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Subprodutos do Algodão na

Alimentação de Ruminantes

Fernanda Barros Moreira

Setembro, 2008
PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.
Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=356>.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes.


PUBVET, Autores convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.

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Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. ISSN 1982-1263.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
Sumário:

1. Introdução.............................................................................. 4
2. Origem dos Subprodutos do Algodão.......................................... 7
3. Toxicidade.............................................................................. 11
4. Caroço de Algodão................................................................... 15
4.1 Caroço de algodão, fonte de gordura naturalmente protegida....... 16
4.2 Caroço de algodão como fonte de fibra efetiva........................... 22
4.3 Caroço de algodão para ovinos................................................ 30
4.4 Caroço de algodão na suplementação de bovinos a pasto............ 32
4.5 Fornecimento do caroço de algodão: inteiro ou moído?................ 38
5. Casca de algodão..................................................................... 39
6. Farelo de algodão.................................................................... 47
7. Conclusão............................................................................... 57
Referências bibliográficas............................................................. 58

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
1. Introdução:

O algodão é uma das culturas de aproveitamento mais completo,


podendo gerar desde fibras têxteis, óleo e diversos subprodutos utilizados
na alimentação animal. Atualmente, o algodão veste grande parte da
humanidade e deverá ser bem mais significativo nos próximos anos, com
a conscientização da necessidade de preservação do meio ambiente,
escassez de petróleo (fonte de fibras sintéticas) e a crescente demanda
por produtos naturais.

O algodoeiro é cultivado, no Brasil, em três macro-regiões:

• Norte–Nordeste (Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do


Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Bahia);
• Centro–Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás);
• Sul–Sudeste (São Paulo, Paraná e Minas Gerais).

Cada região é caracterizada por um sistema de produção, desde


pequenas áreas praticadas pela agricultura familiar, até grandes áreas
caracterizadas pelo alto nível tecnológico.

Em meados de 80, uma praga - o bicudo, (Anthonomus grandis) -


alastrou-se pelo Brasil, destruindo completamente as plantações de
algodão em boa parte do País. Além disso, no início da década de 90,
ocorreu a liberalização das taxas de importação. Como conseqüência, as
indústrias passaram a importar a fibra do algodão de outros países, com a
oferta de preços mais baixos. O resultado foi o abandono da cultura pelos
agricultores, resultando em amplo prejuízo econômico. No Paraná, a área
plantada caiu de cerca de 700 mil hectares no início da década de 90 para
menos de 40.000 hectares em 2001.

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Figura 1: Bicudo, principal praga do algodoeiro em todo o mundo.
Disponível em www.camposdejulio.mt.gov.br

Com a abertura do cerrado brasileiro para a produção de grãos, a


cultura do algodão passou a representar uma alternativa para rotação
com a soja, o que despertou nos produtores daquela região uma grande
oportunidade de negócios. Hoje, o cerrado responde por 84% da produção
brasileira de algodão, tendo o estado de Mato Grosso como maior
produtor brasileiro. O sucesso da cultura do algodoeiro no cerrado tem
sido impulsionado pelas condições de clima favorável, uso de tecnologias
modernas, terras planas, que permitem mecanização total da lavoura,
associado a programas de incentivos implementados pelos estados da
região. Com isso, o cerrado brasileiro detém as mais altas produtividades
na cultura do algodoeiro no Brasil e no mundo, em áreas não irrigadas.

Figura 2: Cultura do algodão no cerrado.


Disponível em www.indea.mt.gov.br

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Segundo estimativas do 10º Levantamento da Safra de Grãos feito
pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), divulgado no dia 03
de julho de 2007, a área plantada de algodão para a safra 2006/07 está
estimada em 1,09 milhão de hectares, 27,2% maior que a área plantada
na safra 2005/06.

Com os incentivos à produção de biodiesel no Brasil, a expectativa é


que a produção de algodão suba ainda mais. O algodão apresenta
vantagens em relação a outras culturas como a mamona, uma vez que a
torta de algodão gerada como subproduto do biodiesel pode ser utilizada
na alimentação de ruminantes, o que não acontece com a torta de
mamona, devido à toxicidade.

Segundo a coordenadora de projetos do Pólo Nacional de


Biocombustíveis da Universidade de São Paulo (USP), Catarina Riodrigues
Pezzo, o biodiesel mais viável e barato produzido no País é o do caroço do
algodão. Custa R$ 0,81 o litro e sai da Região Nordeste. Em seguida é o
de soja, produzido na Região Centro-Oeste, a R$ 0,90 o litro. Segundo
Catarina, o algodão vence por fatores como facilidade de acesso e por
resultar na produção de subprodutos com valor de mercado. O algodão,
além de produzir biodiesel e servir para a indústria têxtil, gera
subprodutos como a casca e o farelo, que serve para a ração animal e tem
valor de mercado.

Diante deste cenário, diversas empresas já anunciaram a


implantação de usinas para extração de biodiesel a partir do algodão.
Como conseqüência, pode-se prever um aumento na disponibilidade de
subprodutos do algodão, principalmente casca e farelo, no mercado,
levando à expectativa de queda no custo destes subprodutos.

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2. Origem dos subprodutos do algodão:

A cultura do algodão é capaz de originar diversos produtos, desde os


diretos como a pluma e o óleo, até os subprodutos como o caroço, casca,
torta e farelo de algodão. Além de fornecer a pluma e o óleo, o algodoeiro
é capaz de fornecer um suplemento protéico de boa qualidade nutricional,
utilizado principalmente na alimentação de ruminantes.

A semente do algodão é colhida juntamente com a pluma ou línter.


Quando se faz a separação da pluma, sobra o caroço do algodão (Figura
3). Com a quebra do caroço, é separada a amêndoa da casca. Da
amêndoa é extraído o óleo, gerando como subproduto a torta de algodão.
Já as cascas geradas pela quebra do caroço do algodão resultam na
formação do subproduto casca de algodão (Figura 4). O fluxograma dos
sub-produtos do algodão está representado na Figura 5.

Figura 3: Caroço de algodão

Figura 4: Casca de algodão

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Figura 5: Fluxograma de produtos do algodão e sua utilização. Disponível em:
http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Algodao/AlgodaoAgricultur
aFamiliar/subprodutos.htm

Em função do tipo da extração, podem-se produzir dois tipos de


torta: a torta gorda (5% de óleo residual) de característica mais
energética, proveniente apenas da prensagem mecânica, porém com
menor teor de proteína; torta magra (menos de 2% de óleo residual)
oriundo da extração por solventes, apresenta concentração relativamente

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maior de proteína e menor densidade energética (Araújo et al., 2003;
Tabela 1).

Tabela 1. Composição química média da torta de algodão obtida pelos


dois métodos de extração.

Substância Extração mecânica Extração por


solvente

Matéria seca (%) 92,3 89,1

Proteína bruta (%) 46,1 47,6

Extrato etéreo (%) 4,6 2,2

Fibra bruta (%) 11,4 11,2

Cinzas (%) 7,2 7,5

Minerais
(macro e micro)

Cálcio (%) 0,21 0,22

Magnésio (%) 0,65 0,66

Fósforo (%) 1,14 1,20

Potássio (%) 1,68 1,72

Sódio (%) 0,007 0,14

Enxofre (%) 0,43 0,44

Cobre (mg/kg) 10,9 12,5

Ferro (mg/kg) 106 126

Manganês (mg/kg) 18,7 20,1

Molibdênio (mg/kg) 2,4 2,5

Zinco (mg/kg) 62,8 63,7

Fonte: Cottonseed Feed Products Guide (1998), citado por Araújo et al.
(2003).

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A torta de algodão, após a moagem, resultará no farelo de algodão.
O farelo pode ser feito apenas de torta, ou quando misturado às cascas de
algodão, dará origem ao farelo de algodão com casca. A mistura de
diferentes proporções de casca dará origem a farelos com diferentes
teores de proteína bruta e fibra. Quanto maior a proporção de casca,
menor o teor de proteína bruta e maior o teor de fibra no farelo (Tabela
2).

Conforme determinação do Ministério da Agricultura Pecuária e


Abastecimento, o teor de fibra bruta do farelo de algodão não deve ser
superior a 25%. No mercado, é possível encontrar farelo de algodão com
teores de proteína bruta que variam de 25% (máximo de adição de casca
à torta) até 50% (moagem da torta sem adição de casca).

Tabela 2. Composição de subprodutos do algodão usados na como


matéria-prima na ração animal.

Composição (%)
Subproduto Umidade Proteína Extrato Fibra Cinzas
(máx.) bruta etéreo bruta (máx.)
(mín.) (mín.) (máx.)
Farelo 12 50 - 8 6
(solvente) tipo
50
Farelo 12 40 2 15-16 6
(solvente) tipo
40
Farelo c/ casca 10 30 2 23 6
tipo 30
Farelo c/ casca 12 25 - 25 7,5
tipo 25
Casca de 10 3-3,5 - 40-44 3
algodão

Fonte: Brasil (1989), citado por Araújo et al. (2003)

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3. Toxicidade:

As limitações ao uso dos subprodutos do algodão são decorrentes


principalmente da presença do gossipol. Este é um aldeído polifenólico, de
cor amarelada, que pode estar na forma livre ou ligada a aminoácidos. No
grão intacto, o gossipol se apresenta na forma livre, mas no farelo ele
está principalmente ligado às proteínas, em função do processamento do
grão para a retirada do óleo (Tabela 3).

