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Direito Ambiental

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A violação dos direitos autorais é
crime estabelecido na Lei nº
9.610/1998 e punido pelo art. 184
do Código Penal.
Sumário

Capítulo 1 – Introdução ao Direito Ambiental, 7


1. Introdução ao Direito Ambiental Brasileiro, 7
2. Princípios, Desenvolvimento Sustentável e Informação, 9
3. Princípios, Prevenção, Precaução e Poluidor-pagador, 10

Capítulo 2 – Direito Ambiental Constitucional, 13


1. Histórico da Tutela Ambiental no Estado Constitucional, 13
2. Divisão de Bens, 14
3. Repartição de Competências, 16
4. Ordem Econômica: Função Social da Propriedade, 19
5. Patrimônio Cultural, 21
6. Meio Ambiente – Art. 225, CF – I, 23
7. Meio Ambiente – Art. 225, CF – II, 25
8. Direito Administrativo Ambiental – Conceitos, Objetivos e
Instrumentos, 27

Capítulo 3 – Direito Administrativo Ambiental, 31


1. Sisnama, 31
2. Estudo de Impacto Ambiental, 33
3. Licenciamento Ambiental, 38
4. Estudo de Impacto Ambiental e Licenciamento – Continuação, 40

Capítulo 4 – Biossegurança, 43
1. Definição, 43
2. Licenciamento Ambiental da Atividades que Envolvam
Pesquisa, 48

Capítulo 5 – Gestão de Florestas Públicas, 52


1. Gestão de Florestas Públicas – Princípios e Definições, 52
2. Concessão Florestal, 56
3. Órgão de Gestão e Fiscalização, 58

Capítulo 6 – Tutela Penal – Lei nº 9.605/1998, 62


1. Antecedentes da Tutela Penal, 62
2. Crimes de Perigo Concreto x Abstrato, 64
3. Aplicação da Pena, 66
4. Infrações Administrativas – Lei nº 9.605/1998 e Decreto
nº 6.514/2008, 69
5. Infrações Administrativas – Multas e Advertências, 70
6. Infrações Administrativas – Multas e Advertências –
Continuação, 72

Capítulo 7 – Responsabilidade Civil, 75


1. Caracterização do Dano Ambiental, 75
2. História, Responsabilidade Objetiva e Subjetiva, 77
3. Teoria do Risco, 79

Capítulo 8 – SNUC, 82
1. SNUC – Lei nº 9.985/2000, 82
2. SNUC – Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso
Sustentável, 85
3. SNUC – Refúgio de Vida Silvestre, 86
4. SNUC – Reserva Extrativista, 88

Capítulo 9 – Novo Código Florestal, 91


1. Introdução ao Direito Ambiental, 91
2. Considerações Iniciais sobre o Novo Código Florestal, 92
3. Responsabilidade Civil e o Dano Ambiental, 93
4. Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal, 95
5. Espaços Especialmente Protegidos e Alguns Reflexos, 96
6. Anistia Ambiental, 98
7. Programa de Regularização Ambiental, Anistia Penal e Cadastro
Ambiental Rural, 99
8. Análise Prática e Formas de Cobrança, 100
Capítulo 10 – Processo Ambiental, 103
1. Processo Ambiental, 103
2. Processo Ambiental – Inquérito Civil, 104
3. Processo Ambiental – Ação Civil Pública, 106
4. Processo Ambiental – Ação Civil Pública (indivíduo) –
Continuação, 108

Capítulo 11 – Direito Ambiental Internacional, 111


1. Histórico, 111
2. Histórico – Continuação, 114

Capítulo 12 – Recurso Hídrico, 117


1. Recursos Hídricos, 117

Capítulo 13 – Proteção à Fauna, 120


1. Proteção à Fauna, 120

Capítulo 14 – Mineração, 123


1. Introdução ao Estudo da Mineração, 123
2. Mineração – Continuação, 126

Capítulo 15 – Lei de Agrotóxicos – Lei nº 7.802/1989, 130


1. Lei de Agrotóxicos, 130

Gabarito, 134
Capítulo 1

Introdução ao Direito
Ambiental

1. Introdução ao Direito Ambiental Brasileiro


1.1 Apresentação

Nesta unidade, terá início o estudo do direito ambiental.

1.2 Síntese
O direito ambiental é tema complexo porque lida com o consenso. Se de
um lado existe a tentativa de proteger a natureza, do outro, encontramos o
desenvolvimento econômico, e o direito ambiental surgirá da relação entre es-
ses dois institutos, ou seja, é imprescindível proteger a natureza, como também
é necessário construir estradas e extrair minérios, etc.
Apesar de ser um direito com o objeto muito específico, o meio ambiente, a
todo momento o direito ambiental busca recepcionar institutos de outros ramos
do direito. O direito ambiental busca perspectivas constitucionais, mecanismos civis
8
e administrativos para a tutela da natureza, mecanismos fiscais e extrafiscais,
para tentar reverter situações de degradação ambiental e prevenir possíveis fu-
turos danos ambientais.
Pelo fato de aproveitar vários institutos, a grande maioria da doutrina diz
que o direito ambiental não possui status de disciplina autônoma, apesar de
todas as suas especificidades.
Uma árvore individualmente considerada não é meio ambiente, é coisa,
pertence a alguém, é propriedade e possui tutela civilista. Já quando se fala em
meio ambiente, não é a tutela da árvore em si, a tutela é a qualidade de vida
proporcionada por essa árvore.
Meio ambiente não é corpóreo. É um bem de uso comum do povo, mas é
indivisível, indeterminado e insuscetível de apropriação exclusiva.
O direito ambiental vai tentar proteger a qualidade ambiental, não a quan-
tidade de recursos disponíveis.
O meio ambiente era visto como propriedade, onde o proprietário da terra po-
deria fazer o que quisesse com os recursos disponíveis. Se esta terra estivesse sendo
degradada, somente o proprietário poderia suscitar o direito de reparação, sem a ga-
rantia que a quantia recebida seria alocada na natureza, pois nada o obrigava a isso.
Se eu entendo o meio ambiente como direito difuso, não mais protejo a
propriedade, e sim, passo a ter a legitimação difusa para a tutela do bem.
Os dois institutos coexistem. Hoje, a propriedade é limitada pela visão di-
fusa da natureza, assim como o direito difuso observa o direito de propriedade.
O direito difuso tem como características, objeto indivisível, sujeitos inde-
terminados, intensa litigiosidade interna, modificação no tempo e espaço. Ex.:
Construção de Hidrelétrica, tenho o interesse do estado em construir, da comu-
nidade ambientalista, fazendeiros que não querem abandonar suas terras me-
diante desapropriação e todos têm legitimidade de reivindicação. Neste caso, o
conflito só se resolve mediante políticas públicas com características específicas.
Uma das características do direito difuso, já mencionada anteriormente, é a
modificação do tempo e espaço. Podemos mencionar o seguinte exemplo: se
a Mata Atlântica for destruída e totalmente alagada, passo a ter o direito difuso à
preservação da qualidade das águas e dos peixes que ali vivem.
Todas as ações do direito brasileiro têm que ser adotadas antes que essa
modificação ocorra.

Exercício
1. (TRF – 1ª Região – 2004) O meio ambiente, ecologicamente equi-
librado, é:
Direito Ambiental

a) Um bem de uso especial.


b) Um bem de domínio útil.
c) Um bem de uso comum do povo.
d) Um bem dominical.
9
2. Princípios, Desenvolvimento Sustentável e
Informação
2.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos os princípios do desenvolvimento sustentável


e da informação.

2.2 Síntese
A lei da política nacional do meio ambiente, Lei nº 6.938/1981, conceitua
meio ambiente como conjunto de condições, leis, influência e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas. Apesar de ser um conceito geral, não é prejudicial, pois amplia
a realidade do que se pretende tutelar e lança para a doutrina e jurisprudência a
delimitação dos seus contornos. Ex.: o patrimônio histórico cultural é parte
do meio ambiente, quem lhe causar algum dano terá responsabilidade civil
objetiva e o dever de reparar a lesão causada, ou seja, recebe a tutela do direito
ambiental e do direito administrativo.
O princípio do desenvolvimento sustentável teve suas bases lançadas em
1972, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano,
em Estocolmo, com o levantamento da hipótese de a proteção ambiental po-
der ser utilizada como forma de impedir o crescimento e respectivo desenvol-
vimento econômico dos países pobres.
Como resposta a esse dilema, em 1987, a mesma Organização das Nações
Unidas divulga um relatório em que estabelece e define o princípio do desen-
volvimento sustentável como aquele que “atende às necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras de as gerações futuras
atenderem as suas próprias necessidades”1.
Trata-se de um conceito intergeracional. Trabalha com a ideia de que o
desenvolvimento e crescimento econômico não são contraditórios com a ideia
de preservação ambiental, é possível mediante modificação das práticas de pro-
dução e consumo, realizar o tão sonhado desenvolvimento com o mínimo de
Direito Ambiental

tutela ambiental.

1. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO.


Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: FGV, 1991. p. 46.
10
Alguns autores trabalham com a ideia dos 3 R do desenvolvimento susten-
tável: reduzir, reaproveitar, reciclar, o que implica em uma relação direta entre
economia e natureza.
Um projeto de desenvolvimento sustentável precisa ter também a relevân-
cia social como pilar. Em momento algum, há a negativa de desenvolvimento
econômico, mas, sim, o estímulo a bases sustentáveis.
O princípio do desenvolvimento sustentável está implícito no texto constitu-
cional, no caput do seu art. 225, que traz a seguinte redação: “Todos têm direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi-
dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
O princípio da informação consiste no direito que o indivíduo tem de re-
ceber informações quando solicitado. Além de um direito do indivíduo, é um
dever para a administração pública. Se o indivíduo solicita a informação, ou
Ministério Público, e a administração pública não possui, ela é obrigada a le-
vantar essa informação.

Exercício
2. (Juiz Federal – 5ª Região) Julgue o item em certo ou errado relativo aos
princípios jurídicos protetivos do meio ambiente:
O princípio do desenvolvimento sustentável preconiza um elo entre a
economia e a ecologia, estando referido em diversas declarações interna-
cionais, mas, por não estar previsto expressamente na CR/1988, atua ape-
nas como aspiração social e vetor ideológico para a atividade econômica.

3. Princípios, Prevenção, Precaução e


Poluidor-pagador
3.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos os princípios ambientais da prevenção,


precaução e poluidor-pagador.
Direito Ambiental

3.2 Síntese
O princípio da prevenção é o mais importante do direito ambiental; uma
vez que o dano ambiental é, em sua essência, irreparável, todas as medidas
11
jurídicas de tutela, sejam elas administrativas, civis ou penais, devem ser pre-
ventivas, isto é, necessitam ser adotadas antes que o dano ocorra, pois uma vez
lesada a natureza, ela não mais pode ser reparada.
Todos os ramos do direito do qual o direito ambiental se utiliza são preven-
tivos; até mesmo o direito penal, quando lida com crimes ambientais, tem viés
preventivo.
A prevenção é saber quais são os possíveis danos que a minha atividade
causará e tomar medidas específicas e pontuais para evitá-los. Os riscos já são
conhecidos.
A cada novo passo tecnológico, sabendo-se dos riscos ocasionados, a pre-
venção se faz presente.
O Estudo de Impacto Ambiental é um dos principais institutos do direi-
to ambiental brasileiro previsto em nossa Constituição, e trabalha exatamente
com a efetivação da prevenção.
O princípio da precaução implica em um risco incerto. Ideia de dever de
cuidado. Se eu não sei quais os efeitos da minha atividade na natureza, eu vou
ter que tomar todo tipo de precaução.
Caso haja a falta de certeza científica sobre os riscos potenciais de uma
atividade, deve-se evitar a sua realização. Trata-se de uma ideia proibitiva, tam-
bém conhecida como in dubio pro natura.
Além desta acepção negativa, impedindo o empreendedor de agir quando
este não conhece os riscos de sua atividade, a precaução possui também uma
acepção positiva, levando o empreendedor a estudar e pesquisar sua atividade
com o objetivo de determinar com clareza quais os riscos que ela pode trazer
à saúde humana e ao meio ambiente. Uma vez ciente de quais são os efeitos,
passo da ideia de precaução para a de prevenção.
Podemos mencionar como principais diferenças entre prevenção e precau-
ção, é que a prevenção trabalha como o risco certo, e a precaução, por sua vez,
com o chamado “risco incerto”.
Quando se está diante de ação em que o fundamento é a precaução, temos
uma inversão do ônus da prova automática.
O princípio do poluidor-pagador não significa que se pagar tem direito a
poluir, significa, em uma primeira vertente, que aquele que polui é obrigado
a pagar e reparar o dano causado. Já a segunda vertente definidora do princí-
pio poluidor-pagador determina que aquele que realiza uma atividade poten-
cialmente poluidora é responsável por internalizar as externalidades negativas
causadas por seu empreendimento, ou seja, o fator econômico é tudo aquilo à
Direito Ambiental

disposição de um empreendedor para realizar a produção e colocá-la no mer-


cado. Existem vários institutos, externos e internos. Como institutos internos
podemos considerar o maquinário, matéria-prima, energia, capital. Como ins-
titutos externos podemos considerar os que escapam ao fator de produção, que
12
têm via de mão dupla. Podem estar fora e influenciar o fator de produção,
como podem escapar do fator de produção e influenciar toda a sociedade.
Tais externalidades podem ser positivas. Ex.: uma plantação de arroz be-
neficiada pelo excesso de chuva. Podem ser também negativas, no caso de
geadas que destruam uma plantação. A principal externalidade negativa é
a poluição, que é o custo ambiental que escapa do fator de produção e afeta a
sociedade.
Nas externalizações negativas, não há meios de tutelá-las, pois são fenôme-
nos naturais.
O princípio poluidor-pagador determina que o empreendedor passe as ex-
ternalidades negativas para o seu fator de produção arcando com os custos am-
bientais dentro do processo produtivo, para não dividir com a sociedade. Ex.:
obrigação de uma empresa de siderurgia em instalar filtros em suas chaminés.

Exercício
3. (Cespe – Procurador Federal – 2006) Julgue os itens que se seguem.
O princípio do poluidor-pagador impõe ao poluidor a obrigação de
recuperar e/ou indenizar os danos causados por sua atividade e, ao
consumidor, a obrigação de contribuir pela utilização dos recursos
ambientais.
O princípio da precaução determina que não se pode produzir inter-
venções no meio ambiente antes que as incertezas científicas sejam
equacionadas de modo que a intervenção não seja adversa ao meio
ambiente.
Direito Ambiental
Capítulo 2

Direito Ambiental
Constitucional

1. Histórico da Tutela Ambiental no Estado


Constitucional
1.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a história da tutela ambiental no Estado


Constitucional.

1.2 Síntese
O art. 225 da Constituição Federal traz em seu caput, a consagração ex-
pressa do direito ambiental brasileiro. Vejamos: “Todos têm direito ao meio am-
biente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
14
Tal proteção ambiental encontra garantia no art. 5º, inciso LXXIII, que traz
um remédio constitucional para fazer valer a defesa ambiental. Tal dispositivo
garante ao cidadão a legitimidade de ingressar com ação popular. Vejamos o refe-
rido dispositivo: “LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade
de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.”
A Constituição Federal, no art. 170, inciso VI, colocou a defesa do meio
ambiente em igualdade com a propriedade privada, livre concorrência, função
social da propriedade, eliminando qualquer hierarquia entre os princípios.
Tratamento diferenciado
O final do referido inciso VI, permite a administração pública, que, em
caso de licitação, havendo duas empresas concorrentes, uma tenha uma linha
de produção ecologicamente correta, enquanto a outra, uma linha de produ-
ção normal, pode se optar pela primeira, mesmo que não haja previsão em
edital, uma vez que tal possibilidade está expressa na constituição.
Para finalizar o estudo, vejamos tal dispositivo constitucional: “A ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: (...) VI – defesa do meio ambiente,
inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.”

Exercício
4. (TRF – 1999) A legitimidade para a propositura de ação popular que
vise, por exemplo, anular ato lesivo ao meio ambiente é:
a) de brasileiros e estrangeiros residentes no país.
b) reconhecida também a entidades de defesa do meio ambiente.
c) exclusiva de cidadãos brasileiros que sejam eleitores.
d) conferida exclusivamente a brasileiros, sem maiores condições de
exigências.

2. Divisão de Bens
Direito Ambiental

2.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a divisão de bens no direito ambiental.


15
2.2 Síntese
Ao longo do texto constitucional existem diversos dispositivos que tratam
do meio ambiente.
Vivemos em uma federação constituída de três entes: Município, Estado
e União. Compete à Constituição dividir claramente as competências de cada
ente, assim como os bens de cada um.
Tais divisões encontram-se nos seguintes dispositivos:
“Art. 20. São bens da União:
I – os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;
II – as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortifica-
ções e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação
ambiental, definidas em lei;
III – os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domí-
nio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países,
ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terre-
nos marginais e as praias fluviais;
IV – as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as
praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que con-
tenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público
e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;
V – os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica
exclusiva;
VI – o mar territorial;
VII – os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII – os potenciais de energia hidráulica;
IX – os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X – as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-his-
tóricos;
XI – as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participa-
ção no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos
para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no res-
Direito Ambiental

pectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica


exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração. Apesar dos recursos
minerais serem bens da União, se ao explorá-los, o município e o estado em
que estiver, recebe os lucros da exploração.
16
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das
fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada funda-
mental para defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização serão
reguladas em lei.”
“Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
I – as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depó-
sito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
II – as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio,
excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
III – as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
IV – as terras devolutas não compreendidas entre as da União.”
É importante frisar que o rio estadual é aquele que nasce e morre dentro
do território estadual. Se o rio nasce e morre dentro do território municipal, ele
pertence ao estado.
Por fim, os recursos naturais encontrados na plataforma continental são de
jurisdição da União.

Exercício
5 (TRF – 4ª Região – 2004) Não são bens da União:
a) os recursos naturais da zona econômica exclusiva.
b) os potenciais de energia hidráulica.
c) as praças e os logradouros públicos.
d) os recursos minerais do subsolo.

3. Repartição de Competências
3.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos as repartições de competência.

3.2 Síntese
A competência de exclusividade da União está presente no art. 21 da Cons-
Direito Ambiental

tituição Federal. Vejamos os incisos relacionados ao direito ambiental:


“Art. 21. Compete à União: (...)
XIX – instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e
definir critérios de outorga de direitos de seu uso.”
17
A legislação infraconstitucional estabelece esse critério na lei de política
nacional de recursos hídricos.
Os princípios que definem a utilização dos recursos hídricos não são de
todos semelhantes aos princípios de gestão ambiental.
Quando a legislação brasileira menciona os recursos hídricos, traz como
objetivo principal o uso que se faz da água, preocupando-se com a qualidade
do recurso.
De acordo com princípio dos recursos hídricos chamado de princípio do
acesso à água, deve-se vetar a ocupação humana, caso esta comprometa a qua-
lidade da água.
Vejamos os demais incisos do art. 21 da Constituição, que envolvem direito
ambiental:
“XX – instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habita-
ção, saneamento básico e transporte urbanos; (...)
XXIII – explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza
e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e re-
processamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus
derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: (...) c) sob regime de
permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioi-
sótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas; d) a responsabilidade civil
por danos nucleares independe da existência de culpa; (...).”
A responsabilidade por dano ambiental causada pelo Estado é ainda que
decorrente apenas de dano nuclear.
A competência privativa da União está prevista no art. 22 da Constituição
Federal. Vejamos:
“Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
IV – águas, energia; (...)
XII – jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; (...)
XIV – populações indígenas; (…)
XXVI – atividades nucleares de qualquer natureza;” (...)
As competências comuns são as de execução, voltadas ao exercício de ges-
tão ambiental, ou competências materiais.
Encontram previsão no art. 23 da Constituição. Vejamos:
“Art. 23 É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios:
I – zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráti-
Direito Ambiental

cas e conservar o patrimônio público; (...)


III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos;
18
IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e
de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; (...)
VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas;
VII – preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII – fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento ali-
mentar;
IX – promover programas de construção de moradias e a melhoria das con-
dições habitacionais e de saneamento básico;
X – combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promo-
vendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI – registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa
e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios.”
A competência para fazer o exercício de gestão ambiental é dos três entes;
caso haja conflitos, estes serão resolvidos pela legislação infraconstitucional.
As competências concorrentes encontram-se previstas no art. 24 da Consti-
tuição Federal. Vejamos o mencionado dispositivo:
“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar con-
correntemente sobre: (...)
VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo
e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisa-
gístico;
VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens
e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; (...)
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-
-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a com-
petência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia
da lei estadual, no que lhe for contrário.”
“Art. 30. Compete aos Municípios:
I – legislar sobre assuntos de interesse local;
II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (...)
VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, me-
Direito Ambiental

diante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do


solo urbano.”
Compete aos três entes da federação, já que o município tem interesse local
na preservação do meio ambiente, defender a natureza e controlar a poluição.
19
A competência para legislar sobre água é exclusiva, no que se refere à polí-
tica nacional de recursos hídricos, e privativa da União.
Por fim, o art. 23 diz que compete a todos os entes da Federação combater a
poluição. Todas as legislações referentes a rios, feitas por municípios e estados,
são constitucionais, desde que seja na sua esfera de sua competência.

Exercício
6. (XX Concurso para Ministério Público Federal) Assinale a alternativa
correta:
a) o combate à poluição, em qualquer de suas formas, é de competên-
cia exclusiva da União.
b) Situa-se no âmbito da legislação concorrente a competência para
legislar sobre proteção do meio ambiente.
c) Tendo em vista o princípio da descentralização administrativa, é
da competência exclusiva dos Estados-membros a preservação das
florestas.
d) Nenhuma das alternativas está correta.

4. Ordem Econômica: Função Social da


Propriedade
4.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a função social da propriedade.

4.2 Síntese
A função social da propriedade rural teve uma alteração radical com o ad-
vento da Constituição Federal de 1988. Antes disso, o instituto que trabalhava
com a proteção da função social da propriedade rural era o Estatuto da Terra,
que estabelecia os seguintes requisitos a serem preenchidos, para que se cum-
prisse com a função social da propriedade:
I – respeitar o bem-estar dos proprietários e os trabalhadores;
Direito Ambiental

II – atender as exigências da legislação trabalhista;


IV – manter níveis satisfatórios de produtividade. (a nova CF menciona
que basta ser utilizado de maneira adequada e racionalmente, ou seja, os recursos
ambientais ali disponíveis devem ser utilizados de maneira racional)
20
V – conservação dos recursos naturais (aspecto meramente quantificativo,
não qualitativo. Não há viés ambiental. A nova CF modifica completamente e
exige o requisito qualitativo.)
A função social da propriedade rural está prevista no art. 186 da Cons-
tituição Federal, que traz também os requisitos para o seu cumprimento.
Vejamos:
“Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalha-
dores.”
A função ambiental consiste na possibilidade de uma propriedade rural
ser desapropriada para reforma agrária, caso não preserve o meio ambiente
enquanto bem difusamente considerado.
A função social da propriedade urbana está prevista no art. 182 da Consti-
tuição. Vejamos:
“Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Pú-
blico municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes.
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para
cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política
de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende
às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano
diretor.”
Plano diretor é norma de ordenamento e divisão do parcelamento do solo
urbano, e determinação de quais atividades poderão ou não ser executadas. É
totalmente vinculado ao cumprimento social da propriedade urbana. Só aten-
de a função social a propriedade que cumpre o plano diretor. O plano diretor é
Direito Ambiental

obrigatório para municípios com mais de 20 mil habitantes, ou menos, caso o


município esteja inserido em uma região metropolitana, ou dentro de áreas de
abrangência de um empreendimento de grande impacto ambiental.
21
Exercício
7. Quando atende as exigências fundamentais de ordenação da cidade
expressas no respectivo plano diretor, o que é obrigatório para cidades
com mais de 20 mil habitantes, a propriedade urbana:
a) cumpre sua função social
b) só pode ser desapropriada mediante prévia desafetação;
c) não pode ser tombada;
d) não pode ser objeto de desapropriação.

5. Patrimônio Cultural
5.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos o patrimônio cultural.

5.2 Síntese
Embora o tema tombamento seja tratado pelo direito administrativo, tam-
bém possui um viés ambientalista de grande relevância.
Na Constituição, patrimônio cultural possui viés ambientalista muito im-
portante. Os artigos mais importantes da Constituição, que versam sobre o patri-
mônio histórico cultural são o 215 e 216. Vejamos os mencionados dispositivos:
“Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais
e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a
difusão das manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas
e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional.”
O art. 216 da Constituição Federal define quais são os bens que formam o
patrimônio cultural brasileiro. Vejamos:
“Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
Direito Ambiental

sociedade brasileira, nos quais se incluem:


I – as formas de expressão;
II – os modos de criar, fazer e viver;
III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
22
IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais;
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros,
vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento
e preservação. (...)
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma
da lei.
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminis-
cências históricas dos antigos quilombos.
A nossa Constituição tutela tanto o bem material quanto o imaterial. A tute-
la do bem material é mais simples. Permite fazer um inventário, registrá-lo em
museu ou no livro do tombo. Já o bem imaterial é mais difícil de tutelar, pois
consistem em práticas e manifestações culturais que passam de geração em
geração. Ex.: manifestação das lavadeiras do rio São Francisco. A tutela jurídica
ocorre quando se implanta um trabalho educativo na população, que faça com
que a aquele povo tenha cada vez mais vontade em perpetuar determinada
manifestação cultural.
Os bens culturais materiais e imateriais também podem ser tutelados
em âmbito internacional pela Unesco. Entre os bens materiais, podem ser
protegidos em âmbito internacional, tanto os da natureza, como os artifi-
ciais.
A Unesco também protege o patrimônio imaterial, de acordo com o previs-
to em convenção internacional, basta apresentar a candidatura à Unesco, que
esta fará a análise.
Caso o patrimônio cultural imaterial ou material seja degradado, pode se
dizer que a sociedade será violada moralmente.
A tutela internacional dos bens culturais é importante para fazer com que
toda a sociedade tenha um sentimento coletivo de valoração dos seus bens e
de sua história.
Embora haja controvérsias, um bem não precisa de ato formal para ser con-
siderado um patrimônio cultural, basta que referencie um valor da sociedade
brasileira. Ex.: os espaços quilombolas.
Direito Ambiental

Há no Brasil uma Lei de Política de Educação Ambiental, que torna obri-


gatório a aplicação de uma educação que discorra sobre a cultura brasileira e o
meio ambiente, nas três esferas de ensino brasileira.
23
Exercício
8. (XI Concurso para Juiz Federal – 4ª Região) Assinalar a alternativa
correta.
A Constituição Federal assegura a proteção do meio ambiente cultural,
abrangendo a expressão:
a) o conjunto de bens imóveis existentes no país cuja conservação
seja de interesse público por sua vinculação a fatos memoráveis da
história do Brasil ou por sua importância arquitetônica.
b) os bens de natureza material ou imaterial, tomados individualmen-
te ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação
ou à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasi-
leira, excluídos sítios de valor paisagístico, arqueológico ou paleon-
tológico.
c) os bens de natureza material ou imaterial, tomados individualmen-
te ou em conjunto, portadores de referência à identidade da so-
ciedade brasileira, incluídos os conjuntos urbanos e sítios de valor
histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, eco-
lógico e científico.
d) conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país cuja conser-
vação seja de interesse público por sua vinculação a fatos memo-
ráveis da história do Brasil ou por sua importância arquitetônica e
que tenham sido tombados por ato do Poder Público.

