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Tópicos p/Seminário Leonel: Thomas Vesting – Teoria do Direito: uma

introdução, Cap. 7 (Evolução), I, II e III.


 Entende-se por história do Direito a descrição da trans- formação e
da evolução do Direito dentro do tempo histórico, a “trajetória do
Direito” desde os “primórdios até o presente”.
 O autor afirma que não se pode considerar a história do direito como um
fenômeno linear, onde sempre se busca um nível superior, mas que, ainda
assim, continuou existindo o ordenamento cronológico do material
histórico segundo as grandes épocas da história mundial, Antiguidade,
Idade Média, Idade Moderna, às vezes, complementadas pela Pré-
História e pela História Contemporânea. O tema central continua sendo a
modificação do Direito em um espaço de experiência da história
concebido como “trajetória” – algumas vezes, também como “corrente” ou
“fluxo”.
 Mas isso talvez seja apenas uma fórmula paliativa para o paradoxo
iniludiv ́ el do tempo histórico, da identidade entre continuidade
(identidade) e evoluçao ̃ (diferença).
 O conceito histórico moderno da Idade Moderna somente pôde surgir
depois que o mundo deixou de assentar-se em uma transcendência
(metafiś ica) indisponiv́ el e passou a ser objeto de sua própria evolução.
Isso pressupunha a desintegração de uma visão de mundo estacionária
da Europa antiga e, por conseguinte, uma reestruturação da semântica
temporal ontológica.
 Somente depois que se constituiu a ideia de um sentido histórico
especif́ ico é que a história do Direito pôde se estabelecer como disciplina
cientif́ ica. Isso só aconteceu no (fim do) século XIX, na medida em que o
histórico se tornou componente sustentador do direito.
 Contudo, o interesse genético-histórico pelo Direito romano permaneceu
sempre subordinado a interesses sistemático-construtivistas; o
entendimento histórico servia ao programa de uma dogmática histórica do
Direito, i.e., à sustentação da pretensão de validade dos próprios projetos
sistemáticos.
 Foi apenas com as codificações imperiais, no fim do século XIX (Código
Comercial alemão, Código Civil alemão etc.) que as fontes do Direito
romano e a ciência do Direito a elas associadas perderam importância, o
que permitiu um interesse só histórico pelo direito romano.
 Desinteresse pelo estudo do direito de outras civilizações, como a Grega
e a Asiática. Influência pesada do direito romano no estudo de História do
Direito na Alemanha.
 Se a história romaniś tica do Direito do século XIX dispunha de um perfil
de pesquisa relativamente unitário, no século XX a disciplina dispersou-
se em correntes divergentes.
 já nos primeiros anos do século XX, surge uma história do Direito que
renuncia a toda e qualquer pretensão dogmática, orientada
exclusivamente pelo sentido histórico e pela verdade histórica. Além
disso, já durante a República de Weimar, começou a articular-se um
interesse pela semântica do Estado e da razão do Estado, na transição
do regime de poder tradicional para a polit́ ica moderna: histórica
constitucional da política moderna.
 As reflexões feitas até aqui servem unicamente para sustentar a
constatação de que, hoje, a história do Direito pluralizou-se em diferentes
áreas de pesquisa e desvinculou-se da ideia de um questionamento e de
um método unitários. Hoje, a história do Direito oscila entre uma história
dogmática do Direito civil romano de caráter mais autossuficiente
(exemplo tiṕ ico: Kaser) e uma história do Direito de orientação histórico-
social (exemplo tip ́ ico: Wieacker).
II. História Evolutiva do Direito (M. Weber)
 A história evolutiva do direito de Weber, ao contrário de uma
perspectiva meramente descritiva, indaga o encadeamento entre
aquelas circunstâncias intrajurid ́ icas e extrajurid́ icas que conduziram
à formação do Direito moderno. Seu tema exato é o “‘racionalismo’
especif́ ico da cultura ocidental”, a evolução da “legalidade interna
própria” dos ordenamentos mais diversos, só produzida pelo Ocidente,
como, e.g., soberania racional, economia capitalista, ciência (natural)
autônoma e, de fato: Direito (racional) moderno.
 Weber: direito liberal como direito racional, sendo um direito definido
pelo seu caráter formal. O direito é formal (racional) quando, em suas
operações, “consideram-se, sob o aspecto jurid ́ ico-material e
processual, apenas caracteriś ticas tip ́ icas gerais inequiv́ ocas”.