Tabela 3. Teor médio de gossipol em subprodutos do algodoeiro

Farelo de algodão Caroço Cascas


Substância (%) de algodão de algodão

prensado solvente

Gossipol total 1,09 1,16 0,66 0,107

Gossipol livre 0,06 0,14 0,68 0,049

Fonte: Cottonseed Feed Products Guide (1998), citado por Araújo et al.
(2003).

O gossipol livre é que apresenta toxicidade. No entanto, quando ele


se liga a aminoácidos livres ou ao ferro ocorre diminuição de sua
toxicidade. Os monogástricos são susceptíveis à intoxicação por gossipol,
por isso seu uso está principalmente relacionado à dieta de ruminantes.
Os ruminantes, com a população microbiana do rúmen desenvolvida, são
capazes de inibir a toxicidade do gossipol livre. O gossipol não será
metabolizado pelos microrganismos do rúmen, mas o ambiente ruminal
favorece a ligação do gossipol com aminoácidos, o que dificulta sua
absorção, e, por conseqüência, sua ação tóxica.

A toxicidade do gossipol está relacionada com dificuldade em


transportar oxigênio pelo sangue, além de prejudicar o funcionamento
reprodutivo dos machos, levando à disfunção testicular.

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Alguns trabalhos foram desenvolvidos com a finalidade de avaliar os
efeitos do gossipol no desempenho de ruminantes e, assim, poder
estabelecer os limites máximos de ingestão diária. Há relatos de que para
vacas de alta produção (mais de 40 kg/dia), o fornecimento de dieta com
12% de caroço de algodão e 16% de farelo de algodão não prejudicou a
produção de leite.

Em trabalho com diferentes níveis de gossipol livre (originado do


caroço de algodão) e de gossipol ligado (originado do farelo de algodão),
Mena et al. (2004) avaliaram não somente os efeitos sobre a produção e
qualidade do leite, mas também sobre o funcionamento dos rins, fígado e
músculos de vacas de leite alimentadas com diferentes subprodutos do
algodão. Os autores testaram três níveis de ingestão de farelo de algodão
associado a três níveis de ingestão de caroço de algodão. O nível de
ingestão de gossipol variou de 0 a 1894 mg/kg de matéria seca da
dieta/dia (Tabela 4).

Tabela 4: Ingredientes e composição química da dieta para vacas de leite


alimentadas com diferentes níveis de subprodutos do algodão:

% na matéria seca Dietas


A B C D E
Feno de alfafa 48 52 45,5 48,7 38
Milho 43,5 31,5 44,5 38 38,5
Farelo de soja 5,5 0 0,5 0,5 0
Caroço de algodão 0 13,5 0 6,8 13,5
Farelo de algodão 0 0 7 3,5 7
Tampão 1,2 1,2 1,2 1,2 1,2
Vitaminas + minerais 1,8 1,8 1,8 1,8 1,8
PB 16,4 16,3 15,4 14,8 16,6
EE 3,4 5,6 3,4 4,5 5,6
FDN 41,6 42,3 40,3 38,9 40,3
Gossipol total mg/kg 0 931,50 924 944,7 1894,3
Gossipol livre mg/kg 0 850,5 91 479,3 960,40
Adaptado de Mena et al., (2004).

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Os autores observaram que o fornecimento de 13,5% de caroço de
algodão e 7% de farelo de algodão não prejudicou o funcionamento dos
órgãos e tecidos testados. Ademais, estes alimentos foram capazes de
favorecer a produção de leite. (Tabela 5). Em função destes resultados, os
autores concluíram que o fornecimento de até 64 mg de gossipol total/kg
de peso vivo não prejudica o desempenho de vacas de leite.

Tabela 5: Produção de leite e consumo de matéria seca de vacas


alimentadas com diferentes níveis de ingestão de gossipol total:

Dietas
A B C D E
Consumo de MS 20,7b 21,1ab 21,4ab 21,7ab 22,7a
kg/dia
Consumo de gossipol 0c 31,16b 31,96b 31,65b 63,88a
mg/kg PV/dia
Produção de leite 28,6b 30,8ab 30,8ab 31,1ab 32,6a
kg/dia
Produção de leite 27,5b 29,8ab 28,6b 29,7ab 31,0a
Corrigido 3,5%
% gordura no leite 3,27 3,31 3,08 3,28 3,24

Adaptado de Mena et al. (2004).

Apesar da possibilidade de utilização dos subprodutos do algodão na


alimentação de ruminantes, alguns destes alimentos não devem ser
utilizados em:
• bezerros em que o rúmen ainda não esteja completamente
desenvolvido
• touros em reprodução.

Smalley e Bicknell (1982) reportou um caso de infertilidade


temporária em touros alimentados com caroço de algodão (3,63 Kg/dia) e
farelo de algodão (1,36 Kg/dia). Leighton et al ( 1953 ) trabalhando com

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bezerros com idade de 1 dia aos 6 meses, alimentados com concentrado
com 90% de caroço de algodão, causou a morte de alguns animais,
detectando a taxa de gossipol livre variando de 0,027 a 0,68%. Diante
disto, o caroço de algodão não é recomendado para bezerros devido a
grande susceptibilidade dos não ruminantes à toxicidade do gossipol.

Dentre os diferentes subprodutos do algodão, o caroço é o que


apresenta maior limitação quanto ao uso em touros e bezerros, uma vez
que neste alimento o teor de gossipol livre é mais alto, quando comparado
ao farelo ou às cascas de algodão (Tabela 3). Quanto maior o teor de
gossipol livre, maior a absorção pelo trato gastrointestinal, maior será o
efeito tóxico.

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4. Caroço de algodão:

O caroço de algodão é um alimento rico em proteína (média de 22%


na MS) e com alta densidade energética, em função dos níveis elevados
de extrato etéreo (média de 20% na MS) (Tabela 6). Observa-se que a
utilização do caroço de algodão na dieta de ruminantes é bastante
difundida, o que ocorre basicamente pelas seguintes vantagens do caroço:

• Fonte de proteína verdadeira de baixa degradação no rúmen;


• Alimento de alta densidade energética;
• Fonte de gordura insaturada naturalmente protegida;
• Fonte de fibra efetiva;

Tabela 6. Análise bromatológica do caroço de algodão encontrado por


diferentes autores:

Composição Bromatológica do Caroço de algodão


Autores MS PB FB EE MM FDN FDA
% % na matéria seca
Cunha et al., 92 20 21 19 3 - -
1998
Rogério et al., 89 26 - 21 5 40 29
2002
Teixeira et al., 92 22 - - - 48 -
2002
ElNemari Neto 83 22 31 18 4 43 39
et al., 2003
Jorge, 2005 94 23 - 19 - 51 39
Teixeira e - 23 - 23 - 43 26
Borges, 2005
Melo et al., 93 21 - 21 - 33
2007
Média 90 22 26 20 4 45 33
MS, matéria seca; PB, proteína bruta; FB, fibra bruta; EE, extrato etéreo; MM, matéria
mineral; FDN, fibra em detergente neutro; FDA, fibra em detergente ácido.

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4.1: Caroço de algodão, fonte de gordura naturalmente protegida:

Por seu um alimento rico em lipídeos, o caroço de algodão não deve


ser fornecido à vontade, uma vez que altos níveis de lipídeos na dieta de
ruminantes podem provocar alterações no ambiente ruminal, o que
poderá comprometer o desempenho do animal.

Os lipídeos, ao entrarem no rúmen, apresentam efeito deletério


sobre os microrganismos que degradam a fibra (bactérias gram + e
protozoários). O mecanismo exato da toxicidade dos lipídeos sobre estes
microrganismos ainda não está claro, mas acredita-se que esteja
relacionado à barreira que os lipídeos fazem ao redor das partículas de
alimento, prejudicando a colonização e degradação microbiana (Van
Soest, 1994). Por isso, recomenda-se que o nível de gordura na dieta de
ruminantes não ultrapasse 7 a 8% na matéria seca.

Dentre as fontes de gordura, aquelas que apresentam maior


porcentagem de ácidos graxos insaturados são mais tóxicas ao ambiente
ruminal quando comparadas às gorduras ricas em ácidos graxos
saturados. È por isso que fontes de óleos vegetais apresentam maior
toxicidade quando comparadas às fontes de gordura animal.

Como mecanismo natural de defesa, os microrganismos ruminais


desempenham a biohidrogenação, que nada mais é do que a adição de
íons hidrogênio aos ácidos graxos, de forma à diminuir o número de
ligações insaturadas, tornando estes ácidos graxos menos tóxicos (Figura
6). No entanto, a biohidrogenação não é completa, de forma que parte da
gordura se mantém na forma insaturada, prejudicando assim os
microrganismos ruminais.

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convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
Figura 6: Esquema geral do metabolismo de lipídeos pelos microrganismos
ruminais. Fonte: Nagaraja et al. (1997)

Uma alternativa para se diminuir o efeito deletério da gordura sobre


o ambiente ruminal seria a utilização de fontes de gordura de baixa
degradação no rúmen (gordura protegida). Existem no mercado algumas
opções de gordura protegida, como o Megalac® e o Lac100®. No entanto,
muitas vezes, o custo destes produtos inviabiliza seu uso.

