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Tradução: Projeto DRRR!! | http://comoeporque.wordpress.

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Prólogo

Esta é uma história perturbadora.

“Ei, ei, ei! Você está em casa, né Seiji? Eu vim hoje também! Ah não, você se esqueceu
de destrancar a porta! Assim eu não posso entrar!”
Alerta, alerta. Estou no meio de um ataque de uma stalker. Ela já está há um tempo
batendo na porta do meu quarto, mas não tentou nenhuma vez usar o interfone. Que
ideia é essa?
“A porta está trancada! Será que você está dormindo? Kya! É a primeira vez que visito
um garoto dormindo!”
Atenção, atenção. Atenção para o que eu fiz semana passada. Salvei uma garota do
interior de um gangster. Conversando, descobri que a partir de amanhã iremos para o
mesmo colégio. Como que eu me livro dessa? E pensar que a outra garota que estava
junto com ela quando eu a salvei era extremamente educada.
“Eu na verdade, na verdade... já gosto de você há muito tempo, Seiji! Você se lembra?!
No exame de admissão eu sentei ao seu lado! Na minha direita estava sentado um
garoto chamado Ryuugamine1. Que nome, né?! Por causa disso, quis saber o nome de
quem estava à esquerda. Quando olhei, foi amor à primeira vista! É por isso que me
lembrei de seu nome! Só que eu não tive coragem e acabei não falando nada, mas...
quando você me salvou aquele dia eu sabia que era o destino! Então eu arrumei
coragem! Por isso, por isso, deixa eu te ver, Seiji. Me mostre uma cara feliz, por favor,
por favor!”
Perigo, perigo. Essa garota ficou me seguindo e aparece todo dia. Mesmo que eu fale
para ela ir embora, ela não escuta. Já é a milésima vez que eu a ouço gritando na
minha porta.
“Será que você não está bem?! Por isso que não pode sair? Isso não é bom! É uma
emergência, abra a porta depressa! Sabe, desde o exame de admissão eu pesquisei
várias coisas! Sobre seu aniversário, sua família...”
Polícia, polícia. Vou chamar a polícia. Se eu disser isso ela desiste por hoje.
Desde o ataque já se passaram 3 horas. Como a garota já devia ter voltado pra casa,
resolvi fazer compras numa loja de conveniência. Enquanto eu pegava pasta de dente e
uma revista, me passou pela cabeça a imagem daquela garota-denpa2. A primeira
impressão é de uma garota bonita, com um toque de maturidade. Talvez a palavra
“dama” seja mais exata. Por que uma garota como ela não tem namorado...? Hoje eu
senti na pele a resposta desta pergunta.
Mesmo sendo bonita eu recuso. Se eu quisesse uma namorada talvez fosse diferente...
mas agora eu não tenho o menor interesse. Porque eu já tenho uma namorada.
Mas o que será que eu vou fazer amanhã na cerimônia de abertura? Fui pensando
nisso enquanto andava numa rua estreita a caminho de casa.
Se eu tiver que ver aquela garota todo dia, seria melhor nem ir pro colégio. Ah, é isso,
agora eu tenho uma namorada. Ela é calma, diferente daquela garota, e bonita. Se eu

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estiver junto com ela nem preciso ir pro colégio. Eu posso pedir para trabalhar com
qualquer coisa na empresa da minha irmã.
Ah, era isso, me lembrei. Me lembrei porque eu salvei aquela garota pra começo de
conversa. Embora depois de falar elas sejam totalmente diferentes, elas são parecidas.
Ela e minha namorada. Por isso que eu a salvei. Pensando agora, foi um motivo bem
idiota. A salvei por ser parecida, mas a personalidade é completamente diferente.
Pensando nisso, cheguei à porta do apartamento e coloquei a chave.
Hein? Que estranho.
... Está aberta.
Alarme, alarme, alarme. Meu corpo todo está em sinal de alerta.
As sirenes tocaram. Abri a porta e havia um par de sapatos femininos.
“Se... Sei-ji...”
No fundo do quarto a stalker estava de pé paralisada.
Apesar de a invasora estar ali, percebi que eu estava calmo. Afinal, eu percebi a
expressão que pairava em seu rosto.
Então, falei com uma voz tão fria que até eu me surpreendi.
“Então você viu?”
“Eh... hun, eu... veja bem...”
A tensão que havia em seu rosto era diferente de sempre. Uma expressão repleta de
ansiedade e medo.
... Não é que ela consegue ter esse tipo de expressão também?!
Então eu finalmente confirmei. Ela realmente viu coisas que não deviam ser vistas.
“N... né, Seiji, eu... hum, eu não conto pra ninguém! Apesar disto eu realmente gosto
de você. Erm... er, não tem problema. Não importa que tipo de hobby você tenha, eu
consigo corresponder, então, hum, então.”
Um dia de caça, outro de caçador. Agora é minha vez de persegui-la.
“Sem problema.”
“Seiji!”
Ao ouvir minha voz, a stalker se encheu de esperança.
“Sem problema.”
“Sei... ji?”
Parece que ela notou a frieza nos meus olhos. Em um segundo, a esperança se
transformou em ansiedade. Pra ver sua expressão se transformar num completo
desespero, disse mais uma vez.
“Sem problema.”
“Seiji!”
Quando minha irmã chegou junto com dois subordinados, eu estava sentado sobre
meus pés comendo um cup noddles. Os subordinados carregaram eficientemente o saco
com o corpo da stalker. Minha irmã olhou ao redor do quarto. Ao ver a mancha de

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sangue na parede, me abraçou apertado.
“Está tudo bem, está tudo bem.”

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Embora o seu calor tenha me aquecido, era difícil de comer com minha irmã me
abraçando.
“Seiji, você não precisa se preocupar com nada. Pode deixar que eu cuido de tudo.”
“Mana, não é sobre essa garota... Mas sobre minha namorada”
“Então foi realmente você quem a levou... Tubo bem, eu vou cuidar dela também, né?
Tudo bem, enquanto eu estiver aqui você estará seguro. Eu não vou deixar a polícia te
levar de jeito nenhum, então fique tranquilo”
Depois de dizer isso, minha irmã deu algumas ordens a seus subordinados e saiu.

É melhor desistir de trabalhar na empresa dela. Parece que ela se relaciona com
pessoas sem a matriz saber. Como os subordinados que vieram hoje, que mesmo vendo
uma pessoa morta agiram conforme as ordens. Isso com certeza não é bom.
Não quero trabalhar com essas pessoas más. Pode ser que eu mesmo vire uma pessoa
má.
Se eu for uma pessoa má e a polícia me prender, ela irá se sentir solitária. Não posso
deixar que isso aconteça.
Enquanto eu terminava meu cup noddles, observava os subordinados limpando a
mancha de sangue da parede sem expressão em seus rostos.
Ah, que cup noddles ruim.
Está é uma história muito perturbadora.
Uma história de amor perturbadora.

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Capítulo 1 – 『Sombra』

Sala de chat (Feriado – Noite)

«Então, o time mais forte de Ikebukuro agora são os 『Dollars』!»


[ Eu nunca os vi pessoalmente, mas se ouve falar muito dos 『Dollars』]
«Parece que eles ficam à surdina, né?! Mas sabia que na internet só se fala deles?»
【É mesmo? Você parece conhecer bastante de Ikebukuro, Kanra】
«Isso não é nada!»
«Ah, ei, ei, ei, já ouviram falar da Moto Negra?»
【Moto Negra?】
[ Ah!]
«Aquele cara de que se tem ouvido falar em Ikebukuro e Shinjuku. Ontem apareceu
nas notícias também ~»

♂♀

Tóquio — Algum lugar no distrito de Bunkyo (Dia útil — Meia-noite)

“S... Seu... Monstroooo!”


O homem gritou de raiva e levantou o cano de ferro que segurava--- Então correu a
toda velocidade.

O jovem corria no estacionamento no meio da noite. Em sua mão direita, ele segurava
com mais força o cano de metal, já aquecido pelo corpo. Porém, o suor frio fez com que
sua aderência diminuísse.
Não havia uma alma viva no perímetro, apenas alguns carros esperando por seus
donos.
Em volta do jovem, havia um silêncio absoluto, seus ouvidos só escutavam os próprios
passos, sua respiração pesada, e também o crescente som de seu coração batendo.
Correndo entre as colunas de concreto, o jovem com jeito de gângster gritou.
“...Mer... merd... merda! Merda! Puta merda! Eu vou morrer!”
Embora a raiva não aparecesse mais nos olhos do jovem, as palavras que saiam de sua
boca demonstravam medo.
Até este momento, a tatuagem em sua nuca representava o medo de seus oponentes.
Agora, a tatuagem estava distorcida com o medo do próprio gângster. Então, a

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tatuagem azul que fizera sem pensar duas vezes--- foi carimbada por uma bota negra.

♂♀

«Já faz um bom tempo que se ouve falar disso, como se fosse uma lenda urbana.
Quando os celulares passaram a ter câmeras, muitas pessoas tiraram fotos e num
instante virou sucesso»
[ Ah, eu conheço essa. Mas não é lenda urbana nem nada. Parece que é só uma gangue
de motociclistas1. Embora ele não corra em grupo ]
«Sendo um motoqueiro e correr com os faróis apagados me parece uma tremenda
idiotice»
«Isto é, se ele for humano»
【Não vejo onde você quer chegar...】
«Ah, bem... Na verdade ele parece mais um monstro!»

♂♀

Com um som desagradável, o corpo do gângster desenhou uma meia-lua no ar. O


gângster atingiu o chão de lado e, mesmo sem estar completamente consciente, se
debateu desesperadamente. Apesar de o ar estar frio, seu corpo inteiro estava
dormente, bloqueando o frio do asfalto. Sentindo como se estivesse em um pesadelo,
correndo cegamente, o homem olha pra trás e vê que a fonte de seus medos o estava
seguindo.
O que havia ali era uma sombra humana. --- Não havia outra palavra, era sem dúvida
uma 『Sombra』.
O corpo inteiro estava coberto de um traje preto de motociclista, não havia nenhum
detalhe ou emblema desnecessário, parecia que o traje preto havia sido mergulhado
em uma tinta ainda mais escura. Se não fosse pelo reflexo das luzes fluorescentes do
estacionamento, ele provavelmente nem notaria que havia algo ali.
A parte mais estranha era do pescoço para cima. Ali havia um capacete com um design
peculiar. Em contraste com a parte de baixo absolutamente preta, o formato e desenho
do capacete se completavam de forma artística. Ainda assim, não passava uma
impressão tão forte quanto a roupa negra.
O visor do capacete era negro, como os vidros espelhados de carros de luxo. Era
possível ver o reflexo distorcido da luz fluorescente, mas nada se podia dizer da
expressão debaixo do capacete.
“...”
A sombra expirava silêncio, como se nem estivesse viva. Ao ver isso, o rosto do homem
mudou para uma expressão que mistura medo com ódio.
“E... e... Eu não me lembro de ter irritado um Terminator!!”
Normalmente isso seria encarado como uma piada, mas naquele momento, o homem

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não estava com espírito para brincadeiras.
“Fa... Fale alguma coisa! Quem é você? Que diabos é você?!”
Para o homem, aquela existência era completamente incompreensível. Como de
costume, eles se encontrariam no estacionamento, fariam o 『trabalho』 fácil e iriam
embora. O trabalho era entregar as 『 mercadorias』 para o cliente e ir coletar mais
『mercadorias』. Apenas isso. Não havia nada fora do normal. O que teria acontecido
de errado? Por que esse monstro apareceu?

Esta noite também, o homem e seus 『 colegas de trabalho 』 estavam realizando a


operação de sempre.
Porém, --- tudo foi por água abaixo sem nenhum aviso.
Quando eles estavam na entrada do estacionamento, esperando por um colega
atrasado, --- aquela criatura de repente apareceu. A moto passou pela entrada sem
fazer nenhum barulho e parou a cerca de 10 metros de onde eles estavam.
Ao observar a situação, o homem e seus colegas perceberam diversas anormalidades
naquilo.
Para começar, --- a moto literalmente não fez barulho algum quando passou. Os pneus
talvez tenham cantado um pouco, mas não se escutava som algum de motor. É claro
que havia a possibilidade de o motorista ter se desligado o motor antes, e ter chegado
ali só com a inércia, mas ainda assim, nenhum dos homens ouviu nada.
Além disso, tanto a moto quanto o motorista eram completamente negros. Não só o
motor e o câmbio, até as rodas eram completamente negras. Não havia faróis e onde
deveria estar a placa, havia apenas uma placa negra de metal. Foram necessárias as
luzes da rua e do luar para conseguir identificar que aquilo era realmente uma moto.
Porém, --- sem dúvida o mais estranho de tudo era o enorme objeto que o motorista
carregava em sua mão direita. Era praticamente do seu próprio tamanho, e de sua
ponta não parava de pingar um líquido opaco.
“Koji... ?”
Um dos colegas se deu conta da identidade daquele objeto. Nesse instante, o
motoqueiro soltou aquilo, ou melhor 『ele』 no asfalto, virado para cima.
Aquele era o 『colega』 que havia se atrasado. Seus olhos estavam roxos e sangue não
parava de escorrer de seu nariz e boca.
“Sem chance!”
“Quem diabos é você?”
Apesar de sentirem a atmosfera sinistra, nenhum deles sentia medo naquele
momento. E também nenhum deles sentiu raiva pelo colega chamado Koji ter sido
espancado. Eles eram apenas colegas de trabalho, nada além disso.
“Que foi, que foi? Que cê quer?”
O homem que parecia o mais privado intelectualmente, que vestia uma jaqueta, deu
um passo em direção ao motoqueiro. Um oponente contra 5 pessoas. A vantagem
numérica fez com que o jovem ficasse ainda mais arrogante. Mas ao chegar na moto, a
situação logo mudou para um confronto um-a-um. Além disso, o único que se deu conta

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desse fato era a sombra em cima da moto.
“...”
Crash.
Som desagradável. Ecoou um som extremamente desagradável. O som ultrapassou o
limite do preocupante, fazendo com que todos sentissem o 『perigo』.
Ao mesmo tempo, o homem da jaqueta caiu de joelhos. E desse jeito, caiu com a cara
no asfalto.
“Quê?”
Como era de se esperar, os homens ficaram todos tensos e olharam ao seu redor, como
quando no meio de um serviço. A conclusão é de não havia ninguém em volta, e o
inimigo era aquela moto na frente deles. Então, --- a 『Sombra』 lentamente colocou
seu pé vestido com uma bota no chão.
Eles definitivamente viram o pé abaixar. Isso quer dizer que ele devia estar no ar
antes. Então, aqueles com melhor visão puderam ver algo a mais.
Debaixo da bota estavam os óculos que o homem da jaqueta usava.
Vendo isso eles entenderam a situação.
--- A sombra havia levantado a perna e, sem descer da moto, dado um chute no homem
da jaqueta.
Se eles pudessem ver o rosto do homem, iriam ver seu nariz quebrado. Ou seja, a
『 Sombra 』 chutou o homem na distância exata para que a sola áspera de sua bota
atingisse o nariz do homem e o torcesse.
Porém, pelo ângulo em que estavam, não havia como os homens terem visto isso. A
razão pela qual o homem havia sido chutado de frente e caído com a cara para baixo,
metade deles tentou entender, enquanto a outra metade nem pensou no assunto e
pegou os cassetetes que tinham na cintura.
“Isso... o que foi que aconteceu? Quer dizer, como ele fez isso...?”
Passando pelo lado de um dos homens que estava confuso, dois dos colegas foram em
direção à moto e um falou com a voz irritada.
“Ah, ei!”
Quando o homem estava prestes a dizer algo, a sombra desceu da moto sem fazer um
ruído sequer. O vidro os óculos fez um leve barulho e a sombra se aproximava de forma
graciosa, sem falar nada ou mostrar expressão alguma. A forma que ela se
movimentava era realmente elegante, como se fosse realmente uma 『 Sombra 』 em
forma humana.
A partir daí, a cena que ficou na memória dos gângsters parecia estar em slowmotion.
Talvez fosse porque o que aconteceu fosse extremamente fora da realidade, ou talvez
porque o senso de perigo tenha feito com que a concentração deles aumentasse.
Um dos homens atingiu a 『Sombra』 com uma arma de choque.
--- Hein? Uma jaqueta de couro conduz eletricidade?
Enquanto o homem pensava nisso, todo corpo da 『 Sombra 』 se contorcia no chão.
Parece que conduz eletricidade sim. Acabou.

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Já tranquilo, o homem usou a arma de choque mais uma vez, mas no instante seguinte
a tranquilidade foi destruída. Ainda com seu corpo tremendo do choque, a sombra, com
um movimento brusco, alcançou o cassetete ao lado da arma de choque.
“Argh!”
Ao contrário da 『 Sombra 』 que tremeu continuamente com choque, o homem do
cassetete sacudiu apenas uma vez e caiu no chão.
“Seu filho da...”
Ao perceber que a 『 Sombra 』 ia em sua direção, o homem da arma de choque
imediatamente a desligou. Mas isso não adiantou, e a 『Sombra』 o pegou com força
pelo seu pescoço.
Em pânico, ele começou a debater seus braços e pernas, mas a 『Sombra』 não aliviou
nem um pouco sua força.
Mesmo batendo nas pernas e canelas, as únicas coisas que o capacete emanava eram
silêncio e escuridão.
“G... Gah!!”
O homem foi estrangulado até seus olhos revirarem e, assim como o homem do
cassetete, caiu no chão.
--- Isso não é bom, não estou entendendo o que aconteceu, mas isso não é bom. Mesmo
eu não tendo feito nada, se incluir o Koji, 4 de nós 6 já eram. Mais do que o fato de ser
patético, era a anormalidade daquela existência que fez com que o gângster ficasse
com medo.
“Então você sabe lutar, é?”
Ao contrário do gângster, o homem a sua direita murmurou calmamente.
“Ga-san”
Ao ouvir o murmúrio, o gângster chamou aquele homem com um fio de esperança. O
que se podia dizer líder dos 『 colegas 』 , o homem chamado Ga-san, observou a
『 Sombra 』 sem se mover. Não havia terror em seus olhos, mas ele também não
estava completamente composto. Ga-san tirou uma faca do bolso do paletó e se
aproximou da 『Sombra』. Então cautelosamente, encarou a 『Sombra』 e falou.
“Não sei o que você está querendo... Mas tanto faz já que você vai morrer se for
apunhalado”
Ele girou a faca em sua mão. Não era uma faca de cozinha pequena, mas sim uma
grande, do tipo que se veria em um mangá. A empunhadura cabia perfeitamente na
mão, e a lâmina, praticamente do mesmo tamanho, brilhava afiada.
“Se tem uma coisa que aprendi é que não adianta lutar desarmado... O quê?!”
As provocações pararam imediatamente diante das ações da 『Sombra』.
A 『 Sombra 』 se inclinou um pouco para frente e pegou dois objetos do chão. Esses
objetos eram --- o cassetete e a arma de choque de seus 『colegas』.
“...”
“...”
Na mão direita estava a arma de choque. Na esquerda o cassetete Uma forma bem

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incomum de dual-wield.
Para piorar, o quieto estacionamento, por um breve momento, ficou envolto em silêncio
absoluto.
O que quebrou esse silêncio foi a pergunta que o líder fez murmurando.
“Eh? ... Você tá de brincadeira né? Não é estranho? Você não ia vir mano-a-mano?”
Se fossem só as palavras, poderia parecer uma piada, mas a tensão em sua voz era
óbvia. ‘Teria sido melhor termos nós quatro atacado juntos’. Mesmo pensando isso, ele
sabia que seria mal visto se desistisse agora.
O gângster que olhava de trás não deu um passo sequer. Se o oponente fosse uma
gangue ou a polícia, ele já teria entrado na briga sem nem pensar. Na verdade, nesse
caso os quatro teriam os cercado desde o começo.
Porém, --- aquilo que estava na frente de seus olhos era bizarro demais. Por isso ele
não conseguia reagir como de costume. O que havia ali com certeza não passava de um
humano com roupa e motoqueiro. Porém a aura que ele transmitia era estranha, o que
fez com que o gângster sentisse como se estivesse perdido em outro planeta. Sabendo
ou não do desconforto do gângster, o líder resmungou entre os dentes.
“Que sujeira! Mesmo aqui não tendo nada além de uma faca! Não tem vergonha não,
seu maldito!”
Permanecendo sem falar nada, apesar dos protestos, a 『Sombra』 foi em silêncio na
direção do líder.
E então, --- no instante seguinte aquilo se materializou na frente do gângster.