6. Meio Ambiente – Art. 225, CF – I


6.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos o art. 225 da Constituição Federal.

6.2 Síntese
O art. 225 é o dispositivo mais importante da Constituição Federal no que
se refere à tutela do meio ambiente. Ao estabelecer em seu caput que “todos
têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado...”, não faz distin-
Direito Ambiental

ção entre brasileiros e estrangeiros, aqui residentes ou não.


Não é qualquer meio ambiente que a Constituição tenta proteger, mas sim
o ecologicamente equilibrado, o sadio. O meio ambiente como bem de uso co-
mum do povo, trabalhando com a ideia de qualidade ambiental, de bem difuso, ou
24
seja, em qualquer processo de análise de gestão ambiental, tem que envolver
todos os interessados, não só o governo, mas a sociedade civil também.
O art. 225 ao mencionar as presentes e futuras gerações, acaba por determi-
nar o princípio do desenvolvimento sustentável.
Vejamos o referido dispositivo:
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.”
O § 1º estabelece os deveres específicos do Poder Público. Vejamos:
“§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Pú-
blico:
I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o mane-
jo ecológico das espécies e ecossistemas;
II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País
e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material gené-
tico;”(...) Este inciso encontra regulamentação pela Lei de Biossegurança nº
11.105/2005.
“III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supres-
são permitidas somente através de lei, vedada qualquer ação que comprometa
a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.” Regulamentado pela
Lei nº 9.985/2000, também conhecida como lei do SNUC (Sistema Nacional
de Unidades de Conservação).
“IV – exigir, na forma da lei, instalação de obra ou atividade potencialmen-
te causadora de significativa degradação do meio ambiente, sem estudo prévio
de impacto ambiental, a que se dará publicidade.” Estabelece um dos princi-
pais institutos do direito brasileiro no controle e tutela ambiental, conhecido
como EIA (Estudo de Impacto Ambiental). Nada mais é do que o princípio da
prevenção, que terá um documento específico de implementação a que deve
ser dado publicidade.
A exigência do EIA é somente em relação a atividades significativas, pois
não gera alternativa ao Poder Público, sob pena de responsabilidade do agente
público que assim se omitiu.
Todas as Constituições Estaduais que traziam dispositivos que davam com-
petência ao estado para definir se os casos de estudo de impacto ambiental
Direito Ambiental

seriam realizado, foram consideradas inconstitucionais.


Vejamos os mais alguns incisos do art. 225 da Constituição Federal:
“V – controlar a produção, comercialização e emprego de técnicas, méto-
dos e substâncias que ofereçam risco à vida, qualidade de vida e meio ambiente;
25
VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a cons-
cientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII – proteger a fauna e a flora, vedando, na forma da lei, práticas que co-
loquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais à crueldade.” Ex.: a farra do boi foi considerada inconsti-
tucional, por expor os animais à crueldade.

Exercício
9. (Procurador do Estado) O princípio do meio ambiente ecologicamen-
te equilibrado é tratado na CR/1988 como:
a) norma programática cuja efetividade fica condicionada ao progres-
so econômico e à distribuição da renda.
b) um direito fundamental da pessoa humana direcionada ao desfrute
de condições de vida adequadas no ambiente saudável.
c) um princípio geral de alcance limitado e restrito às áreas de prote-
ção ambiental.
d) um direito difuso, mas não exigível em função de sua generalidade,
inconsistência e definição imprecisa.

7. Meio Ambiente – Art. 225, CF – II


7.1 Apresentação

Nesta unidade, daremos continuidade ao estudo do art. 225 da Consti-


tuição Federal.

7.2 Síntese
Continuamos na análise do art. 225 da Constituição Federal em seu § 2º.
Vejamos:
“§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o
meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão
Direito Ambiental

público competente, na forma da lei.” Este parágrafo parte do princípio de que


a atividade mineradora é degradante, bem como que a proteção ambiental é
importante assim como o desenvolvimento econômico do país. O direito am-
biental busca um consenso entre as duas coisas.
26
“§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujei-
tarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrati-
vas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.” Esse dis-
positivo discute a responsabilização plena, tripla (civil, penal e administrativa),
por condutas antiecológicas, desde que o elemento ensejador (dano, crime e
tipo administrativo), de cada esfera de responsabilidade, esteja presente.
Na esfera civil, desde que comprovado dano efetivo, já causado, ou poten-
cial, uma vez que é possível responsabilizar a ameaça de dano.
A responsabilidade penal trabalha com o crime, ou seja, conduta típica,
ilícita e culpável.
A responsabilização administrativa trabalha com o tipo administrativo,
onde ao incorrer em conduta prevista, há a aplicação de sanção ou penalidade
administrativa.
Há a possibilidade de responsabilização individual em cada esfera, uma vez
que estas são distintas e autônomas.
“§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar,
o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a pre-
servação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.”
Com exceção da Mata Atlântica, nenhum desses espaços tem sua tutela regu-
lamentada. Há a tramitação da PEC para aumentar esses espaços em mais dois
ecossistemas: Cerrado e Caatinga.
“§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por
ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operam com reator nuclear deverão ter sua localização
definida por lei federal, e sem a qual não poderão ser instaladas.”
É possível a exploração de minerais e recursos hídricos em terras indígenas,
desde que preenchidos os requisitos do § 3º do art. 231 da Constituição. Veja-
mos quais são eles:
“§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais ener-
géticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem
ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunida-
des afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na
forma da lei.”

Exercício
Direito Ambiental

10. (Procurador da República) Julgue as afirmações:


I. Nos chamados espaços territoriais especialmente protegidos, a al-
teração e a supressão são permitidas somente através de lei, vedada
27
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos
que justifiquem a sua proteção.
II. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o
meio ambiente degradado de acordo com solução técnica exigida
pelo órgão público competente, na forma da lei.
III. As pessoas jurídicas respondem penalmente pelas condutas e ativi-
dades consideradas lesivas ao meio ambiente, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados.
IV. As usinas hidrelétricas e as que operem com reator nuclear deverão
ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser
instaladas.

8. Direito Administrativo Ambiental –


Conceitos, Objetivos e Instrumentos
8.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos os conceitos, objetivos e instrumentos do


Direito Administrativo Ambiental.

8.2 Síntese
O direito ambiental revoluciona o direto administrativo, uma vez que o di-
reito ambiental administrativo afasta o estado como centro das preocupações e
traz a figura do cidadão, uma vez que, quando a administração atua no domínio
econômico modificando e alterando a natureza, não tem presunção de nada.
O Estado em uma atividade produtiva, com interferência ambiental, terá
que elaborar o EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e se licenciar, bem como
será responsabilizado caso gere algum dano ao meio ambiente.
A Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei nº 6.938/1981,
cria vários institutos. Quando se analisa o contexto histórico em que foi adota-
da, se assemelha à Constituição Federal.
A Constituição Federal não queria simplesmente alterar o ordenamento
jurídico em vigor, ela queria destruir qualquer resquício ditatorial.
Direito Ambiental

A Lei nº 6.938/1981 ocorreu no contexto do grave incidente em Cubatão,


importante polo petroquímico. No final década de 1970, médicos passaram
a notar que gerações inteiras demonstravam má formação fetal, entre vários
outros problemas decorrentes da poluição do local.
28
A mencionada lei que institui o direito difuso no ordenamento jurídico
brasileiro, que depois é regulamentado pela lei de ação civil pública, além de
ter gerado alteração no Código Civil de 1916, vigente à época, possibilitando
responsabilizar o poluidor.
Em consonância com o art. 225, § 1º, da Constituição, o Direito Adminis-
trativo Ambiental é o conjunto dos instrumentos legais, técnicos, científicos,
políticos e econômicos criados no âmbito legislativo, com a finalidade de insti-
tuir diretrizes que harmonizem o desenvolvimento econômico com a proteção
do meio ambiente.
Seu objetivo geral é “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvol-
vimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana”. Segurança nacional está nesta definição por ter
sido esta lei confeccionada no âmbito da ditadura, por isso, pode ser descon-
diderado.
Os artigos mais importante da Lei nº 6.938/1981 são os arts. 2º, 3º, 6º, e 9º,
pois estabelecem os instrumentos da política nacional.
Vejamos tais dispositivos:
“Art. 3º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações
de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas;
II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das caracterís-
ticas do meio ambiente;
III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de ativida-
des que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;
IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
Direito Ambiental

ambiental;
V – recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a flora.”
29
Os objetivos do Direito Ambiental Administrativo estão previstos no art. 4º
da Lei nº 6.938/1981. Vejamos o mencionado dispositivo:
“Art. 4º – A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
I – à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preser-
vação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
II – à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à quali-
dade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;
III – ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de
normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
IV – ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas
para o uso racional de recursos ambientais;
V – à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação
de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública
sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio
ecológico;
VI – à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua
utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manu-
tenção do equilíbrio ecológico propício à vida;
VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de
recursos ambientais com fins econômicos.”
O art. 9º da Lei nº 6.938/1981 estabelece os instrumentos da Política Nacio-
nal do Meio Ambiente. Vejamos:
“Art. 9º São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:
I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II – o zoneamento ambiental;
III – a avaliação de impactos ambientais;
IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente
poluidoras;
V – os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou
absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder
Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental,
de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;
VII – o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
Direito Ambiental

VIII – o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa


Ambiental;
IX – as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento
das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental;
30
X – a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser di-
vulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis – Ibama;
XI – a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,
obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;
XII – o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras
e/ou utilizadoras dos recursos ambientais;
XIII – instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão am-
biental, seguro ambiental e outros.”

Exercício
11. A redação da lei que instituiu a PNMA (Política Nacional do Meio
Ambiente) no Brasil, foi apenas uma compilação da carta de Estocol-
mo de 1972, não havendo, até então, outros fatores que instruíssem
sua edição, haja vista não se gozar no referido momento histórico de
garantias constitucionais que tornassem possível o exercício pleno de di-
reitos políticos, o que comprometeu, sobremaneira, qualquer reflexão
doutrinária, a respeito da temática ambiental.
A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação
da biosfera e a recuperação da degradação ambiental visando assegurar
no país condições ao desenvolvimento econômico, aos interesses da lei
de Segurança Nacional, e proteção da dignidade humana.
Direito Ambiental
Capítulo 3

Direito Administrativo
Ambiental

1. Sisnama
1.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos o Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente).

1.2 Síntese
O Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente) pode ser considerado
um organograma dos órgãos de gestão ambiental no país. Uma vez que todos
os entes da Federação possuem competência material de fiscalizar as atividades
que interfiram no meio ambiente e, para fiscalizá-las, existe a necessidade de
um organograma constituído.
A lei que institui o Sisnama é a Lei nº 6.938/1981. Vejamos um dos seus
principais artigos:
“Art. 6º Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Po-
32
der Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental,
constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), assim estru-
turado:
I – órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o
Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes
governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais.” O conselho
de governo, na prática, nunca se reuniu. Na época em que a lei foi feita, não
existia ministério do meio ambiente. Como hoje há um ministério, não faz
mais sentido a existência de conselho, pois é só o presidente convocar o minis-
tro do meio ambiente.
“II – órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Am-
biente (Conama), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho
de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os
recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas
e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e
essencial à sadia qualidade de vida; licenciamento e estudo de impacto am-
biental órgão democrático,
III – órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da Re-
pública1, com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar,
como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas
para o meio ambiente.” O órgão central hoje é o Ministério do Meio Ambiente.
A secretaria não existe desde 1992, pois foi alçada a status ministerial. Hoje é o
Ministério do Meio Ambiente com as mesmas funções descritas. Órgão de ca-
ráter político que centraliza todas as ações governamentais de meio ambiente,
para depois dividir aos órgãos competentes a parte de execução.
“IV – órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recur-
sos Naturais Renováveis, com a finalidade de executar e fazer executar, como
órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio am-
biente.” O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) é o órgão, em âmbito
federal, que detém o poder específico do poder de polícia ambiental. É uma
autarquia que tem como características o exercício de concessão de licença
para as atividades potencialmente poluidoras, licença esta voltada para o prin-
cípio da prevenção, uma vez que o empreendimento antes de ter iniciado suas
atividades, já deve ter obtido a licença. Possui como característica também a
prática de fiscalização ambiental, que uma vez constatada a irregularidade, há
a possibilidade de aplicação de várias penalidades.
Direito Ambiental

“V – Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela


execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades

1. Hoje é o Ministério do Meio Ambiente que desempenha este papel.


33
capazes de provocar a degradação ambiental; cabe a cada um decidir de que
modo criará os programas, projetos e fiscalização local.”
“VI – Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo
controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições. Ór-
gãos locais ou setoriais, são os órgãos ou entidades integrantes da administração
federal, direta ou indireta, bem como as fundações instituídas pelo poder pú-
blico, com a capacidade e a competência de regulamentar qualquer aspecto
dos recursos naturais e do meio ambiente.
§ 1º Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdi-
ção, elaborarão normas supletivas e complementares e padrões relacionados
com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo Conama.
§ 2º Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais,
também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior.
§ 3º Os órgãos central, setoriais, seccionais e locais mencionados neste arti-
go deverão fornecer os resultados das análises efetuadas e sua fundamentação,
quando solicitados por pessoa legitimamente interessada.
§ 4º De acordo com a legislação em vigor, é o Poder Executivo autorizado a
criar uma Fundação de apoio técnico científico às atividades do Ibama.
As normas do Conama devem ser obedecidas por todos os entes, com uma
exceção, caso seja mais severa.

Exercício
12. (Analista Ambiental – Ibama – 2008) Julgue o item subsequente acer-
ca da política nacional do meio ambiente (PNMA).
O Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) é constituído por
órgãos e entidades da União, estados, Distrito Federal, municípios e
territórios, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade am-
biental, e sua composição conta com um órgão superior, que é o con-
selho de governo; um órgão consultivo e deliberativo, que é o Conse-
lho Nacional do Meio Ambiente (Conama); bem como com um órgão
central, um órgão executor, órgãos seccionais e locais.

2. Estudo de Impacto Ambiental


Direito Ambiental

2.1 Apresentação

Nesta unidade, analisaremos o estudo de impacto ambiental.


34
2.2 Síntese
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é um documento técnico, elabo-
rado à custa do empreendedor, com a finalidade de analisar quais serão os
possíveis impactos ambientais causados pelo respectivo empreendimento, as-
sim como as medidas mitigadoras dos efeitos da atividade na natureza. É fun-
damental que este estudo tome um posicionamento, a favor ou contrário ao
empreendimento. E caso seja desfavorável, que traga alternativas e conselhos
para que se adeque legislação.
O EIA possui previsão legal na Declaração do Rio de meio ambiente, ado-
tada na época da ECO 92, declaração esta, de princípios do direito ambiental,
que estabelece em seu princípio 17, a obrigatoriedade do Estudo de Impacto
Ambiental, assim como a Lei nº 6.938/1981, que o traz como um dos instru-
mentos da Política Nacional do Meio Ambiente.
A Constituição prevê que o estudo deve ser realizado para atividades de
significativo impacto.
A regulamentação do EIA está prevista na Resolução Conama nº 01/1986.
Vejamos o seu art. 2º:
“Art. 2º Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e res-
pectivo relatório de impacto ambiental – Rima, a serem submetidos à aprova-
ção do órgão estadual competente, e do Ibama e1n caráter supletivo, o licen-
ciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:
I – Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;
II – Ferrovias;
III – Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
IV – Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, art. 48, do Decreto-lei
nº 32, de 18/11/1966;
V – Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de
esgotos sanitários;
VI – Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;
VII – Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como:
barragem para fins hidrelétricos, acima de 10 MW, de saneamento ou de ir-
rigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação
de cursos d’água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias,
diques;
VIII – Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
Direito Ambiental

IX – Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de


Mineração;
X – Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou
perigosos;
35
XI – Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia
primária, acima de 10 MW;
XII – Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos,
siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de
recursos hídricos);
XIII – Distritos industriais e zonas estritamente industriais – ZEI;
XIV – Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de
100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percen-
tuais ou de importância do ponto de vista ambiental;
XV – Projetos urbanísticos, acima de 100 ha. ou em áreas consideradas de
relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e
estaduais competentes;
XVI – Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade supe-
rior a dez toneladas por dia.”
Este rol de atividade não é taxativo, mas, sim, exemplificativo.
O EIA deve ser feito por equipe técnica multidisciplinar. A equipe pode
pertencer aos quadros funcionais do próprio empreendimento. O ônus de con-
tratar a equipe, assim como todos os custos de elaboração, ficam a cargo do
empreendedor.
Para que seja realizado o estudo, deve-se traçar as diretrizes, o que não é
algo simples, uma vez que todos os possíveis impactos devem ser analisados,
assim como as medidas mitigadoras de impactos causados, ou seja, filtros em
chaminés, estação de tratamento de esgoto, etc. Deve haver também um plano
de monitoramento que acompanhe cotidianamente o impacto que ocasionado.
Diante disso, se faz necessário uma equipe de profissionais de diferentes áreas,
como engenheiros ambientais, arquitetos, para que o estudo seja concluído.
Vejamos as diretrizes a serem seguidas no art. 5º da mencionada resolução:
“Art. 5º O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em
especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes gerais:
I – Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de proje-
to, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto;
II – Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados
nas fases de implantação e operação da atividade;
III – Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afe-
tada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando,
em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza;
Direito Ambiental

IV – Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em


implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.
Parágrafo único. Ao determinar a execução do estudo de impacto ambien-
tal o órgão estadual competente, ou o Ibama ou, quando couber, o Município,
36
fixará as diretrizes adicionais que, pelas peculiaridades do projeto e caracterís-
ticas ambientais da área, forem julgadas necessárias, inclusive os prazos para
conclusão e análise dos estudos.”
Vejamos o conteúdo mínimo de atividades técnicas que devem ser englo-
badas pelo EIA:
“Art. 6º O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as se-
guintes atividades técnicas:
I – Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa des-
crição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem,
de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do
projeto, considerando:
a) o meio físico – o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos
minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d’água, o regime
hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais – a fauna e a flora, destacan-
do as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e eco-
nômico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanente;
c) o meio socioeconômico, o uso e ocupação do solo, os usos da água e a
socioeconomia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e
culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local,
os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.
II – Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, atra-
vés de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos
prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos
(benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo pra-
zos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades
cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais.
III – Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas
os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a
eficiência de cada uma delas.
IV – Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os
impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem con-
siderados.
Parágrafo único. Ao determinar a execução do estudo de impacto Ambien-
tal o órgão estadual competente; ou o Ibama ou quando couber, o Município
fornecerá as instruções adicionais que se fizerem necessárias, pelas peculiarida-
des do projeto e características ambientais da área.”
Direito Ambiental

O Relatório de Impacto Ambiental (Rima) consiste na tradução do EIA


para uma linguagem acessível à população, garantindo-se, assim, os princípios
da informação, publicidade e participação popular. Não tem características téc-
nicas. O EIA não é publicado, apenas o Rima.
37
Após abertura do relatório abre-se a fase de comentários, lapso temporal em
que qualquer cidadão pode ter acesso ao relatório e fazer comentários sobre o
empreendimento.
O estudo de impacto ambiental, assim como o relatório de impacto am-
biental, tem caráter de publicidade, resguardando-se o sigilo industrial. Veja-
mos o art. 9º da Resolução nº 01/1986:
“O relatório de impacto ambiental – Rima refletirá as conclusões do estudo
de impacto ambiental e conterá, no mínimo:
I – Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade
com as políticas setoriais, planos e programas governamentais;
II – A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais,
especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação a área de
influência, as matérias-primas, e mão-de-obra, as fontes de energia, os processos
e técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia, os
empregos diretos e indiretos a serem gerados;
III – A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área
de influência do projeto;
IV – A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e ope-
ração da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de
tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios
adotados para sua identificação, quantificação e interpretação;
V – A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência,
comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas,
bem como com a hipótese de sua não realização;
VI – A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em
relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser
evitados, e o grau de alteração esperado;
VII – O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
VIII – Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e
comentários de ordem geral).
Parágrafo único. O Rima deve ser apresentado de forma objetiva e adequada
a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessí-
vel, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comuni-
cação visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do
projeto, bem como todas as conseqüências ambientais de sua implementação.”

Exercício
13. (Analista de Gestão Corporativa – Hemobras – 2008) A respeito do
Direito Ambiental

EIA/Rima, julgue os próximos itens.


Para a realização do EIA/Rima, o empreendedor deve contratar equi-
pe multidisciplinar habilitada e independente, a qual será responsável
tecnicamente pelos resultados do estudo.
38
Na elaboração do EIA e de seu respectivo relatório, a equipe multidisci-
plinar responsável é contratada pelo empreendedor. Os componentes
da equipe, sejam pessoas físicas ou jurídicas, devem estar devidamente
registrados no Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos
de Defesa Ambiental, gerido pelo Ibama. Como essa equipe é tecnica-
mente responsável pelos resultados apresentados naquele documento,
ela não deve manter qualquer relação direta com o contratante, deven-
do o órgão licenciador competente intermediar todos os contatos entre
as partes, bem como o pagamento dos serviços prestados por esta ao
empreendedor.

3. Licenciamento Ambiental
3.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos o licenciamento ambiental.

3.2 Síntese
O licenciamento ambiental não possui previsão expressa na Constituição
Federal, porém, o art. 170, em seu parágrafo único, encontramos a seguinte
redação:
“É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previs-
tos em lei.”
Desta forma, podemos concluir que o licenciamento se encaixa na exceção
do referido artigo, ou seja, configura um dos casos previstos em lei.
A licença ambiental é um ato vinculado, não há outra alternativa a não ser
conceder, se preenchidos os requisitos; já uma autorização, trata-se de um ato
discricionário.
A licença ambiental, embora tenha esse nome, é de natureza jurídica de
uma autorização, de acordo com a jurisprudência.
O conceito de licenciamento ambiental está estabelecido na Resolução
Conama nº 237/1997. Vejamos:
Direito Ambiental

“a) Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o


órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e
operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais
consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, ou daquelas que, sob qual-
39
quer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições
legais e regulamentares, bem como as normas técnicas aplicáveis ao caso. (art.
1º da Resolução nº 237/1997)
b) Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão ambiental com-
petente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental
que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para
localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizado-
ras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras,
ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. (art.
1º da Resolução nº 237/1997).”
Entre os entes federativos, o estado fica com a maioria dos licenciamentos
ambientais existentes no país. Entre as entidades competentes, o Estado é que
detém a competência para licenciar atividades potencialmente poluidoras. A
União por intermédio do Ibama, a que compete as seguintes atividades:
“empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de
âmbito nacional ou regional, a saber: I – localizadas ou desenvolvidas conjun-
tamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma conti-
nental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de
conservação do domínio da União; II – localizadas ou desenvolvidas em dois
ou mais Estados; III – cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites
territoriais do País ou de um ou mais Estados; IV – destinados a pesquisar, la-
vrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo,
em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas for-
mas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN); V – bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada
a legislação específica.” (art. 4º da Resolução nº 237/1997)
O licenciamento supletivo é feito pelo Ibama, quando o município ou o
estado deixa de fazê-lo.
Os empreendimentos e atividades serão licenciados em um único nível de
competência, ou seja, caso o empreendimento obtenha uma licença ambiental
estadual, não necessitará da obtenção de outra licença ambiental em âmbito
federal ou municipal.
O licenciamento ambiental possui várias fases. A primeira fase para obten-
ção de licença é ir até o órgão público competente, antes de realizar o pedido,
saber quais as autorizações, licenças ou registros e qual será o conteúdo que o
estudo de impacto ambiental que deve possuir.
A segunda fase, depois que cumprida todas as obrigações, é elaborar o pedido.
Direito Ambiental

A terceira fase consiste em um período de análise após o pedido para o


órgão público competente. Na análise do estudo de impacto ambiental, do
pedido e do licenciamento, o órgão público pode solicitar esclarecimentos e
pode inclusive instituir audiência pública.
40
A Resolução do Conama nº 9 de 1987 estabelece que a audiência pública
pode ser solicitada pelo órgão competente, pelo membro do Ministério Públi-
co ou por no mínimo 50 cidadãos.
Após a audiência pública, o Poder Público pode solicitar novos esclareci-
mentos ao empreendedor. Após isso, o Poder Público elabora parecer técnico
e jurídico, sobre a legalidade do deferimento ou indeferimento do pedido de
licença.
A fase final ocorre com o deferimento ou indeferimento do pedido.
Em âmbito estadual ou municipal, as fases podem se dar de forma diferente.

Exercício
14. (Petrobras – 2008) A respeito do licenciamento ambiental e da respon-
sabilidade ambiental administrativa e penal, considere as afirmativas
abaixo.
I. O licenciamento ambiental, como importante instrumento da Po-
lítica Nacional do Meio Ambiente, tem natureza essencialmente
preventiva e constitui uma das formas de expressão do poder de
polícia ambiental.
II. Os estudos ambientais necessários ao procedimento de licencia-
mento ambiental são realizados pelos técnicos do órgão ambiental
competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente
(Sisnama), a expensas do empreendedor.

4. Estudo de Impacto Ambiental e


Licenciamento – Continuação
4.1 Apresentação

Nesta unidade, daremos continuidade ao assunto estudo de impacto


ambiental e licenciamento.