 O contraconceito para isso é racionalidade material. A racionalidade
material dirige um Direito quando apreciações concretas do caso
concreto, “imperativos éticos, ou regras de finalidade utilitárias ou
outras, ou máximas polit́ icas” determinam problemas de criação do
Direito ou de heuriś tica jurid
́ ica.
 Níveis do formalismo jurídico de Weber: No primeiro niv́ el, as
caracteriś ticas juridicamente relevantes possuia ́ m um caráter
perceptiv́ el pelos sentidos (doravante: formalismo empiŕ ico). No
segundo niv́ el, o Direito era compreendido de modo puramente
racional, pensante, através de “interpretação lógica” (doravante:
formalismo lógico).
 Formalismo empírico: a) já pressupunha uma “decomposição
[analit́ ica] dos complexos tip ́ icos plásticos da vida cotidiana em muitos
atos elementares qualificados de modo inequiv́ oco e jurid ́ ico”, i.e., ao
menos, rudimentos de uma análise conceitual através de abstração
mental (daquilo que é dado); b) o elemento construtivo e sintético está
apenas formado; c) apega-se a caracteriś ticas externas, ele trabalha
com determinadas fórmulas e rituais e baseia-se, e.g., no fato “de uma
determinada palavra ser dita, de uma assinatura ser dada, de uma
determinada conduta simbólica definitivamente estabelecida em seu
significado” ser executada. D) Do ponto de vista da história evolutiva,
já se alcançara um grau relativamente alto de racionalidade com o
formalismo empiŕ ico, mas onde esse tipo permaneceu determinante,
a evolução do Direito ficou encravada na casuiś tica e na jurisprudência
dos precedentes.
 Foi somente o formalismo jurid ́ ico lógico que conduziu à
emergência do Direito moderno ou, nos termos de Weber, do
Direito racional formal.
 Segundo Weber, o formalismo empiŕ ico constituia ́ o “tipo mais rig ́ ido
do formalismo jurid ́ ico”. Os Direitos religiosos já conheciam elementos
desse tipo de formalismo na forma de um formalismo condicionado
pela mágica, mas o formalismo empiŕ ico apenas alcançou um
significado “histórico-universal” no Direito romano.
 Vesting cita exemplos – legis actio, mancipatio e casamento – em que
trata-se de “negócios jurid ́ icos” baseados em atos de fala per-
formáticos (no sentido empregado por Austin), i.e., a transferência de
validade do Direito, a validade do ato jurid ́ ico, é operada através do
ato de fala, da forma sinestésica, visiv́ el e audiv́ el da enunciação, i.e.,
da comunicação.
 Weber considerava o formalismo jurid ́ ico desenvolvido quando “as
regras jurid ́ icas singulares reconhecidamente vigentes [eram
agregadas e] racionalizadas, por meio da lógica, em um nexo de
enunciados jurid ́ icos abstratos coerentes em si”.
 Weber: positivismo jurídico atingiu o mais alto grau de racionalidade
metodológica, aqui se tratando de racionalidade sistemática, em que
ocorre a associação de dois componentes: ela se baseava, por um
lado, no trabalho juridicamente construtivo, na sin ́ tese de regras em
institutos jurid́ icos e, por outro, na “ressistematização lógica” dessas
regras e institutos. Em outras palavras, racionalidade lógica significava
construir regras e institutos abstratos e reduzi-los a princip ́ ios últimos
e o mais gerais possiv́ eis através de relações de precedência
(hierarquias), para, a partir desse ponto mais elevado, constituir o
Direito em um sistema coerente em si e “desprovido de lacunas”.
 Weber também visualizava, como outros autores, a vontade livre ou a
Consciência soberana, também constituía o ápice do sistema. Mas
também acentuava, de outra banda, o componente mecanicista do
sistema jurid́ ico-positivista e reconstruia ́ -o, “apoiando-se estritamente
̂
no modelo da mecanica como um sistema universalmente
determinado e racional”40, transformando-o em uma unidade a partir
da qual toda decisão jurid ́ ica podia ser entendida como “aplicação” de
um enunciado jurid ́ ico a um fato concreto.
 Em Weber, encontrava-se em primeiro plano a reconstrução das
condições intrajurid ́ icas e extrajurid ́ icas da evolução de um Direito
sistemicamente racionalizado, de um Direito que podia ser
programado como uma máquina trivial, modelo que pode ser visto, de
forma exacerbada, por meio do positivismo.