♂♀

«Quem monta na Moto Negra não é humano»


【Então é o que?】
[ Apenas um idiota qualquer ]
«Dotachin diz que deve ser um Deus-da-Morte»
【Dotachin?】
«Na verdade eu já vi também. Aquela moto perseguindo uma pessoa»
【Quem é Dotachin?】
[ Avisou a polícia? ]
«Como eu posso dizer, não é normal alguém andar com algo como aquilo»
【... Me ignorando? Quem é Dotachin?!】
«No começo eu não tinha entendido, mas saiu do corpo dele---»
【...】

【?】
【Kanra? O que aconteceu?】

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[ Parece que caiu ]
【Hein? Essa não, justo no meio da conversa! O que saiu do corpo dele?!
【E afinal, quem é Dotachin---?!】

♂♀

“...?”
A 『Sombra』 se movia de forma estranha em frente ao gângster e ao líder.
Ela colocou a arma de choque, que há pouco obtivera, cuidadosamente em cima do
banco da moto.
--- Então era realmente difícil usar duas armas ao mesmo tempo.
Foi essa a conclusão do gângster, mas no instante seguinte a 『Sombra 』 segurou o
cassetete com as duas mãos ---
E o torceu como se fosse feito de papel.
“Quê...?”
Ao verem isso, como era de se esperar, os dois apresentaram a mesma expressão de
espanto. Que truque foi usado para fazer isso? O corpo da 『 Sombra 』 era do tipo
esguio, não se poderia imaginar que ela teria esse tipo de força.
Mesmo que com isso a 『 Sombra 』 tenha ficado sem arma --- a preocupação dos
gângsters aumentava à medida que seu senso de realidade dissipava.
Frente à 『Sombra』 desarmada, o gângster se colocou ao lado da cerca, com o cano de
metal em mãos. Ao ver a ação de seu colega, o líder mais uma vez assumiu sua postura
segurando a faca.
Os dois suaram frio. E essa era a única sensação que os mantinha conscientes à
realidade à sua frente.
“Que é isso...? Está nos ameaçando?”
O líder tentou puxar conversa fiada enquanto via o bastão retorcido--- mas uma gota
de suor caiu em sua boca, que ele engoliu sonoramente. Já o gângster nem se atreveu a
olhar, ele apenas segurou o cano de ferro com mais força, respirando pesadamente.
Escutando sua própria respiração, o gângster logo percebeu que suas pernas, costas e
dentes estavam tremendo. Parece que a performance exagerada teve um ótimo efeito
como 『ameaça』.
Como se quisesse conferir suas expressões de perto, a 『 Sombra 』 silenciosamente
começou a ir naquela direção.
“Finalmente desarmado, tenho que admirar sua coragem.”
Ao contrário do gângster que fora intimidado, o líder parecia agora estar decidido.
Seus olhos brilhavam e, com faca em punhos, se aproximou da 『Sombra』.
Estavam a 3 metros de distância. Mais dois passos e estaria ao alcance da faca.
Ga-san é o tipo de pessoa que atacaria no momento certo.
Sabendo disso, o gângster pensou em ajudá-lo e foi atrás dele, empunhando o cano de

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metal.
O líder deu um passo à frente e sua hostilidade se transformou claramente em um
instinto assassino. E com este instinto assassino no máximo, ele apunhalou seu
oponente. Sabendo que Ga-san era um homem capaz de fazer isso, o gângster se
acalmou e foi capaz de lhe dar suporte. Naquele momento não havia nenhum
impedimento moral ao assassinato, pelo menos contra aquela irreal 『 Sombra 』 ,
talvez não houvesse consciência alguma de se estar matando uma pessoa.
Ao vislumbrar a chance de vitória no instinto assassino do colega, o gângster mais
uma vez segurou com firmeza o cano de ferro.
Porém, --- no instante seguinte tanto a chance de vitória quanto o instinto assassinos
foram desintegrados.
O que parecia ser a 『Sombra』 tentando alcançar suas costas, era seu próprio corpo
inchando.
A impressão era de que a fumaça se movia por conta própria. Dentro das luvas negras
da 『Sombra』 negra, havia uma massa em formato de cobra.
Como um pincel cheio de tinta sendo colocado num balde de água, o fluído preto fez
sua estranha e vívida aparição. Em algum tempo esse movimento cessou--- em um
objeto extremamente negro com uma forma definida.
Ao ver isso dentre a iluminação da rua, finalmente os dois tiveram prova de que seu
oponente não era humano. Era impossível não notar.
Aquela massa preta que se separava do corpo da 『Sombra』 se acumulava em torno
de seu corpo. Era como se o couro da roupa de motoqueiro se dissolvesse, e por conta
disso, tudo, com exceção do capacete, parecia esfumaçado.
Os dois foram finalmente privados da realidade, e com isso suas cabeças ficavam cada
vez mais confusas. Sem ter mais chance alguma de fugir, seus corpos voltaram ao
plano anterior. O líder manteve uma expressão de como se estivesse no meio de um
pesadelo e retraiu a faca que estava apontada para a 『 Sombra 』 . Em um segundo
assumiu uma postura e, assim mesmo, saiu em disparada mirando a faca na
『Sombra』, mas---
Sem que a lâmina alcançasse a sombra, a faca voou de suas mãos. Embora não tenha
derrubado a faca, ele perdeu o equilíbrio, abrindo uma oportunidade para ser atacado.
“!?”
A massa que derrubara a faca era visível dentro da escuridão.

Aquilo era completamente preto. Mais negro que a mais profunda escuridão. Ele
absorvia toda a luz a seu redor, parecia se mover como um ser vivo. Esse objeto, criado
por aquela ondulação negra, era aterrorizante demais para o Japão de agora.
No entanto, com a 『Sombra』de roupa de motociclista o segurando, o objeto parecia
se adaptar ao cenário.
O objeto que aparecia nas mãos da 『Sombra』 mergulhava na escuridão e, para quem
via, tinha uma conexão devastadora com a 『morte』.
Praticamente do mesmo tamanho da altura da própria 『Sombra』--- era uma enorme
foice de dois gumes.

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♂♀

--- Kanra entrou na sala ----


«Caí! Minha conexão está ruim hoje, então já já vou dormir-»
[Noite-]
【E a continuação da conversa? Quem é Dotachin?】
«Fica pra próxima! Hehehe, só mais uma coisinha»

♂♀

Então, --- finalmente o gângster foi encurralado.


De repente não havia mais lugar para se fugir no estacionamento.
Ele não tinha a menor ideia do que tinha acontecido com o líder. Depois de ver aquela
cena surreal isso não o perturbava. Porém, ele ainda não havia visto aquela enorme
foice. Ele tinha certeza que a cena que vira era uma ilusão, mas logo percebeu que
independente disso, isso não mudaria sua situação, então logo descartou esse
pensamento.
Um forte chute atingiu sua nuca. Fez um barulho de osso quebrando, mas sua coluna
parecia estar bem. Porém, --- uma aguda dor nos ombros pareciam se concentrar no
início do pescoço.
Mas, neste momento, isso era algo trivial para o gângster.
“Ei, hum, espere um pouco, por favor... por favor... p-p-por f-favor e-espere um pouco”
As palavras que saiam de sua boca eram da polidez de um perdedor.
Ele finalmente percebeu a situação em que estava. Para ser sincero, ainda havia uma
inquietante sensação de se estar no meio de um sonho, mas seus instintos fizeram o
medo emergir.
Mas ele ainda não entendia. Nem o que era a 『Sombra』 nem o porquê deles terem se
encontrado.
A maior probabilidade é de que fosse relacionado ao 『trabalho』. Definitivamente era
um trabalho perigoso, e as chances de se fazer inimigos eram altas. Porém, nesse caso,
seus 『 inimigos 』 seriam a polícia e gangues, ou ainda os alvos do trabalho,
imigrantes ilegais ou crianças que fugiram de casa.
Para esses casos eles estavam preparados, e tomavam medidas para evitar esses
problemas. Mas a 『 Sombra 』 com roupa de motociclista a sua frente saia
completamente dessas possibilidades, e ele não tinha a menor ideia de como lidar com
aquilo. A melhor ideia que teve foi fugir, mas isso era inviável por estar encurralado.
As únicas opções que o gângster via eram ou morrer com honra ou se render, mas sem
saber os motivos de seu oponente ele não podia escolher. Mas sentindo que os motivos

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não fariam diferença alguma, ele adotou a postura e voz mais humildes que conseguiu,
mesmo tendo passado pela sua cabeça não ser capaz de falar por causa do medo.
“E-esper... Você deve ter se enganado, eu não vou fazer nada, me perdoe, por favor,
sinto muito, sinto muito!”
Seu corpo ficou todo arrepiado, como se, de repente, tivessem apontando uma arma em
sua cabeça.
A 『 Sombra 』 assistiu em silêncio ao gângster se comportar completamente fora do
seu padrão. Ela olhou ao redor como se estivesse procurando por algo--- e
repentinamente deu as costas ao gângster, indo em direção a um furgão do
estacionamento.
São vistos muitos veículos desse tipo perto da Estação de Ikebukuro à noite e, com
vidros escuros na parte de trás, é impossível ver qualquer coisa pelo lado de fora.
Como se pudesse ver através do vidro espelhado, a 『 Sombra 』 se aproximou do
furgão.
------ Ah? ------ Hein!? Droga!
Era sem dúvidas o carro que o gângster usava no 『 trabalho 』 . Ele não sabia os
motivos de seu oponente, mas com isso era óbvio que a 『Sombra』tinha vindo atrás
deles. Além disso, mesmo havendo vários carros ali, ela foi sem hesitar em direção ao
furgão deles.
----- Ei, espera, isso não é bom, isso não é bom!
Ao ver a ação da 『 Sombra 』 , por um instante o gângster esfriou a cabeça. Até o
momento, todo seu medo era em relação à própria 『Sombra』, mas surgiu um medo
por um motivo completamente diferente.
------ Ahhhh, ahh, ahhhhh, ‘pera aí, pare, pare, espera! Caso... caso o que tem dentro
daquele furgão seja visto, nós já éramos. Droga, o que eu faço? O que eu faço? Merda
merda merda merda merda ---- qual é o problema, qual o problema desse cara?
Dentro da cabeça do gângster dois medos se uniram.
O medo do desconhecido e o da realidade cruel.
------ Caso vejam o que tem no furgão, a polícia não é nada: vão me matar!
Imaginando seu próprio corpo enterrado no Mar de Árvores2 do Monte Fuji, as pernas
do gângster enfraqueceram mais ainda.
------ Pense, pense, alguma forma de matar esse motoqueiro mascarado------
Superando seu medo pela 『 Sombra 』 de uma forma perversa, o gângster
desesperadamente pensava em algum plano para sair daquela situação.
E refletido em seus olhos estava seu próprio conversível, no qual ele viera para o
encontro.

Faltando 10 metros para chegar ao furgão que queria, a 『Sombra』 parou.


Houve um leve som de porta de carro abrindo e fechando. Ao mesmo tempo em que ele
notou e olhava para trás, um forte ruído de motor ecoou por todo o estacionamento.
“...”

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A 『Sombra』 completamente virada pôde ver um conversível vermelho correndo em
sua direção. O carro acelerou mais do que parecia ser possível. A 『 Sombra 』 não
tinha nem tempo de se esconder atrás de uma coluna.
Após hesitar por um momento, a 『 Sombra 』 correu na direção oposta ao furgão ao
qual se dirigia.
Ela pretendia ir de encontro ao carro e, no último instante, pular para o lado, mas o
gângster, cuja concentração estava aguçada pelo terror, percebeu sua intenção. No
momento em que a 『Sombra』 se curvou um pouco, o gângster virou o volante.
Som de batida.
E então, a 『Sombra』se torceu no ar.
E com um ruído, a 『Sombra』 caiu de forma desajeitada no asfalto.
“Issssooooooo! Toma essa! To-ma es-sa! Bem que você merecia, seu filho da puta!”
Satisfeito com o impacto, que se podia sentir em todo o carro, o gângster o desacelerou.
Sem esperar o carro parar completamente, ele se jogou pra fora e deu o golpe final com
o cano de ferro, mas------
“!?”
Longe de onde a 『Sombra』 havia caído, na sua frente havia um objeto preto.
Por seu design único não havia dúvidas de que era o capacete que a 『Sombra』 vestia
até pouco tempo.
Mas o que surpreendeu o gângster não foi o capacete ---- mas o corpo da 『Sombra』
que o estava usando.
“A ca... a cabeça...”
No lugar em que deveria estar a cabeça, naquele corpo não havia nada.
------ Caiu com a colisão!? Não pode ser mentira assassinato
eu foi legítima defesa mas não por que
espera um pouco espera espera um pouco
Sendo atacado seguidamente por situações anormais. A confusão no cérebro do
gângster chegou ao seu limite.
Por causa disso ele não percebeu.
Que não havia sequer uma gota de sangue no corpo supostamente decapitado.

♂♀

«O homem que monta na Moto Negra ------- não tem cabeça»

♂♀

O gângster cuidadosamente se aproximou do corpo sem cabeça ---


Sem nenhum aviso, a 『Sombra』 sem cabeça se levantou.

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♂♀

«Não tem cabeça mas ainda assim se move»


«Boa noite, então»
------ Kanra desconectou-se ------

♂♀

“Aaaahhhhhhhh!?”
Diante da mudança para o pior, o que o gângster sentiu mais não foi medo, mas sim
perplexidade.

Truque de mágica? Fantasia? Robô?


Disfarce? Holograma?
Sonho? Ilusão? Delírio? Artifício?

As diversas palavras pairaram sobre sua mente, mas se dissolveram como uma bolha
antes de ele poder pensar profundamente.
O que deveria ser mais surpreendente é alguém sair sem ferida alguma depois de ter
sido mandado pelos ares por um carro, mas o gângster não estava em condições de
reparar nisso.
E então ---- assim como antes, uma fumaça negra saia das costas da 『 Sombra 』 ,
materializando-se em uma enorme foice.
A perplexidade começava a se transformar em medo, o gângster estava prestes a soltar
um grito de desespero.
Mal o grito começou e o gângster pôde sentir um golpe em sua garganta.
E o mundo do gângster entrou em black-out.

♂♀

MP3 【Ei, Setton. Eu queria confirmar uma coisa com você】


MP [ Pode dizer ]
MP [ O que é? Alguma coisa que s outros não podem ver? ]
MP 【A Kanra diz muitas coisas sem noção, não?】
MP [ Eu diria que passa do limite de “sem noção” ]
MP 【 lol também não tanto. Se bem que foi a Kanra quem me convidou pra esse

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chat】
MP [ Eu também. Ela pode se deixar levar muitas vezes, mas é impossível odiar ]
MP 【Além disso, ela sabe de muitas coisas que nós não sabemos】
MP [ Só não sei até onde é verdade. Ah, deixa eu te dar só um conselho]

MP [ É sobre a Moto Negra que anda pela cidade]


MP [ É melhor não se envolver muito ]
MP [ Bem, boa noite ]

------ Setton desconectou-se ------

MP 【Hein】
MP 【Ah, já saiu. Boa noite】
MP 【Ah, que seja】

------ Tarou Tanaka desconectou-se ------

♂♀

O Motoqueiro Sem-Cabeça pegou o capacete do chão e o colocou em seu pescoço escuro.


Saiu um pouco de fumaça do seu pescoço, como se o capacete tivesse se fundido com a
parte de baixo.
Como se nada tivesse acontecido, o Motoqueiro Sem-Cabeça virou seu corpo e
continuou em direção ao furgão sem fazer um ruído sequer.
Na entrada no estacionamento ---- o Motoqueiro Sem-Cabeça, tendo completado seus
objetivos, silenciosamente deixou o lugar. Na rua ainda estavam alguns homens
caídos, então não havia passado ninguém por ali. Ou quem passou fingiu que não viu.
Os motores da Moto Negra roncaram, como se estivesse dando as boas vindas ao dono.
Roncaram mesmo não fazendo barulho algum quando estivesse correndo e que a chave
não estivesse na ignição.
Ao vê-lo, o Motoqueiro Sem-Cabeça o afagou como se fosse seu corcel favorito. E como
se estivesse satisfeito, o motor se silenciou, e o Motoqueiro Sem-Cabeça, sem fazer
nenhum som, colocou-se em cima do assento
Então, a máquina sem faróis correu com seu dono sem-cabeça.
O céu estava sem estrelas.
Sem som algum, era como se estivessem se fundido com a escuridão.

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Capítulo 2 – O Motoqueiro Sem-cabeça – Visão Externa

Tóquio Distrito de Toushima Estação de Ikebukuro Linha Toubu-Toujou •


Em frente às catracas da entrada central

“Quero voltar pra casa...”


