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5.1. Introdução
As funções analíticas são as funções representáveis por séries de potências.
Até meados do séc. XVII a noção de função confundia-se com a de fórmula
algébrica com variáveis, envolvendo somas, diferenças, produtos, quocientes e raízes de
ordens arbitrárias. A partir da descoberta de uma série de potências para o logaritmo em
1668, independentemente por N. Mercator1 e W. Brouncker2, seguiu-se um período em
que foram descobertos muitos desenvolvimentos em séries para funções, nomeadamente
por J. Gregory3, I. Newton, G.W. Leibniz4, entre outros, embora a convergência de séries
ainda não tivesse sido tornada rigorosa. Gregory sugere claramente em 1668 a
identificação da ideia de função com a de fórmula que envolve expressões algébricas e
séries destas expressões. A obtenção de desenvolvimentos em séries de potências para
certas funções racionais e trigonométricas, e a descoberta por Gregory em 1671 das séries
de Taylor5 de funções, levaram a que neste período a noção de função se confundisse
com a de função analítica, mesmo sem se dispor de um esclarecimento cabal da
convergência de séries.
Em 1748, após importantes contribuições para o cálculo de somas de certas séries
numéricas e do comportamento assimptótico de séries divergentes (em particular a
relação do logaritmo com a série dos recíprocos dos números naturais, conhecida por
série harmónica), L. Euler publicou séries de potências para, entre outras, as funções
65
66 Funções analíticas complexas
exponencial, seno e coseno. Em 1755 Euler aplicou séries de Taylor para desenvolver o
seu cálculo diferencial e utilizou as séries como instrumento unificador da teoria dos
números e da análise, utilizando-as para obter propriedades de números, como foi o caso
do estudo da distribuição dos números primos com base na função zeta que, para um
dado valor, dá a soma da série dos recíprocos dos números naturais elevados a esse valor.
Em 1812, C. Gauss estudou sistematicamente a convergência da série hipergeométrica e
obteve séries para uma ampla classe de funções.
O conceito de convergência de sucessões e séries só foi rigorosamente estabelecido
em 1821 por A.L. Cauchy no seu Cours d’Analyse Algébrique da École Polytechnique,
onde também aparece de forma clara a definição de função dos nossos dias, como
correspondência unívoca entre pontos de dois conjuntos sem referência a expressões que
as definam. Cauchy considera esta noção de função a propósito da noção de
continuidade, mas não a explora em relação a outros contextos, como por exemplo o de
integral. B. Bolzano6 já tinha considerado esta noção de função em 1817, também a
propósito do estudo da continuidade, nas suas lições sobre funções na Universidade de
Praga, as quais permaneceram na forma de manuscrito até 1930, altura em que foram
impressas e publicadas. As consequências desta definição de função para a integração
aparecem claramente nos trabalhos de P.G.L. Dirichlet7 de 1829 e nos trabalhos de B.
Riemann de 1854, a propósito do seu conceito de integral.
N.H. Abel8 estabeleceu em 1826 que toda a série de potências complexa tem um
raio de convergência no intervalo [0,+∞] , isto é, a série é absolutamente convergente
para pontos no interior de um círculo com esse raio e centro no ponto onde a série de
potências está centrada, e diverge no exterior desse círculo. A fórmula para calcular o
raio de convergência a partir dos coeficientes da série apareceu pela primeira vez num
trabalho de Cauchy de 1821, embora tenha sido provada apenas em 1892 na tese de
doutoramento de J. Hadamard9.
Em várias situações é necessário calcular integrais de funções definidas por séries,
para o que é conveniente poder integrar séries termo a termo. Em 1884, a propósito de
uma demonstração de Cauchy publicada em 1841 que integrava uma série termo a termo
sem justificação, P. Tchébychev10 observou que tal só era possível em casos particulares.
Em 1848, G.G. Stokes11 e P. Seidel12, independentemente, introduziram o conceito de
convergência uniforme para assegurar a possibilidade de integração de séries termo a
termo, o qual foi depois amplamente explorado por K. Weierstrass.
