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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA-ISCED.

CURSO DE DIREITO
CADEIRA DE HISTÓRIA DE DIREITO

TEMA: O DIREITO DURANTE A COLONIZAÇÃO PORTUGUESA EM


MOÇAMBIQUE.

MESSIAS JAIME DANIEL

TUTOR
Dr. JOSÉ CIPRIANO

XAI˗XAI 05 DE JUNHO 2018


ÍNDICE

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 3
O regime de dominação e exploração colonial: o indigenato ........................................... 4
O Governo Directo ............................................................................................................ 4
O Governo Indirecto ......................................................................................................... 4
As autoridades tradicionais na armadura, política e administrativa e do estado
colonial português. ................................................................................................................ 6
O Direito colonial depois da conferência de Berlim .......................................................... 6
Aparecimento das companhias ............................................................................................ 7
O Estado Novo de Salazar.................................................................................................... 7
No seguimento da publicação da lei orgânica do ultramar de 1933. ............................... 8
Utilização das estruturas “tradicionais” respeito pelos usos e Costumes “indígenas”. 10
As Fontes de Direito ........................................................................................................... 12
Justiças especiais. ................................................................................................................ 12
Conclusão ............................................................................................................................ 14
Referências bibliográficas .................................................................................................. 15
3

INTRODUÇÃO

É um fato que em algumas sociedades africanas as normas vigentes são, na sua maioria, fruto
de herança colonial e, como tal, não representam as características culturais desses povos
(baseada em mitos e crença tradicionais), mas sim os interesses dos colonizadores. Por
conseguinte, não foram tomados em consideração, no ato da sua criação, os usos e costumes
destas, pese embora, hodiernamente, para o caso de Moçambique, se verifique uma tendência
de se introduzir (timidamente) algumas reformas legais com vista a salvaguardar alguns usos
e costumes locais. Essa situação torna-se bastante controversa quando se toma em
consideração que as normas jurídicas regulam os aspectos mais relevantes da vida em
sociedade. E quando essa sociedade não se identifica ou não se revê nessas normas, as
mesmas podem provocar focos de discórdias e/ou conflitos. Entende-se que dentro desses
mitos e crenças tradicionais, a própria sociedade possui mecanismos locais de resolução de
conflitos que emergem na mesma, que muitas das vezes estão fora do âmbito do Direito, ou
seja, da hermenêutica jurídica europeia. Quer dizer, a própria sociedade possui formas de
resolver os problemas que surgem no quotidiano, cuja base são crenças e costumes
tradicionais, que não têm nada a ver com o direito e justiça europeus introduzidos durante o
processo de colonização do país pelos portugueses. Ela sanciona àqueles que infringem os
princípios tradicionais da sua comunidade de acordo com as formais locais direito e justiça,
muitas das vezes, essas formas de justiça estão à margem das formas de justiça do Estado.
Diante dessa situação, por vezes, este último, se mostra impotente para atuar, ou seja, se
impor diante dos sistemas de direito e justiça locais por estas estarem bem enraizadas nas
comunidades do que o sistema de direito e justiça estatal.

O trabalho pretende mostrar como as diferentes culturas políticas e jurídicas que perpassaram
o Estado Moçambicano ao longo da sua \história política e judiciária Moçambicana.

Palavras-chave: justiça, colonialismo, direito, indígenas.


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O regime de dominação e exploração colonial: o indigenato.

As relações entre os governos coloniais e as instituições e os direitos africanos foram


concebidas sob duas variantes principais: o governo directo e o governo indirecto. Em
regra, o primeiro é associado às colónias francesas, o segundo às britânicas, o que nem
sempre coincidiu com a realidade.

O Governo Directo

Pressupõe a existência de uma única ordem jurídica, assente nas leis da Europa, não
reconhecendo qualquer instituição ou direitos africanos. O domínio concretizava-se num
sistema colonial centralizado e hierárquico e na sujeição da maioria da população ao regime
do indigenato, que definia as regras para os não cidadãos. Este regime prévio que os indígenas
pudessem obter o estatuto de assimilados, adquirindo, desse modo, direitos de cidadania, mas
o número dos que adquiriam esse estatuto permaneceu sempre muito reduzido.