Existem também as fontes de gordura naturalmente protegidas,


como é o caso do caroço de algodão. Uma vez que a gordura está
presente na amêndoa do algodão e, no caroço, a amêndoa está protegida
pela casca, a liberação dos lipídeos no ambiente ruminal será mais lenta,

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de forma a diminuir os efeitos deletérios sobre os microrganismos
ruminais. É por isso que vários trabalhos foram desenvolvidos com a
finalidade de determinar qual a quantidade máxima de caroço de algodão
que poderia ser utilizada na dieta de ruminantes sem que houvesse o
comprometimento da função ruminal.

Valinote et al. (2005) observaram queda na população de


protozoários no rúmen quando trabalharam com dietas ricas em
concentrado (81%) e com alto teor de extrato etéreo (9% na MS). Estes
autores utilizaram como fonte de lipídeo, o caroço de algodão, no nível de
21% da dieta total. Uma vez que os protozoários são elementos
importantes na degradação da fibra, principalmente quando a dieta é rica
em concentrados, os mesmos autores sugerem que a mesma dieta
poderia apresentar uma baixa digestibilidade da fibra, em função do
elevado teor de lipídeos (9% na MS).

No entanto, para dietas com alto teor de concentrado (81%)


Valinote et al. (2006) observaram que a degradabilidade efetiva da FDN
não foi prejudicada pela presença do caroço de algodão na dieta, dentro
dos mesmos níveis acima citados (21% de caroço de algodão; 9% de
extrato etéreo na matéria seca da dieta). Estes autores observaram para
a dieta controle (sem caroço de algodão, com 4,9% de extrato etéreo) a
degradabilidade da FDN da cana-de-açúcar foi de 52,25% e, para a dieta
com caroço de algodão, a degradabilidade foi de 51,25%.

Em outro experimento, mas com dietas muito semelhantes às


utilizadas pelos autores acima citados, Aferri et al. (2005) avaliaram o
efeito da inclusão de caroço de algodão (21% na matéria seca da dieta
total) em dietas de bovinos alimentados em confinamento com 81% de
concentrado em comparação a dieta controle (sem adição de fonte
lipídica) ou suplementado com uma fonte de gordura protegida (LAC

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
100®). A Tabela 7 representa a porcentagem de ingredientes na dieta e
seus teores de proteína bruta e NDT.

Tabela 7: Ingredientes e composição química da dieta de novilhos


alimentados com diferentes fontes de lipídeos:

% na matéria seca LAC 100 Caroço de Controle


algodão
Cana-de-açúcar 19,00 19,00 19,00
(planta inteira)
Farelo de soja 14,00 9,00 12,50
Milho em grão 26,54 21,18 29,36
Polpa cítrica 33,61 26,82 37,19
LAC 100 5,00 - -
Caroço de algodão - 21,00 -
Uréia 0,85 0,50 0,95
Calcáreo - 1,50 -
Sal mineral 1,00 1,00 1,00
Rumensin 0,027 0,027 0,027
PB 14,40 14,22 14,44
NDT 81,98 77,89 77,11
Adaptado de Aferri et al., 2005

Os autores não observaram diferença no ganho de peso e na


ingestão de matéria seca quando comparados ao grupo controle (sem
ingestão de caroço de algodão). O nível de extrato etéreo da dieta era de
8,25% na MS (Tabela 8).

Estes resultados apenas confirmam a possibilidade de utilização de


até 21% de caroço de algodão na dieta de bovinos sem que haja o
prejuízo para a fermentação ruminal, mesmo que os níveis de extrato
etéreo da dieta estejam entre 8 a 9% na MS.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
Tabela 8: Desempenho de novilhos alimentados com diferentes fontes de
lipídeos:

LAC 100 Caroço de Controle


algodão

Peso vivo inicial, kg 354 348 362

Peso vivo final, kg 430 428 444

Ganho médio, kg/dia 1,107 1,169 1,204

Ingestão de MS 8,12b 9,49a 9,20ab


kg/dia

Ingestão de MS 2,08b 2,45a 2,29ab


% PV

Conversão alimentar 8,03 8,38 7,86

Adaptado de Aferri et al., 2005

Nos trabalhos de Valinoti et al. (2005 e 2006) e de Aferri et al.


(2005), os bovinos foram alimentados com dieta rica em concentrado
(81%). No entanto, para dietas com maior proporção de volumoso, qual
seria o limite máximo de caroço de algodão na dieta, uma vez que o nível
de extrato etéreo do concentrado é maior do que do volumoso?

Prado et al. (1995) avaliaram dois níveis de caroço de algodão (15 e


30%) em dietas com cana-de-açúcar ou capim elefante como fonte de
volumoso para novilhos Nelore terminados em confinamento. O ganho de
peso foi semelhante para os dois níveis de caroço (0,95 e 0,90 kg/dia),
assim como não houve diferença na ingestão de matéria seca (11 e 9
kg/dia para os níveis 15 e 30%).

Assim, Prado e Moreira (2002) recomendam a utilização de caroço


de algodão para bovinos em confinamento no nível máximo de 30% de

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
caroço na dieta total. Os mesmos autores salientam que o sabor e o
aroma da carne poderiam estar comprometidos com a utilização de altos
níveis de caroço na dieta (acima de 30%). Esta alteração poderia estar
associada à presença de alguns ácidos graxos característicos do caroço de
algodão na carne do animal, o que geraria sabor e odor característicos.

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4.2. O caroço de algodão como fonte de fibra efetiva:

O caroço de algodão também tem sido utilizado como fonte de fibra


efetiva para vacas em lactação alimentadas com altos níveis de
concentrado. Em função de seus maiores teores de FDN quando
comparado a outras fontes de concentrados, o caroço de algodão pode
estimular a atividade mastigatória, garantindo um maior aporte de fibra
efetiva para dietas ricas em concentrado.

A dieta de vacas de leite deve conter uma quantidade mínima de


fibra. A quantidade e a qualidade da fibra irão desempenhar as seguintes
funções:
• capacidade para maximizar o consumo de nutrientes,
• permitir atividade mastigatória ótima,
• manter a fermentação ruminal dentro dos padrões da
normalidade e, por fim,
• promover adequada porcentagem de gordura no leite.

A efetividade da fibra pode ser medida por sua habilidade em


manter a atividade mastigatória da vaca e capacidade em manter a
produção de leite e a proporção de gordura no leite.

Fibra efetiva é a fração do alimento capaz de estimular a atividade


mastigatória, o que promove a secreção de saliva, resultando em maior
capacidade tampão ao rúmen. Maior capacidade tampão, maior
neutralização dos ácidos orgânicos produzidos durante a fermentação,
amenizando problemas como:
• queda na atividade de microrganismos fibrolíticos;
• menor motilidade ruminal;
• menor digestibilidade da fibra;
• menor consumo de alimentos.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


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O caroço de algodão e a casca de algodão são subprodutos ricos em
FDN, mas não FDN derivado de forragem. O FDN não derivado de
forragem apresenta menor tamanho de partícula e maior gravidade
específica, o que resulta em menor tempo de retenção do alimento no
rúmen. Como conseqüência, há de se esperar uma queda na
digestibilidade da fibra e uma menor produção de ácidos orgânicos no
rúmen (Allen e Grant, 2000).

Diversos trabalhos têm demonstrado que o caroço de algodão


apresenta boa capacidade em manter a atividade mastigatória, o que
resultaria em uma fonte de fibra efetiva. Harvatine et al (2002)
demonstraram que o FDN do caroço de algodão é 84% tão efetivo quanto
o FDN do feno de alfafa, sugerindo que a utilização de até 15% de caroço
de algodão em dietas com baixos teores de FDN de origem forrageiro não
representa limitações quanto à capacidade em estimular a atividade
mastigatória e, portanto, é capaz de manter o funcionamento adequado
do ambiente ruminal.

O caroço de algodão pode então ser utilizado em vacas leiteiras com


a finalidade de aumentar a densidade energética da ração além do caroço
servir como fonte de FDN não derivado de volumoso.

Slater et al. (2000) avaliaram o efeito da substituição do FDN da


forragem pelo FDN presente em resíduos como a casca de soja ou o
caroço de algodão em dietas para vacas leiteiras após o terço inicial de
lactação. Foram testadas quatro dietas experimentais:
• Dieta com FDN exclusivo de origem forrageiro (silagem de
milho e silagem de alfafa);
• Dieta com inclusão de casca de soja como fonte parcial de
FDN e milho como fonte de concentrado energético;

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• Dieta com inclusão de casca de soja como fonte parcial de
FDN e milho e trigo como fontes de concentrados energéticos;
• Dieta com inclusão de caroço de algodão como fonte parcial de
FDN.

A proporção de ingredientes da ração e a composição química das


dietas utilizadas estão apresentadas na Tabela 9.

Tabela 9: Ingredientes e composição química de dietas para vacas


leiteiras após o terço inicial de lactação:

% na matéria 18 FDN 14 FDN 14 FDN 10 FDN


seca trigo caroço de
algodão
Silagem de alfafa 16,8 13,6 13,6 9,2
Silagem de milho 27,2 20,3 20,4 13,6
Milho 30,6 22,9 13,8 27,2
Trigo - - 13,8 -
Farelo de soja 15,9 12,5 8,8 10
Casca de soja 3,4 23 23 23,9
Caroço de - - - 11
algodão
Glútem de milho 0,28 1,80 0,5 0,9
Farinha de 1,83 2,03 2,02 2,02
sangue
Sebo 1,95 1,97 1,96 -
Calcáreo 1,18 1,10 1,14 1,34
Premix mineral e 0,86 0,88 0,92 0,84
vitamínico
PB 17,2 17,9 18,4 17,6
FDN dieta 27,5 32,7 33,9 35,6
FDN forragem 17,8 14,0 13,9 9,4
EE 4,03 3,97 3,92 4,20
Tamanho de 2,99
partículas mm
Adaptado de Slater et al., 2000

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Os autores observaram que o consumo de MS/dia foi maior para as
vacas alimentadas com caroço de algodão, o que resultou também em
maior produção de leite por dia. No entanto, a porcentagem de gordura no
leite foi menor para as vacas alimentadas com caroço de algodão, de
forma que a produção de gordura por dia foi semelhante entre os
tratamentos (Tabela 10).

