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ART.

136 — MAUS-TRATOS

Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação
ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer
abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(catorze) anos.

Objetividade jurídica
A vida e a saúde da pessoa humana.
Objeto material
É a pessoa que se encontra em alguma das situações descritas pelo art. 136 do Código Penal e
sofre os maus-tratos.
Núcleo do tipo
O núcleo do tipo penal é “expor”, que nesse crime significa colocar alguém em perigo.
Nada obstante exista um só verbo, o crime de maus-tratos é previsto por um tipo misto
alternativo (crime de ação múltipla ou de conteúdo variado). Destarte, o sujeito pode praticar o
delito expondo a vida ou a saúde da pessoa humana mediante uma única conduta (exemplo:
privando-a dos cuidados necessários) ou por meio de variadas condutas (exemplo: privando-a de
alimentação e sujeitando-a a trabalho excessivo). Haverá, em qualquer caso, crime único, desde
que as condutas sejam cometidas no mesmo contexto fático e se relacionem à mesma vítima,
mas a pluralidade de condutas deve ser utilizada pelo magistrado na dosimetria da pena-base,
para elevála,
nos termos do art. 59, caput, do Código Penal.
Cuida-se de crime de forma vinculada, pois a conduta de “expor a perigo a vida ou a saúde da
pessoa” somente admite os modos de execução expressamente previstos em lei. São eles:
a) Privação de alimentos ou cuidados indispensáveis

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“Privar” significa destituir, retirar, tolher alguém de um bem ou objeto determinado. O crime,nessa
hipótese, é omissivo próprio ou puro. A omissão está descrita pelo próprio tipo penal.
A privação de alimentos pode ser absoluta ou relativa. Esta última (privação relativa) já é
suficiente para a configuração do crime de maus-tratos. Exemplo: mãe que injustificadamente não
serve o jantar ao filho de pouca idade. Na hipótese de privação absoluta, somente existirá o crime
definido pelo art. 136 do Código Penal quando o sujeito deixar de alimentar a vítima por um
período apto a submetê-la tão somente a perigo, pois em caso contrário constituirá meio de
execução de homicídio, consumado ou tentado.
Cuidados indispensáveis, por sua vez, são os imprescindíveis à preservação da vida e da
saúde de quem está sendo educado, tratado ou custodiado por alguém, tais como tratamento
médico e odontológico, fornecimento de roupas adequadas para cada estação do ano etc.
b) Sujeição a trabalho excessivo ou inadequado:
Trabalho excessivo é o capaz de prejudicar a vida ou a saúde de alguém, em razão de produzir
anormal cansaço como decorrência do seu elevado volume. Deve ser aferido no caso concreto,
levando-se em consideração os aspectos físicos da vítima. Exemplificativamente, caracteriza
trabalho excessivo a sujeição de uma criança de 10 anos de idade como estivadora em um porto
de cargas, o mesmo não ocorrendo com um homem maduro e fisicamente bem definido.
Trabalho inadequado, por seu turno, é o impróprio para uma determinada pessoa, e por esse
motivo apto a proporcionar perigo à vida ou à saúde de quem o realiza. Aqui também deve ser
sopesado o perfil subjetivo da vítima (sexo, idade, saúde, aptidão física etc.). Exemplo: É
inadequado obrigar um idoso a trabalhar em lugar descoberto no período noturno e durante o
inverno.
Fica nítido, portanto, que não se proíbe todo e qualquer trabalho, mas somente aquele executado
imoderadamente por alguém em consequência do abuso alheio. O crime, em tais casos, é
comissivo.
c) Abuso dos meios de correção ou disciplina
Correção é o meio destinado a tornar certo o que está errado. Disciplina, por sua vez, é o
expediente utilizado para preservar a normalidade, isto é, manter certo aquilo que já está certo.
Em ambas as situações o crime é comissivo.
O uso do direito de correção e de disciplina é importante, quiçá fundamental, para a educação,
ensino, tratamento ou custódia de pessoa que se encontra sob a autoridade, guarda ou vigilância
de alguém, e nesse ponto a conduta é lícita, pois presente o exercício regular de direito (CP, art.
23). Surge o crime de maus-tratos, porém, quando o titular do direito de correção ou de disciplina
dele abusa. Em outras palavras, o exercício do direito transmuda-se de regular para “irregular”. É

