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ECLESIOLOGIA MISSIONAL:
RESGATANDO A NATUREZA DA
IGREJA
AULA 1 – A EMERSÃO DO CONCEITO
“MISSIONAL”
Timothy Keller é um dos que continua a pensar nas ideias de Newbigin. Ele diz:
a igreja está envolvida por uma sociedade e cultura pós-cristã. Toda
teologia e eclesiologia de Keller se baseiam nesse pressuposto
a igreja está refém de um cativeiro cultural-religioso e por isso precisa
contextualizar o Evangelho, porque já não consegue se fazer entendida
a igreja não deve ser apenas atrativa, mas um lugar de treinamento para
cada cristão ministrar ao mundo
CONCLUSÃO
O conceito “missional” nasce do desafio da igreja viver numa cultura pluralista
e pós-cristã. Mas diferentemente de “missionário”, que dá a conotação de um
grupo/pessoa/programação/ministério específico, “missional” aponta pra
missão como a própria razão de ser da comunidade dos discípulos, o DNA da
Igreja
A igreja missional é caracterizada pela sensibilidade para com o mover de Deus
no mundo e pela submissão à agenda derivada desse mover
Essa submissão faz com que a igreja esteja sempre atenta para a necessidade
de se reinventar em suas estruturas, formas e ênfases
AS MUDANÇAS DE PARADIGMA
Perspectiva de David Bosch
O que é um paradigma? É como uma moldura: ao mesmo tempo em que
delimita o campo visual, atribui valor ao que está dentro do seu perímetro (o que
olhar e o que não olhar). Paradigma cultural é um conjunto de crenças, valores e
comportamentos (muitos deles inconscientes) através dos quais vemos a vida.
Quando estamos em outra cultura estranhamos o que está “fora da nossa moldura”
Bases do conceito. Bosch se baseia em Thomas Kuhn, que propõe uma via
intermediária pra cosmovisão: nem marxista (visão dialética da história e
desenvolvimento) e nem positivista (visão linear e progressiva da história). Ele dizia
que “a ciência e o conhecimento não se desenvolvem de forma cumulativa-linear,
mas sim através de certas revoluções” (não conflito de classes marxista, mas
revoluções na maneira de ver a vida, pequenas tecnologias revolucionárias e etc).
Nessa visão, em cada etapa da história há uma visão majoritária/hegemônica, até
que alguns poucos começam a pensar de forma qualitativamente diferente
(revolução) e isso inicia uma nova hegemonia. Há uma nova percepção de mundo,
vida, cultura, sexo, ciência e outros (ex: revolução cultural-comportamental dos anos
60, que se espalharam pras artes, política, religião e etc). Para interpretar o mundo
dos anos 70, por exemplo, você tem que usar uma “moldura” (paradigma) bem
diferente daquela usada nos anos 50
Essa “mudança de paradigma”, entretanto, não é mecânica e nem automática.
Há uma sobreposição de paradigmas por um certo período de tempo. Período de
tensão, transição e redefinições
Aplicação do conceito à relação entre igreja e missão. Alguns paradigmas de
igreja e missão ao longo da História
- paradigma primitivo (quase não há divisão entre igreja e missão. A
própria palavra “igreja” surge depois do estabelecimento da missão. A Igreja nasce
como uma forma de cumprir a missão. Tudo que a igreja faz tem a ver com missão,
porque a Igreja NASCE para cumpri-la)
- paradigma medieval (por decreto, todos debaixo do Império Romano se
tornam cristãos. Com milhões de cristãos nominais, a missão se torna a função de
alguns poucos que vão “lá para fora” alcançar os “não-alcançados” (já que
teoricamente todos “aqui dentro” já eram cristãos)). Ex: Francisco Xavier
- paradigma protestante (mais ocupados com o confronto doutrinário com
o catolicismo, os reformadores não percebem com profundidade a importância do
conceito de “missão” para a igreja. Muito do que conhecemos como “igreja
protestante” até hoje se baseia na ideia de manutenção individual da fé. Para muitos
reformados veem a missão como uma tarefa específica de alguns poucos. Os pastores
enviados para regiões distantes não iam com o propósito de evangelizar os povos,
mas sim cuidar dos crentes que moravam naquelas regiões
- paradigma moderno (a ação missionária é resgatada, mas dentro de um