4.2 Síntese
Direito Ambiental

A Lei nº 11941/2009 dispõe que o processo de licenciamento ambiental é


realizado inteiramente pelo Ibama, inclusive em grau recursal. Esta lei retirou
do Conama a competência de funcionar como última instância administrativa.
A Resolução nº 02/1996 do Conama dispõe sobre a compensação ambiental,
41
ou seja, se a atividade é altamente impactante, o empreendedor deve compen-
sar o impacto criando ou financiando uma unidade de conservação.
Quando se trata de atividade com alto nível de impacto ambiental, o li-
cenciamento é escalonado em três fases para se conseguir a licença definitiva.
A primeira fase consiste na licença prévia (LP), que é concedida na fase
preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade, aprovando sua
localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e econômica da-
quela atividade. Nesta fase, há a análise do EIA-Rima e onde se estabelece os
requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua
implementação.
A segunda fase consiste na licença de instalação (LI), que autoriza a insta-
lação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações cons-
tantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de
controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo deter-
minante. Nesta fase, se pode permitir o desmatamento de parte da propriedade,
deixando percentual de reserva legal, como também a permissão da construção
do empreendimento, apenas.
A terceira fase consiste na licença de operação (LO), que autoriza a ope-
ração da atividade ou empreendimento a funcionar, após a verificação do efe-
tivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de
controle ambiental e condicionantes determinados para a operação (art. 8º da
Resolução nº 237/1997). Caso haja o cumprimento das duas fases anteriores e
não seja concedida a licença de operação, não cabe indenização, uma vez que
a licença tem natureza de autorização, ou seja, é um ato discricionário. Ex.:
O aterro sanitário de Belo Horizonte estava esgotado. Em análise da região,
descobriram terreno em condição e conseguiram as duas primeiras licenças. A
população invadiu o terreno que estava limpo e iluminado, com vias de aces-
so. Diante disso, foi negada a licença de operação em razão da total alteração
da situação.
O Poder Público pode determinar procedimentos simplificados para as ati-
vidades e empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental, o
chamado licenciamento simplificado, que consiste em duas fases.
Há também o licenciamento único, que torna possível a admissão de um
único processo de licenciamento ambiental para pequenos empreendimentos e
atividades similares, ou para aqueles integrantes de planos de desenvolvimento
aprovados, previamente, pelo órgão governamental competente, desde que defi-
Direito Ambiental

nida a responsabilidade legal pelo conjunto de empreendimentos ou atividades.


Há também o licenciamento corretivo, que é concedido para empresas
que já estavam em funcionamento quando do surgimento das leis ambientais.
– Não existe o direito adquirido a poluir. Se a legislação em vigor altera as
42
características da empresa, é necessário que se conceda prazos para essas em-
presas se adequarem à nova realidade. O Poder Público dispõe de 6 (seis) meses
para dar resposta ao empreendedor, mas se precisar de EIA ou de realização de
audiência pública, esse prazo pode chegar a 1 (um) ano.
A licença pode ser modificada nos seguintes casos, onde também pode ha-
ver a suspensão ou seu cancelamento. Vejamos:
“O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada, poderá mo-
dificar os condicionantes e as medidas de controle e adequação, suspender ou
cancelar uma licença expedida, quando ocorrer:
I – Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais.
II – Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram
a expedição da licença.
III – superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.” (art. 19 da
Resolução nº 237/1997)

Exercício
15. Julgue o item a seguir:
A competência para o licenciamento ambiental do Ibama é de caráter
supletivo, competindo a esta entidade federal licenciar apenas as ativi-
dades e obras de que decorram de significativo impacto ambiental de
âmbito nacional ou regional.
Direito Ambiental
Capítulo 4

Biossegurança

1. Definição
1.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a definição de organismos geneticamente


modificados.

1.2 Síntese
A Lei nº 11.105, de 24 de março de 20051 sobre Biossegurança, define
organismo geneticamente modificado (OGM), como organismo cujo material
genético, ou seja, suas moléculas de ADN/ARN, tenham sido modificadas por
qualquer técnica de engenharia genética.

1. BRASIL. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/


lei/L11105.htm>. Acesso em: 19 fev. 2011.
44
A lei também tutela o derivado de OGM, produto obtido de OGM e que
não possua capacidade autônoma de replicação ou que não contenha forma
viável de se tornar um OGM.
Outra definição de célula germinal humana é célula-mãe, responsável pela
formação de gametas, presentes nas glândulas sexuais femininas e masculinas,
e suas descendentes diretas.
O ponto mais polêmico são as células-tronco embrionárias: células de em-
brião que apresentam a capacidade de se transformar em células de qualquer
tecido de um organismo.
A grande característica da Lei nº 11.105/2005 é tentar regulamentar o art.
225 da Constituição, quando este estabelece a obrigatoriedade do Poder Públi-
co em fiscalizar atividades que trabalhem com material genético. Neste senti-
do, o art. 5º menciona que a Pesquisa em células-tronco embrionárias devem
atender as seguintes condições:
“Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-
-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização
in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes
condições:
I – sejam embriões inviáveis; ou
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publi-
cação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois
de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.
§ 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.
§ 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa
ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus
projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.
§ 3º É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este
artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei nº 9.434/1997.”
O STF já decidiu pela sua constitucionalidade da pesquisa em células-
-tronco embrionárias.
Como a biossegurança lida com material genético e traz possibilidades de
pesquisa em células humanas, há proibições que devem ser obedecidas, que
visam atender ao princípio da precaução. Vejamos:
“Art. 6º Fica proibido:
I – implementação de projeto relativo a OGM sem a manutenção de registro
de seu acompanhamento individual;
II – engenharia genética em organismo vivo ou o manejo in vitro de ADN/
Direito Ambiental

ARN natural ou recombinante, realizado em desacordo com as normas previstas


nesta Lei;
III – engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano e
embrião humano;
45
IV – clonagem humana;
V – destruição ou descarte no meio ambiente de OGM e seus derivados em
desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio, pelos órgãos e entidades
de registro e fiscalização, referidos no art. 16 desta Lei, e as constantes desta Lei
nº e de sua regulamentação;
VI – liberação no meio ambiente de OGM ou seus derivados, no âmbito
de atividades de pesquisa, sem a decisão técnica favorável da CTNBio e, nos
casos de liberação comercial, sem o parecer técnico favorável da CTNBio, ou
sem o licenciamento do órgão ou entidade ambiental responsável, quando a
CTNBio considerar a atividade como potencialmente causadora de degrada-
ção ambiental, ou sem a aprovação do Conselho Nacional de Biossegurança
– CNBS, quando o processo tenha sido por ele avocado, na forma desta Lei nº
e de sua regulamentação;
VII – a utilização, a comercialização, o registro, o patenteamento e o licen-
ciamento de tecnologias genéticas de restrição do uso.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, entende-se por tecnologias ge-
néticas de restrição do uso qualquer processo de intervenção humana para ge-
ração ou multiplicação de plantas geneticamente modificadas para produzir
estruturas reprodutivas estéreis, bem como qualquer forma de manipulação
genética que vise à ativação ou desativação de genes relacionados à fertilidade
das plantas por indutores químicos externos.”
O Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) faz parte da estrutura para
gerenciar pesquisas e desenvolvimentos de OGM e consiste em um órgão de
assessoramento vinculado ao Presidente da República para a formulação e im-
plementação da Política Nacional de Biossegurança – PNB.”
Suas competências consistem em:
“a) fixar princípios e diretrizes para a ação administrativa dos órgãos e enti-
dades federais com competências sobre a matéria;
b) analisar, a pedido da CTNBio, quanto aos aspectos da conveniência e
oportunidade socioeconômicas e do interesse nacional, os pedidos de liberação
para uso comercial de OGM e seus derivados;
c) avocar e decidir, em última e definitiva instância, com base em manifes-
tação da CTNBio e, quando julgar necessário, dos órgãos e entidades referidos
no art. 16 desta Lei, no âmbito de suas competências, sobre os processos rela-
tivos a atividades que envolvam o uso comercial de OGM e seus derivados.”
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) consiste em
Direito Ambiental

um órgão consultivo e deliberativo, Integrante do Ministério da Ciência e Tec-


nologia. É instância colegiada multidisciplinar de caráter consultivo e delibe-
rativo, para prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na
formulação, atualização e implementação da PNB de OGM e seus derivados,
46
bem como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e de pareceres
técnicos referentes à autorização para atividades que envolvam pesquisa e uso
comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação de seu risco zoofi-
tossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente.
Sua função básica é analisar o risco que uma atividade que envolva transgê-
nicos pode trazer ao Brasil.
É formada por 27 brasileiros com título de doutorado, um grupo de profis-
sionais técnicos, capazes de afastar a incerteza científica.
Compete a ela estabelecer mecanismos de funcionamento das comissões
internas de biossegurança, como também autorizar, cadastrar e acompanhar
todas as atividades que pesquisem substâncias transgênicas, emitir certificados
de qualidade em biossegurança para as empresas que assim solicitarem, bem
como reavaliar suas decisões técnicas se assim solicitado.
Tem as seguintes competências:
“Art. 14. Compete à CTNBio:
I – estabelecer normas para as pesquisas com OGM e derivados de OGM;
II – estabelecer normas relativamente às atividades e aos projetos relaciona-
dos a OGM e seus derivados;
III – estabelecer, no âmbito de suas competências, critérios de avaliação e
monitoramento de risco de OGM e seus derivados;
IV – proceder à análise da avaliação de risco, caso a caso, relativamente a
atividades e projetos que envolvam OGM e seus derivados;
V – estabelecer os mecanismos de funcionamento das Comissões Internas
de Biossegurança – CIBio, no âmbito de cada instituição que se dedique ao
ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico e à produção
industrial que envolvam OGM ou seus derivados;
VI – estabelecer requisitos relativos à biossegurança para autorização de
funcionamento de laboratório, instituição ou empresa que desenvolverá ativi-
dades relacionadas a OGM e seus derivados;
VII – relacionar-se com instituições voltadas para a biossegurança de OGM
e seus derivados, em âmbito nacional e internacional;
VIII – autorizar, cadastrar e acompanhar as atividades de pesquisa com
OGM ou derivado de OGM, nos termos da legislação em vigor;
IX – autorizar a importação de OGM e seus derivados para atividade de
pesquisa;
X – prestar apoio técnico consultivo e de assessoramento ao CNBS na for-
mulação da PNB de OGM e seus derivados;
Direito Ambiental

XI – emitir Certificado de Qualidade em Biossegurança – CQB para o


desenvolvimento de atividades com OGM e seus derivados em laboratório,
instituição ou empresa e enviar cópia do processo aos órgãos de registro e fisca-
lização referidos no art. 16 desta Lei;
47
XII – emitir decisão técnica, caso a caso, sobre a biossegurança de OGM
e seus derivados no âmbito das atividades de pesquisa e de uso comercial de
OGM e seus derivados, inclusive a classificação quanto ao grau de risco e nível
de biossegurança exigido, bem como medidas de segurança exigidas e restri-
ções ao uso;
XIII – definir o nível de biossegurança a ser aplicado ao OGM e seus usos,
e os respectivos procedimentos e medidas de segurança quanto ao seu uso,
conforme as normas estabelecidas na regulamentação desta Lei, bem como
quanto aos seus derivados;
XIV – classificar os OGM segundo a classe de risco, observados os critérios
estabelecidos no regulamento desta Lei;
XV – acompanhar o desenvolvimento e o progresso técnico-científico na
biossegurança de OGM e seus derivados;
XVI – emitir resoluções, de natureza normativa, sobre as matérias de sua
competência;
XVII – apoiar tecnicamente os órgãos competentes no processo de preven-
ção e investigação de acidentes e de enfermidades, verificados no curso dos
projetos e das atividades com técnicas de ADN/ARN recombinante;
XVIII – apoiar tecnicamente os órgãos e entidades de registro e fiscalização,
referidos no art. 16 desta Lei, no exercício de suas atividades relacionadas a
OGM e seus derivados;
XIX – divulgar no Diário Oficial da União, previamente à análise, os ex-
tratos dos pleitos e, posteriormente, dos pareceres dos processos que lhe forem
submetidos, bem como dar ampla publicidade no Sistema de Informações em
Biossegurança – SIB a sua agenda, processos em trâmite, relatórios anuais, atas
das reuniões e demais informações sobre suas atividades, excluídas as infor-
mações sigilosas, de interesse comercial, apontadas pelo proponente e assim
consideradas pela CTNBio;
XX – identificar atividades e produtos decorrentes do uso de OGM e seus
derivados potencialmente causadores de degradação do meio ambiente ou que
possam causar riscos à saúde humana;
XXI – reavaliar suas decisões técnicas por solicitação de seus membros ou
por recurso dos órgãos e entidades de registro e fiscalização, fundamentado
em fatos ou conhecimentos científicos novos, que sejam relevantes quanto à
biossegurança do OGM ou derivado, na forma desta lei e seu regulamento;
Direito Ambiental

XXII – propor a realização de pesquisas e estudos científicos no campo da


biossegurança de OGM e seus derivados;
XXIII – apresentar proposta de regimento interno ao Ministro da Ciência
e Tecnologia.”
48
A CTNBio pode convocar audiências públicas.
A decisão técnica da CTNBio vincula todos os demais órgãos e entidades
da Administração que tenham a função de fiscalizar as atividades. São elas: o
Ministério do Meio Ambiente e da Agricultura, da Saúde e Secretaria Especial
da Pesca da Presidência da República.
Outro instituto criado pela lei é a Comissão Interna de Biossegurança CIBio,
que está em toda empresa para efetivar o princípio da prevenção e precaução.
Toda instituição que utiliza técnicas de engenharia genética, ou realiza
pesquisa com OGM deve possuir uma CIBio, pois esta é responsável por es-
tabelecer todos os programas preventivos e de controle referente aos padrões
de biossegurança estabelecidos no Brasil. Também mantém o registro de cada
atividade ou projeto desenvolvido naquela empresa e tem que notificar a CTN-
Bio o resultado de todas as avaliações de risco, bem como investigar eventuais
acidentes.
A lei também traz um sistema de informação em biossegurança, que tem
a função de gerenciar todos os dados decorrentes das atividades que envolvam
transgênicos e seus derivados.

Exercício
16. (XI Concurso Juiz Federal – 1ª Região) A manipulação genética de
células humanas:
a) constitui crime;
b) exige prévia aprovação da CTN-Bio;
c) é contravenção punível pela legislação ambiental;
d) depende de autorização prévia e expressa do Conama.

2. Licenciamento Ambiental da Atividades


que Envolvam Pesquisa
2.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos o licenciamento ambiental das atividades


que envolvam pesquisa.
Direito Ambiental

2.2 Síntese
É a CTNBio que delibera se precisa ou não de licenciamento ambiental re-
lativo às atividades que envolvam pesquisa e manipulação de material genético.
49
Dado controverso é que a lei afasta a competência dos órgãos clássicos de ges-
tão ambiental no que se refere à prática de licenciamento.
O EIA somente vai ocorrer nos casos em que a CTNBio assim deliberar,
caso ela considere que aquele OGM é potencialmente degradante ao meio
ambiente, onde há uma deturpação dos órgãos integrantes do Sisnama, uma
vez que eles é que determinam quando o EIA deve ser elaborado.
É importante lembrar que órgãos estruturantes de qualquer prática referen-
te à modificação e pesquisa em substâncias genéticas consistem primeiramente
com o CNBS (órgão máximo formado por ministros de estado), CTNBio (ór-
gão técnico formado por doutores) e CIBio, em que todo empreendimento é
obrigado a formar.
A Comissão Interna de Biossegurança (CIBio) é obrigatória para toda ins-
tituição que utilizar técnicas e métodos de engenharia genética, ou realizar
pesquisas com OGM.
Ela visa efetivar o princípio da preservação, estabelecendo todos os progra-
mas preventivos e de controle referentes aos padrões de biossegurança estabe-
lecidos no Brasil, além de ser responsável por investigar acidentes.
Vejamos suas competências:
“Art. 18. Compete à CIBio, no âmbito da instituição onde constituída:
I – manter informados os trabalhadores e demais membros da coletividade,
quando suscetíveis de serem afetados pela atividade, sobre as questões relacio-
nadas com a saúde e a segurança, bem como sobre os procedimentos em caso
de acidentes;
II – estabelecer programas preventivos e de inspeção para garantir o funcio-
namento das instalações sob sua responsabilidade, dentro dos padrões e normas
de biossegurança, definidos pela CTNBio na regulamentação desta Lei;
III – encaminhar à CTNBio os documentos cuja relação será estabelecida
na regulamentação desta Lei, para efeito de análise, registro ou autorização do
órgão competente, quando couber;
IV – manter registro do acompanhamento individual de cada atividade ou
projeto em desenvolvimento que envolvam OGM ou seus derivados;
V – notificar à CTNBio, aos órgãos e entidades de registro e fiscalização,
referidos no art. 16 desta lei, e às entidades de trabalhadores o resultado de ava-
liações de risco a que estão submetidas as pessoas expostas, bem como qualquer
acidente ou incidente que possa provocar a disseminação de agente biológico;
VI – investigar a ocorrência de acidentes e as enfermidades possivelmente
relacionados a OGM e seus derivados e notificar suas conclusões e providên-
Direito Ambiental

cias à CTNBio.”
As condutas consideradas crimes são:
“a) Art. 24. Utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o
art. 5º desta lei.”
50
Este artigo discorre sobre as condições para a realização da pesquisa em
células-tronco embrionárias.
“Art. 25. Praticar engenharia genética em célula germinal humana, zigoto
humano ou embrião humano.” Engenharia genética é a modificação direta na
cadeia de DNA.
“Art. 26. Realizar clonagem humana.
Art. 27. Liberar ou descartar OGM no meio ambiente, em desacordo com
as normas estabelecidas pela CTNBio, e pelos órgãos e entidades de registro
e fiscalização.” Quando eu descarto uma substância transgênica no ambiente,
pode gerar dano ambiental catastrófico.”
Art. 28. Utilizar, comercializar, registrar, patentear e licenciar tecnologias
genéticas de restrição do uso.
Art. 29. Produzir, armazenar, transportar, comercializar, importar ou ex-
portar OGM, ou seus derivados, sem autorização ou em desacordo com as
normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos e entidades de registro e
fiscalização.”
Ao analisar os crimes, verifica-se a precaução preponderante na biossegu-
rança, e na prática de fiscalização das atividades que fazem manipulação ge-
nética no país.
As atividades com materiais transgênicos são vedadas a pessoas físicas, ainda
que mantenham vínculo empregatício (ou qualquer outro) com pessoas jurídi-
cas, pois o sistema de responsabilização ambiental, no tocante a transgênicos, é
pleno, ou seja, há responsabilidade penal, administrativa e civil.
Ademais, toda responsabilidade envolvida é objetiva e solidária.
Pessoas físicas não podem pesquisar material genético, pois, tendo em vista
a possibilidade de dano ambiental catastrófico, não dispõem de condições para
arcar com os custos de reparação da natureza.
Normas internacionais que regem a biossegurança são a Convenção sobre
diversidade biológica (1992), regulamentada pelo Protocolo de Cartagema,
que determina os casos de responsabilização internacional por dano ambiental
decorrente de substâncias transgênicas.
O Protocolo de Cartagema estabelece três possibilidades de uso transfron-
teiriço desse material. Vejamos:
a) uso em contenção (feito em laboratórios, sem contato com o meio am-
Direito Ambiental

biente);
b) consumo direto de substâncias provenientes de transgênicos (regras de
rotulagem);
c) inserção direta na natureza da substância geneticamente modificada.
51
Exercício
17. (XII Concurso Juiz Federal Substituto – 1ª Região – 2006) De acordo
com a Lei nº 11.105/2005 (normas de segurança e fiscalização de ativi-
dades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM):
a) todos os OGM que anteriormente obtiveram decisão da Comis-
são Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) favorável a sua
liberação comercial passariam por nova avaliação do Conselho
Nacional de Biossegurança – CNBS;
b) todos os OGM que anteriormente obtiveram decisão técnica da
CTNBio favorável à sua liberação comercial passariam por reava-
liação da própria CTNBio, em sua nova composição;
c) não há hipótese de reapreciação, por CNBS, de ato de liberação
comercial de OGM praticado pela CTNBio, pois a decisão da CTN-
Bio é definitiva e vinculante para todos os órgãos da Administração,
ressalvado o controle judicial;
d) ficou isenta de reapreciação administrativa decisão da CTNBio fa-
vorável à liberação comercial de OGM, salvo manifestação con-
trária do CNBS, no prazo de sessenta dias.

Direito Ambiental
Capítulo 5

Gestão de Florestas Públicas

1. Gestão de Florestas Públicas – Princípios e


Definições
1.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos os princípios e definições sobre gestão de


florestas públicas.

1.2 Síntese
Gestão de florestas públicas é um tema novo trazido pela Lei nº 11.284, de
02 de março de 2006 que altera a Lei nº 6.938/1981, criando três novos instru-
mentos de política nacional do meio ambiente.
Os princípios sobre gestão de florestas públicas são os seguintes:
I – a proteção dos ecossistemas, do solo, da água, da biodiversidade e va-
lores culturais associados, bem como do patrimônio público; se essas florestas
53
possuem comunidades locais tradicionais utilizando-se e vivendo da prática ex-
trativista daqueles recursos, deve-se proteger o ecossistema e os valores culturais
dessas comunidades;
II – o estabelecimento de atividades que promovam o uso eficiente e racio-
nal das florestas e que contribuam para o cumprimento das metas do desenvol-
vimento sustentável local, regional e de todo o País;
III – o respeito ao direito da população, em especial das comunidades lo-
cais, de acesso às florestas públicas e aos benefícios decorrentes de seu uso e
conservação;
IV – a promoção do processamento local e o incentivo ao incremento da
agregação de valor aos produtos e serviços da floresta, bem como à diversifica-
ção industrial, ao desenvolvimento tecnológico, à utilização e à capacitação de
empreendedores locais e da mão de obra regional;
V – o acesso livre de qualquer indivíduo às informações referentes à gestão
de florestas públicas;
VI – a promoção e difusão da pesquisa florestal, faunística e edáfica, relacio-
nada à conservação, à recuperação e ao uso sustentável das florestas;
VII – o fomento ao conhecimento e a promoção da conscientização da
população sobre a importância da conservação, da recuperação e do manejo
sustentável dos recursos florestais;
VIII – a garantia de condições estáveis e seguras que estimulem investimen-
tos de longo prazo no manejo, na conservação e na recuperação das florestas.
É importante mencionar algumas definições, com o intuito de facilitar o
estudo. Vejamos:
I – florestas públicas: florestas, naturais ou plantadas, localizadas nos di-
versos biomas brasileiros, em bens sob o domínio da União, dos Estados, dos
Municípios, do Distrito Federal ou das entidades da administração indireta;
II – produtos florestais: produtos madeireiros e não madeireiros gerados
pelo manejo florestal sustentável;
III – serviços florestais: turismo e outras ações ou benefícios decorrentes do
manejo e conservação da floresta, não caracterizados como produtos florestais;
IV – manejo florestal sustentável: práticas de administração da floresta para
a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os
mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-
-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madei-
reiras, de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a utili-
Direito Ambiental

zação de outros bens e serviços de natureza florestal;


V – concessão florestal: delegação onerosa, feita pelo poder concedente,
do direito de praticar manejo florestal sustentável para exploração de produtos
e serviços numa unidade de manejo, mediante licitação, à pessoa jurídica, em
54
consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo edital de licitação e
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo
determinado;
VI – poder concedente: União, Estado, Distrito Federal ou Município.
A gestão florestal tem por objetivo utilizar-se de produtos florestais e servi-
ços florestais (atividade de ecoturismo).
Passemos a analisar agora, os tipos de gestão de florestas públicas.
A gestão direta consiste na criação de florestas nacionais, estaduais e mu-
nicipais e suas gestões diretas. É a possibilidade de um dos entes da Federação
firmar contratos com empresas mediante licitação. É ente da Federação, ao
qual pertence a floresta pública, que fará a gestão procurando benefícios eco-
nômicos da prática florestal.
A essência dessa lei é fazer com que obtenha benefício econômico com
uma gestão sustentável, dos recursos e serviços que uma floresta pode oferecer.
A destinação de florestas públicas às comunidades locais trata-se de uma
concessão de uso. Cria-se reservas que preservam o lado cultural e o lado am-
bientalmente correto de se trabalhar a terra. Tanto a reserva extrativista, quanto
a reserva de desenvolvimento sustentável, partem do princípio que só se pode
ter a proteção da comunidade e de seus costumes, mediante uso e proteção dos
recursos florestais.
A concessão florestal consiste na autorização dada pelo poder concedente
para que um particular faça gestão de florestas públicas. A floresta nacional
será objeto de concessão para que um particular a explore, seja para extrair seus
recursos, seja para desenvolver o ecoturismo.
A concessão florestal será autorizada em ato do poder concedente, e
formalizada mediante contrato, o qual deverá observar os termos da Lei nº
11.284/2006, das normas pertinentes e do edital de licitação. Vejamos os requi-
sitos a serem observados:
I – inicialmente, ocorre a publicação do edital de licitação, que deve ser
sempre precedida de audiência pública, uma vez que se trata de bem de uso
comum do povo;
II – só pode ser objeto de concessão as unidades previstas no Plano Anual
de Outorga Florestal (PAOF). Proposto pelo órgão gestor e definido pelo poder
concedente, conterá a descrição de todas as florestas públicas a serem subme-
tidas a processos de concessão no ano em que vigorar. Há uma análise prévia e
um estudo detalhado para que se possa estabelecer uma parcela territorial boa
para ser utilizada para benefícios econômicos, para que o particular consiga,
Direito Ambiental

durante a concessão, se autossustentar. As limitações existem se a área florestal


estiver em área de fronteira, e for objeto de concessão presente no Plano anual
de outorga florestal. Nesta situação, deverá haver uma prévia análise do Con-
selho de Segurança Nacional.
55
Esse plano deve considerar todas as políticas de meio ambiente, todas as
políticas agrárias e todas as políticas fundiárias do país. Além disso, deve-se
respeitar o zoneamento econômico e ecológico da região.
O plano exclui as terras indígenas e as áreas de comunidades locais, uma
vez que essas regiões serão objetos de reserva extrativista ou reserva de desen-
volvimento sustentável. Haverá também uma exclusão das áreas de unidade de
conservação de proteção integral.
O processo de outorga se dá por meio de licitações na modalidade de
concorrência e outorgadas a titulo oneroso. Sendo que o objeto da concessão
florestal será a exploração de produtos e serviços florestais, contratualmente
especificados, em unidade de manejo de floresta pública, com perímetro geor-
referenciado, registrada no respectivo cadastro de florestas públicas e incluída
no lote de concessão florestal.
Como proibições na concessão florestal, podemos mencionar a outorga de
titularidade imobiliária ou preferência de aquisição da área; acesso ao patrimô-
nio genético da região; uso dos recursos hídricos acima do especificado como
insignificante; exploração de recursos minerais na floresta, bem como recursos
pesqueiros ou de fauna silvestre; uso de produtos de uso tradicional ou de sub-
sistência das comunidades locais.
De acordo com a legislação internacional, fica proibido também a comer-
cialização de crédito de carbono em florestas naturais, a não ser que seja um
reflorestamento de áreas já degradadas.