As funções analíticas são indefinidamente diferenciáveis (portanto são contínuas
bem como as suas derivadas de qualquer ordem) e as suas derivadas de ordem arbitrária
absolutamente convergente se a série real dos valores absolutos dos seus termos é
convergente. Tal como para séries reais, a convergência absoluta de uma série implica a
sua convergência (simples). Na verdade, é | x n |, | y n | ≤ | z n | , pelo que a convergência da
série de números reais ∑n =0 | z n | implica a convergência absoluta das séries de números
∞
convergentes são (simplesmente) convergentes, conclui-se que as duas últimas séries são
convergentes e, portanto, também ∑n =0 z n é convergente.
∞
Dem. Seja ε > 0 arbitrário. Existe N ∈ ℕ tal que U ⊂ U n e | f n ( z ) − f ( z ) |< ε para todo
n > N , z ∈ U . Então, para n > N e z , z 0 ∈ U , verifica-se
f ( z ) − f ( z0 ) ≤ f ( z ) − f n ( z ) + f n ( z ) − f n ( z0 ) + f n (z0 ) − f ( z0 ) < ε + f n (z ) − f n ( z0 ) + ε .
Como f n é contínua em U ⊂ U n , fazendo z → z 0 e notando que ε > 0 é arbitrário,
conclui-se que lim z → z0 f ( z ) = f ( z 0 ) e, portanto, f é contínua em todo z 0 ∈ U .
Para todo n > N, z∈U , designando por Lγ o comprimento do caminho γ , verifica-se
∫γ f ( z ) dz − ∫γ f n ( z ) dz = ∫γ ( f n ( z ) − f ( z ) ) dz ≤ ∫ f n ( z ) − f ( z ) dz ≤ ε Lγ .
γ
∫γ f ( z ) dz = ∑ ∫γ f n ( z ) dz .
n =0
O resultado seguinte estabelece que para cada série de potências complexa centrada
num ponto a existe um círculo aberto centrado neste ponto, B R (a) com R > 0, em cujo
interior a série converge e em cujo exterior diverge, ou então a série converge em todo o
plano complexo (designando B+ ∞ (a ) =ℂ, neste caso temos convergência em B+ ∞ (a) ), ou
converge para z = a e diverge em ℂ \ {a} . A convergência é uniforme em cada círculo
fechado centrado em a e contido em B R (a) .
(5.4) Proposição: Para cada série de potências complexa centrada num ponto a ∈ ℂ, da
forma (5.3), com lim n | c n | finito e R = 1 / lim n | c n | em que se considera R = +∞ se
n →∞ n →∞
este limite é zero, verifica-se:
1) A série é uniformemente convergente em qualquer círculo fechado Br (a ) , com r < R ,
2) A série é absolutamente convergente para todo z ∈ BR (a) ,
3) A série é divergente para todo z ∈ ℂ \ B R (a ) .
Dem. O resultado baseia-se nas ideias do teste da raiz para a convergência de séries, o
qual, por seu lado, se baseia nas propriedades de convergência de progressões
geométricas de números reais, nomeadamente na sua convergência quando a razão é
inferior a 1 e divergência quando a razão é superior a 1.
1) Seja r ' um número real arbitrário tal que 0 < r < r' < R . Verifica-se (1/ R) < 1/ r' e, como
1 / R = lim n | c n | , existe M ∈ ℕ tal que n>M implica | c n |1 / n < 1 / r ' .
n →∞
Portanto, para z ∈ Br (a ) é | z − a |≤ r e | cn || z − a |n ≤ (r / r ' ) n , para n > M . A série
∑n=0 (r / r' )n é uma progressão geométrica de razão r / r ' < 1 , pelo que é convergente. Em
∞
70 Funções analíticas complexas
n
∞ ∞
r ∞
(r / r ' ) N +1
S ( z ) − S N (z ) = ∑ c n ( z − a) ≤ ∑ | c n || z − a | ≤ ∑ =
n n
.
n = N +1 n = N +1 n = N +1 r ' 1 − (r / r ' )
O lado direito da desigualdade anterior pode ser feito arbitrariamente pequeno tomando
N suficientemente grande (independentemente de z ∈ Br (a ) ). Conclui-se que a série
∑n=0 cn ( z − a) n é uniformemente convergente em Br (a) , para r < R .
∞
14 Alguns autores preferem definir função analítica como função diferenciável, identificando na própria
definição as noções de analiticidade e holomorfia. Preferimos, contudo, a definição de analiticidade pela
existência de representações em séries de potências, seguindo a opção de Karl Weierstrass (1815-1897) e
5.7. Fórmula de Parseval para séries de potências complexas e consequências 71
série de potências centrada em a , ∑n=0 cn (z − a)n , cuja soma é f (z) , para cada z ∈Br (a) .
