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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE


1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

EXMO. SR. DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA


DE LAGARTO/SE.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE vem


à presença de Vossa Excelência, por conduto do Promotor de Justiça infra-
assinado vem, no uso de suas atribuições que lhes são conferidas pelos artigos
37, § 4º e 129 III da Constituição Federal, no artigo 118, inciso III da
Constituição do Estado de Sergipe, nas Leis Federais 8.429, de 02 de junho de
1992, 7.347, de 24 de julho de 1985, 8.625 de 12 de fevereiro de 1993, art. 25,
incisos IV alíneas “a” e “b” e VIII, da Lei Complementar Estadual n.º 02, de 12
de novembro de 1990, propor a presente AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA em desfavor de:

1 - ERONILDES ALMEIDA DE CARVALHO (conhecido como Nidinho da


Brasília), brasileiro, administrador do Matadouro de Lagarto, portador do CPF
nº 397.948.495 -53, residente à Rua da Delegacia, nº 52, Povoado Brasília,
Lagarto/SE;

2 - ANDERSON SOUZA DE ANDRADE, brasileiro, secretário municipal de


finanças (Lagarto), CPF nº 955.652725-72 , residente à Av. Murilo Dantas, nº
1409, Condomínio Aquarela, Edf. Adauto Machado, apto. 102, bairro
Farolância, Aracaju/SE;

3 - JOSÉ VALMIR MONTEIRO brasileiro, prefeito municipal de Lagarto/SE,


residente à Av. Zacarias Junior, nº 815, Centro – Lagarto/SE, portador do CPF
nº 201.475.975-87 e;

4 - FLORIANO SANTOS FONSECA, brasileiro, secretário municipal de


administração (Lagarto), residente à rua Adalberto Fonseca, nº 21, Conjunto
Laudelino Freire, Lagarto/Se, portador do CPF nº 171.059.275-34, pelos
motivos que passa a escandir:

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1 - DOS FATOS

Considerando as notícias informais e outras veiculadas na


imprensa estadual dando conta de inúmeras irregularidades seja em relação à
administração e exploração do Matadouro Municipal, seja no que pertine à sua
operacionalização, foi instaurado o INQUÉRITO CIVIL PROEJ Nº
40.18.01.0006, objetivando apurar o contido nessas informações.

Em sede de investigação, apurou-se o seguinte:

Que já no início da nova gestão de José Valmir Monteiro, a


qual se deu a partir de janeiro de 2017, este réu, desconsiderando a
Constituição Federal (art. 175), a Lei de Improbidade Administrativa (Lei n.
8.429/92), a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n.101/2000), a
Lei de Licitações (Lei n. 8.666/93) e a Lei das Concessões (Lei n. 8.987/95),
resolveu entregar o Matadouro Municipal de Lagarto à pessoa de Eronildes
Almeida de Carvalho, seu amigo de longas datas e correligionário político, a fim
de que este o explorasse em benefício próprio.

Para tanto, de maneira informal, verbalmente, a administração


e exploração do Matadouro passou para as mãos de Eronildes. Do que se
apurou, não bastassem a burla e afronta absurda a todas as normas referidas
acima, os dois réus foram mais longe, e estabeleceram a seguinte relação:

(i) O particular – Terceiro beneficiário, Eronildes –,


explorava o Matadouro a título gratuito e livre de qualquer responsabilidade em
relação à sua manutenção, limpeza e etc., auferia renda mensal superior a R$
100.000,00 (cem mil reais), e não recolhia qualquer dos tributos devidos, a
exemplo de ISS, PIS, COFINS;

(ii) A Administração Pública, por sua vez, SEM O MENOR


RESPALDO LEGAL, abria mão dessas receitas públicas em favor do amigo do
Prefeito, cedia de 3 (três) a 5 (cinco) funcionários seus para arcar com a
limpeza do matadouro, arcava com as contas de energia e não recebia nenhum
valor a título de recolhimento de ISS.

Pois bem. O quadro é assustador e de causar


perplexidade.
Ressalte-se que Eronildes, que já havia tido a oportunidade
de explorar para si o Matadouro Municipal durante o mandato anterior de
Prefeito, de Valmir Monteiro.

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Em sede de IC, foram efetuados vários requerimentos de


fiscalização por parte de Órgãos Estaduais e Municipais no ambiente do
Matadouro Municipal, os quais resultaram na confirmação de práticas
irregulares, ilegais e imorais de várias ordens, desde ambiental à patrimonial.

Apurou-se também, que a despeito da Administração


Pública, representada pelos réus José Valmir Monteiro, Anderson Souza de
Andrade e Floriano Santos Fonseca, ter pleno conhecimento destas
ilegalidades e imoralidades mencionadas, conhecia também várias outras de
outros matizes, a saber:

1 - Ambiente de total insalubridade no local


desenvolvimento das atividades, escravização dos serviços de funcionários;

2 – Práticas de diversos crimes ambientais, que iam dos


maus-tratos de animais, à gravíssima poluição ambiental com lançamento de
sangue, efluentes sanitários e líquidos e bem assim de estercos e carcaças a
céu aberto com séria contaminação ambiental, utilização de lenha sem
certificado de procedência e as respectivas licenças dos órgão ambientais do
Estado, utilização de água oferecida por meio de carros pipas sem controle do
local onde era coletada e da sua perfeita condição e qualidade para uso de
lavagem de carcaças, ausência de autorização de funcionamento dos serviços
e do imóvel pelos òrgão de Fiscalização (ADEMA, ENDAGRO, IBAMA);

3 – Transporte das carnes (produtos) em caminhões sem


refrigeração;

4 – Ausência total de fiscalização regular;

5 – Ausência constante de Médico Veterinário para análise


dos animais a serem abatidos e bem assim acompanhamento das formas de
abate.

Inúmeras outras ilegalidades e irregularidades poderiam


ser citadas.
Dentro do espectro investigatório, foram ouvidas inúmeras
pessoas envolvidas com a administração tanto da Prefeitura Municipal como do
Matadouro, sendo que uma das pessoas ouvidas no inquérito citado foi o Sr.
ERONILDES ALMEIDA DE CARVALHO, o qual seria o próprio
ADMINISTRADOR do bem público, e terminou por esclarecer todo o esquema
de corrupção estruturado pelo Gestor Municipal, José Valmir Monteiro,
efetivamente em perfeita sintonia e conluio com os demais réus.

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Diante da constatação de inegáveis atos de improbidade


cometidos pelos réus, com clara e indiscutível infringência aos arts. 9º, 10 e 11
da Lei de Improbidade Administrativa, restou ao Ministério Público do Estado
de Sergipe a deflragração da presente demanda, de forma a submeter à
análise do Poder Judiciário os fatos relatados, e ao final, buscar a exemplar
punição de todos os réus.

2 - DO DIREITO

2.1 – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA


2.1.1 DELINEAÇÃO CONSTITUCIONAL DA OBRIGATORIEDADE DA
LICITAÇÃO

Para a consecução do interesse público, a Administração


Pública exerce atividade multifacetária e complexa, inclusive, muitas vezes,
utiliza-se de serviços e bens fornecidos por particulares. Assim, tal necessidade
impõe ao Poder Público a obrigação de licitar.
À vista do regime jurídico de Direito Público, com arrimo
nos princípios da supremacia do interesse público sobre o privado e da
indisponibilidade do primeiro, a concretização dos contratos a serem firmados
no interesse da coletividade não se insere no âmbito de disposição exclusiva
do administrador.
Para contornar tal embaraço e guarnecer os interesses
postos, o constituinte originário insculpiu o princípio da obrigatoriedade
da licitação, conforme preconiza o inc. XXI do art. 37 da CRF/88:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos


Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(….)
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública
que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que
estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos
termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. (destaquei)

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De outra banda, o art. 175 da Lex Fundamentalis edita que:

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou


sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.

Significa dizer que a imposição constitucional da


observação do princípio da obrigatoriedade da licitação é a materialização
dos princípios constitucionais expressamente dispostos nas cabeças dos
referidos dispositivos, com ênfase aos princípios da legalidade,
impessoalidade e moralidade.

Sobre a matéria, preleciona CARVALHO FILHO1:

A licitação veio prevenir eventuais condutas de improbidade por


parte do administrador, algumas vezes curvados a acenos ilegítimos por parte de
particulares, outros levados por sua própria deslealdade para com a Administração e a
coletividade que representa. Daí a vedação lhe impõe, de optar por determinado particular.
Seu dever é o de realizar o procedimento para o contrato firmado com aquele que
apresentar a melhor proposta. Nesse ponto, a moralidade administrativa se toca com o
próprio princípio da impessoalidade, também insculpido no art. 37 caput, da Constituição,
porque, quando o administrador não favorece este ou aquele interessado, está, ipso fato,
dispensando tratamento impessoal a todos. (destaquei)

2.1.2 DA CONTRATAÇÃO DIRETA

Consoante foi declinado acima, vige no ordenamento


jurídico pátrio, inclusive com assento constitucional, a obrigatoriedade de prévio
procedimento licitatório para o enlace de contratos pela Administração Pública.
Está é a regra.
Força reconhecer, entretanto, que o próprio constituinte
originário permitiu exceção a tal regra, atribuindo ao legislador ordinário a
edição de lei para efetivar as ressalvas à obrigatoriedade da licitação, a saber:
Lei nº 8.666/93.
Nesse contexto, convém sublinhar que as hipóteses de
contratação direta emolduradas na Lei 8.666/93 reservam-se à (1) dispensa,
(2) inexigibilidade, (3) vedação e (4) licitação dispensada.

1 CARVALHO FILHO, José dos Santos, Manual de Direito Administrativo, Atlas, 25ª Edição,
2012, p. 240.

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In casu, cumpre examinar a efetiva subsunção dos enlaces


administrativos levados a efeito pelos requeridos à contratação direta nas
vertentes inexigibilidade/dispensa, por ser o ponto nuclear da questão.

2.1.3 DA INEXIGIBILIDADE/DISPENSABILIDADE

A mens legis da dispensabilidade ou inexigibilidade de


licitação está delineada nos arts. 24 e 25 da Lei 8.666/93.

Traçadas as premissas gerais de contratação direta com


dispensa ou pela inexigibilidade de licitação, cumpre-nos observar o possível
enquadramento da cessão do prédio público do matadouro municipal de
Lagarto e bem assim a delegação, permissão ou concessão dos serviços
públicos de abate de bovinos, suinos, ovinos, caprinos e beneficiamento de tais
produtos ao réu ERONILDES ALMEIDA DE CARVALHO.

Com efeito, daquilo que se extrai dos arts. 24 e 25 da Lei


de Licitações, é de CLAREZA SOLAR que o réu JOSÉ VALMIR MONTEIRO
não poderia JAMAIS ter cedido o prédio público da forma como o fez, e muito
menos autorizado a prestação dos serviços públicos versados acima por parte
do réu Eronildes Almeida de Carvalho, tendo em vista que este agir implica em
agressão frontal à Lei de Licitações e Lei de Improbidade Administrativa, uma
vez que a cessão foi feita informalmente, de boca, quando a Lei exige que haja
processo licitatório.
Nesse passo, vale ressaltar que tais singularidades não
são desconhecidas do José Valmir Monteiro, haja vista tratar-se de um político
experiente, já tendo desempenhado por algumas vezes os mandatos de
Deputado Estadual e pela segunda vez a de Prefeito de Lagarto.

Saliente-se, por relevante, que o réu José Valmir Monteiro


é assessorado pelo escritório do Dr. Fabiano Feitosa há muitos anos (tanto que
o seu Procurador-Geral é integrante do escritório referido), inclusive tem
contrato particular de prestação de serviços profissionais de advocacia com o
profissional nominado, logo, recebe orientações de caráter jurídico há muito
tempo, e certamente não passaria desapercebido do seu consultor jurídico e
advogado particular a ilegalidade, irregularidade e imoralidade da cessão.

Esta particularidade reforça a ideia do “dolo” pessoal do réu


José Valmir Monteiro, haja vista que sem sombra de dúvida já fora orientado
pelo Procurador-Geral do Município e bem assim por parte do Ilustre advogado,
acerca, repita-se, da ilegalidade, irregularidade e imoralidade da cessão.

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Aliás, existem duas outras particularidades


relevantes da questão:
a) Conforme ficou já verificado e provado nas investigações
procedidas, o Sr. Eronildes Almeida e o atual prefeito municipal José Valmir
Monteiro já possuem ligações político/pessoais há tempos, sendo que o Sr.
Eronildes, conhecido como “NIDINHO DA BRASÍLIA”, concorreu ao cargo de
VEREADOR do Município de Lagarto em 2008, juntamente com o então
candidato a Prefeito Municipal José Valmir Monteiro (eleito naquele ano para
sua primeira gestão municipal), sendo que o DOADOR DE CAMPANHA do
então candidato NIDINHO DA BRASÍLIA, foi O PRÓPRIO ATUAL PREFEITO
JOSÉ VALMIR MONTEIRO, com se pode verificar nos documentos em anexo;

b) Quando desse primeiro mandato de José Valmir


Monteiro, no período de 2009 a 2012, este réu também fez a entrega do bem –
Matadouro Municipal de Lagarto – a Eronildes Almeida usando do mesmo
modus operandi, e outorgando-lhe “verbal e informalmente”, a prestação dos
serviços públicos de abate de bovinos, suinos, ovinos e benficiamento de tais
produtos.

Assim sendo, é de clareza meridiana que a cessão do


Matadouro Municipal de Lagarto e a respectiva exploração de serviços de
abate de bovinos, suinos, ovinos, caprinos e beneficiamento dos produtos
(venda do couro, mocotós, fatos e miúdos, chifres, cascos, rabada e bem assim
graxaria) só poderia ser feita por meio de Processo Licitatório para Concessão
ou Permissão de Uso, do qual só poderiam participar e concorrer Pessoas
Jurídicas (e não pessoa física) no primeiro caso, sem ônus de nenhuma
espécie para o Município de Lagarto.

Com efeito, não tendo sido feito dessa forma legal e moral,
afrontaram os réus, dentre outros dispositivos, como veremos no momento
oportuno, o disposto no art. 10, VIII.

2.1.4 INSTRUMENTO JURÍDICO PARA A CONTRATAÇÃO

Como vimos no item 2.1.1 (Delineação Constitucional da


Obrigatoriedade da Licitação), o comando constitucional encravado no art. 175
ganhou vida por meio da Lei nº 8.987/95 (Lei das Concessões e Permissões de
Prestação de Serviços Públicos), a quem coube regular a atividade de
prestação de serviços públicos pelo particular.

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A despeito da norma em sua ementa/enunciado assinalar


que dispõe sobre o regime de concessões e permissões, na verdade, o
legislador se ocupou da permissão em poucos artigos, dando ênfase e
destaque à concessões.

A despeito dessa singularidade, o fato é que a exploração


desses serviços podem se dar por uma ou outra forma.