O Governo Indirecto

Parte de uma concepção oposta à universalista, assentando na diferenciação. Na base desta


forma de governo esteve sempre a distinção entre não nativos e nativos, cuidadosamente
separados pelas ordens normativas e pelas instituições a que estavam sujeitos: os primeiros
ao direito civil da metrópole e às instituições da mesma; os segundos aos direitos costumeiros
e às autoridades tradicionais, ambos selectivamente reconstituídos ou criados à medida das
necessidades do poder colonial.

O regime do indigenato, introduzido formalmente nos anos 1920’, apesar da designação,


aproximava-se mais do sistema de governo indirecto, ainda que apresentasse alguns traços
assimilacionistas. Caracterizava-se pela divisão entre cidadãos e indígenas e assentava em
dois modelos administrativos e duas formas de direito.
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As áreas dos colonos seguiam o modelo administrativo metropolitano, com concelhos e


freguesias; as áreas indígenas estavam divididas em regedorias ou chefaturas, supostamente
a reencarnação das tribos pré-coloniais, e eram administradas pelos chefes tradicionais
aliados do poder colonial – os régulos. A justiça espelhava a sociedade racial, oferecendo
regimes diferenciados a indígenas, sujeitos às leis costumeiras, administradas pelas
autoridades tradicionais, e a cidadãos e assimilados, sujeitos ao direito moderno e às
instituições do Estado de direito. Ainda que o direito indígena não tenha chegado a ser
codificado, estava subordinado à legislação específica estatal que visava compatibilizá-lo
com os interesses do Estado colonial capitalista.

As divisões estabelecidas pelos colonizadores portugueses não assentaram apenas no que


existia, implicando uma reconfiguração que servisse os seus interesses. As chefaturas
maiores, por exemplo, foram divididas, de modo a serem menos ameaçadoras; os chefes
menos dispostos a colaborar foram afastados ou mortos e substituídos por outros mais
maleáveis. Tal como nas outras colónias africanas, as autoridades tradicionais procuravam
equilibrar as exigências do governo colonial com a necessidade de manter a legitimidade na
comunidade.

O código do Indigenato foi formalmente imposto em 1928, mas, de acordo com O’Laughlin,
sistematizava um conjunto de normas anteriores que definiam a cidadania em relação ao
trabalho forçado. A Lei do Trabalho de 1899 articulou, pela primeira vez, a distinção entre
cidadão e súbdito, não nativo e nativo. A lei estabelecia que «todos os nativos das províncias
ultramarinas portuguesas estão sujeitos à obrigação, moral e legal, de tentar obter através de
trabalho os meios de que necessitam para subsistir e melhorar as suas condições sociais».

Assim, a lei afectava a maioria da população. Às autoridades tradicionais cabia o controlo da


população e o recrutamento para trabalho forçado daqueles que não tivessem a iniciativa de
trabalhar ou que não cumprissem a lei. Dessa forma, pôs-se fim ao debate sobre como as
colónias continuariam a ser desenvolvidas uma vez abolida a escravatura. A base de
exploração permanecia a coerção e as autoridades tradicionais desempenhariam um papel
fundamental. Estava estabelecida a divisão entre indígenas, sujeitos ao trabalho forçado, e
não indígenas, isentos daquele.
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As autoridades tradicionais na armadura, política e administrativa e do estado colonial


português.