 Somente a instituição de uma jurisdição contin ́ ua permitiu o
surgimento de uma expertise jurid ́ ica especif́ ica, de um “pensamento
́ ico” que, por sua vez, influenciou a camada de dignitários
jurid
envolvida na práxis jurídica.
 Aqui, Weber distingue três fases evolutivas: o pensamento jurid ́ ico
surgia (1) ou a partir da experiência “artesanal”, como “aprendizado
empiŕ ico do Direito através de práticos”, (2) ou resultava do
aprendizado teórico em escolas de Direito especiais, “na forma de
elaboração racionalmente sistemática”; (3) ou o aprendizado do Direito
acontecia em escolas eclesiásticas.
 Com a ajuda dessas distinções, estava criado um nexo histórico-
evolutivo através do qual era possiv́ el esclarecer a evolução dos
pressupostos intrajurid ́ icos do Direito racional. O formalismo lógico foi
a obra de juristas com formação teórica e histórica, e baseava-se na
reelaboração mentalmente sistemática do Direito justiniano e,
especialmente, do Digesto. Isso, por sua vez, pressupunha a
transmissão desse Direito desde o século XI, i.e., aquele momento em
que o Direito romano registrado em um antigo manuscrito foi
“redescoberto” em uma biblioteca da Itália. Os elementos de ligação
centrais para a recepção desse Direito foram os tabeliães italianos, as
universidades e o Direito canônico, i.e., a teoria do Direito da Igreja
Católica Romana. Assim, no centro da história evolutiva de Weber
estava, afinal, o Direito civil romano, não tanto por seu conteúdo, mas
sim por seus “esquemas e formas de pensamento jurid ́ ico rig
́ idos.
 Portanto, o Direito privado, o Direito penal e o Direito público mo- derno
somente podiam ser reconduzidos ao Direito civil romano segundo o
aspecto formal, considerando-se a expertise jurid ́ ica estri- tamente
formal. Somente nessa medida o Direito civil romano constituia ́ o
objeto com base no qual o pensamento jurid ́ ico europeu formou-se e
o Direito racional formal pôde desenvolver-se.
 Por trás dessa forma analítica de se verificar o direito romano,
verificando o seu formalismo especial, estava novamente uma cadeia
argumentativa, que levava do Direito à religião, como suposto “inić io”
do Direito: o formalismo devia ser atribuid ́ o, afinal, às singularidades
da “religião romana nacional” e da heuriś tica jurid ́ ica sacral dos
pontif́ ices romanos (pontifices). Por isso, para Weber, a doutrina
religiosa romana girava já cedo em torno do cultivo da correção e das
questões de etiqueta jurid ́ ica, não do pecado, da penitência ou da
salvação, sendo o direito sacral quem gerou o pensamento jurídico
racional.
 Influências extrajurídicas do direito racional: Aqui, Weber remete a
fatores distintos, como a relação entre poder teocrático e profano, as
condições econômicas, como a dependência da liberdade contratual
e dos direitos subjetivos em relação a processos econômicos
(ampliação de mercado), mas também a relações de poder polit́ ico.
Assim, a evolução do Direito formal podia ser condicionada por uma
multiplicidade de fatores extrajurid ́ icos. Todavia, entre todos eles,
Weber atribuia ́ ao fator polit́ ico uma posição especial.
 Princípio da estatuição: um voluntarismo pronunciado, i.e., na
suposição de uma fundamentaçao ̃ do Direito reconduzível à livre
vontade. A criaçao ̃ ou positivaçao ̃ do Direito. Relação da
estatuição com o princípio da outorga.
 Nessa medida, a história evolutiva do Direito de Weber não pode ser
dissociada de sua sociologia do poder ou do Estado; mais que isso
até, a sociologia cultural comparada do Direito desempenhava, em
muitos aspectos, um papel sobretudo subserviente em relação à teoria
do Estado (racional) de Weber. Isso porque o Estado era o primeiro a
cuidar da estatuição e da codificação.
 No plano lógico-conceitual, o Direito era condicionado –
diferentemente, e.g., da convenção e dos costumes – pelo elemento
da coerção jurid ́ ica. Isso se aplicava também e justamente no que se
refere à sua validade empiŕ ica (eficácia), o que mostra a subordinação
do pensamento weberiano do direito ao poder.