Merecem destaque, na hipótese, o contido nos arts. 1º, 2º,


II e IV, 6º, 14, verbis:

o
Art. 1 As concessões de serviços públicos e de obras públicas e as
permissões de serviços públicos reger-se-ão pelos termos do art. 175 da Constituição
Federal, por esta Lei, pelas normas legais pertinentes e pelas cláusulas dos indispensáveis
contratos.
o
Art. 2 Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:

II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita


pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica
ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e
risco e por prazo determinado;
IV - permissão de serviço público: a delegação, a título precário,
mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa
física ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.

Art. 14. Toda concessão de serviço público, precedida ou não da


execução de obra pública, será objeto de prévia licitação, nos termos da legislação própria
e com observância dos princípios da legalidade, moralidade, publicidade, igualdade, do
julgamento por critérios objetivos e da vinculação ao instrumento convocatório.

Dessa forma, tem-se por INSOFISMÁVEL e INEGÁVEL


que a cessão do Matadouro Municipal de Lagarto para quem quer que fosse,
só poderia ser levado a título de concessão ou permissão de serviços públicos,
precedidos de processo licitatório, o que efetivamente não ocorreu.

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2.1.5 DELINEAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL DA RESPONSABILIDADE


FISCAL E OBRIGATORIEDADE DA LICITAÇÃO.

A responsabilidade fiscal sem sombra de dúvida é a base


da estruturação das finanças públicas.

Conforme Emerson Garcia, “Há algumas décadas, Manoel


de Oliveira Franco Sobrinho, afirmara que 'não há povo independente, muito
menos autêntica soberania política, onde não há organização econômica e
administração financeira. Os reflexos do negocismo na vida pública nunca
permitiram exação no trato das nossas finanças. As Constituições de 1891,
1934, 1937 e 1946 nunca responsabilizaram governantes desavindos.
Acobertavam, isto sim, a espoliação e a dissipação quanto aos haveres
públicos. As garantias jurídicas serviam para prestigiar a desordem. As funções
constitucionais, pela mecânica do procedimento político, inclusive com
prestigiadas decisões judiciárias, protegiam ações confessadamente ineptas
em prejuízo das condições normais da nossa existência'.” 2

Com efeito, a conduta do gestor José Valmir Monteiro no


episódio tratado nos autos caminha no exato sentido do escólio transcrito, em
sentido diametralmente oposto aos objetivos da Lei de Responsabilidade Fiscal
e, bem assim, ao que já foi veiculado tantas vezes por ele na mídia
(documentos anexos) quanto às dificuldades econômicas e financeiras
enfrentadas pela sua Administração por conta da falta de recursos, da baixa
arrecadação de impostos e tributos, enfim, das finanças públicas combalidas.

Pois bem.

A Lei de Responsabilidade Fiscal tem justamente o condão


de servir de norte para uma gestão responsável dos recursos públicos,
justamente objetivando o equilíbrio das contas públicas, coisa que está bem
distante de ser o carro chefe da Administração do réu José Valmir Monteiro.

A propósito, vem a calhar a lição de Emerson Garcia no


sentido de que “A Lei de Responsabilidade Fiscal é parte integrante de um
conjunto de medidas que compõem o denominado Plano de Estabilização
Fiscal (PEF), tendo estabelecido mecanismos de gestão responsável de
recursos públicos, visando conter o deficit e estabilizar a dívida pública,
possibilitando o equilíbrio que deve existir entre despesas e receitas públicas.” 3

2 GARCIA, Emerson. PACHECO ALVES, Rogério. Improbidade Administrativa. 8. ed. 2ª


tiragem. Saraiva. São Paulo. 2015. p. 554.
3 GARCIA, Emerson. PACHECO ALVES, Rogério. Improbidade Administrativa. 8. ed. 2ª
tiragem. Saraiva. São Paulo. 2015. p. 555.

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Dentro desse contexto, sobreleva destacar que as


investigações levadas a efeito em sede do IC demonstraram indubitavelmente
um fenômeno absurdamente diverso do panorama traçado pela LRF (nesse
particular tomaremos por base apenas os serviços de abate de bovinos),
senão vejamos:

(i) Vinham sendo abatidos mensalmente no Matadouro


Municipal de Lagarto o equivalente a 1.667 bois em média, ao custo de R$
50,00 (cinquenta reais), se verdadeira for a informação de que era cobrado
apenas esse valor, totalizando uma receita bruta mensal da ordem de R$
83.350,00 (oitenta e três mil e trezentos e cinquenta reais), e uma receita bruta
anual da ordem de R$ 1.000.200,00 (um milhão e duzentos reais), receitas
essas que deveriam entrar para os cofres públicos, não tivesse o réu José
Valmir Monteiro cedido de forma ilegal e imoral para o seu amigo e
correligionário Eronildes Almeida a exploração do Matadouro Municipal.

Assinale-se, nesse particular, que esse valor estava sendo


recebido por Eronildes Almeida praticamente líquido, haja vista que se utilizava
durante todo tempo em que explorou o imóvel dos serviços de 5 (cinco)
funcionários da Prefeitura Municipal, cedidos ilegal e imoralmente, além de não
pagar a energia e água, pois tais encargos ficavam sob responsabilidade da
Prefeitura Municipal, assim como a manutenção do prédio em si;

(ii) Como é sabido, a prestação dos serviços referidos por


particular implica no recolhimento de PIS, COFINS e, o que nos interessa
mais de perto, ISS, cujo percentual é da ordem de 5% sobre o valor total
dos serviços prestados.

No caso, imaginando-se que tivesse havido processo


licitatório para a concessão ou permissão de serviço; que o ganhador tivesse
sido uma pessoa jurídica; que não estivessem sendo usados funcionários da
Prefeitura; que a energia e água estivessem sendo pagos pelo ganhador da
licitação; enfim, que estivesse tudo regular, a pessoa jurídica ganhadora TERIA
que recolher o equivalente a 5% de ISS sobre o abate, o que implicaria em
receita mensal da ordem de R$ 4.167,00 (quatro mil e cento e sessenta e
sete reais), e receita anual da ordem de R$ 50.010,00 (cinquenta mil e dez
reais). Isto só com o abate de bovinos.

Nesse passo, cabe mais uma vez nos socorreremos das


lições de Emerson Garcia na análise dessas circunstâncias.

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Diz o autor:

“Dentre as disposições concernentes à receita pública, a


LRF, em seu art. 11, tornou incontroverso que “constituem requisitos
essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva
arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente
da Federação...”4

E prossegue:

“ O dispositivo nada mais é do que derivação lógica do


princípio da legalidade, já que os tributos estão previstos em lei e o
administrador público tem o dever de cumprir os seus mandamentos. Deixando
de instituir, prever e arrecadar os tributos, será nítido o descumprimento da lei.
(…) Tendo sido regularmente instituído o tributo, será ilícita a conduta do Chefe
do Executivo que deixar de adotar as providências necessárias à sua cobrança.
Neste último caso, o art. 10, X, da Lei n. 8.429/1992 é expresso ao considerar
como ato de improbidade que causa dano ao patrimônio público o fato de o
agente “agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como
no que diz respeito à conservação do patrimônio público.” 5

Com efeito, não há como se negar que na hipótese versada


nos autos houve clara renúncia de receita por parte do Gestor municipal – José
Valmir Monteiro –, com gravíssima afronta ao art. 14, caput, e incs. I e II da
LRF, que dispõem:

Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou


benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá
estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no
exercício em que deva iniciar a sua vigência e nos dois seguintes, atender ao
disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos umas das seguintes
condições:
I – demonstração pelo proponente de que a renúncia foi
considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e
de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio
da lei de diretrizes orçamentárias;

II – estar acompanhada de medidas de compensação, no


período mencionado no caput, por meio de aumento de receita, proveniente da
elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de
tributo ou contribuição.

4 GARCIA, Emerson. PACHECO ALVES, Rogério. Improbidade Administrativa. 8. ed. 2ª


tiragem. Saraiva. São Paulo. 2015. p. 565.
5 Idem. Ibidem. p. 566.

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Não é e nem foi o que se viu na questão posta à análise


por meio da presente demanda.

2.1.6 MATRIZES DA RESPONSABILIZAÇÃO PELOS ATOS DE


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - CONSTITUIÇÃO FEDERAL E LEI DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

A fundamentação para fins de responsabilização por atos


de improbidade administrativa tem matriz constitucional e repousa no artigo 37,
caput, da Constituição Federal, verbis:

Art. 37 A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(…)
§ 4º – Os atos de improbidade administrativa
importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública,
a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível (destaquei).

Sem sombra de dúvidas, a norma em comento ostenta


caráter de eficácia limitada, cuja aplicabilidade foi efetivada a partir da edição
da Lei n. 8.429/92 – Lei de Improbidade de Administrativa -, dando concretude
ao princípio da moralidade administrativa.

Nesse contexto, o referido diploma legislativo, em seus


artigos 9º, 10 e 11, e mais recentemente o art. 10-A, definiu um rol
exemplificativos das condutas ímprobas em quatro espécies de atos distintos,
em ordem crescente de gravidade e sanção, a dizer: a) os que importam
enriquecimento ilícito – art. 9º; b) os que causam prejuízo ao erário – art. 10; c)
os decorrentes de concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou
tributário – art. 10-A; d) os que atentam contra os princípios da administração
pública – art. 11.
Como bem assinala Fazzio Junior, “O agente público é o
canal de expressão da vontade administrativa e, portanto, integrante da esfera
especial do Estado que organiza e presta serviços públicos. Como todas as
funções públicas, as do agente público são instrumentais, estão a serviço de
todos, inclusive dos próprios interesses como parcela da coletividade, como
cidadão. Ainda assim, ao se evidenciar a descoincidência entre seus interesses
egoísticos e os da fração administrativa que integra, o agente público deixa de
atender às expectativas sociais. A exploração da fração de poder que lhe é

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outorgada, na estrutura administrativa direta ou indireta, para captar, para


captar vantagem a que, regularmente, não teria direito, é a modalidade de
improbidade administrativa mais grave porque é, dentre todas, a que fere de
forma mais contundente o interesse republicano. Neutraliza o cerne ético do
serviço público, abrindo as portas de Tróia para a captura dos bens públicos,
por interesses privados.”6

2.1.6.1 DO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

Grande parte dos autores e historiadores defendem que a


origem do enriquecimento sem causa remonta a Roma antiga. Consoante José
da Silva Pacheco7, “no Direito Romano, berço do direito ocidental, Pompônio,
em Leituras várias, Livro IX, salientava: É justo, por direito natural, que
ninguém se torne mais rico em detrimento e prejuízo de outro (Iure naturae
aequum est, neminem cum alterius detrimento et injuria fieri locupletiorem - Dig.
Liv. 50, Tit. XVII, n° 206). Embora haja grande divergência, entre os
romanistas, sobre as idéias relativas ao enriquecimento sem causa e às ações
correspondentes, o certo é que, pelo menos a partir de Justiniano, passou-se a
considerar tal fato (Cf. p. Ex.: Silvio Perrozzi, Istituzioni di Diritto Romano,
Florença, 1908, vol. II, § 179, p. 285 e seg.).

Havia os casos conhecidos por designações especiais e


sujeitos a regras específicas, tais como: a) a condictio indebiti, quando ocorria
o pagamento por erro de uma dívida inexistente; b) a condictio ob causam
datorum, quando ocorria pagamento em razão de um resultado futuro, que, a
final, não se realizava; c) a conductio ob turpem, quando havia um
enriquecimento por causa imoral ou torpe; d) a conditio ob in justam causam,
aquela que visa à restituição do que foi dado a alguém por causa reprovada por
lei. Entretanto não deixava de haver a condictio sine causa, quer em sentido
genérico, quer em sentido estrito, quando ocorria enriquecimento sem causa,
como por exemplo, no caso de se dar dinheiro ou coisa para se obter algo que
não existe ou que não se pode realizar (Ver Digesto, Livro II, tit. 4, 5 e 7;
Código, Livro IV, tit. 6, 7 e 9).

No Direito Romano, o enriquecimento sem causa


constituía-se em um princípio geral de direito, e não em uma regra jurídica
positivada. No Brasil, especificamente no Código Civil de 2002, o
enriquecimento sem causa passou a ser previsto no art. 884 e seguintes,
consolidando-se como um regramento jurídico. A despeito da sua positivação,
6 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade Administrativa: doutrina, legislação e jurisprudência. 3.
ed. - São Paulo: Atlas, 2015. p. 141/42
7 COAD/ADV, Informativo semanal 32/2003, p. 468.

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não perdeu o seu caráter originário de princípio geral de direito. Como tal, em
sua essência, vigora a ideia do dever de restituir (ou reparar o dano) o que foi
ou for indevidamente auferido por alguém em detrimento de outrem.

Na categoria de atos de improbidade que importam


enriquecimento ilícito, catalogados no art. 9º da Lei 8.429/92, inserem-se as
hipóteses em que o agente público obtém vantagem patrimonial indevida em
razão de sua atividade pública. Ademais, doutrina e jurisprudência consagram
o entendimento de que os incisos do referido dispositivo não encerram
taxativamente as situações de enriquecimento ilícito, sendo apenas
exemplificativos.
Não é desconhecido de ninguém que as mazelas
administrativas são dos mais diferentes e impensáveis tipos. Com efeito, essa
singularidade fez com que o legislador buscasse no caput do dispositivo legal a
elaboração de um texto aberto, de forma que pudesse alcançar e adequar cada
nova modalidade de ilícito à disposição normativa.

Nessa esteira de entendimento, leciona PAZZAGLINI


FILHO:

O art. 9º, no caput, expressa o conceito amplo de ato de


improbidade administrativa que implica enriquecimento ilícito e em seus incisos
arrola 12 espécies mais frequentes dessa modalidade. Tal enumeração é
exemplificativa, e não exaustiva, pois a própria norma conceitual é expressa
nesse sentido, como os demais tipos de atos ímprobos, ao utilizar o advérbio
notadamente, que, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
(2001), significa em especial, especialmente. 8 (destaquei);

Em igual sentido, preconiza DI PIETRO:

Embora a lei, nos três dispositivos, tenha elencado um


rol de atos de improbidade, não se trata de enumeração taxativa, mas
meramente exemplificativa. Ainda que o ato não se enquadre em uma das
hipóteses previstas expressamente nos vários incisos dos três dispositivos,
poderá ocorrer improbidade sancionada pela lei, desde que enquadrada no
caput dos artigos 9º, 10 e 119. (destaquei).

Em relação especificamente à LIA, peço vênia para


assinalar ipsis literis as profícuas palavras de Fazzio Junior:
“Se nos detivermos um momento e olharmos
retrospectivamente para o curso dos mecanismos jurídicos de guarda da
atividade administrativa, verificaremos que a Lei nº 8.429/92 traduz a
exteriorização jurídica de uma indignação social, acesa pela permanente
ameaça contra seus baldrames éticos e recursos materiais.
8 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de Improbidade Administrativa. Ed. Atlas, 4ª Ed., pág. 46.
9 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. Ed. Atlas. 25ª Ed., 2012, pág. 896.