O garoto murmurou.
Comparado com o turbilhão de sentimentos complexos que sentia, esta era uma frase
extremamente simples. Mas não havia alguma outra frase para expressar o que ele
sentia no momento.
O que mais aparecia em sua visão eram pessoas. Pessoas, pessoas, pessoas. E mais
pessoas. Resumindo, pessoas. Sem fazer absolutamente nada, pessoas invadiam sua
visão. Eram 6 e pouco da tarde, a hora em que a estação se enchia de trabalhadores e
estudantes voltando para casa. Mesmo ainda não sendo o auge do movimento, já era
possível sentir uma densidade suficiente de pessoas naquela 『multidão』.
No amplo subsolo repleto de pessoas --- no centro de Ikebukuro, no meio daquela
atmosfera cheia de pessoas, o garoto quase esqueceu seu objetivo.
Um homem, que parecia ser um escriturário, bateu o ombro no seu. Instintivamente, o
garoto foi se desculpar, mas o homem continuou a andar, sem dar a mínima atenção
para sua existência. O garoto abaixou a cabeça e, hesitando, disse “De, desculpe!”. Ele
se afastou das catracas e se apoiou em uma coluna.
O garoto, ---- Mikado Ryuugamine1 sentiu um frio na barriga por sua ansiedade. Em
contraste com seu nome de nobre2, sua expressão mostrava fragilidade e
constrangimento.
A convite de um velho amigo, pela primeira vez ele veio a Ikebukuro. Para ser mais
preciso, não apenas Ikebukuro, mas em seus 16 anos de vida, era a primeira vez ele
punha seus pés em Tóquio.
Ele nunca havia saíido de sua cidade natal. Ele também não fora na excursão de sua
escola de ensino fundamental. Sabendo que essa situação não era boa, --- ele decidiu ir
para uma escola particular no Distrito de Toushima. Era uma escola construída há
poucos anos, mas que já se enquadrava entre as melhores de Tóquio, e se orgulhava de
suas instalações. Ele tinha a alternativa de ir na escola de sua cidade natal, mas ele
sempre quis ir na cidade grande e, além disso, seu amigo, que havia se transferido
ainda no sexto ano, o convidou.
Mesmo ele tendo se transferindo, nessa época Mikado já tinha equipamento para
internet instalado, e todo dia eles se falavam via chat. O fato de eles não se verem não
causava nenhum tipo de estranheza.
Mas os pais de Mikado, que não estavam acostumados com a internet, não estavam
nada felizes em deixar seu filho ir para capital porque “um amigo que não via há
quatro anos o convidara”. Além disso, eles pretendiam que o filho estudasse na escola
pública da cidade deles, com despesas escolares menores. Apesar de os pais serem
contra, ele conseguiu os convencer dizendo que arcaria com os custos de moradia
trabalhando em meio-período. Então, a partir da primavera um novo mundo se abriria

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para ele, mas---
“Será que fiz a escolha certa...?”
Ao contrário do grupo de pessoas que ignorava sua existência, ele se sentia sufocado.
Ele sabia que era uma sensação criada por suas próprias ilusões, mas ele não sabia se
seria capaz de dominar sua ansiedade.
Quando ele suspirava pela quinta vez, ouviu uma voz desconhecida o chamar.
“Ei, Mikado!”
“!?”
Levantando seu rosto apavorado, ele viu um jovem com cabelo loiro. Seu rosto ainda
tinha algo de infantil, destoando do seu cabelo e piercing.
Mikado tremeu achando que estava sendo vítima de extorsão ou de uma fraude, mas
ao perceber que o jovem o chamara pelo nome, olhou mais uma vez para seu rosto.
Então, Mkado percebeu os vestígios do seu amigo de infância naquele rosto.
“Uh, hein... Kida?”
“Primeira pergunta. Escolha a resposta correta entre as três alternativas a seguir: 1
Masaomi Kida 2 Masaomi Kida 3 Masaomi Kida.”
Ao escutar isso, Mikado sorriu pela primeira vez após chegar em Ikebukuro.
“Ahh, Kida! É você mesmo?”
“A piada que eu levei três anos para fazer foi completamente ignorada... Quanto temp,
cara!”
“Nos falamos ainda ontem no chat... Mas você mudou completamente! Nem sabia que
tinha pintado o cabelo! A propósito, a piada foi horrível.”
Mesmo conversando todo dia, ele não sabia da mudança no cabelo. A voz também
tinha ficado mais grave, não foi à toa que ele não a reconheceu.
Masaomi Kida riu de forma meio tímida e repondeu as palavras do Mikado.
“Também, já faz quatro anos. Mas também, você não mudou nada, Mikado. Não
mudou absolutamente nada desde a escola... e não fale que a piada foi horrível como se
não fosse nada demais.”
Masaomi afagou a cabeça de Mikado-cara-de-bebê enquanto falava.
“Ah, pare! De qualquer forma, está no mesmo nível das piadas que vocês faz no chat...”
Mikado se apressou para afastar a mão, embora realmente não desgostasse daquilo.
Desde a escola e até mesmo no chat, sempre foi Masaomi quem o arrastava, e Mikado
também não via problema com isso.
Após sua revange, Masaomi começou a andar entre a multidão.
“Então vamos lá. Pra começar vamos sair daqui. Estou com o humor de ‘ir a oeste’. Eu
finjo estar indo pra saída oeste, mas na verdade estamos indo na direção da saída de
Seibu. Sou um guia trapaceiro, não sou?”
“É mesmo? Qual a diferença da saída oeste pra saída de Seibu?”
“... lá se foi minha piada.”
O pânico à multidão do Mikado diminui enquanto andava junto com o Masaomi.

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Andar nesta cidade com alguém, ainda mais um velho conhecido, foi suficiente para
mudar a paisagem refletida nos olhos de Mikado.
“Bem, em Ikebukuro, a loja de departamentos Toubu fica na saída oeste, e Seibu 3na
saída leste. ...Ah, merda, por que estou explicando a piada?”
“Talvez por ser um idiota.”
“... Alguém está com a língua afiada.”
Com uma cara azeda, Masaomi suspirou em desistência.
“Ok, hoje vou te perdoar. Então, tem algum lugar que você quer ir?”
“Hun, eu te falei no chat da Sunshine...”
“Agora? .... Bem, eu não me importo, mas seria melhor ir com uma garota.”
Sunshine 60 é famosa por ter sido o edifício mais alto do Japão. Mesmo não abrigando
mais a Corte de Tóquio ou Landmark, com seus aquários e parques de diversões, como
Nanjaland, ela fica lotada de estudantes e famílias nos feriados e fins-de-semana.
Mesmo sentindo que estava apenas seguindo o que era moda, Mikado não consegiu
pensar em nenhum outro lugar. Só havia mais um lugar que ele conhecia de uma
famosa série da televisão...
“Bem, tem o Ikebukuro West Gate Park.”
“Ei, eu também vi essa série. Tenho até os livros e mangás!”
“Ah, não estou falando da série, mas do Ikebukuro West Gate Park em si.”
Ao ouvir isso, Masaomi olhou confuso por um momento e em seguida deu um sorriso
de satisfação.
“Mas chame de ‘Parque do Portão Oeste’ normalmente!”
“Hein, mas ... os Ikebukurenses não falam assim?”
“O que é um ‘Ikebukurense’? Ah, você quer ir?”
Ao ver Masaomi parar, Mikado negou com a cabeça.
“De-deixa pra lá! Já é de noite não!? Vamos ser atacados pelas Color Gangs!”
“Por favor, não fale isso com uma cara séria! Além disso ainda são 6 horas. Realmente,
você continua covarde como sempre.”
Masaomi deu um sorriso de reprovação e continuou levando o Mikado pela multidão.
Comparado à entrada das catracas, o número de pessoas havia diminuído, mas para
alguém como Mikado que não estava acostumado a andar assim, era bastante difícil
andar sem se bater.
“Ultimamente tem poucas Color Gangs. Ano passado elas chamavam a atenção, mas
teve uma disputa em Saitama e umas 10 pessoas foram presas. Desde então, mesmo
que apareçam grupos vestindo a mesma cor de roupa, a polícia logo aparece. E além
dsso, mesmo sendo noite, eles não vão fazer nada muito exibicionista até que a maioria
dos trabalhadores tenha voltado para casa. Ah, mas a história é outra no caso de
grandes reuniões de Gangues de Motoqueiros. Elas não acontecem em Ikebukuro, mas
aparecem nas revistas notícias de conflitos com a polícia.”
“Gangue de Motoqueiros!”

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“Como eu disse, a essa hora e na frente da estação não vai acontecer nada.”
Ao ouvir isso, Mikado suspirou aliviado.
“Então Ikebukuro é segura agora?”
“Também não posso dizer isso, eu só sei de parte dos fatos então não sei a situação com
exatidão. Também, além de Color Gangs e Gangues de Motoqueiros podem aparecer
outros grupos perigosos. E mesmo entre as pessoas normais, tem pessoas contra as
quais você definitivamente não deve se opor ... mas você não é o tipo de cara que sai
comprando briga. Mas enfim, se você tomar cuidado com golpistas e vendedores
suspeitos, e não se aproximar de caras que pareçam ser de Color Gangs ou Gangues de
Motoqueiros não tem problema.”
“Ok....”
Mikado estava curioso a respeito das 『 pessoas contra as quais você definitivamente
não deve se opor』 mas não insistiu no assunto.
Os dois avançaram por uma passagem estreita no subterrâneo, em direção às escadas
rolantes que levavam para fora.
Mikado olhou a sua volta e viu uma parede repleta de posteres enormes. Havia
propagandas de lojas de jóias e filmes, e até vários com garotas desenhadas em estilo
mangá.
E então, chegando à superfície pela escada rolante, a densidade de pessoas continuava
a mesma, mas o cenário ao redor sofreu uma mudança drástica.
No meio da multidão, havia pessoas com blusões distribuindo panfletos. Tinha os que
distribuiam apenas para mulheres e para homens e mulheres. Dentre os que
distribuiam apenas para homens, alguns selecionavam descaradamente aqueles a
quem entregavam (Mikado foi totalmente ignorado).
Havia diversos tipos de pessoas andando pela cidade: jovens trabalhadores e
trabalhadores administrativos, estudantes colegiais e até mesmo estrangeiros. Mas
não era uma mistura caótica, cada se agrupava com seus companheiros, dando uma
impressão de haver territórios divididos. De vez em quando, uma pessoa saía de um
grupo e chamava uma pessoa de outro. Apagando essa visão, o movimento das pessoas
continuava incessantemente.
Masaomi estava acostumado com essa visão, mas para Mikado era algo totalmente
novo. Nem mesmo a principal rua de comércio de sua cidade era tão movimentada. O
mundo que ele só via na internet e em mangás estava diante de seus olhos.

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Ele disse honestamente como se sentia, e Masaomi respondeu enquanto ria.
“Então na próxima vez vou te levar pra Shinjuku ou Shibuya. Talvez Harajuku
também sirva, vai ser um choque cultural. Ou talvez pra Akiba ... já que a questão é
ter muitas pessoas, que tal eu te levar numa corrida de cavalos?”
“Faço questão de não ir.”
Depois de recusar o convite de Masaomi, sem que ele percebesse haviam chegado em
uma avenida.Os carros trafegavam intensamente pelas faixas da avenida, e acima
dela, havia uma enorme avenida cobrindo o céu.
“Essa rua em cima é uma via expressa da capital. Ah sim, a rua de que viemos é
chamada Rua 60. Tem outra Rua Sunshine, mas o Cinema Shine fica na Rua 60,
cuidado pra não se confundir.Ah, nós passamos por lá antes, devia ter te mostrado.”
“Fica pra outro dia.”
Falando isso, Mikado percebeu que estava apenas prestando atenção nas pessoas,
ignorando completamente as ruas pelas quais passava. Ele provavelmente não iria
conseguir voltar sozinho à Estação.
Esperando um semáforo demorado, Masaomi olhou para trás para a rua de que vieram
e murmurou.
“Hoje nem o Simon nem o Shizuo estavam lá. Yumasaki e Karisawa talvez estejam no
centro de jogos.”
“Quem?”
Ele estava obviamente falando consigo mesmo, mas ao ouvir os nomes das pessoas,
Mikado perguntou sem pensar.
“Ah, hum, Yumasaki e Karisawa são conhecidos meus. Simon e Shizuo ... daquilo que
eu te disse antes, eles são duas pessoas que você não deve fazer de inimigos. Bem, se
você tiver uma vida normal, nem vai falar com Shizuo Heiwajima, mas se o vir o
melhor é correr.”
Pelas palavras de Masaomi, Mikado que ele não considerava 『Shizuo』 uma pessoa
fácil de lidar. Ele não disse nada além disso, então Mikado não perguntou mais ... mas
ele resolveu perguntar diretamente algo que o estava incomodando.
“Pessoas que você não deve fazer de inimigos ... parece coisa de mangá, mas tem
alguém mais?”
Sendo perguntado por um jovem com um rosto inocente, Masaomi olhou para o céu
pensativo e respondeu com uma voz decidida.
“Para começar, eu!”
“... √3 pontos”
“√ !? O que raios é uma √ !? Diga algo mais fácil de entender como -20 pontos! Que
idiota ... Isso quer dizer que minha piada é algo que nem estudantes que não sabem o
que é uma raiz-quadrada iriam gostar!? Droga, mesmo eu tendo acabado de avisar,
você me fez de inimigo! Desde quando seu discernimento é tão ruim! Isso é falta de
disciplina? Uma educação sem disciplina te fez assim!?”
“É um dano irreparável.”

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Sem mudar sua expressão, Mikado concordou com o argumento bobo de Masaomi.
Talvez por ele mesmo perceber como suas piadas estavam ruins, a partir aí Masaomi
passou a responder seriamente as perguntas de Mikado.
“Hun ... não tem ninguém em particular. Nem preciso falar dos yakuza e caras de
gangues ... as pessoas com as quais você não deve se envolver, além dos dois que já
disse tem mais um, Izaya Orihara. Esse cara é perigoso, então definitivamente não se
envolva com ele. Bem, ele vive em Shinjuku, então vocês nem devem se encontrar.”
“Izaya Orihara ... que nome estranho.”
“Olha só quem fala!”
Mikado não podia contra-argumentar contra essa fala, dita entre risos. Dar o nome de
Mikado (Imperador) para um sobrenome como Ryuugamine (Pico dos Dragões) é um
exagero. Realmente, seus ancestrais eram de uma família notável, mas seus pais eram
trabalhadores administrativos comuns. Ele não sabia muito sobre herança ... mas caso
houvesse uma, eles não teriam se oposto tanto à entrada de Mikado em uma escola
particular.
O nome Mikado foi escolhido pensando em um futuro grandioso, mas no Ensino
Fundamental sempre tiravam sarro dele por causa disso. Mas como todos foram se
acostumando com o nome, não chegou no estado de ‘bullying’.
No entanto ... ao contrário da sua antiga escola que tinha apenas uma turma por ano,
ele se encontraria com diversas pessoas pela primeira vez. Nessa situação ele seria
capaz de se mostrar um homem que não se sente constrangido com o próprio nome...?
--- Acho que é impossível.
Percebendo o que ele estava pensando, Masaomi deu continuação à conversa.
“Ah, não se preocupe. Só por ser um nome chamativo não quer dizer que seja ruim. Se
você agir de acordo com o nome Mikado, ninguém vai dizer nada.
“... Hum, obrigado.”
Quando Mikado terminou de responder, o sinal ficou verde.
“Ah sim, aqueles que você não deve fazer de inimigos ... é melhor não se envolver com
um grupo chamado 『Dollars』”
“... Dollars.”
“Ah, Dollars como em ‘one dollars’”
“Mais um exemplo bizarro … mas que tipo de time eles são?”
Mikado, que até o momento estava passivo na conversa, animou-se e puxou o assunto.
“Ah, eu também não sei dos detalhes, mas parece que há vários deles e que se irritam
fácil. É como uma Color Gang, mas não se sabe qual a cor deles. Mas como eu disse,
Color Gangs não podem fazer encontros facilmente agora, então talvez eles também se
desfaçam a qualquer hora.”
“É mesmo...?”
Por algum motivo, essas palavras causaram um clima incômodo enre os dois.
Ainda em silêncio, eles andaram até um semáforo perto de um edifício com um design
peculiar.

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Dentro do prédio havia diversos carros elegantes em exposição, e o próprio edifício
ostentava um bonito design.
Mikado olhava os carros do edifício ... quando de repente ouviu um som estranho.
Num primeiro momento ele achou que fosse algum animal selvagem por perto. Mas
prestando mais atenção, o som vinha da avenida em que os carros circulavam. E
ouvindo mais uma vez, Mikado pôde concluir que era o som de um motor. Realmente
lembrava o som de um animal feroz, mas vindo da avenida só podia ser o som de um
motor de carro ou moto.
Dando uma olhada em Mikado, que havia parado sem perceber, Masaomi mostrou
uma expressão calma e disse.
“Você realmente tem sorte, Mikado”
“Hein?”
“Logo em seu primeiro dia em Tóquio vai poder ver uma lenda urbana com seus
próprios olhos.”
O rosto de Masaomi permanecia sem expressão, mas seus olhos brilhavem de
expectativa.
--- Falando nisso ---
Mikado lembrou das vezes em que Masaomi tinha esse olhar. Quando ele via um
dirigível no céu durante a aula ou quando aparecia um guaxinim perdido no pátio da
escola. Aquele olhar que surgia quando algo fora do comum acontecia.
E quando ele estava pensando em falar alguma coisa ---
Aquele ser apareceu na rente deles.

Montado sobre uma moto escura sem faróis havia uma 『 Sombra 』 com forma
humana.
Ela costurava entre os carros --- e passou na frente dos dois sem fazer som algum.
“!?”
Depois de alguns segundos, o motor roncou de novo. Mas no instante seguinte ficou em
silêncio novamente, havendo apenas o leve som dos pneus no asfalto. Podia-se achar
que o motor havia parado, mas a velocidade da moto não diminuía --- na verdade,
parecia até que estava acelarando.
Era, com certeza, uma existência incomum, e uma sensação surreal ocorria ao se ouvir
o som do motor. Cerca de metade dos que andavam por ali pararam para ver a
『Sombra』 com expressões peplexas.
Então ... Mikado sentiu seu corpo começar a tremer gradualmente.
Não era medo, mas um tipo de entusiasmo que controlava seu corpo inteiro.
--- Vi algo incrível.
Quando um passou pelo outro, Mikado olhou para o fundo do capacete. Ele espiou o
interior, mas como ele não viu nenhum movimento, não conseguiu sentir nenhum
olhar vindo do capacete.

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Era como se ... Não houvesse nada dentro do capacete.

♀♂

Sala de Chat – Meia-noite


--- Tarou Tanaka conectou-se ---
【Boa noite-】
[ Noite- ]
【Ah, Setton, hoje eu vi!】
【A Moto Negra de que falamos!】
[ ? Você está em Ikebukuro, Tarou Tanaka? ]
【Uhum, na verdade a partir de hoje vou morar em Ikebukuro. Me conectei da casa de
um amigo, mas a partir de amanhã já vou morar em um apartamento perto da
estação. Já fechei o contrato com o provedor, então devo conseguir me conectar de
imediato.】
[ Eh, parabéns! Vai morar sozinho? ]
【Isso】
[ É mesmo… Ah, quando você viu a Moto Negra, era em torno das 7 da noite? ]
【Ah, você sabia? Eu vi do lado da Sunshine.】
[ Sim, afinal eu estava lá também. ]
【!?】
【Sério?】
【Uau, a gente deve ter se visto sem saber!】
[ Provavelmente ]
【Uau! Eu deveria ter avisado antes!】
[ Seja bem-vindo a Ikebukuro. Qualquer coisa é só perguntar. ]
【Obrigado!】
【Então já vou te perguntar!】
[ Pode mandar ]
【Você conhece uma pessoa chamada Izaya Orihara?】
【Meu amigo me falou que é melhor não me envolver com ele.】
【Ele é uma pessoa assustadora? Ah, pode ser que você nem conheça, desculpe】
[ ... ]
[ Tarou Tanaka, seu amigo é uma daquelas pessoas? ]

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【Ah não, é um cara normal】
[ Ah sim, desculpe. De qualquer forma é melhor não se envolver com Izaya Orihara.
Ele é problema! ]
« Ah! Boa noite Tanaka!»
【!? Você estava aí, Kanra?】
«Estava no telefone! Ah, acabei de ler o log. Você veio para Tóquio? Parabéns! Que tal
organizarmos um encontro offline?»
【Ah, não se incomode! Se bem que eu gostaria de um encontro offline.】
«É mesmo?»
«Ah sim, por falar em encontro offline, não há grupos online de suicídio?»
[ Ah! ]
[ Ano passado teve vários desses. Pessoas que se encontravam na rede e cometeram
suicídio duplo ]
【Que assunto desagradável】
【Mas ultimamente não tem aparecido muito nas notícias】
[ Vai ver estão conseguindo impedir os suicídios. Ou ainda ninguém mais se
surpreende, então ninguém noticia ]
«Ou ainda, vários suicídios ocorrem, só que ninguém percebe!»
【Hein?】
«Vai ver só não encontraram os corpos»
【Uwaa】
[ Isso foi insensível ]
«Por falar nisso, ultimamente tem vários casos de desaparecimento»
【? Saiu alguma notícia assim?】
«Beeem, a maioria são imigrantes ilegais e crianças que fugiram de casa. Parece que
há muitos casos entre Ikebukuro e Shibuya. Tem até rumores de que são os
『Dollars』 que pegam e comem eles hehehe»
【Ah, os Dollars são bem famosos né】
«Os Dollars são incríveis! Dizem que eles têm negociado com a máfia chinesa e que
aquele incidente que os yakuza foram apunhalhados foram trabalhos dos membros dos
Dollars»
[ Kanra, eu me pergunto onde você consegue essas informações ]
«Eu tenho conhecidos que sabem bastante disso»
【Hung, queria saber mais, mas amanhã tenho que acordar cedo, então vou indo-】
«Ah, bom descanso!»
[ Boa noite, Tarou Tanaka - ]
[ Ah, eu também tenho um compromisso, então boa noite por hoje- ]
【Sinto muito... Ah, na próxima me conte quem é Dotachin, né?】

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【Então até.】
«Ah, então por hoje é isso. Já que ninguém mais vai aparecer»
«Boa noiteee ☆»
--- Tarou Tanaka desconectou-se ---
--- Setton desconectou-se ---
--- Kanra desconectou-se ---

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Capítulo 3 – O Motoqueiro Sem-cabeça – Visão Interna

Rodovia Nacional 254 (Estrada Kawagoe)

--- Eu odeio isso.


