própria cultura.
típicas de grupos étnicos. Aqui ainda não se trata de - Respeito e valorização das diversas formas de linguagens
bilinguismo, mas de certas expressões que são usadas expressivas de diferentes grupos étnicos e culturais.
corriqueiramente por grupos étnicos em seu cotidiano no
Brasil — “fazer a cabeça”, no candomblé; “fazer Bar-Mitzvá”,

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Línguas Neste bloco, a dinamização dos trabalhos entrelaça-se com


- Bilinguismos e multilinguíssimos: a existência de a possibilidade de se oferecer uma abordagem fundamentada
centenas de línguas diferentes no Brasil entre povos indígenas, eticamente. Trata-se de buscar informações junto às
em comunidades de fronteiras, em comunidades de diversas organizações de cada um dos grupos que se pretende
origens étnicas e em outras situações. conhecer, nos quais a voz a ser ouvida é a dos representantes
- Dialetos, variantes e variação linguística: regionalismos; dessas comunidades. Da mesma forma, o contato direto com
sotaques, gírias, expressões e acentos regionais. órgãos públicos voltados para a defesa de direitos da cidadania
- Literatura e tradição, oral e escrita: mitos, lendas, permitirá à criança construir novas formas de relação e
histórias; contos; “causos”, cordel; tradições orais. estabelecimento de vínculos. Também será possível
- Respeito e valorização das diversas línguas de diferentes transversalizar o tema com Língua Portuguesa, propondo
grupos étnicos e culturais. atividades de correspondência, entrevistas, etc.

Produção de conhecimento Tratar de processos de comunicação internos às diferentes


- Visão de mundo em diferentes culturas, em diferentes comunidades e localidades, assim como com veículos externos
momentos históricos: mitos de diferentes povos e etnias sobre representados pela imprensa, permitirá à criança exercitar sua
a origem do universo, do sistema solar, do planeta Terra, da capacidade expressiva. Compreender a necessidade da
vida; ritos como cerimônias coletivas, expressivas dos mitos. circulação de informações para a organização coletiva, como
- Relação com a natureza em diferentes culturas, em fundamento da liberdade de expressão e veiculador da
diferentes momentos históricos: diferentes classificações de liberdade de associação, propiciará a valorização dos recursos
fauna, flora e meio ambiente; diferentes formas de interação de comunicação disponíveis. Pode-se trabalhar com recortes
entre natureza e sociedade; técnicas específicas de plantio, de jornais, observando como o trabalho da imprensa propicia
caça, pesca, coleta, manufatura e transformação desenvolvidas a transparência no exercício do poder de que se encontram
pelas diversas sociedades. investidas as autoridades, ao mesmo tempo em que se lembra
- Relação e cuidados com o corpo em diferentes culturas, que, no regime democrático, esse poder deve ter o povo como
em diferentes momentos históricos: princípios alimentares, o referência e como lastro.
que é bom comer, o que não se come, tradições culinárias; Ao mesmo tempo, pode-se desenvolver a iniciativa de
preparação do corpo para práticas socioculturais; tratamentos dirigir-se, por carta, a órgãos de imprensa, em particular
de saúde utilizados pelos grupos indígenas, africanos, àqueles que oferecem suplementos voltados para crianças e
imigrantes, sociedades tradicionais regionais. adolescentes, transversalizando com Língua Portuguesa e com
- Interesse pelas diferentes formas de produção cultural, outras áreas cujos conteúdos sejam objeto de matérias
como instrumentos de transformação social. jornalísticas. Essa abordagem poderá colaborar para a criança
- Valorização do patrimônio linguístico, artístico e cultural compreender mecanismos de intervenção social, a partir de
dos diversos grupos, como bem comum a ser preservado por iniciativas pessoais ou coletivas.
todos. A percepção da possibilidade de interação efetiva com o
social poderá se dar também com a vivência de proposição e
PLURALIDADE CULTURAL estabelecimento de normas e regulamentos de convívio
E CIDADANIA cotidiano. Uma possibilidade didática é exercitar a capacidade
de definição coletiva do uso de espaços e tempos comuns,
Em uma proposta curricular voltada para a cidadania, o escolha de atividades, definição de regras de conduta, onde a
tema da Pluralidade Cultural ganha especial significado ao disciplina passa a ter significado de autonomia e
propiciar elementos para que a criança estabeleça relações responsabilidade mútua. Essa vivência oferecerá subsídios
entre o equilíbrio democrático, a consolidação do pleno para que a criança compreenda os processos pelos quais se
cumprimento de direitos, a coexistência de diferentes grupos passa em sociedade — local, estadual, regional, nacional —
e comunidades étnicas e culturais, e sua própria vida. para a definição de leis. Possibilitará introduzir a temática dos
A organização social dos grupos humanos inclui Direitos Universais da Pessoa Humana, como uma necessidade
organizações políticas diversificadas, caracterizadas pelos assumida pela humanidade, após muitos dramas e tragédias,
fundamentos dados pela visão de mundo de cada grupo. que ceifaram as vidas de muitos, de maneira brutal.
Estruturam-se, assim, diferentes tipos de liderança e Possibilitará, ainda, compreender o sentido de organizações
coordenação, diferentes mecanismos de participação e governamentais voltadas para as relações internacionais,
comunicação. Introduzir essa noção de que diferentes grupos como a Organização das Nações Unidas, criada com base na
étnicos e culturais têm organizações políticas internas consciência mundial da interdependência mútua.
próprias, diferenciadas entre si, será conteúdo a Nesse sentido, pode-se oferecer à criança uma
transversalizar com História, ao tratar, por exemplo, da vida aproximação à compreensão do porquê se realizam
nas aldeias indígenas, ou dos processos de chegada e conferências internacionais periódicas, que propiciam
integração dos imigrantes em território nacional. detalhamentos, interpretações e bases mínimas referentes aos
Um ponto importante, ao tratar de organização política, é direitos humanos, por princípio indivisíveis e inseparáveis.
o que se refere a instituições voltadas para o bem comum. Trata-se de oferecer meios para a criança compreender que
Poderá ser trabalhada de maneira fértil a percepção de como tem direito a ter direitos de cidadania, e estes englobam
pluralismo político e pluralidade cultural se entrelaçam. diversas dimensões.
Entender como se passa da organização comunitária para a O entrelaçamento com os demais temas transversais será
busca dos interesses gerais da sociedade, como se estrutura crucial no tratamento dos direitos individuais básicos, nas
politicamente tal complexidade, cooperará para a relações de gênero, no campo da saúde, na questão ambiental,
compreensão do significado de Estado. Assim, ao tratar em assim como a transversalidade com História, Geografia e
História da organização do Estado, esse conteúdo poderá ser Língua Portuguesa. Ao mesmo tempo, o tema da Pluralidade
enfocado, mostrando como há instituições sociopolíticas Cultural oferece exemplos frequentemente imediatos de como
constituídas por representantes de diferentes grupos e o cumprimento de direitos é fundamental para todos. A
comunidades, tendo em comum a prática democrática. Esse criança poderá, por exemplo, ter uma introdução aos direitos
trabalho permite mostrar como um mesmo indivíduo culturais, aos direitos dos povos indígenas e das minorias
participa de diferentes grupos sociais, políticos e culturais, o nacionais ou étnicas, linguísticas, culturais ou religiosas.
que propicia uma inserção social pluridimensional.

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É claro que não se trata de oferecer um curso de legislação - Identificação de problemas sociais que afetam a vida das
à criança, mas de colaborar para que ela aprenda que existem crianças.
instrumentos jurídicos, saiba reconhecê-los e se familiarize - Exploração do trabalho infantil.
com a possibilidade de consultá-los, para invocar e defender - Violência contra crianças.
seus direitos. Como a Constituição Federal de 1988 propõe - Repúdio às causas das injustiças sociais e às violações dos
direitos individuais e coletivos que representam conquistas direitos humanos.
históricas, além de apresentar mecanismos de proteção e - Respeito e solidariedade às crianças que lutam no seu
promoção desses direitos, a criança poderá aproximar-se dela, cotidiano por suas vidas, encontrando formas de responder a
conhecendo onde se encontram os dispositivos que lhe dizem situações precárias, insatisfatórias, de desamparo e de risco.
diretamente respeito. Também a apresentação do Estatuto da
Criança e do Adolescente poderá encaminhar ao conhecimento Fortalecendo a cidadania
de que tem direitos e seu cuidado e proteção são classificados - Consulta, com auxílio do professor, a documentos
como prioridade social. Em um país cuja história de opressão jurídicos referentes aos direitos da criança (especialmente os
se fundou, entre outros elementos, no desconhecimento das arts. 5º, 6º e 227 da Constituição Federal; o Estatuto da Criança
bases do Estado Democrático de Direito, essa será uma e do Adolescente e a Declaração Universal dos Direitos da
contribuição para a consolidação democrática. Criança).
Será importante a criança conhecer situações que exigem - Identificação e desenvolvimento de alternativas de
mudança urgente do quadro social, como o trabalho infantil, a cooperação na melhoria da vida cotidiana, na escola, na
violência contra crianças, em uma perspectiva de valorização comunidade, na família.
da possibilidade de mudança como obra humana coletiva. - Saber do direito ao respeito que têm todas as crianças,
Trata-se de abrir intencionalmente espaço para que a escola exigindo seu cumprimento.
trabalhe esses temas, conforme se apresentem a necessidade - Responsabilidade pelo seu ser, como criança, exigência de
e/ou importância. O sentido será o de desenvolver a respeito para si, cuidados com sua saúde, seus estudos, seus
consciência de que a situação social é passível de vínculos afetivos.
transformação pela organização democrática e pela definição - Valorização das oportunidades educacionais de que
intencional de prioridades sociais, além do cultivo de dispõe, potencializando-as o máximo possível.
sentimentos de solidariedade ativa, de responsabilidade - Valorização da solidariedade como princípio ético e como
comum pelos destinos de todos. fonte de fortalecimento recíproco.

Conteúdos a serem trabalhados: Conteúdos comuns a todos os blocos


A aprendizagem dos conteúdos que se seguem é de suma
Organização política e pluralidade importância para possibilitar às crianças a reconstrução
- Diferentes formas de composição do poder em diferentes significativa dos conhecimentos elencados nos blocos
grupos étnicos e culturais: coordenação, lideranças, chefias. anteriormente citados.
- Mecanismos de participação coletiva: partidos políticos, - Intercâmbio de informações com crianças de diferentes
sindicatos, conselhos, movimentos sociais, centros lugares do País, por meio de cartas, jornais, vídeos, fitas
comunitários, grêmios, assembleias, eleições e outros. cassete, etc.
- Instrumentos de vida coletiva: regulamentos, estatutos, - Preparação de roteiros, levantamento e escolha de fontes
cartas de intenção, legislação. diversas para entrevistas, depoimentos, observações,
- Mecanismos de informação e comunicação interna e pesquisas, etc., e sua efetivação.
externa e atenção dedicada à criança: jornais, revistas, rádio, - Reprodução de instrumentos, técnicas, objetos e formas
TV, imprensa comunitária e local. de representação de diferentes culturas para analisar e
- Atitude de iniciativa para estabelecer alianças e parcerias compreender suas estruturas e funcionamentos.
no exercício da cidadania. - Uso de textos escritos e orais e representações gráficas
(narrativas, reportagens, pesquisas, objetos, fotos, ilustrações,
Pluralidade e direitos maquetes, desenhos, etc.), tanto para busca de informações
- Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana (levantamento, seleção, observação, comparação,
como uma conquista da humanidade para todos os seres interpretação) quanto para registro e comunicação de dados
humanos. (anotação, reprodução, discussão, reinterpretação).
- O papel de declarações, tratados, convenções
internacionais na defesa e aperfeiçoamento da cidadania. CRITÉRIOS DE AVALIAÇ ÃO
- Constituição de 1988 como instrumento jurídico
fundamental do País: direitos e deveres individuais e coletivos; Como nos demais temas transversais, os critérios de
discriminação e racismo como crime; direitos culturais. avaliação que se seguem destinam-se à orientação do
- A situação atual da sociodiversidade indígena, as relações professor na sua tarefa de adequar o trabalho pedagógico ao
com outros povos e etnias e as responsabilidades do Estado e processo de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos. Tais
da sociedade civil no cumprimento de seus direitos. critérios definem a expectativa de aprendizagem para o final
- O papel dos grupos étnicos como protagonistas, no do segundo ciclo.
resgate e recriação cultural, no estabelecimento de novas - Conhecer a existência de outros grupos culturais além do
situações jurídicas, em especial na fase contemporânea, seu, reconhecer seu direito à existência e respeitar seus modos
fazendo-se respeitar, propondo e ensinando novas bases de de vida e suas expressões culturais
convivência; a responsabilidade do Estado e da sociedade civil Espera-se que o aluno saiba que a nação brasileira
no cumprimento de seus direitos. comporta a existência de diferentes grupos sociais — cada um
- Estatuto da Criança e do Adolescente, como instrumento com suas singularidades — e eles próprios têm histórias e um
na luta pelos direitos da cidadania da criança. modo de vida específico. Espera-se também que relacione a
isso o conhecimento de diferentes formas de habitação, de
Situações urgentes no Brasil em relação aos direitos da organização espacial, de vestimenta e outros itens da vida
criança cotidiana, assim como de expressões culturais diversas, e
- Preconceito e discriminação social e racial/étnica como compreenda que diferentes grupos humanos produzem
formas de injustiça. diferentes formas de organização político-social e econômica

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a que correspondem diferentes modos de organizar o trabalho (expressões regionais), Arte e Educação Física (expressões
e a produção de conhecimentos. culturais). Trata-se de conteúdos que possibilitam o
- Conhecer histórias, personagens e fatos marcantes para enriquecimento da percepção do mundo, bem como
as culturas estudadas e situá-las na História do Brasil aprimoramento do espírito crítico perante situações vividas e
Espera-se que o aluno possa identificar, na História do informações recebidas, no que se refere à temática;
Brasil, histórias que foram e são vividas de diferentes formas, — que se organizem projetos didáticos em torno de
de acordo com a realidade de cada grupo e com as relações que questões específicas, eleitas a partir da priorização de
estabelecem com a sociedade nacional. conteúdos considerados fundamentais;
- Conhecer a pluralidade existente em seu próprio meio, — que se questione a ausência, nos trabalhos escolares, da
relacionando-se de forma respeitosa com suas diferentes imagem de determinados grupos sociais como cidadãos —
manifestações sem reproduzir estereótipos e discriminações;
— que a equipe pedagógica discuta permanentemente
Espera-se que o aluno conheça os grupos presentes em seu suas relações e analise suas práticas na busca de superar
meio, seja no Estado, na cidade ou no bairro, seja na escola e preconceitos e discriminações, pois as atitudes dos adultos são
especificamente em sua classe, estabelecendo relações com o o veículo mais importante para a aprendizagem da
conjunto da população brasileira. Espera-se, também, que convivência.
esteja familiarizado com manifestações específicas desses
grupos, relacionando-se com elas de forma respeitosa e Organização por ciclos
amistosa, sem comportamentos que identifiquem o diverso
como exótico. Em relação à organização por ciclos é importante que se
- Compreender que a pluralidade é essencial na garantia da observem algumas características dessa temática que
liberdade de escolha individual, assim como na consolidação implicam diferenciação entre a abordagem inicial (no primeiro
democrática. ciclo) ou a continuidade do trabalho (segundo ciclo).
Espera-se que o aluno assimile informações que lhe
permitam compreender que a diversidade, reconhecida e PRIMEIRO CICLO
valorizada, fundamenta a pluralidade, abrindo as
possibilidades de escolha para o cidadão, em diferentes No primeiro ciclo, a criança aprenderá mais pelo convívio
esferas de sua vida, e as diversas formas de organização social e pelo intercâmbio. O professor poderá oferecer ocasiões para
e política construídas por diferentes grupos humanos, as que se aguce sua capacidade perceptiva, com relação a
histórias de resistência e conquista do direito ao processo de diferentes linguagens e à sua valorização, tanto com o
democratização, fundamentam a democracia, o Estado de aproveitamento de referenciais dos próprios alunos quanto de
Direito, a luta contra o autoritarismo. outras oportunidades que se apresentem, por exemplo, por
- Conhecer a existência dos principais instrumentos legais intermédio de programas de televisão ou reportagens na
que regem o Estado Democrático de Direito brasileiro imprensa escrita.
Espera-se que o aluno saiba que o Brasil possui, além de Situações em que se manifestem preconceitos, seja por
uma Constituição Federal, lei máxima do País, um Estatuto da atitudes explícitas, incluindo verbalização, seja por gestos e
Criança e do Adolescente, que diz respeito a ele diretamente, expressões, não podem ser ignoradas, porém exigem
signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e sensibilidade. Propor atividades que tratem do ocorrido
outros tratados e declarações internacionais, e que tais indiretamente, apresentando situações vividas por
documentos são instrumentos de cidadania, para garantia de personagens fictícios, pode ser uma forma de encaminhar
direitos, explicitação de deveres e combate à discriminação. discussões e orientações, sem expor pessoalmente cada
criança envolvida em episódios desse tipo.
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS Nesse ciclo é importante colocar a criança em contato com
sua própria capacidade de criação cultural e com o
Lembrando que os Parâmetros Curriculares Nacionais reconhecimento dessa capacidade em todas as pessoas, o que
representam um primeiro nível de concretização curricular, é se poderá fazer em Arte, Educação Física e Língua Portuguesa.
importante salientar que cabe às equipes técnicas e aos
educadores, ao elaborarem seus currículos e projetos SEGUNDO CICLO
educativos, adaptar, priorizar e acrescentar conteúdos,
segundo sua realidade particular tanto no que se refere às No segundo ciclo, o convívio e o intercâmbio continuam a
conjunturas sociais específicas quanto ao nível de ser fundamentais, podendo enriquecer-se com a aquisição de
desenvolvimento dos alunos. informações históricas e geográficas mais específicas da
As condições básicas para o desenvolvimento do tema temática. Por exemplo, o trabalho didático na constituição da
transversal da Pluralidade Cultural são: Pluralidade Cultural no Brasil poderá envolver o estudo das
— criar na escola um ambiente de diálogo cultural, regiões de localização de diferentes grupos étnicos, em
baseado no respeito mútuo; diferentes momentos da nossa história, o significado dessa
— perceber cada cultura na sua totalidade: os fatos e as distribuição geográfica na composição de características
instituições sociais só ganham sentido quando percebidos no culturais regionais, e assim por diante.
contexto social em que foram produzidos; e A consulta a documentos jurídicos, acompanhada pelo
— uso de materiais e fontes de informação diversificadas: professor, poderá ser trabalhada com maior especificidade.
fontes vivas, livros, revistas, jornais, fotos, objetos — para não Essa consulta será tão mais proveitosa quanto mais se
se prender a visões estereotipadas e superar a falta ou estabeleçam relações com situações vividas ou conhecidas
limitação do livro didático. pelas crianças. Por exemplo, uma notícia de jornal poderá ser
Para que se possam alcançar os objetivos colocados é detonadora de certa reflexão sobre os direitos da criança e do
essencial que o trabalho didático das áreas contemple a adolescente, assim como uma situação que se esteja
perspectiva da pluralidade: enfrentando de imediato.
— que se incluam como conteúdos as contribuições das Nesse ciclo, expandir horizontes de percepção é possível e
diferentes culturas. Embora mais evidentemente ligados a desejável. Aproveitar todas as informações que possam ser
História e Geografia, esses conteúdos referem-se também a obtidas acerca de culturas e países, explorando-as em
Ciências Naturais (etnoconhecimentos), Língua Portuguesa diferentes áreas, será uma forma de sintonizar a criança com o

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tempo em que vive, colaborando para que estabeleça vínculos pode aceitar a difusão da escravidão como fato que se vincula
entre o espaço da escola e o mundo. exclusivamente aos povos africanos, de imagens de negros
apenas como escravos ou no desempenho de papéis sociais
Valorização do repertório e integração entre o vivido sem prestígio. É importante lembrar que o reconhecimento e a
e o a prendido valorização de todo trabalho é papel da escola em seu
cotidiano, veiculando a consciência de que toda profissão é
O tema da Pluralidade Cultural traz consigo, de maneira importante.
determinante, a temática da participação. De fato, a criação É tarefa de todo professor e da equipe da escola estarem
cultural se dá como obra coletiva, em que se compõem atentos, operando críticas sobre materiais didáticos, dando
contribuições de muitos. Abrir de fato a possibilidade de atenção ao modo como é tratada a noção da diversidade, que
participação da criança no cotidiano da sala de aula de maneira deve trazer sempre uma base de respeito às qualidades de
ativa é colaborar para que compreenda a própria realidade, cada ser humano. Tal crítica deve incluir decididamente o
enquanto percebe e vivencia a possibilidade de transformar repúdio a materiais que tragam erros, preconceitos, difusão de
práticas. atitudes discriminatórias, assim como a discussão de materiais
A participação no cotidiano deve envolver a capacidade de que sejam, eventualmente, trazidos pela criança para a
decisão, incentivar a iniciativa de propor atividades, caminhos situação de sala de aula, e contenham incorreções.
alternativos, organização do dia-a-dia. Envolve também a
prática de autoavaliação contínua do desempenho na Intercâmbio
interação em sala de aula e de manifestações críticas aos
colegas, combinando assertividade e cordialidade. Um caminho para compreender que a realidade social é
É decisivo propiciar um ambiente respeitoso, acolhedor, formada por grupos muito diferentes entre si pode ser o
que inclua a possibilidade de o aluno trazer para a sala de aula intercâmbio com outras crianças e adolescentes. Conhecer o
seu próprio repertório linguístico e cultural. Falas, costumes, universo infantil tal como se apresenta, complexo e
saberes, tradições diversas que sejam trazidas pelos alunos diversificado, a partir de relatos das próprias crianças, poderá
comporão uma base para a ampliação de informações sobre ser a porta de entrada para que o aluno tome consciência da
outras culturas. Conhecer a si próprio, sua cultura, organizar Pluralidade Cultural, valorizando, ao mesmo tempo, o que há
esse conhecimento de forma que possa dar-se a conhecer, de universal na dignidade do ser humano e o que ele pode
permitirá a integração entre o vivido e o aprendido. compreender pelo universal de “ser criança”. Da mesma forma,
Esses repertórios, construídos nas relações familiares e o intercâmbio com instituições, organizações não
comunitárias trazem elementos culturais diferenciados: a governamentais, órgãos de imprensa escrita, falada,
cultura tradicional que o migrante nordestino traz para as televisionada, propiciará ao aluno o contato direto com grupos
cidades do Sudeste, a cultura do caboclo na região amazônica, humanos distintos do seu ou daqueles com os quais convive
dos imigrantes, dos afrodescendentes, etc. A valorização do diretamente em sua região.
patrimônio cultural do Brasil implica o reconhecimento da É importante que o sujeito acerca de quem se fala possa
diversidade de padrões culturais que caracterizam a contribuir na construção dos conhecimentos referentes à
convivência social na escola. Pluralidade Cultural, e sua voz se faça ouvir. Oferecer meios
para que exista um rico intercâmbio entre diferentes escolas e
Expressões culturais localidades é um aspecto central nesse trabalho, pois propicia
que a criança seja agente e produtora de informação acerca de
Para entender o simbolismo das expressões culturais, é si, sua organização sociofamiliar, seu meio ambiente, a
preciso entender a sociedade produtora daquela manifestação organização sociopolítica da localidade onde mora, do grupo
cultural. O produto cultural de um grupo não pode ser tratado etnocultural ao qual pertence.
como um fato isolado. Cada manifestação social fala A possibilidade de colocar-se deve se dar na própria sala
diretamente do grupo que a produziu, de relações entre a visão de aula. Partilhar ocasiões de intercâmbio com os colegas, ter
de mundo, hábitos, costumes e valores da cultura à qual iniciativa de trazer objetos ou depoimentos gravados que
pertencem. Uma forma interessante de trabalhar possam ilustrar um conteúdo estudado ou iniciar uma
didaticamente essa inserção do produto cultural em seu proposta de atividade são exemplos de como se processa a
contexto mais amplo é propiciar ocasiões em que a classe aprendizagem de um intercâmbio intencional.
possa criar, em conjunto, suas próprias “expressões culturais”, A prática de diferentes formas de intercâmbio é
analisando, com os alunos, o significado daquele produto aprendizado de cidadania, na medida em que desenvolve a
cultural para eles, naquele momento, seu significado no capacidade de comunicar-se, emitir opiniões, buscar
contexto da composição da classe. Criar, por exemplo, informações e, principalmente, de estabelecer contatos e
símbolos coletivos da turma trará a chance de discutirem o que alianças em função de objetivos definidos. Esse trabalho
é relevante para eles, que valores e objetivos compartilham, necessita da orientação minuciosa do professor para
etc. estabelecer critérios, conteúdos, formas de utilização. No caso
da correspondência escolar, por exemplo, o professor deve
Crítica dos materiais didáticos orientar a elaboração de cartas que tratem dos conteúdos
eleitos, informando e/ou solicitando dados àqueles com quem
Conteúdos do tema Pluralidade Cultural estiveram se dará a correspondência. Nas séries iniciais, poderão ser
presentes na escola de maneira frequente, porém, propostas cartas dirigidas fundamentalmente a outras
colaborando na disseminação de preconceitos, mais que crianças, tendo um caráter de correspondência pessoal,
esclarecendo. Nesse sentido, materiais didáticos compondo, de maneira acessível, um tipo de documento
desempenharam papel crucial, tanto por veicularem antropológico. No segundo ciclo, poderá ser desenvolvida a
explicitamente noções erradas quanto de maneira velada e interlocução com instituições governamentais ou da sociedade
implícita, por exemplo, em ilustrações que insistiram em civil, sindicatos, organizações não-governamentais,
passar estereótipos que aprisionavam grupos étnicos a certos universidades ou imprensa, que desenvolvam trabalhos sobre
papéis sociais. Um exemplo de divulgação de erro refere-se à as questões abordadas.
noção de que existiria uma organização social única e comum Pelo caráter inovador desse tipo de trabalho de
a todos os índios, o que se veiculou por meio da escola e dos intercâmbio, os professores estarão aprendendo juntamente
livros didáticos por muito tempo. Da mesma forma, não se

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com seus alunos, construindo em grupo e em colaboração com referentes aos povos indígenas e populações pertencentes a
a sociedade um saber sobre a vida social no País. minorias, assim como declarações e convenções
internacionais sobre condições de trabalho, especialmente
Normas e regulamentos aquelas que já se encontram sistematizadas pela Organização
Internacional do Trabalho.
A abordagem didática da Pluralidade Cultural deve Aproveitar efemérides, fatos específicos nacionais,
encaminhar-se para facilitar à criança a compreensão de que regionais ou locais, serão formas de enriquecer o
normas, regulamentos, leis, são estabelecidas pelas pessoas conhecimento de direitos e deveres. Nesse sentido, a temática
como formas de organização da vida coletiva. Ao tomar da Pluralidade Cultural atua como porta de entrada para a
conhecimento da possibilidade e da existência de diferentes discussão: ao tratar da importância do reconhecimento e da
formas de organização social, de diferentes grupos étnicos e valorização das diferentes identidades culturais, tal como
culturais, é oferecida uma forma privilegiada de a criança estão garantidos na Constituição e em tratados e convenções
compreender que é possível a diversidade de propostas de internacionais, propicia-se uma abertura pedagógica para o
normas, que estas se vinculam a valores, objetivos, prioridades tratamento de demais temas ligados a questões da cidadania.
de grupos humanos, que se mantêm e se renovam.
Uma forma didaticamente produtiva de trabalhar esse
conteúdo é por meio da possibilidade de as crianças 10. Currículo: elaboração e
construírem coletivamente normas de convívio escolar — da prática.
classe, da série, da escola — e até, onde for o caso, entre
instituições, considerando entidades sociais que tenham
intercâmbio ou parceria com a escola. Essa elaboração deve O currículo14
indicar a necessidade de que as leis, normas e regulamentos
sejam instrumentos de garantia de respeito aos direitos e De forma resumida, currículo é a organização do
cobranças de deveres. conhecimento escolar. Essa organização do currículo se tornou
Consulta a regulamentos de outras instituições, como necessária porque, com o surgimento da escolarização em
sociedades de amigos de bairros, diretórios partidários, massa, precisou-se de uma padronização do conhecimento a
núcleos sindicais, entrevistas de lideranças que colaboraram ser ensinado, ou seja, que as exigências do conteúdo fossem as
na organização de regimentos, são formas práticas de a criança mesmas.
interagir com o mundo das normas, compreendendo seu No entanto, o currículo não diz respeito apenas a uma
significado e importância. relação de conteúdos, mas envolve também: “questões de
É importante que se trabalhe com a criança a dinâmica poder, tanto nas relações professor/aluno e
entre o instituído e o novo, entre o que é importante preservar administrador/professor, quanto em todas as relações que
e a flexibilidade para mudar quando necessário. Essa permeiam o cotidiano da escola e fora dela, isto é, envolve
abordagem didática dá condição para que a criança entenda o relações de classes sociais (classe dominante/classe
caráter duradouro de leis que fundamentam e garantem a dominada) e questões raciais, étnicas e de gênero, não se
cidadania. De maneira imediata na vida do aluno, a restringindo a uma questão de conteúdos”.
necessidade de conhecer as normas da escola, seu regimento, Veiga complementa: “Currículo é uma construção social do
traduzirá essa sistematização de valores que regem o convívio. conhecimento, pressupondo a sistematização dos meios para
Por outro lado, a proposição de instrumentos de flexibilização que esta construção se efetive; a transmissão dos
e mudança daquilo que já não cumpre o papel inicialmente conhecimentos historicamente produzidos e as formas de
previsto fala da possibilidade de transformação como obra da assimilá-los, portanto, produção, transmissão e assimilação
decisão humana e da interação democrática. Esse trabalho são processos que compõem uma metodologia de construção
pode ser feito na comparação entre regulamentos de uma coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo
mesma instituição em diferentes momentos, de forma que a propriamente dito.”
criança possa perceber o que mudou e por que mudou. Assim, isso implica que essa organização – feita
De primeira a quarta séries o tratamento será preliminar, principalmente no projeto político-pedagógico de cada escola
voltado para as afirmações de direitos e análises de casos – deve levar em conta alguns princípios básicos da sua
referentes a violações que cheguem via correspondência e construção. Entre eles o fato de, como já dito, o processo de
imprensa, para que da quinta a oitava séries esses estudos desenvolvimento do currículo ter sido cultural e, portanto, não
possam ser aprofundados, de forma a analisar diagnósticos da neutro. Sempre visa privilegiar determinada cultura e, por
situação dos direitos humanos no Brasil. Iniciam-se no campo isso, há a necessidade de uma criteriosa análise e reflexão por
étnico/cultural, ampliando a análise para se discutir formas de parte dos sujeitos em interação, no caso as autoridades
superação das situações indesejáveis que se realizam no escolares e os docentes com o mesmo objetivo, baseando-se
cotidiano como ação da sociedade civil. em referenciais teóricos.
O currículo não é estático, pelo contrário, foi e continua
Documentos jurídicos sendo construído. A reflexão sobre isso é importante, porque,
conforme Veiga afirma, “a análise e a compreensão do
Desde as séries iniciais se poderá trabalhar com o texto processo de produção do conhecimento escolar ampliam a
constitucional, de forma a que o aluno se habitue à consulta, compreensão sobre as questões curriculares”.
percebendo a Constituição Federal como instrumento Hoje em dia, a organização do currículo escolar se dá de
fundamental do cidadão, acessível a todos. Para isso, é forma fragmentada e hierárquica, cada disciplina é ensinada
necessário que o professor faça a consulta, leia o texto para ou separadamente e as que são consideradas de maior
com os alunos, esclareça seu sentido e promova discussões, importância em detrimento de outras recebem mais tempo
num trabalho compartilhado e orientado. Da mesma forma para serem explanadas no contexto escolar.
poderão integrar o trabalho escolar constituições estaduais, Vários autores apontam para a possibilidade de o currículo
leis orgânicas dos municípios, declarações das Nações Unidas não ser organizado baseando-se em conteúdos isolados, pois
(das quais o Brasil é signatário), em particular da Declaração vivemos em um mundo complexo, que não pode ser
dos Direitos Universais da Pessoa Humana e declarações completamente explicado por um único ângulo, mas a partir

14 Texto adaptado de FOGAÇA, J.

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de uma visão multifacetada, construída pelas visões das diferentes interpretações, os(as) alunos(as) poderão melhor
diversas áreas do conhecimento. A organização do currículo perceber, por exemplo, os objetivos e os jogos, por vezes
deve procurar viabilizar uma maior interdisciplinaridade, escusos, implicados em muitas medidas de nossos políticos e
contextualização e transdisciplinaridade, assegurando a livre governantes. Certamente a análise atenta e a discussão crítica
comunicação entre todas as áreas. de notícias referentes à decisão de invadir o Iraque, tomada
pelo presidente George Bush, após os ataques terroristas de 11
O currículo como um espaço em que se reescreve o de setembro de 2001, poderão ajudar o(a) aluno(a) a
conhecimento escolar15 contrapor à versão oficial norte-americana uma outra versão
Sugerimos que se procure, no currículo, reescrever o dos acontecimentos em pauta.
conhecimento escolar usual, tendo-se em mente as diferentes A leitura crítica de jornais permite também verificar como,
raízes étnicas e os diferentes pontos de vista envolvidos em na França, se tenta impedir que meninas muçulmanas
sua produção. No processo de construção do conhecimento frequentem as salas de aula usando seus véus. A justificativa é
escolar, “retiram-se” os interesses e os objetivos usualmente que as escolas francesas são seculares e que os símbolos
envolvidos na pesquisa e na produção do conhecimento de religiosos, portanto, devem ser banidos de suas práticas.
origem, tendendo a ficar, em decorrência desse processo, Proibições similares têm ocorrido também na Alemanha,
“asséptico”, “neutro”, despido de qualquer “cor” ou “sabor”. O vetando-se às professoras o uso do véu. O que não se divulga é
que estamos desejando, em vez disso, é que os interesses como tal medida acaba por solapar importante elemento da
ocultados sejam identificados, evidenciados e subvertidos, identidade dessas jovens, desrespeitando o direito à diferença
para que possamos, então, reescrever os conhecimentos. que deve pautar toda sociedade que se quer democrática,
Desejamos que o aluno perceba o quanto, em Geografia, os plural e inclusiva. Ou seja, a compreensão dos diferentes
conhecimentos referentes aos diversos continentes foram pontos de vista envolvidos na contenda permite que o(a)
construídos em íntima associação com o interesse (de certos aluno(a) desconstrua o olhar do poder hegemônico e infira que
países) em aumentar suas riquezas pela conquista e outros olhares descortinam outros ângulos, outras razões,
colonização de outros povos. outros interesses. Leva-o(a) a compreender melhor alguns dos
Em conformidade com essa proposta, encontram-se já elementos que promovem a persistência, no mundo de hoje,
numerosos(as) professores(as) de História que não mais se do ódio, da violência, do racismo, da xenofobia, do
contentam em ensinar aos(às) estudantes apenas a visão do fundamentalismo. Não será indispensável que a escola
dominante, do vencedor. Já se fazem frequentes, em suas aulas procure denunciar e colocar em xeque essa persistência?
na escola fundamental, discussões como: o Brasil foi Professores dos primeiros anos do ensino fundamental podem
descoberto ou invadido pelos portugueses? A Lei Áurea, também estimular o(a) aluno(a) a reescrever conhecimentos,
assinada pela Princesa Isabel, pretendeu de fato beneficiar os saberes, mitos, costumes, lendas, contos. Inúmeras histórias
escravos? Domingos Fernandes Calabar deve ser mesmo infantis, por exemplo, têm sido reescritas com base no
considerado um traidor? Em 1964 houve uma revolução ou emprego de pontos de vista distintos dos usuais. O caso dos
um golpe? Esses e outros inúmeros pontos controversos de Três Porquinhos pode surpreender se a figura do Lobo
nossa História são discutidos por docentes e alunos(as), o que representar o especulador imobiliário que tão bem
faz brotar uma análise bem mais lúcida dos diferentes e conhecemos.
conflitantes motivos implicados nos fatos históricos, antes A escola deve ser concebida como um espaço ecológico de
vistos como “objetivos” e tratados com base em uma única cruzamento de culturas. A responsabilidade específica que a
versão, aceita sem questionamento. A consequência é que a distingue de outros espaços de socialização e lhe confere
análise se amplia e se enriquece pelo confronto de pontos de identidade e relativa autonomia é exatamente a possibilidade
vista. Além dessa ampliação, muitos docentes têm procurado de promover análises e interações das influências plurais que
incluir no currículo outras Histórias: a das mulheres, a dos as diferentes culturas exercem, de forma permanente, sobre as
povos indígenas, a dos negros, por exemplo. Tais inclusões novas gerações.
preenchem algumas das lacunas mais encontradas nas O responsável definitivo da natureza, do sentido e da
propostas curriculares oficiais, trazendo à cena vozes e consistência do que os alunos e as alunas aprendem em sua
culturas negadas e silenciadas no currículo. vida escolar é este vivo, fluido e complexo cruzamento de
É preciso que os estudos desenvolvidos venham a catalisar, culturas que se produz na escola, entre as propostas da cultura
junto aos membros das culturas negadas e silenciadas, a crítica, alojada nas disciplinas científicas, artísticas e
formação de uma autoimagem positiva. Para esse mesmo filosóficas; as determinações da cultura acadêmica, refletidas
propósito, pode ser útil a discussão, em diferentes disciplinas, nas definições que constituem o currículo; os influxos da
dos rumos de diferentes movimentos sociais (negros, cultura social, constituída pelos valores hegemônicos do
mulheres, indígenas, homossexuais), para que se cenário social; as pressões do cotidiano da cultura
compreendam e se acentuem avanços, dificuldades e desafios. institucional, presente nos papéis, nas normas, nas rotinas e
Líderes desses grupos podem ser convidados a participar das nos ritos próprios da escola como instituição específica; e as
atividades. Exposições e cartazes ilustrariam trajetórias e características da cultura experiencial, adquirida
conquistas. Cabe esclarecer que não estamos argumentando a individualmente pelo aluno através da experiência nos
favor do efeito Robin Hood, segundo o qual se tira de um para intercâmbios espontâneos com seu meio.
dar ao outro; não estamos recomendando que simplesmente Conceber a dinâmica escolar nesse enfoque supõe
se substitua um conhecimento por outro. O que se sugere é que repensar seus diferentes componentes e romper com a
se explorem e se confrontem perspectivas, enfoques e tendência homogeneizadora e padronizadora que impregna
intenções, para que possam vir à tona propósitos, escolhas, suas práticas. Para Moreira e Candau, a escola sempre teve
disputas, relações de poder, repressões, silenciamentos, dificuldade em lidar com a pluralidade e a diferença. Tende a
exclusões. O trabalho com notícias difundidas pela mídia, silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se mais confortável com a
frequentemente derivadas de leituras distintas e até mesmo homogeneização e a padronização. No entanto, abrir espaços
contraditórias dos fatos, assim como com músicas, vídeos e para a diversidade, a diferença e para o cruzamento de
outras produções culturais, permite ilustrar com clareza os culturas constitui o grande desafio a enfrentar.
confrontos que pretendemos ver explicitados. Examinando

15 Texto disponível em
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag3.pdf

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A escola precisa, assim, acolher, criticar e colocar em mundo concreto, o que permite analisar quem lucra e quem
contatos diferentes saberes, manifestações culturais e óticas. perde com as formas de emprego desses conhecimentos.
A contemporaneidade requer culturas que se misturem e Experiência desenvolvida por um pesquisador canadense,
ressoem mutuamente, que convivam e se modifiquem; que se John Willinsky, pode ser associada a esse enfoque. Bastante
modifiquem modificando outras culturas pela convivência crítico da forma como habitualmente se analisam obras
ressonante. Um processo contínuo, que não pare nunca, por poéticas nas salas de aula, despindo-as de seus propósitos
não se limitar a um dar ou receber, mas por ser contaminação, culturais e estéticos, o autor, ao ser desafiado por um
ressonância. estudante para dar uma unidade de Literatura em uma turma
de ensino médio, abandonou a antologia tradicionalmente
O currículo como um espaço em que se explicita a empregada. Optou, então, por formular, com os alunos, uma
ancoragem social dos conteúdos antologia alternativa que abrigasse as diferentes vozes e
identidades que hoje povoam o Canadá e que pudesse trazer à
Sugerimos, como outra estratégia (intimamente cena cultura, vida, dor, sangue, paixão, sensibilidade, assim
relacionada à anterior), que se desenvolva nos(as) estudantes como desafiar relações de poder que garantem a continuidade
a capacidade de perceber o que tem sido denominado de de diferenças e desigualdades no mundo contemporâneo. O
ancoragem social dos conteúdos. Pretendemos que se propicie que os estudantes escolheram para compor a nova antologia
uma maior compreensão de como e em que contexto social um abriu as portas da sala de aula para suas posições históricas,
dado conhecimento surge e se difunde. Nesse sentido, vale experiências, visões de mundo. Ainda: denunciou a persistente
examinar como um determinado conceito foi proposto hegemonia da cultura de origem europeia, claramente
historicamente, por que se tornou ou não aceito, por que expressa na herança colonial que continua a se infiltrar no
permaneceu ou foi substituído, que tipos de discussões currículo.
provocou, de que forma promoveu o avanço do conhecimento
na área em pauta e, ainda, como esse avanço propiciou Não se está diante de uma confirmação de que visões da
benefícios (ou não) à humanidade (ou a certos grupos da cultura como mente cultivada - ou como desenvolvimento
humanidade). Não seria estimulante envolvermos nossos social atrelado aos padrões europeus - continuam presentes
estudantes nas lutas travadas em torno da aceitação do nos currículos escolares? O mesmo autor nos oferece outro
modelo heliocêntrico do universo? Não seria enriquecedor exemplo que também se harmoniza com o princípio que
acompanharmos e situarmos na história o surgimento e as estamos defendendo. Pergunta-nos se é possível dividirmos a
transformações dos modelos de átomo, discutindo suas realidade humana em culturas, raças, histórias, tradições e
contribuições para o avanço da ciência e da tecnologia? O que sociedades claramente diferentes e conseguirmos suportar,
estamos propondo é que se evidenciem, no currículo, a com dignidade, as consequências dessas classificações. Insiste,
construção social e os rumos subsequentes dos então, no questionamento do caráter aparentemente natural,
conhecimentos, cujas raízes históricas e culturais tendem a ser científico mesmo, dessas divisões. Para isso, acrescenta, há que
usualmente “esquecidas”, o que faz com que costumem ser se compreender a dinâmica histórica das categorias por meio
vistos como indiscutíveis, neutros, universais, intemporais. das quais temos sido rotulados, identificados, definidos e
Trata-se de questionar a pretensa estabilidade e o caráter situados na estrutura social. Há que se focalizar, no currículo,
histórico do conhecimento produzido no mundo ocidental, a construção dessas categorias. Somente assim desafiaremos
cuja hegemonia tem sido incontestável. Trata-se, mais uma seus significados e abriremos espaço, na escola e na sala de
vez, de caminhar na contramão do processo de transposição aula, para a diversidade. Willinsky rejeita a ideia de que existe
didática, durante o qual usualmente se costumam eliminar os uma verdade, uma essência ou um núcleo em qualquer
vestígios da construção histórica dos saberes. Procurando categoria. Incentiva-nos, nas diferentes disciplinas
ilustrar nosso ponto de vista com outros exemplos, sugerimos curriculares, a tornar evidente e a desestabilizar a construção
perguntas que, no ensino das Ciências Naturais, podem se histórica de categorias que nos têm marcado, tais como raça,
revelar bastante pertinentes. Eis algumas delas: nação, sexualidade, masculinidade, feminilidade, idade,
religião, etc. Com essa estratégia, pretende explicitar como o
(a) onde situar as origens da ciência: em culturas europeias mundo tem sido dividido.
ou culturas não europeias?
(b) em que medida a ciência moderna pode ser considerada O currículo como espaço de reconhecimento de nossas
ocidental? identidades culturais
(c) existem ou podem vir a existir ciências, elaboradas em Um aspecto a ser trabalhado diz respeito a se procurar, na
outras culturas, que também “funcionem”, que também escola, promover ocasiões que favoreçam a tomada de
expliquem a realidade? consciência da construção da identidade cultural de cada um
(d) por que a escola insiste em apresentar a ciência ocidental de nós, docentes e gestores, relacionando-a aos processos
como a única possibilidade? socioculturais do contexto em que vivemos e à história de
(e) que conflitos se encontram subjacentes aos processos de nosso país. O que temos constatado é a pouca consciência que,
construção e de difusão do conhecimento científico? em geral, temos desses processos e do cruzamento de culturas
(f) que debates têm sido gerados pela introdução, na neles presente. Tendemos a uma visão homogeneizadora e
comunidade científica, de novas teorias? estereotipada de nós mesmos e de nossos alunos e alunas, em
(g) por que a escola insiste em apresentar uma teoria que a identidade cultural é muitas vezes vista como um dado,
consensual da ciência, subestimando as divergências referentes algo que nos é impresso e que perdura ao longo de toda nossa
a temáticas priorizadas, metodologias, fundamentos teóricos, vida. Desvelar essa realidade e favorecer uma visão dinâmica,
objetivos? contextualizada e plural das identidades culturais é
fundamental, articulando-se as dimensões pessoal e coletiva
Acreditamos que a exploração de questões como essas, em desses processos. Constitui um exercício fundamental
um curso de Ciências Naturais, tanto ajuda a desafiar a suposta tornarmo-nos conscientes de nossos enraizamentos culturais,
neutralidade cultural da ciência quanto a iluminar dos processos em que misturam ou se silenciam determinados
perspectivas e possibilidades insuspeitadas de pertencimentos culturais, bem como sermos capazes de
desenvolvimento científico. O princípio que estamos reconhecê-los, nomeá- -los e trabalhá-los.
defendendo nos instiga também a relacionar os conteúdos Como favorecer essa tomada de consciência? Alguns
curriculares às experiências culturais dos estudantes e ao exercícios podem ser propostos, buscando-se criar

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oportunidades em que o profissional da educação se estimule Ao considerarmos o outro como sujeito pleno de uma
a falar sobre como percebe a construção de sua identidade. marca cultural, estamos concebendo-o como membro de uma
Como vêm sendo criadas nossas identidades de gênero, raça, dada cultura, vista como uma comunidade homogênea de
sexualidade, classe social, idade, profissão? Como temos crenças e estilos de vida. O outro, ainda que não seja a fonte de
aprendido a ser quem somos, como profissionais da educação, todo mal, é diferente de nós, tem uma essência claramente
brasileiros, homens, mulheres, casados, solteiros, negros, definida, distinta da que nos caracteriza. Na área da educação,
brancos, jovens ou idosos? Nesses momentos, tem sido essa visão se expressa, por exemplo, quando nos limitamos a
bastante frequente a afirmação “nunca pensei na formação da abordar o outro de forma genérica e “folclórica”, apenas em
minha identidade cultural”, ou então “me considero uma órfã dias especiais, usualmente incluídos na lista dos festejos
do ponto de vista cultural”, expressão usada por uma escolares, tais como o Dia do Índio ou Dia da Consciência
professora jovem, querendo se referir à dificuldade de nomear Negra. Já a expressão o outro como alguém a tolerar convida
os referentes culturais configuradores de sua trajetória de tanto a admitir a existência de diferenças quanto a aceitá-las.
vida. A socialização em pequenos grupos, entre os educadores, Nessa admissão, contudo, reside um paradoxo. Se aceitamos,
dos relatos sobre a construção de suas identidades culturais por princípio, todo e qualquer diferente, deveríamos aceitar os
pode se revelar uma experiência profundamente vivida, grupos cujas marcas são comportamentos antissociais ou
muitas vezes carregada de emoção, que dilata tanto a opressivos, como os racistas. Que consequências a adoção
consciência dos próprios processos de formação identitária do dessa perspectiva pode ter para a prática pedagógica?
ponto de vista cultural, quanto a sensibilidade para favorecer Julgamos que a simples tolerância pode nos situar em uma
esse mesmo dinamismo nas práticas educativas que posição débil, evitando que tomemos posição em relação aos
organizamos. Nesses processos, podemos nos dar conta da valores que dominam a cultura contemporânea. Pode impedir
complexidade envolvida na configuração dos distintos traços que polemizemos, levando-nos a assumir a conciliação como
identitários que coexistem, por vezes contraditoriamente, na valor último. Pode incentivar-nos a não questionar a “ordem”,
construção das diferenças de que somos feitos. vendo-a como comportamentos a serem inevitavelmente
cultivados. Poderíamos acrescentar outras formas de nos
O currículo como espaço de questionamento de nossas situar diante dos outros. No entanto, acreditamos que a
representações sobre os “outros” tipologia proposta por Skliar e Duschatzky expressa as
posições mais presentes na nossa sociedade hoje,
Junto ao reconhecimento da própria identidade cultural, evidenciando a complexidade das questões relacionadas à
outro elemento a ser ressaltado se relaciona às representações alteridade e à diferença. O que desejamos destacar é que o
que construímos dos outros, daqueles que consideramos modo como concebemos a condição humana pode bloquear
diferentes. As relações entre nós e os outros estão carregadas nossa compreensão dos outros. Portanto, é importante
de dramaticidade e ambiguidade. Em sociedades nas quais a promovermos processos educacionais nos quais
consciência das diferenças se faz cada vez mais forte, reveste- identifiquemos e desconstruamos nossas suposições, em geral
se de especial importância aprofundarmos questões como: implícitas, que não nos permitem uma aproximação aberta e
quem incluímos na categoria nós? Quem são os outros? Quais empática à realidade dos outros.
as implicações dessas questões para o currículo? Como nossas
representações dos outros se refletem nos currículos? Esses O currículo como um espaço de crítica cultural
são temas fundamentais que estamos desafiados a trabalhar
nas relações sociais e, particularmente, na educação. Nossa Apresentamos agora outro princípio, fortemente
maneira de nos situarmos em relação aos outros tende a relacionado aos anteriores: sugerimos que se expandam os
construir-se em uma perspectiva etnocêntrica. Quem são os conteúdos curriculares usuais, de modo a neles incluir alguns
nós? Tendemos a incluir na categoria nós todas aquelas dos artefatos culturais que circundam o(a) aluno(a). A ideia é
pessoas e aqueles grupos sociais que têm referenciais tornar o currículo um espaço de crítica cultural. Como fazê-lo?
semelhantes aos nossos, que têm hábitos de vida, valores, Um dos caminhos é abrir as portas, na escola, a diferentes
estilos e visões de mundo que se aproximam dos nossos e os manifestações da cultura popular, além das que compõem a
reforçam. Quem são os outros? Tendem a ser os que entram chamada cultura erudita. Músicas populares, danças, filmes,
em choque com nossas maneiras de nos situarmos no mundo, programas de televisão, festas populares, anúncios,
por sua classe social, etnia, religião, valores, tradições, brincadeiras, jogos, peças de teatro, poemas, revistas e
sexualidade, etc. romances precisam se fazer presentes nas salas de aula. Da
Como temos entendido esse outro? Para Skliar e mesma forma, levando-se em conta a importância de ampliar
Duschatzky, principalmente de três formas distintas: o outro os horizontes culturais dos(as) estudantes, bem como de
como fonte de todo mal, como sujeito pleno de um grupo promover interações entre diferentes culturas, outras
cultural, como alguém a tolerar. A primeira perspectiva, manifestações, mais associadas aos grupos dominantes,
segundo os autores, marcou predominantemente as relações precisam ser incluídas no currículo. A intenção é que a cultura
sociais durante o século XX e pode se revestir de diferentes dos estudantes e da comunidade possa interagir com outras
formas, desde a eliminação física do outro, até a coação manifestações e outros espaços culturais como museus,
interna, mediante a regulação de costumes e moralidades. exposições, centros culturais, música erudita, clássicos da
Nesse modo de nos situarmos diante do outro, assumimos uma literatura. Se aceitarmos a inexistência, no mundo
visão binária e dicotômica. Em um lado separamos os bons, os contemporâneo, de qualquer “pureza cultural”, se
verdadeiros, os autênticos, os civilizados, cultos, defensores da pretendermos abrir espaço na escola para a complexa
liberdade e da paz; em outro, deixamos os outros: os maus, os interpenetração das culturas e para a pluralidade cultural,
falsos, os bárbaros, os ignorantes e os terroristas. Se nos tanto as manifestações culturais hegemônicas como as
identificamos com os primeiros, o que temos a fazer é eliminar, subalternizadas precisam integrar o currículo e ser objeto de
neutralizar, dominar ou subjugar os outros. Caso nos sintamos apreciação e crítica. Talvez fosse útil, para o desenvolvimento
representados como integrantes do polo oposto, ou do que sugerimos, que discutíssemos, na escola, com que
internalizamos a nossa maldade e nos deixamos salvar, recursos podemos contar em nossa comunidade e como fazer
passando para o lado dos bons, ou nos confrontamos para que outros recursos venham, de alguma forma, a tornar-
violentamente com eles. Como essa primeira perspectiva se se familiares a nossos(as) alunos(as). Abrir as portas, na
traduz na escola? escola, a diferentes manifestações da cultura popular, além das
que compõem a chamada cultura erudita.

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Nessa perspectiva, há um ponto que desejamos destacar. Consideramos que gestores e docentes precisam organizar os
Ao intentarmos transformar a escola em um espaço cultural, tempos e os espaços escolares para abranger as atividades de
estamos convidando cada professor(a), como intelectual que pesquisa aqui propostas. É fundamental que, nesse esforço,
é, a desempenhar o papel de crítico(a) cultural. Estamos verifiquem-se os recursos necessários e os com que se pode
considerando que a atividade intelectual implica o contar.
questionamento do que parece inscrito na natureza das coisas, A comunidade em que a escola se situa pode e deve
do que nos é apresentado como natural, questionamento esse participar tanto do planejamento como da implementação dos
que visa, fundamentalmente, mostrar que as coisas não são estudos. A Secretaria de Educação deve ser chamada a
inevitáveis. A atividade intelectual centra-se, assim, na crítica colaborar. A pesquisa do(a) professor(a) da escola básica
da cultura em que estamos imersos. Como se expressa essa certamente difere da pesquisa levada a cabo na universidade e
atividade na prática curricular? Julgamos que cabe à escola, nos centros de pesquisa, o que, entretanto, não a torna inferior.
por meio de suas atividades pedagógicas, mostrar ao aluno que A participação em pesquisa pode mesmo contribuir para que
as coisas não são inevitáveis e que tudo que passa por natural o trabalho do profissional da educação venha a ser mais
precisa ser questionado e pode, consequentemente, ser valorizado. Estamos defendendo, em resumo, que se torne o
modificado. Cabe à escola levá-lo a compreender que a ordem currículo, em cada escola, um espaço de pesquisa, esta
social em que está inserido se define por ações sociais cujo concebida em um sentido mais amplo, reiteramos, não está
poder não é absoluto. O que existe precisa ser visto como a restrita à universidade. Como professores(as)/ intelectuais
condição de uma ação futura, não como seu limite. Nossos que atuamos na escola, precisamos enfrentar esse desafio,
questionamentos devem, então, provocar tensões e desafiar o tornando-nos pesquisadores(as) dos saberes, valores e
existente. Podem não mudar o mundo, mas podem permitir práticas que ensinamos e/ou desenvolvemos, centrando nosso
que o aluno o compreenda melhor. ensino na pesquisa. Nesse processo, poderemos aperfeiçoar
A crítica de diferentes artefatos culturais na escola pode, nosso desempenho profissional, situarmo-nos melhor no
por exemplo, levar-nos a identificar e a desafiar visões mundo e, ainda, engajarmo-nos na luta por melhorá-lo. Nesse
estereotipadas da mulher propagadas em anúncios; imagens processo, poderemos despertar nos alunos e nas alunas o
desrespeitosas de homossexuais difundidas em programas espírito de pesquisa, de busca, de ter prazer no aprender, no
cômicos de televisão; preconceitos contra povos não conhecer coisas novas. Não deveríamos, então, começar, já na
ocidentais evidentes em desenhos animados; mensagens próxima reunião de professores(as) de nossa escola, a refletir
encontradas em revistas para adolescentes do sexo feminino sobre como tornar o currículo um espaço de estudos e de
(e da classe média) que incentivam o uso de drogas, o pesquisas? Estamos certos de que essa discussão pode ser
consumismo e o individualismo; estímulos à erotização extremamente estimulante e proveitosa.
precoce das meninas, visíveis em brinquedos e programas
infantis; presença e aceitação da violência em filmes, jogos e Fonte: Disponível em:
brinquedos. Outros exemplos poderiam ser citados, http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag
reforçando-nos o ponto de vista de que os produtos culturais 3.pdf
à nossa volta nada têm de ingênuos ou puros; ao contrário,
incorporam intenções de apoiar, preservar ou produzir
situações que favorecem certos grupos e outros não. Tais
artefatos, como se tem insistentemente acentuado, 11. O desenvolvimento do
desempenham, junto com o currículo escolar, importante projeto político pedagógico
papel no processo de formação das identidades de nossas
da escola. Educação
crianças e nossos adolescentes, devendo constituir- se,
portanto, em elementos centrais de crítica em processos inclusiva: fundamentos
curriculares culturalmente orientados. legais, conceito e princípios,
adaptações curriculares, a
O currículo como um espaço de desenvolvimento de
pesquisas escola inclusiva.
Como intelectual que é, todo(a) profissional da educação
precisa comprometer-se com o estudo e com a pesquisa, bem
como posicionar-se politicamente. Precisa, assim, situar-se
frente aos problemas econômicos, sócio-políticos, culturais e Projeto Político Pedagógico.
ambientais que hoje nos desafiam e que desconhecem as
fronteiras entre as nações ou entre as classes sociais. Sem esse Até muito recentemente a questão da escola limitava-se a
esforço, será impossível propiciar ao(à) aluno(a) uma uma escolha entre ser tradicional e ser moderna, Essa
compreensão maior do mundo em que vive, para que nele tipologia não desapareceu, mas não responde a todas as
possa atuar autonomamente. Sem esse esforço, será questões atuais da escola. Muito menos à questão do seu
impossível a proposição de alternativas viáveis, decorrentes projeto16.
de reflexões e investigações cuidadosas e rigorosas. Daí a A crise paradigmática também atinge a escola e ela se
necessidade de um posicionamento claro e de um pergunta sobre si mesma, sobre seu papel como instituição
comprometimento com a pesquisa. Será possível e desejável numa sociedade pós-moderna e pós-industrial, caracterizada
que nós, profissionais da educação infantil e do ensino pela globalização da economia, das comunicações, da educação
fundamental, venhamos a nos envolver com pesquisa? e da cultura, pelo pluralismo político, pela emergência do
Julgamos que sim. Propomos que todo(a) profissional da poder local. Nessa sociedade cresce a reivindicação pela
educação venha, de algum modo, a participar de pesquisas participação e autonomia contra toda forma de uniformização
sobre sua prática pedagógica ou administrativa, a disciplina e o desejo de afirmação da singularidade de cada região, de
que ensina, os saberes docentes, o currículo, a avaliação, a cada língua etc.
educação em geral, a sociedade em que vivemos ou sobre Nunca o discurso da autonomia, cidadania e participação
temas diversificados (não incluídos no currículo). no espaço Escolar ganhou tanta força. Estes têm sido temas
marcantes do debate educacional brasileiro de hoje. Essa

16Texto extraído de GADOTTI, Moacir. “Projeto político pedagógico da escola:


fundamentos para sua realização”.

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preocupação tem-se traduzido, sobretudo pela reivindicação permanente entre professores e alunos, o que leva ao
de um projeto políticopedagógico próprio de cada escola. conhecimento mútuo e, em consequência, aproximará também
Neste texto, gostaríamos de tratar deste assunto, sublinhando as necessidades dos alunos dos conteúdos ensinados pelos
a sua importância, seu significado, bem como as dificuldades, professores.
obstáculos e elementos facilitadores da elaboração do projeto A autonomia e a participação — pressupostos do projeto
políticopedagógico. político- pedagógico da escola — não se limitam à mera
Frequentemente se confunde projeto com plano. declaração de princípios consignados em algum documento. Sua
Certamente o plano diretor da escola — como conjunto de presença precisa ser sentida no Conselho de Escola ou Colegiado,
objetivos, metas e procedimentos — faz parte do seu projeto, mas também na escolha do livro didático, no planejamento do
mas não é todo o seu projeto. ensino, na organização de eventos culturais, de atividades
Isso não significa que objetivos metas e procedimentos não cívicas, esportivas, recreativas. Não basta apenas assistir às
sejam Necessários. Mas eles são insuficientes, pois, em geral, o reuniões.
plano fica no campo do instituído, ou melhor, no cumprimento
mais eficaz do instituído, como defende hoje todo o discurso O projeto da escola depende, sobretudo, da ousadia dos
oficial em torno da “qualidade” e, em particular, da “qualidade seus agentes, da ousadia de cada escola em assumir-se como
total”. Um projeto necessita sempre rever o instituído para, a tal, partindo da "cara" que tem, com o seu cotidiano e o seu
partir dele, instituir outra coisa. Tornar-se instituinte. Um tempo-espaço, isto é, o contexto histórico em que ela se insere.
projeto político-pedagógico não nega o instituído da escola Um projeto políticopedagógico constrói-se de forma
que é a sua história, que é o conjunto dos seus currículos, dos interdisciplinar. Não basta trocar de teoria como se ela
seus métodos, o conjunto dos seus atores internos e externos pudesse salvar a escola.
e o seu modo de vida. Um projeto Sempre confronta esse Pelo que foi dito até agora, o projeto pedagógico da escola
instituído com o instituinte. pode ser considerado como um momento importante de
Não se constrói um projeto sem uma direção política, um renovação da escola. Projetar significa “lançar-se para frente”,
norte, um rumo. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é antever um futuro diferente do presente. Projeto pressupõe
também político. O projeto pedagógico da escola é por isso uma ação intencionada com um sentido definido, explícito,
mesmo, sempre um processo inconcluso, uma etapa em sobre o que se quer inovar. Nesse processo podem-se
direção a uma finalidade que permanece como horizonte da distinguir dois momentos:
escola.
O projeto pedagógico da escola está hoje inserido num a) o momento da concepção do projeto;
cenário marcado pela diversidade. Cada escola é resultado de b) o momento da institucionalização e implementação do
um processo de desenvolvimento de suas próprias projeto.
contradições. Não existem duas escolas iguais. Diante disso,
desaparece aquela arrogante pretensão de saber de antemão Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas
quais serão os resultados do projeto para todas as escolas de para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado
um sistema educacional. A arrogância do dono da verdade dá confortável para arriscar-se, atravessar um período de
lugar à criatividade e ao diálogo. A pluralidade de projetos instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da
pedagógicos faz parte da história da educação da nossa época. promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o
Por isso, não deve existir um padrão único que oriente a presente. Um projeto educativo pode ser tomado como
escolha do projeto de nossas escolas. Não se entende, portanto, promessa frente a determinadas rupturas. As promessas
uma escola sem autonomia, autonomia para estabelecer o seu tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo
projeto e autonomia para executá-lo e avaliá-lo. seus atores e autores.
A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte
da própria natureza do ato pedagógico. A gestão democrática A noção de projeto implica, sobretudo tempo:
da escola é, portanto, uma exigência de seu projeto
políticopedagógico. a) Tempo político — define a oportunidade política de um
Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de determinado projeto.
mentalidade de todos os membros da comunidade escolar. b) Tempo institucional — Cada escola encontra-se num
Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de determinado tempo de sua história. O projeto que pode ser
que a escola pública é apenas um aparelho burocrático do inovador para uma escola pode não ser para outra.
Estado e não uma conquista da comunidade. A gestão c) Tempo escolar — O calendário da escola, o período no
democrática da escola implica que a comunidade, os usuários qual o projeto é elaborado é também decisivo para o seu sucesso.
da escola, sejam os seus dirigentes e gestores e não apenas os d) Tempo para amadurecer as ideias — Só os projetos
seus fiscalizadores ou, menos ainda, os meros receptores dos burocráticos são impostos e, por isso, revelam-se ineficientes em
serviços educacionais. Na gestão democrática pais, mães, médio prazo. Há um tempo para sedimentar ideias. Um projeto
alunas, alunos, professores e funcionários assumem sua parte precisa ser discutido e isso leva tempo.
de responsabilidade pelo projeto da escola. Como elementos facilitadores de êxito de um projeto,
podemos destacar:
Há pelo menos duas razões que justificam a implantação
de um processo de gestão democrática na escola pública: 1) Comunicação eficiente. Um projeto deve ser factível e seu
enunciado facilmente compreendido.
1) A escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela 2) Adesão voluntária e consciente ao projeto. Todos
deve dar o exemplo. A gestão democrática da escola é um passo precisam estar envolvidos. A corresponsabilidade é um fator
importante no aprendizado da democracia. A escola não tem um decisivo no êxito de um projeto;
fim em si mesma. Ela está a serviço da comunidade. Nisso, a 3) Suporte institucional e financeiro, que significa: vontade
gestão democrática da escola está prestando um serviço política, pleno conhecimento de todos — principalmente dos
também à comunidade que a mantém. dirigentes — e recursos financeiros claramente definidos.
2) A gestão democrática pode melhorar o que é específico da 4) Controle, acompanhamento e avaliação do projeto. Um
escola, isto é, o seu ensino. A participação na gestão da escola projeto que não pressupõe constante avaliação não consegue
proporcionará um melhor conhecimento do funcionamento da saber se seus objetivos estão sendo atingidos.
escola e de todos os seus atores; propiciará um contato

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5) Uma atmosfera, um ambiente favorável. Não se deve (educação multicultural e comunitária), a democratização das
desprezar certo componente mágico-simbólico para o êxito de relações de poder dentro da escola, o enfrentamento da
um projeto, certa mística que cimenta a todos os que se questão da repetência e da avaliação, a visão interdisciplinar e
envolvem no design de um projeto. transdisciplinar e a formação permanente dos educadores. A
6) Credibilidade. As ideias podem ser boas, mas, se os que as interdisciplinaridade refere-se à estreita relação que as
defendem não têm prestígio, comprovada competência e disciplinas mantêm entre si e a Transdisciplinaridade, à
legitimidade, o projeto pode ficar limitado. superação das fronteiras existentes entre as disciplinas, indo,
7) Referencial teórico que facilite encontrar os principais portanto, além da interação e reciprocidade existentes entre
conceitos estrutura ao projeto. as ciências.
Da nossa experiência vivida nesses últimos anos, tentando
A falta desses elementos obstaculiza a elaboração e a entender esse movimento, algumas lições podemos tirar que
implantação de um projeto novo para a escola. A implantação nos levam a acreditar nessa concepção/realização da
de um novo projeto político pedagógico da escola enfrentará educação. Por isso, baseado nessa crença, apresentamos um
sempre a descrença generalizada dos que pensam que de nada “decálogo” no livro Escola cidadã, em 1992. Para nós, a escola
adianta projetar uma boa escola enquanto não houver vontade cidadã surge como uma realização concreta dos ideais da
política dos “de cima”. Contudo, o pensamento e a prática dos escola pública popular, cujos princípios vimos defendendo, ao
“de cima” não se modificarão enquanto não existir pressão dos lado de Paulo Freire, nas últimas duas décadas.
“de baixo”. Um projeto políticopedagógico da escola deve
constituir-se num verdadeiro processo de conscientização e de Isso, de forma alguma, significa renunciar ao sonho da
formação cívica; deve ser um processo de recuperação da construção de uma sociedade justa e humana, nem jogar no
importância e da necessidade do planejamento na educação. lixo da História nossa utopia revolucionária. Precisamos,
O conceito de cidadania, contudo, é um conceito ambíguo. sobretudo da utopia neossocialista contra a ideologia
Em 1789 a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão neoliberal que prega o fim da utopia e da história. Estamos
estabelecia as primeiras normas para assegurar a liberdade convencidos, acima de tudo, que a educação, mais do que
individual e a propriedade. Existem diversas concepções de passar por uma melhoria da qualidade do ensino que está aí,
cidadania: a liberal, a neoliberal, a progressista ou socialista como sustenta o Banco Mundial, ela precisa de uma
democrática (o socialismo autoritário e burocrático não transformação radical, exigência premente e concreta de uma
admite a democracia como valor universal e despreza a mudança estrutural provocada pela inevitável globalização da
cidadania como valor progressista). economia e das comunicações, pela revolução da informática a
Existe hoje uma concepção consumista de cidadania (não ela associada e pelos novos valores que estão refundando
ser enganado na compra de um bem de consumo) e uma instituições e convivência social na emergente sociedade pós-
concepção oposta que é uma concepção plena de cidadania, moderna. Por isso, como afirmamos no início do texto, não se
que consiste na mobilização da sociedade para a conquista dos constrói um projeto políticopedagógico sem uma direção
direitos acima mencionados e que devem ser garantidos pelo política, um norte, um rumo.
Estado. A concepção liberal e neoliberal de cidadania — que
defende o “Estado mínimo”, a privatização da educação e que AS DIMENSÕES DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
estimula a concentração de renda — entende que a cidadania
é apenas um produto da solidariedade individual (da “gente de Projeto Político-Pedagógico da Escola: Uma
bem”) entre as pessoas e não uma conquista no interior do Construção Coletiva
próprio Estado. A cidadania implica em instituições e regras
justas. O Estado, numa visão socialista democrática, precisa O projeto político-pedagógico17 tem sido objeto de estudos
exercer uma ação — para evitar, por exemplo, os abusos para professores, pesquisadores e instituições educacionais
econômicos dos oligopólios — fazendo valer as regras em níveis nacional, estadual e municipal, em busca da
definidas socialmente. melhoria da qualidade do ensino.
O presente estudo tem a intenção de refletir acerca da
Cidadania e autonomia são hoje duas categorias construção do projeto político-pedagógico, entendido como a
estratégicas de construção de uma sociedade melhor em própria organização do trabalho pedagógico de toda a escola.
torno das quais há frequentemente consenso. Essas A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de
categorias se constituem na base da nossa identidade seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu
nacional tão desejada e ainda tão longínqua, em função do trabalho pedagógico com base em seus alunos. Nessa
arraigado individualismo tanto das nossas elites, quanto perspectiva, é fundamental que ela assuma suas
das fortes corporações emergentes, ambas dependentes do responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas
Estado paternalista. superiores tomem essa iniciativa, mas que lhe deem as
condições necessárias para levá-la adiante. Para tanto, é
O movimento atual da chamada “escola cidadã” está importante que se fortaleçam as relações entre escola e
inserido nesse novo contexto histórico de busca de identidade sistema de ensino.
nacional. A “escola cidadã” surge como resposta à Para isso, começaremos, na primeira parte, conceituando
burocratização do sistema de ensino e à sua ineficiência. projeto político- pedagógico. Em seguida, na segunda parte,
É nesse contexto histórico que vem se desenhando o trataremos de trazer nossas reflexões para a análise dos
projeto e a realização prática da escola cidadã em diversas princípios norteadores. Finalizaremos discutindo os
partes do país, como uma alternativa nova e emergente. Ela elementos básicos da organização do trabalho pedagógico,
vem surgindo em numerosos municípios e já se mostra nas necessários à construção do projeto político-pedagógico.
preocupações dos dirigentes educacionais em diversos No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim
Estados brasileiros. projectu, participio passado do verbo projicere, que significa
Do movimento histórico-cultural a que nos referimos, lançar para diante. Plano, intento, designio. Empresa,
estão surgindo alguns eixos norteadores da escola cidadã: a empreendimento. Redação provisoria de lei. Plano geral de
integração entre educação e cultura, escola e comunidade edificação.

17Texto adaptado de VEIGA, I. P. A. Projeto político-pedagógico da escola: uma


construção possível.