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Ao estabelecer sanções para o enriquecimento ilícito de


agentes públicos, a lei pretende manter ou repor nos devidos trilhos o extenso
catálogo de poderes que a coletividade outorga aos agentes públicos. Isso
significa assegurar o correto direcionamento de suas práticas, como
instrumentos a serviço dos interesses sociais e não em proveito de seu
curador.
O agente público recebe poderes para cumprir deveres,
não para orientá-los no sentido de abastecer, ilicitamente, o próprio cabedal, o
que ocorre nas hipóteses tratadas neste capítulo.” 10

2.1.6.2 DO PREJUÍZO AO ERÁRIO

A lesão ao erário restou classificada pelo legislador


infraconstitucional como o segundo mais grave ato de improbidade
administrativa, estando previsto no art. 10 da LIA.

Na atualidade, não há como se negar que a "falência" do


Estado brasileiro se consolidou de vez. Vários são e foram os fatores
determinantes para que chegássemos ao fundo do poço, a essa situação
calamitosa e que se apresenta como a mais grave crise econômica da história
do Brasil, a qual tem raízes fortíssimas na falta de probidade administrativa.

Encertados exemplificadamente nos incisos do art. 10 da


LIA (Lei de Improbidade Administrativa), têm-se os casos em que o agente
público provoca lesão ao erário por meio de qualquer ação ou omissão,
dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades públicas
mencionadas na Lei.

Enquanto o art. 9º cuida dos atos de improbidade


administrativa que importam enriquecimento ilícito, ou seja, a obtenção de
vantagem ilícita por parte do agente público ou terceiro, no art. 10 o legislador
tratou especificamente dos atos de improbidade que causam lesão ao erário.

Na hipótese do presente dispositivo, há uma significativa


mudança do foco por parte do legislador, que passa a valorar de forma primária
qualquer dano que venha a ser causado pelo agente público e o terceiro ao
erário.
Nessa modalidade de ato de improbidade, o legislador
optou por estabelecer punição a qualquer título, ou seja, em caso de dolo ou
culpa.
10 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade Administrativa: doutrina, legislação e jurisprudência.
3. ed. - São Paulo: Atlas, 2015. p. 142.

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Como bem observa Fazzio Júnior, “a conduta que


caracteriza a improbidade administrativa lesiva ao erário, expressa no art. 10
da Lei nº 8.429/92, pode ser ação ou omissão dolosa bem como qualquer ação
ou omissão culposa. Também são ímprobos o relaxado e o desidioso. Não
tanto quanto os que laboram nos domínios da má-fé, mas tão prejudiciais
quanto. Deixar as portas abertas e abrir as portas, nessa área, proporcionam
os mesmos resultados nocivos.”11

2.1.6.3 DA VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Essas modalidades de atos de improbidade foram


classificados pelo legislador infraconstitucional como o de menor gravidade,
classificação esta com a qual não comungo, especialmente ao analisar a
questão sob o prisma filosófico.

O fato é que a pretensão maior do legislador ao editar o


presente dispositivo foi zelar pelo princípio da probidade administrativa. Em um
Estado como o nosso onde predomina o monopólio estatal em diversas áreas,
e por consequência a atividade administrativa ganha corpo e dimensão
significativos, necessário se fazia preservar os valores destacados por meio
dos princípios que regem a Administração Pública.

Os atos de improbidade administrativa consubstanciados


na violação dos princípios da Administração Pública dizem respeito à não
observância dos deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade
às instituições, conforme se depreende do art. 11, caput, e inc. I, da Lei
8.429/92, verbis:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que


atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão
que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente:
I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento
ou diverso daquele previsto, na regra de competência.

A respeito do tema, escolia BANDEIRA DE MELLO:

(...) enquanto o princípio da supremacia do interesse


público e da sua indisponibilidade é de essência de qualquer Estado, de
qualquer sociedade juridicamente organizada, o da legalidade é específico da
supremacia do Estado de Direito, é justamente aquele que o qualifica e que lhe
11 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade Administrativa: doutrina, legislação e jurisprudência.
3. ed. - São Paulo: Atlas, 2015. p. 208.

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dá identidade própria, por isso, considerado princípio basilar do regime jurídico-


administrativo12.

Com efeito, deve-se ressaltar o destaque que merece o


Princípio da Legalidade, o qual repousa de forma especial em berço
constitucional e, paralelamente, ao lado de alguns outros princípios, configuram
o regime jurídico administrativo-constitucional, conforme se extrai do texto do
art. 37, caput, da CF.
O mesmo se diga em relação ao princípio da moralidade,
que está nas raízes mais profundas da gestão pública.
Insta consignar que, pelo princípio da moralidade
administrativa ou da probidade administrativa, requer-se dos administradores
públicos a observância não só da legalidade formal restrita, mas também de
princípios éticos, de lealdade, de boa fé, de regras que assegurem a boa
administração e a disciplina interna na Administração Pública 13.

3 DA LEGITIMIDADE PASSIVA - TERCEIRO COLABORADOR DO ATO


ÍMPROBO DO AGENTE PÚBLICO

Consoante dispõe o art. 3º da da LIA, “As disposições


desta Lei são aplicáveis, no que coubr, àquele que, mesmo não sendo agente
público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se
beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
“Consoante explicitado no texto legal, para que alguém
(pessoa natural) possa ser responsabilizado pela prática de ato administrativo
na condição de terceiro, é necessário que se conduza de uma das três formas
nele enumeradas:
a) induza o agente público à prática do ato de improbidade;

b) concorra para a sua prática; e

c) se beneficie do ato de improbidade sob qualquer forma


direta ou indireta.

Com efeito, a questão da responsabilização do extraneus


no ato de improbidade não pode deixar de passar pela análise conceitual das

12 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo, Ed. Malheiros, 26ª
Ed., pág. 99 -100.
13 DI PIETRO, Maria Sílvia Zanela. Direito Administrativo, 13ª ed., São Paulo: Atlas, 2001, p.
647.

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locuções induzir e concorrer, bem como das figuras do partícipe e do coautor,


sobre as quais traçarei breves considerações.

Antes de qualquer outra coisa, é preciso deixar claro que a


atuação do terceiro estranho à administração pública levada a efeito de forma
isolada, sem uma ação material (física) ou intelectual (moral) de um agente
público, não pode ser considerada como ato de improbidade administrativa. Em
outras palavras, apenas o “agente público” pode ser autor de ato de
improbidade. O terceiro só poderá ser coautor, partícipe ou beneficiário.

Participação é uma modalidade do concurso de pessoas na


qual um agente coopera para a realização do ato ilícito sem, contudo, realizar o
núcleo da figura típica. Esse agente que colabora com o autor é denominado
de partícipe.”14
A participação, como regra, pode ser moral ou material.
Diz-se moral quando realizada através do induzimento e da instigação.
Denomina-se material quando o agente presta auxílio ao autor do delito. 15

No que se refere ao induzimento, este ocorre quando o


partícipe coloca a ideia criminosa na mente do autor, o qual até aquele
momento não pensava em cometar o delito.16

“Quando, no entanto, a conduta do terceiro se somar à do


agente público, de forma a realizar o núcleo da figura do ato de improbidade,
atuará como coautor.

No que pertine à locução induzir, de acordo com o


Dicionário Michaelis, é o ato de aconselhar, sugerir, persuadir alguém à prática
de alguma coisa, instigar. Para o Dicionário Aurélio, induzir é o ato de
aconselhar, levar alguém a um ato, incutir, instigar.

Concorrer é atuar conjuntamente, executar ações materiais


destinadas a um fim comum, juntar-se para uma ação ou fim comum, contribuir,
cooperar, enfim, auxiliar de alguma forma e através de ação material o agente
público na prática do ato de improbidade.

Beneficiar-se ou se beneficiar, significa desfrutar de alguma


forma das vantagens advindas do ato de improbidade.” 17

14 CARVALHO. Antônio Cesar Leite de. Comentários à Lei de Improbidade Administrativa:


ainda sem paginação.
15 CARVALHO, Antônio Cesar Leite de. Comentários à Lei Penal Ambiental. 3. ed. rev. atual.
Juruá. Curitiba: 2013. p. 31.
16 Idem. Ibidem. p. 32
17 CARVALHO. Antônio Cesar Leite de. Comentários à Lei de Improbidade Administrativa:
ainda sem paginação.

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Como bem assinala Emerson Garcia, “a ação do terceiro


pode se desenvolver em três ocasiões distintas, as quais são individualizadas a
partir da identificação do momento da conformação do elemento subjetivo do
agente público e da prática do ato de improbidade:

1º) O terceiro desperta no agente público o interesse em


praticar o ato de improbidade, induzindo-o a tanto;

2º) O terceiro concorre ara a prática do ato de improbidade,


participação esta que pode consistir na divisão de tarefas com o agente público
ou na mera prestação de auxílio material, o que importa em atividade
secundária que visa facilitar o atingimento do fim visado pelo agente (v.g.: o
fornecimento de veículo para o transporte de bens e valores dsviads do
patrimônio público);

3º) O terceiro não exerce qualquer influência sobre o


animus do agente ou presta qualquer contribuição à prática do ato de
improbidade, limitando-se a se beneficiar, de forma direta ou indireta, do
produto do ilícito.”18

No caso sub examinis, de pronto se descortina a


participação de Eronildes Almeida na condição de terceiro beneficiário, não se
descartando na sua conduta a caracterização da coautoria.

Note-se que o réu Eronildes Almeida, recebeu de José


Valmir Monteiro – Prefeito Municipal de Lagarto -, o “direito” de administrar e
explorar para si o Matadouro Municipal, aferindo com isso renda de valor
considerável, que deveria, em condições normais de temperatura e pressão, se
constituir em receita pública relevante, haja vista que, somando-se os abates e
comercialização dos subprodutos, alcançava aproximadamente R$ 100.000,00
(cem mil reais) mensais e R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais) ao
ano.
Por outro lado, considerando que se tratam de amigos
íntimos e de longa data, e bem assim de correligionários políticos, a ponto de
Valmir Monteiro haver ajudado financeiramente a campanha de Eronildes
Almeida ao cargo de Vereador, a conversação sobre a efetivação do negócio
escuso certamente foi uma via de mão dupla, levada a efeito em coautoria.

18 GARCIA, Emerson. PACHECO ALVES, Rogério. Improbidade Administrativa. 8. ed. 2ª


tiragem. Saraiva. São Paulo. 2015. p. 366.

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4 DAS PROVAS PRODUZIDAS EM SEDE DE INQUÉRITO CIVIL


4.1 DOS DEPOIMENTOS - ERONILDES ALMEIDA DE CARVALHO –
ADMINISTRADOR DO MATADOURO

Conforme dissemos alhures, os fatos tratados nesta ação


foram trazidos ao conhecimento do Ministério Público por meio de notícias
jornalísticas e bem assim de fatos extraídos de processos judiciais em curso
versando sobre as mazelas do Matadouro Municipal de Lagarto, cuja situação
de total precariedade sob todos os aspectos já se arrasta por longos 11 anos.

Instaurados o IC, foram ouvidas várias pessoas ligadas de


alguma forma à questão ou ao funcionamento em condições precaríssimas do
Matadouro Municipal, quando então começaram a aparecer outras vertentes
que dantes não eram avistadas pelo Órgão Promotorial, como veremos no bojo
desses depoimentos.
A primeira pessoa a ser convidada para prestar
esclarecimentos perante o Ministério Público foi o Administrador do Matadouro,
Eronildes Almeida de Carvalho.

Em depoimento prestado na Curadoria de Defesa do


Patrimônio Público e Meio Ambiente, o mesmo revelou CLARAMENTE um
esquema de desvio e apropriação ílicita de verba pública do Município de
Lagarto, o qual se consolidou com a TOTAL CONIVÊNCIA E PARTICIPAÇÃO
de todos os réus acima citados, os quais, premidos pelas normas –
constitucional e infraconstitucionais - que regem a Administração Pública,
deveriam estar empenhados em bem zelarem pela probidade administrativa,
pelos interesses coletivos e proteção do patrimônio público econômico, e não
se organizando para assacarem contra os cofres públicos.

Em sua ouvida, disse ERONILDES ALMEIDA (NIDINHO):

“Que abate boi no Matadouro Municipal de Lagarto, e o


Prefeito Valmir Monteiro lhe mandou para ficar olhando os trabalhos dos
funcionários. Que não é funcionário da Prefeitura. Que assim que Valmir
Monteiro assumiu o cargo de Prefeito, imediatamente designou o declarante
para tomar conta dos funcionários do Matadouro. “ (grifamos)

Que a Prefeitura Municipal paga cerca de 5 ou 6


funcionários, ou seja: 2 nas pistolas, 2 nas caldeiras e 2 vaqueiros.
Que os seus funcionários trabalham por hora e não têm
carteira assinada. Com carteira assinada só os da firma e os da Prefeitura.

(…)

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“Que a faixa de bois abatidos no matadouro de Lagarto até


dezembro de 2017 foi da ordem de 1.200 bois/mês. A partir de janeiro, com a
inauguração do mercado, passou a abater cerca de 1.000 bois/mês.
Que o valor do abate é da ordem de R$ 50,00 (cinquenta
reais) por rês/boi.

Que não tem salário fixo pago pela Prefeitura Municipal


pois é muito amigo de Valmir Monteiro e só de vez em quando ele lhe dá
algum valor. Que as vezes o Prefeito lhe dá R$ 2.000,00 (dois mil), outras
vezes lhe dá R$ 3.000,00 (três mil reais).”

(...)

“ o que sobra do dinheiro, que é muito pouco, o declarante


repassa para o Prefeito Municipal de Lagarto, o Sr. Valmir Monteiro, em
dinheiro, entregando diretamente ao Prefeito em espécie.(grifamos)

Que tem mês que entrega para o Prefeito Municipal o


equivalente a R$ 5.000,00 (cinco mil reais) , tem meses que é menos, e tem
meses que não sobra nada para repassar para o Prefieto Municipal.(grifamos)

Que no Matadouro não existe a emissão do DAM –


Documento de Arrecadação Municipal, e não é pago nenhum imposto ao
Município relativo ao abate de gado e exploração do Matadouro.”
(grifamos)

Considerando que o depoimento do réu se constituiu


basicamente no embrião da investigação, fica evidente que em relação aos
números de animais (bovinos) abatidos mensalmente e que foram declinados
pelo réu, houve uma clara tentaiva de mascarar a grandiosidade da receita,
uma vez que o réu assinalou que o abate mensal era da ordem de 1.200
cabeças, contudo, esses números foram contrariados tecnicamente pela
EMDAGRO.
É que no desenrolar das investigações, e a partir deste
depoimento de Eronildes Almeida, entendeu por bem o Parquet de encaminhar
à Diretora da EMDAGRO, Drª SALETE DENZEN VIEIRA, a REQUISIÇÃO
MP/SE Nº 09/2018 (doc. anexo), solicitando o encaminhamento à 1ª
Promotoria de Justiça Cível de ”cópia das Guias de Trânsito Animal (GTA),
referente aos animais encaminhados para o Município de Lagarto, com
dstino ao Matadouro Municipal, desde o início de 2017 até fevereiro de
2018”, e qual não foi a nossa surpresa ao receber junto com o OFÍCIO Nº
08/2018 (EMDAGRO) o Relatório Circunstanciado (docs. Anexo), com os
seguintes números:

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1 - BOVINOS ABATIDOS EM LAGARTO:

I. ANO DE 2017: Números de bovinos abatidos no


Matadouro de Lagarto: 20.000 cabeças.
a) 20.000 dividido por 12 meses.