O dono da Moto Negra ---- o Motoqueiro Sem-cabeça corria irritado pela rodovia
durante a madrugada.
--- Este deveria ser um trabalho fácil. Foi só mostrar um pouco de misericórdia que sou
atropelada por um carro. Eu deveria tê-lo calado desde o começo.
O Motoqueiro Sem-cabeça aliviou um pouco a aceleração enquanto pensava no seu
『trabalho』.
Sinalizando à esquerda com as mãos ao invés dos faróis, ela entrou em uma rua
estreita. Ela estacionou à entrada da garagem de um condomínio cuja fachada dava
para a rodovia e desceu da moto afagando a parte da direção.
Então, após o motor tremer mais um pouco, a moto entrou na garagem sozinha.
Após ver a moto estacionar, o Motoqueiro Sem-cabeça andou em direção à entrada do
condomínio.

“Bom trabalho!”
Ao entrar na cobertura do condomínio, um jovem de jaleco branco a recebeu. O jovem
tinha por volta de 25 anos e, apesar de estar vestindo um jaleco sob medida, não se via
nenhum equipamento médico dentro do apartemento. Neste apartemento mobiliado
com luxo, o jovem se destacava.
Se destacando tanto quanto o jovem, a 『Sombra』 entrou de forma irritada em um
quarto ao fundo.
“Ei ei, parece que você está nervosa. Isso não é bom, você precisa ingerir cálcio.”
Falando isso, o jovem foi em direção a um canto do apartamento e puxou a cadeira da
mesa do computador. Ele sentou, virou em direção à tela e pôde escutar o som de
teclas vindo do quarto ao fundo.
Ao mesmo tempo, uma mensagem apareceu na tela na frente do jovem de jaleco. Os
dois computadores aparentemente estavam em rede.
『Está dizendo que eu devo comer casca de ovo?』
“Ah, será que isso adiantaria? Eu não conheço muito de nutrição então não sei se a
absorção de cálcio de casca de ovo é boa. Além disso nem sei onde seu cérebro está
localizado ou nem mesmo se cálcio é necessário para seu organismo. Falando nisso,
como você come?”
O homem de jaleco não tocou em seu teclado, apenas perguntou diretamente em voz
alta. Sem indagar sobre isso, o Motoqueiro Sem-cabeça respondeu fazendo barulho em
seu teclado.

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『Cala a boca!』
Parece que esta era a forma de comunicação entre o homem de jaleco e o Motoqueiro
Sem-cabeça, uma 『conversa』 sem interferências.
“Tá bom, tá bom. Mudando de assunto, se os humanos ficam muito tempo na frente do
computador a vista fica cansada. No seu caso isso acontece?”
『Sei lá!』
“Hein, Celty, eu imagino como você vê o mundo, mesmo não tendo olhos. Já te
perguntei várias vezes mas você nunca respondeu.”
『Se eu mesma não entendo não tem como explicar pra outra pessoa.』
A sombra ... a existência chamada 『Celty』 não tem cabeça. Ou seja, ela não tinha os
órgãos responsáveis pela visão e audição.
Ainda assim, o mundo de Celty definitivamente tinha aparência, sons e ainda odores.
Ela conseguia ler perfeitamente as letras na tela do computador e até mesmo
distinguir os mínimos nuances de cor. Seu campo de visão parecia ser apenas um
pouco maior do que de um humano. Se ela pudesse ver toda sua volta, o incidente com
o gângster e o carro não teria acontecido.
Sua visão se localizava, basicamente, na linha dos olhos, mas ela também podia
absorver a visão voluntariamente através de qualquer parte do corpo. Mas obviamente
ela não conseguia ver seu próprio corpo como se a visão estivesse no meio do ar.
Nem a própria Celty sabia como seu corpo funcionava. Sem saber como era o mundo
aos olhos de um humano, Celty não sabia dizer quais eram as diferenças, mesmo que
estivesse disposta a responder.
Vendo o silêncio de Celty pelo monitor, Shinra levantou sua voz, como se tentasse
ajudá-la:
“Essa é apenas uma hipótese minha, mas ... essa substância de ficcão científica, essa
『sombra』 que está sempre fluindo do seu corpo, eu não a analisei, então não tenho
certeza, mas... pode ser que você use essas partículas ao invés de luz. Elas voam pelos
seus arredores e absorvem informações do ambiente. Sons e cheiros também são
absorvidos e a sombra retorna essas informações a você. Como um radar. E é claro,
que as informações que estão distantes se tornam difusas. Ou seja, essa sombra que
lhe envolve funciona como seus órgãos sensoriais, absorvendo e retornando a você luz,
sons e odores.”
『Eu não entendo e nem tenho interesse nessas coisas complicadas. O que importa é
que consigo ver e escutar.』
Diante desta resposta, o jovem de jaleco deu de ombros exageradamente.
“Celty, você é sempre assim. Se há diferença entre o mundo que você sente e o que eu
sinto... eu apenas tenho interesse em entender isso. Não é só uma questão de ponto de
vista, é uma questão de valores. Não os valores de um indivíduo...”
Neste ponto, o jovem de jaleco parou por um momento e continuou com um tom
malicioso.
“mas os valores daquela fada que é a personificação desta cidade, os valores de alguém
que vê o mundo como uma Dullahan.”

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Celty Sturluson não é humana.
É um tipo de fada chamada 『 Dullahan 』 , um ser que aparece quando a morte se
aproxima.
Um ser que carrega sua própria cabeça nos braços em uma carruagem chamada Coiste
Bodhar e visita aqueles a quem a morte se aproxima. Aqueles que desatentamente
abrissem a porta seriam banhados por uma bacia repleta de sangue --- junto com a
Banshee, ela é uma das mensageiras de maus presságios nos mitos europeus.
Originalmente, não seria uma existência da qual se falaria no Japão, mas pela
influência de livros e videogames ela subitamente passou a ser conhecida. Considerado
como um mau presságio, o Dullahan é quase sempre feito como vilão nos jogos,
desenhado como um terrível fantasma vingador de um jovem cavaleiro --- essa visão de
um Dullahan era particularmente comum entre fãs de jogos e livros de aventura.
No entanto isso não era relevante --- Celty veio do local no qual o mito nasceu, a
Irlanda, para o Japão.
Como ela havia nascido, porque carregava uma bacia de sangue, porque ela era um
presságio de morte aos humanos --- a própria Celty não sabia responder. Então, para
recuperar essas memórias que ela veio para este distante arquipélago.

Há cerca de 20 anos atrás --- Celty acordou no meio de uma montanha e percebeu que
parte de sua memória estava faltando.
Essas partes eram a razão de suas ações e memórias a partir de um certo ponto no
passado --- as memórias das quais tinha certeza era que ela era um Dullahan, cujo
nome era Celty Sturluson, e como usar suas habilidades. Ao acariciar as costas do
cavalo sem-cabeça que ali estava --- Celty se deu conta que sua cabeça desaparecera.
O que mais a surpreendeu na hora foi 『eu não usava minha cabeça para pensar?!』,
mas em seguida percebeu que conseguia sentir a presença de sua 『cabeça』.
Pensando em sua condição, Celty chegou a uma conclusão. Sua consciência estava
presente tanto em seu 『 corpo 』 quanto em sua 『 cabeça 』 , e que as partes que
faltavam de sua memória estariam em sua 『cabeça』.
Celty decidiu-se imediatamente. Para entender o sentido de sua existência ela iria
recuperar sua cabeça. Agora era esse seu propósito. Havia a possibilidade de que a
cabeça tivesse decidido deixar o corpo, mas no fim, ela teria que encontrar a cabeça
para ter certeza.
Seguindo os vestígios deixados, ela perseguiu sua cabeça, mas --- parecia que ela tinha
embarcado em um navio e ido ao exterior. Celty prontamente investigou qual era o
destino e se infiltrou em um navio com o mesmo destino, o Japão, mas seu cavalo e
carruagem foram um problema.
Tanto o corpo do cavalo quanto a carruagem possuiam a magia da Dullahan, então ela
poderia fazer com que eles desaparecessem, --- mas depois disso, para onde eles iriam?
Essa memória estava dentro da 『cabeça』. Depois de considerar ela não foi capaz de
fazê-los deseparecer, mesmo sabendo como se fazia. Divagando a respeito do assunto
ela chegou num ferro-velho perto do porto.
Então --- foi ali que ela encontrou o item perfeito. Em uma forma que fundia o cavalo e
a carruagem, os transformou em uma motocicleta negra sem faróis.

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Já faz 20 anos desde que ela veio ao Japão. E não tinha nenhum idéia de onde estava a
cabeça.
Mesmo que ela pudesse sentir sua presença, era como se fosse um tênue odor, mesmo
que ela soubesse a direção geral em que se encontrava, era incapaz de determinar o
local exato.
--- Eu sei que está em algum lugar em Tóquio, mas... ---
Em meio a frustrações, Celty continuou procurando por sua cabeça.
Mesmo que levassem anos ou décadas, Celty não desistiria. As memórias que lhe
remanesciam eram de séculos atrás. Ela estava confiante de que as memórias da
『cabeça』 seriam de tempo ainda mais longínquos.
Baseado nisso, Celty pôde deduzir que era imortal. No entanto --- toda vez que
pensava em sua própria cabeça ela ficava inquieta passava a procurá-la com urgência.
E ainda hoje Celty corria com sua moto pela escuridão de Tóquio.
Como parte de seu trabalho como transportadora.

“Então, hoje também terminou o trabalho com primor, eu presumo.”


O jovem de jaleco --- Shinra Kishitani perguntou calmamente usando um vocabulário
incomum.
Ele era uma das poucas pessoas que sabiam a verdadeira identidade da Celty e
preparava vários 『trabalhos』 para ela em troca do aluguel de seu quarto.
Ele era filho de um médico que estava a bordo do navio no qual Celty veio
clandestinamente, e seu pai encontrou a Celty no meio do trajeto. Então --- seu pai
sugeriu o seguinte por escrito:
“Pode ser só uma vez. Se você permitir que eu lhe disseque, eu lhe proporciono um
lugar para viver.”
O pai de Shinra era uma pessoa um pouco incomum. Ao invés de se aterrorizar ao
encontrar uma forma de vida desconhecida, já se propôs a fazer negócios. E suas
conclusões nem seriam apresentadas em algum congresso --- era inteiramente pela sua
própria satisfação de dissecar uma 『nova espécie』. O poder de cura de Celty era tão
violento que suas feridas já começaram a se curar desde a primeira incisão da
dissecação.
A própria Celty não tem muitas memórias deste evento.
Provavelmente o choque da dissecação foi muito forte. Foi usada anestesia nela, mas a
anestesia para humanos não parecia surtir efeito nela. Ela sentiu toda a dor de ter seu
corpo aberto e seus pés de braços foram firmemente amarrados para evitar que ela se
debatesse. Parece que ela desmaiou no meio do procedimento e não conseguia lembrar
muito do que havia ocorrido antes ou depois.
『 Você parece possuir a sensação de dor, mas muito menos sensível que a de um
humano. O normal seria você ter enlouquecido.』
O pai de Shinra lhe disse isso após a operação. Talvez por conta de sua perda de
memória, Celty nem tinha energia para ficar com raiva dele.

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Visto como hoje ela foi capaz de mover-se logo após de ter sido atropelada por um
carro, realmente seu corpo devia ser resistente. Pensando nisso ela se virou para
Shinra.
O pai de Shinra fez com que o próprio Shinra presenciasse a dissecação. Além disso,
ele fez com que seu filho de nem 5 anos segurasse um bisturi afiado --- e cortasse um
corpo semelhante ao de um humano.
Quando Celty soube disso, previu que por influência do pai Shinra não pudesse virar
um adulto respeitável, mas --- realmente ele não havia se tornado um adulto
respeitável.
Com 24 anos, Shinra era um 『médico do mercado negro』 e tratava de pacientes para
os quais seria inconveniente ver um médico normal --- por exemplo tratar de
ferimentos de bala ou ainda realizar cirurgias plásticas secretamente. Apesar de
aparentar ser jovem (sendo que normalmente pessoas desta idade seriam incapazes de
realizar cirurgias), os clientes pareciam confiar em sua mão, apesar de Celty não ter
certeza se isto era real ou apenas em aparências. Geralmente, para se obter uma
licença médica ou para se tornar um cirurgião é necessário participar de algumas
centenas de cirurgias como assistente. Mas, pelo que Celty sabia, o número de
cirurgias ilegais nas quais Shinra foi assistente de seu pai supria facilmente esse
requisito. Tal pai, tal filho, na época de sua formatura no Ensino Médio, Shinra não
questionou sua situação.
Era esse homem que lhe estava perguntando se havia feito seu trabalho direito.
『Você me ofende com essa pergunta.』
Após direcionar este comentário irônico, Celty começou fazer com que letras fluissem
pela tela para comentar a respeito de seu 『trabalho』.

Desde o começo o trabalho de hoje era especial, Shinra o trouxe no começo da noite.
Um membro de um certo grupo de Ikebukuro havia sido sequestrado. É um trabalho
que deveria ser deixado para a polícia, mas parecia ser realmente urgente, pois
entraram em contato diretamente por mensagem de celular.
Os sequestradores eram os subordinados dos subordinados dos subordinados de uma
empresa corrupta. Eles entregavam os imigrantes ilegais e crianças que fugiam de
casa sequestrados para um grupo acima do deles. A intenção dos sequestros era
desconhecida, provavelmente várias atividades que necessitavam de 『 humanos 』
como suprimentos. É possível que a organizaçao dos superiores dos superioes de seus
superiores os usassem para realizar experimentos em humanos, ou ainda que os
superiores de seus superiores os tivessem usando para realizar negócios obscuros. Já
seus superiores imediatos deviam estar apenas atrás de dinheiro, os usando como
mão-de-obra barata.
Mesmo sem saber o motivo, parecia que um de seus amigos, um imigrante ilegal havia
sido sequestrado. Celty chegou a questionar o fato de ele ser um imigrante ilegal, mas
alguém sem rosto nem identidade como ela não poderia falar nada.
No fim, ela derrotou os gângsters e em seguida verificou a van. Depois de conferir que
a vítima estava a salvo, bastava enviar uma mensagem a Shinra que o trabalho
estaria terminado. Depois disso, Shinra iria contactar diretamente o grupo que o
requisitou. Ela não sabe o que aconteceria com os sequestradores que deixara

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inconsciente.
Não seria melhor ter avisado ao grupo qual o lugar desde o começo e eles mesmos
recuperarem seu amigo? Foi o que Celty pensou, mas --- por conta do princípio de
『 pacificidade 』 do Shinra ela mesma quem acabou fazendo o serviço. Ele
provavelmente considerou que fosse melhor deixar uma profissional resolver tudo a
permitir que virasse uma briga entre gangues.
Como resultado, ela teve uma terrível dor-de-cabeça por ser atropelada por um carro.
Ela não os matou, mas causou muita dor usando sua 『sombra』 em forma de foice.
Celty está sempre envolta na sombra. Essa sombra assumia a forma de uma
armadura, mas sem grandes esforços podia assumir a forma de uma roupa de
motoqueiro dos dias atuais --- ou ainda podia se transformar em uma arma.
É estranho falar de uma sombra com massa, mas a 『sombra』 que vestia a Celty era
fundamentalmente leve, e portanto era capaz de realizar movimentos incomuns, como
os que se vê em filmes de ação. Uma vez que a massa tornava seu peso desprezível, a
força de sua arma refletia diretamente a força da própria Celty. A lâmina era afiada
como de qualquer outra arma branca e sua rigidez --- ela nunca chegou a testar
precisamente, mas não se recordava dela ter lascado alguma vez. Ou seja, a lâmina
nunca ficava cega, seu peso permanecia constante e seu tamanho era similar a de uma
espada japonesa.
Ela não podia ser usada como uma arma de impacto, mas assumindo a forma de uma
lâmina podia exercer um enorme poder.
Porém Celty não chegou a cortar os gângsters insolentes, mas os atingiu nas
gargantas com a empunhadura da foice, os deixando inconscientes. Ela tinha
memórias de cortar aqueles que a temiam como monstro há séculos atrás, mas ela
sabia que este comportamento teria consequências no Japão atual.
Durante estes 20 anos, ao memso tempo que Celty aprendia japonês, treinou por si
mesma formas de derrubar seu oponente sem matá-lo. O melhor teria sido aprender
aikido ou defesa pessoal, ou ainda ir a um dojo de karatê, mas ela desistiu, afinal não
havia dojos que aceitariam que alguém participasse sem tirar o capacete.
E para começar, era difícil usar uma foice. Ela trás a ilusão de uma poderosa arma de
um deus-da-morte, mas na realidade uma espada japonesa ou uma lança eram bem
mais fáceis de manejar. Ainda assim, a razão dela costumar usar a foice é porque
Shinra lhe disse que “assim é mais fácil de ser levada a sério.”
O pior é que --- ela percebeu que estava começando a gostar desta forma.
Porém, não tem sentido sua arma ser forte quando se é atropelada por um carro. A dor
já havia passado, mas ela estava ardendo em ódio pelo seu próprio descuido.
Ela se pergunou quanto dano precisaria receber para morrer, obviamente ela nunca
verificara isso e nem tinha a intenção de fazê-lo. Enquanto pensava nisso, Celty
começou a fazer um relatório a Shinra a respeito do serviço, sem omitir nada.
Ao ouvir sobre o atropelamente, Shinra disse entre risos:
“Deve ter sido difícil. A propósito, tem mais alguém que trabalhou bem.”
『Como assim?』
“A razão de desta vez já sabermos o local dos oponentes é porque pedi pro Orihara.”

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Izaya Orihara. Ele é um informante que reside em Shinjuku e trocava as mais
diversas informações por quantias consideráveis de dinheiro. Parece que esta não é
sua ocupação principal, mas ninguém sabia o que ele fazia por detrás dos panos.
Ela também já havia recebido inúmeros trabalhos, mas em todos nos quais ele estava
envolvido deixavam um gosto ruim na boca. Falando francamente, ela relutava em ter
qualquer relação com ele.
『Por que ele?』
“Bem, justo quando ele estava requisitando um serviço, perguntou se não havia
alguma informação que eu quisesse como pagamento, então eu lhe disse a placa
daquela van e ele imediatamente me informou sobre o estacionamento.”
Ao ouvir isso, Celty rangeu os dentes de raiva. Era estranho, mesmo tendo perdido sua
cabeça ela podia facilmente se recordar da sensação de ranger os dentes.
Enquanto pensava sobre qual parte de seu corpo se lembrava desta sensação, Shinra
colocou suas mãos sobre seus dois ombros. Ele deve ter vindo enquanto ela refletia
sobre esta questão.
“Ei, já não está na hora de você se decidir?”
『Sobre o quê?』
Vendo as letras diretamente pela tela do computador em que foi escrita, Shinra riu
amargamente.
“Você sabe.”
Antes da resposta aparecer na tela, Shinra continuou.
“Você é realmente uma existência singular e evasiva. Estou dizendo que o que você
procura está fora de alcance.”
『O que você quer dizer?』
“Falando claramente: desista.”
O barulho das teclas do computador parou subitamente e um estranho silêncio tomou
conta do quarto.
“Pare de procurar por sua cabeça e vamos nós dois pra algum lugar. Pode ser qualquer
lugar. Se você quiser eu posso arranjar alguma maneira de você voltar a sua terra
natal. Eu também iria com você e poderíamos ficar para sempre juntos---.”
Shinra não usou nenhum vocabulário excêntrico ou provérbios, isto era a prova de que
ele estava falando sério.
『Já lhe disse masi de mil vezes que não tenho intenção nenhuma de desistir.』
“Há mitos em lendas em todos os lugares e épocas sobre indivíduos sem cabeça que
saiam a sua procura, com certeza havia indivíduos como você no passado. Hoje em dia
também tem o filme da Lenda do Cavaleiro Sem-Cabeça (Sleepy Hollow) que fez
sucesso. É possível que seja história de alguém como você por volta do ano de 1800. Ou
ainda, mesmo que tenha esquecido, que seja você mesma.”
Ao contrário de Shinra que falava sem parar, Celty respondeu francamente.
『Por que eu precisaria abduzir um professor enfadonho?』
“Você leu a obra original então…”

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Celty continuou a digitar furiosamente e tirou as mãos de Shinra de seus ombros.
『Não é que eu não goste de você, mas morar junto como estamos agora é o suficiente
para mim.』
Vendo essas letras na tela, Shinra deixou escapar um suspiro.