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Ao construirmos os projetos de nossas escolas, planejamos esteja compromissada em solucionar os problemas da


o que temos intenção de fazer, de realizar. Lançamo-nos para educação e do ensino de nossa escola; uma teoria que subsidie
diante, com base no que temos, buscando o possível. É antever o projeto político-pedagógico. Por sua vez, a prática
um futuro diferente do presente. Nas palavras de Gadotti: pedagógica que ali se processa deve estar ligada aos interesses
Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas da maioria da população. Faz-se necessário, também, o
para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado domínio das bases teórico- metodológicas indispensáveis à
confortável para arriscar-se, atravessar um período de concretização das concepções assumidas coletivamente. Mais
instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da do que isso, afirma Freitas, (...) as novas formas têm que ser
promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o pensadas em um contexto de luta, de correlações de força - às
presente. Um projeto educativo pode ser tomado como vezes favoráveis, às vezes desfavoráveis. Terão que nascer no
promessa frente a determinadas rupturas. As promessas próprio "chão da escola", com apoio dos professores e
tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo pesquisadores. Não poderão ser inventadas por alguém, longe
seus atores e autores. da escola e da luta da escola.
Nessa perspectiva, o projeto político-pedagógico vai além Isso significa uma enorme mudança na concepção do
de um simples agrupamento de planos de ensino e de projeto político- pedagógico e na própria postura da
atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em administração central. Se a escola nutre-se da vivência
seguida arquivado ou encaminhado às autoridades cotidiana de cada um de seus membros, coparticipantes de sua
educacionais como prova do cumprimento de tarefas organização do trabalho pedagógico à administração central,
burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os seja o Ministério da Educação, a Secretaria de Educação
momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo Estadual ou Municipal, não compete a eles definir um modelo
da escola. pronto e acabado, mas sim estimular inovações e coordenar as
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação ações pedagógicas planejadas e organizadas pela própria
intencional, com um sentido explícito, com um compromisso escola. Em outras palavras, as escolas necessitam receber
definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da assistência técnica e financeira decidida em conjunto com as
escola é, também, um projeto político por estar intimamente instâncias superiores do sistema de ensino. Isso pode exigir,
articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses também, mudanças na própria lógica de organização das
reais e coletivos da população majoritária. E político no instâncias superiores, implicando uma mudança substancial
sentido de compromisso com a formação do cidadão para um na sua prática.
tipo de sociedade. "A dimensão política se cumpre na medida Para que a construção do projeto político-pedagógico seja
em que ela se realiza enquanto prática especificamente possível não é necessário convencer os professores, a equipe
pedagógica". Na dimensão pedagógica reside a possibilidade escolar e os funcionários a trabalhar mais, ou mobilizá-los de
da efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação forma espontânea, mas propiciar situações que lhes permitam
do cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico aprender a pensar e a realizar o fazer pedagógico de forma
e criativo. É pedagógico no sentido de definir as ações coerente.
educativas e as características necessárias às escolas para
cumprir seus propósitos e sua intencionalidade. O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não tem
O projeto político-pedagógico, ao se constituir em processo mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na ótica
democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma do poder centralizador que dita as normas e exerce o controle
forma de organização do trabalho pedagógico que supere os técnico burocrático. A luta da escola é para a descentralização
conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, em busca de sua autonomia e qualidade.
corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando Do exposto, o projeto político-pedagógico não visa
impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas a uma
relações no interior da escola, diminuindo os efeitos qualidade em todo o processo vivido. Vale acrescentar, ainda,
fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças que a organização do trabalho pedagógico da escola tem a ver
e hierarquiza os poderes de decisão. com a organização da sociedade. A escola nessa perspectiva é
Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a vista como uma instituição social, inserida na sociedade
organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como capitalista, que reflete no seu interior as determinações e
organização de toda a escola e como organização da sala de contradições dessa sociedade.
aula, incluindo sua relação com o contexto social imediato,
procurando preservar a visão de totalidade. Nesta caminhada Princípios norteadores do projeto político-pedagógico
será importante ressaltar que o projeto político-pedagógico
busca a organização do trabalho pedagógico da escola na sua A abordagem do projeto político-pedagógico, como
globalidade. organização do trabalho de toda a escola, está fundada nos
A principal possibilidade de construção do projeto princípios que deverão nortear a escola democrática, pública e
político-pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, gratuita:
de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isso
significa resgatar a escola como espaço público, como lugar de a) Igualdade de condições para acesso e permanência na
debate, do diálogo fundado na reflexão coletiva. Portanto, é escola. Saviani alerta-nos para o fato de que há uma
preciso entender que o projeto político-pedagógico da escola desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto
dará indicações necessárias à organização do trabalho de chegada deve ser garantida pela mediação da escola. O
pedagógico que inclui o trabalho do professor na dinâmica autor destaca que "só é possível considerar o processo
interna da sala de aula, ressaltado anteriormente. educativo em seu conjunto sob a condição de se distinguir a
Buscar uma nova organização para a escola constitui uma democracia como possibilidade no ponto de partida e
ousadia para educadores, pais, alunos e funcionários. Para democracia como realidade no ponto de chegada". Igualdade
enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial de oportunidades requer, portanto, mais que a expansão
que fundamente a construção do projeto político- pedagógico. quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento com
A questão é, pois, saber a qual referencial temos que recorrer simultânea manutenção de qualidade.
para a compreensão de nossa prática pedagógica. Nesse
sentido, temos que nos alicerçar nos pressupostos de uma b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias
teoria pedagógica crítica viável, que parta da prática social e econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto

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político-pedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade contribui para que sejam contempladas questões que de outra
para todos. forma não entrariam em cogitação".
A qualidade que se busca implica duas dimensões Nesse sentido, fica claro entender que a gestão
indissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil de
subordinada à outra; cada uma delas tem perspectivas ser consolidado, pois se trata da participação crítica na
próprias. construção do projeto político-pedagógico e na sua gestão.
A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos, a
técnica. A qualidade formal não está afeita, necessariamente, a d) Liberdade é outro princípio constitucional. O princípio
conteúdos determinados. Demo afirma que a qualidade formal da liberdade está sempre associado à ideia de autonomia. O
"significa a habilidade de manejar meios, instrumentos, que é necessário, portanto, como ponto de partida, é o resgate
formas, técnicas, procedimentos diante dos desafios do do sentido dos conceitos de autonomia e liberdade. A
desenvolvimento". autonomia e a liberdade fazem parte da própria natureza do
A qualidade política é condição imprescindível da ato pedagógico. O significado de autonomia remete-nos para
participação. Está voltada para os fins, valores e conteúdos. regras e orientações criadas pelos próprios sujeitos da ação
Quer dizer "a competência humana do sujeito em termos de se educativa, sem imposições externas.
fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade Para Rios, a escola tem uma autonomia relativa e a
humana" (idem, ibidem). liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é uma
Nessa perspectiva, o autor chama atenção para o fato de articulação de limites e possibilidades. Para a autora, a
que a qualidade centra-se no desafio de manejar os liberdade é uma experiência de educadores e constrói-se na
instrumentos adequados para fazer a história humana. A vivência coletiva, interpessoal. Portanto, "somos livres com os
qualidade formal está relacionada com a qualidade política e outros, não apesar dos outros". Se pensamos na liberdade na
esta depende da competência dos meios. escola, devemos pensá-la na relação entre administradores,
A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as professores, funcionários e alunos que aí assumem sua parte
maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que garantir de responsabilidade na construção do projeto político-
a meta qualitativa do desempenho satisfatório de todos. pedagógico e na relação destes com o contexto social mais
Qualidade para todos, portanto, vai além da meta quantitativa amplo.
de acesso global, no sentido de que as crianças em idade
escolar entrem na escola. É preciso garantir a permanência dos e) Valorização do magistério é um princípio central na
que nela ingressarem. Em síntese, qualidade "implica discussão do projeto político-pedagógico. A qualidade do
consciência crítica e capacidade de ação, saber e mudar". ensino ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar
O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que cidadãos capazes de participar da vida socioeconómica,
exige de educadores, funcionários, alunos e pais a definição política e cultural do país relacionam-se estreitamente a
clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de fins. formação (inicial e continuada), condições de trabalho
Assim, todos deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de (recursos didáticos, recursos físicos e materiais, dedicação
cidadão que pretendem formar. As ações específicas para a integral à escola, redução do número de alunos na sala de aula
obtenção desses fins são meios. Essa distinção clara entre fins etc), remuneração, elementos esses indispensáveis à
e meios é essencial para a construção do projeto político- profissionalização do magistério. A melhoria da qualidade da
pedagógico. formação profissional e a valorização do trabalho pedagógico
requerem a articulação entre instituições formadoras, no caso
c) Gestão democrática é um princípio consagrado pela as instituições de ensino superior e a Escola Normal, e as
Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica, agências empregadoras, ou seja, a própria rede de ensino.
administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica na
prática administrativa da escola, com o enfrentamento das O reforço à valorização dos profissionais da educação,
questões de exclusão e reprovação e da não-permanência do garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional
aluno na sala de aula, o que vem provocando a marginalização permanente, significa "valorizar a experiência e o
das classes populares. Esse compromisso implica a construção conhecimento que os professores têm a partir de sua prática
coletiva de um projeto político-pedagógico ligado à educação pedagógica".
das classes populares. A formação continuada é um direito de todos os
A gestão democrática exige a compreensão em profissionais que trabalham na escola, uma vez que ela não só
profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica. possibilita a progressão funcional baseada na titulação, na
Ela visa romper com a separação entre concepção e execução, qualificação e na competência dos profissionais, mas também
entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento profissional
o controle do processo e do produto do trabalho pelos dos professores articulado com as escolas e seus projetos.
educadores.
A gestão democrática implica principalmente o repensar A formação continuada dos profissionais da escola
da estrutura de poder da escola, tendo em vista sua compromissada com a construção do projeto político-
socialização. A socialização do poder propicia a prática da pedagógico não deve se limitar aos conteúdos curriculares,
participação coletiva, que atenua o individualismo; da mas se estender à discussão da escola de maneira geral e de
reciprocidade, que elimina a exploração; da solidariedade, que suas relações com a sociedade. Daí, passarem a fazer parte dos
supera a opressão; da autonomia, que anula a dependência de programas de formação continuada questões como cidadania,
órgãos intermediários que elaboram políticas educacionais gestão democrática, avaliação, metodologia de pesquisa e
das quais a escola é mera executora. ensino, novas tecnologias de ensino, entre outras.
A busca da gestão democrática inclui, necessariamente, a Veiga e Carvalho afirmam que "o grande desafio da escola,
ampla participação dos representantes dos diferentes ao construir sua autonomia, deixando de lado seu papel de
segmentos da escola nas decisões/ações administrativo- mera 'repetidora' de programas de 'treinamento', é ousar
pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques: "A assumir o papel predominante na formação dos profissionais".
participação ampla assegura a transparência das decisões, Inicialmente, convém alertar para o fato de que essa
fortalece as pressões para que sejam elas legítimas, garante o tomada de consciência dos princípios norteadores do projeto
controle sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo, político-pedagógico não pode ter o sentido espontaneísta de
cruzar os braços diante da atual organização da escola,

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inibidora da participação de educadores, funcionários e alunos Essa colocação está sustentada na ideia de que a escola
no processo de gestão. deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o trabalho
É preciso ter consciência de que a dominação no interior de refletir sobre sua intencionalidade educativa. Nesse
da escola efetiva- se por meio das relações de poder que se sentido, ela procura alicerçar o conceito de autonomia,
expressam nas práticas autoritárias e conservadoras dos enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado
diferentes profissionais, distribuídos hierarquicamente, bem os outros níveis da esfera administrativa educacional.
como por meio das formas de controle existentes no interior A ideia de autonomia está ligada à concepção
da organização escolar. Como resultante dessa organização, a emancipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não
escola pode ser descaracterizada como instituição histórica e pode depender dos órgãos centrais e intermediários que
socialmente determinada, instância privilegiada da produção definem a política da qual ela não passa de executora. Ela
e da apropriação do saber. As instituições escolares concebe seu projeto político-pedagógico e tem autonomia para
representam "armas de contestação e luta entre grupos executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova atitude de
culturais e econômicos que têm diferentes graus de poder". liderança, no sentido de refletir sobre suas finalidades
Por outro lado, a escola é local de desenvolvimento da sociopolíticas e culturais.
consciência crítica da realidade.
Acreditamos que os princípios analisados e o b) A estrutura organizacional
aprofundamento dos estudos sobre a organização do trabalho A escola, de forma geral, dispõe basicamente de duas
pedagógico trarão contribuições relevantes para a estruturas: as administrativas e as pedagógicas. As primeiras
compreensão dos limites e das possibilidades dos projetos asseguram, praticamente, a locação e a gestão de recursos
políticopedagógicos voltados para os interesses das camadas humanos, físicos e financeiros. Fazem parte, ainda, das
menos favorecidas. estruturas administrativas todos os elementos que têm uma
Veiga acrescenta, ainda, que "a importância desses forma material, como, por exemplo, a arquitetura do edifício
princípios está em garantir sua operacionalização nas escolar e a maneira como ele se apresenta do ponto de vista de
estruturas escolares, pois uma coisa é estar no papel, na sua imagem: equipamentos e materiais didáticos, mobiliário,
legislação, na proposta, no currículo, e outra é estar ocorrendo distribuição das dependências escolares e espaços livres,
na dinâmica interna da escola, no real, no concreto". cores, limpeza e saneamento básico (água, esgoto, lixo e
energia elétrica).
Construindo o projeto político-pedagógico As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a ação das
administrativas, "organizam as funções educativas para que a
O projeto político-pedagógico é entendido, neste estudo, escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades".
como a própria organização do trabalho pedagógico da escola. As estruturas pedagógicas referem-se, fundamentalmente,
A construção do projeto político- pedagógico parte dos às interações políticas, às questões de ensino e aprendizagem
princípios de igualdade, qualidade, liberdade, gestão e às de currículo. Nas estruturas pedagógicas incluem-se todos
democrática e valorização do magistério. A escola é concebida os setores necessários ao desenvolvimento do trabalho
como espaço social marcado pela manifestação de práticas pedagógico.
contraditórias, que apontam para a luta e/ou acomodação de A análise da estrutura organizacional da escola visa
todos os envolvidos na organização do trabalho pedagógico. O identificar quais estruturas são valorizadas e por quem,
que pretendemos enfatizar é que devemos analisar e verificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar
compreender a organização do trabalho pedagógico, no claro que a escola é uma organização orientada por
sentido de gestar uma nova organização que reduza os efeitos finalidades, controlada e permeada pelas questões do poder.
de sua divisão do trabalho, de sua fragmentação e do controle Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os
hierárquico. Nessa perspectiva, a construção do projeto pressupostos que embasam a estrutura burocrática da escola
político- pedagógico é um instrumento de luta, é uma forma de que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou a
contrapor-se à fragmentação do trabalho pedagógico e sua modificar a realidade social. Para poderem realizar um ensino
rotinização, à dependência e aos efeitos negativos do poder de qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas têm que
autoritário e centralizador dos órgãos da administração romper com a atual forma de organização burocrática que
central. regula o trabalho pedagógico - pela conformidade às regras
A construção do projeto político-pedagógico, para gestar fixadas, pela obediência a leis e diretrizes emanadas do poder
uma nova organização do trabalho pedagógico, passa pela central e pela cisão entre os que pensam e executam -, que
reflexão anteriormente feita sobre os princípios. Acreditamos conduz à fragmentação e ao consequente controle hierárquico
que a análise dos elementos constitutivos da organização trará que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a
contribuições relevantes para a construção do projeto ordem e a disciplina.
político- pedagógico. Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao
a) As finalidades da escola avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e
A escola persegue finalidades. É importante ressaltar que vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelando a
os educadores precisam ter clareza das finalidades de sua realidade escolar, estabelecendo relações, definindo
escola. Para tanto, há necessidade de refletir sobre a ação finalidades comuns e configurando novas formas de organizar
educativa que a escola desenvolve com base nas finalidades e as estruturas administrativas e pedagógicas para a melhoria
nos objetivos que ela define. As finalidades da escola referem- do trabalho de toda a escola na direção do que se pretende.
se aos efeitos intencionalmente pretendidos e almejados. Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos
É necessário decidir, coletivamente, o que se quer reforçar disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a realidade
dentro da escola e como detalhar as finalidades para atingir a escolar, cada instituição educativa assume sua marca, tecendo,
almejada cidadania. no coletivo, seu projeto político- pedagógico, propiciando
Alves afirma que é preciso saber se a escola dispõe de consequentemente a construção de uma nova forma de
alguma autonomia na determinação das finalidades e dos organização.
objetivos específicos. O autor enfatiza: "Interessará reter se as
finalidades são impostas por entidades exteriores ou se são c) O currículo
definidas no interior do 'território social' e se são definidas por Currículo é um importante elemento constitutivo da
consenso ou por conflito ou até se são matéria ambígua, organização escolar. Currículo implica, necessariamente, a
imprecisa ou marginal".

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interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de ser
por um referencial teórico que o sustente. humano, como alguém que tende a aceitar papéis necessários
Currículo é uma construção social do conhecimento, à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle social, na
pressupondo a sistematização dos meios para que essa visão crítica, é uma contribuição e uma ajuda para a
construção se efetive; é a transmissão dos conhecimentos contestação e a resistência à ideologia veiculada por
historicamente produzidos e as formas de assimilá-los; intermédio dos currículos escolares.
portanto, produção, transmissão e assimilação são processos
que compõem uma metodologia de construção coletiva do d) O tempo escolar
conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito. O tempo é um dos elementos constitutivos da organização
Nesse sentido, o currículo refere-se à organização do do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena o tempo:
conhecimento escolar. determina o início e o fim do ano, prevendo os dias letivos, as
O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera férias, os períodos escolares em que o ano se divide, os
simplificação do conhecimento científico, que se adequaria à feriados cívicos e religiosos, as datas reservadas à avaliação, os
faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí a necessidade de períodos para reuniões técnicas, cursos etc. O horário escolar,
promover, na escola, uma reflexão aprofundada sobre o que fixa o número de horas por semana e que varia em razão
processo de produção do conhecimento escolar, uma vez que das disciplinas constantes na grade curricular, estipula
ele é, ao mesmo tempo, processo e produto. A análise e a também o número de aulas por professor.
compreensão do processo de produção do conhecimento A organização do tempo do conhecimento escolar é
escolar ampliam a compreensão sobre as questões marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é,
curriculares. consequentemente, organizado em períodos fixos de tempo
Na organização curricular é preciso considerar alguns para disciplinas supostamente separadas. O controle
pontos básicos. O primeiro é o de que o currículo não é um hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é desperdiçado e
instrumento neutro. O currículo passa ideologia, e a escola controlado pela administração e pelo professor.
precisa identificar e desvelar os componentes ideológicos do Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo,
conhecimento escolar que a classe dominante utiliza para a mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais,
manutenção de privilégios. A determinação do conhecimento reduzindo, também, as possibilidades de se institucionalizar o
escolar, portanto, implica uma análise interpretativa e crítica, currículo-integração que conduz a um ensino em extensão.
tanto da cultura dominante, quanto da cultura popular. O Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se
currículo expressa uma cultura. necessário que a escola reformule seu tempo, estabelecendo
O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser períodos de estudo e reflexão de equipes de educadores,
separado do contexto social, uma vez que ele é historicamente fortalecendo a escola como instância de educação continuada.
situado e culturalmente determinado. É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu
O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
curricular que a escola deve adotar. Em geral, nossas aprendendo. E preciso tempo para acompanhar e avaliar o
instituições têm sido orientadas para a organização projeto político-pedagógico em ação. É preciso tempo para os
hierárquica e fragmentada do conhecimento escolar. Com base estudantes se organizarem e criarem seus espaços para além
em Bernstein, chamo a atenção para o fato de que a escola deve da sala de aula.
buscar novas formas de organização curricular, em que o
conhecimento escolar (conteúdo) estabeleça uma relação e) O processo de decisão
aberta e inter-relacione-se em torno de uma ideia integradora. Na organização formal de nossa escola, o fluxo das tarefas,
Esse tipo de organização curricular, o autor denomina de das ações e principalmente das decisões é orientado por
currículo-integração. O currículo- integração, portanto, visa procedimentos formalizados, prevalecendo as relações
reduzir o isolamento entre as diferentes disciplinas hierárquicas de mando e submissão, de poder autoritário e
curriculares, procurando agrupá-las num todo mais amplo. centralizador.
O quarto ponto refere-se à questão do controle social, já Uma estrutura administrativa da escola, adequada à
que o currículo formal (conteúdos curriculares, metodologia e realização de objetivos educacionais, de acordo com os
recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica) implica interesses da população, deve prever mecanismos que
controle. Por outro lado, o controle social é instrumentalizado estimulem a participação de todos no processo de decisão. Isso
pelo currículo oculto, entendido este como as "mensagens requer uma revisão das atribuições específicas e gerais, bem
transmitidas pela sala de aula e pelo ambiente escolar". Assim, como da distribuição do poder e da descentralização do
toda a gama de visões do mundo, as normas e os valores processo de decisão. Para que isso seja possível é necessário
dominantes são passados aos alunos no ambiente escolar, no que se instalem mecanismos institucionais visando à
material didático e mais especificamente por intermédio dos participação política de todos os envolvidos com o processo
livros didáticos, na relação pedagógica, nas rotinas escolares. educativo da escola.
Os resultados do currículo oculto "estimulam a conformidade
a ideais nacionais e convenções sociais ao mesmo tempo que f) As relações de trabalho
mantêm desigualdades socioeconómicas e culturais". E importante reiterar que, quando se busca uma nova
Com base em Aronowitz e Giroux, o autor chama a atenção organização do trabalho pedagógico, está se considerando que
para o fato de que a noção crítica de controle social não pode as relações de trabalho, no interior da escola, deverão estar
deixar de discutir "o contexto apropriado ao desenvolvimento calcadas nas atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de
de práticas curriculares que favoreçam o bom rendimento e a participação coletiva, em contraposição à organização regida
autonomia dos estudantes e, em particular, que reduzam os pelos princípios da divisão do trabalho, da fragmentação e do
elevados índices de evasão e repetência de nossa escola de controle hierárquico. É nesse movimento que se verifica o
primeiro grau". confronto de interesses no interior da escola. Por isso, todo
A noção de controle social na teoria curricular crítica é esforço de gestar uma nova organização deve levar em conta
mais um instrumento de contestação e resistência à ideologia as condições concretas presentes na escola. Há uma correlação
veiculada por intermédio dos currículos, tanto do formal de forças e é nesse embate que se originam os conflitos, as
quanto do oculto. tensões, as rupturas, propiciando a construção de novas
Orientar a organização curricular para fins emancipatórios formas de relações de trabalho, com espaços abertos à reflexão
implica, inicialmente, desvelar as visões simplificadas de coletiva que favoreçam o diálogo, a comunicação horizontal

Políticas Públicas da Educação 55


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entre os diferentes segmentos envolvidos com o processo Inclusão escolar – o que é? Por quê? Como fazer?
educativo, a descentralização do poder.
Inclusão escolar: O que é18?
g) A avaliação
Acompanhar e avaliar as atividades leva-nos à reflexão, Crise de paradigmas
com base em dados concretos sobre como a escola se organiza
para colocar em ação seu projeto político-pedagógico. A O mundo gira e, nessas voltas, vai mudando e nessas
avaliação do projeto político-pedagógico, numa visão crítica, mutações, ora drásticas ora nem tanto, vamos também nos
parte da necessidade de conhecer a realidade escolar, busca envolvendo e convivendo com o novo, mesmo que não nos
explicar e compreender criticamente as causas da existência apercebamos disso. Há, contudo, os mais sensíveis, os que
de problemas, bem como suas relações, suas mudanças e se estão de prontidão, “plugados” nessas reviravoltas e que dão
esforça para propor ações alternativas (criação coletiva). Esse os primeiros gritos de alarme, quando anteveem o novo, a
caráter criador é conferido pela autocrítica. necessidade do novo, a emergência do novo, a urgência de
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global adotá-lo, para não sucumbir à morte, à degradação do tempo,
analisam o projeto político-pedagógico não como algo à decrepitude da vida.
estanque, desvinculado dos aspectos políticos e sociais; não Esses pioneiros, as sentinelas do mundo, estão sempre
rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem um muito perto e não têm muitas saídas para se esquivar do
compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia ataque frontal das novidades. São essas pessoas que
das propostas conservadoras. Portanto, acompanhar e avaliar despontam nos diferentes âmbitos das atividades humanas e
o projeto político-pedagógico é avaliar os resultados da que num mesmo momento começam a transgredir, a
própria organização do trabalho pedagógico. ultrapassar as fronteiras do conhecimento, dos costumes, das
Considerando a avaliação dessa forma, é possível salientar Artes, inaugurando um novo cenário para as manifestações e
dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato atividades humanas, a qualquer custo, porque têm clareza do
dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto político- que estão propondo e não conseguem se esquivar ou se
pedagógico. Segundo, ela imprime uma direção às ações dos defender da força das concepções atualizadas.
educadores e dos educandos. Ocorre que, saibamos ou não, estamos sempre agindo,
O processo de avaliação envolve três momentos: a pensando, propondo, refazendo, aprimorando, retificando,
descrição e a problematização da realidade escolar, a excluindo, ampliando segundo paradigmas.
compreensão crítica da realidade descrita e problematizada e Conforme pensavam os gregos, os paradigmas podem ser
a proposição de alternativas de ação, momento de criação definidos, como modelos, exemplos abstratos, que se
coletiva. materializam de modo imperfeito no mundo concreto. Podem
A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser também ser entendidos segundo uma concepção moderna,
instrumento de exclusão dos alunos provenientes das classes como um conjunto de regras, normas, crenças, valores,
trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve favorecer princípios que são partilhados por um grupo em um dado
o desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de momento histórico e que norteiam o nosso comportamento,
conhecimentos científicos, sociais e tecnológicos produzidos até entrarem em crise, porque não nos satisfazem mais, não
historicamente e deve ser resultante de um processo coletivo dão conta dos problemas que temos de solucionar. Assim,
de avaliação diagnostica. Thomas Kuhn, em sua obra “A estrutura das revoluções
científicas” e outros pensadores, como Edgar Morin, em “O
Finalizando Paradigma Perdido – a natureza humana” definem paradigma.
Uma crise de paradigma é uma crise de concepção, de visão
A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho, de de mundo e, quando as mudanças são mais radicais, temos as
sua fragmentação e do controle hierárquico, precisa criar chamadas revoluções científicas.
condições para gerar uma outra forma de organização do O período em que se estabelecem as novas bases teóricas
trabalho pedagógico. suscitadas pela mudança de paradigmas é bastante difícil, pois
A reorganização da escola deverá ser buscada de dentro caem por terra os fundamentos sobre os quais a ciência se
para fora. O fulcro para a realização dessa tarefa será o assentava sem que se fincassem de todo os pilares que a
empenho coletivo na construção de um projeto político- sustentarão, daqui para frente.
pedagógico, e isso implica fazer rupturas com o existente para Sendo ou não uma mudança radical, toda crise de
avançar. paradigma é cercada de muita incerteza, insegurança, mas
É preciso entender o projeto político-pedagógico da escola também de muita liberdade e de ousadia, para buscar outras
como uma reflexão de seu cotidiano. Para tanto, ela precisa de alternativas, outras formas de interpretação e de
um tempo razoável de reflexão e ação necessário à conhecimento que nos sustente e nos norteie para realizar a
consolidação de sua proposta. mudança.
A construção do projeto político-pedagógico requer A inclusão, portanto, implica em mudança desse atual
continuidade das ações, descentralização, democratização do paradigma educacional para que se encaixe no mapa da
processo de tomada de decisões e instalação de um processo educação escolar que estamos retraçando.
coletivo de avaliação de cunho emancipatório. É inegável que os velhos paradigmas da modernidade
Finalmente, é importante destacar que o movimento de estão sendo contestados e que o conhecimento, matéria prima
luta e resistência dos educadores é indispensável para ampliar da educação escolar, está passando por uma reinterpretação.
as possibilidades e apressar as mudanças que se fazem As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de
necessárias dentro e fora dos muros da escola. gênero, enfim, a diversidade humana está sendo cada vez mais
desvelada e destacada e é condição imprescindível para se
entender como aprendemos, e como entendemos o mundo e a
nós mesmos.
Um novo paradigma do conhecimento está surgindo das
interfaces e das novas conexões que se formam entre saberes

18MANTOAN, Maria Teresa Égler (e colaboradores). Inclusão escolar: o que é?


Por quê? Como fazer?

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outrora isolados e partidos e dos encontros da subjetividade típicas das escolas tradicionais em que ainda atuamos e em
humana com o cotidiano, o social, o cultural. Redes cada vez que fomos formados para ensinar.
mais complexas de relações, geradas pela velocidade das
comunicações e informações estão rompendo as fronteiras das Integração ou inclusão?
disciplinas e estabelecendo novos marcos de compreensão Tendemos, pela distorção/redução de uma ideia, a nos
entre as pessoas e do mundo em que vivemos. desviar dos desafios de uma mudança efetiva de nossos
Diante dessas novidades, a escola não pode continuar propósitos e práticas. A indiferenciação entre os processos de
ignorando o que acontece ao seu redor, anulando e integração e inclusão escolar é prova dessa tendência na
marginalizando as diferenças nos processos por meio dos educação e está reforçando a vigência do paradigma
quais forma e instrui os alunos. E muito menos desconhecer tradicional de serviços educacionais. Muitos, no entanto,
que aprender implica em saber expressar, dos mais variados continuam mantendo-o ao defender a inclusão!
modos, o que sabemos, implica em representar o mundo, a A discussão em torno da integração e da inclusão cria ainda
partir de nossas origens, valores, sentimentos. inúmeras e infindáveis polêmicas, provocando as corporações
O tecido da compreensão não se trama apenas com os fios de professores e de profissionais da área de saúde que atuam
do conhecimento científico. Como Santos nos aponta, a no atendimento às pessoas com deficiência - os paramédicos e
comunidade acadêmica, não pode continuar a pensar que só outros, que tratam clinicamente de crianças e jovens com
há um único modelo de cientificidade e uma única problemas escolares e de adaptação social. A inclusão também
epistemologia, e que, no fundo, todo o resto é um saber vulgar, “mexe” com as associações de pais que adotam paradigmas
um senso comum que ela contesta em todos os níveis de ensino tradicionais de assistência às suas clientelas. Afeta, e muito, os
e de produção do conhecimento. A ideia de que o nosso campo professores da educação especial temerosos de perder o
de conhecimento é muito mais amplo do que aquele que cabe espaço que conquistaram nas escolas e redes de ensino e
no paradigma da ciência moderna traz a ciência para um envolvem grupos de pesquisa das Universidades (Mantoan,
campo de luta mais igual, em que ela tem de reconhecer e se 2002; Doré, Wagner e Brunet, 1996).
aproximar de outras formas de entendimento e perder a Os professores do ensino regular consideram-se
posição hegemônica em que se mantém, ignorando o que foge incompetentes para atender às diferenças nas salas de aula,
aos seus domínios. especialmente aos alunos com deficiência, pois seus colegas
A exclusão escolar manifesta-se das mais diversas e especializados sempre se distinguiram por realizar
perversas maneiras, e quase sempre o que está em jogo é a unicamente esse atendimento e exageraram essa capacidade
ignorância do aluno, diante dos padrões de cientificidade do de fazê-lo aos olhos de todos (Mittler, 2000).
saber escolar. Ocorre que a escola se democratizou abrindo-se Há também um movimento contrário de pais de alunos
a novos grupos sociais, mas não aos novos conhecimentos. sem deficiências, que não admitem a inclusão, por acharem
Exclui, então, os que ignoram o conhecimento que ela valoriza que as escolas vão baixar e/ou piorar ainda mais a qualidade
e, assim, entende que a democratização é massificação de de ensino se tiverem de receber esses novos alunos.
ensino, e não cria a possibilidade de diálogo entre diferentes Os dois vocábulos - integração e inclusão - conquanto
lugares epistemológicos, não se abre a novos conhecimentos tenham significados semelhantes, são empregados para
que não couberam, até então, dentro dela. expressar situações de inserção diferentes e se fundamentam
O pensamento subdividido em áreas específicas é uma em posicionamentos teórico-metodológicos divergentes.
grande barreira para os que pretendem, como nós, inovar a Grifei os termos, porque acho ainda necessário frisá-los,
escola. Nesse sentido, é imprescindível questionar esse embora admita que essa distinção já poderia estar bem
modelo de compreensão que nos é imposto desde os primeiros definida no contexto educacional.
passos de nossa formação escolar e que prossegue nos níveis O processo de integração escolar tem sido entendido de
de ensino mais graduados. Toda trajetória escolar precisa ser diversas maneiras. O uso do vocábulo “integração” refere-se
repensada, considerando-se os efeitos cada vez mais nefastos mais especificamente à inserção escolar de alunos com
das hiper-especializações dos saberes, que nos dificultam a deficiência nas escolas comuns, mas seu emprego é
articulação de uns com os outros e de termos igualmente uma encontrado até mesmo para designar alunos agrupados em
visão do essencial e do global. escolas especiais para pessoas com deficiência, ou mesmo em
O ensino curricular de nossas escolas, organizado em classes especiais, grupos de lazer, residências para deficientes.
disciplinas, isola, separa os conhecimentos, ao invés de Pela integração escolar, o aluno tem acesso às escolas por
reconhecer as suas inter-relações. Contrariamente, o meio de um leque de possibilidades educacionais, que vai da
conhecimento evolui por recomposição, contextualização e inserção às salas de aula do ensino regular ao ensino em
integração de saberes, em redes de entendimento, não reduz o escolas especiais.
complexo ao simples, tornando maior a capacidade de O processo de integração ocorre dentro de uma estrutura
reconhecer o caráter multidimensional dos problemas e de educacional, que oferece ao aluno a oportunidade de transitar
suas soluções. no sistema escolar, da classe regular ao ensino especial, em
Os sistemas escolares também estão montados a partir de todos os seus tipos de atendimento: escolas especiais, classes
um pensamento que recorta a realidade, que permite dividir especiais em escolas comuns, ensino itinerante, salas de
os alunos em normais e deficientes, as modalidades de ensino recursos, classes hospitalares, ensino domiciliar e outros.
em regular e especial, os professores em especialistas, nesta e Trata-se de uma concepção de inserção parcial, porque o
naquela manifestação das diferenças. A lógica dessa sistema prevê serviços educacionais segregados.
organização é marcada por uma visão determinista, É sabido (e alguns de nós têm experiência própria no
mecanicista, formalista, reducionista própria do pensamento assunto), que os alunos que migram das escolas comuns para
científico moderno, que ignora o subjetivo, o afetivo, o criador, serviços da educação especial muito raramente se deslocam
sem os quais não conseguimos romper com o velho modelo para os menos segregados e, raramente, retornam/ingressam
escolar, para produzir a reviravolta que a inclusão impõe. às salas de aula do ensino regular.
Essa reviravolta exige, em nível institucional, a extinção Nas situações de integração escolar, nem todos os alunos
das categorizações e das oposições excludentes – com deficiência cabem nas turmas de ensino regular, pois há
iguais/diferentes, normais/deficientes – e em nível pessoal, uma seleção prévia dos que estão aptos à inserção. Para esses
que busquemos articulação, flexibilidade, interdependência casos, são indicados: a individualização dos programas
entre as partes que se conflitavam nos nossos pensamentos, escolares, currículos adaptados, avaliações especiais, redução
ações, sentimentos. Essas atitudes diferem muito das que são dos objetivos educacionais para compensar as dificuldades de

Políticas Públicas da Educação 57


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aprender. Em uma palavra, a escola não muda como um todo, escolar. Esse fracasso continua sendo do aluno, pois a escola
mas os alunos têm de mudar para se adaptarem às suas reluta em admiti-lo como sendo o seu.
exigências. A inclusão total e irrestrita é uma oportunidade que temos
A integração escolar pode ser entendida como o especial para reverter a situação da maioria de nossas escolas, as quais
na educação, ou seja, a justaposição do ensino especial ao atribuem aos alunos as deficiências que são do próprio ensino
regular, ocasionando um inchaço desta modalidade, pelo ministrado por elas – sempre se avalia o que o aluno aprendeu,
deslocamento de profissionais, recursos, métodos, técnicas da o que ele não sabe, mas raramente se analisa o que e como a
educação especial às escolas regulares. escola ensina, de modo que os alunos não sejam penalizados
Quanto à inclusão, esta questiona não somente as políticas pela repetência, a evasão, a discriminação, a exclusão, enfim.
e a organização da educação especial e regular, mas também o Estou convicta de que todos nós, professores, sabemos que
próprio conceito de integração. Ela é incompatível com a é preciso excluir a exclusão em nossas escolas e fora delas e
integração, pois prevê a inserção escolar de forma radical, que os desafios são necessários a fim de que possamos
completa e sistemática. Todos os alunos, sem exceções, devem avançar, progredir, evoluir em nossos empreendimentos. É
frequentar as salas de aula do ensino regular. fácil receber os “alunos que aprendem apesar da escola” e é
O objetivo da integração é inserir um aluno ou um grupo mais fácil ainda encaminhar os que têm dificuldades de
de alunos que já foram anteriormente excluídos e o mote da aprendizagem para as classes e escolas especiais, sendo ou não
inclusão, ao contrário, é o de não deixar ninguém no exterior deficientes, aos programas de reforço e aceleração. Por meio
do ensino regular, desde o começo da vida escolar. As escolas dessas válvulas de escape continuamos a discriminar os alunos
inclusivas propõem um modo de organização do sistema que não damos conta de ensinar. Estamos habituados a
educacional que considera as necessidades de todos os alunos repassar nossos problemas para outros colegas, os
e que é estruturado em função dessas necessidades. “especializados” e, assim, não recai sobre nossos ombros o
Por tudo isso, a inclusão implica uma mudança de peso de nossas limitações profissionais.
perspectiva educacional, pois não se limita aos alunos com
deficiência e aos que apresentam dificuldades de aprender, A questão da identidade X diferença
mas a todos os demais, para que obtenham sucesso na Embora a inclusão seja uma prática recente e ainda
corrente educativa geral. Os alunos com deficiência incipiente nas nossas escolas para que possamos entendê-la
constituem uma grande preocupação para os educadores com maior rigor e precisão, considero-a suficiente para
inclusivos, mas todos sabemos que a maioria dos que questionar que Ética ilumina as nossas ações, na direção de
fracassam na escola são alunos que não vêm do ensino uma escola para todos. Ou, mais precisamente, as propostas e
especial, mas que possivelmente acabarão nele! políticas educacionais que proclamam a inclusão estão
A radicalidade da inclusão vem do fato de exigir uma realmente considerando as diferenças na escola, ou seja,
mudança de paradigma educacional, como já nos referimos alunos com deficiências e todas os demais excluídos e que são
anteriormente. Na perspectiva inclusiva, suprime-se a as sementes da sua transformação? Essas propostas
subdivisão dos sistemas escolares em modalidades de ensino reconhecem e valorizam as diferenças, como condição para
especial e regular. As escolas atendem às diferenças, sem que haja avanço, mudanças, desenvolvimento e
discriminar, sem trabalhar à parte com alguns alunos, sem aperfeiçoamento da educação escolar?
estabelecer regras específicas para se planejar, para aprender, Ao avaliarmos propostas de ação educacional, visando à
para avaliar (currículos, atividades, avaliação da inclusão, encontramos habitualmente, na orientação dessas
aprendizagem para alunos com deficiência e com necessidades ações, dimensões éticas conservadoras. Essas orientações, no
educacionais especiais). geral, expressam-se pela tolerância e pelo respeito ao outro,
Pode-se, pois, imaginar o impacto da inclusão nos sistemas que são sentimentos que precisamos analisar com mais
de ensino ao supor a abolição completa dos serviços cuidado para entender o que podem esconder nas suas
segregados da educação especial, os programas de reforço entranhas.
escolar, salas de aceleração, turmas especiais e outros. A tolerância, como um sentimento aparentemente
Na perspectiva de o especial da educação, a inclusão é uma generoso, pode marcar uma certa superioridade de quem
provocação, cuja intenção é melhorar a qualidade do ensino tolera. O respeito, como conceito, implica um certo
das escolas, atingindo todos os alunos que fracassam em suas essencialismo, uma generalização, que vem da compreensão
salas de aula. de que as diferenças são fixas, definitivamente estabelecidas,
A distinção entre integração e inclusão é um bom começo de tal modo que só nos resta respeitá-las.
para esclarecermos o processo de transformação das escolas, Nessas orientações entendem-se as deficiências como
de modo que possam acolher, indistintamente todos os alunos, fixadas no indivíduo, como se fossem marcas indeléveis, a
nos diferentes níveis de ensino. partir das quais só nos cabe aceitá-las, passivamente, pois
nada poderá evoluir, além do previsto no quadro geral das
Inclusão escolar - Por quê? suas especificações estáticas: os níveis de comprometimento,
A escola brasileira é marcada pelo fracasso e pela evasão as categorias educacionais, os quocientes de inteligência,
de uma parte significativa dos seus alunos, que são predisposições para o trabalho e outras tantas mais.
marginalizados pelo insucesso e privações constantes e pela Consoante a esses pressupostos é que criamos espaços
baixa autoestima resultante da exclusão escolar e social. educacionais protegidos, à parte, restritos a determinadas
Alunos que são vítimas de seus pais, de seus professores e, pessoas, ou seja, aquelas que eufemisticamente denominamos
sobretudo, por viverem em condições de pobreza em todos os Portadoras de Necessidades Educacionais Especiais – PNEE.
seus sentidos. Esses alunos são sobejamente conhecidos das A diferença, nesses espaços, é o que o outro é, - ele é
escolas, pois repetem as suas séries várias vezes, são expulsos, branco, ele é religioso, ele é deficiente, como nos afirma Silva
evadem e ainda são rotulados como mal nascidos e com (2000), é o que está sempre no outro, que está separado de nós
hábitos que fogem ao protótipo da educação formal. para ser protegido ou para nos protegermos dele. Em ambos
As soluções sugeridas para se reverter esse quadro os casos, nós somos impedidos de realizar e de conhecer a
parecem reprisar as mesmas medidas que o criaram. Em riqueza da experiência da diversidade e da inclusão. A
outras palavras, pretende-se resolver a situação a partir de identidade é o que se é, como afirma o mesmo autor - eu sou
ações que não recorrem a outros meios, que não buscam novas brasileiro, sou negro, eu sou estudante...
saídas e que não vão a fundo nas causas geradoras do fracasso A Ética em sua dimensão crítica e transformadora é a que
referenda a nossa luta pela inclusão escolar. A posição é oposta

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à anterior, porque entende que as diferenças estão sendo e de queixas escolares bem fundamentadas, esses alunos
constantemente feitas e refeitas; pois elas vão diferindo. Elas correm o risco de serem admitidos e considerados como PNEE.
são produzidas e não podem ser naturalizadas, como As indefinições da clientela justificam todos os desmandos
pensamos, habitualmente. Essa produção merece ser e transgressões ao direito à educação e à não discriminação
compreendida e não apenas respeitada e tolerada que algumas escolas e redes de ensino estão praticando, por
Nossas ações educativas têm como eixos o convívio com as falta de um controle efetivo dos pais, das autoridades de
diferenças, a aprendizagem como experiência relacional, ensino e da justiça em geral. O caráter dúbio da educação
participativa, que produz sentido para o aluno, pois contempla especial é acentuado pela imprecisão dos textos legais que
a sua subjetividade, embora construída no coletivo das salas fundamentam nossos planos e propostas educacionais e, ainda
de aula. hoje, fica patente a dificuldade de se distinguir o modelo
É certo que relações de poder presidem a produção das médio/pedagógico do modelo educacional/escolar dessa
diferenças na escola, mas a partir de uma lógica que não mais modalidade de ensino. Essa falta de clareza faz retroceder
se baseia na igualdade, como categoria assegurada por todas as iniciativas que visam à adoção de posições inovadoras
princípios liberais, inventada e decretada, a priori e que trata para a educação de alunos com deficiência.
a realidade escolar com a ilusão da homogeneidade, Problemas conceituais, desrespeito a preceitos
promovendo e justificando a fragmentação do ensino em constitucionais, interpretações tendenciosas de nossa
disciplinas, modalidades de ensino regular, especial, as legislação educacional, preconceitos distorcem o sentido da
seriações, classificações, hierarquias de conhecimentos. inclusão escolar, reduzindo-a unicamente à inserção de alunos
Por tudo isso, a inclusão é produto de uma educação plural, com deficiência no ensino regular. Essas são, do nosso ponto
democrática e transgressora. Ela provoca uma crise escolar, ou de vista, as maiores barreiras a serem enfrentadas pelos que
melhor, uma crise de identidade institucional, que, por sua vez, defendem a inclusão escolar, fazendo retroceder as iniciativas
abala a identidade dos professores e faz com que seja que visam à adoção de posições inovadoras para a educação de
ressignificada a identidade do aluno. O aluno da escola alunos em geral. Estamos diante de avanços, mas de muitos
inclusiva é outro sujeito, que não tem uma identidade fixada impasses da legislação.
em modelos ideais, permanentes, essenciais. A nossa Constituição Federal de 1988, respalda os que
O direito à diferença nas escolas desconstrói, portanto, o propõem avanços significativos para a educação escolar de
sistema atual de significação escolar excludente, normativo, pessoas com deficiência, quando elege como fundamentos da
elitista, com suas medidas e mecanismos de produção da República a cidadania e a dignidade da pessoa humana (art. 1º,
identidade e da diferença. incisos II e III), e, como um dos seus objetivos fundamentais, a
Se a igualdade é referência, podemos inventar o que promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
quisermos para agrupar e rotular os alunos como PNEE, como sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação
deficientes. Se a diferença é tomada como parâmetro, não (art. 3º, inciso IV). Ela garante ainda o direito à igualdade (art.
fixamos mais a igualdade como norma e fazemos cair toda uma 5º) e trata, no art. 205 e seguintes, do direito de todos à
hierarquia das igualdades e diferenças que sustentam a educação. Esse direito deve visar ao pleno desenvolvimento da
“normalização”. Esse processo, a normalização, pelo qual a pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o
Educação Especial tem proclamado o seu poder, propõe trabalho.
sutilmente, com base em características devidamente Além disso, a Constituição elege como um dos princípios
selecionadas como positivas, a eleição arbitrária de uma para o ensino, a igualdade de condições de acesso e
identidade “normal”, como um padrão de hierarquização e de permanência na escola (art. 206, inciso I), acrescentando que
avaliação de alunos, de pessoas. Contrariar a perspectiva de o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
uma escola que se pauta pela igualdade de oportunidades é garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
fazer a diferença, reconhecê-la e valorizá-la. pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
Temos, então, que reconhecer as diferentes culturas, a um (art. 208, V).
pluralidade das manifestações intelectuais, sociais, afetivas, Quando garante a todos o direito à educação e ao acesso à
enfim, precisamos construir uma nova ética escolar, que escola, a Constituição Federal não usa adjetivos e assim sendo,
advém de uma consciência ao mesmo tempo individual, social toda escola deve atender aos princípios constitucionais, não
e, por que não, planetária! podendo excluir nenhuma pessoa em razão de sua origem,
No desejo da homogeneidade, que tem muito em comum raça, sexo, cor, idade ou deficiência.
com a democracia de massas, destruíram-se muitas diferenças Apenas esses dispositivos bastariam para que não se
que nós hoje consideramos valiosas e importantes. negasse a qualquer pessoa, com e sem deficiência, o acesso à
Ao nos referirmos, hoje, a uma cultura global e mesma sala de aula que qualquer outro aluno. Um dos
globalização, parece contraditória a luta de grupos argumentos sobre a impossibilidade prática da inclusão total
minoritários por uma política identitária, pelo aponta os casos de alunos com deficiências severas, múltiplas,
reconhecimento de suas raízes, como fazem os surdos, os notadamente a deficiência mental, os casos de autismo.
deficientes, os hispânicos, os negros, as mulheres, os A Constituição, contudo, garante a educação para todos e
homossexuais. Há, pois um sentimento de busca das raízes e isso significa que é para todos mesmo e, para atingir o pleno
de afirmação das diferenças. Devido a isso, contesta-se hoje a desenvolvimento humano e o preparo para a cidadania,
modernidade nessa sua aversão pela diferença. entende-se que essa educação não pode realizar-se em
ambientes segregados.
A questão legal No Capítulo III, Da Educação, da Cultura e do Desporto,
artigo 205 a Constituição prescreve em seu art. 208, que o
Mesmo sob a garantia da lei, podemos encaminhar o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
conceito de diferença para a vala dos preconceitos, da garantia de: [...]” atendimento educacional especializado aos
discriminação, da exclusão, como tem acontecido com a portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
maioria de nossas políticas educacionais. Temos de ficar ensino”.
atentos! O preferencialmente refere-se a atendimento educacional
A maioria dos alunos das classes especiais é constituída especializado, ou seja, o que é necessariamente diferente no
daqueles que não conseguem acompanhar os seus colegas de ensino para melhor atender às especificidades dos alunos com
turma, ou os indisciplinados, os filhos de lares pobres, de deficiência, abrangendo principalmente instrumentos
negros e outros. Pela ausência de laudos periciais competentes necessários à eliminação das barreiras que as pessoas com

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deficiência naturalmente têm para relacionar-se com o estaria limitando “em si mesma o direito à igualdade dessas
ambiente externo, como por exemplo: ensino da Língua pessoas”.
Brasileira de Sinais - LIBRAS, do código “Braille”, uso de Essa norma, portanto, não se coaduna com a LDB/1996,
recursos de informática, e outras ferramentas e linguagens que diferencia a educação com base em condições pessoais do
que precisam estar disponíveis nas escolas ditas regulares. ser humano, no caso a deficiência, admitindo a substituição do
Na concepção inclusiva e na lei, esse atendimento direito de acesso à educação pelo atendimento ministrado
especializado deve estar disponível em todos os níveis de apenas em ambientes “especiais”.
ensino, de preferência na rede regular desde a educação Ademais, a LDB/1996 não contempla o direito de opção
infantil à Universidade. De fato, pois este é o ambiente escolar das pessoas com deficiência e de seus pais ou responsáveis,
que nos parece o mais adequado para se garantir o limitando-se a prever as situações em que se dará a educação
relacionamento dos alunos deficientes com seus pares de especial, normalmente, na prática, por imposição da escola ou
mesma idade cronológica. A quebra de qualquer ação rede.
discriminatória e todo tipo de interação que possa beneficiar o Para esta nova corrente de interpretação jurídica da
desenvolvimento cognitivo, social, motor, afetivo dos alunos, educação para pessoas com deficiência, as escolas atualmente
em geral. inscritas como “especiais” devem, então, por força desta lei,
Na interpretação evolutiva de nossas normas educacionais rever seus estatutos, pois, pelos termos da Convenção da
há, portanto, que se entender e ultrapassar as controvérsias Guatemala, a escola não pode se intitular de “especial”, com
entre a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - base em diferenciações fundadas na deficiência das pessoas
LDB/1996 e a Constituição/1988. que pretende receber. A Convenção da Guatemala não está
A Constituição admite que o atendimento educacional sendo cumprida, e para esse fim, não há necessidade de
especializado também pode ser oferecido fora da rede regular revogação expressa da LDB/96, pois a sua revogação, no que
de ensino, em qualquer instituição, já que seria apenas um se refere à Educação Especial, já ocorreu com a internalização
complemento e não um substitutivo do ensino ministrado na da Convenção à nossa Constituição.
rede regular para todos os alunos. Mas, na LDB/1996 (art. 58 Segundo os nossos juristas, nada impede, portanto, que os
e seguintes) consta que a substituição do ensino regular pelo órgãos responsáveis pela emissão de atos normativos
ensino especial é possível. infralegais e administrativos relacionados à Educação
A utilização de métodos que contemplem as mais diversas (Conselhos de Educação de todos os níveis, Ministério da
necessidades dos estudantes, inclusive eventuais Educação e Secretarias), emitam diretrizes para a educação
necessidades especiais, deve ser regra no ensino regular e nas básica, em seus respectivos âmbitos, considerando os termos
demais modalidades de ensino, como a Educação de Jovens e da Convenção da Guatemala no Brasil, com orientações
Adultos, a Educação Profissional, não se justificando a adequadas e suficientes para que as escolas em geral recebam
manutenção de um ensino especial, apartado. com qualidade a todas as crianças e adolescentes.
Além do mais, após a LDB/1996, surgiu uma nova Todos os níveis dos cursos de formação de professores,
legislação, que revoga as disposições anteriores que lhe são devem sofrer modificações nos seus currículos, de modo que
contrárias. Trata-se da Convenção Interamericana para a os futuros professores aprendam práticas de ensino
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a adequadas às diferenças.
Pessoa Portadora de Deficiência, celebrada na Guatemala, em O acesso a todas as séries do ensino fundamental
maio de 1999. (obrigatório) deve ser incondicionalmente garantido a todos.
O Brasil é signatário desse documento, que foi aprovado Para tanto, os critérios de avaliação e de promoção, com base
pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº no aproveitamento escolar e previstos na LDB/1996 (art. 24),
198, de 13 de junho de 2001, e promulgado pelo Decreto nº devem ser reorganizados, de forma a cumprir os princípios
3.956, de 08 de outubro de 2001, da Presidência da República. constitucionais da igualdade de direito ao acesso e
Este documento, portanto, tem valor de norma constitucional, permanência na escola, bem como do acesso aos níveis mais
já que se refere a direitos e garantias fundamentais da pessoa elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo
humana. a capacidade de cada um.
A importância dessa Convenção está no fato de que deixa Os serviços de apoio especializado, tais como os de
clara a impossibilidade de diferenciação com base na intérpretes de língua de sinais, aprendizagem do sistema
deficiência, definindo a discriminação como [...] “toda “Braille” e outros recursos especiais de ensino e de
diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, aprendizagem, não substituiriam, como ainda ocorre hoje, as
antecedente de deficiência, consequência de deficiência funções do professor responsável pela sala de aula da escola
anterior ou percepção de deficiência presente ou passada, que regular.
tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o As creches e escolas de educação infantil dentro de sua
reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas atual e reconhecida função de cuidar e educar, não podem mais
portadoras de deficiência de seus direitos humanos e suas deixar de receber crianças PNEE, a partir de zero anos (art. 58,
liberdades fundamentais (art. I, nº 2“a”). § 3º, LDB c.c. o art. 2º, inciso I, alínea “a”, da Lei 7.853/89),
A mesma Convenção esclarece, no entanto, que não oferecendo-lhes cuidados diários que favoreçam sua
constitui discriminação [...]” a diferenciação ou preferência estimulação precoce, sem prejuízo dos atendimentos clínicos
adotada para promover a integração social ou o individualizados que, se não forem oferecidos no mesmo
desenvolvimento pessoal dos portadores de deficiência, desde ambiente, devem ser realizados convênios para facilitação do
que a diferenciação ou preferência não limite em si mesma o atendimento da criança.
direito à igualdade dessas pessoas e que elas não sejam Como se estes motivos não bastassem para que a inclusão
obrigadas a aceitar tal diferenciação ou preferência” (art. I, nº escolar revirasse o nosso quadro educacional de cabeça para
2, “b”). baixo, a fim de que o conhecêssemos pelo avesso, temos ainda
Como em nossa Constituição consta que educação visa ao de considerar a organização pedagógica de nossas escolas.
pleno desenvolvimento humano e ao seu preparo para o
exercício da cidadania (art. 205), qualquer restrição ao acesso A questão das mudanças
a um ambiente marcado pela diversidade, que reflita a Os caminhos propostos por nossas políticas
sociedade como ela é, como forma efetiva de preparar a pessoa (equivocadas?) de educação continuam insistindo em “apagar
para a cidadania, seria uma “diferenciação ou preferência” que incêndios”. Elas não avançam como deveriam, acompanhando
as inovações e não questionam a produção da identidade e da

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diferença nas escolas. Continuam mantendo um Com esse perfil organizacional, podemos imaginar o
distanciamento das verdadeiras questões que levam à impacto da inclusão na maioria das escolas, especialmente
exclusão escolar. quando se entende que incluir é não deixar ninguém de fora da
Na verdade, estamos acompanhando par e passo os países escolar regular, ou seja, ensinar a todos os alunos,
mais desenvolvidos em educação escolar, no que diz respeito indistintamente!
ao conhecimento das inovações educacionais e temos clareza É como se o espaço escolar fosse de repente invadido e
de seus benefícios, quando devidamente adotadas pelas todos os seus domínios tomados de assalto. A escola se sente
escolas. Afinal, vivemos em um mundo globalizado, onde as ameaçada por tudo o que ela criou para se proteger da vida que
novidades correm, as notícias chegam rápido para todos. existe para além de seus muros e paredes – novos saberes,
Uma das maiores barreiras para se mudar a educação é a novos alunos, outras maneiras de resolver problemas, de
ausência de desafios, ou melhor, a neutralização de todos os avaliar a aprendizagem, outras “artes de fazer”, como nos diria
desequilíbrios que eles podem provocar na nossa velha forma Michel de Certeau, um autor que todos nós, professores,
de ensinar. E, por incrível que pareça, essa neutralização vem deveríamos de conhecer a fundo. Este pensador francês, não
do próprio sistema que se dispõe a se modificar, que está conformista, nos deixou uma obra original, em que destacou a
investindo na inovação, nas reformas do ensino para melhorar criatividade das pessoas em geral, oculta em um emaranhado
a sua qualidade. de táticas e astúcias, que inventam para si mesmos, com a
Se o momento é o de enfrentar as mudanças provocadas finalidade de reagir, de uma maneira própria e sutil ao
pela inclusão escolar, logo distorcemos o sentido dessa cotidiano de suas vidas. A invenção do cotidiano, como ele
inovação, até mesmo no discurso pedagógico, reduzindo-a a nomeou um de seus livros, é o que fazemos para sair da
um grupo de alunos (no caso, as pessoas com deficiência), e passividade, da rotina costumeira e das estratégias que vêm de
continuamos a excluir tantos outros alunos e mesmo a cima para disciplinar o nosso comportamento, os nossos
restringir a inserção dos alunos com deficiência aos que pensamentos e intenções... Temos, sim, a capacidade silenciosa
conseguem “acompanhar” as suas turmas escolares! e decisiva de enfrentar o dia-a-dia das imposições e de toda
Logo, tratamos de encontrar meios para facilitar a regulamentação e controle que nos aprisionam e
introdução de uma inovação, fazendo o mesmo que se fazia descaracterizam nossa maneira de ser e de fazer frente às
antes, mas sob uma outra designação ou em um local diferente, nossa tarefas e responsabilidades. Mas precisamos identificar
como é o caso de se incluir crianças e jovens nas salas de aula e tirar proveito dessa possibilidade.
comuns, mas com todo o staff do ensino especial por detrás, Conhecemos os argumentos pelos quais a escola
sem que com isso seja necessário rever as práticas excludentes tradicional resiste à inclusão; eles refletem a sua incapacidade
do ensino regular. Válvulas de escape como o reforço paralelo, de atuar diante da complexidade, da diversidade, da variedade,
o reforço continuado, os currículos adaptados etc, continuam do que é real nos seres e nos grupos humanos. Os alunos não
sendo modos de discriminar alunos que não damos conta de são virtuais, objetos categorizáveis. Eles existem de fato, são
ensinar e de nos escondermos de nossas próprias pessoas que provêm de contextos culturais os mais variados;
incompetências. representam diferentes segmentos sociais. Produzem e
A inclusão pegou as escolas de calças curtas. Esse é um ampliam conhecimentos e têm desejos, aspirações, valores,
dado irrefutável. E o nível de escolaridade que mais parece ter sentimentos e costumes com os quais se identificam. Em uma
sido atingido por essa inovação é o ensino fundamental. palavra, esses grupos de pessoas não são criações da nossa
Uma análise desse contexto escolar é importante, se razão, mas existem em lugares e tempos não ficcionais,
quisermos entender a razão de tanta dificuldade e evoluem, são compostos de seres vivos, encarnados!
perplexidade diante da inclusão, especialmente quando o O aluno abstrato justifica a maneira excludente de a escola
inserido é um aluno com deficiência. É também mais uma tratar as diferenças. Assim é que se estabelecem as categorias
possibilidade de apontarmos, a razão de se propor inclusão de alunos: deficientes, carentes, comportados, inteligentes,
escolar, com urgência e determinação, como objetivo hiperativos, agressivos e tantos mais.
primordial dos sistemas educativos. Por essas classificações é que se perpetuam as injustiças na
Os alunos do ensino fundamental estão organizados por escola. Por detrás delas é que a escola se protege do aluno, na
séries nas escolas, o currículo é estruturado por disciplinas e o sua singularidade. Tais especificações reforçam a necessidade
seu conteúdo é selecionado pelas coordenações pedagógicas, de se criarem modalidades de ensino, espaços, e programas
pelos livros didáticos, enfim, por uma “inteligência”, que define segregados, para que alguns alunos possam aprender.
os saberes úteis e a sequência em que devem ser ensinados, Sem dúvida, é mais fácil gerenciar as diferenças, formando
nas escolas. classes especiais de objetos, de seres vivos, acontecimentos,
Sabemos que o ensino básico como um todo, é prisioneiro fenômenos, pessoas...
da transmissão dos conhecimentos acadêmicos e os alunos de Os subterfúgios teóricos que distorcem propositadamente
sua reprodução, nas aulas e nas provas. A divisão do currículo o conceito de inclusão, condicionada à capacidade intelectual,
em disciplinas como a Matemática, a Língua Portuguesa etc. social e cultural dos alunos, para atender às expectativas e
fragmenta e especializa os saberes e faz de cada matéria exigências da escola precisam cair por terra com urgência
escolar um fim em si mesmo e não um dos meios de que Porque sabemos que podemos refazer a educação escolar,
dispomos para esclarecer o mundo em que vivemos e para segundo novos paradigmas, preceitos, ferramentas,
entender melhor a nós mesmos. tecnologias educacionais.
O tempo de aprender é o das séries escolares, porque é As condições de que dispomos, hoje, para transformar a
necessário hierarquizar a complexidade do conhecimento, escola nos autorizam a propor uma escola única e para todos,
sequenciar as etapas de sua aprendizagem, mesmo sendo este em que a cooperação substituirá a competição, pois o que se
o básico, o elementar do saber. Uma escala de valores também pretende é que as diferenças se articulem e se componham e
é atribuída às disciplinas, em que a Matemática reina absoluta, que os talentos de cada um sobressaiam.
como a mais importante e poderosa, enquanto as Artes, a Nós, professores, temos de retomar o poder da escola que
Educação Física quase sempre estão lá para trás. deve ser exercido pelas mãos dos que fazem, efetivamente,
O erro tem de ser banido, pois o que é “passado” aos alunos acontecer a educação. Combater a descrença e o pessimismo
pelo professor é uma verdade pronta, absoluta e imutável. dos acomodados e mostrar que a inclusão é uma grande
Reprovam-se, então, os que tentam transformá-la ou estão oportunidade para que alunos, pais e educadores demonstrem
processando a sua construção, autonomamente. as suas competências, poderes e responsabilidades
educacionais.

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É inegável que as ferramentas estão aí, para que as maioria de nossas escolas, especialmente as de nível básico, a
mudanças aconteçam e para que reinventemos a escola, que se chegar, quando a escola comum assume que as
“desconstruindo” a máquina obsoleta que a dinamiza, os dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas
conceitos sobre os quais ela se fundamenta, os pilares teórico- resultam em grande parte do modo como o ensino é
metodológicos em que ela se sustenta. ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada.
Os pais podem ser nossos grandes aliados na reconstrução Para mudar as condições excludentes de ensino de nossas
da nova escola brasileira. Eles são uma força estimuladora e escolas enfrentam-se inúmeros desafios. Eu, particularmente,
reivindicadora dessa tão almejada recriação da escola, sou muito criticada pelo meu radicalismo, ao condenar as
exigindo o melhor para seus filhos, com e sem deficiências, e medidas pelas quais as escolas têm reagido às diferenças.
não se contentando com projetos e programas que continuem Conheço a escola por dentro e aprendi a entendê-la,
batendo nas mesmas teclas e/ou maquiam o que sempre vivenciando o seu cotidiano. Falo da escola e não sobre a escola
existiu. e, assim sendo, sou bastante segura ao denunciar o velho e ao
As razões para se justificar a inclusão escolar, no nosso sugerir a sua revitalização.
cenário educacional não se esgotam nas questões que Recentemente, ao proferir uma palestra para um grupo de
levantamos e comentamos neste capítulo. professores, quiseram me apertar contra a parede! No
A inclusão também se legitima, porque a escola para momento das perguntas, senti que não seria fácil conter a “ira”
muitos alunos é o único espaço de acesso aos conhecimentos. dos que se aproveitam desse espaço para colocar em apuros os
É o lugar que vai lhes proporcionar condições de se palestrantes e ganhar a plateia com posições contrárias à
desenvolver e de se tornar um cidadão, alguém com identidade mesa.
social e cultural que lhes confere oportunidades de ser e de A escola real, ou seja, aquela que não queremos encarar,
viver dignamente. coloca-nos, entre muitas outras, estas questões de base, que
insisto em colocar: muda a escola ou mudam os alunos, para se
Incluir é necessário, primordialmente, para melhorar as ajustarem às suas velhas exigências? Ensino especializado em
condições da escola de modo que nela se possam formar todos os alunos ou ensino especial para algumas? Professores
gerações mais preparadas para viver a vida na sua plenitude, que se aperfeiçoam para exercer suas funções, atendendo às
livremente, sem preconceitos, sem barreiras. Não podemos peculiaridades de todos os alunos, ou professores
contemporizar soluções, mesmo que o preço que tenhamos de especializados para ensinar aos que não aprendem e aos que
pagar seja bem alto, pois nunca será tão alto quanto o resgate não sabem ensinar?
de uma vida escolar marginalizada, uma evasão, uma criança Do meu ponto de vista, é preciso mudar a escola e mais
estigmatizada, sem motivos. precisamente o ensino nelas ministrado. A escola aberta a
Confirma-se, ainda, mais uma razão de ser da inclusão - um todos é o grande alvo e, ao mesmo tempo, o grande problema
motivo a mais para que a educação se atualize e para que os da educação nestes novos tempos.
professores aperfeiçoem as suas práticas e para que escolas Mudar a escola é enfrentar muitas frentes de trabalho,
públicas e particulares se obriguem a um esforço de cujas tarefas fundamentais, do meu ponto de vista, são:
modernização e de reestruturação de suas condições atuais a
fim de responderem às necessidades de cada um de seus • recriar o modelo educativo escolar, tendo como eixo o
alunos, em suas especificidades, sem cair nas malhas da ensino para todos;
educação especial e suas modalidades de exclusão. • reorganizar pedagogicamente as escolas, abrindo espaços
para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade
Inclusão: como fazer? e o espírito crítico sejam exercitados nas escolas, por
Infelizmente, não estamos caminhando decisivamente na professores, administradores, funcionários e alunos, porque são
direção da inclusão, por falta de políticas públicas de educação habilidades mínimas para o exercício da verdadeira cidadania;
apontadas para esses novos rumos, ou por outros motivos • garantir aos alunos tempo e liberdade para aprender e um
menos abrangentes, mas relevantes, como pressões ensino que não segrega e reprova a repetência;
corporativas, ignorância dos pais, acomodação dos • formar, aprimorar continuamente e valorizar o professor
professores. para que tenha condições e estímulo para ensinar a turma toda,
Por isso, sou clara ao afirmar que falta muita vontade de sem exclusões e exceções;
virar a mesa, ou melhor, de virar a escola do avesso e já faz
tempo que estamos retendo essa possibilidade de Essas tarefas serão comentadas a seguir.
revolucionar os nossos sistemas educacionais, em favor de
uma educação mais humana, mais democrática. Recriar o modelo educativo
Inovar não tem necessariamente o sentido do inusitado. As
grandes inovações são muitas vezes a concretização do óbvio, Não se pode encaixar um projeto novo, como é o caso da
do simples, do que é possível fazer, mas que precisa ser inclusão, em uma velha matriz de concepção escolar; daí a
desvelado, para que possa ser compreendido por todos e necessidade de se recriar o modelo educacional vigente.
aceito sem muitas resistências, senão aquelas que dão brilho e As escolas que reconhecem e valorizam as diferenças têm
vigor ao debate das novidades. projetos inclusivos de educação e o ensino que ministram
Nas redes de ensino público e particular que resolveram difere radicalmente do proposto para atender às
adotar medidas includentes de organização escolar, as especificidades dos educandos que não conseguem
mudanças podem ser observadas sob três ângulos: o dos acompanhar seus colegas de turma, por problemas que vão
desafios provocados por essa inovação, o das ações no sentido desde as deficiências até outras dificuldades de natureza
de efetivá-la nas turmas escolares, incluindo o trabalho de relacional, motivacional, cultural dos alunos. Nesse sentido,
formação de professores; e, finalmente, o das perspectivas que elas contestam e não adotam o que é tradicionalmente
se abrem à educação escolar, a partir de sua implementação. utilizado para dar conta das diferenças nas escolas: as
No começo de tudo está o princípio democrático da adaptações de currículos, a facilitação das atividades, além dos
educação para todos. E ele só se evidencia nos sistemas programas para reforçar aprendizagens, ou mesmo para
educacionais que se especializam em todos os alunos, não acelerá-las, em casos de defasagem idade/séries escolares.
apenas em alguns deles, os alunos com deficiência. Superar o sistema tradicional de ensinar é um propósito
A inclusão é uma inovação que implica em um esforço de que temos de efetivar com toda a urgência, nas salas de aula.
modernização e de reestruturação das condições atuais da Essa superação refere-se ao que ensinamos aos nossos alunos

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e ao como ensinamos para que eles cresçam e se desenvolvam, Esse projeto, que já se chamou de plano de curso e de outros
sendo seres éticos, justos e revolucionários, pessoas que têm nomes parecidos, é uma ferramenta de vital importância para
de reverter uma situação que não conseguimos resolver que as diretrizes gerais da escola sejam traçadas com realismo
inteiramente: mudar o mundo e torná-lo mais humano. Recriar e responsabilidade. Não faz parte da cultura escolar a
esse modelo tem a ver com o que entendemos como qualidade proposição de um documento de tal natureza e extensão,
de ensino. elaborado com autonomia e participação de todos os
Infelizmente ainda vigora a visão conservadora de que as segmentos que a compõem. Ele parte do diagnóstico da
escolas de qualidade são as que enchem as cabeças dos alunos demanda, penetra fundo nos pontos positivos e fracos dos
com datas, fórmulas, conceitos justapostos, fragmentados. A trabalhos desenvolvidos, define prioridades de atuação,
qualidade desse ensino resulta do primado e da objetivos, propõe iniciativas, ações, com metas e responsáveis
supervalorização do conteúdo acadêmico em todos os seus para coordená-las.
níveis. Persiste a ideia de que as escolas consideradas de Os dados do projeto-político pedagógico esclarecem o
qualidade são as que centram a aprendizagem no racional, no diretor, os professores, coordenadores, funcionários e pais
aspecto cognitivo do desenvolvimento e que avaliam os sobre a clientela, os recursos, humanos e materiais, de que a
alunos, quantificando respostas-padrão. escola dispõe.
Uma escola se distingue por um ensino de qualidade, capaz Os currículos, a formação das turmas, as práticas de ensino,
de formar pessoas, nos padrões requeridos por uma sociedade a avaliação são aspectos da organização pedagógica das
mais evoluída e humanitária, quando consegue aproximar os escolas e serão revistos e modificados com base no que for
alunos entre si, tratar as disciplinas como meios de conhecer definido pelo projeto político pedagógico de cada escola. Sem
melhor o mundo e as pessoas que nos rodeiam e ter como os conhecimentos levantados por esse projeto é impossível
parceiras as famílias e a comunidade na elaboração e elaborar currículos que reflitam o meio social e cultural do
cumprimento do projeto escolar. alunado.
Tem-se um ensino de qualidade a partir de condições de Para se integrar áreas do conhecimento e se atingir a
trabalho pedagógico que implicam em formação de redes de concepção transversal de novas propostas não disciplinares de
saberes e de relações, que se enredam por caminhos organização curricular, o sentido das disciplinas acadêmicas
imprevisíveis para chegar ao conhecimento; existe ensino de muda – elas passam a ser meios e não fins em si mesmas. O
qualidade quando as ações educativas se pautam por estudo das disciplinas partirá das experiências de vida dos
solidariedade, colaboração, compartilhamento do processo alunos, os seus saberes e fazeres, significados, vivências para
educativo com todos os que estão direta ou indiretamente nele chegar à sistematização dos conhecimentos.
envolvidos. Como essas experiências variam entre os alunos, mesmo
A aprendizagem nessas circunstâncias é acentrada, ora sendo membros de uma mesma comunidade, a implantação
sobressaindo o lógico, o intuitivo, o sensorial, ora os aspectos dos ciclos de formação é uma solução justa e muito adequada
social e afetivo dos alunos. Nas práticas e métodos para se mudar os critérios de agrupamento escolar atuais.
pedagógicos predominam a experimentação, a criação, a Embora ainda pouco compreendidos pelos professores e pais,
descoberta, a coautoria do conhecimento. Vale o que os alunos por ser uma novidade e por não ter sido bem explicado em
são capazes de aprender hoje e o que podemos lhes oferecer seus fins, os ciclos tiveram seus objetivos esvaziados e
de melhor para que se desenvolvam em um ambiente rico e distorcidos. Foram confundidos com junção de séries
verdadeiramente estimulador de suas potencialidades. escolares, como exemplo: 1º ciclo compreendendo a junção da
Em uma palavra, as escolas de qualidade são espaços 1ª e 2ª séries e assim por diante.
educativos de construção de personalidades humanas Os ciclos de formação provocam mudanças na avaliação do
autônomas, críticas, nos quais os alunos aprendem a ser desempenho escolar dos alunos, ao concederem-lhes mais
pessoas. Nesses ambientes educativos ensinam-se os alunos a tempo para aprender, eliminando a seriação e articulando o
valorizar a diferença pela convivência com seus pares, pelo processo de aprendizagem com o ritmo e condições de
exemplo dos professores, pelo ensino ministrado nas salas de desenvolvimento dos aprendizes.
aula, pelo clima socioafetivo das relações estabelecidas em O ensino individualizado/diferenciado para os alunos que
toda a comunidade escolar - sem tensões competitivas, apresentam déficits intelectuais, problemas de aprendizagem
solidário, participativo. Escolas assim concebidas não excluem é uma solução que não corresponde aos princípios inclusivos,
nenhum aluno de suas classes, de seus programas, de suas pois não podemos diferenciar um aluno pela sua deficiência,
aulas, das atividades e do convívio escolar mais amplo. São como já nos referimos no capítulo em que tratamos das
contextos educacionais em que todos os alunos têm questões legais da inclusão e nos remetemos à Convenção da
possibilidade de aprender, frequentando uma mesma e única Guatemala. Na visão inclusiva, o ensino diferenciado continua
turma. segregando e discriminando os alunos dentro e fora das salas
Essas escolas são, realmente abertas às diferenças e de aula.
capazes de ensinar a turma toda. A possibilidade de se ensinar A inclusão não prevê a utilização de métodos e técnicas de
todos os alunos, sem discriminações e sem métodos e práticas ensino específicas para esta ou aquela deficiência e/ou
do ensino especializado deriva de uma reestruturação do dificuldade de aprender. Os alunos aprendem nos seus limites
projeto pedagógico-escolar como um todo e das reformulações e se o ensino for, de fato, de boa qualidade, o professor levará
que esse projeto exige da escola, para que esta se ajuste a em conta essa condição e explorará convenientemente as
novos parâmetros de ação educativa. possibilidades de cada um. Não se trata de uma aceitação
passiva do desempenho escolar, mas de agirmos com realismo
Reorganizar as escolas – aspectos pedagógicos e e coerência e admitirmos que as escolas existem para formar
administrativos as novas gerações, e não apenas alguns de seus futuros
membros, os mais capacitados e privilegiados.
Para universalizar o acesso, ou seja, a inclusão de todos, Eis aí um grande desafio a ser enfrentado quando nos
incondicionalmente, nas turmas escolares e democratizar a propomos a reorganizar as escolas, cujo paradigma é
educação, muitas mudanças já estão acontecendo em algumas meritocrático, elitista, condutista, e baseado na transmissão
escolas e redes públicas de ensino - vitrines que expõem o dos conhecimentos, não importa o quanto estes possam ser
sucesso da inclusão. acessíveis ou não aos alunos.
A reorganização das escolas depende de um encadeamento É certo que não se consegue predeterminar a extensão e a
de ações que estão centradas no projeto político-pedagógico. profundidade dos conteúdos a serem construídos pelos

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alunos, nem facilitar/adaptar as atividades escolares para Debates, pesquisas, registros escritos/falados, observação,
alguns, porque somos incapazes de prever, de antemão, as vivências são alguns processos pedagógicos indicados para a
dificuldades/ facilidades que cada um poderá encontrar para realização das atividades escolares. Tais processos dependem
realizá-las. Porque é o aluno que se adapta ao novo dos conteúdos curriculares para esclarecer os assuntos em
conhecimento e só ele pode regular o processo de construção estudo, mas os conteúdos são sempre considerados como
intelectual. A maioria dos professores não pensa assim e nem meios e não como fins do ensino escolar.
é alertada para esse fato e se apavora, com razão, ao receber Suprimir o caráter classificatório de notas, provas e
alunos com deficiência ou com problemas de aprendizagem substituí-lo por uma visão diagnóstica da avaliação escolar é
em suas turmas, pois prevê como será difícil dar conta das indispensável, quando se ensina a turma toda. Para ser
diferenciações que um pretenso ensino inclusivo lhes exigirá. coerente com essa novidade, o professor priorizará a avaliação
Um hábito extremamente útil e natural, e que tem sido do desenvolvimento das competências dos alunos, diante de
muito pouco promovido nas escolas, é o de os alunos se situações–problema em detrimento da memorização de
apoiarem mutuamente, nas atividades de sala de aula. informações e da reprodução de conhecimentos, sem
A reorganização administrativa e os papéis compreensão, cujo objetivo é tirar boas notas e ser promovido.
desempenhados pelos membros da organização escolar são O tempo de construção de uma competência varia de aluno
outros alvos a serem alcançados. para aluno e sua evolução é percebida por meio da mobilização
A descentralização da gestão administrativa parece ser e aplicação do que o aluno aprendeu ou já sabia para chegar à
uma questão central, pois é condição para que se promova soluções pretendidas.
uma maior autonomia pedagógica, administrativa e financeira A avaliação é também um instrumento de aperfeiçoamento
de recursos materiais e humanos das escolas, por meio dos e depuração do ensino e, quando a tornarmos mais adequada
Conselhos, Colegiados, Assembleias de pais e de alunos. e eficiente, diminuiremos substancialmente o número de
Ao serem modificados os rumos da administração escolar, alunos excluídos das escolas.
os papéis e a atuação do diretor, coordenadores, supervisores Essas práticas configuram o velho e conhecido ensino para
e funcionários perdem o caráter controlador, fiscalizador e alguns alunos - e para alguns, em alguns momentos, algumas
burocrático de suas funções e readquirem teor pedagógico, disciplinas, atividades e situações de sala de aula.
deixando de existir os motivos pelos quais esses profissionais É assim que a exclusão se alastra e se perpetua, atingindo
ficam confinados em seus gabinetes, sem tempo para conhecer a todos os alunos, não apenas os que apresentam uma
e participar mais intensiva e diretamente do que acontece nas dificuldade maior de aprender ou uma deficiência específica.
salas de aula e demais ambientes educativos das escolas. Há alunos que rejeitam propostas descontextualizadas de
trabalho escolar, sem sentido e atrativos intelectuais; eles
Ensinar a turma toda – sem exceções e exclusões protestam a seu modo, contra um ensino que não os desafia e
Para ensinar a turma toda, parte-se do fato de que os não atende às suas motivações e interesses pessoais.
alunos sempre sabem alguma coisa, de que todo educando O ensino seletivo é ideal para gerar indisciplina,
pode aprender, mas no tempo e do jeito que lhe são próprios. competição, discriminação, preconceitos e para categorizar os
Além do mais, é fundamental que o professor nutra uma bons e os maus alunos, por critérios que são, no geral,
elevada expectativa em relação à capacidade dos alunos de infundados.
progredir e não desista nunca de buscar meios que possam As desigualdades tendem a se agravar quanto mais
ajudá-los a vencer os obstáculos escolares. especializamos o ensino para alguns alunos. Essa
O sucesso da aprendizagem está em explorar talentos, desigualdade, que no geral se inicia no âmbito escolar,
atualizar possibilidades, desenvolver predisposições naturais expande-se para outros domínios e áreas, marcando
de cada aluno. As dificuldades e limitações são reconhecidas, indelevelmente as pessoas atingidas.
mas não conduzem/restringem o processo de ensino, como Não se pode imaginar uma educação para todos, quando
comumente acontece. caímos na tentação de constituir grupos de alunos por séries,
Como não me canso de dizer, ensinar, atendendo às por níveis de desempenho escolar e determinamos para cada
diferenças dos alunos, mas sem diferenciar o ensino para cada nível objetivos... E, mais ainda, quando encaminhamos os que
um, depende, entre outras condições, de se abandonar um não cabem em nenhuma dessas determinações para classes e
ensino transmissivo e de se adotar uma pedagogia ativa, escolas especiais, argumentando que o ensino para todos não
dialógica, interativa, integradora, que se contrapõe a toda e sofreria distorções de sentido em casos como esses!
qualquer visão unidirecional, de transferência unitária, Essa compreensão equivocada da escola inclusiva acaba
individualizada e hierárquica do saber. instalando cada criança em um locus escolar, arbitrariamente
O ponto de partida para se ensinar a turma toda, sem escolhido. Aumenta as diferenças, acentua as desigualdades,
diferenciar o ensino para cada aluno ou grupo de alunos é justificando o fracasso escolar, como problema do aluno.
entender que a diferenciação é feita pelo aluno, ao aprender e
não pelo professor, ao ensinar! Essa inversão é fundamental E a atuação do professor?
para que se possa ensinar a turma toda, naturalmente, sem
sobrecarregar inutilmente o professor (para produzir A maioria dos professores têm uma visão funcional do
atividades e acompanhar grupos diferentes de alunos) e ensino e tudo o que ameaça romper o esquema de trabalho
alguns alunos (para que consigam se “igualar” aos colegas de prático que aprenderam a aplicar em suas salas de aula é
turma). inicialmente rejeitado. Também reconhecemos que inovações
Buscar essa igualdade como produto final da educacionais como a inclusão abalam a identidade profissional
aprendizagem é fazer educação compensatória, em que se e o lugar conquistado pelos professores em uma dada
acredita na superioridade de alguns, inclusive a do professor; estrutura ou sistema de ensino, atentando contra a
e na inferioridade de outros alunos, que são menos dotados, experiência, os conhecimentos e o esforço que fizeram para
menos informados e esclarecidos, desde o início do processo adquiri-los.
de aprendizagem curricular. O professor que ensina a turma toda não tem o falar, o
O mito de que o professor é o que tem a chave do saber copiar e o ditar como recursos didático-pedagógicos básicos.
para melhor explicar e dosar os conhecimentos que o aluno Ele não é um professor palestrante, identificado com a lógica
vai/deve aprender precisa cair. Defendemos um ensino que de distribuição do ensino e que pratica a pedagogia
emancipa e não submete os alunos intelectualmente. unidirecional do ‘A’ para ‘B’ e do ‘A ‘sobre ‘B’, como afirmou
Paulo Freire, nos idos de 1978, mas aquele que partilha com

Políticas Públicas da Educação 64


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seus alunos a construção/autoria dos conhecimentos qualificados; de outro, não se pode descuidar da realização
produzidos em uma aula. dessa formação e estar atento ao modo pelo qual os
O ensino expositivo foi banido da sua sala de aula, onde professores aprendem para se profissionalizar e para
todos interagem e constroem ativamente conceitos, valores, aperfeiçoar seus conhecimentos pedagógicos, assim como
atitudes. Esse professor explora os espaços educacionais com reagem às novidades, aos novos possíveis educacionais.
seus alunos, buscando perceber o que cada um deles consegue No caso de uma formação inicial e continuada direcionada
apreender do que está sendo estudado e como procedem ao à inclusão escolar estamos diante de uma proposta de trabalho
avançar nessa exploração. que não se encaixa em uma especialização, extensão,
Certamente um professor que engendra e participa da atualização de conhecimentos pedagógicos. Ensinar, na
caminhada do saber com seus alunos consegue entender perspectiva inclusiva significa ressignificar o papel do
melhor as dificuldades e as possibilidades de cada um e professor, da escola, da educação e de práticas pedagógicas
provocar a construção do conhecimento com maior que são usuais, no contexto excludente do nosso ensino, em
adequação. todos os seus níveis. Como já nos referimos anteriormente, a
Ensinar a turma toda reafirma a necessidade de se inclusão escolar não cabe em um paradigma tradicional de
promoverem situações de aprendizagem que formem um educação e assim sendo, uma preparação do professor nessa
tecido colorido de conhecimento, cujos fios expressam direção requer um design diferente das propostas de
diferentes possibilidades de interpretação e de entendimento profissionalização existentes e de uma formação em serviço
de um grupo de pessoas que atua cooperativamente. que também muda, porque as escolas não serão mais as
Os diferentes significados que os alunos atribuem a um mesmas, se abraçarem esse novo projeto educacional.
dado objeto de estudo e as suas representações vão se Essa reviravolta, que é bem mais complexa do que se pensa
expandindo e se relacionando e revelam, pouco a pouco, uma na preparação de professores para a inclusão, ainda não foi
construção original de ideias que integra as contribuições de bem assimilada pelos que elaboram políticas públicas de
cada um, antes. educação, pelos que planejam ações para concretizá-las e é por
Sem estabelecer uma referência, sem buscar o consenso, essas e outras razões que estão sendo oferecidos cursos de
mas investindo nas diferenças e na riqueza de um ambiente especialização lato sensu, sobre educação inclusiva e que se
que confronta significados, desejos, experiências, o professor sugere a inserção da disciplina Educação Inclusiva em cursos
deve garantir a liberdade e a diversidade das opiniões dos de formação de professores e profissionais de áreas afins:
alunos. Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional
O professor, da mesma forma, não procurará eliminar as e outras. Falta apenas ser criada uma habilitação específica nos
diferenças em favor de uma suposta igualdade do alunado, que Cursos de Pedagogia!
é tão almejada pelos que apregoam a (falsa) homogeneidade
das salas de aula. Antes, estará atento à singularidade das Por tudo isso temos de ficar cada vez mais atentos,
vozes que compõem a turma, promovendo o diálogo entre elas, questionando o que existe mas, ao mesmo tempo,
contrapondo-as, complementando-as. apresentando outras maneiras de se preparar profissionais
para transformar a escola, na perspectiva de uma abertura
Preparar-se para ser um professor inclusivo? incondicional às diferenças e de um ensino de qualidade.
Idealizei, em 1991, um projeto de formação em serviço que
O argumento mais frequente dos professores, quando tem sido adotado por redes de ensino públicas e escolas
resistem à inclusão é não estarem/não terem sido preparados particulares brasileiras até então.
para esse trabalho. Tentarei discutir essa preparação na A cooperação, a autonomia intelectual e social, a
formação inicial e em serviço, sempre baseada em minha aprendizagem ativa são condições que propiciam o
experiência de formadora, nessas duas opções. desenvolvimento global de todos os professores, no processo
Há uma cisão entre o que os professores aprendem e o que de aprimoramento profissional.
colocam em prática nas suas salas de aula. Como se considera o professor uma referência para o aluno
Na formação em serviço, os professores reagem e não apenas um mero instrutor, a formação enfatiza a
inicialmente à metodologia que tenho adotado, porque estão importância de seu papel tanto na construção do
habituados a aprender de maneira fragmentada e conhecimento, como na formação de atitudes e valores do
essencialmente instrucional. Eles esperam uma preparação cidadão. Assim sendo, a formação vai além dos aspectos
para ensinar os alunos com deficiência e/ou dificuldades de instrumentais de ensino.
aprendizagem e de indisciplina, ou melhor, uma formação que Assim como qualquer aluno, os professores não aprendem
lhes permita aplicar esquemas de trabalho pedagógico pré- no vazio. Por isso a proposta de formação parte do “saber
definidos às suas salas de aula, garantindo-lhes a solução dos fazer” desses profissionais, que já possuem conhecimentos,
problemas que presumem encontrar nas escolas ditas experiências, crenças, esquemas de trabalho, ao entrar em
inclusivas. Grande parte desses profissionais concebem a contato com a inclusão ou qualquer outra inovação
formação como sendo mais um curso de extensão, de educacional.
especialização com uma terminalidade e com um certificado O exercício constante de reflexão e o compartilhamento de
que lhes convalide a capacidade de ser um professor inclusivo. ideias, sentimentos, ações entre os professores, diretores,
Não se trata de uma visão ingênua do que significa ser um coordenadores da escola é um dos pontos chave do
professor qualificado para o ensino inclusivo, mas uma aprimoramento em serviço Esse exercício é feito sobre as
concepção equivocada do que é uma formação em serviço e do experiências concretas, os problemas reais, as situações do
que significa a inclusão escolar. Mais uma vez a imprecisão de dia-a-dia que desequilibram o trabalho, nas salas de aula. Eles
conceitos distorce a finalidade de ações que precisam ser constituem a matéria-prima das mudanças pretendidas pela
concretizadas com urgência e muita clareza de propósitos, formação.
retardando a inclusão. No questionamento da própria prática, nas comparações,
Os dirigentes das redes de ensino têm expectativas na análise das circunstâncias e dos fatos que provocam
semelhantes quando nos solicitam essa formação, pois estão perturbações e/ou respondem pelo sucesso escolar, os
habituados a cursos que se realizam segundo outros moldes de professores vão definindo, pouco a pouco, as suas “teorias
trabalho. pedagógicas”. A intenção é que os professores sejam capazes
Se, de um lado, é preciso continuar investindo de explicar o que antes só sabiam reproduzir, a partir do que
maciçamente na direção da formação de profissionais aprendiam em cursos, oficinas, palestras, exclusivamente. A

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proposta incentiva os professores a interagirem com seus pedagógico da escola, seja porque esse projeto não foi ainda
colegas regularmente, a estudarem juntos e que estejam bem compreendido e valorizado, seja porque muitos atuam em
abertos a colaborar, com seus pares, na busca dos caminhos cumplicidade com os demais integrantes da unidade. Eles têm
pedagógicos da inclusão. dificuldade de se distanciar dos problemas de sua unidade,
O fato de professores fundamentarem suas práticas e sentem-se muito envolvidos e misturados com os seus colegas
argumentos pedagógicos no senso comum dificulta a e com os alunos, para que possam tomar certas atitudes mais
explicitação dos problemas de aprendizagem. Essa dificuldade ousadas e corajosas em relação aos professores, aos pais, à
pode mudar o rumo da trajetória escolar de alunos que muitas comunidade escolar como um todo.
vezes são encaminhados indevidamente para as modalidades Os coordenadores da escola diferem muito dos
do ensino especial e outras opções segregativas de coordenadores dos centros de formação. Estes são
atendimento educacional. profissionais que existem para que todas as situações
Daí a necessidade de se formarem grupos de estudos nas problemáticas sejam enfrentadas e para que, de fato, as
escolas, para a discussão e a compreensão dos problemas mudanças no ensino se concretizem com mais facilidade e com
educacionais, à luz do conhecimento científico e maior isenção de vieses pessoais, como os já citados.
interdisciplinarmente, se possível. Os grupos são organizados Quero deixar claro que cursos, oficinas e outros eventos de
espontaneamente pelos próprios professores, no horário em atualização e de aperfeiçoamento são indicados, mas quando
que estão nas escolas. Essas reuniões têm como ponto de correspondem a uma necessidade de grupos de professores,
partida, as necessidades e interesses comuns de alguns que têm necessidade de certos conhecimentos, para melhorar
professores de esclarecer situações e de aperfeiçoar o modo sua atuação, diante de assuntos muito particularizados. Nesses
como trabalham nas salas de aula. casos, parcerias das redes de ensino com grupos de
O foco da formação é o desenvolvimento da competência pesquisa/professores das Universidades e com profissionais
de resolver problemas pedagógicos. Analisa-se, então, como o especializados são indicadas. Mas não se pode excluir a
ensino está sendo ministrado e a construção do conhecimento possibilidade de esses cursos serem oferecidos também por
pelos alunos, pois esses processos interagem e esses dois lados professores da própria rede de ensino, que são convidados
- ensino e aprendizagem - devem ser avaliados sempre que se pelo núcleo/centro, por reconhecimento do valor da
quiser esclarecê-los. contribuição a ser propiciada aos colegas interessados.
Participam regularmente dos grupos de formação de cada O sucesso desta proposta nas escolas aponta como
escola os professores, o seu diretor, coordenador, mas há indicadores: (1) o reconhecimento e a valorização das
também os grupos que se formam entre professores de diferenças, como elemento enriquecedor do processo de
diversas escolas, que estejam interessados em um mesmo ensino e aprendizagem; (2) professores conscientes do modo
tema de estudo, como, por exemplo, a indisciplina, a como atuam, para promover a aprendizagem de todos os
sexualidade, a ética e a violência, a avaliação e outros assuntos alunos; (3) cooperação entre os implicados no processo
pertinentes. educativo - dentro e fora da escola; (4) valorização do processo
A equipe responsável pela coordenação da formação nas sobre o produto da aprendizagem; (5) enfoques curriculares,
escolas é constituída por professores, coordenadores sediados metodológicos e estratégias pedagógicas que possibilitam a
nas redes de ensino e por parceiros de Secretarias afins: Saúde, construção coletiva do conhecimento.
Esportes, Cultura e outras. A avaliação dos seus efeitos não se mede, portanto, pelo
Algumas redes de ensino criaram centros de gestão da aproveitamento de alguns alunos, os que apresentam
proposta educacional da rede e de apoio e atualização dos dificuldade de aprender ou os alunos com deficiência,
professores. Esses núcleos representam um avanço na nova incluídos nas classes do ensino regular. Embora esses casos
direção de formação em serviço, pois além de sediar ações de mereçam toda atenção, o que se almeja, acima de tudo, é saber
aprimoramento da rede, promovendo eventos de pequeno, se os professores e demais integrantes das unidades escolares
médio e grande porte, como workshops, seminários, progridem pedagogicamente, atualizando a maneira de
entrevistas, com especialistas, fóruns e outras atividades. Eles ensinar, a partir de novas concepções e práticas educacionais;
reúnem os profissionais que atendem (individualmente ou em se as escolas estão se transformando; se os alunos estão sendo
pequenos e grandes grupos) os professores, nas suas respeitados nas suas possibilidades de avançar,
respectivas escolas, os pais e a comunidade. A criação desses autonomamente, ao construírem conhecimentos; se estes
centros é uma maneira de nortear as ações educativas conhecimentos e outros são produzidos coletivamente, nas
propostas pelas escolas através de seus projetos político- salas de aula, em clima solidário e com responsabilidade; se a
pedagógicos. as relações entre os alunos, pais, professores e toda a
Os profissionais que fazem parte do quadro dos centros comunidade escolar se estreitaram, em laços de cooperação,
são supervisores de ensino, e coordenadores pedagógicos de diálogo, que são frutos de um exercício diário de
externos às escolas, que dão sustentação aos professores e às compartilhamento de seus deveres, problemas, sucessos.
equipes das unidades escolares, para que possam alcançar
seus objetivos, ultrapassando as barreiras que os impedem de E, finalmente...
realizar o que definiram em seus projetos de trabalho. Eles
visitam as escolas semanalmente e atendem a três ou quatro Embora possa assustar pelo grande número de mudanças
delas, no máximo. e pelo teor de cada uma delas, a inclusão é como muitos a
Tenho verificado com frequência que os cursos e demais apregoam “um caminho sem volta”.
atividades de formação em serviço, habitualmente oferecidos Nunca é demais, contudo, reafirmar as condições em que
aos professores pelas redes de ensino, nos moldes essa inovação acontece, marcando, grifando na nossa
costumeiros, não estão obtendo o retorno que o investimento consciência de educadores o seu valor para que nossas escolas
propõe, o que justifica a minha insistência na criação desses atendam à expectativa dos alunos de nossas escolas, do ensino
centros, porque a existência de seus serviços redireciona o que infantil à Universidade.
já é usual nas redes de ensino, ou seja, o apoio ao professor, A escola prepara o futuro e de certo que, se os alunos
pelos professores itinerantes ou também pelos coordenadores aprenderem a valorizar e a conviver com as diferenças nas
pedagógicos sediados nas escolas. salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós que temos
A existência de um coordenador pedagógico em cada de nos empenhar tanto para entender e viver a experiência da
unidade escolar, no meu ponto de vista, não tem propiciado inclusão!
um bom acompanhamento/andamento do projeto-político-

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O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que seja


ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda e
qualquer mudança, especialmente no meio educacional,
convence a todos pela sua lógica e pela ética de seu Anotações
posicionamento social.
Ao denunciar o abismo existente entre o velho e o novo na
instituição escolar brasileira, a inclusão é reveladora dos
males que o conservadorismo escolar tem espalhado pela
nossa infância e juventude estudantil.
Penso que o futuro da escola inclusiva depende de uma
expansão rápida dos projetos verdadeiramente imbuídos do
compromisso de transformar a escola, para se adequar aos
novos tempos. Se hoje ainda esses projetos se resumem a
experiências locais, estas estão demonstrando a viabilidade da
inclusão, em escolas e redes de ensino brasileiras, porque têm
a força do óbvio e a clareza da simplicidade.
A aparente fragilidade das pequenas iniciativas tem sido
suficiente para enfrentar, com segurança e otimismo, o poder
da velha e enferrujada máquina escolar.
A inclusão é um sonho possível.