∞
Ω
a Br (a)
wα ∑
∞
( z − a)
n
=
1
n = 0 (w − a )
n +1
w− z
converge uniformemente em γ * . Fixa-se z ∈Br (a) e define-se SN (w) = ∑n=0 (z − a)n /(w− a)n+1
N
e S ( w) = 1 /( w − z ) . Para cada ε > 0 existe M ∈ ℕ tal que | S N (w) − S (w) |< ε para todo
N > M , w ∈ γ * , e verifica-se
∫γ S N ( w) g ( w) d w − ∫ S ( w) g ( w) dw ≤ ∫ S N ( w) − S ( w) g( w) dt ≤ ε ∫ g .
γ γ γ
Logo,
g ( w) +∞ g ( w)
f ( z) = ∫ dw = ∑ ∫ dw ( z − a ) , z ∈ Br (a) ,
n
(w − a )
γ w− z γ n +1
n =0
pelo que f é analítica em Br (a) . Portanto f é analítica em Ω \ γ * . Q.E.D.
de Élie Cartan (1869-1951) que se identifica com a consideração de funções dadas por limites de sucessões
de funções polinomiais.
72 Funções analíticas complexas
então
∞
n!
(5.8) f (k ) ( z) = ∑ c n ( z − a ) n − k , para k ∈ ℕ, z ∈ Br (a) , e
n = k ( n − k )!
(n)
f (a)
(5.9) cn = .
n!
Dem. O raio de convergência da série (5.7) é R0 = 1/ lim n | cn | e os raios de convergência
n→∞
das séries (5.8) são R k = 1 / lim n | c n | n! /( n − k )! . Como15 lim n n ! /( n − k )! = 1 ,
n→∞ n→ ∞
os raios de convergência de todas as séries consideradas no enunciado são iguais,
Rk = R0 para k ∈ ℕ.
Se provarmos que a função f é holomorfa e a sua derivada é dada pelo caso
particular da fórmula (5.8) para k = 1 , obtêm-se os resultados para as derivadas de ordem
superior por aplicação sucessiva do resultado para a primeira derivada. A fórmula (5.9)
obtém-se directamente de (5.8) tomando z = a .
Fixa-se z ∈ BR0 (a ) e r tal que | z |< r < R0 . Considera-se w ∈ Br (a) \ {z} e g (z )
definida pela fórmula (5.8) com k = 1 , isto é, g (z ) = ∑n =1 n c n ( z − a) n −1 . Sem perda de
∞
generalidade, pode-se considerar a = 0 (esta situação pode ser sempre obtida por
mudança de variáveis z ' = z − a , w' = w − a ). Obtém-se
f ( w) − f ( z ) ∞
wn − z n
− g ( z ) = ∑ c n − n z n−1 .
w− z n =1 w− z
Para n = 1 a expressão entre parênteses nesta fórmula é zero. Para n ≥ 2 verifica-se
w n − z n = ( w − z ) ( w n −1 + w n − 2 z + w n−3 z 2 + Κ + wz n − 2 + z n −1 )
e, portanto,
wn − z n n
− n z n −1 = ∑ w n − k z k −1 − n z n −1 .
w− z k =1
Por outro lado,
n −1 n −1 n −1 n−2 n −1
( w − z ) ∑ k w n −k −1 z k −1 = ∑ k w n −k z k −1 − ∑ k w n− k −1 z k = ∑ ( j + 1) w n − j −1 z j − ∑ j w n − j −1 z j
k =1 k =1 k =1 j =0 i =1
n− 2 n
= w n−1 − (n − 1) z n −1 + ∑ w n − j −1 z j = ∑ w n −k z k −1 − n z n −1 .
i =1 k =1
Como r < R0 e lim | c n | n(n − 1) / 2 = lim n | c n | , conclui-se que a série no último termo
n
n →∞ n →∞
da expressão anterior é convergente. Fazendo w → z , este termo converge para zero,
pelo que f ′(z ) existe e f ′( z ) = g ( z ) = ∑n =1 n c n ( z − a) n −1 , o que conclui a
∞
demonstração. Q.E.D.