Exercício
18. (Analista Ambiental do MMA – 2008) Com a aprovação da Lei nº
11.284/2006, populações tradicionais organizadas por gerações sucessi-
vas, com estilos de vida relevantes à conservação e à utilização susten-
tável da diversidade biológica, utilizando-se de florestas localizadas em
terras sob o domínio da União, preocuparam-se com o destino dessas
florestas e com os impactos dessa nova destinação sobre sua vida social.
Diante desse contexto, e considerando que comunidades residentes
na floresta amazônica, em terras que se encontram sob o domínio da
União, tenham apresentado como reivindicação a criação de uma re-
serva extrativista, julgue o item a seguir, de acordo com dispositivos
Direito Ambiental

legais relativos a esse assunto.


Antes da concessão florestal, é necessário que os órgãos competentes
identifiquem a destinação da área a ser concedida, o que somente pode
ocorrer por meio da criação da referida reserva extrativista.
56
2. Concessão Florestal
2.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos as concessões florestais.

2.2 Síntese
Para que haja a habilitação para concessão florestal, as pessoas jurídicas
devem comprovar ausência de débitos inscritos na dívida ativa relativos à infra-
ção ambiental nos órgãos competentes integrantes do Sisnama, bem como de
decisões condenatórias, com trânsito em julgado, em ações penais relativas a
crime contra o meio ambiente ou à ordem tributária ou a crime previdenciá-
rio, e somente poderão ser habilitadas nas licitações para concessão florestal
empresas ou outras pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sede e administração no País.
Vejamos os critérios de seleção que devem estar presentes no edital de li-
citação:
“Art. 26. No julgamento da licitação, a melhor proposta será considerada
em razão da combinação dos seguintes critérios:
I – o maior preço ofertado como pagamento ao poder concedente pela
outorga da concessão florestal;
II – a melhor técnica, considerando:
a) o menor impacto ambiental;
b) os maiores benefícios sociais diretos;
c) a maior eficiência;
d) a maior agregação de valor ao produto ou serviço florestal na região da
concessão.”
No contrato de concessão, o concessionário tem como dever elaborar e
executar todos os planos de manejo florestal sustentável, recuperar área que
degradou, independentemente de dolo ou culpa, encontrar o uso múltiplo da
floresta, respeitando as áreas de proteção permanente, executar medidas de
prevenção e controle, na tentativa de comercializar os produtos florestais do
manejo, e elaborar um relatório anual sobre os recursos encontrados.
Os prazos nos contratos de concessão são de no mínimo de um ciclo e no
Direito Ambiental

máximo de 40 (quarenta) anos. Agora, em se falando de ecoturismo, o prazo


mínimo é de 5 (cinco) anos e o máximo de 20 (vinte) anos.
É dever do concessionário permitir o acesso da fiscalização, podendo impor
condições de dia e hora.
57
A lei também estabelece a possibilidade de auditorias florestais, sendo estas
independentes.
Qualquer pessoa física ou jurídica pode fazer visitas, para averiguar o cum-
primento do contrato, havendo a necessidade de licença de visita do órgão
gestor.
Vejamos as causas que podem dar ensejo à extinção da concessão florestal:
“Art. 44. Extingue-se a concessão florestal por qualquer das seguintes causas:
I – esgotamento do prazo contratual;
II – rescisão;
III – anulação;
IV – falência ou extinção do concessionário e falecimento ou incapacidade
do titular, no caso de empresa individual;
V – desistência e devolução, por opção do concessionário, do objeto da
concessão.
§ 1º Extinta a concessão, retornam ao titular da floresta pública todos os
bens reversíveis, direitos e privilégios transferidos ao concessionário, conforme
previsto no edital e estabelecido em contrato.
§ 2º A extinção da concessão autoriza, independentemente de notificação
prévia, a ocupação das instalações e a utilização, pelo titular da floresta públi-
ca, de todos os bens reversíveis.
§ 3º A extinção da concessão pelas causas previstas nos incisos II, IV e V do
caput deste artigo autoriza o poder concedente a executar as garantias contra-
tuais, sem prejuízo da responsabilidade civil por danos ambientais prevista na
Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.
§ 4º A devolução de áreas não implicará ônus para o poder concedente,
nem conferirá ao concessionário qualquer direito de indenização pelos bens
reversíveis, os quais passarão à propriedade do poder concedente.
§ 5º Em qualquer caso de extinção da concessão, o concessionário fará, por
sua conta exclusiva, a remoção dos equipamentos e bens que não sejam objetos
de reversão, ficando obrigado a reparar ou indenizar os danos decorrentes de
suas atividades e praticar os atos de recuperação ambiental determinados pelos
órgãos competentes.”
Uma vez terminada, há a obrigação de reparar ou indenizar quaisquer da-
nos decorrentes das atividades ali exercidas.
A rescisão unilateral pelo poder concedente pode ocorrer se o concessioná-
rio descumprir os termos pactuados, descumprir o pagamento dos preços flo-
Direito Ambiental

restais e o próprio plano de manejo florestal, ou se o concessionário for conde-


nado por crime ambiental, tributário ou previdenciário. Pode ocorrer também
um fato superveniente que justifique a decisão, mediante uma lei autorizativa,
ou caso haja a exposição do trabalhador a condições degradantes de trabalho.
58
Esse término será precedido de um processo administrativo, assegurada am-
pla defesa e contraditório.
A rescisão pelo concessionário só pode ocorrer por ação judicial intentada
única e exclusivamente para esse fim.
A desistência é condicionada à aceitação expressa do poder concedente,
mas não vai desobrigar o concessionário de seus vínculos, não só com terceiros,
mas também com a gestão correta, sem danos ambientais as áreas florestais.
As florestas nacionais, estaduais e municipais são concedidas somente após
a aprovação do plano de manejo da unidade de conservação. A inserção de
florestas no Plano Anual de Outorga Florestal requer prévia autorização do
órgão gestor da unidade.
Por fim, pode haver delegação das atividades de concessões florestais entre
os entes da federação.

Exercício
19. (Analista ambiental – 2008) Assinale verdadeiro ou falso:
Caso a concessão florestal ainda não tenha sido concedida, ainda que
esteja em processo de tramitação, é vedada a exploração econômica da
floresta na área descrita, pois essa atividade é lesiva ao meio ambiente.

3. Órgão de Gestão e Fiscalização


3.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos o órgão de gestão e fiscalização ambiental.

3.2 Síntese
O poder concedente, seja ele estadual federal ou municipal, tem os seguin-
tes deveres:
“Art. 49. Cabe ao poder concedente, no âmbito de sua competência, for-
mular as estratégias, políticas, planos e programas para a gestão de florestas
públicas e, especialmente:
I – definir o PAOF;
Direito Ambiental

II – ouvir o órgão consultivo sobre a adoção de ações de gestão de florestas


públicas, bem como sobre o PAOF;
III – definir as áreas a serem submetidas à concessão florestal;
IV – estabelecer os termos de licitação e os critérios de seleção;
59
V – publicar editais, julgar licitações, promover os demais procedimentos
licitatórios, definir os critérios para formalização dos contratos para o manejo
florestal sustentável e celebrar os contratos de concessão florestal;
VI – planejar ações voltadas à disciplina do mercado no setor florestal,
quando couber. (...)
§ 2º No âmbito federal, o Ministério do Meio Ambiente exercerá as compe-
tências definidas neste artigo.”
Os órgãos do Sisnama possuem as seguintes obrigações:
“Art. 50. Caberá aos órgãos do Sisnama responsáveis pelo controle e fiscali-
zação ambiental das atividades florestais em suas respectivas jurisdições:
I – fiscalizar e garantir a proteção das florestas públicas;
II – efetuar em qualquer momento, de ofício, por solicitação da parte ou
por denúncia de terceiros, fiscalização da unidade de manejo, independente-
mente de prévia notificação; continua, plena
III – aplicar as devidas sanções administrativas em caso de infração am-
biental;
IV – expedir a licença prévia para uso sustentável da unidade de manejo das
respectivas florestas públicas e outras licenças de sua competência;
V – aprovar e monitorar o PMFS da unidade de manejo das respectivas
florestas públicas.
§ 1º Em âmbito federal, o Ibama exercerá as atribuições previstas neste artigo.”
O órgão consultivo criado pela Lei nº 11.284, chamado comissão de Gestão
de Florestas Públicas, é órgão da União, e tem as seguintes funções:
I – assessorar, avaliar e propor diretrizes para gestão de florestas públicas
da União;
II – manifestar-se sobre o PAOF da União;
III – exercer as atribuições de órgão consultivo do SFB.
A Comissão de Gestão de Florestas Públicas é formada por representantes
do Poder Público, representantes da indústria e representantes da sociedade
civil, formando uma composição plena.
O órgão gestor federal, chamado Serviço Florestal Brasileiro (SFB), tem
como principal função elaborar a proposta para o Plano Anual de Outorga
Florestal, que será posteriormente submetido ao poder concedente, seja ele
estadual, federal ou municipal.
Deve o órgão gestor solicitar ao órgão ambiental competente, licença pré-
via do empreendimento. Nos casos de florestas nacionais, essa licença será so-
licitada ao Ibama.
Direito Ambiental

Também é função do órgão gestor, gerir e fiscalizar os contratos de gestão


ambiental, bem como cobrar e verificar os pagamentos dos preços florestais.
Aplicar todas as penalidade administrativas e contratuais referentes ao contrato
de gestão.
60
Nada impede que os outros órgãos do Sisnama tenham a responsabilidade
de controlar e fiscalizar as atividade ambientais.
Cabe ao órgão gestor a guarda das florestas públicas entre uma e outra
concessão. Cada ente da Federação vai dispor sobre seu próprio órgão gestor e
consultivo.
No sistema federal, o principal órgão responsável pela prática de gestão de
concessão florestal é o SFB (Serviço Florestal Brasileiro), criado pela Lei nº
11.284. Tal órgão tem as seguintes obrigações:
I – exercer a função de órgão gestor do FNDF;
II – apoiar a criação e gestão de programas de treinamento, capacitação,
pesquisa e assistência técnica para a implementação de atividades florestais,
incluindo manejo florestal, processamento de produtos florestais e exploração
de serviços florestais;
III – estimular e fomentar a prática de atividades florestais sustentáveis de
madeireira, não madeireira e de serviços;
IV – promover estudos de mercado para produtos e serviços gerados pelas
florestas;
V – propor planos de produção florestal sustentável de forma compatível
com as demandas da sociedade;
VI – criar e manter o Sistema Nacional de Informações Florestais integrado
ao Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente;
VII – gerenciar o Cadastro Nacional de Florestas Públicas, exercendo as
seguintes funções:
a) organizar e manter atualizado o Cadastro Geral de Florestas Públicas
da União;
b) adotar as providências necessárias para interligar os cadastros estaduais e
municipais ao Cadastro Nacional;
VIII – apoiar e atuar em parceria com os seus congêneres estaduais e mu-
nicipais.
O Cadastro Nacional de Florestas Públicas consiste em uma lista de flores-
tas passíveis de concessão.
O SFB possui um conselho diretor, que exerce a administração do órgão.
Possui ouvidoria, que tem a função de acompanhar processos internos de apu-
ração de denúncias. Possui também servidores, funcionários públicos, contra-
tados mediante concurso público, ou mediante uma redistribuição de servido-
res de outros órgãos.
As associações civis que participem de concessões florestais ou de gestão di-
Direito Ambiental

reta de florestas públicas devem ser constituídas sob leis brasileiras, bem como
ter sede e administração no país.
A Lei nº 11.284 criou um Fundo Nacional de Desenvolvimento Ambien-
tal, de natureza contábil, com a função de aporte financeiro para atividades
61
de gestão florestal, gerido pelo SFB. O dinheiro é direcionado para educação
ambiental, recuperação de áreas degradadas e manutenção de áreas existentes,
pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

Exercício
20. Entre os objetivos da política nacional do meio ambiente, incluem-se a
compatibilização do desenvolvimento econômico e social, com a preser-
vação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico, como
também o estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambien-
tal e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais.

Direito Ambiental
Capítulo 6

Tutela Penal –
Lei nº 9.605/1998

1. Antecedentes da Tutela Penal


1.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos antecedentes da tutela penal.

1.2 Síntese
Com a Lei nº 9.605/1998, Lei de Crimes Ambientais, nota-se a presença de
forte movimento doutrinário e jurisprudencial referente à aplicação da respon-
sabilidade penal às condutas consideradas lesivas ao meio ambiente.
Já houve várias formas de se criminalizar condutas antiecológicas. Entre
elas, podemos mencionar o Código Penal de 1940, que tipificou alguns crimes,
sendo que muitos deles não correspondem à realidade atual e os princípios
exigidos pelo direito ambiental, o que se torna uma dificuldade. Nesta época,
ainda não havia preocupação relacionada ao direito difuso. A vantagem é apro-
veitar a legislação de 1940, amplamente conhecida.
63
Havia também vasta legislação específica esparsa ambiental, com códigos
separados. Cada uma trazia um tipificação criminal. O problema de legislações
esparsas é a dificuldade que o operador do direito tem para se fazer aplicar tais
normas, de maneira eficaz. Ainda permanece assim a lei de biossegurança.
A vantagem de se estabelecer condutas criminalizadas nessas legislações
específicas é estabelecer o grau de especificidade e de conhecimento técnico
do tipo criminal.
Outra tentativa é o único diploma normativo, que soluciona a vantagem do
Código Penal. Se eu tenho uma lei recente posso aproveitar todos os princípios
do direito penal que me são úteis, e inserir novos princípios voltados para a
proteção ambiental, o que soluciona o problema da legislação esparsa. A Lei nº
9.605/1998 revoga todas as disposições anteriores em contrário, mas não elenca
os dispositivos revogados, havendo a necessidade de o aplicador do direito ana-
lisar toda a legislação anterior para verificar se houve revogações.
A Lei nº 9.605/1998 demonstra uma tendência a se criminalizar condutas
antiecológicas.
Do ponto de vista filosófico, o direito penal trabalha com a hipótese da ulti-
ma ratio, ou seja, trabalha com bens considerados bens jurídicos fundamentais,
e não é qualquer tipo de conduta que irá merecer o status jurídico de crime.
Há contravenções penais, infrações administrativas, etc. Portanto, se eu passo
a dizer que, a partir de 1998, várias condutas são consideradas crimes, significa
dizer que a sociedade passa a repudiar aquela conduta específica. Porque o cri-
me é a conduta que recebe o mais alto grau de reprovação da sociedade. Agora,
o ciclo de proteção ambiental se fecha com a tutela criminal.
No direito ambiental, o desafio é contemplar os riscos e não os danos, uma
vez que este trabalha coma ideia de prevenção. Ocorrido o dano é difícil re-
pará-lo, neste sentido, todo o ordenamento criminal terá que respeitar a tutela
preventiva, o que se mostra difícil ao direito penal, já que este trabalha com o
dano, a conduta materializada.
Uma das formas que o direito penal encontrou para se adequar a isso, é
adotar o tipo aberto, ou seja, a norma penal em branco.
Quase sempre o tipo criminal faz remissão a uma autorização, registro ou
uma licença de direito administrativo.
Além disso, o direito penal possui elementos que fazem que com que possa-
mos trabalhar claramente a ideia de risco, o crime de dano.
O uso do crime de perigo no direito penal ambiental é essencial, pois so-
mente o crime de perigo consegue contemplar toda a característica preventiva
do direito ambiental.
Direito Ambiental

Exercício
21. Em crimes ambientais, havendo responsabilização penal pessoal do
representante legal da pessoa jurídica, desta, também, é obrigatória a
responsabilização.
64
2. Crimes de Perigo Concreto x Abstrato
2.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos crimes de perigo concreto e de perigo abstrato.

2.2 Síntese
O direito ambiental trabalha com prevenção e, por isso, é necessário en-
contrar elementos no próprio ordenamento jurídico criminal para tentar ade-
quar a responsabilização à figura do dano ambiental.
Existe o crime de dano e o crime de perigo efetivo. O crime de perigo pos-
sui a tutela preventiva, e pode ser de duas formas.
O crime de perigo concreto ocorre quando a comprovação real do perigo
é elemento caracterizador do tipo e da consumação da conduta criminosa.
Vejamos:
“Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar
dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.’’
Se solto na natureza animal castrado, mesmo que não tenha predador, não
expondo o ecossistema ao perigo, não configurando crime ambiental.
O crime de perigo abstrato, para que ocorra, basta a conduta do agente para
se consumar. Vejamos:
“Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais
formas de vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias
ou instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou sub-
produtos florestais, sem licença da autoridade competente:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.”
Basta sua comprovação para que exponha a sociedade ao perigo. Se apenas
entro nas unidades com armas, sem intenção de matar, já é crime.
O crime no direito ambiental não é conduta típica jurídica e culpável, uma
vez que o elemento da culpabilidade é flexibilizado.
O direito ambiental trabalha em demasiado com crimes de perigo abstrato
porque, quando eu consigo contemplar a conduta do agente e não o dano em
Direito Ambiental

si, torna-se possível uma tutela preventiva do meio ambiente.


O crime de perigo abstrato na tutela criminal traz ideia de objetivação.
Ideia de responsabilidade objetiva ao meio ambiente. Basta a comprovação da
conduta.
65
O Princípio da Relevância da omissão está previsto no art. 2º da Lei de
Crimes Ambientais. Vejamos:
“Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos na
Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem
como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o
auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo
da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia
agir para evitá-la.”
Vejamos também o que a lei dispõe sobre a responsabilidade penal da
Pessoa Jurídica:
“Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão
colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.”
Se o presidente de uma pessoa jurídica dá uma ordem para um crime e só
ele se beneficia, não há que se falar em responsabilização da pessoa jurídica,
uma vez que esta foi só o meio. Da mesma forma, caso alguém com o unifor-
me de uma empresa pratique um crime sem que tenha tido comando, ele será
responsabilizado.
Conforme posicionamento jurisprudencial, a pessoa jurídica será respon-
sabilizada juntamente com a pessoa física, não se afastando a teoria da dupla
imputação.
A responsabilidade da pessoa jurídica não exclui o da pessoa física, autoras
coautoras ou partícipes do mesmo fato. O posicionamento jurisprudencial é
que sempre haverá a responsabilidade da pessoa jurídica junto com a responsa-
bilidade de quem deu o comando legal, já que pessoa jurídica não age.
Os princípios da individualização da pena devem ser considerados na situ-
ação concreta, de acordo com o posicionamento jurisprudencial. Se este for
no sentido de responsabilizar a pessoa jurídica juntamente com o agente, o
princípio não será afetado.
As penas aplicáveis à pessoa jurídica podem ser:
I – multa;
II – restritivas de direitos (suspensão parcial ou total de atividades; interdi-
ção temporária de estabelecimento, obra ou atividade; proibição de contratar
com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações,
que não poderá exceder o prazo de dez anos);
Direito Ambiental

III – prestação de serviços à comunidade (custeio de programas e de pro-


jetos ambientais; execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
manutenção de espaços públicos; e contribuições a entidades ambientais ou
culturais públicas).
66
Além disso, caso a pessoa jurídica incorra no art. 24 da Lei de Crimes
Ambientais, terá a personalidade desconstituída. Vejamos o mencionado
dispositivo:
“A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com
o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta lei
terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado ins-
trumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário
Nacional.”

Exercício
22. Em relação a crimes ambientais, julgue os itens a seguir:
A responsabilidade penal da pessoa jurídica vem sendo adotada em
muitos países nos crimes contra a ordem econômica e o meio ambien-
te. A CR/1988 estabeleceu que as condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, às sanções
penais e administrativas independentemente da obrigação de reparar
os danos causados.
A lei de crimes ambientais sustenta que a responsabilidade penal da
pessoa jurídica não exclui a das pessoas naturais. Disso decorre que a
denúncia poderá ser dirigida apenas contra a pessoa jurídica caso não
se descubra a autoria ou participação das pessoas naturais e poderá
também ser direcionada contra todos.

3. Aplicação da Pena
3.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a aplicação da pena no direito ambiental.

3.2 Síntese
Para aplicar a pena, deve-se observar a gravidade do fato, os antecedentes do
criminoso e sua situação econômica.
Direito Ambiental

As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de


liberdade quando tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa
de liberdade inferior a quatro anos, ou a culpabilidade, os antecedentes, a
conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e
67
as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para
efeitos de reprovação e prevenção do crime.
O juiz só pode aplicar as penas cominadas na lei de crimes ambientais.
A lei de crimes ambientais estabelece as possíveis penas para substituição
da pena privativa de liberdade. São elas:
I – serviço à comunidade;
II – interdição temporária de direitos;
III – suspensão de atividades;
IV – prestação pecuniária; tendo em vista a falta de gravidade nas condutas,
é a mais aplicada;
V – recolhimento domiciliar;
VI – a suspensão condicional da pena (sursis) pode ser aplicada nos casos de
condenação à pena privativa de liberdade não superior a três anos;
VII – a perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser
aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório. As esferas de
responsabilização, apesar de autônoma e distintas, se comunicam.
A ação penal é pública incondicionada.
O art. 27 da lei de crimes ambientais determina prévia composição do
dano. Compor o dano não pode ser confundido com repará-lo. É averiguar
quais as características da degradação estão ali contempladas. Vejamos o men-
cionado dispositivo:
“Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplica-
ção imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei
nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde
que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74
da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.”
Reparação do dano é característica e requisito do art. 28, para suspensão
condicional do processo. Vejamos:
“Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de
1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei,
com as seguintes modificações:
I – a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5º do artigo
referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano am-
biental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1º do mesmo artigo;
II – na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa
a reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período
Direito Ambiental

máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com


suspensão do prazo da prescrição;
III – no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos
II, III e IV do § 1º do artigo mencionado no caput;
68
IV – findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo
de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resul-
tado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto
no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III;
V – esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de
punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado
tomado as providências necessárias à reparação integral do dano’.’
A possibilidade de transação no direito ambiental é somente em relação aos
crimes de menor potencial ofensivo, desde que tenha havido a prévia compo-
sição do dano ambiental.
Possibilidade de suspensão condicional do processo conforme o art. 89 da
Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, sendo a declaração de extinção de
punibilidade condicionada à apresentação de laudo de constatação de repara-
ção do dano ambiental.
A lei de crimes ambientais prevê em seu art. 37 situações excludentes de
ilicitude. Vejamos:
“Art. 37. Não é crime o abate de animal quando realizado:
a) em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua famí-
lia; mesmo se for ameaçada de extinção;
b) para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou des-
truidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autori-
dade competente;
c) por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão com-
petente.” Crítica, o art. 225 estabelece que toda espécie cumpre a sua função
ecológica e por isso deve ser preservada.
Na análise desse dispositivo, devemos levar em consideração a razoabilida-
de e a proporcionalidade.

Exercício
23. (Analista Ambiental – Ibama – 2008) Julgue:
Quando o dano ambiental cometido configurar crime e ilícito civil,
devem ser realizadas duas perícias independentes: uma que produzirá
prova dentro da ação penal instaurada contra o criminoso e outra que
Direito Ambiental

será utilizada na ação cível, pois a perícia produzida no juízo cível não
pode ser utilizada no processo penal.
69
4. Infrações Administrativas – Lei nº
9.605/1998 e Decreto nº 6.514/2008
4.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos as infrações administrativas trazidas pela


Lei nº 9.605/1998 e pelo Decreto nº 6.514/2008.

4.2 Síntese
As infrações administrativas estão previstas em dois diplomas legais, a Lei nº
9.605/1998 (crimes ambientais) e o Decreto nº 6.514/2008.
O uso da Lei nº 9.605/1998 (crimes ambientais) para regular infrações ad-
ministrativas gera muita crítica, pois na responsabilidade criminal, a competên-
cia é privativa, enquanto a responsabilidade administrativa é de competência
comum dos três entes. Além disso, a primeira é subjetiva, ou seja, baseada no
dolo e na culpa, enquanto a outro é objetiva.
O Decreto nº 6.514/2008 traz as tipificações administrativas da esfera
federal.
As práticas de fiscalização e de gestão ambiental podem ser exercidas pelos
três entes da Federação.
Enquanto o decreto tipifica as condutas administrativas, a lei dispõe sobre
o assunto de modo sutil.
Os dois diplomas trazem o conceito de infração administrativa, que consiste
em toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção,
proteção e recuperação do meio ambiente.
As Autoridades Competentes na Esfera Federal para Fiscalizar e Aplicar
Penalidades são os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema
Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), designados para as atividades de fis-
calização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da
Marinha, sendo que qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá
dirigir representação às autoridades relacionadas acima, para efeito do exercício
do seu poder de polícia.
O Ibama, órgão máximo de fiscalização federal, foi desmembrado e per-
manece com todas as suas competências, salvo a fiscalização de unidades de
Direito Ambiental

conservação, que ficou a cargo do Instituto Chico Mendes.


A capitania dos portos do comando da marinha também pode fiscalizar
embarcações em nosso mar territorial, e na zona econômica exclusiva, uma vez
que esta encontra-se sob jurisdição do Brasil.
70
Não é permitida a fiscalização de embarcação com direito de passagem
inocente. Entenda-se por inocente a passagem rápida, contínua e que não afete
a soberania brasileira. Se estiver derramando óleo, não entra nesse conceito, e
será passível de fiscalização pela capitania dos portos.
O agente autuador, ao lavrar o auto de infração, tem que observar a gra-
vidade dos fatos, tendo em vista as conquências para a saúde humana e meio
ambiente, bem como se ater aos antecedentes do infrator, quanto ao cumpri-
mento da legislação ambientalista, e condição econômica.
Os tipos de sanções aplicáveis são advertência, nos casos de conduta com
menor potencial ofensivo. O decreto estabelece que as condutas de menor
potencial ofensivo ao meio ambiente, são os casos em que a multa máxima
cominada não ultrapasse o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), ou que, imposta
a multa por unidade de medida, seja aplicável e não exceda o valor referido.
Uma vez aplicada a advertência não pode ser novamente no período de até
3 (três) anos da data da aplicação inicial. O infrator será diretamente multado.
A grande maioria das instituições constatam a infração e aplicam a advertência,
o que só será possível depois de uma segunda visita ao infrator. Se em uma primeira
visita a multa ultrapassar mil reais, aplicar-se-á direto a multa sem advertência.
Em vista do princípio da prevenção, na iminência de um dano, o agente
fiscalizador não pode aplicar advertência, pois não há ato tipificado. Pode ape-
nas notificá-lo.