MÉDIA MENSAL = 1.667 cabeças.

II. ANO DE 2018 (meses de Janeiro e Fevereiro):


Números de bovinos abatidos no Matadouro de Lagarto: 2.387 cabeças.
b) 2.387 dividido por 2 meses.

MÉDIA MENSAL = 1.193,5 cabeças.

TOTAL GERAL: 22.378 cabeças.

Se o depoimento pecou relativamente em seus informes


acerca de números de abates, por outro lado, é rico em apresentar diversas
violações a regras estabelecidas na Constituição Federal, na Lei de
Improbidade Administrativa, na Lei de Responsabilidade Fiscal, na Lei de
Licitações, na Lei dos Crimes Ambientais, no Código Penal, no Decreto- Lei nº
201/67, na Legislação Trabalhista, além de Resoluções CONAMA, Resoluções
Estaduais, etc.
Por outro lado, tais transgressões se constituem em prática
de atos de improbidade administrativa levados a efeito pelos réus, nas suas
mais variadas modalidades e vertentes, as quais serão expostas
oportunamente.

4.1.2 ANDERSON DE SOUZA DE ANDRADE – Secretário de Finanças

Vejamos agora o que informou o réu e Secretário de


Finanças do Município, verbis:

(…)

Que não tem conhecimento e nem ideia do número de


reses abatidas mensalmente em Lagarto.

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Que sabe por comentários de rua, que o Matadouro,


durante a gestão de Valmir Monterio, estaria cedido a um particular, ou seja,
não é o Município quem administra e o explora. Por outro lado, tem
conhecimento de ciência própria, que tem funcionários da Prefeitura
Municipal, que trabalham no matadouro. (grifamos)
Que do que sabe por informações de rua, o Município não
tem contrato com esse administrador. Que tem conhecimento que esse
administrador seria o cidadão conhecido por Nidinho, residente no Povoado
Brasília.(grifamos)
Que tem como atribuição administrar as receitas e
despesas do Município. Que dentro das suas atribuições, está a de
implementar medidas que permitam ao Município auferir receitas.
Que não sabe se Nidinho fez recolhimento de impostos relativos ao abate de
gado no matadouro, e se ele fez, não foi com o declarante, mas sim, no
Departamento de Tributos, isso porque, qualquer pessoa pode ir lá e retirar o
DAM e pagar no banco o imposto relativo a qualquer serviço.” (grifamos)

(…)

“Perguntado: Se reconhecendo como sua atribuição a


implementação de medidas objetivando arrecadar receitas para o Município, e
bem assim, que tinha conhecimento por meio de comentários de rua de que
Nidinho explorava o matadouro, porque não implementou alguma medida a fim
de compeli-lo a recolher os impostos relativos ao abate de gado e bem assim a
emissão dos respectivos DAM?
Respondeu: Que como havia uma certeza de que o fato
era verdadeiro, talvez tenha havido uma falha de sua parte.”

Esse tipo de comportamento omisso, leniente e negligente


não se coaduna com os princípios que regem a Administração Pública, em
especial os da legalidade, moralidade e dever de eficiência.

Pergunto então:
I - O que leva um Secretário Municipal de Finanças a ser
TÃO OMISSO em relação a arrecadação de receita pública da ordem
aproximada de e, no caso da exploração direta da atividade, cuja
operacionalização lhe é imposta por lei, especialmente nos atuais tempos e no
âmbito do Município de Lagarto, uma vez que é NOTÓRIO que os
administradores municipais desta Comarca vivem a reclamar da escassez de
receitas para o gerenciamento dos Municípios?

II – Diante desse quadro de escassez de receitas, como é


possível se admitir que tendo o Município de Lagarto uma atividade de alta
circulação de receitas e serviços, como no caso do seu Matadouro, o
Secretário de Finanças simplesmente IGNORA o que acontece ali em termos
de arrecadação municipal?

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Obviamente a LIA e a LRF não lhe permitem deixar de


arrecadar ou renunciar a receita pública. Tanto é verdade que a esse tipo de
conduta deu a classificação de ato de improbidade administrativa que causa
lesão ao erário, conforme disposição contida no art. 10, inc. X da LIA.

4.1.3 RAILSON DE JESUS SOUZA – Diretor do Departamento de


Administração Tributária

(…)

“ … O Município trabalha com o IPTU, ISS, TFL


(localização e funcionamento), ITBI e outras taxas municipais; …

(…)

“ … que não conhece o funcionamento do matadouro de


Lagarto; que não sabe dizer quem administra o matadouro de Lagarto; que
desde que assumiu o cargo de diretor do departamento acima (em 02.01.17)
nunca soube de nenhum imposto municipal recolhido pelo matadouro; que
existe um decreto municipal regulamentando as taxas que devem ser
recolhidas pelas atividades do matadouro, mas o declarante nunca soube se
elas foram recolhidas ou não; que no caso do matadouro, se houver um
particular administrando, é necessário que haja recolhimento de ISS; …
(grifamos)
(…)

“ … que o matadouro não recolhe IPTU porque o prédio


dele pertence ao próprio Município; que no caso de um particular
administrando, seja uma empresa ou uma pessoa física, os impostos
municipais que deveriam ser recolhidos seriam apenas as taxas já
citadas e o ISS, mas o declarante nunca viu esses impostos serem
recolhidos; que nunca houve nenhuma autuação do Município contra a
administração do matadouro pelo não recolhimento desses impostos; ...”
(grifamos)

O “fechar de olhos” da administração municipal em relação


ao que acontecia (e acontece) no Matadouro era total. Não só o abate dos
animais que era ali tratado totalmente foram dos padrões legais, mas todo o
comércio que ali existe. Duas outras atividades principais são realizadas nas
dependências do Matadouro, sempre gerenciadas pelo réu NIDINHO DA
BRASÍLIA: a venda do couro dos animais abatidos e a chamada “graxaria”, que
é o comércio das sobras dos animais (sebo, casco, água de fel, etc).

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4.1.4 JOSÉ COSTA SILVA – responsável pela atividade de Graxaria do


Matadouro

(…)

“ que o trabalho do declarante consiste em obter as sobras


do abate dos animais no matadouro, e exemplo da gordura (sebo), água de fel,
casco, etc., (…) que esse produto é negociado e comprado diretamente
com NIDINHO, o administrador do matadouro; que a negociação é feita às
vezes em dinheiro ou às vezes em cheque, sendo que os pagamentos
sempre são feitos diretamente a NIDINHO, ...”

(…)

“ Que a negociação é toda feita sem qualquer emissão


de notas fiscais, que o negócio que faz com NIDINHO é todo verbal; ...”
(grifamos)

Ora MM. Juiz, como pode haver TAMANHA OMISSÃO da


administração municipal, em relação a toda essa atividade financeiramente
ALTAMENTE RENTÁVEL que envolve o Matadouro de Lagarto? Acaso o
Município de Lagarto não necessita de recursos para a administração?
Provavelmente não é isso, já que em todos os jornais ou sites de notícias o que
mais se verifica são prefeitos (inclusive o atual administrador de Lagarto)
reclamando de falta de recursos para suas gestões, sempre alardeando CRISE
FINANCEIRA nos municípios (fato notório).

Como então a gestão municipal, através dos


administradores aqui citados, abrem mão de tanta receita municipal? E isso em
relação a uma atividade amplamente conhecida no Município, como é o
Matadouro de Lagarto.

4.1.5 FLORIANO SANTOS FONSECA - Secretário Municipal de


Administração

Como se sabe, a este réu cabe a regularização da


utilização dos bens e serviços públicos do Município, todavia, vejamos o que
assinala em seu depoimento:

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“ Que a sua secretaria é RESPONSÁVEL pelo arquivo


público, funcionalismo e licitações, apesar da licitação ser independente e ter
uma comissão própria.
Que quanto ao controle relativo aos funcionários municipais
que supostamente prestam serviço no matadouro o declarante não tem como
informar maiores detalhes, pois , na verdade, o declarante tem a informação do
número de funcionários lotados em cada secretaria, no entanto não sabe como
se dá a lotação destes.”

Como se pode ver, MM. Juiz, o Secretário municipal que


deveria estar a par do funcionamento do Matadouro, afirma que não sabe dizer
o que se passa ali.
Ora, como o Secretário de ADMINISTRAÇÃO pode ignorar
a forma como o Matadouro de Lagarto foi entregue ao Sr. NIDINHO DA
BRASÍLIA? Como se permite a administração e uso de um bem público,
inclusive com funcionários municipais, sem qualquer tipo de contrato público?
Qual a forma de cessão de tal administração privada?
É GRITANTE, MM. Juiz, a total omissão da administração
municipal nas representações dos réus aqui citados, em relação às
improbidades que acontecem na administração do Matadouro de Lagarto.
Todas as violações ocorre de forma ESCANCARADA, sem que nenhum dos
gestores citados adote qualquer iniciativa. Como isso é possível senão
mediante a participação de todos eles nos desmandos que ali existem, seja por
ação, seja por omissão?

4.2 DAS PROVAS DOS PREJUÍZOS CAUSADOS AO ERÁRIO

Ilustre Julgador.

Os prejuízos materiais causados ao erário são


incontestáveis. Assinale-se, que o que se conseguiu provar efetivamente em
termos de danos ao erário ainda está bem distante da realidade, e isso se dá
pelas dificuldades criadas pelo próprio sistema de corrupção engendrado,
objetivando dificultar qualquer investigação e que se consiga identificar o
caminho do dinheiro e dos desvios patrimoniais.

Por outro lado, a falta de conexão entre o explorador dos


serviços ERONILDES ALMEIDA e o Secretário de Finanças Anderson Souza
de Andrade é tamanha que enquanto o primeiro réu diz com todas as letras
“Que no Matadouro não existe a emissão do DAM – Documento de
Arrecadação Municipal, e não é pago nenhum imposto ao Município

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

relativo ao abate de gado e exploração do Matadouro”, o Ilustre


SECRETÁRIO DE FINANÇAS afirma que “Que não sabe se Nidinho fez
recolhimento de impostos relativos ao abate de gado no matadouro, e se ele
fez, não foi com o declarante, mas sim, no Departamento de Tributos, isso
porque, qualquer pessoa pode ir lá e retirar o DAM e pagar no banco o imposto
relativo a qualquer serviço.”

Analisando-se os números, e estes não mentem jamais,


tem-se como inafastável que a arrecadação mensal (apenas com o abate de
bovinos) no Matadouro de Lagarto durante o ano de 2017 era da ordem de R$
83.350,00 (oitenta e três mil e trezentos e cinquenta reais), enquanto que a
anual alcançava a significativa soma de R$ 1.000.200,00 (um milhão e
duzentos reais), o que significa dizer que com a cessão ilegal e imoral levada a
efeito pelo réu José Valmir Monteiro, o Município de Lagarto deixou de
arrecadar no ano que passou, o equivalente ao valor referido anteriormente,
quantia esta considerável e que permitiria a execução de obras importantes e
necessárias no Município de Lagarto, somando-se a isso mais R$ 166.700,00
relativos a, ao menos, dois meses iniciais de 2018 (período admitido pelo
administrador do Matadouro).

Por outro lado, trabalhando-se com esses mesmos


números (1.667 cabeças abatidas mensalmente ao preço de R$ 50,00
(cinquenta reais) por cabeça), e admitindo-se que o Chefe do Executivo
entendesse como inviável a exploração dessa atividade por parte da
Administração e resolvesse fazer naquela época o que FEZ AGORA, ou seja,
abrir Procedimento Licitatório e transferir a Administração do Matadouro de
Lagarto para pessoa jurídica de direito privado, teria um recolhimento mensal
da ordem de R$ 4.167,50 (quatro mil, cento e sessenta e sete reais e cinquenta
centavos), resultante do recolhimento de ISS (5%) por parte da Permissionária,
e de valor anual igual a R$ 50.010,00 (cinquenta mil e dez reais), afora os
tributos sobre outros serviços prestados no matadouro, a exemplo da
comercialização dos subprodutos.

De outra parte, se o Chefe do Executivo tivesse adotado


assim que assumiu a gestão esse mesmo comportamento que foi obrigado a
adotar agora (realização de Processo Licitatório para a cessão do imóvel e
autorização de exploração dos serviços por meio de Permissão de Uso com
prazo de 1 (um) ano), todavia, AUTORIZANDO como o fez em sede de
Processo Licitatório, que o Permissionário cobrasse a título de abate de
bovinos o valor de R$ 100,00 (cem reais) por cabeça, o valor da receita do
Permissionário seria da ordem de R$ 166.700,00 (cento e sessenta e seis mil e
setecentos reais), sobre a qual incidiria o ISS no percentual de 5%, gerando
tributo da ordem de R$ 8.335,00 (oito mil e trezentos e trinta e cinco reais)
mensais, e o valor de R$ 100.020,00 (cem mil e vinte reais) anual.

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Esses números podem ainda ser mais significativos, senão


vejamos:
Conforme é de conhecimento geral, o valor do abate de
bovinos em Matadouros explorados por pessoas físicas ou jurídicas de direito
privado é da ordem de R$ 100,00 (cem reais) por cabeça, enquanto os animais
de pequeno porte (ovinos, suinos e caprinas) são abatidos à razão de R$ 50,00
(cinquenta reais) por cabeça.

Registre-se, dado a relevância dessa singularidade, que


esses são os valores que emolduram os ITENS 4 e 4.1.1 do ANEXO I –
TERMO DE REFERÊNCIA do PREGÃO PRESENCIAL Nº 08/2018 (doc.
anexo), por meio do qual foi licitada a Administração do Matadouro.

Dizem os referidos ITENS:


4 – VALOR DA TARIFA DE ABATE E CONDIÇÕES
GERIAS:
4.1 (…)
4.1.1 O valor de oferta máximo a ser apresentado é o
estimado pelo município no valor de R$ 100,00 (cem reais), obtida pelo
Permissionário com o abate de animais bovinos por cabeça e R$ 50,00
(cinquenta reais) para animal de outra espécie por cabeça, perfazendo o
valor global de do lote R$ 150,00 (cento e cinquenta reais).

Significa dizer que se a Administração Pública por razões


ÓBVIAS (arrecadação e geração de receita pública), resolvesse Administrar o
Matadouro Municipal e levar a efeito o abate APENAS de bovinos, praticando
esses mesmos preços que AUTORIZOU o novo Permissionário praticar, teria o
seguinte cenário:

MÉDIA MENSAL DE ABATE: 1.667 cabeças x R$ 100,00


(valor do abate) = R$ 166.700,00 (cento e sessenta e seis mil e setecentos
reais). Multiplicando-se esse valor por 12 meses, a Administração Pública ao
final de 1(um) ano, arrecadaria (receita pública) o equivalente a bagatela de
R$ 2.000.400,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais), isso APENAS com o
abate de bovinos.
Acrescendo a esta receita as que advém da graxaria, sebo,
venda de couros, comercialização de intestinos, cascos, rabadas, míudos,
chifres, ossos, etc, o valor total ainda aumentaria consideravelmente.