“Então pelo menos seja um pouco mais feminina.”


Um breve momento. Neste breve intervalo de tempo o ar entre os dois pareceu partir-
se em duas temperaturas diferentes.
『Já chega! Vou tomar banho.』

Celty se banhava no banheiro esfumaçado. Seus seios tinham um belo formato e seu
abdômem era definido. Seu corpo seria perfeito para ser modelo, mas, em contraste, a
ausência da cabeça transmitia algo de sombrio.
Passando sabonete com seus dedos pela sua pele de seda, Celty voltou sua atenção ao
espelho.
Era uma visão surreal uma mulher sem-cabeça se banhando em bolhas de sabão, mas
essa visão não mais a intrigava.
No começo, no tempo em que ela estava na Irlanda, não havia o costume de tomar
banho, mas depois de vir ao Japão ela logo habituou-se a isto. Na realidade seu corpo
não produzia sujeira nem suor, --- mas pensando em toda a sujeira externa que se
acumulava pelo corpo, ela não conseguia mais imaginar uma vida sem tomar banho.
--- Será que isso quer dizer que meus valores são os mesmo de um humano?
Falando abertamente, o que diferenciava os valores de Celty, como uma Dullahan, aos
de humanos --- ela sempre se questionou a respeito disso. Na época em que ela tinha
recém chegado ao Japão, estava bastante confusa a respeito de vários assuntos, mas
ela havia sido fortemente influenciada pelos japoneses.
Ultimamente, ela se via pensando diversas vezes em Shinra como alguém do sexo
oposto. No início ela não entendia bem o que isto significava, mas --- aos poucos
percebeu: 『 ah, então esta é a sensaçao de se apaixonar 』 . Mas Celty não era uma
garota adolescente, então isto não afetou particularmente sua vida.
No entanto, --- quando eles estavam assistindo televisão e Shinra ria da mesma cena
que ela, por algum motivo ela ficava feliz.
--- Eu possuo os mesmos valores de um humano. Tenho o mesmo coração que os
humanos. E posso entender e transmitir sentimentos para os humanos. Disso eu tenho
certeza.
Pelo menos é nisso em que ela acreditava.

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Capítulo 4 – Cotidiano da Cidade – Dia

O Colégio Raira era uma instituição privada de Ensino Médio localizada ao sul de
Ikebukuro.
A área do campus não era muito extensa, mas graças a um bom aproveitamento de seu
espaço os estudantes não tinham a impressão de o colégio ser pequeno. Como a escola
ficava próxima à Estação de Ikebukuro, era uma localização conveniente para aqueles
que morassen nos subúrbios de Tóquio e, por esse motivo, as inscrições para o exame
de admissão cresciam a cada ano. E justamente por a cada ano haver mais inscrições,
estava cada vez mais difícil de se entrar nela, então pode-se dizer que Mikado e os
demais entraram na hora certa.
O prédio da escola era alto, o que permitia aos alunos uma vista magnífica dos
arredores, embora uma parte fosse ofuscada pelo edifício Sunshine 60 logo a sua
frente. E atrás do colégio havia o Cemitério Zoshigaya que, embora estivesse numa
área de grande movimento, possuía uma atmosfera sombria.
Depois da cerimônia de abertura, Mikado e Masaomi foram para suas respectivas
turmas para uma simples reunião de classe.
"Mikado Ryuugamine. Prazer em conhecê-los."
Durante as apresentações pessoais, Mikado se perguntou se tirariam sarro de seu
nome, mas após dizer seu nome não houve reação nenhuma. Os jovens da mesma
idade do Mikado não pareciam se importar com o nome dos outros.
Ao contrário de Mikado, que prestava atenção às apresentações pessoais de seus
colegas. Alguns faziam alguma piada após a apresentação, alguns que sentavam-se
imediatamente após dizer o nome e outros já estavam dormindo em suas carteiras.
Mas entre todas essas pessoas, a que chamou a atenção de Mikado foi uma bela garota
chamada Anri Sonohara. Ela era delicada, mais do que as demais garotas, usava
óculos e tinha a pele clara. Mas a aura que ela exalava era severa e parecia repelir
outras pessoas e rejeitar qualquer aproximação.
"Anri Sonohara."
Sua voz era quase inaudível, mas soou claramente nos ouvidos do Mikado. A
impressão que Mikado teve foi de que ela exalava um ar de requinte. Todos os demais
não passavam de 'meros estudantes colegiais'. Não havia ninguém que parecesse ser
um aluno exemplar,e também não havia nenhum delinquente.
Além de Sonohara, outra coisa que lhe chamou a atenção foi uma pessoa ausente. Era
uma garota chamada Mika Harima. Porém Mikado pensou que deveria ser um
resfriado ou outra doença e logo deixou o assunto para lá.
No entanto, quando o professor anunciou sua ausência, Mikado notou que a Anri
Sonohara virou-se para a carteira vazia com uma expressão preocupada.
A aula terminou sem que nada de anormal acontecesse e Mikado se encontrou com o
Masaomi, que havia ficado na turma vizinha.
Os piercings do Masaomi eram bastante chamativos, mas não se destacavam na
multidão. Ou talvez o fato de a escola permitir que seus alunos se vestissem

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casualmente fizesse com que fosse o Mikado quem estivesse deslocado. Como hoje
havia sido a cerimônia de abertura, ambos estavam em suas jaquetas do uniforme.
Mas ainda assim, era difícil de acreditar que eles eram alunos da mesma escola.
"Ah, já que ontem eu fiquei o dia todo te ajudando com a mudança e a instalar o
modem hoje estou a fim de sair, por sua conta!"
Mikado não tinha motivo para não ir, então seguiu o Masaomi obedientemente. Como
era o dia em que os clubes estavam fazendo exposições e tentando angariar novos
membros dentre os calouros, eles puderam sair da escola.
Ao sair da escola, eles se viraram em direção ao centro, visualizando a Sunshine City
60.
Para Mikado, Ikebukuro era um lugar incrível. Mesmo duas avenidas de mesma
largura, separadas apenas por uma quadra, pareciam ser dois lugares completamente
diferentes. O fato de cada rua estar cercada por um cenário único deixava Mikado
extremamente confuso e desnorteado sempre que passava por uma rua desconhecida.
"Onde você quer ir?"
"Hum, bem ... onde tem uma livraria?"
Mikado perguntou isso à entrada da Sunshine 60, em frente à um restaurante fast-
food. Masaomi pensou por um momento antes de responder.
"Livraria, o melhro lugar é Junkudo. É aqui perto... que livro você quer comprar?"
Bem, estava querendo uns mangás para matar tempo em casa..."
Ao ouvir esta resposta, Masaomi avançou calmamente.
"Nesse caso tem uma loja aos fundos que tem um monte de mangá!"
Masaomi andou até um cruzamento onde havia um fliperama, virou à direita e entrou
numa rua estranha, completamente diferente da 60 Street o que fez Mikado achar que
ele tivesse se perdido.
Mikado ainda se batia com o caminho da Estação até seu apartamento, então se
acabasse em algum beco tinha certeza de que não iria consgeuir sair dali sozinho.
"Parece que eles vendem doujinshis também."
Doujinshi. Por passar muito tempo da internet, Mikado não era completamente leigo
no assunto, mas nunca havia comprado um. No oitavo ano, algumas de suas colegas
examinavam um fervorosamente. Isso mais as informações que ele havia visto da web
fizeram com que ele concluísse que era algo para maiores de 18.
"Mas... mas ainda sim podemos ir? Não vamos ser expulsos?"
"Hein?"
Enquanto Masaomi estava confuso por causa do delírio de Mikado, alguém o chamou
por trás.
"Aquele não é o Kida?"
"Haha, quanto tempo."
"Ah, Karisawa e Yumasaki! Quanto tempo!"
Mikado se virou e viu um jovem e uma moça. Era possível perceber que eles saíam de
dia, mas a pele deles era branca. O rapaz era magro e tinha os olhos afiados e estava

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carregando uma mochila que parecia estar pesada. Mas pelas roupas que vestia não
parecia estar indo acampar.
Mikado analisava os dois quando a garota perguntou a Kida.
"Quem é ele? Seu amigo?"
"Ah, ele é meu amigo de infância, e a partir de hoje meu colega no colegial."
"Oh, então hoje começaram as aulas do Ensino Médio! Parabéns."
Depois de terem falado, Masaomi os apresentou a Mikado.
"Ela é a Karisawa e ele é o Yumasaki."
"... Ah, bem, eu... eu sou Mikado Ryuugamine."
Ao ouvir o nome, o rapaz chamado Yumasaki inclinou sua cabeça. O jeito em que ele se
moveu foi muito estranho, o que deixou Mikado constrangido. E, por alguma razão, ele
perguntou à Karisawa.
"É um pseudônimo?"
"Por que um estudante iria usar um pseudônimo? Ah, é isso! Você usa para escrever
para rádios e revistas, né?"
"Uh... bem... é o meu nome de verdade..."
Mikado os corrigiu numa voz praticamente inaudível, e fez os dois arregalarem os
olhos.
"Sério? É seu nome mesmo?!"
"Hahaha, que demais! É super-legal! Hahahah, parece o nome de um protagonista de
mangá!"
Ao ver a reação dos dois --
"Não falem assim... eu fico com vergonha."
"Não é você quem deveria estar com vergonha, Kida."
Era óbvio que o Mikado havia se tornado o assunto da conversa, mas ainda assim ele
não disse uma única palavra. Ele não sabia o que fazer, então ficou ali parado. Depois
de um tempo, Yumasaki percebeu que havia alguma coisa estranha, então olhou o
horário em seu celular e suspirou.
"Hahaha, desculpa tomar o tempo de vocês. Vocês dois estavam indo pra algum lugar?"
"Não, nada de importante..."
Sem esperar que se preocupassem com ele, Mikado ficou meio surpreso e balançou sua
cabeça enquanto respondia.
"Hahaha, sem problema. Vocês podem ir, desculpa ter segurado vocês, Kida."
"Nós vamos pro fliperama. Vocês vão comprar alguma coisa?"
"É, uns mangás."
Depois da resposta de Kida, o Yumasaki levantou a mão e bateu algumas vezes na
mochila que carregava nas costas.
"Hahaha, a gente estava lá agora mesmo. A Dengeki Bunko lançou alguns livros,
então a gente comprou um monte. Cerca de trinta no toal."

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Mikado já tinha ouvido falar da Dengeki Bunko. A Dengeki Bunko publicava
principalmente light novels e, pelo que ele sabia, também lançava algumas traduções
de romances de Hollywood. Mikado comprou alguns livros em seu sétimo ano, mas
ainda assim, somando todos seus livros não se chegava nem perto de trinta.
"Dengeki Bunko lança tudo isso de livros por mês?"
Karisawa riu da pergunta do Mikado.
"É claro que não! Nós pegamos só uns dez livros. Uma cópia pra mim, uma pra ele, e
uma pra usar hoje à noite. Como são dez livros para cada, acabou dando tudo isso."
"Além disso, 'Moesan' estava em queima. Hahaha e também estava autografado pelo
Juby Shimamoto!"
Mikado não entendeu uma palavra que o Yumasaki disse, e olhou pro Masaomi
pedindo ajuda.
"... Faça de conta que eles estão recitando um feitiço e escute. Ele é o tipo de pessoa
que acha que se ele conhece do assunto, qualquer outra pessoa vai saber também."
Yumasaki continuou falando de um assunto que Mikado desconhecia, enquanto
Masaomi cochichava em seu ouvido. Karisawa percebeu a situação incômoda e bateu
na mochila de seu colega.
"Por que você está dizendo isso pra eles? Bem, a gente tem que ir. Tchau tchau."
Vendo os dois indo embora depressa, Mikado murmurou para si mesmo intrigado.
"Dengeki Bunko... para usar hoje à noite...?"
Apesar de querer saber para que eles usariam os livros, Mikado não perguntou a eles,
pois os dois já estavam indo e ele não queria incomodá-los. Então Mikado e Masaomi
foram em direção à livraria.

"Uau! Olha o tanto de mangá! Estou impressionado! Esta loja, Toranoana... tem mais
mangá aqui do que todos os livros da livraria da minha cidade. Só de mangá!
"É, tem várias outras lojas que vendem um monte de mangá aqui em Ikebukuro. Como
a Animeto, a Comic Plaza e várias outras. Se você quiser outros tipos de livros, o
melhor é ir pra Junkudo. É uma loja enorme de nove andares que vende só livros."
Depois de comprar o que queriam, os dois caminharam pela 60 Street em direção à
Sunshine 60.
"Mas eu nunca ia imaginar que você fosse conhecer pessoas como eles."
"Você está falando da Karisawa e do Yumasaki? Qual é, você não pensou que eu só
fosse conhecer pessoas com cabelo tingido, piercings e que cheirassem cola, né? Bem,
pra falar a verdade eles são meio estranhos, mas se você for legal com eles, vai ver que
são gente boa."
"Hein? Entendo..."
Apesar de Mikado ter achado isso um pouco estranho, não queria perguntar a respeito
e deixou para lá.
"Ah sim. Eu saio bastante, então posso te levar pra qualquer tipo de loja, tem uma que
vende roupas usadas bem barato. Ou ainda bares e hotéis. E se você quiser pechinchar
com algum ambulante, deixa comigo!"

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"Você conhece tudo mesmo."
"Claro, se eu conhecer um pouco de tudo, consigo falar com as garotas!"
"Mas que motivo sinistro..."
Mikado teve que dizer isso sobre o Masaomi. Masaomi concordou, parecendo estar
satisfeito consigo mesmo.

Mikado sabia que iria gostar da vista da rua, então ele ficava se lembrando o tempo
todo de olhar para cima.
As coisas que mais chamavam a atenção na 60 Street eram um enorme outdoor
eletrônico que havia no prédio do Cinema Sunshine e as paredes ao lado do Cinema
Sunshine, repletos de cartazes de filmes. A princípio, Mikado pensou que os posteres
fossem impressos, mas ele ficou impressionado ao saber que eles haviam sido copiados
à mão meticulosamente de fotografias.
Enquanto ele observava atentamente ao seu redor, ele decidiu ver se não havia
nenhuma loja interessante, quando subitamente percebeu que havia algo que chamava
mais a atenção do que o enorme prédio.
"Hein?"
Mikado viu um homem negro tentando angariar clientes. Só isso não era incomum na
Rua 60 -- o que era estranho era sua aparência. Ele devia ter mais de 2 metros de
altura e tinha músculos que pareciam de um lutador profissional. E o mais
surpreendente de sua aparência eram suas roupas. Ele estava vestido como um um
chef japonês e tentando atrair clientes.
Enquanto Mikado o encarava boquiaberto, o enorme homem se virou para ele.
"Quanto tempo, meu jovem."
"? ! ? !"
Era a primeira vez que Mikado o via, mas ele agia como se fossem velhos conhecidos.
Ele não sabia como reagir. Será que isso queria dizer que sua vida tranquila em
Tóquio havia chegado no fim? Quando Mikado começou a sentir-se aflito---
"Simon, quanto tempo! Como você está?"
As palavras do Masaomi dissiparam o medo de Mikado, e a atenção do homem voltou-
se a ele.
"Ei, Kida, comer sushi? Dou desconto. Sushi, OK?"
"Ah, estou sem dinheiro. Agora estou no colegial, espere eu arranjar um trabalho.
Quando eu receber, te pago!"
"Não dá. Se eu te deixar comer de graça, vou virar alga-marinha nas planícies da
Rússia."
"Alga-marinha na terra, huh?"
Os dois conversaram animadamente e, quando a conversa acabou, ele acenou pro
homem e foi embora. Mikado o seguiu com pressa e se virou para olhar. O enorme
homem, chamado Simon, estava acenando em sua direção. Sem saber o que fazer,
Mikado apenas acenou com a cabeça e continuar a andar.

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"O homem de agora é seu amigo, Masaomi?"
"É sim. Ele se chama Simon, ele é um russo negro que trabalha num restaurante de
sushi russo."
-- Um russo negro?
"Desculpa, era pra eu rir?"
"Não, não é piada. Na verdade o nome dele é Seymon, mas todos dizem 'Simon', como
se fosse em inglês, então acabou virando Simon. Ouvi dizer que seus pais eram
imigrantes americanos na Rússia, mas não sei ao certo. Então, como um amigo russo
seu abriu um restaurante de sushi, ele resolveu ajudar a atrair clientes."
Parecia uma história inventada, mas como o Masaomi não parecia estar mentindo
devia ser verdade. Ao ver Mikado confuso, Masaomi adicionou.
"Melhor não ter ele como inimigo. Uma vez ele parou uma briga -- ele separou dois
caras do mesmo tamanho dele desarmado. E algumas pessoas dizem que já viram ele
quebrar o poste de um telefone público!"
Ao ouvir isso, Mikado pensou no corpo de Simon, que parecia muito com um tanque, e
suou frio.
Enquanto caminhavam pela ruela, Mikado soltou de repente , "Incrível..."
"Hein?" O que é incrível?"
"Nada, é só que você conhece um monte de gente..."
O elogio sincero de Mikado soou como uma piada para Masaomi. Ele riu forçadamente,
bocejou e disse com indiferença.
"Puxar meu saco não vai adiantar nada."
"Mas é verdade!"
Mikado realmente respeitava Masaomi. Se ele tivesse vindo a Ikebukuro sozinho, não
saberia o que fazer e só ia ficar vagando pelas ruas. E Mikado não chava que tinha
sido o ambiente que tinha influenciado o Masaomi. Desde o ginasial, Masaomi tinha
um carisma especial que atraía as pessoas, e somando isso à sua ousadia, ele podia
fazer praticamente qualquer coisa.
Ele só estava na cidada há agluns dias, mas já havia sido conquistado pela cidade e
por Masaomi. E naquele ponto, o desejo de Mikado era, algum dia, ser como o
Masaomi.
O principal motivo de Mikado ter vindo a Tóquio era, na verdade, para se livrar de
uma vida normal. Ele estava procrando por um 『novo eu』, procurando dentro de si
mesmo. Talvez por não ter pensado muito a respeito, mas nesta cidade, coisas
『extraordinárias』 como as vistas na televisão ou em mangás aconteciam, e ele podia
acabar envolvido em algum desses eventos.
Mas Mikado não queria ser ninguém famoso ou importante, apenas queria saber como
era viver de uma maneira diferente. O próprio Mikado não notou, mas no momento em
que pusera seus pés nesta terra, além de desconforto, havia também uma crescente
alegria dentro dele, e os dois sentimentos estavam competindo ferozmente.
E hoje, na frente de seus olhos, havia uma pessoa que estava aproveitando tudo com
alegria neste lugar. Masaomi tinha apenas 16 anos, mas se encaixava perfeitamente

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nesta cidade.
Mikado viu tudo o que queria ser em seu melhor amigo, e o desconforto e ansiedade de
estar numa cidade dessas estava aos poucos se dissipando -- naturalmente.
Então, no momento seguinte --
Sua determinação e sentimentos entraram novamente num caos quando uma onda de
mau agouro e ansiedade surgiu.