Com a assinatura do Tratado Anglo-Português de 11 de Junho de 1891, relativo à delimitação


territorial de fronteiras dos dois países na África Oriental, Portugal procurou afirmar a sua
soberania politica, administrativa e económica na região Sul do país, empreendendo
«campanhas de pacificação» que culminaram com a captura de Ngungunyane, em 1895, e
com a submissão dos últimos focos de resistência militar na região, em 1897. Foi a partir de
então que o Estado colonial português começou a tomar forma e a afirmar-se política e
economicamente em Moçambique. Em vários pontos territoriais foram instaladas quadrículas
territoriais onde se colocaram administradores portugueses, como garante da presença
política e militar portuguesa na área geográfica, ao mesmo tempo que as regiões Centro e
Norte do país, eram concessionadas a grandes Companhias Majestáticas inteiramente
soberanas, como a Companhia do Niassa, a Companhia de Moçambique (entre outras não
majestáticas). Simultaneamente, a antiga organização social e política tradicional foi
reestruturada e integrada na nova estrutura político-administrativa colonial portuguesa.

O Direito colonial depois da conferência de Berlim.

As primeiras tentativas sistemáticas para criar em Moçambique um sistema de administração


colonial foram levadas a efeito após a Conferencia de Berlim. O passo inicial consistiu na
ocupação militar, primeira manifestação do capital; o segundo passo, corolário lógico
conduziu a instalação dos aparelhos do estado colonial. De acordo com os principais teóricos
do colonialismo português, antes de 1890 teriam imperado, no quadro de uma filosofia
governativa não sistemática, os principais estritos de assimilação.

A partir de 1984, ao mesmo tempo que prosseguiam a ocupação efectiva, a potência


colonizadora fez a publicação de um corpo de leis que conduzissem não apenas a construção
das infra-estruturas do estado colonial, mas ao enraizamento da filosofia governativa e dos
princípios administrativos.
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António Enes é nomeado comissário-regional de Moçambique, neste mesmo ano criou a


circunscrição indígena, unidade administrativa onde o colonizador, substituiu o poder
despótico dos chefes tradicionais, exercia cumulativamente, as funções de administrador e
de juiz. Quer dizer: a autoridade administrativa, aquela que zelava pelo inventário e pela
distribuição da mão-de-obra, tinha também, a seu cargo, o julgamento e a punição de todos
aqueles que se furtassem a obrigação moral e legal de procurar adquirir pelo trabalho meios
que lhe faltem, de substituir e de melhorar a própria condição social.

Aparecimento das companhias

Segundo Serra “ Portugal não era uma potência capitalista, mas sim uma potência
imperialista atrelado ao capitalismo sobretudo o Inglês”, desta feita Portugal não tinha
suporte financeiro suficiente para aguentar os encargos da ocupação efectiva dos seus
territórios, para tal optou por alienar cerca de 1/3 do território Moçambicano.

Neste contexto em 1890 foi pública um decreto, que criava o trabalho rural obrigatório, e a
ocupação efectiva, esse factor deu rapidamente a origem á formação de sociedades por
acções, as companhias, com capital predominantemente inglês, francês, alemão e suíço.

Para o estado português, uma forma de aliciamento e minimização de despesas consistiu em


transferir os encargos da administração para as companhias (administração civil e judiciaria,
cobrança de impostos e obras publicas).

Em Moçambique, a transferência de poderes públicos ou atributos de soberania para o capital


tomou duas formas nomeadamente:

 As companhias majestáticas (Companhia de Moçambique e Companhia do Niassa);

 Companhias arrendatárias (companhia da Zambézia, Borror, Luabo e outras).

O Estado Novo de Salazar

Intensificou e aperfeiçoou esta política de coerção, nomeadamente com a Constituição de


1933, que incorporava o Acto Colonial. Este é, muitas vezes, considerado o ponto de
viragem, que marca o início de um Estado colonial.
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Na década de 1960’, com as pressões internacionais contra o trabalho forçado e o movimento