O teorema anterior estabelece que para uma função ser representável por uma série
de potências centrada num ponto a ∈ℂ tem de ser indefinidamente diferenciável, e a
série que a representa é a sua série de Taylor centrada no ponto a ,
∞
f ( n ) (a)
∑
n =0 n !
( z − a) n .
É possível ter séries de Taylor de funções reais indefinidamente diferenciáveis que não
convergem para essas funções, ou seja, há funções reais indefinidamente diferenciáveis
que não são analíticas. Ver-se-á no capítulo seguinte que tal não pode acontecer para
funções complexas. Para estas funções até basta existir a primeira derivada num conjunto
aberto para que a função seja indefinidamente diferenciável e analítica nesse conjunto.
duas possibilidades: (i) c n = 0 para todo n ∈ ℕ, ou (ii) existe um menor inteiro m ∈ ℕ tal
que c m ≠ 0 . No primeiro caso, Br (a) ⊂ A e a ∈ int A . No segundo caso, define-se
74 Funções analíticas complexas
( z − a ) − m f ( z ) , se z ∈ Ω \ {a}
g ( z) =
cm , se z = a .
O resultado anterior garante que uma função analítica numa região fica
univocamente determinada pelos seus valores em qualquer conjunto que tenha pelo
menos um ponto limite da sua região de analiticidade. Trata-se de um importante
resultado de unicidade. Uma consequência é que duas funções diferentes analíticas numa
região Ω ⊂ ℂ só podem coincidir num número finito de pontos em cada subconjunto
compacto de Ω , e num conjunto numerável de pontos de Ω . Note-se que o resultado
pode falhar se o conjunto de analiticidade considerado não é conexo.
∫π f (a + re iθ ) dθ = ∑ | c n | 2 r 2 n .
2π −
n =0
2π ∫−π
f ( a + re iθ
) d θ = < g , g > = < ∑
n =0
c n r n inθ
e , ∑
m=0
c m r m e imθ >
∞ ∞
= ∑ cn c m r n+m < e inθ , e imθ > = ∑ | cn |2 r 2n ,
n ,m=0 n=0
visto que
1 π 1 π 1 , se n = m
< e inθ , e imθ > = ∫πe ∫ πe
inθ
e −imθ dθ = i ( n − m )θ
dθ =
2π − 2π −
0 , se n ≠ m .
Q.E.D.
(5.13) Estimativas de Cauchy: Se f é uma função analítica num círculo aberto BR (a)
e f ( z ) ≤ M para z ∈ B R (a) , então
k! M
f ( k ) (a ) ≤ k , para k ∈ ℕ.
R
Dem. Para 0 < r < R , obtém-se da Fórmula de Parseval para séries de potências (5.12)
∞
1 π 2
∑
n =0
| c n | 2
r 2n
=
2π ∫−π
f ( a + re iθ
) dθ ≤ M 2 .
∑
n =0
| c n | 2
r 2n
=
2π ∫−π
f ( a + re iθ
) dθ ≤ M 2 , para todo r > 0 .
Tal só é possível se c n = 0 para todo n ∈ ℕ, ou seja se f é constante. Q.E.D.
∑ ∫
iθ 2 2
| c | 2
r 2n
= f ( a + re ) dθ ≤ f ( a ) = c 0 .
2π −π
n
n =0
Im
Re
Figura 5.2: Ilustração do Princípio do Módulo Máximo em regiões
e do seu corolário para mínimos
tem máximos locais (e equivalentemente | f | não tem mínimos locais) em Ω' , a não ser
que seja constante neste conjunto.
A função | f |> 0 é uma função contínua no conjunto compacto K , pelo que
assume um valor mínimo neste conjunto. Este valor não pode ser assumido em pontos
interiores a K porque, então, | f | teria mínimos locais diferentes de zero nesses pontos
de Ω , o que não pode acontecer. Portanto, o valor mínimo é assumido em pelo menos
um ponto da fronteira de K . Q.E.D.
Exercícios
5.1. Prove: Uma função f analítica em ℂ que satisfaz | f ( z ) |<| z | n , para algum n ∈ ℕ e todo z ∈ ℂ tal
que | z | é suficientemente grande, é necessariamente polinomial.
5.2. Desenvolva 1/(1+ z 2 ) em série de potências de ( z − a) , com a ∈ℝ, e determine os correspondentes
raios de convergência.