paradigma ainda muito medieval: “missionários” são os poucos que vão pra algum
lugar distante (China, Japão, Índia) converter os pagãos. Ex: Adoniram Judson,
Hudson Taylor e outros
- paradigma pós-moderno (com a paganização e secularização dos
“daqui” (sociedade ocidental) e emergência das igrejas “de lá” (sociedades orientais e
do terceiro mundo), a missão começa a ser entendida como uma tarefa a ser feita por
todos em todos os lugares. Tentativa de resgatar paradigma primitivo: missão é a
essência do que a Igreja é
CONCLUSÃO
A missiologia nas igrejas hoje ainda é muito baseado no paradigma moderno
(alguns em alguns lugares distantes)
A eclesiologia nas igrejas hoje ainda é muito pautada no paradigma reformado
(o papel da comunidade é fazer manutenção dos crentes. Seu papel na missão
é orar e apoiar financeiramente os que estão distantes em missão)
A eclesiologia missional nasce no desafio de construir uma comunidade local
consciente de sua razão de ser em seu próprio contexto
Tudo isso causa nos líderes religiosos não só um estranhamento, mas ódio
(v.28-30). Essa postura representa bem a mentalidade que se consolidou ao longo
dos séculos em Israel: uma visão de que YHWH é um Deus nacional (pois ainda que
creiam que Ele tem domínio e soberania sobre todos os povos, céus e etc, Seu amor
se direciona só a um povo) e exclusivista, quando na verdade Ele é um Deus de
todos. O privilégio que Ele deu a Israel se tornou um senso errado de exclusividade e
pertencimento, e Jesus vem combater isso
Jesus se torna, portanto, o modelo para o Povo de Deus. Se Ele é o Cabeça da
Igreja, nossa missão tem que refletir o que o Cabeça pensa, é e busca. Jesus é
aquele que com autoridade nos envia ao mundo (Mt 28). Ele também é aquele que
trata com graça, pois assim Deus optou e decidiu nos tratar, e por isso a Igreja deve
ser marcada por esse tratamento para com os outros. Por fim, como ele foi a todos,
nós, como Igreja, também devemos ir a todos, e não só aos que são parecidos
conosco: devemos ir aos mais pobres, marginalizados, pecadores, pessoas que
costumamos desprezar por vê-las como aberrações (que é como os judeus viam os
leprosos e doentes)
A benção de Abraão chegou a todos os gentios por meio de Jesus Cristo (Gl
3.14). É através da obra do Filho, descendente de Abraão, que Deus abençoa todos
os povos da terra. Mas esse texto também fala do Espírito Santo como sendo a
realização da promessa abraâmica. Essa era a “promessa escondida” de Gn 12 (que
não significava apenas salvação, mas também o recebimento do Espírito)
Assim, o recebimento do Espírito em At 2 é o “elo” que une Jesus e sua
comunidade, em sua vida (santidade, amor e etc) e em sua missão (poder,
autoridade e etc). A primeira e grande marca da Igreja é o recebimento do Espírito,
pois dele vem a capacitação, direção, dons e poder para continuarmos a missão de
Cristo (Atos 1.8), testemunhando de Jesus e de sua obra (na cruz e na vida deles
mesmos) por Jerusalém, Samaria e por toda a terra
Filipe (Atos 8.26-30) é um dos primeiros exemplos de cristãos que “vai”, que
sai de Jerusalém para pregar a mensagem de Jesus Cristo. Vamos ver como a missão
acontece através dele, cumprindo Atos 1.8:
1. capacitação pelo Espírito Santo (v.29). Quem define a agenda do mover de
Filipe é o Espírito, que lhe dá direção. Filipe tinha que estar
2. testemunho intencional (8.5). Ele fala sobre Jesus. Esse é seu tema central.
Para isso, usa a própria Escritura e talvez seu próprio exemplo
3. mobilidade (v.4-5, 26-27). Não ficou estático, mas saiu. No primeiro
momento, movido por perseguição (ainda que fosse um ato soberano da
parte de Deus), mas depois, por orientação do Espírito. Quebrou barreiras
culturais, sociais, econômicas e até religiosas para levar o Evangelho
CONCLUSÃO
A tarefa central do Espírito Santo de Deus é a capacitação da comunidade dos
discípulos a missão no mundo. Assim, o maior sinal do envolvimento de uma
igreja com o Espírito é seu engajamento na missão. Uma igreja verdadeira
carismática e avivada é uma igreja empoderada pelo Espírito para fazer sua
missão no mundo, no testemunho intencional e na transformação da sociedade.