Tabela 10: Desempenho e proporção de AGV no rúmen de vacas


alimentadas com diferentes proporções de FDN de origem da forragem:

Item 18 FDN 14 FDN 14 FDN 10 FDN


trigo caroço de
algodão
Comsumo de MS
Kg/dia 22,5b 22,9b 21,9b 25,0a
% PV 3,77b 3,87b 3,63b 4,18a
Consumo FDN 6,32c 7,61b 7,44b 8,57a
Kg/dia
Consumo FDN 4,02a 3,22b 3,01b 2,38c
forragem, kg/dia
Produção de leite
Kg/dia 32,8c 33,4b 34,5b 35,6ab
Kg/dia corrigido 33,1 33,5 32,9 34,3
3,5%
% gordura 3,53a 3,62a 3,26b 3,35b
Gordura 1163 1177 1110 1165
g/dia
Proteína 1088b 1081b 1135a 1155a
g/dia
Proporção de
AGV
Acetato 58,9b 61,6a 62,4a 59,4b
Propionato 25,5a 21,8b 22,0b 25,5a
Butirato 11,2b 12,7a 11,8ab 11,0b
A:P 2,42bc 2,90ab 2,94a 2,37c
Adaptado de Slater et al., 2000

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Os autores justificaram o aumento na produção de leite pelo
aumento no consumo de matéria seca para dietas com caroço de algodão.
No entanto, o fator responsável pela diminuição na porcentagem de
gordura no leite não foi encontrado.

Sabe-se que quando o nível de FDN efetivo cai na dieta, ocorre uma
diminuição no teor de gordura no leite. Várias teorias foram desenvolvidas
para explicar essa queda. A menor relação acetato:propionato no rúmen
para dietas com baixo FDN efetivo tem sido uma das teorias. No entanto,
os autores acima citados avaliaram a quantidade e a proporção de ácidos
graxos voláteis no rúmen, e observaram que a dieta com caroço de
algodão apresentou valores muito semelhantes à dieta com fibra oriunda
da forragem (Tabela 10).

Outra teoria é a de que quando da utilização de fibras com tamanho


de partícula maior, o ruminante deveria gastar mais tempo mastigando e
ruminando o alimento, de forma que resultaria em menos problemas
digestivos e menor probabilidade de queda no teor de gordura no leite.

Novamente, os autores acima avaliaram o tamanho de partículas da


dieta e o tempo mastigando, observando que embora o tamanho de
partículas fosse menor para as dietas com os subprodutos (casca de soja
ou caroço de algodão), não houve diferença no tempo gasto mastigando o
alimento.

Estes resultados apenas demonstram que a redução no teor de


gordura no leite não pode ser explicada, simplesmente, pela alteração de
proporção de ácidos graxos no rúmen, pela redução do tamanho de
partículas do alimento ou pela diminuição no tempo de mastigação.
Outros fatores, ainda desconhecidos, podem influenciar o teor de gordura
no leite.

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Considerando uma dieta para vacas de leite com apenas 23% de
volumoso, há de se esperar que a porcentagem de gordura no leite possa
ser comprometida. No entanto, a porcentagem de gordura no leite
observada pelos autores acima citados é considerada dentro dos padrões
da normalidade (3,26 a 3,62%). Uma vez que a porcentagem de
volumoso na dieta foi baixa (23%), o que estaria contribuindo como fonte
de fibra efetiva para que não ocorresse o comprometimento do teor de
gordura no leite?

A resposta está basicamente em dois ingredientes da ração: a casca


de soja e o caroço de algodão. Estes resultados confirmam então a
possibilidade de redução da utilização de volumosos na dieta de vacas de
alta produção, sem que ocorra prejuízo para a qualidade do leite. Para
isso, é necessária a suplementação com outras fontes de fibra efetiva, o
que poderia vir de resíduos como a casca de soja, casca de algodão ou
caroço de algodão.

Segundo o NRC (1989), a dieta para vacas de leite deveria ter ao


menos 25% de FDN, sendo que 75% do FDN deveriam vir da forragem
(feno, pasto, silagem). No entanto, pelo NRC (2001) já existe uma
variação nos níveis mínimos de FDN e de FDN de origem da forragem. O
NRC recomenda FDN mínimo na dieta entre 25 a 33% e FDN de origem da
forragem entre 19 e 15%, de forma que quanto menor o nível de FDN de
origem na forragem, maior deverá ser o nível mínimo de FDN total.

Diante dos resultados de Slater et al. (2000), pode-se sugerir que o


caroço de algodão pode substituir parcialmente a forragem da dieta de
vacas leiteiras, podendo chegar até 10% de FDN de origem de forragem.

Este é um resultado importante para a formulação de dietas para


vacas de alta produção, uma vez que com a utilização do caroço de

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algodão, torna-se possível aumentar a densidade energética da ração, o
que poderia resultar em maior consumo de nutrientes, associado à maior
produção de leite.

Em outro trabalho, Melo et al. (2007) avaliaram níveis crescentes de


inclusão do caroço de algodão, em dietas para vacas de leite. Os autores
testaram o caroço de algodão nos níveis 0; 6,25; 12,50; 18,75 e 25,00
para dietas com proporções de volumoso entre 56 a 41%. À medida que
se aumentava a proporção de caroço de algodão na dieta, diminuía-se a
proporção de volumoso (silagem de sorgo) (Tabela 11).

Tabela 11: Ingredientes e composição química de dietas para vacas


leiteiras alimentadas com níveis crescentes de caroço de algodão:

% na matéria seca Dietas


0 6,25 12,50 18,75 25,00
Palma forrageira 28,92 29,46 29,21 28,74 29,29
(Forage cactus)
Silagem de sorgo 27,27 23,68 19,54 15,84 12,13
Caroço de algodão 0 6,25 12,72 19,39 25,43
Farelo de soja 23,88 20,90 18,66 16,08 13,27
Fubá de milho 18,91 18,70 18,86 18,93 18,58
Premix mineral 1,02 1,01 1,02 1,02 1,01

PB 17,30 16,89 16,85 16,68 16,29


EE 2,25 3,73 4,97 6,24 7,38
FDN cp 31,83 31,87 31,49 31,40 31,35
Adaptado de Melo et al. (2007).

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Os autores observaram que o consumo de matéria seca e a
produção de leite corrigida para 3,5% de gordura aumentaram de forma
linear com o aumento do caroço de algodão na dieta (Tabela 12). Assim,
em vacas de leite com dietas com até 41% de volumoso, seria possível a
utilização de até 25% de caroço de algodão, sem prejuízo para a produção
ou qualidade do leite.

Tabela 12: Desempenho de vacas de leite submetidas a níveis crescentes


de caroço de algodão na dieta

Dietas Efeito
0 6,25 12,50 18,75 25,00
Consumo de MS, 21,43 21,38 22,03 24,27 23,50 Linear
kg/dia
Produção de leite
kg/dia 29,5 30,24 31,25 32,67 32,27 NS
Kg/dia corrigido 26,7 28,12 30,22 30,74 31,68 Linear
3,5%
Gordura no leite, % 2,91 3,15 3,33 3,13 3,39 NS
Adaptado de Melo et al. (2007).

É difícil estabelecer qual o nível máximo de inclusão do caroço de


algodão na dieta de vacas de leite. Os níveis de volumoso e de FDN de
origem forrageiro da dieta devem ser considerados para estabelecimento
de níveis máximos de caroço de algodão na dieta. Dietas com maior
porcentagem de volumoso, no mínimo de 41%, é possível a utilização de
até 25% de caroço. Já em dietas com alto teor de concentrado (77%), o
nível de caroço deve ser menor (até 11%) para que o nível de extrato
etéreo da ração não comprometa a digestão da fibra no rúmen.

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convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
4.3. Caroço de algodão para ovinos:

Em trabalho com ovinos, Rogério et al. (2002) e Rogério et al.


(2004) testaram níveis de inclusão de caroço de algodão integral (0, 12,
24, 35 e 45%) à dieta básica de feno de "Tifton 85" (Cynodon spp.). Os
ovinos eram mantidos em gaiolas de metabolismo e alimentados com feno
de tifton 85 suplementado com níveis crescentes de caroço de algodão. O
nível de extrato etéreo da dieta com 45% de caroço de algodão chegou a
10,9%. O teor de proteína bruta das dietas variou de 7,81% para o nível
0 de caroço a 15,96% de PB para o nível 45% de caroço. O nível de FDN
variou de 86,51% para o tratamento sem caroço de algodão até 65,46%
de FDN para a inclusão de 45% de caroço de algodão.