de independência das colónias africanas, Portugal, ao mesmo tempo que transformou a
designação «colónias» por «províncias ultramarinas», aboliu formalmente o regime do
indigenato. Apesar de todos passarem a ser cidadãos portugueses e a terem, em teoria, o
direito de optar pela justiça civil, o dualismo manteve-se na prática, com a continuação dos
regulados e da obediência ao régulo e ao direito costumeiro. Os moçambicanos continuaram
a possuir cartões de identidade diferentes, a ser banidos dos centros urbanos, sujeitos a abusos
policiais e a discriminação económica e social e até a trabalho forçado (ainda que o trabalho
forçado tenha sido abolido em 1961, a legislação permitia a coerção em situações de
emergência). Como afirma André C. José «a tardia e cosmética transformação dos indígenas
em cidadãos e a apropriação ideológica das teses do lusotropicalismo não foram suficientes
para disfarçar o regime de forte segregação que vigorava». E, como conclui, «a metamorfose,
simplesmente, tornou os indígenas em cidadãos sem cidadania».

No seguimento da publicação da lei orgânica do ultramar de 1933.

Foi no ano seguinte, promulgado o Estatuto dos Indígenas Portugueses, que na secção I. do
capítulo II, tratava da organização política nas colónias portuguesas, fixando no seu art.7° a
«transitoriedade» das instituições de natureza política tradicional e seguindo de perto, com
ligeiros aditamentos ou alterações legais, o regime da RAU no que se refere às atribuições,
direitos e deveres administrativos das autoridades gentílicas80• O Regulamento da
Repartição Central dos Negócios Indígenas, aprovado pela Portaria no 5:127, de l0 de Maio
de 1944, designava que a esta, competiam nos termos legais, os assuntos relativos aos deveres
e direitos socio administrativos das autoridades gentílicas de Moçambique e o estudo dos
caracteres somáticos e étnicos da população indígena da colónia portuguesa, para a
elaboração dos respectivos Códigos. Pelo Regulamento dos Auxiliares da Administração
Civil, aprovado pela Portaria nº5:639, de 29 de Julho de 1944, são pormenorizadas em
Moçambique as regras e princípios jurídico-administrativos consignados na RAU. Neste
sentido, o art.126 declarava que se constituíam como direitos dos regedores e dos chefes de
povoações «os salários e gratificações ou outros abonos fixados por lei; 2. a alimentação e
habitação gratuitas quando em serviço nas sedes dos concelhos, circunscrições ou postos
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administrativos; a isenção do pagamento do imposto indígena e da contribuição braçal, nos


precisos termos dos despectivos regulamentos».

O Regulamento da Inspeção dos Serviços Administrativos e dos Negócios Indígenas,


aprovado pela Portaria nº 5:461, de 25 de Agosto de 1944, fixava que competia aos inspetores
coloniais transmitir às autoridades administrativas superiores as principais aspirações sociais
e queixas jurídicas das populações indígenas, para o que interrogariam as autoridades
gentílicas em reunião formal, previamente convocada.

O Decreto no 36:885, de 25 de Maio de 1948, determinava a criação de escolas para a


preparação das autoridades gentílicas, e que em Moçambique foi regulamentado pela Portaria
nº 8:581, de 9 de Dezembro de 1950, sob a superintendência da Repartição dos Negócios
Indígenas, que regulava o seu funcionamento administrativo e estabelecia os programas
oficiais de ensino.

O Estatuto dos Indígenas Portugueses das Províncias da Guiné, Angola e Moçambique,


regulado pelo Decreto-Lei nº 39:666, de 20 de Maio de 1954, na secção I.• do capítulo II,
delimitava as questões relativas às autoridades gentílicas de um modo mais sistemático e
elaborado que os dispositivos legais anteriores, em particular dos promulgados em 1926 e
1929.

Em subsequência da revogação do Estatuto dos Indígenas Portugueses, e na prossecução dos


objectivos administrativos projectados, não só por seu imperativo legal, mas também pelas
conjunturais imposições políticas de uma «administração dinâmica» como ambicionava o
Estado colonial português, é publicado em 1961, o Decreto nº 43:896, que tratava da
«Organização das Regedorias nas Provindas Ultramarinas» e das competentes autoridades
gentílicas, o qual centrava a sua atenção jurídica na problemática da integração destas num
sistema político-administrativo comum.

