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Oito teses sobre processo de secularização da cultura ocidental:

indicações de momentos e teóricos chave


Raimundo José Barros Cruz*

Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar algumas teses que
acreditamos serem necessárias para o entendimento do processo de
secularização pelo qual passou a sociedade ocidental moderna. A sociedade
moderna nasce de um rompimento com o mundo medieval, sobretudo no que
se relaciona ao religioso, à visão de mundo e à hierarquia social. Trata-se de
um momento no qual se dá um forte questionamento às autoridades eclesiais,
com significativo poder referente às várias dimensões sociais. Esse período
seria conhecido como o grande Racionalismo Clássico, que resultaria numa
considerável mudança intelectual no Ocidente. Acreditamos que o espírito
moderno define-se, antes de tudo, pela luta em superar a visão religiosa e a
sacralidade do mundo. Dessa forma, trabalharemos com a ideia de que as
concepções filosóficas, o imanentismo, o racionalismo, o empirismo, o
progresso tecnológico e científico contribuíram de forma significativa com o
secularismo moderno que se seguiu até sua definição como ateísmo e que a
causa primeira à qual as demais se encontram ligadas pode ser buscada na
virada antropológica do século XVI, com o Humanismo e o Renascimento.
Palavras-chave: Ocidente. Sagrado. Racionalismo. Secularização.
Abstract: This paper aims to present some arguments that we believe are
necessary to understand the process of secularization has gone through a
modern Western society. Modern society is born of a break with the medieval
world, particularly as it relates to religious worldview and the social hierarchy.
This is a moment in which he gives a strong challenge to ecclesiastical
authorities, with significant power regarding several social dimensions. This
period is known as the great Classical Rationalism, which would result in a
significant intellectual shift in the West. We believe that the modern mind-sets,
first of all, the struggle to overcome the religious view and the sacredness of
the world. Thus, we will work with the idea that philosophical concepts, the
immanentism, rationalism, empiricism, scientific and technological progress
contributed significantly to modern secularism which followed up its definition
as atheism and that the first cause to which the others are linked can be sought
in the anthropological turn of the century XVI, Humanism and the
Renaissance.
Key words: West. Sacred. Rationalism. Secularization.

*
RAIMUNDO JOSÉ BARROS CRUZ é Mestre em Educação pela Universidade de Passo
Fundo (UPF).

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princípios, procurou-se reconstruir um
novo homem e uma nova época, o que,
além de questionar as forças políticas e
religiosas vigentes na época, ajudou a
reduzir a pouco o sagrado e o divino.
Nesse período a filosofia e as ciências
transladam o foco de seu trabalho. Ao
invés de iniciar conhecendo a natureza,
Deus (o sagrado), passam, em primeiro
lugar, a se referir ao homem, indagando
sobre a capacidade de seu intelecto para
I conhecer e demonstrar o que é veraz
nos conhecimentos. Nesse contexto, o
A sociedade moderna surge do sujeito surge como consciência de si
rompimento com a ordem sagrada do reflexiva, o qual conhece sua
mundo. Com a Renascença, a capacidade de conhecer. Assim, o
reviravolta no pensamento ocidental é homem não pode conhecer a coisa, mas
marcante, envolvendo o homem nos sim o conhecimento das coisas, as
mais diversos aspectos. Não se impressões que as coisas exercem sobre
caracteriza como uma reviravolta ele, sobre seu intelecto e sobre seus
apenas no pensamento filosófico, mas sentidos, o que dá abertura ao
também em nível social, político, subjetivismo que caracterizaria todo o
literário, artístico, científico e religioso. período moderno.
O pensamento renascentista emerge
com uma forte marca imanentista II
somada ao panteísmo neoplatônico, A matemática, a astronomia e a nova
voltado aos ideais materiais e terrenos. física viram o mundo como uma
O conceito de imanência, num primeiro grande máquina e acabaram por
momento, faz-se algo incompatível com dessacralizá-lo. René Descartes (1596-
a religião cristã e tendeu fortemente a 1641) foi o maior representante do
extinguir a necessidade religiosa. racionalismo moderno. A história da
Contrariamente à Idade Média, o filosofia moderna desenvolveu-se a
Renascimento procurou colocar o partir de um cartesianismo idealista e
sagrado numa relação cada vez mais mecanicista, influenciado pela nova
estreita com a realidade imediata. A física e astronomia, então emergentes.
valorização do homem desembocou Descartes elegeu a matemática como a
num humanismo que caracterizou ciência da natureza: método, física,
profundamente o movimento matemática e metafísica compuseram o
renascentista: a supervalorização do corpo do projeto filosófico do teórico.
homem e suas capacidades, o qual, livre Descartes acabou por afirmar um único
de si mesmo, diviniza-se e mostra-se método científico: o método
como dominador da natureza e senhor racionalista-dedutivo. Dessa forma,
de seu próprio mundo. O Renascimento colocou o homem dentro das
representa ainda um intencionado possibilidades e condições do mundo
momento de regeneração, de inovação e natural, pois só assim ganharia a
de reforma. O retorno aos clássicos foi matemática uma legítima aplicação. Na
outra forte marca do pensamento filosofia cartesiana, Deus foi tratado
renascentista. Ao retornar aos como uma substância soberanamente