Exercício
24. (Cespe – Juiz Federal Substituto – TRF 5ª Região – 2005) Julgue o
item subsequente acerca das infrações administrativas ambientais:
Os autos de infração ambiental serão lavrados por servidores de órgãos
integrantes do Sisnama que tenham sido designados para as atividades
de fiscalização, aos quais também cabe a instauração de processo ad-
ministrativo por infração ambiental. Além disso, podem ainda realizar
as mesmas medidas usadas pelos agentes das capitanias dos portos do
Ministério da Marinha.

5. Infrações Administrativas – Multas e


Advertências
Direito Ambiental

5.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos as multas e advertências das infrações


administrativas.
71
5.2 Síntese
São vários os tipos de sanção à disponibilidade do agente público no exercício
da fiscalização ambiental. Uma delas é a multa simples, cujo valor mínimo
é de R$ 50,00 (cinquenta reais) e máximo de R$ 50.000.000,00 (cinquenta
milhões de reais).
No direito ambiental, devemos considerar a possibilidade de reincidência,
que pode ser genérica, quando o infrator comete no prazo de cinco anos infra-
ção diferente da cometida anteriormente. Neste caso, a segunda infração terá
a multa dobrada. Como a reincidência pode ser também específica, quando o
infrator comete a mesma conduta no período de cinco anos e a multa é tripli-
cada, ou seja, pode chegar a 150 milhões de reais.
O pagamento da multa, estadual ou municipal, supre a multa federal. Pago
a primeira e peço o cancelamento da segunda.
O decreto estabelece que 20% dos valores arrecadados nas práticas de fis-
calização devem ir para esse fundo, que é instituído por lei e vinculado ao
Ministério do Meio Ambiente, cuja gestão não é só governamental, mas tem
também representantes da sociedade civil, já que o meio ambiente é bem de
uso comum.
Outra sanção que podemos mencionar é a multa diária: aplicada sempre
que o cometimento da infração se prolongar no tempo. Tem como característi-
ca obrigar o infrator a parar de poluir imediatamente.
A um acidente na Baía de Guanabara envolvendo derramamento de óleo
se aplica multa simples, pois a multa se refere à única conduta do agente, não
ao dano, uma vez que não é possível repará-lo imediatamente.
Em relação à apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e
flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer nature-
za utilizados na infração: possibilidade de apreensão de animais domésticos e
exóticos quando forem encontrados no interior de unidade de conservação de
proteção integral; ou forem encontrados em área de preservação permanente
ou quando impedirem a regeneração natural de vegetação em área cujo corte
não tenha sido autorizado, desde que, nestes casos, tenha havido prévio embar-
go. Após a apreensão, a autoridade competente, levando-se em conta a natu-
reza dos bens e animais apreendidos e considerando o risco de perecimento,
procederá da seguinte forma:
I – os animais da fauna silvestre serão libertados em seu hábitat ou entre-
Direito Ambiental

gues a jardins zoológicos, fundações, entidades de caráter científico, centros


de triagem, criadouros regulares ou entidades assemelhadas, desde que fiquem
sob a responsabilidade de técnicos habilitados, podendo ainda, respeitados os
regulamentos vigentes, ser entregues em guarda doméstica provisória;
72
II – os animais domésticos ou exóticos poderão ser vendidos;
III – os produtos apreendidos podem ser doados ou leiloados;
IV – os equipamentos podem ser utilizados na prática de fiscalização ambien-
tal ou leiloados.
Animais domésticos poderão ser apreendidos desde que se encontrem em uma
unidade de conservação de proteção integral, ou em uma área de preservação per-
manente que já foi embargada. Ex.: gado. Se apreendido, pode ser vendido.

Exercício
25. Qualquer pessoa do povo pode expor queixa à autoridade competente
responsável pela fiscalização ambiental quando constatar a ocorrência
de infração ambiental. A autoridade, a partir do conhecimento dos fa-
tos, é obrigada a promover a apuração imediata da infração, sob pena
de responsabilidade.

6. Infrações Administrativas – Multas e


Advertências – Continuação
6.1 Apresentação

Nesta unidade, daremos continuidade ao estudo das infrações adminis-


trativas.

6.2 Síntese
No caso de apreensão de produtos, pode ocorrer a destruição ou inutili-
zação. Os produtos, inclusive madeiras, subprodutos e instrumentos utiliza-
dos na prática da infração poderão ser destruídos ou inutilizados quando a
medida for necessária para evitar o seu uso e aproveitamento indevidos nas
situações em que o transporte e a guarda forem inviáveis em face das circuns-
tâncias; ou quando possam expor o meio ambiente a riscos significativos ou
comprometer a segurança da população e dos agentes públicos envolvidos
na fiscalização.
Direito Ambiental

Poderá ocorrer também a suspensão da venda e fabricação do produto, o


que visa a evitar a colocação no mercado de produtos e subprodutos oriundos
de infração administrativa ao meio ambiente, ou que tenha como objetivo in-
terromper o uso contínuo de matéria-prima e subprodutos de origem ilegal.
73
Outra sanção aplicável é o embargo de obra ou atividade, que tem o ob-
jetivo de impedir a continuidade do dano ambiental, propiciar a regeneração
do meio ambiente e dar viabilidade à recuperação da área degradada, devendo
restringir-se exclusivamente ao local onde se verificou a prática do ilícito, não
alcançando as demais atividades realizadas em áreas não embargadas da pro-
priedade ou posse ou não correlacionadas com a infração. Caso o particular
suspenda o embargo, poderá ter cancelada ou suspensa sua licença, ou seu
registro.
Há também a sanção de demolição de obra, que pode ser aplicada pela
autoridade ambiental, após o contraditório e ampla defesa, quando verificada
a construção de obra em área ambientalmente protegida em desacordo com a
legislação ambiental; ou quando a obra ou construção realizada não atenda às
condicionantes da legislação ambiental e não seja passível de regularização, fi-
cando proibida em edificações residenciais. O agente do Ibama tentará que a
demolição seja feita pelo particular, que deve arcar com os custos, se ele não o
fizer, o Ibama providenciará a demolição e encaminhará os custos para o infrator.
É importante mencionar também a sanção de suspensão parcial ou total
de atividades que visa impedir a continuidade de processos produtivos em desa-
cordo com a legislação ambiental. Segundo a jurisprudência, dependendo da
suspensão e da atividade, não pode haver a suspensão total, por razão de ordem
econômica, devendo-se considerar a razoabilidade e a proporcionalidade. De-
pendendo da atividade, sua suspensão pode poluir ainda mais. Como exemplo,
podemos mencionar um lixão. Pode haver a suspensão da entrega de mais resí-
duo, mas o resíduo que lá se encontra, tem que continuar sendo tratado.
Há também a possibilidade da substituição das sanções por pena restritiva
de direitos. São elas:
I – suspensão de registro, licença ou autorização;
II – cancelamento de registro, licença ou autorização;
III – perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais;
IV – perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em
estabelecimentos oficiais de crédito. Neste caso, o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama) deve homologar essa substituição;
V – proibição de contratar com a administração pública, pelo prazo de até
3 anos.
No processo administrativo, o direito de ação da administração pública, na
sua prática de fiscalização, prescreve em 5 (cinco) anos ou em 3 anos após o
início do processo, caso o processo fique inerte.
Direito Ambiental

Pode deixar de se aplicar multa ou apreender uma espécie, quando houver


uma guarda doméstica não prejudicial ao animal silvestre. Caso o animal esteja
adaptado à família, retirá-lo poderia ser prejudicial ao animal. Ademais, nunca
conseguirá se readaptar à natureza.
74
O auto de infração deve ter os seguintes requisitos: ser lavrado e impresso
próprio, com a identificação do autuado, a descrição clara e objetiva das in-
frações administrativas constatadas e a indicação dos respectivos dispositivos
legais e regulamentares infringidos, não devendo conter emendas ou rasuras
que comprometam sua validade.
A defesa deverá ser formulada por escrito num prazo de vinte dias, contados
da data da ciência da autuação, deve conter os fatos e fundamentos jurídicos
que contrariem o disposto no auto de infração e termos que o acompanham,
bem como a especificação das provas que o autuado pretende produzir a seu
favor, devidamente justificadas.
Na fase de instrução e julgamento, oferecida ou não a defesa, a autoridade
julgadora, no prazo de trinta dias, julgará o auto de infração, decidindo sobre
a aplicação das penalidades, podendo requisitar a produção de provas neces-
sárias à sua convicção, bem como parecer técnico ou contradita do agente au-
tuante, especificando o objeto a ser esclarecido. Julgado o auto de infração, o
autuado será notificado por via postal com aviso de recebimento ou outro meio
válido que assegure a certeza de sua ciência para pagar a multa no prazo de
cinco dias, a partir do recebimento da notificação, ou para apresentar recurso.
Caberá recurso no prazo de vinte dias, que não possui efeito suspensivo,
salvo quando se tratar de penalidade de multa.
Tanto o recurso quanto a defesa, serão opostos no Ibama.
A conversão da pena em prestação de serviços deve ser solicitada no mo-
mento da defesa, já com projeto de prestação de serviços à comunidade.
Uma vez solicitado, nada impede que a administração pública o negue,
uma vez que a decisão de conversão é discricionária.
O indivíduo não pode fazer o novo pedido no prazo de 5 anos, caso seja
reincidente.
O pedido de conversão é acompanhado com um termo de compromisso
com o intuito de dar fim na causa que ensejou a infração.

Exercício
26. O processo administrativo para apuração de infração ambiental se sub-
mete a prazos fixados em lei. Julgue os itens a seguir, que tratam dos
prazos de que o órgão ambiental dispõe para as diferentes fases do pro-
cesso administrativo.
O baixo grau de escolaridade e instrução do infrator não influenciarão
Direito Ambiental

a pena que a ele for aplicada pelo delito cometido.


Com ou sem apresentação de defesa ou impugnação por parte do in-
frator, a autoridade julgadora tem prazo de 30 dias para julgar o auto de
infração, e tal prazo é contado a partir da data da lavratura desse auto.
Capítulo 7

Responsabilidade Civil

1. Caracterização do Dano Ambiental


1.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a caracterização do dano ambiental.

1.2 Síntese
A responsabilidade civil por condutas degradantes ao meio ambiente esca-
pa à responsabilidade do Código Civil.
A responsabilidade civil tem como elemento fundador o dano ambiental
que, por sua vez, é imprescindível para a caracterização da responsabilidade civil.
Dano ambiental não é expressamente definido, o que dificulta a sua carac-
terização.
Conceitos importantes da Lei nº 6.938/1981:
“Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal,
estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preser-
76
vação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da
qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o po-
luidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para
propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio
ambiente.”
O dispositivo mencionado fundamenta a responsabilidade civil objetiva,
pouco importando se a atividade é lícita ou ilícita, o que torna ainda mais
difícil a caracterização do dano. A conduta ensejadora do dano é qualquer ati-
vidade humana que possa gerar dano ambiental.
O direito brasileiro não conceitua a figura do dano, só a da poluição. Tanto
o dano efetivo ou potencial, mera ameaça, gera a responsabilidade, só que em
se tratando de ameaça de dano, apesar da responsabilização, não há o dever de
reparação.
O posicionamento do STJ parte do pressuposto de que o dano moral decor-
re de dor individual, não sendo possível auferir uma dor coletiva.
Todavia, o Ministério Público adota o posicionamento de que caso haja
um dano a um bem que seja patrimônio histórico cultural, posso instituir a
responsabilidade por dano moral.
Em relação à existência de dano patrimonial e extrapatrimonial, encontra-
mos respaldo no art. 1º da Lei nº 7.347/1985. Vejamos:
“Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as
ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
I – ao meio ambiente.” Contudo, permanece a dúvida sobre a definição de
dano ambiental.”
Em relação ao conceito de dano ambiental, a doutrina brasileira trabalha
com o instituto do limite de tolerabilidade.
Limite de tolerabilidade é a linha divisória que, caso seja ultrapassada, gera
o dano e a obrigação de reparar. Trata-se de um critério físico, natural, e não
jurídico.
É possível haver tripla, única ou nenhuma esfera de responsabilização, ape-
sar da constituição estabelecer a tripla responsabilidade.
Em determinadas situações, não há a inversão do ônus da prova porque o
empreendimento está devidamente licenciado.
Por fim, vejamos algumas definições em direito ambiental, que serão abor-
Direito Ambiental

dadas futuramente:
“Art. 3º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das caracterís-
ticas do meio ambiente;
77
III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de ativida-
des que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;
IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental.”

Exercício
27. (Juiz Federal Substituto – TRF/4ª Região – 2005) Julgue a assertiva:
III. Embora reconhecida pela doutrina e pela jurisprudência, não há
na lei infraconstitucional previsão expressa para reparação do dano ex-
trapatrimonial ambiental.

2. História, Responsabilidade Objetiva e


Subjetiva
2.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a história da responsabilidade objetiva e


subjetiva.

2.2 Síntese
Antes de leis infraconstitucionais tutelarem o meio ambiente, a responsabi-
lidade civil em relação a danos ambientais era subjetiva. Havia a necessidade
de um dano efetivo ou potencial, de uma conduta ilícita fundamentada no
dolo ou culpa baseada na teoria subjetiva e do respectivo nexo de causalidade
entre a conduta do agente e o dano causado.
Direito Ambiental

Antes da Lei nº 6.938/1981, o meio ambiente era visto como direito de


propriedade.
Ademais, o meio ambiente era confundido com os recursos naturais que o
compunham, baseado em uma visão extremamente civilista, ao considerar a
78
natureza como um mero direito de propriedade. Nesta situação, o proprietário
poderia ter o livre-arbítrio em suas atitudes. Deste modo, ficava restringido o
direito de ação em busca de proteção ambiental, pois somente o titular do direi-
to (proprietário) estava legitimado a buscar uma satisfação pela lesão causada.
Era considerado direito personalíssimo. Nada poderia garantir que aquela in-
denização iria para ações de reversão e reparação de dano. No passado, sequer
havia leis a serem violadas. Tudo era legal e permitido. Ex.: caso uma empresa
de minério degradasse seu terreno, produzindo, estava respeitando a função
social da propriedade e não violava nenhum dispositivo, pois não havia lei para
tutela ambiental.
A responsabilidade era baseada em conduta dolosa ou culposa. O dolo é
quase impossível de ser auferido, por isso, era sempre descaracterizado. Se o
empreendimento tivesse licença, sua atividade era lícita. A responsabilidade sub-
jetiva de antigamente não conseguia contemplar os danos ao meio ambiente.
A mudança se dá com a adoção da Lei nº 6.938/1981. Inicialmente, ao
mudar o foco de proteção para a qualidade ambiental (ao invés da quantidade
de recursos disponíveis), possibilitando uma visão difusa da natureza, estabe-
lece-se igualmente uma legitimidade para a tutela do bem, uma vez que este
pertence a todos. Em seguida, descaracteriza-se a ilicitude de uma atividade
como componente necessário para a responsabilização civil. Assim, uma con-
duta condizente com os padrões e normas ambientais em vigor pode, sim, vir a
ser responsabilizada caso provoque um dano, seja por acidente ou por qualquer
fator alheio à sua vontade. E, por fim, afasta-se a aplicação da teoria subjetiva,
estabelecendo simplesmente a análise do dano, da conduta e do nexo causal,
tornando-se irrelevante saber se o agente agiu dolosa ou culposamente.
O art. 14 da Lei nº 6.938/1981 em seu § 1º determina a responsabilidade
objetiva. Vejamos:
“é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a in-
denizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados
por sua atividade.”
Este dispositivo institui não só a responsabilidade objetiva, mas também a
responsabilidade civil por todo tipo de dano (à coletividade e à propriedade).
O mencionado artigo traz como característica a irrelevância da licitude ou
ilicitude da atividade, e da análise de dolo ou culpa do agente. Basta que eu
comprove o dano, a conduta da empresa e o nexo causal. Aí contempla-se
todos os casos de degradação ambiental.
O § 1º do art. 14 deixa claro que, independente da existência de culpa, quan-
do menciona “meio ambiente e terceiros”, trabalha com a ideia de direito difuso,
Direito Ambiental

já que impõe que o poluidor deve reparar a qualidade do meio ambiente.


Tal artigo não nega o fato dos recursos naturais pertencerem a alguém, en-
quanto direito de propriedade, contempla o meio ambiente; enquanto direito
difuso e enquanto direito de propriedade.
79
O proprietário, enquanto cidadão consciente, pode pedir ao Ministério
Público que promova uma ação civil pública que verse sobre a qualidade do
meio ambiente que foi ali degradado, ou seja, o § 1º do art. 14 não só institui a
responsabilidade civil objetiva, como também institui a responsabilidade civil
por todo tipo de dano, seja o dano ao direito difuso (qualidade) seja o dano ao
direito de propriedade (qualidade dos bens ali em vigor).
Nada impede que a ação seja ajuizada pelo particular, enquanto dono pro-
prietário do bem lesado, pelo Ministério Público ou pelo próprio particular,
mediante uma ação popular em defesa do interesse da coletividade.
As características do dano que hoje passam a ser responsabilizadas encon-
tram-se no art. 3º da Lei nº 6.938/1981, e traz o conceito de poluição que inova
em três pontos. Ao definir poluição como “dano direto ou indireto” e ao tutelar
“aspectos estéticos” os incluídos na análise do dano e da poluição, impedindo
a modificação dessas características. Ex.: serra do curral. Qualquer construção
que impeça a visão da montanha causa dano ambiental.
O lançamento de energia em desacordo com os padrões estabelecidos tam-
bém causa dano. Se uso a água do rio para resfriar um motor, altero sua tempe-
ratura, gerando a mortandade dos peixes, afetando o meio ambiente.

Exercício
28. (Juiz Federal Substituto da 1ª Região – 2006): Em relação à responsa-
bilidade civil por dano ambiental, a causa indireta:
a) Em relação à responsabilidade civil por dano ambiental, a causa
indireta como determinante de responsabilidade é prevista expres-
samente em lei, ou seja, não resulta somente dos princípios perti-
nentes à matéria.
b) Libera o empreendedor a prova de que a atividade licenciada pelo
órgão competente, de acordo com o respectivo processo legal, foi
exercida dentro dos padrões fixados.
c) Pode-se dizer que é predominantemente objetiva, o que não exclui
nem atenua a exigência de demonstração do nexo de causalidade.

3. Teoria do Risco
Direito Ambiental

3.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a teoria do risco.


80
3.2 Síntese
A teoria do risco divide-se em duas. Uma delas é a teoria do risco proveito,
ou risco administrativo, ou risco criado, que é aquela que responsabiliza o in-
divíduo pelo fato de ele ter se beneficiado de um bem que é de uso comum,
admitindo-se, entretanto, causas excludentes de responsabilização, tais como
em caso fortuito ou força maior, fato de terceiro e culpa exclusiva da vítima.
Há também a teoria do risco integral, que estabelece que o indivíduo será
responsabilizado pelo simples fato de ter gerado o risco, caso ele venha a se
consubstanciar em um dano efetivo. Esta teoria é a única que consegue con-
templar todos os casos de dano, uma vez que sua principal característica é
não admitir excludentes de responsabilidade. Deste modo, se um terremoto,
ou um raio, atinge uma indústria química, causando vazamento de produtos
que poluam o meio ambiente, será o empreendedor o responsabilizado. Nesta
teoria, o único modo de se eximir de responsabilidade é negar a atividade ou
o próprio dano.
Ressalte-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudência ainda não firma-
ram um posicionamento pacífico acerca de qual é a teoria adotada pelo direito
ambiental brasileiro, havendo, portanto, controvérsias sobre o tema.
Há a canalização de responsabilidade; a própria lei define antes de qual-
quer tipo de dano quem será o responsável por indenizar o dano ocorrido. Em
caso de derramamento de óleo por navio, o responsável é o proprietário do
navio, sendo possível o direito de regresso, caso seja provado que não foi ele o
culpado pelo dano.
Se uma pilha polui, o fabricante será responsabilizado, não se admitindo
excludente de responsabilidade civil. Por isso que as empresas fabricantes de
pilha criam postos de coleta, ou poderão ser responsabilizadas pelo fato de ter
criado o risco.
No direito ambiental, existe a solidariedade se a fonte do dano for totalmen-
te incerta. Nesse caso, uma das empresas pode ser responsável pela integralida-
de da lesão, devendo ela chamar as outras para que integrem a lide.
Em regra, há inversão do ônus da prova, exceto se a empresa estiver devi-
damente licenciada.
Ademais, o dano ambiental é imprescritível.
Outrossim, o passivo ambiental acompanha a coisa e não o proprietário.
Ex.: um proprietário que adquire um terreno é responsável por todos os débitos
Direito Ambiental

ambientais daquela propriedade. Acompanha a coisa, e não o proprietário. Se


adquire o imóvel com danos ambientais, deve repará-los. Funciona tal qual o
passivo trabalhista, em que uma empresa que compra outra é responsável por
todos os débitos trabalhistas.
81
No direito ambiental, a responsabilidade civil do Estado ocorre quando o
ente age diretamente modificando a natureza e causando dano, respondendo
como um particular.
Quando o ente age fiscalizando, será responsável apenas se for comprovada
a omissão da sua fiscalização (responsabilidade. subjetiva).

Exercício
29. (Procurador da República) Quanto à responsabilidade por dano causado
ao meio ambiente:
a) É fundada no risco, sendo pacífico o entendimento de que deve ser
adotada a teoria do risco integral.
b) O sistema de proteção jurídica possui como eixo central o binômio
prevenção-restauração.
c) Não se admite a responsabilização cumulativa por danos materiais
e morais porque o meio ambiente pertence à coletividade.
d) Quando for possível a adoção de medidas de restauração natural
exclui-se a reparação pecuniária.

Direito Ambiental
Capítulo 8

SNUC

1. SNUC – Lei nº 9.985/2000


1.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos o Sistema Nacional de Unidades de Con-


servação.

1.2 Síntese
A Lei nº 9.985/2000 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conser-
vação (SNUC), com base no art. 225, § 1º, III da Constituição: incumbe ao
Poder Público, que traz a seguinte redação:
“definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus com-
ponentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa
a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.”
83
Vejamos o conceito de unidade de conservação, entre outros:
I. Unidades de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais,
incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevan-
tes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conser-
vação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual
se aplicam garantias adequadas de proteção;
II. Plano de manejo: documento técnico mediante o qual, com funda-
mento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabe-
lece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e
o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas
físicas necessárias à gestão da unidade;
II. Zona de amortecimento: o entorno de uma unidade de conservação,
onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições espe-
cíficas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a
unidade;
III. Corredores ecológicos: porções de ecossistemas naturais ou seminatu-
rais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o flu-
xo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies
e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de
populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão
maior do que aquela das unidades individuais;
IV. Proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de alterações
causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos
seus atributos naturais;
V. Uso sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a pere-
nidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos,
mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma
socialmente justa e economicamente viável.
O art. 4º da Lei nº 9.985/2000 traça diretrizes e objetivos das unidades de
conservação. Vejamos:
“I – contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos
genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;
II – proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e na-
cional;
III – contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecos-
sistemas naturais; pode ter unidade com objetivo de restaurar uma are lesada;
IV – promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
Direito Ambiental

é da essência da unidade de conservação o uso econômico dela, se ela conse-


guir ser auto sustentável do ponto de vista financeiro;
V – promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natu-
reza no processo de desenvolvimento;
84
VI – proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
VII – proteger as características relevantes de natureza geológica, geomor-
fológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural; aspectos cul-
turais de uso e de manejo sustentável de uma certa comunidade, em relação
aos recursos que ela possui;
VIII – proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX – recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X – proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica,
estudos e monitoramento ambiental; pesquisa-se formas de utilizar de maneira
sustentável aquele recurso;
XI – valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII – favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental,
a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;
XIII – proteger os recursos naturais necessários à subsistência de popula-
ções tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
promovendo-as social e economicamente.
Ademais, as unidades de conservação têm também como objetivo fazer
com que espaços territoriais e ambientais com alguma característica especial,
como reprodução de espécie, importante ecossistema, beleza cênica, passe a
ter um sistema mais protetivo.
Somente posso alterar ou suprimir uma unidade de conservação mediante
lei. Porém, criar pode ser por decreto ou por lei.
Extinção somente por lei.
Já em relação à alteração, a doutrina e a jurisprudência se ativeram às es-
sências e aos objetivos da lei. Caso a alteração seja em benefício da unidade,
para aumentar a unidade, a doutrina é unânime em relação à possibilidade de
alteração por decreto.
As unidades de conservação eram estabelecidas pelo Conama e, a partir
do SNUC, foram revogadas. Na legislação atual, algumas unidades não foram
contempladas como unidades de conservação (SNUC), por exemplo, os jar-
dins zoológicos e ortos florestais.

Exercício
Direito Ambiental

30. A redução dos limites de unidade de conservação pode ser feita por
instrumento normativo do mesmo nível hierárquico daquele que criou
a unidade.
85
2. SNUC – Unidades de Proteção Integral e
Unidades de Uso Sustentável
2.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos as unidades de proteção integral e de uso


sustentável.