Por último, em Moçambique foi a matéria objecto da Portaria nº 18:631, de 24 de Abril de


1965, que aprovou o Regulamento do Corpo de Milícias de Moçambique, em cumprimento
do art.º 16, do Diploma Legislativo Ministerial nº 17 de 1961, no qual as autoridades
gentílicas constituíam um corpo militar de 2ª classe, com a missão de cooperar na defesa da
provinda ultramarina portuguesa e na protecção das suas populações rurais contra as ameaças
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da FRELIMO, que começava a esboçar no terreno as suas acções militares de libertação do


jugo colonial português. O Regulamento dos Auxiliares da Administração Civil. Uniformes
dos Regedores, Chefes de Grupos de Povoações e Chefes de Povoação, aprovado pelas
Portarias nº 22:935 e nº 23:281 respectivamente de 7 de Março e 8 de Julho de 1970, à
semelhança dos diplomas legais anteriormente publicados, enquadrava juridicamente a
sucessão, os direitos, deveres e as questões disciplinares das autoridades gentílicas em
exercício efectivo das suas funções, introduzindo, todavia, a novidade de exclusão do termo
salário do preceito jurídico. Assim, no art.º 142° declarava-se que «Os regedores e chefes de
grupos de povoações têm direito:

1º Aos abonos e gratificações fixados por lei;

2° A assistência hospitalar, Cirúrgica e medicamentosa, como estive definida em


regulamento;

3° A habitação construída, no todo ou em parte, pela administração.

Utilização das estruturas “tradicionais” respeito pelos usos e Costumes “indígenas”.

A maior dificuldade encontrada pelas autoridades portuguesas em relação à aplicação das


Leis no ultramar era o desconhecimento dos usos e costumes dos indígenas que teriam de ser
observados. Para tentar resolver esta dificuldade, porquanto os usos e costumes dos indígenas
eram muito diversos das condutas reguladas pelas leis portuguesas, o Governo Português,
autorizado pela própria Constituição Portuguesa editava leis especiais que obedeciam a
certos princípios, princípios estes que justificavam a exclusão dos indígenas, como eram
denominados os africanos, dos direitos relativos aos cidadãos portugueses. Assim é que na
edição dessas leis observava-se os princípios da especialidade e da urgência, tudo como uma
estratégia de tirar do parlamento a apreciação das medidas aplicáveis ao ultramar, bem como
afastar o acesso dos indígenas aos direitos inerentes aos cidadãos portugueses. Ao lado destes
dois princípios, estavam outros, o da missão civilizadora e o de maior relevância, no que se
refere à aplicação da justiça, o do respeito aos usos e costumes, que foi observado mesmo
quando Portugal decidiu pela política da assimilação.
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No campo da aplicação da lei este é o princípio mais importante, porque é por ele que se
realiza, na prática, o reconhecimento das instituições tradicionais dos indígenas e dos demais
povos ressalvados pelo Código Civil português, porquanto é por causa dele que as
autoridades administrativas e judiciais reconhecem o direito consuetudinário, e aplicam-no,
o que pode ser constatado através do Acórdão de nº 31 da Relação de Moçambique em que
eram partes: Apelante -Nuno Zena Binte Abdul Cadir e Apelado- Mohamade Amade Omar,
ambos mouros: houve apelação da decisão do “aquo” na qual se discutia se deveria ser
aplicada a lei maometana ou a lei civil Portuguesa. O caso envolvia direito sucessório e o
Juiz aplicou a lei maometana para decidir a questão, tendo a sua sentença confirmada pela
Relação no campo da aplicação da lei. Também se pode constatar o respeito aos usos e
costumes nas inúmeras decisões sobre divórcio, devolução de lobolo, guarda de filhos,
sucessão, nos milandos submetidos ao julgamento dos administradores de circunscrição e
comandantes militares.