Esse crescimento não se dá através de programas estruturados, planejados e
centralizados (eventos, cruzadas e etc), mas através de uma rede de
relacionamentos espontâneos onde há testemunho de Cristo, e que leva ao
crescimento orgânico da Igreja
A sensibilidade para perceber mudanças e novos direcionamentos do Espírito
Santo são elementos presentes em comunidades missionais. Para elas,
mudanças não são um problema, mas uma oportunidade. Igrejas que perderam
sua conexão com a missão, as mudanças são um perigo, uma ameaça. Mas
igreja missionais, por não existirem para suas próprias estruturas e tradições,
mas para uma missão dinâmica, estão mais abertas a novos rumos
Atos 1.8: a Igreja se expandirá para diferentes contextos culturais (do judaísmo
pro helenismo e outros), o que significa que sua mensagem terá que ser
contextualizada àquele novo ambiente. Mas entre esses diferentes contextos há
barreiras, muros e profundos antagonismos. Por isso a Igreja precisa atravessar
fronteiras e “derrubar muros” através da contextualização de sua mensagem
“Cultura” de um povo ou geração é um conjunto de ideias, valores e
manifestações que organizam e dão significado à vida. Cultura é como uma moldura
pela qual vemos toda a vida. Isso porque todo ser humano nasce com a capacidade
de criar e produzir (Gn 1.26-29), e isso é bom, ainda que essa capacidade esteja
manchada pelo pecado, pois a cultura que produzimos reflete sinais da Queda. Logo,
não há uma cultura “pior” e outra “melhor”, mas há diferenças culturais e
aproximações dessas culturas aos padrões estabelecidos por Deus, pois toda cultura
tem traços da Imago Dei e também traços do pecado
Há diferentes culturas entre (1) diferentes etnias, (2) diferentes gerações do
mesmo povo/etnia, (3) diferentes grupos sociais dentro da mesma etnia
Por isso, toda comunidade missional tem alto grau de compromisso com a
tarefa de compreender a cultura na qual está inserida e identificar os pontos de
contato e também de resistência ao Evangelho. Precisamos conhecer a cultura em
que estamos, ver o que eles vêem e ouvir o que ouvem, a fim de poder discernir o
que traz vida e o que traz morte
Numa comunidade missional, a única coisa que pode vir a ofender o não-crente
é o Evangelho: estilo musical, forma de se vestir, linguajar e outros elementos não
são estranhos/ofensivos (identificação e solidariedade cultural). Por outro lado, a
igreja missional também opera a crítica e a negação do que é mau na cultura,
promovendo e cultivando uma contracultura
*nos comunicamos com a cultura não somente com nossas pregações, mas com
nossas estruturas, mídias, liturgia e muito mais. TUDO que somos
(institucionalmente, relacionalmente e etc) acaba por transmitir alguma mensagem
às pessoas; logo, TUDO que somos deve ser pensado de forma intencional, bíblica e
missional
Muitas pessoas cometem erros em relação a essa questão. Dois são os principais:
1. tentar fazer a igreja voltar a ser o que foi há 10, 20 ou 30 anos. Isso é um
erro, pois quem pensa assim pensa a missão da Igreja para 10, 20 ou 30
anos atrás. Mas nós fomos chamados para ser Igreja HOJE, aqui-e-agora,
nesse contexto emergente, confuso, estranho e aparentemente perigoso
2. tentar criar um gueto cultural onde a Igreja pode ficar “segura”. Criamos
toda uma cultura própria (música, filmes, perfumes, roupas) com a marca do
“gospel”. Fazendo isso, “retiramos” os cristãos do mundo e os tornamos
incapazes de ler a cultura e criticá-la de forma inteligente
2. O ponto significa que temos que entender bem nossa cultura a fim de
contextualizar o Evangelho de forma bíblica, correta, relevante e etc. E é
fundamental entender que contextualização, linguagem e etc NÃO DEVEM
SER MARCAS SOMENTE DO PASTOR DURANTE A PREGAÇÃO, mas de toda a
igreja, não só no culto, mas nas estruturas de liderança, nos PGs,
comunicação virtual, identidade visual e etc. Por isso é necessário tanto
treinamento de liderança para ser uma igreja contextualizada
Outra coisa: se queremos alcançar os de fora (pós-moderno, os do
Aerópago) não devemos esperar que eles venham primeiro para depois nos
adaptarmos; na verdade, é justamente nossa contextualização que trará
essas pessoas, que fará com que os membros se sintam encorajados a trazer
amigos e etc
3. Uma comunidade verdadeiramente missional não é aquela que meramente
atrai as pessoas para suas reuniões, mas aquela que sai em missão na
direção da sociedade. Cada membro precisa ser preparado para ser um
testemunho vivo do Evangelho (caráter, amor, profissão e vocação, e etc). É
fundamental que cada um seja verdadeiro sacerdote de Cristo
5. Hoje em dia é muito comum que pessoas ainda não convertidas queiram
participar da vida da igreja, inclusive ajudando na sua missão. As pessoas
estão muito mais interessadas em PROCESSOS do que em DECISÕES
PONTUAIS, como era na modernidade. E isso significa que muitos se
encontrarão com Jesus e se tornarão seus discípulos não ao aceitarem um
apelo, mas após um período convivendo em meio a Igreja e percebendo que
ela também quer andar com Deus
- talvez seja interessante repensar o “modelo de conversão”
baseado em “eu era alguém, tive um encontro repentino e dali em
diante fui outro”, pra um modelo mais baseado num processo. O
nascer de novo é sempre um momento, mas a PERCEPÇÃO que se
tem disso é processual em muitos casos
6. Uma igreja, sozinha, não consegue mudar uma cidade e nem uma nação. É
preciso uma rede de igrejas comprometidas com a mesma visão e missão. Devemos
entender que não somos a única igreja da cidade, cooperando com outras e nos
unindo a elas em amor e em projetos
No final, ele fala sobre a importância que segue uma NATUREZA e PRINCÍPIOS,
ao invés de modelos prontos. Também falou sobre a importância da igreja perseguir
ser um exemplo vivo da missão, ao invés de procurar crescimento numérico apenas