2.2 Síntese
A estrutura da gestão dos espaços territoriais protegidos é semelhante à do
Sisnama. Vejamos:
I. órgão consultivo e deliberativo: Conama;
II. órgão executor: Instituto Chico Mendes (autarquia). O Ibama é órgão
executor, apenas em caráter supletivo;
III. os órgãos dos estados e municípios fazem o controle direto e a gestão
direta das unidades.
Perguntas constantes em concursos versam sobre qual unidade pertence a
que bloco, ou se é formada por terras públicas ou particulares.
Entre as categorias, temos as unidades de proteção integral e unidades de
uso sustentável.
A diferença entre elas consiste em que a unidade de proteção integral tem
caráter preservacionista (maior rigor), e a unidade de uso sustentável, conserva-
cionista (maior flexibilidade).
Preservação nada mais é do que atividades que não envolvam o uso direto
do meio ambiente, não permitindo, assim, a sua degradação.
Já a conservação admite o uso direto da propriedade e tem o objetivo de
promover a ideia de desenvolvimento sustentável. Uso direto é o que permite
usar e coletar o recurso, gerando pequeno impacto.
Vejamos agora como se divide as Unidades de Proteção Integral:
I. Estação Ecológica, que tem por objetivo a preservação da natureza e
realização de pesquisas científicas. É de posse e domínio públicos, sen-
do que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapro-
priadas. Em campos de universidades, é comum, podendo até haver a
Direito Ambiental

proibição de visitação pública, porque o objetivo ali é pesquisar.


II. A Reserva Biológica é mais protetiva, e tem como objetivo a preservação
integral da biota (conjunto da fauna e flora de um local) e demais atribu-
tos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta
86
ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação
de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para re-
cuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os pro-
cessos ecológicos naturais, não permitindo sequer a entrada de pessoas,
exceto para eventual reparação. É de posse e domínio públicos, sendo
que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas.
O Parque Nacional tem como objetivo a preservação de ecossistemas natu-
rais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização
de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e in-
terpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo
ecológico. É de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares in-
cluídas em seus limites serão desapropriadas. Objetivo é ser autossustentável
financeiramente. Caso o turismo, que gera essa sustentabilidade, seja prejudi-
cial, haverá a sua suspensão.
O Monumento Natural tem o objetivo de preservar sítios naturais raros, sin-
gulares ou de grande beleza cênica. Pode ser a entrada de uma gruta, de uma
cachoeira, pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível
compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos
naturais; caso o uso dos proprietários passe a prejudicar, o poder público tem
que desapropriar.

Exercício
31. (Procurador Federal – 2006) Acerca das unidades de conservação, jul-
gue os itens a seguir.
Há uma subdivisão das unidades de conservação em unidades de
proteção integral e unidades de uso sustentável. Os parques nacionais
compõem este último grupo.
As unidades de conservação são espaços territoriais de propriedade
pública, destinados ao estudo e à preservação de ecossistemas.

3. SNUC – Refúgio de Vida Silvestre


3.1 Apresentação
Direito Ambiental

Nesta unidade, estudaremos os refúgios da vida silvestre.


87
3.2 Síntese
O refúgio de vida silvestre tem por objetivo proteger ambientes naturais
onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou
comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória. Pode ser for-
mada por terra de particulares. Incluem localidades de desova e de pouso de
aves migratórias. A espécie só vai utilizá-las em determinado período do ano,
portanto, não há necessidade de desapropriação. Se o uso privado da região
impossibilitar as características de reprodução, aí sim é feita a desapropriação.
As Unidades de Uso Sustentável têm por objetivo estabelecer o uso dos
recursos naturais, com certa ocupação humana e também possibilitando a pro-
teção do meio ambiente.
A Área de Proteção Ambiental (APA) tem por objetivo básico, proteger a
diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a susten-
tabilidade do uso dos recursos naturais. No caso de crimes ambientais ou infra-
ções administrativas, há aumento da pena ou da multa, se o delito for cometido
dentro de uma unidade de conservação.
É constituída por terras públicas ou privadas. Área, em geral, extensa.
A Área de Relevante Interesse Ecológico é em geral de pequena extensão,
com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais ex-
traordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional. Possui espécies
raras e ameaçadas de extinção, animais e vegetais. Pode ser terra pública ou
privada, mas se a exploração pelo proprietário impossibilita a proteção, há de-
sapropriação.
O seu objetivo é manter os ecossistemas naturais de importância regional
ou local, e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo
com os objetivos de conservação da natureza, ao passo que o monumento na-
tural tem caráter de preservação (proteger); essa unidade protege e tenta manter,
considerando a ocupação humana ali presente.
A Floresta Nacional consiste em uma área com cobertura florestal de espé-
cies predominantemente nativas.
Seu objetivo básico é o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e
a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de
florestas nativas, para manter a própria unidade.
Tem posse e domínio públicos. A lei de gestão de florestas públicas estabe-
lece a concessão florestal, que é feita em cima da floresta nacional.
A Reserva de Fauna consiste em uma área natural com populações animais
de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequa-
Direito Ambiental

das para estudos técnico-científicos, sobre o manejo econômico sustentável de


recursos faunísticos.
Tem a posse e domínio públicos, e a função de explorar e achar viabilidade
econômica dos recursos da fauna e flora.
88
Exercício
32. (Juiz Federal Substituto – 1ª Região – 2002) Os parques nacionais:
a) são unidades de conservação que implicam exercício do poder de
polícia, pois limitam administrativamente o uso da propriedade
particular.
b) estabelecem uma tutela relativa do Estado sobre um bem particu-
lar através da servidão administrativa.
c) não permitem indenização ao proprietário.
d) implicam desapropriação das terras particulares.

4. SNUC – Reserva Extrativista


4.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a reserva extrativista.

4.2 Síntese
Reserva Extrativista consiste em uma área utilizada por populações tradi-
cionais extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e,
complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de
pequeno porte. Visa proteger os meios de vida e a cultura dessas populações.
É de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas tradi-
cionais. Entende-se por extrativismo o consumo interno, local.
O objetivo é proteger até a própria comunidade, tendo em vista somente a
sua sobrevivência.
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável protege o uso e o manejo eco-
logicamente correto, podendo ter uso comercial dos produtos.
Consiste em uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja
existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos natu-
rais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas
locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e
na manutenção da diversidade biológica.
Tem como objetivo preservar as próprias tradições referentes ao uso e ma-
Direito Ambiental

nejo ecologicamente sustentável.


A posse e o domínio são públicos, mas o uso é concedido às populações.
Ex.: vila de pescadores.
A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), constituída e criada
por ato de vontade do particular, consiste em uma área privada, gravada com
89
perpetuidade, devendo ser este status averbado no registro público de imóveis.
As vantagens aparecem na facilidade em linhas de obtenção de financiamento
para a defesa e recuperação de área degradada, no apoio técnico e material do
Instituto Chico Mendes, bem como isenção fiscal.
Tem como objetivo conservar a diversidade biológica, bem como possui
um plano de manejo, que consiste em um documento técnico mediante o qual
se estabelece o uso da área e o manejo dos recursos naturais. Toda unidade de
conservação deve ter um plano de manejo que contemple as estruturas presen-
tes dentro da unidade de conservação.
Em torno de uma unidade de conservação, deve haver uma zona de amor-
tecimento, onde as atividades humanas estão sujeitas a limitações, não caben-
do indenização por essa limitação.
Seu tamanho varia conforme o ato constitutivo de cada unidade.
Não possuem zona de amortecimento as APA (onde pode haver industriali-
zação e mineração) e RPPN (formada por ato de vontade do particular).
Os corredores ecológicos (mosaico de unidade de conservação: unidades
próximas umas das outras) são porções de ecossistemas ligando as unidades de
conservação, para que haja o fluxo de espécies e genes. A onça-pintada precisa
de 100 km quadrados de território para sobreviver.
As Reservas da Biosfera consistem em um modelo internacional de gestão
integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais.
Tem como principais objetivos a preservação da diversidade biológica, o
desenvolvimento de atividades de pesquisa, o monitoramento ambiental, a
educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade
de vida das populações.
Podem ser propriedades de domínio público e privado, áreas do pantanal.
Pode ser integrada por unidades de conservação já criadas.
Por fim, tem o apoio da Unesco, o que demonstra o caráter internacional.

Exercício
33. (Procurador do Município de Salvador) A constituição de uma área de
proteção ambiental – APA – em espaço urbano implica:
a) imediata desapropriação de todas as áreas privadas compreendidas
Direito Ambiental

na APA para a implantação das unidades de conservação.


b) possibilidade de os proprietários das áreas compreendidas na APA
buscarem indenização independentemente do grau das restrições
estabelecidas.
90
c) cassação de todas as licenças de construção e de exercício de ativi-
dades não residenciais nos limites da APA.
d) conversão da natureza da área de urbana para rural tendo em vista
a impossibilidade de a APA ser constituída sobre a área urbana.
e) possibilidade de imposição de restrições a utilização dos imóveis
compreendidos na APA compatíveis com os propósitos de criação
da unidade de conservação.
Direito Ambiental
Capítulo 9

Novo Código Florestal

1. Introdução ao Direito Ambiental


1.1 Apresentação

Nesta unidade de estudo, o autor aborda a Introdução ao Direito Am-


biental, bem como os direitos fundamentais de 1ª, 2ª e 3ª Gerações e as
características dos direitos difusos.

1.2 Síntese
Ao falarmos em Direito Ambiental, temos algumas características impor-
tantes e fundamentais para o Novo Código.
Primeiro aspecto: analisar o Direito Ambiental significa analisar os direitos
fundamentais.
92
Direitos fundamentais:
1ª Geração: Trata-se da relação com o indivíduo, ou seja, aquele homem
que buscava frear o poder do Estado. Por esta razão, falamos daqueles direitos,
chamados ‘’status negativo’’, em que a atuação do Estado era basicamente um
não fazer.
2ª Geração: Trata-se do coletivo. Nesta Geração, a ideia é de um ‘’status
positivo’’, em que buscamos a colaboração do Estado para com a coletividade
(Constituição Federal – direitos sociais).
3ª Geração: Trata-se do todo, da metaindividualidade, ou seja, o indivíduo
possui direitos e garantias fundamentais.
Vale ressaltar quando falamos de metaindividualidade as características dos
direitos difusos:
1ª Característica: Sujeitos indeterminados;
2ª Característica: Vínculo fático;
3ª Característica: Objeto indivisível.
O Direito Ambiental é difuso porque os sujeitos são indeterminados. O
vínculo é fático, pois ninguém precisa assinar um contrato para ter direito à
reparação de um dano. E, o objeto é indivisível, pois atinge a todos.

2. Considerações Iniciais sobre o Novo Código


Florestal
2.1 Apresentação

Nesta unidade de estudo, o autor analisa os princípios que contemplam


o Direito Ambiental.

2.2 Síntese
O primeiro ponto do novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) é a tutela,
ou seja, a proteção.
O Código Florestal não protege somente a floresta.
Pergunta importante: O Novo Código Florestal protege somente a floresta?
Resposta: Não. O objeto de incidência é a floresta, no entanto, abrange
Direito Ambiental

também, por exemplo, os mangues, o pantanal, a planície pantaneira, etc.


Quais são os princípios do Novo Código Florestal?
1º Princípio da Solidariedade: é a ideia em que a geração passada recebeu
o meio ambiente em uma situação e deve preservar esse meio ambiente para as
93
futuras gerações. O Supremo chama esse princípio de intergeração; é analisar
o meio ambiente que foi preservado no passado, para que a presente e a futura
gerações continuem com esse trabalho de preservação.
2º Princípio do Desenvolvimento Sustentável: de um lado, temos a econo-
mia, o capital e, de outro, temos o meio ambiente, a natureza. Esse princípio
visa equilibrar os anseios econômicos juntamente com o meio ambiente. No
caso de conflito, segundo o STF, o meio ambiente prevalece em detrimento
do capital.
ATENÇÃO: o Princípio do Protetor Recebedor foi vetado. Esse princípio
é o oposto do Princípio do Poluidor-pagador, pois o individuo recebia algum
benefício ou ajuda de custo do Governo para proteger o meio ambiente.
Somente os princípios da Solidariedade e do Desenvolvimento Sustentável
estão positivados no novo Código Florestal.
3º Princípio da Simetria das Formas Jurídicas: temos a necessidade de cons-
tituir espaços especialmente tutelados; são as áreas e espaços ambientais de
proteção ambiental. A base constitucional desse princípio está descrito no art.
225, § 1º, III da Constituição Federal.
Vale ressaltar que não se aplica o Princípio da Simetria das Formas Jurídicas
no Direito Ambiental. Para tutelar, para proteger o espaço ambiental, podemos
utilizar um Decreto; entretanto, para suprimir, para reduzir esse espaço, tem
que ser utilizada lei em sentido formal.
No caso dos bens públicos em Direito Administrativo, existe a possibilidade
de alienação. Já no caso dos bens públicos em Direito Ambiental, não há a
possibilidade de alienação.

3. Responsabilidade Civil e o Dano


Ambiental
3.1 Apresentação

Nesta unidade de estudo, o autor analisa a responsabilidade civil no


dano ambiental.

3.2 Síntese
Direito Ambiental

A responsabilidade civil e a compreensão do dano ambiental estão discipli-


nas no art. 2º, § 2º do novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012).
A responsabilidade civil quanto a sua evolução histórica pode ser dividida
em 03 (três) momentos distintos:
94
No primeiro momento, imperava a irresponsabilidade do Estado, ou seja,
o Estado quando causava um dano ao particular não indenizava, não era res-
ponsável por nada.
O segundo momento é marcado pelo surgimento da responsabilidade sub-
jetiva do Estado. Neste segundo momento, era possível ser indenizado, entre-
tanto, havia a necessidade de comprovar o dolo ou a culpa por parte do Estado.
O terceiro momento é o mais importante para este estudo porque traz a
responsabilidade objetiva do Estado, não sendo mais necessário comprovar o
dolo ou a culpa do Estado, bastando a conduta, o nexo e o resultado danoso.
O estudo dos elementos da responsabilidade civil é iniciado pela análise da
responsabilidade subjetiva. Para que se configure a responsabilidade subjetiva,
é preciso haver uma conduta que cause um dano e que entre a conduta e o
dano haja um nexo causal. Sobre esta conduta causadora do dano, é necessário
verificar a existência de dolo ou de culpa. Relembrando que a culpa se desdo-
bra em negligência, imprudência ou imperícia.
A negligência ocorre quando o agente deixa de fazer quando devia ter rea-
lizado. A imprudência ocorre quando o agente pratica displicentemente uma
conduta e gera um dano. Já a imperícia está voltada à ausência de domínio das
habilidades técnicas, aquele que profissionalmente no exercício da atividade
comete o dano.
A nova legislação ambiental não faz uso desta responsabilidade subjetiva.
O novo diploma trabalha com a responsabilidade objetiva do Estado. O dano
ambiental é analisado pela ótica da responsabilidade objetiva.
A responsabilidade objetiva tem como característica a irrelevância da inten-
ção do agente; portanto, para haver a configuração da responsabilidade objeti-
va, basta existir a conduta que cause um dano, ligada pelo nexo causal.
A responsabilidade objetiva se desdobra em: Risco Administrativo e Risco
Integral. O Risco Administrativo tem como característica o fato de admitir ex-
cludentes, como: caso fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima e fato
de terceiro; entretanto, esta modalidade não tem pertinência para o estudo
do dano ambiental, visto que a responsabilidade pelo dano ambiental é com-
preendida dentro do Risco Integral. Risco Integral é aquele em que não se
admite excludente.
O dano ambiental é compreendido sob a responsabilidade objetiva na mo-
dalidade Risco Integral, informação esta contida no art. 2º, § 2º do novo Códi-
go Florestal. O STJ denomina como obrigação propter rem.
Direito Ambiental

Exemplo de responsabilidade objetiva na modalidade risco integral é o


dano nuclear, previsto no art. 21, XXIII, “d” da Constituição Federal de 1988.
Portanto, no dano ambiental, a responsabilidade é objetiva, na modalidade
de risco integral. Aquele que irá responder pelo dano, ainda que não seja o
95
causador do dano, terá que responder e depois caberá ação de regresso contra
o real causador do dano. Atualmente, o SJT não vem admitindo sequer a de-
nunciação à lide.

4. Área de Preservação Permanente (APP) e


Reserva Legal
4.1 Apresentação

Nesta unidade de estudo, o autor apresenta os espaços ambientalmente


tutelados, especificamente as Áreas de Preservação Permanente (APP) e
a Reserva Legal.

4.2 Síntese
A Área de Preservação Permanente, popularmente conhecida como APP,
está disciplinada no art. 3º, II do novo Código Florestal, Lei nº 12.651/2012.
A APP pode ser tanto em zona urbana quanto em zona rural. Conceitualmente,
a APP é de fundamental importância tanto para o homem quanto para a natureza.
O conceito de APP é a área coberta ou não por vegetação nativa, com
função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger
o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Não importa se a co-
bertura está ou não presente.
Analisaremos agora as discrepâncias do novo Código Florestal:
Primeira pergunta: é possível explorar a APP? Sim, é possível a exploração
de uma APP, desde que a exploração seja sustentável.
Segunda pergunta: é possível suprimir ou restringir uma área de APP? Sim,
é possível, desde que esteja presente no mínimo o interesse social ou a utilida-
de pública ou um baixo impacto ambiental, de acordo com o art. 7º do novo
Código Florestal.
Terceira pergunta, inclusive questão cobrada na prova do Tribunal de Jus-
tiça do Distrito Federal: é possível de acessar uma área de APP tanto por parte
dos animais quanto por parte dos homens? Sim, é possível, de acordo com o art.
9º do novo Código, o acesso é permitido quando for para buscar água ou para
a realização de atividade de baixo impacto ambiental.
Direito Ambiental

Formas de APP (Área de Proteção Permanente)


São duas as formas: as APP já existentes (art. 4º) e as APP que ainda não
existem (art. 6º). A diferença entre as já existentes e as que ainda não existem está
no direito à indenização. As APP(s) já existentes não geram direito à indenização;
96
No que se referem às APP do art. 6º, o direito à indenização apesar de ainda
controvertido, pode gerar direito à indenização nas hipóteses de haver esvazia-
mento na região, ou vier a causar efeitos concretos naquela região.
Prosseguindo na análise dos espaços ambientalmente tutelados, a Reserva
Legal encontra o seu conceito no art. 3º, III do novo Código Florestal;
A primeira característica da Reserva Legal é que ela é sempre voltada ao
imóvel rural. A segunda característica é a existência de percentuais fixos a de-
pender da região do país.
Pergunta pertinente que surge é: imóvel localizado na zona rural, deixa,
pelo plano diretor, de ser zona rural e passa a ser de zona urbana, ainda é obri-
gado a ter reserva legal? A resposta para esta pergunta está prevista no art. 19 do
novo Código. O art. 19 é categórico em dizer que ainda que haja reserva legal
dentro de um imóvel que passou a ser considerado de área urbana, essa reserva
legal não é desfeita.
A extinção desta reserva legal somente poderá ser extinta, se houver o regis-
tro do parcelamento do solo para fins urbanos, aprovado segundo a legislação
específica e consoante as diretrizes do plano diretor de que trata o § 1º do art.
182 da Constituição Federal, conforme dispõe a segunda parte do art. 19 do
novo Código Florestal;
As quantidades predeterminadas de cobertura de vegetação nativa estão dis-
ciplinadas no art. 12 do novo código. Determina o dispositivo:
I – localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais.
II – localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

5. Espaços Especialmente Protegidos e Alguns


Reflexos
5.1 Apresentação

Nesta unidade de estudo, o autor analisa os espaços especialmente pro-


tegidos, alguns de seus reflexos e a novidade trazida pelo art. 15 do novo
Código Florestal e apresenta ainda o conceito de Moeda Verde.
Direito Ambiental

5.2 Síntese
Dúvida muito recorrente ao novo Código Florestal é se este trouxe maiores
ou menores proteções à natureza e ao meio ambiente? O novo Código Florestal
97
continua tutelando o meio ambiente, mas ele relativizou, flexibilizou essa nova
tutela. Em outras palavras, o novo Código é mais permissivo.
A flexibilização pode ser observada pela análise do art. 15 do novo Código,
que dispõe ser possível colocar a Reserva Legal mais a APP e fazer um computo
único. No passado, havia uma proteção maior; apesar de continuar havendo
proteção, ela foi reduzida, foi flexibilizada.
Ainda em uma análise conjunta, é possível explorar Área de Preservação
Permanente e Reserva Legal desde que sempre com a compreensão da susten-
tabilidade.
Para compreensão da expressão Moeda Verde, imagine a seguinte situação:
suponha que alguém, quando da análise de uma Reserva Legal ou de uma
APP, faça um registro de uma área maior do que deveria ser.
O indivíduo tutela toda a propriedade, ou mesmo faz o registro de uma
reserva legal acima do que deveria ter feito, quando isto acontece, observe o
art. 15, § 2º do novo Código.
Art. 15, § 2º “O proprietário ou possuidor de imóvel com Reserva Legal
conservada e inscrita no Cadastro Ambiental Rural – CAR de que trata o art.
29, cuja área ultrapasse o mínimo exigido por esta Lei, poderá utilizar a área
excedente para fins de constituição de servidão ambiental, Cota de Reserva
Ambiental e outros instrumentos congêneres previstos nesta Lei.”
Moeda Verde porque imagine que em uma propriedade há uma área de
preservação especial menor do que determina a lei, mas, em uma propriedade
vizinha, há uma área maior do que a determinada em lei. Existe a possibilidade
de o proprietário adquirir do vizinho o percentual da área de preservação que
lhe falta; em função disso, a denominação moeda verde.
A ideia é criar uma forma de premiar aquele que bem tutela o meio am-
biente e fazer com que isso tenha um valor econômico, principalmente para
aquele que não está cumprindo com a sua obrigação.
Área de Uso Restrito é uma novidade no Direito Ambiental, trazida pelo
novo Código Florestal. A Área de Uso Restrito é uma nova modalidade de área
de proteção permanente e compreende o Pantanal e a Planície Pantaneira,
conforme determina o art. 10 da Lei nº 12.651/2012. A novidade é a tutela do
Pantanal e da Planície Pantaneira.
Apicuns e Salgados são áreas ao redor do mangue e sobre eles surge a se-
guinte questão: entre Apicuns e Salgados, qual é o que possui maior índice de
Direito Ambiental

salinidade? A resposta é o Apicum, é ele que possui o maior índice de salini-


dade.
A Anistia Ambiental existe, porém, é preciso ter em mente a chamada si-
tuação consolidada.
98
6. Anistia Ambiental
6.1 Apresentação

Nesta unidade de estudo, o autor aborda a anistia ambiental.

6.2 Síntese
Dando continuidade na unidade de estudo anterior, onde víamos as situa-
ções consolidadas no que se refere à Anistia Ambiental, o art. 3º, IV determina
o que é área rural consolidada e determina a data de 22 de julho de 2008.
Isso quer dizer que toda degradação realizada até 22 de julho de 2008 recebe
um benefício do novo Código Florestal.
O indivíduo até 22 de julho de 2008 está sujeito a um regime; a partir de
22 de julho de 2008, está em outro regime. Esta é a compreensão da Anistia
Ambiental.
Em linhas gerais, quem estiver até 22 de julho de 2008 tem a possibilidade
de se adequar, e uma vez que se adequou, ou assinou um termo de ajuste, não
pode sofrer sanção enquanto vigorar o termo.
Ao final da pactuação, se o proprietário cumprir o que ele deveria ter cum-
prido desde o princípio, a sanção administrativa não poderá ser aplicada. Vide
art. 59 do novo Código.
Assim sendo, todos aqueles que estão com a propriedade destruída, irão se
adequar a este programa e uma vez que estiverem neste programa não poderão
ser autuados por infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008 durante a
vigência do termo.
Antes de 22 de julho de 2008, o regime é muito benéfico, um regime es-
pecial de tutela de proteção ambiental. De 22 de julho de 2008 em diante, o
regime de tratamento é severo de acordo com a nova lei.
Até o momento, não há manifestação do Supremo Tribunal Federal sobre
a constitucionalidade ou inconstitucionalidade dos regimes.
Suponha que em algum lugar do país, tenha uma região de mangue dete-
riorada, devendo-se restabelecer o equilíbrio nesta localidade; no entanto, o
novo Código diz que se a área estiver ruim, deve destruir o restante e no local
construir moradias populares.
Outra questão que surge é: poderá ser feita a supressão desses espaços espe-
Direito Ambiental

cialmente tutelados? A resposta é sim, as áreas especialmente tuteladas poderão


ser suprimidas, poderão deixar de existir desde que para a criação de espaços
voltados para eventos esportivos, como arenas esportivas, estádios de futebol e
arenas multiuso, dada a prioridade que estes eventos esportivos devem ter.
99
PRA é o Programa de Regularização Ambiental; é um termo que o proprie-
tário de uma área assina e se compromete a adequar a área; não podendo ser
sancionado durante a vigência desse termo, conforme dispõe o art. 59 do novo
Código.

7. Programa de Regularização Ambiental,


Anistia Penal e Cadastro Ambiental Rural
7.1 Apresentação

Nesta unidade de estudo, o autor aborda a anistia penal disciplinada no


art. 60 do novo Código Florestal, além de apresentar as características e
finalidades do CAR (Cadastro Ambiental Rural).

7.2 Síntese
A Anistia Penal, disciplinada pelo art. 60 do novo Código Florestal, assim
como a Anistia Ambiental, não é absoluta, ou seja, não contemplam todos os
crimes, é preciso ter a compreensão de uma relativização.
Dispõe o referido art. 60: “A assinatura de termo de compromisso para re-
gularização de imóvel ou posse rural perante o órgão ambiental competente,
mencionado no art. 59 suspenderá a punibilidade dos crimes previstos nos arts.
38, 39 e 48 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, enquanto o termo
estiver sendo cumprido.”
O cumprimento deste termo reflete em ao menos três campos: no cam-
po do direito ambiental da compreensão civil, conforme visto, assina o ter-
mo, cumpre o PRA e pronto, está resolvido. No campo do direito penal, nos
arts. 38, 39 e 48 as condutas serão anistiadas. E por fim, no campo do direito
administrativo havendo reflexos, visto que a multa administrativa enquanto
estiver vigorando o termo não poderá ser cobrada, e se feito tudo conforme
determinado, cumpriu a prestação de serviço de interesse da coletividade,
resolvido.
CAR (Cadastro Ambiental Rural) está disciplinado no art. 29 do novo Có-
digo Florestal e tem por características: primeiro, a obrigatoriedade, o CAR é
Direito Ambiental

obrigatório; segundo, a incidência somente nos imóveis rurais.