 Weber recusava-se em considerar inadmissiv́ el um monopólio estatal
para a organização e o exercić io da coerção jurid ́ ica pela força; para
ele, bastava uma situação “em que existe a perspectiva da aplicação
de qualquer meio coercitivo, fiś ico ou psiq ́ uico, exercida por um
aparelho coercitivo, i. e., por uma ou mais pessoas que estão prontas
para esse fim, caso o tipo em questão venha a se concretizar, i. e., em
que existe um tipo especif́ ico de socialização para a finalidade da
‘coerção jurid́ ica’”.
 No plano metodológico, toda a problemática de seu modelo epi-
genético de esclarecimento, no qual “niv́ eis evolutivos” ou “niv́ eis
racionais” singulares são retirados da realidade histórica, genera-
lizados e, em seguida, enriquecidos com material histórico, já está
inserida no sintagma “história da evolução”. De fato, Weber, o
admirador da “grande polit́ ica”, tendia a reconduzir transformações
históricas a lutas de poder, i.e., falando em termos sociológicos, a
reconduzir seleções à contingência. Com isso condiz uma série de
comentários do metodologista Weber, nos quais a realidade
operacional da história é reduzida a um fluxo infinito (sem sentido) de
“eventos incomensuráveis” que se revolvem em direção à eternidade.
Por outro lado, porém, para Weber, tratava-se dos processos da
racionalização formal do Direito, e, neles, a teoria estava fixada na
observação de relações de pro-gressão e em tendências históricas.
 Weber achava ser possível escapar à oposição ausência de sentido
da história versus evolução = progresso através de uma construção
evolutiva tiṕ ica ideal. Essa construção tiṕ ica ideal reduzia a história a
um mero modelo, a um constructo meramente teórico para descrição
da realidade histórica (indescritiv́ el em sua realidade operacional).
III – Teoria da Evolução e Teoria dos Sistemas
 O conceito de Weber de uma história evolutiva cultural comparada
estiliza a evolução do Direito moderno, transformando-a, por fim, em
um produto da atividade legisladora polit́ ica. Com isso, o Direito
permanece na sombra da sociologia do poder e de sua concepção
́ ica polit́ ica, tal como ela é cultivada ainda hoje.
jurid
 Todavia, a história cultural comparada da evolução do Direito
de Weber pode servir de base à moderna teoria da evoluçao ̃ , na
medida em que renuncia a toda e qualquer forma de metafísica
do progresso e abre o conceito de história – ao menos nas
análises materiais – para ideias de nao ̃ linearidade e
descontinuidade. Aqui, evoluçao ̃ significa ensejo de uma maior
complexidade, mas não progresso em direçao ̃ à perfeição.
 A ideia de evolução utilizada por Vesting é apoiada numa
combinação entre teoria da evolução e teoria dos sistemas, proposta
por Luhmann, Teubner e Amstutz, dentre outros, dentro de um
esquema darwiniano, onde a “evoluçao ̃ ” é definida através de um
esquema triplo: através do nexo de associaçao ̃ condicional
entre variaçao ̃ , seleç a ̃
o e restabilizac ̧ a ̃
o .
 “Variaçao ̃ ” refere-se ao modelo de reproduc ̧ ao ̃ dos elementos
próprios ao sistema ou a operações, i.e., a possíveis
transformações dos costumes praticados no sistema até um
determinado momento. “Seleçao ̃ ” refere-se à consequente
transformaçao ̃ de estruturas como condiçao ̃ de reproduçao ̃
futura, i.e., a condições iniciais (recursivas) alteradas.
“Restabilização” marca a continuaçao ̃ das estruturas
escolhidas, a manutençao ̃ da estabilidade do sistema, no
sentido da estabilidade dinâmica (interconexao ̃ recursiva).
 Exemplo: No passado, o conceito de reuniao ̃ sempre era
interpretado no sentido amplo, todavia, sob a pressão do
aumento de novos tipos de manifestaçao ̃ de divertimento (Love
Parade), o Tribunal Constitucional Alemao ̃ vê-se confrontado
com uma situação alterada e busca novas possibilidades para
lidar com o tipo de manifestação divergente (variação). Em uma
decisão, a manifestaçao ̃ de divertimento é excluid ́ a do conceito
de reunião (seleção), em decisões ulteriores, a nova juris-
prudência consolida-se (restabilizaçao ̃ ).