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perfeita, da qual não concebemos nada direcionar ao ponto no qual se faz
que encerre qualquer falha, ou limitação necessária a existência de Deus, posto
de perfeição. O quinto postulado que, ao mesmo tempo, o homem surge
cartesiano nos convida à longa como deus e criador de si apoiando-se
contemplação de um ser soberanamente na pura razão. Uma vez construtor e
perfeito e, dessa forma, que criador de si mesmo e de seu mundo, de
consideremos que, nas ideias de todas que serviria Deus na vida do homem?
as outras naturezas, a existência Por que recorrer aos mistérios da fé,
possível encontra-se de fato contida, uma vez que é capaz a razão humana de
mas que, na ideia de Deus, não só a tudo responder e explicar? Por que
existência possível está contida, mas é perguntar ao transcendente, uma vez
necessária. Por isso só, e sem qualquer que o próprio homem com o auxílio da
raciocínio, conhecerão que Deus existe; razão já conhece o essencial por si
e não lhes será menos claro e evidente, mesmo? É este o rumo que a filosofia
sem outra prova, que lhes é manifesto de René Descartes dá ao Ocidente
que dois é um número par e três, um quando temos como objetivo buscar
número ímpar, e coisas semelhantes. pelas origens de uma sociedade
Isso porque há coisas que são assim moderna secularizada. O filósofo
conhecidas sem provas por alguns, reconhece a autonomia da razão em
enquanto outros só as entendem por um relação à fé, destaca o sujeito, instaura o
discurso e raciocínio. Assim, é certo que cogito, põe como correlato a ele o
temos em nós a ideia de Deus e que a princípio da existência, serve-se de
realidade objetiva dessa ideia não está Deus, prova sua existência, muito
contida em nós, nem formal, nem embora já tenha atenuado sua
eminentemente, e que ela não pode estar intervenção no mundo ao elaborar um
contida em ninguém mais exceto em conceito totalitário e confiante no
Deus mesmo. Logo, a ideia de Deus que homem e na razão. Organizando-se de
há em nós exige Deus como causa; por tal forma, o pensamento moderno
conseguinte, Deus existe. termina por legitimar uma religião
(DESCARTES, 1979, p. 170-174). natural, um deísmo, uma estética
Embora Deus assuma um papel puramente racional, um direito natural,
importante na filosofia cartesiana, não uma moral natural: mundo
deixa também este de ser diminuído. reconfigurado a partir de um conceito
Torna impossível e, se possível, carece estático de razão que obscureceu
de fundamentação a posição em que principalmente o mundo religioso.
Deus se encontra dentro da filosofia
III
Cartesiana. Com Descartes acontece a
transferência da certeza original de Deus (o sagrado) não encontra espaço
Deus para a razão humana. Com a ideia em meio à ideia de que todo
do cogito, e a partir daí o princípio da conhecimento plausível nasce da
existência, o homem parte agora da experiência sensível. Para os empiristas
certeza de si próprio para a certeza de todo conhecimento humano deriva,
Deus. O homem, ao partir de sua direta ou indiretamente, da experiência
própria consciência, ganha autonomia e sensível. Excluem, dessa forma,
capacidade de construção de si; assim, é qualquer possibilidade da existência de
construtor de uma ciência e ideias inatas: os fundamentos das ideias
conhecimento universal que o orientem só podem se dar a posteriori. Com
no viver. A crítica a Descartes pode se Hume se dá o ápice do empirismo.