Questões

01. (SEDUC-RO - Professor – História – FUNCAB/2013)


Quanto ao Projeto Político-Pedagógico, é INCORRETO afirmar
que ele:
(A) deve ser democrático.
(B) precisa ser construído coletivamente.
(C) confere identidade à escola.
(D) explicita a intencionalidade da escola.
(E) mostra-se abrangente e imutável.

02. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência – Área de


Pedagogia CESPE/2010) Julgue os itens a seguir, relativos a
projeto político-pedagógico, que, nas instituições, pode ser
considerado processo de permanente reflexão e discussão a
respeito dos problemas da organização, com o propósito de
propor soluções que viabilizem a efetivação dos objetivos
almejados.
Os pressupostos que norteiam o projeto político-
pedagógico estão desvinculados da proposta de gestão
democrática.
( ) Certo
( ) Errado

03. (Prefeitura de Palmas - TO - Professor - Língua


Espanhola – FDC/2010) “O projeto político-pedagógico
antecipa um futuro diferente do presente. Não é algo que é
construído e arquivado como prova do cumprimento de
tarefas burocráticas.”
(Ilma Passos)

Segundo a autora, o projeto político-pedagógico,


comprometido com uma educação democrática e de
qualidade, caracteriza- se fundamentalmente como:
(A) atividades articuladas, com temas selecionados
semestralmente
(B) planejamento global, com conteúdos selecionados por
série
(C) ação intencional, com compromisso definido
coletivamente
(D) plano anual, com objetivos definidos pelos professores
(E) instrumento técnico, com definição metodológica

Respostas

01. E/ 02. Errado/ 03. C

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o conjunto dos cidadãos ou instituições tratados de forma


homogênea (o público).
Outros procedimentos rotineiros na redação de
comunicações oficiais foram incorporados ao longo do tempo,
como as formas de tratamento e de cortesia, certos clichês de
redação, a estrutura dos expedientes, etc. Mencione-se, por
exemplo, a fixação dos fechos para comunicações oficiais,
regulados pela Portaria no 1 do Ministro de Estado da Justiça,
de 8 de julho de 1937, que, após mais de meio século de
Normas estabelecidas no Manual vigência, foi revogado pelo Decreto que aprovou a primeira
de Redação da Presidência da edição deste Manual. Acrescente-se, por fim, que a
República, disponível em: identificação que se buscou fazer das características
específicas da forma oficial de redigir não deve ensejar o
http://www.planalto.gov.br/ccivi entendimento de que se proponha a criação – ou se aceite a
l_03/manual/manual.htm existência – de uma forma específica de linguagem
administrativa, o que coloquialmente e pejorativamente se
chama burocratês. Este é antes uma distorção do que deve ser
a redação oficial, e se caracteriza pelo abuso de expressões e
MANUAL DE REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
clichês do jargão burocrático e de formas arcaicas de
construção de frases. A redação oficial não é, portanto,
Caro candidato, o Manual de Redação da Presidência
necessariamente árida e infensa à evolução da língua. É que
possui 6 capítulos.
sua finalidade básica – comunicar com impessoalidade e
Em nossa apostila, abordaremos apenas os capítulos 1 e 2,
máxima clareza – impõe certos parâmetros ao uso que se faz
já que os demais capítulos correspondem a conteúdos
da língua, de maneira diversa daquele da literatura, do texto
gramaticais que já foram estudados em tópicos da apostila de
jornalístico, da correspondência particular, etc. Apresentadas
Língua Portuguesa,
essas características fundamentais da redação oficial,
passemos à análise pormenorizada de cada uma delas.
CAPÍTULO I
ASPECTOS GERAIS DA REDAÇÃO OFICIAL
1.1. A Impessoalidade
1. O que é Redação Oficial
A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer
pela escrita. Para que haja comunicação, são necessários:
Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a
a) alguém que comunique,
maneira pela qual o Poder Público redige atos normativos e
b) algo a ser comunicado, e
comunicações. Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do
c) alguém que receba essa comunicação.
Poder Executivo. A redação oficial deve caracterizar-se pela
impessoalidade, uso do padrão culto de linguagem, clareza,
No caso da redação oficial, quem comunica é sempre o
concisão, formalidade e uniformidade. Fundamentalmente
Serviço Público (este ou aquele Ministério, Secretaria,
esses atributos decorrem da Constituição, que dispõe, no
Departamento, Divisão, Serviço, Seção); o que se comunica é
artigo 37: “A administração pública direta, indireta ou
sempre algum assunto relativo às atribuições do órgão que
fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
comunica; o destinatário dessa comunicação ou é o público, o
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
conjunto dos cidadãos, ou outro órgão público, do Executivo
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
ou dos outros Poderes da União. Percebe-se, assim, que o
eficiência (...)”. Sendo a publicidade e a impessoalidade
tratamento impessoal que deve ser dado aos assuntos que
princípios fundamentais de toda administração pública, claro
constam das comunicações oficiais decorre:
está que devem igualmente nortear a elaboração dos atos e
a) da ausência de impressões individuais de quem
comunicações oficiais. Não se concebe que um ato normativo
comunica: embora se trate, por exemplo, de um expediente
de qualquer natureza seja redigido de forma obscura, que
assinado por Chefe de determinada Seção, é sempre em nome
dificulte ou impossibilite sua compreensão. A transparência do
do Serviço Público que é feita a comunicação. Obtém-se, assim,
sentido dos atos normativos, bem como sua inteligibilidade,
uma desejável padronização, que permite que comunicações
são requisitos do próprio Estado de Direito: é inaceitável que
elaboradas em diferentes setores da Administração guardem
um texto legal não seja entendido pelos cidadãos. A
entre si certa uniformidade;
publicidade implica, pois, necessariamente, clareza e concisão.
b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação, com
Além de atender à disposição constitucional, a forma dos atos
duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão,
normativos obedece a certa tradição. Há normas para sua
sempre concebido como público, ou a outro órgão público. Nos
elaboração que remontam ao período de nossa história
dois casos, temos um destinatário concebido de forma
imperial, como, por exemplo, a obrigatoriedade – estabelecida
homogênea e impessoal;
por decreto imperial de 10 de dezembro de 1822 – de que se
c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o
aponha, ao final desses atos, o número de anos transcorridos
universo temático das comunicações oficiais se restringe a
desde a Independência. Essa prática foi mantida no período
questões que dizem respeito ao interesse público, é natural
republicano. Esses mesmos princípios (impessoalidade,
que não cabe qualquer tom particular ou pessoal. Desta forma,
clareza, uniformidade, concisão e uso de linguagem formal)
não há lugar na redação oficial para impressões pessoais, como
aplicam-se às comunicações oficiais: elas devem sempre
as que, por exemplo, constam de uma carta a um amigo, ou de
permitir uma única interpretação e ser estritamente
um artigo assinado de jornal, ou mesmo de um texto literário.
impessoais e uniformes, o que exige o uso de certo nível de
A redação oficial deve ser isenta da interferência da
linguagem. Nesse quadro, fica claro também que as
individualidade que a elabora. A concisão, a clareza, a
comunicações oficiais são necessariamente uniformes, pois há
objetividade e a formalidade de que nos valemos para elaborar
sempre um único comunicador (o Serviço Público) e o
os expedientes oficiais contribuem, ainda, para que seja
receptor dessas comunicações ou é o próprio Serviço Público
alcançada a necessária impessoalidade.
(no caso de expedientes dirigidos por um órgão a outro) – ou

Redação Oficial (Federal) 1


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1.2. A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais 1.3. Formalidade e Padronização

A necessidade de empregar determinado nível de As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto é,
linguagem nos atos e expedientes oficiais decorre, de um lado, obedecem a certas regras de forma: além das já mencionadas
do próprio caráter público desses atos e comunicações; de exigências de impessoalidade e uso do padrão culto de
outro, de sua finalidade. Os atos oficiais, aqui entendidos como linguagem, é imperativo, ainda, certa formalidade de
atos de caráter normativo, ou estabelecem regras para a tratamento. Não se trata somente da eterna dúvida quanto ao
conduta dos cidadãos, ou regulam o funcionamento dos órgãos correto emprego deste ou daquele pronome de tratamento
públicos, o que só é alcançado se em sua elaboração for para uma autoridade de certo nível (v. a esse respeito 2.1.3.
empregada a linguagem adequada. O mesmo se dá com os Emprego dos Pronomes de Tratamento); mais do que isso, a
expedientes oficiais, cuja finalidade precípua é a de informar formalidade diz respeito à polidez, à civilidade no próprio
com clareza e objetividade. As comunicações que partem dos enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicação. A
órgãos públicos federais devem ser compreendidas por todo e formalidade de tratamento vincula-se, também, à necessária
qualquer cidadão brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que uniformidade das comunicações. Ora, se a administração
evitar o uso de uma linguagem restrita a determinados grupos. federal é una, é natural que as comunicações que expede sigam
Não há dúvida que um texto marcado por expressões de um mesmo padrão. O estabelecimento desse padrão, uma das
circulação restrita, como a gíria, os regionalismos vocabulares metas deste Manual, exige que se atente para todas as
ou o jargão técnico, tem sua compreensão dificultada. características da redação oficial e que se cuide, ainda, da
Ressalte-se que há necessariamente uma distância entre a apresentação dos textos. A clareza datilográfica, o uso de
língua falada e a escrita. Aquela é extremamente dinâmica, papéis uniformes para o texto definitivo e a correta
reflete de forma imediata qualquer alteração de costumes, e diagramação do texto são indispensáveis para a padronização.
pode eventualmente contar com outros elementos que Consulte o Capítulo II, As Comunicações Oficiais, a respeito de
auxiliem a sua compreensão, como os gestos, a entoação, etc. normas específicas para cada tipo de expediente.
Para mencionar apenas alguns dos fatores responsáveis por
essa distância. Já a língua escrita incorpora mais lentamente as 1.4. Concisão e Clareza
transformações, tem maior vocação para a permanência, e
vale-se apenas de si mesma para comunicar. A língua escrita, A concisão é antes uma qualidade do que uma
como a falada, compreende diferentes níveis, de acordo com o característica do texto oficial. Conciso é o texto que consegue
uso que dela se faça. Por exemplo, em uma carta a um amigo, transmitir um máximo de informações com um mínimo de
podemos nos valer de determinado padrão de linguagem que palavras. Para que se redija com essa qualidade, é fundamental
incorpore expressões extremamente pessoais ou coloquiais; que se tenha, além de conhecimento do assunto sobre o qual
em um parecer jurídico, não se há de estranhar a presença do se escreve, o necessário tempo para revisar o texto depois de
vocabulário técnico correspondente. Nos dois casos, há um pronto. É nessa releitura que muitas vezes se percebem
padrão de linguagem que atende ao uso que se faz da língua, a eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias de
finalidade com que a empregamos. O mesmo ocorre com os ideias. O esforço de sermos concisos atende, basicamente ao
textos oficiais: por seu caráter impessoal, por sua finalidade de princípio de economia linguística, à mencionada fórmula de
informar com o máximo de clareza e concisão, eles requerem empregar o mínimo de palavras para informar o máximo. Não
o uso do padrão culto da língua. Há consenso de que o padrão se deve de forma alguma entendê-la como economia de
culto é aquele em que a) se observam as regras da gramática pensamento, isto é, não se devem eliminar passagens
formal, e b) se emprega um vocabulário comum ao conjunto substanciais do texto no afã de reduzi-lo em tamanho. Trata-se
dos usuários do idioma. É importante ressaltar que a exclusivamente de cortar palavras inúteis, redundâncias,
obrigatoriedade do uso do padrão culto na redação oficial passagens que nada acrescentem ao que já foi dito. Procure
decorre do fato de que ele está acima das diferenças lexicais, perceber certa hierarquia de ideias que existe em todo texto
morfológicas ou sintáticas regionais, dos modismos de alguma complexidade: ideias fundamentais e ideias
vocabulares, das idiossincrasias linguísticas, permitindo, por secundárias. Estas últimas podem esclarecer o sentido
essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos daquelas, detalhá-las, exemplificá-las; mas existem também
os cidadãos. ideias secundárias que não acrescentam informação alguma ao
Lembre-se que o padrão culto nada tem contra a texto, nem têm maior relação com as fundamentais, podendo,
simplicidade de expressão, desde que não seja confundida com por isso, ser dispensadas. A clareza deve ser a qualidade básica
pobreza de expressão. De nenhuma forma o uso do padrão de todo texto oficial, conforme já sublinhado na introdução
culto implica emprego de linguagem rebuscada, nem dos deste capítulo. Pode-se definir como claro aquele texto que
contorcionismos sintáticos e figuras de linguagem próprios da possibilita imediata compreensão pelo leitor. No entanto a
língua literária. Pode-se concluir, então, que não existe clareza não é algo que se atinja por si só: ela depende
propriamente um “padrão oficial de linguagem”; o que há é o estritamente das demais características da redação oficial.
uso do padrão culto nos atos e comunicações oficiais. É claro Para ela concorrem:
que haverá preferência pelo uso de determinadas expressões, a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de
ou será obedecida certa tradição no emprego das formas interpretações que poderia decorrer de um tratamento
sintáticas, mas isso não implica, necessariamente, que se personalista dado ao texto;
consagre a utilização de uma forma de linguagem burocrática. b) o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de
O jargão burocrático, como todo jargão, deve ser evitado, pois entendimento geral e por definição avesso a vocábulos de
terá sempre sua compreensão limitada. A linguagem técnica circulação restrita, como a gíria e o jargão;
deve ser empregada apenas em situações que a exijam, sendo c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a
de evitar o seu uso indiscriminado. Certos rebuscamentos imprescindível uniformidade dos textos;
acadêmicos, e mesmo o vocabulário próprio a determinada d) a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos
área, são de difícil entendimento por quem não esteja com eles linguísticos que nada lhe acrescentam.
familiarizado. Deve-se ter o cuidado, portanto, de explicitá-los É pela correta observação dessas características que se
em comunicações encaminhadas a outros órgãos da redige com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável
administração e em expedientes dirigidos aos cidadãos. Outras releitura de todo texto redigido. A ocorrência, em textos
questões sobre a linguagem, como o emprego de neologismo e oficiais, de trechos obscuros e de erros gramaticais provém
estrangeirismo, são tratadas em detalhe em 9.3. Semântica. principalmente da falta da releitura que torna possível sua

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correção. Na revisão de um expediente, deve-se avaliar, ainda, se ele será de fácil compreensão por seu destinatário. O que nos parece
óbvio pode ser desconhecido por terceiros. O domínio que adquirimos sobre certos assuntos em decorrência de nossa experiência
profissional muitas vezes faz com que os tomemos como de conhecimento geral, o que nem sempre é verdade. Explicite, desenvolva,
esclareça, precise os termos técnicos, o significado das siglas e abreviações e os conceitos específicos que não possam ser dispensados.
A revisão atenta exige, necessariamente, tempo. A pressa com que são elaboradas certas comunicações quase sempre compromete sua
clareza. Não se deve proceder à redação de um texto que não seja seguida por sua revisão. “Não há assuntos urgentes, há assuntos
atrasados”, diz a máxima.

Evite-se, pois, o atraso, com sua indesejável repercussão no redigir.


Por fim, como exemplo de texto obscuro, que deve ser evitado em todas as comunicações oficiais, transcrevemos a seguir um
pitoresco quadro, constante de obra de Adriano da Gama Kury, a partir do qual podem ser feitas inúmeras frases, combinando-se as
expressões das várias colunas em qualquer ordem, com uma característica comum: nenhuma delas tem sentido! O quadro tem aqui a
função de sublinhar a maneira de como não se deve escrever:
Como não se deve escrever:

COLUNA A COLUNA B COLUNA C COLUNA D COLUNA E COLUNA F COLUNA G


Se Uma correta relação No interesse Numa ótica A transparência
1. A necessidade Substanciando e
caracteriza entre estrutura e primário da preventiva e não de cada ato
emergente vitalizando,
por superestrutura população, mais curativa, decisional.
Um
A superação de cada Sem prejudicar o Não assumindo No contexto de
2. O quadro indispensável
Prefigura obstáculo e/ou atual nível das nunca como um sistema
normativo salto de
resistência passiva contribuições, implícito, integrado,
qualidade.
A pontual O planamento
Na medida em
3. O critério Reconduz a correspondência Com critérios não Potenciando e de discrepâncias
que isso seja
metodológico sínteses entre objetivos e dirigísticos, incrementando, e discrasias
factível,
recursos existentes.
Para além das A adoção de
O redirecionamento Em termos de
4. O modelo de contradições e Evidenciando e uma
Incrementa das linhas de eficácia e
desenvolvimento dificuldades explicitando metodologia
tendências em ato eficiência,
iniciais, diferenciada.
O incorporamento
Numa visão A cavaleiro da A redefinição de
5. O novo tema das funções e a Ativando e
Propicia orgânica e não Situação uma nova figura
social descentralização implementando,
totalizante, contingente, profissional.
decisional
O co-
O reconhecimento da Mediante Não omitindo ou Com as devidas e envolvimento
6. O método
Propõe-se a demanda não mecanismos da calando, mas antes imprescindíveis ativo de
participativo
satisfeita participação, particularizando, enfatizações, operadores e
utentes.
Uma coligação
Segundo um Como sua
orgânica Recuperando, ou Uma congruente
7. A utilização módulo de premissa
Privilegia interdisciplinar para antes flexibilidade das
potencial interdependência indispensável e
uma práxis de revalorizando, estruturas.
horizontal, condicionante,
trabalho de grupo,

CAPÍTULO II
AS COMUNICAÇÕES OFICIAIS

2. Introdução
A redação das comunicações oficiais deve, antes de tudo, seguir os preceitos explicitados no Capítulo I, Aspectos Gerais da Redação
Oficial. Além disso, há características específicas de cada tipo de expediente, que serão tratadas em detalhe neste capítulo. Antes de
passarmos à sua análise, vejamos outros aspectos comuns a quase todas as modalidades de comunicação oficial: o emprego dos
pronomes de tratamento, a forma dos fechos e a identificação do signatário.

2.1. Pronomes de Tratamento

2.1.1. Breve História dos Pronomes de Tratamento


O uso de pronomes e locuções pronominais de tratamento tem larga tradição na língua portuguesa. De acordo com Said Ali, após
serem incorporados ao português os pronomes latinos tu e vos, “como tratamento direto da pessoa ou pessoas a quem se dirigia a
palavra”, passou-se a empregar, como expediente linguístico de distinção e de respeito, a segunda pessoa do plural no tratamento de
pessoas de hierarquia superior. Prossegue o autor: “Outro modo de tratamento indireto consistiu em fingir que se dirigia a palavra a
um atributo ou qualidade eminente da pessoa de categoria superior, e não a ela própria. Assim aproximavam-se os vassalos de seu rei
com o tratamento de vossa mercê, vossa senhoria (...); assim usou-se o tratamento ducal de vossa excelência e adotou-se na hierarquia
eclesiástica vossa reverência, vossa paternidade, vossa eminência, vossa santidade.” A partir do final do século XVI, esse modo de
tratamento indireto já estava em voga também para os ocupantes de certos cargos públicos. Vossa mercê evoluiu para vosmecê, e
depois para o coloquial você. E o pronome vós, com o tempo, caiu em desuso. É dessa tradição que provém o atual emprego de
pronomes de tratamento indireto como forma de dirigirmo-nos às autoridades civis, militares e eclesiásticas.

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2.1.2. Concordância com os Pronomes de Tratamento Senhor Senador,


Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa Senhor Juiz,
indireta) apresentam certas peculiaridades quanto à Senhor Ministro,
concordância verbal, nominal e pronominal. Embora se Senhor Governador,
refiram à segunda pessoa gramatical (à pessoa com quem se
fala, ou a quem se dirige a comunicação levam a concordância No envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas
para a terceira pessoa. É que o verbo concorda com o às autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá a seguinte
substantivo que integra a locução como seu núcleo sintático: forma:
“Vossa Senhoria nomeará o substituto”; “Vossa Excelência
conhece o assunto”. Da mesma forma, os pronomes A Sua Excelência o Senhor
possessivos referidos a pronomes de tratamento são sempre Fulano de Tal
os da terceira pessoa: “Vossa Senhoria nomeará seu Ministro de Estado da Justiça
substituto” (e não “Vossa... vosso...”). Já quanto aos adjetivos 70.064-900 – Brasília. DF
referidos a esses pronomes, o gênero gramatical deve coincidir
com o sexo da pessoa a que se refere, e não com o substantivo A Sua Excelência o Senhor
que compõe a locução. Assim, se nosso interlocutor for Senador Fulano de Tal
homem, o correto é “Vossa Excelência está atarefado”, “Vossa Senado Federal
Senhoria deve estar satisfeito”; se for mulher, “Vossa 70.165-900 – Brasília. DF
Excelência está atarefada”, “Vossa Senhoria deve estar
satisfeita”. A Sua Excelência o Senhor
Fulano de Tal
2.1.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento Juiz de Direito da 10a Vara Cível
Rua ABC, no 123
Como visto, o emprego dos pronomes de tratamento 01.010-000 – São Paulo. SP
obedece a secular tradição. São de uso consagrado:
Vossa Excelência, para as seguintes autoridades: Em comunicações oficiais, está abolido o uso do
tratamento digníssimo (DD), às autoridades arroladas na lista
a) do Poder Executivo; anterior. A dignidade é pressuposto para que se ocupe
qualquer cargo público, sendo desnecessária sua repetida
Presidente da República; evocação.
Vice-Presidente da República;
Ministros de Estado; Vossa Senhoria é empregado para as demais autoridades e
Governadores e Vice-Governadores de Estado e do Distrito para particulares. O vocativo adequado é:
Federal;
Oficiais-Generais das Forças Armadas; Senhor Fulano de Tal,
Embaixadores; (...)
Secretários-Executivos de Ministérios e demais ocupantes
de cargos de natureza especial; No envelope, deve constar do endereçamento:
Secretários de Estado dos Governos Estaduais;
Prefeitos Municipais. Ao Senhor
Fulano de Tal
b) do Poder Legislativo: Rua ABC, nº 123
70.123 – Curitiba. PR
Deputados Federais e Senadores;
Ministro do Tribunal de Contas da União; Como se depreende do exemplo acima fica dispensado o
Deputados Estaduais e Distritais; emprego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que
Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais; recebem o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares.
Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais. É suficiente o uso do pronome de tratamento Senhor.
Acrescente-se que doutor não é forma de tratamento, e sim
c) do Poder Judiciário: título acadêmico. Evite usá-lo indiscriminadamente. Como
regra geral, empregue-o apenas em comunicações dirigidas a
Ministros dos Tribunais Superiores; pessoas que tenham tal grau por terem concluído curso
Membros de Tribunais; universitário de doutorado. É costume designar por doutor os
Juízes; bacharéis, especialmente os bacharéis em Direito e em
uditores da Justiça Militar. Medicina. Nos demais casos, o tratamento Senhor confere a
desejada formalidade às comunicações. Mencionemos, ainda, a
O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas forma Vossa Magnificência, empregada por força da tradição,
aos Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo em comunicações dirigidas a reitores de universidade.
respectivo: Corresponde-lhe o vocativo:

Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Magnífico Reitor,


Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional, (...)
Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal
Federal. Os pronomes de tratamento para religiosos, de acordo com
a hierarquia eclesiástica, são:
As demais autoridades serão tratadas com o vocativo
Senhor, seguido do cargo respectivo: Vossa Santidade, em comunicações dirigidas ao Papa. O
vocativo correspondente é:
Santíssimo Padre,
(...)

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Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssima, em 3.1. Partes do documento no Padrão Ofício
comunicações aos Cardeais. Corresponde-lhe o vocativo:
O aviso, o ofício e o memorando devem conter as seguintes
Eminentíssimo Senhor Cardeal, ou partes:
Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal,
(...) a) tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão
que o expede:
Vossa Excelência Reverendíssima é usado em Exemplos:
comunicações dirigidas a Arcebispos e Bispos; Vossa Mem. 123/2002-MF Aviso 123/2002-SG Of. 123/2002-
Reverendíssima ou Vossa Senhoria Reverendíssima para MME
Monsenhores, Cônegos e superiores religiosos. Vossa
Reverência é empregado para sacerdotes, clérigos e demais b) local e data em que foi assinado, por extenso, com
religiosos. alinhamento à direita:
Exemplo:
2.2. Fechos para Comunicações 13
Brasília, 15 de março de 1991.
O fecho das comunicações oficiais possui, além da
finalidade óbvia de arrematar o texto, a de saudar o c) assunto: resumo do teor do documento
destinatário. Os modelos para fecho que vinham sendo Exemplos:
utilizados foram regulados pela Portaria nº1 do Ministério da Assunto: Produtividade do órgão em 2002.
Justiça, de 1937, que estabelecia quinze padrões. Com o fito de Assunto: Necessidade de aquisição de novos
simplificá-los e uniformizá-los, este Manual estabelece o computadores.
emprego de somente dois fechos diferentes para todas as
modalidades de comunicação oficial: d) destinatário: o nome e o cargo da pessoa a quem é
dirigida a comunicação. No caso do ofício deve ser incluído
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente da também o endereço.
República: e) texto: nos casos em que não for de mero
Respeitosamente, encaminhamento de documentos, o expediente deve conter a
seguinte estrutura:
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia
inferior: – introdução, que se confunde com o parágrafo de
Atenciosamente, abertura, na qual é apresentado o assunto que motiva a
comunicação. Evite o uso das formas: “Tenho a honra de”,
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas “Tenho o prazer de”, “Cumpre-me informar que”, empregue a
a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição forma direta;
próprios, devidamente disciplinados no Manual de Redação do – desenvolvimento, no qual o assunto é detalhado; se o
Ministério das Relações Exteriores. texto contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem
ser tratadas em parágrafos distintos, o que confere maior
2.3. Identificação do Signatário clareza à exposição;

Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da – conclusão, em que é reafirmada ou simplesmente


República, todas as demais comunicações oficiais devem reapresentada a posição recomendada sobre o assunto.
trazer o nome e o cargo da autoridade que as expede, abaixo
do local de sua assinatura. A forma da identificação deve ser a Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos
seguinte: casos em que estes estejam organizados em itens ou títulos e
subtítu-los.
(espaço para assinatura)
NOME Já quando se tratar de mero encaminhamento de
Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República documentos a estrutura é a seguinte:

(espaço para assinatura) – introdução: deve iniciar com referência ao expediente


NOME que solicitou o encaminhamento. Se a remessa do documento
Ministro de Estado da Justiça não tiver sido solicitada, deve iniciar com a informação do
motivo da comunicação, que é encaminhar, indicando a seguir
Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a os dados completos do documento encaminhado (tipo, data,
assinatura em página isolada do expediente. Transfira para origem ou signatário, e assunto de que trata), e a razão pela
essa página ao menos a última frase anterior ao fecho. qual está sendo encaminhado, segundo a seguinte fórmula:

3. O Padrão Ofício “Em resposta ao Aviso nº 12, de 1º de fevereiro de 1991,


encaminho, anexa, cópia do Ofício nº 34, de 3 de abril de 1990,
Há três tipos de expedientes que se diferenciam antes pela do Departamento Geral de Administração, que trata da
finalidade do que pela forma: o ofício, o aviso e o memorando. requisição do servidor Fulano de Tal.” Ou “Encaminho, para
Com o fito de uniformizá-los, pode-se adotar uma diagramação exame e pronunciamento, a anexa cópia do telegrama no 12,
única, que siga o que chamamos de padrão ofício. As de 1o de fevereiro de 1991, do Presidente da Confederação
peculiaridades de cada um serão tratadas adiante; por ora Nacional de Agricultura, a respeito de projeto de
busquemos as suas semelhanças. modernização de técnicas agrícolas na região Nordeste.”

– desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar


fazer algum comentário a respeito do documento que
encaminha, poderá acrescentar parágrafos de

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desenvolvimento; em caso contrário, não há parágrafos de 3.3.2. Forma e Estrutura


desenvolvimento em aviso ou ofício de mero Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo do
encaminhamento. padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o
destinatário (v. 2.1 Pronomes de Tratamento), seguido de
f) fecho (v. 2.2. Fechos para Comunicações); vírgula.
g) assinatura do autor da comunicação; e
h) identificação do signatário (v. 2.3. Identificação do Exemplos:
Signatário). Excelentíssimo Senhor Presidente da República
Senhora Ministra
3.2. Forma de diagramação Senhor Chefe de Gabinete
Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as
Os documentos do Padrão Ofício devem obedecer à seguintes informações do remetente:
seguinte forma de apresentação:
– nome do órgão ou setor;
a) deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de – endereço postal;
corpo 12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas de – telefone e endereço de correio eletrônico.
rodapé;
b) para símbolos não existentes na fonte Times New 3.4. Memorando
Roman poder-se-á utilizar as fontes Symbol e Wingdings;
c) é obrigatória constar a partir da segunda página o 3.4.1. Definição e Finalidade
número da página;
d) os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser O memorando é a modalidade de comunicação entre
impressos em ambas as faces do papel. Neste caso, as margens unidades administrativas de um mesmo órgão, que podem
esquerda e direta terão as distâncias invertidas nas páginas estar hierarquicamente em mesmo nível ou em nível diferente.
pares (“margem espelho”); Trata-se, portanto, de uma forma de comunicação
e) o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de eminentemente interna. Pode ter caráter meramente
distância da margem esquerda; administrativo, ou ser empregado para a exposição de
f) o campo destinado à margem lateral esquerda terá, no projetos, ideias, diretrizes, etc. a serem adotados por
mínimo, 3,0 cm de largura; determinado setor do serviço público. Sua característica
g) o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5 cm; principal é a agilidade. A tramitação do memorando em
5 O constante neste item aplica-se também à exposição de qualquer órgão deve pautar-se pela rapidez e pela
motivos e à mensagem (v. 4. Exposição de Motivos e 5. simplicidade de procedimentos burocráticos.
Mensagem).
h) deve ser utilizado espaçamento simples entre as linhas Para evitar desnecessário aumento do número de
e de 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor de texto comunicações, os despachos ao memorando devem ser dados
utilizado não comportar tal recurso, de uma linha em branco; no próprio documento e, no caso de falta de espaço, em folha
i) não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, de continuação. Esse procedimento permite formar uma
sublinhado, letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, espécie de processo simplificado, assegurando maior
bordas ou qualquer outra forma de formatação que afete a transparência à tomada de decisões, e permitindo que se
elegância e a sobriedade do documento; historie o andamento da matéria tratada no memorando.
j) a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em
papel branco. A impressão colorida deve ser usada apenas 3.4.2. Forma e Estrutura
para gráficos e ilustrações;
l) todos os tipos de documentos do Padrão Ofício devem Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do
ser impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7 x 21,0 padrão ofício, com a diferença de que o seu destinatário deve
cm; ser mencionado pelo cargo que ocupa.
m) deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de
arquivo Rich Text nos documentos de texto; 4. Exposição de Motivos
n) dentro do possível, todos os documentos elaborados
devem ter o arquivo de texto preservado para consulta 4.1. Definição e Finalidade
posterior ou aproveitamento de trechos para casos análogos;
o) para facilitar a localização, os nomes dos arquivos Exposição de motivos é o expediente dirigido ao
devem ser formados da seguinte maneira: tipo do documento Presidente da República ou ao Vice-Presidente para:
+ número do documento + palavras-chaves do conteúdo Ex.: a) informá-lo de determinado assunto;
“Of. 123 - relatório produtividade ano 2002” b) propor alguma medida; ou
c) submeter a sua consideração projeto de ato normativo.
3.3. Aviso e Ofício Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente
da República por um Ministro de Estado.
3.3.1. Definição e Finalidade Nos casos em que o assunto tratado envolva mais de um
Aviso e ofício são modalidades de comunicação oficial Ministério, a exposição de motivos deverá ser assinada por
praticamente idênticas. A única diferença entre eles é que o todos os Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada
aviso é expedido exclusivamente por Ministros de Estado, para de interministerial.
autoridades de mesma hierarquia, ao passo que o ofício é
expedido para e pelas demais autoridades. Ambos têm como 4.2. Forma e Estrutura
finalidade o tratamento de assuntos oficiais pelos órgãos da Formalmente, a exposição de motivos tem a apresentação
Administração Pública entre si e, no caso do ofício, também do padrão ofício (v. 3. O Padrão Ofício). O anexo que
com particulares. acompanha a exposição de motivos que proponha alguma
medida ou apresente projeto de ato normativo, segue o
modelo descrito adiante. A exposição de motivos, de acordo
com sua finalidade, apresenta duas formas básicas de

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estrutura: uma para aquela que tenha caráter exclusivamente preenchimento obrigatório do anexo para as exposições de
informativo e outra para a que proponha alguma medida ou motivos que proponham a adoção de alguma medida ou a
submeta projeto de ato normativo. edição de ato normativo tem como finalidade:
No primeiro caso, o da exposição de motivos que a) permitir a adequada reflexão sobre o problema que se
simplesmente leva algum assunto ao conhecimento do busca resolver;
Presidente da República, sua estrutura segue o modelo antes b) ensejar mais profunda avaliação das diversas causas do
referido para o padrão ofício. problema e dos efeitos que pode ter a adoção da medida ou a
Já a exposição de motivos que submeta à consideração do edição do ato, em consonância com as questões que devem ser
Presidente da República a sugestão de alguma medida a ser analisadas na elaboração de proposições normativas no âmbito
adotada ou a que lhe apresente projeto de ato normativo – do Poder Executivo (v. 10.4.3.).
embora sigam também a estrutura do padrão ofício –, além de c) conferir perfeita transparência aos atos propostos.
outros comentários julgados pertinentes por seu autor, devem,
obrigatoriamente, apontar: Dessa forma, ao atender às questões que devem ser
a) na introdução: o problema que está a reclamar a adoção analisadas na elaboração de atos normativos no âmbito do
da medida ou do ato normativo proposto; Poder Executivo, o texto da exposição de motivos e seu anexo
b) no desenvolvimento: o porquê de ser aquela medida ou complementam-se e formam um todo coeso: no anexo,
aquele ato normativo o ideal para se solucionar o problema, e encontramos uma avaliação profunda e direta de toda a
eventuais alternativas existentes para equacioná-lo; situação que está a reclamar a adoção de certa providência ou
c) na conclusão, novamente, qual medida deve ser tomada, a edição de um ato normativo; o problema a ser enfrentado e
ou qual ato normativo deve ser editado para solucionar o suas causas; a solução que se propõe, seus efeitos e seus
problema. custos; e as alternativas existentes. O texto da exposição de
Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à motivos fica, assim, reservado à demonstração da necessidade
exposição de motivos, devidamente preenchido, de acordo da providência proposta: por que deve ser adotada e como
com o seguinte modelo previsto no Anexo II do Decreto no resolverá o problema. Nos casos em que o ato proposto for
4.176, de 28 de março de 2002. questão de pessoal (nomeação, promoção, ascensão,
Anexo à Exposição de Motivos do (indicar nome do transferência, readaptação, reversão, aproveitamento,
Ministério ou órgão equivalente) nº de 200. reintegração, recondução, remoção, exoneração, demissão,
1. Síntese do problema ou da situação que reclama dispensa, disponibilidade, aposentadoria), não é necessário o
providências encaminhamento do formulário de anexo à exposição de
2. Soluções e providências contidas no ato normativo ou na motivos.
medida proposta Ressalte-se que:
– a síntese do parecer do órgão de assessoramento jurídico
3. Alternativas existentes às medidas propostas não dispensa o encaminhamento do parecer completo;
Mencionar: – o tamanho dos campos do anexo à exposição de motivos
- se há outro projeto do Executivo sobre a matéria; pode ser alterado de acordo com a maior ou menor extensão
- se há projetos sobre a matéria no Legislativo; dos comentários a serem ali incluídos.
- outras possibilidades de resolução do problema. Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha presente que
a atenção aos requisitos básicos da redação oficial (clareza,
4. Custos concisão, impessoalidade, formalidade, padronização e uso do
Mencionar: padrão culto de linguagem) deve ser redobrada. A exposição
- se a despesa decorrente da medida está prevista na lei de motivos é a principal modalidade de comunicação dirigida
orçamentária anual; se não, quais as alternativas para custeá- ao Presidente da República pelos Ministros. Além disso, pode,
la; em certos casos, ser encaminhada cópia ao Congresso Nacional
- se é o caso de solicitar-se abertura de crédito ou ao Poder Judiciário ou, ainda, ser publicada no Diário Oficial
extraordinário, especial ou suplementar; da União, no todo ou em parte.
- valor a ser despendido em moeda corrente;
5. Razões que justificam a urgência (a ser preenchido 5. Mensagem
somente se o ato proposto for medida provisória ou projeto de
lei que deva tramitar em regime de urgência) 5.1. Definição e Finalidade
Mencionar:
- se o problema configura calamidade pública; É o instrumento de comunicação oficial entre os Chefes dos
- por que é indispensável a vigência imediata; Poderes Públicos, notadamente as mensagens enviadas pelo
- se se trata de problema cuja causa ou agravamento não Chefe do Poder Executivo ao Poder Legislativo para informar
tenham sido previstos; sobre fato da Administração Pública; expor o plano de governo
- se se trata de desenvolvimento extraordinário de por ocasião da abertura de sessão legislativa; submeter ao
situação já prevista. Congresso Nacional matérias que dependem de deliberação de
suas Casas; apresentar veto; enfim, fazer e agradecer
6. Impacto sobre o meio ambiente (sempre que o ato ou comunicações de tudo quanto seja de interesse dos poderes
medida proposta possa vir a tê-lo) públicos e da Nação. Minuta de mensagem pode ser
encaminhada pelos Ministérios à Presidência da República, a
7. Alterações propostas cujas assessorias caberá a redação final. As mensagens mais
usuais do Poder Executivo ao Congresso Nacional têm as
Texto atual Texto proposto seguintes finalidades:
8. Síntese do parecer do órgão jurídico a) encaminhamento de projeto de lei ordinária,
· Com base em avaliação do ato normativo ou da medida complementar ou financeira. Os projetos de lei ordinária ou
proposta à luz das questões levantadas no item 10.4.3. complementar são enviados em regime normal (Constituição,
A falta ou insuficiência das informações prestadas pode art. 61) ou de urgência (Constituição, art. 64, §§ 1o a 4o). Cabe
acarretar, a critério da Subchefia para Assuntos Jurídicos da lembrar que o projeto pode ser encaminhado sob o regime
Casa Civil, a devolução do projeto de ato normativo para que normal e mais tarde ser objeto de nova mensagem, com
se complete o exame ou se reformule a proposta. O solicitação de urgência. Em ambos os casos, a mensagem se

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dirige aos Membros do Congresso Nacional, mas é (Constituição, art. 51, II), em procedimento disciplinado no art.
encaminhada com aviso do Chefe da Casa Civil da Presidência 215 do seu Regimento Interno.
da República ao Primeiro Secretário da Câmara dos g) mensagem de abertura da sessão legislativa.
Deputados, para que tenha início sua tramitação (Constituição, Ela deve conter o plano de governo, exposição sobre a
art. 64, caput). Quanto aos projetos de lei financeira (que situação do País e solicitação de providências que julgar
compreendem plano plurianual, diretrizes orçamentárias, necessárias (Constituição, art. 84, XI). O portador da
orçamentos anuais e créditos adicionais), as mensagens de mensagem é o Chefe da Casa Civil da Presidência da República.
encaminhamento dirigem-se aos Membros do Congresso Esta mensagem difere das demais porque vai encadernada e é
Nacional, e os respectivos avisos são endereçados ao Primeiro distribuída a todos os Congressistas em forma de livro.
Secretário do Senado Federal. A razão é que o art. 166 da h) comunicação de sanção (com restituição de autógrafos).
Constituição impõe a deliberação congressual sobre as leis Esta mensagem é dirigida aos Membros do Congresso
financeiras em sessão conjunta, mais precisamente, “na forma Nacional, encaminhada por Aviso ao Primeiro Secretário da
do regimento comum”. E à frente da Mesa do Congresso Casa onde se originaram os autógrafos. Nela se informa o
Nacional está o Presidente do Senado Federal (Constituição, número que tomou a lei e se restituem dois exemplares dos
art. 57, § 5o), que comanda as sessões conjuntas. As três autógrafos recebidos, nos quais o Presidente da República
mensagens aqui tratadas coroam o processo desenvolvido no terá aposto o despacho de sanção.
âmbito do Poder Executivo, que abrange minucioso exame i) comunicação de veto.
técnico, jurídico e econômico-financeiro das matérias objeto Dirigida ao Presidente do Senado Federal (Constituição,
das proposições por elas encaminhadas. Tais exames art. 66, § 1o), a mensagem informa sobre a decisão de vetar, se
materializam-se em pareceres dos diversos órgãos o veto é parcial, quais as disposições vetadas, e as razões do
interessados no assunto das proposições, entre eles o da veto. Seu texto vai publicado na íntegra no Diário Oficial da
Advocacia-Geral da União. Mas, na origem das propostas, as União (v. 4.2. Forma e Estrutura), ao contrário das demais
análises necessárias constam da exposição de motivos do mensagens, cuja publicação se restringe à notícia do seu envio
órgão onde se geraram (v. 3.1. Exposição de Motivos) – ao Poder Legislativo. (v. 19.6.Veto)
exposição que acompanhará, por cópia, a mensagem de j) outras mensagens.
encaminhamento ao Congresso. Também são remetidas ao Legislativo com regular
frequência mensagens com:
b) encaminhamento de medida provisória. – encaminhamento de atos internacionais que acarretam
Para dar cumprimento ao disposto no art. 62 da encargos ou compromissos gravosos (Constituição, art. 49, I);
Constituição, o Presidente da República encaminha mensagem – pedido de estabelecimento de alíquotas aplicáveis às
ao Congresso, dirigida a seus membros, com aviso para o operações e prestações interestaduais e de exportação
Primeiro Secretário do Senado Federal, juntando cópia da (Constituição, art. 155, § 2o, IV);
medida provisória, autenticada pela Coordenação de – proposta de fixação de limites globais para o montante
Documentação da Presidência da República. da dívida consolidada (Constituição, art. 52, VI);
c) indicação de autoridades. – pedido de autorização para operações financeiras
As mensagens que submetem ao Senado Federal a externas (Constituição, art. 52, V); e outros.
indicação de pessoas para ocuparem determinados cargos Entre as mensagens menos comuns estão as de:
(magistrados dos Tribunais Superiores, Ministros do TCU, – convocação extraordinária do Congresso Nacional
Presidentes e Diretores do Banco Central, Procurador-Geral da (Constituição, art. 57, § 6o);
República, Chefes de Missão Diplomática, etc.) têm em vista – pedido de autorização para exonerar o Procurador-Geral
que a Constituição, no seu art. 52, incisos III e IV, atribui àquela da República (art. 52, XI, e 128, § 2o);
Casa do Congresso Nacional competência privativa para – pedido de autorização para declarar guerra e decretar
aprovar a indicação. O curriculum vitae do indicado, mobilização nacional (Constituição, art. 84, XIX);
devidamente assinado, acompanha a mensagem. d) pedido de – pedido de autorização ou referendo para celebrar a paz
autorização para o Presidente ou o Vice-Presidente da (Constituição, art. 84, XX);
República se ausentarem do País por mais de 15 dias. Trata-se – justificativa para decretação do estado de defesa ou de
de exigência constitucional (Constituição, art. 49, III, e 83), e a sua prorrogação (Constituição, art. 136, § 4o);
autorização é da competência privativa do Congresso – pedido de autorização para decretar o estado de sítio
Nacional. O Presidente da República, tradicionalmente, por (Constituição, art. 137);
cortesia, quando a ausência é por prazo inferior a 15 dias, faz – relato das medidas praticadas na vigência do estado de
uma comunicação a cada Casa do Congresso, enviando-lhes sítio ou de defesa (Constituição, art. 141, parágrafo único);
mensagens idênticas. – proposta de modificação de projetos de leis financeiras
e) encaminhamento de atos de concessão e renovação de (Constituição, art. 166, § 5o);
concessão de emissoras de rádio e TV. A obrigação de – pedido de autorização para utilizar recursos que ficarem
submeter tais atos à apreciação do Congresso Nacional consta sem despesas correspondentes, em decorrência de veto,
no inciso XII do artigo 49 da Constituição. Somente produzirão emenda ou rejeição do projeto de lei orçamentária anual
efeitos legais a outorga ou renovação da concessão após (Constituição, art. 166, § 8o);
deliberação do Congresso Nacional (Constituição, art. 223, § – pedido de autorização para alienar ou conceder terras
3o). Descabe pedir na mensagem a urgência prevista no art. 64 públicas com área superior a 2.500 ha (Constituição, art. 188,
da Constituição, porquanto o § 1o do art. 223 já define o prazo § 1o); etc.
da tramitação. Além do ato de outorga ou renovação,
acompanha a mensagem o correspondente processo 5.2. Forma e Estrutura
administrativo.
f) encaminhamento das contas referentes ao exercício As mensagens contêm:
anterior. O Presidente da República tem o prazo de sessenta a) a indicação do tipo de expediente e de seu número,
dias após a abertura da sessão legislativa para enviar ao horizontalmente, no início da margem esquerda:
Congresso Nacional as contas referentes ao exercício anterior Mensagem no
(Constituição, art. 84, XXIV), para exame e parecer da b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o
Comissão Mista permanente (Constituição, art. 166, § 1o), sob cargo do destinatário, horizontalmente, no início da margem
pena de a Câmara dos Deputados realizar a tomada de contas

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esquerda; Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado 8.2. Forma e Estrutura


Federal, Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é
c) o texto, iniciando a 2 cm do vocativo; sua flexibilidade. Assim, não interessa definir forma rígida
d) o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do texto, e para sua estrutura. Entretanto, deve-se evitar o uso de
horizontalmente fazendo coincidir seu final com a margem linguagem incompatível com uma comunicação oficial (v. 1.2 A
direita. Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais). O campo assunto
A mensagem, como os demais atos assinados pelo do formulário de correio eletrônico mensagem deve ser
Presidente da República, não traz identificação de seu preenchido de modo a facilitar a organização documental
signatário. tanto do destinatário quanto do remetente. Para os arquivos
anexados à mensagem deve ser utilizado, preferencialmente, o
6. Telegrama formato Rich Text. A mensagem que encaminha algum arquivo
6.1. Definição e Finalidade deve trazer informações mínimas sobre seu conteúdo. Sempre
Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar os que disponível, deve-se utilizar recurso de confirmação de
procedimentos burocráticos, passa a receber o título de leitura. Caso não seja disponível, deve constar na mensagem o
telegrama toda comunicação oficial expedida por meio de pedido de confirmação de recebimento.
telegrafia, telex, etc. Por tratar-se de forma de comunicação
dispendiosa aos cofres públicos e tecnologicamente superada, 8.3 Valor documental
deve restringir-se o uso do telegrama apenas àquelas Nos termos da legislação em vigor, para que a mensagem
situações que não seja possível o uso de correio eletrônico ou de correio eletrônico tenha valor documental, i. é, para que
fax e que a urgência justifique sua utilização e, também em possa ser aceito como documento original, é necessário existir
razão de seu custo elevado, esta forma de comunicação deve certificação digital que ateste a identidade do remetente, na
pautar-se pela concisão (v. 1.4. Concisão e Clareza). forma estabelecida em lei.
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.htm
6.2. Forma e Estrutura
Não há padrão rígido, devendo-se seguir a forma e a Questões
estrutura dos formulários disponíveis nas agências dos
Correios e em seu sítio na Internet. 01. Analise:
1. Atendendo à solicitação contida no expediente acima
7. Fax referido, vimos encaminhar a V. Sª. as informações referentes ao
7.1. Definição e Finalidade andamento dos serviços sob responsabilidade deste setor.
O fax (forma abreviada já consagrada de fac-simile) é uma 2. Esclarecemos que estão sendo tomadas todas as medidas
forma de comunicação que está sendo menos usada devido ao necessárias para o cumprimento dos prazos estipulados e o
desenvolvimento da Internet. É utilizado para a transmissão atingimento das metas estabelecidas.
de mensagens urgentes e para o envio antecipado de
documentos, de cujo conhecimento há premência, quando não A redação do documento acima indica tratar-se
há condições de envio do documento por meio eletrônico. (A) do encaminhamento de uma ata.
Quando necessário o original, ele segue posteriormente pela (B) do início de um requerimento.
via e na forma de praxe. Se necessário o arquivamento, deve- (C) de trecho do corpo de um ofício.
se fazê-lo com cópia xerox do fax e não com o próprio fax, cujo (D) da introdução de um relatório.
papel, em certos modelos, se deteriora rapidamente. (E) do fecho de um memorando.

7.2. Forma e Estrutura 02. A redação inteiramente apropriada e correta de um


Os documentos enviados por fax mantêm a forma e a documento oficial é:
estrutura que lhes são inerentes. É conveniente o envio, (A) Estamos encaminhando à Vossa Senhoria algumas
juntamente com o documento principal, de folha de rosto, i. é., reivindicações, e esperamos poder estar sendo recebidos em
de pequeno formulário com os dados de identificação da vosso gabinete para discutir nossos problemas salariais.
mensagem a ser enviada, conforme exemplo a seguir: (B) O texto ora aprovado em sessão extraordinária prevê a
redistribuição de pessoal especializado em serviços gerais
para os departamentos que foram recentemente criados.
(C) Estou encaminhando a presença de V. Sª. este jovem,
muito inteligente e esperto, que lhe vai resolver os problemas
do sistema de informatização de seu gabinete.
(D) Quando se procurou resolver os problemas de pessoal
aqui neste departamento, faltaram um número grande de
servidores para os andamentos do serviço.
(E) Do nosso ponto de vista pessoal, fica difícil vos
informar de quais providências vão ser tomadas para resolver
essa confusão que foi criado pelos manifestantes.

03. A frase cuja redação está inteiramente correta e


apropriada para uma correspondência oficial é:
(A) É com muito prazer que encaminho à V. Exª. Os
convites para a reunião de gala deste Conselho, em que se fará
8. Correio Eletrônico homenagens a todos os ilustres membros dessa diretoria,
8.1 Definição e finalidade importantíssima na execução dos nossos serviços.
O correio eletrônico (“e-mail”), por seu baixo custo e (B) Por determinação hoje de nosso Excelentíssimo Chefe
celeridade, transformou-se na principal forma de do Setor, nos dirigimos a todos os de vosso gabinete, para
comunicação para transmissão de documentos. informar de que as medidas de austeridade recomendadas por
V. Sa. já estão sendo tomadas, para evitar-se os atrasos dos
prazos.

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(C) Estamos encaminhando a V. Sa. os resultados a que (E) Vossas Excelências são esperadas para a reunião das
chegaram nossos analistas sobre as condições de suas áreas. (Referindo-se a gerentes de projeto, com
funcionamento deste setor, bem como as providências a serem doutorado, masculino, plural).
tomadas para a consecução dos serviços e o cumprimento dos
prazos estipulados. Respostas
(D) As ordens expressas a todos os funcionários é de que
se possa estar tomando as medidas mais do que importantes 01: C / 02: B / 03: C / 04: E / 05: D / 6: C
para tornar nosso departamento mais eficiente, na agilização
dos trâmites legais dos documentos que passam por aqui.
(E) Peço com todo o respeito a V. Exª., que tomeis
providências cabíveis para vir novos funcionários para esse
nosso setor, que se encontra em condições difíceis de agilizar Anotações
todos os documentos que precisamos enviar.

04. A respeito dos padrões de redação de um ofício, é


INCORRETO afirmar que:
(A) Deve conter o número do expediente, seguido da sigla
do órgão que o expede.
(B) Deve conter, no início, com alinhamento à direita, o
local de onde é expedido e a data em que foi assinado.
(C) Deverá constar, resumidamente, o teor do assunto do
documento.
(D) O texto deve ser redigido em linguagem clara e direta,
respeitando-se a formalidade que deve haver nos expedientes
oficiais.
(E) O fecho deverá caracterizar-se pela polidez, como por
exemplo: Agradeço a V. Sª. a atenção dispensada.

05. Leia o seguinte fragmento de um ofício, citado do


Manual de Redação da Presidência da República, no qual
expressões foram substituídas por lacunas.

Senhor Deputado
Em complemento às informações transmitidas pelo
telegrama n.º 154, de 24 de abril último, informo ______de que
as medidas mencionadas em ______ carta n.º 6708, dirigida ao
Senhor Presidente da República, estão amparadas pelo
procedimento administrativo de demarcação de terras
indígenas instituído pelo Decreto n.º 22, de 4 de fevereiro de
1991 (cópia anexa).
(http://www.planalto.gov.br. Adaptado)

A alternativa que completa, correta e respectivamente, as


lacunas do texto, de acordo com a norma-padrão da língua
portuguesa e atendendo às orientações oficiais a respeito do
uso de formas de tratamento em correspondências públicas, é:
(A) Vossa Senhoria … tua.
(B) Vossa Magnificência … sua.
(C) Vossa Eminência … vossa.
(D) Vossa Excelência … sua.
(E) Sua Senhoria … vossa.

06. A norma para uso de pronomes de tratamento em


redação de documento oficial exige que os pronomes
possessivos e a concordância de gênero e número
(considerando-se as especificidades do receptor que se
encontram entre parênteses) se deem da forma como se
exemplifica em:
(A) Vossa senhoria terá vossas reuniões marcadas,
conforme tua vontade. (Referindo-se a chefe de seção, nível
superior, masculino singular)
(B) Sua senhoria está convidado a comparecer à reunião.
(Referindo-se a diretora de unidade, nível superior, feminino,
singular)
(C) Vossa senhoria está sendo esperada para a assembleia
de seus funcionários. (Referindo-se a diretora geral de
unidade, feminino, singular)
(D) O Senhor Doutor precisa comparecer ao ato oficial.
(Referindo-se a assessor jurídico da presidência de órgão
público, sem pós-graduação, masculino, singular).

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NOÇÕES BÁSICAS DE ARQUIVO

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Distrito Federal e municipal em decorrência de suas funções


administrativas, legislativas e judiciárias.
§ 1º - São também públicos os conjuntos de documentos
produzidos e recebidos por instituições de caráter público, por
entidades privadas encarregadas da gestão de serviços
públicos no exercício de suas atividades.
§ 2º - A cessação de atividades de instituições públicas e de
caráter público implica o recolhimento de sua documentação
à instituição arquivística pública ou a sua transferência à
1. Lei nº 8.159, de 8 de instituição sucessora.
janeiro de 1991 - Dispõe Art. 8º - Os documentos públicos são identificados como
sobre a política nacional de correntes, intermediários e permanentes.
arquivos públicos e privados § 1º - Consideram-se documentos correntes aqueles em
curso ou que, mesmo sem movimentação, constituam objeto
e dá outras providências. de consultas frequentes.
§ 2º - Consideram-se documentos intermediários aqueles
que, não sendo de uso corrente nos órgãos produtores, por
LEI No 8.159, DE 8 DE JANEIRO DE 1991 razões de interesse administrativo, aguardam a sua eliminação
ou recolhimento para guarda permanente.
Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e § 3º - Consideram-se permanentes os conjuntos de
privados e dá outras providências. documentos de valor histórico, probatório e informativo que
devem ser definitivamente preservados.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 9º - A eliminação de documentos produzidos por
instituições públicas e de caráter público será realizada
CAPÍTULO I mediante autorização da instituição arquivística pública, na
DISPOSIÇÕES GERAIS sua específica esfera de competência.

Art. 1º - É dever do Poder Público a gestão documental e a Art. 10º - Os documentos de valor permanente são
proteção especial a documentos de arquivos, como inalienáveis e imprescritíveis.
instrumento de apoio à administração, à cultura, ao
desenvolvimento científico e como elementos de prova e CAPÍTULO III
informação. DOS ARQUIVOS PRIVADOS

Art. 2º - Consideram-se arquivos, para os fins desta Lei, os Art. 11 - Consideram-se arquivos privados os conjuntos de
conjuntos de documentos produzidos e recebidos por órgãos documentos produzidos ou recebidos por pessoas físicas ou
públicos, instituições de caráter público e entidades privadas, jurídicas, em decorrência de suas atividades.
em decorrência do exercício de atividades específicas, bem
como por pessoa física, qualquer que seja o suporte da Art. 12 - Os arquivos privados podem ser identificados pelo
informação ou a natureza dos documentos. Poder Público como de interesse público e social, desde que
sejam considerados como conjuntos de fontes relevantes para
Art. 3º - Considera-se gestão de documentos o conjunto de a história e desenvolvimento científico nacional.
procedimentos e operações técnicas referentes à sua
produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento em fase Art. 13 - Os arquivos privados identificados como de
corrente e intermediária, visando a sua eliminação ou interesse público e social não poderão ser alienados com
recolhimento para guarda permanente. dispersão ou perda da unidade documental, nem transferidos
para o exterior.
Art. 4º - Todos têm direito a receber dos órgãos públicos Parágrafo único - Na alienação desses arquivos o Poder
informações de seu interesse particular ou de interesse Público exercerá preferência na aquisição.
coletivo ou geral, contidas em documentos de arquivos, que
serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, Art. 14 - O acesso aos documentos de arquivos privados
ressalvadas aquelas cujos sigilo seja imprescindível à identificados como de interesse público e social poderá ser
segurança da sociedade e do Estado, bem como à franqueado mediante autorização de seu proprietário ou
inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da possuidor.
imagem das pessoas.
Art. 15 - Os arquivos privados identificados como de
Art. 5º - A Administração Pública franqueará a consulta aos interesse público e social poderão ser depositados a título
documentos públicos na forma desta Lei. revogável, ou doados a instituições arquivísticas públicas.

Art. 6º - Fica resguardado o direito de indenização pelo Art. 16 - Os registros civis de arquivos de entidades
dano material ou moral decorrente da violação do sigilo, sem religiosas produzidos anteriormente à vigência do Código Civil
prejuízo das ações penal, civil e administrativa. ficam identificados como de interesse público e social.

CAPÍTULO II
DOS ARQUIVOS PÚBLICOS

Art. 7º - Os arquivos públicos são os conjuntos de


documentos produzidos e recebidos, no exercício de suas
atividades, por órgãos públicos de âmbito federal, estadual, do

Noções Básicas de Arquivo 1


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CAPÍTULO IV
DA ORGANIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DE INSTITUIÇÕES Art. 26 - Fica criado o Conselho Nacional de Arquivos
ARQUIVÍSTICAS PÚBLICAS (CONARQ), órgão vinculado ao Arquivo Nacional, que definirá
a política nacional de arquivos, como órgão central de um
Art. 17 - A administração da documentação pública ou de Sistema Nacional de Arquivos (SINAR).
caráter público compete às instituições arquivísticas federais, § 1º - O Conselho Nacional de Arquivos será presidido pelo
estaduais, do Distrito Federal e municipais. Diretor-Geral do Arquivo Nacional e integrado por
§ 1º - São Arquivos Federais o Arquivo Nacional os do representantes de instituições arquivísticas e acadêmicas,
Poder Executivo, e os arquivos do Poder Legislativo e do Poder públicas e privadas.
Judiciário. São considerados, também, do Poder Executivo os § 2º - A estrutura e funcionamento do conselho criado
arquivos do Ministério da Marinha, do Ministério das Relações neste artigo serão estabelecidos em regulamento.
Exteriores, do Ministério do Exército e do Ministério da
Aeronáutica. Art. 27 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
§ 2º - São Arquivos Estaduais os arquivos do Poder
Executivo, o arquivo do Poder Legislativo e o arquivo do Poder Art. 28 - Revogam-se as disposições em contrário.
Judiciário.
§ 3º - São Arquivos do Distrito Federal o arquivo do Poder Brasília, 8 de janeiro de 1991; 170º da Independência e
Executivo, o Arquivo do Poder Legislativo e o arquivo do Poder 103º da República.
Judiciário. FERNANDO COLLOR
§ 4º - São Arquivos Municipais o arquivo do Poder Jarbas Passarinho
Executivo e o arquivo do Poder Legislativo.
§ 5º - Os arquivos públicos dos Territórios são organizados
de acordo com sua estrutura político-jurídica.
2. Gestão de Documentos.
Art. 18 - Compete ao Arquivo Nacional a gestão e o
recolhimento dos documentos produzidos e recebidos pelo
Poder Executivo Federal, bem como preservar e facultar o A gestão de documentos é um processo essencial no
acesso aos documentos sob sua guarda, e acompanhar e andamento da organização. É necessário estabelecer uma
implementar a política nacional de arquivos. série de práticas que garanta a organização e preservação de
Parágrafo único - Para o pleno exercício de suas funções, o arquivos, para que a empresa possa tomar decisões, recuperar
Arquivo Nacional poderá criar unidades regionais. informações e preservar a memória dos arquivos.

Art. 19 - Competem aos arquivos do Poder Legislativo Segundo Ramos1, “os documentos são informações
Federal a gestão e o recolhimento dos documentos produzidos registradas em qualquer suporte (papiro, pergaminho, papel,
e recebidos pelo Poder Legislativo Federal no exercício das disquete, cd, dvd, etc.) e podem ser de gênero textual,
suas funções, bem como preservar e facultar o acesso aos iconográfica, audiovisual, cartográfico, etc., sendo produzidos
documentos sob sua guarda. em decorrência de uma atividade com a finalidade de cumprir
uma função”. O papel de um arquivo é guardar a documentação
Art. 20 - Competem aos arquivos do Poder Judiciário e fornecer as informações, que estão contidas em seu acervo,
Federal a gestão e o recolhimento dos documentos produzidos aos interessados de maneira rápida e segura.
e recebidos pelo Poder Judiciário Federal no exercício de suas
funções, tramitados em juízo e oriundos de cartórios e O gerenciamento de documentos arquivísticos assegura à
secretarias, bem como preservar e facultar o acesso aos empresa ter um maior controle sobre as informações que
documentos sob sua guarda. produzem e/ou recebem, racionalizar o layout onde os
documentos são guardados, desenvolver as atividades com
Art. 21 - Legislação estadual, do Distrito Federal e maior rapidez e eficiência e melhorar o atendimento aos
municipal definirá os critérios de organização e vinculação dos clientes.
arquivos estaduais e municipais, bem como a gestão e o acesso
aos documentos, observado o disposto na Constituição Federal De acordo com o art. 3º da Lei nº 8.159/91, referente à
e nesta Lei. política nacional de arquivos públicos e privados, é
considerado gestão de documentos “o conjunto de
CAPÍTULO V procedimentos e operações técnicas referentes à sua produção,
DO ACESSO E DO SIGILO DOS DOCUMENTOS PÚBLICOS tramitação, uso, avaliação e arquivamento em fase corrente e
intermediária, visando a sua eliminação ou recolhimento para
Art. 22 - (Revogado pela Lei nº 12.527, de 2011) guarda permanente”2.

Art. 23. - (Revogado pela Lei nº 12.527, de 2011) Lembre-se! A gestão ocorre nas fases: corrente e
intermediária
Art. 24 - (Revogado pela Lei nº 12.527, de 2011)
Produção
DISPOSIÇÕES FINAIS Avaliação
Gestão de Uso
Art. 25 - Ficará sujeito à responsabilidade penal, civil e Tramitação
administrativa, na forma da legislação em vigor, aquele que Documentos
Arquivamento
desfigurar ou destruir documentos de valor permanente ou
considerado como de interesse público e social.

1 RAMOS, J. T. M. Diagnóstico da massa documental arquivística produzida e 2Palácio do Planalto. Lei nº 8.159, de 8 de Janeiro de 1991. Disponível em:
acumulada pela biblioteca universitária da universidade federal de minas gerais. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8159.htm>.
Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Ciências da Informação. Belo
Horizonte, 2011.

Noções Básicas de Arquivo 2


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Objetivos 2º) Análise dos dados coletados


Faz-se um diagnóstico de arquivo, ou seja, a análise de toda
- Possibilitar a produção, administração, controle e documentação de arquivo, identificando falhas e fatores que
manutenção do conjunto documental de forma racional, contribuem para o mau funcionamento do arquivo.
econômica e eficiente;
- Viabilizar a recuperação da informação através de 3º) Planejamento Etapa que compreende a elaboração
ferramentas tecnológicas modernas que facilitam a localização de um plano de arquivo (plano arquivístico) levando-se
e utilização da informação com eficiência, rapidez e precisão; em consideração:
- Preservar a memória institucional; • As instituições físicas e equipamentos empregados;
- Otimizar o uso da informação independente da natureza • Elaboração de um projeto de arquivo;
do suporte. • Os recursos humanos e financeiros;
• Os sistemas e métodos de arquivamento que serão
O progresso da ciência, o surgimento de inovações utilizados;
tecnológicas e o grande volume de documentos culminaram na • O lugar ocupado pelo arquivo no organograma da
necessidade de medidas administrativas voltadas ao instituição, etc.
gerenciamento de arquivos, ou seja, a gestão documental, pois
é através dela que o elemento essencial do documento, a 4º) Implantação e acompanhamento
informação, pode ser recuperada de forma rápida, econômica Finalizando o processo de organização e administração de
e eficaz, otimizando os recursos humanos, materiais e físicos, arquivos, é a etapa responsável pela execução do que foi
e interferindo positivamente na organização e administração planejado, nessa fase:
de arquivos. • Leva-se ao conhecimento do corpo administrativo e
operacional da instituição a necessidade de se adequar aos
Organização e administração de arquivos novos procedimentos referentes ao manuseio/trato de
documentos desde a sua criação/recepção até a
Os resultados satisfatórios de uma eficiente organização e eliminação/descarte;
administração de arquivos de qualquer organismo/instituição • Qualificam-se, através de cursos e treinamentos, pessoas
estão diretamente relacionados ao emprego indispensável de: que lidam, direta ou indiretamente, com os arquivos;
- política interna que reconheça a importância do arquivo • Acompanha-se periodicamente a implementação e
na estrutura da empresa; execução do planejamento;
- ferramentas apropriadas; • Por fim, elabora-se o manual de arquivo, respeitando a
- redução do tempo de arquivamento; legislação pertinente e as necessidades da instituição.
- profissionais qualificados;
- instrumentos de controle e monitoramento do Questões
armazenamento e tráfego documental e;
- instalações físicas apropriadas, compatíveis com o acervo 01. O processo administrativo que permite analisar e
documental. controlar sistematicamente, ao longo de seu ciclo de vida, a
informação registrada que se produz, recebe, mantém ou
Objetivos: utiliza uma organização, em consonância com sua missão,
- redução de custos com a administração e manutenção do objetivos e operações, denomina-se
acervo; (A) Gestão da Informação.
- padronização dos sistemas e métodos de arquivamento; (B) Gestão de Depósito.
- aproveitamento adequado e ganho de espaço físico; (C) Gestão do Conhecimento.
- maior controle da massa documental; (D) Gênero Documental.
- sigilo das informações; (E) Gestão de Documentos.
- preservação e conservação dos documentos;
- recuperação rápida e eficiente das informações. 02. Em relação a gestão de documentos na esfera pública,
julgue os itens subsequentes. A fase de utilização refere-se às
Para Marilena Leite Paes, a organização e administração de atividades de controle, organização e acesso a documentos em
arquivos compreendem 4 etapas, são elas: fase corrente, incluindo-se arquivamento, recuperação e
descarte de documentos e informações.
1º) Levantamento de dados ( ) Certo ( ) Errado
Pressupõe o conhecimento da estrutura da organização e a
coleta de informações a respeito: 03. No que se refere à gestão de documentos, julgue os
itens a seguir. São três as fases de um programa de gestão de
• Do funcionamento dos órgãos internos; documentos: implantação, armazenamento e eliminação.
• Do trâmite documental; ( ) Certo ( ) Errado
• Dos sistemas e métodos de arquivamento utilizados;
• Da entrada e expedição de documentos; 04. A gestão de documentos engloba, entre outras, as fases
• Do manuseio, acondicionamento e armazenamento dos de:
arquivos; (A) produção e destinação
• Da disponibilização do acervo mediante consulta e (B) emulação e migração;
empréstimo; (C) conservação e restauração;
• Do gênero e espécie dos documentos existentes; (D) eliminação e preservação;
• Do volume dos documentos arquivados; (E) criação e aquisição.
• Da tecnologia empregada na reprodução e conservação
dos documentos; Respostas
• Das normas e legislação arquivística empregadas na
instituição etc. 01: E / 02: ERRADO / 03: ERRADO / 04: A

Noções Básicas de Arquivo 3


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para o desenvolvimento da arquivologia. Esse gerenciamento


3. Arquivo Intermediário. da informação conta ainda com desenvolvimento de projetos,
4. Arquivo Permanente. planejamentos, estudos e técnicas de organização sistemática
e implantação de instituições e sistemas arquivísticas. Embora
existam muitas técnicas, ferramentas, estudos que buscam a
O Arquivo é um conjunto de documentos criados ou conservação de arquivos, um grande desafio encontrado nesta
recebidos por uma organização, firma ou indivíduo. Esses área é que muitas empresas/organizações não tem uma
documentos são fontes das informações utilizadas para a preocupação específica pelos seus arquivos. Quando ocorre
execução de tarefas/atividades. São documentos reunidos por esse desinteresse consequentemente o profissional também é
acumulação ao longo das atividades e isso ocorre desconhecido pela organização e as atividades que esse
independentemente do suporte ou da natureza, sejam em profissional qualificado realizaria em prol do gerenciamento
atividades que envolvem pessoas físicas ou empresas em das informações passam a ser exercidas por profissionais de
geral. outras áreas não capacitados a atuar como arquivista. Uma
consequência do posicionamento de algumas organizações é
Um documento é qualquer meio que comprove a existência justamente a qualidade e resultado dos serviços.
de um fato, a exatidão ou a verdade de uma afirmação. É uma
unidade de registro de informação independente do suporte O documento arquivístico pode ser produzido ou recebido
utilizado. Juridicamente, os documentos podem ser durante uma atividade realizada por uma pessoa ou por uma
considerados como atos, cartas ou escritos que carregam um organização, deve possuir conteúdo, contexto e estrutura de
valor probatório. Os documentos preservados pelo arquivo modo que sirva como prova da atividade. É uma informação
podem ser classificados por diferentes tipos em vários registrada, independente da forma ou do suporte.
suportes. A totalidade dos documentos conservados em um arquivo
recebe o nome de acervo. O acesso é a disponibilidade de um
Os arquivos são mantidos por entidades públicas federais, arquivo para consulta. As embalagens destinadas à proteção
estaduais e municipais, assim como institucionais comerciais. dos documentos e a facilitar o seu manuseio, são chamadas de
Para Martins3 o arquivo também pode ser definido como acondicionamento. O conjunto de operações de
“a entidade ou órgão administrativo responsável pela acondicionamento e armazenamento de documentos é o
custódia, pelo tratamento documental e pela utilização dos arquivamento.
arquivos sob sua jurisdição”.
Os Princípios Arquivísticos constituem o marco principal
Os conjuntos de atas de reuniões da Diretoria, de projetos da diferença entre a arquivística e as outras ciências
de pesquisa e de relatórios de atividades, mais os conjuntos de documentárias. São eles:
dossiês de empregados, prontuários médicos, de boletins de
notas, de fotografias etc., constituem-se o Arquivo de uma Princípio da Proveniência
Unidade por exemplo, e devem naturalmente refletir as suas Fixa a identidade do documento, relativamente a seu
atividades. produtor. Por este princípio, os arquivos devem ser
organizados em obediência à competência e às atividades da
A ciência que estuda as funções, os princípios, as instituição ou pessoa legitimamente responsável pela
técnicas do arquivo é chamada de arquivologia. produção, acumulação ou guarda dos documentos. Arquivos
originários de uma instituição ou de uma pessoa devem
O profissional que exerce atividade ligada a manter a respectiva individualidade, dentro de seu contexto
arquivologia pode ser chamado de arquivista. orgânico de produção, não devendo ser mesclados a outros de
origem distinta.
A arquivologia busca gerenciar informações que possam
ser registradas em documentos de arquivos. É muito comum Princípio da Organicidade
utilizar-se de principais, técnicas, normas e outros As relações administrativas orgânicas se refletem nos
procedimentos no processo de identificação, organização, conjuntos documentais. A organicidade é a qualidade segundo
desenvolvimento, processamentos, análise, coleta, utilização, a qual os arquivos espelham a estrutura, funções e atividades
publicação, fornecimento, circulação, recuperação e da entidade produtora/acumuladora em suas relações
armazenamento das informações. internas e externas.
Algumas atribuições do profissional arquivista são:
gerenciar as informações, realizar atividades de conservação, Princípio da Unicidade
preservação, gestão documental, disseminação da informação Não obstante, forma, gênero, tipo ou suporte, os
que se encontra nos documentos, atuar em prol da documentos de arquivo conservam seu caráter único, em
preservação do patrimônio documental de uma pessoa física função do contexto em que foram produzidos.
ou pessoa jurídica. Sendo assim pode atuar tanto em
instituições públicas como privadas, cuidando de arquivos Princípio da Indivisibilidade ou integridade
públicos ou privados, centros de documentação, instituições Os fundos de arquivo devem ser preservados sem
culturais entre outras. Outras atividades realizadas pelo dispersão, mutilação, alienação, destruição não autorizada ou
profissional arquivista é a elaboração de instrumentos de adição indevida.
pesquisa e recuperação da informação, considerando a teoria
das três idades dos arquivos: corrente, intermediária e Princípio da Cumulatividade
permanente. O arquivo é uma formação progressiva, natural e orgânica.