 Sobre o uso de ideias darwinianas, Vesting alerta que o emprego de
conceitos de Darwin na teoria do Direito não deve ser interpretado
como aplicação analógica de conclusões da biologia ou como
“metáforas”.
 O conceito de “seleçao ̃ natural” de Darwin não é simplesmente
transposto para a evolução do Direito; para a teoria dos
sistemas, trata-se de seleçao ̃ interna e autoestabilizaçao ̃
provisória de sistemas (semânticos) dinâmicos, mas não de
seleção externa e submissao ̃ a leis de caráter exclusi- vamente
filogenético, como para Darwin. Pelo contrário, com a teoria da
evoluçao ̃ , o objetivo é utilizar uma das aquisições mais
significativas do pensamento moderno para esclarecer
transformações estruturais do Direito.
 A teoria da evolução, provavelmente, é mais apropriada que
qualquer outra teoria geral para inaugurar novas possibilidades de
comunicação entre as ciências naturais e as ciências humanas,
inclusive porque a biologia moderna já é fortemente influenciada
pela cibernética, pela teoria da informação e pelo pensamento
computacional.
 A ênfase do conceito tripartite de evolução está na distinção entre
variação e seleção, na investigação das condições da possibilidade
de alterações estruturais repentinas. Aqui, o antigo modelo
teleológico de evolução é substituid ́ o por um modelo circular, que
parte do princip ́ io de que os ordenamentos apenas conseguem es-
tabilizar-se por algum tempo e de que fases de estabilidade (stasis)
são substituid ́ as por fases de instabilidade.
 A teoria da evolução não parte do princípio da unidade e da
continuidade de um contexto de tradição histórico, mas da plu-
ralidade e da descontinuidade de nexos tradicionais históricos.
Assim, o que é decisivo não é mais a questão sobre o nexo interno,
e.g., do Direito civil romano, desde a Lei das Doze Tábuas até os
últimos anos de Roma, mas sim a análise das “condições da
possibilidade de alterações estruturais não programadas”. A
diversificação e o au- mento de complexidade devem ser entendidos
como efeitos da “ampliação, produzida de modo circular, de uma
divergência em relação ao estado anterior” (deviation amplification).
 A evolução do Direito não é um aumento da complexidade orientado
para um objetivo especif́ ico, gradual, contin ́ uo, sem lacunas, nem
tampouco uma evolução de formas jurid ́ icas (perfeitas) inferiores
para outras formas superiores, assemelhada a um processo, que se
desenrola em fases. Evolução não é algo que pode ser
prognosticado e nunca conduz a estados perfeitos, “pois a perfeição
apagaria o significado de história e excluiria a evolução futura”
 Com a conexão entre teoria da evolução e teoria dos sistemas, o
interesse da pesquisa histórico-jurid ́ ica – como já acontecia em
Weber – é orientado para questões do presente, e a questão do
inić io do Direito é relativizada ou abandonada. A evolução apenas
pode alterar as estruturas de sistemas já existentes, mas o sistema
autopoiético, até mesmo conceitualmente, não pode ser originado
por um “pontapé inicial”. Aqui, Vesting considera a busca por um
início dos inícios como um questionamento improdutivo.
 A fundação do Direito é tratada como um mito original fabricado no
sistema jurid ́ ico, enquanto o centro de gravidade da análise teórico-
evolutiva é deslocado para a busca de pontos de referência que
deixem transparecer em que ponto as redes recursivas começam a
refletir sua própria existência – na forma da observação de segunda
ordem. Desse modo, a explicação de aquisições e pro- cessos
evolutivos desloca-se de uma busca de um encadeamento de
causas orientada pelo conceito de causalidade para a observação
de inovações estruturais do sistema.
 A moderna teoria da evolução concentra-se, especialmente, na
reconstrução de condições evolutivas gerais favoráveis à evolução
do sistema. Essas condições de possibilidade são designadas por
Luhmann – baseando-se no uso linguiś tico de Parsons – como
“preadaptive advances”
 Essas decisões conceituais iniciais tornam possiv́ el con- ceber uma
evolução autônoma do sistema jurid ́ ico sem que seja preciso
relativizar ou mesmo ignorar a dependência do sistema ju- rid ́ ico em
relação a um ambiente.
