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RESUMO
A Escola da Ponte pressupõe uma outra organização da escola, uma outra cultura, uma outra
relação entre os vários grupos que constituem a equipe educativa (pais, professores, alunos,
pessoal auxiliar). Trata-se de um outro modo de refletir as práticas, em um projeto que passou
de objetivos de instrução a objetivos mais amplos de educação. Naquele, é sugerido um
modelo de escola que já não é a mera soma de atividades, de tempos letivos, de professores e
alunos justapostos. É uma formação social em que convergem processos de mudança desejada
e refletida, um lugar onde conscientemente se transgride, para libertar a escola de atavismos,
para repensar o rumo da educação de crianças e jovens.
ENSAIO TEÓRICO
1 A Escola da Ponte
1.1 Antecedentes
Desde a época em que era vigente o ensino tradicionalista, a Escola da Ponte tem sido
dirigida por José Pacheco. Sua personalidade crítica instigava a prática educacional até então
vigente, bem como questionava convicções alheias, de modo que vislumbrava uma mudança
radical encabeçada por ele próprio, mas que deveria modificar a concepção educacional do
corpo docente.
A Escola da Ponte é uma escola municipal pública, de período integral, localizada na
Vila das Aves – Distrito do Porto, a 30 km da cidade do Porto, em Portugal. A escola atende
cerca de 200 alunos, de cinco a dezessete anos e direciona a aprendizagem dos conteúdos do
primeiro e segundo ciclos do ensino básico. A maioria do corpo discente é proveniente de
instituições de inserção social, enquadrados em diagnósticos psiquiátricos e psicológicos; há,
também, órfãos e deficientes comumente estigmatizados e marginalizados.
Até 1976, o trabalho realizado na Escola da Ponte era de uma estrutura tradicional de
1ª a 4ª série, centrada no professor e guiada por meio de manuais iguais para todos, repetição
de lições e passividade. As crianças que chegavam à escola com uma cultura diferente da que
lá prevalecia eram desfavorecidas pelo não-reconhecimento de sua experiência sociocultural.
Naquele ano, os professores tomaram consciência de que algo estava errado, pois não
contribuiriam, daquela forma, com a formação de indivíduos conscientes, participantes e
Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
expressão de solidariedade, assim, não só se ensina saber, mas também valores, ética, direitos
e deveres.
1.3.2.4 Debate
1.3.2.5 Biblioteca
É a caixa que contém os textos que os alunos redigem como desejam, livremente.
1.3.2.8 Eu já sei
Visto que os alunos trabalham cada ponto do programa em autonomia total, no final,
eles se auto-avaliam e quando consideram que dominam o assunto em estudo, escrevem o
nome, o assunto trabalhado e a data num papel que se encontra em todos os espaços. Depois,
um dos professores desloca-se perto do aluno e faz uma avaliação que pode ser oral, escrita ou
oral e escrita. A partir de então, esse ponto é ocasionalmente reavaliado, de forma a garantir
que aquela realmente se encontra consolidado.
Em cada espaço da escola existe uma folha em que o aluno pode colocar o nome e o
assunto em que sente dificuldade. Posteriormente, um professor se deslocará ao seu local de
trabalho de forma a poder esclarecê-lo, tanto individualmente, quanto em grupo. Sempre que
um professor tenta esclarecer um determinado assunto a um aluno, certifica-se primeiro que o
aluno realmente consultou todas as fontes que lhe estavam disponíveis.
Até 1976, os pais dos alunos não apareciam na escola. Após entender o porquê deles
não comparecerem às reuniões escolares, os coordenadores da Escola da Ponte propuseram a
fundação de uma associação de pais, que hoje é um interlocutor sempre disponível, um
parceiro indispensável. Na concepção dos encarregados de educação da Escola da Ponte, os
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pais são a garantia de que o projeto continuará vigente na escola. Entretanto, apesar dos
esforços, muitos pais ainda têm dificuldade em conceber uma escola diferente daquela que
freqüentaram quando alunos, porém, quando esclarecidos e conscientes, aderem à filosofia e
colaboram.
A colaboração dos pais não se restringe às atividades promovidas por sua associação.
No início de cada ano, todos os encarregados de educação participam de um encontro de
apresentação do Plano Anual de trabalho; mensalmente, ao sábado à tarde, os projetos são
avaliados com suas contribuições. Há sempre um professor disponível para o atendimento
diário, se algum pai o solicitar.
2 Uma ressalva para a Educação Especial
A Escola da Ponte nos faz refletir que não é preciso manter as coisas do jeito que
sempre foram nas nossas escolas brasileiras. Uma casa, várias salas, alunos separados em
turmas, hierarquicamente, deste modo, o que se ensina é que a vida é feita de grupos sociais
separados, uns em cima dos outros e, assim, as crianças estão predestinadas ao fracasso
escolar em função de sua classe social, seu diagnóstico (na realidade, o valor absoluto de seu
Q.I.) e sua raça. Convencionalmente, ainda existem professores especializados em ensinar
saberes, em função de um tempo de aula previsto para se iniciar e terminar, visto que, em
seguida, ocorre a troca de professores em função de cada saber específico na seguinte
dinâmica: começa uma nova aula, novos saberes são ensinados.