O gerenciamento da informação, o desenvolvimento das


teorias, e as práticas de gestão foram extremamente
importantes, intensamente revolucionárias e fundamentais

3 Martins, N.R. Noções básicas para organização de arquivos ativos e semiativados. http://biblioteca.planejamento.gov.br/biblioteca-tematica-
Rio de Janiero: 1998. Disponível em: 1/textos/biblioteconomia-e-arquivologia.

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Além dos princípios arquivísticos mencionados, as bancas instituições, cumprem suas funções, mas sequer tiveram sua
organizadoras tem explorado esse assunto, dessa forma, aqui tramitação ou destinação registrada.
vai mais alguns princípios4: Algumas rotinas devem ser adotadas no registro
documental, afim de que não se perca o controle, bem como
- Princípio da pertinência (ou temático) – os documentos surjam problemas que facilmente poderiam ser evitados. Um
deveriam ser reclassificados por assunto, sem levar em exemplo é como ocorre o preenchimento do campo Assunto,
consideração a proveniência e a classificação original. na maioria das vezes é feito de forma errônea, ainda que seja
um campo extremamente importante.
- Princípio da reversibilidade – todo procedimento ou
tratamento empreendido em arquivos pode ser revertido, se Modelos de arquivos
necessário.
Baseados nas primeiras definições podemos dizer que
- Princípio da proveniência territorial (ou Princípio da existem vários tipos de Arquivos, tudo depende dos objetivos
territorialidade) – os arquivos deveriam ser conservados em e competências das entidades que os produzem. Os Arquivos
serviços de arquivo do território no qual foram produzidos, podem ser classificados: Segundo as entidades criador-
excetuados os documentos elaborados pelas representações mantenedoras:
diplomáticas ou resultantes de operações militares. - Públicos (federal, estadual, municipal)
- Privados - Institucionais (empresas, escolas, igrejas,
- Princípio da proveniência funcional – com a transferência sociedades, clubes, associações). - Pessoais (fotos de família,
de funções de uma autoridade para outra como resultado de cartas, originais de trabalhos, etc.).
mudança política ou administrativa, documentos relevantes Temos também os Arquivos que guardam e organizam
ou cópias são também transferidos para assegurar a documentos cujas informações são registradas em suportes
continuidade administrativa. Também chamado pertinência diferentes do papel: discos, filmes, fitas e são chamados de
funcional. Especiais. Estes podem fazer parte de um Arquivo mais
completo. Existem aqueles que guardam documentos gerados
O nível de importância dos arquivos está relacionado com por atividades muito especializadas como os Arquivos
a maneira como são geridos. Para que os arquivos alcancem Médicos, de Imprensa, de Engenharia, Literários e que muitas
um nível de importância ainda maior, é necessário que sejam vezes precisam ser organizados com técnicas e com materiais
geridos da forma correta, a fim de evitar o acúmulo de massas específicos. São conhecidos como Arquivos Especializados.
documentais desnecessárias, de agilizarem ações dentro de Os tipos de pastas existentes são: pastas suspensas
uma instituição, enfim, que cumpram a sua função, seja desde (frontais ou laterais), pastas intercaladoras, pastas A/Z ou
o valor probatório até o cultural. outras.
Sendo assim, ter seus documentos arquivados
corretamente e devidamente organizados é uma iniciativa que Pastas Suspensas
precisa ser cultivada sempre, e os motivos vão desde agilidade Indicada para o arquivamento de documentos em
na hora de encontrar o que procura, até a praticidade de tamanhos: oficio ou A4. Os documentos são arquivados na
dividir o espaço com outras pessoas e trazer eficiência ao posição vertical dentro da pasta, e a pasta é colocada em
trabalho. estantes. Possuem etiquetas laterais para identificação da
É extremamente importante que os documentos de documentação ou da pasta. É muito utilizado em arquivo
arquivos estejam sempre organizados por datas, colocados em corrente.
pastas separadas e devidamente identificados com etiquetas
ou marcações nas caixa-arquivos, de modo que sua localização Pastas Intercaladoras
seja rápida caso necessária. Essas pastas não utilizam varões nem visores, e destina-se
à guarda de pequenos volumes de papéis.
A gestão de documentos é o conjunto de procedimentos e No dia-a-dia dos escritórios, no entanto,
operações técnicas referentes à sua produção, tramitação, uso, vários documentos são constituídos por grande quantidade de
avaliação e arquivamento em fase corrente e intermediária, papéis, e as peças que os constituem necessitam ser mantidas
visando a sua eliminação ou recolhimento para a guarda na ordem em que foram produzidas ou acumuladas, para não
permanente. perderem o sentido, como nos casos dos dossiês, por exemplo.
Protocolo é a denominação geralmente atribuída a setores
encarregados do recebimento, registro, distribuição e Pasta AZ
movimentação dos documentos em curso; denominação Ideal para o arquivamento de documentos em tamanhos
atribuída ao próprio número de registro dado ao documento; oficio ou A4. Os documentos são arquivados na posição
Livro de registro de documentos recebidos e/ou expedidos. vertical. Possibilita a colocação de guias indicando nome ou nº
Durante a tramitação os arquivos correntes podem exercer do documento ou pasta. É muito utilizado em arquivo corrente.
funções de protocolo como recebimento, registro, distribuição,
movimentação e expedição de documentos, daí a denominação Pasta Sanfonada
comum de alguns órgãos como Protocolo e Arquivo. E é neste Confeccionada em diversos tamanhos. Possuem divisórias
ponto que os problemas têm seu início. Geralmente, as pessoas e guias para indicar o assunto. É ideal para o arquivamento de
que lidam com o recebimento de documentos não sabem, ou documentos utilizados em atividades externas, pois há maior
mesmo não foram orientadas sobre como proceder para o mobilidade do usuário para o arquivamento de documentos
documento cumpra a sua função na instituição. Para que este em tamanho oficio ou A4.
problema inicial seja resolvido, a implantação de um sistema
de base de dados, de preferência simples e descentralizado, Pasta Americana
permitindo que, tão logo cheguem às instituições, os Confeccionada em diversos tamanhos. Pasta estilo caso
documentos fossem registrados, pelas devidas pessoas, no seu policial que possui aba para identificações. É ideal para o
próprio setor de trabalho seria uma ótima alternativa. Tal ação arquivamento de documentos utilizados em atividades
diminuiria o montante de documentos que chegam as

4 ARQUIVO NACIONAL, Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística, 2005.

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externas, pois há maior mobilidade do usuário para o - Receber a correspondência, verificando a falta de anexos
arquivamento de documentos em tamanho oficio ou A4. e completando dados;
- Separar as cópias, expedindo o original;
Fichário - Encaminhar as cópias ao Arquivo.

O fichário se classifica como arquivo permanente. O É válido ressaltar que as rotinas acima descritas não valem
fichário é um móvel de aço próprio para fichas, que pode ter como regras, visto que cada instituição possui suas tipologias
uma, duas, três ou quatro gavetas ou estar conjugado com documentais, seus métodos de classificação, enfim, surgem
gavetas para fichas e documentos. situações diversas. Servem apenas como exemplos para a
No fichário horizontal, as fichas são guardadas em posição elaboração de rotinas em cada instituição.
horizontal, uma sobre as outras – modelo KARDEX. As fichas
são fixados por meio de bastões metálicos presos às gavetas. Cadastro Nacional de Entidades Custodiadoras de
Dessa disposição das hastes resulta que a primeira ficha presa, Acervos Arquivísticos
a partir do fundo, ficará inteiramente visível, deixando que da
imediatamente inferior apareça uma faixa correspondente à O Cadastro Nacional de Entidades Custodiadoras de
dimensão da barra, e assim sucessivamente, lembrando o Acervos Arquivísticos foi instituído pela Resolução nº 28 do
aspecto de uma esteira. As faixas que aparecem funcionam CONARQ, com o objetivo de fornecer o código previsto na
como verdadeiras projeções, nas quais são feitas anotações. Norma Brasileira de Descrição Arquivística - NOBRADE,
O fichário vertical é aquele em que as fichas são guardadas denominado Código de Entidade Custodiadora de Acervos
em posição vertical, uma atrás das outras, geralmente Arquivísticos - CODEARQ, tornando possível a identificação de
separadas por guias. É o modelo mais usado por ser mais cada entidade custodiadora de acervos arquivísticos no Brasil.
econômico. As gavetas ou bandejas podem comportar um Após o cadastramento e fornecimento do CODEARQ, as
grande número de fichas. entidades custodiadoras de acervos arquivísticos terão
disponíveis no site do CONARQ, informações básicas sobre sua
Cadastro: recebimento e registro instituição, como: missão institucional, acervos, endereço,
horário de funcionamento e formas de contato.
Receber as correspondências, separando as de caráter O CODEARQ somente será fornecido às entidades
oficial de caráter particular, distribuindo as de caráter custodiadoras que permitam acesso a seu acervo, mesmo que
particular a seus destinatários. com algumas restrições.
Após essa etapa, os documentos devem seguir seu curso, a A solicitação do código de identificação pela entidade
fim de cumprirem suas funções. Para que isto ocorra, devem custodiadora e, quando for o caso, da unidade administrativa
ser distribuídos e classificados da forma correta, ou seja, a ela subordinada ou da subunidade custodiadora, deverá ser
chegar ao seu destinatário. encaminhada à Coordenação do CONARQ, por meio do
preenchimento do formulário Cadastro de Entidade
Para isto recomenda-se: Custodiadora de Acervos Arquivísticos e o envio do mesmo
- Separar as correspondências de caráter ostensivo das de para o e-mail: conarq@arquivonacional.gov.br.
caráter sigiloso, encaminhado as de caráter sigiloso aos seus
respectivos destinatários; Plano de Classificação e a Tabela de Temporalidade
- Tomar conhecimento das correspondências de caráter
ostensivos por meio da leitura, requisitando a existência de O Plano de Classificação e a Tabela de Temporalidade de
antecedentes, se existirem; Documentos de Arquivo são instrumentos eficazes de gestão
- Classificar o documento de acordo com o método da documental. Estes dois instrumentos garantem a simplificação
instituição; carimbando-o em seguida; e a racionalização dos procedimentos de gestão, imprimindo
- Elaborar um resumo e encaminhar os documentos ao maior agilidade e precisão na recuperação dos documentos e
protocolo. das informações, autorizando a eliminação criteriosa de
- Preparar a ficha de protocolo, em duas vias, anexando a documentos desprovidos de valor que justifique a sua guarda
segunda via da ficha ao documento; e a preservação dos documentos de guarda permanente.
- Rearquivar as fichas de procedência e assunto, agora com O Plano de Classificação de Documentos de Arquivo resulta
os dados das fichas de protocolo; da atividade de classificação que recupera o contexto de
-Arquivar as fichas de protocolo. produção dos documentos de arquivo agrupando-os de acordo
com o órgão produtor, a função, a subfunção e a atividade
A tramitação de um documento dentro de uma instituição responsável por sua produção ou acumulação.
depende diretamente se as etapas anteriores foram feitas da A Tabela de Temporalidade de Documentos de Arquivo
forma correta. Se feitas, fica mais fácil, com o auxílio do resulta da atividade de avaliação, que define prazos de guarda
protocolo, saber sua exata localização, seus dados principais, para os documentos em razão de seus valores administrativo,
como data de entrada, setores por que já passou, enfim, fiscal, jurídico-legal, técnico, histórico, autoriza a sua
acompanhar o desenrolar de suas funções dentro da eliminação ou determina a sua guarda permanente.
instituição. Isso reduz o tempo de algumas ações dentro da
instituição, acelerando assim, processos que anteriormente
encontravam dificuldades, como a não localização de
documentos, não se podendo assim, usá-los no sentido de
valor probatório, por exemplo.
Após cumprirem suas respectivas funções, os documentos
devem ter seu destino decidido, seja este a sua eliminação ou
recolhimento. É nesta etapa que a expedição de documentos
torna-se importante, pois por meio dela, fica mais fácil fazer
uma avaliação do documento, podendo-se assim decidir de
uma forma mais confiável, o destino do documento. Dentre as
recomendações com relação à expedição de documentos,
destacam-se:

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Apresentam-se a seguir diretrizes para a correta utilização


do instrumento:

1. Assunto: Neste campo são apresentados os conjuntos


documentais produzidos e recebidos, hierarquicamente
distribuídos de acordo com as funções e atividades
desempenhadas pela instituição. Para possibilitar melhor
identificação do conteúdo da informação, foram empregadas
funções, atividades, espécies e tipos documentais,
genericamente denominados assuntos, agrupados segundo
um código de classificação, cujos conjuntos constituem o
referencial para o arquivamento dos documentos.
Como instrumento auxiliar, pode ser utilizado o índice, que
contém os conjuntos documentais ordenados alfabeticamente
para agilizar a sua localização na tabela.

A classificação parte de um processo intelectual de 2. Prazos de guarda: Referem-se ao tempo necessário para
identificação e de reagrupamento sistemático de temas arquivamento dos documentos nas fases corrente e
semelhantes, segundo suas características comuns, podendo, intermediária, visando atender exclusivamente às
em seguida, serem diferenciados, desde que a quantidade necessidades da administração que os gerou, mencionado,
assim o exija. Essa função consiste em um conjunto de preferencialmente, em anos. Excepcionalmente, pode ser
convenções, de métodos e regras de procedimentos expresso a partir de uma ação concreta que deverá
logicamente estruturados que permite a classificação dos necessariamente ocorrer em relação a um determinado
documentos em grupos ou em categorias, quaisquer que sejam conjunto documental. Entretanto, deve ser objetivo e direto na
os suportes e a idade desses documentos. definição da ação – exemplos: até aprovação das contas; até
De acordo com Faria5, o plano de classificação é o homologação da aposentadoria; e até quitação da dívida. O
instrumento desenvolvido por arquivistas para auxiliar na prazo estabelecido para a fase corrente relaciona-se ao
organização das informações para a recuperação futura e para período em que o documento é frequentemente consultado,
o armazenamento ordenado. Ele traduz o conhecimento dos exigindo sua permanência junto às unidades organizacionais.
gestores sobre o estoque informacional arquivístico da A fase intermediária relaciona-se ao período em que o
instituição. Podemos ainda considerar como o esforço da documento ainda é necessário à administração, porém com
organização, conjunto de documentos ou arquivos de uma menor frequência de uso, podendo ser transferido para
instituição ou pessoa física por meio da função arquivística de depósito em outro local, embora à disposição desta.
classificação. A realidade arquivística no Brasil aponta para variadas
O Plano de Classificação de Documentos de Arquivo formas de concentração dos arquivos, seja ao nível da
apresenta os documentos hierarquicamente organizados de administração (fases corrente e intermediária), seja no âmbito
acordo com a função, subfunção e atividade (classificação dos arquivos públicos (permanentes ou históricos).
funcional), ou de acordo com o grupo, subgrupo e atividade
(classificação estrutural), responsáveis por sua produção ou Assim, a distribuição dos prazos de guarda nas fases
acumulação. Para recuperar com maior facilidade esse corrente e intermediária foi definida a partir das
contexto da produção documental, atribuímos códigos seguintes variáveis:
numéricos aos tipos/séries documentais.
A ausência de normas, métodos e procedimentos de I – Órgãos que possuem arquivo central e contam com
trabalho provocam o acúmulo desordenado de documentos, serviços de arquivamento intermediário:
transformando os arquivos em meros depósitos de papéis, Para os órgãos federais, estaduais e municipais que se
dificultando o acesso aos documentos e a recuperação de enquadram nesta variável, há necessidade de redistribuição
informações necessárias para a tomada de decisões no âmbito dos prazos, considerando-se as características de cada fase,
das instituições públicas e privadas. Diante dessa realidade, a desde que o prazo total de guarda não seja alterado, de forma
elaboração do Plano de Classificação assume uma importância a contemplar os seguintes setores arquivísticos:
relevante como ferramenta de gestão documental, exigindo, - arquivo setorial (fase corrente, que corresponde ao
para sua elaboração, profundo conhecimento da estrutura e arquivo da unidade organizacional);
funcionamento do organismo produtor e o comprometimento - arquivo central (fase intermediária I, que corresponde ao
dos profissionais de todas as suas áreas de atuação. setor de arquivo geral/central da instituição);
- arquivo intermediário (fase intermediária II, que
Tabela de temporalidade de documentos de arquivo corresponde ao depósito de arquivamento intermediário,
A tabela de temporalidade é um instrumento arquivístico geralmente subordinado à instituição arquivística pública nas
resultante de avaliação, que tem por objetivos definir prazos esferas federal, estadual e municipal).
de guarda e destinação de documentos, com vista a garantir o
acesso à informação a todos que dela necessitem. Sua II – Órgãos que possuem arquivo central e não contam com
estrutura básica deve necessariamente contemplar os serviços de arquivamento intermediário: Nos órgãos situados
conjuntos documentais produzidos e recebidos por uma nesta variável, as unidades organizacionais são responsáveis
instituição no exercício de suas atividades, os prazos de guarda pelo arquivamento corrente e o arquivo central funciona como
nas fases corrente e intermediária, a destinação final – arquivo intermediário, obedecendo aos prazos previstos para
eliminação ou guarda permanente, além de um campo para esta fase e efetuando o recolhimento ao arquivo permanente.
observações necessárias à sua compreensão e aplicação.
III – Órgãos que não possuem arquivo central e contam
com serviços de arquivamento intermediário: Nesta variável,

5FARIA, Wadson Silva. A normalização dos instrumentos de gestão arquivística no Informação) – Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da
Brasil: um estudo da influência das resoluções do Conarq na organização dos Informação e Documentação. Departamento de Ciência da Informação e
arquivos da Justiça Eleitoral Brasileira. Dissertação (Mestrado em Ciência da Documentação da Universidade de Brasília (UnB), Brasília, 2006.

Noções Básicas de Arquivo 7


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as unidades organizacionais também funcionam como arquivo - Recuperação do contexto original de produção dos
corrente, transferindo os documentos – após cessado o prazo documentos;
previsto para esta fase – para o arquivo intermediário, que - Visibilidade às funções, subfunções e atividades do
promoverá o recolhimento ao arquivo permanente. organismo produtor;
- Padronização da denominação das funções, atividades e
IV – Órgãos que não possuem arquivo central nem contam tipos/séries documentais;
com serviços de arquivamento intermediário: - Controle do trâmite;
Quanto aos órgãos situados nesta variável, as unidades - Atribuição de códigos numéricos;
organizacionais são igualmente responsáveis pelo - Subsídios para o trabalho de avaliação e aplicação da
arquivamento corrente, ficando a guarda intermediária a Tabela de Temporalidade
cargo das mesmas ou do arquivo público, o qual deverá
assumir tais funções. A tabela de temporalidade deverá contemplar as
atividades meio e atividades-fim de cada órgão público.
3. Destinação final: Neste campo é registrada a destinação Desta forma, caberá aos mesmos definir a temporalidade e
estabelecida que pode ser a eliminação, quando o documento destinação dos documentos relativos às suas atividades
não apresenta valor secundário (probatório ou informativo) específicas, complementando a tabela básica. Posteriormente,
ou a guarda permanente, quando as informações contidas no esta deverá ser encaminhada à instituição arquivística pública
documento são consideradas importantes para fins de prova, para aprovação e divulgação, por meio de ato legal que lhe
informação e pesquisa. confira legitimidade.
A guarda permanente será sempre nas instituições
arquivísticas públicas (Arquivo Nacional e arquivos públicos Métodos / Técnicas de Arquivamento
estaduais, do Distrito Federal e municipais), responsáveis pela ATENÇÃO: Os métodos de arquivamento são um dos
preservação dos documentos e pelo acesso às informações assuntos de Arquivologia mais cobrados em concurso
neles contidas. Outras instituições poderão manter seus público. Talvez o que caia com mais constância, sobretudo
arquivos permanentes, seguindo orientação técnica dos as regras de alfabetação (método alfabético), o método
arquivos públicos, garantindo o intercâmbio de informações geográfico e o método numérico simples.
sobre os respectivos acervos.
Conceito dado pelo Dicionário Brasileiro de Terminologia
4. Observações: Neste campo são registradas informações Arquivística, revela que métodos de arquivamento é =
complementares e justificativas, necessárias à correta Sequência de operações que determina a disposição dos
aplicação da tabela. Incluem-se, ainda, orientações quanto à documentos de um arquivo ou coleção, uns em relação aos
alteração do suporte da informação e aspectos elucidativos outros, e a identificação de cada unidade.
quanto à destinação dos documentos, segundo a
particularidade dos conjuntos documentais avaliados. IMPORTANTE: O uso de métodos de arquivamento
A necessidade de comunicação é tão antiga como a apropriados é muito importante para o organismo, pois
formação da sociedade humana, o homem, talvez na ânsia de dessa forma quem trabalha com a documentação irá
se perpetuar, teve sempre a preocupação de registrar suas organizá-la melhor (arranjo, disposição), a fim de
observações, seu pensamento, para deixar como legado às recuperá-la com rapidez quando for necessário.
gerações futuras.
Assim começou a escrita. Na sua essência. Isto nada mais é Mas, como escolher o método mais adequado?
do que registrar e guardar. Por sua vez, no seu sentido mais Cada organismo deve adotar métodos de arquivamento
simples, guardar é arquivar. que atendam às suas necessidades específicas, levando-se em
Por muito tempo reinou uma completa confusão sobre o consideração a estrutura da entidade e as características dos
verdadeiro sentido da biblioteca, museu e arquivo. documentos a serem arquivados.
Indiscutivelmente, por anos e anos, estas instituições tiveram O ideal é a instituição não adotar um único método de
mais ou menos o mesmo objetivo. Eram elas depósitos de tudo arquivamento, e sim vários deles, considerando sempre a
o que se produzira a mente humana, isto é, do resultado do documentação existente nos setores componentes de
trabalho intelectual e espiritual do homem. determinada empresa.

O arquivo, quando bem organizado: DIVISÃO


- transmite ordens;
- evita repetição desnecessária de experiências; - CLASSES
- diminui a duplicidade de documentos; Os métodos de arquivamento são divididos em duas
- revela o que está por ser feito, o que já foi feito e os grandes classes:
resultados obtidos; • básicos
- Constitui fonte de pesquisa para todos os ramos • padronizados
administrativos;
- auxilia o administrador a tomada de decisões. - BÁSICOS
Podemos dividir os métodos básicos em:
O Plano de Classificação e as Tabelas de Temporalidade de • alfabético (principal elemento a ser considerado num
Documentos associados garantem a simplificação e a documento: nome)
racionalização dos procedimentos de gestão documental, • geográfico (principal elemento: local ou procedência)
imprimem maior agilidade e precisão na recuperação dos • numérico (principal elemento: número)
documentos e das informações e autorizam a eliminação • ideográfico (principal elemento: assunto)
criteriosa de documentos cujos valores já se esgotaram.

Objetivos e benefícios da classificação


- Organização lógica e correto arquivamento de
documentos;
- Recuperação da informação ou do documento;

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- Sistema direto
O próprio nome sugere: busca direta ao local de guarda do
Observações: documento, sem o auxílio de índice ou quaisquer outros
instrumentos de pesquisa.
1ª) Os métodos numéricos podem ser:
simples/cronológico/dígito-terminal Exemplos: métodos alfabético e geográfico.
2ª) Os métodos ideográficos podem ser:
• alfabético (enciclopédico/dicionário) - Sistema indireto
• numérico (duplex/decimal /unitermo ou Para recuperar o documento é necessário recorrer a um
indexação coordenada) índice alfabético remissivo ou a um determinado código.

Exemplo: métodos numéricos.


-PADRONIZADOS
 Variadex
É o método alfabético, acrescentando cores (excelente
auxiliar mnemônico) às letras.
Trabalha-se com 5 cores diferentes. As cores são atribuídas
em função da 2ª letra do nome de entrada no arquivo. As guias
são coloridas e as notações alfabéticas.

Ex.: LETRAS → CORES


O, P, Q e abreviações → azul
Método alfabético
Cores convencionadas:
A – D e abreviações – ouro ou laranja É o sistema mais simples, fácil, lógico e prático, porque
E – H e abreviações – rosa ou amarelo obedecendo à ordem alfabética pode-se logo imaginar que não
I – N e abreviações – verde apresentará grandes dificuldades nem para a execução do
O – Q e abreviações – azul trabalho de arquivamento, nem para a procura do documento
R – Z e abreviações – palha ou violeta desejado, pois a consulta é direta.

As cores são cambiáveis, de acordo com as nossas Método numérico simples


conveniências
Obs.: Não precisa memorizar a tabela acima. Numa prova, Consiste em numerar as pastas em ordem da entrada do
aparece um nome específico, e aí basta ao candidato usar as correspondente ou assunto, sem nenhuma consideração à
regras de alfabetação, e atribuir a cor em função da segunda ordem alfabética dos mesmos, dispensando assim qualquer
letra do nome de entrada no arquivo, como mostra o exemplo planejamento anterior do arquivo. Para o bom êxito deste
da cliente Carolina Souto Neto. A tabela vem inserida na prova. método, devemos organizar dois índices em fichas; numas
-Automático - Usa-se para arquivar nomes, evitando fichas serão arquivadas alfabeticamente, para que se saiba que
acumular pastas de sobrenomes iguais. Combina letras, numero recebeu o correspondente ou assunto desejado, e no
números e cores outro são arquivadas numericamente, de acordo com o
número que recebeu o cliente ou o assunto, ao entrar para o
-Soundex - Usa-se para arquivar nomes, reunindo-os pela arquivo. Este último índice pode ser considerado tombo
semelhança da pronúncia, apesar de a grafia ser diferente. (registro) de pastas ocupadas e, graças a ele, sabemos qual é o
último número preenchido e assim destinaremos o número
-Mnemônico - Usa-se para codificar os assuntos através da seguinte a qualquer novo cliente que seja registrado.
combinação de letras em lugar de números. As letras são
consideradas símbolos, pelo fato de este método pretender Método alfabético numérico
auxiliar a memória do arquivista, a fim de possibilitar, de
forma mais ágil, a recuperação da informação. Como se pode deduzir pelo seu nome, é um método que
procurou reunir as vantagens dos métodos alfabéticos simples
 Rôneo - Combina letras, números e cores. Está e numérico simples, tendo alcançado seu objetivo, pois desta
obsoleto. combinação resultou um método que apresenta ao mesmo
tempo a simplicidade de um e a exatidão e rapidez, no
ATENÇÃO: Os métodos padronizados raramente caem arquivamento, do outro. É conhecido também pelo nome de
em prova, sobretudo para cargos de nível médio. Caem numeralfa e alfanumérico.
mais para cargos de nível superior ou para concursos
envolvendo a área Arquivística, ligados aos profissionais Método geográfico
da área. Mesmo assim, o mínimo que o concursando deve
saber é identificá-los (VASM-R, estão lembrados). Vale Este método é muito aconselhável quando desejamos
ressaltar, ainda, o fato de os métodos automático e soundex ordenar a documentação de acordo com a divisão geográfica,
não serem utilizados nos arquivos brasileiros, e os métodos isto é, de acordo com os países, estados, cidades, municípios
mnemônico e rôneo estarem obsoletos. etc. Nos departamentos de vendas, por exemplo, é de especial
utilidade para agrupar os correspondentes de acordo com as
SISTEMAS praças onde operam ou residem.

Os métodos básicos e padronizados fazem parte de dois Método específico ou por assunto
grandes sistemas: Indiscutivelmente, o método específico, representado por
• direto palavras dispostas alfabeticamente, é um dos mais difíceis
• indireto processos de arquivamento, pois, consistindo em agrupar as
pastas por assunto, apresenta a dificuldade de se escolher o

Noções Básicas de Arquivo 9


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melhor termo ou expressão que defina o assunto. Temos o documentos deve também ter capacidade de identificar os
vocabulário todo da língua à nossa disposição e justamente o documentos que já cumpriram sua temporalidade para
fato de ser tão amplo o campo da escolha nos dificulta a seleção implementar a destinação prevista. No caso de um SIGAD, esse
acertada, além do que entra muito o ponto de vista pessoal do sistema deverá ser capaz de listar os documentos que tenham
arquivista, nesta seleção. cumprido o prazo previsto na tabela de temporalidade e
destinação.
Método decimal As determinações sobre a destinação devem ser aplicadas
aos documentos de forma sistemática no curso rotineiro das
Este método foi inspirado no Sistema Decimal de Melvil atividades do órgão ou entidade. Essas mesmas determinações
Dewey. Dewey organizou um sistema de classificação para não poderão ser implementadas em documentos que estejam
bibliotecas, muito interessante, o qual conseguiu um grande com pendências, sob litígio ou investigação. O sistema de
sucesso; fora publicado em 1876. gestão arquivística de documentos deve prever as seguintes
Dividiu ele os conhecimentos humanos em dez classes, as ações:
quais, por sua vez, se subdividiram em outras dez, e assim por
diante, sendo infinita essa possibilidade de subdivisão, graças - Retenção dos documentos, por um determinado período,
à sua base decimal. no arquivo corrente do órgão ou entidade que os gerou.
- Eliminação física;
Método simplificado - Transferência;
- Recolhimento para instituição arquivística pública.
Este a rigor não deveria ser considerado propriamente um
método, pois, na realidade, nada mais é do que a utilização de O arquivamento de registros informatizados ocorre por
vários métodos ao mesmo tempo, com a finalidade de reunir meio de programas ou sistemas informatizados geralmente
num só móvel as vantagens de todos eles. não usam papéis, e podem usar as formas de classificação por
método numérico, por assunto ou mesmo o método alfabético.
Avaliação, Temporalidade e Destinação Porém, é sempre importante o sistema conter campos de
A avaliação é uma atividade vital em um programa de busca de dados e opção de cópia de segurança (backup) ou de
gestão arquivística de documentos, pois permite racionalizar impressão, a fim de impedir a perda de dados ou arquivos.
o acúmulo dos documentos nas fases corrente e intermediária, De acordo com o Conselho Nacional de Arquivos
facilitando a constituição dos arquivos permanentes. A (CONARQ)6, os procedimentos e operações técnicas do sistema
avaliação é o processo de análise dos documentos de gestão arquivística de documentos digitais e convencionais:
arquivísticos, visando estabelecer prazos de guarda e a
destinação, de acordo com os valores primário e secundário Captura
que lhes são atribuídos. A captura consiste em declarar um documento como sendo
Os prazos de guarda e as ações de destinação deverão estar um documento arquivístico por meio das ações de:
formalizados na tabela de temporalidade e destinação do - registro;
órgão ou entidade. Os prazos de guarda referem-se ao tempo - classificação;
necessário para o arquivamento dos documentos nas fases - indexação;
corrente e intermediária, visando atender exclusivamente às - atribuição de outros metadados;
necessidades da administração que os gerou, baseado em - arquivamento.
estimativas de uso. Nesse sentido, nenhum documento deverá Os objetivos da captura são:
ser conservado por tempo maior que o necessário. - identificar o documento como documento arquivístico;
A aplicação dos critérios de avaliação é feita com base na - demonstrar a relação orgânica dos documentos.
teoria das três idades e efetiva-se, primeiramente, nos
arquivos correntes, a fim de se distinguirem os documentos de A captura é a incorporação de um documento ao sistema
valor eventual (de eliminação sumária) daqueles de valor de gestão arquivística, quando passará a seguir as rotinas de
probatório e/ou informativo. Deve-se evitar a transferência tramitação e arquivamento. Uma vez capturado, o documento
para os arquivos intermediários de documentos que não tanto poderá ser incluído num fluxo de trabalho e
tenham sido anteriormente avaliados, pois as atividades de posteriormente arquivado, como ser imediatamente
avaliação e seleção nesses arquivos são extremamente arquivado em uma pasta, no caso de documentos em papel, ou
onerosas do ponto de vista técnico e gerencial. diretório, no caso de documentos digitais.
A destinação dos documentos é efetivada após a atividade Tradicionalmente, nos sistemas de gestão arquivística de
de seleção, que consiste na separação dos documentos de valor documentos em papel, a captura é feita no momento em que o
permanente daqueles passíveis de eliminação, mediante documento é registrado, classificado e/ou identificado. Em um
critérios e técnicas estabelecidos na tabela de temporalidade e Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos
destinação. (SIGAD), o documento tanto pode ser produzido diretamente
A complexidade e a abrangência de conhecimentos dentro do sistema e então capturado automaticamente no
exigidos pelo processo de avaliação, que implica no momento do registro, como pode ser produzido fora do
estabelecimento de critérios de valor, requerem a participação sistema e capturado e registrado posteriormente.
de pessoas ligadas a diversas áreas profissionais do órgão ou Além do código de classificação, descritores, número de
entidade, conforme legislação vigente. protocolo e número de registro, a captura pode prever a
O sistema de gestão arquivística de documentos, introdução de outros metadados tais como: data e hora da
particularmente no caso de um SIGAD, deve identificar a criação, da transmissão e do recebimento do documento;
temporalidade e a destinação prevista para o documento no nome do autor, do originador, do digitador e do destinatário,
momento da captura e do registro, de acordo com os prazos e entre outros.
as ações previstas na tabela de temporalidade e destinação do Esses metadados podem ser registrados em vários níveis
órgão ou entidade. de detalhe, dependendo das necessidades geradas pelos
Essa informação deve ser registrada em um metadado procedimentos do órgão ou entidade e do seu contexto jurídico
associado ao documento. O sistema de gestão arquivística de administrativo. Os metadados são essenciais para identificar o

6 http://www.uel.br/cch/cdph/arqtxt/downloads_e_ARQ.pdf

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documento arquivístico de um modo inequívoco e mostrar sua - título ou descrição abreviada;


relação com os outros documentos.
A captura tem como pré-requisito a definição de: quais O registro pode incluir informações descritivas mais
documentos (produzidos e recebidos) serão capturados pelo detalhadas sobre o documento e sobre outros documentos
sistema de gestão arquivística de documentos; quem deve ter a ele relacionados, tais como:
acesso a esses documentos e em quais níveis; por quanto - data de produção;
tempo serão retidos. - data e hora da transmissão e recebimento;
As decisões sobre captura e retenção devem ser - destinatário (com identificação do cargo);
consideradas no momento da concepção do sistema de gestão - espécie documental;
arquivística de documentos. A decisão sobre quais - classificação de acordo com o código de classificação;
documentos devem ser capturados e por quanto tempo devem - associações a documentos diferentes que podem estar
ser mantidos devem seguir o Modelo de requisitos para relacionados pelo fato de registrarem a mesma atividade ou se
sistemas informatizados de gestão arquivística de documentos referirem à mesma pessoa ou situação;
- julho/2006 Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos / - software e versão sob a qual o documento foi produzido
CONARQ - e levar em conta a análise dos seguintes fatores: ou no qual foi capturado;
legislação vigente, exigências quanto à transparência e ao - máscaras de formatação (template) necessárias para
exercício das atividades do órgão ou entidade, bem como grau apresentar o documento;
de risco que correm caso não capturem documentos - restrição de acesso;
arquivísticos. - descritor;
- prazos de guarda.
Documentos que exigem captura são aqueles que:
- responsabilizam uma organização ou indivíduo por uma Classificação
ação;
- documentam uma obrigação ou responsabilidade; Classificação é o ato ou efeito de analisar e identificar o
- estão relacionados à prestação de contas do órgão ou conteúdo dos documentos arquivísticos e de selecionar a
entidade. classe sob a qual serão recuperados. Essa classificação é feita a
partir de um plano de classificação elaborado pelo órgão ou
Registro entidade que poderá incluir, ou não, a atribuição de um código
O registro consiste em formalizar a captura do documento aos documentos.
arquivístico dentro do sistema de gestão arquivística por meio A classificação determina o agrupamento de documentos
da atribuição de um número identificador e de uma descrição em unidades menores (processos e dossiês) e o agrupamento
informativa. Em um SIGAD, essa descrição informativa é a destas em unidades maiores, formando o arquivo do órgão ou
atribuição de metadados. O registro tem por objetivo entidade. Para tanto, deve tomar por base o conteúdo do
demonstrar que o documento foi produzido ou recebido e documento, que reflete a atividade que o gerou e determina o
capturado pelo sistema de gestão arquivística de documentos, uso da informação nele contida. A classificação também define
bem como facilitar sua recuperação. a organização física dos documentos, constituindo-se em
Os documentos podem ser registrados em níveis referencial básico para sua recuperação.
diferentes dentro de um sistema de gestão arquivística de
documentos, ou seja, além do número identificador atribuído Os objetivos da classificação são:
pelo sistema, um documento pode receber também um - Estabelecer a relação orgânica dos documentos
número único de processo/dossiê ao qual pertence. arquivísticos;
As atividades de protocolo são constituídas pelo conjunto - Assegurar que os documentos sejam identificados de
de operações que visam o controle dos documentos forma consistente ao longo do tempo;
produzidos e recebidos que tramitam no órgão ou entidade, - Nome da pessoa física ou jurídica (órgão ou entidade)
assegurando sua localização, recuperação e acesso. Após o com autoridade e capacidade para emitir o documento ou em
recebimento dos documentos, o serviço de protocolo faz o cujo nome ou sob cujo comando o documento é emitido.
registro, atribuindo número e data de entrada, anotando o - Nome da pessoa física ou jurídica que tem autoridade e
código de classificação e o assunto e procedendo à distribuição capacidade para elaborar o conteúdo do documento.
do documento nas unidades destinatárias. - Nome da pessoa física ou jurídica designada no endereço
Na Administração Pública, em determinados casos, eletrônico no qual o documento é gerado ou enviado.
documentos formarão processos, os quais deverão ser
autuados por uma unidade protocolizadora. Um processo é o A classificação deve se basear no plano de classificação e
documento ou o conjunto de documentos que exige um estudo envolve os seguintes passos:
mais detalhado ou procedimentos como despachos, pareceres - Identificar a ação que o documento registra;
técnicos, anexos ou ainda instruções para pagamento de - Localizar a ação ou atividade no plano de classificação;
despesas. No procedimento de autuação, a unidade - Comparar a atividade com a estrutura organizacional
protocolizadora faz o registro do processo, atribuindo-lhe um para verificar se é apropriada à unidade que gerou o
número único. Esse número é formado a partir de parâmetros documento;
estabelecidos por normas que garantam a sua unicidade e Aplicar a classificação ao documento.
integridade.
Existe legislação específica para utilização dos serviços de Indexação
protocolo nas diversas esferas e âmbitos da Administração
Pública, que regulamenta o registro, a autuação e outros A indexação é a atribuição de termos à descrição do
procedimentos relativos aos processos e outros documentos documento, utilizando vocabulário controlado e/ou lista de
oficiais. A legislação pertinente ao órgão ou entidade deve ser descritores, tesauro e o próprio plano de classificação. A
seguida pelo programa de gestão arquivística de documentos. seleção dos termos para indexação normalmente é feita com
base em:
O registro inclui os seguintes metadados obrigatórios: - Tipologia documental;
- número identificador atribuído pelo sistema; - Título ou cabeçalho do documento;
- data e hora do registro; - Assunto do documento;

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- Datas associadas com as transações registradas no devem estar formalizadas em um contrato firmado entre o
documento; órgão ou entidade que produziu os documentos e o
- Nome de clientes, órgãos ou entidades envolvidas; responsável pela sua custódia.
- Documentação anexada.
Recolhimento
O objetivo da indexação é ampliar as possibilidades de
busca e facilitar a recuperação dos documentos, podendo ser Recolhimento é a entrada de documentos em arquivos
feita de forma manual ou automática. permanentes de acordo com a jurisdição arquivística a que
pertencem. Os documentos a serem recolhidos devem ser
Atribuição de restrição de acesso acompanhados de instrumentos que permitam sua
identificação e controle, segundo a legislação vigente.
Os documentos também devem ser analisados com relação Os procedimentos de transferência e recolhimento de
às precauções de segurança, ou seja, se são considerados arquivos digitais para instituição arquivística que implicam na
ostensivos ou sigilosos. No caso dos documentos sigilosos, a transposição desses documentos de um SIGAD para outro
legislação estabelece diferentes graus a serem atribuídos a sistema informatizado deverão adotar algumas providências
cada documento. Os documentos que dizem respeito à no que diz respeito a:
segurança da sociedade e do Estado, bem como aqueles
necessários ao resguardo da inviolabilidade da intimidade, da - Compatibilidade de suporte e formato, de acordo com as
vida privada, da honra e da imagem das pessoas estarão normas previstas pela instituição arquivística recebedora;
sujeitos às restrições de acesso, conforme legislação em vigor. - Documentação técnica necessária para interpretar o
A atribuição de restrições deve ser feita no momento da documento digital (processamento e estrutura dos dados);
captura, com base no esquema de classificação de segurança e - Instrumento descritivo que inclua os metadados
sigilo elaborado pelo órgão ou entidade e envolve os seguintes atribuídos aos documentos digitais e informações que
passos: identificar a ação ou atividade que o documento possibilitem a presunção de autenticidade dos documentos
registra; identificar a unidade administrativa à qual o recolhidos à instituição arquivística;
documento pertence; verificar a precaução de segurança e o - Informações sobre as migrações realizadas no órgão
grau de sigilo; produtor.

Eliminação Pesquisa, localização e apresentação dos documentos

Eliminar significa destruir os documentos que, na O sistema de gestão arquivística de documentos deve
avaliação, foram considerados sem valor para a guarda prever funções de recuperação e acesso aos documentos
permanente. A eliminação deve ser precedida da elaboração arquivísticos e às informações neles contidas, de forma a
de listagem, do edital de ciência de eliminação e do termo de satisfazer a condução das atividades e os requisitos relativos à
eliminação, segundo a legislação vigente e deve obedecer aos transparência do órgão ou entidade. A recuperação inclui a
seguintes princípios: pesquisa, a localização e a apresentação dos documentos.
Em um SIGAD a apresentação dos documentos consiste em
- A eliminação deverá sempre ser autorizada pela exibi-los em tela ou em imprimi-los; pode também implicar na
autoridade arquivística na sua esfera de competência; leitura de dados de áudio ou de vídeo. No âmbito do sistema
- Os documentos arquivísticos que estiverem pendentes, de gestão arquivística de documentos, a pesquisa é feita por
sob litígio ou investigação, não poderão ser destruídos; meio de instrumentos de busca tais como guias, inventários,
- A eliminação deverá ser realizada de forma a catálogos, repertórios e índices.
impossibilitar a recuperação posterior de qualquer Já em um SIGAD a pesquisa é feita por meio de parâmetros
informação confidencial contida nos documentos eliminados, pré - definidos, selecionados dentre as informações coletadas
como por exemplo dados de identificação pessoal ou no momento do registro do documento e dentre os metadados
assinatura. a ele associados. Todos os recursos de pesquisa, localização e
- Todas as cópias dos documentos eliminados, incluindo apresentação de documentos têm que ser submetidos a
cópias de segurança e cópias de preservação, independente do controles de acesso e segurança, os quais serão especificados
suporte, deverão ser destruídas. a seguir.

Transferência Segurança: controle de acesso, trilhas de auditoria e cópias


de segurança
Transferência é a passagem de documentos do arquivo O sistema de gestão arquivística de documentos deve
corrente para o arquivo intermediário, onde aguardarão o prever controles de acesso e procedimentos de segurança que
cumprimento dos prazos de guarda e a destinação final. Ao garantam a integridade dos documentos. Dentre esses
serem transferidos, os documentos deverão ser procedimento, pode-se destacar o uso de controles técnicos e
acompanhados de listagem de transferência. A transferência programáticos, diferenciando tipos de documentos, perfis de
pode ser realizada de diferentes formas, como se segue abaixo: usuários e característica de acesso aos dados, manutenção de
trilhas de auditoria e de rotinas de cópias de segurança.
- Transferência para uma área de armazenamento Além disso, também devem ser levadas em conta
apropriada sob controle do órgão ou entidade que produziu o exigências e procedimentos de segurança da infraestrutura
documento; das instalações. Controle de acesso O sistema de gestão
- Transferência para uma instituição arquivística, que arquivística de documentos precisa limitar ou autorizar o
ficará responsável pela custódia do documento. acesso a documentos, por usuário e/ou grupos de usuários. O
controle de acesso deve garantir, no mínimo, as seguintes
Quando os documentos transferidos ficam sob a custódia funções:
de um órgão ou entidade diferente da que os produziu, a
organização responsável pela custódia tem a obrigação de - Restrição de acesso aos documentos;
mantê-los e gerenciá-los de forma adequada, garantindo sua - Exibição dos documentos, criptografados ou não, e dos
destinação final, preservação e acesso. Todas essas obrigações metadados somente aos usuários autorizados;

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- Uso e intervenção nos documentos somente pelos No caso de procedimentos que tenham prazos a serem
usuários autorizados. cumpridos pelo órgão ou entidade, deve-se implementar ações
de rastreamento de forma a: determinar os passos a serem
Os documentos também devem ser analisados com relação dados em resposta às atividades ou ações registradas em um
às precauções de segurança, ou seja, se são considerados documento; atribuir responsabilidade por uma ação a uma
ostensivos ou sigilosos. No caso dos documentos sigilosos, a pessoa; registrar a data em que uma ação deve ser executada
legislação estabelece diferentes graus a serem atribuídos a e a data em que ocorreu. A movimentação dos documentos
cada documento e as autoridades competentes para fazê-lo. arquivísticos deve ser registrada de forma a garantir que
Os documentos que dizem respeito à segurança da possam ser sempre localizados.
sociedade e do Estado, bem como aqueles necessários ao As trilhas de auditoria devem registrar o número
resguardo da inviolabilidade da intimidade, da vida privada, identificador atribuído pelo sistema, o título, a pessoa ou
da honra e da imagem das pessoas – como por exemplo dossiês unidade que teve acesso ao documento e a hora e a data da
funcionais e prontuários médicos - também estarão sujeitos às movimentação. O sistema deve rastrear o fluxo, a transferência
restrições de acesso, conforme legislação em vigor. entre pessoas, o retorno do documento ao “originador” (home
Um sistema de gestão arquivística de documentos deve location) ou ao armazenamento, assim como a destinação ou o
garantir que os usuários não autorizados não tenham acesso recolhimento a qualquer órgão ou entidade externo, incluindo
aos documentos classificados, isto é, submetidos às categorias instituições arquivísticas.
de sigilo previstas em lei, bem como aqueles que são
originalmente sigilosos. O acesso aos metadados dos Cópias de segurança
documentos sigilosos depende de regulamentação interna do
órgão ou entidade. O sistema de gestão arquivística de documentos deve
O monitoramento e mapeamento das permissões de prever controles para proporcionar a salvaguarda regular dos
acesso são um processo contínuo em todos os sistemas de documentos arquivísticos e dos seus metadados. Devem
gestão arquivística de documentos. também poder recuperá-los rapidamente em caso de perda
devido a sinistros, falhas no sistema, contingência, quebra de
Uso e rastreamento segurança ou degradação do suporte. Esses mecanismos
devem seguir a política de segurança da informação do órgão
O uso dos documentos pelos usuários deve ser registrado ou entidade.
pelo sistema nos seus respectivos metadados. A gestão desse No caso dos sistemas de gestão arquivística de
uso inclui: documentos convencionais pode-se prever a reprodução de
- Identificação da permissão de acesso dos usuários, isto é, documentos para outros suportes como medida de segurança,
o que ele pode acessar; como, por exemplo, por processo de microfilmagem ou
- Identificação da precaução de segurança e da categoria de digitalização. No caso dos sistemas de gestão arquivística de
sigilo dos documentos; documentos digitais, o SIGAD deve prover meios de realização
- Garantia de que somente os indivíduos autorizados de cópias de segurança (backup). Este processo consiste na
tenham acesso a documentos classificados e aos originalmente realização de cópias periódicas das informações com o
sigilosos; propósito de restauração posterior das mesmas em caso de
- Registro de todos os acessos, tentativas de acesso e usos perda devido a falhas de software, hardware ou mesmo
dos documentos (visualização, impressão, transmissão e cópia acidente.
para a área de transferência) com identificação de usuário, O processo reverso ao backup é o de restauração (restore),
data, hora e, se possível, a estação de trabalho; que consiste em recuperar as informações para o ambiente de
- Revisão periódica das classificações de acesso a fim de produção do SIGAD em um estado consistente. Como o
garantir sua atualização. objetivo é restaurar o sistema em caso de falhas, as
informações não são armazenadas por períodos muito longos
O rastreamento dos documentos em trilhas de auditoria é (normalmente até um ano).
uma medida de segurança que tem por objetivo verificar a Dessa forma o procedimento de cópias de segurança não
ocorrência de acesso e uso indevidos aos documentos. O grau pode ser confundido com uma estratégia de preservação a
de controle de acesso e o detalhamento do registro na trilha de longo prazo. Segurança da infraestrutura A natureza das
auditoria dependem da natureza do órgão ou entidade e dos medidas de segurança da infraestrutura de instalações do
documentos produzidos. acervo digital diz respeito a requisitos operacionais e não é
muito diferente daquela do acervo analógico ou convencional.
Trilhas de auditoria Essas medidas devem levar em conta os seguintes
aspectos: as salas reservadas a computadores servidores,
A trilha de auditoria deve registrar o movimento e o uso equipamentos de rede e ao acervo digital devem ter
dos documentos arquivísticos dentro de um SIGAD (captura, temperatura ambiente e umidade relativa do ar controladas e
registro, classificação, indexação, arquivamento, fornecimento estável de energia elétrica.
armazenamento, recuperação da informação, acesso e uso, Deve haver controle contínuo para verificar se essas
preservação e destinação), informando quem operou, a data e condições estão sendo atendidas; equipamentos contra
hora e as ações tomadas. incêndio têm que ser providos em toda área de instalação e
A trilha de auditoria tem o objetivo de fornecer estarem de acordo com as normas de segurança estabelecidas;
informações sobre o cumprimento das políticas e regras da a substituição dos equipamentos contra incêndio tem que
gestão arquivística de documentos do órgão ou entidade e seguir uma rotina de verificação e ocorrer antes do final da
serve para: vida útil prevista para os mesmos; o órgão ou entidade tem que
prever instalações adequadas de para-raios, com
- Identificar os autores de cada operação sofrida pelos procedimentos de manutenção periódica, seguindo a
documentos; legislação e normas técnicas já estabelecidas; a área reservada
- Prevenir a perda de documentos; à instalação do SIGAD deverá ser compartimentada, com o
- Monitorar todas as operações realizadas no SIGAD. objetivo de controlar o acesso às informações; as salas de
- Garantir a segurança e a integridade do SIGAD. computadores servidores são de uso exclusivo de pessoal
autorizado e devem ter controle eletrônico de acesso; para

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acesso a áreas de segurança, identificações e credenciais de área de trabalho). Já em relação aos documentos digitais, as
autenticação têm que estar de acordo com as atribuições opções podem envolver armazenamento on-line (disco rígido,
individuais e com as regras de segurança do órgão ou entidade. disk arrays, entre outros) ou off-line, nas chamadas “mídias” de
armazenamento (disco óptico, fita magnética e outros),
Armazenamento guardadas em depósitos; custo relativo das opções de
armazenamento dos documentos: além do custo dos
As considerações e as ações relativas ao armazenamento dispositivos de armazenamento, deve ser considerado o dos
dos documentos arquivísticos convencionais e digitais equipamentos para sua manipulação e dos softwares de
permeiam todo o seu ciclo de vida. Esse armazenamento deve controle.
garantir a autenticidade e o acesso aos documentos pelo Pelo previsível alto volume de custo, pode ser considerada
tempo estipulado na tabela de temporalidade e destinação. a opção de terceirização do armazenamento. Nesse caso,
Documentos que possuem valor permanente, porém, surgem outros problemas, como garantias legais sobre
independente do formato, requerem um armazenamento a custódia, restrições de acesso e capacidade tecnológica.
criterioso desde o momento da sua criação para garantir sua Medidas tecnológicas, como o uso de criptografia, podem
preservação de longo prazo. Num cenário híbrido, isto é, que impedir acessos não autorizados. Do mesmo modo, a utilização
envolve ao mesmo tempo documentos arquivísticos de técnicas como checksum permitem rastrear eventuais
convencionais e digitais, deve-se considerar requisitos de comprometimentos de conteúdo.
armazenamento que atendam igualmente às necessidades Os documentos digitais são armazenados em dispositivos
desses dois tipos de documentos. de armazenamento eletrônicos, magnéticos e ópticos. É
As condições de armazenamento devem levar em conta o interessante notar que do ponto de vista tecnológico,
volume e as propriedades físicas dos documentos. Devem ser distinguem-se três tipos de memória, em ordem decrescente
projetadas considerando também a proteção contra acesso de preço e velocidade de acesso:
não autorizado e perdas por destruição, furto e sinistro. No - Memória primária;
caso dos documentos arquivísticos digitais, os órgãos e - Memória secundária;
entidades devem dispor de políticas e diretrizes para - Memória terciária.
conversão ou migração desses documentos de maneira a
garantir sua autenticidade, acessibilidade e utilização. A memória primária é de funcionamento essencial,
Os procedimentos de conversão e migração devem necessária a qualquer sistema computacional. É nela que os
detalhar as mudanças ocorridas nos sistemas e nos formatos softwares e os dados são armazenados durante a execução.
dos documentos. Os fatores importantes na seleção das opções Representantes típicas dessa classe são as memórias RAM
de armazenamento são: volume e estimativa de crescimento (Random Access Memory). São memórias extremamente
dos documentos: esse fator deve ser levado em conta para se rápidas. Seu conteúdo é de natureza dinâmica, volátil,
avaliar a capacidade de armazenamento, isto é, áreas de permanecendo válido apenas durante a execução dos
depósito, tipos e quantidade de estante e, no caso de softwares, e não sobrevivendo a paradas do computador. A
documentos digitais, capacidade dos dispositivos de memória secundária apresenta volume maior de
armazenamento; armazenamento que a primária, sendo por outro lado mais
Segurança dos documentos: as instalações de lenta. Não é volátil. São exemplos os discos rígidos magnéticos
armazenamento (depósitos, arquivos, computadores) deverão (hard disk – HD), que podem ser usados isolados ou
prever limitação de acesso aos documentos, como, por combinados em disk arrays.
exemplo, controle das áreas de armazenamento e sistemas de Diversas tecnologias permitem através do uso de disk
detecção de entradas não autorizadas. O depósito deve estar arrays, obter maior desempenho e confiabilidade do que seria
localizado em área que não seja de risco. conseguido com discos isolados. A memória terciária
No caso de documentos digitais, devem ser previstos compreende fitas magnéticas, discos ópticos e outros. Usos
procedimentos que previnam a perda de documentos por falha típicos incluem armazenamento do acervo digital e cópias de
do SIGAD; características físicas do suporte e do ambiente: segurança. Outra nomenclatura corrente para essa classe de
fatores como tipo de suporte, peso, grau de contaminação do memória é "mídias de armazenamento". A memória terciária
documento e do ambiente, temperatura e umidade tem característica não volátil na preservação de dados. Seu
influenciarão na adequação das condições de armazenamento. preço unitário é tão pequeno que requisitos de confiabilidade
Nesse sentido, deverão ser adotados procedimentos - devem prevalecer. Em caso de desastre, o prejuízo da perda de
como o controle e verificação do tempo de vida útil e da dados é superior ao preço das mídias que fisicamente os
estabilidade dos suportes - para prevenir quaisquer danos aos contêm. As memórias secundária e terciária são adequadas
documentos. É importante que os meios de acondicionamento para armazenamento.
sejam robustos e adequados ao formato e à quantidade de
documentos. As áreas de depósito devem ter amplitude Código de Classificação7
adequada, estabilidade de temperatura e de níveis de
umidade, proteção contra sinistro, contaminação (tal como O código de classificação de documentos de arquivo é um
isótopos radioativos, toxinas e mofo) e infestação de insetos ou instrumento de trabalho utilizado para classificar todo e
micro-organismos. qualquer documento produzido ou recebido por um órgão no
Os documentos digitais devem passar periodicamente pela exercício de suas funções e atividades. A classificação por
troca de suporte, isto é, transferir as informações contidas assuntos é utilizada com o objetivo de agrupar os documentos
num suporte para outro. Essa técnica é conhecida por sob um mesmo tema, como forma de agilizar sua recuperação
rejuvenescimento. Frequência de uso: o uso mais ou menos e facilitar as tarefas arquivísticas relacionadas com a avaliação,
frequente dos documentos deve ser levado em conta na seleção, eliminação, transferência, recolhimento e acesso a
seleção das opções de armazenamento. esses documentos, uma vez que o trabalho arquivístico é
No caso dos documentos convencionais, as opções realizado com base no conteúdo do documento, o qual reflete
envolverão acondicionamento (pastas suspensas, caixas entre a atividade que o gerou e determina o uso da informação nele
outros) e localização dos depósitos (próximos ou distantes da contida. A classificação define, portanto, a organização física

7Classificação, Temporalidade e Destinação de Documentos de Arquivo Relativos


às Atividades-Meio da Administração Pública. Disponível em:
http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/Media/resolucao_14.pdf.

Noções Básicas de Arquivo 14


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dos documentos arquivados, constituindo-se em referencial CLASSE 000 – ADMINISTRAÇÃO GERAL


básico para sua recuperação.
No código de classificação, as funções, atividades, espécies Nesta classe são classificados os documentos referentes às
e tipos documentais genericamente denominados assuntos, atividades relacionadas à administração interna dos órgãos
encontram-se hierarquicamente distribuídos de acordo com públicos, as quais viabilizam o seu funcionamento e o alcance
as funções e atividades desempenhadas pelo órgão. Em outras dos objetivos para os quais foram criados.
palavras, os assuntos recebem códigos numéricos, os quais
refletem a hierarquia funcional do órgão, definida através de A Classe 000, ADMINISTRAÇÃO GERAL, tem como
classes, subclasses, grupos e subgrupos, partindo-se sempre subclasses:
do geral para o particular.
Para este instrumento adotou-se o modelo de código de 010 – ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO
classificação decimal. Como o próprio nome indica, o sistema 020 – PESSOAL
decimal de classificação por assuntos constitui-se num código 030 – MATERIAL
numérico dividido em dez classes e estas, por sua vez, em dez 040 – PATRIMÔNIO
subclasses e assim sucessivamente. As dez classes principais 050 – ORÇAMENTO E FINANÇAS
são representadas por um número inteiro, composto de três 060 – DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO
algarismos, como se segue: 070 – COMUNICAÇÕES
080 – (vaga)
Classe 000 090 – OUTROS ASSUNTOS REFERENTES À
Classe 100 ADMINISTRAÇÃO GERAL
Classe 200 010 – ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO
Classe 300 Classificam-se os documentos relativos à criação,
Classe 400 estruturação, funcionamento e organização interna do órgão.
Classe 500
Classe 600 020 – PESSOAL
Classe 700 Nesta subclasse incluem-se os documentos relativos aos
Classe 800 direitos e obrigações dos servidores lotados no órgão, de
Classe 900 acordo com a legislação vigente, bem como os direitos e
obrigações da instituição empregadora no que tange à
As classes principais correspondem às grandes funções assistência, proteção ao trabalho e concessão de benefícios.
desempenhadas pelo órgão. Elas são divididas em subclasses e
estas, por sua vez, em grupos e subgrupos, os quais recebem 030 – MATERIAL
códigos numéricos, seguindo-se o método decimal. Desta São classificados os documentos referentes à
forma, tomando-se como exemplo a classe 000, tem-se: administração dos materiais do órgão, necessários ao
desenvolvimento de suas atividades, incluindo as formas de
CLASSE 000 ADMINISTRAÇÃO GERAL aquisição e alienação, o controle do estoque e da distribuição
SUBCLASSE 010 ORGANIZAÇÃO E e a conservação e reparo.
FUNCIONAMENTO
GRUPO 012 COMUNICAÇÃO SOCIAL 040 – PATRIMÔNIO
SUBGRUPOS 012.1 RELAÇÕES COM A Classificam-se os documentos referentes aos bens
IMPRENSA patrimoniais imóveis, veículos e semoventes pertencentes ao
012.11 CREDENCIAMENTO órgão. Incluem-se, neste caso, as formas de aquisição e
DE JORNALISTAS alienação, bem como os serviços de manutenção, limpeza e
recuperação.
Note-se que os códigos numéricos refletem a subordinação
dos subgrupos ao grupo, do grupo à subclasse e desta, à classe. 050 – ORÇAMENTO E FINANÇAS
Esta subordinação é representada por margens, as quais Classificam-se os documentos relativos à previsão e
espelham a hierarquia dos assuntos tratados. execução orçamentária e às operações contábeis e financeiras
O Código de classificação de documentos de arquivo para a referentes ao uso dos recursos públicos e comprovação de
administração pública: atividades-meio, possui duas classes receita e despesa. Incluem-se, ainda, a movimentação de conta
comuns a todos os seus órgãos: a classe 000, referente aos corrente, balanços e prestações de contas aos tribunais de
assuntos de ADMINISTRAÇÃO GERAL e a classe 900, contas.
correspondente a ASSUNTOS DIVERSOS.
As demais classes (100 a 800) destinam-se aos assuntos 060 – DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO
relativos às atividades fim do órgão. Estas classes não são Incluem-se nesta subclasse os documentos referentes à
comuns, cabendo aos respectivos órgãos sua elaboração, publicação, produção editorial, preparo, impressão e
seguindo orientações da instituição arquivística na sua esfera distribuição de matérias, bem como à aquisição, controle,
específica de competência. distribuição e acesso à documentação bibliográfica do órgão.
Compõe ainda este código o índice, instrumento auxiliar à Incluem-se, ainda, os documentos referentes à produção,
classificação, no qual os assuntos são ordenados controle, avaliação, arquivamento e destinação de documentos
alfabeticamente e remetidos ao código numérico arquivísticos, como também os documentos relacionados com
correspondente. as atividades de reprodução, conservação e informática.
Entendidos os mecanismos de elaboração do Código de
classificação de documentos de arquivo, serão apresentadas, a 070 – COMUNICAÇÕES
seguir, algumas explicações acerca das classes 000 e 900, e Classificam-se os documentos relacionados com a
suas respectivas subclasses. instalação, manutenção, operação e uso dos recursos e
serviços postais, de telecomunicações e de tecnologias da
informação.

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080 – (VAGA) 930 – FEIRAS. SALÕES. EXPOSIÇÕES. MOSTRAS.


Esta subclasse mantém-se vaga para possíveis expansões e CONCURSOS. FESTAS
inserção de documentos referentes à ADMINISTRAÇÃO Incluem-se nesta subclasse os documentos relativos a
GERAL, que resultem de novas atividades desenvolvidas pelo eventos promocionais, do órgão ou de outras instituições, bem
órgão. como material de divulgação.

090 – OUTROS ASSUNTOS REFERENTES À 940 – VISITAS E VISITANTES


ADMINISTRAÇÃO GERAL Classificam-se os documentos referentes a solicitações de
Incluem-se nesta subclasse documentos de caráter visitas, orientação e assessoramento a visitantes.
genérico relativos à ADMINISTRAÇÃO GERAL. Utiliza-se,
também, esta subclasse, como recurso para inclusão de 950 a 980 – (VAGAS)
assuntos que não possuam classificação específica no Código Estas subclasses mantêm-se vagas para possíveis
de classificação de documentos de arquivo, bem como para expansões e inserção de documentos referentes a ASSUNTOS
evitar a proliferação de subclasses que possam ser reservadas DIVERSOS.
para possíveis expansões. Entretanto, os documentos só
poderão ser aqui classificados após a verificação da não- 990 – ASSUNTOS TRANSITÓRIOS
existência de outras subclasses nas quais possam ser Incluem-se nesta subclasse documentos de caráter
inseridos. genérico, tais como pedidos e cartas de apresentação e
recomendação; comunicações de posse, endereço e
O mesmo se aplica aos últimos grupos: afastamento; convites; felicitações e congratulações;
019 – OUTROS ASSUNTOS REFERENTES À ORGANIZAÇÃO protestos, reivindicações e oferecimentos diversos.
E FUNCIONAMENTO
029 – OUTROS ASSUNTOS REFERENTES A PESSOAL Aplicação do Código de Classificação de Documentos
039 – OUTROS ASSUNTOS REFERENTES A MATERIAL de Arquivo
049 – OUTROS ASSUNTOS REFERENTES A PATRIMÔNIO
059 – OUTROS ASSUNTOS REFERENTES A ORÇAMENTO E A classificação é uma das atividades do processo de gestão
FINANÇAS de documentos arquivísticos, o qual inclui procedimentos e
069 – OUTROS ASSUNTOS REFERENTES À rotinas específicas que possibilitam maior eficiência e
DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO agilidade no gerenciamento e controle das informações.
079 – OUTROS ASSUNTOS REFERENTES A Desta forma, para que o Código de classificação de
COMUNICAÇÕES documentos de arquivo possa ser aplicado eficientemente,
apresentam-se, a seguir, as operações e rotinas para
Cabe ressaltar que, de acordo com as necessidades, os classificação e arquivamento de documentos.
órgãos poderão desenvolver os grupos e subgrupos referentes
a outros assuntos. Os itens criados, bem como sua Classificação e Arquivamento de Documentos
temporalidade e destinação, deverão ser encaminhados à
instituição arquivística pública na sua respectiva esfera de A classificação deve ser realizada por servidores treinados,
competência para aprovação. de acordo com as seguintes operações.

CLASSE 900 – ASSUNTOS DIVERSOS a) ESTUDO: consiste na leitura de cada documento, a fim
Esta classe refere-se aos documentos de caráter genérico de verificar sob que assunto deverá ser classificado e quais as
que se relacionam com as diversas atividades desenvolvidas referências cruzadas que lhe corresponderão. A referência
pelo órgão. cruzada é um mecanismo adotado quando o conteúdo do
documento se refere a dois ou mais assuntos.
A classe 900, ASSUNTOS DIVERSOS, tem como subclasses: b) CODIFICAÇÃO: consiste na atribuição do código
910 – SOLENIDADES. COMEMORAÇÕES. HOMENAGENS correspondente ao assunto de que trata o documento.
920 – CONGRESSOS. CONFERÊNCIAS. SEMINÁRIOS.
SIMPÓSIOS. ENCONTROS. CONVENÇÕES. CICLOS DE Rotinas Correspondentes Às Operações De Classificação
PALESTRAS. MESAS REDONDAS 1. Receber o documento para classificação;
930 – FEIRAS. SALÕES. EXPOSIÇÕES. MOSTRAS. 2. Ler o documento, identificando o assunto principal e
CONCURSOS. FESTAS o(s) secundário(s) de acordo com seu conteúdo;
940 – VISITAS E VISITANTES 3. Localizar o(s) assunto(s) no Código de classificação de
950 – (vaga) documentos de arquivo, utilizando o índice, quando
960 – (vaga) necessário;
970 – (vaga) 4. Anotar o código na primeira folha do documento;
980 – (vaga) 5. Preencher a(s) folha(s) de referência, para os assuntos
990 – ASSUNTOS TRANSITÓRIOS secundários.
OBS: Quando o documento possuir anexo(s), este(s)
910 – SOLENIDADES. COMEMORAÇÕES. HOMENAGENS deverá(ão) receber a anotação do(s) código(s)
Incluem-se nesta subclasse documentos referentes à correspondente(s).
organização de solenidades, comemorações, homenagens,
bem como aos discursos e palestras proferidas por dirigentes, Arquivamento
servidores ou convidados.
Uma vez classificado e tramitado, o documento deverá ser
920 – CONGRESSOS. CONFERÊNCIAS. SEMINÁRIOS. arquivado, obedecendo às seguintes operações:
SIMPÓSIOS. ENCONTROS. CONVENÇÕES. CICLOS DE a) INSPEÇÃO: consiste no exame do(s) documento(s) para
PALESTRAS. MESAS REDONDAS verificar se o(s) mesmo(s) se destina(m) realmente ao
Classificam-se os documentos referentes a eventos, arquivamento, se possui(em) anexo(s) e se a classificação
promovidos ou não pelo órgão. atribuída será mantida ou alterada.

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b) ORDENAÇÃO: consiste na reunião dos documentos 6. Manter reunida a documentação seriada, como por
classificados sob um mesmo assunto. A ordenação tem por exemplo boletins e atas, em caixas apropriadas, procedendo o
objetivo agilizar o arquivamento, minimizando a possibilidade registro em uma única folha de referência, arquivada em pasta
de erros. Além disso, estando ordenados adequadamente, será suspensa, no assunto correspondente, repetindo a operação
possível manter reunidos todos os documentos referentes a sempre que chegar um novo número.
um mesmo assunto, organizando-os previamente para o
arquivamento. d) RETIRADA E CONTROLE (EMPRÉSTIMO): esta
Após a ordenação, os documentos classificados sob o operação ocorre quando processos, dossiês ou outros
mesmo código formarão dossiês acondicionados em capas documentos são retirados do arquivo para:
apropriadas com prendedores plásticos, com exceção dos – emprestar aos usuários;
processos e volumes. Os dados referentes ao seu conteúdo – prestar informações;
(código, assunto e, se for o caso, nome de pessoa, órgão, firma – efetuar uma juntada.
ou lugar) serão registrados na capa de forma a facilitar sua
identificação. Os dossiês, processos e volumes serão Nesta fase é importante o controle de retirada, efetuado
arquivados em pastas suspensas ou em caixas, de acordo com por meio do recibo de empréstimo (ver item 2.3), no qual são
suas dimensões. Esta operação possibilita: registradas informações sobre processos, dossiês ou outros
– racionalizar o arquivamento, uma vez que numa mesma documentos retirados, além do setor, nome, assinatura do
pasta poderão ser arquivados vários dossiês correspondentes servidor responsável pela solicitação e, posteriormente, a data
ao mesmo grupo ou subclasse, diminuindo, assim, o número de da devolução do documento. O recibo de empréstimo tem
pastas. como finalidade controlar o prazo para devolução do
documento e servir como indicador de sua frequência de uso,
Exemplo: fator determinante para o estabelecimento dos prazos para
sua transferência e recolhimento.
Pasta: 061 – PRODUÇÃO EDITORIAL Por meio desse controle é possível informar com precisão
e segurança a localização do(s) documento(s) retirado(s).
Dossiês: 061.1 – EDITORAÇÃO. PROGRAMAÇÃO O recibo de empréstimo é preenchido em duas vias,
VISUAL sendo:
061.2 – DISTRIBUIÇÃO. PROMOÇÃO. – 1ª via: tal como guia-fora substitui o documento na pasta
DIVULGAÇÃO de onde foi retirado, devendo ser eliminada quando da
devolução do documento;
– organizar internamente cada pasta, separando os – 2ª via: arquivada em fichário à parte, em ordem
documentos referentes a cada pessoa, órgão, firma ou lugar, cronológica, para controle e cobrança, quando vencido o prazo
sempre que a quantidade de documentos justificar e desde que de devolução.
relativos a um mesmo assunto.
Preservação
Exemplo:
Os documentos arquivísticos têm que se manter acessíveis
Pasta: 021.2 – EXAMES DE SELEÇÃO e utilizáveis por todo o tempo que se fizer necessário,
garantindo-se sua longevidade, funcionalidade e acesso
Dossiês: Será criado um dossiê para cada tipo de exame contínuo. Deverão ser asseguradas as características dos
e título de concurso, ordenados alfabeticamente. documentos – tais como autenticidade e acessibilidade - pela
adoção de estratégias institucionais e técnicas proativas de
c) ARQUIVAMENTO: consiste na guarda do documento no criação e de preservação, que garantam a sua perenidade.
local devido (pasta suspensa, prateleira, caixa), de acordo com Essas estratégias são estabelecidas por uma política de
a classificação dada. Nesta fase deve-se ter muita atenção, pois preservação.
um documento arquivado erroneamente poderá ficar perdido, Tradicionalmente a preservação de documentos
sem possibilidades de recuperação quando solicitado arquivísticos se concentra na obtenção da estabilidade do
posteriormente. suporte da informação. Nos documentos convencionais, o
conteúdo e o suporte estão intrinsecamente ligados, dessa
Rotinas Correspondentes às Operações de forma a manutenção do suporte garante a preservação do
Arquivamento documento. De forma distinta, nos documentos digitais, o foco
da preservação é a manutenção do acesso, que pode implicar
1. Verificar a existência de antecedentes (documentos que na mudança de suporte e formatos, bem como na atualização
tratam do mesmo assunto); do ambiente tecnológico. A fragilidade do suporte digital e a
2. Reunir os antecedentes, colocando-os em ordem obsolescência tecnológica de hardware, software e formato
cronológica decrescente, sendo o documento com data mais exigem essas intervenções periódicas.
recente em primeiro lugar e assim sucessivamente; As estratégias de preservação para os documentos
3. Ordenar os documentos que não possuem antecedentes, arquivísticos devem ser selecionadas com base na sua
de acordo com a ordem estabelecida (cronológica, alfabética, capacidade de manter as características dos documentos e na
geográfica ou outra), formando dossiês. Verificar a existência avaliação custo-benefício. Podem incluir monitoramento e
de cópias, eliminando-as. Caso o original não exista, manter controle ambiental, restrições de acesso, cuidados no seu
uma única cópia; manuseio direto e obtenção de suportes e materiais mais
4. Fixar cuidadosamente os documentos às capas duráveis (papel, tinta, disco óptico, fita magnética, etc). No
apropriadas com prendedores plásticos, com exceção dos caso específico dos documentos digitais, essas estratégias
processos e volumes que, embora inseridos nas pastas incluem a prevenção da obsolescência tecnológica e de danos
suspensas, permanecem soltos para facilitar o manuseio; físicos ao suporte, por meio de procedimentos de migração
5. Arquivar os documentos nos locais devidos, como rejuvenescimento (refreshing) e conversão.
identificando de maneira visível as pastas suspensas, gavetas Outras técnicas utilizadas na preservação de documentos
e caixas; digitais são: emulação, encapsulamento e preservação da
tecnologia. A adoção de formatos digitais abertos se configura

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adicionalmente como medida de preservação recomendável e 05. (GDF – Analista de Atividades Culturais –
necessária. Qualquer que seja a estratégia de preservação Arquivologia – IADES) No Brasil, atualmente o órgão
adotada, há que se documentar os procedimentos e as responsável pelo depósito legal de publicações no Brasil é o (a)
estruturas de metadados. (A) Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
O desenvolvimento de novas tecnologias pode tornar Tecnologia (IBICT).
disponíveis outros procedimentos para preservar documentos (B) Biblioteca Nacional (BN).
digitais por longos períodos. As estratégias de preservação de (C) Agência Bibliográfica Nacional (ABN).
documentos digitais e dos respectivos metadados devem ser (D) Associação Brasileira de Normas Técnica (ABNT).
formulados e integrados ao SIGAD desde a fase de elaboração (E) Instituto Nacional do Livro (INL).
do projeto desse sistema. Só assim será possível garantir o uso
e acesso aos documentos digitais durante todo o período Respostas
previsto para sua guarda.
Questões 01.: D / 02.: A / 03.: “A” / 04.: “E” / 05.: “B”

01. (DPE-MT – Assistente Administrativo – FGV/2015)


A seguir temos a representação de uma pequena parte de uma
Tabela de Temporalidade e Destinação de Documentos sem os
títulos de cada coluna: Anotações
I II III
Serviço
074 2 anos Eliminação
telefônico
Listas telefônicas Enquanto
074.2 Eliminação
internas vigora
De 5 a 95 Guarda
Ações judiciais 091
anos permanente
Solenidades 910 1 ano Eliminação

As colunas I, II e III correspondem respectivamente, a:


(A) espécie documental, prazos de guarda e observação.
(B) assunto, código de classificação e prazos de guarda.
(C) plano de classificação, observação e prazos de guarda.
(D) código de classificação, prazos de guarda e destinação
final.
(E) número do documento, ciclo documental e controle.