Os autores observaram que o consumo de proteína bruta e de


extrato etéreo aumentou com a inclusão de caroço de algodão (Tabela
13). Como a dieta apresentava maiores teores de proteína e de extrato
etéreo com a inclusão do caroço, resultou também em aumento no
consumo destes nutrientes. No entanto, o consumo de matéria seca foi
numericamente menor com o aumento do caroço (Tabela 13). Estes
resultados sugerem um possível efeito negativo sobre o consumo de
matéria seca quando da utilização de níveis superiores a 35% de caroço.
Assim, os autores sugerem a inclusão de 24% de caroço de algodão, o
que representava 7% de extrato etéreo na dieta.

O coeficiente de digestibilidade da FDN foi prejudicado com a


inclusão em níveis acima de 35% de caroço (Tabela 13). O caroço de
algodão favoreceu a digestibilidade da matéria seca total da dieta. No
entanto, níveis acima de 35% de inclusão podem prejudicar a
digestibilidade da dieta por diminuir a digestibilidade da fibra. Com esses
resultados, os autores indicaram o caroço de algodão para ovinos, desde
que não ultrapasse os teores de 24% na ração total.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
Tabela 13: Consumo e digestibilidade de nutrientes de dietas a base de
feno de Tifton 85 associada a níveis crescentes de caroço de algodão, em
ovinos:

Nível de caroço de algodão

0 12 24 35 45

Consumo, g/kg0,75

MS 72,29a 64,75a 72,30a 67,86a 60,53a

PB 6,10b 6,75b 9,31a 10,15a 10,00a

EE 1,92d 3,13c 5,23b 6,41a 6,82ª

Digestibilidade, %

MS 48,12b 52,54a 55,53a 54,74a 57,09a

FDN 51,33a 50,89a 47,34a 40,30b 37,36b

Adaptado de Rogério et al. (2002) e Rogério et al. (2004).

Segundo Teixeira e Borges (2005), a digestibilidade da celulose


começa a cair quando os níveis de caroço de algodão passam de 24%.
Estes autores testaram níveis de caroço de algodão integral em ovinos
alimentados com feno de Brachiaria decumbens.

Diante dos resultados, observa-se que para ovinos, os níveis de


caroço de algodão na dieta não devem estar acima de 25%, uma vez que
níveis acima poderiam resultar em queda no consumo e na digestibilidade
dos nutrientes e, por conseqüência, comprometimento do desempenho
animal.

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4.4. Caroço de algodão na suplementação de bovinos a pasto:

Resultados de pesquisa têm demonstrado que a suplementação a


pasto pode ser uma alternativa para terminação de bovinos no período da
entressafra, com algumas vantagens em relação ao confinamento:

• Não é necessário a produção e fornecimento diário de volumoso,


uma vez que a forragem da pastagem já está disponível ao animal;
• Menor custo com instalações;
• Facilidade no transporte do alimento, pois apenas o concentrado
precisa ser fornecido diariamente;
• Menor utilização de mão-de-obra.

O caroço de algodão representa um alimento importante para ser


fornecido a animais a pasto. Por ser uma fonte de gordura aliado à
proteína, o uso do caroço pode resultar em maior desempenho de animais
mantidos a pasto.

Paulino et al. (2002) avaliaram diferentes fontes de proteína para


uso em suplementos para novilhos mestiços Holandês/Zebu terminados
em pastagem de Brachiaria decumbens, no período da seca (junho a
setembro). Os autores testaram três fontes diferentes de proteína: farelo
de soja; soja em grão ou caroço de algodão. Os ingredientes do
suplemento e sua composição química estão apresentados na Tabela 14.
Os animais eram suplementados com 4 kg da mistura por dia (média de
1% do peso vivo).

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


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Tabela 14: Ingredientes e composição química de suplementos para
novilhos terminados a pasto:

% na matéria seca Farelo de Soja em Caroço de


soja grão algodão
Sal mineral 2 2 2
Uréia + Sulfato de amônia 2,5 2,5 2,5
(9:1)
Farelo de soja 17 - -
Soja em grão - 25 -
Caroço de algodão - - 50
Milho triturado 78,5 70,5 45,5

PB 22,81 21,64 22,69


FDN 14,81 16,20 30,80
EE 3,20 7,89 12,16
Adaptado de Paulino et al. (2002).

Os autores observaram que não houve diferença no ganho de peso


para os alimentos testados (Tabela 15). É importante observar que apesar
da pastagem disponível apresentar baixa qualidade nutricional (2,5% de
proteína bruta e 75% de FDN), os animais chegaram ao peso de abate no
final da entressafra, uma vez que os suplementos possibilitaram um
ganho médio de 1 kg/animal/dia. Estes dados confirmam a possibilidade
da utilização da suplementação a pasto para terminar novilhos no período
da entressafra.

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convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
Tabela 15: Desempenho de novilhos terminados a pasto com
suplementos de diferentes fontes protéicas:

Farelo de Soja em Caroço de


soja grão algodão
Peso vivo inicial, kg 356 363 363
Peso vivo final, kg 462 461 457
Ganho médio diário, kg/dia 1,14 1,06 1,02
Rendimento de carcaça, % 53,61 52,21 53,04
Peso carcaça, kg 248 241 242
Adaptado de Paulino et al. (2002).

El-Memari Neto et al. (2003) avaliaram o efeito da suplementação


com três tipos de suplementos (amido, amido e gordura, gordura) e dois
níveis de suplementação (0,7 e 1,4% do peso vivo) para novilhos Nelores
terminados em pastagem de Brachiaria brizantha, no período de julho a
dezembro. Como fonte de amido os autores utilizaram o milho em grão e
como fonte de gordura, o caroço de algodão. A proporção dos ingredientes
e a composição química dos suplementos podem ser visualizadas na
Tabela 16.

O suplemento com gordura e amido foi o resultou em melhor


desempenho animal (Tabela 17). Quando comparados os dois níveis de
suplementação (0,7 e 1,4%), o nível de 1,4% do peso vivo em
suplementação, apesar de representar maior desempenho, não significou
melhor retorno econômico, uma vez que o custo da suplementação não
justificou este nível (Tabela 17). Estes resultados novamente comprovam
a possibilidade de utilização do caroço de algodão em suplementos para
bovinos a pasto.

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convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
Tabela 16: Ingredientes e composição química de suplementos para
novilhos terminados a pasto:

% na matéria seca Amido Óleo Amido e Óleo


Caroço de algodão 0 39 20
Casca de soja 0 41,50 17,50
Farelo de trigo 2,5 10,5 8,8
Farelo de algodão 17,4 8,5 13,5
Milho 78 0 39
Uréia + AS 12N:1S 2,1 0,50 1,20

PB 21,85 20,60 21,40


FDN 26,92 43,69 34,97
EE 3,11 8,50 6,05
NDT 74 71 73
Adaptado de El-Memari Neto et al. (2003)

Tabela 17: Desempenho de novilhos terminados a pasto com


suplementos de diferentes fontes de concentrado e dois níveis de
suplementação: 0,7 e 1,4% do peso vivo:

Amido Óleo Amido e


Óleo
0,7% de suplementação
Ganho de peso, kg/dia 0,457b 0,437b 0,572ª
Dias para abate 205 197 157
Relação Benefício/Custo 0,83 1,20 1,79
1,4% de suplementação
Ganho de peso, kg/dia 0,576b 0,611b 0,716a
Dias para abate 156 147 126
Relação Benefício/Custo 0,69 1,06 1,26
Adaptado de El-Memari Neto et al. (2003)

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convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
Em trabalho realizado no sul dos EUA, Poore et al. (2006) avaliaram
o efeito da suplementação com caroço de algodão para novilhas mantidas
a pasto (Festuca arundinacea Schreb.), durante o período do inverno. O
nível de suplementação foi de 0,33% do peso vivo. O suplemento era
composto por 80% de caroço de algodão e 20% de concentrado formado
por farelo de soja e milho. Os pesquisadores utilizaram o concentrado
(20% da mistura) para estimular as novilhas a consumirem o suplemento.
O experimento foi realizado durante o inverno de dois anos consecutivos.

Como resultado, foi observado um aumento no ganho de peso


individual e no ganho por área em ambos os anos avaliados (Tabela 18).

No primeiro ano, como a pastagem apresentava-se com melhor


qualidade nutricional (proteína bruta entre 14 a 20%), houve um adicional
de 100g/animal/dia para os animais suplementados. Já no segundo ano,
como a pastagem apresentava menor qualidade nutricional (proteína
bruta entre 12 a 14%), os animais suplementados apresentaram um
ganho de 230 g/animal/dia a mais quando comparados com as novilhas
não suplementadas (Tabela 18).

Vale salientar que o experimento acima citado foi realizado nos EUA
e, apesar de os animais estarem no período da entressafra, a pastagem
estava em bom estado nutricional, principalmente no aspecto proteína
bruta, uma vez que os teores observados estavam sempre acima da
exigência em proteína bruta por novilhas.

No entanto, no período da entressafra, para as condições brasileiras,


na maioria das vezes, são observados baixos teores de proteína bruta na
pastagem (normalmente de 4-9% de proteína bruta). Nesses casos, a
utilização do caroço de algodão pode ser viável, mas deve estar associado

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
a uma fonte de proteína degradável no rúmen, o que pode ser
parcialmente obtida a partir do nitrogênio não protéico.