 Se partirmos do princip ́ io de que o sistema jurid ́ ico, desde o século
XIX, diferenciou-se como sistema (“autolegal”) autônomo ou, na
esteira de Luhmann, deve ser sempre pressuposto como sistema
autopoiético, a evolução do Direito não poderá ser tratada
unicamente como variável da evolução do ilić ito, e.g., como “reflexo”
da evolução social, cultural ou polit́ ica. Na evolução, trata-se sempre
de diferença e de adaptação na relação entre sistema e ambiente.
 Da autonomia do direito: Ainda que se tente isolar a questão sobre
o inić io e evitar o mito de uma primeira diferença, de um primeiro
rastro – como fez Luhmann – ao menos no plano da comparação
cultural “teórico-universal”, coloca-se a questão sobre como a
diferenciação do Direito veio a acontecer em uma determinada via
da evolução do Direito – e, aparentemente, sob forte influência do
Direito civil romano – enquanto todas as outras culturas não foram
além das “estruturas jurid ́ icas” adivinha- tórias, religiosas ou
retóricas.
 Muito distintas são as respostas encontradas na teoria dos sistemas
para a questão sobre o inić io e o lugar de inić io do processo de
diferenciação do Direito. Existem comentários que dão a entender
que algumas culturas urbanas da região mediterrânea da
Antiguidade já dispunham de um Direito (autopoiético) autônomo.
 Segundo outros comentários de Luhmann, o verdadeiro take-off do
sistema jurid ́ ico deu-se somente por volta de 1800, e em estreita
relação com a diferenciação do sistema econômico85. Luhmann
enfatiza essas interdependências funcionais também no contexto do
problema do poder: sem o monopólio de poder no Estado moderno,
não seria concebiv́ el um sistema jurid ́ ico autônomo.
 Ainda que se admita que a evolução do Direito possa repetir-se, i.e.,
que a emergência do Direito (autopoiético) autônomo não precisa
ser reconduzida a um único pontapé inicial, este é um ponto em que
reina grande incerteza.
 Se levarmos em conta, primariamente, a autopoiese comunicativa,
a codificação binária e a observação de segunda ordem, é
praticamente impossiv́ el desconsiderar a qualificação do Direito civil
romano como autônomo desde os últimos anos da República. Não
obstante, não se poderá falar de uma diferenciação do Direito
romano no sentido de uma especificação funcional de competência
universal. Mas contra isso fala o fato de todo o espaço público em
Roma ter estado definido não pelo Direito (civil), mas sim pelo mos
maiorum, pelo respeito pelas convenções tradicionais da nobreza,
pelos usos dos ancestrais. Diante disso, era impossiv́ el uma
separação estrita entre Direito e convenções sociais.
 Por essa razão, indaga-se se a referência sistêmica da evolução do
Direito, o sistema jurid́ ico, precisa preexistir conceitualmente como
estrutura invariável ou se o próprio conceito de sistema deve ser
historicizado. A solução sugerida por Luhmann para esse intricado
problema vem a ser a conexão do conceito de sistema, no conceito
de autopoiese, com um tempo relacionado com o momento, com
atualidade pontualizada, e o estabelecimento dessa estrutura
temporal como “invariante” histórica.
 Uma vez iniciada a autopoiese do sistema, o sistema jurid ́ ico
trabalhará necessariamente de acordo com o momento e de modo
sequencial.
 Assim sendo, seria preciso que, ao menos no futuro, fosse possiv́ el
estabe- lecer uma distinção clara entre autonomia e sistemas
funcionais e autonomia e sistemas sociais. Além disso, seria
necessário esclarecer e decidir se se deve falar de autopoiese em
cada nexo comunicativo fechado do ponto de vista operacional ou
apenas no caso de um sistema funcional (moderno) autônomo.
Evolução pressupõe autopoiese, mas não pode ser ela mesma
objeto de evolução. Evolução é sempre evolução de sistemas
autopoiéticos. Vista desse modo, a autopoiese é o resquić io
transcendental da teoria dos sistemas.
 O Direito não se manifesta imediatamente na forma de um sistema
autopoiético; a autonomia funcional do sistema jurid ́ ico, ao menos,
é um produto relativamente tardio da evolução do Direito que está
indissoluvelmente conectado à evolução da so- ciedade (liberal)
moderna – na terminologia de Luhmann: diferen- ciada sob o
aspecto funcional. E como a diferenciação funcional é, ela mesma,
uma forma de manifestação da sociabilidade na história, sua
continuidade no futuro não pode, de modo nenhum, ser presumida
como algo seguro.

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