02. (Colégio Pedro II – Assistente em Administração –


Acesso Público/2015) Ao organizar e arquivar uma série de
documentos, ordenados por nome, assunto ou local, o sistema
de classificação utilizado será:
(A) alfabético.
(B) alfanumérico.
(C) cronológico.
(D) geográfico.
(E) numérico.

03. (GDF – Analista de Atividades Culturais –


Arquivologia – IADES) Com relação ao campo teórico da
arquivologia, assinale a alternativa correta.
(A) A arquivologia estuda as funções dos serviços ou
instituições de arquivo e os princípios e as técnicas a serem
observados no tratamento e na disponibilidade dos acervos
arquivísticos.
(B) As três idades documentais podem ser denominadas
de corrente, semiativa e informativa.
(C) O ramo da arquivologia que estuda acervos de
documentos ancestrais é adjetivado de arqueológico.
(D) A arquiví́stica é a té cnica e a arquivologia, a ciencia,
segundo a visão difundida pelo Arquivo Nacional.
(E) O triplo objeto da arquivologia é o fundo arquivístico, o
arquivista e a instituição arquivística.

04. (GDF – Analista de Atividades Culturais –


Arquivologia – IADES) O termo que melhor caracteriza o que
são as massas documentais acumuladas é o arquivo
(A) corrente.
(B) intermediário.
(C) permanente.
(D) inativo.
(E) morto.

Noções Básicas de Arquivo 18


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RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO

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APOSTILAS OPÇÃO
Representamos o conjunto dos números ímpares por:
I = {1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, ...}

Operações com Números Naturais

- Adição: a primeira operação fundamental da Aritmética


tem por finalidade reunir em um só número, todas as unidades
de dois ou mais números.
1. Resolução de problemas Ex: 5 + 4 = 9, onde 5 e 4 são as parcelas e 9 soma ou total
envolvendo frações, conjuntos, -Subtração: usada quando precisamos tirar uma quantia de
porcentagens, sequências outra, é a operação inversa da adição. A operação de subtração
(com números, com figuras, de só é válida nos naturais quando subtraímos o maior número do
palavras). menor, ou seja quando a - b tal que a ≥ b.
Ex: 254 – 193 = 61, onde 254 é o Minuendo, o 193
Subtraendo e 61 a diferença.
CONJUNTOS NÚMERICOS 193 - 254 não é possível no conjunto dos Números
Naturais
CONJUNTO DOS NÚMEROS NATURAIS - N Obs.: o minuendo também é conhecido como aditivo e o
O conjunto dos números naturais é representado pela subtraendo como subtrativo.
letra maiúscula N e estes números são construídos com os
algarismos: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, que também são conhecidos - Multiplicação: a operação que tem por finalidade adicionar
como algarismos indo-arábicos. Embora o zero não seja um o primeiro número denominado multiplicando ou parcela,
número natural no sentido que tenha sido proveniente de tantas vezes quantas são as unidades do segundo número
objetos de contagens naturais, iremos considerá-lo como um denominadas multiplicador.
número natural uma vez que ele tem as mesmas propriedades Ex: 2 x 5 = 10, onde 2 e 5 são os fatores e o 10 produto.
algébricas que estes números. As reticências (três pontos) - 2 vezes 5 é somar o número 2 cinco vezes: 2 x 5 = 2 + 2 + 2
indicam que este conjunto não tem fim. N é um conjunto com + 2 + 2 = 10. Podemos no lugar do “x” (vezes) utilizar o ponto “. “,
infinitos números, N= {1,2,3,4,...}. para indicar a multiplicação).

Representação na reta numérica - Divisão: dados dois números A, B ∈ N com


(B≠0), define-se como divisão exata de A por B
se existe um único número C ∈ n, tal que: A=B.
C, ou seja, se o resto é nulo.

Excluindo o zero do conjunto dos números naturais, o


conjunto será representado por: N* = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, ...}
Subconjuntos notáveis em N:
1 – Números Naturais não nulos - Divisão não-exata (quociente aproximado): d x Q + R = D,
N* ={1,2,3,4,...,n,...}; N* = N-{0} fazemos uso desta propriedade. Lembrando que o R < d.
2 – Números Naturais pares Para Não esqucer:
Np = {0,2,4,6,...,2n,...}; com n ∈ N - Em uma divisão exata de números naturais, o divisor
deve ser menor do que o dividendo. 35 : 7 = 5
3 - Números Naturais ímpares - Em uma divisão exata de números naturais, o dividendo
Ni = {1,3,5,7,...,2n+1,...} com n ∈ N é o produto do divisor pelo quociente. 35 = 5 x 7
- A divisão de um número natural n por zero não é
4 - Números primos possível pois, se admitíssemos que o quociente fosse q, então
P={2,3,5,7,11,13...} poderíamos escrever: n ÷ 0 = q e isto significaria que: n = 0 x q =
0 o que não é correto!
Sucessor, antecessor e consecutivos.
- Todo número natural dado tem um sucessor (número que Propriedades aplicadas Adição e da Multiplicação dos
vem depois do número dado), e antecessor (número que vem números Naturais
antes do número dado), considerando também o zero. Para todo a, b e c
Ex: 1) Associativa da adição: (a + b) + c = a + (b + c)
2) Comutativa da adição: a + b = b + a
3) Elemento neutro da adição: a + 0 = a
4) Associativa da multiplicação: (a.b).c = a. (b.c)
5) Comutativa da multiplicação: a.b = b.a
6) Elemento neutro da multiplicação: a.1 = a
7) Distributiva da multiplicação relativamente à adição: a.(b
- Se um número natural é sucessor de outro, então os dois +c ) = ab + ac
números juntos são chamados números consecutivos. 8) Distributiva da multiplicação relativamente à subtração:
Ex: 1 e 2 são números consecutivos. a .(b –c) = ab –ac
Observação: No conjunto dos Números Naturais, o zero é o 9) Fechamento: tanto a adição como a multiplicação de
único que não tem antecessor. um número natural por outro número natural, continua como
resultado um número natural.
Pares e ímpares
- Qualquer número par pode ser escrito na forma 2n (2 vezes Questões
n). Por exemplo o número 8, que é par e pode ser escrito como
2.4. Representamos o conjunto dos números pares por: 01. A partir de 1º de março, uma cantina escolar adotou
P = {0, 2, 4, 6, 8, 10, 12, ...} um sistema de recebimento por cartão eletrônico. Esse cartão
funciona como uma conta corrente: coloca-se crédito e vão
- Qualquer número ímpar pode ser escrito na forma 2n sendo debitados os gastos. É possível o saldo negativo. Enzo
+ 1, por exemplo o número 7, que é o mesmo que 2.3 + 1. toma lanche diariamente na cantina e sua mãe credita valores

Raciocínio Lógico e Matemático 1


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no cartão todas as semanas. Ao final de março, ele anotou o seu CONJUNTO DOS NÚMEROS INTEIROS – Z
consumo e os pagamentos na seguinte tabela: Definimos o conjunto dos números inteiros como a reunião
do conjunto dos números naturais N = {0, 1, 2, 3, 4,..., n,...},
o conjunto dos opostos dos números naturais e o zero. Este
conjunto é denotado pela letra Z (Zahlen = número em alemão).

No final do mês, Enzo observou que tinha


(A) crédito de R$ 7,00.
(B) débito de R$ 7,00. O conjunto dos números inteiros possui alguns subconjuntos
(C) crédito de R$ 5,00. notáveis:
(D) débito de R$ 5,00. - O conjunto dos números inteiros não nulos:
(E) empatado suas despesas e seus créditos. Z* = {..., -4, -3, -2, -1, 1, 2, 3, 4,...}; Z* = Z – {0}

02. José, funcionário público, recebe salário bruto de R$ - O conjunto dos números inteiros não negativos:
2.000,00. Em sua folha de pagamento vem o desconto de R$ Z+ = {0, 1, 2, 3, 4,...}
200,00 de INSS e R$ 35,00 de sindicato. Qual o salário líquido Z+ é o próprio conjunto dos números naturais: Z+ = N
de José?
(A) R$ 1800,00 - O conjunto dos números inteiros positivos:
(B) R$ 1765,00 Z*+ = {1, 2, 3, 4,...}
(C) R$ 1675,00
(D) R$ 1665,00 - O conjunto dos números inteiros não positivos:
Z_ = {..., -5, -4, -3, -2, -1, 0}
03. O quociente entre dois números naturais é 10.
Multiplicando-se o dividendo por cinco e reduzindo-se o divisor - O conjunto dos números inteiros negativos:
à metade, o quociente da nova divisão será: Z*_ = {..., -5, -4, -3, -2, -1}
(A) 2
(B) 5 Módulo: chama-se módulo de um número inteiro a distância
(C) 25 ou afastamento desse número até o zero, na reta numérica
(D) 50 inteira. Representa-se o módulo por | |.
(E) 100 Ex: O módulo de +7 é 7 e indica-se |+7| = 7
O módulo de qualquer número inteiro, diferente de zero, é
04. Em uma loja, as compras feitas a prazo podem ser pagas sempre positivo.
em até 12 vezes sem juros. Se João comprar uma geladeira no
valor de R$ 2.100,00 em 12 vezes, pagará uma prestação de:
(A) R$ 150,00.
(B) R$ 175,00.
(C) R$ 200,00.
(D) R$ 225,00.
Respostas
Números Opostos (ou simétricos): dois números inteiros
01. Resposta: B. são ditos opostos um do outro quando apresentam soma zero;
Crédito: 40 + 30 + 35 + 15 = 120 assim, os pontos que os representam distam igualmente da
Débito: 27 + 33 + 42 + 25 = 127 origem. Ex: O oposto do número 3 é -3, e o oposto de -3 é 3, pois
120 – 127 = - 7 3 + (-3) = (-3) + 3 = 0
Ele tem um débito de R$ 7,00. Obs.: O oposto de zero é o próprio zero.
02. Resposta: B. Operação com Números Inteiros
2000 – 200 = 1800 – 35 = 1765
O salário líquido de José é R$ 1.765,00. - Adição: para melhor entendimento desta operação,
associaremos aos números inteiros positivos a ideia de ganhar e
03. Resposta: E. aos números inteiros negativos a ideia de perder.
D= dividendo Ganhar 5 + ganhar 3 = ganhar 8 (+ 5) + (+ 3) = (+8)
d= divisor Perder 3 + perder 4 = perder 7 (- 3) + (- 4) = (- 7)
Q = quociente = 10 Ganhar 8 + perder 5 = ganhar 3 (+ 8) + (- 5) = (+ 3)
R= resto = 0 (divisão exata) Perder 8 + ganhar 5 = perder 3 (- 8) + (+ 5) = (- 3)
Equacionando: O sinal (+) antes do número positivo pode ser dispensado,
D = d.Q + R mas o sinal (–) antes do número negativo nunca pode ser
D = d.10 + 0 → D = 10d dispensado.
Pela nova divisão temos:
- Subtração : empregamos a subtração quando:
, isolando Q temos: - Precisamos tirar uma quantidade de outra quantidade;
- Temos duas quantidades e queremos saber quanto uma
delas tem a mais que a outra;
- Temos duas quantidades e queremos saber quanto falta a
uma delas para atingir a outra.
04. Resposta: B. A subtração é a operação inversa da adição.
Observe que em uma subtração o sinal do resultado é sempre
do maior número!!!
4+5=9
Cada prestação será de R$175,00 4 – 5 = -1

Raciocínio Lógico e Matemático 2


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APOSTILAS OPÇÃO
Fique Atento: todos parênteses, colchetes, chaves, números,
..., entre outros, precedidos de sinal negativo, tem o seu sinal
invertido, ou seja, é dado o seu oposto.

- Multiplicação: a multiplicação funciona como uma forma


simplificada de uma adição quando os números são repetidos.
Observamos que a multiplicação é um caso particular da adição
onde os valores são repetidos.
Na multiplicação o produto dos números a e b, pode ser Atenção: Não existe a raiz quadrada de um número
indicado por a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum sinal entre as inteiro negativo no conjunto dos números inteiros.
letras. Quando no radical não houver especificando o índice, o
mesmo é 2, também conhecido como raiz quadrada.
- Divisão:
Erro comum: Frequentemente lemos em materiais didáticos
e até mesmo ocorre em algumas aulas aparecimento de:
9 = ± 3, mas isto está errado. O certo é: 9 = +3
Observamos que não existe um número inteiro não negativo
que multiplicado por ele mesmo resulte em um número negativo.
A raiz cúbica (de ordem 3) de um número inteiro a é a
operação que resulta em outro número inteiro que elevado ao
cubo seja igual ao número a. Aqui não restringimos os nossos
cálculos somente aos números não negativos.
Exemplos:
- Divisão exata de números inteiros. (a) 3 8 = 2, pois 2³ = 8.
Veja o cálculo: (– 20): (+ 5) = q → (+ 5) . q = (– 20) →
q = (– 4) (b) 3
− 8 = –2, pois (–2)³ = -8.
Logo: (– 20): (+ 5) = - 4
Observação: Ao obedecer à regra dos sinais para o produto
- No conjunto Z, a divisão não é comutativa, não é associativa de números inteiros, concluímos que:
e não tem a propriedade da existência do elemento neutro. (1) Se o índice da raiz for par, não existe raiz de número
- Não existe divisão por zero. inteiro negativo.
- Zero dividido por qualquer número inteiro, diferente de (2) Se o índice da raiz for ímpar, é possível extrair a raiz de
zero, é zero, pois o produto de qualquer número inteiro por zero qualquer número inteiro.
é igual a zero.
Ex: 0: (–10) = 0 b) 0 : (+6) = 0 c) 0 : (–1) = 0 Propriedades da Adição e da Multiplicação dos números
Inteiros
Regra de Sinais da Multiplicação e Divisão: Para todo a, b e c
*Sinais iguais (+) (+); (-) (-) = resultado sempre positivo. 1) Associativa da adição: (a + b) + c = a + (b + c)
*Sinais diferentes (+) (-); (-) (+) = resultado sempre 2) Comutativa da adição: a + b = b +a
negativo. 3) Elemento neutro da adição : a + 0 = a
4) Elemento oposto da adição: a + (-a) = 0
- Potenciação: a potência an do número inteiro a, é definida 5) Associativa da multiplicação: (a.b).c = a. (b.c)
como um produto de n fatores iguais. O número a é denominado 6) Comutativa da multiplicação : a.b = b.a
a base e o número n é o expoente.an = a x a x a x a x ... x a , a é 7) Elemento neutro da multiplicação: a.1 = a
multiplicado por a n vezes 8) Distributiva da multiplicação relativamente à adição: a.(b
+c ) = ab + ac
9) Distributiva da multiplicação relativamente à subtração:
a .(b –c) = ab –ac
10) Elemento inverso da multiplicação: Para todo inteiro z
Exemplos: diferente de zero, existe um inverso
33 = (3) x (3) x (3) = 27 z –1 = 1/z em Z, tal que, z x z–1 = z x (1/z) = 1
(-5)5 = (-5) x (-5) x (-5) x (-5) x (-5) = -3125 11) Fechamento: tanto a adição como a multiplicação de
- Toda potência de base positiva é um número inteiro um número natural por outro número natural, continua como
positivo. Ex: (+3)2 = (+3) . (+3) = +9 resultado um número natural.
- Toda potência de base negativa e expoente par é um
número inteiro positivo. Ex: (– 8)2 = (–8) . (–8) = +64 Questões
- Toda potência de base negativa e expoente ímpar é um
número inteiro negativo. Ex: (–5)3 = (–5) . (–5) . (–5) = –125 01. Para zelar pelos jovens internados e orientá-los a
respeito do uso adequado dos materiais em geral e dos recursos
Propriedades da Potenciação: utilizados em atividades educativas, bem como da preservação
1) Produtos de Potências com bases iguais: Conserva-se predial, realizou-se uma dinâmica elencando “atitudes positivas”
a base e somam-se os expoentes. (–7)3 . (–7)6 = (–7)3+6 = (–7)9 e “atitudes negativas”, no entendimento dos elementos do
2) Quocientes de Potências com bases iguais: Conserva- grupo. Solicitou-se que cada um classificasse suas atitudes como
se a base e subtraem-se os expoentes. (-13)8 : (-13)6 = (-13)8 – 6 positiva ou negativa, atribuindo (+4) pontos a cada atitude
= (-13)2 positiva e (-1) a cada atitude negativa. Se um jovem classificou
3) Potência de Potência: Conserva-se a base e multiplicam- como positiva apenas 20 das 50 atitudes anotadas, o total de
se os expoentes. [(-8)5]2 = (-8)5 . 2 = (-8)10 pontos atribuídos foi
4) Potência de expoente 1: É sempre igual à base. (-8)1 = (A) 50.
-8 e (+70)1 = +70 (B) 45.
5) Potência de expoente zero e base diferente de zero: É (C) 42.
igual a 1. (+3)0 = 1 e (–53)0 = 1 (D) 36.
(E) 32.
- Radiciação: a raiz n-ésima (de ordem n) de um número
inteiro a é a operação que resulta em outro número inteiro não 02. Ruth tem somente R$ 2.200,00 e deseja gastar a maior
negativo b que elevado à potência n fornece o número a. quantidade possível, sem ficar devendo na loja.

Raciocínio Lógico e Matemático 3


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APOSTILAS OPÇÃO
Verificou o preço de alguns produtos:
TV: R$ 562,00
DVD: R$ 399,00
Micro-ondas: R$ 429,00
Geladeira: R$ 1.213,00
Na aquisição dos produtos, conforme as condições
mencionadas, e pagando a compra em dinheiro, o troco recebido
será de:
(A) R$ 84,00
(B) R$ 74,00
(C) R$ 36,00 No conjunto Q destacamos os seguintes subconjuntos:
(D) R$ 26,00 - Q* = conjunto dos racionais não nulos;
(E) R$ 16,00 - Q+ = conjunto dos racionais não negativos;
- Q*+ = conjunto dos racionais positivos;
03. Multiplicando-se o maior número inteiro menor do - Q _ = conjunto dos racionais não positivos;
que 8 pelo menor número inteiro maior do que - 8, o resultado - Q*_ = conjunto dos racionais negativos.
encontrado será
(A) - 72 Representação Decimal das Frações
p
(B) - 63 Tomemos um número racional q , tal que p não seja múltiplo
(C) - 56 de q. Para escrevê-lo na forma decimal, basta efetuar a divisão
(D) - 49 do numerador pelo denominador.
(E) – 42 Nessa divisão podem ocorrer dois casos:
1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, um
04. Em um jogo de tabuleiro, Carla e Mateus obtiveram os número finito de algarismos. Decimais Exatos: 2 = 0,4
5
seguintes resultados:
2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, infinitos
algarismos (nem todos nulos), repetindo-se periodicamente
Decimais Periódicos ou Dízimas Periódicas: = 0,333...

Representação Fracionária dos Números Decimais


Ao término dessas quatro partidas, Trata-se do problema inverso: estando o número racional
(A) Carla perdeu por uma diferença de 150 pontos. escrito na forma decimal, procuremos escrevê-lo na forma de
(B) Mateus perdeu por uma diferença de 175 pontos. fração. Temos dois casos:
(C) Mateus ganhou por uma diferença de 125 pontos. 1º) Transformamos o número em uma fração cujo numerador
(D) Carla e Mateus empataram. é o número decimal sem a vírgula e o denominador é composto
pelo numeral 1, seguido de tantos zeros quantas forem as casas
Respostas decimais do número decimal dado:

01. Resposta: A. 0,9 =


50-20=30 atitudes negativas
20.4=80 0,005 = =
30.(-1)=-30
80-30=50 2º) Devemos achar a fração geratriz da dízima dada; para
tanto, vamos apresentar o procedimento através de alguns
02. Resposta: D. exemplos: Exemplos:
Geladeira + Micro-ondas + DVD = 1213 + 429 + 399 = 2041 1) Seja a dízima 0, 333....
Geladeira + Micro-ondas + TV = 1213 + 429 + 562 = 2204, Veja que o período que se repete é apenas 1(formado pelo
extrapola o orçamento 3) → então vamos colocar um 9 no denominador e repetir no
Geladeira + TV + DVD = 1213 + 562 + 399 = 2174, é a maior numerador o período.
quantidade gasta possível dentro do orçamento.
Troco:2200 – 2174 = 26 reais

03. Resposta: D. Assim, a geratriz de 0,333... é a fração .


Maior inteiro menor que 8 é o 7
Menor inteiro maior que - 8 é o - 7. 2) Seja a dízima 5, 1717....
Portanto: 7⋅(- 7) = - 49 O período que se repete é o 17, logo dois noves no
denominador (99). Observe também que o 5 é a parte inteira,
04. Resposta: C. logo ele vem na frente:
Carla: 520 – 220 – 485 + 635 = 450 pontos
Mateus: - 280 + 675 + 295 – 115 = 575 pontos → temos uma fração mista,tranformando → (5.99+17)
Diferença: 575 – 450 = 125 pontos = 512, logo∶

Assim, a geratriz de 5,1717... é a fração .


CONJUNTO DOS NÚMEROS RACIONAIS – Q m
Um número racional é o que pode ser escrito na forma n , Neste caso para transformarmos uma dízima periódi-
onde m e n são números inteiros, sendo que n deve ser diferente ca simples em fração basta utilizarmos o dígito 9 no de-
de zero. Frequentemente usamos m/n para significar a divisão nominador para cada quantos dígitos tiver o período da
de m por n. dízima.
Como podemos observar, números racionais podem ser
obtidos através da razão entre dois números inteiros, razão pela 3) Seja a dízima 1, 23434...
qual, o conjunto de todos os números racionais é denotado por O número 234 é a junção do ante período com o período.
Q. Assim,mé comum encontrarmos na literatura a notação: Neste caso temos um dízima periódica é composta, pois existe
Q = { n : m e n em Z, n diferente de zero} uma parte que não se repete e outra que se repete. Neste caso
temos um ante período (2) e o período (34). Ao subtrairmos

Raciocínio Lógico e Matemático 4


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deste número o ante período(234-2), obtemos 232, o Propriedades da Adição e Multiplicação de Números
numerador. O denominador é formado por tantos dígitos 9 – que Racionais
correspondem ao período, neste caso 99(dois noves) – e pelo 1) Fechamento: O conjunto Q é fechado para a operação de
dígito 0 – que correspondem a tantos dígitos tiverem o ante adição e multiplicação, isto é, a soma e a multiplicação de dois
período, neste caso 0(um zero). números racionais ainda é um número racional.
2) Associativa da adição: Para todos a, b, c em Q: a + ( b + c )
=(a+b)+c
3) Comutativa da adição: Para todos a, b em Q: a + b = b + a
4) Elemento neutro da adição: Existe 0 em Q, que adicionado
a todo q em Q, proporciona o próprio q, isto é: q + 0 = q
5) Elemento oposto: Para todo q em Q, existe -q em Q, tal que
Simplificando por 2, obtemos x = , a fração geratriz da q + (–q) = 0
dízima 1, 23434... 6) Associativa da multiplicação: Para todos a, b, c em Q: a × (
b×c)=(a×b)×c
Módulo ou valor absoluto: É a distância do ponto que 7) Comutativa da multiplicação: Para todos a, b em Q: a × b
representa esse número ao ponto de abscissa zero. =b×a
8) Elemento neutro da multiplicação: Existe 1 em Q, que
multiplicado por todo q em Q, proporciona o próprio q, isto é:
q×1=q a
9) Elemento inverso da multiplicação: Para todo q = b em Q,
q diferente de zero, existe :
b a b
q-1 = a em Q: q × q-1 = 1 x =1
b a
Ex: Módulo de – é . Indica-se =
10) Distributiva da multiplicação: Para todos a, b, c em Q: a ×
(b+c)=(a×b)+(a×c)
Números Opostos ou simétricos: dizemos que – 3/2 e 3/2
Divisão(Quociente): a divisão de dois números racionais
são números racionais opostos ou simétricos e cada um deles é o
p e q é a própria operação de multiplicação do número p pelo
oposto do outro. As suas distâncias a origem são iguais.
inverso de q, isto é: p ÷ q = p × q-1
Inverso de um Número Racional

Observe que na divisão de duas frações, conservamos a


Representação geométrica dos Números Racionais primeira e multiplicamos pelo inverso da segunda fração.

- Potenciação: a potência qn do número racional q é um


produto de n fatores iguais. O número q é denominado a base e
o número n é o expoente.
Ex:  2 3  2   2   2  8
  =  . .  =
Observa-se que entre dois inteiros consecutivos existem 5  5   5   5  125
infinitos números racionais.
- Propriedades da Potenciação:
Operações com Números Racionais 1) Toda potência com expoente 0 é igual a 1.

- Soma (Adição): como todo número racional é uma fração


ou pode ser escrito na forma de uma fração, definimos a adição 2) Toda potência com expoente 1 é igual à própria base.
entre os números racionais a e c , da mesma forma que a soma
de frações, através de: b d
a c ad + bc
+ =
b d bd 3) Toda potência com expoente negativo de um número
racional diferente de zero é igual a outra potência que tem a base
- Subtração: a subtração de dois números racionais p e q é a igual ao inverso da base anterior e o expoente igual ao oposto do
própria operação de adição do número p com o oposto de q, isto expoente anterior.
é: p – q = p + (–q)
a c ad − bc
− =
b d bd
4) Toda potência com expoente ímpar tem o mesmo sinal
Observação: Fazemos o mmc entre os denominadores (b,d) da base.
tanto para a adição quanto para subtração.

- Multiplicação (Produto): como todo número racional


é uma fração ou pode ser escrito na forma de uma fração, 5) Toda potência com expoente par é um número positivo.
definimos o produto de dois números racionais a e c , da
b d
mesma forma que o produto de frações, através de:
a c ac
× = 6) Produto de potências de mesma base. Para reduzir
b d bd
um produto de potências de mesma base a uma só potência,
Para realizar a multiplicação de números racionais, devemos conservamos a base e somamos os expoentes.
obedecer à mesma regra de sinais que vale em toda a Matemática:
Podemos assim concluir que o produto de dois números
com o mesmo sinal é positivo, mas o produto de dois números
com sinais diferentes é negativo. 7) Quociente de potências de mesma base. Para reduzir
um quociente de potências de mesma base a uma só potência,

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conservamos a base e subtraímos os expoentes. (C) R$ 838,51.
3 3 3 3 3 (D) R$ 841,91.
5 . . . .
2 5− 2 3
3 3 3 3 (E) R$ 870,31.
  :  = 2 2 2 2 2 =   =  
2 2 3 3 2 2
.
2 2 Respostas
8) Potência de Potência. Para reduzir uma potência de
potência a uma potência de um só expoente, conservamos a base 01. Resposta: B.
e multiplicamos os expoentes. Somando português e matemática:
3
 1  2  2 2
1 1 1
2
1
2+ 2+ 2
1
3+ 2
1
6

   =   .  .  =   =  = 
 2   2 2 2 2 2 2 O que resta gosta de ciências:
ou
3
 1  2  1
3.2
1
6

   =   =   02. Resposta: B.
 2   2 2
8,3 ∙ 7 = 58,1
- Radiciação: se um número representa um produto de Como recebeu um desconto de 10 centavos, Dirce pagou 58
dois ou mais fatores iguais, então cada fator é chamado raiz do reais
número. Troco:100 – 58 = 42 reais
Exemplos: 1
2
1 1 1
1) 1/9 Representa o produto 3 . 3 ou  3  .Logo, 3 é a raiz 03. Resposta: C.
quadrada de 1/9.
1 1
Indica-se 9
= 3 Mmc(3,5,9)=45
2) 0,216 Representa o produto 0,6 . 0,6 . 0,6 ou (0,6)3. Logo,
0,6 é a raiz cúbica de 0,216. Indica-se 3 0,216 = 0,6.
Um número racional, quando elevado ao quadrado, dá o O restante estuda alemão: 2/45
número zero ou um número racional positivo. Logo, os números
racionais negativos não têm raiz quadrada em Q.
O número -100/9 não tem raiz quadrada em Q, pois tanto
04. Resposta: D.
-10/3 como +10/3, quando elevados ao quadrado, dão 100/9.
salário mensal: 617,16 + 185,15 = 802,31
Um número racional positivo só tem raiz quadrada no
horas extras: 8,5 ∙ 8 = 68
conjunto dos números racionais se ele for um quadrado perfeito.
mês passado: 802,31 + 68,00 - 28,40 = 841,91
O número 2/3 não tem raiz quadrada em Q, pois não existe
Salário foi R$ 841,91.
número racional que elevado ao quadrado dê 2/3.
CONJUNTO DOS NÚMEROS IRRACIONAIS - I
Questões
Os números racionais, são aqueles que podem ser escritos na
forma de uma fração a/b onde a e b são dois números inteiros,
01. Na escola onde estudo, ¼ dos alunos tem a língua
com a condição de que b seja diferente de zero, uma vez que
portuguesa como disciplina favorita, 9/20 têm a matemática
sabemos da impossibilidade matemática da divisão por zero.
como favorita e os demais têm ciências como favorita. Sendo
Vimos também, que todo número racional pode ser escrito
assim, qual fração representa os alunos que têm ciências como
na forma de um número decimal periódico, também conhecido
disciplina favorita?
como dízima periódica.
(A) 1/4
Vejam os exemplos de números racionais a seguir:
(B) 3/10
3 / 4 = 0,75 = 0, 750000...
(C) 2/9
- 2 / 3 = - 0, 666666...
(D) 4/5
Existe, entretanto, outra classe de números que não podem
(E) 3/2
ser escritos na forma de fração a/b, conhecidos como números
irracionais. 
02. Dirce comprou 7 lapiseiras e pagou R$ 8,30, em cada uma
Ex: O número real abaixo é um número irracional, embora
delas. Pagou com uma nota de 100 reais e obteve um desconto
pareça uma dízima periódica: x = 0,10100100010000100000...
de 10 centavos. Quantos reais ela recebeu de troco?
Observe que o número de zeros após o algarismo 1 aumenta a
(A) R$ 40,00
cada passo. Existem infinitos números reais que não são dízimas
(B) R$ 42,00
periódicas e dois números irracionais muito importantes, são:
(C) R$ 44,00
e = 2,718281828459045...,
(D) R$ 46,00
Pi (π) = 3,141592653589793238462643...
(E) R$ 48,00
Que são utilizados nas mais diversas aplicações práticas
como: cálculos de áreas, volumes, centros de gravidade, previsão
03. De um total de 180 candidatos, 2/5 estudam inglês,
populacional, etc.
2/9 estudam francês, 1/3estuda espanhol e o restante estuda
alemão. O número de candidatos que estuda alemão é:
Classificação dos Números Irracionais
(A) 6.
Existem dois tipos de números irracionais:
(B) 7.
- Números reais algébricos irracionais: são raízes de
(C) 8.
polinômios com coeficientes inteiros. Todo número real que
(D) 9.
pode ser representado através de uma quantidade finita de
(E) 10.
somas, subtrações, multiplicações, divisões e raízes de grau
inteiro a partir dos números inteiros é um número algébrico,
04. Em um estado do Sudeste, um Agente de Apoio
por exemplo:
Operacional tem um salário mensal de: salário­base R$ 617,16 e
uma gratificação de R$ 185,15. No mês passado, ele fez 8 horas
extras a R$ 8,50 cada hora, mas precisou faltar um dia e foi
descontado em R$ 28,40. No mês passado, seu salário totalizou A recíproca não é verdadeira: existem números algébricos
(A) R$ 810,81. que não podem ser expressos através de radicais, conforme
(B) R$ 821,31. o teorema de Abel-Ruffini.

Raciocínio Lógico e Matemático 6


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- Números reais transcendentes: não são raízes de 04. Sejam os números irracionais: x = √3, y = √6, z = √12
polinômios com coeficientes inteiros. Várias constantes e w = √24. Qual das expressões apresenta como resultado um
matemáticas são transcendentes, como  pi  (π) e o  número de número natural?
Euler  (e). A definição mais genérica de números algébricos e (A) yw – xz.
transcendentes é feita usando-se números complexos. (B) xw + yz.
(C) xy(w – z).
Identificação de números irracionais: (D) xz(y + w).
- Todas as dízimas periódicas são números racionais. Respostas
- Todos os números inteiros são racionais.
- Todas as frações ordinárias são números racionais.
- Todas as dízimas não periódicas são números irracionais. 01. Resposta: B.
- Todas as raízes inexatas são números irracionais.
- A soma de um número racional com um número irracional I
é sempre um número irracional.
- A diferença de dois números irracionais, pode ser um nú-
mero racional.

Exemplos:
1) √3 - √3 = 0 e 0 é um número racional. II
- O quociente de dois números irracionais, pode ser um
número racional.
2) √8 : √2 = √4 = 2 e 2 é um número racional. 10x = 4,4444... → - x = 0,4444..... → 9x = 4 → x = 4/9
- O produto de dois números irracionais, pode ser um
número racional.
3) √5 . √5 = √25 = 5 e 5 é um número racional.
- A união do conjunto dos números irracionais com o conjunto III
dos números racionais, resulta num conjunto denominado ∜(62-20)=∜16=2
conjunto R dos números reais. Portanto, apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
- A interseção do conjunto dos números racionais com o
conjunto dos números irracionais, não possui elementos comuns 02. Resposta: D.
e, portanto,  é igual ao conjunto vazio (∅). Simbolicamente, S=15√2+15√8 → √8=2√2 → S=15√2+30√2=45√(2 )
teremos: S= √452 . 2 → S=√4050

03. Resposta: D.
(2√2 + 1) ∙ (√2 - 1) = 2(√2)2 - 2√2 + √2 - 1 = 4 - √2 - 1 = 3 - √2

04. Resposta: A.
Vamos testar as alternativas:
A) √6 .√24- √3 .√12= √(6 .24)- √(3 .12)= √144- √36=12-
Q∪I=R 6=6
Q ∩ I = ∅ CONJUNTO DOS NÚMEROS REAIS - R
O conjunto dos números reais R é uma expansão do
Questões conjunto dos números racionais que engloba não só os inteiros
e os fracionários, positivos e negativos, mas também todos os
01. Considere as seguintes afirmações: números irracionais.
I. Para todo número inteiro x, tem-se Assim temos:
R = Q U I , sendo Q ∩ I = Ø ( Se um número real é racional,
não irracional, e vice-versa).
Lembrando que N Ϲ Z Ϲ Q , podemos construir o diagrama
abaixo:
II.

III. Efetuando-se (∜(6+2√5) )x(∜(6-2√5)) obtém-se um


número maior que 5.
Relativamente a essas afirmações, é certo que
(A) I,II, e III são verdadeiras.
(B) Apenas I e II são verdadeiras.
(C) Apenas II e III são verdadeiras.
(D) Apenas uma é verdadeira.
(E) I,II e III são falsas.

02. A soma S é dada por: S=√2+√8+2√2+2√8+3√2+3√8+4 O conjunto dos números reais apresenta outros subconjuntos
√2+4√8+5√2+5√8 importantes:
Dessa forma, S é igual a - Conjunto dos números reais não nulos: R* = {x ϵ R| x ≠ 0}
(A) √90 - Conjunto dos números reais não negativos: R+ = {x ϵ R| x
(B) √405 ≥ 0}
(C) √900 - Conjunto dos números reais positivos: R*+ = {x ϵ R| x > 0}
(D) √4050 - Conjunto dos números reais não positivos: R- = {x ϵ R| x ≤ 0}
(E) √9000 - Conjunto dos números reais negativos: R*- = {x ϵ R| x < 0}

03. O resultado do produto: (2√2+1)∙(√2-1) é: Representação Geométrica dos números reais


(A) √2-1
(B) 2
(C) 2√2
(D) 3-√2

Raciocínio Lógico e Matemático 7


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APOSTILAS OPÇÃO
Propriedades I- (20 – m) é um número menor que 20.
É válido todas as propriedades anteriormente vistos nos II- (20 m) é um número maior que 20.
outros conjuntos, assim como os conceitos de módulo, números III- (20 m) é um número menor que 20.
opostos e números inversos (quando possível). É correto afirmar que:
A) I, II e III são verdadeiras.
Ordenação dos números Reais B) apenas I e II são verdadeiras.
A representação dos números Reais permite definir uma C) I, II e III são falsas.
relação de ordem entre eles. Os números Reais positivos são D) apenas II e III são falsas.
maiores que zero e os negativos, menores. Expressamos a
relação de ordem da seguinte maneira: Dados dois números 03. Na figura abaixo, o ponto que melhor representa a
Reais a e b,  diferença 3/4 - 1/2 na reta dos números reais é:
a≤b↔b–a≥0

Operações com números Reais


Operando com as aproximações, obtemos uma sucessão de (A) P.
intervalos fixos que determinam um número Real. É assim que (B) Q.
vamos trabalhar as operações adição, subtração, multiplicação e (C) R.
divisão. Relacionamos, em seguida, uma série de recomendações (D) S.
úteis para operar com números Reais.
04. Uma caixa contém certa quantidade de lâmpadas. Ao
Intervalos reais retirá-las de 3 em 3 ou de 5 em 5, sobram 2 lâmpadas na caixa.
O conjunto dos números reais possui também subconjuntos, Entretanto, se as lâmpadas forem removidas de 7
denominados intervalos, que são determinados por meio de em 7, sobrará uma única lâmpada. Assinale a alternativa
desiguladades. Sejam os números a e b , com a < b. correspondente à quantidade de lâmpadas que há na caixa,
sabendo que esta comporta um máximo de 100 lâmpadas.
(A) 36.
(B) 57.
(C) 78.
(D) 92.
Respostas

01. Resposta: D.
Pontuação atual = 2 . partida anterior – 15
* 4ª partida: 3791 = 2.x – 15
2.x = 3791 + 15 → x = 3806 / 2 → x = 1903
* 3ª partida: 1903 = 2.x – 15
2.x = 1903 + 15 → x = 1918 / 2 → x = 959
* 2ª partida: 959 = 2.x – 15
Observe o exemplo: 2.x = 959 + 15 → x = 974 / 2 → x = 487
* 1ª partida: 487 = 2.x – 15
2.x = 487 + 15 → x = 502 / 2 → x = 251
Portanto, a soma dos algarismos da 1ª partida é 2 + 5 + 1 = 8.

02. Resposta: C.
I. Falso, pois m é Real e pode ser negativo.
II. Falso, pois m é Real e pode ser negativo.
a) Às vezes, aparecem situações em que é necessário III. Falso, pois m é Real e pode ser positivo.
registrar numericamente variações de valores em sentidos
opostos, ou seja, maiores ou acima de zero (positivos), como as 03. Resposta: A.
medidas de temperatura ou reais em débito ou em haver etc...
Esses números, que se estendem indefinidamente, tanto para o
lado direito (positivos) como para o lado esquerdo (negativos),
são chamados números relativos. 04. Resposta: D.
b) Valor absoluto de um número relativo é o valor do número Vamos chamar as retiradas de r, s e w: e de T o total de
que faz parte de sua representação, sem o sinal. lâmpadas. Precisamos calcular os múltiplos de 3, 5 e de 7,
c) Valor simétrico de um número é o mesmo numeral, separando um múltiplo menor do que 100 que sirva nas três
diferindo apenas o sinal. equações abaixo:

Questões De 3 em 3: 3 . r + 2 = Total
De 5 em 5: 5 . s + 2 = Total
01. Mário começou a praticar um novo jogo que adquiriu De 7 em 7: 7 . w + 1 = Total
para seu videogame. Considere que a cada partida ele conseguiu
melhorar sua pontuação, equivalendo sempre a 15 pontos a Primeiramente, vamos calcular o valor de w, sem que o total
menos que o dobro marcado na partida anterior. Se na quinta ultrapasse 100:
partida ele marcou 3.791 pontos, então, a soma dos algarismos
da quantidade de pontos adquiridos na primeira partida foi 7 . 14 + 1 = 99, mas 3 . r + 2 = 99 vai dar que r = 32,333... (não
igual a convém)
(A) 4.
(B) 5. 7 . 13 + 1 = 92, e 3 . r + 2 = 92 vai dar r = 30 e 5 . s + 2 = 92
(C) 7. vai dar s = 18.
(D) 8.
(E) 10. Referências
IEZZI, Gelson – Matemática - Volume Único
IEZZI, Gelson - Fundamentos da Matemática – Volume 01 – Conjuntos
02. Considere m um número real menor que 20 e avalie as e Funções
afirmações I, II e III: http://mat.ufrgs.br

Raciocínio Lógico e Matemático 8


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APOSTILAS OPÇÃO
Números Fracionários 2 4 7 2.4.7 56
Outro exemplo: . . = =
3 5 9 3.5.9 135
Expressa um número não inteiro, ou seja, uma fração. A
fração é composta de um numerador e um denominador, e Observação: Sempre que possível, antes de efetuar a
este último indica em quantas partes o numerador está sendo multiplicação, podemos simplificar as frações entre si, dividindo
dividido. os numeradores e os denominadores por um fator comum. Esse
processo de simplificação recebe o nome de cancelamento.
Adição e Subtração
    Para operações envolvendo fração, temos que analisar dois
21 . 4 . 9 3 12
casos: 31 5 10 5 = 25
1º) denominadores iguais
          Para somar frações com denominadores iguais, Divisão
basta somar os numeradores e conservar o denominador.     Na divisão de números fracionários, devemos multiplicar
          Para subtrair frações com denominadores iguais, a primeira fração pelo inverso da segunda, como é mostrado no
basta subtrair os numeradores e conservar o denominador. exemplo abaixo:

        Exemplo:

 
Duas frações são inversas ou recíprocas quando o numerador
         de uma é o denominador da outra e vice-versa.
Na adição e subtração de duas ou mais frações que têm
denominadores iguais, conservamos o denominador comum e Exemplo
somamos ou subtraímos os numeradores. 2 3
é a fração inversa de
3 2
Outro Exemplo: 5 1
3 5 7 3+5−7 1 5 ou é a fração inversa de
1 5
+ − = =
2 2 2 2 2 Considere a seguinte situação:
4
2º) denominadores diferentes Lúcia recebeu de seu pai os 5 dos chocolates contidos em
         Para somar frações com denominadores diferentes, uma uma caixa. Do total de chocolates recebidos, Lúcia deu a terça
solução é obter frações equivalentes, de denominadores iguais parte para o seu namorado. Que fração dos chocolates contidos
ao mmc dos denominadores das frações. na caixa recebeu o namorado de Lúcia?
Exemplo: 3 5 A solução do problema consiste em dividir o total de
Calcular o valor de 8 + 6 . Inicialmente, devemos reduzir as chocolates que Lúcia recebeu de seu pai por 3, ou seja, 4 : 3.
frações ao mesmo denominador comum: 5
1
3 5 = 9 20
Por outro lado, dividir algo por 3 significa calcular desse
mmc (8,6) = 24 + + algo. 3
8 6 24 24
24 : 8 . 3 = 9 4 1 4
Portanto: : 3 = de
24 : 6 . 5 = 20 5 3 5

1 4 1 4 4 1 4 4 3 4 1
Devemos proceder, agora, como no primeiro caso, Como de = . = . , resulta que : 3 = 5 : = 5 . 3
simplificando o resultado, quando possível: 3 5 3 5 5 3 5 1

9 20 = 9 + 20 29 São frações inversas


+ = 1
24 24 24 24 3
Observando que as frações e são frações inversas,
1 3
podemos afirmar que:
Portanto: 3 + 5 = 9 + 20 9 + 20 = 29 Para dividir uma fração por outra, multiplicamos a primeira
8 6 24 24 = 24 24 pelo inverso da segunda.
4 4 3 4 1 4
Na adição e subtração de duas ou mais frações que têm os Portanto : 3 = : 1 = 5 . 3 = 15
denominadores diferentes, reduzimos inicialmente as frações ao 5 5
menor denominador comum, após o que procedemos como no 4
Ou seja, o namorado de Lúcia recebeu do total de
primeiro caso. 15
chocolates contidos na caixa.
Multiplicação 4 8 41 5 5
Outro exemplo: : = . =
Na  multiplicação de números fracionários, devemos 3 5 3 82 6
multiplicar numerador por numerador, e denominador por Observação: 3
denominador, assim como é mostrado nos exemplos abaixo:
2 3 1
Note a expressão: 1 . Ela é equivalente à expressão 2 : 5 .
3 5
2
1 3 1 3 5 15
Portanto 5 = : = . =
2 5 2 1 2
Potenciação
     Na potenciação, quando elevamos um número fracionário
O produto de duas ou mais frações é uma fração cujo a um determinado expoente, estamos elevando o numerador e
numerador é o produto dos numeradores e cujo denominador é o denominador a esse expoente, conforme  os exemplos abaixo:
o produto dos denominadores das frações dadas.

Raciocínio Lógico e Matemático 9


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APOSTILAS OPÇÃO

a) 

b) 

Radiciação
     Na  radiciação, quando aplicamos a raiz quadrada a um
Exemplos número fracionário, estamos aplicando essa raiz ao numerador
e ao denominador.

1)      Potenciação de Radicais


Observando as potencias, temos que:

2) 

Quando o expoente é zero ou um


Convencionou-se dizer que:
    De modo geral, para se elevar um radical a um dado
expoente, basta elevar o radicando àquele expoente. Exemplos:
     

I – Todo número real não nulo, seja ele fracionário ou não,


elevado a 1 é igual a ele próprio.
II – Todo número real elevado a zero é igual a 1. Divisão de Radicais
Segundo as propriedades dos radicais, temos que:
Exemplo
3) Qual é o valor de   ?
 

   

Multiplicando ou dividindo potências de bases iguais

•Para multiplicar potências de mesma base, con-serve a base    


e some os expoentes.     De um modo geral, na divisão de radicais de mesmo índice,
• Para dividir potências de mesma base, conserve a base e mantemos o índice e dividimos os radicais: Exemplos:
subtraia os expoentes.

Exemplos
(Para resolver as potências e , proceda como nos     : =
exemplos anteriores).
Se os radicais forem diferentes, devemos reduzi-los ao
4) Determine o produto . mesmo índice e depois efetue a operação. Exemplos:

   
5) Qual é o quociente da divisão ?
Racionalização de denominadores

Existem frações cujo denominador é irracional. Como:

• Potencia de uma potência


potência de uma potência, conserve a base e multiplique os   ,    ,  
expoentes. Para facilitar os cálculos, é conveniente transformá-las em
Exemplo uma outra, equivalente, de denominador racional.
6) Dada a potência  , determine o seu quadrado. 1º Caso:
- O denominador é da forma . Neste caso, basta
multiplicar o numerador e o denominador por .

Expoentes negativos
Resolva potências de expoentes negativos utilizando a ideia Ex:
de inverso. Veja o conceito a seguir.

     
Exemplos 2º caso:
7) Resolva: - O denominador é da forma onde n>2. Neste caso,
devemos multiplicar o numerador e o denominador por um fator,
de modo a tornar no denominador, o expoente do radicando

Raciocínio Lógico e Matemático 10


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APOSTILAS OPÇÃO
igual ao índice do radical. (C)1/7
Ex:   » Fator racionalizante= (D)2/7
(E)1/12
Respostas

01Resposta :A
Logo: Para resolver a questão, deve- se solucionar as frações da
3º Caso: seguinte maneira:
- O denominador possui uma destas formas: 1:4 = 0,25
1:2 = 0,5
 ,  ou   2:3 = 0,66...
Neste caso, basta multiplicar o numerador e o denominador
pelo *conjugado de denominador. Assim, obteremos o produto 02 Resposta :D
pela diferença, que resulta na diferença de dois quadrados. Para somar as frações com denominadores iguais,soma- se
*Conjugado: os numeradores , ou seja:
3/11 +4/11 =7/11
Expressão Conjugado
03 Resposta :B
70 / 100 ---  (Basta andar 2 casas à esquerda do 70)=  0,7

04 Resposta :E
Pelo enunciado temos que:
Exemplo: candidato A: 1/2 ---- 1/2 x 100 = 100/2 = 50 %
candidato B: 2/5 ---- 2/5 x 100 = 200 / 5 = 40 %

Como 90 % votaram em A ou B, 10 % não votaram em


nenhum desses candidatos, pois o total é 100%
Questões Em fração 10% (10/100) equivale =1/10
01(PREFEITURA DE CATOLÉ DO ROCHA – PB-AUXILIAR 05 Resposta :E
DE SERVIÇOS GERAIS (ASG)-COMVEST-UEPB-2015) Pelo enunciado, podemos fazer as seguinte nomeações:
A ordem crescente correta das frações 2/3, 1/2, 1/4 é :
(A)1/4, 1/2 , 2/3 Sacola de laranja = X
(B)1/2 , 2/3 , 1/4 Cada um recebe = X / 4
(C)1/4, 2/3, 1/2 Laranjas estragadas = 1/3
(D)1/2, 1/4, 2/3 --------------------------------------------------
(E)2/3, 1/2 , 1/4 Multiplicando –se as frações:
x 1 x
02(MGS-  NÍVEL FUNDAMENTAL INCOMPLETO- ----- . ----- = ----
IBFC-2015) O resultado da soma entre as frações 3/11 e 4/11 é: 4 3 12
(A)7/22
(B)33/44 Porcentagem
(C)12/11
(D)7/11 Diariamente jornais, TV, revistas apresentam notícias que
envolvem porcentagem; em um passeio pelo comércio de nossa
03(PREFEITURA DE PARACURU – CE-AGENTE cidade vemos cartazes anunciando mercadorias com desconto
COMUNITÁRIO DE SAÚDE-CETREDE-2015) e em boletos bancários também nos deparamos com porcenta-
A fração 70/100 pode ser representada, também, como gens.
(A)7 A porcentagem é de grande utilidade no mercado financei-
(B)0,7 ro, pois é utilizada para capitalizar empréstimos e aplicações,
(C)0,07 expressar índices inflacionários e deflacionários, descontos,
(D)0,007 aumentos, taxas de juros, entre outros. No campo da Estatística
(E) 0,001 possui participação ativa na apresentação de dados comparati-
vos e organizacionais.
É frequente o uso de expressões que refletem acréscimos
04(PREFEITURA DE ANGRA DOS REIS – RJ-AGENTE ou reduções em preços, números ou quantidades, sempre
ADMINISTRATIVO- INSTITUTO AOCP-2015) tomando por base 100 unidades. Alguns exemplos:
Dos funcionários de um determinado setor de uma empresa, A gasolina teve um aumento de 15%
1/2 irão votar no candidato A para a coordenação e 2/5 irão votar Significa que em cada R$100 houve um acréscimo de R$15,00
no candidato B. Sabendo disso, qual é a fração de funcionários O funcionário recebeu um aumento de 10% em seu salário.
que NÃO irá votar em nenhum desses dois candidatos? Significa que em cada R$100 foi dado um aumento de
(A)3/5 R$10,00
(B)1/5 As expressões 7%, 16% e 125% são chamadas taxas centesi-
(C)1/2 mais ou taxas percentuais.
(D)9/10 Porcentagem é o valor obtido ao aplicarmos uma taxa per-
(E)1/10 centual a um determinado valor. É representado por uma fração
de denominador 100 ou em número decimal.
05(EBSERH-  TÉCNICO EM ENFERMAGEM- INSTITUTO
AOCP-2015) 25 1
Eu e meus três irmãos colhemos uma sacola de laranjas Ex: 25% = 100 = 0,25 = 4 (fração irredutível)
e dividimos a quantidade igualmente entre nós quatro.
Infelizmente, um terço das laranjas que ficaram para mim Porcentagem na forma decimal
estavam estragadas. Em relação ao total de laranjas, qual fração
representa as minhas laranjas estragadas? 43% = 43/100 = 0,43, então 0,43 corresponde na forma de-
(A)1/3 cimal a 43%
(B)3/4 0,7 = 70/100= 70%

Raciocínio Lógico e Matemático 11


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APOSTILAS OPÇÃO
  Importante:Fator de Multiplicação. é de R$ 40,00, quanto gastará uma pessoa que aproveitou essa
Se há um acréscimo de 10% a um determinado valor, oferta?
podemos calcular o novo valor apenas multiplicando esse (A) R$ 68,00.
valor por 1,10, que é o fator de multiplicação. Se o acréscimo (B) R$ 72,00.
for de 30%, multiplicamos por 1,30, e assim por diante. Veja: (C) R$ 76,00.
(D) R$ 78,00.
Fator de Multiplica-
Acréscimo (E) R$ 80,00.
ção
11% 1,11 02 (EBSERH/HUPES – UFBA – TÉCNICO EM INFORMÁTI-
CA – IADES)
15% 1,15 Um salário de R$ 750,00 teve um aumento de R$ 68,50 e ou-
20% 1,20 tro salário de R$ 1.200,00 teve um aumento de R$ 108,00. Per-
centualmente, é correto afirmar que o(s)
65% 1,65 (A) salário menor teve maior aumento percentual.
87% 1,87 (B) salário maior teve um aumento superior a 9%.
  (C) salário maior teve maior aumento percentual.
Ex: Aumentando 10% no valor de R$10,00 temos: 10 . (D) salário menor teve um aumento superior a 8% e inferior
1,10 = R$ 11,00 a 9%.
No caso de haver um decréscimo, o fator de multiplicação será: (E) os dois salários tiveram aumentos percentuais iguais.
Fator de Multiplicação =  1 - taxa de desconto (na forma deci-
mal). Veja: 03 (EBSERH/HU-UFGD – Técnico em Informática – AOCP)
Lúcia é dona de uma pequena loja de roupas e, para aumen-
Desconto Fator de Multiplicação tar as vendas, ela deu um desconto excelente em todas as peças
da loja. Se ela costumava vender em média 40 peças de roupas
12% 0,88 por dia, e com a promoção esse número subiu 30%, quantas pe-
ças de roupa em média Lúcia passou a vender?
26% 0,74 (A) 52.
36% 0,64 (B) 50.
(C) 42.
60% 0,40 (D) 28.
90% 0,10 (E) 12.

Ex: Descontando 10% no valor de R$10,00 temos: 10 . 04(EBSERH/ HUSM – UFSM/RS – ANALISTA ADMINIS-
0,90 = R$ 9,00 TRATIVO – ADMINISTRAÇÃO – AOCP) Quando calculamos
Você deve lembrar que em matemática a palavra de indica 32% de 650, obtemos como resultado
uma multiplicação, logo para calcularmos 12% de R$ 540,00 (A) 198.
devemos proceder da seguinte forma: (B) 208.
(C) 213.
12 6480 (D) 243.
12% de 540 = . 540 = = 64,8 ; logo 12% de R$
100 (E) 258.
540,00 é R$ 64,80 100
Ou Respostas
0,12 de 540 = 0,12 . 540 = 64,8 (nos dois métodos encontra-
mos o mesmo resultado) 01.Resposta: A.
Utilizaremos nosso conhecimento com porcentagem pra a
resolução de problemas.
Ex: 1. Sabe-se que 20% do número de pessoas de minha
sala de aula são do sexo masculino. Sabendo que na sala existem 80 – 12 = R$ 68,00
32 meninas, determine o número de meninos.
Resolução: se 20% são homens então 80% são mulheres e x 02.Resposta: A.
representa o nº total de alunos, logo: 80% de x = 32 ⇒ 0,80 . Faremos uma regra de três simples:
x = 32 ⇒ x = 40 * Salário menor:
Resp: são 32 meninas e 8 meninos salário %

2. Em uma fábrica com 52 funcionários, 13 utilizam bici- 750 --------- 100


cletas como transporte. Expresse em porcentagem a quantidade 68,50 --------- x
de funcionários que utilizam bicicleta. 750. x = 68,50 . 100 x = 6850 / 750 x = 9,13%
Resolução: Podemos utilizar uma regra de três simples.
52 funcionários .............................100% * Salário maior:
13 funcionários ............................. x%
52.x = 13.100 salário %
52x = 1300 1200 --------- 100
x= 1300/52
x = 25%  108 --------- y
Portanto, 25% dos funcionários utilizam bicicletas.  1200.y = 108 . 100 y = 10800 / 1200 y = 9%
Podemos também resolver de maneira direta dividindo o nº
2 funcionários que utilizam bicicleta pelo total de funcionários
de 03.Resposta: A.
3 13 : 52 = 0,25 = 25%

Questões
40 + 12 = 52 peças
01 (EBSERH/ HUSM-UFSM/RS - TÉCNICO EM INFORMÁ-
TICA – AOCP) 04.Resposta: B.
Uma loja de camisas oferece um desconto de 15% no total da
compra se o cliente levar duas camisas. Se o valor de cada camisa

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APOSTILAS OPÇÃO
Progressões Aritméticas e Geométricas.
Progressão aritmética

Uma progressão aritmética ( P. A.) é uma sequência numé-


rica em que cada termo, a partir do segundo, é igual à soma do
termo anterior com uma constante   O número   é chamado
de razão  da PA.
Alguns exemplos de progressões aritméticas: Progressão geométrica
1, 4, 7, 10, 13, ..., é uma PA em que a razão (a diferença entre
os números consecutivos) é igual a 3. É uma PA crescente. Denominamos de progressão geométrica, ou simplesmente
-2, -4, -6, -8, -10, ..., é uma P.A. em que  É uma PA PG, a toda sequência de números não nulos em que cada um de-
decrescente. les, multiplicado por um número fixo, resulta no próximo núme-
6, 6, 6, 6, 6, ..., é uma P.A. com  É uma PA constante ro da sequência. Esse número fixo é chamado de razão da pro-
Numa progressão aritmética, a partir do segundo termo, o gressão e os números da sequência recebem o nome de termos
termo central é a média aritmética do termo antecessor e do su- da progressão.
cessor, isto é, a n = a n −1 + a n +1
2 Observe estes exemplos:
Fórmula do termo geral de uma PA 8, 16, 32, 64, 128, 256, 512, 1024 é uma PG de 8 termos, com
O enésimo termo de uma PA, representado por   pode razão 2.
ser obtido por meio da formula: 5, 15, 45,135 é uma PG de 4 termos, com razão 3

Fórmula do termo geral de uma progressão geométrica.


a 1 é o primeiro termo
a n é o último termo
n é o número de termos
r é a razão Ex:
Ex: 1. Numa PA de 7 termos, o primeiro deles é 6, o segundo 1. Determinar a razão da PG tal que:
é 10. Escreva todos os termos dessa PA.

Resp: 6, 10, 14, 18, 22, 26, 30

2. Numa PA de 5 termos, o último deles é 201 e o penúltimo


é 187. Escreva todos os termos dessa PA.

Resp: 145, 159, 173, 187, 201

3. Numa PA de 8 termos, o 3º termo é 26 e a razão é -3. Es-


creva todos os termos dessa PA.

Resp: 32, 29, 26, 23, 20, 17, 14, 11


 
4. Determinar o 21º termo da PA (9, 13, 17, 21,...)

Resp: r = 4      a1 = 9       n = 21       a61 = ? Formula da soma dos n primeiros termos de uma PG:
a61 = 9 + (21 – 1).4
a61 = 9 + 20.4 = 9 + 80 = 89  Sendo Sn a soma dos n primeiros termos da PG (a1,a2, a3,...
an,...) de razão q, temos:
5. Determinar o número de termos da PA  (4,7,10,...,136)
Se q = 1, então Sn = n.a1
Resp: a1 = 4     an = 136               r = 7 – 4 = 3
an = a1 + (n – 1).r Se q ≠ 1 , então S n =
a1 (q n − 1)
q −1
136 = 4 + (n – 1).3
136 = 4 + 3n – 3 a n .q − a1
3n = 136 – 4 + 3 Ou , se q ≠ 1 então S
n
=
q −1
3n = 135
n = 135/3 = 45 termos  Ex: 1. Calcular a soma dos dez primeiros termos da PG (3,
6, 12,....).
Soma dos termos de uma PA

Para somar os n primeiros termos, pode-se utilizar a se-


guinte fórmula:

S n é a soma dos termos


n é o número de termos
a 1 é o primeiro termo Questões
a n é o último termo
Ex: 01 ( UFES-TECNICO EM CONTABILIDADE-UFES-2015)O
1. Calcular a soma dos trinta primeiros termos da PA (4, 9, primeiro, segundo e terceiro termos de uma progressão aritmé-
tica são - x2 - 6 , x e 9, respectivamente, sendo x um número
14, 19,...).
negativo. O quinto termo da progressão aritmética é igual a
a30 = a1 + (30 – 1).r (A) 20
a30 = a1 + 29.r (B) 27
a30 = 4 + 29.5 = 149 (C) 33

Raciocínio Lógico e Matemático 13


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(D) 41 elementos que caracterize a lógica de sua formação, entretanto
(E) 42 algumas séries necessitam de mais elementos para definir sua
lógica. Algumas sequências são bastante conhecidas e todo aluno
02 As razões entre a progressão aritmética 3,7,... e a progres- que estuda lógica deve conhecê-las, tais como as progressões
são geométrica cujo primeiro termo é 5 são iguais. Desse modo, aritméticas e geométricas, a série de Fibonacci, os números
o quinto termo da progressão geométrica é igual a: primos e os quadrados perfeitos.
(A) 320
(B) 80 Sequência de Números
(C) 1280
(D) 2560 Progressão Aritmética: Soma-se constantemente um
mesmo número.
03Uma progressão geométrica tem primeiro termo igual a
1 e razão negativa. A soma dos três primeiros termos da pro-
gressão
(A) 93
(B) –21
(C) –42 Progressão Geométrica: Multiplica-se constantemente um
(D) –12 mesmo número.
(E) 81

Respostas
01 Resposta: C.
Para calcular a PA:
a1 = - x² - 6; Incremento em Progressão: O valor somado é que está em
a2 = a1 + c = x => - x² - 6 + c = x => c = x² + x + 6; (o “c” repre- progressão.
senta a razao da PA)
a3 = a2 + c = 9 => x + c = 9 => c = 9 - x;
x² + x + 6 = 9 - x => x² + 2x - 3 = 0 => x1 = 1; e x2 = - 3.
como x é negativo: x = -3
substituindo x = - 3 nos temos a1, a2 e a3 temos:
a1 = - 15
Série de Fibonacci: Cada termo é igual a soma dos dois
a2 = - 3
anteriores.
a3 = 9
continuando a sequencia temos: 1 1 2 3 5 8 13
a4 = 21
a5 = 33. Números Primos: Naturais que possuem apenas dois
divisores naturais.
02 Resposta: C. 2 3 5 7 11 13 17
De acordo com o enunciado verifique que a razão da PA
(3,7,...) é 4, pois 7 - 3 = 4. [ A razão de uma PA é uma soma] Quadrados Perfeitos: Números naturais cujas raízes são
Como a questão disse que a PA e a PG possuem razões iguais. naturais.
Sabendo que a razão de uma PG é um produto, temos: 1 4 9 16 25 36 49
4, 20, 80, 320, 1280,
Sequência de Letras
03 Resposta: E. As sequências de letras podem estar associadas a uma série
De acordo com mo eninciado em que a razão é negativa, de números ou não. Em geral, devemos escrever todo o alfabeto
pode ser: -1, -2, -3, -4... ; sendo a soma dos três primeiros ter- (observando se deve, ou não, contar com k, y e w) e circular as
mos igual a 7, vemos que a razão negativa não será um número letras dadas para entender a lógica proposta.
grande.
Dessa maneira, testando -1, -2, -3 como a razão na fórmula ACFJOU
do termo geral da progressão geométrica,
an = a1 * q(n-1)
Observe que foram saltadas 1, 2, 3, 4 e 5 letras e esses
chegamos a -3 como a razão, já que:
a2 = 1 * -3(2-1) = -3 números estão em progressão.
a3 = 1 * -3(3-1) = 9
portanto, 1+(-3)+9 = 7. ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTU
Achando a razão, fazemos a fórmula com o quinto termo de- B1 2F H4 8L N16 32R T64
sejado (a5):
a5 = 1 * -3(5-1) = 81 Nesse caso, associou-se letras e números (potências de 2),
alternando a ordem. As letras saltam 1, 3, 1, 3, 1, 3 e 1 posições.
Lógica Sequencial ou Sequencia Logicas ABCDEFGHIJKLMNOPQRST

O Raciocínio é uma operação lógica, discursiva e mental. Sequência de Pessoas


Neste, o intelecto humano utiliza uma ou mais proposições, para Na série a seguir, temos sempre um homem seguido de duas
concluir através de mecanismos de comparações e abstrações, mulheres, ou seja, aqueles que estão em uma posição múltipla
quais são os dados que levam às respostas verdadeiras, falsas de três (3º, 6º, 9º, 12º,...) serão mulheres e a posição dos braços
ou prováveis. Foi pelo processo do raciocínio que ocorreu o sempre alterna, ficando para cima em uma posição múltipla
desenvolvimento do método matemático, este considerado de dois (2º, 4º, 6º, 8º,...). Sendo assim, a sequência se repete a
instrumento puramente teórico e dedutivo, que prescinde de cada seis termos, tornando possível determinar quem estará em
dados empíricos. Logo, resumidamente o raciocínio pode ser qualquer posição.
considerado também um dos integrantes dos mecanismos dos
processos cognitivos superiores da formação de conceitos e da
solução de problemas, sendo parte do pensamento.

Sequências Lógicas Sequência de Figuras


As sequências podem ser formadas por números, letras, Esse tipo de sequência pode seguir o mesmo padrão visto
pessoas, figuras, etc. Existem várias formas de se estabelecer na sequência de pessoas ou simplesmente sofrer rotações, como
uma sequência, o importante é que existem pelo menos três nos exemplos a seguir.

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Esse número é conhecido como número de ouro e pode ser


representado por:

Sequência de Fibonacci
O matemático Leonardo Pisa, conhecido como Fibonacci, Todo retângulo e que a razão entre o maior e o menor lado
propôs no século XIII, a sequência numérica: (1, 1, 2, 3, 5, 8, for igual a Ɵ é chamado retângulo áureo como o caso da fachada
13, 21, 34, 55, 89, …). Essa sequência tem uma lei de formação do Partenon.
simples: cada elemento, a partir do terceiro, é obtido somando- As figuras a seguir possuem números que representam uma
se os dois anteriores. Veja: 1 + 1 = 2, 2 + 1 = 3, 3 + 2 = 5 e assim sequência lógica. Veja os exemplos:
por diante. Desde o século XIII, muitos matemáticos, além do
próprio Fibonacci, dedicaram-se ao estudo da sequência que Exemplo 1
foi proposta, e foram encontradas inúmeras aplicações para
ela no desenvolvimento de modelos explicativos de fenômenos
naturais.
Veja alguns exemplos das aplicações da sequência de
Fibonacci e entenda porque ela é conhecida como uma das
maravilhas da Matemática. A partir de dois quadrados de lado
1, podemos obter um retângulo de lados 2 e 1. Se adicionarmos
a esse retângulo um quadrado de lado 2, obtemos um novo
retângulo 3 x 2. Se adicionarmos agora um quadrado de lado 3,
obtemos um retângulo 5 x 3. Observe a figura a seguir e veja que A sequência numérica proposta envolve multiplicações por
os lados dos quadrados que adicionamos para determinar os 4.
retângulos formam a sequência de Fibonacci. 6 x 4 = 24
24 x 4 = 96
96 x 4 = 384
384 x 4 = 1536

Exemplo 2

Se utilizarmos um compasso e traçarmos o quarto de


circunferência inscrito em cada quadrado, encontraremos uma
espiral formada pela concordância de arcos cujos raios são os
elementos da sequência de Fibonacci.

A diferença entre os números vai aumentando 1 unidade.


13 – 10 = 3
17 – 13 = 4
22 – 17 = 5
28 – 22 = 6
35 – 28 = 7

Exemplo 3

O Partenon que foi construído em Atenas pelo célebre


arquiteto grego Fidias. A fachada principal do edifício, hoje em
ruínas, era um retângulo que continha um quadrado de lado
igual à altura. Essa forma sempre foi considerada satisfatória
do ponto de vista estético por suas proporções sendo chamada
retângulo áureo ou retângulo de ouro.

Multiplicar os números sempre por 3.


1x3=3

3x3=9
9 x 3 = 27
27 x 3 = 81
Como os dois retângulos indicados na figura são semelhantes
temos: (1). 81 x 3 = 243
243 x 3 = 729
Como: b = y – a (2). 729 x 3 = 2187
Substituindo (2) em (1) temos: y2 – ay – a2 = 0.
Resolvendo a equação:

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Exemplo 4 (A) 69
(B) 67
(C) 65
(D) 63
(E) 61

03. O próximo número dessa sequência lógica é: 1000, 990,


970, 940, 900, 850, ...
(A) 800
(B) 790
(C) 780
(D) 770
A diferença entre os números vai aumentando 2 unidades.
24 – 22 = 2 04. Na sequência lógica de números representados nos he-
28 – 24 = 4 xágonos, da figura abaixo, observa-se a ausência de um deles
34 – 28 = 6 que pode ser:
42 – 34 = 8
52 – 42 = 10
64 – 52 = 12
78 – 64 = 14
Questões

01. Observe atentamente a disposição das cartas em cada


linha do esquema seguinte:

(A) 76
(B) 10
(C) 20
(D) 78

05. Uma criança brincando com uma caixa de palitos de fós-


foro constrói uma sequência de quadrados conforme indicado
abaixo:

Quantos palitos ele utilizou para construir a 7ª figura?


(A) 20 palitos
(B) 25 palitos
(C) 28 palitos
(D) 22 palitos
A carta que está oculta é:
06. Ana fez diversas planificações de um cubo e escreveu em
(A) (B) (C) cada um, números de 1 a 6. Ao montar o cubo, ela deseja que a
soma dos números marcados nas faces opostas seja 7. A única
alternativa cuja figura representa a planificação desse cubo tal
como deseja Ana é:

(D) (E)

02. Considere que a sequência de figuras foi construída


segundo um certo critério.

07. As figuras da sequência dada são formadas por partes


iguais de um círculo.

Se tal critério for mantido, para obter as figuras subsequentes,


o total de pontos da figura de número 15 deverá ser:

Raciocínio Lógico e Matemático 16


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Continuando essa sequência, obtém-se exatamente 16
círculos completos na:
(A) 36ª figura
(B) 48ª figura
(C) 72ª figura
(D) 80ª figura
(E) 96ª figura Os números X e Y, obtidos segundo essa lei, são tais que X +
Y é igual a:
08. Analise a sequência a seguir: (A) 40
(B) 42
(C) 44
(D) 46
Admitindo-se que a regra de formação das figuras seguintes (E) 48
permaneça a mesma, pode-se afirmar que a figura que ocuparia
a 277ª posição dessa sequência é: 14. A figura abaixo representa algumas letras dispostas em
forma de triângulo, segundo determinado critério.
(A) (B) (C)

(D) (E)

09. Observe a sequência: 2, 10, 12, 16, 17, 18, 19, ... Qual é o Considerando que na ordem alfabética usada são excluídas
próximo número? as letra “K”, “W” e “Y”, a letra que substitui corretamente o ponto
(A) 20 de interrogação é:
(B) 21 (A) P
(C) 100 (B) O
(D) 200 (C) N
(D) M
10. Observe a sequência: 3,13, 30, ... Qual é o próximo nú- (E) L
mero?
(A) 4 15. Considere que a sequência seguinte é formada pela
(B) 20 sucessão natural dos números inteiros e positivos, sem que os
(C) 31 algarismos sejam separados.
(D) 21
1234567891011121314151617181920...
11. Os dois pares de palavras abaixo foram formados
segundo determinado critério. O algarismo que deve aparecer na 276ª posição dessa
sequência é:
LACRAÇÃO → cal (A) 9
AMOSTRA → soma (B) 8
LAVRAR → ? (C) 6
(D) 3
Segundo o mesmo critério, a palavra que deverá ocupar o (E) 1
lugar do ponto de interrogação é:
(A) alar 16. Em cada linha abaixo, as três figuras foram desenhadas
(B) rala de acordo com determinado padrão.
(C) ralar
(D) larva
(E) arval

12. Observe que as figuras abaixo foram dispostas, linha a


linha, segundo determinado padrão.

Segundo esse mesmo padrão, a figura que deve substituir o


ponto de interrogação é:

(A) (B)

(C) (D)
Segundo o padrão estabelecido, a figura que substitui
corretamente o ponto de interrogação é:
(E)
(A) (B) (C) (D) (E)

17. Observe que, na sucessão de figuras abaixo, os números


que foram colocados nos dois primeiros triângulos obedecem a
13. Observe que na sucessão seguinte os números foram um mesmo critério.
colocados obedecendo a uma lei de formação.

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Para que o mesmo critério seja mantido no triângulo da (B) 876132;
direita, o número que deverá substituir o ponto de interrogação (C) 286731;
é: (D) 827361;
(A) 32 (E) 218763.
(B) 36
(C) 38 24. A sentença “Salta está para Atlas assim como 25435 está
(D) 42 para...” é melhor completada pelo seguinte número:
(E) 46 (A) 53452;
(B) 23455;
18. Considere a seguinte sequência infinita de números: 3, (C) 34552;
12, 27, __, 75, 108,... O número que preenche adequadamente a (D) 43525;
quarta posição dessa sequência é: (E) 53542.
(A) 36,
(B) 40, 25. Repare que com um número de 5 algarismos, respeitada
(C) 42, a ordem dada, podem-se criar 4 números de dois algarismos.
(D) 44, Por exemplo: de 34.712, podem-se criar o 34, o 47, o 71 e o
(E) 48 12. Procura-se um número de 5 algarismos formado pelos
algarismos 4, 5, 6, 7 e 8, sem repetição. Veja abaixo alguns
19. Observando a sequência (1, , , , , ...) o próximo números desse tipo e, ao lado de cada um deles, a quantidade de
numero será: números de dois algarismos que esse número tem em comum
com o número procurado.
(A)
Número Quantidade de números de 2
dado algarismos em comum
(B)
48.765 1

(C) 86.547 0
87.465 2
(D) 48.675 1

20. Considere a sequência abaixo: O número procurado é:


(A) 87456
BBB BXB XXB (B) 68745
XBX XBX XBX (C) 56874
BBB BXB BXX (D) 58746
(E) 46875
O padrão que completa a sequência é: Respostas

(A) (B) (C) 01. Resposta: A.


XXX XXB XXX A diferença entre os números estampados nas cartas 1 e 2,
XXX XBX XXX em cada linha, tem como resultado o valor da 3ª carta e, além
XXX BXX XXB disso, o naipe não se repete. Assim, a 3ª carta, dentro das opções
dadas só pode ser a da opção (A).
(D) (E)
XXX XXX 02. Resposta: D.
XBX XBX Observe que, tomando o eixo vertical como eixo de simetria,
XXX BXX tem-se:
Na figura 1: 01 ponto de cada lado  02 pontos no total.
21. Na série de Fibonacci, cada termo a partir do terceiro é Na figura 2: 02 pontos de cada lado  04 pontos no total.
igual à soma de seus dois termos precedentes. Sabendo-se que Na figura 3: 03 pontos de cada lado  06 pontos no total.
os dois primeiros termos, por definição, são 0 e 1, o sexto termo Na figura 4: 04 pontos de cada lado 08 pontos no total.
da série é: Na figura n: n pontos de cada lado  2.n pontos no total.
(A) 2
(B) 3 Em particular:
(C) 4 Na figura 15: 15 pontos de cada lado  30 pontos no total.
(D) 5
(E) 6 Agora, tomando o eixo horizontal como eixo de simetria,
tem-se:
22. Nosso código secreto usa o alfabeto A B C D E F G H I J L M Na figura 1: 02 pontos acima e abaixo  04 pontos no total.
N O P Q R S T U V X Z. Do seguinte modo: cada letra é substituída Na figura 2: 03 pontos acima e abaixo  06 pontos no total.
pela letra que ocupa a quarta posição depois dela. Então, o “A” Na figura 3: 04 pontos acima e abaixo  08 pontos no total.
vira “E”, o “B” vira “F”, o “C” vira “G” e assim por diante. O código Na figura 4: 05 pontos acima e abaixo  10 pontos no total.
é “circular”, de modo que o “U” vira “A” e assim por diante. Recebi Na figura n: (n+1) pontos acima e abaixo  2.(n+1) pontos
uma mensagem em código que dizia: BSA HI EDAP. Decifrei o no total.
código e li:
(A) FAZ AS DUAS; Em particular:
(B) DIA DO LOBO; Na figura 15: 16 pontos acima e abaixo  32 pontos no total.
(C) RIO ME QUER; Incluindo o ponto central, que ainda não foi considerado, temos
(D) VIM DA LOJA; para total de pontos da figura 15: Total de pontos = 30 + 32 + 1
(E) VOU DE AZUL. = 63 pontos.

23. A sentença “Social está para laicos assim como 231678 03. Resposta: B.
está para...” é melhor completada por: Nessa sequência, observamos que a diferença: entre 1000 e
(A) 326187; 990 é 10, entre 990 e 970 é 20, entre o 970 e 940 é 30, entre 940

Raciocínio Lógico e Matemático 18


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e 900 é 40, entre 900 e 850 é 50, portanto entre 850 e o próximo faltando é um quadrado. As mãos das figuras estão levantadas,
número é 60, dessa forma concluímos que o próximo número é em linha reta ou abaixadas. Assim, a figura que falta deve ter
790, pois: 850 – 790 = 60. as mãos levantadas (é o que ocorre em todas as alternativas).
As figuras apresentam as 2 pernas ou abaixadas, ou 1 perna
04. Resposta: D. levantada para a esquerda ou 1 levantada para a direita. Nesse
Nessa sequência lógica, observamos que a diferença: entre caso, a figura que está faltando na 3ª linha deve ter 1 perna
24 e 22 é 2, entre 28 e 24 é 4, entre 34 e 28 é 6, entre 42 e 34 é 8, levantada para a esquerda. Logo, a figura tem a cabeça quadrada,
entre 52 e 42 é 10, entre 64 e 52 é 12, portanto entre o próximo as mãos levantadas e a perna erguida para a esquerda.
número e 64 é 14, dessa forma concluímos que o próximo
número é 78, pois: 76 – 64 = 14. 13. Resposta: A.
Existem duas leis distintas para a formação: uma para a parte
05. Resposta: D. superior e outra para a parte inferior. Na parte superior, tem-se
Observe a tabela: que: do 1º termo para o 2º termo, ocorreu uma multiplicação
por 2; já do 2º termo para o 3º, houve uma subtração de 3
unidades. Com isso, X é igual a 5 multiplicado por 2, ou seja,
Figu- 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª X = 10. Na parte inferior, tem-se: do 1º termo para o 2º termo
ras ocorreu uma multiplicação por 3; já do 2º termo para o 3º, houve
N° de 4 7 10 13 16 19 22 uma subtração de 2 unidades. Assim, Y é igual a 10 multiplicado
Pali- por 3, isto é, Y = 30. Logo, X + Y = 10 + 30 = 40.
tos
14. Resposta: A.
Temos de forma direta, pela contagem, a quantidade de A sequência do alfabeto inicia-se na extremidade direita
palitos das três primeiras figuras. Feito isto, basta perceber que do triângulo, pela letra “A”; aumenta a direita para a esquerda;
cada figura a partir da segunda tem a quantidade de palitos da continua pela 3ª e 5ª linhas; e volta para as linhas pares na
figura anterior acrescida de 3 palitos. Desta forma, fica fácil ordem inversa – pela 4ª linha até a 2ª linha. Na 2ª linha, então,
preencher o restante da tabela e determinar a quantidade de as letras são, da direita para a esquerda, “M”, “N”, “O”, e a letra
palitos da 7ª figura. que substitui corretamente o ponto de interrogação é a letra “P”.