Entretanto a grande maioria dos administradores não conheciam os usos e costumes dos
indígenas, que muitas vezes, embora não houvesse cumprimento, tenha sido determinada a
sua codificação, devendo-se atribuir isto, exatamente, à diversidade existente entre os
inúmeros povos que habitavam as colônias, além da desídia (negligência) dos funcionários a
quem incumbia este estudo e codificação. Em uma só colônia, a exemplo de Moçambique,
deveriam ser pelo determinado no Código Civil de 1867 e decreto de 18 de novembro de
1869 que tornou a sua aplicação obrigatória no ultramar, respeitados os usos e costumes dos
baneanes, bathiás, parses, mouros, gentios e indígenas, 8o que significava a codificação de
todos, e especificamente no caso dos indígenas, muitas outras teriam de ser observada dada
a diversidade étnica.

Inúmeras comissões foram criadas para a codificação, entretanto, somente uma delas, criada
em 1852, elaborou o Código Cafreal do Districto de Inhambane, que muitas vezes serviu de
guia na aplicação, pelos administradores, dos usos e costumes nas questões indígenas –
milandos, que lhes eram submetidos, embora muito poucos o conhecessem e soubessem da
sua existência.

A título de exemplo temos: MAGALHÃES,A.de (1907:276-304). Há neste código cafreal


disposições sobre: direito civil (direito de família, sucessões, casamento, contratos); direito
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penal (adultério, estupro, espancamento, mortes, roubo, fogo posto); direito administrativo
(reinado e sucessão do trono; emigrados e foragidos), direito processual (das provas). A
autoridade que deveria decidir os milandos era o capitão-mór, cujas atribuições também
podem ser encontradas também nesse código.

As Fontes de Direito

O Direito colonial trás consigo um caracter dualista, isto porque o colonizador ao longo de
todo o tempo vai deixar vigorar as ordens normativas nativas e o Direito Europeu
(Português), neste período as fontes do Direito vão ser os costumes locais associados as leis
gerais.

Justiças especiais.

Moçambique, única colônia que era banhada pelo Índico, se fazia importante, não só para o
comércio com o Oriente, como, também, para o tráfico de escravos e, por isso mesmo,
permaneceu por muito tempo sob a dependência do Estado da Índia, fazendo parte, da região
geográfica abrangida por esta rota das especiarias e administrada à distância, através de Goa,
o que, de acordo com Gilles Cistac (2009:4) provocou muitas desavenças não só entre o
Reino e a administração em Goa, como entre os capitães que administravam as feitorias.

Quando da organização judiciária uma vez que o Estado Português não poderia arcar com os
custos da implantação de um Tribunal da Relação em cada colônia, foi levada em
consideração e Moçambique permaneceu ligado a Goa, neste particular da Justiça, porque os
recursos das decisões dos juízes ordinários seriam julgados pela Relação de Goa, que passa
à condição de – Districto Judicial de Nova Goa, que se dividia em seis comarcas e três
julgados independentes.

Moçambique ficava com duas comarcas: Moçambique, com sede na Ilha de Moçambique e
Quelimane com sede na Vila de S.Martinho. A Relação tinha sede em Nova Goa.

As Juntas de Justiça continuavam a fazer parte da estrutura do judiciário, e havia uma em


Macau e outra em Moçambique, (art.º 32) e eram compostas pelo governador da província,
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sete vogais, juiz de direito como relator, três oficiais superiores de primeira linha, de maior
graduação e antiguidade e dois membros bienais do conselho de governo. Anteriormente
(1761) era composta do governador; ouvidor; juiz de fora e por três militares, as decisões
também era irrecorríveis e tomadas pelos votos da maioria, composição que foi alterada
através do Alvará de 1811, sendo os membros: o governador-geral, ouvidor e juiz de fora.

Em Quelimane existiria um tribunal de polícia correcional com competência para conhecer


das apelações das sentenças de processos de polícia correcional. Estes tribunais foram criados
com o intuito de dar celeridade às resoluções das querelas e tinham como autoridade
processante os comandantes militares. Os processos eram orais e sumários, ou seja; os atos
processuais não eram tomados por termo.