Tabela 18: Efeito da suplementação sobre o desempenho de novilhas


mantidas a pasto (Festuca arundinacea Schreb.), durante o período do
inverno

Sem Com
suplementação suplementação
Peso vivo inicial, kg
Ano1 264 267
Ano 2 257 256
Ganho médio diário,
kg/dia
Ano 1 0,46b 0,56a
Ano 2 0,23b 0,46a
Ganho por área, kg/ha
Ano 1 223b 293a
Ano 2 147b 318a
Lotação, novilhas/ha
Ano 1 5,87 6,35
Ano 2 7,84 8,40
Adaptado de Poore et al. (2006).

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convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
4.5. Fornecimento do caroço de algodão: inteiro ou moído?

Outra dúvida freqüente quando do uso do caroço de algodão se deve


à forma de administração do caroço: inteiro ou moído. Segundo Teixeira
et al. (2002), a degradabilidade efetiva no rúmen da matéria seca, da
proteína bruta e da FDN do caroço de algodão inteiro é menor quando
comparado ao moído. O processo de moagem faz com que aumente a
fração solúvel da matéria seca e da proteína bruta do caroço.

Considerando que é interessante que a degradação do caroço de


algodão seja lenta, para que a liberação de gordura no rúmen seja
gradual, é recomendável a utilização do caroço de algodão inteiro, o que
também irá contribuir por diminuir a toxicidade da gordura no ambiente
ruminal e aumentar a quantidade de proteína não degradável da dieta.

Assim, o caroço de algodão pode representar uma fonte extra de


energia (em função do extrato etéreo), fonte de fibra efetiva para dietas
ricas em concentrado (presença de maior quantidade de FDN quando
comparado a outros grãos) e por fim, fonte de proteína de escape
(proteína não degradável no rúmen). O caroço de algodão representa um
ingrediente tecnicamente viável para utilização na dieta de ruminantes,
tanto para bovinos de corte, leite, ovinos ou caprinos.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


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5. Casca de algodão:

O subproduto casca de algodão se origina da quebra do caroço do


algodão para a liberação da amêndoa. Representa a parte externa do
caroço e pode conter quantidades variadas de línter aderido à casca. Isso
ocorre em função de diferenças nas variedades de algodão ou na
eficiência de retirada da pluma durante o processamento. Independente
da quantidade de línter, a casca de algodão se caracteriza por ser rica em
fibra (Tabela 19), por isso é considerado um volumoso para ser utilizado
na dieta de ruminantes.

Tabela 19. Análise bromatológica da casca de algodão encontrado por


diferentes autores:

casca de algodão
Autores MS PB EE MM FDN FDA
% % na matéria seca
Jorge, 2005 92,2 10,9 3,3 - 83,7 62,3

Magalhães et al., 2005 88,1 8,2 5,3 2,7 78,0 -

Chizzotti et al., 2005 87,4 8,1 2,9 - 79,0 61,7

Kazama, 2007 90,2 4,3 1,5 2,4 91,6 59,6

Média 89,5 7,9 3,25 2,5 83,1 61,2


MS, matéria seca; PB, proteína bruta; FB, fibra bruta; EE, extrato etéreo; MM, matéria
mineral; FDN, fibra em detergente neutro; FDA, fibra em detergente ácido.

Apesar do elevado teor de fibra, alguns autores observaram que o


consumo de ração foi maior quando da utilização de casca de algodão
como fonte de volumoso, o que pode estar associado à boa palatabilidade,
à maior taxa de passagem de partículas, ou a características inerentes da
fibra deste subproduto.

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Chizzotti et al. (2005) avaliaram o consumo e a digestibilidade de
dietas com níveis crescentes de casca de algodão peletizada como
volumoso (0, 10, 20 e 30%) em substituição parcial à silagem de capim-
elefante, sendo a dieta total constituída de 60% de volumoso, na base
seca (Tabela 20).

Tabela 20: Ingredientes e composição química de dietas com diferentes


níveis de inclusão da casca de algodão:

% na material seca Níveis de casca de algodão


0 10 20 30
Silagem de capim-elefante 60 50 40 30
Casca de algodão 0 10 20 30
Grão de sorgo 32,49 32,65 32,76 32,87
Farelo de soja 4,50 4,50 4,50 4,50
Uréia 1,95 1,80 1,70 1,60
Sulfato de amônia 0,19 0,18 0,17 0,16
Sal comum 0,25 0,25 0,25 0,25
Fosfato bicálcico 0,10 0,10 0,10 0,10
Calcário 0,50 0,10 0,10 0,10
Premix mineral 0,02 0,02 0,02 0,02

PB 13,27 13,24 13,35 13,46


FDN1 47,88 47,97 48,05 48,13
1
Corrigido para cinzas e proteína.
Adaptado de Chizzotti et al. (2005).

Os autores observaram um aumento linear no consumo de


nutrientes com o aumento na proporção de casca de algodão na dieta
(Tabela 21).

O consumo de matéria seca está diretamente relacionado ao teor de


FDN na dieta. Quanto maior o nível de FDN, menor será o consumo, de

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forma que o consumo deva se estabilizar quando o consumo de FDN
esteja próximo a 1,2% do peso vivo/dia (Mertens, 1994).

Apesar da FDN ter sido utilizada como principal componente químico


na estimativa do consumo de forragens, ela não pode ser considerada
isoladamente para predizer o consumo, uma vez que existem variações
em relação ao tamanho de partícula, fragilidade da partícula, taxa de
passagem, digestibilidade da FDN e características inerentes da fibra.

Tabela 21: Consumo e coeficiente de digestibilidade de dietas com


diferentes níveis de inclusão de casca de algodão:

Níveis de casca de algodão


0 10 20 30 Efeito
Consumo de MS
Kg/dia 6,63 7,44 7,62 8,26 Linear
% do peso vivo 2,46 2,89 2,97 3,14 Linear
Consumo de FDN cp
Kg/dia 2,87 3,33 3,43 3,76 Linear
% do peso vivo 1,06 1,30 1,34 1,43 Linear
Digestibilidade
MS 54,87 53,99 55,56 54,84 NS
FDN cp 32,60 33,17 36,26 34,87 NS
1
Corrigido para cinzas e proteína.
Adaptado de Chizzotti et al. (2005).

Isso é comprovado pelos resultados observados em relação ao


consumo de casca de algodão. Diversos experimentos têm demonstrado
que o consumo de fibra é maior quando da utilização da casca de algodão
como fonte de volumoso. Kazama (2007) observou consumo de FDN de
até 1,88% do peso vivo/dia quando usou 21% da dieta em casca de
algodão. Estes resultados comprovam a necessidade de investigação de

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outros fatores que poderiam estar envolvidos na capacidade do animal em
ingerir fibra.

Há uma relação direta entre o consumo de fibra e sua


digestibilidade, onde o consumo voluntário aumenta com a maior
digestibilidade da fibra. Maior digestibilidade da fibra representa maior
velocidade de esvaziamento ruminal, o que resultaria em menor limitação
física do enchimento do rúmen sobre o consumo de nutrientes.

No mesmo trabalho, Chizzotti et al. (2005) não observaram


diferença na digestibilidade de nutrientes de dietas com diferentes níveis
de casca de algodão (Tabela 21). Por outro lado, alguns autores têm
demonstrado diminuição da digestibilidade de nutrientes com o aumento
nos níveis de casca de algodão. Assim, apesar da casca de algodão
responder com maior consumo de nutrientes, sua digestibilidade seria
menor, o que poderia comprometer o desempenho animal.

O efeito positivo da fibra da casca de algodão sobre o consumo de


fibra já foi demonstrado em alguns trabalhos (Chizzotti et al., 2005 e
Kazama, 2007). No entanto, é importante verificar se este efeito positivo
também se manifesta em aumento no desempenho animal, quer seja no
ganho de peso ou na produção de leite.

Magalhães et al. (2005) avaliaram o ganho de peso de novilhos


terminados em confinamento e alimentados com níveis crescentes de
casca de algodão. Os autores trabalharam com até 30% de casca de
algodão em substituição à silagem de capim elefante (Tabela 22).

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Tabela 22: Ingredientes e composição química de dietas com diferentes
níveis de inclusão da casca de algodão:

% na matéria seca Níveis casca de algodão


0 10 20 30
Silagem de capim elefante 60 50 40 30
Casca de algodão 0 10 20 30
Sorgo em grão moído 32,49 32,65 32,76 32,87
Farelo de soja 4,5 4,5 4,5 4,5
Uréia 1,95 1,80 1,70 1,60
Sulfato de ammonia 0,19 0,18 0,17 0,16
Premix mineral 0,37 0,37 0,37 0,37
Calcareo 0,5 0,5 0,5 0,5

PB 13,35 13,30 13,41 13,52


EE 2,38 2,76 3,13 3,50
FDN 49,09 49,46 49,84 50,21
Adaptado de Magalhães et al. (2005).

Magalhães et al. (2005) observaram maior consumo de nutrientes


para os novilhos alimentados com maior nível de casca de algodão. O
consumo de FDN chegou a 1,63% do peso vivo para a dieta com 30% de
inclusão de casca de algodão. Novamente acima de 1,2% preconizado por
Mertens (1994) como valor limite para o consumo de FDN.

O ganho de peso foi semelhante para todas as dietas testadas


(Tabela 23). Estes resultados confirmam a possibilidade de utilização de
até 30% de casca de algodão na engorda de bovinos.