06. Resposta: A. 15. Resposta: B.


Na figura apresentada na letra “B”, não é possível obter a A sequência de números apresentada representa a lista dos
planificação de um lado, pois o 4 estaria do lado oposto ao 6, números naturais. Mas essa lista contém todos os algarismos
somando 10 unidades. Na figura apresentada na letra “C”, dos números, sem ocorrer a separação. Por exemplo: 101112
da mesma forma, o 5 estaria em face oposta ao 3, somando representam os números 10, 11 e 12. Com isso, do número 1 até
8, não formando um lado. Na figura da letra “D”, o 2 estaria o número 9 existem 9 algarismos. Do número 10 até o número
em face oposta ao 4, não determinando um lado. Já na figura 99 existem: 2 x 90 = 180 algarismos. Do número 100 até o
apresentada na letra “E”, o 1 não estaria em face oposta ao número 124 existem: 3 x 25 = 75 algarismos. E do número 124
número 6, impossibilitando, portanto, a obtenção de um lado. até o número 128 existem mais 12 algarismos. Somando todos
Logo, podemos concluir que a planificação apresentada na letra os valores, tem-se: 9 + 180 + 75 + 12 = 276 algarismos. Logo,
“A” é a única para representar um lado. conclui-se que o algarismo que ocupa a 276ª posição é o número
8, que aparece no número 128.
07. Resposta: B.
Como na 3ª figura completou-se um círculo, para completar 16. Resposta: D.
16 círculos é suficiente multiplicar 3 por 16: 3. 16 = 48. Portanto, Na 1ª linha, internamente, a 1ª figura possui 2 “orelhas”, a 2ª
na 48ª figura existirão 16 círculos. figura possui 1 “orelha” no lado esquerdo e a 3ª figura possui 1
“orelha” no lado direito. Esse fato acontece, também, na 2ª linha,
08. Resposta: B. mas na parte de cima e na parte de baixo, internamente em
A sequência das figuras completa-se na 5ª figura. Assim, relação às figuras. Assim, na 3ª linha ocorrerá essa regra, mas
continua-se a sequência de 5 em 5 elementos. A figura de número em ordem inversa: é a 3ª figura da 3ª linha que terá 2 “orelhas”
277 ocupa, então, a mesma posição das figuras que representam internas, uma em cima e outra em baixo. Como as 2 primeiras
número 5n + 2, com n N. Ou seja, a 277ª figura corresponde à 2ª figuras da 3ª linha não possuem “orelhas” externas, a 3ª figura
figura, que é representada pela letra “B”. também não terá orelhas externas. Portanto, a figura que deve
substituir o ponto de interrogação é a 4ª.
09. Resposta: D.
A regularidade que obedece a sequência acima não se dá 17. Resposta: B.
por padrões numéricos e sim pela letra que inicia cada número. No 1º triângulo, o número que está no interior do triângulo
“Dois, Dez, Doze, Dezesseis, Dezessete, Dezoito, Dezenove, ... dividido pelo número que está abaixo é igual à diferença entre
Enfim, o próximo só pode iniciar também com “D”: Duzentos. o número que está à direita e o número que está à esquerda do
triângulo: 40 : 5 =21 - 13 = 8.
10. Resposta: C. A mesma regra acontece no 2º triângulo: 42 ÷ 7 = 23 - 17 = 6.
Esta sequência é regida pela inicial de cada número. Três, Assim, a mesma regra deve existir no 3º triângulo:
Treze, Trinta,... O próximo só pode ser o número Trinta e um, ? ÷ 3 = 19 7
pois ele inicia com a letra “T”. ? ÷ 3 = 12
? = 12 x 3 = 36.
11. Resposta: E.
Na 1ª linha, a palavra CAL foi retirada das 3 primeiras letras 18. Resposta: E.
da palavra LACRAÇÃO, mas na ordem invertida. Da mesma forma, Verifique os intervalos entre os números que foram
na 2ª linha, a palavra SOMA é retirada da palavra AMOSTRA, fornecidos. Dado os números 3, 12, 27, __, 75, 108, obteve-se os
pelas 4 primeira letras invertidas. Com isso, da palavra LAVRAR, seguintes 9, 15, __, __, 33 intervalos. Observe que 3x3, 3x5, 3x7,
ao se retirarem as 5 primeiras letras, na ordem invertida, obtém- 3x9, 3x11. Logo 3x7 = 21 e 3x 9 = 27. Então: 21 + 27 = 48.
se ARVAL.
19. Resposta: B.
12. Resposta: C. Observe que o numerador é fixo, mas o denominador é
Em cada linha apresentada, as cabeças são formadas por formado pela sequência:
quadrado, triângulo e círculo. Na 3ª linha já há cabeças com
círculo e com triângulo. Portanto, a cabeça da figura que está

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trás para frente, de maneira que SALTA vira ATLAS. Fazendo o
Primeiro Segundo Terceiro Quarto Quinto Sexto
mesmo com a sequência numérica fornecida temos: 25435 vira
1 1x2=2 2x3 3x4= 4x5= 5x6= 53452, sendo esta a resposta.
=6 12 20 30
25. Resposta: E.
20. Resposta: D. Pelo número 86.547, tem-se que 86, 65, 54 e 47 não
O que de início devemos observar nesta questão é a acontecem no número procurado. Do número 48.675, as opções
quantidade de B e de X em cada figura. Vejamos: 48, 86 e 67 não estão em nenhum dos números apresentados
nas alternativas. Portanto, nesse número a coincidência se dá no
BBB BXB XXB número 75. Como o único número apresentado nas alternativas
XBX XBX XBX que possui a sequência 75 é 46.875, tem-se, então, o número
BBB BXB BXX procurado.
7B e 2X 5B e 4X 3B e 6X
2. Raciocínio lógico-matemático:
Vê-se, que os “B” estão diminuindo de 2 em 2 e que os “X” proposições, conectivos,
estão aumentando de 2 em 2; notem também que os “B” estão
sendo retirados um na parte de cima e um na parte de baixo e equivalência e implicação
os “X” da mesma forma, só que não estão sendo retirados, estão, lógica, argumentos válidos.
sim, sendo colocados. Logo a 4ª figura é:

XXX CONCEITOS LÓGICOS


XBX
XXX A lógica a qual conhecemos hoje foi definida por Aristóteles,
1B e 8X constituindo-a como uma ciência autônoma que se dedica ao
21. Resposta: D. estudo dos atos do pensamento (Conceito, Juízo, Raciocínio,
Montando a série de Fibonacci temos: 0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, Demonstração) do ponto de vista da sua estrutura ou forma
21, 34... A resposta da questão é a alternativa “D”, pois como a lógica, sem ter em conta qualquer conteúdo material.
questão nos diz, cada termo a partir do terceiro é igual à soma Falar de Lógica durante séculos, era o mesmo que falar
de seus dois termos precedentes. 2 + 3 = 5 da lógica aristotélica. Apesar dos enormes avanços da lógica,
sobretudo a partir do século XIX, a matriz aristotélica persiste
22. Resposta: E. até aos nossos dias. A lógica de Aristóteles tinha objetivo
A questão nos informa que ao se escrever alguma mensagem, metodológico, a qual tratava de mostrar o caminho correto para
cada letra será substituída pela letra que ocupa a quarta posição, a investigação, o conhecimento e a demonstração científicas. O
além disso, nos informa que o código é “circular”, de modo método científico que ele preconizava assentava nos seguintes
que a letra “U” vira “A”. Para decifrarmos, temos que perceber fases:
a posição do emissor e do receptor. O emissor ao escrever a 1. Observação de fenômenos particulares;
mensagem conta quatro letras à frente para representar a letra 2. Intuição dos princípios gerais (universais) a que os
que realmente deseja, enquanto que o receptor, deve fazer o mesmos obedeciam;
contrário, contar quatro letras atrás para decifrar cada letra 3. Dedução a partir deles das causas dos fenômenos
do código. No caso, nos foi dada a frase para ser decifrada, vê- particulares.
se, pois, que, na questão, ocupamos a posição de receptores.
Vejamos a mensagem: BSA HI EDAP. Cada letra da mensagem Por este e outros motivos Aristóteles é considerado o pai da
representa a quarta letra anterior de modo que: Lógica Formal.
VxzaB: B na verdade é V;
OpqrS: S na verdade é O; A lógica matemática (ou lógica formal) estuda a lógica
UvxzA: A na verdade é U; segundo a sua estrutura ou forma. A lógica matemática consiste
DefgH: H na verdade é D; em um sistema dedutivo de enunciados que tem como objetivo
EfghI: I na verdade é E; criar um grupo de leis e regras para determinar a validade
AbcdE: E na verdade é A; dos raciocínios. Assim, um raciocínio é considerado válido
ZabcD: D na verdade é Z; se é possível alcançar uma conclusão verdadeira a partir de
UvxaA: A na verdade é U; premissas verdadeiras.
LmnoP: P na verdade é L; Em sentido mais amplo podemos dizer que a Lógica está
relacionado a maneira específica de raciocinar de forma
23. Resposta: B. acertada, isto é, a capacidade do indivíduo de resolver
A questão nos traz duas palavras que têm relação uma com problemas complexos que envolvem questões matemáticas, os
a outra e, em seguida, nos traz uma sequência numérica. É sequências de números, palavras, entre outros e de desenvolver
perguntado qual sequência numérica tem a mesma ralação com essa capacidade de chegar a validade do seu raciocínio.
a sequência numérica fornecida, de maneira que, a relação entre
as palavras e a sequência numérica é a mesma. Observando as O estudo das estruturas lógicas, consiste em aprendemos a
duas palavras dadas, podemos perceber facilmente que têm associar determinada preposição ao conectivo correspondente.
cada uma 6 letras e que as letras de uma se repete na outra em Mas é necessário aprendermos alguns conceitos importantes
uma ordem diferente. Tal ordem, nada mais é, do que a primeira para o aprendizado.
palavra de trás para frente, de maneira que SOCIAL vira LAICOS.
Fazendo o mesmo com a sequência numérica fornecida, temos: Conceito de proposição
231678 viram 876132, sendo esta a resposta.
Chama-se proposição a todo conjunto de palavras ou
24. Resposta: A. símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de
A questão nos traz duas palavras que têm relação uma com sentido completo.
a outra, e em seguida, nos traz uma sequência numérica. Foi Assim, as proposições transmitem pensamentos, isto é,
perguntado qual a sequência numérica que tem relação com a afirmam fatos ou exprimem juízos que formamos a respeito
já dada de maneira que a relação entre as palavras e a sequência de determinados conceitos ou entes. Esses fatos ou juízos
numérica é a mesma. Observando as duas palavras dadas afirmados pela proposição em questão deverão sempre ter um
podemos perceber facilmente que tem cada uma 6 letras e que valor verdadeiro (V) ou um valor falso (F), senão a frase em si
as letras de uma se repete na outra em uma ordem diferente. não constituirá uma proposição lógica, e sim apenas uma frase.
Essa ordem diferente nada mais é, do que a primeira palavra de

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Vejamos alguns exemplos de proposições: Observe mais alguns exemplos:
A) Júpiter é o maior planeta do sistema Solar.
B) Salvador é a capital do Brasil. Frase Sujeito Verbo Conclusão
C) Todos os músicos são românticos. Maria é Maria É (ser) É uma frase
baiana (simples) lógica
Observe que a todas as frases podemos atribuir um valor
lógico (V ou F). Lia e Maria Lia e Maria Têm (ter) É uma frase
A Lógica matemática adota como regra fundamental dois têm dois (composto) lógica
princípios (ou axiomas): irmãos
Ventou hoje Inexistente Ventou É uma frase
I – PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: uma proposição não
(ventar) lógica
pode ser verdadeira E falsa ao mesmo tempo.
Um lindo livro Um lindo livro Frase sem NÂO é uma
II – PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: toda proposição de literatura verbo frase lógica
OU é verdadeira OU é falsa, verificamos sempre um desses
casos, NUNCA existindo um terceiro caso. Manobrar Frase sem Manobrar NÂO é uma
esse carro sujeito frase lógica
Valores lógicos das proposições Existe vida em Vida Existir É uma frase
Marte lógica
Chamamos de valor lógico de uma proposição a verdade, se
a proposição é verdadeira (V), e a falsidade, se a proposição é Sentenças representadas por variáveis
falsa (F). Designamos as letras V e F para abreviarmos os valores a) x + 4 > 5;
lógicos verdade e falsidade respectivamente. b) Se x > 1, então x + 5 < 7;
Com base nas duas regras fundamentais que norteiam a c) x = 3 se, e somente se, x + y = 15.
Lógica Matemática (Princípios da não Contradição e do Terceiro
Excluído), podemos afirmar que:
Classificação das proposições
“Toda proposição tem um, e somente um, dos valores,
que são: V ou F.” As proposições podem ser classificadas em quatro tipos
Consideremos as seguintes proposições e os seus respectivos diferentes:
valores lógicos:
a) A velocidade de um corpo é inversamente proporcional 1. Proposições simples (ou atômicas).
ao seu tempo. (V) 2. Proposições compostas (ou moleculares.
b) A densidade da madeira é maior que a da água. (F) 3. Proposições categóricas.
A maioria das proposições são proposições contingenciais, 4. Proposições quantificadas (ou funcionais).
ou seja, dependem do contexto para sua análise. Assim, por
exemplo, se considerarmos a proposição simples: Observação: Os termos “atômicos” e “moleculares” referem-
“Existe vida após a morte”, ela poderá ser verdadeira (do se à quantidade de verbos presentes na frase. Consideremos
ponto de vista da religião espírita) ou falsa (do ponto de uma frase com apenas um verbo, então ela será dita atômica,
vista da religião católica); mesmo assim, em ambos os casos, pois se refere a apenas um único átomo (1 verbo = 1 átomo);
seu valor lógico é único — ou verdadeiro ou falso. consideremos, agora, uma frase com mais de um verbo, então ela
será dita molecular, pois se refere a mais de um átomo (mais de
Classificação de uma proposição um átomo = uma molécula).

Uma proposição pode ser classificada como: Conceito de Tabela Verdade


1) Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor É uma forma usual de representação das regras da
lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!),
portanto, não é considerada frase lógica. São consideradas Álgebra Booleana. Nela, é representada cada proposição
sentenças abertas: (simples ou composta) e todos os seus valores lógicos possíveis.
a) Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou Partimos do Princípio do Terceiro Excluído, toda proposição
ontem? – Fez Sol ontem? simples é verdadeira ou falsa , tendo os valores lógicos V
b) Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso! (verdade) ou F (falsidade).
c) Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue Quando trabalhamos com as proposições compostas,
a televisão. determinamos o seu valor lógico partindo das proposições
d) Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, simples que a compõe.
ambíguas, ...): “esta frase é verdadeira” (expressão paradoxal) –
O cavalo do meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 3 + 7

2) Sentença fechada: quando a proposição admitir um


único valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será
considerada uma frase, proposição ou sentença lógica.
Uma forma de identificarmos se uma frase simples
é ou não considerada frase lógica, ou sentença, ou ainda
proposição, é pela presença de:
- sujeito simples: “Carlos é médico”; O valor lógico de qualquer proposição composta depende
- sujeito composto: “Rui e Nathan são irmãos»; UNICAMENTE dos valores lógicos das proposições
- sujeito inexistente: “Choveu” simples componentes, ficando por eles UNIVOCAMENTE
- verbo, que representa a ação praticada por esse sujeito, determinados.
e estar sujeita à apreciação de julgamento de ser verdadeira
(V) ou falsa (F), caso contrário, não será considerada Questão
proposição.
01. (Cespe/UNB) Na lista de frases apresentadas a seguir:
Atenção: orações que não tem sujeito NÃO são • “A frase dentro destas aspas é uma mentira.”
consideradas proposições lógicas. • A expressão x + y é positiva.
• O valor de √4 + 3 = 7.
• Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira.

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• O que é isto? Exemplos:
Há exatamente: 1) O número 2 é par E o número 16 é um quadrado perfeito.
(A) uma proposição; (conectivo “e”)
(B) duas proposições; 2) OU Carlos viaja OU Pedro trabalha. (conectivo “ou”)
(C) três proposições; 3) SE o Brasil jogar com seriedade, ENTÂO Portugual não
(D) quatro proposições; será campeã.(concectivo “ se ... então”)
(E) todas são proposições. 4) Luciana casa SE, E SOMENTE SE, Pedro arranjar um
emprego (conectivo “se, e somente se..”)
Resposta
Em Lógica são considerados operadores lógicos as seguintes
01. Resposta: B. palavras:
Analisemos cada alternativa:
(A) “A frase dentro destas aspas é uma mentira”, não podemos
atribuir valores lógicos a ela, logo não é uma sentença lógica.
(B) A expressão x + y é positiva, não temos como atribuir
valores lógicos, logo não é sentença lógica.
(C) O valor de √4 + 3 = 7; é uma sentença lógica pois
podemos atribuir valores lógicos, independente do resultado
que tenhamos
(D) Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira, também
podemos atribuir valores lógicos (não estamos considerando a Também podemos representar a negação utilizando o
quantidade certa de gols, apenas se podemos atribuir um valor símbolo “¬” (cantoneira).
de V ou F a sentença). Estudo dos Operadores e Operações Lógicas
(E) O que é isto? - como vemos não podemos atribuir valores Quando efetuamos certas operações sobre proposições
lógicos por se tratar de uma frase interrogativa. chamadas operações lógicas, efetuamos cálculos proposicionais,
semelhantes a aritmética sobre números, de forma a
Referências determinarmos os valores das proposições.
ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática –
São Paulo: Nobel – 2002. 1) Negação ( ~ ): chamamos de negação de uma proposição
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu representada por “não p” cujo valor lógico é verdade (V) quando
- Raciocínio lógico passo a passo – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. p é falsa e falsidade (F) quando p é verdadeira. Assim “não p”
tem valor lógico oposto daquele de p.
ESTUDO DAS PROPOSIÇÕES E DOS CONECTIVOS Pela tabela verdade temos:

Definições
- Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO
contém nenhuma outra proposição como parte integrante de
si mesma. As proposições simples são designadas pelas letras
latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais. Simbolicamente temos:
Exemplos ~V = F ; ~F = V
r: Carlos é careca. V(~p) = ~V(p)
s: Pedro é estudante.
a: O céu é verde. Exemplos

- Proposições compostas (ou moleculares): aquela formada Proposição Negação: ~p


pela combinação de duas ou mais proposições simples. Elas (afirmações): p
também são chamadas de estruturas lógicas. As proposições Carlos é médico Carlos NÂO é médico
compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R,
R..., também chamadas letras proposicionais. Juliana é carioca Juliana NÂO é carioca
Exemplos Nicolas está de férias Nicolas NÂO está de férias
P: Carlos é careca e Pedro é estudante.
Q: Carlos é careca ou Pedro é estudante. Norberto foi trabalhar NÃO É VERDADE QUE Norberto foi
R: Se Carlos é careca, então é triste. trabalhar

Observamos que todas as proposições compostas são A primeira parte da tabela todas as afirmações são
formadas por duas proposições simples. verdadeiras, logo ao negarmos temos passam a ter como valor
lógico a falsidade.
No campo gramatical conseguimos identificar uma
porposição simples ou composta pela quantidade de verbos - Dupla negação (Teoria da Involução): vamos considerar
existentes na frase. Então uma frase que contenha um verbo as seguintes proposições primitivas, p:” Netuno é o planeta mais
é uma proposição simples, que contenha mais de um verbo é distante do Sol”; sendo seu valor verdadeiro ao negarmos “p”,
uma proposição composta. Este conceito não foge ao aplicado vamos obter a seguinte proposição ~p: “Netuno NÂO é o planeta
aos do princípios lógicos. mais distante do Sol” e negando novamente a proposição “~p”
teremos ~(~p): “NÃO É VERDADE que Netuno NÃO é o planta
Operadores Lógicos mais distante do Sol”, sendo seu valor lógico verdadeiro (V).
Temos dois tipos Logo a dupla negação equivale a termos de valores lógicos a sua
- os modificadores: têm por finalidade modificar (alterar) o proposição primitiva.
valor lógico de uma proposição, seja ela qual for.
p ≡ ~(~p)
Exemplo:
Não vou trabalhar neste sábado. (o não modificou o valor Observação: O termo “equivalente” está associado aos
lógico). “valores lógicos” de duas fórmulas lógicas, sendo iguais pela
- os conectivos (concectores lógicos): palavras usadas para natureza de seus valores lógicos.
formar novas proposições a partir de outras, ou seja, unindo-se Exemplo:
ou conectando-se duas ou mais proposições simples. 1. Saturno é um planeta do sistema solar.

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2. Sete é um número real maior que cinco. V(p v q) = V(p) v V(q) = V v V = V

Sabendo-se da realidade dos valores lógicos das proposições (b)


“Saturno é um planeta do sistema solar” e “Sete é um número p: A neve é azul. (F)
rela maior que cinco”, que são ambos verdadeiros (V), conclui- q: 6 < 5. (F)
se que essas proposições são equivalentes, em termos de V(p v q) = V(p) v V(q) = F v F = F
valores lógicos, entre si.
(c)
2) Conjunção – produto lógico (^): chama-se de conjunção p: Pelé é jogador de futebol. (V)
de duas proposições p e q a proposição representada por “p e q: A seleção brasileira é octacampeã. (F)
q”, cujo valor lógico é verdade (V) quando as proposições, p e V(p v q) = V(p) v V(q) = V v F = V
q, são ambas verdadeiras e falsidade (F) nos demais casos.
Simbolicamente temos: “p ^ q” (lê-se: “p E q”). (d)
p: A neve é azul. (F)
Pela tabela verdade temos: q: 7 é número impar. (V)
V(p v q) = V(p) v V(q) = F v V = V

4) Disjução exclusiva ( v ): chama-se dijunção exclusica de


duas proposições p e q, cujo valor lógico é verdade (V) somente
quando p é verdadeira ou q é verdadeira, mas não quando p
e q são ambas veradeiras e a falsidade (F) quando p e q são
ambas veradeiras ou ambas falsas.
Exemplos Simbolicamente: “p v q” (lê-se; “OU p OU q”; “OU p OU q, MAS
(a) NÃO AMBOS”).
p: A neve é branca. (V) Pela tabela verdade temos:
q: 3 < 5. (V)
V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = V ^ V = V

(b)
p: A neve é azul. (F)
q: 6 < 5. (F)
V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = F ^ F = F

(c) Para entender melhor vamos analisar o exemplo.


p: Pelé é jogador de futebol. (V) p: Nathan é médico ou professor. (ambas podem ser
q: A seleção brasileira é octacampeã. (F) verdeiras, ele pode ser as duas coisas ao mesmo tempo, uma
V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = V ^ F = F condição não exclui a outra – disjunção inclusiva).
Podemos escrever:
(d) Nathan é médico ^ Nathan é professor
p: A neve é azul. (F)
q: 7 é número impar. (V) q: Mario é carioca ou paulista (aqui temos que se Mario é
V(p ^ q ) = V(p) ^ V(q) = F ^ V = F carioca implica que ele não pode ser paulista, as duas coisas não
podem acontecer ao mesmo tempo – disjunção exlcusiva).
Reescrevendo:
- O valor lógico de uma proposição simples “p” é indicado por
Mario é carioca v Mario é paulista.
V(p). Assim, exprime-se que “p” é verdadeira (V), escrevendo:

V(p) = V Exemplos
a) Plínio pula ou Lucas corre, mas não ambos.
- Analogamente, exprime-se que “p” é falsa (F), escrevendo: b) Ou Plínio pula ou Lucas corre.

V(p) = F 5) Implicação lógica ou condicional (→): chama-se


proposição condicional ou apenas condicional representada por
- As proposições compostas, representadas, por exemplo, “se p então q”, cujo valor lógico é falsidade (F) no caso em que p
pelas letras maiúsculas “P”, “Q”, “R”, “S” e “T”, terão seus é verdade e q é falsa e a verdade (V) nos demais casos.
respectivos valores lógicos representados por:
Simbolicamente: “p → q” (lê-se: p é condição suficiente para
V(P), V(Q), V(R), V(S) e V(T).
q; q é condição necessária para p).
p é o antecendente e q o consequente e “→” é chamado de
3) Disjunção inclusiva – soma lógica – disjunção simples símbolo de implicação.
(v): chama-se de disjunção inclusiva de duas proposições p
e q a proposição representada por “p ou q”, cujo valor lógico é Pela tabela verdade temos:
verdade (V) quando pelo menos umas proposições, p e q, é
verdadeira e falsidade (F) quando ambas são falsas.
Simbolicamente: “p v q” (lê-se: “p OU q”).
Pela tabela verdade temos:

Exemplos
(a)
Exemplos p: A neve é branca. (V)
(a) q: 3 < 5. (V)
p: A neve é branca. (V) V(p → q) = V(p) → V(q) = V → V = V
q: 3 < 5. (V)

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(b)
p: A neve é azul. (F)
q: 6 < 5. (F)
V(p → q) = V(p) → V(q) = F → F = V
Juntando as informações temos que, P: (p ^ q) → ~r
(c)
p: Pelé é jogador de futebol. (V) Continuando:
q: A seleção brasileira é octacampeã. (F)
V(p → q) = V(p) → V(q) = V → F = F Q: É falso que João bebe ou Carlos dança, mas Luciana
estuda.
(d)
p: A neve é azul. (F)
q: 7 é número impar. (V)
V(p → q) = V(p) → V(q) = F → V = V

6) Dupla implicação ou bicondicional (↔):chama-se


proposição bicondicional ou apenas bicondicional representada Simbolicamente temos: Q: ~ (q v r ^ ~p).
por “p se e soemnete se q”, cujo valor lógico é verdade (V)
quando p e q são ambas verdadeiras ou falsas e a falsidade R: Ou Luciana estuda ou Carlos dança se, e somente se, João
(F) nos demais casos. não bebe.
Simbolicamente: “p ↔ q” (lê-se: p é condição necessária e (p v r) ↔ ~q
suficiente para q; q é condição ncessária e suficiente para p).
Pela tabela verdade temos: Observação: os termos “É falso que”, “Não é verdade que”, “É
mentira que” e “É uma falácia que”, quando iniciam as frases
negam, por completo, as frases subsequentes.

- O uso de parêntesis
A necessidade de usar parêntesis na simbolização das
proposições se deve a evitar qualquer tipo de ambiguidade,
assim na proposição, por exemplo, p ^ q v r, nos dá a seguinte
proposições:
Exemplos
(a)
p: A neve é branca. (V) (I) (p ^ q) v r Conectivo principal é da disjunção.
q: 3 < 5. (V) (II) p ^ (q v r) Conectivo principal é da conjunção.
V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q) = V ↔ V = V
As quais apresentam significados diferentes, pois os
(b) conectivos principais de cada proposição composta dá valores
p: A neve é azul. (F) lógicos diferentes como conclusão.
q: 6 < 5. (F) Agora observe a expressão: p ^ q → r v s, dá lugar, colocando
V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q) = F ↔ F = V parêntesis as seguintes proposições:
a) ((p ^ q) → r) v s
(c) b) p ^ ((q → r) v s)
p: Pelé é jogador de futebol. (V) c) (p ^ (q → r)) v s
q: A seleção brasileira é octacampeã. (F) d) p ^ (q → (r v s))
V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q) = V ↔ F = F e) (p ^ q) → (r v s)

(d) Aqui duas quaisquer delas não tem o mesmo significado.


p: A neve é azul. (F) Porém existem muitos casos que os parêntesis são suprimidos,
q: 7 é número impar. (V) a fim de simplificar as proposições simbolizadas, desde que,
V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q) = F ↔ V = F naturalmente, ambiguidade alguma venha a aparecer. Para isso
a supressão do uso de parêntesis se faz mediante a algumas
Transformação da linguaguem corrente para a simbólica convenções, das quais duas são particularmente importantes:

Este é um dos tópicos mais vistos em diversas provas e por 1ª) A “ordem de precedência” para os conectivos é:
isso vamos aqui detalhar de forma a sermos capazes de resolver (I) ~ (negação)
questões deste tipo. (II) ^, v (conjunção ou disjunção têm a mesma precedência,
operando-se o que ocorrer primeiro, da esquerda para direita).
Sejam as seguintes proposições simples denotadas por “p”, (III) → (condicional)
“q” e “r” representadas por: (IV) ↔ (bicondicional)
p: Luciana estuda. Portanto o mais “fraco” é “~” e o mais “forte” é “↔”.
q: João bebe.
r: Carlos dança. Exemplo
p → q ↔ s ^ r , é uma bicondicional e nunca uma condicional
Sejam, agora, as seguintes proposições compostas denotadas ou uma conjunção. Para convertê-la numa condicional há que se
por: “P ”, “Q ”, “R ”, “S ”, “T ”, “U ”, “V ” e “X ” representadas por: usar parêntesis:
P: Se Luciana estuda e João bebe, então Carlos não dança. p →( q ↔ s ^ r )
Q: É falso que João bebe ou Carlos dança, mas Luciana não E para convertê-la em uma conjunção:
estuda. (p → q ↔ s) ^ r
R: Ou Luciana estuda ou Carlos dança se, e somente se, João
não bebe. 2ª) Quando um mesmo conectivo aparece
sucessivamente repetido, suprimem-se os parêntesis,
O primeiro passo é destacarmos os operadores lógicos fazendo-se a associação a partir da esquerda.
(modificadores e conectivos) e as proposições. Depois Segundo estas duas convenções, as duas seguintes
reescrevermos de forma simbólica, vajamos: proposições se escrevem:

Raciocínio Lógico e Matemático 24


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APOSTILAS OPÇÃO
Proposição Nova forma de escrever a
Construção da tabela verdade de uma proposição
proposição
composta
((~(~(p ^ q))) v ~~ (p ^ q) v ~p Para sua construção começamos contando o número de
(~p)) proposições simples que a integram. Se há n proposições simples
componentes, então temos 2n linhas. Feito isso, atribuimos a 1ª
((~p) → (q → (~(p v ~p→ (q → ~(p v r)) proposição simples “p1” 2n / 2 = 2n -1 valores V , seguidos de 2n – 1
r)))) valores F, e assim por diante.
- Outros símbolos para os conectivos (operadores lógicos):
Exemplos:
“¬” (cantoneira) para negação (~). 1) Se tivermos 2 proposições temos que 2n =22 = 4 linhas
“•” e “&” para conjunção (^). e 2n – 1 = 22 - 1 = 2, temos para a 1ª proposição 2 valores V e 2
“⊃” (ferradura) para a condicional (→). valores F se alternam de 2 em 2 , para a 2ª proposição temos que
os valores se alternam de 1 em 1 (ou seja metade dos valores
Em síntese temos a tabela verdade das proposições que da 1ª proposição). Observe a ilustração, a primeira parte dela
facilitará na resolução de diversas questões corresponde a árvore de possibilidades e a segunda a tabela
propriamente dita.

(Fonte: http://www laifi.com.)

Referências
ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática – (Fonte: http://www.colegioweb.com.br/nocoes-de-logica/
São Paulo: Nobel – 2002. tabela-verdade.html)
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu
- Raciocínio lógico passo a passo – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 2) Neste caso temos 3 proposições simples, fazendo os
cálculos temos: 2n =23 = 8 linhas e 2n – 1 = 23 - 1 = 4, temos para a
ESTUDO DA TABELA VERDADE 1ª proposição 4 valores V e 4 valores F se alternam de 4 em 4 ,
para a 2ª proposição temos que os valores se alternam de 2 em 2
Sabemos que tabela verdade é toda tabela que atribui, (metade da 1ª proposição) e para a 3ª proposição temos valores
previamente, os possíveis valores lógicos que as proposições que se alternam de 1 em 1(metade da 2ª proposição).
simples podem assumir, como sendo verdadeiras (V) ou falsas
(F), e, por consequência, permite definir a solução de uma
determinada fórmula (proposição composta).
De acordo com o Princípio do Terceiro Excluído, toda
proposição simples “p” é verdadeira ou falsa, ou seja, possui o
valor lógico V (verdade) ou o valor lógico F (falsidade).

Em se tratando de uma proposição composta, a determinação


de seu valor lógico, conhecidos os valores lógicos das proposições
simples componentes, se faz com base no seguinte princípio,
vamos relembrar:
O valor lógico de qualquer proposição composta depende
UNICAMENTE dos valores lógicos das proposições (Fonte: http://www.colegioweb.com.br/nocoes-de-logica/
simples componentes, ficando por eles UNIVOCAMENTE tabela-verdade.html)
determinados. Exemplo
Vamos construir a tabela verdade da proposição:
P(p,q) = ~ (p ^ ~q)
Para determinarmos esses valores recorremos a um
dispositivo prático que é o objeto do nosso estudo: A tabela
1º Resolução) Vamos formar os par de colunas
verdade. Em que figuram todos os possíveis valores lógicos da
correspondentes as duas proposições simples p e q. Em seguida
proposição composta (sua solução) correspondente a todas as
a coluna para ~q , depois a coluna para p ^ ~q e a útima contento
possíveis atribuições de valores lógicos às proposições simples
toda a proposição ~ (p ^ ~q), atribuindo todos os valores lógicos
componentes.
possíveis de acordo com os operadores lógicos.
Número de linhas de uma Tabela Verdade
O número de linhas de uma proposição composta depende p q ~q p ^~q ~ (p ^ ~q)
do número de proposições simples que a integram, sendo dado
pelo seguinte teorema: V V F F V
V F V V F
“A tabela verdade de uma proposição composta com n*
proposições simpleste componentes contém 2n linhas.” (* F V F F V
Algumas bibliografias utilizam o “p” no lugar do “n”) F F V F V

Os valores lógicos “V” e “F” se alteram de dois em dois 2º Resolução) Vamos montar primeiro as colunas
para a primeira proposição “p” e de um em um para a segunda correspondentes a proposições simples p e q , depois traçar
proposição “q”, em suas respectivas colunas, e, além disso, VV, colunas para cada uma dessas proposições e para cada um dos
VF, FV e FF, em cada linha, são todos os arranjos binários com conectivos que compõem a proposição composta.
repetição dos dois elementos “V” e “F”, segundo ensina a Análise
Combinatória.

Raciocínio Lógico e Matemático 25


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APOSTILAS OPÇÃO
p q ~ (p ^ ~ q)
V V
V F
F V
F F

Depois completamos, em uma determinada ordem as colunas escrevendo em cada uma delas os valores lógicos.
p q ~ (p ^ ~ q) p q ~ (p ^ ~ q) p q ~ (p ^ ~ q)
V V V V V V V F V V V V F F V
V F V F V F V V F V F V V V F
F V F V F V F F V F V F F F V
F F F F F F F V F F F F F V F
1 1 1 2 1 1 3 2 1

p q ~ (p ^ ~ q)
V V V V F F V
V F F V V V F
F V V F F F V
F F V F F V F
4 1 3 2 1

Observe que vamos preenchendo a tabela com os valores lógicos (V e F), depois resolvemos os operadores lógicos (modificadores
e conectivos) e obtemos em 4 os valores lógicos da proposição que correspondem a todas possíveis atribuições de p e q de modo que:

P(V V) = V, P(V F) = F, P(F V) = V, P(F F) = V

A proposição P(p,q) associa a cada um dos elementos do conjunto U – {VV, VF, FV, FF} com um ÚNICO elemento do conjunto {V,F},
isto é, P(p,q) outra coisa não é que uma função de U em {V,F}

P(p,q): U → {V,F} , cuja representação gráfica por um diagrama sagital é a seguinte:

3ª Resolução) Resulta em suprimir a tabela verdade anterior as duas primeiras da esquerda relativas às proposições simples
componentes p e q. Obtermos então a seguinte tabela verdade simplificada:
~ (p ^ ~ q)
V V F F V
F V V V F
V F F F V
V F F V F
4 1 3 2 1

Vejamos mais alguns exemplos:


(FCC) Com relação à proposição: “Se ando e bebo, então caio, mas não durmo ou não bebo”. O número de linhas da tabela-verdade
da proposição composta anterior é igual a:
(A) 2;
(B) 4;
(C) 8;
(D) 16;
(E) 32.

Vamos contar o número de verbos para termos a quantidade de proposições simples e distintas contidas na proposição composta.
Temos os verbos “andar’, “beber”, “cair” e “dormir”. Aplicando a fórmula do número de linhas temos:
Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.
Resposta D.

(Cespe/UnB) Se “A”, “B”, “C” e “D” forem proposições simples e distintas, então o número de linhas da tabela-verdade da proposição
(A → B) ↔ (C → D) será igual a:
(A) 2;

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APOSTILAS OPÇÃO
(B) 4; EQUIVALÊNCIAS LÓGICAS
(C) 8;
(D) 16; Diz-se que duas ou mais proposições compostas são
(E) 32. equivalentes, quando mesmo possuindo estruturas lógicas
diferentes, apresentam a mesma solução em suas respectivas
Veja que podemos aplicar a mesma linha do raciocínio acima, tabelas verdade.
então teremos: Se as proposições P(p,q,r,...) e Q(p,q,r,...) são ambas
Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas. TAUTOLOGIAS, ou então, são CONTRADIÇÕES, então são
Resposta D. EQUIVALENTES.

Conceitos de Tautologia , Contradição e Contigência Exemplo:


Tautologia: possui todos os valores lógicos, da tabela Dada as proposições “~p → q” e “p v q” verificar se elas são
verdade (última coluna), V (verdades). equivalentes.
Contradição: possui todos os valores lógicos, da tabela Vamos montar a tabela verdade para sabermos se elas são
verdade (última coluna), F (falsidades). equivalentes.
Contigência: possui valores lógicos V e F ,da tabela verdade p q ~p → q p v q
(última coluna).
Questão V V F V V V V V
V F F V F V V F
01. (MEC – Conhecimentos básicos para os Postos
9,10,11 e 16 – CESPE/2015) F V V V V F V V
F F V F F F F F

Observamos que as proposições compostas “~p → q” e “p ∨


q” são equivalentes.

~p → q ≡ p ∨ q ou ~p → q ⇔ p ∨ q, onde “≡” e “⇔” são os


símbolos que representam a equivalência entre proposições.

Equivalência fundamentais (Propriedades


Fundamentais): a equivalência lógica entre as proposições
goza das propriedades simétrica, reflexiva e transitiva.

A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela- 1 – Simetria (equivalência por simetria)
verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V e F a) p ^ q ⇔ q ^ p
correspondem, respectivamente, aos valores lógicos verdadeiro
e falso. p q p ^ q q ^ p
Com base nessas informações e utilizando os conectivos V V V V V V V V
lógicos usuais, julgue o item subsecutivo.
V F V F F F F V
A última coluna da tabela-verdade referente à proposição
lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal é F V F F V V F F
igual a F F F F F F F F

b) p v q ⇔ q v p
p q p v q q v p
( ) Certo ( ) Errado V V V V V V V V
Resposta V F V V F F V V
F V F V V V V F
01. Resposta: Certo.
F F F F F F F F
P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:
c) p ∨ q ⇔ q ∨ p
R Q P [ P v (Q ↔ R) ] p q p v q q v p
V V V V V V V V V V V F V V F V
V V F F V V V V V F V V F F V V
V F V V V F F V F V F V V V V F
V F F F F F F V F F F F F F F F
F V V V V V F F
d) p ↔ q ⇔ q ↔ p
F V F F F V F F
p q p ↔ q q ↔ p
F F V V V F V F
V V V V V V V V
F F F F V F V F
V F V F F F F V
Referências F V F F V V F F
F F F V F F V F
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de
Abreu - Raciocínio lógico passo a passo – Rio de Janeiro: 2 - Reflexiva (equivalência por reflexão)
Elsevier, 2013. p→p⇔p→p
ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática –
São Paulo: Nobel – 2002.

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APOSTILAS OPÇÃO
p p p → p p → p p p p ^ p
V V V V V V V V V V V V V
F F F V F F V F F F F F F

3 – Transitiva b) p ⇔ (p ∨ p)
Se P(p,q,r,...) ⇔ Q(p,q,r,...) E p p p v p
Q(p,q,r,...) ⇔ R(p,q,r,...) ENTÃO
P(p,q,r,...) ⇔ R(p,q,r,...) . V V V V V
F F F F F
Equivalências notáveis:
4 - Pela contraposição: de uma condicional gera-se outra
1 - Distribuição (equivalência pela distributiva) condicional equivalente à primeira, apenas invertendo-se e
a) p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r) negando-se as proposições simples que as compõem.
p q r p ^ (q v r) (p ^ q) v (p ^ r)
V V V V V V V V V V V V V V V
1º caso – (p → q) ⇔ (~q → ~p)
V V F V V V V F V V V V V F F p q p → q ~q → ~p
V F V V V F V V V F F V V V V V V V V V F V F
V F F V F F F F V F F F V F F V F V F F V F F
F V V F F V V V F F V F F F V F V F V V F F V
F V F F F V V F F F V F F F F F F F V F V F V
F F V F F F V V F F F F F F V
Exemplo:
F F F F F F F F F F F F F F F p → q: Se André é professor, então é pobre.
~q → ~p: Se André não é pobre, então não é professor.
b) p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)
p q r p v (q ^ r) (p v q) ^ (p v r) 2º caso: (~p → q) ⇔ (~q → p)
V V V V V V V V V V V V V V V p q ~p → q ~q → p
V V F V V V F F V V V V V V F V V F V V F V V
V F V V V F F V V V F V V V V V F F V F V V V
V F F V V F F F V V F V V V F F V V V V F V F
F V V F V V V V F V V V F V V F F V F F V F F
F V F F F V F F F V V F F F F Exemplo:
F F V F F F F V F F F F F V V ~p → q: Se André não é professor, então é pobre.
F F F F F F F F F F F F F F F ~q → p: Se André não é pobre, então é professor.

2 - Associação (equivalência pela associativa) 3º caso: (p → ~q) ⇔ (q → ~p)


a) p ∧ (q ∧ r) ⇔ (p ∧ q) ∧ (p ∧ r) p q p → ~q q → ~p
p q r p ^ (q ^ r) (p ^ q) ^ (p ^ r) V V V F F V F F
V V V V V V V V V V V V V V V V F V V V F V F
V V F V F V F F V V V F V F F F V F V F V V V
V F V V F F F V V F F F V V V F F F V V F V V
V F F V F F F F V F F F V F F
Exemplo:
F V V F F V V V F F V F F F V p → ~q: Se André é professor, então não é pobre.
F V F F F V F F F F V F F F F q → ~p: Se André é pobre, então não é professor.
F F V F F F F V F F F F F F V 4 º Caso: (p → q) ⇔ ~p v q
F F F F F F F F F F F F F F F
p q p → q ~p v q
b) p ∨ (q ∨ r) ⇔ (p ∨ q) ∨ (p ∨ r) V V V V V F V V
p q r p v (q v r) (p v q) v (p v r) V F V F F F F F
V V V V V V V V V V V V V V V F V F V V V F V
V V F V V V V F V V V V V V F F F F V F V F F
V F V V V F V V V V F V V V V
Exemplo:
V F F V V F F F V V F V V V F p → q: Se estudo então passo no concurso.
F V V F V V V V F V V V F V V ~p v q: Não estudo ou passo no concurso.
F V F F V V V F F V V V F F F 5 - Pela bicondicional
F F V F V F V V F F F V F V V a) (p ↔ q) ⇔ (p → q) ∧ (q → p), por definição
F F F F F F F F F F F F F F F p q p ↔ q (p → q) ^ (q → p)
V V V V V V V V V V V V
3 – Idempotência
a) p ⇔ (p ∧ p) V F V F F V F F F F V V

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APOSTILAS OPÇÃO
F V F F V F V V F V F F Exemplos:
p → q: Se T é equilátero, então T é isósceles. (V)
F F F V F F V F V F V F q → p: Se T é isósceles, então T é equilátero. (F)
b) (p ↔ q) ⇔ (~q → ~p) ∧ (~p → ~q), aplicando-se a Exemplo:
contrapositiva às partes Vamos determinar:
p q p ↔ q (~q → ~p) ^ (~p → ~q) a) A contrapositiva de p → q
b) A contrapositiva da recíproca de p → q
V V V V V F V F V F V F c) A contrapositiva da contrária de p → q
V F V F F V F F F F V V
Resolução:
F V F F V F V V F V F F
a) A contrapositiva de p → q é ~q → ~p
F F F V F V V V V V V V A contrapositiva de ~q → ~p é ~~p → ~~q ⇔ p → q

c) (p ↔ q) ⇔ (p ∧ q) ∨ (~p ∧ ~q) b) A recíproca de p → q é q → p


p q p ↔ q (p ^ q) v (~p ^ ~q) A contrapositiva q → q é ~p → ~q

V V V V V V V V V F F F c) A contrária de p → q é ~p → ~q
V F V F F V F F F F F V A contrapositiva de ~p → ~q é q → p
F V F F V F F V F V F F Equivalência “NENHUM” e “TODO”
F F F V F F F F V V V V
1 – NENHUM A é B ⇔ TODO A é não B.
6 - Pela exportação-importação Exemplo:
[(p ∧ q) → r] ⇔ [p → (q → r)] Nenhum médico é tenista ⇔ Todo médico é não tenista (=
Todo médico não é tenista)
p q r [(p ^ q) → r] [p → (q → r)]
V V V V V V V V V V V V V 2 – TODO A é B ⇔ NENHUM A é não B.
V V F V V V F F V F V F F Exemplo:
Toda música é bela ⇔ Nenhuma música é não bela (=
V F V V F F V V V V F V V Nenhuma música é bela)
V F F V F F V F V V F V F
Questões
F V V F F V V V F V V V V
F V F F F V V F F V V F F 01. (MRE – Oficial de Chancelaria – FGV/2016) Considere
a sentença:
F F V F F F V V F V F V V “Corro e não fico cansado”.
F F F F F F V F F V F V F Uma sentença logicamente equivalente à negação da
sentença dada é:
Proposições Associadas a uma Condicional (se, então) (A) Se corro então fico cansado.
(B) Se não corro então não fico cansado.
Chama-se proposições associadas a p → q as três proposições (C) Não corro e fico cansado.
condicionadas que contêm p e q: (D) Corro e fico cansado.
– Proposições recíprocas: p → q: q → p (E) Não corro ou não fico cansado.
– Proposição contrária: p → q: ~p → ~q
– Proposição contrapositiva: p → q: ~q → ~p 02. (TCE/RN – Conhecimentos Gerais para o cargo 4 –
CESPE/2015) Em campanha de incentivo à regularização da
Observe a tabela verdade dessas quatro proposições: documentação de imóveis, um cartório estampou um cartaz
com os seguintes dizeres: “O comprador que não escritura e não
registra o imóvel não se torna dono desse imóvel”.
A partir dessa situação hipotética e considerando que a
proposição P: “Se o comprador não escritura o imóvel, então ele
não o registra” seja verdadeira, julgue o item seguinte.
A proposição P é logicamente equivalente à proposição “O
comprador escritura o imóvel, ou não o registra”.
Note que:
( ) Certo ( ) Errado

Respostas

01. Resposta: A.
A negação de P→Q é P ^ ~ Q
A equivalência de P-->Q é ~P v Q ou pode ser: ~Q-->~P

02. Resposta: Certo.


Relembrando temos que: Se p então q = Não p ou q. (p → q
= ~p v q)

Referências
ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática –
São Paulo: Nobel – 2002.
CABRAL, Luiz Cláudio Durão; NUNES, Mauro César de Abreu
- Raciocínio lógico passo a passo – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
Observamos ainda que a condicional p → q e a sua recíproca
q → p ou a sua contrária ~p → ~q NÃO SÃO EQUIVALENTES.

Raciocínio Lógico e Matemático 29


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APOSTILAS OPÇÃO
IMPLICAÇÃO LÓGICA A proposição “p ^ q” é verdadeira (V) somente na 1ª linha,
e também nesta linha as proposições “p v q” e “p → q” também
Uma proposição P(p,q,r,...) implica logicamente ou apenas são. Logo a primeira proposição IMPLICA cada uma das outras
implica uma proposição Q(p,q,r,...) se Q(p,q,r,...) é verdadeira duas proposições.
(V) todas as vezes que P(p,q,r,...) é verdadeira (V), ou seja, a Então:
proposição P implica a proposição Q, quando a condicional P → p^q⇒pvq
Q for uma tautologia. p^q⇒p→q
Representamos a implicação com o símbolo “⇒”,
simbolicamente temos: A tabela acima também demonstram as importantes Regras
de Inferência:
P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...). Adição – p ⇒ p v q e q ⇒ p v q
Simplificação – p ^ q ⇒ p e p ^ q ⇒ q
A não ocorrência de VF na tabela verdade de P → Q, ou ainda
que o valor lógico da condicional P → Q será sempre V, ou então 2 – A tabela verdade das proposições p ↔ q, p → q e q →
que P → Q é uma tautologia. p, é:
L p q p↔q p→q q→p
Observação: Os símbolos “→” e “⇒” são completamente
distintos. O primeiro (“→”) representa a condicional, que é um 1ª V V V V V
conectivo. O segundo (“⇒”) representa a relação de implicação 2ª V F F F V
lógica que pode ou não existir entre duas proposições.
3ª F V F V F
Exemplo: 4ª F F V V V
A tabela verdade da condicional (p ^ q) → (p ↔ q) será:
p q p^q p↔q (p ^ q) → (p ↔ q) A proposição “p ↔ q” é verdadeira (V) na 1ª e 4ª linha e as
proposições “p → q” e “q → p” também são verdadeiras. Logo
V V V V V a primeira proposição IMPLICA cada uma das outras duas
V F F F V proposições. Então:
F V F F V p↔q⇒p→q e p↔q⇒q→p
F F F V V
3 - Dada a proposição: (p v q) ^ ~p sua tabela verdade é:
Portanto, (p ^ q) → (p ↔ q) é uma tautologia, por isso (p ^
q) ⇒ (p ↔q).

Em particular:
- Toda proposição implica uma Tautologia: p ⇒ p v ~p
p p v ~p
V V Esta proposição é verdadeira somente na 3ª linha e nesta
F V linha a proposição “q” também verdadeira, logo subsiste
- Somente uma contradição implica uma contradição: p ^ ~p a IMPLICAÇÃO LÓGICA, denominada Regra do Silogismo
⇒ p v ~p → p ^ ~p disjuntivo.
(p v q) ^ ~p ⇒ q
p ~p p ^ ~p p v ~p → p ^ ~p
V F F F É válido também: (p v q) ^ ~q ⇒ p
F V F F 4 – A tabela verdade da proposição (p → q) ^ p é:

Propriedades da Implicação Lógica


A implicação lógica goza das propriedades reflexiva e
transitiva:

Reflexiva: P(p,q,r,...) ⇒ P(p,q,r,...)


Uma proposição complexa implica ela mesma
Transitiva: Se P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...) e
Q(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...), então A proposição é verdadeira somente na 1ª linha, e nesta
P(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...) linha a proposição “q” também é verdadeira, logo subsiste a
Se P ⇒ Q e Q ⇒ R, então P ⇒ R IMPLICAÇÃO LÓGICA, também denominada Regra de Modus
ponens.
Exemplificação e Regras de Inferência
Inferência é o ato de derivar conclusões lógicas de (p → q) ^ p ⇒ q
proposições conhecidas ou decididamente verdadeiras. Em
outras palavras: é a obtenção de novas proposições a partir 5 – A tabela verdade das proposições (p → q) ^ ~q e ~p é:
de proposições verdadeiras já existentes. Vejamos as regras de
inferência obtidas da implicação lógica:

1 – A tabela verdade das proposições p ^ q, p v q , p ↔ q é:

A proposição (p → q) ^ ~q é verdadeira somente na 4º linha


e nesta a proposição “~p” também é verdadeira, logo subsiste a
IMPLICAÇÃO LÓGICA, denominada de Regra Modus tollens.
(p → q) ^ ~q ⇒ ~p

Raciocínio Lógico e Matemático 30


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APOSTILAS OPÇÃO
Observe que “~p” implica “p → q”, isto é: ~p ⇒ p → q
Assim, se num grupo de pessoas há 43 que dirigem carro, 18
Recapitulando as Regras de Inferência aplicadas a Implicação que dirigem moto e 10 que dirigem carro e moto. Baseando-se
Lógica: nesses dados, e nos diagramas lógicos poderemos saber: Quantas
Adição pessoas têm no grupo ou quantas dirigem somente carro ou ainda
p⇒pvq
quantas dirigem somente motos. Vamos inicialmente montar
q⇒pvq
os diagramas dos conjuntos que representam os motoristas de
Simplificação p^q⇒p motos e motoristas de carros. Começaremos marcando quantos
p^q⇒q elementos tem a intersecção e depois completaremos os outros
Silogismo disjuntivo espaços.
(p v q) ^ ~p ⇒ q
(p v q) ^ ~q ⇒ p
Modus ponens (p → q) ^ p ⇒ q
Modus tollens (p → q) ^ ~q ⇒ ~p

Questão
Marcando o valor da intersecção, então iremos subtraindo
01. (TJ/PI – Analista Judiciário – Escrivão Judicial – esse valor da quantidade de elementos dos conjuntos A e B.
FGV/2015) Renato falou a verdade quando disse: A partir dos valores reais, é que poderemos responder as
• Corro ou faço ginástica. perguntas feitas.
• Acordo cedo ou não corro.
• Como pouco ou não faço ginástica.
Certo dia, Renato comeu muito.

É correto concluir que, nesse dia, Renato:


(A) correu e fez ginástica;
(B) não fez ginástica e não correu;
(C) correu e não acordou cedo;
(D) acordou cedo e correu;
(E) não fez ginástica e não acordou cedo.

Resposta
a) Temos no grupo: 8 + 10 + 33 = 51 motoristas.
01. Resposta: D. b) Dirigem somente carros 33 motoristas.
Na disjunção, para evitarmos que elas fiquem falsas, basta c) Dirigem somente motos 8 motoristas.
por uma das proposições simples como verdadeira, logo:
“Renato comeu muito” No caso de uma pesquisa de opinião sobre a preferência
Como pouco ou não faço ginástica quanto à leitura de três jornais. A, B e C, foi apresentada a
F V seguinte tabela:
Jornais Leitores
Corro ou faço ginástica
V F A 300
B 250
Acordo cedo ou não corro
V F C 200
AeB 70
Portanto ele:
Comeu muito AeC 65
Não fez ginástica BeC 105
Corrreu, e;
Acordou cedo A, B e C 40
Nenhum 150
Referência
ALENCAR FILHO, Edgar de – Iniciação a lógica matemática – Para termos os valores reais da pesquisa, vamos inicialmente
São Paulo: Nobel – 2002. montar os diagramas que representam cada conjunto. A
colocação dos valores começará pela intersecção dos três
DIAGRAMAS LÓGICOS conjuntos e depois para as intersecções duas a duas e por último
às regiões que representam cada conjunto individualmente.
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários Representaremos esses conjuntos dentro de um retângulo que
problemas. Uma situação que esses diagramas poderão ser indicará o conjunto universo da pesquisa.
usados, é na determinação da quantidade de elementos que
apresentam uma determinada característica.

Fora dos diagramas teremos 150 elementos que não são


leitores de nenhum dos três jornais.
Na região I, teremos: 70 - 40 = 30 elementos.

Raciocínio Lógico e Matemático 31


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Na região II, teremos: 65 - 40 = 25 elementos. são “verdadeiras”.
Na região III, teremos: 105 - 40 = 65 elementos. Os diagramas de Euler (em conjunto com os de Venn) são
Na região IV, teremos: 300 - 40 - 30 - 25 = 205 elementos. largamente utilizados para ensinar a teoria dos conjuntos
Na região V, teremos: 250 - 40 -30 - 65 = 115 elementos. no campo da matemática ou lógica matemática no campo da
Na região VI, teremos: 200 - 40 - 25 - 65 = 70 elementos. lógica. Eles também podem ser utilizados para representar
relacionamentos complexos com mais clareza, já que representa
Dessa forma, o diagrama figura preenchido com os seguintes apenas as relações válidas. Em estudos mais aplicados esses
elementos: diagramas podem ser utilizados para provar / analisar
silogismos que são argumentos lógicos para que se possa
deduzir uma conclusão.

Diagramas de Venn

Designa-se por diagramas de Venn os diagramas usados em


matemática para simbolizar graficamente propriedades, axiomas
e problemas relativos aos conjuntos e sua teoria. Os respetivos
diagramas consistem de curvas fechadas simples desenhadas
sobre um plano, de forma a simbolizar os conjuntos e permitir a
representação das relações de pertença entre conjuntos e seus
elementos (por exemplo, 4 {3,4,5}, mas 4 ∉ {1,2,3,12}) e relações
de continência (inclusão) entre os conjuntos (por exemplo, {1,
Com essa distribuição, poderemos notar que 205 pessoas 3} ⊂ {1, 2, 3, 4}). Assim, duas curvas que não se tocam e estão
leem apenas o jornal A. Verificamos que 500 pessoas não leem o uma no espaço interno da outra simbolizam conjuntos que
jornal C, pois é a soma 205 + 30 + 115 + 150. Notamos ainda que possuem continência; ao passo que o ponto interno a uma curva
700 pessoas foram entrevistadas, que é a soma 205 + 30 + 25 + representa um elemento pertencente ao conjunto.
40 + 115 + 65 + 70 + 150. Os diagramas de Venn são construídos com coleções de
curvas fechadas contidas em um plano. O interior dessas curvas
Diagrama de Euler representa, simbolicamente, a coleção de elementos do conjunto.
De acordo com Clarence Irving Lewis, o “princípio desses
Um diagrama de Euler é similar a um diagrama de Venn, mas diagramas é que classes (ou conjuntos) sejam representadas por
não precisa conter todas as zonas (onde uma zona é definida regiões, com tal relação entre si que todas as relações lógicas
como a área de intersecção entre dois ou mais contornos). possíveis entre as classes possam ser indicadas no mesmo
Assim, um diagrama de Euler pode definir um universo de diagrama. Isto é, o diagrama deixa espaço para qualquer relação
discurso, isto é, ele pode definir um sistema no qual certas possível entre as classes, e a relação dada ou existente pode
intersecções não são possíveis ou consideradas. Assim, um então ser definida indicando se alguma região em específico é
diagrama de Venn contendo os atributos para Animal, Mineral e vazia ou não-vazia”. Pode-se escrever uma definição mais formal
quatro patas teria que conter intersecções onde alguns estão em do seguinte modo: Seja C = (C1, C2, ... Cn) uma coleção de curvas
ambos animal, mineral e de quatro patas. Um diagrama de Venn, fechadas simples desenhadas em um plano. C é uma família
consequentemente, mostra todas as possíveis combinações ou independente se a região formada por cada uma das interseções
conjunções. X1 X2 ... Xn, onde cada Xi é o interior ou o exterior de Ci, é não-
vazia, em outras palavras, se todas as curvas se intersectam de
todas as maneiras possíveis. Se, além disso, cada uma dessas
regiões é conexa e há apenas um número finito de pontos de
interseção entre as curvas, então C é um diagrama de Venn para
n conjuntos.
Nos casos mais simples, os diagramas são representados
por círculos que se encobrem parcialmente. As partes
referidas em um enunciado específico são marcadas com uma
cor diferente. Eventualmente, os círculos são representados
Diagramas de Euler consistem em curvas simples fechadas como completamente inseridos dentro de um retângulo, que
(geralmente círculos) no plano que mostra os conjuntos. representa o conjunto universo daquele particular contexto (já
Os tamanhos e formas das curvas não são importantes: a se buscou a existência de um conjunto universo que pudesse
significância do diagrama está na forma como eles se sobrepõem. abranger todos os conjuntos possíveis, mas Bertrand Russell
As relações espaciais entre as regiões delimitadas por cada curva mostrou que tal tarefa era impossível). A ideia de conjunto
(sobreposição, contenção ou nenhuma) correspondem relações universo é normalmente atribuída a Lewis Carroll. Do mesmo
teóricas (subconjunto interseção e disjunção). Cada curva de modo, espaços internos comuns a dois ou mais conjuntos
Euler divide o plano em duas regiões ou zonas estão: o interior, representam a sua intersecção, ao passo que a totalidade dos
que representa simbolicamente os elementos do conjunto, e espaços pertencentes a um ou outro conjunto indistintamente
o exterior, o que representa todos os elementos que não são representa sua união.
membros do conjunto. Curvas cujos interiores não se cruzam John Venn desenvolveu os diagramas no século XIX,
representam conjuntos disjuntos. Duas curvas cujos interiores ampliando e formalizando desenvolvimentos anteriores de
se interceptam representam conjuntos que têm elementos Leibniz e Euler. E, na década de 1960, eles foram incorporados
comuns, a zona dentro de ambas as curvas representa o conjunto ao currículo escolar de matemática. Embora seja simples
de elementos comuns a ambos os conjuntos (intersecção dos construir diagramas de Venn para dois ou três conjuntos,
conjuntos). Uma curva que está contido completamente dentro surgem dificuldades quando se tenta usá-los para um número
da zona interior de outro representa um subconjunto do mesmo. maior. Algumas construções possíveis são devidas ao próprio
Os Diagramas de Venn são uma forma mais restritiva de John Venn e a outros matemáticos como Anthony W. F. Edwards,
diagramas de Euler. Um diagrama de Venn deve conter todas Branko Grünbaum e Phillip Smith. Além disso, encontram-se em
as possíveis zonas de sobreposição entre as suas curvas, uso outros diagramas similares aos de Venn, entre os quais os de
representando todas as combinações de inclusão / exclusão Euler, Johnston, Pierce e Karnaugh.
de seus conjuntos constituintes, mas em um diagrama de Euler
algumas zonas podem estar faltando. Essa falta foi o que motivou Dois Conjuntos: considere-se o seguinte exemplo: suponha-
Venn a desenvolver seus diagramas. Existia a necessidade de se que o conjunto A representa os animais bípedes e o conjunto
criar diagramas em que pudessem ser observadas, por meio de B representa os animais capazes de voar. A área onde os dois
suposição, quaisquer relações entre as zonas não apenas as que círculos se sobrepõem, designada por intersecção A e B ou

Raciocínio Lógico e Matemático 32


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intersecção A-B, conteria todas as criaturas que ao mesmo Complementar de dois conjuntos: U \ (AB)
tempo podem voar e têm apenas duas pernas motoras.
Além disso, essas quatro áreas podem ser combinadas de
16 formas diferentes. Por exemplo, pode-se perguntar sobre
os animais que voam ou tem duas patas (pelo menos uma das
características); tal conjunto seria representado pela união de A
e B. Já os animais que voam e não possuem duas patas mais os
que não voam e possuem duas patas, seriam representados pela
diferença simétrica entre A e B. Estes exemplos são mostrados
nas imagens a seguir, que incluem também outros dois casos.

Considere-se agora que cada espécie viva está representada


por um ponto situado em alguma parte do diagrama. Os
humanos e os pinguins seriam marcados dentro do círculo A, na
parte dele que não se sobrepõe com o círculo B, já que ambos
são bípedes mas não podem voar. Os mosquitos, que voam mas
têm seis pernas, seriam representados dentro do círculo B e fora
da sobreposição. Os canários, por sua vez, seriam representados União de dois conjuntos: AB
na intersecção A-B, já que são bípedes e podem voar. Qualquer
animal que não fosse bípede nem pudesse voar, como baleias ou
serpentes, seria marcado por pontos fora dos dois círculos.
Assim, o diagrama de dois conjuntos representa quatro
áreas distintas (a que fica fora de ambos os círculos, a parte
de cada círculo que pertence a ambos os círculos (onde há
sobreposição), e as duas áreas que não se sobrepõem, mas estão
em um círculo ou no outro):
- Animais que possuem duas pernas e não voam (A sem Diferença Simétrica de dois conjuntos: AB
sobreposição).
- Animais que voam e não possuem duas pernas (B sem
sobreposição).
- Animais que possuem duas pernas e voam (sobreposição).
- Animais que não possuem duas pernas e não voam (branco
- fora).

Essas configurações são representadas, respectivamente,


pelas operações de conjuntos: diferença de A para B, diferença Complementar de A em U: AC = U \ A
de B para A, intersecção entre A e B, e conjunto complementar de
A e B. Cada uma delas pode ser representada como as seguintes
áreas (mais escuras) no diagrama:

Complementar de B em U: BC = U \ B

Três Conjuntos: Na sua apresentação inicial, Venn focou-


Diferença de A para B: A\B se sobretudo nos diagramas de três conjuntos. Alargando
o exemplo anterior, poderia-se introduzir o conjunto C dos
animais que possuem bico. Neste caso, o diagrama define sete
áreas distintas, que podem combinar-se de 256 (28) maneiras
diferentes, algumas delas ilustradas nas imagens seguintes.

Diferença de B para A: B\A

Diagrama de Venn mostrando todas as intersecções


possíveis entre A, B e C.

Intersecção de dois conjuntos: AB

Raciocínio Lógico e Matemático 33


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União de três conjuntos: ABC - Nenhum A é B = Todo A é não B.
- Todo A é B = Nenhum A é não B.
- A negação de Todo A é B é Algum A não é B (e vice-versa).
- A negação de Algum A é B é Nenhum A não é B (e vice-
versa).

Verdade ou Falsidade das Proposições Categóricas

Dada a verdade ou a falsidade de qualquer uma das


proposições categóricas, isto é, de Todo A é B, Nenhum A é B,
Algum A é B e Algum A não é B, pode-se inferir de imediato a
verdade ou a falsidade de algumas ou de todas as outras.
Intersecção de três conjuntos: ABC
1. Se a proposição Todo A é B é verdadeira, então temos as
duas representações possíveis:

Nenhum A é B. É falsa.
Algum A é B. É verdadeira.
A \ (B C) Algum A não é B. É falsa.

A B

2. Se a proposição Nenhum A é B é verdadeira, então temos


somente a representação:
Todo A é B. É falsa.
Algum A é B. É falsa.
Algum A não é B. É verdadeira.

3. Se a proposição Algum A é B é verdadeira, temos as quatro


(B C) \ A
representações possíveis:
Proposições Categóricas
- Todo A é B
- Nenhum A é B
- Algum A é B e
- Algum A não é B

Proposições do tipo Todo A é B afirmam que o conjunto A


é um subconjunto do conjunto B. Ou seja: A está contido em B.
Atenção: dizer que Todo A é B não significa o mesmo que Todo B é
A. Enunciados da forma Nenhum A é B afirmam que os conjuntos
A e B são disjuntos, isto é, não tem elementos em comum.
Atenção: dizer que Nenhum A é B é logicamente equivalente a
dizer que Nenhum B é A.
Nenhum A é B. É falsa.
Por convenção universal em Lógica, proposições da forma
Todo A é B. Pode ser verdadeira (em 3 e 4) ou falsa (em 1 e 2).
Algum A é B estabelecem que o conjunto A tem pelo menos um
Algum A não é B. Pode ser verdadeira (em 1 e 2) ou falsa (em
elemento em comum com o conjunto B. Contudo, quando dizemos
3 e 4) – é indeterminada.
que Algum A é B, pressupomos que nem todo A é B. Entretanto, no
sentido lógico de algum, está perfeitamente correto afirmar que
4. Se a proposição Algum A não é B é verdadeira, temos as
“alguns de meus colegas estão me elogiando”, mesmo que todos
três representações possíveis:
eles estejam. Dizer que Algum A é B é logicamente equivalente
a dizer que Algum B é A. Também, as seguintes expressões são
equivalentes: Algum A é B = Pelo menos um A é B = Existe um A
que é B.
Proposições da forma Algum A não é B estabelecem que o
conjunto A tem pelo menos um elemento que não pertence ao
conjunto B. Temos as seguintes equivalências: Algum A não é B 3
= Algum A é não B = Algum não B é A. Mas não é equivalente a A B
Algum B não é A. Nas proposições categóricas, usam-se também
as variações gramaticais dos verbos ser e estar, tais como é, são,
está, foi, eram, ..., como elo de ligação entre A e B.
Todo A é B. É falsa.
- Todo A é B = Todo A não é não B.
Nenhum A é B. Pode ser verdadeira (em 3) ou falsa (em 1 e
- Algum A é B = Algum A não é não B.
2 – é indeterminada).
- Nenhum A é B = Nenhum A não é não B.
- Todo A é não B = Todo A não é B.
Algum A é B. Ou falsa (em 3) ou pode ser verdadeira (em 1 e
- Algum A é não B = Algum A não é B.
2 – é ideterminada).
- Nenhum A é não B = Nenhum A não é B.

Raciocínio Lógico e Matemático 34


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APOSTILAS OPÇÃO
QUESTÕES (D)

01. Represente por diagrama de Venn-Euler


(A) Algum A é B
(B) Algum A não é B
(C) Todo A é B
(D) Nenhum A é B

02. (Especialista em Políticas Públicas Bahia - FCC)


Considerando “todo livro é instrutivo” como uma proposição 02. Resposta: B
verdadeira, é correto inferir que:
(A) “Nenhum livro é instrutivo” é uma proposição
necessariamente verdadeira. instrutivo
(B) “Algum livro é instrutivo” é uma proposição
necessariamente verdadeira. livro
(C) “Algum livro não é instrutivo” é uma proposição
verdadeira ou falsa.
(D) “Algum livro é instrutivo” é uma proposição verdadeira A opção A é descartada de pronto: “nenhum livro é instrutivo”
ou falsa. implica a total dissociação entre os diagramas. E estamos com a
(E) “Algum livro não é instrutivo” é uma proposição situação inversa. A opção “B” é perfeitamente correta. Percebam
necessariamente verdadeira. como todos os elementos do diagrama “livro” estão inseridos
no diagrama “instrutivo”. Resta necessariamente perfeito que
03. Dos 500 músicos de uma Filarmônica, 240 tocam algum livro é instrutivo.
instrumentos de sopro, 160 tocam instrumentos de corda e 60
tocam esses dois tipos de instrumentos. Quantos músicos desta 03. Seja C o conjunto dos músicos que tocam instrumentos
Filarmônica tocam: de corda e S dos que tocam instrumentos de sopro. Chamemos
(A) instrumentos de sopro ou de corda? de F o conjunto dos músicos da Filarmônica. Ao resolver este
(B) somente um dos dois tipos de instrumento? tipo de problema faça o diagrama, assim você poderá visualizar
(C) instrumentos diferentes dos dois citados? o problema e sempre comece a preencher os dados de dentro
para fora.
04. (TTN - ESAF) Se é verdade que “Alguns A são R” e que
“Nenhum G é R”, então é necessariamente verdadeiro que: Passo 1: 60 tocam os dois instumentos, portanto, após
(A) algum A não é G; fazermos o diagrama, este número vai no meio.
(B) algum A é G. Passo 2:
(C) nenhum A é G; a)160 tocam instrumentos de corda. Já temos 60. Os que só
(D) algum G é A; tocam corda são, portanto 160 - 60 = 100
(E) nenhum G é A; b) 240 tocam instrumento de sopro. 240 - 60 = 180

05. Em uma classe, há 20 alunos que praticam futebol mas Vamos ao diagrama, preenchemos os dados obtidos acima:
não praticam vôlei e há 8 alunos que praticam vôlei mas não
praticam futebol. O total dos que praticam vôlei é 15. Ao todo,
existem 17 alunos que não praticam futebol. O número de alu-
nos da classe é:
(A) 30.
(B) 35.
(C) 37.
(D) 42. Com o diagrama completamente preenchido, fica fácil achara
(E) 44. as respostas: Quantos músicos desta Filarmônica tocam:
Respostas a) instrumentos de sopro ou de corda? Pelos dados do
problema: 100 + 60 + 180 = 340
01. b) somente um dos dois tipos de instrumento? 100 + 180 =
(A) 280
c) instrumentos diferentes dos dois citados? 500 - 340 = 160

04. Esta questão traz, no enunciado, duas proposições


categóricas:
- Alguns A são R
- Nenhum G é R
(B)
Devemos fazer a representação gráfica de cada uma delas
por círculos para ajudar-nos a obter a resposta correta. Vamos
iniciar pela representação do Nenhum G é R, que é dada por dois
círculos separados, sem nenhum ponto em comum.

(C)

Como já foi visto, não há uma representação gráfica única


para a proposição categórica do Alguns A são R, mas geralmente a
representação em que os dois círculos se interceptam (mostrada
abaixo) tem sido suficiente para resolver qualquer questão.

Raciocínio Lógico e Matemático 35


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APOSTILAS OPÇÃO

Agora devemos juntar os desenhos das duas proposições


categóricas para analisarmos qual é a alternativa correta. Como
a questão não informa sobre a relação entre os conjuntos A e G,
então teremos diversas maneiras de representar graficamente os
três conjuntos (A, G e R). A alternativa correta vai ser aquela que é
verdadeira para quaisquer dessas representações. Para facilitar
a solução da questão não faremos todas as representações
gráficas possíveis entre os três conjuntos, mas sim, uma (ou
algumas) representação(ões) de cada vez e passamos a analisar
qual é a alternativa que satisfaz esta(s) representação(ões),
se tivermos somente uma alternativa que satisfaça, então já
achamos a resposta correta, senão, desenhamos mais outra
representação gráfica possível e passamos a testar somente as
alternativas que foram verdadeiras. Tomemos agora o seguinte
desenho, em que fazemos duas representações, uma em que o
conjunto A intercepta parcialmente o conjunto G, e outra em que
não há intersecção entre eles.

Teste das alternativas:


Teste da alternativa “A” (algum A não é G). Observando
os desenhos dos círculos, verificamos que esta alternativa
é verdadeira para os dois desenhos de A, isto é, nas duas
representações há elementos em A que não estão em G. Passemos
para o teste da próxima alternativa.
Teste da alternativa “B” (algum A é G). Observando os
desenhos dos círculos, verificamos que, para o desenho de A
que está mais a direita, esta alternativa não é verdadeira, isto é,
tem elementos em A que não estão em G. Pelo mesmo motivo a
alternativa “D” não é correta. Passemos para a próxima.
Teste da alternativa “C” (Nenhum A é G). Observando os
desenhos dos círculos, verificamos que, para o desenho de A
que está mais a esquerda, esta alternativa não é verdadeira, isto
é, tem elementos em A que estão em G. Pelo mesmo motivo a
alternativa “E” não é correta. Portanto, a resposta é a alternativa
“A”.

05. Resposta: E.

n = 20 + 7 + 8 + 9
n = 44

Anotações

Raciocínio Lógico e Matemático 36


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RELAÇÕES INTERPESSOAIS

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APOSTILAS OPÇÃO

significativas no relacionamento duradouro e autêntico,


satisfatório para as pessoas envolvidas.
No momento em que o indivíduo faz parte de um
determinado grupo social, começa aprender, assimilar os seus
valores, códigos e regras básicas de relacionamento que
poderão entrar em conflito com os seus valores já aprendidos,
1. Relações no primeiro grupo em que desenvolveu seu processo de
Humanas/interpessoal; socialização, dificultando a interação, a comunicação e a
expressão de emoção. Contudo, se estiver disposto a trabalhar
a competência interpessoal, possivelmente, não terá
Relacionamento Interpessoal problemas no relacionamento.

Relacionamento interpessoal1 é um conceito do âmbito Relacionamento interpessoal no trabalho


da sociologia e psicologia que significa uma relação entre duas Um relacionamento interpessoal positivo contribui para
ou mais pessoas. Este tipo de relacionamento é marcado pelo um bom ambiente dentro da empresa, o que pode resultar em
contexto onde ele está inserido, podendo ser um contexto um aumento da produtividade e melhoria dos resultados, em
familiar, escolar, de trabalho ou de comunidade. geral.
O relacionamento interpessoal implica uma relação No trabalho, esse relacionamento saudável entre duas ou
social, ou seja, um conjunto de normas comportamentais mais pessoas é alcançado quando as pessoas conhecem a si
que orientam as interações entre membros de uma mesmas, quando são capazes de se colocar no lugar dos outros
sociedade. O conceito de relação social, da área da (demonstram empatia), quando expressam as suas opiniões
sociologia, foi estudado e desenvolvido por Max Weber. de forma clara e direta sem ofender o outro (assertividade),
O conteúdo de um relacionamento interpessoal pode ser são cordiais e têm um sentido de ética. Isto, pode-se entender
de vários níveis e envolver diferentes sentimentos como o que um bom relacionamento interpessoal deriva de relações
amor, compaixão, amizade, etc. Um relacionamento deste tipo que respeitam a ética em primeiro lugar.
também pode ser marcado por características e situações As relações interpessoais propagadas no ambiente de
como competência, transações comerciais, inimizade, etc. Um trabalho sofrem influências da estrutura organizacional e são
relacionamento pode ser determinado e alterado de acordo reguladas para alcançar eficiência e resultados. O ser humano
com um conflito interpessoal, que surge de uma divergência procura incessantemente a felicidade, a realização de sonhos e
entre dois ou mais indivíduos. a convivência pacífica e harmoniosa com o outro tanto dentro
Por outro lado, o conceito de relacionamento quanto fora da organização. As relações de amizade e respeito
intrapessoal é distinto mas não menos importante. Este fortalecem o convívio entre as pessoas.
conceito remete para a aptidão de uma pessoa de se Se considerarmos essa interação de pessoas num ambiente
relacionar com os seus próprios sentimentos e emoções e organizacional, temos que levar em consideração que as
é de elevada importância porque vai determinar como pessoas não funcionam como máquinas e que muitas vezes o
cada pessoa age quando é confrontada com situações do comportamento é diferente do que se espera. Isso porque,
dia a dia. quando estamos em interação com outras pessoas, o
De acordo com Fela Moscovici (1998), competência funcionamento de ser de cada um é afetado, alterando o que se
interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente com relações poderia chamar de “previsto ou esperado”.
interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma adequada Segundo Moscovici (1994), nas empresas, a interação
às necessidades de cada um e às exigências da situação. humana ocorre em dois níveis concomitantes e
Complementando, ainda temos que, segundo Argyris (1968), interdependentes. O nível da tarefa é o que podemos observar,
competência interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente que é a execução das atividades individuais e em grupos. Já o
com relações de acordo com três critérios: socioemocional refere-se às sensações, aos sentimentos que
a) Percepção acurada da situação interpessoal, de suas são gerados pela convivência.
variáveis relevantes e respectiva inter-relação. Se esses sentimentos são positivos, o nível da tarefa é
b) Habilidade de resolver realmente os problemas, de tal facilitado, gerando uma produtividade satisfatória. Se, ao
modo que não haja regressões. contrário, o clima emocional não é satisfatório, a tarefa passa
c) Soluções alcançadas de tal forma que as pessoas a sofrer os efeitos, que muitas vezes se manifestam com
envolvidas continuem trabalhando juntas tão eficientemente, interações de desagrado, antipatia, aversão etc. A interação
pelo menos, como quando começaram a resolver seus socioemocional pode favorecer o resultado do trabalho e as
problemas. relações interpessoais. Se os processos são construtivos, a
colaboração e o afeto predominam, o que possibilita a coesão
Segundo Nair Motta, “A natureza humana em si é comum a do grupo. Caso contrário, o grupo passa a ter conflitos
todas as pessoas, mas individualizada em cada pessoa, porque internos.
cada um de nós tem estímulos e sentimentos diferentes, O que se observa é que para trabalhar bem, e em grupo, as
objetivos e experiências de vida que variam com o grau de pessoas precisam possuir não apenas competências técnicas
cultura do contexto histórico-social em que vivemos”. para realizar suas funções, mas também competências
"O processo de interação humana é complexo e ocorre emocionais.
permanentemente entre pessoas, sob forma de Vemos que a realização eu-eu é fundamental na interação
comportamentos manifestos e não manifestos, verbais e não com os outros; a forma como eu me vejo, minhas motivações,
verbais, pensamentos, sentimentos, reações mentais e/ou ideologia, influem em cada interação interpessoal. A harmonia
físico-corporais." (Fela, 2002) consigo mesmo, a autoaceitação e valorização, o bem-estar
Competência interpessoal é resultante de percepção físico e mental, proporcionam um equilíbrio na relação com o
acurada realística das situações interpessoais e de habilidades outro. Muitas vezes, as dificuldades que surgem na relação eu-
específicas comportamentais que conduzem a consequências outro são causadas pelo não equilíbrio da relação eu-eu.