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Reelaborando e tecendo críticas ao mesmo tempo, como possibilidades e
pensamento de outros empiristas, como impossibilidades. Para o filósofo tudo o
John Locke e George Berkeley, procura que é concebido como existente pode
se libertar de todo dogmatismo também ser concebido como não
metafísico, da moral e da religião. existente. A religião, portanto, trata-se
Hume desfaz o conceito de causa e com apenas de um método particular para
ele destrói as ideias sobre a existência explicar os fenômenos do universo;
de Deus; lança fortes críticas à religião todavia, será sempre impossível inferir
e seu estado, que, segundo ele, é dela fatos prováveis. Para Hume
irracional. Afirma a impossibilidade de nenhum respaldo pode ganhar a prova
se chegar a Deus racionalmente. Cabe- cosmológica da existência de Deus. Tal
nos verificar a crítica de Hume à prova consiste em chegar a Deus
religião. Hume trata de Deus em duas partindo de sucessões de causas que se
importantes obras: Diálogos sobre a encontram na natureza, ou seja, uma
religião e História natural da religião. investigação processual pela qual,
Nas duas obras aplicou rigorosamente passando por todas as causas, se
seus princípios empiristas. Condenou e chegaria à causa primeira, no caso
contrapôs decididamente a validade de Deus. Hume acredita ser sem sentido tal
todas as demonstrações acerca da procedimento no mundo real e físico e,
existência de Deus: pôs à prova o caso for possível, nada mais
próprio valor da ideia de Deus. Hume manifestaria do que um processo ad
acredita que recorrer à veracidade do infinitum, pois, uma vez encontrada a
Ser supremo para demonstrar a causa dos fenômenos matérias, não há
veracidade dos nossos sentidos é, sem por que a procura de uma causa
dúvida, realizar um circuito muito primeira. Hume dá à religião um caráter
inesperado. Se a sua veracidade puramente instintivo associado ao
estivesse nesta matéria deveras sentimento humano de finitude,
implicada, os nossos sentidos seriam preocupações e medos diante do mundo
totalmente infalíveis, porque não é indecifrável. Pela constatação de uma
possível que Ele nos possa enganar. sutil ordem e harmonia presente no
Sem falar que, se o mundo externo se universo, conclui-se a existência de um
puser uma vez em questão, não Sumo Artífice, que se mostra inteligente
saberemos como arranjar argumentos e ordenador. Para Hume uma relação de
pelos quais possamos provar a causa e efeito só é possível pela repetida
existência desse Ser ou de algum dos constatação de uma experiência, ou
seus atributos. (1998, p. 6). Para Hume, seja, a constante proximidade entre dois
Deus e a religião encontram-se no objetos pode me fazer inferir por força
âmbito da imaginação; assim, nada mais do hábito a existência de um quando o
são do que expressões irracionais e vejo separado do outro. Portanto, a
arbitrárias da consciência humana, ordem do mundo não pode nos levar a
desprovidas de qualquer validade concluir sobre a existência de um Sumo
racional. Ao tomar a religião como Artífice que nunca vimos em ação.
objeto de análise, Hume diz não Hume desfaz-se de Deus por via de um
encontrar nela nenhum fundamento agnosticismo, que exclui as
racional e rejeita a posição dos teólogos justificativas irracionais: vale-se da
que provam a existência de Deus. Ao metafísica imanentista e naturalista, que
examinar as provas ontológicas da é cerne do fenomenismo empírico, o
existência de Deus, concebe-as, ao