∞
5.3. Seja f ( z ) = ∑ k = 0 ak z k , onde a série tem raio de convergência R > 1 , e Sn ( z ) = ∑ k = 0 ak z k . Prove
n
2π iθ iθ
que o mínimo do desvio quadrático médio (1 / 2π ) ∫0 | f ( e ) − P( e ) | dθ , onde P é um polinómio
2
∞
de grau n ∈ ℕ, é ∑ k = 0 | an + k |2 e é assumido se e só se P = Sn .
5.4. Determine todos os valores de z ∈ ℂ para os quais a série dada é convergente:
k k
∞ ∞ ∞ ∞
−z ∞
z ∞
a) ∑ z k b) ∑ z k / k c) ∑ z k / k 2 d) ∑ e) ∑ f) ∑ e kz .
k =1 k =1 k =1 k =0 z − 2 k =0 1 + z k =0
5.5. Calcule o raio de convergência da série dada, para z ∈ ℂ e n ∈ ℕ:
∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ( k! ) 2
a) ∑ ( z / k ) k b) ∑ z k c) ∑ ( kz ) k d) ∑ (k 2k ) n z k e) ∑ z k ! f) ∑ z −k .
k =1 k =1 k =1 k =0 k =0 k =0 ( 2k )!
5.6. Mostre que se f é analítica numa vizinhança da origem, então existe n∈ℕ tal que f (1/ n) ≠ (−1)n / n3 .
5.7. Prove: Se f e g são funções analíticas numa região de ℂ onde fg = 0 , então pelo menos uma
das funções é zero na região.
5.8. Prove: Se f , g e fg são funções analíticas numa região de ℂ, então f é constante ou g é zero
na região.
5.9. Prove: Uma função inteira tal que a sua representação em série de potências centrada em qualquer
ponto de ℂ tem pelo menos um coeficiente igual a zero é necessariamente polinomial.
5.10. Prove: Se f e g são funções analíticas num círculo aberto B r (a) e contínuas no seu fecho que
não se anulam no interior desse círculo e | f |=| g | na circunferência ∂B r (a) , então f = λg em
B r (a) para algum λ ∈ ℂ com | λ |= 1 .
5.11. Prove: Se f é analítica em Br (a) e | f ′ − f ′(a) |<| f ′(a) | em Br (a) \ {a} , então f é injectiva em Br (a) ).
20 Como observado no exercício 3.20, todas estas situações de hidrodinâmica correspondem a situações de
electroestática. Em particular, as alíneas deste exercício correspondem aos campos eléctricos de:
(a) um filamento condutor cilíndrico carregado perpendicular ao plano na origem,
(b) um par de filamentos condutores cilíndricos carregados perpendiculares ao plano na origem e simétricos,
(c) um dipolo bifilar eléctrico perpendicular ao plano na origem,
(d) um filamento condutor cilíndrico carregado perpendicular a um semiplano limitado por um isolador eléctrico
perfeito plano,
(e) um par de filamentos condutores cilíndricos perpendiculares ao plano na origem com cargas iguais, sobreposto a
um campo eléctrico uniforme ou, em alternativa, o resultado de um campo eléctrico uniforme no infinito na
presença de um isolador eléctrico perfeito cilíndrico perpendicular ao plano e com secção igual à oval de Rankine,
(f) um dipolo bifilar eléctrico perpendicular ao plano na origem sobreposto a um campo eléctrico uniforme ou, em
alternativa, o resultado de um campo eléctrico uniforme no infinito na presença de um isolador eléctrico perfeito
cilíndrico de revolução perpendicular ao plano,
(g) uma corrente eléctrica constante num filamento rectilíneo perpendicular ao plano,
(h) um canto definido por dois semiplanos isoladores eléctricos perfeitos intersectando-se ao longo de uma recta
perpendicular ao plano na origem.
Podem-se obter outras situações de electroestática trocando isoladores com condutores e funções potenciais com
funções de corrente. Também se obtêm situações de propagação de calor em equilíbrio, substituindo o potencial da
velocidade por temperatura e as linhas de fluxo de fluido por linhas de fluxo de calor.