É evidente que haveriam custos, todavia, o valor líquido da


receita pública certamente superaria em muito a casa de 1 milhão de reais ao
ano.
Realmente não seria um mau negócio para a
Administração que tanto alega se encontrar com as finanças combalidas.

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Anote-se, ainda, que consoante depoimento prestado por


JOSÉ COSTA E SILVA, pessoa que adquiria os subprodutos do animais, ou
seja, “gordura (sebo), água de fel, cascos, etc..” essa negociação implicava em
uma renda para NIDINHO da ordem de mais R$ 1.600,00 (um mil e seiscentos
reais) mensais, consequentemente de R$ 19.200,00 (dezenove mil e duzentos
reais) ao ano.

Considerando que NIDINHO explorou as atividades durante


1 (um) ano de 2 (dois) meses, o valor total acrescido ao seu patrimônio
ilicitamente foi da ordem de R$ 22.400,00 (vinte e dois mil e quatrocentos), só
em relação a estes serviços.

Outro benefício público indevido foi o gasto com a energia


elétrica necessária aos serviços do Matadouro, cujas contas eram pagas pelo
Município de Lagarto para o USO EXCLUSIVO do administrador deste, que,
como demonstrado acima, beneficiou-se desse serviços durante todo esse
período. Através de requisição feita pelo MP, foram apresentadas pelos
investigados as contas de energia relativas ao Matadouro entre Setembro/2017
e fevereiro/2018 (em anexo), sendo que o MP também conseguiu obter os
valores relativos a Julho e Agosto/2017, que totalizam R$ 12.754,00, sendo
que os envolvidos não apresentaram os valores relativos a Janeiro/Junho de
2017, pelo que realiza o MP uma estimativa do valor pela média aritmética dos
meses comprovados, o que resulta em um gasto mensal de R$ 1.594,30 para
os demais meses de 2017, somando aí R$ 9.565,80, o que resulta numa
despesa de energia paga pelo Município de Lagarto no valor médio de R$
22.319,80 durante o período aduzido na exordial (janeiro/2017 a
fevereiro/2018).

Por fim, no quandro demonstrativo abaixo, temos como


prejuízo incontestáveis causados por Eronildes e José Valmir Monteiro aos
cofres públicos, os seguintes valores:

Renda auferida com o abate: 1.166.900,00


Tributos não recolhidos: 50.010,00
Energia: 22.319,80
Salários de 3 funcionários: 89.836,00
Renda com subprodutos: 22.400,00

TOTAL: R$ 1.351.465,80

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5 DAS CONDUTAS ILÍCITAS PRATICADAS PELOS RÉUS

Nesse passo, cabe-nos enumerar e detalhar as condutas


que marcaram esse episódio lamentável, ilegal, imoral e criminoso, senão
vejamos:

PRIMEIRA CONDUTA:

O matadouro foi entregue VERBALMENTE (de boca) pelo


prefeito JOSÉ VALMIR MONTEIRO ao seu correligionário ERONILDES
ALMEIDA DE CARVALHO para que esse se utilizasse dele da forma que
quisesse, e auferisse renda considerável;

SEGUNDA CONDUTA

O Sr. Eronildes ADMITE que negociava altos valores


mensais no referido matadouro SEM QUALQUER PRESTAÇÃO DE CONTAS
À MUNICIPALIDADE, apossando-se de todos os valores negociados
decorrentes da atividade do Matadouro e DIVIDINDO COM O PREFEITO o
lucro ali obtido, sempre em DINHEIRO VIVO;

TERCEIRA CONDUTA

Mesmo exercendo uma atividade única na municipalidade,


com altas somas mensais, Eronildes não realizava nenhum recolhimento de
impostos municipais, nunca fazendo nenhum tipo de controle fiscal, MESMO
“ADMINISTRANDO” um bem público.

Fazia isso de forma ESCANCARADA, sem ser em nenhum


momento incomodado pela Secretaria de Finanças do Município, mesmo essa
atividade sendo notória e amplamente conhecida da administração pública
municipal.
Por outro lado, a Secretaria de Finanças, que tem
atribuição para exercer o controle sobre a cobrança dos tributos municipais e
atuar no sentido de compelir aqueles que têm compromisso frente ao Fisco a
cumprirem com as suas obrigações relativas ao pagamento dos tributos, fazia
vistas grossas por terem o pleno conhecimento de que a situação de
irregularidade, ilegalidade e imoralidade tinha como Chefe a figura do Prefeito
Valmir Monteiro.

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De outra parte, não é demais lembrar que a Secretaria de


Finanças, mesmo sabendo da irregularidade da exploração, mesmo sabendo
que o imóvel estava sendo explorado por um particular, pagava regularmente
as contas de energia da unidade – Matadouro Municipal -, que deveria ser de
responsabilidade de quem o operava, ou seja, Eronildes Almeida.

QUARTA CONDUTA

Eronildes foi beneficiado com a administração do


matadouro por desejo exclusivo do Prefeito municipal que lhe deferiu o controle
e uso do bem público verbalmente. Por outro lado, a Secretaria de
Administração nunca zelou pela regularização de tal empreendimento,
permitindo que um particular se apoderasse de um bem público e uma
atividade pública sem qualquer processo licitatório ou contrato com a
administração, bem assim, que servidores do Município prestassem serviços
para um particular que auferia rendas extraordinárias com a exploração do
imóvel e dos seus de abate de animais.
O próprio Eronildes afirma que no matadouro servidores
públicos eram cedidos para ele, sendo que outros trabalhadores a seu serviço
laboravam DE FORMA IRREGULAR, sendo contratados sem carteira assinada
e sem nenhum respeito pelas leis trabalhistas, inclusive quanto ao pagamento
do salário mínimo.
É ABSURDO que a secretaria de administração municipal
nunca tenha levantado qualquer oposição à forma como o matadouro era
administrada;

QUINTA CONDUTA

Os próprios administradores municipais citados


reconhecem que Eronildes exercia sua “função” de forma totalmente fora da lei,
todos tinham ciência do que ocorria ali e, estranhamente, nunca adotaram
nenhuma providência para fazer cessar tamanho desrespeito pelo erário.

SEXTA CONDUTA

Não bastassem as ilegalidades já descritas, os réus


permitiram, facilitaram e colaboraram para que o réu Eronildes Almeida
passasse a explorar um Empreendimento que não atendia às regras de saúde
pública, higiene e ambiental, haja vista que funcionava de forma precária,
oferecendo sérios riscos à saúde das pessoas e causando graves danos
ambientais.

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Além disso, o Empreendimento não possui licenças


ambientais (inclusive de operação), logo, JAMAIS poderia estar funcionando.

Os réus fecharam os olhos a todas essas mazelas, e o


fizeram de forma dolosa, consciente e direcionada aos favorecimentos do
Gestor e de Eronildes.

6 DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS

Para melhor fixarmos os limites das responsabilidades de


cada um dos réus, equacionarmos e conectarmos cada conduta ilegal ao tipo
de ato de improbidade adequado e bem assim o princípio da administração que
teria sido fustigado por cada um dos requeridos, trataremos de per si de cada
uma delas.

No que se refere a JOSÉ VALMIR MONTEIRO, Prefeito de


Lagarto, ficam evidenciadas as seguintes condutas ímprobas:

a) cessão de imóvel público e autorização de exploração de


serviços de interesse público sem processo licitatório, com aviltamento da Lei
de Licitações, com significativo prejuízo ao erário e afronta aos princípios da
legalidade e moralidade;

b) renúncia de receitas públicas sem observância das


determinações legais estabelecidas na Lei de Responsabilidade Fiscal, ferindo
não apenas esta norma, bem como, os princípios da legalidade, moralidade e
dever de eficiência;

c) renúncia à obrigação de tributar e receber tributos, com


graves lesões aos cofres públicos, inclusive autorizando a exploração do
imóvel e dos serviços sem recolhimento dos tributos;

d) cessão de imóvel público e autorização de exploração


de serviços de interesse público, objetivando o recebimento de propinas
mensais, consubstanciada no recebimento pessoal dos valores relativos aos
lucros auferidos com a exploração do bem e dos serviços.

e) permitir e autorizar a utilização de servidores municipais


para prestar serviços a particular na exploração de negócios privados;

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f) permitir e autorizar o pagamento por parte do Município


de faturas de energia reletivas a imóvel cedido e explorado pro particular, a
quem caberia tal responsabilidade.

Dessa forma, e com a prática de tais condutas, afrontou o


réu (Prefeito Municipal), os princípios da moralidade, honestidade,
legalidade, finalidade e dever de eficiência, incidindo, assim, nas condutas
descritas nos arts. 9º caput e incs. XI e XII; art. 10, caput, incs. I, II, VIII, X, XII e
XIII, última parte; e, art. 11, caput, incs. I e II, da LIA.

No que se refere a ERONILDES ALMEIDA DE


CARVALHO, Administrador do Matadouro Municipal, ficam evidenciadas as
seguintes condutas ímprobas:

a) exploração do Matadouro Municipal e dos serviços de


abate de animais sem processo licitatório, importando em alto faturamento
mensal, com aviltamento da Lei de Licitações, enriquecendo-se ilicitamente
com a exploração de imóvel pertencente ao Município e com significativo
prejuízo ao erário, além de afronta aos princípios da legalidade e moralidade;

b) não recolhimento dos tributos devidos (ISS), afrontando


claramente o art. 1º da Lei nº 8.137/1990 ( Define crimes contra a ordem tributária,
econômica e contra as relações de consumo, e dá outras providências), com graves lesões
aos cofres públicos, inclusive autorizando a exploração do imóvel e dos
serviços sem recolhimento dos tributos, ofendendo os princípios da legalidade
e moralidade;

c) enriquecimento ilícito e lesão ao erário,


consubstanciados nos atos de utilizar-se de servidores municipais em benefício
particular e bem assim utilizar-se gratuitamente de energia que serve ao
imóvel, deixando a responsabilidade do pagamento das faturas a cargo da
Prefeitura Municipal, ofendendo os princípios da moralidade e legalidade;

d) repasse ilegal e imoral de valores relativos à exploração


do Matadouro Municipal para o réu José Valmir Monteiro, mediante mesada
mensal.

Dessa forma, e com a prática de tais condutas, afrontou o


réu em coautoria com José Valmir Monteiro, os princípios da moralidade,
honestidade, legalidade, finalidade e dever de eficiência, incidindo, assim,
nas condutas descritas nos 9º, caput e incs. XI e XII; art. 10, caput, incs. I, II,
VIII, X, XII e XIII, última parte; e, art. 11, caput, incs. I e II, da LIA.

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No que se refere a ANDERSON SOUZA DE ANDRADE,


Secretário de Finanças do Município, ficam evidenciadas as seguintes
condutas ímprobas:

a) deixar de atuar no sentido de ser levada a efeito o


processo licitatório devido, para fins de exploração do Matadouro Municipal e
dos serviços de abate de animais, com aviltamento da Lei de Licitações, com
significativo prejuízo ao erário e afronta aos princípios da legalidade,
moralidade e dever de eficiência;

b) renúncia de receitas públicas sem observância das


determinações legais estabelecidas na Lei de Responsabilidade Fiscal, ferindo
não apenas esta norma, bem como, os princípios da legalidade, moralidade e
dever de eficiência, além de favorecer o enriquecimento ilícito do particular
Eronildes Almeida e do Prefeito Municipal José Valmir Monteiro;

c) renúncia à obrigação de tributar, receber e cobrar os


tributos devidos (ISS 5%), com graves lesões aos cofres públicos, favorecendo
o enriquecimento ilícito de Eronildes e inclusive permitindo a exploração do
imóvel e dos serviços sem recolhimento dos tributos.

Dessa forma, e com a prática de tais condutas, afrontou o


réu os princípios da moralidade, honestidade, legalidade, finalidade e
dever de eficiência, incidindo, assim, nas condutas descrita no disposto nos
arts. 10, caput e incisos I, II, VIII, X e XII, e art. 11, caput e inciso I, da LIA.

No que se refere a FLORIANO SANTOS FONSECA,


Secretário de Administração, ficam evidenciadas as seguintes condutas
ímprobas:

a) deixar de atuar no sentido de coibir a utilização de


funcionários municipais para prestação de serviços a particulares, ferindo os
princípios da moralidade, legalidade e dever de eficiência, e permitindo com
isso não só que Eronildes se enriquecesse ilicitamente, como também
causasse prejuízo ao erário, de acordo com o inc. XIII, última parte, do art. 10.

Dessa forma, e com a prática de tais condutas, afrontou o


réu os princípios da moralidade, honestidade, legalidade, finalidade e
dever de eficiência, incidindo, assim, nas condutas descritas no disposto nos
arts. 10, caput, incisos I, II, XII e XIII, última parte, e art. 11, caput e incisos I e
VI, da LIA.

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7 DANO MORAL COLETIVO

Na conceituação apresentada pela moderna doutrina, o


dano moral coletivo caracteriza-se pela injusta lesão da esfera moral de uma
dada coletividade, ou seja, é a violação antijurídica de um determinado círculo
de valores coletivos.

Quando se fala em dano moral coletivo, está-se fazendo


menção ao fato de que o patrimônio valorativo de uma certa comunidade
(maior ou menor), idealmente considerado, foi agredido de maneira
absolutamente injustificável do ponto de vista jurídico; quer isso dizer, em
última instância, que se feriu a própria cultura, em seu aspecto imaterial. Tal
como se dá na seara do dano moral individual, aqui também não há que se
cogitar de prova da culpa, devendo-se responsabilizar o agente pelo simples
fato da violação (damnum in re ipsa).8

Ocorrido o dano moral coletivo, que tem um caráter extra


patrimonial por definição, surge automaticamente uma relação jurídica
obrigacional que pode ser assim destrinchada: a) sujeito ativo: a coletividade
lesada (detentora do direito à reparação); b) sujeito passivo: o causador do
dano (pessoa física, ou jurídica, ou então coletividade outra, que tem o dever
de reparação); c) objeto: a reparação - que pode ser tanto pecuniária quanto
não-pecuniária. Sobre essa relação incide a teoria da responsabilidade civil.

Mais importante do que o dano material é o desfalque


moral, ou seja, a pura e simples violação dos princípios elencados no art. 37,
caput, da CF.
As condutas ímprobas praticadas pelos demandados
macularam os princípios constitucionais da administração pública e
provocaram dano moral coletivo, que deve ser ressarcido pelos infratores.
Não se pode olvidar que o art. 5º da Lei nº 8.429/92 fala sobre lesão ao
patrimônio público, que é mais abrangente do que lesão ao erário. Este, o
erário, é espécie do gênero patrimônio público.

O publicista Fábio Medina Osório 19, abordando o tema do


dano moral ao ente público, assim se expressa:

8 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado. Saraiva, São Paulo.
p.104.
19 MEDINA, Fábio Osório. Improbidade Administrativa. Editora Síntese, 1998, fls. 256/257.