"Yo."
Foi um cumprimento bastante caloroso. Era uma voz segura, sem nenhum traço de
incerteza, como se o céu azul estivesse dizendo 'oi', extremamente animador.
Foi um cumprimento tão radiante, mas no momento em que o Masaomi escutou
aquela voz, sua expressão mudou como se ele tivesse sido atingindo por milhares de
flechas. Ele suou frio e virou-se cautelosamente para a fonte da voz.
Ao ver a reação de Masaomi, Mikado também se virou. Era um jovem vivaz. Ele tinha
traços delicados, mas ainda assim tinha um ar de maturidade e competência, ou para
ser mais exato, ele parecia ser 'nobre'. Seus olhos eram gentis e pareciam poder
abrigar tudo, e pareciam transpirar todos os tipos de sentimentos. Juntamente com
seus trajes, ele parecia ser alguém de personalidade forte, mas ainda assim não
parecia haver nada alarmante sobre ele. Na verdade, ele passava um ar de incerteza.
Pela sua aparência era difícil determinar qual era sua idade, provavelmente vinte e
poucos anos, mas Mikado não conseguiu ter certeza.
"Quanto tempo, Masaomi Kida."
Encarado o homem que o chamara pelo nome completo, Masaomi tinha uma expressão
que Mikado nunca havia visto, e engoliu em seco.
"É... é mesmo... oi."
Ver Masaomi gaguejar fez com Mikado ficasse sem ter o que pensar por um momento.
-- É a primeira vejo Kida assim...
Medo e repugnância surgiram em seus olhos, mas ele estava fazendo de tudo para
encobrir com sua expressão.
"Esse uniforme é da Raira? Conseguiu entrar, hein? Primeiro dia? Parabéns."
As felicitações do homem foram um tanto quanto indiferentes, mas isso não quer dizer
que fossem desprovidas de qualquer emoção. Era como se ele estivesse usando o
mínimo de emoção possível (mas ela não era ausente) em sua voz. Simples assim.
"Ah sim. Obrigado."
"Eu não fiz nada."
"É raro te ver em Ikebukuro..."
"É, eu vou me encontrar com uns amigos. E quem é esse?"
Quando ele disse isso, olhou para Mikado e seus olhos se encontraram. Normalmente,
Mikado teria olhado para alguma outra coisa, mas agora era incapaz de quebrar o
contato. Era como se caso ele desviasse o olhar, ele não seria reconhecido por esse
pessoa. Mikado não sabia porque queria ser reconhecido, e pôde apenas permanecer

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imóvel ao olhar do homem.
"Ah, ele é só um amigo."
Normalmente, Masaomi apresentaria Mikado à pessoa, mas era óbvio que ele não
tinha a menor intenção de fazê-lo. Então, o homem se virou pra Mikado e disse
casualmente,
"Sou Izaya Orihara, prazer em conhecer."
Ao ouvir o seu nome, Mikado logo entendeu. Uma pessoa com a qual ele não devia se
envolver, alguém para não fazer de inimigo. Porém, o homem à sua frente não parecia
tão perigoso, pelo menos não do jeito que ele imaginava. Fora seus olhos afiados e rosto
bonito, ele parecia ser um jovem comum. Talvez com exceção de seu cabelo preto
brilhante. Numa multidão repleta de pessoas com cabelos tingidos, ele se destacava.
Ele parecia um intelectual que dava aulas particulares em um lugar afastado.
-- Ele parece mais normal do que eu esperava.
Ainda pensando nisso, ele disse seu nome ao homem.
"Parece nome de ar-condicionado."
Izaya disse isso sem pensar ao escutar o nome do Mikado. Não havia traços de
escárnio ou surpresa em suas palavras, era simplesmente o que ele tinha pensado.
E quando Mikado ponderava se deveria responder ou não, Izaya levantou sua mão
lentamente e acenou, sem esperar Mikado falar.
"Já está quase na hora de eu encontrar meus amigos, até mais."
Depois disso, Izaya foi embora com pressa. Depois de vê-lo ir embora, Masaomi soltou
o ar e respirou profundamente.
"Já está na nossa hora também... ah sim, aonde a gente está indo mesmo.?"
"Essa pessoa -- é tão assustadora assim?"
"Não sei se assustador seria a palavra certa... mas... eu fiz algumas coisas no sétimo
ano... então me encontrei com essa pessoa uma vez, e então fiquei com medo dela.
Bem, como eu posso dizer... ele é assustador num nível diferente do de gângsters. É
mais 『 instável 』 . Ou melhor, imprevisível. É como se a cada cinco segundos sua
forma de pensar mudasse radicalmente. Eu não sei se o jeito assustador dele é
perigoso em si, é mais... 『 repugnante 』 . Um tipo de sentimento que invade
lentamente seu consciente. De qualquer forma, eu nunca vou voltar praquele lado.
Então não venha me procurar se quiser fumar erva."
Fumar erva. Ao ouvir isso inesperadamente, Mikado se apressou a negar com a
cabeça. Ele nunca tinha visto maconha, mas até ele sabia o que era, pelo que ele tinha
aprendido na internet.
"Tava brincando. Você é tão obediente que eu apostaria que só vai beber ou fumar
cigarro depois que fizer vinte anos. Em todo caso, se lembre que é melhor não se
envolver nem com ele nem com Shizuo Heiwajima."
Masaomi parecia não querer falar mais nada sobre o Izaya, então ele continuou a
caminhar em silêncio pela multidão.
Essa foi a primeira vez que Mikado vira Masaomi assim. Ele julgou que a condição do
Masaomi era mais importante, e deixou o assunto do Izaya para depois.

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-- Esta cidade nunca vai deixar que eu caia numa vida normal. 
Não havia um motivo para Mikado pensar em tudo isso, mas quanto mais pensava,
mais ele esperava desta cidade e da sua nova vida dali pra frente.

Foram alguns poucos dias, mas as palavras 『 quero voltar pra casa 』 saíram
completamente de seu vocabulário.
A multidão fria, que ele pensara ser indiferente, hoje eram como santos marchando
vigorosamente à sua frente.
-- Da próxima vez vai acontecer algo de emocionante. Com certeza! A aventura que eu
tanto desejava está começando. Como nas novelas ou mangás. Vai acontecer aqui, sem
dúvida.--
Esses pensamentos distorcidos fizeram os olhos de Mikado brilharem, e fez surgir
esperanças para sua vida dali para frente.

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Capítulo 5 - Cotidiano da Cidade - Noite

"Então, o que vocês querem fazer antes de morrer?"


Quem fez essa pergunta mórbida foi Izaya Orihara em uma sala de karaokê. Izaya
segurava uma bebida em suas mãos, e sua voz firme ressoou pela pequena sala.
As duas mulheres que estavam com ele na sala apenas balançaram as cabeças em
negação.
"Entendo. Mas tudo bem de morrer com alguém como eu? Não há outros caras
melhores com os quais vocês poderiam fazer isso?"
"Justamente por não ter nenhum. É por isso que queremos morrer."
"Isso mesmo." 
Izaya confirmou com um pequeno movimento de sua cabeça e começou a
silenciosamente analisar as duas mulheres. A expressão das duas não eram de alguém
muito deprimido, alguém que desconhecesse os detalhes jamais imaginaria que elas
cometeriam suicídio.
Elas estavam aqui por um convite: "Vamos morrer juntos!" Izaya havia postado em um
site de suicidas.
O convite de Izaya era estranhamente alegre e confiante. Isso não era de se estranhar,
já que ele havia simplesmente copiado o anúncio de uma rede social e apenas mudado
alguns detalhes antes de postar nos fóruns. Porém, mesmo as suas demais postagens
pareciam ser otimistas.
A mensagem era clara e direta, explicando bem detalhadamente os métodos usados
para suicídio grandes doses de motivação (para que se suicidassem), definitivamente
não parecia vindo de alguém que planejava ele mesmo se matar. Alguns deles foram
escritos de maneira bastante formal, como relatórios e documentos de uma grande
empresa. Izaya adorava olhar os incríveis 'Convites para Suicídio' que ele havia
escrito.
As duas mulheres à sua frente haviam escolhido morrer. Uma porque não conseguia
um emprego, e a outra porque não havia conseguido superar o final de um
relacionamento, e as duas estavam em desespero.
Parecia inaceitável alguém cometer suicídio por essas razões, mas em decorrência da
recessão econômica, o número de pessoas que cometiam suicídio por causa do fracasso
de suas carreiras crescia a cada ano. Se você classificasse aqueles que cometeram
suicídio pelo emprego, iria descobrir que a maioria estava desempregada. Ainda, se
você os classificasse por idade, veria que o número de suicidas com menos de vinte
anos era bastante inferior às demais faixas de idade. Recentemente, com a cobertura
da mídia dos casos de suicídio em decorrência do 'bullying', as pessoas tinham a falsa
impressão que a maioria dos suicidas eram jovens. Mas na verdade, a maioria eram os
chamados 'adultos'.
Assim como as mulheres que estavam com Izaya. As duas eram adultas, entre vinte e
cinco e vinte e seis anos.

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Encontrar-se com pessoas que queriam se matar - ele já tinha feito isso mais de vinte
vezes. Nesses encontros, Izaya reparou que a maioria deles não tinha muita coisa em
comum. A atitude das pessoas sobre a morte variava bastante, sendo que algumas
pessoas sorriam o tempo todo. Havia alguns que obviamente queriam morrer, mas
ainda assim deixavam gravando programas de TV antes de sair.

Porém - nenhuma das pessoas com as quais Izaya se encontrou acabou realmente
cometendo suicídio. Isso fez com que ele ficasse um tanto quanto 'decepcionado'.
Os jornais adoravam fazer cobertura de casos de suicídio, especialmente os que vêm
acontecendo recentemente, nos quais as pessoas se encontram na internet em sites
para cometer suicídio juntas. No entanto, a mídia não cobria os casos de suicídio
individuais, que somam cerca de trinta mil pessoas nos últimos anos.
No que eles pensavam quando decidiram morrer? Não havia outra saída? Ou ainda,
por quem eles queriam morrer? Quando alguém decide morrer, seu coração está
repleto de que tipo de desespero?
Izaya Orihara amava os humanos mais do que qualquer outra coisa, e ainda assim,
ansiava por essas respostas.

Mas, ele não se encontrava com essas pessoas para convencê-las a não se matar. AE o
motivo das pessoas que se encontraram com Izaya não terem cometido suicídio não era
porque elas não tinham intenção de morrer e estavam apenas se divertindo, tampouco
era porque elas haviam dado para trás.
A verdadeira natureza de Izaya estava aos poucos se revelando, por detrás de seu
disfarce tranquilo.
Após ouvir os motivos para o suicídio, Izaya finalmente falou novamente, fazendo
outra pergunta.
"Então, o que vão fazer depois de morrer?"
Diante de uma pergunta tão inesperada, as duas mulheres congelaram e então
encaram Izaya.
"Uh... você quer dizer no paraíso?"
―Ela já decidiu se matar e ainda quer ir pro paraíso. Que audácia. Mas é claro, é esse
tipo de coisa que torna os humanos tão interessantes.
"Você acredita em vida após a morte, Nakura?" a outra mulher perguntou a Izaya.
Nakura era nome falso que Izaya escolheu ao acaso. Izaya balançou sua cabeça para a
pergunta e perguntou a ela, "Então você acredita em vida após a morte?"
"Acredito. Mas não em um mundo após a morte, eu acho que as pessoas se tornam
fantasmas vagando neste mundo..."
"Eu não acredito. Depois de morrer não há nada, apenas a escuridão... mas é bem
melhor que isto aqui."
Ao ouvir suas respostas, Izaya fez um enorme 'X' dentro de sua cabeça.
---- Ah, que decepção. Realmente decepcionante. Uma perda de tempo. Nível de
estudantes de oitava série. Os ateus da vez passada haviam sido bem mais

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interessantes. Essas duas só se importavam consigo mesmas.
Izaya conclui que as duas mulheres não levavam a morte a sério. Ou talvez, elas
estivessem fantasiando sobre a morte cada uma à sua maneira.
Ele apertou seus olhos e sorriu de maneira debochada.
“"Assim não dá. Como alguém que quer morrer pode pensar numa vida após a morte?"
"Hein...?"
As duas estavam perplexas, como se estivessem olhando para alguém totalmente
irracional. Izaya continuou.
"Pensar na vida após a morte é um direito apenas daqueles que são vivos. Mas se esta
é a conclusão que vocês chegaram após considerar exaustivamente, então eu não tenho
nada a dizer. Porém, pessoas que são forçadas a um abismo de desespero - como ter
suas economias perdidas para um estelionatário... pessoas que entraram em situações
de desespero por causas externas - apenas eles têm esse direito."
Izaya continuou sorrindo e disse levianamente, "Mas vocês duas, você arranjaram
problemas para si mesmas, certo? Vocês decidiram trilhar o caminho da desespero e
ainda têm esperanças em uma vida após a morte. Isso não é nada bom."
As duas mulheres perceberam algo. O tempo todo elas é que estavam dizendo suas
razões para morrer, e o homem à frente delas não havia falado nada sobre si mesmo.
"Hun... você pretende morrer... Nakura?"
Izaya respondeu indiferente a essa pergunta direta.
"Não."
Naquele momento, os únicos sons que se ouviam na sala eram provenientes de outros
compartimentos. Não muito tempo depois, uma das mulheres gritou.
"Aí já é demais! Como você pôde mentir pra gente?"
"Eu acho... que você foi longe demais!"
Depois do acesso de raiva, a outra mulher reprimiu Izaya de forma severa. Mas mesmo
diante de suas reações, Izaya permaneceu impassível.
―Ah, como eu pensava...
Izaya já tinha visto essa cena diversas vezes. Cada pessoa reagia de uma maneira
diferente. Alguns superavam sem pestanejar, e outros iam embora sem dizer nada.
Mas ele ainda não havia encontrado ninguém que permanecesse completamente
calmo. Alguma pessoa que levasse a situação numa boa, dizendo apenas "Ah,
entendo.", provavelmente não precisaria de companhia para morrer. Mas Izaya ainda
não tinha visto tudo que a humanidade podia lhe oferecer, então ele não baseava suas
conclusões em livros de psicologia. Ele podia não ter certeza, mas ainda assim era o
que achava. Se alguém permanecesse calmo nessa situação, e não tivesse vindo apenas
por diversão, então é possível que esta pessoa, secretamente, desejasse que alguém a
convencesse a não cometer suicídio; talvez justamente por eles serem 'iguais a mim'.
"Você é desprezível! Pare com isso, seu idiota! Quem você pensa que é? Você foi longe
demais!"
”Por que?"
A expressão de Izaya era de "não sei o que você está dizendo". ―Ele olhou com olhar

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inocente para as duas mulheres e então fechou os olhos -
Após alguns segundos, quando Izaya abriu seus olhos novamente, a expressão alegre
havia deixado completamente seu rosto, dando lugar a um sorriso completamente
diferente.
"Hein...?"
Ao ver seu rosto, mulher que acreditava em vida após a morte fez um som que parecia
com um grito.
Havia um sorriso perdurando no rosto de Izaya. Só que era um sorriso diferente do
anterior. As duas mulheres só foram entender que 'havia vários tipos de sorrisos' após
ver sua expressão.
Mesmo sorrindo, sua expressão era rígida como uma máscara. Mesmo sendo um
sorriso, era extremamente frio. E, justamente por ser um sorriso, quem o visse sentiu
um terror inexplicável - era um sorriso assim.
As mulheres já tinham escolhido que palavras dizer a Izaya, mas agora elas
permaneciam mudas e não abriram suas bocas. Era como se alguma criatura inumana
estivesse à sua frente.
Porém, Izaya manteve aquele sorriso medonho e repetiu a pergunta.
"O quê? O que você quer dizer com 'você longe demais'? Não entendi."
"É que..."
"Vocês-"
A resposta severa de Izaya interrompeu as mulheres.
"Vocês não iam morrer? Então o que importa o que eu diga a vocês? Mesmo que
mentissem para vocês ou repreendessem... daqui a poucos vocês vão desaparecer
mesmo. Então se vocês estão angustiadas porque eu menti, basta morderem suas
línguas. Sabia que ao morder a língua você não morre pela perda de sangue, mas sim
por um choque que faz com que a parte restante da sua língua comprima a traquéia,
resultando em sufocamento? Assim, tudo que que for desagradável vai sumir. Você
deixaria de existir. Simples assim, e você diz que eu 'fui longe demais'. Eu acho que
vocês quem foram longe demais."
"Eu sei! Mas..."
"Você não entende nada."
Desta vez Izaya falava com a mulher que tinha dito que a morte era 'um nada', e falou
de forma mais agressiva.
―Com aquele sorriso em seu rosto.
"Você é quem não entende. Você não entende nada. Você disse que depois da morte não
há nada, né? Mas isso não é verdade. Acho que o que você quis dizer é que não teria
mais nenhuma preocupação. Mas a morte é simplesmente desaparecer. Seus
problemas não vão sumir, apenas a sua própria existência."
Elas não responderam. Elas estavam vidradas no sorriso do Izaya.
O sorriso estava ficando cada vez mais horrendo, e para as duas que o ouviam, sequer
parecia humano.
"Uma situação em que não há ada não pode ser chamada de 'nada'. E também não é o

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oposto de 'alguma coisa'. O nada do qual você fala não é nada além de eterna
escuridão. Mas essa noção é baseada na 'existência da escuridão', então como ser
nada? Se você quer se livrar de suas tristezas morrendo, então você precisa 'entender
que você fugiu de seus problemas'. Isto já não é alguma coisa? Então, como eu disse,
você nem sabe o que pensar, e você nem sabe que não sabe nada, então com certeza
não é capaz de perceber isso. Sua maneira de pensar é igual à maioria das pessoas.
Opiniões deste nível até mesmo estudantes ginasiais que não acreditam em vida após
a morte conseguem entender, temer e se preocupar, certo?" Na verdade, as duas
mulheres sabiam que havia diversos furos na lógica de Izaya, e havia muitas
aberturas para contra-argumentos. Mas elas consideraram que, mesmo que
retrucassem, era possível se comunicar com essa pessoa apenas com palavras?--
Esses pensamentos não surgiram da dúvida, mas sim do medo.
"Mas...isso...não é só a sua opinião?"
A mulher precisou de toda sua coragem para dizer essas palavras, que logo vacilou ao
ver o sorriso no rosto de Izaya.
"Realmente. Eu não tenho certeza disso. Eu não acreditar em vida após a morte é algo
que eu decidi. Mas, seria bom se existisse - mas eu só posso presumir."
Ha ha. Izaya soltou essas duas sílabas de uma risada apática e continuou com uma voz
jovial.
"Mas para vocês é diferente. Vocês têm dúvidas sobre a vida após a morte e ainda
assim querem morrer. Não me diga que sua religião prega o suicídio, e ainda as
encoraja a 'se matarem porque não conseguem arranjar um emprego ou estão tendo
problemas com relacionamentos'? Se for esse o caso, eu não tenho nada a dizer. Eu até
acharia que vocês são surpreendentes - mas se não for esse o caso, calem a boca."
Finalmente, como se esperasse elas concordassem, ele levantou um pouco sua a cabeça
e lentamente revelou sua conclusão:
"Se vocês apenas acreditam na vida após a morte por acreditar não me venham
discutir o assunto, ok? É um insulto à vida após a morte. É um insulto maior ainda às
pessoas que não querem morrer, mas são forçadas por fatores externos."
Embora tivesse sido um tempo curto, parecia uma eternidade para as duas mulheres.
Por um breve momento, que pareceu se estender por um longo tempo, Izaya fechou
seus olhos novamente. E quado ele os reabriu, seu sorriso havia voltado a ser gentil e
descontraído.
O ar parecia ter voltado a fluir, mas as mulheres não se atreveram a mover um
centímetro sequer. E Izaya começou a dizer coisas completamente diferentes do que
estava dizendo até agora.  
"Ah, hahaha, quando eu perguntei 'o que vai acontecer depois que você morrer'... Eu
me referia a dinheiro!"
"... Hein?"
"Eu não gosto de desperdício. Então, vocês se importariam de emprestar o máximo de
dinheiro que conseguirem, então me dar antes de morrer? As condições dos seguros de
vida são um problema, e provavelmente as companhias não pagariam, então é mais
fácil fazer empréstimos. Então quando vocês morrerem, pelo menos o dinheiro que
vocês emprestarem não vai ser perdido. E se eu vender seus documentos e corpos