Esse Cadastro Ambiental Rural será utilizado para uma aplicação de polí-
tica ambiental coordenada, para se realizar planejamento ambiental. O CAR
busca permitir uma política de meio ambiente mais efetiva, coordenada. O
100
acesso ao crédito das Instituições Públicas e Privadas está também vinculado à
existência do CAR, conforme determinam os arts. 66 e 78-A do novo Código
Florestal.
Primeira questão: o novo Código protege somente as florestas? Resposta:
não. O novo Código protege florestas e outros espaços, como: manguezais,
apicuns, salgados, o pantanal e a planície pantaneira.
Segunda questão: quando se fala em meio ambiente, quais são os dois prin-
cípios que o novo Código adotou? Resposta: o novo Código adotou a solidarie-
dade e o desenvolvimento econômico sustentável.
Terceira questão: qual a compreensão da classificação do direito ambiental
à análise do meio ambiente? Resposta: é na terceira dimensão ou terceira ge-
ração, quando se fala em metaindividualidade, neste momento, se fala daquilo
que é compreendido como um todo. E lembre-se que dano ambiental é aquele
que traz prejuízo à coletividade.

8. Análise Prática e Formas de Cobrança


8.1 Apresentação

Nesta unidade de estudo, o autor se dedica à revisão do novo Código


Florestal.

8.2 Síntese
Prosseguindo com a análise de questões pertinentes ao novo Código Flo-
restal, qual foi o princípio que estava no texto e foi vetado pela Presidência?
Resposta: era o princípio do protetor recebedor.
No que tange à responsabilidade civil por dano ambiental, a obrigação
propter rem faz com que haja no novo Código Florestal a exteriorização da res-
ponsabilidade civil por dano ambiental na ótica objetiva. A conduta que causa
um dano ligado por um nexo causal.
Na modalidade do Risco Integral, não há a menor possibilidade de com-
preender nenhuma excludente; quem responde é o proprietário ou possuidor
atual, com direito de ação de regresso ao real causador do dano. Relembre que
o STJ não admite sequer a denunciação à lide. Já havia a possibilidade do Risco
Direito Ambiental

Integral objetivo no art. 21, XIII, “d” da Constituição Federal, o dano nuclear.
Áreas de Tutelas Especiais, a primeira delas é a APP (Área de Preservação
Permanente), por mais que seja fundamental à natureza e ao homem, pode ser
explorada, desde que de forma sustentável e pode também sofrer uma espécie
101
de diminuição de sua área, denominada de supressão, desde que por razões de
interesse de utilidade pública ou por questões de baixo impacto ambiental.
Além disso, as áreas de tutela especial tanto podem ser em zona urbana,
como em zona rural. APP está disciplinada no art. 3º, II enquanto a Reserva
Legal no art. 3º, III. A utilidade pública está disposta no inciso VIII e o interesse
social no inciso IX.
Marcar o inciso XV do art. 3º traz os Apicuns, áreas de solo hipersalinos ao
redor dos manguezais, sendo o Apicuns mais salinizado que os Salgados.
Marcar o art. 4º do novo Código Florestal traz o rol do que vem a ser APP
– Área de Preservação Permanente.
As APP podem ser exploradas? Resposta: sim. Vide art. 4º, §§ 5º e 6º do
novo Código. Vide também art. 6º do mesmo diploma, referente a outras áreas
de preservação permanente.
Marcar o art. 7º, § 3º traz a data de 22 de julho de 2008 como marco para
adoção de regime, até a referida data regime especial, ou após a data, regime
severo de acordo com a Lei.
Marcar o art. 8º e seus parágrafos disciplinam as condições para a interven-
ção ou a supressão de vegetação nativa em áreas de preservação permanente.
Destaque para os §§ 1º e 2º.
Marcar o art. 9º traz ser “permitido o acesso de pessoas e animais às Áreas de
Preservação Permanente para obtenção de água e para realização de atividades
de baixo impacto ambiental”.
Marcar o art. 10 é novidade e trata das áreas de uso restrito. Art. 11-A, § 1º
trata dos Apicuns e Salgados e § 6º que volta a mencionar a data de 22 de julho
de 2008.
Grifar o art. 12 e escrever: ver art. 19. Trata da Reserva Legal que está vol-
tada para área rural; entretanto, conforme visto, se existir uma modificação
no plano diretor e passar a ser considerada zona urbana, não haverá extinção
automática da Reserva Legal.
Marque o art. 15, caput, inciso III e § 2º que voltam a falar respectivamente
de APP, Reserva Legal e Moeda Verde.
Marcar no art. 17, marcar os §§ 1º e 3º.
Marcar o art. 29 que trata do CAR (Cadastro Ambiental Rural) e o § 3º do
respectivo artigo, que traz a obrigatoriedade da inscrição no CAR para todas as
propriedades e posses rurais.
Marcar no art. 35, os §§ 2º e 3º.
Marcar art. 44 e art. 51, § 1º.
Direito Ambiental

Marcar art. 59, caput, § 2º, § 3º, § 4 e § 5º.


Marcar o art. 60 que trata da Anistia Penal, relembrando não se tratar de
uma anistia absoluta, mas tão somente no que se refere aos crimes dos arts. 38,
39 e 48.
102
Marcar o art. 61-A que também traz a data de 22 de julho de 2008.
Marcar o art. 66, caput.
E por fim, marcar o art. 78-A, que também trata do CAR (Cadastro Am-
biental Rural).
Direito Ambiental
Capítulo 10

Processo Ambiental

1. Processo Ambiental

1.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos o processo ambiental.

1.2 Síntese
As duas principais ações de defesa ambiental são estabelecidas pela Consti-
tuição. São a Ação Popular, a Ação Civil Pública, o inquérito civil (para apura-
ção de danos), e o mandado de segurança coletivo.
O mandado de segurança individual não pode ser ajuizado para tutela jurí-
dica do meio ambiente, pois se faz necessária a comprovação do direito líquido
e certo, bem como, porque o direito ambiental consiste em um direito difuso.
Já o Mandado de Segurança coletivo é possível.
104
As associações podem utilizar o mandado de segurança coletivo para tutelar
direitos ambientais. Ex.: associação de pescadores ajuizou Mandado de Segu-
rança coletivo quando houve derramamento de óleo na baía de Guanabara.
A Ação Popular, prevista no art. 5º, LXXIII, CF e Lei nº 4.717/1965, deter-
mina que qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise
à anulação de ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio his-
tórico e cultural, ficando o autor, salvo em comprovada má-fé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência.
Tem como finalidade permitir ao cidadão fiscalizar diretamente o Poder
Público (soberania popular).
Tem como objeto os atos lesivos (ex.: casos de incompetência, vício de for-
ma, objeto ilícito, inexistência de motivação, desvio de finalidade).
Em relação aos legitimados para propor a ação popular, o cidadão no direi-
to ambiental tem seu conceito ampliado (a prova da cidadania, para ingresso
em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corres-
ponda). Há decisão favorável no sul, em que se o indivíduo conseguir compro-
var interesse, mesmo não sendo cidadão brasileiro, sendo estrangeiro, poderia
propor ação popular, desde que para defesa do meio ambiente e patrimônio
histórico cultural.
A reparação do ato lesivo é o objetivo indireto da ação, visando um retorno
a uma situação originária, com caráter de reparação da conduta. O objetivo
direto é anular o ato lesivo. Anular a situação que deu origem ao dano.
O efeito da sentença consiste na invalidação do ato lesivo erga omnes, salvo
se a decisão for improcedente por falta de provas.
Possui prazo prescricional de 5 (cinco) anos.
A prática ambiental diz que a ação civil pública é a principal na tutela do
meio ambiente.

Exercício
34. (Procurador da República – XVI Concurso) Sobre a ação popular:
I. poderá ser ajuizada por pessoa jurídica.
II. não comporta ingresso de litisconsorte ou assistente ou autor.

2. Processo Ambiental – Inquérito Civil


Direito Ambiental

2.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos o inquérito civil no processo ambiental.


105
2.2 Síntese
O art. 129 da Constituição determina que:
“São funções institucionais do Ministério Público:
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos;” (...)
Inquérito civil e ação civil pública para defesa do meio ambiente
O inquérito tem como característica o caráter exclusivo do Ministério Pú-
blico, com natureza jurídica inquisitorial (o procedimento investigativo não
precisa de contraditório e ampla defesa), para apurar fatos e levantar provas.
O Ministério Público, como fiscal da lei, tem suas ações de caráter ofi-
cial. Os membros do Ministério Público têm os poderes típicos de autoridade
policial investigativa, podendo proceder à notificação, requisição, inspeção e
vistoria, bem como determinar ação coativa.
Há a possibilidade de controle jurisdicional ao membro do Ministério Pú-
blico que descumpra a lei, que consiste em habeas corpus e mandado de se-
gurança, que podem ser feitos para defesa de interesse de particulares violados
em inquérito civil.
O inquérito civil pode ter caráter reparatório, quando constata o dano am-
biental; caráter preventivo, quando constata apenas a possibilidade do dano; e
caráter repressivo, quando subsidia uma ação penal pública incondicionada.
O inquérito não é obrigatório, ou seja, pode o Ministério Público ir direto
para a ação civil pública.
Não há prazo específico para sua conclusão, sendo que cada estatuto do
Ministério Público estabelece um prazo diferente.
Caso o cidadão não possa propor e constate a possibilidade de atos danosos,
e leve a conhecimento do Ministério Público, este é obrigado a instaurar o
inquérito civil.
Todas as ações do Ministério Público no inquérito têm caráter de oficia-
lidade, de correição, de imparcialidade, não devendo repetir as provas, o que
geraria custas processuais e morosidade.
É possível que se abra contraditório e ampla defesa para as provas. Todo
arquivamento de inquérito deve ser homologado pelo Conselho Superior do
Ministério Público.
A lei de crimes ambientais estabelece que o inquérito feito no juízo cível
Direito Ambiental

poderá ser aproveitado no processo criminal, desde que instaurado contraditó-


rio e ampla defesa.
Se o inquérito comprovar a existência de provas, terá início a Ação Civil
Pública.
106
Em um inquérito civil concluído por inexistência de provas, nada impede
um novo inquérito caso surjam novas provas.
Ademais, todo arquivamento de inquérito civil deve ser homologado pelo
Conselho Superior do Ministério Público, pela importância do bem tutelado.
A Ação Civil Pública foi instituída pela Lei nº 7.347/1985; lei adotada logo
após a Lei nº 6.938/1981 (lei de Política Nacional de Meio Ambiente) que cria
o direito difuso, mas não prevê nenhum tipo de meio processual para fazer
valer a defesa daquele direito, quando dessa necessidade surgiu a ação civil
pública que, no seu início, serviu apenas para a tutela ambiental.
Dentre os seus objetivos e obrigações específicas, está o de reparar a lesão
causada, demonstrando o seu viés de proteção ambiental.

Exercício
35. (Procurador Federal – 2002) A respeito de ação civil pública, julgue o
seguinte item:
A propositura de ação civil pública pelo Ministério Público, visando à
reparação a danos causados ao meio ambiente, não impede a proposi-
tura de ação individual para a reparação de danos oriundos do mesmo
fato, não se verificando litispendência entre as ações.

3. Processo Ambiental – Ação Civil Pública


3.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a ação civil pública.

3.2 Síntese
A ação civil pública tem como objeto a defesa, sem prejuízo da ação popular,
do meio ambiente, da ordem urbanística, dos bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico, ou seja, toda tutela aos direitos difu-
sos e coletivos.
Tem como finalidade reparar o dano ou indenizar, com a condenação, em
Direito Ambiental

dinheiro, ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.


De acordo com a jurisprudência, o indivíduo repara e indeniza. Deve-se
esquecer do “ou” trazido pela lei de ação civil pública, uma vez que o impacto
ambiental é, em regra, irreparável.
107
O foro competente é o foro do local em que ocorrer o dano. Qualquer um
dos juízes das cidades envolvidas é competente para julgar o caso, utilizando-se
o princípio da prevenção processual.
Caso haja dano público federal e estadual, para que não haja conflito entre
Ministério Público estadual e federal, há a possibilidade de litisconsórcio ativo
entre eles.
O art. 5º da lei de ação civil pública traz os legitimados para sua proposi-
tura. Vejamos:
“Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I – o Ministério Público;
II – a Defensoria Pública;
III – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia
mista.”
O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obri-
gatoriamente como fiscal da lei, sendo admitido o litisconsórcio facultativo
entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na
defesa dos direitos contemplados.
Se um dos outros colegitimados desiste ou abandona a ação, o Ministério
Público é obrigado a prossegui-la.
Na ação popular, o indivíduo exerce em seu nome um direito que é seu,
mas o Supremo considera que o indivíduo, em ação popular, não age em nome
próprio, mas em nome da coletividade.
Há um projeto defendendo a inconstitucionalidade da defensoria pública
poder propor a ação civil pública.
Quanto maior o número de legitimados, melhor é para o meio ambiente,
já que são bens e direitos da coletividade.
Há também a possibilidade às associações de ingresso com ação civil pública,
para defesa dos bens ali tutelados.

Exercício
36. (Juiz de Direito Substituto – Piauí – 2007) A respeito da ação civil
pública, analise a alternativa.
Os colegitimados à propositura da ação civil pública poderão, antes de
Direito Ambiental

ajuizar a ação, instaurar inquérito civil destinado a colher provas que


instruirão a petição inicial e tentar obter o compromisso de ajustamen-
to da conduta lesiva às exigências legais, visando prevenir o ajuizamen-
to da ação civil pública.
108
4. Processo Ambiental – Ação Civil Pública
(indivíduo) – Continuação
4.1 Apresentação

Nesta unidade, daremos continuidade ao estudo da ação civil pública.

4.2 Síntese
Para que as associações tenham legitimidade para propor ação civil pública,
deve preencher dois requisitos. Vejamos:
“V – a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambien-
te, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Interesse de agir.”
O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando
haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do
dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
“§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará
obrigatoriamente como fiscal da lei.
§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos
termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.
§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação
legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade
ativa.
§ 4º O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quan-
do haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do
dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
§ 5º Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos
da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos
de que cuida esta lei.
§ 6º Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados com-
Direito Ambiental

promisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante comi-


nações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.”
Os institutos preventivos, tais como medidas liminares e antecipação de
tutela, são no direito ambiental a regra.
109
Há a possibilidade de aplicação de multa diária no descumprimento da
sentença, de ofício pelo juiz.
Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a
cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de comina-
ção de multa diária, caso esta seja suficiente ou compatível, independentemen-
te de requerimento do autor, em caráter emergencial.
A ação civil pública é imprescritível, porque lida com dano ambiental, que,
uma vez ocorrido o dano, ele persiste.
A lei cria o fundo de defesa dos direitos difusos, para que subsidie o desen-
volvimento de práticas de defesa do meio ambiente. Tal fundo se forma com o
que é pago em indenizações, e é destinado a projetos ambientais de recupera-
ção de área degradada.
O art. 5º, § 6º, da Lei nº 7.347/1985 traz o Termo de Ajustamento de Con-
duta em que os órgãos públicos legitimados poderão obter dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante co-
minações, que terão eficácia de título executivo extrajudicial.
Não é a transação clássica do direito civil, que consiste em um acordo de
vontades que extingue obrigação, com reciprocidade de concessões sobre um
direito patrimonial incerto. No direito ambiental, não pode haver reciprocida-
de de concessões, uma vez que o bem ambiental é na sua essência um bem in-
disponível, além do fato de não ser um bem pessoal patrimonial, não devendo
ser confundido com a transação do direito civil.
A lei não permite que as instituições privadas e associações firmem termo
de ajustamento de conduta. Somente os órgãos públicos legitimados podem
firmar.
O termo de ajustamento de conduta pode ser firmado durante a ação, onde
tem efeito suspensivo, ou após o inquérito civil, antes da ação, onde tem efeito
impeditivo.
Os requisitos para o termo de ajustamento de conduta são a identificação
das obrigações estipuladas, necessidade de reparação integral do dano, estipula-
ção das cominações, caso haja inadimplemento, órgão legitimado competente.
A doutrina está dividida em ter a necessidade da anuência do Ministério
Público ou não. O que defendem que não, alegam que a lei já falou em órgãos
públicos legitimados, o que pressupõe que obedecem aos princípios do art. 37
Direito Ambiental

da Constituição, dispensando o Ministério Público.


Outra parte da doutrina fala que o Ministério Público sempre se fará neces-
sário em acordos extrajudiciais.
110
Exercício
37. (TJ/PI – Juiz Substituto – 2007) Com relação à propositura da ação
civil pública nas questões ambientais, assinale a opção correta:
a) o arquivamento da ação civil pública só deve obrigatoriamente ser
analisado pelo conselho superior do MP quando o respectivo in-
quérito civil apresentar irregularidades insanáveis.
b) a ação civil pública depende não apenas da prévia instauração do
inquérito civil, mas também do inquérito penal, visto que só se
pode propor essa ação relativa a questões ambientais quando hou-
ver comprovado dano ambiental ou crime de risco.
c) embora a maior parte das ações civis públicas ambientais passe,
no Brasil, pela fase prévia do inquérito civil, ela pode ser intentada
sem a instauração do inquérito.
d) é necessário que a ação civil pública ambiental passe pela fase pré-
via do inquérito civil não sendo admissível pela complexidade da
temática e pela imprevisibilidade dos efeitos das ações antrópicas
que ela possa ser intentada sem que preliminarmente tenha sido
concluído o referido inquérito.
Direito Ambiental
Capítulo 11

Direito Ambiental
Internacional

1. Histórico
1.1 Apresentação

Nesta unidade, apresentaremos o histórico do direito ambiental interna-


cional.

1.2 Síntese
Há os que defendem a tese de que o meio ambiente só será protegido de
maneira eficaz, se esta tutela for internacional.
Há interação direta entre o direito ambiental internacional e os vários di-
reitos internos de cada país. Ora o direito internacional recepciona institutos
que deram certo em outro país, ou ao contrário. Exemplo disso é o mercado de
carbono presente no protocolo de Kioto. Surgiu nos EUA e o direito internacio-
nal se utilizou, assim como a maioria dos princípios ambientais recepcionados
pelo direito ambiental brasileiro.
112
Os estados ainda têm a ideia de soberania sobre os seus próprios recursos.
A responsabilidade internacional clássica é subjetiva, mas em três situações
adquire características de objetividade por danos ambientais internacionais,
quando há dano nuclear, dano por derramamento de óleo no mar e dano por
engenhos espaciais.
Em 1941, houve decisão contenciosa arbitral onde os Estados Unidos plei-
tearam indenização e o Canadá instalou indústria de fundição de aço e side-
rurgia no limite de suas fronteiras. Emanações de gases passaram a poluir os
Estados Unidos. O Canadá alegava que era soberano em seu território. Porém,
a decisão arbitral determinou que nenhum estado podia se utilizar de seu terri-
tório de modo a causar poluição ao país vizinho. Decisão esta que foi o primei-
ro passo para limitar a soberania estatal. A partir de então, o estado pôde utilizar
o território como quiser, desde que impedisse um dano no território vizinho.
Em 1948, essa limitação é positivada, retoma a posição arbitral e limita a
soberania nesse sentido.
A década de 60 marca uma nova fase no Direito Ambiental Internacional.
Inúmeros acidentes ambientais, bem como a possibilidade de destruição de
grande parte do planeta pela utilização do arsenal bélico gerado pela Guerra
Fria, e derramamentos de óleo, levaram a uma conscientização sobre a neces-
sidade de proteção do meio ambiente. Além disso, a crescente relevância dada
aos direitos humanos, desde a Declaração de 1948, veio aumentar a preocu-
pação com o meio ambiente, na medida em que se vinculava a degradação
ambiental, ao agravamento das violações a estes direitos, uma vez que o meio am-
biente estava diretamente relacionado com a saúde e qualidade de vida.
No final da década de 60, houve discussões que envolveram não só os paí-
ses ricos, como os estados recentemente independentes queriam firmar sua
soberania.
A Assembleia Geral das Nações Unidas decide, então, recomendar a convo-
cação de uma Conferência Internacional sobre Meio Ambiente Humano, que
se realizou em 1972, em Estocolmo. Na conferência, ficou clara a oposição
existente entre os países industrializados e os países em desenvolvimento. En-
tretanto, mesmo neste contexto de diferenças e oposições, sobre qual a efetiva
proteção passou a ser concedida ao meio ambiente mundial, a Conferência
presenciou o surgimento de vários institutos, confirmando, assim, a preocupa-
ção mundial com os crescentes problemas ambientais surgidos, constituindo
uma etapa decisiva na elaboração do Direito Ambiental Internacional.
Um dos institutos criados na referida conferência, foi a Declaração de
Direito Ambiental

Estocolmo, que não possui caráter obrigatório aos Estados, mas é de grande
importância, uma vez que estabelece vários princípios do direito ambiental,
atualmente adotados pelos países, assim como lança as bases para a futura cria-
ção do princípio do desenvolvimento sustentável.
113
É uma carta de princípios e quase todos os países positivaram, inclusive o
Brasil.
Tal declaração não foi obtida com consenso. Por causa da disputa entre
países ricos e pobres, demonstrou cunho político e pouco ambiental.
Outro instituto criado pela conferência foi o Programa das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente, ou PNUMA1, que consiste em um órgão subsidiário
da Assembleia Geral das Nações Unidas, que tem como função principal esti-
mular ações relativas à proteção do meio ambiente pela difusão de informações
e aplicação de programas de ação a serem desenvolvidos posteriormente.
Houve também a criação do fundo do meio ambiente, em que cada país
rico se comprometia a reverter parte de seu orçamento para a composição do
fundo, calcado no princípio da responsabilidade comum, que determina que
a responsabilidade ambiental é de todos, mas os países ricos não se utiliza do
meio ambiente mais do que os outros, uma vez que sua necessidade em nível
de desenvolvimento tecnológico é diferente.
Em 1983, a Assembleia Geral das Nações Unidas criou a Comissão Mun-
dial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Durante alguns anos, esta
comissão realizou uma série de reuniões, encerrando seus trabalhos em 1987,
com a entrega de seu relatório à Assembleia Geral, denominado “Relatório
Brundtland”. O relatório deu especial ênfase às consequências negativas da
pobreza sobre o meio ambiente, adotando uma clara postura para a conciliação
da proteção do meio ambiente com o desenvolvimento dos povos. Dessa forma,
surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável.

Exercício
38. (Procurador Federal – 2007) Há inúmeros princípios ambientais que
orientam a otimização das regras de proteção do meio ambiente. Esses
princípios constam na Política Nacional do Meio Ambiente, na CF e
em documentos internacionais de proteção do meio ambiente, como
Conferência de Estocolmo de 1972, Nosso Futuro Comum (Relatório
Brundtland) e Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento, de 1992.
Considerando o texto acima, julgue o item subsequente.
O princípio da participação da população na proteção do meio am-
biente está previsto na Constituição Federal e na ECO-92.
Direito Ambiental

1. UNEP, em inglês.
114
2. Histórico – Continuação
2.1 Apresentação

Nesta unidade, daremos continuidade ao estudo histórico do direito am-


biental internacional.

2.2 Síntese
Logo após a Conferência de Estocolmo, por sugestão do Relatório, a As-
sembleia Geral convoca a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Am-
biente e Desenvolvimento para avaliar os progressos obtidos desde Estocolmo,
em 1972.
Esta Conferência, realizada no Rio de Janeiro em 1992, e também deno-
minada ECO-92, ou Cúpula da Terra, teve como resultado a adoção de duas
convenções: a Convenção-Quadro sobre a Mudança do Clima, e a Conven-
ção sobre a Diversidade Biológica. A primeira discute acerca do aquecimento
global e estabelece normas para a redução do lançamento de todos os gases
causadores do efeito estufa (dentre eles o dióxido de carbono – CO2). A segun-
da, sobre a biodiversidade, e traz como objetivo básico conservar, ao máximo
possível, a diversidade biológica para benefício das presentes e futuras gerações,
em conformidade com o conceito de desenvolvimento sustentável, que é a base
de todos os documentos adotados em 1992.
Na Conferência do Rio foram criados, ainda, os considerados dois mais
importantes documentos para a preservação e melhoria do meio ambiente em
âmbito internacional, apesar de serem textos não obrigatórios aos Estados, a
Declaração do Rio, sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e a Agenda 21.
Pela primeira vez, em um texto normativo considerou-se o homem como
parte integrante da natureza, e houve consenso entre os países.
Os países passam a entender que a tutela ambiental é importante para a
harmonia dos países. Neste intervalo de 10 anos, houve muitos acidentes am-
bientais, como Chernobyl na Ucrânia em 1986. Em 1989, houve a queda do
muro do Berlim. A situação criada era importante, uma vez que várias ONG de
defesa ambiental que já existiam e tinham sua atuação localizada nos países do
oeste europeu passaram a atuar no leste europeu, antes socialista.
Todos esses acontecimentos levaram a ONU a convocar nova conferência
Direito Ambiental

internacional, com grupo de especialistas, presidido pela primeira ministra da


Noruega para elaborar um relatório que estabelecesse a solução para os proble-
mas encontrados em Estocolmo, entre países pobres e ricos, para tentar conci-
liar desenvolvimento econômico, com proteção ambiental.
115
A comissão termina os trabalhos em 1987 com o relatório denominado
“Nosso Futuro Comum” ou relatório “Brundtland”.
Esse relatório criou o conceito de desenvolvimento sustentável. E aquele
que garante a satisfação das gerações presentes, sem comprometer a satisfação
das necessidades das gerações futuras.
A conferência traz todas essas influências, sendo umas das maiores e mais
importantes conferências internacionais do mundo até então.
A Declaração do Rio é uma carta com 27 princípios, e alguns desses dis-
positivos, hoje, já obtêm status de normas interativas de direito internacional.
Tanto a declaração de princípio quanto a declaração de florestas não são
textos obrigatórios.
Os textos obrigatórios que foram adotados são a Convenção 4, sobre altera-
ções climáticas, e a convenção sobre diversidade biológica, que são “conven-
ções-quadro”, e funcionam como uma norma geral, fixando um contorno ao
sistema normativo, e depois tem que complementar.
Ex.: a regulamentação da Convenção 4 é o protocolo de Kioto. Já a conven-
ção sobre diversidade biológica traz na sua essência a conciliação de interesses
de países ricos e pobres.
O primeiro interesse é que os estados são soberanos sobre seus próprios
recursos.
O segundo princípio consiste em, que é interesse da humanidade como um
todo, ter acesso a esses recursos.
Essa convenção foi regulamentada pelo Protocolo de Cartagena sobre bios-
segurança.
A Agenda 21 consiste em um agenda de discussões e implementações de
metas para o futuro; consiste em um texto fundamental de aplicação para os
Estados na busca pelo crescimento econômico com proteção ambiental. Ela
contém um plano de ação estratégico que concilia métodos de proteção am-
biental, justiça social e eficiência econômica. Cada país teria que fazer a sua
própria Agenda 21, tendo em vista as suas necessidades.
Na agenda do Brasil, o estado é principal defensor do meio ambiente, jun-
tamente com outros grupos da sociedade brasileira.