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

“Ressarcimento do dano abrange, por certo, dano


moral, até porque a lei fala, no art. 12, III, em
ressarcimento do dano, se houver, nos casos em que a
improbidade traduz mera agressão aos princípios. Há
quem sustente a viabilidade do ressarcimento do dano
moral, sublinhando, todavia, que este estaria bem tutelado
pela multa civil, veículo próprio e adequado a esse
ressarcimento, submetendo-se aos prazos prescricionais,
diferentemente do que ocorre com o dano material, que é
imprescritível à luz do art. 37, parágrafo 5º, da Carta
Magna. Ouso discordar do entendimento de que multa civil
basta para reparar o dano moral. Multa civil é
consequência jurídica certa da improbidade,
sancionamento autônomo que independe da comprovação
do dano moral ou material, prevista a toda e qualquer
modalidade de ato ímprobo, ao passo que o dano moral à
entidade lesada, se houver, deve ser reparado à luz dos
critérios que têm orientado os julgadores nessa seara,
sem prejuízo da incidência cumulativa com multa civil e,
mais ainda, sem submissão ao prazo prescricional, por
força expressa do art. 37, parágrafo 5º da Carta de 1988,
ai residindo importância fundamental da norma jurídica
comento, dado que permite reparação de dano moral
independentemente da multa civil. Aqui, visão sistemática
permite tal conclusão, na medida em que a doutrina, de
longa data, vem permitindo reparação de dano moral à
pessoa jurídica, o que pode ocorrer com gravidade em se
tratando de determinados atos de improbidade atentatórios
aos princípios da administração pública.” (g.n.).

Nesse sentido, já decidiu o STJ, in verbis:

“Processo: REsp 880662 / MG. RECURSO ESPECIAL.


2006/0170488-9. Relator(a): Ministro CASTRO MEIRA
(1125). Órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMA. Data do
Julgamento: 15/02/2007. Data da Publicação/Fonte: DJ
01/03/2007 p. 255. Ementa: ADMINISTRATIVO. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
DESPESAS DE VIAGEM. PRESTAÇÃO DE CONTAS.
IRREGULARIDADE. LESÃO A PRINCÍPIOS
ADMINISTRATIVOS. ELEMENTO SUBJETIVO. DANO AO
ERÁRIO. COMPROVAÇÃO. DESNECESSIDADE.
SANÇÃO DE RESSARCIMENTO EXCLUÍDA. MULTA
CIVIL REDUZIDA. 1. A lesão a princípios administrativos

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

contida no art. 11 da Lei nº 8.429/92 não exige dolo ou


culpa na conduta do agente nem prova da lesão ao erário
público. Basta a simples ilicitude ou imoralidade
administrativa para restar configurado o ato de
improbidade. Precedente da Turma. 2. A aplicação das
sanções previstas na Lei de Improbidade independe da
aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle
interno ou pelo tribunal ou conselho de contas (art. 21, II,
da Lei 8.429/92). 3. Segundo o art. 11 da Lei 8.429/92,
constitui ato de improbidade que atenta contra os
princípios da administração pública qualquer ação ou
omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições,
notadamente a prática de ato que visa fim proibido em lei
ou regulamento ou diverso daquele previsto na regra de
competência (inciso I), ou a ausência de prestação de
contas, quando esteja o agente público obrigado a fazê-lo
(inciso VI). 4. Simples relatórios indicativos apenas do
motivo da viagem, do número de viajantes e do destino
são insuficientes para comprovação de despesas de
viagem. 5. A prestação de contas, ainda que realizada por
meio de relatório, deve justificar a viagem, apontar o
interesse social na efetivação da despesa, qualificar os
respectivos beneficiários e descrever cada um dos gastos
realizados, medidas necessárias a viabilizar futura
auditoria e fiscalização. 6. Não havendo prova de dano ao
erário, afasta-se a sanção de ressarcimento prevista na
primeira parte do inciso III do art. 12 da Lei 8.429/92. As
demais penalidades, inclusive a multa civil, que não
ostenta feição indenizatória, são perfeitamente
compatíveis com os atos de improbidade tipificados
no art. 11 da Lei 8.429/92 (lesão aos princípios
administrativos). 7. Sentença mantida, excluída apenas a
sanção de ressarcimento ao erário e reduzida a multa civil
para cinco vezes o valor da remuneração recebida no
último ano de mandato. 8. Recurso especial provido.”
(g.n.).

Não se pode olvidar que a violação dos princípios


administrativos provoca dano moral na pessoa jurídica de direito público e,
consequentemente, nos indivíduos que são tutelados pelas normas de
interesse difuso.

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

Com efeito, os comportamentos fora dos padrões,


adotados pelos promovidos, feriram os princípios da Administração Pública,
mormente os da impessoalidade, moralidade, legalidade e finalidade, exigindo
da Justiça uma resposta enérgica que puna esse tipo de atuação desastrosa,
que antes de macular a sua pessoa de forma especial, culminou por denegrir a
imagem dos agentes públicos de uma maneira geral, e esta não é a melhor
imagem para se cultivar sobre atividades tão necessárias e importantes como
são as que exercem.
O art. 88 da Lei nº. 8.884/94, alterando o caput do art. 1º da
Lei nº. 7.347/85, autorizou que a reparação dos danos morais coletivos fossem
objeto das ações de responsabilidade civil em matéria de tutela de interesses
transindividuais.

Originariamente, o objeto da lei que disciplina a Ação Civil


Pública versava, apenas, sobre os danos causados ao meio ambiente,
consumidor e aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico. Posteriormente, a legislação sofreu significativas mudanças, no
sentido de ampliar o objeto da ação sub examine, para abranger a
responsabilidade do infrator pelos danos morais causados a quaisquer dos
valores e direitos transindividuais amparados pela referida legislação.

A exploração da atividade do bem público – Matadouro


Municipal - e bem assim dos serviços de interesse público – abate de animais e
fornecimento de carnes e derivados -, tendo por objeto nuclear o desvio dos
receitas públicas que deveriam ir para os erário e, no entanto, eram desviadas
em favor do Gestor Municipal – Valmir Monteiro -, e do “seu” administrador –
Eronildes Carvalho, denota total ofensa aos princípios da moralidade,
legalidade e eficiência, com clara exteriorização de péssimo exemplo para a
comunidade, inclusive com afronta inquestionável à moral do cidadão
lagartense.
Não bastasse isso, os serviços prestados eram de péssima
qualidade, os animais abatidos não eram devidamente inspecionados, não
havia a higienização das carcaças com água tratada, o transporte das carnes
eram feitos em caminhões sem refrigeração, não existe no Matadouro lagoas
de decantação, o que implica em graves danos e poluição ambiental, não havia
esterqueira adequada às normas técnicas, os efluentes líquidos eram lançados
a céu aberto, havia matança de animais fêmeas em vésperas de parirem, o que
implica em grave crime ambiental de maus-tratos aos animais, enfim, um
verdadeiro caos.
Sabemos que na maioria das vezes a reparação não é
suficiente para a recomposição do bem coletivo que foi atingido pelo dano,
mas, mesmo assim, ainda vale a aplicação das sanções previstas em lei, por
diversos motivos, dentre os quais a ação pedagógica e o efeito verificado no
patrimônio do causador do dano, pois, numa sociedade que se pauta pelo “ter”,
toda fatia legalmente arrancada de alguém causa sempre uma ferida de ordem
econômica.

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

E, talvez, de ordem moral, porquanto a “moral”, ou o


conjunto de princípios que regem a moral interior de alguns não se fundam no
“ser”, mas, precisamente, no “ter”. Isso parece um paradoxo e, normalmente, o
é, mas, para certas pessoas, os padrões éticos já escorreram para as valas
dos esgotos.14
No presente caso, o parâmetro para se estimar o dano
moral coletivo é de certa forma a dignidade, a saúde da pessoa humana e o
perfeito equilíbrio ambiental, que se constituem em bens jurídicos tutelados
pelo Direito (metaindividual ou difuso) e delineado pelo artigo do Código de
Defesa do Consumidor, veja-se:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos


consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo
individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida
quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos,
para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de
que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias
de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para
efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base

Traduzindo posição semelhante, os dizeres de José


Rubens Morato Leite também se impõem:

“O dano extrapatrimonial coletivo não tem mais como


embasamento a dor sofrida pela pessoa física, mas sim valores que afetam
negativamente a coletividade, como é o caso da lesão imaterial ambiental.

Assim, evidenciou-se, neste trabalho, que a dor, em sua


acepção coletiva, é um valor equiparado ao sentido moral individual, posto que
ligado a um bem ambiental, indivisível de interesse comum, solidário e ligado a
um direito fundamental de toda coletividade.

Revele-se que não é qualquer dano que pode ser


caracterizado como dano extrapatrimonial, e sim o dano significativo, que
ultrapassa o limite de tolerabilidade e que deverá ser examinado, em cada caso
concreto. As dificuldades de avaliação do quantum debeatur do dano
extrapatrimonial são imensas; contudo, este há de ser indenizado sob pena de
falta de eficácia do sistema normativo.

14 CARVALHO. Antônio Cesar Leite de, SANTANA, José Lima. Direito Ambiental Brasileiro em
Perspectiva: aspectos legais, críticas e atuação prática. Curitiba. Juruá. 2009, p. 453.

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Portanto, compete ao Poder Judiciário importante tarefa de


transplantar, para a prática, a satisfação do dano extrapatrimonial ambiental.
Abrindo-se espaço para o ressarcimento ao dano extrapatrimonial, amplia-se a
possibilidade de imputação ao degradador ambiental.”

Ora Excelência, a violação de direitos difusos não é, via de


regra, patrimonial, mas sim moral, por atuar na esfera das convicções e
impressões subjetivas de um número indeterminável de pessoas acerca dos
fatos, bem como em relação à reação dessas pessoas sobre esses fatos.

Sendo assim, inflige-se a condenação dos


requeridos a suportar indenização pelo dano moral coletivo pelo descaso e
pelas ilicitudes das condutas praticadas, desviando em proveito próprio altas
somas de verbas públicas, além de retirar do Município uma substancial
arrecadação de impostos, EM FRANCO PREJUÍZO A TODA A COMUNIDADE
LOCAL.
O dano moral coletivo (porque oriundo de violação a
direito difuso) encontra suporte jurídico no art. 1º, inciso III, da própria Lei da
ACP, sendo imperiosa a transcrição.

“Art. 1º, inc. III: ―Regem-se pelas disposições desta Lei,


sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos
morais e patrimoniais causados aos bens e direitos de valor artístico.,
estético, histórico, turístico e paisagístico”. (grifos nossos).

André de Carvalho Ramos16, declina de forma competente


sobre o dano moral coletivo, verbis:

"― A dor psíquica que alicerçou a teoria do dano moral


individual acaba cedendo lugar, no dano moral coletivo, a um sentimento
de desapreço e de perda de valores essenciais que afetam negativamente
toda uma coletividade. (...) Tal intranquilidade e sentimento de desapreço,
gerados pelos danos coletivos, justamente por serem indivisíveis,
acarreta lesão moral que também deve ser reparada coletivamente”.

É importante não se perder de vista, enfim, que o presente


dano moral coletivo tem o respectivo lastro jurídico ancorado na
"responsabilidade objetiva", de onde se conclui que o aspecto moral do dano
coletivo deve ser reputado como PRESUMIDO nestes autos, sendo
absolutamente despiciendo que cada um dos cidadãos prejudicados venha a
demonstrar "dor subjetiva" perante esse D. Juízo.

16 RAMOS, André de Carvalho. Ação Civil Pública e Dano Moral Coletivo. Revista de Direito
do Consumidor, São Paulo, Vol. 25, p. 83, jan/mar. 1998.

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No que diz respeito ao dano material a ser indenizado


pelos réus, além do próprio art. 1º, da LACP, a regra matriz contida no art. 944,
do vigente Código Civil, reza que:

“A indenização mede-se pela extensão do dano”. (grifos


nossos)
No caso em tela, é muito claro que os ora envolvidos
FORMARAM UM ESQUEMA DE DESVIO DE VERBA PÚBLICA, com a
participação ativa de representantes eleitos pelo povo para legislar e atender
aos anseios DA COLETIVIDADE, sendo que, a conduta de todos os
envolvidos, seja por ação, seja apor total omissão, já que os envolvidos
transformaram uma verba pública em uma verba de USO PARTICULAR.

De tal forma, os envolvidos, causam explicitamente um


prejuízo à coletividade com sua atuação ESCANDALOSA de desvio de verbas
e omissão no gerenciamento da coisa pública.

8 DA NECESSIDADE E DOS REQUERIMENTOS LIMINARES


8.1 DA INDISPONIBILIDADE DE BENS

As medidas cautelares no âmbito da LIA estão


estabelecidas nos arts. 7º, 16 e 20, parágrafo único.

Na hipótese dos autos, duas dessas medidas cautelares


interessam de forma especial, a saber: a) indisponibilidade de bens (art. 7º); b)
afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função (art.
20, parágrafo único). Como é sabido, a cautelar de indisponibilidade de bens
reponta como uma das formas de se assegurar o ressarcimento das lesões
causadas ao erário.

No presente caso, não há como se negar que tal medida se


impõe, especialmente se considerarmos os inúmeros processos de várias
matizes que tramitam contra o réu José Valmir Monteiro, seja que sejam
encontradas as devidas garantias. As lesões causados ao erário foram de alta
monta e, portanto, torna-se imperioso se atuar objetivando resguardar o
interesse público, consubstanciado em devolver aos cofres públicos tudo aquilo
que foi assacado neste tenebroso esquema de corrupção.

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A indisponibilidade de bens dos demandados é medida


imprescindível para assegurar o integral ressarcimento dos danos, visando
evitar que dilapidem seus patrimônios e propositadamente se reduzam à
insolvência para se furtarem às suas responsabilidades. Consoante a melhor
doutrina, justifica-se a concessão de medida liminar quando presentes os
requisitos do fumus bonis juris e o periculum in mora.

Para Vicente Greco Filho (cit. Filho, Marino Pazzaglini e


outros, IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – Aspectos Jurídicos da Defesa do
Patrimônio Público, 2ª Edição, Atlas), o fumus bonis juris está calcado em um
“juízo de probabilidade” quanto ao resultado favorável da ação principal.

Já o periculum in mora, na lição do renomado jurista,


consiste “no estado de perigo no qual se encontra o pedido principal, a
possibilidade ou certeza de que a atuação normal do direito chegaria tarde”. É
o “perigo da demora”.

Fábio Medina Osório com um entendimento mais flexível


da abrangência do periculum in mora, acolhido pelas normas processuais
pátrias, entende que este requisito “emerge, via de regra, dos próprios termos
da inicial, da gravidade dos fatos, do montante, em tese dos prejuízos
causados ao erário” (IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – Observações sobre
a Lei nº 8.429/92 – 2ª Edição Ampliada e Atualizada).