1 Relacionamento Interpessoal. Disponível em: IESDE BRASIL.Relações interpessoais e qualidade de vida no trabalho, 2016.
http://www.significados.com.br/relacionamento-interpessoal/. Acesso em 8 de BRONDANI , J. P. Relacionamento interpessoal e o trabalho em equipe: uma análise
abril de 2015. sobre a influência na qualidade de vida no trabalho. Porto Alegre, 2010.

Relações Interpessoais 1
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APOSTILAS OPÇÃO

Portanto, é fundamental o equilíbrio eu-eu, para que se possa A nossa dificuldade em ouvir o outro aumenta, principalmente
estar bem com os outros. se temos pontos de vista diferentes. Muitos gerentes avaliam
Numa organização, a presença de um líder habilidoso é sua equipe a partir dos seus próprios paradigmas, da sua
muito importante nesse processo. Ele poderá conduzir sua maneira de ver o que é certo e errado, não acenando com a
equipe para o sucesso e, se possui habilidades para lidar com possibilidade de considerar o pensamento do outro, sem
as emoções e com a qualidade de vida, fará a diferença de querer ouvir o que as pessoas pensam. É fundamental que um
forma positiva no seu grupo de trabalho. A qualidade de vida gestor queira saber o ponto de vista de sua equipe, perguntar
no trabalho não decorre apenas de bons salários e planos de antes de julgar, permitir que sejam dadas sugestões, criar
benefícios, mas do tratamento humano que valorize a espaços para que diferentes percepções possam vir à tona,
gentileza, a possibilidade de expressar os pontos de vista solicitar sempre que possível a participação de todos.
divergentes, do respeito, do relacionamento sincero. O que
facilita ou dificulta essas relações são o autoconhecimento e o Saber ouvir
conhecimento do outro.
Sucesso (2002, p.27) relata que “O autoconhecimento e o Saber ouvir é considerado uma das maiores habilidades
conhecimento do outro são componentes essenciais na humanas. Para ouvir efetivamente, não basta apenas estar
compreensão de como a pessoa atua no trabalho, atento, mas perceber também a voz de quem fala, a escolha das
dificultando ou facilitando as relações”. palavras, o tom e ritmo, a linguagem corporal, enfim, é muito
De acordo com Sucesso (2002, p.95), “três emoções mais do que ficar passivamente deixando o som entrar pelos
primárias atuam sobre o comportamento: o medo, a ira e ouvidos.
o afeto, que se apresentam de forma direta ou através de É uma das melhores formas de mostrar respeito pelo
disfarces ou máscaras”. outro. Fazer perguntas pode demonstrar o quanto você está
atento e encorajar aquele que fala. Alguns sinais como sorriso,
O medo é um entrave dentro das organizações, porque as olhares de surpresa e admiração, etc., podem constituir uma
pessoas não demonstram essa emoção, o que fazem é forma eficiente de assegurar que você está ouvindo. Frases
disfarçar, em consequência disso tornam-se desmotivadas, como “compreendo...”, “e depois...”, “é interessante...”, são uma
descrente de suas capacidades de inovar e criar. O medo maneira de dizer que você está interessado, querendo que ele
aparece sob várias situações, como por exemplo, demissões prossiga seu discurso.
por atritos com gestores ou por enxugamento de quadro, Outra forma é dar sinais de que está compreendendo e
pressão, punição, levam a climas desagradáveis dentro das interpretando as emoções existentes no diálogo. Frases como
organizações, influenciando o comprometimento, a motivação “você acha que...”, “o que pensa quanto a ...”, demonstram que
e a confiança. se está sendo empático e disposto a considerar o ponto de vista
A raiva também está presente sob diversas formas, como do outro. O que é importante observar é que ouvir não é uma
por exemplo, a inveja do outro, de suas capacidades, atitude passiva, e que pode ser ativo demonstrando respeito
competência, disputa por cargos, causando até humilhação e pelo outro.
autopiedade. A ironia é uma forma de raiva dissimulada, que
agride, fere e magoa, assim como a hostilidade que começa
com irritação, falta de cortesia e queixas e que aos poucos vai
crescendo chegando a transformar-se em ódio. Os líderes têm 2. Comunicação Interpessoal;
um grande papel na mudança e manutenção das relações
interpessoais, através de incentivos e medidas que tornem o
clima positivo, que levem a satisfação do trabalho mantendo A comunicação interpessoal é um método de
um diálogo aberto e franco prevenindo conflitos. comunicação que promove a troca de informações entre
O afeto nas relações de trabalho é a emoção capaz de duas ou mais pessoas. Cada pessoa, que passamos a
construir dias melhores nas organizações que requerem considerar como, interlocutor, troca informações baseadas
coragem, leveza, consistência, rapidez, exatidão e em seu repertório cultural, sua formação educacional,
multiplicidade. vivências, emoções, toda a "bagagem" que traz consigo.

Dificuldades do relacionamento interpessoal Não somos máquinas fotográficas, nem gravadores. Não
a) Falta de objetivos pessoais: trata-se de pessoas que absorvemos com os nossos olhos exatamente aquilo que está
possuem dificuldades em traçar rumos para o seu futuro. "ali". Respondemos constantemente a pistas que têm
Desanimam diante de obstáculos, e não se mostram criativas significado para nós; vemos aquilo que queremos ou
para buscar soluções, sentem-se frustradas e, por isso, mudam necessitamos ver para nos defendermos ou prosseguirmos
continuamente seu rumo. Nos processos de mudanças, são com os nossos objetivos.
levadas pelos outros, aguardando sempre as instruções. Da mesma forma, não vemos as pessoas como elas são,
Muitas vezes, trabalham em profissão que não gostam, mas vemo-las pelo que elas significam para nós. Se considerarmos
não apresentam atitudes para novos redirecionamentos. o modo como compreendemos o mundo em que vivemos e,
particularmente, os aspectos que têm a ver conosco e com as
b) Dificuldade em priorizar: muitas pessoas se queixam nossas relações com outras pessoas, podemos constatar que:
da “falta de tempo”, para realizar suas tarefas. O que muitas Organizamos o mundo de acordo com conceitos ou
vezes se percebe é a grande dificuldade em estabelecer categorias (por exemplo, dizemos que uma coisa é fria ou
prioridades. Muitas vezes, acumulam-se tarefas, sem avaliar as quente, boa ou má, simples ou complexa). Cada um destes
reais possibilidades de executá-las, ou a dificuldade para dizer conceitos pode ser considerado uma dimensão ao logo da qual
“não”, propõem-se a fazer coisas que não é possível cumprir. nós podemos colocar os acontecimentos do mundo, alguns
Para realização das tarefas, saber administrar o tempo é mais próximos de um dos extremos, outros do outro.
fundamental. De fato, sempre que consideramos as nossas próprias
qualidades, as outras pessoas ou os acontecimentos do mundo
c) Dificuldade em ouvir: a maioria dos conflitos acontece inanimado, temos de recorrer a estes conceitos. Estamos
em virtude da dificuldade que temos em ouvir e compreender dependentes, para a compreensão do mundo, dos conceitos e
o outro. Temos o hábito de julgar o outro a partir dos nossos categorias de que dispomos para organizar as nossas
valores, esquecendo-se de respeitar as diferenças individuais. experiências. Se nos faltar um conceito para definir algo que

Relações Interpessoais 2
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ocorre no mundo, temos de inventar um ou não podemos assim que a percepção isola os conjuntos, obedecendo a certas
responder ao acontecimento de um modo organizado. Como é leis:
que, por exemplo, uma pessoa explica o seu próprio Os objetos são percebidos em grupo, por causa da sua
comportamento e o dos outros sem os conceitos de amor e proximidade, semelhança, simetria, etc. Do mesmo modo, a
ódio? Pensem como o comportamento pareceria confuso ou se percepção destaca uma figura do fundo em que está inscrita e
tornaria mesmo imperceptível para a pessoa que não a figura adquire maior significado e propriedades um pouco
dispusesse desta dimensão. diferentes das do fundo.
Cada um de nós desenvolveu o seu próprio conjunto de Nas nossas atividades perceptivas introduzem-se também
conceitos, e os utilizamos para interpretar o comportamento comparações e juízos que nos permitem assimilar o "dado"
dos outros. Estas preferências de conceitos estão, na maior presente a um "conhecido" anterior. "É assim que, quando
parte das vezes relacionadas com a nossa motivação. estamos numa casa que nunca vimos, percebemos uma casa,
Os conceitos não existem isoladamente; estão interligados isto é, um conjunto que tem significação: o sítio onde se vive,
através de uma rede de relações. Os que utilizamos para dorme, etc.
compreender uma situação e as relações entre os próprios A percepção é uma função da pessoa. As percepções
conceitos, constituem o sistema conceitual. sofrem influência das características pessoais, mas também do
As imagens e os estereótipos atuam deste modo. Quando contexto social, das instituições nas quais a pessoa está
descobrimos que uma pessoa é um "negro" ou um "líder integrada. Assim, segundo os indivíduos, os mesmos objetos,
sindical" ou um "sociólogo" ou uma "mulher", a informação os mesmos acontecimentos, as mesmas pessoas do mundo
sobre estes conceitos imediatamente evoca um conjunto de exterior impõem-se com uma significação diferente.
expectativas sobre outras características da pessoa. No caso
dos estereótipos estas expectativas podem mesmo ser tão Fatores institucionais: O sujeito da percepção, enquanto
fortes que não procuramos constatar se o sistema conceitual pessoa, está inserido numa sociedade da qual veicula algumas
"trabalhou" corretamente desta vez e podemos mesmo ir ao representações. Estas representações estão
extremo de ignorar ou distorcer informações que não se institucionalizadas. É assim que numa tribo melanésia2, não se
adequam ao nosso sistema conceitual, de modo que o sistema procura a semelhança entre dois irmãos porque, segundo o
não seja afetado por experiências contraditórias. modo como as populações concebem os laços de parentesco,
Em outras palavras, estes conceitos (ou conjuntos de não se parte do princípio que os irmãos tenham que se parecer
dimensões) permitem-nos organizar as múltiplas experiências um com o outro.
que temos diariamente. Sem eles, estaríamos num estado de
caos contínuo e por isso mesmo eles são partes funcionais e Fatores pessoais: Um grupo de experimentadores
necessárias da personalidade humana. O fato de sermos tão mostrou a alguns sujeitos, que tinham previamente jejuado,
dependentes do nosso sistema conceitual significa que figuras bastante ambíguas. Constataram que os sujeitos que
hesitamos muito em aceitar qualquer informação que não se estavam cheios de fome viam alimentos e utensílios de cozinha
lhe adapte. numa proporção nitidamente maior que os sujeitos em estado
Para nos protegermos destas experiências que geram normal, verificando- se que as percepções se tornavam
desconfiança, temos à nossa disposição inúmeras defesas exclusivamente alimentares à medida que o tempo de jejum
perceptuais. Estas defesas atuam como um filtro, bloqueando aumentava.
o que não queremos ver e deixando passar o que queremos Podemos então considerar que vários parâmetros estão na
ver. Quanto mais nos aproximamos de sistemas conceituais base das nossas preferências pessoais. Vejamos alguns:
que têm a ver com as nossas relações com outras pessoas Desejos, preferências, opiniões e estereótipos, em função
importantes para nós, mais provavelmente nos socorremos dos nossos desejos, transformamos mais ou menos o objeto da
destes filtros defensivos. percepção de modo que ele preencha a nossa expectativa. É
assim que os espectadores de um jogo de futebol veem todas
Fatores em Jogo na Percepção as faltas do campo adversário e não veem as do seu clube
favorito.
Podemos considerar neste campo vários tipos de fatores: Experiências passadas - aprendizagem - a percepção
depende enormemente das experiências anteriores, por
Fatores estruturais: São as primeiras condições da exemplo, sabe-se que certas tribos africanas e australianas são
percepção sobre as quais não há ação, que não se podem capazes de seguir rastos de homens ou animais enquanto que
mudar; nós somos incapazes. Essas tribos apenderam a dar um
Fatores funcionais: O percebido é o conjunto do que, sentido aos pormenores que nos escapam, uma vez que não
vindo do mundo exterior, tem para nós um significado. têm nenhuma significação para nós.
Operamos pois sobre os elementos que estão à nossa As nossas percepções não são as mesmas conforme o
disposição e cuja organização nos permite a sua integração de contexto no qual se encontra uma figura: contexto significa
forma compreensível. aqui, quer o ambiente objetivo exterior que observamos ao
mesmo tempo que a figura, quer o contexto interno, pessoal,
Por exemplo: uma pessoa é introduzida numa sala e, ao fim que é o quadro de referência no qual recebemos a imagem.
de alguns instantes, mandamo-la sair e pedimos-lhe para Note-se que é ao nível da percepção de outrem que se
descrever a sala onde esteve. Podemos constatar que ela não colocam mais problemas de distorção perceptiva. Os riscos de
descreve tudo o que lá estava. Entre os elementos que ela erro são consideravelmente aumentados, dado que uma
podia ver, não conservou senão uma parte. Este simples fato grande parte das razões e móbeis do comportamento de
mostra que a percepção opera uma seleção nas informações outrem nos escapa. As significações que a nossa percepção
que atingem os sentidos: não é que a pessoa não tenha visto, atribui aos outros não correspondem forçosamente às que eles
mas ela valorizou algumas coisas e subestimou ou esqueceu próprios atribuem à sua conduta.
outras. A pessoa não é percebida tal nem como deseja ser, o que
Não somente eliminamos um certo número de gera descontentamento, hostilidade. Uma das formas de
informações, como organizamos o campo dos dados sensoriais ultrapassar este estado de coisas é a explicitação das
introduzindo neles uma estrutura que o torne coerente. É motivações e dos objetivos e só o esforço para atingir uma

2 Região da Oceania, no extremo oeste do Oceano Pacífico e a nordeste da Austrália.

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comunicação livre e sem barreiras poderá permitir aos 3. Trate o cliente pelo nome
indivíduos ajustar a sua percepção. No início da conversa, o profissional deve se apresentar
falando seu nome e perguntando o nome do cliente. Assim, a
pessoa cria um vínculo e a conversa se torna mais agradável.
3. Característica de um bom
atendimento; 4. Antecipação
Não espere que seu cliente peça, simplesmente ofereça o
produto dentro de suas necessidades e perfil. Neste caso,
Formas de atendimento a pesquisa de satisfação pode ser uma ótima alternativa para
prever crises mais sérias.
A maior dificuldade da maioria das organizações é
conquistar clientes, sejam novos ou reativar os já existentes. 5. Esteja sempre atento
Muitas vezes, um único atendimento errado ou com falta de Clientes são pessoas e, por isso, dar atenção nunca é
vontade pode atrapalhar um relacionamento de meses e, quem demais. Mostre que você se importa com eles e trabalhe para
sabe ainda, atrapalhar futuros clientes que poderiam ser que sua empresa possa melhorar a vida da pessoa.
indicados por ele.
Por esse motivo muitas organizações investem cada vez Neste assunto de formas de atendimento, devemos pensar
mais no treinamento e aperfeiçoamento do atendimento de também nas mais diversas possibilidades de atendimento,
seus funcionários. Vamos analisar 3 tipos de atendimentos pois nem sempre este atendimento ocorre presencial, é
encontrados no mercado, tanto com clientes externos, quanto possível que aconteça também de modo virtual e por telefone.
com clientes internos. Então vamos conhecê-los:
Vejamos a seguir estas duas últimas formas:
Atendimento robotizado: Colocar pessoas
despreparadas e sem perfil para atender o ativo mais ATENDIMENTO VIRTUAL AO CLIENTE
importante da empresa pode custar muito caro. Antes de PRINCIPAIS FERRAMENTAS
pensar em atender alguém precisamos entender que estamos
lidando com pessoas, criar um atendimento humanizado é a Segundo Reichheld & Schefter (2000), a atual geração de
maneira mais correta de manter um bom relacionamento e ferramentas de Tecnologia da Informação pode subsidiar a
encantar ainda mais seus clientes. Em alguns casos a empresa empresa com instrumentos vitais para um eficiente
induz o funcionário a ser robotizado e seguir apenas o “script” atendimento virtual ao cliente. Sem a adoção de tais
fazendo com que ele não entenda o real sentido do ferramentas não seria possível atender a demanda oriunda
atendimento. desse mercado consumidor.
Uma vez bem empregadas tais ferramentas podem
Atendimento básico: O objetivo desse perfil é encerrar melhorar o nível de serviços prestados ao cliente no mercado
logo o atendimento e anotar como mais um para sua “meta” virtual, via Internet.
sem se preocupar se entregou valor ao cliente, se resolveu seu
problema ou ajudou com alguma dúvida, a intenção é se ver As mais conhecidas são:
livre dele e começar outro para encerrar o dia o quanto antes.
Se a empresa incentiva seus atendentes por quantidade de a) Site: é a porta de entrada virtual da comunidade à sua
atendimentos (apenas) não tem como exigir nada diferente. empresa. Um site bem planejado, desenhado, construído e de
eficiência operacional constatada, pode alavancar os negócios
Atendimento humanizado: aqui é a hora de mostrar que da empresa.
se preocupa com esse cliente de verdade, que o conhece e sabe
suas preferências, tem um histórico de atendimentos b) E-mail: enviar e responder e-mails com uma certa
anteriores e sabe qual a relação dele com a empresa, e o frequência pode ser decisivo para obter informações e
principal, quer ajudá-lo de qualquer maneira. Aproveitar a feedback dos clientes, criar relacionamento sólido e
oportunidade para agradecer e dizer que é muito importante desenvolver um negócio. É uma mídia bastante utilizada para
para a empresa e que está muito feliz em falar com ele. transmitir texto, áudio, vídeo, foto e até animações, a um baixo
Encantá-lo com simpatia e boa vontade, sempre deixando custo. Utilização eficaz do e-mail e o tempo de resposta: a
claro que está ali para ajudar e não colocando bloqueios a sua empresa deve extrair dos e-mails informações sobre o
frente. comportamento e anseios das pessoas que os remetem. O e-
mail é fonte inesgotável e valiosíssima de dados para a geração
Como fazer um bom atendimento de estatísticas mercadológicas, por isso a empresa deve se
Não é só investir em várias formas de atendimento que aplicar em responder rapidamente aos questionamentos. O
você vai resolver essa questão dentro da sua empresa. Você cliente tem como expectativa de retorno da resposta ao e-mail
deve estar focado em fazer um bom atendimento, seja qual enviado o prazo de 24 horas.
for o canal. Confira as instruções do presidente do Instituto
Brasileiro de Coaching, José Roberto Marques. c) Formulários eletrônicos de submissão: a ideia do
formulário é disponibilizar campos previamente elaborados
1. Entenda o cliente no sentido de minimizar erros de compreensão, além de
Um fator que determina o excelente atendimento é o facilitar o preenchimento das informações requeridas. Este
entendimento sobre o que o cliente quer. Faça perguntas, recurso permite ao cliente inserir dúvidas, reclamações ou
investigue, deixe que ele exponha seus problemas e se coloque outras informações sobre os produtos e serviços.
no lugar da pessoa.
d) E-mail de resposta automática: como medida
2. Faça um bom pós venda proativa no trato com milhares de e-mails recebidos, as
Acompanhe o cliente até que o problema seja resolvido e empresas responsivas estão instalando sistemas de software
tente manter um contato contínuo com ele. Crie formas de de e-mail para responder, pelo menos, que ela recebeu a
manter-se presente, seja por telefone ou e-mail, e coloque-se mensagem virtual do cliente.
à disposição.

Relações Interpessoais 4
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e) Frequently Asked Questions – FAQ: que sintetiza as termo. O excesso de polidez é tão prejudicial quanto a falta
perguntas mais frequentes, é um lugar de introdução que dela.
fornece a base mínima, para o cliente obter a informação
desejada tão depressa quanto possível. ATENDIMENTO TELEFÔNICO

f) Autosserviço: é ansiado por uma parte significativa dos No atendimento telefônico, a linguagem é o fator principal
clientes que assim podem virtualmente buscar informações, para garantir a qualidade da comunicação. Portanto, é preciso
produtos e serviços de forma autônoma, sem a espera pelo que o atendente saiba ouvir o interlocutor para responder a
auxílio do pessoal de vendas ou de atendimento da empresa. suas demandas de maneira cordial, simples, clara e objetiva. O
uso correto da língua portuguesa e a qualidade da dicção
g) Chat instantâneo: é uma espécie de “sala” pública para também são fatores importantes para assegurar uma boa
conversa no site. É a forma mais rápida de acessar alguém comunicação telefônica. É fundamental que o atendente
(indivíduo ou grupo) visando o estabelecimento de diálogo. transmita a seu interlocutor segurança, compromisso e
credibilidade.
h) Personalização do site: as empresas devem permitir Deve-se reforçar a necessidade de se evitar ruído na
ao usuário personalizar o conteúdo apresentado, oferecendo comunicação telefônica, buscando a mais correta e adequada
produtos e serviços que atendam suas preferências interação ao telefone, que é o instrumento responsável pela
individuais. Tal prática proporcionará um processo mútuo de maior parte da comunicação entre uma organização e seus
troca de confiança e um fortalecimento da lealdade que usuários. Ao receber uma ligação, o atendente assume a
rapidamente pode ser traduzido em vantagem durável sobre responsabilidade pelas informações prestadas a quem está do
os concorrentes. outro lado da linha. A utilização do telefone, além de significar
economia de tempo, imprime qualidade à imagem da
i) Mapa do site: deve conter, de forma sucinta e objetiva, organização.
os grandes blocos de seções, funções ou informações Em toda e qualquer situação de comunicação em meio
disponíveis no site. Tal recurso tem a capacidade de dirimir as empresarial ou institucional, é preciso enfatizar o foco no
dúvidas de navegação, prestando assim importante cliente ou no usuário. Em muitos casos, o público constrói uma
direcionamento para o cliente. representação extremamente positiva da organização apenas
com base na qualidade do atendimento telefônico que lhe é
j) Grupos de discussão: é um recurso facilitador para a dispensado.
empresa, pois pode esclarecer quais temas são trabalhados
nos grupos. É muito mais fácil e econômico captar Por isso, convém:
quantitativamente as questões abordadas nos grupos do que
individualmente. a) Atender rapidamente a chamada (2.º toque, se
possível);
k) Vídeo conferência: alguns sites oferecem o serviço de b) Dizer o seu nome e identificar a organização ou o
vídeo conferência, aliando som e imagem para atendimento setor;
virtual ao cliente. c) Ouvir o usuário com atenção: para compreender o que
é dito e “como” é dito;
Observe alguns dos principais procedimentos que auxiliam d) Prestar informações de forma objetiva, não
em um melhor atendimento virtual: apressar a chamada: é importante dar tempo ao tempo, ouvir
calmamente o que o cliente/usuário tem a dizer e mostrar que
-Quando o atendido tem dúvida ele espera respostas. o diálogo está sendo acompanhado com atenção, dando
Fazer ele esperar demais por um parecer tende a deixá-lo feedback, mas não interrompendo o raciocínio do interlocutor;
ainda mais insatisfeito; e) Eliminar frases que possam desapontar ou irritar o
usuário: como “Não sabemos”, “Não podemos”, “Não temos”,
-Determine um tempo de resposta coerente que agrade o não negar informações: nenhuma informação deve ser negada,
cliente e que seja suficiente para que o bom atendimento seja mas há que se identificar o interlocutor antes de fornecê-la,
realizado, tendo em vista que o atendido não tem tempo para para confirmar a seriedade da chamada. Nessa situação, é
esperar respostas e soluções demoradas; adequada a seguinte frase: "Vamos anotar esses dados e
depois entraremos em contato. Pode dar-nos um número de
-Tenha objetividade - Conversas por chat (ou outro meio telefone para contato?";
virtual) precisam ser objetivas. Escrever de forma muito f) Solucionar o problema do usuário (ou direcionar a
prolixa é irritante e não ajuda em nada na resolução de ligação para o setor competente), assumir a
problemas. O atendido pode ser leigo e não entender jargões responsabilidade pela resposta: a pessoa que atende ao
ou linguagem técnica. telefone deve considerar o assunto como seu, ou seja,
comprometer-se e, assim, garantir ao interlocutor uma
- Crie um discurso padrão para os problemas mais resposta rápida. Por exemplo: não deve dizer "Não sei", mas
comuns para adaptá-los de acordo com que as perguntas "Vou imediatamente saber" ou "Daremos uma resposta logo
surgirem. que seja possível". A pessoa que ligou deve ter a garantia de
que alguém confirmará a recepção do pedido ou chamada;
-Utilize linguagem clara - Isso reduz o tempo e o custo do g) Agradecer ao usuário pela ligação e sorrir: um
atendimento, além de deixar o atendido mais satisfeito por ter simples sorriso reflete-se na voz e demonstra que o atendente
seu problema resolvido de forma rápida e fácil. é uma pessoa amável, solícita e interessada e ser sincero, haja
vista que qualquer falta de sinceridade pode ser catastrófica.
-Não tenha excesso ou falta de polidez - Educação, As más palavras difundem-se mais rapidamente do que as
respeito, atenção ao que o atendido diz e gentileza ao lidar com boas;
ele é indispensável. Mas, ao mesmo tempo, o atendimento h) Manter o cliente informado: como, nessa forma de
virtual, em geral, permite que o atendente seja mais amigável comunicação, não se estabelece o contato visual, é necessário
e informal que o normal. O importante aqui é encontrar o meio que o atendente, se tiver mesmo que desviar a atenção do
telefone durante alguns segundos, peça licença para

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interromper o diálogo e, depois, peça desculpa pela demora. descobrir isso é preciso ouvir as pessoas ou avaliar a situação
Essa atitude é importante porque poucos segundos podem sem julgá-las antes;
parecer uma eternidade para quem está do outro lado da linha; d) Ser íntegro: significa agir de acordo com os seus
i) Ter as informações à mão: um atendente deve princípios, mesmo nos momentos mais críticos;
conservar a informação importante perto de si e ter sempre à e) Ser humilde: só assim se consegue ouvir o que os
mão as informações mais significativas de seu setor. Isso outros têm a dizer e reconhecer que o sucesso individual é
permite aumentar a rapidez de resposta e demonstra o resultado do trabalho da equipe.
profissionalismo do atendente;
j) Estabelecer os encaminhamentos para a pessoa que A ética define padrões sobre o que julgamos ser certo ou
liga: quem atende a chamada deve definir quando é que a errado, bom ou mau, justo ou injusto, legal ou ilegal na conduta
pessoa deve voltar a ligar (dia e hora) ou quando é que a humana e na tomada de decisões em todas as etapas e
empresa ou instituição vai retornar a chamada. relacionamentos da nossa vida. O fato, porém, é que cada vez
mais essa é uma qualidade fundamental para quem se
preocupa em ter uma carreira longa, respeitada e sólida.

4. Postura Profissional; Atitudes éticas e postura no ambiente de trabalho3


Hoje, os profissionais requisitados pelos recrutadores
devem ter inúmeras qualidades para obter sucesso na carreira
Postura profissional profissional. Porém, apesar dos diversos conhecimentos que
as pessoas possuem, existe algo que é um pré-requisito para
A Postura ou Ética profissional significa proceder bem, alcançar qualquer posição: a ética. Este termo deve ser
correto, justo, agir direito, sem prejudicar os outros, é estar conhecido e praticado dentro e fora das empresas.
tranquilo com a consciência pessoal. É também agir de acordo Muitos estudiosos, como Platão, Aristóteles e Sócrates,
com os valores morais de uma determinada sociedade. aprofundaram suas pesquisas sobre este assunto. Apesar das
A maioria das profissões possuem seu próprio Código de divergências das linhas teóricas e de como o comportamento é
Ética, Todos os códigos de ética profissionais, trazem em seu regido, existe um significado para ética que é imutável: ela
texto a maioria dos seguintes princípios: honestidade no corresponde aos valores morais que guiam o
trabalho, lealdade na empresa, alto nível de rendimento, comportamento de um indivíduo.
respeito à dignidade humana, segredo profissional, Ser ético está relacionado a seguir os padrões da sociedade
observação das normas administrativas da empresa e muitos e as regras e políticas das organizações.
outros.
Agir corretamente hoje não é só uma questão de Dicas para garantir a ética profissional:
consciência. É um dos quesitos fundamentais para quem quer Humildade: Esteja pronto para ouvir sugestões, elogios e
ter uma carreira longa e respeitada. Em escolhas críticas. Você pode aprender muito com seus colegas de
aparentemente simples, muitas carreiras brilhantes podem trabalho. Portanto, seja flexível às opiniões.
ser jogadas fora. Atualmente, mais do que nunca, a atitude dos Honestidade: Ninguém perde por ser honesto. Aliás, a
profissionais em relação às questões éticas pode ser a honestidade traz dignidade. Esta é a hora de mostrar seu
diferença entre o seu sucesso e o seu fracasso. caráter e ser um profissional ético.
Privacidade: Dentro das organizações, existem assuntos
Ter um comportamento ético profissional é uma sigilosos e que devem ser tratados de forma discreta. Seja algo
característica fundamental, valorize a ética na sua vida e de clientes ou colegas de trabalho, o seu dever é manter
no ambiente de trabalho. segredo e não expor informações que são exclusividades da
empresa.
Ser Ético: Respeito: Seja com o chefe ou com o subordinado, você
deve ser respeitoso com os colegas de trabalho. Evite falar mal
Ser ético nada mais é do que agir direito, proceder bem, daqueles que te incomodam, isso não irá te acrescentar nada e
sem prejudicar os outros. É ser altruísta, é estar tranquilo com poderá prejudicar sua imagem dentro da empresa. A ética
a consciência pessoal. É, também, agir de acordo com os revela o caráter, sendo assim e pode proporcionar inúmeras
valores morais de uma determinada sociedade. Essas regras conquistas profissionais.
morais são resultado da própria cultura de uma comunidade. Organização do local de trabalho: Para trabalharmos bem,
Elas variam de acordo com o tempo e sua localização no mapa. precisamos estar num ambiente agradável - limpo, organizado,
A regra ética é uma questão de atitude, de escolha. de fácil acesso.4
Além de ser individual, qualquer decisão ética tem por trás
um conjunto de valores fundamentais. Muitas dessas virtudes A organização é importante e afeta até o rendimento no
nasceram no mundo antigo e continuam válidas até hoje. serviço. Quando estamos num lugar organizado, trabalhamos
mais animados. Se precisamos procurar alguma coisa como
Eis algumas das principais: uma ferramenta, achamos com muita mais facilidade.
a) Ser honesto em qualquer situação: a honestidade é a
primeira virtude da vida nos negócios, afinal, a credibilidade é Agora, se temos problema com a organização, existem
resultado de uma relação franca; algumas ferramentas que podem nos ajudar. Uma desta
b) Ter coragem para assumir as decisões: mesmo que ferramentas é uma metodologia para organização de qualquer
seja preciso ir contra a opinião da maioria; ambiente: 5s:
c) Ser tolerante e flexível: muitas ideias aparentemente Senso de utilização - verifica o que é realmente
absurdas podem ser a solução para um problema. Mas para necessário no ambiente de trabalho (ferramentas, materiais,
papéis etc.). O que não está sendo usado é guardado ou

3 MARQUES, José Roberto. Como ter atitudes éticas no ambiente de trabalho. 4CZARNESKI, Edson Ricardo. A organização no ambiente de trabalho. Disponível
Disponível em: http://economia.terra.com.br/blog- em: http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/5s-a-organizacao-no-
carreiras/blog/2014/05/29/como-ter-atitudes-eticas-no-ambiente-de-trabalho/. ambiente-de-trabalho/38730/. Acesso em: Fevereiro/2016.
Acesso em: Março/2016.

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APOSTILAS OPÇÃO

descartado. Este processo diminui os obstáculos à negação dessa capacidade como também na depreciação do
produtividade no trabalho; indivíduo diante do circuito do seu trabalho ou do convívio
Senso de ordenação - enfoca a necessidade de um espaço social.
organizado (quadro de ferramentas, arquivo de documentos Para ser contratado em uma empresa ou para a sua
etc.). Dispomos os materiais que precisamos no nosso serviço manutenção de emprego não basta ter diplomas e mais
de maneira a melhorar o fluxo do nosso trabalho e eliminando diplomas se não existir competência. Por exemplo, um
movimentos desnecessários; profissional que se formou em direito, até mesmo na melhor
Senso de limpeza - a limpeza é uma necessidade diária de universidade, mas que não sabe preparar uma peça processual
qualquer ambiente. Geralmente, em escritórios existe uma não terá valor competitivo quer como profissional empregado,
equipe que faz esta limpeza. Mesmo assim, podemos ajudar quer como prestador de serviços.
jogando o lixo fora, por exemplo. Existe ambientes, como as Diplomas servirão para dar referencial ao profissional ou
oficinas por exemplo, onde os funcionários devem fazer esta até mesmo para enfeitar a parede da sua sala, mas a
limpeza. No final do expediente pode-se tomar alguns minutos competência é o fator chave que atrelada à diplomação lhe
para executar esta organização; dará subsídios profissionais para ser bem sucedido.
Senso de saúde - este senso pode parecer um tanto
metódico, mais é importante. Basicamente, ele padroniza as Espírito empreendedor
práticas do trabalho, como manter os materiais juntos, canetas Os dias do funcionário que se comporta como funcionário
com canetas, livros com livros e assim por diante. Favorece à pode estar com os dias contados. A visão tradicionalista de
saúde física, mental e ambiental; empregador e empregado, chefe e subordinado estão
Senso de autodisciplina - utilizado para fazer a caminhando para o desuso.
manutenção e manter a ordem em nosso ambiente de trabalho. As empresas com visão moderna estão encarando seus
É um tanto difícil, pois é necessário fazer com que os funcionários como colaboradores ou parceiros e
funcionários sigam regras como " usou, guarde", "sujou, implementando a visão empreendedora. Isso significa que os
limpe". empresários perceberam que dar aos funcionários a
possibilidade de ganhar mais do que simplesmente o salário
Algumas empresas fazem, periodicamente, inspeções nos mensal fixo, tem sido um bom negócio, pois faz com que o
departamentos para a verificação da organização. Pode se profissional dê maiores contribuições à organização,
nomear alguns funcionários para fazer estas inspeções de garantindo assim o comprometimento da equipe na busca de
tempos em tempos. O objetivo é fazer tal manutenção, ajudar resultados positivos.
na aplicação dos princípios por parte dos funcionários.
Equilíbrio emocional
Comportamento Profissional O que quero dizer com o equilíbrio emocional? Bem, dito
de modo simples, é o preparo psicológico para superar
Comportamento Profissional: é o conjunto de atitudes adequadamente as adversidades que surgirão na empresa e
esperadas do servidor no exercício da função pública, fora dela.
consolidando a ética no cotidiano das atividades prestadas, Quando falamos em equilíbrio, emocional, é importante
mas indo além desta ética, abrangendo atitudes profissionais avaliar também as situações adversas pelas quais todos os
como um todo que favorecem o ambiente organizacional do profissionais passam. É justamente aí que surge o momento da
trabalho. Quando se fala num comportamento profissional verdade que o profissional mostrará se tem o equilíbrio
conforme à ética busca-se que a atitude em serviço por parte emocional.
daquele que desempenha o interesse do Estado atenda aos
ditames éticos. Marketing Pessoal
Hoje em dia, cada vez mais as empresas procuram O marketing pessoal pode ser definido como o conjunto de
“verdadeiros” profissionais para trabalharem nelas. Com isso, fatores e atitudes que transmitem uma imagem da pessoa. Os
é evidente que não há mais espaço no mercado de trabalho fatores a que me refiro incluem vestimenta como um todo, os
para profissionais medíocres, desqualificados e modos pessoais, o modo de falar e a postura do profissional
despreparados para a função a ser exercida, mas sim para diante dos demais.
profissionais habilidosos, com pré-disposição para o trabalho Referindo-se à vestimenta, cabe salientar que o
em equipe, com visão ampliada, conhecimento de mercado, profissional deve vestir-se adequadamente ao ambiente em
iniciativa, espírito empreendedor, persistente, otimista, que está inserido. Se a sua empresa adota um padrão formal,
responsável, criativo, disciplinado e outras habilidades e obviamente a sua vestimenta deve estar em conformidade com
qualificações. ela e o mesmo se refere a uma entrevista de emprego. Da
Portanto, a seguir vou discorrer sobre algumas das mesma forma, seria um contrassenso usar terno e gravata para
características dos bons profissionais: trabalhar em uma linha de produção. Portanto, a regra básica
é vestir-se em conformidade com o ambiente de trabalho.
Preparado para mudanças
As empresas buscam por profissionais adaptáveis porque Comportamentos que o profissional deve evitar
tudo no mundo moderno muda. As tecnologias, as relações de
emprego, o mercado, os valores e o modo encontrar soluções Comportamentos que prejudicam a ambientalização
para os problemas mudaram, enfim tudo mudou dentro da empresa, caracterizam tais pessoas como maus
significativamente nos últimos anos e continuarão mudando. profissionais:
Portanto temos de acompanhar o ritmo das coisas. Muitos
profissionais pensam que podem fazer as mesmas coisas e do Aquele que fala demais: Já viu aqueles profissionais que
mesmo modo durante toda a vida e depois reclamam porque são os primeiros a propagar as notícias ou as “fofocas” dentro
não são bem sucedidos. da empresa? Costumo chamar tais profissionais de locutores
da “rádio peão”. Recebem uma informação, sequer sabem se
Competência são confiáveis, mas passam adiante e o que é pior, incluindo
Competência é uma palavra de senso comum, utilizada informações que sequer existiam inicialmente, alterando
para designar uma pessoa capaz de realizar alguma coisa. O totalmente a informação recebida. Cuidado para não ser um
antônimo disso, ou seja, incompetência, implica não só na destes.

Relações Interpessoais 7
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APOSTILAS OPÇÃO

Aquele que fala mal dos outros: São aqueles Os pilares do comportamento profissional adequado
profissionais, se é que existe algum profissionalismo nisso, que são:
insistem em falar sobre seus colegas de trabalho, longe destes “Integridade – agir de maneira honesta e confiável.
é claro, aquilo que com certeza não seriam capazes de falar na Modos – nunca ser egoísta, rude ou indisciplinado.
frente deles. Personalidade – expressar os próprios valores, atitudes e
opiniões, desde que não desrespeite ou seja preconceituoso com
Aquele que vive mal-humorado: Esses são, sem dúvida, alguém.
uns dos mais evitados pelos outros colaboradores. Existe algo Aparência – apresentar-se sempre da melhor maneira
pior do que conviver com quem vive reclamando da vida ou possível.
que vive de mau humor? Pessoas de “mal com a vida”, repelem Consideração – ver-se do ponto de vista da outra pessoa.
as outras pessoas de perto delas. Ninguém tem a obrigação de Tato – refletir antes de falar”6.
estar sorrindo todos os dias, mas isso não significa que temos
o direito de estar sempre de mau humor. Abaixo, listam-se 10 atitudes em serviço que devem ser
evitadas:
Aquele que não tem higiene pessoal: Somente o próprio 1) Assuntos profissionais x pessoais - É muito comum
profissional é capaz de conseguir conviver com ele mesmo. que o colaborador realize atividades como falar com a família,
Isso porque o corpo dele está condicionado a suportar isso. É acessar redes sociais e pagar contas durante o expediente.
necessário cuidar da própria higiene e minimamente da Para não prejudicar as obrigações na empresa, o indicado é
aparência. resolver essas questões após a jornada de trabalho.
2) Roupa – Pode até parecer fútil para alguns, mas muitos
Aquele que não respeita os demais: O respeito aos profissionais ainda pecam no vestuário. Há situações, como o
outros é fundamental para o convívio em grupo. Já presenciei abuso de decotes e transparências, e o uso de jeans em dias
casos extremos de falta de respeito, pois existem profissionais não permitidos, que podem criar problemas.
que não sabem respeitar seus colegas. Infelizmente, parte 3) Postura – Cuidado com palavrões, gírias e falar alto no
dessas pessoas estão em cargos de direção. trabalho. Comportamentos como esses podem prejudicá-lo no
ambiente corporativo. Por isso, é fundamental ser educado e
Aquele que é egoísta: O egoísmo é algo difundido nas manter a compostura mesmo em situações críticas.
empresas até mesmo porque a competitividade interna é 4) Críticas em público – O feedback negativo nunca deve
muito grande. Pensar somente em si mesmo o tempo todo não ser em público, pois tal atitude pode constranger o
é a melhor alternativa para o profissional. Por isso cuidado, colaborador. Porém, caso o assunto for um elogio ou
pois um dia a vítima pode ser o próprio egoísta. reconhecimento é indicado fazer diante de outras pessoas
como forma de incentivo. Os especialistas afirmam que acima
Aquele que brinca demais: Brincar é bom, desde que as de tudo é preciso ter bom senso e respeito.
brincadeiras sejam saudáveis, num clima de respeito e 5) Falta de Pontualidade – A atenção ao horário não é
equilíbrio. Aqueles que brincam a todo o momento são pessoas apenas na entrada ao trabalho, mas inclui ser pontual nas
extremamente inconvenientes e irritam quem está a sua volta. reuniões e outros compromissos da empresa. Além disso, o
Isso tira a credibilidade do profissional e pode lhe trazer profissional deve respeitar o tempo estipulado para o almoço
problemas com a ambientalização. e cumprir suas tarefas no prazo.
6) Falar mal da empresa – Criticar a organização por
Aqueles que são inflexíveis: Já observou aqueles causa do salário, benefícios e discordar das novas políticas da
profissionais que são os únicos que se acham certos? Pois bem, organização no ambiente de trabalho, não pega bem. Para os
isso é um grande problema para a convivência em grupo. É especialistas, existem os canais e os momentos certos para
importante que todos nós tenhamos em mente que não relatar a insatisfação. O indicado é expor as ideias ao mesmo
estamos certos o tempo todo e nem tampouco precisamos tempo em que propõe soluções.
fazer valer perante os outros as nossas próprias ideias a todo 7) Desrespeitar a hierarquia – Não acatar as regras da
o momento. empresa é considerada insubordinação e pode levar a
As qualificações, comportamentos e atitudes dos bons demissão. Além disso, passar por cima da posição pré-
profissionais são muitas e estão em constante mudança. Mas estabelecidas na instituição não é visto como pró-atividade.
com certeza aqueles que procuram o auto aprimoramento Em termos de postura, é essencial respeitar a hierarquia para
estarão mais bem preparados para tornarem-se excelentes evitar problemas na vida profissional.
profissionais”5. 8) Impor pensamentos ideais – É comum o líder ditar
regras como crenças religiosas e política, entre outras
Atitudes em serviço: ações que o servidor toma quando determinações que ele acredite. Segundo especialistas, o chefe
no desempenho de suas funções, acarretando benefícios deve agir como responsável e não como ditador.
quando cumpridoras da ética e prejuízos quando não. Na 9) Ausência de feedback – A falta de esclarecimento dos
verdade, trata-se de exteriorização do comportamento funcionários perante seus colegas e ao público externo
profissional. compromete a imagem da organização.
10) Atmosfera negativa – Conviver com colega que
reclama de tudo e ainda é mal-humorado não é nada agradável.
O aconselhável é agir para sempre manter um ambiente
positivo”7.

5 Disponível em: <http://www.vocevencedor.com.br/artigos/recursos- 7Disponível em: <http://revista.penseempregos.com.br/noticia/2013/04/saiba-


humanos/principais-atitudes-e-comportamentos-dos-bons-profissionais>. Acesso 10-comportamentos-inadequados-para-o-ambiente-de-trabalho-4110313.html>.
em: 06 out. 2014. Acesso em: 06 out. 2014.
6 Disponível em: <http://imagempessoal.band.uol.com.br/seis-principais-
habilidades-pessoais-para-aprimorar-seu-comportamento-profissional/>. Acesso
em: 06 out. 2014.

Relações Interpessoais 8
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APOSTILAS OPÇÃO

direitos, deveres, missão, visão e valores da organização,


aprende de maneira errônea, adquiri comportamentos que
5. Integração; podem prejudicar seu trabalho ou não aprendem os canais de
comunicação interna.
Assim, o colaborador pode se sentir desmotivado e
A integração também pode e deve ocorrer no contexto perdido. O momento de integração deve ser uma prática criada
profissional, sendo que para um funcionário recentemente pelo Setor de Recursos Humanos, considerando para sua
contratado, a integração na empresa é essencial para que seja realização, o público alvo, comunicação adequada, conteúdo,
bem sucedido na sua tarefa. É importante ser integrado na formas, linguagem e recursos bem adaptados a serem
função desempenhada, mas também ser integrado na sua utilizados.
equipe, para que conheça melhor os seus colegas. Com esse Trata-se de um programa de boas-vindas ao novo membro
objetivo, muitas empresas organizam eventos ou retiros de da equipe, este deve sentir-se parte importante no grupo, deve
"team building", com o objetivo de fortalecer laços entre os ser informado acerca de suas responsabilidades na empresa,
colegas da mesma empresa. direitos e deveres, expectativas do grupo com relação a ele,
missão, visão e valores da empresa, suas possibilidades de
Integração social desenvolvimento dentro da instituição, a quem deve se
reportar, dentre outras.
No âmbito da sociologia, a integração social consiste no É válido destacar, que a integração do novo colaborador
processo de introdução de indivíduos ou grupos em contextos não ocorre em um único dia, portanto, deve ser considerado
sociais maiores, com padrões e normais mais gerais. Quanto todo seu período de experiência. Neste, torna-se indispensável
maior for a integração dentro de uma sociedade, maior será o acompanhamento das atividades, através de treinamentos,
nível de concordância entre os seus membros e maior será a orientações contínuas contendo principalmente, feedbacks
estabilidade social na comunidade. Apesar de ser um conceito sobre seu desempenho. É destaque também, o fato de que
positivo, em alguns casos, quando ocorre uma integração total, muitas empresas trabalham com funcionários terceirizados,
é comum haver uma lentidão em processos dinâmicos sociais com estes o RH deve elaborar um programa diferenciado, deve
e por vezes uma inaptidão de mudar e se adaptar a unir-se com a empresa contratada e desenvolver juntos, um
acontecimentos e fenômenos novos. programa específico de integração, haja vista que o
Apesar de algumas sociedades atuais não fazerem essa funcionário terceiro faz parte da equipe e contribui com os
distinção, é importante salientar que existem dois tipos de resultados da empresa, logo deve estar ciente do seu “modo de
integração: a normativa, que ocorre através da incorporação ser e de agir”.
das normas e valores predominantes; e a funcional, que ocorre Quando o novo funcionário se sente acolhido, orientado e
graças à dependência mútua entre os seus vários elementos. integrado a organização, e não apenas inserido nela, as
possibilidades de que este profissional sinta-se motivado e
Integração nacional comprometido com o trabalho e com os resultados da empresa
são maiores, pois ele sabe a razão pela qual desempenha
No Brasil, a integração nacional é da responsabilidade do aquela função e sua meta no resultado final. Desta forma, os
Ministério da Integração Nacional (MI), que foi criado em 1999 profissionais de recursos humanos estarão cumprindo a meta
para gerir programas e projetos de integração regional, de contribuir para o sucesso da empresa.
desenvolvimento urbano, relação com estados e municípios,
irrigação e defesa civil. Benefícios/Vantagens da integração
O Ministério da Integração Nacional absorveu as -Adaptação mais rápida de novos colaboradores, trazendo
competências da Secretaria Especial de Políticas Regionais, resultados mais rápidos para a empresa;
sendo que algumas delas são: estratégias de integração das -Comunicação clara e única para toda a empresa;
economias regionais, ordenação territorial, planos e -Aumento do índice de satisfação dos colaboradores;
programas regionais de desenvolvimento. -Integra as pessoas e setores;
-Permite conhecer todas as regras e pessoas da empresa.
Integração e cálculo -Cria senso de envolvimento e pertença do colaborador
com a empresa;
No ramo da matemática, mais concretamente do cálculo e -Informa claramente expectativas da empresa sobre a
análise numérica, a integração remete para a obtenção de uma postura esperada;
função primitiva a partir de outra que foi dada anteriormente -Acelera DRASTICAMENTE o processo de adaptação;
e estimar o valor numérico de uma integral. -Evita perda de tempo com dúvidas sobre assuntos
Dois métodos usados neste caso são: o da mudança de básicos;
variáveis, também conhecido por integração por -Proporciona alta produtividade desde os momentos
substituição (onde existe uma redefinição da expressão da iniciais, já que o colaborador é bem informado sobre aspectos
variável independente), e o da integração por partes, que cotidianos.
consiste em utilizar uma fórmula específica para simplificar a
integral. Os aspectos mais relevantes a serem abordados devem
ser:
O objetivo da integração é reduzir o tempo de adaptação -Histórico da empresa: História da fundação, missão,
e treinamento, proporcionar maior segurança na execução das valores, cultura; referenciar conquistas;
atividades, estabelecer uma relação de confiança, auxiliando -Estrutura Organizacional: Organograma, quem se
no relacionamento com os demais funcionários. reporta a quem, onde ele se encontra neste organograma e a
São poucas as organizações que destinam a importância que ele deve se reportar;
devida a integração de colaboradores/funcionários. O que se -Expectativas: Salários, benefícios, normas da empresa, o
nota, é que e o programa de integração é confundido com que ele pode esperar da empresa e quais as expectativas da
apresentação a equipe e instrumentos de trabalho. Desta empresa em relação a sua contratação;
forma, sem o esclarecimento necessário, o funcionário novo, -Avaliações – Quando e como ocorrem e de que maneira
acaba por ter que aprender sozinho a lidar com questões serão realizadas, feedback;
complexas na empresa, e por não ter bem delimitado seus

Relações Interpessoais 9
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APOSTILAS OPÇÃO

-Apresentação da equipe e a função do novo estas não envolvem a tentativa de compreender as emoções ou
colaborador – Neste estágio deve ser realizado pelo gestor da o ponto de vista da outra pessoa. A empatia tampouco é o
área solicitante ou um funcionário capacitado para tal no mesmo que a Regra de Ouro, “Faça para os outros o que
intuito de minimizar o impacto dos primeiros dias e facilitar o gostaria que eles fizessem para você”, pois isto supõe que seus
relacionamento com os demais funcionários. próprios interesses coincidem com os deles. George Bernard
Shaw observou isso em seu estilo característico ao gracejar:
O custo deste processo depende do grau de exigência da “Não faça aos outros o que gostaria que eles lhe fizessem – eles
empresa, cada qual deverá capacitar o setor ou membro da podem ter gostos diferentes dos nossos.” A empatia é uma
equipe para que esteja apto a implantação do mesmo e quando questão de descobrir esses gostos diferentes
necessário utilizar um material de apoio como um manual de
integração com as principais informações da empresa, outros Como podemos utilizar a empatia:
meios como a intranet, dinâmicas, vídeos institucionais,
palestras entre outros. Muitas empresas não veem esse Elogio – quando cumprimentamos a pessoa por alguma
processo como um investimento, apenas como custo, pois é coisa que ela se orgulha. Exemplo: seu filho é um excelente
difícil mensurar os resultados imediatamente, mas no aluno. Nota: tem que ser verdadeiro!
decorrer do desenvolvimento das atividades percebe-se a Favor – quando, através de cuidados, amizade ou
segurança e a confiança nas tarefas do dia-a-dia que revelam a consideração pelo cliente, fazemos gentilezas, além da
importância do processo. obrigação. Exemplo: “mais tarde eu vou passar próximo dali,
A integração é necessária porque é um processo que busca se aceitar, posso levar o livro”.
o comprometimento do novo colaborador, visando Identificação – interesses comuns, tanto de natureza
demonstrar a importância da função que ele executará e de social quanto profissional, que servem para nos aproximar da
que forma isso contribuirá no alcance de metas. Esse processo pessoa. Exemplo: “coincidentemente, também gosto desse
valoriza a empresa e os demais funcionários, pois cabe aqui intérprete”. Nota: tem que ser verdadeiro!
também referenciar as conquistas e acontecimentos que se Testemunha – palavras usadas para afirmar a aprovação
somam a história e a formação da cultura, e ainda valoriza o dada por outras pessoas ao nosso produto/ serviço/ trabalho
recém contratado, pois agora ele faz parte desta equipe, ou o resultado positivo conseguido por outro com o isso.
consequentemente fortalece a empresa no mercado em que Exemplos: “todos os egressos desse curso hoje ocupam
ela está inserida, buscando sempre atingir a meta de toda posições gerenciais”. Nota: tem que ser verdadeiro!
empresa que é o sucesso.
Mais especificamente para atingir a empatia, temos 6
hábitos de pessoas extremamente empáticas:

6. Empatia; Hábito 1: Acione seu cérebro empático. Mudar nossas


estruturas mentais para reconhecer que a empatia está no
cerne da natureza humana e pode ser expandida ao longo de
Empatia: Tendência para sentir o que sentiria, caso nossas vidas.
estivesse na situação e nas circunstâncias experimentadas por Hábito 2: Dê o salto imaginativo Fazer um esforço
outra pessoa. Estado de “sintonia” emocional e cognitiva com consciente para colocar-se no lugar de outras pessoas –
outra pessoa, atingido, especificamente, através da inclusive no de nossos “inimigos” – para reconhecer sua
compreensão da situação dessa outra pessoa a partir de humanidade, individualidade e perspectivas.
dentro, ou seja, do que essa situação significa para ela. A Hábito 3: Busque aventuras experienciais. Explorar
empatia pode preceder ou não à simpatia. O papel da empatia vidas e culturas diferentes das nossas por meio de imersão
é muito discutido, quer na nossa compreensão das outras direta, viagem empática e cooperação social.
pessoas, quer nas nossas respostas éticas. Hábito 4: Pratique a arte da conversação. Incentivar a
curiosidade por estranhos e a escuta radical, e tirar nossas
Empatia é a arte de se colocar no lugar do outro por máscaras emocionais.
meio da imaginação, compreendendo seus sentimentos e Hábito 5: Viaje em sua poltrona. Transportarmo-nos
perspectivas e usando essa compreensão para guiar as para as mentes de outras pessoas com a ajuda da arte, da
próprias ações. literatura, do cinema e das redes sociais na internet.
Hábito 6: Inspire uma revolução. Gerar empatia numa
É uma projeção imaginativa dentro da situação de outra escala de massa para promover mudança social e estender
pessoa, especialmente para a apreciação de suas qualidades nossas habilidades empáticas para abraçar a natureza.
emocionais e motivacionais (o que motiva tal
comportamento?). O contágio emocional, pelo qual alguém Aprendizagens possíveis:
percebe a emoção visível de outra pessoa, às vezes
inconscientemente e sem referência à sua causa ou ao seu -A capacidade de se colocar no lugar do outro;
“objeto”. -A percepção daquilo que as pessoas estão sentindo e
passando;
A empatia foi considerada uma precondição do -A habilidade de ouvir com carinho e atenção aquilo que
pensamento ético e a maior colaboradora para a união social e estão nos comunicando através de palavras, gestos ou atos;
para o altruísmo, atribuição de estado mental, uso da -Apreciar e respeitar as diferenças: pessoas, raças,
linguagem e interpretação. Comportamento que nos leva a culturas, filosofias, religiões, formas de pensar etc.
entender como a outra pessoa age ou pensar daquela maneira.
Demonstra que concordamos com a pessoa (pelo menos a A prática da empatia é de grande importância para a
princípio). Quando usamos a empatia reduzimos a carga convivência saudável e harmoniosa entre as pessoas. É a
emocional, o que nos aproxima da pessoa e possibilita a verdadeira inteligência emocional em uso, o que é importante
explanação dos argumentos. para as pessoas terem sucesso nos relacionamentos pessoais e
profissionais.
Portanto, a empatia é distinta de expressões de compaixão
– como piedade ou o sentimento de pesar por alguém –, pois

Relações Interpessoais 10
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APOSTILAS OPÇÃO

7. Capacidade de ouvir; 8. Argumentação Flexível.

Ouvir e escutar A Teoria da Argumentação, ou simplesmente


Argumentação, é o estudo interdisciplinar de como conclusões
Ouvir e escutar são duas ações diferentes. Ao longo do dia podem ser alcançadas através do raciocínio lógico; ou seja,
ouvimos muitas coisas, mas escutamos muito pouco. Quando argumentar é afirmar algo, seguramente ou não, baseado em
ouvimos, não prestamos atenção profundamente, premissas. Isso inclui as artes e as ciências do debate civil, o
simplesmente captamos a sucessão de sons que são diálogo, o bate-papo e a persuasão. Engloba o estudo das
produzidos ao nosso redor. Enquanto que, quando escutamos, regras de inferência, da lógica e das regras de procedimento,
nossa atenção está dirigida à algum som ou mensagem tanto em cenários artificiais quanto no mundo real.
específica, ou seja, existe uma intenção; nesse momento, todos A teoria da argumentação inclui o debate e a negociação,
os nossos sentidos se encontram focados no que estamos das quais possuem interesse em alcançar conclusões
recebendo. Assim, as pessoas que sabem escutar os demais os mutuamente aceitáveis. Também engloba o diálogo erístico, o
acompanham em sua viagem pela vida. ramo do debate social em que a vitória sobre um oponente é o
objetivo principal. Esta arte e ciência é com frequência o meio
Aprendendo a escutar pelo qual algumas pessoas protegem suas crenças ou seus
interesses num dialogo racional, em linguagem comum, e
Um provérbio oriental diz: “Ninguém coloca mais em durante o processo de defender suas ideias.
evidência sua baixeza e má criação, do que aquele que começa A Argumentação é usada na advocacia, por exemplo em
a falar antes que seu interlocutor tenha terminado”. tribunais, para provar ou refutar a validade de certos tipos de
evidências. Além disso, estudiosos da teoria da argumentação
O que acontece é que, às vezes, quando estamos falando estudam as razões post hoc (após o ato concluído) mediante as
com outra pessoa, ambos temos a dificuldade de escutar, quais um indivíduo pode justificar decisões que originalmente
passando, em muitas ocasiões, a apenas ouvir enquanto poderiam ter sido realizadas de forma irracional.
elaboramos o que vamos dizer assim que o outro terminar, ao
invés de prestar atenção ao que estão nos dizendo. Dessa Motivações
forma, o diálogo fica bloqueado por pausas verbais, já que, se
todos querem falar ao mesmo tempo e as razões de ambos não Desde a antiguidade, a argumentação tem sido objeto de
são escutadas, não há diálogo; há apenas monólogos se interesse de todas as áreas em que se pratica a arte de falar e
sobrepondo. escrever de forma persuasiva. Nos dias de hoje, o estudo da
argumentação tem recebido atenção devido à grande
Saber escutar é uma atitude difícil, já que exige o domínio influência que os meios de comunicação têm sobre a
de si mesmo e implica atenção, compreensão e esforço para sociedade. Esta influência se manifesta na abordagem de
captar a mensagem do outro. Significa dirigir nossa atenção ao estratégias argumentativas para convencer o público sobre
outro, entrando em seu âmbito de interesse e seu ponto de certos valores e ideias.
referência. Exemplos disso são os discursos argumentativos
relacionados com a publicidade e com o pensamento político.
O diálogo exige uma atitude silenciosa, na qual se escuta Assim, então, a principal motivação do estudo da
atentamente. O escritor e orador J. Krishnamurti afirmava que argumentação (por parte dos argumentadores) consiste em
“Escutar é um ato de silêncio”. Enquanto não calarmos nosso descobrir se o argumento apresentado é verossímil, ou seja, se
diálogo interno e prestarmos atenção ao nosso interlocutor, o objeto da argumentação está disposto a aceitá-la.
não aprenderemos a escutar. Somente a atitude de escutar
atentamente faz com que a resposta que daremos ao nosso Componentes chave da argumentação
interlocutor crie força. Se não abrirmos nossos ouvidos para
escutar completamente, será difícil poder dizer ao outro algo - Entender e identificar argumentos, estando eles
que seja válido. explícitos ou implícitos, e os objetivos dos participantes nos
diferentes tipos de diálogos.
Se realmente escutarmos, a pessoa que fala sentirá que - Identificar as premissas de que as conclusões são
estão dando a ela a importância que ela merece, ficando derivadas.
agradecida e criando em si, dessa maneira, um clima de - Estabelecer o "ônus da prova" – determinar quem fez a
respeito, estima e confiança. afirmação inicial e, portanto, quem é o responsável por prover
evidencias que tornam a sua posição digna de aceitação.
O ato de escutar é uma habilidade que exige abertura, - Para o responsável pelo "ônus da prova", o advogado,
transparência e vontade de compreender. O perfeito equilíbrio para combinar evidências de sua posição a fim de convencer
entre saber escutar e saber falar produz o diálogo. ou forçar a aceitação do oponente. O método pelo qual isso é
isto é feito é produzir um argumento válido, sólido e
Devemos exercitar a habilidade de escutar! convincente, desprovido de fraquezas e não facilmente
atacado.
É um exercício saudável, enriquecedor e solidário, - Em um debate, o cumprimento do ônus da prova cria um
sobretudo em uma sociedade na qual existem muitas pessoas ônus da tréplica. O sujeito deve tentar identificar falhas no
que precisam ser ouvidas. raciocínio no argumento do oponente, para atacar as
razões/premissas do argumento, para fornecer contra
Somente quando somos capazes de escutar o outro, exemplos se possível, para identificar alguma falácia, e para
abrimos a porta para que esta pessoa se comunique conosco. mostrar por que uma conclusão não pode ser derivada das
razões apresentadas pelo seu argumento.

Relações Interpessoais 11
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APOSTILAS OPÇÃO

Estrutura interna dos argumentos teorias da argumentação "não-filosóficas" cresceram o qual


localizou os campos dos argumentos formal e material em
Normalmente um argumento possui uma estrutura campos intelectuais particulares.
interna, compreendendo o seguinte Estas teorias incluem lógica informal, epistemologia social,
- conjunto de pressupostos ou premissas etnometodologia, atos de fala, a sociologia do conhecimento, a
- um método de raciocínio ou dedução e sociologia da ciência, e a psicologia social. Essas novas teorias
- uma conclusão ou ponto. não são não lógicas ou anti-lógicas. Elas procuram coerência
lógica na maioria das comunidades de discurso. Essas teorias
Um argumento deve ter pelo menos duas premissas e uma são portanto costumeiramente rotuladas como "sociológicas"
conclusão. Frequentemente a lógica clássica é usada como o em que eles focam nos campos sociais do conhecimento.
método de raciocínio em que a conclusão é inferida
logicamente dos pressupostos. Um desafio é que se um Abordagens para argumentar através da comunicação
conjunto de pressupostos é inconsistente, então nada pode ser e na lógica informal
inferido logicamente da inconsistência.
Por isso é comum exigir que o conjunto de pressupostos Geralmente o rótulo de "argumentação" é usado por
apresentado seja consistente. É também uma boa prática estudiosos de comunicação, tais como (citando apenas alguns:
exigir que o conjunto de pressupostos ser o mínimo possível, Wayne E. Brockriede, Douglas Ehninger, Joseph W. Wenzel,
com relação ao conjunto de inclusão, necessário para inferir o Richard Rieke, Gordon Mitchell, Carol Winkler, Eric Gander,
consequente. Tais argumentos são chamados argumentos Dennis S. Gouran, Daniel J. O'Keefe, Mark Aakhus, Bruce
MINCON, abreviação para mínimo consistente. Esse tipo de Gronbeck, James Klumpp, G. Thomas Goodnight, Robin
argumentação tem sido aplicada para os campos do direito e Rowland, Dale Hample, C. Scott Jacobs, Sally Jackson, David
da medicina. Zarefsky, e Charles Arthur Willard), enquanto o termo "lógica
Uma segunda escola de argumentação investiga informal" é preferido pelos filósofos, como exemplo temos os
argumentos abstratos, onde o argumento em si é considerado filósofos decorrentes da Universidade de Windsor Ralph H.
um termo primitivo, por isso nenhuma parte da estrutura Johnson e J. Anthony Blair. Harald Wohlrapp desenvolveu um
interna dos argumentos é levada em conta. Na sua forma mais critério para validade (Geltung, Gültigkeit) como a liberdade
comum, a argumentação envolve um indivíduo e um de se levantar objeções.
interlocutor ou um oponente engajado em um diálogo, cada Trudy Govier, Douglas Walton, Michael Gilbert, Harvey
um defendendo diferentes posições e tentando convencer o Seigal, Michael Scriven, e John Woods (para citar apenas
outro. alguns) são outros autores de destaque nesta tradição. Nos
Outros tipos de diálogos em além do convencimento são a últimos trinta anos, no entanto, os estudiosos de diversas
erística, busca de informações, investigação, negociação, disciplinas foram anexados em conferências internacionais
deliberação e o método dialético (Douglas Walton). O método como as organizadas pela Universidade de Amsterdam
dialético ficou famoso por causa de Platão em suas histórias (Holanda) e pela Sociedade Internacional para o Estudo da
sobre Sócrates questionando criticamente vários Argumentação (ISSA).
personagens, entre eles figuras históricas. Outros exemplos de conferências internacionais são a
conferência bienal realizada em Alta, Utah patrocinado pela
Argumentação e os fundamentos do conhecimento Associação Nacional de Comunicação (USA), a Associação
Forense Americana e conferências patrocinadas pela
A teoria da argumentação teve suas origens na teoria do Sociedade para o Estudo da Argumentação de Ontário (OSSA).
conhecimento (epistemologia), pertencente ao campo da Alguns estudiosos (como Ralph H Johnson) interpretam o
filosofia, que demandou a procura de bases para as termo "argumento" rigorosamente, como um discurso
configurações (lógica, leis que regem o abstrato) e os materiais exclusivamente escrito ou mesmo um discurso em que todas
(física, leis que regem o concreto) de um sistema universal de as premissas estão explicitas.
conhecimento. Mas estudiosos do argumento rejeitaram Outros (como Michael Gilbert) interpretam o termo
gradualmente a filosofia sistemática de Aristóteles e o "argumento" de forma mais flexível, incluindo a fala e também
idealismo de Platão e Kant. Eles questionaram e descartaram o discurso não verbal, por exemplo o tipo de argumentação
totalmente a ideia de que as premissas dos argumentos que é usado em um memorial de guerra ou um cartaz de
recebem sua solidez do sistema filosófico formal. O seu campo propaganda. O filósofo Stephen E. Toulmin diz que um
assim foi expandido. argumento é uma afirmação sobre a nossa atenção e nossas
O primeiro ensaio de Karl R. Wallace, "A Substância da crenças, um ponto de vista que parece autorizar o tratamento,
Retórica: Boas Razões" no Quarterly Journal of Speech 44 por exemplo, cartazes de propaganda como argumentos. A
(1963), levou muitos estudiosos a estudar a "argumentação de disputa entre teóricos rigorosos e flexíveis é de longa data e
mercado" – os argumentos comuns das pessoas comuns. O improvável de ser resolvida. Os pontos de vista da maioria dos
primeiro ensaio da argumentação de mercado foi feito por Ray teóricos da argumentação e analistas fica em algum lugar entre
Lynn Anderson e David C. Mortensen, "Lógica e Argumentação estes dois extremos.
de Mercado" no Quarterly Journal of Speech 53 (1967): 143-
150. Essa linha de pensamento levou a uma aliança natural Tipos de argumentação
com os desenvolvimentos mais recentes na sociologia do
conhecimento. Argumentação de conversação
Alguns estudiosos obtiveram conexões com
desenvolvimentos recentes na filosofia, isto é, o pragmatismo O estudo da conversação que ocorre naturalmente, surgiu
de John Dewey e Richard Rorty. Rorty tinha chamado esta a partir do campo da sociolinguística. Normalmente é
mudança de enfase de "a virada linguística". Nesta nova chamado de análise de conversação. Inspirado pela
abordagem de argumentação híbrida é usada com ou sem etnometodologia, ela foi desenvolvida no final dos anos 60 e
evidência empírica para estabelecer conclusões convincentes início dos anos 70, principalmente pelo sociólogo Harvey
sobre problemas que são de natureza moral, científica, Sacks e, entre outros, seus colaboradores mais próximos
epistêmica, ou de uma natureza que a ciência sozinha não pode Emanuel Schegloff e Gail Jefferson. Sacks morreu no início de
responder. Fora do pragmatismo e de muitos sua carreira, mas o seu trabalho foi continuado por outros em
desenvolvimentos intelectuais nas ciências humanas e sociais, seu campo, e a Análise da Conversação tornou-se uma força

Relações Interpessoais 12
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APOSTILAS OPÇÃO

estabelecida em sociologia, antropologia, linguística, usados pelos cidadãos em interações comuns para comentar e
comunicação através da fala e psicologia. entender os acontecimentos políticos. A racionalidade do
Isto é de particular influência na sociolinguística público é uma questão importante nesta linha de pesquisa. O
interracional, análise do discurso e da psicologia discursiva, cientista político Samuel L. Popkin cunhou a expressão
além de ser uma disciplina coerente em sua própria área. "eleitores mal informados" para descrever a maioria dos
Recentemente, técnicas de análise sequencial feitas para a eleitores que sabem muito pouco sobre política ou sobre o
análise da conversação têm sido aplicadas pelos foneticistas mundo em geral.
para explorar os objetivos argumentativos da parte fonética da Na prática, os "eleitores mal informados" podem não estar
linguagem. Estudos empíricos e formulações teóricas feitas cientes da legislação que seu representante tem apoiado no
por Sally Jackson e Scott Jacobs, e várias gerações de seus Congresso. Os eleitores mal informados podem basear a sua
alunos, têm descrito a argumentação como uma forma de decisão na propaganda política do candidato pela mídia ou um
gerenciar os desentendimentos da conversa dentro dos panfleto recebido no e-mail. É possível que a propaganda
contextos da comunicação e sistemas que naturalmente política ou os panfletos venham a apresentar uma posição
preferem o acordo. política que o candidato possui que contradiz completamente
as medidas legislativas tomadas por ele no congresso, em
Argumentação Matemática nome dos seus eleitores.
Ele só precisa ter uma pequena porcentagem do grupo
As bases da verdade matemática tem sido objeto de longos geral de votação que baseia a sua decisão em informações
debates. Frege em particular procurou demonstrar (ver imprecisas, uma faixa dos eleitores de eleitores de 10 a 12%,
Gottlob Frege, Os Fundamentos da Aritmética de 1884, e para mudar um resultado geral da eleição. Quando isso
logicismo na filosofia da matemática) que as verdades acontece, o eleitorado em geral pode ter sido enganado, ou se
matemáticas podem ser derivadas de axiomas puramente deixado enganar. No entanto, o resultado da eleição continua
lógicos e, portanto, são, no final, verdades lógicas. O projeto foi legal e seus votos são confirmados. Consultores políticos
desenvolvido por Russell e Whitehead, em seu Principia experientes vão tirar proveito dos eleitores mal informados e
Matemática. influenciar os seus votos com a desinformação, pois isso
Se um argumento pode ser convertido na forma de costuma ser fácil e suficientemente eficaz. Os chamados
sentenças em lógica simbólica, então ele pode ser testado verificadores de fatos tem surgido nos últimos anos para
através da aplicação de procedimentos de prova aceitos. Isso ajudar a combater os efeitos de tais táticas de campanha.
foi realizado para Aritmética usando axiomas de Peano. Seja
como for, um argumento matemático, como em qualquer outra Aspectos psicológicos
disciplina, pode ser considerado válido somente se puder ser
demonstrado que ele não tem premissas verdadeiras e uma A muito tempo a psicologia tem estudado aspectos não
conclusão falsa. lógicos de argumentação. Por exemplo, estudos têm
demonstrado que a simples repetição de uma ideia é muitas
Argumentação Científica vezes um método mais eficaz de argumentação que o apelo à
razão. Propaganda, muitas vezes utiliza a repetição como
Talvez a declaração mais radical dos fundamentos sociais ferramenta de convencimento. A retórica nazista tem sido
do conhecimento científico tenha sido dita por Alan G. Gross estudada extensivamente como, entre outras coisas, uma
em A Retórica da Ciência (Cambridge: Harvard University campanha de repetição.
Press, 1990). Gross afirma que a ciência é retórica "sem resto" Estudos empíricos sobre a credibilidade do comunicador e
[carece de fontes] o que significa que o conhecimento atratividade, também chamado de carisma, também foram
científico em si não pode ser visto como uma área idealizada intimamente associados a melhoria dos argumentos. Tais
do conhecimento. O conhecimento científico é produzido de estudos trazem argumentação para o escopo da teoria e da
forma retórica, o que significa que ele tem autoridade prática da persuasão. Alguns psicólogos como William J.
epistêmica especial somente quando os seus métodos McGuire acredita que o silogismo é a unidade básica do
costumeiramente usados para verificação são confiáveis. Esse raciocínio humano. Eles produziram um grande corpo de
ponto de vista representa uma rejeição quase completa do trabalho empírico em torno famoso título de McGuire "Uma
fundacionalismo em que as bases da argumentação foram análise silogística das relações cognitivas".
criadas. O ponto principal desta forma de pensar é que a lógica está
contaminada por variáveis psicológicas, como "wishful
Argumentação Jurídica thinking" (o desejo do acontecimento conforme o previsto), na
qual os sujeitos confundem a probabilidade de previsões com
A argumentação jurídica são apresentações faladas para a conveniência de as previsões. As pessoas ouvem o que
um juiz ou tribunal de apelação por um advogado, ou grupos querem ouvir e veem o que eles esperam ver. Se os
de advogados, enquanto defendem as razões legais pelo qual planejadores querem que algo aconteça eles veem isso como
eles deveriam prevalecer. Alegações orais em grau de recurso provável que aconteça.
são acompanhadas de resumos escritos, que também servem Se eles esperam que alguma coisa não vai acontecer, que
para avançar o argumento de cada uma das partes na disputa eles veem como improvável que isso aconteça, o que no final
legal. Um argumento de encerramento, ou soma, é a declaração afeta os seus resultados. Assim fumantes pensam que,
de conclusão do conselho de cada parte reiterando os pessoalmente, nunca terão câncer. Pessoas promíscuas
argumentos importantes para o julgador de fato, muitas vezes praticam sexo inseguro. Adolescentes dirigem de forma
o júri, em um processo judicial. Um argumento de imprudente.
encerramento costuma ocorrer após a apresentação de
provas.

Argumentação Política

Argumentos políticos são usados por acadêmicos,


especialistas da mídia, candidatos a cargos políticos e
funcionários do governo. Os argumentos políticos também são

Relações Interpessoais 13
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APOSTILAS OPÇÃO

(D) Fazer parte de grupos informais assegura que se tenha


uma boa relação interpessoal.
Questões
05. Toda pessoa com história de relacionamentos bem-
sucedidos possui talento interpessoal e tende a ser mais
01. Para que o clima organizacional seja harmonioso e as flexível no contexto social.
pessoas tenham um bom relacionamento interpessoal, é ( ) Certo ( ) Errado
necessário que cada um
(A) aja de acordo com suas próprias experiências 06. (TRF - 5ª REGIÃO - Técnico Judiciário – FCC - Área
profissionais, deixando de levar em conta as diferenças entre Administrativa) Os processos de comunicação englobam
os membros da equipe. (A) todo o fluxo de informação, estruturado ou não, entre
(B) realize seu trabalho de forma a cumprir o cronograma a organização e as pessoas e vice-versa.
individual estabelecido a cada componente por todas as (B) as relações sindicais, que são processos que tratam da
chefias da organização. relação entre organização, pessoas e sindicatos
(C) deixe de agir de forma individualizada e egoísta, representativos dos trabalhadores.
promovendo relações amigáveis, construtivas e duradouras. (C) as relações com a comunidade, que compreendem o
(D) deixe claro suas opiniões em primeiro lugar e, na conjunto de políticas que balizam as relações entre
sequência, a opinião dos demais membros do grupo de organização, pessoas e comunidade.
trabalho. (D) os canais e os veículos de comunicação entre
(E) conduza seu trabalho de forma responsável, sem, no organização e pessoas, entre as pessoas que mantêm relação
entanto, ouvir ou participar aos demais suas ideias e opiniões. de trabalho com a organização e entre pessoas, organização e
comunidade.
02. Analise as duas afirmativas abaixo e responda: (E) todo fluxo de informação que permitir ao gestor
I. Refere-se à relação com o próximo através de mapear as alternativas decisórias sobre as pessoas e os riscos
comportamentos e atitudes que interferem no convívio. de cada alternativa para a organização.
Julgada indispensável no contexto organizacional. Trata-se de
um processo de interação, não sendo um processo solitário. 07. (DETRAN-RO - Auxiliar Administrativo - FEC) É a
Habilidade necessária de se relacionar com as pessoas, troca de informações entre indivíduos e constitui um dos
entender e interagir diante de humores e temperamentos dos processos fundamentais da experiência humana e da
outros; organização social.” Pode-se afirmar que é o conceito de:
II. A ocorrência dessa relação se dá através de um (A) liderança;
quantitativo mínimo de pessoas; (B) hierarquia;
(C) ética;
As duas afirmativas referem-se, respectivamente: (D) comunicação;
(A) I - Relacionamento interpessoal; II - 3 pessoas; (E) motivação.
(B) I - Relacionamento intrapessoal; II - 2 pessoas;
(C) I - Relacionamento interpessoal; II - 2 pessoas; 08. (Transpetro - Administrador Júnior –
(D) I - Relacionamento intrapessoal; II - 3 pessoas. CESGRANRIO) Uma determinada empresa desenvolveu, ao
longo dos últimos anos, um programa de relações com
03. A eficácia de um empregado no seu comportamento empregados que contava com o ‘gerenciamento por
interpessoal no ambiente de trabalho consiste em: caminhadas’ e uma ‘política de portas abertas’. No primeiro, os
(A) colaborar com todos, de forma construtiva e amigável, gerentes e supervisores devem sempre ir às pessoas em seus
além de ter capacidade de reconhecer a contribuição locais de trabalho, para verificar como se sentem a respeito
individual e coletiva do grupo nos resultados alcançados. das atividades e seus desempenhos pessoais. No segundo, os
(B) assumir a liderança na definição de metas desafiantes gerentes e supervisores devem promover no local de trabalho
para si e para os colegas de trabalho, incentivando todos a um ambiente favorável a explicitar a filosofia de trabalho e
atingir os resultados por ele estabelecidos. permitir a livre expressão de ideias e sugestões.
(C) utilizar procedimentos apurados e rigorosamente O programa de relações com empregados tem como eixo
testados para reduzir problemas de relacionamento central a
decorrentes de falhas técnicas cometidas por um colega de (A) assistência
trabalho. (B) comunicação
(D) competir com seus colegas para “bater metas” e (C) cooperação
descobrir métodos para reduzir os custos do trabalho (D) disciplina
realizado pelo grupo de que faz parte. (E) proteção
(E) ser proativo na realização das tarefas em seu setor de
trabalho, sendo capaz de atuar e assumir responsabilidades 09. (FINEP – Analista – CESGRANRIO) Públicos
pelos erros e acertos de todos os membros de seu grupo. diferentes de uma empresa necessitam de atuações distintas
da comunicação.
04. As pessoas são consideradas elementos-chave para o
alcance dos objetivos organizacionais. Entretanto, a forma Elas precisam, no entanto, ter um ponto em comum, a que
como elas se relacionam pode determinar o sucesso ou se dá o nome de comunicação
fracasso de uma organização. (A) interna
Sobre o comportamento das pessoas nas organizações, é (B) externa
correto afirmar: (C) integrada
(A) Conhecer a si mesmo é um dos pilares do bom (D) institucional
relacionamento em grupos. (E) de marketing
(B) Relacionar-se bem com o chefe garante o bom
relacionamento interpessoal.
(C) Relacionar-se com pessoas de outros departamentos é
essencial para se ter um bom relacionamento interpessoal.