5.7. Fórmula de Parseval para séries de potências complexas e consequências 79
a) Fonte ou sumidouro. Uma fonte, ou um sumidouro, é uma singularidade pontual da qual radiam
linhas de corrente (ψ constante) e em torno da qual as equipotenciais do campo de velocidades ( ϕ
constante) são circulares. Mostre que um potencial complexo para uma fonte de magnitude Q e
fluxo simétrico em relação à singularidade situada na origem é (Figura 5.3)
f (z) = (Q /(2π )) log z .
b) Sobreposição de fonte e sumidouro. Mostre que um potencial complexo de um fluxo resultante
da sobreposição linear de uma fonte e um semidouro de magnitudes ±Q situados, respectivamente,
nos pontos ± r eiθ , com r , θ ∈ ℝ, é (Figura 5.4)
f ( z ) = (Q /( 2π )){log( z − r e iθ ) − log( z + r e iθ )} .
c) Dipolo. Chama-se dipolo ao limite do par fonte-sumidouro da alínea anterior, quando r → 0 e
Q r / π = m é constante. Mostre que um potencial complexo é f ( z ) = −m e iθ / z (Figura 5.5).
Im Im Im
θ θ
Re Re Re
Figura 5.3: Fonte ou sumidouro Figura 5.4: Fonte e sumidouro Figura 5.5: Dipolo
(com inversão de sentido)
d) Fonte perto de parede. Mostre que um potencial complexo de um fluxo no semiplano complexo
superior resultante de uma fonte de magnitude Q situada no ponto ia do eixo imaginário (o eixo
real é uma “parede”, i.e., a componente da velocidade na direcção normal ao eixo real é zero nos
pontos deste eixo) é, para x, y ∈ ℝ, y > 0 (Figura 5.6)
f ( x + iy) = (Q /(4π )){log(x2 + ( y − a)2 )( x2 + ( y + a)2 ) + i 2 (arctan(( y − a) / x) + arctan(( y + a) / x)} .
(Sugestão: Considere o fluxo resultante da sobreposição linear da fonte dada com uma fonte auxiliarque é a
sua imagem simétrica em relação ao eixo real. Este método é conhecido por método das imagens).
e) Oval de Rankine21. Considere um escoamento resultante da sobreposição linear de uma fonte e
um sumidouro pontuais de magnitudes ±Q situados nos pontos ± a do eixo real, e um fluxo
uniforme (velocidade rectilínea constante) de magnitude V∞ na direcção e sentido do eixo real
positivo. Mostre que um potencial complexo é (Figura 5.7)
f ( x + iy) = {V∞ x + (Q /(4π )) log{((x + a ) 2 + y 2 ) /(( x − a ) 2 + y 2 )}}
+ i {V∞ y − (Q /(2π )) arctan{2ay /( x 2 + y 2 − a 2 )} .
Mostre que uma das linhas de corrente é uma oval. Observe que o fluxo exterior à oval de Rankine é
o fluxo de uma corrente de escoamento em torno de um obstáculo cilíndrico com secção igual à oval
de Rankine, quando a velocidade no infinito é constante na direcção e no sentido do eixo real
positivo.
f) Escoamento em torno de obstáculo cilíndrico de revolução com velocidade uniforme no
infinito e circulação nula em torno do obstáculo. Mostre que o potencial complexo de um
escoamento em torno de um obstáculo cilíndrico de revolução de eixo na origem e raio R > 0 , com
velocidade no infinito constante na direcção e no sentido do eixo real positivo e circulação em torno
do obstáculo nula, é f (z) =V∞(z + R2 / z) (Figura 5.8).
(Sugestão: Considere a sobreposição de um fluxo uniforme com um dipolo na origem na direcção do eixo real
tal que a circunferência de raio R com centro na origem seja uma linha de corrente).
Im Im
Im
Re Re
Re
Figura 5.6: Fonte perto de parede Figura 5.7: Oval de Rankine Figura 5.8: Obstáculo cilíndrico
g) Vórtice potencial. Um vórtice potencial é uma singularidade pontual em torno da qual as linhas
de corrente são circunferências centradas na singularidade e as equipotenciais são semirectas com
origem na singularidade. Mostre que um potencial complexo é f ( z ) = −i (Γ /( 2π )) log z , onde
Γ /(2π ) é a magnitude do vórtice (Figura 5.9).
Im
Re
Re Re Re
Im
Im Im
Re Re Re
R R
Re
-V -b b
+V
Figura 5.11: Campo eléctrico de dois condutores cilíndricos paralelos ortogonais ao plano complexo