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consigo um bom dinheiro. Ainda mais que eu tenho contatos pra esse tipo de venda."
Completamente diferente do sorriso de antes, o sorriso que Izaya tinha agora era
bastante humano, e suas palavras eram fiéis aos desejos humanos.
As mulheres tentaram dizer alguma coisa, mas Izaya falou mais alto.
"Vamos fazer um quizz. Primeira pergunta. Por que eu estou sentado mais perto da
porta?"
As mulheres repararam que Izaya estava sentado como se bloqueando a porta
propositalmente. Se o sorriso de agora fosse o sorriso medonho, Izaya pareceria a
personificação de todas as más intenções da humanidade.
"Segunda pergunta. Pra que servem essas maletas com rodas em baixo da mesa?"
Só quando Izaya disse que as mulheres repararam que havia duas enormes malas
debaixo da mesa, colocadas em frente a onde estavam sentadas. O tipo de mala usada
para carregar bagagem em uma viagem.
"Primeira dica. As malas estão vazias."
Ao ouvir isso, as duas mulheres estremeceram ao mesmo tempo. Mesmo esta sendo a
primeira vez que haviam se encontrado, ambas se sentiam da mesma forma quanto a
Izaya.
"Segunda dica. Essas malas foram escolhidas por serem 'do tamanho de vocês'."  
Elas tivera uma sensação nauseante, que veio da enorme repulsa ao homem que
estava a frente delas. Ainda assim, havia algo a mais que fazia com que o mundo
começasse a girar diante de seus olhos.
"?! O que... é isso..."
Quando elas perceberam que estavam em desvantagem, já era tarde demais, e elas
não tinham forças sequer para ficar de pé.
"Terceira pergunta. Se vocês duas me atacassem ao mesmo tempo teriam uma chance
de me derrotar, então por que não fazem isso? Dica. Fui eu quem lhes dei seus
drinques, quando eles vieram."
O mundo não parava de girar. ICom suas consciências lhes deixando, as mulheres
escutavam a voz do Izaya. Sua voz suave era como uma canção de ninar, e as sugava
para a escuridão.
"É o amor! Vocês não têm amor pela morte. Vocês têm que abraçar a morte com amor.
E vocês não tem respeito nenhum pelo nada. Desse jeito, como eu iria querer morrer
com vocês?"
Então, com suas últimas forças, uma das mulheres encarou Izaya malignamente.
"Eu... não vou te perdoar! Eu... vou te matar...!"
Ao ouvir a mulher, Izaya sorriu ironicamente e acariciou o rosto da mulher.
"Excelente!Se você tem força para odiar, então você pode viver. Eu sou demais. Salvei
sua vida. Me agradeça!"
Após confirmar que a mulher estava inconsciente, Izaya acariciou sua têmpora com a
mão e pensou por um momento.
"Ah~ mas eu não gosto que humanos me odeiem. Acho que vou te matar mesmo."

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♂♀

Era meia-noite, outro dia acabara de começar. Em um canto do Parque Sul de


Ikebukuro havia duas silhuetas humanas de pé.Uma delas era Izaya Orihara, e a
outra era uma sombra completamente preta.
Então, tudo que eu tenho que fazer é colocá-las num banco?
Segurando um PDA, Celty digitou algumas palavras e segurou para Izaya ler. Izaya
sorriu e respondeu com um breve "Sim".
De frente à sombra, Izaya riu alegremente contando seu dinheiro.
"Na verdade eu queria levar elas para alguma empresa de empréstimos, mas pra ser
sincero já estou cansado disso."”
Que petulância.
Desta vez o trabalho de Celty era transportar duas pessoas. Depois de colocar seu
capacete e entrar no karaokê, os funcionários a levaram em silêncio até a sala em que
Izaya estava. E então ela entrou no compartimento e viu Izaya tentando colocar as
mulheres inconscientes dentro das malas. Quando ela ia perguntou o que era aquilo,
Izaya só sorriu e pediu que ela o ajudasse.
No final das contas, Celty o ajudou a transportá-las ao parque, mesmo sem entender o
que estava acontecendo.
"Estou cansado disso. E isso é um hobby, e não um trabalho. Ah, obrigado por hoje~ as
pessoas que normalmente me ajudam estão ocupadas hoje, então valeu. Normalmente
eu as levaria até suas casas, mas acho que sua moto já está no limite de vir até o
parque."
As pessoas que o ajudam em algo assim não devem ser pessoas decentes. Embora, com
o trabalho de hoje, Celty podia ser considerada uma delas, mas ela já estava mais ou
menos acostumada com isso.
Um trabalho rápido como esse não era muito desagradável, ainda que ela não gostasse
muito também.
Isso não vai envolver a polícia, vai? Não me envolva .
"Não se preocupe. Eu não pedi pra você transportar cadáveres. Só pedi pra você trazer
duas mulheres bêbadas ao banco do parque."
Você não precisa de uma mala pra isso.
Izaya não percebeu o sarcasmo e apenas encarou o mensageiro de capacete. Então ele
perguntou repentinamente, "ei mensageiro, você acredita em vida após a morte?"
Por que a pergunta?
"Você não precisa saber, apenas considere como parte do trabalho e me responda."
Vou saber quando morrer.
Celty respondeu com calma em seu PDA. E então digitou uma pergunta e mostrou a
Izaya.
E você?

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Pra ser sincero, tenho medo de morrer e quero viver bastante."
Seu hobby é drogar mulheres e trabalha como informante, e ainda assim quer ter uma
vida longa?
Ao ver a constatação feita de forma espontânea, Izaya riu timidamente. Por sua
expressão de agora era difícil de acreditar que era alguém que estava completamente
envolvido no submundo.
"Afinal, se eu morrer eu desapareço. Então se eu não usar minha vida pra fazer tudo o
que eu gosto, não vou acabar me arrependendo?"
Celty escreveu outra frase: "Filho da puta" e deletou antes que ele pudesse ver.
Orihara Izaya was an ordinary human.Izaya Orihara era um humano normal.
Mesmo sendo um criminoso, ele não era muito violento nem insensível e nem sequer
era alguém que mataria uma pessoa sem pestanejar.
Ele tinha os mesmos desejos de um mortal comum. Ele havia feito tudo daquilo que as
pessoas fazem por impulso. Ele não era um criminoso extraordinário, apenas se
absorvia em seus próprios interesses. Mas à medida que seus 'interesses' ficavam cada
vez mais fortes, ele conseguia descobrir diversas coisas em suas buscas e passou a
ganhar uns bons trocados vendendo informações para organizações criminosas a para
polícia.
Mas seu nome já era bastante conhecido em vários lugares, e ele sabia disso.
Normalmente, seu nome não seria pronunciado como 'Izaya' --
Seu nome era uma combinação do nome do profeta Isaías da bíblia com o japonês para
'aquele que olha a multidão'. Mas o estilo de vida de Izaya era completamente
diferente do profeta bíblico, mas talvez fosse essa contradição que o permitia ser tão
habilidoso em lidar com certas situações. E isso havia resultado a maneira que ele
vivia. Ele dava valor a vida como qualquer pessoa normal, e ele conhecia suas próprias
limitações, então jogava seguro quando necessário. Provavelmente era essa sua
atitude que permitia que ele continuasse trabalhando em seus interesses, e fazia com
que ele conseguisse impedir a ira do submundo, evitando seu 'desaparecimento'.

Deixando o resto do trabalho com Celty, Izaya respirou fundo o ar de Ikebukuro, que
parecia ser de algumas semanas atrás, e foi embora.
Como eram as mulheres com os quais ele havia se encontrado? Como estavam
vestidas? Eram bonitas ou feias? A maquiagem estava bem feita ou não? Como era a
voz delas? Por que elas queriam morrer? E ainda, se elas sequer tinham a intenção de
morrer - ele já tinha esquecido tudo.   
Izaya Orihara era um ateu absoluto. Ele não acreditava em espíritos nem em vida
após a morte. E por isso que ele queria tanto entender os humanos, e por isso ele
desenvolveu um interesse tão grande por eles, e também era a razão pela qual ele
podia pisar neles.
Izaya não tinha interesse algum por pessoas que não precisassem ser entendidas.
Ele só havia andado por dez minutos, mas já havia esquecido completamente o nome
das duas que queriam cometer suicídio.
Ele era um informante, informação irrelevante iria apenas atrapalhá-lo.

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E agora, ele estava mais interessado em duas coisas.
A primeira era a verdadeira identidade do mensageiro que sempre usava um capacete
e nunca dizia uma palavra. Era a existência de um ser que dirigia uma moto que não
fazia um barulho sequer e que segurava uma foice negra, como um Deus da Morte.
E a outra coisa -- era o grupo que rondava por Ikebukuro, chamado 'Dollars'.
Estou tão animado. Mesmo sendo um informante, tem tanta coisa que eu não conheço
desta cidade e as coias continuam e continuam crescendo, surgindo e desaparecendo. É
por isso que não consigo abandonar a cidade em que os humanos se juntam!
HUMANOS, AMOR! Eu amo os humanos! Eu amo todos vocês! E é por isso que vocês
todos deveriam me amar." 
Ao dizer isso, Izaya colocou a mão no bolso da camisa e pegou seu PDA.
Ele ligou o aparelho e verificou sua caixa de entrada. Seu olhar parou na informação
sobre uma pessoa.
Os dados mostravam que o nome do indivíduo era impressionante.

―Estava escrito 'Mikado Ryuugamine', e era o nome do jovem que ele conhecera hoje---

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Capítulo 6 - Farmacêutica Yagiri – Executivos

Havia um centro de pesquisas discreto entre Ikebukuro e Shinjuku, perto do distrito


de Mejiro. Mesmo sendo longe da estação, a área que esse centro de pesquisas de três
andares ocupava não era pouca coisa se falando de Tóquio.
A Farmacêutica Yagiri era uma das organizações farmacêuticas líderes na região de
Kanto, e este era o local de seu novo centro de pesquisas. No entanto, a sua reputação
como uma empresa farmacêutica líder em Kanto era algo do passado. Seu prestígio
hoje em dia nem se comparava aos tempos áureos, e sua performance caia
vertiginosamente.
E foi quando o preço das ações da Farmacêutica Yagiri começaram a cair que uma
empresa norte-americana fez uma proposta de compra. A empresa se chamava
'Nebula' e já atuava há mais de cem anos no mercado. A organização trabalhava com
transportar, publicar e conduzir pesquisas biotecnológicas em larga escala. Mas, por
detrás de seu vasto repertório havia vários rumores a seu respeito. Como aqueles
rumores a respeito de acordos com o governo. Mas eles sempre eliminavam tais
rumores através da justiça.
A Farmacêutica Yagiri estava em seus últimos dias e, desde que cedessem a todas as
condições propostas, não teriam que fazer nenhuma demissão em massa. Mesmo
assim, alguns de seus executivos - especialmente o diretor, que era membro da família
Yagiri - não conseguia aceitar isso.
Quem se opunha mais veemente era uma mulher chamada Namie Yagiri. Ela tinha
vinte e cinco anos quando assumiu o cargo de direção do sexto centro de pesquisas, e
era a sobrinha do presidente.
A razão de Namie conseguir ascender tão rapidamente não era somente devido ao fato
de ser sobrinha do presidente. Ela ser muito talentosa e eficiente também foram
fatores fundamentais. Mas, a situação em que ela estava tinha tudo a ver com sua
família. O problema não era sua posição, mas o departamento no qual ela trabalhava.
Porque havia rumores de que a razão da Nebula estar interessada na compra era
justamente a pesquisa que o departamento da Namie conduzia.
O que o sexto centro de pesquisas estudava não era, na verdade, medicina. O centro
afirmava estar trabalhando no desenvolvimento de uma droga que fortalecia o sistema
imunológico, e estaria pronto para testes em um futuro próximo--
Mas na verdade, era algo que 'não era deste mundo'.

Há vinte anos, o tio de Namie conseguiu uma espécime que parecia uma cabeça
humana. Ela era bonita, como se estivesse viva, parecia estar dormindo. Ter a cabeça
de uma garota como espécime podia soar macabro, mas realmente não parecia nada
cruel, era como se a cabeça fosse um ser vivo completo.
Namie, que tinha apenas cinco anos de idade, obviamente não sabia que a cabeça
havia sido contrabandeada.
Se ela tivesse sido trazida por meios lícitos, com certeza teria sido interditada na
alfândega.

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Seu tio não sabia que tipo de mágica poderia ter naquilo, e com isso passou a vê-la
como uma herança da família Yagiri e a tratou com todos seus cuidados. Sempre que
tinha tempo livre, ele se trancava em seu escritório para admirar a cabeça, às vezes
até mesmo falando com ela.
Namie ia diversas vezes para sua casa brincar com seus primos, e ficava sempre
apreensiva quando via seu tio fazendo aquilo. Mas depois de um tempo ela se
acostumou.
Porém, havia algo que perturbava Namie. Era o fato de seu irmão mais novo, Seiji
Yagiri, parecer ter sido enfeitiçado pela cabeça, e estava ainda mais apaixonado por
ela do que seu tio.
A primeira vez que Seiji viu a cabeça foi quando ele tinha dez anos. Sem o
consentimento de seu tio, ela o trouxe para ver a cabeça. Ela se arrependia disso até
hoje.
Foi desde então que Seiji passou a agir de forma bem estranha.
Ele queria ir para casa do tio sem motivo algum, e lá, ele entrava no escritório do seu
tio, sem que este soubesse, para admirar a cabeça.
Os anos se passaram mas a obsessão de Seiji perdurou. Três anos atrás, quando
Namie entrou na companhia de seu tio por mérito próprio, seu irmão confessou a ela:
“Namie, tem uma pessoa que eu gosto."
A garota que seu irmão gostava não tinha nome -- nem um corpo.
E o sentimento que surgiu em Namie não foi de preocupação pelo gosto anormal de seu
irmão. Era, indubitavelmente, um ciúme obscuro e vermelho.

Os pais de Namie eram os sucessores originais da Farmacêutica Yagiri. Mas, quando


seu irmão nasceu, eles cometeram um grave erro em uma negociação que fez com que
eles fossem levados ao ostracismo pela empresa, e perderam os direitos de herança. O
casal passou a agir de forma estranha e aos poucos se afastaram de seus filhos.
No entanto, seu tio ainda os considerava uma 'peça de xadrez na família', e continuou
cuidando deles. Mas a preocupação que ele tinha era como de um chefe em relação a
um subordinado, e não havia nenhum sinal que havia laços de sangue.
Então, Namie direcionou seu desejo por amor paternal ao seu irmão, que estava em
uma situação parecida. Esses desejos ultrapassavam o de um amor entre irmãos, e
transformou-se num tipo de afeto distorcido.
E era por isso que Namie não estava nada feliz que seu irmão tivesse se apaixonado
por uma 'cabeça'. Porque seu irmão jamais corresponderia a seu amor, e ainda por
cima se apaixonou por algo que jamais poderia corresponder seu amor -- algo que era
apenas uma 'cabeça'.
Mesmo Namie achando estranho estar com ciúmes de uma cabeça, ela ainda assim não
disse nada a seu tio e decidiu se livrar da cabeça.
Ele tinha planejado tirar a cabeça do jarro de vidro e jogá-la fora -- mas quando ela
tocou a cabeça pela primeira vez percebeu que havia algo errado.
Ela percebeu que nenhuma espécime tinha uma pele tão macia e era tão quente. Ou
seja, ela percebeu que a 'cabeça ainda está viva'--

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Algum tempo se passou e Namie conseguiu convencer seu tio a deixar a companhia
realizar experimentos com a cabeça, e ao ouvir os detalhes dele, descobriu que a cabeça
era na verdade uma fada chamada Dullahan--
Que absurdo é esse? Uma fada é um ser pequeno, com forma humana e asas. Desde
quando uma cabeça podia ser chamada de fada? Mas de qualquer forma, essa entidade
era algo que superava a morte, e a cabeça era o ponto chave disso. Como ela poderia
deixar uma chance dessas escapar?  
Pensando assim, Namie conduziu diversos experimentos com a cabeça que ainda
estava viva.Talvez ela tenha misturado todo o ciúme que sentiu por causa de seu
irmão com essa stuação e, inconscientemente, tratava a cabeça como mero 'objeto de
pesquisa'. Namie imaginou que enquanto a cabeça estivesse no laboratório, Seiji, que
não tinha acesso, não seria capaz de se aproximar dela--
Mas logo surgiu um problema. A pesquisa acabara de começar, mas a Nebula começou
a entrar em contato com eles. O trabalho de pesquisa era conduzido apenas por um
determinado contingente de pessoal. E as condições da negociação eram de 'transferir
esse laboratório de pesquisa, com tudo que há dentro dele'. Era óbvio que o que eles
queriam era a cabeça.
Preocupada com a possibilidade de haver um espião, e desconfiando de todos, outro
problema surgiu não muito depois. Por não confiar em ninguém, ela sempre levava seu
cartão consigo para casa, mas ele havia desaparecido.
E aquele caso aconteceu no dia em que seu cartão desapareceu. Alguém se infiltrou no
centro de pesquisa, abateu três seguranças com uma pistola de choque, pegou a
'cabeça' e foi embora.
Como que isso foi acontecer? Nesse ponto, ela estava acabada. E quando Namie havia
perdido todas suas esperanças, ela se lembrou de alguém que podia ter feito uma coisa
dessas. Uma pessoa que sabia da existência da cabeça e a queria, e tinha até condições
de ter roubado seu cartão.
E foi bem quando ela pensava nisso que o 'criminoso' ligou para ela.
“Mana, acho que matei uma pessoa. O que eu faço?"
Foi um dia antes do começo das aulas em que seu irmão ligou para ela pedindo ajuda.
Parece que a garota idiota que estava perseguindo seu irmão havia arrombado sua
casa e visto a 'cabeça', e a cabeça bateu a cabeça da garota contra a parede.
E o sentimento que Namie sentiu naquele momento não foi medo de que seu irmão
tivesse matado alguém, nem raiva de seu irmão ter roubado a cabeça -- mas uma
alegria sem tamanho.
Não importa o motivo, meu irmão precisa de mim. Meu irmão precisa de mim. Quando
Namie percebeu que ela nunca tinha se sentido tão feliz, ela tomou uma decisão.
Não importava como, mas ela iria proteger seu irmão com suas próprias mãos--

♂♀

【Você conhece os Dollars, Setton?】


[ Conheço, mas só de ouvir falar. Por falar nisso, Kanra não perguntou isso outro dia?]

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【Ah, é mesmo. Mas eu esqueci. Foi mal.】
[ Sem problema.]
【Um amigo me contou algumas coisas sobre eles hoje. Eles parecem ser demais.】
[ Uau~ mas eu nunca os vi. Será que existem mesmo? ]
【Você acha que eles são só um rumor da internet?】
[ Não é isso, mas não sei ao certo. Além disso, mesmo que eles existam, pessoas
normais que vivem de acordo com a lei, como a gente, nunca se encontrariam com
eles.]
【Você tem razão...】
[ É melhor não se envolver com esse tipo de pessoa. ]

—Kanra conectou-se –

«Oi todo mundo~ Kanra chegou!»