Prevê o art. 7º da Lei de Improbidade Administrativa que:

“Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao


patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade
administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público,
para a indisponibilidade dos bens do indiciado.
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o
caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento
do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.”

Tanto a doutrina quanto a jurisprudência, entretanto, já


firmaram entendimento no sentido de que tais providências cautelares também
podem ser objeto de PEDIDO INCIDENTAL na própria peça inicial da Ação de
Improbidade Administrativa (verificar posicionamentos em Manual de
Improbidade Administrativa, NEVES, Daniel Amorim Assumpção e OLIVEIRA,
Rafael Carvalho Rezende, pag. 253-255, São Paulo: Método, 2012).

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É certo que, no presente caso, o ato de improbidade


administrativa cometido pelos réus causaram prejuízos graves ao erário.

Fato é que nesse instante o valor do dano causado pelos


réus ao Município de Lagarto, considerando-se o que já foi possível ser
apurado em sede de Inquérito Civil, é da ordem de R$ 1.351.465,80
conforme já exposto na fundamentação dessa peça, sendo que, como dito, o
faturamento indevido dos mesmos, que envolve além de exercício ilegal de
atividade pública, a omissão no recolhimento de impostos municipais, a
prestação negativa consubstanciada no uso de servidores públicos da
Prefeitura Municipal em favor dos requeridos, e o pagamento das contas de
energia pelo Município quando deveriam ser feitas pelo “administrador”(?),
pode até ser bem superior a valor assinalado, já que a própria ausência de
controle administrativo e tributário do Município está provada por meio dos
próprios depoimentos réus prestados em sede de IC, não nos permite assinalar
com a certeza desejada, que os prejuízos aos cofres públicos foram apenas os
citados acima.

Diante das considerações acima esposadas e em


consonância com o artigo 7º da Lei nº 8.429/92, REQUER o Ministério Público
a concessão de MEDIDA LIMINAR de INDISPONIBILIDADE DE BENS das
partes acionadas, SUFICIENTES PARA GARANTIR O RESSARCIMENTO DO
VALOR ACIMA INDICADO, com a consequente expedição de ofícios aos
Cartórios de Registros de Imóveis desta comarca de Lagarto/SE, bem como os
Cartórios de Registro de Imóveis de Aracaju/SE, determinando a averbação,
nas matrículas dos imóveis, da INALIENABILIDADE DOS BENS OU
DIREITOS, porventura existentes, em nome dos réus acionadas; e, em face da
possibilidade de existirem outros bens imóveis fora da circunscrição destes
municípios, bem como outros bens não sujeitos a registro imobiliário, requer
seja oficiado à Receita Federal a fim de que forneça cópia da última
DECLARAÇÃO DE BENS E RENDIMENTOS das partes acionadas, a fim de
que, nos limites do permissivo legal, sejam alcançados pela medida
acautelatória.
Requer também que se oficie o DETRAN/SE para devido
bloqueio dos bens móveis ali registrados e também que de bloqueie, VIA
BACENJUD, valores bancários dos demandados suficientes para a garantia
acima referida.
Por se tratar de obrigação solidária, tal valor poderá ser
constritado integralmente no patrimônio de qualquer dos demandados.

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8.2 DO AFASTAMENTO CAUTELAR

O afastamento cautelar, medida prevista no art. 20,


parágrafo único da LIA, é medida que se impõe, sempre que houver risco ou
indícios de que o agente público possa vir a laborar no sentido de prejudicar a
instrução probatória.

EXCELÊNCIA.

O modus operandi do réu José Valmir Monteiro em


especial, é por demais conhecido na Comarca de Lagarto, sendo marcado pelo
seguinte tipo de conduta:

a) Total desrespeito à determinações judiciais;

b) Total desprezo em relação às demandas deflagradas


contra si;

c) Colocação de bens em nome de terceiro de forma a


frustrar qualquer pretensão de asseguramento de suas obrigações;

d) Não utilização ou inexistência de contas-corrente em


estabelecimentos bancários;

e) Resistência em relação ao recebimento dos mandados e


comunicações diversas que lhe são dirigidas pela Justiça;

f) Exercício arbitrário do seu poder hierárquico, impedindo


que servidores e em especial Secretariado se manifestem, se coloquem ou
ajam de forma diversa das suas determinações;

g) Pressão levada a efeito sobre os outros réus na presente


demanda, todos intimamente ligados a si por laços de amizade, por força de
conluio ilícito, de pretensões políticas e de submissão hierárquica.

A despeito de se poder alegar que o afastamento cautelar


funciona, a exemplo da prisão preventiva, é medida de exceção, especialmente
no que concerne a mandato político, não há como se negar que trata-se de
medida meramente acautelatória e não sancionatória. Visa, exatamente, evitar
que o agente público acionado dificulte a instrução processual e a busca da
verdade real utilizando as prerrogativas que o cargo, emprego ou função lhe
confere, para macular provas.

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Tanto é assim que a Lei determina seja ele remunerado,


ainda que alijado provisoriamente de suas funções. Aqui deve imperar o
interesse público.
A lição de Fazzio Junior encaixa-se como uma luva à
questão que ora se coloca. Diz o autor:

“ Trata-se de medida pertinente quando o agente público,


acusado de improbidade administrativa, pode, em razão da posição administrativa
que ocupa, adotar atitudes prejudiciais à instrução, p. ex., fazendo desaparecer
documentos ou destruindo outras provas, intimidando testemunhas, enfim,
transtornando a regular colheita de provas.”
Como se pode ver, a melhor doutrina não exige que exista
um fato concreto a demonstrar a adoção desse tipo de atitude por parte do
mandatário, mas tão somente, que ele tenha, pela posição que ocupa,
potencial para agir nessa conformidade.

No caso sub judice, não há negar que mesmo antes da


propositura desta ação, o réu José Valmir Monteiro tem pressionado não
apenas Eronildes Almeida (seu amigo pessoal, pupilo, correligionário e devedor
de grandes favores pessoais), como os seus Secretários, réus na presente lide.
Com efeito, não é preciso dizer que a decisão de afastamento deve ter como
norte o princípio da motivação, o que significa dizer, que o Juiz deverá
fundamentar a sua decisão de afastamento é tão somente o que se exige em
matéria de jurisprudência e doutrina.

É certo que o pedido de afastamento cautelar do agente


público do exercício do cargo deve ser analisado em obediência aos requisitos
do fumus boni juris e periculum in mora. A fumaça do bom direito consiste na
plausibilidade do direito alegado, consubstanciado na idoneidade das provas
colhidas, na gravidade dos atos praticados pelo gestor e na consequente
possibilidade de condenação.

Assim, a aparência do bom direito, consiste num juízo de


probabilidade e verossimilhança do direito invocado, ou seja, para o
preenchimento deste requisito basta que o direito invocado seja verossímil,
provável ou semelhante à verdade buscada.

Por isso, afirmamos que aqui resta patente não só a


plausibilidade do direito invocado na presente ação (fumaça do bom direito),
haja vista a perfeita aplicação dos dispositivos contidos na Lei 8.429/92 às
condutas imputadas aos Demandados, bem como facilmente se identifica a

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imprescindibilidade da medida (perigo da demora), eis que, persistindo no


exercício de suas funções de chefe do Poder Executivo municipal procurará
esconder da Justiça a verdade dos fatos, o mesmo ocorrendo em relação ao
segundo Requerido, que exerce cargo de absoluta confiança do gestor, com
acesso a documentos e conhecimento pleno das ações governamentais e das
relações delas decorrentes.

Nesse passo, para que não sejam suscitados argumentos


desarrazoados, é importante refutar, desde logo, eventual entendimento de que
é impossível ao Judiciário afastar cautelarmente o prefeito do Município de
João Lisboa do seu cargo sob a alegação de que seria ele detentor de mandato
político, eleito democraticamente pelo povo.

Ora, estando patente, como demonstrado, o seu intuito de


obstaculizar a colheita de provas, como procedeu no curso das investigações,
bem assim a gravidade e a repercussão dos fatos narrados na presente, seria
atitude antidemocrática e contrária aos princípios da separação de poderes e
do sistema de “freios e contrapesos” qualquer entendimento defensor da idéia
de que o Poder Judiciário deva assistir inerte à inviabilização de seu atuar, sem
possibilidade de tomar providência alguma. É que, no momento em que elegeu
o requerido como seu representante, a população de João Lisboa não lhe
atribuiu ou concedeu título em branco, não lhe outorgou mandato para que
praticasse condutas ímprobas e, assim, agisse de forma distanciada do
interesse público, como é inconteste no presente caso.

Acerca dessa premissa, com grande propriedade se


manifestou o jurista Rogério Pacheco Alves:

“Inadmitir o afastamento cautelar dos exercentes de


mandato político mesmo quando demonstrada a sua intenção de obstruir a
instrução processual seria conceber uma atuação jurisdicional inefetiva, ‘de
segunda classe’, o que resultaria em esvaziar, por completo, a cláusula
constitucional de ‘acesso à justiça’ (art. 5 o, XXXV) e o próprio ‘devido processo
legal’(direito à prova, paridade de armas, etc.), tornando impossível, em
algumas hipóteses, a tutela do patrimônio público. Seria aniquilar, enfim, o
próprio comando contido no art. 37, § 4 o, da Carta Política.

Os argumentos de ‘soberania popular’ e de que a ‘escolha


do povo’, mesmo quando recaia sobre o ímprobo, deve ser respeitada não
impressionam, uma vez que aqueles escolhidos pela sociedade para o
exercício do poder de mando estão jungidos, de forma até mais rigorosa, aos
princípios reitores da administração pública – mormente os de legalidade e
moralidade – cuja violação, por representarem uma dissintonia entre a vontade
popular e o exercício do poder, deve deflagrar, pronta e eficazmente, a
incidência dos preceitos sancionatórios, o que pressupõe, em algumas
hipóteses, o manejo de providências cautelares. Com efeito, não se pode

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admitir, numa postura absolutamente passiva, plácida, quase pusilânime, que a


atuação dos mandatários da nação vá de encontro aos objetivos da República
Federativa do Brasil (construção de uma sociedade livre, justa e solidária;
erradicação da pobreza, da marginalização e das desigualdades sociais,
promoção do bem de todos – art. 3o CF)”. (in Improbidade Administrativa –
Rio de Janeiro: Lumen Juris, págs. 629/630).

Nessa ordem de pensamento, também leciona o


doutrinador e Promotor de Justiça Silvio Antonio Marques:

“Os agentes públicos em geral, inclusive os detentores de


mandato eletivo, têm direito de exercerem soberanamente suas atividades
enquanto agirem de boa-fé, com ética, honestidade, correição. Em outros
termos, os agentes políticos devem respeitar os princípios constitucionais e as
normas legais inferiores, em favor do interesse público. Se cometerem atos
ilícitos, deixando de cumprir sua obrigação, os agentes públicos também não
podem exigir o direito de continuarem exercendo o mandato, cargo ou função
pública”. (in Improbidade Administrativa - ação civil e cooperação jurídica
internacional) – São Paulo: Saraiva, 2010, página 178).

Disto podemos resumir que o periculum in mora reside ao


menos em duas situações: probabilidade de continuação da dilapidação do
erário municipal por parte dos demandados e de que estes, por meio do uso
irregular das funções que ora ocupam, subtraiam ou substituam documentos,
tentem ensaiar a realização do procedimento licitatório inexistente e aliciem
testemunhas, dentre tantas outras possibilidades de atuação ilegal, conclusão
a que se chega através da observação da ardileza com que se houve na
elaboração do ardil para locupletarem-se do dinheiro público.

É patente que as pessoas citadas nesta ação DOMINAM a


máquina pública Municipal, estando ao alcance destes todo e qualquer tipo de
interferência que vise encobrir ou dar “ar de posterior legalidade” aos
desmandos administrativos que praticaram, dificultando extremamente a
produção de provas contra os atos praticados pelos mesmos. Por conclusão,
não se exige, para que a ordem jurídica seja acautelada com o afastamento
liminar de um gestor ou de qualquer agente público, haja prova extrema e
incontestável de que irá tentar influenciar na instrução processual, sendo este o
escólio de Fábio Medina Osório, quando ensina:

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“Não se mostra imprescindível que o agente tenha,


concretamente, ameaçado testemunhas ou alterado documentos, mas basta
que, pela quantidade de fatos, pela complexidade da demanda, pela notória
necessidade de dilação probante, se faça necessário, em tese, o afastamento
compulsório e liminar do agente público do exercício de seu cargo, sem
prejuízo de seus vencimentos, enquanto persistir a importância da coleta e de
elementos informativos ao processo” (Fábio Medina Osório, Improbidade
Administrativa, p. 242). (Grifei).

Para corroborar tal entendimento transcrevemos decisões


Superior Tribunal de Justiça:

“AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE LIMINAR. PEDIDO DE


AFASTAMENTO TEMPORÁRIO DE PREFEITO. INVESTIGAÇÃO POR ATOS
DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDÍCIOS DE MALVERSAÇÃO DO
DINHEIRO PÚBLICO. GARANTIA AO BOM ANDAMENTO DA INSTRUÇÃO
PROCESSUAL. LESÃO À ORDEM PÚBLICA. – Visualiza-se, no caso, risco
de grave lesão à ordem pública, consubstanciada na manutenção, no
cargo, de agente político sob investigação por atos de improbidade
administrativa, perfazendo um total de 20 ações ajuizadas até o momento,
nas quais existem indícios de esquema de fraudes em licitações,
apropriação de bens e desvio de verbas públicas. – O afastamento do
agente de suas funções, nos termos do art. 20, parágrafo único, da Lei n.
8.429/1992, objetiva garantir o bom andamento da instrução processual
na apuração das irregularidades apontadas, interesse de toda a
coletividade”. (AgRg na SLS 467/PR - Corte Especial - Rel. Min. Barros
Monteiro – J. 07/11/2007). (Grifei).

“PROCESSO CIVIL. MEDIDA CAUTELAR INCIDENTAL. EFEITO


SUSPENSIVO A RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
AFASTAMENTO. DANOS CAUSADOS AO PATRIMÔNIO PÚBLICO. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA CONTRA PREFEITO E OUTROS ENVOLVIDOS. LIMINAR
CONCEDIDA” (Medida Cautelar 679/PE – Segunda Turma - Rel. Min.
Franciulli Netto – J. 07/03/2002). (Grifei).