Relações Interpessoais 14
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APOSTILAS OPÇÃO

10. (TSE - Analista Judiciário - Psicologia –


CONSULPLAN) A comunicação interpessoal é um processo de
enviar e receber símbolos aos quais são agregados significados
de uma pessoa a outra. Qual fator pode dificultar a
comunicação interpessoal?
(A) Articular-se de forma clara e objetiva.
(B) Solicitar feedback.
(C) Ter homogeneidade de padrões culturais entre a fonte
e o destino.
(D) Desenvolver o processo de comunicação espontânea,
mesmo que com ruídos.

Respostas

01. C / 02. C / 03. A /04. A / 05. Errado /


06.: D / 07.: D / 08.: B /09.: C / 10.: D

Anotações

Relações Interpessoais 15
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APOSTILAS OPÇÃO

Relações Interpessoais 16
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ESTATÍSTICA BÁSICA

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APOSTILAS OPÇÃO
tornando mais fácil o exame daquilo que está sendo objeto de
tratamento estatístico.

- Análise dos resultados: realizadas anteriores (Estatística


Descritiva), fazemos uma análise dos resultados obtidos,
através dos métodos da Estatística Indutiva ou Inferencial,
que tem por base a indução ou inferência, e tiramos desses
resultados conclusões e previsões.
1. Conceito de Estatística. Mais alguns conceitos devem ser aprendidos para darmos
continuidade ao nosso entendimento sobre Estatística.
- Variáveis: conjunto de resultados possíveis de um
fenômeno.
CONCEITOS DE ESTATÍSTICA As variáveis podem ser:
1) Qualitativas – quando seus valores são expressos por
Estatística pode ser pensada como a ciência de aprendizagem atributos: sexo (masculino ou feminino), cor da pele, entre
a partir de dados. No nosso cotidiano, precisamos tomar outros. Dizemos que estamos qualificando.
decisões, muitas vezes decisões rápidas. 2) Quantitativas – quando seus valores são expressos em
Em linhas gerais a Estatística fornece métodos que auxiliam números (salários dos operários, idade dos alunos, etc). Uma
o processo de tomada de decisão através da análise dos dados variável quantitativa que pode assumir qualquer valor entre
que possuímos. dois limites recebe o nome de variável contínua; e uma variável
Podemos ainda dizer que a Estatística é: que só pode assumir valores pertencentes a um conjunto
enumerável recebe o nome de variável discreta.
É a ciência que se ocupa de coletar,
organizar, analisar e interpretar dados para - População estatística ou universo estatístico: conjunto
que se tomem decisões. de entes portadores de, pelo menos, uma característica comum.
Exemplos: estudantes (os que estudam), concurseiros (os
Método Estatístico que prestam concursos), ...
Atualmente quase todo acréscimo de conhecimento resulta Podemos ainda pesquisar uma ou mais características
da observação e do estudo. A verdade é que desenvolvemos dos elementos de alguma população, as quais devem ser
processos científicos para seu estudo e para adquirirmos tais perfeitamente definidas. É necessário existir um critério de
conhecimentos, ou seja desenvolvemos maneiras ou métodos constituição da população, válido para qualquer pessoa, no
para tais fins. tempo ou no espaço.
Método é um conjunto de meios dispostos convenientemente - Amostra: é um subconjunto finito de uma população.
para se chegar a um fim que se deseja.

- Método experimental: consiste em manter constantes


todas as causas (fatores), menos uma, e variar esta causa de
modo que o pesquisador possa descobrir seus efeitos, caso
existam.
Muito utilizado no estudo da Física, da Química etc

- Método estatístico: diante da impossibilidade de manter


as causas constantes, admite todas essas causas presentes
variando-as, registrando essas variações e procurando
determinar, no resultado final, que influências cabem a cada
uma delas.
A Estatística Indutiva tem por objetivo tirar conclusões
Fases do método estatístico sobre as populações, com base em resultados verificados em
amostras retiradas dessa população. É preciso garantir que a
- Coleta de dados: após cuidadoso planejamento e a devida amostra possua as mesmas características da população, no que
determinação das características mensuráveis do fenômeno que diz respeito ao fenômeno que desejamos pesquisar.
se quer pesquisar, damos início à coleta de dados numéricos
necessários à sua descrição. A coleta pode ser: Censo: é uma avaliação direta de um parâmetro, utilizando-
Direta: quando é feita sobre elementos informativos se todos os componentes da população.
de registro obrigatório (nascimento, casamentos e óbitos,
importação e exportação de mercadorias), dados coletados Dados brutos: quando observamos ou fazemos n perguntas
pelo próprio pesquisador através de inquéritos e questionários, as quais nos dão n dados ou respostas, obtemos uma sequência
como por exemplo o censo demográfico. de n valores numéricos. A toda sequência denominamos dados
Indireta: quando é indeferida de elementos conhecidos brutos.
(coleta direta) e/ou de conhecimento de outros fenômenos
relacionados com o fenômeno estudado. Dados brutos é uma sequência de valores numéricos não
organizados, obtidos diretamente da observação de um
- Crítica dos dados: depois de obtidos os dados, os mesmos fenômeno coletivo.
devem ser cuidadosamente criticados, à procura de possível
falhas e imperfeições, a fim de não incorrermos em erros
grosseiros ou de certo vulto, que possam influir sensivelmente Rol: é uma sequência ordenada dos dados brutos. Ou seja,
nos resultados. uma ordenação desses dados.

- Apuração dos dados: soma e processamento dos dados Referências


CRESPO, Antônio Arnot – Estatística fácil – 18ª edição – São Paulo - Editora
obtidos e a disposição mediante critérios de classificação, que
Saraiva: 2002
pode ser manual, eletromecânica ou eletrônica. SILVA, Ermes Medeiros, Elio Medeiros...- Estatística para os cursos de:
- Exposição ou apresentação de dados: os dados devem Economia, Administração, Ciências Contábeis - 3ª edição – São Paulo – Editora
ser apresentados sob forma adequada (tabelas ou gráficos), Atlas S. A: 1999

Estatística Básica 1
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APOSTILAS OPÇÃO
Ao lançarmos um dado é certo que a face que ficará para
cima, terá um número divisor de 720. Este é um evento certo,
2. Fenômenos aleatórios. pois 720 = 6! = 6 . 5 . 4 . 3 . 2 . 1, obviamente qualquer um dos
números da face de um dado é um divisor de 720, pois 720 é o
produto de todos eles.
Probabilidade O conjunto A = { 2, 3, 5, 6, 4, 1 } representa um evento certo
pois ele possui todos os elementos do espaço amostral S = { 1,
O estudo da probabilidade vem da necessidade de em certas 2, 3, 4, 5, 6 }.
situações, prevermos a possibilidade de ocorrência de determi- Evento Impossível
nados fatos. No lançamento conjunto de dois dados qual é a possibilidade
A história da teoria das probabilidades, teve início com os de a soma dos números contidos nas duas faces para cima, ser
jogos de cartas, dados e de roleta. Esse é o motivo da grande igual a 15?
existência de exemplos de jogos de azar no estudo da probabili- Este é um evento impossível, pois o valor máximo que pode-
dade. A teoria da probabilidade permite que se calcule a chance mos obter é igual a doze. Podemos representá-lo por 
de ocorrência de um número em um experimento aleatório. , ou ainda por A = {}.

Experimento Aleatório Conceito de probabilidade

 É aquele experimento que quando repetido em iguais Se em um fenômeno aleatório as possibilidades são igual-
condições, podem fornecer resultados diferentes, ou seja, mente prováveis, então a probabilidade de ocorrer um evento
são resultados explicados ao acaso. Quando se fala de A é:
tempo e possibilidades de ganho na loteria, a abordagem
envolve cálculo de experimento aleatório.
 Se lançarmos uma moeda ao chão para observarmos a
face que ficou para cima, o resultado é imprevisível, pois
tanto pode dar cara, quanto pode dar coroa. Por, exemplo, no lançamento de um dado, um número par
Se ao invés de uma moeda, o objeto a ser lançado for um pode ocorrer de 3 maneiras diferentes dentre 6 igualmente pro-
dado, o resultado será mais imprevisível ainda, pois aumenta- váveis, portanto, P = 3/6= 1/2 = 50%
mos o número de possibilidades de resultado.
A experimentos como estes, ocorrendo nas mesmas condi- Probabilidade da União de dois Eventos
ções ou em condições semelhantes, que podem apresentar re-
sultados diferentes a cada ocorrência, damos o nome de experi- Dados dois eventos A e B de um espaço amostral S a probabi-
mentos aleatórios. lidade de ocorrer A ou B é dada por: 
P(A U B) = P(A) + P(B) – P(A ∩ B)
Espaço Amostral

Ao lançarmos uma moeda não sabemos qual será a face que Verificação:
ficará para cima, no entanto podemos afirmar com toda certeza
que ou será cara, ou será coroa, pois uma moeda só possui estas
duas faces. Neste exemplo, ao conjunto 
{ cara, coroa } damos o nome de espaço amostral, pois ele
é o conjunto de todos os resultados possíveis de ocorrer neste
experimento.
Representamos um espaço amostral, ou espaço amostral
universal como também é chamado, pela letra S. No caso da O Número de elementos de A U B é igual à soma do número
moeda representamos o seu espaço amostral por: de elementos de A com o número de elementos de B, menos uma
S = { cara, coroa } vez o número de elementos de A ∩ B que foi contado duas vezes
Se novamente ao invés de uma moeda, o objeto a ser lançado (uma em A e outra em B). Assim temos: 
for um dado, o espaço amostral será:
S = { 1, 2, 3, 4, 5, 6 } n(AUB) = n(A) + n(B) – n(A∩B) 
Dividindo por n(S) [S ≠  ] resulta 
Evento

Quando lançamos um dado ou uma moeda, chamamos a


ocorrência deste fato de evento. Qualquer subconjunto de um
espaço amostral é um evento.
Em relação ao espaço amostral do lançamento de um dado,
P(AUB) = P(A) + P(B) – P(A∩B) 
veja o conjunto a seguir:
A = { 2, 3, 5 }
Ex: Numa urna existem 10 bolas numeradas de 1 a 10. Reti-
Note que   ( A está contido em S, A é um
rando uma bola ao acaso, qual a probabilidade de ocorrer múlti-
subconjunto de S ). O conjunto A é a representação do
plos de 2 ou múltiplos de 3? 
evento do lançamento de um dado, quando temos a face
para cima igual a um número primo.

Classificação de Eventos

Podemos classificar os eventos por vários tipos. Vejamos al-


guns deles:
Evento Simples
Classificamos assim os eventos que são formados por um
único elemento do espaço amostral.
A é o evento “múltiplo de 2”. 
A = { 5 } é a representação de um evento simples do lança-
B é o evento “múltiplo de 3”. 
mento de um dado cuja face para cima é divisível por5. Nenhuma
P(AUB) = P(A) + P(B) – P(A∩B) =   + - = = 70%
das outras possibilidades são divisíveis por 5.
Evento Certo

Estatística Básica 2
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APOSTILAS OPÇÃO
Probabilidade da intersecção de dois eventos

A probabilidade da intersecção de dois eventos ou probabi-


lidade de eventos sucessivos determina a chance, a possibilida-
de, de dois eventos ocorrerem simultânea ou sucessivamente.
Para o cálculo desse tipo de probabilidade devemos interpretar
muito bem os problemas, lendo com atenção e fazendo o uso da
seguinte fórmula:
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral S. A proba-
bilidade de
A ∩ B é dada por:
Após a retirada da primeira bola, ficamos com 19 bolinhas
na urna. Logo, teremos:

Onde
p(A∩B)   → é a probabilidade da ocorrência simultânea de
AeB
p(A) → é a probabilidade de ocorrer o evento A
p(B│A)  → é a probabilidade de ocorrer o evento B sabendo
da ocorrência de A (probabilidade condicional)
Se os eventos A e B forem independentes (ou seja, se a ocor-
rência de um não interferir na probabilidade de ocorrer outro),
a fórmula para o cálculo da probabilidade da intersecção será
dada por:
Questões
Vejamos alguns exemplos de aplicação. 01 (Corpo de Bombeiros Militar/MT – Oficial Bombeiro
Militar – COVEST – UNEMAT) Uma loja de eletrodoméstico tem
Ex. 1. Em dois lançamentos sucessivos de um mesmo dado, uma venda mensal de sessenta ventiladores. Sabe-se que, des-
qual a probabilidade de sair um número ímpar e o número 4? se total, seis apresentam algum tipo de problema nos primeiros
seis meses e precisam ser levados para o conserto em um servi-
Resolução: O que determina a utilização da fórmula da inter- ço autorizado.
secção para resolução desse problema é a palavra “e” na frase Um cliente comprou dois ventiladores. A probabilidade de
“a probabilidade de sair um número ímpar e o número 4”. Lem- que ambos não apresentem problemas nos seis primeiros meses
bre-se que na matemática “e” representa intersecção, enquanto é de aproximadamente:
“ou” representa união. (A) 90%
Note que a ocorrência de um dos eventos não interfere na (B) 81%
ocorrência do outro. Temos, então, dois eventos independentes. (C) 54%
Vamos identificar cada um dos eventos. (D) 11%
Evento A: sair um número ímpar = {1, 3, 5} (E) 89%
Evento B: sair o número 4 = {4}
Espaço Amostral: S = {1, 2, 3, 4, 5, 6} 02 (Corpo de Bombeiros Militar/MT – Oficial Bombeiro
Temos que: Militar – COVEST – UNEMAT) Em uma caixa estão acondicio-
nados uma dúzia e meia de ovos. Sabe-se, porém, que três deles
estão impróprios para o consumo.
Se forem escolhidos dois ovos ao acaso, qual a probabilidade
de ambos estarem estragados?
(A) 2/153
(B) 1/9
(C) 1/51
(D) 1/3
Assim, teremos: (E) 4/3

03 (Polícia Militar/SP – Aluno – Oficial – VUNESP) O po-


liciamento de um grande evento musical deteve 100 pessoas.
Sabe-se que 50 pessoas foram detidas por furto de celulares,
Ex. 2. Numa urna há 20 bolinhas numeradas de 1 a 20. Reti- que 25 pessoas detidas são mulheres, e que 20 mulheres foram
ram-se duas bolinhas dessa urna, uma após a outra, sem repo- detidas por furto de celulares. Para a elaboração do relatório,
sição. Qual a probabilidade de ter saído um número par e um o PM Jurandir montou uma tabela e inseriu esses dados, para
múltiplo de 5? depois completá-la.
Solução: Primeiro passo é identificar os eventos e o espaço Furto de Outros Total
amostral.
Evento A: sair um número par = {2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18,
Celulares Motivos
20}
Evento B: sair um múltiplo de 5 = {5, 10, 15, 20} Sexo Femini- 20 25
Espaço amostral: S = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, no
15, 16, 17, 18, 19, 20}
Como as duas bolinhas foram retiradas uma após a outra Sexo Mascu-
e não houve reposição, ou seja, não foram devolvidas à urna, a lino
ocorrência do evento A interfere na ocorrência do B, pois haverá Total 50 100
na urna somente 19 bolinhas após a retirada da primeira.
Tomando-se ao acaso uma das pessoas detidas por outros
Assim, temos que: motivos, a probabilidade de que ela seja do sexo masculino é de

Estatística Básica 3
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APOSTILAS OPÇÃO
(A) 90%.
(B) 75%.
(C) 50%. 3. População e amostra.
(D) 45%.
(E) 30%.
AMOSTRAGEM
04 (Polícia Civil/SP – Desenhista Técnico-Pericial – VU-
NESP) A tabela a seguir apresenta dados dos ingressantes em Amostragem é um técnica especial para recolher amostras,
uma universidade, com informações sobre área de estudo e clas- que garante, tanto quanto possível, o acaso na escolha.
se socioeconômica.
Probabilística (aleatória): A probabilidade de um elemento
da população ser escolhido é conhecida. Cada elemento da
população passa a ter a mesma chance de ser escolhido.
Não-probabilística (não aleatória): Não se conhece a
probabilidade de um elemento ser escolhido para participar da
amostra.

No quadro abaixo está descrita os métodos de amostragem:


Se um aluno ingressante é aleatoriamente escolhido, é ver-
dade que a probabilidade de ele
(A) pertencer à classe B é de 40%.
(B) estudar na área de Biológicas é de 40%.
(C) pertencer à classe B e estudar na área de Biológicas é de
25%.
(D) pertencer à classe B é de 20%.
(E) estudar na área de Biológicas é de 22,5%.

Respostas

01. Resposta: B.
6 / 60 = 0,1 = 10% de ter problema
Assim, se 10% tem problemas, então 90% não apresentam
problemas. - Amostragem probabilística

Amostragem casual ou aleatória simples: este tipo de


amostragem se assemelha ao sorteio lotérico. Ela pode ser
realizada numerando-se a população de 1 a n e sorteando-se, a
02 Resposta: C. seguir, por meio de um dispositivo aleatório qualquer, k números
dessa sequência, os quais serão pertentes à amostra.
(: 6 / 6) Exemplo: 15% dos alunos de uma população de notas entre
8 e 10, serão sorteados para receber uma bolsa de estudos de
inglês.
03. Resposta: A.
Vamos completar a tabela:
Vantagens:
Furto de Outros Total - Facilidade de cálculo estatístico;
- Probabilidade elevada de compatibilidade dos dados da
Celulares Motivos amostra e da população.
Sexo Femini- 20 5 25
no Desvantagens:
- Requer listagem da população;
Sexo Mascu- 30 45 75 - Trabalhosa em populações elevadas;
lino - Custos elevados se a dispersão da amostra for elevada.
Total 50 50 100
Amostragem sistemática: escolher cada elemento de
Assim, a probabilidade é de: 45 / 50 = 0,9 = 90 / 100 = 90% ordem k. Assemelha-se à amostragem aleatória simples, porque
inicialmente enumeram-se as unidades da população. Mas
04. Resposta: B. difere da aleatória porque a seleção da amostra é feita por um
O Total de alunos é: processo periódico pré-ordenado. Os elementos da população já
* Exatas: 300 + 200 + 150 = 650 alunos se acham ordenados, não havendo necessidade de construir um
* Humanas: 250 + 150 + 150 = 550 alunos sistema de referência.
* Biológicas: 450 + 250 + 100 = 800 alunos Exemplo: Amostra de 15% dos alunos com déficit de atenção
diagnosticado. Sorteia-se um valor de 1 a 5. Se o sorteado for o
* TOTAL: 650 + 550 + 800 = 2000 alunos 2, incluem-se na amostra o aluno 2, o 7, o 12 e assim por diante
Agora, vamos analisar cada alternativa: de cinco em cinco.

(A) Classe B: 200 + 150 + 250 = 600 alunos Amostragem proporcional estratificada: muitas vezes
a população se divide em subpopulações – estratos, então
classificamos a população em, ao menos dois estratos, e
extraímos uma amostra de cada um. Podemos determinar
(B) Área de Biológicas: 800 alunos características como sexo, cor da pele, faixa etária, entre outros.
Exemplo: Supondo que dos noventa alunos de uma escola,
54 sejam meninos e 36 sejam meninas vamos obter a amostra
proporcional estratificada de 10% desta população.
Temos dois estratos: sexo masculino e feminino.

Estatística Básica 4
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APOSTILAS OPÇÃO
Sexo População 10% Amostra - Necessita de maior informação sobre a população;
- Cálculo estatístico mais complexo.

M 54 5 Amostragem por conglomerado: é uma amostra aleatória


de agrupamentos naturais de indivíduos (conglomerados)
na população. Dividimos em seções a área populacional,
selecionamos aleatoriamente algumas dessas seções e tomamos
F 36 4 todos os elementos das mesmas.
Exemplo:

Total 90 9

Numeramos os alunos de 01 a 90, sendo que de 01 a 54


correspondem aos meninos e de 55 a 90, as meninas.
Para amostragem muito grande também fazemos o uso da
Tabela de Números Aleatórios, elaborada a fim de facilitar os
cálculos, que foi construída de modo que os dez algarismos (0 a
9) são distribuídos ao acaso nas linhas e colunas, conforme pode
ser visto abaixo:

O mapa mostra os conglomerados selecionados (neste caso


os municípios), que apresentaram a maior proporção de casos
de dengue confirmados no Estado de São Paulo até março de
2015.

Vantagens:
- Não existem listagem de toda a população;
- Concentra os trabalhos de campo num número limitado de
elementos da população.

Desvantagens:
- Maior erro de amostragem;
- Cálculo estatístico mais complexo na estimação do erro de
amostragem.

- Amostragem não-probabilística

Amostragem por cotas: consiste em uma amostragem


Para obtermos os elementos da amostra usando a tabela, por julgamento que ocorre em suas etapas. Em um primeiro
sorteamos um algarismo qualquer da mesma, a partir do qual momento, são criadas categorias de controle dos elementos da
iremos considerar números de dois, três ou mais algarismos, população e, a seguir, selecionam-se os elementos da amostra
conforme nossa necessidade. Os números obtidos irão indicar com base em um julgamento.
os elementos da amostra.
Amostragem por julgamento: quando o pesquisador
No nosso exemplo vamos definir como critérios a primeira e seleciona os elementos mais representativos da amostra
a segunda colunas da esquerda, de cima para baixo (constituídos de acordo com seu julgamento pessoal. Essa amostragem
de 2 algarismos), obtermos os seguintes números. é ideal quando o tamanho da população é pequeno e suas
A leitura da tabela pode ser feita horizontalmente (da direita características, bem conhecidas.
para esquerda ou vice versa), verticalmente (de cima para
baixo ou vice versa), diagonalmente (no sentido ascendente ou Amostragem por conveniência: é uma amostra composta
descendente), formando desenho de alguma letra e até mesmo de indivíduos que atendem os critérios de entrada e que são de
escolhendo uma única linha ou coluna. O critério adotado deve fácil acesso do investigador. Para o critério de seleção arrolamos
ser definido antes do início do processo. uma amostra consecutiva.
Exemplo: Em uma pesquisa sobre dengue, arrolar os 200
57 28 92 90 80 22 56 79 53 18 53 03 27 05 40 pacientes que receberam diagnostico em um hospital.
Eliminamos os números maiores que 90 e os números
repetidos. Vantagens Desvantagens
- Mais econômica; - Maior erro de amostragem que em
Assim temos: - Fácil administração; amostras aleatórias;
28 22 53 18 03 – para os meninos; - Não necessita de - Não existem metodologias
57 90 80 56 – para as meninas. listagem da população. válidas para o cálculo do erro de
amostragem;
- Limitação representativa;
Vantagens:
- Pressupõe um erro de amostragem menor; - Maior dificuldade de controle de
- Assegura uma boa representatividade das variáveis trabalho de campo
estratificadas;
- Podem empregar-se metodologias diferentes para cada estrato; - Tamanho da Amostra
- Fácil organização do trabalho de campo. O tamanho da amostra deve ser determinado antes de se
iniciar a pesquisa.
Deve-se usar a maior amostra possível, pois quanto maior
Desvantagens: a amostra, maior a representatividade da população. Amostras

Estatística Básica 5
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APOSTILAS OPÇÃO
menores possuem resultados menos precisos. igual ou ligeiramente inferior ao menor valor das observações:
É muito importante usarmos amostras de tamanhos LI: 5,1
adequados, para que os dados tenham maior confiabilidade e - Definir o limite superior da última classe (Ls) que deve ser
precisão. igual ou ligeiramente superior ao maior valor das observações:
Consideramos: LS:15
- Definir o número de classes (K), que será calculado usando
Amostras grandes: n > 100
. Obrigatoriamente deve estar compreendido entre 5 a
Amostras médias: n > 30
20. Neste caso, K é igual a 8,94, aproximadamente, 8.
Amostras pequenas: n < 30
Amostras muito pequenas: n < 12
- Conhecido o número de classes define-se a amplitude de
cada classe:  
- Erros de amostragem No exemplo, será igual a: 1,23.
Diferença randômica(aleatória) entre a amostra e população
da qual a amostra foi retirada. O tamanho do erro pode ser - Com o conhecimento da amplitude de cada classe, define-
medido em amostras probabilísticas, expressa como “erro se os limites para cada classe (inferior e superior), onde limite
padrão” (ou precisão) de média, proporção entre outros. Inferior será 5,1 e o limite superior será 15 + 1,23.
Erro padrão da média: é usado para estimar o desvio padrão
da distribuição das médias amostrais, tanto para populações
finitas ou infinitas (será abordado em medidas de dispersão).

Referências
CRESPO, Antônio Arnot – Estatística fácil – 18ª edição – São Paulo -
Editora Saraiva: 2004.
SILVA, Ermes Medeiros, Elio Medeiros...- Estatística para os cursos
de: Economia, Administração, Ciências Contábeis - 3ª edição – São
Paulo – Editora Atlas S. A: 1999.
DORA, Filho U – Introdução à Bioestatística para simples mortais –
São Paulo – Elsevier: 1999.
http://www.andremachado.org

4. Distribuição de frequência.
Distribuições Simétricas: A distribuição das frequências
faz-se de forma aproximadamente simétrica, relativamente a
uma classe média.
DISTRIBUIÇÕES DE FREQUÊNCIA

Distribuição de Frequência: Quando da análise de dados, é


comum procurar conferir certa ordem aos números tornando-os
visualmente mais amigáveis. O procedimento mais comum é o
de divisão por classes ou categorias, verificando-se o número de  
indivíduos pertencentes a cada classe. Caso especial de uma distribuição simétrica: Quando dizemos
- Determina-se o menor e o maior valor para o conjunto. que os dados obedecem a uma distribuição normal, estamos
- Definir o limite inferior da primeira classe (Li) que deve ser tratando de dados que distribuem-se em forma de sino.
igual ou ligeiramente inferior ao menor valor das observações:
- Definir o limite superior da última classe (Ls) que deve ser Distribuições Assimétricas: A distribuição das frequências
igual ou ligeiramente superior ao maior valor das observações. apresenta valores menores num dos lados:
- Definir o número de classes (K), que será calculado usando
. Obrigatoriamente deve estar compreendido entre 5
a 20. 
- Conhecido o número de classes define-se a amplitude de
cada classe: 
- Com o conhecimento da amplitude de cada classe, define-se
os limites para cada classe (inferior e superior)  
Distribuições com “caudas” longas: Observamos que nas
Exemplo:   extremidades há uma grande concentração de dados em relação
aos concentrados na região central da distribuição.

Distribuição Normal: A distribuição normal


é a mais importante distribuição estatística, 
considerando a questão prática e teórica. Já vimos que esse tipo
de distribuição apresenta-se em formato de sino, unimodal,
simétrica em relação a sua média. Considerando a probabilidade
de ocorrência, a área sob sua curva soma 100%. Isso quer dizer
Regras para elaboração de uma distribuição de frequências: que a probabilidade de uma observação assumir um valor entre
- Determina-se o menor e o maior valor para o conjunto: dois pontos quaisquer é igual à área compreendida entre esses
Valor mínimo: 5,1 dois pontos.
Valor máximo: 14,9

- Definir o limite inferior da primeira classe (Li) que deve ser

Estatística Básica 6
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Quais são, respectivamente, os valores indicados pelas letras


P, Q, R e S?
(A) 40 ; 28 ; 64 E 0
(B) 50 ; 28 ; 64 E 7
(C) 50 ; 40 ; 53,3 E 7
68,26% => 1 desvio (D) 77,8 ; 28 ; 53,3 E 7
95,44% => 2 desvios (E) 77,8 ; 40 ; 64 E 0
99,73% => 3 desvios Respostas
01. Resposta: A.
Na figura acima, tem as barras na vertical representando f_r=f_i/N
os desvios padrões. Quanto mais afastado do centro da curva f_i=0,25∙72=18
normal, mais área compreendida abaixo da curva haverá. A um
desvio padrão, temos 68,26% das observações contidas. A dois 02. Resposta: B.
desvios padrões, possuímos 95,44% dos dados compreendidos Pela pesquisa 45 alunos estão na faixa de 16 a 20
e finalmente a três desvios, temos 99,73%. Podemos concluir São 10 do sexo masculino, portanto são 45-10=35 do sexo
que quanto maior a variabilidade dos dados em relação à média, feminino.
maior a probabilidade de encontrarmos o valor que buscamos 70---100%
embaixo da normal. 35----P
Propriedade 1: “f(x) é simétrica em relação à origem, x = P=50%
média = 0; 70---100%
Propriedade 2: “f(x) possui um máximo para z=0, e nesse Q---40%
caso sua ordenada vale 0,39; Q=28
Propriedade3: “f(x) tende a zero quando x tende para + 35+28+S=70
infinito ou - infinito; S=7
Propriedade4: “f(x) tem dois pontos de inflexão cujas Pela última coluna(% de sexo masculino):
abscissas valem média + DP e média - DP, ou quando z 20+R+16=100
tem dois pontos de inflexão cujas abscissas valem +1 e -1. R=64
Para se obter a probabilidade sob a curva normal, utilizamos a P=50; Q=28; R=64; S=7
tabela de faixa central. Exemplo:
5. Variáveis discretas e variáveis
As alturas de grupo de crianças são tidas como normais em contínuas.
sua distribuição, com desvio padrão em 0,30m e média em 1,60.
Qual a probabilidade de um aluno medir (1) entre 1,50 e 1,80,
(2) mais de 1,75 e menos de 1,48? RENDAS UNIFORMES
(1)
z1= (1,50-1,60)/0,30=-0,33 Renda, também conhecida como anuidade, é todo valor
z2= (1,80-1,60)/0,30= 0,67 utilizado sucessivamente para compor um capital ou pagar uma
Então, z1 (0,1293) + z2 (0,2486) = 37,79% dívida. As rendas são um dos principais conceitos que baseiam os
financiamentos ou empréstimos. Nessas rendas são realizadas
(2) uma série de pagamentos (parcelas ou termos) para arrecadar
z1= (1,75-1,60)/0,30=0,30 um fundo de poupança, pagar dívidas, financiar imóveis, etc.
0,500-0,1915 = 30,85% As rendas, também chamadas de séries periódicas
uniformes, são aquelas em que todos os elementos já estão pré-
(3) determinados e podem ser classificados de acordo com o tempo,
Z1= (1,48-1,50)/0,30 =-0,4 a variação dos elementos, o valor, o período do vencimento, etc.
0,500-0,1554 = 34,46%
SÉRIE UNIFORME DE PRESTAÇÕES PERIÓDICAS
Questões

01. Identifique a alternativa que apresenta a frequência Entende-se série uniforme de prestações periódicas como
absoluta (fi) de um elemento (xi) cuja frequência relativa (fr) é sendo o conjunto de pagamentos (ou recebimentos) de valor
igual a 25 % e cujo total de elementos (N) da amostra é igual a nominal igual, que se encontram dispostos em períodos de
72. tempo constantes, ao longo de um fluxo de caixa. Se a série tiver
(A) 18. como objetivo a constituição do capital, este será o montante da
(B) 36. série; ao contrário, ou seja, se o objetivo for a amortização de um
(C) 9. capital, este será o valor atual da série.
(D) 54.
(E) 45. Classificação
02. Em uma faculdade, uma amostra de 120 alunos foi As séries uniformes de prestações periódicas mais
coletada, tendo-se verificado a idade e o sexo desses alunos. Na
importantes e que serão objeto de estudo desse capítulo são:
amostra, apurou-se que 45 estão na faixa de 16 a 20 anos, 60, na
faixa de 21 a 25 anos, e 15 na faixa de 26 a 30 anos. Os resultados
obtidos encontram-se na Tabela abaixo. Série Uniforme de Prestações Periódicas Postecipadas –
caracteriza-se pelo fato de os pagamentos ocorrerem no final

Estatística Básica 7
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APOSTILAS OPÇÃO
de cada intervalo de tempo, ou seja, não existem pagamentos na
data zero.

Série Uniforme de Prestações Antecipadas – caracteriza-se


pelo fato de os pagamentos ocorrerem no início de cada intervalo
de tempo, ou seja, a primeira prestação ocorre na data zero.

Série Uniforme de Prestação Periódicas Diferidas –


caracteriza-se pelo fato de existir uma carência entre a data zero
e o primeiro pagamento da série.

Observação: Note que as séries acima mencionadas,


independentemente da sua classificação, estão inseridas no
contexto de capitalização composta já vista anteriormente, ou
seja, cada pagamento R será capitalizado ou descapitalizado à A relação acima nos permite, ainda, encontrar R dado P
luz de uma taxa de juros i, durante certo período de tempo n. como segue:

Série Uniforme de Prestações Periódicas Postecipadas

Conforme foi dito anteriormente, esta série tem como


característica principal o fato de que cada pagamento realiza-
se no final de cada intervalo de tempo. Vimos também, que Observação: A relação e comumente chamado
podemos calcular o Montante (S p) ou o Valor Presente (P p) da
série em questão. Finalmente, devemos dizer que para o cálculo Fator de Valor Presente por Operação Múltipla
do montante da série, iremos nos utilizar do montante S do
regime de capitalização composta, ou seja o Fator de Acumulação Será indicada por (F.V.P.m.) sendo que, para algumas taxas i e
de Capital por Operação Única (F.A.C); em contrapartida, para o alguns períodos de tempo n, já esta calculado.
cálculo do valor atual da série, iremos nos valer do cálculo do
desconto composto racional Ar, ou seja, o Fator de Valor Presente Montante da Série (Sp)
por Operação Única (F.V.P).
É a soma dos montantes de cada uma das prestações em uma
Valor Presente Da Série (Pp) determinada data. Isto posto, vamos determinar o montante
da série na data n, imediatamente após a realização do último
Dado o fluxo abaixo, podemos encontrar o valor atual do pagamento.
mesmo descontando ou descapitalizando cada valor r para uma
mesma data. Por convenção, iremos escolher a data zero:

colocando-se R em evidencia e invertendo-se a ordem das


parcelas, temos:

colocando-se R em evidência, temos:


Perceba que a expressão entre colchetes trata-se de um
progressão geométrica onde o primeiro termo , a razão
e o último termo
É fácil notar que a expressão entre colchetes trata-se de uma

progressão geométrica cujo 1° termo é , cuja razão é

e cujo n – ésimo termo é .


Como sabemos, a soma de uma P.G é expressa por:

substituindo as variáveis nesta formula, temos:

Estatística Básica 8
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APOSTILAS OPÇÃO
dessa formula, tiramos:

Observação: O quociente será chamado Fator de


Acumulação de Capital por Operação Múltipla e será denominado
por (F.A.C.m).

Série Uniforme de Prestações Periódicas Antecipadas


Vimos, pela definição, que esta série caracteriza-se pelo
colocando-se R em evidência e operando-se os expoentes,
fato de que os pagamentos (ou recebimentos) sempre irão
fica:
ocorrer no início do intervalo de tempo. Analogamente ás rendas
postecipadas, podemos calcular o Valor Atual da série (Pa)
através do desconto composto racional Ar, ou o Montante da Série
(Sa), através do calculo do montante S relativo á capitalização
composta. colocando-se o termo (1 + i) em evidência, temos:

Valor Presente da Série (Pa)


Dado o fluxo abaixo, para se calcular o valor atual da série,
procede-se de maneira idêntica ás rendas postecipadas, ou seja, E
descontam-se todas as parcelas para a data zero e, nesta data,
as somamos: Sa = R. (1 + i) . (E)
Note que a expressão E trata-se exatamente do (F.A.C.m.)
Fator de Acumulação de Capital por Operação múltipla. Para
efeito de uso do formulário existente, iremos um período de
capitalização. Isto posto, devemos ter o cuidado de somar 1 à
variável n e subtraí-la do resultado final. Matematicamente
ficaria:

Série Uniforme de Prestações Periódicas Diferidas

Finalmente, vamos estudar um conjunto de pagamentos


(ou recebimentos) que ocorrem sempre após certo período de
Carência, também chamado Prazo de Diferimento.

Colocando-se e R em evidência, temos: Valor Atual da Série

Em relação ao fluxo abaixo, vamos determinar o Valor Atual


(Pd) na data zero:

Pa = R . (1 + E)

Note que a expressão E trata-se, como já vimos, do Fator de


Valor Presente Por Operação Múltipla (F.V.Pm) de n-1 termos.
Sendo assim, para que nós não tenhamos de desenvolver todo
um novo instrumental matemático, com novas formulas e
tabelas, iremos nos valer do fator anteriormente mencionado
com o cuidado de, em relação á séries antecipadas, utilizamos Note que a série ocorrida entre os períodos m e m + n tem
um período a menos (o que ocorre na data zero). comportamento idêntico ás Séries Postecipadas; daí pode-se
calcular o Valor Atual (Pd) através do seguinte raciocínio:
Pa = R [ 1 + ]
- Calculamos o valor atual Pp (séries postecipadas) na data
Montante de Série (Sa) m, ou seja, Pm = R (F.V.P.m)
- Descontamos Pm através do desconto composto racional
É a soma dos valores dispostos ao longo do fluxo de caixa em para a data zero por m períodos encontrando, dessa forma, o
uma determinada data. Visando uniformizar os procedimentos valor atual Pd. Matematicamente, teríamos:
adotados ao longo deste texto, vamos Capitalizar os valores para
a data n.

Estatística Básica 9
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APOSTILAS OPÇÃO
ou, ainda, uma taxa de juros de 23% ao trimestre. Determinar o valor
dessa dívida.

02. Um investidor depositou $1.500,00 semestralmente para


formar um pecúlio durante dez anos. Calcule o valor acumulado
para uma taxa de 30% ao semestre.

03. Calcule o valor atual de uma renda mensal antecipada,


Montante da Série cujo valor da prestação é de $1.000,00, dada uma taxa de 2% ao
Devido à inexistência de pagamentos e capitalizações mês durante dez meses.
durante o prazo de carência, para o cálculo do Montante (sd) de
uma série diferida, proceda de forma análoga à série postecipada, 04. Calcule o montante de uma renda antecipada de 15
ou seja, Sd = R. (F.A.C.m). meses, com prestação mensais de $2.000,00 à taxa de 9% ao
Série Uniforme de Prestações Periódicas com parcelas mês.
Intermediárias.
O assunto tratado aqui é bastante comum em relação ao 05. Uma máquina é vendida a prazo através de oito prestações
mundo dos negócios, principalmente no que tange ao mercado mensais de $4.000,00 sendo que o primeiro pagamento só irá
imobiliário pois, nesse mercado, podem existir situações em ocorrer após três meses da compra. Determine o preço à vista,
que os pagamentos (ou recebimentos) dispostos ao longo dada uma taxa de 5% ao mês.
de um fluxo de caixa preveem, além das prestações pré-
estabelecidas, pagamentos intermediários. Nestes casos, para se
encontrar o valor atual da série, devemos empregar os conceitos
anteriormente vistos em relação à especificidade da série em
questão e descontar as parcelas anteriores para a data zero
somando, nessa data, tais valores ao valor atual da série.

Exemplo: Respostas
Um apartamento está à venda nas seguintes condições: 01.
- $700,00 de sinal R = $1.000,00
- 12 parcelas mensais e consecutivas de $3.500,00, sendo i = 0,23 a.t.
que a primeira ocorrerá 30 dias após o sinal; n = 18 trimestres
- 2 parcelas semestrais de $5.000,00 Pp = ?

Dada uma taxa de 11%ao mês, calcule o preço à vista do Pp =


imóvel. Pp = $1.000,00 (4,24312)
Pp = $4.243,12
Esquematicamente, teríamos:

02.
R = $1.500,00
n = 20 semestres
i = 0,30 a.s.
Sp = ?

Sp =

Sp = $1.500
Sp = $1.500 . (630,16546)
Sp = $945.248,19

Note que as parcelas R dispostas entre as datas 0 e 12, 03.


tratam-se de prestações periódicas postecipadas. Isto posto, R= $1.000,00
para encontrar o valor à vista do imóvel: i = 0.02 a.m.
- Calcule Pp = R. (F.V.Pm); n = 10 meses
- Desconte as parcelas intermediarias Ri para a data zero e Pa = ?
some-as a Pp não esquecendo, ainda, de agregar à soma o valor
do sinal ocorrido nessa data. Pa =
V = Sinal + R.(F.V.Pm) +
Pa = ]

V = $700 + $3.500 . Pa = $1.000,00 (1 + 8,16224)


V = $700 + $22.723,24 + $2.673,20 + $1.429,20 Pa = $9.162,23
V = $27.525,64
04.
Questões R = $2.000,00
i = 0,09 a.m.
01. Em certa época, foi contraída uma dívida a qual foi paga n = 15 meses
em 18 pagamentos trimestrais iguais de $1.000,00 através de Sa = ?

Estatística Básica 10
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APOSTILAS OPÇÃO

Sa =

Sa = $2.000

Sa = $2.000 . (33,00340 – 1)
Sa = $64.006,80

05.
R = $4.000,00
i = 5% a.m.
n = 8 meses
m = 2 meses Séries Estatísticas: toda tabela que apresenta a distribuição
de um conjunto de dados estatísticos em função da época, do
local ou da espécie.
Pd =
Observamos três elementos:
- tempo;
- espaço;
Pd = - espécie.

Conforme varie um dos elementos da série, podemos


classifica-la em:
Pd = - Histórica;
- Geográfica;
- Específica.
Pd =
- Séries históricas, cronológicas, temporais ou marchas:
Pd = $23.449,30 Os valores da variável são descritos em, determinado local, em
intervalos de tempo.

6. Séries estatísticas e gráficos.

SERIES ESTATÍSTICAS

A Estatística tem objetivo sintetizar os valores que uma ou


mais variáveis possam assumir, para que tenhamos uma visão
global da variação dessa ou dessas variáveis. Esses valores irão
fornecer informações rápidas e seguras.

Tabela: é um quadro que resume um conjunto de


observações. Uma tabela compõe-se de:

1) Corpo – conjunto de linhas e colunas que contém


informações sobre a variável em estudo;

2) Cabeçalho – parte superior da tabela que especifica o


conteúdo das colunas;
- Séries geográficas, espaciais, territoriais ou de
3) Coluna indicadora – parte da tabela que especifica o localização: valores da variável, em determinado instante,
conteúdo das linhas; discriminados segundo regiões.

4) Linhas – retas imaginárias que facilitam a leitura, no


sentido horizontal;

5) Casa ou célula – espaço destinado a um só número;

6) Título – Conjunto de informações, as mais completas


possíveis, que satisfazem as seguintes perguntas: O quê?
Quando? Onde? localizando-se no topo da tabela.

Elementos complementares: de preferência colocados no - Séries específicas ou categóricas: aquelas que descrevem
rodapé. valores da variável, em determinado tempo e local, segundo
- Fonte; especificações ou categorias.
- Notas;
- Chamadas.

Estatística Básica 11
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APOSTILAS OPÇÃO
MATRÍCULAS NAS ESCOLAS DA CIDADE A - 1995
CATEGORIAS NÚMERO DE ALUNOS %
1º grau 19.286 91,0
2º grau 1.681 7,9
3º grau 234 1,1
Total 21.201 100,0

- Séries conjugadas – Tabela de dupla entrada: utilizamos Esses novos valores nos dizem que, de cada 100 alunos da
quando temos a necessidade de apresentar, em uma única cidade A, 91 estão matriculados no 1º grau, 8 (aproximadamente)
tabela, variações de mais de uma variável. Com isso conjugamos no 2º grau e 1 no 3º grau.
duas séries em uma única tabela, obtendo uma tabela de dupla
entrada, na qual ficam criadas duas ordens de classificação: uma - Índices: razões entre duas grandezas tais que uma não
horizontal e uma vertical. inclui a outra.

Na tabela abaixo vamos a variável região e tempo. Exemplos:

Econômicos:

- Coeficientes: razões entre o número de ocorrências e o


número total (ocorrências e não ocorrências).
Dados absolutos e dados relativos
Aos dados resultantes da coleta direta da fonte, sem manuseio Exemplos:
senão contagem ou medida, são chamados dados absolutos.
Não é dado muito importância a estes dados, utilizando-se de
os dados relativos.
Dados relativos são o resultado de comparações por
quociente (razões) que estabelecem entre dados absolutos e
têm por finalidade facilitar as comparações entre quantidades.
Os mesmos podem ser traduzidos por meio de percentagens, Educacionais:
índices, coeficientes e taxas.

- Percentagens:
Considerando a série: - Taxas: coeficientes multiplicados por um potência de 10
(10,100, 1000, ...) para tornar o resultado mais inteligível.
MATRÍCULAS NAS ESCOLAS DA CIDADE A - 1995
CATEGORIAS NÚMERO DE ALUNOS Exemplos:
Taxa de mortalidade = coeficiente de mortalidade x 1000.
1º grau 19.286 Taxa de natalidade = coeficiente de natalidade x 1000.
2º grau 1.681
1) Em cada 200 celulares vendidos, 4 apresentam defeito.
3º grau 234 Coeficiente de defeitos: 4/200 = 0,02
Total 21.201 Taxa de defeitos = 2% (0,02 x 100)
Dados fictícios. Questão
Calculando os percentagens dos alunos de cada grau: 01. O estado A apresentou 733.986 matriculas no 1º ano no
início de 2009 e 683.816 no final do ano. O estado B apresentou,
respectivamente, 436.127 e 412.457 matriculas. Qual estado
apresentou maior evasão escolar?

Resposta

01. Resposta: Evasão estado A: 6,8% e Evasão estado B:


5,5%.

Formamos com os dados uma nova coluna na série em Referências


estudo: CRESPO, Antônio Arnot – Estatística fácil – 18ª edição – São Paulo -
Editora Saraiva: 2002

Estatística Básica 12
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APOSTILAS OPÇÃO
DADOS, TABELAS E GRÁFICOS ou simplesmente densidade definida pelo quociente da área
pela amplitude da faixa. Alguns autores utilizam a frequência
Tipos de gráficos: Os dados podem então ser representados absoluta ou a porcentagem na construção do histograma, o
de várias formas: que pode ocasionar distorções (e, consequentemente, más
interpretações) quando amplitudes diferentes são utilizadas nas
Pictogramas faixas. Exemplo:
Desenhos ilustrativos

Tabela de Frequências: Como o nome indica, conterá Gráfico de Linha ou Sequência: Adequados para apresentar
os valores da variável e suas respectivas contagens, as quais observações medidas ao longo do tempo, enfatizando sua
são denominadas frequências absolutas ou simplesmente, tendência ou periodicidade. Exemplo:
frequências. No caso de variáveis qualitativas ou quantitativas
discretas, a tabela de frequência consiste em listar os valores Polígono de Frequência:
possíveis da variável, numéricos ou não, e fazer a contagem Semelhante ao histograma, mas construído a partir dos
na tabela de dados brutos do número de suas ocorrências. A pontos médios das classes. Exemplo:
frequência do valor i será representada por ni, a frequência total
por n e a frequência relativa por fi = ni/n.
Para variáveis cujos valores possuem ordenação natural
(qualitativas ordinais e quantitativas em geral), faz sentido
incluirmos também uma coluna contendo as frequências
acumuladas f ac, obtidas pela soma das frequências de todos os
valores da variável, menores ou iguais ao valor considerado.
No caso das variáveis quantitativas contínuas, que podem
assumir infinitos valores diferentes, é inviável construir a
tabela de frequência nos mesmos moldes do caso anterior, pois
obteríamos praticamente os valores originais da tabela de dados
brutos. Para resolver este problema, determinamos classes ou
faixas de valores e contamos o número de ocorrências em cada Gráfico de Ogiva:
faixa. Por ex., no caso da variável peso de adultos, poderíamos Apresenta uma distribuição de frequências acumuladas,
adotar as seguintes faixas: 30 |— 40 kg, 40 |— 50 kg, 50 |— utiliza uma poligonal ascendente utilizando os pontos extremos.
60, 60 |— 70, e assim por diante. Apesar de não adotarmos
nenhuma regra formal para estabelecer as faixas, procuraremos
utilizar, em geral, de 5 a 8 faixas com mesma amplitude.
Eventualmente, faixas de tamanho desigual podem ser
convenientes para representar valores nas extremidades da
tabela. Exemplo:

Questões

01. (DEPEN – Agente Penitenciário Federal –


CESPE/2015)
Gráfico de Barras: Para construir um gráfico de barras,
representamos os valores da variável no eixo das abscissas e
suas as frequências ou porcentagens no eixo das ordenadas.
Para cada valor da variável desenhamos uma barra com altura
correspondendo à sua frequência ou porcentagem. Este tipo de
gráfico é interessante para as variáveis qualitativas ordinais ou
quantitativas discretas, pois permite investigar a presença de
tendência nos dados. Exemplo:
Diagrama Circular: Para construir um diagrama circular
ou gráfico de pizza, repartimos um disco em setores circulares
correspondentes às porcentagens de cada valor (calculadas
multiplicando-se a frequência relativa por 100). Este tipo de
gráfico adapta-se muito bem para as variáveis qualitativas
nominais. Exemplo:

Histograma: O histograma consiste em retângulos Ministério da Justiça — Departamento Penitenciário Nacional


contíguos com base nas faixas de valores da variável e com área — Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – InfoPen,
igual à frequência relativa da respectiva faixa. Desta forma, a Relatório Estatístico Sintético do Sistema Prisional Brasileiro,
altura de cada retângulo é denominada densidade de frequência dez./2013 Internet:<www.justica.gov.br> (com adaptações)

Estatística Básica 13
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APOSTILAS OPÇÃO
A tabela mostrada apresenta a quantidade de detentos no (D)
sistema penitenciário brasileiro por região em 2013. Nesse
ano, o déficit relativo de vagas — que se define pela razão entre
o déficit de vagas no sistema penitenciário e a quantidade de
detentos no sistema penitenciário — registrado em todo o
Brasil foi superior a 38,7%, e, na média nacional, havia 277,5
detentos por 100 mil habitantes.
Com base nessas informações e na tabela apresentada, (E)
julgue o item a seguir.
Em 2013, mais de 55% da população carcerária no Brasil
se encontrava na região Sudeste.

( )certo ( ) errado

02. (TJ/SP – Estatístico Judiciário – VUNESP/2015) A


distribuição de salários de uma empresa com 30 funcionários
é dada na tabela seguinte.  04. (SEJUS/ES – Agente Penitenciário – VUNESP/2013)
Observe os gráficos e analise as afirmações I, II e III.
Salário (em salários mínimos) Funcionários
1,8 10
2,5 8
3,0 5
5,0 4
8,0 2
15,0 1

Pode-se concluir que


(A) o total da folha de pagamentos é de 35,3 salários.
(B) 60% dos trabalhadores ganham mais ou igual a 3
salários.
(C) 10% dos trabalhadores ganham mais de 10 salários.
(D) 20% dos trabalhadores detêm mais de 40% da renda
total.
(E) 60% dos trabalhadores detêm menos de 30% da renda
total.

03. (TJ/SP – Estatístico Judiciário – VUNESP/2015)


Considere a tabela de distribuição de frequência seguinte, em
que xi é a variável estudada e fi é a frequência absoluta dos dados.  I. Em 2010, o aumento percentual de matrículas em
cursos tecnológicos, comparado com 2001, foi maior que
xi fi 1000%. 
II. Em 2010, houve 100,9 mil matrículas a mais em cursos
30-35 4 tecnológicos que no ano anterior. 
35-40 12 III. Em 2010, a razão entre a distribuição de matrículas
no curso tecnológico presencial e à distância foi de 2 para 5.
40-45 10 É correto o que se afirma em
45-50 8 (A) I e II, apenas.
(B) II, apenas.
50-55 6 (C) I, apenas.
TOTAL 40 (D) II e III, apenas.
(E) I, II e III.
Assinale a alternativa em que o histograma é o que
melhor representa a distribuição de frequência da tabela. 05. (DEPEN – Agente Penitenciário Federal –
(A) CESPE/2015)

(B)

(C)

Estatística Básica 14
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APOSTILAS OPÇÃO
A partir das informações e do gráfico apresentados, - a própria mediana
julgue o item que se segue. - os quartis;
Se os percentuais forem representados por barras - os percentis.
verticais, conforme o gráfico a seguir, então o resultado será
denominado histograma. MÉDIA ARITMÉTICA
A média aritmética é o quociente da divisão da soma dos
valores da variável pelo número deles. Anteriormente tratamos
a média para dados não agrupados, agora veremos para dados
agrupados.

1) Sem intervalo de classe: considerando a distribuição


relativa a 34 famílias de quatro filhos, e tomando como variável
o número de filhos do sexo masculino, teremos a seguinte tabela:

Nº de meninos fi
0 2
1 6
( ) Certo ( ) Errado 2 10
3 12
Respostas
4 4
01. Resposta: CERTA. ∑ = 34
555----100% As frequências são números indicadores da intensidade
306----x de cada valor da variável, elas funcionam como fatores de
X=55,13% ponderação, o que nos leva a calcular a média aritmética
ponderada, dada por:
02. Resposta: D.
(A) 1,8*10+2,5*8+3,0*5+5,0*4+8,0*2+15,0*1=104 salários
(B) 60% de 30, seriam 18 funcionários, portanto essa
alternativa é errada, pois seriam 12.
(C)10% são 3 funcionários
(D) 40% de 104 seria 41,6 O método mais prático de resolvermos é adicionarmos mais
20% dos funcionários seriam 6, alternativa correta, uma coluna para obtenção da média ponderada:
pois5*3+8*2+15*1=46, que já é maior.
(E) 6 dos trabalhadores: 18
Nº de meninos fi xi.fi
30% da renda: 31,20, errada pois detêm mais.
0 2 0
03. Resposta: A. 1 6 6
A menor deve ser a da primeira 30-35
Em seguida, a de 55 2 10 20
Depois de 45-50 na ordem 40-45 e 35-40 3 12 36
04. Resposta: E. 4 4 16
I- 69,8------100% ∑ = 34 ∑ = 78
781,6----x
X=1119,77 Aplicando a fórmula temos:

II- 781,6-680,7=100,9

III-
Nota: quando a variável apresenta um valor 2 meninos, 3
05. Resposta: ERRADO.
décimos de meninos, como devemos interpretar o resultado?
Como foi visto na teoria, há uma faixa de valores no eixo x e
Como o valor médio 2,3 meninos sugere (para este caso) que
não simplesmente um dado.
o maior número de famílias tem 2 meninos e 2 meninas, sendo
uma tendência geral, certa superioridade numérica em relação
ao número de meninos.
7. Medidas de posição.
2) Com intervalos de classe: convencionamos que todos
os valores incluídos em um determinado intervalo de classe
coincidam com seu ponto médio. Determinamos a média
MEDIDAS DE POSIÇÃO – CENTRALIDADE
ponderada através da fórmula:
As medidas de posição visam localizar com maior facilidade
onde está a maior concentração de valores de uma dada
distribuição, podendo estar ela no início, meio ou fim; e também
se esta distribuição está sendo feita de forma igual. Exemplo:
As medidas de posição mais importantes são as de tendência
central, as quais destacamos aqui: i Estaturas (cm) fi
- Média (veremos aqui para dados agrupados) 1 150 ├ 154 4
- Moda;
- Mediana. 2 154 ├ 158 9
E temos ainda as medidas de posição denominadas 3 158 ├ 162 11
separatrizes, que englobam:

Estatística Básica 15
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APOSTILAS OPÇÃO
4 162 ├ 166 8
5 166 ├ 170 5
6 170 ├ 174 3
∑ = 40 Onde:
Vamos abrir uma coluna para os pontos médios e outra para l* → limite inferior da classe modal
os produtos: L* → limite superior da classe modal
Exemplo:
i Estaturas (cm) fi xi xi.fi
1 150 ├ 154 4 152 608 i Estaturas (cm) fi

2 154 ├ 158 9 156 1404 1 150 ├ 154 4

3 158 ├ 162 11 160 1760 2 154 ├ 158 9

4 162 ├ 166 8 164 1312 3 158 ├ 162 11

5 166 ├ 170 5 168 840 4 162 ├ 166 8

6 170 ├ 174 3 172 516 5 166 ├ 170 5

∑ = 40 ∑ = 6440 6 170 ├ 174 3


∑ = 40
∑xifi = 6440, ∑fi = 40 e Observe que a classe com maior frequência é a de i = 3, nela
temos que l* = 158 e o L* = 162, aplicando na fórmula:
Aplicando:

Existem ainda outros métodos mais elaborados para


MODA (Mo)
encontramos a moda, um deles seria a fórmula de Czuber, onde:
A moda é o valor que aparece com maior frequência
em uma série de valores. Podemos dizer é o valor que “está na
moda”.

- Para dados não agrupados: ela é facilmente reconhecida, Onde temos:


pois observamos o valor que mais se repete, como dito na l*→ limite inferior da classe modal
definição. h* → amplitude da classe modal
Exemplo: D1 → f* - f(ant)
A série: 7,8,9,10,11, 11, 12, 13, 14 tem moda igual a 10. D2 → f* - f(post)
f*→ frequência simples da classe modal
Observações: f(ant)→ frequência simples da classe anterior à classe modal
- Quando uma série não apresenta valor modal, ou seja, f(post) → frequência simples da classe posterior à classe
quando nenhum valor aparece com frequência, dizemos que ela modal.
é AMODAL.
- Quando uma série tiver mais de um valor modal, dizemos Aplicando a fórmula ao exemplo anterior temos:
que é BIMODAL (dois valores modas), TRIMODAL, etc.

- Para dados agrupados


1) Sem intervalo de classe: para determinarmos a moda
basta observamos a variável com maior frequência. Vejamos o
exemplo:
Gráficos da moda
Observe que a moda é o valor correspondente, no eixo das
Nº de meninos fi
abcissas, ao ponto de ordenada máxima. Assim temos:
0 2
1 6
2 10
3 12
4 4
∑ = 34
Observamos que a maior frequência(fi) é 12, que corresponde
ao valor de variável 3, logo: Mo = 3

2) Com intervalo de classe: a classe que apresenta maior


frequência é denominada classe modal. A moda é o valor
dominante que está compreendido entre os limites da classe
modal. O método mais simples para o cálculo é tomar o ponto
médio da classe modal. A este valor damos o nome de moda
bruta.

Estatística Básica 16
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APOSTILAS OPÇÃO
Notas:
- O valor da mediana pode coincidir ou não com um elemento
da série. Se for ímpar há coincidência, se for par já não há;
- A mediana e a média aritmética não têm necessariamente, o
mesmo valor;
- A mediana depende da posição dos elementos e não dos
valores dos elementos na série ordenada. Essa é uma diferença
marcante entre mediana e a média;
- A mediana também pode ser chamada de valor mediano.
A moda é utilizada:
- Quando desejamos obter uma medida rápida e aproximada
de posição; - Para dados agrupados: o cálculo da mediana se processa
- Quando a medida de posição deve ser o valor mais típico de modo semelhante ao dos dados não agrupados, implicando
da distribuição. na determinação prévia das frequências acumuladas.

MEDIANA (Md) 1) Sem intervalo de classe: neste caso basta identificarmos


Como o próprio nome sugere, a mediana é o valor que se a frequência acumulada imediatamente superior à metade da
encontra no centro de uma série de números, estando estes soma da frequências. A mediana será o valor da variável que
dispostos segundo uma ordem. É o valor situado de tal forma corresponde a tal frequência acumulada. Exemplo:
no conjunto que o separa em dois subconjuntos de mesmo Nº de meninos fi Fa
número de elementos.
0 2 2
- Para dados não agrupados: para identificarmos a mediana, 1 6 8
precisamos ordenar os dados (crescente ou decrescente) dos 2 10 18
valores, para depois identificarmos o valor central. Exemplo:
Dada a série de valores: 3 12 30
5, 13, 10, 2, 18, 15, 6, 16, 9, vamos ordenar os valores em 4 4 34
ordem crescente:
2, 5, 6, 9, 10, 13, 15, 16,18; como temos uma sequência de 9 ∑ = 34
números precisamos identificar aquele que divide o conjunto em
2 subconjuntos com a mesma quantidade de elementos. Neste Logo teremos: , a menor frequência acumulada
caso o valor é 10, pois temos a mesma quantidade de elementos que supera este valor é 18, que corresponder ao valor 2 da
tanto a esquerda quanto a direita: variável, sendo esta a mediana ou valor mediano. Md = 2
meninos.

Nota:
- Caso exista uma frequência acumulada (Fa ou Fi), tal que:
, a mediana será dada por:

Ou seja, a mediana será a média aritmética entre o valor


Md = 10 da variável correspondente a essa frequência acumulada e a
Neste caso como a série tem número ímpar de termos, ficou seguinte. Exemplo:
fácil identificarmos a mediana. Porém se a série tiver número xi fi Fi
par, a mediana será, por definição, qualquer dos números
compreendidos entre dois valores centrais desta série, ao qual 12 1 1
utilizaremos o ponto médio entre as duas. Exemplo: 14 2 3
2, 6, 7, 10, 12, 13, 18, 21 (8 termos), vamos utilizar os valores
15 1 4
mais centrais que neste caso são o 4º e o 5º termo. Então a
mediana será: 16 2 6
17 1 7
20 1 8
∑=8

Temos: 8/2 = 4 = F3
Então:

1) Com intervalo de classe: precisamos, neste caso,


determinar o ponto do intervalo em que está compreendido a
mediana. Para tal, precisamos determinar a classe mediana,
que será aquela correspondente à frequência acumulada
imediatamente superior a . Fazendo isso podemos interpolar
os dados (inserção de uma quantidade de valores entre
dois números), admitindo-se que os valores se distribuam
uniformemente em todo o intervalo de classe. Exemplo:

i Estaturas (cm) fi Fi
1 150 ├ 154 4 4

Estatística Básica 17
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APOSTILAS OPÇÃO
2 154 ├ 158 9 13
3 158 ├ 162 11 24
4 162 ├ 166 8 32
5 166 ├ 170 5 37
6 170 ├ 174 3 40
∑ = 40
A classe destaca é a classe mediana. Temos que:

Questões

01. (TRT-8ª – Analista Judiciário – CESPE/2016) Com


relação à definição das medidas de tendência central e de
Como há 24 valores incluídos nas três primeiras classes de variabilidade dos dados em uma estatística, assinale a opção
distribuição e como pretendemos determinar o valor que ocupa correta.
o 20º lugar, a partir do início da série, vemos que este deve estar (A) A moda representa o centro da distribuição, é o valor que
localizado na terceira classe (i = 3), supondo que as frequências divide a amostra ao meio.
dessa classe estejam uniformemente distribuídas. Como existe (B) A amplitude total, ou range, é uma medida de tendência
11 elementos nesta classe (fi) e o intervalo da classe (i) é 4, central pouco afetada pelos valores extremos.
devemos tomar, a partir do limite inferior, a distância: (C) A mediana é o valor que ocorre mais vezes,
frequentemente em grandes amostras.
(D) A variância da amostra representa uma medida de
Em resumo aplicamos os seguintes passos: dispersão obtida pelo cálculo da raiz quadrada positiva do valor
do desvio padrão dessa amostra.
1º - Determinamos as frequências acumuladas; (E) A média aritmética representa o somatório de todas as
2º - Calculamos ∑fi / 2; observações dividido pelo número de observações.
3º - Marcamos a classe corresponde à frequência acumulada
imediatamente superior a ∑fi / 2 (classe mediana) e após isso 02. (Pref. Fortaleza/CE – Matemática – Pref. Fortaleza/
aplicamos a fórmula: CE – 2016) A medida estatística que separa as metades superior
e inferior dos dados amostrados de uma população é chamada
de:
(A) mediana.
Onde: (B) média.
l* → limite inferior da classe mediana; (C) bissetriz.
F (ant) → frequência acumulada da classe anterior à classe (D) moda.
mediana;
f* → frequência simples da classe mediana; 03. (SSP/AM – Técnico de Nível Superior – FGV/2015)
h* → amplitude do intervalo da classe mediana. A sequência a seguir mostra o número de gols marcados pelo
funcionário Ronaldão nos nove últimos jogos disputados pelo
Baseado no exemplo anterior temos: time da empresa onde ele trabalha:
l* = 158 ; F(ant) = 13 ; f* = 11 e h* = 4 2, 3, 1, 3, 0, 2, 0, 3, 1.
Sobre a média, a mediana e a moda desses valores é verdade
Empregamos a mediana quando: que:
- Desejamos obter o ponto que divide a distribuição em (A) média < mediana < moda;
partes iguais; (B) média < moda < mediana;
- Há valores extremos que afetam de uma maneira acentuada (C) moda < média < mediana;
a média; (D) mediana < moda < média;
- A variável em estudo é salário. (E) mediana < média < moda.

Posição relativa da Média, Mediana e Moda 04. (SESP/MT – Perito Oficial Criminal - Engenharia
Quando a distribuição é simétrica, as 3 medidas coincidem; Civil/Engenharia Elétrica/Física/Matemática – FUNCAB)
porém a assimetria torna elas diferentes e essa diferença é tanto Determine a mediana do conjunto de valores (10, 11, 12, 11, 9,
maior quanto é a assimetria. Com isso teremos um distribuição 8, 10, 11, 10, 12).
em forma de sino: (A) 8,5
= Md = Mo → curva simétrica (B) 9
(C) 10,5
(D) 11,5
(E) 10

05. (Pref. Guarujá/SP – SEDUC – Professor de Matemática


– CAIPIMES) As massas de 5 amigos são 63,5; 70,3; 82,2;
59 e 71,5 quilogramas. A média e a mediana das massas são,
respectivamente:
(A) 69,3 e 70,3 quilogramas.
(B) 172,25 e 82,2 quilogramas.
Mo < Md < x ̅ → curva assimétrica positiva; (C) 69,3 e 82,2 quilogramas.
< Md < Mo → curva assimétrica negativa. (D) 172, 70,3 quilogramas.

Respostas
01.Resposta: E.
Pela definições apresentadas a única que responde de forma
correta a questão é sobre a média.

Estatística Básica 18
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APOSTILAS OPÇÃO
02. Resposta: A. valores, uma vez que são afetados, de forma exagerada, por
Pela definição temos que esta medida é a Mediana. valores extremos. Além disso, apenas com estas duas medidas
não temos idéia da assimetria da distribuição dos valores. Para
03.Resposta: A. solucionar esses problemas, podemos utilizar o Boxplot. Para
Reordenando temos: construí-lo, desenhamos uma “caixa” com o nível superior dado
0,0,1,1,2,2,3,3,3 pelo terceiro quartil (Q3) e o nível inferior pelo primeiro quartil
Fica evidente o valor da moda, Mo = 3 (Q1). A mediana (Q2) é representada por um traço no interior da
A mediana é o meio, como é uma sequência com 9 números caixa e segmentos de reta são colocados da caixa até os valores
temos: n+1/2 → 9 +1 / 2 → 10/2 → 5, logo a mediana será o 5º máximo e mínimo, que não sejam observações discrepantes.
termo, então Md = 2 O critério para decidir se uma observação é discrepante pode
A média é a somatória de todos os valores, dividido pela variar; por ora, chamaremos de discrepante os valores maiores
quantidade 1+1+2+2+3+3+3 = 15, 15/9 = 1,66 do que Q3+1.5*(Q3-Q1) ou menores do que Q1-1.5*(Q3-Q1).
Logo: média < mediana < moda O Boxplot fornece informações sobre posição, dispersão,
assimetria, caudas e valores discrepantes.
04. Resposta: C.
Coloquemos os valores em ordem crescente: O Diagrama de dispersão é adequado para descrever o
8, 9, 10, 10, 10, 11, 11, 11, 12, 12 comportamento conjunto de duas variáveis quantitativas. Cada
Como a Mediana é o elemento que se encontra no meio dos ponto do gráfico representa um par de valores observados.
valores colocados em ordem crescente, temos que: Exemplo:

05. Resposta: A.
A média é:
Para verificar a mediana, basta colocar os valores em ordem
crescente e verificar o elemento que se encontra no meio deles:
59 63,5 70,3 71,5 82,2

Referência
CRESPO, Antônio Arnot – Estatística fácil – 18ª edição – São Paulo - Editora
Saraiva: 2002

8. Medidas de Dispersão.
Um aspecto importante no estudo descritivo de um conjunto
de dados, é o da determinação da variabilidade ou dispersão
desses dados, relativamente à medida de localização do centro
MEDIDAS DE DISPERSÃO da amostra. Supondo ser a média, a medida de localização mais
importante, será relativamente a ela que se define a principal
As medidas de tendência central fornecem informações medida de dispersão - a variância, apresentada a seguir.
valiosas mas, em geral, não são suficientes para descrever
e discriminar diferentes conjuntos de dados. As medidas de Variância: Define-se a variância, como sendo a medida que
Dispersão ou variabilidade permitem visualizar a maneira como se obtém somando os quadrados dos desvios das observações
os dados espalham-se (ou concentram-se) em torno do valor da amostra, relativamente à sua média, e dividindo pelo número
central. Para mensurarmos esta variabilidade podemos utilizar as de observações da amostra menos um.
seguintes estatísticas: amplitude total; distância interquartílica;
desvio médio; variância; desvio padrão e coeficiente de variação.

- Amplitude Total: é a diferença entre o maior e o menor


valor do conjunto de dados.
Ex.: dados: 3, 4, 7, 8 e 8. Amplitude total = 8 – 3 = 5
Desvio-Padrão: Uma vez que a variância envolve a soma de
- Distância Interquartílica: é a diferença entre o terceiro e quadrados, a unidade em que se exprime não é a mesma que a
o primeiro quartil de um conjunto de dados. O primeiro quartil dos dados. Assim, para obter uma medida da variabilidade ou
é o valor que deixa um quarto dos valores abaixo e três quartos dispersão com as mesmas unidades que os dados, tomamos a
acima dele. O terceiro quartil é o valor que deixa três quartos raiz quadrada da variância e obtemos o desvio padrão: O desvio
dos dados abaixo e um quarto acima dele. O segundo quartil é a padrão é uma medida que só pode assumir valores não negativos
mediana. (O primeiro e o terceiro quartis fazem o mesmo que a e quanto maior for, maior será a dispersão dos dados. Algumas
mediana para as duas metades demarcadas pela mediana.) Ex.: propriedades do desvio padrão, que resultam imediatamente
quando se discutir o boxplot. da definição, são: o desvio padrão será maior, quanta mais
variabilidade houver entre os dados.
- Desvio Médio: é a diferença entre o valor observado e a
medida de tendência central do conjunto de dados.

- Variância: é uma medida que expressa um desvio


quadrático médio do conjunto de dados, e sua unidade é o
quadrado da unidade dos dados.

- Desvio Padrão: é raiz quadrada da variância e sua unidade Exemplo: Em uma turma de aluno, verificou-se através da
de medida é a mesma que a do conjunto de dados. análise das notas de 15 alunos, os seguintes desempenhos:
- Coeficiente de variação: é uma medida de variabilidade Alunos Conceito na Prova
relativa, definida como a razão percentual entre o desvio padrão 1 4,3
e a média, e assim sendo uma medida adimensional expressa em
percentual. 2 4,5
Boxplot: Tanto a média como o desvio padrão podem 3 9
não ser medidas adequadas para representar um conjunto de

Estatística Básica 19
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APOSTILAS OPÇÃO
4 6 O desvio padrão é uma medida que só pode assumir valores
não negativos e quanto maior for, maior será a dispersão dos
5 8 dados. Algumas propriedades do desvio padrão, que resultam
6 6,7 imediatamente da definição, são:
- o desvio padrão é sempre não negativo e será tanto maior,
7 7,5 quanta mais variabilidade houver entre os dados.
8 10 - se s = 0, então não existe variabilidade, isto é, os dados são
todos iguais.
9 7,5
10 6,3 Exemplo:  Na 2ª classe de certa escola o professor deu uma
tarefa constituída por um certo número de contas para os alunos
11 8 resolverem. Pretendendo determinar a dispersão dos tempos de
12 5,5 cálculo, observam-se 10 alunos durante a realização da tarefa,
tendo-se obtido os seguintes valores:
13 9,7
Aluno Tempo (minutos)
14 9,3 i xi
15 7,5 1 13 - 3.9 15.21
Total 109,8 2 15 - 1.9 3.61
Média 7,32 3 14 - 2.9 8.41
Desvio Padrão 1,77 4 18 1.1 1.21

Observamos no exemplo, que a média das provas, foi 5 25 8.1 65.61


estimada em 7,32 com desvio padrão em 1,77. Concluímos que a 6 14 - 2.9 8.41
maioria das notas concentrou-se em 9,09 e 5,55.
7 16 -0.9 0.81
Vejamos de outra forma: 8 17 0.1 0.01
Um aspecto importante no estudo descritivo de um conjunto
de dados, é o da determinação da variabilidade ou dispersão 9 20 3.1 9.61
desses dados, relativamente à medida de localização do centro 10 17 0.1 0.01
da amostra. Repare-se nas duas amostras seguintes, que embora
tenham a mesma média, têm uma dispersão bem diferente: 169 0.0 112.90

Resolução: Na tabela anterior juntamos duas colunas


auxiliares, uma para colocar os desvios das observações em
relação à média e a outra para escrever os quadrados destes
desvios. A partir da coluna das observações calculamos a soma
Como a medida de localização mais utilizada é a média, dessas observações, que nos permitiu calcular a média =
será relativamente a ela que se define a principal medida de 16.9. Uma vez calculada a média foi possível calcular a coluna
dispersão - a variância, apresentada a seguir. dos desvios. Repare-se que, como seria de esperar, a soma
Define-se a variância, e representa-se por s2, como sendo a dos desvios é igual a zero. A soma dos quadrados dos desvios
medida que se obtém somando os quadrados dos desvios das permite-nos calcular a variância donde s = 3.54.
observações da amostra, relativamente à sua média, e dividindo
pelo número de observações da amostra menos um:
112.9
s2 = = 12.54
9

O tempo médio de realização da tarefa foi de aproximadamente


17 minutos com uma variabilidade medida pelo desvio padrão
de aproximadamente 3.5 minutos. Na representação gráfica ao
Se afinal pretendemos medir a dispersão relativamente à lado visualizamos os desvios das observações relativamente à
média. Por que é que não somamos simplesmente os desvios em média (valores do exemplo anterior):
vez de somarmos os seus quadrados?
Experimenta calcular essa soma e verás que (x1-x) + (x2-x)
+ (x1-x) + ... + (xn – x) ≠ 0. Poderíamos ter utilizado módulos,
para evitar que os desvios negativos, mas é mais fácil trabalhar
com quadrados, não concorda?! E por que é que em vez de
dividirmos pó “n”, que é o número de desvios, dividimos por
(n-1)? Na realidade, só aparentemente é que temos “n” desvios
independentes, isto é, se calcularmos (n-1) desvios, o restante
fica automaticamente calculado, uma vez que a sua soma é igual
a zero. Costuma-se referir este fato dizendo que se perdeu um Do mesmo modo que a média, também o desvio padrão é
grau de liberdade. uma medida pouco resistente, pois é influenciado por valores
Uma vez que a variância envolve a soma de quadrados, a ou muito grandes ou muito pequenos (o que seria de esperar
unidade em que se exprime não é a mesma que a dos dados. já que na sua definição entra a média que é não resistente). 
Assim, para obter uma medida da variabilidade ou dispersão Assim, se a distribuição dos dados for bastante enviesada, não
com as mesmas unidades que os dados, tomamos a raiz quadrada é conveniente utilizar a média como medida de localização, nem
da variância e obtemos o desvio padrão: o desvio padrão como medida de variabilidade. Estas medidas
só dão informação útil, respectivamente sobre a localização do
centro da distribuição dos dados e sobre a variabilidade, se as
distribuições dos dados forem aproximadamente simétricas.
Propriedades para dados com distribuição aproximadamente

Estatística Básica 20
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normal: Uma propriedade que se verifica se os dados se define-se uma outra medida, a amplitude inter-quartil, que é, em
distribuem de forma aproximadamente normal, ou seja, quando certa medida, uma solução de compromisso, pois não é afetada,
o histograma apresenta uma forma característica com uma classe de um modo geral, pela existência de um número pequeno de
média predominante e as outras classes se distribuem à volta observações demasiado grandes ou demasiado pequenas. Esta
desta de forma aproximadamente simétrica e com frequências a medida é definida como sendo a diferença entre os 1º e 3º quartis.
decrescer à medida que se afastam da classe média, é a seguinte: Amplitude inter-quartil = Q3/4 - Q1/4
Aproximadamente 68% dos dados estão no intervalo   Do modo como se define a amplitude inter-quartil,
. concluímos que 50% dos elementos do meio da amostra, estão
contidos num intervalo com aquela amplitude. Esta medida é não
negativa e será tanto maior quanto maior for a variabilidade nos
dados. Mas, ao contrário do que acontece com o desvio padrão,
uma amplitude inter-quartil nula, não significa necessariamente,
que os dados não apresentem variabilidade.

Amplitude inter-quartil ou desvio padrão: Do mesmo


modo que a questão foi posta relativamente às duas medidas
de localização mais utilizadas - média e mediana, também aqui
Desvio Padrão: Propriedades para dados com distribuição se pode por o problema de comparar aquelas duas medidas de
aproximadamente normal: dispersão.
- A amplitude inter-quartil é mais robusta, relativamente
- Aproximadamente 68% dos dados estão no intervalo à presença de “outliers”, do que o desvio padrão, que é mais
sensível aos dados.
- Aproximadamente 95% dos dados estão no intervalo - Para uma distribuição dos dados aproximadamente
normal, verifica-se a seguinte relação. Amplitude inter-quartil
- Aproximadamente 100% dos dados estão no intervalo  1.3 x desvio padrão.
- Se a distribuição é enviesada, já não se pode estabelecer
uma relação análoga à anterior, mas pode acontecer que o desvio
padrão seja muito superior à amplitude inter-quartil, sobretudo
se se verificar a existência de “outliers”.

Questão

01. (AL/GO – Assistente Legislativo – Assistente


Administrativo – CS/UFG/2015) Em estatística, a variância
é um número que apresenta a unidade elevada ao quadrado
em relação a variável que não está elevada ao quadrado, o
que pode ser um inconveniente para a interpretação do
resultado. Por isso, é mais comumente utilizada na estatística
descritiva o desvio-padrão, que é definido como
(A) a raiz quadrada da mediana, representada por “s” ou “μ”.
(B) a raiz quadrada da variância, representada por “s” ou “α”.
Como se depreende do que atrás foi dito, se os dados se (C) a raiz quadrada da variância, representada por “s” ou “α”.
distribuem de forma aproximadamente normal, então estão (D) a raiz quadrada da média, representada por “s” ou “α”.
praticamente todos concentrados num intervalo de amplitude
igual a 6 vezes o desvio padrão. Resposta
A informação que o desvio padrão dá sobre a variabilidade 01. Resposta: C.
deve ser entendida como a variabilidade que é apresentada Como visto, o desvio padrão é a raiz quadrada da variância.
relativamente a um ponto de referência - a média, e não
propriamente a variabilidade dos dados, uns relativamente aos
outros.
A partir da definição de variância, pode-se deduzir sem
Anotações
dificuldade uma expressão mais simples, sob o ponto de vista
computacional, para calcular ou a variância ou o desvio padrão
e que é a seguinte:

Amplitude: Uma medida de dispersão que se utiliza por


vezes, é a amplitude amostral r, definida como sendo a diferença
entre a maior e a menor das observações: r = xn:n - x1:n, onde
representamos por x1:n e xn:n, respectivamente o menor e o
maior valor da amostra (x1, x2, ..., xn), de acordo com a notação
introduzida anteriormente, para a amostra ordenada.

Amplitude Inter-Quartil: A medida anterior tem a grande


desvantagem de ser muito sensível à existência, na amostra,
de uma observação muito grande ou muito pequena. Assim,

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