【Boa noite~】
[ Noite~ ]
«Ora ora, vocês estão falando dos Dollars!»
«Eles existem, têm até um site~!»
«Mas para entrar precisa de um login e uma senha.»
【É mesmo...?】
[ Eu não vou entrar de qualquer forma, então tanto faz. ]
【...Você realmente sabe um monte de coisas, Kanra.】
«Bem, é a única coisa na qual eu sou boa lol.»

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Capítulo 7 - Farmacêutica Yagiri - Os subordinados dos
subordinados dos subordinados

Já era de tarde em Ikebukuro. Uma van estava estacionada em uma rua um pouco
afastada da cidade. Os vidros da van eram escuros, não dava para dizer se havia
alguém dentro ou não.

Neste espaço estranho que acabara de aparecer, fez-se o som de uma batida, junto com
os gritos de um jovem.

"Eu disse que não sei! Por favor pare... Eu imploro!"

O gângster implorou da forma mais educada que podia, com seu rosto roxo.

Ele era o gângster que, cerca de 24 horas atrás, fez a Celty voar ao passar com um
carro por ela, e foi ele também quem provara a fúria da foice da Celty. E quando ele
acordou, estava na parte de trás de uma van desconhecida. Ele estava amarrado e mal
podia se mover. Não havia bancos na parte de trás da van, e o chão estava coberto com
um carpete cinza. E o homem a sua frente o estava interrogando repetidamente desde
que voltara.

"Anda logo. Quem ~ é seu ~ superior? Hum~?"

Se ele não respondesse em três segundos levaria um soco na cara, e mesmo que
respondesse que não sabia, levaria um soco na cara.

E depois da agressão, tudo isso iria se repetir no instante seguinte. Já fazia três horas
que isso estava acontecendo.

Enquanto apanhava, o delinquente analisava calmamente a situação em que estava.

--Mesmo que eu não saiba quem é esse cara, pelo menos a 'sombra' não está aqui. Mas
ainda assim, eu não sei dizer se a 'sombra' está com eles ou não.

Na van estava apenas o homem que estava a sua frente e um cara no banco do
motorista, que usava um chapéu e estava chupando balas de menta. Estava tocando
música clássica em um volume razoável dentro do carro, então mesmo que ele gritasse,
as pessoas na rua não ficariam desconfiadas.

---Se a 'sombra' estiver aqui, eu estou morto. Eu provavelmente já teria falado tudo. Ao
que parece, esse cara é uma pessoa normal. Pelo menos não sinto nada de estranho
como aquela coisa de ontem. E ficar com esses caras ainda é bem melhor do que ter o
'pessoal de cima' dando um jeito em mim. E eu tenho sorte da polícia não ter me
prendido. Mesmo sem saber quem é esse cara, se eu não disser para quem estou
trabalhando não tem problema. Vai dar tudo certo. Eu só preciso continuar apanhando
e ele vai achar que eu não sei nada. Além disso, eles provavelmente não vão ser
drásticos e me matar---

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Enquanto o delinquente ponderava, o homem a sua frente suspirou.  

"É melhor você desembuchar agora. Eu sou que nem você. Seguindo ordens 'de cima'.
Nem preciso explicar que você entende, certo? Os caras de cima querem informações,
então eles me fazem perguntar pra você. Os 'caras de cima' disseram que você não
entrou em contato e que acabou arranjando problemas."

---Parece que esse cara tem alguns contatos no submundo, hein. Que merda, se ele
quer trabalhar em outro território deveria pelo menos dizer oi para os figurões antes!

"Mas já que você não disse nada mesmo depois de ter apanhado tanto, provavelmente
não seja um mafioso. Se você fosse, teria entrado em contato com seus superiores e eles
entrariam em negociação --- então o assunto seria entre eles e os nossos superiores.
Mas como você não fez isso quer dizer que não tem ninguém como a gente te dando
apoio, hein?"

O homem pegou o delinquente pelo queixo, como se estivesse disciplinando um


pirralho. Se este delinquente tivesse algum tipo de apoio ou contato do submundo, ele
teria que lidar com ele com mais cuidado. Mas como não disse quem era, então
provavelmente se ele não tinha medo de que seus superiores o considerassem
responsável --- era porque ele não tinha proteção de nenhuma organização do
submundo.

"Ei, isso é pro sue próprio bem! Desembucha! Olha, eu não vou te machucar. É melhor
você se apressar---"

A porta abriu antes de o homem terminar sua frase.

"Hyaya, como tá quente hoje!"

"Eu te ~ fiz ~ esperar~! Shimada, como tá a situação? Ele disse alguma coisa?"

O garoto e a garota nem o cumprimentaram, mas já entraram na parte traseira da


van. A garota estava vestida da cabeça aos pés, e o garoto estava vestido de forma
parecida, mas, curiosamente, estava carregando uma mochila de acampar.

Ao ver quem era, o homem chamado Shimada fez uma cara de desagrado e suspirou.

"Seu tempo acabou, o prêmio de consolação chegou. Ele é todo seu, Yumasaki. Apesar
de eu sentir pena dele."

Shimada olhou para o delinquente com compaixão e saiu da van.

O garoto e a garota fecharam a porta de dentro da van e encararam o delinquente, que


parecia bastante feliz.

"Ei~ ei~ Por que você fez algo tão idiota? De tantas pessoas pra sequestrar, você tinha
que sequestrar justo o Kaztano."

A garota balançou sua cabeça e bateu no ombro do delinquente.

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--- Kaztano? Quem é esse? Acho que já ouvi esse nome antes...

Pensando um pouco, o delinquente se lembrou. O imigrante ilegal de meia-idade que


ele tinha sequestrado se chamava Kaztano.

--- Entendo. Então esses caras são amigos dele uh... ei, mas eles não são japoneses?
Como? Qual a relação entre eles? Não me diga que eles se conheceram fora do país?

Enquanto o delinquente estava confuso em seus pensamentos, o garoto de olhos


afiados colocou sua mochila no chão e a abriu.

"Hyaya, já que você não falou nada, sinto muito, mas vou ter que te torturar um
pouco." Ao dizer isso, o garoto tirou alguns livros de bolso da mochila:

"Hyaya, é o aniversário de onze anos da Dengeki Bunko, então o seu vai ser um
Dengeki! Você só precisa escolher um livro e nós te torturaremos mentalmente de
acordo com o conteúdo do livro que você escolher. Normalmente deixamos que as
pessoas escolham entre algumas histórias em quadrinhos do Super-Homem, mas já
que compramos um pacote de Dengeki Bunko hoje... hahaha."

"Hein?"

Talvez fosse a intenção do garoto, mas o delinquente não tinha a menor ideia do que
ele estava falando e ficou mudo.

Havia diversos livros à sua frente, e eles eram light novels com belas ilustrações nas
capas. Este delinquente só havia lido mangás, então quando viu as light novels as
confundiu com mangás.

--- O que ele tá planejando? Tortura mental? Não me faça rir. Ele até pediu pra que eu
escolhesse um livro. O que diabos ele quer que eu faça? Merda, isso não é uma
excursão escolar em que você vai num parque de diversões!

"Hyayaya, se você não escolher um, você morre."

Havia regozijo no olhar do garoto, ainda assim ele estava falando sério. E de alguma
forma, o garoto estava segurando um martelo prateado em suas mãos, reafirmando
seu ponto.

Quando o delinquente percebeu que ele estava falando sério, começou a procurar
freneticamente pelo livro que parecia menos perigoso. --- Puta que pariu! Por que eu
estou numa situação dessas?! O que será que o Ga-san faria? Merda, eu só tenho que
escolher um livro... definitivamente não vou pegar 'Anjo Concussão Dokuro-chan'.
Apesar de ter uma garota na capa não é difícil adivinhar o que vão fazer comigo... e
este 'Double Brid'... V? ...Que tipo de livro é esse? Pera lá, esse garoto tem uma
bandana na cabeça. Eles vão me matar?! Merda, qual eu escolho...

"Minha recomendação é --- 'Inukami'!"

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A garota disse isso entusiasmada e o garoto concordou com ela.

"Ah~ nada mal! Você quer usar Daijaen ou Shukichi?"

"É mais divertido usar Shukichi durante o dia. Ah~ Dokuro-chan também é uma boa
pedida."

"Não não não, dá muito trabalho preparar a Excalibolg..."

—??? O quê? Isso é o nome de algum time?!

O delinquente estava totalmente atônito, para ele os dois estavam falando numa
língua estranha e totalmente incompreensível desde o começo. Mas ele não era o único.
O cara da frente que tinha os olhos aguçados como os de um assassino estava
chupando balas de menta e também tinha uma expressão aflita em seu rosto. Mas---

"Ei, Yumasaki e Karisawa. Escutem bem. Eu não sou inteligente e nem leio livros.
Então não entendo uma palavra do que vocês tão falando. Mas se lembrem de uma
coisa..."

O homem no banco do motorista aumentou subitamente sua voz enquanto falava,


como se tivesse se lembrado de algo, quebrando o silêncio:

"Podem fazer o que quiserem, só não usem gasolina no carro como da última vez."

"Eh~ Você é um estraga prazer, Togusa!"

Depois do que Togusa disse, o garoto recolheu a contra gosto alguns livros.

--- Ga-gasolina?!

Ao perceber que estava pensando pequeno demais, ficou ainda mais difícil pro
delinquente escolher um livro. Olhando pros livros restantes ele era incapaz de
determinar qual deles faria com que sua tortura mental fosse a com menos dor. E
depois de pensar, ele concluiu que independente do conteúdo do livro que ele
escolhesse, aqueles dois achariam uma forma insana de distorcê-lo.

"Posso... posso fazer uma pergunta?"

"Hein?" O que é? Nós não vamos dizer o que vai acontecer na tortura mental! Isso é
confidencial."

"Se... se tivesse um livro da Cinderela aí e eu escolhesse, o que vocês fariam?"

Ao escutar a pergunta, o garoto pensou por um tempo, bateu seu punho na palma da
outra mão e respondeu.

"Esse? Provavelmente eu iria pegar uma talhadeira, e usar ela no seu pé até que ele
coubesse num sapato de cristal."

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---Não importa o que eu escolha, estou condenado! Merda!

Frustrado, o delinquente fechou seus olhos e pegou um livro ao acaso. Quando ele
abriu os olhos, ele viu que o título do livro estava em inglês, com um subtítulo em
japonês. A ilustração da capa era bastante detalhista.

"OK, está decidido então~!"

"Hyayaya, você tem coragem de ter escolhido este!'

Então, os dois começaram a mostrar um tipo de destreza pouco ortodoxa. A garota


pegou um espelho de sua bolsa e o entregou ao garoto, que o quebrou com seu martelo.
Então ele colocou um caco do vidro quebrado na palma de sua mão.

"Hyayaya, quantos pedaços será que vamos precisar enfiar até conseguirmos ver coisas
que normalmente não vemos?... experimento COMEÇOU."

Então, a garota segurou a cabeça do delinquente perplexo e o forçou a abrir seu olho
esquerdo. Nesse momento, o delinquente conseguia ter uma ideia do que ia acontecer
com ele.

"Espera! Espera aí espera aí! Isso... não tem graça! Ei! Espera! Pare aaaahhhh!"

"Crianças, não tentem isso em casa~ Mas... ninguém iria tentar uma coisa dessas de
qualquer forma."

A expressão do Yumasaki ficava cada vez mais séria, e Karisawa perguntou pra ele
casualmente, "E aquelas pessoas que dizem que cometeram homicídio por influência
de anime a mangá?"

"Não não não, você tem que ser clara pro Sr. Delinquente aqui não entender mal. Não
tem nada de errado com mangás ou light novels~ Afinal mangá e light novels não
podem se defender, então toda a culpa cai em cima do lado que fica em silêncio. É como
se num roubo numa igreja culpassem as estátuas pelo delito."

O delinquente ainda gritava 'Pare por favor!', 'me poupem!' e coisas assim enquanto os
dois continuavam a conversa sem sentido. Mas o garoto estava ignorando
completamente seus pedidos e lentamente, mas sem hesitar, aproximava o caco do
espelho do olho do delinquente.

"O que fazemos não tem nada a ver com mangás ou light novels ou filmes ou anime ou
pais ou escola. Sendo direto, é porque não somos normais. Se não existissem mangás
ou lightt novels, nós poderíamos usar algumas novelas de época, ou até mesmo os
livros de Soseki Natsume, ou algum desses materiais educacionais que as autoridades
promovem~ Imagino qual seria a reação do governo nesse caso!"

"Pare gggaaaaaaaaaaaahh!"

"Além disso, alguém que põe a culpa na influência dos mangá pelo o que fez não pode
se chamar de um fã de mangá."

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E quando o vidro estava prestes a entrar no olho, as esperanças do delinquente
ressurgiram.

"Ei! Parem com isso."

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A porta de trás da van se abriu de repente, deixando passar a voz grave de um homem.

"Dotachin!"

"Ka-Kadota."

A expressão dos dois ficou humilde e eles se endireitaram. Parecia que o recém-
chegado era superior dos dois. O homem chamado Kadota encarou o delinquente e se
virou aos dois.

"Isso é o que vocês chamam de tortura mental?" ele perguntou. Quando o sangue jorrar
vai sujar os livros, seus idiotas."

"Des... desculpa."

Depois de falar, Kadota pegou o delinquente pelo colarinho e o ergueu. O delinquente


passou a respirar ofegantemente de novo, e lágrimas e muco e saliva começaram a se
misturar e a escorrer pelo seu rosto de seus olhos, nariz e boca. Quando o delinquente
finalmente se acalmou, Kadota continuou:

"Seus colegas... disseram tudo."

"Hein... eh.... ah?!"

No começo o delinquente nem conseguiu compreender o que tinha ouvido; e tentando


entender o significado sua expressão mudou por um momento.

--- Um traidor?! Quem?! Ga-san? Não, não pode ser. Então quem pode ser? Droga, isso
não é bom. Eu já era. O que diabos está acontecendo?!

"Só metade deles falou, mas logo logo vamos conseguir mais. Então não precisamos
mais de você."

--- Não precisam mais, então vão me deixar ir? Por favor, faça isso! Já que eu vou estar
na lista negra para que o 'pessoal da companhia' tome conta, eu também vou ter que
fugir pra algum outro lugar.

As palavras do Kadota foram como um fio prateado de esperança para o delinquente


frenético, mas no instante seguinte suas palavras o levariam para os abismos do
inferno.

"Então, nesse caso, descanse em paz."

Naquele momento, o delinquente não aguentou mais:

"Espera! Não, espera por favor! Eu... eu falo! Eu falo qualquer coisa. Eu falo qualquer
coisa que eles não disseram! Então por favor, por favor, por favor não me matem!"

"Entendo. Mesmo vocês se vestindo assim ainda são considerados parte da classe
operária, certo?"

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O delinquente admitiu que eles foram contratados por uma pequena empresa de
despache de mão-de-obra. Quando a empresa conseguia algum trabalho, eles eram
enviados para executar, e poderiam ser chamados de faz-tudo. Mas, pra ser mais
exato, era tudo uma faxada e se investigassem iriam descobrir que a empresa de
despache era contratada de uma outra certa organização.

E esta organização--- era um negócio familiar e tinha um centro de pesquisas próximo


a Ikebukuro e era uma indústria farmacêutica entrando em falência.

Depois de ouvir o depoimento do delinquente, Kadota sorriu.

"Então uma empresa falida está sequestrando pessoas para conduzir experimentos
nelas? Que história mal contada é essa?

Apesar de ter dito isso Kadota não duvidou das palavras do delinquente. Afinal,
alguém prestes a morrer provavelmente não iria mentir. E havia alguns rumores a
respeito da Farmacêutica Yagiri.

Depois de instruir os demais a encontrar um lugar apropriado para deixar o


delinquente, Kadota saiu da van.

Então ele ouviu a voz fraca do delinquente.

"Vocês... o que são... vocês..."

Kadota parou e nem se virou para responder.

"... Dollars. Te diz alguma coisa?"

Depois do Kadota descer da van, Shimada, que já estava fora, lhe fez uma pergunta.

"Ei Kadota, você acha que o que os outros disseram... foi mentira?"

"Fui descoberto, uh?"

Primeiramente, Shimada fez uma cara de dúvida, mas sorriu quando entendeu tudo.

"Bem, é bem melhor do que deixar o Yumasaki lidar com isso. Eu gosto bastante da
Dengeki Bunko, então quando vejo eles sujarem os livros deles assim é de partir o
coração."

"Ah... falando nisso, desde que entramos nos Dollars é a primeira vez que fazemos algo
assim, né? Apesar de termos feito pelo Kaztano. Mas sem os Dollars a gente não teria
conhecido ele..."

Kadota e Shimada, e Yumasaki e Karisawa sempre foram bastante próximos.

No começo era só um grupo de amigos que se encontrava, mas de alguma forma,


pessoas perigosas como Yumasaki e os demais começaram a entrar também. Mesmo

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sem saber o que tinha dado de errado no meio, já que eles estavam aqui, era preciso
pensar em formas de mantê-los andando na linha---

Foi assim que Kadota pensou no começo, mas no final das contas passou a ser tão
natural que ele até os ajudaria a encontrar um emprego e se estabelecerem. Nesse
grupo, exceto ele, todos trabalhavam. 

O próprio Kadota conhecia algumas pessoas do submundo, mas não era associado a
nenhuma organização, e portanto nunca fizera algo particularmente espetacular. Mas
um dia, alguém que queria recrutar esse grupo mandou um e-mail para seu líder,
Kadota. O conteúdo do e-mail era bem simples, apenas perguntava se eles queriam se
juntar aos Dollars.

Não havia nenhuma restrição ou regra, e tudo que eles precisavam fazer era dizer que
eram membros dos Dollars--- condições muito estranhas. Não havia nenhum benefício
visível para qualquer uma das partes, mas os Dollars eram um grupo bastante famoso
em Ikebukuro, e eles poderem dizer ser parte deles seria interessante. Kadota não
estava muito interessado, mas foi levado pelo entusiasmo dos demais e finalmente
aceitou entrar.

--- O problema é que eu sou muito mole. Droga, até Shizuo Heiwajima conseguiu um
emprego.

No começo, Kadota achou que fosse alguém que tivesse seu e-mail pregando uma
peça--- ele não imaginava que um dia após ter aceitado o convite, ele veria seu nick
aparecendo no site dos Dollars.

"Então, o que o líder dos Dollars disse sobre isso?"

"Sei lá."

"Hein?"

"Bem, pra ser sincero eu nunca encontrei com o líder desse grupo. Há vários grupos
menores dentro do principal, mas a pessoa no topo do topo nunca se revelou."

Quem criaria uma organização dessas? Kadota estava curioso a respeito disso. Apesar
de ser desconfortável ser liderado por alguém que ele não sabia nem o nome nem como
era, não ter ninguém no topo também queria dizer que você não estaria 'abaixo de
ninguém'.

Se você quer saber quem faria uma coisas dessa, só tem uma pessoa--- Izaya Orihara.

--- Quando eu estava em Ikebukuro nós nos encontramos algumas vezes. Ele era um
filho-da-mãe e me deu o apelido idiota de Dotachin. Agora até a Karisawa me chama
assim

Quando seus pensamentos começaram a convergir para aquele nome, Kadota percebeu
que pensar a respeito dos 'caras de cima' inexistentes não traria nada de bom, então
deveria parar de pensar sobre isso.

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Então os mais fortes daqui ainda eram as gangues e organizações criminais, assim
como a polícia. Nem mesmo os famosos Dollars eram páreo para eles.

Não importa o tipo de coisa que a gente faça, o número total e o poder desse grupo
ainda serão insignificantes. Somos apenas uma aparição passageira nesta cidade que
sempre muda.

E justamente por isso que queremos provar a existência dessa 'aparição'.

Até mesmo Kadota entende isso...

Se essa ilusão eram os Dollars ou não, ninguém poderia ter certeza antes de seu
desaparecimento---

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