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Tabela 23: Desempenho de novilhos alimentados com níveis crescentes
de casca de algodão:

Níveis casca de algodão


0 10 20 30
Peso vivo inicial, kg 230 229 228 228
Peso vivo final 331 330 329 325
Ganho médio diário, 1,27 1,38 1,21 1,34
kg/dia
Consumo,
matéria seca, kg/dia 7,80 7,98 8,77 8,15
1
matéria seca, % PV 2,73 2,81 3,03 3,38
1
FDN, % PV 1,27 1,33 1,45 1,63
Conversão alimentar 6,14 5,75 7,32 6,07
1
Efeito linear. Adaptado de Magalhães et al. (2005).

Kononoff e Heinrichs (2003) avaliaram o efeito da inclusão da casca


de algodão em substituição parcial à silagem de milho para vacas de leite
no terço inicial de lactação. Foram testadas duas silagens de milho
(tamanho de partícula longa (22 mm) ou curta (5 mm) associadas ou não
à casca de algodão (8% da matéria seca da dieta). Os ingredientes e a
composição química das dietas podem ser visualizadas na Tabela 24.

Observou-se que a produção e a composição do leite foram


semelhantes entre os tratamentos avaliados. No entanto, as dietas com
casca de algodão promoveram maiores consumos de matéria seca e de
FDN, o que resultou em melhor condição corporal para as vacas
alimentadas com casca de algodão (Tabela 25).

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Tabela 24: Ingredientes e composição química de dietas para vacas de
leite com dois tamanhos de partículas da silagem associada ou não às
cascas de algodão:

% na matéria seca Fibra Fibra Fibra Fibra


longa longa + curta curta +
Casca de Casca de
algodão algodão
Silagem de milho 57,4 45,8 57,4 45,8
Casca de algodão 0 7,8 0 7,8
Milho moído 11,2 17,2 11,2 17,2
Soja em grão 6,1 10,4 6,1 10,4
Resíduo de destilaria 6,9 0,9 6,9 0,9
Trigo 6,9 6,0 6,9 6,0
Farelo de soja 6,7 7,9 6,7 7,9
Uréia 0,35 0,42 0,35 0,42
Calcário 1,48 1,58 1,48 1,58
Farinha de origem 1,8 0,9 1,8 0,9
animal
Premix mineral e 1,14 1,13 1,14 1,13
vitamínico

PB 18,4 17,7 18,0 19,2


FDN 29,1 31,5 29,9 32,3
EE 5,1 5,1 4,7 4,6
Adaptado de Kononoff e Heinrichs (2003)

O efeito positivo sobre a condição corporal foi principalmente


associado à dieta com silagem de milho com menor tamanho de partícula.
Enquanto que nas dietas com silagem de maior tamanho de partícula
houve perda de peso no período, para as dietas com silagem de milho
com menor tamanho de partícula houve um ganho de peso no mesmo
período. Este resultado é importante, pois melhor condição corporal no
terço inicial de lactação pode favorecer o retorno ao cio mais precoce,
diminuindo assim o intervalo entre partos.

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Assim, além do efeito positivo do menor tamanho de partículas
sobre o processo de ensilagem (maior facilidade de compactação),
silagens confeccionadas com o milho cortado a 5 mm poderão favorecer
também a condição corporal de vacas de leite, sem comprometer a
produção e a composição do leite.

Tabela 25: Desempenho de vacas de leite alimentadas com dietas com


dois tamanhos de partículas da silagem associada ou não às cascas de
algodão:

Fibra Fibra Fibra Fibra


longa longa + curta curta +
Casca de Casca de
algodão algodão
Consumo de
matéria seca
Kg/dia 25,69 27,60 26,10 28,31
% PV 3,82 4,06 3,85 4,14
Consumo de FDN, 1,07 1,23 1,13 1,31
% PV
NDT % 69 69 66 66
Variação no PV -0,42 -0,11 0,06 0,12
Produção de leite, 47,5 48,5 49,3 48,7
kg/dia
Produção de leite, 48,3 48,2 47,7 48,3
kg/dia corrigido
% Gordura 3,61 3,49 3,44 3,48
Produção de 1,71 1,68 1,66 1,69
gordura kg/dia
Adaptado de Kononoff e Heinrichs (2003)

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6. Farelo de algodão

O farelo de algodão é obtido a partir da moagem da torta de


algodão. O farelo pode ser feito apenas de torta, ou quando misturado às
cascas de algodão, dará origem ao farelo de algodão com casca. É por isso
que a composição química do farelo de algodão é bastante variada.
Quanto maior a proporção de casca de algodão no farelo, menor o teor de
proteína bruta e maior o teor de fibra no farelo.

Assim, a qualidade nutricional do farelo de algodão vai depender da


proporção de casca adicionada. Maior proporção de casca, além de
resultar em menor teor protéico, também irá possuir menor
digestibilidade, o que poderá comprometer o desempenho animal quando
este farelo for rico em casca.

Uma maneira prática de avaliar a qualidade do farelo de algodão é


pelo seu teor de proteína bruta. Quanto menor o teor de proteína bruta,
maior a proporção de casca, menor a digestibilidade e maior a
probabilidade em comprometer o desempenho animal.

Uma vez que o farelo de algodão apresenta maior teor de fibra


quando comparado ao farelo de soja, sua utilização poderia resultar em
comprometimento do desempenho animal, principalmente para animais
de alta produção. Por isso, diversos trabalhos foram e estão sendo
desenvolvidos com a finalidade de avaliar a substituição do farelo de soja
pelo farelo de algodão, quanto aos efeitos sobre a digestibilidade da dieta,
consumo de nutrientes e o desempenho animal.

Zinn et al. (1997) testaram níveis crescentes de farelo de algodão


na dieta de novilhos em confinamento. Os autores não padronizaram para

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o teor de proteína bruta na dieta, de forma que com o aumento na
proporção de farelo de algodão, a proporção de milho era diminuída, o
que resultava em aumento no teor de proteína bruta das dietas com o
aumento do farelo de algodão (Tabela 26).

Tabela 26: Ingredientes e composição química de dietas com níveis


crescentes de farelo de algodão:

Níveis de farelo de algodão


% na matéria seca 8 16 24 32
Feno de alfafa 6 6 6 6
Feno de capim Sudão 6 6 6 6
Milho 65,85 57,85 49,85 41,85
Sebo 4 4 4 4
Melaço 8 8 8 8
Farelo de algodão 8 16 24 32
Calcáreo 1,5 1,5 1,5 1,5
Premix mineral 0,65 0,65 0,65 0,65

PB 11,93 14,82 17,70 20,59


EE 7,13 6,89 6,66 6,43
FDA 7,88 9,16 10,44 11,72
Adaptado de Zinn et al. (1997).

O ganho de peso e a eficiência alimentar dos animais diminuiu com


o aumento na proporção de farelo de algodão (Tabela 27). Vale destacar
que esta queda no desempenho não pode somente ser associada ao farelo
de algodão, mas sim, ao aumento no teor de proteína bruta da dieta.

Para novilhos, a exigência em proteína bruta é próxima a 12%. O


fornecimento de dietas com valores acima da exigência faz com que o
animal tenha que metabolizar este excesso de nitrogênio, o que irá
resultar em desvio de gasto energético do ganho de peso para a excreção

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de nitrogênio urinário. Os autores recomendam que para a engorda de
novilhos, o teor de farelo de algodão não ultrapasse 16% da dieta.

Tabela 27: Desempenho de novilhos alimentados com níveis crescentes


de farelo de algodão na ração:

Níveis de farelo de algodão


8 16 24 32
Peso vivo inicial, kg 288 297 296 295
Peso vivo final1, kg 497 497 485 480
Ganho médio diário1, kg/dia 1,55 1,52 1,41 1,38
Consumo de matéria seca, kg/dia 7,85 7,89 8,08 8,06
Conversão alimentar1 5,38 5,6 6,03 6,19
1
Efeito linear. Adaptado de Zinn et al. (1997)

Pode parecer insensato a realização de tal experimento, uma vez


que parece lógico que o fornecimento protéico de quantidade acima da
exigência, além de prejudicar o desempenho, resultará em prejuízo
econômico, uma vez que grande parte do nitrogênio acaba por ser
excretado. No entanto, os autores justificam este trabalho pelo fato de
alguns produtores, pela avaliação do custo de alguns subprodutos,
acabam por substituir fontes de energia por fontes protéicas, ou vice
versa. Esta substituição pode resultar em comprometimento do
desempenho animal e prejuízo do aproveitamento da dieta. Estes
resultados, portanto, apenas confirmam a necessidade do balanceamento
adequado das dietas para que o desempenho animal possa então ser
maximizado.

Experimento semelhante foi realizado por Grings et al. (1991). Estes


autores testaram níveis crescentes de inclusão de farelo de algodão para
vacas de leite, somado ao aumento proporcional da proteína bruta da
dieta. Os ingredientes utilizados, a composição química das dietas e o
desempenho estão apresentados na Tabela 28.

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convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
Os autores não chegaram a observar queda na produção de leite
quando o teor de proteína bruta da dieta estava acima das exigências. No
entanto, a eficiência de utilização do alimento foi menor para a dieta com
maior teor de proteína. Os autores recomendaram então que o teor de
proteína na dieta de vacas de leite em início de lactação não deveria estar
acima de 17,5%.