Os Juízes de direito tinham jurisdição na sua comarca e julgavam causas cíveis e criminais e
tinham alçada estabelecida no (art.º 56), eles instruíam os processos crimes que seriam
julgados pelas Juntas. Não sendo o distrito sede de Comarca, havia um Juiz ordinário com a
alçada fixada no (art.º 78). Os Juízes de Paz atuavam nas freguesias.

Muitas outras reformas na estrutura do judiciário aconteceram, entretanto, em relação ao


ultramar, estava por vim a que, definitivamente, qualificaria o indígena como tal, e
estabeleceria a aplicação da Justiça Especial para eles.

Esta reforma veio após a Convenção de Berlim (1885), quando António Ennes seguiu para
Moçambique para delimitar as suas fronteiras e estudar a viabilidade da colônia. Ali,
convivendo com os costumes dos indígenas pode perceber as singularidades do direito
consuetudinário deles e então idealizou a qualificação dos “indígenas portugueses” que a
partir daí (1893) adquirem, legalmente, o status de INDÍGENA, que significava a exclusão
legal de direitos atribuídos aos cidadãos portugueses. Com base nesta qualificação e no
princípio da missão civilizacional é que os indígenas passaram a escravos disfarçados.

______________________________________

59 Gazeta dos Tribunais, Ano 1865, nº 36, pp. 115-116, 119-120.

60 D.G de 14.11.1878, p. 349-353.


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Conclusão

Durante o período de 1822 até 1894 muitas leis foram criadas e entraram em vigor em
Portugal e nas suas colônias, entretanto, o que era para ser lei geral e para tratar com
igualdade portugueses e africanos, estes últimos considerados portugueses pela própria lei,
foi se tornando cada vez mais especial, e esta especialidade tinha como meta o afastamento
do “indígenas” de direitos atribuídos aos portugueses. Isto não aconteceu tão somente com
as leis de direito material, aquelas que tipificavam e regulavam as condutas, mas também as
leis de direito processual, que fixavam os ritos, definiam as jurisdições as competências para
julgamentos das causas e as penas aplicáveis.

Quando no ano de 1894 foi editado o Regimento da Administração da Justiça as Colônias,


que criou, legalmente, o status de INDIGENA, consolidou-se, de uma vez por todas, a
exclusão que vinha sendo arquitetada a passos lentos e que perdurou por todo o sempre, sendo
ratificada em leis posteriores: Leis da Assimilação, Estatuto Politico, Civil e Criminal dos
Indígenas de Angola e Moçambique, Tribunais Privativos dos Indígenas, Lei de Terras,
Regulamentos do Trabalho Indígena e tantas outras, que vigoraram até o fim do colonialismo
português em África.

Entre o período colonial e o presente, o Estado Moçambicano passou por uma série de
modelos políticos, cujas rupturas não os apagaram de vez. Desde 1975 até hoje, foram várias
as transformações radicais, como o fim do modelo colonial; a construção do Estado
socialista; e a criação de uma economia neoliberal capitalista e de uma democracia
multipartidária. Boaventura de Sousa Santos serve-se de uma metáfora para caracterizar a
sociedade moçambicana: o palimpsesto de políticas e culturas jurídicas.

___________________________________

61 DCSD nº. 31 de 20.03.1899, p.58 62 CLNU, Vol. XV, pp. 201-204, Este Decreto, no seu
art.19º dá competência ao administrador do concelho para a resolução de milandos, desde
que estes não tenham gravidade tal que necessitem da interferência do judiciário.~
15

Referências bibliográficas

https://sociologiajuridica.net/pluralismo-juridico-em-mocambique-uma-realidade-em
movimento/.

http://repositorio.pucrs.br/dspace/handle/10923/5686

Accordãos da Relação de Moçambique, Vol. I, (1906: 97-99); Vol VI

http://www.macua.org/livros/histmocfrel.html

JORGE, Edmar Gerúsio (2018) Manual de História de Direito 1º ano: Isced.

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