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o que se dá, por exemplo, quando um pai – que tem o direito de castigar seu filho, desde que com
moderação – decide espancá-lo, colocando em perigo sua vida ou sua saúde, ou ainda quando,
com o objetivo de impedir o namoro de sua filha menor de idade, acorrenta-a ao pé da cama.
A propósito, a Lei 13.010/2014, conhecida como “Lei da Palmada” ou “Lei Menino Bernardo”,
efetuou modificações no Estatuto da Criança e do Adolescente para o fim de estabelecer
expressamente o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso
de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante.
1.3.8.5.Sujeito ativo
Trata-se de crime próprio, pois o tipo penal reclama uma vinculação especial entre o autor e a
vítima dos maus-tratos. É necessário esteja o ofendido sob a autoridade, guarda ou vigilância do
agente, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, mas pouco importa o grau de
instrução ou a classe social do responsável pela conduta criminosa.
A assistência decorrente da relação de autoridade é a inerente ao vínculo de poder de uma
pessoa sobre a outra, e pode derivar de direito público ou de direito privado. Guarda é a
assistência a pessoas que não prescindem dela, e compreende necessariamente a vigilância.
Esta importa zelo pela segurança pessoal, mas sem o rigor que caracteriza a guarda, que pode
ser alheia (exemplo: o guia alpino vigia pela segurança de seus companheiros de ascensão, mas
não os tem sob sua guarda).
Educação é o processo de formação intelectual, moral e física de uma pessoa, permitindo-lhe
integração à sociedade e desenvolvimento individual. Exemplo: relação entre curador e interdito.
Não se confunde com o ensino, que consiste na transmissão dos conhecimentos fundamentais
ao processo educacional. Exemplo: vínculo entre professor e aluno.
Tratamento é o meio utilizado para a cura de enfermidades físicas ou mentais. Exemplo:
ligação entre médico e paciente.
Finalmente, custódia equivale ao ato de proteger alguém que se encontra legalmente detido.
Exemplo: relação entre o carcereiro e o condenado recluso.
O marido não pode ser sujeito ativo de crime de maus-tratos contra sua esposa, nem o contrário,
pois inexiste hierarquia entre eles no âmbito da relação matrimonial. Um não se encontra sob a
autoridade, guarda ou vigilância do outro para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia. A
conduta praticada por um cônjuge contra o outro poderá configurar o crime de lesão corporal (CP,
art. 129) ou de perigo para a vida ou saúde de outrem (CP, art. 132). E, se algum destes delitos
for cometido pelo marido contra a mulher, com emprego de violência doméstica ou
familiar, incidirão as regras disciplinadas pela Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha.
1.3.8.6.Sujeito passivo

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Não pode ser qualquer pessoa, mas somente aquela que se encontrar sob autoridade, guarda ou
vigilância do agente, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia. Em síntese, a vítima
deve ser pessoa subordinada ao responsável pela conduta criminosa.
No tocante à relação entre pai e filho, o crime apenas se aperfeiçoa se o descendente for menor
de idade, pois com a maioridade civil cessa a relação de guarda. Subsistirá o delito, contudo, se
mesmo com o advento dos 18 anos de idade o filho permanecer sob a autoridade do genitor.
1.3.8.6.1.Maus-tratos contra idoso
Se a vítima for idosa, incide o crime tipificado pelo art. 99 da Lei 10.741/2003 – Estatuto do
Idoso:
Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso,
submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e
cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho
excessivo
ou inadequado:
Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1.° Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 2.° Se resulta a morte:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
O conflito aparente de normas é solucionado pelo princípio da especialidade. E, nada obstante
o escopo do Estatuto do Idoso de conferir maior proteção às pessoas com idade igual ou superior
a
60 (sessenta) anos, as penas desse delito são idênticas às cominadas pelo art. 136 do Código
Penal,
tanto na forma simples como nas figuras qualificadas. A conduta criminosa, entretanto, é mais
abrangente, pois também considera maus-tratos a exposição a perigo da saúde psíquica do
idoso.
1.3.8.7.Elemento subjetivo
É o dolo, direto ou eventual. E, implicitamente, o tipo penal reclama também uma finalidade
específica, qual seja “a vontade consciente de maltratar o sujeito passivo de modo a expor-lhe a
perigo a vida ou a saúde”.118
Não se admite a modalidade culposa.