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que reduz a um simples mecanismo a mundo, vê-se também abalada toda a
psique humana. estrutura do poder político-eclesiástico
da época. No embate com a religião
IV
cristã absoluta o humanismo
A razão é que constrói o homem racionalista acaba por nivelar à vida
autônomo, o qual necessariamente terrena a religião e, até mesmo, a negá-
não necessita de Deus ou religião. O la totalmente. E é na proposta de uma
Iluminismo caracteriza-se por religião natural que se vê a expressão
manifestar uma forte crença nos poderes máxima do interesse iluminista. Uma
da razão. Mais precisamente, o religião natural, constituída de um
Iluminismo é um movimento cultural deísmo exacerbado; apreciado pelos
europeu que ocupa o século que corre pensadores livres, livres da teologia
entre a Revolução Inglesa (1688) e a fundamental das verdades cristãs. Os
Revolução Francesa (1789). A razão é objetivos e interesses iluministas vão
vista como capaz de evolução e atingir fortemente a religião,
progresso; o homem é tomado como um fortalecendo significativamente o
ser possível de tornar-se perfeito, processo de secularização incitado com
todavia tal perfeição só chegará a uma a reviravolta antropológica iniciada na
concretude a partir do momento em que Renascença.
o homem se encontrar totalmente livre
dos preconceitos religiosos, sociais e V
morais. O homem deve se mostrar O longo período de secularização
capaz de superar a superstição e o iniciado na Renascença tem sua
medo, auxiliado pela ciência, pelo máxima expressão no ateísmo
conhecimento, pelas artes e pela moral. moderno: Deus não é mais necessário.
O conhecimento científico e da técnica A palavra ateísmo deriva do grego a-
explicita a razão dos iluministas, pois theos e indica, objetivamente, a negação
são tomados como instrumentos de de Deus. Contudo, é somente a partir do
transformação do mundo e, século XIX que o ateísmo se manifesta
consequentemente, da melhoria de forma densa e pertinente. São
progressiva das condições espirituais e denominados ateus não só aqueles que
materiais da humanidade. O culto à põem Deus fora das reflexões
razão é o caráter predominante e filosóficas, mas também todos os que
específico do Iluminismo. É observado negam abertamente sua existência.
claramente no iluminismo francês, que Como fenômeno cultural de massa, o
culminaria com a Revolução Francesa. ateísmo é típico da época moderna, e
Surge daí a expressiva rejeição a precisamente daquele período histórico
qualquer atividade irracional, a qualquer em que o homem moderno, através de
instituição que demonstre um longo período de secularização,
irracionalidade, ao fantasioso, aos depois de ter excluído Deus de muitas
sentimentos e paixões. Os campos atividades e aspectos da vida humana,
sociais, político, econômico e religioso chega afinal à conclusão de que Deus
sofreram impactos tremendos, não existe (MONDIN, 1997). O ateísmo
originando um caos na ordem até então pode assumir várias formas. Três delas
estabelecida. As implicações sofridas são substancial expressão na trajetória
pelo cristianismo e pela Igreja foram do pensamento ocidental: o ateísmo
inevitáveis e visíveis: além do impacto especulativo (teorético ou filosófico), o
em relação à doutrina e concepção de ateísmo prático, o ateísmo militante. Por

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ateísmo especulativo se entende a pensamento, mas deve ser considerado
formulação de sistemas filosóficos ou em sua inteireza antropológica. Para
cosmovisões que excluem a realidade Feuerbach não é Deus que se revela,
divina, podendo ser encontrado em mas o homem que realiza a revelação de
posições particulares de alguns si mesmo. O processo histórico-
filósofos, como também nas várias religioso é reduzido a um processo
ideias implicitamente contidas em originário da mente humana: Deus
sistemas ligados ao materialismo passa a surgir como hipótese das
histórico, ao positivismo, ao próprias ideias. Nesse contexto, o
evolucionismo, ao vitalismo, ao cristianismo perde a posição de religião
existencialismo. O ateísmo prático absoluta, o que coloca em crise todas as
constitui-se na atitude das várias concepções tradicionais relativas à vida,
pessoas que vivem o descompromisso à morte, a este mundo, à ressurreição,
com a realidade transcendente e que, ao eu e ao indivíduo e, principalmente,
embora digam crer em algo, vivem em em relação a Deus. Feuerbach reduziu a
plena indiferença religiosa e numa teologia a uma antropologia. Ao
exagerada tendência materialista. Por discordar de Hegel, defendeu que o
fim o ateísmo militante, que movido por verdadeiro fundamento da filosofia não
reações agressivas procura construir é colocar o finito no infinito, mas sim o
uma antirreligião: declara abertamente infinito no finito. Em outras palavras,
uma guerra intelectual contra Deus, procurou mostrar que o homem não é
critica duramente as doutrinas religiosas produto de Deus, mas o contrário: que
e orienta-se a partir de uma visão Deus é produto do homem. Não é Deus
científica de mundo. O ateísmo que cria o homem, mas sim, o homem
moderno pode ter ainda as seguintes quem cria Deus. A filosofia da religião
características: a de ateísmo teorético de Feuerbach se centra no estudo da
negativo, que se põe apenas a negar a origem da ideia e dos atributos a Deus.
existência de Deus; a de ateísmo Problematiza acerca da hipostatização,
teorético positivo, que tenta buscar para ou seja, o homem como o que projeta
o homem os poderes e atributos que suas qualidades positivas numa pessoa
perdera ao criar a figura de Deus; e, por divina, fazendo dela uma realidade
último, a de um ateísmo prometeico, subsistente. Diante dessa realidade, o
que intenciona fazer do homem o ser sentimento do homem é de submissão e
supremo. esmagamento, o qual provém de uma
realidade por ele mesmo criada. Dessa
VI
relação vão se justificando as várias
Qualquer revelação de Deus é uma ideias sobre Deus. Deus, como pai,
revelação da natureza humana. nasce da necessidade de segurança do
Ludwig Feuerbach (1804-1872) faz em homem; como carne, representa a
sua principal obra, A essência do excelência do amor pelos outros; o Deus
cristianismo, uma crítica radical à perfeito representando aquilo que o
teologia. Aceita, de início, o sistema próprio homem deveria ser, mas não
hegeliano, admitindo a unidade entre o consegue; a crença na vida para além
finito e o infinito; contudo, defende que deste mundo representando o desejo do
tal unidade, em vez de se realizar em homem de melhoria da vida terrena.
Deus ou na ideia absoluta, realiza-se no Contudo, para o teórico, o que importa
próprio homem, o qual, segundo o ao homem é saber que se Deus não é
teórico, não pode ser reduzido a puro visto, ouvido e sentido sensorialmente;