“PROCESSO CIVIL - ADMINISTRATIVO – PREFEITO – AÇÃO CIVIL


PÚBLICA – ART.12, LEI N.7347/85 C/C ART.20 DA LEI N.8429/92 –
AFASTAMENTO DO CARGO – INSTRUÇÃO PROCESSUAL – MEDIDA
CAUTELAR – EXCEPCIONALIDADE DE SEU CONHECIMENTO – RECURSO
ESPECIAL EM AGRAVO DE INTRUMENTO RETIDO – ART.542, §3º, DO
CPC – PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA. 1.
O cabimento de medida cautelar tem como pressuposto, a teor do art.800,
parágrafo único, do Código de Processo Civil, o deslocamento da competência
jurisdicional para a Corte ad quem. Diante da exceção do caso concreto, posto
que o recurso de Agravo de Instrumento encontra-se retido por força do
art.542, §3º, do CPC, não há como obstar o conhecimento desta sem afrontar

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o direito constitucional de ampla defesa do requerente, uma vez que este nem
processo foi, em virtude do novo dispositivo processual. Cautelar que se
conhece, neste diapasão, pela excepcionalidade do tema. 2. Para a condução
imparcial da coleta de provas na instrução processual relativas a
eventuais crimes de improbidade administrativa (lei n. 8429/92), é
imperioso o afastamento do Prefeito de suas funções, nos termos do
art.20 do referido diploma legal. 3 – Caracteriza-se, entretanto, como dano
irreparável (‘periculum in mora’) se, decorrido um ano do afastamento, a
instrução processual não se encerra, reduzindo o mandato eletivo em um
quarto e assemelhando tal ato judicial a uma verdadeira “cassação”. 4 –
Presente, também o “fumus boni iuris”, porquanto o processo, na esteira de
consagrados doutrinadores, não é só um instrumento meramente técnico, mas,
acima de tudo, um meio ético para proporcionar segurança jurídica à
sociedade. Estando o recurso especial retido por força da norma processual
civil insculpida no parág. 3º do art.542, deve prevalecer o princípio
constitucional de que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
qualquer ameaça de lesão a um direito (art. 5º, inciso XXXV). 5 – Medida
Cautelar conhecida e julgada procedente, exclusivamente para determinar a
subida do Recurso Especial interposto e retido nos autos do Agravo de
Instrumento, restando prejudicado o pedido de efeito suspensivo e mantido o
afastamento do Prefeito, até apreciação do mesmo por esta Corte”. (Acórdão
MC 1730/SP; 1999/0039708 –8, j.07.12.99, Min. Rel. Gilson Dipp, Quinta
Turma). (Grifei).

Além de outros entendimentos nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.


AFASTAMENTO DO PREFEITO MUNICIPAL. INDISPONIBILIDADE DOS
BENS. NECESSIDADE. LIMINAR DEFERIDA. 1 - A existência de sérios
indícios da prática de improbidade administrativa leva ao afastamento do
Prefeito do cargo, vez que, no mesmo permanecendo, poderá embaraçar ou
dificultar a instrução processual, seja pressionando testemunhas ou
manipulando documentos. 2 - É imprescindível que seja decretada a
indisponibilidade patrimonial dos bens do Prefeito afastado, a teor do que
dispõe o art. 7º da Lei nº 8.429/92, para resguardar futura execução. 3 - Liminar
de afastamento concedida. Unanimidade.
(TJ-MA - AIAD: 282212003 MA, Relator: RAIMUNDO FREIRE CUTRIM, Data
de Julgamento: 17/12/2003, PACO DO LUMIAR)

AGRAVO. PEDIDO DE SUSPENSÃO DE EFICÁCIA DE DECISÃO JUDICIAL.


AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AFASTAMENTO DE PREFEITO MUNICIPAL. ARTIGO
20, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N. 8.429/92. 1. Decisão proferida em Ação
Civil Pública, no sentido de afastamento do Prefeito Municipal. Necessidade em
função da instrução processual. 2. Medida relacionada a princípios de ordem
pública vinculados ao regular andamento do processo e sua utilização como

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instrumento destinado à apuração da verdade. 3. Fase probatória não


encerrada. 4. Indeferimento da suspensão. AGRAVO DESPROVIDO.
UNÂNIME. (Agravo Nº 70049441462,...
(TJ-RS - AGV: 70049441462 RS, Relator: Marcelo Bandeira Pereira, Data de
Julgamento: 02/07/2012, Tribunal Pleno, Data de Publicação: Diário da Justiça
do dia 06/07/2012)

ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.


RECEBIMENTO DA INICIAL. AFASTAMENTO DO PREFEITO MUNICIPAL E
SECRETÁRIOS. INDISPONIBILIDADE DOS BENS. NECESSIDADE. LIMINAR
DEFERIDA. 1 - A existência de provas e sérios indícios da prática de
improbidade administrativa leva ao afastamento do Prefeito e dos Secretários
dos cargos, vez que, nos mesmos permanecendo, poderão embaraçar ou
dificultar a instrução processual, seja pressionando testemunhas ou
manipulando documentos. 2 - É imprescindível que seja decretada a
indisponibilidade patrimonial dos bens do Prefeito e dos Secretários afastados,
a teor do que dispõe o art. 7º da Lei nº 8.429/92, para resguardar futura
execução. 3 - Inicial recebida e liminar de afastamento concedida.
(TJ-MA - AIAD: 91962004 MA, Relator: RAIMUNDO FREIRE CUTRIM, Data de
Julgamento: 13/01/2005, SANTA QUITERIA)

Sendo assim, é imprescindível o afastamento cautelar


dos Requeridos do exercício dos seus respectivos cargos, com vistas a
evitar embaraços e prejuízos à instrução processual no presente feito, bem
como forma de se acautelar a ordem pública, na medida em que, no exercício
de suas funções, poderão continuar a dilapidar o patrimônio público através de
atos de apropriação ou até mesmo permitirem que terceiro o faça, sendo tal
temor procedente na medida em que os demandados têm contra si ajuizadas
outras ações de improbidade por fatos que guardam similitude aos aqui
narrados.

Trata-se de fato que envolve entrega de dinheiro público


diretamente ao prefeito, sendo que existe também entrega de gerenciamento
de bem público indevido a particular, além de omissão de arrecadação de
tributos e uma séria de eventos que necessitam da própria apresentação de
documentos e provas por parte da administração municipal, ou seja, EXISTE
SIM O RISCO REAL DOS AGENTES ENVOLVIDOS NAS IMPROBIDADES
AQUI DENUNCIADAS ESTAREM FRAUDANDO REGISTROS, CONTRATOS
E OUTROS ATOS PÚBLICOS com o fim específico de se furtar à aplicação da
lei, já que o gerenciamento de toda estrutura da administração municipal está
justamente nas mãos dos envolvidos nos atos acima citados, pois, diante da
investigação que é procedida pelo Ministério Público, que já é de ciência dos
mesmos, é PRIMÁRIO que os envolvidos nas fraudes citadas não aguardarão
a ação da justiça de forma passiva.

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

Ademais, é patente que a administração do Matadouro não


pode permanecer na forma como está, escancaradamente entregue a um
particular que exerce um “munus público” e enriquece com este de forma
claramente ilegal.

Assim sendo, requer o MP que seja


determinado o AFASTAMENTO CAUTELAR DAS
FUNÇÕES, ao menos enquanto durar a instrução
processual, os seguintes réus:

1 - O Sr. Prefeito Municipal JOSÉ VALMIR


MONTEIRO;

2 - O Sr. Secretário Municipal de Finanças


ANDERSON SOUZA DE ANDRADE;

3 - O Sr. Secretário de Administração


Municipal FLORIANO SANTOS FONSECA;

4 - O Administrador do Matadouro, Sr.


ERONILDES ALMEIDA DE CARVALHO;
Em relação ao Sr. Eronildes, tendo em vista que o próprio
exercício da função do mesmo é irregular, pelos motivos já citados, que o
afastamento do mesmo já seja concedido na forma de TUTELA ANTECIPADA,
prevalecendo até a sentença a ser proferida.

DOS PEDIDOS DEFINITIVOS

Ex positis, com espeque nos argumentos fáticos e jurídicos


declinados e, também, no que dispõem os artigos 37, 4º, do Pacto Social de
1988; 2º, 3º, 4º, 5º, 9º,10,11e 12, incisos I, II e III, todos da Lei 8429/92, o
Ministério Público do Estado de Sergipe, REQUER:

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

1) Concessão liminar, inaudita altera pars, da


indisponibilidade dos bens dos demandados até o valor correspondente aos
prejuízos experimentados (até agora comprovados) – equivalente aos seus
enriquecimentos ilícitos, a saber: XXXXXXXXXXXX (nove mil e quinhentos
reais), que atualizado com correção monetária e a incidência de juros no
importe de 1% (um por cento) ao mês, totaliza a importância de R$ 20.025,34
(vinte mil e vinte e cinco reais e trinta e quatro centavos), conforme planilha
em anexo e, bem assim, os seus AFASTAMENTOS DAS FUNÇÕES E
CARGOS ocupados, tudo com arrimo na fundamentação delineada nos itens
anteriores da presente exordial.
Por se tratar de obrigação solidária, tal valor poderá ser
constritado integralmente no patrimônio de qualquer dos demandados.

Para cumprir tal desiderato, REQUER, ainda:


(i) que se oficie aos Cartórios de Registro de Imóveis
de Lagarto/SE e ao DETRAN/SE, em relação aos demandados JOSÉ VALMIR
MONTEIRO, ERONILDES ALMEIDA DE CARVALHO, ANDERSON SOUZA
DE ANDRADE e FLORIANO SANTOS FONSECA, bem assim, bloqueiem-se,
via BACENJUD, valores bancários desses demandados;
(ii) que se oficiem aos Cartórios de Registro de Imóveis
de Aracaju/SE, em relação aos demandados JOSÉ VALMIR MONTEIRO,
RONILDES ALMEIDA DE CARVALHO, ANDERSON SOUZA DE ANDRADE
e FLORIANO SANTOS FONSECA, bem assim, bloqueiem-se, via BACENJUD,
valores bancários desses réus;

2) Seja esta petição inicial autuada e processada na


forma e rito preconizado no art. 17 e seus parágrafos, notificando-se os réus
para a apresentação de suas manifestações preliminares em observância ao
contido no artigo 17, § 7º, da Lei nº 8.429/92;

3) Após o oferecimento da aludida manifestação


preliminar, ou transcorrido o prazo legal sem sua apresentação, seja recebida a
presente ação, citando-se os réus nos endereços constantes do preâmbulo
para oferecimento de contestação, sob pena de revelia (artigo 17, § 9º, da Lei
nº 8429/92) e confissão ficta quanto à matéria fática;

4) Seja notificado o Município de Lagarto para tomar


ciência do ajuizamento desta ação e, também, para integrar o polo ativo desta
(caso queira), nos precisos termos do artigo 17, § 3º, da lei nº 8429/92;

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

5) Seja julgada totalmente procedente a presente


Ação Civil de Improbidade Administrativa, para condenar os réus nas
pertinentes sanções dos incisos I, II e III do art. 12 da Lei n. 8.429/92, conforme
segue:

I- No que concerne a JOSÉ VALMIR MONTEIRO:

(i) Quanto à transgressão do art. 9º, caput, incs. XI e


XII:
- as sanções do art. 12, inciso I, em toda a sua
extensão e plenitude, inclusive no que toca à perda do cargo público que
ocupa;

(ii) Quanto à transgressão do art. 10, caput, e incs. I, II,


VIII, X, XII e XIIi, última parte:
- as sanções do art. 12, inciso II, em toda a sua
extensão e plenitude, inclusive no que toca à perda do cargo público que
ocupa;

(iii) Quanto à transgressão do art. 11, caput, e incs. I e II:


- as sanções do art. 12, inciso III, em toda a sua
extensão e plenitude, inclusive no que toca à perda do cargo público que
ocupa.

II - No que concerne a ERONILDES ALMEIDA DE


CARVALHO:

(i) Quanto à transgressão do art. 9º, caput, e incs. XI e


XII:
- as sanções do art. 12, inciso I, em toda a sua
extensão e plenitude, inclusive no que toca à perda do cargo público que
eventualmente ocupe;

(ii) Quanto à transgressão do art. 10, caput, e incs. I, II,


VIII, X, XII e XIII, última parte:
- as sanções do art. 12, inciso II, em toda a sua
extensão e plenitude, inclusive no que toca à perda do cargo público que
eventualmente ocupe;

(iii) Quanto à transgressão do art. 11, caput, e incs. I e II:

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

- as sanções do art. 12, inciso III, em toda a sua


extensão e plenitude, inclusive no que toca à perda do cargo público que
eventualmente ocupe.

III - No que concerne a ANDERSON SOUZA DE


ANDRADE:

(i) Quanto à transgressão do art. 10, caput, e incs. I, II,


VIII, X e XII:
- as sanções do art. 12, inciso II, em toda a sua
extensão e plenitude, inclusive no que toca à perda do cargo público que
ocupa;

(ii) Quanto à transgressão do art. 11, caput, e inc. I:


- as sanções do art. 12, inciso III, em toda a sua
extensão e plenitude, inclusive no que toca à perda do cargo público que
ocupa;

IV - No que concerne a FLORIANO SANTOS


FONSECA:

(i) Quanto à transgressão do art. 10, caput, e incs. I, II,


XII e XIII, última parte:
- as sanções do art. 12, inciso II, em toda a sua
extensão e plenitude, inclusive no que toca à perda do cargo público que
ocupa;
(ii) Quanto à transgressão do art. 11, caput, e incs. I e
VI:
- as sanções do art. 12, inciso III, em toda a sua
extensão e plenitude, inclusive no que toca à perda do cargo público que
eventualmente ocupa.

6) A condenação dos réus ao pagamento das “despesas


processuais”;

7) Para efeito de valor de ressarcimento ao erário, que


seja reconhecido o valor total de R$ R$ 1.351.465,80 (UM MILHÃO,
TREZENTOS E CINQUENTA E UM MIL, QUATROCENTOS E SESSENTA E
CINCO REAIS E OITENTA CENTAVOS), de forma solidária entre os réus.

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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL

8) REQUER, ainda, a CONDENAÇÃO de todos os réus,


a titulo de DANO MORAL COLETIVO, ao pagamento do valor de R$
1.000.000,00, devidamente corrigido até a data do efetivo pagamento, devendo
este ser suportado solidariamente entre os réus, revertendo-se em favor da
pessoa jurídica lesada, no caso a Prefeitura Municipal de Lagarto.

9) Sejam oficiados o Tribunal Superior Eleitoral para a


efetivação da suspensão dos direitos políticos dos demandados; o Banco
Central do Brasil para que este comunique às instituições financeiras oficiais a
proibição de contratar com o poder público e de receber incentivos e benefícios
fiscais ou creditícios e, para o mesmo fim, seja determinada a inclusão do
nome dos réus no Cadastro Informativo de Créditos Não Quitados do setor
público federal (Cadin).

Protesta, ainda, pela produção de outras provas


juridicamente admitidas, em especial o depoimento pessoal dos réus, a oitiva
de testemunhas oportunamente arroladas, perícia contábil, e a posterior
juntada de novos documentos.

A presente ação é instruída com cópias das provas obtidas


no inquérito civil PROEJ nºs 41.18.01.0006, além das quebras de sigilo
autorizadas judicialmente.

Tratando-se de ação proposta pelo Ministério Público,


impõe-se a dispensa do pagamento de custas processuais.

Por fim, para efeitos meramente fiscais, dá-se à causa o


valor de R$ 2.351.465,80.

D. R. e A., com as peças de informação que seguem em


anexo.
Aguarda deferimento.

Lagarto/SE, 14 de junho de 2018.

BELARMINO ALVES DOS ANJOS NETO


Promotor de Justiça em Substituição

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