Neste contexto, cumpre-se um programa, ou seja, um conjunto de saberes organizados
em seqüência lógica, estabelecido por uma autoridade superior invisível, que nunca está com
as crianças. As aulas são formuladas a partir de conteúdos programáticos específicos a serem
seguidos de acordo com a seriação escolar. A partir destes conteúdos programáticos, o
professor elabora seus planos de aula; assim, boas aulas seriam aquelas cujos planos foram
muito bem elaborados previamente, sem foco no contexto em que a aprendizagem se daria,
como se os saberes fossem compartimentos estanques.
Um programa cumprido, dado pelo professor do princípio ao fim, é cumprido apenas
formalmente. Programa cumprido não é programa aprendido, mesmo que os alunos tenham
tido êxito nas avaliações, que são feitas enquanto os alunos ainda estão refletindo acerca da
relevância de aprender e formar a memória daquele conteúdo.
O ensino é direcionado à formação de mão de obra qualificada para conseguir um bom
emprego na sociedade capitalista e, para isso, é necessário cursar uma faculdade e, assim,
passar numa prova elaborada sem relevância alguma (vestibular), senão selecionar os mais
aptos a dominarem as melhores oportunidades de emprego ou as melhores carreiras,
tornando-se meros exemplos da perspectiva marxista.
Para Marx (1980, p. 46), “a maneira pela qual os indivíduos manifestam sua vida
reflete muito exatamente o que são. O que eles são coincide, portanto, com sua produção,
tanto com o que produzem quanto com a maneira pela qual produzem”. Nesta concepção de
pedagogia crítico-social, o homem é um ser produtor de si mesmo, um ser em transformação,
sua mediação é a realidade material, ou seja, o que ele produz para o meio em que está
inserido (LOPES, 2000).
Neste contexto, para José Pacheco em entrevista a Purvinni (2007), as crianças não
entendem porque têm de aprender o que lhes é ensinado, pois não lhes têm serventia certas
coisas. Muitas crianças são julgadas fracassadas por não aprender, por falta de memória, na
realidade, sua memória funciona muito bem, para que guardar tal informação se não me serve
para nada? A memória é, de fato, seletiva, selecionamos o que temos prazer de aprender!
Toda ciência que não é aprendida a partir da experiência cai no esquecimento, em
contrapartida, qualquer ciência aprendida a partir da vida não é esquecida nunca. Nas crianças
que não fracassam diretamente, aflora-se o espírito competidor que chega à violência, o
sucesso escolar, ao contrário do fracasso, é fundamental para que esta criança continue
freqüentando a escola.
Caso não haja uma reflexão exaustiva acerca desta realidade, nas palavras de Deleuze
(1992) grifadas por Moysés (2001),
Pode-se prever que a educação será cada vez menos um meio fechado, distinto do
meio profissional – um outro meio fechado -, mas que os dois desaparecerão em
favor de uma terrível formação permanente, de um controle contínuo se exercendo
sobre o operário-aluno ou o executivo-universitário. Tentam nos fazer acreditar
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Neste contexto, cada profissional será responsável por refletir a realidade em que
estiver inserido e assim, divulgar sua opinião, com argumentos concretos para que se forme
um grupo disposto a fazer a diferença.
4 Referências
ALVES, R. A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. 5. ed. Campinas:
Papirus, 2003.
FLORIAN, L. Prática Inclusiva: O quê, porquê e como? In: TILSTONE, C.; FLORIAN, L.;
ROSE; R. Promover a Educação Inclusiva. Lisboa: Instituto Piaget, 1998. p. 33-49.
MARANGON, C. Fala Mestre: José Pacheco. É possível fazer uma escola diferente. Nova
Escola, São Paulo, ano 19, n. 171, abr. 2004. Disponível em:
<http://novaescola.abril.uol.com.br/index.htm?ed/171_abr04/htm/falamestre>. Acesso em: 29
nov. 2006.
Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2
MARX, K. Sociologia. Organização Octavio Ianni. 2. ed. São Paulo: Ática, 1980.
PACHECO, J. Quando eu for grande, quero ir à Primavera. São Paulo: Didática Suplegraf,
2000.
PURVINNI, L. Entrevista: José Pacheco. A escola, hoje, mais do que produzir sucesso,
produz insucesso. Revista Pais E Filhos na internet, São Paulo, abr. 2007. Disponível em:
<http://revistapaisefilhos.terra.com.br/conteudo_01.asp?cd_setor=17&ds_setor=Entrevista>.
Acesso em: 22 jan. 2007.