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Considerações finais: “não há ideal que não seja impelido por uma grande paixão”
“Como afirmei desde o início, suspendo juízo de valor. Meu objetivo não era tomar posição, mas dar conta de um debate
que continua bem vivo não obstante os lúgubres e recorrentes dobres fúnebres. De resto, se a igualdade poder ser
interpretada negativamente como nivelamento, a desigualdade pode ser interpretada positivamente como reconhecimento
da irredutível singularidade de cada indivíduo. Não há ideal que não seja impelido por uma grande paixão. A razão, ou
melhor, o raciocínio que produz argumentos pró ou contra para justificar as escolhas de cada um diante dos demais, e
acima de tudo diante de si mesmo, vem depois. É por isto que os grandes ideais resistem ao tempo e à mudança das
circunstâncias e são, a despeito dos bons ofícios da razão conciliadora, irredutíveis um ao outro [...]
O impulso em direção a uma igualdade cada vez maior entre os homens é, como Tocqueville havia observado no século
passado, irresistível. Cada superação desta ou daquela discriminação, com base na qual os homens dividiram-se em
superiores e inferiores, em dominadores e dominados, em ricos e pobres, em patrões e escravos, representa uma etapa, por
certo não necessária, mas possível, do processo de civilização. Jamais como em nossa época foram postas em discussão as
três fontes principais de desigualdade: a classe, a raça e o sexo. A gradual equiparação das mulheres aos homens, primeiro
na pequena sociedade familiar, depois na maior sociedade civil e política, é um dos sinais mais seguros do irrefreável
caminho do gênero humano à igualdade.
Adaptação feita por Carolina Paulino Alcântara dos capítulos 6, 7 e 8 do livro BOBBIO, Nobert. Direita e esquerda:
razões e significados de uma distinção política. São Paulo: UNESP, 1995.