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1.3.8.8.Consumação
Consuma-se o delito com a exposição da vítima ao perigo. Não se reclama o dano efetivo.
Damásio de Jesus classifica o crime de maus-tratos como permanente, nas hipóteses de privação
de alimentos e/ou de cuidados, e como delito instantâneo em todas as demais.119
Para Nélson Hungria, contudo, o crime é permanente na modalidade de privação de alimentos ou
cuidados indispensáveis e sujeição a trabalho excessivo ou inadequado, enquanto nos demais
casos
é instantâneo, embora possa eventualmente assumir o caráter de permanência (exemplo: um pai,
com ânimo corretivo, mantém o filho fortemente amarrado ao pé de uma cama, ou prolonga
excessivamente a sua segregação no “quarto escuro”).120
Em posição isolada, Guilherme de Souza Nucci sustenta tratar-se de crime instantâneo, em todas
as suas variantes. Basta que o agente, por meio de uma única conduta, consiga colocar em
perigo a
vida ou a saúde alheia: estará consumado o crime, em qualquer uma das formas.121
1.3.8.9.Tentativa
É possível somente nas modalidades comissivas, uma vez que crimes omissivos próprios ou
puros não admitem o conatus.
1.3.8.10.Figuras qualificadas: §§ 1.° e 2.°
As duas qualificadoras (lesão corporal de natureza grave e morte) são
estritamente preterdolosas, por dois motivos:
(1)o dolo de perigo do crime de maus-tratos é incompatível com o dolo de dano no resultado
agravador; e
(2)as penas cominadas às figuras qualificadas, deveras inferiores à lesão corporal de natureza
grave e ao homicídio
doloso, evidenciam ter o legislador aceito somente a culpa no resultado naturalístico.
A lesão corporal leve é absorvida pelo crime de maus-tratos. Ao agente será imputado
unicamente o delito tipificado pelo art. 136, caput, do Código Penal.
1.3.8.11.Causa de aumento de pena
Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço), se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) anos. Essa causa de aumento de pena, justificada pela maior reprovabilidade da
conduta
criminosa, foi acrescentada no Código Penal pela Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do
Adolescente.
1.3.8.12.Ação penal

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É pública incondicionada.
1.3.8.13.Classificação doutrinária
Trata-se de crime próprio (o sujeito ativo deve ser hierarquicamente superior ao sujeito
passivo); de perigo concreto (reclama prova da exposição de perigo da vida ou da
saúde); comissivo ou omissivo; de forma vinculada (o tipo penal indica expressamente os
modos
de execução do crime); unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual (cometido por uma
única pessoa, embora admita o concurso); de ação múltipla ou de conteúdo variado (a prática
de
duas ou mais condutas contra a mesma vítima no mesmo contexto fático caracteriza crime
único); unissubsistente ou plurissubsistente; e instantâneo ou permanente (com
divergências
doutrinárias).
1.3.8.14.Maus-tratos e agravantes genéricas
Para impedir o bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato), o crime de maus-tratos afasta a
incidência das agravantes genéricas descritas pelo art. 61, inciso II, alíneas “e”, “f”, “g”, “h” e “i”,
pois as circunstâncias que ensejam sua aplicação já funcionam como elementar do delito.
1.3.8.15.Art. 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente e maustratos:
distinção
Em se tratando de criança ou adolescente sujeita à autoridade, guarda ou vigilância de alguém e
submetida a vexame ou constrangimento, aplica-se o art. 232 da Lei 8.069/1990 – Estatuto da
Criança e do Adolescente: “Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou
vigilância a vexame ou a constrangimento: Pena – detenção de seis meses a dois anos”.
Note-se que nessa hipótese a vida ou a saúde da criança ou do adolescente não é exposta a
perigo. Limita-se o sujeito a constrangê-la ou humilhá-la, tal como quando a reprime
abusivamente
em público.
1.3.8.16.Tortura e maus-tratos: distinção
Caracteriza-se o crime de tortura, equiparado a hediondo, quando alguém, que se encontra sob a
guarda, poder ou autoridade do agente, é submetido, com emprego de violência ou grave
ameaça, a
intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo (Lei 9.455/1997, art. 1.°, inc. II). A pena, nesse caso, é de reclusão, de dois a oito
anos.

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A distinção entre os crimes de tortura e de maus-tratos deve ser feita no caso concreto: aquela
depende de intenso sofrimento físico ou mental, enquanto para este é suficiente a exposição a
perigo da vida ou da saúde da pessoa. Ademais, o delito de maus-tratos é de perigo (dolo de
perigo), e o de tortura, de dano (dolo de dano).
Portanto, a diferenciação se baseia no elemento subjetivo. Se o fato é praticado por alguém
para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, mas com imoderação, o crime é de
maustratos.
Sem essa finalidade, ou seja, realizado o fato apenas para submeter a vítima a intenso
sofrimento físico ou mental, o delito é de tortura. Para o Superior Tribunal de Justiça:
A figura do inc. II do art. 1.°, da Lei n.° 9.455/97 implica na existência de vontade livre e
consciente do detentor da guarda,
do poder ou da autoridade sobre a vítima de causar sofrimento de ordem física ou moral, como
forma de castigo ou prevenção. O
tipo do art. 136, do Código Penal, por sua vez, se aperfeiçoa com a simples exposição a perigo a
vida ou a saúde de pessoa sob
sua autoridade, guarda ou vigilância, em razão de excesso nos meios de correção ou disciplina.
Enquanto na hipótese de maustratos,
a finalidade da conduta é a repreensão de uma indisciplina, na tortura, o propósito é causar o
padecimento da vítima.122
Vale ressaltar que o art. 4.° da Lei 9.455/1997 (Lei de Tortura) revogou expressamente o art.
233 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que tipificava a tortura contra criança ou
adolescente.
1.4.DA

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