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ele não existe para nós, e nós não história, que segundo ele passa pela lei
existimos para ele. Assim, se não dos três estágios: o teológico, estágio
cremos ou pensamos em nenhum Deus, puramente provisório; o metafísico,
nenhum Deus existe para nós: Ele só espécie de teologia enfraquecida
existe ao ser pensado, criado – e o designada como ontologia; o positivo,
acréscimo nos é desnecessário. momento no qual se procura uma
(FEUERBACH, 1988, p. 242). Para o explicação objetiva das coisas por meio
filósofo, foi para escapar do domínio das leis naturais, que são por si mesmas
fatalista da natureza que o homem criou suficientes para explicar todos os
Deus, um ser incorruptível, a fenômenos. Partindo deste elaborado
representação fantástica do absoluto estudo, as conclusões atingidas são as
domínio da vontade humana. Feuerbach de que a humanidade é o grande ser,
acredita ser de fato o verdadeiro contendo em si o presente, o passado e
homem, aquele que parou de projetar no o futuro; portanto, é a humanidade que
divino aquilo que é próprio de si e da merece nosso culto. Assim, morto o
infinita possibilidade de realização de Deus transcendente, a religião deve
sua natureza, não excluindo de si nada direcionar seus ritos ao deus imanente,
de produção humana. De Feuerbach no caso a humanidade. Ao Absolutizar
descendem todas as tendências ateístas o método científico das ciências
posteriores; assume este filósofo a naturais e aplicá-lo à humanidade,
patente de pai do ateísmo moderno, Comte desemboca em um humanismo
responsável por influenciar direta ou ateu, movimentando o culto antes
indiretamente as várias correntes prestado a Deus, em direção à
posteriores. humanidade.
VII VIII
Deus (o sagrado) não encontra espaço A religião não pode contribuir de
em meio aos procedimentos maneira alguma para a elevação e
metodológico-positivistas das ciências realização do homem. Com Karl Marx
da natureza. A ciência é tomada como (1818-1883) o ateísmo alarga seus
critério para tornar cada vez mais passos. Não se limitando apenas a negar
plausível a negação da existência de a Deus, como haviam feito Feuerbach e
Deus. Como maior representante do Comte, objetiva excluir de vez da vida
ateísmo científico temos Augusto do homem a influência religiosa. A
Comte (1798-1857). Paralelamente a religião passa a ser tomada como um
Feuerbach, Comte publicou em 1842 instrumento de opressão em poder das
seu vasto curso de filosofia positiva. O classes dominantes: o “ópio do povo”.
positivismo foi de grande influência na A existência de Deus não tem nenhum
cultura ocidental. Parte de um princípio significado ao império da razão. O
reivindicador do primado da ciência, homem é definido como ser
acreditando na possibilidade de um imediatamente natural, e como ser
conhecimento verdadeiro propiciado natural vivo está, em parte, dotado de
pelo método das ciências naturais. forças naturais e de forças vitais: trata-
Comte acredita que a procedência do se de um ser natural ativo e estas forças
universo se deve à matéria por meio de existem nele como disposição,
uma evolução. O momento culminante capacidades e instintos. O homem,
da evolução é o homem, e é com o portanto, necessita de autoconsciência,
homem que se dá o início da verdadeira que, segundo Marx, na medida em que