Tabela 28: Ingredientes, composição química da dieta e desempenho de


vacas de leite alimentadas com níveis crescentes de proteína bruta na
dieta:

Níveis de Proteína Bruta


13,8 17,5 20,4 23,9 Efeito
Ingredientes, % na MS
Feno de alfafa 28,9 28,9 28,9 28,9 -
Silagem de alfafa 12,5 12,5 12,5 12,5 -
Caroço de algodão 10,3 10,3 10,3 10,3 -
Trigo 27,0 21,8 16,7 12,5 -
Milho 17,8 14,4 11,5 8,1 -
Farelo de algodão - 8,6 16,6 24,2 -
Premix mineral 3,5 3,5 3,5 3,5 -

Nutrientes, % na MS
FDN 40,8 40,6 40,1 40,7 -
EE 4,5 4,5 4,1 4,0 -

Desempenho
Consumo de MS, % do PV 3,9 3,9 4,0 4,2 Linear
Produção de leite kg/dia 36,6 38 37,9 38,6 Linear
Gordura no leite, % 3,40 3,54 3,48 3,49 NS
Adaptado de Grings et al. (1991)

Jorge (2005) utilizou casca de algodão, caroço de algodão e farelo


de algodão na dieta de novilhos confinados. Foram avaliadas duas dietas:
uma sem caroço de algodão e outra com caroço e farelo de algodão.

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Como volumoso, para as duas dietas, foram utilizados a silagem de milho
e a casca de algodão (Tabela 29).

Tabela 29: Ingredientes e composição química da dieta de novilhos


confinados:
% na matéria seca Sem caroço Com caroço
Silagem de milho 18 18
Casca de algodão 27 27
Milho 45,31 36,44
Farelo de algodão 9,04 2,85
Caroço de algodão - 15,06
Sal mineral 0,32 0,32
Calcáreo 0,32 0,32
PB 12,8 12,6
FDN 42 47
EE 3,3 5,7
Adaptado de Jorge, 2005.

Apesar do consumo de alguns nutrientes ser maior para a dieta sem


caroço de algodão, o ganho de peso dos novilhos foi semelhante entre as
duas dietas avaliadas (Tabela 30).

Tabela 30: Desempenho de novilhos alimentados com diferentes


subprodutos do algodão:
Sem caroço Com caroço
PVI 406 406
PVF 521 523
GMD 1,12 1,12
Consumo MS kg/dia 14,6a 13,5b
% PV 3,12a 3,01b
FDN % PV 1,37 1,41
CA 13,5 12,3
RC 48 47
EGC 4,79 5,08
Adaptado de Jorge, 2005.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
Pina et al. (2006) estudaram o consumo de nutrientes, a
digestibilidade e o desempenho de vacas leiteiras alimentadas com 60%
de silagem de milho e 40% de concentrado contendo diferentes fontes de
proteína. Foram avaliados quatro concentrados com diferentes fontes de
proteína:
• Farelo de soja;
• Farelo de algodão com 38% de proteína bruta;
• Farelo de algodão com 28% de proteína bruta;
• Farelo de soja adicionado a 5% da mistura uréia e sulfato de
amônio.

As proporções de ingredientes nos concentrados podem ser


visualizadas na Tabela 31.

Tabela 31: Ingredientes e composição química de concentrados para


vacas leiteiras:

% na matéria seca Farelo de Farelo de Farelo de Farelo de


Soja Algodão Algodão soja e
38 28 uréia
Fubá de milho 43,67 29,81 15,42 62,01
Farelo de trigo 10 10 10 10
Farelo de soja 41,61 - 14,39 19,77
Farelo de algodão 38 - 55,47 - -
Farelo de algodão 28 - - 55,47 -
Uréia / AS 1,5 1,5 1,5 5,0
Mistura mineral 3,22 3,22 3,22 3,22

PB 14,71 15,37 14,65 14,62


FDN 44,02 49,39 52,90 43,87
EE 2,26 2,45 1,91 2,45
Adaptado de Pina et al. (2006)

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
Os autores observaram que a substituição do farelo de soja pelo
farelo de algodão proporcionou menor digestibilidade da materia seca,
proteína bruta e da fibra e, portanto, menor teor de nutrientes digestíveis
totais (NDT) disponíveis para os animais (Tabela 32).

Por outro lado, a substituição do farelo de soja pelo farelo de algodão


proporcionou maior consumo de alguns nutrientes como proteína bruta,
extrato etéreo e FDN. Como conseqüência, a produção de leite foi
semelhante para todos os concentrados avaliados, apesar da menor
eficiência de produção para as vacas alimentadas com farelo de algodão
(Tabela 32). O teor e a produção de gordura no leite também foram
semelhantes entre as dietas, porém a produção de proteína no leite foi
menor para as dietas com caroço de algodão.

A proteína do farelo de algodão possui menores teores de lisina e


metionina quando comparado ao farelo de soja, o que confere menor
valor biológico para o farelo de algodão. Vacas leiteiras, principalmente no
início de lactação, necessitam de uma fonte protéica de alto valor
biológico, o que pode ser suprido parcialmente pela proteína microbiana e,
como complemento, pela proteína do alimento. Assim, o menor valor
biológico do farelo de algodão pode ter contribuído para a menor produção
de proteína no leite das vacas alimentadas com o farelo de algodão.

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Tabela 32: Desempenho de vacas leiteiras alimentadas com diferentes
fontes protéicas no concentrado:

Farelo de Farelo de Farelo de Farelo de


Soja Algodão Algodão soja e
38 28 uréia
Consumo, kg/dia
MS 18,96 19,38 19,56 18,57
*
PB 3,06 3,23 3,12 2,92
FDN 7,85 8,89* 9,90* 7,36
Consumo, % do PV
MS 3,29 3,33 3,40 3,22
* *
FDN 1,36 1,53 1,72 1,27
Digestibilidade, %
MS 68,19 61,81* 59,85* 66,45*
PB 72,57 66,18* 68,39* 71,54
FDN 50,87 44,97* 43,68* 47,43*
NDT, % 72,54 64,63* 63,05* 72,48
Produção de leite, kg 23,85 23,76 22,69 23,42
Eficiência1 1,25 1,22 1,16* 1,25
Produção de proteína
no leite
g/dia 756,92 702,36* 702,13* 732,25
*
% 3,19 2,98 3,12 3,17
Produção de gordura
no leite
g/dia 911,50 825,01 919,79 862,50
% 3,85 3,53 4,07 3,73
1 *
kg de leite/kg de MS ingerida; Diferem do controle (Farelo de soja) pelo
teste de Dunnett (P<0,05).
Adaptado de Pina et al. (2006)

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Em outro trabalho realizado no Brasil, Imaizumi (2005) testou a
substituição do farelo de soja pelo farelo de algodão para vacas de alta
produção leiteira. Três dietas foram testadas:

• Farelo de soja como suplemento protéico único;


• Farelo de soja e Farelo de algodão na proporção de 15% da matéria
seca;
• Farelo de algodão como suplemento protéico único (30% da matéria
seca).

Os ingredientes da dieta e sua composição química estão na Tabela


33.

Tabela 33: Ingredientes e composição química de dietas com diferentes


fontes protéicas:

% na matéria seca Farelo de Farelo de Farelo de


Soja Algodão Algodão
15% 30%
Silagem de milho 45,98 45,98 45,98
Farelo de soja 21,56 10,76 -
Farelo de algodão - 15 30
Milho moído 13,27 10,86 8,36
Polpa cítrica peletizada 13,27 10,86 8,36
Uréia 0,24 0,24 0,28
Vitaminas + minerais 2,51 2,51 2,51
Bicarbonato de sódio 0,71 0,71 0,71
sebo 2,46 3,08 3,80
PB 17,3 17,3 17,3
FDN 30,7 32,9 35,0
EE 5,5 6,0 6,6
Adaptado de Imaizumi (2005).

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O autor relatou que a inclusão do farelo de algodão na dieta resultou
em diminuição na produção de leite e queda na proporção de proteína no
leite (Tabela 34). Assim, apesar do efeito negativo sobre a produção de
leite, o autor recomenda a utilização deste farelo, desde que seu preço
represente no máximo 63% do preço do farelo de soja.

Tabela 34: Desempenho de vacas de leite alimentadas com diferentes


fontes de proteína:

Farelo de Farelo de Farelo de


Soja Algodão Algodão
15% 30%
Consumo de MS, kg/dia 21,52 22,26 21,71
Produção de leite, kg/dia 34,75a 33,43b 33,21b
Produção de leite corrigido, 34,78 35,24 35,45
kg/dia
Gordura no leite
% 3,49b 3,82a 3,89a
Kg/dia 1,23b 1,27ab 1,29a
Proteína no leite
% 2,91a 2,84b 2,83b
kg/dia 1,01a 0,94b 0,94b
Variação de peso 18,08a 7,47b 10,17b
Adaptado de Imaizumi (2005).

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7. Conclusão:

Os subprodutos do algodão são importantes ingredientes para serem


utilizados na alimentação animal. É capaz de fornecer desde fontes
protéicas (caroço e farelo de algodão), fonte de fibra (caroço e casca de
algodão) até fonte de ácidos graxos insaturados (caroço de algodão).
Como qualquer outro ingrediente, é importante conhecer as
particularidades dos subprodutos do algodão para que possam ser
utilizados na alimentação animal da forma mais correta possível.

Moreira, F.B. Subprodutos do algodão na alimentação de ruminantes. PUBVET, Autores


convidados, V.2 N.36, Art#356, Set2, 2008.
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