Exercício
39. (Câmara dos Deputados – 2005) Marque V ou F:
Direito Ambiental

a) A propósito do direito ambiental internacional e do desenvolvi-


mento sustentável previsto na Agenda 21, julgue os itens a seguir. A
doutrina do desenvolvimento sustentável permite a harmonização
do desenvolvimento econômico e da proteção ambiental
116
b) De acordo com o relatório Brundtland, a satisfação da sociedade
atual, sem o comprometimento da sociedade futura, é inerente ao
conceito de desenvolvimento sustentável.
c) No âmbito da ECO 92 e da Declaração do Rio sobre o meio am-
biente e desenvolvimento, o direito ao desenvolvimento deve ser
exercido de modo a permitir que sejam atendidas apenas as neces-
sidades de desenvolvimento das gerações recentes.
Direito Ambiental
Capítulo 12

Recurso Hídrico

1. Recursos Hídricos
1.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos os recursos hídricos.

1.2 Síntese
A Lei nº 9.433/1997 institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, e
cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamen-
tando, assim, o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal.
O código de águas versava sobre águas públicas e particulares, figura que já
não existe mais desde de 1988, com o advento da Constituição Federal.
Como principais pontos da Lei, destacam-se os seguintes fundamentos:
I – a água é um bem de domínio público;
II – a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
118
III – em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o
consumo humano e a dessedentação de animais;
IV – a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múlti-
plo das águas;
V – a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Ge-
renciamento de Recursos Hídricos;
VI – a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a
participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.
A Lei nº 9.433/1997 tem os seguintes objetivos:
I – assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de
água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;
II – a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o
transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;
III – a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem
natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais, não somente
em relação à poluição, mas ao abastecimento também.
Diferença fundamental entre a gestão hídrica e a ambiental, consiste em
que na hídrica tenho que pautar pelo acesso à água. Na gestão ambiental, pode
haver até a proibição de visitação pública.
As diretrizes trazidas pela lei são:
I – a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos
de quantidade e qualidade;
II – a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióti-
cas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País;
III – a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;
IV – a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores
usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional;
V – a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;
VI – a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas
estuarinos e zonas costeiras.
Ademais, a lei conta com os Planos de Recursos Hídricos. Vejamos:
II – o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos pre-
ponderantes da água, que são definidos pelo Conama, em algumas resoluções,
classificando as águas em doce, salobra, tratamento para consumo humano;
Direito Ambiental

III – a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos. Deve-se garantir


que o que faz a captação tenha água, assim como o da base do rio. O comitê
de bacia estabelece quais as possibilidades de outorga. A outorga de uso é tanto
para captação quanto lançamento de esgoto no rio;
119
IV – a cobrança pelo uso de recursos hídricos. Tal cobrança implementa
o princípio do usuário pagador. Paga-se o serviço prestado pela instituição de
canalização e tratamento de água. A água em si não é paga;
V – a compensação a municípios;
VI – o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.
O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos tem os se-
guintes órgãos:
I – o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, ao qual compete estabele-
cer as diretrizes para questões relacionadas a rios;
II – a Agência Nacional de Águas, que consiste em um órgão executor;
III – os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal;
IV – os Comitês de Bacia Hidrográfica, que são os responsáveis pelo exer-
cício de gestão hídrica;
V – os órgãos dos poderes públicos federais, estaduais, do Distrito Federal
e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos
hídricos;
VI – as Agências de Água.

Exercício
40. (Procurador Federal – 2002) Julgue os itens abaixo, relativos ao domí-
nio público hídrico, nos termos da Lei nº 9.433, de 08/01/1997, que
instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos.
a) Perante a Constituição de 1988, a água doce é bem de domínio
privado, limitado a conflitos de vizinhança ou aproveitamento para
energia elétrica.
b) Os recursos hídricos brasileiros constituem recursos naturais limi-
tados cujo uso prioritário deve dirigir-se ao consumo humano e à
dessedentação de animais.
Direito Ambiental
Capítulo 13

Proteção à Fauna

1. Proteção à Fauna
1.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a proteção à fauna.

1.2 Síntese
A Lei nº 5.197/1967 dispõe sobre a proteção à fauna; proteção esta que in-
clui espécies migratórias. A lei traz como pontos mais importantes os que citados
a seguir:
1. Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvi-
mento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna
silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são proprie-
dades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição,
caça ou apanha. Salvo se peculiaridades regionais permitirem e houver
ato que regulamente. Ex.: lebres canadenses no Rio Grande do Sul.
121
2. É proibido o exercício da caça profissional.
3. É proibido o comércio de espécimes da fauna silvestre e de produtos e
objetos que impliquem na sua caça, perseguição, destruição ou apanha.
4. Nenhuma espécie poderá ser introduzida no País, sem parecer técnico
oficial favorável e licença expedida na forma da Lei. Em alguns casos, o
Ibama exige a castração da espécie.
5. Poder Público estimulará: a formação e o funcionamento de clubes de
caça com o objetivo de reunir as pessoas que praticam esse esporte e a
construção de criadouros destinados à criação de animais silvestres para
fins econômicos e industriais.
6. São considerados atos de caça a utilização, perseguição, destruição,
caça ou apanha de espécimes da fauna silvestre, quando consentidas
pelo órgão competente.
7. Para exercício da caça, é obrigatória a licença anual, de caráter especí-
fico e de âmbito regional, expedida pela autoridade competente.
8. Poderá ser concedida a cientistas, pertencentes a instituições científicas,
oficiais ou oficializadas, ou por estas indicadas, licença especial para a
coleta de material destinado a fins científicos, em qualquer época.
9. O transporte interestadual e para o Exterior, de animais silvestres, lepi-
dópteros, e outros insetos e seus produtos depende de guia de trânsito,
fornecida pela autoridade competente.
A Constituição de 1988, em seu o art. 225, estabelece que o bem ambiental
é um bem de uso comum, sendo também as espécies da coletividade.
Aos crimes de modo geral, a justiça competente é a justiça estadual, a fe-
deral somente em causas constitucionais. O fato de o crime ter sido apurado
no exercício de fiscalização de autarquia federal, o Ibama, não ocorre o des-
locamento de competência. Seria federal se o fiscal tivesse cometido o crime.
É competência da União se esse crime for praticado em uma área da União.
Ex.: matar espécie em um rio federal, dentro de uma unidade de conservação
da União.
Toda concessão de licença e autorização é concedida pelo Ibama. Até para
pescar de forma amadora é preciso se registrar no Ibama ou no órgão compe-
tente.
A lei achou por bem não concentrar as autorizações de práticas de caça nas
mãos da União, permitindo ao estado também.
Direito Ambiental

Toda pessoa física ou jurídica que realize atividades com animais silvestres
devem ser registradas.
Os crimes ambientais eram inafiançáveis; a lei de crimes ambientais revo-
gou estas disposições.
122
Exercício
41. (Analista Ambiental – Ibama – 2009) Julgue os itens seguintes, de acor-
do com a Lei nº 5.197/1967, referente à proteção à fauna.
A caça de qualquer espécie animal da fauna silvestre é proibida em
regra, mas peculiaridades regionais podem autorizar o exercício da
caça, desde que existente a competente permissão, estabelecida em ato
regulamentador do poder público federal.
Em terras de domínio privado, a caça de espécies da fauna silvestre
pode ser proibida pelo próprio proprietário independentemente de ato
do poder público.
Direito Ambiental
Capítulo 14

Mineração

1. Introdução ao Estudo da Mineração


1.1 Apresentação

Nesta unidade, daremos início ao estudo da mineração.

1.2 Síntese
A atividade de mineração é de fundamental importância para o desenvolvi-
mento de um país. Entretanto, ela pode causar grandes impactos no meio am-
biente, e é exatamente devido a estes fatores que o direito ambiental brasileiro
possui uma tutela específica das atividades minerarias, não só em lei especial,
mas igualmente na Constituição.
A Constituição trabalha não só coma prática da mineração, mas também
com a garimpagem, favorecendo as cooperativas.
A mineração geralmente é uma grande atividade de aspecto industrial, já
a garimpagem se caracteriza pelo aspecto rudimentar da exploração mineral.
124
Assim, além da análise dos principais dispositivos do Código de Mineração
(ou Código de Minas), Decreto-lei nº 227/1967, faz-se necessário listar os prin-
cipais dispositivos constitucionais que tratam do assunto. Vejamos os dispositi-
vos constitucionais.
“Art. 20. São bens da União: (...)
V – os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica
exclusiva; (...)
IX – os recursos minerais, inclusive os do subsolo; (...).” A água subterrânea
é bem do estado. Se o recurso de água subterrânea é de água mineral, é bem
da União, pois não é considerado água, e sim minério.
“§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, par-
ticipação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos
hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos mine-
rais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona
econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.” Se o
recurso mineral pertence à União, mas também se localiza em solo estadual e
municipal, é possível participação aos outros entes da federação nos recursos
ali obtidos, bem como ao proprietário do solo. O proprietário não pode se opor
à exploração, uma vez que o subsolo e os recursos minerais não pertencem a
ele, e a exploração visa o interesse nacional, permitindo sua participação e
recebimento de royalties.
“Art. 21. Compete à União: (...)
XXV – estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de
garimpagem, em forma associativa.”
“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
XII – jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia.”
“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios: (...).
XI – registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa
e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios.”
“Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: (...)
XVI – autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de
recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais.”
“Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o
Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e plane-
jamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor
Direito Ambiental

privado. (...)
§ 3º O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em coope-
rativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econô-
mico-social dos garimpeiros.
125
§ 4º As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão prioridade na
autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos recursos e jazidas de mine-
rais garimpáveis, nas áreas onde estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo
com o art. 21, XXV, na forma da lei.”
“Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, demais recursos minerais, e os po-
tenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta do solo, para
efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao
concessionário a propriedade do produto de lavra.
§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos poten-
ciais a que se refere o caput deste artigo somente poderão ser efetuados median-
te autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou
empresa constituída sob as leis brasileiras que tenha sua sede e administração
no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas
atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
§ 2º É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da
lavra, na forma e no valor que dispuser a lei.
§ 3º A autorização de pesquisa será sempre por prazo determinado, e as
autorizações e concessões previstas neste artigo não poderão ser cedidas ou
transferidas, total ou parcialmente sem prévia anuência do poder concedente.”
“Art. 225, § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recu-
perar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei.”
“Art. 231, § 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os poten-
ciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas
só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as
comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da
lavra, na forma da lei.”

Exercício
42. (TJ/TO – Magistratura – 2007) A Sociedade Empresarial Extração S/A.,
que é concessionária da União na lavra de recursos minerais, localizada
no município de Palmas/TO, possui um imóvel urbano abandonado
no centro da cidade de Palmas e uma fazenda localizada no interior.
Considerando essa situação hipotética, analise as seguintes opções:
a) O produto da lavra pertence à União e não à empresa Extração
S/A., a qual apenas fará jus ao pagamento de uma quantia destina-
Direito Ambiental

da a financiar o custo dessa lavra.


b) O município de Palmas fará jus à participação no resultado da ex-
ploração dos referidos recursos minerais ou à compensação finan-
ceira por essa exploração.
126
2. Mineração – Continuação
2.1 Apresentação

Nesta unidade, daremos continuidade ao estudo da mineração.

2.2 Síntese
O Decreto-lei nº 227/1967 instituiu o Código de Mineração.
Deve-se analisar o Código de Mineração pautando-se na nova realidade
ambiental, baseada na sustentabilidade e proteção da qualidade do meio am-
biente, uma vez que este se pauta na produção e tentativa plena de exploração
de recursos minerais, sem preocupações ambientais.
É importante ressaltar os seguintes conceitos:
1. Jazida: toda massa individualizada de substância mineral ou fóssil, aflo-
rando à superfície ou existente no interior da terra, e que tenha valor
econômico.
2. Mina: a jazida em lavra, ainda que suspensa (partes integrantes da mina:
edifícios, construções, máquinas, aparelhos e instrumentos destinados à
mineração e ao beneficiamento do produto da lavra, desde que este seja
realizado na área de concessão da mina; as servidões indispensáveis ao
exercício da lavra; os animais e veículos empregados no serviço; os ma-
teriais necessários aos trabalhos da lavra, quando dentro da área conce-
dida; e as provisões necessárias aos trabalhos da lavra, para um período
de 120 (cento e vinte) dias).
3. Pesquisa mineral: a execução dos trabalhos necessários à definição da
jazida, sua avaliação e a determinação da exequibilidade do seu apro-
veitamento econômico. É uma das poucas atividades em que se realize
o estudo de viabilidade, primeiro deve haver o impacto ambiental, com
prévia licença de pesquisa, a fim que seja elaborado o Estudo de Impac-
to Ambiental.
4. Lavra: o conjunto de operações coordenadas objetivando o aproveita-
mento industrial da jazida, desde a extração das substâncias minerais
úteis que contiver, até o beneficiamento das mesmas.
5. Garimpagem: o trabalho individual de quem utilize instrumentos ru-
Direito Ambiental

dimentares, aparelhos manuais ou máquinas simples e portáveis, na


extração de pedras preciosas, semipreciosas e minerais metálicos ou
não metálicos, valiosos, em depósitos de aluvião ou aluvião, nos álveos
de cursos d’água ou nas margens reservadas, bem como nos depósitos
127
secundários ou chapadas (grupiaras), vertentes e altos de morros; depó-
sitos esses genericamente denominados garimpos.
É de suma importância a leitura dos seguintes artigos do Decreto-lei nº
227/1967:
“Art. 11. Serão respeitados na aplicação dos regimes de Autorização,
Licenciamento e Concessão:
a) o direito de prioridade à obtenção da autorização de pesquisa ou de re-
gistro de licença, atribuído ao interessado cujo requerimento tenha por objeto
área considerada livre, para a finalidade pretendida, à data da protocolização
do pedido no Departamento Nacional da Produção Mineral (D.N.P.M), aten-
didos os demais requisitos cabíveis, estabelecidos neste Código; e (Redação
dada pela Lei nº 6.403, de 1976)
b) o direito à participação nos resultados de lavra, em valor correspondente
ao dízimo do imposto sobre Minerais, aplicável, exclusivamente, às concessões
outorgadas após 14 de março de 1967. (Redação dada pela Lei nº 6.403, de 1976)
b) o direito à participação do proprietário do solo nos resultados da lavra.
(Redação dada pela Lei nº 8.901, de 1994)
§ 1º A participação de que trata a alínea “b” do caput deste artigo será
de cinqüenta por cento do valor total devido aos Estados, Distrito Federal,
Municípios e órgãos da administração direta da União, a título de compen-
sação financeira pela exploração de recursos minerais, conforme previsto no
caput do art. 6º da Lei nº 7.990, de 29/12/1989 e no art. 2º da Lei nº 8.001, de
13/03/1990. (Incluído pela Lei nº 8.901, de 1994)
§ 2º O pagamento da participação do proprietário do solo nos resultados da
lavra de recursos minerais será efetuado mensalmente, até o último dia útil do
mês subseqüente ao do fato gerador, devidamente corrigido pela taxa de juros
de referência, ou outro parâmetro que venha a sustituí-la. (Incluído pela Lei
nº 8.901, de 1994)
§ 3º O não cumprimento do prazo estabelecido no parágrafo anterior im-
plicará correção do débito pela variação diária da taxa de juros de referência,
ou outro parâmetro que venha a substituí-la, juros de mora de um por cento ao
mês e multa de dez por cento aplicada sobre o montante apurado.” (Incluído
pela Lei nº 8.901, de 1994).”
“Art. 12 O direito de participação de que trata o artigo anterior não po-
derá ser objeto de transferência ou caução separadamente do imóvel a que
corresponder, mas o proprietário deste poderá:
I – transferir ou caucionar o direito ao recebimento de determinadas pres-
Direito Ambiental

tações futuras;
II – renunciar ao direito.
Parágrafo único Os atos enumerados neste artigo somente valerão contra
terceiros a partir da sua inscrição no Registro de Imóveis.”
128
O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), é uma autar-
quia federal criada pela Lei nº 8.876, de 2 de maio de 1994, vinculada ao Mi-
nistério de Minas e Energia, que tem por finalidade promover o planejamento
e o fomento da exploração mineral e do aproveitamento dos recursos minerais
e superintender as pesquisas geológicas, minerais e de tecnologia mineral, bem
como assegurar, controlar e fiscalizar o exercício das atividades de mineração
em todo o território nacional.
Ademais, o DNPM possui as seguintes competências:
I – promover a outorga, ou propô-la à autoridade competente, quando for
o caso, dos títulos minerários relativos à exploração e ao aproveitamento dos
recursos minerais e expedir os demais atos referentes à execução da legislação
minerária;
II – coordenar, sistematizar e integrar os dados geológicos dos depósitos
minerais, promovendo a elaboração de textos, cartas e mapas geológicos para
divulgação;
III – acompanhar, analisar e divulgar o desempenho da economia mineral
brasileira e internacional, mantendo serviços de estatística da produção e do
comércio de bens minerais;
IV – formular e propor diretrizes para a orientação da política mineral;
V – fomentar a produção mineral e estimular o uso racional e eficiente dos
recursos minerais;
VI – fiscalizar a pesquisa, a lavra, o beneficiamento e a comercialização dos
bens minerais, podendo realizar vistorias, autuar infratores e impor as sanções
cabíveis, na conformidade do disposto na legislação minerária;
VII – baixar normas, em caráter complementar, e exercer a fiscalização so-
bre o controle ambiental, a higiene e a segurança das atividades de mineração,
atuando em articulação com os demais órgãos responsáveis pelo meio ambien-
te, segurança, higiene e saúde ocupacional dos trabalhadores;
VIII – implantar e gerenciar bancos de dados para subsidiar as ações de
política mineral, necessárias ao planejamento governamental;
IX – baixar normas, promover a arrecadação e a distribuição das quotas-
-partes, bem como exercer fiscalização sobre a arrecadação da compensação
financeira pela exploração de recursos minerais, de que trata o § 1º do art. 20
da Constituição e das demais receitas da autarquia;
Direito Ambiental

X – fomentar a pequena empresa de mineração;


XI – estabelecer as áreas e as condições para o exercício da garimpagem em
forma individual ou associativa;
XII – autorizar e fiscalizar a extração de espécimes fósseis.
129
Exercício
43. (Procurador da República – XXII Concurso) A propósito do regime
jurídico dos recursos minerais, analise os itens:
a) por serem bens da União, a competência legislativa para regular os
recursos minerais e seu aproveitamento é federal, muito embora,
no que concerne à competência material, a Carta de 1988 tenha-a
conferido aos outros níveis de Governo;
b) as jazidas e demais recursos minerais e os potenciais de energia
hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito
de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantidas
ao concessionário e ao proprietário do solo partes iguais do produto
da lavra;
c) entende-se por jazida a massa de substâncias minerais, ou fósseis,
existentes no interior ou na superfície da terra e que sejam ou ve-
nham a ser valiosas pela indústria, enquanto a mina corresponde a
jazida na extensão concedida.

Direito Ambiental
Capítulo 15

Lei de Agrotóxicos –
Lei nº 7.802/1989

1. Lei de Agrotóxicos
1.1 Apresentação

Nesta unidade, estudaremos a lei de agrotóxicos.

1.2 Síntese
A Lei nº 7.802/1989, conhecida como lei de agrotóxicos, conceitua agro-
tóxicos como os produtos químicos ou biológicos utilizados na produção, ar-
mazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, usados nas pastagens,
na proteção de florestas e em ambientes urbanos, com a finalidade de alterar a
composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres
vivos considerados nocivos, ou substâncias e produtos, empregados como des-
folhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.
A lei determina ainda que os agrotóxicos, seus componentes e afins, de
acordo com definição do art. 2º desta Lei, só poderão ser produzidos, exportados,
131
importados, comercializados e utilizados, se previamente registrados em órgão
federal, de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsá-
veis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura.
Os casos de proibição de registro de agrotóxicos são os seguintes:
a) se no Brasil não houver métodos para desativação de seus componen-
tes, de modo a impedir que os seus resíduos provoquem riscos ao meio
ambiente e à saúde pública;
b) para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil;
c) que tenham características carcinogênicas ou mutagênicas;
d) que provoquem distúrbios hormonais ou danos ao aparelho reprodutor
f) cujas características causem danos ao meio ambiente.
Ainda de acordo com a lei de agrotóxicos, são legitimados a requerer o can-
celamento do registro de agrotóxicos, arguindo prejuízos ao meio ambiente, à
saúde humana e dos animais:
I – entidades de classe, representativas de profissões ligadas ao setor;
II – partidos políticos, com representação no Congresso Nacional;
III – entidades legalmente constituídas para defesa dos interesses difusos
relacionados à proteção do consumidor, do meio ambiente e dos recursos na-
turais. Confere legitimidade ampla para fazer valer o controle por toda a socie-
dade.
Ademais, as embalagens de agrotóxicos devem obedecer aos seguintes re-
quisitos:
I – devem ser projetadas e fabricadas de forma a impedir qualquer vaza-
mento;
II – os materiais de que forem feitas devem ser insuscetíveis de ser atacados
pelo conteúdo ou de formar com ele combinações nocivas ou perigosas;
III – devem ser suficientemente resistentes em todas as suas partes;
IV – devem ser providas de um lacre que seja irremediavelmente destruído
ao ser aberto pela primeira vez.
Os usuários devem devolver as embalagens aos estabelecimentos comer-
ciais em que foram adquiridos, e as produtoras são responsáveis pela destinação
final, porque podem proceder à reutilização e reciclagem, sendo assim, um
ciclo pleno.
Para serem vendidos ou expostos à venda em todo o território nacional, os
agrotóxicos e afins são obrigados a exibir rótulos próprios e bulas, redigidos em
português, que contenham, entre outros, os seguintes dados:
Direito Ambiental

I – indicações para a identificação do produto, compreendendo: o nome


do produto; o nome e a percentagem de cada princípio ativo e a percentagem
total dos ingredientes inertes que contém; a quantidade de agrotóxicos, com-
ponentes ou afins, que a embalagem contém, expressa em unidades de peso
132
ou volume, conforme o caso; o nome e o endereço do fabricante e do impor-
tador; os números de registro do produto e do estabelecimento fabricante ou
importador; o número do lote ou da partida; um resumo dos principais usos do
produto; e a classificação toxicológica do produto;
II – instruções para utilização, que compreendam: a data de fabricação e
de vencimento; o intervalo de segurança, assim entendido o tempo que deverá
transcorrer entre a aplicação e a colheita, uso ou consumo, a semeadura ou
plantação, e a semeadura ou plantação do cultivo seguinte, conforme o caso;
informações sobre o modo de utilização, incluídas, entre outras: a indicação de
onde ou sobre o que deve ser aplicado; o nome comum da praga ou enfermida-
de que se pode com ele combater ou os efeitos que se pode obter; a época em
que a aplicação deve ser feita; o número de aplicações e o espaçamento entre
elas, se for o caso; as doses e os limites de sua utilização; e informações sobre os
equipamentos a serem usados e a descrição dos processos de tríplice lavagem
ou tecnologia equivalente, procedimentos para a devolução, destinação, trans-
porte, reciclagem, reutilização e inutilização das embalagens vazias e efeitos
sobre o meio ambiente decorrentes da destinação inadequada dos recipientes;
III – informações relativas aos perigos potenciais, compreendidos: os possí-
veis efeitos prejudiciais sobre a saúde do homem, dos animais e sobre o meio
ambiente; precauções para evitar danos a pessoas que os aplicam ou mani-
pulam e a terceiros, aos animais domésticos, fauna, flora e meio ambiente;
símbolos de perigo e frases de advertência padronizados, de acordo com a clas-
sificação toxicológica do produto; e instruções para o caso de acidente, incluin-
do sintomas de alarme, primeiros socorros, antídotos e recomendações para os
médicos;
IV – recomendação para que o usuário leia o rótulo antes de utilizar o
produto.
Em casos de danos causados à saúde humana e ao meio ambiente, a res-
ponsabilidade repousa nas seguintes pessoas:
a) do profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou inde-
vida;
b) do usuário ou ao prestador de serviços, quando proceder em desacordo
com o receituário ou as recomendações do fabricante e órgãos regis-
trantes e sanitário-ambientais;
c) do comerciante, quando efetuar venda sem o respectivo receituário ou
em desacordo com a receita ou recomendações do fabricante e órgãos
registrantes e sanitário-ambientais;
Direito Ambiental

d) do registrante que, por dolo ou por culpa, omitir informações ou forne-


cer informações incorretas;
e) do produtor, quando produzir mercadorias em desacordo com as es-
pecificações constantes do registro do produto, do rótulo, da bula, do
133
folheto e da propaganda, ou não der destinação às embalagens vazias
em conformidade com a legislação pertinente;
f) do empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos equi-
pamentos adequados à proteção da saúde dos trabalhadores ou dos
equipamentos na produção, distribuição e aplicação dos produtos.

Exercício
44. Com relação aos agrotóxicos, julgue o item:
É condição para a apresentação do pedido de registro de produto agro-
tóxico, o registro prévio da pessoa física ou jurídica responsável por sua
fabricação.

Direito Ambiental
134
Gabarito

1. Alternativa C. 18. Incorreta.


2. Correta. 19. Incorreta.
3. Correta, Correta. 20. Correta.
4. Alternativa C. 21. Incorreta.
5. Alternativa C. 22. Correta, Correta.
6. Alternativa B. 23. Incorreta
7. Alternativa A. 24. Correta.
8. Alternativa A. 25. Correta.
9. Alternativa B. 26. Incorreta, Incorreta.
10. Correta, Correta, Correta, 27. Incorreta.
Incorreta. 28. Correta, Incorreta, Incorreta.
11. Incorreta, Correta. 29. Alternativa B.
12. Correta. 30. Incorreta.
13. Correta, Incorreta. 31. Incorreta, Incorreta.
Direito Ambiental

14. Correta, Incorreta. 32. Alternativa D.


15. Correta. 33. Alternativa E.
16. Alternativa A. 34. Incorreta, Incorreta.
17. Alternativa D. 35. Correta.
135
36. Incorreta. 41. Correta, Correta.
37. Alternativa C. 42. Incorreta, Correta.
38. Correta. 43. Correta, Incorreta, Correta.
39. Correta, Correta, Incorreta. 44. Correta.
40. Incorreta, Correta.

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