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reconheceu e superou como auto- Referências
alienação o mundo espiritual, confirma- BIRCK, B. O. O sagrado em Rudolf Otto. Porto
o novamente nesta figura alienada e a Alegre: EDIPUCRS, 1993.
apresenta como seu verdadeiro modo de COMTE, A. O espírito positivo. Trad. Carlos
existência. Uma vez superada a religião, Lopes Monteiro. Portugal: RES-Editora.
o homem vê-se como tal e pode se DESCARTES, R. Discurso do método. Trad. J.
servir de seu próprio potencial. O Guinsburg e Bento Prado Junior. 2 ed. São
ateísmo marxista encontra base em três Paulo: Abril Cultural, 1979. (Os Pensadores).
importantes postulados: no FEUERBACH, L. A essência do cristianismo.
materialismo metafísico ou dialético, Trad. José da silva Brandão. São Paulo: Papirus,
que considera a matéria como 1988.
causa suprema e única de todas as FILORAMO, G.; PRANDI, C. As ciências das
coisas; no materialismo histórico, que religiões. Trad. José Maria de Almeida. São
estabelece o fato econômico como fato Paulo: Paulus, 1999.
principal e decisivo presente na HUME, D. Investigação sobre o conhecimento
estrutura básica de todas as outras humano. Trad. Artur Morão. Lisboa:
estruturas; no humanismo absoluto, que AMAGRAF. Ed. 70, 1998.
situa o homem como ser supremo. O KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Trad.
filósofo procura com seu ateísmo M. Pinto dos Santos e A. Tradique Morujão.
salvaguardar o papel do homem no Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985.
mundo, estabelecendo a supremacia do MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos.
homem e excluindo a realidade divina. Trad. José Carlos Bruni. 2 ed. São Paulo: Abril
É pela grandeza do homem que Marx Cultural, 1978. (Coleção Os Pensadores).
aniquila a religião, pois a religião tira do MONDIM, B. Quem é Deus?:elementos de
homem a capacidade de se reconhecer teologia filosófica. Trad. José Maria de
Almeida. São Paulo: Paulus, 1997.
em sua própria dignidade. Acredita ser a
religião a consciência do homem que OTTO, R. O Sagrado. Trad. João Gama.
ainda não tomou posse de si mesmo. Lisboa: Manoel Barbosa & Filhos, 70, 1992.
Para o teórico, são o Estado e a PADOVANI, U. Filosofia da religião: o
sociedade que produzem a religião e, problema religioso no pensamento ocidental.
junto com ela, uma concepção invertida Trad. Diniz Mikosz. São Paulo: Melhoramentos,
1968.
do mundo. A luta contra a religião é,
portanto, a luta contra este mundo SIEGMUND, G. O ateísmo moderno: história e
psicanálise. Trad. Bruno Balrike e Frederico
invertido, e a extirpação da religião Caufer. São Paulo: Loyola, 1966.
enquanto felicidade ilusória do povo
nada mais é que o pressuposto da TOURAINE, A. Crítica da modernidade. Trad.
Elia Ferreira Edel. Petrópolis; Vozes, 1994.
verdadeira felicidade. O juízo de Marx
sobre a religião nasce de um olhar ZILLES, U. Filosofia da religião. São Paulo:
Paulinas, 1991.
político-sociológico. Ao tecer
consistentes críticas às Igrejas e seus ZITKOSKI, J. J. O método fenomenológico de
representantes, denunciou-os como Husserl. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994.
aliados do governo, uma superestrutura
da sociedade classista e, portanto, uma
dimensão desnecessária ao homem.

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